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Copyright© 2020 KEVIN ATTIS

Revisão: Andrea Moreira


Capa: DVL SERVIÇOS EDITORIAIS
Diagramação: Kevin Attis
____________________
Dados internacionais de catalogação (CIP)
TODO SEU, LIVRO 1
SÉRIE SEU
1ª Edição

1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance Gay. Título I.

____________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem
permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança com
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em
vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Sinopse:
Luke Evarns é dono de vários restaurantes em Londres, e quando ele
abre uma vaga para chefe de cozinha em um deles, não imagina que
conhecerá o homem que mudará totalmente sua vida.
Quando Gale Meyers perde seus pais em um terrível acidente de
carro, com o apoio de suas amigas, ele decide sair do Brasil e ir para
Londres seguir seu maior sonho — se tornar chefe de cozinha de um dos
maiores restaurantes de todo o mundo. Mas ele jamais imaginou que ao
esbarrar com Luke Evarns, um simples olhar e uma camisa manchada de
vinho, faria com que sentisse um desejo que evitava há muito tempo. Diante
disso tudo, Luke e Gale terão um grande desafio pela frente. Além de
abrirem mão de seus passados traumáticos, terão que se libertarem de
amarras que ambos jamais desejaram desfazer.
Um jogo cheio de sedução, desafios e libertação fará com que Luke
use tudo que estiver ao seu alcance para conquistar o rapaz. Mas o que eles
não estavam preparados era que ser um do outro era apenas o começo de
uma grande batalha.
Livro que conquistou mais de 700 mil leituras no Wattpad, ganha
agora uma nova versão com mais detalhes e muito mais cenas quentes!
Parte Um — Todo Seu
Eu, Plebeu
Todo seu
Todo dia
Toda noite
Toda noite
Todo dia
Me fantasia?
Nos fantasia!
Posições e palavrões
Completam nossa cena
Que encena o irreal
Que soa tão real
Fora do profissional
Se te amei?
Não foi por amor
Não foi por mal
Foi por ser eu
Todo seu, o meu eu, Plebeu.
TOM ADAMZ
Nota de explicação:
Em uma cena do livro, Gale e Luke vão ao restaurante “Casa Cruz”,
que fica no bairro Notting Hill. Ele foi inaugurado em 2015, quando Juan
Santa Cruz assumiu a propriedade, mantendo a originalidade do local com
restauração. No entanto, a história dos personagens deste livro se passa em
2014 e foi proposital ambientar o restaurante, mesmo não estando
“inaugurado”. Caso perceba a diferença na cronologia, saiba que foi uma
escolha do autor em colocar desse jeito, por ser apreciador do local em si.
Mesmo com o local sendo inaugurado em 2015 e a história passar em
2014, não altera o teor da obra.
No livro, o restaurante contém mais de quinze anos de inauguração,
sendo um local “inaugurado” em 2000.
O nome usado é real, no entanto, o ambiente no livro é fictício e total
da mente do autor.
Gale Meyers
Entro no carro que me levará até o meu mais novo apartamento. Meu
cachorro Marvel, da raça Chesapeake Bay Retriever, está deitado no meu
colo, rosnando, seu corpo pequeno dentro da minha mochila. Sorrio ao ver a
serenidade no único membro que restou da minha família.
Engulo em seco e afasto todos os pensamentos negativos da minha
mente, decidindo que hoje pensarei em como as coisas mudaram. Estou
morando em Londres agora, bem longe da minha cidade natal e das minhas
amigas, que apoiaram minha decisão de vir para cá.
O motorista arranca com o veículo do meio-fio sem ao menos me
encarar, apenas perguntando para onde deve me levar. Digo a ele e penso em
meus pais, que morreram em um trágico acidente de carro, graças a um
motorista imprudente que dormiu ao volante e destruiu o carro em que eles
estavam.
Não pense nisso agora, Gale, meus pensamentos dizem.
Novamente decido afastar meus pensamentos melancólicos, e quando
percebo estou parado em frente ao prédio de tijolos encardidos.
— Tenha uma boa tarde — diz o motorista ao pegar o dinheiro.
Agradeço e observo atentamente o local por fora. Realmente não
parece nem um pouco confortável, no entanto, com a situação em que me
encontro, não posso escolher muito.
Com Marvel latindo, jogo minha mochila nas costas e entro, subindo
os vários degraus.
— Fica quieto, Marvel, seus latidos vão incomodar os vizinhos, e
com isso ganharemos nossa expulsão! — digo.
Ele logo para de latir e me sinto cansado por conta da viagem
exaustiva que eu havia feito. Termino de subir a enorme escada e adentro
meu novo lar. Sinto o cheiro de podridão no ar e suspiro, soltando meu
cachorro, que corre por todos os lados.
É, penso comigo mesmo, esse é o meu mais novo lar.
— Vamos lá, amigão — digo para mim mesmo —, vamos cuidar
dessa bagunça.
Londres — 2014
Luke Evarns
Os gemidos altos ecoam por todo o cômodo, meu batimento cardíaco
mais acelerado que o normal. Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto e
deslizando pelo meu peitoral, enquanto vislumbro o corpanzil de Teddy
deitado sobre a cama, de barriga para cima, enquanto preencho seu cu
apertado com meu enorme pau.
Estoco mais algumas vezes nele ainda na mesma posição e Teddy
geme, pedindo por mais, se deliciando por Luke Evarns, CEO e dono de uma
rede de restaurantes famosa estar fodendo-o como ele sempre me pedia.
— Você gosta disso? — questiono quando tiro meu pau de dentro e
enfio com brutalidade novamente.
— Sim — ele solta outro gemido e assente —, Luke, eu gosto, me
fode bem gostoso!
Dou um sorriso ao ouvir suas palavras e mantenho os movimentos,
então sinto que estou cada vez mais perto de gozar e, com um rugido, chego
ao ápice, vendo o jovem de pele albina, cabelos claros, olhos esverdeados e
rosto barbudo, também gozar, seu sêmen sujando a sua barriga.
Tiro meu membro dele, retiro a camisinha e subo em cima dele,
levando meu pênis até sua boca, que ele abocanha e me chupa
deliciosamente.
Assim que termina, eu me afasto e o vejo levantar-se com um enorme
sorriso no rosto antes de se aproximar de mim e tentar me beijar.
— Já acabamos aqui, Teddy — digo. — Acho que está na hora de
você ir embora, e eu também, tenho um compromisso com meus sócios.
Seu olhar fica triste e ele concorda, seguindo para o banheiro e se
lavando, suspirando com a minha atitude, mas simplesmente dou de ombros.
Sempre deixei claro para Teddy, e qualquer homem com quem
transei, que nunca passará disso e que quando acabar, que pegue suas coisas
e vai embora, assim terá uma chance de uma próxima noite comigo. Muitos
poderiam me considerar um completo idiota e babaca por ter essa atitude,
porém, não me importo com a opinião de quase ninguém.
Sempre fui um jovem bastante decidido e estudioso. Quando minha
mãe faleceu, sendo levada pelo maldito câncer, me vi em um beco sem saída
e decidi viajar para o Brasil para conhecer novos ares. Com meus dezessete
anos e já emancipado, meu pai não pôde me impedir, e foi aí que a maior
desgraça da minha vida aconteceu.
— Já estou indo — diz Teddy após sair do banho e vestido.
Assinto e peço para que ele se aproxime de mim, então dou um suave
beijo em seus lábios.
— Até mais, nos vemos por aí — digo.
Ele sorri e dá de ombros.
— Até parece. Sei que você não irá me procurar mais, que isso foi
apenas uma noite — responde.
— Você me conhece muito bem mesmo — digo, brincando e
sorrindo.
Ele ri e sai do quarto, então me levanto e pego meu celular, que
começa a tocar.
— Eu espero que você nem pense em se atrasar hoje, sr. Luke
Evarns — diz meu amigo, confidente e sócio, Kris.
— Não vou me atrasar, relaxe. Só vou tomar um banho e sigo para o
restaurante.
— Ok. Iremos te esperar, você sabe, melhor que ninguém, que
Pitter vai me pedir em casamento hoje e quer você lá.
— O quê?! Você sabe — respondo, revirando os olhos. — Era para
ser uma surpresa.
— Pitter não é muito bom com isso. Ele largou a aliança no closet,
e outra, querido, já estávamos organizando isso há tempos, vai ser só para
oficializar e os tabloides terem uma fofoca para contar.
— Tudo bem — rio do jeito do meu amigo —, não vou me atrasar —
prometo, me colocando de pé e indo até o banheiro.
— Espero mesmo. Você está no motel, né? Com Teddy! Sabe que
detesto esse rapaz!
— Eu estava com Teddy, ele já foi embora — corrijo-o e abro a
ducha —, estou sozinho, apenas com meus pensamentos. E por que não gosta
dele?
Coloco a mão para ver se a água está numa temperatura boa.
— Bem, você e eu fomos amantes por um tempo, não se lembra? É
estranho ver você com outro.
— Seguimos nossas vidas, Kris. Você vai se casar e eu continuarei
transando por aí, você sempre desejou flores e bordado, e eu apenas tesão e
luxúria.
Rimos e ele suspira.
— Me diz que pensamentos são esses, espero que não seja do nosso
passado fodido.
O barulho da água ecoa nos meus ouvidos. Às vezes eu consigo ser
bastante transparente.
— Pensando nas merdas que fazíamos, no nosso primeiro restaurante
e nas prostitutas, lembra-se? — questiono, sabendo que logo em seguida virá
um sermão.
— Mas é claro que eu me lembro — diz Kris, suspirando. — Não
pense nisso, ok? Já passou, nós mudamos, somos mais fortes agora.
— Invejo esse seu lado. Passamos por tantas coisas, mas não
podemos negar que as prostitutas eram as melhores.
Acabei conhecendo Kris no Brasil, fui eu quem o trouxe para
Londres para morar comigo e meu pai. Seus pais haviam sido brutalmente
assassinados por uma gangue. O pai do Kris, que eu jamais soube o nome,
fazia parte dela, e pelo pouco que ele me disse e eu descobri, seu pai ficou
devendo para os traficantes e acabaram sendo mortos por causa disso. Kris,
com a malícia do mundo, conseguiu escapar e acabou se enfiando em
problemas muito maiores.
Quando liguei para o meu pai, após estourar todos os meus cartões e
acabar com o dinheiro que eu tinha, fomos trazidos para a casa e acabei
levando a maior surra da minha vida, cheguei a ficar duas semanas inteiras
deitado numa cama por estar todo machucado. E foi Kris quem cuidou de
mim. Meu pai apenas o deixou ficar depois de eu ter ameaçado voltar para
as ruas e manchar seu nome, que ele tanto preza.
As prostitutas, que estão sempre presentes em minha mente, foram as
duas únicas garçonetes no restaurante “Lux”, que durou apenas um mês. Até
hoje, mais de dez anos depois, não consigo voltar ao Brasil e ver como o
local está.
— Você precisa entender que eu tenho minhas feridas, assim como
qualquer um, mas evito ao máximo pensar nelas, não vão agregar nada em
minha vida — responde, sério —, mas você está certo, as prostitutas eram
as melhores!
Caímos na risada e logo me despeço dele, prometendo que não irei
me atrasar, contudo, durante o banho, não consigo esquecer o que eu havia
passado.
Merda!
∞∞∞
Saio do motel uma hora depois, olhando no relógio e recebendo
diversas mensagens de Kris sobre eu não me atrasar. Como vim de táxi,
sinalizo para um, que para rapidamente e logo entro.
— Me leve o mais rápido possível para o restaurante Dîner aux
chandelles — peço suavemente.
O motorista me encara e se espanta, então dá um sorriso.
— Meu Deus, você é Luke Evarns, o dono desse restaurante? —
pergunta.
— Eu mesmo — respondo gentilmente. Mamãe sempre me dizia que
era preciso ser muito educado com todas as pessoas. — Agora, se não se
importar, meus sócios estão me esperando para um jantar, se puder ir
rápido...
Ele se ajeita no banco e logo se afasta do meio-fio, somente sua
cabeça careca está no meu campo de visão. Pego meu celular e vejo que
Kris me mandou mais uma mensagem.
Kris: Já estamos quase chegando, e você?
Eu: No táxi, menos de quinze minutos chego lá.
Kris: Aguardamos!
Rio e guardo o aparelho, torcendo para que eu chegue rápido, para a
minha sorte, o trânsito está ótimo. Não demora muito e o veículo para no
meio-fio, em frente ao restaurante. Agradeço ao motorista e dou uma gorjeta
para ele, saindo e encarando a fachada do local.
O lugar em si é simples e aconchegante, então não demoro e logo
adentro, observando o ambiente de tijolos cobertos por uma pintura gasta,
dando um charme ao local. Dou uma boa olhada nas diversas mesas, boa
parte delas estão cheias, enquanto garçons transitam pelo ambiente com
pouca iluminação para atender todos os clientes. A ideia de fazermos um
restaurante no estilo vintage foi de Kris, e para ser sincero, eu adoro o ar de
jantar à luz de velas que ele proporciona.
Saio dos meus pensamentos e avisto ao longe meus dois sócios e
amigos. Kris está — como sempre — vestido de uma maneira que chama a
atenção de toda Londres. Esta noite está com um dos seus divertidos ternos
coloridos, o escolhido da vez é laranja, que dá vida à sua pele dourada de
bronzeado artificial, já que a maior parte do tempo em nossa cidade é
gelada. Seus cabelos escuros estão penteados com um enorme topete, estilo
do Elvis Presley.
Aceno para mostrar que cheguei a tempo e me aproximo, agora
observando Pitter, que usa apenas um paletó normal e está com a barba bem-
feita. O sorriso gentil que se destaca em sua pele negra seria capaz de
conquistar todos à sua volta.
— Finalmente você chegou — diz Kris, revirando os olhos e me
abraçando, enquanto o cheiro do perfume adocicado invade minhas narinas.
— Eu disse que não me atrasaria, você que é muito apressado. —
Retribuo o abraço, me desvencilho dele e encaro Pitter.
— Bom te ver, Luke — diz, apertando minha mão.
— Digo o mesmo, Pitter. — Concordo e logo nos colocamos nos
nossos lugares.
— Então, antes de começarmos, como estão indo os negócios nas
empresas, Luke? — pergunta o namorado do meu amigo.
— Bem, uma loucura, como sempre — digo, dando de ombros. —
Não é fácil administrar várias empresas e, ainda por cima, a rede de
restaurantes, não é, Kris?
Meu amigo me encara e desvia o olhar, dando de ombros também.
— Você que é o presidente, não me olhe desse jeito — declara.
— Claro, graças a decisão do meu pai de abandonar tudo nas minhas
costas e sair por aí.
Nós três rimos e logo um dos nossos garçons se aproxima com uma
garrafa de vinho.
— Fiz o pedido da garrafa enquanto estávamos te esperando — diz
Pitter.
Depois que somos servidos, beberico o vinho e olho para os dois.
— Agora, sr. MacGregor, me diz como estão os nossos negócios.
Pitter me encara e dá um sorriso, então começa a dizer como as
coisas estão indo bem. Decidimos nos juntar para comprar uma vinícola que
estava à beira da falência e a reerguermos, então acabamos abrindo várias
outras por toda a Europa.
De repente, apenas vejo os movimentos dos lábios do meu sócio e
sinto um cheiro percorrer o restaurante. Olho na direção da porta como se
estivesse em câmera lenta e noto algo totalmente inusitado.
Como se, do nada, estivesse surgindo o sol no meio de uma
tempestade de neve, como se o perfume amadeirado estivesse por todos os
lados do restaurante, misturando-se com o dos clientes sentados saboreando
suas refeições. Engulo em seco e vejo o rapaz entrar.
Ele é totalmente diferente de todos que já vi. Meu corpo, meus poros,
minhas moléculas estão acostumados com homens fortes, malhados e de
classe alta. Mas ao ver o jovem de pele bronzeada pelo sol, os cabelos
bagunçados, a camisa polo vermelha cobrindo o corpo pouco malhado, me
encontro totalmente hipnotizado por ele.
— Luke? Luke, seu idiota, Pitter está falando com você! — diz Kris,
me chutando.
— Oh... ai! Desculpa! Eu estava distraído — respondo.
— Percebemos — diz Pitter, seguindo meu olhar e vendo o rapaz
parado pedindo informação para Tyler, um dos meus funcionários. — Anda,
vai lá, esbarra nele com esta taça de vinho. — Ele me entrega uma taça de
vinho tinto.
— Quem jogaria vinho em outra pessoa? — pergunta Kris, perplexo
com a atitude do seu namorado.
— Eu, é claro — respondo animadamente. — Você é um gênio,
Pitter.
— Obrigado — agradece, rindo.
Me levanto e, seguindo o conselho do meu sócio, caminho na direção
do rapaz enquanto finjo estar totalmente distraído. Engulo em seco ao pensar
que isso pode ser uma loucura e que não vai dar muito certo, no entanto,
estou totalmente enganado.
O rapaz se vira na minha direção e esbarra seu braço na taça,
fazendo o vinho encobrir meu peitoral e revelar meu abdômen malhado por
baixo da camisa social branca.
— Droga! — diz ele, me observando.
Finjo surpresa e derrubo a taça, agora com alguns olhares sobre nós.
— Minha camisa! — exclamo, querendo rir. Que louco faria uma
coisa dessas, se não eu?
— Sinto muito, não foi minha intenção, e-eu não te vi — diz, me
encarando. Seus olhos param nos meus e seu rosto ruboriza, indicando que
me reconhece.
— Tudo bem. Sei que não foi sua culpa.
Você não tem vergonha, não é?, penso, querendo rir.
— Sr. Evarns, o banheiro contém toalhas, por que os dois não
seguem até lá para se limparem? Vou ver se consigo uma camiseta para o
senhor — diz Tyler.
— Claro, não temos outra escolha mesmo — digo, dando um sorriso
forçado, louco para gargalhar disso tudo.
O jovem tímido me encara e eu aceno, seguindo em direção ao
banheiro, onde logo nos colocamos para dentro e retiro o terno que estou
usando. Ao notar que ele me olha de lado, dou um sorriso maroto e começo a
desabotoar lentamente a minha camisa.
— Me desculpe por isso — diz ele enquanto encara o meu peito.
Rapidamente desvia os olhos e começa a lavar suas mãos e braços. — Sou
um desastre mesmo.
— Tudo bem — respondo, sem graça por ele se sentir assim. —
Acredito que quando isso acontece é coisa do destino.
Pisco e ele me encara, dando um sorriso. O gesto dele faz com que eu
queira ir em sua direção e beijá-lo, deixando-me confuso com o que estou
sentindo. Com certeza quero levar esse homem para a minha cama, e sei que
ele é gay, nós, do “vale”, sentimos isso de longe.
— Obrigado — diz, sorrindo.
— Por nada — digo, lavando a camisa para tirar a mancha. —, mas
quero saber uma coisa sobre você.
— Pode perguntar.
Ele termina de se limpar e secar as mãos, então volta para onde
estava antes e me encara.
— Ainda não me disse seu nome — digo.
— Me chamo Gale Meyers. Eu o conheço, você é dono daqui, Luke
Evarns, certo?
Assinto, e assim que termino de limpar a camisa, seco as mãos nas
calças e estendo para ele.
— É um enorme prazer te conhecer.
Gale aperta a minha mão, então sinto uma onda de eletricidade
percorrer meu corpo.
— O prazer é todo meu — diz.
Termino de me limpar e não demora muito para Tyler aparecer no
banheiro com uma camiseta branca regata, dizendo que é dele. Agradeço e a
visto, colocando o paletó por cima e guardando minha camisa molhada em
um saco.
— Então, Gale — digo, quando estamos saindo do cômodo —, você
está morando aqui?
— Sim, estou sim — responde, sorridente. — Agora, se não se
importar, preciso ir. Até mais.
Antes que ele se afaste, pego um cartão do meu bolso e entrego a ele.
— Me ligue, quem sabe não saímos para tomar um café. Por minha
conta.
Ele assente enquanto guarda o cartão no bolso sem nem mesmo o
olhar. Será que eu havia entendido tudo errado e ele não está interessado?
— Ligo sim. Ainda estou sem celular, assim que providenciar um,
entro em contato.
Despeço-me e vou na direção da mesa onde Kris e Pitter me
esperam. O rosto do meu amigo revela que não está nem um pouco satisfeito
com o que fiz, já Pitter sorri de orelha a orelha com a minha “conquista”.
— Estávamos esperando você. Agora me diz, conseguiu flertar com o
rapaz?
— Acho que fomos muito bem para um começo, mas ele está sem
telefone, então duvido que voltemos a nos falar tão cedo. — Perco-o de vista
e me viro para Kris, que está me encarando.
— Isso é bom. Quem sabe assim você não continua tendo um pouco
de juízo. Onde já se viu jogar vinho em si mesmo apenas para flertar? Seria
mais fácil ter se aproximado dele e dado em cima, como você sempre faz
quando quer comer alguém.
Penso nas palavras de Kris e percebo que ele está certo. Eu deveria
ter sido direto, quem sabe não tivesse aquele homem na minha cama hoje?
Pelo jeito você não quer só um sexo, não é?
∞∞∞
Esqueço de Gale por um tempo enquanto jantamos um delicioso roast
beef , servido em nosso restaurante. Assim que terminamos, somos
[1]

surpreendidos com sobremesas, e quando Kris come a dele, encontra uma


aliança dentro. Quero rir com o clichê que Pitter preparou, mas tenho que
confessar que o cara mandou muito bem. Quando percebo, estou sorrindo ao
ver os dois abraçados e se beijando, com o pedido de casamento sendo
oficializado.
Decidimos ir para a casa do meu amigo para continuarmos com nossa
festinha privada.
— Terá duas surpresas te esperando — diz Kris.
— Tudo bem. Vão indo na frente, só vou resolver um negócio e já
sigo para lá.
Assim que saem, decido procurar Tyler para perguntar se Gale já
havia ido embora. No entanto, parece que a sorte está ao meu lado.
Encontro-o saindo da cozinha com Dylan, nosso gerente, e fico confuso. Ele
realmente havia entrado em nossa cozinha? O local onde preparamos os
pratos sempre é de livre acesso aos nossos clientes, para verem de perto a
qualidade e higiene que oferecemos.
— Sr. Luke — diz Dylan, se aproximando com ele —, que maravilha
ver o senhor por aqui. Estava indo procurar o senhor para contar uma
novidade.
Continuo observando Gale enquanto assinto.
— Estou ouvindo.
— Acho que encontramos o chefe de cozinha que tanto precisávamos
— afirma Dylan. — Esse aqui é Gale, e ele irá fazer um teste amanhã para a
vaga. O que o senhor acha?
Fico surpreso. Então Gale havia ido até ali pela vaga de chefe de
cozinha. Tento processar as palavras de Dylan antes de negar com a cabeça.
— Ele não vai fazer nada — digo, vendo vários olhares de espanto.
— Você, Gale, está contratado. Esteja aqui amanhã às nove para discutirmos
sobre o salário e o contrato. Boa noite.
Todos me encaram sem reação enquanto sorrio e sigo para a saída.
— O senhor nunca fez isso — diz Tyler, me acompanhando até o lado
de fora.
— Contratar sem ao menos a pessoa passar por um teste? Tudo tem
uma primeira vez. Arrume um celular para Gale ainda hoje, e trate de me
mandar o número.
Depois de dar as ordens finais a Tyler, aceno para o táxi e entro, indo
para a casa do meu amigo.
∞∞∞
Adentro a grande casa de Kris e suspiro, não conseguindo tirar da
mente a loucura que eu havia feito ao contratar Gale sem ao menos conhecê-
lo direito. Isso fará com que Kris me xingue horrores, tenho certeza.
Fico surpreso de como o meu dia está sendo louco. Primeiro, transo
com Teddy, dizendo que quero apenas sexo, e poucas horas mais tarde estou
pensando em um homem que mal conheço — fora a loucura do vinho na
minha camisa.
Ao refletir sobre isso, eu me dou conta que a única pessoa que foi
capaz de me fazer sentir aquela loucura toda foi meu amigo, que agora está
noivo de outro homem.
Tiro isso da mente enquanto envio uma mensagem para Tyler,
perguntando se já havia arrumado o celular para Gale.
Tyler: Estamos providenciando, senhor, ele está conhecendo o
restaurante neste momento com Dylan, está muito entusiasmado.
Eu: Isso é ótimo. Vai me informando a respeito dele. Obrigado, e
assim que conseguir um celular, me avise.
Dar um celular para um desconhecido? Realmente, o bom senso me
abandonou hoje. Mas não me importo, tenho dinheiro o suficiente para fazer
isso, o importante é saber mais sobre aquele rapaz.
— Você vai ficar no celular até quando, Luke? — pergunta Kris, me
observando.
Nem havia reparado que já estou dentro da casa de Kris, o que me
faz sentir um verdadeiro louco.
Onde estou com a cabeça?
— Deve estar pensando no rapaz do restaurante — provoca Pitter ao
entregar um copo com uísque para mim.
— Admito que sim — respondo —, ele não sai da minha cabeça.
— Bobagem — diz Kris, bebericando sua bebida —, ele não faz seu
tipo, Luke, melhor se afastar.
— Preciso informar que não terá como me afastar dele tão fácil.
Acabei contratando-o como chefe de cozinha do restaurante, ele havia ido lá
para concorrer a vaga.
Kris me olha espantado e revira os olhos.
— Não acredito que você fez isso! — diz ele, nervoso.
— É isso aí, Luke — incentiva Pitter ao vir em minha direção e dar
um soquinho no meu braço. — Vai vê-lo todos os dias agora.
— Não exatamente — diz meu amigo, com indiferença. — Luke não
pode viver no restaurante, temos outros negócios para cuidar.
— Que, a propósito, você deveria me ajudar a administrar, não acha?
— respondo, encarando-o.
Eu sei que se continuar com esse assunto, Kris e eu iremos acabar
brigando, então simplesmente engulo a bebida do meu copo e entrego
novamente para Pitter, que enche mais uma vez.
— Luke está completamente certo, você precisa aparecer mais na
empresa.
— Ok, ok — diz Kris, suspirando —, vou tentar ir lá essa semana,
mas vamos esquecer agora. Viemos aqui para comemorar.
— Certo — afirmo, decidindo mudar de assunto. — Um brinde ao
casamento de vocês, agora quero saber onde estão as minhas surpresas.
— Obrigado, querido — diz Kris, bebendo mais um pouco. — Estão
lá em cima, no quarto de hóspedes.
Dou um sorriso e logo meu amigo se levanta e liga o som, colocando
uma música da Madonna para tocar — ele é fã da Rainha do Pop desde que
o conheço.
Erotica ecoa alto nas caixas de som, e logo estamos dançando
alegremente. Quando vejo, Pitter se aproxima de Kris e o enche de beijos.
Como estou sobrando, pesco meu celular no bolso e ouço uma mensagem de
Tyler dizendo que não havia conseguido o celular para Gale.
— Porra! — grito enquanto toca Like a Prayer.
Guardo o aparelho no bolso e vejo Kris dançando alegremente,
fazendo movimentos com o corpo que para um padre seria duvidoso se ele
está ou não possuído.
— Você e Taylor serão meus padrinhos, Luke! — grita ele. —
Aquela vadia nem foi ao nosso jantar.
Pitter diz para o seu noivo ficar quieto, me fazendo rir. Subo as
escadas para o quarto de hóspedes enquanto os dois continuam na sala, se
beijando e bebendo. Não demora para que eu abra a porta do quarto e
encontre dois homens completamente nus na cama.
— Kris — digo, rindo. — Só pode ser ideia dele.
Reviro os olhos e suspiro, então começo a me despir e sigo em
direção aos dois, que se colocam de pé e começam a acariciar meu corpo.
Um dos caras, que não faço questão de saber o nome, faz trilhas de beijos
pelo meu peito, enquanto o outro devora meus lábios. Logo o primeiro leva
meu pau à sua boca, então solto um gemido enquanto aperto a bunda do
segundo rapaz.
E durante todo o sexo intenso e cheio de luxúria, não consigo parar
de pensar em Gale e desejar que ele que estivesse aqui.
O que ele está fazendo neste momento, afinal?
Gale Meyers
Já faz dois meses que perdi meus pais, e pensar nisso todos os dias
me causa uma tristeza tão grande, que não consigo explicar em palavras. Os
primeiros dias foram os mais difíceis, eu não conseguia pensar direito no
que fazer, por fim, acabei decidindo sair de São Paulo e vir para Londres,
onde meus pais se conheceram.
Agora, depois de uma semana morando em Londres, sem
comunicação alguma com minhas amigas de São Paulo, sinto uma felicidade
tomar conta de mim e uma necessidade de expor a alegria que me consome.
Pela primeira vez após a morte das pessoas mais importantes na minha vida,
eu consegui sorrir de verdade.
∞∞∞
Não consigo dimensionar a alegria que sinto ao saber que havia
conseguido conquistar aquele emprego que eu tanto desejava. E graças a
Luke estar mais interessado em mim do que deveria. Os olhares, gestos e
jeito de falar comigo me fizeram perceber isso de cara. Não posso negar o
quanto aquele homem é bonito e charmoso, no entanto, com tudo que eu já
havia feito na minha vida, com certeza não pretendo namorar tão cedo.
Saio do restaurante sorrindo feito um bobo, pensando o quanto o ar
das ruas de Londres me conforta neste momento, logo atravesso uma das
avenidas principais e sigo por um beco. Como está movimentado, não sinto
medo, então não demora e me vejo próximo a uma padaria. Adentro e peço
dois croissants para viagem.
— São três libras, senhor — diz o atendente.
Pago e saio, seguindo direto para meu apartamento. Assim que chego
ao prédio, a exaustão toma conta de mim ao me lembrar dos inúmeros
degraus da escada que tenho pela frente, mas não perco meu tempo e começo
a subir. Sou recebido por Marvel latindo quando adentro o local.
— Oi, garotão. — Faço um carinho na orelha dele.
Marvel volta a latir enquanto sigo até a pequena cozinha pouco
mobiliada, há somente uma pia sem água quente, um fogão pequeno, armários
com as portas caindo e uma geladeira barulhenta. Encontrei este apartamento
em um anúncio, e como no dia estava sem emprego, optei por economizar o
máximo possível o dinheiro que meus pais me deixaram e as minhas
economias “ilegais”.
O senhor que alugou o local para mim cobrou apenas metade do
aluguel — setecentos e cinquenta libras mensais —, afirmando que o
apartamento está em ótimas condições de uso. Como eu não queria alugar um
quarto para compartilhar, acabei aceitando ao não ver outra escolha.
— Não se preocupe, Marvel, agora que arrumei um emprego, vamos
conseguir sair daqui o mais rápido possível — afirmo, colocando ração para
ele. Abro a geladeira, pego uma garrafa de vinho e encho um copo
descartável, virando em um gole antes de dar uma mordida em meu
croissant.
Ainda acho um pouco estranho sair da casa luxuosa que meus pais
tinham deixado para mim em São Paulo e vir morar em um local
completamente deteriorado, porém, como mamãe dizia, para alcançar voos
mais altos, precisamos sair da zona de conforto. Certo? Pensando nisso,
tomo o meu banho e não demora muito para que eu adormeça no sofá velho.
∞∞∞
Acordo assustado com o chiar da televisão, então me espreguiço e
noto que estou excitado. Suspirando, acaricio o volume marcado por cima da
calça de moletom e meu membro fica mais duro, então enfio a mão por
dentro, sentindo o contato da minha pele.
Solto um gemido e o coloco para fora, analisando o tamanho do meu
pênis. Não resisto e começo a fazer movimentos circulares na glande, que
está lubrificada de tesão. Me ajeito no sofá e início os movimentos vaivém,
pensando em como seria delicioso ter um homem aqui para me chupar e, de
quebra, dar para mim. De repente, meus pensamentos são invadidos pelo
rosto de Luke Evarns.
Paro e abro os olhos, pensando no que estou prestes a fazer. Que
loucura é essa agora? Querer me masturbar pensando em um homem que eu
mal conheço e, ainda por cima, meu futuro chefe?
Sento-me no sofá e passo a mão na testa para secar o suor que
brotou. Não seria tão ruim me masturbar pensando no meu futuro chefe,
seria? Afinal, somente eu saberia disso, não tem como ele descobrir que foi
o motivo do meu tesão na madrugada.
Respiro fundo e solto um gemido baixo de frustração, sentindo a
necessidade de me masturbar o mais rápido possível, então retiro minha
camisa e acaricio meu peito, imaginando que é Luke fazendo isso. Não
demora muito para que eu goze, soltando um gemido entredentes.
Assim que termino, volto a uma realidade dolorosa e vejo que é a
coisa mais errada que eu poderia estar fazendo. Já não basta o meu passado
ferrado, e agora mais isso? Deixo esses pensamentos de lado, e como já são
seis e meia da manhã, decido tomar um banho, me sentindo nervoso para
reencontrar Luke.
∞∞∞
Como havia combinado com Luke apenas às nove, sete horas estou
me trocando para ir até a padaria mais próxima e comer alguma coisa com
Marvel. Pego-o no colo, mesmo que ele esteja com a coleira, e desço os
degraus, a todo instante pensando que logo sairei deste aperta-lixo — foi
assim que apelidei o local.
Logo, eu e meu cachorro estamos nas ruas movimentadas. Decido
comer no Dishoom, que fica localizado na 5 Stable Street, N1C 4AB.
Chegando lá, prendo a coleira de Marvel do lado de fora e ele solta um
grunhido.
— Prometo trazer bacon para você. Marvel, você sabe que não pode
entrar, não é? — Ele se deita no chão e coloca as patas frontais no rosto,
cobrindo-o.
Dou risada disso e abro a porta, adentrando o local. O cheiro forte
de café fresco e comida invadem minhas narinas, trazendo-me um conforto
maior que o normal. Procuro uma mesa vazia e me sento, não demora para
uma mulher baixinha de cabelos brancos se aproximar e dar um sorriso.
— Bom dia, querido. Gostaria de fazer seu pedido ou aceita sugestão
da casa? — questiona.
Olho para o crachá que há em seu peito e vejo que seu nome é Lily.
— Bom dia — respondo. — Uma omelete e café, por favor, e quero
bacon para viagem, se puder.
— É para já! — diz e se afasta.
Pego um jornal que há na mesa e começo a folhear enquanto meu
pedido não chega. As primeiras páginas noticiam como as coisas em
Londres vão bem, o que me deixa muito contente, já nas seguintes estão
falando sobre ele: Luke Evarns.
Engulo em seco e começo a ler:
“Depois de se tornar um dos homens mais ricos do mundo com
apenas 28 anos, Luke Evarns — filho de Charles Evarns —, constrói um
hospital para ajudar pessoas com dificuldade. ‘Sempre pensei em fazer
algo para as pessoas’ diz ele, ‘e vi a oportunidade de isso acontecer
quando meu pai decidiu passar o controle das suas empresas para mim
[...] é algo grande, que pode dar errado a qualquer momento, mas vamos
seguir com o projeto’.”
— Aqui — diz a senhora, me fazendo desviar da leitura.
— Ah, obrigado — agradeço, olhando a foto de Luke. Ele está
totalmente imaculado, usando um terno preto grafite e a gravata bem
ajustada, seu rosto com a barba espessa dá um charme a mais para a foto.
— Vendo a reportagem de Luke Evarns? — pergunta ela. — Ele é um
homem maravilhoso, já veio aqui algumas vezes.
— Sim, ele é — afirmo, pensando no meu futuro patrão.
∞∞∞
Assim que saio do local, entrego o bacon para Marvel, que devora
rapidamente, e decido que preciso comprar uma roupa adequada para usar
hoje, quando for me encontrar com Luke. Como ainda é cedo, vou a uma
butique próxima dali. Mais uma vez, deixo meu cachorro preso do lado de
fora e entro.
Várias mulheres bonitas me encaram, então dou um sorriso sem
graça.
— Podemos ajudá-lo? — pergunta uma delas, me encarando. Seus
cabelos são escuros e a pele negra, o forte sotaque londrino me deixa
maravilhado.
— Sim, eu preciso de um terno, sapatos, camisa. E também uma
gravata, se tiverem — digo, me sentindo um idiota por isso. Somente eu para
deixar as coisas tão em cima da hora. Eu não poderia ter deixado isso tudo
guardado no aperta-lixo?
— Alguma preferência de cor e modelo, senhor? — pergunta uma
loira baixinha e um tanto tímida.
— Não. Só não me chame de senhor, por favor.
Ela assente e logo as duas se afastam, indo atrás de algo que sirva em
mim.
Me jogo em um sofá que há no hall de entrada e pego uma revista
qualquer para folhear enquanto elas procuram o que preciso. A revista que
está em minhas mãos também fala sobre Luke, o que começa a me perturbar.
O cara está construindo um hospital, abriu inúmeras vagas de emprego em
suas empresas, e ainda por cima ajuda a manter várias famílias que estão
passando fome.
Fecho a revista e penso um pouco sobre isso. Por que de repente eu
não paro de pensar neste homem?
Você não pode, é errado, perturbador demais. Ele jamais
entenderia o que você fez...
Afasto esses pensamentos e resolvo esperar as atendentes voltarem, e
que não demora muito para isso acontecer. Nas mãos de uma das mulheres,
vejo sapatos escuros e uma gravata vinho, enquanto a outra está segurando
um terno na mesma cor da gravata, que de cara me fascina.
— Trouxe este para você experimentar. Também trouxe uma camisa
preta que combine — diz a mulher, sorrindo.
Assinto e me levanto, pegando as coisas de suas mãos.
— Onde posso provar? — pergunto.
— Siga o corredor até o fim e desça a escada, primeira à direita.
— Obrigado.
Caminho pelo longo corredor enquanto reparo que o lugar é
sensacional. As paredes são todas feitas de mármore dourado, com detalhes
em mármore preto. O teto tem desenhos de anjos, com lustres que parecem
ser de diamante. A escada não é diferente, desço por ela de dois em dois
degraus, e logo viro à primeira direita.
Encontro várias portas, todas fechadas, com pessoas provando suas
roupas. No final há uma cabine vazia, então me olho no espelho que tem
naquela parede e coloco um sorriso para mim mesmo.
Entro na cabine e retiro minha camiseta, os tênis e por último a calça,
logo coloco a roupa que peguei para provar. Ajeito os botões da camisa e
dou o nó na gravata, então me observo no espelho e vejo o quão boa a roupa
fica em mim.
— Perfeito — digo para mim mesmo antes de uma batida na porta
soar.
— Quando estiver pronto, queremos ver — diz a vendedora.
Abro a porta e encontro as duas jovens que me atenderam me
aguardando.
— Uau, gatão, ficou ótimo. E não digo isso só para que faça a
compra — diz a mulher negra, sorrindo.
— Realmente ficou muito bonito — diz a loira.
Agradeço e me olho uma última vez no espelho, arrumando meus
cabelos.
— Vou levar tudo. Já posso ir vestido com as peças, certo? Caso
contrário irei me atrasar.
As duas assentem em concordância, então pego minhas roupas e
seguimos para o caixa.
— Estou curiosa, é uma entrevista que você vai fazer? — pergunta a
mulher negra de cabelos escuros.
— Sim. Na verdade, eu já fui contratado, vai ser mais para saber
sobre salário e a jornada no restaurante.
— Então vai trabalhar em restaurante — diz —, qual é?
— O Dîner aux chandelles, do Luke Evarns.
— Que show! — responde a loira. — Ele já fez compras aqui uma
vez, supergentil e educado.
Somente assinto enquanto a mulher negra me encara.
— Faça ele te pagar um bom salário, afinal, os outros estão
oferecendo acima de duas mil libras. Aproveite e agarre o homem, sinto
cheiro de gay de longe.
Surpreso com suas palavras, rio e logo pago a compra.
— Gorjeta — entrego cinquenta libras para cada uma. — Vocês
ajudaram muito, obrigado.
— Espero que volte para dizer se conseguiu um bom salário — diz a
mulher com ousadia.
— Voltarei sim, e se eu conseguir um bom salário, levo as duas para
sair.
— Ótimo, ficaremos esperando — responde a loira.
Saindo da butique, corro até a minha casa e deixo Marvel com um
enorme pote de ração. Logo que desço a enorme escada, percebo que faltam
apenas vinte minutos para chegar ao restaurante. Sem demora, pego um táxi e
passo o endereço para ele, que vai o mais rápido possível, já que o trânsito
não ajuda muito.
Olho o relógio e vejo que faltam apenas dez minutos.
— Vou ter que sair, senão irei me atrasar — digo para o motorista.
— Aqui, tome. — Dou vinte libras a ele e saio do veículo, andando o mais
rápido possível para chegar ao restaurante.
Quando estou perto, faltam ainda cinco minutos para as nove, então
respiro fundo para controlar as minhas emoções e paro em frente ao
restaurante. Aliviado, dou um sorriso, já pronto para entrar, mas uma voz me
pega de surpresa.
— Vejo que chegou bem na hora, Gale — diz Luke.
Luke Evarns
Sorrio ao perceber que Gale se assustou, mas recebo um sorriso dele
em resposta. Só então noto como ele está bonito, vestido com um terno que
percebo ser novo.
— Posso? — pergunto, me aproximando e apontando para a gola do
paletó.
— O quê? — pergunta, me encarando.
Levo minha mão até o paletó e puxo a etiqueta, mostrando para ele
em seguida.
— Acho que você esqueceu de retirar. — Acabo rindo.
Gale também ri, me deixando maravilhado com o som da sua voz.
— Como dizem, a pressa é inimiga da perfeição.
— Sim. — Aponto para o restaurante. — Vamos lá?
Gale concorda e logo nos colocamos para dentro do restaurante. O
local está bastante lotado, com diversos clientes tomando café e alguns até
mesmo comendo comida, como é costume entre os londrinos.
Aceno para os meus funcionários e recebo um “bom-dia” como
resposta.
— Vamos até o meu escritório para entrarmos em um consenso em
relação ao salário e outros assuntos — falo, seguindo na direção da escada
caracol que fica perto da cozinha.
Subo, com Gale atrás de mim, e paro em um corredor comprido e
com algumas portas. Ando na direção da última e, assim que abro, aponto
para ele passar na minha frente.
— Fique à vontade — digo.
Gale assente enquanto retiro meu paletó e me aproximo da minha
mesa. Abro a cortina veneziana do local e o sol invade o ambiente decorado
de maneira vintage — as paredes são cobertas por um papel de parede
pardo, tem uma mesa de mogno grande e, ao lado, uma pequena copa onde
fica um barzinho e uma cafeteira.
— Esse lugar é incrível — diz Gale, analisando cada canto.
Agradeço e me sento, indicando o lugar à minha frente.
— Então, Gale, apesar de já estar contratado — começo —, por que
não me fala um pouco mais sobre você? Como, por exemplo, sobre a sua
formação.
Ele me encara e pigarreia.
— Estudei gastronomia no Brasil, e antes dos meus pais morrerem,
finalizei o curso — declara.
Observo nos seus olhos um mar de lembrança que talvez para ele
seja mais do que dolorosa.
— Sinto muito que tenha perdido seus pais. Minha mãe morreu há
alguns anos também — digo, tentando confortá-lo.
— Obrigado — diz em um tom neutro.
Talvez seu luto seja mais recente do que eu havia suspeitado.
— Me conte mais. Depois que finalizou o curso, você trabalhou em
algum lugar, tem experiência na área?
— Não tive oportunidade de trabalhar ainda, afinal, meus pais
morreram pouco tempo depois de eu ter terminado o curso, então acabei
vindo para cá — comenta. — Vi no site do seu restaurante sobre a
aposentadoria do chefe de cozinha e decidi tentar a vaga.
Assinto, prestando atenção apenas na parte sobre a morte recente dos
seus pais. Decido que será muita intromissão da minha parte perguntar como
foi, então afasto os pensamentos e volto ao modo profissional.
— A sua jornada será seis por um, como na maioria dos restaurantes
por aí — afirmo. — Você terá um horário bem flexível, claro, se aceitar.
Normalmente, o horário é das oito até as quatro da tarde, após isso estará
liberado. O salário é quatro mil libras por mês, com adicional noturno
quando precisar ficar no período noturno, mais transporte — termino de
falar e Gale me encara, espantado. — Alguma dúvida?
— Não. É que o salário é bem maior do que imaginei — conta,
surpreso —, senhor...
— Por favor, não me chame de senhor, sou só um pouco mais velho
que você. Me chame apenas de Luke.
— Luke, tudo bem — diz, suspirando. — Claro que aceito a
proposta, e agradeço muito a oportunidade que está me dando.
Sorrio e abro a gaveta da minha mesa, observando o aparelho celular
que fiz meu segurança comprar hoje cedo e trazer para cá.
— Não precisa agradecer. Ainda não terminamos, há uma parte que
eu ainda não te disse.
Sorrio quando Gale me encara, essa ideia maluca havia acabado de
passar pela minha mente, e não será tão ruim assim colocá-la em prática.
— Tudo bem.
— Como notou, o salário é bastante alto se for comparado com
alguns por aí, então, às vezes, quando eu precisar de um cozinheiro
particular, você vai trabalhar na minha casa, tudo bem? — Vejo isso como
uma oportunidade de ter esse homem próximo de mim.
— Eu aceito — diz, seus olhos ficando mais intensos ao ouvir a
minha proposta.
— Ótimo! — respondo, animado. — Agora tenho algo para você.
Como me disse que estava sem celular, pedi para que providenciassem um.
Pego na gaveta a caixa com o aparelho e entrego a ele, que fica
surpreso.
— Não precisava, eu iria comprar um, não havia tido tempo —
responde, sem graça.
— Bem, então aceite como um presente de boas-vindas. E ele já vem
com um plano incluso — respondo, todo sorridente.
Ele só assente. Sigo até o barzinho do escritório e preparo dois
copos com uísque antes de me aproximar de Gale.
— Obrigado — diz ele.
— Vamos brindar ao seu novo emprego — digo, entregando o copo a
ele.
Gale engole em seco e aceita, batendo seu copo no meu. Levo a
bebida até os lábios e sorvo o gosto forte, acostumado por beber cedo,
diferente de Gale, pelo que parece, já que começa a tossir.
— É muito forte para você? — pergunto, rindo.
— Como consegue beber logo cedo? — pergunta, curioso e sorrindo.
— Eu não sei, quando você tem tantos problemas para se preocupar e
diversas empresas para gerenciar, um gole de bebida forte ameniza tudo que
você pode imaginar.
Gale fica quieto e acena, bebericando o uísque.
— Me fale mais sobre você. O que te traz a Londres, fora a
oportunidade de emprego? — pergunto, sentando-me de frente para ele.
— Sempre foi meu sonho. Meus pais eram daqui e decidiram viver
no Brasil, então, após perdê-los, não havia mais nada que me prendia ao
país, e alguns problemas do passado engatilharam isso também, digo, em
relação a querer esquecer.
Concordo com um aceno de cabeça, surpreso em como ele pôde se
abrir para mim em tão pouco tempo. O que chama mais a minha atenção é a
parte do “alguns problemas do passado”. Ele também tem um passado
traumático que deseja esquecer?
— Posso fazer umas perguntas nada relacionadas ao profissional? —
pergunto.
— Depende do que será — responde ele, me encarando. Gale cruza
as pernas e passa o dedo indicador na borda do copo.
— Eu acho que você sabe o que desejo saber.
— Pergunte, chefe — diz, me fazendo rir.
— Ok, vamos lá. — Pigarreio. — Você é gay? — Direto ao ponto.
Aí está a pergunta que queria ter feito desde o momento em que o vi
pela primeira vez. É claro que sei que ele é gay, porém, preciso que ele
confirme, mais ainda, saber se ele está solteiro.
Bem, se ele tivesse um namorado, com certeza você saberia, não?
Eu saberia?
Seu rosto fica um pouco vermelho e o suor começa a brotar em sua
testa.
— Sou gay, sim — murmura —, assim como você. Estou certo?
É claro que ele está certo. Quando me assumi, a notícia que o filho
de Charles Evarns gosta de “bunda masculina” — claro que não foi isso que
colocaram nos jornais, mas não duvidaria se saísse uma notícia dessa — se
espalhou por todos os tabloides.
— Sim, está certo — digo, piscando. — Me diz, pode começar a
trabalhar amanhã?
— Com certeza — responde alegremente.
— Gostaria de convidá-lo para almoçar comigo, claro, fora daqui.
Seria um pouco estranho, se é que me entende.
— Tudo bem, eu aceito. — Ele sorri, ficando um pouco sem graça.
— Ótimo. Que tal bebermos mais um drinque enquanto configura seu
celular novo e me conta um pouco mais sobre você?
Gale Meyers
Tudo o que aconteceu me lembra um sonho muito bom, no entanto,
consegue ser melhor ainda por ser real. Eu consegui um ótimo emprego, além
disso, ganharei muito mais do que imaginei.
Continuamos conversando por um tempo após encerrarmos a nossa
“reunião”, então, quando termino de configurar o aparelho que Luke havia
me dado — que eu achei uma loucura, mas não irei recusar — decidimos ir
passear um pouco até dar o horário do nosso almoço.
Luke parece ser um homem bastante maleável com seu jeito gentil e
mandão, porém, eu havia notado que ele quer me comer, tanto quanto eu o
quero. Mesmo achando isso uma loucura, não posso negar que o desejo de o
ter será quase impossível de controlar. Qualquer um deseja se deitar com
esse homem tão bonito e sexy.
— Vamos?
Luke me tira dos meus pensamentos com a sua pergunta. Eu fico em
pé e guardo o aparelho em um bolso, e a pequena sacola com a caixa e
carregador no outro.
— Claro — respondo, me sentindo um pouco tonto por causa do
uísque forte que eu havia ingerido.
Descemos a escada e logo estamos do lado de fora do restaurante em
que começarei a trabalhar a partir de amanhã.
— Está ansioso para começar a trabalhar? — pergunta Luke,
chamando um táxi, que rapidamente para no meio-fio.
— Confesso que ansioso é pouco, me sinto nervoso — respondo, me
colocando dentro do veículo.
Ele concorda e se coloca ao meu lado.
— Qual o destino? — pergunta o motorista.
Luke passa o endereço de um local que desconheço, dizendo que
ficarei surpreso, e logo seguimos pela avenida.
Só de pensar que ganharei quatro mil libras, me sinto sortudo, agora
sim poderei alugar um local melhor para morar com meu cachorro.
— Daria tudo para saber seus pensamentos — sussurra meu chefe,
me encarando.
Dou um sorriso e desvio meu olhar do dele, um pouco envergonhado.
Que loucura saber que o homem que me quer e eu quero é meu chefe.
Isso não é nada, Gale, pior seria se ele soubesse do seu passado.
— Não é nada de mais — respondo —, só estou feliz.
Luke me encara e dá um sorriso que me deixa com as pernas bambas,
tenho sorte por já estar sentado. Não demora muito para o veículo parar em
frente a uma Starbucks. Saímos e, após Luke pagar a corrida, entramos no
local confortável.
— Pensei que aqui poderíamos ter um pouco mais de privacidade
para conversarmos — diz ele.
Engulo em seco, surpreso com isso, mas concordo, então pedimos
dois expressos e nos sentamos a uma mesa um pouco afastada das outras.
— Nunca tinha vindo aqui — comento, tentando iniciar uma
conversa.
— Então fico feliz em saber que sou o primeiro a trazê-lo —
responde, piscando.
Concordo, ainda sem graça, e assim que somos servidos, bebo meu
café na esperança de que o gosto de uísque saia da minha boca.
— Mas então, Gale, quantos anos você tem? — meu chefe pergunta.
Mesmo ainda não tendo começando a trabalhar para ele e ter uma
carteira assinada, eu já sinto que ele é isso para mim. Meu chefe.
— Tenho vinte e três.
— É bem mais novo do que imaginei. Acho que agora o “senhor” se
encaixa bem em mim — responde, me fazendo rir da sua péssima piada.
— Relaxa, você está ótimo, tenho certeza de que existem milhares de
pessoas aos seus pés — declaro.
Talvez não seja tão ruim assim flertar um pouco com Luke, mesmo
sabendo que o melhor será não me envolver com qualquer tipo de pessoa
dessa maneira. Mas com Luke é diferente, algo em mim, há muito tempo
adormecido, desperta de um jeito que me incomoda mais do que o normal.
— Está dizendo que sou bonito, então? — pergunta, dando um
sorrisinho de lado.
— Estou dizendo que feio você não é — respondo, e caímos na
gargalhada. — Se é isso que quer saber, sim, você é muito bonito, Luke.
— Você também é muito gato.
Ele dá um gole em seu café enquanto agradeço o elogio. Que loucura,
não? Flertar com o próprio chefe não é o que eu imaginava para a minha
morada em Londres.
— O que gostaria de comer? — Luke pergunta. — Tem um
restaurante aqui perto magnífico, podemos ir almoçar já, se quiser.
Concordo, sem muita opção, e após terminarmos de tomar nossos
cafés, Luke paga, o que me deixa incomodado, então saímos, com o sol frio
de Londres invadindo meus olhos.
Seguimos em silêncio para o restaurante que Luke havia sugerido. De
repente, isso tudo parece ser uma loucura e tanto. Em pouco tempo, minha
vida havia mudado completamente.
— Sabe, Gale, eu gostei de você desde o instante que o vi passar
pela porta do restaurante pedindo informação para o Tyler — diz meu chefe,
sorrindo.
Dou um sorriso sem graça enquanto adentramos um restaurante
famoso de Londres — Casa Cruz[2].
— Meu Deus, Luke, tenho certeza de que um almoço nesse lugar é
mais caro que o meu salário inteiro — sussurro, observando o local, não
dando muita importância para o que ele havia dito.
Olho atentamente e fico admirado em como o lugar é espaçoso,
bonito e está cheio, para uma terça-feira.
— Não se preocupe, apenas aproveite a deliciosa carne e peça o
doce de leite de sobremesa. É sensacional — sugere.
Engulo em seco, mas só assinto com um meneio de cabeça. Como um
homem apaixonado por restaurantes chiques, pesquisei bastante sobre o
“Casa Cruz”. O local é tão bem visto, que até mesmo o príncipe Harry e
Victoria Beckham haviam ido lá, fora outros famosos.
— Você mora por aqui, quero dizer, em Notting Hill? — pergunto a
Luke, tentando quebrar o gelo.
Somos recepcionados por um garçom que nos oferece uma mesa e a
carta para vermos o que vamos comer e beber.
— Tenho um apartamento aqui perto, passo boa parte do tempo nele,
por ser próximo do meu restaurante e da minha empresa — informa Luke,
sorrindo. — E você?
— Ah, com certeza não moro aqui — respondo, olhando o cardápio.
— Onde mora, então? — questiona, curioso, também observando a
carta.
— Atualmente estou em Hoxton, mas é por pouco tempo. Estou
pensando em arrumar um apartamento mais próximo do restaurante.
Ele apenas ouve, de repente, fecha o cardápio e sorri para mim.
— Seria ótimo se arrumasse um por aqui, assim ficaríamos mais
próximos.
Fico em silêncio diante disso, apenas esboço um sorriso amarelo.
Logo o garçom se aproxima da nossa mesa para fazermos os nossos pedidos.
Como Luke sugeriu, peço carne, que vem acompanhada de tomates com
manjericão, e batatas fritas e peixe.
Depois de nos fartarmos com o delicioso prato, somos servidos com
doce de leite que, para ser sincero, não chega aos pés do que tem no Brasil.
— Está ficando tarde — diz Luke, olhando o relógio após
finalizarmos nossa refeição e pagar o almoço, que custou quase trezentas
libras.
— Está mesmo — concordo, sem nem ao menos olhar o relógio. —
Melhor eu ir nessa.
Nos colocamos de pé e seguimos para o lado de fora, então chamo
um táxi.
— Quer passar no restaurante comigo, e de lá eu o levo até sua casa?
— pergunta, solidário.
— Se não for te atrapalhar... — digo, dando de ombros.
O sorriso de Luke se alarga, e logo adentramos o veículo, que segue
tranquilamente pelo trânsito de Londres.
— Pode me dizer uma coisa? — questiona, me encarando enquanto
seus olhos brilham.
— Claro — respondo, sem muita opção.
— Dei uma olhada no seu perfil do Facebook e vi que seu
aniversário é sábado, está correto?
Meu aniversário!
Minha vida anda sendo uma loucura tão grande, que nem havia me
dado conta que em poucos dias estarei completando mais um ano de vida. E
só de pensar que será o primeiro aniversário que estarei longe dos meus pais
e amigos, sinto um grande aperto no coração.
— Verdadeiro — confesso, um pouco sem graça.
Ele me encara e ergue a sobrancelha.
— Então temos que comemorar — diz alegremente. — Podemos ir a
uma balada. Eu escolho, se quiser, você vai adorar, será bom para distrair a
mente um pouco.
Penso a respeito disso, havia o que comemorar? Jamais pensei, em
toda a minha vida, passar sequer um aniversário longe dos meus pais, e
agora eu serei obrigado a fazer isso. Tenho duas opções: aceitar o convite de
Luke para a balada ou ficar no meu aparta-lixo choramingando pelos cantos
a perda dos dois.
Neste momento, sendo um pouco egoísta, eu gosto mais da ideia de
aceitar o convite de Luke.
— Posso pensar a respeito — digo, sorrindo.
Ele abre sua mão e, por um momento, penso que talvez irá segurar a
minha, no entanto, isso não acontece.
Luke Evarns
Assim que chegamos ao restaurante onde Gale irá trabalhar, somos
recebidos com os olhares nada discretos dos meus funcionários, talvez
pensando que eu jamais havia feito esse tipo de loucura, como o próprio
Tyler fez questão de me dizer.
Subo a escada com Gale na minha frente e aproveito o momento para
apreciar sua deliciosa bunda por baixo daquela calça social vinho, que o
deixa ainda mais sexy.
Afasto esses pensamentos antes que tenha uma ereção e entro em meu
escritório, com meu novo funcionário se sentindo muito mais à vontade do
que mais cedo. Retiro meu paletó e ele faz o mesmo, dobrando as mangas da
camisa preta.
— Que tal um brinde de verdade pelo seu novo emprego? —
pergunto enquanto sigo até o bar e pesco uma garrafa de champanhe.
Gale concorda sem resmungar, assim que a abro, encho duas taças,
entregando uma a ele.
— Obrigado — agradece, sorrindo.
Sorrio em resposta e bato minha taça na dele, antes de bebericar o
delicioso champanhe.
— Me ofereci para levá-lo até a sua casa, mas acho que seria
imprudente demais dirigir após beber, se é que me entende.
Meu novo funcionário concorda com um aceno de cabeça, então pego
meu celular e peço um minuto para ele. Envio uma mensagem ao meu
motorista, pedindo que venha até o restaurante dar uma carona a Gale.
— Meu motorista chegará daqui a pouco, então o levaremos para a
sua casa. Tem problema em esperar um pouco mais? — questiono.
— Problema nenhum. Só acho que não teremos muito o que fazer até
ele chegar — diz displicentemente.
Dou uma risadinha e mordo o lábio.
— Se você está dizendo — respondo malicioso.
Gale me encara e ergue a sobrancelha.
— O que quer dizer?
Resolvo que devo ser o mais sincero possível com Gale. Ele sabe
que o quero, somente um cego não veria isso, no entanto, preciso tomar
cuidado com o que vou dizer.
— Eu poderia estar te beijando, por exemplo — digo, e sinto o suor
brotar nas minhas mãos. — Claro, se você quisesse e não fosse meu
funcionário. — Observo seu olhar sério e o brilho nos seus olhos.
— Bem, se formos pensar dessa maneira, ainda não comecei a
trabalhar, então, tecnicamente, não temos um elo — responde. O nó na minha
garganta se formando. — Mas é claro, isso só seria possível se eu estivesse
a fim de te beijar.
— Você está certo. — Rio e balanço a cabeça em concordância.
Ele concorda e, então, quando menos espero, se aproxima de mim e
deixa sua taça de lado.
— E quero que saiba que eu estou a fim — declara.
Meu sorriso fica maior quando ouço suas palavras. Puxo Gale para
perto de mim e o encaro, passando minha mão em sua nuca e puxando seu
cabelo.
— Luke, e-eu...
— Shhh. — Coloco o indicador em seus lábios, silenciando-o.
Me aproximo ainda mais de Gale e grudo meus lábios nos dele. De
início, ficamos apenas parados, então invado sua boca com minha língua e
começo a beijá-lo. Gale passa os braços em torno do meu corpo e retribui o
beijo, logo sinto nossos corpos entrarem em combustão, deixando-me
excitado. Acaricio o corpo de Gale por cima da sua camisa social e levo
minha mão mais para baixo, acariciando seu membro duro por debaixo da
calça.
— Luke... — sussurra ele, se afastando de mim.
— O que foi? — pergunto, mordiscando sua orelha e beijando seu
pescoço. De repente, Gale me afasta e me encara com seriedade. — Não
está gostando?
Ele continua me encarado enquanto percebo que engole em seco.
— Claro que estou gostando, mas — ele parece perplexo — o que
isso significa?
— O que você está falando? Pelo que me lembro, você mesmo disse
que queria isso tanto quanto eu — respondo, me sentindo nervoso. Que
merda é essa agora?!
— Eu sei, me desculpe, é que... — As palavras somem e ficamos em
silêncio por um instante. — O que você quer comigo, afinal?
— Não parece meio óbvio? Quero transar com você — digo, sem
rodeios. Esse sou eu, sempre fui direto em meus objetivos.
— Você só pode ser um tremendo filho da puta! — grita ele, me
deixando surpreso. — Como diz isso na maior tranquilidade?
— Quer que eu grite feito uma mariquinha igual você?!
— Vá se foder! Só porque sou seu funcionário, não significa que
pode falar assim comigo!
— Você me chamou de filho da puta e ainda mandou eu me foder! —
Me afasto dele e pego a taça que estava usando antes, jogando-a longe. — O
que quer?! Não tenho idade para babaquices adolescentes, Gale, você
precisa ser homem e decidir o quer para a sua vida!
Fico surpreso com tudo que está acontecendo, afinal, por que Gale se
revelou um homem tão babaca em questão de segundos?
— Neste momento, quero apenas que você me beije! — diz ele,
espantado com si mesmo.
Não penso duas vezes para ir em sua direção e jogá-lo contra a
parede, encostando meus lábios nos dele. Sua boca é quente e macia, e sinto
seus lábios implorando pelos meus. Empurrando-o ainda mais contra a
parede, eu o beijo, engolindo sua boca, passando uma das minhas mãos em
sua nuca enquanto a outra vai para o seu pau duro.
A sensação é maravilhosa e estranha, afinal, eu o conheci na noite
anterior, e diferente de todos os outros homens com os quais já havia ficado,
Gale Meyers desperta em mim desejos que jamais imaginei sentir antes.
Afasto meus pensamentos e me entrego ao momento, beijando seu
pescoço e abrindo devagar o zíper da sua calça.
— Estamos no seu escritório — diz, ainda mais perplexo.
— E o que tem isso? Esqueceu que eu que mando aqui?
Sorrio para ele e abro sua calça lentamente, abaixando-a com um
pouco de dificuldade. Logo noto sua cueca boxer branca que marca o seu
pênis duro.
— Pare, melhor pararmos — suplica Gale.
— Parar com o que, Gale? Ainda nem começamos.
Enquanto me ajoelho, sorrio para ele, preciso sentir o sabor desse
homem mais do que qualquer outra coisa. Devagar, acaricio o seu membro
por cima da cueca, e quando estou prestes a abaixá-la, Gale me empurra e se
ajeita, me encarando.
— Melhor pararmos mesmo — diz ele, sério. — Obrigado pelo
almoço, nos vemos por aí.
Gale fecha a calça e pega o paletó, então segue na direção da porta.
Sigo-o e seguro a sua mão, encarando-o.
— Espere que vou te levar.
— Sabemos que você não quer somente me levar até a minha casa,
não é mesmo? — Ele me encara antes de sair, me deixando sozinho.
Droga! Estraguei tudo.
Gale Meyers
Saio do escritório de Luke com os nervos à flor da pele. Como eu
havia conseguido beijar meu chefe, sendo que eu mesmo me repreendia por
conta disso? Engulo em seco e desço a escada com rapidez, ganhando
olhares de alguns funcionários de Luke. Caminho pela avenida e entro em um
beco para que ele não me siga, respirando fundo e tremendo de medo.
De repente, minhas mãos começam a tremer e começo a soluçar,
sentindo as grossas lágrimas escorrerem dos meus olhos.
O que eu havia feito? Como pude me permitir sentir aquilo com
Luke? Por que me deixei levar pelo momento e beijá-lo?
Me sento no chão, não conseguindo mais ficar em pé. As coisas
começam a sair do meu controle e simplesmente não sei mais o que fazer.
Como pude ser tão idiota a ponto de deixar aquilo acontecer? Agora,
trabalhando com Luke, ele insistirá ainda mais nessa relação que não tem
futuro algum.
No entanto, eu terei que colocar um ponto final nisso antes que
alguém se machuque.
Ao pensar no nosso beijo e de como, por pouco, ele não me chupou
no seu escritório, mergulho em lembranças das quais não desejo me
lembrar...
Levanto-me bocejando e, rapidamente, começo a limpar o resto da
casa que falta. Assim que termino — cerca de sete e quarenta e cinco da
manhã —, pego Marvel e dou um banho nele. Sorrio após terminar e corro
direto para o banheiro.
Se minha mãe me visse com a barba por fazer, ela arrancaria os
pelos do meu rosto com as suas unhas, então a faço e volto para a cozinha
para preparar um café delicioso para nós, afinal, eles chegarão às nove e
meia.
Fico feliz com o resultado assim que termino, então me recordo de
um sonho que havia tido com meu pai, fazendo meu sorriso vacilar.
O que eu mais desejo na vida é poder assumir a minha sexualidade
para os meus pais e que eles possam aceitar numa boa, mas será fácil para
eles aceitarem que seu único filho é gay?
O pensamento me causa arrepios.
Vou até a sala e ouço Marvel chorar, então me aproximo e olho em
sua direção.
— Que foi, Marvel? Mamãe e papai já estão chegando... Vem cá,
garotão.
Fico de joelhos para ele vir em minha direção, mas recebo uma
atitude que não consigo acreditar; seu choro fica ainda mais forte. Meu
cachorro pula no sofá e pega uma das almofadas, mordendo-a a ponto de
rasgar.
— Marvel! Marvel, pare agora, seu cachorro idiota!
Tiro-o do sofá ao mesmo tempo em que ouço a campainha tocando.
Deixo a bagunça para trás e sorrio alegremente ao saber que meus pais
haviam chegado.
— Parece que mamãe e papai chegaram, Marvel — digo enquanto
vou na direção da porta.
Abro-a e meu sorriso vacila quando vejo a sra. Beth e dois homens
fardados parados na minha porta.
— O que foi, sra. Beth? Aconteceu alguma coisa? — questiono,
erguendo a sobrancelha.
— Como você está, meu querido? — pergunta, nervosa, não
respondendo o meu questionamento.
Estranho a sua visita e mordo o lábio.
— Bem, e a senhora?
— Indo, indo.
— Que bom. — Sorrio alegremente e ergo os braços. Ela me
agarra, abraçando-me com força. — O que foi, sra. Beth? Você veio ver
meus pais? Eles ainda não chegaram, mas em breve estarão aqui. Agora
me diga, aconteceu alguma coisa no condomínio? E esses policiais?
— Meu filho — começa ao mesmo tempo em que sinto um aperto
forte no coração —, tenho que te dar uma notícia muito ruim, mas é
melhor entrarmos para você se sentar.
— Por que eu iria querer me sentar? E que notícia você quer me
dar? Vão revistar minha casa?
— Não, eles não vão revistar nada — diz ela, entrando e me
levando para o sofá. Marvel pula no meu colo e a sra. Beth se coloca ao
meu lado. — Você tem que saber que isso vai ser muito difícil para você. A
partir de agora, tudo vai ser diferente na sua vida, você vai ter que
aprender a lutar sozinho.
Ergo minha sobrancelha e rio, sem graça.
— Do que você está falando?
Um policial entra na minha casa e o outro o segue. Fico quieto, e,
rapidamente, entendo o que está acontecendo.
— Gale, não gostaríamos de te dar essa notícia — diz um dos
policiais —, mas hoje, às oito da manhã, o avião que seus pais estavam,
pousou tranquilamente. O taxista que estava trazendo-os para cá alegou
que trabalhou a noite toda e estava muito cansado.
— Alegou? Como assim... — Decido me calar e sinto que a cor do
meu rosto some. Não pode ser verdade... meus pais, não.
— Infelizmente, o motorista dormiu no volante em um farol
vermelho e pisou no acelerador. Um carro estava vindo na pista contrária,
e o veículo que seus pais estavam pegou todo o impacto.
— Você quer dizer que...
— Eles nem chegaram a ser levados para o hospital, não tinha
mais jeito, ambos morreram no local.
Fico de pé rapidamente e sinto o mundo girar. Isso só pode ser
mentira.
— Eu sinto muito — diz o homem.
Olho para sra. Beth e ela confirma.
— Não, não, vocês estão mentindo para mim! Meus pais estão vivos
e vão chegar aqui em breve. Diga para eles, sra. Beth, diga!
— Eu sinto muito, meu querido, eu sinto muito — diz, em lágrimas.
Olho para ela, chorando, e me jogo no chão. Parece que uma parte
de dentro de mim está saindo e caindo ali, na minha frente, morta. Não
pode ser verdade... não mesmo.
A sra. Beth me abraça e Marvel vem chorando e latindo para perto
de mim.
Havia acabado para eles, meus pais, as pessoas que eu mais amo
na vida, haviam partido para sempre.
Eu estou sozinho.
O sr. e a sra. Meyers não voltarão mais para mim... eu os traí, eu
estou sozinho, não tenho mais ninguém...
Paro de chorar ao me lembrar da morte dos meus pais e sinto uma
forte dor no peito tomar conta de mim. Pensar sobre isso me causa mais do
que um desconforto qualquer, causa uma angústia tão grande que seria capaz
de me aprofundar em depressão. Lembro-me do motorista e me recordo que
não quis saber o que aconteceu com ele, afinal, isso não vai trazer meus pais
de volta.
Me coloco de pé e observo algumas pessoas passarem pelo beco,
então saio e sigo à procura de um táxi, acenando para o veículo e
rapidamente me colocando para dentro.
— Para onde, senhor? — pergunta o motorista.
— Qualquer lugar — respondo —, qualquer lugar que fique bem
longe daqui.
Ele assente e começa a dirigir.
Luke Evarns
Assim que Gale sai, fico com uma dor de cabeça pensando na
besteira que eu havia feito. Sou distraído ao receber um SMS de Kris dizendo
para ir até a empresa que teremos uma reunião. Sinto vontade de dizer não,
no entanto, não tenho escolha.
Peço para Kris me encontrar para irmos juntos. Ainda me sinto um
babaca com o que aconteceu com Gale, e não estou nem um pouco a fim de
ouvir as mesmas coisas de sempre — que as empresas estão indo bem e que
estou lucrando cada dia mais.
Assim que chegamos à empresa, sou recebido com diversos
burburinhos que nem presto atenção. Estar ali é como se eu estivesse longe
de tudo, somente pensando na grande besteira que eu havia feito com meu
novo funcionário. Afinal de contas, onde ele estará agora? Eu deveria ter ido
atrás dele e pedido desculpas, no entanto, sabia que forçar a barra acabaria
ocasionando em coisas muito piores.
— Preciso ir embora — digo enquanto olho para Kris.
Meu amigo me encara com seriedade e coloca a mão na cintura.
— Você só pode estar de brincadeira — afirma enquanto olha feio
para mim.
— Queria, mas não estou — respondo, suspirando. — Faça isso por
mim só hoje, prometo que irei recompensar.
Kris me encara e revira os olhos.
— Eu seguro a barra dessa vez, mas não pense que depois não vou
querer saber o que está acontecendo.
Assinto e dou um beijo nele. Saio da empresa certo de que devo
esquecer pelo menos um pouco toda aquela loucura que está acontecendo
comigo.
∞∞∞
Vou até o shopping visitar Taylor, sabendo que se ela souber de toda
a história com Gale, me ajudará de alguma maneira a resolver o problema de
mais cedo. Eu sei que me comprometer a esquecer o que aconteceu é
praticamente impossível, então, nada melhor que uma grande amiga para me
ajudar com isso.
Sei que se Kris souber de tudo, com certeza ficará com ciúmes e até
mesmo com raiva, ainda mais porque ele não havia gostado nem um pouco
de Gale.
Assim que saio do meu carro, sigo direto para a livraria de Taylor, o
local é bastante iluminado, com diversas coleções de “Harry Potter” na
vitrine. Adentro o local e sou atendido por uma mulher negra de cabelo afro
e sorriso gentil.
— Boa tarde, sr. Evarns — diz ela.
— Boa tarde, Pyper — digo, sorrindo. — Onde Taylor está?
— Lá atrás, no escritório.
Aceno e sigo por um corredor repleto de prateleiras com diversos
livros, o local cheira a incenso e desinfetante. Vejo uma porta de madeira,
com uma placa escrito “Escritório da Taylor” e bato, ouvindo sua voz
abafada.
— Não me incomode agora, volte mais tarde. Eu avisei que não
quero receber visitas, Pyper.
— Nem mesmo do seu melhor amigo? — questiono, dando um
sorriso. Com certeza ela não está sozinha, o que me faz querer rir.
— O QUÊ?! — ela grita do outro lado. — Nem pense em ir embora, me
espere na copa.
— Sim, senhora. — Me afasto e volto pelo mesmo corredor,
ultrapasso uma porta e me vejo dentro de uma pequena cozinha onde tem uma
geladeira, fogão, mesa e micro-ondas. Os funcionários de Taylor fazem suas
refeições aqui.
— Luke Evarns, você por aqui, na minha livraria. Está procurando o
quê? — pergunta minha amiga enquanto entra no local me encarando.
Sorrio e me aproximo, abraçando-a e dando um beijo em seu rosto.
— Não vou arriscar te dar um selinho, sei muito bem o que você
estava fazendo no escritório.
— Nada demais! — diz ela, prendendo os cabelos castanhos. Seu
corpo magro e com curvas está coberto com uma calça jeans e uma camiseta
com a estampa do logo da livraria.
— Sei! Com certeza não era nada demais mesmo.
Rimos e ela me encara, voltando a me abraçar.
— Nem acredito que você está aqui. Kris e você sumiram de uns
tempos para cá.
Observo-a enquanto nos sentamos um de frente para o outro.
— Nós sumimos ou você anda trabalhando demais? — pergunto,
franzindo a testa.
— Talvez. As coisas aqui na livraria andam uma loucura, seria
estranho demais eu não vir trabalhar.
Encaro-a e dou um sorrisinho maroto.
— Seria estranho demais você trabalhar, isso sim. Me diz, qual o
nome dele? É um dos novos funcionários?
Vejo o brilho no olhar de Taylor enquanto ela sorri.
— Que tal irmos à cafeteria aqui perto para conversarmos melhor?
Não quero que as pessoas ouçam o que vou te dizer.
Concordo, rindo, e nos colocamos de pé, saindo da livraria em
seguida. Noto um rapaz um tanto jovem encarar a minha amiga, então ergo a
sobrancelha, já sabendo que a nova “presa” é ele.
Assim que nos colocamos a uma das mesas na cafeteria ali perto,
somos atendidos por um garçom todo sorridente.
— Fiquem à vontade — diz ele.
— Queremos dois expressos, por favor — peço gentilmente. Ele
assente e se afasta, então volto a olhar para Taylor. — Já sei quem é a presa.
— É o rapaz que você viu mesmo — afirma, sorridente —, ele se
chama Bratt.
— Notei como ele te olhava, parece ser um cara bom de cama —
digo, rindo. — Me diz, vocês já transaram?
— E você acha que não? — pergunta, sorrindo.
— Você é mesmo uma safada, srta. Davies.
— Sim, e você aprendeu comigo.
— Claro que eu aprendi, você é a Rainha das Vadias.
Voltamos a rir e logo somos servidos.
— Agora me diz, Luke, pois estou curiosa — começa ela, bebendo
seu café —, sei que você não apareceu só para uma visita, com certeza tem
algum motivo que não quer debater com Kris, porque ele não aprova.
— Como pode me conhecer tão bem? É isso mesmo que me trouxe
aqui — admito, bebendo o líquido escuro.
Ela volta a fazer o mesmo e estreita os olhos.
— Comece a contar agora mesmo.
Pigarreio e começo a dizer para Taylor sobre Gale, detalhadamente,
da maneira que nos conhecemos, o nosso “desastre” com o vinho, o almoço
de hoje e, por fim, o que havia acontecido no meu escritório, onde quase
“ataquei” o rapaz. Contando tudo isso em voz alta para alguém que não seja
Gale e eu, parece ser mais surreal do que eu poderia imaginar.
— Você fez o quê? — pergunta, perplexa. — Quem em sã
consciência jogaria vinho em si próprio apenas para ser aproximar de uma
pessoa?
Reviro os olhos, encarando-a logo em seguida.
— Não me diga que você prestou atenção só nisso.
— Claro que não, percebi que você deu um celular para seu novo
funcionário e deixou bem claro que quer transar com ele — responde,
convicta de suas palavras. — Isso é genial, Luke!
— Espera! — Encaro-a, surpreso. — Você não me acha um louco, ou
até mesmo um psicopata por fazer isso tudo?
— Claro que não! É um jogo de sedução, apenas está usando suas
armas.
— Que bom que pensa isso, Kris já não pensa dessa maneira.
Taylor revira os olhos e volta a beber o café.
— Kris não curte muito essa coisa de “o rico namorando o pobre”,
não é?
— Não sei se é isso — respondo, sério. — Às vezes, ele só quer me
proteger demais, por conta de tudo que já passamos.
Minha amiga assente e ficamos em silêncio por um tempo.
— Você acha que apesar de ele estar com Pitter, ainda gosta de você?
— Não, com certeza não — respondo, não querendo pensar nisso. —
Ele e Pitter estão bem, felizes, aliás, seremos os padrinhos do casamento, ele
disse ontem, quando estava bêbado.
— Kris não sabe mesmo beber — responde, rindo —, vamos fingir
que estamos surpresos com isso.
— Faremos isso — confirmo —, mas me diga, agora que estamos a
fim dos nossos funcionários, o que pretende fazer com o seu, já que eu
praticamente perdi a chance de ter o meu comigo.
— Eu não sei. O sexo foi intenso e maravilhoso, e com certeza
queremos repetir, então acho que por enquanto será apenas isso, nada mais.
— Mas o que você fez para conseguir o cara?
— Fui bastante ousada, devo admitir — responde, bebendo seu café
—, pedi para Bratt ir até meu escritório que precisava falar com ele, então
deixei minhas chaves caírem no chão e me abaixei para pegar.
— E depois disso? — pergunto, curioso.
— Bem, eu estava apenas de saia e acabou que ele viu mais do que
deveria. Quando me levantei, Bratt estava excitado! Logo após isso, já
estávamos aos beijos e acabou rolando no escritório mesmo.
— Igual hoje — digo, lembrando-me de quando cheguei na livraria.
— É... na verdade, eu só estava chupando-o.
— Você é muito vadia!
— Obrigada, obrigada, palmas para mim, a maior das vadias.
Sorrio e bato palmas, chamando a atenção das pessoas.
— Que foi? Ela é demais, palmas para ela! — digo, observando as
pessoas ao nosso redor.
Todos me observam, reconhecendo meu rosto, e fazem o que peço,
aplaudindo minha amiga. Depois disso, agradecemos a todos e assim que
pagamos, saímos do local e voltamos para a livraria.
— Mal sabem eles que estavam me aplaudindo por eu ser uma vadia!
Rimos mais um pouco e entramos no escritório de Taylor.
— Agora me diga, o que faço para arrumar essa merda que fiz com
Gale?
— Chame o cara para sair ou mande uma mensagem se desculpando,
mas tente ser o mais sincero possível. Com certeza a sua atitude impensada
fará com que ele recue um pouco nessa relação.
— Mas afinal, por que recuar tanto? Ele se mostrou estar a fim e, de
repente, mudou para um homem louco e agressivo.
— Talvez ele esteja escondendo algo de você, querido — diz Taylor,
pensativa.
Isso faz mais sentido do que eu quero admitir.
— Talvez a gente vá para a balada no sábado, espero que esteja
disponível — digo, mudando de assunto.
— Mas é claro — diz ela, concordando.
Sorrio e me despeço dela, saindo do local enquanto penso no que
Taylor havia me dito.
Se Gale realmente estiver escondendo alguma coisa de mim, o que
será e qual o motivo disso?
Eu preciso descobrir.
Gale Meyers
Fico vagando por um bom tempo pelas ruas de Londres dentro do
táxi. O motorista demonstra empatia ao ver o taxímetro aumentar cada vez
mais. Procuro minha carteira no bolso e pago quase trezentas libras a ele.
Saindo do veículo, vou na direção do meu apartamento e subo a escada,
ainda desorientado e pensando na loucura que havia sido o meu dia. Como
tanta coisa pode acontecer em um período tão curto de tempo? Deixo esse
pensamento de lado por um tempo, e assim que entro em meu apartamento,
encontro Marvel latindo e vindo em minha direção. Agarro-o e sinto as
lágrimas invadirem novamente os meus olhos, lembrando-me mais uma vez
dos meus pais e, claro, Luke Evarns.
Suspirando, sinto o celular que ganhei mais cedo vibrar no meu
bolso. Pego-o e leio uma mensagem do meu chefe, se desculpando por mais
cedo e pedindo para eu entrar em contato com ele assim que possível.
Dou-me conta da sorte que tive na vida depois de algo tão terrível,
de repente estou em Londres, com o meu maior sonho em mãos, e, de quebra,
um homem bonito e charmoso me querendo. Pena que nem tudo na vida é do
jeito que planejamos.
Decido esquecer isso por um tempo e pego o jornal mais recente na
sala, procurando nos classificados apartamentos e casas para alugar. Ao
menos isso me animará um pouco — arrumar um novo lugar para morar.
Talvez perto do restaurante, sendo de fácil acesso ao trabalho, ou até mesmo
da butique, onde conheci as garotas que nem mesmo sei seus nomes. Rio com
esse pensamento. Terei que voltar lá e pagar a minha promessa, já que havia
conseguido o emprego e um bom salário.
Limpo as lágrimas do meu rosto e sigo em direção ao banheiro,
pronto para tomar um banho. Minha cabeça dói, tento relaxar um pouco, mais
uma vez recordando-me do que havia acontecido no escritório de Luke. Dou
de ombros e desejo saber o que ele pensa de mim, com certeza deve me
achar um louco, no entanto, ele não conhece um terço da minha vida, e se
conhecesse, faria como os outros, se afastaria.
∞∞∞
Assim que saio do banho, recebo uma mensagem de Luke dizendo
que está vindo até o meu apartamento para conversarmos, já que eu não
havia respondido nenhuma de suas mensagens anteriores. Tento me lembrar
se eu havia passado meu endereço a ele e recordo que não, eu não havia
dado, o que me fez acreditar mais uma vez que Luke não passa de um homem
sistemático e maluco.
Mesmo sem acreditar muito em sua mensagem, coloco uma calça
jeans, tênis, camiseta e um casaco grosso por cima, sentindo o frio de
Londres invadir as janelas velhas do local.
Dou comida para Marvel, que depois de terminar de comer se deita
no sofá. Despeço-me dele e sigo para o lado de fora. Se Luke vier mesmo,
eu não quero que ele entre no meu apartamento velho, então logo estou na
frente do prédio, tremendo de frio.
Um carro para na minha frente e a janela se abaixa, revelando o
sorriso sedutor de Luke. Engulo em seco, forçando-me a não cair em
tentação antes de me aproximar.
— Como conseguiu meu endereço? — É a primeira coisa que me
vem em mente.
— Não foi difícil, fiz umas ligações e acabei encontrando o
proprietário do local, foi ele que me passou — responde com tranquilidade.
Reviro os olhos e esfrego as mãos, tentando me aquecer. — Entra, vamos
conversar, está congelando aí fora.
Decido não ser ríspido e aceito, adentrando o carro com cheiro de
couro novo.
— Você só pode ser louco. Quem faz uma coisa dessas só para
conseguir um endereço? — questiono, encarando-o.
— Precisava me desculpar, e como você não respondeu nenhuma das
minhas mensagens, tive que utilizar outros meios.
Suspiro ao ver o brilho em seu olhar e seu dar de ombros.
— Te devo desculpas também. Apesar de tudo, o errado fui eu, surtei
e acabei descontando em você — admito. Abaixo a cabeça e sinto sua mão
encostar no meu rosto para erguê-lo.
— Não precisa se desculpar, mesmo tendo me xingado e mandado eu
me foder. — Rimos enquanto aceno com a cabeça. — Eu não deveria ter
sido tão atirado.
— Tudo bem, já passou. — Sorrio e me viro para abrir a porta,
dando a conversa por encerrada, mas ele me segura. — O que foi?
— Agora que já nos entendemos, poderíamos ir à minha casa, sei lá,
podemos pedir alguma coisa para comer, beber um pouco. Jogar conversa
fora, só isso.
Encaro-o atentamente e dou um sorriso, então concordo, passando o
cinto de segurança pelo meu corpo.
— Tudo bem, não faça eu me arrepender — brinco.
— Seu pedido é uma ordem, senhor.
∞∞∞
Quando minha mãe era viva, ela me dizia o seguinte:
“As pessoas ricas sempre terão o melhor, as pessoas pobres sempre
farão de tudo para terem o melhor, e as pessoas simples... bem, elas sempre
conquistarão o melhor, porque não precisam derrubar os outros para tê-las.”
Desde então, aquilo ficou em minha mente, tentando entender o que
mamãe queria dizer com isso, no entanto, observando a casa de Luke neste
momento, acabo entendendo, afinal de contas, a casa dele é tão grande e
ostensiva, que me dá náuseas.
A mansão — porque realmente é isso, de tão grande —, pega todo o
quarteirão, revelando ser maior do que suspeitei. Assim que adentramos o
local com o veículo, Luke estaciona e saímos. Noto que dentro da sua
propriedade tem um salão de festas enorme, o que me deixa mais confuso
ainda.
— Baladeiro, é? — digo, segurando a risada. Agora tenho certeza de
que Luke é maluco.
— Eu gosto de dar algumas festas — responde, meio sem jeito, que
me faz duvidar do teor dessas “festas”.
— E você fica muito aqui? — pergunto, olhando o enorme hall de
entrada. Há uma escada toda feita de mármore branco que leva para o andar
de cima. Seguimos para uma sala, onde Luke coloca as chaves e celular
sobre a mesa.
— Na verdade, não, venho pouquíssimas vezes aqui, porém, estava
com saudades de uma coisa que logo mais você vai ver.
Assinto e dou de ombros, ainda embasbacado com o lugar. Às vezes,
a vida é traiçoeira a ponto de dar tanto para alguns e nada para outros.
Não que esse fosse meu problema, apesar de morar num apartamento
ruim, minha casa em São Paulo é muito boa. Pensar nisso me faz lembrar que
não entro em contato com as minhas amigas há muito tempo.
Use esse celular e fale com elas, idiota!
— Quer comer alguma coisa? — pergunta, me tirando dos meus
pensamentos.
— Seria bom, só estou com o nosso almoço no estômago.
Luke concorda, talvez sem entender, e pega o celular, discando um
número.
— Então vamos comer pizza, algo pesado te deixará em pé.
Sorrio enquanto seguimos para o sofá confortável.
Luke Evarns
Quando Gale e eu entramos na minha casa, percebo que ele fica
boquiaberto. Não é para menos, o local é lindo e bem decorado, com
cortinas compridas e vários quadros. Os móveis são sofisticados e o teto
abobadado realça o local.
Olho para ele e sorrimos um para o outro. Ele parece triste, seus
olhos estão inchados — o que, de alguma forma, demonstra que chorou por
muito tempo. Mas por qual motivo? Será que o que aconteceu no meu
escritório tem a ver com isso?
— Quer beber alguma coisa? — pergunto, tentando amenizar aquele
gelo que se formou entre nós.
— Sim, por favor — diz ele, ainda observando o local.
— Preferência para bebida?
— Pode ser o mesmo que você — diz ele.
Decido então fazer algumas caipirinhas para nós, escolho de
morango para Gale, e de kiwi para mim.
— Você prefere de vodca ou saquê?
— Vodca — responde ele, ainda olhando ao redor.
Sigo em direção ao bar para preparar as bebidas. Encontro as frutas
frescas picadas dentro de um pequeno recipiente de vidro, o que facilita um
pouco. Enquanto preparo nossos drinques, lembro-me da época em que
trabalhei como bartender em um bar localizado em São Paulo. Lembrar
disso me causa desconforto, então rapidamente penso no que Kris disse
sobre não pensar no nosso passado, e acabo afastando esses pensamentos.
Em poucos minutos as bebidas estão prontas e as pizzas já haviam
sido pedidas. Eu havia perguntado para Gale qual sabor ele queria, e ele
escolhera margherita e mushroom — cogumelos.
Nos sentamos no sofá e ficamos conversando um pouco sobre os
negócios e o seu primeiro dia, que será amanhã. Mas eu sei, eu sinto que ele
quer falar algo do que aconteceu no meu escritório. Mesmo já tendo
conversado sobre isso e ele me desculpado e pedido desculpas, percebo que
ele quer tocar no assunto de alguma maneira.
— Precisamos conversar — diz, bebendo em um gole o restante da
caipirinha.
— Estamos fazendo isso, mas se você quiser falar sobre...
— Sim, é sobre o acontecido.
— Pensei que já havíamos resolvido — argumento. — Fui ao seu
apartamento, me desculpei...
— Sim, eu sei — diz, me cortando —, mais uma vez peço desculpas
sobre o que eu disse mais cedo, no entanto, temos que deixar algumas coisas
bem claras aqui.
Um nó se forma na minha garganta, com certeza ele virá com o papo
de que não podemos repetir.
— Estou ouvindo.
— Bem, o que aconteceu hoje no seu escritório... não pode se repetir
— diz ele com firmeza.
Fico parado por um instante, estamos tão próximos um do outro que
nossas pernas se encostam, e é uma sensação maravilhosa, diria que é até
excitante.
— Tudo bem — respondo, pensando o quanto será difícil conquistar
Gale, no entanto, eu não desistirei —, mas preciso saber o motivo. Gosta de
algum cara?
— Não, não tem ninguém... você não entenderia, ninguém entenderia.
— Tente me dizer. — Bebo o resto da minha bebida e o sabor da
vodca invade meu estômago.
— Não posso, não consigo, por favor, não me peça isso.
Fico sem reação. Gale Meyers está com a voz trêmula, jamais
imaginei vê-lo assim.
— Por favor — imploro.
— Não, Luke, entenda. Nunca daremos certo, você é meu chefe, vão
pensar que eu quero me aproveitar de você... não posso viver essa vida de
novo, não posso.
Olho para ele querendo dizer que a opinião das pessoas não me
importa, que eu quero que todos eles vão se foder.
— Seremos somente chefe e funcionário — continua ele.
— Não vejo por que não podemos... ficar... sabendo que eu e você
queremos isso.
— Você só quer foder comigo! — grita ele, se colocando de pé.
— E você comigo! — berro, também ficando em pé.
— Você não vai entender, ninguém vai. Tem muita coisa em jogo.
— Entendo. — Encaro aqueles lindos olhos, que parecem estar
magoados, e sinto vontade de abraçá-lo, mas ele permitirá?
— Não entende, você acha que entende..., mas não! Tem muita
mentira no meio, a morte dos meus pais, minha sexualidade e muita traição.
Mentira. A palavra bate na minha cabeça como martelo, pais mortos,
a sexualidade dele e traição. Que tipo de traição?
— Darei o tempo que precisar — digo, ficando espantado comigo
mesmo. Um dia estou transando com Teddy, e agora quero conquistar Gale?
Realmente isso tudo é uma loucura. — Não vou desistir.
Ele fica parado, coloca uma mão na cintura e a outra mexe nos
cabelos.
— Que seja — ele se rende.
— A pizza já deve estar chegando. Vamos comer, assistir a alguma
coisa e mais tarde te levo para casa.
Ele sorri e concorda, parece mais tranquilo, mas ainda sinto um muro
ao redor dele que me diz que não vamos ter contato físico por muito tempo.
Respirando fundo e reprimindo a raiva, atendo o entregador e pago
as pizzas, voltando para dentro. Faço mais drinques e, juntos, aproveitamos
a noite.
Gale Meyers
Assim que terminamos de comer, vamos para a sala de televisão, que
mais parece um cinema particular. Luke parece ter entendido meu recado, o
que me deixa bastante aliviado — não preciso mostrar meu verdadeiro “eu”.
No entanto, ainda mantenho uma certa distância entre nós, observando-o
fazer de tudo para ficar perto de mim.
Quando ele disse que não desistiria de ficar comigo, logo pensei em
socar a cara dele e, em seguida, transar. Mas não voltarei atrás, a minha
decisão está tomada. Ainda assim, eu sinto medo; medo dos meus instintos
sexuais falarem mais alto que a minha consciência; medo de cair em
tentação; medo de me magoar e até mesmo, magoar Luke.
Me sento no sofá e o espero ligar a enorme televisão e colocar um
filme. Luke se coloca no sofá ao meu lado, mas antes de se sentar, ele o
empurra para trás, fazendo virar uma poltrona confortável. Faço o mesmo
com o meu e estico as pernas, sorrindo.
— O que vamos assistir? — pergunto, curioso.
— Estava pensando em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. O que
acha?
— Por mim tudo bem, eu amo esse filme — admito.
— Eu vi no seu Facebook as vezes que marcou que estava assistindo.
Mais de cinco — diz, piscando.
Engulo em seco, pensando — mais uma vez —, o quanto ele é louco.
Ele se deita e encara a tela, então me ajeito no sofá e olho para ele de canto
de olho, tentando prestar atenção na televisão. No entanto, as lembranças do
nosso beijo e da madrugada passada, quando eu estava me masturbando
pensando nele, vêm à tona e, quando vejo, estou com uma pequena ereção no
meio das pernas. Tento disfarçar, mas quando percebo, Luke está olhando,
porém, não diz nada.
∞∞∞
O filme está quase no final e ainda estou imaginando Luke e eu
transando. A ereção é tamanha, que nem presto atenção na televisão, quando
percebo, está passando os créditos finais. Ele se levanta como se não tivesse
percebido meu pau duro e volta minutos depois com dois controles de
videogame.
— O que é isso? — pergunto, vendo-o ligar o Xbox.
— Vamos fazer um “stripper–game” aqui — diz ele. — Nada de
sexo, somente expor o corpo.
Avalio nossas roupas, temos o mesmo número de peças. Com meu
pau ficando ainda mais duro, concordo com um aceno de cabeça.
— Como funciona? — questiono, louco para ficar pelado, mas logo
me lembro da conversa que tivemos e percebo que tenho que ganhar essa
brincadeira, afinal, havia estabelecido regras com Luke e não posso quebrá-
las tão facilmente, mesmo que algo me diga o contrário.
— É simples. O jogo é de luta, quem perder, tira uma peça de roupa
que o vencedor escolher.
— Fácil — digo, pensando nessa loucura. — Vamos lá.
— É isso aí!
O jogo nos fornece as instruções, e logo em seguida aparece uma tela
para montarmos nosso “avatar”. Faço o meu bem parecido comigo,
aumentando somente um pouco o tamanho dos braços. Aperto play e Luke
também. Não somente o jogo de videogame está começando, mas sinto que o
jogo — meu e de Luke — na vida real, acabou de iniciar e não tem como
voltar atrás.
∞∞∞
Me enganei ao pensar que seria algo fácil de ganhar e assim poder
ver Luke pelado, mesmo sabendo sobre as regras que estabeleci entre a
gente. Acabo perdendo algumas vezes, e quando vejo, estou somente de
cueca boxer e Luke de calça jeans, o que me chateia um pouco, sabendo que
se eu perder mais uma vez, estarei completamente pelado diante do meu
chefe.
— E... e... mais uma. Se fodeu! — grito, entusiasmado, vendo o
avatar de Luke morto. — Arranca a calça jeans agora!
— É um favor para mim mesmo, não estou aguentando mais essa
calça — responde, sorrindo.
Ele joga o controle para mim e se levanta, ficando parado bem na
minha frente. Abre o zíper lentamente, e seguindo no mesmo ritmo, abaixa a
calça, me fazendo observar o volume no meio de suas pernas. Engulo em
seco quando encaro seu olhar sedutor e sexy, fazendo-me esconder uma
ereção no meio das pernas, o que é difícil, já que estou somente de cueca.
— A última rodada — diz ele, arrancando as meias por vontade
própria.
Começamos o jogo e seu avatar vem para cima de mim, desvio e dou
um golpe no meu adversário, ele se levanta e, me enganando, bate em mim,
fazendo metade da minha vida sair da barrinha.
Fico nervoso e ataco-o várias vezes seguidas. Aproveitando que ele
está no chão, esmago o avatar uma vez e toda a sua vida sai.
Comemorando, solto o controle e percebo que fui enganado, é por
isso que Luke está calmo...
Esqueci completamente que esse jogo envolve superpoderes, então
vejo que era um clone o boneco de Luke morto, o verdadeiro aparece atrás
de mim e arranca minha cabeça fora.

Game Over

Nova jogada?

Sim ou Não

Luke aperta no “Não” e desliga a tevê.


— Aprenda: nunca comemore após achar que venceu, espere o
último golpe. — Ele pisca e, se espreguiçando, continua: — Acho que
alguém terá que ficar pelado.
— Me dá um desconto — peço —, eu não imaginava que isso iria
acontecer. Leve em consideração meus golpes fodas.
Ele ri e dá de ombros.
— Vamos fazer o seguinte, que tal nós dois ficarmos pelados? Um
empate.
Penso por um instante e analiso a situação; estou somente de cueca e
com meu pau duro, Luke também está na mesma, e já nos envolvemos no seu
escritório. Por que tentar mostrar para mim mesmo que não quero aquilo?
Concordo e ele sorri.
Então, ficando vermelho, abaixo minha cueca e ele abaixa a dele.
Imediatamente, meu pau pulsa e noto o enorme tamanho do seu membro.
Ficamos parados por um certo tempo, um olhando para o outro, um
desejando o outro. Sei que ele quer isso tanto quanto eu. Uma vontade
avassaladora de gozar, chupar, ser chupado e transar nos consome.
Respirando fundo e me odiando, vou até ele e quebro todas as minhas
regras.
Luke Evarns
Ficamos parados por um bom tempo até que Gale decide agir e se
aproxima de mim. Encostamos nossos corpos um no outro e sinto uma
energia percorrer cada traço do meu corpo.
— Você tem certeza disso? — pergunto, encarando-o com seriedade.
Ele lambe os lábios e engole em seco.
— A única certeza que tenho nisso tudo é que seria muito bom te
beijar sem receio — responde, com a voz trêmula.
— Não há motivos para ter receio, eu quero isso tanto quanto você
— respondo e levo uma das minhas mãos até seu rosto, acariciando sua
barba bem alinhada.
Gale fecha os olhos e solta a respiração devagar, voltando a me
olhar.
— O que você está fazendo comigo? — pergunta antes de colar seus
lábios nos meus.
Sua língua invade a minha boca, então passo minha mão por trás da
sua cabeça, aproximando ainda mais nossos corpos. Sinto sua pele quente
em contato com a minha e nossos membros se roçam, fazendo-me ficar
surpreso em estar naquela posição com Gale Meyers. Logo invisto ainda
mais e mordo seu lábio, sentindo o delicioso gosto do seu beijo e da bebida
que ingerimos mais cedo.
— Posso? — pergunto, separando por apenas um segundo nossos
lábios. Levo minha mão em direção ao seu pênis, e ele me encara, sorrindo.
— Não devíamos — diz ele, voltando a me beijar —, mas como sei
que não irei conseguir me conter, você pode fazer o que quiser.
Sorrio ao ouvir isso e começo a chupar seus mamilos, desço para a
sua barriga e faço trilhas de beijos, ouvindo-o gemer baixinho. Logo me
aproximo do seu membro duro e quando estou pronto para levá-lo aos meus
lábios, Gale me segura e me encara.
— Não, quem vai fazer isso sou eu — diz, malicioso.
Assinto, então Gale beija meus lábios suavemente, logo em seguida
mordisca minha orelha direita e beija meu pescoço, descendo para meu
peitoral forte. Sinto um arrepio quando o vejo descendo com prontidão até
minha barriga. Assim que chega nela, Gale se coloca de joelhos e encara
meu pênis duro, então seus olhos se desviam para os meus e, quando menos
espero, sua boca quente está em volta do meu pau.
— Puta que pariu! — digo, arfando.
Gale continua me chupando enquanto segura o meu pau, então,
passando a língua na glande, começa a fazer movimentos de vaivém.
— Você gosta disso, Luke? Seu gosto é delicioso.
— Gosto muito — respondo, com a respiração entrecortada —,
continue, por favor.
Ele dá um sorriso sacana e continua me masturbando. Encosto meu
corpo na parede e solto a respiração acelerada, desejando cada vez mais por
isso.
— Pede — diz ele, seus olhos cheios de malícia.
Fico surpreso com a ousadia dele, é impressão ou Gale quer me
dominar?
— Pedir? — questiono, surpreso.
— Sim, peça — responde. — Peça por mais, eu sei que você quer.
Limpo o suor da testa, o desejo que sinto é tão grande que chega a
doer meu membro.
— Por favor, me chupa mais — digo, suando —, chupa meu pau
agora mesmo!
Gale sorri e volta a me mamar. Minhas pernas fraquejam com isso,
então seguro sua cabeça pelos cabelos e começo a enfiar ainda mais meu
membro dentro dela. Percebo que enquanto faço isso, Gale acaricia minha
bunda com uma de suas mãos e afasta minhas pernas, acariciando minha
entrada. Congelo e o detenho, segurando suas mãos.
— O que foi, Luke, não está preparado para tudo que eu quero te
oferecer? — pergunta, sorrindo.
— Tudo bem — consigo dizer.
Ele abre ainda mais o sorriso e volta a me chupar, passando a língua
na extensão do meu pau. Decido me concentrar nisso e relaxo ao sentir suas
mãos voltarem para trás.
— Se vire — diz, ainda de joelhos.
Obedeço, curioso com o que ele vai fazer. Gale abre minhas pernas
um pouco mais, beijando e mordiscando minha bunda.
— Que bunda deliciosa — sussurra.
Me mantenho em silêncio, sentindo meu coração acelerar. Eu nunca,
em hipótese alguma, havia feito isso que Gale pretende.
Esqueço esses pensamentos ao sentir seu rosto se aprofundar no meu
ânus, então sua língua quente toca a minha carne e solto um gemido alto.
— Cacete! — digo, batendo minha mão na parede. — Que delícia,
continue, Gale, por favor.
Depois de um bom tempo chupando meu cu, Gale para e massageia
minha pele, eu ainda de costas, encarando a parede. Então sinto algo
totalmente novo para mim; meu novo chefe de cozinha começa a introduzir
um dedo no meu ânus e sinto meu corpo retesar. Sinto-me maravilhado com
essa sensação que jamais havia sentido antes.
— Você gosta disso? — pergunta, com o dedo adentrando minha
carne.
— Não é nada mal — admito, secando o suor da testa novamente,
minha respiração fica cada vez mais acelerada.
Ainda com o dedo introduzido no meu ânus, Gale investe em
movimentos e com a mão livre, segura meu pau duro. Volto a gemer e os
movimentos aumentam cada vez mais, fazendo com que eu sinta um prazer
que jamais havia sentido antes em toda a minha vida.
— Goza para mim, Luke — pede, com uma voz seca e controladora.
Sinto a perplexidade tomar conta de mim por estar sendo dominado,
então meu corpo se reprime e solto um grito alto.
— Puta que pariu, vou gozar!
A sensação de gozar invade cada célula do meu corpo e minhas
pernas ficam ainda mais trêmulas, então percebo que gozei, sujando toda a
parede. Me viro para Gale e ele, ainda de joelhos após tirar o dedo de
dentro de mim, sorri, abocanhando meu pau. Mais uma vez solto um gemido,
e assim que finaliza, ele se coloca de pé, ainda de pau duro, sem nem ter
gozado.
— Agora eu quero que você me faça gozar — ordena.
Concordo com um movimento de cabeça e beijo seus lábios. Jogo
Gale sobre o sofá, seguindo em sua direção, pronto para prová-lo por
completo.
Gale Meyers
Assim que digo que quero que Luke me faça gozar, ele me joga no
sofá e sobe em cima de mim, me beijando de maneira voraz. Penso no que
estamos fazendo e como fui um idiota por colocar regras com meu chefe, e
no minuto seguinte quebrar todas elas, me entregando daquela maneira para
ele.
Enquanto nos beijamos, ele ergue minhas pernas, revelando minha
bunda, então sinto seu pênis ficando duro novamente, em contato com minha
entrada. Dou um sorrisinho e ergo a sobrancelha ao sentir seu membro pulsar
naquela região, me deixando confuso. Eu havia introduzido um dedo meu no
ânus de Luke, mas ele não é passivo? Eu havia me precipitado ao pensar
isso? Se realmente Luke fosse, eu estaria feito! Entretanto, a atitude dele me
deixa com a pulga atrás da orelha.
Nem pense muito nisso, Gale, porque uma hora ou outra você vai se
arrepender do que está fazendo e será tarde demais, ouço meus
pensamentos dizerem. Decido ignorá-los e aprecio o corpo de Luke, me
aproximando e mordiscando seus mamilos, enquanto ele beija meu pescoço.
Ainda sentindo seu pau roçar na minha entrada, jogo-o no sofá e Luke
me encara. Dou um sorriso e ele morde o lábio, logo me coloco por cima
dele e sinto seu pênis novamente tocar meu ânus, então, devagar, o afasto e
meu chefe começa a me masturbar.
— Você gosta disso, não gosta? Pode dizer, Gale, você queria isso
desde o início, como eu — diz, mordendo minha orelha e sussurrando.
— Devo admitir que sim, mas isso você já sabe.
Ele sorri e me joga no sofá, segurando meus braços e começando a
beijar cada parte do meu peito, descendo devagar em direção ao meu pênis.
— Agora é a minha vez de fazer você gozar — afirma.
Quando menos espero, ele beija a cabeça do meu pau e o engole.
Solto um gemido alto e me contorço, porém, não consigo me mexer por estar
preso nos seus braços. Luke sorri e continua me chupando, descendo até o
final da base e depois chupando minhas bolas.
Solto outro grunhido e ele continua passando a língua na extensão e
depois na glande, se deliciando com o meu pênis.
— Você pensa que pode me dominar, mas está errado — diz,
beijando a ponta do meu pau. Luke se ergue e, com um movimento rápido de
uma mão só, vira meu corpo com tudo, deixando minha bunda à mostra, bem
na sua direção.
— Oh... uau — digo, perplexo com a força dele.
Sinto meu rosto ficar vermelho e ele pede para eu ficar de quatro,
rapidamente obedeço, sem hesitação; gosto de mandar, mas adoro obedecer.
Ele bate na minha bunda, me fazendo sentir dor e prazer ao mesmo
tempo, e a sensação é maravilhosa.
Como pude recusar ter esse homem? E a resposta vem
imediatamente:
Seu passado, idiota!
Mesmo pensando nisso, eu não deixo de aproveitar o momento. Por
um minuto — ou mais — decido deixar toda essa história de mentiras e
frustrações para trás.
Volto ao momento em que estou e vejo Luke abrir minha bunda,
separando minha nádega uma da outra, então, sem qualquer hesitação, ele
enfia sua língua em mim e começa a chupar meu cu, assim como eu havia
feito com o dele.
Seguro com força a beirada do sofá e me entrego para o momento.
Mesmo sendo ativo, não posso negar o quanto a sensação é gostosa,
prazerosa.
Ele continua chupando e, quando menos espero, repete o processo
que fiz com ele, inserindo devagar um dos seus dedos em mim. Mais uma vez
solto um grunhido, dessa vez por causa da pequena dor que se instala, e
quando chega ao fim, Luke fica parado, esperando o momento certo.
Eu continuo parado, com Luke movimentando seu dedo dentro de
mim, a dor logo se transforma em prazer, me deixando surpreso por estar
gostando disso tudo.
— Seu sabor é maravilhoso — diz ele, voltando a lamber meu cu,
ainda com o dedo dentro e mordendo minha bunda.
— O seu também. Não seria estranho eu pedir para que você
continue, não é mesmo? — respondo, dando um sorriso.
— Claro que não, mas sem sexo, lembre-se que foi isso que
combinamos — responde de maneira sarcástica, sabendo que, apesar de
tudo, isso é sim sexo, e gostoso demais, por sinal!
— Tudo bem, mas meia nove seria ótimo — respondo, ainda
sentindo seu dedo dentro de mim.
Ele concorda e retira o dedo de mim, me deitando e fazendo o
mesmo, mas com os pés virados na minha direção. Observo seu pênis duro e
o pego, chupando-o ainda mais. Luke faz o mesmo comigo e volta seu dedo
para dentro do meu cu, me deixando com um tesão tão grande que não
demoro muito para gozar, enchendo sua boca com meu sêmen.
∞∞∞
Quando toda a adrenalina passa e o cansaço vem, paro e penso no
que Luke e eu havíamos feito. Reflito de como quebrei as regras que havia
estabelecido de não acontecer nada com meu chefe e qualquer outro homem,
mas estar agora deitado com ele no sofá, cobertos com um lençol que ele
havia buscado, percebo o quanto fui idiota em quebrá-las, afinal de contas,
agora Luke Evarns acreditará que iremos ficar sempre que ele quiser, o que
com certeza não é verdade.
Decido não pensar mais nas minhas frustrações e olho as horas no
celular, vendo que já passa das onze da noite. Rapidamente me coloco de pé
e procuro minhas roupas, com Luke me observando sério.
— Para onde é que você vai? — pergunta, também se colocando de
pé.
— Embora. Está tarde, amanhã começo a trabalhar.
Ele ri e vem até a mim.
— Eu te levo amanhã cedo, dorme aqui comigo. Vamos aproveitar o
momento.
Olho nos seus olhos e tudo que eu mais quero é ficar com Luke, mas
a culpa começa a tomar conta de mim novamente. Seguro o choro e balanço a
cabeça em um sinal positivo, então vamos para o sofá. Ele se deita por trás e
me abraça, agora estamos somente de cueca boxer, então ainda consigo sentir
seu pau meio duro.
Eu sabia que a culpa bateria em algum momento, mas não nessa hora.
Engulo em seco e Luke me abraça um pouco mais forte, logo em seguida me
beija e rapidamente dorme.
Sinto sua respiração no meu pescoço e penso novamente no que
havia acontecido, sentindo as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas.
Fecho os olhos e adormeço, aos soluços.

Luke Evarns
Acordo na manhã seguinte com uma leve ereção, como de costume.
Estou deitado, agarrado com Gale, o que me deixa feliz e um tanto surpreso.
O dia anterior havia sido tão confuso, que não conseguia raciocinar direito.
Em menos de quarenta e oito horas, eu havia tido Gale Meyers nos meus
braços, como desejava.
Tento me levantar sem acordá-lo e me lembro que já é quarta-feira, o
que me anima bastante, pensando no final de semana que poderemos ter.
Ainda é uma dúvida se iremos ou não comemorar seu aniversário, mas farei
de tudo para que Gale aceite isso.
Observo-o dormindo e dou um sorriso maroto. Seu peito sobe e
desce devagar, a boca um pouco entreaberta, então, deixando-o ali, decido ir
tomar um banho e peço para algum empregado preparar o café da manhã. É
ridículo pensar que, tendo tantos quartos nesta casa, acabamos dormindo na
sala de televisão, no entanto, com a noite agradável que tivemos, nem me
preocupei com isso.
Relaxo meus braços, esticando-os, e sigo pela escada, subindo até a
minha suíte. Adentro e logo arranco a única peça de roupa que uso, indo
direto para debaixo do chuveiro. Decido não demorar muito, com medo de
Gale acordar e fugir de mim, porque, no fundo, sei que é isso que ele irá
fazer.
Ainda mais que havíamos tido aquela conversa ridícula de não nos
relacionarmos e, minutos depois, estarmos pelados, um provando do outro.
Saio, decidido a afastar esses pensamentos insanos, e procuro uma
roupa adequada. Como terei que ir até a empresa, coloco um terno preto,
com camisa branca, sem gravata. Sempre odiei gravatas. Ajeito meu cabelo
e, após calçar os sapatos e passar um perfume, sigo para a sala novamente.
Observo Gale já de pé, calçando os tênis e com um olhar sério. Ele
me encara e boceja.
— Bom dia, rapaz — digo, animado, porém, sou recebido com o
olhar gélido.
— Estou atrasado, você por acaso percebeu isso? Hoje é meu
primeiro dia no restaurante e já vou me atrasar.
Olho meu relógio de pulso sobre a mesa de centro e o pego, notando
que realmente estamos atrasados... apenas dois minutos.
— Só dois minutos, eu já ia chamá-lo para tomarmos café —
respondo, tentando sorrir o máximo possível.
— Dois minutos que, se demorarmos mais, se transformará em uma
hora — responde, ainda amargurado.
— Tudo bem, cancelamos o café. Eu te levo até o restaurante, no
caminho pegamos alguma coisa para comer. Preciso passar lá para pegar
minha pasta e depois ir para a minha empresa.
Ele me encara ainda sério e concorda.
— Você pediu para alguém preparar nosso café? — questiona,
curioso.
— Sim, antes de tomar banho.
— Meu Deus, banho! Vou para o trabalho cheirando a “pós-sexo”.
Onde já se viu isso?
Noto que ele realmente parece estar falando bastante sério, então
seguro a risada.
— Não ia achar nada mal te dar um banho, mas como você está
reclamando que vai chegar atrasado, estando neste momento com o seu
chefe, não vejo como te ajudar — respondo, contemplando-o.
Gale me encara e revira os olhos, o que me faz rir.
— Você está adorando isso, não é mesmo? — pergunta, colocando a
mão na cintura.
— Bem, se quiser, pode tomar um banho, comer, passar no seu
apartamento para trocar de roupa e depois seguimos para o restaurante,
afinal de contas, eu sou o dono de tudo, posso muito bem dizer que você
estava comigo conhecendo as outras filiais, caso um dia precise cobrir
alguém.
Ele me olha e ergue a sobrancelha, dando um sorriso.
— Isso é ridículo, mas como não tenho escolha, eu aceito. Só que
será somente dessa vez.
Sorrio e me aproximo dele, tentando beijá-lo, no entanto, Gale me
afasta, perguntando onde é o banheiro.
∞∞∞
Gale tomou um banho rápido, e assim que colocou sua roupa,
descemos para a cozinha e tomamos café. Comi apenas uma torrada e uma
fruta, e quando terminamos, seguimos para o meu carro. Seguimos o caminho
todo em silêncio para o apartamento dele, o único som é uma música da
Cindy Lauper, que toca baixinho.
Observo o trânsito e vejo o quanto Gale está sério com o canto do
olho, ele chega a parecer um tanto incomodado. Com o que, não sei, mas isso
me deixa intrigado.
Será que ele se arrependeu de ter ficado comigo? Se sim, quais os
motivos?
Lembro-me de ele ter falado de traição... o que esse rapaz tão bonito
e sedutor havia feito de tão ruim para se proteger dos seus sentimentos e
instintos? O que havia acontecido para ele se sentir um verdadeiro traidor?
Continuamos o caminho no mesmo silêncio, isso já começa a me
incomodar, então, quando chegamos próximo ao seu apartamento, fico
aliviado.
— Você me espera aqui embaixo ou quer subir? — pergunta, tirando
o cinto e saindo.
— Te espero aqui — respondo, sorrindo sem graça.
— Não vou demorar, prometo. — Ele assente e logo se afasta.
Gale é um pouco estranho. Como esse homem pode mudar tão
rapidamente de humor? O que havia acontecido para ele se tornar esse tipo
de pessoa? Eu terei que dar um jeito de descobrir o mais rápido possível o
passado dele.
No entanto, sinto medo, por saber que eu também tenho um passado
pra lá de fodido, e se ele souber, com certeza se fechará ainda mais para
mim.
Porra!
Gale Meyers
Adentro rapidamente meu apartamento e sigo em direção ao meu
quarto, colocando uma roupa limpa e enchendo o pote de Marvel, que late
sem parar.
— Prometo que hoje durmo em casa, garotão — digo, trocando sua
água.
Ele solta um grunhido e se deita no sofá, reclamando ainda mais,
logo em seguida me despeço do meu cachorro e saio às pressas para o
térreo.
A verdade é que após a noite de lamentações, acabei dormindo e
tendo sonhos com meus pais. Eles diziam que eu não deveria me preocupar,
pois me amavam do jeito que sou. Adoraria que isso fosse verdade, no
entanto, sei que não é. O caminho todo até meu apartamento fiquei pensando
nisso, de como eles iriam reagir e, claro, em Luke, que me fez romper todas
as minhas regras.
Saio rapidamente e o encontro dentro do veículo, mexendo no
celular. Pego o meu e vejo que por sorte a bateria ainda está cheia, então
entro no carro e dou um sorriso sincero para ele.
— Estou pronto.
Ele assente e sai do meio-fio, dirigindo tranquilamente pelas ruas de
Londres.
— Quer conversar? — pergunta, olhando fixamente para a frente.
— Sobre o quê?
— Eu não sei, talvez sobre a noite passada, o que acha?
Engulo em seco e concordo, sabendo que não terá jeito de escapar
disso.
— Tenho os meus motivos para querer evitá-lo, Luke, no entanto,
isso é mais difícil do que imaginei que seria. Apesar de termos nos
conhecido anteontem, você me chama a atenção de um jeito que nunca
fizeram, e é justamente por conta disso que peço que não faça perguntas
sobre esse meu jeito maluco de lidar com as coisas. — Despejo as palavras
de uma vez.
— Devo admitir que você chamou bastante minha atenção também, e
acredito que, por conta do que me disse, isso tudo envolve coisas que já
passou, estou certo?
Concordo com um meneio de cabeça e ele para o carro, não havia
notado que já estamos em frente ao restaurante.
— Podemos ser amigos e deixar as coisas acontecerem — digo. —
A partir de agora, vamos trabalhar praticamente juntos, sou seu funcionário,
não é legal...
— Já conheço essa história — me corta, assentindo. — Tudo bem, só
espero que aceite o convite para comemorarmos seu aniversário no sábado.
Dou de ombros, sorrindo, e retiro o cinto, saindo rapidamente. Não
demora e ele me segue, entrando no restaurante ao meu lado. Assim que
passo pela porta, vários olhares desconhecidos nos encaram, me deixando
sem graça.
— Puta merda —uma moça, talvez mais jovem que eu, sussurra.
— Bom dia, pessoal — diz Luke, sorrindo. Agradeço por tê-lo aqui.
— Alguns de vocês o conhecem, mas outros não. Esse é o Gale Meyers, o
mais novo chefe de cozinha do restaurante. Deem as boas-vindas a ele e
sejam legais.
Todos concordam e Luke se vira para mim, agora sussurrando:
— Conversamos mais tarde, tenha um bom primeiro dia.
— Obrigado — digo, sorrindo.
Ele sorri de volta e, após se despedir de todos, segue em direção ao
seu escritório.
— E aí, cara — diz a mesma moça que soltou o palavrão quando
cheguei com Luke.
— Oi, muito prazer, meu nome é Gale — digo, dando um sorriso
forçado.
— Me chamo Sasha — diz ela, sorrindo e se aproximando.
Observo-a bem e vejo os cabelos ruivos desbotados, a pele clara, as
tatuagens nos braços e o sorriso bonito.
— Bem-vindo, Gale — diz Dylan, me encarando e sorrindo. —
Estou muito feliz em tê-lo na nossa equipe, não imaginei que começaria a
trabalhar tão rápido.
— Eu também não imaginei — respondo, sem graça.
— Como está se sentindo em seu primeiro dia, Gale? — questiona
Sasha, com uma mão na cintura.
— Um pouco nervoso, tenho que confessar.
— Normal se sentir nervoso, se não estivesse, eu diria que você está
doente — diz Dylan, sorrindo. — Deixa eu te apresentar a nossa equipe. —
Olho atentamente para os rostos à minha frente. Dylan aponta para uma
mulher alta, de cabelos loiros, olhos claros e sorriso gentil. — Essa é a
Jessica.
— Muito prazer — digo, dando um sorriso e estendo a mão, que ela
aperta.
— Bem-vindo, garotão. Pode me chamar de Jess, só para os íntimos,
mas sei que seremos.
— Obrigado, Jess — respondo, meio sem graça.
— Aquele ali é o Ralph — Dylan aponta para o rapaz ao lado —,
mas calma, ele não detona[3].
Dou risada da piada ruim, e o homem alto, de pele escura e corpo
malhado, revira os olhos e estende a mão para mim.
— Não ligue muito para o que o Dylan fala — responde ele —, a
propósito, seja bem-vindo.
Mais uma vez agradeço e logo conheço Mary, outra jovem que
parece bastante simpática.
— Espero que você se dê muito bem com todos, Gale — diz Dylan
após apresentar todos.
— Ah, ele vai — responde Sasha, dando um sorrisinho maroto.
Percebo que ela diz isso com malícia.
— É bom mesmo, Gale, porque precisamos de alguém bom nessa
cozinha — diz Mary, cortando Sasha. — Não liga muito para ela, Sasha tem
um coração duro, mas adora conhecer as pessoas.
— Meu cu — responde a outra —, tá legal, estamos perdendo tempo.
Que tal irmos logo para a Starbucks tomar nosso café?
Dou risada do seu jeito sincero de ser e todos concordam.
— Você vem, Gale? — pergunta Ralph.
— Hum... claro — respondo, feliz por estar fazendo amizades.
— Então vamos lá, galera, que hoje o dia vai ser maluco — responde
Sasha.
— E quando não é? — questiona Mary.
— Chupa meu ânus, Mary — diz Sasha.
Rio ainda mais daquilo, e pensando em Luke, sigo para a cafeteria
com eles.
Gale Meyers
Quando voltamos da Starbucks, começamos o trabalho e todos me
ajudam bastante, o que me deixa animado e feliz. Realmente, o clima no
restaurante de Luke é bastante intenso e, claro, maravilhoso. No horário do
almoço, como de costume, o salão fica lotado, com Sasha e Mary tendo que
ajudar a servir, e Dylan me auxiliar nas panelas.
Passada a loucura, quando vejo, a hora havia voado, o que me deixa
surpreso e contente, tentando ainda assimilar o longo dia que havia tido. Em
todo o horário de trabalho livre, Sasha não parou um minuto sequer de me
encarar, sempre sorrindo e me olhando da cabeça aos pés, talvez sabendo
algo sobre Luke e eu.
Luke.
Não havíamos conversado, como combinamos, me fazendo acreditar
que o seu dia de trabalho também havia sido uma loucura. No entanto,
resolvo mandar um emoji de olhinhos no seu WhatsApp para ver se ele
responde.
Não obtive respostas até meu horário de sair do trabalho.
∞∞∞
Assim que estou pronto para sair, Sasha surge na cozinha com os
cabelos soltos e o avental na mão, o uniforme que usamos é praticamente
igual, com cores em tons pastel.
— E aí, garotão, vai trocar o turno. Está a fim de sair para beber
alguma coisa comigo e a galera? — pergunta, me encarando.
— Beber? Hoje ainda é quarta — respondo, incrédulo. — Sério que
bebem no meio da semana?
— E por que não? — pergunta, sorrindo maliciosamente. — Estamos
em Londres, não percebeu quantos pubs existem por aqui? E outra, podemos
morrer no meio da semana, sabia? Não tem hora para a morte, então
colocamos algumas regras básicas; beber no meio da semana.
Assinto, pensativo. Pensando por esse ângulo, ela está certa.
— Eu topo, ainda não tive a oportunidade de sair e conhecer os
lugares, então não conheço nenhum pub — digo, lembrando-me das meninas
da butique. Talvez eu possa chamá-las para saírem conosco, já que eu devo
isso a elas.
— Fechado. Vai lá se trocar que te encontramos lá fora — responde,
piscando.
— Só me deixe pedir uma coisa — peço. — Tem como passarmos
em uma butique para eu ver se duas amigas podem ir com a gente?
Chamá-las de amigas sem ao menos saber os seus nomes é algo
ridículo, porém, não irei dizer a Sasha sobre isso, com certeza ela me achará
um mané e serei zoado por todos do trabalho.
— Claro, por que não. Desde que elas sejam divertidas — diz Sasha,
se afastando.
Sigo para o vestiário, colocando minha roupa. Assim que me
apronto, pego meu celular e procuro alguma mensagem de Luke, mas ainda
não tive uma resposta, o que começa a me preocupar. Será que ele não quer
mais nada comigo?
E olha que vocês dois nem transaram de verdade, imagine se
tivesse transado, ele já teria te bloqueado e mandado embora, meus
pensamentos dizem, e não duvido nada disso. Com certeza Luke já conseguiu
o que queria e não irá mais me procurar, certo?
Saio da cozinha, seguindo para o lado de fora e encaro a minha
equipe de trabalho.
— Ele chegou! — grita Jess, batendo palmas.
Dou risada e Mary me abraça.
— Eu nem demorei tanto assim — respondo.
— Escuta, gato, o tempo que estamos aqui perdendo é uma cerveja a
menos para eu beber, então você demorou mais do que deveria sim —
responde Jess, rindo.
— Antes de irmos, tem alguém querendo falar com você lá dentro,
Gale — diz Dylan, apontando para o salão do restaurante.
— Quem? — questiono, surpreso.
— Seu chefe, é claro. Acho que deve ser algo relacionado a
documentos — responde.
Luke Evarns está ali e quer me ver? Que loucura! Havíamos passado
o dia todo sem nos comunicarmos e agora ele está aqui, querendo conversar
comigo.
— Vai lá, garotão, e não demora — diz Sasha.
Sentindo minhas mãos um pouco trêmulas, adentro o local e ao longe
avisto Luke, o que me faz perder o fôlego.
Encaro-o e vejo seu sorriso aparecer. Ele joga os cabelos lisos para
trás e coloca as mãos nos bolsos enquanto caminho em sua direção.
Distraidamente, esbarro em um garçom, fazendo diversas taças caírem no
chão e se quebrarem. O barulho ecoa pelo salão e todos os olhares caem
sobre mim, inclusive da minha equipe de trabalho, que olham através da
janela.
Luke me encara e revira os olhos, sorrindo, então se aproxima de
mim, enquanto duas funcionárias da área da limpeza organizam toda a minha
bagunça.
— Não precisa me dizer nada, já sei que estou ficando experiente no
assunto de derrubar as coisas, principalmente nas pessoas — respondo,
nervoso. — Eu posso pagar pelas taças, só me diga quanto é.
— Não se preocupe com isso — responde, sorrindo. — E eu juro
que só ia perguntar se você se machucou, mas vejo que está bem.
Dou um sorriso sem graça e nos afastamos um pouco, seguindo em
direção à escada que leva ao seu escritório.
— Por que estou aqui? Não é para quebrar taças, estou certo?
— Não é nada disso, eu só queria te ver um pouco, já que meu dia foi
uma loucura e não tive tempo de te responder. — Ele passa as mãos pelos
cabelos, deixando-os ainda mais bagunçados, e bufa, dando um sorriso.
Que jeito traíra de ser sedutor.
— Que bom, fico feliz em te ver também — comento, sorrindo, então
ouço Sasha do lado de fora.
— Gale, estamos perdendo tempo! — diz ela.
— Você vai sair? — pergunta Luke.
— Sim. O pessoal do trabalho me chamou para bebermos umas
cervejas, achei boa a ideia para conhecê-los melhor e, claro, conhecer um
pouco mais de Londres.
— Certo — responde —, espero que se divirta e não conheça tanto o
pessoal.
Não entendo o que ele quer dizer, mas aceno com a cabeça, me
despedindo.
— Até mais, chefe — digo, sorrindo.
Ele retribui e logo se afasta, então sigo para o lado de fora.
— Achei que não viria nunca, Gale! — comenta Sasha, se fazendo de
chateada.
Dou risada e a abraço.
— Estou aqui agora, vamos lá.
— É isso aí, hoje quero beber até todo meu sangue virar vodca —
diz Jess, abraçando Ralph, logo em seguida o beija e fico surpreso.
— Vocês namoram? — pergunto.
— Claro que sim — diz Ralph, como se fosse óbvio. — Agora
vamos.
Seguimos adiante e Mary aperta meu braço.
— Vimos que Luke parecia bastante sorridente com você — comenta
ela. — O que ele queria, se é que podemos saber.
— Só saber como foi meu primeiro dia — minto.
— Sei — responde, fazendo careta. — Vamos lá, hoje à noite
promete!
E eu não duvido disso.
Gale Meyers
Assim que chegamos à butique, me deparo com a mulher negra e a
loira do dia anterior sorrindo para mim. Adentro, pedindo para o pessoal me
esperar, e as duas sorriem.
— Deixa eu adivinhar, você conseguiu — diz a morena, sorrindo
ainda mais.
— Consegui um salário ótimo — respondo —, então, como
prometido, voltei aqui e gostaria de saber se vocês desejam sair comigo e
uns colegas de trabalho.
A loira sorri, envergonhada, e a morena se estica, olhando-os do
lado de fora.
— Eu aceito, com toda certeza! — diz a loira, pegando sua bolsa.
— Bem, por que não? Vamos lá — diz a morena —, e a propósito,
me chamo Alice, esqueci de falar.
— E o meu nome é Ana — diz a loira.
— Eu estava tão nervoso ontem, que acabei nem perguntando —
respondo, dando um beijo no rosto das duas —, o meu é Gale... Gale
Meyers.
— Sobrenome não — diz Alice —, isso é coisa do passado, hoje
temos que só falar o primeiro nome, e olhe lá.
— Por quê? — pergunto, tentando entender.
— Alice diz que fica mais fácil do cara te achar no Facebook —
responde Ana —, mas eu não ligo, meu sobrenome é Wood. Ana Wood.
Vou para o lado de fora enquanto as meninas pegam suas coisas.
Sasha está mexendo no celular, escrevendo freneticamente com uma das
mãos e a outra, está na sua cintura fina.
— Ai que ódio! — ruge ela. — Por que homem tem que ser tão
babaca?!
— O que aconteceu? — pergunto, mexendo no meu. Olho uma foto
das minhas amigas e guardo o aparelho, recordando de São Paulo e a vida
que vivi lá.
— O namorado dela — diz Jess —, ele é muito fofo e ela não curte
muito.
— Como assim? — questiono, sem entender.
— Ah... ele envia presentes diariamente, flores, declarações e tudo o
mais..., mas eu a entendo, os outros eram assim também — ela baixa a voz e
olha para Sasha, para ver se ela não está olhando —, o noivo dela era muito
fofo e a traía com a melhor amiga dela.
Noivo.
Então Sasha tinha um passado complicado como eu, o dela poderia
até ser pior.
— Vamos — diz Alice, aparecendo com Ana.
— Só se for agora, olha... eu preciso beber até cair morta! — grita
Sasha, nervosa.
Damos risadas e vamos para uma balada chamada Fabric.
O local é bem dark e com muitos ambientes. Uma música eletrônica
toca alto e sinto um cheiro de suor no ar, e quando entramos Sasha começa a
dançar e logo a sigo. O lugar está lotado, apesar de ser quarta.
Seguimos mais para dentro e observo atentamente o espaço; é uma
área de três andares, que pelo que reparei, antigamente era uma fábrica. Os
banheiros são unissex. Há fumaça no ar e vários efeitos de luzes. Um DJ
famoso toca e damos gritos de alegria.
— Puta que pariu, como eu amo esse lugar! — diz Sasha.
Sorrio para ela e vejo um cara jogando um cigarro no lixo. Engulo
em seco e tento afastar esse pensamento da minha mente.
Fumante...
Penso nisso e mais uma vez afasto meu passado da cabeça, parece
que tudo está surgindo só para me fazer lembrar das dores que demorei para
esquecer — e umas que na verdade sinto até hoje.
Pegamos várias bebidas e vamos para o segundo andar. Todos estão
com copos de Margarita nas mãos, vodca pura, tequila, rum, Caipirinha e
muitas outras. Viro a Margarita em um só gole e começo a dançar, a música
é alta e bem agitada, o local é gostoso e há diversas pessoas bonitas.
Bebo um copo de tequila e me agito mais, Alice vem e começa a
dançar comigo, as outras garotas já arrumaram pares, menos Sasha, que
ainda está mexendo no celular e bebendo descontroladamente.
— Então você conseguiu — diz Alice, mais perto do meu ouvido.
— Sim, quatro mil libras, com jornada seis por um, isso não é ótimo?
Ela dá uma risada e vira sua bebida.
— Que bom que conseguiu. E o Luke, pegou?
Respiro fundo e continuo me mexendo, não quero falar de Luke, no
entanto, sei que não conseguirei evitar.
— Quase transamos ontem, foi ótimo, mas não quero mais.
— Quase? — questiona Alice.
— Sim, venha, vou te contar tudo.
Puxo-a e chamo Ana para uma mesa, nós três nos sentamos e então eu
começo a contar tudo que aconteceu. A maneira que o assunto flui com elas,
faz parecer que as conheço há anos, o que chega a ser loucura.
Quando termino, elas ficam paradas.
— Eita porra! Quem diria que logo de cara vocês iriam fazer isso —
comenta Alice.
— Sim, mas não vai rolar mais.
— Por que não? — pergunta Ana, bebendo seu coquetel.
— Digamos que... meu passado me condena. — Pego outra bebida
para mim e Alice.
— Te entendo perfeitamente, bonitão, meu passado também foi bem
fodido — diz Alice —, mas, foda-se, temos que pensar no presente e futuro,
Delícia. Para de se repreender.
— Eu sei, mas não é fácil.
— Quer conversar sobre isso? — pergunta Ana.
— Não, não agora. Vamos nos divertir por hoje. A propósito, sábado
é meu aniversário e Luke quer me arrastar para uma balada, gostaria muito
que vocês fossem.
— Fechou! — gritam as duas.
— Ei! Nós também queremos ir — diz Sasha, se aproximando.
— Estão todos convidados — digo, sorrindo.
— Opa, demorou, vadias! — grita Jess, já bêbada.
Dou risada e volto para a pista de dança sem olhar para a hora.
Luke Evarns
Assim que Gale vai embora, meu celular toca anunciando a chegada
de uma nova mensagem de Kris pedindo que eu vá até sua casa. Como eu não
tenho nada para fazer, acabo aceitando na esperança de que uma distração
me ajude a esquecer um pouco o que havia acontecido com Gale e eu.
Mesmo sabendo que ele havia gostado, algo me diz que não será fácil tê-lo
totalmente para mim, e isso me incomoda.
Afasto os pensamentos quando chego à casa do meu amigo. Como de
costume, estaciono o carro em frente e entro no local, sendo recebido por um
Pitter descabelado e um Kris apenas de cueca e saltos altos.
— Noite das drag queens? — pergunto, rindo.
Kris usa uma peruca laranja florescente e me encara, sorrindo.
— Preparativos do casamento — responde —, preciso mais do que
tudo da sua ajuda e da Taylor.
— E onde ela está?
— Na cozinha, preparando umas bebidas para a gente — responde
Pitter.
Concordo, olhando o noivo do meu amigo também apenas de cueca.
Coço a cabeça, tentando entender o motivo disso.
— Vocês pretendem se casar sem roupa, é isso? — questiono.
— Claro que não, seu bobo! Estávamos apenas brincando com paetês
e lantejoulas, essas vieram do Brasil — diz meu amigo, jogando uma cueca
boxer na minha direção.
Dou de ombros, hoje não é dia de pensar no meu passado e muito
menos em coisas ruins, estou aqui para me divertir.
— Certo, então acho que vamos ter uma competição de quem estará
mais bonita — respondo, sorrindo.
∞∞∞
Meia hora depois estou de salto alto, cueca, colar no pescoço e,
claro, uma peruca tão berrante quanto a maquiagem que Taylor havia feito
em mim.
— E com vocês, a drag mais cobiçada do mundo — Taylor narra,
fazendo voz de locutor e usando sua mão como microfone. — Nick!
Dou risada do nome e desfilo com as mãos na cintura pela sala de
visitas. Pitter e Kris, vestidos a caráter, dão risada e me aplaudem.
— Isso mesmo, suas vadias, aplaudam a belíssima Nick! — grita
minha amiga com entusiasmo.
Ando mais um pouco, rebolando divertidamente e paro, como se
estivesse em um desfile de moda.
— Vocês pensaram que eu não era divertida? — pergunto numa voz
afeminada.
— Arrasa, viado! Desfila mais — pede Kris, batendo palmas.
Continuo desfilando ao som de Vogue, da Madonna, e fico sério,
olhando para os meus amigos.
— Strike a pose[4], vadias! — digo, rindo e me jogando no sofá. —
Preciso de uma bebida.
Taylor se prontifica e me entrega um copo com Caipirinha, que bebo
em um único gole.
— Foi realmente divertido, há anos que não fazíamos isso — digo,
olhando Kris. Ele concorda e dá um sorriso e um leve tapa.
— Você roubou toda a cena! — diz ele, fingindo estar chateado.
— O que posso fazer se a “Nick” conquista todos — digo, retirando
a peruca. — Agora é sério, o que pretendem fazer no casamento de vocês,
afinal de contas?
— É para isso que estão aqui, não fazemos ideia do que pode ser
feito — diz Kris, revirando os olhos.
— Já pensaram em uma entrada estilo príncipe William e Kate
Middleton? — opino.
— Como não pensamos nisso antes? — questiona Kris.
— A ideia não é ruim — diz Pitter —, ainda mais se queremos
chamar a atenção da mídia.
— Então já sabem o que podem fazer — responde Taylor —, você
pode entrar dançando Lady Gaga, ou Madonna, quem sabe Cher?
— Vadia, por favor, só existe uma rainha no mundo musical —
responde Kris, sorrindo.
— Madonna! — dizemos todos juntos.
Sorrimos e Kris se coloca de pé, pegando um drinque para ele, logo
procura o maço de cigarro e acende um.
— Seria incrível se eu entrasse de noiva, dançando Like a Virgin —
diz ele, sorrindo com a ideia. — Depois que chegar ao altar, as luzes se
apagam e, no minuto seguinte, se acendem, então apareço vestido de noivo,
usando um terno bem chamativo.
— A ideia é ótima, já consigo até mesmo imaginar — diz Pitter.
— Então algo já está decidido — diz Taylor alegremente. — Eu não
vejo a hora do casamento acontecer!
∞∞∞
Após nos trocarmos, ficamos até as três da manhã pensando nos
preparativos do casamento. Os convites serão no estilo carta de Hogwarts,
afinal, meu amigo é fã de carteirinha de “Harry Potter”. Kris até mesmo
sugeriu enviá-los por corujas, e com muito custo, Pitter, Taylor e eu
conseguimos fazê-lo desistir dessa ideia maluca.
Ofereci uma das minhas propriedades para a realização do evento,
Kris e Pitter aceitaram de imediato, afinal, ainda é segredo de estado essa
minha residência, então será algo totalmente novo para os paparazzis.
Depois de organizarmos mais alguns detalhes, olho a hora e me
coloco de pé, me despedindo dos meus amigos.
— Deveria dormir aqui. Está indo por que hoje não tem presentinho?
— pergunta Kris.
Dou risada e reviro os olhos.
— Nada disso. Na parte da manhã tenho que ir até a empresa,
esqueceu? — pergunto.
Ele me encara e concorda.
— Na empresa ou no restaurante?
— Nos dois.
— Você vai ver aquele rapaz, não é? — pergunta.
Taylor e Pitter me encaram enquanto assinto.
— É, talvez a gente esteja ficando.
— Eu sabia! Você não consegue mentir para mim, sr. Evarns —
responde meu amigo. — Que seja, já sabe minha opinião sobre isso.
— É, eu sei muito bem, não precisa repetir — respondo friamente.
Suspiro quando Taylor me encara, então me despeço deles e ela me
acompanha até o lado de fora.
— Sabe que precisamos conversar, não sabe? Quero que me conte
tudo o que aconteceu.
— Eu conto, mas outra hora, agora preciso ir embora. — Eu a abraço
e dou um selinho nela.
— Tudo bem, mas irei cobrar.
Me despeço dela e sigo para dentro do meu carro, saindo do meio-
fio e indo para o meu apartamento. Assim que chego, retiro a roupa e me
deito, tentando dormir.
No entanto, não consigo pregar o olho, pensando em Gale no bar, no
meu passado traumático e na noite que tivemos.
Luke Evarns
Acordo na manhã seguinte com um pouco de dor de cabeça e
pensando no meu passado. Observo o relógio e vejo que já passa das dez da
manhã, me fazendo proferir um palavrão em voz baixa.
Levanto-me e ouço meu celular tocando, mas quando vejo que é uma
ligação de Kris, resolvo não atender, quero ficar um pouco sozinho. Sigo
para o banheiro e coloco uma música da Britney Spears para tocar bem alto,
retirando minha cueca e indo direto para debaixo da ducha.
A água quente aquece meu corpo e me deixa um pouco relaxado, no
entanto, me sinto estranho e chateado por alguma coisa que não sei direito,
porém, não preciso pensar muito para saber que o motivo disso tudo é um
homem que conheço há menos de uma semana — Gale Meyers.
Em pouco tempo, Gale foi capaz de fazer lembranças adormecidas
despertarem rapidamente em mim, o que me assusta. Afinal, por que estou
sentindo isso?
Penso em ligar para ele, mas me nego a fazer isso, então, assim que
finalizo o banho, me troco e vou até a cozinha. Procuro a garrafa de uísque e
preparo uma dose, virando de uma vez e sentindo o gosto forte invadir minha
boca. Novamente repito o processo e bebo, indo atrás do aparelho celular.
Digito uma mensagem a Gale, desejando bom-dia e que seu trabalho seja
excelente, e recebo como resposta apenas um “obg” e nada mais.
Bebo mais um pouco e suspiro, me sentindo frustrado. Não seria a
primeira vez se eu ficasse bêbado no meu apartamento, diversas vezes,
quando me sentia desta mesma maneira, eu bebia até sentir meu corpo ficar
dormente e acabava na cama com algum homem desconhecido.
Depois que Gale havia me dito sobre seu passado cheio de mentiras
e traições, fiquei pensando que não somos tão diferentes. Meu passado
envolve mentiras, mortes, traições e até mesmo drogas. O que pode ser pior
que isso?
Procurando uma maneira de me distrair, calço meus tênis de correr e,
após pegar minha carteira, celular e fones, saio do apartamento, seguindo na
direção do elevador. Adentro o cubículo e alguns moradores me
cumprimentam. Sorrindo sem graça, retribuo com um meneio de cabeça e,
assim que chegamos ao térreo, saio e começo a correr na intenção de
esquecer meus problemas e esquentar um pouco o corpo.
Sigo pelas ruas correndo, paro na Starbucks que havia ido com Gale
e peço um café forte para viagem, assim que o pego, bebo um longo gole e
continuo correndo, quando vejo, estou em frente ao meu restaurante.
Entro no local pouco movimentado e vejo Dylan parado, sigo na
direção da escada e o cumprimento.
— Bom dia, Dylan — digo, sorrindo.
— Bom dia, chefe — responde, um pouco sem graça.
Apesar de eu ser um ótimo chefe e até mesmo ter liberdade com meus
funcionários, eles me respeitam de uma maneira que chega a me dar náuseas.
— Peça para Gale vir até meu escritório, preciso falar com ele —
peço, subindo a escada.
Ele concorda e vai na direção da cozinha e, não demora muito para
Gale entrar no meu escritório.
— Oi — cumprimenta ele, o suor brilhando em sua testa.
— Gale — digo, sorrindo ao vê-lo. — Como você está? — Me
aproximo e toco seu rosto com a ponta dos dedos, ele não recua, o que é
bom.
— Suado — responde, rindo. Rio também e umedeço meus lábios
com a língua. — Você quer falar comigo? Dylan disse que pediu para me
chamar.
— Sim, eu pedi para ele te chamar — respondo, sorrindo.
— Certo — murmura sem entender. Na verdade, nem mesmo eu
entendo o que estou fazendo, no entanto, necessito ao menos beijar esse
homem.
Então, deixando todos os meus medos de lado, me aproximo dele e o
agarro. Segurando seu rosto contra o meu, beijo seus lábios suavemente,
invadindo sua boca com minha língua. Aperto meu corpo contra o dele e ele
faz o mesmo. Após nos separarmos, encosto minha testa na dele e suspiro.
— Eu precisava apenas disso — afirmo.
— Eu acho que você é maluco — responde, sorrindo —, e eu devo
ser mais ainda.
Reflito se devo tocar no assunto dos nossos passados, porém, sei que
ainda não é o momento certo para isso, então, para não fazer nenhuma
besteira, volto a beijá-lo, passando a mão pelo seu corpo e descendo para
sua bunda.
— Você não faz ideia de como gostaria de te comer. Por favor, não
me xingue, só estou sendo sincero — digo, mordiscando sua orelha.
Gale para de me beijar e me encara com seriedade. Logo dá um
sorriso e começa a rir.
— O que foi? — pergunto, sem entender.
— Pensei que você tivesse percebido — diz. — Eu sou ativo, Luke.
Fico chocado com suas palavras. É claro que eu havia percebido que
ele gosta de comer, no entanto, refletindo sobre o que fizemos, acreditei que
gostasse de dar também.
— Que merda! — digo, coçando a cabeça — Eu também!
Gale Meyers
Suspiro e começo a rir, então Luke e eu realmente teremos essa
conversa.
Olho-o atentamente e vejo que parece um pouco atordoado com a
informação. Sério que, por me penetrar com seu dedo, ele achou que poderia
me comer? Não posso negar que a sensação havia sido boa, e sei que ele
sentiu o mesmo sobre isso, no entanto, minha preferência na cama sempre
havia sido essa.
Em muitos dos meus relacionamentos, houve briga justamente por
isso, mas não mudei de jeito nenhum o que desejo entre quatro paredes. Para
Augusto, um ex-namorado, isso havia sido muito difícil também, ainda mais
por conta do seu jeito “alfa” e machista, até mesmo chegando a me ameaçar
por ser passivo comigo. Foi um relacionamento curto, onde sofri até o
último, e lembrando disso, penso, pela primeira vez em muito tempo, em
Marco, o último rapaz com quem me relacionei em São Paulo.
— Você quer mesmo ter essa conversa aqui agora? — pergunto,
franzindo a testa.
— Eu não sei, quero dizer, o que faremos?
Encaro-o e dou um sorriso debochado. O que iremos fazer?
— Bem, não há nada a ser feito. Quando ficamos, acreditei que você
poderia ser versátil, mas agora tenho certeza de que estava errado.
Ele meneia a cabeça, concordando.
— O que houve entre a gente foi algo totalmente novo para mim —
começa —, no entanto, pensei o mesmo que você.
— Sugere algo? — pergunto em tom de brincadeira.
— Espere. Quer dizer que tenho uma chance com você?
Apesar de me repreender por ficar com Luke e me odiar por ter
quebrado minhas regras no momento em que as impus, não há como negar o
que desejamos. Claro que eu não o amo ou algo parecido, porém, entre nós
dois, o desejo de termos um ao outro é palpável.
— Podemos fazer um desafio — falo, dando de ombros.
— Que tipo de desafio?
— Ver quem cede primeiro — respondo.
Ele fica parado, apenas me olhando por um tempo, e então concorda.
— Já que não temos escolha — afirma.
— Claro que temos. Você pode agora mesmo escolher me dar e
estará tudo certo, porém, sei que não fará isso.
— Assim como você também não — responde.
Concordo com um aceno de cabeça e coloco a mão na cintura.
— Já que resolvemos isso, posso voltar ao trabalho?
Novamente ele meneia a cabeça em concordância, mas antes que eu
saia, puxa meu braço, colando meu corpo ao seu.
— Antes de ir...
Mais uma vez seus lábios grudam nos meus e sua língua invade minha
boca. Aperto-o contra mim e, depois de um tempo, me afasto dele.
— Estou pensando em ir atrás de um apartamento depois do
expediente — digo. — O que acha de nos encontrarmos mais tarde?
Os olhos de Luke brilham, surpreso por minhas palavras, então
concorda e me dá outro beijo.
— Então, agora estamos no meio de um desafio — diz
maliciosamente.
— Sim, e espero que você desista logo de ganhar e me dê — brinco.
Ele ri enquanto aperto meu membro por cima da calça, mordendo
meu lábio.
— Boa sorte — diz.
— Desejo o mesmo — respondo.
Sorrindo e reprimindo meus medos e ansiedade, volto para meu
trabalho.
∞∞∞
Enquanto trabalho, penso um pouco mais no desafio meu e de Luke.
Será que isso vai dar certo?
A única vez que havia me sentido tão desejado foi com Marco, meu
ex que tinha deixado em São Paulo. Quando fui para o aeroporto, ele havia
ido até lá se despedir de mim, mas pensando bem, ele já parece muito
distante da minha vida, como se nem mesmo tivesse existido. E percebo que
Luke começa a ocupar esse lugar, o que parece uma loucura, já que nos
conhecemos há menos de uma semana.
No entanto, ele havia entrado na minha vida de uma maneira
enlouquecedora, e de algum jeito está ganhando espaço nela, porém, eu serei
capaz de esquecer meus traumas, Marco, Augusto — meu ex doente — e
viver essa adrenalina e desafio com Luke Evarns?
Respiro fundo e sorrio para mim mesmo, sabendo que há uma
pequena chance de a resposta ser “sim”.
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
A surpresa se mantém quando Gale volta a trabalhar, me deixando
sozinho no meu escritório, com um desafio que não sei como irei resolver.
Ando de um lado para o outro e preparo uma dose de uísque para mim,
desejando que isso não passe de uma brincadeira sem graça dele, no entanto,
sei que estou enganado. Realmente, essa loucura está acontecendo conosco.
Em toda minha vida de “garanhão”, em hipótese alguma havia
passado por algo parecido, pelo contrário, às vezes um simples telefonema
para as pessoas certas e voilà, havia um jovem com as descrições que eu
exigia na minha cama.
Nunca havia namorado sério, meu desejo não passava de algo sexual,
criando um sentimento apenas pelo meu amigo Kris, que após virmos do
Brasil e reconstruirmos nossas vidas, deixou de ser correspondido por conta
de ele se interessar por outros caras. Não sofri, como alguém normal
sofreria por aí, cada um com suas manias. Pelo contrário, foi um motivo para
que eu até mesmo conhecesse casas de swing.
Decido que não trabalharei hoje, irei para o meu apartamento pensar
em como farei Gale desistir disso e ceder primeiro.
Sorrio com esse pensamento e saio, ansiando pelo momento de vê-lo
novamente.
∞∞∞
Gale
Já são quinze para as quatro quando termino o meu trabalho. Após
minha conversa com Luke, fiquei refletindo sobre o desafio que havíamos
feito, ansioso para saber quem irá ceder primeiro.
Assim que acaba o meu expediente, eu me despeço do pessoal e,
após me trocar, pego o jornal no meu armário e saio. Mais cedo, nesse
mesmo dia, eu havia procurado alguns anúncios de apartamentos melhores
para alugar e havia encontrado alguns um pouco afastados do restaurante,
mas com preços baixos. Não perdi tempo e marquei uma visita em cada um
deles, em horários espaçados para dar tempo.
O primeiro fica um pouco mais afastado, no entanto, é enorme e
bastante aconchegante. Com mobília nova e uma vista maravilhosa. O único
problema é que o proprietário, Cary, quer três depósitos no valor de quatro
mil libras.
— Infelizmente não poderei ficar — digo, desapontado, então me
despeço dele e sigo para o segundo, que fica próximo dali.
Assim que chego ao segundo apartamento, sou pego de surpresa ao
ver algo pior que o local que atualmente moro. Observo a mulher de cabelos
curtos e loiros, baixa e barrigudinha me encarar.
— Na descrição falava que é um bom apartamento, sra. Gregor —
digo, encarando o teto manchado por conta de goteiras.
— Eu sei, sr. Meyers, entretanto, o local que estava disponível foi
alugado hoje cedo, me perdoe por não ter avisado.
Assinto e me despeço, sentindo-me irritado e um tanto frustrado.
Decido ir para os mais próximos do restaurante que eu havia marcado de
visitar. Assim que chego ao prédio luxuoso, fico me questionando qual será
o problema nesse, afinal, no jornal diz que é um local grande, mobiliado, por
apenas duas mil e quinhentas libras, e pede somente dois meses de depósito,
um sendo como seguro ao final da locação.
Adentro o local e vejo um casal se aproximar de mim, a mulher é
ruiva, de cabelos até os ombros, corpo magro e está vestindo uma saia com
um casaco de tom azul. O homem é careca, com um sorriso gentil e está com
sua gravata um pouco torta.
— Sr. Meyers? — diz ele, acenando.
— Eu mesmo — respondo, indo na direção deles e apertando as
mãos de ambos.
— Essa é minha esposa Cecília, e eu sou o Robert. Vamos subir para
você conhecer o apartamento?
Concordo com um enorme sorriso e olho atentamente o local, tudo
realmente é muito bonito e ostensivo, o que me deixa ainda mais em dúvidas
sobre qual será o problema aqui.
— Desculpem a minha audácia, mas posso fazer uma pergunta? —
peço, quando entramos no elevador.
— Claro, sr. Meyers — diz Cecília, sorrindo.
— Eu visitei uns apartamentos hoje e alguns eram muito bons,
entretanto, com preços absurdos. Outros estavam mais em conta, mas
totalmente precários.
— O senhor quer saber se há algo errado com o nosso por conta do
preço? — pergunta Robert, sorrindo.
— Não quero ser indelicado — digo, sem graça.
Os dois riem e as portas se abrem, revelando um corredor claro, com
portas brancas.
— Que tal você ver o lugar primeiro, hein? — pergunta Cecília.
Dou de ombros enquanto sigo para uma porta com o numeral “67”.
Os dois a abrem e me dão passagem, me permitindo entrar. Assim que entro
e vejo o local, fico totalmente embasbacado. O chão é revestido de madeira,
que combina perfeitamente com os móveis brancos da sala, ando um pouco e
vejo que ao lado leva para a cozinha, com armários cinzas, uma geladeira de
porta dupla inox, fogão cooktop de quatro bocas e uma máquina de lavar
roupas embaixo da pia.
Surpreso, sigo em frente, passando um corredor entre a sala que
revela quatro portas. Abro a primeira e vejo um banheiro luxuoso, a do lado
é um quarto de hóspedes simples, com uma cama de casal e um guarda-
roupa. Fecho-a e sigo para a seguinte, onde encontro um cômodo vazio com
estantes nas paredes.
— Usávamos esse cômodo como escritório — diz Robert, sorrindo.
Sorrio de volta, lembrando dos diversos livros de mamãe, e vou até
a última porta, ficando mais maravilhado ainda com o quarto que encontro.
Assim como o outro, contém uma enorme cama de casal, entretanto,
não tem um guarda-roupa e sim um closet enorme, ao lado de um banheiro
gigante com hidromassagem. Fico ainda mais surpreso com isso, pensando
em como um apartamento pode ser tão luxuoso e barato.
— Vocês aceitam animais? — pergunto, pensando em como Marvel
se divertirá ali dentro.
— Aceitamos sim, sem problema algum — responde Cecília.
— Eu simplesmente adorei o lugar — digo —, mas ainda espero
saber o que há de errado, já que o apartamento todo está incrível.
Nós três rimos e Cecília me encara.
— Há o vizinho ao lado que, digamos, é um pouco barulhento —
responde ela. — Alguns moradores tiveram problemas com ele, mas como
ele é o dono do prédio, não tinham muito o que fazer.
Barulho não será problema nem para mim e nem para Marvel.
— Se esse for o único problema, não vejo motivo para não ficar com
o lugar. Simplesmente amei aqui, e fica perto do meu trabalho.
Os dois se entreolham, contentes.
— Vamos precisar de alguns documentos para fazer o contrato de
locação — diz Robert. — Você disse que veio do Brasil, certo?
— Sim, isso mesmo.
— Certo, iremos precisar do seu passaporte ou um documento legal
com foto provando que você tem mais de dezoito anos e que está no país
legalmente — declara ele. — Vamos precisar também de uma carta do
empregador confirmando seu cargo, duração de contrato e salário.
Assinto, decidido a mandar uma mensagem a Luke e pedir isso.
— Certo, e quando posso me mudar? — pergunto, ansioso.
— Quando quiser. Assim que tudo estiver pronto, procuramos você e
te damos o contrato para assinar — responde Cecília. — Só me diga uma
coisa, mais cedo, quando conversamos, disse que trabalha em um restaurante
como chefe de cozinha, em qual seria?
— No Dîner aux chandelles, do Luke Evarns — respondo, animado
ao dizer isso. Os dois se encaram e riem. — O que foi?
— Você vai se dar muito bem morando aqui, então — responde
Cecília.
— O nosso vizinho barulhento é Luke Evarns — completa Robert.
Fico surpreso, só pode ser uma piada muito sem graça, mas, no
fundo, sei que estão dizendo a verdade.
Mas que merda, Gale, agora você terá que tomar mais cuidado
ainda com Luke.
Dou um sorriso sem graça e os dois me entregam as chaves,
desejando que eu me dê bem na minha nova moradia. Saímos juntos do
prédio e, após eu pegar o dinheiro, já adiantando o depósito que haviam
pedido, me despeço e sigo até meu antigo lar, pronto para pegar minhas
coisas e meu cachorro.
Agora o desafio meu e de Luke ficará ainda mais interessante.
∞∞∞
Luke
Quando pensei em ir para meu apartamento para descansar um pouco
a mente, não estava nos meus planos ter uma pessoa nova morando ao lado,
com o som alto me incomodando.
Levanto-me da cama, xingando baixinho, e sigo até a cozinha na
esperança de que um copo de água me faça esquecer isso um pouco,
entretanto, não adianta, fico mais irritado ainda ao ouvir uma música de
Rihanna explodindo nas caixas de som do “novo morador”.
— Puta merda! — xingo e vou atrás do interfone. Disco rapidamente
o número da recepção, e assim que sou atendido por uma voz masculina,
questiono de maneira ríspida. — Quero saber quem se mudou para o
apartamento 67. Ele está fazendo tanto barulho que vou ficar surdo.
— É um morador novo, sr. Luke, que se mudou tem poucas horas,
entretanto, nas regras sobre horário, o morador está no direito de ouvir
som alto. É lei.
Bufo, frustrado, a dor de cabeça se alastrando ainda mais.
— Não há nada que possa ser feito? — pergunto, sem paciência.
— Infelizmente não, senhor, sugiro que faça o mesmo, como sempre
fez — responde ironicamente.
Desligo o telefone, irritado, e me jogo no sofá. Meu celular apita e
uma mensagem de Taylor surge, dizendo que mais tarde iremos nos
encontrar, deixando-me mais nervoso ainda por ter esquecido completamente
meus amigos e ter marcado um encontro com Gale.
Eu: Se eu furar com vocês, estarei perdoado?
Rainha das vadias: Claro que não, hoje é dia de The Masons, nem
pense em desistir. Kris me contou tudo, acho que está mais do que na
hora de você nos contar tudo detalhadamente do que está acontecendo
com você e o rapaz.
Eu: Me convenceu pelo The Masons Arms.
Assim que termino de falar com Taylor, envio uma mensagem a Gale,
perguntando se podemos remarcar o nosso “encontro”, pois surgiu um
imprevisto. Ele demora para responder, como sempre, e quando vê, apenas
envia um “OK”.
Tomo um banho na esperança de que ajude a aliviar a dor de cabeça
que sinto. Assim que termino, saio e visto uma calça jeans escura, tênis e
uma camiseta de mangas compridas, ainda mais irritado com o som alto ao
lado.
Cansado de tanto barulho, sigo até o apartamento do meu novo
vizinho e aperto a campainha. Não demora muito para a porta se abrir e eu
me assustar ao encarar o novo morador.
— Oi, vizinho, veio me dar boas-vindas? — diz Gale, sorrindo.
Solto uma risada seca, pensando que o cara que eu quero comer — e
até mesmo bater, por conta do som alto —, é o meu mais novo vizinho.
Ainda estou surpreso e sem conseguir acreditar que o meu
funcionário é agora meu vizinho — talvez isso seja efeito de todo o álcool
que ingeri mais cedo —, mas ao ver Gale parado, com a mão na cintura e o
sorriso maroto nos lábios, sei que é tudo real.
Abro a boca, tentando proferir algo, todavia, não consigo dizer
palavra alguma.
— Está surpreso? — questiona ele, na mesma posição.
Assinto e pigarreio, ajeitando a minha postura.
— Bem, seja muito bem-vindo, e espero que goste de morar aqui —
respondo, dando um sorriso forçado.
Ele solta uma risada e sinto um arrepio percorrer todo meu corpo ao
ouvir aquele delicioso — e simples — som.
— Acho que vou gostar, sim. Quer entrar?
— Estou de saída — respondo, vendo seus olhos brilharem de
curiosidade. — Uma amiga e meu sócio precisam de mim, você não vai ficar
chateado por eu ter desmarcado com você, vai?
— Claro que não — responde, rindo. — Esqueceu que somos apenas
vizinhos, e sou só o seu funcionário?
Engulo em seco e assinto, ouvindo meu celular apitar. Pego-o e vejo
uma mensagem de Kris dizendo que está na recepção me esperando e que
devo ir logo.
— Você deve estar ocupado, outra hora conversamos — Gale diz,
sorrindo.
Me aproximo dele, ansiando tocar seus lábios.
— Agora essa disputa de quem vai ceder primeiro vai ficar mais
interessante ainda — afirmo, beijando suavemente seus lábios, mas sou
interrompido ao ouvir um latido vindo de dentro do apartamento.
— Esse é o Marvel, meu cachorro. — Aponta para o animal sentado
no chão, balançando o rabo e rosnando.
— Acho que ele sente um pouco de ciúmes do dono — afirmo, com
medo de descobrir.
Gale ri e concorda, então novamente meu celular apita, agora com
uma mensagem de Taylor dizendo que nos espera na livraria.
— Tenho que ir.
Ele concorda com um movimento de cabeça e me despeço, seguindo
em direção ao elevador, então vejo Gale sorrir e as portas se fecham, me
deixando ansioso para tê-lo completamente para mim.
Assim que saio do elevador, sou surpreendido com um Kris sério.
— Caralho, que demora — reclama, me encarando. — O que
aconteceu?
— Nada demais. É só Gale Meyers, que agora é meu vizinho.
Kris me olha indignado e suspira.
— Isso vai dar merda, Luke, pode apostar.
Não digo nada, só olho para ele antes de seguirmos para a livraria
para encontrarmos a Taylor.
∞∞∞
Assim que encontramos Taylor e nos cumprimentamos como se
fizesse anos que não nos víamos, fomos para dentro do carro de Kris e
seguimos em direção ao The Masons Arms.
O The Masons Arms é um pub que fica entre as estações de Regents
Park e Great Portland Street. O caminho todo falamos sobre Gale e eu.
Kris, como sempre, não concorda com nada, dizendo, sempre que tem
oportunidade, que não consegue enxergar algum futuro na nossa relação.
Deixamos o assunto de lado ao pararmos em frente ao pub. Do lado
de fora se destacam vários tipos de flores, o que dá um ar harmonioso e
charmoso ao local.
Entramos e seguimos para o segundo andar, onde tem um restaurant
maravilhoso. Sentamo-nos a uma das mesas e, rapidamente, peço rolinhos
primavera e uma cerveja para beber antes.
— Não sei como você consegue beber cerveja — diz Kris, revirando
os olhos.
— Não faça essa cara — digo, virando o copo —, você já bebeu
cerveja antes, quando ficamos...
Paro de falar ao ver Taylor me encarar, então continuo bebendo. Meu
amigo pede uma dose de tequila para ele e vira o copo de uma vez, ingerindo
o álcool.
— Eu já disse a você que precisa esquecer o que passamos, não me
sinto mal em recordar do que fizemos ou deixamos de fazer, todavia, com
você é diferente, não é? Ainda mais depois que conheceu esse rapaz.
— O que quer dizer com isso? — questiono, comendo meu rolinho.
— Não é óbvio? Gale faz você lembrar do seu passado de merda —
responde meu amigo.
Fico quieto ao ouvir isso e encaro Taylor, que beberica sua cerveja.
— Acho que seria bom se mudássemos de assunto, não acham? —
questiona ela.
— Não, Taylor, ele precisa ouvir — diz Kris, sério. — Luke, quando
você vai perceber que o que estou dizendo é a verdade? Vocês podem pensar
que falo isso por estar com ciúmes ou qualquer outra coisa, mas não, é para
o seu bem.
— Então você acha que Gale me faz mal?
— Só acho que ele traz de volta coisas que estavam enterradas há
anos — responde.
— Você está certíssimo, Kristiano Souza Albuquerque — digo seu
nome pela primeira vez em anos. — Sou diferente de você, não consigo
esquecer tão facilmente tudo o que passamos e o que fizemos. Você acha que
me orgulho de ter dito sim?
— Já chega! — diz Taylor, batendo na mesa. Fico sem graça ao
recebermos alguns olhares em nossa direção. — Se vocês dois vieram aqui
para discutir, recomendo que cada um vá para a sua casa e esqueçam que
tivemos esse encontro.
Assinto em silêncio e encaro meu amigo.
— Me desculpa, hoje não está sendo um bom dia — declaro.
— Quando estiver em dias melhores, a gente volta a falar sobre isso
— responde ele, se colocando de pé. — Acho que perdi o apetite e a
vontade de beber. Até logo. Taylor, você pega um táxi?
Minha amiga suspira e concorda, então Kris me encara uma última
vez e vai embora, me deixando totalmente sem reação.
— Me diga, pois estou curiosa — começa Taylor —, vale a pena
brigar com seu melhor amigo, que passou poucas e boas com você, por causa
de um rapaz que você só sabe a idade e o nome?
— Eu não sei — respondo, inquieto —, mas...
— Chega de “mas”, Luke. Você pode até estar gostando desse rapaz,
e eu aprovo isso, sempre disse que quero a sua felicidade, entretanto, se isso
depende de desfazer laços de amizade, você está indo pelo caminho errado.
Ela se coloca de pé e vai embora também, me deixando com a minha
cerveja e uma dúvida cruel se Gale Meyers realmente é a pessoa certa para
mim.
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
Após o episódio com meus dois melhores amigos, fico sem saber o
que fazer em relação a Gale, e até mesmo ao meu passado, pensando
seriamente em me abrir e contar tudo para o meu funcionário.
Entretanto, algo dentro de mim me impede, afinal, o que adianta
contar para ele tudo que eu havia passado, sabendo que o real problema da
nossa relação havia começado com ele mesmo? Gale, desde o início,
mostrou ter um passado traumático como o meu, foi ele que havia recuado
quando começamos a nos “relacionar”. Não é justo ele ser o primeiro a se
abrir, já que isso o impede de se entregar a mim completamente?
Isso e o fato de que os dois são ativos, meus pensamentos me
lembram, me fazendo rir.
∞∞∞
O resto da semana passa tranquilamente depois que descobri que
Gale é meu vizinho e discuti com Kris. Meu funcionário me pede uma carta,
afirmando que ele trabalha pra mim para entregar aos locadores do
apartamento e depois disso, quase não nos vemos direito, por conta da
correria na empresa.
Acabei assumindo meu erro com Kris e mandei uma mensagem de
áudio pedindo desculpas tanto para ele, quanto para Taylor, me
responsabilizando pelo mal-entendido, afinal, sou eu que estou com
problemas em um relacionamento que nem havia começado direito.
Quando a sexta-feira chega, Gale manda uma mensagem para mim.
Gale: Ainda está de pé o convite para a balada, certo?
Eu: Sim, basta você aceitar e tudo estará resolvido.
Gale: Ótimo, eu convidei o pessoal do trabalho e duas amigas,
tem problema para você?
Eu: De jeito nenhum. Aproveite e descanse bastante, amanhã
você está de folga.
Gale: Achei que seria domingo minha folga.
Eu: E é, mas estou te dando uma extra por causa do seu
aniversário.
Ele responde com um emoji e, sorrindo, envio uma mensagem para
Taylor e Kris, em um grupo de amizade que temos.
— Pessoal, balada sábado, estão confirmados? — Envio um áudio.
— Desde que tenha bastante bebida e um lugar para eu me pegar
com Pitter, não vemos problemas. Quem vai?
Ouço a mensagem do meu amigo e aviso que o convite para a balada
é por ser aniversário de Gale, ele responde com um emoji revirando os
olhos, mas concorda, dizendo que ele e Pitter me esperarão na casa dele.
Taylor também aceita, dizendo que levará Bratt e que vai para casa de Kris
para sairmos de lá todos juntos, o que me deixa bastante animado. Uma coisa
que eu sempre odiei foi brigar com as pessoas que mais me importam na
vida, e saber que meus melhores amigos darão uma chance de conhecer Gale
me deixa ainda mais feliz.
Sigo para o trabalho, certo de que verei o meu vizinho e, quem sabe,
roubar um beijo dele.
∞∞∞
Gale
Na manhã de sábado, como “ganhei” uma folga extra de Luke, acabo
me colocando de pé e fazendo algo que estava procrastinando há tanto
tempo. Pego meu aparelho celular e me conecto no Skype, ligando para
minhas amigas do Brasil, torcendo para que elas atendam e possamos
conversar um pouco. Acordei, como imaginei, triste e chateado por estar
fazendo aniversário e não ter quem eu amo ao meu lado nesse dia tão
especial para mim — meus pais.
Lembro-me da diferença de horário e, para minha surpresa, Priscila,
minha amiga apelidada de Mara, atende rapidamente. Vejo seu olhar sério
enquanto ela boceja, então logo em seguida Wanessa, Jade e Marcela
atendem, sonolentas.
— Bom dia, garotas — cumprimento-as.
Quando ouvem minha voz, seus olhares se espantam e me encaram.
— Puta que pariu, olha só quem resolveu dar o ar da graça nessa
manhã de sábado. Sabia que aqui são seis da manhã? — pergunta Mara.
Rio e assinto, encarando o rosto redondo e sereno de Wanessa.
— Pensamos que não voltaria a entrar em contato conosco, Gale
— diz ela, sorrindo.
Admiro seu lindo sorriso enquanto ela coça a cabeça careca.
Wanessinha vinha enfrentado no último ano um câncer maligno no seio
direito e com muita quimio e força de vontade, ela ficará boa e irá se
recuperar.
— Vocês não fazem ideia de como é bom olhar cada uma — digo,
observando Jade com seus olhos fechados.
— É bom saber que nosso melhor amigo não nos abandonou e está
vivo. Como estão as coisas aí em Londres? — questiona ela, sorrindo.
— Bem, por incrível que pareça, tudo está ótimo — digo
alegremente. — Consegui o emprego! — As quatro gritam com entusiasmo.
— Agora me digam, como Heleane está? E a Anna?
— Elas estão ótimas, devem estar dormindo, já que as duas
hibernam quando se deitam em uma cama — responde Marcela, sorrindo.
— Todas nós sentimos muito sua falta, não é a mesma coisa nos reunirmos
e não termos você ao nosso lado.
Concordo, sentindo vontade de chorar.
— Você ligou por causa do seu aniversário não foi, Ga? Estávamos
ansiosas para isso, imaginamos que aconteceria mesmo essa ligação hoje.
— Wanessa me encara.
Novamente volto a concordar e suspiro.
— Ainda está sendo muito difícil para mim ao me recordar deles e,
claro, pensar em tudo que eu já fiz.
— Não fique assim, querido, sabe que estamos aqui para tudo o
que precisar — diz Jade.
— Sim, conte conosco para tudo, amigo, não deixe de nos contatar
quando precisar de alguma coisa — acrescenta Mara.
— Isso mesmo, e a propósito, feliz aniversário! — grita Wanessa,
entusiasmada.
Minhas outras amigas a acompanham e sinto as lágrimas invadirem
meus olhos, porém, as enxugo antes de caírem, ouvindo a campainha tocar.
— Eu preciso ir agora, mas volto a falar com vocês. Mandem um
beijo para Anna e Hele.
As quatro concordam, e assim que finalizo o Skype, limpo meus
olhos e vou na direção da porta. Quando eu a abro, me deparo com Luke
parado usando uma bermuda jeans, tênis, camiseta e nas mãos um buquê de
rosas vermelhas e uma caixa de bombons.
— Feliz aniversário! — diz ele, animado, ao me encarar acima do
buquê.
Sinto vontade de chorar novamente, então engulo em seco e
agradeço, dando passagem para ele.
— Luke, e-eu nunca ganhei flores em toda a minha vida — respondo,
pegando-as e engolindo em seco novamente.
— Bom saber que estou te dando algo diferente, então — responde,
me entregando os chocolates e colocando as mãos nos bolsos.
Dou um sorriso agradecido enquanto as coloco em um vaso que está
no aparador da sala antes de seguir em sua direção e o abraçar.
— Obrigado novamente. Apesar de tudo, hoje não é uma data tão
legal para mim, você sabe, perdi meus pais...
Ele concorda, ainda abraçado a mim, e me encara, dando um
sorrisinho sexy.
— Além disso, trouxe algo para você — diz, sem graça.
Fico ainda mais surpreso e ergo a sobrancelha.
— O quê? Luke, você já me deu folga hoje, está ótimo somente isso.
— Relaxe, antes que brigue, saiba que não é nada de mais.
De dentro do seu bolso, ele retira duas passagens para o Brasil sem
data definida.
— Você pode ir quando quiser, quem sabe não vamos juntos — diz,
sorrindo.
— Obrigado mais uma vez — agradeço gentilmente, querendo dizer
que não pretendo ir tão cedo para o Brasil.
— Não por isso. Me diga, está ansioso para mais tarde? Tenho
certeza de que você vai adorar.
Dou outro sorriso e forço-me a respondê-lo.
— Ansioso até demais — minto.
— Certo, você já tomou café?
— Ainda não, na verdade, eu ia tomar um banho e fazer isso — digo,
indo até a cozinha e colocando comida para o meu cachorro.
— Gostaria de tomar café comigo? — pergunta, animado.
— Se você me esperar tomar um banho...
Luke concorda, então sigo para o banho, ansiando pelo momento em
que ele não vai se aguentar e virá a minha procura.
∞∞∞
Luke
Como imaginei, Gale demorou mais do que o normal no banho, então,
quando olho para o relógio, já é quase onze e meia da manhã. Suspiro,
frustrado, e me coloco de pé, indo em direção ao seu quarto e adentrando o
local. Assim que me coloco no banheiro, Gale me encara de dentro da
banheira e sorri.
— Achei que não viria nunca — diz, dando um sorrisinho sexy.
— Era só ter me chamado que eu viria na mesma hora — respondo,
sorrindo, o volume no meio das minhas pernas é palpável.
— Então vem agora, sr. Evarns.
Começo a me despir, e quando fico totalmente pelado, entro na água
quente da banheira.
— Acho que tem uma coisa aqui para você, Gale.
— Ótimo, porque estou louco para provar do seu sabor de novo —
responde, se aproximando de mim.
Apoio meu braço na beirada da banheira e ele se encaixa no meio
das minhas pernas.
— Seria ótimo se você me beijasse agora, Gale — sussurro no seu
ouvido.
Ele se arrepia por inteiro e nos encaramos, então, devagar, como se
estivéssemos em câmera lenta, nossos lábios se conectam.
O sabor almiscarado invade minha boca, então o aperto ainda mais
contra meu corpo, a água quente envolvendo nossos corpos sedentos. Passo
minhas mãos em seu peitoral e Gale me encara, então, devagar, levo-as até o
meio de suas pernas, sentindo seu pau duro pulsar. Seguro-o com uma das
mãos e começo a masturbá-lo ainda debaixo da água, então volto a me
aproximar dele e o beijo novamente.
De repente, é como se tudo que eu já tivesse feito na vida não
passasse de uma ilusão. Ter Gale Meyers ao meu lado, mesmo que em
circunstâncias embaraçosas e nem todas agradáveis, me deixa vulnerável. E
diferente do que penso ou imagino, não me sinto mal com isso. Pelo
contrário, a sensação me conforta de uma maneira que jamais alguém havia
conseguido antes. O que me faz acreditar, ainda com meus lábios nos dele,
que sou totalmente louco por ter sentimentos dos quais não estou acostumado
por um homem que conheço há pouco tempo. Será possível isso? Será
realmente possível estar apaixonado por uma pessoa que pouco conheço?
Será considerado loucura dizer que, mesmo com todos os meus medos e os
nossos traumas, eu sou dele, somente dele?
— Sou todo seu, Gale — digo, afastando nossos lábios —, somente
seu.
Ele passa as mãos pelo meu corpo e eu puxo seus cabelos, o toque
dele é fascinante, maravilhoso, incansável, e chega a ser um tanto
desesperador.
— Quero você, Luke — geme e pega no meu pau —, preciso de
você.
Sorrio ao ouvir isso e respiro profundamente, suas palavras me
excitam mais ainda, então beijo seu pescoço e chupo seus mamilos.
— Precisamos tomar nosso café... — digo, ainda beijando-o.
Gale concorda e continuo masturbando-o debaixo da água, então ele
pega no meu pau e faz o mesmo enquanto permanecemos um de frente para o
outro.
— Goza para mim antes — pede, sorrindo.
Penso no quanto quero comê-lo, em todas as posições possíveis e
impossíveis, mas sei que uma hora ou outra terei que dar também.
Continuamos nos masturbando quando uma sensação toma conta da
boca do meu estômago, então gozo e logo em seguida Gale faz o mesmo.
— Nunca em toda minha vida tomei um banho tão delicioso como
este — diz, rindo.
∞∞∞
Depois da nossa experiência no banho e nos trocarmos, como já está
tarde, Gale e eu decidimos seguir para o restaurante, afinal, seus colegas de
trabalho haviam pedido para que eu desse uma folga extra a ele, com a
intenção de fazerem alguma surpresa. E como eu sei que não é uma data
muito boa para meu funcionário, permiti. Assim que entramos no local pouco
cheio, seguimos para a cozinha e Gale é surpreendido com todos seus
colegas de trabalho posicionados no meio da cozinha, com um bolo.
— Surpresa! — dizem todos juntos.
— Meu Deus, Luke — diz ele, emocionado.
— Dessa vez não tenho nada a ver com isso — admito —, apenas
ajudei dando a folga. O plano todo foi de Sasha.
Minha funcionária se aproxima e abraça Gale, que fica mais
emocionado a cada segundo.
— Fizemos um bolo para comemorar seu aniversário, espero que
goste — diz ela, sorrindo.
Gale cumprimenta os outros, e assim que termina, ele assopra as
velas e corta o bolo, entregando o primeiro pedaço para mim.
— Obrigado por tudo, se não fosse você ter me dado a oportunidade
de trabalhar aqui, com certeza já teria voltado para casa — diz, com
lágrimas nos olhos.
— Que isso — digo, dando de ombros —, aproveite seus amigos um
pouco, à noite nos encontramos. Estou louco para mostrar a surpresa que
preparei para você.
Depois que como o bolo e me despeço, saio para resolver os toques
finais da surpresa dele.
Gale vai adorar!
Luke Evarns e Gale Meyers
Gale
Depois que Luke vai embora do restaurante, aproveito um pouco com
o pessoal, ainda surpreso com o que eles haviam feito para mim. Penso em
meu aniversário, até dado momento, tudo está ocorrendo muito bem, mesmo
sentindo uma saudade avassaladora dos meus pais dentro de mim, consigo
realmente me sentir feliz por pessoas que mal me conhecem me tratarem de
forma tão especial.
Me recordo de Luke e eu na banheira do meu quarto, dele dizendo
que é todo meu e somente meu. Isso me deixa com uma certa dúvida, mas
como não estou preparado cem por cento para ouvir uma declaração, resolvo
ignorar por enquanto.
Nos divertimos bastante no restaurante, por ser sábado, o movimento
está bem menor do que de costume, o que me deixa surpreso, e uma boa
parte das meninas fica conversando comigo na cozinha.
— Luke que te trouxe, é? — pergunta Sasha, sorrindo, logo beberica
do seu refrigerante, enquanto Mary com Jess ficam aguardando minha
resposta ansiosamente.
— Eu não comentei com vocês, mas agora Luke e eu somos vizinhos
— digo, sorrindo, e as três pulam de alegria.
— Fala a verdade pra gente, bonitão — começa Sasha —, vocês
estão se pegando, não estão?
Dou de ombros, sabendo que não vai adiantar negar isso para elas,
afinal, eu já havia contado para Ana e Alice o que aconteceu entre meu chefe
e eu.
— Não foi intencional, acho, aconteceu do nada — respondo —, mas
sim, meio que estamos ficando.
— Ai, meu Deus, você está realizando o nosso sonho de ficar com
Luke Evarns! — diz Jess, animadíssima. — Nos conte, como é que é? É
grande?
— Ai, meu Deus, Jess, eu nem havia pensado nisso — responde
Mary —, mas agora também quero saber.
Damos risada enquanto me finjo de bobo, dando de ombros e ficando
um pouco sem graça. É estranho demais falar do nosso chefe, e mais ainda
admitir que estamos “ficando”, o que, de certa forma, me deixa um pouco
aliviado em saber que elas não me julgam.
— Pode-se dizer que sim, é grande — admito, sorrindo —, grande
até demais.
As três ficam boquiabertas e Sasha me puxa pelo braço, me
colocando contra a parede.
— Pode admitir, porque agora sou eu a curiosa. Quem comeu quem?
Dou risada ao ouvir isso e balanço a cabeça em negativa.
— Espera, você está dizendo que...
— Não transamos — completo a frase de Jess. — Nós dois somos
ativos e fizemos um desafio de quem irá ceder primeiro.
— Caralho, mas que loucura! — diz Mary, embasbacada.
— Espero que seja ele o primeiro a ceder — responde Sasha.
— Eu também espero — respondo, dando um sorriso e me
lembrando dos meus dedos penetrando Luke. — Agora preciso ir embora,
mais tarde nos encontraremos.
∞∞∞
Assim que chego ao meu apartamento, cuido de Marvel, e com as
horas passando lentamente, decido me aprontar para a noite. Após tomar um
banho, coloco uma calça jeans preta colada ao corpo, uma camiseta da
banda AC/DC e tênis All Star azul de cano alto. Penteio meus cabelos para o
lado e faço a barba, deixando-a alinhada. Aproveito e passo um perfume
amadeirado, e quando a campainha toca, já sei quem é.
Com um sorriso no rosto, eu abro a porta e encontro Luke usando
uma calça jeans vinho, camisa social e os cabelos bem ajeitados, nos pés,
usa tênis iguais aos meus.
— Você está lindo — diz ele, me encarando. — Espero que esteja
preparado para a noite que planejei para você.
— Obrigado. Se não fosse você, com certeza eu estaria sentado no
meu apartamento velho, com um pote de sorvete e chorando o dia todo —
respondo, sorrindo sem graça. — Obrigado de coração, tenho certeza de que
vou adorar tudo.
Ele dá um sorriso contente e estende a mão para mim, então a pego e
após me despedir do meu cachorro, saímos em direção ao elevador.
∞∞∞
Logo de cara Luke me surpreende, como já suspeitava.
Assim que saímos do prédio, encontro uma enorme limusine preta
parada em frente ao condomínio.
— Meu Deus, Luke, ela é sua? — pergunto, já sabendo a resposta.
— Eu disse que seria tudo perfeito — responde, sorrindo. — Que tal
irmos logo? Vamos encontrar o pessoal do restaurante e depois irmos àquela
butique que você me disse, no caminho encontraremos meus amigos.
Assinto e entro na limusine, pensando em todas as pessoas que
estarão conosco nessa noite.
∞∞∞
Luke
Dizem que quando você pensa demais em uma pessoa, significa que
você pode estar apaixonado, amando, ou até mesmo sentindo apenas uma
atração sexual.
Com Gale Meyers eu havia sentido desde o primeiro instante uma
atração sexual da qual não consegui me desvencilhar até o momento de tê-lo
comigo, e após isso, acabei desejando ainda mais, me fazendo acreditar que
não seria somente sexo.
Desde o primeiro momento, algo dentro de mim havia me dito isso,
como se me mostrasse que, pela primeira vez em anos, eu não quero somente
trepar com alguém.
Entretanto, há fatores rigorosos que me impedem de demonstrar meus
sentimentos de forma verdadeira, principalmente meu passado, e claro, a
loucura que é esse relacionamento tão recente.
Porém, dentro dessa limusine, com ele ao meu lado sorrindo de
forma sem graça, as mãos pendendo em cima das pernas, me deixa com uma
vontade louca de esquecer tudo que nos impede e me entregar cem por cento
a ele. Mas Gale aceitará?
Eu sinto que preciso protegê-lo, porém, algo me diz que também terei
que me preservar, ainda mais se Gale não mudar seu jeito reservado de ser.
Saio dos meus pensamentos quando a limusine se aproxima do
restaurante, o ponto de encontro que Gale marcou com o pessoal, para ser
mais fácil de encontrarmos todos.
Assim que o veículo para no meio-fio, ouço burburinhos e Sasha
gritando alegremente.
— Essa noite promete, minha gente! — diz ela, batendo palmas.
Abro a porta e me coloco para fora, Gale me segue, abraçando cada
um, como se não tivesse visto todos eles mais cedo. Assim que Sasha, Mary,
Jess, Dylan e Ralph entram, nos ajeitamos e seguimos para a butique.
— Tyler não vem? — pergunta Gale.
— Ele vai depois — responde Dylan, piscando.
Um tempo depois, paramos próximos à butique, onde avisto uma
negra alta e uma loira um pouco mais baixa ao seu lado. Vejo o entusiasmo
de Gale ao vê-las e não demora para as duas se ajeitarem dentro do carro,
cumprimentando cada um dos presentes. Descubro que seus nomes são Alice
e Ana, e que já haviam me atendido onde trabalham.
Depois que nos conhecemos, seguimos para a casa de Kris, apenas
com a voz de Rihanna de fundo. Sinto que os colegas de trabalho de Gale
nos encaram e pensam se temos alguma coisa, e isso me faz pensar se ele
havia dito algo.
Esse pensamento me abandona quando o carro para em frente à
mansão e avisto Kris, Pitter, Taylor e Bratt. Peço um minuto para Gale e
saio, ouvindo-os conversando dentro do carro.
Kris me encara sério e revira os olhos, então o abraço.
— Por favor, só hoje, não diga nada.
— Até parece que sou um monstro, não é? — comenta ele
sarcasticamente.
— Não disse isso, mas também não disse que não é — digo, rindo.
Ele ri e logo cumprimento Pitter, Taylor e Bratt.
— Está na hora, bonitão, quero me divertir como jamais fiz antes —
diz Taylor, sorrindo.
Entramos no carro e nos apertamos um pouco para caber todos.
— Então você é o Gale Meyers — diz Kris, encarando meu
funcionário ao meu lado.
Ergo a sobrancelha para ele e engulo em seco, com medo do que virá
a seguir.
— Sou eu mesmo — responde ele. — Muito prazer.
Kris sorri e estende a mão para Gale, que a aperta.
— Luke falou muito bem de você para nós, Gale — diz Taylor,
sorrindo —, ficamos curiosos em provar os pratos que prepara.
— Fico feliz com isso — diz ele, forçando um sorriso. — Apareçam
um dia lá no restaurante, preparo algo especial para vocês.
— Vamos aparecer sim, acho que Luke deve ter dito que ele e eu
somos sócios, não? — pergunta Kris, nos encarando.
— Isso não é segredo para ninguém, Kris, vive saindo nos telejornais
— respondo, sério.
— Que tal esquecermos um pouco o trabalho e aproveitarmos a noite
de Gale, hein? — sugere Sasha, sorrindo.
Concordo, sorrindo, e Jess me encara.
— Estamos indo para onde, chefinho? — pergunta ela.
— Nada de chefe, Jess. É surpresa, e tenho certeza de que vão adorar
o lugar que escolhi para a nossa noite.
Gale Meyers
Vamos a uma balada que fica na 15-21 Ganton Street, W1F 9BN. A
fachada não revela muita coisa; somente uma porta preta escondida que,
olhando não é nada atrativa, mas entrando, mostra algo oposto do que pensei.
A balada Cirque Le Soir é realmente incrível, há pessoas andando
para todos os lados e um DJ famoso chamado Axel Hansson[5] está tocando.
Pelo pouco que soube dele, Axel é da Suécia e se tornou um dos melhores
DJ’s do mundo, disputando até mesmo com Martin Garrix, Avicii e Sebastian

Ingrosso.
Olho e fico boquiaberto com o que vejo; há mágicos, cuspidores de
fogo, ambiente neon multicolorido, performances de circo ao vivo,
encantadores de serpentes, anões e contorcionistas, fazendo do lugar um
espaço único e exótico.
Luke vai até um dos homens que trabalham lá e pede uma mesa para
nós. Assim que seu pedido é atendido, seguimos para um espaço que a cada
segundo que eu olho fico ainda mais boquiaberto.
O cenário lembra um circo, obviamente, o que chama minha atenção.
Há luzes para todos os lados e sofás vermelhos e dourados. Nos sentamos e
Luke se coloca ao meu lado e sorri, sem que os outros vejam, aperta minha
mão.
— Aqui é incrível — digo, sorrindo.
— Que bom que gostou — responde ele alegremente. — A balada
Cirque Le Soir foi inaugurada em 2009, muitos famosos como Madonna,
Usher, Lady Gaga, Lindsay Lohan, David Guetta, Black Eyed Peas, Scarlett
Johansson e Leonardo Di Caprio vieram aqui.
Olho em volta no exato momento em que um homem moreno e alto,
de olhos ferozes, sorriso sexy e corpo musculoso se aproxima de nós,
parando ao lado de Sasha. Ela o observa e percebo que ele é o namorado
grudento.
— Oi, gato — diz Sasha, pulando no seu colo e devorando sua boca.
Fico parado, olhando a cena sem acreditar que isso realmente está
acontecendo. Luke se levanta e vai até o balcão falar com o barman.
Dylan e Tyler se aproximam, então me levanto e vou na direção dos
dois.
— Estão se divertindo? — pergunto, dando um sorriso forçado.
— Bastante. Vocês são demais, não conhecíamos esse lado meigo de
Luke — diz Dylan, levando uma cerveja até os lábios.
— Realmente, ele me surpreendeu tanto quanto vocês — respondo,
sem graça.
— Sim, você tem sorte — diz Tyler.
Dou outro sorriso e balanço a cabeça em concordância.
— Talvez eu tenha um pouco. E vocês estão sozinhos ou as
namoradas estão vindo?
— Namoradas? — questiona Tyler, rindo — Amapô[6], somos do vale
igual a você. Eu sou gay e Dylan é bi.
Dou risada e fico surpreso ao saber que Tyler é gay e Dylan
bissexual, sem acreditar que não havia reparado nisso antes.
— Entendi — é a única coisa que consigo dizer.
Os dois sorriem e Tyler me encara.
— Vi que você e Luke estão se dando muito bem. Espero que dê
certo.
— Ah... hum, obrigado, mas só somos amigos — respondo, querendo
evitar o assunto.
— São sim — diz Dylan, pegando um cigarro e seguindo com Tyler
para a área de fumantes.
Luke se aproxima de mim com dois copos nas mãos, e me entrega
uma cerveja, dando um sorriso sexy.
— Está se divertindo? — pergunta.
— Tenho que confessar que você me pegou de surpresa. Eu
realmente estou adorando.
— Fico feliz por isso, me desculpe pelo jeito de Kris na limusine —
diz, meio sem graça —, ele é meio difícil.
— Tudo bem, estaria na mesma posição se fosse ele — respondo,
dando de ombros.
— Em que sentido?
— Ficaria preocupado se meu amigo começasse a se relacionar com
um rapaz de classe diferente, claro — esclareço —, e era o que eu temia.
— O-o quê? Acha que ele está assim por que pensa que você vai
querer meu dinheiro?
Olho para os outros na mesa, rindo e brincando, e encaro Kris, que
me observa atentamente.
— Eu não sei, mas não dou a mínima para o que ele pensa de mim.
— Encaro-o atentamente, ergo meu copo na sua direção e Kris faz o mesmo,
fazendo Luke dar um sorriso.
— É assim que se fala — diz ele.
Sinto que por um segundo Luke está satisfeito com isso, então
observo atentamente cada um dos rostos. Ana está com um rapaz muito
bonito ao seu lado, o que me faz acreditar que só pode ser um ficante, já que
desde o momento que chegou, não havia saído do seu lado.
Alice também está acompanhada, um homem muito bonito está
flertando com ela. Sasha continua agarrada com seu namorado que ainda não
sei o nome, Jess está com Ralph e, Mary, desacompanhada. Então, por
último, vejo Taylor com o rapaz, o noivo de Kris. Criando coragem, me
aproximo de Luke, colando nossos lábios ao som de Rihanna saindo das
caixas de som:
Ouvi dizer que você é boa com esses lábios macios
Sim, você sabe usar a boca
A raiz quadrada de 69 é 8 e alguma coisa
Porque eu fiquei tentando resolver isso, oh
Erva boa, vinho branco
Quando chega à noite, eu ganho vida
Depois de um bom tempo, nos afastamos e Luke sorri, então olho
para o pessoal e noto que todos nos encaram, até mesmo Sasha havia parado
de se agarrar com seu namorado.
— Eita porra! — diz ela, ainda no colo do namorado.
— Olá, sou Jason — diz o homem, tentando disfarçar o clima que
havia criado.
— Prazer em conhecê-lo, eu sou o Gale.
— Eu sei, Sasha me falou sobre você.
Sorrio e encontro Kris me encarando com seriedade.
— Então, o que vocês acham de brindarmos e aproveitarmos a noite?
— sugere Luke.
Concordo e sigo na direção da mesa, todos se colocam de pé,
erguendo seus copos. Novamente vejo o sócio do meu chefe me encarar e,
juntos, fazemos um brinde, mas fico um tanto sem graça com isso.
A que ponto cheguei! Eu havia perdido a cabeça e beijado Luke na
frente de todos.
∞∞∞
Às quatro da manhã já estamos um pouco alterados por conta dos
diversos drinques que havíamos bebido. Luke, a todo instante, se manteve ao
meu lado, sorrindo, dançando e cantando. A pista de dança está lotada,
nossos amigos dançam felizes, apenas Tyler e Dylan haviam sumido, mas
Kris disse que os encontrou no banheiro aos beijos.
Assim que a música eletrônica acaba, Like a Virgin, da Madonna,
soa alto nas caixas de som. Luke me beija e diz que volta rapidamente antes
de seguir na direção de Kris, esticando o braço para ele. Seu sócio pega sua
mão e faz uma reverência dramática, então, ao som de gritos e aplausos, os
dois seguem para o meio da pista e começam a dançar.
Me afasto um pouco, secando o suor da testa, e Pitter, o noivo do
Kris, se aproxima e me encara, com um sorriso gentil.
— Não leve para o lado pessoal, Gale — diz.
— Como assim? — pergunto, sem entender.
— Eles estão dançando essa música porque será a entrada do meu
casamento com Kris.
Tento imaginar a cena enquanto os observo, e percebo a sincronia
entre eles.
— Interessante, mesmo assim não entendo o que não é para levar
para o lado pessoal.
Ele assente e se coloca ainda mais próximo de mim, então chama um
garçom e, após pegar uma bebida, me encara novamente.
— O que quero que você entenda é que Kris e Luke são amigos há
anos. A história deles é bem complicada, até mesmo suspeito que ambos já
tiveram alguma coisa, no entanto, você precisa entender que o problema do
meu noivo é justamente esse; o que eles passaram. Pode ser que ele tenha um
pouco de ciúmes sim, mas é apenas preocupação por conta de tudo que Luke
já viveu.
Assim que ele termina de falar, penso a respeito. Com certeza Kris
está com ciúmes de Luke, o que me faz acreditar o quanto isso é maluco —
mal nos conhecemos e já estamos envolvidos.
— Também tenho um passado que não me agrada nem um pouco —
admito, ainda vendo-os dançar —, porém, deixe Kris despreocupado, afinal,
não pretendo nem me magoar e nem magoar Luke.
— Posso te dar um conselho?
— Claro.
— Se fosse Kris dizendo, ele diria para se afastar o mais rápido
possível de Luke, mas como não sou — ele dá uma risada e me encara —,
lute por ele, seja o homem que ele precisa, acima de tudo, seja sempre
sincero. Não force a barra nem sua e nem dele, no momento certo Luke irá se
abrir para você, mas um dos dois lados terá que ceder primeiro.
— Obrigado pelo conselho. Eu sei o que farei, precisarei de um
pouco mais de tempo, mas irei me abrir para Luke.
Pitter concorda com um aceno de cabeça e continuamos os encarando
na pista. Assim que a música acaba, Luke sorri de onde está e Kris se
aproxima da gente.
— Saiba que está convidado para o nosso casamento — diz Pitter,
encarando o noivo.
— Está mesmo — diz Kris, me olhando dos pés à cabeça.
— Oi, Kris — digo, sério.
— Oi — responde de maneira mecânica —, nos deixe a sós, amor.
Pitter concorda, se despedindo com um beijo em Kris, e segue em
direção à pista de dança.
— Sabe, Bi, Luke falou muito sobre você. Veio de São Paulo
também, interessante, perdeu os pais há pouco tempo, uma lástima, sinto
muito.
— Obrigado — digo, sabendo que esse assunto provavelmente vai
render.
Ele dá um grande gole no seu coquetel e se vira para mim.
— Vou ser direto, Flor. Eu não apoio o relacionamento de vocês...
— Percebi.
— Mas também não julgo. Eu conheço Luke há anos, e você, há
poucos dias, quero que você cuide do meu amigo, entendeu? Estou sendo
claro?
Olho para ele, dou de ombros e sorrio.
— Ah, claríssimo — digo, alfinetando —, tão claro quanto foi no
carro, quando disse que é sócio de Luke.
— Isso é bom — ele morde os lábios —, espero que você faça meu
amigo feliz, não quero ter que falar com você a respeito disso de novo.
— Não se preocupe, não vai precisar. Apesar das nossas diferenças,
tenho certeza de que podemos ser felizes e, claro, ele ser todo meu.
— Serei? — Luke pergunta ao se aproximar de nós e me abraçar.
Sorrio diabolicamente para Kris e o encaro.
— Só se você quiser.
— E eu quero — responde antes de me beijar. — Que tal sairmos
daqui agora e seguirmos para outro lugar? Tenho outra surpresa para você.
— Sério? — Arregalo os olhos, não acreditando nisso. O que mais
terá?
— Sim, já chamei o pessoal.
— Tudo bem, vamos.
Dou uma última olhada para a balada antes de Luke pegar na minha
mão e saímos para as ruas frias de Londres, com o resto do pessoal nos
seguindo.
Luke Evarns
Entramos no carro um pouco alterados por causa da bebida. Meu
braço está apoiado no ombro de Gale, enquanto Taylor sorri para Bratt, e
Kris — um tanto sério — com Pitter estão sentados à minha frente. Observo
meu funcionário e sorrio, me aproximando um pouco mais dele e beijando
suavemente sua testa.
Quando Gale Meyers me beijou no meio da balada com todos nos
encarando, tive a certeza de que, primeiro, eu realmente estou me
apaixonando por ele. Cada parte do seu corpo, até mesmo as quais nem
explorei ainda, me atrai como um imã. Seu toque, beijo, a barba roçando a
minha enquanto nos beijávamos me deram a certeza absoluta do que eu sinto.
No entanto, ainda preciso saber o que Gale sente por mim.
Com certeza, isso é uma novidade e tanto para mim, ainda mais que
sempre vivi na promiscuidade em relação a “relacionamentos”. Será que
Gale sente o mesmo que eu? Será que, no fundo, ele pensa em se abrir
comigo, assim como eu com ele?
Decidido a aproveitar a noite, afasto esses pensamentos, e quando
percebo, a limusine adentra a garagem da minha casa. Gale continua me
encarando, e ao notar as letras em neon acessas, ergue a sobrancelha.
— Uma de suas festas — diz ele, rindo.
Assinto, ainda sorrindo. O carro estaciona e todos saímos
rapidamente, com os colegas de trabalho de Gale sorrindo e gritando
entusiasmados.
— Surpresa — sussurro no ouvido de Gale quando entramos e ele vê
a enorme festa preparada.
Black, do Pearl Jam, começa a tocar e todos se espalham pelo salão,
dançando agarrados. Um garçom se aproxima de nós e eu pego um coquetel
para mim e um para Gale. Assim que entrego para ele, noto seus olhos
marejados, emocionado com a surpresa que eu havia preparado.
— Você viu no meu Facebook também que gosto do Pearl Jam ou é
uma coincidência?
— Culpado — admito. — Como está se sentindo?
Ele leva o coquetel até os lábios e sorri ainda mais.
— Bastante surpreso, devo admitir. Obrigado por tudo, ainda não
consigo acreditar que você foi capaz de fazer isso tudo. Nos conhecemos há
tão pouco tempo.
Eu disse que usaria todas as armas possíveis para te conquistar,
penso, no entanto, apenas sorrio e o puxo para mais perto de mim, colando
nossos corpos.
— Precisamos conversar, Luke — sussurra ele, ainda nos meus
braços.
— Estou aqui — respondo, sentindo o delicioso cheiro dos seus
cabelos recentemente lavados.
Assim que a música acaba e começa uma da Katy Perry, ele se afasta
um pouco e dança comigo enquanto me encara.
— Eu quero isso, entende? Eu quero ser sincero com você, contar
sobre o meu passado problemático e tudo que me afeta...
Coloco meu dedo sobre seus lábios e acaricio seu rosto.
— Seremos sinceros um com o outro no momento certo. Veja o
quanto isso tudo é louco, não tem nem uma semana que nos conhecemos e já
estamos envolvidos — respondo.
— O que quer dizer com isso?
— Que ainda teremos tempo para pensar em nos abrirmos um com o
outro — afirmo, passando a ponta dos meus dedos em sua bochecha. — Na
hora certa seremos sinceros.
— Só tenho medo de que você não aceite e acabe me julgando por
tudo que já fiz.
Afinal, o que ele fez?
Que porra! Eu preciso saber o mais rápido possível.
— Meu passado também não foi o dos melhores, fiz coisas que me
arrependo demais, não se julgue tanto por causa disso — digo, beijando sua
testa. — O que passou, passou, e não podemos mudar o passado, mas
podemos determinar um pouco do nosso futuro e aprendermos com nossos
erros.
Ele sorri, concordando.
— Vinte e quatro anos. Nem consigo acreditar que passou tão rápido
— diz, mudando de assunto.
— Você está ótimo, e eu que estou quase beirando os trinta? —
brinco.
Ele ri e dá de ombros.
— Ter trinta não será problema para você, afinal de contas, é um
homem muito bonito, atraente e tem um império enorme.
— Bobagem, eu nunca quis isso. Só assumi as empresas do meu pai e
a presidência porque ele quis. Nunca, em hipótese alguma, escolheria tanta
responsabilidade. As pessoas dizem que sou rico, bonito e atraente, e que
existem diversos homens aos meus pés, mas isso tudo é consequência das
escolhas de Charles Evarns. Eu invejo muito quem pode viver
tranquilamente, sem ser matéria nos jornais. Sabe, Gale, minha vida é uma
verdadeira vizinhança de fofoqueiros, onde cada passo que dou, sou vigiado.
Muitos pensam que dinheiro, poder e status é tudo, mas não imaginam o
quanto as pessoas que têm isso são vazias.
Ele apenas ouve o que eu digo, então suspiro e bagunço seus cabelos.
— Todos os homens com quem me relacionei sempre diziam no
início ou final da noite o quanto sou sortudo em ser rico e ter redes de
empresas e restaurantes. Em cada pessoa com quem eu me deitava, notava
nos olhos a ganância de ao menos terem um pouco do que tenho. Algumas
pessoas eu até ajudei, no entanto, nunca passou disso. Você, Gale Meyers, foi
o primeiro, em muitos anos, que se interessou por mim pelo que sou, e não
pelo o que eu tenho. Agora entende a frustração que é estar apaixonado por
um homem como você e não saber se sou correspondido? Minha cama
sempre foi vazia e fria, e isso nunca me abalou, mas agora o lado vazio do
travesseiro me deixa impotente ao pensar que é uma grande incerteza o que
temos.
Paro de falar e ele continua me encarando, sem reação alguma, talvez
pensando que não passo de um louco desesperado para me entregar de
coração a alguém. Talvez eu seja mesmo.
— Luke, eu... eu não sei o que dizer, só quero que entenda que
precisamos colocar muitas coisas a limpo. Mal conseguimos transar.
— Eu sei, eu sei e estou tentando colocar as coisas a limpo. Eu dou o
tempo que for necessário para você, só não saia de perto de mim.
Ele me encara, sorrindo, e se aproxima ainda mais. Novamente,
como na balada, nossos lábios se encostam e eu o beijo profundamente,
como se fosse o nosso primeiro. Ainda com nossos lábios conectados, penso
em como as coisas mudaram de uma hora para a outra. Em poucos dias, eu
estava forjando derrubar vinho de propósito em mim para chegar neste
homem, e agora estou beijando-o na frente de amigos e funcionários,
deixando claro o que está acontecendo entre nós dois.
∞∞∞
O restante da madrugada é bem divertido, até mesmo Kris acabou se
rendendo e se vestiu a caráter, colocando uma peruca e dançando
animadamente com todos nós. Quando os primeiros raios de sol começaram
a surgir, decidimos finalizar a festa com meus sócios e Taylor indo embora.
Aos poucos, os outros se instalaram nos quartos da minha mansão e, quando
vimos, Gale e eu estávamos deitados na enorme cama.
— Você gostou? — pergunto, encarando-o, meus olhos quase se
fechando por conta da bebida e cansaço.
— Foi um dos melhores aniversários que eu tive em toda minha vida
— diz, sorrindo. — Obrigado mais uma vez. Você conseguiu fazer com que
eu não pensasse tanto na perda dos meus pais e tudo que venho enfrentando.
Sorrio e o puxo para mais perto de mim, beijando suavemente seus
lábios, então recordo-me de ter dito a ele que estou apaixonado.
— Gale, sei que admiti que estou apaixonado por você, mas não
quero que se sinta pressionando a dizer alguma coisa — digo para me abrir
um pouco mais —, como disse antes, ainda teremos bastante tempo para nos
abrirmos um com o outro e quero que saiba que você tem o tempo que for
preciso para fazer isso.
Ele assente e volta a me beijar, logo nos ajeitamos na cama e me
acomodo em seus braços. Não demoro muito para cair no sono, tendo
pesadelos com meu passado e a morte de mamãe.
Gale Meyers
Acordo na manhã seguinte com Luke ainda me abraçando e me
recordo da noite anterior. Lembrando de como Luke me surpreendeu não só
com a festa, mas nas revelações e declarações que havia feito para mim.
Em menos de uma semana ao lado de Luke Evarns os meus dias estão
sendo agitados desse jeito, e isso me deixa com um pouco de dor de cabeça.
Ainda mais em saber que ele está apaixonado por mim, o que, de certa
forma, é uma loucura e tanto.
Mas, no fundo, gosto de saber disso, ainda mais que com Luke sei
que poderei me abrir no momento certo, entretanto, algo dentro de mim ainda
me impede de fazer isso.
Levanto-me devagar sem fazer barulho e olho o enorme quarto dele,
procurando um banheiro para usar. Adentro uma porta e encontro o local,
então, rapidamente, faço minhas necessidades matinais e lavo meu rosto,
sentindo a bile na minha boca. Ao me encarar no espelho, vejo meus cabelos
bagunçados e que estou sem camisa, então tento me recordar do momento em
que tirei, porém, não tenho êxito.
Saio do cômodo e sigo para o quarto, encontrando Luke se
espreguiçando e se sentando na cama.
— Dor de cabeça — diz, esfregando os olhos com as mãos. — Que
horas são?
Olho para o relógio na mesinha ao lado da cama e constato que já
passa das dez. Fico realmente feliz por hoje ser a minha folga.
— Mais de dez. — Caminho na direção dele e subo no colchão
macio da enorme cama. — Bom dia, magnata.
Ele sorri e boceja, dando um beijo na minha testa e se colocando de
pé.
— Magnata, é? Essa é nova para mim. Vou tomar um banho, me
acompanha?
Encaro seu peitoral desnudo e umedeço meus lábios com a língua.
— Eu não sei, minhas intenções não seriam muito boas — digo
maliciosamente.
— Espero que não sejam mesmo — declara, retirando a calça e a
cueca, deixando seu pau meia-bomba à mostra.
Paro diante de Luke e ele me encara, então beijo suavemente seu
peitoral e, devagar, me ajoelho, levando seu pau até minha boca. Ele solta
um gemido alto enquanto continuo chupando-o, então começo a masturbá-lo e
Luke revira os olhos de prazer.
Engulo novamente seu pau e me delicio com o ato, pela primeira vez
em muito tempo, não me sinto errado por estar fazendo isso. É o que eu mais
desejo, sentir o gosto de Luke nos meus lábios, provar dele por inteiro, em
todos os sentidos. Então, ainda o chupando, continuo com movimentos
vaivém e não demora para ele gozar, lambuzando meus lábios. Solto um
gemido alto ao gozar sem ao menos me tocar, e quando ele vê, me puxa em
sua direção e beija meus lábios, também provando do seu sabor.
∞∞∞
Depois de Luke ter me emprestado uma escova de dentes e termos
tomado banho juntos, nos trocamos e descemos para a enorme sala de jantar.
Assim que adentramos o local, encontramos Ana, Alice, Sasha, Jason, Ralph,
Mary e Jess sentados, seus rostos com expressão de cansaço.
— Ainda bem que hoje não temos que trabalhar, senão eu ia cair
dentro de alguma panela — diz Sasha, bocejando.
Dou risada e, após cumprimentar cada um, me sento ao lado de Luke
à mesa, que está posta com diversos tipos de alimentos — frutas frescas,
suco natural, pães, torradas, geleias, frios e muitos outros. Quando ouve meu
estômago roncar, Luke sorri, então começamos a nos servir e comemos em
silêncio.
— Que festa maravilhosa — diz Mary, entre uma mordida e outra. —
Obrigada por ter convidado a gente, Gale.
— Eu que agradeço por estarem comigo. E agradeçam a Luke, ele
que organizou tudo.
— Foi ótima mesmo, fazia muito tempo que eu não me divertia tanto
— diz Alice, sorrindo.
— Não foi nada de mais — diz Luke, apalpando minha perna por
debaixo da mesa. — Gale merece.
Dou um sorriso sem graça.
— Vocês ficam lindos juntos — Ana diz, sorridente e piscando para
mim.
— É verdade, não adianta negarem o inevitável. Estávamos bêbadas,
mas bastante cientes do que nossos olhos viram ontem — completa Jess.
Lembro-me do nosso beijo e sinto meu rosto ficar vermelho. O que
irão pensar agora sabendo que Luke e eu estamos nos “relacionando”? Só a
ideia de as pessoas falarem a respeito disso me deixa um tanto incomodado.
— O que temos para hoje? — pergunto, mudando de assunto.
— Bem, eu tenho que ir nessa, hoje ainda trabalho — diz Jason.
— Nós também precisamos ir — diz Alice, apontando para Ana.
Só agora noto que os caras da noite anterior não vieram com elas, me
dando a certeza de que eram apenas “ficantes”.
Depois de um tempo, o pessoal vai indo embora e só sobramos Luke,
Sasha, Jess e eu. Ralph e Mary têm que cobrir o turno da tarde do
restaurante, e mesmo Luke oferecendo folga aos dois, eles não aceitaram, se
despedindo de nós e indo para suas casas.
Como Jason tem que trabalhar, pedi para Sasha ficar conosco, assim
como Jess.
— O que acham de irmos para o meu apartamento? — pergunta Luke
após sairmos da mesa.
— Claro, por que não? — diz Sasha, topando na hora.
Jess também concorda e, sem escolha, aceito o convite. Minutos
depois entramos no carro e seguimos para o apartamento de Luke.
Capítulo Vinte e Seis — Sem energia
Gale Meyers
Assim que chegamos ao condomínio que Luke e eu moramos,
seguimos na direção do elevador e logo estamos adentrando o apartamento
dele.
As meninas ficam embasbacadas com o local. Luke nos serve água e
refrigerante, então nos colocamos no sofá e conversamos um pouco mais
sobre a noite anterior. Tudo ainda parece um sonho muito bom, o que me
anima bastante, mas, no fundo, sinto como se estivesse adentrando um lugar
do qual não sairei cem por cento na defensiva. É como se eu fosse uma
bomba-relógio programada para explodir e, no fundo, sei que se isso
acontecer, alguém sairá machucado.
Afasto esses pensamentos insanos e aproveito meu refrigerante,
sentindo a mão de Luke no meu ombro a todo instante.
Decidido a ir ver como Marvel está, deixo as meninas e Luke na
sala.
— Não vou demorar, prometo — digo enquanto caminho até a porta.
— Traga-o para cá — diz Luke.
Assinto e sigo na direção da porta ao lado, procurando minhas
chaves no bolso e a abrindo. Marvel corre na minha direção, latindo.
— Oi, garotão — digo, pegando-o no colo e acariciando seu pelo.
Vou até o armário, pego um pouco de ração e duas travessas. Volto
para o apartamento de Luke, e enquanto as meninas brincam com meu
cachorro, coloco água e comida para ele, que cansado depois de tanto correr
pelo apartamento, decide comer.
— Então, o que iremos fazer? — pergunta Luke, sorrindo.
— Eu não sei, o que sugere? — pergunta Sasha.
— Bem — diz ele, sorrindo maliciosamente para mim —, que tal
jogarmos uma partida de videogame?
Sasha e Jess me encaram e dão um sorrisinho diabólico.
— Só se for agora! — dizem juntas.
∞∞∞
Uma hora depois, estamos jogando o mesmo jogo que Luke e eu
havíamos jogado na sua casa, a diferença é que estamos em dupla — Sasha
comigo e Luke com Jess.
Olho o placar quando Jess me derrota e vejo que estamos empatados
— 4X4.
— Esse jogo é do demônio! — grita Sasha.
— Você diz isso porque perdeu — responde Jess, batendo na mão de
Luke.
— Não seja ridícula, garota, isso não é sinal de estarmos desistindo
— responde a outra. — Vamos lá, Gale e eu queremos revanche.
Os dois concordam e logo iniciamos a jogada. Bato no avatar de
Luke e ele pula para trás, evitando meus golpes. Me aproximo ainda mais
dele e bato novamente, então o acerto e o avatar cai no chão. Sasha está na
mesma com Jess.
— Poder especial, agora! — grito para ela, rapidamente apertamos
os botões e uma luz forte surge na tela, revelando nossos adversários caídos
no chão, mortos.
— Somos invencíveis — solta Sasha, debochada. — Então querem
revanche também? — Bato na mão dela e encaramos os dois.
— É claro que queremos — diz Luke.
— Ora, ora, gato, então assim será — diz minha aliada, encarando
suas unhas pintadas. — Vamos ver quem perderá dessa vez.
— E quem perder ficará pelado! — digo.
Vejo três pares de olhos me encararem e Sasha fica boquiaberta.
— Gale, se você quer ver meus peitinhos, é só dizer — Sasha
profere, me dando um tapinha no braço.
— Uso suas palavras como minhas, Sasha — diz Luke. — Não que
você nunca tenha me visto nu antes, não é?
Sinto meu rosto queimar e olho para Luke, fuzilando-o.
— Tudo bem, gente, foi só uma sugestão — digo, revirando os olhos
—, esqueçam isso, ok?
— Nem vem, gato, agora que ofereceu, vai ter que arrancar a calça.
Mas vamos ficar apenas seminus, pode ser? — sugere Jess.
— Bem, se minha parceira topa, eu também topo! — diz Luke,
piscando para mim.
Tenho certeza de que ele está se lembrando daquela noite na sua
casa.
— Então tudo bem, queridos, vocês que escolheram isso — diz
Sasha. Batemos um na mão do outro e viramos para nossos adversários. —,
mas vão ter que aguentar até o fim!
∞∞∞
Se eu soubesse que acabaria perdendo tantas rodadas seguidas, não
teria sugerido aquilo. Sasha e eu estamos apenas com nossas peças íntimas,
diferente de Luke e Jess, que só retiraram suas camisetas.
Solto o controle quando perco novamente e Sasha grita de frustração,
então vejo o quanto meu chefe e minha amiga de trabalho se divertem com
isso.
— Que merda, Gale, perdemos feio — diz Sasha, frustrada.
De repente, as luzes se apagam e a energia cai, fazendo nos
assustarmos com isso.
— Deve ser algum problema no gerador, vou lá embaixo ver o que é
e volto num instante — diz Luke, colocando a blusa.
— Vou aproveitar e indo nessa, já está ficando tarde — diz Jess, se
vestindo e dando um beijo em nós. — Vejo vocês dois amanhã no trabalho.
Concordo, me despedindo dela, e assim que os dois saem, ficamos
somente Sasha e eu parados no meio da sala, seminus.
— Eu vou atrás de velas — digo, acendendo a lanterna do celular.
Sasha me acompanha na procura, e como não encontramos, voltamos
para o sofá novamente.
— Gale, podemos conversar? — pergunta Sasha, me encarando.
— Claro, sobre o quê?
— Não sei se você sabe, mas Pitter e eu somos meio que amigos. De
tanto ele ir ao restaurante com Kris, acabamos criando uma amizade —
começa, me deixando surpreso. — Na sua festa, ele me disse que vocês dois
conversaram, e como ele me conhece muito bem e sabe que trabalhamos
juntos, me aconselhou a conversar com você.
Fico ainda mais surpreso com isso e tento me lembrar se em algum
momento vi os dois conversando, no entanto, não me recordo de nada.
— Certo — murmuro —, e o que exatamente ele te disse?
— Do seu receio por conta do seu passado — diz ela.
Engulo em seco e concordo com um aceno de cabeça.
— Eu tenho receio mesmo, mas...
— Não, Gale, me deixe falar, tá? Eu também tenho um passado
complicado, e acho que se você souber disso, pode te ajudar.
— Ajudar no quê? — questiono, a cada segundo mais surpreso.
— Quero que você tenha confiança em você mesmo, Gale, acho que
se você ouvir o que tenho a dizer, conseguirá se abrir para Luke e se libertar
dessas amarras.
Gale Meyers
Ainda está escuro no apartamento de Luke e ele não havia voltado, o
que me faz acreditar que está brigando na recepção pelo gerador não estar
funcionando. Encaro Sasha ao afastar esses pensamentos e vejo seus olhos
brilharem, as lágrimas quase transbordando. Engulo em seco, sem saber o
que fazer, e ela as seca, fungando.
— Eu não sei o que é, mas a Jess comentou comigo que você teve um
noivo babaca e...
— Sim, eu tive, mas não é sobre ele que vou falar — me corta, agora
encarando o nada —, na verdade, isso foi bem depois do meu noivo, posso
dizer com clareza que ele tem uma parcela de culpa por conta dos meus atos,
mas a mais culpada disso tudo sou eu mesma.
Me aproximo dela e aperto sua mão, tentando passar conforto.
— Quando estiver preparada, estou aqui te ouvindo — digo.
Ela concorda com um aceno de cabeça enquanto encaro seu rosto
iluminado pela pouca luz das lanternas dos nossos celulares.
— Tudo começou quando eu descobri que meu ex-noivo estava me
traindo com minha melhor amiga. Isso provocou coisas horríveis em mim, no
entanto, foi depois disso que o inferno começou na minha vida.
“Em uma noite de bebedeira em um bar de Nova Iorque, conheci um
rapaz e ele me ofereceu maconha. Como eu estava com a cabeça a mil,
aceitei, imaginando que aquilo iria me ajudar a esquecer os problemas por
um tempo. E até esqueci, entretanto, após o momento de dormência ter
passado, tudo voltou à minha mente como um turbilhão, e foi aí que percebi
que necessitava de algo mais forte.
O mesmo rapaz me apresentou então a famosa cocaína, e depois
outras drogas, as quais eu comecei a usar e me viciei. Naquela época eu era
muito nova, cerca de dezoito anos, e ainda vivia com meus pais. Eles
sofreram tanto comigo, e em um ato de desespero, minha mãe atirou na
própria cabeça e acabou com o seu sofrimento, isso tudo por minha causa.”
Fico sem saber o que dizer, apenas acaricio os nós dos seus dedos
enquanto Sasha continua chorando.
— Se não quiser continuar...
— Eu quero, Gale, você precisa saber. Depois que minha mãe se
matou, meu pai ficou muito doente e se aprofundou na depressão, foi aí que
eu vi que a família Collins havia se esvaído por minha causa. Minha mãe se
matou porque não aguentou a filha drogada que tinha, então preferiu acabar
com tudo, e após esse ato, eu percebi que necessitava de ajuda.
“E foi então que eu pedi ajuda ao meu pai e me internei em uma
clínica de reabilitação, onde passei um ano e meio. Foi a pior época da
minha vida. Então, assim que saí, ainda sem me sentir preparada, meu pai me
aconselhou a procurar um psicólogo, porque ajudaria. Ele me garantiu isso,
Gale, e eu acreditei.
Procurei, e foi então que conheci Robert Day, um homem nerd, bonito
e de cabelos compridos.”
— E onde esse homem está hoje em dia? — pergunto, já imaginando
a resposta.
— Você já vai saber. Quando conheci Robert, pensei que não ia
conseguir me abrir para ele, até duvidei de que fosse um bom profissional,
mas acabei me enganando. Robert me ajudou tanto, que acabei sentindo
vontade de viver novamente, e foi então que me vi apaixonada pelo meu
psicólogo. Clichê, não? Porém, real, e foi algo recíproco, o que de início me
assustou por conta de tudo que eu passei, mas também me deixou fascinada.
“Robert foi tão bom para mim, e quando começamos a nos
relacionar, tive que parar de ser sua paciente e acabou que deu por
encerrado meu tratamento, já que ele viu que eu, Sasha Collins, havia
mudado completamente. Meu pai estava orgulhoso de mim, e ao mesmo
tempo doente, e quando ele partiu, Robert segurou minha mão, deixando-me
muito mais confortável.”
Fico imaginando o quanto Sasha havia sofrido na vida, o que de certa
forma me deixa mal, afinal, como ela conseguiu sobreviver a isso? Penso em
Jason e algo dentro de mim me diz que sua história não acabou bem, então
aperto ainda mais sua mão e acaricio seus cabelos.
— Logo depois que meu pai morreu, Robert me disse que havia
recebido uma boa proposta de emprego em Nova Iorque mesmo, e que se ele
aceitasse, poderíamos morar juntos — ela volta a fungar e me encara —,
então eu aceitei, e com as malas prontas, ele me pediu em casamento.
“De início, eu fiquei um pouco receosa, lembrando-me do que havia
passado com meu ex-noivo, mas esqueci isso e acabamos fazendo uma
pequena cerimônia antes de nos mudarmos, e foi aí que o pior aconteceu.
Não posso dizer que não fomos felizes, porque eu estaria mentindo,
pelo contrário, Robert foi o único homem capaz de me levar aos céus sem
nem mesmo sair do chão, o que me deixava mais fascinada ainda por ele. E
foi no meio da nossa viagem que o pior aconteceu.”
Sasha para de falar e respira fundo, então seco as lágrimas dos seus
olhos e ela me encara, suspirando frustrada.
— Acabamos fazendo a viagem por muitas horas e decidimos parar
em um barzinho para bebermos alguma coisa e descansarmos um pouco. O
único problema era que não imaginávamos que no mesmo lugar estaria o meu
ex-noivo com uma prostituta.
“Quando ele me viu, não perdeu tempo e veio me importunar, fazendo
várias perguntas e, claro, me ofendendo ao ver que Robert era meu marido, e
foi nesse meio que os dois começaram a brigar e não acabou nada bem. O
laudo médico conseguiu constatar dezessete facadas em Robert.”
Ela para de falar e fico boquiaberto, sem acreditar no que meus
ouvidos ouvem.
— O-o quê?
— Sim, meu ex, que prefiro não citar o nome, estava armado. Ele
atacou Robert pelas costas e não parou até se ver lavado de sangue. —
Sasha limpa o rosto e continua: — Acabou bem ali. Tudo. Vi o homem que
eu mais amava morrer bem na minha frente, os outros bêbados não ajudaram
a salvá-lo, pelo contrário, apenas fugiram para não serem presos por algo
ilícito. Eu não tive nem mesmo a chance de ter minha lua de mel.
Fico em silêncio, tentando imaginar todo o sofrimento que Sasha
havia passado.
— E o que aconteceu com seu ex?
— Ele foi preso, prisão perpétua. Ele se entregou, não conseguiu
fugir do local, ele só conseguia pedir perdão pelo que havia feito, e nada
mais.
— Jason sabe disso?
Ela concorda, apertando minha mão.
— Uma vez por ano ele me acompanha até Nova Iorque para
visitarmos o túmulo de Robert. Agora você sabe minha história, Gale.
Aceno e seco as lágrimas que surgem nos meus olhos.
— Eu não sei o que dizer — respondo, realmente sem palavras.
— Tudo bem. Ontem seria aniversário dele também, por isso que
aceitei ir à sua festa, assim conseguiria me distrair um pouco e não sofreria
tanto ao pensar nisso.
Ouvir a revelação de que ela aproveitou de um momento meu para
abstrair sua dor, me dá coragem para seguir esse caminho árduo que se
chama vida.
— Você superou a perda dele? — pergunto na esperança de que eu
consiga isso com a morte dos meus pais.
— A cada dia superamos um pouco mais. Com Jason ao meu lado, as
coisas são bem mais fáceis, acredito que às vezes sou ruim demais com ele,
mas isso tudo é por conta do que passei. Se eu não o tivesse ao meu lado,
com certeza já teria feito alguma coisa.
— Fico feliz que tenha conseguido superar ao menos um pouco isso
tudo.
— Sim, uma hora vai ser somente uma lembrança dolorosa. Já faz
cinco anos que isso aconteceu, e hoje é bem mais fácil de lidar com a dor,
então acredito que em um momento, não sentirei mais nada.
Concordo, acariciando os nós dos seus dedos. Apesar de ter ouvido
sua história e me sensibilizado com isso, me sinto confuso.
— Eu sinto muito que tenha passado por isso tudo, Sasha, ainda
assim, não consigo entender o porquê de me contar isso tudo, se abrir para
mim desse jeito, quando eu nem falei um terço da minha história.
— Queria que soubesse que por mais difícil que seja a tempestade,
sempre iremos conseguir ultrapassá-la, de uma maneira ou de outra. Antes de
Robert, eu não conseguia enxergar luz alguma no meu caminho sombrio, mas
ao conhecê-lo, ao amá-lo, vi que mesmo não o tendo ao meu lado, podemos
passar pelas maiores dificuldades da vida, e ainda assim termos um final
feliz. E você pode ter com Luke, basta se abrirem um para o outro, no
entanto, um dos dois terá que ceder primeiro. Por que você não tenta?
∞∞∞
Depois de um tempo, Luke volta para o apartamento um tanto irritado
por conta da falta de energia e o gerador com problema. Uma hora mais
tarde, a luz volta e Sasha, com os olhos vermelhos e o rosto um pouco
inchado, se levanta e se despede de nós dois. Assim que ela vai, também me
levanto. Pego Marvel e encaro Luke, sentindo uma ansiedade dentro de mim.
— Acho que está na hora de eu ir embora — digo —, mais uma vez,
obrigado por esse final de semana, realmente foi maravilhoso.
— Fica aqui hoje, vamos pedir pizza e depois dormimos juntos —
responde, me encarando sorridente.
Engulo em seco ao pensar em tudo que Sasha havia me dito, e vejo
que não vai adiantar negar o inevitável.
— Tudo bem, mas só se comermos alguma coisa um pouco mais leve.
Sério, vou acabar explodindo.
Luke dá risada e se aproxima de mim. Coloco Marvel no chão e
avanço nos seus lábios, beijando-o, no entanto, não consigo parar de pensar
na história dolorosa de Sasha. Afinal de contas, eu conseguirei ser tão forte
quanto ela? Conseguirei me abrir para Luke e, além disso, ele aceitará o meu
passado traumático? Ainda o beijando, decido que quero fazer isso, assim
como também quero saber a história de Luke Evarns.
Realmente, um dos dois terá que se abrir primeiro ou isso não dará
certo.
Decido esquecer isso e apenas me concentro no momento delicioso
que estamos tendo, sentindo que em breve muita coisa irá mudar entre nós
dois.
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
Após o final de semana de aniversário de Gale, os dias seguintes
passam lentos e tempestuosos. As ruas estão cobertas com uma pequena
camada de neve em todos os lugares. Gale e eu não nos falamos depois
daquele domingo, o que começa a me incomodar. Todos os dias eu tento ao
menos vê-lo e desejar um bom dia, entretanto, percebo que Gale está me
evitando.
Não consigo ir ao restaurante também, os dias nas empresas têm sido
corridos e tive que fazer uma viagem de última hora com Pitter para a Itália
para visitarmos as vinícolas.
De alguma maneira, tudo me deixa um tanto irritado, principalmente a
maneira que Gale está me evitando, nem mesmo as mensagens que eu envio
ele me responde, o que me faz acabar quebrando meu celular na parede e
depois ter que pedir para me providenciarem outro.
Encho uma taça com um dos nossos novos vinhos e beberico um gole,
provando o delicioso sabor.
— Você está quieto, Luke, não gostou do vinho? — pergunta Pitter,
bebericando da sua taça.
— Não é isso, pelo contrário, é maravilhoso, vai render bastante no
mercado — respondo, forçando um sorriso. Observo a hora no relógio de
pulso e vejo que já está ficando tarde.
— Vai sim, assim esperamos — diz um dos nossos sócios, sorrindo.
Aceno com a cabeça e termino o vinho, devolvendo a taça para a
mesa de mármore à minha frente.
— Preciso ir para o hotel agora — digo —, estou com dor de
cabeça. Nos vemos depois.
Me levanto e Pitter me segue, saindo do local nos meus calcanhares.
Entro no meu carro e ele se joga no banco ao meu lado, o sorriso gentil nos
lábios.
— Pode dizer, está assim por causa do Gale, não é?
Suspiro, pegando o celular e vendo que ele ainda não havia me
respondido.
— Não consigo entender o que acontece com ele. Uma hora está
louco para ficar comigo, na outra já não sabe o que deseja.
— Você tem que levar em consideração que ele tem um passado
problemático. Eu já disse que se quiser, podemos procurar alguém e
descobrir o que ele tanto esconde.
— Eu sempre fiz isso com os homens com quem eu me relacionava,
Pitter, mas com o Gale é diferente, quero conhecê-lo do jeito certo, sem ter
que abrir uma investigação só para saber os defeitos dele.
Pitter concorda e quando o carro para, adentramos o hotel e seguimos
para o meu quarto. Preparo uma dose de uísque para nós, e assim que
brindamos, bebo.
— Homens são mais complicados que mulheres, meu amigo — diz
Pitter. — Quando Kris me contou tudo que vocês passaram e todas as merdas
que ele fez na vida, eu pensei seriamente em desistir, mas já estava
apaixonado.
— O problema é que apesar de termos passado tantas coisas, nunca
meu passado interferiu em meus “relacionamentos” — respondo. Faço as
aspas com os dedos e bebo o líquido âmbar. — Gale tem problema com seu
passado, eu não.
Pitter bebe mais um pouco e ergue a sobrancelha.
— Tem certeza disso?
— Não. — Suspiro, um pouco frustrado. — Parece que Gale veio
com um imã puxando tudo de ruim que deixei para trás.
— Eu conversei com ele no aniversário, e parece que realmente
gosta muito de você, mas precisará ter paciência, uma hora ele vai se abrir.
Ele me garantiu isso.
— Espero que você esteja certo — digo, suspirando. — Agora, que
tal darmos uma saída e vermos um pouco da beleza dos italianos?
Pitter dá risada e concorda, no entanto, eu sei que essa ideia de me
distrair com outro será uma grande burrice.
∞∞∞
Claro que não consegui ficar com ninguém, afinal de contas, mesmo
Gale me rejeitando, eu ainda gosto bastante dele. Acabou que nossa viagem
à Itália foi um tanto divertida e pude descansar um pouco minha mente que
não parava um segundo sequer.
Assim que coloco meus pés em Londres novamente, sigo direto para
o meu apartamento com o intuito de descansar um pouco minha cabeça. No
entanto, ao encontrar aquele homem parado na minha porta, o sorriso sedutor
e as pernas cruzadas, percebo que a noite vai ser mais divertida do que
imaginava.
— Luke, quanto tempo. Eu estava com saudades.
∞∞∞
Gale
Falho com Sasha, Pitter, e claro, comigo mesmo.
Não consigo me abrir para Luke depois do meu aniversário, e pior,
eu o evito durante um tempo, o que ocasiona sensações horríveis e diversos
pesadelos.
As mensagens que Luke me manda e até mesmo as batidas na porta
para me desejar um bom dia são ignoradas, o que, de certa forma, acaba
sendo o melhor no momento para mim. Durante o trabalho, ele não aparece
no restaurante, e fico sabendo por Sasha, que havia falado com Pitter, que os
dois foram viajar para a Itália para visitarem seus negócios.
Saio dos meus pensamentos quando Sasha e Jess vêm até a mim e me
encaram.
— Você nem sabe, gato! — diz Sasha, feliz.
— Se você me disser, eu irei saber — respondo, sorrindo.
— Parece que finalmente aconteceu o que você tanto queria —
começa Jess. — Luke Evarns foi encontrado jantando com um rapaz muito
bonito.
Sinto como se tivesse levado um soco no estômago. Luke havia
arrumado outro? Como isso não me surpreendia tanto, afinal?
— Que bom, significa que superou rápido o pé na bunda que dei nele
— digo, com a voz embargada.
— Então você deu um fora no chefe e não nos disse nada? —
pergunta Jess.
— Claro que ele não deu um pé na bunda de Luke — diz Sasha. —
Gale só não foi corajoso o suficiente para pegar e contar o que sente a ele.
Ignoro o que ela diz e encaro as duas.
— Tá, e quem é esse cara, afinal?
— Ouvi boatos que é um ator e vai estrear uma peça em Londres —
responde Sasha. — Não sei o nome dele ao certo, mas sei que ele é tão gay
quanto você e Luke.
— Bem... se Sasha Collins não sabe o nome dele e nem da peça, não
deve ser muito importante — respondo, ignorando o fato de que o cara
também é gay.
— Por que não esquecemos isso um pouco e não saímos para beber,
já que é sexta? — sugere Jess, sorridente.
É então que um plano maluco se forma na minha mente.
— Eu tenho uma ideia melhor — digo.
— E qual é? — perguntam entusiasmadas.
— Por que não vamos para o meu apartamento e lá comemos alguma
coisa, bebemos, e incomodamos um pouco o meu vizinho?
As duas riem e Sasha me encara.
— Gato, espere um minuto que vou avisar meu namorado que hoje
não poderei ir para a casa, que tenho planos malignos com meu amigo.
Dou risada enquanto encaro as duas, mordendo o canto da boca.
A noite será um tanto divertida!
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
Som alto... risada alta... barulho de coisas caindo... bagunça...
Abro meus olhos, um tanto irritado, e me levanto, saindo do meu
quarto e seguindo até a sala. Ouço o barulho vindo do apartamento de Gale e
suspiro, frustrado. Será que ele está fazendo isso tudo só para me provocar?
Decido agir com a cabeça e ligo para a recepção, não demora e logo
me atendem.
— Gostaria de fazer uma reclamação por conta de barulho — digo,
sério.
— Qual andar? — ouço a voz masculina perguntar.
— Sétimo, apartamento 67 — respondo.
— Um minuto, vou ver se consigo conversar para diminuírem o
barulho — diz o homem.
— Não espero que converse, quero que resolva, eu sou o dono desse
prédio, se zela pelo seu trabalho, faça o que estou mandando!
— Infelizmente isso não depende de mim — diz ele, com o tom de
voz sério.
— Merda! Deixe que eu mesmo resolvo. — Desligo o telefone,
frustrado, e ouço a música alta ecoar do apartamento de Gale.
Coloco meus chinelos e abro a porta bruscamente, batendo com força
na do lado, e sendo atendido imediatamente por uma Sasha sorridente.
— Chefinho, quanto tempo. Anda ocupado por causa do atorzinho?
Atorzinho.
A palavra ecoa na minha mente e me recordo do dia que havia
voltado de viagem e dei de cara com Jared, um ex que acabei ajudando a
realizar o sonho de se tornar ator. Ele havia me procurado para contar sobre
sua peça, que estreará em Londres em pouco tempo.
Resolvo ignorar a provocação e dou um sorriso.
— Oi, Sasha, como está? Gale está muito ocupado? — pergunto,
tentando dar um sorriso.
— O que?! Mais que ocupado, é melhor você não entrar...
Seguro em seus braços e giro nossos corpos, deixando-a para o lado
de fora.
— Ei! Luke, que horror! — murmura ela, entrando novamente e
tentando me segurar.
Sasha pula nas minhas costas e agarra meu pescoço. Tento me
esquivar e como não consigo, ando com dificuldade, parando no meio da
sala ao ver Jess, Gale e um rapaz estranho bebendo vinho.
— Luke — diz Gale, me encarando.
Observo atentamente o homem moreno ao seu lado e Sasha desce das
minhas costas.
— Pensei que eu poderia participar da festinha de vocês, já que o
barulho está atravessando as paredes do meu apartamento — digo, sério.
Gale me encara, e o homem ao seu lado se aproxima de mim e
estende a mão.
— Nossa, eu não fazia ideia de que Luke Evarns morasse aqui — diz
ele. — Muito prazer, me chamo Edward, meu pai trabalhou com o seu.
Pego na sua mão com má vontade e dou um sorriso forçado.
— Que azar o dele, mas seria pior se trabalhasse para mim —
respondo, sorridente.
Edward fica sem graça, mas nem me importo, meus olhos estão em
Gale.
— Não te chamei porque imaginei que estivesse ocupado com o
seu... amigo — diz ele, me encarando —, mas já que não está, fique à
vontade.
— Obrigado. Agora me diga, Ed, se é que posso chamá-lo assim,
como conheceu meu funcionário?
— Gale? Sou amigo da Jess, ela que me apresentou a ele.
Encaro Jess e ela sorri, sem graça.
— Culpada — admite.
— Legal — digo, sorrindo. — E como você conheceu minha outra
funcionária?
— Luke... — corta Gale.
— Não, tudo bem — diz Edward, sorrindo. — Eu namorei com o
melhor amigo dela na época da escola, acabou que agora eu sou o melhor
amigo gay.
Assinto, um tanto frustrado. Então ele realmente é gay, e com certeza
está aqui com segundas intenções com Gale.
— Aceita um drinque, Luke? — pergunta Sasha.
— Obrigado, mas é melhor não. Se puderem, evite muito barulho —
digo. — Eu sou o dono daqui, seria ruim demais fazer outro morador sair
fora.
Gale me encara sério. Triste e nervoso, saio batendo a porta, me
sentindo um tanto frustrado.
∞∞∞
Gale
Assim que Luke vai embora, batendo tanto a minha quanto a porta
dele, o clima no meu apartamento fica estranho. Sasha não para de me
encarar, pensando que o nosso plano idiota de provocar Luke não havia
passado de uma grande besteira.
— Deveríamos beber, já que estamos aqui e temos esse tanto de
cerveja na geladeira — diz Jess, pegando uma garrafa para ela.
Concordo, sem muita emoção, e pego uma para Edward e para mim,
então levo a garrafa até os lábios e bebo suavemente.
— Não sabia que Luke é seu chefe e de Sasha — diz ele, me
observando.
Aceno, sem muito o que falar, e Sasha me socorre.
— Sim, na verdade, vai fazer um mês que Gale está no restaurante
que a gente trabalha — diz ela, sorrindo. — Não é, amigo?
— Sim, é bem recente — digo, sorrindo.
— Igual o término de vocês? — questiona ele.
— O-o quê? Claro que não, Luke e eu não tivemos nada.
Ed balança a cabeça em concordância e dá um sorrisinho.
— Acredito — diz sarcasticamente. — Melhor eu indo nessa, está
ficando tarde e meu namorado com certeza está me esperando. Desculpa se
causei algum problema em dizer a Luke que sou gay, agora ele está se
remoendo no apartamento, pensando que tem algo rolando entre nós, Gale.
— Tudo bem, não precisa pedir desculpas. Você foi ótimo e muito
gentil — digo, sorrindo. — Vou te levar até a porta.
Edward se despede das meninas e assim que entra no elevador, fecho
a porta pensando na besteira que eu havia feito. E se Luke não tem nada com
aquele rapaz que eu nem sei o nome? E se eles forem apenas amigos, ou até
mesmo sócios, como Kris e Pitter?
Encaro as meninas e as abraço, suspirando.
— Que merda, gatão, acho que demos uma mancada e tanto — diz
Sasha.
— Melhor não pensarmos nisso agora, vamos beber um pouco, quem
sabe conseguimos distrair a mente.
Luke Evarns
Acordo no sábado com a lembrança de que, quando contratei Gale,
dissera que se eu precisasse que ele fosse trabalhar na minha casa, era só
ligar avisando.
E criando um plano maluco para me vingar da cena ridícula em que o
encontrei ontem, envio uma mensagem pelo WhatsApp para ele:
Bom dia, sr. Meyers. Hoje preciso que você venha e trabalhe no
meu apartamento, vou fazer um almoço para dois e adoraria que você o
preparasse, como havíamos combinado quando o contratei para trabalhar
no meu restaurante. Irei avisar Dylan para chamar outro chefe para te
cobrir. Aguardo-o no meu apartamento.
Seu chefe Luke.
Aperto em enviar enquanto rio e encaminho uma mensagem a Jared,
convidando-o para almoçar. Não demora para ele confirmar sua presença no
meu apartamento ao meio-dia.
Assim que finalizo a mensagem para ele, dizendo que o espero, meu
celular apita e vejo uma mensagem de Gale:
Bom dia, sr. Evarns. A propósito, mesmo não tendo perguntado,
estou ótimo e ansioso para preparar esse almoço, encontro-o em breve
no seu apartamento.
Seu funcionário Gale.
Rio com a mensagem e envio uma resposta:
Que bom que você está bem! Te aguardo ansiosamente.
Gale não responde, o que me faz pensar se Edward está com ele ou
não. Saio do meu apartamento após um banho e sigo na direção da
Starbucks, para tomar um café e ver se alivia a tensão entre nós dois.
∞∞∞
Assim que volto do meu café na rua, encontro Gale parado na porta
do meu apartamento. Ele usa uma calça jeans apertada, tênis, uma camiseta
polo e os cabelos estão molhados, fazendo várias cenas malucas dele
tomando banho com Edward aparecerem em minha mente.
— Bom dia, Gale — digo, indo em sua direção e abrindo a porta.
— Bom, sr. Luke — diz sarcasticamente e dá um sorriso forçado.
— Fique à vontade, como me deixou ontem no seu apartamento —
declaro, jogando as chaves no aparador.
— Até quando iremos manter essa besteira, Luke?
— A besteira que você mesmo começou? — pergunto, encarando-o.
— Gale, eu apenas quis te dar uma festa de aniversário legal e disse o que
sentia, quem me evitou depois disso foi você, não eu!
Coloco as mãos nos bolsos ao dizer isso enquanto ele me encara,
concordando com um aceno de cabeça.
— É mais difícil do que eu imaginei, Luke. Pensei que conseguiria
me abrir para você, contar tudo, mas...
As palavras se perdem no ar e eu o encaro, segurando a respiração
por um segundo.
— Mas eu não sou a pessoa certa para você, não é? Eu sou muito
bom para o seu passado fodido. Diga, pode dizer!
— Acho que é melhor eu preparar a sua refeição, antes que seu
amigo chegue e não tenha nada pronto — diz, mudando de assunto.
— E o que pretende fazer para o almoço?
— Que tal fish and chips?[7] — pergunta, me encarando.
— Eu acho delicioso. Tem bastante coisa na geladeira, se precisar,
posso ir ao mercado para você.
Ele me encara e dá um sorriso um tanto irritado.
— Não se preocupe, você não saberia o que comprar. Eu irei buscar
os ingredientes e logo estarei de volta.
— Tudo bem, então. E de sobremesa, o que pretende fazer?
— Sobremesa, sr. Evarns? Não pensei nisso, achei que a sobremesa
seria o cara de um metro e oitenta que está vindo para cá!
Olho para Gale e solto uma risada, me divertindo com seu
aborrecimento.
— Que besteira pensar isso, Gale. Jared é muito mais baixo que isso.
Sorrindo, saio da cozinha e vou me preparar para o almoço
constrangedor.
Gale Meyers
Vou ao supermercado mais próximo, me sentindo um tanto frustrado
por conta do que está acontecendo entre Luke e eu. Eu já imaginava que a
minha atitude de levar Edward até meu apartamento para provocar Luke
acabaria mal, entretanto, jamais imaginei que ele ficaria tão bravo a ponto de
trazer seu novo amigo para almoçar e ainda me colocar para preparar sua
comida.
Quando recebi a mensagem pelo WhastApp avisando sobre o almoço,
não quis acreditar, pensando que talvez não passasse de uma brincadeira de
mau gosto dele, mas nunca estive tão errado em toda a minha vida. E agora,
enquanto compro as coisas para preparar a refeição, percebo o quanto fui
idiota de fazer aquilo com meu chefe. E se eu tivesse me aberto para ele,
estaríamos como agora?
Volto para o apartamento em silêncio. Assim que chego, começo a
preparar a comida, temperando o peixe com sal, vinagre e um pouco de
alecrim. Coloco para marinar e preparo arroz, logo já está pronto, então
decido fazer uma salada com alho e pimenta para acompanhar o prato
principal. As batatas já estão na fritadeira, então organizo a mesa
rapidamente. De sobremesa, preparo um ganache de chocolate, apenas para
não dizer que não havia feito nada, já que, como Luke mesmo insinuou, a
sobremesa seria seu amigo.
Suspiro frustrado, pensando em tudo que nós dois havíamos passado
em tão pouco tempo. Recordo-me do dia em que nos esbarramos e acabei
derrubando o vinho nele; quando olhei seu peitoral; ele estendendo a mão
para mim; eu me masturbando e pensando nele; nosso primeiro beijo; o
quanto fiquei atordoado com aquilo e acabei fugindo; a noite na sua casa;
nossa primeira vez dormindo juntos; os presentes que ele me dera; a reação
ao ver que eu era seu novo vizinho; tudo me remete a lembranças deliciosas,
que me fazem dar um sorriso enorme. Penso em meus pais, afinal, o que eles
diriam disso tudo? Como iriam reagir diante do único filho ser gay?
Seco pequenas lágrimas que surgiram sem eu reparar e passo a mão
no peito para que esse ato diminua um pouco a dor que sinto, no entanto, é
inútil.
∞∞∞
Assim que finalizo as batatas, Luke aparece na cozinha e dá um
sorriso para mim.
— Está tudo perfeito — diz. — Obrigado, você é demais.
— Só estou fazendo meu trabalho. — Dou um sorriso forçado,
sentindo um aperto no coração.
Ele assente e se afasta quando a campainha toca. Engulo em seco,
esperando, e vejo a porta se abrir. Um homem de pele morena e cabelo corte
militar adentra o local, usando calça jeans, tênis e uma camisa social azul-
escuro. Ele sorri para Luke e o abraça, então noto seus lábios se moverem e
não consigo ouvir uma palavra sequer, submerso em pensamentos cheios de
mágoas e tristezas.
É tudo culpa minha. Se eu não tivesse sido um homem tão filho da
puta, não estaria passando por isso agora. Como pude perder o controle da
minha vida dessa maneira?
Continuo observando o rapaz, o tal de Jared, e vejo o quanto ele é
perfeito para Luke; rico, bonito e atraente, com certeza não tem um passado
que o perturba todas as noites quando deita a cabeça no travesseiro.
Eles vão na direção da sala de jantar e Luke prepara um copo de
bebida para cada um, me deixando ainda mais desconfortável.
— Gale, já está tudo pronto? Jared não pode demorar, então já
vamos comer.
— Claro — digo, dando um sorriso demasiado falso. — Vou servi-
los.
— Não precisa, não é seu trabalho — diz ele, parado com o copo na
mão.
Sorrio quando Jared me encara.
— Eu sei, mas faço questão — respondo, seguindo até eles.
— Então você é o novo chefe de cozinha de Luke — diz Jared,
sorrindo. — Muito prazer, ele me falou muito bem de você.
Jared ergue a mão e a aperto, surpreso ao saber que Luke havia
falado de mim para ele.
— O prazer é todo meu. — Solto sua mão e começo a servir os
pratos. Assim que estão prontos, me afasto, voltando para a cozinha e me
sentando.
Luke me encara de onde está e logo começam a comer, elogiando a
cada garfada o prato principal. Fico quieto, apenas sorrindo como se fosse
um modelo de capa de revista e me sentindo ainda mais frustrado a cada
segundo, ansioso para que isso acabe logo.
— Então, Jared, me diga, pois estou curioso — começa Luke,
levando uma garfada até a boca. — Uma peça de “Romeu e Julieta”, versão
gay, como isso surgiu?
Jared sorri, beberica da sua taça que Luke serviu com vinho e o
encara.
— Nem eu mesmo sei como surgiu, no entanto, a ideia fluiu muito
bem, e cá estamos. Estreamos em breve, para ser mais exato. O título será
“Meu Romeu, sou eu, Júlio”.
Os dois sorriem e voltam a comer. Penso no quanto é ridícula a
situação em que estamos, então algo me surpreende.
— Gale, por que não se junta a nós? — pergunta Jared. — Nada mais
justo do que provar essa delícia que nos preparou.
— Ah, não. Na verdade, já estou indo, preciso ir para o restaurante
— digo.
— Hoje não — responde Luke. — Combinamos de que quando
trabalhasse aqui não precisaria ir ao restaurante.
Eu não me lembro de ele ter dito isso, mas, sem saída, aceito o
convite e me sirvo antes de me sentar perto de Jared. Luke me encara e ergue
a sobrancelha.
— Então, Gale, Luke comentou comigo que você veio do Brasil.
Seus pais são de lá também? — pergunta Jared.
— Não, eles se conheceram aqui, decidiram viver no Brasil depois
que se casaram.
— Ah, você disse eram...
— Sim, eles morreram — respondo rispidamente antes de levar uma
garfada até a boca e sentir o delicioso gosto do peixe.
— Sinto muito. Tenho certeza de que tinham muito orgulho de você
— responde, solidário.
Apenas sorrio, pensando no que esse homem sabe da minha vida para
dizer algo desse tipo, qual intimidade temos para isso.
— Obrigado — profiro.
— Quero que vá ver a peça quando estrear, será por minha conta.
Diga na bilheteria que é convidado de honra de Jared — diz, piscando.
Agradeço, sem graça, e continuamos comendo. Assim que
terminamos, sirvo a sobremesa e sorrio para Luke, que ri baixinho, com
certeza se lembrando da nossa conversa de mais cedo. Os dois comem e,
claro, elogiam a cada colherada levada à boca. Assim que terminam, retiro a
louça suja e os dois vão para o escritório de Luke. Decido organizar toda a
bagunça e guardo as sobras em travessas, levando-as até a geladeira. Lavo a
louça na esperança de que o tempo passe logo, e após terminar tudo, os dois
aparecerem na cozinha.
— Gale, vim me despedir e agradecer o excelente almoço.
— Fico feliz que tenha gostado — digo, sorrindo. — Nos vemos na
sua peça.
Logo ele se despede e Luke o leva até a porta. Minutos depois, volta
até a cozinha e me encara, cruzando as pernas e colocando as mãos nos
bolsos.
— Viu só? Jared é só um amigo.
— Luke, você não me deve satisfações nenhuma da sua vida,
entendeu? Posso ir agora? Tenho um compromisso ainda hoje — declaro de
maneira ríspida.
— Com o tal do Edward? — pergunta, nervoso.
— Sr. Evarns, não devo satisfação da minha vida pessoal para o
senhor também — respondo, sorrindo.
— Pode ir, sr. Meyers, te vejo amanhã. — Ele suspira e me encara
sério.
Luke dá as costas e sinto vontade de chorar, então pego minha chave,
celular e sigo na direção da porta, mas sou barrado com o puxão de braço
que ele me dá.
— Espere, por favor — diz, engolindo em seco. — Não vá, fique.
— Por favor, Luke, não torne isso mais difícil para mim — suplico.
— Não há motivos para ser assim. Fica aqui comigo, eu sei que você
quer.
Engulo em seco e fecho os olhos, respirando fundo.
— Me dê apenas um motivo, Luke, apenas um para que eu possa
ficar, para que eu não fuja mais.
— Não basta eu estar apaixonado por você? — pergunta, me
encarando. — Quando você vai entender, sr. Meyers, que eu te quero mais
do que tudo, que depois que te conheci, meus pensamentos só estão em você,
em nós, no desejo que tenho de tê-lo todo para mim.
As suas palavras me fazem baixar a guarda, coisa que não faço há
muito tempo, então deixo as lágrimas invadirem os meus olhos. Luke me
abraça e beija minha testa, eu o agarro e choro como se fosse uma criança,
pensando na vida que tive, na morte dos meus pais e no meu passado.
— Eu quero ficar, Luke, mas não é tão fácil quanto pensa.
— Se for por causa do seu passado, te adianto que mesmo não
sabendo, não me importo. — Ele me encara e acaricia minha bochecha. —
Pare de se prender a isso, eu também tenho diversos problemas, um passado
nada fácil e perdi minha mãe, mas eu quero continuar, Gale, quero viver, me
permitir amar, construir minha história, e adoraria que fosse ao seu lado.
Fico em silêncio, nem mesmo sei o que dizer, então avanço em sua
direção e beijo seus lábios. O sabor salgado das lágrimas invade o beijo e
Luke me agarra, erguendo meu corpo. Envolvo minhas pernas ao redor dele e
sou carregado em direção ao seu quarto enquanto me beija de maneira feroz.
Ainda o beijando, penso em tudo que ele disse e torço para que
quando eu contar tudo que havia passado, ele possa me beijar dessa mesma
maneira.
Gale Meyers
Ainda no sábado, Alice e Ana me mandam mensagens me convidando
para comermos pizza e jogarmos conversa fora. Quero aceitar, entretanto, eu
as dispenso dizendo que marcamos outro dia e decido passar o restante do
dia e a noite com Luke, que prepara pipoca para nós e coloca filmes clichês
para assistirmos.
Acabamos assistindo a alguns, e depois que terminamos o terceiro,
Luke pede comida e enquanto esperamos, ele decide tomar um banho.
— Você vai me acompanhar? — pergunta, malicioso.
— Melhor não, senão iremos acabar passando a noite toda aí —
digo, rindo.
Ele concorda e se afasta. Um tempo depois, Luke termina o banho e
nossa comida chega. Assim que a finalizamos, encaro Luke, sorrindo.
— Hoje foi divertido, apesar de tudo.
— Está dizendo isso por que achou que meu amigo era meu amante?
— pergunta, rindo.
— Assim como você pensou que eu fiquei com Edward.
— E não ficou? — pergunta, me encarando com seriedade.
— Não. Fiz aquilo só para te provocar, porque fiquei sabendo do
Jared, e outra, Edward namora.
Ele se aproxima de mim, beijando meus lábios suavemente.
— É bom saber isso. — diz, sorridente.
— Está na hora de eu ir embora. Marvel está sozinho desde cedo,
deve ter destruído meu apartamento.
— Tem mesmo que ir? Por que não traz Marvel para cá e dorme
comigo e ele? — pergunta Luke, beijando meu pescoço.
— Ah... você, Marvel e eu dormindo juntos? — Sinto meu rosto
vermelho, mas não sei o motivo. Já dormimos juntos antes.
— Sim — diz ele, erguendo a sobrancelha. — Eu gosto muito do seu
cachorro.
— Eu não acho que ele goste tanto assim de você, para ser sincero
— respondo, rindo e o afastando.
— Arisco — declara. — Puxou o dono.
Dou risada e me levanto, concordando.
— Tudo bem, vou buscá-lo, mas só vamos dormir, certo?
— Se não quiser dormir, posso passar a madrugada acordado — diz,
passando as mãos entre as pernas.
— Você é um tarado, Luke!
Ele me encara e lambe os lábios.
— Por você eu sou mesmo — diz, piscando.
Saio e rapidamente vou até meu apartamento. Assim que entro no
local, Marvel corre em minha direção enquanto late, então o pego no colo.
Pego o pote com ração, a minha escova de dentes e um short para vestir,
então volto para o apartamento de Luke, que me espera na sala apenas de
camiseta azul e uma cueca preta.
Eu já havia visto o corpo de Luke antes, entretanto, pela primeira
vez, noto suas pernas grossas e torneadas, os braços fortes, os cabelos
bagunçados, o sorriso sacana nos lábios e o olhar brilhante. Dou um sorriso
ao notar que ele me encara, então mordo o canto do meu lábio, ansioso pela
nossa noite, mesmo sabendo que não faremos muita coisa.
— Oi, Marvel! — diz ele, me tirando dos meus pensamentos.
Entrego meu cachorro a ele e logo os dois estão travando uma
batalha com almofadas, com Marvel mordendo a ponto de rasgar. Fico
vendo-os e penso que meu cachorro é a única coisa que me liga aos meus
pais, e sorrindo ao pensar nisso, me junto na brincadeira dos dois.
∞∞∞
Acordo na manhã seguinte com um cheiro de ovos com bacon e o
barulho baixo de um piano. Ergo a cabeça e vejo Marvel dormindo aos meus
pés, o lado de Luke está vazio. Bocejo, me espreguiço e me levanto, indo até
o banheiro e fazendo minhas necessidades matinais. Escovo os dentes, lavo
meu rosto e após vestir uma camiseta, saio do quarto, ainda ouvindo o som
suave do piano sendo tocado. Procuro de onde vem o som e vejo uma das
portas do apartamento de Luke entreaberta.
Me aproximo e vejo um local que jamais imaginei que teria ali
dentro — uma espécie de escritório/biblioteca. As paredes são cobertas com
enormes prateleiras, cheias de livros em diversos tons e títulos. Vislumbro
no meio do local um piano preto aberto, e Luke sentado em frente, tocando
suavemente The Scientist do Coldplay. Sinto meus pelos se arrepiarem ao
ouvi-lo e meus olhos ficam marejados com a beleza da canção e grandeza
que Luke tem com o piano. Me perco em um milhão de pensamentos
deliciosos, de um futuro tranquilo ao lado dele, acordando todos os dias com
o cheiro forte de ovos com bacon, café e o toque da música. Me emociono
ainda mais ao ver suas costas desnudas. Com a respiração suave e devagar,
abro a porta e entro no local.
Quando me aproximo, ele se vira e me encara, dando um sorriso e
continua tocando, me deixando ainda mais emocionado. Vejo a agilidade dos
seus dedos e penso, por um instante, que quero acordar ao seu lado todos os
dias apenas para ouvir seus dedos percorrerem por aquele piano.
E é neste instante, com a intensidade da canção, com Luke sorrindo
para mim, que percebo algo além do que estou acostumado... um sentimento,
uma sensação nova, assustadora e prazerosa. Estou incondicionalmente
apaixonado por Luke Evarns.
— Você gostou? — pergunta após finalizar.
— Luke, estou sem palavras. Não consigo descrever o que sinto
neste momento — digo, sorrindo. — Você é mais talentoso do que imaginei.
Ele sorri e aponta o lugar vago ao seu lado.
— Sente-se aqui comigo, vou tocar mais uma em sua homenagem.
— Sério?
— Sim, escolha, pode ser qualquer uma.
Penso por um instante e reflito sobre qual música poderia pedir. Há
tantas, que nem consigo me decidir.
— Quero que toque Ludovico Einaudi “Nuvole Bianche”, conhece?
— pergunto, sorridente.
— Sim, mamãe era fã dele quando viva, e foi uma das primeiras
músicas que me ensinou a tocar, se quer saber — diz, com o sorriso
falhando.
Luke nunca havia me dito realmente como se sentia diante da perda
de sua mãe, e ao vê-lo tocando a canção com maestria, percebo o quanto
ainda sente sua falta. Perco o fôlego com Luke tocando, assim que finaliza,
ele me encara e dá um sorriso triste. Eu me aproximo e beijo suavemente
seus lábios. Luke me agarra pela nuca e mordisca meus lábios, beijando-os
de maneira feroz.
— Foi lindo — digo, afastando-o. — Você toca muito bem, deve ser
difícil...
Perco as palavras no ar e ele me encara.
— Tocar? No início foi muito, mas com o tempo, percebi que era
somente isso que me trazia para mais perto dela. — Ele suspira e fica com
os olhos fechados por um minuto inteiro. — Já faz tanto tempo e ainda é
doloroso demais para mim.
— Sei como se sente. Às vezes penso que nunca vou conseguir
superar a perda dos meus pais — digo, tristonho. — É como se uma parte de
mim tivesse morrido, sabe?
Ele concorda e me abraça por um longo período.
— Tem um café nos esperando lá na cozinha, que tal irmos comer e
esquecermos essa tristeza um pouco?
Fico em pé e ele faz o mesmo, segurando minha mão. Olho o piano
uma última vez e, sorrindo, sigo para cozinha, com Luke me abraçando.
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
Após terminarmos nosso café da manhã, Gale e eu voltamos para a
sala e Marvel vem até nós, latindo e brincando. Pego-o no colo e faço
carinho no seu rosto, olhando para o seu dono.
— Estava pensando, já que hoje é domingo, que tal fazermos alguma
coisa? Sei lá, ficar de bobeira, comer alguma coisa, tipo sushi, assistir a um
filme brega na TV, como ontem.
Gale me olha sem graça e sorri.
— Até que é uma boa ideia, mas como fizemos isso ontem, eu estava
pensando em ligar para a Alice e para a Ana, para convidá-las para virem ao
meu apê.
— Claro, tudo bem então — digo, um pouco sem graça, talvez por
não estar incluído nos planos dele.
— Eu ia te chamar também, claro, se não for problema para você —
completa, como se estivesse lendo meus pensamentos.
— Problema? — Dou de ombros. — Mas por que seria problema
para mim?
— Eu não sei, mas e aí, topa?
Vou até Gale e seguro seu rosto com uma das minhas mãos, enquanto
ainda tenho Marvel no outro braço.
— Mas é claro, faria qualquer coisa para estar ao seu lado — digo.
Ele sorri timidamente, então deposito um beijo suave nos seus lábios.
Coloco Marvel no chão e ele fica latindo para nós dois, como se o
incomodasse estarmos juntos.
— Até seu cachorro tem ciúmes de você — digo, brincando.
Rimos enquanto ele revira os olhos.
— Deve ser porque agora divido o tempo dele com você — comenta,
pegando Marvel e indo para o sofá.
— Sabe, Gale, eu estava pensando...
— No quê?
— Poderíamos matar o tempo, sei lá, até às meninas chegarem. Você
já falou com elas?
— Ainda não, mas de que maneira você pretende matar esse tempo,
hein? — questiona, curioso.
— Por que não avisa as duas logo e depois eu te mostro?
Ele sorri e pega o celular na mesinha de centro, rapidamente alguém
atende e ele me encara.
— Alô, Alice. Sim, sou eu. Tudo bem? — Um minuto de silêncio se
segue e ele sorri. — Que bom, também estou bem. Estava pensando, que tal
você e a Ana irem para meu apartamento mais tarde para eu pagar uma
rodada de pizza para vocês? — Novamente ele fica em silêncio, apenas me
observando. Seu olhar me possuí de uma maneira tão profunda, que logo fico
com meu membro ereto. — Tudo bem, então, nos encontramos às sete, no
meu apartamento. Te envio a localização. Beijos. E manda um beijo para a
Ana.
Ele desliga o celular e o joga longe, me observando.
— Elas vêm — diz, sorrindo. — Onde estávamos?
— Como ainda é cedo, agora posso te mostrar como iremos matar
esse tempo até as meninas chegarem — esclareço, me imaginando o
preenchendo por inteiro.
Puta que pariu! Eu nunca havia ficado tanto tempo sem sexo de
verdade. Gale está mesmo mexendo comigo, não passamos das brincadeiras
e estou pensando quem de nós dois irá ceder primeiro. Engulo em seco,
esperando-o dizer alguma coisa, então Gale se levanta, coloca Marvel no
chão e vem até mim. Ele empurra o meu corpo contra o sofá e me encara.
— Acho que quem vai te mostrar um bom jeito de matar o tempo
serei eu — sussurra.
Sorrio e concordo, então ele vai até o aparelho de som e liga o iPod.
Uma música começa a tocar, fazendo meu corpo todo se arrepiar. A batida é
leve, com um tom sensual, enquanto a voz da cantora é suave e sexy.
Gale vem até mim novamente e começa a acariciar meu peitoral de
forma sexy e provocante.
— Estou louco para provar você, Luke — afirma ele, sorrindo.
Sorrio também e o puxo para perto de mim.
— E eu, você. Vamos acabar com isso logo, por favor — suplico.
Ele me encara e nega com um aceno de cabeça.
— Calma, ainda temos bastante tempo para nos divertirmos.
∞∞∞
Gale
Abaixo sua calça e vejo o enorme volume já formado no meio de
suas pernas. Vou descendo devagar até ele, beijando suavemente a sua
barriga. Luke fica apenas me encarando, sentado no sofá com os braços para
trás, esperando o que estou prestes a fazer. Então, devagar, abaixo sua cueca
e vejo seu pênis invadir a minha visão, as veias pulsando de tanto tesão.
Olho para ele e umedeço os lábios com a língua, maravilhado com seu pau
na minha frente.
Devagar, quase em câmera lenta, eu o pego com uma das minhas
mãos e com a outra começo a abrir meu zíper. Luke não se move, ele sabe
que não deve se mexer, então começo os movimentos. Subo com minha mão
e logo desço, vendo-o revirar os olhos de tanto tesão, suas mãos segurando
as almofadas com força.
— Meu Deus, Gale, o seu toque é tão suave...
— Você gosta que eu toque em você, Luke? — corto-o.
Ele sorri e balança a cabeça em concordância, então continuo
masturbando-o. A sensação que sinto é de puro êxtase, a luxúria nos
cobrindo totalmente, a libido presente. Olho para Luke e, ainda o
masturbando, levo meus lábios para o seu pau. Ele geme de prazer,
apertando com mais força ainda as almofadas do sofá.
Sinto o gosto de suor e sabonete, o que me deixa com ainda mais
tesão, então começo a imaginar cenas de Luke de quatro para mim, enquanto
chupo seu cu e me preparo para comê-lo. Sorrio e continuo chupando seu
pau, enquanto Luke geme de tanto tesão.
— Ah, Gale, por favor... assim eu vou gozar, puta que pariu!
Tiro seu pau da minha boca e passo a língua na glande, fazendo-o
revirar seus olhos, então começo a masturbação, o pênis entre meus lábios
novamente.
— Goza para mim, Luke, preencha meus lábios com seu sabor —
peço com urgência, ao afastar seu pênis da minha boca.
Ele concorda com um aceno e volto a chupá-lo, pouco tempo depois,
Luke goza, me lambuzando e enchendo meus lábios com sua porra. Chupo
cada gota sem receio algum, e me levanto, tirando minha calça e ficando
somente de cueca. Luke olha meu pênis coberto pelo tecido e o pega,
apertando com força.
— Me deixa te chupar — pede.
— Calma, temos bastante tempo ainda. Venha comigo.
Puxo-o pela mão e seguimos em direção ao seu quarto. Passo pelo
arco da porta e assim que adentramos o local, jogo-o na cama, subindo por
cima e devorando seus lábios com rapidez.
— Gosta desse gosto? — pergunto, ainda o beijando.
Ele morde meu lábio inferior e me encara.
— Gosto — sussurra.
— É o seu gosto, Luke. Inebriante, sedutor, sexy, delicioso como
você — declaro, devorando seus lábios.
— Então me deixa sentir o seu agora. — Ele passa as mãos pelo meu
peito e para na cueca, voltando a apertar meu membro.
— Tudo bem, do jeito que estou, não vou aguentar por muito tempo
mesmo.
Ele concorda e se levanta antes de me deitar na cama, agora beijando
meu peitoral e descendo devagar para a minha barriga. Logo para em meus
pelos pubianos e abaixa a cueca, levando meu pau até sua boca. Solto um
gemido alto ao sentir o hálito quente, então aperto os lençóis com força,
revirando os olhos de tanto prazer.
— Meu Deus, Luke, estou louco para te provar por inteiro — digo,
observando a imagem desse homem ainda me chupando.
Ele passa a língua na extensão do meu pau e sorri.
— Uma hora ou outra teremos que acabar com essa aposta, Gale, não
vamos conseguir ficar nisso por muito tempo. — Ele leva a mão até meu pau
e a outra até minha bunda. — Eu quero sentir isso, quero ver meu pau dentro
de você.
— Eu também quero ver o meu dentro de você — respondo, sentindo
o suor brotar na minha testa.
Luke assente e volta a me chupar, agora passando a língua nas minhas
bolas e seguindo pelo períneo. Solto um gemido de prazer ao sentir aquela
sensação, e logo sua língua está no meu ânus.
Meu chefe me vira de quatro e ergue meu corpo um pouco, investindo
com tudo na minha região anal. Solto um gemido ao sentir seu dedo adentrar
minha carne e seguro na cabeceira da cama com força.
— Está gostando disso? — pergunta, enfiando o dedo devagar.
— Não sei nem como descrever o que estou sentindo. Não pare, por
favor.
Ele concorda e, quando vejo, Luke lubrifica seu membro com sua
saliva e ergue seu corpo um pouco, encostando seu membro na minha
entrada.
— Fique tranquilo, não farei nada que não queira, apenas irei
mostrar um pouco do que está perdendo.
Ele passa seu pênis na minha entrada, roçando. Logo sinto o frênulo
do seu pênis passar na minha bunda, fazendo meu corpo retesar.
— Está gostando? — pergunta, acariciando minha bunda.
— Estou sim, quero muito gozar — digo.
Ainda naquela posição, começa a nos masturbar.
— Quando estiver quase lá, quero que me diga, entendeu? —
pergunta de maneira autoritária.
— Sim — digo, com a voz entrecortada. — Ah, Luke, que delícia,
você me deixa louco de tanto tesão, sabia?
— Sim, eu sei. Quero que você sinta o maior dos prazeres que já
teve em toda sua vida — diz, de forma autoritária. — Goza para mim, Gale,
goza, por favor.
— Estou quase lá.
Rapidamente, ele deita meu corpo e se joga por cima, em posição
meia nove, enfiando meu pau na sua boca e o seu na minha, gozando
novamente no momento que também atinjo o ápice.
Seguro-o por cima e engulo novamente seu sêmen, então, devagar, ele
se levanta com a boca cheia e engole, sorrindo para mim. Logo se aproxima
e me beija, passando as mãos pelo meu corpo.
— E esse é seu gosto, e como você é gostoso!
∞∞∞
Depois daquela cena espetacular que tivemos, decidimos tomar um
banho, e assim que terminamos, saímos um pouco para levar meu cachorro
para passear e comermos alguma coisa.
Quando estamos prestes a voltar para o apartamento, vejo algo um
tanto inusitado. Um homem está nos fotografando, e quando vê que estou
olhando, tira ainda mais fotos de nós dois, o que me deixa sem graça e
confuso.
— Ignore, é só mais um paparazzo no meio de muitos — diz Luke,
revirando os olhos.
— Você não se incomoda de nos verem juntos? — pergunto, olhando
o rapaz se afastar, com a câmera nas mãos, feliz com o que havia
conseguido.
— Eu não, e você, se importa? Logo sairá uma manchete dizendo que
estou com um novo namorado.
Rio e nego com a cabeça.
— Não me importo, desde que não te prejudique.
— Pode acreditar, não vai.
Assinto, querendo acreditar nisso.
∞∞∞
Luke
As horas ao lado de Gale passam tão rapidamente, que quando vejo
são sete horas da noite e as meninas são anunciadas. Gale libera a entrada
delas e fica aguardando.
Quando voltamos do nosso passeio na rua, decidimos ir para o
apartamento dele para que pudéssemos preparar alguma coisa para suas
convidadas, entretanto, com o desejo e tesão a todo instante, quase não
conseguimos desgrudar nossa boca uma da outra.
Pensar nisso me deixa feliz, algo que há muito tempo eu não sentia de
verdade. Mesmo assim, no fundo, eu sei que Gale e eu iremos passar por
muitas coisas ainda até nos abrirmos completamente um para o outro. No
entanto, hoje apenas curtiremos a nossa noite.
A campainha toca, me tirando dos meus pensamentos. Gale segue na
direção da porta, com Marvel nos seus braços, e assim que abre, vejo Ana
usando um vestido preto até os joelhos e um casaco por cima dos ombros.
Alice está com calça jeans e uma blusa do “Harry Potter”.
— E aí, gatão, como você está? — pergunta Alice, me abraçando e
passando as mãos pelos meus músculos.
— Estou bem, e você? — Sem graça, dou um beijo em sua bochecha.
Ana me abraça timidamente e sorri.
— Perdoe os modos da minha amiga, às vezes ela não tem noção do
que está fazendo — diz Ana, sorrindo gentilmente.
Concordo, ainda sem graça, e Alice revira os olhos, nos encarando.
— Ele é gay, não vou assediá-lo! E outra, Gale e Luke estão juntos.
Não estão? — pergunta ela, movendo seu olhar entre Gale e eu.
— Estamos nos resolvendo — diz ele por fim, e pisca para mim.
Não me importo com a sua resposta, até porque faz bastante sentindo.
Estamos mesmo nos resolvendo, entre nós dois e de forma pessoal.
— Ah, estão trepando — deduz Alice, rindo —, que bom... bem, o
que vamos comer? Estou faminta!
Dou risada e Gale revira os olhos ao colocar seu cachorro no chão.
Decidimos ignorar aquele comentário, e enquanto ele pega o telefone para
pedir as pizzas, vou até sua geladeira, com Marvel aos meus pés. Abro e
vejo vinho, então o pego e sirvo quatro taças, entregando para cada um. Gale
me agradece e faço um brinde silencioso entre nós, que retribui com um
sorriso cativante.
Sorrindo, penso no que ele havia dito a Alice. Então estamos mesmo
nos resolvendo? Apesar de sermos duas pessoas completamente
problemáticas, temos apenas um desejo: nos abrirmos um para o outro e
sermos felizes. Com isso, eu posso dizer com todas as letras que sou de
Gale, somente dele, assim como Gale é todo meu.
∞∞∞
Quarenta minutos depois, três enormes pizzas de margherita com
pedaços de calabresa picante chegam, e Gale as coloca no balcão da
cozinha.
Rapidamente nos servimos e começamos a comer, bebericando do
vinho e nos deliciando com o sabor maravilhoso. Enquanto como, penso no
dia em que meu funcionário havia ido comigo para a minha casa, o que de
certa forma me leva a lembranças do nosso jogo de sedução, e isso me faz
me ajeitar no sofá para não ter uma ereção.
Sorrio ao me lembrar de mais cedo, enquanto eu roçava meu pau no
seu ânus e ele gemia de prazer, então vejo Alice me encarando.
— Qual a piada oculta? — pergunta, sorridente.
— Só algumas lembranças — digo, olhando para Gale —, nada
demais.
— Ficaria feliz se qualquer dia soubesse dessas lembranças —
responde Ana.
— Quem sabe um dia — digo, piscando, e volto a comer.
Assim que termino, bebo um pouco mais de vinho e me sirvo de mais
um pedaço, que mordisco enquanto Gale me encara, sua boca suja de molho.
— Alguém vai ter que malhar muito depois de tanto comer besteira
— diz ele, revirando os olhos.
— Você revirou os olhos, Gale? — pergunto, sorridente. — Que
gesto mais deselegante.
Reviro de volta e ele solta uma risada, o som me deixa calmo, como
jamais alguém conseguiu fazer antes.
— Você é uma besta mesmo — responde, balançando a cabeça.
Me aproximo dele e passo o dedo no canto da sua boca para limpar o
molho, então o levo até a boca e pisco, sem me importar com a nossa
“plateia”.
— Estava sujo — digo.
Gale volta a revirar os olhos e eu rio, pegando mais vinho para ele e
para as meninas.
— Se você quer me deixar bêbada, Luke, saiba que está indo pelo
caminho certo — diz Alice, bebendo da taça.
— Claro que não quero, se fosse para deixar, seria Gale — digo,
piscando.
— Claro, cu de bêbado não tem dono — diz Ana, rindo.
Rimos juntos enquanto nego com a cabeça.
— Isso quero que seja mais sóbrio possível, para ele se lembrar
depois.
— Quer dizer que vocês ainda não transaram? — questiona Alice.
— Vocês poderiam, por favor, levar em consideração que estou bem
aqui, ouvindo tudo? — pede Gale, envergonhado.
— O que acham de fazermos alguma coisa, sei lá, jogar truco, por
exemplo — sugere Ana, mudando de assunto.
— Luke tem um videogame legal no apartamento dele — sugere
Gale. — Por que não leva a gente lá e mostra para elas, hein?
Ele me encara e dá um sorrisinho no canto da boca, o que me faz ter
que me concentrar para não ficar de pau duro.
— Pode ser, mas que tal jogarmos verdade ou consequência?
Ana e Alice vibram com a ideia, e Gale concorda, pegando Marvel
no colo e seguindo para a porta.
— Arrumamos a bagunça depois, vamos nos divertir um pouco
agora.
Concordamos e seguimos animados para o meu apartamento. Assim
que entramos, sigo até o bar que tem na sala e pego uma garrafa de vodca e
um pequeno copo de dose.
— Quem perder, bebe — digo, encarando-os.
Os três concordam e logo nos ajeitamos no chão da sala, sentados em
cima do tapete macio.
— Ok, vamos lá, passa essa garrafa aqui — diz Alice.
Passo para ela, que fecha bem e a rodopia no chão, então ela para de
frente para mim.
— Então, Luke, qual vai ser — começa ela —, verdade ou
consequência?
— Verdade.
Os três me olham e Gale sorri, mordiscando o lábio.
— Certo, você perdeu sua virgindade com quantos anos e com quem?
Reflito sobre a pergunta e respiro fundo.
— Perdi com dezesseis. Foi com um colega de escola.
Ela me encara e estreita os olhos.
— Será que Luke não está mentindo para nós, pessoal? — Ela abre a
garrafa de vodca e me encara. — Você quer beber, danadinho?
— Claro que não!
— Acho que está sim, Luke — Gale diz, rindo.
— É verdade, e para começo de conversa, foi horrível — afirmo.
Os três concordam e Alice volta a fechar a vodca.
— Sua vez, gatão — diz.
Giro a garrafa, que para na direção de Ana.
— Verdade ou consequência?
— Verdade, é claro!
— Quantos homens você já chupou na vida?
— Bem, pelo que eu me lembre, foram nove homens diferentes. Cada
pau de um tamanho e cor. O melhor até hoje é o do carinha que peguei na
balada, vinte e três centímetros com uma...
— Não precisa dizer como é! — respondo, rindo. — Tudo bem, você
me convenceu, dessa vez escapou da bebida.
— Ótimo, mas me dê um copo disso.
Ana pega a garrafa e vira no copo, bebendo de uma só vez, sem ao
menos fazer careta.
— Agora é a minha vez de girar isso aí! — diz.
Rapidamente ela gira e para de frente para Alice, então Ana faz a
pergunta e claro, a resposta é verdade.
— Alice, sempre quis te perguntar isso. Por acaso você é bissexual?
— Depende. Depois de três doses de vodca, pode ser que eu me
revele e tente mamar seus peitinhos!
Damos risada disso e Alice gira novamente, agora parando em frente
à Gale.
— Verdade ou consequência? — pergunta, animada.
— Consequência — diz Gale. Olhamos surpreso para ele e Gale
sorri. — O que foi? Vocês só querem dizer a verdade, quero algo mais
interessante.
— Ai caralho, ok. Vamos lá, então! — balbucia Alice. Ela parece
nervosa, então logo um sorriso aparece em seu rosto. — Quero que você
chupe o peito de Luke aqui, na nossa frente, e mordisque sua orelha.
Olho para ela e Alice dá de ombros. Mas que porra é essa? Eu terei
que me controlar muito para não ficar de pau duro na frente das meninas.
— Tudo bem. — Gale se coloca de pé e pega a vodca, abre, assopra
na ponta da garrafa e vira com tudo, bebendo um farto gole.
Encontro-o parado na minha frente, que fica de joelhos e abre os
botões da minha camisa, meu rosto começando a queimar de vergonha.
— Vai, garotão, mostra do que você é capaz — Ana diz.
Não consigo prestar atenção nelas, só vejo Gale se aproximando de
mim e mordiscando minha orelha. Um arrepio percorre meu corpo e me
controlo para que isso não vire uma ereção, mas é quase impossível. Então,
para disfarçar, ele coloca uma das mãos no meio das minhas pernas e
continua chupando minha orelha, os gemidos involuntários já saindo dos
meus lábios.
— Caralho, estou ficando excitada! — diz Alice.
Continuo não prestando atenção, só consigo olhar para Gale beijando
meu pescoço e indo para o meu peitoral, fazendo uma trilha de beijos
naquela região. Então, quando já está perto do meu mamilo, ele o chupa, me
fazendo segurar com força no tapete, enquanto meu pau já começa a subir.
Sua mão o aperta e volto a me controlar; não estamos sozinhos.
Droga!
— Você me convenceu, Gale. Diria que Luke está de pau duro, se
desse para ver, já que sua mão está em cima — Alice diz.
Gale se afasta e sorri para mim, me deixando ali parado, atônito.
Que porra! Essa brincadeira está indo longe demais.
Mas não paramos, continuamos brincando, agora nos desafiando.
Faço Gale virar a garrafa de bebida mais de três vezes, então também bebo,
sentindo minha visão ficar turva. As meninas estão tão alegres, que riem à
toa.
Alice quase cai por causa da bebida e Gale pega a vodca, bebendo o
restante da garrafa em um único gole.
Então ele se vira e me encara.
— Verdade ou consequência? — pergunta, vacilando.
— Verdade.
— É verdade que você me ama? — pergunta ele.
Olho para Gale, processando suas palavras. Ele está mesmo
perguntando se eu o amo? Engulo em seco e observo o rosto de Alice e Ana,
ambas ansiosas pela minha resposta.
Reflito um pouco sobre isso, como se fôssemos somente nós dois
neste momento. Eu amo Gale? A verdade é que nos últimos tempos ele não
sai dos meus pensamentos por nada, cada plano meu o inclui. Quando acordo
todas as manhãs, é ele que vem no meu primeiro pensamento, assim como o
último, quando me deito para dormir. Será isso o amor? No tempo que
ficamos afastados após seu aniversário, nunca me senti tão solitário, até
mesmo havia discutido com meu melhor amigo, que passara tantas coisas
comigo, por causa dele. Realmente é amor?
Recordo-me do dia em que acabei me declarando para Gale. Eu sei
que estou apaixonado, mas será que esse sentimento havia florescido de
outra maneira, que eu nem havia reparado? Penso nas simples palavras,
carregadas de um grande significado. É como se o chão em que estou, se
abrisse e eu caísse em um poço sem fundo. Como se a bebedeira da noite
deixasse meu corpo adormecido e somente meus pensamentos estão
despertos. Como isso pode ter acontecido? Quando isso aconteceu
realmente? Tento raciocinar, e diante daquele poço que me aprofundei,
consigo enxergar um futuro com Gale Meyers ao meu lado. Eu o quero e o
desejo, apesar de ser um homem um tanto enigmático, sei que necessito dele
ao meu lado.
E se isso é amor, então sim, eu amo Gale Meyers.
— Não sei quando isso aconteceu e quando deixei de controlar meus
sentimentos, mas sim, eu te amo, Gale — digo, sentindo as lágrimas nos
olhos. — Eu te amo desde o instante em que te vi, e tive a certeza de que não
te queria somente na minha cama por uma noite.
— Caralho — Ana diz.
— Melhor irmos embora, já está ficando bem tarde — diz Alice,
bêbada. — Vocês precisam conversar.
As duas se levantam e Gale faz o mesmo.
— Melhor vocês duas irem para o meu apartamento e dormirem lá.
Alice não está em condições de ir embora sozinha — diz Gale, entregando
as chaves. As duas concordam e logo saem, arrastando Marvel com elas.
O silêncio paira na sala, então me coloco de pé, pegando a garrafa de
vodca vazia e a colocando no lixo. Gale continua parado, as mãos na cintura,
respirando com dificuldade por conta do que eu havia dito. Continuo parado,
esperando a sua reação, até que ele se vira para mim, sério
— Você me ama — diz, com a voz carregada de medo.
— Você pediu um motivo para ficar — respondo. — O motivo é
esse. Eu te amo e estou disposto a enfrentar tudo que precisar para ter você
ao meu lado.
— Me ama — sussurra, chorando. — Eu não consigo acreditar. Por
anos eu pensei que isso não aconteceria comigo, entende? Quando meus pais
morreram, eu pensei que não poderia ser amado e amar alguém de forma
normal, e agora você está dizendo que me ama.
As lágrimas rolam em seu rosto e um grito abafado sai da sua boca,
como se o seu peito estivesse sendo dilacerado.
— Eu te amo, Gale. Me deixe cuidar de você, disso tudo, vamos
resolver essa situação.
— Como pode amar uma pessoa como eu? — pergunta, ainda
chorando.
Agarro-o e seguro seus braços, olhando no fundo dos seus olhos, que
revelam dois poços cheios dor, angústia e sofrimento.
— Ninguém nesse mundo é perfeito. Entenda de uma vez por todas
que estou disposto a te amar e cuidar de você.
Ele me encara, assentindo, e me abraça, molhando minha camisa.
Carrego-o até o quarto e tiro sua roupa, sem ao menos pensar em qualquer
tipo de besteira, então o cubro e me coloco ao seu lado, abraçando-o
apertado.
— Vamos dormir, amanhã temos um longo dia pela frente e muito o
que conversar — digo.
— Preciso trabalhar amanhã.
— Ligo para o restaurante e digo que você vai entrar mais tarde. Não
se preocupe com isso.
Pela primeira vez, Gale concorda e se deita no meu peito, logo
adormecendo. Não demora muito para que eu faça a mesma coisa, ansioso
para que isso dê certo.
Gale Meyers
Uma das piores coisas do mundo é contar para alguém algo de errado
que você fez. Você nunca sabe qual vai ser a reação das pessoas,
principalmente quando ela é importante para você.
Ainda deitado ao lado de Luke, me lembro de uma vez que estava
brincando com a bola dentro de casa e acabei acertando-a em um vaso que
mamãe havia ganhado de aniversário de casamento. Eu o vi cair e virar
vários pedaços, logo o desespero tomou conta de mim e fiquei pensando
como diria a mamãe que o quebrei.
Foi difícil admitir para ela que eu o quebrara, mas assim que assumi
meu erro, ela me abraçou e disse que estava orgulhosa de mim. Perguntei o
porquê, afinal, eu havia quebrado um presente que ela dizia adorar.
— Estou orgulhosa de você, porque admitiu seu erro, querido.
— Como assim? — pergunto, não entendendo onde ela quer chegar.
Minha mãe pega na minha mão e eu sorrio, alegre por sentir o suave toque
dela.
— O que quero dizer é que você poderia ter inventado mil e uma
desculpas, ter dito que esbarrou nele sem querer e quebrou, mas optou por
dizer a verdade, mesmo sabendo que eu poderia colocá-lo de castigo por
isso. — Concordo com ela, e mamãe continua: — Pela sua honestidade,
não farei nada, mas tome cuidado da próxima vez.
— Tudo bem, mamãe, obrigado por me desculpar.
Abraço-a, e quando estou prestes a sair da sala, minha mãe me
chama.
— Sim, mamãe? — digo, me virando para ela.
— Prometa para mim, meu filho, que apesar de tudo, apesar dos
segredos, dos problemas, você nunca deixará esse seu lado verdadeiro se
acabar. Seja verdadeiro com as pessoas sempre, mas, acima de tudo, seja
verdadeiro com si próprio.
Olho para ela e concordo.
— Eu prometo.
Volto dos meus pensamentos e me levanto da cama de Luke, vendo
que já é um pouco mais de seis e meia da manhã, então vou ao banheiro e
faço minhas necessidades matinais, em seguida, me troco e saio na ponta dos
pés, indo até a cozinha para preparar um café e me aliviar da ressaca que
começa a se instalar.
Ligo a cafeteira e me lembro da noite anterior; as palavras de Luke
ainda nos meus pensamentos. Não sei como reagir diante da revelação dele,
o que me deixa um pouco assustado, mas também feliz.
Apesar de todos os meus traumas e problemas, saber que sou amado
por alguém é uma sensação maravilhosa, que não consigo explicar.
Entretanto, não posso esquecer os motivos que me fizeram chorar igual a
uma criança na noite passada. Empecilhos que somente eu serei capaz de
resolver, e pensando bem, alguns até terei uma maneira de resolver, mas e os
que não? Como eu poderei lidar com a sensação que me consome todos os
dias?
Concluo que esse empecilho fui eu mesmo que coloquei, agora
somente eu conseguirei tirá-lo do meu caminho, então começo a bolar um
plano, disposto a finalmente falar toda a verdade para Luke, mesmo que isso
coloque a nossa relação — se é que eu posso chamar assim — em risco.
Ouço uma batida na porta e saio dos meus pensamentos. Sigo até ela
e abro, encontrando Alice e Ana paradas, um pouco pálidas por conta da
bebedeira da noite anterior.
— Bom dia, Gale — dizem em uníssono, entrando e me dando um
beijo no rosto.
— Bom dia — digo, dando um sorriso forçado.
— Você está um caco — constata Ana.
Dou de ombros e seguimos para a cozinha, nos sirvo de café e me
sento ao lado delas.
— Como você está depois de ontem? — pergunta Alice, segurando
minha mão.
Bebo um gole do café e dou de ombros, meus olhos começando a
ficar vermelhos.
— Eu não sei dizer, Al, não sei mesmo — digo, suspirando. — Eu
deveria estar feliz, eu sei.
— Deveria mesmo, Gale, afinal, Luke disse que te ama — responde,
me encarando.
— Eu sei. — Sinto as lágrimas invadindo o meu rosto. — E esse é o
problema. Apesar de todos os pesares, eu também o amo.
— E qual o problema nisso? — pergunta Ana, pousando o braço
sobre o meu. — Gale, amar é uma dádiva, por que não se entregar? A melhor
coisa do mundo é amar e ser amado. Não tem motivos para tal sofrimento.
— Eu sei, mas será que vai dar certo? Quero dizer, Luke é podre de
rico, uma pessoa super influente, e eu? Não tenho nada a oferecer para ele,
sem contar que sou seu funcionário e as pessoas vão falar.
— Vão falar? Gale, já estão falando! Vocês dois juntos, saindo por
aí, o seu aniversário... não pense tanta besteira, deixe as pessoas dizerem o
que elas quiserem! A realidade é de vocês, não delas — diz Alice.
— E você tem algo sim a oferecer para Luke — Ana completa. —
Amor. Algo que sabemos que ele necessita, dá para perceber.
Penso por um instante, elas estão certas, porém, há um pequeno
problema além do meu passado e daquele medo.
— Quase não o conheço. Isso que é estranho... não nos conhecemos
direito.
— Então se conheçam — sugere Alice. — Ele deve ter um amigo que
pode te ajudar com os gostos e todas essas baboseiras.
Penso em Kris, mas me recordo que ele não vai muito com a minha
cara, então não adiantará pedir algo a ele, porque sei que se negará a me
ajudar. Então me lembro de Pitter, mas duvido que conheça Luke tanto assim,
porém me recordo de uma pessoa que com certeza pode me ajudar.
— Tem a Taylor, ela é uma amiga dele. Se eu falar com ela...
— Ela pode te ajudar! — completa Ana.
— Então ligue para ela — sugere Alice.
— Não tenho o telefone dela — lamento.
— Luke tem, veja no celular dele. — Ana sorri e beberica seu café.
— É, pode ser que isso dê certo. Obrigado, meninas, vocês são
incríveis!
— Sabemos disso. Agora precisamos ir, o dever na butique nos
chama! — fala Al, revirando os olhos.
As duas se levantam após finalizar o café, e assim que nos
despedimos, saem em direção ao elevador. Penso sobre o que conversamos
e procuro o celular de Luke, encontrando-o na mesa de centro da sala.
Pesco-o e vejo na tela uma foto dele sorrindo, tento desbloquear e vejo que
contém um desenho padrão para ter acesso. Reviro os olhos e tento avistar
na tela se há marcas do desenho, quem nunca havia feito isso? Entretanto,
não encontro nada, o que me desanima, então, começo a fazer desenhos
óbvios demais, como um “L” e um “M”, não sei o porquê.
A tela continua bloqueada. Sei que é ridículo, eu nunca irei conseguir
acessar o celular de Luke, então, como um estalo, olho o aparelho e desenho
um “G”.
A tela inicial se abre e fico surpreso. A senha de Luke é mesmo um
“G”, por minha causa? Balanço a cabeça, pensando o quanto ele é maluco, e
procuro nos seus contatos do WhatsApp o nome de Taylor. Vejo a foto,
confirmando que é ela, então procuro meu celular e salvo o número. Sinto
que isso que estou fazendo é invasivo demais, mas percebo que não tenho
escolha; ou mexo no celular de Luke para falar com Taylor ou nunca
conseguirei o contato dela.
Assim que salvo no meu aparelho o número, bloqueio a tela
novamente e coloco no mesmo lugar, agora encarando o meu celular e
criando coragem para fazer isso.
Penso por um instante se devo ou não ligar, e antes que perca a
coragem, ligo, levando o celular até o ouvido. A linha chama e rapidamente
ouço a voz de Taylor.
— Alô, quem é? Se for sobre o cartão de crédito, eu já paguei —
diz, bocejando.
Sinto vontade de rir ao ouvir isso e pigarreio.
— Bom dia, Taylor, aqui é Gale, funcionário de Luke... lembra de
mim?
— O chefe de cozinha do restaurante, como iria te esquecer? Fui
ao seu aniversário. Mas, aconteceu alguma coisa? Não me lembro de ter
passado meu número para você.
— É... eu peguei no celular de Luke escondido — digo, me achando
ridículo por isso. — Gostaria de conversar com alguém que o conhece bem.
— Ah, tudo bem — diz, um pouco confusa. —, mas por que precisa
conversar comigo? O que ele te disse?
— É um assunto um tanto delicado — digo, com um pouco de medo.
— Luke disse que me ama.
— Por essa eu realmente não esperava, mas já sabíamos, não? O
jeito dele na festa com você mostrou claramente que isso aconteceria
rapidamente — profere Taylor, sonolenta. — E você, me diz, como se
sente?
Penso mais uma vez e suspiro.
— Eu não quis ver por muito tempo o que estava na minha cara —
digo —, posso dizer que o amo também, no entanto, há algo entre nós, um
problema...
— Que tipo de problema? — pergunta Taylor.
Me sento na sala, observando se Luke não está ouvindo.
— Meu passado. Ele me perturba. — Seguro as lágrimas, cansado de
tanto chorar. — Não tenho nada a oferecer para ele. Luke tem tudo, ele é
lindo, carinhoso, pode ter a pessoa que quiser.
— Pode mesmo — Taylor suspira —, mas ele quer você! Escute,
Gale, ele te ama, e tem um passado bem perturbado também, porém, Luke
quer tentar ser feliz ao menos uma vez na vida. Então peço para que você
tente, que você o ajude e se ajude, ambos merecem a felicidade. Pare de
colocar empecilhos no meio do caminho de vocês e se entregue.
— Mas...
— Mas o que? A vida é feita de momentos, Gale, aproveite cada um
deles! Viva com Luke como se fosse o último dia de sua vida. Não se
preocupe com o que as pessoas pensarão a respeito, vocês não devem nada
para elas! Vivam e sejam felizes.
Penso nas palavras de Taylor e sorrio, concordando.
— Você está certa, Taylor, vou dar uma chance a esse amor que
sentimos um pelo outro. Não deixarei a oportunidade de ser feliz passar
despercebida assim.
— Você está mais do que certo, e se precisar de alguma coisa,
agora você já tem meu número. Seja feliz, faça-o feliz, se entreguem para o
desejo que sentem.
— Tudo bem, vou falar com ele. Até logo.
— Até mais, Gale.
Nos despedimos e desligo o telefone, olhando no relógio. Já é quase
sete da manhã, e as decisões a respeito do meu passado haviam sido
tomadas. Eu irei, enfim, contar tudo para Luke e torcer para que ele aceite e
possa viver esse amor.
∞∞∞
Como Luke continua dormindo, decido ir até o meu apartamento e
tomo um banho, deixando a água quente cair sobre minha cabeça, levando
toda a angústia e tristeza que me assolam. Diversas pessoas dariam tudo para
estarem no meu lugar, então por que não tentar ser feliz, já que a vida havia
decidido me dar uma chance de isso acontecer? Saio do banheiro renovado e
sigo até meu quarto, coloco uma calça jeans escura, tênis, uma camiseta
qualquer e penteio meus cabelos um pouco compridos. Noto, diante do
espelho, que minha barba cresceu bastante nos últimos dias, então passo um
perfume e paro de procrastinar, seguindo novamente para o apartamento de
Luke.
Assim que adentro o local, encontro-o na cozinha, com os cabelos
molhados e somente de cueca boxer preta. A mesa já está posta e ele sorri
para mim.
— Vou repensar sobre achar segunda-feira ruim. Acordar vendo isso
tudo é bem sugestivo. — Sorrio.
— Bom dia, Gale. — Ele lambe os lábios.
— Bom dia, Luke. — Me aproximo dele e vejo uma pequena ereção.
Sorrindo, levo minha mão até o meio de suas pernas, apertando-a devagar.
— Algo me diz que alguém está com fome — diz ele.
— Talvez eu esteja com vontade de beber leite — digo e Luke vem
até mim.
— Se você quer leite, então vou te dar.
Dou risada e ele me agarra, me joga no sofá e sobe por cima de mim.
Passo minhas mãos em seu peitoral e o encaro, então sinto sua ereção ainda
mais. Reviro os olhos ao pensar no quanto ele é safado, mas abaixo sua
cueca e observo seu membro duro diante de mim. Pego-o com firmeza e
começo a masturbá-lo, com aquele maravilhoso homem gemendo baixo.
Sorrio e levo até a boca, chupando com vontade e ferocidade.
Luke continua na mesma posição, então, enquanto passo a língua pela
glande e extensão do seu pau, masturbo-o e ele continua gemendo.
— Ah, Gale, você é um diabinho. Agora que começou, vai ter que me
fazer gozar — sussurra.
Sorrio diabolicamente e beijo sua boca, voltando a chupá-lo. Sinto
seu sabor e o quanto é inebriante, desejando ter todos os dias seu delicioso
gosto comigo, então volto a masturbar Luke, e depois de um tempo,
segurando minha boca próxima do seu pau, ele arqueia e goza, me
lambuzando todo.
Passo a língua na glande e volto a chupá-lo. Assim que termino, ele
me puxa, nos colocando de pé e dando um sorrisinho sacana.
— Acho que está para nascer pessoa mais safada que nós dois juntos
— diz, brincalhão.
— Isso tudo é culpa sua.
— É porque sou todo seu, isso sim — diz ele, me beijando.
— E eu seu, somente seu.
∞∞∞
Tomamos café de mãos dadas, com Luke sorrindo a todo instante. De
repente, percebo que o momento está cada vez mais perto, dentro de mim
algo diz que ele não irá aceitar o meu passado. Eu já havia passado por isso
com meu ex, e se a mesma história se repetir com Luke?
Na época que contei a Augusto tudo que havia passado, ele não
aceitou, é claro, até mesmo me xingou e me ofendeu, o que me fez cair em
depressão por um bom tempo. Com a rejeição dele e suas duras palavras, me
vi em um beco sem saída, e foi aí que pensei em acabar com aquela história
de uma vez por todas.
No fundo, apesar de tudo, agradeço por ele ter me rejeitado, pois
consegui dar a volta por cima. E me agarrando a esse pensamento, torço para
que Luke seja o oposto dele e me aceite.
∞∞∞
Quando é sete e meia da manhã, Luke sorri, pronto para enfrentar o
dia. Pensando que faltam duas horas para trabalharmos, preciso conversar
com ele antes de ir ao restaurante.
Ele se aproxima e me abraça.
— Vou te levar ao restaurante. O que quer fazer enquanto não dá o
horário de trabalho? — pergunta, abraçado a mim.
— Gostaria de conversar com você, Luke — declaro, nervoso.
Ele me encara e, depositando um beijo na minha bochecha, assente,
sorrindo.
— Pode dizer, garotão, estou pronto para te ouvir.
Engulo em seco e começo a tremer.
— Você tem certeza de que quer ouvir isso? Quero dizer, eu...
— Quero ouvir sim. Você que precisa me dizer se está pronto para
me contar.
— Estou.
Me solto dele e ficamos um de frente um para o outro. Luke respira
fundo e relaxa os músculos.
— Você precisa entender que desde novo me tornei uma pessoa
promíscua e cheio de desejos luxuriosos — digo, engolindo em seco. —
Quando completei doze anos de idade, conheci um homem de trinta, que me
encarava de maneira estranha.
“De início, senti bastante medo, entretanto, ao ver que ele era amigo
dos meus pais, relaxei um pouco. Com o passar do tempo, notei que ele
começou a se insinuar para mim, e em um dia que meus pais tiveram que me
deixar sozinho, ele apareceu em casa.
Permiti que ele entrasse, afinal, era amigo da família, e fui bastante
gentil com ele, oferecendo água e até mesmo refrigerante. Entretanto, ele não
estava ali por acaso, sabia muito bem que mamãe e papai estariam fora, e
com certeza não queria água ou coisa parecida.
Ficamos um tempo na sala assistindo ao futebol que passava na
televisão, estava quente e eu, na minha inocência, tirei a camiseta para ficar
mais fresco, e foi aí que ele começou.
Primeiro foi a mão no meio de suas pernas, e depois começou a
massagear seu pênis por cima da calça, aquilo me incomodou, e quando vi,
Eduardo, esse era o nome dele, abriu o zíper da sua calça e o colocou para
fora.
‘Você o quer?’ ele perguntou, deixando-me ainda mais
desconfortável, ‘pega nele, pode fazer o que quiser, vamos aproveitar que
seus pais não estão’. Claro que eu recusei, dizendo que meus pais não iriam
gostar de saber daquilo, e foi aí que pedi para ele ir embora, entretanto, ele
não foi.”
Paro de falar, sentindo as lágrimas transbordarem nos meus olhos.
Luke me encara sério, a sobrancelha erguida numa forma de protesto.
— Ele fez...
— Eu vou contar, por favor, espere — peço, engolindo em seco. —
Ele não aceitou o que eu disse, e foi quando se mostrou ser uma pessoa
bastante violenta, até mesmo ameaçou matar meus pais e eu se eu abrisse a
boca, e foi quando aconteceu.
Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e Luke segura minhas
mãos, passando confiança.
— Continue quando se sentir à vontade.
Enxugo meus olhos e suspiro.
— Naquele dia ele me obrigou a chupá-lo e acabou me violentando
de maneira tão brutal, que fiquei dias com sangramento e dores nas minhas
partes íntimas. Eu até mesmo precisava lavar as minhas cuecas no banho
para mamãe não ver o sangue e desconfiar.
“Mas esse não foi o pior, quando ele terminou de me violentar,
Eduardo abriu a carteira e retirou de dentro uma nota de cem reais. ‘Pelo
serviço’ disse e foi embora.
Daí em diante minhas noites foram de puro tormento, onde tinha
diversos pesadelos com Eduardo e, claro, com o dinheiro. Ele pagou por
algo que me obrigou a fazer? Então, quando completei quinze anos, numa
forma boa e aparência de ser mais velho, eu descobri um mundo do qual
jamais imaginei antes fazer parte.
Foi em um clube de fachada simples que descobri um mundo cheio
de prazer, desejo e luxúria. O dono me dissera na época que eu poderia
ganhar bastante dinheiro com meu corpo magro, que muitos homens
adoravam aquele tipo de garoto, e foi quando comecei a me vender,
acreditando que aquele gesto me ajudaria a esquecer o que havia sido feito
comigo.
Usei diversos homens para conseguir grana, uns até pagavam um mil
reais, só para terem o prazer da minha companhia e um boquete bem-feito.”
Continuo chorando e Luke se coloca de pé, me encarando, seus olhos
estão marejados e a voz embargada.
— Está me dizendo que você aproveitou de um trauma para
conseguir dinheiro? — questiona, surpreso.
Engulo em seco e me levanto.
— Você precisa entender que na época isso me perturbou demais, e
essa foi a única maneira que encontrei para esquecer um pouco. Por favor,
me deixe terminar de contar tudo antes que eu perca a coragem.
— Mais? — pergunta, nervoso.
Concordo, engolindo em seco e me sentando, com Luke em pé,
afastado de mim.
— Com o passar do tempo, acabei aprendendo diversas coisas que
não me orgulho, e me tornei um dos rapazes mais famosos do clube, era o
que mais tinha clientes, e um deles foi o próprio Eduardo.
“Ele apareceu em uma noite de dança mascarada, que tinha toda a
semana no clube. Eu era o principal, já que muitos iam ali justamente para
me ver, e na mesa da frente, próximo ao palco que dançávamos, eu o avistei.
De início não fiz nada, ele não me reconheceu de imediato com a máscara, e
foi aí que eu cheguei no chefe do clube e disse que queria uma noite com ele.
Não foi difícil conseguir isso, já que ele ficou fascinado comigo e quis
também.
Como disse antes, aprendi muitas coisas das quais não me orgulho,
inclusive que se injetar ar na artéria carótida pode levar uma pessoa a óbito
sem levantar suspeitas. Então, com um plano em mente, levei-o para a
melhor suíte que havia no clube. Assim que ele entrou, se deparou comigo
em pé, nu e mascarado.
‘Quero ver seu rosto’ pediu e neguei, forçando a voz e dizendo que
não. Se ele estivesse um pouco menos bêbado e menos drogado, teria me
reconhecido de imediato, entretanto, não foi o caso. E foi aí que eu o
obriguei a se ajoelhar diante de mim e fazer algo que anos antes ele me
obrigara a fazer.
Enquanto me chupava com gosto e exatidão, procurei a seringa que
um dos meus colegas havia preparado para mim e enfiei no pescoço dele. E
hoje não sei dizer se foi sorte ou azar, mas ele conseguiu se levantar e fugir
antes mesmo de eu injetar. Entretanto, houve uma confusão no clube e a
polícia invadiu, com bastante sorte fugi, e Eduardo acabou sendo escudo no
tiroteio.
Agradeço que não tirei sua vida, mas me lembro até hoje a sensação
ruim que senti enquanto ele fazia o boquete. Senti nojo e asco de mim
mesmo, chorando por meses ao refletir sobre isso.”
Paro de falar e Luke me encara.
— Seus pais sabiam? Eles sabiam o que Eduardo fez com você?
— Não, eu fiquei com medo do que ele pudesse fazer — respondo,
limpando os olhos. — Guardei isso por todos esses anos, você é o primeiro
a saber.
— Você me disse sobre traição, há algo além disso?
Concordo, engolindo em seco.
— Meus pais sempre esperaram que eu levasse uma namorada para a
casa e tinham orgulho de dizer que eu seria um exemplo para muitos, então,
quando estava pronto para me abrir para eles, o acidente aconteceu. É por
isso que não consigo prosseguir com minha vida ao lado de alguém. Eu sujei
meu corpo de uma maneira imperdoável, além disso, menti para minha
família. Eu os traí da pior maneira, acabei com a confiança que meus pais
tinham em mim, e agora eu os perdi. Como castigo, terei que viver com a
realidade dolorosa de que eles nunca saberão que o único filho foi
violentado pelo amigo deles, e além de garoto de programa, é gay.
Paro de falar, e o único som no apartamento é dos soluços
involuntários que saem da minha boca. Então encaro Luke ainda de pé e
engulo em seco, sentindo o gosto da bile.
— Por favor, agora que te contei tudo, diga alguma coisa, nem que
seja para eu ir embora e não voltar mais.
Luke se mantém em silêncio, os olhos vidrados, pensando em algo
que não consigo imaginar. Eu vou perdê-lo, mas é claro. Por que fui idiota
por acreditar que depois disso tudo ficaríamos juntos?
Levanto-me na esperança de Luke reagir e me aproximo dele, pronto
para tocá-lo, entretanto, ele recua no meio do caminho e meu braço pende.
— Acho que já sei sua resposta — digo, seguindo em direção à
saída. Novamente sinto meus olhos lacrimejarem e abro a porta com fúria,
nervoso por tudo de ruim que eu já havia feito. Aperto o botão do elevador e
vejo Luke se aproximando, os ombros caídos.
— Gale — diz, com a voz embargada.
— Luke — sussurro.
As portas se fecham e eu aperto o térreo, o ar faltando nos meus
pulmões. De repente, me vejo na verdade dolorosa que estou e começo a
chorar descontroladamente, pensando que essa pequena história de Luke
Evarns comigo havia acabado para sempre.
As portas se abrem e saio do elevador um tanto atordoado. Olho para
o lado e vejo Luke sair das escadas de emergência. Engulo em seco e finjo
que não o estou vendo, seguindo na direção da saída enquanto ouço os gritos
dele.
— Gale, por favor! Espere!
Continuo seguindo até a saída, e assim que saio, pedindo licença a
uma moça que está no caminho, começo a correr pelas ruas movimentadas de
Londres, meus pés derrapando na neve fresca.
Olho para trás e vejo Luke esbarrando nas pessoas e tentando me
alcançar. Não paro, aumentando cada vez mais os passos, sentindo uma
queimação nas panturrilhas e uma dor forte no meu peito.
— Gale, vamos conversar!
Ouço seu grito ao longe. Atravesso na frente dos carros, que buzinam
furiosos, e continuo correndo, sentindo minha visão cada vez mais
embaçada, então bato em um homem e caio, machucando meu ombro e perna.
— Droga! Olhe por onde anda — diz ele, nervoso.
Sinto a dor se alastrar pelo meu corpo e tento me colocar de pé,
andando com dificuldade, então sinto meu braço ser segurado e Luke me
puxa contra o seu corpo.
— Você vai fugir até quando? — pergunta, com a voz falha.
— Mas que porra, Luke! — grito, sentindo seu corpo forte. — Me
deixe em paz! Eu não devia ter contado nada para você.
— Espere, porra! Que merda você está tentando fazer?
— Será que você não entendeu tudo o que eu disse? — questiono,
secando as lágrimas enquanto noto que algumas pessoas passam e nos
encaram.
— Eu entendi, sim, e não me importo com nada disso. Eu também
tenho meu passado, e quando você me contou sobre o seu, me vi preso em
lembranças difíceis. Por favor, pare de fugir.
— Você sabe melhor que ninguém que não temos futuro.
— Por que não, Gale? Me diz um motivo para não tentarmos.
— Eu não posso viver essa vida, Luke! É errado, nós somos errados!
— grito.
Luke para por um instante e me encara, talvez pensando em dizer algo
que me conforte.
— Acho que quando existe amor, o único erro que podemos cometer,
é não nos entregarmos a ele — diz, se aproximando de mim.
— Como tem tanta certeza disso? — pergunto, surpreso com suas
palavras.
— Eu não tenho certeza de nada, Gale, mas sei o que eu quero. Não
me importo com seu passado, dane-se tanto ele quanto o meu, vamos pensar
no agora, no momento que estamos vivendo. Eu te quero e sei que você
também me quer, não diga que não, pois estará mentindo.
Engulo em seco e ele se aproxima ainda mais, coloca uma de suas
mãos no meu rosto e puxa-me em sua direção, beijando meus lábios.
Sentindo o gosto suave do seu beijo misturado com lágrimas, eu me entrego,
abraçando Luke e não me importando com as pessoas que estão à nossa
volta.
— Eu te amo, Gale Meyers, quero viver o resto da minha vida com
você. Porra, será que dá para entender isso?
Rio e concordo, observando diversas pessoas nos olhando.
— Dá sim, sr. Evarns — digo, rindo e limpando os olhos.
— Ótimo, porque é isso que eu desejo. Agora vamos para casa
cuidar desses ferimentos e esfriar um pouco a cabeça. Vou ligar para o
restaurante e dizer que você se acidentou.
Concordo sem pestanejar e seguro sua mão, indo em direção ao
apartamento.
Assim que chegamos ao apartamento de Luke, enquanto ele liga para
o restaurante dizendo que não irei trabalhar por ter me acidentado, decido
tomar um banho e esfriar a cabeça. Penso no meu passado, que finalmente
contei para Luke. Ele havia, apesar de tudo, me aceitado, o que me deixa
feliz e bastante aliviado.
Saio do banho e procuro uma roupa dele que sirva em mim, pego uma
bermuda jeans, camiseta e, após me trocar, sigo para sala e encontro Luke.
— Oi — digo, um pouco sem graça, pensando no que havia
acontecido pouco tempo atrás.
— Como se sente? — pergunta, se aproximando e me abraçando.
— Melhor — respondo, sorrindo.
Ele sorri e deposita um beijo na minha testa.
— Eu quero te perguntar uma coisa — diz, com a voz trêmula e
voltando a me abraçar.
— Pode perguntar.
Luke se afasta e me encara.
— Gale, quer me namorar?
Engulo em seco, não acreditando em suas palavras.
— Isso é sério? — pergunto, surpreso.
— Se você quiser, sim.
Dou um sorriso maroto e o encaro.
— Eu aceito — digo, beijando-o.
Luke vibra de felicidade e me abraça, agarrando meu corpo.
— Eu te amo — diz ele, ainda sorrindo.
— Eu também te amo. — Sorrio e o abraço e, pela primeira vez em
anos, consigo esquecer meu passado e ser feliz novamente.
Luke Evarns e Gale Meyers
Luke
Saber sobre o passado de Gale não mudou meus sentimentos por ele,
na verdade, me fez amá-lo ainda mais. Não julgo meu namorado pelas suas
atitudes, o que ele havia feito já passou. Hoje em dia, Gale se arrepende
totalmente daquela atitude. Fico pensando sobre ele nunca ter dito para seus
pais sobre sua sexualidade e percebo que é esse o problema real para ele,
afinal, por conta dessa atitude, ele se sente um verdadeiro traidor. Engulo em
seco ao pensar nisso, eu havia aceitado tranquilamente o passado de Gale,
mas será que ele aceitará o meu tão bem quanto? Afinal, o meu é muito pior
do que ele pode imaginar... envolve drogas, sexo, mortes e muitos outros
fatores que fico perturbado só de me lembrar.
Afasto os pensamentos e reflito o quanto os nossos dias têm sido
maravilhosos. Eles passaram rapidamente após Gale e eu começarmos a
namorar. Parece que o dia é muito mais curto ao lado dele, nunca é o
suficiente para matar a saudade.
Nesta semana, Gale e Marvel estão dormindo no meu apartamento.
Ele chega do serviço e vai direto para lá, eu havia até deixado uma cópia
das chaves com ele. Já é sexta e hoje irei levar meu namorado para jantar em
um dos meus restaurantes, que eu tenho certeza de que ele vai adorar. Todos
já estão sabendo do nosso relacionamento; Taylor e Pitter vibraram de
alegria quando eu disse que nós estávamos namorando, já Kris não gostou
muito da ideia, o que me fez ficar um pouco chateado e deixar sua opinião de
lado.
Quem diria... dois meses atrás eu só queria saber de transar com
qualquer garoto que me agradasse e viver minha vida de forma implacável.
E agora, sentado no meu escritório, me lembro da noite que havia conhecido
Gale Meyers, quando estava pensando que havia transado com Teddy, que
para o meu alívio, não voltou a me procurar.
Sorrio e reflito na maneira como Gale mexeu comigo; eu jamais
fiquei tanto tempo sem fazer sexo, e agora com ele, nem havíamos transado
ainda. Lembro-me das maneiras ardilosas que havia usado para conquistá-lo;
havia o contratado sem ao menos conhecê-lo direito, dado um celular quando
vi que estava sem, e, acima de tudo, uma festa de aniversário para distraí-lo
um pouco, por conta da morte dos seus pais.
Analisando isso tudo, será que o que senti por Gale não havia sido
amor à primeira vista, e apenas descobri isso depois?
Pego o aparelho celular em cima da mesa e desbloqueio, vendo uma
foto nossa, abraçados, em um parque em Londres que havíamos ido alguns
dias atrás. Sorrio para a imagem e ligo para o seu telefone. Como imaginei,
ele não atende, está em horário de expediente. Me levanto e saio da empresa,
com Kris nos meus calcanhares.
— Então, Luke — começa, dando um sorriso —, agora que você está
namorando, não poderei mais dar seus presentinhos.
Rio para o meu amigo e concordo.
— É, essa vida acabou.
Kris me encara e puxa meu braço, fazendo meu corpo estacionar ao
lado dele.
— Você sabe que terá que se abrir para ele também, não sabe?
Apesar de não gostar desse rapaz e nem desse relacionamento, ele foi
corajoso o suficiente para contar as merdas que passou, agora é a sua vez de
fazer isso.
Analiso o que ele fala e concordo, engolindo em seco.
— Eu vou contar, mas não agora, preciso de mais tempo.
Kris assente, sorrindo, e agarra meu braço.
— Você vai precisar de tempo, paciência, e muita coragem para
reviver isso tudo.
Concordo, adentrando o elevador.
∞∞∞
Gale
Amor: Vá para o seu apartamento hoje e coloque um bom terno,
tenho uma surpresa para você.
— Então Luke disse para você não ir ao apartamento dele hoje
quando sair daqui? — pergunta Sasha, me encarando, nas suas mãos está um
copo enorme de milkshake de morango.
— Sim, ele disse que tem uma surpresa — respondo, dando um
sorriso ao reler a mensagem.
— É, acho que alguém está apaixonado mesmo — diz Mary,
lambendo os lábios.
— Apaixonado? Apaixonada estou eu pela bolsa da Louis Vuitton,
Gale está amando! — responde Jess.
Damos risada enquanto concordo, percebendo que meu expediente já
havia terminado.
— Não posso negar, realmente o amor me pegou de jeito.
— Quem diria, bonitão, você querendo fugir do amor e ele te agarrou
— diz Sasha, me abraçando.
— Agora preciso ir, nos vemos amanhã — digo.
Elas concordam e, após me despedir, me troco e saio do restaurante,
pegando um táxi e indo até a butique que as meninas trabalham.
Como Luke havia pedido que eu fosse de terno, achei necessário
comprar um novo. Assim que chego ao local, sou recebido com enormes
sorrisos de Ana e Alice.
— Amigas, como é bom ver vocês! — digo, animado. Eu as abraço e
beijo, sendo retribuído.
— Já estamos sabendo de tudo — diz Ana, sorridente —, então,
finalmente resolveu se entregar ao bonitão e agora estão juntos.
— Estamos sim, e preciso da ajuda de vocês. Luke disse para
colocar um terno, ele vai me levar a um lugar especial.
— Certo. Acho que já até sei o que você pode usar — diz Alice,
procurando nas araras algo que me sirva. Ela retira um terno preto e uma
gravata vermelha.
— Acho que não combina muito — digo, sem graça.
— Claro que combina, preto é uma cor que todos usam e vermelho é
a cor do amor — responde Alice, revirando os olhos.
— Tudo bem, vou experimentar — digo, indo até o provador. Coloco
o terno com uma camisa na mesma cor e a calça, então ajeito a gravata, me
observando atentamente no espelho. Realmente fica muito bonito e combina
bem, o que me deixa surpreso.
— E então, gostou? — pergunta Alice, cruzando os braços e
sorrindo.
— Devo admitir que ficou muito bom — digo, dando de ombros. —
Você me convenceu, Alice, vou levar.
Ela sorri e bate palmas, animada em saber disso.
∞∞∞
Luke
Engulo em seco e ajeito a gola da camisa branca que estou usando
por baixo do terno claro. A mensagem de Gale diz que ele já está me
esperando no carro, em frente ao nosso prédio. Me levanto e ando de um
lado para o outro, me certificando que dentro do meu bolso estão as
alianças. Suspiro e desço, me sentindo cada vez mais nervoso com o que
estou prestes a fazer. Gale é meu primeiro namorado de verdade, tive alguns
caras que apenas passaram pela minha vida, mas nada muito sério.
Entretanto, com ele é totalmente diferente, eu sinto que teremos um grande
futuro pela frente. Só que o medo de alguma coisa dar errado toma conta de
mim. Não me julgo, já havia passado por tantas coisas ruins, que quando as
coisas começam a dar certo, me assusto. Tudo bem, eu sou um CEO, tenho
muito dinheiro, empresas, Londres na palma da minha mão, mas a vida é
muito mais que isso. Mamãe sempre dizia que ter dinheiro não valia de nada
quando não tínhamos o amor. Amor é a base de tudo, afinal, em cada coisa
que fazemos depositamos esse sentimento tão simples, mas ao mesmo tempo
tão complicado.
Então, quando desço e encaro Gale dentro do veículo, todo o medo e
insegurança se esvaem.
— Você demorou tanto — diz, sorridente.
— Pensei que iria para o seu apartamento — digo.
— Passei na butique e arrumei um terno lá mesmo — afirma, dando
de ombros. — Está tudo bem? Está sério.
Encaro-o e mordo o lábio, analisando o terno alinhado e a barba
espessa.
— Confesso que estou um pouco nervoso — digo, sorrindo sem
graça.
— Por quê?
— Logo você vai saber — digo.
∞∞∞
Gale
Nunca fiquei tão surpreso em toda minha vida com o que Luke havia
preparado. Acabamos indo a um dos seus restaurantes, entretanto, aquele que
ele escolheu é totalmente diferente do que estamos acostumados. O local fica
em um prédio de construção antiga, e assim que entramos, nos deparamos
com um salão enorme, totalmente cheio por pessoas de diferentes classes.
Sorrio, surpreso, e fico sem graça quando vários olhares caem sobre a gente,
então Luke segura minha mão e me leva para dentro de um elevador,
apertando o botão do último andar.
— Aqui é uma surpresa especial só pra gente — diz.
Concordo, sentindo o suor nas mãos. Assim que as portas se abrem,
sou pego de surpresa ao ver um ambiente à luz fraca das estrelas e uma mesa
bem organizada. Ao longe, encontram-se dois garçons e um violinista,
tocando uma música calma.
— Meu Deus, Luke, isso é incrível — profiro, olhando ao redor.
Em cada ponta do local, se vê luzes fracas, o que deixa o lugar ainda
mais harmonioso.
— Veja, olhe para o céu — pede Luke, sorridente.
Encaro o céu da noite e fico maravilhado ao notar as estrelas
brilhando, me fazendo ficar emocionado com isso.
— Em toda a minha vida, eu nunca vi um lugar tão lindo quanto esse
— sussurro, beijando-o.
Luke sorri e seguimos para a mesa, a música ainda sendo tocada.
— Então você gostou — diz ele, animado.
— Eu amei, você é incrível.
Ele aperta minha mão e logo somos servidos com o delicioso jantar.
— Pensei que uma comida mais caseira te deixaria feliz — comenta
—, então temos arroz e lasanha, espero que goste.
— Meu Deus, como pode ser mais perfeito? Lasanha é meu prato
favorito.
— Eu sei — diz ele, sorridente —, vi no seu Facebook, é claro.
— Você sempre pensa em tudo.
Luke concorda e começamos a comer, o sabor delicioso invade
minha boca.
— Quem quer que tenha feito, está de parabéns!
— Fui eu — diz ele, sem graça. Fico ainda mais surpreso com isso e
ele dá de ombros. — Pensei que aqui seria o lugar perfeito, entretanto,
queria que provasse algo especial, então me arrisquei na cozinha — conta,
bebendo um pouco de água.
Aperto sua mão e dou outro sorriso, ainda mais largo.
— Está perfeita — digo.
— Isso é bom. Precisei fazer três vezes para acertar, as outras
ninguém conseguiu comer — brinca, arrancando uma risada de mim.
Terminamos de comer e Luke se levanta, estendendo a mão para mim, que
aceito antes de ele fazer uma reverência. — Dança comigo.
Assim que nos colocamos de pé, The Scientist começa a ser tocada
no violino. Engulo em seco, arrepiado com isso, e Luke sorri, passando uma
de suas mãos pela minha cintura, enquanto a outra segura a minha
delicadamente. Sorrio e analiso cada traço do lugar, guardando tudo na
minha mente; as luzes brilhantes, as estrelas, o perfume delicioso do meu
namorado, a música tocando, e quando vejo, lágrimas surgem em meus olhos.
— Eu te amo, Luke — digo, com a voz embargada. — Obrigado por
trazer um motivo para continuar.
Noto que seus olhos também estão marejados, e continuamos
dançando a música tocada de forma tão perfeita.
— Você não tinha como saber — começa, engolindo em seco —, mas
você me salvou também, Gale, e prometo que quando estiver preparado, irei
contar todo meu passado para você. Só peço que não deixe de me amar por
conta disso.
Dou um tapinha no seu ombro e balanço a cabeça, revirando os
olhos.
— Ei, eu sempre irei te amar, até meu último suspiro. Esqueceu que
sou todo seu?
Ele sorri e concorda, então me solta e se ajoelha, tirando de dentro
do bolso uma pequena caixa de veludo.
— Achei que estava na hora de oficializarmos o nosso namoro —
diz.
Engulo em seco e volto a chorar, sem acreditar no que estou vendo.
— Meu Deus, Luke.
— Estive pensando no que poderia te dar, e diversas coisas vieram
em minha mente, porém, nada parecia ser o suficiente. Pensei em comprar
algo comum, mas não combina com a gente, afinal, o que menos somos é
isso. Então me lembrei dos meus pais.
Ouço tudo em silêncio, prestando atenção nos seus olhos, que
brilham.
— Quando eles eram casados, antes de mamãe morrer com câncer,
eles trocaram uma aliança, que quando vi desejei ter uma igual.
— E como era, Luke?
Vejo seus olhos marejados e ele sorri, abrindo a pequena caixinha.
— Eram essas. Quando mamãe morreu, meu pai me deu dizendo que
esperava que eu desse a alguém especial de verdade. Tive que levar no
melhor joalheiro para aumentar os tamanhos e tirar os nomes deles.
Olho as alianças e vejo quatro pequenas pedras em cima de cada
uma. Duas são claras e as outras escuras, intercalando uma na outra.
— Elas são realmente muito lindas, Luke, eu... meu Deus, saber que
isso pertenceu a sua mãe me deixa muito feliz. Tenho certeza de que ela tinha
um carinho enorme pela aliança.
Luke concorda, então pega uma menor e se coloca de pé, deslizando-
a em meu dedo em seguida.
— Sabe, Gale, o mundo pode me oferecer tudo, mas nada vale mais
do que o sentimento que tenho por você e você tem por mim.
Fico emocionado ao ouvir suas palavras e pego a outra, colocando
no seu dedo. Ele sorri e então nos beijamos.
— Sabe o porquê da pedra escura intercalando com a clara?
— Estou doido para saber.
Ele pega a minha mão e aponta para a primeira pedra negra.
— A pedra negra significa o lado obscuro da vida e a branca a luz.
Agora veja bem, tem outra negra ao lado da branca, certo? — Concordo,
apenas observando-o. — Essa significa que ainda vamos passar por muitas
coisas, enfrentar muitos obstáculos, reivindicar muitas atitudes, mas no fim...
— agora ele coloca o dedo na última pedra branca — tudo dará certo.
Ele sorri e beija minha mão, agora meus olhos estão ainda mais
molhados.
— São realmente lindas, e combinam muito conosco, até parece que
foram feitas para gente — digo, enxugando os olhos.
Ele beija minha testa e balança a cabeça em concordância.
— Foi justamente por isso que acredito que papai as deu para mim.
Talvez ele soubesse que uma hora ou outra, eu encontraria alguém
semelhante a mim, que também precisava enfrentar o passado e viver
tranquilamente.
— Obrigado, Luke, é realmente muito linda.
— Quero que você seja feliz, Gale, a sua felicidade é tudo para mim.
— Você me faz muito feliz — respondo, sorrindo, e percebo que
outra música é tocada.
— Eu te amo — diz, sorrindo.
Abraço-o e ficamos dançando a noite toda, eu agarrado a ele na
esperança de sermos felizes.
E pela primeira vez em muito tempo, algo me diz que isso é somente
o começo. Iremos enfrentar diversos obstáculos e no fim seremos felizes.
Poderei amá-lo pelo resto dos meus dias e viver sem me julgar.
Fim do livro 1
Leia a sequência na Amazon! Disponível aqui.
Agradecimentos
A parte de agradecer sempre é a mais difícil, mas mais uma vez
agradeço primeiramente a Deus e meus Orixás em sempre me guiarem e me
fortalecerem para não desistir dos meus sonhos. Gratidão a Silmara Zafia,
Jussara Manoel, Penélope, Jessica e Andrea, que aturam meus surtos.
Agradecer ao meu companheiro Leonardo que apoiou o meu sonho e claro, a
minha família. Vocês são essenciais na minha vida.
Agradeço também aos meus leitores que esperaram pacientemente
por essa continuação, me enviando diversas mensagens no Instagram,
Facebook, WhatsApp e até mesmo via e-mail. Vocês são fantásticos e devo
isso tudo a vocês. Espero que tenham gostado da história e em breve
encontraremos novamente esse casal.
Amo todos vocês.
Com carinho;
Kevin Attis.
Série Seu
Todo Seu — livro 1
Somente Seu — livro 2 (disponível na Amazon)
Intensamente Seu — livro 3 (em 2021)
Para Sempre Seu — livro 4 (em 2021)
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muito e espero que outra de minhas obras o agrade.
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[1]
Roast Beef — carne assada — é uma comida típica da Inglaterra. O tipo de carne utilizada na receita pode variar, mas é comum encontrar este prato feito com
porco, pato, cordeiro ou peru. Geralmente servidos com batatas, vegetais e molhos.
[2]
Casa Cruz é um restaurante real em Londres, entretanto, foi inaugurado apenas em 2015.
Na obra, o autor colocou o mesmo nome em homenagem, entretanto, é fictício.
[3]
Citação do filme e jogo animado “Detona Ralph”.
[4]
Referência a música “Vogue” da cantora Madonna.
[5]
Personagem principal do livro “Nem todos os príncipes usam coroa” da autora brasileira Sil
Zafia. Foi com autorização da autora que o autor o colocou no livro.
[6]

Gíria popular usada entre os gays. “Amapô” significa “mulher”.


[7]
Peixe e fritas, peixe e fritos, fish and chips ou fish 'n' chips é um prato típico da culinária do
Reino Unido. Consiste em peixe frito envolvido num polme, acompanhado por batatas fritas.
Inicialmente era vendido embrulhado em folhas de jornal, como ainda acontece em algumas regiões do
país. Durante décadas, dominou o setor das comidas compradas preferidas naquele país e também na
Austrália e na Nova Zelândia. Tornou-se também bastante popular em certas partes da Nova Inglaterra,
no Canadá, na Irlanda e na África do Sul.
Table of Contents
Sinopse :
Parte Um — Todo Seu
Prologo
Capitulo 01
Capitulo 02
Capitulo 03
Capitulo 04
Capitulo 05
Capitulo 06
Capitulo 07
Capitulo 08
Capitulo 09
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capítulo Vinte e Seis — Sem energia
Capitulo 27
Capitulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Capitulo 31
Capitulo 32
Capitulo 33
Capitulo 34
Capitulo 35

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