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Daniel Prestes
Voltar à noite pra casa, depois de um dia de aula, sempre foi mais do que apenas ‘voltar
para casa’.
De noite, é quando eu mais gosto da cidade. É quando, iluminada e arejada, ela se abre
As primeiras imagens que chamam minha atenção, ao descer toda a José Malcher, são
Vultos cansados da longa jornada de trabalho e/ou estudo, casais curtindo os beijos
apaixonados (com olhos atentos para não perderem ônibus). São pais, mães, irmãos,
com suas lojas, restaurantes; uma ‘pequena cidade de lux[o]’ de frente para o rio.
Ao lado, o primo Ver-O-Peso, da feira, das ervas e banhos, do peixe com açaí e tanta
gente e tanta coisa, de noite, iluminado e quase vazio de gente. É belo. É belo como a
cor laranja dos uniformes dos garis que varrem, do laranja das lixeiras que guardam as
à Praça do Relógio, o dia que vem, para vender o peixe e ganhar o pão, enquanto espero,
junto com o impaciente motorista, o sinal abrir. Mas não se engane, que o tempo deles
Logo à frente, assistindo a todo esse espetáculo humano, eleva-se o Palácio Azul do Rei.
Rei?! Sr. Prefeito Fulano de Tal, que nada vê. Uma floresta encantada o separa do
mundo.
Dezesseis de Novembro.
Na Gama Abreu, judiciário e religioso face a face. A igrejinha está iluminada. É dia de
missa, Sr.?!
Já na avenida da fé, tão mais antiga que as mangueiras centenárias que a ladeia, sob os
parada, o ônibus que era praticamente só meu, vai enchendo e as imagens vão se
E é de frente para o grande Mercado de São Brás, que o meu cansaço pede uma dose de
sono e, como em todas as noites, depois dessas e de tantas outras visagens, eu adormeço
no assento duro do ônibus lotado e sonho com a grande cobra, que adormecida no
Texto selecionado para o livro: III Prêmio PROEX/UFPA de Literatura — Antologia: poesias,
crônicas e contos. Belém, 2013. pp. 93–4.