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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

Dramaturgia em construção. Criada com atrizes e atores


da Turma 37 de Teatro SENAC SCIPIÃO a partir de jogos e improvisos

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

CENA 0 – ENTRADA
Como proposta em andamento: no chão está uma lona de circo, caracterizada como o Brasil, uma
releitura da bandeira ou mapa desenhado.
Público é recebido pelos artistas e pelas artistas do Grupo Charanga Pindorama, como ainda
acontece em alguns circos do Brasil. Artistas podem vender pipoca, brindes, comentar sobre as
atrações, circo teatro, etc.
Ao entrarem ouve-se música executada pela charanga e palco ainda vazio. Durante a entrada:
passagens rápidas de artistas, alguns ainda se aprontando, passando pelo palco picadeiro,
comentários rápidos que desafinam a charanga, etc. Situação fora do normal, estranha.
O número de artistas aumenta no palco à medida que o público entra. Inicia-se uma conversa
cotidiana, a charanga começa a descompassar a música, confusão no palco até que se nota certo
acordo.
CENA 1 – AVISO AO PÚBLICO OU A NOVA MORTE DE REPUBLIC

PRIMEIRO ATOR OU ATRIZ em tom cotidiano. Senhoras e Senhores! Respeitável público...


SEGUNDO ATOR OU ATRIZ – Vai logo, não é cena não.
PRIMEIRO ATOR OU ATRIZ QUE INICIOU O AVISO - à companhia – Sem personagem é
difícil, eu não consigo, me dá medo...
OUTRA ATRIZ OU ATOR – Senhoras e Senhores! Respeitável público! ...
PRIMEIRO ATOR OU ATRIZ – Isso aí eu já falei...
TERCEIRO ATOR OU ATRIZ – Quietos! Silêncio!
Todos obedecem literalmente. Até que...
TERCEIRO ATOR OU ATRIZ – Falem!
Todos no palco começam a falar ao mesmo tempo.
TERCEIRO ATOR OU ATROZ – NÃO!!!!! Olha o público!
Todos percebem o público e reinicia-se uma nova pequena discussão sobre quem falará ao público.
APRESENTADORA – Senhoras... todos completam “e Senhores. Respeitável público”. Coube a
mim a trágica tarefa de sair da ficção e enfrentar a realidade dos fatos que acabaram de suceder nesta
noite. Não trago boas notícias, distinto e seleto público, que conseguiram pegar a senha para entrar em
nosso humilde espaço e assistir ao nosso grande espetáculo da noite. Bem, é com imenso pesar que
anunciamos hoje que nossa matriarca fundadora Madame Republic, que por tempos a fio esteve à
frente de nossa Companhia Charanga Pindorama... se foi!
QUINTO ATOR – Se foi? Pra onde? Não morreu?
Todos olham recriminando.
APRESENTADORA – Infelizmente, Madame Republic está morta! Mas assim como Molière,
Cacilda Becker, e tantos outras pessoas, artistas que morreram de fome e sede neste picadeiro,
seguiremos a função e apresentaremos nossa peça em homenagem a ela, Madame Republic, que vítima
de um golpe terrível foi morta. Madame Republic entra e é colocada em destaque no picadeiro ao
som da música.

ATORES E ATRIZES CANTAM A CANÇÃO RETIRADA DE “VERÁS QUE TUDO É


MENTIRA” DE REINALDO MAIA

TODA VEZ QUE MORRE UM ARTISTA


UMA NOVA ESTRELA SE PÕE A BRILHAR
COMO HOMENAGEM, COMO RECUERDO
ONDE QUER QUE ESTEJAMOS A REPRESENTAR
TODA VEZ QUE MORRE UM ARTISTA
UMA NOVA ESTRELA SE PÕE A BRILHAR
ESTRELA GUIA, ILUMINAI-NOS

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

POR ONDE QUER QUE ESTEJAMOS A REPRESENTAR

Madame Republic morre com uma carta na mão.


APRESENTADORA – Morreu com uma carta na mão, impossível de ser retirada, assim como
Excalibur...
ATORES E ATRIZES – Ô artista! Apressa aí que o trem fecha às 0:00!
APRESENTADORA– Iniciaremos nossa função em homenagem a Madame Republic. Já assumindo
outra postura cênica. Que esta função velório seja ato de conversa que aconteça sem pressa de chegar,
pois é no caminhar que a vida acontece é no movimento que a obra nasce e assim como a estrela é
ponto final do dia, o teatro é a reticência da vida!

CENA 2 – APRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS


Cena em que vemos a apresentação dos personagens da Companhia Pindorama e da ATW.
A Charanga toca enquanto os artistas coreografam a apresentação:

APRESENTADORA – É chegada hora de apresentar a vocês os personagens deste picadeiro. De


nossa Companhia Pindorama! Começando por mim. A Apresentadora! Que não lembra do que
esquece e esquece o que lembra! Encarregada de manter o roteiro escrito... sei lá por quem...

MÁGICO – Eu sou o que parece ser, mas não é. Sou a fumaça, a neblina, a cortina entre você e a
realidade...sou o MÁGICO!

PALHAÇA DESGRAÇA – Eu sou o riso da dentadura. Eu sou o que “pouca é bobagem”.


Palhaça Desgraça de uns, que faz a felicidade de outros!

PADRE SEM IGREJA – Eu não tenho casa! Segundo o Evangelho de Jesus Cristo lido por homens,
eu fui expulso. Sou o Padre sem Igreja. Que hora que é a benção da morta? Tenho que celebrar um
casamento na Praça Roosevelt...

HOMEM BALA PERDIDA- Eu estou em todas a cidades, nas periferias... sempre com endereço
certo. Eu sou o Homem Bala Perdida.

DRAG QUEEN – Eu sou... (é interrompida)

ATIRADOR DE FACAS – com sotaque “portunhol” Jo soy El Atirador de Facas. Nas noites, nas
esquinas... Faca nelas!

DRAG QUEEN – Eu sou... é interrompida

DOMADOR DE FERAS - Eu sou a força do costume! O amor à família! A tradição encarnada! Sou
o Domador de Feras!

DRAG QUEEN – Eu sou... repara se alguém a interromperá. Percebe que não. Respira aliviada e
volta a falar – Eu sou... é interrompida.

CORO ATW – falam em coro, cantando e dançando Nós seremos a American Theatre World. Nós
entraremos aos poucos. Fiquem aí e aguardem! Agora é hora de sair! Saem coreograficamente. Uma
das atrizes volta cotidianamente chamando o foco e interrompendo a apresentação. “Que foi? Eu
Esqueci de pegar o figurino. Pronto! Saindo reclamando. Não pode errar não? Vamo gente! Continua
aí logo pra acabar rápido pra que ir pra casa depressa e dormir bem devagar. Volta a apresentação

A charanga, antes de ser apresentada, para o som. Todos olham para a charanga esperando a
apresentação dos componentes, mas estão distraídos.

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PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – sem notar que está sendo notada pergunta ao maestro.
Nossa! Por que tem tantas teclas se você só tem dez dedos?

PALHAÇA GRAÇA – repreendendo – Aff! Será que você não percebe o óbvio? Que é pra ser tocada
por mais de uma pessoa? Todos concordam menos o maestro que percebe o foco na discussão e
retoma a ação de apresentação.

CHARANGA PINDORAMA – num jogo em que integrante apresenta integrante “Com vocês ela,
que tenta desvendar os mistérios do passado para entender o presente e bagunçar o futuro. A Cigana
Madalena”; “Desconcertante, questionadora, causadora de embaraços a Pessoa Mais Curiosa do
Mundo”, “Agora, aquela que trabalha por obrigação abandonou sua parceira no altar do picadeiro a
Palhaça Graça” “Palhaça Desgraça esboça apresentação “e Desgraça...” Palhaça Graça retoma Nem
vem! Nem vem! Que eu não tô pra piada! “E ele, formado em música, mestre em música, doutor em
música...cansado de tocar em churrascaria o nosso Maestro” todos da charanga “Dando o tom do
espetáculo, nós somos a Charanga Pindorama!

MADAME REPUBLIC – E eu farei... percebendo na hora e com tom de reclamação/decepção. Pera


aí, gente! Eu farei a morta! Madame Republic? Mas ela fica parada sem fazer nada. Pequena confusão
“Depois reveza” “É teatro” “Deixa o ego lá fora” Pôxa! Minha família veio me ver...

PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – E agora?


MÚSICA – INÍCIO OU ACONTECE O TEMPO INTEIRO

E AGORA O SHOW VAI COMEÇAR


JÁ QUE VEIO VAI TER QUE AGUENTAR
É TEMPO PARA ANUNCIAR
SÓ DIZ QUEM TEM O QUE FALAR

ACONTECE NO PICADEIRO
TODOS ATUAM
O TEMPO INTEIRO
SEM SABER
SEM SABER
SEM SABER O SEU PAPEL

UM PARAÍSO DE 500 ANOS


UMA VELHA SENHORA
NESTE MOMENTO ESTÃO TODOS CHORANDO
MADAME REPUBLIC MORTA
NESTE ELDORADO PERDIDO E FALIDO
PRIMEIRA, SEGUNDA E NOVA
NESTE MOMENTO ESTÃO TODOS CHORANDO
MADAME REPUBLIC MORTA
MADAME REPUBLIC MORTA

CENA 3 – VELÓRIO OU CAUSA MORTIS AINDA DESCONHECIDA

PADRE SEM IGREJA – Aqui jaz, vítima de um golpe terrível, nossa matriarca, potencialmente boa,
justa, mas esquecida: ideias abandonadas, muitas vezes não praticadas. A charanga toca. O Padre diz
o texto como se estivesse num rito religioso, mas o texto é inspirado nos valores da república do
Brasil. Ele lê, em papeis que são distribuídos e dados aos outros atores e atrizes que rasgam ao longo
da cena e fazem uma chuva de papel. A luz pode ser alterada para mudar o clima. A charanga
acompanha a mudança.

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Representante da união de todos e todas, existência fundamentada na soberania; na cidadania; na


dignidade da pessoa humana. Madame Republic, escolhida por nós como nossa matriarca fundadora...
“Todo poder emana do povo”. Sábias palavras, infelizmente soltas ao vento de sua passagem. Seu
sonho ideal era construir uma sociedade justa, livre e solidária; garantir nosso desenvolvimento;
erradicar a pobreza e as desigualdades sociais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor e idade e quaisquer outras formas de discriminação. Nascida do acordo de ouro e
espada e nobre decadência, morre com uma carta na mão. Terminando. Olha, gente! Eu preciso sair,
mas antes vou deixar aqui meu santinho pra vocês... entrega a propaganda política. Sai.

VOLTA A MÚSICA

NESTE MOMENTO
ESTÃO TODOS CHORANDO
MADAME REPUBLIC MORTA
MADAME REPUBLIC MORTA

PRIMEIRA VISÃO CEGA


É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.

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Que é a vida? Uma ilusão,


uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.1

CENA 4 - INÍCIO DA FUNÇÃO OU QUEM É O RESPONSÁVEL?


Artistas da Companhia Pindorama retomam a ação do espetáculo.

ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC - Ô, pessoal! Será que dá pra revezar aqui? Não é fácil
ficar com esse braço erguido segurando essa carta aqui... tem que tá muito viva pra poder interpretar
morta! Alguém se prontifica? Depois de um tempo de silêncio.
CIGANA MADALENA – Eu vejo aqui que esse poderia ser o meu destino, se não fosse pela minha
função aqui na Charanga... maestro interrompe.
MAESTRO – Não por isso. Pode ir... sem problemas! Às demais integrantes da banda. Se alguém
quiser ir ajudar a segurar o braço, fique à vontade!
CIGANA MADALENA – Eu vejo que minha vida ficará um tanto parada agora! Monta-se como
Madame Republic.
ATRIZ QUE FAZIA MADAME REPUBLIC – Isso! Indicando a postura. Assim mesmo! Agora o
olhar... olhar impactante, um pouco menos, um pouco mais... menos... mais... metade disso... isso!
Não! Olha! Vamos lá! Você vai interpretar a Madame Republic, Republic é uma metáfora da
República Morta, dos valores corrompidos, sabe? Você tem que lembrar que a república foi instaurada
neste picadeiro num momento de decadência, de revolta. Foi um “cala boca social” instituído pelos
poderosos com frases bonitas, com ideias maravilhosas que nunca vingaram, mas isso tem que ficar
subentendido, entende? Não pode ser entregue de bandeja ao público, compreende? Aqui nesta peça
você interpretará um misto de metáfora e personagem... a Matriarca da Companhia Pindorama é
também a representação da morte desta ideia neste picadeiro Pindorama... entende? Então faz! Cigana
tenta. Isso! Mostra a carta!
CIGANA MADALENA - Cadê a carta? Procura pela carta.
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO - falando à palhaça graça. Então quer dizer que o
conteúdo desta carta só será revelado no final da peça?
PALHAÇA GRAÇA – É...
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – E porque você tá assim?
PALHAÇA GRAÇA – Porque falta muito!
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – Pra acabar a peça ou pra ler a carta?
ATIRADOR DE FACAS – Sai da frente que eu já tenho alvo!
HOMEM BALA PERDIDA – Me atira nela e fala que eu estava perdido!
Pequena confusão.
APRESENTADORA – Dá aqui essa carta! Ninguém saberá o que Madame Republic nos escreveu até
o fim desta função. Não percebem que esse é nosso “chamariz”? Nossa carta na manga?
ATRIZ QUE FAZIA MADAME REPUBLIC para Cigana Madalena – Isso! Segura a Carta. Assim
tá bom!
APRESENTADORA – Todos a postos! Música maestro! Começa a tocar e o espaço de
representação é invadido por representantes públicos.
GESTOR PÚBLICO – Com licença! Com licença!
APRESENTADORA – O que é isso!? Será que não dá pra parar de acontecer surpresas aqui? Indica
à Drag, ao Domador de Feras e a Cigana Madalena. Vocês vão se aprontar para o próximo número.
Cigana deixa o posto de Madame Republic que é retomado pela atriz anterior.
ATRIZ MADAME REPUBLIC – Ninguém se aprofunda em mais nada... reclamando e montando a
morta novamente.

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Calderon de La Barca

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APRESENTADORA – O espetáculo já começou! Vocês estão atrasados...por favor queiram se sentar


onde der...
GESTOR PÚBLICO – Desculpe, mas não viemos ver...
ATIRADOR DE FACAS – Não tem vaga! A gente não está contratando. Aliás, tá difícil manter o
corpo de artistas vivo.
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC – reclamando – Eu quem o diga!
GESTOR PÚBLICO – Eu sou o Gestor Público. Esse aqui é...
ASSESSOR DO GESTOR PÚBLICO – Assessor do Gestor Público. E esse aqui é...
ASSESSOR DO ASSESSOR DO GESTOR PÚBLICO – Assessor do assessor do Gestor Público e
esse aqui é... quem é você mesmo?
ATOR OU ATRIZ – Eu? Eu tava passando, vi vocês entrando e entrei junto.
APRESENTADORA - E podemos saber por qual motivo estão atrapalhando nossa função?
GESTOR PÚBLICO – Aqui é a Sede da Companhia Pindorama?
TODOS – Sim, sim!
GESTOR PÚBLICO – durante a fala do Gestor os assessores repetem trechos, concordam, etc. Pois
bem. A Sra. Republic está? Alguém aponta para a “morta”.
HOMEM BALA PERDIDA – Não fui eu, não! Eu tava no Rio quando aconteceu, nem vem!
GESTOR PÚBLICO – E quem é o responsável pelo espaço? A apresentadora se apresenta a frente
logo atrás está o MÁGICO. O gestor ignora a Apresentadora e passa a falar com o MÁGICO. Vocês
já estão aqui... desde... desde sempre, certo? Pois então. Este espaço está totalmente irregular.
APRESENTADORA – fala ao gestor, mas é ignorada - Não, não! A gente sempre habitou esse
espaço. Sempre estivemos em Pindorama... tá aqui as fotos, os registros. Tenta mostrar, mas o gestor
e assessores a ignoram.
MÁGICO – Não, não! A gente sempre habitou esse espaço. Agora os gestores ouvem e olham.
Sempre estivemos em Pindorama... tá aqui as fotos, os registros.
GESTOR PÚBLICO – ao primeiro assessor - Isso vale? Serve pra recordação histórica, né? Mas é
oficial?
ASSESSOR – Olhando assim... é oficial?
ASSESSOR DO ASSESSOR – Olhando assim... ao ator perdido. É oficial?
ATOR PERDIDO – Não. Eu tava só olhando... perguntando a um dos artistas. Nossa! É você
pequenininha aqui...
GESTOR PÚBLICO - Olha! A situação é complexa! Nós temos documentos aqui que comprovam a
dívida de vocês, a vista dá pra ver a falta de investimentos em infraestrutura, em energia, em cultura...
APRESENTADORA – Mas isso é um absurdo! A gente negociou a dívida. Aliás a gente contestou a
dívida... a gente tinha um acordo. Repete-se o jogo.
MÁGICO – Mas isso é um absurdo! A gente negociou a dívida. Alías a gente contestou a dívida... a
gente tinha um acordo.
GESTOR PÚBLICO – Nós somos apenas representantes da justiça. A análise foi feita. Usaram o
dinheiro das obras para compras de alimento, remédios, armas...
ATIRADOR DE FACAS – em tom ameaçador - Adereços cênicos!
HOMEM BALA PERDIDA – Investimento cultural!
APRESENTADORA - Mas vocês congelaram todas as verbas e convênios e tivemos que
redirecionar.
MÁGICO - Mas vocês congelaram todas as verbas e convênios e tivemos que redirecionar...
GESTOR PÚBLICO – ao assessor – Pode isso?
ASSESSOR – ao assessor do assessor – Pode isso?
ASSESSOR DO ASSESSOR ao ator perdido que está ao lado de Madame Republic. Isso é um
absurdo! Manter em cativeiro uma atriz tão talentosa fazendo esse papel!
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC- Ouçam a voz do povo. Volta à posição.
GESTOR PÚBLICO – Bom! O atual representante será notificado. Todos dão um passo atrás e à
frente fica a apresentadora que recebe a apresentação. Está tudo aí: vocês terão um prazo pra reverter
a situação, quitarem a dívida, darem andamento às obras paradas, retomarem os investimentos, etc. ou
terão que sair deste espaço e devolvê-lo à coisa pública, né? Ao assessor. Vamos?

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ASSESSOR – ao assessor do assessor – Vamos?


ASSESSOR DO ASSESSOR – ao ator perdido – Vamos?
ATOR PERDIDO – Vamos! Aos artistas. Olha, gente! Continuem, viu. Um dia vai dar certo. Esse
espaço Pindorama é o lugar do futuro. Saindo. Nossa eu acho que eu já ouvi isso...

PEQUENO CORTE ANTES DA SAÍDA COMPLETA DOS GESTORES

GESTOR AO TELEFONE – vemos em cena um triunvirato internacional, representantes da ATW


(American Theatre World). O gestor fala ao telefone, os Representantes estão estáticos. Sim! Yes!
Tudo Certo! All Right! Até breve! See you! Obrigado! Fuck you! Desiludido. Desligou. Saem.

CENA 04 A

APRESENTADORA – fala à toda Companhia Pindorama. Minhas parceiras e meus parceiros...


vocês sabem que com a crise, com a debilidade de nossa Republic, eu fiz o que foi possível e com o
apoio de vocês pudemos manter nosso espaço, nossa terra mãe, nossa arte em pé.
MÁGICO – Eu gostaria de falar. É notável a tentativa de nossa apresentadora e representante de
Repulic em salvar a todos nós. Mas pela família, por todos nós, pelo nosso povo e por nossa vida eu
como vice responsável por Pindorama, me ponho a disposição para assumir a responsabilidade por
este espaço a partir de agora!
APRESENTADORA – Mas pera aí... confusão e falatório volta para a cena a Cigana Madalena.
CIGANA – O que acontece? Vejo que estão preocupados!
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – O que pode acontecer com a gente?
MÁGICO – Se essa situação não for revertida, podemos todos acabar como uma babilônia.
MAESTRO – Pessoal! Será que dá pra parar de improvisar e me falar em que cena a gente tá. Tá
difícil acompanhar aqui.
MÁGICO – Viram! Ninguém entende porque chegamos a este ponto!
PALHAÇA DESGRAÇA – Mas a gente não tinha ponto nenhum pra chegar. A gente sempre esteve
aqui.
PALHAÇA GRAÇA – à palhaça Desgraça – Ele quer dizer, ele quer falar sobre os passos e escolhas
tomadas que fizeram a gente chegar nessa pindaíba e ameaça de perder tudo. Entendeu?
PALHAÇA DESGRAÇA – Entendeu! Mas não compreendeu!?
MÁGICO – Eu proponho um plano de reformas para sairmos desta. Dir-se-ia que é hora de mudança.
Quem concorda? Todos concordam. Pois então a partir de agora eu serei o novo responsável pela
Companhia Pindorama e montarei um grupo de trabalho para sairmos dessa!
PALHAÇA GRAÇA – Ei, pera aí! Você perguntou se concordávamos em mudar? Mágico dá um
soco, ou um golpe qualquer na Palhaça que caiu desacordada. “O que foi isso?”. Vocês certamente
“perguntariam-me-lhe”. Primeiramente! Recesso de alguns minutos! Todos saem. Surgem os
representantes da ATW.

CENA 5 - ENQUANTO ISSO NA ATW ENTERTAINMENTS 1

Em cena empresários e ou representantes da ATW conversam sobre Pindorama

REPRESENTANTE ATW 1 – Vejam só o e-mail que recebemos de terras Pindorama dando conta
do local...
REPRESENTANTE ATW 2 – E desta vez as notícias foram escritas pelos habitantes de lá...
REPRESENTANTE ATW 3 – A ideia de desestabilizar o espaço Pindorama funcionou
perfeitamente. Já temos total apoio do governo atual e campanhas estão sendo montadas para nossa
chegada e assalto...
OUTROS DOIS – corrigindo – Apoio! Apoio!
REPRESENTANTE ATW 1 - Aqui está. Lê o e-mail. Referência a Carta de Pero Vaz de Caminha.
“Pindorama, espaço privilegiado. Espaço amplo que vai da ponta sul à norte do quarteirão. Ainda não

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foi confirmada a existência de metais preciosos no solo, mas nota-se nascentes d´água, conhecida
como aquífero Guarani. O ouro branco. Os habitantes artistas são inocentes, não falamos a língua
deles, mas eles se esforçam em falar a nossa. Andam nus pelas coxias mostrando suas vergonhas.
Elegeram um novo chefe e as negociações para a compra de Pindorama estão a todo o vapor!”
REPRESENTANTES ATW – Iniciar reformas!

CENA 6 – TIRO AO ALVO OU QUEM ATIRA TAMBÉM MORRE

Cena coreografada em que vemos ser montada uma alegoria de figuras representativas de direitos e
lutas em forma de “bonecos alvo”. A cena é inspirada no jogo “Tiro ao Alvo”. Em cena vemos os
donos ou donas do brinquedo e das armas, um ou mais trabalhadores e trabalhadoras que pagam
para atirar em seus próprios direitos e ou lutas, representados por bonecos “movidos a corda” que
carregam espelhos na altura do rosto, refletindo o rosto do público. A cena evolui até que todos os
alvos são acertados e as trabalhadoras e trabalhadores que antes atiravam, viram alvos de outras
trabalhadoras e trabalhadores pagantes.

SEGUNDA VISÃO CEGA

Eu queria escrever a palavra bra...


A palavra bra$%#^
Eu queria escrever, a palavra, escrever
Escrever a palavra bra*@#$
Eu queria escrever a palavra BRASIL!

Aquela em nome da qual tanto homem vira bicho


E tanto bandido, como a gente viu, general
Eu queria escrever a palavra Brasil!
Aquela onde a borracha vira bala
E perversidade, qualidade de bem
Eu queria escrever a palavra Brasil

Mas a caneta, num ato de legítima revolta


Como quem cansa de escrever sempre a mesma trajetória
Me disse: para. Para e volta.
Volta pro começo da frase, pro começo do livro, pro começo da história, volta pra Cabral, as luzes e
caravelas chegando...
E se pergunta: Da onde veio esse nome?

Brasil- palavra mercadoria


Brasil. Pau - Brasil.
O pau branco hegemônico
Enfiado à torto e a direito
No suposto direito de violar mulheres
O pau-a-pique, o pau-de-arara, o pau-de-sebo, o pau-de-selfie, o pau-de-fita, o pau patriarcal.
Face e orgulho nacional.

A colonização começou pelo útero


Mata as virgens
Virgens mortas
A colonização foi um estupro!
Deodoro metendo a espada nas pernas de uma princesa Babel
Pedro ejaculando-se Dom precoce
Costa e Silva gemendo cinco vezes

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

Aí cinco. Getúlio, Geisel,


Juscelino, Temer, Sarney
A ordem parte da cabeça
Do membro ereto
De quem é a favor da redução
Mas vê vida num feto
É o pau-Brasil
Multiplicado 33 vezes
E enfiado numa só garota.

Eu olho pra caneta


E eu tenho certeza
Não escreverei mais o nome deste país
Enquanto estupro for prática cotidiana
E o padrão de mulher, a mãe gentil.2

CENA 07 – ENQUANTO ISSO NA ATW 2

Em cena vemos atores e atrizes contratados se aquecendo, fazendo maquiagem. Tudo coreografado.
Alguns entoam com sotaque “ O Brasil não conhece o Brasil”. Conversam enquanto se maquiam.

1 – Estou ansiosíssimo para conhecer este espaço Pindorama, esse país!


2 – Tomaram as vacinas?
3 – Vou tomar lá...
4 – Não! Tome aqui que é garantido. Lá é o segundo estoque...entendeu?
5 – Como é que vocês ficaram sabendo desta turnê?
6 – Isso é segredo!
7 – É sério que lá eles se alimentam daquilo que plantam?
8 – Eles plantam?
9 – E comem?
10 – E bebem da fonte!
Todos – ECA

1 – Por que será que tudo foi vendido?


2 – Ah! Não sei, mas parece que lá é fonte pro mundo todo e é sacanagem eles terem tudo e o resto do
mundo não ter nada, né?
3 – Mas não foi vendido justamente pra uma parte do mundo, a ATW (American Theatre World)?
4 – Mas é American Theatre “World”?
Todos – AHHHHH!

5 – Vocês decoraram a letra?


6 – Eles falam nossa língua lá?
7 – Ouvi dizer que eles têm a nossa língua na escola desde criança.
8 – Então é bom a gente decorar, né?
9 – Mas vocês acham certo?
10 – Certo o quê?
9 – Eles falarem a nossa língua?
TODOS – “O Brasil, não conhece o Brasil”

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LUIZA ROMÃO

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

ASSISTENTE – Todos de pé para entrada de nossa diretora!


Todos se levantam para a entrada da diretora, todos e todas estão em silêncio.
DIRETORA – Silêncio! Espero que tenham ensaiado conforme as orientações. Espero que saibam
tudo sobre nossa nova missão. Muito bem! Antes de vocês mostrarem o que ensaiaram, vamos
aprender algumas palavras da língua nativa deles. Repitam comigo (todos repetem as palavras):
hambúrguer, show, insight, job, network, upgrade, down, vibe, bad vibe, like, brother, dog, hot dog,
mouse, Mickey Mouse, delivery, sex, sex shop, shopping, shopping center, hotel, self, self service,
boy, office boy, moto boy, crush, touch, blackout, milk-shake, desingn, marketing, busines, drive,
drive thru and drive in.

1 – Nossa! É impressionante a semelhança dos idiomas!


Todos – Yessss!

DIRETORA – Agora mostrem um pouco do que produziram?

Mostram um pouco do ensaio. Coreografia ainda em construção. Mostram um trecho com base na
paródia de “Fame”.

REMEMBER MY NAME
HEY!
VAMOS BRILHAR FOREVER
FAZER TODO MUNDO APLAUDIR
HEY!
VAMOS COM MALAS E TUDO
TRAZENDO O AMERICAN DREAMS
HEY!
PIRUETAS, FUMAÇAS E PLUMAS
VERDE, AMARELA E ANIL
HEY!
NÓS SOMOS A ATW
VAMOS CONQUISTAR O BRASIL

DIRETORA – Está péssimo! Ah! Mas pra onde é, talvez sirva! Arrumem as malas. Partiremos em
breve.

Todos saem.

CENA 7 – SONHO OU PESADELO OU O GOLPE DE MÁGICO – PARTE I

ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC – voltando ao posto de morta fala ao público – Olha,
gente! Eu acho muito chato quando vou assistir uma peça e os artistas ficam explicando a história
sabe. Não é chato? Já imaginou... se de repente eu chegasse aqui e começasse, “olha a gente tá fazendo
uma peça que nunca acontece, que começa bem”, explicando que vai fazer uma homenagem a
Madame Republic que morreu... aí já pensou se eu tentasse explicar que aqui não tem regra de tempo,
que a gente faz o público assistir como se fosse num dia de espetáculo, mas a história acontece em
vários dias, tem esse negócio da carta que vai ser aberta... dessa empresa ATW que tá tentando
comprar o espaço... Pra falar a verdade eu só sei que ainda faço a morta e a carta ainda tá aqui...

Artistas da Companhia PINDORAMA entram numa grande confusão para preparação da próxima
cena. Uma espécie de número cômico de arrumação que uma coisa depende da outra ou inspirada no
ditado popular “quando o cobertor é curto, cobre-se a orelha e descobrem-se os pés”.

MAESTRO – O som parou de funcionar!

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – Parou por quê?


PALHAÇA GRAÇA – Parou porque tá desligado. Liga o som! A luz cai.
HOMEM BALA PERDIDA – no escuro. Caiu a luz! Cuidado comigo que eu não tô vendo ninguém.
Ih! Matei alguma coisa.
VOZ – Fui eu!
HOMEM BALA PERDIDA – Eu quem? Voz não responde. Desculpa aí, mas acho que foi alguém
do público, era anônimo. Beleza!
ATIRADOR DE FACAS – liguei a luz!
CIGANA MADALENA – Desligou o som!
Aqui pode-se fazer um jogo de luz e som.
PALHAÇA GRAÇA – Liga a luz e o som ao mesmo tempo!
TODOS- Aêeee!!!!!
ATIRADOR DE FACAS – O número é assim. A gente pega alguém do público e coloca aqui. faz
isso com a palhaça desgraça. Aí eu pego minhas facas... descobre. Cadê minhas facas?
HOMEM BALA PERDIDA – Faca perdida é um problema, hein!
MÁGICO – Devem estar sendo utilizadas para o preparo do jantar?
ATIRADOR DE FACAS – Que jantar?
MÁGICO – Jantar de recepção de nossos salvadores!

Entra a comitiva ATW composta pelo Triunvirato da cena V e três tradutores/tradutoras que fazem
tradução simultânea. Abaixo o texto falado em português pelas tradutoras e tradutores e que será dito
em língua estrangeira pelos representantes da ATW.

ATW 1, 2 E 3 – Hello! Um outro músico assume o teclado e toca para a entrada da comitiva ATW.

MÁGICO a todos. Comportem-se! Graça, Desgraça façam como ensaiamos!


GRAÇA - Vai lá e dê seus cumprimentos!
DESGRAÇA – 1,60 de pura beleza, cintura de 60cm, sapato...
GRAÇA – Não! Fale palavras doces...
DESGRAÇA – Chiclete, bala, pirulito, algodão doce...
GRAÇA – Palavras que vem de dentro!
DESGRAÇA – Arroto, peido, catarro!
GRAÇA – Não. Faz o seguinte! Tudo que eu falar você repete.
DESGRAÇA – Tudo o que você falar eu repito.
GRAÇA – Vai lá! Mais uma vez Desgraça vai em direção à comitiva ATW. Boa noite!
DESGRAÇA – Boa noite!
GRAÇA – Que felicidade recebê-los.
DESGRAÇA – ...que fertilidade tem seus pelos
GRAÇA – Não!
DESGRAÇA – NÃO!
GRAÇA – Não é isso!
DESGRAÇA – Não é isso!
GRAÇA – Não é isso, idiota!
DESGRAÇA sempre para alguém da ATW. Não é isso, idiota!
GRAÇA – Idiota é você!
DESGRAÇA – Idiota é você!
GRAÇA – Não! É você! Motherfuck!
DESGRAÇA – Não. É você Motherfuck!
MÁGICO – Sejam bem-vindos a nossa humilde sede Pindorama.
ATW – É realmente incrível esse lugar. Perfeito para os nossos objetivos!
ATW2 – Trouxemos alguns presentes!
ATW 3 – Nada demais! Apenas lembranças. Dão espelhos.
TODOS – Espelhos?

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

ATW – Ora vejam! Ainda não conhecem. Espelhos interativos. Touch!


TODOS – Eita porra!
ATW – Queremos que nos tratem como colegas. Afinal, vivemos da mesma função. Não?
ATW 2 – Nós pensamos muito e soubemos do caso de vocês.
ATW 3 – É tão triste saber que uma companhia tão antiga como a vossa, passa por necessidades tão
básicas.
IRMÃS SIAMESAS 1 – Não, a gente planta o que come. Tem uma horta aí no fundo!
ATW – Ô! Céus! Que incrível! Há mais do que estamos vendo.
IRMÃS SIAMESAS 2 – Muito mais, tem a horta, andando um pouco mais tem o chiqueiro, o
galinheiro, mais um pouquinho a nascente d´água.
ATW 2 – Ó! Deus! Um paraíso! Um Eldorado!
TODOS ATW – Viemos aqui porque queremos fazer uma oferta! Queremos adquirir Pindorama!
Maestro corre para o teclado para fazer um som de suspense.
ATW 3 – Queremos comprar Pindorama! Confusão. Artistas de Pindorama discutem, protestam!
ATW 2 – Por US$5 milhões! Silêncio absoluto. Artistas se engalfinham.
MÁGICO – Silêncio! À ATW. Vamos entrar e conversar. Em Pindorama as coisas grandes e
importantes são combinadas em pequenos jantares. Todos esboçam a saída e são repreendidos pelo
Mágico. Fui eleito como representante.
DESGRAÇA – Eleito nada! Você foi... leva um tapa do mágico que sai com a comitiva ATW.
TODOS ATW – Gostei do golpe! Incrível! Maravilhoso!

CENA 8 – O DOMADOR DE FERAS

APRESENTADORA – Respeitável público. Continuando nossa homenagem à Madame Republic...


(olha para onde deveria estar Madame Republic e a atriz está falando ao telefone)

ATRIZ – fala pelo Tablet Espelho – Não sei! Não tô entendendo mais nada. Acho que não tem fim,
não! Chegaram uns gringos aqui! Que português? Americanos! Americanos! Eles querem comprar
tudo aqui... 5 milhões! Não sei! Mas pelo menos agora tem conflito, né? Tava ficando chato, já...deixa
eu desligar que eu preciso morrer! Não! Interpretar a Republica Morta, Republic, desculpe... tchau!
APRESENTADORA – Acabou?
ATRIZ QUE FAZ A MADAME REPUBLIC – Acabou? Posso abrir a carta?
APRESENTADORA – Não! Vá para seu posto! Senhoras e Senhores! Agora um número espetacular
que acontece não só em Pindorama, mas em muitas partes do mundo. Senhoras e Senhores, com
Vocês o Domador de Feras!

Cena inspirada no número “Domador de leões” Na cena vemos o domador tentando domar uma
mulher e depois a Drag Queen. Para isso, ele utiliza de cantadas machistas, tentativas de abuso,
frases senso comum, radinho com vozes de Bolsonaro e outras frases reconhecidamente machistas,
palavras religiosas usadas com fins escusos, etc. No ápice da cena o Domador é domado por cantigas
de ninar que embalam primeiro o domador e depois outros homens/atores. Exemplo de cantigas:

O CRAVO BRIGOU COM A ROSA


DEBAIXO DE UMA SACADA
O CRAVO FICOU FERIDO
E A ROSA DESPEDAÇADA

SAMBA LELÊ TÁ DOENTE


TÁ COM A CABEÇA QUEBRADA
SAMBA LELÊ PRECISAVA
É DE UMAS BOAS PALMADAS

ARROZ COM LECHE

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

ME QUIERO CASAR
COM UMA SEÑORITA
DE PORTUGAL
QUE SEPA COSER
QUE SEPA BORDAR
QUE SEPA ABRIR LA PUERTA
PARA IR A JUGAR
CON ESTA SÍ
CON ESTA NO
CON ESTA SEÑORITA
ME CASO YO

CENA 9 - SONHO OU PESADELO OU O GOLPE DE MÁGICO – PARTE II

Cena onde vemos o mágico e talvez outros artistas de Pindorama voltando da conversa/jantar.

ATW – Foi um prazer negociar com vocês!


ATW2 – Realmente! Vocês são muito cordiais!
ATW3- Sr. Mágico! Obrigado por nos servir!
MÁGICO – Eu que agradeço!

TODOS ATW – Em Pindorama de tudo tem e tudo... dão!

CENA 10 – A SEPARAÇÃO DAS IRMÃS SIAMESAS COXINHA E MORTADELA

Toda a companhia está reunida para discussão sobre as negociações com a ATW.

MÁGICO – O que é que estão olhando?


PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – Eu também queria saber por que ainda estamos olhando
pra você?
IRMÃS SIAMESA COXINHA – Ei, calma! O mágico está apenas distraindo a turma pra ganhar
tempo...
IRMÃS SIAMESA MORTADELA – Claro, entregando tudo o que é nosso!
ATIRADOR DE FACAS – Tudo? Cadê minhas facas? Cadê minhas facas? Cadê?
CIGANA MADALENA – ao atirador. Preciso te revelar algo: você nunca teve facas!
ATIRADOR DE FACAS – Mas eu sou um atirador de facas!
CIGANA MADALENA – Atirador de facas, sem facas!
PALHAÇA GRAÇA – Fica assim, não! Tem muita gente assim que é uma coisa sem ter a coisa.
MAESTRO – Banda sem músicos...
PALHAÇA DESGRAÇA – Trabalhador sem emprego!
APRESENTADORA – Até que enfim você falou algo sério!
PALHAÇA DESGRAÇA – Por tudo que é mais engraçado! Essa doença nacional tá pegando em
mim... eu tô ficando sem graça...
PALHAÇA GRAÇA – Não, não... você só tá percebendo isso agora.
HOMEM BALA PERDIDA – Estamos perdidos...
MÁGICO – Prezados e prezadas habitantes de Pindorama! Vocês não imaginam como é difícil liderar
uma nação “teatreira” em ruinas... Mas digo a vocês que nunca mais precisarão vender pipoca na fila
de entrada! Nunca mais terão que plantar, colher e comer! Nunca mais terão que sacrificar suas
próprias vidas pela arte! Por Pindorama! Porque Pindorama foi descoberta a tempo! Nossos amigos
internacionais satelitizaram nosso espaço e tornamos alvo do progresso! Nossos custos sempre foram
altíssimos: auxilio artista idoso, moradia, gastos com infraestrutura, tudo isso e muito mais saindo de
nosso trabalho e nosso bolso. Pois agora eu tenho a honra de informar, que em breve, Pindorama será
demolido e aqui será inaugurado o mais novo complexo comercial do mundo: BRAZIL SPACE

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

EMPÓRIO CULTURAL! Um grande shopping center e nele um, um não, “O” teatro American
Theatre World... equipado com tudo que há de mais moderno, mais novo... movido com recursos
naturais que estão debaixo de nossos pés, água, petróleo, ouro e tudo mais... é perfeito. Nós que não
víamos! Todos se empolgam. Aqui em minhas mãos está o contrato! 5 milhões!
TODOS – ÊÊÊ!
APRESENTADORA – Porém...
MÁGICO – Porém, esse dinheiro já foi depositado nas contas dos poderes públicos para quitação de
dívida com a própria ATW.
APRESENTADORA – Ou seja...
MÁGICO – Estamos fudidos! Pequeno silêncio, todos se olham.
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – Não entendi...
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC – Assim não dá... desse jeito daqui a pouco a gente vai
criar um personagem pra ficar explicando pro público as nossas histórias... será que você não percebeu
ainda que no início da peça vieram os representantes do poder público cobrar de nós uma dívida
impagável? E que depois apareceu uma empresa cultural internacional querendo comprar o espaço
como salvadora da pátria... e que agora com o dinheiro da venda do espaço, nós vamos pagar o público
que vai jogar o dinheiro na privada, quer dizer no privado?
TODOS – Ahhhhh!
PESSOA MAIS CURIOSA DO MUNDO – Eu só não entendi... enraivecida. Por que a gente fez
esse acordo tão legal?!
MÁGICO – Foi um golpe!
COXINHA – Pera lá, gente! Pergunta que eu faço: todo mundo aqui se acha prejudicado?
MORTADELA – Claro!
COXINHA – Quantos de vocês aqui algum dia tiveram a curiosidade em saber e se inteirar dos
recursos existentes nessas terras? Quantos de vocês se preocuparam em preservar e investir neste
espaço?
Inicia-se um jogo em que os integrantes hora estão do lado de uma cabeça e hora da outra.
MORTADELA – Companheira, eu preciso discordar: todo mundo aqui sempre trabalhou por esse
lugar e a gente nunca quis e nunca pensou em ter mais do que precisava.
COXINHA – Pensamento pequeno! Não via o futuro. Mana, esse lugar tá velho! O mundo mudou e
pra melhor!
MORTADELA - Pra quem?
COXINHA – Pra todo mundo que não se fecha para o novo!
MORTADELA – O novo é só uma face do que é velho!
COXINHA – Vai começar a citação...
MORTADELA – A gente nasceu e cresceu aqui... por aqui, por este picadeiro passaram grandes
artistas... Pindorama sempre foi um celeiro cultural...
COXINHA – Celeiro de burros que nunca souberam se auto promover, se auto sustentar... agora o
mundo tem a oportunidade de avançar e por causa de meia dúzia de descontentes como você a gente
vai impedir?
MORTADELA – Você é uma capitalista! Tudo isso é ilusão! Esse dinheiro internacional é o câncer
do mundo... esses imperialistas de merda que querem roubar nossa cultura, querem roubar a nossa
casa...
COXINHA – Mas eles estão pagando... silêncio. Tá vendo? De quem é a culpa?

TERCEIRA VISÃO CEGA

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não deveria...


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e não ter outra vista que não as janelas ao
redor. E porque não tem outra vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha pra
fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a
amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo
porque está atrasado. A ler o Jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer
sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus
porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra aceita os mortos e que
haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E
não aceitando as negociações de paz aceita ler todo dia, de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as
pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios, a ligar a televisão
e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado,
lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar por ganhar o dinheiro
com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as
coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais
dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na
luz natural. Às bactérias da água potável, à contaminação da água do mar, à lenta morte dos rios. Se
acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galos na madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não
colher fruta do pé, a não ter sequer uma planta. 3
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua
o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim
de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre
sono atrasado.
A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas,
sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para
poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto acostumar, se perde de si mesma.

SEGUNDA OPÇÃO PARA TERCEIRA VISÃO CEGA

Porque o tempo antigo acabou e agora é um tempo novo [...] as civilizações são estreitas e as cabeças
também.
Mas agora vejam o que se diz: se as coisas são assim, assim não vão ficar.
Tudo se move, meu amigo (...) e surgiu um grande gosto pela pesquisa da causa de todas as coisas (...)
Pois, onde a fé teve mil anos de assento, assentou-se, agora, a dúvida. Todo mundo diz: é, está nos
livros, mas agora nós queremos ver com os próprios olhos. 4

CENA 11 – O GOLPE FINAL OU EXPULSÃO DA COMPANHIA PINDORAMA DE


PINDORAMA

Parte a – início das obras: Entram em cena funcionários e funcionárias que arrumam o espaço,
limpam, organizam com a função de preparar tudo para a inauguração do “Brazil Space Empório
Cultural” enquanto arrumam tudo conversam. Deixam diversas cadeiras no espaço.

1 – É aqui que vão demolir?

3
MARINA COLASSANTI
4
BERTOLT BRECHT - A VIDA DE GALILEU

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

2 – Parece que é.
3 – Se vão demolir, pra quê arrumar?
4 – Eu não gosto de fazer nada com espaço bagunçado... é bom arrumar.
5 – Mas aqui vai deixar de ser Pindorama e vai ser Brazil!
6 – Brazil Space!
7 – Vem cá! Vocês não ficam assim...cheio de orgulho em saber que tão fazendo algo pela nação...
8 – Eu tô fazendo pelo dinheiro.
1 – Eu não! Eu faço por amor...e pelo dinheiro
2 – Parece que vai ter um show de inauguração antes da explosão.
3 – É pra chamar atenção!
4 – Põe a dinamite aqui?
5 – Isso! E é tudo artista estrangeiro. Vem aqui apresenta e vai embora...
6 - Ô! Você acha que esses artistas estrangeiros têm tempo pra perder? Tem não! É tudo esperto! Time
is Money!
7 – Passa o fio aqui! Alguém já tinha entrado aqui antes?
8 – Eu não. Nem a minha família. Aqui é tudo maconheiro!
5 – Eu já! Eu gostei!
6 – Gostou? Gostou do que?
5 – Do que eu vi!
3 – Gostou nada! Você nem deve ter entendido...
4 – Olha só esses artistas vendo as fotos
2 – Apontando pra um deles. Esse é bom... o nome dele é... não se lembra que fez....
Os outros: “isso”, “isso”
1 – Põe o detonador ali! Embaixo dessa estátua!
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC – Estátua não! Estou interpretando Republic Morta e
espero logo que chegue ao fim antes da explosão. Volta à posição.
7 – Que tecnologia... olha tem uma carta. Vai em direção pra pega-la.
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC – Só no final da peça!
3 – Deve ser brinde.
TODOS – é... é brinde sim.
8 – Vamo ficar pra ver?
6 – Ô! A gente tá trabalhando, não tem tempo pra perder com isso não... é por isso que eu digo: “um
povo sem cultura é um povo sem nenhum caráter”.
3 – Diz aonde que eu nunca ouvi você dizer isso...
4 – Eu também não...
6 – É um papelzinho que eu achei ali e tava escrito isso, eu achei bonito e resolvi falar...
2 – Tudo pronto?
1 – Tá quase...
3 – Vamo tirar uma foto pra fazer o antes e depois...
4 – Aperta o botão! Alguém vai apertar o botão do detonador.
TODOS – Não!!!
7 – Tá doido? A explosão é a última coisa.
ATRIZ QUE FAZ MADAME REPUBLIC - Agora eu tô perdida! A carta não era a última coisa?
Perdeu o efeito. Explosão é muito mais chamativo... esses estrangeiros entendem de espetáculo, viu!

Parte b – vemos cadeiras espalhadas pelo espaço ou bancos atores e atrizes entram embalando bebês
imaginários.
ATIRADOR DE FACAS – Senhoras e senhores! Apresentaremos agora um número pouco
comentado, pouco visto, mas de fortes emoções. O TRUMPolim!

Atores e atrizes sobem nas cadeiras embalando seus bebês que aos poucos são retirados. Sugere-se
que cada bebê seja representado por um par de sapatos infantis que aos poucos serão jogados no
chão. A cena toda é mostrada enquanto se canta a música:

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

MÚSICA DUERME NEGRITO – VICTOR JARA

DUERME, DUERME NEGRITO


QUE TU MAMA ESTA EN EL CAMPO
NEGRITO
DUERME, DUERME NEGRITO
QUE TU MAMA ESTA EN EL CAMPO
NEGRITO
TE VA A TRAER CODORNICES PARA TI
TE VA A TRAER MUCHAS COSAS PARA TI
TE VA A TRAER CARNE DE CERDO PARA TI
TE VA A TRAER MUCHAS COSAS PARA TI
Y SI NEGRO NO SE DUERME
VIENE DIABLO BLANCO
Y SALE COMEN LA PATITA
YAKAPUMBA YAKAPUMBA
APUMBA YAKAPUMBA YAKAPUMBA YAKAPUMBA
DUERME, DUERME NEGRITO
QUE TU MAMA ESTA EN EL CAMPO
NEGRITO
DUERME DUERME NEGRITO
QUE TU MAMA ESTA EN EL CAMPO
NEGRITO
TRABAJANDO
TRABAJANDO DURAMENTE
TRABAJANDO, SI
TRABAJANDO Y NO LE PAGAN
TRABAJANDO, SI
TRABAJANDO Y VA COSIENDO
TRABAJANDO, SI
TRABAJANDO Y…

CENA 12 – EXPEDIÇÃO ATW OU TERRA À VISTA

Contratadas e contratados pela ATW entram em cena e utilizam as mesmas cadeiras da cena anterior
para fazer a cena. É possível que os participantes da cena anterior permaneçam caídos no chão. A
Companhia ATW veste figurino militar e apresenta sua coreografia completa. Todos sentados em
duplas, dispostos como no interior de um avião. Reflexivos, sonhadores, cantam seguindo a
coreografia com as mãos:

A música é uma paródia do jingle da Varig dos anos 90

550 MILHÕES (2X)


VAMOS CHEGAR, VAMOS FATURA
550 MILHÕES
550 BILHÕES (2X)
VAMOS CHEGAR, VAMOS FATURAR
550 BILHÕES
550 TRILHÕES (2X)
VAMOS CHEGAR, VAMOS FATURAR
550 TRILHÕES

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

CAPITAIN – STOP! Ladies and gentlemen! Se acomodem em seus assentos, apertem os cintos e
preparem-se, pois já estamos pousando em terras pindoramas. Remember my name!
TODOS – Hey!
Música – paródia da canção Remember My Name – Musical Fame. Todos se levantam, cantam e
dançam e ao fim da música formam uma pose.

VAMOS BRILHAR FOREVER


FAZER TODO MUNDO APLAUDIR
HEY!
VAMOS COM MALAS E TUDO
TRAZENDO O AMERICAN DREAMS
HEY!
PIRUETAS, FUMAÇAS E PLUMAS
VERDE, AMARELA E ANIL
HEY!
NÓS SOMOS A ATW
VAMOS CONQUISTAR O BRAZIL

Aqui se inicia o fim. Pode ser realizado com aviso ao público de dois finais. Um fora: Companhia
Pindorama e outro dentro: inauguração BRAZIL SPACE. A escrita está em sequência cênica. Mas
durante a encenação pode ser alterada.
Os artistas da charanga arrumam suas coisas. Os artistas ATW estão em pose com trajes militares.
Aos poucos vão desmontando vendo o que acontece.
Forma-se uma espécie de carroça com tudo que antes tinha no Espaço Pindorama.

APRESENTADORA – É chegada a hora de ler a carta!


Nesta fase a cada ensaio serão trazidas cartas para serem lidas. Após a leitura da carta a Companhia
Charanga sai do teatro.

CENA 13 – GRAN FINALE

DIRETORA CAPITÃ – Vamos! Vocês têm um contrato! Cantem até que explodam!

TUDO VAI MELHORAR


QUANDO A CHARANGA EXPLODIR
O PALCO VAI RESPLANDECER
E A EMOÇÃO VAI FAZER O POVO ENLOUQUECER
DE QUALQUER DIREÇÃO
QUE TODOS OLHEM PRA NÓS
SORRIR, VIBRAR E SE DIVERTIR
É UM SHOW, PODE VIR

ME LEVA TAMBÉM, HEY!

VAMOS BRILHAR FOREVER


FAZER TODO MUNDO APLAUDIR
HEY!
VAMOS COM MALAS E TUDO
TRAZENDO O AMERICAN DREAMS
HEY!

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PINDORAMA OU COM QUANTOS PAUS SE FAZ UM BRAZIL

PIRUETAS, FUMAÇAS E PLUMAS


VERDE, AMARELA E ANIL
HEY!
NÓS SOMOS A ATW
VAMOS CONQUISTAR O BRASIL

EPÍLOGO

Vê-se a diretora apertar o botão. Som de explosão com a luz caindo.


Abre-se a porta do teatro e fora do espaço está a Companhia Pindorama que canta num cortejo em
direção à rua.

PINDORAMA – Na saída do público. Aos poucos atores e atrizes que interpretavam ATW retiram
suas maquiagens e se incorporam à “carroça pindorama”.

MÚSICA – COMO O DIABO GOSTA

INCIDENTAL:
Agora tudo acaba
O real e a ficção se encontram
Na saída deste salão

D C G
NÃO QUERO REGRA NEM NADA
D C EM
TUDO TÁ COMO O DIABO GOSTA, TÁ,
D C G
JÁ TENHO ESTE PESO, QUE ME FERE AS COSTAS,
C D
E NÃO VOU, EU MESMO, ATAR MINHA MÃO.
D C G
JÁ TENHO ESTE PESO, QUE ME FERE AS COSTAS,
C D EM
E NÃO VOU, EU MESMO, ATAR MINHA MÃO.
G D/F# G D/F#
O QUE TRANSFORMA O VELHO NO NOVO
G D/F# EM
BENDITO FRUTO DO POVO SERÁ.
C D
E A ÚNICA FORMA QUE PODE SER NORMA
C EM
É NENHUMA REGRA TER;
G D/F# G D/F#
É NUNCA FAZER
G D/F# EM
NADA QUE O MESTRE MANDAR.
G D/F# G D/F# G D/F# EM
SEMPRE DESOBEDECER. NUNCA REVERENCIAR.

Fim da peça, mas não o fim da história.


Agosto de 2018

20

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