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Direito privado rege as relações entre os particulares, o Direito Civil constitui o núcleo
fundamental do D. Privado que não tenha sido autonomizado como são os casos do D.
Comercial e do Direito do trabalho. Esses ramos do Direito autónomo (por especialização
relativamente ás normas do Direito Civil) são D privado especial enquanto que o D. Civil é o D.
Privado comum.
A Teoria Geral do Direito Civil é, pois, a Teoria Geral do Direito Privado. O D. Civil
disciplina substancialmente as relações entre pessoas, e porque se trata de um ordenamento
jurídico tutela coercivamente os interesses das pessoas e regula a vida quotidiana do Homem
comum.
Este código recorre a conceitos gerais e abstratos. É este um tipo de formulação que se
traduz na elaboração dos tipos de situações da vida mediante conceitos definidos e recortados
aos quais o juiz deve subsumir nas situações a decidir em concreto no art. 210º CC.
Assim, e num sentido técnico, ser pessoa é ter aptidão para ser sujeito de direitos e
obrigações. Nesse sentido técnico-jurídico não há coincidência entre a noção de pessoa
(sujeito de direitos) e a noção de ser humano. De tal ordem é assim que o ordenamento
jurídico também regula e protege os direitos das chamadas pessoas coletivas ou pessoas
jurídicas.
De acordo com o nº1 do art. 68º CC a personalidade jurídica é reconhecida a todo o ser
humano a partir do seu nascimento completo e com vida (Nascimento completo- quando
corta o cordão umbilical, distinto da progenitora).
Toda a pessoa jurídica é titular de alguns direitos e obrigações. Mesmo que por
hipótese no domínio patrimonial não lhe pertençam quaisquer direitos (quase inconcebível)
sempre o sujeito será titular de um certo número de direitos absolutos que se impõem ao
respeito de todos os outros e que são designados no CC por direito, de personalidade 70º e
seguintes.
Os direitos de personalidade que constituem um conteúdo mínimo e imprescindível da
esfera jurídica de casa pessoa incidem sobre a sua vida, a sua saúde física, a sua integridade
física, a sua honra, a sua liberdade física e psicológica, o seu nome, a sua imagem e a reserva
sobre a intimidade da sua vida privada.
(Titular de direito- alguém que tem o dever correspondente ao meu direito, todos
quantos tenham nascido completos e com vida, seja que direito for. Por exemplo se eu tenho
direito á propriedade é porque todos os outros têm o dever se não invadir nem perturbar o
meu espaço.)
Mas a autonomia da vontade não se revela apenas através do negócio jurídico, pois
também se manifesta no poder de livre exercício dos seus direitos e dos seus bens.
A autonomia da vontade está presente nos domínios em que o D. Civil tem uma função
de modelação e disciplina da vida social. Já não está presente nos domínios em que cabe ao D.
Civil uma função de proteção ou de defesa de direitos constituídos.
O dever de indemnizar, que resulta da responsabilidade civil, não se constitui por força
de uma declaração de vontade de quem causou o dano. Os negócios jurídicos classificam-se
em:
São negócios jurídicos bilaterais ou contratos os que são constituídos por uma ou
mais declarações de vontade contrários entre si, mas convergentes para um fim/objetivo
comum. Por exemplo compra e venda, arrendamento, aluguer, prestação de serviço, doação,
etc. (Para ser um contrato as declarações têm que ser opostas.)
Ato jurídico
simples
Facto jurídico Unilateral
Negócio Sinalagmáticos
jurídico Bilateral
Não Sinalagmáticos
Tão importante ou até mais do que a liberdade que as pessoas têm de celebrar ou não
contratos do art.405º CC resulta ainda uma outra liberdade qual seja a de modelação do
conteúdo contratual.
3º Responsabilidade Civil
Na vida social os comportamentos (por ação ou omissão) adotados por uma pessoa,
causam muitas vezes prejuízos de outras. Ao direito coloca-se o problema de saber quem deve
suportar o dano causado.
Quando a lei impõe ao autor de certos atos a obrigação de reparar danos causados a
outrem, estamos a falar de responsabilidade Civil. A responsabilidade Civil consiste na
necessidade imposta por lei a quem causa prejuízos a outrem de colocar o ofendido na
situação em que estaria sem a lesão, art. 483º e 562º CC.
A) Danos patrimoniais, isto é, os prejuízos sofridos pelo lesado que sejam suscetíveis
de avaliação pecuniária. Neste dano de natureza patrimonial estão compreendidos
o dano emergente (prejuízo imediato sofrido pelo lesado) e o lucro cessante (as
vantagens que deixaram de entrar no património do lesado em consequência da
lesão. Por ex. um taxista que teve um acidente de carro por conta de outrem), art.
564º nº1 CC.
B) Danos não patrimoniais ou morais que pela sua gravidade merecem a tutela do
direito, art.494º nº1 CC. Os danos não patrimoniais resultam da lesão de bens
estranhos ao património do lesado, como por exemplo a integridade física e
psíquica, a liberdade, a honra, a reputação, etc. Não é possível atribuir um “preço”
a este tipo de dano, mas é possível e exigível que sejam compensados.
1. A existência de um dano;
2. A existência de uma ligação causal entre o facto gerador de responsabilidade e o
prejuízo (nexo de causa);
3. Ilicitude do facto, isto é, o ato causador do dano tem de ser violador de direitos
subjetivos ou de interesses legítimos e que mereçam proteção legal;
4. Que seja culposo o comportamento, isto é, passível de uma censura ético-jurídica
ao sujeito que praticou o ato.
A culpa pode resultar da existência de uma intenção de causar um dano (dolo) ou da
omissão dos deveres de cuidado diligência ou perícia exigíveis para evitar o dano (negligencia
ou mera culpa).
Tal qual como pode haver responsabilidade civil sem culpa também, excecionalmente,
pode haer responsabilidade civil por atos lícitos. Correspondem ás situações que, apesar da
situação do agente ser conforme ao agente, parece excessivo não dar ao lesado o direito á
reparação. São exemplos a responsabilidade emergente de certos casos de estado de
necessidade, art. 339º nº2 CC.
As pessoas coletivas tornam-se centros de uma esfera jurídica própria, mas autónoma,
em relação ao conjunto de direitos e deveres de cada uma das pessoas dos seus membros.
Possuem património próprio separado do das pessoas singulares ligadas á pessoa coletiva. São
titulares de direitos e de deveres jurídicos e assumem obrigações através da prática de atos
jurídicos realizados em seu nome pelos seus órgãos.
5º A propriedade privada
Tal modo assim é, que só mediante o pagamento da justa indemnização pode ser
efetuada a expropriação por utilidade pública. O código civil não define o direito de
propriedade, mas o art.1305 CC caracteriza-o dizendo que, o proprietário goza de modo pleno
e exclusivo dos direitos de usar, fruir e dispor das coisas que lhe pertencem dentro dos limites
da lei com observância das limitações por ela imposta.
Para alem do direito de propriedade que é o direito real por excelência e como vimos, o
único até com reflexo na CRP, o nosso ordenamento jurídico apresenta/consagra outros
direitos reais que ligados ao direito de propriedade são qualificados como direitos reais
menores ou limitados. O direito de propriedade é pois, o direito real máximo, isto é, aquele
que tem um conteúdo pleno.
Os direitos reais de gozo são aqueles que conferem ao seu titular um poder de
utilização, total ou parcial, de uma coisa, e por vezes, também o da apropriação dos frutos
naturais ou civis que a coisa produza. No nosso ordenamento jurídico esses direitos reais de
gozo são : usufruto, uso e habitação, direito de superfície e as servidões prediais.
Os direitos reais de garantia são direitos que conferem ao seu titular o poder de pelo
valor de uma coisa ou pelo valor dos rendimentos da coisa possa o credor obter, com
preferência sobre os outros credores o pagamento da divida de que é titular ativo. Os direitos
reais de garantia são o penhor, a hipoteca, os privilégios creditórios, a consignação de
rendimentos e o direito de retenção.
O CC. dedica ao direito da família o livro IV. De acordo com o art. 1576º CC, família é o
conjunto das pessoas unidas por vínculos emergentes do casamento, do parentesco, da
afinidade e da adoção. O casamento seja ele civil ou católico dissolve-se por morte ou por
divórcio, sendo que este pode ser por mútuo consenso, ou sem o consentimento do outro
cônjuge, nos termos do art. 1773º CC.
A afinidade é o vínculo que une cada um dos cônjuges aos parentes do outro conforme
resulta do art.1584º. Intimamente ligado com o parentesco encontramos a filiação. É a
prepósito da filiação que se regula o estabelecimento da paternidade e da maternidade.
A adoção é o vínculo que se estabelece entre duas pessoas e dele resulta o parentesco
legal por oposição ao parentesco natural.
O fenómeno sucessório
O Direito subjetivo pode ser definido como o poder jurídico de livremente exigir ou
pretender de outrem um comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) ou de por um
ato livre de vontade só por si ou integrado por um ato de autoridade publica produzir
determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa. Os direitos
potestativos são poderes jurídicos de, por um ato livre de vontade só por si ou integrado por
uma decisão judicial produzir efeitos jurídicos que inelutavelmente se impõem á contraparte.
Do lado passivo desta relação jurídica temos alguém num estado de sujeição. Ao Direito
subjetivo propriamente dito contrapõe-se o dever jurídico que consiste na necessidade de
realizar o comportamento a que tem direito o titular ativo da relação jurídica.
a) Sujeitos;
b) Objeto;
c) Facto jurídico;
d) Garantia.
II. O objeto da relação jurídica é aquilo (coisa ou direito) sobre que incidem os
poderes do titular ativo da relação jurídica.
III. Facto jurídico é todo o ato humano ou evento natural capaz de produzir efeitos
jurídicos. O facto jurídico é, ele próprio, a condição ou o pressuposto da existência da própria
relação jurídica, é, pois, a sua causa ou origem.
II. A capacidade de exercício é reconhecida por lei aos indivíduos que atinjam a
maioridade. Porem essa capacidade de exercício é também reconhecida aos indivíduos de
idade igual ou superior a 16 anos e menores de 18, que hajam casado e cujo o casamento
tenha sido autorizado por quem exerça a responsabilidade parental ou essa falta de
autorização tenha sido suprida pelo conservador do registo civil na sequência de processo
especial intentado na mesma conservatória onde corre o mesmo processo para casamento.
Pessoas singulares
Estabelece-se o nº2 do art.66º que os direitos reconhecidos por lei aos nascituros
dependem do seu nascimento. Até que esse nascimento ocorra, completo e com vida, pode
falar-se em direitos sem sujeito. O art.952º admite a possibilidade de serem feitas doações a
nascituros ou até mesmo a consepturos. Num caso e noutro a aquisição dos direitos por parte
do nascituro e do consepturo está sempre dependente do nascimento completo e com vida,
fator que permite o reconhecimento ao sujeito da personalidade jurídica.
Para além do disposto no art.127º CC, duas outras circunstâncias a lei prevê
reveladoras também do reconhecimento de atuação por si só dos menores. Falamos da
possibilidade de o menor celebrar casamento, desde que tenha idade igual ou superior a 16
anos art.1601º CC, e também o direito que o menor de 16 anos tem para perfilhar. A
perfilhação é um modo entre outros do estabelecimento da paternidade. A incapacidade de
exercício do menor cessa quando atingir os 18 anos ou for emancipado pelo casamento.
Sem prejuízo do que atras referimos a propósito do art.127º CC, os negócios jurídicos
celebrados pelos menores são anuláveis nos termos dos artigos 125º e 126º CC. A legitimidade
e o prazo durante o qual a ação de anulação dos negócios jurídicos celebrados pelos menores
encontram-se previstas naquele mesmo art.125º CC.
Embora certo que quase sem exceções o menor não tem capacidade de exercício nem
pode escolher quem o represente, a lei prevê um modo de suprimento dessa incapacidade de
exercício. Esse modo de suprimento é a representação legal. No caso, falamos especialmente
no poder/dever conferido aos sujeitos titulares da agora conhecida como responsabilidade
parental (anteriormente designada por: poder paternal). Para além da responsabilidade
parental, fala ainda a lei em tutela quando aquela responsabilidade parental não possa ou não
deva ser levada a efeito pelos progenitores do menor.
Incapacidades conjugais ou ilegitimidades conjugais
Pessoas coletivas
Os órgãos das pessoas coletivas podem ser deliberativos ou executivo, e não se confundem
nem com a pessoa dos associados, nem com a pessoa dos eventuais procuradores ou
mandatários.
Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos geralmente associados á ideia
de aquisição, modificação ou extinção de relações jurídicas.
Aquisição de direitos:
A aquisição de direitos pode ser originária ou derivada, por sua vez, a aquisição
derivada de direitos pode ser translativa ou constitutiva. Na aquisição originária o direito
adquirido não depende da existência de um direito anterior que poderá até não existir. Ex. a
ocupação de coisas moveis (art.1318º e ss CC), a usucapião (art.1287º e ss CC) e aquisição de
direitos de autor pela criação artística, literária etc. Na aquisição derivada de direitos o direito
adquirido funda-se na existência de um direito na titularidade de outra pessoa. A existência
desse direito anterior, e a sua extinção ou limitação geram a aquisição do direito pelo novo
titular. Ex. aquisição do direito de propriedade ou de outro direito real por força da realização
de um contrato.
A aquisição derivada translativa, que é também a mais vulgar, o direito adquirido é o mesmo
que já pertencia ou anterior titular. Na aquisição derivada constitutiva, o direito adquirido,
funda-se num direito mais amplo do antigo titular. Forma-se á custa dele limitando-o ou
comprimindo-o. Ex. o caso do proprietário de um prédio constituir uma servidão, ou outro
direito real de gozo ou até de garantia a favor de outrem.
Modificação de direitos:
Extinção de direitos:
A extinção ocorre quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de uma pessoa.
A extinção também pode ser subjetiva ou objetiva. É subjetiva quando apenas se muda a
pessoa do seu titular extinguindo-se o direito na pessoa do outro. A extinção é objetiva se o
direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa. Há
duas formas particulares de extinção dos direitos conhecidas como a prescrição e a
caducidade. Se o titular de um direito o não exercer durante certo período de tempo fixado na
lei ou em negócios jurídicos extingue-se esse direito. Diz-se, pois, que o direito prescreveu ou
caducou.
O art.298º nº2 CC diz-nos que quando um direito deva ser exercido durante certo
prazo aplicam-se as regras da caducidade, salvo quando a lei se referir expressamente á
prescrição. Há importantes diferenças entre o regime da prescrição (art.300º a 327º CC) e
o regime da caducidade (art.328º a 333º CC):
a) A simulação
b) A reserva mental
c) As declarações não serias
Na simulação o declarante imite uma declaração não coincidente com a sua vontade real
por força de um coluio/acordo com o declaratário com a intenção de enganar ou prejudicar
um terceiro ex.: A finge vender um prédio a B por coluio com este com a intenção de
prejudicar os credores de A. A e B não pretendem na realidade celebrar qualquer negócio
jurídico, mas apenas criar uma aparência para terceiros.
O conceito de simulação encontra-se vertido no nº1 do art 240º. Para que haja simulação ´w
necessário que se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:
Já sabemos que na simulação relativa o negócio jurídico simulado é nulo, tal qual na
simulação absoluta. Quanto ao negócio dissimulado, diz-nos o art.241º CC, que o negócio
dissimulado será objeto do tratamento jurídico que lhe caberia se tivesse sido concluído sem
dissimulação. Nestes termos poderá o negócio dissimulado ser valido ou inválido consoante as
consequências que teriam lugar se tivesse sido esse o negócio efetivamente celebrado.
Para além disto e de modo a que eventualmente o negocio dissimulado possa vir a ser
qualificado como valido é necessário atender ao nº2 do art.241º CC segundo o qual se o
negocio dissimulado for de natureza formal só é valido se tiver sido observada a forma exigida
na lei. Na reserva mental o declarante imite uma declaração intencionalmente divergente da
sua vontade real mas sem qualquer coluio com o declaratário pois visa precisamente enganar
ou prejudica-lo ex.: A declarada a B querer fazer-lhe uma declaração ou empréstimo sem que
na realidade tenha essa intenção pois apenas pretende evitar que B não se suicide. Há reserva
mental sempre que é emitida uma declaração negocial contraria á vontade real com o intuito
de enganar ou declaratário. Assim nos diz nº1 do art.244º. No nº2 do mesmo normativo prevê-
se a irrelevância da reserva mental exceto se for conhecida do próprio declaratario. Sendo
conhecida do próprio declaratario aplica-se á reserva mental conhecida adaptadamente o nº2
do art.240º CC.
Nas declarações não sérias, o declarante emite uma declaração intencionalmente não
coincidente com a sua vontade real, mas sem intuito de enganar ou prejudicar qualquer
pessoa e está convencido que o declaratário se pode aperceber do caracter não serio da
declaração. Embora haja divergência entre a vontade e a declaração naos e pretende enganar
o declaratario ou terceiros, pois procede-se na expectativa de que a falta de seriedade das
declarações não passa despercebida art.245 nº1. As declarações negociais não sérias quando
feitas, pois, com a expectativa que o declaratario não pode deixar de perceber da falta de
seriedade da declaração não produz qualquer efeito jurídico nos termos do nº2 do art.245º CC
A ordem jurídica exige que a vontade se haja formado de um modo julgado normal e
são. Essa vontade deve, pois, ser formada de um modo livre esclarecido e ponderado. A
vontade não se formará de modo livre, esclarecido ou ponderado, se o declarante tiver medo
provocado por coação moral se houver erro ou se se verificar ainda que transitoriamente uma
situação de incapacidade. Os vícios na formação da vontade são perturbações no processo
formativo da vontade operando de tal modo que a vontade embora coincida com a declaração
é determinada por motivos anómalos e ilegítimos.
Para que se forme a vontade negocial tem de existir no foro intimo da pessoa, isto é,
na sua mente, a formação de uma decisão para a qual concorrem vários fatores,
nomeadamente a prévia ponderação das vantagens e das desvantagens do negocio, a
existência de certas qualidades da coisa que lhe asseguram a realização dos fins que o negocio
lhe permite alcançar. Se neste fenómeno de formação da vontade se tem como verificado
certo elemento que não existe ou existe de modo diferente do que foi mentalmente
representado ou se não se toma em conta outro por se conhecer a sua existência, a vontade
formou-se erradamente. A “divergência” não é entre o que se quis e o que se declarou mas
sim entre a vontade real coincidente com a declaração e uma certa vontade hipotética ou
conjetural, isto é, a que teria tido o sujeito não fosse o processo anómalo de formação da sua
vontade. Existe erro quando a representação mental da realidade está em desacordo com um
elemento da realidade existente no momento da formação do negócio jurídico e tem de
respeitar a uma realidade passada ou presente em relação ao momento da declaração.
O erro sobre o objeto de negócio pode incidir sobre a identidade ou sobre as qualidades
objetivas da coisa. Tal qual como na modalidade anterior, o negócio assim celebrado é
anulável nos termos do art.251º CC que remete para o art.247º CC. Ex.: A compra a B uma
mobília supondo que é de pau santo quando na verdade era de pinho.
Requisitos da relevância do erro sobre a pessoa do declaratário ou sobre o objeto para que o
negócio seja anulável
Requisito geral: Essencialidade. Erro essencial é aquele que levou o sujeito a concluir o
negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído. O erro é a causa do
negócio em termos concretos, de tal ordem que sem ele o sujeito não celebraria qualquer
negócio ou celebraria um com outro objeto ou com outra pessoa.
O erro sobre os motivos insere-se no erro vicio como género, mas deste fazem parte
os casos em que o erro não se refere á pessoa do declaratário nem ao objeto de negócio. É um
erro acerca da causa que levou ou motivou a celebração do negócio (art.252º CC). Além da
essencialidade do motivo comum a todas as modalidades de erro vicio, torna-se agora
necessário, ao contrário das duas outras modalidades anteriores, que as partes hajam
reconhecido por acordo essa essencialidade. O nº1 do art.252º CC permite a anulação do
negócio desde que haja clausula expressa ou tácita no sentido de a validade do negócio ficar
dependente da existência da circunstância que diz respeito ao erro. Ex.: funcionário publico
arrenda uma casa numa determinada cidade julgando erradamente ter ficado colocado nessa
mesma cidade.
O erro sobre a base do negócio é um erro que incide sobre as circunstâncias que
constituem a base do negócio. A base do negócio é constituída pelas circunstâncias que sendo
conhecidas de ambas as partes foram tomadas em consideração por elas na celebração do
negócio e determinaram os termos concretos do conteúdo do negócio. Circunstâncias essas
que se dão como verificadas, mas que não existem ou são diferentes das que as partes
tomaram como certas. O nº2 do art.252º CC remete para os art.437º a 439º CC significando
esta remissão que o erro sobre a base do negócio é relevante nos mesmos termos em que é
relevante a alteração fundamental das circunstâncias a que se refere o art.437º CC.
b) Dolo
Encontra-se previsto no art.253 nº1 CC. Existe dolo quando se verifique o emprego de
qualquer sugestão ou artificio com intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o
autor da declaração (dolo positivo) ou quando tenha lugar a dissimulação pelo declaratário ou
de terceiro do erro do declarante (dolo negativo). O principal efeito do dolo é a anulabilidade
do negócio jurídico art.254 nº1.
A coação moral consiste numa ameaça ilícita de um mal destinado a levar outrem
determinado pelo medo de consumação da ameaça a concluir o negócio jurídico. o vicio da
vontade é o receio ou o medo. Porem medo causado por uma ameaça destinada
intencionalmente a provocá-lo. O coagido (que sofre a coação) prefere celebrar um negócio
jurídico que de outro modo não o quereria, a correr o risco da concretização do mal que o
ameaça. A sua vontade é viciada, pois age dominado pelo medo da concretização da ameaça.
Casos práticos
1. Inácio é neto de Carlos, filho de João e bisneto de pedro. Joana é irmã de João e mãe
de Tiago. Tiago é casado com Dulce e João é casado com Zulmira.
a) Elabore a respetiva arvore genealógica.
b) Indique a relação jurídico familiar entre:
1.Inácio e Pedro;
2.Tiago e Carlos;
3.Dulce e Carlos;
4.Zulmira e Dulce.
Suponha o seguinte:
2. António vendeu a Carlos 100g de um determinado produto por 500€ pois supunha que
o produto referido estava tabulado a 5€ a grama quando na realidade estava a 15€.
António pede a Carlos o pagamento da diferença. Tem a isso direito? 4 valores
3. António pretendendo ajudar o seu filho mais novo decidiu comprar lhe uma mobília
para a sua nova sala de jantar. António sabia que a predileção (gosto) do seu filho era
madeira exótica. Na loja António perguntou se a mobília exposta na montra era de pau
santo. O vendedor disse lhe que sim e António comprou a mobília. Um mês mais tarde
o filho de António verificou que a madeira em causa é pinho. António pretende ver
anulada aquela compra e venda. Quid iuris? 4 valores
4. Manuel de 15 anos de idade vendeu ao seu amigo de infância, Carlos, o seu relógio de
platina que lhe havia sido oferecido pelo seu avô dois anos antes. Aos 17 anos Manuel
morre e agora o seu pai e herdeiro pretende ver anulada aquela compra e venda entre
Manuel e Carlos. O pai de Manuel 15 dias depois daquela compra e venda teve
conhecimento dela e nada fez. Quid iuris? 4 valores