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MORTE, AMOR E TRAGÉDIA EM ROMEU E JULIETA, DE WILLIAM


SHAKESPEARE

Simone da Silva OLIVEIRA (UEG/G)


(simone-04silva@hotmail.com)

Palavras-chave: Teatro, William Shakespeare, Romeu e Julieta, amor cortês/amor trágico.

Romeu e Julieta é uma das mais famosas criações de Shakespeare, que através de
sua história, reflete sobre temas que até hoje são atuais e presentes, mesmo no século XXI. A
peça é considerada pelo crítico Harold Bloom (2001, p. 24) a primeira tragédia autêntica
escrita por Willian Shakespeare (1564-1616); é também uma tragédia de aprendizado,
concebida entre os anos de 1595 e 1596. Segundo ele, a peça é fonte de inspiração para a
criação de outras cinco grandes tragédias, entre elas Hamlet.
O bardo inglês foi um dramaturgo com grandes e várias habilidades sendo uma
delas a da escrita artística, pois ele criou comédias, dramas, tragédias de aprendizado, poemas,
peças-problema entre outras. Por ser considerado o maior escritor de língua inglesa de todos
os tempos, Shakespeare é uma figura de interesse para pesquisadores, já que, a seu respeito,
são publicados a cada ano centenas de estudos no mundo todo (BRYSON, 2008, p. 1). Suas
obras apresentam várias possibilidades de interpretação relacionadas, principalmente, no que
se refere ao comportamento humano. Diante de tais possibilidades, decidimos analisar, em
Romeu e Julieta, os principais conflitos durante o desenvolvimento do enredo, sendo eles de
suma importância para compreensão de toda a tragédia.
Abordamos sobre o contexto histórico em que Romeu e Julieta foi escrito, ou seja,
no período elisabetano (entre os séculos XVI e XVII). Analisamos também a importância que
a rainha Elizabeth I (1533-1603) teve, suas contribuições para criação dos teatros e como ela
conduziu a Inglaterra durante o seu reinado. Acreditamos que seja importante abordar esse
período para uma melhor compreensão do contexto histórico favorável para o surgimento de
um grande e genial escritor, e também para melhor compreensão da peça que contém
elementos que estão ligados a época.
O período elisabetano nos mostra como surgiu as companhias teatrais, entre elas
a que Willian Shakespeare participou e pôde encenar suas grandiosas peças, como são
consideradas por muitos críticos e escritores. É possível também apreciar as condições e
estruturas dos palcos, estilos do figurino usado na época, elementos usados no cenário da
apresentação das peças, além de conhecer outros atores e dramaturgos que exerciam um papel
importante e que contribuíram, de alguma forma, para o grande sucesso de William
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Shakespeare e de suas obras que continuam sendo apreciadas, analisadas e utilizadas como
fonte de estudo em várias universidades.
Nesta peça, uma ação sempre está ligada à outra, o que nos leva a entender como
um conflito é responsável pelo surgimento de um novo conflito, e assim, é gerado o conflito
maior: o final trágico dos dois jovens amantes. Esses jovens amantes nascem de duas famílias
inimigas (Montecchio e Capuleto), porém iguais em nobreza e que, impulsionadas por antigos
rancores, desencadeiam entre si novas discórdias, cujas desventuras e lamentáveis ruínas
serão enterradas com suas mortes.
A obra é uma tragédia de aprendizado porque, através de seus filhos, estas duas
famílias inimigas aprenderão a grande lição de que antigas discórdias só geram novas
discórdias e um fim trágico, como aconteceu com os jovens amantes Romeu e Julieta, que
perderam suas vidas para que os seus pais percebessem os erros cometidos, acarretando
graves problemas e comprometendo a vida de algumas outras personagens, como Mercúcio,
Páris, Tebaldo, entre outros.
Apesar de a rivalidade entre as famílias comprometer a vida de outras pessoas,
percebemos que, com a morte dessas personagens, existia um objetivo, uma intenção para dar
sequência à peça e consequentemente retratar algo que estava acontecendo na época, como
por exemplo, a desastrosa guerra civil (entre os Lancasters e os Yorks) que a Inglaterra sofreu
no período de 1422-1485. Talvez as famílias rivais da peça representassem os povos
envolvidos no conflito. Além de retratar a guerra civil, a peça tem outros fatores a serem
analisados: o amor, a morte e a tragédia.
Na peça Romeu e Julieta, está presente o mito do amor cortês, termo usado para
explicar o comportamento dos cavaleiros da época elisabetana, quando estavam apaixonados
por uma mulher que não retribuía a tal sentimento, e será a partir desse mito que analisaremos
os três tipos de amor presente na obra que nos traz reflexões sobre o quão trágico pode ser a
vida do ser humano em envolvimento amoroso, pois a peça também retrata essa questão de
que nem sempre o homem terá sucesso por ter seus sentimentos correspondidos.
Na época de William Shakespeare, a convenção do amor cortês estava mais ligada
à classe média, que tinha ligação com o casamento definitivo, e os aspectos visivelmente
sexuais de tais relações eram explorados de forma bem mais ampla. A partir dessa convenção,
o amor, em Romeu e Julieta, abrange formas diferenciadas sendo elas de três tipos:

Primeiro, a convenção petrarquiana ortodoxa no amor confesso de Romeu


por Rosalina, no início da peça. Segundo, o amor menos sublimado para o
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qual a única solução digna seria o casamento, representado pelo principal


tema da peça. Terceiro, a perspectiva mais cínica e vulgar que obtemos nos
comentários de Mercúcio, e talvez nos da Ama também. (FRYE, 2011, p.
35)

Além do mito do amor cortês, abordamos sobre o amor menos sublimado,


mostrando opiniões divergentes entre os críticos Harold Bloom e Barbara Heliodora, e por
fim respondemos baseando-nos nas críticas, a questão do amor morrer com os amantes ou
permanecer vivo.
Muitos acreditam que a obra é famosa somente por se tratar de amor, mas, após
as análises feitas, compreendemos que a história tem muito mais a oferecer do que
simplesmente uma história de amor entre um jovem casal que pertencia a famílias inimigas. A
partir do mito do amor cortês, analisamos três tipos de amor que estão presentes na obra: o
amor não correspondido, o amor trágico, justamente por ter sido correspondido, e o amor
voltado para a sexualidade.
William Shakespeare nos faz refletir sobre o quão trágico pode ser a vida de um
ser humano, quando se deixa levar pelo ódio ou quando coloca os interesses próprios acima
de qualquer interesse que pertença a outro ser. Romeu e Julieta foram vítimas do ódio que
suas famílias carregavam desde tempos passados, e para que esse sentimento ruim deixasse de
dominar essas duas famílias, o amor nasce em Romeu e em Julieta para cumprir a sina de
destruir o ódio com o amor. Mesmo eles morrendo no final da história, o amor nasce no
coração dos Montecchios e dos Capuletos, que só com a tragédia que se deu com seus filhos,
puderam enxergar os erros que estavam cometendo.
A peça, mesmo sendo criada há tanto tempo atrás, aborda o comportamento
humano presente em qualquer época, pois a impressão é que a história poderia acontecer na
atualidade. Talvez esse seja um dos motivos que a peça tenha alcançado muitos admiradores.
O bardo inglês foi um dramaturgo genial em sua época e essa genialidade permanece até a
atualidade.

REFERÊNCIAS:

BLOOM, Harold. Macbeth. In: ______. Shakespeare: a invenção do humano. Tradução de


José Roberto O’Shea. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 124-143.

BRYSON, Bill. Shakespeare: o mundo é um palco: uma biografia. Tradução de José Rubens
Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 13-193.
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HARRIS, Peter James. A alvorada do drama. Entre livros & Entre clássicos: William
Shakespeare. São Paulo: Duetto Editorial, 2006, n. 2. p. 24-33.

HELIODORA, Barbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva, 2009.

KOGUT, Vivien. Renascentista e moderno. Entre livros & Entre clássicos: William
Shakespeare. São Paulo: Duetto Editorial, 2006, n. 2. p. 14-23.

FRYE, Northrop. Sobre Shakespeare. Tradução de Simone Lopes de Mello. São Paulo:
EDUSP, 2011. p. 13-51.

RESENDE, Aimara da Cunha. Entre nobres e aldeões. Entre livros & Entre clássicos:
William Shakespeare. São Paulo: Duetto Editorial, 2006, n. 2. p. 6-13.

SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. Tradução de María José Martins. Chile:


América do Sul LTD, 1988.

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