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BOATE BOLERO

Um Drama Urbano do Cu do Mundo

De Silvio Froes e Ciro Barcelos

Abertura

Número Musical (todos)

Musica:

Apresentador: (texto intercalando com música cantada entre estrofes)

(Introdução musical)

Boa noite senhoras e senhores! Bem-vindos a Boite Bolero


Boate, do francês noite. Local de entretenimento, de funcionamento noturno que na
verdade provém do cabaré, também palavra francesa que significa taberna, local onde
supostamente se bebe, diverte e sobre tudo se goza.
Ah sim, porquê sem tesão não há solução, e as possibilidades que a Boate Bolero vos
oferece, são inúmeras!
Nesta noite nós os convidamos; todos, todas e todis obviamente, para se divertirem e
refletirem sobre a
breve história que aqui será interpretada pelos nossos artistas. Nossos personagens
incriminados na trama… somos nós mesmos…muito prazer; apresentador, ou melhor...
Mestre de cerimônias…como quiserem.

Bruno: Prazer, apenas Bruno

Dedé: Dedé! Em algum momento Cristiana

Marcelo: Marcelo, que também pode ser Monica

Luciano: Luciano, mais conhecida como Pat Lews

Apresentador: Por favor, fiquem à vontade… sem cerimônias, caso necessitem cagar
o banheiro fica logo ali, por favor não deem descarga pois o borbulhar da merda
descendo irá atrapalhar a concentração dos artistas.
Afinal, estamos aqui para encenar um drama urbano do submundo da
vida artística. Uma…tragédia, que se deu em algum puteiro da praça Mauá na cidade
maravilhosa do Rio de Janeiro.
Acontecimentos muito comuns daqueles tempos, mas que por incrível
que possa vos parecer, persistem ainda hoje.
Por favor desliguem os seus capetinhas e, sobre tudo não esqueçam que
saíram de suas casas para se divertir. Portanto…divirtam-se!

(Blackout / grito de dor / Luz acende personagens estão como mortos no cenário)

Apresentador: Spoiler… alguém se deu mal na história… terá sido eu?

CENA 1

( Camarim de Pat Lews / entram Mônica York e Bruno)


MÔNICA – Alô, “big star”!

BRUNO – Oi! Diva”!

PAT (Luciano) – Inspirados, hein? Essa rasgação de seda toda é final de mês né
queridinhas?

MÔNICA (Marcelo)– Até parece que a gente só te elogia por interesse... não é o meu
caso... (olha para Bruno)

BRUNO – Direta, meu …amor?

PAT – Ai, ai! O amor é lindo!

(Ouve-se acordes musicais)

BRUNO - Tá na hora Diva, os bêbados te esperam !

PAT –Bêbados, mas pagam pra ver a véia, tá? E me aplaudem muito! O chefe está aí
hoje?

BRUNO – Você sabe que ele só aparece para buscar o dinheiro né linda? A propósito,
vou ver como é que está a casa.
Vai lá véia, arrasa!

PAT - Véia é o olho do meu cú pirralho!

Monica - Merda querida!

Bruno- Essa sabe tudo!


PAT - E muito querido! Na lama cabareteando mas com diploma e DRT na bolsa, tá?
Fora os anos de camareira de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves e Virginia Lane! Te
mete? Trabalhei muito na putaria com navalha esparadrapada no meio das coxas!
Anos de shows na Praça Mauá…com o Gugu Olimecha ( sinal da cruz) Deus o
tenha. Ah, a praça Mauá era uma loucura, aqueles marinheiros maravilhosos, franceses,
alemães, italianos! Cada piroca que não tinha mais tamanho!
Eu naquela época me empregava de boy que dançava com as travestis. O que?!
Como eu era boysinho, gostosinho, as putas me arrastavam pra fazer suruba com os
marinheiros nos navios. Ahahahahaha…era um barato!
Tempos em que Rogéria, a grande Rogéria, e Valéria, a divina diva, estavam
começando a carreira delas, ainda faziam show lá por aquelas quebradas.

BRUNO – Quanta história hein veterana? Essa geração que está por aí não sabe da
missa a metade né?

Pat- Ah mais não sabe mesmo! Deixa eu ir que tá na minha hora!

( Pat sai)

Bruno- E voilá, até que enfim sós, eu a maravilhosa Mônica York! Cada dia mais
fantástica! Meu amor eu assisto o seu show todas as noites e cada vez me apaixono mais
por você... (beija Mônica)

MÔNICA– É, Bruno... a maravilhosa Mônica York... às vezes me amedronta... é como


se outra pessoa se apoderasse de mim, me empurrando para um confronto comigo
mesmo, uma dualidade que me seduz e me angustia ao mesmo tempo.

BRUNO – Mônica!? Acorda! Esse é o teu lugar, não adianta fugir querida, tá no céu
abraça o anjinho. No inferno, abraça o capeta meu bem.

MÔNICA – Que capeta, sai pra lá! São momentos de reflexão que qualquer ser humano
tem, com as confusões na cabeça... Bruno... vê se dá pra você entender cara,,…eu vivo
duas personalidades muito fortes, e isso está me enlouquecendo!
Eu já não sei mais aonde eu sou fantasia e onde sou realidade, saca? E….
não posso deixar que a fantasia tome conta da realidade, tá entendendo? A Mônica é só
o palhaço que esta ali para divertir, nada mais.
BRUNO- Mas isso não é o máximo boneca?

MÔNICA – É... mas o Marcelo... onde fica? Ele tem uma estória de vida, um casamento
com uma mulher, tem uma porra de um hétero aqui dentro que atormenta a minha
cabeça como um fantasma de Skakespeare! Caralho! Ser ou não ser, eis a questão!

BRUNO – E o que que tem a ver o cú com a bunda?

MÔNICA – Como assim o que tem a ver o cu com a bunda? Os dois sentam pra cagar,
ora bolas! Bruno, eu caí aqui devido ao perrengue que estava passando com a separação
da minha mulher, precisando de grana, de amigos, de me divertir.

BRUNO – Sim, e graças ao teu amigo Luciano você não só resolveu essa questão como
descobriu um talento e uma outra versão de você mesmo, pela qual eu sou apaixonado
(beija)

MÔNICA – Pois é, e ainda aparece você na minha vida, só me querendo assim, de


mulher. Eu estou tentando separar as coisas...ver a situação de uma maneira distanciada,
entender melhor tudo isso.

BRUNO – Hum…aquele negócio de …Fróid explica, não é? Mônica surge por


circunstância... desempregado e recém separado da mulher... encontra o Luciano, a Pat,
que era amigo do trabalho e que a esta altura, para surpresa, tinha virado travesti e
grande estrela da noite.
Como na juventude ele já tinha feito dança e teatro, Luciano na melhor das
boas intenções enfia o cara no show do seu cabaré pra tentar ganhar um dinheirinho...
Marcelo por sua vez, que tinha lá sua homossexualidade reprimida, não só se
encontra nesse papel como passa a ganhar uma grana pra sobreviver.
Simples assim. Onde está o problema?

MÔNICA – Nesse meio tempo entra Bruno na estória da Mônica, e acaba também
conquistando o Marcelo que se escondia atrás da Monica.Mas que precisa ser feliz
como Marcelo, saca?

BRUNO – To be , or not to be, that is the question! Meu amor, malandro que é
malandro, da sorte não abusa. Eu gosto de você, vestido de mulher
( agarra o pau do Marcelo) casa comigo!
MÔNICA – Vamos beber!

Apresentador- Bebamos pois!

CENA 2
Número musical de Pat Lews

CENA 3
Camarim – (Luciano e Dedé conversam enquanto mudam roupa)

PAT –Puta que pariu, to vélha viu Dedé? Já saio do palco sem fôlego. Nisso que da não
juntar dinheiro, fazer o pé de meia nesse país porquê aposentadoria por idade aqui é
esmola.
Uma aposentadoria de merda e trabalha até morrer. Isso se conseguir ter uma
morte digna e não se encontrada desovada numa beco qualquer com um caceteie
enfiado no rabo.

Déde você não vai dar uma esticada ?

DEDÉ – Você vai?

PAT – Acho que não…to cansada, quero fumar meu baseadinho em casa e chapar.

DEDÉ – É bom mesmo que seja em casa porquê eu não aguento mais catar suas
guimbas nesse camarim. Qualquer hora os home dão batida e elazinha aqui vai presa
como traficante!

PAT – Dedé querida... de novo você deixa de se divertir com os outros pra ficar me
paparicando... não que eu ache ruim...
até que na fase que eu estou, sem ninguém, amo ter uma mulher bonita e
inteligente como você a meu lado... (debochando) Cruzes!!!
Assim acabo tendo uma recaída! ( riem )
DEDÉ – Bicha, eu adoro ficar perto da senhora, para mim é um uma escola. nenhuma
dessas escolas de teatro que cursei por aí me ensinaram tanto como você.

PAT – Pois é minha querida, mas tem que largar um pouco do meu pé tá? Você vive a
minha sombra… tão jovem e cheia de vida, vai curtir mulher!
A casa esta cheia de homem gostoso!

DEDÉ – Ah eu não tenho paciência pra esses bofes não. É futebol, políticagem e
cerveja. Mete, vira para o lado e ronca. Me poupe né?

PAT – Por isso que tu gosta dos veados né?

DEDÉ – Claro, e te digo mais; as melhores gozadas são sempre com os gays. Eles
sabem fazer a gente gozar direitinho. E o melhor; viram amigas também.

PAT – Mulher, você pode arranjar um macho maravilhoso que te faça feliz...

DEDÉ – E porquê tem que ser um macho? A felicidade não se resume a ter um ( aspas)
macho do lado querida. Parece que a vida para vocês se resume a uma piroca.
E se eu quiser uma mulher?

PAT – Acho ótimo Dedé, você só tem que se decidir meu amor. se agarra numa porra de
uma sigla dessas daí, sei lá eu…como é que é o negocio? Binário, não binário,
transgênero, ci..cis…

DEDÉ – Cisgenero

PAT – É isso aí, cisgenero. Também tem o tal do Queer, e todo aquele abecedário que
não acaba mais nunca! Eu já nasci viado ( riem)
Olha, o meu pai sempre falava para gente gostar de coisa de homem, e eu como
sempre fui uma criança obediente, gosto de piróca. ( riem muito)
CENA 4 / Numero Musical

Apresentador : Em leilão
um corpo de homem! Vejam essa maravilha! Por mais alta que sejam as ofertas dos
lançadores, jamais estarão á altura de uma coisa como esta!

Musica ( trupe canta )


Uma coisa como esta
Não é simplesmente um corpo
Nem só homem nem mulher
Pode ser o que …

Apresentador -Queer zér !

Trupe -Para fazer uma coisa como esta


o mundo levou quintilhões de anos
não foi fácil conceber uma coisa como esta.
E ainda tem gente dizendo que detesta.

Apresentador- Dentro dela e… abaixo dela,

a argamassa que são feitos os heróis!

Trupe- Músculos nos peitos

Energia e disposição

Que tesão!

Aqui pulsa e bombeia um coração.


Apresentador- Isto não é simplesmente um homem

É uma máquina que explode corações

Trupe- É uma máquina que BOM! Explode corações!

Bruno- Amaram alguma vez o corpo de um homem?

Monica- Já transgrediram seus desejos no corpo de um transexual?

Pat- Não sabem o que estão perdendo!

Trupe

Uma coisa como esta

não é simplesmente um corpo

Não é homem nem mulher

Pode ser o que …

Apresentador- Queer…zér!

CENA 5
Bar – (Mulher de Marcelo aguarda sua chegada)
MARCELO – Oi...

CRISTIANA– Oi Marcelo... Tudo bem?

MARCELO – Tudo...

CRISTIANA – Relutei bastante antes de marcar esse nosso encontro...

MARCELO – Por que?

CRISTIANA – Fiquei com medo de você não querer falar comigo...

MARCELO – Então... por que resolveu?

CRISTIANA– Achei que devia tentar...

MARCELO – Tentar!? Mas qual o motivo, afinal, quando nos separamos, você colocou
as coisas como definitivas...

CRISTIANA – Pois é, mas não foram exatamente desta forma...

MARCELO – Como assim?

CRISTIANA – Vou direto ao assunto...

MARCELO – Por favor...

CRISTIANA – Te procurei de novo porque sinto a tua falta Marcelo, ainda te amo.

MARCELO – Ah, primeiro você me da um chute na bunda porquê seu maridão é


bissexual, eu saio na merda, consigo me empregar na zona fazendo show travestido,
assumo a minha sexualidade com outro cara, e derrepente ,você me
aparece com esse papo, Cristiana ?

CRISTIANA– Cara, eu mudei…mudei entende? Aquela Cristiana que você conheceu


lá atrás, burguesinha filhinha de papai, careta, já foi! A tua opção de vida me fez refletir
esses dois últimos anos sobre a minha vida.

MARCELO – Sei… e o que mais te fez mudar assim da agua para o vinho? Se me
lembro bem a ultima vez que você me assistiu fazendo show travestido de mulher, saiu
puta porta a fora e nem falou comigo.

CRISTIANA – Sim, sai puta porta a fora direto para o divã de um analista. Fumei
maconha, tomei chá de cogumelo, mergulhei fundo no meu poço até encontrar o esgoto
procurando me entender, saber quem sou realmente,
quebrar os padrões de uma criação tradicional e careta que tive. aprendi
que a gente tem que amar as pessoas como realmente são... aprendi que a gente não tem
que tentar mudar ninguém...
as pessoas são como são…

MARCELO – E ?

CRISTIANA– Aprendi que a gente tem que amar os outros como eles são, e não como
eu idealizo.

MARCELO – Cristiana, eu gosto de você, muito! Nossa sexo sempre foi bom, a gente
tinha tudo para ser feliz, mas eu sou um homem de quarenta anos de idade que …vivi
ao seu lado tentando esconder da sua família, e…de mim mesmo
a minha sexualidade. Eu estou me relacionando com um homem agora, o
que não significa não gostar de mulheres também. Você tem certeza que quer encarar
essa realidade?

CRISTIANA – Me da uma chance, pela nossa amizade que sempre foi tão bacana.

MARCELO – Podemos experimentar um triângulo amoroso, não seria nada mal ( os


dois riem )
CRISTIANA – Mas só tem uma coisa que me balança... que me fez pensar muito antes
de minha decisão... é o que diz respeito as relações sexuais...

MARCELO – E o que é ?

CRISTINA– O que me preocupa é com que tipo de pessoas você se relacionou na


nossa separação e de que forma...

MARCELO – Me relacionei com homens, putas, viados…

CRISTIANA – Pois é, tantas mulheres hoje em dia, infectadas pelo H.I.V, por viverem
com bissexuais...

MARCELO – Ah, vocês e esse papo ridículo que H.I.V é doença de gay! Nos dias de
hoje ? Acorda Cristina, os tempos são outros.

CRISTIANA – Desculpe, desculpe…

MARCELO – Não sei ainda o que pensar…Você me procura propondo uma


reconciliação nossa, dizendo que está disposta a viver com a minha bissexualidade,
mas ao mesmo tempo chega cagando regras? Essa situação me pegou de
surpresa, nunca imaginei que pudéssemos voltar sequer a conversar novamente...
eu preciso pensar... vamos dar um tempo...

CRISTIANA – O tempo que você precisar... (beija Marcelo)

MARCELO – Até mais!

CRISTIANA – Até breve!!!

CENA 6
(Introdução de número musical / Marcelo sai de um cenário dando continuidade a cena
se travestindo para cantar o próximo número do show)
Apresentador - Ouça-me! Eu vou ser franco com
você: Seja você quem for, receio que você esteja trilhando as trilhas das ilusões: receio
que essas supostas realidades venham a derreter-se debaixo dos seus pés e suas mãos;
livre e de coração aberto eu insisto
naquilo que verdadeiramente sou, carregando em mina alma os meus fardos de delicias,
carrego mulheres e homens, comigo, por onde eu vou: deles estou recheado e em troca
eu os recheio.
Bem pode ser você aquele que eu
estava procurando ou aquela que eu andava procurando, tanto faz, seja nele ou nela, eu
navego em seus corpos me encontrando.

Numero Musical de Monica York

CENA 7
Bar – ( Dedé sentada triste; chega Bruno)

BRUNO – Sozinha?

DEDÉ – É... estou aqui com minha mental…

BRUNO – O que está pegando?

DEDÉ – Problemas da vida...

BRUNO – Alguma coisa grave?

DEDÉ – Grave, não muito... mas vital...


BRUNO – Nossa! Alguma coisa com a sua vida?

DEDÉ – São anos na sombra, Bruno. estudei dança, teatro, canto para quê ? Viver a
sombra das…( aspas) Divas!

BRUNO – Humm… você não é a única minha querida.

DEDÉ – Cuidando delas todas, sempre na expectativa de me botarem no palco e nada.


Deu pra camareira mesmo! E Você, como está com a Mônica?

BRUNO – Não sei... só sei que agora o que me resta é um Marcelo mais amargo, mais
distante e mais machão do que nunca... eu não estou entendendo mais nada...

DEDÉ – Como assim?

BRUNO – Como assim que a Mônica está a fim de me botar maluco!

DEDÉ – O que está rolando entre vocês, Bruno?

BRUNO – Me responde uma coisa, Dedé... Mônica York e Marcelo não são a mesma
pessoa ?

DEDÉ – Claro…quer dizer…mais ou menos, depende do ponto de vista.

BRUNO – Eu não sei se amo duas pessoas ao mesmo tempo, ou se amo uma só...

DEDÉ – To entendendo… é… de uma certa forma é o que acontece também comigo em


relação a Pat, barra Luciano. Mas o meu caso é diferente, é admiração mesmo.
A fã que vira aluna, que vira camareira, que vira amiga confidente, e quando se
toca a vida esta passando e ela na janela, linda, de Carolina vendo a banda passar.
BRUNO –Isso querida, chama-se frustração. O meu caso é diferente, a Monica.. quer
dizer, o Marcelo quer que eu me relacione com ele como homem, sem maquiagem, sem
peruca…sem Monica York, saca?

DEDÉ – E qual é problema ? Eu até achei que …entre quatro paredes era isso que
rolava, até porquê ninguém merece transar…toda montada né Bruno?

Bruno: Dedé, o meu negocio é mulher!

Dedo: Você quer dizer homem com pau no meio das pernas travestido de mulher ? Tudo
bem, cada qual com seus fetiches, mas eu acho que esta na hora de você assumir que
você gosta…

Bruno: Chega, vamos parar por aqui! Voltando ao teu caso, o que rola é uma puta
frustração sua por querer estar no palco, quando na verdade você está por detrás das
cortinas, babando o ovo da Pat Lews
que sabendo muito bem disso, porquê ela não é boba nem nada, não é capaz de
te dar uma chance.

Dedo: É mais ou menos porraí. Bingo!

BRUNO – Então somos dois em apuros. Que tal… agente se ajudar um ou outro ?

Apresentador / Vinheta

CENA 8
( Camarim/ Marcelo e Bruno)

BRUNO (tentando dar um beijo em Marcelo, que vira o rosto) – Qual é Mônica?

MARCELO – A Mônica ainda não chegou, quem está aqui é o Marcelo. Não está vendo
?

BRUNO – Não to te entendendo…


MARCELO – Você não entende muita coisa Bruno.

BRUNO –Lá vem crise.

MARCELO – Olha aqui Bruno, se é crise ou não, o problema é meu. Eu preciso é de


um bom papo com um amigo... segura essa? Porque se não, sai fora!

BRUNO – Estou bem aqui, Monica York…ops,,, quero dizer…Marcelo.

MARCELO – Monica York está fechada pra balanço! A realidade é só um recorte. Se


você está querendo gozar com a Monica, toca uma punheta no banheiro e dá risada do
espermatozoide que vai dar com os cornes no azulejo.

BRUNO – Eu acho que você enlouqueceu…tá difícil seguir seu raciocínio, mas vejo
que...

MARCELO – ... que não consegue e nem vai conseguir nunca...

BRUNO – O que você está tentando me dizer?

MARCELO – Exatamente o que você ouviu... e sabe por quê?

BRUNO – Por que só tem uma pessoa aí dentro e você na sua esquizofrenia acha que
tem duas!

MARCELO – Caralho, eu não aguento mais. Eu nunca me assumi para a Cristiana,


passei anos da minha vida me fazendo de outro, encarcerado no armário porquê minha
mãe se fez de doida, vendo, mas fingindo que não via e me coagindo a fingir com ela.
Aí você casa com uma mulher, se ilude numa relação monogamica e é
infeliz. Quando escancaro e chuto o pau da barraca, a história se repete ao avesso, ou
seja;
me apaixono por um cara que não assume sua homossexualidade a menos
que o macho, por quem ele é apaixonado, finja que é mulher o tempo todo. Porra, eu
não sou mulher, Bruno…eu me travisto de mulher porquê é esse o meu trabalho, o meu
ganha pão.
BRUNO – Você sempre soube que o meu tesão é na Monica. É por ela que o meu
coração bate e a minha pica sobe!

MARCELO – O seu mal é esse…só pensa em você, e com a cabeça da pica!


Você precisa se resolver Bruno, a tua relação comigo é de interesses
pessoais teus. Se liga nos teus mecanismos de repetição, tua fantasia dentro do que você
entende por ( aspas) masculinidade. Cuidado quando você se relaciona com homens
vestidos de mulher, porquê o macho vai estar sempre ali, e te comendo, como você
gosta. Esse teu desejo, quando mal resolvido, ainda vai te colocar em situação de
violência. É por sua causa, de caras como você que somos o país onde mais se
assassina homossexuais no mundo!

BRUNO – ( da um tapa na cara de Marcelo) Cala essa boca

(Marcelo revida com


uma bofetada em Bruno / os dois se tapeiam ao mesmo tempo que se despem iniciando
um tango que finaliza com sexo no chão)

MARCELO – ( Após gozarem ferozmente) Sai Daqui!

CENA 9
(Camarim / Pat e Bruno )

PAT – Será que dá pra você parar um pouco?

BRUNO – Não posso... não posso... eu estou completamente pirado...

PAT – Pirado ou irado?

BRUNO – As duas coisas... eu só sei que estava a ponto de explodir!!!

PAT – Pelo amor da Santa!! Aqui não!!


BRUNO – Isso mesmo... reze... reze pro seu amiguinho não aparecer por aqui agora...
sou capaz de arrebentar a cara dele...

PAT – Eu hein! Sai dessa Bruno, isso é homofobia hein!

BRUNO – Homofobia é o cacete, mas eu sou bastante homem pra acabar com a raça
daquela “bichona” do Marcelo!

PAT – Olha…muda o teu linguajar que tu ainda vai tomar um processo nas costas.

BRUNO – É isso mesmo! Aquela maricona !

PAT – Chega Bruno!

BRUNO – Você ainda defende?

PAT – Bruno! Você se envolveu com o Marcelo, sabendo exatamente o terreno que
estava pisando... ou será que você entrou de gaiato nessa estória? Claro que não!

BRUNO – Eu não estou te reconhecendo...

PAT – Pois é, meu “anjinho”... esse é outro lado da Pat, que tem nome e sobrenome:
Luciano Petrowisky, e que vocês pouco conhecem. Muito prazer!

BRUNO – Acho que já vi esse filme...

PAT – Pois então está vendo um “replay”... e antes que você o veja em 3D, o melhor
que você tem a fazer é recolher suas armas e bater em retirada!...

BRUNO – Qual é Pat ? Pensei que você fosse minha amiga.

PAT – Estou sendo mais do que você imagina. “Quem avisa, amigo é?”
BRUNO – Mas, afinal o que foi que eu fiz, a não ser gostar da Mônica?

PAT – Melhor pararmos por aqui!

BRUNO – E fica tudo por isso mesmo?

PAT – Só vai depender de você!

CENA 10
(Camarim – Pat Lewis se arrumando, conversa com Dedé)

DEDÉ – Podemos conversar depois do show?

PAT – Sobre o que? Sobre o que, Dedé? Desculpe... é que eu estou muito nervosa...

DEDÉ – Pat, me faz muito bem estar perto de você... partilhar do seu dia a dia…cuidar
de você, isso é uma puta escola para mim…

PAT – Gente, o puteiro esta virando clinica de terapia! Pelo amor de Maria Molambo,
Dedé o que você quer?

DEDÉ – Eu quero ir para o palco Pat. Vê se você me entende amiga, foram anos
ralando para pagar cursinhos aqui, oficinas ali, me podendo toda sem grana até para
comer…

PAT – Dedé meu amor, você sabe que aqui não tem espaço para mulheres. O público
vem para cá a fim de se divertir com os veados querida.
( Entra Marcelo
MARCELO – Preciso falar com você de amigo para amigo...

PAT –Ai Molambo me acuda! O que que foi agora? Gente eu preciso me aprontar para
o show!
( entra Bruno)
MARCELO – Ótimo você chegar agora... veio tudo mesmo a calhar... entre...

PAT – Oi Bruno! Você e Dedé me ajudem a segurar o teto, pois estou achando que ele
vai desabar...

MARCELO – Não estou brincando gente, eu…eu vou ter um filho!

PAT (gargalhando) – Pronto, só me faltava essa agora! Explique-se querida!

MARCELO – Tô falando sério, Luciano... há uns tempos atrás, minha mulher me


procurou... conversamos bastante e então, começamos a sair...
e a partir daí cheguei à conclusão que a confusão era minha. Na época
época em que nos separamos, eu não conseguia colocar cada coisa em seu lugar...

PAT – Mas... foi a partir da separação que você criou a Mônica York... ela tem sido seu
trabalho, te dando dinheiro... enfim, te dando uma profissão...

MARCELO – Certo... eu devo muito a Mônica... mas hoje ela e o Marcelo estão se
debatendo aqui na minha cabeça, entende ? Você Bruno... só pertence ao mundo
fantástico da Mônica York, nunca teve espaço para nós três.
Alguém está demais nessa historia.

Bruno - Então é isso, você ja estava saindo com a tua mulher sem me contar nada?

Pat- Ai, ai … se malandro soubesse como é bom ser otário, seria só por malandragem.

Marcelo - Sim, eu já estava saindo com a minha mulher... começava a distinguir as


coisas... e via que, para você, seria muito difícil me aceitar vivendo também com uma
mulher.

Pat - E quanto à Mônica, como é que fica querida?


Marcelo- Não se preocupe, ela vai sobreviver. A minha mulher se dispôs à ser sua amiga
e não sua rival...

PAT – Olha, eu acho ótimo! Essa gente fica fazendo do sexo um problema! AH, eu hein
! Até parece que Deus está lá preocupado com a trepada das formiguinhas aqui em
baixo.

BRUNO – E eu como é que fico nessa historia?

MARCELO – Segue a tua vida Bruno, e seja feliz a sua maneira.

PAT – Bruno… quem sabe essa não seja a oportunidade que a vida esteja dando pra
você se… entender melhor,
parar de ficar se camuflando atrás de travesti e se assumir.

MARCELO – É sobre isso Bruno, sobre você mesmo e mais ninguém.

DEDÉ – Bruno, tenha a certeza que você está entre amigos que só querem te ajudar.

BRUNO – Valeu...

DEDÉ – Quando quiser desabafar…

BRUNO – Vou nessa... Até mais pra vocês

PAT – Meninas…o show não pode parar!

Apresentador - Adorável público da


boate Bolero, esta noite como de costume nós teremos o prazer e a honra de apresentar
nossa convidada especial ( a cada espetáculo teremos uma participação )

CENA 11
(CENA – Bruno ao telefone – Bar)

BRUNO – Oi Samanta, Bruno aqui. Como você está belezura ? To com uma branquinha
boa aqui pra gente se divertir, posso chegar? Não, a Mônica já era !

CENA 12
(CENA – Camarim - Pat se arrumando entra Marcelo)

MARCELO (gritando) – Luciano... Luciano???

PAT – O que foi?

MARCELO – Meu amigo... eu quase... não consigo falar...

PAT – Desembucha logo... O que houve?

MARCELO – Me abrace bem forte...

PAT – Mas o que deu em você?

MARCELO – Eu... eu... acabo de saber que já sou papai!!!

PAT – Criatura ! Que benção! Vá logo ver seu rebento!

MARCELO – Já estou indo!

PAT – Sabe pelo menos se é menino ou menina?

MARCELO – Menina!

PAT – Uau! Ar-ra-sou!


MARCELO – Meu Deus, que loucura inesperada na minha vida, a essas alturas do
campeonato, eu papai!

PAT – Vai Mônica York! Agora vai ser papai e mamãe hei? Ahahahaha

CENA 13

Vinheta musical com todos ( Musica Mamãe eu Quero )

CENA 14

( Camarim Pat Lewis, entra Bruno)

BRUNO – Com licença...

PAT – Bruno... resolveu aparecer?

BRUNO – Digamos que sim…

PAT – Mas que ar enigmático... está de novo enrolado em algum caso?

BRUNO – Mais ou menos...

PAT – Como está você?


BRUNO – Levando a vida da melhor maneira que posso…batalhando para me refazer e
dar a volta por cima...

PAT – Isso, boy! Pra frente é que se anda! Como está a Samantha?

BRUNO – Pelo que eu sei, bem!

PAT – Você não tem jeito mesmo né moleque? Na aba de outro viado de novo ? Fica
esperto que a Samanta não é Monica York não hein ? Aquela meu filho, anda de navalha
no meio das pernas. Pronta com a bicha e ela te corta a cara!

BRUNO – Não... não é bem assim...

PAT – Hum, eu é quem sei! Elas estavam chegando eu já corria maratona na pista a
muito temp, querido.

BRUNO – Eu to morando lá com ela.

PAT –Hum… já aprontou por lá ?

BRUNO – Não…não…

PAT – Bruno, eu te conheço…

BRUNO – Eu não tinha pra onde ir... aí ela me deixou ficar... mas na condição de fazer
uns trabalhinhos pra ela... Mas essa situação já está pra acabar, eu estou empregado
agora.

PAT- Que ótimo, aonde ?

BRUNO – Aqui mesmo, na boate Bolero.

PAT – Aqui ?! Para fazer o quê ? Como é que você consegui…Bruno, o que é que você
está aprontando?
BRUNO – Você esqueceu que eu sempre me dei bem com o patrãozinho de vocês?

PAT: Não acredito! Ta comendo ele ?

BRUNO – Segundo os conselhos de vocês; pegando um…homem.

PAT – Mas você é muito interesseiro mesmo!

BRUNO – O suficiente para minha sobrevivência. a partir de agora vou cuidar da


programação e finanças da casa.

PAT – Qual é a sua próxima vitima Bruno ?

BRUNO – Não é bem a vítima…eu diria que vítimas.

PAT – Do que você está falando Bruno? Explique-se

BRUNO – Desde que entrei aqui, eu estou tentando... o assunto desviou pra outro
lado...

PAT – Detona logo!

BRUNO –Pois bem, eu vim te dar uma notícia...

PAT – Pelo amor da Santa!

BRUNO – É... é que você e Mônica York estão temporariamente demitidas da casa.

PAT – O que?!!!

BRUNO – Isso mesmo que você ouviu... o chefe pediu que eu dissesse isso a você...
PAT – Sai fora Bruno! Isso é uma brincadeira de mau gosto...

BRUNO – Não é não. É serio.

PAT – Meu Deus!!! Mas qual é o motivo disso?

BRUNO – Ele acha que precisa renovar o show… há muito tempo a boate apresenta a
mesma coisa, e isso está fazendo a clientela cair...

PAT – Como? Até hoje eu era tratada como estrela da noite!!!

BRUNO – Ele vem amadurecendo essa ideia há algum tempo. Pat, você está velha meu
amor.

PAT – Ah então é isso? Que filho da puta!

BRUNO – Todo mundo tem direito de querer mudar...

PAT – Mas assim?!! Do dia pra noite??

BRUNO – Eu já disse... ele vinha estudando essa possibilidade...

PAT – Bruno você está por trás disso!

BRUNO – De uma certa forma. Você esqueceu a forma como me trataram ?

PAT – Bruno você esta querendo se vingar, é isso ?

BRUNO – Imagine, só estou cumprindo…ordens.


PAT – Cachorro!!! Ele acha que está acima do bem e do mal... com essa boazinha de
merda!

BRUNO – Infelizmente, a vida é assim... sei que o show é vital pra vocês, mas não pude
fazer nada, afinal, eu não sou o dono da casa...

PAT – A essa altura da vida, onde eu vou arranjar emprego ?

BRUNO – A situação é bastante desagradável... mas o que precisarem de mim, estou às


ordens...

PAT – E o show amanhã, não vai acontecer?

BRUNO – Não com vocês.

PAT – Canalha! Por baixo dos panos...

BRUNO – Sinceramente, espero que vocês encontrem uma saída o mais rápido
possível...

PAT – To fodida!

CENA 15
( telefonema / Bruno e Dedé)

BRUNO – Dedé meu anjo, chegou a hora de você mostrar o seu talento!

DEDÉ – O que aconteceu?

BRUNO – Calma... vou te explicar tudo direitinho... preste atenção; o Marcelo vai ter
que dar um tempo por causa da bebezinha em casa, e o Luciano precisou correr no
interior pra ver a mãe que foi hospitalizada.
DEDÉ – Jura ? eu não estou sabendo de nada, até sabia que o Marcelo ia ter que dar
uma força em casa com a Cristiana e o bebê, mas sobre a mãe do Luciano… e você
como ficou sabendo disso tudo?

BRUNO – Porquê pedi uma força para o patrãozinho e ele me empregou.

DEDÉ – Ah que legal Bruno! Nossa vou dar uma ligada para o Luciano…

BRUNO – Não adianta porquê o sinal lá é péssimo, ele vai entrar em contato com a
gente.

DEDÉ – Hum…

BRUNO – Agora temos que nos unir e pensar no show de sábado, hoje é segunda feira!
Sabe aquele numérico que você vive ensaiando em casa?

DEDÉ – Claro!

BRUNO – É isso Dedé! Estou indo praí !

CENA 16
( Camarim / Luciano arrumando sua mala )

LUCIANO – Ainda bem que você chegou...

MARCELO – O que aconteceu? Sua voz no telefone parecia estar trêmula...

LUCIANO – É melhor você se sentar...


MARCELO (sentado) – O que foi de tão grave pra você interromper as minhas férias?

LUCIANO – Queridinha, estamos no olho da rua!

MARCELO – Como assim?

LUCIANO – Exatamente... fomos demitidos da boate, sem a menor satisfação...

MARCELO – Como? Quando?

LUCIANO – Há dois dias... desde então, tento falar com o chefe e não consigo...

MARCELO – Mas…quem te despediu então?

LUCIANO – Pasme, foi o Bruno!

MARCELO – Bruno?! O que ele tem a ver com isso?

LUCIANO – Com a nossa demissão nada, mas... com a situação, tudo!

CENA 17

Apresentador- ( numero de tap dance ? )


Minha vida é um circo, dou risadas das palhaçadas, aprendo a cada dia a domar meus
instintos, faço graça sempre com meus problemas, me equilibro na corda bamba sendo
eu, o apresentador de outras vidas.
E esta noite a boate Bolero abre suas cortinas para seus mais novos artistas contratados;
Dedé Miranda e Bruno Cavaquinho
(No final do show entram Marcelo e Luciano )

LUCIANO ( bêbado) – Parece incrível... se não tivesse visto com esses olhos que a terra
há de comer, eu não acreditaria...

MARCELO – Estou de queixo caído... quem diria?

LUCIANO – My Darling, nós subestimamos aquele garoto!

MARCELO – Nunca imaginei que tivesse convivido com uma cascavel... criei cobra
pra me morder...

LUCIANO – E o pior é que conseguiu puxar o tapete de duas “monas” quilometradas,


que se achavam espertíssimas!!!...

MARCELO – Fui tão cego, que nunca percebi nada…

LUCIANO – Eu, então ? Sempre dando conselho como uma mãezona a im michê
barato! Estou arrasada!! (Serve mais bebida)

MARCELO – Um escroque de merda, se fazendo passar por apaixonado! Luciano...


você não acha que está bebendo demais? Nesses últimos dias, só te encontro de porre...
dá um tempo!

LUCIANO – O que você quer que faça uma bichona na minha idade, e nesse país sem
memória que não respeita nem valoriza os mais velhos que lhes ensinam tudo?

MARCELO – Mas não é echendo a cara que você vai resolver a situação...
LUCIANO – Resolver o que, Marcelo? Eu estou na merda!

MARCELO – Calma guerreira! Vai jogar a toalha?

LUCIANO – ( bebado) Vou jogar a toalha, ficar nua, pelada, doida! Interna ela! Tá
louca!Criatura!!! Entenda... o que eu vou fazer a essa altura do campeonato? Me diz
( chorando)
MARCELO – Nem tudo está perdido…
(Neste momento, entra Dedé no bar)
DEDÉ – Marcelo, Luciano! O que é que vocês estão fazendo aqui ?

LUCIANO (bêbado) Mas é muito cínica!

MARCELO – Que puta sacanagem foi essa, Dedé?

DEDÉ – Sacanagem ? Não... não é nada disso...

LUCIANO – Ah, não? somos jogados no olho da rua, de um dia para o outro e
derreteste, você e o bosta do Bruno assumem nosso lugar?

MARCELO – A gente não esperava isso de você, Dedé...

LUCIANO – A convivência com aquele verme do Bruno deve ter ensinado tamanha
dissimulação! Não se faça de inocente, perua... se assuma!

DEDÉ – Eu não estou dissimulando nada... nem me fazendo de inocente, não tenho
culpa de coisa alguma... eu não estou entendendo aonde vocês querem chegar...

MARCELO – Ora Dedé... você acha que tomar o nosso lugar no show, não é nada?

DEDÉ – Eu não quero tirar o lugar de ninguém... pelo contrário... até onde eu sei, a
gente só está quebrando um galho. Luciano, você não foi ver a sua mãe hospitalizada?
Luciano- Minha mãe hospitalizada? Ta louca Dedé? De onde você tirou isso? não está
me vendo aqui?

MARCELO – Espera aí... que negócio é esse de quebrar um galho ?

DEDÉ – Foi isso que me disse o Bruno...

MARCELO – Bruno disse isso? E o que mais?

DEDÉ – Que Você tinha que dar atenção a sua mulher que pariu seu filho e que não
poderiam fazer o show esse final de semana!

Luciano – filho da puta!.

MARCELO – Já entendi tudo...

LUCIANO – Mais uma vítima do golpista!

DEDÉ – Golpista?!! Do que vocês estão falando?

MARCELO – Você também foi enganada, Dedé... Bruno também conseguiu te


arrastar…

LUCIANO – “Cherri”… nós estamos demitidas da boate..

DEDÉ – Não é possível!

MARCELO – Bruno armou tudo direitinho!

LUCIANO – E te usou para se vingar de nós.

DEDÉ – Eu bem que desconfiei, mas ele me convenceu...


MARCELO – Como ele consegue com todo mundo, inclusive a mim...

LUCIANO – Gente, isso não vai ficar por aí, temos que fazer alguma coisa e
desmascarar esse crápula!

MARCELO – Pelo menos, uma rasteira naquele michezinho nós temos que dar. E
vamos ter que jogar pesado...

DEDÉ – E eu... como fico?

LUCIANO – Continue trabalhando no show como se não soubesse de nada.

DEDÉ – Se for pra sair dessa confusão...

LUCIANO – Aquele vestibulando de bicha me paga! “Darling”... pelo menos pra isso, a
nossa “quilometragem” serve... sobreviver nessa selva de surucucus...

DEDÉ- O que vocês pretendem fazer?

MARCELO – Enquanto vocês divagavam, eu comecei a pensar numa ideia que pode
dar certo...

MARCELO – Bem... Dedé vai continuar no show... então, eu pensei que você, Luciano,
poderia se tornar a camareira dela...

LUCIANO – Euzinha ? Desculpe Dedé, nada pessoal...

MARCELO – Por favor, Luciano... vamos dar um tempo na frescura? É só uma ideia
que me ocorreu...

LUCIANO – E você nessa história, onde entra?


MARCELO – Estou pensando num serviço no salão... talvez garçom... copeiro, sei lá!
Qualquer coisa assim... E aí é que entra a Dedé no nosso plano...

DEDÉ – Como?

MARCELO – Converse com o Bruno sobre a nossa situação... diga que nós estamos na
pior, sem grana até pra comer... exagere mesmo... e sugira que ele convença o chefão a
nos dar essa oportunidade...

DEDÉ – Será que eu vou conseguir?

LUCIANO – Ué... ele não te usou? Use ele também... encha a bola dele… valorize o
seu ego... aquela “coisinha” agora não é a “primeira dama” do cabaré?

MARCELO – É claro... você tem um trunfo na mão! Conta pra ele que você soube que
o chefe nos demitiu, e que só ele tem o poder de reverter a situação convencido o
patrão, que ele está comendo que eu sei, a dar uma colher de chá para as bichas aqui nos
empregando como camareira e garçom.

DEDÉ – Vou ter que ser muito artista, porquê a vontade é de matar aquele vindo
trapaceiro!

MARCELO – Avante queridas, Vai dar certo Se cada um fizer bem, o seu papel,
chegamos lá!

CENA 18
( Camarim – Bruno)

BRUNO (conferindo as roupas para o show) – Dedé que não chega... e a camareira
também... será que aquela bicha ainda está sofrendo da “síndrome” de estrela? Elas não
sabem que os serviçais são os primeiros a chegar?

DEDÉ (entrando) – Dá licença? Trânsito horrível...


BRUNO – Bem vinda, minha estrela!

DEDÉ – Nem tanto, Bruno... eu praticamente só faço número no palco...

BRUNO – E a camareira, Pat? Já devia estar aqui... afinal, eu consegui a muito custo
esse lugar pra ela... tinha que se tocar que a função dela é estar à nossa disposição... tem
que ser a primeira a chegar, pra botar o camarim em ordem...

DEDÉ – Vai ver também...

BRUNO – ...ficou presa no trânsito... ela que saia antes de casa...

PAT (chegando) – Desculpe gente, o trânsi…

BRUNO - Isso são horas Pat? Onde está o seu tão reconhecido profissionalismo?

PAT – Muito obrigada... não sabia que era tão considerada assim!

BRUNO – Não foi à toa que, quando Dedé me falou da sua vontade de voltar a
trabalhar aqui, não medi esforços pra conseguir isso!

PAT – Você é um amor, fico muito grata...

BRUNO – Sem essa, Pat... você sabe que sempre fomos grandes amigos…( saindo )

DEDÉ – Que coisa, hein!

PAT – Você não sabe o esforço que eu fiz pra não pular no pescoço dessa cascavel e
apertar até morrer...

DEDÉ – Eu imagino... estava rezando pra ele sair daqui o mais rápido possível...

PAT – Ai! Eu tenho que me controlar... eu tenho que detonar essa bichinha no talento!
DEDÉ – Se acalma... me ajude a me vestir pro show... desculpe, Pat... eu fico tão sem
graça de te ver nessa situação... esse lugar é seu... isso me incomoda muito...

PAT – Deixa de ser tolinha, “baby”, é claro que sinto saudades da época de estrela, mas
como disse o Marcelo, nós somos perfeitos, podemos trabalhar... e isso é muito digno...
estou vendo que pior que tudo, é o nosso preconceito!

DEDÉ – Mesmo assim... fico constrangida...

PAT – Relaxa... um dia eu reassumo o meu lugar!

MARCELO (entra vestido de garçom) – Tudo bem por aí?

PAT – Tudo... agora melhor, sem a presença daquele verme lazarento!

MARCELO – Ele esteve lá no salão quando eu arrumava os copos nas mesas... quase
não me encara... só se aproxima pra dar ordens... assim mesmo, falando sempre pra
todos, sem se dirigir a mim...

PAT – É uma “moninha” ridícula!

DEDÉ – Eu sei porque ele não está te encarando, Marcelo... ele não queria de jeito
nenhum arranjar a vaga pra você... eu tive que apelar pra sua filha... dizer que a criança
não tinha nada a ver com a briga de vocês, que não podia ficar sem comer por causa de
uma vingança mesquinha!

PAT – Arrasou, mona! Está se saindo muito bem!

MARCELO – O importante é que convenceu... quanto menos eu tiver que olhar pra ele,
melhor! Agora deixa eu ir pro salão... é bom que ele não nos veja muito junto... tchau!

DEDÉ – Estou louca pra ver essa situação toda resolvida!


PAT – Espere garota! Nosso plano está mal começando!

DEDÉ – Eu me sinto em areia movediça...

VOZ OFF – Telefone para Mônica ou pra Pat.

CENA 19
( Bar – Telefone)
PAT – Alô! Quem? Oi Samantha, Darling! É a Pat... a Mônica está no salão... é a
respeito do Bruno?... eu estou por dentro do assunto... é mesmo?!! Que babado, mona!
Expulsou?
Fez muito bem... é um canalha! Com a gente? Aprontou sim... mas pessoalmente eu te
conto... tchau, querida! Olha, valeu mesmo... você não sabe como esse telefonema foi
importante... outro pra você... bye bye!

CENA 20
( Camarim/ Bruno /Final do show)

MARCELO (entrando) – da licença, o chefe está te chamado no escritório...

BRUNO – Diga que depois que eu me trocar, eu vou...

MARCELO – Acho que é urgente...

BRUNO – Você não ouviu o que eu disse? Está aqui para cumprir ordens.

MARCELO – E é exatamente o que eu estou fazendo...

BRUNO – Então cumpra as minhas...


MARCELO – Pela prioridade, as do chefe são mais importantes... e só para esclarecer,
o assunto parece ser grave...

BRUNO – O que quê há, hein?! Tá a fim de me ameaçar?

MARCELO – Não! De repente, até ajudar...

BRUNO– Você acha que eu vou entrar nessa pilha, ô cara! Que história é essa de
ajudar... logo você?

MARCELO – Prevenir é modo de ajudar...

BRUNO – Prevenir?!! De quê? Eu tenho uma situação bem estável na casa... ou você
esqueceu do posto que eu ocupo?

MARCELO – Não... não esqueci... e é por isso que se eu fosse você, iria o mais rápido
possível ao escritório...

BRUNO – hum, não estou gostando nada desse teu tom…o que você quer ?

MARCELO – Eu não estou querendo nada, garoto! Vê se te enxerga... Eu não sou da


tua laia... só estou tentando lhe dizer que você pode se dar muito mal se não atender ao
chamado...

BRUNO – Se você estiver armando pra cima de mim, eu dou cabo da tua vida deusa
vez!

MARCELO – Parece que, se tem alguém aqui que arma... esse alguém é você!!!

BRUNO– Olha que eu te ponho de novo no olho da rua, bicha!

MARCELO – Mas antes, vá dizer ao chefe como o dinheiro do cofre sumiu!!...

BRUNO – Que história de dinheiro é essa? Você está me acusando?


MARCELO – Absolutamente... Mas tem um detalhe... só você e o chefe tem a chave do
escritório e o segredo do cofre...

BRUNO – Está me chamando de ladrão? Você vai se arrepender, Marcelo... eu vou te


enfiar um processo pela goela a dentro... você é muito abusado!
Não se esqueça que você e aquela bicha velha da Pat só estão aqui, porque eu
quis... dei oportunidade de vocês saírem da merda que estavam, e agora sou obrigado a
ouvir essa besteirada toda!

PAT (entrando com Dedé) – Ouvi alguma coisa a respeito da Pat?

BRUNO – Ouviu sim... e repito, “bichas velhas”!!!

PAT – É melhor você medir suas palavras, baby!

BRUNO – É isso mesmo... duas arruinadas, acabadas, enchendo meu saco!

MARCELO – Mas temos uma coisa que você nunca conheceu: ca-rá-ter!!!

BRUNO – Vocês são umas loucas! Perderam totalmente o juízo... deve ser esclerose!

PAT – Não, meu jovem... só para clarear a sua mente... você conhece Samantha
Spencer?

BRUNO – Conheço... melhor, conheci...

PAT – Conheceu bem, não é?

BRUNO – E daí? O que tem isso a ver?

PAT – Eu sei o motivo pelo qual você saiu da casa dela...


BRUNO – Por que ela é uma cafetina... vagabunda!

PAT – Será? Ou será por que as joias dela sumiram?

BRUNO – Eu que sei? Não tive nada a ver com isso...

PAT – Não?!! Com que grana você sustentou seu estoque de cocaína?

MARCELO – Por falar nisso... eu quis te falar, mas você não deu chance... o outro
motivo pelo qual o chefe pediu para você ir ao escritório, foi a visita de um homem
esquisito, falando sobre a outra parte do pagamento da mercadoria...

BRUNO – Vocês estão querendo me desmoralizar? Não adianta que vocês não vão
conseguir me derrubar!

MARCELO – A cobra se enrola sobre si mesma Bruno...

PAT – Darling... vacilou, dançou…

BRUNO – Vocês vão me pagar muito caro! E você, Dedé? Não diz nada?

DEDÉ – O que você quer que eu fale, Bruno?

BRUNO – Qualquer coisa! Ou também se aliou a essas bruxas?

DEDÉ – Me deixa de fora dessa... eu não tenho nada a declarar!

BRUNO – Quer dizer que eu te tiro da prateleira, te boto no palco, te jogo pra cima e
você não tem nada a declarar?

PAT – Eu falo por ela... parou de ser um joguete nas suas mãos!

MARCELO – Mais uma pessoa que para de ser usada por você!
BRUNO – Que cena linda... as ratazanas do porão se uniram!

MARCELO – Se uniram contra o futuro rato de cela!

BRUNO – Eu vou acabar com a raça de vocês! (sai)

MARCELO – A sorte está lançada!

PAT – Ele há de a rolar ribanceira abaixo!

DEDÉ – Ai... que confusão!

PAT – É o fim dele!

CENA 21
(Apresentador introduz número de Pat, Monica e Dedé)

CENA 22

(Bruno entra pela plateia, completamente drogado interrompendo o show)

BRUNO – Não adianta! Não adianta querer me barrar porque eu vou entrar... vou
exterminar essas ervas nocivas da face da Terra... vamos lá bichonas.. vocês não
quiseram acabar com a minha vida? Olha eu aqui... Venham me encarar frente a
frente... ou vocês querem que eu vá aí, partir as suas caras? Eu vou sobreviver, porque
eu sou mais eu.. eu vou... vou mostrar quem sou eu !

DEDÉ – ( desce do palco ) Bruno? Você não está bem...


BRUNO – Ah! Conseguiu voltar ao seu lugar de capacho de viado?

DEDÉ – Bruno, pare com isso! Vá embora!

BRUNO – Por que? Tá bancando a fiel escudeira?

MÔNICA – Se o negócio é partir pro murro, vamos nessa!

BRUNO – Ah! Ah! Ah! Não é que a bichona resolveu virar macho?

MÔNICA – É... realmente, o macho que você teve medo enquanto viveu com ele...

BRUNO – Errou, maricona! O que eu me aproveitei, você quer dizer...

MÔNICA – Eu vou calar essa sua boca de uma vez!

Apresentador - Distinto público, desculpem o imprevisto! Mas, cá entre nós; faz parte
do show!

PAT – Pare, Marcelo! Você não está vendo que ele está bêbado, cheirado pra variar!
Aniquilado, não tem condição de matar um inseto!

BRUNO – A múmia resolveu falar! Quem me aniquilou? Vocês?

PAT – Acabou Bruno! O seu histórico na polícia é que vai te dar a resposta!

BRUNO (surpreso se cala)

PAT – Agora vamos Monica. The show must go on!


DEDÉ – Bruno... vá para casa...

BRUNO – Me deixa... vá pra junto dos seus amiguinhos...

DEDÉ – Eu estou querendo fazer o melhor para você, apesar de tudo!

BRUNO – Que melhor? Você ajudou a acabar comigo...

DEDÉ – Não é verdade! A Pat tem razão... você mesmo se enterrou!

BRUNO – Cala essa boca Dedé, eu não quero piedade de ninguém... eu sei me cuidar...
sempre soube!

DEDÉ – Então vai se cuidar...

BRUNO – Pare de me tocar daqui, como se eu fosse um cachorro sarnento!


DEDÉ – Não estou tocando! Estou pedindo...

BRUNO – (agride Dedé com um tapa) vagabunda, falsa!

( sirene de polícia)

DEDÉ – Ouviu, Bruno? Eu sabia que isso ia acontecer!

BRUNO – Ouvi e daí? Essa não vai ser a primeira, nem a última vez..Tentaram me
matar na porta de um cabaré, eu ando de noite, ando de dia, só me mata quem puder, e
esse ainda está pra nascer. Eu sempre escapo e ainda levo a melhor em cima de vocês,
suas bichonas!

(Número Musical)
Apresentador

Tum tum tum


Mato tem olho
Parede tem ouvido
E eu sei de tudo
Que tu faz escondido

Todos :
Tum, tum ,tum
Tumj, tum, tum

Tem medo do inferno companheiro?


Pois ele está aí dentro de você cuidado pra não se queimar.

Todos: Tum, tum, tum…


Só gira como fogo
Quem sabe girar,
Só brinca com fogo
Quem sabe apagar

Todos: Tum, tum, tum …

Atento, você não moro aonde eu moro.


Você não vê o que eu vejo!
É cava aqui, cava a cova
quem me deve me paga

Todos:
Quem não paga se enrola!
Tum, tum, tum
Tum, tum , tum
(Luzes se apagam / ouve-se um tiro de revólver / Grito desesperado de Marcelo )

CENA 23
(Acende a luz e Pat Lewis está imóvel com um revólver na mão. Monica está deitado
chorando sobre o corpo de Bruno estendido no chão)

PAT – Um dia já fui homem, hoje sou uma mulher com pau. Descobri que era trans-
humana, para deleite dos machos que se deitam comigo. Minha liberdade sexual
ninguém me tira, ninguém me condena.
Eu não tenho que escolher de que lado estou, gozo no meio, não sou partido, sou
integral.

Dedé - Eu sexo frágil? Tudo armação desse patriarcado decadente que taí. Que também
inventou o estado, o mesmo estado machista que me violenta decidindo sobre meu
corpo.
Eu não preciso de faculdade para saber que o Estado me fode. e se não te fodeu
ainda, vai foder cedo ou tarde. Por que ele é machista. homofóbico. doente. Seus dias
estão contados.

Marcelo - Mostruosa e empanturrada a rainha dos termitas reina sobre os machos


escravizados; a fêmea do louva-a-deus e a rainha, fartas de amor, matam o parceiro e o
devoram.
A cadela no cio, erra pelos becos das vísceras ensanguentadas deixando atrás
de si um rastro de odores perversos; as mais soberbas feras, bissexuais em sua natureza;
a tigresa, o tigre a leoa, o leão, a pantera,
deitam-se servilmente e abrem as pernas num golpe fatal para a posse do
macho. É isso que o macho teme; ser devorado.

Apresentador - Só gira com o vento quem sabe girar, só brinca com fogo quem sabe
apagar. Atento, você não mora onde eu moro.
Você não vê o que eu vejo! Firma o ponto e acerta teu passo camarada, para que não
haja mais embaraço. Boa noite pra quem é de boa noite!
FIM

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