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Llüispontotrês
A poesia lírica
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»li(crença essencial entre o que é a poesia lírica para os gregos an-
Mgos e o que é a poesia lírica para nós, na atualidade. Dado que a
|»ocsía era cantada em performances para uma audiência, há nela
i» ausência de algo essencial para a caracterização da lírica mo-
‘Icrna, que é o intimismo, tanto do poeta que escreve quanto do
l<‘iror que lê, sozinho em sua casa, as expressões de um eu lírico.
( .‘onforme Kurke (2007, p. 143, citado por Ragusa, 2013, p. 15),
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INTRODUÇÃO Â LITERATURA GREGA: DE HOMERO AO ROMANCE ANTIGO
eram essas obras, pois elas eram compostas levando-se em consi
deração a melodia e a dança, bem como a própria pej^rmíiwce dt»
cantor-poeta. Há ainda outra limitação para o estudo dessa poesia i
hoje, temos apenas uma pequena amostra do que era esse gêncm,
pois a maior parte dos textos não passa de pequenos fragmentos.
Tomando todas essas precauções quanto à poesia arcaic.i.
podemos iniciar o estudo das modalidades. Por questões did.i
ticas, neste capítulo continuaremos a usar a denominação poesiit
lírica, uma vez que essa é a expressão consagrada no Ocidente.
Assim, a referência será mais facilmente reconhecível pelo leitor.
A poesia lírica grega arcaica está classificada em lírica mo
nódica, em que uma só pessoa canta, e lírica coral, destinada a
ser cantada por um coro. Segundo Ragusa (2013, p. 20),
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Podemos notar, assim, que a lírica monódica se aproxima
••wii.i do que entendemos por lírica, isto é, a representação da voz
|ir«Hoal do poeta, expressa por um eu lírico. Essa diferença de
1« in.i e tratamento entre a lírica monódica e a coral se dá, tam-
l»rin, por conta da ocasião em que eram apresentadas. Os festi-
lis cívico-religiosos, por exemplo, eram mais propícios ao canto
*»uai, pois este fazia parte das festividades em honra a algum
•Iriis ou herói. Nesse caso, o poeta era responsável não só pelo
|u>ema e pela música como também pelo coro, que cantava e
dançava com o acompanhamento da lira e de outros instrumen-
los, Os poemas corais, em geral, têm maior extensão do que os
inonódicos e versam sobre temas míticos que dizem respeito às
Ir.srividades de que fazem parte.
A lírica monódica, por outro lado, adéqua-se mais ao sim
pósio na casa de nobres e nas cortes dos tiranos. Os simpósios, ou
banquetes, eram um costume bastante enraizado na cultura grega,
ocasiões em que, após a refeição, os frequentadores passavam a
beber. Conforme Ragusa (2013), os frequentadores dos banquetes
eram apenas do sexo masculino, sejam os nobres, na qualidade de
convivas, sejam os filhos destes, como espectadores ou servidores
de bebida e comida, cuja presença fazia parte de uma espécie de
educação dos valores nobres aos jovens. Nesse ambiente íntimo
de confraternização e de amizade, a lírica monódica encontrava
as condições para ser menos formal e oficial do que a lírica coral
c para calcar-se nos valores e nos problemas contemporâneos da
aristocracia a quem os poemas se destinavam.
2 .3.1.1 Elegia
A elegia é um tipo de canto acompanhado da flauta, composto
por uma sequência de dísticos: um hexâmetro, como o das epo
peias, e um pentâmetro, verso de cinco pés métricos, baseado no
dáctilo. Segundo Pereira (1979), essa parece ter sido a primeira
tentativa de se quebrar a monotonia imposta pela repetição dos
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l\exâmetros do canto épico, ainda que não se saiba ao certo quem
fenlia inventado esse dístico.
Quanto à temática, a elegia é bastante diversificada, por isso
rcnde-se a considerar a seguinte classificação: elegías guerreiras,
»•legias amorosas e elegias gnômicas ou sapienciais. Devemos
notar que, embora esses subgêneros se diferenciem pela temática,
cies têm em comum um tom reflexivo e uma exortação à audiên
cia, característicos, portanto, das elegias.
Idegia guerreira
Os principais autores da elegia guerreira são Calino de Éfeso e
Tirteu de Esparta, cuja poesia tem forte apelo marcial.
De Calino, que é considerado o mais antigo dos elegíacos
que conhecemos, resta-nos apenas um fragmento de extensão
considerável. Nesse poema, ele se dirige aos seus concidadãos,
exortando-os a lutar contra os cimérios sem temerem a morte,
mas lembrando-os da honra que é morrer pela pátria. Retoma-se,
portanto, o ideal heroico que encontramos em Homero; porém,
diferentemente do que ocorria com Aquiles, cuja honra era a ex
pressão de seu valor individual, para Calino a honra está inserida
no contexto da cidade.
Essa nova configuração ética do ato heroico também está
inserida nos poemas do espartano Tirteu. Seus poemas se an
coram no momento em que Esparta luta contra seus vizinhos da
Messênia. Conforme Brunhara (2014, p. 59), podemos verificar
uma mudança na qualidade do kléos, da glória, alcançado pelo
guerreiro: "é ela [a cidade] que confere a imortalidade que subtrai
o homem da transitoriedade da sua condição humana e o insere e
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■ MUbastante clareza a exortação nos últimos versos (v. 27-32) do
Miigmento 10 de Tirteu:
I Icgia amorosa
( í melhor representante da elegia amorosa é o poeta Mimnermo
dl* Cólofon, que viveu no final do século V II a.C. Em suas elegias
mais representativas, o poeta canta os prazeres e as alegrias ad
vindas do amor e da juventude e exorta sua audiência a apreciar
I* a aproveitar a vida. N o fragmento i, também conhecido como
l '.logio do prazer, o poeta fala que não vale a pena viver sem os
prazeres de Afrodite e que, por isso, a velhice é tão odiosa, pois
o amor é próprio da juventude,
*Tâncalo, pelo crime comecido contra seu filho, recebeu o castigo de passar a eternidade
imerso na água até o pescoço, mas com uma sede eterna, pois, quando tentava beber, a água
lhe fugia. Do mesmo modo, estava perto de um ramo carregado de frutos que, quando ele
tentava alcançar, também lhe fugia. Segundo Grimal (aou), há outras versões do crime de
Tiàntalo: alguns autores afirmam que a punição se deveu ao lato de ter revelado aos homens
os segredos dos deuses, depois de estes terem ido visitá-lo.
lírico Simônides de Ceos, Embora seja uma biografia ficcional, 0 romance tem
Atividades de autoavaliação
1. A respeito do poeta Hesíodo, indique se as informações a seguir
são verdadeiras (V) oiXfalsas/F).
( ) Hesíodo é um poeta épicíi eyele se utiliza das mesmas estruturas
poéticas de Homero, comc^hexâmetro, as fórmulas e os epítetos.
( ) Para Hesíodo, o trabalha garante que o homem alcance ajustiça
e, assim, não traga a ruma para^ cidade.
( ) Hesíodo compôs poeaa lírica em inetros diversos.
{ ) Como Homero, He^odo narra mito^ cujo foco são as histórias
dos heróis.
( ) A poesia de Hesíddo é mais pessoal do qde^a de Homero, pois
aquele faz uso didático dos micos que narra.