Numa sala luxuosa de um casarão à beira-mar, a luz do crepúsculo
do fim de tarde coloria tudo de vermelho. O proprietário, um homem grisalho vestindo um roupão descansa em sua cadeira favorita enquanto curte lentamente a fumaça espessa de seu cigarro. Uma mulher mascarada dança seminua, dois seguranças de terno estão de pé em cada lado da cadeira do chefe, alguns homens e mulheres jazem desacordados, alguns nus, pelo chão, enquanto apenas um homem parece estar sobrando na cena, com uma sacola pendurada nas costas, sóbrio, limpo e ajoelhado de frente pro chefe. __ Eu tomei minha decisão. __ Isso é pouco. O que tem a oferecer? __ Sangue novo. __ O seu? Não brinca comigo. __ Não, não. Sangue puro, imaculado. __ Seu antigo mestre vai querer saber por que desertou. __ Ele acredita em mim, veja. O homem vasculha sua bolsa, nervoso, e tira uma caixa de madeira entalhada. De repente todos ficam nervosos, os seguranças buscam suas pistolas e até a menina para de dançar. __ Como ousa trazer isso até a minha casa? __ Não! O velho vai querer a caixa de volta, eu só preciso estar puro para entrega-la. Por isso vim até aqui. __ Você anda no fio da navalha mesmo. Venha, você vai ter a sua purificação. O chefe levanta decidido e sai do cômodo, enquanto os dois seguranças brutamontes pegam o homem pelos braços e o arrastam na mesma direção. O homem ri satisfeito. EPÍLOGO
__ Está demorando demais – diz o chefe.
__ Paciência. Quanto mais certo da própria loucura ele estiver, mais fácil será trazê-lo para nosso lado. __ Ainda não me decidi se quero trazê-lo para nosso lado ou apenas me alimentar dele. __ Claro, me desculpe, foi modo de dizer. Você tem em mãos a primeira edição de Dias Estranhos, um quadrinho que quer virar saga, que quer virar série. Aqui contamos a história de Jean, um rapaz perturbado por pesadelos recorrentes que o obrigam a uma jornada pelo sobrenatural em busca de sua sobrevivência e sanidade. Ele arrasta junto em sua aventura seus amigos
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Luana e César, que o ajudam a compreender essa nova realidade, e não ser morto por ela. Do lado de cá, esta HQ inaugura nossas carreiras como quadrinistas, depois de um longo ano compondo estas páginas artesanalmente, alegremente nos dando conta de cada lição que aprendemos e do tanto que ainda temos para conquistar enquanto artistas. Para nós, fazer quadrinhos é uma coisa coletiva, e que sorte poder montar um time assim, pronto para longas empreitadas das quais só podemos intuir o ponto de chegada! O Pesadelo do Aprendiz é então apenas o início dessa história. Esperamos que você curta bastante estas páginas, e que elas lhe despertem o interesse em acompanhar este universo que estamos criando.
Primavera de 2016. Marcus Leopoldino, Diego Porto e Gabriel Calfa.