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No poema Num Bairro Moderno, de Cesário Verde, está patente a oposição cidade/

campo. O sujeito poético caminha pelas largas ruas macadamizadas de um bairro moderno da
cidade, e ao longo do qual faz contrastar o conforto dos habitantes do bairro com o esforço de
uma vendedeira ambulante, uma jovem camponesa pobre.

Trata-se de uma “rapariga” (v. 17) “rota, pequenina e azafamada” (v.16), que usava
“tamancos” (v.22) e meias de algodão azul (“o algodão azul da meia”). Era “feia” (v.24) e
desleixada (“esgadelhada”) e tinha “bracinhos brancos” (v.25). A presença dos diminutivos
“pequenina” e “bracinhos” denota a simpatia do sujeito poético pela vendedeira e ao mesmo
tempo a sua fragilidade. Esta fragilidade é reforçada na estrofe 19 (“magra, enfezadita” v.94).

Em contrapartida, a vendedeira demonstra ser ativa e trabalhadora (estrofe 13) e ao


mesmo tempo robusta (estrofe 14 vv.3-5). Esta robustez é notória também na estrofe 20 (“e
como as grossas pernas de um gigante”)

Esta descrição vinca bem o contraste entre a vitalidade dos produtos do campo
transportados pela vendedeira e a sua fragilidade.

Por outro lado, sugere a imagem de uma criatura pobre e privada de tudo, com uma
vida que é uma verdadeira luta, pis embora “azafamada", continua “rota” e “esguedelhada”,
de uma pobreza que se reflete também nas meias que se abrem quando ela se curva. Não
obstante, ela é alegre e “prazenteira”; a sua boa disposição reflete-se nos tamancos que
ressoam, no algodão azul das meias, na chita estampada e nas ramagens da sua saia, e dá-lhe
uma projeção ao mesmo tempo “pitoresca e audaz”, como alguém que desabafa a sua própria
penúria, com o “peito erguido, os pulsos nas ilhargas” (mostrando-se decidida), e “duma
desgraça alegre” (paradoxo) que incita o sujeito poético.

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