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Como se pode observar, os fatos jurídicos são uma categoria jurídica genérica
na qual podem se enquadrar os mais variados tipos de situações e comportamentos,
visto que um fato jurídico pode decorrer tanto de um evento natural quanto de um ato
humano. Todavia, há, em todas as hipóteses de fatos jurídicos, um elemento comum,
qual seja, a produção de efeitos jurídicos, sejam eles decorrentes, ou não, da vontade
das partes de um negócio jurídico. Assim sendo, a classificação que segue abaixo
deve ser estudada considerando a existência, ou não, de participação voluntária de
uma, ou ambas as partes de um negócio jurídico, aspecto que interessa a este estudo.
Em relação ao modo pelo qual os fatos jurídicos ganham existência jurídica, é
possível, conforme já exposto, que eles decorram tanto de um fato natural quanto de
um evento humano.
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DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17 ed. São Paulo: Saraiva,
2005. p. 531.
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INTRODUÇÃO AO DIREITO
Profª. Silvana Maria Carbonera
teve com Maria. Sua declaração de vontade produzirá todos os efeitos determinados
em lei para a filiação e João não poderá excluir, por exemplo, o dever de prestar
alimentos ao filho reconhecido.
Já o negócio jurídico consiste no estabelecimento de um acordo de vontades,
realizado pelas partes capazes, observando a forma prevista ou não proibida em lei,
com um objeto lícito e possível, por meio do qual os efeitos jurídicos por elas
desejados (aquisição, modificação e extinção de direitos) poderão ser produzidos,
observados os limites legais.
É importante observar que tais limites podem consistir tanto nos requisitos de
validade dos negócios jurídicos, conforme previsto pelo artigo 104 do Código Civil
brasileiro, que será examinado adiante, quanto limites estabelecidos pela lei para
contratos específicos. Um exemplo de limite específico, somente para ilustrar a
situação, é a previsão constante no artigo 426 do Código Civil brasileiro, que proíbe
expressamente contratos cujo objeto seja herança de pessoa viva.
Outra questão relevante para este estudo é a relação entre negócio jurídico e
contrato. Tecnicamente, na área de negócios imobiliários, a celebração de um negócio
jurídico consiste, também, na celebração de um contrato, que pode ser de compra e
venda, de locação ou de qualquer outro contrato relacionado à área. Desta forma, em
vários momentos deste texto as duas expressões, “negócio jurídico” e “contrato”, serão
utilizadas como sinônimos visto a correspondência de ambas na área do contrato
imobiliário.
Todavia, existem negócios jurídicos não contratuais, como é o caso do
testamento, o que permite afirmar que:
Todo contrato é um negócio jurídico, mas nem todo negócio jurídico é um contrato.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Negócio Jurídico
pela qual ela tenha sido declarada seja aquela definida pela lei ou, quando não o for,
que seja uma forma não proibida em lei.
É possível observar, em relação à validade de um negócio jurídico, que os
elementos que garantem sua existência passam a ser acompanhados por um
qualificativo legal, que determina como os elementos devem existir no momento da
celebração do negócio jurídico para que ele seja válido. Por tal razão, a título de
exemplo, se uma pessoa incapaz declara sua vontade de comprar um imóvel, o
negócio não é válido pois sua incapacidade é o óbice para que sua declaração de
vontade possa surtir o efeito por ela desejado, qual seja, comprar o imóvel que lhe
interessa.
Da mesma maneira, se duas pessoas fizerem um contrato particular de
compra e venda de um imóvel com valor superior a 30 salários mínimos vigentes no
Brasil, tal documento não produzirá o efeito jurídico que elas desejam pois o Código
Civil brasileiro, em seu artigo 108, determina expressamente que, regra geral, para a
celebração de tal negócio, “a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais (...).” Ou seja, não basta declarar a vontade, é necessário que tal declaração seja
feita na forma exigida em lei. Caso contrário, o negócio existirá mas não será válido.
Por fim, se o negócio jurídico existe e é válido, ele está apto a produzir os
efeitos jurídicos desejados pelas partes que o celebraram, destacando-se a questão da
eficácia dos negócios jurídicos. Todavia, aqui também é importante observar que,
mesmo existente e válido, um negócio poderá, excepcionalmente, não produzir tais
efeitos. Tal situação acontecerá quando um fato ou evento, estranho ao negócio
jurídico, interferir e impedir que os efeitos pactuados sejam possíveis. É o que ocorre,
por exemplo, quando situações de caso fortuito e/ou de força maior acontecem e
impedem a produção dos efeitos desejados. Repetindo um exemplo já apresentado, a
existência de uma greve que impeça a entrega de material de acabamento necessário
à finalização e entrega de uma obra dentro do prazo previsto é um caso fortuito que
fará com que um negócio existente e válido não produza os efeitos desejados.
Dois aspectos importantes devem ser destacados. O primeiro deles consiste
no fato de que a não produção de efeitos de um negócio válido é excepcional, a regra
é que ele produza, sim, os efeitos para os quais foi celebrado. O segundo é que a não
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produção de efeitos não pode ser causada por uma das partes pois, caso isso
aconteça, efeitos existem e serão estudados no Direito das Obrigações, especialmente
na parte de inadimplemento, que significa não cumprimento da obrigação assumida. A
não produção de efeitos deve decorrer de uma situação estranha ao negócio jurídico,
conforme apontado acima.
Resumindo!
1. Um negócio jurídico é um acordo de vontades entre pessoas, físicas ou jurídicas,
considerando a existência de capacidade de exercício para a pessoa física e previsão de
poderes para celebrar tal negócio para a pessoa jurídica.
2. A celebração do negócio se dará a partir de uma declaração de vontade válida e livre das
partes envolvidas, com a definição dos efeitos que as partes desejam produzir.
3. A declaração de vontade deverá observar a forma prevista em lei, exceto se o negócio
celebrado tiver forma livre, nos temos dos artigos 107 e 108 do Código Civil Brasileiro.
4. O objeto do negócio jurídico, que ainda será estudado, consistirá em um comportamento (a
ser estudado no Direito das Obrigações) e poderá também ser representado por um bem,
material ou imaterial, como será visto oportunamente.