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Dança de Salão

uma força civilizatriz


MARISTELA ZAMONER

DANÇA DE SALÃO
UMA FORÇA CIVILIZATRIZ

1ª Edição

CURITIBA
COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE LTDA.
2016

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Copyright © 2016 by Maristela Zamoner.

Direitos desta edição: Maristela Zamoner. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial desta obra,
desde que mencionados os créditos e sem objetivo de venda ou qualquer fim comercial.

1ª edição – 2016

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Z25d
Zamoner, Maristela
Dança de salão: uma força civilizatriz / Maristela Zamoner. –
Curitiba: Comfauna, 2016.
100 p.: il. color. ; 14x21cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-66017-03-8

1. Dança de salão - História. I Título.

CDU 793.3

Carla Lopes Ferreira (Bibliotecária CRB1-2960)

CAPA: Mário S. Trella. Imagem de fundo da capa do livro: Recorte da capa do livro “La danse des salons” de Henri
Cellarius, editado em 1847 por J. Hetzel. Outras imagens: Recorte do Papiro Prisse. Egyptien 186. Sessão introdutória
dos ensinamentos (1-73), disponibilizado pela Biblioteca Nacional da França; Recorte da capa do livro Book of
Curtesye. Reimpressão datada de 1868. Edição: Frederick J. Furnivall, M. A. Londres. Humphrey Milford, Oxford
University Press; Recorte da página de abertura do livro “Il Libro del cortegiano”, de Baldassarre Castiglione. Edição:
Ludovico Dolce. Publicado por G. Scoto. Edição de 1556. Exemplar eletrônico disponibilizado pela Universidade de
Princeton; Recorte da abertura do livro “Dancing and prompting, etiquete and deportment of society and ball room” de
Professor Bonstein. Library of Congress, Washington, Estados Unidos; Recorte da folha de rosto do livro “La danse
des salons” de Henri Cellarius, editado em 1847 por J. Hetzel. Recorte da folha de rosto do Manual de Dança de Alvaro
Dias Patricio, disponibilizado pela Biblioteca Nacional da Espanha (Biblioteca Digital Hispánica).

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Maristela Zamoner

Bióloga, especialista em Educação, pós-graduanda em História e Antropologia,


mestre em Ciências Biológicas. Na área da Dança de Salão é autora de livros,
artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais,
colunista de publicações da mídia especializada, professora e palestrante.

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DANÇA DE SALÃO
UMA FORÇA CIVILIZATRIZ

ISBN 978-85-66017-03-8

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Prefácio

“Onde o conhecimento está apenas num homem, a monarquia se impõe. Onde está num
grupo de homens, deve fazer lugar à aristocracia. E quando todos têm acesso às luzes do
saber, então vem o tempo da democracia”.
Victor Hugo, poeta, dramaturgo e estadista do século XIX

Recentemente, foi sancionada no Brasil uma lei que inclui a dança, a música, o teatro e
as artes visuais no currículo da educação básica. Apesar de comemorada por muitos,
surpreendeu-me ver outros tantos criticando a medida, por não acreditarem no valor do
ensino das artes na educação de crianças e adolescentes. Acredito que um pouco de estudo
sobre a história da evolução das civilizações poderia clarear as opiniões de alguns sobre
o tema. Acredito, ainda, que o saber que leva à democracia, citado pelo francês Victor
Hugo, passa também, inevitavelmente, pelo aprendizado das artes.

Se hoje, quem inicia sua aventura no universo das danças de salão o faz, em sua grande
maioria, em busca de lazer, atividade física ou socialização, houve tempo em que o
aprendizado desta arte era parte essencial, e restrita, da formação de homens e mulheres
da elite. Muito além de passos e figuras de dança, as aulas de dança de salão ensinavam
as boas maneiras de acordo com os costumes sociais vigentes.

Mas, em pleno século XXI, teria ainda a dança de salão o poder de educar para a
convivência em grupo?

Neste livro, por meio de uma apresentação cronológica e comportamental das regras de
etiqueta e sua relação com a dança, desde o Antigo Egito até os dias atuais, Maristela
Zamoner apresenta fatos e seus motivos, buscando incentivar a análise do que podemos
extrair de positivo das experiências que a história nos legou.

Dança de Salão – Uma Força Civilizatriz, poderia ser intitulado “Manual de Etiqueta e
Dança de Salão no século XXI”, não fossem as palavras “manual” e “etiqueta” muito
limitadoras a uma obra que pretende estimular a reflexão sobre ações e reações nossas,
do outro e do grupo, com o objetivo de seguir aperfeiçoando nossa civilidade para muito
além das formalidades e da polidez social, buscando como finalidade principal o respeito
mútuo e sincero entre as pessoas.

Keyla Barros
Jornalista, assessora de comunicação e diretora do portal Dança em Pauta

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Agradecimentos

Aos meus pais, Airo e Úrsula, por serem meus primeiros e


mais intensos exemplos de retidão e força civilizatriz.

Ao meu marido, Deni Filho, pela parceria incansável em


tantas áreas, pelo incentivo constante, por tudo que tem me
ensinado, por ser tão bom compartilhando sonhos e por me
apresentar um novo olhar para a conduta civilizatriz.

À Marilia, a melhor dama na pista, irmã e amiga de sempre,


exemplo de integridade. À minha sobrinha Beatriz que chega
trazendo tanta felicidade e motivando meus dias.

Ao meu irmão, Junior, minha cunhada, Sirlene, meus


sobrinhos Rafael e Marcelo, pela alegria que trazem à
minha vida.

A toda minha família, que faz a diferença.

À Jucimara Sequinel e ao Kênio Nogueira, que me


lançaram o desafio de palestrar sobre Etiqueta no Salão, no
evento “Ritmos a Dois” que integra o Festival de Dança de
Joinville, encantando-me ao ponto de motivar a pesquisa e
redação de mais este livro.

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Dedico este livro ao futuro.

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Os dançarinos em evidência, em todos os bailes, se fazem presentes querendo
provar a si mesmos do que são capazes de fazer na pista de dança, como se
isto provasse alguma coisa. Infelizmente, esta evidência é momentânea,
demora poucos meses até ele cair no ostracismo e no lugar comum. Já os
dançarinos consagrados são reconhecidos por tudo o que fizeram e continuam
fazendo, permanecendo em evidência ao longo do tempo, de maneira digna e
correta dentro do mundo da dança.
Estes não tem necessidade de provar mais nada.

Mestre Oswaldo. Entrevista. Jornal Dance News. Julho. 1997.

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Sumário

ABERTURA ...................................................................................................... 11
PARTE I ........................................................................................................... 13
CONCEITOS INICIAIS.................................................................................. 14
HISTÓRIAS E REGISTROS ......................................................................... 15
SALÃO E APRIMORAMENTO DA CONDUTA ............................................. 48
PARTE II .......................................................................................................... 50
DAMAS E CAVALHEIROS, DA VIDA PARA O SALÃO ............................... 51
DAMA ........................................................................................................... 71
CAVALHEIRO............................................................................................... 74
QUEM PODE SER UMA DAMA OU UM CAVALHEIRO .............................. 81
CAVALHEIROS E DAMAS NO SALÃO DE BAILE ....................................... 83
PARTE III ......................................................................................................... 84
COMUNICAÇÃO CIVILIZATRIZ NA PISTA DE DANÇA: CONDUÇÃO ....... 85
HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DE CONDUÇÃO ........................................... 86
PARTE VIII ....................................................................................................... 90
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 91
Bibliografias ...................................................................................................... 92
OUTRAS PUBLICAÇÕES DA AUTORA NA ÁREA DA DANÇA DE SALÃO . 101

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Papiro Prisse. Egyptien 186. Sessão introdutória dos ensinamentos


(1-73), disponibilizado pela Biblioteca Nacional da França. ................................. 16
Figura 2– Capa do livro Book of Curtesye. Reimpressão datada de 1868.
Edição: Frederick J. Furnivall, M. A. Londres. Humphrey Milford, Oxford
University Press. .......................................................................................................... 28
Figura 3 – Página de abertura do livro “Il Libro del cortegiano”, de Baldassarre
Castiglione. Edição: Ludovico Dolce. Publicado por G. Scoto. Edição de 1556.
Exemplar eletrônico disponibilizado pela Universidade de Princeton. ................ 30
Figura 4– Folha de rosto do livro “De civilitate morum puerilium libellum” de
Desiderius Erasmus Roterodamus. Publicado por Frobenius em 1530.
Disponibilizado pela Universidade Ghent, Bélgica. ................................................ 32
Figura 5– Óleo sobre tela: Retrato de Louis XIV da França, 1701. Autor:
Hyacinthe Rigaud (1659-1743). Localização da obra: Museu do Louvre.
Imagem em domínio público. ..................................................................................... 35
Figura 6– Palácio de Versalhes em pintura de Pierre Patel (1605-1676), datada
de 1668. Localização da obra: Museu de Versalhes. Imagem em domínio
público. .......................................................................................................................... 36
Figura 7– Recorte de jornal, anúncio de aulas de Henriques Cellarius,
professor de dança, publicado em 18 de maio de 1827 no Jornal Diario do Rio
de Janeiro ..................................................................................................................... 39
Figura 8– Capa do livro “La danse des salons” de Henri Cellarius, editado em
1847 por J. Hetzel ........................................................................................................ 40
Figura 9– Folha de rosto do livro “La danse des salons” de Henri Cellarius,
editado em 1847 por J. Hetzel. .................................................................................. 41
Figura 10- Folha de rosto do Manual de Dança de Alvaro Dias
Patricio, disponibilizado pela Biblioteca Nacional da Espanha (Biblioteca Digital
Hispánica) ..................................................................................................................... 44
Figura 11- Folha de rosto do Nouveau manuel complet de la danse, Traité
théorique et pratique de cet art depuis les temps les plus reculés jusqu´à nos
jours, de Carlo Blasis, disponibilizado pela Biblioteca Nacional da Espanha
(Biblioteca Digital Hispánica) ..................................................................................... 45
Figura 12- Abertura do livro “Dancing and prompting, etiquete and deportment
of society and ball room” de Professor Bonstein. Library of Congress,
Washington, Estados Unidos. .................................................................................... 47
Figura 13– Pintura de Guys, Constantin-Ernest-Adolphe-Hyacinthe (1802-
1892), aguada com tinta cinza, sem data. Localização da obra: Museu do
Louvre, Paris, França. ................................................................................................. 51
Figura 14– Pintura “La Gioconda” de Leonardo Da Vinci (1452-1519), pintada
em óleo sobre madeira de álamo, entre 1503 e 1505. Localização da obra:
Salle des États, Museu do Louvre, Paris, França. ................................................. 56
Figura 15– Pintura de Guys, Constantin-Ernest-Adolphe-Hyacinthe (1802-
1892), aguada com tinta cinza, produzida entre 1852 e 1860. Localização da
obra: Museu do Louvre, Paris, França. .................................................................... 82

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ABERTURA

A influência do salão, que é sinônimo da influência da mulher,


não sendo perturbada por fatores estranhos, é, em todo o caso,
uma força civilizatriz...

Tobias Barreto segundo Wanderley Pinho. Salões e Damas do


Segundo Reinado. 4ª. edição. Livraria Martins Editora São
Paulo. 1971.

Força civilizatriz. A expressão referiu-se ao papel da mulher nos salões


do século XIX, quando foi usada por Tobias Barreto de Meneses. Sergipano,
nasceu em Vila de Campos do Rio Real, localidade que hoje se denomina Tobias
Barreto, no dia 7 de junho de 1839. Faleceu em Sergipe, em 26 de junho de
1889, portanto, com apenas 50 anos de idade. O mulato Tobias foi membro da
Academia Brasileira de Letras, jurista, filósofo, crítico e poeta. Teve uma
participação importante no processo de educação da mulher e lançou um olhar
muito aguçado sobre seu papel na sociedade, sem deixar de lado sua atuação
nos salões, ambientes em que a essência dos comportamentos civilizados
atingia sua mais bela revelação.
Civilizatriz é uma palavra que, mesmo já tendo sido utilizada e possuindo
uma beleza intensa, não existe em nossos dicionários. Aqui, será reavivada,
remetendo a ideia de saída de um estágio individual primitivo, em direção à
conduta de integridade que beneficia o coletivo. E é esta a ideia central que será
abordada neste livro: a força que a dança de salão tem, capaz de elevar qualquer
indivíduo, para quem o interesse seja despertado, a um patamar de convivência
inteligente. Por esta razão, a expressão de Tobias Barreto foi escolhida para
compor o título deste livro.
As ideias civilizatrizes são, talvez, tão antigas quanto a dança e houve um
ponto no tempo em que a união destas duas genialidades humanas deram as
mãos no salão de dança para nunca mais se separarem. Veremos que a dama
e o cavalheiro, os protagonistas deste salão, se misturam com o processo
civilizador. Veremos que a condução é ação reguladora da relação civilizatriz
entre os protagonistas do salão de dança, inspiradora das boas relações entre
grandes grupos.
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Assim, se almeja com este livro:

 Abrir a discussão sobre este assunto encantador, oportunizando


uma aproximação com a História, a Arte e os costumes;
 Provocar reflexão acerca de si próprio e sobre os diversos aspectos
pertinentes à conduta na vida, que se reflete no âmbito da dança
de salão;
 Oportunizar ao leitor o contato com um acervo de referenciais para
sua tomada de decisão sobre a melhor conduta em cada situação,
a partir de fundamentos teóricos capazes de instrumentar o treino
de empatia e o uso de bom senso, almejando a autonomia na vida
e em todos os espaços de dança de salão.

Com muita honra e satisfação apresento aos leitores os resultados dos


últimos anos de estudos sobre este tema apaixonante: Dança de salão, uma
força civilizatriz.

Boa leitura!

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PARTE I

 CONCEITOS INICIAIS
 HISTÓRIAS E REGISTROS
 SALÃO E APRIMORAMENTO DA CONDUTA

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CONCEITOS INICIAIS

Aqueles inegáveis clarões que a mulher ilumina no espírito dos


homens é na conversa dos salões, e nos salões, que se
acendem.

Wanderley Pinho. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª.


edição. Livraria Martins Editora São Paulo. 1971.

Para atendermos aos objetivos propostos aqui, é pertinente perpassar


algumas ideias preliminares sobre ética, civilidade, regras de convivência, boas
maneiras e relações interpessoais.
O comportamento ético é entendido, aqui, como aquele que reflete o
compromisso de cada pessoa e da sociedade com os valores humanos. Não é
sem razão que a etiqueta também é conhecida como “pequena ética”.
A civilidade trata do que pode ser feito por vontade própria em favor da
convivência harmoniosa entre as pessoas, o que se alcança pelas boas
maneiras e pela etiqueta. Civilidade é uma palavra que remete ao respeito pelas
normas de convivência social. A palavra “civil” vem do latim e remete ao
habitante da cidade. A percepção da importância do respeito mútuo revelou-se
por uma codificação de civilidade que surgira para preservar a autoridade do
superior, o que se verifica também na natureza, entre diversos grupos animais.
Esta vertente desaguou na elaboração do Direito que revela a necessidade de
códigos e leis baseados em respeito mútuo que, obrigatoriamente, devem ser
seguidos por todos, de forma igualitária ou não. Assim, o comportamento do
homem atual está sujeito ao enquadramento nos códigos que cada sociedade
escolheu como mecanismo de estabelecimento da ordem. Sem dúvida, as
regras mais determinantes de convivência de um povo são suas leis, que
estabelecem as normas mais importantes, definindo punições para seu
descumprimento. Entretanto, uma miríade de comportamentos mais sutis,
embora não desrespeitando nenhuma lei, avança pelo âmbito da ética, da
civilidade e das boas maneiras, podendo ou não ser favorável à boa convivência
em sociedade. Naturalmente, estes comportamentos podem não estar sujeitos
às sansões definidas em códigos. É deles que nos ocuparemos.

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HISTÓRIAS E REGISTROS

Na biblioteca alarga-se o mundo da observação e da dedução;


nos salões o ar está impregnado de intuição. Êsse adivinhar do
espírito carece de estimulantes que a convivência
artisticamente disciplinada serve em momentos de leve
embriaguez espiritual.

Wanderley Pinho. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª.


edição. Livraria Martins Editora São Paulo. 1971.

De início, é pertinente observar alguns documentos históricos sobre o


interesse humano pelo respeito com o outro. Durante um longo tempo, os
registros sobre boas maneiras, desde manuscritos até impressos, estiveram
desvinculados da dança. A etiqueta fazia sua caminhada histórica e a dança
também, cada uma de forma independente. Mas houve um momento em que
etiqueta e dança se encontraram, deram as mãos e seguiram juntas até hoje. O
cenário deste encontro foi o salão, no momento em que a prática da dança
começou a fazer parte da vida social daquelas pessoas. Sob um olhar mais
apurado pode-se dizer que o estudo da dança de salão nos revela seu
nascimento com elementos de etiqueta inseridos em seu escopo.
Não se objetiva aqui albergar todos os documentos e livros dedicados a
este assunto. Mas apenas visitar alguns dos que tiveram destaque histórico ou
que são representativos para demonstrar o trajeto do desejo humano por regrar
a boa convivência. Paralelamente, far-se-á uma abordagem em relação à
caminhada histórica da dança contextualizada o mais próximo possível do local
e época de cada documento. Por fim, traremos uma representação bibliográfica
da união definitiva entre etiqueta e dança de salão.

Preceitos de Ptah-hotep - Papiro Prisse (2040-1650 a.C.)

Apesar da dificuldade em se reconhecer a primeira obra humana dedicada


aos assuntos das boas maneiras, alguns autores sugerem ser um papiro egípcio,
denominado Papiro Prisse. O documento foi descoberto em 1856 por Émile

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Prisse d'Avennes, que encontrou o rolo com cerca de sete metros de
comprimento em Tebas, no Egito.
O documento, escrito em hierático e datado de 2040-1650 a.C. é
conservado na Biblioteca Nacional da França, em Paris, havendo fragmentos
seus no Museu Britânico, em Londres, Inglaterra e no Museu Egípcio do Cairo,
no Egito.
Conta a história que o oitavo e penúltimo faraó da V dinastia (Antigo
Império), teria aceitado o pedido de Ptah-hotep, administrador público da cidade,
para retirar-se do cargo devido à idade avançada. Entretanto, condicionou sua
aposentadoria à tarefa de registrar seus ensinamentos para seu filho e substituto
Akhet-hotep. Assim, Ptah-hotep teria escrito o Papiro Prisse.
O conteúdo do papiro estaria dividido em dois textos: “Instruções para
Kagemni” e “Preceitos de Ptah-hotep”. Kagemni fora um administrador público
da IV dinastia que teria deixado registros de instruções. Entretanto, o texto que
nos interessa aqui é o de Ptah-hotep, composto por três partes: um pedido de
retirada do cargo em favor de seu filho, um conjunto de ensinamentos e um
epílogo.
Conforme a própria Biblioteca Nacional da França, Ptah-hotep foi
divulgado como o autor sem sê-lo, considerando, para tal, que o texto dataria do
final da VI Dinastia. Alguns autores supõem que isto tivesse como finalidade
conferir credibilidade aos ensinamentos.
O conteúdo contido no documento aborda preceitos de boas maneiras,
curtos e sem sequência lógica, propondo o cultivo de virtudes como a justiça,
gentileza, moderação e autocontrole. É considerado um manual de boas
maneiras completo, que teria inspirado as regras de conduta das sociedades
ocidentais.

Figura 1 – Papiro Prisse. Egyptien 186. Sessão introdutória dos ensinamentos (1-73),
disponibilizado pela Biblioteca Nacional da França.

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No período em que este documento foi escrito, a dança era uma prática
importante no Egito. É possível saber um pouco sobre ela ao apreciar a arte que
permanece até hoje em esculturas, pinturas, desenhos e papiros. A tradição
impunha parâmetros apenas para a representação dos deuses, do faraó e de
seus familiares. Por isto, os artistas retratavam mais livremente, dançarinos em
movimento. É assim que se percebe a dança frequentemente relacionada a
festividades religiosas e, mais raramente, à guerra ou outras temáticas.
A partir da V Dinastia, notam-se registros de danças religiosas com a
participação de anões entre as dançarinas religiosas. Para alguns autores, Bes,
um deus que seria anão, teria inventado a dança. Entretanto, outros atribuem
sua invenção à Hathor, uma deusa que trazia sobre a cabeça o disco solar, entre
dois chifres de vaca. Essa deusa também era representada com a cabeça inteira
de uma vaca. As normas da dança eram ditadas por Hathor que, segundo
alguns, seria a encarnação da dança. Seu principal centro de devoção estaria na
região de Saqqara, a mesma em que Ptah-hotep fora sepultado, havendo,
inclusive, pinturas de cenas de dança na tumba de Kagemni. Tanto Hathor
quanto Bes eram divindades protetoras da dança. O culto a estes deuses já vinha
dos tempos anteriores às dinastias e suas representações aparecem com
mudanças ao longo do tempo.
A dança em pares ocorria principalmente entre pessoas do mesmo sexo,
composta por movimentos de simetria rigorosa. Entretanto, há quem relate
danças entre homens e mulheres, porém, relacionadas a funerais.
Todos os anos, antes da cheia do Nilo, havia um festival de culto a Osíris,
deus da fertilidade e da agricultura, com uma procissão em que os sacerdotes
eram acompanhados por músicos e dançarinas na entrada do templo. A
interpretação de diferentes registros egípcios a respeito das danças, embora
seja complexa, permite a alguns estudiosos entender que havia angulosidade
nas posturas e estavam inclusos movimentos acrobáticos, entretanto, raramente
contendo saltos. Na dança religiosa destacavam-se dançarinas. Às vezes nuas
ou usando somente uma saia com desenhos geométricos, os olhos com
maquiagem bem destacada, traziam tornozelos e pulsos adornados.
Comumente, elas dançavam em pares entre músicos que tocavam tambores,
chocalhos, sistros e flautas.

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Nesta época, a dança existia no âmbito cênico, realizada de forma
coreografada e não improvisada, sendo entretenimento a ser assistido por quem
desfrutava de eventos sociais.

Hippocratis iusiurandum, de Hipócrates (460 a.C – 357 a.C)

Este texto é uma declaração que os médicos costumam fazer em suas


formaturas, conhecido em português como “Juramento de Hipócrates”. A autoria
é questionada porque muitos pesquisadores atribuem o surgimento do texto a
uma época posterior à vida do suposto autor. De qualquer forma, Hipócrates foi
uma figura eminente na intelectualidade ateniense, sendo considerado o maior
médico da Grécia Antiga. Os registros mostram suas atividades quase sempre
ligadas às temáticas que envolvem a saúde humana. Hipócrates traz como
fundamentos que a personalidade faz parte do organismo humano e sua ética é
considerada presente no Juramento.
Não é um documento sobre etiqueta. Entretanto, é citado aqui porque
parece ser um dos raros registros bem conhecidos desta época que apresenta
relevantes sugestões de comportamento social, como: respeito aos mestres e
pais; ajuda aos outros conforme nossas capacidades; fazer somente o que
temos conhecimento; ao entrar em casa alheia, não assediar ninguém
libidinosamente; guardar segredo do que ouvir e puder ser inconveniente para
alguém; evitar a injustiça e a corrupção; e a máxima mais importante: nunca fazer
mal intencional ao outro.
Na Grécia Antiga, período de datação do documento, a dança faz parte
de praticamente toda a vida social, havendo registros na educação, em
festividades, religião e na vida cotidiana. Das danças religiosas, destacavam-se
aquelas para Dionísio, o deus da primavera, dos ciclos vitais, da alegria, do vinho
e da embriaguez. As danças formais religiosas, teatrais, tradicionais ou militares
pautavam-se em passos convencionados. No cotidiano, se dançava em
nascimentos, casamentos e banquetes, entre outras ocasiões. Embora fosse
comum a formação de rodas e filas espontâneas, não havia um elenco de
movimentos ou passos obrigatórios. Os banquetes contavam com
apresentações de dançarinas profissionais que se movimentavam de forma

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provocante e acrobática. Alguns autores registram que as danças eram gravadas
em vasos e escritos dos filósofos mais interessados por esta arte.

Vatsyayana Kamasutram, de Vatsyayana (aproximadamente 400 a.C)

No oriente, a história das boas maneiras e da dança parece ter caminhado


independentemente do que ocorria no ocidente. Há muitas diferenças nos
conteúdos abordados em diversos documentos. No oriente, os comportamentos
eram vistos de forma muito distinta, o que se refletia diretamente na concepção
de boas maneiras.
Neste contexto, um dos documentos escritos mais relevantes, até por ter
sido amplamente difundido, é o Vatsyayana Kamasutram. Este livro é mais
conhecido pelo nome Kamasutra. Entende-se que Kama refere-se aos registros
literários referentes ao desejo, ao amor; e Sutra, é um termo utilizado para referir-
se a um texto de natureza técnica, como um guia ou um manual. Assim, seu
nome traria o significado de “Manual do amor”. A data exata em que foi escrito é
desconhecida, mas a autoria é atribuída a Vatsyayana, conhecido por ser um
celibatário que teria vivido em Pataliputra, uma região da Índia próxima ao Rio
Ganges, que era capital do reino conhecido como Magadha, hoje é denominada
Patra. A região vivia um período, Dinastia Gupta, de notável desenvolvimento
científico, filosófico e artístico.
O livro tornou-se popular no ocidente, a partir da tradução que Richard
Francis Burton e Foster Fitzgerald Arbuthnot fizeram para o inglês, em 1883.
Atualmente, existem muitas versões e variações em livros que fazem uso da
palavra Kamasutra.
O texto original é um resumo de diversos documentos anteriores que
faziam parte de uma tradição indiana. É, portanto, um antigo tratado indiano, um
clássico, que foi escrito originalmente em sânscrito. Não é entendido por
especialistas como um trabalho religioso e nem tântrico, embora haja quem
assim o considere. Para surpresa de alguns, não trata apenas de posições
sexuais, tema que, embora abordado em apenas um capítulo, favoreceu a
notoriedade da obra. Foi também o que trouxe má fama ao livro durante muito
tempo, sendo visto como obsceno, imoral, chegando a ser proibido em
determinadas circunstâncias.

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Mas sua leitura permite notar que são abordados três objetivos da vida
hindu antiga, denominados: dharma – vida virtuosa; artha – acúmulo de riqueza;
e kamadeva – gozo dos sentidos. Entretanto, alguns trechos trazem conteúdos
de conduta reprovável pela sociedade atual, como por exemplo, a ideia de
relacionar-se com uma mulher casada, matar seu marido e ficar com seus bens
(Capítulo V da Parte I).
De qualquer forma, segundo Fábio Marton, em seu artigo “Kama Sutra: O
côncavo e o convexo”, publicado no Guia do Estudante da Editora Abril em 2008,
o livro:

Também fala sobre teatros, festas, bebidas, perfumes,


maquiagem, banhos diários, higiene bucal, tintura para os
cabelos, temperos, ouro, jóias e uma enorme lista de outros
luxos que nessa época seriam exclusivos das sociedades mais
avançadas. O modo de vida dos indianos era comparável
apenas ao dos romanos e chineses. Ele chama o público-alvo
de seu livro de “o homem elegante”: cidadão que deve ser culto,
gentil, versado em literatura, artes, ciência, religião e filosofia e
pertencente a uma das três castas altas que podiam ter esses
luxos. Podia ser um brâmane (dos intelectuais e sacerdotes),
xatria (dos guerreiros) ou vaixia (dos proprietários rurais e
comerciantes). A última casta, os sudras, de trabalhadores
braçais, assim como os escravos sem casta, ficavam,
evidentemente, de fora, exceto em referências a hábitos de
pessoas necessitadas ou descontroladas.

A dança também está registrada no Kamasutra. O Capítulo III da Parte I


fala sobre 56 Artes e Ciências que devem ser estudadas. As três primeiras que
figuram na lista são: cantar, tocar instrumento musical e dançar. Entre as outras
destacam-se: cuidado com coloração dos dentes, roupas, cabelos, unhas;
pintura e trato dos cabelos; preparo de perfumes, uso de adereços; culinária;
declamação e composição de poesia; estudo da língua, falada e escrita;
aprimoramento de idiomas, dialetos e vocabulários; como fazer coisas comuns
adquirirem aparência bela e boa.
Este documento é bastante interessante porque mostra a dança de forma
completamente imersa em um contexto cultural que interliga diversas artes. É
uma prática com registros milenares, que se mantém como uma forma filosófica
de vida que integra corpo e mente. A dança, segundo alguns estudiosos, fora
criada para educar o povo e não só para entreter. A indumentária rica, colorida

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como a maquiagem, acompanha expressões marcadas, movimentos precisos
envoltos por música. O deus Brahma seria o inventor da dança que estaria
registrada nos Vedas, os livros sagrados hindus.

Sirácida de Jesus Ben Sirac, filho de Eleazar (180 a.C.)

É sabido que muitos textos da Bíblia utilizada pelos primeiros cristãos


foram excluídos ao longo do tempo por não se adequarem à doutrina
estabelecida pela Igreja Católica. Da mesma forma e também pela conveniência,
outros livros foram incluídos. Isto abrangeu textos do Antigo e do Novo
Testamento. Alguns livros do Novo Testamento foram retirados, por exemplo,
pelo fato de mostrarem um Jesus diferente do que os religiosos da época
entendiam ser adequado, como é o caso dos Evangelhos de Tomé e de Maria
Madalena. Outros foram excluídos por razões diferentes. É bem sabido que, por
exemplo, no ano de 367 depois de Cristo, o Bispo Atanásio de Alexandria,
seguindo a resolução do Concílio de Nicéia, ordenou a destruição de muitos
documentos religiosos. Mas, a partir de 1945, começaram a ser redescobertos
manuscritos ocultos naquela época para serem preservados. Vários deles,
datados de tempos anteriores a Cristo, revelaram alterações feitas na Bíblia. Em
1545, outras modificações ocorreram quando, por exemplo, o concílio católico
de Trento adicionou à Bíblia uma série de livros que foram chamados
deuterocanônicos. Entre estes, há um que nos interessa, particularmente, a
Sirácida.
A Sirácida ou, o “Livro de Ben Sira”, ou “Sabedoria de Sirac” ou ainda,
“Eclesiástico” tem por objetivo indicar práticas sobre a arte de viver bem e ser
feliz. O autor, identificado como “Jesus, filho de Sirac, filho de Eleazar”, vivera
no início do século II antes de Cristo como um tradicional sábio da cidade de
Jerusalém. Era professor e tinha como público, principalmente, jovens ricos,
frequentadores dos habituais banquetes da época. Seu livro teria sido escrito
cerca de 180 anos antes do nascimento de Cristo. Alguns dos apontamentos de
Sirac são: os modos à mesa, as boas maneiras ao se portar, falar, ser anfitrião,
beber vinho, emprestar e tomar emprestado, tratar bem os outros (homens,
mulheres, amigos e servos), a importância da autossuficiência, humildade,
humanidade, civilidade, generosidade, valorização da sabedoria, escolha de

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amigos e conselheiros, importância da verdade, dos valores morais, observância
da lei. Contraditoriamente, chama a atenção o modo preconceituoso com que
aborda a mulher, sendo considerada tola e incapaz de preservar-se de
complicações sexuais. Esta seria uma das razões que teriam levado os judeus
a considerar o livro como apócrifo.
Nesta época, Jerusalém estava sob domínio dos selêucidas, sucessores
de Alexandre, o Grande, da Macedônia. Os hábitos e a vida religiosa dos
hebreus eram respeitados, mas misturavam-se à cultura grega que Alexandre
queria expandir sobre os territórios conquistados. Alexandre foi rei aos vinte
anos, após o assassinato de seu pai, Felipe II, macedônico que conquistou a
Grécia. É conhecido como o maior conquistador do mundo antigo. Aluno de
Aristóteles, seu objetivo era formar um Império Universal unificado pela cultura
grega, fato que ficou conhecido como Helenismo. Assim, o modo com que o povo
grego cultivava a dança teria, provavelmente, uma influência sobre os hebreus
na época em que a Sirácida fora escrita. Há um consenso sobre a dança ser
apreciada e disseminada na Grécia e fora dela como as outras artes nesta
época, fazendo parte da vida social como a música, a poesia e o teatro, tanto
em festividades religiosas e cívicas quanto na vida privada.
Assim, os hebreus apreciavam a expressão corporal pela dança. Havia
muitas festas religiosas em que se praticavam danças ritualísticas com formação
de rodas, filas, giros e improvisação, sempre com cunho religioso.
Conta a história que em 220 a.C, a dança se tornaria moda também nos
costumes de famílias romanas. Era comum que famílias de patriarcas
mantivessem um professor grego para o ensino de coreografias aos seus filhos.
Afinal, nesta época, os romanos interessavam-se pelas danças gregas e
etruscas. Também foram abertas cerca de trezentas escolas de dança em Roma.
Em 150 a.C., Cipião Emiliano tenta acabar com estes estabelecimentos,
fechando muitos deles. Mas, por influência de latinos, os romanos começam a
realizar as primeiras danças de círculos, denominadas ballista e ballistorum,
palavras que deram origem ao termo “baile”. A partir de 20 a.C, as danças que
faziam parte dos banquetes adquirem um caráter erótico, provocando, mais
tarde, reações das comunidades cristãs e até mesmo de outros grupos romanos,
o que levaria sua prática à obscuridade e teatralidade. Esta linha de
acontecimentos resultou, tempos depois, em um longo período no qual a dança

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foi proibida pela Igreja Católica. É difícil saber se houve ou não modificação nos
textos originais bíblicos no que se refere à dança, mas, mesmo assim, é possível
notar uma prática social de danças, por exemplo, em:

Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe


um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro
cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; Porque
este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e
foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais
velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de
casa, ouviu a música e as danças.
Lucas 15:15-25

A Bíblia traz vários relatos sobre banquetes e, num deles em especial,


bastante popular embora de outro período, inclui a dança cênica.

E, chegando um dia favorável, em que Herodes no seu


aniversário natalício dera um banquete aos seus
dignitários, aos oficiais militares e aos principais da
Galiléia, entrou a filha de Herodias e, dançando, agradou a
Herodes e aos seus convivas. Então, disse o rei à jovem:
Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-lhe: Se
pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu ta
darei. Saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? Esta
respondeu: A cabeça de João Batista. Marcos 6: 21-24

Percebe-se, a partir deste documento, que a dança aparece de forma


cênica, como parte de espetáculos apresentados aos participantes do banquete
e não praticada entre eles. Nota-se também, em outros contextos, que a dança
mantinha um caráter popular.

Talmud (200-500 d.C.)

Lembremos, primeiramente, que o livro sagrado Torá, cuja palavra


significa “ensinamento”, é composto pelos mesmos primeiros cinco livros da
Bíblia (Pentateuco). Os nomes destes livros (parashiot) são: Bereshit (Gênesis),
Shemot (Êxodo), VaYikrá (Levítico), Bamidbar (Números) e Devarim
(Deuteronômio).
O termo Torá é usado no judaísmo rabínico para referir-se à Torá escrita
e à Torá oral, esta última compilada por outro livro sagrado, o Talmud, cuja

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palavra significa “estudo”. Embora os registros escritos do Talmud datem dos
primeiros séculos depois do nascimento de Cristo, sua transmissão oral vem de
muito antes. A necessidade do registro escrito veio por força da preocupação
dos judeus com a opressão romana e dispersão do seu povo. Assim, o Talmud
registra as discussões rabínicas vinculadas à Torá, sobre a lei, ética, história e
costumes do judaísmo. Diz-se que o Talmud define e dá forma ao judaísmo,
facilitando o cumprimento de leis e mandamentos ao explicar, discutir e
esclarecer os cinco livros da Torá.
O Talmud foi alvo de ataques por grupos, principalmente de cristãos, que
se sentiam ameaçados pela força unificadora e modeladora que exercia sobre
os judeus, como também por repudiar a idolatria e a imoralidade. Devido a isto,
teve trechos removidos, muitos de seus exemplares queimados em eventos
públicos entre os anos de 1242 e 1933, tendo períodos em que foi proibido, sob
pena de morte para os transgressores. Em 1559, foi incluído no Index Librorum
Prohibitorum (lista de livros proibidos) da Inquisição. Mas chegaram aos dias de
hoje duas versões do Talmud: o de Jerusalém e o Babilônico, este último mais
detalhado.
O Talmud é dividido em duas obras principais: Mushná, sobre a lei judaica
e Guemará, que comenta e elucida o Mishná. Incorporados ao Talmud, estão
alguns outros tratados menores relacionados aos “bons modos” e que dizem
respeito ao nosso objetivo, destacando-se os textos chamados de “Derech
Eretz”. Os textos orientam sobre como interagir bem com os outros, havendo
recomendações detalhadas, por exemplo, de que os pedaços de pão devem ser
partidos com a mão, convenção de boas maneiras que permanece até os dias
de hoje e não somente entre os judeus.
O próprio Talmud já faz referência a danças praticadas popularmente. Em
casamentos, a noiva senta-se em um trono e os partícipes dançam em sua
honra. Há também citação sobre uma dança praticada pelas filhas de Jerusalém
nos vinhedos, com o objetivo de atrair jovens solteiros em busca de uma noiva.
Tratam-se, portanto, de danças praticadas socialmente pelos partícipes dos
eventos, sem cunho cênico.

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De arte saltandi et choreas ducendi, de Domenico da Piacenza (1455 d.C.)

É importante fazer uma breve regressão histórica para compreensão do


contexto em que este manuscrito foi redigido. Lembremos que a Idade Média é
o período compreendido entre o ano de 476, quando houve a deposição do
último soberano do Império Romano, Rômulo Augústulo, até o ano de 1453 d.C.,
quando os turcos conquistaram Constantinopla, encerrando o Império Bizantino.
Durante um bom tempo, este período também ficou conhecido como “Idade das
Trevas”. Atualmente, esta abordagem é considerada “preconceituosa” por
muitos pesquisadores que reconhecem, para este período, notável
desenvolvimento em áreas como, por exemplo, a arquitetura de enormes
catedrais. De qualquer forma, a produção científica e literária desvinculada da
religião não foi o ponto forte deste período.
Naturalmente, a dança desta época encontra-se documentada sob o
domínio da Igreja e no âmbito do “pecado”, sendo proibida em diferentes
registros que abrangem um intervalo de tempo que se inicia antes da Idade
Média, estendendo-se até depois dela. A exemplificar, temos os concílios de
Vannes, em 465; Toledo, em 587; decretal do papa Zacarias em 774; a homilia
do papa Leão V, em 847; concílio de Avignon, em 1209; declaração de Sorbonne
em 1444 e o concílio de Trento, em 1562. Durante a Idade Média, entretanto,
havia em algumas catedrais europeias as chamadas ballatorias ou chorarias,
espaços na entrada das igrejas destinados à dança para louvar a Deus. Também
eram habituais as danças nas proximidades de túmulos de mártires e sob
supervisão bispal. De fato, o cristianismo não foi capaz de dizimar os costumes
dos camponeses que conservavam suas festividades e danças. As
transformações políticas e sociais que começaram a ocorrer a partir do século
XII, como a restauração do comércio, permitiram o surgimento de comerciantes
e industriais que passaram a construir seus palácios e residências imiscuídos
com a Arte. Foi neste contexto de retomada artística que Domenico da Piacenza
redigiu seu manuscrito.
Consta que Domenico da Piacenza, conhecido também como Domenico
da Ferrara, tem sua data de nascimento envolta em controvérsias que a situam
em diferentes anos como 1390, 1400 e 1430, na cidade italiana de Piacenza. O
ano de falecimento também é polêmico. Enquanto algumas fontes indicam o ano

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de 1470, outras registram 1476, na cidade de Ferrara. Ficou conhecido na
história como bailarino, professor, coreógrafo e teórico do balé italiano. Assinava
suas danças, sendo compositor das músicas de muitas delas.
Começou a ensinar dança na cidade em que nasceu e, posteriormente,
mudou-se para Ferrara com a finalidade de trabalhar na corte do Marquês
Leonello d’Este, entre os anos de 1441 e 1450. Chegou a organizar as danças
das comemorações do casamento do Marquês Leonello d'Este de Ferrara com
Margherita Gonzaga. Após 1450, Piacenza trabalhou na corte de Sforza, em
Milão, onde teria criado a Escola Lombard de Dança, havendo registro de
trabalhos com a participação de seus assistentes discípulos Antonio Cornazano
e Guglielmo Ebreo, em 1455. No ano seguinte, 1456, voltou para Ferrara, onde
continuou trabalhando até o fim da vida. Atualmente, vários estudiosos
concordam que o manuscrito “De arte saltandi et choreas ducendi” de Domenico
Piacenza teria sido escrito em 1455 e produzido pela Biblioteca Ducal, data
compatível com o auge da produtividade do autor, em Ferrara. Alguns
pesquisadores concordam que os textos introdutórios podem ter sido produzidos
alguns anos antes. Entretanto, há outros autores que sugerem datas anteriores
para todo o manuscrito, como 1435 e 1436.
Embora não impresso, este manuscrito tem importância histórica. O livro
é dividido em duas partes principais, ambas voltadas à dança. Na primeira parte,
Piacenza propõe uma gramática para a dança e na segunda descreve passos a
serem aprendidos. Embora os conteúdos voltem-se essencialmente para a
dança, Piacenza cita, já nos textos introdutórios, a Ética de Nicômaco, principal
obra de Aristóteles, dedicada à Ética.
A este manuscrito seguiram-se outros na mesma linha, inclusive dos
alunos de Domenico Piacenza.

Book of Curtesye (1477 d.C), de William Caxton

A partir do século XVI, as regras de trato social respeitoso começaram a


ser escritas, na Europa, em manuais que tinham como público alvo os nobres.
Somando-se a este contexto, Johannes Gutenberg inventa a imprensa, que tem
finalizada a impressão do primeiro livro no ano de 1455, a Bíblia.

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Consta que o primeiro livro impresso sobre boas maneiras teria sido Book
of Curtesye, no ano de 1477, por William Caxton. A obra trazia instruções para
crianças nos seus primeiros anos de atividades na igreja, escola, família e
participação à mesa. A redação, em versos, seria da autoria de um monge
desconhecido. Assim, além de orientações para o aprimoramento pessoal, o livro
trazia um componente literário. O texto dedicou-se extensamente a mostrar os
benefícios sociais do estudo e da leitura, favorecendo a absorção dos gostos
literários da elite e também suas formas de expressão.
Caxton teria impresso outros dois livros com instruções para jovens: The
Book called Caton (1483 d.C.), The Book of Good Manners (1487 d.C.).
Já no início do Renascimento, a dança começa a fazer parte dos eventos
sociais festivos nos salões da corte de Florença, na Itália, denominados trionfi.
Alguns autores consideram que a primeira destas festas teria ocorrido no ano de
1459, em comemoração ao casamento do Duque de Milão com Isabella de
Aragão. Conta-se que a apresentação de cada um dos pratos nupciais foi feita
por danças. Muitos consideram este o primeiro ballet de cunho especificamente
teatral. A partir deste marco e da disseminação da prática pela Europa, era
comum que os próprios nobres participassem como intérpretes das coreografias,
uma vez que a dança passou a fazer parte da sua educação.
Assim, também surgem os primeiros mestres que ensinavam aos nobres,
criavam as coreografias e organizavam os espetáculos. Algumas vezes, estes
mestres participavam das apresentações dançando, iniciando-se desta maneira,
o profissionalismo de professores e bailarinos. A partir daí a dança alcançaria
dois diferentes âmbitos: o ballet, voltado para os palcos; e o baile, para o
entretenimento. Este último, é particularmente interessante para o estudo da
dança de salão. Há registros textuais do século XII que se referem a danças
como estampie e saltarello, sobre as quais pouco se sabe. Outra dança
referenciada para a época denominava-se carole. Mais bem documentada,
admitia formação de roda em que os dançarinos cantavam, iniciando com a
atuação de um solista ao qual se uniam os demais. Neste século, começa a
moda de dançar aos pares de forma lenta e solene, o que era muito apropriado
para os trajes e ornamentos pesados da época. Estas danças contrastavam com
aquelas populares, praticadas pelos camponeses. No século XIII, há o que, para
alguns, é o primeiro registro textual de uma basse danse: o poema “Quar mot

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ome fan vers”, de Raimon de Cornet, um padre francês poeta, cuja data de
nascimento é desconhecida, mas a de falecimento é 1340. Há quem diga que
as danças coreografadas, como a basse dance, levaram ao desenvolvimento
posterior da pavane e, mais tarde, do minueto, que abririam caminho para a
chegada da valsa em 1780, a primeira dança de salão.

Figura 2– Capa do livro Book of Curtesye. Reimpressão datada de 1868. Edição: Frederick J.
Furnivall, M. A. Londres. Humphrey Milford, Oxford University Press.

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L’Art et Instruction de bien danser, Michel de Toulouze, (entre 1496 e
1501 d.C.)

Este é considerado, por muitos, o primeiro livro impresso sobre dança. E


ele ainda existe! Seus conteúdos dedicam-se aos aspectos técnicos da
dança na França daquela época. O texto aproxima-se do formato de um
manual, abordando as coreografias das danças que eram praticadas nos bailes
como entretenimento, portanto, sem características cênicas. Nesta publicação
se nota um viés de orientação, ainda não ostensiva, para conduta ética e moral.
A partir deste livro, vários outros foram publicados com a mesma finalidade e no
mesmo estilo.

Il Libro del cortegiano, de Baldassarre Castiglione (1528 d.C.)

Em 1528, Baldassarre Castiglione publica “Il Libro del cortegiano” (O livro


do cortesão), que se torna um dos livros mais conhecidos do Renascimento
italiano. O autor, que serviu em muitas cortes, principalmente a de Urbino,
também foi clérigo. Conta-se ter sido reescrito várias vezes até a versão final,
um manual de boas maneiras e refinamento de costumes, enfocando a formação
do cortesão perfeito.
Percebe-se a preocupação em mostrar como é agradável a convivência
entre personagens muito instruídos e nota-se que o autor atribui à presença
feminina, a alegria e o prazer nestes ambientes. A mulher é revelada como
incentivadora do sucesso masculino, responsável pelo refinamento dos
comportamentos dos cortesãos e, frequentemente, pela sua dedicação às artes.
O autor mostra que a proximidade entre os sexos é importante para a civilização
porque seria do respeito à mulher que viria a vontade de dançar bem, escrever
poesias ou apenas ser agradável para uma boa convivência. A dança, que exigia
controle corporal como sendo necessário para os exercícios militares, tinha
destaque nas cortes renascentistas. Para o autor, uma das principais virtudes do
cortesão era o autodomínio. Nesta época, a dança de salão ainda não havia
surgido. Porém, neste documento pode estar, talvez, a primeira referência à
dança praticada socialmente junto com assuntos de etiqueta, mesmo que
discretamente.

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Figura 3 – Página de abertura do livro “Il Libro del cortegiano”, de Baldassarre Castiglione.
Edição: Ludovico Dolce. Publicado por G. Scoto. Edição de 1556. Exemplar eletrônico
disponibilizado pela Universidade de Princeton.

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De civilitate morum puerilium, de Erasmo de Rotterdam (1530 d.C.)

Em 1530, Erasmo de Rotterdam publicou o manual para crianças: “De


civilitate morum puerilium”, abrangendo 130 edições até o século XVIII e
traduzido para diversos idiomas. Sem dúvida, foi um dos primeiros best-sellers
do mundo. Hoje, várias edições deste manuscrito em latim e algumas de suas
traduções estão digitalizadas, disponíveis em meio eletrônico na internet, ao
alcance de qualquer pessoa.
O autor nasceu na cidade de Rotterdam, em 27 de outubro de 1465. Era
um crítico da Igreja Católica e, mesmo sendo filho ilegítimo de um padre, proferiu
seus votos aos 25 anos de idade. Originalmente, seu nome era Geraldo, o
mesmo do pai. Entretanto, ficou conhecido como Desidério Erasmo. Dedicou-se
intensamente à luta em favor de uma sociedade humanizada, em que o indivíduo
chegasse ao máximo de seu desenvolvimento. A leitura de seu manual revela
muito dos comportamentos da época, o que justifica esta dedicação do autor.
São abordadas questões como: assoar o nariz com lenço e não com dedos; jogar
o alimento que não conseguiu engolir em alguma parte; não lamber dedos
engordurados e nem limpá-los na veste, sendo preferível utilizar o guardanapo
ou mesmo a toalha da mesa; comprimir o ventre para conter ventosidades; não
palitar dentes com faca de alimentos, de matar animais ou inimigos; segurar o
vômito é mais repugnante que vomitar em si; deve-se cuspir evitando molhar
outras pessoas; se houver algo nojento no chão, deve ser pisado até que deixe
de produzir náuseas; só se oferece lenço recém lavado a alguém; não se deve
assoar o nariz e ficar examinando o resultado no lenço. É com informações como
estas que o autor orienta a formação infantil, mostrando boas e más condutas,
abordando o gestual, a vestimenta e enfatizando o comportamento à mesa que
distingue a nobreza.

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Figura 4– Folha de rosto do livro “De civilitate morum puerilium libellum” de Desiderius Erasmus
Roterodamus. Publicado por Frobenius em 1530. Disponibilizado pela Universidade Ghent,
Bélgica.

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O primeiro livro publicado por Erasmo em 1503, recebeu o título de
"Enchiridion Militis Christiani", cuja tradução mais conhecida para nosso idioma
é "Manual do cavaleiro cristão". Já nesta obra, o autor se dirige a um soldado
apresentando algumas regras de comportamento. Entretanto, parece proferir um
sermão, considerando a vida humana como a vida militar. Escancara as
fraquezas da sociedade e ressalta a importância de perceber a diferença entre
a sabedoria verdadeira e a falsa.
Em um livro publicado no ano de 1509, Encomium Moriae Erasmus
também mostrou sua visão sobre o comportamento respeitoso de um indivíduo,
criticando os “filósofos” até o ponto de abordar a forma com que dançavam em
um baile. Vale a pena ler o recorte deste texto:

E, depois de tudo quanto dissemos, será possível decantar


a célebre máxima de Platão, segundo a qual “as repúblicas
seriam felizes se governadas pelos filósofos ou se os
príncipes filosofassem”? Tenho a honra de vos dizer que a
coisa é justamente o oposto. Se consultardes os
historiadores, verificareis, sem dúvida, que os príncipes
mais nocivos à república foram os que amaram as letras e
a filosofia. (...) Os homens que se consagram ao estudo da
ciência são, em geral, infelicíssimos em tudo, sobretudo
com os filhos. Suponho que isso provenha de uma
precaução da natureza, que dessa forma procura impedir
que a peste da sabedoria se difunda em excesso entre os
mortais. (...) Isso não seria nada se esses filósofos só
fossem incapazes de exercer os cargos e empregos
públicos; o pior, porém, é que estão longe de ser melhores
para as funções e os deveres da vida. Convidai um sábio
para um banquete, e vereis que ou conservará um
profundo silêncio ou interromperá os demais convidados
com frívolas e importunas perguntas. Convidai-o para um
baile, e dançará com a agilidade de um camelo.

Para nossa surpresa, este livro é conhecido em nosso idioma pelo título:
“Elogio da Loucura” e se trata de uma sátira em que até mesmo membros da
Igreja, detentores da filosofia da época, são ironizados. Pelo trecho destacado,
é possível perceber que o autor relaciona a habilidade social do indivíduo com
sua competência para dança e sua capacidade como governante.

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L'Etiquette, de Luis XIV (1643-1715 d.C)

A partir do século XVI, começaram a surgir na corte real francesa, as


regras de etiqueta propriamente ditas. O rei Luis XIV, que governou entre 1643
e 1715, teve importância decisiva na história da etiqueta e também da dança de
salão. Desta forma, é pertinente uma breve apresentação deste rei.
Filho do rei francês Luis XIII e da espanhola Ana da Áustria, Luis XIV de
Bourbon nasceu em Saint-Germain-em-Laye, no ano de 1638. Com a morte do
pai, assumiu o trono aos cinco anos de idade, tomando posse somente em 1661.
Até esta data e por ordem de sua mãe, foi educado pelo primeiro ministro do
reino, o cardeal Giulio Mazarin, odiado pela maioria dos franceses. Por sua
educação humanista, visava prepará-lo para reinar com sabedoria e autoridade.
Um ano antes de assumir o poder, casou-se com sua prima infanta da Espanha,
Maria Teresa da Áustria, mas sua apreciação pelas mulheres levou-o a ter
muitas amantes.
Ficou conhecido como o mais importante rei absolutista da França. A
famosa frase “L´État c´est moi” é a ele atribuída, mesmo sob controvérsias entre
historiadores. Limitou os poderes da aristocracia e suprimiu atribuições do
Parlamento. Em 1666, fundou a Academia de Ciências de Paris. Por meio dela,
houve financiamento da pesquisa, especialmente para produção de novas
tecnologias militares. Levou o país a ter o maior poder bélico da Europa.
Conduziu guerras contra espanhóis, austríacos e alemães, visando fazer da
França uma potência na Europa. Revitalizou a economia, criou uma marinha
mercante, portos, canais, aquedutos, fábricas, estradas e pontes. Em seu
reinado, belíssimos e suntuosos jardins e monumentos foram construídos nas
principais cidades. Na esfera religiosa, impôs o catolicismo, proibindo outras
crenças e fazendo forte oposição a outros credos, especialmente ao
protestantismo.

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Figura 5– Óleo sobre tela: Retrato de Louis XIV da França, 1701. Autor: Hyacinthe Rigaud (1659-
1743). Localização da obra: Museu do Louvre. Imagem em domínio público.

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O Palácio de Versalhes foi construído por Luis XIV na periferia de Paris.
Passou a ser sua residência oficial, para onde a corte foi transferida em 1682,
ficando longe dos grandes centros que favoreciam tumultos e doenças. O
palácio, em um terreno de 700 hectares, tem centenas de quartos, chaminés,
lareiras, sendo considerado o mais luxuoso da Europa. Foi também neste palácio
que Luis XIV faleceu, vítima de gangrena, em 1715. O local passou a ser
reconhecido como símbolo do estado absoluto, quando a vida na corte orbitava
em torno da figura do monarca. Entre 1682 e 1789 (quando a Revolução
Francesa iniciou), o palácio abrigou o poder da França. No ano de 1837,
conservando suas características, tornou-se um museu de História, com enorme
acervo de obras de artistas dos séculos XVII e XVIII. Hoje, é o ponto turístico
mais visitado da França, superando o Museu do Louvre e a Torre Eiffel.

Figura 6– Palácio de Versalhes em pintura de Pierre Patel (1605-1676), datada de 1668.


Localização da obra: Museu de Versalhes. Imagem em domínio público.

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As atividades culturais foram muito incentivadas no reinado de Luis XIV.
A dança tinha importância destacada neste contexto. Já em seu primeiro ano de
reinado, Luis XIV inaugura, em Paris, a Academia Real de Dança. O rei se
apresentou muitas vezes em bailes palacianos, inclusive como bailarino principal
de encenações para a corte. Conta a história que se autoproclamou Rei-Sol,
como ficou conhecido. Diz-se que assim o fez, por considerar-se o Sol da França
e aspirava sê-lo para o mundo. Muitos consideraram Luis XIV vaidoso e
egocêntrico, desejoso por estabelecer seu país como centro da elegância no
mundo. Seus feitos, de fato, não se limitaram à França. Mesmo que suas razões
não tenham sido as mais nobres para mover um rei, o resultado foi de
significativo incremento tanto para a dança quanto para as relações humanas.
Foram patrocinados bailados que difundiam técnicas de dança, de etiqueta e
espetáculos envolvendo várias modalidades de Arte como a música, o teatro e
a dança. Na corte de Luis XIV, ocorreram tanto as apresentações de dança que
originaram o ballet, quanto os bailes, que se tornariam o foco irradiador da dança
de salão em décadas posteriores. Segundo alguns autores, o que se bailava de
forma predominante era, primeiramente, a courante, dançada nas pontas dos
pés, com pequenos saltos e várias mesuras. Depois, o minueto e, mais tarde, as
contradanças, assimiladas da Inglaterra.
A Academia Real de Dança trabalhava muitas danças padronizadas,
executadas em solos ou em grupos e cada uma delas com características
próprias. A veloz gigue contava com muitos saltos, ao contrário da sarabande
que tinha um visual mais rigoroso e lento. A entre grave cunhava-se em um foco
cerimonial e o minueto trazia graciosidade ágil. E ainda haviam outras danças
como chaconne, passepied, passacaille, davotte, rigaudon. A Academia
sobreviveu até cerca de 1780, período em que a valsa, a primeira dança de
salão, começou a se difundir pelos salões aristocráticos europeus, caracterizada
pelo par enlaçado e independente de outros casais.
Habituado a promover festas com muita dança e presença de uma
diversidade de nobres, o rei criou bilhetes, ou etiquetas, chamados de
L'Etiquette, com normas de conduta para o ingresso em suas festas,
frequentemente, anexados aos convites. Sua motivação seria um
descontentamento com o linguajar e os modos dos nobres que frequentavam
suas festas, o que exigia uma estratégia para imposição de limites. Estas regras

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também eram distribuídas por escrito aos convidados antes de sua entrada em
eventos promovidos pelo rei ou afixadas nas paredes do palácio de Versalhes.
Assim, notamos que a palavra “etiqueta”, referindo-se aos códigos de
comportamento, foi utilizada pela primeira vez nesta corte e, inicialmente, com o
significado original de “anexo”. O verbo francês “estiquer” significa anexar.
Suas regras incluíam a forma de falar com o rei, de cavalheiros e damas
se portarem e o que podiam e deviam fazer, estando aí incluída a dança. Esta
determinação do que um nobre deveria fazer é interpretada por estudiosos como
uma estratégia de dominação.
Contraditoriamente, o viés da imposição de uma hierarquia, da exclusão
e discriminação que permeavam a conduta segundo uma etiqueta não se
configuraria como o melhor exemplo de etiqueta para um rei. O contraste, que
ocorria ao lado do luxo palaciano, revelava o desprezo pelo homem miserável,
cujo trabalho sustentava todo aquele esplendor, através da opressão
consolidada por impostos aviltantes. A instabilidade desta situação seria a
responsável por seu fim.
De qualquer forma, a palavra etiqueta popularizou-se a partir de então,
tendo como significado o conjunto de regras de boas maneiras. Percebemos, já
no surgimento da etiqueta propriamente dita, sua relação próxima com o salão
de bailes.

La danse des salons, de Henri Cellarius, Paul Gavarni, Jacques Adrien


Lavielle (1847 d.C)

A partir do surgimento da dança de salão, a literatura sobre ela também


começou a conquistar espaços. Um exemplo é “La danse des salons”, editado
em 1847 por J. Hetzel. É um livro que traz ilustrações belíssimas e versa sobre
diversas danças, incluindo a mazurca, a polca e a valsa, esta última em dois,
três e cinco tempos. O prefácio, escrito pelo professor Cellarius, revela que o
livro pretende registrar os ensinamentos do autor aos seus alunos de dança.
Assim, a obra traz lições específicas das diferentes modalidades dançadas à
época. As questões de etiqueta não são o foco do livro e nem são abordadas
diretamente.

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Uma curiosidade sobre Henri Cellarius é que foi um professor de dança
nascido em 1805 na cidade de Paris, que veio para o Brasil em 1826, retornando
posteriormente à Europa. Estudos em periódicos brasileiros do século XIX
revelam que um professor de dança de nome “Henriques Cellarius” anunciou
aulas de dança entre os anos de 1826 e 1827, no Rio de Janeiro.

Figura 7– Recorte de jornal, anúncio de aulas de Henriques Cellarius, professor de dança,


publicado em 18 de maio de 1827 no Jornal Diario do Rio de Janeiro

39
Figura 8– Capa do livro “La danse des salons” de Henri Cellarius, editado em 1847 por J. Hetzel

40
Figura 9– Folha de rosto do livro “La danse des salons” de Henri Cellarius, editado em 1847 por
J. Hetzel.

41
Nouveau manuel complet de la danse, Traité théorique et pratique de cet
art depuis les temps les plus reculés jusqu´à nos jours, de Carlo Blasis
(1866 d.C)

O livro intitulado “Nouveau manuel complet de la danse, Traité théorique


et pratique de cet art depuis les temps les plus reculés jusqu´à nos jours”,
publicado em Paris no ano de 1866, pela Paris Librairie Encyclopédique de Roret
Dole Typ. Ch. Bind tem autoria atribuída a Carlo Blasis, dançarino, coreógrafo,
professor e escritor italiano nascido em 1795 e falecido em 1878, conhecido por
aulas de dança clássica rigorosas, às vezes com duração de quatro horas. Há
registros de já se tratar de uma tradução. Curiosamente, Alvaro Dias Patricio
publica em 1890, portanto após o falecimento de Blasis, o livro intitulado
“Novíssimo e completo Manual de Dança, tratado theorico e pratico das danças
de sociedade”, em português, editado por B. L. Garnier, Rio de Janeiro. Parece
uma tradução, porém, contém modificações. A sequência de assuntos
abordados é praticamente a mesma. O livro de Dias Patricio, embora resuma
alguns tópicos, traz sob o título “Utilidade da dança” os mesmos conteúdos de
“Utilité de la danse” de Blasis. Alguns assuntos próprios do contexto
brasileiro foram incluídos, mas é possível reconhecer claramente a essência do
livro de Blasis.
As duas obras apresentam conteúdos sobre a história da dança, noções
de música, etiqueta e lições da dança propriamente dita. Até mesmo a inclusão
das cinco posições da dança clássica, que pode parecer estranha para livros de
danças da sociedade, não surpreende, considerando o histórico de Blasis, autor
da primeira publicação.
Ao final do livro de Dias Patricio há, ainda, um vocabulário para a dança,
com traduções do francês para o português.
Nestas obras, já notamos a conjugação entre dança e etiqueta. Na versão
em português, encontramos excelentes exemplos em trechos como:

42
É geralmente adoptado após qualquer dança, o cavalheiro
convidar a sua dama a um passeio pela sala.

O cavalheiro a quem a dama concede a graça de pelo seu


braço passear ou de a conduzir a outro qualquer logar,
deve por todos os modos procurar ser-lhe agradável,
buscando mesmo conversa amena, ou qualquer frase que
a possa enleiar.- página 36.

Em um baile, seja qual for o seu caracter, nunca são de


mais estas formalidades, por mais simples que pareção;
em caso contrário a desordem não se fará esperar e com
ella o cansaço e o aborrecimento. – páginas 37 e 38.

É de máo efeito o cavalheiro falar continuamente a uma


dama. – página 39.

Se o cavalheiro notar que a dama não sabe dançar ou que


commetteu algum erro na execução dos seus passos, não
se deve dar por achado, lisonjeando por esse modo a
dama, que em sua maioria não desejão ser criticadas
embora amistosamente. – página 40.

43
Figura 10- Folha de rosto do Manual de Dança de Alvaro Dias Patricio,
disponibilizado pela Biblioteca Nacional da Espanha (Biblioteca Digital Hispánica)

44
Figura 11- Folha de rosto do Nouveau manuel complet de la danse, Traité théorique et pratique
de cet art depuis les temps les plus reculés jusqu´à nos jours, de Carlo Blasis, disponibilizado
pela Biblioteca Nacional da Espanha (Biblioteca Digital Hispánica)

45
Dancing and prompting, etiquete and deportment of society and ball room,
de Professor Bonstein (1884 d.C)

Quando a valsa surgiu, marcando o início da dança de salão, a


preocupação com o bom trato social já estava inserida em sua prática. Neste
início remoto, as obras escritas eram restritas à elite e visavam distinguir o
“civilizado” do “bruto”. Mas as normas de etiqueta tornaram-se mais importantes
e tiveram mais divulgação quando se multiplicaram as sociedades da corte.
A partir 1780, tempo do surgimento da valsa nos salões, foram publicados
muitos livros e materiais, reunindo os conhecimentos de dança de salão. Alguns
deles incluíam a etiqueta e marcavam a união destes saberes. Apenas para
ilustrar, citamos “Dancing and prompting, etiquete and deportment of society and
ball room”, de autoria de Charles A. White, sob o pseudônimo Professor
Bonstein, publicado em 1884 pela Boston, White, Smith & Co, de Boston,
Massachussetts. O livro, que pretende funcionar como um manual, inicia
aconselhando aos pais que enviem seus filhos a escolas de dança para evitar
gastos com médicos. A etiqueta é apresentada em forma de dicas e são
discutidas algumas danças habitualmente praticadas nos salões da época.
O período de publicação desta obra coincide com o momento histórico
que ficou conhecido como La Belle Époque, tempo que fora o auge do requinte,
marcado por grandes recepções, bailes em salões magníficos exuberantemente
decorados e mesas fartas. A nobreza se exibia de forma cada vez mais exigente,
assumindo severamente a intolerância com quem não observa os rigores das
normas cerimoniais.

46
Figura 12- Abertura do livro “Dancing and prompting, etiquete and deportment of society and ball
room” de Professor Bonstein. Library of Congress, Washington, Estados Unidos.

47
SALÃO E APRIMORAMENTO DA CONDUTA

E onde a polidez, a arte das boas maneiras, melhor se


desenvolve do que num salão?

Wanderley Pinho. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª.


edição. Livraria Martins Editora São Paulo. 1971.

Este elenco de textos demonstra que, há muito tempo, a humanidade se


preocupa com o tratamento interpessoal, buscando aprimoramento das
condutas que favorecem as boas relações entre homens e nações. Embora
objetivos de diferenciação social pudessem compor este início histórico, as
bases do pensamento sobre a conduta respeitosa com o outro, ao longo do
tempo, foram democratizadas, desintegrando-se as barreiras que limitavam
estes saberes a grupos dominantes.
Paralelamente a esta jornada, a dança sempre foi uma prática importante.
Também é uma forma harmoniosa de relacionamento humano. Atendeu e
atende a diferentes objetivos, varia em sua forma ao longo do tempo e conforme
os povos que a praticaram e praticam. Expressa sentimentos de todo tipo e
espelha a cultura de cada sociedade.
O berço social da conduta pacífica e respeitosa com o próximo acabou
recebendo e internalizando a dança. O palco deste casamento, que dura até
hoje, foi o salão. Houve, portanto, o ponto histórico em que a formação dos
indivíduos pertencentes a determinados grupos humanos esteve condicionada
ao aprendizado e à prática da dança tanto quanto dos métodos da conduta
cortês, mesmo que sob um contraditório viés de desejo por marcar uma distinção
social. De qualquer forma, os salões constituíram-se no cenário em que a polidez
humana tomou sua forma coroada pela dança praticada socialmente.
Questões relevantes para a paz entre nações foram resolvidas em salões,
conduzidos por cavalheiros e, especialmente, por damas. O citado livro do
cortesão de Castiglione, datado do ano de 1528, já registrava a importância da
presença feminina para a conduta civilizada, o que traz em seu âmago a
sensibilidade desenvolvida pelas artes. Para o autor, era a proximidade dos
homens com as mulheres que modulava a conduta civilizatriz, para ele, o
respeito às damas traria a vontade de apreciar a arte, e, naturalmente, de dançar.

48
Sem dúvida, salões nos quais reverberaram as mais lindas valsas contribuíram
em muitos momentos para que alternativas a conflitos violentos fossem
encontradas. É como o citado Wanderley Pinho registra ter ocorrido no Brasil
durante século XIX:

Os salões do Segundo Reinado exerceram esse grande papel


de moderadores do canibalismo das facções, e não poucas
vezes favoreceram, dentro dos partidos, as conciliações,
prevenindo rompimentos, cicatrizando dissidências, mantendo a
unidade disciplinada dos grandes corpos políticos... (Wanderley
Pinho. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª. edição. Livraria
Martins Editora São Paulo. 1971)

O tempo não para. As regras de convivência civilizada adaptam-se a


novas circunstâncias, as danças se transformam e os salões se diversificam.
Mas a origem e a essência da altivez dos relacionamentos humanos, que em
dado tempo foi alinhavada nos salões de dança, está viva.
Quem protagoniza esta essência dos salões são as damas e os
cavalheiros que acabam assumindo a função de guardiões do aprimoramento da
conduta, guardiões da força civilizatriz da dança de salão.

49
PARTE II

 DAMAS E CAVALHEIROS, DA VIDA PARA O SALÃO


 DAMA
 CAVALHEIRO
 QUEM PODE SER UMA DAMA OU UM CAVALHEIRO
 CAVALHEIROS E DAMAS NO SALÃO DE BAILE

50
DAMAS E CAVALHEIROS, DA VIDA PARA O SALÃO

Todos, eles e elas, devem conhecer e usar, para tudo, estas


expressões muito simples e indispensáveis: por favor, com
licença, por gentileza, foi um prazer, muito obrigado.

Milton Saldanha, no artigo “Dicas de elegância”. Jornal Dance.


Junho, 2010.

Figura 13– Pintura de Guys, Constantin-Ernest-Adolphe-Hyacinthe (1802-1892), aguada com


tinta cinza, sem data. Localização da obra: Museu do Louvre, Paris, França.

Precisamos ter a consciência, é muita ingenuidade acreditar que alguém


possa ser uma dama ou um cavalheiro de forma autêntica, apenas decorando
regras estáticas de manuais que não conferem a ninguém a autonomia
necessária. Sempre haverá uma situação que não foi contemplada nos guias, e
quando ela ocorre, revela-se a artificialidade do comportamento. O mesmo vale
para a vida. Este é o ponto que deve ficar claro: decorar regras não dá autonomia
para que uma dama ou um cavalheiro portem-se segura e adequadamente nos
salões de dança. Há que se internalizar conceitos de educação, gentileza, bons
modos, respeito...

51
No livro “Dança de Salão, conceitos e definições fundamentais”, publicado
pela Editora Protexto em 2013, apresento a construção dos conceitos que
seguem, para dama e cavalheiro no âmbito da dança de salão.

Dama - é a entidade feminina do casal, a


unidade da Dança de Salão, que se comporta
com integridade, exercendo seu domínio ao
selecionar o cavalheiro que irá conduzi-la,
enquanto demonstrará seu grau de satisfação.

Cavalheiro - é a entidade masculina do casal, a


unidade da Dança de Salão, que se comporta
com integridade, submetendo-se à decisão da
dama em aceitar ou não sua condução, que
ocorre com a finalidade de satisfazê-la.

Aconselho a leitura do citado livro para esta compreensão em contexto


adequado. A essência trabalhada aqui relaciona-se a qualidades individuais que
no salão, espaço central de nosso interesse no momento, apresentam-se no
âmbito dos papéis de damas e cavalheiros que são assumidos por diferentes
pessoas, independentemente de seus sexos ou de outros aspectos de suas
sexualidades.
Quando o enfoque é a força civilizatriz da dança de salão, a distinção de
uma dama e de um cavalheiro exige um olhar diferenciado e muito mais denso.
Exige esmiuçar o conteúdo intrínseco da palavra “integridade” que está inserida
nos referidos conceitos. Vem do latim, integritate, que remete à qualidade de
alguém em ser íntegro. Aqui admitimos a integridade como o conjunto das
qualidades de retidão, honra, ética, boa educação, cordialidade, brio, justiça e
generosidade.
A questão é bastante profunda, porque o salão revela a essência
particular, o que coloquei bem objetivamente no artigo “Dançamos o que somos”,
publicado na Revista Dança em Pauta no dia 11 de abri de 2011:

52
O belo dança a formosura; o empático sabe fazer seu par feliz;
o inseguro dança desconfiança; o arrogante dança desprezo; o
exibido pode dançar olhando seu par, mas, move-se para que
outros o vejam; o inteligente dança a sabedoria e desfruta do
sentimento que quer; o competidor dança concorrendo; o
hedonista dança a liberdade; o criativo dança a fantasia; o
sensível dança amor, paixão, raiva, graça, sexo; o carinhoso
dança doçura; o Gerson dança vantagem; o sonhador confunde-
se com o personagem; o dominador dança determinando; o
traidor dança perfídia; o feio dança fealdade; o sujo dança fedor;
o limpo dança aroma; o verdadeiro dança o imaginário sem
esquecer o que ele é. E o mentiroso… este dança o embuste, e
pode fazê-lo na mais estupenda e sorridente dança.

O aprimoramento individual permanente e que permeia todas as esferas


da vida, não só o salão, é o único caminho para a construção verdadeira de uma
dama e de um cavalheiro reais. Não podemos ser tolos em acreditar que teremos
boas damas e bons cavalheiros no salão, se não o são na plenitude de suas
vidas. Não abro mão da ideia que se alguém quer mesmo ser uma dama ou um
cavalheiro, exercendo este protagonismo em um salão, precisará sê-lo em sua
vida. Isto exige autoconhecimento e aprimoramento constantes, além, é claro,
de vontade e decisão. Caso contrário, a fragilidade do personagem pérfido,
montado artificialmente só para o salão, será uma sentença de um fracasso que
só depende de tempo e oportunidade para ocorrer. Vejo que esta talvez seja
uma das contribuições mais civilizatrizes que a dança de salão tem a oferecer
para a humanidade: ela ensina a sermos damas e cavalheiros na vida como
caminho para o sermos no salão.
Agora imaginemos, só por um momento, o mundo composto somente por
damas e cavalheiros, admitindo os significados mais profundos destes termos.
Não tenho nenhuma reserva em afirmar: estaríamos livres de todo e qualquer
tipo de atrocidade. Para nossa acepção cultural, uma dama ou um cavalheiro
não mata, não extorque, não rouba, não tortura, não engana, não chantageia,
não admite pedofilia, não trafica pessoas, drogas ou animais, não corrompe, não
subjuga. Cavalheiros e damas não se vulgarizam.
Se todos nós humanos, seres sociais que somos, fôssemos educados
para priorizar o bom trato com os demais e nos comportássemos respeitando
nossos pares em todos os seus direitos, aumentaríamos muito nossas chances
de ter em retorno este mesmo comportamento e não haveria muito mais com

53
que nos preocupar. Sobraria, para administrar, apenas infortúnios inevitáveis
como doenças e desastres naturais.
Pensemos ainda, apresentar-se às pessoas pelas boas maneiras,
civilidade, refinamento, é conduta que abre portas na vida pessoal, profissional
e, obviamente, em um salão. Em contraponto, a falta de polidez, aspereza,
grosseria, inabilidade, fazem com que as portas se fechem. É caminho certo para
provocar reações negativas, contrárias à paz e harmonia.
Se a dança de salão motivar quem a escolheu para que conheça melhor
a si mesmo, desejando ser melhor, contribuindo para um mundo mais belo, mais
forte, mais verdadeiro... seu valor ultrapassará o patamar de mero
entretenimento, e até mesmo de Arte, assumindo uma dimensão social muito
mais poderosa. Cada pessoa a mais na Terra que absorver integralmente a ideia
do respeito com o próximo, será um passo a mais na caminhada em direção à
paz universal. Sem dúvida, este é um dos papeis mais intensos e invisíveis da
dança de salão na sociedade como um todo.
Mas, infelizmente, não somos divinamente damas ou cavalheiros. Somos
apenas humanos, ora damas, ora cavalheiros, todos sempre sujeitos a falhar.
Temos ainda muito a aprimorar em nossa conduta, aceitando a realidade de que
precisamos aprender a admitir nossos próprios erros, reduzindo ao máximo suas
ocorrências. É preciso entender o que é ser uma dama ou ser um cavalheiro
para termos referências do sonho de um planeta mais perfeito.
Ainda é essencial frisarmos que os ambientes de convivência humana,
hoje, são os mais variados. Os intercâmbios entre diferentes grupos nos
oportunizam contato com valores distintos e cada dia mais precisamos estar
aptos a viver solidariamente com o diferente. A conduta aceita como positiva em
um espaço pode não o ser em outro, daí a necessidade de percepção de onde
estamos e adequação de nosso comportamento em favor do respeito e da
harmonia. É um desafio colossal.
Mesmo assim, arriscarei delinear, sob uma visão parcial, genérica e
fortemente influenciada por nosso tempo e espaço, características que damas e
cavalheiros idealizados teriam em comum.

54
Empatia

O conceito mais importante que define uma dama e um cavalheiro diz


respeito à capacidade de colocar-se no lugar de outra pessoa e evitar
desconfortos para ela. Damas e cavalheiros estão sempre atentos às próprias
atitudes, modos ou palavras, cuidando para evitar ou minimizar incômodos aos
outros, sem, jamais, desvirtuar seus próprios valores. Esta essência, que damas
e cavalheiros têm em comum, apresenta desdobramentos em diversos aspectos,
como veremos.

Boa educação em palavras

É difícil definir uma pessoa bem educada, mas certos exemplos de


conduta nos ajudam a delinear as boas maneiras indispensáveis a damas e
cavalheiros. Algumas palavras tradicionais são essenciais em seus vocabulários:

 Ao entrar ou sair de uma conversa ou de um ambiente, pedem


“licença”;
 Agradecem sempre. Damas dizem “obrigada” e cavalheiros,
“obrigado”;
 Quando precisam de ajuda, “por favor” é a expressão usada;
 Ao constranger ou incomodar alguém de qualquer forma, recorrem
à palavra “desculpe”;
 Ao encontrar-se ou ao despedir-se, cumprimentam com “bom dia”,
“boa tarde”, “boa noite”, ou mais informalmente, “oi”, “olá”, “tchau”.
Damas e cavalheiros nunca ignoram propositadamente outras
pessoas, salvo raras exceções em que seja absolutamente
necessário e justificável.

55
Sorrisos

São importantíssimos para damas e cavalheiros. Um sorriso pode ter uma


miríade de significados. A obra de arte mais enigmática de todos os tempos que
nos prova esta ideia é a Monalisa, de Leonardo Da Vinci, aliás, uma das
personalidades humanas mais fascinantes.

Figura 14– Pintura “La Gioconda” de Leonardo Da Vinci (1452-


1519), pintada em óleo sobre madeira de álamo, entre 1503 e 1505.
Localização da obra: Salle des États, Museu do Louvre, Paris,
França.

56
Esta obra intriga pesquisadores, amantes da Arte e pessoas de todo tipo,
porque a dama nela representada tem um sorriso indecifrável, que pode
expressar muitas coisas diferentes. Há pesquisadores que dizem ser o
autorretrato do próprio cavalheiro Da Vinci. Portanto, é um sorriso de uma dama,
mas também o é de um cavalheiro.
Um sorriso pode mostrar: satisfação, insatisfação, sedução,
agradecimento, timidez, modéstia, arrogância, irreverência, acolhimento,
rejeição, ironia, indiferença entre tantos outros sentimentos. Damas e
cavalheiros sabem sorrir de forma receptiva e agradável, sem serem
inconvenientemente sedutores ou arrogantes. Sabem usar o sorriso certo na
hora exata. A falta de um sorriso também pode dizer muito.
Hoje, não se aconselha mais travar diálogos verbais durante uma dança.
Logo, os significados dos sorrisos de damas e cavalheiros podem assumir uma
dimensão de comunicação ainda maior, capaz de tornar a dança inesquecível.

Bom humor

Dizem os especialistas que o humor varia da depressão à mania. A


manifestação destes extremos pode ser sinal de desequilíbrio da bioquímica
cerebral, exigindo tratamento farmacológico. É sabido que o humor de um
indivíduo tem um forte componente biológico. Basta notarmos que um organismo
levado a determinados excessos como falta de sono, fome, abuso alimentar,
cansaço físico e mental ou estresse emocional, aniquila qualquer bom humor.
O clínico geral da Universidade Federal de São Paulo, Antonio Carlos
Lopes, no artigo “O bom humor faz bem para a saúde”, de Fabio Peixoto,
publicado na revista Superinteressante em agosto de 2000 registra:

O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o que provoca a


liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa
palpitação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de cabeça,
dificuldades na digestão e irritabilidade.

E Fábio Peixoto completa, informando que a vítima acaba maltratando


outras pessoas por não estar bem e depois sente-se culpada, piorando ainda

57
mais o humor. Este é um ótimo motivo para mantermos nosso corpo sempre nas
melhores condições, evitando maltratar alguém por estarmos nos sentindo mal.
Já o bom humor e boas risadas são relaxantes naturais, dão a sensação
de plenitude. Conforme alguns, melhoram a circulação, a resistência à dor e até
o sistema imune, tudo isto devido à descarga de endorfina, conhecida como
hormônio do prazer.
Mas parte do que podemos chamar de bom humor pode ser treinado.
Pessoas que tem a capacidade de usá-lo conscientemente são, em geral, muito
agradáveis. É mais fácil conviver com alguém que vê a vida com leveza, brinca
com as dificuldades e sabe rir até de si mesmo. Buscar o otimismo ajuda muito
nesta caminhada. Quando começamos a nos tornar adultos e percebemos as
limitações que temos para mudar o mundo como sonhávamos na juventude,
nossa autoestima e, principalmente, nosso otimismo começam a sofrer um dos
golpes mais brutais da existência consciente. É aí que precisamos cuidar mais
com o que colocamos para dentro da mente. O que assistimos na TV, os filmes
que escolhemos, o que ouvimos, lemos, sobre o que falamos, ao que dedicamos
nosso tempo livre. Alimentar o cérebro com belezas, coisas agradáveis e boas é
uma forma de nutrir o otimismo. Certamente, um desafio diário que vale a pena.
Claro que, neste aspecto, o bom senso é uma exigência. Nada mais
indigesto que uma brincadeira em uma situação trágica. Sem dúvida, devemos
fazer o que está ao nosso alcance para sermos felizes, mas sempre viveremos
tristezas. Elas fazem parte da vida e nos trazem amadurecimento. As
tristezas precisam ser vividas como episódios de interrupção da felicidade, que
deve ser a regra.
O bom humor é uma faceta da inteligência e pode acabar com muitas
saias justas. O avesso da dama e do cavalheiro é aquela pessoa que sente certo
prazer sádico em ser o causador do constrangimento alheio, sem ao menos se
dar conta desta característica.
Bom mesmo é querer que ninguém fique mal e, para isto, uma certa
presença de espírito e perspicácia são de grande valia. Manter-se alerta para
identificar situações embaraçosas e treinar atitudes de atrair as atenções para
outro foco pode ajudar muito. Isto é típico de damas e cavalheiros. Primeiro,
perceber o constrangimento de alguém, depois, habilmente desfazê-lo,
desviando a atenção para algo bem humorado.

58
O bom humor é um grande aliado de damas e cavalheiros, um recurso de
alta qualidade para dominar situações a favor de um clima agradável nas
relações interpessoais.
.
Atitudes

Em 1886, Walter Houghton e coautores publicam, em Chicago, o livro


“Rules of etiquette and home culture or what to do and how to do it”. Entre outras
regras, registram a forma de se indicar um objeto sem apontar com o dedo,
preferindo sempre utilizar a mão toda ou o olhar, agindo de forma silenciosa e
graciosa ao sentar e ao levantar. Já o manual “Martine's handbook of etiquette”,
publicado por Arthur Martine em 1866, orientava a, em público, não coçar a
cabeça, palitar dentes, limpar unhas, cuspir, limpar o nariz ou ouvido. Arrotos,
gases e outras manifestações fisiológicas desagradáveis, especialmente em
público, são incompatíveis com damas e cavalheiros. Não confie que em bailes
com som muito alto seja impossível ouvir estes sons...
As atitudes têm um cunho muito profundo. Ações valem mais que
palavras. Logo, em primeiro lugar, vale a conduta. Tanto o que damas e
cavalheiros dizem quanto o que fazem, terá que ser sempre coerente com esta
sua condição de dama ou cavalheiro.
Damas e cavalheiros nunca trapaceiam. São justos, pensam no outro de
forma equilibrada e altruísta. Conversas de gosto duvidoso, piadas grosseiras,
discursos preconceituosos, racistas ou similares, são motivo para fazê-los pedir
licença com um tom de voz baixo e retirarem-se. O recado que passam é: não
compactuo com a conversa deste grupo.
O silêncio também pode ser muito eloquente. Verdadeiras damas e
cavalheiros sabem usá-lo magistralmente. Não precisam ser hipócritas nem mal
educados se não apreciam determinadas atitudes.
Ser dama ou cavalheiro não significa falar o que não se pensa, ficar onde
não se quer, ouvir o que não combina com seus princípios, ou participar do que
entende não ser apropriado. Damas e cavalheiros controlam-se naturalmente
nas situações das quais fazem parte. Não são fracos nem submissos, ganham
respeito sem erguer a voz ou criticar. Apenas controlam o que falam e a quem

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oferecem sua presença, embora haja situações em que sutilezas já não
funcionam mais, que exigem atitudes austeras, firmes, que não deixam dúvida.
Lembrar sempre: é nas atitudes, e não nos discursos, que se revela
o caráter.

Autocontrole

Há muitas formas de se perder o controle. As mais comuns acontecem


pelo uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de drogas. E na maioria dos bailes,
via de regra se serve bebida alcoólica, exigindo autocontrole de damas e
cavalheiros.
Mas há pessoas que perdem o domínio quando provocadas ou irritadas.
Damas e cavalheiros conscientes exercitam a calma em todas as situações
possíveis. Treinam para não se deixarem irritar. Desenvolvem a certeza de que
ninguém será capaz de fazê-los perder a cabeça, seja no trânsito, ou numa fila
de banco, muito menos em uma pista de dança. Assim, mantém constantemente
a compostura e preferem ausentar-se quando notam dificuldades com o
autocontrole. São raros os momentos na vida que justificam uma firmeza dura.
Por exemplo: diante de algum abuso ou se está em jogo a saúde ou a vida. E
mesmo nestas situações, é o autocontrole que permitirá adotar a atitude mais
produtiva e eficiente.
Damas e cavalheiros manifestam desapontamento ou descontentamento
de forma muito inteligente, firme e sutil ao mesmo tempo. Isto mostra que, apesar
de seus sentimentos, permanecem donos de si.
O autocontrole é exigência permanente para damas e cavalheiros
autênticos.

Ouvido moderado

Todos, vez por outra, ouvimos desabafos de amigos, claro. Mas em


ambientes sociais, também mostramos o que somos pelo que ficamos ouvindo.
Muito já se estudou sobre o prazer que os humanos têm em falar sobre a vida
alheia, fazendo julgamentos. Não é incomum sairmos para dançar e nos
depararmos com alguém que passa boa parte do tempo dos intervalos entre uma

60
dança e outra, comentando o vestido de fulana, o namoro de fulano e a vida de
beltrano. Nada de mais, se os comentários forem inconsequentes. Damas e
cavalheiros, porém, não participam de fofocas maldosas: pedem licença e se
retiram.
Outro caso é o das pessoas que não param de falar. Emendam uma
conversa em outra, levando os ouvintes a perderem o fio da conversa. Damas e
cavalheiros não “cortam” a pessoa que está falando, muito menos a deixam
falando sozinha. Aguardam educadamente a primeira oportunidade para
pedirem licença e se afastarem estrategicamente.

Fala moderada

Saber o que e quando falar é qualidade inerente de damas e cavalheiros.


Leitura seleta contribui muito para formar um vocabulário razoável e um rico
acervo intelectual, o que permite participar de conversas variadas, produtivas e
inteligentes. Não podemos esquecer: num baile, são inevitáveis os momentos
em que estamos fora da pista e uma conversa é necessária.
Pessoas viajadas também podem ser muito interessantes, pois
geralmente trazem à baila assuntos agradáveis e de conteúdos diversos. Viajar,
frequentar exposições de arte, teatros, museus, cinemas, assistir documentários
e participar de eventos culturais são práticas altamente recomendáveis para
fortalecer a nossa formação global, ampliando a gama de assuntos sobre os
quais passamos a ter algum conhecimento. Nem sempre dispomos de tempo e
recursos para tudo isto. Assim, a fonte de instrução, lazer e cultura mais barata
e acessível passa a ser a leitura, que coloca o mundo à nossa disposição. Se
não temos tempo ou disposição para ler, precisamos urgentemente reavaliar
nossas prioridades.
Outro item relevante são as perguntas. Em qualquer diálogo, damas e
cavalheiros demonstram interesse e atenção, mostrando respeito e
reconhecimento, especialmente se desconhecem o assunto. Elegantemente,
fazem perguntas inteligentes e oportunas, procurando não cansar o interlocutor.
Damas e cavalheiros bem-sucedidos em determinada área tomam
cuidado redobrado em suas falas, a razão é simples, zelo para não inferiorizar
ninguém. Damas e cavalheiros sabem que o maior ou menor conhecimento é

61
pontual. Ou seja: em algum momento, todos sempre sabem alguma coisa melhor
que outros e vice-versa. O mesmo vale para o sucesso afetivo, profissional,
financeiro, acadêmico, intelectual ou qualquer outro.
Damas e cavalheiros não se aproveitam da convivência social para
convencer as pessoas de suas convicções políticas ou religiosas. E isto se aplica
também às suas linhas técnicas na dança. Esta atitude é muito invasiva,
absolutamente desagradável e provoca o afastamento. Cada ser humano tem o
direito de pensar o que quiser e ser respeitado por isto, seja adepto de qualquer
religião, agnóstico ou ateu, seja de direita, centro ou esquerda, tenha vindo da
linha do Carlinhos de Jesus ou do Jaime Aroxa. Em situações de sociabilização
e, especialmente em um salão de dança, não é confortável discursar ou discutir
este tipo de assunto.
Outros detalhes também são importantes. Damas e cavalheiros procuram
sempre falar em um tom agradável, não muito alto nem muito baixo, erguendo a
voz somente para prevenir alguém de algum acidente ou pedir socorro. Falar alto
demais é desrespeitar quem o acompanha e o ambiente todo. Gritos ou berros
são absolutamente condenados em qualquer circunstância. Podem revelar falta
de inteligência para argumentar em tom de voz civilizado. Por outro lado, falar
baixo demais também pode se tornar muito incômodo, obrigando o interlocutor
a pedir seguidas vezes que se repita o que foi dito.
Ao conversar ou dançar, damas e cavalheiros dominam seus bocejos.
Eles devem ser tenazmente controlados porque demonstram tédio, mas se não
for possível evitá-los, precisam ser eficientemente disfarçados, colocando-se
discretamente uma das mãos sobre a boca.
Definitivamente, palavrões não pertencem ao vocabulário de damas e
cavalheiros. Houve um tempo em que determinados grupos intelectuais usaram
muito este linguajar em suas falas e escritos, considerando esta prática como
“liberdade intelectual”. Este tempo passou. Hoje, os palavrões em momentos de
sociabilização não passam de falta de polidez.
Portanto, quando damas e cavalheiros não têm nada de bom a dizer,
ficam sabiamente em silêncio.

62
Alimentação moderada

Damas e cavalheiros até podem cometer exageros ao alimentar-se, mas


nunca em público. Não é seu hábito encher o prato formando pirâmides e
ocupando as bordas, nem colocar docinhos na bolsa ou pedir um pratinho de
bolo para levar para casa. Encher a boca não é um bom exemplo da polidez de
damas e cavalheiros a quem nos referimos aqui. Em público, sua relação com a
comida é sempre moderada, discreta, elegante. Até para prevenir situações mais
graves. Necessidades atípicas de comer muito ou com mais frequência que o
normal indicam a recomendação de auxílio profissional de um nutricionista
ou nutrólogo.

Escolha de amigos

Os amigos que fazemos ao longo da vida dizem muito sobre nós, dão um
recado claro sobre o que somos, o que preferimos. Damas e cavalheiros
escolhem seus amigos criteriosamente, mas com base em personalidade,
comportamento e caráter. Jamais por sua aparência física, condição financeira,
social ou favores que lhes possam fazer.
"Para ter êxito na vida, é preciso ter amigos. Para manter seu êxito é
preciso mais amigos". Esta frase que circulou pela internet ignora que êxito
precisa estar ligado à integridade e não apenas à “política”. A amizade com
pessoas influentes para somente obter cargos, chefias ou quaisquer outros
benefícios tem seu preço. O tempo mostra que esta caminhada não resulta em
um acervo de relações verdadeiras.
Na área da dança de salão, há os que buscam amizade com quem dança
bem ou galgou algum relevo apenas para pertencer a um grupo que está em
destaque momentâneo ou obter algum outro favorecimento qualquer.
Amizade não é escada para alcançar sucesso profissional, financeiro ou
projeção social. É compatibilidade de caráter, afinidade emocional, compromisso
afetivo.
Damas e cavalheiros sabem ver, antes de mais nada, o ser humano que
acompanha cada corpo.

63
Modéstia

Atitude, postura e produtividade são muito mais eficientes para formar


opiniões e construir uma imagem do que qualquer discurso promocional
sobre si mesmo.
Damas e cavalheiros têm brilho próprio e é isto que torna absolutamente
desnecessária a atitude de mostrar-se. O exibicionismo só se justifica nos
palcos, mas também é questionável se visar apenas a louvação. O verdadeiro
valor será naturalmente reconhecido pelo mérito.
Damas e cavalheiros nunca se assenhoram de créditos alheios e sempre
reconhecem favores recebidos. Não atraem atenção sobre si, sobre o que fazem
ou fizeram, menos ainda sobre o que possuem. Exaltar bens e altos valores
pagos é profundamente deselegante.
Damas e cavalheiros mantém uma postura discreta, ouvindo mais do que
falando. Só fazem correções a alguém se solicitados.
Têm o equilíbrio de não pensarem somente em si, mas também não são
domináveis, fracos, submissos ou modestos demais. São agradáveis com todos,
sem se subordinarem a discursos ou situações que contradigam seus princípios
e valores. A modéstia é honesta quando revela a simplicidade que os distancia
das caricaturas de requinte exagerado.

Escrita e tecnologia

Antigamente, a comunicação vencia a distância pelo envio de cartas ou


telegramas. Hoje, pessoas até bem próximas, fazem largo uso da internet,
enviando e-mails, mensagens por celular, entre outros. A via eletrônica tornou-
se, para alguns, um hábito diário.
Cavalheiros e damas sempre fazem uma revisão cuidadosa de tudo que
registram pela escrita. Certificam-se de ter empregado um tom agradável, evitam
usar termos ou expressões que possam magoar ou ofender, usam linguagem
concisa, clara e compreensível, sem deixar dúvidas sobre o que querem dizer.
O conteúdo de seus textos é sempre apropriado para cada situação. Mensagens
desnecessariamente longas desestimulam a leitura. Mensagens muito curtas, o

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uso excessivo de abreviaturas e siglas mostram preguiça e, não raro, ignorância.
Novamente, a leitura é fundamental para a qualidade da escrita. Difícil alguém
escrever bem, de forma correta, consistente, objetiva, concisa, se tem pouca
leitura. Vale lembrar, os corretores ortográficos podem ser aliados preciosos ou
desastrosos. Hoje, muitos convites para tardes dançantes, bailes e festas de
escolas de dança são feitos pela internet, por e-mails ou por redes sociais que
os apresentam em grandes quantidades. Antes de clicar “enviar” é indispensável
uma revisão.
Cavalheiros e damas usam o celular com bom senso, respeitando as
pessoas que estão em sua presença e a natureza do local em que se encontram.
Não ficam deselegantemente escrevendo ou recebendo mensagens enquanto
estão na companhia de alguém. Em caso de emergência, pedem licença e logo
que terminam, retornam ao diálogo. Estão sempre atentos ao toque e
atendimento do celular. Escolhem sons discretos e baixos ou preferem o módulo
silencioso, para não serem inconvenientes. Entendem que recursos de viva-voz
são inadequados para uso em público, salvo quando o interlocutor solicitar ou
estiver de acordo e houver uma boa justificativa para seu uso. Durante uma
dança, é absolutamente desaconselhável qualquer uso de celular.
Damas e cavalheiros sabem reconhecer e respeitar um ambiente de
trabalho, seja um escritório ou uma escola de dança. Por isto, sempre pensam
se o uso pessoal de um equipamento pode atrapalhar quem está perto. Se
pretendemos realizar uma atividade individual ruidosa que de alguma forma
afetará quem está desenvolvendo outra tarefa nas proximidades, devemos nos
certificar que não traremos desconforto ao outro. Neste caso, o uso de fones de
ouvido pode ser ótimo recurso. O mesmo vale para o uso de ar condicionado,
aquecedor, consumo de alimentos que exalam odores, mastigação audível,
lembretes sonoros, movimentos bruscos, batidas de portas, falas inflamadas e
tudo mais que possa tirar o colega de seu foco, que é o labor. Qualquer som,
odor, temperatura ou visual que produzimos são capazes de atrapalhar o
trabalho de alguém. Geralmente, aparelhos eletrônicos são os que provocam
mais incômodos. Seu uso precisa ser evitado, ou acompanhado de um pedido
de desculpas, cessando-se a inconveniência o mais breve possível.

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Apresentação e higiene

O asseio pessoal é cuidado essencial para damas e cavalheiros. Além da


indumentária ser sempre adequada a cada situação, preocupam-se com o uso
de perfumes, desodorantes, tinturas de cabelos e outros produtos que exalam
fragrâncias. Sabem o quanto pode ser desconfortável sentir odores fortes,
desagradáveis, ou perceber sujidades em seu corpo, vestes ou objetos.
Dançando em um salão, ficamos mais próximos de nosso par e a percepção
destes aspectos é maximizada, exigindo mais atenção a eles.

Respeito aos idosos, deficientes, gestantes e mais vulneráveis

Idosos, deficientes, gestantes e pessoas que apresentam alguma


vulnerabilidade merecem especial atenção de damas e cavalheiros. Cedem a
vez, a passagem ou seu lugar, oferecem amparo com cordialidade. Não ocupam
vagas reservadas em estacionamentos públicos ou privados, respeitam as faixas
de pedestres, os assentos e as filas de atendimentos prioritários. Tratam com
gentileza e cortesia qualquer pessoa, especialmente as que pertencem aos
grupos de portadores de necessidades especiais.

Generosidade

Damas e cavalheiros auxiliam quem de fato precisa, pensam em facilitar


a vida de outra pessoa e nunca esperam nada em troca. Mas também sabem
quando restringir sua ajuda, se ajudar é prejudicar.

Chacotas, críticas e ironia

Damas e cavalheiros jamais humilham, criticam ou ironizam quem quer


que seja, porque entendem o que sente quem fica em situação vexatória.
Praticam a empatia como ninguém, pois conseguem colocar-se no lugar de
quem é alvo deste tipo de agressão e por isto evitam habilmente tais ocorrências.

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Companhia

Damas e cavalheiros são sempre boa companhia. Quando estão em


grupo ou mesmo com apenas mais uma pessoa, observam e acompanham o
ritmo do outro. Num jantar, por exemplo, aguardam que sua companhia pegue o
talher para só então iniciar a refeição. Também aguardam para juntos servirem-
se da sobremesa. Quando caminham com alguém, cuidam para ajustar o passo
ao seu caminhar. Essencialmente, pensam na outra pessoa e agem em favor de
seu conforto.

Postura

Ao olharem-se no espelho, damas e cavalheiros avaliam sua imagem


como um todo e são seus primeiros críticos. Mantém os ombros erguidos, a
barriga firme a cabeça em posição horizontal, nem muito para baixo ou
demasiadamente para cima, seja no dia a dia ou em uma dança. Adotam uma
postura confiante, transmitindo uma elegante segurança.

Naturalidade

A naturalidade transparece em todas as atitudes de damas e cavalheiros,


sem nunca parecerem forçadas ou artificiais. Estão incorporadas na sua forma
de ser e em seus hábitos.

Honra

Em seu artigo “Guia para Cavalheiros do século XIX” publicado pelo


Observatório Astronômico Alpheratz, Leonardo Perin cita o Diário Íntimo de Henri
Aimel (publicado em 1866), que contém informações essenciais para delinear
claramente o perfil de damas e cavalheiros. Um cavalheiro, tanto quanto uma
dama, é imune a qualquer forma de coação. É livre, dono de si, se respeita e se
faz respeitar. Obedece à lei, à sua própria palavra, ao contrato que assumiu, ao
que é justo. Conforme este diário, a personalidade é o bem superior a todas as

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demais qualidades, “sua essência é, pois, a soberania interior”. O texto registra
que o respeito próprio leva ao autocuidado corporal e intelectual, ao bom
comportamento, polidez, controle dos instintos e à imperiosa necessidade de
independência. Em 1882, George Gaskell publica o livro “Happy homes and the
hearts that make them or thrifty people and why they thrive”, no qual ressalta: o
verdadeiro cavalheiro tem como qualidade maior seu valor moral. O mesmo se
aplica a uma dama.
Cavalheiros e damas têm honra. Isto significa que assumem atitudes
essencialmente honestas, respeitosas, verdadeiras, íntegras e moldadas por um
profundo senso de justiça.

Bons anfitriões

Cavalheiros e damas sabem receber pessoas em sua casa, em eventos


que promovem, em seus bailes e encontros dançantes. Recebem
individualmente cada pessoa à porta. Apresentam os convidados desconhecidos
uns aos outros pelo nome, introduzindo assuntos de interesse comum, o que
favorece a aproximação das pessoas. Recebem igualmente pessoas que
aparecem sem ser convidadas, mas procuram meios para evitar que o fato se
repita. Administram com discrição e elegância eventuais comportamentos
inconvenientes de quaisquer convidados, prevenindo constrangimentos para si
e para os demais.
Bons anfitriões sabem convidar. Entendem que convites feitos em cima
da hora passam o recado de que é feito por obrigação e não por desejar a
presença do convidado. Ao convidar alguém, sabem que é gentil informar se
conhecidos em comum também serão convidados. Estendem o convite ao
companheiro de seu convidado. Lamentam e se solidarizam com recusas
justificadas.
Cavalheiros e damas pensam em todos os detalhes que fazem cada um
de seus convidados se sentirem bem e à vontade.

68
Bons convidados

Ao receberem um convite confirmam a presença ou informam a ausência


imediatamente, agradecendo terem sido lembrados. A dama ou o cavalheiro que
recebe um convite individual que não inclui seu par afetivo, recusa e justifica que
terá compromisso com seu par. É um modo delicado de informar indiretamente
que está em um relacionamento e que não irá só. Jamais solicitam que o convite
seja estendido a mais alguém, especialmente quando se trata de um evento
pequeno. Isto deverá ser iniciativa do próprio anfitrião.
Quando têm restrições ou preferências alimentares não transferem o seu
problema para os anfitriões. Como bons convidados, adequam-se, cuidando
para que suas necessidades ou hábitos distintos não sejam inoportunos. Após o
evento ou estadia, conforme o caso, podem fazer um afetuoso contato com os
anfitriões por meio de um telefonema ou de um cartão, agradecem o convite e
ressaltam os momentos agradáveis.
Bons convidados sabem apresentar-se aos demais. Afinal, muitas vezes
o anfitrião não tem como apresentar cada convidado a todos os presentes. Ao
se apresentarem, informam seu próprio nome e perguntam como está o
interlocutor. Se já o conhecem, citam seu nome e para abrir o diálogo, fazem
alguma pergunta, por exemplo, sobre seu trabalho. Ao se reencontrarem, não
raro ocorre de pessoas que se conheceram no passado não conseguirem
lembrar. As apresentações completas, do tipo: “Boa noite fulano, sou beltrano.
Nos encontramos no evento tal. Como tem passado?” permitem que a pessoa
tenha uma referência e evitam constrangimentos.
Muito importante: bons convidados não comentam sobre festas diante de
pessoas que não foram convidadas, menos ainda em redes sociais. Em hipótese
alguma, postam fotos tiradas no evento – prerrogativa do anfitrião - que merece
toda a consideração antes, durante e após o evento.

Bons dançarinos

Cavalheiros e damas de verdade sabem dançar. Isto não significa


necessariamente que sejam profissionais. Não significa nem mesmo que saibam
uma grande quantidade de passos de cada dança. Significa que sabem os

69
elementos fundamentais da prática social e nunca perdem a noção de que sua
dança precisa ser, antes de qualquer coisa, prazer para seu par e respeito com
o salão.

Etiqueta

Damas e cavalheiros sabem que precisam merecer o título de


“Dama”/“Cavalheiro”. Preocupam-se com o assunto, leem sobre etiqueta,
mantém-se atentos, treinam e incorporam hábitos de bons modos. Antigamente,
a aplicação de regras de etiqueta era exclusividade dos nobres. Hoje, qualquer
pessoa interessada em melhorar seu trato social pode pesquisar, estudar e
praticar. Afinal, se não estivermos habituados a utilizar boas maneiras em nosso
dia a dia, não seremos naturais quando precisarmos delas.

70
DAMA

Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora? Ah,


ela ensina as luzes a brilhar! Parece pender da face da noite
como um brinco precioso da orelha de um etíope! Ela é bela
demais pra ser amada e pura demais para esse mundo!
Como uma pomba branca entre corvos, ela surge em meio às
amigas. Ao final da dança, tentarei tocar sua mão, pra assim
purificar a minha.

William Shakespeare, na peça teatral “Romeu e Julieta”,


tragédia escrita entre 1591 e 1595.

Outros aspectos configuram uma dama idealizada neste contexto aqui


abordado, além de senso estético e de discernimento, do conhecimento, da
polidez, e de tudo o mais que foi listado em comum para damas e cavalheiros.
Notemos alguns deles em particular.

Silêncio

Nós mulheres temos dificuldade em praticar o silêncio, mas dominá-lo é


arte indispensável às damas de qualidade. É arma poderosa, capaz de
conquistar vitórias memoráveis. Todos conhecem o poder de uma mulher
silenciosa.

Vestimenta de uma dama

As roupas de uma dama são bem combinadas, do tamanho exato para


seu corpo, apropriadas ao seu tipo físico e idade, adequadas a cada ocasião.
Não significa que devam sempre usar terninhos ou vestidos discretos, mas sutiã
e calcinha são aconselháveis e devem ficar discretamente ocultos. Evidenciar
exageradamente atributos físicos com decotes profundos ou vestimentas justas
demais é postura que denota vulgaridade.
A moda, muitas vezes, traz tendências que não condizem com a
elegância. Segui-la sem atentar às características individuais é receita certa para
produzir uma imagem artificial. Vestimentas clássicas são mais seguras.

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Uma boa dama sabe ainda como se vestir para dançar de forma a não
trazer desconforto para seu par, para si e nem chamar demasiadamente a
atenção.

O caminhar e o sentar-se e de uma dama

Em geral, uma dama caminha como se estivesse sobre uma linha reta.
Mantém as pernas unidas, coluna alinhada, sem jogar os braços. Olha para
frente, sem erguer nem baixar demais a cabeça.
Damas, especialmente quando usam saias, procuram sentar com as
pernas fechadas. Quando as cruzam, o fazem preferencialmente na altura dos
tornozelos, mantendo-as discretamente inclinadas. Estes cuidados são ainda
mais valorizados por uma dama que está no salão de dança.

Feminilidade

Sem dúvida, uma dama é sempre feminina, embora mantenha-se atenta


ao fato de que há quem confunda feminilidade com dependência, submissão,
alienação, incapacidade.
Uma dama segura de si, permite que o cavalheiro a reconheça como
dama, deixando-o abrir as portas, puxar a cadeira, ajudá-la com o casaco, dar-
lhe a passagem. Mas as damas de hoje já podem se oferecer para dividir a conta
do jantar - maneira elegante de mostrar autossuficiência, mantendo intacta a
feminilidade – aceitando tranquilamente, no entanto, que o cavalheiro assuma a
despesa total. Em 1843, o livro “Hints on etiquette”, publicado em Bostom pela
Otis Broaders e Co., Charles William Day já registrava que uma dama gosta de
tomar conta de si.

A dama diante de um cavalheiro

Uma dama reconhece e aceita as manifestações de cavalheirismo. Mas


também deve ser capaz de identificar o momento em que a porta do carro lhe
será aberta, quando terá a preferência na passagem ou quando permitirá que o

72
cavalheiro a conduza em uma dança. Esperar indevidamente uma atitude
cavalheiresca poderá causar muita frustração.
Entre os anos de 1830 e 1897, na Philadelphia, Louis Antoine Godey edita
a revista “Godey’s Lady’s Book and Magazine”. Numa edição de 1850, alerta:
uma dama que se atrasa para determinado evento e já encontra os partícipes
acomodados, não pode esperar que os cavalheiros passem pelo inconveniente
de ceder-lhe o lugar.

Independência

Uma dama da geração atual é independente, o que não a impede de ser


uma dama. Não precisa mais se submeter à humilhação de ter suas
necessidades providenciadas por alguém e nem por isto perde a capacidade de
se deixar conduzir durante uma dança. Sua sobrevivência não depende de
ninguém além dela mesma e sua dança prova que sabe a importância da
interdependência.

Boa dançarina

Uma verdadeira dama sabe dançar. Não precisa ter decorado uma
enormidade de passos. Precisa saber entregar-se à condução do cavalheiro,
entrar em seu equilíbrio corporal e fazer parte dele durante toda a dança. Uma
dama, como regra geral, não conduz, mas responde com personalidade,
inspirando novas conduções e promovendo a comunicação corporal. Ser uma
boa dançarina é muito mais fácil que ser um bom dançarino, logo é menos
compreensível quando se abdica de ser dama.

73
CAVALHEIRO

Já houve uma época em que ser cavalheiro era considerado


antiquado. Não é mais.

Roberto Amado. Cavalheirismo em 15 lições. Estilo de vida.


Revista Alfa. Editora Abril. 27 de novembro de 2012.

Além dos pontos já colocados como características comuns entre damas


e cavalheiros, há ainda outros que caracterizam os cavalheiros idealizados a que
nos referimos.

Respeito à condição feminina

Nada justifica qualquer indelicadeza ou desrespeito à mulher, mesmo que


ela eventualmente pareça merecer. A civilidade é irrestritamente devida ao sexo
feminino por ser a única proteção que elas têm contra superioridade física do
homem (Martine, 1866).
Um cavalheiro deve ser capaz de proteger a si mesmo, bem como as
damas em sua companhia (Houghton, 1886). Para defender-se ou defender sua
dama de uma agressão verbal, um cavalheiro não recorre imediatamente à
agressão física. A elegância, nobreza e comedimento desarmam o ofensor.
Estas são as defesas mais poderosas. O cavalheiro dispensa a grosseria, evita
de todo modo o uso de palavras de baixo calão. Mantém-se prudentemente
distante de situações embaraçosas, evitando assim, reações indesejáveis.
Em um salão, o cavalheiro arquiteta a dança para fazer sua dama feliz.
Deve cuidar da dama para que não colida com nada nem ninguém e, quando há
um acidente, deve protegê-la, assumindo o pedido de desculpas para o terceiro
envolvido e depois para sua dama. Como é o cavalheiro que conduz, cabe a ele
administrar infortúnios no salão e evitar qualquer mal-estar para sua dama e para
os demais.

74
Vestimenta de um cavalheiro

Roupas sóbrias, bem combinadas, do tamanho exato para o corpo,


apropriadas ao tipo físico, idade e ocasião são, em geral, típicas do cavalheiro
idealizado. Não significa que a única vestimenta correta seja o terno. Trajes
esportivos e informais também fazem parte de seu guarda-roupa. Se usam
chapéu, touca, boné, retiram-nos ao sentar-se à mesa ou entrar em uma
residência. À mesa, tiram-se agasalhos pesados. Um autêntico cavalheiro sabe
se vestir para dançar sem trazer desconforto para dama, nem causar
constrangimento visual.

O caminhar e o sentar-se e de um cavalheiro

Ainda segundo Walter Houghton (1886), um cavalheiro tem mais


liberdade que a dama, sendo-lhe permitida uma postura mais livre. Pode sentar-
se com as pernas cruzadas e não muito afastadas sem, no entanto, apoiar um
pé sobre o joelho. Não se esparrama na cadeira ao sentar, nem esfrega as
pernas.
Para Martine (1866) o cavalheiro não se espreguiça nem se balança ao
caminhar. Procura adequar o tamanho e a velocidade de seus passos aos da
dama que acompanha.

Masculinidade

Um cavalheiro é masculino, ou seja, possui os atributos que o


caracterizam como homem. Porém, masculinidade e machismo não devem ser
confundidos. O machismo, que parte do princípio que o homem é superior à
mulher, é uma das manifestações mais antagônicas ao cavalheirismo.

Na presença de uma dama

Um cavalheiro é sempre agradável, sabe instintivamente o que é preciso


fazer para agradar uma dama. Se esta noção não é inata, pode ser aprendida e

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treinada. Existe farto material em livros, sites, blogs ou escolas de etiqueta.
Algumas atitudes, no entanto, são elementares como:

 Ceder a passagem;
 Abrir as portas e aguardar que a dama passe;
 Puxar a cadeira para que ela sente ou, se um profissional o fizer, aguardá-
la sentar;
 Ajudar a dama ao tirar e colocar o agasalho;
 Pagar a conta do jantar, mas se a dama demonstrar ser independente,
pode aceitar dividir a despesa, não antes de insistir discretamente;
 Evitar limpar eventual mancha de batom em presença da dama que a
deixou;
 Atentar ao copo da dama para não deixar faltar sua bebida, servindo-a
sempre em primeiro lugar. Em determinados restaurantes, o vinho pode
ser servido antes para o cavalheiro, que irá avaliá-lo com um gole,
autorizando então, que as damas e demais cavalheiros da mesa também
sejam servidos;
 Ceder seu assento quando uma dama surge e todos os lugares estão
ocupados. Usar do bom senso e observar se é a atitude mais adequada
para o momento;
 Levantar-se quando uma dama entra em um ambiente, se a natureza do
evento e local o indicar;
 Oferecer o braço para amparar uma dama desacompanhada,
especialmente se usa saltos altos;
 Permanecer atento ao conforto das damas. Oferecer uma bebida, buscar
alimento sem, contudo, tornar-se inoportuno;
 Ficar do lado externo da calçada ao acompanhar uma dama. Esta atitude
vem de um hábito antigo de proteger as damas, deixando-as caminharem
debaixo de marquises e sacadas. Atualmente, a mesma atitude ainda
protege a dama do tráfego e de jatos de água espirrados por veículos.
Cena clássica de cavalheirismo é a do cavalheiro que tira seu casaco e o
coloca sobre uma poça d’água para que a dama passe sobre ela sem se

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molhar. Na prática, esta atitude pode acabar sendo um tanto
inconveniente...
 Dar a frente para a dama em uma escada que sobe. Caso ela perca o
equilíbrio, poderá ser amparada pelo cavalheiro que vem atrás. O inverso
também é verdadeiro: na descida, o cavalheiro vai à frente;
 Abrir a porta do carro para a dama. Para isto, passa à sua frente, aguarda
que sente, fecha a porta e segue, por trás do carro, para seu lugar. Ao
deixar o veículo, sai antes, abre a porta e oferece a mão para a dama
apoiar-se;
 Oferecer o casaco à dama, às vezes até com certa insistência, quando a
temperatura está mais baixa do que o confortável para ela;
 Ter sempre um guarda-chuva disponível para o conforto de uma dama
que dele possa precisar. Abrir e segurar o guarda-chuva, lembrando que
o primeiro objetivo é manter a dama seca, o segundo, manter-se seco;
 Em um restaurante, o cavalheiro conversa e decide com a dama sobre o
pedido; só então o faz ao garçom;
 Manter a atenção exclusivamente na dama que está em sua companhia.
Para um verdadeiro cavalheiro, não existem outras damas;
 Ser sempre gentil e delicado. Nunca agressivo ou grosseiro, seja com
olhares ou palavras, muito menos com atitudes;
 Após um encontro, ligar atenciosamente para a dama, mesmo se não tem
interesse em manter um relacionamento. Usar de tato para não gerar
falsas esperanças. A boa educação evita constrangimentos
desnecessários;
 Atualmente, um cavalheiro não fuma próximo de não fumantes,
especialmente diante de uma dama.

Bom dançarino

Um bom cavalheiro sabe dançar. Sabe que sua dama espera ser
conduzida. Ela se deixará conduzir mais facilmente se sentir que seu par está
absolutamente atento e sabe o que está fazendo. A ausência de condução
durante a dança dá à dama a sensação de abandono, levando-a à pressão

77
psicológica de acreditar ser responsável por acertar todos os passos para não
se constranger diante das outras pessoas no salão.
Muitos cavalheiros experientes em palco, com uma dança visualmente
bela, simplesmente são incapazes de uma condução de salão minimamente
agradável. Boa parte deles não sabe que é detestado pelas damas que
percebem esta sua incompetência. Estes cavalheiros trazem frustração para a
dama, fazem-na infeliz durante sua dança.
Por outro lado, dançando de forma elaborada ou muito simples, o
verdadeiro cavalheiro mantém a essência do salão fazendo sua dama sentir-se
uma deusa inteligente, uma grandiosa dançarina, mesmo se é uma iniciante com
dificuldades.
Assim, o cavalheiro de verdade observa seu par antes de convidar para
uma dança e, logo no primeiro abraço, avalia suas reações. Percebe,
inicialmente, como sua dama transfere o peso e assume o comando desta
transferência. Lentamente, faz a base da dança até entender como a dama
responde melhor. Disponibiliza, com absoluta tranquilidade, todo o tempo que
ela precisa para adquirir confiança. Não arrisca qualquer movimento que tenha
dúvida se sua parceira será capaz de acompanhar ou que ele próprio seja capaz
de corrigir em caso de falha. O cavalheiro verdadeiro pede desculpas quando a
dama erra porque sabe que ele é que não foi capaz de perceber que a dama não
saberia realizar o passo que conduziu. É isto que faz a dama se sentir a melhor
dançarina do mundo naqueles braços e é esta a missão primordial do cavalheiro
na pista de dança.

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Por que um homem deve ser cavalheiro

Você que conduz, você que define a coreografia, seus braços e


tronco mostram o caminho, mas é ela que brilha.

Haroldo Lage. Dança de Salão ou 8 maneiras de divertir sua


Dama. Papo de Homem. 26 de setembro de 2007.

Há tempos, um jovem de 15 anos disse-me não entender porque um


homem devia ser cavalheiro com as mulheres. São várias as respostas em
âmbitos diversos que os homens de quaisquer idades têm o direito de saber.
As mulheres conquistaram o mercado de trabalho, são independentes,
donas de si, chefes, diretoras, presidentes. Esta realidade faz, facilmente,
esquecermos as diferenças abissais que continuam existindo entre homens e
mulheres.
As mulheres apreciam mais a companhia de cavalheiros do que a de um
homem comum. Entendo que este seja o primeiro e mais forte motivo para os
homens que gostam da companhia de mulheres se empenharem em ser
cavalheiros. Mas somente verdadeiros cavalheiros se lembram no seu dia a dia
de atitudes cavalheirescas.
Há razões aparentemente pouco importantes. Por exemplo: geralmente
homens gostam de ver mulheres com saltos altos, roupas bonitas mesmo que
nem sempre confortáveis, maquiagem bem feita, cabelo cuidado, unhas bem
tratadas, totalmente depiladas. Com certeza, são beneficiados por estes
sacrifícios feitos pelas mulheres. É justo que as recompensem com seu
cavalheirismo.
Razões muito mais profundas, no entanto, exigem que um homem seja
inteligentemente cavalheiro. Sob a tensão pré-menstrual (TPM), período
sabidamente sofrido para as mulheres, elas continuam trabalhando em suas
profissões, cuidando de seus afazeres domésticos – quase sempre úteis e
necessários para os homens. Em média, as mulheres são fisicamente menos
fortes que homens e, mesmo assim, são elas que os carregam e embalam no
início da vida e, não raramente, os fortalecem ao longo da existência. Mulheres
emprestam seus corpos, oferecem nutrientes e seu sangue para que a
humanidade possa existir. Nem todo o cavalheirismo dos homens basta para

79
equilibrar estas diferenças, mas é um reconhecimento doce que torna tudo mais
leve e suportável.
As poucas razões citadas como exemplo já são suficientes para justificar
porque homens devem ser cavalheiros com mulheres. A opção pelo
cavalheirismo, no entanto, é individual e intransferível.

80
QUEM PODE SER UMA DAMA OU UM CAVALHEIRO

Ser ou não ser, eis a questão.

William Shakespeare (1564-1616), em sua peça “Hamlet”,


tragédia escrita entre 1599 e 1601.

Hoje, para buscar o ideal de ser uma dama ou um cavalheiro não é preciso
ter dinheiro ou posição social, pertencer a uma elite ou algo similar. É
fundamental assimilar a importância deste ideal para si e para os outros, querer
e decidir. Depois, almejar desenvoltura intelectual, adquirida com leitura de
qualidade, o que está amplamente acessível em livros, manuais, revistas,
jornais, sites, blogs entre outros. Assim, qualquer um poderá ser uma dama
ou um cavalheiro, basta ter despertado o interesse pelas características
destes protagonistas de um salão de dança, buscar informações, se apropriar
delas e treinar.

81
Figura 15– Pintura de Guys, Constantin-Ernest-Adolphe-Hyacinthe (1802-1892), aguada com
tinta cinza, produzida entre 1852 e 1860. Localização da obra: Museu do Louvre, Paris, França.

82
CAVALHEIROS E DAMAS NO SALÃO DE BAILE

...o que menos se precisa num baile é de homens que


não sabem tratar uma mulher como a dama que ela
merece (o mesmo para as damas, mas isso tem se
mostrado menos frequente).

Haroldo Lage. Dança de Salão ou 8 maneiras de divertir sua


Dama. Papo de Homem. 26 de setembro de 2007.

Os livros de etiqueta mais antigos revelam que o melhor comportamento


de damas e cavalheiros acontecia no salão de dança. Em alguns salões atuais
ainda cabem as mesuras, delicadezas e especiais atenções à mais rigorosa
etiqueta. Mas o melhor de uma dama ou cavalheiro é o que está em seu interior.
É este conteúdo que aparecerá onde quer que estejam, qualquer que seja a
situação. No já referido artigo publicado na Revista Dança em Pauta, “Dançamos
o que somos”, defendi a ideia de que a forma com que nos portamos em um
salão, incluindo nosso modo de dançar, também revela aspectos de
nosso caráter:

Ética. A palavra vem do grego e traz como significado a forma


de comportar-se, de ser. É entendida amplamente como ramo
da filosofia. O caráter é estudado na psicologia. Independente
dos seus tangenciamentos com personalidade, juízos de valor
ou maniqueísmo, entendemos o caráter aqui, como a forma de
agir de um indivíduo no que diz respeito a ter ou não como
valores a justiça, a honestidade e a retidão. A dança de salão,
atividade humana, não só é desenhada pela postura ética de
quem a faz, como é potencial reveladora do caráter de cada
indivíduo.

Todos os detalhes de nossas atitudes em um salão revelam o que somos.


A forma que cuidamos de nosso corpo, nossas atitudes, o que inclui os atos da
dança propriamente dita, e o conhecimento íntimo de nós mesmos constroem o
quadro do que somos no salão.

83
PARTE III

 COMUNICAÇÃO CIVILIZATRIZ NA PISTA DE DANÇA: CONDUÇÃO


 HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DE CONDUÇÃO

84
COMUNICAÇÃO CIVILIZATRIZ NA PISTA DE DANÇA:
CONDUÇÃO

Até agora, exemplificamos um pouco da história da humanidade rumo a


uma conduta civilizada, abordamos o momento em que esta trajetória se
encontrou com a dança e as características dos protagonistas do salão de dança,
a dama e o cavalheiro. Notemos, a partir de agora, que um dos pontos mais
importantes deste salão é a pista de dança, local regido por um código mais
específico, o da dança propriamente dita. Mais precisamente, no espaço da pista
de dança o relacionamento entre dama e cavalheiro se dá pela linguagem da
condução, que merece ser conhecida.
A literatura atual já ensaia seus primeiros passos na discussão sobre os
significados, métodos e amplitudes práticas do fenômeno da condução. Já
entendemos que há uma natureza heterossexual nesta arte, mas isto não
significa que o sexo dos indivíduos que assumem os papéis de dama e de
cavalheiro estejam a eles engessados. Já aprendemos que conduzir não é
sinônimo de mandar. Evoluímos.
Aqui, partiremos inicialmente do conceito proposto no livro “Dança de
Salão, conceitos e definições fundamentais” publicado pela Editora Protexto
em 2013:

Condução é a proposição de movimentos que o


Cavalheiro faz para a Dama que a acata e responde de
forma personalizada, influenciando as conduções
seguintes e estabelecendo uma comunicação que se
mantém durante toda a dança.

O conceito registra a ideia de comunicação entre cavalheiro e dama,


sejam estes papéis desempenhados por quem quer que o sejam, ao longo de
toda a dança. Sem dúvida esta comunicação pode ocorrer de muitas formas,
mas o que deve nortear seus princípios, é sua essência civilizatriz. Isto quer dizer
que tal comunicação precisa ser harmoniosa, produtiva para cavalheiro e dama,
prazerosa, e encerrar absoluta cordialidade. É preciso que a relação de poder
seja equilibrada.

85
HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DE CONDUÇÃO

Os aspectos históricos e técnicos da condução são cada dia mais


interessantes para os pesquisadores. Primeiramente, é importante lembrar que
há uma ideia, bastante popularizada de que a condução é um mecanismo pelo
qual um cavalheiro comanda, ou mesmo manda em uma dama. Realmente, se
pensarmos que a valsa, primeira dança de salão, começou a se disseminar ao
final do século XVII, atingindo seu auge a partir do século XVIII, percebemos um
contexto sócio histórico que pode sugerir esta relação. Nesta época, as
sociedades ocidentais traziam muitas restrições às mulheres. O próprio Tobias
Barreto, que inspirou parte do título deste livro, foi um defensor dos direitos das
mulheres, tendo importante papel na conquista do direito delas ao
ensino superior.
O que precisa ser percebido é que a aristocracia, ambiente em que a
dança de salão se desenvolveu, não seguia os mesmos padrões do restante da
sociedade, em todos os seus aspectos. Lembremos: a palavra “etiqueta”,
referindo-se ao comportamento apropriado para o ambiente, foi cunhada no
contexto da corte francesa de Luis XIV, modelo aristocrático para muitos outros
países, e trouxe contribuições importantes para a formação de damas e
cavalheiros corteses. Esta mesma formação trazia em seu elenco de conteúdos
a prática das danças de baile, a exemplo do minueto, que antecederam as
danças de salão. Foi nesta conjuntura que as ideias de cavalheirismo se
fortificaram, invadindo o século XIX como conduta valorizada. Cavalheiros
abriam a porta para a dama passar, ofereciam-lhe um casaco e, por meio de
muitas outras atitudes, colocavam-se a serviço das mulheres, intentando agradá-
las e satisfazê-las em suas vontades. Precisamos reconhecer que uma formação
nesta linha não combina com um cavalheiro que comanda arbitrariamente uma
dama durante a dança estabelecendo uma relação desequilibrada de poder.
De fato, a leitura dos manuais de civilidade do século XIX, como também
dos livros de dança de sociedade, assim chamadas nesta época, reforçam que
a relação entre uma dama e um cavalheiro não se pautava em uma conduta
opressora, apesar de toda a sociedade parecer estar estruturada desta forma. O
cavalheiro do momento e local em que a dança de salão iniciou seu florescimento
submetia-se ao aceite ou à recusa da dama por dançar, independente de haver

86
ou não uma pressão social para que uma dança não fosse negada. E, uma vez
aceito, esmerava-se para agradá-la e atender aos seus desejos, o que é muito
difícil fazer se a posição é de simples comando. É esta regra de objetivo do
cavalheiro em fazer a dama feliz que assegura controle do seu poder de decisão
quanto aos movimentos que serão executados, promovendo uma relação de
harmonia, uma relação civilizatriz no ato da condução.
Portanto, assim desenhou-se o princípio histórico da condução na dança
de salão. Um cavalheiro, concentra-se em satisfazer sua dama, obtendo assim
sua própria satisfação. E a dama, reage de forma a revelar o que deseja,
permitindo assim que o cavalheiro possa atendê-la. Em seu surgimento, a
essência da condução está, portanto, intimamente ligada à etiqueta que, por sua
vez, orienta a forma de relacionamento entre cavalheiros e damas na pista de
dança, caracterizando os princípios da condução.
Inicialmente, este modelo esteve restrito à aristocracia, servindo inclusive
como forma de diferenciação social, afirmação hierárquica e até mesmo de
dominação. As práticas de dança que imitavam as danças de bailes da nobreza
não estavam imersas no escopo da completa formação de cavalheiros e damas.
Assim, minúcias do desenho da condução que partia do princípio de “satisfazer
a dama” podem ter sido facilmente desviadas para “comandar a dama”, o que
parece natural, considerando que a sociedade sem acesso à formação da
nobreza assim estava consolidada.
Ao longo do tempo, surgiram outras concepções de condução, além desta
de cunho histórico e de sua corrupção. Venho discutindo estes aspectos na
literatura já há alguns anos, mas destaco para aprofundamentos, alguns artigos
publicados na Revista Dança em Pauta, que compilam informações
interessantes:

 “Todo poder emana da dama” (1o de junho de 2016).


 “Música, cavalheiro, dama e autoconhecimento” (19 de novembro de 2014);
 “Conduzir e mandar, histórias diferentes” (12 de agosto de 2013);
 “Condução e prazer” (17 de setembro de 2013);
 “Condução, diferentes possibilidades a cada dança” (28 de novembro de 2013);
 “A heterossexualidade da dança de salão” (20 de novembro de 2011);
 “E se as damas conduzissem?” (14 de março de 2011);

87
 “Damas também são veículos” (14 de fevereiro de 2011);
 “Cavalheiros são veículos” (18 de janeiro de 2011);

Também destaco os textos dos colegas: “O diálogo dançante da dama


contemporânea” (Sheila Santos, Revista Dança em Pauta, 20 de maio de 2013);
“A dança de salão é um jogo. E a condução é pressuposto necessário para que
esse jogo funcione” (Leonor Costa, Jornal Falando de Dança, fevereiro de 2008);
“Mulheres no comando da condução” (Milton Saldanha, Jornal Dance, junho de
2006); “Dança de Salão e lazer na sociedade contemporânea: um estudo sobre
academias de Belo Horizonte”, (Tiago Tonial, dissertação de mestrado da Escola
de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal
de Minas Gerais. 2011); “Dama Ativa e Comunicação Entre o Casal na Dança
de Salão: uma abordagem prática” (Míriam Medeiros Strack, monografia de
especialização em Teoria e Movimento da Dança com Ênfase em Danças de
Salão da Faculdade Metropolitana de Curitiba, 2013).
Na sequência, cito brevemente algumas concepções sobre condução.

 Concepção histórica: cavalheiro homem, aceito pela dama mulher


que convida para dançar, atinge a própria realização ao servir,
atender cordialmente e satisfazer sua dama, precisando para tal,
manter total atenção às reações dela que, por sua vez, são
fundamentais para o estabelecimento da conexão;
 Concepção corrompida: cavalheiro manda, dama obedece, não
podendo nem recusar a dança;
 Concepção histórica alternada: Os papéis de dama e cavalheiro
são iguais aos da concepção histórica, porém, independem do
sexo dos indivíduos que os assumem e podem se alternar entre os
componentes do par, inclusive no decorrer da dança;
 Concepção histórica acentuada: concepção histórica acrescida do
silêncio na condução, momento em que o cavalheiro, ainda visando
satisfazer sua dama, oferece a ela uma liberdade temporária maior
para que produza os movimentos que deseja;
 Concepção histórica ampliada: conforme a concepção histórica, o

88
cavalheiro é o condutor preponderante e a dama, sem sair de seu
papel, pode propor conduções para o cavalheiro nos moldes históricos;
 Concepção histórica compartilhada: da mesma forma, conforme a
concepção histórica, o cavalheiro é o condutor preponderante e a dama,
sem sair de seu papel, pode pedir corporalmente, de forma sutil e sem
comprometer a ideia inicial do cavalheiro, para assumir, por exemplo, a
definição do tempo em que o movimento proposto pelo cavalheiro será
feito, compartilhando com ele uma das esferas da condução;
 Concepção revolucionária: dissolução da condução.

O modelo da concepção histórica, e suas derivações, parece pouco


explorado pelos praticantes atuais da dança de salão. A redescoberta de sua
essência pode trazer uma nova dimensão civilizatriz para cavalheiros, damas e
salões.
Hoje, não temos como saber que caminhos a condução seguirá e nem se
seus resultados incluem o surgimento de novas modalidades de dança. Mas é
certo que qualquer escolha incapaz de trazer plenitude simultânea a todos os
envolvidos no momento de vivência da dança de salão, é incompleta.
Assim, para o objetivo deste livro, é importante pensarmos que as
concepções que podemos considerar válidas são aquelas que trazem satisfação
a todos os participantes da dança de salão. A cada dança, cada par tem a missão
de descobrir a melhor forma de atingir este objetivo civilizatriz, que não se galga
sem pensar no outro.
A condução, hoje, nos oportuniza conhecer, viver e treinar modelos de
relacionamento, verbais ou não, que visam a realização das partes nela
envolvidas. Este é um dos maiores poderes civilizatrizes da dança de salão. A
razão é que inspira as boas relações não somente entre cavalheiros e damas,
mas entre grandes grupos e nações, simplesmente porque tem como
regra primordial manter o objetivo de harmonizar desejos e permitir a
satisfação de todos.

89
PARTE VIII

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

90
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A arte de viver
É simplesmente a arte de conviver...
Simplesmente, disse eu?
Mas como é difícil!

Mario Quintana. Velório sem defunto. Porto Alegre, RS. Editora


Mercado Aberto. 1982.

Passeando pela história, entendemos que muitas vezes a instituição de


códigos da pequena ética foram estabelecidos com objetivos de diferenciar
hierarquicamente grupos humanos. Em contrapartida, alguns de seus detalhes
parecem ter sido corrompidos para entendimentos de uma diferenciação
hierárquica de gênero no salão, que não tem pleno respaldo no que foi registrado
em manuais de civilidade e de dança. A relação entre cavalheiro e dama no
salão, originalmente primava pela harmonia, pela gentileza, pela atenção à dama
e conduta no sentido de satisfazê-la, o que veio a ser distorcido para ideia de
comando arbitrário do cavalheiro.
Estes mesmos códigos e suas derivações, na atualidade, tem um papel
muito mais profundo de promoção do caminho consensual, democrático, da paz
e da ética, justamente por nos apontar horizontes de equilíbrio para o par, o salão
e até a vida dos diferentes grupos humanos que habitam a Terra.
Nem todas as pessoas que de algum modo estão envolvidas com a dança
de salão têm percepção sobre esta importância da própria formação, do
aprimoramento de integridade e intelectualidade, para si mesmas e para os
outros. Muitos acreditam que investir seu tempo aprendendo passos é o mais
importante, e para o convívio no salão basta buscar apenas manuais de etiqueta
que tendem a sugerir a existência de atalhos para se chegar a íntegra e
autônoma postura no ambiente coletivo.
Mas espero que quem concluiu a leitura deste livro tenha adquirido
subsídios mais sólidos para lançar um olhar honesto sobre si mesmo e refletir
a respeito do que embasa solidamente a conduta dos protagonistas do salão
e do mundo.

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Zamoner, Maristela. Dança de Salão, conceitos e definições fundamentais.
Protexto. 2013.
Zamoner, Maristela. Dança de Salão, uma análise das referências bibliográficas
utilizadas na produção científica. Lecturas: Educación Física y Deportes.
Revista Digital. Argentina, Año XX, nº 17. No. 171. Agosto, 2012.
Zamoner, Maristela. E se as damas conduzissem? Curitiba. Revista Dança em
Pauta. 14 de março de 2011. Disponível em:
http://site.dancaempauta.com.br/e-se-as-damas-conduzissem/. Acesso em
03 de junho de 2016.
Zamoner, Maristela. Educação ambiental para dança de salão. Protexto. 2007.
Zamoner, Maristela. Música, cavalheiro, dama e autoconhecimento. Curitiba.
Revista Dança em Pauta. 19 de novembro de 2014. Disponível em:

98
http://site.dancaempauta.com.br/musica-cavalheiro-dama-e-
autoconhecimento/. Acesso em 03 de junho de 2016.
Zamoner, Maristela. Passos aéreos e dança de salão, ainda há dúvida? Revista
Dança em Pauta, 10 de maio de 2011. Disponível em:
http://site.dancaempauta.com.br/passos-aereos-e-danca-de-salao-ainda-ha-
duvida/. Acesso em 03 de junho de 2016.
Zamoner, Maristela. Sexo e dança salão. Protexto. 2007.

Sites consultados:

1. http://blog.ambientebrasil.com.br/?p=243
2. http://jorgebichuetti.blogspot.com/2011/04/sociedade-de-amigos-poesia-
da-danca-os.html
3. http://letrasdespidas.wordpress.com/2008/07/18/danca-da-vida-edvard-
munch/
4. http://osmedieval.wordpress.com/2011/02/08/placas-e-anuncios-de-
nosso-brasil/
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Depila%C3%A7%C3%A3o
6. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Aur%C3%A9lio_de_Figueiredo_-
_O_%C3%9Altimo_baile_da_Ilha_Fiscal_(Manaus).JPG
7. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Wilhelm_Gause_Hofball_in_Wien.jpg
8. http://pt.wikipedia.org/wiki/Roupa
9. http://www.01ns.eu/lacornice/imp039.htm
10. http://www.apontador.com.br/local/pr/porto_vitoria/enderecos_empresari
ais/C404860354194U194B/prefeitura_mun_de_porto_vitoria.html
11. http://www.casamentocarioca.com.br/site/conteudo_artigos_materias_de
talhes.asp?titulo_link=moda&id=444
12. http://www.centroculturalcarioca.com.br/cursos_danca.php
13. http://www.cobra.pages.nom.br/bmp-mesatalheres.html
14. http://www.construtoradepalavras.com.br/2010/06/guria-da-capital-na-
regiao-noroeste-do.html

99
15. http://www.diariodemulher.com/Beleza-e-Estilo/a-maquiagem-perfeita-
para-cada-ocasiao
16. http://www.editorafolha1.com.br/tintura.html
17. http://www.galeriaaberta.com/sara_vieira/gordas/slides/Dan%C3%A7a%
20nocturna%20-%20acr%C3%ADlico%20sobre%20tela%20-
%2050x60cm%20-%202007%20-%20400%E2%82%AC.html
18. http://www.londrix.com.br/noticias.php?id=15056
19. http://www.netcult.com.br/netcult.qps/Ref/QUIS-7LDV4G
20. http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mulher-maquiagem/historia-
da-maquiagem.php
21. http://splendors-
versailles.org/StudentGuide/Customs/index.middleFrame.html
22. http://www.chateauversailles.fr/l-histoire/versailles-au-cours-des-
siecles/vivre-a-la-cour/les-courtisans
23. http://www.historianet.com.br/main/
24. http://todocomposto.wordpress.com/
25. http://www.dancenews.com.br/edicoes/anteriores/ed70.pdf
26. http://todocomposto.wordpress.com/2010/02/17/os-beneficios-da-danca-
de-salao/
27. http://www.pucrs.br/manualred/maiusculas.php

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OUTRAS PUBLICAÇÕES DA AUTORA NA ÁREA DA DANÇA DE SALÃO

Livros

1. Dança de Salão conceitos e definições fundamentais. Editora Protexto, 2013.


2. Sexo e dança de salão, Editora Protexto, 2007.
3. Educação ambiental na dança de salão. Editora Protexto, 2007.
4. Dança de salão, a caminho da licenciatura. Editora Protexto, 2005.

Artigos de divulgação, crônicas, entrevistas e outras publicações

5. Todo poder emana da dama. Revista Dança em Pauta, 30 mai, 2016.


6. Eternas quadrilhas... Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 9. No. 105. Junho, 2016.
7. Mamães, os bailes não lhes pertencem. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano
9. No. 104. Maio, 2016.
8. Dança de possessão. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 20 abr, 2016.
9. Dengue à baila desde o século XIX. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 9.
No. 103. Abril, 2016.
10. O mundo de uma dança... Curitiba. Revista Dança em Pauta, 7 mar, 2016.
11. Dança e ensino formal: uma ideia antiga. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança,
Ano 9. No. 102. Março, 2016.
12. O primeiro “Carnaval” da poesia brasileira... Rio de Janeiro. Jornal Falando de
Dança, Ano 9. No. 101. Fevereiro, 2016.
13. Convite à dança de Weber, um espelho de vida. Curitiba. Revista Dança em Pauta,
25 jan, 2016.
14. Valsa, a dança do século XIX. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 9. No.
100. Janeiro, 2016.
15. Dançando até morrer, veneno verde no salão do século XIX. Rio de Janeiro. Jornal
Falando de Dança, Ano 8. No. 99. Dezembro, 2015.
16. Quem pode pesquisar a história da dança de salão? Rio de Janeiro. Jornal Falando
de Dança, Ano 8. No. 98. Novembro, 2015.
17. O que é o baile? Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8. No. 97. Outubro, 2015.
18. O baile e o palco. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8. No. 96. Setembro, 2015.
19. Ensino das Danças de Baile no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro. Jornal Falando de
Dança, Ano 8. No. 95. Agosto, 2015.
20. Dança a dois: todos somos um. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 3 jul, 2015.
21. ...“três, quatro defuntos no dia e um baile rompendo a matinê”... Rio de Janeiro. Jornal Falando
de Dança, Ano 8. No. 94. Julho, 2015.
22. Que Baderna é esta? Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8. No. 93. Junho, 2015.
23. Qual é a Dança de Salão legítima? Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8.
No. 92. Maio, 2015.
24. Irmãos Lacombe e a Dança de Salão na primeira metade do século XIX. Rio de
Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8. No. 91. Abril, 2015.
25. Danças de Baile e Dança de Salão no Brasil que antecedeu ao século XIX. Rio de
Janeiro. Jornal Falando de Dança, Ano 8. No. 90. Março, 2015.
26. Autorizada a dizer não. Rio de Janeiro. Jornal Falando de Dança, no. 88. Janeiro, 2015.
27. Consumo, Moda e Dança de Salão. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 23 dez, 2014.

101
28. Música, cavalheiro, dama e autoconhecimento. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 19
nov, 2014.
29. Comportamento de risco na Dança de Salão. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 23
ago, 2014.
30. Breve histórico de comportamento de risco na Dança de Salão. Revista Dança em
Pauta, 23 ago, 2014.
31. Condução, diferentes possibilidades a cada dança. Curitiba. Revista Dança em
Pauta, 28 nov, 2013.
32. Condução e prazer. Curitiba. Revista Dança em Pauta, 17 set, 2013.
33. Entre Flores de Mimulus. Editora Protexto. 3 de setembro de 2013.
34. Conduzir e mandar, histórias diferentes. Revista Dança em Pauta, 12 ago, 2013.
35. Imagem do Cassino Fluminense é uma Fraude. Jornal Falando de Dança. Rio de
Janeiro. Página 8. Ano 6. No 68. Maio, 2013.
36. O que a Dança de Salão tem a ver com sexo? Revista Dança em Pauta, 25 abr, 2013.
37. A aventura infantil na Dança de Salão. Revista Dança em Pauta, 11 out, 2012.
38. Opiniões de autores sobre o artigo "Plágio ou Colagem? Em textos de Dança de
Salão", de Marco Antônio Perna. Página 9. Jornal Falando de Dança. Edição 60,
setembro, 2012.
39. A dança do albatroz. Revista Dança em Pauta, 07 jul, 2012.
40. O poder da metamorfose feminina na dança de salão. Revista Dança em Pauta, 07
mai, 2012.
41. Dança de salão e o ápice da autorrealização. Revista Dança em Pauta, 21 fev, 2012.
42. A heterossexualidade da dança de salão. Revista Dança em Pauta, 20 nov, 2011.
43. Uma década do livro “Samba da Gafieira e a História da dança de salão
brasileira”. Jornal Falando de Dança. Pág. 4. Edição nº 49. Ano IV. Rio de Janeiro.
Out, 2011.
44. Um toque de infidelidade. Revista Dança em Pauta. Cinema. 27 set, 2011.
45. Sobre o artigo “Passos aéreos e a dança de salão, ainda há dúvida?” Revista Dança
em Pauta, 8 jun, 2011
46. Passos aéreos e dança de salão, ainda há dúvida? Revista Dança em Pauta, 10 mai, 2011.
47. Dançamos o que somos. Revista Dança em Pauta, 11 abr, 2011.
48. E se as damas conduzissem? Revista Dança em Pauta, 14 mar, 2011.
49. Damas também são veículos. Revista Dança em Pauta, 14 fev, 2011.
50. Cavalheiros são veículos. Revista Dança em Pauta, 18 jan, 2011.
51. Dançar é pecado? Revista Dança em Pauta, 18 dez, 2010.
52. O reencontro das culturas através da dança de salão. Revista Dança em Pauta, 16
nov, 2010.
53. Confissões sobre o ponto G da dança de salão. Revista Dança em Pauta, 11 out, 2010.
54. Porque o ser humano sempre quer mudar sua aparência? Revista Dança em Pauta,
21 set, 2010. Em co-autoria com: Marcel Luis Franciscon e Clóvis Eduardo
Escarabelin.
55. A natureza artística da dança de salão. Revista Dança em Pauta, 10 ago, 2010.
56. A arte como produto comportamental. Revista Dança em Pauta, 9 jul, 2010.
57. Doutores aprendizes - Editora Protexto, 2010.
58. Trabalhos acadêmicos - Bancas examinadoras - Editora Protexto, 2010
59. Pedagogia do ranço - Editora Protexto, 2009.
60. O que há de biológico nas histórias da dança e ... - Editora Protexto, 2009.
61. Dança de salão em um concurso público. Jornal da Dança, Rio de Janeiro, número
107, página 9, 2008.

102
62. Dança de salão em Curitiba. Jornal Dance News, Rio de Janeiro, número 88, página
10, abril de 2008.
63. Sexo e Dança de Salão, uma análise. Rio de Janeiro. Jornal da Dança, número 100,
página 4, 2007.
64. Discutindo Conceitos: Dança de Salão e Curinga. Jornal da Dança, Rio de Janeiro,
número 101, página 7, 2007.
65. Você faz parte de qual grupo? Jornal da Dança, Rio de Janeiro, número 103, página 9, 2007.
66. Prática e ensino de Ciências, Biologia e dança de salão. Jornal da Dança, Rio de
Janeiro, número 104, página 4, 2007.
67. Criança, cidadania e as professoras curitibanas. Jornal da Dança, Rio de Janeiro,
número 105, página 9, 2007.
68. FAMEC encerra a primeira turma de pós graduação em dança de salão com
magnífica produção científica. Jornal da Dança, número 99, página 9, 2007.
69. Kilve Costa e a reprovação aprovada. Jornal Dance, São Paulo, número 141, página
10, 16 julho. 2007.
70. Ciência e Dança (entrevistada por Luiz Leite). Dance News, Rio de Janeiro, p. 8 - 9,
01 jun. 2007.
71. Conceitos e premissas da Educação Ambiental e a pertinência de seu trabalho pela
dança de salão. Editora Protexto, Curitiba. 2007.
72. Divulgação científica Educação Ambiental para melhor idade: uma experiência na
Paraíba. Editora Protexto, Curitiba. 2007.
73. Divulgação científica Educação Ambiental para crianças e adolescentes: a
contribuição da dança de salão. Editora Protexto, Curitiba. 2007.
74. Divulgação científica Biodiversidade e dança de salão. Editora Protexto, Curitiba, 02 out. 2007.
75. Encerra-se a primeira turma de Pós-graduação em Dança de Salão com magnífica
produção científica. Curitiba. Editora Protexto. 2007.
76. Divulgação científica Conceitos e premissas da Educação Ambiental e a
pertinência de seu trabalho pela dança de salão. Editora Protexto, Curitiba, 2007.

Artigos científicos publicados em periódicos

77. História da Dança de Salão no Brasil: Sergipe do século XIX. Lecturas Educación
Física y Deportes (Buenos Aires), Ano 20, N. 214. Março, 2016.
78. História da Dança de Salão no Brasil: Santa Catarina do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 210. Dezembro, 2015.
79. História da Dança de Salão no Brasil: Minas Gerais do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 209. Outubro, 2015.
80. História da Dança de Salão no Brasil, recortes do Rio de Janeiro do século XIX.
Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 207. Agosto, 2015.
81. História da Dança de Salão no Brasil, Bahia do século XIX. Lecturas Educación
Física y Deportes (Buenos Aires), v. 195. Agosto, 2014.
82. História da Dança de Salão no Brasil, Maranhão do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 194. Julho, 2014.
83. História da Dança de Salão no Brasil: Pernambuco do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 192. Abril, 2014.
84. História da Dança de Salão no Brasil: Curitiba e Paraná do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 188. Janeiro, 2014.

103
85. História da Dança de Salão no Brasil: mestres no Rio de Janeiro do século
XIX. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 187. Dezembro, 2013.
86. História da Dança de Salão no Brasil do século XIX e os irmãos Lacombe. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 186. Novembro, 2013.
87. História da Dança de Salão no Brasil: São Paulo, SP do século XIX. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 185. Outubro, 2013.
88. História da Dança de Salão no Brasil: século XVIII e alguns antecedentes. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 184. Setembro, 2013.
89. ‘Um baile no Cassino’ x ‘Un baile en la Casa de Gobierno’:indícios de uma
fraude. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 173. Outubro, 2012.
90. Conceitos e definição de Dança de Salão. Lecturas Educación Física y Deportes
(Buenos Aires), v. 172. Setembro, 2012.
91. Dança de salão, uma análise das referências bibliográficas utilizadas na produção
científica. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 171. Agosto, 2012.
92. Reflexões sobre o Bolero e sua história. Em Co-autoria com Cristovão Christianis. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 159, 2011.
93. Produção textual em dança de salão no Brasil, um recorte. Lecturas Educación
Física y Deportes (Buenos Aires), v. 154, 2011
94. Dança de salão, um panorama sobre a produção de trabalhos acadêmicos. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 153, 2011.
95. Dança de salão e publicações em eventos científicos, um recorte. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 152, 2011
96. Dança de salão: uma análise dos registros de livros na Fundação Biblioteca
Nacional. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 151, 2010
97. Dança de Salão e publicações científicas em periódicos indexados. Lecturas
Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 150, 2010
98. Educação Ambiental na dança de salão (danças sulistas): Uma experiência no Rio
de Janeiro. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 120, 2008.
99. Aulas de dança de salão em Curitiba: meio ambiente, saúde, sociabilização e
técnica. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 119, 2008.
100.Prática e ensino de dança de salão, comportamento sexual e drogadição: confusões e
preconceitos. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 107, p. 1-6, 2007.
101. Educação ambiental e educação em saúde na dança de salão para melhor idade:
uma experiência na Paraíba. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v.
109, p. 1-7, 2007.
102. Árvores genealógicas e cladística como base para o estudo das relações
históricas entre as danças de salão: uma proposta. Lecturas Educación Física y
Deportes (Buenos Aires), v. 113, p. 1-6, 2007.
103. Especialização em dança de salão (Faculdade Metropolitana de Curitiba
FAMEC): análise das apresentações de monografias da primeira turma.
Movimento & Percepção (Online), v. 8, p. 81-98, 2007.

Capítulos de livros

104. Zamoner, Maristela; Christianis, Cristovão Reflexões sobre o Bolero e sua


história. In: Perna, Marco Antonio [org]. 200 anos de Dança de Salão no Brasil.
Volume 2. Amaragão Edições de Periódicos. Rio de Janeiro. 2012.

104
105. Zamoner, Maristela. Árvores genealógicas e cladística como base para o estudo
das relações históricas entre as danças de salão: uma proposta. In: Perna, Marco
Antonio [org]. 200 anos de Dança de Salão no Brasil. Volume 3. Amaragão Edições de
Periódicos. Rio de Janeiro. 2012.

Artigos publicados/apresentados em eventos científicos

106. Educação Ambiental: Biodiversidade e dança de salão. IV Mostra de trabalhos


acadêmicos da Prefeitura Municipal de Curitiba, 2010.
107.Formação de Professores de Dança de Salão: Concepções dos Alunos do Curso de Pós-
Graduação em Dança de Salão da Faculdade Metropolitana de Curitiba, Famec. In: Anais V
Educere - Congresso Nacional de Educação, CD/Rom, Curitiba, 2005.
108. Formação de professores de dança de salão, uma discussão necessária. In: Anais
IV Educere - Congresso Nacional de Educação, CD/Rom, Curitiba, 2004.
109. Avaliação da Capacitação de Professores em Temas Transversais Enfocando
Mídia e Dança de Salão no Município de Campina Grande do Sul, Paraná. In:
Coletânea: IV Simpósio Brasileiro de Comunicação e Educação, Núcleo de
Comunicação e Educação da USP E UEPG, Zamoner, M. e Teixeira Filho, C. 2002.
110. Relato de Experiência de Ensino da Dança de Salão como Estratégia de
Educação Sexual. In: Anais: VIII Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia –
EPEB/USP, Zamoner, M. e Teixeira Filho, C. 2002.
111. Contribuição da Dança de Salão para Redução dos Índices de Gravidez Precoce
e Dst em Crianças e Adolescentes. In: Anais III Congresso Sul-Americano de
atividade física e saúde. Ponta Grossa. Zamoner, M. e Teixeira Filho, C. 2001.
112. Proposta de Aplicação do Tema Transversal Meio Ambiente nas aulas de
Educação Física e/ou Artes Partindo da Dança de Salão. In: Anais: III Congresso
Sul-Americano de atividade física e saúde. Zamoner, M. e Teixeira Filho, C. 2001.
113. Possível Contribuição das Práticas de Educação Física e Artes (Dança de Salão)
Para o Sucesso Escolar e para Prevenção da Evasão Escolar. In: Anais III
Congresso Sul-Americano de atividade física e saúde.2001.
114. Propostas Metodológicas para aplicação da Musicalização no Ensino da Dança
de Salão. In: II Congresso Sul-Americano de atividade física e saúde. 2000.
115.Educação Sexual partindo dos princípios da Dança de Salão no Ensino Médio e
Fundamental. In: Anais: II Congresso Sul-Americano de atividade física e saúde. 2000.
116. Curinga: A Nova Proposta didática para a terminologia do "dois e dois". In:
Anais: I Congresso Sul-Americano de atividade física e saúde. 1999.

105
EDIÇÕES COMFAUNA, OUTRAS PUBLICAÇÕES

Arzua, M; Cordeiro, A. A de M. &


Zamoner, M. 2012. Fauna curitibana
de interesse à saúde. Curitiba,
Comfauna Conservação e Manejo de
Fauna Silvestre Ltda. 236p.

Abilhoa, V.; Straube, F. C. &


Cordeiro, A. A. de M. 2013. Museu
de História Natural Capão da
Imbuia: sinopse histórica. Curitiba,
Comfauna Conservação e Manejo de
Fauna Silvestre Ltda. 80p.

106
ISBN 978-85-66017-03-8

107

Você também pode gostar