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vílidos.

O poeta assume-se, dessa forma, como um sábio que


»|i»er utilizar-se de sua arte para ensinar os homens*

Llüispontotrês

A poesia lírica

Ainda que Hesíodo traga elementos novos à literatura, como o


tlidatismo e os elementos autobiográficos, ele ainda está preso
i tradição do canto épico, especialmente na forma, pois recorre
k formulas tradicionais e aos epítetos. Também há em Hesíodo
»•Icmentos que falam de seu próprio tempo, porém o poeta o faz
por intermédio dos mitos, que são um suporte para expressar suas
próprias idéias* Assim, podemos afirmar que a poesia líricagrega
revolucionária, pois inova tanto na forma como nos temas.
A poesia grega, que hoje chamamos de lírica, não era assim
denominada pelos gregos da época. Segundo Ragusa (2013, p. 12),

Mélica é 0 termo quefigura entre as denominações mais antigas


para essa poesia que, a partir da era helenística (323-31 a,C.} [.».],
passou a ser chamada “lírica" [...J. O gênero da poesia mélica
é, basicamente, 0 das composições destinadas à performance
cantada em coro ou solo, com acompanhamento da lira —no
caso da modalidade coral, junto a outros instrumentos [.*.].

Nessa definição, podemos perceber o caráter musical dessas


poesias que, hoje, apenas podemos ler.

INTRODUÇÃO A LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 91


F igura 2.3 - E scu ltu ra de um a m u lh er seg u ra n d o uma lir >

70

A palavra mélica deriva da palavra grega mélos, que significa


"canção" Portanto, todas as poesias eram compostas para serem
cantadas. A transmissão continuava a ser oral, e as principais
ocasiões de performance eram os simpósios, ou banquetes, feitos
nas casas dos nobres, e os festivais cívico-religiosos, organizados
pela cidade (Ragusa, 2013). Esse primeiro ponto já demonstra uma

92 EMERSON CERDAS
»li(crença essencial entre o que é a poesia lírica para os gregos an-
Mgos e o que é a poesia lírica para nós, na atualidade. Dado que a
|»ocsía era cantada em performances para uma audiência, há nela
i» ausência de algo essencial para a caracterização da lírica mo-
‘Icrna, que é o intimismo, tanto do poeta que escreve quanto do
l<‘iror que lê, sozinho em sua casa, as expressões de um eu lírico.
( .‘onforme Kurke (2007, p. 143, citado por Ragusa, 2013, p. 15),

0 que sabemos das exigências da performance desafia radical-


mente a leitura do ‘ ew" lírico como a espontânea e não mediada
expressão do indivíduo biográfico. A poesia e a canção gregas
arcaicas sempre foram compostas para uma performance pú­
blica, marcada e representada num lugar especial. Isso significa
que, mesmo antes do desenvolvimento completo do drama em
máscaras, 0falante ou cantor estava sempre representando [...].

Por isso, existe uma íntima relação entre o ambiente da per-


formance e o gênero do poema. Se determinados gêneros mélicos
se adequavam aos simpósios, outros eram compostos para os fes­
tivais públicos, e o poeta compunha de acordo com a expectativa
de sua audiência. Isso implica um tratamento distinto da forma
e da expressão poética em suas variadas modalidades, ainda que
classifiquemos todas essas diferentes composições sob o mesmo
rótulo: poesia lírica ou mélica.
Outra questão importante que nasce da relação desse tipo de
poesia com o canto é que, uma vez que hoje só tenhamos o texto,
devemos considerar que conhecemos apenas uma parte do que

L 93
INTRODUÇÃO Â LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO
eram essas obras, pois elas eram compostas levando-se em consi­
deração a melodia e a dança, bem como a própria pej^rmíiwce dt»
cantor-poeta. Há ainda outra limitação para o estudo dessa poesia i
hoje, temos apenas uma pequena amostra do que era esse gêncm,
pois a maior parte dos textos não passa de pequenos fragmentos.
Tomando todas essas precauções quanto à poesia arcaic.i.
podemos iniciar o estudo das modalidades. Por questões did.i
ticas, neste capítulo continuaremos a usar a denominação poesiit
lírica, uma vez que essa é a expressão consagrada no Ocidente.
Assim, a referência será mais facilmente reconhecível pelo leitor.
A poesia lírica grega arcaica está classificada em lírica mo
nódica, em que uma só pessoa canta, e lírica coral, destinada a
ser cantada por um coro. Segundo Ragusa (2013, p. 20),

A tnélica monódica abarca grande variedade de temas e de


tratamentos. Tais temas estão prevalentemente ancorados na
contemporaneidade, articulados, de algum modo, ao cotidiano
da vida da pólis, a eventos de um passado recente e a situações
próprias da experiência humana, e são colocados em direta
relação com a voz poética geralmente em pessoa do singular
[,. .J, [que] sempre se endereça a alguém - um “tu” ou um “vós”.
A mélica coral, por outro lado, é menos variada na temática e
em seus tratamentos; nela se sobressaem 0 tom de celebração,
0 largo uso da narrativa e a autorreferencialidade à perfor­
mance em execução pelo coro

94 EMERSON CERDAS
Podemos notar, assim, que a lírica monódica se aproxima
••wii.i do que entendemos por lírica, isto é, a representação da voz
|ir«Hoal do poeta, expressa por um eu lírico. Essa diferença de
1« in.i e tratamento entre a lírica monódica e a coral se dá, tam-
l»rin, por conta da ocasião em que eram apresentadas. Os festi-
lis cívico-religiosos, por exemplo, eram mais propícios ao canto
*»uai, pois este fazia parte das festividades em honra a algum
•Iriis ou herói. Nesse caso, o poeta era responsável não só pelo
|u>ema e pela música como também pelo coro, que cantava e
dançava com o acompanhamento da lira e de outros instrumen-
los, Os poemas corais, em geral, têm maior extensão do que os
inonódicos e versam sobre temas míticos que dizem respeito às
Ir.srividades de que fazem parte.
A lírica monódica, por outro lado, adéqua-se mais ao sim­
pósio na casa de nobres e nas cortes dos tiranos. Os simpósios, ou
banquetes, eram um costume bastante enraizado na cultura grega,
ocasiões em que, após a refeição, os frequentadores passavam a
beber. Conforme Ragusa (2013), os frequentadores dos banquetes
eram apenas do sexo masculino, sejam os nobres, na qualidade de
convivas, sejam os filhos destes, como espectadores ou servidores
de bebida e comida, cuja presença fazia parte de uma espécie de
educação dos valores nobres aos jovens. Nesse ambiente íntimo
de confraternização e de amizade, a lírica monódica encontrava
as condições para ser menos formal e oficial do que a lírica coral
c para calcar-se nos valores e nos problemas contemporâneos da
aristocracia a quem os poemas se destinavam.

INTRODUÇÃO À LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 95


Podemos dividir esses dois gêneros em alguns subgêneros
de acordo com a temática e a métrica utilizada. N a sequência co­
mentaremos algumas dessas modalidades por intermédio da aná­
lise de seus poetas mais importantes. No entanto, não devemos
esquecer que se trata apenas de uma parcela do que realmente foi
a grande produção da poesia lírica grega no período.

23.1 Lírica monódica


Para a literatura do Ocidente, o papel da lírica monódica é funda­
mental. Nela, pela primeira vez, aparece um conteúdo individual,
ou seja, o poeta fala em sua própria voz de seus sentimentos e opi­
niões, sem a exigência de se referir aos mitos gregos. Além disso,
não são mais os valores míticos do passado que surgem, mas os
valores aristocráticos da comunidade, em direta relação com os
problemas contemporâneos. Isso cria uma categoria de poema
mais pessoal, que tem uma recepção também pessoal.
Trata-se um tipo de poema emulado pelos romanos e res­
ponsável por criar uma tradição lírica no Ocidente. Vejamos,
a seguir, as classificações para a lírica monódica.

2 .3.1.1 Elegia
A elegia é um tipo de canto acompanhado da flauta, composto
por uma sequência de dísticos: um hexâmetro, como o das epo­
peias, e um pentâmetro, verso de cinco pés métricos, baseado no
dáctilo. Segundo Pereira (1979), essa parece ter sido a primeira
tentativa de se quebrar a monotonia imposta pela repetição dos

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l\exâmetros do canto épico, ainda que não se saiba ao certo quem
fenlia inventado esse dístico.
Quanto à temática, a elegia é bastante diversificada, por isso
rcnde-se a considerar a seguinte classificação: elegías guerreiras,
»•legias amorosas e elegias gnômicas ou sapienciais. Devemos
notar que, embora esses subgêneros se diferenciem pela temática,
cies têm em comum um tom reflexivo e uma exortação à audiên­
cia, característicos, portanto, das elegias.

Idegia guerreira
Os principais autores da elegia guerreira são Calino de Éfeso e
Tirteu de Esparta, cuja poesia tem forte apelo marcial.
De Calino, que é considerado o mais antigo dos elegíacos
que conhecemos, resta-nos apenas um fragmento de extensão
considerável. Nesse poema, ele se dirige aos seus concidadãos,
exortando-os a lutar contra os cimérios sem temerem a morte,
mas lembrando-os da honra que é morrer pela pátria. Retoma-se,
portanto, o ideal heroico que encontramos em Homero; porém,
diferentemente do que ocorria com Aquiles, cuja honra era a ex­
pressão de seu valor individual, para Calino a honra está inserida
no contexto da cidade.
Essa nova configuração ética do ato heroico também está
inserida nos poemas do espartano Tirteu. Seus poemas se an­
coram no momento em que Esparta luta contra seus vizinhos da
Messênia. Conforme Brunhara (2014, p. 59), podemos verificar
uma mudança na qualidade do kléos, da glória, alcançado pelo
guerreiro: "é ela [a cidade] que confere a imortalidade que subtrai
o homem da transitoriedade da sua condição humana e o insere e

INTRODUÇÃO A LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 97


preserva no espaço duradouro da comunidade, além de ser glori
ficada pelo sacrifício do herói e não mais a ação individual”«No»
versos de lo a 20 do fragmento 12, podemos notar a vinculaçáo
entre heroísmo e patriotismo assinalada anteriormente:

Pois nenhum homem sefa z de algum valor numa guerra


Se não puder suportar a visão da matança sangrenta,
E não puder lacerar, firm e e de perto, 0 inimigo.
Essa, a excelência, e esse é 0 prêmio melhor entre os jovens -
M ais belo <]ue esse não há, para que um jovem 0 vença.
E um hem comum para todos e para a nação e para 0 povo
Sempre que um homem se põe firm e em meio aos primeiros
Sem vacilar e de todo esquecido dajuga execrável,
Pondo seu ânimo audaz e alma ao perigo.
Encorajando 0 homem ao lado com suas palavras.
Esse é 0 herói que sefa z de algum valor na guerra.
(Tirteu, citado por Antunes, 2011, p. 50)

A covardia e a fuga geram a desonra do soldado, mas tam­


bém a destruição da cidade e do povo; em contrapartida, a va­
lentia gera honra e merece ser cantada, pois ela traz glória não só
ao indivíduo como também à cidade. É na ação guerreira, então,
que reside o verdadeiro valor (areté) do homem.
É interessante que, na sequência desse poema, o poeta apre­
senta todos os bens que acarretam a virtude e a valentia na guerra
e exorta sua audiência a não temer a morte e a seguir esse exem­
plo. Reflexão e exortação são as características predominantes
das elegias; no caso da elegia guerreira, essa exortação é relacio­
nada à conduta do guerreiro, como uma preleção antes da bata­
lha ou das modernas competições esportivas. Podemos verificar

98 EMERSON CERDAS
■ MUbastante clareza a exortação nos últimos versos (v. 27-32) do
Miigmento 10 de Tirteu:

[...]: M as tudo convém aos jovens,


Enquanto tiverem ajlo r brilhante da amável juventude:
È admirado por homens, por mulheres amado,
Quando vivo: e belo, se na vanguarda cai.
Vamos! Cada um fique bem firme, ambos os pés
Fixos ao chão, mordendo os lábios com os dentes!
(Tirteu, citado por Bruuhara, 2014, p. 70)

I Icgia amorosa
( í melhor representante da elegia amorosa é o poeta Mimnermo
dl* Cólofon, que viveu no final do século V II a.C. Em suas elegias
mais representativas, o poeta canta os prazeres e as alegrias ad­
vindas do amor e da juventude e exorta sua audiência a apreciar
I* a aproveitar a vida. N o fragmento i, também conhecido como
l '.logio do prazer, o poeta fala que não vale a pena viver sem os
prazeres de Afrodite e que, por isso, a velhice é tão odiosa, pois
o amor é próprio da juventude,

O que é a vida.^ O que é 0 prazer, sem a dourada Afrodite?


Que eu morra, quando estas coisas já não me interessarem:
O amor secreto, as suaves ofertas e a cama,
Que são flores da juventude sedutoras
Para homens e mulheres. M as quando chega a dolorosa
Velhice, que fa z até do homem belo um homem repulsivo.
Tristes preocupações sempre lhe moem 05 pensamentos
E já não sente prazer em contemplar a luz do .sol,
M as é odiado pelos rapazes e desonrado pelas mulheres.
Assim áspera foi a velhice que 0 deus impôs.
(Mimnermo de Cólofon, citado por Lourenço, 2006, p. 31)

INTRODUÇÃO A LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 99


o tema se repete no fragmento 2, em que o poeta recupera
uma passagem da Ilíada, de Homero, para refletir sobre a traiv
sitoriedade da vida, que passa das alegrias da juventude para
as tristezas e dores da velhice: os homens são como folhas, que
crescem na primavera, mas que, quando essa estação passa, ficam
apenas com as tristezas e mazelas da velhice. Se, nas elegias guei*"
reiras, a transitoriedade da vida é um convite para não temer a
morte no campo de batalha, na elegia amorosa de Mimnermo,
a transitoriedade é motivo para o poeta exortar os homens a viver
intensamente a juventude e os prazeres do amor, pois é isso que
faz a vida valer a pena.

Elegia gnômica ou sapiencial


E o legislador e político ateniense Sólon o melhor representante
da elegia gnômica ou sapiencial. Em dísticos elegíacos, Sólon
repete a estrutura temática dos outros elegíacos, apresentando
um poema reflexivo e exortativo. Muda, no entanto, o foco de
sua reflexão e exortação. Os poemas de Sólon expressam sua
participação como legislador da cidade de Atenas no período de
594 a.C. a 593 a.C., quando foi eleito para reformular as leis da
cidade, que vivia um período turbulento de manifestações popu­
lares por conta da pobreza e da escravidão geradas pelas dívidas.
Essas novas leis formaram a base da democracia ateniense, que
nascer ia tempo depois.
Diferentemente de Tirteu, para Sólon a virtude do cidadão
se encontra não na guerra, mas na prática da justiça e da modera­
ção. Ao agir assim, o cidadão respeita a ordem estabelecida pelas
leis humanas e divinas e, em consequência, traz riqueza e glória

100 EMERSON CERDAS 1


|Mra a cidade; já a iniquidade e a injustiça conduzem à destruição.
I'- isso que ele expressa nos versos de 5 a 9 de seu poema intitu-
l.ido Eunomia (A boa ordem):

Eles próprios, com stias loucuras, querem cicst7‘uir a grande cidade -


os cidadãos, persuadidos por riquezas,
e também a mente injusta dos chefes do povo; para eles,
por sua grande desmedida, estão preparados muitos sofrimentos,
pois não sabe conter a insolência
(Sólon, citado por Barros, 1999, p. 139)

Portanto, só resta exortar os cidadãos a se manterem no


»aminho da justiça e da moderação. Como observa Barros (1999,
p. 63), "Não são os deuses culpados pela Disnomia [Desordem];
Háo os homens: cidadãos, líderes do povo. Aqueles, com sua am­
bição de riquezas; estes, com sua mente injusta"', Podemos per­
ceber, assim, uma aproximação entre o ideal de Sólon e aquele
enunciado por Hesíodo, isto é, só o ganho fruto do trabalho é
Justo, e a injustiça causa a desgraça, já que provoca a ira dos deu-
Hcs. Além disso, a justiça e a virtude não são mais prerrogativas
lia aristocracia, ou seja, todo homem pode alcancá-las se agir
corretamente nessa direção.
Em outro belíssimo poema. Elogio às musas, Sólon vincula
\ injustiça a desmedida (hybris), termo que será capital na tragé­
dia grega. A desmedida leva o homem a exceder-se, a tornar-se
excessivo, seja nas paixões, seja na busca de poder e riquezas;'
a ela segue-se a ruína (áte). Portanto, a moderação está vinculada
ã justiça, pois Zeus inexoravelmente castiga as ações desmedidas
(Barros, 1999). Nesse ponto, a poesia de Sólon também se afina
com a de Hesíodo.

IN FRODUÇÃO A LITERATURA GREGA: DE HOMERO A O ROMANCE ANTIGO lOI


2 3 .1 .2 lam bo

O mais ilustre, e também o mais antigo, representante do iambo,


ou jambo, é Arquíloco de Paros, poeta do século V II a.C, Embor.i
tenha composto poemas de outros gêneros, como a elegia, é no
iambo que Arquíloco encontrou a fama.
O metro que dá nome a esse gênero também se chama iaffiho
(u - u —) e tem uma cadência rítmica próxima à da linguageiti
cotidiana, falada. Além disso, esse metro fazia parte dos canto»
em honra à deusa Deméter, cultuada na Ilha de Paros; a festa em
sua homenagem tinha como características o riso e a invectiva ou
injúria contra os cidadãos presentes. Arquíloco deve ter apreen-
dido esses elementos no contato com as festas religiosas e ‘ criou
uma forma de elevada arte, sem, no entanto, tirar do jambo a
sua essência de arma perigosamente incisiva” (Lesky, 1995 p. 136).
São essas, portanto, as principais características da poesÍ4 \
de Arquíloco: uma linguagem mais espontânea e próxima da [
falada e o uso do riso e da sátira para injuriar alguém. O poeta
se utiliza do epodo, uma forma lírica inventada por Arquíloco
na qual um verso mais longo é seguido de um verso mais curto
(Harvey, 1998), Com esse recurso, inicia sua injúria a Licambo, um
homem que lhe havia prometido a filha, Neobule, em casamento,
mas, no fim, acabou voltando atrás dessa decisão. N o poema,
Arquíloco questiona Licambo sobre o porquê de ele cometer uma
falha justamente com um homem que escreve poemas desse tom
e está sempre buscando temas para suas obras. É interessante
que o poeta se mostra consciente de que o poder de suas injúrias
acarreta consequências para a vida do cidadão. Muitos poemas

102 EMERSON CEROAS


"'I i.im sido compostos com o intuito de injuriar Licambo e suas
íilhas, de tal modo que, na Antiguidade, corria a lenda de que
^H. versos do poeta teriam levado as meninas a cometer suicídio
VI .rsky, 1995).
Ainda no contexto do riso, Arquíloco também compõe
poemas em que o ideal heroico é ridicularizado, apresentando
uma visão da guerra menos elevada e heróica. N a elegia a seguir
(Iragmento 5), Arquíloco celebra a vida, ainda que ela tenha sido
mantida a custo de uma ação covarde na guerra, a fuga e o aban-
ilono do escudo.

Com um escudo ttm saio ufanu-se, 0 qual junto à moita,


Arm a irrepreensível, deixei sem querer,
Mas salveimie. Que me importa aquele escudo?
Que vá! Arranjo outro, não pior.
(Arquíloco de Paros, citado por Corrêa, 2009, p. 112)

Já no fragmento 114, Arquíloco brinca com a inutilidade


da vaidade do grande guerreiro, preocupado com a beleza dos
cabelos e da barba, quando o que importa na guerra é a coragem,
c esta pode estar a serviço mesmo de um homem pequeno e de
pernas tortas.

Não gosto do grande general, nem do que anda a largo passo,


nem do que é vaidoso de seus cachos, nem do hem barbeado,
mas que me seja pequeno e com as pernas tortas
de se ver, plantado firme sobre os pés, cheio de coragem.
(Arquíloco de Paros, citado por Corrêa, 2009, p. 137)

in t r o d u ç ã o a l it e r a t u r a g r e g a : d e HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 103


2 3 .1.3 O de

As odes sâo canções acompanhadas do som da lira. Esse gênero


floresceu especialmente na Ilha de Lesbos, de onde provêm doit*
de seus mais significativos representantes: Alceu e Safo, poetas
da segunda metade do século V II a.C.
Safo é a única mulher poeta da Grécia Arcaica da quni
temos um corpus preservado, embora, como ocorre com a maio­
ria dos poetas líricos gregos, a maior parte sejam fragmentos.
Conforme Pereira (1979, p. 205), "E a poetisa da paixão, dos sen
timentos exaltados e avassaladores, como o ciúme". Como seus
poemas, em geral, se dirigem a destinatários do sexo feminino,
o termo lésbico, que designava aquele que nascia na Ilha de Lesbos,
passou no Ocidente a se referir ao homossexualismo feminino
(Ragusa, 2013). N o entanto, não podemos esquecer que há uma
diferença entre o eu biográfico e o eu lírico e que nem todas
as informações que o poeta apresenta em seus poemas devem
ser entendidas como biográficas. Os heterônimos de Fernando
Pessoa são um bom exemplo disso. Porém, a tradição sempre
buscou encontrar, nos poemas dos líricos antigos, informações
que compusessem sua biografia.
O mais famoso poema de Safo é o fragmento 31, em que
a poetisa descreve a dor e o ciúme de ver a amada nos braços
de um homem:

Parece-me ser par ãos deuses ele,


0 homem, que oposto a ti
senta e de perto tua doce
fala escuta,

104 EMERSON CERDAS


c tua risada atraente. Isso, certo,
no peito atordoa meu coração;
pois quando te vejo por um instante, então
falar não posso mais,
mas se quebra minha língua, e ligeiro
fogo de pronto corre sob minha pele,
c nada veem meus olhos, e
zumbem meus ouvidos,
c água escorre de mim, e um tremor
de todo me toma, e mais verde que relva
estou, e bem perto de estar morta
pareço eu mesma.
M as tudo é suportável, já que mesmo um pobre...
(Safo, citada por Ragusa, 2013, p. 112-113)

Esse poema exemplifica bem a poética de Safo, voltada para


o amor que, sendo algo doce na vida da pessoa, também é capaz
de ser a doença do corpo e da alma. Podemos notar que, diferen-
rcmente de Mimnermo na elegia, na ode o amor é apresentado em
uma esfera particular, é a descrição dos sofrimentos do eu lírico
dc Safo. Mimnermo fala do amor como uma realidade humana,
de uma forma mais abstrata e universal, e Safo focaliza a expe­
riência individual e sensível de uma dada paixão.
Alceu, conterrâneo e contemporâneo de Safo, foi um poeta
cujas canções demonstram uma “grande variedade temática e
formal e aguerrido ânimo nas arenas marcial e política” da ci­
dade (Ragusa, 2013, p. 69). As performances de seus poemas ocor­
riam nos banquetes, nos quais se reuniam os aristocratas, que
discutiam as questões políticas da ilha daquele momento histó­
rico. Alceu expressa os ideais dessa classe em seus poemas, mas

INTRODUÇÃO À UTERATURA GREGA; DE HOMERO AO ROM ANCE ANTIGO 105


também celebra o vinho e os prazeres do banquete (Ragusa, 2013);
é por esse viés simposiástico que Alceu foi modelo de Horácio cm
seus poemas de carpe âiem. N o fragmento 335, Alceu se dirige ao
amigo Biquis, que se encontra na cena de banquete, e aconselhado
a usar o vinho como um remédio para seus males, para deixar de
se atormentar pelos problemas:

Não devemos confiar 0 peito aos males,


Pois não avançaremos atormentandomos,
Ó Biquis; mas 0 melhor dos remédios
Ê vinho beber, eles 0 trazendo...
(Alceu, citado por Ragusa, 2013, p. 92)

Outro poeta compositor de odes que merece atenção é


Anacreonte. Nasceu na Ilha de Teos, provavelmente por volta
de 570 a,C„ e integrou a corte do tirano de Samos, Polícrates.
Suas composições versam essencialmente sobre o vinho e o amor,
nas quais ressoam as poesias de Safo e Alceu, mas

à diferença desses poetas léshios, a perspectiva das canções de


Anacreonte, inclusive as da temática amorosa, é marcadamente
hedonista. A celebração dos prazeres da vida e dos prazeres
dos convivas [...] está no centro do corpus preservado [,.J.
Esteticamente, tudo isso se perfaz em versos de notáveis refina­
mento e sofisticação, graciosidade e ironia, chistes espirituosos
e argúcia, linguagem ambivalente e leveza, resultantes de um
exercício que se vai revelando fruto de um poetar intelectuali­
zado, distinto daquele dos poetas mais arcaicos. Decorre disso

106 EMERSON CERDAS


0 distanciamento das emoções, que não deixa de causar certo
estranhamento a quem antes percorreu a mélica anterior, prin­
cipalmente a sáfica e a alcaica. (Ragusa, 2013, p» 174)

Por exemplo, no fragmento 360, o poeta reclama do des-


tlém do amado: ”Ó menino de olhar virginal,/busco-te, mas tu
n;\o ouves,/não sabendo que deténs as rédeas/de minha anima’’
(Anacreonte, citado por Ragusa, 2013, p. 188). Já no fragmento 398,
o amor é visto pela representação de um menino que brinca com
dados, mas cujas consequências do Jogo são terríveis aos homens:
**o.s dados de Eros/são as loucuras e os tumultos” (Anacreonte,
fitado por Ragusa, 2013, p. 192); essa imagem é complementada
i»o fragmento 413: ”de novo Eros com um grande martelo/me
acertou, qual ferreiro,/e me banhou na torrente invernal” (p. 193).
A influência de Anacreonte foi grande na literatura antiga
posterior. Há uma série de 60 poemas denominada Anacreônticas,
escrita por poetas de autoria ignorada que imitam o estilo do
autor antigo,

23,2 Lírica coral


Tratamos até aqui das modalidades da lírica monódica grega,
cujas performances ocorriam em ambientes mais particulares.
Diferentemente desta, a lírica coral era composta para apresen­
tações públicas em festivais cívico-religiosos, o que torna a ques­
tão da performance decisiva para a compreensão desses poemas,
pois eles se adequavam ao tipo de festival de que faziam parte,
marcando estilos e particularidades. H á uma série de gêneros

i n t r o d u ç ã o a l it e r a t u r a g r e g a : d e HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 107


dessa modalidade de lírica, sendo estes os principais, conforme
Pereira (1979, p. 163-164):

Hino - cântico aos deuses


péan - canto em honra de Apoio
ditirambo - canto em honra de Dioniso
parteneion —canto entoado por coro de raparigas
hiporquema - canto acompanhado de dança agitada
prosódion - canto processional [,,,]
epinício - canto para celebrar a vitória desportiva
encômio - elogio de um cidadão ilustre
treno - canto fúnebre em honra de um cidadão.

De todos os poetas da lírica coral, o mais importante é


Píndaro (518 a.C.-446 a»C,), natural da cidade de Tebas, Ele cul­
tivou uma série de gêneros de lírica coral. Até nós chegou um nú­
mero bastante representativo do gênero pelo qual ficou famoso, os
epinícios, poemas dedicados aos vencedores dos jogos atléticos da
Grécia Antiga, como os que ocorriam em Olímpia, as Olimpíadas.
O vencedor das provas encomendava aos poetas um poema em
sua homenagem. Toda a Grécia era convidada a participar desses
eventos, e a vitória representava um momento de glória do indi­
víduo, que passava a ser honrado pela cidade que representava.
Segundo Pereira (1979, p. 187-188), essa concepção é "representante
de uma cultura e de uma mentalidade que está a extinguir-se, da
grande aristocracia que concorre nos Jogos e vive para a glória".

108 EMERSON CERDAS,


I*iGURA 2.4 - E stádio na cidade de O lím pia , onde os
A T LE T A S D ISPU TA V A M A S C O M P E T IÇ Õ E S E SP O R T IV A S

É bastante curioso que, nesses poemas, Píndaro faz poucas


alusões aos próprios indivíduos e às vezes cita apenas o nome do
atleta e do esporte em que ele se consagrou. Mas como poemas
que são dedicados a esportistas, ou seja, que apresentam temática
datada, conseguiram granjear grande fama até os dias de hoje?
A resposta para isso está, além da qualidade estética da linguagem
empregada, no uso do mito. Podemos afirmar que os poemas de
Píndaro apresentam três elementos: a parte inicial com a invo­
cação à divindade, seguida da menção da vitória e dos primeiros
elogios ao vencedor; a parte central, que se ocupa geralmente
por um mito; e, finalmente, a parte gnômica e os novos elogios
ao esportista (Vega, 1992).

INTRODUÇÃO A LITERATURA GREGA; DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO 109


De acordo com Cerdas (2016, p« 16), “Píndaro e Baquílides,
nas odes que analisamos, procuraram engrandecer o persona­
gem histórico relacionando-o com figuras míticas, seja através
da linhagem, seja pela semelhança de seu comportamento que
relembra algum personagem mítico", Esse engrandecimento tam­
bém ocorre pela vinculação entre o mito e a cidade do atleta.
N o entanto, nem sempre esse vínculo é claro, pois Píndaro é um
poeta complexo, que náo faz da clareza da linguagem uma vir­
tude, O próprio poeta diz, na Segunda Ode Olímpica, que "para
o vulgo, é preciso/hermeneutas. Artista é aquele/que sabe muito
por natureza" (v, 115-117) (Píndaro, 2003, p, 45), ou seja, as pessoas
que não compreendem seus versos precisam de interpretadores.

F igura 2,5 - E scultura de um atleta grego

IIO EMERSON CERDAS


Um exemplo de como a vinculação entre o presente e o pas­
sado mítico não é clara e óbvia aparece na Primeira Ode Olímpica
de Píndaro, dedicada ao tirano Hierão de Siracusa, que vencera
a corrida de cavalos nos jogos olímpicos. Depois de fazer um elo­
gio aos jogos, os mais célebres da Grécia, assim como o ouro é o
mais célebre dos metais (v. 1-9), o poeta faz referência a Hierão e
ã cidade de Siracusa (v. 10-21) e passa a narrar o mito de Pélops
(v. 21-96), N o fim do texto, Píndaro renova seus elogios ao des­
tinatário do poema além de fazer um autoelogio, louvando sua
própria arte poética (v. 97-116). Nessa obra, Pélops é lembrado
não pelos laços de linhagem com Hierão, nem com a cidade de
Siracusa, mas por ter sido o fundador mitico da prova de corrida
de carros, quando venceu a prova de cavalos contra Enómao para
poder casar com sua filha, Hipodâmia. Isso não é expresso cla­
ramente no poema, o que exige um esforço maior por parte do
leitor para compreender como se constituem as relações.
Outro ponto interessante dos poemas de Píndaro é a forma
como ele se utiliza do mito com um interesse moral, nem que,
para isso, seja preciso modificar o mito. Nessa mesma Primeira
Ode Olímpica, Píndaro recria uma passagem do mito de Pélops,
Na versão tradicional, Pélops é filho de Tântalo*, um homem
benquisto pelos deuses que os recebeu para jantar. Querendo
pôr à prova a clarividência dos deuses, matou o filho e o serviu

*Tâncalo, pelo crime comecido contra seu filho, recebeu o castigo de passar a eternidade
imerso na água até o pescoço, mas com uma sede eterna, pois, quando tentava beber, a água
lhe fugia. Do mesmo modo, estava perto de um ramo carregado de frutos que, quando ele
tentava alcançar, também lhe fugia. Segundo Grimal (aou), há outras versões do crime de
Tiàntalo: alguns autores afirmam que a punição se deveu ao lato de ter revelado aos homens
os segredos dos deuses, depois de estes terem ido visitá-lo.

INTRODUÇÃO A LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO III


em um banquete, mas os deuses perceberam a trama e não co^
meram o menino, menos a deusa Deméter, que, por estar triste
pelo sumiço de sua filha Perséfone, acaba comendo a parte do
ombro do menino. Os deuses revivem a criança e colocam um
ombro de marfim no lugar do ombro real. Píndaro rejeita essa
narrativa, pois "Ao homem fica bem atribuir aos deuses ações
belas” (v. 35) e "A mim é-me impossível chamar antropófago/a
qualquer dos deuses. Recuso-me!” (v. 50-51), e passa a narrar uma
versão mais edificante, em que os deuses se comportam de um
modo mais nobre e elevado. Conforme Vickers (1979), o mito, na
Grécia, não se apresentava para os gregos em versões definitivas e
sacralizadas; assim, podia sofrer as mais variadas interpretações
por parte dos poetas, de acordo com os seus desejos estéticos, li­
terários, morais e éticos,
Podemos acrescentar a esse uso do mito as reflexões morais
(gnómai), que têm importante papel nos poemas de Píndaro e re­
fletem as opiniões do poeta. Segundo Pereira (1979), as principais
virtudes veiculadas por Píndaro são a coragem, a justiça, a mode­
ração das paixões - a qual mantém o homem no justo caminho - ,
a tranquilidade e a paz. N a Oitava Ode Pítica, Píndaro declara:

O é doce para os mortais cresce


Em pouco tempo; mas é assim também
Que cai por terra, abalado
Por sentença irreversível.
Efêmeros! Que somos nós? Que não somos?
Sombra de um sonho é 0 homem!
(v. los-iit)}

112 EMERSON CERDAS


Outro poeta representante da lírica coral é Simônides de
Clcos (556 a.C,-4ó8 a.C,). Ele também compôs epinícios, dos
quais se perdeu grande parte. Os textos que dele temos conhe­
cimento mostram um poeta que reflete constantemente sobre a
imperfeição humana e a instabilidade da fortuna. Alguns de seus
fragmentos são trenós dedicados aos mortos nas guerras, como
neste elaborado para os combatentes da Batalha de Termópilas
contra os persas (480 a.C.):

Dos mortos de Termópilas,


Bem gloriosa afortuna, belo o destino,
Um altar o sepulcro, e em vez de lamento, memento; de pesar, louvor:
Tal mortalha nem 0 bolor,
Nem 0 tempo que tudo doma dissiparão.
Este santuário de nobres varões elegeu a boa reputação
Da Hélade como sua habitante; e Leônidas 0 testetnunha,
De Esparta 0 rei, ao ter legado grande adorno
De excelência e perene glória.
(Simônides de Ceos, citado por Ragusa, 2013, p. 203-204)

H á ainda uma série de autores que é possível encontrar em


livros de literatura grega e que ajudam a compreender a poesia
lírica coral grega, como Álcman, Ibico, Estesícoro e Baquílides,
os quais tiveram grande fama na Antiguidade, apesar de hoje se
conhecerem apenas fragmentos de suas obras.

INTRODUÇÃO A UTERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO II3


Síntese
N o Período Arcaico, houve uma mudança na expressão poética
desenvolvida na Grécia, observada nas formas métricas e de
canto, diferentes da fixidez da métrica épica, Além disso, pas«
sou-se a demonstrar uma visão mais pessoal da vida e da pró­
pria tradição mítica. Assim, os poetas tratam ora de questões
pessoais, como nas odes de amor, ora das questões políticas da
cidade, como nas elegias guerreiras de Tirteu,
N a lírica coral, o mito serve de transmissor de sabedoria,
e o poeta consegue tirar deles um ensinamento moral e universal,
mas é uma interpretação do autor, ou seja, individual, sobre um
mito conhecido, semelhante ao que Hesíodo fez em Os trabalhos
e os dias, Podemos perceber, portanto, que a poesia se torna aos
poucos mais pessoal e que o poeta, além de ser criador de belos
versos, coloca-se como alguém que transmite conhecimento moral
e ético à audiência.
Neste capítulo, vimos também as principais transforma­
ções sociais que causaram a mudança nas composições dos poe­
tas, A s poesias de Hesíodo, ainda que sejam cantos épicos, já
apresentam elementos dessas mudanças, porém é na poesia lí­
rica que elas encontram o solo mais fértil. Abordamos ainda as
diversas modalidades de poesia lírica grega, atentando para os
elementos formais e temáticos de cada um de seus tipos, sem
perder de vista a distinção entre o conceito de poesia lírica para
os gregos e para nós, nos dias atuais.

114 EMERSON CERDAS


Indicações culturais
P R IM E IR O S E S C R IT O S . Disponível em: < http://primeiros-escricos.
blogspot.com.br/>. Acesso em: 9 jan. 2019.

Nesse blog, Rafael Brunharaj projessor da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, disponibiliza traduções suas e de outros estudiosos da área de literatura

clássica. É possível encontrar também um bom reportório de poesias líricas gregas.

R EN A U LT, M. Deuses e heróis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Nesse romance histórico, a escritora inglesa narra a turbulenta vida do poeta

lírico Simônides de Ceos, Embora seja uma biografia ficcional, 0 romance tem

validade por apresentar elementos que ajudam a criar umaimagem da Grécia

Arcaica, bem como dos processos que conduziram ao sw^imento da democracia

no século V a.C. ehi Atenas.

Atividades de autoavaliação
1. A respeito do poeta Hesíodo, indique se as informações a seguir
são verdadeiras (V) oiXfalsas/F).
( ) Hesíodo é um poeta épicíi eyele se utiliza das mesmas estruturas
poéticas de Homero, comc^hexâmetro, as fórmulas e os epítetos.
( ) Para Hesíodo, o trabalha garante que o homem alcance ajustiça
e, assim, não traga a ruma para^ cidade.
( ) Hesíodo compôs poeaa lírica em inetros diversos.
{ ) Como Homero, He^odo narra mito^ cujo foco são as histórias
dos heróis.
( ) A poesia de Hesíddo é mais pessoal do qde^a de Homero, pois
aquele faz uso didático dos micos que narra.

i n t r o d u ç ã o a l it e r a t u r a g r e g a : d e HOMERO AO ROMANCE ANTIGO


Agora, mar(me a^ternativa que indica a sequência correta:
a. F ,V ,V ,F ,F ,V ;
d. F ,F , V ,V , F , y
c. V ,F ,V ,V ,F ,M V .
d. V,F,F, V ,^ V ,F .
e. V, V,F, V ,^ F ,V .

3. Assinale a alternativa incorreta a respeito da lírica grega arcaica:


a. Os diferentes gêneros da poesia lírica grega são decorrentes das
diversas ocasiões em que esses poemas eram apresentados.
b. A principal característica da poesia lírica coral é o não uso da
mitologia.
c. A poesia lírica grega, seja monódica, seja coral, apresenta novi­
dades quanto à métrica e à música em relação aos poemas épicos.
d. Além da música e do verso, a lírica coral e a lírica monódica se dife­
renciam pela quantidade de pessoas envolvidas na representação.
e A lírica coral ocorria em festivais públicos e religiosos; já a lírica
monódica era apresentada em situações mais privadas, como
os banquetes.

4 . A respeito da lírica monódica, indique se as informações a seguir


são verdadeiras (V) ou falsas (F).
( ) Nas odes, os poetas têm uma atitude fria em relação ao amor.
( ) O iambo é um tipo de poema satírico, calcado na injúria contra •
determinado indivíduo.
( ) Nas elegias guerreiras, os poetas pregam a paz como caminho
para a glória do indivíduo.

INTRODUÇÃO Ã LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO II7


( ) As elegias se caracterizam pela presença do dístico e pela temá­
tica variada.
( ) Sólon apregoa, em suas elegias, que a virtude é essencialmente
aristocrática; logo, as leis devem proteger essa classe.
( ) Nas elegias, o poeta reflete sobre a condição humana e exorta a
audiência a seguir um determinado caminho.

Agora, marque a alternativa que indica a sequência ccorreta;


a. F ,V ,F ,V ,F ,V .
b F ,F ,V ,V ,F ,V .
c. V ,F ,V ,V ,F ,V .
d. V ,F ,F ,V ,F ,V .
e. V ,V ,F ,V ,F ,V .

5 . Assinale a alternativa correta a respeito da lírica coral:


a. Os poemas da lírica coral eram apresentados em banquetes par­
ticulares, nos quais os poetas cantavam os mitos que estavam na
origem das famílias nobres.
b. O mito tinha papel acessório.nas poesias de Píndaro, porque o
grande interesse do poeta era falar dos vencedores das provas
esportivas.
c. O mito era algo sagrado, então o poeta não poderia modificá-lo
sem temer uma punição do Estado.
d Os poemas da lírica coral eram apresentados em festivais cívicos
e religiosos, e isso justifica a simplicidade da sua forma, já que os
poemas se dirigiam a pessoas comuns e iletradas.
e Píndaro interpreta os mitos e retira deles ensinamentos morais,
como Hesíodo, que traz para seu poema uma visão pessoal da
tradição religiosa.

ii8 EMERSON CERDAS


Atividades de aprendizagem
Questões para reflexão

1. Compare como o tema do amor aparece nas odes de Safo e Alceu


e nas elegias de Mimnermo, Você considera que há diferenças
no tratamento? Na sua opinião, qual dessas duas formas se apro­
xima mais do que nós entendemos, modernamente, por poesiaí

2 . Os atletas, ao ganharem as provas desportivas, alcançavam a


glória, não só para eles mesmos como também para a cidade.
Compare a ideia de heroísmo expressa nos poemas de Píndaro
com aquela expressa nas elegias guerreiras: O ideal heroico se
aproxima? E com relação ao ideal de herói apresentado nas poe­
sias de Homero?

Atividade aplicada: prática

1. Analise os poemas a seguir e discuta os elementos que os apro­


ximam e os distanciam. Busque subsídios nas informações mi­
tológicas e interprete o papel que elas têm no poema.

Fragmento 346 de Alceu

Bebamos! Esperamos as lâmpadas... Por quê? M ede um dedo 0 dia!


Toma as grandes taças adornadas, meu caro,
Pois o jdho de Sêmele e Zeus deu aos homens 0 uinho
Que traz 0 olvido; misturando-as, verte uma parte de água, duas de vinho,
Até as cheias às bordas as taças. '
(Alceu, citado por Ragusa, 2013, p. 92-93)

INfROOUÇAO À LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROM ANCE ANTIGO II9


Horácio, Ode i, ii

Não queiras tu, Leucónoe, descobrir


Que fim a ti e a m im darão os deuses
(nem é bom que se saibam tais coisas)
Esquece a astrologia babilônia
M elhor deixar que seja lá o que for.
Quer Júpiter te dê muitos invernos
Quer seja o derradeiro este que agora
Fatiga 0 mar Tirreno contra as fragas,
Têm prudência: dilui o vinho e ajusta
A esperança — que é longa — ao breve instante.
Foge 0 tempo invejoso enquanto falo:
— Colhe 0 dia e não contes que haja outro.
(Horácio, citado por Tliamos, 2006, p. 212).

120 EMERSON CERDAS '

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