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p/ fernanda adamowski
Art. 47. São livres as paráfrases e paródias
que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem descrédito.
adriano scandolara
why you wanna fly Blackbird?
you ain’t ever gonna fly
Nina Simone
caro poeta,
three men walk into a dream1 (não, isso não é uma piada!) e nós os assistimos:
de nomes os três: capitão coronel e suj. desc. e caminham até o pé duma árvore
(enquanto nós os assistimos) o capitão senta numa pedra o suj. desc. em pé dá
as costas ao coronel e olha o nada (o suj. desc. aliás é uma espécie de contorno
ele não tem voz não tem corpo não tem rosto é mais uma presença que deixamos
sentir) o coronel também de pé saca uma arma !tudo isso vemos e não ouvimos!
até que começam as seguintes falas: cor – “[inaudível]” cap – “[inaudível]”
cor – “[inaudível]” cap – “ah, coronel, todos sabemos pra quem você
trabalha” e pronto acabou acendem-se as luzes você olha pra mim e
diz que a poesia é isso: “a fala do coronel representa precisamente
aquilo que entendo por poesia, ou seja, não há nenhuma dificuldade,
para nenhuma pessoa, em compreender o sentido da frase ‘ah, coronel,
todos sabemos pra quem você trabalha’. todavia, pelo modo como é
composta a estrutura do sonho não nos é dado saber a que se refere
esse encadeamento de signos, em qual parte de qual discurso está
inserida esta simples sentença. com isso, quero dizer que à poesia se
assemelha precisamente pelo fato de optar por discurso e conferir a
ele uma potencialidade de sentidos tal que nos permite inferir, porém
nunca precisar, quem é o empregador do coronel. i.e., com isso, o
sentido pleno da frase não possui outro pertencimento que não aquele
do sonho. é preciso ser absolutamente contemporâneo, todavia, e
perceber que essa forma do sonho não uma poética possível mais
(você é pós-utópico? se o é, você é também trans-histórico? que dia é
hoje no seu poema?). digo tão somente sonho em condição de símile,
matéria da qual me aproveito para mostrar que linguagem, seja qual ela,
who dixit?
[S 422-425]
chaira
tudo isto é monótono eu sei não vai comover ninguém
(Zbigniew Herbert)
p/ rafael falasco
então derrama
o sangue
e ao derramar
o sangue
não muda o rito
o povo clama
então o povo clama
por mais sangue
é sempre assim
o sangue mana
o povo clama
então o povo clama
mais sangue
e me pergunto
não haverá fim
pra tanto sangue
então os estoques
do mundo
não secam
nossos tédios
não sossegam
esse cansaço
II
o sangue segue
e o povo exige
então o povo suga
sangue e sangue
ainda tanto sangue
enquanto eu tento toda troca
possível
meu olho pelo seu
meu corpo por outro
minha vez por tua voz
mas não mudam as coisas
o sangue não cessa
e a todo canto arrasta terror & tédio
o povo corre
então o povo corre
tentando afastar-se do entulho daquilo que olha
do dia da própria vida
e ver consigo tudo
con
sumir-se
V
depois o silêncio
o denso o intenso o imenso
p/ ismar tirelli neto
firmes –
sustém no cinza
qualquer norte possível:
íntimo ao grito
e ao abismo do nada
ao condensar-se em terra o corpo
já que a matéria em tudo compacta
inda que sólido discirna-se ao olho
]barranco or]valhado
em
noite aden]tro
nada me espan]to
]você [...]’ [.] me livra
]de meus tormentos todos
sabida ternura
nada assim vem
passar
em olhos ou lábios
apáticos
eu,
tenho
um rasgo ou um risco que amo
e corta
meu corpo da caixa do peito
à cintura e conta do
anseio e da
lonjura
surgido assim
como se nada
no céu cinza
e então sorrimos e então nos unimos
T.S. Eliot
posfácio
por rodrigo tadeu gonçalves
Mais ainda, em diversos lugares, nos meus próprios versos
vês elementos muitos comuns a muitos dos verbos,
mesmo que entre os versos e verbos, é necessário
admitires que são dissonantes em som e sentido.
Tanto elementos podem, mudadas apenas as ordens.
Mas os que são os primórdios das coisas mais ainda podem
exibir, donde podem criar-se todas as coisas.
(DRN, I, 823-9)
Pois já vês, a partir do que pouco antes eu disse,
que é de grande importância saber desses mesmos primórdios
com quais outros, em quais posições eles sejam dispostos,
quais movimentos entre si recebem-se e dão-se
e que os mesmos entre si um pouco mudados
geram o ígneo e o lígneo? Assim as próprias as palavras
quando entre si têm alguns elementos mudados apenas,
lígneo e ígneo distinguem-se quando um som alteramos.
(DRN, I, 907-14)