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Poeta: Claudio
Senhora 1 (Esposa do Poeta): Mel
Senhora 2: Sofia (mariposa)
Adolescente 1: Isadora
Adolescente 2: Júlia (cachinhos)
Adolescente 3: Alice
Personagem 1: Rose (Metaleira)
Personagem 2: Emily (Fada Flora)
Personagem 3: Juliano (pirata)
Personagem 4: Laura (anjo)
Personagem 5: Sofia (Ai meu peito)
Personagem 6: Matheusinho (Príncipe Ickie)
Personagem 7: Aline (adulta)
Personagem 8: carol (Diabinha)
Personagem 9: Sabrina (Princesa Isa)
Personagem 10: Érica Paçoquinha (Chapeleira Maluca)
Personagem 11: Sol (Bruxa Sabrina)
Peixe: Rayane
Pássaro 1: My Cachos
Pássaro 2: Laninha
Pássaro 3: Julia (Pisca-Pisca)
Pássaro 4: Alicia
Persona 1: José
Persona 2: My Grandona
(Os Personas 1 e 2 irão aparecer esporadicamente em algumas cenas cômicas )
CENA 1
(Cortinas abrem e é visível um banco de praça onde adolescentes se encontram,
mexendo no celular. Entram as Senhoras 1 e 2.)
ADOLESCENTE 2 – Ok.
ADOLESCENTE 3 – Beleza.
ADOLESCENTE 2 – Tô vendo uns TikToks, a minha última dancinha está com mais
de mil visualizações!
SENHORA 2 – Eu não sei porque ainda perguntamos, vocês sempre estão fazendo
a mesma coisa! Porque não fazemos algo diferente?
SENHORA 1 – Quem sabe criar alguma coisa, uma poesia, uma história!
ADOLESCENTE 2 – Ah, não falem assim. Eu mesma já fiz uma porção de poesias
para mandar pro meu crush!
SENHORA 2 – Oh Dona Cleusa, a senhora não me contou que tinha uma neta
poeta!
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ADOLESCENTE 2 – É, teoricamente eu não fiz a poesia, eu peguei num site, mas
conta do mesmo jeito!
ADOLESCENTE 1 – Ê, plagiadora!
ADOLESCENTE 3 – Pelo menos ela teve o trabalho de ler a poesia, você nem isso
faz!
(Todos riem.)
ADOLESCENTE 2 – Mas vovó, você poderia contar uma história pra gente!
CENA 2
(Um banco de praça, sonoplastia de crianças brincando vozes cantadas misturadas
com muita poluição sonora, buzinas de carros clima de cidade grande. Um poeta
está sentado em um banco de praça e tem o olhar perdido no tempo. Em suas
mãos um livro semiaberto como um diário que acabara de ser escrito. Entra uma
música suave instrumental de violoncelo, que aos poucos vai envolvendo a cena. O
poeta lê o que acabou de escrever. Ao terminar de ler faz gesto como se não
tivesse gostado do que acabou de escrever se encosta no banco como se estivesse
cansado de buscar algo.)
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(Uma música se escuta ao longe, vozes distantes como um bloco de carnaval.
Numa carroça que lembre uma trupe de teatro mambembe, os personagens vão
entrando em cena com roupas coloridas máscaras, adereços em cores alegres
como se fossem brincantes, personagens saídos de um livro tocam instrumentos,
percussão, violão, flauta a música nos remete a um frevo de bloco o poeta admira
maravilhado, observa sem ainda entender o que está acontecendo)
(MÚSICA INICIAL)
POETA – Eu não estou entendendo nada, eu não chamei ninguém, alguém pode
explicar o que está acontecendo?
POETA- Não! Eu não conheço vocês, façam o favor de saírem daqui. (Aponta na
direção com livro na mão)
(Sem prestar atenção ao que eles falam o poeta volta a se concentrar no texto)
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PERSONAGEM 6 - Acho que ele não gostou muitos de nos ver
PERSONAGEM 2 - Uma peça de teatro? Ai, eu adoro teatro, sempre quis ser atriz.
E tem algum personagem?
PERSONAGEM 10 - É um drama?
PERSONAGEM 5 - Ah, não! História pra mim tem que terminar com emoção, adoro
chorar no final.
TODOS - Flora!
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PERSONAGEM 2 - Pronto, parei.
POETA - Vocês não entendem, eu estou sem inspiração, não estou conseguindo
sentir nada interessante pra escrever
PERSONAGEM 3 - Por que você não vem com a gente um pouco? Talvez consiga
encontrar inspiração para terminar a nossa história, quer dizer... A sua história.
PERSONAGEM 6 - Não tem graça nenhuma. É exatamente por isso que estamos
aqui, viemos 0ajudar você a encontrar o final da história.
POETA - Olha, vocês parecem ser legais, mas eu estou meio sem tempo agora,
tenho que terminar de escrever (Caindo em si e olhando pra eles com espanto)
Perai, não pode ser....
PERSONAGEM 10 - Você não perde essa mania de não acreditar nas coisas que
faz... Tá na hora de parar com isso... Eu hein!
POETA - Mas eu não consigo nem terminar uma história, imagina conquistar o
mundo todo que tenho dentro de mim.
PERSONAGEM 10 - Você não precisa ter medo, só vai encontrar por lá o que
carrega dentro de si. E então, vem não vem?
POETA - Acho tudo isso meio ridículo, mas o que tenho a perder? O que tenho que
fazer?
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PERSONAGEM 10 - Ah é fácil, você só precisa...
PERSONAGEM 8 - Cantar. Voar até o fim do mundo, onde um sonho puder nos
levar
PERSONAGEM 7 - É só querer.
PERSONAGEM 1 - Ah! E o que isso importa, vamos parar o tempo na hora exata
pra gente sonhar!
TODOS - Qual é?
CENA 3
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(Falando alto como um palhaço anunciando que o circo chegou na cidade. Se
possível andar sobre duas latas e um cordão pra dar ideia de perna de pau. O
grupo vai perguntando.)
PERSONAGEM 9 - Não é pássaro nem sabe cantar, mas quando voa dá pra
escutar
PERSONAGEM 9 - Pode ser grande pode ser pequeno e voa sempre pra onde
alguém lhe mandar.
TODOS - Papagaio...
PERSONAGEM 9 - Não
TODOS - Balão?
PERSONAGEM 9 - Não, Precisa de alguém para guiar e uma pista bem grande pra
pousar
TODOS – Aviãooooo...
PERSONAGEM 9 - É...
(Os atores cantam ao mesmo tempo em que vão montando o avião a partir dos
elementos que estão dentro da carroça ou talvez a própria carroça possa se
transformar)
CIRANDA DO AVIÃO
VENTO, VENTANIA ME LEVA PRA VOAR
DEIXA O TEMPO ME LEVAR
VIAJAR LÁ NO ALTO,
GIRA O MUNDO DA RODA A ME LEVAR
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PERSONAGEM 9 - (Imitando voz de piloto de avião) Atenção, senhores
passageiros do voo da imaginação com destino a terra do sempre, aqui quem fala é
a comandante Isa. Por favor dirijam-se aos seus lugares e boa viagem.
TODOS – Oba!
PERSONAGEM 8 - Sabrina, vem pra cá! Senta aqui, senta aqui comigo.
TODOS - E E E E E
POETA - Olha lá, olha lá... A minha casa, meu irmão. A minha mãe, mãeeeeeeee!
Ela tá acenando, ela tá acenando. Tchau mãe, eu te amo!
PERSONAGEM 5 - O mané. Acha que eles vão ouvir você? E cada uma, a gente
aqui em cima e querer que eles escutem, era só o que faltava. (Gritando empolgada
se deixando levar pela brincadeira também) Ih! Olha lá meu avô. Ei, vô...
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PERSONAGEM 9 - Virando para direita OMMMMMMM (Faz barulho de avião com
a boca e todos acompanham o movimento e depois voltam pra posição inicial, mas
sem sair do lugar)
PERSONAGEM 1 - (Suspirando) Ah! É tão bonito que dá vontade de ficar aqui pra
sempre.
POETA - Dá pra ver tudo aqui de cima, parece um filme. O filme da minha história, a
minha história...
PERSONAGEM 5 - Parece que a vida saiu com o tempo de mãos dadas pra
passear…
PERSONAGEM 8 - E o céu Gente, olha que céu maravilhoso! Parece que nunca
esteve tão azul!
POETA - Comigo? Comigo mesmo não! Com o nariz daquele tamanho parece mais
com o Metálica.
PERSONAGEM 6 - A que nuvens lindas, será que a gente pode tocar? (Vai
levantando e faz movimento de quem vai alcançar o céu, o grupo não deixa, num
jogo de faz de conta que ela pode cair do avião se não se levantar.)
PERSONAGEM 11 - Cuidado! Senta aí! Você quer cair? Parece que tá maluco.
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PERSONAGEM 3 - E porque você tá muito magrinho!
PERSONAGEM 4 - Boa pergunta! Será que vai demorar muito pra chegar?
POETA - Engraçado, eu não sei por que todo mundo acha que o poeta sempre
sabe tudo. Continuo achando tudo muito estranho apesar de estar adorando!
(De repente todos simulam uma turbulência, como se algo tivesse balançado o
avião. Gritaria)
PERSONAGEM 9 - Eu não sei, acho que vamos ter que pousar em algum lugar.
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CENA 4
TODOS - EEEEEEE
PERSONAGEM 3 - Pronto, mulher é tudo igual mesmo, parece que não cresce
nunca
PERSONAGEM 7 - Pronto, olha só quem tá falando, você tem medo até da própria
sombra
PERSONAGEM 10 - Pessoal, será que não seria melhor a gente voltar, quer dizer,
não é melhor parar a brincadeira?
PERSONAGEM 3 - Ahl Vocês são um bando de medrosos, isto sim. Onde já se viu
ter medo do escuro, eu vou lá me assustar com uma bobagem dessa... Ai, o que foi
isso no meu pé?!
(Todos riem)
PERSONAGEM 1 - (Rindo muito) Eita cara frouxo, tem medo até da própria sombra
PERSONAGEM 11 - Pois eu vou mesmo, quer saber. Eu não tenho medo de nada,
ainda mais de uma brincadeira de faz de conta. Ter medo é bobagem. Eu vou sair
agora. Tô esperando vocês lá. Tchau!
PERSONAGEM 2 - Sabrina!
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PERSONAGEM 8 - Pode ser perigoso
PERSONAGEM 4 - Sabrina? Você está aí? (Sem resposta) Gente ela foi mesmo!
POETA - Nossa que silêncio. Engraçado eu não lembro dessa cena quando a luz
apaga.
POETA - Mas é estranho que devia saber. Meus pensamentos vem e vão como se
não chegassem a lugar nenhum.
PERSONAGEM 6 - Pronto, foi graças a uma de suas ideias que a gente ficou preso
aqui...
PERSONAGEM 9 - É sério…
PERSONAGEM 7 - Ué. Eu pensei que fosse. Quer dizer que alguém apagou a luz
de verdade?
PERSONAGEM 9 - Se a gente chegou até aqui fazendo de conta que era tudo
verdade, por que então não usamos a imaginação pra sair daqui também? Tenho
certeza de que foi isso que a Sabrina fez...
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PERSONAGEM 2 - Já sei, a gente podia inventar uma canção?
POETA - Ué. E por acaso você sabe cantar? Se for pra ouvir você desafinando eu
prefiro ficar aqui pra sempre.
PERSONAGEM 10 - Ah! meu filho, eu não sei vocês mas eu tô sentindo medo e
não é pouco não viu
PERSONAGEM 4 - Eu também
POETA - Calma pessoal. Vem cá todo mundo, vamos ficar juntos. Isso! Estão
ouvindo?
(MÚSICA)
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NÃO TEM MEDO DO DESTINO
CHUVA VENTO NEM TROVÃO
É BOBAGEM SENTIR MEDO
DENTRO DO CORAÇÃO
EU NÃO QUERO MAIS TER MEDO
DENTRO DO MEU CORAÇÃO
(Ao mesmo tempo que a música vai sendo cantada, a Sabrjna vai iluminando a
cena. Com a lanterna ela está posicionada atrás do grupo que canta e vai se
virando em sua direção num jogo de desafiar o medo que todos sentem quando a
música estiver perto de acabar todos fazem como se posse dar um passo e
avançam em sua direção neste momento a luz abre geral todos felizes correm até a
Sabrina e se abraçam num clima de euforia por terem conseguido)
TODOS – Conseguimos!
TODOS - Hummmmn
CENA 5
PERSONAGEM 10 - (Falando alto) Agora é hora de inventar! Quem antes na barra
chegar, a brincadeira vai criar!
(Brincadeira do Abacaxi)
(Todos correm para um ponto do palco. A ideia é que quem chegar primeiro na
mancha vai inventar uma brincadeira nova. Vão correndo como se fossem crianças
alvoroço, gritaria e empurrando uns aos outros)
PERSONAGEM 4 - Vê se inventa uma bem legal. Essa de brincar de escuro não foi
muito boa
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PERSONAGEM 11 - Vai Metálica, qual é a brincadeira?
TODOS - Adoleta?
(A música vai acabando os atores vão ficando em silêncio, vão formando um outro
quadro)
CENA 6
POETA - Contar história
(Ao ouvir, todos ficam parados, ninguém corre até a mancha somente poeta corre
na direção da mancha)
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PERSONAGEM 11 - Você vai contar uma história? Mas a gente nem acabou essa
ainda e você quer contar outra?
POETA - Mas eu posso contar uma história diferente das que vocês esperam que
eu conte, não posso?
PERSONAGEM 6 - (Com ironia) E mesmo assim, uns bem mais talentosos do que
outros
POETA - Querem parar? Está bem, eu posso não ter uma história nova pra vocês,
mas posso inventar uma forma nova de contar uma história que vocês já conhecem,
não posso?
POETA - A primeira coisa a fazer é mudar a forma como vocês vão ouvir a história.
POETA - (Rindo) Não! Eu quis dizer que vou colocar vocês dentro da história
também... (Vai até o baú e pega um boneco em forma de pássaro e outro em forma
de peixe neste momento a carroça pode se transformar num teatro de títeres e a
cena pode ocorrer nesta dimensão)
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POETA - Vou contar a história de uns pássaros muito bonitos que gostavam de
escrever poesias. Mas os pássaros estavam tristes porque tinham perdido um
grande amigo. Os pássaros então, resolveram voar sem rumo em busca da sua
felicidade, até que um dia....
CENA 7
(À medida que a canção vai sendo executada, a luz vai se modificando enfatizando
o teatro de bonecos)
(música dos pássaros)
PÁSSARO 1 – Como é triste o nosso voar, sozinhos pelo céu, vendo o mundo rodar
fazendo poesia, sem em nada acreditar. Como é triste o nosso voar, como é triste o
nosso cantar (Entra o boneco do peixe, poeta vem com sujeira grudada, lixo, latas
amassadas. Fala com sotaque carregado de cantor de funk)
PEIXE – Ei, caras. Ei, vocês aí em cima, olhem pra baixo um pouquinho
PÁSSARO 2 – Hein!? Quem está nos chamando? Nesta imensidão não vejo nada
nem ninguém, de onde vem esta voz? Será que vem do além?
PÁSSARO 3 – (Se assustando) Que susto que você nos deu! Deixou em ritmo
acelerado meu coração de plebeu!
PEIXE - Ah não é por nada não, mas você tá sentindo alguma coisa?
PEIXE - Não é feliz? Que é isso maninha... Você é quem tem razão pra ser feliz.
Sabe voar, sentir a liberdade sem ter que se preocupar com nada. Maneiro. Não
tem o que reclamar da vida mocinha.
PÁSSARO 4 – Olha nos desculpe, mas… não costumamos falar com quem não nos
estimula a pensar.
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PEIXE – Que isso? Vocês são aves muito chatas, viu? Só porque tem essas
asinhas coloridas aí ficam pensando que são melhores que todos mundo.
PÁSSARO 3 – Não, espere! Desculpe. É que estamos meio tristes. Você nos
desculpa?
PEIXE – Bem, Eu... Ah, Não sei não, vou pensar... (Pausa) Tá bom vai… Tão
perdoadas. Mas diz ai, por que é que vocês estão tristes, garotada?
PÁSSARO 4 – Você não entende. Nós sentimos falta de um amigo. Ele morreu, nós
costumávamos ser um quinteto. Entendeu?
PEIXE – Não. Amigo mesmo estando longe, não tá sempre com a gente? E Se o
tempo de vocês continua, é porque ele precisa ser vivido. Mas ó, deixa eu ser
sincero. A poesia de vocês é ruim de arrepiar, viu?
PÁSSARO 2 – E o que você entende de poesia pra poder falar assim? Nem poesia
você sabe fazer. Não sabe nem falar direito.
PEIXE - Ô, peraí guria… Que papo é esse? Não precisa esculachar… Como assim
eu não sei falar direito?
PÁSSARO 1 – Não sabe mesmo. E se não sabe falar direito, como é que vai fazer
rima? E poesia sem rima é algo que nem combina
PEIXE - Sabe qual é o problema de vocês? Vocês se preocupam tanto com a rima
que esquecem de dizer o que sentem por dentro. Ninguém faz poesia, a poesia a
gente descobre dentro da alma, sacou?
PÁSSARO 3 - Como é que você quer nos ensinar a fazer poesia? Peixe não
entende de poesia, peixe entende de nadar e só isso (Percebendo que o peixe ficou
magoado, tenta remediar) quero dizer, tem outras coisas que um peixe pode
entender. De... de... ah! No momento não lembro, mas certamente deve ter..
PEIXE – Bem, Eu entendo é de ser feliz, e se eu vivesse num mundo assim, como o
de vocês, garanto que não ficaria triste por muito tempo.
PEIXE - Adoro meu mundo, amo de todo coração. Mas é que tá cada vez mais difícil
de morar aqui em.
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PEIXE - Querem mesmo saber? Então escutem só…
PÁSSARO 4 – Nós não imaginávamos que fosse assim. Sabe como é que é...
Voando a gente não percebe
PEIXE - Ei, e aí... Perceberam que não tão mais falando rimando já faz um tempo?
PEIXE - Se eu pulasse pra fora d'água, você falaria um pouco mais do seu mundo
pra mim, ia ser maneiro sentir os pingos da chuva.
PÁSSARO 1 – Não sei, acho isso perigoso demais, sabe que não pode demorar
muito tempo fora do seu mundo
PEIXE - É que tá rolando uma vontade de fazer uma música sobre a chuva, mas
como vou fazer se não puder sentir a frio dos pingos, por favor, meu!
PÁSSARO 2 – Olha… você é legal, mas pode ser perigoso demais. Não sei não.
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PÁSSARO 4 – Tá certo, mas só um pouquinho viu e promete voltar pra água em
seguida?
(Peixe salta para fora da água e fica deslumbrado com tudo o que vê. O grupo
canta e depois segue em boca chiusa)
PÁSSARO 1 – Engraçado, faz tanto tempo que não olhamos pra ele direito, que até
já tinha me esquecido como era.
PÁSSARO 4 – Lá fica a cidade dos homens. Lá o tempo é cinza, anda cada vez
mais rápido e brincar de sonho é coisa do passado.
PEIXE - Mas se a gente não sonha, não vai existir futuro, nem passado, até o
presente deixa de existir.
PÁSSARO 4 – Sabemos disso. Um dia eles também vão saber, mas por que você
está chorando?
PEIXE - É mesmo. Eu nem percebi. Mas vocês falaram que peixe não sabe fazer
poesia, esqueceram?
PÁSSARO 1 – Não, não esquecemos. É que você nos ensinou a ler com olhos de
peixe, poesia dos peixes, isso nos fez sentir mais pássaros.
PÁSSARO 2 – Não sabemos explicar direito o que é, mas nos sentimos com
vontade de voar. Não estamos mais tristes. Compreende? Peixe, está nos ouvindo?
Peixe, por favor, fala com a gente. Para de brincadeira (Rindo sem graça)
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PÁSSARO 3 – Tá na hora de voltar pra água, peixe. Por favor. Não faz assim, fala
com a gente. Olha… Ainda tem muita poesia que podemos fazer. Tem a poesia do
sol brilhando nas manhãs, do som de criança no tempo de doces nos dentes, dos
aniversários passados. Por favor!
PÁSSAROS: Não vai peixe. Fica com a gente. Fica com a gente!
(Canto vai subindo e a luz vai descendo em resistência à imagem dos pássaros e
com o peixe como quadro. Se a cena for realizada com bonecos os atores devem
pegar o boneco do peixe como num ritual e guardá-lo de volta onde estavam antes
da brincadeira começar)
CENA 8
(Começa a chover todos fecham os olhos e começam a imaginar a chuva)
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(Essa música seguinte pode ser cantada no ritmo do pirulito que bate bate)
(Inicia a brincadeira de pega-pega e continua até que não aguentam mais correr e
param exaustos com olhar perdido no horizonte. Uma das meninas levanta junta as
mãos e começam a cantar brincadeira roda cotia)
CENA 9
PERSONAGEM 5 - Chegamos.
PERSONAGEM 11 - Melhor não, quanto mais demorarmos mais difícil será para
voltar.
PERSONAGEM 1 - É tão estranho chegar até aqui e ter que começar tudo outra
vez.
PERSONAGEM 9 - Mas agora a história acaba diferente. Ela termina com uma
semente de era uma vez.
POETA - Não, por favor, ainda não. Não vão embora ainda.
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PERSONAGEM 3 - Sabe que não podemos ficar aqui por mais tempo, é perigoso.
Lembra? (Risos) Gostei muito da sua história do pássaro e do peixe.
POETA - Não é verdade, por favor fiquem mais um pouco! (Uma música suave
invade a cena os atores se voltam como se atendessem um chamado ficam
escutando por um instante)
POETA - Mas tem tanta coisa ainda pra fazer. Tanta brincadeira pra inventar, tanta
história pra contar, (Corre até o baú e vai tirando elementos de cena que ainda não
foram utilizados) Por favor, não cantem (Faz gesto com a mão pedindo para o grupo
não cantar) a música vai levar vocês de volta, fiquem mais um pouco, eu conto
outras histórias, (Para a Personagem 8) uma de Rei e Princesa (Para os
Personagens 6 e 9) uma que tenha poesia, eu sei contar muitas histórias. (Para
todos) uma de saudade, não era isso que vocês queriam? (Vai até a Personagem 3)
Não vai com eles vamos ficar aqui eu quero ouvir uma história sua, conta pra mim
vai, (Corre até a Personagem 2) não quer cantar um pouco? Eu estava brincando,
Você canta legal. (Corre pra mancha mas ninguém escuta, ninguém mais
acompanha. Aos poucos vão colocando os objetos de volta na carroça e se
preparando para partirem) Gente não vão embora... Por favor, eu não queria vir. Eu
não queria
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PERSONAGEM 9 - Como um lápis, que desenha no tempo da nossa vida o nosso
amanhã. Em cada sílaba, em cada sopro de vida que você escrever nós estaremos
lá, com você até o fim (Entrega de volta o lápis e o livro)
POETA - É o final?
TODOS - Sim
(Silêncio. O grupo olha fixamente para ele. Sorriem um deles ensaia um adeus e
todo o grupo repete o gesto. O poeta hesita, mas vê que não tem outra coisa a
fazer. Pega o livro e começa a escrever)
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CENA 10
(Cena volta para a família do início. Adolescentes estão surpresos com a história, e
a senhora está emocionada.)
(Todos riem.)
ADOLESCENTE 3 – Ei, você sabe que o Einstein não foi poeta, né?
SENHORA 2– (Sorrindo) Ah, vocês ainda têm muito o que aprender, mas o mais
importante, vocês já sabem!
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ADOLESCENTES – O quê?
SENHORA 1 – Vocês já sabem que toda história se inicia com “Era uma vez”...
FIm
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