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Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Book · July 2017

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1 author:

Maristela Zamoner
Museu Botânico Municipal, de Curitiba, Herbário MBM
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ETIQUETA PARA
DANÇA DE SALÃO
PRIMEIROS PASSOS

Maristela Zamoner
2017

COMFAUNA
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

MARISTELA ZAMONER

ETIQUETA PARA
DANÇA DE SALÃO
PRIMEIROS PASSOS

1ª Edição

CURITIBA
COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE LTDA.
2017

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Copyright © 2017 by Maristela Zamoner.

Direitos desta edição: Maristela Zamoner. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial
desta obra, desde que mencionados os créditos e sem objetivo de venda ou qualquer fim comercial.

1ª edição – 2017

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


Carla Lopes Ferreira (Bibliotecária CRB1-2960)

Z25e
Zamoner, Maristela
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos / Maristela Zamoner. –
Curitiba: Comfauna, 2017.
164 p. : il. color. ; 21x29,7cm.

Inclui bibliografia e glossário.


ISBN 978-85-66017-06-9

1. Dança de salão. 2. Etiqueta. 3. Regras e condutas. I Título.

CDU 793.3

Capa: Mario S. Trella. Imagem principal: Recorte da pintura: An Elegant Soirée, do pintor
Victor Gabriel Gilbert (1847-1933),1897 (há controvérsias sobre a data exata da pintura).
Imagem em domínio público.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Maristela Zamoner

Autora de livros e artigos, colunista de periódicos da mídia especializada,


palestrante e conferencista. Bióloga, mestre em Ciências Biológicas,
especialista em Educação, pós-graduanda em História e Antropologia e
em Direito Ambiental. Graduanda em História. Bióloga do Museu de
História Natural Capão da Imbuia e do Centro de Produção e Pesquisa de
Imunobiológicos do Paraná.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA PARA
DANÇA DE SALÃO
PRIMEIROS PASSOS

ISBN 978-85-66017-06-9

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Prefácio

Dance melhor, com nova visão das relações sociais

Por Milton Saldanha

O baile reproduz, em micro escala, a sociedade onde nos inserimos. Com


suas mazelas e virtudes. Tem, portanto, lados ruim e bom. O que vai bem não
precisa de reparos. Mas o que vai mal, ou pode ir mal, tem que ser ordenado por
normas de comportamento que tornem possível o convívio social.
Daí a importância de um código de ética para a dança de salão. É o que
propõe Maristela Zamoner neste livro.
Sua trajetória na dança a credencia: tem livros publicados sobre o tema,
ensaios, artigos em jornais, revistas e blogs, palestras proferidas. E prêmios por
sua obra. O principal deles, com certeza, o reconhecimento e respeito do nosso
meio. Mesmo quem não concorde, eventualmente, com algumas das suas
afirmações, terá que admitir o mérito de Maristela em propor o debate.
Terminei a leitura de “Etiqueta para Dança de Salão – primeiros passos”
com a sensação de que tal debate não sobreviveria à lógica cristalina dos
conceitos emitidos pela autora. Em outras palavras, o livro resplandece lucidez.
Não há como contestar regras de comportamento que protegem e colocam
acima de tudo o respeito humano, a comunicação e entendimento saudável entre
os gêneros, o controle civilizado de impulsos num meio onde a sensualidade é
latente. Fora disso, seria a barbárie, com a volta aos tempos primitivos em que
a violência física conferia o poder aos mais fortes.
Mas é importante observar que Maristela Zamoner não desfia um rosário
de regras chatas e castradoras da espontaneidade das pessoas. Ao contrário, o
que busca, e mostra, são comportamentos que só edificam positivamente cada
indivíduo, cada casal, e cada comunidade que busca na dança não apenas
diversão, não apenas arte, mas também uma filosofia de vida. Para uma
felicidade plena.
A leitura e reflexão sobre cada tema deste livro, onde a autora tem a
generosidade de dividir conceitos com outros autores e pensadores, levará

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

vocês, leitores, dançarinos ou não, a repensar atitudes e valores. Seja na vida


cotidiana, seja no âmbito de um salão de baile ou sala de academia de dança.
Eu estaria mentindo se não afirmasse que aqui aprendi coisas novas, inclusive
sobre minhas próprias atitudes como cavalheiro, durante o baile. E olha que
danço há mais de cinquenta anos... A razão é simples: ainda que idealista, minha
visão é masculina. E Maristela foca no ponto de vista feminino. Como autores
que somos, ambos, jamais poderemos estar na pele do sexo oposto, por mais
que haja esforço para isso. Existem sutilezas que só o homem, ou só a mulher,
conseguem perceber. Um bom exemplo é o capítulo que trata da roupa e
maquiagem para dança. Nenhum autor masculino alcançaria a precisão e
detalhes que Maristela aborda. Outro exemplo, que acho ainda mais relevante,
se refere à condução na dança. O modo como ela dialoga sobre isso, me fazendo
enxergar a frustração ou realização da dama, me abre perspectivas novas para
refletir. A leitura reforçou minha convicção de que a dança se processa a dois, o
prazer não pode ser individual, nem movido pela vaidade de se expor como
grande dançarino sem dividir tudo com a parceira.
Outro aspecto a salientar é que aprender é uma tarefa perene, sem data
de vencimento, nem aposentadoria. A conclusão de algum curso, por exemplo,
em qualquer grau, ou mesmo a leitura de um livro, será apenas o começo de um
longo aprendizado, que nunca termina. Na dança, e nas relações humanas a ela
inerentes, não será diferente.
O trabalho de Maristela Zamoner, neste conceito, não se esgota aqui. Pelo
contrário, nos abre um vasto horizonte para refletir como somos, e no que
podemos melhorar. E quem tem a ganhar com isso será cada leitor.

Milton Saldanha, jornalista e escritor, tem cinco livros publicados,


três deles sobre dança. Trabalhou na imprensa gaúcha e paulista.
Entre outros lugares, na Rede Globo e no Estadão. Fundador e
editor do jornal Dance (SP), que circulou durante 21 anos,
totalizando mais de duzentas edições. Integra a equipe de
fundadores e organizadores dos cruzeiros Dançando a
Bordo. Atualmente gerencia um blog de crônicas sobre temas
variados e colabora no jornal Falando de Dança, do Rio.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Dedicatória

A todos que conseguem perceber a etiqueta como o mais altivo exercício de


respeito com o próximo, caminho para as relações harmoniosas e pacíficas
entre indivíduos e nações.

Agradecimento

À minha mãe, por tanto... por tudo...


incluindo exaustivas e incansáveis revisões.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

“Dançar é exprimir, vivenciar. Dançar a dois é mais que isto, é relacionar-se,


saber ceder, respeitar o espaço e tempo do outro”

Sandra Ruthes. Música para dança de salão.


Curitiba, PR. Editora Protexto. 2007.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Homenagem à minha primeira dama

Quem despertou meu gosto por uma mesa bem-posta, um traje combinado, um
comportamento cortês e tudo mais que agrada aos olhos e mexe com as
emoções, foi minha mãe, Ursula. Exemplo de dama em tudo, postura, fala,
comportamento, porte, integridade... alma. A essência de seus ensinamentos, o
caminho mais doce e delicado para a paz entre homens e nações, é a conduta
civilizada. Se hoje aceitei o desafio de arriscar-me falando sobre etiqueta, é
porque tive a melhor referência da primeira dama de minha família.

Homenagem a meu primeiro cavalheiro

Quem despertou meu gosto pela caneta, mostrando-me um espectro de seu


poder foi meu pai, Airo. Seu talento com as palavras conquista mentes e
corações. Meu modelo primeiro de homem que soube exigir retidão de todos os
filhos. Se hoje aceito o desafio e o risco de escrever, é porque tive a referência
do primeiro cavalheiro de minha família.

Homenagem a meu parceiro

Deni Filho. Chegou em minha vida como uma lucidez original, me permitiu ver
o que eu não via e mudar minha ótica sobre o que eu acreditava enxergar.
Ensinou-me o que eu não sabia sobre o amor e a realização feminina,
mostrando-me, na prática, a essência histórica da condução. Não esperava por
isto, mas o tempo me trouxe o melhor parceiro. Presenteia-me a cada dia,
participando intensamente da formulação de novos saberes, envolvendo-se
genuinamente com a prática da dança de salão, de forma a me levar a outra
dimensão de vivência desta arte.

Homenagem à minha parceira

Marilia Zamoner. Grande dama, irmã e amiga de todas as horas, exemplo de


mulher, de conduta pessoal e profissional. Parceira na vida, na pista, no palco
inspira-me a buscar elegância na aparência e na essência.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Homenagem de Mérito

Ao longo do desenvolvimento das pesquisas para tornar este livro realidade,


um autor destacou-se por fazer um trabalho constante em favor da etiqueta
para a dança de salão. Uma quantidade significativa de dicas, artigos e outros
textos, orientando a boa conduta no salão foram escritas e publicadas ao longo
de muitos anos no Jornal Dance, de São Paulo. O responsável por esta
expressiva contribuição foi citado intensamente neste livro e é legítimo
merecedor desta homenagem: Milton Saldanha.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Sumário
PARTE I ......................................................................................................................... 13
ABERTURA .............................................................................................................. 13
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13
PARTE II ........................................................................................................................ 17
ETIQUETA DE CORPO .......................................................................................... 17
CORPO ................................................................................................................. 17
INDUMENTÁRIA .................................................................................................. 35
PARTE III ...................................................................................................................... 59
ETIQUETA DE ATITUDE ....................................................................................... 59
ATITUDE ............................................................................................................... 59
EGO ....................................................................................................................... 85
PARTE IV ...................................................................................................................... 90
ETIQUETA NO SALÃO ........................................................................................... 90
INTRODUÇÃO À ETIQUETA NO SALÃO DE DANÇA ................................. 90
CADA SALÃO UMA CONDUTA ........................................................................ 99
ETIQUETA AMBIENTAL NO SALÃO DE DANÇA ....................................... 100
ETIQUETA NOS SALÕES QUE SERVEM REFEIÇÕES ........................... 103
PARTE V...................................................................................................................... 113
ETIQUETA EM OUTROS AMBIENTES............................................................. 113
ETIQUETA NAS ESCOLAS DE DANÇA ....................................................... 113
ETIQUETA DE PLATEIA .................................................................................. 130
ETIQUETA DO AMBIENTE VIRTUAL DE DANÇA DE SALÃO................. 134
ETIQUETA NO ESPAÇO ACADÊMICO ........................................................ 148
PARTE VI .................................................................................................................... 152
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 152
BIBLIOGRAFIAS ........................................................................................................ 154
GLOSSÁRIO ................................................................................................................ 160
ANEXO ........................................................................................................................ 162
Um toque de infidelidade ...................................................................................... 162
REFLEXÃO: Quem é você na dança de salão? ........................................................... 163

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE I

ABERTURA
INTRODUÇÃO

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE I

ABERTURA

INTRODUÇÃO

A importância decrescente do ensino da dança, como parte


da educação física e moral, foi seguido por uma perda
mais grave para o mundo.

Allen Dodworth. Dancing and its relations to education and social life.
New York and London. Harper & Brothers Publishers. Ano de 1900.

Primeiramente, devo parabenizar você, leitor, por seu interesse pela


etiqueta para dança de salão, valorizando-se o suficiente para investir tempo no
aprimoramento da própria conduta.
O assunto “etiqueta” é considerado por muitos como inútil, fútil, tolo ou até
esnobe. Alguns ridicularizam, outros debocham. No fundo, talvez exista mesmo
uma razão para tudo isto, pela realidade histórica da etiqueta ter nascido na
aristocracia. Embora a preocupação humana em relação às boas relações
interpessoais tenha registros milenares, o berço da “etiqueta”, com esta
denominação, foi a nobreza de alguns séculos atrás. Mais precisamente,
remonta à corte de Luis XIV, que governou entre 1645 e 1715. Por estar
insatisfeito com a conduta de nobres frequentadores de seu palácio, Luis XIV
teria ordenado a anexação de “etiquetas” aos convites de seus bailes, com
regras de comportamento. Portanto, sua prática era restrita a poucos,
inacessível para a maioria. Encerrava, também, com sabor de incoerência, o
objetivo de distinção social e afirmação de uma hierarquia. A outros grupos
sociais, que não tinham acesso à etiqueta da época, talvez só restasse tentar
desconstruí-la.
Mas os tempos mudaram. Então, é interessante pensar sobre dois
aspectos atuais e notavelmente relevantes, que se referem a esta área do
conhecimento humano:

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

1. Se pudéssemos, por um momento, imaginar um mundo de homens e


mulheres que, em suas essências e acima de tudo, fossem cavalheiros e
damas, veríamos que a maioria dos problemas da humanidade não
existiria;
2. Ninguém precisa pertencer a uma família rica ou nobre para se portar
elegantemente. É necessário, sim, construir um acervo intelectual
individual e conceber-se digno de adotar a elegância em suas condutas
particulares. Atualmente, é uma questão de escolha pessoal e não da
linhagem familiar ou da conta bancária. Entender a etiqueta e apreciá-la
está ao alcance de todos que queiram assimilar sua importância, para si
e para o mundo.

A etiqueta para a dança de salão é assunto discutido há séculos. E


continua atual, sempre gerando dúvidas e controvérsias. Afinal, os salões se
modificam ao longo do tempo e, com eles, a própria etiqueta para dança de
salão.
Nos primórdios do surgimento da etiqueta, os salões de dança
aristocráticos onde sua prática era uma exigência, possuíam um único padrão,
com pouquíssimas variações. Por isto, aprender regras de etiqueta para o salão,
como parte integrante da educação geral de um indivíduo, fazia sentido. Segui-
las à risca era seguro. Hoje, os salões são extremamente variados e novos
espaços de dança surgem a cada dia, exigindo de quem os frequenta, a
capacidade de reconhecer as alterações e adequar seu comportamento.
Não podemos mais acreditar, ingenuamente, que o atalho de seguir uma
lista de regras é suficiente. Nos tempos atuais, etiqueta exige, em primeiro lugar,
compreensão de sua importância para a humanidade e depois, constante
aprimoramento intelectual, leitura, raciocínio, exercício de bom senso, uso de
inteligências múltiplas, autoconhecimento, vontade, treinamento e dedicação.
Esta conduta confere ao indivíduo a capacidade de percepção, julgamento,
adequação comportamental, o que só pode ser conquistado por sujeitos
autônomos, independentes. É importante chegar ao ponto de entender que uma
lista de regras não basta para um comportamento seguro. Etiqueta, hoje, está

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

intrinsecamente relacionada à integridade e seus valores, somados à


capacidade individual de percepção do ambiente e imediata adequação a ele.
O objetivo deste livro, portanto, não é abarcar todas as situações
possíveis nos ambientes em que a dança de salão existe, dizendo prontamente
como agir. Objetiva-se, sim, evidenciar alguns dos pontos que, pela experiência,
mostram-se mais relevantes para habilitar emergencialmente um iniciante,
reduzindo as chances de cometer gafes nos variados ambientes ocupados pela
dança de salão.
A leitura deste livro pode ser feita de diferentes formas. Uma delas, é pela
consulta a cada conteúdo, de acordo com o interesse que o leitor tem no
momento, como o faria com um manual. Outra, é seguir sequencialmente
conforme proposto, visando uma apropriação objetiva de condutas que trazem
proteção contra constrangimentos e dissabores.
Mas a forma mais produtiva de leitura deste livro exige que seja
considerado apenas como um auxiliar de um processo complexo e permanente
de auto avaliação e aprimoramento. Este processo sim é o que viabiliza a
incorporação dos valores mais profundos da integridade individual das damas e
dos cavalheiros que conduzem a humanidade e apresentam seus princípios nos
salões de dança. Neste sentido, a leitura deste livro será mais produtiva quando
complementada pela leitura do livro “Dança de salão, uma força civilizatriz”
(Zamoner, 2016), que aborda conteúdos históricos e reflexões mais
aprofundadas sobre o que é ser dama, ser cavalheiro, sobre o fenômeno da
condução como fundamento de relacionamento e os impactos da prática destas
concepções para a civilização humana.
“Etiqueta para dança de salão: primeiros passos” objetiva, como livro,
permitir ao leitor um contato inicial com o tema, tendendo a oferecer informações
mais práticas.

Boa leitura!

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE II

ETIQUETA DE CORPO
CORPO

INDUMENTÁRIA

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE II

ETIQUETA DE CORPO

CORPO

Quero romper com meu corpo,


quero enfrentá-lo acusá-lo,
por abolir minha essência,
mas ele sequer me escuta
e vai pro rumo oposto
Já premido por seu pulso
De inquebrantável rigor,
Não sou mais quem dantes era:
Com volúpia dirigida,
Saio a bailar com meu corpo

Carlos Drummond de Andrade. Corpo.


Rio de Janeiro, RJ. Record, 1984.

Dançamos com o corpo que utilizamos por toda a vida. Ele exige cuidados
para estar e parecer sempre bem.
Na dança de salão, os corpos de cavalheiros e damas se tocam
permanentemente. Esta condição faz com que notemos em nosso par uma
diversidade de aspectos que ultrapassam, em muito, apenas o visual.
Percebemos cheiro, textura de pele, altura, peso, tônus muscular, temperatura,
umidade, vibração, ritmo respiratório e, às vezes, até mesmo os batimentos
cardíacos.
O que fazemos com nosso corpo e como o preparamos para dançar pode
ser agradável ou não ao nosso par. Isto significa que é necessário estarmos
atentos a um tipo de etiqueta muito mais sutil do que imaginamos.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Boa Apresentação

A dança abre a oportunidade de se comprar e se usar essas roupas


de festa e abusar da maquiagem com frequência, três vezes por
semana ou mais.

Andréa Moraes Alves. A Dama e o Cavalheiro, um estudo


antropológico sobre envelhecimento, gênero e sociabilidade.
Rio de Janeiro, RJ. Editora FGV. 2004.

Documentos sobre etiqueta para dança de salão colocam, como regra


primordial, que o dançarino precisa ter “boa apresentação”. Notemos aqui que
“boa apresentação” não é sinônimo de “ser belo”. Também não significa que
devemos nos submeter aos padrões de boa apresentação ditados pela moda,
que podem ser diferentes daqueles recomendados para a dança de salão.
Neste sentido, há que se apreciar o trabalho do pintor colombiano
Fernando Botero. O artista reproduziu cenas de dança de salão onde figuram
pessoas bem distantes do padrão de beleza estipulado pela sociedade atual e
veiculado massivamente pela mídia. Suas obras são belíssimas e apresentam
pessoas robustas, com “boa apresentação”, quase como uma crítica à pressão
que se faz para impor a esqualidez como padrão de beleza. Algumas destas
obras são: Dançarinos (1979); Dançando na Colômbia (1980); Dançarinos
(1982); Dançarinos (1987) - grafite.
Também o filme “Um toque de infidelidade” retrata uma cena belíssima de
dança de salão, fazendo-nos refletir sobre o significado de “boa apresentação”
na prática desta arte. No Anexo, você pode conferir um artigo dedicado a esta
cena em especial.
A “boa apresentação”, no tocante à etiqueta para dança de salão, refere-
se ao autocuidado, o que inclui, entre outros: higiene, cabelos bem tratados,
unhas limpas, roupas em boas condições. Abordaremos, na sequência, alguns
destes aspectos relevantes.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Higiene

Jamais dançar com banho vencido.

Milton Saldanha. Dicas de elegância.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho, 2010.

A higiene pessoal é, inevitavelmente, percebida quando se dança a dois.


Tomar banho antes de ir a um salão é sempre um bom conselho. E não esquecer
dos perfumes e desodorantes... Nada como dançar com um par asseado, com
dentes escovados, orelhas, nariz, unhas e cabelos limpos.
Geralmente, ficamos algumas horas no salão e, eventualmente,
precisamos fazer uso do banheiro. Por mais que pareça desnecessário, nunca é
demais lembrar: lavar as mãos antes de sair é indispensável. Afinal, tocamos
nosso par – e somos tocados por ele –, por estas mesmas mãos que foram
utilizadas para ir ao banheiro...

Transpiração

Todo mundo sua quando dança, é normal. Anormal é não ir ao


banheiro de vez em quando para se recompor.

Milton Saldanha. Dicas.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Setembro de 2008.

Há ocasiões em que, realmente, ficam dúvidas sobre o que é correto em


relação à etiqueta. A questão da transpiração é uma delas.
Exemplo: uma dama dança velozmente com um cavalheiro mais alto, que
tem postura curvada sobre o par. Logo nos primeiros passos, já se sente debaixo
de um chuveiro de água do mar. Difícil saber o que deve ser feito para evitar este
constrangimento, não é mesmo?
Cada pessoa vai decidir, de acordo com suas características, qual o
melhor método de enfrentar este desconforto. Mas para isto, o primeiro passo é
procurar conhecer-se muito bem para ser capaz de reconhecer quando se
apresenta este problema.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Há quem indique a utilização de lenço, toalhinha ou outro tipo de pano


absorvente. Mas o uso de “paninhos” também pode ser crítico, como ficou
evidente no caso que segue: em uma casa de dança tradicional de uma capital
brasileira, um senhor robusto e de baixa estatura, com uma grande barba,
segurava a mão da sua dama com um pano, uma toalhinha de lavabo. Acontece
que a tal toalhinha era marrom (impossível saber se era mesmo a cor original...).
Durante a dança, ele suava muito e passava a toalhinha pela testa, pescoço,
peito e depois, ainda segurando a toalhinha, voltava a pegar a mão da dama.
Temia-se a hora em que iria secar as axilas, que já pediam por isto... Esta
situação, sem dúvida, não é o melhor exemplo de boa etiqueta. É preciso
atenção ao tratar o problema da transpiração, porque podemos gerar um
desconforto maior que o suor em si.
A escolha das roupas é fundamental para minimizar o problema da
sudorese. Hoje, existem tecidos com alto poder de absorção, próprios para
pessoas de transpiração exacerbada. Vale a pena procurar por esta alternativa.
Outro recurso, muito eficiente, é a utilização de absorventes íntimos de uso
diário, que são bem finos. Podem ser aplicados diretamente nas roupas, nos
locais de maior transpiração, como as axilas. Neste caso, é preciso cuidar para
não distorcer a veste com dobras indesejadas ou seu peso alterar o caimento.
Estes absorventes são especialmente adequados para roupas mais ajustadas
ao corpo.
O odor é outro ponto importante a ser observado. A simples prática de
passar desodorante ou perfume nas axilas nem sempre é suficiente. A higiene,
então, ganha relevância fundamental. Quando o dançarino(a) sentir que está
exalando algum odor, é imprescindível que trate das axilas. Isto pode ser feito
com lenços umedecidos, uma vez que tomar banho no salão de dança não é
comumente viável.
Izabela Lucchese Gavioli, em seu artigo “Hidratação e transpiração na
dança de salão” publicado na Revista Dança em Pauta de 07 de março de 2011,
faz ainda mais algumas recomendações para que a parceria de dança seja
sempre agradável: evitar blusas cavadas, de alcinhas ou regatas; levar toalhas
(mas não as deixar penduradas no pescoço) e, para homens e mulheres, uma
ou mais blusas ou camisas de reserva a serem utilizadas no caso de sudorese
excessiva.

20
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Por fim, nunca é demais lembrar deste conselho, sempre válido: tomar
banho antes de sair para dançar, ficar com o corpo limpo, bem seco e fazer uso
de antitranspirantes. Ao perceber excesso de transpiração, ir ao banheiro, lavar
o rosto, as mãos e secar-se bem com papel toalha antes de retornar. Sempre
que possível, higienizar as axilas e reaplicar antitranspirante sobre a pele seca.

Desodorantes

Já imaginou uma pílula que pudesse lhe proporcionar o odor


desejado? Pesquisadores da UFC (Universidade Federal do Ceará)
lançaram uma pílula que deixa a pessoa cheirosa sem a ajuda de
desodorantes e perfumes. (...) com o nome de Fybersense, a pílula
do cheiro pode ser encontrada na rede de supermercados BomPreço
no Nordeste, em algumas farmácias naturais e pela internet.

Sandra Venâncio. Ciência e Tecnologia.


Campinas, SP. Jornal Local. 10 de julho de 2007.

Inicialmente, há que se diferenciar desodorante de antitranspirante. O


primeiro, em geral, apenas atribui uma fragrância à axila, disfarçando o odor. O
segundo, contém componentes que diminuem a sudorese e é mais eficiente.
Habitualmente, a temperatura em um salão de dança é alta e a atividade
de dançar estimula a sudorese. Assim, o uso de desodorantes e antitranspirantes
é fundamental. Axilas depiladas também contribuem com o controle dos odores.
A maioria das pessoas utiliza desodorantes para controlar o cheiro
desagradável das axilas. No entanto, os especialistas afirmam que o suor não
tem odor. O que provoca o mau cheiro são as bactérias. Por isto, é tão importante
lavar e secar bem as axilas para controlar a proliferação destes microrganismos,
que encontram ambiente favorável na sudorese. A eficácia do desodorante é
mais efetiva quando se aplica sobre a pele limpa e seca, pois, a umidade dilui o
produto, comprometendo sua eficiência.
Apesar de minimizar o odor das axilas, o desodorante pode trazer outros
constrangimentos que merecem ser evitados.
Com relação à fragrância, valem as dicas sobre o uso de perfumes: os
aromas neutros têm menor chance de incomodar o par.
Mas não é só o cheiro que importa. Existem desodorantes cremosos,
pastosos que, quando usados por damas, podem incomodar os cavalheiros.
21
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Basta pensarmos na dama usando estes desodorantes e uma vestimenta sem


mangas: ao colocar sua axila no braço ou ombro do cavalheiro, depositará a
substância pastosa diretamente nele ou em sua roupa. O cavalheiro poderá
evitar dançar novamente com esta dama. O mesmo cuidado deve ser tomado no
caso de desodorantes que mancham tecidos.
A escolha errada do desodorante pode levar uma dama a ficar sentada o
baile inteiro ou um cavalheiro a ter damas se esquivando de seus convites para
dançar. Optar por não o usar também pode ter o mesmo efeito. Vale a pena cada
um descobrir a melhor forma de controlar este desconforto e evitar
constrangimentos ao par e a si próprio.

Perfumes

Com estilo e elegância, Gabrielle "Coco" Chanel revolucionou a


década de 20, libertando a mulher dos trajes desconfortáveis e
rígidos do final do século 19. (...) A bolsa com alças de corrente
dourada, o colar de pérolas, o tailleur e o vestido preto são os
símbolos de elegância e status que marcaram para sempre a história
da moda. Mas foi o seu perfume, o Chanel nº 5 - tido como o mais
vendido no mundo -, que a tornou milionária.
O perfume foi criado em 1921 por Ernest Beaux a pedido de
Gabrielle Chanel, que sugeriu: "Um perfume de mulher com cheiro
de mulher". Dentro de um frasco art déco - que foi incorporado à
coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York em
1959 -, o Chanel nº 5 foi o primeiro perfume sintético a levar o nome
de um estilista.

Cláudia Garcia. Chanel. A mulher do século 20.


São Paulo, SP. FolhaOnline. Sem data, acesso 23 de abril de 2013.

O surgimento do conceito de perfume não tem data definida na história,


mas por certo deriva do latim per fumun, que significa “através da fumaça”. A
história da perfumaria teria início antes das civilizações mesopotâmicas, berço
da humanidade, quando foram descobertos os primeiros frascos para
acondicionar incensos, os precursores dos perfumes.
A primeira fórmula líquida de perfume teria sido preparada,
provavelmente, em meados de 3.500 a.C., pelos egípcios. Por muitos anos, a
indústria europeia de perfumes centrou-se em Grasse, na França, principal
fornecedora da matéria prima, as flores. Itália, Egito e Marrocos se

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

estabeleceram como fornecedores de óleos. Hoje, o perfume é produzido pela


mistura de óleos aromáticos, álcool e água. Sua finalidade é proporcionar um
aroma agradável e duradouro, principalmente no corpo humano.
Por esta razão nos perfumamos: para exalarmos um aroma agradável.
Entretanto, algo que parece tão simples, pode ter algumas implicações bem
críticas, mais do que nos parece em um primeiro momento.
Psicólogos sustentam que, desde muito cedo na vida e mais efetivamente
que outros sentidos, o olfato afeta as reações das pessoas. O perfume que se
escolhe tem relevância social, porque revela informações importantes sobre a
pessoa, participando da definição de sua identidade. Mas se usado em excesso,
chega a ser insuportável, podendo às vezes, provocar fortes dores de cabeça ou
reações alérgicas.
Ao nos preparamos para ir a um salão de dança, precisamos pensar se
não estaremos impondo a alguém um perfume desagradável, se não
impregnaremos as pessoas que nos tocarem, se a fragrância que escolhemos
não é muito marcante a ponto de incomodar os circundantes.
Encontramos uma diversidade enorme de informações, provenientes das
mais variadas fontes. Muitas indicam que não se deve usar produtos de higiene
com perfume, como por exemplo, sabonetes, xampus, condicionadores, cremes,
tinturas de cabelo. Quanto aos locais de aplicação, sugere-se: sobre os pulsos,
atrás das orelhas, pescoço, nuca, dobras de braços e joelhos. Também
encontramos indicações para borrifar o perfume no ar, criando uma nuvem de
fragrância. Ao atravessarmos por ela, impregnamos todo o corpo.
As peles oleosas fixam mais os perfumes, mas independentemente deste
aspecto, aplicado sobre a pele limpa e seca dura mais e altera-se menos. Há
indicações para que seja aplicado sempre após um banho. Também quando o
perfume é passado pelo corpo, é bom esperar que seque completamente para,
só então, se vestir, o que reduz sua impregnação nas roupas e também nas
pessoas que serão tocadas.
No salão de dança, sempre haverá muita proximidade entre o casal de
dançarinos. Portanto, é sensato evitar perfumes muito fortes, marcantes demais,
para garantir que ninguém fique em situação desconfortável. Fragrâncias que
tendem ao neutro são sempre mais seguras. Sobre isto, vale lembrar ainda que
a literatura faz uma relação entre temperatura e perfume. No calor, as fragrâncias

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

mantêm-se mais intensas e no frio tornam-se mais voláteis. É bom não esquecer:
em geral, os ambientes de dança são mais quentes.
Gosto é algo muito particular e o que é agradável para um, pode não ser
para outro. Assim, o uso de perfumes no salão de dança merece ser feito
criteriosamente, aplicando-se todo este conhecimento. No entanto, o melhor
conselheiro é sempre o bom senso.

Cremes

Dez especialistas ouvidos pela Folha dizem que boa parte dos
benefícios prometidos por fabricantes de cremes caríssimos não tem
comprovação científica (,,,) em se tratando de cremes para o rosto e
para o corpo, o efeito obtido por um produto que custa R$ 600 pode
ser muito similar ao proporcionado por outro que custa R$ 30.

Tatiana Diniz. A fórmula dos dermatologistas. Beleza.


São Paulo, SP. Folha de São Paulo. 20 de abril de 2006.

O uso de cremes é mais comum entre as mulheres. Mas a cada dia que
passa, os homens vêm se cuidando mais, utilizando este e vários outros
recursos, para se apresentarem atraentes e confortáveis diante das mulheres.
Ao se tratar de dança, o uso de cremes pode ser inconveniente. Além do
odor que alguns exalam, os cremes oleosos nas mãos podem deixá-las
deslizantes, o que é desastroso para dançar zouk, swing ou salsa, por exemplo.
Os produtos de absorção mais imediata são preferíveis.

Tinturas de cabelo

Tingir ou não tingir? Eis a questão que aparece com os primeiros


cabelos brancos. Não há solução melhor do que colori-los. (...) Já os
homens escapam dessa situação. Podem ficar charmosos com os
cabelos prateados. Distintos e chics.

Glória Kalil. Chic, um guia básico de moda e estilo.


São Paulo, SP. Senac. 1997.

A arte de pintar os cabelos é antiga, havendo relatos desta prática desde


a época dos faraós. Os egípcios teriam sido os primeiros a criar métodos de

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

tintura há mais de 3 mil anos, fazendo uso de corantes extraídos de animais e


vegetais. No decorrer dos séculos, muitas civilizações utilizaram os mesmos
corantes que chegaram até a atualidade. Os chineses e indianos pintavam os
cabelos com ervas e raízes desde tempos remotos. Os nomes de alguns
produtos empregados ainda hoje, como “Henna” e “Índigo”, remetem à
antiguidade, transmitindo a ideia de mistério e magia.
Os índios brasileiros usavam o jenipapo para cobrir os fios brancos e
diminuir o tom avermelhado provocado pelo sol. Esta técnica mantinha a nova
cor dos cabelos por cerca de três meses.
Até o final do século XIX, tingiam-se os cabelos com compostos de plantas
e produtos metálicos. Entretanto, a primeira tintura orgânica sintética, o
“Pirogalol”, teria sido observada por Scheele, em 1786. Esta substância foi
identificada e isolada por Bracconot somente em 1832. Entre 1907 e 1909, o
químico francês Eugène Paul Louis Schueller, desenvolveu uma fórmula
sintética de tintura para cabelos e assim teria dado início a história de sucesso
da L'Oréal. A partir deste período, os ocidentais usam estes recursos,
principalmente, para esconder fios brancos e obter uma aparência mais jovem.
A literatura já descreve com assertividade que a dança de salão tem um
papel importante para a autoestima de seus praticantes, levando-os a ter mais
cuidados pessoais, o que pode incluir a pintura dos cabelos. Este é um fator
muito favorável, pois participa da composição da “boa apresentação”. Entretanto,
alguns aspectos merecem ser apreciados quanto ao seu impacto em um salão
de dança.
A tecnologia das tinturas de cabelos está cada vez mais evoluída. Mas
ainda existem tinturas que contém substâncias malcheirosas. Às vezes, incluem
em suas fórmulas produtos com fragrâncias muito fortes para reduzir este mau
cheiro.
A qualidade e o método da coloração também podem ser relevantes.
Algumas técnicas e produtos não se mantêm. Saem com o tempo e com a
umidade, podendo manchar tecidos, inclusive das vestimentas do par com quem
dançamos, o que é bastante constrangedor.
Por estas razões, pode ser conveniente preparar os cabelos dias antes da
data em que vamos dançar, para não impor ao nosso par o desconforto de
cheirar produtos químicos durante a dança inteira. Também é conveniente só

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

utilizar produtos de qualidade, que não manchem tecidos. Mas se seu produto
costuma perder tinta, é melhor usar os cabelos presos, ou bem curtos, para
minimizar o problema.

Boca

Não faltam ocorrências curiosas para relatar o que se faz com a boca
enquanto se dança. Precisamos sempre pensar no que incomodaria nosso par.
Manter objetos na boca, falar junto com som alto, mascar chicletes e outras
atitudes semelhantes não favorecem seu conforto.
Pensar no que o outro sente sobre o que estamos fazendo com nossa
boca é um bom começo para perceber o que foge da etiqueta.

Hálito

O hálito requer cuidado especial e permanente.


(...)
Dançar mascando chiclete é muito feio. Ponto final.

Milton Saldanha. Dicas.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Setembro, 2008.

Ao fazermos uma relação entre boca e dança de salão, a primeira coisa


que nos vem à mente é: hálito.
É comum encontrar em listas de etiqueta para a dança de salão que se
deve usar chiclete para disfarçar o mau hálito. No entanto, uma análise
importante desta questão é levantada no artigo de Izabela Lucchese Gavioli,
publicado na Revista “Dança em Pauta” em 16 de maio de 2011. Izabela aborda
com propriedade o problema de mascar chiclete enquanto se dança, alertando
que o mau hálito, se existe, pode estar relacionado a um problema de saúde e,
desta forma, merece avaliação para ser sanado. Simplesmente disfarçar o
problema com o uso de chicletes e balas pode não ser a opção mais
aconselhável. Recomendo o livro “Halitose – um paradigma antissocial” (Aila
Cruvinel, Protexto, 2011), que traz muitas informações sobre o assunto, bem
como importantes e preciosas orientações.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

O consumo de determinados alimentos se reflete em nosso hálito. A


cebola e, principalmente, o alho são exemplos típicos. Quando os consumimos,
nosso hálito, e mesmo nosso suor, ficam alterados, exalando um odor
característico. Para a maioria das pessoas, este cheiro é muito desagradável.
Então, para não impor esta sensação ao nosso par, é conveniente evitarmos
estes alimentos pelo menos nas 24 horas que antecedem nossa ida ao salão de
dança.

Cigarro

Cigarros e copos. Na pista, jamais.

Milton Saldanha. Dicas.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Setembro, 2008.

O cigarro é outro fator inconveniente que envolve a boca e pode trazer


grande desconforto ao par. Quem não fuma, sofre muito ao sentir hálito de
cigarro ou cheiro de fumo. Por isto, é de bom tom não fumar antes de dançar, ao
menos pelo tempo suficiente para dissipar o odor do hálito e das roupas. Assim,
mostra-se respeito ao par, não impondo a ele o que não é sua opção.

Pirulitos, palitos e quetais

...o uso de palitos é um péssimo hábito, por regras de etiqueta em


alguns restaurantes e para as gengivas. (...) Tem gente que sai do
almoço com o palito na boca, jogando-o de um lado para outro,
outros levam um de sobressalente atrás da orelha. Sou desconfiado
com palitos de dentes, pois, sempre que vejo o potinho deles em
cima da mesa, fico pensando se algum engraçadinho não devolveu
um usado ali. Eca!!!

Mário Junio. O pai do palito de dentes. Belo Horizonte, MG.


Reflexões de um dentista. 12 de junho de 2011.

Os palitos de dentes já foram considerados preciosos, objetos de luxo,


artigos de joalheria. No século XVII, em sua maioria eram feitos de ouro e prata,
encravados com pedras preciosas. Hoje, Ester Proença Soares registra em seu
site “Etiqueta Social & Marketing Pessoal”: “Por favor, palitos não!”.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

E se o ambiente abrange a prática da dança de salão, seu uso pode ser


ainda mais crítico. Certa vez, em evento com churrasco e dança, bem típico no
interior do Paraná, notou-se um casal de mais idade. Ambos com peso
avantajado, deliciaram-se com o churrasco, até a hora de dançar. Dançavam
muito bem, aliás. O curioso, no entanto, é que a dama foi para o salão com um
palito de dentes na boca. Tentou desobstruir as frestas dentárias durante a maior
parte da dança. Embora mais baixa que o cavalheiro, num contorcionismo
impressionante, fazia seu braço esquerdo passar por trás do ombro direito dele.
Buscava alcançar sua boca com o palito até que, finalmente, conseguiu tirar
aquele incômodo resíduo alimentar dos dentes. Foi incrível!
Dançar com qualquer objeto na boca pode ser muito inconveniente. Num
clube de uma capital no sul do Brasil observou-se, em certa ocasião, um rapaz
tirar uma dama para dançar portando um pirulito na boca. O pauzinho do pirulito
batia na cabeça da dama, obrigando-a a inclinar o corpo para trás até o fim da
dança, causando-lhe enorme desconforto, prejudicando totalmente sua postura.
Recomenda-se não manter nada na boca durante a dança, exceção feita,
apenas, a aparelhos dentários, dentaduras e similares.

Unhas

Eis que surge a sua vontade de usar algo por você, pelo seu gosto e
querer. Portanto, mulheres maravilhosas, saiam por aí desfilando
suas unhas vermelhas, sinal do seu poder, elegância e feminilidade.

Jullyane Teixeira. Unhas vermelhas: a grande polêmica.


Teresina, PI. Vermelhas Unhas. 14 de outubro de 2008.

Via de regra, são as damas que mantém as unhas mais compridas. Mas
também há cavalheiros que as usam longas, às vezes em um único dedo.
Dançando a dois, as unhas compridas podem trazer dificuldades e
constrangimentos. Os casos de arranhões não são raros, chegando até a
provocar, eventualmente, sangramentos. Também acontecem situações em que
as unhas engatam nas vestes que, em movimentos rápidos, correm o risco de
ser rasgadas ou até arrancadas. As unhas nem precisam estar muito longas para
causar danos. Mesmo quando seguidos de desculpas, estes acidentes são muito
desagradáveis.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A limpeza das unhas merece atenção especial. Com a posição habitual e


mais frequente que adotamos durante a dança a dois, é-nos permitido ver uma
das mãos do nosso par. Sentimos desagrado, às vezes, nojo, quando notamos
suas unhas sujas. Eventualmente, até perdemos a vontade de dançar com
aquele par.
O esmalte também é um tópico que pode trazer desconforto. Pinturas
muito exóticas nem sempre são alvo de admiração. É sábio evitar pinturas que
transmitem a impressão de unhas sujas.
Unhas limpas, lixadas e bem tratadas têm aspecto agradável, previnem
acidentes e fazem parte do que nos confere a referida “boa apresentação”.

Depilação e barba

Normalmente, apenas artistas famosos podem se dar ao luxo de


deixar a barba por fazer, o cabelo despenteado e ainda assim
ficarem muito atraentes. Você pode ser um player, mas não é um
desses caras. Ficar desleixado definitivamente não se aplica a você.
Mantenha a barba bem feita, faça bom uso de desodorantes e
colônias e cuide de seus dentes. As roupas não vão contar muito se
sua aparência tiver um ar desleixado.

Santorini, Eduardo. Coisas que as mulheres amam nos homens. Belo


Horizonte, MG. Atitude de Homem. Sem data, acesso em 20 de agosto de 2013.

O homem, como espécie, é um mamífero. Uma das características dos


mamíferos é a presença de pelos no corpo, cuja quantidade é determinada por
vários fatores, como os genéticos e hormonais. Ao longo da evolução, os pelos
tiveram papel importante, entre eles a proteção. Mas sua ausência não afeta
mais nenhuma função que compromete a saúde. Assim, os pelos começaram a
ser considerados supérfluos e, para alguns povos, até repugnantes ou malignos.
Por isto, indivíduos de diversas sociedades eliminam seus pelos e penugens a
favor da estética e da higiene pessoal.
Conta-se que, em 1.500 a.C., os homens faziam uso de técnicas de
depilação que envolviam sangue de animais, gordura de hipopótamo, carcaça
de tartaruga e trissulfeto de antimônio. Este último teve sua descoberta ligada a
chineses e babilônios, cerca de 3.000 a.C, sendo usado como cosmético e

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

fármaco. A soda cáustica é outra substância que teria sido usada por romanos
como um dos principais produtos de seus compostos depilatórios.
Os egípcios teriam sido os primeiros a utilizar extrato de sândalo, argila e
cera de abelhas, iniciando uma técnica que permanece até os dias atuais. A
depilação a cera quente é relatada como tendo sido utilizada por Cleópatra.
Aplicava-se uma camada de cera sobre faixas de tecidos que eram colocadas
sobre a pele com pelos, sendo arrancados em seguida.
No Sul Asiático e Médio Oriente, fazia-se a depilação com uma linha de
algodão que se entrelaça e desliza sobre a pele, extraindo os pelos com a raiz.
Atualmente, esta técnica ainda é utilizada em alguns locais do planeta. Para se
depilarem, as muçulmanas passavam no corpo todo um xarope espesso, feito à
base de açúcar e limão.
Em 2.000 a.C., conta-se que, na Grécia, as mulheres arrancavam os pelos
com as mãos ou os queimavam com cinzas quentes colocadas sobre a pele.
Segundo historiadores, o processo era tão doloroso que as sacerdotisas dos
templos de Creta ingeriam bebidas alcoólicas para entorpecer o corpo e reduzir
o sofrimento. O primeiro instrumento de depilação, o estrigil, também teria sido
utilizado na Grécia Antiga. Era feito de uma varinha de 16 a 30 cm com ponta
curva. Nas áreas com pelos, passava-se uma pasta produzida a partir de
vegetais, cinza e argila, que era raspada com o estrigil.
Nas décadas de 20 e 30, depilavam-se apenas as pernas. Os pelos das
axilas e região púbica mantinham-se intactos. Foi no início da segunda metade
do século que também as axilas começaram a ser depiladas.
No século XX, em muitos países a depilação passou a ter relação com a
higiene, bom gosto e elegância. Nas últimas décadas, disseminou-se entre as
mulheres tanto quanto entre os homens, também a depilação na região púbica.
As técnicas atuais variam muito, indo desde os métodos mais antigos
como o uso de ceras, que ainda permanecem em voga, até os depiladores
elétricos. A aplicação de laser é usada para depilação definitiva.
Mesmo com todo este histórico, a depilação não é um hábito de todos os
povos. Há países na Europa em que os pelos do corpo são considerados
charmosos, sensuais e até eróticos.
No Brasil, as mulheres costumam depilar-se. Buço, axilas, pernas, braços,
região púbica e até a entrada das narinas são cuidadosamente mantidos livres

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

dos indesejáveis e pouco estéticos pelos. E os homens parecem apreciar. A


maioria deles, no entanto, preocupa-se quase que exclusivamente com a barba,
embora esteja cada vez mais frequente a depilação masculina, incluindo peito,
braços, pernas, costas, barriga e região pubiana.
Para dança em par, o detalhe da depilação pode fazer uma diferença
significativa. Uma dama que não depila as axilas e utiliza trajes sem mangas tem
boa probabilidade de colocar a axila em contato com o ombro ou braço do
cavalheiro, o que pode gerar percepções não muito agradáveis. Se a última
depilação foi feita já há vários dias e com lâmina, a sensação que o cavalheiro
terá é de estar sendo pinicado. Se a dama nunca se depilou, como é costume
entre algumas europeias, muito provavelmente passará uma ideia de falta de
higiene e descuido, prejudicando o que, em nossos salões, é entendido como
“boa apresentação”.
O Brasil é um país tropical, de clima muito quente, o que favoreceu a
adesão ao uso da depilação. A ausência de pelos traz uma agradável sensação
de liberdade e frescor. A depilação das axilas, principalmente, ajuda ainda a
controlar o odor da transpiração.
Já os homens vivenciam o problema da barba. Quando bem aparada e
cuidada, pode ser bastante apreciada. Um cavalheiro que fez a barba pela última
vez há alguns dias e quer dançar de rosto colado, causará, no mínimo,
desconforto. Sem falar na aparência de desleixo e falta de asseio que esta
apresentação pode transmitir.
Vivemos em um país que aprecia mulheres bem depiladas e homens que
tratam bem suas barbas. Portanto, estes aspectos são relevantes para a “boa
apresentação” na dança de salão.

Postura e elegância

Os grandes dançarinos e dançarinas, não são medidos pelos passos.


O importante é sua atitude, sua postura e o quanto podem tornar
prazerosa a dança, para si mesmos (as) e para seus pares.

Rafael Thomé. Etiqueta. Piracicaba, SP. Rafael Thomé. Sem data,


acesso 31 de julho de 2012.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A postura, aqui, será abordada no limiar que separa corpo e atitude. Ela
reflete nosso estado de espírito, concepção que temos de nós mesmos e do
outro e, ao mesmo tempo, envolve muitos aspectos corporais. Diz muito ao
mundo a respeito do que somos.
Há quem diga que parte da elegância é decorrente da postura correta,
que, no dia a dia, passa uma imagem de altivez nos movimentos. Lembremos
que esta postura “correta” pode ser entendida como a que é boa para nosso
corpo. Izabela Lucchese Gavioli publicou na Revista Dança em Pauta, em 29 de
agosto de 2012, o artigo “O abraço saudável na dança de salão”, com muitas
informações preciosas. É indicada sua leitura na íntegra. Cada um precisa
conhecer seu corpo para descobrir qual a melhor forma de alinhar-se, até mesmo
por uma questão de saúde. Alguns trabalhos corporais são especialmente
favoráveis para se descobrir e manter a melhor postura possível: fortalecimento
da musculatura de apoio, relaxamento minimizador do que provoca tensão
muscular, exercícios de conscientização corporal para autocontrole, percepção
das partes do corpo e domínio de movimentos e posturas.
As aulas de dança de salão, quando bem conduzidas, podem ser grandes
aliadas neste processo. Entretanto, a atenção durante as atividades mais
simples do dia a dia pode fazer uma diferença muito grande para a manutenção
da postura mais apropriada.
A boa postura é indispensável para a saúde da coluna, dos músculos e
articulações. A coluna saudável tem três curvas naturais: cervical (para frente,
na região do pescoço), torácica (para trás, na parte superior das costas) e lombar
(para frente na parte baixa das costas). A manutenção destas curvas em
alinhamento equilibrado implica em uma boa postura. As musculaturas
abdominais, de bacia, de pernas, participam deste alinhamento. As articulações
da bacia, do joelho e tornozelo devem equilibrar as curvas naturais da coluna
quando nos movemos. A má postura é aquela posição em que colocamos nosso
corpo de maneira a distorcer o alinhamento vertical e as curvas naturais da
coluna, o que pode ocorrer de várias formas.
A avaliação de um médico, um fisioterapeuta, professor de educação
física ou outro profissional é a melhor maneira de verificar a qualidade da
postura. Bons professores de dança de salão, com formação na área de
anatomia, também podem notar distorções, recomendando um serviço de saúde.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Estes profissionais têm habilidades para constatar distorções e auxiliar em


correções. Com a sua participação, tem-se a orientação de como melhorar ou
manter a postura até nas atividades do dia a dia. A atenção à postura deve nos
acompanhar por toda a vida. Afinal, nosso corpo muda naturalmente à medida
que o tempo avança, o que pode trazer alterações que demandem ações
compensatórias.
Os especialistas consideram que, para manter a postura correta por toda
vida, é importante existir concentração durante todo o dia para sustentar as três
curvas naturais da coluna em um alinhamento equilibrado. O peso excessivo
traciona a coluna e enfraquece os músculos que a sustentam, provocando
desalinhamento. É desaconselhável ficar na mesma posição por muito tempo. A
inatividade gera tensão muscular e fraqueza. Para caminhar com postura
correta, devemos lembrar de manter a cabeça ereta e o queixo paralelo ao chão.
O colchão que escolhemos também tem seu papel na manutenção da
postura. Deve ser firme e o travesseiro deve ter uma conformação tal que
mantenha a cervical em condição normal. Em certos casos, alguns profissionais
sugerem que também seja colocado um travesseiro entre as pernas, para ajudar
a manter uma boa posição da lombar. Fazer exercícios regularmente promove o
fortalecimento de músculos importantes para a manutenção da postura.
Atentando à uma boa postura, evitaremos problemas para nossa saúde.
No salão, passaremos uma mensagem de autoconfiança, conforto e
beleza. Dançar com um par que mantém sua postura desalinhada pode ser muito
ruim. A dama pode trazer dificuldades para o cavalheiro conduzi-la, da mesma
forma que cavalheiros com má postura podem ser desconfortáveis. Nos salões,
vê-se com certa frequência, cavalheiros que se curvam sobre a dama. Esta
posição força a dama a entortar-se para trás. Além de ser insalubre para o
próprio cavalheiro, obriga a dama também a desalinhar-se. Estes e outros
desconfortos são evitados quando treinamos a boa postura em nossa vida diária.
Chamo a atenção para outro artigo de Izabela Lucchese Gavioli, intitulado
“Cuidados com a coluna na dança de salão”, publicado na Revista Dança em
Pauta, no dia 18 de dezembro de 2011. Neste artigo, Izabela fala que, conforme
a dança praticada, mudam as exigências sobre a coluna. O modelo de calçado
e os movimentos característicos de cada dança serão determinantes para as
forças exercidas sobre a coluna do dançarino. Exemplifica: o zouk exige bastante

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

da coluna devido a movimentos de flexão anterior e lateral, extensão e rotação


da coluna; o tango demanda uma postura mais vertical e os saltos das damas
resultam em um aumento da curvatura lombar. Por isto, sugere buscar firmeza
da musculatura abdominal para fazer a compensação. Izabela lembra que o
abraço, ou “terceira posição” – assim chamada por Gino Fornaciari –, favorece
alguns vícios de postura ao longo do tempo, devido à assimetria desta posição
social tradicional de dança de salão. A boa postura e o condicionamento físico
podem ajudar a manter o alinhamento equilibrado, prevenindo um desvio lateral
da coluna. A manutenção da postura adequada durante a dança é fundamentada
pela consciência corporal do dançarino, o que lhe permite reconhecer e localizar
espacialmente as partes de seu corpo. A dança de salão exige muito da cervical
e da lombar, demandando uso de técnica apurada e bom condicionamento
muscular para prevenir problemas. A autora finaliza, salientando que a diversão
da dança depende de cuidados, condicionamento físico e, em aulas, de um bom
professor. Este, deve utilizar a prática fundamental de compensação e
alongamento muscular ao final de cada aula, o que também foi discutido no livro
“Dança de salão, a caminho da licenciatura” (Maristela Zamoner, Editora
Protexto, 2005).
Em outro artigo, “A pisada masculina na dança de salão”, publicado na
Revista Dança em Pauta em 14 de setembro de 2010, Izabela aborda questões
sobre os pés do cavalheiro, particularmente importantes por ser ele quem
conduz. Segundo a autora, para a dança ser boa, o cavalheiro deve entender
como o pé chega e sai do chão para a dama sentir-se segura ao ser conduzida.
Para haver leveza e disponibilidade do corpo, a autora sugere posicionar o centro
de gravidade do pé ligeiramente à frente, na parte onde ficam os artelhos. A
sustentação desta posição depende da musculatura das panturrilhas, posterior
das coxas e do abdômen. O mau posicionamento dos pés pode provocar lesões.
A autora destaca como as mais comuns: hálux valgo ou “joanete”; neuromas de
Morton (espessamento de nervos); bolhas e calosidades. Com o tempo, podem
surgir lesões em tornozelos, joelhos, quadris e coluna.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

INDUMENTÁRIA

A roupa que você veste não diz o quanto você dança, mas é
necessário estar apropriadamente vestido para um baile.

Maria Inês Galvão Souza. Bailes de Danças de Salão da Cidade do


Rio de Janeiro: Palcos de Encenação da Dança. Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Processos de Criação e Expressão
Cênicas Dança, Encenação, Lazer. 2007.

Para compreendermos amplamente o significado do “vestir-se”, faremos


uma breve explanação histórica, pontuando alguns aspectos paralelos da dança
de salão.

Histórico de roupas e danças

Vista sua melhor roupa, calce seu melhor sapato, acerte no perfume,
afine os ouvidos, estufe o peito e convide aquela bela dama para um
passeio pela pista.

Haroldo Lage. Dança de salão ou 8 maneiras de divertir sua Dama.


São Paulo, SP. Papo de Homem. 26 de setembro de 2007.

Indumentária é o que usamos para cobrir ou adornar partes do corpo. As


razões de seu uso são variadas, podendo envolver aspectos sociais, culturais ou
mesmo a necessidade. A indumentária inclui também os acessórios como
bolsas, carteiras, sombrinhas, capangas, mochilas, bengalas.
Em nosso passado mais remoto, os homens não usavam roupas. Darwin,
durante sua viagem pelo mundo, passou pela Terra do Fogo, na Argentina.
Registrou que, por razões culturais e apesar do clima frio, os nativos locais
cobriam a parte superior do corpo com pinturas e pequenos pedaços de pele
animal.
Quando o hábito de se vestir teve início é algo nebuloso, mas o fato é que,
depois de começado, este costume se instalou irreversivelmente, provavelmente
por trazer benefícios. Sabe-se que as peles foram utilizadas com função de
proteção contra o frio. Mas o uso de vestimentas também poderia ter relação
com significados sociais como força, bravura, habilidades místicas ou de

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

liderança. Pesquisas arqueológicas nos mostram a existência de agulhas feitas


de ossos datando de 25 mil anos, revelando que nesta época já eram fabricados
fios. Sem dúvida, a técnica do fabrico de roupas desenvolveu-se muito desde
esta época, permitindo que pedaços de materiais fossem ligados entre si,
aumentando a complexidade na elaboração das peças.
A maioria das roupas deste período, por serem feitas de materiais
orgânicos, portanto perecíveis, foram perdidas no tempo. Mas a arte produzida
pela humanidade nos dá pistas sobre as vestimentas da antiguidade. Estátuas,
desenhos, pinturas em vasos e paredes são obras que foram produzidas
representando humanos com suas vestes e, em certos casos, retratando cenas
de dança. Estes registros existem há cerca de cinco mil anos e não perdem a
importância, mesmo com suas colorações originais alteradas.
No Egito, inicialmente, só os indivíduos socialmente privilegiados
utilizavam roupas, um indicativo de riqueza. Os homens portavam um pano
enrolado no quadril, semelhante a uma fralda ou saia e as mulheres ficavam com
os seios à mostra, em roupas semelhantes a vestidos. Há cenas de dança em
obras de arte históricas, retratando o uso destes tipos de vestes. Ao longo do
tempo, as roupas foram cobrindo cada vez mais o corpo, chegando a peças
retangulares com um orifício no meio por onde passava a cabeça, deixando o
pano cobrir a parte da frente e de trás do corpo. Sandálias eram usadas por
poucos egípcios.
Consta que o corte de tecidos e ajuste ao corpo teria ocorrido,
primeiramente, pelas mãos dos persas. Homens e mulheres vestiam-se de forma
similar, usavam calças justas, túnicas, casacos e calçados. Esta indumentária
teria substituído as vestes de gregos e romanos na Europa, mantendo sempre
diferenças de elaboração entre as roupas de nobres e plebeus. As vestimentas
passaram por diversas modificações, tendo determinadas características em
cada período, chegando a ser bem complexas e muito sofisticadas, como os
espartilhos. Nesta época, cada veste durava muito, chegando a séculos,
modificando-se apenas seus detalhes para acompanhar tendências.
Houve um período em que as roupas eram pesadas e, muitas delas,
limitavam os movimentos. Esta forma de vestir-se influenciou as danças de sua
época, que precisavam acontecer com movimentos pequenos e delicados, como
se relata ter sido o minueto.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A valsa, considerada a primeira dança de salão, também surgiu num


tempo em que as vestimentas eram pesadas. A figura que segue, data do ano
seguinte ao que se considera como o início da valsa nos salões. Ela nos mostra
como eram os trajes femininos quando surgiu a primeira dança de salão.
Como vimos, as roupas eram bem diferentes entre os povos. Mais
recentemente, o processo de globalização levou ao abandono quase completo
das roupas tradicionais em favor do conforto, necessidade ou tendências de
moda, como é o caso do jeans e das camisetas.
A Revolução Industrial introduziu a fabricação em escala de tecidos e
roupas, até então manual, artesanal, propiciando fácil substituição das
duradouras roupas tradicionais. A moda começou a mudar mais rapidamente, os
mais ricos sempre na vanguarda. Ao longo do século XIX, as roupas ficaram
mais leves, menos elaboradas. As camisas, saias e calcinhas surgiram por volta
de 1870. A maioria das mulheres da classe trabalhadora aderiu imediatamente.
Mineradores, fazendeiros e outros trabalhadores adotaram o jeans. Estados
Unidos e Europa foram irradiadores de moda, popularizando roupas por todo o
mundo. No século XX, a produção industrial sofreu novos aprimoramentos,
permitindo a produção massiva de peças prontas para uso imediato, o pret à
porter, barateando significativamente os custos. A moda feminina começou a
variar de forma nunca vista antes pela humanidade, enquanto os trajes
masculinos mudaram muito pouco até a metade do século.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Retrato de Marie Antoinette, gravura de Nicolas Dupin, datada de 1781.


Fonte: Biblioteca Nacional da França.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Em 1910, as saias das mulheres ainda eram longas e permitiam pouca


liberdade de movimentos. Para economizar, após a Primeira Grande Guerra as
saias encurtaram, o que flexibilizou os movimentos. Na década de 20 do século
passado, foi criado o sutiã. Em 1930, as saias ficaram mais largas e com a
Segunda Grande Guerra, encurtaram novamente. Além da economia, o
racionamento de gasolina fez aumentar o uso da bicicleta, o que exigia pernas
mais livres. Na década de 40, as calças passaram a ser mais intensamente
usadas por mulheres. A partir de 1950, o jeans começa a ser preferido por jovens
e as camisetas ganharam espaço na vestimenta masculina. Esta combinação,
jeans e camiseta, adotada também pelas mulheres, ganhou o mundo. Neste
período, popularizaram-se a televisão e o cinema, que passaram a ser difusores
importantes das novas tendências em roupas. Aumentou a variedade de peças
para ambos os sexos, adotando-se muitas cores, inscrições, tecidos diferentes.
Perto dos anos 50, surge a minissaia. A década de 70 é marcada por
extravagantes bocas de sino e cores fortes. Em 1980, começam a se disseminar
as roupas esportivas.
A dança de salão acompanhou estas mudanças, o que pode ser
facilmente notado pela grande profusão de novas danças que apareceram e não
poderiam ser realizadas da mesma forma com os trajes característicos do século
XVIII e XIX. Tango, charleston, maxixe, lindy hop, samba, bolero, soltinho,
danças caribenhas, todas surgem de maneira concomitante à evolução das
vestimentas.
Os materiais das roupas também passaram a ter uma variedade incrível:
algodão, lã, seda, couro, nylon, acrílico, poliéster, lycra. O futuro nos reserva
tecnologias ainda mais avançadas para as vestimentas, incluindo até sensores
que detectam dados de saúde.
O uso de roupas, hoje, é visto em quase todo o mundo como uma questão
de bom senso, chegando às vezes, a ser ligado à ética humana. O “como” e o
“o que” usar refletem valores sociais. De qualquer forma, roupas são
consideradas indispensáveis para a maioria dos povos, em especial quando há
várias pessoas presentes. A aceitação do indivíduo pelo grupo, muitas vezes,
também está relacionada à sua indumentária, principalmente entre os mais
jovens.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A dança de salão não foge deste padrão geral, embora sua moda mude
mais lentamente. Seus ambientes influenciam a escolha da indumentária dos
participantes, definindo seus próprios valores sociais.

Sapatos

Breve histórico

Essas solas vermelhas dispensam apresentações (...). Elas são mais


do que uma assinatura, são o legado de Christian Louboutin, o
designer francês que há 20 anos é responsável por criar verdadeiros
objetos de desejo para as mulheres, sejam elas anônimas ou
famosas. (...) Tamanha criatividade também foi usada por ele para
dirigir o espetáculo de uma das principais casas noturnas de Paris
neste ano, a Crazy Horse, símbolo do erotismo e da elegância
francesa. Além de planejar a apresentação de quatro números de
"FEU", musical inspirado nos tempos do cabaré que ficou em cartaz
por três meses, Louboutin, claro, vestiu os pés das bailarinas.

Roberta Benzati. A história dos sapatos de sola vermelha, que são


verdadeiros objetos de desejo. Porto Alegre, RS. A notícia Clic RBS.
01 de dezembro de 2012.

Os sapatos surgiram, inicialmente, para proteger os pés. Hoje, participam


da indumentária também como adorno, portanto, desempenhando uma função
social. Encontram-se no mercado em uma variedade assombrosa de modelos,
cores e tamanhos.
Pinturas em cavernas da Península Ibérica mostram que os calçados já
existiam ao final do período Paleolítico. Outra evidência é trazida pela descoberta
de utensílios de pedra destinados a raspar peles, o que seria o início das técnicas
de curtir couros. Mesmo assim, há quem atribua a invenção do calçado aos
egípcios, o que é compreensível. Existem pinturas egípcias em câmaras
funerárias, datadas de 6 ou 7 mil anos, representando cenas do preparo do couro
e dos calçados. No Antigo Egito, os nobres usavam sandálias feitas de palha,
papiro ou fibra de palmeira, às vezes adornadas com ouro.
Sapatos em couro cru, presos aos pés por tiras do mesmo material, eram
comuns na Mesopotâmia. Já os coturnos simbolizavam nível social superior.
Conta-se que na Grécia Antiga houve um período em que era moda o uso de

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

calçados diferentes para cada pé. Na Roma Antiga, a cor dos calçados indicava
a classe social: branco para cônsules, marrons para senadores.
O formato de sapatilhas apareceu na Idade Média, sendo usado por
homens e mulheres. As botas também eram usadas por homens, as mais
simples confeccionadas em couro de vaca e as mais sofisticadas, em couro de
cabra.
Consta que em 1642, Thomas Pendleton teria fornecido quatro mil pares
de sapatos e seiscentos pares de botas para o exército inglês. Eduardo I, rei da
Inglaterra, uniformizou as medidas. É o primeiro relato que se tem de
padronização de numeração.
As máquinas para confecção de calçados surgiram no século XIX. A
máquina de costura, em especial, tornou os calçados mais acessíveis. A
substituição do couro pela borracha e materiais sintéticos veio no século XX.
Jornais e revistas do século XIX nos revelam que os calçados específicos
para as danças de sociedade, como eram chamadas na época, não são uma
novidade.

Calçados para dança de salão

Já é comum observarmos, em alguns bailes, dançarinos e


dançarinas de salão que trocam seu calçado à chegada e saída,
respeitando o ambiente do evento e cuidando melhor de seu
equipamento.

Izabela Lucchese Gavioli. Como escolher sapatos para a dança de


salão. Curitiba, PR. Revista Dança em Pauta. 10 de agosto de 2010.

Saber escolher o sapato apropriado para cada situação em que se pratica


dança de salão é fundamental para evitar constrangimentos, além de ser
essencial para saúde.
A já citada autora Izabela Lucchese Gavioli publicou dois artigos na
Revista Dança em Pauta, de particular interesse para este tópico: o primeiro, em
10 de agosto de 2010, intitulado: “Como escolher sapatos para dança de salão”,
e outro, em 14 de setembro de 2010: “A pisada masculina na dança de salão”.
Izabela considera que a escolha correta do calçado é o primeiro passo para um
bom aproveitamento de aulas e proteção do sistema musculoesquelético. Para

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

a autora, a escolha está relacionada à dança que será estudada, podendo variar
de sapatilhas para zouk, a saltos altos para o tango. Podemos fazer o mesmo
paralelo com o tipo de evento. Nos “bailes do descalço”, onde as pessoas
simplesmente tiram os calçados para dançar, não faz muita diferença o calçado
escolhido para chegar ao local. Outros eventos ocorrem na rua e a maioria das
pessoas utiliza tênis, inclusive para dançar zouk.
A citada autora aborda ainda outros tópicos importantíssimos sobre a
questão dos calçados. Recomenda como ideais para dançar os que não
deslizam facilmente e nem prendem demais ao chão podendo forçar estruturas
anatômicas de articulações, provocando lesões. Sugere solas de couro ou
camurça para pisos de madeira não encerados. Neste sentido, é válido lembrar
que o calçado adequado é um dos fatores que pode evitar os constrangedores
e deselegantes escorregões. Considera que superfícies de linóleo não são
compatíveis com solados de borracha como os tênis. Izabela ressalta que
trocamos a direção dos pés frequentemente ao dançar, mantendo o antepé em
contato com o chão. Por isto, não é desejável muito atrito entre o calçado e o
piso, o que pode forçar articulações de joelhos e tornozelos, provocando lesões
que, com o passar do tempo, podem se tornar sérias. Por esta razão, o tênis
esportivo não é considerado pela autora como o melhor calçado para a dança
de salão. Entretanto, existem os tênis específicos para se dançar, tendo um
solado que permite a flexão dos pés e com menor aderência que os demais. São
adequados especialmente para danças como zouk, soltinho e lindy-hop. Para o
tango, a autora sugere solado de camurça ou couro, porque a técnica exige
deslocamento dos pés muito próximo ao solo. Pisos de concreto ou cerâmica
devem ser evitados em virtude da falta de absorção dos micro impactos e da
presença de emendas. A sugestão da autora é que os profissionais levem
sempre consigo pelo menos dois pares de sapatos com solas de diferentes
materiais. É comum os lugares de apresentações serem inadequados para a
dança de salão.
Os cavalheiros mais preparados têm aguçada percepção deste atrito que
a sola do calçado da dama faz com o chão. Consideram, em suas conduções, a
escolha de movimentos compatíveis com a proteção da saúde da dama e ainda
atentam para evitar manobras que tragam desconforto por falta ou excesso de
atrito. Por exemplo, quando o cavalheiro nota que a sola do calçado da dama

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

oferece atrito reduzido, não faz movimentos que a deixem insegura e diminui o
tamanho dos passos para evitar que ela deslize sem desejar. Quando nota que
a sola do calçado da dama está atritando mais que o desejado, evita pivôs que
possam sobrecarregar articulações. Mesmo quando a dama não nota seu par
tomando este cuidado, é uma gentileza sutil e de rara inteligência, que leva o
cavalheiro a ser considerado nos salões como um excelente parceiro de dança.
Para escolher o calçado, Izabela comenta que existem vários modelos e
marcas disponíveis no mercado, seja para dança ou não. Sugere que sejam
observados aspectos como: preferir saltos mais grossos que facilitam a
distribuição do peso; optar por calçados que fiquem firmemente presos ao pé,
favorecendo o equilíbrio; não utilizar plataformas que prejudicam o
funcionamento normal das articulações dos dedos, oferecendo riscos à saúde
(tendinites e fasceíte plantar); não utilizar calçados bicudos, incompatíveis com
as técnicas de dança. A autora ainda recomenda: os calçados escolhidos para
dança devem ser bem cuidados, evitando seu uso para outras finalidades.
Lembra que já se observam dançarinos trocarem o calçado quando chegam ao
salão. Calçados bem cuidados, além de favorecer a saúde dos pés, são
indispensáveis na composição da boa apresentação do dançarino.
Izabela nos presenteia com um conjunto de dicas relevantes sobre os
cuidados com os calçados e pés: deixar em lugar arejado; usar spray
neutralizador de odores para calçados ou para ambientes domésticos (neste
caso, sempre usar com meias); antes do uso, espalhar talco; preferir as meias
de algodão; procurar manter o calçado sempre seco para prevenir a proliferação
de microrganismos e seus odores; manter os pés sempre limpos, higienizados
com água, sabonete e escova ou esfoliante, para remover as células mortas que
favorecem os microrganismos e odores; após o banho, secar bem os pés inteiros
e aplicar talco; procurar um médico se aparecer alguma afecção como: calos
dolorosos, unhas encravadas, micoses ou abscessos. Também é indicado
comprar calçados de dança com a numeração correta (nem sempre é a mesma
dos outros calçados) para que o atrito com o pé seja adequado. Cavalheiros e
damas que calçam sapatos do tamanho adequado tem maiores possibilidades
de dominar o espaço que seu pé calçado ocupa no salão, e assim, proteger-se
do risco de tocar ou pisar seu par de forma inapropriada e, portanto, deselegante.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Os aspectos da saúde devem ser priorizados sem que se esqueça de


adequar o calçado ao tipo de evento. Lembremos que, por exemplo, um tênis
pode ser apropriado e saudável para dançar na rua, mas é improvável que o seja
em um salão imbuído de alguma formalidade. Precisamos conhecer o salão e o
evento a que vamos para escolher o calçado mais adequado, que deve estar
sempre bem tratado e ser corretamente utilizado, protegendo a saúde e
respeitando a etiqueta.

Preparando-se para dançar

Uma coisa que tive que aprender foi a me vestir para o baile. A
apresentação de si através do vestuário é um ponto importante na
prática da dança de salão.

Andréa Moraes Alves. A Dama e o Cavalheiro, um estudo


antropológico sobre envelhecimento, gênero e sociabilidade.
Rio de Janeiro, RJ. Editora FGV, 2004.

Muitas vezes, temos dúvidas sobre o que vestir para ir a um salão de


dança. Inicialmente, é indispensável saber exatamente que tipo de salão é e, se
houver convite formal impresso, respeitar o tipo de traje que indica. Mas grande
parte dos eventos de dança de salão são promovidos sem convites impressos.
Nesta hora, descobrir antecipadamente as características do evento e até se ele
combina conosco é de grande valia. Sempre é importante perceber o que há nas
entrelinhas do convite ou na forma como se convida.
Para escolher com segurança o traje adequado, recomenda-se fazer um
apanhado completo de informações sobre a ocasião. Não esquecer de
considerar até mesmo questões que parecem óbvias, como: a região do país,
local, horário, tipo de convidados. Caso seja difícil obter estas informações,
pode-se perguntar a um conhecido que seja mais próximo dos promotores ou
mesmo diretamente ao anfitrião.
Há muitos anos, vivi uma situação que me alertou quanto a isto. Fui ao
Rio de Janeiro e, seguindo o padrão curitibano tradicional para dançar, vesti o
que chamamos comumente de “pretinho básico”. Neutro, obrigatório no guarda-
roupas de toda mulher, o vestido ideal para quando não sabemos o que vestir.
Meu entendimento era que, desta forma, não chamaria a atenção. Chegando ao

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

evento, notei que era a única de preto, o que me deixou um tanto desconfortável.
Perguntei a uma conhecida a razão pela qual ninguém estava usando preto. Ela
respondeu que não sabia bem ao certo. Acreditava que isto estaria relacionado
ao clima da cidade, mas que eu não deveria me preocupar, porque o carioca era
muito acolhedor. Para minha sorte, isto é verdade. Esta historinha em muito se
assemelha ao que Glória Kalil relata em seu livro “Chic”. Ela conta que fora
convidada informalmente para uma cerimônia de homenagem fora de sua
cidade, poucas horas antes do evento. Vestiu-se também informalmente e, como
ela mesma definiu, teve uma “visão aterradora: social absoluto”.
A idade de quem convida pode ser um indicativo interessante para compor
um visual em sintonia com a ocasião. Quando somos convidados por alguém
muito jovem e que não conhecemos bem, podemos supor que muitos outros
jovens estarão presentes. Logo, não cabe vestir traje muito conservador. O
mesmo vale para a atenção que se deve dispensar à personalidade de quem
convida ou à característica do evento, que pode variar do excêntrico ao
tradicional. Estas observações contribuirão decisivamente para a escolha correta
do traje a ser usado.
A característica social dos outros participantes também é muito
importante. Apresentar-se de forma nivelada aos demais convidados pode ser
muito mais conveniente do que destacar-se por uma sofisticação inapropriada –
o que poderia denotar arrogância – ou por uma aparência muito despojada – o
que refletiria pouca consideração ao evento. Acompanhar a tendência da
ocasião é garantia de acerto.
De qualquer forma, cada pessoa tem seu modo de ser. Há quem goste de
chamar a atenção, sendo muito diferente no trajar. E há os que preferem a
discrição. A característica individual precisa ser levada em conta na hora de
escolher a indumentária. Afinal, é muito mais importante que a pessoa se sinta
à vontade e feliz consigo mesma do que quaisquer costumes sociais, desde que
suas escolhas não causem constrangimentos.
Há um conceito geral que classifica as categorias de trajes. Essa
classificação é variada e dinâmica, apresentando mudanças ao longo do tempo.
Glória Kalil classifica os trajes em: 1 - Esporte; 2 - Passeio, Esporte fino
ou tênue de ville; 3 - Passeio completo ou social; 4 - Black-tie, tênue de soirée
ou rigor.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A classificação mais difundida é a que utilizaremos para comentar:

 Esporte;
 Esporte fino;
 Passeio;
 Passeio completo;
 Rigor.

Esporte

Por “esporte”, entende-se um traje confortável, mas de bom gosto. Às


vezes, esta denominação gera confusões, não significando que se pode recorrer
ao uso de agasalhos de ginástica e tênis. O traje esporte é adequado para uma
recepção simples e descontraída: churrascos, exposições abertas ao público em
geral, aniversários durante o dia, encontro com amigos, festas familiares
informais, batizados, festas infantis, encontros dançantes promovidos por
escolas de dança com certa informalidade.

 MULHERES: jeans de boa qualidade, camisetas elaboradas,


blusas, terninhos descontraídos, saias, vestidos leves, estampados
ou lisos, podendo ser de alças. Quando é um pouco mais frio, ficam
bem peças em cashmere, calças de veludo, parcas, jaquetas em
couro ou camurça. Bolsas grandes podem ser usadas, desde que
tenham uma aparência de qualidade e nunca devem ser levadas à
pista de dança. O uso de mochilas não é indicado para estas
ocasiões, devendo ser reservado para eventos exclusivamente
esportivos. Os calçados serão do tipo “confortável”: tênis casuais,
mocassins, sandálias baixas ou altas de saltos grossos, sapatilhas,
botas e sapatos de saltos grossos ou finos, baixos ou altos. São
bem-vindas as bijuterias despojadas, bem combinadas. Optando
por joias, estas devem ser discretas. A maquiagem precisa ser
leve.
 HOMENS: o paletó, a camisa social e a gravata podem ser
dispensados, mas o blazer é pertinente. São indicadas as calças

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

de gabardine, veludo cotelê, brim, lã e o tradicional jeans. As


camisas devem adequar-se ao tipo de calça escolhido. As
esportivas lisas ou com padronagens discretas adéquam-se a
todos os tipos de calças citados. Já as camisas polo podem ser
usadas mais seguramente com jeans. Os calçados abrangem
desde do mocassin, dock sider, sapatênis, botas esportivas ou de
camurça, até os sapatos não sociais. Quanto aos acessórios, os
relógios com pulseira de couro, metal prateado ou emborrachadas
combinam bem. Cintos de couro em harmonia com o calçado são
apropriados.

Esporte fino (passeio ou esporte completo)

Pode-se dizer que é o mesmo traje esporte, porém, acrescido de alguma


formalidade. Embora simples, deve ter aspecto mais sofisticado. Pode ser usado
em eventos como espetáculos de balé, concertos, encontros de negócios,
casamentos durante o dia, bodas, almoços comemorativos, conferências,
vernissages e encontros dançantes um pouco mais elaborados que as informais
práticas em escolas.

 MULHERES: tecidos de algodão, malha, linho e outros são


adequados para os vestidos. Túnicas, pantalonas, terninhos ou
tailleurs podem compor o visual. Durante o dia, o tamanho das
bolsas deve ser médio. Eventos à noite admitem vestidos escuros,
acompanhados de sapatos ou sandálias de saltos altos e bolsa
menor. Mesmo em tamanho reduzido, as bolsas não devem ser
levadas à pista de dança. Acessórios com pérolas ou metálicos são
boas opções. A maquiagem pode ser mais marcante, mas ainda
não muito carregada.
 HOMENS: durante o dia, as calças características do traje esporte
são permitidas, mas devem ser acompanhadas de blazer e
camisas lisas de algodão. No frio, veludo ou jeans de boa qualidade
ficam muito bem com blazer de tweed. São aceitos, inclusive, os
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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

sapatos de sola emborrachada, atentando-se à sua adequação


para a dança, considerando o piso do local. Uma boa opção é o
traje claro, o blazer em cor diferente das calças, com ou sem
gravata. Para a noite, são indicados trajes escuros, camisas sociais
claras e em algodão, com gravata. Mais recentemente, as camisas
escuras bem escolhidas também caem bem. São apropriados os
sapatos com solado em couro e meias na mesma cor. Os
acessórios podem incluir lenço branco em algodão, relógio com
pulseira em couro, cinto em harmonia com a cor dos sapatos. Há
quem sugira o uso de uma boa caneta de bolso.

Passeio (tênue de ville)

O traje “passeio” é também conhecido pela expressão “tênue de ville”, que


significa “traje de cidade”, em francês. Alguns livros trazem esta classificação
como sinônimo de “esporte fino”. Adequado para o final da tarde até o meio da
noite, permite que os convidados saiam do trabalho direto para o evento. São
exemplos clássicos: vernissages, estreias de peças de teatro ou espetáculos de
dança, coquetéis, inaugurações, lançamentos de livros e alguns eventos
dançantes.

 MULHERES: são bem-vindos os vestidos com um tom leve de


informalidade, porém de boa confecção, terninhos, tailleurs, blazer,
spencers, calças compridas, pantalonas, saias ou jeans de
qualidade com blusas de tecidos mais nobres. Os xales de tecidos
finos como a seda são um bom acompanhamento. Adéquam-se
bem os sapatos ou sandálias de saltos médios a altos. As bolsas
devem ser médias ou pequenas, do tipo carteira e permanece a
regra de que não devem ser levadas à pista de dança.
 HOMENS: os ternos são adequados, lembrando que são
compostos por três peças: paletó, calça e o colete, emoldurador da
gravata. Ternos de cor escura sempre caem bem, sendo que o
marrom não é apropriado para noite. A gravata é aconselhada com
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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

camisas sem botões no colarinho. Os botões do paletó podem ser


em número de três para homens mais clássicos e em número de
dois para os mais despojados. Os sapatos, com solado em couro.
O relógio social é bem-vindo, podendo ter pulseira em couro escuro
ou todo em metal prateado ou dourado. Novamente o lenço branco
de algodão, caneta e carteira lisa são acessórios apropriados.

Passeio completo

Neste traje, há um pouco mais de sofisticação do que no “passeio”. É


compatível com jantares, coquetéis, apresentações em teatros como uma ópera,
casamentos e comemorações oficiais ou de grande porte.

 MULHERES: casamentos pela manhã permitem o uso de chapéu,


mas é conveniente verificar se não será o único no evento. Os
calçados são mais elegantes. O comprimento das saias pode variar
do curto a pouco acima do calcanhar, sempre em tecidos finos
como crepes, sedas ou com bordados e brocados. Os vestidos de
alcinhas requerem um xale sofisticado. Os decotes e fendas
precisam ser discretos. As bolsas devem ser pequenas, de mão,
seu uso na pista de dança é desaconselhado, perdoável somente
diante da impossibilidade de deixa-las em outro local... Sapatos e
sandálias em salto alto fino e as meias, de seda transparente. Já
cabem as joias sem muito exagero na quantidade. Um relógio de
ouro pode ficar bem. No caso do uso de bijuterias, devem ser finas
e bem combinadas, como brincos no mesmo metal ou pedra do
colar ou anel. É preciso cuidar com combinações exageradas que
misturam, por exemplo, colares com broches e brincos grandes.
Havendo dúvida sobre um acessório, melhor não o usar.
 HOMENS: os ternos escuros são corretos, abrangendo o preto,
marinho, grafite e até risca de giz. A camisa social de algodão e a
gravata em seda pura. As abotoaduras são elegantes e ficam muito
bem em eventos solenes. Os sapatos devem ter solado de couro.
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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Rigor (gala, black-tie, habillé, tênue de soirée)

Esta é a categoria dos trajes mais sofisticados, exigidos em determinados


bailes, entregas de prêmios, festas em embaixadas, banquetes, noites de gala,
certas apresentações de balé.

 MULHERES: vestidos clássicos, sofisticados. Os tecidos nobres


como a seda e o shantung passam a ser indispensáveis. A
literatura é controversa sobre o comprimento. Alguns autores
registram que os curtos são inaceitáveis. Outros, porém, admitem
seu uso. Saias podem ser usadas, desde que longas e
exuberantes, podendo ter pregas, acompanhadas de blusas com
golas grandes, babados, punhos compridos, botões em cristal. É
imprescindível que tudo seja confeccionado com tecidos de
primeira qualidade. Pode haver um pouco de ousadia nos detalhes,
maquiagem e cabelos bem trabalhados. As joias caem muito bem,
mas, atualmente, existem bijuterias muito sofisticadas que,
visualmente, assemelham-se muito às joias. As peças metálicas de
toda indumentária devem, preferencialmente, seguir um padrão: ou
só dourado ou só prateado. A mistura, embora venha surgindo
modernamente, precisa ser muito criteriosa. Sapatos ou sandálias
devem ter saltos altos e finos; podem ser forrados com o tecido do
vestido, bordados, prateados ou dourados.
 HOMENS: somente smoking, com camisa branca de preguinhas,
rendas ou outros detalhes no peito, colarinho alto, engomado e
bicos dobrados, abotoaduras, gravata borboleta e faixa preta.
Modernamente, para algumas ocasiões, admite-se a gola do paletó
pontuda, em bico, tendo um único botão na abertura frontal. Paletó
com gola xale em cetim, assim como a gravata, a faixa da cintura
e as duas listras nas laterais da calça. A bainha é reta. Calças
sempre na mesma cor do paletó. O sapato ideal é liso, preto,
podendo ser de verniz. As abotoaduras são obrigatórias e o relógio
pode ser em ouro.
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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Lembremos que esta é apenas uma classificação padrão, com sugestões


gerais. Cada ocasião é única, cada traje é um, portanto, é preciso haver bom
senso para saber flexibilizar estas orientações. Embora esta seja uma
classificação bem tradicional e pretenda abarcar todo tipo de situação, mais
recentemente vemos bibliografias que se referem a outras, como:

 Traje fashion: atual e marcado pela criatividade, podendo ter peças


de brechó ou mesmo superprodução;
 Traje creative balck-tie: consta que seria uma invenção surgida nas
Américas para designar um traje a rigor onde se substituiu a
gravata borboleta por uma gravata vertical estreita e preta. Alguns
convites mostram que há certa liberdade para o convidado aliviar o
conservadorismo do traje a rigor, sem, contudo, chegar à
informalidade.
 Traje a toutch of: em português, a expressão significa “um toque
de”, para atribuir uma característica em especial ao evento. Alguns
exemplos:

 A toutch of fantasy: um toque de fantasia;


 A toutch of black and white: um toque de preto e branco;
 A toutch of sixties: um toque de anos sessenta.

Gloria Kalil em seu livro “Chic(érrimo) Moda e etiqueta em novo regime”,


publicado em 2004 pela Codex, considera que quando conhecemos os códigos,
é possível transgredi-los, podendo esta transgressão até se constituir em um
depoimento de independência. Mas, de qualquer forma, vai chamar a atenção e
isto pode refletir algum desrespeito ao evento.
Quaisquer destas categorias de vestimentas, e quiçá outras, podem ser
orientadas para um evento relacionado à dança. É bom lembrar que, mesmo nos
vestindo em conformidade com o evento, poderemos estar inadequados para
dançar. Por isto, é importante atentarmos ao escolher nossas roupas, para não
comprometer nenhuma das necessidades: o evento e a dança.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Indumentária inadequada para dançar

Alguns tipos de vestimentas e acessórios podem não ser indicados para


dançar, mesmo que, esteticamente, estejam apropriados à classificação do traje.
Alguns exemplos:

 Roupas felpudas deixam o par “emplumado” ao fim da dança;


 Tecidos com brilhos que saem ao toque deixam o par luminoso;
 Calçados folgados escapam do pé;
 Capangas e bolsas, tanto as pequenas quanto as grandes,
penduradas nos ombros, braços ou mãos, batem nos casais
vizinhos ou incomodam o par;
 Pochetes, conforme o volume, podem dificultar o encaixe com o
par durante a dança, arriscando ainda machucar;
 Roupas ou acessórios que engatam facilmente, inclusive em saltos
altos, favorecem acidentes;
 Sapatos de bico muito longo e fino dificultam encaixes com o par e
provocam situações inconvenientes;
 Roupas muito justas impedem os movimentos naturais, complicam
uma caminhada e podem romper durante a dança;
 Roupas muito largas podem cair do corpo exigindo que sejam
“puxadas” inconvenientemente com frequência;
 Roupas de tecidos ásperos ou de toque desagradável podem até
provocar alergia no par;
 Correntes masculinas e bijuterias femininas barulhentas causam
desconforto ou irritação;
 Anéis frouxos, pulseiras, colares e brincos (inclusive os
masculinos) que se permitam engatar em algo e arrebentar, ou que
incomodam com a pressão entre os corpos, podem ser perigosos,
ou até machucar;
 Roupas abertas demais, decotadas ou transparentes
desconcentram o par;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 Trajes confeccionados com franjas podem engatar até mesmo em


botões da roupa do par e provocar acidentes;
 Vestidos e blusas cache-coeur podem abrir por completo durante
a dança se não forem fechados com algo além de sua faixa;
 Chapéus ou bonés podem forçar o par a curvar-se para evitar que
sua cabeça colida com o acessório;
 Mangas muito longas, avançando além dos pulsos, nem sempre
são confortáveis para o par que necessita de contato total com as
mãos;
 Roupas guardadas por muito tempo, com mau cheiro ou esporos
podem provocar rinite;
 Roupas de tecidos incompatíveis com a transpiração individual
podem ser inconvenientes;
 Óculos de sol em ambientes fechados são inadequados.

Pensar no bem-estar do nosso par nos ajudará a evitar o uso de roupas


ou acessórios que sejam desconfortáveis, incômodos ou inconvenientes.

Maquiagem

Relata-se que, no período paleolítico, o homem começou a fixar-se em


determinadas localidades, reunindo-se em grupos sociais. Neste momento,
teriam surgido os primeiros sinais mais definidos de vaidade. Para marcar as
diferenças hierárquicas, os líderes enfeitavam-se com artefatos vegetais e
animais. Os feiticeiros e curandeiros adornavam o corpo com pinturas que, em
seu entendimento, seriam mágicas. Com o passar do tempo, surgiram as
pinturas de guerra e mais tarde, na mesopotâmia, desenvolveram-se os
primeiros produtos de maquiagem, como a hena e o carvão usado nos olhos,
entre outras substâncias naturais. No Egito, a higiene diária era acompanhada
pela maquiagem, tanto para homens quanto para mulheres, agregando requinte
a esta função. Assim, a maquiagem passou a ser usada também para
embelezar.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Hoje, é comum a maquiagem fazer parte do dia a dia das mulheres. Em


ocasiões especiais, é praticamente obrigatória. Entre os homens, não é comum
o hábito de se maquiar, embora alguns já o façam.
A adequação à ocasião e ao local que se pretende ir merece atenção
especial. Maquiar-se não é sinônimo de usar muitas cores ou modificar seu
aspecto natural. Atualmente, a maquiagem é grande aliada para ressaltar os
pontos fortes e minimizar os fracos, trazendo um visual de saudável naturalidade.
Diz-se que existem as pessoas que se pintam e as que se maquiam,
demonstrando haver uma grande diferença entre estas duas ações.
Saber maquiar-se implica em conhecer-se: o tom da própria pele, sua
textura, o formato do rosto, dos olhos, as cores apropriadas à pessoa e seu estilo
de vida. Os especialistas sugerem considerar a estação do ano, a duração da
maquiagem, período do dia em que será usada, finalidade, e principalmente, a
ocasião.
Algumas das dicas que seguem podem ser úteis, lembrando sempre que
o recomendável é aplicar a maquiagem sobre a pele limpa e seca.

Maquiagem para o dia

Aconselha-se o uso de base, corretivo e pó facial, conforme as


imperfeições exigirem. Recomenda-se deixar a pele “descansar” de tempos em
tempos. Para manter ou melhorar a qualidade da pele é bom reduzir o tempo de
exposição aos produtos, especialmente quando a maquiagem não tem
propriedades terapêuticas. Peles com poucas imperfeições podem recorrer ao
uso de tonalizantes, uma pré-base bem suave, muitas vezes já com
propriedades hidratantes.
As sombras, se usadas, devem ser claras, para abrir visualmente o olhar.
Uma boa sugestão é o marrom e todo seu degrade (palha, marfim, bege,
castanho, ocre...) evidentemente, respeitando a tonalidade natural da pele. São
cores que, se bem usadas, conferem profundidade e iluminação para os olhos.
Elas também têm a vantagem de serem seguras, sendo mais difícil errar no seu
uso.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Rímel, ou máscara de cílios, é recurso que pode ser usado sempre, seja
incolor, marrom ou preto.
O blush é um ponto crítico da maquiagem. Exige um pouco mais de
conhecimento, para não conferir ao rosto uma aparência adoentada, febril ou até
de esfoladura. O ideal é uma tonalidade que atribua um contorno ou desenho
suave às maçãs ao rosto, sem evidenciar demais a cor. Os tons que tendem
ligeiramente para o marrom, geralmente caem bem em qualquer ocasião. Mas
na dúvida sobre como usar o blush, é melhor não o usar, bem como a sombra.
O batom é uma das maquiagens mais gostosas de se aplicar, pois
modifica rápida e facilmente o visual. Para o dia, uma “cor de boca”
acompanhada por gloss, para quem gosta, fica muito bem. Bocas volumosas
podem dispensar o uso de gloss.
Lápis de olho ou delineador deixam os olhos destacados, mas é preciso
muito cuidado. O uso inadequado pode modificar a expressão, entristecendo ou
deformando o olhar. Também para os lápis e delineadores a cor marrom é
interessante para o dia por não chamar muito a atenção, trazendo um efeito
natural. É bom lembrar de combinar a cor do lápis ou do delineador com a do
rímel ou máscara de cílios.

Maquiagem para noite

A base com pó compacto é um bom recurso para minimizar imperfeições


e seu uso é adequado para a noite. As sombras podem ser mais escuras,
marcando o canto externo dos olhos. Lápis ou delineador podem ser aplicados
com mais intensidade, sempre cuidando para não haver exagero. O rímel, as
máscaras ou alongadores de cílios fazem uma diferença grande no visual porque
realçam com naturalidade. Alguns cílios postiços mais modernos que se
assemelham muito aos naturais podem ser uma boa opção quando bem
utilizados. O batom, em geral, é mais intenso do que aqueles usados de dia. O
blush pode ser mais destacado, cuidando sempre para o resultado de sua
aplicação não alterar a expressão natural.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Outra forma de classificar as finalidades das maquiagens é pelo tipo de


aparência que confere à sua imagem. Alguns exemplos:

Natural

É um tipo de maquiagem que pode ser usada tanto no trabalho quanto


num jantar informal. Maquiadores prestigiados sugerem uma maquiagem
tradicional: base do mesmo tom da pele ou um pouco mais clara, pouco blush
tangerina, pêssego ou rosa e gloss.

Elegante

Apropriada para situações como uma recepção ou casamento. A


maquiagem deve ser mais intensa que a “natural”. A base pode ser uns dois tons
mais clara que a tonalidade da pele. O corretor para as olheiras é importante
tanto na parte superior quanto na inferior das pálpebras, de forma a misturar-se
gradativamente com o restante da pele. Na região dos olhos que mais se
aproxima do nariz, é interessante utilizar uma sombra branca que se espalha até
encontrar os tons escuros, mais concentrados na parte de baixo, próxima aos
cílios, indo até o outro lado do olho, quase o contornando. Alguns indicam o uso
de delineador para desenhar uma linha fina sobre os cílios até o canto do olho.
O rímel é indispensável, preferencialmente com coloração preta ou marrom,
conforme a cor do delineador. Os alongadores de cílios e máscaras também são
indicados, como os cílios postiços, quando se confundem com os naturais. Os
tons do batom podem variar do morango ao vermelho. O uso de delineador de
lábios pode ajudar a aumentar a boca quando é pequena e disfarçar
imperfeições, além de conferir um belo contorno aos lábios.

Em qualquer circunstância, a maquiagem precisa ser de qualidade. Não


é nada confortável para um cavalheiro dançar de rosto colado com uma dama
cuja base não tem boa fixação e acaba “pintando” seu rosto.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Maquiagem é sempre um ponto importante e precisa ser feita


criteriosamente, para não passarmos a impressão de que estamos em um palco,
doentes, ou transmitir vulgaridade. Buscar cursos de auto maquiagem pode ser
uma estratégia para conhecer as características individuais e aprender a
valorizar pontos fortes.
Ao sair para dançar, é aconselhável que se considerem os diversos
fatores envolvidos para que a maquiagem valorize o visual e seja compatível
com a ocasião.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE III

ETIQUETA DE ATITUDE
ATITUDE

EGO

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE III

ETIQUETA DE ATITUDE

ATITUDE

De uma abrangência quase imensurável, o “ser elegante”, “ter


classe” é comumente confundido. Normalmente as pessoas ligam
essa atitude ao bem vestir-se, ao uso de roupas caras, às posses
materiais que na verdade não levam definitivamente ninguém a
possuir atitudes nobres perante a vida. Profundamente falando, esta
é a palavra chave: ATITUDE!

Lucy Correia. Você é uma pessoa elegante?


São Paulo, SP. Vila Mulher Terra. 29de outubro de 2009.

Ao observarmos as pessoas num salão, notaremos uma diversidade


surpreendente de atitudes. A pista de dança é rica em cenas particulares,
pequenos detalhes que vemos e outros que nos passam despercebidos. Da
mesma forma, o entorno do salão. Há comportamentos que favorecem um
ambiente agradável e podemos enquadrá-los nas regras da boa etiqueta.
Outros, nem tanto.
Analisaremos alguns destes aspectos, sugerindo estratégias que
contribuem para o bem-estar geral, garantido a todos boas horas de lazer.
Finalizando o capítulo, traremos uma abordagem aqui chamada de “Ego”.
Diz respeito ao modo como cada um vê a si próprio, como esta concepção afeta
as atitudes e suas implicações na convivência com outras pessoas.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Pisar nos pés do par

Pelo pé também se conhece a pessoa. Os realistas são “pés-no-


chão”. Os grosseiros são “pés-de-chumbo” e os que gostam de dirigir
a toda velocidade são “pés-de-vento”. O trabalhador é “pé-de-boi” e o
ladrão amador é “pé-de-chinelo.” Quem é chegado a uma birita é um
“pé-de-cana.” Os atrapalhados vivem “metendo os pés pelas mãos” e
os puxa-sacos, lambem os pés do chefe. O homem com membro
avantajado é um verdadeiro “pé-de-mesa”. O “pé-de-valsa” gosta de
dançar. Sorte que hoje ele já pode se aventurar em outros ritmos,
além das músicas de Strauss, do rock ao forró, do tango ao samba.
Aliás, tem mais graça na avenida quem “tem samba no pé”. Também
é bom dançar colado, mas sempre tomando cuidado para não pisar
no pé do parceiro.

Cláudia Monteiro de Castro. Com pé e sem cabeça. São Paulo, SP.


Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Edição 27 - Abril/Maio/Junho de 2004.

Quando se inicia na dança de salão, uma das preocupações mais


tradicionais é o temor de pisar no pé do par. De fato. São extremamente
desagradáveis situações como aquelas em que o cavalheiro pisa
inadvertidamente no pé de uma dama que está usando sandálias, com as unhas
recém pintadas... Ou quando a dama acerta o pé do cavalheiro, justamente com
o salto fino... Por mais que não sejam intencionais, podemos facilmente “sentir”
a dor que tais acidentes provocam. Para eliminar este problema basta evitar, ao
máximo, afastar demasiadamente os pés do chão. Se nossos pés estão
permanentemente próximos ao chão, fica mais difícil outro pé acabar debaixo
deles. Na medida em que ficamos mais experientes, este problema se dilui. De
qualquer forma, um enfático pedido de desculpas e mais cuidado é sempre muito
apropriado.

Condução

Embora ditas “conduzidas” na dança de salão, as mulheres


emprestam a todos os ritmos, a graça, a beleza e a sensualidade,
reconfigurando a idéia de comando para, com homens sensíveis,
literalmente flutuarem como anjos rebeldes em noites de lua cheia.

Francisco Bento da Silva Filho. Dança de salão: um toque de gênero.


João Pessoa, PB. Reflexões diárias. Sem data. Acesso em 22 de
abril de 2013.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

A condução tem aspectos relevantes para a etiqueta no salão. Abrange


uma razoável diversidade de fatores, desde questões históricas até, por
exemplo, a possibilidade de sugerir ao par uma intenção desvinculada da dança.
Por isto, todo dançarino que pretende ser bom como tal, deve apropriar-se dos
significados envolvidos no complexo processo de condução.

Fundamento histórico

Em outros livros e diversos artigos, já abordei este tema tão interessante.


Sob o ponto de vista da etiqueta, é preciso lembrar que, primeiramente, um
cavalheiro precisa pensar em deixar sua dama feliz. E a dama, precisa reagir ao
trabalho do cavalheiro, revelando seu grau de satisfação. De forma muito
delicada e inteligente, induzirá o cavalheiro a sentir realização.
Para melhor compreender o que a condução significava quando a primeira
dança de salão surgiu, é importante ler os antigos livros sobre o que, na época,
se chamava “dança de sociedade”. Também os manuais de civilidade, em sua
maioria datados do século XIX, oferecem informações interessantes. Esta leitura
permite perceber facilmente que de início o cavalheiro se submete à decisão da
dama por dançar ou não. Em sendo aceito, visa servi-la, satisfazê-la. Este seria
o objetivo original da ideia de conduzir. Discorri mais detalhadamente sobre este
assunto no livro “Dança de salão, uma força civilizatriz”, publicado em 2016.
Assim, entendemos que quando um par se une para dançar, passa a ser
missão do cavalheiro concentrar-se em sua dama. Ficar atento a suas reações
e expressões será seu foco. A partir destas manifestações, perceberá o que ela
gosta e fará o necessário para satisfazê-la. Esta conduta seria o caminho para
que o cavalheiro, ao atingir este objetivo, obtivesse a própria satisfação,
realizando-se ainda por perceber-se capaz de satisfazer sua dama. A dama, por
sua vez, precisa permitir que o cavalheiro atue enquanto se revela para ele.
Precisa confiar e reagir, indicando os caminhos para que ele possa satisfazê-la.
Sem dúvida, existem outros modelos de condução além deste de cunho
histórico e tradicional. O importante é que a conexão entre o par permita o
estabelecimento reconhecível para ambos do tipo de condução que será
adotada. Assim, ao final, ambos poderão atingir a realização.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Dançarinos mais e menos experientes

Se o cavalheiro notar que a dama não sabe dançar ou que


commetteu algum erro na execução dos seus passos, não deve se
dar por achado, lisonjeando por esse modo a dama, que em sua
maioria não desejão ser criticadas embora amistosamnte.

Alvaro Dias Patricio. Novíssimo e completo Manual de Dança,


Tratado Theorico e Pratico das Danças de Sociedade. Rio de
Janeiro. B. L. Garnier, Livreiro – Editor. 1890.

Quando há diferença no nível técnico dos dançarinos, a situação pode


ficar um pouco complicada. Se um cavalheiro está com uma dama sabidamente
mais experiente, é bom ter em mente que a probabilidade de ocorrerem
problemas por inabilidade da dama é mais remota do que por sua própria
inabilidade. Ao dançar com uma dama experiente, é muito comum, por exemplo,
um cavalheiro iniciante achar que ela não responde à sua condução ou que “vai
sozinha”. Mas este cavalheiro que está começando, ainda não tem noção de que
muitos dos movimentos que faz, e desconhece, na verdade são códigos desta
linguagem corporal.
Então, fica a dica: é prudente refletir sobre que mensagem de condução
pode levar a dama a realizar determinado movimento. Dançar com uma dama
mais experiente é uma excelente oportunidade para perguntar a ela no que está
falhando, no que pode melhorar e no que está seguindo um bom caminho. Sugiro
jamais acusá-la de estar errando. Isto, sem dúvida, é uma gafe inadmissível.
Aliás, melhor não agir assim com dama nenhuma. Além de correr o risco de fazer
um papel ridículo, estará ferindo princípios básicos da etiqueta: a humildade de
reconhecer o mérito de quem sabe mais e a elegância de sempre respeitar as
damas. Cavalheiros inteligentes sabem aproveitar esta situação para aprender,
colocando-se em posição receptiva e não defensiva. Pensar que a dama mais
experiente está errando é caminho certo para não aprimorar a própria dança. É
também contra o princípio original da condução: fazer a dama feliz.
Os mesmos princípios valem para as damas. A disposição recomendada
é de aproveitar sempre as oportunidades para aprender. Olhar primeira e
criticamente para si, tentar notar no que está falhando, o que pode melhorar para
entender e responder à condução do cavalheiro. Quando somos iniciantes, a

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

percepção e mesmo a compreensão das conduções mais sutis são nebulosas e


podemos ter a impressão de que o cavalheiro não está conduzindo bem.
Portanto, o mais apropriado é manter-se na posição de quem está aprendendo.
Ao admitirmos sinceramente saber menos que o cavalheiro com quem
dançamos, estamos valorizando seu conhecimento e sendo femininamente
gentis. Quando dançamos com um cavalheiro mais experiente, é sábio nos
entregarmos à sua condução, sorrir com mais entusiasmo cada vez que nos
deliciamos com determinada proposta dele. Isto mostrará ao cavalheiro o que
nos deixa contentes, ajudando-o a nos satisfazer.
Quando temos um par de dançarinos iniciantes, é preciso muita
flexibilidade de ambos, disponibilidade autêntica para ouvir e aprender.
Claro que a situação ideal é a de um cavalheiro que conduz bem, aquele
sabedor de que cada movimento sutil de seu corpo induzirá o próximo passo de
sua dama e de uma dama que sabe reagir no tempo certo e com expressão, às
vezes até por mera leitura corporal. Sem dúvida, tudo tende a ficar mais fácil
quando, tanto o cavalheiro quanto a dama, são experientes.
Tive a oportunidade de viver o aprendizado como dama e como
cavalheiro. Como dama, entendi que é mais inteligente o silêncio diante de um
cavalheiro experiente. Dá espaço para que nossos outros sentidos entendam o
que é a condução em seu âmbito mais profundo. Dá a oportunidade de nos
deliciarmos e reagirmos proporcionalmente. Com o tempo e o treino, a linguagem
automatiza e conseguimos responder a conduções sem nem sermos tocadas
pelo cavalheiro, imprimindo ainda, nosso caráter exclusivo a cada passo.
Atuando como cavalheiro, tive uma grande ajuda de minha irmã. Como
uma verdadeira dama, falou inúmeras vezes a frase: “não entendi”. Aproveitei
cada momento em que ela disse isto para perceber o que eu deveria ter feito
melhor. Este caminho nos leva ao crescimento técnico, ao pleno desfrute da
dança e nos resguarda de situações vexatórias em um salão.
Aqui, entra a importantíssima questão: quem tirar para dançar? Antes de
tomar esta decisão, é bom observar a pessoa dançando e comparar com nosso
nível de aprendizado e opção de linha técnica. É preciso ter autocrítica, noção
exata do quanto se sabe dançar no contexto geral e naquela ocasião particular.
É preciso, portanto, ser honesto consigo mesmo. Atentando a estes detalhes,
saberemos se estamos em condições mais favoráveis para aprender ou para

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

contribuir. E caso estejamos na situação de contribuir, devemos fazê-lo somente


se nos for solicitado. O salão não é sala de aula.
Li no Jornal Dance de julho de 2007, um artigo corajoso de Milton
Saldanha: “Professor tem que dançar com aluno em baile?”. Milton confirma o
que todos sabem, mas não acham bonito admitir: dançarinos experientes
preferem dançar entre si. Natural. É com um dançarino experiente que outro
semelhante pode desfrutar do melhor de sua própria dança. No salão, querem
dançar tudo o que podem. Para muitos, dançar com principiantes é fazer
caridade. Por isto, alunos não devem pensar que o professor tem obrigação de
tirá-lo para dançar em um baile. Como o Milton diz, se um professor deve tirar
seus alunos para dançar, não terá tempo para curtir sua dança, o que é um direito
seu. Portanto, não é aconselhável tirarmos para dançar pares mais experientes
vezes seguidas. Assim, denotaremos noção da nossa própria condição e
respeito pelos objetivos particulares destes dançarinos. Da mesma forma, não
podemos nos frustrar por não sermos tiradas para dançar na frequência que
gostaríamos, devemos sim, nos motivar a oferecer uma dança melhor. Queixar-
se por não ser tirada para dançar é outra conduta deselegante, o melhor é
investir na própria dança para se tornar uma dama desejada no salão.
Estas observações são também pertinentes para pares que dançam
juntos mais frequentemente. Ao dançar muito com a mesma pessoa, acontece
uma adaptação entre as partes. Este processo é bem comum entre namorados,
noivos, casados ou parceiros regulares de dança. Ocorre uma forma de leitura
corporal diferenciada que nem sempre corresponde à técnica de condução.
Funciona como um dialeto que apenas o casal fala. Então, pode acontecer,
principalmente entre os pouco experientes, de uma dama se acostumar com
algum trejeito do cavalheiro que não é propriamente uma condução,
automatizando uma resposta. Este cavalheiro corre o risco de, ao dançar com
outra dama, pensar que ela não responde à sua condução. Na verdade, seu
trejeito, que não é uma condução, “viciou” sua dama habitual e só ela irá
respondê-lo. Por outro lado, estes movimentos podem corresponder a
conduções diferentes daquelas que o cavalheiro pretendia. Dançando com outra
parceira, esta, aparentemente, fará movimentos sozinha, quando de fato, seus
trejeitos não dominados estão, efetivamente, fazendo uma condução. E o
inverso também é verdadeiro. Ao dançar com outro cavalheiro, uma dama que

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

sempre dança com o mesmo par pode responder a comandos que não são
conduções, constituindo-se, aí sim, o “ir sozinha”, embora em sua interpretação,
esteja agindo em “resposta”. Também ocorre a ausência de resposta ao que o
cavalheiro inexperiente pensa ser uma condução e não é. Da mesma forma,
acontece de cavalheiros experientes conduzirem damas que, por inexperiência,
não percebem a condução e não respondem.
Em determinados casos, nota-se ainda uma aparente sincronia no casal
habituado a dançar entre si. Na verdade, formaram o hábito de realizar a maioria
dos movimentos em harmonia, sem, necessariamente, dominar perfeitamente a
técnica da condução. São dançarinos que passam uma imagem de experiência
na linguagem estabelecida para dança, resultante simplesmente da prática,
mesmo que viciada. Nenhum problema por si só, mas ambos precisam estar
cientes da sua verdadeira condição para não criarem situações constrangedoras
numa eventual troca de par.
Sem dúvida, dançarinos experientes também aprendem com
inexperientes, mas de forma muito diferente e, naturalmente, em outra escala.
Independente destes aspectos o importante é saber situar-se criteriosamente no
contexto em que se está para não cometer gafes ou indelicadezas.

Conduções deselegantes ou perigosas

O homem, ao curvar-se, bloqueia a correta projeção do tórax, o


que pode levar a dificuldades de compreensão à dama,
sobretudo em ritmos em que o movimento do tronco do
cavalheiro determina a condução.

Izabela Lucchese Gavioli. O abraço saudável na dança de salão.


Curitiba, PR. Dança em Pauta. 29 de agosto de 2012.

Num salão de dança comum, notamos conduções surpreendentes que


merecem atenção: cavalheiros que puxam a dama pela blusa, vestido ou pela
alça do cinto da calça, chegando, eventualmente, a rasgar a veste; outros fazem
certas “travadas” perigosas com a dama, que podem até machucar; há alguns
que parecem estar agredindo sua dama.
É muito útil conhecer um pouco o corpo humano para compreender
melhor o risco de causar lesões, além, é claro, do fato de que certas condutas

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

agridem as boas normas de etiqueta. Afinal, não é nada elegante machucar o


par. E casos são registrados desde o século XIX:

Todas as pessoas apaixonadas pela dansa seguirão com interesse os


debates de um processo que será proximamente julgado pelos
tribunaes inglezes. Segundo o Medical Pres and Circular, uma jovem
dama de Newark fracturou uma perna em resultado de uma quéda
feita no momento em que ella dansava; esta dama acaba de intentar
acção contra o seu cavalheiro, que ella reputa responsavel, baseando-
se em que aquelle fez prova de uma grande falta de dextreza, causa
única do deplorável acidente de que foi victima. Periódico mineiro
“Minas Geraes” de 8 de dezembro1893, página 8, sob o título
“FACTOS DIVERSOS”.

Em 2005, relatei no livro “Dança de salão: a caminho da licenciatura”, uma


experiência vivida por mim. Ao fazer um chicote no zouk, fui puxada forte e
bruscamente pelo cavalheiro antes do fim do movimento. Resultado: uma hérnia
de disco cervical. Em 2014 a questão das lesões na dança de salão veio à tona
em redes sociais depois de uma dama denunciar seu cavalheiro por ter
provocado uma hérnia de disco cervical executando conduções inadequadas na
prática do zouk. Considerei o assunto sério o bastante ao ponto de tê-lo
abordado em dois artigos na coluna Dança & Comportamento da Revista Dança
em Pauta: “Comportamento de risco na dança de salão” e “Breve histórico do
comportamento de risco na dança de salão”, ambos datados de 23 de agosto de
2014.
É recomendável que os cavalheiros optem por conduções suaves e só
realizem danças mais agressivas se tiverem perfeito conhecimento da condução
e da dama. É fundamental terem certeza que a dama será capaz de acompanhar
sua condução, não esquecendo da estética do movimento, o que reflete sua
preocupação com a etiqueta.
Cavalheiro que dança, por exemplo, com a mão esquerda no bolso,
demonstra uma ostensiva atitude de displicência, uma profunda falta de
consideração com a dama. Ela terá que pensar onde colocar a sua mão direita,
já que a esquerda do cavalheiro está indisponível, além de sentir que o
cavalheiro não está com vontade de dançar com ela. Este tipo de postura é
frontalmente contrária à etiqueta, constrange a dama e desrespeita o salão.
Existem cavalheiros que gostam de colocar a dama em um movimento
repetitivo ou mesmo paradas, enquanto realizam peripécias variadas no seu

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

entorno. Isto pode ser um estilo de dançar, mas para a dama, nem sempre é
agradável. Especialmente quando ela se sente usada por um cavalheiro que
quer aparecer para os demais. A dança a dois se fragmenta. Bons cavalheiros
não dançam simplesmente com suas damas, dançam para suas damas e nunca
perdem o foco em satisfazê-las.
De um modo geral, o cavalheiro que é capaz de colocar-se no lugar da
dama, de entender o que ela pode sentir em cada situação, tem as melhores
chances de ser agradável e, portanto, demonstrar elegantemente sua noção de
etiqueta.

Movimentos

Durante a valsa ou contradança, etc. evitae dar grandes saltos, ou


fazer requebros e tregeitos como as dançarinas de theatros, ou
arlequins. Emfim, não façaes papel de estouvado

Novo manual de civilidade ou regras necessárias para qualquer


pessoa poder frequentar a boa sociedade. Editor Joaquim José
Bordalo. Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes.
Lisboa. 1867.

A escolha dos passos e dos movimentos é, teoricamente, do cavalheiro,


embora iniciativas das damas sejam bem-vindas, com cuidado para não
provocar dissabores. Um movimento que a dama pode realizar de forma
independente, sem necessariamente fugir da condução proposta, é erguer os
pés enquanto dança. Este movimento é perigoso e deve ser feito com extrema
atenção, especialmente se a dama estiver usando salto fino. É considerável o
risco de atingir dançarinos vizinhos, provocando acidentes indesejáveis.
Também são desaconselháveis outros movimentos de braços, atípicos para
dança de salão em seus moldes mais tradicionais, a exemplo daqueles em que
as damas alongam um braço para trás ou para a lateral, atingindo outro casal.
Tanto quanto o cavalheiro, a dama também deve pensar nos movimentos que
realiza, evitando invadir o espaço dos demais dançarinos, respeitando assim, o
salão.
A escolha dos passos que o cavalheiro faz precisa levar em conta diversos
fatores como: o modelo de condução adotado pela dupla, o nível técnico e a

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

satisfação de sua dama, a disponibilidade de espaço, a pertinência na dança, a


música, as características do local e do evento, entre outros.
Para uma dama, é muito desagradável dançar com um cavalheiro que
insiste em fazer passos que ela não domina e que, muitas vezes, ele próprio não
sabe conduzir. Pior ainda, quando passa a ensinar a dama. O salão é local para
se dançar, não para dar aula. É, portanto, conveniente evitar, a todo custo, este
tipo de situação. Abrimos exceção a professores renomados, a quem se permite,
eventualmente, usar o salão de baile para ensinar. Também faço ressalva
àquelas raras pessoas que, de forma muito discreta, mostram uma habilidade
extraordinária de ensinar sem que se note, preservando o par de qualquer
constrangimento. Quando o par solicita ajuda, podemos atendê-lo, mas só
quando for possível fazê-lo de forma absolutamente imperceptível, sem que os
demais notem, evitando-se assim, expor o par.
Caso ocorra um encontrão eventual entre casais, ambos devem pedir
desculpas, sorrir e seguir em frente. Não há necessidade em procurar culpados,
mas convém refletir se o incidente poderia ter sido evitado. De qualquer forma,
vale lembrar que, ao decidir por um ou outro passo, o cavalheiro precisa
raciocinar avaliando o espaço que, tanto seu corpo como o de sua dama,
necessitam para realizar o movimento, tentando até prever deslocamentos de
outros casais ou pessoas pelas laterais da pista de dança. Sem dúvida, é um
desafio a ser vencido. A dama pode ajudar o cavalheiro, alertando-o de algum
risco que não tem como ele ver. Isto pode ser feito de várias maneiras, mas
funciona bem apertar a mão esquerda do cavalheiro, olhando fixamente para o
local de onde vem o risco, ou ainda, pressionar suas costas para evitar que se
desloque para trás, se isto puder causar uma colisão. Um cavalheiro que
frequentemente bate nos demais casais, às vezes até levando sua dama de
encontro a outros dançarinos, traz desarmonia para o salão e constrangimento
para dama.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Deslocamento

Os casais devem bailar em um sentido específico, geralmente no


sentido anti-horário, e respeitar o espaço dos outros casais na pista.

Mariana Massena. A sedução do brasileiro: Um estudo antropológico


sobre a dança de salão. Dissertação de mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais. Rio de Janeiro, RJ. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. 2006.

Ao entrarmos na pista de dança, precisamos estar atentos à direção do


deslocamento que ocorre ali. A convenção é que se deve seguir o sentido anti-
horário. Quando o casal se desloca na pista, libera o espaço que passa a
pertencer ao casal que vem atrás. Claro que há flexibilidade nisto. Um casal pode
retornar um tanto da caminhada que segue, mas o cavalheiro deve certificar-se
que não colidirá com um casal que venha atrás.
Milton Saldanha publicou diversas matérias bastante enfáticas sobre os
“bailes travados”. Em sua opinião, são praga, erva daninha que, mesmo
cortando, não se elimina. Ele discute esta questão em seu jornal, possivelmente
há quase duas décadas. Aponta várias causas, destacando a incompetência
coletiva – as pessoas não sabem dançar, atravancando a fluidez dos que sabem.
O autor exclui de sua crítica o iniciante. Salienta o fato de que ocorrem falhas no
ensino da dança, uma vez que os alunos aprendem a fazer os passos sem se
deslocarem. Não são devidamente preparados por seus professores e acabam
achando que, no baile, acontece da mesma forma. Destaco, aqui, algumas
apreciações do autor no artigo “Melhorar o baile tem que ser um compromisso
coletivo”, de abril de 2009, no próprio Jornal Dance. Milton lembra de Madame
Poças Leitão, que ministrava aulas com muitas caminhadas e poucos “enfeites”.
Conta que a professora tinha um chicotinho com o qual empurrava as pernas
dos alunos lentos. Tudo em tom de brincadeira, mas reforçando a importância
do deslocamento. No artigo, o autor dá algumas dicas importantes: respeitar a
ronda do baile; deslocar-se no sentido anti-horário, dentro de um círculo em
faixas imaginárias; não atravessar o salão ao meio e, menos ainda, na
contramão. Acrescenta que presenciou bailes sem ordem alguma na circulação,
descrevendo-os como “festivais de trombadas”.

69
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Passos aéreos

Vamos focar nos fundamentos da dança de salão original, não


teremos passos aéreos

Alex Carvalho. Segundo Lídia Ferreira em Danças brasileiras abrem


a programação acadêmica do FAD. Manaus, AM. D24AM. 2 de
agosto de 2010.

Utilizar ou não “passos aéreos”, movimentos em que o dançarino perde o


contato com chão, é discussão que permanece até os dias de hoje. Geralmente,
estão restritos a tipos de bailes temáticos, frequentados por especialistas em
determinadas modalidades. Em salões de dança comuns, deve imperar o bom
senso. Alguns os proíbem textualmente. Em outros, estes movimentos são mal
vistos. Muitas escolas recomendam que passos aéreos não sejam usados nos
salões de baile. Em contraposição, há quem se refira a estes movimentos como
parte intrínseca da dança de salão. Independente das opiniões, alguns aspectos
merecem atenção.
Uma retomada histórica nos mostra que em seu surgimento, a dança de
salão não comportava passos aéreos em seu escopo. Nesta época, os próprios
trajes já eram um dificultador. É consenso que a popularidade de passos aéreos
nos salões tomou força no período do surgimento do lindy hop. Lindy, remete a
Charles Lindberg. Em 1927, este aviador realizou o primeiro voo transoceânico
sozinho, sem escalas, cruzando o Atlântico em seu The Sprirt of Sant Louis,
quando esta dança estava em seu auge. Hop, significa pulo, salto. A partir deste
momento, os passos aéreos teriam migrado para o rock and roll e o swing atual,
entre outras danças da linhagem norte-americana, inspirando danças com
origem em outras localidades.
No Brasil, alguns profissionais de dança de salão incentivaram, para
salão, o uso de uma mistura técnica com danças de natureza originalmente
cenográfica, como balé clássico, dança moderna e contemporânea,
eventualmente, introduzindo aéreos delas provenientes. Esta mistura gerou,
ainda, certa pasteurização das diferenças originais de algumas danças.
Um dos aspectos mais importantes do uso deste tipo de movimento em
salões comuns de dança diz respeito aos acidentes. Ao usar passos aéreos, a

70
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ocorrência e gravidade dos acidentes no salão ficam enormemente aumentadas.


Todos aqueles que em seus históricos tiveram algum contato com a prática
destes passos, já viram, conhecem casos ou sofreram acidentes. Não são
desprezíveis os registros de acidentes graves e lesões sofridas por praticantes
de danças que fazem uso de passos aéreos. Discorro mais detalhadamente
alguns casos no artigo “Breve histórico de comportamento de risco na dança de
salão”, publicado na Revista Dança em Pauta, coluna Dança & Comportamento,
no dia 23 de agosto de 2014. Alguns souberam amadurecer vivendo ou lendo
sobre estes acidentes.
Neste aspecto, é pertinente o alerta publicado pelo Clube da Gafieira:

Os “showzinhos de pista”: Além de atrapalhar o desenvolvimento da


dança, tornam-se perigosos aos companheiros de baile, pois
normalmente vêm acompanhados de passos aéreos que fatalmente
incorrerão em encontrões, chutes, tapas e atropelamentos

Ao decidir pelo uso de passos aéreos no salão, o cavalheiro e sua dama


precisam estar conscientes dos riscos, da conveniência e do que os motiva.
Muito frequentemente seu uso é feito por exibicionismo, para atrair sobre si a
atenção dos presentes, o que está em desacordo com os princípios elementares
de etiqueta.

Comportamento em salões acadêmicos e não acadêmicos

Não é de boa educação notar defeitos ou erros commettidos por


qualquer par, salvo em amizade ou se forem instados a fazel-o.

Alvaro Dias Patricio. Novíssimo e completo Manual de Dança,


Tratado Theorico e Pratico das Danças de Sociedade. Rio de
Janeiro. B. L. Garnier, Livreiro – Editor. 1890.

Os conceitos de salões acadêmicos e não acadêmicos se encontram no


glossário deste livro. Estes conceitos foram propostos no livro “Dança de salão:
conceitos e definições fundamentais”, que publiquei em 2013 pela Editora
Protexto.
Em um salão acadêmico, pratica-se a arte da dança de salão, modalidade
em que as características originais de cada tipo de dança são respeitadas.

71
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Dança-se distintamente samba, bolero, soltinho, salsa, tango, que possuem


diferentes origens geográficas.
O salão não acadêmico caracteriza-se pela prática do entretenimento da
dança social. Nesta modalidade, não se distingue tecnicamente uma dança de
outra na maioria das músicas, sejam elas samba, bolero, salsa, tango, forró ou
outras, fato bem exemplificado pelo uso generalizado do curinga (conhecido
como “dois e dois”).
A partir destes conceitos, vemos que todo o dançarino deve ter ciência da
diversidade de salões para evitar constrangimentos e perda da noção de seu
papel. Antes da primeira dança, é indispensável observar, notar as
características do salão e certificar-se de que sua dança é compatível com o
local.
Pode haver desconforto, por exemplo, quando dançarinos de escolas
estão em salões não acadêmicos. Mesmo se iniciantes ou inexperientes,
naturalmente destacam-se por dançar com técnica, diferente da maioria das
outras pessoas que, em geral, se restringem ao curinga. Neste momento, é
preciso sensibilidade para perceber como o público receberá este destaque que
pode intimidar ou constranger. Com a chegada da dança de salão às cidades
onde só existem salões não acadêmicos, é fácil ocorrer situações críticas. Sabe-
se de casos em que alunos de dança de salão, ao dançar de forma destacada,
provocaram a retirada dos outros participantes, encerrando o evento. Recado
muito claro: a exibição não foi bem-vinda. Ao ser notada alguma forma de
intimidação, aconselha-se respeitar a particularidade local e só dançar conforme
a característica do salão, ou retirar-se. Entretanto, se as pessoas do local se
mostrarem receptivas, é uma boa oportunidade para compartilhar as lindas
técnicas da dança de salão com o público leigo, talvez até, motivando as pessoas
a procurarem escolas.
O respeito ao salão precisa estar acima da sensação agradável, para
muitos, de ser notado. Esta sensação é muito perigosa quando mal
dimensionada. Corremos o risco de acreditar que temos uma qualidade técnica
superior à que de fato existe. Mais uma vez: é preciso sincera autocrítica para
dominar as próprias emoções e adotar um comportamento respeitoso com as
pessoas, seus objetivos e o próprio salão.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Tirando um par para dançar

Você me tirou para dançar de uma maneira insegura, com medo da


recusa, com o instinto de auto-proteção aguçado, e pensando que a
melhor defesa é o ataque. Relaxe! Se desarme. Se desfaça desse
clima tenso e pesado. Encare as coisas com a leveza que elas
possuem. Encare essa dança como uma simples, leve
e suave dança.

Verônica Monteiro. O descompasso da dança.


Petrolina, PE. O Divã Dellas. 19 de junho de 2012.

Antigamente, havia todo um ritual envolvendo o processo de tirar um par


para dançar. Em determinados locais, usava-se um lenço, em outros, indicava-
se até qual mão o cavalheiro deveria estender para convidar a dama e conduzi-
la ao salão. Hoje, a diversidade de salões é enorme. Vê-se de tudo: desde
convites tradicionais, até aqueles feitos com um significativo movimento de
cabeça. Este movimento, chamado “cabeceio”, comum em milongas de Buenos
Aires, é direcionado à pessoa pretendida que pode estar até do outro lado do
salão. É uma forma muito discreta e evoluída de evitar constrangimentos. Caso
o cavalheiro tente “cabecear” uma dama que não quer dançar com ele, ela
simplesmente não corresponde, evitando a situação de dizer não verbalmente.
Este é um código típico das milongas portenhas e suas réplicas espalhadas pelo
mundo, na prática, protege tanto cavalheiros quanto damas de situações
constrangedoras.
Nesta seara, nota-se até o extremo do cavalheiro simplesmente pegar o
par escolhido pela mão e “arrastar” para o salão, sem dizer uma palavra. Já
presenciei damas agindo da mesma forma com cavalheiros.
Um procedimento que geralmente agrada, é dirigir-se até o par e
perguntar se quer dançar, podendo oferecer a mão. Em sendo aceito o convite,
o casal segue tranquilamente ao salão para iniciar a dança.
Existem salões que trazem regras sobre a forma de tirar o par. Alguns,
utilizando a mesma estratégia de certas churrascarias de rodízio, distribuem
plaquetas para ficar sobre a mesa. A posição da plaquinha indica se a pessoa
quer ou não quer dançar, assim como os clientes da churrascaria indicam se

73
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

querem ou não ser servidos. Outros salões adotam métodos semelhantes para
demonstrar a intenção de dançar, como é o caso do uso de broches indicativos.
Quando a pessoa a ser convidada não pertencente ao rol de conhecidos,
vale a pena conferir se está ou não acompanhada. É preciso muito tato, por
exemplo, para convidar uma dama que está acompanhada do marido e vice-
versa. É prudente certificar-se sobre o tipo de salão em que se encontra, para
saber se não é uma gafe tirar para dançar alguém acompanhado. Se não for,
vale verificar qual seria a melhor maneira de proceder naquele lugar: solicitar ao
marido e depois para a dama ou pedir licença ao marido e, em seguida, convidar
a dama. Quando a pessoa que se deseja convidar faz parte de seu grupo e está
acompanhada, é apropriado pedir licença ao acompanhante. É muito
desagradável para um casal quando um dos dois é tirado para dançar,
ignorando-se seu acompanhante. Em turmas de amigos, ou conhecidos,
conforme a relação entre os partícipes do grupo, é possível tirar para dançar uma
pessoa acompanhada convidando-a diretamente, sem que esta atitude seja
constrangedora ou inconveniente.
Ao convidar alguém conhecido, mas não muito próximo, é inconveniente
iniciar a conversa com uma frase do tipo: “Lembra de mim?”. Se a pessoa
lembrar, tudo bem, não haverá constrangimento. Mas se não lembrar, gerou-se
um embaraço desnecessário. Caso queira identificar-se antes, é mais seguro
dizer algo como: “Sou o fulano, nos conhecemos no evento tal. Gostaria de
dançar?”.
É indispensável prestar atenção às características do salão, verificando a
forma adequada de proceder em cada caso. Havendo dúvida, é mais seguro não
tirar alguém para dançar nas circunstâncias aqui mencionadas, ou em outras
igualmente desconhecidas.

Negando uma dança

Só admito e até recomendo a recusa se o homem estiver bêbado,


sem asseio, todo suado, com a roupa descomposta, além de ter
fama de praticar assédio sexual. Também no caso de sua dança ser
grotesca, o que nada tem a ver com ser iniciante.

Milton Saldanha. Professor tem que dançar com aluno em baile?


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho de 2007.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

É muito difundida uma regra pasteurizada para todos os salões: nunca se


deve recusar uma dança. Seria uma das maiores gafes que podem ser
cometidas. Há quem diga, a mulher que recusa uma dança ficará malvista,
podendo não ser mais convidada pelo cavalheiro recusado nem pelos que
notaram o ocorrido.
Esta premissa tem explicações históricas e pode estar relacionada ao
pagamento por danças e não à etiqueta propriamente dita. Vimos que existem
salões com regras próprias sobre poder ou não convidar qualquer participante
do evento. Possivelmente, em situações normais esta regra merece mesmo ser
considerada, já que é bem formalizada na literatura.
Entretanto, convém lembrar de algumas exceções.
Num salão em que se usa um dos citados indicativos de querer ou não
dançar, o deselegante é o convite a quem demonstrou não querer dançar e não
a recusa.
Um cavalheiro que convida uma dama para dançar estando embriagado,
malcheiroso ou visivelmente mal-intencionado, agride qualquer norma de
etiqueta e merece ter seu convite recusado. Também as damas que tiram
cavalheiros para dançar em condições similares estão infringindo as regras
elementares da etiqueta. Cavalheiros que corrigem damas em pleno salão,
dançam no centro e desconsideram diferenças de linhas técnicas também
autorizam as damas que assistem sua conduta a negar convites para dançar.
Para termos certeza de negar ou não um convite para dançar, devemos
observar o comportamento de quem convida. Se em algum momento foi
desrespeitoso, isto por si só, justifica a recusa. Sobre isto, é interessante ler o
artigo “Autorizada a dizer não”, publicado em 22 de setembro de 2014 no blog
“Dança de salão e seus saberes”, no qual discuto algumas condutas de
cavalheiros neste sentido. Em certos casos, recusar uma dança é demonstrar
que não está disposto a compactuar com o descaso de quem convida.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Mulheres cavalheiros e homens damas

Parece-me ainda que a questão mais crucial é que o homem, quando


conduzido, terá que criar um passo viril, diferente do adorno
feminino, sobretudo nos movimentos que envolvam certa
sensualidade. (...) Seria realmente ousado, inovador, revolucionário.
Alguém tem coragem para se habilitar?

Milton Saldanha. Mulheres no comando da condução.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho de 2006.

Não é recente a questão de casais dançantes serem formados por


indivíduos do mesmo sexo. Podemos comprovar este fato apreciando o registro
histórico deixado pelo pintor Henri de Toulouse Lautrec, na tela “Duas mulheres
bailando no Moulin Rouge”, datada de 1892. O quadro retrata a imagem de duas
damas dançando juntas, uma adotando a posição do cavalheiro e outra a da
dama.
Saber se esta atitude desrespeita a etiqueta passa por conhecer o local e
o público que o frequenta. Há salões em que tal prática é proibida, como mostra
o Estatuto da Gafieira. Mas há locais em que é permitida. Mesmo não havendo
uma proibição explícita, pode não ser conveniente em determinados salões.
Cada dançarino deve procurar conhecer o local, as regras e a receptividade dos
presentes quando deseja dançar com um par do mesmo sexo.
Lembremos, ainda, que o simples fato de uma pessoa dançar com alguém
do mesmo sexo não precisa ter, necessariamente, relação com sua sexualidade.
Já ocorreu de, em um casamento, ter dançado com minha irmã e, dias depois,
sabermos que houve quem perguntou se éramos lésbicas. Em novembro de
2011, publiquei o artigo “A heterossexualidade da dança de salão” na Revista
Dança em Pauta e, em 2007, no livro “Sexo e dança de salão”, incluí um capítulo
sob o mesmo título, porém, sob uma abordagem diferente, como segue.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Deux femmes dansant au Mulin-Rouge, obra de 1892 da autoria de Henri de


Toulouse Lautrec. Obra localizada na Galeria Nacional de Praga.

A heterossexualidade da dança de salão

Uma vez que abordamos a questão das naturezas, opções e preferências


sexuais, cabe discutir brevemente a heterossexualidade da dança de salão.
Esta atividade foi concebida tendo como personagens o masculino e o
feminino. Desta forma, percebemos uma natureza heterossexual na
expressividade da dança de salão. A importância do olhar artístico desvinculado
de sua origem relacionada ao sexo já é discutida na literatura. Este olhar
permitirá que a dança de salão mantenha sua natureza heterossexual somente

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

em sua expressividade. Isto sem que, necessariamente, seus atores sejam


enquadrados nos personagens em virtude de seu próprio sexo ou de suas
naturezas, opções ou preferências sexuais.
Neste sentido, é possível entender duas mulheres ou dois homens
dançando dança de salão juntos, sendo que um deles exerce o papel do
cavalheiro e outro da dama. Será possível entender também uma mulher
exercendo o papel de cavalheiro ao conduzir um homem que exerce o papel de
dama e vice-versa.
Uma prática de dança de salão pautada nesta liberdade deveria ser
absolutamente independente da vida sexual dos atores que interpretam papeis
de dama e cavalheiro. Mas ainda não é. A liberdade de uma mulher dançar no
papel do cavalheiro, seja com um homem, seja com outra mulher e vice-versa,
deveria ter seu espaço, uma vez que a dança de salão, hoje, é uma arte e não
um ritual de acasalamento para cópula. E mesmo se fosse, a questão mereceria
ser revista, considerando que estamos em busca de reduzir oportunidades para
o preconceito.
Situações assim não são plenamente aceitas em salões de bailes,
possivelmente porque ainda não estamos preparados para separar sabiamente
a dança de salão do sexo. Como a sociedade resiste para aceitar e respeitar
toda e qualquer natureza, opção e/ou preferência sexual, também tem
dificuldade em quebrar o tabu de que a heterossexualidade dos personagens da
dança de salão deva ser obrigatoriamente estendia a seus atores.
Mais uma vez, é uma discussão muito polêmica. Entretanto, esta questão
de sexo, sexualidade e gênero merece ser pensada.
Precisamos pesquisar, estudar, entender os bailes homossexuais,
heterossexuais e outros, compreender a sociedade e respeitar todas as
naturezas, opções e formas de pensamento que não sejam insalubres. Assim,
poderemos elevar a dança de salão do patamar de ritual de acasalamento para
o status de arte.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Assédio

A dança é uma atividade sensual e que facilita a aproximação. É


também um fator de sedução; assim, é natural que possam pintar
relacionamentos, até mesmo de ocasião. Nada é mais chato do que
um moralista frustrado. Mas também nada é mais insuportável do
que uma pessoa inconveniente e abusiva. Tudo deve ser decorrência
de um processo natural e é preciso um mínimo de sensibilidade para
sentir se há receptividade por parte do outro, se o outro está a fim,
como se diz na gíria. E tem de haver ética, sim senhor.

Rubem Mauro Machado. Cantada, assédio e sedução.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Maio de 2006.

O assédio é uma realidade nos espaços de dança de salão, a ponto de já


ter até sido retratado. Uma pintora portuguesa contemporânea, pintou em 2007
uma tela chamada “Dança Nocturna”, em que aparece uma dama de costas e
seu cavalheiro colocando, nitidamente, uma das mãos em seus glúteos.
É muito fácil a prática da dança de salão ter envolvimento com sexo.
Podemos usar a dança de salão para preliminares sexuais, terapia sexual para
casais e indivíduos, estratégia de educação sexual e tudo mais que formos
capazes de conceber. E ambos, a dança e o sexo, podem ser utilizados da forma
mais pura e profunda, se assim o quisermos. Praticando a dança de salão
tecnicamente, também podemos fazê-lo de modo a não ter nada a ver com sexo.
Seja como estratégia educacional, como forma de exercício físico, recreação,
lazer, entretenimento, sociabilização. Quando, e se desejarmos, escolheremos
qualquer das formas, porque chegamos ao ponto de libertar a arte do sexo.
Por isto, é importante que cada praticante ou aluno de dança de salão
tenha muito claro o que deseja para si e tenha certeza que os locais também
sejam adequados às suas finalidades. É o caso do Estatuto da Gafieira, que
proíbe até mesmo “beijar demoradamente” no salão. Esta clareza evita que uma
pessoa objetive um relacionamento afetivo, ou mesmo sexo, enquanto a outra
quer apenas vivenciar a arte da dança de salão. Estes dois objetivos, ambos
válidos, podem ser conflitantes e resultar em situações que desrespeitam a
etiqueta.
Assédio no salão pode ser muito inconveniente. Se houver dúvida quanto
aos objetivos da outra pessoa, recomenda-se que nenhuma investida mais
ousada seja feita.
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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Alimentação e bebida

Jamais dance segurando copo, muito menos garrafa ou latinha.

Milton Saldanha. Dicas de elegância.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho de 2010.

Nos eventos dançantes, via de regra há consumo de bebida ou alimento.


A reidratação é importante ao dançar, mas é extremamente deselegante levar
alimentos, garrafas de bebida ou copos para a pista de dança.
Comer demais no salão, ou mesmo antes, também pode trazer problemas
bastante desagradáveis. É prudente alimentar-se antes, de forma comedida e
apropriada, de acordo com a intensidade do exercício que virá depois. Para
quem quiser aprofundar-se neste assunto, recomendo mais dois artigos de
Izabela Lucchese Gavioli na Revista Dança em Pauta. O primeiro, do dia 07 de
fevereiro de 2012, aborda o tema de forma brilhante: “O que comer antes de
dançar?”. O segundo, de fevereiro de 2013, intitulado “O que comer após praticar
dança de salão?”, traz a ideia da “reeducação alimentar dançante”, ressaltando
a importância, por exemplo, da hidratação.
Em vários locais de dança servem-se petiscos como batatas fritas,
bolinhas de queijo, polentas e aipins fritos, camarão à milanesa. Nestes casos,
pode ser recomendável o uso do palito para se servir. Não havendo palitos, é
aconselhável proteger as mãos com guardanapos antes de pegar o alimento.
Conforme o local, servir-se de batatinha frita diretamente com os dedos não é
inconveniente, mas as mãos precisam estar bem desengorduradas para dançar.
Estas situações também são frequentes em eventos dançantes acompanhados
de churrasco, onde são servidas as tão saborosas quanto engorduradas
linguicinhas... Muitos utilizam as próprias mãos para mergulhá-las na farinha
antes de comer. Assim, além da gordura, tem-se os dedos recobertos de farinha
que, inevitavelmente, serão lambidos. As mãos que tocaram diretamente os
alimentos são as mesmas mãos que tocarão o par. Portanto, é recomendável
lavá-las, logo após terminar de comer.
Outro item que merece muita atenção é a bebida alcoólica. Seu uso no
salão precisa ser comedido. A embriagues é extremamente deselegante e uma

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

das piores agressões aos frequentadores e à etiqueta dos bons salões de dança.
Não sendo possível resistir à bebida, consultar um médico será de grande valia
e, conforme o caso, outros tipos de auxílio poderão ajudar muito, como as
reuniões dos Alcoólicos Anônimos.
É muito simples acatar a etiqueta em um salão de dança: basta manter
atitudes discretas, sem cometer qualquer tipo de exagero e respeitar os outros.

Cantar e falar durante a dança

Quando se dança o que interessa é a sintonia entre os dois, a


atenção na música e o se deixar levar pela emoção. Quanto mais
emoção, melhor se dança. Qualquer conversa quebra isso tudo.

Milton Saldanha. Dicas. São Paulo, SP. Jornal Dance. Setembro de


2008.

Antigamente, durante a prática das danças de baile, a conversa era


admitida. Hoje, os melhores salões de dança são projetados para que os
dançarinos ouçam, prioritariamente, a música e depois, para que as pessoas em
suas mesas possam conversar e ouvir clara e confortavelmente seus
interlocutores. Em um bom salão, cada detalhe foi meticulosamente pensado.
Os autofalantes, criteriosamente posicionados, não atrapalham a conversa de
quem está nas mesas e também favorecem a audição dos dançarinos. Cuidados
como estes atribuem excelência a um salão de dança.
Há ocasiões, no entanto, em que a música no salão é tão alta que manter
uma conversa minimamente agradável torna-se tarefa quase impossível.
Perguntas obrigam o interlocutor a falar muito mais alto para poder ser ouvido,
espargindo gotículas salivares na face do par e, igualmente, recebendo-as de
volta na resposta.
A mesma recomendação é válida para quem costuma cantar durante a
dança, especialmente quando é difícil identificar a canção:

olou intesdei... efauoseneuei... ueniscai sgrei... California crimis...

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Nem todos gostam de ouvir seu par cantando, ou pior ainda,


tartamudeando sons incompreensíveis... A prudência e a etiqueta recomendam
evitar tal atitude.

Celular

No caso do celular ainda não existe uma forma para usá-lo


elegantemente. Já ser deselegante com ele é muito fácil.

Matarazzo, Claudia. Ainda o Celular! São Paulo, SP. Sem frescura.


Uol. Sem data, acesso em 20 de agosto de 2013.

O telefone celular ainda é uma novidade tecnológica e, como acontece


com tudo que é novo, precisamos nos adaptar. Os manuais de etiqueta mais
tradicionais não abordam esta questão. Remontaremos, então, aos princípios
basilares da etiqueta, para indicar sugestões de como usar educadamente o
celular. A ideia central da etiqueta é o respeito ao próximo. Assim, de início, já
entendemos ser de bom tom que nosso celular não incomode quem está em
nossa companhia. Nem todos gostam de toques altos, de humor duvidoso ou
demasiadamente agitados.
Ao dançar, é bastante desagradável quando um dos dançarinos usa o
celular. A maior parte das situações que levam um telefone a tocar nos permite
aguardar dois ou três minutos, até que a música termine. Podemos, então,
retornar tranquilamente a ligação ou a mensagem.
Também não é agradável interromper uma conversa por causa de um
toque de celular. Mais inconveniente ainda, se a interrupção acontecer várias
vezes na mesma conversa. Sendo mesmo indispensável usar o celular, nos
desculparemos, atendendo rápida e discretamente ao que for necessário. Se isto
se repetir, nos desculparemos novamente, nos afastando do local até estarmos
certos de que não será necessário interromper a conversa pela terceira vez.
Ao nos ocuparmos enviando mensagens, acessando redes sociais ou
praticando outras ações semelhantes, refletimos descaso com nossos
interlocutores. O uso do celular com estas atividades quando estamos em
convívio social, isola as pessoas do entorno, passando a impressão de que elas
são pouco ou menos importantes. Este comportamento deve ser enfaticamente

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

evitado. Se for assunto urgente, melhor pedir licença e afastar-se, até que a
questão seja resolvida. No retorno, não esquecer de desculpar-se com grupo.
Toques discretos, ou apenas a vibração, são mais elegantes. O celular é
de uso particular. Seus sons e toques não precisam ser ouvidos por ninguém
mais que seu dono. Profissionais como médicos, jornalistas, negociantes,
policiais precisam manter o celular ligado o tempo todo. Assim, basta configurar
corretamente o aparelho, não sendo necessário desligá-lo em atividades
coletivas.

Etiqueta para casais

Vou falar que para mim quem deixa as coisas muito no público é
porque falta muito na privacidade

Iago Annes. Dose dupla: casais melosos. O que eles pensam.


Juiz de Fora, MG. Isabela Freitas. 20 de maio de 2012.

A intimidade que existe entre um casal o deixa, naturalmente, mais à


vontade. Há casos de casais que saem para dançar e acabam brigando no salão.
Além de deselegante, é constrangedor para uns, embora possa parecer
engraçado para outros. Os problemas que o casal tem precisam ser resolvidos,
sim, mas não numa pista de dança. O salão favorece tanto os encontros quanto
os desencontros afetivos dos casais e acaba se constituindo no palco de seus
acertos ou desacertos. Uma inocente crítica a determinada condução ou à sua
resposta pode desencadear um espetáculo degradante. Não é incomum,
também, ver a dança de salão misturar-se a outros aspectos da vida dos
dançarinos.
Nem sempre o que é constrangedor se resume a uma briga ou uma
discussão. Um pouco de atenção nos permite observar a enorme diversidade
dos relacionamentos entre casais.
Há aqueles em que um domina e outro se submete. Independentemente
de ser o cavalheiro ou a dama, o dominante tende a dar ordens, chamar para si
triunfos eventuais, responsabilizar o outro por erros ocasionais. Em casos mais
graves, chega a pedir apoio a suas críticas, ou aplausos a seu pretenso sucesso.
Existem casais que dividem ou alternam a dominância. E então, ouvimos

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

em alto e bom som, frases como: “você sempre quer mandar em mim”, ou “você
nunca me obedece”. Uma das principais recomendações da etiqueta no salão:
nunca erguer a voz, especialmente com seu par.
Movimentos bruscos e agressivos são mais inapropriados ainda. Sugere-
se “manter a classe”, sustentar os sorrisos até deixar o salão. A intimidade de
seu lar é o local mais adequado para resolver produtivamente suas diferenças.
Uma dica valiosa, especialmente quando lidamos com pessoas muito
próximas e com as quais temos bastante liberdade: imagine dizer a mesma
coisa, e no mesmo tom, para um chefe, amigo, ídolo ou uma criança. Se esta
projeção trouxer qualquer desconforto, é sinal que a pessoa da nossa intimidade
merece tratamento mais delicado.
Há também dançarinos que, ao dançar com um par eventual, criticam seu
par habitual, queixando-se e expondo desnecessariamente seu parceiro
permanente. Também há os que elogiam demasiadamente seu par habitual, o
que pode soar como crítica ao par eventual. É preciso sensibilidade. Na dúvida,
melhor não dizer nada. Não é agradável, em qualquer circunstância, dançar com
alguém que fica elogiando ou criticando outro dançarino, especialmente se quem
está fazendo isto é a pessoa que escolhemos para partilhar nossa vida afetiva.
Sempre é prudente pensar como nosso par do momento se sentirá com o
comentário que pretendemos fazer, imaginar como nos sentiríamos se
ouvíssemos do outro o que intencionamos dizer. A partir do que sentimos,
saberemos se não é melhor ficar em silêncio...

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

EGO

Certa vez Nanci comentou comigo que não se sente bem em


determinados círculos por causa da postura arrogante de alguns
professores e dançarinos, que se acham os tais. São tão mal
servidos de neurônios, que medem os outros pela qualidade da
dança e não pelo conjunto da obra, que pressupõe no mínimo uma
conversa aproveitável.

Milton Saldanha. Nanci, Domingos e a pequena Escola Baile.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Maio de 2006.

Este é um dos aspectos mais delicados a ser abordado quando falamos


de etiqueta no salão. Diz respeito ao conhecimento exato do que se é, do que é
um salão e do nosso objetivo ao participar dele. As distorções sobre o que se
pensa a respeito do que é um salão e a incompatibilidade entre os objetivos do
frequentador e o salão podem levar o ambiente da dança a situações indigestas.
É absolutamente relevante a noção que o dançarino tem de si mesmo.
Esta questão já vem sendo frequentemente discutida na literatura. Na realidade,
muitos não veem na dança de salão um simples e puro entretenimento ou a
apreciação de uma arte, mas uma forma de se compensarem por algo que lhes
faltou durante a vida. Comumente, estes dançarinos dançam olhando para os
demais presentes, não para seu par. E, não raro, sua expressão os delata. Ao
notarem que são observados, revelam claramente sua satisfação. Da mesma
forma, se percebem que não estão chamando a atenção, demonstram visível
decepção.
Existe um termo que parece especialmente apropriado para definir
pessoas com estas características: narcisista. Narciso, da mitologia grega, era
muito belo e ao ver seu reflexo em uma fonte, apaixonou-se por si mesmo,
tornando-se incapaz de amar outro. Alguns profissionais da área de psicologia
usam o termo “narcisismo” para referir-se ao paciente que, de tanto admirar-se,
só não é indiferente a quem o nota e admira.
Vejamos detalhadamente como isto pode se manifestar na dança de salão
e, para finalizar, sugerimos a prática da Reflexão: quem é você na dança de
salão?, proposta ao final deste livro.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Narzis, de Caragaggio (1573-1610). Óleo sobre tela datada entre 1594 e 1596. Localização da
obra: Galleria Nazionale d´Arte Antica, Roma, Itália.

Passos aéreos

Nada contra quem se acha o rei da cocada preta. Desde que respeite
o espaço coletivo. Em pista cheia não dá para fazer show, muito
menos movimentos perigosos, que possam atingir alguém.

Milton Saldanha. Podemos melhorar o baile! É simples, indolor e não


se gasta dinheiro. Basta bom-senso, educação, respeito ao parceiro
e ao espaço coletivo. São Paulo, SP. Jornal Dance. Agosto de 2009.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Ao longo de muitos anos, observando e lendo sobre o assunto, foi possível


notar que o uso de passos aéreos no salão é, muito frequentemente, um dos
comportamentos que mais evidenciam o descompasso entre as finalidades do
indivíduo e do salão. Falamos aqui, da maioria dos bailes que ocorrem no país.
Bailes comuns, nos quais a realização de passos aéreos é, definitivamente,
inapropriada. Eventos especializados em determinado gênero de dança que
inclui passos aéreos são, estatisticamente, insignificantes no contexto geral dos
bailes do país. Historicamente raríssimos, serão aqui desconsiderados.
Nos bailes comuns, casais que praticam passos aéreos, em geral, estão
buscando uma forma de serem observados, de trazerem para si a atenção dos
presentes, como se estes fossem uma plateia. Isto é característica do palco, não
do salão. Quando isto acontece, há uma perda significativa dos objetivos mais
nobres de um salão. A concentração no par fica fragmentada, passa para
segundo plano e a dança a dois, que é uma das essências do salão, se dilui.
Sugere-se, portanto, que os passos aéreos não sejam praticados nos
salões aqui referidos. Devem ficar restritos aos raros eventos no contexto global
da dança de salão, onde dançarinos experientes, acadêmicos, profissionais ou
semiprofissionais executam determinadas danças que comportam acrobacias,
desde as raízes mais remotas de sua origem.
Para saciar a necessidade de ser notado, admirado e ovacionado, o que
por si só não implica em um problema maior, o melhor é buscar o espaço cênico.
O palco é o local apropriado e mais fácil de compatibilizar com estas
necessidades.

Acadêmicos que se destacam no salão não acadêmico

Como porem as maiorias é que muitas vezes fazem a lei em um


baile, devêmo-nos conformar com as suas decisões...

Alvaro Dias Patricio. Novíssimo e completo Manual de Dança,


Tratado Theorico e Pratico das Danças de Sociedade. Rio de
Janeiro. B. L. Garnier, Livreiro – Editor. 1890.

Este fenômeno pode ser notado quando um dançarino que vem de uma
escola de danças vai a salões leigos. Quando a pessoa se dá conta de que
outros acham sua dança melhor em um determinado grupo, mesmo que este

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

grupo seja leigo ou iniciante, sente-se detentora de um “poder”, de uma


sensação de superioridade. É um ponto crítico do processo de vivência com a
dança de salão, que para algumas destas pessoas resulta na perda da noção de
seu papel social. O fato de se destacar, receber elogios, de ver que as pessoas
o olham e admiram, pode gerar uma ideia distorcida da sua própria dança, o que
é muito comum entre adolescentes ou pessoas mais vulneráveis.
É interessante lembrar: destacar-se perante pessoas que desconhecem
a técnica não significa, necessariamente, que dançamos bem. Significa, apenas,
que fazemos algo diferente do que ocorre habitualmente no local. Chamar a
atenção, receber elogios nestas circunstâncias, não é parâmetro confiável para
avaliar nossa própria dança. Ser admirado é bom. Todas as pessoas têm
necessidade de reconhecimento. Mas o problema está em sair do padrão de
normalidade, trazendo desconforto ao salão. É fácil perder a noção sobre nós
mesmos quando nos distanciamos do contexto amplo da dança de salão.
Para uma autoavaliação mais consistente, recomenda-se frequentar os
salões acadêmicos. As principais cidades foco de irradiação de dança de salão
do país oferecem diversas opções. Nestes locais, a maioria das pessoas
conhece tecnicamente a dança de salão e é possível perceber se a dança do
indivíduo é um destaque, tratando-se, realmente, de exímio(a) dançarino(a).
Perder a noção de si próprio leva o dançarino a se expor
desnecessariamente e cometer gafes, transgredindo normas de etiqueta. Pior
ainda se, seguro de uma supremacia ilusória, se sente apto a dar aulas. Sem
conhecimento e preparo adequados, dificilmente será um bom professor. Por
falta de uma correta autoavaliação, além de perder a oportunidade de aprender
com bons professores, estará fadado à estagnação.
O atendimento rigoroso à etiqueta inicia com a noção correta de nossa
condição técnica. A partir desta noção, adequaremos nossa dança ao ambiente,
sem constranger ou intimidar ninguém. Existem locais apropriados para exibir-
se: os palcos ou os salões de competição. E também os momentos e ambientes
privativos, para dançarmos o quê e como quisermos, sem agredir, humilhar ou
inferiorizar ninguém.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE IV

ETIQUETA NO SALÃO
INTRODUÇÃO À ETIQUETA NO SALÃO DE DANÇA

CADA SALÃO UMA CONDUTA

ETIQUETA AMBIENTAL NO SALÃO DE DANÇA

ETIQUETA NOS SALÕES QUE SERVEM REFEIÇÕES

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE IV

ETIQUETA NO SALÃO

INTRODUÇÃO À ETIQUETA NO SALÃO DE DANÇA

Engana-se quem achar que elegância é apenas se vestir e


dançar bem. Uma pequena atitude, um minúsculo detalhe,
pode detonar sua imagem.

Milton Saldanha, no artigo “Dicas de elegância”. Jornal


Dance. Junho, 2010.

Muitas escolas relacionam itens gerais sobre o que deve ser respeitado
nos ambientes sociais em que há prática de dança, desenhando o que seria a
etiqueta nos salões da atualidade.
Entretanto, um dos livros brasileiros mais antigos que trata deste assunto,
“A arte da dança de sociedade”, de Lúcio Borelli, teve a primeira edição publicada
já em 1846. Esta edição foi seguida por cerca de uma dezena de outras, até o
início do século XX. Não é um livro de etiqueta para a dança de salão, mas no
primeiro capítulo, elencam-se regras de salão como:

 Manter a circulação;
 Evitar choques entre os casais;
 Atentar à elegância da postura e leveza ao dançar;
 Cuidar do asseio;
 Ter educação nas palavras e gestos;
 Seguir mesuras no ato de convidar a dançar;
 Adequar os movimentos ao salão de baile.

O autor chega a abordar a importância dos sorrisos a serem trocados


entre o casal durante a dança. Estas orientações são reforçadas por outros

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

autores como, por exemplo, Maria Amália Corrêa Giffoni. Em 1971, ela publica
na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, o trabalho “Considerações
históricas sobre as danças sociais no Brasil”, acrescentando ainda outras
informações. Como resultado de entrevistas com pessoas que frequentavam
bailes regularmente, o trabalho da autora constata que estas regras incluíam:

 O cavalheiro tirar um lenço do bolso para convidar a dama a


dançar;
 No salão, as mulheres ficarem de um lado e os homens de outro;
 O carnet (nome usado em São Paulo para uma espécie de quadro
de avisos, geralmente luminoso) indicar se são os cavalheiros ou
as damas que devem tirar seus parceiros para a próxima dança;
 Não recusar uma dança;
 Não fumar;
 Moças muito jovens não deviam dançar a valsa, reservada a
mulheres casadas ou de mais idade;
 Deve-se evitar batidas entre os casais e manter a ronda;
 Atentar à boa postura;
 Não fazer passos que ofereçam qualquer perigo aos pares
vizinhos.

Estes documentos históricos, e muitos outros, objetivam mostrar ou


orientar o comportamento nos ambientes de dança.
Mas a realidade nos mostra que o assunto permanece atual, uma vez que
listar todas as atitudes comprometedoras da etiqueta no salão de dança ainda é
um desafio colossal.
Algumas iniciativas merecem reflexão, simplesmente por se constituírem
em regramentos definidos para atribuir organização específica a determinado
salão de dança. Possivelmente, um dos exemplos mais conhecidos é o Estatuto
da Gafieira, no Rio de Janeiro que abrigou por décadas a sede do governo
federal. A cidade tornou-se, naturalmente, um foco irradiador de parâmetros
culturais, assim, a cópia que as classes humildes fizeram das danças europeias
praticadas pela alta sociedade levou a modificações na forma de dançar. Os

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

estilos genuinamente brasileiros surgiram como manifestação da mais pura


criatividade. O mesmo ocorreu com as regras de etiqueta dos mais diversos
salões de dança.
Uma busca eletrônica realizada em 16 de maio de 2012 no Google,
fazendo uso dos unitermos “dançar”, “dança de salão” e “estatuto”, trouxe, já em
seus primeiros três resultados, referências a dois estatutos de salões de dança.
O Estatuto da Gafieira, originário da cidade do Rio de Janeiro, aparece em
primeiro e segundo lugares e o Estatuto do Café Dançante Piegel, casa
localizada na cidade de Curitiba, em terceiro lugar.
Não foram encontradas referências a estatutos de outros salões de
danças nas primeiras páginas de resultados desta busca. Por isto, os dois
estabelecimentos citados serão brevemente discutidos na sequência. O leitor
poderá fazer diversas outras buscas, usando inclusive outros unitermos.

Estatuto da gafieira

Moço, olhe o vexame


O ambiente exige respeito
Pelos estatutos da nossa gafieira
Dance a noite inteira
mas dance direito

Trecho de letra da música Estatutos da Gafieira, primeiro sucesso de


William Blanco Abrunhosa Trindade (Billy Blanco, 1924-2011),
lançada em 1954 pela RCA Victor, na voz de Inezita Barroso.

Inúmeros programas de televisão, incluindo novelas, apresentaram ao


público de todo o país as características das gafieiras. Desta forma, tornaram-se
mais conhecidas que outros ambientes menos emblemáticos para a prática de
dança de salão.
No espaço eletrônico de uma das mais tradicionais gafieiras, a
Estudantina Musical, sob o título “Nossa história” lê-se:

A Gafieira Estudantina foi fundada na década de 30, mais


precisamente em 1931, na Rua Paissandu, no bairro do Flamengo. Os
fundadores foram Manoel Gomes Matário, em sociedade com o
estudante de Direito chamado Pedro, daí o nome Estudantina. Anos
mais tarde foi transferida para a Praça José de Alencar, no bairro do
Catete, onde permaneceu até a década de 40. Em 1942 foi transferida

92
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

para a Praça Tiradentes, número 75, sendo, a estas alturas, os donos:


Lino de Souza e Manoel Jesuíno.
A reconstrução da ambiência urbana voltada para a dança social na
Estudantina Musical, salão considerado um dos mais tradicionais do
Brasil, situado à Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro,
constitui o cerne desta etnografia, identificando suas práticas
cotidianas. Ao possibilitar um encontro singular entre os africanos, os
músicos das orquestras, os funcionários e a administração do negócio
familiar, a cargo de seu proprietário galego-espanhol, a Gafieira
Estudantina torna-se palco de uma hospitalidade altamente elaborada,
a partir de um sofisticado quadro de regras explícitas e implícitas.

Hoje, parte destas regras são conhecidas como “Estatutos das Gafieiras”.
O Jornal Dance News, número 70, datado de março de 2006, informa que Isidro
Page Fernandez, como proprietário da gafieira “Estudantina Musical”, teria
escrito este documento. No citado endereço eletrônico da Estudantina Musical
há uma foto da placa, afixada na entrada do estabelecimento, contendo o que
se denomina “Estatutos da Gafieira”. A foto é da autoria de F. B. Veiga, datada
de 2 de junho de 2010. Este documento, cujo conteúdo reproduzimos abaixo,
traz em detalhes o que pode e o que não pode ser feito no ambiente de uma
gafieira.

AOS CAROS FREQUENTADORES

A presença de vocês é primordial, tudo aquilo que vamos relatar é de


grande importância, para que os nobres amigos possam permanecer
à vontade. Não queremos ser radicais nem inoportunos, o que
queremos é que todos sintam-se bem e anseiem voltar à Estudantina
Musical.

Art. 1- Não é permitida a entrada de Cavalheiros:


A) de camisetas sem mangas
B) de bermudas
C) de chinelo de qualquer tipo
D) alcoolizados
E) chapéu ou qualquer objeto que cubra toda a cabeça.

Art. 2- Não é permitida a entrada de Damas:


A) de shorts ou bermudas curtas
B) camiseta tipo regata
C) chinelos de qualquer tipo
D) chapéu, lenços tipo turbantes ou qualquer objeto que cubra a
cabeça, fazendo parte ou não da indumentária

Art. 3- No salão não é permitido:


A) uso de bolsa tira-colo grande ou pequena
B) portar cigarro aceso na pista de dança

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

C) entrar na pista de dança com copos e garrafas com exceção dos


garçons
D) dançar mulher com mulher e homem com homem.

Art. 4- No interior da gafieira não é permitido:


A) beijar demoradamente ou escandalosamente
B) Cavalheiro colocar Dama no colo ou vice versa
C) provocar confusões
D) berrar, gritar ou gesticular exageradamente
E) colocar os pés ou subir nas mesas e cadeiras sob qualquer
pretexto
F) não é permitido dançar espalhafatosamente, incomodando os
demais dançarinos.

Art. 5- A desobediência de qualquer um dos artigos citados do


presente estatuto poderá implicar nas seguintes sanções ao infrator:
A) advertência verbal
B) retirada do recinto
C) suspensão a critério do dono da casa.
Parágrafo Único: trajar aos freqüentadores desta gafieira: passeio ou
esporte fino gosto.

E assim conseguirá divertir-se em um ambiente onde poderá trazer


familiares e amigos, tendo a certeza de que você é, na Estudantina,
um baluarte do respeito e do prazer

É excelente exemplo de um conjunto de regras de etiqueta. Detalha o que


cavalheiros e damas podem e não podem fazer, o que é proibido no salão e no
interior da gafieira. Interessante notar que, neste conjunto de normas, é
estabelecida até a punição a quem as descumprir.
Merece destaque o fato de que os objetivos dos estatutos constam no
próprio documento: “para que os nobres amigos possam permanecer à vontade”;
“o que queremos é que todos sintam-se bem”; “e assim conseguirá divertir-se”.
Os textos deixam claro o que entendo como princípio da etiqueta para dança de
salão: respeito pelo salão e pelo outro.

Estatuto Café Dançante Piegel

Quem dança a dois precisa aprender a interagir com outras


pessoas, romper padrões de comportamentos, lidar com seus
erros e com os erros dos outros. Um exercício de diplomacia e
tolerância, que releva limites e potencialidades que,
geralmente, ficam escondidos dentro de cada um.

Kreice Granzotto Casarri. Os benefícios da dança de salão.


Todo Composto. 17 de fevereiro de 2010.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Em Curitiba, existem alguns locais amplamente conhecidos para se


dançar. Um deles, “PIEGEL, Café Dançante”, desde 2007 tem se solidificado
como referência para dança de salão. É um café dançante que ostenta regras
muito específicas, reunidas sob o título de “Estatuto”:

O “PIEGEL Café Dançante” tem como objetivo encantar seus clientes,


oferecendo-lhes um ambiente saudável e familiar, percebido na
cortesia de seus funcionários, no cavalheirismo de seus instrutores de
dança, na qualidade e variedade dos produtos de seu reconhecido
buffet.
O traje adequado é Passeio ou Esporte Fino.

 Em nosso ambiente não é permitido berrar ou gritar;


 Provocar confusões;
 Trocar beijos e carícias escandalosamente.

Art. 1º. Não será permitida a entrada de Cavalheiros:

 Com camisetas sem mangas (regata);


 Com bermudas;
 De chinelos;
 Alcoolizados;
 Com camiseta de time de futebol ou torcidas organizadas;
 Com chapéu, boné ou gorro (ou qualquer outro objeto cobrindo a
cabeça).

Art. 2º. Não será permitida a entrada de Damas

 Com mini ou micro saia;


 De chinelos;
 Com shorts curtos;
 Com mini blusa ou top.

Art. 3º. Na pista de dança não é permitido:

 Dançar mulher com mulher ou homem com homem;


 Crianças dançando sozinhas ou correndo;
 Ficar em pé ao redor da pista esperando para dançar (o dançarino
buscará a Dama em sua mesa);
 Dançar espalhafatosamente, incomodando os demais ou batendo
nos outros (cabe ao Cavalheiro evitar esbarrões ou trombadas).

Atenção Damas:

 Cuide com o salto alto, para não machucar as pessoas dançando;


 Os Instrutores não tem permissão para sentar a mesa com as
clientes (faz parte do profissionalismo);
 Use shortinho por baixo da saia ou vestido, para evitar
constrangimento nos giros da dança;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 Se os Instrutores não estiverem passando em sua mesa,


comunique ao Gerente indicando o número da sua mesa (certifique-
se que o seu Cartão esteja VERDE);
 Não aceite ser deixada na pista após a dança, o Instrutor deve
conduzi-la até sua mesa;
 Os Instrutores não podem dançar mais de uma música seguida
com a mesma Dama;
 Os Instrutores trabalham por setores nos salões, portanto, não
puxe o Instrutor pelo braço, para dançar;
 Qualquer conduta incompatível dos dançarinos deve ser
comunicada a Gerência.

É mais um excelente exemplo do regramento de etiqueta. Também


detalha o que cavalheiros e damas não podem fazer, o que é proibido no salão
e no interior do que denominam “nosso ambiente”.
Como no Estatuto da Gafieira, os objetivos constam no próprio
documento. A casa é muito popular entre mulheres que gostam de dançar e não
possuem pares habituais, pois ali podem dançar com profissionais. Esta é,
possivelmente, uma das razões pelas quais o estatuto dedica boa parte de seu
texto a regrar o comportamento destes dançarinos, ali denominados de
“instrutores”, e seu relacionamento com os clientes.
O local é muito bem decorado, agradável e conta, internamente, até
mesmo com um aquário de carpas. É servido um farto café colonial com
salgados, doces, sucos. Para organizar as atividades de dançar e alimentar-se,
funcionam sistemas que variam conforme o evento. Em um destes sistemas,
usam-se sobre as mesas cartões individuais com faces verdes e vermelhas.
Cada cliente posiciona para cima a face que exprime seu desejo: verde, se quer
ser convidado para dançar e vermelha quando não o quer.
Outro sistema também adotado na casa é o uso de “fichinhas”. As clientes
as adquirem para ter direito a uma dança com um instrutor. A organização é
impecável. Assim, clientes podem dançar ou simplesmente desfrutar de um
saboroso café sem serem constantemente interrompidos pelos instrutores.
Andréa Moraes Alves, em seu livro “A Dama e o Cavalheiro, um estudo
antropológico sobre envelhecimento, gênero e sociabilidade”, também menciona
os chamados “bailes-ficha” que ocorrem na cidade do Rio de Janeiro, onde o
esquema é o muito semelhante.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Os salões de dança mais despojados

Ao investigar o conjunto de transformações do universo da dança de


salão, observamos alguns elementos para análise desse universo
que sintetizam sua complexidade: a utilização de diferentes espaços,
os diferentes códigos de comportamento, os movimentos dos
passos, sua escolarização e as regras dos salões.

Maria Inês Galvão Souza. Vida é Dança no Cenário Carioca. VI


Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas. 2010.

Até os salões de dança mais simples têm sua etiqueta própria, em certos
casos, muito bem definida.
No ano de 2009, Edinho Nunes descreve no blog “Programa Fusão”, um
salão de dança chamado “Forró do Zé Anísio”, cujas informações teriam vindo
de Bom Despacho, em Minas Gerais. Segundo o autor, neste referido salão de
dança se estabelecem regras como:

 Não dançar de chinelo;


 Venda de apenas duas doses de pinga por cabeça;
 Não dançar mais de três músicas seguidas com a mesma
mulher;
 Proibido chegar bêbado ao salão;
 Banheiro somente para “mijar”.

Diz, ainda, que na entrada do salão de dança há uma placa com o dizer:
“Divertimento da Amizade” e um cartaz que adverte: “Bar Danceteria José Lopes
do Couto – Não aceito mau elemento!”.
Independente do conceito que cada um possa ter sobre “mau elemento”,
este dizer é a primeira regra de etiqueta do seu salão de dança. Toma-se
conhecimento dela antes mesmo de entrar no salão. O relato é que, em 40 anos
de existência, esta casa nunca registrou uma única briga.
Na cidade de Urubici, em Santa Catarina, o estabelecimento “Planeta
Dance” apresenta um cartaz com regras bem diferentes:

Até as 21:00 HS: CERVEJA GRÁTIS


COM 1 MULHER R$ 5,00

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

COM 2 MULHERES R$ 4,00


COM 3 MULHERES R$ 3,00
COM 4 MULHERES ENTRADA GRÁTIS
COM 5 MULHERES GANHA 2 REAIS

Ali, as regras relacionam o preço da bebida à quantidade de mulheres que


um homem pode trazer. Procura-se atrair a maior quantidade possível de
mulheres através de descontos crescentes no consumo de cerveja.
Por mais variados que sejam os salões, sempre haverá algum tipo de
norma. As damas e os cavalheiros, os protagonistas do salão de dança, têm a
obrigação de verificar as regras locais para poder atendê-las rigorosamente. É o
primeiro passo para respeitar o outro e o salão.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

CADA SALÃO UMA CONDUTA

É a etiqueta do salão, um dos mais belos diferenciais de interação


social deste estilo de dança que tanto apreciamos.

Izabela Lucchese Gavioli, no artigo “Hidratação e transpiração na


dança de salão”. Seção Dança & Saúde. Revista Dança em Pauta, 7
de março de 2011.

A diversidade dos conjuntos de regras para os salões em que se pratica


socialmente a dança nos revela que cada local tem características próprias,
definidas também por suas normas.
Atualmente, muitas escolas de dança oferecem listas de comportamentos
a serem adotados para o saudável funcionamento dos salões. Entretanto, vários
deles são contraditórios entre si. Um bom exemplo é o já citado caso do chiclete:
enquanto alguns indicam seu uso, outros o proíbem.
Notamos, ainda, que há regras úteis em determinados salões de dança,
mas que não o são, necessariamente, em outros. Exemplifico: é notório o
conhecimento que se deve usar sapatos para dançar. Contudo, hoje existem
eventos como o “Baile do descalço” (pelo próprio nome já se percebe que não
podem ser usados sapatos) e salões de dança que se formam nas ruas, onde
as pessoas dançam de tênis. Concluímos, portanto, que não se pode pré-
estabelecer uma etiqueta padronizada para todos os salões de dança.
Cada salão tem etiqueta e características próprias. É importante que, ao
desfrutar destes espaços, cada um esteja ciente de sua natureza para poder
adequar-se, respeitando a etiqueta vigente.
Dois tópicos podem ser particularmente úteis neste âmbito: a etiqueta
ambiental e os diferenciais dos salões que servem refeições.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA AMBIENTAL NO SALÃO DE DANÇA

As pessoas realmente civilizadas são aquelas que sabem se


comportar num banheiro.

Milton Saldanha. Podemos melhorar o baile! É simples, indolor e não


se gasta dinheiro. Basta bom-senso, educação, respeito ao parceiro
e ao espaço coletivo. São Paulo, SP. Jornal Dance. Agosto de 2009.

Os assuntos referentes às questões ambientais são cada vez mais


discutidos e exigem participação de toda a sociedade. A humanidade depende
do uso inteligente dos recursos naturais.
Já é definitivo o entendimento a respeito da necessidade de preservar
ambientes naturais de maneira que o desenvolvimento (social, econômico e
ambiental) seja viabilizado. Hoje, sabemos que é preciso um modelo que
satisfaça as necessidades atuais sem prejudicar as futuras gerações.
O enfrentamento da problemática ambiental depende da educação de
cada indivíduo. A questão ambiental tem a ver com a dança de salão, afinal, o
comportamento ambientalmente responsável é resultado de uma postura
permanente, válida em todos os lugares. Portanto, o salão de dança comporta
situações em que a boa educação de cada indivíduo deve contribuir para um
mundo ambientalmente saudável. Vejamos alguns exemplos.
Nestes ambientes, a poluição do ar ocorre, principalmente, pelo cigarro.
Embora no Brasil esta prática já esteja proibida em ambientes fechados, o
problema ainda ocorre. Alguns fumantes postam-se próximos a uma porta ou
janela e a fumaça entra no salão por estas aberturas, incomodando os demais
participantes. Muitos municípios e estados já dispõem de legislações próprias,
alguns definindo até a distância exata de uma edificação a partir da qual é
permitido fumar. Conhecer a legislação do local onde se está é um bom começo
para poder agir em sua conformidade. Portanto, fumantes: certifiquem-se que a
fumaça de seus cigarros não chegará ao salão de dança, poluindo o ar e
desrespeitando os participantes do evento dançante. Além deste descuido ser
atitude frontalmente contra a etiqueta, pode ser também contra a lei!
A poluição sonora é outro problema. Parece haver um consenso que só é

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

“legal” evento animado por som ensurdecedor. No entanto, existem parâmetros


legais que estabelecem os decibéis máximos permitidos em qualquer
circunstância. Lamentavelmente, em vários salões a música é mantida em um
volume muito acima do que se recomenda para manter a saúde auditiva. Este
problema não pode ser resolvido diretamente pelos dançarinos. Mas
dependendo da situação, pode-se, e quem sabe até se deva, solicitar que o som
seja mantido em altura saudável. Um pedido como este não poderá ser
considerado deselegante. A alternativa drástica é só frequentar salões que
respeitem nossos ouvidos.
Por mais estranho que possa parecer, um dançarino também pode
contribuir no controle da poluição do solo. Hoje, o lixo é um dos grandes
elementos poluidores. Há salões em que as bebidas são servidas em copos
plásticos. Apesar de tantas campanhas de conscientização, infelizmente, estes
utensílios ainda são vistos no chão ao final de muitos eventos. A simples atitude
de jogar o copinho plástico em local não recomendado ou não o recolher quando
cai, implica em uma cumplicidade com o processo de poluição do solo. Duas
dicas importantes:

1. Utilizar o mesmo copinho plástico do começo ao fim do evento -


quanto menor o volume de lixo produzido, maior será nosso
cuidado com o ambiente;
2. Após seu uso, depositar o copinho em um coletor de copos, ou
em lixeira de lixo reciclável. Em caso de não haver local
adequado para o descarte, levar para casa e juntar ao lixo
reciclável que será recolhido pela prefeitura da cidade ou por
coletores que vivem deste serviço. O mesmo vale para
embalagens de produtos como: pastilhas, balas, bombons,
salgadinhos.

Além dos copinhos plásticos, outros resíduos descartados incorretamente


podem agravar as dificuldades de controle da poluição do solo. Por isto, lenços
úmidos usados, pontas de cigarro e quaisquer outros objetos dispensáveis
também devem ter o descarte adequado. No banheiro, é aconselhável depositar
papel higiênico e papel toalha corretamente nos recipientes indicados.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Hoje, é elegante respeitar o meio ambiente. A postura ambientalmente


correta de um dançarino se dá a partir do exemplo. É, também, uma forma de
educação.

102
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA NOS SALÕES QUE SERVEM REFEIÇÕES

Algumas dicas valiosas:


• Ao chegar à mesa, damas e pessoas mais velhas sentam primeiro.
• Não apertar a mão nem dar beijinho em pessoa que estiver
comendo. A boa etiqueta recomenda só o cumprimento verbal.
• Escolher bem os assuntos e o vocabulário durante uma refeição.

Milton Saldanha. Seleção de frases do texto “Dicas de elegância”.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho de 2010.

Não são raras as ocasiões em que a dança está unida a uma refeição.
Casamentos, formaturas, bailes de debutantes, almoços, jantares ou mesmo
cafés dançantes.
Reunimos aqui, algumas dicas simples sobre como se portar à mesa, para
evitar desconfortos e constrangimentos.
No dia 20 de dezembro de 2012, Fernanda Cury postou em “M de Mulher”,
espaço eletrônico da Editora Abril, a matéria “23 lições de etiqueta à mesa”.
Contendo dicas resumidas de como portar-se à mesa, o tema é particularmente
conveniente para este livro. Sucinta e objetivamente, orienta de forma apropriada
nosso comportamento em eventos dançantes com refeições. Na sequência,
comentaremos as 23 dicas de Fernanda.

1. Vista-se de acordo: detalhamos este item no capítulo que fala sobre a


“Indumentária”;
2. Não se atrase: atrasar-se demais pode ser tão deselegante quanto
chegar antes do horário. Nunca ultrapasse os 15/20 minutos do horário
marcado para o início. Conforme o evento, mesmo este pequeno atraso
pode ser excessivo.
3. Leve uma lembrancinha: dependendo da ocasião, é de muito bom tom
levar um pequeno agrado para os anfitriões. Flores são sempre bem-
vindas, mas conforme o caso, bombons de boa qualidade também
podem ser adequados. Certifique-se que o presenteado não está
procurando reduzir seu peso ou sofre de diabetes.
4. Mantenha a classe: esta é uma dica muito subjetiva. Mas algumas
sugestões podem ajudar a compor a ideia geral do que significa “manter

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a classe”: falar baixo ou em tom o mais baixo possível; não fazer gestos
exacerbados, especialmente segurando talheres; não interromper a
conversa de outras pessoas; cuidar com movimentos bruscos ou muito
rápidos, o que favorece a derrubada de objetos sobre a mesa; evitar
gargalhadas que chamem a atenção, interrompendo diálogos; se
precisar ir ao banheiro ou sair, pedir licença discretamente.
5. Fuja das discussões: em evento não familiar ou que não seja só de
amigos íntimos, devem ser evitados assuntos polêmicos à mesa.
Amenidades distraem, sem despertar o desejo de defender opiniões
capazes de gerar discussões exacerbadas, ou até mesmo brigas.
6. Maneire na bebida: leia mais no tópico “Etiqueta de atitude”.
7. Preste atenção na postura: quem frequenta aulas de dança de salão
desenvolve o hábito de prestar atenção a uma boa postura. Entretanto, a
postura à mesa tem detalhes mais específicos. Tradicionalmente,
considera-se que apoiar os cotovelos sobre a mesa transmite a imagem
de desleixo, mas esta ideia está flexibilizada na atualidade. Na dúvida,
procure apoiar somente os pulsos ou, no máximo, o antebraço. Outra
dica valiosa, é não se curvar demasiadamente sobre a mesa.
8. Espere para comer: procure não ter pressa em servir-se nem ser o
primeiro a começar. Dará a impressão que está faminto, o que é muito
deselegante. Aconselha-se esperar o anfitrião, a não ser que ele mesmo
solicite aos convidados que se sirvam antes.
9. Abra o guardanapo de pano sobre o colo: se no evento estiverem
disponíveis guardanapos de pano, o seu deve ser aberto e colocado
sobre suas pernas. Muito cuidado se precisar se levantar: não esqueça
de colocar antes o guardanapo sobre a mesa, evitando que caia ao
chão. Ao final da refeição, pegue-o com a mão esquerda e coloque-o
mal dobrado ao lado esquerdo do prato, sem esticá-lo. Atenção:
guardanapos de papel ficam sempre sobre a mesa.
10. Acerte nos talheres: o uso de talheres sempre gera controvérsias.
Existem os costumes de origem francesa e inglesa, sempre muito
discutidos. E, mais recentemente, com a difusão dos restaurantes
orientais, o hachi – par de palitinhos, geralmente de bambu – faz o papel
dos talheres. Nesta reportagem que usamos como referência, orienta-se

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usar o garfo com a mão direita, conforme costume inglês. Deixe a faca
apoiada na parte de cima prato enquanto não a usa, com a lâmina
virada para o lado de dentro, conforme a figura que segue.

Modelo de posicionamento da faca que não está sendo usada.

Fonte da imagem: a autora.

Quando houver muitos talheres, comece a utilizá-los de fora para dentro,


conforme os pratos forem sendo servidos. Em caso de dúvida, observe
como procedem as pessoas mais preparadas ou os anfitriões.
A figura seguinte é um modelo tradicional de como arrumar corretamente
a mesa. Nem sempre todos os itens estão presentes e, ocasionalmente,
a organização pode ser diferente. Este esquema facilita a compreensão
dos critérios clássicos utilizados para a disposição dos objetos na
arrumação de uma mesa de refeição.

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Figura 05 – Modelo de organização de mesa.

Legenda: 1 – Prato de pão; 2 – Faca de pão; 3 – Porta guardanapo; 4 – Garfo de Peixe; 5 –


Garfo de mesa; 6 – Sousplat; 7 – Prato raso; 8 – Prato fundo; 9 – Faca de mesa; 10 – Faca de
peixe; 11 – Colher de sopa; 12 – Taça de vinho branco; 13 – Taça Floute; 14 – Taça de vinho
tinto; 15 – Taça de água; 16 – Colher de sobremesa; 17 – Garfo de sobremesa; 18 – Faca de
sobremesa; 19 – Marcador de lugar
Fonte da imagem: a autora.

11. Não enfie a cara na comida: a comida é que deve ser levada à boca e
não a boca à comida. Evite curvar-se demasiadamente, levando a
cabeça quase para dentro do prato. Isto previne, também, que cabelos
longos varram o prato...
12. Dobre as folhas da salada: ao invés de cortá-las, recomenda-se dobrar
as folhas de salada com o auxílio do garfo e da faca, providência que
evita ruídos desagradáveis e a possibilidade de acertar os cotovelos nos
vizinhos. Esta regra surgiu na época em que os talheres eram de prata e
cortar folhas provocava sua oxidação, sendo, então, preferível dobrá-las.
13. Jogue os caroços no cinzeiro: alguns alimentos são servidos com
caroços ou partes que não podem ser engolidas e, portanto, precisam
sair da boca. Minha sugestão é que sejam evitados ao máximo. Mas
quando você quiser muito algum alimento deste tipo, evite cuspir o
caroço ou qualquer outro resíduo no prato. Aproxime seu garfo da boca

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e, da forma mais discreta possível, de preferência cobrindo a boca e o


garfo com a outra mão, retire o resíduo e o deposite no recipiente de
descarte. Aqui é citado o cinzeiro, mas felizmente, como o cigarro está
cada vez mais raro nestas ocasiões, outros recipientes são usados para
esta finalidade. Caso seja você o anfitrião, evite servir alimentos que
ofereçam esta dificuldade, poupando seus convidados de eventuais
constrangimentos. Azeitonas, tâmaras e ameixas secas, por exemplo,
só podem ser ofertadas já descaroçadas; carnes com ossos pequenos
ou espinhos, além de serem perigosos, não contribuem com a elegância
à mesa e a operação de descarte pode gerar um desconforto
desnecessário.
14. Segure o frango com guardanapo: esta regra é válida somente para o
frango servido como aperitivo. Durante a refeição, utilize o garfo e com o
auxílio da faca, separe cuidadosamente pequenas porções de carne dos
ossos.
15. Enrole o macarrão: na referida reportagem, é citado o consultor de
etiqueta Fábio Arruda como orientador desta regra. Lembro que um
quase cunhado italiano, romano mais precisamente, nos ensinou a
enrolar o macarrão, apoiando o garfo em uma colher. Prepare bem o
garfo antes de ser levado à boca para que não escapem fios da massa
para fora. Caso isto ocorra, corte-os com os dentes e, com o auxílio do
garfo, retorne-os ao prato. Outros, orientam espetar o macarrão várias
vezes, recolhendo suas pontas, até que seja possível colocar o garfo na
boca sem deixar restos para fora. Parece haver uma restrição a que se
corte o macarrão. Fique atento ao que as outras pessoas fazem. Se tiver
dúvidas, e se for possível, evite o macarrão.
16. Jamais faça barulho com a sopa: é inadmissível assoprar a sopa no
prato ou sorvê-la ruidosamente. A mesma regra vale para ingerir líquidos
com canudos: sugar até fazer barulho não é nada elegante. Além de
desagradável, respingos de sopa podem atingir e manchar toalhas ou
vestes de quem está próximo. Mesmo estando só com pessoas muito
íntimas, é cuidado que pode ser válido. Sirva-se do alimento que está
nas bordas e em porções menores, que estará mais frio. Quando o

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anfitrião é você, a atenção à temperatura confortável dos alimentos é um


mimo primoroso com os convidados.
17. Parta o pão com as mãos: ao contrário do que muitos pensam, esta
regra é correta. Talvez até, por ser uma referência bíblica. Mesmo sendo
permitido pegar o pão com as mãos, não é apropriado mergulhá-lo em
molhos ou sopas. Sirva-se de pequenos pedaços. Traga, então, à boca,
uma colherada de sopa, por exemplo. Claro, você não deve ir à mesa
sem antes lavar as mãos!
18. Não babe no garfinho do fondue: leve o espetinho do fondue ao seu
prato, destaque com seu garfo o alimento e só então o deguste.
19. Corte melão, mamão e melancia com faca: prepare pequenas porções,
separando a polpa da casca. Use a faca para cortar, não garfo ou
colher. Quando o anfitrião é você, procure servir as frutas já
descascadas.
20. Arrume os talheres no prato: posicione os talheres de modo a indicar
que terminou a refeição. A figura seguinte é um exemplo.

Exemplo de posicionamento de talheres, indicativo de refeição encerrada.

Fonte da imagem: a autora.

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21. Dispense o palitinho: é deselegante e até falta de educação usar palitos


de dentes em público, mesmo cobrindo a boca com a mão. Traga
sempre consigo fio dental. Se for necessário, vá ao banheiro para fazer
a higiene bucal. Aliás, no caso de eventos dançantes, é bastante
apropriado até escovar os dentes após a refeição, já que, ao dançar,
estaremos muito próximos de nosso par. Quando você é anfitrião e quer
disponibilizar palitos, pode deixá-los em um recipiente no banheiro.
22. Nunca fume à mesa: felizmente, este problema está quase que
totalmente eliminado no Brasil, uma vez que há legislação proibindo
fumo em locais fechados. E, mesmo em abertos, tem sido regrado mais
severamente. É vício que incomoda muito os não adeptos e já não é
mais socialmente bem visto, devido aos problemas que causa à saúde
de todos os envolvidos nesta prática, bem como ao ambiente.
Fumantes: procurem locais onde a fumaça não perturbará ninguém,
onde não haja proibições de espécie alguma e nunca fume à mesa.
23. Saiba a hora de se despedir: fique atento às dicas sobre o momento
certo de se retirar: a conversa já não está tão animada; há tempo que os
anfitriões não servem mais nada; discretos (ou acintosos) bocejos não
são mais disfarçados; a música parou. É desagradável quando os
convidados ignoram estes sinais e prolongam a visita. Caso tenha
dúvida se já está na hora de ir embora, é porque já deveria ter ido.

A estas preciosas dicas, acrescento algumas outras:

1. Cuidado ao preparar seu prato. Não faça uma montanha de alimentos


sobre ele. É preferível voltar diversas vezes ao buffet. Sirva-se de
pequenas porções, colocando-as lado a lado, sem empilhá-las. Deixe a
margem externa do prato vazia. Enquanto se alimenta, mantenha as
bordas sempre limpas.
2. Evite comer demais. Além de pouco educado, o excesso de alimentos
pode provocar mal-estar.
3. Use os guardanapos para limpar dedos e lábios ou, emergencialmente,
para secar líquidos derramados na mesa ou na roupa. Não são materiais
para assoar nariz, secar suor ou algo semelhante.

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4. Mastigue de boca fechada, evite fazer ruídos e não fale enquanto está
comendo.
5. Antes de beber, engula o que estiver comendo e limpe os lábios se
necessário. Tome o gole e limpe os lábios novamente. Isto evitará os
resíduos de comida ou aquelas desagradáveis marcas de batom nas
bordas de seu copo.
6. Ao servir-se no buffet, só toque na exata porção que pretende levar ao
prato. Alimento tocado é alimento seu.
7. Seus talheres só podem ser utilizados com os alimentos do seu prato.
Nunca os use para servir-se diretamente de bandejas, travessas, outros
recipientes de onde os demais comensais também se servem e menos
ainda dos pratos de outras pessoas.
8. É falta de polidez pedir alimentos já selecionados nos pratos das outras
pessoas, mesmo que seja “só para provar”.
9. Não revire os alimentos das travessas, procurando os seus preferidos,
sejam morangos, azeitonas, passas ou o que quer que seja.
10. Recoloque sobre seu garfo ou colher o alimento que eventualmente não
conseguiu engolir por notar gosto ruim ou estranho. Como indicado nos
casos comentados sobre retirada da boca dos caroços de azeitonas ou
ameixas, recomenda-se cobrir a boca discretamente durante esta
operação. Procure não fazer expressões de desagrado para não causar
constrangimentos. Deposite o rejeito sobre o prato e disfarce-o com
outros alimentos para que não fique desagradavelmente visível. Não fale
sobre o assunto enquanto estiver à mesa. Caso considere que possa
haver algum risco para a saúde dos comensais, procure discretamente os
anfitriões.
11. Sirva-se apenas do que vai comer, evitando as sobras. Mesmo não sendo
possível esvaziar totalmente o prato, posicione os talheres como foi
orientado, indicando que terminou a refeição. Deixe os resíduos
minimamente organizados.
12. Não transfira alimentos do seu prato para o de outra pessoa, nem leve
qualquer talher à boca de outrem. O mesmo vale para as bebidas. Usar
sua taça ou talher para dar de beber ou comer a seu par pode parecer
romântico, mas, é deselegante.

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13. Não se debruce sobre os pratos ou se estique sobre as pessoas para


alcançar uma travessa ou o galheteiro. Peça-os a quem estiver mais
perto.
14. Use o descanso de talheres ou acomode-os sobre o guardanapo para
servir-se novamente. Note se não é mais apropriado trocar de prato e
talheres.
15. Treine o uso de hashi antes de comparecer a evento que, sabidamente,
servirá pratos orientais, para não derrubar alimentos e molhos pela mesa.
Isto evitará, também, o constrangimento de pedir talheres inadequados
para esta ocasião.

Nunca nos esqueçamos: mais importante que qualquer regra é adequar


nosso comportamento ao local onde estamos. Hoje, há uma variedade enorme
de eventos com regras próprias de etiqueta. Preferencialmente, devemos nos
informar antes e ficar atentos para verificar se nosso comportamento não destoa
dos demais.

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Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE V

ETIQUETA EM OUTROS AMBIENTES


ETIQUETA NAS ESCOLAS DE DANÇA

ETIQUETA DE PLATEIA

ETIQUETA DO AMBIENTE VIRTUAL DE DANÇA DE SALÃO

ETIQUETA NO ESPAÇO ACADÊMICO E CIENTÍFICO

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PARTE V

ETIQUETA EM OUTROS AMBIENTES

ETIQUETA NAS ESCOLAS DE DANÇA

Nas aulas, manter respeito ao professor e fazer tudo


direitinho, como é pedido.

Milton Saldanha. A dança não tem donos. Nem regulamentos. Que


tal trocar certos padrões pelo verdadeiro prazer de dançar?
São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho de 2005.

Da mesma forma que os salões se modificaram ao longo do tempo,


atingindo multiplicidades outrora inimagináveis, as escolas de dança também
aprimoraram o trabalho sobre a etiqueta com seus alunos. Gradativamente,
estas ações educativas vêm mudando a realidade, reduzindo as situações
constrangedoras.
Quando a questão é o comportamento em uma sala de aula de dança de
salão, muitos aspectos são pertinentes. Por exemplo: a indumentária, o asseio,
a relação com os colegas, com o professor, o comportamento ambientalmente
educado, assiduidade, pontualidade, consumo de alimentos e bebidas durante a
aula, entre outros.
A aula de dança de salão, em geral, é descontraída, leve, divertida. Ao
ser promovido um ambiente em que as pessoas se sentem muito à vontade, às
vezes não se percebe quando se age de forma inconveniente. Por isto, vamos
abordar alguns pontos importantes para quem deseja ser um aluno apto a
frequentar a sala de aula de dança de salão sem trazer desconforto a ninguém.

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Indumentária

Existe um tipo de roupa apropriado para cada ocasião, por isso, essa
é uma questão relevante para as danças de salão. Tanto nas aulas
quanto nas apresentações, a roupa deve ser uma aliada!

Casarri, Keice Granzotto. Acerte na roupa para dançar.


Comunicação & Dança de Salão. São Paulo, SP. Todo
Composto. 6 de julho de 2010.

Na sala de aula, a dança não ocorre como em um salão, logo, a forma


como nos vestimos e os acessórios que usamos em cada uma destas ocasiões
será diferente.
Precisamos analisar cada situação para decidir a melhor forma de se
vestir. Isto vale, também, para cada tipo de aula. Procure saber antes com o
professor, qual a indumentária mais apropriada para a aula.
Algumas noções gerais, no entanto, são importantes. Nunca é demais
lembrar: o principal objetivo de uma aula é o processo de ensino e
aprendizagem. É por isto que recebe este nome. Por mais que as aulas sejam
atividades muito divertidas, ainda são aulas! O aluno(a) deve lembrar que está
lá para aprender. O foco principal, no que todos devem se concentrar, é a técnica
que está sendo ensinada. Por isto, é conveniente vestir-se discretamente, de
modo a manter certa harmonia em relação ao grupo. Cavalheiros sem camisa,
shorts ou outros trajes muito chamativos, damas com decotes acentuados, saias
curtas demais, transparências, distraem ou desviam a atenção que, neste
momento, deve ser mantida apenas sobre o que é ensinado.
Esta recomendação também é válida para o uso de adereços, bijuterias,
perfumes, desodorantes.
Nos vestirmos adequadamente para sala de aula é sinal de respeito com
colegas, professores e até com a escola, portanto, é etiqueta.

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Relacionamento com o os colegas

...o mundo humano é essencialmente de coexistência. O homem


define-se como ser social e o crescimento individual depende, em
todos os aspectos, do encontro com os demais.

Monique Rose-Aimée Augras. O ser da compreensão -


fenomenologia da situação de psicodiagnóstico. 4.ed. Rio de Janeiro.
Petrópolis, RJ. Vozes. 1994.

Um simples relacionamento, se tratado displicentemente, pode gerar


momentos tensos em uma sala de aula. Trataremos aqui, de alguns pontos
importantes da relação entre colegas em uma sala de aula de dança de salão.

Paquera

Pode ocorrer de uma pessoa querer frequentar aulas de dança de salão


para encontrar alguém com quem possa ter uma relação afetiva casual ou
mesmo estável. Em um primeiro momento, não há nada de errado nisto, embora
a sala de aula seja um local, como já foi dito, de ensino e aprendizagem.
Aconselha-se muito cuidado, porque há uma possibilidade bem razoável das
outras pessoas estarem ali por motivos bem diferentes. Por isto, é imprescindível
investigar bem que escola é mais adequada para atingir seus objetivos. Hoje,
este mercado é bastante diversificado e existem espaços que priorizam as
questões técnicas do ensino e outros que valorizam mais os aspectos da
sociabilização. Antes de iniciar as aulas, confira se seus interesses pessoais são
compatíveis com os da escola, do professor e dos colegas.
Para o professor que realmente quer ensinar, nada mais desagradável do
que aquele aluno que vem só para “caçar” relacionamentos. Já vivi esta situação.
Olhando para o movimento dos pés de um aluno, comecei a explicar como
aperfeiçoá-lo. Voltando o rosto para ele, notei que piscava sedutoramente para
uma aluna do outro lado da sala. Foi muito desagradável, por três razões.
Primeiro: percebi que “aprender” não era o foco principal daquele aluno.
Segundo: a aluna para quem piscara realizava o passo com seu marido, que

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estava de costas. Terceiro: frustrei-me por não ter identificado logo no início o
verdadeiro interesse daquele aluno.
A dança de salão, embora comporte uma grande diversidade de
conhecimentos, é, primordialmente, uma atividade artística e de entretenimento.
Portanto, professores: saibam respeitar o fato de que existem os que não
encaram a dança de salão como objeto de aprendizado. Não imponham a
ninguém o seu próprio conhecimento. Alunos: procurem escolas que ofereçam
o que vocês realmente querem.
É muito diferente quando um interesse surge espontaneamente, enquanto
aprendemos a dançar. Isto pode ser levado com naturalidade e respeito, tanto
pela pessoa que se interessou por outra, quanto pela pessoa que despertou o
interesse, bem como pelo professor e pela sala de aula como um todo.
E quando um aluno se interessa por um professor? Esta questão é muito
crítica, porque envolve ética profissional. Nenhum tipo de flerte ou paquera
ocorrerá na sala de aula de um profissional sério e responsável. Se algum aluno
insistir nesta prática, seguramente correrá o risco de ser admoestado. Além de
inconveniente, é situação profundamente desagradável. Resumindo: professor,
respeite a ética profissional; aluno, contenha suas investidas românticas durante
a aula.
Por estas e outras razões é tão importante identificar se os objetivos de
ambas as partes, escola e aluno, são compatíveis. Igualmente importante é o
domínio dos próprios sentimentos em respeito às outras pessoas e à sala
de aula.

Competição com colegas

Existem alunos que passam a objetivar, apenas, “dançar melhor que os


outros”. Mas afinal: o que é “dançar melhor que os outros”? Este conceito é
bastante relativo. Poderia ser: “dança melhor” aquele par que lhe é mais
agradável. Ou seria o que mais chama a atenção? Ou ainda, quem sabe, aquele
que dança valsa divinamente... Dançarinos há, com quem é agradabilíssimo
compartilhar uma dança sem, absolutamente, chamar atenção. O inverso

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também é verdadeiro. Pode ser profundamente desagradável dançar com


alguém cujo objetivo é trazer para si a atenção de todo salão.
A sala de aula de dança de salão nos propicia um prazer muito honesto
em descobrir as delícias de se dançar a dois, independente do que esteja
ocorrendo com o colega ao lado.

Ensinando o colega

Às vezes, um colega é visto como alguém que “dança melhor”. Passa a


receber pedidos de ajuda dos demais, atendendo-os ao mesmo tempo em que
o professor está orientando toda a turma. Alguns nem mesmo esperam ser
solicitados. Vigiam a dança dos colegas e tentam “ajudar”, quando julgam haver
algo errado. Em ambas as situações, o risco é de passarem orientações
equivocadas, mesmo com a certeza do contrário.
Em qualquer sala de aula, a autoridade máxima é o professor. Reza a
etiqueta que nunca se deve pretender assumir seu lugar. Para atender o pedido
de ajuda de algum colega, peça sempre a anuência do professor.
Discretamente, pergunte-lhe se não é inconveniente colaborar no
esclarecimento da dúvida do tal colega. Assim, mantém-se o respeito ao
professor e a toda a sala, evitando as “aulas particulares” desautorizadas
enquanto o professor trabalha com o grupo.
O aluno que sentir um desejo muito grande de ensinar, precisa se preparar
para isto. Deve começar como auxiliar ou monitor. Antes de montar suas próprias
turmas, é conveniente lembrar que para dar aulas não basta somente “achar”
que sabe dançar. É preciso um preparo mais amplo, que vai muito além do
conhecimento de alguns passos e que inclui teoria, história, pedagogia, didática,
anatomia humana, cinesiologia entre outros, conhecimentos elencados no livro
“Dança de salão, a caminho da licenciatura”, que publiquei em 2005 pela Editora
Protexto. Estes conhecimentos devem ser adquiridos “antes” de abrir uma turma
e assumir os riscos advindos da falta deles. Atualmente, já existe uma oferta bem
razoável de bons cursos de formação de professores e educação formal na área.

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Relacionamento com par amoroso estável

Em 2007, no livro “Sexo e dança de salão”, abordei este tema do ponto


de vista do professor. Aqui, o assunto será visto também pelo olhar do aluno.
Ao longo das últimas décadas, atendi muitos casais em relacionamento
afetivo considerado estável: namorados, noivos, amantes, casados, em união
estável etc.. Este atendimento ocorreu em grupo e em particular, durante poucas
aulas, alguns meses, até vários anos.
Geralmente, quando um casal inicia aulas de dança de salão, tudo vai
muito bem. Os dois estão fazendo uma atividade juntos e apreciam isto. Mas
nem sempre tudo continua bem. Como são muito próximos, sentem-se livres
para se expressar, às vezes sem se importarem com quem ou onde estão.
Vejamos alguns problemas comuns nestas situações.

Intolerância prévia: há casais que chegam à sala de aula com uma carga de
sentimentos represados no dia a dia, mal tolerando um ao outro. A atividade se
torna uma válvula para extravasarem os problemas do relacionamento e tudo
que estava reprimido se libera durante a aula. O desgaste para alunos e
professor é evidente.

Alunos: mantenham fora da sala de aula suas rixas particulares.


Professores: com discrição e habilidade, controlem os desabafos emocionais de
seus alunos, mantendo o clima de alegria e descontração próprios de uma sala
de aula de dança de salão.

O “culpado” é sempre o outro: ao aprender as técnicas de dança de salão, o


cavalheiro precisa assimilar a missão de condução, o que inclui a atenção à
dama. Esta missão vai, portanto, além da realização dos próprios movimentos.
A dama deve reagir a esta condução, permitindo o estabelecimento da conexão
com seu par. Podemos concluir que aprender a ser um cavalheiro é mais difícil
do que aprender a ser uma dama. No início, nenhum dos dois faz o seu papel
perfeitamente. Durante o processo de aprendizagem, os movimentos não são

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imediatamente bem executados, o que demanda treino e diálogo. É neste ponto


que um dos problemas começa. O movimento acontece com falhas e cada um
atribui a “culpa” ao outro, estabelecendo-se o conflito.

Alunos: procurem as razões das dificuldades na execução dos movimentos em


si mesmos e não nos seus pares, confiem no professor, cabe somente a ele
corrigir seu par e não a você.
Professor: trate com elegância, mas também com energia, os alunos que não
assumem sua condição de aprendiz.

Relação opressor-oprimido: é quando um tende a “comandar” o outro que, por


sua vez, permite “ser comandado”. Mesmo que satisfaça o casal, esta relação
de domínio não é boa para o processo de aprendizagem. O opressor tenderá a
posicionar-se sempre como correto, aquele que sabe. E, invariavelmente, o
oprimido aceitará as imposições, mesmo estando o opressor errado. Quando
vivemos o processo de aprendizagem, todos estamos migrando do “não sei” para
o “sei”. Isto significa que ambos os elementos do par estarão, em algum
momento no estágio “não sei”. Pouco provável que só um esteja sempre certo.
Por isto, a relação opressor-oprimido que pode funcionar no dia a dia do casal,
na sala de aula de dança de salão tende a dificultar ou até mesmo impedir que
o aprendizado ocorra de forma plena.

Alunos: seu par não é seu subordinado. Na sala de aula, ele está em iguais
condições que você. Dê-lhe liberdade e apoio em seu aprendizado. É de bom
tom impedir que seus desacertos transpareçam para o restante da turma.
Professor: com discrição, controle os ímpetos dominadores de alunos
opressores. Mostre-lhes que a dança de salão depende de parceria, onde não
há “quem manda” e “quem obedece”.

Homens e mulheres ouvem música de forma diferente: ao desenvolver


técnicas para o trabalho de musicalização na década de 90, esta característica
ficou bem evidenciada. É um bom tema para aprofundamentos, entretanto, tudo

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leva a crer que, além das diferenças individuais, homens e mulheres sentem
melodias e instrumentos musicais de forma distinta, desejando, portanto,
executar movimentos em consonância com partes diferentes da mesma música.
Esta diferença de sensibilidade pode se tornar uma fonte de atrito, favorecendo
o aflorar de conflitos pessoais do casal na sala de aula.

Alunos: Não cabe a dama criar movimentos contrários às conduções propostas


pelo cavalheiro, mas sim aproveitar as oportunidades condizentes com a
condução para expressar-se musicalmente da forma que mais lhe agrada. O
cavalheiro conduz, mas nunca deve esquecer que seu objetivo na proposta
tradicional de condução é satisfazer a dama, portanto, é sábio aprimorar o ouvido
e buscar oportunizar a ela, por meio de sua condução, movimentos que
valorizem os sons que a agradam em cada música. O bom cavalheiro ainda
busca aprimorar a sensibilidade para acolher a participação da dama na
arquitetura da dança de forma harmônica, por exemplo, recebendo com bons
olhos a influência da dama na definição de movimentos e/ou do tempo em que
o movimento por ele escolhido será desenvolvido.
Professor: com simpatia e cordialidade explique aos alunos as diferentes formas
de ouvir a música, sobre os papéis de damas e cavalheiros e os caminhos para
harmonizar as diferenças na sensibilidade musical de cada um.

Independência feminina: as mulheres alcançaram independência financeira,


afetiva, profissional. Muitas se acostumaram e até gostam do comando. Então,
entender a essência da condução tradicional e aceitar que movimentos de seu
próprio corpo sejam propostos por outra pessoa, um homem, pode ser uma
dificuldade para certas damas, mesmo que a finalidade disto seja agradá-las.
Dependendo da forma de ensino e da compreensão sobre a condução, o prazer
de ser conduzida por um cavalheiro que está ali para satisfazê-la, um dos
encantos da condução tradicional, pode nem ser descoberto por uma dama com
limitações para abstrair-se de seu papel social atual.

Alunos: dama, permita-se sentir as delícias de ser conduzida por um cavalheiro


que deve satisfazê-la. Cavalheiro, tenha paciência com a dama que resiste a sua

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

condução e mostre que é capaz de satisfazê-la na dança, ela vai se entregar


mais facilmente quando sentir esta segurança em você.
Professor: discuta brevemente com seus alunos sobre a independência
feminina, as características e o objetivo histórico da condução e a importância
de damas e cavalheiros assumirem seus papéis para que a dança de salão seja
desfrutada da melhor forma por ambos.

Professor visto como terapeuta: a missão do professor é apenas permear um


processo de ensino, o que não inclui atendimento terapêutico. Muitos casais
acabam, subliminarmente, usando as aulas de dança de salão como terapia de
casal. Por si só, isto não teria nenhum inconveniente. O problema surge quando
o casal se comporta de forma a contar com o professor de dança para
administrar atritos que não são, necessariamente, de origem técnica e sim, de
toda uma convivência diária com o par.

Alunos: evitem constranger seu professor, envolvendo-o em seus problemas


particulares, confiem que ele vai esclarecer as dúvidas técnicas sem que vocês
apontem o que pensam de seu par como causa das dificuldades.
Professores: é antiético e fere a etiqueta assumir o papel de terapeuta sem sê-
lo. Este atendimento requer um profissional especializado, com conhecimentos
específicos. Não cabe a você resolver os problemas do casal e sim dirimir
dúvidas técnicas para que os alunos cheguem a um bom desempenho na dança
de salão.

Professor visto como confidente: meses e anos de aulas com o mesmo


professor de dança de salão propicia muita intimidade entre o casal e o mestre.
O resultado é a perda de inibição para expor desentendimentos. Aumentam os
momentos de crítica, às vezes irônica, buscando apoio do professor contra seu
par. Inicialmente, se referem somente à dança, mas com o passar do tempo e o
aprofundamento desta intimidade, surgem as críticas mais pessoais. Atender
casais em aulas particulares por muito tempo é um grande desafio para o
professor.

121
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Alunos: poupem seu professor e contribuam para o sucesso de suas aulas,


mantendo suas desavenças particulares na intimidade.
Professor: discrição é a tônica do relacionamento professor/aluno. Mantenha-a
a qualquer custo. Não tome partido nas querelas entre casais. Sustente a
neutralidade, usando bom senso para administrar situações mais delicadas.

É importante identificar as situações de conflito e suas características


antes de sua manifestação mais intensa. A maioria dos alunos não é capaz de
perceber-se, por si só, como portador de algum problema. O reconhecimento
pode ser feito até pelas descrições dos tipos de conflitos que apontamos acima.
A partir da identificação, é necessário reconhecer a importância de buscar
soluções ou a tensão entre o casal aumentará. Tomar providências prematuras
evitará situações tristes como quando o casal começa uma discussão sobre o
movimento que está treinando, interrompe a dança, ergue a voz e até assuntos
da vida íntima se tornam públicos.

Casais: ao primeiro sinal de desentendimento, recorram imediatamente aos


recursos de controle. Não permitam que seus colegas tomem conhecimento de
suas dificuldades conjugais.
Professor: aja com rapidez. Conduza gentilmente o casal brigão a um espaço
mais reservado, poupando os demais alunos de cenas degradantes.

A sala de aula é um local para somente aprender a dançar, nunca é


demais lembrar disto. Quando os alunos também aprendem a prevenir os
possíveis conflitos, as aulas de dança podem mostrar caminhos para uma nova
dimensão de relacionamento para o casal.
Seguem algumas sugestões de como controlar diferentes problemas.

Buscar os erros em si mesmo e não no outro: em qualquer sala de aula,


especialmente na sala de aula de dança de salão, o desejo mais nobre deveria
ser o real aprendizado. Como é uma atividade praticada em conjunto com outra

122
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

pessoa, desenvolver o hábito de olhar primeiro para os erros de nosso par nos
faz perder oportunidades, às vezes raras, de melhorar nossa própria dança. É
comum notar casais em que ambos têm certeza de que o erro é do outro. E, por
incrível que pareça, quase sempre ambos são responsáveis pelo movimento não
sair como o esperado. É de muita utilidade reconhecer este fato. A relação com
o par fica protegida e é preservada a qualidade do aprendizado dos dois. Ao
procurar o responsável pela falha, analise primeiro você mesmo. Se pensarem
da mesma forma, os dois componentes do casal estarão abertos a sugestões
para evoluir. Enquanto tiverem certeza que a “culpa” é do outro, dificilmente
avançarão. Reconhecer primeiro os próprios erros ao invés de buscar pelos erros
do outro, torna o indivíduo melhor.

O professor não é juiz: quando os casais entram nesta espécie de loop de


certeza da culpa alheia, cada um procura o professor para provar que o outro
está errado, como se estivessem numa competição de vida ou morte. O
professor não está na sala de aula para fazer julgamentos ou tomar partido. Está
ali para levar os alunos a entenderem a dança, para que saibam desfrutar de sua
técnica e arte. Respeitar a verdadeira função do professor evita
constrangimentos.

Trocar casais: dançar com outras pessoas durante a aula é experiência bem
produtiva. Frequentemente, após voltar ao par original, muitos problemas
sumiram. É uma estratégia que pode ser adotada por um tempo maior, até que
o casal já tenha superado suas dificuldades mútuas e possa ser reunido
novamente.

O erro de nosso par não é vitória nossa: ao ser apontado algum erro em um
dos dois, o outro pode sentir-se vitorioso. A aula não é uma competição. Não
tem como objetivo estabelecer vitoriosos e perdedores, mas sim uma parceria
harmoniosa entre o casal. Em uma aula, todos devem ganhar. Sempre é útil
colocarmo-nos no lugar do outro, agir como gostaríamos que fizessem conosco,

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

se estivéssemos naquela situação. Frases como: “eu disse que você estava
errado” não contribuem com nada. Ser generoso e receptivo é muito mais
produtivo. Uma frase como: “ah, agora vamos melhorar juntos, obrigada” produz
efeitos mais positivos. Nem seria preciso mencionar que devemos desculpas a
quem imputamos alguma culpa indevida... O espírito deve ser colaborativo, não
competitivo. A dança não ocorre sem o par, portanto, a construção é conjunta.
Tem razão quem disse haver casais que levam o relacionamento como tênis:
competindo, um tentando derrubar o outro; enquanto outros o levam como
frescobol: ambos fazem de tudo para o outro acertar e o jogo continuar. Na sala
de aula de dança de salão, a cada momento você decide: ser um jogador de
tênis ou de frescobol. Se a opção for por tentar derrubar seu par, há grande
chance de você cair junto... A dança de salão só acontece a dois. Sobre este
assunto, Leonor Costa publicou em 2008, no Jornal Falando de Dança, um artigo
lindo: “A dança de salão é um jogo. E a condução é pressuposto necessário para
que esse jogo funcione”. Vale a pena ler.

Nossa evolução pode contar com a participação do par: o par com quem
dançamos habitualmente tem as condições ideais para nos ajudar a evoluir. Um
bom cavalheiro é aquele que, durante o aprendizado, perguntou várias vezes
para a dama: minha condução está sendo precisa, confortável? Como poderia
ser aprimorada? O melhor cavalheiro é aquele que ouve a dama e “sente” o
caminho para satisfazê-la. Em contrapartida, uma boa dama é aquela que,
durante o aprendizado, perguntou várias vezes para o cavalheiro: como você
sente minha reação à sua condução? A melhor dama é aquela que “ouve” e
“sente” o caminho que o cavalheiro indica, para reagir da forma mais
encantadora. As damas mais desejadas no salão são as que se dedicaram a
aprender e se especializaram em responder bem à condução, com técnica,
beleza e criatividade. Mas isto só funciona se ambos estiverem cientes da
necessidade de se formar uma verdadeira parceria.

O aluno deve lembrar sempre que, ali na sala, existem somente dama e
cavalheiro. O “homem” e a “mulher” que formam aquele casal, estão juntos em
outra dimensão.

124
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Relacionamento com o professor

A mensagem então é ao aluno: você é o único juiz. Tem que saber


(ou aprender) a identificar quem é merecedor da sua confiança, do
seu tempo, esforço e dinheiro. A receita é simples: busque
informações, exija aulas de demonstração gratuitas em diferentes
locais (para assimilar critérios comparativos), observe o padrão de
cada turma, desenvolva seu feeling.

Milton Saldanha. Editorial.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Fevereiro de 1998.

Em sala de aula, o aluno se relaciona tanto com colegas quanto com o


professor. Muitas vezes, fora dela também.
Alguns comportamentos de alunos são particularmente deselegantes em
relação ao seu professor. Vejamos alguns deles:

 Falar durante suas explicações;


 Ficar desatento e perguntar sobre assuntos já explicados;
 Interromper seguidamente a aula com perguntas – se as dúvidas são
muitas, melhor procurar o professor para esclarecê-las após a aula;
 Interromper o professor, interferindo nos conteúdos que estão sendo
explicados ou complementando-os para os colegas como se fosse outro
professor;
 Colocar em cheque o conhecimento do professor, tentando desautorizá-
lo, se existir dúvidas sobre sua competência é necessário procurar outro,
jamais adotar abordagens arrogantes que trazem desconforto para a
maioria;
 Fazer propagandas na sala de aula sem a autorização do professor e da
instituição;
 Ridicularizar o professor sob qualquer aspecto;
 Atrapalhar o aproveitamento dos colegas por complicar o andamento da
aula;
 Repetir demasiadas vezes que não consegue aprender, melhor esperar
um pouco até o professor poder atendê-lo mais longamente;

125
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 Filmar ou fotografar a aula sem antes ter a autorização do professor –


mais constrangedor é tentar forçá-lo a permitir, seja em público ou em
particular, pior ainda é fazer escondido;
 Achar que é obrigação do professor tirá-lo para dançar em um baile que
não tem nada a ver com a aula.

Respeito com a sala de aula e a escola

Aula é trabalho e relação comercial.

Milton Saldanha. Professor tem que dançar com aluno em baile?


São Paulo, SP. Jornal Dance. Junho, 2007.

É indispensável atentar para alguns aspectos que vão garantir o bom


andamento de aulas de dança de salão no que tange à sala de aula e à escola.

Assiduidade e Pontualidade: a vida moderna exige muito de nós. Nosso lazer


fica, via de regra, em último plano. Por isto, é normal que os alunos faltem ou se
atrasem para suas aulas. A dança de salão é uma atividade realizada entre
pares. Então, quando o aluno se matricula em uma turma, o professor conta com
ele para o equilíbrio desses pares. Não combina com a boa etiqueta faltar,
atrasar-se, sair mais cedo, sem avisar antecipadamente. Sempre que possível,
converse com o professor nestas ocasiões e se justifique. Desta forma, ele
perceberá que o aluno não é desinteressado nem desrespeitoso. Também
poderá se programar melhor com a formação de pares, assegurando a todos os
demais uma aula de qualidade.

Entrando e saindo da sala de aula: entrar e sair discretamente da sala de aula


para não atrapalhar o professor e os colegas, especialmente se chegar atrasado.
Nem pensar naquela entrada atrasada, de propósito ou não, que mais parece
um show apoteótico, interrompendo tudo e todos para ser observado e
ovacionado. Se precisar sair antes do final da aula, faça-o o mais

126
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

desapercebidamente possível. Ser elegante é sempre respeitar o local e os


outros.

Consumo de alimentos e bebidas durante a aula: toda sala de aula é local de


aprendizagem, mesmo as improvisadas em condomínios ou garagens, com
turmas formadas por familiares ou amigos. Isto é muito bom porque há sempre
um clima bem agradável e descontraído. Mas ainda é uma sala de aula. É
absolutamente inapropriado e desrespeitoso o consumo de bebidas e alimentos
durante a aula. Reservem seus quitutes para o final, para a hora do
congraçamento. Eventualmente, pode ser convidado o professor para participar.

Celular: o celular não deve ser percebido em uma aula. Deixe-o desligado, num
modo de vibração ou outro qualquer que não seja notado pelos colegas e
professores. Ao perceber um toque ou um chamado, se não puder esperar o final
da aula, peça licença e saia da sala para atender. Ao retornar, desculpe-se
discretamente.

Comportamento ambientalmente educado: todos, hoje, voltam seus olhares


para um mundo sustentável. Desta forma, nas atitudes que vão na contramão
desta ideia está implícito o desrespeito à etiqueta social. Algumas
recomendações: 1 - Nunca jogar nenhum tipo de resíduo fora de seu coletor
próprio. Não havendo coletor na sala de aula ou na escola, guardá-lo consigo
para dispensá-lo corretamente em casa ou outro local apropriado. 2 - Não pedir
ao professor para ligar o ar-condicionado quando, por exemplo, abrir uma janela
seria suficiente. Este tipo de pedido pode ser mais simpático se os colegas são,
discretamente, consultados. 3 - Usar o mesmo copinho descartável durante a
aula, diminuindo o volume de lixo. Este cuidado também é válido para o uso de
papéis toalha e outros produtos descartáveis, pegando um novo somente se o
que acaba de ser usado não tiver mais aproveitamento. Estas recomendações
são válidas para toda nossa vida. A cada atitude, é preciso pensar em como
contribuir para que as próximas gerações tenham o melhor planeta possível.

127
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Na escola, mas fora da sala de aula: em uma escola de dança de salão, nossa
participação começa já no estacionamento. A cordialidade, sinal indispensável
da boa educação, deve acompanhar o aluno desde a entrada pelos portões da
escola, às vezes, até mesmo antes. Uma escola é local procurado por pessoas
que buscam algum conhecimento. No caso da dança de salão, também buscam
outros objetivos, como diversão e sociabilização. Avançar portão adentro
buzinando, derrapando, acelerando, o rádio em volume exageradamente alto, é
desrespeito ao local e demais frequentadores. É inapropriado bater portas ou
portões, falar alto, assoviar, cantar, bater palmas, gritar, gargalhar, jogar objetos,
fumar ou tomar qualquer atitude fora da sala de aula que interfira no que
acontece dentro dela. O mesmo vale para o período em que se permanece em
qualquer ambiente da escola e também durante a saída. Em uma escola ocorrem
outras atividades, não só as aulas propriamente ditas e elas devem ser
igualmente respeitadas. Desde o momento em que o portão/porta é transposto
para dentro da escola até o momento que é cruzado para sair, é preciso cuidar
para não atrapalhar ninguém.

Etiqueta profissional

Ninguém pode afirmar taxativamente “é assim”. Isso é autoritarismo e


arrogância. O correto e elegante seria dizer “faço e gosto assim,
mas a escolha será sempre de cada um”.

Milton Saldanha. A dança não tem donos. Nem regulamentos.


Que tal trocar certos padrões pelo verdadeiro prazer de dançar?
São Paulo, SP. Jornal Dance. Julho, 2005.

As ações de um professor em sala de aula também podem ser vistas pelo


olhar da etiqueta, muito embora, praticamente toda a elegância de um educador
tenha o profissionalismo como base. Vários pontos importantes do
comportamento do professor em sala de aula são abordados em meu já citado
livro “Dança de salão, a caminho da licenciatura” (Editora Protexto, 2005).

128
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

De um modo geral, um professor que respeita a etiqueta é aquele que


respeita o aluno, a sala de aula, a escola e a dança de salão. Em sala de aula,
mantém assuntos profissionais nitidamente separados de assuntos pessoais.
Jamais age de maneira a ridicularizar ou expor qualquer fragilidade de um aluno
ou mesmo de outro profissional. Está sempre ciente de que a sala de aula
precisa ser um ambiente leve, agradável e até lúdico, de modo a garantir a
melhor condição para o aprendizado.
A empatia é ponto chave para o andamento saudável de todas as aulas.
O primeiro passo para evitar situações incompatíveis com uma sala de aula é
esforçar-se para perceber como o aluno se sente em relação às suas ações de
professor. Isto inclui: assiduidade, pontualidade, vestir-se adequadamente,
pesquisar e atualizar-se constantemente, falar com a maior correção possível
sem perder o tom coloquial e, em hipótese alguma, negar-se a ensinar quando,
durante a aula, o aluno solicita. Inclui ainda estar sempre asseado, discretamente
perfumado, atento a todo e qualquer detalhe que permita seu aluno manter-se à
vontade para um aprendizado mais eficiente e divertido.
No Editorial do Jornal Dance de dezembro de 2011, Milton Saldanha
aborda a etiqueta profissional quando fala das brigas entre professores durante
a aula. Ressalta que o fato é comum entre brasileiros e estrangeiros. Milton
discorre sobre a situação desagradável gerada pelo profissional que humilha o
outro do alto de sua arrogância, impondo-lhe um constrangimento que não passa
desapercebido pelos alunos. O autor registra que este tipo de comportamento
“queima a imagem” do profissional que não chega a se dar conta do quanto isto
o denigre. Milton sugere que professores, ao trabalharem juntos, busquem o
diálogo profissional, a troca de avaliações e selem um pacto de serenidade,
controle da agressividade, dos ressentimentos e a otimização das críticas.
Segundo o autor, há os alunos que, naturalmente, disseminam os episódios para
fora da sala, outros desistem das aulas por não aguentarem mais o embate entre
os docentes e os que ficam tendem a simpatizar com a parte mais fraca. Os
alunos nunca devem perceber clima negativo sobre diferenças entre dois
docentes que trabalham juntos na mesma sala de aula.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA DE PLATEIA

Gostou da banda? Bata palmas, sempre. Gostou do show?


Idem. Isso para os profissionais é extremamente importante,
gratificante, estimulante.

Milton Saldanha. Podemos melhorar o baile! É simples, indolor e não


se gasta dinheiro. Basta bom-senso, educação, respeito ao parceiro
e ao espaço coletivo. São Paulo, SP. Jornal Dance. Agosto de 2009.

Da mesma forma que os salões e as escolas se modificaram ao longo do


tempo, os locais de apresentações cênicas também sofreram alterações. Aqui,
entenderemos como espaço cênico, todo lugar em que esteja acontecendo uma
apresentação, portanto, todo lugar onde há o conjunto de plateia e artista(s).
Esta apresentação pode ser de dança de salão. A atualidade mostra que
diversos locais podem assumir a configuração de um palco, mas o teatro é o
mais típico. A palavra plateia será aplicada no sentido do total de pessoas que
assiste à apresentação, incluindo, ocasionalmente, o local que ocupam.
Ao pensarmos em comportamentos inadequados num teatro, imaginamos
logo aqueles óbvios como: gritos, apitos, crianças correndo, chorando ou com
idade inapropriada para o espetáculo, objetos sendo atirados, brigas ou coisas
do gênero. Entretanto, uma miríade de outras atitudes mais sutis pode também
ser enquadrada como falta de etiqueta no espaço cênico.
Aproveitando o ensejo do Festival de Teatro de Curitiba, Guga Azevedo
discute a questão com muita propriedade em seu artigo “Lições de bom
comportamento no teatro”, publicado em 2011 no tradicional jornal paranaense
Gazeta do Povo. Diz ele que todos nós já sofremos, em algum momento, com o
mau comportamento alheio, e exemplifica: conversa fiada na fila de trás; chutes
no assento da frente; pessoas chegando atrasadas. O autor traz ainda,
informações consistentes coletadas com Liana Justus e Clarice Miranda
(professoras do curso de formação de plateia do Solar do Rosário, Curitiba,
autoras de quatro livros sobre o tema); Cíntia Castaldi (consultora de imagem);
Laercio Ruffa (diretor do grupo de teatro Tanahora) e Rubens Weber (psicólogo
e professor). Em razão das boas fontes citadas, apresento os conteúdos deste
artigo como referência para o que chamamos aqui de “etiqueta de plateia”.
130
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

O autor explanou sobre os 9 (nove) comportamentos elencados:

1. Não se informar antes.


2. Chegar atrasado ao local.
3. Usar celular ou câmeras.
4. Usar chapéu e penteados altos.
5. Falar durante a apresentação das peças.
6. Mexer com os artistas em cena.
7. Comer ou chutar a cadeira da frente.
8. Não ir pelo “evento social” e nem por razões culturais.
9. Aplaudir ou não aplaudir.

Considera importante a pessoa se inteirar sobre o que irá assistir.


Quando falamos sobre nossas idas a locais para dançar, frisamos a
importância de se informar sobre o local e o tipo de evento para acertarmos na
escolha dos trajes e dos comportamentos. O mesmo vale para nossa
participação como plateia.
O artigo informa ainda que há países em que um simples atraso já é
suficiente para impedir a entrada do espectador. O atraso atrapalha quem
chegou no horário e quem se apresenta. Guga sugere, caso ocorra o atraso,
não tentar buscar o assento marcado no ingresso, mas sim se acomodar no
primeiro local que encontrar livre, incomodando o mínimo possível os demais
presentes. A dica mais importante: sair de casa mais cedo e programar-se para
não criar situações tão desagradáveis.
Antes de utilizar aparelhos eletrônicos como celulares, câmeras,
máquinas fotográficas, é indispensável verificar se é permitido seu uso. Mesmo
não havendo nenhuma proibição, é preciso muita atenção para perceber se
esta prática vai ou não atrapalhar alguém. Sugestão: tirar fotos, por exemplo,
somente após terminado o espetáculo – e se isto também não for
inconveniente. De um modo geral, é procedimento desaconselhável.
O uso de chapéu ou de penteados muito altos é terminantemente
vetado. Atrapalham a visão de espectadores localizados, às vezes, até várias
fileiras atrás.

131
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

O referido artigo lembra, ainda, que espectadores das primeiras fileiras


que usam cores muito fortes atraem a atenção e atrapalham a concentração
dos artistas. O profissional experiente não corre tal risco, mas o espetáculo
pode ter um elenco de amadores... como muitas das apresentações de dança
de salão, executadas por simples amantes da arte que merecem o mesmo
respeito de quem os assiste.
Infelizmente, assistimos a apresentações em que somos obrigados a
ouvir na plateia pessoas travando conversas paralelas, as vezes até bem
acaloradas. É preciso evitar tal desrespeito ao resto da plateia e mesmo aos
artistas. Claro que, muitas vezes, temos um forte desejo de comentar com
quem nos acompanha, algum detalhe do espetáculo. Aconselha-se que o tom
de voz utilizado seja percebido somente pela pessoa a quem nos dirigimos.
Mas preferencialmente deixar para fazer os comentários depois. Nas
apresentações de dança de salão, as pessoas costumam cantar as músicas,
as vezes até acompanham o ritmo batucando, ou batendo e chutando
cadeiras/poltronas. É comportamento que atrapalha, tira a atenção da
apresentação. Isto só é admissível quando o próprio artista convida a plateia a
participar. O clássico “psiu”, por mais que se justifique, é mais um incômodo.
Além do que, chamar a atenção de alguém em público constrange o
repreendido e quem assiste a cena.
Na reportagem que referencia este capítulo, Laercio Ruffa comenta: não
provocar os artistas durante uma apresentação é questão de boa educação.
Mais uma vez, é preciso conhecer a característica do espetáculo, para saber
se a interação é conveniente ou não, aconteça a peça onde acontecer, em um
teatro ou na rua.
Comer é ato proibido em alguns espaços cênicos. Teatro não é cinema.
Portanto, antes de abrir um pacote de alimento, verifique se isto não
desrespeita as regras para aquele evento e local. Não é raro pessoas da plateia
consumirem salgadinhos ou algo similar, produzindo ruídos muito
desagradáveis com a embalagem. Além disto, a educação ambiental
recomenda não abandonar restos, poluindo o local.
Outra atitude indesejável é aquela do espectador que procura objetos
em sacolas plásticas, gerando aquele som bem conhecido, dificultando a
concentração no que acontece no palco. Há ocasiões, no entanto, em que este

132
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ruído pode ser admissível, ou até, desejável. Exemplifico: um dos momentos


mais marcantes que já assisti em espetáculos de dança de salão, foi a entrada
no palco de Jomar Mesquita, da Mimulus, agitando uma sacolinha plástica.
Sobre cada assento da plateia, havia uma sacolinha idêntica. Foi emocionante
quando todos, incentivados pelo artista, começaram a agitar suas sacolinhas.
O público percebeu que o espetáculo previa sua participação e embarcou na
proposta. Portanto, saber situar-se diante dos objetivos do momento e local é
a regra certa.
Mais uma situação: o comparecimento a espaços cênicos para “ser
visto” e não para “ver”, na suposição de que eventos “cultos” transferem
“cultura” a quem os assiste... Resultado: sabe-se comentar mais sobre como
ou quem estava presente, do que sobre o espetáculo. Esta motivação perigosa
favorece comportamentos inadequados. Compareça apenas às apresentações
que realmente lhe interessam. Usufrua ao máximo daquela fonte de cultura, do
prazer de conhecer e ver coisas novas. O comportamento será, naturalmente,
elegante e de acordo com a etiqueta.
Acrescento a este rol de sugestões, o cuidado com a circulação. É
bastante desagradável assistir a um espetáculo com pessoas circulando à
nossa frente, especialmente quando é de dança, em que cada segundo é
precioso. Devemos evitar deixar o assento antes do término, só mesmo se for
uma emergência. Por exemplo, a ida à toalete deve ocorrer antes de iniciar a
apresentação ou após encerrada.
Qualquer comportamento da plateia que chame a atenção é, em
princípio, inadequado. Até mesmo não aplaudir, se não ficou satisfeito. Clarice
Miranda entende que aplaudir é sinal de respeito e sugere aplaudir sem
levantar-se, se o resultado final não foi satisfatório. Entretanto, ser o único a
ficar sentado, chama a atenção sobre si evidenciando pouca elegância.
Resumindo: é sábio evitar qualquer atitude que incomode as pessoas
ou distraia sua atenção do foco principal.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA DO AMBIENTE VIRTUAL DE DANÇA DE SALÃO

(...) de todos os espaços para nossa convivência, o mais traiçoeiro é


a internet. Lá, mesmo as melhores maneiras podem se tornar mal-
entendidos. Escondidos atrás de um teclado, sem contato visual ou
auditivo com o interlocutor, podemos libertar nossos piores
demônios. A facilidade de apertar a tecla “enviar” amplia as
possibilidades de catástrofe social.

Flávia Yuri e Daniella Cornachione. Gafes, vexames & micos – e


mais: 50 dicas para evitá-los. São Paulo, SP. Revista Época. 16 de
março de 2012.

A educação para o uso ético e socialmente responsável dos ambientes


virtuais tem chegado atrasada devido a velocidade com que novas tecnologias
e recursos surgem. Alguns especialistas apontam que a rapidez com que as
informações circulam tem dificultado a cordialidade. A objetividade reduz o uso
de palavras típicas da boa educação como, obrigada, por favor, desculpe, entre
outras.
Já se admite o respeito pleno à liberdade de expressão e ao mesmo
tempo acentuou-se a intolerância aos preconceitos de qualquer tipo. No trato de
assuntos polêmicos, é preciso bom senso e postura de solidariedade.
Embora a etiqueta para internet, a “netiqueta”, ainda seja uma novidade
para muitos, vem sendo foco de publicações e discutida talvez desde o início da
década de 90. Como tudo que diz respeito à etiqueta, é sempre conveniente
basear-se na cordialidade, boas maneiras, educação e polidez, enfim, no
respeito aos outros.
Hoje, o mundo virtual faz parte de nossas vidas. Pela internet, visitamos
revistas, jornais, blogs, fóruns e diversos sites através dos quais podemos nos
manifestar. A dança de salão não foge deste padrão. São inúmeros os sites, dos
mais frequentados aos desconhecidos, gerando uma profusão de novas ideias.
Por isto, a etiqueta para a dança de salão, hoje, é pertinente a estes ambientes
que, quanto mais agradáveis, mais produtivos.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

No espaço virtual de outro

Eu acho que se não tem nada de bom pra falar, fica quieto! (...)
Melhor não opinar pra não arrumar confusão. Porque nesse vai e
vem as pessoas acabam falando coisas absurdas e sem nexo.
(...) Aí você me pergunta, e a liberdade de expressão, onde fica?
Continua onde sempre esteve. Você tem algo pra falar? Faça e
aconteça no seu espaço. (...) O que você vai ganhar metendo a boca
no post alheio? Nada. Não podemos obrigar as pessoas a pensar
iguais a nós, então RESPEITE. Simples assim.

Jaqueline Gonchoroski. Etiqueta Virtual. São José dos Pinhas, PR.


Mulheres modernas e nenhum segredo. 8 de novembro de 2011.

Para favorecer o clima produtivo nos ambientes virtuais dos quais


participamos, algumas dicas podem ajudar:

 Releia seu texto pelo menos duas vezes antes de postá-lo;


 Atente para erros no uso da língua escrita;
 Não utilize palavras de baixo calão;
 Não utilize caixa alta;
 Não publique o mesmo comentário várias vezes;
 Não poste propagandas de bailes, aulas ou o que for, em espaços que
não têm esta finalidade, sem a autorização do responsável;
 Atente à finalidade do espaço virtual do qual pretende participar e leia o
que há nele antes de fazer uma postagem. É deselegante registrar
assuntos diferentes do foco em questão, ou repetir assuntos já
veiculados;
 Evite assuntos polêmicos fora de espaços destinados a este fim;
 Não critique grosseiramente ideias nem pessoas, especialmente as mais
renomadas que você. Pense na possibilidade de seu comentário deixar
transparecer que você quer se mostrar mais competente que o alvo de
sua crítica. Se for este o caso, mantenha-se em silêncio. Redações
agressivas podem gerar situações desconfortáveis e até vexatórias, sem
falar no risco de se cometer injustiças;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 Não critique só pela crítica. Pessoas que costumam fazer críticas


improdutivas ou grosseiras não conseguem fazê-las habitualmente em
veículos consagrados, com avaliadores sérios que limitam estas ações;
 Exponha o que pensa de forma nobre, elegante, sem agredir,
ridicularizar, humilhar, desmerecer ou desqualificar ninguém. A
mordacidade será lembrada por mais tempo do que você gostaria. Bons
leitores sabem encontrar materiais de qualidade e comparar ideias
diferentes;
 Nunca acuse alguém de erro publicamente. Procure a pessoa em
particular para expor seu pensamento. Você pode se surpreender,
percebendo que interpretou equivocadamente o que leu. E lembre-se: o
conhecimento se aprimora diariamente, logo, está constantemente
mudando. Portanto, o que foi escrito hoje, pode, sim, ser diferente
amanhã. É preciso aprender a lidar com esta realidade, saber que isto
não significa, necessariamente, que o autor errou. Quer dizer apenas
que, no referido momento, conforme o método usado, o conhecimento
estava naquele ponto e houve quem o registrou;
 Todo e qualquer trabalho legítimo tem algum mérito, nem que seja só o
esforço de quem o fez. Sempre é possível fazer um elogio honesto, como
sempre é possível fazer uma contribuição individual. Ou então, silêncio.
Melhor não postar nada do que registrar algo que lhe trará uma imagem
pública de alguém que não teve a oportunidade de civilizar-se. O elogio
autêntico conquista aliados, a crítica pública traz inimigos.

Assim, façamos da internet um espaço para exercitar a generosidade, o


respeito, onde trataremos os outros como gostaríamos de ser tratados. Posturas
como esta não trazem arrependimentos, além de serem mais produtivas.

No seu espaço virtual

Antigamente, quando não existia essa loucura de internet, éramos


cobrados por nossos pais e tínhamos que ser educados, sempre
agradecer e pedir licença. Ok, acredito que muitos (infelizmente nem
todos) aprenderam isso e trouxeram para o mundo virtual. Pois é, eu
disse QUASE todos. Quem tem blog, fica frequentemente na internet

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

já deve ter visto, presenciado ou até sido vítima de falta de educação


de algumas pessoas. Depois que as redes sociais bombaram e
viraram vício muitos aparecem simplesmente pra criticar, humilhar e
atormentar. Porque no começo é até fácil ignorar, mas chega uma
hora que ler tanta besteira acaba nos tirando do sério. E é aí que
caímos na bobeira de responder, cutucar e o que era uma gotinha
acaba virando um oceano.

Jaqueline Gonchoroski. Etiqueta Virtual. São José dos Pinhas, PR.


Mulheres modernas e nenhum segredo. 8 de novembro de 2011.

No momento em que alguém tem seu próprio espaço virtual para tratar de
assuntos sobre dança de salão, passa a ter responsabilidades, às vezes
desconhecidas, o que implica também em atentar para a etiqueta.
A seguir, registramos algumas dicas para a criação e manutenção de
espaços virtuais de qualidade.

Uso correto e polido da língua: nenhum espaço é considerado de boa


qualidade quando traz muitos erros no uso da língua nacional. Formas
agressivas de escrever, o uso de palavrões e outras impropriedades
desqualificam o espaço virtual. Houve um tempo em que o uso das palavras de
baixo calão tiveram um significado intelectual de ruptura. Felizmente, este tempo
passou. Hoje, usar palavrões é de mau gosto e reduz o público que acessa
determinados espaços virtuais.

Responsabilidade: publicar é ato que exige responsabilidade. Nossas opiniões,


quando divulgadas, podem provocar reações e trazer consequências. Não
podemos esquecer: sempre que nos pronunciamos, especialmente se por
escrito, influímos em pensamentos e sentimentos das pessoas que nos ouvem
ou leem. Pensar muito bem antes de emitir qualquer pensamento evita
dissabores e/ou problemas mais sérios.

Plágio: se pretendemos manter um espaço próprio no mundo cibernético, é


preciso atribuir a ele uma identidade. Isto se faz criando. Jamais devemos postar

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

conteúdos de outros em nossos espaços virtuais sem a devida autorização do


autor e do publicador original. Em hipótese alguma, deixar de citar a fonte. Além
de podermos enfrentar conflitos legais, estaremos desacreditando nosso espaço
virtual, preparando seu fracasso.

Reconhecimento aos autores das melhores ideias: buscar e divulgar as


melhores ideias, reconhecer a autoria de quem as propôs é caminho seguro para
consolidar o conhecimento, especialmente na dança de salão que, em se
tratando do saber formal, está apenas engatinhando.

Preservação de conforto: para respeitar a etiqueta virtual, nosso espaço


precisa manter um ambiente confortável, seja qual for o conteúdo que
pretendemos disponibilizar. Todas as discussões são válidas e importantes, mas
só são construtivas quando feitas cordialmente. Os melhores espaços virtuais
são os amigáveis, aqueles que conseguem expor imparcialmente aos seus
leitores diferentes textos com informações contraditórias, permitindo-lhes
conhecer concepções diversas e fazer suas escolhas, livre e
independentemente.

Críticas: não publicar textos ofensivos a quem quer que seja, especialmente se
o criticado não puder se defender. Agressões não são jamais esquecidas.
Críticas a trabalhos e opiniões podem e devem ser feitas de forma elegante,
simplesmente registrando as informações, dados, constatações ou mesmo
ideias diferentes, preservando a identidade de quem, em tese, mereceria a
crítica.

Transparência de objetivos: deixe bem claro aos leitores os objetivos, as


regras de participação ou as informações de como o espaço funciona. Assim, se
necessário, usuários podem ser lembrados ou advertidos – sempre em particular

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

– dos princípios do site, justificando-se, inclusive, a exclusão de postagens ou


até mesmo de sua participação.

Divulgação: evite importunar as pessoas, mandando mensagens para que


sejam suas seguidoras, leitoras de seus artigos, que “curtam” o que escreveu,
entrem para seus grupos ou divulguem seu espaço. Uma sobrecarga de pedidos
por atenção consegue resultado oposto. Entenda que assuntos mais complexos
e elaborados interessam a uma quantidade menor de pessoas do que assuntos
simples e acessíveis, nossa expectativa ao publicar precisa ser proporcional no
que tange a este parâmetro. Dica: estabeleça um dia da semana ou do mês para
fazer contatos, preferencialmente em forma de notícias, convidando
discretamente a visitar o seu espaço, sem insistência exagerada e atentando ao
público adequado. Textos bem escritos, interessantes, atraem naturalmente os
leitores que, espontaneamente, se encarregam de “repicá-los” segundo seus
interesses. Assuntos do interesse geral, sorteios de prêmios, entrevistas com
pessoas notáveis também são estratégias muito eficientes para fidelizar leitores.

Uso de veículo alheio: quem publica artigos em um veículo virtual alheio tem
ali também um espaço virtual “seu”, porém, cedido com ou sem arbitragem
(editores). A atenção deve ser redobrada para não se publicar conteúdos
conflitantes com as finalidades do espaço cedido. O autor precisa ter certeza que
aquele veículo é compatível com suas ideias. Se, no entanto, receber uma crítica
desrespeitosa, a melhor resposta é ignorá-la. Mas se o responsável pelo veículo
da publicação solicitar uma resposta pública, faça-a na qualidade de autor e não
de comentarista, de forma técnica e impessoal, colocando toda fundamentação.

Participação de autor ou editor nos campos de comentários de leitores:


blogs pequenos ou centrados em assuntos cotidianos e afinados com as ideias
dos leitores tendem a ter sua maior importância nos comentários. As postagens
moderadas, agradecimentos e respostas aos comentários estimulam a
participação do público que, geralmente nestes casos, busca mais atenção do

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

que conteúdo. Para empreitadas de maior profundidade, quando se pretende


oferecer assuntos com algum grau de especialização, contando com autores
referência por sua produtividade, a participação de leitores deverá ser tratada,
proporcionalmente, em caráter leigo. Assim, dificilmente autores ou editores
comentarão seus próprios artigos. Grandes blogs deixam os campos de
comentários ocultos, sendo colocados no espaço do leitor, sem poderem ser
invadidos pelos autores. Nestas situações, os comentários não recebem
agradecimentos nem respostas do veículo ou do autor. Isto é indicado para
preservar a natureza de independência desejada para o ambiente virtual e se
constitui em atrativo para novos leitores. Quando muito, publica-se novo artigo
ou texto tratando dos assuntos comentados. Se desvirtuarem a política de
participação, algumas postagens poderão, simplesmente, ser apagadas.
Entendemos que, ao decidir, ou não, participar do espaço dos leitores, um autor
ou editor precisa considerar as características e o objetivo que se pretende
alcançar naquele espaço.

Quando ignorar: só recebe crítica quem é lido. Portanto, só por este fato, o
autor já é uma referência. As críticas despolidas são, geralmente, postadas por
pessoas alheias à área. Ignorá-las é a melhor política, prática adotada pelos sites
de maior respeitabilidade. Deve ser excluída do espaço virtual a ofensa ou
indelicadeza exacerbada e uma advertência enviada, sempre particularmente,
ao ofensor. Em caso de necessidade de resposta, atribuir a menor importância
pontual possível, preferencialmente, conferindo caráter generalizado,
minimizando o valor da manifestação.

Respostas a contatos: o autor consolidado, com espaço próprio, cedido ou


ambos, inevitavelmente recebe contatos com solicitações de referências,
perguntas, opiniões, convites, entre outros. Responder aos que forem sérios
sempre que possível é regra básica de etiqueta. Mas a ausência de resposta
também pode ser um recado importante e enfático. Ignorar o mau gosto, a
inconveniência, o desrespeito não é falta de educação. É saber anular condutas
descompensadas. Afinal, ausência de resposta também tem significado...

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Produtividade: produzir novos textos, artigos ou livros é forma inteligente de


contribuir com o incentivo ao debate, para o enriquecimento e construção de
novos conhecimentos. Precisamos ter em mente que o bom leitor, nosso
parceiro, saberá encontrar informações e julgar sua qualidade.

Correspondência eletrônica

Nada mais chato do que receber aquelas mensagens


e correntes de e-mail que são repassadas para
muitas pessoas.

Bruna Bill. Etiqueta on-line. Curitiba, PR. Caderno Viver


Bem. Gazeta do Povo. 29 de janeiro de 2012.

Parte significativa das comunicações atuais ocorre por troca de


correspondências eletrônicas, naturalmente, uma série de atividades
relacionadas à dança de salão faz uso destes recursos. Alguns cuidados podem
aumentar sua eficiência e poupar dissabores nas comunicações com as pessoas
que fazem parte da nossa rede de contatos da dança de salão.
Muitas correspondências eletrônicas que recebemos por
encaminhamento são falsas. Existem sites especializados em desmascarar e-
mails de criancinhas desaparecidas, fofocas de famosos, curas milagrosas para
câncer, pessoas raptadas, fenômenos sobrenaturais, dietas malucas, produtos
perigosos comercializados, golpes, entre outros conteúdos mirabolantes. Cada
vez que recebemos um conteúdo encaminhado, é conveniente checar sua
veracidade antes de proliferar informações inverídicas que só servem para
emperrar o fluxo da internet. O mesmo vale para frases atribuídas a um autor e
que não pertencem, de fato, a ele.
Apresentações emocionais de como viver a vida e vídeos sobre assuntos
diversos, nem sempre relevantes, também sobrecarregam a rede e são
desnecessários. Reencaminhar ou compartilhar tais mensagens é ato de
responsabilidade. Não passe adiante o que já está correndo pela rede,
aparecendo frequentemente e não é necessário. Antes de fazer um contato
avalie se a pessoa que vai recebê-lo precisa ou gostaria mesmo dele. Nem todos

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

apreciam receber dizeres, frases sábias, indiretas, piadas, obscenidades,


vídeos, quantidades elevadas de divulgações do mesmo evento e similares. Sem
falar do tempo que se perde com este tipo de atividade. Uma dica do possível
desagrado é a ausência de confirmação do recebimento e resposta.
Ao recebermos e-mails ou contatos similares, também precisamos atentar
à boa educação. Mensagens profissionais exigem que se confirme o
recebimento, mesmo que o emissor não solicite, nem que seja para informar que
responderá mais tarde. Esta cordialidade mantém a pessoa informada sobre o
status de sua mensagem.
Atualmente, as assinaturas podem ser colocadas automaticamente ao
final das mensagens que escrevemos. Assinaturas não são propagandas. Nome,
cargo, instituição e telefone, em geral, são suficientes para atender
satisfatoriamente a esta finalidade.
Algumas outras dicas para o uso de correspondências eletrônicas são
valiosas: é prudente não enviar, sem autorização, textos particulares para
pessoas que não fizeram parte das trocas de mensagens; não usar caixa alta
em todo o texto porque dá a impressão de estar gritando; evitar o uso de anexos,
especialmente os pesados; preferir o uso de textos curtos.

Grupos e listas de discussão

São cada vez mais frequentes as aberturas de espaços virtuais de


participação interativa dedicados a temas específicos. Muitos já se destinam a
assuntos relacionados à dança de salão.
A participação cordial nestes ambientes é fundamental para preservar sua
qualidade. É preciso lembrar de: manter-se nos assuntos propostos pelo criador
do espaço virtual; respeitar direitos autorais, citando autores de mensagens que
não são nossas; pedir autorização ao responsável pelo ambiente virtual antes de
postar propagandas; cuidar com o uso de símbolos de emoções, verificar se são
adequados para revelar o tom do que é escrito.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Redes sociais

Julgar é sinônimo de comprometimento, com sérios e


variados riscos, sendo o principal deles o da
injustiça, mesmo que involuntária.

Milton Saldanha. Editorial.


São Paulo, SP. Jornal Dance. Março, 1998

Hoje, a dança de salão também figura nas redes sociais e de forma muito
intensa. Por isto, a forma como nos portamos nestes ambientes também é
pertinente quando falamos em etiqueta para dança de salão.
Em 30 de novembro de 2011, Stephani Kokn publicou no site da Uol o
artigo “Etiqueta online: o que devemos (ou não) fazer nas redes sociais”, com
dicas sobre como portar-se neste ambiente. Stephani começa o artigo citando a
autora do livro “Net.com.classe”, a consultora de etiqueta Claudia Matarazzo,
que registra o quanto é importante trazer para os ambientes virtuais as regras
convencionais de etiqueta. O consultor de estilo Fabio Arruda, o jornalista
Gavroche Fukuma e o gestor de TI Wiliam Ribeiro também foram mencionados
como fonte de informações para o artigo de Stephani. Conforme estas fontes,
algumas dicas são relevantes, por isto as trago de forma comentada.

 Não rejeitar uma solicitação para ser adicionado a sua rede social.
Procure uma forma educada de fazê-lo ou ignore, sem desrespeitar suas
próprias vontades. Sugestão: utilize recursos como “bloqueios” anônimos,
ótima forma de garantir discrição, evitando muita exposição;
 Não expor indiscriminadamente fotos de outras pessoas, amigos,
familiares ou de si mesmo. Antes de postar qualquer foto, peça
autorização para quem aparece retratado, respeitando sua privacidade;
 Os recursos de marcação de pessoas também só podem ser usados, com
autorização prévia, evitando constrangimentos a quem, simplesmente,
pode pensar de maneira diferente da sua;
 Jamais expor devedores;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 O que não se fala em público também não se publica na internet.


Mensagens pessoais devem ser enviadas de forma privada,
especialmente as menos convencionais;
 Exagero nas mensagens pessoais publicadas é falta de educação.
Conforme a autora do artigo percebeu ao consultar seus leitores, ninguém
gosta de saber tudo que os outros estão fazendo a cada momento. Quase
sempre, estes assuntos são considerados irrelevantes;
 Repetição de informações e brincadeirinhas quase nunca são bem vistas
por todos – é preciso pensar em como cada postagem vai atingir outras
pessoas;
 Correntes, vídeos, fotos e textos que não são de própria autoria exigem
cuidado ao serem “compartilhados” ou enviados. O exagero lota caixas
de correio, faz os outros perderem tempo com o que não lhes interessa e
traz o risco da pessoa ser vista como “sem opinião própria” por somente
replicar pensamentos alheios. Melhor fazer uma comunidade ou blog,
onde a procura é voluntária e não se impõe a ninguém o que boa parte
das pessoas não tem interesse em ver;
 Informações sobre o dia a dia individual são irrelevantes. É exposição
desnecessária, demonstra egocentrismo, sobrecarrega caixas de
postagens e similares com assuntos inúteis. Mais uma vez, melhor
providenciar um blog pessoal para isto;
 A veiculação de opiniões, principalmente as mais polêmicas, merece
cuidado especial. A maior parte das pessoas não gosta de ver postagens
sobre crenças ou descrenças que diferem das suas, times de futebol que
não lhes interessam, partidos políticos com os quais não tem afinidade ou
cenas chocantes. Estes conteúdos têm mais possibilidade de desagradar
do que fazer alguém mudar de opinião. Para atender a estas
necessidades há grupos sobre assuntos específicos. Todos são livres
para escolher e participar daqueles que lhes interessam;
 Na internet, palavras grosseiras e textos mal-educados ficam
armazenados por longo tempo, permitindo que muitas pessoas
relembrem a atitude e formem um conceito desabonador, mais de quem
os emitiu do que de quem se referiam;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

 Ficar convidando pessoas para participar de jogos e aplicativos não é


considerada atitude de bom tom. Cada um busca o que lhe agrada quando
mais lhe convém;
 A ferramenta “retuíte” também não deve ser utilizada em demasia;
 É comum acontecer de textos serem mal interpretados. Muito cuidado ao
se expressar;
 As fontes de textos e informações devem sempre ser respeitadas.
“Roubar” frases e conteúdos de outras pessoas, além de ilegal e imoral,
é cada vez mais perigoso. Na internet, tudo fica registrado;
 Twitter não é MSN ou Skype. Exige postagens relevantes, com intervalos
de tempo razoáveis;
 Ao acompanhar ídolos, é inconveniente ficar enviando mensagens
seguidas ou comentar tudo que é postado.

Não esqueça: o fato de haver uma quantidade enorme de pessoas se


portando mal na internet não justifica que façamos o mesmo.
Dispositivos móveis favorecem o mau uso da internet. Caso percebamos
dificuldade de autocontrole, melhor deixar de usar, especialmente, em redes
sociais. Estes recursos não devem ser usados ao volante, em teatros, cinemas.
Já há quem fale em etiqueta móvel para o uso de celulares, notebooks, tablets,
smartphones e outros.
A quantidade de ações que realizamos nas redes sociais também revela
como ocupamos nosso tempo. O excesso de compartilhamentos, envio de
mensagens sem conteúdo de autoria própria, “curtições” e outras transmite a
ideia de alguém que não tem o que fazer. Aliás, sobre o “curtir”, vale lembrar:
“curtir” significa que a mensagem foi apreciada e não simplesmente lida.
Portanto, evite “curtir” o que não leu integralmente, conteúdos trágicos ou tristes.
Assuntos desagradáveis ou grotescos devem ter postagens evitadas.
É prudente atuar nas redes sociais fazendo apenas o que é necessário,
importante, útil ou relevante, cuidando para não trazer desconforto a ninguém.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Outras considerações

Postou? É para sempre. O que você lança no ciberespaço revela


crenças, valores, preconceitos e... pode criar muita saia justa. Domine
as regras de bom comportamento do mundo digital

Liliane Oraggio. Pequeno manual de etiqueta nas redes sociais. M de


Mulher Trabalho. São Paulo, SP. Editora Abril. 17 de setembro de
2012.

Atualmente, muitas das pessoas que conhecemos são contatadas só pelo


meio virtual. Logo, neste espaço, somos nossos textos e ações virtuais. Assim,
algumas dicas a mais podem ajudar um posicionamento favorável a uma boa
imagem na internet.

Conversas virtuais: não interrompa uma conversa que está em curso,


introduzindo assunto diferente. Pode parecer que o texto do interlocutor não está
chegando ou está sendo ignorado. Se houver necessidade de interromper ou
desconectar-se, é educado despedir-se e mudar o status para ausente. Isto evita
que outras pessoas tentem uma comunicação e fiquem aguardando respostas.
Textos curtos e concisos são mais eficientes. Abreviaturas, gírias,
estrangeirismos, caixas altas sem razão, podem não ser compreendidos em
determinados momentos. Por isso, seu uso exige parcimônia.

Reclamações: existem sites só para esta finalidade. As reclamações, por serem


quase sempre desagradáveis, devem ser evitadas ao máximo fora destes
espaços. Em contrapartida, se há algum conhecimento contributivo a ser
compartilhado, será bem-vindo.

Discussões: acaloradas ou com participantes que usam palavrões ou


grosserias não são próprias de ambientes polidos. Se possível, não participe.
Quando sentimos uma necessidade muito intensa de opinar nestas discussões,

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

é conveniente procurarmos um espaço mais austero. De modo algum,


permaneça voluntariamente entre mal-educados.

Perdoar: é gentil perdoar erros alheios. Jamais corrigir quem não solicitou nossa
“avaliação” pública. Responder uma mensagem, usando corretamente uma
mesma palavra que veio escrita com erro, pode ser uma estratégia simpática. A
mesma gentileza vale para perguntas tolas que vemos postadas em diversos
sites. Ignore-as ou responda com polidez, para quem perguntou, pode não ser
tolice.

Comunicação à distância: especialistas concordam que há uma hierarquia de


pessoalidade. A mais impessoal é a postagem em redes sociais, seguida por
mensagens de texto telefônicas, aplicativos de conversa on-line, e-mails e, por
último, o telefonema, a comunicação à distância mais pessoal. Ao fazer parte de
qualquer diálogo à distância, respeite esta hierarquia e mantenha o meio em que
a conversa se iniciou, podendo, eventualmente, mudar para meios mais
pessoais, jamais o contrário. Na prática, isto significa: não é cordial receber um
contato por e-mail e responder em uma rede social. Denota falta de
consideração, diminui a importância que o interlocutor deu, inicialmente, à
conversa. Neste quesito, vale lembrar: o status que a pessoa apresenta em
aplicativos de conversa on-line deve ser respeitado. É invasivo chamar para
conversar alguém que colocou seu status como “ocupado”. Em alguns casos,
admite-se uma mensagem curta, já com uma despedida, deixando a pessoa
“ocupada” livre para não responder no momento, sem constrangimento. E
quando a pessoa aparece como “disponível”, é gentil perguntar se pode
conversar com você naquele momento e somente depois de receber resposta
positiva entrar no assunto.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ETIQUETA NO ESPAÇO ACADÊMICO

Entre os anos de 2010 e 2012, fiz uma série de publicações sobre a


produção científica na área da dança de salão. Esta pesquisa revelou que
dezenas de universidades espalhadas por todo o país têm sido a casa da
produção de monografias, dissertações e teses sobre dança de salão. Estas
pesquisas apontaram ainda que, nos últimos anos, tem aumentado a produção
de livros, artigos, trabalhos acadêmicos e publicações em eventos. Portanto, o
ambiente acadêmico também vem sendo atingido pela dança de salão. Assim, a
etiqueta nestes espaços passa a ser pertinente neste livro, mesmo que de forma
breve.
São vários os aspectos que envolvem este âmbito, mas aqui discutiremos
os mais relevantes para o momento, lembrando que, nestes casos, a ética é um
fator determinante para a etiqueta.

Respeito à credibilidade

Respeitar quem conquistou credibilidade é um princípio básico em


qualquer circunstância. Mais “renomado” não é sinônimo de “títulos mais
elevados”. Não são raros os casos de profissionais cujos trabalhos têm
credibilidade, importância indiscutível, e não detém título algum. O inverso
também é verdadeiro. Com a banalização dos títulos de graduação,
especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado, tem sido cada vez mais
comum encontrar mestres e doutores fartamente “titulados” que desconhecem,
por exemplo, o que é uma publicação científica, finalidade primordial destes
graus de formação.
Desta forma, como árbitros de publicações, bancas de trabalhos
acadêmicos ou de concursos, professores, coordenadores, diretores, alunos, ou
seja quem for, devemos sempre respeitar quem conquistou credibilidade. Jamais
alguém menos produtivo poderá criticar publicamente quem tem produções, por
exemplo, mais bem referenciadas por outros pesquisadores de gabarito.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Se discordar de algo que alguém mais experiente disse ou publicou,


procure esta pessoa em particular e inicie uma conversa com perguntas. Esta
estratégia permite perceber melhor a ideia da outra pessoa e contribui para
dirimir discordâncias. Mas se uma boa conversa não for suficiente ou a
argumentação do questionado não o convencer, faça sua própria pesquisa e
publique seus resultados e ideias. Mas lembre-se: no ambiente científico não
cabem discussões emocionais ou pessoais. O que deverá estar em questão é
o conhecimento. Cada pesquisador lê, se informa, estuda, formula, redige e
publica suas ideias. Outros pesquisadores procederão da mesma forma. Assim,
em altíssimo nível, os saberes são registrados, estudados, experimentados,
repetidos, criticados, modificados, aprimorados e a evolução do conhecimento
acontece, sem nenhuma necessidade de situações de embate ou de fomento à
despolidez.

Títulos falsos

Com a disponibilização de informações aumentando a cada dia, a


invenção de títulos de graduação, especialização, mestrado ou doutorado, fica
cada vez mais atraente para algumas pessoas. Da mesma forma é cada vez
mais fácil conferir a veracidade das informações.
Divulgar ser detentor de determinado título que de fato não se conquistou,
seja em discurso ou em texto, denota falta de integridade, base para o
comportamento ético, que por sua vez, é indispensável para a conduta conforme
a etiqueta em qualquer âmbito.
Ainda vale lembrar que a produtividade de alguém diz mais do que seus
títulos. Os títulos morrem conosco, o que produzimos com qualidade fica.

Respeito à autoria

Muitas coisas se constituem “desrespeito à autoria”: descobertas ou


invenções apossadas por outrem; livro de um autor registrado como sendo de
outro; trabalhos acadêmicos escritos por um autor e registrados em outro nome;

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

artigos científicos com vários autores que não participaram efetivamente de sua
construção; cópia de textos republicados sem autorização; plágio de ideias e
similares.
Assenhorar-se indevidamente de qualquer criação alheia é, no mínimo,
desonesto, por isto, afronta qualquer princípio elementar de etiqueta.

Respeito ao conhecimento

A etiqueta, sem falar da ética, não admite a invenção de dados, alteração


de resultados, manipulação de técnicas que distorcem resultados. Estas atitudes
dissimulatórias agridem e comprometem o verdadeiro conhecimento, por
gerarem informações e deduções falsas. Felizmente, a ampliação dos
mecanismos científicos de confirmação é cada vez mais eficiente, minimizando
este dano.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

PARTE VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A arte de viver
É simplesmente a arte de conviver...
Simplesmente, disse eu?
Mas como é difícil!

Mario Quintana. Velório sem defunto.


Porto Alegre, RS. Editora Mercado Aberto. 1982.

Etiqueta é um conjunto de regras, objetivas e subjetivas, registradas ou


implícitas, variáveis de salão para salão, de sala para sala, de ambiente para
ambiente, que tenta aprimorar o convívio de todos os participantes. Mas é a
integridade, o respeito, o bom senso e a empatia que, efetivamente, podem
garantir o conforto, imperativo para que a etiqueta para dança de salão aconteça
em sua plenitude. Por mais que pareça simples, exige postura e conhecimento
eclético, leitura constante e vontade de respeitar.
O participante ideal do universo da dança de salão respeita o par, o salão
e outros espaços em que esta arte se manifesta. Empenha-se no seu
aperfeiçoamento através da constante busca por novos conhecimentos. Está
sempre atento às percepções, sensações e sentimentos dos demais. É empático
e deseja mais o bem-estar dos outros do que ser bem visto ou apreciado.
Espero ter aberto um espaço de discussão, reflexão e ampliação de
referências culturais. Não houve a pretensão de propor a palavra final sobre
nenhum dos tópicos aqui trazidos, nem tampouco de esgotar o assunto.
Entretanto, se foi possível deixar uma mensagem, antes de mais nada, sobre o

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

valor de ser íntegro e pensar primeiro no bem-estar do outro, estará realizada


alguma conquista.
Fecha-se este trabalho com a mesma frase de Sandra Ruthes em “Música
para dança de salão” (Protexto, Curitiba, 2007), escolhida para abertura do livro
“Etiqueta para dança de salão, primeiros passos”:

“Dançar é exprimir, vivenciar.


Dançar a dois é mais que isto, é relacionar-se,
saber ceder, respeitar o espaço e tempo do outro”

153
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

BIBLIOGRAFIAS

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Aur%C3%A9lio_de_Figueiredo_-
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Wilhelm_Gause_Hofball_in_Wien.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Roupa
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http://www.casamentocarioca.com.br/site/conteudo_artigos_materias_detalhes.asp?tit
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http://www.diariodemulher.com/Beleza-e-Estilo/a-maquiagem-perfeita-para-cada-
ocasiao
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http://www.galeriaaberta.com/sara_vieira/gordas/slides/Dan%C3%A7a%20nocturna%2
0-%20acr%C3%ADlico%20sobre%20tela%20-%2050x60cm%20-%202007%20-
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159
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

GLOSSÁRIO

Dança de salão – é a arte conservacionista que se universaliza em práticas sociais, não cênicas,
nem esportivas, consistindo na interpretação improvisada da música através dos movimentos
dos corpos de um casal independente, quando o cavalheiro conduz a dama.
Exemplos: samba de gafieira, bolero carioca, tango, lambada, swing (soltinho).

Dança de casal: conjunto de todas as danças cuja unidade é um par formado por um cavalheiro
e uma dama.

Danças de baile: conjunto das danças que são praticadas em bailes.

Salão de dança: é qualquer espaço no qual ocorrem danças em prática social.

Dama: é a entidade feminina do casal, a unidade da dança de salão, que se comporta com
integridade, exercendo seu domínio ao selecionar o cavalheiro que irá conduzi-la, enquanto
demonstrará seu grau de satisfação.

Cavalheiro: é a entidade masculina do casal, a unidade da dança de salão, que se comporta


com integridade, submetendo-se à decisão da dama em aceitar ou não sua condução, que ocorre
com a finalidade de satisfazê-la.

Condução (conceito tradicional): é a proposição de movimentos que o cavalheiro faz para a


dama que a acata e responde de forma personalizada, influenciando as conduções seguintes e
estabelecendo uma comunicação que se mantém durante toda a dança.

Dança social: é a dança recreativa de prática social, não cênica, nem competitiva, sem natureza
artística, desprovida de técnica elaborada ligada a sua origem, que se universaliza e consiste em
movimentos dos corpos de um casal independente, sob a condução do cavalheiro.
Exemplo: curinga [dois e dois].

Dança erudita: é a dança recreativa, não cênica, nem competitiva, com formação de pares não
enlaçados que dançam de forma dependente uns dos outros, criada por mestres e ensinada aos
nobres, antes dos bailes, para ser praticada em salões aristocráticos antigos. Portanto, trata-se
de dança criada para o salão e não dança surgida de salão.
Exemplo: minueto, gavota.

Dança folclórica: é dança preservacionista derivada de dança popular que deixou de ter prática
social. Em geral é dançada com o uso de trajes típicos.
Exemplo: tarantela, italiana.

Dança popular: é uma manifestação cultural de um povo, mantida por prática social, passível
de evolução, que não se universaliza, não é competitiva nem cênica. Não é dançada
necessariamente com trajes típicos.
Exemplos: cueca, no Chile, frevo, no Brasil, ambas danças ainda praticadas; waltzer, dançada
popularmente por volta do século XV em algumas regiões como a periferia de Viena, era mais
grosseira que a valsa, entretanto, deu origem a ela quando adaptada para os salões
aristocráticos.

Dança popularizada: é a dança vinda dos meios aristocráticos, produzida por mestres, adotada
e adaptada imediatamente pelo povo.
Exemplos: polcas e mazurcas.

Discoteca: dança em que não se formam pares enlaçados, cada indivíduo movimenta-se
aleatoriamente, balançando o corpo. Pode-se dançar sozinho, um de frente para o outro ou
formando círculos de variados tamanhos.
Exemplo: dança da discoteca

160
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Dança esportiva: dança de caráter competitivo, enquadrada como modalidade olímpica.


Exemplo: slow-waltz, quick-step.

Dança cênica: é a dança que implica em treinamento profissional, é coreografada a partir de


uma ou mais técnicas e faz uso de recursos como figurino, cenário e iluminação.

Dança de salão de projeção: termo sugerido por Cristovão Christianis para designar a
subdivisão da dança cênica resultante da transposição da dança de salão para o palco.
Exemplo: dança difundida pela Mimulus Cia de Dança, para a qual se sugere a denominação
específica de Técnica Mesquita, referenciando seu criador Jomar Mesquita.

Dança tradicionalista social: dança preservacionista de prática social, não cênica, nem
competitiva. Pode ser dançada socialmente com trajes típicos.
Exemplo: danças gaúchas disseminadas pelos CTGs.

Dança da moda: dança que se universaliza por mecanismos midiáticos.


Exemplos: macarena, axé.

Salão acadêmico: é o salão de dança em que se pratica dança de salão.

Salão não acadêmico: é o salão de dança em que se pratica dança social.

Salão tradicionalista: é o salão de dança em que se pratica dança tradicionalista social.

Salão da moda: é o salão de dança em que se pratica dança da moda.

Salão de discoteca: é o salão de dança em que se pratica discoteca.

Salão popular: é o salão de dança em que se pratica dança popular.

Salão misto: é o salão de dança em que ocorrem diferentes tipos de danças em prática social.

161
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

ANEXO
Um toque de infidelidade

Em 1989 a Paramount Pictures lança no cinema o filme “Um toque de infidelidade”, intitulado
originalmente de “Cousins”, dirigido por Joel Schumacher e produzido por William Allyn. Foi estrelado por
Isabella Rossellini, Ted Danson, Sean Young e William Peteresen nos papéis principais. O filme é uma
refilmagem de “Primo, Prima”, de 1975. Conta a história de Maria e Larry, que se conhecem na recepção
do casamento entre a mãe dela e o tio dele. Nesta festa, inicia-se um caso amoroso entre os cônjuges dos
protagonistas, que não passa desapercebido por ninguém. Incomodados com o caso dos seus cônjuges,
Larry e Maria aproximam-se tentando dar a impressão de que também estavam tendo um caso, o que
desemboca em um romance real entre ambos.
Apesar de ser antigo, vale a pena revê-lo, se não pelo enredo, por ter uma bela fotografia e uma
trilha sonora fantástica.
Mas, o que realmente marcou minha memória, foi uma cena de menos de 20 segundos,
aproximadamente aos 27 minutos do filme, em que Ted Danson (Larry), dança um cha-cha-cha com
Lorraine Butler (Ms. Greenblatt). Larry é um homem esbelto e elegante, que buscava a felicidade e para tal,
trocava seqüencialmente de empregos. No momento em que se passa o filme, ele atua ministrando aulas
de Danças de Salão, o que, segundo ele, o permite ser feliz. Como professor, aparece conduzindo uma
aula para terceira idade, em um clima agradabilíssimo, construído sobre tons claros característicos do
espírito daquele momento. Em determinado ponto, ele interrompe a aula no intuito de mostrar como é o
cha-cha-cha e convida para uma demonstração Misses Greenbaltt (Lorraine Butler), sua ajudante:

Oh. My God. No. No. No.


Let me show you one more time.
One more time. Everybody.
Mrs. Greenblatt…

Misses Greenbaltt, com bela postura e elegância, dirige-se ao centro da sala de dança. Ambos
dançam brevemente com uma leveza impressionante e ao final, o professor olha para a Dama e se
pronuncia:

You look marvelous.


Magnificent. A thing of beauty.
Thank you. Thank you.
Okay. That's it. Time's up. Everybody.
Practice. Practice. Practice. Yes. Practice. Practice. Practice.

É uma cena que deve ter passado desapercebida pela maioria das pessoas que assistem a esta
produção envolvidas em seu enredo. Não é um destes filmes de dança que tanto chamam a atenção
trazendo histórias românticas pasteurizadas pelo envolvimento entre os dançarinos, seja entre professor(a)
e aluno(a) ou não. É uma cena mais real, característica da maioria das salas de aula de danças de salão
para terceira idade que estão espalhadas pelo mundo. Na época em que assisti este filme a primeira vez,
nem havia iniciado minhas aulas de dança de salão, mas, o fato é que o vi há mais de 20 anos e esta foi a
cena que ficou marcada em minha memória.
Com esta lembrança permanente, resolvi rever o filme apreciando novamente aquela cena em
especial, revivi a mesma sensação, de indescritível leveza. Busquei informações, especialmente sobre a
Dama chamada pelo professor para demonstrar, a atriz Lorraine Butler. Não foi possível encontrar muitos
dados sobre esta Dama/atriz, pude saber apenas que teria nascido em Melbourne, Austrália, atuado em
apenas pouquíssimos filmes com papéis secundários e seguido carreira em cassinos, teatros, restaurantes,
hotéis e, nos últimos anos, ensinando voz e performance.
Talvez alguns possam se perguntar o que será que havia de tão fantástico naqueles 20 segundos.
Bem, para a maioria das pessoas deve ser mesmo uma cena banal, mas, para mim, marcou a memória,
conservando um frescor único. Uma cena de beleza incrível, quem sabe, porque se tratava de uma Dama
notavelmente fora dos padrões de beleza aceitos pela sociedade.

Artigo publicado no blog “Dança de Salão – Maristela Zamoner”, em 28 de setembro de 2011.

162
Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

REFLEXÃO: Quem é você na dança de salão?

É sempre bom que tenhamos ciência sobre o que acontece conosco, para respeitar o palco, o
salão, nosso par e a nós mesmos.

Abaixo seguem algumas perguntas que têm como finalidade favorecer a reflexão, o que pode
ajudar na autoconsciência e posicionamento realista diante de si mesmo. Ao ler as perguntas e
suas alternativas "a" e "b", pode ocorrer de não haver uma resposta certa, precisa para cada
caso. Então, é bom escolher a alternativa que mais se aproxima do que o leitor sente. O ideal é
ler a pergunta e as alternativas sem responder imediatamente. Será um bom exercício, a cada
pergunta, tentar lembrar de situações correlatas vividas, dos verdadeiros sentimentos tidos em
cada uma delas para, então, responder.

1. Você se considera um dançarino exemplar? a. ( ) sim b. ( ) não

2. Quando você dança em um salão, procura notar se alguém está observando sua
dança? a. ( ) sim b. ( ) não

3. Se ocasionalmente você está em um salão e percebe que alguém está admirando sua
dança, você fica mais atento para fazer movimentos bonitos? a. ( ) sim b. ( ) não

4. Imagine por um momento a sua melhor dança, na qual você tem o melhor
desempenho. Você preferiria desfrutar dela compartilhando com outras pessoas que
tenham a oportunidade de vê-la ou preferiria vivê-la com seu par preferido em qualquer
lugar?
a. ( ) compartilhar com outras pessoas além do meu par
b. ( ) desfrutá-la com meu par preferido em qualquer lugar

5. Ao longo de uma dança, em um salão, você consegue manter a atenção em seu par
durante toda a dança, ou em alguns momentos se distrai com vontade de fazer
movimentos apreciáveis?
a. ( ) as vezes me distraio fazendo movimentos que me parecem apreciáveis
b. ( ) mantenho a atenção em meu par durante toda a dança

6. Quando você procura aprender movimentos novos, pensa primeiro em um movimento


divertido ou pensa primeiro se o movimento é bonito?
a. ( ) penso primeiro se o movimento é bonito
b. ( ) penso primeiro se meu par ficaria feliz com o movimento novo

7. Caso você adore fazer determinado movimento e seu par preferido o deteste, você
deixa de fazer o movimento que gosta muito para não chatear seu par ou pensa que seu
par também tem que fazer sua parte para você fazer o que gosta?
a. ( ) as vezes faço o que gosto porque acho que meu par preferido pode me entender e
respeitar minha vontade
b. ( ) deixo de fazer o passo que meu par não gosta

8. Se você frequenta o salão e alguém te convida para participar de um espetáculo de


dança com coreografias, você:
a. ( ) pensa imediatamente que a pessoa que te convidou considera sua dança muito boa e
tende a querer participar porque será uma experiência legal dividir com os outros a sua dança
b. ( ) pensa que vai dedicar um tempo para uma dança que não é sua e prefere agradecer,
não aceitar e continuar dedicando seu tempo para curtir seu(s) par(es) preferido(s) no salão

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

9. Você se imagina, algumas ou várias vezes, dançando para que outras pessoas o
vejam e apreciem sua dança? a. ( ) sim b. ( ) não

10. Quando você está se preparando para sair, você escolhe uma roupa e um sapato que
se destaquem no salão ou prefere se trajar da forma que seu(s) par(es) preferido(s) mais
aprecia(m)?
a. ( ) acho que os trajes que se destacam no salão são mais legais, combinam mais com
minha dança e me fazem sentir bem
b. ( ) prefiro que meu(s) par(es) preferido(s) gostem da forma como estou

11. Na situação de dançar para outras pessoas que estejam ali para ver sua dança,
compartilhando com você ao ver uma arte linda como a dança de salão sendo executada
por você, o que sente:
a. ( ) fico feliz quando as pessoas me veem dançando bem
b. ( ) gostaria de mostrar para as pessoas que elas também podem sentir o prazer da dança

12. O que te atrai em seu par preferido:


a. ( ) com meu par preferido minha dança é mais bonita
b. ( ) meu par preferido é quem tem as reações mais gostosas

Para pensar:

SALÃO: 1 a 4 respostas para letra "a": provavelmente você é um dançarino de salão em sua
essência, em geral prefere ver a satisfação do seu par a ser reconhecido por dançar bem ou
mostrar para outras pessoas os prazeres da dança. O cuidado a tomar é de não esquecer das
regras do salão ao satisfazer seu par.

ENTRE O SALÃO E O PALCO: 5 a 8 respostas para letra "a": você transita entre os prazeres
do salão e os do palco. Gosta de desfrutar de seu par na intimidade, mas também gosta de
compartilhar sua dança com outras pessoas que a admirem.

PALCO: 9 a 12 respostas para letra "a": você prefere o palco, é sempre saudável descobrir o
que o leva a preferir o palco, e para você vale a pena procurar experiências com
apresentações de dança, seja em iniciativas de outras pessoas ou próprias, para explorar este
mundo e se entender nele. Quem sabe você se descobre com um grande talento e desenvolve
um trabalho que se torna uma referência. O cuidado a tomar, é não desrespeitar ninguém na
busca da sensação de se sentir valorizado e reconhecido.

Estas são apenas sugestões e reflexões que naturalmente variam de pessoa para pessoa, não
servem como regra absoluta. Mas podem ser um ponto de partida para nos fazer pensar sobre
o que somos para nós e para os outros em cada ambiente de dança onde estamos. É um
ponto de partida para entender qual o papel da dança de salão em nossa vida, como
desfrutamos dela, como a usamos, que espaços vazios ela preenche. Sempre é bom estarmos
cientes e no controle sobre o que fazemos com esta arte em nossas vidas, para evitarmos a
perda de valores que nos são importantes.

Uma vez que estamos conscientes do que sentimos, do que queremos, do que precisamos,
podemos assumir o controle sobre o que fazemos e este é o caminho para que todos fiquem
bem e possam aproveitar o melhor da dança, seja curtindo os encantos do salão ou as alegrias
de se apresentar!

Agradeço à Marilia Zamoner pela participação na elaboração desta Reflexão.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

OUTROS LIVROS DA AUTORA - DANÇA DE SALÃO

Dança de Salão, uma força civilizatriz. Comfauna, 2016.


Civilizatriz é uma palavra que, mesmo já tendo sido utilizada e possuindo uma
beleza intensa, não existe em nossos dicionários. Mas é fácil compreender que
remete a ideia de sinonímia com a palavra civilizadora, cujo significado denota
a saída de um estágio primitivo, que faz progredir ou instruir, que torna cortês.
E é esta a ideia central que será abordada neste livro: a força que a etiqueta
tem ou pode ter para a dança de salão, de nos extrair de estágios primitivos.
Fazendo-nos trilhar os caminhos da cortesia, nos levará a progredir como seres
humanos, passando pela assimilação de uma integridade íntima e profunda.

Dança de Salão: conceitos e definições fundamentais. Protexto, 2013.


O livro apresenta fundamentos históricos, etimológicos e técnicos como base
para proposição de conceitos e definições para: Dança de Salão; Salão de
Dança; Dama; Cavalheiro e Condução.

Sexo e Dança de Salão. Protexto, 2007.


O que sexo tem a ver com dança de salão? As respostas retratam muito bem a
enorme divergência sobre o assunto, pois variam de “tudo” para “nada”.
"Sexo e dança de salão" é uma obra realista que aborda, sem preconceito
algum, o polêmico e delicado tema que transita pelos salões e academias de
dança de salão espalhados pelo Brasil e pelo mundo. A autora resolveu
enfrentar a questão e trazê-la à tona. E fez isto com a autoridade da cientista,
Mestre em Biologia, e da admiradora da arte que aprendeu a valorizar através
de estudo e da prática de longos anos: escrevendo, palestrando, dançando e
educando.

Educação Ambiental na Dança de Salão. Protexto, 2007.


A proposta deste livro é abrir a discussão sobre a possibilidade de trabalhar
educação ambiental na dança de salão. A relevância do tema justifica que
se trate das relações entre a dança de salão e o ambiente, especialmente
quando pensamos em sala de aula ou em palco. Nesta obra, a autora
apresenta inúmeras ligações entre estas duas áreas do conhecimento,
mostrando a todos os amantes da dança que é possível harmonizar os
cuidados necessários com o meio ambiente com o prazer e o divertimento
proporcionados pela encantadora arte da Dança de Salão.

Dança de Salão, a caminho da licenciatura. Protexto, 2005.


A dança de salão, arte e delícia por si só, resultado desta esmerada evolução
humana, merece ser desenhada pelo caminho da sistematização. Merece o
registro da bela arte que é, da parcela cultural que representa e das
possibilidades de contribuição interdisciplinar que oferece.
Este livro propõe a sistematização como base indispensável para
o estabelecimento de um curso superior de licenciatura em dança de
salão. Defende que são necessários conhecimentos aprofundados em diversas
áreas do conhecimento para a formação de professores de qualidade, garantia
para que a profissão seja regulamentada, respeitada e valorizada. Sugere uma
grade curricular inicial para ser analisada e aperfeiçoada.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

OUTROS LIVROS SOBRE DANÇA DE SALÃO – COMFAUNA

Palam, Edite (org.). Recortes da história das danças de baile II. Liberi. Ano
2. Volume III. Comfauna, 2017.

O Volume III da Série Liberi, organizado por Edite Palam, dá continuidade à


pesquisa documental iniciada em 2012 por Maristela Zamoner, sobre a História
da dança de salão no Brasil, trazendo na categoria de “Investigação científica”,
os resultados obtidos para o Estado do Pará.
Ainda neste volume, na categoria de “Comunicação científica”, traz-se detalhes
sobre três casos de má conduta científica histórica envolvendo a iconografia na
área da dança no século XIX.

Palam, Edite (org.). Recortes da história das danças de baile – RS, CE,
ES. Liberi. Ano 1. Volume II. Comfauna, 2016.

Este Volume II da Série Liberi, organizado por Edite Palam, vem a dar
continuidade à pesquisa documental iniciada em 2012 por Maristela Zamoner,
sobre a História da dança de salão no Brasil, ainda no mesmo formado das
primeiras publicações que disponibilizaram resultados dos seguintes estados
brasileiros: 1. São Paulo, 2013; 2. Rio de Janeiro, 2013 e 2015; 3. Paraná,
2014; 4. Pernambuco, 2014; 5. Maranhão, 2014; 6. Bahia, 2014; 7. Minas
Gerais, 2015; 8. Santa Catarina, 2015; 9. Sergipe, 2016. Na categoria
de Investigação científica trazemos agora os artigos referentes aos seguintes
estados: Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santo.

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Maristela Zamoner
Etiqueta para dança de salão: primeiros passos

Numa dialética esclarecedora, Maristela nos brinda


com um livro, recheado de detalhes sobre os mais Série Liberi.
diversos aspectos relacionados a etiqueta para o Ano 1. Volume
ambiente de dança e a dança a dois, mas como II.
sempre, a vida imita a arte ou vice-versa, a maioria Este volume da
das questões propostas e debatidas por Maristela, são
aplicadas ao nosso cotidiano, a nossa vida, no dia a
dia. Mesmo que não haja concordância acima de todas
as suas ideias, há uma competência inexprimível, que
torna a obra relevante no seu todo.

Com toques sutis e outros nem tanto, Maristela aborda


questões significativas que podem interferir na saúde
física, mental e social de nossos dançarinos de salão.

Com muito embasamento teórico, pautada nos mais


diversos autores e com o maior respeito ao leitor, traz
a tona questões delicadas, desde as que dizem respeito
ao próprio corpo e ao corpo do outro, como as que
dizem respeito a atitudes com relação ao seu par, aos
outros pares no salão ou a outros ambientes em que a
dança se faça presente.

Uma leitura agradável, recheada de conhecimento,


para todos aqueles que buscam a dança como uma
forma de expressão e comunicação, conduzindo-a ao
mais elevado nível de interação humana.

Sandra Ruthes
É formada em Educação Física pela UFPR (1996) e
pós-graduada nos cursos de Pedagogia do Esporte
pela UFPR (1997) e Dança de Salão – Teoria e
Técnica pela FAMEC (2006)
Possui mais de 20 anos de experiência na área das
danças a dois e hoje, além de atuar como professora,
coreógrafa e DJ, coordena a área pedagógica e de
organização de eventos da iDance – Dança de Salão
em Curitiba.

ISBN 978-85-66017-06-9

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Maristela Zamoner

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