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Mauro Rasi, nasceu em Bauru, São Paulo, a 27 de fevereiro de 1949.

Aos 14 anos
escreveu e dirigiu sua primeira peça. "O DUELO", sendo"descoberto" por Antonio
Abujamra num Festival de Teatro Amador realizado em Bauru, em 1962.

A partir daí entra em contato com o ambiente teatral paulista onde lê .várias de suas
peças nos seminários realizados pelo extinto Grupo Decisão de São Paulo.

Forma-se em música.e viaja para o exterior onde fica três anos entre Europa e Estados
Unidos.

Ao voltar, em 1971, encena sua. primeira peça profissionalmente:"A MASSAGEM",


com Stênio Garcia e Nuno Leal Maia, produção de Ruth Escobar e direção de Emílio
Di Biasi.

Nesse mesmo ano ganha o PRÊMIO ANCHIETA, com a peça "OS BASTARDOS", e
menção honrosa no mesmo concurso com "EL CABARET", peça onde contou com a
colaboração de Fauzi Arap. (São ambas proibidas pela Censura).

Em 1974 é encenada "LADIES NA MADRUGADA", espetáculo polêmico dirigido


por Amir Haddad, com Duse Nacarati, Vicente Pereira, Luís Carlos Góes, Rubens
Araújo, Lenah Ferreira, Patrício Bisso e outros.

Muda Para o Rio e em 1978 encena "SE MINHA EMPREGADA FALASSE, com
Thaís Portinho, direção de Nelson Xavier.

Em 1980, em parceria com Vicente Pereira, "A DIREITA DO PRESIDENTE", com


Gracindo Júnior, Aracy Balabanian e outros, no Teatro Glória. Nesse mesmo ano
estréia "AS MIL E UMA ENCARNAÇÕES DE POMPEU LOREDO", também em
parceria com Vicente Pereira, direção de Jorge Fernando, com Duse Nacarati, Diogo
Vilela, Ricardo Blat, Marcus Alvisi, Stella Miranda e outros. Música de Eduardo
Duzek e Luís Carlos Góes.

Em 1981 é a vez de "A RECEITA DO SUCESSO", dirigida por Jorge Fernando, com
Duse Nacarati, Marcus Alvisi, Vicente Pereira e Vera Setta. Com música da dupla
Dusek / Góes.

E "DOCE DE LEITE", com Marilia Pera e Marco Nanini, onde é um dos autores,
juntamente com Vicente Pereira e Alcione Araújo.

Em 1983, "A FAMÍLIA TITANIC", no Teatro Delfin, com Claudia Jimenez, Pedro
Cardoso, Felipe Pinheiro, Zezé Polessa e Guilherme Karan. Cenário de Naum Alves de
Souza e direção de Felipe Pinheiro e do autor.

Na TV' escreveu para Marília Pera e Marco Nanini no extinto programa "Planeta dos
Homens da Rede Globo e atualmente. trabalha com Chico Anísio, no “Chico Anísio
Show” onde criador de alguns personagens como Washington, Caio Malufus.
A MENTE CAPTA

De Mauro Rasi

Diretor: WOLF MAYA

Cenário e figurino: MARIA CARMEM

ELENCO:

CRISTINA CLAUDIA JIMENEZ VASCONCELOS


PEREIRA
DIOGO VILELA CININHA DE PAULA
MARLENE
LOUISE CARDOSO CHICO TENREIRO
BETTY ERTHAL
ANSELMO RAFAEL PONZI

Apresentada em outubro de 1982 no Teatro da Praia no Rio de Janeiro.

CENÁRIO:

O consultório da Dra. Rosa Cruz, dividido em sala espera e sala e sessão.

Na porta que divide os dois aposentos ã' inscriÇão: "DOUTORA ROSA CRUZ,
ANTI.PSIQUIATRIA DE APOIO".

E mais abaixo: "FAVOR AGUARDAR".

Na sala de espera há um grande quadro, ampliação da famosa tela de Rembrandt,


"AULA DE ANATOMIA", e é dividida em sala de espera propriamente dita e
vestiário, onde os analisandos trocam de roupa vestindo uma espécie de kimono, onde
nas costas lê-se: "TERAPIA DE APOIO". Na sala de terapia há um retrato de Freud e
um ''TATAME''.
'. TODOS - Mas ~iz pra nós também. Dora. Diz. '<J

DORA ..l. Sabem o que eu descobri? Descobri que o meu problema é: meu pai. minha
mãe e eu! '-.

CAIO - (TIPO INTELECTUAL. MALTRATADO. SUETER PUIDO. CERTO AR DE


CINISMO. FALANDO COMO SE ESTIVESSE DIZENDO ALGO~
EXTREMAMENTE SIGNIFICA"FIVO). Os ratos roem o labirinto ,ê '. ' ';:"'~
TODOS ~..' . . Nãol

_ DORÁ ~ Já pensou, corlta~~ minh~ ~i~a,:~~;tar o 4 OUTRO - Eu tenho. .:':',


inconsciente lá naquele programa? E depois eu não

o~. 0:" posso ir mesmo, que se o Jorge me vê ele me mata...s 'o. OUTRA - Então
vamos trocar? Eu te empres!D

o~' (VAI APREENSIVA AT~ À JANELA ESPIAR) o "ESQUIZOFRENIA" e você


medá a '.'DOR PE

- Ai estou tão preocupada. ' .. SISTENTE"... !-f,~~.

.~LiNDALVA""7Porquê? ;-!1.'<...' .'. .:./. : '.:' r~ OUT~O - Dou, não. Te


empresto. Olha, vâie vo

DORA - Estou desconfiada qu~ sá'~ e deixei o gás

aberto. Também o Jorge me deixa de um jeito, eu

tenho tanto medo delo descobrir que sempre que 10UTRA - Você não disse que ~inha
"AS MAl

., venho pra análise é assim. Fico achando que esque- J'u.. BELAS FANT
ASIAS MANIACO.DEPRESSfl

~~ ;.k.::~ci alguma coisa, que não. fechei a torneir~9.ue n!~:,"Ai ~.~~,''''~,.~inkley?

~
'o; t-J .fechei a porta, que deixei a Janela aberta..p.,:.,... ""'~"',,,;~i }. '.0' .'.. '-, t:;;~
',OUTRO ..1' (PROCU RANDO) f..ch9 gue perdi PARANÓIA SEM SENTIDO

LlNDALVA - Ah, voCê odeia quem faz sucesso, isso sim. Você é um invejoso.

ALGUNS - Hi, não dá corda pra ele, não.

CAIO - Ela se vendeu ao sistema. Se vendeu, sim. ~ uma vendida. (GRITANDO)


Vendida I (FICA UM CLlMÀ. TODOS SE C!\LAM).

~ ANALISANDO - Está vendo? A coisa vem vindo

num pique e quando você fala, pesa. Ainda bem que a gente decidiu que a gente não
vai deixar você falar. Cala a bocal

(ELE FICA RESMUNGAND-P NUM CANTO).

DORA - Pera ar, gente. Vamos mudar de assunto. Ela quer que a gente vá ao
"FANTÁSTICO", né?

\ANALlSAr.mO - Ah, eu não \ '. '.'

t.. OUTRO - Nem eu., : . õ,.~ fi'J.'-, 1,

LlNDAL V A - Você não trouxe o me!.!, não? Eu

':."" pedi tanto. . . o:... ,'"..':'

"MENDIGA" - Qual?

-.,'

LlNDALVA - "NEUROSE E RAZÃO", de La bisomen.

"MENDlGA" - Ah, esquecf. Sabia que tinha e quecido alguma coisa. .

f)ANALlSANDO - Vem cá, mas você já leu "SE

PERSPECTIVA", de Smitson?
LlNDALVA - Não. Ainda estou no meio de "M CANISMOS DA DEPRESSÃO". Eu
gosto de I devagar. Eu s6 leio à .!!9it~, antes de~~ormir, pr

pegar no sõno. . . ."

~ OUTRO - Ai, eu estou louco pra ler "ESQUIZ

FRENIA, MI NHA IRMÃ", de Bernardine Ha man.. .

. .5 OUTRA - Gente, eu achei "MEDO DE PI RAR' num sebo. . . . (V AI AOS


POUCOS COMEÇA DO UM TROCA-TROCA DE LIVROS).

.3 ANALISANDO - Não, esse eu não tenho, Mas te

nho: "QUERIDA NEUROSE", de Jeffers; tenho "MARXISMO E PSICOSE", de


Lambisomen; te.

nho"O SEIO FANTASMA", de.Fritz 'o', r' ~~ .

q OÚTRA ;-'(DESESPERÁDAí"VOéê'~~ :"ÔUEM7

, POR QUE? COMO?", de Buil? o

c.. ANALISANDO - Tenho. Tenho "FOBIA E 50

~ SI~o,~N~M~C~". de Ka~p~anoo"! ,..'; ;~f}i~;d~:;"",

(~.AT~~ÓRICA) Eu não posso mais ficar calada. Eu me sinto tlio mal, tão A
DOUTORA ESTA FAZENDO MIL COISAS).

.,. . . .desesperada. Estou me sentindo tão mais insegu

.. ... ç~ '-:1m.Eu estou plor~~ol f1~ENDO U~A CRI~E) !J7

",pOUT.9RA -.0 Llndalva. ~epo!s e~ p~lso falar ,;.,;


enho medo de morrer e ser enterrada vIVal ;..,;,De ~~{rI!com vóQf~Me
lembraquel"~';~~-$.;t;

Icar presa no elevador de um édlf(cio em chamalll..;:'

..A.~n.hora

.',~s~ presta~d?:ate~

ORA .; Vamos fazera

ullo'

ue a doutora ensl. ~:~'ié

,,?'~.'->\~ODEM ELA PELOS OMBROS), :~~;~J;~"" t, "Ji:~;~DOUTORA -


Conta logo esse sonho:'~.; :~~tG:'

},t@fÃ~;~ISANDA'~ ~}(~;;iÀ~ci~: ~~~0Á~~ci"~ . 'c:r~NA~is~NDO -


(CONT;NU~N~;;'~I~~~ ~.~~

\/.::SACUDIDA) . . :-Eu acho um absurdo o nosso gru.; :' casa. não era bem uma
casa. Era uma. .1.': ..~ ."

:t":~t:!:~po ter QUARENTA E.CINCOPESSOASI A gente mal cabe na sala. E.


ela faz isso por ganancia. Está . DOUTORA - (IMPACIENTE) Era uma casa ou

~:r ,_. construindo uma mansão na Barra com uma piscina em forma de peito. E vocês.
trouxas-, pagando.

- Decida.
C não era uma casa?

~ r~.. - Não sei como vores toleram. S6 porque fi chique,. ANALISANDO - Não sei.
Era um lugar Ifrmo,

"'\t.. ,dástatus? Como vocêssão fúteis. .' M~\~,".I,;,: .~~ ,abandonado..,. ':I."~',

~r 2 ANÁLlSANDO -'o.ue'mvocê pensaqueé,heimpra 'DOUTORA - (IMPACIENTE)


Sei.. : (ASSINAN.

"1' vir aqui jogar isso na cara da gente? Você faz tera. DO UNS PAPE:IS,
EXAMINANDO OUTROS)~ -,

.;fi 'pia há DOZE ANOS I !',r.,tI . ,- ", "

~ 4 ANALISANDO _ (TENTANDO ACONSELHA. CANALlSANDO - !in~a uma


cerquinha quebrada,

~1 LAI Vore não sabe o que está fazendo. Está dan- logo a~rás uma mOltazlOha.
E não era bem eu. Era

'i do um passo muito sério. Perderá tdos os seus ami- eu e nao era eu . . .

~ ~s; ~inguém mais f~I,~r.á com v~ ... ..'~. . DOUTORA _ (IMPACIENTE) Era
vooi OU não

t" 3 ÀNALlSANDA :. (FURIOSA, TENTANDO SE era você? i:"!" - .-t ',:

'1" ARREMESSAR CONTRA A PORTA DA SALA CANALlSANDO - Não sei. Não


dava pra ver. Eu

;~ DE SESSÃO, PORE:M SENDO CONTIDA PELOS não sei se eu morava


lá ou não. S6 sei que eu tinha

.t COLEGAS) Eu não era assim. Foi elal Foi ELA, tanto medo daquela casa. .. E
tinha um caminho.
'.I' com sua terapia maldital ' zinho perto de um preciplcio, uma jaula, uns. . ~

'ft A PORTA DA SALA DE SESSÃO ABRE-SE MIS- ..

<~ TERIOSAMENTE. ELES 'SE CALAM. ENTRAM 'DOUTORA


(MATANDO A CHARADA) Pode pa.

,,'~' NA SALA, COMO SE FOSSEM PARA O MATA- raro Pode parar.

"'~i1-.: DOURO. NÃO HA NINGUE:M. DE REPENTE, A '

. .~ DOUTORA SAI DE DETRÁS DA PORTA, FE- CANALlSANDO - O


qUeSignificaess

eso

nho.d

ou.

'.<t;. CHANDO.A VIOLENT.AMENTE COM O PE: E tora? 'fo ...

,., DIZ. MAL HUMORADI~IM~. ~ ,. . .. .) .~ .., ,.

f " DOUTORA - Significa que você, quando era be

"
~ DOU'TORA - Vocés melhoraram, ~ão fi? ..:~.:' ~;;: bezinho tinha medo de
ter irmâ'os. :> .'.,

~ (ELES SE ASSUSTAM) ;'."~ '," :!:':'" . \, I,.,

'.~ .

(J;

. ;. .. . .: .;~

~, ;,

'J:.'

. '~~.". i,,:'. . ::;"';::'

)/"

ANALlSANDO - Medo de ter irmãos? ,:".

'.fit.. . .. ..<:8 '-.. - ;O~ ... _ __'~""""~oII:

~!., ANALlSANDO,-,:Ai.doutorci:.".Semprebrincan-:., ;: . "


::.~"",~A::&F'7.'

~Ü: ~510 Se nos assustar ;:\:i~,fj,i}~~1i{~~$,~1:1.1~~~:;:J. '-:' h~ DOUTORA - Não


queria que sua mãe tivesse mais
.lrh

; .,r~"' 1." '.tn;' .;~.~~o)f~&?,,,~~ .~'~~i\'~I'~1if.!.ó}~.;; f,<h?~'?.filhos que disputassem


com voaf. o ,~o~~o ~a~r-"."

:~.; OUTRO - AI, meu coração.~, dISparou. :! .Jo.Lf;, .'.:.\:,no. V~ amav.a sua mãe.,
:.:'.,,-!ffi'~N';tn:~ftfm~:';

~.. " ','.\fP:'i;. .. "j~))\IU~~l-;~}J[~~!'AJ '!::Jkl:'i~ I' 1\! ft:$;;;:Ç': .,"( ,:, ..,., ' .
",~{t~;k'-;M~}r.

fv.: ;~i!;DOUTORA ~~Vo~.s' ~ãó '~üito moie~gàs. 'Levãm '~ANÀLISANDO ,-:,Claro


que amava~~!,~~ ~~~~J~'~'

~'?. ,.:.cada susto. Quero so ver quando vocês morrerem. . ~.?"!~ '...
~.r,t.~,,*;!"f,T:!

~-""':.;-": ..'~, '; ., -,' ,.~. ':.,; "' "';', ;'~~~<,:. ~ DOUTORA -
(COMPLETANDO) ;'.;;! Sexualmen

...,.A

ANALI

'

- . · -,.,.,..",,!'i ,. ..

. '-.J'~~, ..SANDO- .red~,doutora"'~~~'~5~~> :',:>.;te. ",.:'--:i'~;"<'.'.

:!.~ 'ÁNALlSA~- Do~to;~ Ro~a"~~~ii~;~;'~~nh~'C 'ANA~ISANDO - Credo,


doutora;~~~:'é~~~e"~;
tão estranho. ..;" '.~ '.i!J{!;.,i:; o'; ~:-:.; . "~',fI,".'fI.~.\':.' '.. senhora pode dizer
uma coisa dessas? ~ ~

'. ..- ,.,... -., t r.~".'(;.-"~I;'''- li':""fP.?tJ.~~";"';, :"~ ."" "~f". ':,"
,~:'2:;"~ '",,0-" .~};. ....

; '.: .- DOUTORA - Claro. com éssa càbéçà 'lhas querià ~Ú,'DOUTORA - Sabe
que às vezes eu 'também me

~,;J~sonhar '0 quê? (O ANAqS~NDO,F)~A.tCONS. ;1;~.pergunto? "Como? Como'?


Mas eu :dlgo:'voaf '1>

.r~A~,GI DQ) Desculpe; eli e~a~a brincando~,ya"'

'~ ,'"'fSempre quis ter relações sexuais com .,ÍlJa mie. '~

onta o.seu sonho~-espero gue eu não'durma't;~1 ~,não s6 com sua mãe mas também co
seu pai " f,.

,u.paliPiifI

iJ'iJ~'1.~'11' 1~'~1;í#J~:II:~J~~}""'''';:;;~~.~tt.'!IfJti\''h11,. ,.1:':" " , , "f .


~:,:.; ,;,.: '~~f,Yõ'i' A.

NAlISANDO ~Scínhêrqúe ~1;krS8be;'eÍ'à umã' .. .ANALISANDO ;;.. ;vtCom


mEiJ pál1'MasrJiso tf ;:if[;:

"'coisa tão esquisita :'.': (ENQUANTO ELE CONTA' '; 'um absurdol '~ .. ..;~t~"'"
~'1 .'iA..' .

OUT/NOV/DEZ

45

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46

REVISTA DE lEATRO

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ir apoia no poste. L.ANALlSANDA (QUA~E ESMAGADA) ... Ouan

t' (UMA ANALlSANDA APROXIMA-SE, TEMERO- to já passou?

t .. . SA, INSTIGADA PELOS DEMAIS A FAZER.A ,

m!:f.{SE

.
r-9~1~~El\~RG-YNT.AJ

;~~~~

'''' . ::' "'<:".r~~~DOUTORA ,~:, Ainda nllo passou ''qúaSe híd.. " .

~~,A~~~~~~~.H~if~~~~.~A.guenta..~( (A.OS OUT~OS). O efeito disso, 11- ,~.

,,' .NALls,ANDA "i".:o~Doutor:a Rosa~ qual a ~if~-:..~~bim, d que.quando


tlr~a gente se sente!tlo bem.

~=,- ;-grt'".ça,~Q~!.

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iqulatria,~!+ntl..pÍi~~iâU:ial.;~-jJ-;~.ttifassa iudo~ Mas nlo via f.lcar'Joda


hora:que;.~m.:,;,.

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DOUT?RA +~.(FICÀND~:(~4~~~1~.~~~ ~~;gun.~:§iP~ia".,põe o' obel!sco. "Ai, t6
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ta d. ~rJa ~u ~ p~a.r.ne .pr~v~

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::9ue .1:; põe o obehsco. Tem ~e vencer por voots

. r.-t";=:;: , .' .:~ "r ;\ '1~~rn";-~"~~~(í'~nj~~~' ~~"):mesmos. Senão gera depenQ!ncla.


Pronto. Ajudem ANALISANDA ..;, Não. ~~s4ria"doutora.l~ ser(s- ,,~: 8 tirar. Isso,
com cuidado. Não me deixa cair, pelo

sim a ~. :.:';F'i .':H'r~~f.i+?!j:~íi.'~~;Hn" "J i~~.í ~6I1,Ü\}~' { X ámo~ de D~us que


":Ie,faz um.r.om.bo no chIo. ~io
'" . >.:,~ ; "..",. . · f'J. ~;'1t}fh ii'''';'.:D ",' ~;::"1{!)i'iP;t.trne n~a o slnteco. ", 'J :~:
; i t !:1,J:J f"~"~

DOUTORA - (PENSANDO UM POUCO. Bem,.:;: ,\~-..<")'" ": ,". . ~. , .~


~""~ ~ ':~.

Nós, da anti-psiquiatria. ODIAMOS a psiquiatria. 2 ANALlSANDA - (SAINDO


FORA-. AI, que al(.

Entendeu? Essa é a diferença. (VENDO QUE. viol AI, que al(viol. . \" (
:

ELES SE ASSU::>TARAM,SORRI E:MUDADE ;~,\,;.j': .;'" .,' q~.'.~Wl

TOM), Eu vou te contar a verdade. (SAINDO DE ~~,.~pOUTORA - Quem d que vai


hoje pro tatame? ,.,

SI E CONFESSANDO NUMA BOA, CURTINDO 74;:f', .' . :"'_~''';:~~~iJ,

A NOSTALGIA). . . ; A gente tava a fim de agi- 'f> ANALISANDO - E: a Atnaracy.'::


~}r':r~._~'Y.:

tar. A gente reuniu uma turminha quente, sabe? ,~, ". ,'o "," ,~:' '

A gente queria fazer uma coisa bem louca. ... v". ;., DOUTORA - A Amaracy?
é:?;. : 'fI'

,~.

DOUTORA - (CALANDO-SE, SUBITAMENTE. SACANDO QUE FALOU


DEMAIS. OLHANDO MEIO AMEAÇADORAMENTE PARA A ANALI. SANDA).
Vo~ é muito curiosa. ein menina? Cui. dado. (PAUSA. CLIMA DE MA EST . E R

r
PENTE, UMA CONFUSÃO. D ANALlSAN

DOS ESTÃO DENTRO DA :A OUPA).

DOUTORA - . . . Mas, o que é iSso Jj( que está

acontecendo? ~. ." ,., . ,-' / - -'

AMARACY - Sou eu, doutora.

DOUTORA - !: a primeira vez que voa! vai pro ta.

tame? .. }.

\ "( :

AMARACY - ~. A primeira. . .

(A DOUTORA EXAMINA BEM ELA E PERGUNTA).

DOUTORA ~ Você pagou?

" ,. '1c.'~ ..

. -.

AMARACY - . . . Paguei, doutora. Olha aqui o carnê.

DOUTORA - Eu não sou bruta, não, ~inha filha. I: que eu sou das antigas, viu? No
meu tempo não tinha disso, não. A gente mandava logo ariar umas panelas, lavar e
passar roupa que é um santo remédio pra curar dor de cotovelo. Mas, já que você
tápagando, vai, minha filha, vai logo pro tatame. (ENQUANTO AMARACy.sE
AFASTA, ELA COMENTA, IM'PRESSIONADA). E: incrrvell Os pa
cientes vêm aqui já sabendo tudo sobre a própria .§):J-dIOZ OFF - ". . . Vou por ~ma
cortina laranja no doença: "Ai, a senhora não acha que a minha ma- canto esquerdo,
um puff à direita. Não posso <!snia tem muito a ver com aquele ensaio de Lam.bi-
quecer de passar no marceneiro e encor,nenàar um somen?", "Ai, eu acho que o meu
caso está mUito sarrafo de vinte e duas polegas de diâmetro. . :.

bem classificado por Kanplan . . : , "Ai, Jeffers descreve uma neura igualzinha à minha
.~ :.

, ~'

minha desses? Ah. eu dava logo umas bordoadas mas, infelizmente, a ciência me
proíbe de bater.

(AANALlSANDA QUE DIZ QUE QUER SAIR, PENSA; EM OFF). "";; ", brJil,,-"
...~f :-;'--:',F~r~

, ;';;!',::'I '!";n~~i.. ...\'., ~

';~ ".

' ANALlSANDA - (EM OFF, DESTACADA POR

""', UMA LUZ MAIS FORTE SOBRE ELA). ~'. ..A

..;" senhora é bruta, doutra. E:: brutal". ,... ''',' .;. ,

- . .o.i, " . . ,

DOUTORA - (CAPTANDO IMEDIATAMENTE O PENSAMENTO) . . . Quê? Quem


pensou isso? Quem é que anda pensando essas coisas de mim, hein? Pensa e não tem
coragem de se apresentar?
Já disse que eu capto. Eu capto. Não adianta pensar que eu capto. Estou em pleno
controle de tudo que se passa aqui dentro.

(A ANALlSANDA QUE PENSOU MISTURA-SE RAPIDAMENTE ENTRE OS


OUTROS. A DOUTORA DIZ,A AMARACY).

AMARACY - (INDIGNADA). De fato (ORGULHOSA). Eu sei TUDO sobre a minha


propria doença. Eu me interesso por ela, leio tudo sobre ela, procuro me atualizar, me
manter informada...

DOUTORA - (NERVOSA). Pois se tomasse um bom banho frio, s.abe. pegasse numa
enxada, ia ver como passava. Ficava boazinha.

(AMARACY FICA OFENDIDA. A DOUTORA CONTINUA).

DOUTORA - Garanto que a sua casa está uma bagunça. Se vore arrumasse a sua casa,
você ia ver co

. mo arrumava a sua cabeça (TOM). Antes de ir pro tatame vamos "Esvaziar a mente".
Todos vocês já conhecem o exercrcio, não é? Então vamos fazer.

AMARACY - (PROCURANDO ALGO QUE NÃO CONSEGUE ENCONTRAR).


Gente, eu perdi meu

lenço. Alguém viu um lencinho xadrezinho . . . (OLHANDO DESCONFIADA PARA


OS COLEGAS). Acho que "perdi" . .. (DESCONFIADISSIMA). 1:, devo ter 'perdido"
...

1 ANALI~AN~~ - O t~~~badinha ~~o le~?u? . . ',': ':~

AMARACY - Imagine. Tava com ele na cabeça.

48
DOUTORA - Silêncio! Todo mundo bem extrovertido, olhando ao redor, observando,
se locali. zando, se tocando, se sentindo . . . Sinta O seu companheiro, a sua
companheira e NAo PENSE.

(DANDO UNS TAPA~ NAS COSTAS DE UM)._ Extrovertel Tá muito pra dentro.

.'..

DOUTORA - (CONTINUANDO - DANDO UNS TAPAS EM OUTRO). Você


também. Sáia pra fo: ra. Ai, meu Deus. Só batendo pra vocés extrover

terem, hein? (AMEÇANDO-OS). Se eu pegar al-'

~ém introvertido aqui dentro, remoendo coisas eu dou uns tapas, hein? Depois não vão
reclamar, dizer: "Ai, a doutora me bateu; a doutora é bruta; a doutora é isso e
aquilo. . :'. A doutora faz o que pode. E, muitas vezes, o que não pode. Mas OS meios,
aqui no caso, justificam os fins (A SI MES.

MA). Mesmo que não se saiba bem qual é o fim. . . (A ELES). Não pensem em nada.
Simplesmente es. tejam aqui e mais nada (A UM ANALISANDO).

Você está pensando! .

.6 ANALISANDO - .. . Não estou. Juro, doutora.

DOUTORA - (DESCONF!ADA). Tem alguém pensando aqui. Tem alguém pensando


aqui. ., (TENTANDO LOCALIZAR).

DOUTORA - (IDENTIFICANDO A AUTORA DO PENSAMENTO) . . . Dóra!

DORA - (ACORDANDO) . . . Quê?

DOUTORA - Não adianta negar. Eu ouvi!

DÓRA - . . . Desculpe, doutora. ~ que estou re. .

formando o apartamento, fico com a cabeça cheia de idéias. . .


DOUTORA - Assim você não vai pro tatame, não. . Trate de esvaziar todas essas
preocupações. lem- .

bre-se que o segredo da capacidade é . . . (PER

GUNT AN DO A ELES). Qual é o segredo da capacidade? (PAUSA. NINGUEM


SABE). Eu já disse, pra vores mil vezes: vamos lá, "'é a gente fazer o que está fazendo
QUANDO ESTÁ FAZENDO". (F-ERGUNTANDO). E o que é que nós estamos
fazendo? (NINGUEM RESPONDE. ELA GRITA). Nadal Nada! Na-dall

DÓRA - Eu não vou mais pensar em nada, douto. ra. Prometo,

DOUTORA - Quero só ver, Todo mundo pensando em nada, Quero OUVI R todo
mundo pensando em nada.

(AOS POUCOS VAI SE OUVINDO A VOZ OFF DO PENSAMENTO COLETIVO


PENSANDO):

REVISTA DE TEATRO

~E;~=> ~. '~oz OFF DO .

,~t PENSAMENTO - ". . . Nada. Na<la. Nós estamos

,[:." ,. pensando em nada. Em nada. Em NAAAAAAAA

~ i ,':.'1 AAAAAAAAAAAAADDDDDDDDDDDDDDAII

..\~;. ". 'U., IJ.;Í .!lI'-) .'10: t t1"e, """ )J~ ,.11 -".., ~.' "

~'~r .. '"m.:.' - .

. DOUTORA - Ótimo (COLOCANDO A MÃO EM

CONCHA SOBRE O OUVIDO PARA "CAPTAR"


MELHOR). Todo mundo pensando em nada. "

"

~: . l;';

ANALISANDO - (COM A PAPELETA DE "RELATOR DE CASO"), A analisanda já


está no tatame, doutora.

DOUTORA - Então. atençlo. A analisanda já conhece as regras do $istema, né. de


reconstitu iça'o e

desmistificação do trauma. né? Entao amos todos

do grupo colaborar e recriar a situação dolorosa da nossa amiga aqui, para que ela,
mais uma vez, Ó VI'tima, viva os' horrores daquela situação passada, na esperança de
que, vendo onde marcou, pare de marcar, esqueça e parta pra outra (TOM). Eu quero
avisar que aqui a gente s6 vive a situação doloro~ sa passsada UMA VEZI Depois, se
precisar recriar

'.. de novo tem que pagar uma taxa extrai Que eo

.. não vou ficar aqui toda hora alimentando sofri

mento alheio: "Ai, eu quero relembrar aquela situaçlo horrorosa que me aconteceu há
dez anos atrás . . . " "Ai, eu quero relembrar aquela coisa pavorosa que me aconteceu
quando eu tinha seis anos. . :' (CATEGÓRICA)' Quer sofrer, tem que pagarl Vou
mandar por uma'tabuleta aqui: "Sofrimento é lucro". Se na'o vou . . . Que eu estou
desconfiada que vocês andam fazendo do sofrimento, uma carreiral

9 ELES - (INDIGNADOS) . . . N6s??l

DOUTORA - Vocês sim. Não sejam cfnicos

(TOM). Atenção, todos @>-postos no tatame. Luz no tatame (GRITA). Açâ'ol


(AMARACY ESTÁ DE KIMONO NO TATAMEL

AMARACY - (CONTANDO SEU CASO). Dany era tão encantador, tão -bonitinho. . .
(SURGE DANY ATRÁS DELA. NO TATAME).

AMARACY (CONTINUANDO). Eu morria de me. do que me roubassem o Dany . . .

DOUTORA - (SENTADA NUMA CADEIRA 11PO DIRETOR DE CINEMA ONDE


LI:-SE ATRÁS "DOUTORA ROSA CRUZ"). Você sempre se sentiu roubada?

AMARACY - Sempre. Desde pequena. Achava que tinha perdido, que tinha esquecido
em algum lugar. mas não, era roubada mesmo. Roubada pelos meus amiguinhos. pelos
colegas, pelas emprega

10 ~ das e at4 pelos meus irmãos. Fui assaltada por um ""~ttrombadinha. doutora.
quando vinha para o con

sultório~ E agora h' pouco. aqui no consplt6rio eu

'. "perdlH o lenço. . .~.

DOUTORA - Quando foi que você achou que te "roubaram" o primeiro namorado?

AMARACY - Foi nos "Slxthles . ...~. Ji ti ,

. ~ \ ". ,.-;~. . i.. 4.;rJ~i.~;' ;.-i

DOUTORA - . . . O quê? ' '; .~

AMARACY - (CORRIGINDO) . . . Nos anos sessenta. Desde então eu fiquei tão


chocada, 1:10 traumatizada, que não namoro mais em paz. Namoro

.sempre sobressaltada, agitada, tensa, atenta ao menor ru(do, ao menor movimento


suspeito pois SEI QUE SEREI ROUBADAI Entlo, eu entrego. sabe, eu largo, eu
deixo. . .

DOUTORA - (ESTUPEFATA) ... Voai,oqud771


AMARACY - !:, eu mesma dou. Eu sei que vou perder mesmo, mais cedo ou. mais
tarde. . . (CONTINUANDO). E isso é tem"vel, sabe; doutora? A senhora sabe o que é
estar apaixonada e ter que deixar, que largar pois será roubada? (CHORAN. DOI.
Porisso estou aqui, doutora, para me tratar (DIABÓ lICAJ. Mas devo confessar que
adoro feconstituir a cena do primeiro roubo, quando fui roubada pela primeira vez. . .
nos sixthiesl

(lLUMINA-SE O TATAME. AO SOM DO HIT PARADE DOS ANOS SESSENTA


ESTÁ ACONTECENPQ~ BAILE. AMARACY DESPE O KI

O ~ESTÂ' COM UMA ROUPA DA !:POCA. A DOUTORA IRIGE TUDO DA


CADEIRA, COMO SE ES VESSE DIRIGINDO UM FILME:

ANDA U AZER UMA.COISA, OUTRO FA

ZE RÃ, O SONOPLASTAMUDAR DE MÚ

SICA, ETc:.). '

Fomos à uma festa no Tenis Clube. Antes não tivéssemos ido. Todos não tiravam os
olhos de Dany. Eu fingia que não estava vendo mas não perdia nada. nenhum detalhe.
Chegava até a medir a linha dos olhos de um com os olhos de outro para ver se
estavam olhando no olho (PEGA UMA FI

'TA M!:TRICA E 'MEDE). Minhas amigas, "ami. gas" . . . Ah, se pudesse matá-las,
esquartejá-las. pulverizá-Ias . . . se aproximavam de mim só para estar perto de Dany,
para tOcá-lo. cheirá.Jo. pegá-Io.. .

(VAI ACONTECENDO TUDO CONFORME ELA CONTA: AS AMIGAS SE


APROXIMAM E FA. ZEM EXATAMENTE O QUE ELA DIZ. ANTES. CONTUDO,
CUMPRIMENTAM.NA).

AMIGAS - Oi, Amaracy, tá boa? (E TOCAM EM DANY. CHEIRAM-NO, PEGAM-


NO).
AMARACY - EIII fingia naturalidade. sorria, mas por dentro estava fervendo. Era um
vulcão prestes a "erupir,l. Elas vão roubá-Io. Minha cabeça não parava de pensar: elas
vão roubá-lol Vão roubar Dany. Oueria,avisá-lo: cuidado Dany. Elas ,vão te roupar.
Queria gritar: pega ladrãol Pega ladrãol (DANY', ENQUANTO ISSO SORRI,
ENCANTADORAMENTE PARA TODAS, FAZENDO O MAIOR CHARME.
NISSO, ENTRA UM ROCK

49

1I1I

:í~

~'I!:

DAQUELES DE JOGAR PRA CIMA. PEGA EMBAIXO. ETC. NA DANÇA


TODOS QUEREM "ROUBAR" DANY. AMARACY LUTA DESES.
PERADAMENTE POR ELE ENQUANTO DESCREVE A CENA QUE ESTÁ
ACONTECENDO: Uma hora eu olhei e Angela estava quase pondo as mãos nele para
roubá-Io. Da' eu tulminei ela com os olhos e ela recuou. Mas logo a seguir. MargO ata.
cou. Nisso. aconteceu uma coisa hornvel: faltou luzi (HÁ UM BLACK-oUT.
GRITOS). E quando as luzes se acenderam. Dany não estava mais lá. Havia sido
roubado. (A LUZ NO TATAME VAI CAINDO, LENTAMENTE EM RESISTt:NCIA.
ASSIM COMO OS BALOES COLORIDOS QUE ENFEITAM O "SALÃO DO
Tt:NIS CLUBE" VÃOS SE SOLTANDO E CAINDO AO CHÃO. COMPONDO
COM AMARACY UM CLIMA DE DESOLAÇÃO.

ELA VEM SE APROXIMANDO DA DOUTORA. JÁ EM TEMPO PRESENTE,


VESTINDO O KIMONO) - Acho que sempre fui uma perdedora. doutora. Nasci para
perder (ESPIRRANDO). Vou ficar gripada. Sempre que perco alguma coisa fico
gripada. Eu somatizo tudo. . .
DOUTORA - E eu. que fico ouvindo isso? Já pensou se eu somatizasse que doença
hOrrl'vel eu não teria?

AMARACY -. . . O qUl!7 Mas. doutora. ._. O sentimento de perda. segundo


Lambisomen e mesmo segundo Jeffers e Kanplan . . .

DOUTORA - (FURIOSA):- Eu não estudei em Viena, não, Amaracy. Nem sou amiga
da Karen

Horney, da Ana Freud e da Melanie Klein. Eu sou. neta de escravos. Minha avó ia pro
tronco. Eu sou de Jacarepaguá. Porisso não me venha com fital

AMARACY - (INDIGNADA). Mas. doutora. . . A senhora não acha que o meu caso
se configura um caso t(pico de distorção do e9O, um trauma cumulativo e que seria
necessário rever o papel dos mecanismos fóbicos e contrafóbicos? Quem sabe também
dar uma olhada na transfenfncia . . .

DOUTORA - (GRITANDO)' Eu vou transferir é VOa: daqui, Amaracyl Perder. perder,


perder... E eu, que fico aqui ouvindo voa! dizer que perdeu isso. que perdeu aquilo, nio
estou perdendo tem. po? E depois, com todo respeito â Jeffers, Kanplan e
Lambisom~n. eu volto a dizer que no meu tempo. remádio para isso era ariar panelas
(AMA. RACY FICA HORRORIZADA. ELA CONTI. NUA). Eu tinha uma amiga que
sempre que per. dia alguma coisa ariava, ariava. Ela dizia assim: "Quando eu sinto que
vou perder alguma coisa, vou pra cozinha e ario, ario, ario . . ." As panelas dela era
verdadeiros espelhos. Voc;f entrava na co

zinha dela parecia um toucador. Dava atlf para se í'

pintar nas frigideiras. E ela era fe.U-c:(.ssi-mall A 1,0

~nica coisa que perdeu foram as unhas.

50
DOUTORA - (CONTINUANDO). Agora. ela sO teve um problema: que isso acentuou
-d'emais O narcllismo dela. Ficava o dia inteiro se olhando nas panelas. Bem. mas Isso
Já li outra história. Eu nlo posso me deter nisso agora. O próximo I '

(SURGE UMA "LOIRA", COM OS CABELOS. TÃO TINGIDOS QUE JA SE


TORNARAM VER~ DADEIROS TUFINHOS MORTOS. ENTRA GRITANDO,
EN"LOUQUECIDA E CORRE PRO TA. TAME). .

FALSA LOIRA - Ai, deixa eu ir pro tatame, de. pressal Depressa I Deixa eu ir pro
tatame . . . (EM. PURRA QUEM ESTA NO TATAME). Sai! Sai! Ai, doutora Rosa,
me acode. Me socorre, pelo amor de Deus.

I DOUTORA - (AO SONOPLASTA). Põe a musi~ quinha da caixinha de música pra


acalmá-la (EN~ TRA SOM). Se n50 funcionar vou ter que aplica~ Valium. ou
clorofórmia ou camisa de farça? (FH CA EM DÚVIDA). Vai com calma. minha filha.

Tente verbalizar o prablema. j

i FALSA LOIRA - . . . Eu tava vendo TV MU;

LHER. Dai' disseram que quem tinge muita a ca~ belo, se a tinta far muito farte, pode
ficar louca, porque ela penetra na cabeça pelos poros. Pelos poros, ah . . . E eu tingi
demais a meu cabela. Ele era castanha. eu adiava. Tingi de loiro e fui fic?n. da cada
vez mais loira.loin'ssima e dai, quando eU ouvi aquilo EU ENTENDI TUDOI Bem que
eu sentia uma coisa escorrendo, descendo aqui dentro.

da cabeça e agora eu descobri que era TINTA

TINTAI A tinta atingiu meu cérebro. Eu estou fi cada louca. dautora. Fiquei laira mas
fiquei lauca E quanda ela atingir a caraçãa eu marrerei loira

LOUCAI AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH.. (SAI CORRENDO, GRITANDO).

DOUTORA - . . . Santa Deus!


(DOIS ANALlSANDOS LEVAM UMA ANALI SANDA. SEGURA PELOS
BRAÇOS, AT~ DOUTORA).

~ ANALlSANDA - . . . Me soltem I Me largueml

í ANALISANDO - Ela franze a nariz pra tudo

\o doutara. -

DOUTORA - At." é? Então pergunte alguma cois pra ela.

G ANALISANDO (PERGUNTANDO). Está um di

bonita hoje, nãa?

(ELA FRANZE O NARIZ, COM DESDI:M).

~ ANALISANDO - (À DOUTORA). Viu?,

:,.;

DOUTORA - Faça outra pergunta.

ANALISANDO - (PERGUNTANDO). Voa! gO$

tou daquele livro que eu te emprestei?

(ELA FRANZE O NARIZ, COM DESDI!M).

TEVISTA DE TEATR

'.

, 4 ANALlSANDOS - (SEM ENTENDER). ',' Mas.

:'LA

,
' NALlSANDO - (DESESPERADO) . .. Doutora. que está acontecendo? t

1" eu me sinto'Com as mãos e os pés atados I .

-' ANALlSANDA - QUE DIZ' QUE QUER SAI

Meu Deus. como eu me identifico com ela. Eu SINTO elal (AOS OUTROS) Olhem
para mim. EI sou a doutoral

"'f

~ ANALISANDO - Você pir~.? __ .

.3 ÃNALisAND~ =- QUE DIZ àUE QUER SAIRI

Eu So _ _ ou o I E você vai ser expulso do g

po ou por orde n!sso. Ordeml Ordem!

( DOUTORA URGE NOVAMENTE. OLH

RA ELES TORNA A DESAPARECER

E L.: CADA VEZ MAIS AGITADOS

SEM ENTENDER). .

S ANALISANDO - . . . Eu estou com medo.

. DOUTORA - Quem tiver problema levante a mão

(TODOS LEVANTAM AO MESMO TEMPO, AFLITOS). Nossa. por que eu fui


perguntar? Um de cada vez. senão vou ter de escolher pela prefe. n!ncia. Deixa eu ver
de quem eu gosto mais (ESCOLHENDO). Voei, não. Você 6 chato. Vo~ If

n 't, doente (ESCOLHENDO UM). VooU

1 .,
y -t~ __-'

:~~ í~~. ,H;~t 5 ANALISANDO - Sabe o que d, doutora? Eu acho r OUTRO - . .


. O que está acontecendo?

li' ., . todo mundo bobo . . . Eu acho todo mundo tIo ~

." .:.. bobo. Ninguém criá nada. ninguém Presta. . . ~ OUT,RA - Por quê ela está
entrando. e saindo? O

;". l~.., quê significa isso? '

~:J ~ ~~ ~'..ot DOUTORA - (CINICAMENTE). Você não está ' ,

~'~ ",'~ generalizando. não. meu bem? ' 3 ANALlSANDA - QUE DIZ QUE
QUER SAIR:

i: !~~:. c. Tenho medo de ficar decepcionada com ela. de ser

'f\' ;.J ANALISANDO - ~erá doutora? Às vezes fico pen- abandonada por ela. . .

;\Y sando: será que não estou projetando? Nlo será Eu

fo~' que sou bobo? Não estarei me projetando nos ou- l\ ANALISANDO - Acha que
ela faria isSo?

tl

t, i' tros? Não será tudo uma grande projeçao? :;.

~~ -3 ANALlSANDA - QUE DIZ QUE QUER SAIR:


:( DOUTORA - Por falar em projeção, projeta a( NiI'o sei. Acho que
tem algo a ver com alguma

. ~:'" '.~L' (~PROJETADO UM SLlDE DELA MESMA. oc?rrdncia da minha


infância. . . Mas. se ela me

,,!.~:> DESSES DE IDENTIFICAÇÃO POLICIAL). deixar eu mato ela.

Olhem bem para e~ pessoa. Gravem bem a sua fi- (TODOS OLHAM
ASSUSTADOS PARA ELA).

- ',t'}. sionomia. Se encontrarem com ela. fujam I (OS (NA ANTE-SALA


UM ANALISANDO PREPARA.

'~ ~. ANALISANDOS SE OLHAM. DESCONCERTA. SE PARA ENTRAR.


ESTÁ SEM CORAGEM...)

DOS). Não caiam em suas mãos. Ela 6 perigos(ssi.

mal Jd.levou muita gente para o beleldu. Eu avisei,

, ,"~~~,.: J!.

, 1-:~!.,t.~;

, 0.0 f:f~~ ..ç ANALISANDO _ (PERGUNTANDO). Está gos

:, <:~r' ~ :Jndo da sessão?

, ',,;:,(~..,;,,

~ ELA FRANZE O NARIZ, COM DESDSM).

.'''' o'., DOUTORA _ (PERGUNTANDO). Que ti que voaf

t4 achando da doutora? (ELA FRANZE). ,.


DOUTORA - Cuidado. . . NJlo franze o nariz pra

c ~udo que "se os anjos dizem amdm . . . (MAL ACABA DE DIZER OUVE-5E UM
REPICAR DE SINOS E UM CORO ANGELlCAL DIZENDO: "AM~MII" E A QUE
FRANZE FICA COM O NA. RIZ PERMANENTEMENTE FRANZIDO. ESTÃO
TODOS ASSOMBRADOS. A QUE FRANZE CORRE OLHAR-SE NO
ESPELHO/NÃO CON. SEGUE MAIS DESFRANZJR O NARIZ. GRITA E SAI
CORRENDO. DESESPERADA).

DOUTORA - Eu não disse? Bem feito. AgOra. corre pro Pitanguy.

(ENTRA UM ANALISANDO AOS PULINHOS, COM AS MÃOS E OS pSS


AMARRADOS).

DOUTORA - VoeS se sente assim porque v~ está DE FA TO com as mãos e os pés


atados (PEGA

.\ UMA TESOURA. DESATA E DIZ). Vai. meu fi

,," lho...

,.

~ '~\f'ANAUSAN~O -. (EMOCIONADO). Obrigado, doutora. MUIto


obrigado. ..

hein? Agora d com voois (E SAI.ABRUPTAM TE DA SALA. OS ANALISANDOS


FICAM PR

CUPADOS). . ,_ ,1ft" ,

-' UM - . . . Ela saiu.

.-' 4' OUTRO - (SENTINDO-SE CULPADO) .. o

que foi por minha causa?


~ OUTRO - Onde será que ela foi?

2- OUTRO - Alguém fez alguma coisa pra ela?

.3 OUTRO - Será que ela f~i dar alguma entrevi

(COMEÇAM A SENTIR MEDO. A ENTRAR PÂNICO).

DORA - (INDO ATS À JANELA). Aquele gu da de transito tá olhando tanto pra


cá . . . Será If o Jorge, disfarçado? (AFASTA-SE. TEMERO A. DOUTORA ENTRA.
OLHA PARA ELES TORNA A SAIR POR OUTRA PORTA).

ESPONJINHA - (FALANDO CONSIGO MESMO

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