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Revisão
Alberto Almeida
Editoração Eletrônica
Estúdio Garamond
Capa
Estúdio Garamond
Foto da capa: Detalhe da porta de entrada do Templo
das Pítons, Uidá, República de Benin. Foto de Zeca Ligiéro, 2011.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L691t
Ligiéro, Zeca
Teatro das origens : estudo das performances afro-ameríndias / Zeca
Ligiéro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Garamond, 2019.
296 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 9788576174806
1. Teatro - História. 2. Representação teatral. I. Título.
19-58321 CDD: 792.028
CDU: 792.028
Ritual de Zione, praia na periferia de Maputo, Moçambique. Foto de Zeca Ligiéro, 2012.
Agradecimentos
À Faperj, pelo apoio durante todo o processo da pesquisa sem o qual não
poderia realizar as inúmeras viagens que foram fundamentais para o desen-
volvimento deste livro, especialmente a bolsa Cientista do Nosso Estado;
À Capes, pelo apoio recebido durante o desenvolvimento da pesquisa
em Paris com a bolsa Capes/Cofecub;
Ao Museu Quai Branly, em Paris, pelas possibilidades de acesso ao seu
precioso material;
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e ao Departamento de
Direção da Escola de Teatro da UNIRIO;
Ao International Theatre Institute que por meio de convites para partici-
pação de congressos e encontros em Seul (Coreia) Xiaman (China) e Baku
(Azerbaijão), permitiu um outro olhar sobre as artes cênicas do continente
asiático;
Ao Instituto Hemisférico de Performance e Política, Nova York, pelo
apoio recebido durante todo o processo;
Ao Prof. Dr. Jacques Poulain, da Université Paris VIII, meu orientador
durante o estágio Pós-Doutoramento nessa universidade;
Ao Prof. Dr. Richard Schechner, pela permanente abertura para discutir
as minhas dúvidas;
Aos meus queridos orientandos de curso doutorado da UNIRIO, por
compartilharem integralmente suas pesquisas e me permitirem sempre um
renovado olhar sobre os processos das performances culturais e artísticas;
À Profa. Dra. Aressa Egly Rios, pela sua revisão cuidadosa com sugestões
preciosas. Sou grato também ao Prof. Dr. Cláudio Alberto Santos, pela sua
preciosa revisão e sugestões. E à Profa. Dra. Jussara Trindade, também por
sua participação na edição deste livro;
À Profa. Dinah Guimaraens Pappi e ao Prof. Guilherme Werlang, com-
panheiros do projeto Capes/Cofecub;
À Profa. Dra. Juliana Manhães, que comigo compartilhou sua investi-
gação em Moçambique;
À Profa. Dra. Denise Zenicola, preciosa conselheira em meus caminhos
artísticos e acadêmicos;
Ao Prof. Dr. Oswald Barroso e ao Prof. Dr. Licko Turle, que trabalharam
comigo em estágios de pós-doutoramento ;
Sou grato também à Profa. Maria Bernadette Ramos Flores, por propiciar
um olhar sobre as performances e o patrimônio histórico;
Agradecimento especial àqueles que me abriram caminho nos diversos
países em que pesquisei: a Teté Kitissou, Lucién Ekoé Ayl, no Togo; ao Prof.
Dr. Nataniel Ngomane; que abriu as portas da ECA de Maputo, Moçambi-
que; ao Prof. Paulo Raposo, da Escola Superior de Teatro e Cinema Lisboa;
Aos fotógrafos e amigos: Dani Leriche e Jean Michel Fickenger e ao ar-
tista William Wilson, de Paris; ao Prof. Dr. José Assad, da Universidad José
Caldas de Bogotá, Colômbia; a Fábio Toletti, de Lecce, Itália;
Ao grupo Sotz’il Jay e ao seu diretor artístico Gilberto Guarcax Gonzáles,
e a Ana Rosa Orozco, da Guatemala;
Ao CTO Rio, especialmente a Claudia Simone, pelo convite para par-
ticipar com eles da comitiva brasileira ao III Festival de Artes do Senegal,
em 2010;
Sou grato aos amigos e colaboradores de Belém: Miguel Santa Brígida,
Karine Jansen, Cláudio Didimano, Luiza Braga e Michele Campos de Mi-
randa;
Aos sacerdotes e sacerdotisas que iluminaram minha pesquisa com sua
sabedoria: Mãe Beata de Iemanjá, Adailton Moreira Costa, Mãe Rita de
Belém e Oswaldo dos Santos;
Ao pajé Sapaim Kamaiurá e ao brincante khraô, Ismael Aprak, o hotxuá,
pelas novas perspectivas de estudos sobre a tradição ameríndia abertas du-
rante o processo da escrita deste livro, ainda que não sejam especificamente
objetos de estudo do mesmo;
Aos fotógrafos: Igor Keller, Flávia Fafiã, Roni Walk, Michele Campos de
Miranda, Yara Ligiéro, Tatiana Damasceno, Juliana Manhães, sou grato por
terem cedido gentilmente seus respectivos trabalhos.
Eu trabalho como hotxuá mesmo. É uma coisa diferente,
fora da brincadeira do palhaço do branco. Então é isso.
Meu tio era palhaço sagrado dos khraô (aprendeu com o
tio dele), e vem vindo, e aí passou para mim d’eu brincar
também igual que eles estavam brincando. Na lei do índio
eles vão brincar só na hora da corrida da tora (da festa)
das batatas. Mas aqui eu já brinquei fora, fora. E eu já
tenho o neto, que já tá um rapaz, e ele brinca comigo. A
brincadeira do hotxuá se chama meocrunjé.
Prefácio.....................................................................................13
Introdução................................................................................21
Posfácio...................................................................................289
Prefácio
José Assad Cuéllar1
Prefácio | 13
do sensível-criativo, porque seu autor soube vivenciar suas reflexões
teóricas a partir de uma prática irrenunciável, porque ele é acima de
tudo um homem de vocação teatral inconfundível.
Dramaturgo, diretor, ator que investiga o teatro a partir do próprio
teatro e, acima de tudo, obstinado em seus propósitos como ninguém.
Ele tem lutado contra a corrente para abrir caminhos na academia
que possibilitem a inclusão de conhecimentos, técnicas e saberes
ancestrais das culturas afro-ameríndias no processo de formação de
atores e dançarinos.
Este propósito também o levou a fundar o Núcleo de Estudos das
Performances Afro-Ameríndias – NEPAA, dentro da UNIRIO. Berço
de pesquisadores que desenvolveram sua formação de pós-gradua-
ção dentro das diretrizes de pesquisa deste centro que conquistou
seu espaço, apesar da resistência em terceira pessoa da marca do
eurocentrismo.
Mas voltando às origens desta relação, confesso que o autor daque-
le livro já provocava em um leitor desavisado, ligado ao ofício teatral
– que era o meu caso –, a possibilidade de conectar conteúdos do
âmbito dos mitos, das práticas religiosas e suas ritualizações com as
formas adequadas de teatro, revivendo assim a utopia ou pelo menos
o desejo de restabelecer a conexão entre mito, ritual e dramatização.
Aspectos estes tratados no livro que ora apresento à consideração
dos leitores.
Anos depois, conheci pessoalmente Zeca Ligiéro, através de Licko
Turle, que veio para a Colômbia como assistente do grande encena-
dor/professor Amir Haddad, para um projeto de formação destinado
a diretores de escolas regionais de teatro. Amir Haddad é outro ponto
em comum com Zeca porque ele, em seus primórdios, na década de
1970, recebeu influências de Haddad no projeto Grupo Niterói. Licko
Turle sugeriu Zeca Ligiéro como a pessoa ideal para dirigir um dos
trabalhos do curso de aprofundamento em atuação. Naquela época
eu estava atuando como coordenador do programa de teatro da Fa-
culdade de Artes de Bogotá – ASAB. Nessa estada, Zeca montou com
Prefácio | 15
em A Poética. A obra, do ponto de vista formal em uma consolida-
ção epistemológica, procura estabelecer os parâmetros estéticos do
teatro a partir da leitura de seu contexto histórico, ou seja, fazendo
referência à época de ouro do teatro grego, que foi assumida pela
cultura ocidental não só como o modelo de teatro no Ocidente, mas
como o paradigma universal do teatro propriamente dito.
Contudo, por outro lado, Zeca propõe nesta investigação um olhar
que relativiza qualquer definição absolutista de teatro, e até omite o
julgamento dos neodescobridores do teatro que refletem sobre as
ligações deste com o rito e, portanto, com o mito.
Dessa maneira, nosso autor formula uma hipótese perturbadora
na qual estabelece a existência, ou melhor, a subsistência desse teatro
primevo no aqui e agora, o qual não é invisível como consequência
de sua extinção, mas pelo filtro canônico das estéticas dominantes
imersas no ethos da cultura ocidental que obscurece, apesar de sua
materialidade, sua presença diante do nosso olhar limitado.
De tal forma que o que estaria em questão segundo este ponto
de vista é a possibilidade de questionar a definição de teatralidade, a
partir de uma definição dada, para vislumbrar com grande clareza a
ausência do Teatro das Origens. De modo que a perda dessa arte no
seu papel de protagonista na vida das pessoas nada mais é do que um
sofisma construído a partir da concepção excludente que não reco-
nhece, nas manifestações ancestrais praticadas a partir da margina-
lidade, valores cognitivos, estéticos e sábios modelos de subsistência.
Para tornar evidente esta afirmação, não devemos ir às prateleiras
de historiadores, antropólogos e profetas do teatro, mas observá-la
e vivenciá-la em um exercício de participação de forma direta no
espectro variado de suas múltiplas expressões em todo o mundo.
Seja nas festas populares, carnavais, rituais sociais e religiosos, e em
tantas outras expressões performáticas que, simultaneamente, em
culturas separadas pela geografia, compartilham manifestações tão
diferentes quanto semelhantes e que nada mais são do que aquilo que
autor identifica como o Teatro das Origens.
Prefácio | 17
o tenso equilíbrio entre indivíduo e sociedade. Esta espécie de catarse
só é possível quando a teatralidade se corresponde à essência do mito
nas práticas do Teatro das Origens
Mas esta posição crítica proposta pelo autor em relação ao olhar
hegemônico não questiona a validade do teatro ocidental em si: ao
contrário, valida seu discurso epistêmico e apenas relativiza sua
influência frente a outras formas e outras práticas culturais que não
pretendem “gravitar em torno de...”, mas subsistem como “motrizes
culturais” – termo cunhado pelo autor – em uma dimensão atem-
poral e atópica.
Este contraste com um discurso que aborda os limites da teatrali-
dade do paradigma concêntrico, instala a noção do teatro ocidental
como uma tentativa absolutista que impossibilita imprimir-lhe a
qualidade de “essencial”, que é a que o teatro deve comportar para
se reencontrar com o mito, e, através do ritual, com seu papel fun-
damental na vida comunitária. Esse teatro que procura sobreviver
através da ilusão do entretenimento algum dia se reencontrará com o
caminho que o conduzirá a também fazer parte do Teatro das Origens
que vai recebê-lo, paradoxalmente, a partir dos territórios marginais
da sociedade e não ao contrário.
Cantar, dançar, batucar e contar são sinais inconfundíveis para
reconhecer a teatralidade por uma perspectiva mais ampla. Sem
temer, com um olhar mais democrático, uso o termo proposto por
Zeca Ligiéro que aponta para esse Outro Teatro que, paradoxalmente,
é o Teatro das Origens, aquele que habita e se expressa no eterno pre-
sente. De forma que essas expressões primordiais foram mantidas e
transformadas, sem perder o ponto de encontro com o mito mediante
o ritual e a teatralidade, como aprofunda o autor ao longo deste livro.
Essa necessária descolonização traz à luz as fontes perdidas do
teatro que sempre estiveram presentes no cotidiano, nas práticas
sociais das culturas invisíveis. Nisto reside a importância deste livro
que fará parte do acervo bibliográfico para reorientar os referentes
do teatro com a introdução de um olhar renovador que nos convida
Prefácio | 19
Introdução
Ao escolher a palavra “origem” para definir algo, sei que estou corren-
do o serio risco de ser interpretado como um messiânico querendo
retomar um conceito tão gasto e exaurido pelo seu emprego em ser-
mões, ou pelas explicações científicas bombásticas que pretendiam
contrariar todas as teorias previamente concebidas como donas da
verdade sobre o começo de alguma coisa. Vou pedir um pouco de
paciência para retomar a palavra “origem” e dar-lhe uma abordagem
específica ligada ao mundo da encenação. Longe de mim propor
estudar a origem do teatro.
Tomo a palavra “origem” como uma garrafa de vidro ou de pet
que sobreviveu a tantas batalhas, passou por tanto processos e tantas
mãos que, mesmo lanhada, ainda guarda intacta o seu formato origi-
nal, objeto completo, um todo, mantendo uma configuração definida
enquanto “recipiente”. Feita para transportar líquidos, seu fim, pelo
menos nos trópicos, lixo do mundo, é terminar quase sempre no
mar boiando, no caso do plástico, e igualmente no caso do vidro, se
estiver cheio de ar.
Estarei falando e propondo o estudo de uma variedade de origens
que poderia, cada uma delas, caber dentro dessa pequena fragata
de plástico ou vidro. Não pretendo enaltecer esta ou aquela origem,
mas perceber a precariedade do mundo, em que sempre as origens
de uns parecem ser suficientes para massacrar as origens de outros,
e a própria palavra “origem” é deslocada para outros contextos a fim
de atender propósitos de confinamento e afirmação de uma verdade
exclusiva para comprovar a superioridade de uma sobre as demais.
Introdução | 21
Neste livro, quero demonstrar a possibilidade de entender proces-
sos mágicos de vários grupos e pessoas que se apropriam de origens
como suas, ou inventam suas próprias origens para de alguma maneira
viverem melhor neste mundo de deus me livre. Muitas delas viraram
tradições milenares...
No sentido psicológico, ou mesmo ontológico, o ser parece en-
tender a sua origem de maneiras diferentes ao longo de sua vida. A
menos que seja catequizado, desde muito jovem, por uma religião
que lhe forneça prontas todas as explicações para aceitação, sem
nenhum questionamento.
Embora não pretenda generalizar, estou propondo uma forma
de pensar a origem como uma espécie de processo de encontros e
de autoconhecimento. Creio que, embora com poucos dados mais
concretos para convencer o leitor sobre a minha tese, procuro o enten-
dimento da importância das tradições orais, no caso afro-ameríndias,
ao oferecer a experiência do sensível em toda a sua plenitude. E a
partir dela, procurar entender processos de criação ainda ligados a
estas cosmovisões mesmo que eventualmente sejam também conta-
minados por processos híbridos de criação artística contemporânea.
Longe de mim querer tratar o Teatro das Origens como a busca de
uma pureza na restauração de comportamentos ancestrais.
Ao desmontar toda a parafernália das estruturas racionais de expli-
cação sobre o divino e alinhar o ser para sua volta à natureza, tradições
africanas, afro-ameríndias e indígenas abrem a possibilidade para o ser
perceber-se a si próprio, por meio de seu corpo na intimidade do pró-
prio contato com o mundo natural. E descobrir aí a sua potencialidade
e repensar o seu destino: o que fomos, o que somos e o que poderemos
vir a ser. As religiões da natureza, na maioria dos casos, não impõem
à mente dos seus seguidores palavras e origens transmitidas por ou-
trem como únicas e verdadeiras, não apresentam descrição do céu e
do inferno e nem incutem uma moral sobre possíveis leis ditadas por
uma voz superior dita divina. A palavra continua soprada pelo vento,
os encantos da natureza se revelam por si se o ser tem a sensibilidade
Introdução | 23
não é na Grécia, mas no próprio Teatro das Origens, que acontece
e aconteceu em vários lugares, do presente, do passado e, provavel-
mente, continuará acontecendo no futuro. Da mesma forma como
aconteceu lindamente na Grécia, a mitologia se tornou encenação e
esta se tornou por sua vez teatro, cuja tradição, infelizmente, é uma
das únicas que conhecemos a fundo e equivocadamente foi laureada
como a origem de todas as outras expressões cênicas do mundo.
Casa de Vodun em Aneho, Togo, representação do vodun Gbede. Foto Zeca Ligiéro, 2011.
Grupo Sotz’l Jay, ritual e teatro sagrado maia na UNIRIO. Foto Zeca Ligiéro, 2011.
1 SCHECHNER, Richard. “Ritual”. In: Performance e Antropologia de Richard Schechner, Org. de Zeca
Ligiéro, Mauad X, 2012.
Introdução | 25
Podemos perceber aspectos de resistência cultural, mas também
como uma arena de afirmação de identidades, preservação da me-
mória e luta para manter os princípios ancestrais. Procura-se aqui
então entender o teatro como o desdobramento do próprio ritual, que
para exercer a sua plena eficácia por meio da encenação se estabelece
como uma prática de teatro completa em si, e não apenas em partes
como “dramatização”, “brinquedo popular”, “dança dramática” ou
“elementos cênicos ilustrativos”. Trata-se de um ritual construído para
ser um teatro que manipula uma mitologia específica, distribui falas,
marcas, estabelece uma narrativa, inventa personagens, se transforma
em coro, utiliza a música, a dança, a percussão, cenário e figurino
de forma articulada e consistente. Tem uma função religiosa mas é
realizado com todos os elementos que caracterizam o teatro como
entretimento, em muitos casos com requintada elaboração de técnicas
teatrais, e logra grande comunicação com seu público, não apenas
no sentido de comunhão da mesma fé, mas que também faz parte de
um tempo de lazer. Não pretendemos afirmar que todo ritual é teatro
e que entidades manifestadas são personagens. Isto seria banalizar
algo tão extraordinário e tão intrigante e complexo.
O conceito de Teatro das Origens surgiu durante o projeto de
estudo “Outro Teatro: do ritual à performance”2, no qual procurava
estudar em bloco o que seria o teatro não eurocêntrico, e em seu
desdobramento passei a observar e distinguir o teatro sagrado, reali-
zado por praticantes, daquele feito por artistas admiradores, embora
ambos procurassem trabalhar com as estéticas afro ou ameríndias. Eu
pretendia desta forma fechar mais o foco, e nasceu então o conceito
de Teatro de Origens – ao passo que a definição de “Outro Teatro”
engloba um leque amplo de expressões dramáticas tradicionais e
contemporâneas não originadas no continente europeu. O Teatro de
Origens, filosoficamente falando, requer uma abordagem específica, já
que somente o praticante (performer ou espectador) comprometido
2LIGIÉRO, Zeca. Outro Teatro: do ritual à performance, defendido como tese para professor titular na UNIRIO
em 2015; vencedor do edital da Faperj para publicação.
3 LIGIÉRO, Zeca. Corpo a corpo: estudo das performances brasileiras, Ed. Garamond, 2011.
4 SCHECHNER, Richard. “Performers e espectadores transportados e transformados”, Between Theater & An-
thropology. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1985, p. 117-150. Tradução: Selma Treviño, revista
Moringa, Artes do Espetáculo, v. 2, n.1 (2011) .
Introdução | 27
gráficos e decorativos na concepção do desenho cênico da performance.
Torna-se fundamental, também, entender as dinâmicas da performance
na sinergia, pois nada é concebido arbitrariamente, constituindo-se,
pois, uma relação concreta tanto como simbólica, já que a sua relação
com o cosmos se dá pela ação do corpo do performer no centro e no
entorno da roda ou organizado em performances processionais.
Podemos dizer que de dentro da eficácia do ritual emerge a ence-
nação; o jogo cênico é portanto um expediente para exemplificar com-
portamentos e presentificar antigas crenças, quase sempre incluindo o
transe, precedido de rituais secretos nos quais, no caso ameríndio, são
ingeridas feitas com plantas sagradas, incitando a contínua utilização do
cantar/dançar/batucar. Em muitos casos, as encenações contam a vida
de guerreiros míticos, de sacrifícios ancestrais e de triunfos decorrentes
da forte ligação com animais sagrados ou com as forças da natureza.
Coletivos de iniciados performam desenhos específicos no espaço,
corporificando arquétipos de uma cosmogonia anterior à própria vida
do performer. Em ações carregadas de simbolismo, catalisam forças
e mitos que pertencem não somente à lembrança dos vivos, como a
vivências anteriores de guerras, paixões, lutas exemplares não apenas
da comunidade a qual ele pertence, mas à própria ancestralidade do
seu povo. Assim, esta performance ancestral se complementa com
a vivência dos embates contra o colonialismo, a escravidão e outras
formas de opressão por que passaram ou passam os participantes.
Presenciei algumas destas encenações em vários países da África:
elas remontam a períodos muito anteriores ao que conhecemos no
Ocidente, sem contudo pretender ser históricas ou recreações de
épocas distantes. São feitas em comunidades isoladas, ou mesmo
dentro de grandes cidades como Lomé, Maputo, Dakar, para citar
algumas. Elas passam da situação de culto devocional para a situação
de execução de um determinado roteiro de encenação, que em muitos
casos, mesmo aberta às modificações individuais e locais, passam a
fazer parte de determinada tradição cênica. Elas se apresentam em
consonância com as coirmãs da diáspora americana classificadas
Introdução | 29
Nascidos dentro do contexto do ritual, estes dramas litúrgicos
apresentam elementos do jogo cênico, disponibilizam tipos de repre-
sentação de divindades e ancestres, encenando episódios marcantes
das suas respectivas passagens pelo planeta, as lutas e conquistas junto
às suas comunidades em épocas remotas. Elas invocam suas forças
espirituais ou ainda demonstram o convívio com outras divindades
durante o seu percurso terrestre e sua permanente influência sobre
o destino das comunidades dos que estão vivos.
Não se pretende incluir neste estudo a tradição católica dos mis-
térios, milagres e moralidades medievais que, por sua vez, poderiam
também ser analisados como Teatro das Origens, já que tradicional-
mente este teatro foi concebido a partir das mitologias cristãs e seus
princípios fundantes. Este não é o foco do presente trabalho. E pelo
fato de este Teatro pertencer igualmente à categoria de um teatro
catequizador, organizado em consonância com o poder e performado
com características colonizadoras, se coloca em posição oposta aos
grupos oprimidos que são tratados aqui. A surpresa de encontrar as
danças dos dervixes na Turquia abriu uma perspectiva nova para en-
tender a arte devocional dos Sufi dentro dos confinamentos das regras
do Islã. E fiquei absolutamente fascinado por essa junção de ritual/
performance/teatro das origens, como será analisado posteriormente.
Apresentação pública do ritual dos dervixes, Istambul. Foto de Zeca Ligiéro, 2012.
Introdução | 31
plificadas em elementos como o texto, a música, a dança, uso de
figurinos e máscaras, bem como a própria ocupação do espaço onde
a performance acontece.
Com “Teatro ameríndio ancestral: performance, ritual, festa em
narrativas pré-colombianas”, demonstro que existia um teatro nas
Américas, altamente complexo e bem desenvolvido, muito anterior à
chegada dos espanhóis, com o impacto da complexa tradição oral em
que se preservava um espetáculo majestoso em coreografias, canto,
percussão e dança, utilização de cenários naturais e ricos ornamentos
corporais. Examinaremos as festas ritualísticas astecas (mexicas), de
onde emerge um teatro com participação da comunidade, algumas
das quais envolvendo sacrifico humano, e em seguida dois textos que,
transcritos de línguas nativas, permanecem como modelos de antigas
estruturas dramáticas ameríndias: um de tradição maia e outro inca .
Examinaremos estes materiais que guardam a rica memória da tradi-
ção ameríndia de um teatro baseada na força do inseparável quarteto
percutir/cantar/dançar/contar. Aqui se fundamenta o argumento
de um Teatro de Origens, uma vez que toda a narrativa mitológica
explicita a origem cósmica da vida social.
Em “Dança de brincantes no Brasil e dança dos dervixes da Tur-
quia: diferenças por contrastes – jogo, ritual e espetacularização”,
procuro compreender as diferenças e os pontos comuns a partir do
êxtase religioso e o do jogo corporal. Ambas as performances, de
origem e prática ritualística pela sua popularidade e interesse público,
saíram do campo religioso e comunitário e passaram para o campo
da produção de espetáculo. Evidentemente as diferenças entre as
duas são grandes, de acordo com os contextos onde são gerados: uma
executada basicamente por mulheres e a outra quase exclusivamente
por homens. Este estudo de casos concentra-se no conjunto de danças
em roda oriundo das comunidades afro-brasileiras, com destaque
para as principais “danças de umbigada”: o tambor de crioula, o
coco, o jongo, o lundu e o samba de roda, e em seguida viaja até en-
trada da Ásia, para analisar a performance da dança de rodopio dos
Introdução | 33
afro-brasileiros, africanos e ameríndios examinando os palhaços de
Folia de Reis, a origem africana de Arlequim e a Sociedade Secreta
dos Palhaços Koreoduga, do lado africano, e o Hotxuá, o palhaço
khraô, junto com outras representações cômicas como o contador
de história ianomâmi. Procurando perceber uma teatralidade que
emerge do sagrado, bem como entender a dimensão de divindades
que gostam de se divertir à custa dos humanos, como Makunaima
dos taulipang e o Exu trazidos por africanos da Nigéria e de Benin.
No “Posfácio”, intento refazer alguns pensamentos procurando
amarrar alguns conceitos no sentido de vislumbrar uma epistemologia
afro-ameríndia, um campo de estudos novo baseado em tão antigas
tradições na esperança de ressignificar o conceito de teatro como
encenação apesar de suas raízes etimológicas estarem contaminadas
pela tradição greco-romana que norteou suas teorias e sua historio-
grafia, sem ter levado em conta, sobretudo, as epistemologias locais
e suas práticas performativas: definidas como Teatro das Origens.
Goro Vodun no palco do festival de Divindades Negras, Aneho. Foto de Tatiana Damasceno, 2011.
6 BARROS José Flávio Pessoa. No vídeo 6, “O Xirê”, da série Religiosidade Afrobrasileira, direção de Rafael
Eiras. Disponível em: <https://vimeo.com/16142502 > visto em 20/03/19
7 AMARAL, Rita e SILVA, Wagner Gonçalves da. “Cantar para subir: um estudo antropológico da música ritual
do Candomblé”. https://www.monografias.com/pt/trabalhos913/cantar-musica-ritual/cantar-musica-ritual2.
shtml, consultado em 1/04/2019.
8 VERGER, Pierre. “Candomblé com sotaque francês”. Entrevista de Pierre Verger por Maria José Quadros
publicada no jornal O Globo em 16/08/1992. http://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/textos-e-
entrevistas-online/entrevistas-de-verger/candomble-com-sotaque-frances.html. Consultado em 23/03/2019.
9 HENDERSON, Joseph L. “Los mitos aniguos y el hombre moderno”. In: Carl G. Jung El Hombre y sus símbolos.
Madrid: Aguilar, 1969, p. 119-120
Obrigação de Sete Anos, Ilê Omi Oju Arô, com Mãe Beata de Iemojá. Foto: autor desco-
nhecido, 2009.
10 Entrevista de Mãe Beata de Yemojá com o autor, 1989. In: vídeo Performance Afro: Amostração, direção de
Zeca Ligiéro, 2017.
Festa das Iabás, Terreiro Ilê Axè Atará Magba. Foto de Tatiana Damasceno, 2012.
Devotos/ Performers
Já que vamos analisar culturas sem obedecer a um critério es-
tritamente científico, não teremos como tratar cada encontro como
estatística ou como estruturas similares, pois são culturas distintas,
em alguns casos apenas aparentadas entre si. Logo, o trabalho dos
devotos/performers do Teatro das Origens não deve ser visto de forma
uniforme. Não existe uma mesma razão ou sequer uma homogenei-
dade na sua prática, sendo que na maioria dos casos se assume o todo
da performance como função estritamente religiosa. Não existe a ideia
de “representação teatral”, ao mesmo tempo em que tudo é preparado
para alcançar um nível de esplendor estético, de coesão entre todas as
etapas do ritual, rigor na preparação das roupas de santo, decoração
adequada do terreiro, geralmente com bandeiras de seda enfileiradas
(ultimamente lamentavelmente substituída pelo plástico), em cada
detalhe a busca da harmonia procurando gerar a energia criativa
para que o ritual público alcance o nível de celebração e de êxtase
religioso. Existem outras atividades paralelas dentro dessas comuni-
dades, neste caso muito dos dirigentes, já aceitam o termo “festeiro”
ou “brincante” justaposto à função pública que já exercem, seja de
sacerdote de matriz africana ou de líder ameríndio. No caso de ativi-
dades artísticas e lúdicas aparte dos principais rituais, a brincadeira
é feita dentro do espaço do terreiro sem problemas, uma vez que os
altares, os pejis, os assentamentos sagrados estão bem guardados e
longe do público frequentador não iniciado. Assisti dentro do terreiro
11 SCHECHNER, Richard. “Ritual”. In: Performance e antropologia de Richard Schechner, org. Zeca Ligiéro,
Mauad X, 2012.
Dança dos Yawalapiti, terreiro da Aldeia Multiétnica, Goiás, foto Chico Rota, 2015.
12 SIMAS, Luiz Antonio. Entrevista ao autor em Dona Mariana, Princesa turca da Amazônia. Direção Zeca
Ligiéro, Produção Nepaa, 2018.
13 MACEDO, Caio Richard de Araújo. O corpo encantado na performance cerimonial pankararu, dissertação
ECA-USP, 2019, p. 22.
Farfalhar das saias das Princesas Turcas da Amazônia, Tambor de Mina, Belém.
Foto de Zeca Ligiéro, 2010.
16 O nativo é mencionado pela primeira vez na segunda edição póstuma do livro História da Grande Ilha de
Madagascar (1661), do administrador colonial Etienne DE FLACOURT (1607-1660). O autor descreve a viagem
de Binot Paulmier, que depois de ter se perdido em algum lugar da América do Sul teria trazido em sua viagem
de volta o indígena chamado Essomericq.
17 D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas:
em que trata das singularidades admiráveis e dos costumes estrandos dos índios habitanes do país (L’Histoire de la
Mission des Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisines). São Paulo: Livraria Martins Editora, 1945.
... nós temos uma tradição, cada povo tem a sua tradição, seus costumes,
sua forma de viver o dia a dia, né? Nós temos os nossos grafismos,
que mostram a nossa ancestralidade. Essa daqui por exemplo é o
grafismo da jiboia. O que é o grafismo da jiboia? A jiboia para nós
é um ser sagrado, faz uma conexão espiritual onde nós recebemos a
nossa medicina da ayahuasca. Antigamente, os líderes espirituais é que
tinham contato com as medicinas, o povo não18.
18 Entrevista de Mapu Huni Kuin com o autor, Rio Branco, Acre, 2018.
Tipo de grafismo Huni Kuin. Tecido e tear Huni Kuin. Foto Zeca Ligiéro.
Dança dos Pankararu, Aldeia Pankararu, Pernambuco. Foto de Caio Richard Macedo, 2018.
Máscara dos ticuna, de Debret. A ilustração está no Museu Castro Maia, Rio de Janeiro.
Pôster do Zoológico Humano da Exposição Colonial de 1931, Paris. Negros e mouros são
mostrados com seus exóticos costumes e suas roupas extravagantes.
20 ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. Ensaio, Minotauro, Lisboa: s/data, pg.79.
21 http://npa2009.org/content/exposition-coloniale-de-1931-apog%C3%A9e-ou-limites-du-
colonialisme%E2%80%89 .
22 Segundo o diretor geral da exposição, General Olivier. In: “Filosofia da Exposição Colonial, 15 de outubro
1931, p.278-293. Apud L’ESTOILE, Benoît de. Le gôut des autres: de l’Exposicion coloniale aux Arts Premiers.
Paris: Flammarion, 2007, p. 34
23 SIMAS, Luiz Antonio e RUFINO, Luiz. Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro,
Mórula Editorial, 2017.
24 Zione se caracteriza por uma igreja popular de Moçambique. A origem do nome das Igrejas Ziones (Zionist)
provém da cidade de Zion City, Illinois, Estados Unidos da América, onde a Christian Apostolic Catholic Church,
a Igreja que deu o início a este ramo do pentecostalismo, foi fundada por J. Dowie em 1896. As primeiras igrejas
zionistas na África austral surgiram na África do Sul sob a influência norte-americana no início deste século.
Victor AGADJANIAN. In: Lusotopie 1999, 415-423, http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/agadjanian.
pdf , consultado em 30/03/2019.
Guerreiros saem do núcleo principal da performance. Foto de Yara Ligiéro, Togo, 2013.
g) Perfomances processionais
Concebida por Brooks McNamara e Barbara Kirshenblatt-Gim-
blett, o conceito de “performance processional” indica uma forma
móvel de apresentação na qual tanto os performers como o público
acompanham o seu andamento, seguindo por vários paradas externas
Participação do público
De um lado do interior do pequeno barracão de alvenaria do
terreiro de Dona Isabel, em Belém do Pará, as irmãs Dona Mariana,
Dona Erondina e Dona Jarina evoluem em suas danças pelo exíguo
salão. De um lado, o público observa atento e às vezes sendo tocado
Terreiro de Tambor de Mina de Dona Isabel, Belém, Pará. Foto de Zeca Ligiéro, 2010.
Cortejo do grupo Goro Vodun subindo ao palco do Festival, todos incorporados. Foto de
Tatiana Damasceno, 2011.
Referências bibliográficas
AMARAL, Rita e SILVA, Wagner Gonçalves da. “Cantar para subir: um estudo
antropológico da música ritual do Candomblé”. https://www.monografias.
com/pt/trabalhos913/cantar-musica-ritual/cantar-musica-ritual2. shtml,
consultado em 1/04/2019.
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. Ensaio, Minotauro, Lisboa: s/data
BARROS José Flávio Pessoa. No vídeo 6, “O Xirê”, da série Religiosidade
Afrobrasileira, direção de Rafael Eiras. Disponível em: <https://vimeo.
com/16142502 > visto em 20/03/19
COSSARD, Gisele. A filha de santo. In: MARCONDES, Carlos Eugênio. (org,
e trad.) Olóòrisá. São Paulo, Agora, 1981.
D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na Ilha
do Maranhão e terras circunvizinhas: em que trata das singularidades
admiráveis e dos costumes estrandos dos índios habitanes do país .São
Paulo: Livraria Martins Editora, 1945.
DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1834-1839)
Sites
Colonialism On Display. In: < courses.lumenlearning.com/suny-hccc
worldhistory2/chapter/the-worldfairs/>, visto em 24/03/2019.
http://npa2009.org/content/exposition-coloniale-de-1931-apog%C3%A9e-
ou-limites-ducolonialisme%E2%80%89 .
http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/agadjanian. pdf , consultado
em 30/03/2019.
26 SCHECHNER, Richard. Performance Theory. New York and London: Routledge, 1988. p. 72.
27 Da tríade drumming-singing-dancing, criada por K. K. Fu-Kiau (Ligiéro, 2011), inicialmente traduzi o primeiro
verbo to drum como “batucar” que pareceu-me bastante apropriado para o contexto afro-brasileiro; entretanto,
ao expandir este conceito para as tradições ameríndias, evito a utilização desta palavra e proponho, então, o
termo “percussionar” ou “bater” ou “chacoalhar” (uso percussivo com as maracas), já que “rufar”, o mais indicado
pelos dicionários, também parece-me algo estranho ao universo da performance cênica.
28 Na época da conquista espanhola do México, no início do século XVI, nauatle era o idioma dos astecas, que
dominavam o México central durante o fim do período pós-clássico da cronologia mesoamericana. A expansão
e influência do Império Asteca fizeram com que o dialeto falado pelos astecas de Tenochtitlán se tornasse um
dialeto de prestígio na Mesoamérica deste período. Com a introdução do alfabeto latino, o nauatle também se
tornou uma língua literária e muitas crônicas, gramáticas, obras de poesia, documentos administrativos e códices
foram escritos nos séculos XVI e XVII4. Esta língua literária, baseada no dialeto de Tenochtitlán, foi chamada de
nauatle clássico e está entre as línguas mais estudadas e bem-documentadas das Américas. “Ameríndias, línguas”:
Nova Enciclopédia Barsa 1. (1999). São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, pp. 329-332.
29 SAHAGÚN, Bernardino de. História general de las cosas de la Nueva España. México: Porrúa, 1979.
30 DURÁN, Diego. História de las Indias de Nueva España e islas de tierra firme. México: Porrúa, 1967.
31 Pulque, antiga bebida sagrada mexica atualmente popularizada no México. Disponível em <http://www.bbc.
com/travel/story/20141125-mexicos-ancient-drink-makes-a-comeback>, consultado em 3 de agosto de 2015.
32 Esta descrição foi compilada do livro de TORIZ (1993) e dos relatos de Sahagún (SAHAGÚN, Bernardino
de. Historia general de las cosas de la Nueva España. México: Porrúa, 1979) e de Durán (Durán, Diego. Historia
de las Indias de Nueva España e islas de tierra firme. México: Porrúa, 1967).
33 Embora se diga que a linguagem maia é escrita em hieróglifos, não se trata exatamente disto. A escrita
maia utiliza logogramas complementados por um conjunto de glifos silábicos, com função semelhante à atual
escrita japonesa. BERLIN, H. (1958). “El glifo emblema en las inscripciones Maya.” Journal de la Société des
Américanistes de Paris 47: 111-119.
34 O quíchua (qhichwa simi ou runa simi), também chamado de quechua ou quéchua, é uma importante família
de línguas indígenas da América do Sul, ainda hoje falada por cerca de dez milhões de pessoas de diversos grupos
étnicos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru ao longo dos Andes. Possui vários dialetos
inteligíveis entre si. É uma das línguas oficiais de Bolívia, Peru e Equador. CAMPBELL, Lyle. American Indian
Languages: The Historical Linguistics of Native America, Oxford University Press, 1997, p. 189.
35 SCHECHNER, Richard. Performance Theory. New York and London: Routledge, 1988, pp. 16-17.
36 SCHECHNER, Richard. Performance Theory. New York and London: Routledge, 1988, p. 21.
37 Langer, Susanne. Feeling and Form. New York: Scriber’s, 1953, p. 357, apud SCHECHNER, Richard. Perfor-
mance Theory. New York and London: Routledge, 1988, p. 21.
38 Tedlock, Dennis. Rabinal Achi: a Mayan drama of war and sacrifice. New York: Oxford University, 2003, p. 1-2
Mural de Bonampak, século VIII: cultura maia representando uma encenação religiosa com
os músicos contracenando com divindades aquáticas e do submundo. Artista desconhecido.
43 Autor anônimo, apud Ollantay: A Drama of the Time of the Incas. Publicado por Sir Clements R. Markham.
disponível em: <http://www.gutenberg.org/files/9068/9068-h/9068-h.htm>. Acesso em 17 de maio de 2015.
Conclusões
Essa é uma fotografia que representa uma cena do teatro indígena, e
eu fiz muita questão de trazer porque se vocês abrem qualquer manual
de teatro brasileiro, vocês vão encontrar duas afirmações: a primeira
de ordem geral que o teatro nasceu na Grécia, e a segunda que o teatro
brasileiro nasceu quando os jesuítas aqui chegaram, com o teatro
do Anchieta, etc., etc. A mim, me parece uma coisa absolutamente
clara, que o que nasceu na Grécia foi o teatro grego. Porque o teatro
japonês não nasceu na Grécia, o teatro chinês não nasceu na Grécia.
É uma coisa tão clara, não é?! E o teatro brasileiro não nasceu quando
os jesuítas chegaram não. Os jesuítas trouxeram uma contribuição
importantíssima, mas já existia este teatro aqui, do mesmo jeito que
existe esta pintura, maravilhosa, existia este teatro, extraordinário,
que por acaso como o teatro grego, um teatro de máscaras, um teatro
mítico, são divindades que estão aqui presentes, como o teatro grego
primordial, e este teatro tem que ser levado em conta.
Ariano Suassuna45
44 Autor anônimo. Ollantay. Publicado por Simon Chara, disponível em: <https://www.scribd.com/
doc/13142631/OLLANTAY-ANONIMO>. Acesso em 17 de maio de 2015.
45 Suassuna, Ariano. Aula espetáculo: Arte no Brasil, uma história de cinco séculos? https://www.youtube.com/
watch?v=ew5XpfZMwnQ
La Fiesta de los Collasuyos (nome dado aos moradores desta região do Peru), ilustração
de Pomo de Ayala: percussão, canto, e performance procissional (El Primer Nueva
Coronica y buen gobierno de Felipe Guaman Poma de Ayala, século XVII).
46 Cieslak foi um dos atores que trabalhou no Laboratório de Grotowski e é apontado como exemplo das
técnicas então desenvolvidas.
47 Laurence Olivier foi um famoso ator britânico, conhecido por suas transformações ao interpretar os
personagens de Shakespeare.
LOCALIDA- Atualmente Em quase todo Estados: Pa- Todo o estado Estados: Rio
DES na Ilha do o estado do raíba, Pernam- da Bahia, com de Janeiro,
Marajó, em Maranhão. buco, Alagoas ênfase no Espírito Santo,
Santarém e e Ceará; e Recôncavo Minas Gerais e
em Bragança na cidade de baiano. São Paulo.
– PA. São Luís, no
Maranhão.
DATAS Ciclo Durante todo o Durante todo o Durante todo Durante todo o
FESTIVAS natalino em ano, mas princi- ano, mas prin- o ano, mas ano, mas prin-
OU PERÍO- Bragança, palmente no cipalmente no principalmente cipalmente nos
DO EM QUE mas pode carnaval, dia 13 ciclo natalino, no ciclo natali- dias de santos
ACONTE- acontecer de maio, São no carnaval e no, no carnaval católicos ou
CEM durante todo João ou mês de no São João. e no São João. de entidades
o ano. agosto. Depende de afro-brasilei-
qual santo a ras, dia 13 de
sambadeira maio, dia 20
louva. de novembro,
ciclo junino ou
alguma festa
do grupo ou
comunidade.
48 MANHÃES, Juliana. Um convite à dança: Performances de umbigada entre Brasil e Moçambique. 2014. Tese
(Doutorado em Artes Cênicas) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Centro de Letras e Artes,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
SANTO Não foram São Benedito Varia de São Cosme São Benedito
PROTETOR encontradas ou Nossa acordo com Damião ou ou Nossa
informações Senhora do a comunida- do gosto da Senhora do
relacionadas Rosário. de, no litoral sambadeira. Rosário.
a algum santo é muito
protetor. festejado
para São
Pedro e São
João.
Roda do Coletivo Matuba, prática de montagem na UNIRIO, 2015. Foto: Igor Keller.
49 A visita ao grupo de dançarinas Tufo de Malafaia, no bairro dos Militares, em Maputo, se deu graças à pesquisa
de Juliana Manhães, a quem pude acompanhar por cerca de dez dias, em 2013, como professor orientador.
50 CASTRO, Haroldo. Luzes da África: pai e filho em busca da alma de um continente. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2012.
51 CARVALHO. José Jorge. Poemas Místicos Divan de Shams de Tabriz. São Paulo: Attar Editorial, 1996.
52 Poema de Rumi publicado em Halman T.S. Love is all Rumi’s life and poems of ecstasy the whirling dervishes.
Istambul: 3KG, 2011, p. 19.
53 Poema citado em Carvalho, José Jorge. In: Rumi. Poemas Místicos Divan de Shams de Tabriz. São Paulo:
Attar Editorial, 1996, p. 30.
54 SEKER, Mehmer. Rumi’s path of love ‘being freed’ with the Sama. In: ÇITAK, M.F.; BINGUIL, H. (Org.).
Rumi and His Path of Love. New Jersey: Tughra Books, 2011, p. 9.
Performance do ritual Sama, pelos dervixes, em Istambul, 2012. Foto Zeca Ligiéro.
55 RUMI, J. Poemas Místicos Divan de Shams de Tabriz. São Paulo: Attar Editorial, 1996, p. 98.
Os dervixes se posicionam com contrição para entrar no espaço da roda. Foto Zeca Li-
giéro, 2012.
Espectadora muçulmana videograva a performance dos dervixes em seu celular. Foto Zeca
Ligiéro, 2012.
56 HALMAN, Talat Sait. Love is all: Rumi’s life and poems of ecstasy / The whirling dervishes. Istambul: 3KG, 2011. p. 43
57 Idem, ibidem, p. 43.
61 HALMAN, Talat Sait. Love is all: Rumi’s life and poems of ecstasy / The whirling dervishes. Istambul, Turquia:
Bilkent Kultur Girisimi Publications, Istambul, Turquia, 2011, p. 53.
62 CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo:
UNESP, 2011, p. 72.
63 LIGIÉRO, Zeca. Performances processionais e as escolas de samba. In: Corpo a Corpo: estudos das perfor-
mances brasileiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2011, p. 157.
64 LIGIÉRO, Zeca. O conceito de “motrizes culturais” aplicado às práticas performativas afro-brasileiras. In:
Corpo a Corpo: estudos das performances brasileiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2011. p. 107
65 TAYLOR, Diana. Arquivo e Repertório: memória cultural das Américas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
66 VERGER, Pierre Fatumbi. Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns. Tradução: Carlos Eugênio Marcondes
de Moura. São Paulo: EDUSP, 1999.
67 BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo, EDUSP, Livraria Pioneira, 1958 (1973).
68 MULLER, Bernard. Les Adeptes du Goro Vodou et de Tchamba. In: Leriche, Dany et Fickinger, Jean-Michel.
Divinités Noires. Paris: Les Editions Graines de Pensées et La Maison d’Été, 2013.
69 ROSENTHAL, Judy. Possession, Ecstasy, and Law in Ewe Voodoo. Virginia: University of Virginia Press, 1997.
70 LIGIÉRO, Zeca. Iniciação ao Candomblé. Rio de Janeiro: Nova Era / Record, 1993.
Capitão do rei ashanti em seu cavalo árabe. Gravura de William Hutton, 1820.
Cortejo de Goro Voduns já incorporados a caminho do palco, 2011. Foto: Zeca Ligiéro.
71 MÜLLER, Bernard. Les Adeptes du Goro Vodou et de Tchamba. In: LERICHE, Dany e FICKINGER, Jean-
Michel. Divinités Noires. Paris: Les Editions Graines de Pensées e La Maison d’été, 2013.
72 Entrevista realizada com o autor em dezembro de 2013, Lomé, Togo.
73 Os maconde são um grupo étnico banto que vive no sudeste da Tanzânia e no nordeste de Moçambique,
principalmente no planalto de Mueda, tendo uma pequena presença no Quênia. A população maconde na
Tanzânia foi estimada em 2001 em cerca de 1.140.000 habitantes e no censo de 1997, em Moçambique, em
233.258, dando um total de 1.373.358 maconde .http://pt.wikipedia.org/wiki/Macondes.
74 DIAS, António Jorge, Os macondes de Moçambique, aspectos históricos e económicos, vol. I, Lisboa, Junta de
Investigações do Ultramar. 1964.
75 DPTUR – Direcção Provincial do Turismo. Dança Mapiko, República de Moçambique. Disponível em: <http://
www.turismocd.gov.m/cultura/tradi/cultura_tradi_dan_mapiko_pt.htmz>. Acesso em 8/8/2015.
76 ISRAEL, Paolo. Mapiko mascarades of the Makonde: Performance and Historicty. In: East African Contours.
Reviewing Creativity and Visual Culture. ARERO , KINGDON Z. (eds). London: Horniman Museum, Critical
Museology and Material Culture series, 2005, p. 99-100.
77 O pesquisador Vintane Nafassi, moçambicano de origem maconde, acrescenta que existe um tipo de mapiko
chamado de Nantyaka que é considerado um palhaço.
Ele não trazia nada nas mãos, diferentemente dos outros que
eu tinha observado em gravações de vídeo, que traziam facas ou
mesmo armas como uma metralhadora de madeira78. Sua perfor-
mance acontecia do lado oposto da igreja, onde parentes e curiosos
se aglomeravam em torno da raspagem da cabeça das meninas.
Pensei que iria assistir a alguma interatividade entre essa dança e o
ritual que acontecia do outro lado, mas isto não aconteceu. Este fator
também se diferencia das descrições dos rituais antigos do Mapiko.
Tradicionalmente são os músicos que convocam o dançarino para
começar a função. Israel Paolo nos oferece uma detalhada descrição
do funcionamento das diversas etapas desta performance:
Depois do ensaio, o lipiko é vestido (kupanga) uma vestimenta justa
feita de três peças de tecido que lhe cobre o corpo inteiro com exceção
dos pés e das mãos. Chocalhos de metal são então amarrados no seu
torso e ele é mascarado. A performance em si é composta por duas
partes separadas. A primeira parte é chamada lishesho “forma de
quatro” (plural mashesho). É tocada com uma característica muito
78 Existem dois vídeos no youtube em que é possível observar a dança mapiko: https://www.youtube.com/
watch?v=kmw4eHugjvM https://www.youtube.com/watch?v=qMeUjRIsj7Y&list=RDqMeUjRIsj7Y#t=6
79 ISRAEL, Paolo. Mapiko mascarades of the Makonde: Performance and Historicty. In: East African Contours.
Reviewing Creativity and Visual Culture. ARERO , KINGDON Z. (eds). London: Horniman Museum, Critical
Museology and Material Culture series, 2005, p. 101.
80 Existe uma bibliografia limitada sobre mapiko. Nela, temos a etnografia colonial do clássico de DIAS J. e
DIAS M., Os macondes de Moçambique, vol. III, JIU, 1970. Para uma bibliografia mais recene existe KINGDON
Zachary, A Host of Devils, Routledge, London, 2002, além de ISRAEL Paolo, Mapiko masquerades of the Makonde:
Performance and Historicity. In: ARERO H. e KINGDON (Eds). Eastern African Visual ‘Traditions’, London:
Horniman Museum, London, 2005. Sobre o tema, ver também: MKAIMA M., Mapiko Masks yesterday and
today. In: KRISTIAN F. (ed.). Makonde: Mapiko. Linz: Neue Galerie der Stadt, Neue Galerie der Stadt, 1997.
81 ISRAEL, Paolo. Irony, Ambiguity and the Art of Recycling Reflections on Contemporary Rural African Art
and ‘Africa Remix’. In: Third Text, vol. 20, Issue 5, September, London and New York: Routledge, 2006. p. 585–600.
82 NKAIMA, Miguel Costa. Máscaras Mapiko: ontem e hoje. In: Camões. Revista de Letras e Culturas Lusófonas,
Lisboa, Instituto Camões, nº 6, julho-setembro de 1999.
83 A língua maconde ou shimakonde é uma língua falada no norte de Moçambique, na província de Cabo
Delgado. Também é falada no sul da Tanzânia, na zona fronteiriça com Moçambique. Disponível em <http://
pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_maconde>. Consultado em 8/8/2015.
84 MONTEIRO, Ausônia Bernardes. O palhaço da Folia de Reis: dança e performance afro-brasileira. 2004. 177f.
Tese (Doutorado em Teatro) – Programa de Pós-Graduação em Teatro, Centro de Letras e Artes, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004, p.136.
85 MONTEIRO, Ausonia Bernades. O palhaço da Folia de Reis: dança e performance afro-brasileira. 2004. 177f.
Tese (Doutorado em Teatro) – Programa de Pós-Graduação em Teatro, Centro de Letras e Artes, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004, pp. 141-142.
86 SANTOS, Claudio Alberto dos. Tambores incandescentes, corpos em êxtase: técnicas e princípios bantus na
performance ritual do Moçambique de Belém, 2007. Tese (Doutorado em Artes Cênicas) – Programa de Pós-
Graduação em Artes Cênicas. Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2007.
87 ISRAEL, Paolo. Irony, Ambiguity and the Art of Recycling Reflections on Contemporary Rural African Art and
‘Africa Remix’. In: Third Text, vol. 20, Issue 5, September. London and New York: Routledge, 2006, pp. 102-103.
88 Frente de Libertação de Moçambique. A Frente de Libertação de Moçambique, também conhecida por seu
acrônimo Frelimo, é um partido político oficialmente fundado em 25 de Junho de 1962 (como movimento
nacionalista), com o objetivo de lutar pela independência de Moçambique do domínio colonial português.
O primeiro presidente do partido foi o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, um antropólogo que trabalhava
na ONU. Deste a independência de Moçambique, em 25 de junho 1975, a Frelimo é a principal força política
do país, sendo também o “partido da situação” desde então. Cf. http://www.c-r.org/accord-article/historical-
context%C2%A0war-and-peace-mozambique .
Considerações finais
O estudo de casos aqui se restringe a situações que demarcam
territórios corporais distintos, nos quais uma tradição aparece em
primeiro plano mas, no seu âmago, aparecem também outras tradi-
ções manifestas na maleabilidade de performances mutantes e em
movimento. Tanto na esfera religiosa como na da arte, a matéria
prima transformada pelas mãos do artista ou encarnada pelo corpo
do médium está sujeita ao efêmero, às políticas circunstanciais do
aqui e agora, às reflexões sobre o momento em que se vive, tendo
como referência os exemplos de como os antigos mestres viveram.
A matéria da arte e da religião africana se faz da palavra ouvida e
observada, e também dos comportamentos consagrados pelos valores
comunitários.
Ao analisar dois tipos de tradições em um único artigo, expresso o
desejo de demonstrar o quanto as tradições africanas contemporâneas
são fluidas; a tradição é referenciada como uma série de gestos, rituais
e comportamentos contidos dentro das dinâmicas exercidas que tenho
estudado como motrizes culturais, às quais somente pela performance
se tem acesso. Portanto, não são religiões da palavra restritiva, mas
do verbo, da ação, a partir da maleabilidade da percepção do corpo
do devoto por meio da sua performance. As tradições jamais serão
vistas como um referencial imutável de dogmas e certezas, pois por
meio da performance amalgamam e/ou mesmo dialogam com outras
tradições em seus processos de troca comunitária, seja por meio de
uma capacidade reflexiva ou pela própria absorção inexorável dos ma-
teriais oriundos do contato com a modernidade e com a globalização.
89 ISRAEL, Paolo. Irony, Ambiguity and the Art of Recycling Reflections on Contemporary Rural African Art
and ‘Africa Remix’. In: Third Text, vol. 20, Issue 5, September. London and New York: Routledge, 2006. P.76.
90 ISRAEL, Paolo. Irony, Ambiguity and the Art of Recycling Reflections on Contemporary Rural African Art
and ‘Africa Remix’. In: Third Text, vol. 20, Issue 5, September, London and New York: Routledge 2006, p. 67.
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DPTUR Direcção Provincial do Turismo. Dança Mapiko. República de
Moçambique. D isponível em: <http://www.turismocd.gov.m/cultura/tradi/
cultura_ tradi_dan_ mapiko_pt.htmz>. Acesso Acesso em 8 de setembro de
2015.
91 “Estas vozes que vêm dos primeiros tempos falam aos tempos que virão depois. Brotam da memória dos
maias, mas dizem o que dizem para que o mundo as escute, ele que aos tombos busca rumo, perdido como
cego em tiroteio. E estas vozes nos recordam que o centro do Universo está em cada um de nós, porque está
em cada um os frutos que brotam em cada instante do tempo e em cada lugarzinho da Terra. E nos convidam a
recriar o fio rompido da vida, a curar a dignidade violada da nautureza e a recuperar a nossa plenitude perdida.”
Eduardo Galeano (tradução própria).
92 SCHECHNER, Richard. O que é performance. In: O Percevejo – Revista de Teatro, Crítica e Estética, Programa
de Pós-Graduação em Teatro, UNIRIO. n. 11, v. 12, Rio de Janeiro, 2003, p. 32-37.
93 Revista da VI Muestra Latinoamericana de Teatro de Grupo. São Paulo (Brasil), 26 de abril de 2011, tradução
de Cláudia Lora.
94 Rabinal, o ritual criado e mantido pela comunidade Achí, Guatemala, é apresentado, segundo o calendário
católico, sempre nos mês de janeiro.
Oferenda – Ritual em torno do fogo sagrado, Centro Cultural Sotz’il Jay, Sololá, Guatemala,
2012. Foto: Zeca Ligiéro.
Oferenda ao Fogo Sagrado – Centro Cultural Sotz’il Jay, Sololá, Guatemala, 2012. Foto:
Zeca Ligiéro.
95 Tradução de Carla Patrícia Lizaraso e Camila Daniel do vídeo, gravado por Zeca Ligiéro, com a artista plástica
guatemalteca Maria Ramirez, 2012. Acervo NEPAA, UNIRIO.
96 “O julgamento por genocídio, iniciado na Guatemala, do general Efraín Ríos Montt voltou a pôr o país
centro-americano diante dos horrores de seu passado. A guerra de 36 anos (1960-1996) entre o Estado e a
URNG (Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca) deixou, segundo se calcula, 200 mil mortos, em sua
maioria nas zonas rurais indígenas. O relatório publicado em 1999 pela Comissão de Esclarecimento Histórico,
patrocinada pela ONU, deu conta das atrocidades cometidas contra a população civil, fundamentalmente
por parte das forças militares. A informação é do jornal El País e reproduzida pelo Portal Uol, 29-03-2013”.
Instituto Humanitas Unisino. Julgamento de general obriga sociedade da Guatemala a confrontar seu passado.
disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/518904-julgamento-de-general-obriga-sociedade-da-
guatemala-a-confrontar-seu-passado->. Acesso em 22 de maio de 2015.
97 Endereço do site do grupo Sot’zil Jay: <www.gruposotzil.org>.
Demonstração do grupo Sotz’il dos diversos instrumentos musicais maia. Oficina realizada
no NEPAA – UNIRIO, em 2012. Foto: Zeca Ligiéro.
Mural maia, a presença do Deus Jaguar. O deus Jaguar na peça Oxlajuj B’aqtun. Acervo
Sotz’il Jay.
Ritual e Jogo
Poderíamos comparar a iniciativa do grupo de reproduzir os
murais tradicionais à da dançarina Isadora Duncan, que se inspi-
rou em poses e posturas que imitavam frisos gregos e as pinturas
de dançarinos nos vasos e cânforas para romper com os padrões
do “antepassado, aristocrático, e palaciano ballet” (FAZENDA,
2012:70) na criação de uma “nova dança”, que se distancia dos mo-
delos vigentes propondo olhar a arte com mais liberdade e vigor,
uma arte de retorno ao natural, como referência à arte libertadora.
Já o propósito do grupo é totalmente diferente, pois recorre a uma
Caminho de acesso ao Centro Cultural Sotz’il Jay a partir da rodovia perto de Sololá, Gua-
temala, 2012. Uma mulher maia tradicional com uma criança em um braço e o celular na
outro. Foto: Zeca Ligiéro.
98 GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968.
Vincent Harisdo e Armando Pekeno em Danbala Wedo, Festival Divinities Noires, Aneho,
Togo, 2013. Foto: Yara Ligiéro.
99 LIGIÉRO, Zeca. Initiation into Candomblé: Introduction to African culture in Brazil. New York: Diasporic
Africa Press, 2014.
Mas não havia tão pouco escárnio ou deboche. Havia sim, algo
feminino naquele corpanzil de homens maduros. Os gestos de orixás,
voduns femininos fluíam de seus corpos com a segurança de quem já
não precisa da mimeses, pois a memória é centelha que se incendeia
100 FAZENDA, Maria José. Dança Teatral: Ideias, experiências, ações. 2ª ed. Lisboa: Edições Colibri/Instituto
Politécnico de Lisboa, 2012.
Vincent Harisdo e Armando Pekeno em Danbala Wedo, Festival des Divinities Noires, 2013,
Aneho, Togo. Foto: Yara Ligiéro.
101 Ver LIGIÉRO, Zeca. Iniciação ao Candomblé. Rio de Janeiro: Editora Record/Nova Era, 1993.
102 DEREN, Maya. The Divine Horsemen: The Voodoo Gods of Haiti. New York: Vanguard Press, [1953]1973.
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publicação da autora.
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de Janeiro, 2003. p. 32-37
TAYLOR, Diana. You are here. The DNA of Performance. Drama Review,
46,1(T173), Spring 2002.
Entrevista
JAIR DO CAVAQUINHO. Jair do Cavaquinho [2007]. Entrevistador: Zeca
Ligiéro. Vídeo.
103 Filme Hotxuá, o Palhaço Sagrado, de Leticia Sabatella e Gringo Cardia, 2012. Produzido por Pedra Corrida
Produções e Letícia Sabatella
Folia de Reis Estrela Azul do Grande Espaço do Mestre Floriano, Laje do Muriaé. Foto Zeca
Ligiéro, 2010.
104 Silvério Pontes, músico lajense radicado no Rio, filho do Helinho Pontes que participou durante décadas
da Banda Cinco de Novembro.
105 Conversa com Silvério Pontes no Facebook, dia 09/03/19.
106 O Maestro Mazini, uma vez tuberculoso, foi morar na antiga freguesia de Laje do Muriaé, onde se estabeleceu
e fez família, não mais retornando para a capital.
107 Lançada para o carnaval de 1967 pela voz de Dalva de Oliveira, a música de Zé Kéti foi uma das mais tocadas
e tornou-se uma estrela nos carnavais seguintes, hoje um clássico.
108 “Voz do Morro”, título de uma das músicas mais conhecidas de Zé Kéti, lançada em conjunto com o grupo
homônimo dirigido pelo compositor. Fundado em 1965 por Zé Kéti, o grupo foi uma das primeiras oportunidades
que os sambistas de morro tiveram para gravar suas próprias composições – muitos até então inéditas – sem
intermediários. O grupo foi formado com alguns integrantes do musical Rosa de Ouro, montado por Kléber
Santos e Hermínio Bello de Carvalho no Teatro Jovem do Rio de Janeiro, mas a ideia de se apresentarem
profissionalmente surgiu no Zicartola (Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira).
109 NICKLAUS, Thelma. Harlequin Phonexix: The Rise and the Fall of a Bergamask Rogue. London: The Bodley
Head, 1956.
111 Donato Sartori, um dos grandes criadores de máscaras de commedia dell’arte, filho de Amleto Sartori
(1915-1962), escultor e poeta de Pádua, que ficou famoso por seus estudos sobre a máscara teatral. Donato
fez grandes contribuições à arte da criação de máscaras, tendo trabalhado com importante nomes do teatro
mundial, como Lecok, Ariane Mnouchkine, Eugenio Barba e Dario Fo. Domenico deu continuidade ao trabalho
do pai. http://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/teatro-perde-o-italiano-donato-sartori-artifice-das-mascaras,
visto em 13/03/2019.
112 SARTORI, Domenico. A arte Mágica de Amleto e Donato Sartori. Editora E Realizações, 2013.
113 THOMPSON, Robert Farris. Flash of the Spirit: African and Afro-American Art and Philosophy, Randon
House, 1984.
114 THOMPSON, Robert Farris. Flash of the Spirit: African and Afro-American Art and Philosophy, Randon
House, 1984, p.20.
115 LIGIÉRO, Zeca e DANDARA. Umbanda: paz, liberdade e cura. Pallas: 2017: p.91.
116 SANTOS, Joana Elbein. Os nagô e a morte: Pade, Asese e o culto Egun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1972, p.13.
117 Ponto cantado registrado pelo autor durante uma gira para o Povo de Rua no Templo de Magia Cigana,
Rio de Janeiro, 1992.
Drim-drim-drim
Telefona pra mim
Amorzim…
Drim-drim-drim Drim-drim-drim
Arô, quem fara?
É Exu Malandrim,
Malandrim119.
119 Ponto citado pelo ator Josias da Costa em entrevista com autor, 1995.
120 “Catimbó do Seu Zé” ponto cantado do CD Zé Pelintra, do Babalorixá José de Aluá, São Paulo.
121 ALVARENGA Oneida, citada por CARLINI Álvaro, Cachimbo e Maraca: O catimbó da Missão, 1993, p.57.
122 De acordo com Alvarenga, denominação usada para significar índios. Ibidem p.57
123 Ibidem, p.58.
124 Ibidem, p. 165.
127 BARRETO, Renato Amado e OLIVEIRA, Ana Lúcia Machado “Makunaima e Makunaima: dois tricksters”.
In: Caderno de Letras, no. 16, 2016, p. 4. Disponivel em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/
cadernodeletras/article/view/8518/6082
Então ele colocou a casa outra vez em baixo, num lugar novo, perto da
casa de seu irmão. Mas o irmão estava muito fraco: quando dançaram,
ele ficou tonto e caiu. Makunaima riu dele, pois estava muito magro
e os ossos, inclusive os do traseiro, estavam salientes. Depois o irmão
comeu muito e engordou outra vez.
Makunaima continuou abusando da cunhada e dessa vez o irmão mais
velho sabia de tudo, mas preferiu ignorar, porque pensou na fome que
tinha passado e também porque não podia viver sem o irmão mais
moço. Por isso não quis mais brigar com ele.
Encontro de Zeca Ligiéro com Ismael Aprak, Aldeia Multiétinica. Fotos de Chico Rota, 2016.
Assim, quando meu tio morreu e botou eu no lugar, e não é pra perder,
mesmo, nossa cultura dentro da comunidade com os khraô, nós tem
que manter isso aí toda vida e sempre. Eu já tenho um neto. O meu já
tá um rapaizão grande. Ele brinca também comig128.
128 Entrevista com o autor. Vídeo: “Performance ameríndia: memória e identidade”. Produção NEPAA, 2018.
129 O filme foi produzido pela Cooperativa Kurare e pela Cochano Films para o Odin Teatret, 1976. disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=hqWHh-WitSU>. Acesso em 1 de abril de 2015.
130 CASTRO, Eduardo Viveiros. Metafisicas canibais. Rio de Janeiro: Ubu Editora, s.d.
131 MALE, Salia. Koredugaw: des initiés, symbols de une philosophy de de vie au Mali. In d https://www.
parisglobalforum.org/2019/03/03/koredugaw-des-inities-symboles-dune-philosophie-de-la-vie-au-mali/
consultado em 21/09/2019.
132 Ibidem.
133 “Secret society of the Kôrêdugaw, the rite of wisdom”. In: Mali UNESCO: List of Intangible Cultural Heritage
in Need of Urgent Safeguarding, 2011 < https://www.youtube.com/watch?v=X2rcBlT87UQ> .
Visto em 20/03/2019.
134 Ibidem, ibidem.
135 Entrevista de Jean-Michel Fickinger e Dany Leriche ao autor em Pontoise, França, 2016.
136 Ibidem.
137 Ibidem.
138 https://www.youtube.com/watch?v=xOD_OiZpbqc&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2rXjD2xKXCFrfqzG
ajwUE7_BsNgU8PYJ0IvA8GGlvoUfaG3l8eOOWxMDU, consultado em 17/03/2019.
139 LIGIÉRO, Zeca. Relato de Octaviano Silva Lopes in Malandro Divino: a vida e a lenda de Zé Pelintra,
personagem mítico da Lapa Carioca. Rio de Janeiro, Ed. Record, Nova Era, 2002, p.96
140 Letícia Sabatetella, em entrevista com o autor no vídeo Performance ameríndia: memoria e identidade.
Direção Zeca Ligiéro, Produção NEPAA, 2018.
141 Entrevista com o autor em 2016, aldeia Multiétnica, Goiás.
142 FICKINGER, Jean-Michel e LERICHE, Dany. A la croisée des chemins passeurs de cultures, https://www.
berville-editions.com/trav/leriche/dossierK.pdf
Referências bibliográficas
BARRETO, Renato Amado e OLIVEIRA, Ana Lúcia Machado “Makunaima e
Makunaima: dois tricksters”. In: Caderno de Letras, no. 16, 2016,
p. 4. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/
cadernodeletras/article/view/8518/6082
BARROSO, Oswald. A máscara e sua performance no Nordeste brasileiro.
Inédito.
CARLINI, Álvaro, Cachimbo e Maraca: O catimbó da Missão, 1993.
CASTRO, Eduardo Viveiros. Metafisicas canibais. Rio de Janeiro: Ubu
Editora, S/D
FICKINGER, Jean-Michel e LERICHE, Dany. A la croisée des chemins
passeurs de cultures, https://www. berville-editions.com/trav/leriche/
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LIGIÉRO, Zeca. Malandro Divino: a vida e a lenda de Zé Pelintra, perso-
nagem mítico da Lapa Carioca. Rio de Janeiro, Ed. Record, Nova Era, 2002.
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21/09/2019.
Filmes
Hotxuá, o Palhaço Sagrado, de Leticia Sabatella e Gringo Cardia, 2012.
Produzido por Pedra Corrida Produções e Letícia Sabatella
Performance ameríndia: memória e identidade”. Produção NEPAA, 2018.
Ritual meets Theatre. filme foi produzido pela Cooperativa Kurare e pela
Cochano Films para o Odin Teatret, 1976. disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=hqWHh-WitSU>. Acesso em 1 de abril
de 2015.
Sites
“Secret society of the Kôrêdugaw, the rite of wisdom”. In: Mali UNESCO: List
of Intangible Cultural Heritage in Need of Urgent Safeguarding, 2011 < https://
www.youtube.com/watch?v=X2rcBlT87Uq> , consultado em 17/03/2019.
https://www.youtube.com/watch?v=xOD_OiZpbqc&feature=youtu.
be&fbclid=IwAR2rXjD2xKXCFrfqzG ajwUE7_BsNgU8PYJ0IvA8GGlvoUf
aG3l8eOOWxMDU, consultado em 17/03/2019.
CD
CD Zé Pelintra, do Babalorixá José de Aluá, São Paulo.
143 TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2013. p. 27
144 SCHECHNER, Richard. Performance Theory. New York and London: Routledge, 1982.
Posfácio
| 289
menor, onde teríamos o ritual. No limite entre o desenvolvimento
do ritual e a sua própria prática, encontraríamos então um outro
teatro, que poderia ter características de folguedo ou brincadeira,
e, dentro deste círculo menor, teríamos ainda uma encenação com
elementos comuns, presentes principalmente na África, Américas
e Ásia, que estou conceituando como Teatro das Origens. Portanto,
ocupei-me de algumas performances/rituais, como estudos de caso,
no bojo dos quais aparecem um tipo de encenação característica que
inclui o dançar-cantar-batucar-contar. Nascidos dentro do contexto
do ritual, mas apresentando elementos do jogo cênico, disponibili-
zam tipos de representação de divindades e ancestre, para melhor
invocar as suas forças espirituais, incorporam estas forças e encenam
episódios marcantes das respectivas passagens pelo planeta, suas
lutas e conquistas junto às comunidades em épocas remotas, ou
ainda demonstrando o seu convívio com outras divindades durante
o seu percurso terrestre. Refutamos, porém, a ideia simplória de
comparar as divindades com personagens teatrais e seus dramas, os
dramas de um teatro nascido do texto teatral. Estamos atentos ao
fato de que os deuses “incorporados” não são “personagens”, mas
que dentro do contexto da representação eles são vestidos e mesmo
“desenhados” com um propósito de melhor representarem a força
ancestral que incorporam.
Nos primeiros anos de vida acadêmica voltada para as pesquisas
antropológicas, sempre que um orientando começava a pesquisar o
ritual afro e/ou ameríndio e procurava compará-lo com o teatro, eu
imediatamente sugeria abandonar este conceito por se tratar de algo
datado e referenciado no desenvolvimento de uma arte modelada na
Grécia e com toda uma descendência europeia. Para, desta forma, en-
corajá-lo a penetrar na essência do ritual sem se deixar contaminar por
ideias preconcebidas sobre representação, drama, ato e personagem,
que remetiam imediatamente a outro campo cognitivo, afastando-se
do objeto pesquisado. Recentemente, tenho procurado rever estes
limites restritivos, na medida em que passo agora a compreender
Posfácio
| 291
do compartilhamento de tradições orais, das histórias exemplares, e no
emprego de “comportamentos reiterados” na tessitura de identidades e
redesenho de culturas que insistem em permanecer vivas na contem-
poraneidade apesar de todas as opressões econômicas, sociais e muitas
vezes religiosas dos tempos totalitários em que vivemos.
A partir de Diana Taylor, poderíamos, em vez do termo “perfor-
mance”, usar palavras outras, ameríndias, para entender processos que
compreendem a arte, mas que avançam também em outras direções,
atraindo e absorvendo outros conteúdos e sentidos que, como temos
observados ao longo deste livro, pertencem ao Teatro das Origens,
sem, contudo, perder a sua essência:
Olin, que significa movimento em nauatle [...] é o motor por trás de
tudo o que acontece na vida, o movimento repetido do sol, das estrelas,
da terra e dos elementos. Olin, que também significa“hul” ou borracha,
era aplicado nas vítimas sacrificiais para facilitar a transição do reino
terrestre para o divino. [...] O termo capta simultaneamente a natureza
mais ampla e abrangente da performance como processo reiterativo e
de ajuda, bem como seu potencial para a especificidade histórica, para
a transição e a agência cultural e individual. Também poderíamos,
talvez, adotar areito, termo que designa música e dança. Areitos,
do arauaque aririn, era usado pelos conquistadores para descrever
um ato coletivo que envolvia canto, dança, celebração e culto, que
reivindicava legitimidade não só estética, mas também sociopolítica
e religiosa. O termo me atrai porque embaralha todas as noções
aristotélicas de gêneros, públicos e afins, desenvolvidos distintamente.
Ele reflete claramente a suposição de que as manifestações culturais
excedem a compartimentalização, seja ela por gênero (música-dança)
ou por participantes/atores, seja pelo efeito pretendido (religioso,
sociopolítico, estético) em que se baseia o pensamento cultural
ocidental. Ele também questiona nossas taxonomias, mesmo ao
apontar para novas possibilidades interpretativa.145.
Posfácio
| 293
Não quero me referir especificamente ao teatro dos povos origi-
nários, como pode parecer à primeira vista, tampouco tem ligação
direta com uma hipotética pré-história da origem humana. Nada de
evolucionismo, por favor. Mas o conceito se centraliza em determi-
nada cosmovisão, na qual o próprio grupo étnico, ou comunidade se
percebe como originário desse fundamento, desse princípio. Neste
sentido, poderíamos aplicar o termo, a outra tradição não euro-
cêntrica, desde que baseada no que se concebe como sua origem e
desenvolvida de acordo com estéticas e fabulações próprias. Neste
estudo, mais do que conclusões, pretendemos abrir uma discussão
sobre a eloquente presença do Teatro das Origens em comunidades
tradicionais em pleno século XXI, em detrimento ao pouco caso que
estudiosos do teatro têm dado a essas antigas tradições africanas e
ameríndias, já que na Ásia elas se encontram imbricadas no próprio
teatro tradicional local, como no caso de países como Coreia, China,
Japão, Indonésia e Índia, para citar apenas alguns que incorporaram
expressões autóctones nacionais, suas cosmovisões e, em muitos
casos, também seus rituais nas encenações.
Essas encenações, emergentes do ritual, e que se aproximam de
formas muito antigas de teatro, que remontam a períodos muito an-
teriores ao que conhecemos no Ocidente, passei a chamá-las, na falta
de outro nome, de “Teatro das Origens”, pois mesmo surgindo dentro
do ritual, passam da situação de culto devocional para a situação de
execução de um determinado roteiro de encenação, que em muitos
casos, mesmo aberta às modificações individuais e locais, passam
a fazer parte de uma determinada tradição cênica evidenciada em
dramas litúrgicos. Isto está presente em algumas performances cultu-
rais africanas, como as de Moçambique ou do Togo, em consonância
com as co-irmãs da diáspora classificadas como afro-brasileiras,
afro-latinas (em todos os países das diásporas africanas), e dispõem
de elementos comuns com as performances ameríndias das quais me
ocupo, principalmente, das desenvolvidas na Guatemala, pertencente
à grande tradição maia, mas também de algumas tradições indígenas
Posfácio
| 295
Este livro foi composto em Minion Pro 11/14,
impresso em offset 75gr pela Psi7, para
editora Garamond em julho de 2019.