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JA M B U RA N A – trem or literário, ano dois, núm ero cinco, outubro de dois m il e vinte

U M A VOL TA E M TO RN O D O SOL
C RÔ N ICA “A S E RV A S JÁ E STÃ O N O SE RE N O PARA AM A N H Ã SE B AN H A R.”
A V ISA CO M C A RIN H O A M Ã E , Q U E CU ID A E E N C A M IN H A.
| D eyse A breu |

Pela m anhã, m atruz batido. Ingerido em jejum para desinflam ar o que tiver m agoado
por dentro, até a síndrom e do coração partido aguda. Pés descalços do am anhecer à
hora de deitar novam ente. O grito cansado da m ãe que a observa: “ -calça as sandálias,
m enina! E u troquei hoje esse pano da cam a!”. E la sorri, porque sabe, e a m ãe tam bém
sabe que o que a m enina m ais gosta é de contato com a terra, com o chão.
D urante o dia ela baila, dança todos os ritm os que tocam no radinho da cozinha,
ela dança e sorri, rodopia no próprio eixo enxergando tudo caleidoscopicam ente. E
quando há dores, aquelas desviadas, é sem pre um chazinho de boldo para acalm ar e
digerir m elhor, um m atinho na roupa para ajudar. C om o ela gosta de onde vive! V ive
debaixo das árvores, conversa com a m aioria, algum as são tão am igáveis, outras têm
ciúm es da m enina por ela não ter raízes e ainda assim estar tão profundam ente ligada à
terra. C om as boas, ela conversa e são confidentes, escreve no chão, poesia, um a
palavra, um nom e, apaga e pensa que a pessoa vai um dia saber desse pensam ento.
À noite o vento balança as folhas e o verde escuro que tonaliza as árvores ficam
m ais escuros, as árvores fazem barulho e dançam anunciando que chegou m ais um final 4
de dia. É a hora que os pássaros se despedem com seus sons para dar lugar aos das
cigarras, grilos e os terríveis e som brosos sapos do lago. A tentam ente ela paralisa
perante a im agem , é a sua m ais bela tela de pintura, que ela tece cada detalhe com seu
olhar. “- A h m enina, está frio, entre, vam os deitar”. M ais um chá para acalm ar e ter boa
noite de sono, hortelã com capim -santo, saboroso ao seu paladar, “A s ervas já estão no
sereno para am anhã se banhar.” A visa com carinho a m ãe, que cuida e encam inha. “V á
m enina, vá deitar! A benção eu vou lá te entregar!”, antes passa óleo de coco no cabelo,
é seu segredo de cuidar, ela deita, m as sua im aginação não dorm e. Planeja, desenha e
inventa, até cair no sono e sonhar com um novo dia, com um a nova história, com um
novo m undo. A h... m enina. D urm a! E u cuido da sua história.

D eyse A breu é escritora, ecofem inista, pesquisadora e m ediadora do clube de leitura L eia
M ulheres C apanem a-Pa.

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