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João- Miguel Torga é o pseudónimo adotado por Adolfo Correia da Rocha para assinar a

sua obra literária. O Nome Miguel é uma espécie de homenagem aos espanhois, mais
precisamente, a Miguel Unamuno que foi uma grande inspiração na prosa de Torga . Já o nome
Torga, por sua vez, é uma homenagem à planta urze, também conhecida como "torga", que existia
em grande número na terra natal do poeta. O escritor português nasceu a 12 de Agosto de 1907
em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes e faleceu em Coimbra no em de janeiro de 1995.
Afonso- Torga é um escritor que se situa no concreto e que está ligado ao húmus natal. A
sua obra é ele e a natureza, ele e Portugal.
O seu estilo poético é de uma eloquência sóbria, viril, que ou aquece de entusiasmo, ou
fustiga.
Em contrapartida, existe outra zona de inspiração, que ele traduz por termos como sonho,
ilusão, aventura, Deus... O culto da liberdade e ânsia surge como permanente traço de união.
Leonor- Em Torga temos a sede de fraternidade, o lamento por não ter sabido amar ou
por o amigo se lhe haver negado. É o impulso afetivo para o outro que faz dele o poeta da
comunidade. Torga é simultaneamente o poeta da angústia e o poeta da esperança. Bruna-
Angústia provocada pela ausência de Deus ou do divino nos homens, pelas mortes. A esperança é
a resposta da vida que em nós continua a latejar. Por isso, o humanismo de Torga consiste numa
lição de juventude. O poeta denuncia, ilumina, constrói.
Bernardo- O que há de invulgar em Miguel Torga é o facto de ele se apresentar, quer
como poeta quer como prosador, como um ser inconfundível, um telúrico padrão e um expoente
da Pátria, um artista da língua em que se exprime, um legatário de valores culturais, um receptor
atento e um transmissor dos inúmeros problemas do Homem. Torga tem todo o seu ser e toda a
sua obra firmados no solo onde se consubstanciam.
João- Torga é considerado a voz de Trás-os-Montes e a voz de um povo rude e
melancólico, mas de carácter firme e nobre. Mostra-se preocupado com a autenticidade criadora,
projetando na sua escrita as suas preocupações com o ser humano, a sua necessidade de
transcendência. É visível, na sua obra, um sofrimento magoado, que se transforma em
desassossego, e que tanto permite a esperança como conduz ao desespero.
Afonso- A arte poética, à semelhança do que sucedia com Orfeu, a poesia surge, na obra
de Miguel Torga, associada ao canto, que tem a função de encantar o mundo e de manter viva a
capacidade de sonhar da humanidade.
O processo de escrita decorre da inspiração, que é proporcionada pela beleza. No entanto,
é frequentemente caracterizado como doloroso.
A poesia de Torga, na sua generalidade, caracteriza-se pela irregularidade a nível estrófico
e métrico e pelo recurso ao verso branco.

Cantiga de mal dizer


Isa- O título do poema sintetiza a sátira feita a uma menina que afirma conhecer, remetendo para
a crítica presente nas cantigas de Maldizer medievais.
Esta menina é comparada com a “rosa dos ventos” e com um “fruto maduro” pois é
apresentada como indecisa e inconstante. A rosa dos ventos indica a direção dos ventos que são
inconstantes. Assim acontece com a menina que pede ajuda quando alguém procura namorá-la
rejeitando a solicitação do pai em protegê-la num convento. Bernardo- Tal como acontece na
comparação com o “fruto maduro”, na indefinição do seu medo quer de ser comido quer de ser
permanecer da arvore até cair.
Este poema está relacionado com a tradição literária portuguesa na medida tradicional
que está ligada às construções poéticas de origem popular portuguesa muitas vezes recuperada
pelos poetas.
Orfeu-Rebelde
Bruna- O «eu» autocaracteriza-se como um poeta «rebelde», sincero e intenso. A sua
expressão corresponde à autenticidade do seu ser, do seu sofrimento e dos seus sentimentos.
Esta atitude poética opõe o “eu” aos “outros”, aqueles que se conformam e, «felizes», são
«rouxinóis». Esta metáfora exprime ironia relativamente à aceitação fácil da vida, atitude contrária
à do eu, que se apresenta como um ser atormenado e revoltado, desafiando as leis do tempo e da
vida, metaforizadas nos versos 9 e 10. Leonor- Ser poeta é lutar contra a passagem do tempo e
contra a morte, como Orfeu tentou, é inscrever-se na eternidade e afrontar a efemeridade da
vida,
O eu exprime a dolorosa condição do ser humano, mas tenta supera-la recusando-a e
afirmando a sua identidade. O seu canto é uma arma e exprime a sua complexidade.

A um Negrilho
Inês- Miguel Torga dedica o seu poema a uma arvore, o negrilho.
Negrilho é uma árvore de grande porte que dá madeira escura, também designada por
olmo ou ulmeiro.
No poema, o "A um Negrilho" surge descrito como uma árvore imponente, antiga, de copa
abundante em cuja ramagem se refletem a "luz do sol" e a luminosidade noturna. Ao mesmo
tempo, é um espaço protetor, a que se acolhem o "eu", "os pássaros e o tempo", que assume
quase o estatuto de ser humano, dotado quer de atributos físicos, a voz e os "olhos", quer de
traços psicológicos, pois é definido como sábio e sonhador. Para além disso, o negrilho é o único
poeta da terra natal do sujeito poético.
No seu relacionamento com o "Negrilho", o sujeito poético identifica-se com ele
considerando-o essencial para a sua aprendizagem e admirando-o dado que ele simboliza a
harmonia da natureza.
Diogo- Pode-se, a partir deste poema, identificar um conceito de poesia que apresenta
como traços essenciais a valorização da sabedoria da terra, a simplicidade poética, inspirada na
natureza, o ideal de harmonia e de serenidade.
A alteração de pessoa verbal, de «ele» para «tu», entre as duas primeiras estrofes faz
ressaltar a proximidade entre o «eu» e o «Negrilho».
Ainda, há cerca de dois anos, o negrilho foi motivo de polémica, uma vez que
homenagearam Miguel Torga fazendo uma escultura do seu rosto na raiz do ulmeiro. A filha do
poeta transmontano, Clara Crabbé Rocha, ficou desolada com tal homenagem e afirmou que "se
Miguel Torga fosse vivo, indignado com este atentado ao bom senso e ao bom gosto, pediria que
acabassem de vez com esta triste história e que plantassem no largo um negrilho novo para as
gerações futuras, o que ele próprio tentou fazer em vida".
Isa- Em suma, na obra de Miguel Torga há predominio do "homem" e as suas relações,
harmoniosas ou não, com a terra e com o mundo. A morte e a solidão também são temas
constantes nos seus escritos que revelam não só a amplitude universal do poeta, mas também a
consciência da brevidade humana.

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