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Denise
Fraga
Sebastião Salgado
Vânia Assaly
Raquel Arnaud
Grupo Corpo
Le Soleil d’été
Russo Passapusso
Ana Carina Homa
“Me desculpe o tempo pelo
tanto de mundo ignorado
por segundo.”
Wislawa Szymborska
09
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da Velvet Velvet é uma publicação
Carta do Christian
©MARCELLE CERUTTI
Edição 9: Pausa
9 17
Arte existe porque a vida Corpo e
não basta Denise Fraga (muita) alma
23
Sebastião Salgado conversa
com Christian Gebara
33 40
Quantos anos você Le Soleil d’été
deseja viver? Elegante e despojado
Sumário
Edição 9: Pausa
47 53
A nova onda Salvador além
dos sorvetes do carnaval
59 62
A playlist de Russo Os ventos do norte
Passapusso trouxeram o kite
70 75
Arnaud, a Voar ou
vida na arte criar raízes
Nesta edição
Velvet é
Velvet é
“
B
endito seja quem souber dirigir-se a esse homem que
se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno
núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-
lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a
que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e
comovê-lo para as lutas comuns da libertação.”
O texto de Plínio Marcos é usado por Denise Fraga para
ilustrar a comoção que nos últimos anos tem levado milhares
de pessoas a ver a peça “Eu de Você”, protagonizada por ela
e dirigida por seu marido, Luiz Villaça. Quem lhe mostrou
a frase foi o diretor e dramaturgo Samir Yazbek, depois de
assistir à montagem que esteve em cartaz por cinco anos. Na
obra, ela se transforma em muitas personagens, contando
histórias cotidianas de pessoas reais que enternecem a
qualquer um.
“É a experiência mais gratificante que já tive no palco.
Quero fazer um livro dessa peça, por ter uma capilaridade de
histórias. Como o projeto começou, como as pessoas mandaram
seus relatos, como foi feita a seleção e a costura das histórias.
Essa peça me salvou”, ela afirma sobre o projeto que nasceu no
fim de 2018 e atravessou os anos de pandemia, com uma pausa
no período de isolamento. E, para atingir o núcleo macio citado
por Plínio, ela explica, é preciso conversar muito.
O espetáculo “Gira”,
de 2017, é inspirado
na umbanda, com
figurino de Freusa
Zechmeister, que
deixa os torsos nus. A
trilha é composta pelo
Metá Metá
F
undado em 1975 na cidade de Belo Horizonte, Minas
Gerais, o Grupo Corpo é um empreendimento familiar.
Surgiu como extensão do clã dos Pederneiras, e até hoje
é liderado por um núcleo de irmãos cujos talentos são tão
complementares que parecem ter sido forjados geneticamente.
Rodrigo é o coreógrafo. Paulo, o diretor artístico. Pedro é o
diretor técnico, e Miriam, assistente de coreografia. José Luiz é
o fotógrafo, responsável pelas imagens de divulgação. A única
irmã que não atua na área é Marisa, a Zoca, que chegou a ser
bailarina no início da carreira, mas hoje mora na Alemanha. Há
outros membros que, embora não levem o mesmo sobrenome,
são considerados da família por fazerem parte do projeto desde
o início — é o caso da figurinista Freusa Zechmeister e do
cenógrafo Fernando Velloso.
Nascido em casa
Em uma empreitada que prima pelo DNA familiar, não é
difícil imaginar que a companhia tenha nascido em casa.
Foi exatamente o que aconteceu: os pais cederam o espaço
aos filhos para que eles pudessem transformar o sonho
em realidade. O fato de o Grupo Corpo ter surgido em Belo
Horizonte, fora do eixo Rio-São Paulo, não foi um impeditivo.
Nos anos 1970, a capital mineira ainda era uma cidade
pequena, onde era mais fácil manter o foco nas atividades.
“Éramos muito concentrados no trabalho”, lembra Rodrigo.
“Se estivéssemos no Rio de Janeiro ou em São Paulo, nossa
trajetória teria sido muito dispersa, sem tempo suficiente para
que todos se dedicassem.”
O coreógrafo admite que trabalhar com os irmãos não
foi uma tarefa tão simples. “No princípio, era mais difícil
lidar com as divergências e a intimidade. Hoje conseguimos
estabelecer uma separação entre o pessoal e o profissional que
funciona porque é baseada em muito respeito.”
Do clássico ao popular
Essa simbiose perfeita entre o Grupo Corpo e os compositores
convidados nem sempre foi assim. Rodrigo conta que,
ainda criança, aos seis anos de idade, ouvia apenas música
clássica. Quando assumiu a liderança criativa, em 1981,
passou a elaborar obras baseando-se no que estava ouvindo
no momento, geralmente repertório erudito. Foi assim que
surgiram os espetáculos “Sonata”, com trilha sonora de Sergei
Prokofiev, e “Prelúdios”, de Frédéric Chopin. Na busca pela
brasilidade, passou a procurar referências nos compositores
clássicos do país, entre eles Henrique Oswald, Bruno Kiefer,
Carlos Gomes, Marlos Nobre e Heitor Villa-Lobos. No início dos
No alto, o colorido “21”, de 1992; acima, “Bach”, de 1996, que foi composta por
Marco Antônio Guimarães sobre a obra do mestre do contraponto alemão
anos 1990, Paulo, diretor artístico, chamou a família para uma
reunião e apresentou a ideia. “Se Stravinsky e Tchaikovsky
escreviam balés para as companhias russas de suas épocas,
por que não podemos chamar nossos contemporâneos
também?” Foi a partir daí que o Grupo Corpo trabalhou com
grandes artistas populares. “Dizem que os compositores
brasileiros têm dois sonhos: ter uma música na novela e fazer
uma trilha para o Grupo Corpo”, brinca Rodrigo.
Sucesso internacional
Um dos maiores orgulhos de Rodrigo Pederneiras é levar
a arte criada no Brasil para palcos internacionais. Isso
acontece com frequência. Antes da pandemia, a companhia
fazia, em média, três turnês internacionais, duas pela
Europa e uma pela América do Norte, além de giros pontuais
pela América Latina. Recentemente, se apresentaram com
a Orquestra Filarmônica de Los Angeles no lendário palco
do Hollywood Bowl, sob regência do maestro Gustavo
Dudamel, com ingressos esgotados, como acontece em
todas as apresentações. Indagado se tem uma explicação
para o sucesso tão grande da companhia no exterior,
Rodrigo arrisca: “Todo mundo sabe que é brasileira, mas é
considerada universal”.
Além de corpo e alma, universal é outra boa palavra para
definir o Grupo Corpo.
RENATO AMOROSO
N
os anos 1970, o mundo de Sebastião Salgado mudou.
Como quem olha para um buraco negro e descobre o
sentido da vida, o brasileiro natural de Aimorés (Minas
Gerais) teve a vida transformada após olhar pelo visor de uma
antiga câmera Leica. Foi quando ele largou tudo e se tornou
um dos maiores fotojornalistas do mundo.
Hoje, mais de 50 anos depois, Sebastião segue em Paris,
para onde se mudou em 1969, mas suas imagens viajam o
planeta: tanto no imaginário de quem já viu suas coberturas
de conflitos na África, quanto na exposição “Amazônia”, em
cartaz na Europa e que faz um retrato humanístico e histórico
da região que considera “um dos únicos paraísos na terra”.
No alto, Ilhas Sandwich do Sul, 2009; acima, a conexão do Rio Negro com o Rio
Cuiuni, Amazonas, Brasil, 2019
Falando sobre ela… Como é um casamento que tem ainda
essa parceria profissional?
Tive uma grande sorte de ter uma companheira de vida,
já que vão fazer 60 anos que estamos juntos. Uma mulher
linda, um negócio fantástico do ponto de vista relacional,
físico, sexual. De ter nossos filhos, uma aventura. De
determinar uma vida quando ainda éramos jovenzinhos, no
Espírito Santo. Fomos exilados juntos. Ela aceitou largar
uma vida confortável em Londres para morar em um quarto
de empregada em Paris, trabalhar como arquiteta em
agências para garantir o nosso pão e me permitir seguir a
fotografia. Sempre me incentivou. É muito mais do que uma
esposa, é uma companheira. Eu não sei onde eu termino
e onde a Lélia começa. Adoro a minha mulher, tenho um
respeito imenso por ela.
SHUTTERSTOCK
Assim, falar sobre longevidade é um convite para
abordarmos temas como qualidade e expectativa de saúde,
sempre à luz da consciência de nossa finitude.
Conscientes de que vamos viver mais, tememos o futuro
incerto; humanos que somos, percebemos de forma clara o
final da linha do tempo. Como não seremos nós a cronometrar
nossa própria vida, o que nos cabe é entender como ampliar
o tempo de viagem com saúde e fazer com que cada instante
desse voo possa valer a pena.
SHUTTERSTOCK
E para você, qual é o verdadeiro sentido da longevidade?
Nossas células estão equipadas para sobreviver e passar nosso
código genético para as próximas gerações, e para elas esta é
a verdadeira longevidade. Mas o que é longevidade para você?
Essa é uma resposta que o ChatGPT não tem. Se queremos
otimizar nosso vetores de saúde, será preciso mergulhar em
documentários, podcasts e TEDex dos grandes ícones, como
David Sinclair, Mark Hyman, Peter Attia e Andrew Huberman,
entre outros que têm alimentado a todos que pretendem
remar forte na correnteza do tempo.
Jejum intermitente, banheiras de gelo, banhos de floresta,
novos suplementos e senoterapêuticos, conexão com jovens e até
a troca de plasma se somam aos diferentes aplicativos utilizados
por biohackers que calculam seus passos e seu possível tempo de
vida. Jamais soubemos tanto sobre saúde, mas nunca estivemos
psicologicamente tão doentes! Vivenciando as mudanças dos
séculos 20 e 21, ultrapassamos os limites da exaustão, com o
abuso de drogas, alimentos, álcool, tabaco e psicoestimulantes.
Além disso, estamos congestionando nossas redes neurais com o
excesso de conhecimento.
Sintetizando o resultado do maior estudo sobre longevidade
já realizado, o Harvard Study of Adult Development, da
Universidade Harvard, o pesquisador Robert Waldinger
sinaliza: bons genes são importantes, mas cultivar bons
vínculos e vivenciar momentos de alegria com nossos amigos e
parceiros é mais importante do que educação, dinheiro, sucesso
ou qualquer tratamento moderno que possamos fazer. Uma
vida simples talvez seja o segredo para uma vida longa e plena.
Se a ciência nos ensina que de nada adianta alterar a nossa
data de nascimento ou falsificar nossa carteira de identidade,
o que temos em mãos é a capacidade de enriquecer nossa
jornada! Em vez de nos preocuparmos com o número de velas
em nosso bolo de aniversário, que tal focarmos em soprá-las
com vigor e alegria? É essa a verdadeira medida de uma vida
bem-vivida.
• Nutrição, preferencialmente
baseada em plantas e
vegetais;
• Movimento e exercício,
preferencialmente
praticados de maneira
coletiva, combatendo
ativamente o sedentarismo;
• Sono regular, com respeito
ao ritmo circadiano;
estamos falando de sete
a oito horas de sono sem
poluição luminosa, portanto
desligando celulares, tablets
e aparelhos de TV no mínimo
uma hora antes de se deitar;
• Redução de hábitos nocivos,
como uso de tabaco, álcool,
drogas e sobrecarga de
medicamentos;
• Gerenciamento de estresse;
• Conectividade social e
espiritualidade.
• A sexualidade como
aspecto central no equilíbrio
das relações sociais e
familiares;
• A saúde planetária.
SHUTTERSTOCK
Le Soleil d’été
Elegante e
despojado
TEXTO CLAUDIA CASTELO BRANCO
Flora, Roberta e
CRIS CINTRA
Isabella Belotti:
criações em casa
A
estilista Roberta Belotti e as filhas Flora e Isabella
estão em casa, à vontade, e se emocionam quando
se lembram da história que originou a grife Le Soleil
d’été, que em português quer dizer “O Sol do Verão”. Com
seis lojas no país, no Rio, em São Paulo e na Bahia, a grife
nasceu despretensiosamente. Ao relembrarem o começo, há
oito anos, as imagens se misturam. “Tudo começou com a
mamãe, então ela deveria contar”, argumenta Flora.
Era verão de 2015. Naquela época, Roberta recebia
elogios pelo jeito como se vestia e resolveu desenhar uma
coleção pequena para si mesma e amigas. “Bolei um evento
em casa, em São Paulo, com zero intenção de abrir um
negócio”, lembra. Isabella, formada em administração,
se animou e fez o que chama de “projetinho” comercial.
Flora, que é arquiteta e trabalha com teatro, armou um
cenário. De repente, a casa estava lotada. A experiência foi
tão divertida que repetiram a dose no verão de 2016 — e
conquistaram clientes até na cidade maravilhosa. O Rio,
como elas gostam de lembrar, as chamou. E o caminho foi
abrir uma loja em um dos shoppings da cidade.
CRIS CINTRA
O mar é forte
inspiração do
trabalho da
marca
ALEXANDRE FURCOLIN
Artesanato sem apropriação
Flora já tinha vontade de trabalhar com grupos de artesanato
e foi atrás da ONG Artesol. A entrada da marca nessa fase se
deu por meio da Pontos e Contos, uma associação de mulheres
bordadeiras localizada em Penedo, na região do Baixo São
Francisco de Alagoas. Elas preservam uma arte antiga, o
trabalho delicado feito à mão. “Entendi um pouco a realidade
delas, as possibilidades de criação, a inspiração do lugar. O
artesanato virou algo bem forte como forma de construir a
marca. Fazemos uma vez por ano, pelo menos, essa parceria.
É a partir disso que a gente chega no tema da nossa coleção”.
Sorvetes artesanais,
que misturam
ingredientes inusitados,
são a sensação da
estação quente
Iguaria da Diblu:
sobremesa para
viver mais
RODOLFO REGINI
P
rodutos naturais, cremosidade e sabor parecem compor
a fórmula de sucesso para elaborar um sorvete. Mas, ao
ouvir a narrativa por trás de alguns dos gelatos mais
famosos de São Paulo, dá para perceber que a alquimia para
preparar receitas vai muito além da questão gustativa: requer
história, paixão e um tanto de ousadia. Sem este último item,
principalmente, seria impossível pensar em fazer um sorvete
salgado ou garimpar, em diversos países, a essência ideal para
criar uma sobremesa com o sabor de rosas.
Confira, a seguir, a trajetória de algumas receitas que,
com certeza, vão te deixar com água na boca e podem ser um
refresco nesses dias mais quentes que temos vivido.
Albero dei Gelati
Com o lema ‘‘tudo que é bom pode virar gelato’’, a artesã de
gelatos italianos Fernanda Pamplona abriu a primeira loja no
bairro de Pinheiros em 2019. Ela havia conhecido a Albero, uma
franquia nascida em Milão, na Itália, quando morou com o marido
na cidade. Resolveu trazer a expertise ao Brasil, aliando toda
vivência que teve no período em que foi administradora da Casa da
Agricultura, em Parelheiros, ligada à Prefeitura de São Paulo.
Foi lá que teve contato com pequenos produtores, e muitos
deles se tornaram fornecedores dos produtos que utiliza hoje
para fazer suas iguarias. O cambuci, por exemplo, fruta que
rende de licor a recheio de panqueca, é item principal de um
sorvete levemente ácido, oferecido hoje em suas três lojas. Outros
sabores inventivos criados por Fernanda — de forma intuitiva e
com os pitacos das filhas — são o de limão com marmelada de
abacaxi e clitória, uma flor; o de tangerina com pimenta-rosa ou
o de radicchio, uma verdura italiana.
Mas um dos carros-chefe da sorveteria é o de queijo da
Serra da Canastra com mel de abelha jataí e castanha-de-
caju, que tem predominância do sabor salgado. Se no começo
causava estranheza entre os clientes, hoje é um dos preferidos
e ainda vem em um copinho comestível, à base de mandioca.
A Albero foi eleita no ano passado a melhor sorveteria de São
Paulo pela Veja Comer e Beber.
Endereços:
Loja 1: Rua dos
Pinheiros, 342, São
Paulo
Loja 2: Alameda Tietê,
198, Jardins, São Paulo
Loja 3: Rua Dr. Renato
Paes de Barros, 413,
Itaim Bibi, São Paulo
BRUNO GERALDI / DIVULGAÇÃO
Horário de
funcionamento:
Todos os dias, das 10h
às 23h.
Al Kaseem Gelato
Quando começou a namorar com Alaa Kaseem, que era
gerente de cozinha e salão do Al Janiah, na Bela Vista, Luciana
Tucci já trabalhava com sorvetes. Ambos conversavam muito
sobre receitas e Alaa a influenciava com sabores do Oriente
Médio. Os dois uniram seus corações e ascendências — ela de
italianos, ele palestino nascido na Síria — para abrir, há cinco
anos, a Al Kasseem Gelato, onde comercializam gelatos árabes.
Por não ter nenhuma gelataria com essa característica
no Brasil, resolveram investir na ideia e, inicialmente,
produziam apenas sob encomenda, usando as redes sociais
para comercializar, principalmente entre a comunidade
árabe em São Paulo. O negócio tomou uma proporção maior e
resolveram abrir a primeira loja em Moema, onde as pessoas
se deliciam com o sorvete em rocambole feito com nata, água
de flor de laranjeira e miski (resina vegetal), enrolado no
pistache. Os ingredientes desse e de outros sorvetes vêm da
Síria, Líbano, Jordânia e Dubai.
O sabor e a técnica utilizada para fazê-lo são diferenciados.
Por isso, só pode ser produzido em pouca quantidade, porque
é tudo manual. Para quem é árabe, saboreá-lo é uma forma
também de exercitar a memória afetiva e matar a saudade
da terra natal. Já para os que não são é a oportunidade de
experimentar um sabor ímpar.
Endereço:
Alameda dos
Nhambiquaras,
1657, Loja 5,
Moema, São
Paulo
Horário de
funcionamento:
DIVULGAÇÃO
Terça a domingo,
das 11h às 20h.
Diblu Gelato
“Como Viver até os 100: Os Segredos das Zonas Azuis” é uma
série documental lançada recentemente na Netflix em que o
explorador e escritor Dan Buettner percorre cinco localidades —
Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Icaria (Grécia), Nicoya (Costa
Rica) e Loma Linda (Estados Unidos) —, chamadas de Zonas
Azuis, onde estão a maior parte das pessoas longevas do mundo.
Seu objetivo foi descobrir o segredo deles e quem assistir vai
constatar que, entre os quesitos, está a alimentação saudável.
A produção tocou fundo na jovem Juliana Baeta Carvalho
que, embora seja formada em direito, se aproximou da
confeitaria durante a pandemia e se apaixonou pelo ofício.
Foi se especializar e abriu a Diblu Gelato, que dispõe de um
cardápio de sorvetes sem lactose nem açúcar refinado, além
de opções veganas.
O campeão de vendas é o que leva o nome da casa, o Diblu,
sabor fior di latte com spirulina azul (microalga rica em
proteínas, vitaminas e antioxidantes que ajudam a prevenir
doenças). E quem pede qualquer sabor pelo delivery ainda
ganha de presente o cartão postal de uma das localidades que
inspiraram o negócio. Um incentivo e tanto para se cuidar,
planejar a próxima viagem e degustar de uma delícia de sorvete.
Endereço:
Rua Balthazar da
Veiga, 250, Vila Nova
Conceição, São Paulo
Horário de
funcionamento:
Terça a domingo, das
11h às 19h.
BRUNO GERALDI / DIVULGAÇÃO
Ali, os
sorvetes
sem açúcar
agradam
até os cães!
Damp Sorvetes
Há pouco mais de meio século, quatro amigos se uniram para
fazer algo diferente de suas respectivas profissões: sorvetes.
Dalton, Arnaldo, Masaniello e Pietro — as iniciais que dão
nome ao empreendimento —, os três últimos italianos, se
encontravam em uma casa no coração do Ipiranga, na Rua do
Manifesto. Os familiares eram usados de cobaia e palpitavam
bastante. Uma delas era Dalmira Soares, casada com
Masaniello e responsável pela loja.
Começaram com sabores básicos, entre eles creme,
chocolate, flocos e morango, e vendiam para supermercados.
No mesmo ponto de encontro do quarteto, fundaram a fábrica
que hoje dá conta de mais de 100 sabores. Alguns ainda estão
em experiência, como o de lavanda. Um dos preferidos dos
clientes, o de água de rosas, foi feito com essência francesa,
após pesquisa em diversos países.
A proprietária revela que o segredo do sucesso da
tradicional sorveteria é sempre inovar e também trabalhar
com ingredientes naturais, que dão a sensação de saborear o
“sorvete de verdade”.
Endereço:
Loja matriz: Rua Lino
Coutinho, 983, Ipiranga,
São Paulo
Loja 2: Calçada Régulo,
27, Centro de Apoio II,
Alphaville, Santana de
Parnaíba
Loja 3: Rua Wanderley,
1159, Perdizes, São Paulo
Horário de
funcionamento:
LEO FELTRAN / DIVULGAÇÃO
Endereço:
Loja 1: Rua dos
Pinheiros, 444,
Pinheiros, São Paulo
Loja 2: Av. Paulista,
1230, 4º andar
(Shopping Cidade
São Paulo), Bela
Vista, São Paulo
Horário de
funcionamento:
Todos os dias, das
12h às 22h (Pinheiros),
DIVULGAÇÃO
P
rimeira capital do Brasil (1549-1763), Salvador chama
a atenção pela arquitetura colonial, pela cultura afro-
brasileira e pelo litoral paradisíaco. Mas a cidade, musa
de canções eternizadas nas vozes de grandes intérpretes
do país, tem mais a oferecer do que apenas incríveis pontos
turísticos e festas já consolidados no imaginário popular.
VELVET fez uma lista com restaurantes, bares, museus e
galerias imperdíveis para quem vai aproveitar alguns dias na
capital baiana.
SHUTTERSTOCK
Vista do Pelourinho:
arte e gastronomia
em uma Salvador
menos óbvia
REPRODUÇÃO INSTAGRAM
1 2
RESTAURANTES
1. Casa de Tereza | @casadetereza_
Idealizado pela chef Tereza Paim, o restaurante tem como
proposta unir gastronomia, arte e cultura. O casarão que
abriga o Casa de Tereza é decorado com objetos de reúso e
muitas obras de artistas locais, em uma ode à cultura baiana.
O cardápio, assinado por Paim, é feito a partir de ingredientes
genuinamente baianos, mas preparados com técnicas do
mundo, como o ensopado de carneiro com batatas ou o arroz
caldoso de frutos do mar da Baía de Todos os Santos.
2. Amado | @restauranteamado
Com vista para a Baía de Todos os Santos, tem cardápio
assinado pelo chef Edinho Engel, também responsável pelo
Manacá, na praia de Camburi, em São Paulo. A proposta é
uma cozinha contemporânea brasileira: cupim prensado à
cavala ao molho de vinho tinto com musseline de aipim e
cebola assada; bife de chorizo grelhado com chimichurri e
bolinho de aipim com creme de queijo; e caçarola de frutos do
mar à moda creole levemente picante com pasta al nero.
3. Manga | @mangarestaurante
Idealizado pelo casal de cozinheiros Dante Bassi e Kafe Bassi,
está localizado em um casarão renovado e aconchegante.
O cardápio, que respeita a sazonalidade dos alimentos, tem
como destaque o menu degustação: consomé de galinha
caipira com bouquet garni, língua de boi dry-aged (28 dias), e
picolé de jasmim-manga.
4. Orí | @orisalvador 3
Com cardápio elaborado pelos
chefs Fabrício Lemos e Lisiane
Arouca, que também assinam
o Origem e o Mini Bar Gem,
está localizado no bairro Horto
Florestal. O menu tem como
base a cozinha baiana: baião de
polvo, ravioli de vatapá, feijoada
de frutos do mar e mais. 4
5. Dona Mariquita
@donamariquita
A proposta é resgatar as comidas
típicas regionais servidas nas
feiras livres da Bahia. Para isso,
a chef Leila Carreiro traz para a
sua culinária ingredientes como
mariscos, sementes e folhas, 5
mesclando influências indígenas,
africanas e sertanejas. No
cardápio, pratos como carne
de fumeiro com farofa d’água;
maniçoba com arroz; rabada
com agrião; feijoada com
mocotó, entre outros.
Bares
6. Purgatório Bar
@purgatorio.bar
A carta de drinks, assinada por 6
Jonatan Albuquerque, consultor
em mais de 50 bares pelo Brasil,
tem clássicos e signatures. O
cliente só recebe o endereço após
REPRODUÇÃO INSTAGRAM
REPRODUÇÃO INSTAGRAM
7. Mini Bar Gem Museus
@minibargem
À frente do estabelecimento 9. Museu de Arte
estão os chefs Fabrício Lemos e Contemporânea da Bahia
Lisiane Arouca. Em um espaço @mac_bahia
aconchegante, com bastante Inaugurado em setembro
madeira na decoração — há de 2023, o MAC Bahia
até balanços — é possível está localizado no
degustar, além de clássicos da Palacete do Comendador
coquetelaria, uma carta com Bernardo Martins
drinks autorais, como o Patuá, Catharino, readequado
que mistura bourbon, cachaça para receber obras
amburana, frutas e ervas. e projetos de arte
contemporânea. No
8. Pereira espaço Casa, o visitante
@pereira_restaurante encontra um acervo
Entre o porto e o Farol da transferido do Museu
Barra, com vista espetacular, de Arte Moderna da
pode-se degustar desde Bahia, com cerca de 175
chopps e cervejas geladas trabalhos de 102 artistas
a drinks autorais da casa, de diferentes regiões
como o Pereira Umbu Mule do país. Outros espaços
(vodka, suco de limão, açúcar contam com exposições
e espuma de umbu). temporárias.
10
DARYAN DORNELLES
“Roots”, do Sepultura
“É único na música mundial. A fusão com
Carlinhos Brown, o respeito com a música
indígena, o axé e a música afrodescendente
é muito forte. É um momento singular na
história do rock brasileiro e foi influência para
vários projetos. É metal bem colocado, tem
Nordeste ali dentro e nada é estereotipado.”
OS VENTOS
DO NORTE
TROUXERAM
O KITE
TEXTO PAULO VIEIRA
ACERVO PESSOAL
CEARÁ DE ÁGUAS TURMALINAS
Icaraí de Amontada (CE)
O local de kite preferido de Ana Carina, pelas “águas
turmalinas” e por ser uma “linda vila de pescadores com
ótimos restaurantes de especialidades diferentes”. Parada
central na chamada rota do poente do Ceará, está a 200
quilômetros de Fortaleza e tem no pôr do sol no mar um
espetáculo permanentemente em cartaz, avistado de qualquer
ponto de “Icaraizinho”. Nem mesmo as torres de energia eólica
incomodam no visual da Enseada dos Patos, com ventos de 30
nós durante todo o segundo semestre (estação de ventos). No
vizinho Rio Aracatiaçu, em Moitas, dá para curtir a paisagem.
Para quem busca um lugar de comida autoral com drinques de
distinção, há o Zin, dentro da pousada Café Zapata.
ACERVO PESSOAL
OS IGARAPÉS DO PIAUÍ
Barra Grande (PI)
A 70 quilômetros de Parnaíba, no diminuto litoral piauiense,
e a 400 de Teresina, foi uma das praias nordestinas que mais
se beneficiou com o fluxo turístico provocado pelo kitesurfe.
Hoje o lugar tem alguns restaurantes de cardápio muito
acima da média, como o La Cozinha, tocado pelo belga Hervé
Witmeur há mais de dez anos. Ali, pode-se degustar picanha
com pesto de caju e peixes em combinações variadas. Adepto
da permacultura e da agrofloresta, Witmeur cultiva alimentos
orgânicos em 14 hectares de terra no Piauí. Eles abastecem
seus restaurantes (é dele o Éllo, em Jeri) e o excedente é
vendido para a população local.
Outra atração de Barra Grande, o Manga Rosa tem pratos
menos ousados, mas nem por isso menos recomendáveis: o
escondidinho e o peixe ao molho de manga e pimenta-rosa são
bons exemplos. O vilarejo tem ainda uma espécie de parque de
food trucks, com carros de pizza, wraps e hot-dog. Dali, para
quem não pretende passar todos os seus dias sobre o kite, é
possível fazer um passeio de canoa para ver cavalos-marinhos
(sucesso com a criançada), que são devolvidos ao rio logo após
a captura. Ainda dá para conhecer o delta do rio Parnaíba,
que se vende como o maior delta fluvial do continente, mas
que vale mesmo pelos muitos igarapés e pelas ilhas que
testemunharam o apogeu e a decadência do ciclo algodoeiro.
ACERVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
PAISAGENS MARANHANSES
Atins (MA)
A cidade está do lado de Barreirinhas, que é a capital informal
do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e, portanto,
seu principal acesso. Com mar, ventos, rio e aquela infinidade
de lagoas em meio às dunas, Atins é menos exclusiva, pode-
se dizer, dos kitesurfistas, mas vale muito a viagem. O kite
ajudou a aprimorar a “cena” também aqui, e hoje há vida
noturna e hits gastronômicos como os camarões com os molhos
que você quiser e a frigideira do pescador da Casa de Juja,
sucursal pé na areia do restaurante famoso de São Luís. Há os
famosos camarões da Luzia, à beira-mar, no Canto de Atins.
É um programa que entra no combo dos muitos viajantes que
passeiam em 4x4 pelas lagoas do Parque Nacional, portanto,
o lugar pode demandar alguma paciência nos horários mais
concorridos. De Atins é possível fazer um (longo) passeio que
pode entrar no cardápio do viajante disposto a experiências
mais genuínas e despojadas — a caminhada de pelo menos
três dias pelo interior do parque, com estadias em casas de
moradores nos oásis de Baixa Grande e Queimada dos Britos.
A chegada da jornada é em Santo Amaro, em outro ponto do
Parque. Atins está a uma hora de barco de Barreirinhas, que fica
a 200 quilômetros de São Luís em estrada em boas condições,
mas de pista simples.
Navegar Kite ainda pode ajudar
eu quero a preservar praias
JANJÃO
quilômetros (às vezes mais de 50
km em um único dia), na direção do vento. Um local bastante
procurado é de Barra Grande, no Piauí, na direção oeste, rumo ao
Delta do Parnaíba. Mas há empresas que oferecem estrutura para
a Rota das Emoções inteira — ou seja, de Jeri, no Ceará, a Atins,
já na entrada dos Lençóis Maranhenses. São oito dias velejando
sobre lagoas, mar, mangue e dunas incontáveis, com velejos
máximos de 60 quilômetros diários e dois dias de descanso.
VELEJO DE RESPONSA
Dentre os vários projetos de
responsabilidade social e ambiental que
têm o kite como personagem central, o Kite
for the Ocean talvez seja o mais conhecido.
ACERVO PESSOAL
Minotauro, de Waltércio
Caldas, de 2017
VOAR OU
CRIAR RAÍZES
FOTOS NANA MORAES
O espetáculo “Enquanto você voava, eu criava raízes”, de
André Curti e Artur Luanda Ribeiro, da Cia Dos à Deux,
estreia em janeiro no Teatro Vivo
Comitê Editorial
Dante Compagno, Marina Daineze, Flávia
Carneiro, Raphael Mesquita, Marina Beer,
Sabrina Romero
Edição Executiva
Isaac Trabuco
Relações Públicas
Patrícia Lisboa
Produção
Coração da Selva
Produção executiva: Georgia Costa Araújo
Gestão de projeto: João Andrade
Produção: Isabella Bassi
Diretora de conteúdo: Luciana Bugni
Textos: Claudia Castelo Branco, Felipe
Machado, Lucas Vasconcellos, Luciana
Bugni, Miriam Gimenes, Natália Eiras e
Paulo Vieira
Diagramação: Isabella Pisaneski
Identidade visual: André Stefanini e
Cristiano Gonçalo