Resenha Crítica Do Conto

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Resenha Crítica do Conto "Carta" de Vergílio Ferreira

Vergílio Ferreira foi um renomado escritor português, professor e ensaísta nascido em Melo,
Gouveia, Portugal, em 28 de janeiro de 1916 e falecido em Lisboa, Portugal, em 1 de março de
1996. Ele é conhecido por sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance, conto),
ensaio e diário, que costuma ser agrupada em dois períodos literários: o Neorrealismo e o
Existencialismo. Ele foi galardoado com o Prémio Camões em 1992. Suas obras exploram
questões existenciais e filosóficas, muitas vezes refletindo sobre a condição humana e a busca
por sentido na vida. Ferreira foi um dos principais representantes da literatura portuguesa do
século XX.

O conto "Carta" de Vergílio Ferreira é uma reflexão profunda e nostálgica sobre a vida, o tempo
e as relações familiares. O narrador retorna à casa paterna, cercada por oliveiras, após um
período de ausência. Ao reabrir as portas e janelas, ele revive memórias do passado, recordando
a presença do pai, a serenidade da mãe e a ligação com a terra. A narrativa transita entre
momentos presentes e lembranças, explorando a dualidade da esperança e da resignação. O
conto destaca-se pela linguagem poética e pela atmosfera contemplativa, convidando os leitores
a mergulharem nas profundezas da experiência humana.

O narrador, em 1ª pessoa, conduz os leitores por uma jornada melancólica e reflexiva,


explorando temas universais como tempo, memória e a busca por significado na experiência
humana. A narrativa, estruturada como uma carta, revela-se uma carta de retorno, não apenas
à casa física, mas também às raízes emocionais e à essência do próprio narrador.

O conto inicia-se com um apelo profundo e nostálgico: "Eis que te procuro agora como nunca,
te espero agora como nunca. Se tu viesses..." A casa, cercada de oliveiras e verdura, torna-se um
símbolo do tempo que parece demorar-se e resistir ao efêmero. A natureza, em suas estações,
serve como pano de fundo para a reflexão do narrador sobre sua própria jornada.

A volta à casa paterna, após um período de ausência, fecha o ciclo do narrador. A descrição
detalhada do ambiente, desde as ervas crescendo até os restos de ferragem, resgata memórias
de um passado em que o pai amava a terra e a mãe detinha a serenidade que parecia conhecer
o fio do destino.

A voz humilde que o narrador ouve, ressoando no silêncio, sugere a presença da memória como
única testemunha dos eventos passados. A reconexão com o lar traz à tona diálogos e momentos
compartilhados, evocando a sensação de completude e plenitude que a casa paterna
proporcionava.

A escrita de Vergílio Ferreira transcende o tempo linear, movendo-se entre lembranças e ações
presentes. O narrador, ao acender lenha no fogão, revive sensações antigas e se entrega a um
silêncio que ecoa como nas noites de outrora. A cadência e a poesia da linguagem envolvem o
leitor em um fluxo de consciência, revelando a complexidade do narrador e seus anseios.

A presença dos cães, os diálogos sobre o tempo e a figura materna reforçam a densidade
emocional do conto. As noites de inverno, o silêncio interrompido apenas pelos latidos distantes
dos cães, contribuem para a atmosfera contemplativa e introspectiva da narrativa.

A esperança, tema recorrente nas palavras do narrador, é apresentada com uma dualidade
peculiar. Enquanto o passado é evocado com carinho, a esperança do presente assume a cor do
cansaço e da resignação. A forma que envolve o narrador, permeada pela piedade, revela a
complexidade das experiências vividas e a busca por um significado que parece fugir entre os
dedos.

Em suma, "Carta" é uma obra rica em nuances emocionais, permeada pela saudade e pela
reflexão sobre a passagem do tempo. A prosa introspectiva de Vergílio Ferreira mergulha nas
profundezas da alma humana, convidando os leitores a explorar a complexidade das relações
familiares, da memória e do constante diálogo entre passado e presente.

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