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SHAKESPEARE

O Espetáculo
(MONET - 2020)

Prólogo – Abertura das Cortinas.


Música (TRILHA GRAVADA).

SHAKESPEARE 1 – Quem vos fala é William Shakespeare...

SHAKESPEARE 2 – (interrompendo. Entra pela plateia/fundo) Com sua


licença, aqui quem vos fala é William Shakespeare...

SHAKESPEARE 3 – (interrompendo. Entra pela plateia/lateral) Na verdade, eu


sou William Shakespeare.

(Shakespeare 2 e 3 caminham para o palco em burburinhos, enquanto o


Shakepeare 1 vai para a coxia buscar o texto e são interrompidos pelo
Shakespeare 4, que entra de forma escandalosa).

SHAKESPEARE 4 – Quem vos fala É William Shakespeare e o que acabastes


de ouvir...

SHAKESPEARE 1 – (Falando alto) Produção, produção...


(Os demais atores também indignados começam a chamar a produção).

SHAKESPEARE 2 – (Indignado) Isto é um verdadeiro absurdo, um ator de


minha competência sendo interrompido por esses, esses...

SHAKESPEARE 3 – Esses o que?


Nova confusão entre os atores e são interrompidos por uma voz.

VOZ (limpando a garganta): Maravilhoso, fantástico, genial.(Ouve-se aplausos


efusivos e os 4 atores começam a agradecer) Os 4 passaram no teste e serão
os representantes de Shakespeare. Mas lembrem-se o espetáculo não pode
parar.

SHAKESPEARE 1, 2, 3, 4 — Quem vos fala é William Shakespeare.

SHAKESPEARE 1: Peço para que imagines agora a Inglaterra. Às margens do


rio Tâmisa, temos aqui o Globe Theatre, a construção em madeira onde
minhas peças vão ser encenadas.

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 1


SHAKESPEARE 2: Tradicionalmente, elas eram apresentadas sempre durante
o dia. Mas, diante de tal distinto público, as teremos no tempo de agora e com
os costumes de antes: minhas peças sempre tiveram cenário significativo,
quero dizer,

SHAKESPEARE 1,2,3,4 : um trono pode representar um palácio, uma cruz


pode ser uma igreja ou cemitério, um arbusto – uma floresta.

SHAKESPEARE 3: Aliás, na verdade, tudo isto aqui é palco, cenário. Digo,


tudo mesmo, o mundo.

SHAKESPEARE 4: E todos os homens e mulheres não passam de meros


atores. Eles entram e saem de cena. E cada um no seu tempo representa
diversos papéis. E é o que teremos. Agora.

CENA – TEMPESTADE

(Sons de trovão, luzes e música de fundo para ambientar uma


tempestade).

Voz: Para começar a nossa aventura, vamos navegar em algumas obras de


Shakespeare. E que tal atracar nosso navio de emoções justamente em sua
última obra escrita: A Tempestade. Essa surpreende história narra a busca de
justiça do antigo duque de Milão, que utiliza seus conhecimentos mágicos e
provoca uma grande tempestade, fazendo naufragar o navio em que estão
seus traidores, bem perto da ilha onde ele esteve abandonado por doze anos.
Tripulação, conto com o fôlego e a natação de vocês. Como ondas que
dançam à beira mar, vamos mergulhar nessa tórrida apresentação.

(GRUPO DE DANÇA (MARINHEIROS. O grupo de dança, que está de


marinheiros, participa da cena numa simulação coreográfica de
naufrágio)) - Música “Storm / Vivaldi”)

CENA - HAMLET

SHAKESPEARE 1 – Há algo de podre no reino da Dinamarca. Estamos na


Dinamarca, transcorre aqui a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a
morte de seu pai, Hamlet, o rei, executado por Cláudio, seu irmão que o
envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a rainha.

SHAKESPEARE 2 - A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e


na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — teremos
ingredientes adequados: traição,
SHAKESPEARE 1- vingança,
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SHAKESPEARE 2 - corrupção
SHAKESPEARE 1 - moralidade.
SHAKESPEARE 2 - A obsessão de uma vingança onde a dúvida
SHAKESPEARE 1- e o desespero concentrados nos monólogos do príncipe
Hamlet adquirem uma impressionante dimensão trágica.

JOGRAL MENINOS

JOGRAL: Ser ou não ser... Eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma
pedradas e flechadas de um destino enfurecido ou pegar em armas contra o
mar de angústias? Morrer... dormir... só isso e nada mais! Dizem que o sono
apaga as dores do coração... Se é assim, quero dormir! Talvez sonhar. Aí está
o obstáculo! Virão sonhos no sono, depois de ter escapado a confusão da
existência... E quem suportaria a dor e os insultos do mundo? A afronta do
opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as
delongas da lei, a prepotência do mundo? Quem suportaria tudo isso? Ter de
tomar uma decisão me faz mais doente e melancólico. Preciso refletir menos,
ganhar coragem e agir mais. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia.

JOGRAL MENINAS

JOGRAL: Uma desgraça segue os passos de outra de tão próximas elas vêm.
Tua irmã se afogou, Laertes.
Inclinado sobre o riacho cresce um salgueiro chorão com suas folhas cor de
cinza refletida na água. Lá ela fazia umas grinaldas misteriosas de botões de
ouro, ortigas, margaridas e umas flores roxas, a que nossos pastores rudes
dão o nome um grosseiro, mas nossas recatadas donzelas chamam dedo de
defunto… Lá, subindo nos galhos torcidos para pendurar sua coroa de flores e
ela junto caíram no triste riacho. Seus vestidos afundavam como velas, mas ela
flutuou por um tempo como se fosse uma sereia e então… começou a cantar…
cantar pedaços de velhas canções, inconsciente… inconsciente da sua própria
desgraça, como se fosse uma criatura daquele rio. Mas não demorou até que
suas roupas encharcadas ficassem pesadas e arrastassem a pobre infeliz no
seu canto melodioso para morte num lodo.
Afogada… Afogada!

CENA – MEGERA DOMADA

A Megera Domada – GRUPO DE MÚSICA LIGANDO A CENA, MUSICA DE


FLAUTA E TECLADO (MINUETO DE BACH)

(Um dos Shakespeares deve exibir uma placa ou anunciar a cena : “A


MEGERA DOMADA”)

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Petrúquio e Grúmia vêm chegando.

VOZ: Este é Petrúquio, que acaba de chegar de Verona, aquela cidade onde
os jovens Romeu e Julieta, filhos de duas famílias inimigas, os Montéquio e os
Capuleto, vivem um amor impossível que, na minha modesta opinião, não vai
acabar bem... mas essa história é pra daqui a pouco. Nesta, o intrépido
Petrúquio chega, com sua criada Grúmia, à casa de seu amigo Hortênsio, em
Pádua. (Sai.)

PETRÚQUIO: Bata, Grúmia.


GRÚMIA: Como, patrão?
PETRÚQUIO: Com uma mão, é claro, com um pé que não pode ser.
GRÚMIA: O senhor quer mesmo que eu bata?
PETRÚQUIO: Por que eu diria isso se não quisesse? Bata! E com força! E
agora mesmo, já!
GRÚMIA: É, né? O senhor pode mudar de ideia depois que eu bater e aí vai
ser tarde, porque eu não vou poder desbater.
(Petrúquio agarra Grúmia pelo colarinho e a sacode.)
PETRÚQUIO: Olha aqui, se você não bater já, eu é que vou bater e com a sua
testa!
GRÚMIA: Socorro, alguém me ajude! Meu patrão amalucou!
(Hortênsio entra.)
HORTÊNSIO: O que está acontecendo aqui? Ora essa, se não é meu bom e
velho amigo Petrúquio e sua boa e velha criada Grúmia!
GRÚMIA: Velhaaa?!
PETRÚQUIO: Velha mesmo e gaga!
GRÚMIA: Não sou eu que estou fora de mim!
HORTÊNSIO: Vamos tentar acabar com essa briga?
GRÚMIA: Meu patrão me mandou bater nele, e com força, e agora mesmo, já!
PETRÚQUIO: Eu mandei você bater nessa porta, que decerto é mais
inteligente que você!
GRÚMIA: É, né! Custa explicar?
PETRÚQUIO: Agora eu quero que você fique completamente quieta. Feche
essa matraca. Cale a boca. Entendeu?
GRÚMIA: É, né... fiquei bem magoada, mas entendi, sim, senhor.
HORTÊNSIO: Mas o que trouxe você a Pádua, Petrúquio?
PETRÚQUIO: Vontade de me casar com uma moça de grande dote.
HORTÊNSIO: Como você é meu amigo, vou ser sincero. Conheço uma moça
assim. No entanto...
PETRÚQUIO: Tinha que ter um “no entanto”!
HORTÊNSIO: Sim. No entanto, esse “no entanto” talvez seja apenas um tanto
desanimador para um sujeito destemido, vigoroso, matreiro e pimpão como
você.

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PETRÚQUIO: Espero que sim. Agora pare de falar de mim e conte tudo sobre
essa candidata a minha esposa. Ela é muito feia?
HORTÊNSIO: Nem um pouco!
PETRÚQUIO: Muito velha?
HORTÊNSIO: Não, só um pouco.
GRÚMIA: Então é porca?
PETRÚQUIO: Fedida?
GRÚMIA: Desleixada?
PETRÚQUIO: Descabelada?
HORTÊNSIO: Não, não, não e não.
GRÚMIA: Careca?
HORTÊNSIO: Não!
(Grúmia vai continuar falando, mas Petrúquio tapa sua boca.)
PETRÚQUIO: Então qual é o problema com essa moça
HORTÊNSIO: É simplesmente a mais antipática, intratável e enfezada de
Pádua. Você é um amigo tão bom e eu não desejaria ver nem meu pior inimigo
atado a ela até que a morte os separe!
PETRÚQUIO: Hortênsio, você me conhece suficientemente para saber que não
existe pessoa ou besta que eu não possa enfretar.
HORTÊNSIO: Com certeza! Eu, no entanto, não me casaria com aquela
criatura nem por uma mina inteira de ouro.
PETRÚQUIO: Chega de papo, vamos ao fato: quem é ela?
HORTÊNSIO: Catarina, a primogênita de SRA. BATISTA Minola, uma das
senhoras mais ricas desta terra, que é famosa por ser mais azeda que limão,
mais amarga que almeirão, mais ardida que pimenta e mais intragável que óleo
de fígado de bacalhau!
GRÚMIA: Credo! É essa monstra que vai ser minha patroa?
PETRÚQUIO: Cale-se, Grúmia!
HORTÊNSIO: Se você realizar essa façanha, eu pago uma recompensa.
PETRÚQUIO: Então me leve imediatamente para onde mora minha futura
noiva.
HORTÊNSIO: Agora mesmo. Eu só peço que você me ajude, me apresentando
para a mãe dela como professor de música. Foi esse o jeito que arrumei para
ter como fazer a corte a Bianca, a irmã mais nova, amável e tudo que é bom,
além de ser tão rica quanto a sua megera.
PETRÚQUIO: Basta! Já ouvi palavras demais! Preciso entrar em ação!
(Saem.)
VOZ: Estamos agora no interior da mansão de SRA. BATISTA Minola, onde vai
acontecer o primeiro assalto entre domador e indomada. Mas, antes... (gritos
de Bianca fora de cena) teremos uma demonstração de inimizade fraternal.

(Entra Catarina, puxando Bianca por uma corda prende suas duas mãos.)
BIANCA: Irmãzinha! Pare de me empurrar e me puxar como se eu fosse um
bicho ou uma escrava. Você vai acabar me machucando!
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CATARINA: É exatamente o que eu quero.
BIANCA: Isso não é jeito de uma irmã tratar a outra!
CATARINA: E quem disse que você é minha irmã?
BIANCA: Duas moças com os mesmos pais podem ser outra coisa?
CATARINA: Uma de nós só pode ter sido adotada, e acho que foi você.
BIANCA: Se quiser alguma das minhas coisas ou várias todas, são suas.
CATARINA: O que eu quero é que você me diga qual dos pretendentes é seu
favorito ou vai se dar mal!
BIANCA: Juro que eu não tenho motivo para preferir qualquer um deles.
CATARINA: Qualquer um? Não minta, sua moleca mimada. É Hortênsio, não
é?
BIANCA: Se você quiser, pode ficar com ele, irmãzinha. Eu posso até
embrulhá-lo para presente.
CATARINA: Entendi. Você está mais interessada em dinheiro e vai viver no
luxo com o Grêmio.
BIANCA: É por causa dele que você está com invejinha?
CATARINA: Quem disse que eu te invejo?
BIANCA: O que mais pode deixar você com tanta raivinha de mim?
CATARINA: Nada! Basta você existir para que eu tenha raiva! E pare de usar
diminuitivos, senão vai ser pior!
BIANCA: Você deve estar brincando! É isso! É só uma brincadeirinha, não é?
CATARINA: Veja se é, sua fingida! (Bate em Bianca.)
BIANCA: Mamãe! Mamãezinha!
(Entra SRA. BATISTA.)
SRA. BATISTA: Por tudo que é mais sagrado, o que está acontecendo aqui?
(Para Catarina) Mas você tem mesmo coragem, sua insana! Olhe em que
estado você deixou sua irmã! (Para Bianca) Coitadinha, vá para seu quarto
(Desamarra Bianca. Para Catarina) Você é mesmo um monstro incontrolável e
inútil! O que sua irmã fez para você? Nada! Ela nem ao menos retruca quando
você fala mal dela, faz críticas e ameaças!
CATARINA: Ela me agride e ridiculariza com seu silêncio e fingimento! (Vai na
direção de Bianca, como se fosse ataca-la. Bianca sai chorando.)
SRA. BATISTA: Quando eu penso que você já fez a pior besteira, você
consegue se superar!
CATARINA: Você não quer nem saber o meu lado dessa história? Claro que
não. Ela é seu precioso tesouro cobiçado por metade dos homens de Pádua,
não é?
SRA. BATISTA: Você também seria, se fosse menos antipática, rabugenta e
agressiva.
CATARINA: E no dia do casamento dela eu vou passar a ser uma solteirona,
sem ter idade para isso!
SRA. BATISTA: Mas foi exatamente por isso que decidi que ela só irá se casar
depois de você!

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CATARINA: O que me fez sentir mais humilhada, porque foi o mesmo que
anunciar para a cidade toda que a sua queridinha tem uma fila de pretendentes
e eu, nenhum!
SRA. BATISTA: Mas minha filha...
CATARINA: Eu vou me vingar, isso não vai ficar assim!
(Catarina sai por um lado do palco. Pelo outro lado entram Petrúquio, Grúmia e
Hortênsio (disfarçado de Lício – pode ser complementado por um chapéu e/ou
capa.)
PETRÚQUIO: Bom dia, imagino que a senhora seja a distinta senhora Batista.
SRA. BATISTA: Bom dia, cavalheiro.
PETRÚQUIO: Diga-me, a senhora tem uma afetuosa e graciosa filha chamada
Catarina?
SRA. BATISTA: Bem, eu tenho uma filha chamada Catarina...
PETRÚQUIO: Sou Petrúquio, filho de Antônio, um mercador conhecido por
muitos em toda a Itália.
SRA. BATISTA: Sou das que o conhece e seu filho é bem-vindo em minha
casa.
PETRÚQUIO: Acabo de chegar de Verona e, ouvindo falar da beleza e
inteligência dessa sua filha, além da simpatia, delicadeza e seu comportamento
manso e pacífico, tomei a liberdade de me apresentar em seu lar para
perguntar, respeitosamente, se tudo isso é verdade. Ofereço, como presente,
os serviços de um de meus criados, exímio professor de música. Seu nome é
Lício e está pronto para pôr seus conhecimentos em prática.
SRA. BATISTA: Aceito o oferecimento e agradeço, senhor Petrúquio. Quanto à
minha filha Catarina, lamento dizer que o que você ouviu não corresponde à
verdade.
PETRÚQUIO: Senhora Batista, você conhecia bem meu pai e, portanto, me
conhece. Sou o único herdeiro de toda a fortuna e propriedades, que só fiz
crescer.
GRÚMIA (para o público): Não tem nem onde cair morto.
PETRÚQUIO: Então me diga: na hipótese de eu conquistar o amor de sua filha,
qual seria o dote?
SRA. BATISTA: Vinte mil coroas agora, e metade das minhas terras depois de
minha morte.
PETRÚQUIO: É justo. Que tal fazermos um pacto antenupcial?
SRA. BATISTA: Ótima ideia!... Depois que você conseguir o mais importante: o
amor de Catarina. Prepare-se para pensamentos, palavras e ações
desagradáveis. Estarei torcendo por você.
PETRÚQUIO: Obrigado, futura sogra. Pense que montanhas não tremem por
mais forte que o vento sopre! (Sai Sra. Batista.)

VOZ: Enfim chegou a hora tão esperada do duelo de declarações, promessas e


ameaças entres os protagonistas, dando largada à domação da megera!
CATARINA: Quem é você? Outro professor?
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PETRÚQIO: Não, Cata, sou um aluno, me ensine o caminho do seu coração.

Intervenções Jogral – Megera Domada.


(Meninos: Jogral Petrúquio (P) / Meninas: Jogral Catarina (C) )

JOGRAL P: ÊEEeee Paixão!

CATARINA: Pare de dizer asneiras e se tiver um bom motivo para usar meu
nome, me chame de Catarina.
PETRÚQIO: Não, Catarina rima com botina, buzina e latrina. Você é uma gata
e só pode ser chamada de Cata. Cata, Cata, me mata de paixão, me dá sua
pata e diga o que tenho que fazer para você ronronar de satisfação!

JOGRAL P: Miaaaaaau!

CATARINA: Dar um fim em sua estada, se jogar de cabeça na escada, pôr o


pé na estrada e sumir no mapa de Pádua!
PETRÚQIO: Viva! Você também sabe e gostar de rimar.
CATARINA: Mas já cansei dessa brincadeira. Feche a porta do lado de fora, ou
seja, vá embora.

JOGRAL C: Já vai tarde!

PETRÚQIO: Eu vou, mas só depois de fazer uma pergunta e obter um “sim”


como resposta.
CATARINA: Não estou disposta a ouvir mais nada.
PETRÚQIO: Já eu, quero ouvir um sim, porque ouvi uma lista tão grande de
elogios à sua pessoa, que me vi obrigado a vir para cá pessoalmente para tirar
prova e você tirou nota máxima, que a lista era pequena para alguém com
tantas qualidades. Por isso, peço que se case comigo. Diga sim, Cata, na lata!
Mie, minha gata, ou relinche ou muja, lata se tiver vontade, mas diga sim para
mim!
CATARINA: Não! Nunca! Jamais! Nem que a vaca tussa!
JOGRAL P: Mummmmmm! Cof, cof (tosse)

PETRÚQIO: O que é isso, minha querida vespa? Eu sou seu zangão, por que
continua tão zangada?
CATARINA: Se eu sou uma vespa, cuidado com meu ferrão.
PETRÚQIO: Não tem perigo, é só arrancá-lo.
CATARINA: Isso se você souber acha-lo.
PETRÚQIO: Todo mundo sabe que a vespa tem o ferrão no traseiro.

JOGRAL C: Ahhm! (susto)

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CATARINA: Não, sabichão, é na língua.
PETRÚQIO (chegando mais perto): Isso não vai me impedir de beijá-la.

JOGRAL P: Beija! Beija! Beija!

CATARINA: Finja que é um cavalheiro!


(Petrúquio tenta abraça-la, ela o estapeia.)

JOGRAL C: Bem feito! Bem feito! Bem feito!

PETRÚQIO: Juro que vou revidar se você me bater de novo.


CATARINA: Se você me bater, vai provar que não é um cavalheiro, e não
poderá casar com alguém da minha posição.
PETRÚQIO: Seria melhor eu ser um cavaleiro para lidar com certa égua
arredia.

JOGRAL P: Uuuuhrr!

CATARINA: Cavaleiro? Você se comporta como um cavalo, isso sim.

JOGRAL C: Aaaiiiiii!

PETRÚQIO: Ah, querida Cata! Não precisa fazer essa cara de nojenta.
CATARINA: Eu fico assim quando vejo uma lesma.
PETRÚQIO: Não tem lesma nenhuma aqui.
CATARINA: Tem e eu te mostraria se tivesse um espelho.
PETRÚQIO: Você quer dizer com isso que me acha muito feio?
CATARINA: O que é isso, você tem muita beleza interior: parece um pâncreas
com pernas e braços. Vai embora, antes que deixe você bravo pra valer.
PETRÚQIO: De jeito nenhum! Eu te achei muito gentil. Diziam que era
grosseira, bruta e geniosa! Tudo mentira! É simpática, alegre e muito educada!
Delicada como uma flor na primavera! Não sabe fazer cara feia, nem morder o
lábio, como as jovens temperamentais. Tem a fala macia, os modos de uma
dama, é toda gentileza ternura, minha Catarinaninhazinha.
CATARINA: Catarinaninhazinha?

JOGRAL C: Catarinaninhazinha??

CATARINA: Chega! Não sei o que você espera conseguir com tana bajulação.
PETRÚQIO: Sabe sim, Cata, o que eu quero é ser para sempre seu travesseiro
fofo, sua colcha peluda, seu cobertor de orelha...

JOGRAL P: ...seu ursinho pimpão!

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CATARINA: Agora você me deixou com náuseas.
PETRÚQIO: Que graça. Mas chega de conversa fiada, vamos para os
finalmentes: sua mãe consentiu que nós nos casemos. O dote foi acertado e,
querendo ou não, você vai se tornar minha esposa. Eu sou genuinamente o
homem da sua vida, Cata, eu nasci para domar seu espírito, fazer você se
transformar de uma gata-do-mato em uma bichana doméstica.
CATARINA: Uma gata caseira pode arranhar, morder e estraçalhar um
passarinho.
PETRÚQIO: Não se for bem treinada.
(Entra Sra.Batista)
PETRÚQIO: Aí vem sua mãe. Não ouse me recusar.
SRA. BATISTA: E então, senhor Petrúquio, como você e Catarina estão se
dando?
PETRÚQIO: Maravilhosamente bem, senhora. Não podíamos ser mais felizes
juntos.
SRA. BATISTA: E você? Está menos enfezada, minha filha?

JOGRAL C: Filha?

CATARINA: Filha? Você tem coragem de me chamar de filha? É assim que


uma mãe demonstra seu amor, me empurrando para os braços de um bicho
maluco que acha que, se berrar um monte de besteiras alto o suficiente, vai
conseguir o que quer?
SRA. BATISTA: Mas então não quer se casar com ele?

JOGRAL C: Não!

CATARINA: O quê? Eu quero que ele caia morto agora mesmo!


PETRÚQIO: Olha só como ela é brincalhona! Nós nos damos tão bem que
vamos nos casar no próximo domingo.
CATARINA: Eu prefiro ver você enforcado na torre da igreja!
SRA. BATISTA: Eu não entendo, Petrúquio. Enquanto você diz uma coisa,
minha filha diz o oposto.
PETRÚQUIO: É que, quando estávamos a sós, combinamos que em público
minha Cata ia continuar sendo desagradável. Mas vocês não imaginam quanto
ela me ama e não vê a hora de ser minha mulherzinha.
CATARINA: Mulherzinha? Quantas vezes eu tenho que dizer que não quero
me jogar nesse abismo?
PETRÚQUIO: Ela se pendurou em meu pescoço, me sufocou de beijos e
sussurrou juras de amor.
CATARINA: Prefiro me casar com um babuíno!
PETRÚQUIO: Cata, minha paixão verdadeira! Irei agora para Veneza para
comprar meus trajes para a cerimônia. (Para Sra. Batista) Planeje a festa,
senhora, e convide amigos e parentes.
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SRA. BATISTA: Eu não sei o que dizer, muito menos o que fazer.

JOGRAL P: Abençoe os pombinhos, senhora Batista. Não perca esta rara e


talvez única oportunidade!

SRA. BATISTA: Está bem. Catarina e Petrúquio, vocês têm minha permissão e
minha benção. Viva aos noivos!
PETRÚQUIO E JOGRAL P: Viva!
PETRÚQUIO: Querida mãe, noiva amada, amigos, até domingo! Beije-me
Cata, te vejo no altar!
(Petrúquio segura a cabeça de Catarina e beija sua bochecha, como se fosse à
força. Ele sai por um lado do palco. Catarina bufa, bate o pé, rosna e sai
gritando pelo outro lado. Os outros saem.)

CENA – SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO

(GRUPO DE MÚSICA – GREENLEAVES – EM FLAUTA DOCE)

SHAKESPEARE 4 (empolgado) — Numa noite de verão, num bosque, quatro


jovens enamorados encontram-se e desencontram-se: Lisandro ama Hérmia
que ama Lisandro e é amada por Demétrio, que é amado por Helena; depois,
Demétrio ama Helena, que ama Demétrio e é amada por Lisandro, que é
amado por Hérmia. Na manhã seguinte, tudo se resolve, e há um casamento
triplo, pois casam-se também o Duque de Atenas e a Rainha das amazonas.

VOZ: Shakespeare, que confusão é essa? Me diga aí, o que quis dizer com
essa peça? Ninguém entende nada...

(Shakespeare tenta falar algo, mas é novamente interrompido pela Voz.)

VOZ: Não, não, não vamos confundir nosso amado público. Vamos resumir
esta obra e faze-lo sonhar com uma bela dança.

(Shakespeare sai exibindo uma placa (asa nas costas) escrito : “SONHOS DE
UMA NOITE DE VERÃO”)

(GRUPO DE DANÇA - COREOGRAFIA DE FADAS, BORBOLETAS,


DUENDES E SERES DA FLORESTA – Música Sonho de uma noite de
Verão / MENDELSSOHN)

CENA – OTELO
(Shakespeares exibe um lenço grande (voal) escrito : OTELO

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SHAKESPEARE 3 — Otelo é um dos personagens mais complexos que criei.
Nele, a emoção e a razão se expressam de forma alternada e muitas vezes
conflitantes. O habilidoso e vitorioso general é também um homem
emocionalmente frágil e impulsivo.
SHAKESPEARE 4 — Se trata de uma das minhas maiores tragédias e no
correr dos séculos gerou muitas interpretações. Bem que eu poderia dar esta
obra o seguinte subtítulo: “A tragédia do ciúme”.
SHAKESPEARE 3 — Mas essa é apenas uma das leituras possíveis da
história. Vocês agora poderão também ter a de vocês.

Cena I

CÁSSIO: Otelo meu amigo, por que está tão distraído?


OTELO: Eu não paro de pensar naquela bela dama que eu avistei em uma
tarde, era uma linda tarde.
CÁSSIO: Ah! Esquece ela, olha o tanto de moças bonitas que tem aqui!
OTELO: Me deixa em paz, Cássio!
CÁSSIO: Olha! Ali está a mais linda dama deste baile.
OTELO: É ela!
CÁSSIO: O quê?
(Otelo sai e vai até Desdêmona convidando-a para dançar)

Cena II

OTELO: Qual o nome da bela dama com qual eu danço?


DESDÊMONA:Meu nome é Desdêmona, e o seu como é?
OTELO: Otelo (ficam se olhando)
OTELO: Posso lhe confessar algo?
DESDÊMONA:Sim, o que é?
OTELO: Bela dama, peço que não se assuste com que eu vou lhe dizer.
Desdêmona, desde a primeira vez em que eu te vi, não consigo arrancá-la de
minha cabeça, a sua beleza me fascinou ,digo a verdade, você entrou em
minha vida e agora não quer mais sair, não pense que é exagero, mas eu te
amo, amo loucamente... (Desdêmona abaixa a cabeça e Otelo a levanta
segurando seu queixo) Não fique triste minha amada... (Eles param de dançar
e ficam se olhando) Por um acaso você não sentiu nada quando me viu?
(Desdêmona sorri, recomeçam a dançar e ela apoia a cabeça em seu peito)
DESDÊMONA:Sim, não posso negar que senti.
OTELO: Desdêmona, eu a amo e juro que farei tudo para te fazer feliz.

Cena III

(Iago e Roberta conversam)

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IAGO: Não acredito! Otelo não podia ter me traído dessa forma. Aquele cargo
de tenente era pra ser meu. E não daquele maldito!
ROBERTA: Acalme-se Iago. E quem é esse homem?
IAGO: Seu nome é Cássio, Miguel Cássio, é um florentino que nunca
comandou um exército antes.
ROBERTA: E agora você vai ficar sendo o carrasco dele?
IAGO: É. Infelizmente não tem outro jeito... (riem). Você vai me ajudar a vingar,
certo?
ROBERTA: Iago, não quero me meter em confusão!
IAGO: Pensei que você, Roberta e seu irmão fossem meus amigos. Saiba que
Otelo e Desdêmona se casaram.
ROBERTA: Não acredito! Iago, eu lhe ajudo, mas Desdêmona tem que ser do
meu irmão. Ele é louco por ela!
IAGO: Claro minha amiga, ela será... eu já tenho uma ideia para que possamos
colocar nosso plano em prática.
ROBERTA: No que é que você está pensando?
IAGO: Então quero que hoje a noite você embriague Cássio e provoque uma
briga.
ROBERTA: Por quê? Não entendo.
IAGO: Faça o que eu estou lhe falando.
ROBERTA: Iago, eu só quero saber onde você vai chegar com isso.
IAGO: Minha amiga, Otelo é muito ciumento.
ROBERTA: Todos já sabem disso, não entendo o que uma coisa tem com a
outra!
IAGO: Não seja tão curiosa, confie em mim. Não se esqueça que você terá
Desdêmona como cunhada. (saem)

Cena IV (Roberta embriagando Cássio)

ROBERTA: E como está à vida meu amigo?


CÁSSIO: Ah Roberta, vai bem.... Muito bem... (Entra Bianca)
ROBERTA: Hum... Olha que bela aquela meretriz... (Cássio ataca Roberta)
CÁSSIO: Repita o que você disse! Anda repita! (Entra Otelo e Iago)
OTELO: O que houve aqui?
ROBERTA: Senhor Cássio bebeu demais, e do nada me atacou!
OTELO: Cássio isso é verdade?
CÁSSIO: Sim senhor, mas é que eu...
ROBERTA: Não adianta inventar desculpas. Um bom tenente tem que saber se
controlar, se não daqui uns dias vai sair agredindo todos que vê pela frente.
OTELO: Roberta! Não se preocupe Cássio não será mais o tenente.
CÁSSIO: Meu amigo peço-lhe sincera desculpas...
OTELO: Estou decepcionado com você...
(saem todos ficando somente Iago e Cássio)
CÁSSIO: Iago, por favor, me diga o que fazer...!
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 13
IAGO: É Cássio seu erro foi grave..., mas eu tenho uma ideia de como lhe
ajudar.
CÁSSIO: Por favor, me diga! O que eu faço?
IAGO: Diga-me qual é a pessoa que Otelo mais escuta, mais confia?
CÁSSIO: Desdêmona.... Por quê?
IAGO: Meu amigo, converse com ela, peça-lhe ajuda. Só Desdêmona pode
fazer Otelo voltar atrás de sua decisão.
CÁSSIO: Obrigado Iago.... Realmente você demonstrou ser um grande amigo.

Cena V

CÁSSIO: Senhora Emilia chame sua ama, por favor, esperarei aqui.
EMILLIA: Sim, claro. (Sai Emilia. Volta com Desdêmona)
DESDÊMONA:Como vai tenente? Está melhor depois do ocorrido?
CÁSSIO: É.... Um pouco. É justamente sobre isso que quero falar com a
senhora.
DESDÊMONA:Sinto muito por ontem. Mas o que desejas?
CÁSSIO: Desdêmona, peço-lhe um favor. Gostaria que a senhora intercedesse
por mim. Por favor, fale com Otelo, peça para que eu volte a ser tenente.
DESDÊMONA:Claro Cássio, eu o ajudarei, eu sei que você é uma boa pessoa.
CÁSSIO: Obrigado. Você realmente tem um grande coração. (sorrisos)

Cena VI
OTELO: É lamentável o que aconteceu ontem.
IAGO: É mesmo senhor, Cássio exagerou na bebida. Falando em Cássio é ele
que estas ali ao lado de sua esposa?
OTELO: Sim, é.
IAGO: Senhor é só uma curiosidade, mas Cássio sempre soube que o senhor
era apaixonado por Desdêmona?
OTELO: Sim, do início ao fim, mas por que Iago?
IAGO: Olha como sua esposa sorri ao lado do tenente.
OTELO: Ex-tenente, eles são amigos, afinal Cássio nos ajudou. Iago, você
duvida da lealdade de Cássio?
IAGO: Não, meu senhor, não era isso que eu queria dizer. Era somente uma
curiosidade, desculpe minha insolência. Vou me retirar. E por favor, não confie
essa conversa a ninguém.
OTELO: Tudo bem Iago não se preocupe com nada. Mas você acha que eu
devo me preocupar?
IAGO: Claro que não senhor. Só acho que deve prestar mais atenção na sua
esposa.
OTELO: Obrigado Iago. (Sai Iago, chegam Desdêmona e Emilia)
DESDÊMONA:Meu amor! (É beijada por Otelo na testa e ficam segurando as
Mãos) Otelo quero lhe suplicar algo.
OTELO: Peça meu amor. (sorrindo)
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 14
DESDÊMONA:É que eu queria que o senhor voltasse atrás e devolvesse o
cargo de tenente a Cássio.
OTELO: (Acaba com o sorriso) Desdêmona, porque me pede isso?
DESDÊMONA:Querido, ele veio até mim e pediu que eu intercedesse por ele e
eu faço isso por saber que ele é uma boa pessoa.
OTELO: Você tem certeza que é só isso mesmo. Eu estranho sua atitude!
DESDÊMONA:Mas por que eu só quis ajudar! (Abaixa a cabeça)
OTELO: Minha amada, não fique triste vamos entrar, e lá conversaremos.
(Otelo e DESDÊMONA:saem e ela deixa o lenço cair)
EMILLIA: Fico contente por ter achado justamente o primeiro presente ofertado
pelo Otelo a ela. Meu marido me pediu umas 100 vezes que eu o roubasse. Ele
ficara muito feliz com isso. (Entra Iago)
IAGO: O que fazes aqui sozinha?
EMILLIA: Não fique bravo, meu marido, tenho um presente para você.
IAGO: Um presente? Que bobagem que você arranhou?
EMILLIA: Tudo bem então... o que você me daria por esse lenço aqui?
IAGO: Como? Que lenço?
EMILLIA: Que lenço? Ora o que Otelo deu a sua esposa. Ela deixou cair então
eu o peguei.
IAGO: Você é uma rapariga e tanto!
EMILLIA: O que pretende fazer com o lenço? Se for para algo ruim não te
darei. Minha ama ficará louca quando der por sua falta.
IAGO: Não se importe. Finja que não sabe de nada. Agora saia. (sai Emilia)
Dentro do quarto de Cássio jogarei esse lenço para que ele o encontre e
depois é só esperar que surja o efeito do meu veneno em Otelo. (entra Otelo)
IAGO: Senhor!
OTELO: Cale-se! Você me colocou em trapos. Não paro de pensar em que
conversamos.
IAGO: Desculpe-me senhor pela agonia que eu lhe causei. A paixão corrói o
peito?
OTELO: Não Iago, é o desespero! Agora te encarrego de arranjar provas.
Provas que incriminem a meretriz da minha mulher.
IAGO: Não me agrada esse oficio. Mas já que fui tão longe devo lhe conversa-
lhe que na noite passada enquanto Cássio dormia, eu o escutei murmurar e ele
dizia: Desdêmona querida sejamos cautelosos, encubramos bem nosso amor.
OTELO: Isso é monstruoso. Não pode ser.
IAGO: Mas eram só sonhos.
OTELO: Sonhos não mentem.
IAGO: Senhor eu estive pensando, eu sempre vejo sua esposa usando um
lenço. E se não me engano hoje não a vi com ele e Desdêmona parece gostar
muito dele.
OTELO: Fui eu que dei para ela. Iago, onde você quer chegar com isso?
IAGO: Não, em lugar algum, pergunte a ela senhor onde está esse presente.
Só achei estranho não tê-lo visto com ela.
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 15
OTELO: Sim perguntarei a ela. (Saem)

Cena VII

DESDÊMONA:Emília, onde deixei aquele lenço?


EMILLIA: Não sei, senhora.
DESDÊMONA:Otelo não vai gosta disso. Seu espírito é cheio de suspeita.
OTELO: (entrando) Minha amada!
DESDÊMONA:Onde esteve?
OTELO: Andando por ai... Desdêmona empresta-me seu lenço!
DESDÊMONA:Como! Que lenço?
OTELO: Ora! O que eu lhe dei!
DESDÊMONA:Não está comigo agora.
OTELO: Você o perdeu?
DESDÊMONA:Não Otelo, não o perdi.
OTELO: Lembre-se que ele é muito importante pra mim. Foi da minha mãe...
DESDÊMONA:Sim eu sei.
OTELO: Então vai buscá-lo, desejo vê-lo.
DESDÊMONA:Depois eu busco senhor, me fale agora sua resposta. Você vai
aceitar Cássio de volta?
OTELO: Vá buscar o lenço Desdêmona!
DESDÊMONA:Não vejo ninguém mais competente.
OTELO: O lenço...
DESDÊMONA:Senhor fale de Cássio!
OTELO: (Grita) Fora, saia daqui!
IAGO: Senhor o que você tem?
OTELO: Iago, mate-o, acabe com a vida de Cássio!
IAGO: Vejo o ódio em seus olhos. E Desdêmona senhor? O que vai acontecer
com ela?
OTELO: Deixa que dela que cuido eu.
IAGO: Não a machuque senhor...
OTELO: Vá! Faça o que eu lhe ordeno!
IAGO: Sim. (Saem)

Cena VIII (Otelo bate na porta)

DESDÊMONA:Quem esta aí?Otelo?


OTELO: Sim Desdêmona.
DESDÊMONA:Não vem para cama senhor?
OTELO: Já rezou hoje, Desdêmona? Pediu perdão por todos os seus
pecados?
DESDÊMONA:Sim.
OTELO: Desdêmona, você me traiu?
DESDÊMONA:Não!
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 16
OTELO: Você deu o lenço para Cássio?
DESDÊMONA:Não! Eu juro pela minha vida que não.
OTELO: Sua vida agora não vale de nada. Não vai demorar muito você vai
estar sem ela.
DESDÊMONA:Você fala de morte senhor?
OTELO: Sim Desdêmona
DESDÊMONA:Otelo, por favor, poupe minha vida.
OTELO: Não, Desdêmona não posso vê-la viva. Como você pôde fazer isso?!
DESDÊMONA:Otelo eu juro eu sempre fui fiel a você.
OTELO: Mentirosa!
DESDÊMONA:Pelo menos deixe-me rezar pela ultima vez?
OTELO: Agora já é muito tarde pra fazer isso...
DESDÊMONA:Otelo eu o amo... (Morte em black out)

Cena IX (Emilia bate na porta)

OTELO: Quem é?
EMILLIA: Sou eu senhor, Emilia.
OTELO: Entre... Ela está morta.
EMILLIA: O que você fez senhor?
OTELO: Ela me traiu!
EMILLIA: Nunca senhor, ela sempre foi fiel.
OTELO: Não, seu marido me abriu os olhos. Ela deu o lenço O lenço a Cássio.
Desdêmona me traiu com ele.
EMILLIA: Não pode ser! Iago te enganou.
OTELO: Como?
EMILLIA: Desdêmona tinha deixado o lenço cair e eu achei e entreguei ao meu
marido. (Entra Iago)
IAGO: Não fale mulher, cala-te.(Emília foge, Iago vai atrás)
OTELO: Como fui tolo... Dei-te um beijo antes de te matar. Só me restava
agora...
(Cai sobre o corpo de Desdêmona) ...Morrer beijando a quem eu tanto amei.
(Morte em blackout)

CENA – ROMEU E JULIETA


(Um Shakespeare deve exibir uma placa ou anunciar a cena : “ROMEU E
JULIETA”)

JOGRAL (Romeu e Julieta) - Duas casas, iguais em dignidade - na formosa


Verona vos dirão - reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas
sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes
desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte
venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a dos pais sempre

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 17


exaltados que teve fim naquela triste sorte aqui vereis representados. Se
emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento.

SHAKESPEARE 5 ( entra com cautela olhando para os lados) — Com licença


eu sou o SHAKESPEARE 5 e vim para o teste de Shakespeare. Posso
começar?

VOZ: Prossiga.

SHAKESPEARE 5 (Limpando a garganta): Boa noite! “Romeu e Julieta” é a


minha tragédia. Como evocar o meu nome sem evocar essa obra, escrita entre
1591 e 1595, nos primórdios da minha carreira literária? Dois adolescentes cuja
morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra. A peça ficou entre
as mais populares, ao lado de Hamlet, é uma das minhas obras mais levadas
aos palcos do mundo inteiro. Hoje, o relacionamento dos dois jovens é
considerado como o arquétipo do amor juvenil. Bebamos do amor!

ENTRAM EM CENA OS OUTROS 4 SHAKESPEARES.

SHAKESPEARE 1, 2, 3, 4: Mas o que está acontecendo aqui???

SHAKESPEARE 5: Estou no meio do meu teste pra ser Shakespeare.

SHAKESPEARE 1, 2, 3, 4: Nós já fomos os escolhidos, você chegou tarde


demais.
(OS SHAKESPEARES SE ARMAM PARA UMA BRIGA, SACAM SUAS
ESPADAS E INICIAM A CENA)

SHAKESPEARE 1: Você sabe que eu não levo desaforos para casa, Georgia!
Ainda mais dos cães da família Montéquio. Puxo a espada (Puxando a espada)
e ataco sem dó, quando provocado, é claro!
SHAKESPEARE 2: Calma, Sâmia! A discórdia é entre nossos amos.
SHAKESPEARE 3: É nossa também!
SHAKESPEARE 4: Parece que o convite de sua espada foi aceito, Sâmia!
SHAKESPEARE 5: Olhe um empregado dos Montéquio.

(ENTRA O ELENCO DE ROMEU E JULIETA INTERROMPENDO A CENA EM


GRANDE BURBURINHO)

SR. CAPULETO E SR. MONTÉQUIO: Vocês enlouqueceram, essa cena era da


nossa peça.

SHAKESPEARES 1, 2, 3,4, 5: Mas fomos nós que a escrevemos.

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 18


SRA. MONTÉQUIO: Pronto enlouqueceram de vez. Por acaso um de vocês é
Shakespeare?

SHAKESPEARES 1, 2, 3,4,5: Sim, todos nós.

SHAKESPEARE 5: Bom, na verdade ainda estou em teste.

SRA. CAPULETO: Ela estava falando na vida real e não na peça.

SHAKESPEARES 1, 2, 3,4,5: Ahhhh tá, entendi.

ROMEU E JULIETA: Estão nos observando (apontam para o público).

SHAKESPEARES 1, 2, 3,4,5: É melhor sairmos aos poucos sem sermos


notados. Ajam naturalmente, sem pânico.

(Todos iniciam uma saída discreta, mas logo em seguida correm


“desordenados” até todos saírem do palco) A cena reinicia, agora com o elenco
de Romeu e Julieta.

SÂMIA: Você sabe que eu não levo desaforos para casa, Georgia! Ainda mais
dos cães da família Montéquio. Puxo a espada (Puxando a espada) e ataco
sem dó, quando provocada, é claro!
GEORGIA: Calma, Sâmia! A discórdia é entre nossos amos.
SÂMIA: É nossa também!
GEORGIA: Parece que o convite de sua espada foi aceito, Sâmia! Olhe um
empregado dos Montéquio.
SÂMIA: Se quiser brigar, Georgia, eu a protejo. Minha arma já palpita...
GEORGIA: Prudência, Sâmia!
SÂMIA: Não tenha medo.
GEORGIA: Medo? Medo nenhum... Só quero ficar do lado da lei.
SÂMIA: Então é melhor deixar que ele que comece! (Guarda a espada)
(Entra Abraão. Sâmia une as mãos, estralando os dedos, como se preparasse
para uma briga.)
ABRAÃO: É para mim que você está estralando os dedos?
SÂMIA: (Satisfeita) Apenas estralo os meus dedos!
ABRAÃO: (Irritado) Sâmia... É para mim que você estrala os dedos?
GEORGIA: Parece-me que você procura briga, Abraão?
ABRAÃO: (Irônico) Engano seu!
SÂMIA: Quando quiser brigar, é só chamar... Afinal, sirvo a um senhor tão bom
quanto o seu.
ABRAÃO: Mas não melhor!
SÂMIA: É mentira!

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 19


(Sâmia e Abraão sacam as espadas ao mesmo tempo. Entra
Benvólio/Benedita.)
BENVÓLIO/BENEDITA: Não sejam tolos, Sâmia e Abraão!
SÂMIA E ABRAÃO: Tarde demais, Benvólio/Benedita!
(Sâmia e Abraão duelam. Benvólio/Benedita puxa a espada. Entra Tebaldo.)
TEBALDO: Já que você é valente para esses fracotes, Benvólio/Benedita,
venha ser valente comigo.
BENVÓLIO/BENEDITA: Guarde a espada, Tebaldo! Eu só usava a minha para
tentar a paz entre esses malucos!
TEBALDO: Ah, então você se arma para desarmar? É nisso que você quer que
eu acredite? Em guarda!
BENVÓLIO/BENEDITA: Em guarda!
(Duelam.)
(Entram a Senhora e o Senhor Capuleto.)
SR. CAPULETO: (Percebendo a confusão) Traga-me a espada, minha
senhora!
SRA. CAPULETO: Espada? Melhor trazer uma muleta, não acha?
SR. CAPULETO: É assim que você quer que eu enfrente o meu maior inimigo?
(Entra o Sr. Montéquio com espada em mãos, seguido pela Sra. Montéquio.)
SRA. MONTÉQUIO: Nem mais um passo em busca de inimigos!
SR. MONTÉQUIO: Não me aborreça, minha senhora! Em guarda, Capuleto!
SR. CAPULETO: Em guarda, Montéquio!
(Os senhores se aproximam para começar o duelo. Entra o Príncesa Éscala.)
PRÍNCESA ÉSCALA: Inimigos da paz!
(Todos interrompem o que estavam fazendo.)
PRÍNCESA ÉSCALA: Vocês são homens ou são feras?
(Todos demonstram arrependimento e baixam as cabeças.)
PRÍNCESA ÉSCALA: Têm vergonha, mas não consciência! Guardem as
sangrentas armas!
(Todos guardam as espadas, lentamente.)
PRÍNCESA ÉSCALA: Montéquio e Capuleto, quantas vezes sua arrogância
perturbou a paz de nossa bela cidade? Aonde pretendem chegar com esse
ódio podre? Este é o meu último aviso: se algum de vocês, mais uma vez, for
responsável por agitações públicas, pagarão todos com suas vidas!
(Silêncio, pausa.)
PRÍNCESA ÉSCALA: Senhor Capuleto, venha comigo ao tribunal de
julgamento! Quanto ao senhor Montéquio, espero-o logo mais, no começo da
tarde! Os demais deixem a praça imediatamente... A pena é de morte!
(Todos saem de cena em ritmo desacelerado. Os últimos a sair serão os
Montéquio.)
SRA. MONTÉQUIO: Onde andará meu filho Romeu? Alegro-me de não tê-lo
visto nessa desordem. Muitas manhãs ele tem sido visto no bosque, a
aumentar com suas lágrimas o orvalho matutino. Poderá acabar mal todo esse

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 20


enredo, se não afastar a causa disso. Se a causa da tristeza eu conhecesse, o
deixaria curado, isso é certeza.
(Saem.)

CENA – O BAILE

SR. CAPULETO - Cavalheiros, bem-vindos. As senhoras que não sofrerem no


dedão de calos hão de dançar convosco. Olá, senhoras! Qual de vós há de
agora recusar-se a dar uma voltinha? A que mimosa se mostrar por demais,
faço uma aposta em como terá calos. Como! Agora ficamos juntos?
SRA. CAPULETO - Sede aqui bem-vindos, meus senhores! Já vi também os
dias em que punha uma máscara e sabia cochichar uma ou duas palavrinhas
nuns ouvidos bonitos. E agradavam! Mas já lá vai o tempo... Tudo passa. Sois
bem-vindos, senhores. Vinde, músicos! Tocai logo! Licença! Abri caminho...
Com licença! Meninas, ligeireza!
ROMEU: Não se esqueça do que combinamos: faça sempre cara de
convidado(a).
BENVÓLIO/BENEDITA: Entendi. (Afasta-se para se integrar na festa)

(GRUPO DE DANÇA - BAILE DE MÁSCARAS – MÚSICA ROMEO AND


JULIET – DANÇA DOS REIS / PROKOFIEV )

(Romeu, em frente a Julieta, levanta as mãos para tocá-la e as deixa


suspensas no ar.)
ROMEU: Se é pecado tocar em algo sagrado, cometerei docemente o meu
pecado... E os meus lábios, atrevidos, pagarão com um beijo delicado.
JULIETA: Não ofenda suas mãos! Elas me parecem cheias de delicadeza...
Deixe que as suas encontrem as minhas, e que elas se beijem. (Julieta leva
suas mãos às de Romeu e sorri. Eles se aproximam, formam a imagem e
recuam)
ROMEU: (Sorrindo) Seu beijo salvou-me do pecado.
JULIETA: (Sorrindo) Ficou em mim o que eu tirei de você. É hora de você me
salvar. (Repetem a imagem e se abraçam.)
(Entra a Ama.)
AMA: Julieta... Julieta... (Separa Romeu da Julieta) Sua mãe quer lhe falar,
Julieta... E logo... E parece que o assunto é grave!
(Julieta sorri para Romeu e sai correndo. A Ama dá uma volta em Romeu,
como quem investiga. Parece satisfeita, mas procura parecer dura antes de
falar.)
AMA: Não se pode deixar uma menina sozinha por nem um minuto.
(Romeu sorri e toca os lábios com os dedos, como quem se lembra do beijo.)
ROMEU: Quem é a mãe dela?
AMA: Ora! Quem é a mãe dela... A dona da festa! A dona da casa!
ROMEU: (Assustado) Uma capuleto?
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 21
AMA: (Lembrando que precisa ir com Julieta) Me espere, menina!
ROMEU: Entreguei minha vida ao inimigo?
(Benvólio/Benedita entra como quem procura e ouve a pergunta que Romeu
fez.)
BENVÓLIO/BENEDITA: Ah, então, finalmente encontrou a sobrinha do senhor
Capuleto?
ROMEU: Não... Encontrei a filha... E a minha inquietação é agora maior!
BENVÓLIO/BENEDITA: Hora de ir embora! (Pega Romeu pelo braço e saem
apressados)
JULIETA: (Entrando) Quem liga para apresentação oficial ao Páris. Minha mãe
que perdoe, mas não prestei a menor atenção nele. (Sempre procurando)
Onde está meu amor mascarado?
AMA: (Entrando) Deve estar indo embora agora.
JULIETA: Embora?
AMA: Seu primo Tebaldo mandou que ele e seu amigo se retirassem.
JULIETA: Mas por quê?
AMA: Por uma razão muito justa: ele é Romeu Montéquio, filho único do pior
inimigo do senhor seu pai.
JULIETA: (Desolada) Como pode nascer tanto amor dentro do ódio?
(Saem todos)

CENA – ROMEU E JULIETA – BALCÃO

(Jardim de Capuleto. Entra Romeu.)

(GRUPO DE MÚSICA - TEMA DE ROMEU E JULIETA)

ROMEU: (À parte) É a luz de Julieta, a minha amada, o meu amor! Ofuscando


os astros como o dia faz com as chamas
(Julieta aparece na janela.)
ROMEU: (À parte) Quem me dera serem minhas as mãos que beijam aquela
face!
JULIETA: Ah, Romeu! Romeu! Por que tinha de ser Romeu? Renegue seu pai,
rejeite seu nome; e, se não quiser assim, jure então que tem amor por mim e
deixarei de ser uma Capuleto.
ROMEU: (À parte) Devo escutar mais, ou devo falar agora?
JULIETA: Apenas seu nome que é meu inimigo. Mas você é você mesmo, não
um Montéquio. E o que é um Montéquio? Não é mão, nem pé, nem braço, nem
rosto, nem qualquer outra parte de um homem. Ah, se fosses algum outro
nome! O que significa um nome? Aquilo a que chamamos de rosa, com
qualquer outro nome teria o mesmo e doce perfume. E Romeu também,
mesmo que não se chamasse Romeu, ainda assim teria a mesma amada
perfeição que lhe é própria, sem esse título. Romeu, se livra de seu nome; em
troca dele, que não é parte de você, me toma inteira para si.
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 22
ROMEU: Me chama de amor... Me batize... E de hoje em diante eu não serei
mais Romeu!
JULIETA: Meus ouvidos não ouviram nem mais de cem palavras dessa sua
língua, mas mesmo assim eu já sei quem está aí. Não é o Romeu? Nem um
Montéquio?
ROMEU: Nem um, nem outro, bela santa, se lhe desagrada os dois!
JULIETA: Os muros do pomar são altos e são difíceis de escalar! E pra você
este lugar é morte se algum dos meus familiares lhe encontrar!
ROMEU: Com as asas leves do amor eu saltei essas paredes – pois nem
mesmo paredes de pedra podem impedir a entrada do amor. Não são
obstáculos para o amor! E o que o amor pode fazer é aquilo justamente que o
amor pode tentar. Por isso, seus parentes não são obstáculos para mim.
JULIETA: Mas se eles te virem? Vão te matar!
ROMEU: Ai de mim, ai de mim, senhorita! Seu olhar é mais perigoso do que
vinte das espadas dos seus parentes! Basta que me olhe com doçura que eu
estarei livre.
JULIETA: (Num rompante) Adeus formalidades! Você me ama? Eu sei que vai
dizer que sim, eu aceitarei sua palavra. Ai gentil Romeu, se verdadeiramente
me ama, diga-o com fé e não interprete como amor volúvel esse meu entregar-
se que a noite escura deste modo revelou.
ROMEU: Senhorita, eu juro por essa Lua abençoada que banha em prata todas
as árvores do pomar.
JULIETA: Não! Não jures pela Lua. A Lua é inconstante, muda a cada mês em
sua órbita circular... E o seu amor pareceria variável também.
ROMEU: Por o quê então devo jurar?
Julieta: Não jure, simplesmente. Ou, se preferir, jure por você mesmo – o deus
da minha idolatria – e eu vou acreditar.
ROMEU: Juro por...
JULIETA: (Interrompendo) Não, não jure! (Se afasta)
ROMEU: O que foi Julieta?
JULIETA: O nosso encontro me de deixou tão alegre quanto triste. Foi muito
ousado e repentino como um raio... Boa noite!
ROMEU: Vai me deixar assim, insatisfeito?
JULIETA: E qual outra satisfação eu poderia lhe dar hoje?
ROMEU: Jurar o seu amor.
JULIETA: Meu amor está jurado desde que o vi. Quem me dera ainda poder
jurá-lo.
ROMEU: (Assustado) Quer me negar o seu amor?
JULIETA: Só para poder dá-lo novamente... Tenho medo!
ROMEU: Medo?
JULIETA: Da profundidade do meu amor.
ROMEU: Que noite abençoada! Tenho medo de que, por ser noite, tudo isso
seja um sonho.
AMA: (Fora de cena, como quem tenta chamar sem alarde) Julieta!
ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 23
JULIETA: (Urgente) Romeu, se seu amor for tão forte quanto o meu, que nos
casemos... E o mais rápido possível. Avise-me, amanhã, por quem eu mandar
procurar, onde e a que hora nos casaremos... E eu estarei pronta a segui-lo
pelo mundo.
(Batidas de porta da Ama.)
AMA: (Ainda fora de cena) Julieta... Ouço vozes...
JULIETA: Mas se o seu amor não for tão forte, por favor, se afaste e me deixe
com a minha dor. Mil vezes boa noite!
AMA: (Fora de cena) Julieta... Vou chamar seu pai!
ROMEU: Pela minha alma, Julieta: meu amor é forte!
JULIETA: Agora vá, meu amor.
(Saem.)

VOZ: Após trocarem juras de amor, marcam o casamento para o dia seguinte.
Romeu vai à cela de Frei Lourenço e convence-o a realizar a cerimônia
secreta. Após a cerimônia, Romeu presencia um duelo entre seus amigos e
Teobaldo, um Capuleto, primo de Julieta. Mesmo desafiado Romeu nega-se a
lutar, mas Teobaldo mata Mercúcio e Romeu, tomado pela cólera, mata
Teobaldo. O Príncipe resolve bani-lo da cidade para sempre. Enquanto isso, os
pais de Julieta resolvem casá-la com o Conde Páris.

SHAKESPEARE 5: Desesperada Julieta pede ajuda ao Frei que aconselha um


elixir para simular sua morte e montam um plano:

SHAKESPEARE 3: Julieta deveria tomar o conteúdo do frasco, sua família


acreditaria em sua morte, o casamento com o Conde não se realizaria e o Frei,
através de uma carta explicativa, mandaria Romeu voltar para que ficassem
juntos.

SHAKESPEARE 5: Porém a carta se extravia e Romeu recebe a notícia da


morte da amada. Compra um veneno e desesperado decide morrer também.

SHAKESPEARE 3 E 5: Volta à cidade e defronta-se com o Páris no mausoléu


onde está Julieta. Travam duelo e Romeu assassina-o.

CENA – ROMEU ENCONTRA JULIETA MORTA


(Julieta descansa em seu jazigo. Romeu entra apressado e depois devagar.)

ROMEU: Ah, meu amor! Minha esposa! A morte, que sugou o mel de seu
hálito, ainda não teve forças para mudar sua beleza. Ah, minha querida Julieta,
por que continuas tão linda? Devo acreditar que a morte se enamorou por
você? Por temer isto, permanecerei para sempre contigo. Aqui estabeleço meu
repouso eterno e liberto esta carne mundana e cansada. Vem condutor

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 24


amargo; vem, guia repugnante, me arremessa de vez contra rochas violentas.
Ao meu amor! (Bebe o veneno e começa a desfalecer)
JULIETA: (Acordando) Onde está o meu... Romeu? O que é isto, o que segura
em sua mão?

(MÚSICA GRAVADA – ÁRIA Nº 4 / BACH)

ROMEU: Ah, honesto boticário, estas suas drogas são mesmo rápidas. Assim,
vendo a dona do meu coração, eu morro. (Morre)
JULIETA: Avarento! Bebe todo o veneno e não deixa nem uma gota. Beijarei
seus lábios. Pode ser que ainda encontre neles um pouco de veneno que me
tire a vida que perdi quando você morreu. (Vozes do Frei fora da cena. Pega o
punhal de Romeu) Depressa, lâmina infeliz... enferruja o meu peito, para que
eu morra! (Morre)
(Julieta, que tem uma rosa vermelha no decote, a retira e leva o punhal a ela,
deixando cair as pétalas. Cai sobre o corpo de Romeu e morre. Luz caindo,
música. Blackout.)

CENA FINAL 

(Romeu e Julieta estão em cena ainda, desacordados.)

VOZ (entrando) - Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há
também quem garanta que nem todas, só as de verão. (Levanta Romeu,
cuidadosamente)(entrando) - No fundo, isso não tem importância. O que
interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. (Levantam Julieta, idem)

ROMEU - Sonhos que o homem,

JULIETA - E a mulher!

SHAKESPEARE 1 (entrando) - sonham sempre, em todos os lugares, em


todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

SHAKESPEARE 2 (entrando) - Há séculos emocionamos juntos platéias e


leitores ávidos por emoção.

SHAKESPEARE 3(entrando) - Mas navegar por este mar tempo necessita de


um leme especial.

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 25


SHAKESPEARE 4 (entrando) Porque o amor é especial - no curso dos dias e
nos palcos, como aqui se deu.

SHAKESPEARE 5 (entrando) - Sempre se dará, e com cada vez mais


emoção, quando nós, personagens, encontrarmos casas de espetáculos
lindamente lotadas. De pessoas e de amor.

Blackout final.

ROTEIRISTAS EDIÇÃO 2020: GUSTAVO NERY E KAREN SOUZA 26

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