Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mário Avelar
Cosmos
2006
Ao Raúl Manuel e ao Mário José
Prólogo p. 1
Capítulo 1.
Jorge de Sena - Das subtilezas do diálogo entre a poesia e as artes visuais p. 6
Capítulo 2
alguns antecedentes mitológicos, a ekphrasis e os equívocos da mimesis p. 38
Capítulo 3
Superando equívocos, do romantismo à contemporaneidade p. 83
Epílogo p. 222
Fontes p. 229
PRÓLOGO
A hospitalidade do poema face a discursos e/ou estratégias de representação
próprios de outras artes, permite-lhe conceber peculiares verbalizações. A estas associa-se
uma prática de enunciação específica, a ekphrasis. No plano ontológico semelhante
hospitalidade possibilita exercícios de descentração; o poeta acede a (simula) outras
identidades que lhe ampliam a sua percepção do real e de si próprio. O sujeito reconhece-
se como instância de fluidez e mutabilidade, núcleo instável, confluência de focalizações
prismáticas pelo poema enunciado. A autonomia decorre da heteronímia, desvendando-se
o texto como instrumento dessa descoberta, dessa revelação.
JORGE DE SENA
Jorge de Sena é um dos vultos maiores da literatura portuguesa do século XX. Com
uma obra extensa e diversificada, abrangendo da poesia ao drama, da narrativa à crítica, da
tradução à ensaística, Sena é autor de Metamorfoses (1963), um livro de poemas singular
da nossa poesia contemporânea. Nele, o escritor toma referentes explícitos das artes
visuais como impulso para a criação dos seus poemas. Descrições, interpelações irónicas
ao leitor, confissões de raiz biográfica mais ou menos explícitas, leituras de sentidos
eventualmente difusos, são algumas das estratégias de enunciação por ele utilizadas, e que
funcionarão como ponto de partida para uma reflexão sobre vertentes do diálogo entre a
poesia e as artes visuais.
Começando por observar este último aspecto, importa recordar que o próprio Sena
definira de uma forma muito clara a sua relação com Pessoa no Posfácio a Metamorfoses,
datado de Janeiro de 1963. Escrevera então que já se gastara “o desafinado disco de me
acharem discípulo,” acrescentando algo de particularmente relevante: “quando ele é o que é
meu, pelo muito que, criticamente, o expliquei por mim.” (Sena, 1978: 167) Ora, será
exactamente através desta relação com o poeta de Mensagem, que o primeiro aspecto
acima citado, o da interacção com as tradições poéticas anglo-saxónicas, se insinua.
O único modo de expressar emoção na forma de arte é descobrindo um “correlativo objectivo”; por
outras palavras, um conjunto de objectos, uma situação, uma cadeia de acontecimentos que será a fórmula
dessa emoção específica; de tal maneira que quando os factos exteriores, que devem resultar em experiência
sensorial, são facultados, a emoção é imeditamente evocada. Se examinarmos qualquer das mais bem
sucedidas tragédias de Shakespeare, descobriremos esta equivalência exacta; descobriremos que o estado
de espírito de Lady Macbeth, ao caminhar durante o sono, nos foi transmitido por uma hábil acumulação de
impressões sensoriais imaginadas; as palavras de Macbeth ao saber da morte da mulher atingem-nos como
se, dada a sequência de acontecimentos, estas palavras fossem automaticamente provocadas pelo último
acontecimento da série. (Ibidem)
Será esta tradição poética e intelectual que, no início do século XIX, servirá à
segunda geração romântica inglesa, nomeadamente a John Keats e a Percy B. Shelley,
como forma de denegar o carácter confessional da geração anterior, a chamada primeira
geração romântica de viragem do século XVIII para o XIX, cujos vultos maiores são William
Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge. Como adiante veremos, Keats e Shelley recorrerão
a várias entidades, entre as quais se destacam objectos artísticos, que eles fazem
despertar do silêncio para “se substituirem” à imagem e à voz do poeta. Alguns anos
depois, em meados do século XIX, e ainda em Inglaterra, Robert Browning inova esta
estratégia de enunciação através da transposição explícita de estratégias dramáticas para a
poesia: o monólogo dramático. Segundo João Almeida Flor, esta solução de
impessoalidade:
Ora, é nesta estratégia que Sena, tanto enquanto poeta como crítico, se
movimenta; é esta estratégia que ele reformula. O monólogo dramático de Browning, o
correlativo eliotiano e a heteronímia pessoana são assim “acrescentados da ‘expressão
enquadrada’ de Sena.” (Magalhães, 1981: 59) Uma vertente, em particular, desta estratégia
será nuclear para o estudo que proponho, o da interacção da poesia com as artes. Será
aqui que, como adiante se verá, o génio de Sena se projecta. Refiro-me, em concreto, ao
último tópico acima mencionado, o do recurso a objectos artísticos que são assumidos
enquanto virtuais enunciadores. Na sequência de Metamorfoses, e prolongando o diálogo
entre o poema e outras formas de expressão artística, Sena publica Arte da Música, um
conjunto de poemas impulsionados por peças musicais. Porque, tal como acima escrevi,
esta análise se restringe à interacção entre a poesia e as artes visuais, não abordarei este
último livro.
… desde os finais da década de 30 [do século XX], é possível reconhecer que a língua e a literatura
inglesas exercem notória atracção sobre as propostas da geração onde se situam, entre outros, Adolfo Casais
Monteiro, Thomas Kim, Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, Sophia de Mello Breyner e o próprio Jorge de
Sena, isto é, o primeiro grupo de autores novecentistas que, de forma às vezes espontânea, acabam por
manifestar afinidades de formação ou interesses estéticos anglocêntricos. (Ibidem, 56)
...os precedentes literários ou poéticos desta meditação específica, se em verdade os houve, tenham
sido mero registo impressionista ante uma obra de arte (ao nível das emoções já definidas nos guias turísticos
e nos almanaques), e não o especular emocionalmente para além das obras, com a emoção complexa de um
espírito culto, para quem a História tem de estar presente na compreensão da própria e pessoal humanidade,
com a qual lhe é dado compreender a dos outros. (Ibidem)
Uma breve digressão se impõe, apenas com o intuito de esclarecer, desde já, que ela
não se restringe ao espaço inglês. Alguns breves exemplos vindos dos Estados Unidos da
América apenas até à II Guerra Mundial: o conflito dramático entre as diferentes vozes/
personae de Walt Whitman (as acima mencionadas me, real me e soul) e a sua
assimilação da vertente visual decorrente da representação fotográfica; a recuperação feita
por Herman Melville na sua poesia final de correlativos artísticos da Antiguidade Clássica; o
diálogo com a pintura na poesia de Wallace Stevens e de William Carlos Williams; o
impacto da música e do cinema em Hart Crane. À generalidade destes aspectos
regressarei, em detalhe, no terceiro capítulo.
Dois tipos de desconstrução surgem assim através destes diálogos. Por um lado, a
do género - lírico ou dramático - que absorve características exógenas. Por outro, as
fronteiras entre uma poesia convencionalmente intimista ou lírica, e uma outra forma de
expressão mais discursiva ou dramática, ou seja, as fronteiras entre lírica e drama são,
como tal, reformuladas, num processo de contaminação que faz do texto poético um espaço
de radical reflexão e inteligência. Com efeito, através desta estratégia, o poeta supera
aquilo que Arnold designou como touchstones, isto é, aqueles marcos que, pela
singularidade, se destacaram nos seus tempos, constrangendo a afirmação de identidades
ulteriores; recupera vozes que as modas esqueceram, por exemplo, “sob certos aspectos,
os sonetos são uma tentativa para retomar em Ângelo de Lima (sem o ultra-romantismo que
ainda se prolonga nele) um dos cursos traídos do Modernismo português” (Ibidem: 165);
preenche um vazio cultural ao meditar através da verbalização de horizontes que o leitor
desconhece ou julga conhecer, pois “em toda a parte, as pessoas acham que todas
entendem de objectos plásticos, enquanto a muitas deles falta cultura musical” (Ibidem: 14);
ecoa inquietações críticas, signos afinal de uma modernidade “firmemente anti-romântica,
no sentido de … ser inimigo de todas as falácias.” (Ibidem: 222)
Constata-se que o percurso crítico de Sena é também ele, como referi, um espaço de
meditação teórica.
… a conquista de Eliot … consiste em ter sabido encontrar na angústia ética, na missão moral da
linguagem poética, e sem imediato didactismo ou mesquinha apologia, a vibração humana que o pudor do seu
espírito por demais consciente do Mal lhe consentia. (Sena, 1989: 368).
Todos estes aspectos detectados em Arnold - e lateralmente por mim convocados
face a Maquiavel e a Eliot - ecoam enfim na postura intelectual e artística de Sena.
Aliás, esta sua leitura das dramatis personae em Browning não se restringe a este
autor e a este livro. Em “Sobre Shakespeare,” incluído em Maquiavel, Marx e outros
estudos, Sena detectara a sua presença dramática, desmontando rigorosamente o
problema envolvido: “Por despersonalização teatral devemos entender a capacidade de
criar figuras autónomas que, no palco, não falam das ideias e dos sentimentos do autor,
mas sim em função das situações em que são colocadas e do carácter que lhes é
atribuído.” (Sena, 1991:61-2)
Dois derradeiros exemplos da sua leitura crítica, precisamente a referente aos dois
vultos maiores da segunda geração romântica inglesa, várias vezes convocados no decurso
deste capítulo: Keats e Shelley. Em Keats, Sena lembra naturalmente as epístolas, pois
será aí que se reconhece: “… quanta experiência interior, quanta densidade de
pensamento, quanta paixão amadurecida, quanta reflexão sobre a natureza da poesia iam
naquela sensualidade vibrantemente contida.” (Ibidem: 255) Ou seja, ainda a meditação
sobre a obra que se cria e que irá ecoar em “A Máscara do Poeta”, o poema de
Memorfoses a ele dedicado: “a sensação de ser, / o pensamento arguto penetrando as
coisas” (Sena, 1978: 131). Finalmente, recorde-se Shelley, o poeta que superou o pathos
da geração anterior na invocação de correlativos. Nele, Sena aponta naturalmente “um
espírito que tudo transfigura.”
Esta breve síntese da abordagem feita por Jorge de Sena aos poetas que, em língua
inglesa, lhe proporcionaram as suas próprias superações e a afirmação de uma identidade
literária, demonstra afinal de que forma ela espelha toda uma elaboração teórica.
Com efeito, o poema começa por uma descrição rigorosa, poder-se-ia dizer fiel, do
objecto; uma descrição que leva o leitor a recriar visualmente esse objecto. No entanto, logo
exercita uma fuga; transita para a especulação intelectual, para a exposição de inúmeras
hipóteses de leitura que permitam entender algo que no tempo se diluiu, a sua identidade
enquanto signo de um tempo específico. No primeiro momento do poema, estamos perante
aquilo que poderemos designar como um processo descritivo, um processo que terá os
seus antecedentes remotos na Antiguidade Clássica, no episódio do escudo de Aquiles, da
Ilíada [canto XVIII (478-608)], de Homero, o qual será analisado no capítulo seguinte. Como
adiante veremos, Aquiles prepara-se para o combate com Heitor. Em resposta ao pedido da
deusa Tétis, Hefesto forja o escudo do herói, no qual projecta inúmeras cenas do
quotidiano, as quais, por seu turno, são descritas pelo narrador. Trata-se, obviamente, de
uma descrição de um objecto imaginário, mas que obedece a critérios visuais que lhe
conferem verosimilhança. Esta tradição descritiva é retomada por Sena em “Retrato de um
desconhecido”, um poema sobre um Retrato de Jovem Cavaleiro, um quadro de Mestre
anónimo do século XVI, que se encontra depositado no Museu Nacional de Arte Antiga,
habitualmente conhecido como Museu das Janelas Verdes.
Este quadro é marcado pelo anonimato tanto do modelo, como do autor. Neste
anonimato reconhece-se uma suprema ironia: o retrato, cuja função primeira seria a de
preservar uma memória, reproduz, afinal, alguém cuja identidade, cujo nome, se perdeu no
tempo. O anonimato estende-se a um autor que tão bem soube captar essa outra
identidade, aquela que se espelha no olhar do seu modelo, e na forma específica como este
nos interpela a nós, espectadores:
O quadro determina a leitura que dele é feita: a maestria com que o olhar é
representado e a forma como ele nos interpela, impressiona e seduz, ao que acresce o
anonimato do jovem a quem pertence. A descrição é neste texto interpolada pela reflexão,
pela especulação imposta pelo objecto ao seu observador atento. A este poema
regressarei, porém, mais adiante.
Rosa e tempo.
Escada horizontal. Cilindro curvo.
Exemplo e manifesto. Paz e forma
do abstracto e do concreto.
Hierarquia
de uma outra vida sobre a terra. Gesto
de pedra branca e fria, sem limites
por dentro dos limites. Esperança
vazia e vertical. Humanidade. (Ibidem)
Será a nível da estrutura do poema que esta tradição nele ecoa. A enunciação das
vertentes filosóficas, culturais, espirituais e arquitectónicas, surge numa sucessão elíptica
dela devedora. Recorde-se que, como já referi, este carácter elíptico se ergue contra a
dimensão predominantemente discursiva de Metamorfoses, e que naturalmente decorre de
semelhante estratégia de enunciação.
Outro exemplo desta representação de edifícios, alargando-se, porém, aos espaços
circundantes, surge em “Mesquita de Córdova”. Nos versos iniciais, esta inserção espacial
chega a indiciar o acima referido tópico do locus amoenus:
Mais uma vez, o objecto funciona como leitmotif para um discurso que se pretende
transitivo, isto é, para um olhar que não se limita à perplexidade, ao provinciano pasmo face
ao carácter impressionante do referente. Este é, enfim, um olhar que inteligentemente
procura os seus nexos originais. Curiosamente, esta estratégia de representação de
edifícios e dos espaços que os circundam, conhece, uma vez mais, os seus antecedentes
remotos na Antiguidade Clássica, neste caso na descrição dos jardins e do palácio de
Alcínoo, na Odisseia, sendo, ainda na Antiguidade, prolongada em dois momentos ilustres:
as reproduções verbais dos murais do templo de Juno em Cartago e dos portais do templo
de Apolo, feitas por Eneias na Eneida; e a descrição do palácio do Sol, feita por Ovídio nas
Metamorfoses.
Tanto “A Nave de Alcobaça” como “Mesquita de Córdova” são exemplos de signos
que, na sua imponência, resistiram à acção do tempo. Em contrapartida, “Cabecinha
romana de Milreu” introduz a temática da fragilidade do objecto.
O trecho entre aspas foi citação, feita de memória, de De Hominis Dignitate, de Pico della Mirandola,
obra que li primeiro, em 1956, ... O assunto do mito grego, mas não o quadro de Piero di Cosimo, foi glosado
por Camões, se é dele a sequência de dois sonetos, incluída na Segunda Parte das Rimas (1616). São os que
começam ‘Por sua ninfa Céfalo deixava’ e ‘Sentindo-se tomada a bela esposa.’… Cumpre acrescentar que há
dúvidas acerca da correcta identificação iconográfica deste quadro de Piero di Cosimo. (Ibidem, 230)
Ou seja, contrariamente ao que sucede em Keats e que observaremos no terceiro
capítulo, a identidade autoral não se dilui, antes constituindo uma evidência pela sua própria
formulação crítica denunciada nos segmentos representados entre aspas:
se de enganos,
de mutações, de incestos, e de crimes,
é feita a liberdade de nascer-se humano,
‘nem do céu, nem da terra, nem mortal
nem imortal, mas livre e altivo artista
que o próprio ser esculpe e que o modela
na forma preferida’ … (Ibidem, 91-92)
Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
de que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo. (Ibidem)
Entre outros aspectos, Sena ironiza a consagração tardia, marcada por rituais sociais
e políticos (a evocação do poeta feita pela ditadura desvenda-se nestes versos) e pela
necessidade de exibir uns restos mortais que simulem a sua presença; a ironia suprema
será, contudo, a do esquecimento ao qual os contemporâneos estariam votados, em
contraste com a memória preservada do artista.
Ao optar por uma persona, Sena pode, afinal, construir uma sátira sobre quão difícil é
uma obra ser assimilada no seu tempo, e sobre a forma como ela pode ser recuperada
politicamente. A estratégia dramática evita o pathos que seria inevitável se o sujeito de
enunciação de imediato se confundisse com a identidade do poeta.
Não foi objectivo meu proceder a uma análise exaustiva dos poemas de
Metamorfoses, nem das próprias subtilezas dos próprios textos, e dos diálogos que eles
desenvolvem entre si (veja-se a interacção subliminar entre a “temática da traição”, nuclear
em “‘O Balouço’, de Fragonard”, e transversalmente irónica em “Cabecinha romana de
Milreu”), mas sim tentar desvendar em que medida eles denunciam quer uma profunda
consciência e manipulação das tradições da interacção entre a poesia e as artes e da
ekphrasis, radicadas na Antiguidade Clássica, quer um vasto saber de contextos históricos,
de formulações estéticas, de tensões individuais e colectivas. Como vimos, Sena não
reproduz os objectos, ele toma-os como impulso para reflexões várias onde a sua
percepção do real se insinua. Refere Joaquim Manuel Magalhães a este respeito:
Todos estes poemas partem de obras anteriores, partem da evidência de outras formações de sentido
não para um encontro reprodutor, que conduzisse a uma sua leitura interpretativa, mas para um desvio que as
toma como impulso, como solo de significações para outras obras escapando ao sentido dessas obras
anteriores. Por aí se desdobrarem nos seus sentidos próprios que, muitas das vezes, são um eco longínquo
do que essas obras anteriores intencionavam ser. (Magalhães, 1981: 27)
Esta breve viagem pelas grandes vertentes do diálogo entre a poesia e a arte, e
também da formulação específica da ekphrasis, e pela sua presença em Metamorfoses,
exemplifica a amplitude do processo de reformulação levado a cabo por Sena. Nela se
projecta ainda obviamente todo o esforço intelectual e de elaboração crítica e teórica levado
a cabo ao longo de inúmeros projectos através dos quais um poeta maior se construiu. Para
melhor o entendermos, deveremos, em seguida, ir ao encontro do solo onde essa tradição
se fundou: a Antiguidade Clássica, Grécia e Roma.
CAPÍTULO 2
*
Apesar da designação portuguesa – écfrase, tal como já sucedeu no capítulo anterior, opto por não
traduzir.
interacção entre a palavra escrita e o objecto artístico. Regressemos, porém, a
Homero.
As diferentes cenas são evocadas de uma forma algo arbitrária pela voz
do poeta; elas constituem, afinal, diferentes quadros dento de um quadro mais
geral que será o da indentidade da cena histórica. As micronarrativas
coexistem, assim, autonomamente, numa óbvia independência formal. A
ligação entre elas será todavia assegurada através da identidade comum acima
referida: “Forjou ainda o ínclito Anfigieu uma pastagem, / grande, num vale
formoso, com ovelhas alvinitentes,/ estábulos, tendas cobertas e parques.”
(Ibidem, 37)
Parou
um momento, hesitante, antes de passar o limiar de bronze.
A casa de altos tectos do magnânimo Alcinoo
tinha um brilho semelhante ao do sol e ao da lua.
De lés a lés estendiam-se muralhas de bronze,
do limiar ao fundo da casa. À volta, um friso de esmalte azul.
Portas de ouro fechavam por dentro a casa massiça.
Os lados eram de prata, sobre limiares de bronze,
de prata era o dintel, e a aldrava de ouro.
De cada lado havia cães de ouro e prata,
que havia forjado Hefesto, com sua arte subtil. (Rocha Pereira: 1982, 68)
A descrição não se limita a enunciar os objectos, desvendando
igualmente de uma forma pormenorizada aspectos nucleares da representação
artística como a cor e textura. À semelhança do que sucedera na Ilíada,
destaca-se a figura do deus artífice “com sua arte subtil” e a materialidade da
sua produção (“forjado”). Uma vez mais aquele que produz a arte é um deus,
tendo, por isso, um estatuto elevado; por extensão, o objecto criado ganha
também esse estatuto.
Neste país de esplêndidos corcéis, ó estrangeiro, à mais bela mansão da terra tu chegaste: Colono
alvinitente. Aqui, a doce filomela entoa seus lamentos, na verde espessura dos vales que frequenta. A hera
sombria lhe serve de morada, e do deus a inviolável ramagem de mil frutos, que não conhece o sol, nem os
ventos de todas as tempestades.
Este é o lugar sempre frequentado pelo Báquico Dioniso, em companhia das deusas que o
criaram.
E sob o orvalho do céu, dia após dia, sem cessar, em belos cachos floresce o narciso,
das grandes deusas coroa ancestral, e o açafrão de brilho dourado. E não secam as fontes
insomnes, de onde brotam as águas vagabundas do Cefiso. Mas sempre, nos seus dias, se
apressa a fecundar com a pura linfa os campos deste país rico em planícies. Nem das Musas
os coros lhe nutrem aversão, nem Afrodite de rédeas doiradas. (Sófocles, 1996: 88-89)
… a mesma grandeza, vista a nossos olhos de perto e de longe, não parece igual. … E os mesmos
objectos parecem tortos ou direitos, para quem os observa na água ou fora dela, côncavos ou convexos,
devido a uma ilusão de óptica proveniente das cores, e é evidente que aqui há toda a espécie de confusão na
nossa alma. Aplicando-se a esta enfermidade da nossa natureza é que a pintura com sombreados não deixa
por tentar espécie alguma de magia, e bem assim a prestidigitação e todas as outras habilidades desse
género. (Platão: 1987, 467)
Segundo ele, o pintor reproduz uma aparência (óptica) e não a essência de uma
realidade. A rejeição daquela que poderá ser considerada uma prática específica de
imitação, a pictórica, radicará no carácter ilusório da pintura, na distorção inerente aos
pontos de vista adoptados. Será, portanto, desse carácter ilusório que aspectos como a
perspectiva e a policromia participam, sendo por Platão denunciadas como “prestidigitação
e … outras habilidades” afins, isto é, como estratégias de disssimulação do real. À
dissimulação associa-se, naturalmente, a possibilidade de manipulação por parte do artista.
Afinal, aquilo que o objecto artístico representa não será o referente em si mas uma, entre
outras, possibilidades do objecto. Isto não significa que Platão reduza a sua abordagem ao
papel do pintor a esta perspectiva. Como acima referi, no Sofista Platão designara dois
tipos de representação, aquela que se fundamentava na semelhança e aquela que se
caracterizava por uma distorção fantasiosa do real. Ora, esta distinção ecoará na sua forma
de encarar a prática da pintura.
Ainda em A República, mais precisamente no livro VI, Platão refere algo
que evoca essa distinção. Ao aludir àquela que considera ser a função do
filósofo enquanto delineador de um projecto de um Estado (sociedade) perfeito
(a), recorre à analogia com o pintor. Defende então que os filósofos serão
“esses pintores que utilizam esse modelo divino.” Coloca-se aqui a
possibilidade de uma representação da essência do referente, ou, poder-se-á
dizer, da verdadeira realidade. Trata-se de um passo extenso mas que importa
observar para podermos compreender as suas implicações:
“Ponde tudo de lado – disse o deus – levai daqui os trabalhos começados ó Ciclopes do Etna, e voltai
para mim a vossa atenção. Temos de forjar armas para um bravo herói. Agora são precisas todas as vossas
forças, agora é preciso que nisso useis as vossas ágeis mãos, é agora necessária toda a vossa perícia de
mestres. Evitai delongas.”
Nada mais acrescentou. E logo todos eles se lançaram ao trabalho e dividiram a tarefa entre si. Flui o
bronze em torrentes, escorre o ouro, liquidifica-se o aço vulnífico na vasta fornalha. Modelam um enorme
escudo, um só contra todas as flechas dos Latinos, sobrepondo sete camadas cortadas em círculo.
Manejando os foles inchados pelo vento, uns fazem entrar e sair o ar; outros banham num lago o bronze
estridente. Geme o antro com as bigornas que aí se encontram. Todos eles, ao mesmo tempo, com muita
força erguem os braços a compasso e voltam a pesada massa com fortes tenazes. (Virgílio: 2003, 163)
Neste [no escudo] gravara o Ignipotente a história de Itália e os triunfos dos Romanos, pois não
ignorava os vaticínios dos profetas nem desconhecia a eternidade vindoura. Aí gravara toda a descendência
da futura estirpe de Ascânio e, por ordem, as sucessivas guerras travadas. Aí gravara também uma loba que
pouco antes havia dado à luz, deitada no antro verdejante de Mavorte... (Ibidem, 167)
De um lado, estava Augusto César conduzindo os povos itálicos à guerra, juntamente com os
senadores e o povo, com os Penates e os grandes deuses; estava de pé, na elevada popa do navio… . Noutra
parte, Agripa com deuses e ventos favoráveis, conduzindo do alto o seu exército; as suas têmporas refulgem
cingidas com a coroa naval ornada de esporões. De outro lado, António , com as hostes bárbaras e as suas
armas confusas, que regressava vitorioso dos povos da Aurora e do mar Vermelho…(Ibidem, 169)
Até se via a própria rainha a entregar as velas aos ventos que invocara em seu socorro, soltando os
cordames uma vez mais. No meio do morticínio, pálida por pressentir a morte próxima, assim a esculpiu o
Ignipotente, a ser levada pelas ondas e por Jápix; à sua frente, entristecido, o Nilo de grande corpo, abrindo a
prega da túnica, estendendo as vestes e chamando os povos vencidos para o seu cerúleo regaço e para os
secretos esconderijos dos seus afluentes. (Ibidem, 170)
Aquiles arrastara três vezes Heitor em volta das muralhas de Ílion e vendia o seu corpo
exânime a peso de ouro. Então é que ele solta um profundo gemido, do fundo do peito,
quando viu os despojos, o carro e o próprio corpo do amigo, e Príamo que estendia as mãos
desarmadas. Reconheceu-se também a si próprio, misturado com os chefes aqueus, as
tropas da Aurora e as armas do negro Mémnom. Pentesileia conduz os esquadrões das
Amazonas, com os seus escudos em forma de lua, pleno de furor bélico, fulgurante no meio de
milhares, atando o cinturão dourado sob a mama desnudada, aguerrida, a donsela ousa
combater contra homens. (Ibidem, 23; sublinhado meu)
A estes cruéis trabalhos preside Marte, o poderoso deus das armas, que amiúde vem lançar-se em
teus braços, vencido pela eterna ferida de amor. De olhos então erguidos para ti, com a nuca redonda deitada
para trás, ele dissimula perante ti o seu olhar ávido e intenso, sustendo a respiração perante teus lábios. Ah!
Mal ele, ó Deusa, repousa perto do teu corpo sagrado, envolve-o com teus braços, enquanto tua boca,
exaltando com doces palavras, lhe exige o repouso da paz, ó gloriosa, para os romanos. (Lucrécio, 1964: 20)
De igual modo, estes poemas têm funcionado como referente para obras
de pintores como Miguel Ângelo (A batalha dos centauros), Rafael (O triunfo de
Galateia), Ticciano (Vénus e Adónis), Breughel, O Velho (Paisagem com queda
de Ícaro), Veronese (Vénus e Adónis), Caravaggio (Narciso), Velásquez (As
fiandeiras), Rembrandt (O rapto de Prosérpina), Corot (Biblis), Rodin
(Metamorfoses de Ovídio), Dalí (Metamorfose de Narciso) ou Picasso
(Metamorfoses de Ovídio).
… esta crítica viciosa, até certo ponto, tem induzido em erro os próprios artistas. A ela se
deve a origem, na poesia, ao género descritivo, e, na pintura, à alegoria: pretendeu-se fazer da
poesia pintura com voz, sem saber precisamente o que ela pode e deve pintar, e da pintura
um poema mudo, antes de se ter examinado em que medida ela pode exprimir ideais gerais
sem se distanciar do seu destino natural e sem se tornar uma escrita arbitrária. (Ibidem)
Para as suas composições, que pressupõem uma simultaneidade, a pintura pode explorar
apenas um instante da acção, devendo, deste modo, escolher o mais fecundo, aquele que fará
compreender melhor o instante que o precede e aquele que lhe sucede. De igual forma, para
as suas imitações sucessivas, a poesia pode explorar apenas uma das características dos
corpos, devendo, deste modo, escolher aquela desperta a imagem mais sugestiva num
determinado contexto… (Ibidem, 427)
Conclui-se que, para Lessing, a escolha do referente, a nível da pintura,
deve ser entendida no âmbito do seu carácter exemplar, o qual decorre de uma
escolha face a um fio diacrónico, a uma relação com o passado e com o futuro:
o referente funciona como um espaço (de reserva textual) que foi determinado
algures num tempo passado, encerrando inevitáveis consequências e
percursos ulteriores. Por seu turno, a escolha do referente a nível da poesia
deve ser entendida no âmbito de uma capacidade de sugestão (visual –
enargeia?), de perspectiva funcional face à economia da narrativa. A aparente
dicotomia exposta por Lessing configura, afinal, uma subtil interpenetração
entre os dois conceitos - espaço e tempo, nas estratégias de representação
das duas formas de expressão artística.
É neste contexto que o museu adquire uma função única. Com efeito, a
sua criação terá um impacto profundo na reformulação do olhar sobre as obras
de arte visuais. Desde logo, o museu permite a preservação do objecto,
evitando a sua danificação por causas várias, e eventual destruição. Além
disso, a sua exposição pública desempenha uma função social e pedagógica.
Ela permite ao leigo - ao público - tomar contacto com elaborações estéticas
particulares que, de alguma forma, definem sensibilidades epocais. Numa
perspectiva sincrónica, esses objectos artísticos, expostos no museu, podem
ser significativos de um epistema, denunciando ou insinuando segmentos do
espírito de um tempo; funcionam, portanto, como microcosmos, pequenos
universos textuais, formulando narrativas autónomas. A par desta exposição
face a um olhar inocente, não especializado, exigem-se leituras especializadas,
capazes de entender quer os signos, as narrativas, os símbolos - a memória
cultural a partir da qual esses textos se sustentam, quer a originalidade da
articulação desses elementos. Os episódios bíblicos e os mitos clássicos
surgem obviamente como solos privilegiados dessa memória.
Conhecido pela sua faceta de pintor paisagista, Sir George Beaumont foi
patrono do poeta, tendo com ele mantido uma relação de amizade ao longo de
toda a vida. O quadro de Beaumont, cuja reprodução Wordsworth utilizou como
frontespício para o segundo volume dos seus poemas editados em 1815, tem
como referente o castelo de Peele, situado numa ilha, junto a Rampside, no
Lancashire. Wordsworth passou aí um mês de férias, em 1794, pouco depois
de ter visitado a França revolucionária e de ter escrito os poemas de
Descriptive Sketches (veja-se como este título denuncia a dimensão visual,
avizinhando-se da ekphrasis, que virá a marcar muita da sua poesia).
Nestas estrofes tem lugar uma alteração qualitativa por parte do sujeito,
a qual é motivada por uma ausência (“A power is gone, which nothing can
restore”), e por uma intensa dor (“A deep distress” e “A feeling of loss”). Apesar
desta dor (à qual o sujeito considera dever-se a sua “humanização”) do pathos,
o discurso caracteriza-se pela serenidade. Regista-se ainda a ironia: agora
estamos perante “a mind serene”, enquanto antes a representação da Natureza
surgia marcada pela serenidade; no entanto, esta representação não
corresponderia à realidade, ou, pelo menos, à sua percepção lúcida. Conclui-se
que o poema enuncia a progressão para um estádio de lucidez.
poderá ter tido em mente um ícone com um significado político imediato para
os ingleses, a estátua de Wellington, o herói de Waterloo. Se considerarmos
esta eventual ressonância, constata-se que Shelley utiliza com ironia o signo
heróico para denunciar aquilo que considera ser a efemeridade do poder
político. Trata-se de um topos algo recorrente na poesia romântica, ao qual um
dos nossos poetas maiores de formação anglo-saxónica, Álvaro de Campos,
regressará em “Gazetilha”:
O processo de destruição designa uma hierarquia: na base da pirâmide está o mais efémero (o poder
político); em segundo lugar está aquilo que, apesar de fragmentário, persiste (o poder do artista que trabalhou
a pedra); em terceiro lugar, o poder de quem enuncia todo este processo (o poder do poeta). Por fim, no topo,
para além da actividade humana, e a ela indiferente, persiste a Natureza.
I
Thou still unravish’d bride of quietness,
Thou foster-child of silence and slow time,
Sylvan historian, who canst thus express
A flowery tale more sweetly than our rhyme:
What leaf-fring’d legend haunts about thy shape
Of deities or mortals, or of both,
In Tempe or the dales of Arcady?
What men or gods are these? What maidens loth?
What mad pursuit? What struggle to escape?
What pipes and timbrels? What wild ecstasy?
II
Heard melodies are sweet, but those unheard
Are sweeter; therefore, ye soft pipes, play on;
Not to the sensual ear, but, more endear’d,
Pipe to the spirit ditties of no tone:
Fair youth, beneath the trees, thou canst not leave
Thy song, nor ever can those trees be bare;
Bold Lover, never, never canst thou kiss,
Though winning near the goal – yet, do not grieve;
She cannot fade, though thou hast not thy bliss,
For ever wilt thou love, and she be fair!
*
Pela leitura deste e de outros aspectos, o ensaio de Cleanth Brooks (“Keats’s Sylvan
Historian”) continua a ser, para mim, essencial.
III
Ah, happy, happy boughs! That cannot shed
Your leaves, nor ever bid the Spring adieu;
And, happy melodist, unwearied,
For ever piping songs for ever new;
More happy love! More happy, happy love!
For ever warm and still to be enjoy’d,
For ever panting, and for ever young;
All breathing human passion far above,
That leaves a heart high-sorrowful and cloy’d,
A burning forehead, and a parching tongue.
IV
Who are these coming to the sacrifice?
To what green altar, O mysterious priest,
Lead’st thou that heifer lowing at the skies,
And all her silken flanks with garlands drest?
What little town by river or sea shore,
Or mountain-built with peaceful citadel,
Is emptied of this folk, this pious morn?
And, little town, thy streets for evermore
Will silent be; and not a soul to tell
Why thou art desolate, can e’er return.
V
O Attic shape! Fair attitude! With brede
Of marble men and maidens overwrought,
With forest branches and the trodden weed;
Thou, silent form, dost tease us out of thought,
As doth eternity: Cold Pastoral!
When old age shall this generation waste,
Thou shalt remain, in midst of other woe
Than ours, a friend to man, to whom thou say’st,
‘Beauty is truth, truth beauty,’ – that is all
Ye know on earth, and all ye need to know.(Ibidem, 209-10)
As to the poetical Character itself, (I mean that sort of which, If I am any thing, I am a Member;
that sort distinguished from the wordsworthian or egotistical sublime; which is a thing per se and
stands alone) it is not itself –it has no self – it is every thing and nothing- It has no character – it enjoys
light and shade; it lives in gusto, be it foul or fair, high or low, rich or poor,mean or elevated – It has as
much delight in conceiving an Iago as Imogen. What shocks the virtuous philosopher, delights the
camelion Poet. It does no harm from its relish of the dark side of things any more than from its taste for
the bright one; because they both end in speculation. A Poet is the most unpoetical of any thing in
existence; because he has no Identity – he is continually in for – and filling some other Body – The
Sun, the Moon, the Sea and Men and Women who are creatures of impulse are poetical and have about
them an unchangeable atrrribute – the poet has none; no identity – he is certainly the most unpoetical
of all God’s Creatures. (Ibidem, 836)
Um vaso grego
Este diálogo inicial tem lugar com o objecto no seu conjunto, só depois se transita para o diálogo com
os signos – com as pequenas narrativas - que ele encerra. À semelhança do que já observámos no exemplo
primeiro do escudo de Aquiles, o texto assume uma dimensão espacial, apresentada através do “plano de
conjunto”, transitando, em seguida, para diferentes zooms, isto é, para as tais diferentes narrativas. Nestas
são reiteradas, ao longo da segunda e da terceira estrofes, tanto a “dimensão sonora” (apelando à importância
da imaginação, no confronto com a música verdadeiramente executada) como o amor jamais consumado. A
própria Primavera se revela, também ela, pela sua eternidade, uma punição. O ritual social (estrofe IV),
eventualmente de celebração, é entendido na consequência que advém da sua suspensão no tempo, a
“cidade fantasma”. Uma vez mais a ironia: enquanto o vaso grego tem histórias para contar, a cidade (que
todavia só existe na imaginação do poeta) ficará para sempre em silêncio, sem alguém que conte a sua
própria história. A ironia insinua-se, de novo, no final do poema: “Cold Pastoral” retoma a perífrase inicial,
agora desmontando a euforia do género (e das fábulas e das atmosferas a ele ligadas) através de “cold”. Até o
sublime, expresso na afirmação do penúltimo verso, é sabotado pela ironia deste objecto que, surgindo na
afirmação e transmissão de um saber, acaba por se revelar na disforia inerente à sua própria natureza: a
perenidade (a superação do tempo e da morte) significa suspensão (ausência de vida).
A representação do espaço urbano e a reflexão sobre a modernidade, nas suas múltiplas vertentes,
serão marcadas, tanto no plano crítico/teórico como no da criação poética, por Charles Baudelaire. A ele se
deve um olhar sobre a cidade que orientará esteticamente gerações ulteriores; recorde-se a sua recuperação
por Eliot em The Waste Land.
Num espaço e num tempo em rápida mutação, e, naturalmente, de efemeridade, Baudelaire atribui
uma função particular à pintura, que destaca enquanto instrumento de perenidade. O poema “Les Phares”
desvenda esta dimensão ao consagrar um conjunto de pintores aos quais se deveriam percepções
particulares da humanidade (“de notre dignité” [Baudelaire, 1964: 42]) que perdurariam para sempre: Rubens,
Leonardo da Vinci, Rembrandt, Miguel-Ângelo, Puget, Watteau, Goya e Delacroix. Tal não significa, porém,
que o poeta escreva um número significativo de ekphrasis. Com efeito, estas restringir-se-ão,
fundamentalmente, ao poema “Une Martye – Dessin d’un maitre inconnu” e à série “Épigraphes”, constituída
por três poemas “Vers pour le portrait de M. Honoré Daumier”, “Lola de Valence” e “Sur le Tasse en Prison –
D’Eugène Delacroix”. No entanto, se considerarmos o impacto que a dimensão visual tem na sua poesia, de
imediato repararemos na radical interiorização que Baudelaire realiza do discurso pictórico, numa nítida
aproximação às inovações realizadas por Turner e prolongadas pelos impressionistas. Essa interiorização é,
desde logo, explicitada na designação que atribui a uma secção de Les Fleurs du Mal - “Tableaux Parisiens,” a
qual reflecte a convocação do discurso pictórico na representação da cidade, orientando esteticamente a
própria leitura dos poemas. Esta representação consagra duas vertentes, a especificidade do movimento
urbano e a coloração deste espaço, na sua novidade marcada pela industrialização.
Si nous jetons un coup d’oeil sur nos expositions de tableaux modernes, nous sommes
frappés de la tendance générale des artistes à habiller tous les sujets de costumes anciens.
Presque tous se servent des modes et des meubles de la Renaissance, comme David se
servait des modes et des meubles romains. Il y a cependant cette difference, que David, ayant
choisi des sujets particulièrement grecs ou romains, ne pouvait pas faire autrement que de les
habiller à l’antique, tandis que les peintres actuels, choisissant des sujets d’une nature générale
applicable à toutes les époque, s’obstinent à les affubler des costumes de Moyen Âge, de la
Renaissance ou de l’Orient. (Ibidem, 252)
*
Retomo aqui a abordagem por mim feita em História(s) da Literatura Americana (Lisboa:
Universidade Aberta, 2004).
Na recepção crítica a esta primeira edição (recorde-se que, num
constante processo de reescrita, revisão e inclusão, outras se lhe seguirão até
ao final da vida do poeta), o ícone funciona enquanto imagem fascinante, isto
é, o “… fenómeno pelo qual o objecto da nossa consciência, seja qual for, se
vê subitamente posto em dúvida na sua realidade e na sua presença.”
(Lefebve, 1975:136) Porque de imagem fascinante se trata, importa observar
alguns exemplos de perturbações por ela suscitadas, alguns exemplos de
reacções críticas eufóricas e disfóricas, que não deixam de espelhar um
confronto profundo, possivelmente político, numa sociedade em mutação para
a modernidade. Ora, um dos aspectos em que o ícone funciona como imagem
fascinante, prende-se com o questionar da dignidade da convenção literária.
Esta dignidade passaria por uma imagem evocadora de um estrato social
superior, com formação académica. Nos Estados Unidos o autor/escritor era
comummente identificado através de três nomes, os quais simbolicamente
designariam a civilidade e a solenidade devida à arte da poesia. Por seu turno,
a fotografia destacava habitualmente a cabeça estabelecendo uma analogia
entre poesia e intelecto. Esta convenção ecoa na publicação londrina Critic,
onde, no dia 1 de Abril de 1856, se afirma o seguinte acerca de Leaves of
Grass:
… we have a portrait engraved on steel of the notorious individual who is the poet
presumptive. This portrait expresses all the features of the hard democrat, and none of the
civilised poet. The damaged hat, the rough beard, the naked throat, the shirt exposed to the
waist, are each and all presented to show that the man to whom those articles belong scorns
the delicate arts of civilisation. The man is the true impersonation of his book - rough, uncouth,
vulgar. (Price, 1996:43; itálicos meus)
A crítica sua contemporânea não deixa igualmente de reagir à contaminação do discurso poético pela
estratégia visual acima analisada. De imediato, se evidencia a perplexidade e a necessidade de conceber um
discurso conceptual capaz quer de responder às exigências desta poesia, quer de rever o cânone de molde a
acolher a novidade que ali se revela. Um dos derradeiros aspectos apontados por esta crítica, que devo
assinalar neste momento, prende-se com a diferença proposta pelo Livro de Whitman, em particular no que
isso significa de interacção com a cena da História.
Outras críticas, agora com um cariz positivo, irão destacar essa interacção. Por exemplo, numa
recensão publicada em Janeiro de 1856 na North American Review afirma-se: “Everything about the external
arrangement of this book was odd and out of the way. … It bears no publisher’s name , and, if the reader goes
to a bookstore for it, he may expect to be told at first, as we were, that there is no such book, and has not been.
Nevertheless, there is such a book, and it is well worth going twice to the bookstore to buy it.” (Ibidem, 34,
itálico meu) Sobre esta con-fusão veja-se, ainda, a edição de 1855 do Daily Eagle: “… the book is a
reproduction of the author. His name is not on the frontispiece, but his portrait, half length, is. The contents of
the book form a daguerreotype of his inner being, and the title page bears a representation of its physical
tabernacle.” (Ibidem: 18, itálicos meus)
Ao longo das sucessivas revisões do seu Livro, Whitman exibe a materialidade deste
sob inúmeras perspectivas. Em “In Cabin’d Ships at Sea,” o sujeito desenvolve uma
estratégia intimista com o Livro, instituindo-o como prosopopeia, destinatário ao qual uma
missão está destinada (curiosamente, ao Livro e não ao poeta); ao Livro se exige
dinamismo, acção: “Then falter not O book, fulfil your destiny, /…/ Speed on my book!”
(Loving,1990:10) Por outro lado, em “Spontaneous Me”, verifica-se uma relação especular
poema/sujeito, material e metonimicamente designado através do corpo: “our lusty lurking
masculine poems” (Ibidem, 90); curiosamente, esta imagem assemelha-se a um negativo do
passo seguinte do prefácio que o autor escreveu para Leaves of Grass, onde a sua recusa
do puritanismo significa a redescoberta do corpo: “… dismiss whatever insults your own
soul, and your very flesh shall be a great poem and have the richest fluency not only in its
words but in the silent lines of its lips and faces and between the lashes of your eyes and in
every motion and joint of your body.” (Ibidem, 446) Já no final do percurso, isto é, da vida,
no poema, significativamente, intitulado “So Long”, surge uma síntese que superou o par
“My Book and I”, antes existente. (Ibidem, 428) Neste poema, a materialidade do Livro
institui-se para além da vida do seu criador; assim se transforma a identidade do texto:
O mistério deste signo, metonímia final, será desvendado com a exposição do conjunto vinte anos
depois.
Whitman exibe jogos, processos de transformação e de construção, aos
quais não são alheias a inclusão de ícones decorrentes de diferentes formas de
O poema estrutura-se a partir de três vertentes visuais: as linhas que reproduzem espacialmente o
percurso dos signos no primeiro verso e no primeiro hemistíquio do segundo; a cor, implícita (no segundo
hemistíquio do segundo verso) e explícita (nos terceiro, quarto e sexto versos); e o movimento, com
repercussões nítidas numa representação pictórica em “splashing horses.” Ainda a nível da homologia entre o
poema e o desenho, Betsy Erkkila (1989:214-15) assinala aquilo que considera ser a dimensão ideológica
desta estratégia de representação:
In the river the en masse breaks into individual ‘pictures’,…, from panorama to close-up.
The images of ‘splashing horses’ loitering and the ‘brown-faced men’ resting ‘negligently’ on
their saddles contradict traditional notions of military order, discipline, and hierarchy, thereby
projecting the figure of a democratic army. And yet like the pattern of alliteration, repetition, and
internal rhyme that links the poem’s separate images, the cavalry’s apparently random motion is
part of a single pattern. The separate brown-faced men are part of the line of cavalry that
stretches along both sides of the river and part, too, of the democratic masses advancing under
the guidon flags of the Union. (Ibidem: 215)
Constata-se que a intencionalidade literária passa em Whitman por uma complexa interacção entre
discursos vários, nomeadamente decorrentes das artes visuais, alguns dos quais habitualmente estranhos ao
texto poético, mas que ele manipula de forma a conceber uma identidade peculiar. No processo da sua
concepção, Whitman não deixa de encarar a convenção estética como obstáculo epistemológico que,
superado, significará um regresso à linguagem quotidiana. Recorde-se a, acima referida, filiação do
Transcendentalismo numa tradição idealista romântica, e a ênfase que este que coloca na subjectividade do
eu, e numa consequente dimensão confessional. Refere, a propósito, João Almeida Flor:
1. Jâmbico:
- ´ - ´ - ´ - ´ - ´ -
To be or not to be that is the question
2. Troqueu:
´ - ´ - ´ - ´
Go and catch a falling star
Por outro lado, estamos perante uma tradição definida pelo género, a
“spenserian stanza”, que recorre tradicionalmente a uma “respiração”
sustentada pelo pé jâmbico. Ora, a sequência rítmica e as eventuais
modulações, resultantes de interferência de pés estranhos numa estrutura pré-
definida no plano formal, serão facilmente perceptíveis para o inglês (que não
para um americano, como Al Pacino com inteligência e humor exemplifica em
Looking for Richard). As interferências poderão eventualmente sinalizar, para
ouvidos mais educados, uma óbvia entropia. Observe-se, então, como se inicia
o poema no plano formal:
´ - - ´ - ´ - ´ - ´
MOTHER, is this the darkness of the end?
O troqueu inicial, acentuando a interpelação, o vocativo, contrasta,
fonicamente, com a sequência ulterior do verso (de acordo com a modulação
métrica jâmbica). As virtualidades enfáticas do troqueu permitem destacar a
interlocutora privilegiada da confissão do sujeito; de uma confissão que, como
referi, corresponde a uma reflexão acerca da existência. Mas o significante não
se destaca apenas neste plano, já que, a nível visual, as maiúsculas acentuam
a diferença deste signo. Recorde-se agora a centralidade da Virgem no quadro
de Leonardo. Rossetti poderia optar por uma descrição de cores, volumes,
perspectivas, designações espaciais, para, dessa forma, “reproduzir” (com
enargeia) o quadro; poderia igualmente recorrer às estratégias várias que, ao
longo dos tempos, se foram afirmando no seio da tradição écfrásica. Rossetti
optou, todavia, por recorrer a uma estratégia inovadora, ao utilizar os
processos próprios da linguagem poética, das suas convenções e tradições
para assim reproduzir as ênfases mais radicais do objecto que lhe serviu de
impulso; daí a subtileza do troqueu, perceptível apenas ao leitor educado nas
singularidades rítmicas do discurso poético anglo-saxónico.
The visions that Yeats courted during the 1890s had “none of the confusion of dreams”
(Myth 345). They possessed, rather, the qualities he admired in the paintings of Blake and Pre-
Raphaelites: color and the separation of form by the wiry, bounding line. The better the vision,
the “more clear in color, more precise in articulation” it would be (Myth 344). For Yeats, the Pre-
Raphaelites represented in their pictures the same world of imagination that was tapped by
vision. Although the Pre-Raphaelites depicted what is often called “dream,” their paintings,
especially in the early days of the Brotherhood, possessed the clarity Yeats associated with
vision. (Ibidem, 44)
*
À semelhança da análise de Whitman, as palavras que se seguem decorrem da leitura por
mim realizada em Histórias(s) da Literatura Americana.
de atmosferas por eles desencadeadas, e por si anotadas em Journal up the
Straits, o diário mantido durante esta viagem; por exemplo: “There are glades,
& thickets among the ruins – high up. Thought of Shelley. Truly he got his
inspiration here. Corresponds with his drama & mind. Still majesty, & desolate
grandeur … Read Keat’s epitaph.” (Leyda, 1969: 556) Constata-se através da
leitura deste passo que, para Melville, mais do que figurar (descrever, e, num
limite, simular reproduzir), os espaços e os objectos sugerem, evocam. Será
assim que ele os encara e projecta na sua poesia. Devido a essa capacidade
de sugestão que se indicia no espaço cultural do Ocidente, este surge como
privilegiado para um discurso que, segundo ele, a América industrializada da
Golden Age, sua contemporânea, não possui; no berço da civilização
ocidental, no arquivo sedimentado pela História, em objectos, referentes
vários, insinua-se um conhecimento, insinua-se uma sabedoria.
Entering Syra harbor, I was again struck by the appearance of the town on the hill. The
houses seem clinging round its top, as if desperate for security … The Greek, of any class,
seems a natural dandy. His dress, though a laborer, is that of a gentleman of leisure. This
flowing, & graceful costume, with so much of pure ornament about it & so little fitted for labor,
must needs have been devised in some Golden Age. (Vincent, 1947: 478-479)
Para além dos aspectos mencionados por Cabral Martins, importa referir
que este poema ecoa a estética impressionista que será particularmente
reconhecível quando estabelecemos uma relação com a pintura de Monet.
Considerem-se os seguintes aspectos da analogia e da sua representação
através do discurso: centralidade cromática das “papoulas” – mancha
vermelha; contraste das cores (estética impressionista) a nível da palavra;
ênfase na sensação visual; harmonia: retrato domina o restante; importância da
percepção, designada através dos verbos ver e olhar; a cor em constante
mutação, transfiguração, através do contraste entre tonalidades esbatidas e as
fortes e vivas; e o brilho (luz intensifica e/ou dilui os cromatismos); por fim, o
contraste luz/penumbra, evocador do chiarosccuro. O intenso visualismo
poderá ser igualmente detectado através da evocação de pintores como
Courbet ou Arcimboldo, a qual foi objecto de estudo por parte de Andrée
Crabbé Rocha (cf. Rodrigues, 1998). Revela-se particularmente curiosa a
analogia com Arcimboldo presente em “Num Bairro Moderno:”
O Cozinheiro
A perplexidade evidencia-se face àquelas vertentes estéticas que, na pintura, se fastam gradualmente
da figuração, perturbando a legibilidade convencional e abrindo caminho para a chamada abstracção.
Curiosamente, será na poesia, em particular na de Mallarmé, que a pintura pode reconhecer um impulso
significativo para esses novos caminhos -“... ils [les pionniers de l’art abstrait] étaient fascinés par le glissement
de la fonction dénotative des mots vers leur force expressive et émotionnelle intrinsèque.” (Roque: 2003, 19) -
e para um reposicionamento face ao próprio conceito de representação - “De même que la poésie constituait
un langage ‘pur’, ils ont conçu analogiquement un art ‘pur’, lui aussi, par l’accent mis sur les moyens de la
peinture (lignes et couleurs) pris par eux-mêmes et non plus mis au service de la dénotation d’objets.” (Ibidem)
Este processo, marcado por uma radical intelectualização, implica um afastamento face à natureza. Refira-se
que, na opinião de Reynolds, o belo ideal decorreria da depuração das imperfeições da natureza. Entre as
inúmeras ampliações estéticas, destaco o fauvismo devido ao facto de, nesta vasta reformulação de conceitos
e objectivos, ele se impor pela defesa da artificialidade da pintura, e pela ênfase na construção através da cor
em detrimento da imitação da natureza: quanto mais se afasta das cores da imitação, mais se destaca a cor
em si. Daí que Matisse tenha trabalhado um “alfabeto das tonalidades” e um “alfabeto das linhas” com o
objectivo de as decompor nos seus constituintes mínimos ou essenciais. Abstracção e essência (belo ?)
confluem, portanto.
Para compreendermos a verdadeira dimensão das mudanças estéticas que então se operam,
devemos assim ter presente que estas decorrem da abertura a espaços de alteridade, a horizontes culturais e
artísticos exógenos, num tempo de mudanças aceleradas e de busca sistemática, e teoricamente sustentada,
de novas estratégias de enunciação poética. Muita da poesia que se escreve num contexto modernista expõe
um diálogo implícito ou explícito com outras formas de expressão artística, assimilando inovações ensaiadas
nesses campos. Sintetizo, em seguida, alguns dos exemplos mais significativos desse diálogo. Começarei por
alguns exemplos de diálogos implícitos, transitarei depois para algumas elaborações teóricas; e concluirei com
exemplos de diálogos explícitos.
He [Stein] says that, when he was a child, he became aware of composition in nature
and gradually realized that art and composition are one. He began to experiment as follows:
I put on the table … an earthenware plate … and this I looked at everyday for minutes
or for hours. I had in mind to see it as a picture, and waited for it to become one. In time it did.
The change came suddenly when the plate as an inventorial object … a certain shape, certain
colors applied to it … went over into a composition to which all these elements were merely
contributory. The painted composition on the plate ceased to be on it but became part of a
larger composition which was the plate as a whole. I had made a beginning to seeing pictorially.
What had been begun was carried out in all directions. I wanted to be able to see
anything as a composition and found that it was possible to do this. (McClatchy, 1998: 112-113)
Esta função social adquire em Ezra Pound uma dimensão superior; com
ele o texto participa da paideia. Pound é um dos grandes poetas de lingua
inglesa do século que findou, assim como um crítico e teorizador
particularmente arguto. A ele se deve uma radical agitação da cena literária
inglesa modernista, nomeadamente através da dinamização de dois
movimentos relevantes, o Imagismo e o Vorticismo. De reter ainda a sua
influência no então consagrado Yeats; uma influência geradora de uma
viragem no seu percurso criativo e que o fará abraçar aspectos relevantes da
estética modernista anglo-saxónica. Aponto apenas a vertente dessa influência
relevante para esta leitura. No Inverno de 1913-1914, Pound deu a conhecer a
Yeats as obras dos jovens escultores Henri Gaudier-Brzeska e Jacob Epstein,
e o teatro japonês Nô. A escultura e o teatro Nô projectar-se-iam, de formas
obviamente diferentes, na poesia de Yeats. Neste teatro japonês o poeta
reconheceu uma estratégia dramática que lhe permitia libertar-se do
naturalismo e dos constrangimentos cénicos convencionais (Loizeaux, 2003:
105-116); na escultura foi colher a pluridimensionalidade que lhe permitiu
superar a bidimensionalidade pré-rafaelita, inaugurando, a partir de
Responsabilities (1914), um novo diálogo da sua poesia com as artes visuais e
a possibilidade de uma nova representação espacial no texto (Ibidem, 118).
*
“Duchamp himself wrote that The Nude was ‘the convergence in my mind of various influences, of which
the cinema, then still in its infancy, and the separation of static positions in the photocronographs of Marey,
are examples … the anatomical nude does not exist, or at least can not be seen, since I discarded the
naturalistic image in favour of some twenty abstract pictures of the nude in the successive act of
descending.” (Zeki, 1999: 146)
ensembles nouveaux avec des éléments empruntés non à la réalité de vision,
mais à la réalité de conception.” (Roque: 2003, 81) O cubismo faria deslocar o
eixo da imitação para a concepção. A revolução por ele enunciada radica,
afinal, na subversão de convenções que haviam persistido desde o
Renascimento, exibindo a simultaneidade da perspectiva e do olhar, e deste
modo indiciando a convivência de múltiplos tempos. Neste sentido, o cubismo
poderá ser entendido como tentativa de resolver o paradoxo entre a realidade
da percepção e a perspectiva única do quadro, à qual Platão aludira.
The strategy that Cubist art used was to present a view of an object from many
different angles, just as the brain views an object from many different angles. But while the
brain is able to combine these different views and obtain knowledge about an object, and
categorise it, with the result that no individual viewing angle is critical for the brain’s capacity
to recognise that particular object, in Cubist art this is not so. Its compositions … are not
recognisable by an ordinary brain as the objects that the titles declare them to be. (Ibidem,
56)
O papel do museu na nossa relação com as obras de arte é tão considerável que
temos dificuldade em pensar que ele não existe, nunca existiu, onde a civilização da Europa
moderna é ou foi ignorada; e que existe entre nós há menos de dois séculos. O século XIX
viveu dos museus; ainda vivemos deles, e esquecemos que impuseram ao espectador uma
relação totalmente nova com a obra de arte. Contribuíram para libertar da sua função as
obras de arte que reuniam, para transformar em quadros até mesmo os retratos. Se o busto
de César, a estátua equestre de Carlos Quinto, ainda são César e Carlos Quinto, o duque
de Olivares é simplesmente Velásquez. Que nos importa a identidade do Homem do
Capacete, ou do Homem da Luva? Chamam-se Rembrandt e Ticiano. O retrato começa por
deixar de ser o retrato de alguém. Até ao século XIX, todas as obras de arte eram a imagem
de algo que existia ou não existia, antes de serem obras de arte. Só aos olhos do pintor a
pintura era pintura; e, muitas, vezes, era também poesia. E o museu suprime de quase
todos os retratos (mesmo sendo eles de um sonho), quase todos os modelos, ao mesmo
tempo que extirpa a função às obras de arte: não reconhece Paládio, nem santo, nem
Cristo, nem objecto de veneração, de semelhança, de imaginação, de decoração, de posse;
mas apenas imagens de coisas, diferentes da próprias coisas, e retirando desta diferença
específica a sua razão de ser. O museu é um confronto de metamorfoses. (Malraux, 1965:
11-12)
1
The priest has passed into this tomb./The stone has taken up his spirit!/Granite over flesh: who
will deny/ its advantages?// Your death?-water / spilled upon the ground- / though water will
mount again into rose-leaves-/ but you?-would hold life still,/ even as a memory, when it is
over./ Benevolence is rare. // Climb about this sarcophagus, read / what is writ for you in these
figures / hard as the granite that has held them/ with so soft a hand the while/ your own flesh
has been fifty times / through the guts of oxen,-read! / “I who am the one flesh say to you,/ The
rose-tree will have its donor/ even though he give stingily./ The gift of some endures/ ten years,
the gift of some twenty / and the gift of some for the time a / great house rots and is torn down./
Some give for a thousand years to men of/ one face, some for a thousand / to all men and some
few to all men / while granite holds an edge against / the weather. / Judge then of love!”
2
“My flesh is turned to stone. I/ have endured my summer. The flurry/ of falling petals is ended.
Lay / the finger upon this granite. I was/ well desired and fully caressed/ by many lovers but my
flesh/ withered swiftly and my heart was/ never satisfied. Lay your hands/ upon the granite as a
lover lays his/ hand upon the thigh and upon the/ round breasts of her who is beside/ him, for
now I will not wither,/ now I have thrown off secrecy, now/ I have walked naked into the street,/
now I have scattered my heavy beauty/ in the open market./ Here I am with head high and a/
burning heart eagerly awaiting/ your caresses, whoever it may be, / for granite is not harder
than/ my love is open, runs loose among you! // I arrogant against death! I/ who have endured! I
worn against/ the years!” (Ibidem , 81-83)
A walk in the park while the day lasts.
I will go with you. Look! this
northern scenery is not the Nile, but-
these benches-the yellow and purple dusk-
the moon there-these tired people-
the lights on the water!
-what a blessing it is
to see you in the street again,
powerful woman,
coming with swinging haunches,
breasts straight forward,
supple shoulders, full arms
and strong, soft hands (I’ve felt them)
carrying the heavy basket
Black branches
carry square leaves
in the wood’s top.
They hold firm
break with a roar
show the white!
We walked
in your father’s grove
and saw the great oaks
lying with roots
ripped from the ground. (Williams, 1987: 71-72)
Coloca-se, em seguida, a questão de saber como transpor para o poema a perspectiva geométrica?
Ora, a geometrização é, neste poema, algo de inerente à representação da natureza, enunciada, em
sinédoque, através de uma palavra-chave, sistematicamente repetida ao longo das diferentes estrofes,
“leaves”. Na segunda estrofe a natureza revela-se na sua geometricidade: “Black branches carry / square
leaves.” Aparentemente, o poema parece retomar o tópico tradicional da renovação cíclica das estações (“the
shedding of leaves / and sure / the return in May!”). No entanto, considerando a geometrização da natureza
(“square leaves”), constata-se que, afinal, este tópico não é, apenas, retomado; ele é, com efeito, reformulado,
ao capturar a natureza para o domínio da sua representação.
Recordo uma vez mais que não estamos perante uma ekphrasis, mas
sim perante um texto que toma outro texto como leitmotif e com ele dialoga; um
texto que dialoga com aquela que, como vimos, é considerada a ekphrasis
fundadora de toda uma tradição poética ocidental. Devemos, por isso, ter
presente a sua dimensão enquanto metatexto, enquanto espaço de reflexão e
especulação intelectual, enquanto paródia (de acordo com a designação que
lhe atribuem alguns discursos críticos da pós-modernidade) da convenção e da
tradição literárias. O leitor deverá, assim, estar atento à sua eventual dimensão
irónica. Esta dimensão surge logo no primeiro verso quando Auden sabota a
solenidade inerente à condição de deusa (Tétis), a ela se referindo apenas
como “she”, e apresentando-a num acto pouco digno, algo voyeur, espreitando
por detrás de Hefesto enquanto este trabalha no seu escudo. A ironia acentua-
se quando a representação não se revela eufórica, tal como ela pretendia, tal
como ela esperava. A adversativa, com que se inicia o quinto verso da primeira
estrofe, abre caminho a uma decepção, instalando um clima de tensão entre
euforia e disforia:
it was spring
of the year
awake twingling
near
unsignificantly
off the coast
there was
unshaved his
(I)
(2)
... by ‘describing’ a painting a poet may study figurative problems: the composition of
subject matter, colour, and scale, or the relationship between chance occurence and formal
patterns. Describing is also homage; to trace the beloved's body is a traditional poetic feat, and
a painting is as beguiling as any idealized lip or lash, any fetish. By writing about a
contemporary painting, a poet may cannily have found a useful way to let the poem talk about
itself. (McClatchy, 1990: 102)
*
Cf. respectivamente Ted Hughes. “Notes on Poems - 1956-1963” apud Sylvia Plath..Collected
Poems, 275 , e , sobre a frase interiorizada –“What ceremony of words ...” - Jacqueline Rose.
The Haunting of Sylvia Plath, 89.
nos poemas incluídos em The Colossus: “The Disquieting Muses” e “On the
Decline of Oracles.” Regressemos para já a “Conversation Among the Ruins.”
It [the poem] borrows its title from the painting by Giorgio de Chirico - The Disquieting
Muses. All through the poem I have in mind the enigmatic figures in this painting - three terrible
faceless dressmaker’s dummies in classical gowns, seated and standing in a weird, clear light
that casts the long strong shadows characteristic of de Chirico’s early work. The dummies
suggest a twentieth-century version of other sinister trios of women - the Three Fates, the
witches in Macbeth, de Quincey’s sisters of madness. (Hughes, 1981: 276)
... one of the very few poems I know of any language to come near the last horror. It
achieves the classic act of generalization, translating a private, obviously intolerable hurt into a
code of plain statement, of instantaneously public images which concern us all. Is is the
‘Guernica’ of modern poetry. And it is both histrionic, in some ways, ‘arty’ as is Picasso’s outcry.
(Steiner, 1967: 330)
Nos versos citados de “On the Decline of Oracles”, Plath não se limita a
associar a voz parental à tradição, ao logos, ao poder, já que a morte do pai
implica um vazio de sentido: repositório de saber, esta é afinal uma figura
constrangedora. Blasing analisa assim esta interacção: “The father is the
keeper of the books and the conch; the poet holds only their echoes in her hear.
And her voice is threatened by both the literary past and nature.”(Blasing, 1987:
58) Nesse sentido, o (conceito bloomiano de) agon será nuclear: o poema
parece evocar um conflito natural que se alarga, de uma forma radical, à
identificação do pai com a natureza que, por seu turno, originará um isolamento
absoluto do sujeito. No limite, tal significará o silêncio, isto é, a incapacidade de
exibir uma autonomia. Assim nasce a ansiedade (também ela bloomiana): “Her
anxiety is both a poetic anxiety and a natural anxiety, a fear of being overcome
by a babel of voices and by silence, for nature and the tradition mirror each
other in her allegorical universe.” (Ibidem, 59)
1) Inside a ruined temple the broken statue of a god spoke a mysterious language.
2) Ferrara: The old ghetto where one could find candy and cookies in exceedingly
strange and metaphysical shapes.
3) Day is breaking. This is the hour of the enigma. This is also the hour of prehistory.
The fancied song, the revelatory song of the last morning dream of the prophet asleep at the
foot of the sacred column, near the cold, white simulacrum of god.
4) What shall I love unless it be The Enigma? (Ibidem, 124)
I manichi di De Chirico, le sue calve figure senza volto, poste a fianco di statue e ombre
nella solitudine di piazze irreali, e nella prospettiva di lontani orizonti, divengono nella poesia
della Plath altretante figurazioni della luna, ... Se De Chirico voleva soprattutto esprimere,
attraverso queste figure, l’enigma arcano, la Plath vuole, interrogando con queste arcane
presenze, scoprire e ricompore se stessa e le cose, cercare di individuare il disegno che
governa questo universo, dentro e fuore di sé. (Ibidem, 111)
... it is not family drama that explains Plath’s poetics, but her problem with her medium
that conjures up installs the family drama as the central, allegorical text of her life. The facts of
her biography reinforce this drama and enable her to conflate problems of poetic authority and
Oedipal themes, thereby bringing a psychological urgency to poetic anxieties. (Blasing, 1987:
56)
“The Disquieting Muses” permite ao leitor atento reter questões
fundamentais relativamente a uma parte significativa da poesia de Sylvia Plath
escrita neste espaço de tempo. Consequentemente, desmontar-se-á a
tendência para o equívoco de ler estes poemas enquanto meras projecções de
um quotidiano; algo que ocorre, quer nos comentários de familiares da autora,
quer em certas vozes críticas. Como comprova o olhar aqui ensaiado sobre
estes poemas, o dado biográfico surge na génese do impulso para a criação;
será nele que opera a imaginação, actante transfigurador. E será com ele que
interage a pintura. A função da obra de De Chirico na de Plath, gerada neste
período, não poderá assim ser medida pelo número de poemas que tem como
referente objectos artísticos. Mais do que esse número, pouco relevante
comparativamente com a produção coeva, importa reter quais os problemas
que neles suscitam esses objectos. Em De Chirico, Plath reconheceu uma
extensão de inquietações metafísicas relativamente à reflexão sobre a
identidade que nela adquiriria uma dimensão estética e literária: conflito, no
plano psicológico, face a vozes autoritárias, e agon (ainda na acepção
bloomiana) no plano literário, face a discursos atentos aos sinais de uma pós-
modernidade que então apenas se insinuava. As suas obsessões psicológicas
projectar-se-iam naturalmente nos encontros com a pintura. Deste modo, a
ansiedade da influência demonstra de que forma o situar-se face a uma
tradição entronca tanto no plano metafísico como no plano psicológico. Daí que
a própria figuração parental, mediatizada pela obra de De Chirico, obtenha aqui
um grau de expansão raramente existente na sua poesia: eco da ambiência
trágica, e releitura de vozes fortes da tradição literária anglo-saxónica. Por fim,
a voz do pai diluir-se-á no processo de procura de novas filiações que
permitam a emergência da identidade.
Por seu turno, “Virgin in a Tree” não se restringe ao objecto artístico que
o desencadeou, evoluindo para um questionar da credibilidade de uma tradição
literária. O desenho é já por si uma metalinguagem que motivará uma
metalinguagem em segundo grau, o texto poético. O poema revela-se então
um espaço reflexivo por excelência:
How this tart fable instructs
And mocks! Here's the parody of that moral mousetrap
Set in the proverbs stitched on samplers
Approving chased girls who get them to a tree
And put on bark's nun-black
It beguiles -
This little Odissey
In pink and lavender
Over a surface of gently -
Graded turquoise tiles
That represent a sea
Which chequered waves and gaily
Bear up the seafarer,
Gaily, gaily,
In his pink plume and armor. (Ibidem, 84)
Spectral gigantified,
Protozoic, blood-eating.
The carapace
Of forclosure.
The cuticle
Of final arrest.
Sooner or later –
The grip. (Hughes, 2003: 420)
*
Olson desempenhou as funções de “Rector” entre 1951 e 1956 (ano de encerramento da
instituição), sucedendo ao seu mentor Edward Dahlberg.
Merce Cunnigham, pintores como Robert Rauschenberg e Josef Albers, e
músicos como John Cage, tentaram recuperar uma certa tradição
experimentalista, em certa medida devedora de Pound, com o objectivo de
elaborar obras-síntese onde contributos vários se fundiam. Incorporando
ensinamentos do mestre Arnold Schöenberg, do dadaísmo de Duchamp, do
budismo zen, e de escritores como Joyce, Pound e (a poesia de) John Cage,
através dos seus mesósticos (variantes do acróstico), o grupo desenvolverá
uma síntese de radical dimensão visual onda a paideia se insinua.
Será, todavia, com a chamada New York School, que este diálogo entre
a poesia e as artes visuais atingirá dimensões mais peculiares, bem distantes
das intensões didácticas da paideia. Corriam os anos cinquenta, os anos da
guerra da Coreia e do macartismo, quando um grupo de jovens poetas
residentes em Nova Iorque, reconhecendo as afinidades estéticas e artísticas
que os aproximavam, iniciaram uma intensa vivência comum, criativa e cultural.
Frank O’Hara, John Ashbery, Kenneth Koch (que se tinham conhecido em
Harvard) e James Schuyler tinham em comum uma pose anticonvencional,
antiformalista (o Formalismo poético neo-eliotiano prevalecia ainda nas
universidades através dos seus sucedâneos do new criticism), uma herança
poética francófona (Rimbaud, Mallarmé e os surrealistas, para O’Hara, o qual
sentia ainda profundas afinidades com Mayakovsky; os surrealistas e Raymond
Russell, para Ashbery; Pierre Reverdy, René Char e Paul Éluard, para Koch), e
partilhavam ainda um quotidiano cosmopolita no qual imperavam as
deambulações pelos cafés, pelos bares, pelas inaugurações de exposições,
pelos museus, pelos ateliers dos artistas plásticos. O seu envolvimento com o
mundo artístico estendia-se ainda ao plano profissional: O’Hara, Ashbery e
Schuyler foram editores da Revista ART News; todos eles foram críticos de
arte; e tanto Schuyler como O’Hara foram curadores do Museum of Modern Art.
Estes eram os anos do internacionalismo artístico e estético, do mecenato; os
anos em que Nova Iorque sucedera a Paris como a grande metrópole das
artes; os anos em que artistas exilados, devido à II Grande Guerra, abriam a
sensibilidade daquele espaço às novas estéticas de vanguarda. Esta abertura
culminaria a criação de um idioma estético americano, o Expressionismo
Abstracto ou Action Painting, indissociável da figura icónica de Jackson
Pollock.
About the same reaction as when the Dadaists introduced a toilet seat as a piece of
sculpture in a Dada show in Zurich. Except that the public wasn’t upset – the painters were.
One painter, Gandy Brodie, who was quite forceful, called me a phony. … all this was a reaction
to the painting as idea. (O’Hara, 1975: 113)
*
Segundo Clement Greenberg, a expressão “expressionismo abstracto” deve-se a Robert
Coates, do New Yorker. Já a expressão “action painting” foi cunhada por Harold Rosenberg na
revista Art News.
Para além deste conflito, outro subjaz à concepção do quadro, aquele
que Rivers exibe face ao objecto que pretende superar, embora não deixando
de emular Washington enquanto signo histórico. Refere Rivers:
… I was energetic and egomaniacal and what is even more: important, cocky, and
angry enough to want to do something no one in the New York art world could doubt was
disgusting, dead, and absurd. So, what could be dopier than a painting dedicated to a national
cliché – Washington Crossing the Delaware. The last painting that dealt with George and the
rebels in hanging in the Met and was painted by a coarse German nineteenth-century
academician who really loved Napoleon more than anyone and thought crossing a river on a
late December afternoon was just another excuse for a general assume a heroic, slightly tragic
pose. He practically put you in the rowboat with George. What could have inspired him I’ll never
know. What I saw in the crossing was quite different. I saw the moment as nerve-racking and
uncomfortable. I couldn’t picture anyone getting into a chilly river around Christmas time with
anything resembling hand-on-chest heroics. (Idem, 111-112)
Crítico de arte na revista Art News e no jornal New York Herald Tribune,
Ashbery exibe na sua poesia uma reiterada sensibilidade visual decorrente da
assimilação das inovações a nível da pintura com que quotidianamente se
confronta (a música funciona como outro solo de contaminação, mas a sua
leitura deverá ser convocada num estudo com outros objectivos). Some Trees,
o seu primeiro livro publicado em 1956 pela mão de W. H. Auden, explícita ou
subliminarmente, desvenda essa presença em poemas como “Two Scenes”,
“The Picture of Little J. A. In a Prospect of Flowers”, “Illustration”, “The Painter”
(uma sestina) e “Le Livre est sur la table”, nos quais o visualismo ecfrásico é
reiteradamente convocado. O seu livro seguinte, The Tennis Court Oath,
publicado em 1963, evidencia logo no título essa presença. Le serment du jeu
de paume é uma obra de David sobre os representantes do Terceiro Estado
que assumiram a sua autonomia institucional em plena época revolucionária.
Refere António M. Feijó “[q]ue o quase solipsismo de The Tennis Court Oath
acolha no título o exemplo paradigmático de uma arte pública monumental
denota a construção do volume como uma ironia prolongada e configura o título
como declinação paródica.” (Feijó, 1985: 272) Que o texto recuse a ekphrasis
indiciada no título, num processo (jogo) de refracção é algo que se decepciona
um leitor por esse título orientado (condicionado) num determinado sentido de
leitura, de reconhecimento; a ironia predomina assim. Mas a ironia de um ínvio
diálogo com a História, projecta-se ainda na assimilação de fragmentos
discursivos com proveniências várias, à semelhança das colagens de
Rauschenberg.
Após Rivers and Mountains, The Double Dream of Spring, Three Poems
e The Vermont Notebook, surge em 1975 uma obra radicalmente inovadora no
âmbito desta tradição, Self-Portrait in a Convex Mirror. Uma vez mais Ashbery
exibe a presença explícita da pintura no título do livro, o qual envia para Auto-
retrato, do pintor quinhentista Francesco Parmigianino. Recorro à síntese deste
diálogo elaborada por Blasing:
If “Self-Portrait” recalls both Whitman and Stevens, its debts to Keats - and specifically
to the ekphrastic Keats - are nowhere more evident than in this nearly final passage of the
poem [vs 530-40]. Like the passionate figures of the urn who finally retreat into the
’overwrought’ pattern of a “cold Pastoral,” the erotic image freezes and flattens out, taking with
the dream of iconic realization, of the two-dimensional figure three-dimensionally materialized.
… “Do I wake or sleep?” [“Ode to a Nightingale”] Ashbery turns Keats’s provocative question
into a troubled statement. “The ache / Of this waking dream” is, I gather, the ache of a
conventionally awake self-conscious dreaming of ‘reality’…(Heffernan, 1993: 188)
*
Refere O’Hara a propósito da pintura de Pollock: “Scale … has to do … with the emotional
effect of the painting upon the spectator.” (McClatchy, 1988: 212)
glass is glass, canvas is canvas. You do not find, in his work, a typewriter
becoming a stomach, a sponge becoming a brain.” (McClatchy, 1988: 199) De
igual forma, a designada presença da mitologia (Pasiphaë and Others) não
funcionaria como alegoria. E. H. Gombrich considera, aliás, que o
reconhecimento, a identificação do “action painter” com o “beholder” não deve
ser procurado na leitura [“He must try to prevent us from interpreting the marks
on the canvas as representations of any kind…” (Gombrich, 1989: 287)], mas
sim a outro nível, “with his [the artist’s] Platonic frenzy of creation, or rather with
his creation of a Platonic frenzy.” (Ibidem) A eventual presença ou denegação
da alegoria poderá ainda ser abordada numa leitura que em O’Hara apenas se
insinua, a da psicologia junguiana. Subscrevendo esta metodologia analítica,
Terree Grabenhorst-Randall identifica a presença de Jung em obras como
Mask (Barnaby, 1990: 193) propondo, ainda, uma leitura de objectos
particulares no quadro mais geral de um processo criativo:
Jung’s theory that the processes of alchemy were similar to the creative process was
embraced by many artists of the period [Pollock’s]. Alchemy is the art of transformation. The
transmutation of lead into gold is a metaphor for the evolution of the lead of personality into
the gold of spirit. Pollock effected the transformation of the self by becoming part of his work.
In his mature work of the 1950s, Pollock abandoned the traditional technique of painting a
canvas on an easel or upright against a wall. Instead, the canvas was laid on the floor so
that he could, literally, “get into the painting,” dripping and splattering paint on it from loaded
brushes while walking around it. This all-over, spontaneous effect is an example of how, in
Peter Busa’s words, “ Pollock created a new basis for physical involvement with the idea of
where man’s space is.”
… Clearly then, for Pollock, art provided an effective means of expressing the
unconscious. (Ibidem, 194-195)
Após termos tomado contacto com estas diferentes hipóteses de leitura, observemos,
em seguida, o poema de Nancy Sullivan, intitulado “Number 1 by Jackson Pollock (1948)”:
Curioso paradoxo este: por um lado, a radical concentração do mundo no instante de um olhar; por
outro, a transcendência do (seu) tempo eventualmente invadindo (determinando ?) o nosso presente, o
presente do leitor do poema. O mistério, da identidade e da arte, persistem. A este mistério – “Tão português e
ignorado que bem podem ser dele as cinzas / que estão por detrás da pedra tumular do soldado
desconhecido” (Fernandes Jorge, 2002: 21), regressa João Miguel Fernandes Jorge em “Retrato de Jovem
Cavaleiro”, inserido em Museu das Janelas Verdes. Poeta que sistematicamente convoca esta tradição, e
autor de vários livros sobre crítica de arte (seria interessante explorar o diálogo entre a vertente do crítico e a
do poeta), Fernandes Jorge coloca o mistério num plano diferente, na singularidade da percepção. A
percepção era relevante em Sena, oscilando, entre o espírito analítico e o efeito emocional conseguido pelo
objecto. Mas em Fernandes Jorge a percepção é nuclear, devendo ser entendida na esteira de Gombrich. A
percepção está ligada à sedução e à posse. Desvendamos a sua singularidade em duas perspectivas, em
duas formas de conhecer a sedução, expostas ao longo do poema, a da rapariga e a do homem:
A rapariga ao passar reparou primeiro na renda
branca sobressainte da gorjeira metálica forrada a vermelho veludo.
Logo se prendeu ao oval do rosto, aos lábios que
querem romper em frase da vida nunca separada. E
disse a rapariga “hás-de extraviar-te nos céus
sem que vez alguma eu possa estar ao teu lado.”
Quando terminou a visita comprou-o em postal. (Ibidem)
O objecto inanimado (?), pelo “oval do rosto” e pelos “lábios”, seduziu a jovem. A posse possível
(“comprou-o em postal”) encerra uma intensa ironia, pois passa pela “compra”, pelo facto de esta não
significar uma posse real (a do corpo), e por um efectivo encontro jamais se realizar – num eco de “Ode on a
Grecian Urn”? Sucede a esta percepção o olhar algo neutro do sujeito, após o qual se expõe a percepção do
homem:
O homem
procurou-o no seu exacto lugar
na parede que lhe coube em sorte.
Conhece-o desde sempre
e sempre no seu íntimo admitiu
vir a cruzar-se com ele no extravio
dos caminhos do inferno.
Não o tem por príncipe. Não tem a ferocidade de
um Áustria, como pretendem. O homem
retira-lhe o aparato metálico da armadura
a espuma das rendas e diz que ele é português –
os de cabelo castanho –
por todos os lados. (Ibidem)
Nesta percepção con-funde-se um arquétipo decorosamente indiciado (“the love which dares not
speak its name”?), e pela moral identificado com o “extravio / dos caminhos do inferno” (evocador da incursão
do Prufrock de Eliot “through certain half-deserted streets, / The muttering retreats / Of restless nights in one-
night cheap hotels”), e uma identidade que no rosto se insinua, a de se ser português. Nestas duas
percepções desvenda-se um destino, um percurso, o dos “extravios” nos “céus”, sonhado pela rapariga, ao
“extravio” nos “infernos” (signo de censura social ?), no imaginário do homem. Tal como a rapariga, “quando
sai do museu [o homem] nunca se esquece de comprar / uma reprodução do retrato do jovem cavaleiro /
muito mais jovem do que qualquer dos seus contemporâneos, ele / entristeceu sobre os seus ombros / a
sombra do belo.” (Ibidem) Nesta reincidência (“nunca se esquece” pressupõe reencontros vários) insinua-se a
posse possível, o alcançar de uma margem (sombra) mais próxima, afinal, do Fedro, de Platão.
Este olhar sobre uma outra anónima expressão, sobre outro anónimo olhar, reenvia, assim, a Malraux,
e à peculiar função do Museu e da Arte, como espaços de cultura, descoberta e projecção para cada um de
nós: “Que nos importa a identidade do Homem do Capacete, ou do Homem da Luva? Chamam-se Rembrandt
e Ticiano. O retrato começa por deixar de ser o retrato de alguém. Até ao século XIX, todas as obras de arte
eram a imagem de algo que existia ou não existia, antes de serem obras de arte. Só aos olhos do pintor a
pintura era pintura; e, muitas, vezes, era também poesia.” (Malraux, 1965: 11-12)
FONTES
CAPÍTULO 1
Eliot, T.S., Ensaios Escolhidos (Lisboa: Cotovia, 1992 - selecção, tradução e notas de Maria
Adelaide Ramos)
Flor, João Almeida, Monólogos dramáticos por Robert Browning. (Lisboa: Na Regra do Jogo,
1980).
_______________ , “Shakespeare em Sena” , Anglo-Saxónica (4-5, 1997), pp. 5561)
Magalhães, Joaquim Manuel, Dylan Thomas - consequência da literatura e do real na sua
poesia (Lisboa: Assírio e Alvim, 1981).
________________________, Os dois crepúsculos – sobre poesia portuguesa actual e outras
crónicas (Lisboa: A Regra do Jogo, 1981)
Pack, Robert and Jay Parini (eds.), Touchstones - American Poets on a Favorite Poem
(Hanover:Middlebury College Press, 1996)
Sena, Jorge de, Poesia II (Lisboa: Moraes Editores, 1978)
_____________, Fernando Pessoa & Cª Heterónima (Estudos Coligidos 1940-1978) (Lisboa:
edições 70, 1982)
____________, A Literatura Inglesa – Ensaio de Interpretação e de História (Lisboa: Cotovia,
1989) [1963].
_____________, Maquiavel, Marx e outros estudos (Lisboa: Cotovia, 1991) [1974]
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
Abel, Darrel. “’Laurel Twined with Thorn’: The Theme of Melville’s Timoleon”, Personalist, 41
(1960)
Abrams, M.H. ed. The Norton Anthology of English Literature - Volume 2 (New York: W. W.
Norton & Company, 1993)
Allen, Gay Wilson. A Reader’s Guide to Walt Whitman (Syracuse, New York: Syracuse
University Press, 1997)
Ashbery, John. Selected Poems (London: Paladin, 1987)
Axelrod, Steven Gould. Sylvia Plath - The Wound and the Cure of Words (Baltimore and
London: The Johns Hopkins University Press, 1990)
Baratta, Gino. “Ritmo” apud Oral / Escrito Argumentação (Lisboa: I.N.C.M, 1987)
Barnaby, Karin and Pellegrino D’Acierno eds. C. G. Jung and the Humanities – Toward a
Hermeneutics of Culture (London: Routledge, 1990)
Baudelaire, Charles. Les Fleurs du Mal et autres poèmes (Paris: Garnier-Flammarion, 1964)
Becks-Malorny, Ulrike. Cézanne – 1839-1906 – O Pai da Arte Moderna (London: Taschen,
2001)
Billi, Mirella. Il Vortice Fisso - La Poesia di Sylvia Plath (Pisa: Pocini Editore, 1983)
Blasing, Mutlu Konuk. American Poetry - The Rhetoric of Its Forms (New Haven and London:
Yale University Press, 1987)
Bonnef oy, Yves. The Truth and the Lure of Painting (Chicago: Univ. of Chicago Press, 1995)
Bradbury, Malcolm and James McFarlane eds. Modernism – 1890-1930 (Harmondsworth:
Penguin, 1976)
Brooks, Cleanth. “Keats’s Sylvan Historian” in M. H. Abrams ed. English Romantic Poets –
Modern Essays in Criticism (Oxford: Oxford University Press, 1960), pp. 354-364.
Buchwald, Emilie and Ruth Roston eds. The Poet Dreaming in the Artist’s House (Minneapolis:
Milkweed, 1984)
Corneille-Agrippa, Henri. La Philosophie Occulte ou la Magie (Paris: Éditions Traditionnelles,
1981).
Costa, Teresa. Williams Saw it all … - Para uma Breve (Re)Visão da Importância das Artes
Plásticas na Obra de William Carlos Williams (Lisboa, ed. Pol.: 2003)
Damasio, Antonio. The Feeling of What Happens – body, emotion and the making of
consciousness (London: Vintage, 2000)
Deleuze, Gilles. Francis Bacon – The Logic of Sensation (London: Continuum, 2003)
Delevoy, Robert L. Brueghel (Genève: Skira, 1990)
Donahue, Jane. “Melville’s Classicism: Law and Order in his Poetry,” Arizona Quarterly, 5
(1969)
Ducrot, Oswald. “O Referente” in Linguagem – Enunciação (Lisboa: I.N.C.M., 1984)
Erkkila, Betsy. Whitman – The Political Poet (Oxford: Oxford University Press, 1989)
Feijó, António M. “Duas notas sobre pintura e retórica em Ashbery”, John Ashbery. Auto-
Retrato num Espelho Convexo e outros poemas (Lisboa: Relógio d’Água, 1995)
Folsom, Ed. Walt Whitman’s Native Representations (New York: Cambridge University Press,
1994)
_____________ Appearing in Print: Illustrations of the Self in Leaves of Grass” in Ezra
Greenspan ed. The Cambridge Companion to Walt Whitman (New York: Cambridge University
Press, 1995)
Garrod, H. W. ed. Keats Poetical Works (London: Oxford University Press, 1956)
Gombrich, E.H. Art and Illusion – A Study in the Psychology of Pictorial Representation
(Princeton: Princeton University Press, 1989)
Hall, Donald ed. Contemporary American Poetry (Harmondsworth: Penguin, 1976)
Hayden, John O. ed. William Wordsworth - Selected Poems (London: Penguin Books, 1994)
Heffernan, James A. W.. Museum of Words – The Poetics of Ekphrasis from Homer to Ashbery
(Chicago: The University of Chicago Press, 1993)
Hilton, Timothy. The Pre-Raphaelites (London: Thames and Hudson, 1979)
Holloway, John ed. Selected Poems of P. B. Shelley (London: Heinemann, 1969)
Hueffer, Ford Madox. Rossetti – A Critical Essay on his Art (London: Duckworth, s.d.)
Hughes, Ted. “Notes on the Collected Poems,” in Sylvia Plath, op. cit..
Collected Poems (London: Faber, 2003)
Lauter, Paul ed. The Heath Anthology of American Literature (Boston: Houghton Mifflin
Company, 1998)
Lefebve, Maurice-Jean. Estrutura do Discurso da Poesia e da Narrativa (Coimbra: Livraria
Almedina, 1975).
Leyda, Jay. The Melville Log: A Documentary Life of Herman Melville (New York: Gordian,
1969)
Lichtenstein, Jacqueline dir. La Pinture (Paris: Larousse, 1995)
Loizeaux, Elizabeth Bergmann. Yeats and the Visual Arts (Syracuse: Syracuse University
Press, 2003)
Lopes, Óscar. De Fialho a Nemésio, II (Lisboa: INCM, 1987)
Lourenço, M. S.. Os Degraus do Parnaso (Lisboa: Assírio & Alvim, 2002)
Loving, Jerome ed. Walt Whitman – Leaves of Grass (Oxford, New York: Oxford University
Press, 1990).
. Walt Whitman – The Song of Himself (Berkeley: University of
California Press, 1999)
Machado, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Lisboa: Livros Horizonte,
2003)
Magalhães, Joaquim Manuel e Nikos Pratsinis. Os Poemas – Konstandinos Kavafis (Lisboa:
Relógio d’Água, 2005)
Malraux, André. O Museu Imaginário (Lisboa: Edições 70, 1963)
McClatchy, J. D. ed. Poets on Painters – Essays on the Art of Painting by Twentieth-Century
Poets (Berkeley: University of California Press, 1990)
McCullough, Frances ed. The Journals of Sylvia Plath (New York: The Dial Press, 1982)
O’Hara, Frank. Selected Poems (New York: Vintage Book, 1974)
. Art Chronicles 1954-1966 (New York: Venture Book, 1975)
Perrine, Lawrence. “The Nature of Proof in the Interpretation of Poetry,” English Journal , 51
(1962)
Plath, Sylvia. Collected Poems (London: Faber, 1981)
Price, Kenneth M. ed. Walt Whitman – The Contemporary Reviews (New York: Cambridge
University Press, 1996)
Ramos, Maria João Carvalho. Nas teias da Arte de Comunicar (Lisboa: ed. pol., 2004)
Rimbaud. Poésies (Paris: Librairie Générale Française, 1972)
Robillard, Douglas ed. The Poems of Herman Melville (Kent: The Kent State University Press,
2000).
Rodrigues, Fátima. Cesário Verde – Recepção Oitocentista e Poética (Lisboa: Cosmos, 1998)
Roque, Georges. Qu’est-ce que l’art abstrait? – Une histories de l’abstraction en peinture
(1860-1960) (Paris: Gallimard, 2003)
Rose, Jacqueline. The Haunting of Sylvia Plath (London: Virago , 1991)
Roston, Murray. Vitorian Contexts – Literature and the Visual Arts (New York: New York
University Press, 1996)
. Modernist Patterns in Literature and the Visual Arts (New York: New York
University Press, 2000)
Sedlmayr, Hans. A revolução da arte moderna (Lisboa: Livros do Brasil, s.d.)
Sena, Jorge de, Poesia II (Lisboa: Moraes Editores, 1978)
Stein, Gertrude. Three Lives & Tender Buttons (New York: Signet, 2003)
Steiner, George. Language and Silence (London: Faber and Faber, 1967)
Stevens, Wallace. The Collected Poems (New York: Vintage Books, 1990)
Stevenson, Anne. Bitter Fame - A Life of Sylvia Plath (London: Viking, 1989)
Strand, Mark. Blizzard of One (New York: Knopf, 1999)
Tennyson, Alfred. Poems (London: Collins, 1954)
Verde, Cesário. Obra Completa (Lisboa: Portugália, s.d.)
Vincent, Howard P. ed. Collected Poems of Herman Melville (Chicago: Packard and Company,
1947)
www.english.emory.edu/Paintings&Poems
Índice Onomástico
Abel, Darrel, 143, 229
Abrams, M.H., 103, 229
Acis, 77
Adam, 122
Adonis, 77
Afrodite, 55
Agamémnom, 86-87
Agripa, 67
Ahab, 201
Aisenberg, Katy, 5
Al Berto, 222
Albano, 66
Albergaria, Manuel Soares de, 77
Albers, Joseph, 206
Albert, Prince, 132
Alberti, 90
Alcinoo, 30, 52-53, 69
Allen, Gay Wilson, 117, 229
Alves de Sousa, Ana Alexandra, 229
Amazonas, 71
Andógeo, 71
Andrese, Sophia de Melo Breyner, 222
Angelico, Fra, 126
Ângelo, Miguel, 77, 222
Antígona, 54, 79
Antolin, Fernando Navarro, 229
António, 67
Apollinaire, Guillaume, 164
Apolo, 30, 53-54, 69, 78, 85, 144, 173 - Febo, 71, 77, 173
Aquiles, 22, 24, 38-39, 45, 64, 67, 69-70, 81, 128, 175-178
Aracne, 51, 63, 76, 78-80
Arcimboldo, 150-151
Ares, 45
Argonautas, 51
Ariadne, 49, 73-77, 80
Ariosto, 76
Aristóteles, 53, 55-56, 59-61, 229
Arnold, Matthew, 12, 16-18,
Artemídoro, 223
Ascânio, 65
Ashbery, John, 208, 214-217, 229-230
Atena, 45 , 85
Atreu, 69
Auden, W. H., 3, 5, 175-180, 184, 186, 214
Auerbach, 154
Augusto, 63-64, 67-68
Aurélio, José, 223
Aurora, 71
Avelar, Mário, 123
Axelrod, Stephen, 194, 230
Bach, 77
Bacon, Francis, 230
Baptista, António Agostinho, 223
Baptista, S. João, 133
Baratta, Gino, 191-192, 230
Barnaby, Karin, 219, 230
Barthes, Roland, 106
Baskin, Leonard, 204-205
Baudelaire, Charles, 3, 77,106-111, 152, 230
Beaumont, Sir George, 91-92, 95-96
Becks-Malorny, 153, 230
Bellini, Giovanni, 221
Belo, Ruy, 222
Berryman, John, 182, 186
Billi, Mirella, 194-195, 230
Blake, William, 138-139
Blasing, Motlu Konuk, 193-194, 197, 215, 230
Bloom, Harold, 7
Boccaccio,, 76
Böcklin, Arnold, 193-194
Bonard, 221
Bonnefoy, Yves, 134
Botelho, António, 222
Botelho, Emanuel Jorge, 224, 230
Bradbury, Malcolm, 230
Brandão, Fiama Hasse Pais, 223
Breyner, Sophia de Mello, 13
Briand, 97
Britten, Benjamin, 77
Brodie, Gandy, 211
Brooks, Cleanth, 101, 230
Browning, Robert, 10-11, 18-19, 25, 33, 124, 127-132, 215, 225-226, 229
Brueghel, Pieter – O Velho, 77, 178-188, 213, 215, 230
Buchwald, Emilie, 230
Busa, Peter, 219
Byron, Lord, 100
Caeiro, Alberto, 7
Cage, John, 206
Camões, Luís de, 32-35, 77, 213
Campos, Álvaro de, 97
Calipso, 27, 53
Candeias, João, 224
Canova, 100
Caravaggio, 77
Carlos V, 167
Cassandra, 85
Catulo, 24, 63, 73-75, 229
Cecrópidas, 72
Cécrops, 31, 78
Céfalo, 31-32
Ceres, 78
Cerqueira, Luís, 229
Cervantes, 77
César, 167
Cesariny, Mário, 223
Cézanne, 148, 153, 156, 230
Chagal, 224
Char, René, 208
Chaucer, 76, 128
Chavannes, Puvis de, 223
Cherner, Anne, 218, 220
Chevreul, 149
Chilton, Mary, 115
Cícero, 71, 73
Cíclopes, 64
Cinatti, Ruy, 13
Cipião, 71
Clitofonte, 229
Clouard, Henri, 229
Cnossos, 72
Coates, Robert, 211
Coleridge, Samuel Taylor, 9, 12, 203
Collins, Jess, 206
Collinson, James, 126
Corneille, 77
Corneille-Agrippa, Henri, 110, 133, 230
Corot, 77
Cosimo, Piero di, 32
Costa, Teresa, 166, 170-172, 230
Courbet, 150, 217
Crane, Hart, 15
Crane, Stephan, 5
Crátilo, 59
Craven, Thomas, 183, 216
Creeley, Robert, 206
Creúsa, 65
Cristo, 167, 180 - Menino, 133
Croft, José Pedro, 224
Cronos, 31-32
Cupido, 207
d’ Este, Nicolò, 186
D’Acierno, Pellegrino, 230
da Vinci, Leonardo, 96, 99, 106, 132, 137
Dafné, 77
Dahlberg, Edward, 206
Dali, Salvador, 77
Damasio, Antonio, 224, 230
Dante, 76, 136
Daumier, Henri, 107
David, 109, 214
David, Ilda, 223
De Chirico, Giorgio, 174, 188, 190-199, 202
de la Mare, Walter, 182, 186
Dédalo, 49, 71-72, 81, 181
Delacroix, 106-107
Deleuze, Gilles, 112, 230
Delevoy, Robert L., 187, 230
della Francesca, Piero, 126
Demuth, Charles, 174
Diana, 78
Dido, 69
Dioniso, 38, 51, 54, 81
Donahue, Jane, 146
Done, John, 9
Dóris, 81
Dryden, John, 12
Duchamp, Marcel, 164, 206
Ducrot, Oswald, 146, 230
Duncan, Robert, 161, 206-207
Dürer, Albrecht, 84, 215
Eakins, Thomas, 5, 122
Édipo, 54-55, 229
Egeu, 81
Electra, 193
Elgin, Lord, 99-101
Eliot, T. S., 4, 8-15, 18, 106, 159, 165-166, 227, 229
Éluard, Paul, 208
Emerson, Ralph Waldo, 116, 205
Emílio-Nelson, José, 223
Eneias, 30, 51, 53, 63-72,
Eólia, 80
Éolo, 69
Epícuro, 76
Epstein, Jacob, 162
Erecteus, 32,
Erkkila, Betsy, 121-122, 230
Espanca, Florbela, 224
Euménides, 55
Europa, 51, 79-80
Farmhouse, Paulo, 229
Feeley, Paul Terence, 4
Feijó, A. M., 5, 214, 217, 230
Fern, Fanny, 115
Fernandes, Raúl Manuel Rosado, 229
Ferreira, David Mourão, 222
Fialho, Maria do Céu, 55, 229
Filomela, 130
Filostrato, 216
Flor, João Almeida, 10, 13, 33, 124, 130,138, 229
Foerster, Robert, 186
Folsom, Ed, 114, 116, 119-120, 123, 230
Foucault, Michel, 110
Fouquet, Jean, 186
Fragonard, 26, 36
Frankenthaler, Helen, 214
Freedberg, Sydney, 216
Fried, Michael, 134
Fuller, Margaret, 115
Gaiaz, Ana, 223
Galateia, 77
Garrod, H. W., 230
Gastão, Ana Marques, 223
Gaudier-Brzeska, Henri, 162
Gea, 32
George, Lloyd, 31, 97
Giorgi, Bruno, 33
Giotto, 126
Glück, Gustave, 183, 216
Goethe, 77
Goldberg, Michael, 208-209, 213
Golding, John, 165
Gombrich, E. H. 218, 220, 227, 230
Gonçalves, Isabel Rebelo, 5
Goya, 14, 24-25, 106, 207
Grabenhorst-Randall, Terree, 218-220
Greenberg, Clement, 211, 217-221
Greenspan, Ezra, 230
Gris, Juan, 164
Guerreiro, Cristina, 229
Guerreiro, Fernando, 222-224
Guimarães, José de, 222
Haftmann, Werner, 160
Halicarnasso, Dionísio, 38
Hall, Donald, 230
Händel, 77
Harrison, Gabriel, 114
Hayden, John O., 230
Hefesto, 22, 39, 52, 64, 176-178 ; ínclito Anfigieu, 49
Heffernan, James A. W., 5, 217, 230
Heitor, 39, 71
Hera, 80
Héracles, 51
Herbert, George, 9
Hermes, 144
Hermógenes, 59
Hesíodo, 51, 73
Hilton, Timothy, 230
Hine, Charles, 117
Hofmann, 218
Holloway, John, 98, 230
Hollyer, Samuel, 114
Homer, Winslow, 121
Homero, 22, 27, 30, 38-50, 52-53, 58, 73, 230
Horácio, 56, 60-63, 229
Horta, Ana, 224
Hueffer, Ford Madox, 135, 230
Hughes, Ted, 77, 190, 192, 204-206, 230
Hunt, William Holman, 126
Ícaro, 77, 178-183
Ifigénia, 86-87
Ives, Charles, 154, 158
Jasão, 51
Jefferson, Thomas 146
Johnson, Samuel, 12
Jonson, Ben, 12
Jorge, João Miguel Fernandes, 4, 221-223, 226-227
Jorge, Luíza Neto, 223
Joyce, James, 206
Júlio, 1
Jung, Carl, 218-219, 230
Juno, 30, 53, 69, 78-79
Júpiter, 78-79
Kandinsky, Wassily, 160
Kant, 184
Katz, Alex, 214
Kavafis, Konstandinos, 128, 223, 231
Keats, George, 102
Keats, John, 9, 12, 14, 19, 32-33, 91, 99-102, 105, 128, 141, 147, 213, 216, 230
Keats, Thomas, 102
Koch, Kenneth, 208
Kim, Thomas, 13
Kiyotada, 159
Klee, Paul, 4, 188, 190, 199, 202
Kline, Franz, 214
Krieger, Murray, 5, 59, 92, 128, 229
Lafaye, Georges, 229
Laio, 54
Landor, Walter Savage, 128
Langland, Joseph, 182, 186
Laocoonte, 83-86, 90, 223
Larkin, Philip, 5
Lauter, Paul, 230
Lefebve, Maurice-Jean, 113, 230
Lehman, David, 212
Lessing, 3, 83-90, 93, 95, 109, 138, 144, 153, 163, 188
Letria, José Jorge, 223-224
Leucipe, 229
Leucófina, Ártemis, 38
Leutze, Emanuel Gottlieb, 210, 213
Levertov, Denise, 206
Leyda, Jay, 141, 230
Lichtenstein, Jacqueline, 82, 110, 217, 230
Lima, Ângelo de, 16
Lippi, Fra Lippo, 128, 215
Lopes, Adília, 224
Lopes, Óscar, 152, 230
Lorraine, Claude, 101
Losh, James, 95
Lourenço, M. S., 109, 230
Loving, Jerome, 119, 230
Loyzeaux, Elizabeth Bergmann, 138-139, 162, 230
Lucrece, 51
Lucrécio, 24, 63, 74-76, 229
Machado, José Pedro, 173, 231
Magalhães, Joaquim Manuel, 6, 11, 36, 128, 134,222-225, 229-230
Magritte, René, 156
Maldonado, Fátima, 223
Malevitch, 224
Mallarmé, 161, 208
Malraux, André, 166-167, 179-180, 227, 231
Mammon, 144
Manet, 223
Manito, 122
Maquiavel, 18-19, 229
Marey, 164
Marino, 51
Marius, 76
Marte, 24, 63, 76, 78
Martin, Linda, 195
Martins, Fernando Cabral, 149-152
Marvell, 51
Marx, Karl, 19, 229
Matisse, Henri, 155
Mayakovsky, 208
McClatchy, J. D., 161, 163, 166, 190, 205-206, 217-218, 231
McCullough, Frances, 194, 231
McFarlane, James, 230
Meleagro, 223
Melville, Herman, 15, 140-148, 229-231
Mémnom, 71
Menken, Adah, 115
Mercúrio, 78
Meto, 66
Miguel-Ângelo, 106
Millais, John Everett, 126, 148
Milton, John, 53, 77
Minerva, 63, 68, 76, 78-81
Minos, 71, 80
Minotauro, 72-73
Mirandoloa, Pico de la, 32
Miró, Joan, 218, 223
Molder, Jorge, 222
Mondrian, Pietr, 160
Monet, 150
Monteiro, Adolfo Casais, 13
Montesquieu, 77
Monteverdi, 77
Moore, Henry, 223
Morris, William, 138
Mosco, 51
Motherwell, Robert, 214
Moura, Vasco Graça, 222-223
Mussorgsky, Modest, 223
Nadal, Emília, 222
Nakian, Reuben, 214
Napoleão, 212
Narciso, 77, 111
Negreiros, Almada , 1
Nemerov, Howard, 4
Neptuno, 68, 78
Newman, 221
Nono, 51
Nozolino, Paulo, 222
O’Hara, Frank, 208-214, 217-219, 231
Olson, Charles, 206
Orfeu, 77
Orozco, 218
Osiris, 122
Osório, António, 223
Ovídio, 30, 53, 63, 73, 76-77, 181, 229
Pã, 77
Pacino, Al, 136
Pack, Robert, 12, 229
Palas, 70,, 78
Palolo, António, 222
Pariny, Jay, 12, 229
Parmigianino, Francesco, 215-216
Pátroclo, 39
Pasífaa, 72
Pentesileia, 71
Pérgamo, 70
Perrine, Lawrence, 143, 231
Perseu, 199, 202-203
Pessoa, Fernando, 7, 10-14, 17, 229
Philips, Duncan, 221
Picander, 77
Picasso, 77, 156,159, 165, 193, 218
Piceno, Ascoli, 223
Pigmaleão, 77
Pindaro, 207
Pinheiro, Marília Futre, 42, 229
Pisão, Lúcio, 60
Platão, 56-59, 61, 71, 164, 227
Plath, Aurelia, 195-196
Plath, Sylvia, 4, 174, 182, 186-204, 206, 230-231
Plínio, 83-84
Plutarco, 56, 73
Poe, Edgar Allan, 111, 127
Pollock, Jackson, 208, 214, 217-219
Pope, Alexander, 12
Portugal, José Blanc, 13
Pound, Ezra, 4, 12, 140, 162-164, 166, 206
Pratsinis, Nikos, 128, 231
Príamo, 69, 71
Price, Kenneth, 113, 115-116, 231
Prisciano, 38-39
Prócris, 31-32,
Prosérpina, 77
Proteu, 81
Psique, 207
Puget, 106
Pushkin, 77
Quencey, 192
Quintiliano, 60
Racine, 77
Rafael, 77, 126, 148
Ramirez de Verger, Antonio, 229
Ramos, Adelaide, 229
Ramos, Maria João Carvalho, 225, 231
Ramsés II, 97
Rauschenberg, Robert, 206
Rea, 31
Régio, José, 149-150
Rego, Paula, 223
Reis, Ricardo, 7
Rembrandt, 77, 106, 167, 215, 227
Remo, 65
Resende, Júlio, 222
Reverdy, Pierre, 208
Rimbaud, 110-111, 161, 208, 231
Rivers, Larry, 209-212
Robillard, Douglas, 141, 144, 147, 231
Rocha, Andrée Crabbé, 150
Rocha Pereira, Maria Helena, 39-50, 52-53, 68-69, 71, 73, 229
Rodin, 77
Rodrigues, Fátima, 149, 231
Rómulo, 65
Rood, Ogden, 149
Roque, Georges, 164, 231
Rosa, Manuel, 222
Rose, Jacqueline, 190, 195, 231
Rosernberg, Harold, 211
Rossetti, Dante Gabriel, 110, 124, 126, 132-137, 230
Rossetti, William Michael, 126
Roston, Murray, 5, 127-130, 132, 149, 158, 165, 231
Roston, Ruth, 230
Rothko, Mark, 218, 220-221, 223
Rousseau, Douanier, 188, 190, 199, 202-203
Rubens, 106
Ruskin, John, 18, 126, 132
Russell, Raymond, 208
Safo, 54
Santos, Maria Irene Ramalho Sousa, 7
Sarmento, Luís Filipe, 223
Sarto, Andrea del, 223
Schönberg, Arnold, 154, 206
Schuyler, James, 208
Sedlmayr, Hans, 161, 209, 231
Sena, Jorge de, 1-3, 6-7, 11-37, 77, 134, 149, 157, 213, 217, 225-227, 229, 231
Seurat, 149
Shakespeare, William, 8, 9, 13, 19, 34, 51, 77, 125, 128, 216, 229; personagens - Brutus,
Hamlet, Lear, Othello, 7; Macbeth, Lady Macbeth, 8, Mariana, Angelo, 125
Shaw, George Bernard, 77
Shelley, P. B., 9, 12, 14, 18-19, 32, 91, 97, 99, 141, 147, 169, 204, 230
Sibila, 71
Siddal, Miss, 135
Sila, 76
Silentiary, Paul de, 53
Simónides, 56, 59, 82, 86, 88
Sindbad, 201
Siqueiros, 218
Smith, David, 214
Soares, Bernardo, 223
Sófocles, 54-55, 229
Sousa, Eudoro de , 229
Spaventa, George, 214
Spender, Stephen, 163
Stein, Gertrude, 4, 174-175, 231
Stein, Leo, 161
Steiner, George, 193, 231
Stephens, Frederick, 126
Stevens, Wallace, 15, 117, 159-162, 216, 231
Stevenson, Anne, 194, 231
Still, Clyfford, 217, 221
Strand, Mark, 198-199
Strauss, Richard, 77
Sullivan, Nancy, 219
Tácio, Aquiles, 229
Tamen, Miguel, 5
Tamen, Pedro, 222
Tasso, 77
Teão, 38
Tenier, David, 141, 147
Tennyson, Alfred, 124-127, 231
Teócrito, 51
Teseu, 73, 75
Tétis, 22, 39, 73, 176-178
Thomas, Dylan, 229
Thor, 195
Ticciano, 77, 167, 227
Tideu, 70
Tito, 84
Tocqueville, Alexis, 167
Tritão, 81
Troilo, 70
Trotzky, 97
Turner, 107, 221
Unamuno, Miguel de, 77
Urano, 32
van Eyck, Jan, 186
Vasari, Giorgio, 128, 215, 217
Velásquez, 77
Vénus, 24, 63, 68, 76-78
Verde, Cesário, 3,149-152, 157, 231
Verlaine, 77, 161
Veronese, 77
Vieira da Silva, Maria Helena, 223-224
Vincent, Howard P., 147, 231
Virgem, 133-137
Virgílio, 51, 63-65, 81, 84, 86, 229
Vitrúvio, 38
Voltaire, 77
Vulcano, 64, 78, 81
Washington, George, 209-212
Watteau, 106
Webster, 116, 121
Wellington, 97
Whitman, Walt, 3-4, 7, 15, 112-125, 137, 140, 143, 148, 208, 216, 229-231
Wilde, Oscar, 4
Williams, William Carlos, 15, 159, 165-175, 182-186, 208, 213, 215, 230
Winckelmann, Johann Joachim, 83-86
Woodhouse, Richard, 103
Woolf, Virginia, 153
Woolner, Thomas, 126
Wordsworth, William, 5, 9-10, 12, 14, 18, 91-93, 95-96, 157, 182-
Yeats, William Butler, 138-140, 162
Zeki, Semir, 155-156, 164-165, 224
Zeus, 31, 80, 122, 173