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—Sincero, romântico e discretamente inovador. Este livro


salvará vidas. — Becky Albertalli, Novo York Times autor de best-
sellers de Simon vs. A Agenda do Homo Sapiens.

—Macio e cheio de humanidade, Desejo a todos o melhor diz


uma história de amor estranha comovente, sem compromisso
Russo —, autor vencedor do Prêmio Stonewall de Se eu fosse sua
garota.

— Um farol de esperança em um mundo quebrado. Todos


nós precisamos deste livro. —- Nic Stone, New York Times autor de
best-sellers de Caro Martin.

— Emocional e sincero... Esse é o tipo de romance que vai


além de ser importante; tem o potencial de salvar e mudar vidas.
— Kheryn Callender, autor vencedor do Prêmio Stonewall de
Criança furacão e Esta é uma espécie de história de amor épica.

—Um verdadeiro único e lindo estreia. —- Adi Alsaid, autor


de Vamos nos perder.
—Profundamente comovente e muitas vezes desmaiado… um
presente impressionante para o mundo. —- Jay Coles, autor de
Tyler Johnson esteve aqui.

— A estreia importante e inspiradora sobre identidade,


aceitação, amizade, relacionamentos familiares e as pessoas que se
tornam sua família. —- Sabina Khan, autora de O amor e as
mentiras de Rukhsana Ali.

—Uma história suave, doce e incrivelmente importante sobre


um adolescente não-binário encontrando sua voz. Este livro será
tão importante para muitas pessoas. — Alice Oseman, autora de
Radio Silence.

—Uma adição bem-vinda ao crescente corpo da literatura


LGBTQIAP +. — Lista de livros.
GLOSSÁRIO
Não-binários:

Gênero que permite diversas identidades distintas dentro de si.


Usado para designar pessoas que possuam identidades de gênero
que não sejam exclusivamente mulher ou homem.

Exemplos:
SI ST EM A EL .

Pronomes: el, els, del, dels, nel, nels, aquel e aquels.


Sistema El surgiu pela simples deleção da vogal marcadora de
gênero no final dos pronomes.

S U BS T IT U IÇ ÃO D O S P R O N O M E S P E S S O AIS “ EL A ( S )”
O U “ EL E( S ) ” P E L O S P R O N O M E S N ÃO - B IN ÁR IO S
“ EL (S )” .

Pronomes pessoais de 3a pessoa: El (no singular) e Els (no plural).


Pronuncia-se “éu”.

Exemplos de uso:

• Ela bebeu muito refrigerante. —> El bebeu muito refrigerante.


• Eles são amigos. —> Els são amigues.

S U BS T IT U IÇ ÃO D O S P R O N O M E S P E S S O AIS “ EL A ( S )”
O U “ EL E( S ) ” P E L O S P R O N O M E S N ÃO - B IN ÁR IO S
“ EL U (S )” . P R O N U N C I A - S E C O M O “ ÊL U ” .

Exemplos de uso:

• Ela bebeu muito refrigerante. —> Elu bebeu muito refrigerante.


• Eles são amigos. —> Elus são amigues.

U SO DA VO GA L “ E ” AO I N V ÉS D E “O ” O U “A ” N O
F I N A L D E P AL A V RA S C O M O A DJ ET I VO S.

Exemplos de uso:

• Lindo(a) = linde
querido(a) = “queride” Outra alternativa é deixar de pronunciar
as vogais que demarcam gênero ou então colocar um “s” no
final depois de tirar a vogal. Também dá pra fazer outras
modificações, como em “bonitin” e “fofis”.

Exemplos:

• lind, linds
• amig, amigs
• bonit, bonits
• tods.
• todos(as) = todes
• menino(a) = menine
• cansado(a) = cansade.
• Funcionário(a) = funcionárie;
• Obrigada pela atenção. —> Obrigade pela atenção.

Quando a palavra termina em “-ão” no masculino e “-ã” no


feminino, substitui-se com “-ane”.
Exemplos de uso:

• Irmane / Irmã. —> Irmane.


• Anfitrião / Anfitriã. —> Anfitriane.
• Órfão / Órfã. —> Órfane.

U SO GEN ERO SO D E T E RM O S N EU T RO S O U C O M U N S
D E DO I S GÊN E RO S C O M O “P E SSO A ”, “J O V EM ”,
“C O L EG A” , “ ES T U D AN T E ”, “C RI AN Ç A”, “DO C EN T E S”,
“ AL GU ÉM ”, “C O N T AT O ”, “PÚ BL I C O ” , “C R I AN Ç A DA ”,
“ G EN T E ”, “ I ND I VÍ DU O ” , “I N T EG RAN T E”, “SU J E I T O ” ,
“ H U M AN I DA DE ”.

Exemplos de uso:

• Ela partiu. —> A pessoa partiu. / Essa pessoa partiu.


• Boa tarde a todos. —> Boa tarde a todas as pessoas. / Boa tarde a
vocês.
• Os alunos da quarta série se reuniram. —> Estudantes da quarta
série se reuniram.
• Os alunos do meu grupo chegaram. —> Colegas do meu grupo
chegaram.
• Que menino mais lindo. —> Que criança mais linda.
• Sua namorada. —> A pessoa com quem você namora. / A pessoa
que namora com você.
• Sua irmã. / Minha irmã. —> A pessoa que é sua irmã. / A pessoa
que é minha irmã.
• Aqueles que terminaram a tarefa podem sair. —> As pessoas que
terminaram a tarefa podem sair.
• Aquela minha amiga me chamou agora. —> Aquele meu contato
me chamou agora.
• Os professores estão na reunião. —> O corpo docente está em
reunião.
• Um cara fez isso? —> Alguém fez isso?
• Senhoras e senhores! —> Respeitável público! / Respeitáveis
pessoas!
• Meninos e meninas! —> Criançada! / Meninada!
• Que caras são esses? —> Que gente é essa?
• Os metalúrgicos. —> A classe metalúrgica.
• Os homens fazem isso. —> A humanidade faz isso.

Para Robin, que estava lá desde o começo.


UM
—Ben, querido, você está se sentindo bem?

Mamãe pega o prato na minha frente, com a maior parte do


meu jantar ainda intocado. Eu tinha tomado talvez uma ou duas
mordidas antes que caísse no meu estômago como uma pedra e o
pouco apetite que eu tive para começar se foi.

—Sim, eu estou bem—, digo a ela. Sempre mais fácil apenas


dizer isso a ela. É melhor que ela puxar o termômetro e cada frasco
de remédio que temos no armário. —Apenas há muito em minha
mente.

Viu? Não é uma totalmente mentira.

—Escola? — Papai pergunta.

Aceno em concordância.
—Você não está ficando para trás, está?

—Não, apenas muita coisa acontecendo. —Novamente, não é


uma mentira total. É mentira se estou apenas escondendo certas
informações?

—Bem, — mamãe começa. —Enquanto você mantiver suas


notas altas. Quando chega o boletim?

—Na próxima semana. —Será tudo As, exceto em inglês, o


que provavelmente me renderá “Não estamos bravos, apenas
decepcionados”.

—Tem certeza de que está se sentindo bem? Você sabe que


essas mudanças de temperatura sempre chegaram a você. —
Mamãe volta para mim e afasta os cabelos da minha testa. —Você
está um pouco quente...

—Estou bem. —Afasto a mão dela. —Eu prometo, apenas


cansado.

Acho que isso é o suficiente para ela, porque ela me dá esse


sorrisinho.
—Está bem. —Ela ainda está me encarando enquanto se
afasta. —Devemos agendar um corte de cabelo, está ficando muito
longo atrás.

—Ok. —Eu tomo um pouco de água para me dar algo para


fazer. —Eu disse a vocês que Gabby Daniels teve que abandonar o
cargo de presidente do Art Club?

—Não, aconteceu alguma coisa? —Mamãe pergunta.

—Eu acho que foi demais para ela, ela está em todos os
outros clubes da escola. Mas isso significa que eu vou assumir por
ela!

—Oh, querido, isso é ótimo! —Mamãe diz da pia, lavando os


pratos antes de colocá-los na máquina de lavar louça. —Você vai ter
que fazer algo extra pelo clube?

—Organizar principalmente eventos e viagens. Eu já estava


cobrindo a maioria das reuniões de Gabby, então não será muito
diferente.

—Você tem certeza que isso não interferirá nos estudos?—


Papai diz com uma careta no rosto. —Lembre-se do nosso acordo:
se suas notas caírem, você precisa sair.
—Sim, senhor. — Eu posso sentir essa leve pressão no meu
cérebro, como se algo estivesse ficando mais apertado contra o meu
crânio. Olho para mamãe, esperando que ela diga alguma coisa,
mas ela não diz. Ela apenas olha para o chão como costuma fazer
quando papai fica assim. —Eu sei.

Papai suspira e entra na sala, enquanto pego o último prato


na mesa e os levo para o balcão, antes de puxar a Tupperware para
guardar as sobras.

—Obrigado, querido. —Mamãe não levanta os olhos da louça.

—Não tem problema. —digo a ela. — Como foi o trabalho?

— Ah, você sabe. — Ela encolhe os ombros. —Dr. Jameson


continua entregando sua papelada para mim em vez de fazer isso
sozinho.

—Fazendo sua própria papelada? —Eu provoco. —Que


conceito.

—Certo? —Mamãe ri e me dá esse olhar de olhos arregalados.


—Um dia eu juro que vou denunciá-lo.

—Você não me diz para nunca queimar pontes?


—É verdade. Mas sou o adulto aqui e posso fazer o que
quiser. —Mamãe ri para si mesma e coloca a louça de lado. —
Então, o que você fez hoje?

—Nada relevante. Desenhei um pouco, trabalhei em alguns


projetos que estão em são para entregar depois, nada muito
emocionante. — Novamente, apenas retendo informações.

Na maior parte do dia, meu dia consistia em absolutamente


enlouquecer sobre o que eu estava prestes a fazer, assistindo vídeos
no Youtube sobre como as pessoas faziam isso, relendo mensagens
antigas de Mariam e quase vomitando o sanduíche de manteiga de
amendoim que eu fiz para o almoço.

Você sabe coisas típicas do dia a dia.

Mamãe coloca os últimos pratos no escorredor, exatamente


quando estou empilhando a Tupperware na geladeira. —Tem
certeza de que está bem? Você não comeu nada estranho, não é? —
Mamãe chega a tocar minha testa novamente, mas eu consigo evitá-
la.

—Eu prometo, estou totalmente bem.

Mentira.
—Se você diz. — Mamãe cuidadosamente dobra as toalhas de
prato na pia. —Você ainda está de olho no filme?

—Sim, claro, eu estarei lá em um minuto.

—Talvez ele não nos faça assistir Home Alone 1pela vigésima
vez — mamãe murmura principalmente para si mesma, eu acho.

—É um clássico, —eu provoco, e ela sorri para mim, pegando


o saquinho de casca de hortelã que ela fez alguns dias atrás, antes
de desaparecer na sala de estar.

Quando ela se foi, eu me deito sobre a pia, me preparando


para o caso de meu jantar chegar. Eu posso fazer isso, vai ficar
tudo bem. Tudo vai ficar bem e isso é definitivamente a coisa certa
a fazer. Eu conheço meus pais, eles me conhecem, eles também
merecem saber disso.

E eu quero dizer a eles, eu realmente, realmente quero.

Então é exatamente isso que eu vou fazer.

—Ben, traga-me a pipoca, — papai chama da sala, e eu sinto


meu interior apertar novamente. Pego o enorme balde do balcão, do

1 No Brasil, Esqueceram de Mim, é um filme de 1990 de comédia natalina.


tipo com os quatro sabores diferentes que papai sempre compra no
Natal, e migro para a sala, exceto que meus pés estão cobertos por
blocos de cimento.

Ainda parece Natal aqui. Mamãe e eu concordamos que as


pessoas não apreciam o feriado o suficiente, então ela tende a
deixar a árvore e os enfeites até o primeiro dia do ano. Não tenho
muita certeza se é assim que as outras famílias fazem, mas é a
minha peculiaridade favorita dela.

Ela já decidiu que Elf 2é o filme de hoje à noite, exceto que


não possuímos uma cópia, por isso é minha responsabilidade
encontrar um lugar para alugá-lo.

—Podemos assistir Lampoon 3 depois. —Papai tritura um


pedaço de pipoca.

Depois de um pouco de exploração, encontro, insiro as


informações do cartão de crédito da minha mãe e me instalo. É
estranho, eu geralmente amo esse filme até a morte, mas hoje à
noite? É quase irritante. Mas eu não acho que isso seja realmente
culpa do filme. Eu me sinto desconfortável, não importa como eu

2 Um Duente em Nova Iorque no Brasil, é um filme germano-norte-americano de 2003 dos gêneros de

comédia, aventura, fantasia.


3 National Lampoon´s Vacation é uma série de filmes de comédia. (1983-2015)
me sente, é como se eu tivesse que escapar do meu corpo de
alguma forma.

E então o filme chega à cena estranha em que o personagem


de Will Ferrell está cantando com Zooey Deschanel enquanto ela
está no chuveiro, e eu entendo que o personagem dele deveria ser
ingênuo ou o que quer, mas ainda me assusta um pouco.

—Agora, isso é uma mulher. —Papai ri se alimentando de


outro pedaço da pipoca coberta de chocolate. —Certo, Ben?

—Claro. —Eu tento o meu melhor para agir como se estivesse


na piada, mesmo que isso não possa estar mais longe da verdade.
Eu me pergunto se eles já viram esse disfarce, se alguma vez
entraram na ideia de que eu era outra coisa senão o filho perfeito
deles.

Eu não gosto de mentir para ele.

Ou para a mãe.

Basicamente, estou sempre vivendo uma mentira. Eles


realmente não sabem tudo sobre mim.
E é isso que tenho trabalhado até hoje à noite, ou realmente,
nas últimas semanas. É a razão pela qual eu não tinha apetite, a
razão pela qual eu realmente não conseguia me concentrar em nada
na semana passada. As férias de Natal pareciam deslizar no ritmo
de uma lesma, porque eu prometi a mim mesmo que isso
aconteceria agora, em algum momento do intervalo. Hoje parece o
momento certo, mesmo que eu não possa realmente explicar o
porquê. Talvez eu esteja montando alguma mágica de Natal.

É a estação, suponho.

Pena que não me sinto muito alegre agora. Talvez eu devesse


ter vestido mais “roupas gays” para aliviar o clima.

Alguns comerciais começam a tocar, e uma empresa de


automóveis está fazendo uma venda para o “Ho-Ho-Holidays” e,
pelo canto dos meus olhos, vejo papai balançar a cabeça.

—Não estou certo—, eu o ouço murmurar.

Mariam me acompanhou meia dúzia de vezes; eu só tenho


que esperar um bom momento, uma pausa na noite, quando todos
nós estamos nos sentindo muito bem.

Tudo ia ficar bem; Mariam ficou me dizendo isso.


Tudo ia ficar bem e eu finalmente iria tirar essa coisa enorme
do meu peito e ia ser ótimo e eles respeitariam o que eu estava
dizendo a eles.

E tudo ia ficar bem.

Eu continuo me dizendo isso, agora é o momento certo.


Repetidas vezes, enquanto o filme continua em exibição e os
intervalos comerciais continuam chegando. Mas toda vez que abro a
boca, as palavras me falham e não posso forçá-las a sair.

Eu não deveria ter medo.

Mas, por alguma razão, eu estou não importa o quanto eu


deseje não estar. Não consigo superar esse sentimento. Talvez seja
um presságio ou algo assim. Um sinal de que eu não deveria fazer
isso. Exceto eu tenho que fazer isso. Não consigo explicar; eu
apenas sinto isso dentro de mim. E por baixo de tudo isso, eu
realmente acho que tudo ficará bem.

É brega, mas espero até o final do filme, quando todos estão


juntos e felizes e vejo um sorriso no rosto de mamãe.

Papai parece indiferente, mas ele sempre parece assim.


Tem que ser. Eu posso realmente sentir isso.

—Ei, eu queria falar com vocês dois sobre algo, —eu digo,
minha voz muito seca.

—Ok. —Mamãe se recosta no sofá, colocando as pernas


debaixo dela e equilibrando a cabeça na palma da mão. —Como
está?

Papai pega o controle remoto e abaixa o volume da TV.

—Eu... —Eu consigo fazer isso aqui. Basta manter a


respiração.

Há um aperto no meu estômago, como se algo estivesse se


contorcendo e não se soltando até o momento terminar. E tudo vai
se desenrolar e eu me sentirei livre.

Eu queria dizer-lhe algo

Papai olha para mim agora.

É isso.
É meio engraçado, na verdade; o script que escrevi para mim,
o que eu digitei no Word para cobrir tudo o que eu queria, agora
está totalmente fora da minha memória. Como se alguém tivesse
sugado tudo.

Talvez seja melhor assim; talvez seja assim que eu seja o


mais honesto com eles.

Se vier apenas de mim e não uma versão ensaiada de mim


mesmo, talvez isso ajude; talvez isso seja melhor?

Diga a verdade lentamente.

No começo, o alívio me inundou. Eu acho que consigo me


sentir relaxado.

Eu só queria que esse sentimento tivesse durado mais tempo.


DOIS
—Por favor, atenda. Por favor, atenda — sussurro no telefone
público, me preparando para o frio intenso da noite, assistindo o
brilho das luzes de Natal ainda penduradas nas vitrines das lojas,
mesmo que seja a véspera de Ano Novo.

Apenas uma hora, foi tudo o que levou para a minha vida
desmoronar ao meu redor. E agora estou aqui, andando pelo centro
sem sapatos, ligando para cobrar de uma irmã que não vejo, muito
menos com quem falo há uma década.

—Alô?— A voz de Hannah parece cansada, mas ainda não é


tarde. Pelo menos, acho que não; eu não tenho relógio. E meu
telefone está em casa na minha mesa de cabeceira, carregando,
porque a bateria é uma porcaria total.

—Hannah, sou eu. —


—Quem é?

—Sou eu, —eu sussurro. Claro. Ela não reconheceria minha


voz, não mais. Inferno, ela provavelmente nem me reconheceria. —É
o Ben.

Há um deslize, ou barulho, ou algo do lado dela. —Ben? O


que você—

—Você pode vir me pegar? — Interrompo ela.

—O quê? Por quê? O que está acontecendo?

—Hannah!— Olho ao meu redor. A calçada está totalmente


vazia, provavelmente graças às temperaturas baixas. Todo mundo
está lá dentro, em algum lugar agradável e quente. E aqui estou
lentamente perdendo a sensação nos dedos dos pés, tentando ao
máximo não tremer das rajadas de vento.

—Ainda está aí? Onde você está?

—Fora do Twin Hill Pizza. —Coloco minhas mãos sob as


axilas, equilibrando o telefone entre minha bochecha e ombro. Há
um pouco mais de farfalhar do lado dela, e o som de outra pessoa
falando.
—O que diabos você está fazendo aí? É como um grau
negativo aí fora.

—Mamãe e papai me expulsaram.

A linha fica em silêncio e, por um segundo, acho que a


ligação caiu sem aviso prévio. Oh Deus, eu não sei se chamar dessa
maneira funcionará uma segunda vez.

—O quê? — Sua voz quase parece sem emoção, do jeito que


ficaria quando ela estava verdadeiramente, desnecessariamente
enfurecida. Geralmente com papai sobre algo que não exigia isso. —
—Por que eles fariam isso?

—Você pode, por favor, vir me buscar? —Eu tento respirar em


minhas mãos. —Posso. Eu posso explicar tudo mais tarde.

—Sim, claro, apenas espere por mim. Tudo bem?

—Eu estou indo para a rua Walgreens. —Eu posso ver o sinal
vermelho brilhante daqui, apenas um quarteirão acima. Dou o
endereço a Hannah, ouvindo atentamente o que está acontecendo
em segundo plano.

—Okay. Eu vou pra lá assim que puder.


Hannah mora em Raleigh, à uma hora de carro, pelo menos,
talvez 45 minutos, se ela acelerar. Então, eu vou esperar um pouco.

Pelo menos ninguém dentro da farmácia parece se importar


com o fato de eu não cumprir mais a parte “sem sapatos” de suas
duas regras mais básicas. O caixa atrás do balcão nem sequer
levanta os olhos quando eu caminho para o canto mais distante da
loja e sento em uma das cadeiras perto da área de espera da
farmácia.

Minhas pernas doem e eu já rasguei um buraco em uma das


minhas meias. Luto para tirar as imundas e encharcadas meias dos
pés e começo a esfregar a pele entorpecida. Espero conseguir pelo
menos recuperar um pouco do sentimento. Nenhuns dos meus
dedos do pé estão azuis, então estou tomando isso como um bom
sinal.

No começo, nem percebo que estou chorando. Talvez seja


porque meu rosto já esteja duro pelo vento lá fora, ou porque chorar
é algo que eu vinha fazendo a quase duas horas seguidas antes de
fazer a ligação. Minha visão fica embaçada quando começo a chorar
novamente, encarando meus pés nus. Eu tento o meu melhor para
enxugar as lágrimas, mas a pele sob meus olhos arde tanto.

Jesus. Eu sou um maldito desastre.


Eu me senti tão entorpecido na caminhada por aqui,
tentando o meu melhor para chegar ao lugar que eu sabia que tinha
um telefone público. Todo mundo na escola gostava de brincar que
era provavelmente o último no país. Porque quem precisa mais de
telefones públicos, certo?

Eu puxo meus joelhos com força, tentando ficar quieto, para


se algum funcionário perceber ou me ver, não dizer nada.

—Saia desta casa.

Eu nem sabia que era possível para o pai olhar para mim do
jeito que ele era, era...

Assombroso

No começo, estava calmo. Quase como se quisessem me


ouvir. Eles me deixaram falar, e então eu terminei. Mamãe nunca
tirou as mãos do colar, da cruz, a que ela me contou que a avó lhe
deu quando tinha sete anos.

Papai falou primeiro. —Essa é uma boa piada, filho.

Exceto a maneira como ele disse, me disse que não achava


que era uma piada. Sua voz era plana, como se não houvesse nada.
— Pai?

—Você deve voltar atrás— ele acrescentou, fingindo que nada


havia acontecido, que a conversa era poeira que poderia ser
apagada.

Não podia ser!

E mesmo se isso fosse possível, eu não gostaria.

Eu não acho que faria pelo menos.

— Mãe? —Eu olhei para ela, e ela continuou olhando de mim


para papai e depois de volta para mim, sem dizer nada. — Por
favor?

Mas ela não disse nada. E papai ficou cada vez mais irritado.
Ele nunca realmente gritou comigo. A voz do papai era aquele tipo
assustador de calma. Todos nós meios que sentamos lá. —Você é
nosso filho, Ben. Isso simplesmente não faz nenhum sentido.

—Pai, eu posso

—Saia da minha casa, saia daqui.


— O quê?

—Você me ouviu.

—Por favor. — Eu implorei aos dois. —Não faça isso!

Papai me levou até a porta e mamãe o seguiu. Eu continuava


implorando e implorando, mas eles nunca fizeram nada.

—Mamãe! Por favor!

—Deus não quer isso para você, Ben.

Eu implorei para ela não dizer isso, e então comecei a chorar.


Mas isso não deve ter sido suficiente. A porta se fechou e eu queria
que ela se abrisse novamente. Eu queria que isso fosse uma piada
cruel da parte deles. Um que eu poderia perdoá-los mais tarde. Eu
tentei a maçaneta, mas estava trancada, mesmo a chave reserva
que eles escondiam embaixo dessa pedra falsa não funcionava
porque também trancaram o ferrolho.

Eu paro de balançar na cadeira dura, esperando, rezando


para que Hannah possa me encontrar.
O que eu poderia fazer agora? Eles não me levariam de volta,
não é? Eu voltaria? Hannah teria algumas respostas? Eu nem sei o
que diabos eu devo dizer a ela, ou se ela será capaz de me ajudar.
Deus, e se ela é tão ruim quanto à mamãe e o papai? Ela não pode
ser, pode?

Se ao menos eu tivesse mantido minha boca fechada.

Não quero acreditar nisso, mas já faz dez anos. Desde que ela
se formou, desde a última vez que conversamos desde que ela me
deixou sozinho com eles. Ela poderia ser uma pessoa totalmente
diferente. O tipo que odeia quem eu sou. Mas, novamente, pensei
que mamãe e papai também não.

—Ben?

Eu pulo com a voz, não ousando olhar para cima.

—Benji?— Faz uma eternidade desde que alguém me chamou


assim. —Vamos.

Parece impossível para Hannah já estar aqui, mas quem


sabe.
—Hannah!— Eu murmuro. Minha garganta parece cheia de
alguma coisa. É duro e espinhoso.

—Vamos. Estas são suas meias, certo? — Ela as pega


cuidadosamente. O desgosto em seu rosto é humilhante.

Aceno em concordância. —Elas estão rasgadas.

—Elas estão molhadas também. —Ela as embala e as joga na


bolsa. —Vamos te levar para casa

Nego com a cabeça. —Não quero... —Me sinto criança, mas o


pensamento de voltar para lá —não posso voltar para lá.

—Eu quis dizer o meu lugar. Vamos. — Hannah coloca a mão


nos meus ombros para que ela possa agarrar debaixo do meu braço
e ajudar a me pegar. Acho que estou sentado aqui há uma hora,
porque todo o sangue começa a correr em minhas pernas
novamente, enchendo-as com o sentimento estático de televisão que
eu odeio. Saímos devagar, cada passo enviando uma picada aguda
na minha espinha. Estou rezando em silêncio para que os caixas
encontrem outra coisa para fazer, para que não nos vejam.

O carro de Hannah ainda está funcionando, felizmente.


Quando ela terminou de me ajudar a sentar no banco do
passageiro, afivelando o cinto de segurança para mim, ela corre
para o lado do motorista. —Eu deveria ter ligado seu assento mais
quente, desculpe.

Pelo menos o carro está quente.

—Está se sentindo bem?— Hannah coloca o carro em marcha


à ré e sai do estacionamento, olhando entre mim e o para-brisa
traseiro.

—Sim—, eu digo, embora “ok” possa ser a coisa que eu mais


estou longe agora. O que eu devo fazer agora? Tudo é... tudo se foi.

—Você está com fome?

Eu não respondo. Eu não estou embora. Mamãe preparou


frango para o jantar, mas desde que eu planejava isso havia
semanas, meses, até meu estômago estava agitado o dia todo, tanto
que eu sabia que nunca iria comer o que comia. Mesmo agora com
o estômago vazio, meu apetite é inexistente, e o pensamento de
qualquer tipo de comida me faz sentir doente.

—Ben?— Hannah diz meu nome novamente, exceto que desta


vez ela se sente a milhares de quilômetros de distância. Então eu a
ouvi murmurar: —Levando você para o hospital.
— Não. — Agarro seu braço, como se isso a impedisse de
fazer a inversão de marcha. —Eu estou bem, eu juro.

—Benji.

—Apenas, podemos voltar para sua casa? Por favor?

Ela olha para mim com os mesmos olhos castanhos que eu,
os dois conseguimos com papai.

—Ok. —Ela encontra outra faixa de curva, o pisca-pisca


clicando no silêncio mortal do carro. —Você não quer falar sobre
isso, não é?

Nego com a cabeça. —Não agora.

—Ok, tente descansar um pouco ou algo assim. Vou-te


acordar quando chegarmos lá.

Andamos em silêncio, o único ruído real é o baixo volume do


rádio tocando as 40 melhores músicas. Tento dormir, ou acalmar
minha mente, relaxar, não pensar no que fiz. É impossível! Porque
eu disse essas três pequenas palavras.

—Eu sou não-binário.

Mamãe e papai ficaram sentados sem palavras por alguns


segundos. Papai foi o primeiro a reagir, pedindo uma explicação.
Isso foi justo e talvez um bom sinal. Eu não tinha muita certeza,
mas estava disposto a aceitar o que quer que fosse jogado no meu
caminho naquele momento.

Papai usou a palavra T, que veio como um tapa na cara. Eu


nunca o ouvi usar essa palavra antes. Esse foi o momento em que
meu estômago afundou. Tentei explicar as diferenças, o que
significa ser não-binário, mas era como sempre que tentava falar,
mas eu queria chorar. Então os gritos começaram e tudo estava se
movendo tão rápido. Eu não conseguia falar ou entender o que eles
estavam dizendo.

—Você precisa ir embora. Papai apontou diretamente para


mim.

—Ben?
Eu devo ter adormecido em algum momento porque meus
olhos estão pesados, minha boca grogue e nojenta e meus membros
apertados.

— Estamos aqui. — Ela estaciona o carro, mas deixa o motor


ligado, as aberturas ainda vomitam ar quente.

Eu olho para a casa. Os tijolos marrons e o revestimento


verde. Eu já vi isso antes, nunca à noite, mas nas fotos e postagens
do Facebook. A única maneira de eu conseguir acompanhar o que
estava acontecendo na vida de Hannah.

—Você pode dormir no quarto de hóspedes, ok?

Eu aceno e a sigo pela garagem, meus pés ficando frios por


serem expostos ao frio da calçada novamente. Hannah abre a porta
rapidamente e me leva até os degraus, acendendo o interruptor do
quarto de hóspedes. —O banheiro fica do outro lado do corredor, se
você quiser tomar um banho ou algo assim.

Olho para o quarto: há uma enorme cama queen-size, muitos


travesseiros. Definitivamente melhor do que o meu quarto em casa,
mas também mais vazio. Não há fotos nas paredes ou pequenos
brinquedos na cômoda.
—Aqui. —Hannah dobra as portas espelhadas do armário e
pega uma pilha de cobertores. —Durma um pouco. Nós vamos
descobrir as coisas de manhã, ok?

Eu aceno de novo e olho para a cama. Hannah parece que


quer acrescentar algo mais, ou me abraçar, ou me dizer que tudo
vai ficar bem. Mas ela não faz nada disso.

Acho que até ela sabe que não será.

Ela fecha a porta atrás dela, deixando o quarto ainda mais


vazio.

Despi-me a minha cueca e puxo os lençóis, rastejando para a


cama macia e não utilizada. Eu me viro e viro, mas depois de
alguns minutos é óbvio que não vou dormir esta noite. Toda vez que
fecho meus olhos, vejo seus rostos. Tão vívido, bem na minha
frente, gritando. E quando eu os abro, não há nada além da escura
solidão do quarto. Eu alcanço o controle remoto na mesa de
cabeceira e folheio alguns dos canais da TV, meus olhos se fixando
em uma reprise de Supergatas.

Porque eu não posso ficar sozinhe agora. Hoje não.

Obrigado por ser uma amiga, Betty White.


TRÊS
Ontem realmente aconteceu.

Demoro mais do que alguns minutos para perceber que não


foi um pesadelo real, um sonho de febre ou algo assim. Acabou
sendo real.

Fui até meus pais e eles me expulsaram de casa.

Pensar que eu era ignorante o suficiente para acreditar que


tudo daria certo. E eu realmente tive. Eu pensei que ainda
poderíamos ser essa família feliz, sem segredos entre nós. Eu
poderia realmente ser eu. E eu deveria saber melhor que isso.

E agora tudo acabou.

Tudo.
Não sei se devo chorar ou gritar ou fazer as duas coisas.
Parece que eu fiz mais do que suficiente de ambos. E parece que eu
não fiz o suficiente.

E em algum momento, eu sei que vou ter que me arrastar


para fora desta cama e pegar os pedaços, mas agora pode ser
apenas eu. Só eu, essas quatro paredes e essa cama.

O universo não precisa existir fora deste quarto, e isso é


perfeitamente aceitável.

—Eu ainda não consigo acreditar. — Eu ouço a voz de


Hannah ecoar pela casa enquanto desço as escadas, porque havia
tanto tempo que eu podia ficar no meu pequeno universo.

—Ele acabou de ligar de um telefone público? — Essa voz eu


não reconheço, mas é profunda e rouca. Acho que é o marido dela.
Thomas?

Há muito que você pode aprender sobre alguém no Facebook


sem realmente ser seu amigo. Isso provavelmente parece um pouco
assustador, mas eu não podia arriscar que mamãe ou papai
entrassem no meu perfil e visse “Hannah Waller” na minha lista de
amigos.

—Quando eram trinta graus lá fora. —Hannah joga algo na


pia com tanta força que acho que ela quebrou o que quer que fosse.
Esfrego os olhos, sem saber a que horas são, enquanto tento
adivinhar onde a cozinha pode estar.

—Hannah!— Eu grito, olhando ao redor do corredor cheio de


fotos. Há alguns que reconheço no Facebook. Alguns do que parece
ser o dia do casamento, outros enquanto ela e Thomas estão fora de
barco. Eles parecem felizes juntos.

A porta do outro lado do corredor se abre, Hannah entra


vestida com um suéter enorme e jeans escuro. —Bom Dia. —Ela
sorri, cruzando os braços.

—Bom dia. —Eu passo a mão pelo meu cabelo, tentando fazer
os cachos nas costas se deitarem.

—Nós fizemos o café da manhã. —Ela me leva através da


porta de abrir para a cozinha. O cara branco de todas as fotos está
na mesa, com o prato vazio empurrado para o lado. Ele está com
barba e camisa com o logotipo de um time de esportes que não
reconheço.
—Bom dia. Dormiu bem? —é tudo o que ele me pergunta.

—Sim —eu minto. Meu corpo deve finalmente ter se


desligado, porque um minuto eu me lembro de tentar rir de algo na
TV e no outro o sol estava brilhando através das finas cortinas do
quarto. Suponho que é assim que é ser atropelado por um veículo
de dezoito rodas.

—Oh, Ben, este é meu marido, Thomas. —Hannah acena


para o cara na mesa. É estranho pensar que há esse cunhado que
eu tenho agora, um que eu literalmente só vi fotos.

Thomas levanta sua caneca para mim. —Prazer em


finalmente conhecê-lo. Hannah me contou muitas histórias.

Sem dúvida, eu era uma criança em todos eles. Hannah me


oferece um assento em sua mesa alta de estilo bistrô, que fica no
canto mais distante, as janelas deixando muita luz para tão cedo de
manhã. Embora uma rápida olhada no micro-ondas me diga que é
quase meio-dia.

—Ben— Hannah se senta ao lado de Thomas, com as mãos


cruzadas. —Você pode nos contar o que aconteceu?
Suponho que realmente não há como evitá-lo e devo-lhes
uma explicação de algum tipo. O problema é que nem sei por onde
começar. Quero dizer, eu sei por onde começar, mas é como se
minha boca não quisesse funcionar, como se estivesse recheada de
algodão ou algo assim, e eu sei o que eu digo provavelmente não
fará muito sentido.

—Eu vou subir. Talvez vocês dois devam conversar sozinhos.


— Thomas pega sua caneca e empurra a cadeira para debaixo da
mesa, esticando as pernas. Observo a porta da cozinha girar nas
dobradiças depois que ele sai, de um lado para o outro, até que
diminua constantemente, e a porta se instala em seu lugar natural.

—Por favor, Benji, fale comigo.

Okay. Eu consigo fazer isso aqui. Eu fiz isso ontem à noite.


Essas três palavras e tudo isso pode ter acabado. Mas eu realmente
conheço minha irmã? Ela pode me ajudar? Talvez isso tenha sido
algum grande erro.

Mas ela pode ser minha única chance de algum tipo de


normalidade, pelo menos por enquanto.

—Eu sou... não-binário—, eu finalmente cuspi. Eu até


consigo fazer duas palavras em vez de três.
Hannah se recosta no assento, meio que me encarando e não
me encarando ao mesmo tempo. Foi um erro. Eu tinha encontrado
um lugar para ir e agora eu estraguei tudo de novo. Jesus, onde eu
poderia ir depois disso? Mamãe definitivamente ligou para a vovó,
provavelmente para tia Susan também. E eu não posso aparecer
exatamente na casa de nenhum dos meus colegas de classe. Além
disso, como eu chegaria a casa sem pagar um táxi ou algo assim?
Afasto-me na cadeira, me preparando para subir e pegar minhas
coisas antes que me lembre de que não tenho nada comigo.

Pelo menos isso significa um tiro certeiro. Direto pela porta.


Não há como me lembrar de como chegar em casa, então terei que
parar em um posto de gasolina ou algo assim, obter instruções.
Como vou andar tão longe sem sapatos ou meias?

—Não, Ben, espere. —Hannah agarra meu pulso e eu quase


me afasto. Seu aperto é muito apertado. —Desculpe, eu
simplesmente não estava esperando isso. —Ela olha para mim.
Primeiro na minha cara, depois no resto do meu corpo, como se de
alguma forma eu tivesse me transformado bem na frente dela. —
Então, mamãe e papai te expulsaram por isso?

Aceno em concordância.

—Figuras
—Eu pensei que eles entenderiam. —Eu realmente, realmente
fiz. Quero dizer, sou filho deles. Eu pensei que isso poderia explicar
alguma coisa.

—Sinto muito, garoto. —Ela acena para a cadeira. —Sente-se.


Por favor.

Eu olho para ela antes de me sentar novamente, esfregando


as palmas das mãos suadas nos joelhos do meu jeans. Ainda não
tomei banho, o que me faz sentir muito mais nojento. Como se
estivesse coberto de um filme do qual nunca vou me arrastar.

—Você tem dezoito anos, certo?

Aceno em concordância.

—Você já se formou?— ela pergunta.

Sinto que a resposta deve ser óbvia, mas tenho que lembrar
novamente. Ela se foi há dez anos. — Não.

—Ok, esta é uma pergunta para a qual eu já sei a resposta,


mas você quer voltar para lá?
Mesmo com a ideia, meu estômago aperta como se houvesse
um punho lentamente se fechando em torno dele. —Não. Por favor,
não!

—Tá bom, tá bom. Está tudo bem. Precisamos conversar


sobre algumas coisas, ok? Como escola, roupas novas, tudo o que
você precisa. Eu já conversei com Thomas, e não nos importamos
de você morar aqui.

—Você tem certeza?

—Sim, garoto. — Ela passa a mão pelos cabelos ruivos, que


eu suponho ser tintura, já que ninguém em nossa família tem
cabelos ruivos. E as chances de seu cabelo ficar vermelho
repentinamente parecem sombrias. Ela não mudou muito desde
que saiu. Ainda não há como nos confundir como algo além de
irmanes. Os mesmos olhos, o mesmo nariz pontudo, a mesma pele
branca pastosa, a mesma bagunça de cabelo. Eu me pergunto o
quão diferente eu pareço para ela. —Desculpe, estou tentando
pensar. Não tenho muita certeza de por onde começar com essas
coisas.

Eu não posso nem olhar para ela. —Desculpa.

—Ei, não se desculpe, ok? Não é sua culpa.


Sei disso. No fundo, eu sei. Mas agora é difícil de engolir.
Aceita.

—Então, quais são seus pronomes?— ela pergunta.

A pergunta me impressiona. Não do jeito ruim. É esquisito.


Hannah é a primeira pessoa a perguntar. A primeira pessoa que
tinha perguntado. —Els/Elu—, eu digo, tentando parecer confiante,
mas até eu posso dizer que estou falhando miseravelmente.

—Muito bem. Bem, pode demorar um pouco para me


acostumar, então eu quero que você me corrija quando eu estragar
tudo, ok? Você quer que eu explique tudo a Thomas?

Aceno em concordância.

Pelo menos assim, não precisarei.

Hannah me dá algumas das roupas de Thomas para vestir


depois que eu sair do banho. —Ele é cerca de dois tamanhos maior
que você, mas vou precisar lavá-los antes de usá-los novamente. —
Ela junta minhas roupas nos braços. Eu me afogo na camisa de
Thomas, mas pelo menos a calça de moletom tem um cordão. —Nós
vamos fazer compras mais tarde, ok? Pegue o básico — ela
acrescenta.

—Obrigado.

—Thomas e eu conversamos sobre levar você para outra


escola. Ele ensina na North Wake High School, ligou para seu
diretora esta manhã para ver o que precisamos para que você seja
transferido. Nós... —Hannah suspira. —Também procuramos
terapeutas na área, alguém com quem você pudesse conversar.

Na lista de tudo o que quero fazer agora, isso está bem no


fundo. Provavelmente em algum lugar entre lutar contra um jacaré
e pular de um avião. —Eu preciso?

—Ben, não, você é adulto, tecnicamente. Mas acho que


ajudaria. Há uma que minha amiga Ginger e seu filho viram depois
que ele saiu. Dra. Bridgette Taylor. Talvez ela possa ajudar, ela é
especializada em crianças como... crianças como você.

—Você quer dizer crianças esquisitas?— eu digo.


Hannah age como se estivesse esperando minha resposta
real, mas quando eu não digo mais nada, ela apenas suspira
novamente. —Pense sobre isso. —E então ela se foi.

Fico sentade no silêncio da sala, sem saber o que devo fazer


agora. Tipo, o que você faz quando seus pais de expulsam de casa?
Quando toda a sua vida é agitada, tudo porque você queria é sair,
ser respeitade e viste, ser chamado de pronomes certos? Eu quase
pego meu bloco de desenho antes de me lembrar de que está na
minha mochila, em casa. Eu não posso nem fazer a única coisa que
pode me confortar.

Então, em vez disso, arrumo a cama, esperando que isso me


dê uma distração suficiente, talvez deixe minha mente vagar por
alguns bons minutos. Mas isso realmente não ajuda, então, quando
termino, desço as escadas.

—Como está?— Hannah ainda está na máquina de lavar,


escondida atrás dessas portas dobráveis da cozinha, com a cesta de
roupas secas na mão.

Ofereço-me para pegar alguma coisa, mas ela balança a


cabeça. —Deixa comigo. Alguma coisa errada...

—Não. Você tem um computador que eu possa usar?


—Claro. —Hannah deixa tudo em cima da secadora e volta
para a cozinha e por outra porta. Não tenho certeza se devo seguir,
mas faço de qualquer maneira.

A sala de estar é menor que a de casa, mas parece


confortável. Hannah estava sempre um pouco confusa, mas parece
que ela encontrou um bom meio termo agora. Ou talvez este seja o
trabalho de Thomas.

—Vá em frente e configure sua própria conta para poder fazer


login em seus textos e outras coisas. —Hannah pega o laptop do
lugar entre a mesa final e o sofá, desconectando o carregador. —Se
você tiver alguma dúvida, basta perguntar, mas tenho certeza que
você sabe mais sobre isso do que eu.

—Obrigade.— Sento-me no sofá enorme. Já estou em casa


com o laptop, já que é exatamente como o meu antigo. Digito meu
endereço de e-mail e senha para poder ler ou responder a quaisquer
textos que recebi. Ainda não há, mas Mariam provavelmente ainda
está dormindo.

Ainda não descobri exatamente como vou contar a eles sobre


isso. Eu quase entro no meu Facebook, mas tenho que me conter.
Ou, na verdade, Thomas me para.
—Ben?— Ele chama.

—O que?

Thomas está vestido mais do que no café da manhã. Camisa


de colarinho com um suéter cinza escuro jogado por cima e calça
cinza combinando. —Eu conversei com minha diretora. Ela disse
que quer se encontrar com você, para matricular.

—Hoje? —pergunto.

—Se você está bem com isso. Ainda não tenho certeza se
precisaremos ir para a sua velha escola. Eles devem poder enviar
seus registros sem problemas.

—Oh.

—Nós não precisamos agora, mas quanto mais cedo fizermos,


menos você sentirá falta.

—Não, quero dizer, tudo bem. — Olho para minha calça de


moletom. —Só, você tem mais alguma coisa que eu possa usar? Não
acho que Hannah tenha lavado a roupa.

Thomas ri e acena em direção à escada. —Vamos.


Quinze minutos depois, estou sentade no carro de Thomas,
vestindo a camisa ainda grande demais, jeans que são tão
compridos que preciso enrolá-los três vezes e meias que lentamente
se acumulam em volta dos meus tornozelos.

Mas é algo pelo menos. O capuz que Thomas me deu esconde


a maior parte do meu desconforto, eu acho. E os sapatos servem
para mim, o que deve ser algum tipo de milagre. Ou talvez Thomas
tenha pés realmente pequenos? Ele até diz que eu posso ficar com
eles.

—Não posso contar a última vez que as usei.

—Obrigado. — Saímos da entrada e entramos na estrada, e


imediatamente tudo é tão estranho. O que eu digo para esse cara?
Sobre o que devemos falar? Seria muito estranho fazer-lhe um
monte de perguntas? Por fim, cuspi: —Então, por que você não está
trabalhando hoje?

Porque isso é totalmente normal.

—Liguei para o trabalho quando Hannah me acordou ontem


à noite. Achei que isso era mais importante.
—Oh.— Eu brinco com a bainha desgastada do seu capuz. —
O que você ensina?

—Química.

—Que legal. —Espero alguns segundos a mais do que


provavelmente deveria. —Eu gosto de química.

—É interessante, para dizer o mínimo. — Thomas liga o


pisca-pisca. —Acho estranho que nunca tenhamos nos conhecidos.

—Sim. — Eu olho para os sapatos.

—Seus pais conversaram muito sobre sua irmã? Depois que


ela saiu?

Nego com a cabeça. —Eles meio que tinham uma regra de


não falar sobre Hannah. —Puxo outra das cordas soltas, enrolando-
a nos dedos. —Há quanto tempo vocês dois estão casados?

—Quatro anos em setembro passado.

—Que ótimo.
—Sim. — Thomas suspira. —Hannah fala muito de você. Ela
realmente sentiu sua falta.

As palavras de Thomas ficam pesadas no ar e, por alguns


segundos, não há uma palavra entre nós. —Sim, eu também senti
falta dela—, acrescento calmamente.

Eu não acho que Thomas perceba completamente o que ele


disse, não que haja realmente alguma razão para ele.

North Wake High é definitivamente melhor do que Wayne.

A Wayne High foi construída nos anos sessenta, com apenas


pequenas atualizações aqui e ali, quando necessário. O North Wake
é totalmente novo, com janelas do chão ao teto, telhados inclinados
e cromo. Até o estacionamento está cheio de carros brilhantes e
caros.

Tudo parece tão brilhante, novo e organizado. Como tudo


aqui tem um lugar e é exatamente onde ele pertence. E eu sou a
peça extra que não se encaixa. Thomas entra no estacionamento,
estacionando perto da entrada da frente da escola. —Chegamos.

Eu olho para as portas da frente da escola. Imóvel.

—Você sabe que não precisamos fazer isso, certo?

—É melhor acabar logo com isso—, eu digo baixinho.

—Tem certeza? Você não parece muito emocionade. Podemos


olhar para diferentes escolas, apenas achei que isso seria mais fácil.

—Eu não quero contar a eles—, eu deixo escapar. —Que eu


sou não-binário.

As mãos de Thomas caem do volante. —Tem certeza? Você


sabe que isso significa que todo mundo vai chamá-le pelos
pronomes errados?

Como se isso não fosse óbvio. —Não me interessa. — Já estou


acostumade.

—E você tem certeza disso?


—Cem por cento certo. — E eu estou. Eu não acho que posso
lidar com estar fora agora. Não, a menos que eu tenha que ser
absolutamente.

—Ok. Teremos que mentir e dizer que era outra coisa. Isso
parece duro, mas se a diretora Smith souber que você foi expulse,
isso ajudará.

Eu dou de ombros. —Tanto faz.

—Está bem.

Thomas me leva através das enormes portas de vidro na


frente da escola. Há um grupo de crianças andando perto da frente,
e cada uma delas acena para Thomas quando ele passa. Acho que
as férias de Natal já terminaram. Em casa, ainda tínhamos mais
uma semana pela frente.

—Pensei que estivesse doente hoje, Sr. Waller?— Um deles


diz.

Thomas acena de volta para eles. —Não, só tinha algumas


coisas para lidar.
Eu tento seguir o suficiente atrás de Thomas, para que talvez
os outros alunos não façam uma conexão entre nós, mas o jeito que
seus olhos caem dele para mim me diz que eles já o fizeram. Ele me
leva através de outro conjunto de portas de vidro para o escritório
da frente, acenando para a secretária atrás da mesa. —Ei, Kev.

—Ei, Thomas. A diretora Smith já está esperando por você —


ele diz.

—Obrigado. — Thomas se vira para mim. —Você espera aqui


fora por um segundo. Eu vou explicar a situação para ele.

—Ok. — Sento-me em uma das poltronas macias contra as


divisórias de vidro do escritório. —Não diga. Por favor?— Eu disse
baixinho.

—Eu juro—, ele me assegura, e algo sobre a maneira como


ele diz isso me diz para acreditar nele.

Eu assisto Thomas enquanto ele desaparece na esquina,


esperando para tirar meu telefone do bolso, antes que eu lembre
que não está lá. Precisarei conversar com Hannah sobre a
substituição, embora não tenha muita certeza de como vou pagar
por isso. Talvez eu consiga um emprego em algum lugar, comece a
economizar também. Eu realmente não sei o que Hannah ofereceu.
Se ela está apenas pensando em me deixar ficar até a formatura, ou
pelo tempo que eu precisar.

Depois, há a faculdade e as cartas que decidirão todo o meu


futuro. Cartas que serão entregues na casa de mamãe e papai,
porque esse foi o endereço que coloquei em todas essas aplicações.
Gostaria de saber se há alguém com quem eu possa conversar nas
escolas, pedir para receber outra carta. Ou talvez eu precise aplicar
tudo de novo.

Deus, eu nem quero imaginar ter que pagar por isso. Não
posso pedir a Hannah que faça isso; Eu não quero que Hannah faça
isso por mim. Talvez seja algum tipo de bênção disfarçada, mamãe
e papai estavam definitivamente mais empolgados por eu ir para a
faculdade do que eu.

Talvez agora eu não precise mais me preocupar com isso.

Acho que ainda temos muito o que discutir, mas como devo
perguntar basicamente à minha irmã quando ela planeja me
expulsar?

Estou ficando impaciente, e agora não é hora de pensar


nessas coisas, mas não consigo focar em mais nada. Toda vez que
olho para o relógio acima da porta, é como se o tempo diminuísse, o
que está aumentando a tortura.

E então a porta se abre e um garoto entra.

Ele é alto - muito mais alto que eu, alto o suficiente para que
suas pernas sejam as primeiras coisas que noto - com uma silhueta
magra e pele marrom escura, cabelos pretos ondulados mais curtos
nas laterais, de modo que a parte superior se destaque um pouco
mais.

—Oi, Kev—, ele diz com um sorriso.

—Ei, Nathan. — A secretária atrás da mesa sorri de volta. —


Não temos nenhum problema, temos?

—Eu sabia que meus dias de corrida de rua me alcançariam.


—Esse garoto, Nathan, ri como se fosse sua coisa favorita no
mundo. —A diretora Smith me chamou.

—Você especificamente?— Kev levanta uma sobrancelha. —


Deve ser uma ocasião especial.

—Talvez meu status de estudante modelo esteja finalmente


sendo reconhecido.
—Hilariante — Kev não ri. —Bem, ele está em uma reunião
agora, então apenas sente-se, não deve demorar muito mais.

—Legal. — Nathan senta ao meu lado, cruzando uma perna


longa sobre a outra e descansa as mãos no colo. Leva apenas
alguns segundos para ele quebrar o silêncio. —Você é novo? Acho
que não te vi por aqui. —Ele ajusta o jeito que está sentado para
poder me encarar.

—Sim, hum, acabei de me mudar para cá. —Eu embaralhei


meus pés, minhas meias caindo mais atrás na parte de trás dos
meus pés.

—Legal. Eu sou Nathan. — Ele estende a mão.

Eu vou devagar, mas não tremo, e realmente não sei o


porquê. É como se meu cérebro estivesse ficando para trás do resto
do meu corpo. —Ben.

—Então, de onde você é Ben?

—Daqui. —Respondo antes de perceber o que estou


realmente dizendo. —Não daqui, mas eu sou da Carolina do Norte—
, eu engasgo. Droga, eu nem consigo entender direito. —Goldsboro,
sou de Goldsboro—, digo finalmente.
—Oh. —Para seu crédito, ele não ri do quanto eu sou um
desastre ambulante. —Então, não muito longe?

—Sim.

Ben. Thomas me salva de qualquer embaraço adicional. —A


diretora Smith está pronta para vê-lo.

—Ei, Sr. W!— Nathan se anima em seu lugar. —Pensei que


você estivesse fora hoje?

—Ei, Nathan, apenas ajudando Ben com alguma coisa. —


Thomas enfia as mãos nos bolsos. O que está fazendo?

—A diretora Smith me chamou.

—Oh—, diz Thomas, parecendo um pouco confuso antes de


olhar para mim novamente. —Entre, Ben, ela está esperando.

—Boa sorte Ben, espero vê-lo por aí. —Nathan sorri para
mim.

—Obrigado—, eu digo, dando-lhe um sorriso calmo antes de


seguir Thomas pelo corredor.
QUATRO
A diretora Smith tem uma maneira lenta de explicar coisas
que eu realmente aprecio, porque todas essas informações parecem
estar entrando de um ouvido e saindo do outro.

Existem cerca de duas dúzias de documentos para ler e


preencher. Formulários para me levar de volta às aulas, autorização
para identificação escolar, informações da conta da lanchonete,
aulas para inscrição.

É tudo tão confuso.

—Ben ainda estará no caminho para se formar?— Eu posso


dizer que Thomas está tomando cuidado no seu uso do pronome, o
que eu aprecio mais do que ele provavelmente percebe.
—Não saberemos até recebermos as transcrições e as notas
dele, mas acho que ele será. Nosso sistema escolar opera de forma
semelhante ao antigo

Dele.

Não, não posso ficar brave ou chateade. Esta foi a minha


escolha, e isso não é permitido, não agora.

—Quando eu poderia começar?— pergunto.

—Amanhã, se você quiser desde que os papéis sejam


enviados por fax em tempo hábil. Felizmente, é o início de um novo
semestre, para que você não tenha muitos problemas em
acompanhar suas aulas.

—Ben é um garoto inteligente. — Thomas dá um tapinha no


meu ombro. Quero receber o elogio, mas já nos conhecemos há
cerca de duas horas no total.

—O que me diz? Você ficaria bem com isso? A diretora Smith


me pergunta.

Aceno em concordância. —Sim.


—Ótimo. — Ela pega uma pasta de papel pardo e enfia dentro
de todos os papéis que ele colocou para mim. —Se vocês dois
quiserem revisar os documentos rapidamente, preencha-os e assine
apenas onde cada página indica.

—Vamos, vamos para a sala dos professores, deve estar vazio.


— Thomas pega a pasta.

—Ah, Thomas? Você pode enviar Nathan, por favor?— A


diretora Smith pergunta.

—Com certeza. — Thomas segura a porta do escritório para


mim. —Nathan, a senhora Smith está pronta para você agora. —
Nathan está digitando no telefone quando Thomas o chama.

Ele faz uma saudação falsa a Thomas e pula da cadeira, me


dando um sorriso e uma piscadela enquanto cruzamos o caminho.
Sim. Ele é definitivamente mais alto que eu, pelo menos com a
cabeça cheia e talvez mais. Tento sorrir de volta, mas tenho certeza
que parece assustador mais do que qualquer outra coisa. Eu sigo
Thomas pelo corredor até uma porta do lado de fora do que parece
uma cafeteria vazia. Ele digita um código neste teclado e há um
clique distinto antes de abri-lo.

Muito mais chique do que Wayne.


Preencher a papelada é ainda mais entediante do que parece.
Há perguntas às quais não sei as respostas, algumas que me fazem
sentir totalmente inútil, outras que me preocupam, pois estou
respondendo da maneira errada, porque o texto é confuso. Se
Thomas não estivesse aqui para ajudar, eu estaria em um riacho.
Porém, quarenta e cinco minutos depois, terminamos e marchamos
de volta ao escritório da diretora Smith.

—Excelente. — A senhora Smith pega os papéis. —E eu entrei


em contato com a sua velha escola e eles vão enviar por fax o resto
dos seus documentos hoje. Ligo para você hoje à noite se houver
algum problema, Thomas, mas parece que Ben é o mais novo aluno
de North Wake.— A sra. Smith parece muito animada com isso,
mas acho que deveria estar agradecida por ela não me recusar sem
questionar.

Thomas coloca a mão no meu ombro.

—Obrigado—, eu digo.

—Ah, e eu designei alguém para ajudar a mostrar a você.


Nathan Allan. Ele disse que vocês dois se conheceram na sala de
espera?

—Sim. Quase isso.


—Ele vai encontrá-lo aqui no escritório amanhã de manhã,
então chegue aqui um pouco mais cedo do que você normalmente
faria.

—Pode deixar. Estaremos aqui claros e cedo. Thomas se move


em direção à porta. —Obrigado, Diane.

—Sem problemas. E Ben, seja bem-vindo a North Wake.

Eu não falo durante o caminho de casa. Thomas quer,


aparentemente, mas ele recebe a mensagem rapidamente.

—Você pode pegar o ônibus ou pode andar comigo, se quiser.

Nada.

Ele ri sem jeito. —Você terá que acordar cerca de uma hora
antes, se você quiser que eu o leve.

Eu não respondo. Realmente, eu não me importo de qualquer


maneira, mas eu preferiria andar com Thomas. Os ônibus são
péssimos.
Mas não sinto vontade de falar. Não neste momento Thomas
provavelmente pensa que eu sou un idiota. Ele me leva me leva
para uma nova escola no dia seguinte aos que meus pais me
expulsaram, e aqui estou eu, ignorando-o.

Talvez Hannah esteja certa. Talvez eu precise de


aconselhamento. Eu me sinto tão... esgotade.

No momento em que voltamos para a casa deles, Hannah se


foi, seu lugar na garagem vazio. —Vou trabalhar em alguns planos
de aula. Você pode relaxar na sala de estar ou fazer o que quiser.
Há comida na cozinha se você ficar com fome. Nada está fora dos
limites, então não hesite. — Thomas coloca as chaves em uma
tigela perto da porta.

Eu retrocedo meus passos de volta para a sala e sento-me no


sofá como antes, puxando o laptop. Alguns segundos após a
inicialização, as notificações começam a ficar loucas. É a Mariam.

Mariam: Benji??? O que há?

Mariam: Não vá me ignorar garoto, não me diga que seu telefone


foi retirado novamente???

Mariam: Helloooooooo?
Mariam: Está tudo bem, Benji?

Mariam: BENJAMIN????

Essa é Mariam para você.

Eu: Ei

Eu imagino os fusos horários entre a Carolina do Norte e a


Califórnia na minha cabeça; às três horas atrás, provavelmente já
estarão saindo da cama. Mariam é uma coruja noturna total, o que
geralmente significa que eles acordam no máximo às dez.

Mariam: Como estamos hoje?

Eu: Não é bom.

Considero mentir para Mariam, não há razão para fazê-la se


preocupar. Mas ela descobriria de uma maneira ou de outra. Se não
for agora, na próxima vez que enfrentarmos o FaceTime e ela não
reconhecer meu novo quarto.

Mariam: Você está bem? Quer falar sobre isso?

Eu: Eu vim para minha mãe e pai.


Mariam: Ah não…

Eu: Eles me expulsaram

Eu: Estou com minha irmã agora

Mariam: Porra…

Mariam: A irmã que seus pais odeiam?

Eu: A mesma.

Mariam: Ben sinto muito, nem sei o que dizer.

Mariam: Então qual é o plano?

Eu: Eu não tenho ideia. Eu me matriculei nessa outra escola, mas


fora isso...

Eu: Apenas tentando descobrir as coisas, continuar novamente.

Mariam: Oh Ben... Eu me sinto tão inútil. Eu gostaria de saber o


que dizer para você agora.

Eu: Está tudo bem, não há realmente nada que você possa fazer.
Mariam: Não, não está bem. Estou tão... brava, triste.

Mesmo tentando fazer uma piada parece vazia agora, mas


antes que eu possa me conter, meus dedos estão digitando
automaticamente.

Eu: Eu acho que eles chamam isso de smad4.

Mariam: Não me faça rir agora, por favor.

Mariam: Oh deus tudo bem

Mariam: Ouça, eu tenho que ir me arrumar para uma reunião.


Mas eu vou te enviar uma mensagem no segundo que eu sair.
Eu te amo Benji. Muito. <3

Eu: Amo você também.

Eu fecho o laptop e o guardo, ignorando o rosnado no meu


estômago. Thomas disse para me servir de comida, mas não acho
que ele perceba o quão estranho isso será. Eu posso esperar.

Se precisar

4 Quando você está triste e bravo ao mesmo tempo.


Tento perder tempo folheando os canais da TV, mas nada
está chamando minha atenção. Depois de mais uma hora, verifico
minhas mensagens novamente, mas Mariam não respondeu, então
entro em um canal do YouTube e coloco em um vídeo
aleatoriamente, assistindo com o volume baixo, pois não tenho
meus fones de ouvido. Não importa, eles legendam todos os seus
vídeos.

Eu me sinto relaxando. Esse peso estranho no meu peito


parece um pouco mais leve agora. Como se eu pudesse respirar pela
primeira vez em horas. Encontrei o canal de Mariam em um quadro
de mensagens para adolescentes trans e não-binários depois que
comecei a questionar minha própria identidade e passei a noite
inteira assistindo seus vídeos e vlogs. Mariam falou sobre
praticamente tudo e qualquer coisa. De imigrar para os Estados
Unidos do Bahrein, sair para a família e namorar como uma pessoa
não-binária.

Seus vídeos são a razão pela qual eu sei o que me identifico e,


quando finalmente reuni a coragem de sair com alguém, era
Mariam. Essa foi uma noite super embaraçosa. Na verdade, criei
uma conta no Twitter apenas para conversar com eles. Mas eles
trabalharam comigo e continuamos conversando até percebermos
que compartilhamos um amor mútuo pelo desenho Steven Universo.
Inferno, eles são uma das poucas pessoas que eu me chamo Benji.
Eu posso ouvir a porta se abrir e Hannah sai correndo da
garagem, sacos de plástico pendurados nos dedos e pulsos. —
Ben?Thomas? Já voltaram?

—Aqui—, eu digo, mas acho que ela não me ouve.

Pelo que parece, ela está se movendo pelo corredor até a


cozinha. Eu a ouço grunhir, e então algo cai no balcão com um
baque. O que no inferno fresco? Eu passo pela porta ainda
giratória, olhando para tudo o que Hannah colocou.

—Pra que é tudo isso?— Eu pergunto, olhando as sacolas


com o grande logotipo vermelho da Target.

—Eu saí, peguei algumas coisas para você.— Ela começa a


desfazer as malas. Há pacotes de roupas íntimas, meias, uma
navalha, um pouco de desodorante. Não posso deixar de notar que
os dois últimos itens estão faltando na categoria “Para homens”.
Não sei se Hannah fez isso de propósito, mas Deus, eu a amo por
isso.

—Oh…— Eu olho para tudo definido para mim.

—Eu realmente não sei em que tipo de roupa você veste. —


Ela começa a enrolar os sacos vazios. —Podemos fazer compras
juntos neste fim de semana, se você quiser, mas achei que poderia
lhe dar o essencial por enquanto.

—Obrigade— Eu posso realmente me sentir sorrindo.

—Não tem problema, criança.

—Você conseguiu tudo?— Thomas pergunta, saindo de seu


escritório.

—Perto disso—, diz Hannah. —Como foi à inscrição?

—Els vão começar amanhã. — Thomas está sorrindo,


olhando para tudo no balcão.

Eu ainda estou olhando as coisas que Hannah comprou para


mim. —Obrigade—, eu digo novamente. Não quero largar nada
disso, com medo de que possa escapar de mim a qualquer
momento.

—Não é nada demais. — Ela começa a esfregar meu ombro


novamente. Você vai ficar bem.

Começo a assentir, e realmente espero não estar chorando ou


algo assim.
CINCO
—Pronto para o seu primeiro dia?— Thomas me pergunta na
manhã seguinte, caneca de café já na mão.

—Acho que sim. — Olho em volta da cozinha. —Você se


importa se eu tomar uma xícara?

—Ah, sim. — Ele se move para o armário e pega uma caneca


que diz — Rosquinha me diga o que fazer—, junto com a foto de
uma rosquinha meio comida. — As natas estão na geladeira.

—Obrigade. — Derramei minha xícara lentamente,


saboreando o cheiro do café por alguns segundos.

—Nervoso?

—Um pouco.
—Você ficará bem. — Ele ri. —Nathan é um bom garoto,
embora eu realmente não possa falar por suas habilidades de guia
turístico. — Thomas toma um gole de sua caneca, deixando esse
silêncio constrangedor. —Você precisará ir ao escritório logo e obter
sua programação.

—Ok. — Eu me pergunto em que aula eles me colocarão.


Esperançosamente os mesmos que eu estava usando no Wayne.

Eu também não posso deixar de me perguntar se algum dos


meus colegas de classe em casa perceberá que eu fui embora. Eu
não era exatamente super popular lá e realmente não tinha
ninguém que pudesse chamar de amigo. Mas alguém tem que
perceber, certo? Pelo menos meus professores. Um de seus alunos
não pode desaparecer nas férias de Natal sem que você perceba.

Thomas nos leva à escola com algum programa de entrevistas


local tocando pelo rádio. Ele ri de uma piada a cada poucos
minutos, mas fora isso, ele parece quieto. Até que ele não esteja.

—Ei, Ben? — Thomas desliga o rádio.

Acho que só poderíamos demorar por tanto tempo.

—O que?— eu digo.
—Quanto tempo faz desde que você viu Hannah?

De tudo o que ele poderia ter perguntado, eu realmente não


esperava isso. Eu também sinto que ele já deveria saber a resposta
para isso. —Cerca de dez anos, por quê?

—Você não sabe muito sobre ela, não é?

—Não mais.

—Você sabia que éramos casados?

—Sim—, eu digo, e ele espera por mais explicações. —Eu a


encontrei no Facebook. Suas fotos de casamento estavam lá em
cima.

—Oh, faz sentido.

—Você disse que Hannah falou muito sobre mim?

—Sim. — Ele ri como se tivesse contado uma piada. —Ela me


contava histórias sobre vocês o tempo todo, os problemas em que
vocês se metiam.
Não me lembro de ter tido muitos problemas com Hannah. A
maioria das minhas lembranças dela envolve música alta, portas
batendo, gritando. Às vezes a mamãe e o papai, às vezes de mim,
mas tudo bem, eu acho.

Quero perguntar a Thomas se Hannah mencionou voltar para


mim, ou até mesmo querer voltar para mim, mas isso parece uma
pergunta inadequada para o cunhado que você realmente acabou
de conhecer.

Minhas aulas são quase exatamente as mesmas de Wayne


High: inglês 4, Honras em química, honras em cálculo. A única
diferença é a arte 4. Não sei o que é isso. Em Goldsboro, tínhamos
aulas de arte normais.

North Wake também oferece diferentes horários de almoço.


Eles estão programados para mais perto do almoço em vez de serem
distribuídos entre as dez e às onze e meia da manhã.

—Você pode apenas esperar aqui por Nathan, tenho certeza


que ele estará aqui em breve— me disse a secretária Kev. Gostaria
de saber se o nome dela é realmente Kev, ou se é apenas o apelido
de Kevin, ou talvez algo mais? Sento-me no mesmo lugar que
ontem, ainda desejando ter um telefone para passar o tempo.
Hannah me prometeu que conseguiríamos um substituto neste fim
de semana.

Por enquanto, terei de me contentar em olhar para o relógio,


sorrindo desajeitadamente para qualquer pessoa que entre no
escritório com quem eu olho os olhos, até Nathan finalmente chegar
aqui.

—Lá está ele.

Ele

Eu tento o meu melhor para não deixar meu rosto mostrar


nada, porque é algo com o qual eu preciso me acostumar. Eu queria
isso agora. É mais simples. E não posso ficar brave com ele por
isso.

Nathan bate palmas ansiosamente. —Você está pronto para a


grande turnê?

—Sim—, eu digo, pegando minha mochila. Outra compra da


Hannah.
—Você já tem sua agenda?

Entrego a ele o pedaço de papel azul dobrado e o ouço ler as


aulas. —Bom, temos a mesma sala de aula e a mesma aula de
química, então também estaremos no mesmo período de almoço!—

—Ah, legal.

—Vamos começar com o inglês. — Nathan me leva por esse


corredor branco estéril, com armários nas paredes que alternam
entre azul escuro e um ouro opaco. —Você tem a sra. Williams. Eu
a tive no ano passado e ela é dura, mas se você der o seu melhor e
precisar de algum crédito extra no final do ano, ela geralmente é
boa para isso. — Ele aponta para a sala de aula vazia, cheia de
mesas; espero não ter problemas para lembrar qual sala de aula é
qual.

Não há muito para diferenciá-lo dos outros, salve o marcador


—Sala 303— acima da porta. Repito o número na minha cabeça.
303, 303, 303.

—Cálculo?— Nathan pergunta. Claramente eu perdi a


pergunta dele.

—Hã?— Eu me sacudo do meu transe. —Desculpa.


Ele sorri de novo. —Você está no Honras em Cálculos? Coisas
bem avançadas.

—Ah. Eu gosto de matemática - eu digo.

—Sério? Devo dizer que em todos os meus dezessete anos, é o


primeiro— Ele sorri.

—Bem, eu não gosto realmente, —eu me corrijo. —Mas eu


sou bom nisso.

—Você terá que ser mais do que 'bom' para as classes de


honra aqui, mesmo com a transferência. — Ele acrescenta: —Nós
não temos muitos garotos novos, então você será uma mercadoria
quente por aqui.

—Sério?— Ótimo. Exatamente o que eu preciso!

—Sem problemas. Contanto que você mantenha a cabeça


baixa no time de futebol áspero e resistente, você deve ser bom.

Não sei o que dizer a seguir, então fico quiete.


—Ah, e fique longe dos banheiros perto da sala de música, as
crianças da banda não têm medo do PDA 5 .— Ele estremece um
pouco. —Algumas coisas que você nunca verá.

—Hmm—, eu murmuro, esperando que ele aceite isso como


resposta.

Ficamos quietos enquanto ele me leva à Química. —A questão


da química é que ela fica nos fundos da escola, então você
realmente precisa correr para a lanchonete, se quiser as coisas
comestíveis. O Sr. W é bem legal, às vezes ele nos deixa sair cedo.
—Nathan lê minha agenda novamente— Você o conhece? Eu vi
vocês dois no escritório ontem.

—Ele é meu cunhado.

—Uau. Estou surpreso que tenham deixado você entrar na


aula dele. —Não mencionei, mas sinto que Thomas orquestrou isso.
Nathan bate na porta aberta da sala de aula de Thomas. —Bom dia,
Sr. Waller.

Thomas está sentado em sua mesa no canto mais distante da


sala. —Bom dia, Nathan, ainda mostrando Ben por aí? — ele
pergunta, rabiscando algo.
5 A palavra PDA significa Demonstração pública de afeto, que descreve casais ou amigos que

demonstram muito afeto em público.


—Sim. — Nathan se inclina sobre o balcão comprido na
frente da sala, equilibrando um joelho em um banquinho.

—Ele é um guia turístico tão bom quanto afirma, Ben?—


Thomas marca alguma coisa em um de seus papéis antes de girar
sua cadeira para nos encarar, as mãos apoiadas nos braços como
uma espécie de supervilão.

—Sim.— Olho para este pequeno aquário situado no balcão


na frente da sala, onde assisto os maiores girinos que já vi nadar na
água turva.

—Ele não é falador—, acrescenta Nathan.

—Não, Ben não é.— Ele suspira. —É melhor vocês dois


seguirem em frente, não temos muito tempo.

—Certo. Acho que nos vemos daqui a pouco, Sr. W. — Nathan


acena, me levando de volta para o corredor. Nós caminhamos em
direção à cafeteria em seguida. Estou seriamente duvidando que
algum dia vou me preocupar em vir aqui; Eu nunca fiz em
Goldsboro. —Então, você tem alguma dúvida? Preocupações?
Pensamentos? ou opiniões? Reclamações? Você realmente não falou
muito.
Não consigo pensar em nada da minha cabeça. Claro, meu
cérebro está tão agitado no momento. Ontem à noite, desmaiei por
volta da meia-noite, mas acordei cerca de duas horas depois,
incapaz de adormecer. Até agora, isso não parece muito diferente da
minha antiga escola. Mas com o jeito que Nathan está olhando para
mim, sinto que preciso perguntar uma coisa. —Você também é
veterano?

Seu rosto meio que se torce como a pergunta o surpreende,


mas ele apenas ri com um sorriso e o movimento da cabeça. —Bem,
eu quis dizer sobre a escola.— Ele enfia as mãos nos bolsos do
capuz. —Ah sim. Eu sou.

—Oh.

—O que você faz no seu tempo livre? Você está nas Artes 4,
então acho que você gosta de desenhar?

—Às vezes.

—Oh, bom, você vai gostar de sua professora. Todo mundo


ama a Sra. Liu. Vou lhe mostrar sua aula de Calculo a seguir. —
Atravessamos essa passarela do lado de fora. A partir daqui, posso
ver o estacionamento já se enchendo. —Você não quer me fazer
outra pergunta?
—É isso que estamos fazendo?— pergunto.

—Se você quiser. É justo, Benjamin... — Ele desdobra minha


agenda novamente. —De Backer?— Ele lê meu sobrenome. E ele
acertou na primeira tentativa. —Que tal? Uma pergunta para uma
pergunta, resposta para uma resposta?

—Ok—, eu digo.

—Esse sobrenome é alemão?

—Belga. Acho que sim.— Mamãe e eu passamos bastante


tempo rastreando nosso sobrenome. Ela gostava muito desse tipo
de genealogia, então, quando Hannah e papai estavam tendo uma
de suas grandes discussões, ela me levava à biblioteca, e nos
sentávamos e liamos todos os livros que eles tinham sobre a nossa
família. Depois de algumas visitas, ficamos sem energia e apenas
começamos a encontrar nomes e a criar histórias de fundo sobre
eles e o que estavam fazendo agora.

Então um dia nós meio que paramos de ir. Acho que não era
mais divertido para ela.

Eu paro de andar, meu coração girando no meu peito.


Nathan gesticula para mim. —Agora é a sua vez.

—Hã? Oh, você é daqui?

Sua boca se dobra em um sorriso. —Nada mais interessante?

Eu dou de ombros.

—Minha família se mudou para cá no verão antes de eu


começar o ensino médio.

—De onde?—

—Nuh-uh— Nathan balança um dedo para frente e para trás.


—Eu recebo uma pergunta.

Gostaria de saber se existem limites para o tipo de perguntas


que ele fará. —Está bem.

—O que você gosta de desenhar?

—Ah, hum… E de repente tudo o que desenhei desaparece do


meu cérebro.

Puf. Já era.
—Hum, qualquer coisa realmente, eu acho.— Eu tenho
alguns personagens que gosto de desenhar; as paisagens também
são sempre divertidas de pintar, mas dificilmente tenho a chance de
fazer isso.

—Alguma coisa?— Nathan levanta uma sobrancelha como se


isso significasse algo. —Talvez eu possa dar uma olhada no seu
caderno de desenho um dia?

—Sim.— Eu esfrego meu braço. — Talvez.

Definitivamente não vai acontecer. Nem em um milhão de


anos.

— Excelente. Agora vamos.— Sinto a mão de Nathan no meu


cotovelo. —Vamos para a sala de arte, tenho a sensação de que você
vai enlouquecer! — Ele me leva para fora e caminhamos pela
passarela até a frente do prédio. —Tecnicamente, é seu próprio
prédio, eles o adicionaram há alguns anos atrás e, antes disso, era
onde fica a sala de teatro agora. A Sra. Liu também é muito legal.

—O que?

—Definitivamente, não há como eu ter passado no ano


passado. Até meus bonequinhos são hediondos. Mas ela passou por
mim de qualquer maneira. Acho que a Sra. Liu poderia dizer que eu
estava tentando pelo menos— Nathan para na porta do lado de fora,
aberto com uma enorme lata de tinta. —Oh, Sra. Liu—, Nathan
canta, batendo na porta.

Há um estrondo alto em algum lugar perto do fundo da sala.


Tento me apressar para ajudar, mas Nathan fica para trás, então
acho que deveria.

—Oh, merda em uma cesta!— alguém assobia, seguido de um


longo gemido e o som de passos se aproximando. A Sra. Liu é uma
mulher americana chinesa baixa, com o cabelo preso em um nó
confuso e uma caneta escondida atrás da orelha. O avental que ela
está vestindo está manchado com respingos de tinta, assim como a
blusa branca por baixo. Pelo menos parece seco.

Natã Ela corre em nossa direção quando percebe quem está


aqui, envolvendo Nathan em um abraço. —O que você está fazendo
aqui tão cedo?

—Mostrando o novo cara por aí. — Ele a abraça de volta. —


Ben, esta é a Sra. Liu.

—Prazer em conhecê-la. — Estendo minha mão.


Ela sacode tão rapidamente que tenho quase certeza de que
meu braço vai se deslocar. —É tão bom te conhecer também! Como
você está gostando de North Wake até agora?

—Está tudo bem—, eu digo.

—Bem, estou ansiosa para tê-lo. Infelizmente, eu não tive


filhos suficientes para uma aula de Arte 4 este ano, então você
estará praticamente sozinho.

—Por conta própria?— pergunto.

—No seu nível, você terá bastante liberdade, depois que eu te


conhecer um pouco melhor, é claro.— Ela sorri. —Mas eu vou dar
uma aula para calouros aqui. E... —Ela faz um sinal para Nathan e
eu segui-la por esse pequeno corredor. Por outro lado, há outra sala
de aula. Não sei dizer se é maior, já que não há mesas, mas é
assim. —Você estará trabalhando aqui.

—Oh.— Façam o melhor que puderem. As paredes estão


cobertas de pinturas, armários abertos, mostrando tubos de tinta e
prateleiras sobre prateleiras de telas e cavaletes. É tudo
maravilhoso. Provavelmente tínhamos cerca de metade disso em
Goldsboro. —Uau.
—Impressionado? — Eu ouço Nathan me perguntar.

—Sim.— Concordo com a cabeça lentamente, absorvendo


tudo. Talvez isso não seja tão ruim, afinal.

Os primeiros dias são estranhos, especialmente quando você


é o novo garoto. Entrar na sala de aula não é um momento super
constrangedor, onde todo mundo fica em silêncio e apenas me
encara. Mas pego alguns olhares estranhos e as pessoas sentadas
ao meu lado tentam falar comigo. Mas acho que eles desistem
quando percebem que não sou tão interessante quanto pareço.

Felizmente, nenhum dos meus professores me fez me


apresentar à classe. Eles apenas fingem que eu sempre estive aqui.

Quando a campainha para o almoço toca em Química, eu


volto para a sala de aula de Thomas, indo na direção oposta da
cafeteria quando os corredores estão limpos. Há uma área
quadrangular muito boa que lembra um anfiteatro nos fundos da
escola. Uma multidão de crianças já está amontoada em uma
extremidade, mas ninguém me diz para me perder quando me sento
no outro lado e, pela primeira vez em muito tempo, consigo
desenhar em paz e sossego.

Aqui fora eu posso respirar.

Não que eu não aprecie tudo o que ele fez, mas Nathan pode
ser um pouco... sufocante. De uma forma boa. Se realmente existe
uma boa maneira de sufocar. Ele parece tão ansioso para fazer
tudo. E Thomas decidiu me sentar ao lado dele em Química. Então
todos os dias vou receber pelo menos uma dose de uma hora e meia
de Nathan Allan.

Abro o caderno de desenho novinho em folha, um presente da


Sra. Liu depois que eu disse que perdi meu último.

É estranho pensar que este é totalmente vazio. Meus


desenhos anteriores, rabiscos e anotações desapareceram.
Provavelmente para sempre. Olho para a primeira página vazia e
tento pensar no que posso desenhar.
SEIS
—Eu posso pagar de volta, quando eu conseguir um emprego,
quero dizer—, eu sussurro para Hannah quando o cara da loja
entra na parte de trás para pegar meu novo telefone.

Hannah apenas revira os olhos. —Não se preocupe com isso,


Ir... -— Ela se interrompe. Ben. Posso te chamar de irmane? Isso
não está certo, certo? Eu deveria encontrar outra coisa

Nos quadros de mensagens, descobri que muitas pessoas


espertas pediam a seus irmanes e irmãs que os chamassem de
irmanes, abreviação de “irmane”. Eu gostei da ideia, mas nunca
brinquei com a ideia de que alguém poderia realmente usá-la para
mim.

—Irmane é bom—, eu digo. —Em vez de maninhe ou o tanto


faz.
—Irmane. Entendi. Bem, maninhe, você não precisa se
preocupar em me pagar, está tudo bem.

É bom ter um telefone novamente, mesmo que eu não possa


deixar de me sentir um pouco culpado. —Ei. Eu sei o que você pode
fazer para me pagar de volta. — Hannah me olha engraçado quando
entramos no carro.

Uh-oh.

—Basta ir a uma reunião com Bridgette.

—Bridgette?— pergunto. Não me lembro de nenhuma


Bridgette.

—Dra. Taylor. A psiquiatra de quem eu falei?

—Você pode ter seu telefone de volta.— Pego a caixa da bolsa


e a entrego de volta para ela.

—Ben, por favor.— Ela puxa o carro para a rua. —Apenas


uma reunião.

Eu me inclino no banco. —Hannah!

—Só uma?— Eu realmente acho que ela poderia ajudar.


—Por quê?

—Porque esse não foi exatamente o momento mais fácil para


você, e acho que conversar com alguém pode ajudar. — Ela quase
fala tudo isso em uma única respiração. Eu ficaria impressionado
se não estivesse tão irritade. —Apenas um compromisso—, diz ela
novamente. —É tudo o que estou pedindo.

—Só uma?

—Eu prometo. Depois disso, você pode decidir se quer


continuar vendo ela.

—Tudo bem—, eu digo, resistindo à vontade de soltar meu


cinto de segurança e sair do carro. Pelo menos isso me compraria
algumas semanas em um hospital sem ter que me encontrar com
uma terapeuta. Embora o caso de Hannah provavelmente ficasse
mais forte se eu fizesse isso.

—Eu ligo para ela quando chegarmos em casa, ok? Talvez ela
tenha uma vaga na próxima semana.

—Legal.
—Eu apenas acho que ajudaria talvez falar sobre as coisas
que aconteceram em casa.

—Sim.— Olho pela janela, observando cuidadosamente tudo


o que passamos. Eu quero perguntar a ela se ela foi a algum tipo de
terapia, mas na minha cabeça isso soa como um insulto.

—Eles melhoraram?— Hannah pergunta. E eu posso sentir


aquele nó no estômago lentamente subindo pela minha garganta.

—Eles realmente não mudaram—, digo a ela.

—Eu estou… Sinto muito mesmo. — Hannah olha para o


volante. —Por deixar você assim. Eu simplesmente não aguentava
mais e, quando encontrei minha chance, aproveitei.

Olho para ela, a culpa em seu rosto é óbvia. Ela saiu logo
após a formatura. Nós deveríamos almoçar, mas Hannah nunca
apareceu. E quando chegamos em casa, o quarto dela estava
completamente vazio. Mamãe e papai tentaram ligar para ela, mas
ela não atendeu ao telefone.

Levei quase uma semana para encontrar a nota escondida em


nosso banheiro, aquela com o nome da faculdade e o número do
celular dela. Dizendo-me para ligar para ela se eu precisasse de
alguma coisa. Eu acho que deveria ser reconfortante, mas
realmente, isso só me deixou louco. Porque ela foi embora.

Ela me deixou com eles, para cuidar de mim mesma.

Depois disso, mamãe e papai mudaram. Eu meio que me


tornei o saco de pancadas para todos os problemas de papai. Ele
realmente não me bateu, mas da noite para o dia, eu me tornei filho
único. O foco de tudo e de tudo. Se eu fiz algo errado, foi exagerado.
Era quase como se eles tivessem visto o que aconteceu com Hannah
e estavam determinados a garantir que eu não saísse da mesma
maneira. Só que eu não sei como ficar mais frustrado comigo na
escola e nas tarefas deveria mudar isso.

— Ei, você está bem? — Ela me cutuca.

—Só pensando—, eu digo. —Não foi sua culpa.

—Eu deveria ter… Bem, eu só...

Eu dou de ombros. —Tanto faz. Eu não quero ter essa


conversa. Não neste momento

E se eu tiver escolha, nunca.


Domingo é um dia de nada. Durmo tarde demais, sem
reconhecer o meu quarto quando abro os olhos.

—Respire—, digo a mim mesme em voz alta, e por um


segundo não reconheço minha própria voz. Meu coração batendo
forte no meu peito. —Só respire. Esta é a casa de Hannah, você
mora com ela agora. —Vou soltar minhas mãos em volta dos meus
lençóis, mas sinto o suor nas costas. Não me lembro sobre o que
era o meu sonho, mas Hannah estava lá e mamãe. — Respire!

Passo a maior parte do dia no meu quarto, meio nessa névoa.


Eu finalmente tento desenhar algo, qualquer coisa, sério, mas
sempre que pego meu lápis, é como se minha mão se recusasse a
cooperar. Depois disso, tento assistir TV com Thomas e Hannah,
apenas rabiscando nos cantos do jornal. Nada muito elaborado.

Passo o resto do dia conversando um pouco com Mariam,


tentando alcançá-los com tudo o que aconteceu neste fim de
semana, antes de me deitar. É difícil acreditar que já faz quase uma
semana desde aquela noite. Parece tão impossivelmente há muito
tempo. Meu alarme toca muito cedo na segunda de manhã. Pela
primeira vez em um tempo, eu consegui dormir uma noite inteira e
eu não posso nem me divertir tanto.
Então me lembro da minha consulta com o Dra. Taylor.
Hannah cuidou de configurá-lo para mim, mas havia apenas um
slot aberto ao meio-dia de hoje, então ela vai me buscar na escola
mais cedo e me levar. Sento-me com um gemido e vou para o
banheiro. Por mais que eu tente, não há como evitar meu reflexo
enquanto espero a água esquentar. Olho a barba por fazer. Ainda
não encontrei tempo ou energia para fazer a barba, mesmo que eu
odeie o jeito que isso me faz parecer. E então noto as bolsas debaixo
dos olhos, a maneira como meus cabelos caem sobre minha testa e
as cicatrizes que minha acne deixou para trás.

Tal contraste com as outras pessoas não binárias que eu vi


online. Seus rostos lisos, sem pelos e sem acnes, seus cabelos
aparados que sempre parecem perfeitos. Essas coisas eu nunca
poderia ser. Porque não importa o quanto eu queira, meu corpo não
é como eu quero me ver. Não que haja algo de errado com esse tipo
de gente esquisita, eu apenas... é difícil de descrever. Os corpos são
fodidamente estranhos, especialmente quando parece que você não
pertence a si próprio. Mas é tarde demais para coisas como
bloqueadores da puberdade, e a cirurgia não é algo que eu quero.

Inferno, mesmo meu nome não é muito —neutro—. É um


nome de menino, mesmo que não exista. Mas mudar isso é longo e
complicado, e eu nem sei no que eu mudaria. Eu sou o Ben; isso é
apenas quem eu sou.
Não sei o que realmente quero, mas não é esse corpo. É
quase como se soubesse, do jeito que me provoca. É preciso tudo o
que tenho para não voltar para a cama, mesmo sabendo que
Hannah não me deixará perder esse compromisso. O que há de
errado comigo? Sussurro.

Eu só preciso passar meio dia. É isso. Hannah vem me


buscar antes do almoço e me leva para a consulta. Mas mesmo
meio dia parece que será demais. Eu inspiro e expiro. Eu consigo
fazer isso aqui.

—Eu não acho que posso fazer isso—, eu sussurro para mim
mesme.

—Então, aonde você vai durante o almoço?— Nathan se


inclina sobre o balcão, a cabeça inclinada para o lado como um
filhote.

Estamos sentados em Química. Thomas terminou a lição hoje


cedo, então decidi dar um pulo em todo o dever de casa que me foi
dado. É muito para lidar depois de alguns dias, especialmente
porque aparentemente perdi o prazo de algumas coisas. Eu também
tenho que me atualizar em algumas aulas. Eu sou muito bom em
Arte e Cálculo, e Thomas me prometeu que me ajudaria a recuperar
o atraso em Química. Mas já posso dizer que vou precisar de um
tutor de inglês. Eu nunca fui bom em escrever livros de qualquer
maneira. Muitas regras difíceis de lembrar.

—O que quer dizer?— Eu esfrego meus olhos. Todo esse


material está começando a se misturar. Dezenas de linhas de
assinatura e tentando descobrir quanto tudo vai me custar aqui.
Ou, acho, custou Hannah.

—Quero dizer, temos o mesmo período de almoço, mas eu


não te vi lá nenhuma vez.— Nathan levanta a mão.

—Eu vou para outro lugar—, eu digo, realmente não


interessade nesta conversa.

Mas claramente ele é. —Onde?

—Faz diferença?— Suspiro, colocando todos os papéis de


volta na minha bolsa, fechando-a com um pouco de satisfação
demais. Não demorou muito tempo para descobrir que a quadra é a
área de fumantes “não oficial”. O que eles fumam varia entre eles,
aparentemente, mas eles me deixam em paz e eu os deixo em paz.
Está rapidamente se tornando um dos melhores relacionamentos
que tenho nesta escola.

Fiz a mesma coisa em Wayne, exceto que não havia um pátio


ou algo parecido, então usei a entrada dos fundos da academia.
Aquele em que ninguém realmente pensou. Lá, eu poderia estar
sozinhe. Eu nunca tive que me preocupar com alguém me
encontrar, me incomodar ou me perguntar no que estava
trabalhando.

—Só estou imaginando. Além disso, sou seu responsável.—


Nathan abre um sorriso.

Eu apenas o encaro com um olhar vazio. — Meu o quê?

—Eu deveria cuidar de você.

—Você deveria me mostrar minhas aulas.

—Você está bem? Você parece um pouco irritado.

—Eu estou bem—, eu minto.

—Ok, Sr. Atitude.— Nathan ri.


—Por favor, não me chame assim.— Esfrego os olhos
novamente, como se eu pudesse simplesmente limpar a sensação
de cansaço e queimação por dentro. Eu nem sei se estou falando
mais sobre a parte “Sr.” ou a “Atitude”.

—Está tudo bem, cara.

Acho que estou com mais raiva do que pretendo. Ele está
apenas fazendo uma pergunta, afinal. Acho que estou estressado
com esse compromisso.

Para crédito de Nathan, ele não parece ofendido. —Você


deveria vir almoçar comigo algum dia, meus amigos querem
conhecê-lo.

—Vou pensar no assunto.— Inclino-me para a frente,


enterrando a cabeça na mochila, já planejando ativamente nunca
pensar nisso. Esta manhã está uma bagunça, e tenho certeza de
que não vai melhorar. “Hoje não importa.” O telefone na mesa de
Thomas começa a tocar, provavelmente o escritório da frente.

—Por quê?

—Eu tenho uma consulta médica. Vou embora depois desse


período.
—Oh, urologista?— ele pergunta provavelmente com a cara
mais reta que eu já vi.

—O quê? Não— eu engasgo. —E por que esse foi seu primeiro


palpite?— Deixa pra lá.

—Relaxa,— cara Nathan começa a arrumar sua própria


bolsa. —Estou brincando com você.

—Sim.

—Ben— Thomas desliga o telefone. —Eles estão prontos para


você no escritório.

—Boa sorte—, sussurra Nathan quando eu empurro meu


assento sob o balcão. Alguns dos meus novos colegas de classe me
encaram enquanto eu caminho até a porta, a mochila jogada por
cima do ombro. Felizmente, Thomas evitou apresentações longas, o
que provavelmente significa que todos aqui ainda estão se
perguntando sobre esse garoto esquisito que foi colocado
aleatoriamente em sua classe.

—Pronto para ir?— Hannah pega sua bolsa enquanto eu


empurro as portas do escritório da frente.
—Sim.— Na verdade não estou, mas acho que será melhor
seguir em frente e acabar com isso.

—Teve um bom dia até agora?

Hannah colocou seu carro em frente ao prédio. Hoje está


quente fora de época, mas é o primeiro dia em que não preciso de
três camadas, por isso não pretendo reclamar até agora.

Hannah passou as últimas duas noites me mostrando


críticas de pacientes anteriores da Dra. Taylor, garantindo que ela é
uma das melhores da cidade, o que realmente só me deixou mais
nervoso ao falar com ela. Eu me pergunto o quanto Hannah disse a
ela exatamente, se é que alguma coisa.

Eu tenho me preparado mentalmente para sair de novo, mas


já faço isso há algum tempo. Essa foi uma das coisas que percebi
cedo. Se você é gay, sua vida tem potencial para se tornar um longo
momento de saída. Se eu quiser ser chamado de pronomes certos,
terei que corrigir as pessoas e me colocar lá primeiro e quem sabe o
que pode acontecer.

— Nervosismo?
—Ter alguém cutucando meu cérebro por uma tarde?—
Aperto o cinto de segurança. —Estou emocionade.

Hannah me lança esse olhar, aquele tipo de sobrancelha —


Você precisa relaxar—Olho —Ok, calças atrevidas. Eu só acho que
vai ajudar, e é uma reunião curta. Quarenta e cinco minutos.

—Hummm.— Quarenta e cinco minutos a mais, se você me


perguntar.

—Eu não disse nada a ela.— O carro de Hannah para. —


Sobre você ser não-binário. Não sabia com o que você ficaria bem.

—Mas ela sabe que mamãe e papai me expulsaram?

—Não foi possível evitar esse detalhe. Desculpe mane.— Ela


olha ao redor para verificar o tráfego antes de sair para a estrada.

—É, tanto faz.— Suspiro e descanso a cabeça na janela fria,


sem saber se me sinto aliviado ou com raiva por ela ter
compartilhado isso com um estranho.

O consultório médico faz parte dessa longa fila de complexos,


os que se parecem com um prédio de apartamentos, mas na
verdade estão cheios de consultórios. Somente neste caso, há um
lugar onde você pode limpar os dentes e fazer algumas radiografias,
se quiser, enquanto verifica se está grávida. Olho para o jeito que
todos parecem se elevar sobre o carro de Hannah.

Eu realmente quero perguntar a Hannah se podemos


reagendar ou algo assim. Eu vou voltar para a escola, se for preciso.
Apenas qualquer coisa para não estar aqui. Eu realmente preciso
ver essa mulher? Posso expor todos os meus problemas a um
completo e total estranho? Meus olhos voam do chão de volta para
os prédios, meu estômago apertando. Não há nada para eu deixar
escapar, mas eu posso sentir a bile subindo.

—O escritório dela fica no terceiro andar.— Hannah trava as


portas do carro e enfia as chaves na bolsa.

Chego até a entrada, lendo o quadro de nomes dos


escritórios. Há um bloco inteiro de conselheiros, seus títulos, seus
números de consultório. Eu tento o meu melhor para focar no nome
do Dra. Taylor, mas é como se minha visão ficasse embaçada por
uma fração de segundo. Fecho os olhos e belisco minha
sobrancelha, tentando me acalmar.

Minhas mãos têm a mesma sensação úmida que sentiram


nos Walgreens naquela noite. É esse sentimento repentino como se
eu tivesse levado um soco no estômago, como se eu não pudesse
recuperar o fôlego.

—Hannah!

—Qual é o problema?

—Eu não sei se consigo.

—Ei, ei, ei. Tudo bem.— Hannah fecha o espaço entre nós,
agarrando minha mão, e é preciso tudo em mim para não puxá-la
de volta. —Está tudo bem. Escute. —Tudo vai ficar bem. A Dra.
Taylor vai ajudar, está bem?

—O que ela vai fazer?— Eu tento não respirar muito fundo.


Sinto que deveria estar chorando, mas não há lágrimas, apenas
essa bolsa de ar nos pulmões que não consigo sair.

—Ela só vai falar com você sobre o que você está sentindo, o
que você está passando.

—O que eu devo dizer a ela?

—Você diz a ela o que quiser, mas a ajudará a saber pelo


menos como você se identifica. Esse é o primeiro passo— Eu tento
concordar, mas ainda sinto que vou ficar doente. Foi exatamente
assim que senti antes de contar aos meus pais.

Não posso fazer isso de novo, posso? Não posso sair de novo,
nem aqui, nem agora.

—Eu não sei se consigo.

—Ok.— Hannah suspira, afastando os cabelos do rosto. —


Tente isto. Você já me disse uma vez. Apenas continue me dizendo.
Isso deve ser fácil, certo?

—O quê?

—Apenas continue repetindo de volta para mim. É como


aquela coisa em que as palavras perdem o significado depois de um
tempo.

—Você realmente acha que isso vai ajudar?— pergunto. Acho


que faz sentido. Em teoria, pelo menos.

—Se você se acostumar a dizer, ficará mais fácil. Eu acho que


é assim que funciona?
Eu respiro fundo e forço as palavras lentamente. —Eu sou
não binário.

—De novo.

—Eu sou não binário.

—Vamos lá, continue fazendo isso.

—Eu sou não binário. Eu sou não binário. Eu sou não


binário.— É bobagem, de pé no meio de um saguão, repetindo as
mesmas palavras uma e outra vez. Mas parece mais fácil a cada vez
que digo, apesar da sensação pesada no estômago. —Eu sou não
binário. Eu sou não binário.

—Mais uma.

—Eu sou não binário.

—Bom, você conseguiu isso.— Ela pressiona a mão nas


minhas costas e me leva aos elevadores. —Apenas me imagine se
você precisar, ok?

Aceno em concordância. Apenas chegue lá. Entre lá para que


não haja volta.
—E eu estarei na sala de espera, se você precisar de mim. Se
você quiser sair mais cedo, se precisar que eu sente lá com você,
qualquer coisa.

—Ok.— As portas do elevador se abrem e entramos juntos.

Não sei exatamente o que esperar. Talvez paredes brancas,


pisos de azulejos feios e um cheiro médico inevitável. Mas o
consultório da Dra. Taylor se parece exatamente com o que é um
escritório. As paredes são de um azul claro e estão decoradas com
pinturas coloridas. Os móveis também são claros e o piso é de
madeira quente.

—Olá? Ben, certo? — Ela sorri e abre a porta para mim.

—Sim.

—Sou o Dra. Taylor, mas você pode me chamar de Bridgette,


se quiser. Você pode se sentar no sofá.— Dra. Taylor aponta para
este horrível sofá amarelo mostarda que fica encostado na parede.
Por algum milagre, ele se encaixa na aparência da sala.
—Então.— A Dra. Taylor pega um pequeno bloco de notas e
uma caneta em sua mesa. —Sua irmã ligou para me contar
algumas coisas.

Ela é mais velha do que pensei que seria. Talvez na casa dos
quarenta? Ela é muito baixa também, com pele morena e cachos
curtos e apertados.

—O que ela te disse?

—Que você foi expulso de sua casa.— A Dra. Taylor se senta


na cadeira à minha frente, dobrando as pernas. —E que você pode
precisar de alguém para conversar.

— É isso? — Eu pergunto, um pouco surpreso. Sei que


Hannah disse que não contou mais nada à Dra. Taylor, mas
realmente não acreditei nela. E agora me sinto mal por pensar que
minha irmã pode me derrotar assim.

—Isso mesmo. Eu pensei que não era apropriado discutir


mais nada sem o seu conhecimento.

— Ah…— Não sei o que dizer. —Hm... Obrigado, eu acho.


Ela acena. —Então, você pode me dizer por que seus pais
fizeram você sair?

Fecho os olhos, esfregando os joelhos. Agora sim.

—Você não precisa, mas pode ser um bom ponto de partida—


, diz ela.

Não, é... Balanço a cabeça, imaginando Hannah. Apenas diga


as palavras. Duas pequenas palavras, é isso. —Eu sou … Eu sou
não binário.

—Oh.— Ouço o som distinto de uma caneta sendo clicada e,


em seguida, algo sendo escrito. Abrindo meus olhos lentamente, eu
a observo se mover. Ela não parece surpresa, ou horrorizada, ou
como se me entendesse mal ou não soubesse do que eu estava
falando. —Hannah lhe disse que eu trabalho com muitos jovens
LGBTQIAP+?

Esse buraco no meu estômago ainda está lá, mas posso


sentir minhas mãos relaxarem. —Você pode dizer 'estranho' ao meu
redor, está tudo bem.

Ela ri com isso. —Desculpe, alguns dos meus clientes não


estão confortáveis com essa palavra. Então, você é não binário?
Aceno em concordância.

—Posso perguntar quais pronomes você usa?

—Els/Elu—, eu digo. Ainda é estranho, por algum motivo, ser


perguntado isso.

—E então, qual é a conexão entre você ser não-binário e seus


pais?

—Eu saí, ou tentei. Os dois meio que assustaram. Eu nunca


me senti menor do que naquele momento. O jeito que meu pai
estava em cima de mim, sua mão levantada. Eu pensei que ele
poderia realmente me bater ou algo assim, mas não. Ele apenas
apontou para a porta.

—Onde você quer que eu vá?

—Eu não sei, apenas saia desta casa.

Eu nunca tinha visto aquele olhar em seus olhos antes.

—Você pode me dizer como eles se comportaram? Como pais.


—Como pais, eu acho—, eu digo. —Eu realmente não sei.
Tanto quanto eu sei, eles eram na maioria normais. Mas eu não
tenho exatamente outro conjunto de pais para compará-los.

—Como era o relacionamento de Hannah com eles?

—Ela se deu bem com mamãe, na maior parte. Mas ela


brigava muito com o papai.

—E você? Como era seu relacionamento com eles?

Melhor do que qualquer que fosse o relacionamento deles


com Hannah, mas ainda difícil. E piorou com o passar do tempo, as
brigas se tornando cada vez mais frequentes. — Eu acho. As coisas
pioraram depois que Hannah foi embora.

—Quando Hannah foi embora?

Eu suspiro. —Na noite em que liguei para ela, foi a primeira


vez que falei com ela em cerca de dez anos.— Meus dedos
encontram as bolinhas de penugem no sofá e não consigo resistir a
pegá-las, torcendo-as até ficarem grandes demais. Apenas os deixo
sentados lá quando termino.
—Entendi. Você está confortável em ficar com sua irmã
agora?

—Existe outra alternativa?

—Você quer uma?

Nego com a cabeça. —Apenas me perguntando. Isso tudo fica


entre nós, certo?

A Dra. Taylor descruzou as pernas e se inclinou para a frente


na cadeira, o couro rangendo embaixo dela. —Você é meu
paciente.— Ela aponta para a porta com a ponta da caneta. —Não
vou discutir nada do que acontecer dentro desta sala com ninguém
além de você. Não apenas sou legalmente obrigada, mas a
privacidade e a segurança de meus pacientes são importantes para
mim, Ben. Poderíamos revisar o consentimento informado, se você
quiser?

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A Dra. Taylor caminha até um arquivo no canto da sala,


vasculhando o arco-íris de pastas localizadas lá. —É um
procedimento importante, onde eu explico tudo o que discutirei com
você, os limites do que discutiremos, os benefícios do tratamento e,
o que é mais importante— ela volta pela sala e me entrega a pilha
de papel - —confidencialidade.

Respiro fundo pelo nariz, tentando ler tudo o que os


documentos envolvem. Claro, há o juramento de Hipócrates e tudo
mais, mas eu nem sei se isso se aplica aos terapeutas, ou se esse é
apenas o tipo de médico da cirurgia. Essa mulher não me deu nada
para basear um nível de confiança.

Mas os jornais descrevem tudo, ou pelo menos parecem. —


Podemos analisar cada parte passo a passo, se você quiser.— Dr.
Taylor se inclina para mais perto. —Mas eu juro que, a menos que
eu pense que você é uma ameaça imediata à sua própria vida ou à
de outra pessoa, não vou contar a ninguém o que se passa aqui.

—Eu... Me desculpe. Esse estranho sentimento de vergonha


surge no meu rosto.

—Você não precisa se desculpar, Ben. Sei que é assustador,


só posso imaginar o que você tem passado nestes últimos dias, até
meses. —Dr. Taylor fala em voz baixa. —Mas é para isso que estou
aqui para fazer. Quero ajudá-lo, ajudar a entender o que você está
passando.

—Obrigado.
—É para isso que eu vim aqui. Você quer passar pelos
formulários?

—Nós temos tempo.

—Claro. Podemos revisá-los enquanto conversamos.

É muito... Há algumas coisas que são simples ou


autoexplicativas, mas há ainda mais que eu não entendo. Então o
Dr. Taylor diz: —Então, você está com sua irmã?

—Ah, hum…— Folheto a página seguinte e leio brevemente o


que diz, assino minhas iniciais onde A Dra. Taylor me diz que é
necessário.

—Não precisamos conversar sobre isso.

Eu tento respirar. —Quero dizer, eu estou fora. para ela. E


para Thomas. Eu meio que tinha que ser, não é? — Eu tento rir,
mas mesmo para meus próprios ouvidos parece forçado.

—Você está confortável com isso?

—Eu tenho que ser, não tenho?


—Não. Claro, as circunstâncias estavam fora de suas mãos.
Eu sei nesse cenário, dizer a eles por que você foi forçado a sair de
casa foi a opção mais fácil e talvez a única. Mas isso não significa
que você precise gostar.

—Eles estão tentando. Hannah e Thomas se corrigem quando


usam os pronomes errados.

—Isso é bom. Agora, e na escola? Você está se ajustando


facilmente?

—Quero dizer, é escola. Não sai, se é isso que você está


perguntando.

A Dra. Taylor clica em sua caneta e acrescenta isso a suas


anotações. — Quer falar sobre isso?

—Nada para realmente falar.

—Você acha?

—Não parece exatamente seguro.

—Esse é um argumento justo.— Há esse brilho nos olhos


dela, e espero que ela lute comigo, mas ela não luta.
—Mas... eu digo.

—Não, mas. Você conheceu alguém na sua nova escola?


Novos amigos?

— Não.

—Sério? Isso é uma pena. Ninguém mesmo?

—Não—, repito. —Ninguém. — Chegamos ao último dos


formulários. Eu li rapidamente antes de assinar meu nome. A Dra.
Taylor folheia todos eles mais uma vez antes de reuni-los.

—Havia mais alguma coisa que você queria me dizer?

—Como?

Ela encolhe os ombros. —Qualquer coisa que você sinta que


possa me ajudar a conhecê-lo melhor. Ou alguma coisa específica
com a qual você esteja lidando?

—Eu acho que não.— Há Mariam, mas isso parece uma coisa
particular, algo que não preciso compartilhar aqui. Não agora, pelo
menos.
—Ok.— A Dra. Taylor se levanta, jogando o bloco de notas em
cima da mesa.

—Tudo bem?— Meus olhos a seguem até a mesa dela. —É só


isso?

—Por hoje.— Ela abre uma gaveta e pega um pequeno


panfleto. —Gostaria de continuar vendo você, Ben, se você quiser.
Mas eu também tenho algo aqui. Ela segura o papel para eu pegar.

—O que foi?— Viro-o em minhas mãos, lendo o cabeçalho,


que está em letras multicoloridas brilhantes.

—É um grupo de apoio para jovens no espectro LGBTQIAP +.

Abro a boca para falar, mas ela levanta um dedo para me


silenciar. —Eu sei, mas nem todos os membros usam 'queer' para
se identificar. Eu gostaria que você pensasse em participar. É
principalmente jovens e adolescentes. Eu realmente acho que isso
poderia ajudar.

—Eles costumam se reunir todas as sextas-feiras por volta


das seis e meia. Pense nisso. — Olho o panfleto, lendo as
informações de contato e o endereço da reunião nas costas. —Você
estaria aberto para me ver de novo?
Eu considero isso por um segundo. Quero dizer, eu realmente
não me sinto melhor, mas devo depois de apenas uma reunião? Eu
realmente só quero ir para casa, me deitar na cama e esperar
amanhã. —Acho que sim.

—Você não precisa—, acrescenta ela.

—Eu posso me encontrar novamente—, eu digo.


Provavelmente é o que Hannah quer.

—Vamos tentar na próxima quinta-feira, ok? Estou livre à


tarde, e assim você não precisa ficar faltando à escola.

Levanto-me, dobrando o panfleto para colocá-lo no bolso de


trás, sabendo que não vou a esse grupo de apoio. Se eu dificilmente
poderia encarar vir aqui, como devo sair para uma sala cheia de
estranhos?

—Eu também gostaria de conversar brevemente com Hannah,


se estiver tudo bem.— Dr. Taylor me olha.

—Por quê?
—Não estou dizendo nada a ela que não concordamos. Eu só
quero ter certeza de que ela entenda tudo, se ela tiver alguma
dúvida.

—Oh, Tudo bem!

—Então você está confortável com isso?

Na verdade não, mas talvez fosse mais fácil para a Dra. Taylor
lidar com isso, em vez de Hannah me grelhando no carro de volta
para casa. A Dra. Taylor coloca a cabeça para fora da porta e diz
alguma coisa, Hannah logo atrás dela.

—Tudo bem?— ela pergunta.

—Tudo bem—, diz o Dr. Taylor. —Eu só queria falar sobre


algumas coisas sobre os compromissos de Ben.

—Ok.

—Ben e eu nos encontraremos na quinta-feira; a cada duas


semanas devem ser suficiente, a menos que Ben me diga que eles
querem mudar a frequência dos compromissos.— A Dra. Taylor diz
isso da maneira mais direta que posso imaginar que alguém possa.
—Estarei me comunicando diretamente com eles e não
compartilharei nenhuma informação, a menos que Ben assine um
formulário de liberação.

—Oh— é tudo o que Hannah diz, e eu não posso olhar para


ela agora. Eu me pergunto como é a sensação de ter a mulher que
você está pagando para tratar o irmane que você acabou de receber
lhe dizer que você não tem o direito de saber o que acontece aqui.

—Eu só queria que você soubesse que não poderei discutir


detalhes sobre seus compromissos, além de quando eles ocorrerão.

—Não—, diz Hannah. —Eu-sim, claro.— Não, eu entendo


totalmente. Ela parece um pouco nervosa. Talvez pela faca com que
eu a apunhalei pelas costas. —Havia mais alguma coisa que você
precisava falar comigo?

Dra. Taylor olha na minha direção. —Bem?

—Terminei.

—Tudo bem, eu te vejo na próxima quinta-feira.— A última


coisa que a Dra. Taylor faz é pegar um pequeno cartão da mesa
dela. —Aqui estão às informações de contato do escritório, basta
ligar se precisar alterar os horários.
Coloco o cartão ao lado do folheto.

—Obrigado, Dra. Taylor.— Hannah e Dra. Taylor apertam as


mãos. —Pronto para ir?

Eu aceno e olho o relógio na parede. É apenas uma da tarde,


mas parece mais tarde.

—Quer parar e almoçar?

Meu estômago bate, totalmente vazio, mas balanço a cabeça.


Acho que não tenho como manter a comida no momento.
SETE
— Interessante. — A Sra. Liu olha a pintura e estou tentando
não me sentir constrangide. Uma tarefa em que estou falhando
miseravelmente. —Gosto do espaço vazio aqui e da escolha de
cores, principalmente do azul escuro. O que fez você escolher isso?

Acabei de escolher azul porque gosto de azul. O céu não


deveria estar azulado, afinal? —Parecia certo—, eu digo em vez
disso. Não acho que minha outra resposta me traga muitos pontos.
A Sra. Liu é uma professora interessante, para dizer o mínimo. Nas
últimas duas semanas, ela esteve circulando sobre mim como um
falcão enquanto eu trabalho, mesmo que fosse apenas um esboço.
Até agora, ela me pegou ao volante fazendo está panela de barro
horrível. E antes disso, ela me deu uma sacola cheia de cabides de
arame e me disse para fazer algo com eles.

Ontem, ela me deu um cavalete e uma tela e me disse para


pintar a primeira coisa que me veio à mente. Mariam estava
mandando mensagens sobre cardeais durante o almoço, e como
eles são o pássaro favorito dela. Então essa foi a primeira coisa que
soltei.

E pintei um cardeal, como me disseram.

—É um bom contraste, especialmente com o vermelho—, ela


tenta brincar. Pelo menos eu acho que deveria ser uma piada. —
Você gosta de pintar, Ben? Você é bom nisso.

—Sim.— Na verdade, eu gosto mais do que desenhar. Acho


que talvez pareça mais fresco, já que não posso fazer o tanto que
quero. Eu não conseguia puxar exatamente os conjuntos de tinta
em casa e, em Wayne, as aulas de arte não eram muito para se
escrever.

Não que eles fossem piores, e eu aprendi muito. As coisas


eram definitivamente mais rigorosas lá.

É quando a campainha decide tocar. Eu luto para pegar


minha tinta e pincéis na pia. —Oh, não se apresse, garoto. — A Sra.
Liu dá um tapinha no meu ombro.

—Desculpe, não estava prestando atenção—, eu digo, minhas


mãos já manchadas com a laranja aguada.
—Tudo bem. Queria te perguntar uma coisa.

—O que?

—Notei que você está saindo para o pátio durante o almoço.

Jesus, estou pronto para que todos parem de ficar obcecados


por onde eu vou para o meu almoço. —Ah, sim, não sou fã de
lanchonetes.

—Bem, se você quiser vir aqui e trabalhar... — A senhora Liu


puxa uma pequena chave dos bolsos da bata.

—Você está falando sério?

—É claro. Tenho um bom pressentimento sobre você, Ben.


Ela bate a chave no balcão. —Mas apenas um aviso, eu não dou
muitas chances.

—Eu vou tomar cuidado. Eu juro.

—Você é o melhor. — Ela pisca para mim e volta para o


escritório. Acesso quase ilimitado à sala de arte? Definitivamente
não é uma coisa ruim.
É uma subida difícil até sexta-feira, mas eu chego lá. Entre a
lição de casa e tentar acompanhar todas as minhas aulas, é bom
ter uma noite só comigo. Hannah e Thomas decidem que querem
sair para jantar; recuso o convite, imaginando que eles
provavelmente querem algum tempo para si mesmos depois de tudo
que eu os fiz passar.

Além disso, desta maneira eu posso desenhar sem


interrupção, e realmente não preciso me preocupar em entrar neles
ou invadir seu espaço. Noites sozinhe em casa eram raras, e
normalmente eu as reservava para mais desenhos ou maratonas
dos vídeos de Mariam.

—Então, o que vamos fazer hoje à noite?— A voz de Mariam


ecoa pelos alto-falantes do meu laptop. Faz muito tempo desde que
tivemos uma noite como está. Só eu e el, conversando enquanto nós
dois trabalhamos. É realmente relaxante.

—Nada especial. No que você está trabalhando?— Meus olhos


passam da TV para o meu computador e para o meu caderno de
desenho. Eu estive desenhando tantas ideias para pinturas nos
últimos dias.
—Discursos. Eu tenho que me preparar para esta
conferência. E eu estou procurando datas para a próxima turnê. —
El me mostram o caderno del. Mesmo apenas uma única página
está abarrotada às margens com sua escrita bagunçada. Nunca me
surpreende que Mariam possa falar na frente de centenas, ou, em
alguns casos, de mil pessoas, sem se importar com o mundo.

—Parece um momento divertido—, eu digo.

—Sim.— El estalam os lábios. — E quanto a você?

—Desenho.— Eu mostro a el o bloco de desenho.

—Bom, quando você vai me dar um novo cabeçalho para o


canal?— Mariam se apoia nas mãos e golpeia os cílios.

—Isso exigiria as ferramentas certas, meu amigo.— Algum


tipo de programa de desenho no laptop, provavelmente um tablet de
desenho também. Demais para mim, especialmente porque essas
coisas custam dinheiro.

Mariam apenas revira os olhos, o mestre dos olhos revira. —


Quer ver minha última corrida?

Eu sorrio. —Sempre.
—Que tal novos lenços?— El se inclinam para trás para
mostrar mais lenços enrolados na cabeça na moldura do webcam. É
difícil dizer a partir daqui, mas o material parece brilhante e o
vermelho brilhante realmente combina bem com o batom.

—Eu adorei.

Mariam e eu tivemos longas conversas sobre ser religioso e


não-binário. Para Mariam, porém, seu hijab 6 representa conforto,
segurança, uma conexão com sua fé. El poderiam passar horas
conversando sobre como isso os fazia sentir. De fato, el fizeram uma
série inteira em seu canal no ano passado, o que ser muçulmano
xiita e não-binário significava para el.

Por um segundo, lembro o que mamãe me disse naquela


noite. Como Deus não quer isso. Mariam é a única razão pela qual
não posso acreditar nisso.

—Comprei mais alguns, mas este é o meu favorito. —Oh! El


alcançam fora da câmera para alguma coisa. —E esse suéter.—
Mariam se levanta rapidamente, afastando a cadeira da mesa e gira
em frente à câmera. É uma daquelas que parece uma capa, mas é
cortada para não cair de você nem nada. Do tipo que eu sempre
6 é o conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica. No Islã, o hijab é o vestuário que
permite a privacidade, a modéstia e a moralidade, ou ainda "o véu que separa o homem de Deus". O
termo "hijab" é, por vezes, utilizado especificamente em referência às roupas femininas tradicionais do
Islã, ou ao próprio véu.
sentia ciúmes quando os via nas lojas, fazendo compras com
mamãe.

—Ai meu Deus.

—Pois é, né?— Mariam gira novamente. —Eu nunca estou


vestindo mais nada. Trinta por cento de desconto também! —El
dançam um pouco. — Não que eu tenha muitas chances de usá-lo
em casa. O valor mais baixo que chega aqui é de sessenta graus, se
tivermos sorte. Mas talvez em turnê.

—Estou com ciúmes.

—Você chegará lá um dia, Benji. Eu prometo. Quando você


está projetando logotipos e pintando obras-primas, ninguém pode
dizer o que vestir.

—Ah, tá.— Tecnicamente, ninguém poderia me dizer o que


vestir agora, mas eu sei exatamente o que aconteceria se eu
ousasse sair em público vestido assim, ou em alguns dos vestidos
de bolinhas que eu já vi on-line, ou talvez em botas de cano alto, eu
sei que nunca caberiam nos meus pés.

Sento no sofá e volto para o meu desenho. Estou pensando


em retratos há um tempo. Sempre houve algo sobre rostos que me
parece tão interessante. Passei os últimos dias salvando fotos de
vários modelos que encontrei on-line, seus rostos suaves e lábios
afiados, sobrancelhas perfeitamente arrancadas e olhos como se
estivessem perfurando você.

Ouvi um carro entrar na garagem. Em vez de os faróis


diminuírem e o motor desligar, ele fica parado em marcha lenta.

—Estranho—, eu sussurro para mim mesma.

—Hã?— Mariam pergunta.

—Nada.— Eu retomo o desenho. —Hannah e Thomas


acabaram de chegar em casa.

—Então, como você está gostando da nova escola?— Mariam


está na frente da câmera agora.

—Está tudo bem.

—Novos amigos ameaçando tomar o meu lugar?

—Nada até agora.— Nathan continuou tentando me levar


para almoçar com ele, mas uma vez que a Sra. Liu me deixou entrar
na sala de arte, qualquer esperança disso foi esmagada. Ele não
parecia muito incomodado com as minhas rejeições. Era quase
como se estivesse se tornando um jogo para ele ou algo assim.

Olho de volta pela janela. O carro ainda está lá, parado na


calçada, com o motor ligado e os faróis brilhando através das
cortinas.

—Tudo bem?— Você parece um pouco espacial esta noite.

—Hannah e Thomas estão apenas sentados do lado de fora


em seu carro.

Mariam começa a rir para si. —Talvez eles estejam se


beijando.

—Ridícule.— Eu rastejo em direção à janela, puxando as


cortinas o mais lentamente possível. A entrada de automóveis não é
tão longa, mas ainda está muito escura para realmente dizer a cor
ou a marca de um carro. Não que eu soubesse de qualquer
maneira. Existem carros, caminhões e SUVs. Essa é praticamente a
extensão do meu conhecimento sobre carros.

Mas meu estômago afunda quando percebo que esse carro


definitivamente não é o grande SUV preto de Hannah e Thomas.
Isso eu posso dizer, mesmo no escuro. Não, este carro se parece
muito com o do papai.

—Não.

—Bem?— A voz de Mariam me assusta. Eu já tinha esquecido


que el estavam aqui.

O pânico enche meu peito quando eu puxo as cortinas e corro


para a porta da frente para verificar as fechaduras. Mamãe e papai
provavelmente podem ver minha sombra correndo de um extremo
da casa para o outro, mas isso realmente não importa agora. Pego
meu telefone e mantenho meu polegar sobre o número de Hannah.

A voz de Mariam continua ecoando pelos corredores. —Bem?


O que tá acontecendo? Olá? Ben.

Eu pairo no topo da escada, certificando-me de que mal


consigo ver o brilho das luzes através das cortinas densas, prontas
para correr para o meu quarto, se eu precisar. Mas depois de um
minuto, os faróis se apagam. Eu corro de volta para a janela,
passando pelas cortinas. Ainda está lá, o motor não está mais
funcionando.

Então há uma batida na porta.


Eles estão vindo! Pura merda. Eles estão vindo para mim.

—Ben? O que aconteceu?

—Eu preciso desligar!— Eu grito sem querer.

—Bem?

—Eu acho que meus pais estão aqui—, eu engasgo. Eu posso


ouvir o estalo na minha voz. Não espero a resposta del, apenas
fecho o laptop e pego tudo. Eu corro de volta para o quarto de
hóspedes, subindo os degraus tão rapidamente que quase caio no
topo. Certifique-se de trancar a porta atrás de mim.

Eles não podem estar aqui. Não é? Eles sabem onde Hannah
mora? Por que eles estariam aqui? Eles não me queriam na casa
deles, então não há razão para eles estarem aqui.

Meu telefone começa a tocar na minha mão. Eu o segurei tão


forte que consegui desligá-lo no modo silencioso. É Mariam, me
mandando uma mensagem e tentando reiniciar a chamada do
FaceTime.

Não importa o quanto eu tente, não consigo acalmar minha


respiração, não consigo tirar os olhos da porta branca do quarto.
Eu tenho que ouvir atentamente, para um carro subindo a
garagem, ou a porta da frente abrindo e fechando, o som dos pés
subindo as escadas.

Então vêm aqueles sons inconfundíveis. A porta se abriu,


depois fechou, uma conversa tranquila que eu não consigo
entender. São Hannah e Thomas. Tem que ser; são as suas vozes.
Eles me deram a única chave reserva que eles tinham. Eles até me
disseram isso eles mesmos. E as portas estão trancadas. Tem que
ser Hannah e Thomas. Mas isso é realmente o que eles parecem?
Essas são as vozes abafadas? Seus passos?

E se não for?

Um par de pés, dois pares, aproximando-se lentamente do


topo da escada. —Ele provavelmente está em seu quarto—, diz
alguém. —Hannah?

Pelo menos, parece Hannah, mas não tenho certeza. —Ben,—


ela diz. — El está provavelmente no quarto.— Tem que ser Hannah;
tem que ser. Mas minha mente se recusa a aceitar, não importa o
quanto eu queira.

—Ben? — Há uma batida na porta e a maçaneta balança um


pouco. —Ben, a porta está trancada.
Abro a boca para falar, dizer alguma coisa, qualquer coisa.
Mas nada sai.

—Você está bem?

—Não—, eu forço, como se estivesse engolindo unhas.

—Você pode abrir a porta?— A alça continua balançando


para frente e para trás.

—Ben?— É Thomas, ou pelo menos parece Thomas. —Eu


preciso que você abra a porta para mim, ok?

Não posso, estou prese. Porque e se forem mamãe e papai do


outro lado da porta? Quase todas as partes do meu cérebro estão
gritando que não pode ser, mas ainda existe essa chance, por
menor que seja.

Ambos sussurram algo que não consigo entender, e então


ouço passos desaparecendo.

—Ben? Thomas vai destrancar a porta, ok?

Tento dizer algo, mas minha boca está impossivelmente seca


e não consigo controlar minha respiração. É quase como se
houvesse um peso de 50 libras no meu peito, e não importa
quantas vezes eu enxugue meu rosto, não consigo parar de chorar.
É pior do que era no consultório do Dra. Taylor. Ou naquela noite
de véspera de Ano Novo. Parece que eu nunca vou saber o fim
disso.

—Temos uma para os quartos. Apenas no caso de


emergências.

Há o som de algo do outro lado da porta, e o clique da


fechadura deslizando e a porta abrindo lentamente. Thomas se
afasta e deixa Hannah entrar lentamente à sua frente.

—Ben?

—Sinto muito.— Coloco meus joelhos no peito, tentando o


meu melhor para esconder meu rosto. Eu não posso nem olhar
para eles.

—Ben, posso me sentar? Ela aponta para a cama.

Eu dou de ombros. —É o seu quarto.


—Este é seu quarto.— A cama mergulha sob o peso dela. Eu
posso dizer que ela quer me alcançar, levantando a mão antes de
afastá-la novamente. —O que aconteceu?—

— Mamãe, e pai... — Minha voz é apenas um murmúrio.

Hannah congela. —O que sobre eles? Eles não vieram aqui,


vieram? — Ouvindo seus nomes, é como se um interruptor se
voltasse dentro dela.

Balanço a cabeça e tentei limpar a garganta.

—Eu não sei se foram eles.— Eu limpo meus olhos. —Havia


um carro. Parou na entrada da garagem e havia alguém na porta. —
Agora parece que eu respirei demais, como se o ar estivesse me
envenenando.

Hannah se vira e fala algo para Thomas, mas não sei dizer o
que é. Ele assente e desaparece no corredor.

—Ben? Hannah se vira para mim. —Você quer algo para


beber?

Nego com a cabeça.


—Quer que eu ligue para a Dra. Taylor? Talvez ela possa
ajudá-lo com isso?

—Não, não a incomode. Por favor.

—Bem, talvez não fossem eles—, ela oferece. —Talvez fosse


apenas alguém que estava perdido e se virando? Isso parece bem
selvagem, eles aparecerem do nada, certo? — Eu acho que ela está
tentando me convencer, mas não está ajudando.

—Sinto muito.

Ela toca minhas costas gentilmente, quase como se estivesse


com medo de que eu quebre se alguém respirar em mim com muita
força. —Eu sei que isso não é fácil.

Eu me afasto da mão dela. Eu não posso lidar com toques


agora, nem mesmo dela. — Desculpe, eu só...

—Não, está tudo bem. Desculpe-me. — Ela junta as mãos. —


Talvez você deva tentar descansar um pouco, ok? Podemos
conversar mais pela manhã.

Concordo com a cabeça lentamente, sentindo a cama mudar


quando Hannah se levanta, virando-se para olhar para mim mais
uma vez antes de ela fechar a porta atrás dela. Eu quero gritar,
quero gritar, mas minha voz não é muito mais que um sussurro. —
Por favor, não me deixe.

É tarde demais. Ela se foi!

Eu a ouço dizer algo para Thomas. Parece que ele ainda está
no telefone. Mas tudo parece tão abafado, e eu nem tenho energia
para escutar. Eu puxo meus joelhos para mais perto, querendo
fazer muitas coisas. Pegue meu telefone e fale com Mariam, ou até
traga Thomas aqui para falar comigo. Uma voz diferente. Qualquer
coisa para encher a sala.

Hannah e Thomas não me incomodam pelo resto da noite,


mesmo que eu silenciosamente implore. Eu ouço seus passos
rastejando para frente e para trás, movendo-se entre os quartos, eu
acho. Por volta da meia-noite, depois de minhas costas doer por
tanto tempo contra a parede, finalmente tiro minha camisa, a jogo
no chão e me arrasto por baixo dos lençóis.

De manhã, vou para o banheiro, a água quente do chuveiro


me chamando. Eu não quero ir embora; eu quero apenas ficar aqui.
Talvez eu acabasse me afogando; isso é fácil de fazer na banheira,
certo?

É humilhante ver Hannah e Thomas olharem da mesa da


cozinha, ambos com o olhar fixo em mim. Eu já posso ver muito do
que eles estão pensando em seus rostos. É pena, tristeza e medo e
eu odeio tanto.

—Ei, jovem. Como vai?— Thomas pergunta.

—Tudo bem.— Tenho certeza de que todos sabemos que isso


é mentira.

—Por que você não se senta? Acho que a gente precisa


conversar. Hannah dá um tapinha no espaço vazio em cima da
mesa.

—Temos mesmo que fazer isso?

—Sim—, diz Thomas, sem espaço para perguntas em sua voz.

Eu me forço a seguir em frente, não adianta subir de volta e


me esconder no meu quarto o dia todo. Especialmente se eles
tiverem uma chave.
—Acho que a Dra. Taylor precisa saber sobre o que aconteceu
ontem à noite. — Hannah faz uma pausa.

—Você não ligou já, ligou?— pergunto.

Hannah balança a cabeça. —Não queria fazer isso sem você.


Lembrei-me das coisas de confidencialidade e não achei que você
ficaria confortável sem eu perguntar primeiro.

Talvez ela apenas duvidasse que eu alguma vez diria a Dra.


Taylor, ou talvez ela estivesse com tanto medo do que eu poderia
fazer na próxima vez que isso acontecesse. —Você pode ligar—, eu
digo.

—Você quer falar com ela você mesmo?— Thomas pergunta.

— Não. Não sei nem por onde começar

—Ok.— Hannah procura em seus contatos o número da Dra.


Taylor. Eu o ouço tocar por alguns segundos, e então o som
abafado de sua voz. Ela está realmente em seu escritório em um
sábado? —Ei, Dr. Taylor. É Hannah Waller. Irmã do Ben? Eu só ...
Realmente não sei por onde começar.

Há algum barulho, o som de alguém falando.


—Não, sim. Ben está bem. Isso. Eles estão bem aqui. Mas
ontem à noite, houve um incidente. Eu acho que pode ter sido um
ataque de pânico ou algo assim. E nós só queríamos que você
estivesse ciente disso.

Dra. Taylor diz outra coisa.

—Sim. Entendo. Ok.— Hannah coloca a mão no telefone. —


Ela quer saber se você quer se encontrar antes da próxima quinta-
feira?

Eu dou de ombros, uma não resposta. Mas Hannah aceita.

—Se você não se importa—, diz Hannah. —Mhmm. Sim,


obrigado. Vou trazê-lo segunda-feira logo depois da escola.
Obrigada. Tenha um bom fim de semana.— Hannah termina a
ligação. —Desculpa. —Ela me dá um olhar culpado.

—É o que for—, eu digo a ela. Talvez eu esteja realmente um


pouco feliz por ela ter liderado este. Não sei, acho que se eu tivesse
contado o que queria fazer, poderia ter dito não.

—Ben—, Thomas interrompe. —Você quer falar sobre alguma


coisa?
—Não, apenas não hoje.— Tento fazer as palavras parecerem
uma afirmação firme, mas duvido que realmente saia dessa
maneira. — Por favor?

Hannah e Thomas olham entre eles. —Tudo bem—, diz


Thomas. —Você precisa que façamos alguma coisa?

Mesmo que haja algo que eles possam fazer, duvido que seja
capaz de dizer a eles. Eu nunca estive tão assustade assim. Foi
como se eu desligasse. Eu não conseguia nem falar; era como se
meu cérebro se recusasse a formar as palavras.

Não havia nada


OITO
Toda noite naquele fim de semana, sonho com meus pais.
Acordo coberte de suor, os lençóis emaranhados em volta das
minhas pernas. Só me lembro do rosto da mamãe, da frigidez
daquela noite. Sábado à noite eu consigo voltar a dormir depois de
um tempo. Domingo é uma história diferente. Não importa o quanto
eu tente, minha mente se recusa a descansar. Então, depois de
uma hora lutando com meus lençóis, sei que não adianta. Eu vou
ser um zumbi amanhã de manhã na escola.

Em alguma combinação da minha insônia e curiosidade,


desço para a sala e pego o laptop, pesquisando as causas da
insônia, mas isso não ajuda. Primeiro, porque não tenho certeza de
que é isso, e às vezes o autodiagnóstico pode ser perigoso. E dois,
os resultados produzem desde problemas de asma até sinusite e
artrite. Nenhum dos quais eu já tive que lidar. Mas há duas causas
que se destacam para mim, bem no meio da página.
Ansiedade e depressão são dois dos principais fatores que
contribuem para a insônia. Os pacientes geralmente experimentam -

Paro, quase procurando ansiedade, mas não quero abrir


aquela lata de minhocas. Fecho a guia e pego meus fones de ouvido,
perdendo tempo ouvindo uma das minhas listas de reprodução e
fazendo testes do BuzzFeed. Eventualmente, vou ao canal de
Mariam e assisto ao vídeo mais recente.

Poucas horas depois, o sol começa a aparecer por trás das


cortinas, banhando a sala com um brilho quente. Outra noite
perdida. Subo as escadas e tomo um banho rápido. Hannah e
Thomas ainda estão dormindo, ou um deles está. Eu posso ouvir
alguém se movendo no quarto deles.

—Bom dia, Ben.— Thomas desce os degraus cerca de uma


hora depois, abotoando as mangas da camisa.

—Bom dia.

Ele abre a geladeira e pega uma garrafa de água. —Você


acordou cedo.
—Eu não conseguia dormir. — Engulo o último pedaço de
cereal e bebo o restante do leite, que é a melhor parte,
honestamente.

—Oh, isso é péssimo. Eu tive aquelas noites. —Thomas se


inclina contra o balcão. —Então?

Uh-oh. Eu já estou me preparando para o pior. —Então?—


Repito...

—Nathan está perguntando sobre você.

Olho Thomas desconfiado. —Perguntou o que sobre mim?

—Ele ...— Thomas ri, menos como ele acha isso engraçado, e
mais como se ele não quisesse dizer a próxima parte de sua frase.
—Ele estava se perguntando o que ele fez para ofender você.

Vou ter um infarto. —Oh.— É tudo o que posso pensar em


dizer.

—Eu disse a ele que não achava que você estava bravo com
ele ou algo assim. Só que você estava passando por algumas coisas.
Abro a boca para fazer uma pergunta, mas Thomas já está
um passo à minha frente. —Eu não disse nada a ele—, ele me
assegura. —Mantenha-o vago e misterioso, exatamente como você
gosta.

Solto um suspiro de alívio e vou até a pia para lavar a tigela.


— Obrigade.

—Ele é um bom garoto, apenas um pouco intrometido.

Eu olho para Thomas. —Um pouco.

Isso o faz rir genuinamente. —Ok, ele é muito curioso, mas


ele tem um grande coração. Ele gosta de fazer as pessoas se
sentirem bem-vindas.

—Sim.— Abro a máquina de lavar louça, empilhando a tigela


para que ela caiba perfeitamente. Ainda não sei o que fazer com
Nathan, honestamente. Ele parece legal o suficiente, e ele tem sido
nada além de gentil comigo desde que cheguei a Raleigh, quase por
uma falha. Como se ele tivesse algo dentro dele, dizendo que ele não
pode me deixar em paz por mais de cinco segundos. —Eu deveria
ser mais gentil com ele, não deveria?
—Talvez—, Thomas começa a dizer. —Você deveria pelo
menos dar uma chance a ele. Não pode ser fácil, quero dizer, sua
vida é... Bem, muita coisa aconteceu nas últimas semanas, Ben.
Você precisa de alguém com quem possa conversar.

—Eu pensei que era por isso que eu estava vendo a Dra.
Taylor.

—Ok, bem, ajuda conversar com alguém da sua idade que


você não está pagando para dissecar tudo o que diz.

—Acho que sim.— Eu suspiro. Só posso confiar em Mariam


para tanto. Entre a diferença de horário e eles viajando tanto para
falar com grupos não binários e estranhos em todo o país, ter um
amigo pode não ser tão ruim.

Thomas dá uma tapinha no meu ombro e me dá um daqueles


sorrisos estranhos. —Você quer ir em frente e sair? Eu posso
começar a minha nota.

—Ok.
Não há realmente nenhum lugar para eu ir tão cedo de
manhã. A Sra. Liu não estará lá por mais uma hora, e é estranho
estar na sala de arte antes dela.

Eu gosto de Thomas e tudo, mas não estou preparado para


passar uma hora extra na sala de aula dele, com nada entre nós,
além de conversas constrangedoras e silêncio ainda mais
constrangedor. Então eu volto para a quadra. Pelo menos agora
posso ficar sozinhe, e o lugar ainda não cheira a fumaça de cigarro
e maconha.

Encontro um lugar para me sentar e pegar meu caderno de


desenho, mas eu realmente prefiro pintar agora. Talvez eu pudesse
fazer o céu, a mistura de azuis claros e roxos quase transparentes.
Com apenas os mínimos toques de laranja e verde do sol. É como
agora que posso pegar um pincel, é tudo o que quero fazer.

Há uma pintura por gotejamento muito legal que fiz na


semana passada, da qual me orgulho muito. A Sra. Liu estava
dando aula de Arte 1 sobre Jackson Pollock 7 , então ela me fez
estudar e mostrar como ele fazia suas pinturas em estilo gotejador.
A Sra. Liu realmente gostou tanto que a colocou na parede das
outras pinturas dos alunos, em frente à do cardeal.

7 Paul Jackson Pollock, conhecido profissionalmente como Jackson Pollock, foi um pintor

norte-americano e referência no movimento do expressionismo abstrato. Ele se tornou conhecido


por seu estilo único de pintura por gotejamento.
Pego meu telefone do bolso e procuro minhas fotos de
referência. O único benefício real de adquirir um telefone novo é que
agora posso entupir todo o meu armazenamento extra com fotos de
referência inúteis que nunca vou usar.

Há uma rosa que eu tenho usado embora, e estou gostando


muito de como o esboço está saindo. Eu acho que tenho os pincéis
perfeitos para tentar pintá-lo também. O tipo que irá capturar a
delicada suavidade nas pétalas.

—Agora, Benjamin, você sabe que telefones não são


permitidos na escola.— Eu pulo, e Nathan se senta ao meu lado. —
Desculpe, não quis assustar você.

—Você não me assustou—, eu minto. —E a escola ainda nem


começou—, eu argumento sem olhar para ele.

—Touché. O que é isso?— Ele aponta para o desenho


semiacabado. Eu acho que é difícil dizer o que deveria ser quando
são apenas linhas vagas esboçadas.

—Uma rosa.
Ah, legal. Ele rola dramaticamente sobre a grama ao lado dos
degraus de concreto, relaxando. —Desenhe-me como uma de suas
meninas francesas

Eu o encaro.

—Titanic?

—Isso é um pouco datado, você não acha?— eu digo.

Mamãe ama esse filme. Lembro de implorar para ficar


acordade e assistir com ela tantas vezes quando estava na TV. Mal
sabia eu que tinha quase três horas de duração, então eu sempre
adormecia antes mesmo de chegarmos à cena do iceberg.

—Tanto faz. — Ele me encolhe os ombros. —Ei, eu posso ver


mais?

Demoro alguns segundos para perceber que ele se refere ao


caderno de desenho. —Ah, hum…

—Só um? Vamos.

Suspiro e começo a folhear as páginas rapidamente para


encontrar algo que realmente está terminado. Existe uma ideia para
uma pintura com a qual estou brincando. É apenas um esboço,
mas terminei essa parte do planejamento. —Apenas um—, eu digo,
entregando a ele.

O sorriso de Nathan se amplia, se isso é possível, quando ele


pega o bloco. Ele lida com o mesmo cuidado que eu esperaria que
ele desse a um bebê.

—Não vai quebrar, você sabe.

—Eu sei—, diz ele, ainda colocando-o no colo com cuidado.


Isso é show de bola.

—Obrigado.— Sinto meu rosto esquentar, então me afasto


dele. Oh Deus, eu não estou corando, estou? —É uma ideia para
uma pintura que tenho.

—Você pinta também?

—Um pouco.— Pego meu telefone. —Só tenho algumas fotos.

—Posso ver um, por favor?— Ele entrega o caderno de volta


para mim, se inclinando para dar uma olhada no meu telefone.
Espero que ele não questione o fundo. Há esse anime de patinação
no gelo que Mariam e eu amamos, e acho que agora não é a hora
certa de explicar o quão gay ele realmente pode ficar.

—Espere... Eu folheio o rolo da câmera, tentando encontrar


algo que ele possa gostar. Dê-me um segundo

—Claro, eu vou me virar.— Nathan coloca os joelhos perto do


peito e gira em torno de sua bunda, o que não pode ser confortável
nesses degraus de concreto.

—Você não precisava fazer tudo isso.

—Agora me conte!— Ele não parece muito ofendido. —Eu me


dei um cuecão fazendo isso.

Eu poderia mostrar a ele a pintura por gotejamento, mas isso


não parece muito impressionante. Há uma pequena pintura de uma
caveira que eu fiz, parcialmente um estudo de anatomia. Não é
perfeito. Eu errei em algumas cores e no sombreamento, mas no
geral não é terrível. Bato no ombro de Nathan e ele se inclina para
trás sem se virar, pegando o telefone.

Por favor, não comece a passar pelo meu telefone. Por favor,
não comece a passar pelo meu telefone.
—Agourento. Você não é, secretamente, um lorde das trevas
ou algo assim, certo?— Ele ri.

—Se eu fosse um senhor do mal, gostaria de pensar que teria


coisas melhores para fazer do que ir à escola.— Pego o telefone, mas
Nathan o puxa no último segundo.

—Não terminado— Ele olha de perto, abrindo os dedos para


ampliar.

—Eu errei no sombreamento na parte de trás, e os olhos


estão muito escuros para onde a luz deveria estar vindo.

—Ben, isso é incrível.

—Ah, tá.

—Não, é sério. Você precisa se dar mais crédito, cara. — Ele


devolve meu telefone e eu sinto essa pontada.

—Obrigado.— Deslizo o telefone de volta no meu bolso. —


Então, o que você está fazendo aqui tão cedo?

—Eu poderia perguntar a mesma coisa.— Ele se inclina para


trás, tentando se virar sem pegar outro cuecão.
—Eu perguntei primeiro.

—Faço parte do coral.— Ele sorri.

—Nem pensar.— Eu tento o meu melhor para não rir. —


Sério?

—Ha!— Nathan joga a cabeça para trás. —Quão crédulo você


é?

—Cala a boca. —Eu o empurro.

—De verdade, estou aqui para o conselho estudantil.

—Sério desta vez?

—Cento e dez por cento. Nossa adorável presidente,


Stephanie, tem que trabalhar depois da escola e queria ir em frente
e começar a planejar as coisas do Spring Fling. Ainda não é por
mais algumas semanas, mas há muito que fazer. — Nathan tenta
conter um bocejo, mas falha miseravelmente, enxugando os olhos.

— Spring Fling?— pergunto.


—Você sabe como a maioria das escolas é obcecada pelo
futebol e pelo baile?

Aceno em concordância. Estou familiarizado demais com a


Spirit Week, os comícios de pepino, o jogo de futebol e as danças.

—Bem, aqui na boa e velha North Wake High somos mais


uma multidão de beisebol, mas essa temporada não começa até a
primavera, então temos o Spring Fling. Basta levar tudo o que você
normalmente faria durante o baile, mas amontoado em março, em
vez de novembro. Há até uma dança.

—Qual é o tema?

—Uma noite sob as estrelas!— Ele acentua cada palavra


colocando a mão no ar. —Vai ser tão divertido quanto você imagina.

—Parece que sim.— Eu não estive em nenhuma dança desde


o ensino médio, e essas foram desculpas muito tristes para
encurralar os alunos na academia por uma hora e ouvir versões
“limpas” de músicas populares.

—Meu voto foi no Godzilla Attack, mas isso foi arquivado


rapidamente.
—Eles recusaram isso?— Eu paro. —Não acredito.

—Meu Deus, alguém tomou suas pílulas inteligentes hoje de


manhã.— Nathan esbarra em mim com o ombro. —Então derrame.
O que você está fazendo aqui?

—Thomas queria chegar cedo para avaliar alguns papéis.


Achei que eu ficaria em paz enquanto estivesse aqui.

—Oh.— Nathan olha em volta. —Eu posso sair se você quiser,


então.— Ele faz como se fosse se levantar.

—Não—, eu digo, antes mesmo de saber que abri minha boca.


—Quero dizer, você não precisa.

—Tem certeza?

—Sim.

—Você sabe—, ele começa a dizer, relaxando de volta ao seu


lugar. —Eu meio que pensei que você poderia estar com raiva de
mim por alguma coisa, se fiz algo para deixá-lo desconfortável, sinto
muito.
Não tem a ver com você. Suspiro, desejando que fosse tão
simples quanto dizer a verdade. —Eu, hum... acabei de passar por
algumas coisas pessoais.

—Oh.— Ele abre as pernas longas. Realmente, como é


possível alguém ter pernas tão longas? —Gostaria de falar sobre
isso?

—Na verdade não.

—Ok. Sobre o que quer falar...?

—Não sei, você tem alguma coisa em mente?— pergunto.

—Na verdade não. Talvez colidir com a ideia de lidar com


todos esses eventos da escola e com a lição de casa, e cartas da
faculdade chegando, mas isso não é exatamente uma ótima
conversa.

—Certo—, eu concordo plenamente.

—Então vamos sentar aqui em silêncio?— Nathan se empurra


um pouco para frente, inclinando a cabeça para trás. —Eu sou legal
com isso. O mundo está alto demais às vezes.
—Você é a última pessoa que eu esperaria dizer isso.— Dou
uma olhada furiosa para ele, agradecida por seus olhos estarem
fechados. Ele ganharia muito dinheiro como modelo, honestamente.
Ele tem aquelas maçãs do rosto afiadas e sardas no nariz e nas
bochechas.

Impressionante essa é a palavra,

—Por baixo deste exterior suave e bonito está a alma de um


poeta isolado, Ben.— Nathan abre um sorriso. Ele até tem covinhas,
como isso é justo? Não consegue ver?

—Eu nunca teria imaginado.

—Droga. De verdade?— Ele ri. —Eu deveria trabalhar nessa


imagem. O que você acha? Mais pensativo? Ou devo começar a usar
gola alta preta?

—Definitivamente mais gola alta.— Pego meu caderno de


desenho novamente para trabalhar na rosa, nem me incomodando
com a foto de referência dessa vez. —Mas não se esqueça do café
preto e dos óculos modernos com lentes falsas.

—Blegh, café preto? Por que você se puniria assim?


—Ei, você é o escritor boêmio. É para a estética— acrescento.

—Anotado. — Ele solta um suspiro longo e lento. —Se eu


adormecer, você promete me acordar?

—Claro.

—Promessa do mindinho?— Ele estende a mão, com o dedo


mindinho estendido, e por um segundo, eu apenas a encaro antes
que me ocorra que ele está falando sério.

Envolvo meu próprio dedo em torno dele.

—Promessa do mindinho—, eu digo.

—É aqui que você vai durante o almoço, não é?— Nathan


pergunta, seus olhos ainda fechados.

—Às vezes—, eu sussurro depois do que provavelmente é um


silêncio muito longo. —Ou eu vou para a sala de arte.— Não sei
bem por que digo a verdade. Talvez eu deva isso a ele pelo menos?

—Parece solitário.
—Às vezes o mundo está muito alto—, repito de volta para
ele.

Isso o faz rir de novo. —Touché.— Ele respira fundo outra


vez. —Eu acho que não faz sentido pedir que você se junte a mim
para almoçar hoje, hein?

Há esse baque no meu peito. Faça um amigo, Ben. Faça um


amigo. —Eu irei.

Ele abre um olho. —O quê?

—Eu vou—, eu digo novamente. —Pelo menos hoje.

—Você está falando sério?— Ele quase pula de seu lugar.

—Promessa do mindinho—, eu digo.

Ele sorri e não consegue parar de rir quando pega meu dedo.

—Você realmente quer que eu vá tão mal à cafeteria?

—É o tipo de experiência que você só tem no ensino médio,


meu amigo.— Ele pisca. —Além disso, Meleika e Sophie queriam
conhecê-lo há um tempo agora.
—Meleika e Sophie?

—Meus amigos.

—Oh.— Não sei por que imaginei que seria apenas nós dois,
mas talvez com mais pessoas lá as chances de ficar embaraçoso
diminuam? Pelo menos um pouquinho.

Sentamos em silêncio um pouco antes. Nathan começa a


cantarolar uma música que não reconheço, mas isso desaparece
rapidamente. A certa altura, tenho certeza de que ele adormeceu,
porque sua respiração muda e há um ligeiro engate. Quando o
estacionamento começa a se encher de carros, eu o cutuco para
acordá-lo, mas ele não parece grogue, cansado ou nada.

—Quase nessa hora?— ele pergunta.

—Quase—, eu digo, fechando meu caderno e deslizando-o na


minha mochila.

—Você terminou a rosa?

Levanto-me e escovo o cascalho do meu jeans. — Ainda não.


Nathan pega sua própria bolsa, checando algo em seu
telefone. —Posso ver quando você terminar?

—Sim—, eu digo sem hesitar.

—Ei, você tem algum papel?— Ele faz uma pausa. —Você não
usa para desenhar? Eu odiaria roubar os recursos do artista.

Pego minha bolsa e vasculho o bolso da frente, procurando o


maço de notas adesivas que guardo lá por precaução. Em caso de
que? Eu realmente não sei.

—E um utensílio de escrita?

—Tão carente—, eu provoco, pegando uma caneta.

Ele escreve algo e dobra a nota pegajosa em volta da caneta,


devolvendo-a para mim antes de decolar pelo estacionamento e
gritar de volta: —Vejo você em Chem8.

Desdobro a nota e olho para o número de dez dígitos que ele


escreveu, junto com a mensagem rabiscada embaixo.

Envie-me um texto;)

8 Abreviação de Chemical= Química


—Posso ajudar?— Nathan se inclina sobre o balcão de
Química para me ver lavar os copos. Hoje estamos brincando com
algumas reações químicas. Segundo Thomas, nosso próximo grande
teste será em um laboratório.

No meio do período, eu praticamente assumi. Nathan quase


derramou muita solução em um dos copos, o que não teria sido
bom, considerando que eu não acho que nenhum de nós ficaria
muito atraente sem nossas sobrancelhas.

Eu nem me importo, realmente. Eu gosto de química mesmo


com os números e as fórmulas, é mais interessante que a
matemática. Exceto que minhas luvas são grandes demais para
minhas mãos, então eu tenho que continuar puxando-as para cima,
e então a água entra nas pontas dos dedos e tudo faz com que elas
se sintam totalmente inúteis, mas Thomas disse que não é seguro
lavá-las sem elas, então acho que vou ter que sofrer.

—Eu acho que entendi.

—Tem certeza?

—Sim,obrigado.
—Você ainda está almoçando?

Olho pela janela da sala de aula. Mesmo se eu não estivesse,


realmente não havia para onde ir. Aparentemente, a Sra. Liu está
doente hoje, e eu realmente não quero gastar mais tempo do que
preciso em torno de seu substituto. E o que quer que a luz do sol
estivesse pairando nesta manhã agora está escondida atrás de
grossas camadas de nuvens negras e chuva. A quadra também não
era uma opção.

—Realmente não tenho escolha, tenho?— Eu provoco,


lavando o último copo.

—A menos que você planeje fazer um barquinho de papel com


seus esboços, o que não é algo que eu recomendo que você faça,
pois seria um enorme desperdício de talento. Então sim, você não
tem escolha.

—Eu poderia ir para a sala de arte.

—Lá vai você, abrindo buracos no meu plano. Além disso,


soube que a Sra. Liu está fora hoje ou algo assim.

—Então você orquestrou essa tempestade e deixou a Sra. Liu


doente, só para que eu tivesse que almoçar com você?
—Nãooo! —Ele arrasta o som do ooO. —Mas se você vir uma
máquina meteorológica de aparência maligna no quintal de alguém,
eu definitivamente não moro lá.

—Não se preocupe, eu não vou ligar para o FBI ou qualquer


coisa. E eu já te disse que sim.

—Apenas certificando-se de que você não estava tendo


dúvidas.

—Engraçado, acho que tudo o que tenho hoje em dia são


segundas intenções.

Nathan me dá uma espécie de olhar, mas então ele apenas ri


de mim.

—Espero que vocês dois estejam realmente animados com a


limpeza da sua estação—, diz Thomas de sua mesa.

—Desculpe, Sr. W!— Nathan pega um pano molhado e


começa a limpar a mesa, sorrindo como uma brincadeira o tempo
todo.

No momento em que passo pelas portas da cafeteria com


Nathan, quero me virar e correr. Talvez um barquinho de papel não
seja uma ideia tão terrível. Provavelmente, posso fazer algo bastante
seguro com algumas camadas. Mas sair é impossível, graças à
multidão de meus colegas nos empurrando para mais e mais longe.

—Desculpe, é um pouco de selva aqui. Não lute contra a


multidão, é assim que você é pisoteado. — Nathan me pega pelo
ombro e me leva a esse conjunto de mesas que fica em uma parte
elevada da cafeteria. Dirigimos à direita em direção ao outro lado, e
paramos no canto onde duas meninas estão sentadas juntas.

—Senhoras.— Nathan agarra meus ombros. —Este é o


misterioso Benjamin De Backer de quem você já ouviu falar tanto.

Ambas as garotas parecem ter a minha idade. Uma delas tem


a pele marrom escura, mais escura que a de Nathan, e o cabelo dela
é feito nessa mistura de tranças pretas e azuis. Atualmente, ela está
desembrulhando o almoço dessa lancheira de bolinhas que eu
tenho que admitir que estou apaixonade.

A outra garota é coreana americana, óculos de armação


grossa, bem na ponta do nariz, vestindo uma jaqueta jeans
decorada com pelo menos uma dúzia de botões diferentes e
alfinetes de esmalte. As duas olham para cima quando Nathan
começa a falar.
—Ben, esta é Meleika Lewis.— Ele aponta para a garota com
as tranças e Meleika acena para mim.

—Você pode me chamar de Mel.— Meleika sorri.

Então ele aponta para a outra garota com todos os botões. —


E essa é Sophie Yeun.— Nathan bate palmas. —Eu vou entrar na
fila. Você quer alguma coisa, Ben?

É então que percebo que não tenho dinheiro comigo e duvido


que tenha sido adicionado magicamente à conta do aluno que ainda
não toquei. —Não, obrigado, eu estou bem.— Estou acostumado a
não comer até chegar na casa de Hannah.

—Ok, meninas, não o desmonte.— Nathan me dá um tapinha


nas costas e me deixa com duas garotas que conheço há vinte
segundos. Sento no assento vazio na minha frente, em frente à
Meleika, principalmente para que eu não esteja ali de pé como um
idiota total.

—Prazer em conhecer você.— Meleika abre um saco de


batatas fritas e as oferecem para mim. —Quer uma?

—Estou bem, obrigado.


—Nathan nos contou muito sobre você—, diz ela.

—Ele tem?

Sophie responde primeiro. —Ele disse que você almoçou na


quadra, com os esgotamentos.

—Eu sei.— Então eu penso sobre o que isso implica. —Eu


não fumo embora. É apenas mais silencioso lá fora.

—Tenho certeza que você pelo menos conseguiu um contato


alto, cara. A quadra é grande, mas não aquele grande.— Sophie ri,
principalmente para si mesma, enquanto eu me mexo
desconfortavelmente no meu lugar.

—Então, Benjamin, por que você não aproveitou as


excelentes opções de refeições da nossa cafeteria?— Meleika olha
para a mesa vizinha, onde há outros estudantes sentados com
bandejas cheias de algo que parece relativamente perto de pizza.
Quero dizer, é quadrado, e provavelmente é uma fatia de calabresa?

Eu dou de ombros. —Nunca senti o desejo.

—Bem, pelo menos agora você pode sair com as duas


melhores pessoas nesta escola—, diz Sophie, radiante.
—Eu não as vejo por aí.— Eu rio para que elas saibam que é
uma piada, e as duas começam a rir, então estou tomando isso
como um bom sinal. Na verdade, estou um pouco orgulhose disso.

—Ele tem piadas—, acrescenta Meleika.

Sophie bate as unhas na mesa. Elas são pintados com uma


turquesa realmente elegante.— Eu gosto de você Benjamin

—Obrigado.— Sinto como se estivesse sorrindo muito. —Essa


é a primeira vez.— Eu tento rir.

—O interrogatório terminou?— Nathan senta sua bandeja na


mesa com a mesma pizza de aparência suspeita que a outra mesa.

—Nem perto, mas ele passou no primeiro teste.— Meleika


morde seu sanduíche.

—Haverá um teste no final disso?— pergunto.

—Ele é engraçado, diferente de alguém.— Sophie olha para


Nathan.
—Minhas piadas são sempre fantásticas, muito obrigado.—
Não sei dizer se Nathan está fingindo estar ofendido ou se ele
realmente está.

—Ah, é?— Meleika pergunta. —Vá em frente, conte a Ben


sobre o espantalho.

—Tudo bem.— Nathan se vira para mim. —Por que o


espantalho recebeu um prêmio?

—hm.— Na verdade, tento pensar em possíveis respostas,


mas não tenho nada. —Por quê?

—Porque ele foi excelente em seu campo!— Ele joga as mãos


para fora, um grande sorriso bobo no rosto.

Nós três apenas olhamos fixamente para ele.

—Entendeu?— ele pergunta. —Porque você os coloca em


campos?

—Oh, entendi. É ainda mais engraçado quando você tem que


explicar — eu digo, antes de me virar para Sophie. — Você está
certa.
—Vê?

—Tanto faz— Nathan revira os olhos e morde a pizza. —Vocês


simplesmente não apreciam o bom humor quando ouvem.

—Claro.— Sophie diz baixinho. —Então, Ben, você gosta


daqui?

—Está tudo bem—, eu digo.

Meleika bufa. —Você escolheu um ótimo momento para


transferir—, ela acrescenta sarcasticamente.

—Vocês estão se arrumando para a Spirit Week?— Sophie


pergunta.

Meleika pega seu telefone. —Sim. Preciso de crédito extra em


Biologia.

—Crédito extra?— pergunto. Eu vi a lista de dias temáticos,


mas nada sobre crédito extra.

—Os professores lhe darão crédito se você se vestir para os


dias temáticos—, diz Nathan. —Às vezes, são apenas dez pontos em
alguma coisa, mas alguns professores fazem o teste mais baixo ou
oferecem cem grátis se você se vestir todos os cinco dias.

Meleika ri. —Provavelmente é a única maneira de passar em


Bio.

—Disse para você conseguir um tutor.— Sophie suspira,


como se fosse a milésima vez que ela disse essas palavras exatas.

—E eu te disse que não tenho tempo. Entre o planejamento


dessa dança, o estudo e o trabalho, não tenho nada além de finais
de semana, e ninguém nunca faz fins de semana. — Então Meleika
se inclina contra Sophie, usando o ombro como travesseiro. —Se
você me amasse, me ensinaria.

Sophie zomba. —Sim, não sei quase nada sobre biologia.


Suas notas podem cair se eu te ensinar.

—Eles vão cair de qualquer maneira!— Meleika geme.

Nathan empurra sua bandeja para longe, sua comida fica


pela metade. —Vou precisar de um para álgebra, mas ninguém
colocou nenhuma listagem ainda.

—As pessoas estão ocupadas, cara—, diz Sophie.


—Você precisa de um tutor?— Eu pergunto, e não sei por
que. Oh Deus, eu realmente não estou fazendo isso, estou?

—Sim, está chutando minha bunda.— Nathan esfrega a testa


como se apenas falar de matemática lhe desse dor de cabeça.

Sim, aparentemente estou fazendo isso, porque não importa o


quanto tente, não consigo parar minha boca de se mover. —Oh,
quero dizer, eu poderia ...

—Sério?— Ele levanta uma sobrancelha.

Eu meio que devo a ele por me mostrar a escola e tentar me


fazer sentir bem-vinde. —Não sei como sou em aulas particulares,
mas posso tentar.— Além disso, se ele é bom em inglês, ele pode
estar disposto a me ajudar também.

—Eu não sei se você quer fazer isso—, diz Sophie. —Ele é um
pouco de uma causa perdida.

Nathan se vira para ela. —Morde-me.

—Apenas dizendo—, ela canta.


—Vamos nos encontrar neste fim de semana. Tudo bem?—
diz ele.

— Ah, sim. Claro.— Eu provavelmente aceno com um pouco


de entusiasmo, enquanto tento não pensar muito no que acabei de
me oferecer.

Estou tão nervoso com esta segunda sessão quanto com a


primeira. Desta vez, a Dra. Taylor realmente tem alguma coisa para
discutir. Nós vamos ter que passar a hora inteira falando sobre o
meu ataque de pânico, sem mais apresentações ou documentos
legais. Desta vez é tudo sobre mim.

Talvez seja uma coisa boa.

Eu quero saber o que há de errado comigo.

Mas, ao mesmo tempo, eu não.

—Como está se sentindo?— A Dra. Taylor me pergunta


quando me sento no sofá.
Eu tento me sentir confortável, provavelmente estou me
movendo demais no processo. —Bem, eu acho.

—Fiquei feliz quando você concordou em me ver mais cedo do


que o planejado.

Quero perguntar a ela o porquê, mas isso parece rude.

—Por que você não me conta o que aconteceu no fim de


semana?

Abro a boca, mas as palavras ainda são difíceis de encontrar.

—Está tudo bem, Ben, não tenha pressa.

—Foi um ataque de pânico... Acho que sim.

—Por que você não começa do começo para mim?— Ela pega
a caneta e o bloco de notas.

Eu faço o que ela pede. Hannah e Thomas foram a um


encontro noturno, então eu estava em casa sozinhe, conversando
com Mariam. Vi um carro na entrada da garagem e depois disso os
detalhes ficaram um pouco confusos. Lembro-me de pegar o laptop
e ir para o quarto de hóspedes.
—Você não consegue se lembrar de mais nada?

—Eu lembro ... mais ou menos. É como se estivesse lá, mas


não.

Dr. Taylor acena com a cabeça. Eu me pergunto o que isso


poderia significar. —Você já experimentou algo assim antes, Ben?—

Nunca na minha vida. — Não.

—Seus pais saberiam onde Hannah mora?

—Não sei.— Parece impossível, mas eu os ouvi falar uma ou


duas vezes sobre ela. Nada mais do que sussurrar para garantir que
eu não pudesse ouvi-los. Eu acho que não seria tão difícil,
especialmente se a mãe tivesse Facebook e perseguisse Hannah
como eu.

—Você realmente acha que foram eles, no carro?

Eu dou de ombros. —Parecia o que papai dirige.— Mas acho


que não posso provar que foram eles. —Você não acredita em mim?

Dra. Taylor realmente parece surpresa. —Por que eu não


acreditaria em você, Ben?
—Parece que você não.

—Estou apenas tentando obter todas as informações.— Dra.


Taylor escreve algo rapidamente, e esse sentimento de culpa se
instala no meu estômago. Aconteceu alguma coisa?!

Alguém bateu na porta.

—Você não respondeu, respondeu? Ou vê quem pode estar do


outro lado?

Nego com a cabeça. Eu não pude. Eu senti como se estivesse


prese.

—Você pode me contar um pouco sobre o seu relacionamento


com seus pais, Ben?

—O que quer saber?

—Que tipo de pessoas eles são?

Caramba.

—Hum ... bem ...— Esfrego a parte de trás do meu pescoço.


—Com suas próprias palavras, não como as outras pessoas
as vêem.

—Papai é... difícil.— Especialmente com Hannah. —Mamãe


também não é ótima. Ela nunca fala muito, não que ela tenha a
chance. É estranho falar sobre eles assim. Como se eu estivesse
sendo desrespeitose. Não é como se eles não merecessem, mas eu
ainda não gosto do gosto ruim que deixa na minha boca.

—Você pode elaborar um pouco?

—Como?

—Como você quiser.

Isso parece vago. —Eles são apenas ... eles são meus pais.
Realmente não sei mais o que dizer sobre eles.

—Tudo bem. — O Dr. Taylor suspira. —Quero lhe perguntar


sobre sua saída. Podemos pular isso por enquanto, se você não
estiver confortável, mas é algo que estou muito interessada em
conversar com você.

—Eu ... ok?


—Você está bem com isso?

—Acho que sim.

—O que fez você querer sair com seus pais?

—Eu queria que eles soubessem, não queria esconder uma


parte tão grande de mim.

—Isso pode parecer um pouco duro, mas você pensou que o


que aconteceu seria uma possibilidade?

Sim. Para dizer a verdade.

Antes de sair, quando estava planejando a coisa toda, eu


realmente não conseguia ver tudo feliz e despreocupado, como em
alguns dos vídeos que eu assisti. Eu imaginei que mamãe e papai
poderiam estar um pouco relutantes ou confusos. E achei que
levaria um tempo para eles se acostumarem com os pronomes.

Por um segundo, considerei que eles talvez não gostassem de


quem eu sou. Eles não tinham necessariamente a melhor opinião
dos gays.
—Seus pais, eles exibiram algum comportamento homofóbico
ou transfóbico no passado?

Aceno em concordância.

Não muito, mas houve comentários aqui e ali. Papai


costumava usar a palavra com F9, mas isso havia desaparecido nos
últimos anos. Talvez parte de mim pensasse que eles haviam
mudado.

—Então, por que sair? Por que não esperar alguns anos,
talvez até você estar na faculdade ou fora de casa?— A pergunta
dela não é acusatória. A Dr. Taylor não está me dizendo que seria
mais esperto esperar.

Talvez tivesse sido.

Na verdade, definitivamente teria sido mais esperto esperar.

—Eu queria que eles soubessem. Eu estava cansade de viver


constantemente essa mentira na frente deles. E eu pensei— Eu
paro, sem saber para onde minhas palavras estão indo.

9 Fag=Bicha
—Eu pensei que talvez isso os ajudasse a mudar ou algo
assim.— Eu realmente não sei.

—Entendo.

—Eu deveria ter esperado.— Eu afundo de volta no sofá, sem


perceber o quão quente eu me senti. —Então eu não estaria aqui.

—Talvez—, Dra. Taylor começa a dizer. —Mas você não acha


que merece viver abertamente como você?

Eu não digo nada. —Você acha que o que aconteceu foi um


ataque de pânico?

Dr. Taylor assente. — Sim. Isso é o que me parece.

—Ok. Soltei um longo suspiro. Acredita em mim? Que eram


eles?

—Sim, Ben.—

—Por que eles apareceriam? Depois de tudo isso?

—Bem, eu não quero dar crédito a eles, mas talvez eles


tenham percebido seu erro.
—Parece um pouco tarde para isso—, digo a ela.

Dra. Taylor assente lentamente. —Isso é.


NOVE
Nathan não me pede para almoçar com ele novamente pelo
resto da semana, mas eu faço assim mesmo. Sophie e Meleika são
legais, e meio que agem como se me conhecessem há anos, em vez
de apenas alguns dias. Mas quanto mais chegamos ao fim de
semana, mais me preocupo em dar aulas para Nathan.

Não é a aula particular que me preocupa. Eu acho que é mais


que seremos nós dois novamente. Não deveria me assustar. Já
estivemos sozinhes antes. Ou talvez seja porque eu não sei onde ele
quer fazer isso. Ele não pode ir até a casa de Hannah, e a ideia de ir
até a casa dele, onde provavelmente seus pais estarão, é
assustadora.

Não tenho ideia do que vou fazer, por isso envio uma
mensagem para a única pessoa que pode me dar uma resposta
direta.
Eu: Então, eu preciso de alguns conselhos.

Exceto que Mariam deve estar ocupade, porque estou


esperando a resposta del há algumas horas. Eu vou até a cozinha
pegar um saco de Doritos, menos porque na verdade estou com
fome e mais porque só quero fazer alguma coisa.

Estou prestes a desistir antes que o laptop faça o ding!

Mariam: E aí, botão de ouro?

Eu: é um menino.

Mariam: ohhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Eu: não, assim não!

Mariam: Ok, fale do inicio.

Eu: Foi ele quem me mostrou a escola.

Mariam: Nathan? Aquele cara que você estava me contando?

Eu: Sim
Eu me sinto mal por desabafar sobre Nathan pelas costas,
especialmente porque ele não foi nada além de bom para mim. Mas
Mariam está sempre disposte a ouvir meus discursos, não importa
o assunto. Certa vez, passamos o dia inteiro discutindo a
necessidade de robôs de gênero em Star Wars.

Mariam: Ele soa muito bem tbh10

Eu: Às vezes a uma falha

Mariam: Então, qual é o problema???

Eu: Eu me ofereci para ensiná-lo.

Mariam: E????

Eu: Eu realmente não sei...

Eu: Ele não pode vir aqui, ele nem sabe que eu moro com
Hannah.

Mariam: E você não quer ir até a casa dele?

Eu: Isso me deixa nervose.

10 "para ser honesto"


Mariam: Compreensível.

Mariam: Bem, e se você saiu? Almoçou, tomou café ou algo


assim? Vá para um local público.

Eu: Não sei, é a primeira vez que faço algo assim...

Mariam: Seus pais não deixaram você sair com os amigos?

Eu: Eles iriam... mas ninguém realmente queria sair ao meu


redor.

Eu sempre fui visto como aquele garoto “estranho”. Aquele


que estava quieto demais e nunca quis sair com crianças no
parquinho. Essa reputação meio que me seguiu até o ensino médio
e até eu deixar a Wayne High.

Mariam: isso é péssimo, eu sei muito bem a sensação

Eu: Por que estou pirando tanto?

Mariam: Você passou por muita coisa, Benji, quero dizer, o


último mês foi difícil para você, não há problema em ficar
assustade ou preocupade.
Eu: Mas ele é apenas um garoto. E eu não sei...

Eu: Ele parece bom demais para odiar o que eu sou

Mariam: Confie em mim, hum, os meninos são assustadores. Eu


morava com dois deles e namorava três. E você viu o Twitter,
certo? Uma fossa.

Ok, isso me faz rir. É por isso que eu sempre vou para
Mariam. El geralmente podem me fazer sentir melhor, não importa
o quão estressade eu esteja com alguma coisa.

Mariam: Mas esse cara do Nathan parece ser um cara legal. E


nenhum daqueles mocinhos autoproclamados ou o que quer
que tire seu chapéu com uma senhora.

Eu: Talvez…

Mariam: Você realmente quer sair com ele?

Eu: Sim. Ele é legal.

Mariam: Eu acho que você deve isso a si mesmo. Fazer amigos é


difícil, mas ter alguém da sua idade pode ajudar. Mesmo que
ele não saiba exatamente o que você está passando, vocês dois
conhecem esse sentimento. Eu nunca conheci um único
adolescente que tenha tudo junto.

Mariam: E, por mais que eu goste do meu título e de ser melhor


amige, só há muito o que fazer quando somos um país
separado um do outro.

Eu: Como você ficou tão inteligente, Mariam?

Mariam: Não me formei em Berkeley11 com um 4.0 por nada.

Eu: Obrigade.

Rolo e pego meu telefone na mesa de cabeceira. Nathan


roubou no almoço ontem, então agora há uma selfie em close de
nós dois definida como pano de fundo. Na verdade, tenho certeza de
que o rolo da minha câmera agora é de até 60% das fotos de
referência, 40% das selfies de Nathan.

Ainda não confirmamos nada sobre as aulas particulares, e


nem tenho certeza de que ele se lembre do que concordamos. Oh
Deus, e se ele não se lembrar, e eu apenas lhe enviar uma
mensagem do nada e ele não tem ideia do que estou falando?

11 A Universidade Pública da Califórnia em Berkeley é uma universidade pública e uma das

mais importantes e prestigiadas universidades do mundo. A universidade está situada em Berkeley,


Califórnia, nos Estados Unidos. UC Berkeley é a mais seletiva - e melhor ranqueada pelo U.S
Ou se ele não quiser que eu o ensine mais? Não tenho certeza
do que pode ser pior.

Eu: Ainda está pronto para amanhã?

Apertei enviar antes de excluir a mensagem e volto a assistir


a este tutorial do YouTube sobre pinceladas e como controlá-las
melhor. O laptop e meu telefone disparam em segundos, o pequeno
ding! Avisando-me que Nathan enviou uma mensagem de volta.

Nathan: Ben?

Eu sou um tonto. Esta é a primeira vez que enviamos uma


mensagem, para que ele não tenha meu número, o que significa que
ele acabou de receber um texto completamente aleatório de algum
número desconhecido.

Nathan: Bennnnnnnnnn é esse vocêêêêêêêêêêêê?

Eu: Desculpe, esqueci que você não tinha meu número.

Nathan: Está legal. Este é Ben De Backer, certo? Não é uma


coincidência estranha em que de alguma forma chamei a
atenção de dois Bens?
Eu: Isso parece estatisticamente improvável. Mas sim, este é De
Backer, Ben.

Nathan: Então, o que vamos fazer amanhã?

Eu: Explicações, se você ainda estiver interessado?

Nathan: Oh, certo! Precisava disso. Sr. Sever nos deu esse exame
de prática. Você só quer vir para a minha casa?

Li as mensagens de Mariam no meu laptop antes de


responder. Eu realmente não sei como me explicar para ele. Ei,
talvez possamos nos encontrar em algum lugar que não seja uma de
nossas casas? Como se eu já não sou o bastante esquisite.

Eu: Isso parece bom.

Apertei enviar antes de excluí-lo.

Nathan: KK.

Volto a enviar mensagens para Mariam no meu laptop,


verificando o nome e o número apenas para não começar a falar
sobre Nathan para Nathan.
Eu: Desculpe. Enviei uma mensagem para Nathan, ele quer se
encontrar em sua casa ...

Mariam: Você vai fazer isso?

Eu: Eu já disse que sim.

Mariam: Yay!!! Estou tão orgulhosa de você.

Mariam: Veja o que acontece quando você ouve os mais velhos?

Eu: Desculpe, esqueci que você é um avô total.

Mariam: E não se esqueça disso!

Eu não sinto que deveria estar comemorando agora. Meu


telefone vibra novamente e há uma notificação na parte superior da
tela. Outra mensagem de Nathan.

Mariam: Ok, eu tenho que sair. Fim de semana atarefado.

Eu: Kay12, obrigado pela ajuda.

Mariam: Para isso que estou aqui;)


12 Um amigo excelente e atencioso, alguém com quem você pode contar para ajudá-lo

nas horas mais difíceis .


Eu fecho o laptop e o deixo no final da cama.

Nathan: Então, o que você está fazendo?

Meu coração aperta um pouco. Eu pensei que tínhamos


terminado, mas acho que não. Talvez enviar mensagens de texto
seja mais fácil.

Eu: Nada, deitado na cama.

Não acrescento que atualmente estou digerindo mais poeira


do rancho frio do que provavelmente alguém deveria.

Nathan: Então, o que você está vestindo;)

Eu engulo tudo errado, e é quase como se eu estivesse


engolindo facas em vez de um punhado de Doritos.

Nathan: Brincadeiraaaa !!!

Ele envia este último alguns segundos depois. Eu me


pergunto se ele pode dizer que ele quase me deu um ataque
cardíaco.

Eu: Não faça isso. Por favor.


Nathan: Ok, eu prometo. Promessa de mindinho mesmo.

Eu: Desculpe… Promessa de mindinho.

Nathan: A culpa é minha, meus dedos são tão ruins quanto


minha boca lol13

Nathan: Acabei de perceber como isso soava. Mais uma vez, meu
mal.

Eu digito um rápido—lol—, mesmo que não tenha vontade de


rir.

Não é que o que ele esteja dizendo seja nojento ou algo assim.
Eu não odeio a ideia de beijar alguém, ou mesmo fazer sexo com
eles. Mas há apenas coisas no meu corpo... coisas que ainda não
acabei. Difícil de descrever.

Nathan: Ainda lá?

Eu: Sim, desculpe, me distraí.

Nathan: É legal, lol, eu conheço a sensação.

13 LOL=Laugh out loud= Rindo muito alto / Muitas gargalhadas


Eu: Sim. O que você está fazendo?

Nathan: Tentando estudar, pelo menos um pouco antes da


próxima semana.

Eu: Eu provavelmente deveria fazer isso também ...

Eu tenho um teste de cálculo e inglês, além de um ensaio


sobre Chaucer14 e um laboratório para me preparar em Química.
Tudo em uma semana. É como Thomas, Sra. Williams e Sra. Kurtz
se reuniram para ver o que levaria ao mais rápido colapso
emocional de mim. Piada é sobre eles, porque eu já sei que não vai
demorar muito.

Nathan: Pelo menos você realmente tem apenas 3 aulas, eu


mataria por Arte novamente.

Eu: É verdade, eu acho.

A arte não é um passeio no parque, mas é definitivamente


mais fácil em comparação com algumas outras aulas.

Eu: Ei, seus pais estarão lá amanhã?


14 Geoffrey Chaucer (c. 1343 - 25 de outubro, 1400) foi um escritor, filósofo, cortesão e diplomata
inglês. Embora tenha escrito muitas obras, é mais lembrado pela sua obra narrativa inacabada, Os
Contos da Cantuária ("The Canterbury Tales" em inglês), uma das mais importantes da literatura inglesa
medieval.
Provavelmente, a maneira mais estranha de fazer essa
pergunta, mas eu quero estar preparade. Para o que, não tenho
certeza.

Nathan: Não, eles vão ver meu primo em uma feira de ciências,
aparentemente é um tipo de coisa do dia inteiro.

Eu: Oh

Nathan: Por quê? Você quer conhecê-los?

Eu: Ah não.

Droga. Eu poderia muito bem colocar meu pé na boca. Seria


mais fácil que isso.

Eu: Desculpe, eu quis dizer...

Eu: Eu quis dizer que não precisava conhecê-los.

Eu: Não que eu não quisesse conhecê-los.

Eu: Vou calar a boca agora


Nathan: lmao 15estou morrendo

Ele adiciona alguns emojis. Os que estão rindo tanto que


estão chorando.

Eu: desculpe. Vou me enterrar agora

Nathan: Oh, vamos lá, não faça isso.

Nathan: Não me prive dessa sua cara. É a minha única alegria


naquele lugar miserável.

Aperto meu telefone, tentando não pensar no que isso


significa. Mas parte de mim não resiste a pensar o que isso quer
dizer.

Nathan : Ei, qual é o seu endereço, eu vou buscá-lo amanhã.

E agora eu vou estar em um carro, sozinhe com ele. Ótimo.


Digito o endereço e clico em enviar.

Nathan: Ok, você não vai acreditar nessa merda

Nathan: Mas somos vizinhos

15 LMAO= Laughing my ass off=Me borrei de tanto rir


Eu: Sério?

Nathan: Você está no 337 Sycamore? Eu sou 341.

Vou até minha janela, empurrando as cortinas para trás. Eu


realmente não consigo ver a casa dele, mas acho que é o tijolo que
Thomas e eu passamos quando vamos para a escola.

Nathan: Mundo pequeno.

É. Um mundo pequeno.

Eu: Legal. Eu vou desmaiar. Devemos ir amanhã?

Nathan: Sim, você quer que eu vá buscá-lo?

Eu: Tudo bem, não vai demorar nem três minutos

Nathan: Eu não me importo

Eu: Sério? É como duas casas de distância.

Nathan: Tudo bem, mas nunca se diga que não sou um


cavalheiro.
Eu: Anotado. Você liderará a equipe de busca se eu me perder?

Nathan: Você está de brincadeira? Vou pendurar panfletos


daquele rosto bonito por toda a cidade!

Eu quase posso imaginar seu sorriso.

Eu: É bom saber, vou para a cama agora.

Nathan: Dorme bem!

Antes de conectar o telefone, volto a nossa conversa. Ele acha


que eu sou bonito? Eu não gosto de pensar sobre isso. Ele
provavelmente estava apenas brincando ou algo assim. Suspiro e
chego ao chão para pegar meu carregador, rastejando sob os lençóis
e tentando não me sentir nervoso com a maneira como estou
ensinando Nathan Allan amanhã.
DEZ
Eu passo pela casa de Nathan quase todos os dias desde que
cheguei à casa de Hannah. E eu nem sabia disso.

—Lugar agradável—, digo para mim mesmo, subindo


lentamente os degraus da porta da frente, me perguntando se
realmente é tarde demais para tentar voltar para casa e evitar tudo
isso.

Não. Eu consigo fazer isso aqui.

Bato na porta cor de vinho algumas vezes, e há um latido alto


de algum lugar da casa, e então o som de passos. Nathan abre a
porta lentamente, deixando-a aberta apenas o suficiente para eu ver
um de seus olhos e parte de sua boca. —Ei!

—Eu deveria perguntar?


—Ok, só para avisar, meu cachorro, Ryder, está lá dentro. Ele
não morde, mas adora companhia e tentará te abraçar.

— Tudo bem. Eu gosto de cachorros. Que tipo ele é?

—Ryder, volte! — Eu posso ouvir Nathan lutando com Ryder


atrás da porta. —Golden retriever 16 .— Nathan mantém a porta
aberta para mim. —Vamos lá, ele deve ficar bem.

Eu o sigo para dentro de casa, e não há nem um segundo


antes de Ryder ir direto para mim, cheirando meu jeans e pulando
em suas patas traseiras para me derrubar com as patas da frente. A
próxima coisa que sei é que estou de bunda, batendo no chão de
madeira e Ryder lambendo meu rosto.

—Ryder, não!

— Tudo bem.— Eu o esfrego atrás das orelhas. Ryder tem


esses enormes olhos castanhos que tornam impossível ficar bravo
com ele. —Eu gosto de beijos.— Percebo imediatamente o que
acabei de dizer e o sangue corre pelas minhas bochechas. —De
cães, quero dizer.— Eu poderia ser mais estranho?

16
—Ele é totalmente sem vergonha. Você deveria saber melhor
agora, não deveria, garoto?— Nathan pergunta a ele.

Ryder olha para Nathan antes de me dar um bocado de hálito


quente e nojento na minha cara.

—Ei, você quer ir lá fora?— A voz de Nathan muda de séria


para aquela falsa excitação que você usa para cães e bebês.

Ryder levanta as pernas, pulando para cima e para baixo até


a porta dos fundos, esperando impaciente que Nathan finalmente
deslize a porta. No momento em que a porta é larga o suficiente,
Ryder dispara.

—Eu juro, amo esse cachorro, mas ele é um doofball17 total


na maioria das vezes.— Nathan corre de volta para me ajudar a
levantar do chão.

—Esse tem sido o caso de todos os golden retriever que eu


conheço.— Nós voltamos para a porta.

—Não o trocaria por nada.— Nathan assobia, interrompendo


a tarefa muito importante de Ryder de rolar na grama. —Ryder,
bola!— Nathan usa sua voz animada novamente.

17
Ser um idiota , lerdo, e / ou o totó mas de um modo bem-humorado e divertido.
As orelhas de Ryder se animam. Ele espera apenas uma
fração de segundo antes de começar a correr pelo quintal em um
grande círculo, pegando algo sem parar e trazendo para Nathan.

Nathan pega a bola coberta de baba e a joga no canto mais


distante do quintal. Ryder se foi no momento em que Nathan
levantou o braço, pronto para pegar a bola antes mesmo de atingir
o chão.

Sento-me e os vejo repetir isso algumas vezes, Ryder nunca


deixa de pular e pegar a bola com a boca. —Ele é bom nisso—, eu
digo.

—Tivemos muita prática. — Ele joga a bola preguiçosamente


mais uma vez, limpando a baba no jeans. —Você está pronto para
aprender alguns livros?— Ele diz isso com o que só posso descrever
como o pior sotaque do sul que já ouvi.

—Claro.— Eu sigo Nathan de volta para dentro e subo as


escadas, tentando não ficar nervose com o fato de que
provavelmente estou sendo levade para o quarto dele. Tento me
distrair com as fotos que revestem as paredes. O jovem Nathan é
fofo. Quero dizer, o adolescente Nathan também é fofo, mas ele não
tem mais as bochechas escováveis.
E por que estou pensando nisso?

Pensamentos diferentes. Pensamentos diferentes.

Seus pais também parecem muito felizes. É incrivelmente


óbvio que ele conseguiu o sorriso da mãe. Na verdade, ele parece
compartilhar a maioria de seus traços com a mãe, pelo menos de
relance. Eles têm os mesmos olhos, mesmo nariz, mesmo sorriso.

—Você se parece com ela, como sua mãe—, eu digo, parando


em uma foto dos dois no que eu acho que é a Páscoa. A grande
cesta de vime roxa e a camisa polo brilhante que Nathan está
vestindo são uma espécie de brinde.

—Eu ouço muito isso.— Ele sorri.

—Este é seu pai?— Aponto para outra foto de um homem


muito mais velho e Nathan ao volante de um barco.

—Padrasto. Mamãe se casou com ele quando eu tinha uns


doze anos.

—Oh.— Isso explica por que ele não parece estar em


nenhuma foto com o bebê Nathan.
—Sim.— Ele salta nos calcanhares. —Vamos lá, meu quarto
fica aqui em cima.— Ele me leva pelo resto do caminho e pelo
corredor até o quarto dele.

É bagunçado. Não é desastroso, mas há roupas por cima de


tudo, pôsteres de várias bandas e rappers que eu nunca ouvi falar
de pendurar nas paredes. E há uma prateleira no canto cheia de
livros. O que ele não conseguiu colocar em sua estante ali ou em
cima de sua mesa, ele está empilhado na mesa de cabeceira ou na
cômoda. Curiosamente, sua cama está completamente arrumada.
—Desculpe, deveria ter pensado em limpar.— Ele tira os sapatos.

—É legal—, eu digo, me perguntando onde posso me sentar.


A cadeira em sua mesa está cheia de roupas descartadas, e Nathan
simplesmente se senta em sua cama, pegando sua mochila.

—Ok. Então, o que você quer fazer primeiro? — As fontes


chiam debaixo dele.

—Álgebra é provavelmente mais fácil.

—Sim, 'mais fácil'—, diz ele, fazendo as aspas com os dedos.


—Vamos lá, não seja tímido.— Nathan dá um tapinha no espaço
vazio ao lado dele na cama. —É aqui que a mágica acontece.
—Você é mais um cara sem graça, ou faz truques de
cartas?— pergunto.

—Oh, garoto engraçado.— Nathan pega seu livro de álgebra.

—Sim, engraçado.— Eu tento forçar uma risada, mas nem


consigo acreditar. Todo “garoto” ou “ele” tem sido como uma facada
no estômago. E por alguma razão, dói mais quando vem dele. Pior
ainda do que quando mamãe ou papai me chamavam de “filho” ou
“menino”.

—Ok, então, a sra. Sever disse que o teste cobriria esses dois
capítulos.— Nathan me mostra a parte em seu livro.

—Então, quanto você precisa revisar?

—Tudo.

—Oh, Tudo bem! Uau. Bem, vamos em frente e começar.

Nathan não é totalmente desesperador, e não sei por que ele


pensa que é. Há algumas vezes em que ele erra em uma equação ou
se lembra da ordem de alguma coisa, mas ele não é uma causa
perdida. Tento me lembrar de todas as maneiras pelas quais
lembrei das dezenas de fórmulas ao longo dos anos, rimas, músicas
ou acrônimos.

—Como você se lembra de todas essas coisas?— ele pergunta.

—Não sei. — Eu sempre fui bom. —É meio fácil.— Folheio


seu pacote de revisão novamente. —Ele diz que há um teste prático
on-line que você pode fazer e receberá dez pontos extras no teste.

Nathan pega seu laptop e digita no site. —A matemática deve


ser ilegal.

—Não é tão ruim assim.

—Isso é o que você diz.— Quando sua escola é solicitada, ele


escolhe —North Wake High School—, digita sua identificação de
estudante e pressiona o grande botão azul abaixo. —Merda—, ele
sussurra baixinho depois de ler a primeira pergunta.

— Veja. — Pego o caderno dele e viro para uma folha vazia. —


Aqui, apenas resolva isso.— Eu o vejo copiar o problema,
cuidadosamente passando por ele. —Lembre-se de mudar isso—,
acrescento.

—Não. — Ele me mostra seu trabalho.


—Digite, veja se está certo—, eu digo, mesmo sabendo que ele
entendeu.

O site dá a ele um pouco de —Bom trabalho!— antes de


passar para a próxima pergunta. —Jesus, quanto tempo dura esse
teste?

Pego minha bolsa no pé da cama dele. —Você fez uma


pergunta, pare de choramingar.— Abro meu caderno de desenho na
página mais recente. Faz apenas algumas semanas, mas já estou
perto de precisar de um novo. As páginas estão destacadas,
anotações e desenhos saindo das costuras, e só tenho um punhado
de páginas vazias. —Continue.

—Tudo bem, mãe.— Ele geme, puxando o laptop para mais


perto. —O que você está desenhando?

—Não tenho certeza ainda. Vou deixar você ver quando


terminar.— Viro para esconder o caderno de desenho. —Agora, vá
ao trabalho! Esses dez pontos serão úteis.

—Tá, tá. Ele começa a trabalhar novamente. —Ei, e quanto a


isso?— Nathan me entrega seu caderno e eu verifico seu trabalho.
—As respostas não estão somando.
Eu li as equações dele rapidamente. —Feche, você errou a
raiz aqui.— Não está tão longe no problema, então ele não terá que
refazer muito trabalho. —Tente isso de novo e deve dar certo.— Eu
entrego o caderno de volta para ele.

Ele solta um longo suspiro e apaga seu trabalho. —Isso é


tortura.

—Eu sei, mas você está chegando lá—, eu digo, tentando me


concentrar no meu desenho. Exceto que não consigo pensar em
nada para desenhar. Minha mente ficou totalmente em branco, não
posso imaginar nada; inferno, eu não consigo nem pensar por onde
devo começar. Apenas uma linha e depois outra linha. Eu xingo e
inclino minha cabeça para trás.

—Emperrado?— Nathan pergunta sem olhar para mim.

—Tipo isso.

—Às vezes também fico assim. Quando estou escrevendo.

—Ah, é? Alguma dica para sair disso?

—Eu não sou o artista aqui.— Ele sorri. —Talvez desenhe


algo ao seu redor?
— Como?

—Isso, meu Padawan18, depende de você.— Ele aponta para


mim com a ponta do apagador do lápis.

—Eu já te disse o quão útil você é?— pergunto.

— Não.

—Bom, porque você não é.— Não me ocorre o quão malvado


isso possa parecer até que eu já tenha dito, mas Nathan está
apenas rindo.

—Você perguntou—, ele canta meio. Talvez ele esteja certo,


exceto que realmente não há nada nesta sala que eu saiba. Bom,
tem mais uma coisa. Mas desenhar Nathan seria muito assustador?
Ele está sentado quieto o suficiente e há luz suficiente.

Sabe de uma coisa? Dane-se.

É estranho ter um Nathan que não está se mexendo ou


falando com as mãos. Ele está no meio disso, as engrenagens em

18 Um aluno ou aluno Jedi , ou amplamente usado como qualquer um que

esteja aprendendo
sua cabeça girando. Ele está até enfiando a língua um pouco, e eu
odeio admitir que é totalmente adorável.

Na verdade, não acho que exista uma imperfeição. Não os


inchaços no queixo, o pequeno corte na bochecha que acho que é
de barbear, os pequenos círculos sob os olhos. Tudo parece de
propósito. Não acho que Nathan Allan seja capaz de acidentes. Ele
não parece do tipo.

Começo com sua pose, um esqueleto. Fácil, suas costas


contra a parede, os dois joelhos apoiados para que ele possa
equilibrar seu caderno, porque ele é o lugar onde ele pertence, em
seu próprio ambiente. Eu me pergunto como é isso.

O gancho do nariz na boca pode ser a minha parte favorita,


as linhas retas de repente se curvando até a boca. Mas então ele
começa a mastigar a ponta da caneta e eu só tenho que bufar e
revirar os olhos. Mas vou falar disso mais tarde. São os detalhes
menores que serão os mais difíceis de capturar. As sardas no nariz,
o formato da testa, a maneira como os cantos dos olhos se inclina
um pouco.

—Ei.— Sua voz me faz pular. Acho que eu estava no fundo. —


Eu não entendo este.— Ele me entrega seu caderno. Deus, quanto
tempo eu fiquei assim?
—Você só precisa encontrar b.— Eu olho para a pergunta. —
É complicado.— Na verdade, não tenho certeza se ele precisa estar
em um teste de álgebra, parece tão avançado.

—Entendi, Einstein, mas isso realmente não está ajudando.

—Einstein gostava mais de física, embora você não esteja


muito longe.— Eu me aproximo dele. —Aqui, reescreva a equação
com os termos do log de um lado.

—Então você reescreve a substituição, certo?

—Sim. E agora você pode resolvê-lo como faria


normalmente— digo, apontando para a equação recém-formada.

Ok, eu acho que entendi. Ele sorri, mostrando aquelas


covinhas novamente. Eu o observo rapidamente passar pelo resto
do problema até que ele finalmente chega à resposta, mostrando-me
para aprovação.

—Sim. Só isso.

—Oh Deus, cara, eu poderia te beijar.

Meu coração meio que afunda no meu peito. —Sim.


Ele digita a resposta e eu volto para o meu lugar, pegando
meu caderno de esboços antes de me sentar nele.

—Ok, vamos ver.— Nathan estende a mão.

—Hã?

Ele vira o laptop para que eu possa ver a tela. Há um grande


“Parabéns” e um “Clique em Enviar para crédito extra” abaixo dele.
—Eu terminei o teste e você disse que me mostraria o que está
desenhando quando eu terminar.

—Oh, realmente não é nada.— Eu não posso mostrar isso a


ele. Jesus, e se ele achar que eu sou uma perseguider estranhe?

—Eu te chamei duas vezes para me ajudar, e você estava tão


focado naquilo que nem me ouviu. Então, eu realmente duvido que
não seja nada.

Eu não percebi. —Merda, me desculpe.

—É legal. Pelo menos sei que posso resolver equações


logarítmicas sozinho.— Ele fecha o laptop e se senta ao meu lado.
—Agora me mostre.
—Você vai pensar que eu sou estranho.— Abro o desenho.

—Bem, você já está meio que...— Ele para quando vê o que


eu fiz. Era exatamente disso que eu tinha medo. Ele odeia ou fica
assustado com isso. Eu me pergunto se ele apenas gritar comigo ou
fazer algo pior. Eu não acho que posso lidar com Nathan me
odiando.

—Eu sou realmente sin...-— Eu começo, mas ele me para.

—Ben?

—O quê?

Ele pega o bloco de desenho das minhas mãos, olhando


atentamente para o desenho. —Você me desenhou—, diz ele,
alcançando o desenho como se quisesse tocá-lo, mas no último
momento ele se deteve. Eu acho que ele acha que vai estragar tudo
ou algo assim.

— Não é isso.— Minha voz não é muito mais que um


murmúrio. Agora, minha mente está bastante ocupada tentando
não sorrir como um idiota. —Não está nem perto de terminar.— Não
há detalhes em suas roupas ou em suas mãos. Até o fundo está
quase em branco, com linhas simples para preencher os pôsteres e
as fotos em sua parede.

—Você precisa se dar mais crédito do que isso.— Ele começa


a traçar uma mão ao longo do nariz. —Você até pegou minhas
sardas.

— Tudo bem. — Eu dou de ombros.

—Você já pensou em exibir sua arte?

—Onde eu faria isso?

—Eu não sei. Mas as pessoas precisam ver suas coisas. É


incrível. Ele olha de volta para o bloco de desenho, olhando em
silêncio. E sinto meu coração batendo forte no peito.
ONZE
Estou andando pelos corredores vazios da escola. É meio
estranho estar aqui quando as coisas estão quietas. Mas Thomas
tem que ficar depois da escola hoje, algumas reuniões sobre
exames, formatura e férias de primavera. Eu realmente não posso
acreditar que já é março.

Eu iria para a sala de arte, mas é estranho estar lá depois de


horas. Além disso, da última vez que fiz isso, o zelador entrou em
minha sala e não há nada mais estranho do que ficar sentado
enquanto alguém está limpando, enquanto você tenta ao máximo
não atrapalhar.

Eu gostaria que Nathan estivesse aqui para ajudar a passar o


tempo. Enviei uma mensagem para ele, mas ele ainda não
respondeu. Deve estar estudando ou algo assim. O exame de
álgebra dele foi hoje, e eu quero saber como ele se saiu.
Ele se esforçou ao máximo para me ensinar alguns truques
sobre o ensaio que devo entregar até o final da semana, mas não
tenho esperança. Algo sobre levar as palavras do meu cérebro para
o computador. Simplesmente não está funcionando. Isso e Chaucer
é realmente entediante.

Minha mente está a um milhão de quilômetros de distância


agora e não estou prestando atenção para onde estou caminhando;
portanto, quando a porta da sala de aula se abre, eu corro direto
para alguém, o que faz com que caímos de bunda. Eu realmente
não posso culpar ninguém além de mim.

—Ah, eu sinto muito. — Os papéis que eles carregavam voam


por toda parte, e não é até que estejam todos resolvidos que eu
percebo que me deparei com Meleika.

—Ben?— Ela já está de joelhos, lutando para pegar tudo.

—Desculpe, a culpa é minha.— Começo a pegar os folhetos,


ignorando a nova picada que sai do meu cóccix. Alguns deles
chamam minha atenção. Todos são designs diferentes, mas é claro
para que servem.

—Dança de primavera!
—É o meu mal—, diz Meleika. —Com muita pressa.— Ela
embaralha os folhetos para tentar torná-los iguais. —Eu deveria ter
feito isso na semana passada, mas ainda estamos tentando reunir
tudo para a dança.

—Não é formatura em dois meses?— pergunto. —Por que se


preocupar em planejar outro?

—É tradição.— Meleika diz isso com tanto entusiasmo quanto


eu esperava. —O que diabos você está fazendo aqui tão tarde?

—Esperando por Thomas.

Ela levanta uma sobrancelha. —Thomas?

—Sr. Waller. Ele é meu cunhado. E minha carona para


casa— Certifico-me de escolher minhas palavras com cuidado. —O
que você está fazendo?

—Eu tenho que pendurar esses pôsteres no campus.— Nós


dois nos levantamos devagar, mas ela ainda tem o olhar de pânico.
—Escute, eu odeio perguntar, mas você pode me ajudar? Stephanie
vai morder minha bunda se eles não estiverem prontos até amanhã
de manhã.
—Sim, claro. O que eu preciso fazer? Eu acho que qualquer
coisa é melhor do que apenas andar pelo campus.

—Aqui.— Meleika me entrega esse enorme rolo de fita. —Eu


seguro, você cola.— Ela prende um dos panfletos contra a parede à
nossa frente. Eu rasgo rapidamente os quatro pedaços e colo em
cada canto. —Você é rápido, bom.

—Treinado por sete anos para ser um estripador especialista


em fitas. Que bom que as aulas valeram a pena.

Isso a faz rir, e seguimos adiante pelo corredor, certificando-


nos de não pendurar o mesmo estilo de pôster que o último.

—Então, você vai ao baile?— Meleika pergunta, prendendo


outro pôster.

—Não estava planejando isso.

—O quê? Por que não?

—Danças não são realmente minha coisa.— Começo a rasgar


mais pedaços de fita, deixando-os pendurados nas pontas dos meus
dedos.
—Há um jogo também.

—Esportes e as danças não são realmente minhas coisas.

Meleika ri, tirando o cabelo do rosto. No fim de semana, ela se


livrou das tranças e voltou à escola com enormes cachos longos. —
Eu realmente não culpo você, honestamente. Eu não iria a menos
que precisasse.

—Você precisa?

—Todos os membros do conselho estudantil precisam


comparecer a todos os nossos eventos, caso contrário não
receberemos o horário de crédito.

—Que horror.

—Estou sentindo falta dos meus shows para assistir alguns


bolos de carne baterem bolas com um pau grande?— Ela para. —
Suponho que as bundas de beisebol não sejam tão ruins.

Eu mantenho minha boca fechada, mas definitivamente não


discuto com ela.
—Meleika?— Uma voz muito familiar ecoa pelo corredor.
Nathan é claro. —E Ben!— Ele sorri quando me vê. — O que faz
aqui?

—Ele está ocupado.— Meleika prepara outro pôster.

—Thomas teve que ficar após as aulas, para alguma


reunião—, eu digo.

—Oh.— O sorriso de Nathan cai. —Então, por que você está


ajudando Mel?— ele pergunta.

—Porque ele é um ser humano decente que ajuda quando


solicitado, diferente de você.— Meleika pega um pedaço de fita
adesiva dos meus dedos e cola um panfleto na testa de Nathan.

—Eu tive que ajudar a pintar peças!— Nathan protesta,


arrancando o papel do rosto. Aparentemente, ele subestimou a
força da fita, porque a próxima coisa que sabemos é que ele se
dobrou e sussurrou e esfregou aquele ponto na testa. —Tenta dizer
a Stephanie não!— ele diz entre dentes.

—Tanto faz.— Meleika cruza os braços. — O que está fazendo


aqui? Você está pintando, lembra?
—Sr. Madison disse que você tinha a chave reserva da sala de
arte. A senhora Liu deveria nos dar mais tinta, mas acho que está
trancada no quarto dela.

Meleika olha para ele. —Eu não tenho uma chave.

—Você está brincando.

Ela sacode a cabeça. —Não.

—Mas precisamos da tinta, e ninguém mais tem uma


chave.— Nathan esfrega a parte de trás do pescoço. —Stephanie vai
ficar nuclear.

—Está Stephanie parece dar trabalho—, acrescento.

—Estou sinceramente surpreso que ela não tenha exigido que


a chamemos de Sua Alteza ainda—, diz Nathan.

—Basta pegar a chave da Sra. Liu.— Meleika levanta outro


pôster, e eu prendo os cantos.

—Eles estão no auditório e a porta está trancada.— Nathan


passa as mãos pelo rosto.
Os gemidos de Meleika ecoam pelo corredor. —O que
deveríamos fazer? Não vamos ter outro tempo esta semana para
fazer isso.

—Eu tenho uma chave—, eu digo.

Os dois apenas olham para mim como se eu tivesse crescido


uma cabeça extra. —Por que você tem uma chave?— Nathan
pergunta.

—Sra. Liu me deu para que eu pudesse usar a sala de arte


durante o almoço.

—Legal.— Meleika olha para Nathan. —Pegue a chave de Ben


e pegue a tinta.

—Quero dizer, claro.— Pego o anel de chaves na minha


mochila. —Mas eu vou com você.

—Maravilha.

—Oh, você não está me abandonando!— Meleika olha para


mim, com a boca aberta. —Ben?

—Eu voltarei, eu prometo.


—Não confia em mim?— Nathan já pegou meu braço, me
levando pelo corredor.

—Eu não estou arriscando nada.— Duvido que a Sra. Liu


estivesse com raiva de mim, quero dizer, é apenas Nathan. Mas
você nunca sabe e não quero me arriscar a perder esse privilégio.

Corremos para o prédio de arte, checando cada uma das


portas. Com certeza, todos os três estão trancados. Olho através
das pequenas janelas de vidro e quatro latas enormes de tinta estão
bem ali no balcão.

Abro a porta e ando na frente de Nathan, pegando as duas


latas de tinta, entregando as outras duas a Nathan. —Vamos lá, eu
preciso terminar de ajudar Mel.

—Qual desses é seu?— Nathan pergunta. Demoro um minuto


para perceber que ele está falando das pinturas que a Sra. Liu
pendurou na parede.

Quero dizer a ele que não temos tempo, o que me faz sentir
mal, porque ele não sabe nada da minha arte, ele só viu meus
desenhos antes. Nunca minhas pinturas, pelo menos não na vida
real.
— Aquele.— Aponto para a pintura de gotejamento. —E
aquele.— O cardeal está pendurado do outro lado da sala.

—Oh.— Nathan engasga, caminhando direto para a pintura


de gotejamento. —Hmm…

—O quê?— pergunto. Por apenas um breve segundo eu


gostaria de poder ler mentes. Quero dizer, isso me abriria para uma
série de problemas. Mas agora eu realmente quero saber o que
Nathan está pensando.

—Apenas... inesperado.

Inesperado?

Nathan ainda parece impressionado. —E este?— Ele


atravessa a sala em apenas alguns passos, olhando para o cardeal.
Parte de mim quer escondê-lo, porque realmente não acho que se
compare ao estilo de gotejamento.

—Sim. O que vocês acha?— Estou quase com medo de


perguntar. Ele gostou de tudo que fiz antes, mas nunca o vi reagir
dessa maneira.
—Eles são ótimos!— ele diz, mas algo do jeito que ele diz
parece não-Nathan.

—Eles são bons. Realmente não é grande coisa — digo. —Eu


provavelmente deveria ter trabalhado um pouco mais.

—Sim.— Ele zomba. —Certo, apenas não se esqueça de mim


quando suas pinturas estiverem no Louvre ou algo assim.

Eu rio um pouco mais alto do que pretendo. —Porque isso vai


acontecer totalmente.

—Nunca diga nunca, De Backer.— Nathan começa a voltar


em minha direção, seus olhos saltando entre os meus dois quadros.

—Vamos. Mel vai matar nós dois.

—Você vai ao jogo?— Nathan pergunta.

—É engraçado, Mel me perguntou a mesma coisa.

—E?

Eu dou de ombros. —Beisebol e dança? Não é a minha praia.


—Você sabe, o baile é daqui a alguns meses.— Ele acrescenta
isso do nada.

—Ah, é?— É uma coisa difícil de ignorar. O conselho


estudantil já está emboscando as pessoas dentro da lanchonete
para votar no tema.

Não estou dizendo que duas danças em três meses parecem


excessivas, mas…

—Tradição é tradição—, diz Nathan.

—É bom para todo o conselho estudantil?— eu o provoco. —


Planejando danças?

—Ei!— Ele parece zangado, mas seu sorriso o denuncia. —


Planejamos outras coisas. Fizemos uma venda de bolos em outubro
passado.

—Houve uma dança?

—Não—, diz Nathan, parecendo totalmente pouco


convincente. —Tecnicamente.

—Como você dança em uma venda de bolos?


—Stephanie conseguiu encontrar um caminho. Você vai?

—Para?— Eu pergunto, sabendo muito bem o que ele quer


dizer.

—Para a formatura?

—Eu acho que não.

—Sério?— O sorriso dele desaparece. Ele está realmente


desapontado?

—Danças—, eu digo novamente.

—Mesmo baile?

—Até baile—, repito. —Eu não fui no ano passado também.

Atravessamos o campus até o ginásio, onde há um monte de


colegas correndo, tentando o máximo para seguir as ordens da
garota parada no meio com o megafone. —Acho que é Stephanie?—
Eu disse baixinho.

—Nathan! Aqui está você.— Ela corre em nossa direção antes


que Nathan possa responder, olhando as latas. —Essa é a tinta?
—Bem, Steph, não é pudim de chocolate.

—Engraçado—, ela diz, enquanto não ri agressivamente. —


Ok, vocês dois vão em frente e começam a pintar as peças do palco,
precisamos delas primeiro.

—Oh, eu não estou em...— Eu começo a dizer, mas ela me


balança com a mão.

—Não perguntei. Eu o nomeei um membro honorário do


conselho estudantil, nós lhe daremos horas de crédito se você
precisar. Agora, vá ao trabalho!— Stephanie aponta para os grandes
painéis de madeira apoiados no palco. —Agora!— ela grita no
megafone quando não corremos imediatamente para o palco.
Stephanie quase ganha uma lata de tinta esvaziada em seu precioso
chão da academia por isso.

—Desculpe, ela pode ficar um pouco...— Nathan considera


suas palavras cuidadosamente. —'Abrasiva' é a palavra mais bonita
que vem à mente.

—Meleika vai me matar.— Subo a escada curta para o palco.

—Quando ela descobrir que Stephanie o arrastou para isso,


ela o perdoará, não se preocupe.
—Por que vocês começaram agora ?— Pego a chave de fenda
da caixa de ferramentas no palco e abro a lata de tinta, pegando o
pau de madeira.

—Estávamos mais atrasados do que imaginávamos e agora


estamos lutando.— Nathan olha as tábuas à nossa frente. —Pelo
menos não precisaremos dessas peças até sexta-feira.

—Você vai arrumar o resto da semana?— Eu bato o excesso


de tinta na borda da lata e despejo lentamente em uma bandeja.

O tema de hoje era simples: orgulho da escola. Em todo lugar


que eu olhava, havia pessoas vestidas de azul Royal e dourado. O
suéter de Nathan é menos real do que azul, mas com o acabamento
dourado na parte inferior, acho que ninguém o desafiará na
tonalidade específica.

—Sim, e onde está seu azul e ouro, meu amigo?— ele


pergunta.

—Não tenho nada—, eu digo. Eu provavelmente deveria ter


me arrumado. Tenho a sensação de que vou precisar dos pontos em
inglês.
—Você não quer se vestir? Quinta-feira foleiro vai ser
divertido.

—Quinta-feira foleiro?— Eu olho para ele.

—Você se veste com suas roupas mais folgadas!

—É claro!— Eu tento imitar seu entusiasmo.

—Onde está o seu espírito escolar?— Nathan abre a tampa da


própria lata.

—Realmente não tenho nenhum.— Eu rolo minha escova pelo


azul profundo. —Estamos apenas pintando essa coisa toda?—
pergunto.

—Sim, de cima para baixo, então pintamos as estrelas


douradas.

—Diversão— Eu deixei o pincel rolar na madeira. —Então,


como foi o teste?

Ele zomba. —Em qual?

—Você teve dois hoje?


—Sim.

—Oh, abençoe seu coração—, eu digo. —Como foi a álgebra?

Stephanie grita algo em seu megafone novamente.


Felizmente, isso não é direcionado a nós, mas é o suficiente para
fazer nós dois pularmos. Nathan apenas revira os olhos e balança a
cabeça.

Seu sorriso o denúncia. — Aprovado, pelo menos, acho que


sim. —

—Legal—, eu digo.

—O teste foi mais fácil do que eu pensava. Eu verifiquei três


vezes tudo também, e saiu o mesmo quase durante todo o teste!

—Eu te disse que você poderia fazer isso.

—Meninos! Vocês não estão pintando!— A voz de Stephanie


ecoa pelo megafone novamente.

—Sim, sim. — Nathan acena para ela.

—Então pare de flertar e pinte!— ela grita.


Sinto meu rosto esquentar e me viro para frente, focando
exatamente onde meu pincel está indo. Eu já perdi alguns pontos
de qualquer maneira. —Isso é ótimo, sobre o seu teste—, eu digo.

—Eu te devo, De Backer.

—Oh, você não... realmente...— Eu gaguejo.

—Vamos lá, deixe-me tratá-lo. O que você quiser fazer,


sairemos neste fim de semana.

—Eu já tenho planos, desculpe.— Hannah mencionou sair e


fazer algumas compras. Eu realmente não estava pensando em ir
com ela, mas poderia ser divertido.

—Comece a pensar, porque eu te devo. Completamente!


—Tudo bem—, eu digo, e tento voltar para a pintura, mas em
todos os poucos segundos meus olhos se voltam para baixo, e ele
está lá, no canto da minha visão. Não quero sorrir, mas não consigo
evitar. E quando ele me pega, Nathan olha para cima e também
está sorrindo.

—Então, como tem sido sua semana?— é a primeira coisa


que a Dra. Taylor me pergunta quando me sento em seu escritório.
Eu estava cavando em minhas mãos o caminho inteiro por aqui.
Ainda posso contar as oito marcas em forma de crescente nas duas
palmas das mãos. Essas sessões estão ficando mais fáceis, consulta
por consulta, mas ainda me sinto doente quando me lembro de ter
uma visita chegando.

—Ben?

Eu finalmente olho para cima, perdide no padrão em zigue-


zague da blusa em preto e branco do Dra. Taylor. —Sim? Desculpe,
estava tudo bem.

—Alguma coisa em particular acontece?


—Na verdade não.— Houve os dias temáticos e a reunião, que
todos são forçados a ir. —Era a Semana do Espírito na escola.

—Oh, isso é divertido. North Wake faz os dias de vestir?

—Sim, mas eu realmente não fiz nada. Não é o meu tipo de


coisa.

—Compreensível. Minha turma costumava se interessar por


esse tipo de coisa. — Dra. Taylor ri. —Eu nunca entendi o apelo,
mas todo mundo parecia se divertir.

—Hummm.— Eu realmente não sei o que dizer a seguir.

—Como estão as coisas com Hannah e Thomas?

Eu dou de ombros. —Certo. Realmente não posso reclamar.

—Eles estão melhorando sobre os pronomes?

Aceno em concordância. Eu realmente não me lembro da


última vez que tive que corrigir qualquer um deles.

—Eu queria perguntar a você— ela cruza as pernas —como


você se sentiu quando Hannah foi embora?
Eu realmente não quero responder a ela. Quero passar para
uma pergunta diferente, talvez ignorar o que ela acabou de me
perguntar. Eu sei a resposta. Eu sei disso há dez anos, mas agora
isso me faz sentir culpade. Eu realmente tenho o direito de ficar
brave com ela, de ainda ficar com raiva do que ela fez, depois de
tudo?

— Eu...

—Ben?— Dra. Taylor me olha.

—Eu estava realmente brave com ela—, eu digo.

—Por deixar você?

Eu não posso ajudar, mas sinto que isso de alguma forma vai
voltar para Hannah. Como se houvesse um bug nas minhas roupas
ou algo assim, e Hannah pudesse ouvir cada palavra que eu disser
do seu lugar na sala de espera. Apenas a alguns metros de
distância. —Foi o que ela fez, certo?

—Bem...— A cabeça do Dra. Taylor balança. —Foi isso que


você sentiu que aconteceu?
—Talvez você deva perguntar a Hannah sobre tudo isso.—
Não quero que isso pareça grosseiro, mas realmente não quero falar
sobre isso.

—Ben, eu posso prometer a você que não discuto nada que


acontece nesta sala com ela.

—Desculpa.— Cavo minhas unhas nas palmas das mãos


novamente, tentando encaixá-las nos mesmos lugares exatos. —
Eu... Eu entendo por que ela fez isso —, eu digo, a culpa tomando
conta de mim. —E eu entendo que ela realmente não poderia me
levar com ela. Mas ainda dói, sabia?

—É claro. Dra. Taylor anota algo. —Talvez não seja razoável


para um estudante universitário assumir a responsabilidade de
adotar o irmane mais novo, mas isso não invalida o dano causado.
——Como você se sente sobre ela agora?

—Ela está tentando.— Eu olho para minhas mãos. —E não é


isso que importa?

—Isso importa para você?

Aceno em concordância.
—Você pode me contar sobre um bom momento que
compartilhou com seus pais?— Dra. Taylor diz, basicamente do
nada.

—Por quê?— pergunto.

—Bem, muitas de nossas discussões sobre eles se


concentraram no negativo, com razão, é claro. Mas certamente você
teve que ter bons momentos com eles, ao longo dos anos?

—Quero dizer ... sim, mais ou menos.— Esfrego as palmas


das mãos nos joelhos. Claro que tivemos bons momentos. Na
verdade, havia muitos deles. Momentos em que eu poderia esquecer
o quão ruim eles poderiam ser. Onde poderíamos rir de algo na TV,
ou brincar um com o outro, ou passar o dia inteiro, apenas
curtindo a companhia um do outro.

Tempos em que eu realmente pensei que eles poderiam me


amar por mim.

—Conte-me sobre um bom momento que você teve—, diz ela.


—Não precisa ser nada grande nem nada. Apenas uma coisa legal
que você lembra—. Dra. Taylor sorri.
—Bem, na verdade não é apenas uma memória específica—,
digo. —Mas minha mãe trabalha em um hospital e, durante muitos
verões, tenho que ir com ela para trabalhar. Acho que ela não
confiou em mim para ficar sozinhe com Hannah.

—Com medo da influência de Hannah, eu imagino.

Eu dou uma risada. —Provavelmente. Mas mamãe me


deixava ajudar. Ela trabalhava principalmente na papelada, então
me ensinou aonde as coisas vão e como garantir que elas estejam
na ordem certa. Sinto um sorriso surgir em mim. —Ela até me
deixou rasgar coisas. Essa foi a minha parte favorita.

E então tudo meio que para e, por uma fração de segundo,


sinto-me entorpecide.

—Ben? Dra. Taylor olha para mim.

—Não é nada.

Exceto o puxão que sinto no meu coração.

Nas noites de sexta-feira saíamos para jantar, papai


assistindo seus terríveis filmes ocidentais muito alto ou esquecendo
o que ele estava falando no meio da frase e mamãe e eu rindo disso.
Os dias em que mamãe e eu trabalhamos em seu jardim, voltando
para dentro queimados pelo sol. Dias inteiros que passávamos
sozinhos, mamãe comprando alguma coisa e eu a seguindo,
contando piadas. —Desculpe—, eu digo, enxugando os olhos.

—Está tudo bem.— Dra. Taylor empurra a caixa de lenços,


mas eu não aceito. Eu não posso estar chorando, não sobre isso. —
Quer falar sobre isso?— ela pergunta.

— Não.

—É natural sentir falta deles, Ben. Eles são seus pais, afinal.

—Só... depois do que eles fizeram.— Quando pensei que


podia confiar neles. —Achei...— Eu pensei que ser filhe deles seria o
suficiente para eles.

— Eu sei, eu sei. Mas você viveu com eles por dezoito anos,
eles criaram você e parecia que eles amavam você. —Então Dra.
Taylor se inclina para frente. —Você os amava, Ben?

Quero dizer a Dra. Taylor não e quero poder dizê-lo com


confiança. Eu não os amo, não. Não depois do que eles fizeram.
Eles são meus pais. Eu deveria amá-los, não importa o quê, certo?
—Você acha que eles sentem sua falta?

Não faço ideia. —Como eles podem? Quero dizer, eles me


expulsaram.

—Não significa que eles não sentirão sua falta. Se realmente


eram eles do lado de fora da casa de Hannah naquela noite ... — A
Dra. Taylor não termina sua declaração, mas é a primeira vez que
ela cita aquela noite desde que eu contei a ela sobre isso. —Você
está se sentindo bem? Fisicamente?

—Eu realmente não tenho dormido.— Hoje de manhã acordei


por volta das duas e meia e, na noite anterior, eram por volta das
três. Está ficando mais difícil manter meus olhos abertos durante o
dia agora. Eu até pensei em fingir estar doente um dia só para
tentar recuperar o atraso.

—Está chegando perto do final do ano letivo. As coisas podem


ficar bem ocupadas.

—Sim.

—Você já experimentou algum medicamento sem receita?


—Peguei um NyQuil19, mas só funciona por algumas horas.—
Essa era a única coisa que Hannah e Thomas tinham em seu
armário de remédios. Além disso, as coisas têm gosto ruim, e eu
não quero fazer disso uma coisa cotidiana.

—Pouco gosto adquirido?— Ela ri. —É a primeira vez que


você experimenta algo assim?

—Tipo isso. No ano passado, quando eu tive os PSATs20 e os


exames finais logo após o outro. — Esfrego a parte de trás da minha
cabeça. Meu cabelo ficou mais longo, mais longo do que meu pai
jamais deixaria crescer. —Normalmente, assisto à TV ou desenho
até chegar a hora de acordar.

—Gostaria de experimentar a medicação?— ela pergunta.

—Pode fazer isso?

Dra. Taylor assente.

19

Alívio contra gripes e resfriados


20 O PSAT ou NMSQT é uma prova dos EUA aplicada a estudantes do colegial
—Não sei.— Eu não tinha pensado muito sobre isso. Eu não
amo a ideia pessoalmente; simplesmente não parece certo para
mim.

—Bem, se é tão ruim, então talvez devêssemos considerar


isso.

—Você sabe o que está causando isso?— pergunto.

—Tive uma ideia.

—E?— Por que eu ainda pergunto?

Ela exala devagar e quase parece relutante em me dizer. —


Acho que você está lidando com depressão, mas para mim, a
ansiedade parece ser o maior problema.

—Oh.

—E isso está perfeitamente bem. Todo mundo lida com


ansiedade, Ben, é só que ...

Eu termino por ela. —Algumas pessoas não sabem como lidar


com isso?
—Às vezes é demais para lidar. Você ainda está crescendo,
ainda está planejando as coisas, e essa é uma camada extra de
problemas. É comum alguém da sua idade lidar com esse tipo de
coisa. E sua situação certamente não ajudou nisso.

Não sei o que dizer a seguir, então deixo escapar a primeira


coisa que me vem à cabeça. —É assustador, Dra. Taylor.

—Eu sei, Ben. Eu sei.— Ela suspira. —Mas o medicamento


pode ser uma saída que vale a pena explorar, você não acha?

—Você acredita que isso vai ajudar?— pergunto.

—Eu realmente faço. Com os pacientes que lidam com


depressão e ansiedade, a medicação pode ser uma dádiva de Deus.
Poderíamos fazer um teste, ver como funciona para você?

Eu aceno com as palavras dela. —Ok, podemos tentar.


DOZE
Eu amasso o papel, arrancando-o do meu caderno de
desenho e jogando-o na lixeira do outro lado da sala. Falta.

Claro.

—Você precisa trabalhar em seus lances livres.— A Sra. Liu


olha as bolas de papel em volta da lata de lixo.

—Vou pegar isso em um segundo—, eu digo.

—Emperrado?— Ela caminha até a pequena estação de


trabalho que eu construí no canto da sala dos fundos.

—Eu não tenho nada—, eu digo. As ideias estão lá, flutuando,


mas não consigo colocá-las no papel, muito menos em uma porra
de uma tela. E a medicação que a Dra. Taylor me faz tentar está me
deixando sonolento, o que não seria tão ruim à noite, mas nos
últimos dias ela me atingiu bem à tarde.

—O que você tá tentando fazer? — A senhora Liu pergunta.

—Neste ponto, qualquer coisa.

—Honestamente, acho que você poderia desistir agora,


apenas não faça nada. Eu provavelmente ainda passaria por você.
—Ela ri. —Você já tentou pintar algo real?

—É o que estou fazendo.

—Ok, mas tipo, algo que você sabe. Tirado da sua vida, Ben.

—O que quer dizer?

—Quando estou parada, tiro uma foto do meu telefone, uma


que eu mesmo tirei, e apenas começo a desenhar. Geralmente, meu
fluxo criativo está funcionando. Às vezes, a arte precisa de um
folheto de instruções.

—Eu gostaria que ela viesse com um às vezes—, murmuro.


—Ei!— A Sra. Liu grita com um dos calouros da outra sala de
aula. —Coloque isso de volta. Pagãos— Ela sussurra a última parte
em voz baixa. —É só experimentar! Apenas tente. Não é uma foto
que você salvou online, mas algo que você realmente tirou.

Talvez essa não seja uma má ideia. Pego meu telefone e


folheio as centenas de fotos de referência que salvei. Provavelmente
preciso excluir alguns dessas em breve. Não há como eu precisar
delas. Mas e se eu fizer?

Então chego a essa série de selfies de Nathan, depois mais


fotos, depois mais selfies de Nathan, depois fotos. É esse estranho ir
e vir porque, em todas as poucas semanas, o garoto tem vontade de
roubar meu telefone e tirar uma dúzia de selfies. A maioria delas é
de mim e ele, eu tentando pegar meu telefone. Há alguns dele e
Meleika, ou ele e Sophie também, ou alguns de mim tirados em
segredo, com a cabeça mal na moldura enquanto ele tira uma foto
minha.

Mas a maioria é só dele. Aproximo o zoom na imagem e a


encaro. Ele seria um bom modelo.

Ele não precisa saber, certo? Eu já o desenhei uma vez antes.


Esboço o formato de seu rosto, os ângulos de suas bochechas
e queixo, o formato de seus olhos, o modo como sua boca se curva
para cima. Eu meio que tenho que combinar as fotos para obter o
ângulo certo, mas posso fazê-lo funcionar. Eu nem sei por onde
começar com a pintura. Eu quero fazer algo diferente.

Meu olho se dirigi a pintura de gotejamento na parede, a


bagunça controlada dela, todas as cores se misturando. Ainda
quero que Nathan faça parte disso, mas não quero que seja uma
recriação hiper-realista. Eu poderia experimentar esta técnica
monocromática que vi online.

Quando penso em Nathan, penso em calor. De vermelhos e


laranjas. Mas acima de tudo, penso em amarelo. Isso parece uma
cor tão natural. Felicidade, alegria, seu otimismo, aquele sorriso.

Eu faço meu desenho propositadamente áspero, aumentando


a nitidez do rosto de Nathan. Não demoro mais do que alguns
minutos. Este é o contorno, o esqueleto. Os detalhes vêm mais
tarde. Eu preciso de algumas tentativas para encontrar o amarelo
que quero usar na maior parte do rosto, mas eventualmente eu
faço.

E encontro um ritmo, pintando em traços largos, alternando


entre pincéis de tamanhos diferentes para obter detalhes mais
sutis. Há tanta coisa que eu posso enfiar nos quarenta e cinco
minutos que me restam, mas quando a campainha toca, parece que
essa lista só ficou mais longa.

—Porra— Eu olho em volta para a Sra. Liu. Não consigo


parar.

—Encontro sua musa?— Ela caminha para a sala dos


fundos, segurando uma pilha de paletes decoradas com tintas
aquarela.

—Mmh— é tudo o que posso dizer. Estou muito distraíde.

—Uau.— Não sei se ela quer dizer bagunça ou pintura.

—Desculpe, entrei nisso. Eu vou me limpar.

—Não, não, não.— Ela colocou a mão no meu ombro. —


Continue. Eu amo isso.

—De verdade.

—É fantástico! Vou ligar para Thomas, para ‘que ele saiba


que você está trabalhando.
—Você não se importa que eu fique?

—Pssh, eu tenho tarefas para avaliar de qualquer maneira,


então ficarei aqui por um tempo.

—Você não acha que é ... como ...— Eu gaguejo. —Assustador


eu ter pintado ele, não é?

Ela gargalha. —Eu não acho que o ego de Nathan seja tão
frágil. Mas eu definitivamente o deixaria saber. —Ela faz uma
pausa. —Eu quero perguntar, por que ele?

Eu dou de ombros. —Ele roubou meu telefone e tirou um


monte de selfies.— Eu mostro a ela a tela.

—Uma forma estranha de retorno, se eu já vi uma, mas ei.


Você gosta, jovem. — A Sra. Liu me dá um tapinha no ombro. —Eu
queria falar com você sobre algo.

— Sim?

—Bom, todo ano eu faço uma mostra de arte para estudantes


aqui na escola. Fiquei imaginando se você gostaria de participar.

Faço uma pausa e coloco meu pincel no chão. —Por que eu?
Sra. Liu zomba. — Está de brincadeira comigo, certo? Então
ela começa a olhar para as paredes. —Você é um dos meus
melhores alunos.

Olho as minhas pinturas, mas tudo o que realmente vejo é


como elas não se sustentam às que as rodeiam. Não conheço
nenhum dos outros alunos da sra. Liu, além de alguns dos calouros
da outra sala.

Mas sei com certeza que eles são melhores artistas do que eu.
Os retratos e as paisagens, os conceitos abstratos, as esculturas.
Duvido que eu possa realmente tirar essas coisas do jeito que elas
fazem.

—Não será até maio, mas eu gosto de planejar cedo. Pensem


nisso.

Aceno em concordância.

—Obrigado, eu vou deixar você voltar ao trabalho.

E eu faço; eu me perco tanto nisso, a cada golpe dos meus


pincéis. Eu tenho que garantir que os amarelos não se misturem
em alguma bagunça de cor, então eu passo de uma extremidade da
tela para a outra, deixando as coisas secarem um pouco antes de
começar a trabalhar nos detalhes menores.

—Ben?— Eu vejo Thomas pelo canto do olho, andando pelo


pequeno corredor entre os quartos.

—Aqui.— Eu aceno sem olhar para ele.

—Quase pronto?

—Quase.— Olho para o meu telefone. Pura merda. São cinco


e meia. —Desculpe, não percebi que era tão tarde.

—Não, legal. Eu estava apenas preparando o teste da próxima


semana.— Thomas caminha até um ponto atrás de mim, vendo a
pintura em toda a sua glória amarelada. —Oh.

Thomas para rapidamente, e eu observo o rosto dele.

—Esse é o Nathan.— Ele aponta para a tela.

—Sim.— Olho para a coisa quase acabada, olhando para os


pontos que perdi ou para onde acho que usei o tom errado. —Ainda
não terminei, mas posso desistir por hoje.
—Hannah nos quer em casa. Aparentemente, ela está
preparando o jantar hoje à noite.

Pego minhas tintas e pincéis e começo a lavá-los na pia.


Espero conseguir encontrar algo próximo da tonalidade certa
amanhã. Quando olho por cima do ombro, Thomas ainda está
olhando para a pintura.

—Aconteceu alguma coisa?— pergunto.

—Não, apenas olhando—, diz Thomas com um sorriso. —Eu


gosto dos amarelos. Por alguma razão, —ele começa a dizer, mas
depois faz uma pausa. —Eu não sei, isso apenas grita Nathan.

—Essa foi a ideia.— Coloquei meus pincéis no escorredor e


lavei minhas mãos.

—Pronto para ir?— Thomas pega minha bolsa para mim.

—Sim—, eu digo, dando uma última olhada na pintura antes


de desligar as luzes.
—Vocês ouviram sobre a festa que Steph vai dar na sexta-
feira?— Sophie pergunta. Estamos de volta à lanchonete, que era
selvagem o suficiente antes do jogo do Spring Fling, mas com
apenas alguns dias restantes até as férias de primavera, todos os
níveis de “merda” estão no nível mais baixo de todos os tempos. Até
os professores não se importam, o que levou a Sra. Liu a me ligar
para o quarto dela durante outras aulas para “ajudar com um
projeto”.

O que realmente acaba sendo código para me deixar terminar


minha pintura de Nathan. Ainda não sei exatamente como ou
quando vou contar a ele sobre isso. Eu já passei por uma dúzia de
maneiras diferentes na minha cabeça e nenhuma delas parece estar
certa.

—Por que diabos nós queremos ir a uma festa na casa de


Steph?— Meleika apoia a cabeça nas mãos.

Nathan bebe uma bebida esportiva vermelha brilhante. —A


menina foi ferida nas últimas semanas, ela merece uma pausa.

—É tecnicamente para as férias de primavera—, acrescenta


Sophie. —Mas não é como se ela precisasse de uma razão.
—Tudo o que ela recebe é PBR21 e vodka. Nem mesmo o bom
tipo de vodka —, diz Meleika.

Nathan ri. —Este aqui é aparentemente BYOB 22 . Talvez ela


tenha ouvido as reclamações.

—Ótimo, então a única maneira de conseguirmos algo de bom


é se levarmos nós mesmos?— Meleika revira os olhos. —Não,
agradeço.

—Ouvi dizer que Todd está indo—, diz Sophie.

—Oh, não importa, conte comigo.— Meleika ri para si mesma.


—Ele sempre traz algo de bom. Tipo, coisas boas, desperdiçadas em
três goles.

—Todd é um idiota—, diz Nathan.

—Sim, mas um idiota com um pai que não fica de olho em


seu armário de bebidas—, Sophie canta.

Nathan me cutuca. —Você quer ir?

21 abreviação de pabst blue ribbon beer, que é simultaneamente a melhor e a pior cerveja
já fabricada. normalmente é em especial em bares por doze centavos de dólar por
litro. também funciona como um laxante
22 Sigla: Traga sua própria cerveja. Uma parte em que o álcool não é fornecido .
—Onde?

Ele ainda está sorrindo. —Para a festa.

—Eu fui convidado?

—Você é tão fofo, Ben.— Sophie digita algo em seu telefone, e


meu rosto fica quente.

—Vamos lá, você não se vestiu para a Spirit Week.— Meleika


conta. —Você não foi ao jogo ou à dança depois. Você deveria pelo
menos vir a uma festa. Descontraia um pouco, solte-se.

—Você realmente não precisa ser convidado, apenas


aparece—, acrescenta Nathan.

Coloco minhas mãos debaixo da mesa. —Eu nem conheço


nenhuma dessas pessoas.

—Bem, Todd é uma canoa, então se considere com sorte. E


você já teve o prazer de conhecer Stephanie.— Meleika ri um pouco
alto demais. —Vamos lá, vai ser divertido.

—É uma noite—, Sophie continua.


—Venha conosco. Ficamos por meia hora e, se você quiser,
vamos embora?— Nathan faz o possível para me tranquilizar.

—Eu nunca fui a uma festa antes—, eu digo.

—É basicamente uma maneira barata e fácil de ficarmos


bêbados e tirar sarro das pessoas brancas que pensam que têm
ritmo.— Meleika ri.

Nathan revira os olhos antes de acrescentar: —Ela está certa.


É o tipo de vergonha de segunda mão que você só vê ao ver as
pessoas se embebedarem umas contra as outras.

—Lembra quando Megan e Adam começaram a dançar, e ele


vomitou em cima dela?— Sophie começa a rir tanto que mal consigo
entender o que ela está tentando dizer.

— Oh, Deus. — Meleika cobre a boca. —Ben, você tem que


vir, pelo menos para ver que tipo de merda embaraçosa acontece.

—Vamos.— Nathan me cutuca. —Meia hora, é isso.

—Tudo bem—, eu finalmente digo, sabendo que realmente


não há como sair dessa. Vou ter que mentir para Hannah, eu acho.
Duvido que ela queira que eu vá a uma festa onde há um monte de
menores de idade bebendo.

—Excelente.— Meleika esfrega as mãos juntas. —Nós vamos


corromper você ainda.
TREZE
Parte de mim meio que espera que Nathan, Sophie e Meleika
tenham esquecido que eu concordei em ir à festa na sexta-feira, já
que eles passaram a última semana discutindo seus planos de
férias de primavera.

Sophie realmente parece que ela vai se divertir mais. Ela e os


pais vão visitar os avós em Busan, na Coréia do Sul. Meleika está
subindo as montanhas com sua família, e Nathan não está
realmente fazendo nada aparentemente.

Mas eles definitivamente não se esquecem da festa.


Claramente, eu não tenho tanta sorte. Felizmente, é meio dia na
escola, então tenho tempo de sobra para me envolver em uma bola
de ansiedade. E estou em uma perda total quando se trata de
escolher o que vestir.
Quero dizer, a camisa é fácil, mas todos os meus jeans ficam
folgados demais, meus sapatos parecem muito sujos, e nem sei o
que é apropriado para esse tipo de festa. O que Nathan usaria?
Provavelmente calça apertada e uma camisa de botão ou algo
assim.

Claro, não há muito em que ele não esteja bem. Ele é


totalmente um desses tipos de pessoas. Quem poderia usar a coisa
mais feia do mundo e fazer alguma declaração de moda.

Eu realmente preciso falar com Hannah sobre roupas novas.


Por enquanto, terei que me contentar com o de sempre; pelo menos
ainda tenho algumas camisas que não têm tinta seca.

—Você precisa do meu cartão de débito?— Hannah pergunta.


Eu quase estrago minha cobertura antes que eu lembre que disse a
ela que estou saindo com Nathan hoje à noite. Portanto, não é uma
mentira total.

—Não, nós estamos indo para a casa dele.— Eu coço meu


nariz, curvando-me para pegar meus sapatos.

—Ok.— Hannah se inclina contra o batente da porta. —Para


onde vai?
—O quê?— Não tem como ela dizer que estou mentindo.

—Por favor, eu sou sua irmã. Agora, para onde você


realmente está indo?

Eu contei.

Claro que sim! Confie em mim, eu menti o suficiente para


mamãe e papai saberem. Ela se senta ao meu lado na cama. —
Então derrame.

—Há uma festa.

—Álcool? Não minta para mim.

— Sim. Eu olho para o chão.

—Oh, Ben.

—Me desculpe. Não fique brava.

Hannah solta uma risada baixa, o que parece estranho para


ela. —Por favor, não estou brava. Sou sua irmã. Eu fiz coisas muito
piores quando tinha a sua idade.
Eu paro de dizer eu sei.

—Você realmente vai beber alguma coisa?— ela pergunta.

—Não sei.' Eu realmente não tinha planejado isso.

—Nathan é?

—Acho que não, ele deveria nos levar.

Hannah me olha da cabeça aos pés. —Oh, queride. Não vou


deixar você ir a uma festa assim, vamos lá.— Ela pega minha mão e
me leva pelo corredor até o quarto dela. —Eu sei que você é mais
alto do que eu, mas minhas calças devem se encaixar em você
melhor do que essas.— Ela aponta para o meu jeans.

—Você os comprou—, eu argumento.

—Bem, se eu soubesse que você iria a festas, teríamos


comprado mais cedo. Você tem que parecer bem esta noite!—
Hannah me deixa em pé ao pé de sua cama e abre as portas
deslizantes de seu armário. —Eu me lembro da minha primeira
festa.

—Como você sabe que esta é minha primeira?— pergunto.


Então Hannah me dá uma olhada. Levanta a sobrancelha e
sorri de lado. E não posso deixar de me sentir insultado. Não me
interpretem mal, isso é minha primeira festa Mas a falta de
confiança dela parece um tapa na cara.

—A camisa está bem, mas sim, as calças precisam sair.— Ela


se vira e procura em seu armário por alguns segundos. —Não os
uso há anos.— Ela joga um par de jeans preto escuro na cama. —
Ou estes.— Outro par na cama.

Quando ela termina, há cinco pares para eu experimentar. —


Eu não sei sobre isso, Hannah.— Ela enfia a pilha nas minhas
mãos e me empurra em direção ao banheiro.

—Vamos lá, não pode ser pior do que você tem.

Eu diria, mas tenho uma suspeita de que ela está certa.


Prefiro o par preto primeiro, já que esses parecem os mais
agradáveis e os mais “adequados para festas”. Eu tento não pensar
no fato de que eu sou quase do mesmo tamanho da minha irmã ou
que seus jeans velhos aparentemente me caem muito bem, mesmo
que eu os sinta escorregando um pouco dos meus quadris. Eu me
olho no espelho, focando na maneira como eles abraçam minhas
pernas. Eu me viro, tentando ver como as costas se encaixam em
mim.
—Hannah!— Eu chamo por ela.

Ela abre a porta devagar, com os olhos cobertos. —Você não


está nu, certo?

—Claro.

A boca dela se abre. —Puta merda, Ben, você tem uma


bunda. Quando isso aconteceu?

Eu me viro para tentar olhar no espelho, mas não consigo


entender o ângulo direito. Nunca pensei que minha irmã estivesse
me dizendo que eu tenho uma bunda bonita.

—Sério, cara...— Seu rosto fica frio. —Me desculpe. Me


desculpe.

Eu a encaro. Pelo menos ela sabe que está errada, certo? —


Tudo bem.

— Não, não é. Desculpe-me.

Eu dou de ombros. Agora não é o momento de ficar brave


com ela. —Você acha que isso parece bem?
—Sim, com a camisa também, é legal. Apenas verifique se o
telefone se encaixa. Não me lembro de que se esse é o par com os
bolsos falsos ou não.— Ela se inclina e pega a pilha dobrada de
seus outros pares. —Veja as maravilhas que um par de calças
decente pode fazer?

— Obrigade.

—Sem problemas. E, Ben, estou implorando para você não


beber hoje à noite, ok? O medicamento é novo e não quero que você
corra riscos.

—Prometo não beber. — Eu não estava pensando em beber


de qualquer maneira. Eu li sobre a minúscula garrafa de laranja
provavelmente centenas de vezes, pesquisando o que as coisas
diferentes significavam. Segundo a maioria das fontes, não é o fim
do mundo tomar uma cerveja com o tipo de dosagem que tomo, mas
ainda assim, prefiro não arriscar.

Especialmente se isso pudesse me fazer sentir pior do que já


sinto.

—Bom, eu só quero que você esteja seguro.

Assenti. —Com certeza.


—Ok.— Ela me puxa para um abraço, o que parece um
movimento estranho, e é estranho com a pilha de roupas entre nós,
mas eu a abraço da melhor forma possível. —Agora vá se divertir. E
use camisinha — ela brinca.

—Isso é realmente nojenta.

Ela passa a mão pelos meus cabelos. —Tanto faz jovem.

Volto para o meu quarto para ter certeza de que tenho minha
carteira e meu telefone. No momento em que eu saio pela porta da
frente, Nathan já está me esperando na garagem, bem ali em seu
carro brilhante.

—Droga, garoto.— Ele abaixa a janela do lado do motorista.

Eu quero encolher. —Eu pareço bem?

—Sim! Meio quente se não estou mentindo. As meninas


estarão em cima de você hoje à noite. —Ele pisca para mim, e eu
resisto à parte do meu cérebro me dizendo para voltar para dentro e
me fechar no meu quarto pelo resto da noite. —Você está pronto
para ir?
—Sim.— Subo no banco do passageiro e tento não imaginar o
pior.

Nathan dirige o carro por esse caminho muito longo,


atingindo quase todos os buracos ao longo do caminho. —Você sabe
que deveria evitar isso, certo?— Eu pergunto depois que ele bate em
outro. Estamos dirigindo a tanto tempo que acho que estamos
convencidos de que Sophie mandou uma mensagem para Nathan
com o endereço errado.

—Você não viu curvas ou nada, viu?— Nathan pergunta,


ignorando meu comentário.

—Eu não me lembro de um—, eu digo.

Nathan pega o telefone antes que eu veja algumas luzes ao


longe. —Eu vou ligar para Mel.

—Espera. Talvez seja aí?

—Vale a pena experimentar.— Nathan continua dirigindo. O


caminho se curva antes de finalmente se abrir. O quintal já está
cheio de carros, luzes brilhando através das janelas do primeiro
andar da casa.

—Parece o lugar onde um grupo de adolescentes é


assassinado—, digo, olhando através do para-brisa. Nathan bufa
quando ele para no final de uma longa fila de carros. —Meia
hora?— Olho para ele.

Mesmo daqui, vejo as multidões se reunindo na varanda da


frente. As pessoas já parecem bêbadas, e são apenas oito e meia.

—Meia hora.— Nathan olha para o relógio no painel. —Nove


horas, e se você estiver tendo um mau momento, podemos sair.

—Ok.— Aceno em concordância.

E ele sorri de orelha a orelha.

—Nathan!— Meleika grita do outro lado do quintal. Ela corre


em nossa direção, algo vagamente em forma de garrafa escondido
debaixo dos braços. —Vocês conseguiram.

—Sim, minha querida.— Nathan ri.— Também estávamos


preocupados. Pensei que talvez tivéssemos perdido uma curva ou
algo assim.
—Sim, este lugar grita casa de assassinatos—, ela responde.

—Foi o que Ben disse.— Nathan olha para mim por cima do
ombro, ainda sorrindo.

Eu os sigo de perto, subindo os degraus da frente da casa


com o máximo de entusiasmo que consigo reunir, o que não
significa muito. Eu já posso sentir meu estômago revirar com a
batida do baixo, o chão vibrando com tanta força que estou chocado
porque as imagens nas paredes não estão caindo.

Se a varanda do lado de fora estiver lotada, o interior da casa


estará definitivamente cheio de capacidade. Sério, eu não acho que
nenhum bombeiro deixaria isso acontecer, mesmo que você os
pagasse. —Você sabe se Sophie está aqui?— Nathan pergunta, sua
voz mal registrando a música.

Meleika deve que gritar a resposta

—Nathan! Mel!— Algumas ondas gigantescas de um cara


branco, empurrando a multidão enquanto ele faz um caminho mais
curto para nós.

—Deus.— Todd já está perdido.— Meleika se vira para mim.


E então percebo que conheço Todd. Bem, de qualquer maneira,
vagamente. Ele está na minha aula de inglês, mas eu quase sempre
vejo a parte de trás da cabeça dele. —Eu vou encontrar Sophie, boa
sorte.

—Espere, não vá.— Eu tento pegá-la, mas Meleika já se foi.

—Hey, Todd.— Nathan fica na minha frente, provavelmente


para esconder Meleika fugindo.

—Ei, Nate.— Todd olha diretamente para mim. —Quem é


esse aqui?— Ou ele não presta atenção durante a chamada, ou ele
realmente está bêbado.

—Ben—, Nathan responde por mim.

—Ei, espere! Eu conheço esse cara! Estamos na aula da sra.


Williams juntos. —Ele me dá seu punho. Eu acho que vou bater,
mas eu apenas fico lá, sem jeito, porque minhas mãos se recusam a
ceder. E tudo o que digo é —Sim.

—Você está bebendo hoje à noite?— ele pergunta a Nathan,


sem se importar com a minha rejeição.

—Não, dirigindo.
—E quanto a você?— Todd olha para mim. Jesus. Eu nunca
percebi o quão gigante esse cara é.

—Oh, eu não-— Eu começo a dizer, mas é inútil. Todd não


pode me ouvir sobre a música.

—Ei, Megs!— Ele acena para a mesa na sala de jantar e


aponta para mim. Uma garota, aparentemente Megs, me entrega
um copo vermelho cheio de algo que parece xixi. —Temos as coisas
mais fortes na cozinha.— Todd bate nas minhas costas, quase me
fazendo largar a coisa toda.

—Então você está bebendo?— Nathan pergunta.

—Eu acho?— Eu olho para a minha xícara, cheia com o


líquido muito parecido com o xixi. Não devo beber, sei que não devo.
Eu não quero, em primeiro lugar, e todos os avisos sobre a minha
medicação. Mas Todd está me encarando, e esse desejo borbulha
dentro de mim, quase como se eu precisasse impressioná-lo. E
então vejo Nathan e não quero que ele pense que não posso lidar
com essas coisas.

— Nada bom.— Nathan tenta, e falha, esconder sua risada.

—Não!— Eu grito.
Nathan ainda está tentando o seu melhor para não rir. —É
cerveja. Tente novamente, o primeiro gole é sempre terrível.

Eu tomo outro, mas ainda é tão ruim.

—Talvez você não seja um homem de cerveja!— Todd grita e


pega minha xícara, deixando-a em alguma mesa. —Você quer ficar
bêbado?

—Na verdade não.

—Vamos.— Acho que ele ainda não pode me ouvir, ou está


apenas escolhendo não ouvir. De qualquer maneira, seu aperto no
meu ombro é muito apertado. Todd me leva pela casa, percorrendo
a multidão apertada até finalmente encontrarmos o que ele está
procurando.

A cozinha está menos cheia que o resto da festa, talvez


porque a música não seja tão alta. Há um casal se beijando no
canto, embora, com a maneira como estão juntos, parece que eles
estão mais interessados em voyeurismo do que qualquer outra
coisa. Todo mundo está amontoado no balcão da ilha, conversando
de um lado para o outro. Reconheço Stephanie e algumas pessoas
da cafeteria e de Cálculos, mas é isso.
—Todo mundo, este é Ben!— Todd nos anuncia, e todos
torcem por mim, levantando suas xícaras. Ou, em alguns casos,
garrafas. Mas no momento em que terminam de torcer, voltam às
suas conversas, como se eu nem estivesse aqui para começar.

—Seja gentil—, diz Nathan. Há algo de errado com sua


expressão, como se ele estivesse preocupado.

—Ah, festa virgem, hein?— Todd pergunta.

—Acho que sim.— Ele diz. Há algo de errado com sua


expressão, como se ele estivesse preocupado.

Todd me leva até a área do balcão coberta por pelo menos


três dúzias de garrafas diferentes, todas elas abertas. Que tipo de
animais são meus colegas de classe?

—Bem, não posso ter isso, precisamos quebrar você. Qual é o


seu veneno?— ele pergunta.

Quebrar-me? —Estou bem, prometo. Eu não...

Todd não me deixa terminar, no entanto. —Vamos lá, posso


dizer que você é um homem de gosto mais refinado. Aqui, tente
isso. —Todd me entrega um copo pequeno com um líquido rosa que
está a alguns tons de distância de Pepto.

—O que foi?— Eu pergunto, girando-o no copo pequeno.

—Tequila de morango—, diz Todd.

Alguém da multidão do balcão grita: —Todd, acho que pode


ser um pouco forte demais!

—É só experimentar!— Todd bate nas minhas costas


novamente. Ele realmente precisa encontrar outras maneiras de
demonstrar afeto. —Aqui, eu farei um com você.— Todd derrama
seu próprio tiro.

Toda a minha pesquisa me disse que misturar uma cerveja


com uma dose baixa dos meus remédios não seria grande coisa,
mas sei que a tequila é mais forte que a cerveja. Muito mais forte.
Mas todo mundo está olhando para mim agora, esperando que eu
atire. Não preciso fazer isso, por que devo me importar com o que
essas pessoas pensam de mim? Mas há essa vergonha novamente,
esse desejo de impressionar essas pessoas. Eu abro a cena e bosta,
queima, e qualquer sabor doce implícito no “morango”
definitivamente não está lá. Mas isso faz Todd e o resto da multidão
se animarem, então acho que fiz algo certo?
—Quer outro?— Todd pergunta, já segurando mais dois.

—Eu acho que não.— Mas outro já está na minha mão.

Vamos mais um Todd desliza o braço em volta do meu ombro,


e eu nunca acho que me sinto tão desconfortável com alguém da
minha idade tão rapidamente.

—Sério, eu estou bem.— Acho que é o suficiente para Todd


deixar de lado o assunto. Ou talvez ele apenas esqueça.

—Eu gosto deste, Nathan. Ele é gente boa. —Todd se


aproxima, e eu juro que posso ficar bêbado sozinho. Jesus, o cara
precisa de uma hortelã, como ontem.

— Obrigado— Eu meio que digo, meio pergunto.

Nathan pula em um ponto claro do balcão. —Você está bem?

—Eu acho.

Minha cabeça já está confusa, e há um calor estranho no


meu estômago. Logo após um tiro? As pessoas realmente pagam
para se sentir assim?
—Então, Benny, você está se divertindo?— O aperto de Todd
em volta do meu pescoço aperta, suas palavras tremendo. Ele não
espera minha resposta antes de gritar com todo mundo. —Esta aqui
é a primeira festa de Benny, pessoal!

Existem alguns aplausos falsos, na verdade eles parecem


mais aplausos.

—Parece que você está se divertindo.— Todd olha para mim.


—Mas eu acho que você nunca esteve tão bem—, Todd solta
novamente, e eu tenho outro rosto cheio de hálito. —Tenho que
mostrar as mercadorias para as mulheres, certo? Eu entendo esse
sentimento! Então ele dá um tapa na minha bunda. Eu preciso sair
daqui.. Já passou meia hora?

—Desculpe, ele está perdido—, Stephanie pede desculpas por


ele. Ela parece melhor quando não está gritando comigo através de
um megafone.

—Você sabe!— Todd grita com ninguém em particular.

—Eu sinto que não te vi na escola, Ben—, diz esse cara. Ele
deve ser um dos amigos de Todd. Eles têm a mesma aparência,
caras altos, com cabelos castanhos curtos e mandíbulas
estranhamente fortes. Ele também pode ser o menos bêbado do
grupo. Sem contar eu e Nathan.

—Eu me mudei para cá em janeiro—, eu digo.

—Sim ... você está na minha aula de Calc.—, diz uma garota,
e ela parece vagamente familiar, mas não tenho ideia se estamos
realmente na mesma classe ou não. —Ele é realmente inteligente.

—Obrigado.— Meu rosto está ficando mais quente.

—Sério, acho que ele obteve a nota mais alta da turma—,


acrescenta ela.

—Oh, nossa.— Todd começa a rir. —Vá em frente e exploda


com ele, nós lhe daremos privacidade.

—Enquanto estamos nisso, vamos dar a você e à sua mão


esquerda algum tempo a sós também.— Em revira os olhos e a sala
se enche de —oooo—. Todd parece incomodado. Ele apenas pega
outra bebida no balcão e passa o braço em volta do meu ombro.

—Vamos lá, garoto Benny, essa é muito atraente. — Todd


pisca para mim e depois olha para Em. —E você é recém-solteira.
—Ei, hum ...— Eu bato no bíceps de Todd, esperando que ele
o solte. Mas tenho certeza que o aperto dele só aumenta. —Todd, eu
não posso

Respire. Eu não consigo respirar.

—Deixe-o em paz, Todd—, alguém diz.

—Oh, por favor. Ben, você não adoraria levar a adorável


Emily Rodgers para um encontro no próximo fim de semana?

— Eu... Eu gaguejo. —Não posso ...— Na verdade, parece


impossível respirar. E não sei se é por causa do aperto de Todd,
suas palavras, os pares de olhos me encarando agora, o álcool ou
alguma combinação de todos eles.

—Por favor, não me diga que você gosta dos caras, Ben. Eu
gosto de você e tudo, e sou legal com os homossexuais, mas acho
que não ...

Você tem que sair agora mesmo.

—Ei, Ben, você quer dançar?— Nathan pula do balcão e,


antes que eu possa responder, seu braço está em volta do meu. Eu
não me importo, porque isso finalmente tira Todd de mim. Nathan
me puxa para perto, me levando para fora da cozinha e de volta pelo
corredor.

—Nathan, espere.— Mas ele continua me arrastando. Nathan


Eu puxo de volta, mas ele ainda não vai deixar ir. —Pare!— Deus,
ele tem um forte controle. Pelo menos paramos de nos mover. —Eu
não quero dançar—, eu finalmente digo, preocupade que ele não me
ouça.

—Oh.— Ele sorri. —Eu não estava falando sério. Você apenas
parecia querer sair de lá.

Eu me inclino contra a parede. — Ah. Obrigado.

—Me desculpe. Se eu soubesse que Todd estava passando


dos limites, não teria deixado que ele te arrastasse. Quando ele está
bêbado, seus limites desaparecem totalmente.

—Sim, eu posso dizer—, eu digo, esfregando meu pescoço.


Tenho certeza de que a pele está vermelha agora.

— Você quer ir?

—Já faz meia hora?


Nathan pega o telefone. —Você sabe que realmente não
precisa ficar, certo? Ainda temos mais dez minutos, mas podemos
sair se você quiser. Não quero que você se sinta desconfortável.

—Podemos encontrar Sophie ou Mel?— Esfrego os cotovelos.


A maioria das pessoas migrou para a sala de estar, onde a música é
mais alta, mas o corredor e a sala de jantar ainda estão bastante
lotados.

— Sim, claro. Nathan olha em volta. —Eles provavelmente


estão dançando.— Ele pega minha mão. Se eu deixar ir, então as
chances são altas, vou me perder neste lugar.

Nós empurramos as multidões na sala de estar.


Aparentemente, esta é a área de dança designada. Mas nem Meleika
nem Sophie parecem estar aqui. Nathan está certo, porém, há algo
em assistir outras pessoas brancas que pensam que o que estão
fazendo pode ser legalmente chamado de dança.

Depois disso, seguimos em direção à sala de jantar, e ainda


nada, mas depois os vejo pendurados nas escadas. Meleika está
logo acima de Sophie, ambas envoltas no parapeito, ambas
parecendo entediadas.
—Vocês dois parecem que tiveram uma noite difícil.— Sophie
se inclina para frente, descansando a cabeça nos braços.

—E não são nem nove.— Meleika ri, tomando um gole de sua


bebida. “Pesos leves”.

—Tivemos um desentendimento com Todd—, diz Nathan,


antes de dar uma olhada em Meleika. —Teria sido menos terrível se
alguém não nos abandonasse lá.

Meleika ri de novo e depois me pergunta: —Ducha do ano ou


ducha do ano?

Eu tento rir, mas esse gosto amargo na minha boca mudou


para o meu estômago. Há algo na multidão que está me deixando
tenso, do jeito que todos estão pressionados. E está ficando mais
quente aqui?

Olho para Nathan, observando-o assistir a dança, sua cabeça


balançando ao ritmo. Ele diz algo para Sophie, mas a música abafa.
Todo mundo está se divertindo tanto, e ele parece estar sentindo
falta disso, como se preferisse estar lá fora dançando com alguém,
realmente se divertindo.

E eu estraguei tudo.
—Eu só, hum ... Eu vou esperar no carro. Você vai se divertir
—eu digo a ele.

—Ben. Você está bem?— Meleika pergunta. Ela e Sophie


estão me observando atentamente.

—Tá tudo bem. Eu só... Eu não deveria ter vindo, me


desculpe. Estarei lá fora, Nathan, quando estiver pronto.— Eu
finalmente capto a atenção de Nathan.

—Ben!— Eu posso ver o aborrecimento em seu rosto, àquele


leve empurrão de seus lábios. Eu não devia ter vindo aqui. Ele só
queria se divertir com seus amigos e eu vou fazê-lo sair mais cedo.

—Desculpa, desculpa!— Eu empurro através da dança e da


multidão apertada, murmurando desculpas enquanto vou adiante.
Espero encontrar meu caminho de volta para fora.

—Ben, espera.— Nathan pega minha mão novamente, mas eu


a puxo para trás.

—Ouça, vá se divertir, ok? Vou apenas esperar no carro.

—Ben!— ele diz de novo, mais desesperado do que eu já ouvi.


Eu carrego de volta pelo corredor, passando pelas multidões.
—Ei!— alguém grita.

—Desculpe, desculpe—, eu digo, tentando chegar à porta.


Deus, está queimando aqui. Os corredores parecem que estão se
aproximando de mim. Eu só preciso sair. Apenas saia e tudo ficará
bem.

—Ben!— Nathan grita, soando quilômetros de distância desta


vez.

Minhas mãos finalmente encontram uma maçaneta da porta


e eu empurro, quase caindo no ar fresco da noite. Eu me pego
contra a grade; mais pessoas me encaram quando passo por elas.
Ainda não sei dizer se estou na frente da casa ou na parte de trás,
mas não me importo.

Eu não estou mais lá dentro; é isso que é importante.

—Você vai ficar doente, cara?— alguém me pergunta. —Se


você tem que vomitar, pelo menos faça isso nos arbustos.

—Eu não sou um homem—, eu sussurro baixinho, virando a


esquina. Este lado da varanda está deserto, felizmente. Eu vomito,
me pendurando no parapeito. Não há nada no meu estômago além
daquela tequila nojenta, mas ameaça subir de qualquer maneira.
Não era nem tanto assim, era? Mas não é só isso.

Não, isso parece outra coisa, como naquela noite em que vi o


carro deles. Merda.

Agora não.

Dra. Taylor confirmou que foi um ataque de pânico e tentou


me ensinar maneiras de lidar. Chegue a um local calmo, se puder,
feche meus olhos, tente respirar. Eu tento o meu melhor para
lembrar o conselho da Dra. Taylor, mas tudo está tão cheio e
nebuloso.

Só respire.

—Apenas respire—, digo em voz alta. — Respire! Aspiro o ar


noturno pelo nariz e o seguro por dez segundos antes de expirar
pela boca. —Vamos, Ben, não surte, por favor. Agora não — digo a
mim mesma.

—Você está bem?— É o Nathan.


—Só... por favor...— Eu nem sei o que estou tentando
perguntar a ele. Eu passo a mão pelo meu cabelo, minhas mãos
suadas. Cristo, eu provavelmente pareço à morte.

—Ben?— Ele coloca a mão nas minhas costas, e eu juro,


quase fico doente ali.

—Por favor, não me toque agora, ok?— Ele sai como um


rosnado mais do que eu quero.

Nathan puxa a mão para trás, indo para o local vazio no


parapeito ao meu lado. —Sinto muito—, eu digo. — Eu só...— Só
não consigo ter um pensamento completo do meu cérebro na minha
boca.

—Foi o que você bebeu? Você precisa de água?

Eu balanço minha cabeça muito rápido. —Não eram as


bebidas.— Meu peito se agita por um segundo. Estou travando uma
batalha perdida aqui.

—Tem certeza? Consegue se mexer?

—Apenas me dê um minuto, por favor?


—Claro, sim.— Ele se afasta.

Porra, respire, apenas respire. Fecho os olhos, pressionando


as mãos na testa. Não chore, não chore. Sinto aquele calor familiar
atrás dos meus olhos e uma dor no meu queixo.

Eu finalmente consigo cuspir alguma coisa. —Sinto muito.

—Está tudo bem, basta levar o seu tempo.

—Podemos ir?

—Claro que sim!— Ele me alcança novamente, mas para de


repente. —Posso te tocar?

Aceno em concordância. —Desculpe, eu só-

—Está tudo bem. Vamos.

A mão nas minhas costas não me faz mais querer vomitar. Na


verdade, tenho certeza de que Nathan está fazendo a maior parte do
trabalho enquanto ele me leva de volta ao seu carro, chegando a
abrir a porta para mim.
—Obrigado—, eu digo, esperando que ele não tente afivelar
meu cinto de segurança para mim. Não aguento tanta humilhação
em uma noite.

Ele sobe no banco do motorista, totalmente silencioso, o carro


roncando quando ele liga a ignição e desliza para trás.

— E Sophie?— pergunto.

—Elas ficam um pouco mais. Eu disse a elas que te levaria


para casa.— Ele coloca a mão na parte de trás do meu encosto de
cabeça para que ele possa ver atrás de nós.

—Oh.— Condenação Eu estraguei tudo. Completamente!


Nathan acelera pela estrada de terra sem palavras, nem mesmo o
rádio para preencher o vazio entre nós. Um de nós tem que
conversar, alguém tem que dizer alguma coisa, e eu sei que não
serei eu.

Eu não sou tão corajose agora.

Olho furtivamente para ele pelo canto do olho. Ele não parece
bravo, mas, novamente, ele é o Sr. Positivo, então nem tenho
certeza de que ele tenha mais do que um pouco de frustração.
—Se você tirar uma foto, vai durar mais.— Ele ainda sorri,
sem tirar os olhos da estrada.

—Desculpa.— Fechei os olhos, apenas abrindo-os novamente


para observar as árvores escuras pelas quais passamos.

—Quero dizer, eu sei que sou bonito e tudo, mas sério, se


você preferir ter uma foto, isso é legal também.

Pego o jeans que cobre meus joelhos, o tecido apertado que


parece mais sufocante agora do que qualquer outra coisa. —Sinto
muito.

—Você se desculpa muito—, diz ele com naturalidade.

—Eu …— Eu nego minha reação automática.

—Ben, cara, você está bem? Quero dizer, eu sei que você não
pode estar atrás de tudo isso, mas, tipo, eu estou preocupado, cara.

—Não fique—, eu digo. Eu me sinto tão perto desse limite, e


dói que Nathan é quem está me empurrando para mais perto.

—Por quê? Eu sou seu amigo. Eu tenho o direito de me


preocupar, você não acha?
—Ninguém disse que você tinha que estar.

Nathan zomba, e ele não parece muito feliz. —Isso é algo que
os amigos costumam fazer.

Foi ele quem quis ser meu amigo. Eu continuo escolhendo no


local, pensando que talvez eu possa arranhar meu caminho para a
minha pele, e apenas continuar. Não. Eu forço os pensamentos da
minha cabeça e sento em minhas mãos.

—Você quer que eu te leve para casa?—

—Sim, por favor— é a minha primeira resposta, mas depois


penso em Hannah e sua reação. Acho que um olhar para mim diria
a ela tudo o que ela precisava saber e, no segundo em que ela me
vir assim, ela me levará correndo para um hospital ou ligará para
Dra. Taylor. —Na verdade não.

—Não?— Nathan olha por uma fração de segundo, antes de


se concentrar novamente na estrada.

—Não. Minha irmã está lá.

—Por que ela se importaria?


—Eu simplesmente não posso ir lá agora.— Pode haver
muitas perguntas. Por exemplo, por que moro com minha irmã e
seu marido, ou por que não há fotos de meus pais nas paredes. E
então essa culpa familiar se instala no meu estômago.

Eu deveria contar a ele.

—Onde você quer ir?

— Eu... Eu não sei.

—Meus pais não estão em casa, só depois. Nós podemos ir


para minha casa.

Qualquer outro dia, esse pensamento teria me aterrorizado.


Mas, em vez disso, aceno com a cabeça, sabendo que agora, a casa
de Nathan Allan é o único lugar para mim.
QUARTOZE
—Posso te mostrar uma coisa?— Nathan pergunta.

Estamos no quintal dele, jogando a bola para Ryder


novamente. Ele continua alternando entre nós dois, levando a bola
de volta para Nathan e depois trazendo para mim.

É simples. Básico. Apenas o que eu preciso agora.

—Claro.— Eu jogo a bola novamente.

Nathan não espera Ryder para alcançá-lo. Ele volta para


dentro pelas portas de vidro, deixando-as abertas para eu seguir.
Nós vamos para o quarto dele novamente. Desta vez é mais limpo. A
maioria das roupas já foi recolhida, mas ainda existem pilhas de
livros por toda parte, como se ele não soubesse o que fazer com
todas elas.
Espero que ele rasteje em sua cama, mas ele não. Não, em
vez disso, ele caminha até a janela, abrindo-a apenas o suficiente
para ele passar por ela.

— Tem que passar pela janela? — Pergunto.

—Sim.— Ele sorri de volta para mim antes de desaparecer na


noite. —Eu disse que tinha algo para lhe mostrar.

—E está no telhado?

—Tecnicamente— Sua voz ecoa de volta para o quarto. —O


telhado tem a melhor vista.

Enfio a cabeça do lado de fora, sem saber como devo fazer


isso. Eu tento o meu melhor para copiar como ele se moveu,
colocando um pé primeiro e depois me preparando para pegar o
outro. Mas essas calças são tão apertadas que estou com medo de
ter rasgado a virilha por um segundo. E quando finalmente estou
do lado de fora, torço algo errado e meu pé acaba pendurado na
vidraça. Foda-se, é assim que termina, certo? De cara, a dez metros
do quintal de Nathan. Que caminho a percorrer.
—Uau, cowboy.— Nathan me pega pela mão, me puxando
para perto. —Por favor, não caia do meu telhado. Isso seria muito
complicado de explicar para meus pais.

—Não como eu planejei.— Meu coração tem que acompanhar


tudo ao meu redor, e então eu percebo somente quão perto
estamos um do outro. —Ok, acho que já vi o suficiente.— Eu fecho
os olhos. —Podemos voltar para dentro agora?

—Nem de longe.— Ele me firma. —Tudo bem?

Eu tento me acostumar a ficar em ângulo e também ignorar a


morte certa abaixo de mim. —Talvez seja o álcool?

—Vamos lá, você teve um shot, como uma hora atrás. Você
não está bêbado.— Sinto suas mãos desaparecerem antes que uma
delas se acomode sozinha, seus longos dedos envolvendo como se
pertencessem. Olho para baixo e depois de volta para ele.

—O que é você?-

—Por aqui.— Ele me leva a esse lugar entre duas das janelas
que atravessam o telhado. Felizmente, esta parte é bastante plana,
então não há nada para navegar, mesmo no escuro. Nathan se
senta como ele fez isso centenas de vezes antes, e eu não duvido
que ele tenha. Ele abre as pernas e descansa a cabeça na parte em
que o ângulo mais íngreme do telhado se encontra.

—Vamos.— Ele dá um tapinha no espaço vazio ao lado dele.

Faço o que ele diz, com cuidado para ver onde pisei. Duvido
que Nathan consiga compensar a tempo de me salvar de novo. —É
isso que você queria me mostrar?

—Você me mostrou seu lugar calmo.

—Meu lugar calmo?— Descanso da mesma maneira que ele,


minhas costas contra o telhado, mas enfio minhas pernas em seu
lugar.

—A quadra

—Oh, isso não é realmente ...— Quero dizer, acho que sim,
mesmo que eu não esteja sempre sozinha enquanto estiver lá.

—Isso é meu—, continua ele. —Quando tudo fica alto demais


ou fica demais, é para onde eu vou.— Ele levanta a cabeça e olha
para o céu. A poluição luminosa dos arranha-céus próximos
esconde a maioria das estrelas, mas as que conseguem bisbilhotar
são tão brilhantes que você realmente não se importa.
—É bom—, eu digo, ajustando para que uma telha pare de
me esfaquear nas costas.

—Mamãe quase teve um ataque cardíaco quando me viu aqui


pela primeira vez.

—Você tem que admitir que a quadra é muito mais segura.

—Não posso discutir.— Ele cruza os braços e os coloca atrás


da cabeça. —Sinto muito por hoje à noite.

—O que aconteceu não é sua culpa.

—Eu pensei que seria divertido.

Eu dou de ombros.

—Quer falar sobre isso?

Na verdade não, mas o que mais há para discutir? —Minha


médica diz que são ataques de pânico—. E Aqui vem, a verdade. Eu
tento pensar em uma mentira. Algum trauma de infância que os
causa, mas eu realmente não quero mentir para Nathan, não sobre
isso, pelo menos. —Meus pais me expulsaram da minha casa ...
Parece que a noite em que saí para mamãe e papai. Quando a
verdade estava na minha língua por dias, semanas até, apenas
esperando para sair até que eu estivesse me preocupando com isso.
E eu sabia que tinha que dizer isso. Porque tudo deveria estar bem.

Sentamos-nos lá. Eu sei que não deveria ter dito a ele, mas
acho que parte de mim está cansada de mentir para ele. Pelo menos
sobre isso. Parece que o tempo para de se mover, como agora estou
congelado neste lugar para sempre, nunca capaz de escapar. Eu
silenciosamente imploro que Nathan diga alguma coisa, qualquer
coisa. Apenas quebre esse silêncio, por favor.

—Oh—, ele finalmente diz depois do que parece um século. —


Isso é realmente uma merda.

—Sim.— De tudo o que eu esperava, isso não estava


realmente na lista.

—Isso é terrível.— Eu assisto sua garganta balançar, a


ascensão e queda de seu peito.

Eu respiro fundo. —Moro junto com a minha irmã. Ela é


casada com Thomas, Sr. Waller. Ele me ajudou a entrar em Wake.

— O que aconteceu?
—Fiz algo que não deveria ter feito, cometi um grande erro.—
E paguei o preço por isso.

—Grande o suficiente para ser forçado a sair de sua casa?

—Aparentemente.

—Você ainda os ama?— Nathan pergunta. — Seus pais?

A pergunta realmente me deixa desprevenido. — Eu... Eu não


sei —digo a ele.

Eu não. Eu realmente não. Eu gostaria que a resposta fosse


fácil, mas não é. Como você pode não amar seus pais? Mesmo
depois de tudo o que fizeram, tenho um problema em dizer isso em
voz alta. Talvez eu não os ame; talvez eles não mereçam mais esse
amor.

Eu acho que posso.

E acho que também posso odiá-los.

Uma coisa que sei é que sinto falta deles. Não sei por que,
mas sei.
Eu odeio isso.

Nathan faz um pequeno aceno de cabeça e solta um suspiro


muito lento.

Eu posso ouvi-lo se mover, assistir a mão dele deslizar por


trás da cabeça e descer rapidamente até que ela se acomode na
minha, e nossos dedos se misturam novamente. Eu nem luto,
porque pela primeira vez, outra pessoa me tocando assim não me
deixa mal do estômago. —Ninguém deveria ter que passar por
isso—, acrescenta, como se fosse uma reflexão tardia, mas, na
verdade, apenas a ideia de ele estar aqui é suficiente agora.

— Podemos falar sobre outra coisa, por favor? — pergunto. —


Por favor.

—Mais alguma coisa?

Eu só...

—Eu tenho este artigo em inglês que preciso começar.

—Não deveríamos estar de folga?


Isso o faz rir. —Fique feliz que você nunca teve Cooper. Mas é
melhor começar com isso.

—É o que?

— The Crucible.

—Bruxas, apedrejamento e afogamento. Tempos divertidos.

—Sr. Cooper nos deixou escolher nossos próprios tópicos, e


eu não tenho nada. Pelo menos não é devido até depois do intervalo.

—Tal procrastinador—, eu provoco.

—Seria mais fácil se houvesse mais subtexto gay.

Soltei algo entre um escárnio e um bufo. —Estou quase com


medo de perguntar.

—Na décima série, lemos este livro sobre uma gangue de


meninos, e dois deles estavam obviamente apaixonados, mas meu
professor recusou minha ideia de um ensaio sobre o relacionamento
deles.
—Sempre sufocando a criatividade.— Dois meninos, hein?
Bem, pelo menos ele está confortável com caras estranhas.

—Não é possível escrever 'subtexto' sem 'sexo anal'.— Ele está


rindo tanto que mal consegue expressar as palavras, e isso me faz
rir. E depois de alguns segundos, nós dois estamos lutando para
recuperar o fôlego, o tempo todo, nossas mãos nunca saindo uma
da outra.

—Você sabe alguma coisa sobre astronomia?— ele pergunta


quando nós dois ficamos totalmente quietos.

—Não muito. Por quê? Oh, diga-me que você é um nerd de


astronomia total, por favor.

— Vamos ver. —Nathan aponta para o céu e começa a


desenhar um contorno invisível. —Você vê isso aí? Aquele é Orion.
E se você seguir o cinturão lá, isso o levará diretamente a Leão.—
Eu tento o meu melhor para seguir o padrão dele, mas com toda a
poluição luminosa, é quase impossível.

—E esse é Sirius.— Ele descreve outra coisa que não consigo


entender.

—Como você pode saber? —pergunto.


—Eu tenho um método secreto.

—E o nome é?

Ele se aproxima e sussurra: —Estou inventando tudo.

—Seu burro.— Eu quero empurrá-lo, mas isso exigiria a mão


que a dele está atualmente ocupando, e não há chance de eu
desistir disso. Não neste momento

—Eu nem acho que eu poderia encontrar aquela coisa da


North Star que todo mundo está falando—, acrescenta Nathan
quando nos acomodamos. —Papai tentou me ensinar, mas neste
momento estou totalmente convencido de que é uma conspiração.

—Sim, eles me disseram isso na segunda série. Mantenha a


Estrela do Norte em segredo total de um Nathan Allan. Hush-hush
stuff, você sabe? Não consigo me impedir de rir.

—Bom, mistério resolvido. Isso significa que finalmente posso


deixar isso para trás. Ele solta um longo suspiro e depois olha para
mim.
O silêncio nos rodeia novamente, mas definitivamente não é
do tipo ruim. Não sei como descrever, mas me sinto confortável.
Como se não tivéssemos nada para dizer, qualquer coisa agora.

Somos o suficiente um para o outro. Pelo menos neste


momento.

—Obrigado.— Eu corro meu polegar sobre a pele da mão dele.


Eu quase posso sentir seu coração bater agora; está batendo no
peito dele. Ele está realmente nervoso? Isso parece tão não-Nathan.
—Obrigado por isso—, eu digo. —Por compartilhar isso comigo.

Sua boca se espalha naquele sorriso. —Problema nenhum.

Eu acordo cedo na manhã seguinte, porque é claro que sim.


Eu nem consigo dormir durante as férias de primavera. Ficar
dormindo foi ficando mais fácil, mas a Dra. Taylor me disse que
pode demorar algumas semanas para vermos se o medicamento
está funcionando, então talvez eu tenha me enganado pensando
que o problema está desaparecendo.

Mas ontem à noite, não parecia que a ansiedade era o que


estava me mantendo acordado. Nathan e eu sentamos no telhado
dele por décadas, até que o telefone dele começou a tocar, sua mãe
o deixando saber que eles estavam voltando para casa.

Ele se ofereceu para me apresentar, mas eu o rejeitei. Eu não


sei, algo sobre conhecer seus pais, do jeito que eles provavelmente
me olharia como esse total estranho que está em casa sozinho com
seu filho há quem sabe quanto tempo. Eu também já estive duas
vezes na casa deles sem o conhecimento deles, então sei que terei
que conhecer eles em breve. Talvez um dia eu desenvolva coragem.

Ainda está bem frio lá fora, mesmo que seja quase abril,
então visto um conjunto de moletom com capuz e calça e sento na
área fechada da varanda de Hannah e Thomas, as telas das janelas
deixando entrar ar frio o suficiente.

Meus dedos traçam minha palma, o lugar exato em que


Nathan segurou minha mão. Naquele momento no telhado, é como
se ele soubesse. O que exatamente ele sabia, não tenho ideia. Eu
nem sei o que isso significa, se é que isso deveria significar alguma
coisa. Ele estava apenas lá para mim? Sou mais que um amigo? Ele
pensa em mim dessa maneira agora, ou ele é realmente muito bom
em ser ele mesmo? Ou estou totalmente olhando muito fundo
nisso?

Sinto que o último é provavelmente a resposta certa.


Mas também sei que realmente gostei e que pode não ser tão
ruim se isso acontecer novamente.

Não, seria muito complicado com Nathan. Se eu não posso


nem estar com ele, como posso esperar que ele seja meu namorado?
Há muita coisa acontecendo agora, muita coisa para resolver. Além
disso, estamos nos formandos em dois meses, e ele provavelmente
está indo para a faculdade, e eu vou ficar aqui para morar com
Hannah até encontrar um emprego em período integral e tentar
economizar dinheiro suficiente para o meu próprio apartamento.
Nunca deixando esse estado, ou inferno, nem mesmo deixando
Raleigh.

Mas eu posso sonhar, certo?

Afasto minhas mãos quando ouço a porta se abrir.

—Você acordou cedo—, diz Hannah, sentando na minha


frente.

—Eu não conseguia dormir.— Corro meus dedos pela palma


da mão vazia novamente. Há um cachorro latindo ao longe. Eu me
pergunto se é Ryder.
—Então como foi sua noite?— ela pergunta, com a xícara de
café na mão.

—Tudo bem.— Eu coço a parte de trás da minha cabeça. Não


posso contar a verdade, mas isso é uma mentira fácil.

—Você chegou atrasade. Não festejou muito, certo?

—Eu tomei uma bebida e algo que tinha um gosto muito


nojento.

—Você vai se acostumar.

Eu discuti a noite toda se eu deveria contar a ela sobre o


ataque de pânico, mas no final, eu sei que isso apenas causará
mais preocupação. Isso é algo a dizer a Dra. Taylor, não à Hannah.
—Não acho que a vida de festa seja para mim—, tento brincar.

Hannah solta uma risadinha cansada, olhando para a fila de


árvores que cortam seu quintal do barulho da cidade nas
proximidades.

Eu gostaria de poder dizer que ela não mudou nos dez anos
em que estivemos separados. Ainda um pouco insistente, sem
realmente querer ser ainda obstinade. Ela é essas coisas, mas fora
isso, não sei muito sobre ela. A diferença de idade significava que
não fazíamos parte da vida um do outro. Quero dizer, que
adolescente quer ficar com o irmane mais novo? Ela tinha sua
própria vida, seus próprios amigos, seus próprios hobbies. Ela
passou os fins de semana fora de casa e as noites trancadas em seu
quarto.

Ocorre-me que, por mais que ela tenha salvado minha vida,
eu realmente não conheço minha própria irmã.

—Quais são seus planos para hoje?— ela finalmente


pergunta.

—Nada.— Eu dou de ombros. Acho que tenho uma semana


inteira pela frente. Uma semana sem a sala de arte, meu retrato de
Nathan foi deixado em paz. Uma semana sem Sophie ou Meleika. —
E quanto a você?

—Thomas está finalmente dormindo. Mas eu preciso ir ao


supermercado. Quer vir? Fica ao lado de um shopping center.
Talvez possamos encontrar roupas novas para você enquanto
estivermos fora.

—Nós poderíamos fazer isso—, eu digo. Talvez esta seja a


chance pela qual ambos esperamos. Somos mais velhos e, sem
mamãe e papai por perto, pode ser mais fácil. Além disso, prefiro
não ter que invadir o armário dela na próxima vez que quiser sair.
Não que eu esteja ansiose demais para outra festa, mas você nunca
sabe quando pode precisar de roupas de aparência meio decente.

—Você quer café da manhã? Estou morrendo de fome — ela


diz depois de um minuto sólido de nenhum de nós contribuindo
para a conversa.

—Não estou com fome.

—Ok.— Ela se levanta e volta para dentro. Espero até ouvir o


clique da porta antes de ligar o telefone. Passei quase uma semana
sem falar com Mariam. Não totalmente ignorando, mas tem sido
principalmente conversas unilaterais. Eu realmente não tinha
vontade de falar muito no momento.

Eu: Manhã!

Eu os escrevo com a chance de el aparecer. Leva apenas


alguns segundos para el responder. El deve estar trabalhando em
algo para acordar o mais cedo possível.

Mariam: heyo! Então, como estamos indo?


Eu: Tudo bem, você acordou cedo ...

Mariam: reuniões, planejamento, edição, artigos para escrever.

Mariam: Estou ficando sem fumaça, Benji

Eu: Caramba…

Mariam: E você? mais nenhuma novidade?

Eu: Na verdade não, a escola está me chutando, lidando com


mais algumas coisas.

Não é uma ótima desculpa, mas espero que el entenda meu


silêncio no rádio.

Mariam: Noice 23 ! Estou sempre pronte para algumas crises


existenciais.

Eu: Sempre um momento divertido.

Mariam: Então, o que está na agenda para nós hoje?

23 Além dos limites e ultrapassando os limites do bom. Falado com ênfase ao descrever

algo particularmente impressionante.


Eu: Hannah quer sair, comprar mantimentos, olhar algumas
roupas.

Mariam: Legal, legal!

Esfrego o rosto enquanto considero os prós e os contras de


contar a Mariam na noite passada, minha mão coçando o cabelo
que está apenas cutucando minha mandíbula. Afasto minha mão e
tento esquecê-lo, mas sei que não me sinto melhor até que eu o
raspe, o que provavelmente não poderei fazer até hoje à noite.

Alguns dos quadros de mensagens que li disseram que coisas


como o crescimento dos pelos faciais contribuem para a dismorfia
corporal 24 ou de gênero. Então isso foi uma coisa divertida de
aprender. Não me lembro de exatamente quando descobri que a
coisa toda me deixou desconfortável. Era apenas uma daquelas
coisas graduais, como meu cabelo ou meu nariz.

Mariam: suspiro! Quase me esqueci. Você não conheceu a nova


garota!

Eu: Garota nova?

24 Dismorfia é um termo usado para diferenciar aquilo que a pessoa acredita ser e o que
realmente é, ou seja, a dismorfia corporal é um transtorno psicológico onde a pessoa acredita
ter defeitos físicos que não possui ou então, possui em um nível mínimo, mas acredita ser
acentuado.
Mariam me manda uma selfie del com uma garota em uma
cafeteria, restaurante ou outro lugar. As duas são realmente fofas,
Mariam como sempre, seu batom roxo escuro combinando com o
hijab. Essa garota está beijando a bochecha de Mariam, seu cabelo
tingido de uma sombra roxa semelhante à dos olhos. Ela parece
vagamente bruxa, e eu adoro isso.

Eu: Ela é tão fofa!!!

Mariam: omg, ela é tão incrível. O nome dela é Shauna, como se


estivéssemos fora todos os dias desta semana. Fomos ao
cinema ontem à noite e ela segurou minha mão o tempo todo e
foi PERFEITO! Como eu acho que morri e estou no céu agora,
honestamente.

Eu: Soa bem

Olho as mensagens del enquanto tento imaginar Mariam


andando pela rua, de mãos dadas com a nova namorada. Eu não
sei muito sobre os pais de Mariam, mas eles nunca tiveram
nenhum problema em el ser não binário ou pansexual, então
Mariam nunca realmente teve que se preocupar em esconder sua
sexualidade ou identificação de seus pais.
Espero que el saiba como tem sorte. Claro, eles também
tiveram mais do que o quinhão de problemas. Quando sua família
morava no Bahrein, as coisas não eram perfeitas. A família de
Mariam é xiita, não sunita, o que dificultava as coisas para eles.

Mas depois que eles se mudaram para os Estados Unidos, as


coisas só pioraram. Muitas vezes Mariam me contou sobre pessoas
que puxam o hijab da mãe ou da del em público ou andam na
frente delas enquanto oram. E a Califórnia não é uma parada de
orgulho gay 24/725. Mariam me disse uma vez que eles nunca vão a
lugar algum sem duas latas de spray de pimenta, então eu
realmente não tenho o direito de chamá-los de sorte, eu acho.

Além disso, há todo o lado do YouTube. Essas seções de


comentários podem ficar completamente hediondas.

Mariam: Você está bem???

Eu olho para a mensagem del, pensando em como eu poderia


contar a el.

Eu: Eu acho que gosto muito desse garoto ...

25 Referindo-se a 24 horas, 7 dias


Mas antes de pressionar enviar, Hannah abre as portas de
vidro e enfia a cabeça para fora. —Ei, eu vou tomar banho e sair.
Você quer vir comigo ou ficar aqui?

Olho para o meu telefone, mantendo pressionado o botão


backspace, e assisto a mensagem desaparecer antes de olhar para
ela. O cachorro que pode ser Ryder ainda está latindo. —Sim, eu
vou me arrumar.
QUINZE
—Este parece ser bom.— Hannah pega uma camisa da
prateleira e a coloca na minha frente. —E isso vai com os seus
olhos—, acrescenta ela.

—É, talvez.— Eu pego, adicionando à pilha que estou


tentando equilibrar em meus braços. Até agora, ela me entregou
algumas camisas de botões, três jeans e um cardigã. Vai ficar
quente demais para suéteres em breve, mas ainda é muito fofo.
Barato também.

—Você quer ir em frente e experimentá-los?

—Claro.— Olho em volta para os provadores, um claramente


marcado como “masculino” e o outro “feminino”.

—Desculpe, irmane—, diz Hannah, percebendo isso pela


primeira vez.
—É tanto faz.— Eu caminho em direção ao lado “masculino” e
escolho um dos quartos vazios. Eu odeio experimentar roupas.
Além de raramente haver vestiários neutros em termos de gênero,
fico todo quente e suade, e trocar de material seis ou sete vezes
tende a cansar muito rápido.

Olho para os que Hannah escolheu. Há um que agarramos


pelo qual estou realmente empolgade, essa camisa de colarinho de
manga curta, estampado floral brilhante contra preto. Eu sempre
amei esse tipo de camisa.

O resto são cores bastante básicas. Borgonha, verde azeitona


e roxo. Não é que eu não goste do que Hannah está fazendo por
mim, mas no segundo em que entramos, ela assumiu o comando,
indo direto para a seção “masculina” sem pensar duas vezes.

Quero dizer, eu deveria esperar esse tipo de coisa agora. Todo


varejista praticamente faz a mesma coisa. Seções de homens,
mulheres e crianças; mesmo aqueles com vestiários neutros não
conseguem escapar da maneira como as coisas são generalizadas.

E isso é exatamente o que melhor me cabe, eu acho, com


meu tipo de corpo e tudo, mas ainda assim. Às vezes, quando eu
saía com minha mãe, eu a seguia até o lado “feminino” da loja,
olhando todas as opções. Os suéteres folgados, as regatas e os
vestidos finos e esvoaçantes. Era difícil não ficar com ciúmes, mas
eu sabia que não importa para onde eu fosse, nunca seria capaz de
realmente sair vestide como queria.

Garotos não deveriam usar vestidos. Mesmo que eu não seja


garoto, mesmo que a roupa não deva ser do gênero. Sempre que
alguém olha para mim, é tudo o que vê. Suspiro, terminando de
abotoar a camisa e arregaçar as mangas, porque já está ficando
quente aqui, as luzes brilhantes demais pairando sobre os tetos
nus. Eu me viro no espelho, vendo a etiqueta no meu braço voar
para frente e para trás. Parece bom o suficiente. Talvez eu possa
guardar isso para ocasiões mais especiais. Não que eu tenha
muitos.

Mas quanto mais olho para o meu corpo, mais odeio. São os
mesmos sentimentos que tive antes de perceber que sou não
binário. As coisas simplesmente não estão onde deveriam estar, e
eu sinto que sou maior e menor que eu ao mesmo tempo. Como
nada acrescenta.

—Você está bem aí?— Hannah pergunta.

—Sim.— Abro a porta e saio.


Ela está esperando em um banco do lado de fora e tem o
maior sorriso no rosto quando ela me vê. —Droga, irmane. Você
parece bem!

Não consigo resistir a um sorriso. — Você acha?

—Sim.

Não quero experimentar os outros, mas Hannah me faz. —


Qual é o sentido de comprá-los se eles não combinam com você?

Eu não faço barulho sobre isso, mas quando terminamos e


ela caminha para a outra seção da loja, sinto uma pontada no
estômago. Existem esses suéteres realmente legais, do tipo “dois
tamanhos grandes demais” que descem até as coxas e engolem as
mãos. E são magros, mas robustos, para não ficarem muito
quentes.

—Você deveria pegar esse—, eu digo.

—Fofa.— Hannah agarra uma, olhando-a antes de colocá-la


novamente na prateleira. —Eu não acho que sou eu.

Eu meio que gostaria que ela visse o que estou dizendo, mas
ela nunca foi realmente a melhor nisso. Talvez eu possa esconder
debaixo da roupa, para que Hannah não perceba. Mas não há
realmente nenhuma maneira de passar por ela, especialmente se
ela estiver pagando a conta por tudo isso.

—O que você acha?— Ela pega este vestido branco brilhante


com bolinhas vermelhas. Eu nunca seria capaz de fazer algo assim,
mas eu meio que gosto da ideia de poder usá-lo. Talvez como se
sentisse passando pelas minhas pernas.

—Parece bom—, eu digo.

—Parece que você está pensando—, diz ela.

—Hã?

—Como se seu cérebro estivesse ocupado.— Ela ri. —Thomas


diz que eu também tenho uma aparência assim. Talvez seja da
família.

—Talvez.

Ela me cutuca um pouco. —Então, o que você está


pensando?
—Sra. Liu está fazendo um show de arte na escola — digo, a
desculpa vem fácil. Não é uma deflexão total; eu tenho pensado
muito sobre o show. Só não acho que Hannah realmente entenderia
como estou me sentindo sobre todo o resto.

—Oh, ela pediu para você enviar uma de suas pinturas?

—Sim.

—É você que vai fazer isso?

Eu dou de ombros. —Não tenho certeza ainda.

Hannah zomba. —Vamos lá, suas coisas são incríveis. Por


que você não?

—Eu não sei. Acho que estou apenas apreensive.— Não sei
por quê. É apenas um show de estudantes. Mas ainda sinto esse
monte de nervos quando penso em mostrar minhas coisas para
muitas pessoas.

Estou apenas pensando demais; Sei quem eu sou. Inferno, é


apenas um show de estudantes; Duvido que haja muita gente lá.
Mas ainda sim.
—Eu tenho certeza que vai ficar bem, Benji. Você deveria
enviar alguma coisa.— Hannah olha o vestido novamente antes de
colocá-lo novamente na prateleira, e tudo o que quero fazer é
estender a mão e agarrá-lo. Ela se aproxima das pilhas empilhadas
de jeans a seguir. —Então, você está animado por estar fora da
escola? Deve ser bom poder relaxar por alguns dias.

—Sim.

Ela pega um par de jeans preto no fundo da pilha, verifica o


tamanho e depois me mostra para aprovação. Concordo com a
cabeça, e ela as joga em meus braços.

—É, talvez.

—Você gosta da Dra. Taylor, certo?— A pergunta me deixa


desprevenide.

—Ela está bem.— Parece uma pergunta estranha desde que


eu estou indo a Dra. Taylor há quase três meses. —Por quê?

—Apenas me perguntando. Eu estava conversando com um


amigo, aquele que me indicou. Ela disse que às vezes pode ser
difícil encontrar um psiquiatra com quem você possa se apoiar,
especialmente na primeira tentativa. Dra. Taylor foi sua quarta
opção.

—Eu não sabia que você poderia mudar assim.

Hannah me olha. —Você quer?

—Não, não. Ela é ótima.— Além disso, acho que não posso
lidar com um novo médico. Comece de novo, saia de novo, fale
sobre mamãe, papai e Hannah, e coisas que eu já deixei escapar
para o mundo. Mesmo que esse mundo seja composto apenas por
duas pessoas.

—E o medicamento?— ela pergunta.

Eu dou de ombros. —Eu acho que está funcionando; não


tenho muita certeza.

—Você pensou mais nesse grupo de apoio?

Eu congelo. —Como sabe?

—Havia o panfleto na sua cômoda. Prometo que não estava


bisbilhotando, apenas guardando algumas roupas e ... bem ...
— Ah. Na verdade, não.— Por favor, me diga que ela não
estava passando por minhas coisas. Que ela estava apenas
guardando meias ou camisas que havia lavado e abriu a gaveta por
engano.

—Posso fazer uma pergunta?— Ela joga o outro par de jeans


que estava olhando.

—Eu pensei que era isso que você estava fazendo?— Eu tento
rir, mas posso sentir meu rosto esquentando.

—Oh haha.— Ela ri sarcasticamente. —Mas falando sério, por


que você não quer ir? Você não acha que isso ajudaria?

—Não sei.

—Você consultou o site deles ou algo assim?

—Não— Olho em volta, estamos praticamente sozinhos nesta


seção da loja. —Eu só não quero aparecer com um monte de
estranhos.— Faz parte disso, mas também é um grupo local, e eu
não acho que eu poderia lidar com entrar lá e ver alguém da escola.
—Que tal tentar apenas uma vez? O panfleto dizia que você
não precisa sair nem nada. Você não precisa falar sobre o motivo de
estar lá.

—Eu realmente não quero ir.— Mesmo que eu não faça tudo
de novo, terei uma sala cheia de pessoas me encarando, me
perguntando por que estou lá. E realmente tenho o direito de
participar de suas reuniões privadas, se não vou compartilhar
nada?

—Eu só acho que isso pode ajudar.

—Bem, acho que não. Podemos, por favor, largar?

—Tudo bem—, diz ela na defensiva, e meu coração afunda.


Ela parece muito com o papai agora. —Você acha que alguma vez
vai sair com mais alguém?

—O que quer dizer?

—Quero dizer que você só saiu para quem? Eu, Thomas, Dra.
Taylor. mamãe, pro papai... Você acha que alguma vez vai sair com
mais alguém?
—Por que isso importa?— Não quero ficar com raiva, mas
também não aprecio como ela está perguntando tudo isso. Por que
isso é tão importante?

—Era apenas uma pergunta—, ela argumenta.

—Bem, cabe a mim decidir, ok?

—Ben.— Ela geme. —Escute, desculpe, eu não quis dizer isso


... Isso não foi legal da minha parte.

Eu suspiro. Ótimo. —Está tudo bem.— Abaixo a cabeça e


finjo olhar para alguns suéteres.

— Não, não é. — Ela pega as roupas nos meus braços. —Você


quer sair daqui?

Não, quero sair amanhã. —Só se você estiver pronta.

—Sim, claro. Se importa se ainda pararmos no


supermercado?

— Sem problema. — Sigo Hannah até a fila do caixa.

—Então, quando eu vou conhecer esse garoto Nathan?


—O quê?— Querido Deus, deixe essas conversas terminarem,
por favor.

—Ele te pegou ontem à noite, certo?

—Nós somos apenas amigos.

—Bem, eu não sugeri o contrário.— Hannah me dá um


sorriso malicioso. Droga! —Se você diz.

—Eu digo—, protesto, embora parte de mim queira perguntar


a ela o que posso fazer sobre Nathan. Ou como me livrar desses
sentimentos, ou como posso realmente fazer com que ele goste,
talvez, de mim? Porque o pensamento disso é aterrorizante.

Não.

Eu preciso me distrair, porque eu não posso fazer isso agora.


Olho as prateleiras que decora ao longo da fila do caixa. Garrafas de
água, ChapStick26, coisas “Como visto na TV” e outras coisas que
ninguém realmente precisa ou quer até perceber que não a possui.

Meus olhos se fixam no suporte de esmalte, tudo nessas


cores pastel de aparência doce. Não consigo deixar de pensar nas

26
ChapStick é uma marca comercial de protetor labial
unhas de Sophie e Meleika, sempre perfeitas. E as centenas de
designs que vi online, os inúmeros tutoriais que assisti.

É algo que eu sempre quis fazer. Outra coisa a acrescentar à


lista “Nunca poderei sair assim em público”. Eu me pergunto o que
Hannah diria se eu pegasse um vidrinho e a comprasse. Ela
provavelmente estaria mais interessada em onde eu consegui o
dinheiro para comprá-lo em primeiro lugar.

Ela tentaria lutar comigo? Ou me diga para tirá-lo antes do


início das aulas? Como eu ainda não sabia disso. Mas pelo menos
se eu os fizesse hoje à noite, isso me levaria alguns dias, certo? Não
posso usar as roupas que quero, ou que me parecem boas, mas não
deveria pelo menos poder pintar minhas malditas unhas?

—Oh, isso é fofo—, diz Hannah. Ela deve ter me pego


olhando.

—Hã?— Eu me sacudo do meu transe. —Oh sim, eles são


legais.

—Você quer experimentar?— Hannah pergunta.

—Hã?
—Você ficou olhando para eles por uns cinco minutos. Quer
escolher uma cor?

— Eu, hum...

Ela ri. —Vá em frente, eles são apenas como cinco dólares.

Eu era tão óbvio? —Não, eu...— Eu perco minha linha de


pensamento olhando para todos eles novamente.

—Escute, se você não escolher uma, eu irei e vou amarrá-lo


enquanto pinto suas unhas.— A mulher à nossa frente olha por
cima do ombro. Dou a ela o que é provavelmente o meu sorriso
mais estranho até que ela se vire. —Vá em frente, escolha uma cor.

Pego o rosa claro e torço a garrafa na minha mão. Parece


barato, definitivamente não é a marca de ponta que a maioria das
pessoas compraria, mas eu gosto mais dessa.

—Sério? Rosa? O azul combinaria melhor com seus olhos.

Estou sorrindo, apesar de mim mesme. —Eu gosto de rosa.

—Você sabe, irmane. Vou ter que te ensinar uma coisa ou


duas sobre como escolher cores.
Hannah não pula nada quando chegamos em casa. Ela me
entrega as sacolas, pescando o esmalte de unhas e vai direto para o
banheiro pequeno do corredor pegar uma toalha, deixando Thomas
para tirar todo o resto do carro.

—O que está fazendo?— Ele anda meio que perdido e meio


adormecido.

—Estou pintando as unhas de Ben—, diz ela, depois aponta


para mim. —Sala de estar, cinco minutos.

—Hum, está bem—. Subo as escadas e largo minhas malas


na minha cama. Na sala, Hannah já está esperando por mim, é
claro, sentada no chão em frente à mesa de café. Ela pegou
algumas coisas extras, como uma longa placa de esmeril, uma
garrafa alta de algo claro e duas garrafas menores que eu acho que
são a base e os revestimentos.

— Sente-se. — Ela aponta para o outro lado da mesa de café.


—E me dê suas mãos.

Ajoelho-me no tapete e estendo as mãos. —O que você vai


fazer?—
—Querido irmane, vou arquivar essas garras suas.— Ela
aponta para os meus dedos, o que parece um exagero, mas eu não
discuto. Eles não são aqueles dedos longo embora. —E então eu
vou ajudá-lo a pintá-los.

—Não pode ser tão difícil.

Hannah zomba. —Ok, eu vou apenas sentar e assistir. Tenho


certeza de que tudo correrá bem. — Ela pega minha mão direita
primeiro. —Abra seus dedos.

—Ok.

Hannah apenas revira os olhos e vai trabalhar. — Sobre o que


quer falar...? Garotos fofos? Você gosta de caras?

Bem. Isso foi divertido enquanto durou. —Juro por Deus,


Hannah.

—Estou brincando— Então ela espera um pouco, talvez


decidindo se a unha no meu dedo indicador está agora igual. —Mas
também meio que sério. O que você gosta de qualquer maneira?
Você gosta de alguém?

—Sim, eu gosto de pessoas.


—Pessoas? Como que tipo de pessoas?

—Pessoas, pessoas.

—Como meninos, meninas, outras pessoas não binárias?

—Isso fica um pouco complicado.

—Sério?— Ela tira um pouco do pó, o que não parece muito


higiênico? Quero dizer, essa é a minha unha sendo essencialmente
enterrada no pó. Nojento.

—Quero dizer, eu não sou como o chefe do comitê não-binário


ou algo assim.

Hannah bufa. —Sei disso.

—De qualquer forma, não somos um comitê. Mais um culto.


— Eu rio da minha própria piada.

—É para onde você vai todas as noites?

—Você me pegou.
Nós dois rimos, e eu me sinto sorrindo, mas Hannah abre a
boca novamente. —Mas, de verdade, não pode ser tão complicado.
Pode? — Ela sopra novamente, olhando sua obra antes de decidir
começar na minha outra mão.

—É ... Sim, é meio que.

—Por quê?

Não posso contar a ela quantas vezes eu tive essa conversa


comigo mesme, tentando resolver tudo isso na minha cabeça
apenas para nunca realmente chegar a uma conclusão.

—Porque, tudo bem, então.— Eu respiro fundo. —Por um


tempo eu pensei que era gay.— Eu via outros caras e fiquei
realmente atraído pela maioria deles. Mas ainda parecia que estava
faltando alguma coisa. Algo sobre mim.

Como quem você é atraído e quem você é como pessoa são


duas coisas totalmente diferentes. É difícil explicar não estar
confiante em seu próprio corpo. Parece errado, mas apenas você
parece realmente saber como e por que é assim

—Mas isso ainda não parecia a resposta—, continuo. Porque


não era. E foi só até encontrar os vídeos de Mariam que realmente
senti que havia encontrado alguém que entendia o que estava
acontecendo.

—E a questão da sexualidade?— Hannah pergunta.

—Com toda a honestidade, ainda estou trabalhando nisso.—


Como ainda sou atraído pelas pessoas que apresentam mais
masculinidade, mas não-binário não é algo que você possa dizer,
então o garoto na cafeteria que eu acho fofo pode ser não-binário.

Mas ainda estou atraído por ele. Além disso, eu não tenho
exatamente um gênero, e ser gay implica estar interessado no
mesmo gênero.

Igual eu falei. É complicado.

—Então, você não é mais gay?

—Essa é a pergunta de um milhão de dólares.— Eu me


considero bissexual. Estou interessado em homens e pessoas mais
masculinas. Mas existem pessoas que argumentam que a
bissexualidade é apenas de dois gêneros e que esses dois gêneros
devem ser homens e mulheres. Já ouvi esse argumento muitas
vezes, então aprendi a mantê-lo para mim. —Por simplicidade, eu
apenas digo que sou esquisito, que tenho um tipo.— E
definitivamente muito mais fácil do que explicar que eu me
identifico como bissexual. E menos porteiro envolvido também.

—E que tipo seria esse?

—Pessoas gostosas?— Eu ofereço, sabendo o que ela está


tentando chegar.

—Não posso acreditar que você é tão superficial—, ela brinca.

— Cala a boca.

—Você já pensou que 'hetero' e 'gay' serão obsoletos um dia?

Eu tento reprimir uma risada. —O objetivo de toda pessoa


queer é o extermínio das pessoas cis, heterossexuais e
alossexuais.27

— Então essa é a agenda gay? — Hannah ri. —Mas não, sério,


com todo esse tipo de coisa evoluindo, sexualidades e identidades,
as coisas binárias sendo cada vez mais desafiadas, você não acha
que os rótulos são inúteis?

27
Alossexual é um termo usado com mais frequência na comunidade assexual para se
referir a alguém que não é assexual. Alguém que é alossexual é alguém que experimenta
atração sexual.
—Na verdade não. As etiquetas podem ajudar as pessoas a
encontrar um terreno comum, podem ajudá-las a se conectarem
consigo mesmas e com outras pessoas.

—Você sabe muito sobre essas coisas.

—Internet— E Mariam.

—Não acredite em tudo que você lê. Mas, na verdade, você é


uma pessoa esperta, Benji. — Ela me dá um sorriso calmo. —
Beleza, foi. Agora que você se considera um verdadeiro mestre da
arte — ela desliza a garrafa de vidro sobre a mesa de madeira —,
você pode tentar primeiro.

— Confia em mim?— Torço a tampa e retiro o excesso de


verniz antes de começar a trabalhar.

—Coloque seu dinheiro onde está sua boca.— Hannah está


sorrindo.

—Então posso perguntar uma coisa? Meio pessoal.

—Atire. Já fiz bastante curioso por um dia.


—O que aconteceu depois que você saiu de casa?— pergunto.
A mão esquerda é fácil e surpreendentemente relaxante. Não sei
exatamente quanto devo colocar em cada dedo, mas Hannah ainda
não me parou, então acho que é o suficiente.

—Candidatei-me a algumas bolsas sobre as quais nunca falei


para mamãe e papai. Um deles era para o Estado, não um passeio
completo, mas o suficiente para eu ficar de pé. Eu mudei para os
dormitórios, trabalhei duro para economizar o suficiente para o
resto da minha aula. Eu fiz o básico e me formei em administração,
mas é útil.

—Foi aí que você conheceu Thomas?— Eu passo de dedo


para dedo lentamente.

—Nós não começamos a namorar até cerca de dois anos


depois de nos formarmos, mas na verdade nos conhecemos no
segundo ano, o que é meio estranho porque estávamos namorando
pessoas diferentes.

—Sério?

—Eu ouvi meu nome?— Thomas espia pela esquina, ainda de


pijama. Não posso culpar o pobre rapaz.
—Apenas dizendo a Benji como nos conhecemos.

—Oh, você contou a el sobre a lagosta

Hannah alcança o sofá, pega um dos travesseiros e o joga


para Thomas o mais forte que pode. —Thomas David Waller!—
Hannah grita. Thomas se esconde atrás do muro bem a tempo,
suas risadas ecoando pelos corredores.

Estou rindo tanto que tenho que abaixar o pincel. —O que


diabos foi isso?

Ela bufa, endireitando a blusa. —Nós não falamos sobre


lagosta nesta casa.

—Ok—, eu digo, ainda rindo. —Então, você começou a


namorar depois da faculdade?— Quase não consigo tirar minha
pergunta.

—Sim. Ele acabou voltando para casa. Nós mantivemos


contato, e então um dia ele me disse que estava voltando para cá
para ensinar, então saímos mais e mais e, bem. — Ela encolhe os
ombros. —Isto simplesmente aconteceu.

—Uh-huh.— Olho minha mão.


—Ok, agora eu tenho que ver você tentar o caminho certo —
Ela se inclina para frente ansiosamente, nos cotovelos, e percebo
meu erro no segundo em que pego o pincel. Isso é tão estranho, e
foi assim que eu a segurei da última vez? Parece tão antinatural.
Primeiro tento minha miniatura, já que essa é a maior, mas de
alguma forma consigo estragar quase instantaneamente.

—Bem aqui.— Eu limpo o casaco antes que ele seque e


entrego o pincel para Hannah.

—Eu te disse—, ela canta meio. Eu deveria ter dado a ela em


primeiro lugar. Ela é tão metódica em como faz isso, suas mãos
muito mais firmes do que eu jamais poderia ter sonhado. Leva
apenas alguns segundos para cobrir as unhas. —Ok. Pinte o tempo.
Sua outra mão deve estar seca o suficiente. Ela abre o esmalte e
começa a trabalhar.

—Você acha que a faculdade valeu a pena?— pergunto.

—Eh...— Ela encolhe os ombros. —Muita dívida, mas eu


gosto do meu trabalho.

Percebo que nem sei o que minha própria irmã faz pelo
trabalho. Quatro meses morando aqui e não faço a menor ideia do
que ela passa o dia fazendo. —O que você faz?
Isso a faz rir. — Sou uma corretora de imóveis. Muita
papelada, mas é mais divertido do que você imagina. Ela começa
com outro dedo. —Por que você está perguntando sobre a
faculdade?

—Só estou pensando sobre isso—, eu digo. —Eu não sei se é


realmente para mim.

—Eu conheço esse sentimento. No primeiro ano, eu meio que


me perguntei se tudo valeria a pena. Mas eu sabia que não poderia
voltar para aquela casa.

Nem mesmo para mim, aparentemente.

Não quero pensar nisso, mas o pensamento eleva sua cabeça


como uma espinha feia. Eu tenho que parar de dizer algo que sei
que vou me arrepender, e posso me sentir tenso. No começo, acho
que Hannah não percebe, mas depois afasta o pincel. —Você está
bem, irmane?

—Sim.— Aceno em concordância. —Só pensando.

Acho que ela acredita em mim, porque mergulha o pincel no


esmalte novamente e volta ao trabalho.
—Vou tirar um ano de folga. Depois da formatura — digo,
tentando me afastar de qualquer coisa relacionada a casa. Eu já
estava pensando nisso há um tempo, imaginando o que Hannah
poderia pensar. Ela pode ser como mamãe e papai, exigindo que eu
receba algum tipo de ensino superior. Mas quanto mais eu pensava
na ideia de mais quatro anos de escola, mais eu a odiava. —Talvez
eu possa pensar sobre isso, então?

—Provavelmente é uma boa ideia. Anos sabáticos podem ser


bons. Você já solicitou alguma coisa?

—Algumas— Mas o que quer que eu seja enviado, aceitações


ou rejeições, será enviado para o endereço de mamãe e papai.

—Quando você estiver pronto. Thomas e eu podemos ajudá-lo


com empréstimos e pagamento de coisas. —Ela mantém os olhos na
minha mão, a língua espreitando ligeiramente pela boca.

—Você não precisa fazer isso. Quero dizer a coisa toda paga.

—Está tudo bem.

—Eu vou… Pagarei de volta quando puder. De alguma


maneira. Com tudo.
—Você não precisa fazer isso.— Ela finalmente olha para
cima. —Basta considerar o pagamento por todos os aniversários e
natais que eu perdi.

Lá vamos nós novamente. Sinto a culpa subindo como bile. —


Hannah!

—Nuh-uh— Ela enfia o pincel na frente do meu rosto. —Sem

discussão, você só se preocupa em se formar agora, ok?

— Eu...

—Benjamin De Backer.— Ela me olha. —Não me faça te


enviar para o seu quarto.

—Ok, ok—, eu digo. — Desculpa.

—Você só não precisa se preocupar agora, ok? As coisas


estão bem. Thomas e eu ganhamos bastante, e também temos
nossas economias. Você não é um fardo ou algo assim. Quero que
você saiba disso. Tudo bem?

Concordo e limpo minhas mãos nos joelhos, mas depois paro.


Não sei se isso vai atrapalhar a pintura ou algo assim. eu só
realmente não quero continuar falando sobre isso.
Hannah começa a trabalhar na última unha, sem prestar
muita atenção em mim. —E nós terminamos!— Ela dá um golpe
final com o pincel e admira sua obra. —Não é tão ruim, se eu
disser.

Eu olho para a cor, meus dedos tremendo um pouco. —


Obrigade.

—Problema nenhum.— Ela para. —Você vai deixar para a


escola?

Parte de mim só quer dizer foda-se, mas as escolas


secundárias raramente são os lugares mais progressistas do
mundo, e o ridículo provavelmente seria interminável. — Não.

—Ok, quando quiser tirá-lo, use isso.— Ela me passa


removedor de esmalte. —Basta pegar algumas bolas de algodão e
isso não deve ser um problema.

— Obrigade.

—Não se preocupe, deixe isso pra lá.— Ela bagunça meu


cabelo e pega a toalha. Eu apenas fico lá por um tempo, encarando
minhas mãos. —Agora vamos fazer o acabamento. Não quero que
todo o meu trabalho seja desperdiçado.
—Então, você acha que sabe o que o desencadeou? — A Dra.
Taylor pergunta em sua pose habitual: pernas cruzadas, cabeça
apoiada na mão, bloco de notas no colo.

—Eu realmente não sei, havia muito barulho e pessoas. E


esse cara, Todd, estava bêbado e conversando comigo e me deixou
um pouco trancado.

—Você normalmente tem um problema com pessoas tocando


em você, Ben?

—Não o tempo todo, mas há alguns dias em que


simplesmente não consigo suportar.— Lembro-me de algumas vezes
em que membros da família que eu não via há dez anos me
abraçavam, ou quando estranhos tentavam apertar minha mão.
Mesmo com mamãe e papai, havia dias em que eles me abraçavam,
ou sentavam perto de mim no sofá, e eu me sentia doente. —Mesmo
com pessoas com quem estou próximo.

—Hummm.— A Dra. Taylor cantarola e ajeita os óculos.

—Parece pior durante os ataques de pânico.


—A aversão ao toque pode ser comum em pessoas que lidam
com ataques de pânico ou com ansiedade. De fato, algumas pessoas
nascem ou se desenvolvem dessa maneira, como assexuadas ou
aromáticas.

—Oh—, eu digo. Eu nunca realmente pensei em mim como ás


ou aro. Quero dizer, sexo não é realmente algo pelo qual tenho um
forte desejo, mas é algo a que devo estar aberto. E já tive
sentimentos meio românticos pelas pessoas antes. Suponho que
também sou atualmente estou tendo esses sentimentos românticos.

—Você consegue se lembrar de outros casos em que alguém


tocando em você assim fez você ter um ataque de pânico?

—Na verdade não. Eu meio que estava pensando em algo.


Como talvez não fosse o toque. Ele apenas estava com os braços em
volta de mim e ele não largava. E havia tantas pessoas.

—Isso foi em uma festa, certo?— Ela escreve algo.

Aceno em concordância.

—Você tinha algo para beber?


—Não—, eu minto, porque não tenho muita certeza do que
ela irá ou não denunciar à polícia, ou se ela fará algo assim.

—Eu não vou fazer você falar, Ben—, diz ela como se tivesse
lido minha mente, o que provavelmente seria muito mais fácil do
que tudo isso. —Deus sabe que eu também tinha dezoito anos
também.

—Me deram uma bebida e um gole de cerveja. Eu realmente


não os queria, mas todo mundo estava olhando para mim e eu senti
que tinha que fazê-los.

—Eu acho que você leu os avisos sobre misturar álcool com
sua medicação?

Concordo, sem encontrar o olhar da Dra. Taylor, como se isso


me ajudasse a evitar a vergonha que estou sentindo agora. —Sinto
muito.

—Você é jovem, Ben, e eu entendo o desejo de se encaixar


com aqueles ao seu redor. Mas o álcool tende a inibir seu
pensamento. Você cometeu um erro, apenas tente ser mais
cuidadoso no futuro.
—Eu farei.— Eu já tinha percebido que beber não era para
mim de qualquer maneira.

—Você acha que sua dosagem atual está fazendo o


suficiente?

—Se estou sendo totalmente honesto, não. Não parece que


muita coisa mudou aqui. Eu aponto para minha cabeça.

—Bem, o medicamento não é uma solução permanente, Ben,


tanto quanto gostaríamos que fosse. Está lá para ajudar a
equilibrar você, mas não se livrar da ansiedade.

—Eu sei, só estou preocupade por não aceitar nada.

Dra. Taylor escreve algo. —Vamos tentar um aumento


temporário na dosagem, ver como isso funciona. Gosta da ideia?

Aceno em concordância. —Sim.

—O ataque de pânico, você acha que pode ter sido uma


sobrecarga sensorial?

—Eu não tenho muita certeza—, eu digo. Ela não deveria ser
a única com todas as respostas? — Talvez.
—E você se lembra do que tirou você dessa situação?

—Meu amigo estava lá, Nathan.

—Ele trouxe você através disso?

—Não exatamente, mas eu saí e ele me seguiu. Acho que


apenas tê-lo lá ajudou?

—Então, esforço conjunto?— Ela sorri. Já é algo.

—Acho que sim.

—Você está confortável com Nathan?

—Sim, na maioria das vezes, pelo menos.

— Na menor parte do tempo não estão.

—Às vezes fico muito nervose perto dele.

—Alguma razão específica para isso?

—Nada que eu possa pensar.— Exceto que talvez seja porque


eu gosto dele? E talvez eu goste de pensar em segurar sua mão, em
estar perto dele. E talvez eu queira ir além disso. E talvez eu tenha
pavor do que acontecerá se o fizermos.

—Estou feliz em saber que você tem alguém em quem pode


confiar—, diz ela, então seus olhos se voltam para as minhas mãos.
Duvido que seja a primeira vez que ela notou minhas unhas, mas
ela não disse nada até agora. —Essa é uma cor bonita.— Ela acena.
—Você fez isso sozinhe?

—Oh.— Eu olho para elas, resistindo ao desejo de escondê-


las. Lutei um pouco comigo antes de decidir sair em público com as
unhas pintadas. Não que uma visita ao consultório da Dra. Taylor
seja realmente “pública”, mas é fora de casa. —Hannah fez por
mim.—

— Como vocês estão? —Dra. Taylor pergunta.

— Bem eu acho.— Esfrego minhas mãos, tentando me sentir


menos constrangide com a tinta.

—Você está bem? Melhor? Discutindo? — Ela continua depois


que eu não respondo.

— Estamos bem. — Enfatizo o “Bem”. — Por que pergunta?


—Eu estava curiosa—, afirma ela.

—Sobre?

—Fiquei curiosa principalmente se você se ressentiu com


Hannah?

Eu odeio que minha resposta saia tão facilmente. —Acho que


um pouco

—Você acha que ela sabe disso?

—Bem, não é como se eu estivesse ansiose para contar à


minha irmã como eu sou amarge.— Esfrego os olhos, a sensação de
ardência voltando lentamente. — Eu só... Ela ganhou muito, sabia?

Dra. Taylor assente.

—Ela tem que sair, ir à escola, conseguir um emprego que


ama, encontrar alguém que a ame.

—E você ficou com seus pais?


—Sim.— Eu me inclino para trás no sofá, sem encontrar os
olhos da Dra. Taylor. —É só… Parecia que quando ela saiu, ela
simplesmente se esqueceu de mim. Sabe...

—Eu sei.

—Entendo que ela não podia ligar e que era impossível ela
voltar para casa.

—Bem, isso não torna seus sentimentos menos válidos, Ben.


Você foi ferido pelo que ela fez, você não pode controlar isso. E
nessa situação, ela também não podia.— A Dra. Taylor deixa o
bloco de notas na mesa de café e se inclina para frente. —Você
falou com ela sobre isso?

— Não. — Nego com a cabeça. —Como eu poderia fazer isso?


Afinal, olha o que ela fez por mim?

—Parece que ela está tentando compensar você?

—Talvez. Eu realmente não sei.

—Talvez conversar com ela seria uma coisa boa? Ajudá-la a


divulgar tudo ao público.
—Você acha?— pergunto.

—Eu sei, e você nunca sabe até tentar, certo?

Acho que a Dra. Taylor acha que suas palavras vão me fazer
sentir melhor, mas não o fazem. Ainda há esse sentimento estranho
no meu estômago. Eu não acho que Hannah ficaria brava comigo
por se sentir assim. Mas eu não sei; parece que se eu lhe contasse
tudo isso...

Então as coisas nunca mais seriam as mesmas.


DEZESSEIS
—Pronte para voltar para a escola?— é a primeira coisa que
Mariam diz quando aceito a ligação do FaceTime.

—Não nessa vida—, eu digo.

—Vamos lá, só mais dois meses.

—Dois anos e meio—, eu corrijo.

El ri. —Então, eu e Shauna saímos de novo.

—Shauna?— Eu me perco em pensamentos, tentando


lembrar quem é.

—A garota, aquela com quem eu gosto muito de beijar e de


sair de mãos dadas agora? Cabelo roxo que parece que ela vai te
transformar em sapo se você a enganar.
Jesus, como eu poderia esquecer? —Ah, certo, desculpe…

—Você está bem?— El se inclina para a câmera. —Você


parece espaçose esta noite.

—Só pensando em muitas coisas.

—Fale com sua mãe enby!— El ri. —Dr. Haidari está no


prédio.

—É um cara.

— De novo? Olhe para você. — El torce. —Cara diferente ou


mesmo cara?

—O mesmo.— Abro a boca antes de perceber o que estou


fazendo. —Mariam, como você faz alguém gostar de você?

El solta um gritinho e eu tenho que colocar no mudo antes


que Hannah ou Thomas pensem que algo está errado. —Desculpe,
eu só tenho esperado este dia para sempre.— El finge enxugar uma
lágrima.

—Ame o voto de confiança—, acrescento.


—Como ele age ao seu redor?

—Da mesma maneira que ele age com todo mundo,


praticamente.

—É esse tipo de amizade confusa, onde você não sabe se ele


realmente está apenas sendo amigo ou se está flertando com você?

—Basicamente,— Eu suspiro. —Eu nem sei se ele é esquisito.


Ou como tudo isso não-binário funcionaria.

—Cruze seu coração e espero que ele seja bi?— Mariam até
faz o pequeno “x” sobre o peito.

Não consigo não rir.

—O que você sabe sobre ele?

— Esse é o tipo de coisa. Não sei se gosto dele ou se gosto


dele.

—Você já teve uma queda antes, Ben?


—Na verdade não. Quero dizer, há pessoas na TV que eu
acho atraentes, mas ninguém realmente me atraiu, se isso faz
algum sentido —, digo.

—Nem Chris Evans?— el pergunta.

—Ele é bonito demais, isso não conta.

— Verdade. Como você se sente em torno de Nathan?

É uma sensação tão estranha, honestamente, e nunca me


senti assim antes de alguém. —Ele me deixa nervoso, mas não
realmente de um jeito ruim?— Parece estranho quando digo em voz
alta, mas é exatamente assim que se sente.

—Como seu estômago fica todo estranho e você sente que vai
ficar doente, mas isso nunca acontece?

—Nojento, mas preciso—, eu digo, porque é. É a verdade.

—Sim, você está apaixonade, meu amigue. Hard-core 28

também.

28 Intenso . Implacável .
—Oh.— É estranho que eu tenha minha melhor amiga para
confirmar isso para mim? É estranho. Mas pelo menos eu sei ao
certo agora. Eu tenho uma queda por Nathan Allan.

—Ele disse algo sobre sua sexualidade ou algo assim?

—Não.

—Ele não sabe que você é não binário, sabe?

—Eu não sai para ele, não acho que consigo

—Oh, Benji.— El parece de coração partido.

—Está tudo bem, estou me acostumando.

—Você não deveria. Ele disse alguma coisa que faz você
pensar que seria uma coisa ruim sair? — el pergunta.

—Não que eu possa realmente pensar.

—Você não quer?

—Estou preocupade... Ele não parece ser o tipo de pessoa que


me abandonaria ou me odiaria. Mas... e se ele for?
Eu nunca poderia imaginar Nathan sendo esse tipo de
pessoa. Mas uma vez que digo essas palavras, não há como
recuperá-las. Agora não há outra escola para a qual me transferir,
nenhum lugar para eu correr. Eu passaria os próximos meses como
pária.

—Oh, Ben ... Talvez se o fizesse falar? Como, trazer algo sobre
sexualidade ou identidade?

—Porque isso é totalmente natural e ele não suspeitaria nem


um pouco.

—Gostaria de saber o que lhe dizer. Desculpe-me.

—Talvez eu o supere—, eu digo. Qual é o sentido de tanto


querer? Isso não vai me ajudar. Não vai ajudá-lo. Ele merece algo
menos complicado, mais fundamentado. —Ele provavelmente está
indo para a faculdade de qualquer maneira.— Eu estarei aqui.

—Os relacionamentos no ensino médio dificilmente duram


depois da formatura, se isso ajuda.

—É o que for—, eu digo enquanto meu telefone começa a


tocar na minha mesa de cabeceira. Fale do diabo e ele lhe enviará
uma mensagem. Talvez eu tenha falado muito sobre ele, e seu
senso de Nathan soou ou algo assim.

Nathan: Ei, você está ocupado neste fim de semana?

—É ele—, digo a Mariam.

Nós realmente não conversamos muito desde aquela noite no


telhado. Aparentemente, seus pais fizeram uma viagem para visitar
sua avó em Maggie Valley no último minuto. Fora isso, tem sido um
punhado de textos aqui e ali, mas nunca uma conversa que dura
mais do que alguns minutos.

Eu: Na verdade não, pelo menos não eu acho. Por quê?

Eu: Você voltou?

—O que ele está dizendo? — Mariam pergunta.

—Ele está falando sobre este fim de semana.

—Ohhh, deixarei vocês dois em paz. Estou prestes a desmaiar


de qualquer maneira.

Eu sopro um beijo para a câmera. — Boa noite.


Mariam também manda um beijo. —Você também, jovem
amante.— Eu fecho o laptop, deixando-o exatamente onde está.

Nathan: Sim, voltei hoje de manhã, queria ver se você quer sair
ou algo assim?

Eu: Oh, com certeza.

Nathan: Tem uma coisa legal acontecendo na cidade no sábado,


quer dar uma olhada?

Eu: O que é isso?

Nathan: É uma surpresa ;)

Nathan: Se você disser sim, é claro.

Eu: OK…

Nathan: Impressionante

Nathan: Posso buscá-lo por volta das 5? Não começa antes das
6:30, mas quero chegar cedo.

Eu: Isso é bom.


Nathan: Tentando garantir que chegamos lá com tempo
suficiente. Essas coisas podem ficar um pouco selvagens.

Eu: ok ... então, como foi a sua avó?

Inclino-me na minha cama e pego meu bloco de desenho,


precisando de algo para limpar minha cabeça. Eu passo as páginas
dos esboços. Bem perto do fim, há o Nathan. O desenho dele em
sua cama, ainda inacabado. E isso me faz pensar no retrato dele na
escola.

Se eu concordar com esta mostra de arte, a Sra. Liu vai


querer essa? Ela parecia realmente gostar. Não sei como me sinto
com meus colegas de classe vendo isso. Parece muito pessoal.

Nathan: Foi legal, embora um pouco chato. Ela não tem wi-fi e o
serviço lá embaixo é péssimo. Basicamente, a única vez que
pude enviar uma mensagem para você foi quando fomos ao
Walmart.

Oh. Então ele não estava me ignorando.

Eu: Isso é péssimo, estou praticamente perdido sem wi-fi

Nathan: Mesmo!!!!!!!!
Nathan: Então, te vejo amanhã?

Eu: Certo

Nathan: Impressionante, boa noite Benjamin

Eu: Boa noite Nathaniel

Quanto mais eu penso sobre o que vou vestir hoje à noite,


mais preocupada fico. Nathan ainda não me diz exatamente o que
estamos fazendo, apenas que é algo no Pullen Park. Ele também me
proibiu de procurar no site do parque uma lista de eventos. Não
estou muito claro sobre como ele espera fazer cumprir esse último,
mas mantenho minha promessa.

Por que estou tão nervose? Eu não deveria

Além disso, não é como se isso fosse um encontro. Nós somos


apenas amigos. Amigos saindo juntos e não fazendo mais nada.
Olho para minhas mãos, minhas unhas nuas agora.
—Ei, você precisa de dinheiro hoje à noite?— Hannah bate na
minha porta enquanto eu me olho no espelho. Eu troquei de camisa
três vezes agora, finalmente decidindo por um dos botões que ela
me comprou. Não é o floral. Eu ainda acho que parece que foi feito
para uma ocasião mais especial. Talvez a mostra de arte, se eu
decidir fazê-lo.

—Eu realmente não sei.

—Ok, aqui estão quarenta por precaução.— Ela me entrega


duas notas de vinte dólares dobradas. —A menos que seja outra
festa que você está mentindo para mim.

Considero recusar por meio segundo, mas se o que quer que


Nathan esteja me levando hoje à noite exija algum tipo de taxa de
inscrição, ficarei sem sorte sem ela. — Obrigado. Pego o dinheiro e
deslizo na minha carteira. —E não é uma festa, eu prometo.

— Sem problemas. A que horas ele vem?

Eu checo meu telefone. —Cerca de cinco minutos atrás.—


Merda, eu já estou atrasade. Eu corro para o banheiro de Hannah e
Thomas para roubar um pouco da colônia de Thomas, porque,
aparentemente, vou sair hoje à noite. Eu até paro na frente do
espelho para tentar colocar alguns esforços no meu cabelo, mas
realmente não há como consertar essa bagunça. Talvez eu deva
pedir à Hannah que corte, mas eu meio que gosto dessa maneira.
Antes de sair do banheiro, tomo minha segunda dose de Xanax29
durante o dia e lembro a data e a hora no caderninho que a Dra.
Taylor me deu.

Após a verificação tripla, eu tenho tudo, telefone, chaves e


carteira, aceno adeus a Hannah e Thomas. Eles estão assistindo
um reality show e comendo comida na sala de estar. —Fique
seguro, jovem.— Thomas acena para mim.

—Sem promessas—, eu grito da porta. —Mais tarde eu tô em


casa,

—Meia-noite, o mais tardar, por favor!— Hannah grita de


volta.

Nathan está apenas entrando na garagem quando eu fecho a


porta atrás de mim. —Desculpe o atraso, mamãe não me deixou
sair sem passear com o cachorro—, diz ele depois que eu fecho o
cinto de segurança.

—Tá tudo bem. Então ainda não há dicas de onde estamos


indo?

29 Xanax é usado principalmente para ansiedade


—Ah... ah... — Ele mexe o dedo. —É uma surpresa, mas vou
lhe dizer que envolve um dos melhores filmes de todos os tempos.

—Isso ainda soa vagamente malicioso.— Eu o vejo colocar o


carro em marcha à ré e sair da garagem. —Park e um filme, hein?

Nathan olha para mim, sorrindo como sempre.

O Pullen Park é enorme. Enorme, enorme. Eu nunca


realmente criei o hábito de ir a parques, mesmo quando criança.
Dessa vez, vi uma agulha em um trepa-trepa, contei à mamãe e
nunca mais voltamos a esse parque ou a qualquer outro parque.
Não posso dizer que a culpo depois que ela explicou o que poderia
ter acontecido se eu tivesse pegado.

—O que a gente tá fazendo aqui?!

Acabamos de andar agora. Aparentemente, não há vagas de


estacionamento próximas do evento, então tivemos que estacionar
do lado oposto. O que significa muita caminhada.

—Já ouviu falar de um pequeno filme chamado Star Wars?


—Não. Conte mais.— Eu olho para ele e ele apenas começa a
balançar a cabeça. —Isso não explica por que estamos em um
parque. Ou por que você está carregando uma cesta.

—É uma exibição. A cidade faz isso cerca de duas vezes por


mês, eles montam esse estágio e projetam um filme na tela para que
todos possam assistir.

—Oh, então por que estamos aqui tão cedo?

—Para conseguir bons lugares.— Ele dá um tapinha na cesta


em seus braços, e eu juro que é a coisa mais estereotipada de vime
que eu já vi. —Essas coisas são sempre selvagens. Se você não
chegar cedo, ficará preso na seção frontal. Não tem graça.

—Então podemos ficar aqui por uma hora e esperar?

—Eles tocam música—, protesta Nathan. Além dele balança a


cesta em minha direção. —Eu tenho um piquenique.

—Um pique-e-nique?— Eu tento arrancá-lo, mas ele se afasta


no último segundo.

—Mas o meu Titanic piada foi datada, hein?— Finalmente


chegamos a esse portão enorme que leva diretamente à arena de
concertos, que não é muito mais do que uma colina com um palco.
Há seções de concreto próximas à frente para cadeiras, mas a
maioria da arena é de grama.

—Uau—, eu digo.

—É como um teatro. Você quer ir para a seção do meio. —


Nathan aponta para onde a multidão está começando a demorar.
Pode haver cerca de trinta pessoas já. —Veja, a maioria das pessoas
quer ir para frente ou para trás, mas você não consegue esse som
nítido.

—'Som nítido'?— Eu tento não rir. —Quanto posso pagar


para você nunca dizer 'nítido' de novo?

—Muito engraçado.— Sua boca se espalha naquele grande


sorriso. —Este é um bom local.— Nathan enfia a mão na cesta e
puxa este cobertor absolutamente enorme, deixando a leve brisa
desdobrar para ele antes de se acomodar.

—Aqui. Sente-se, meu príncipe.

—Príncipe?— Eu me sinto menor. Ele não sabe, ele não pode


saber. Apenas pare de fazer um grande negócio com isso.
Ele pega a cesta e se ajoelha. —O que há de errado em ser
um príncipe?

—Nada.— Eu tento sacudir esse sentimento estranho. —


Nada. Então, o que temos aqui?

—Comprei alguns sanduíches. Mas eu não tinha certeza do


que você gosta. — Nathan abre a cesta e começa a arrumar tudo. —
Tem presunto e queijo, peru com alface e bacon. E caso você seja
vegetariano, há um vegetariano. Nem queijo, também é vegano!

Olho as escolhas, pegando o presunto e o queijo.

—Clássico, legal.— Nathan escolhe o peru.

—O que fazemos enquanto esperamos?

—Nós comemos, conversamos, fazemos um pouco de


relacionamento individual—. A música começa a ecoar pelos alto-
falantes na parte de trás da arena.

—Parece divertido.— Desembrulhei o sanduíche e dou uma


mordida. —E daí?— Eu engulo em seco.
—Então ...— ele diz, balançando um pouco para frente e para
trás.

— Sobre o que você queria conversar? — pergunto.

Ele morde seu sanduíche novamente. —Bem, por mais que


eu adorasse sentar aqui e ter uma conversa desajeitada com você,
acho que precisamos ter uma discussão séria.

—O quê?— Minha mente corre com pelo menos mil


possibilidades. Ele descobriu isso de alguma forma? Ou talvez a
noite no Stephanie realmente o assuste, e ele quer saber
exatamente o que há de errado comigo. Talvez ele não queira mais
ser amigo? Não, isso é bobagem. Por que ele me convidaria para
sair assim, nos preparava um jantar, se ele queria parar de ser meu
amigo?

Nathan sorri de orelha a orelha. —Acho que devemos nos


conhecer um pouco melhor.

— Ah. Um… Tudo bem?

—Vamos lá, eu te conheço há quase três meses e mal sei a


primeira coisa sobre você.— Ele começa a contar. —Você gosta de
desenhar, o sobrenome é De Backer, você mora com sua irmã, você
é um pouco estranho, mas eu gosto disso em você.

—Não sou—, eu argumento.

—Cara, vamos lá.— Ele pega o sanduíche vegetariano. —Eu


nem sabia se você é vegetariano ou não.

—Tanto faz—, eu xingo. —O que quer saber?

Ele se recosta no cobertor, cruzando os braços sob a cabeça.


—Espere, tem que pensar em uma boa.— Ele pensa por um
momento. —Ok, então qual é a sua cor favorita?

—Eu gosto de verde e pur...

—Ah... ah... eu disse favorito. Não são as que você gosta.

—Você vai rir de mim.— Coloquei meu sanduíche no


cobertor, meu apetite subitamente esquecido.

—Eu prometo que não vou rir. Promessa de mindinho. — Ele


mostra seu mindinho.

Eu pego o dedo dele. —Rosa. Eu gosto de rosa.


—Rosa é uma cor perfeitamente aceitável. Por que eu riria?

Eu dou de ombros. —Porque o rosa é “feminino”, porque, por


algum motivo, até cores foram atribuídas a gênero. Porque eu
deveria ser um menino, e os meninos não deveriam gostar de rosa.

—Existe um tom particular de rosa que você gosta?

—Eu pensei que era a minha vez?

Isso o faz rir. E noto pela primeira vez como é ofegante, a


maneira como o peito se move e como a boca de alguma forma fica
maior, mesmo que isso pareça impossível. —Touché, De Backer.
Então, qual é a sua pergunta para mim?

—Você disse que se mudou quando era jovem.— Há sim


alguma coisa Eu quero perguntar a ele, mas parece demais.

—Verdade, mas não exatamente uma pergunta.

—Gosta daqui?

—É legal. Fiz muitos amigos novos, mas às vezes sinto falta


dos meus velhos. Realmente não tinha escolha. — Ele tenta rir
disso. —Mamãe conseguiu uma oferta de emprego melhor e não
pudemos deixar passar.

—Oh, isso é péssimo.— Ele parece tão subjugado em um


instante.

—E você? Gosta daqui?

Eu pego a grama distraidamente. —É bom—, eu digo,


realmente sem saber o que mais há a dizer. —A coisa toda da
cidade está demorando para se acostumar. Goldsboro é uma cidade
pequena. O tipo em que todo mundo conhece todo mundo, e você é
parente de alguma maneira, se você olhar o suficiente para uma
árvore genealógica.

—Ugh—, Nathan zomba. —Eu odeio o país.

—Está quieto—, acrescento.

—Às vezes, um pouco de barulho não é uma coisa tão ruim.—


Nathan se senta para dobrar seu sanduíche e o deixa ao lado do
meu. —É a sua vez.

—Está bem.— Eu balanço para frente e para trás, tentando


pensar no que posso perguntar. —E eu não posso passar?
—Nenhum!

—Ok. Você gosta de ler, qual é o seu livro favorito?

Nathan se inclina para trás e solta um gemido baixo e longo.


—Como você pode me fazer escolher?

—Pare de evitar, Allan.— Eu sorrio. —Eu já respondi suas


perguntas difíceis.

—Mas isso é sobre livros!— Nathan chega mais perto. —De


todos os que eu li, você espera que eu escolha apenas um favorito?

Eu reviro os olhos. —Ok, bebê chorão, eu vou alterar. Qual é


o seu tipo favorito de livro?

—Muito mais gerenciável—, diz ele. —Ainda é difícil, mas


acho que posso responder.

—Você está planejando fazer isso tão cedo?— pergunto.

—Espertinho.— Nathan solta essa risada baixa. —Gosto do


tipo em que posso me perder, daquelas que me deixam escapar por
cem páginas de cada vez.
—Huh.— Eu o encaro por alguns segundos.

—Aceitável para você?— Ele ainda está sorrindo.

Aceno em concordância. —Por enquanto? É a sua vez.

Nathan respira fundo, eu assisto a lenta ascensão e queda de


seu peito. —Ok, waffles ou panquecas?

— Mesmo?— Eu olho para ele.

—Responda à pergunta, De Backer.

—Waffles

—Resposta correta. Claramente, o tratamento de café da


manhã superior.

—Isso é um desagrado?— pergunto.

—Você quer dizer escolher entre uma bagunça encharcada e


uma delícia? Não, de modo algum.

—E quanto à rabanada, ou crepes?


—Bem, eles são substitutos perfeitamente bem, mas o waffle
tem tudo. Está bem ...

Parar ele. —Existe essa palavra novamente.

Nathan revira os olhos e continua. —É a forma perfeita, com


pequenos suportes para xarope, e você pode ter muitos sabores
também.

—Uau, um verdadeiro Waffle Master.— Estou tentando não


rir.

—É um assunto sério, Sr. De Backer.— Ele ainda está rindo.


—Ok, agora você.

Não acho que seja a minha vez, mas se ele insisti. —Você
quer escrever um dia?

—Talvez. Eu não ligo para ficção, escrevendo de qualquer


maneira. Eu gosto de escrever trabalhos e coisas assim, a pesquisa.
É apenas diversão.

—Sério?
—Eu só gosto disso. Eu sempre aprendo algo novo quando
tenho que escrever um artigo —é tudo o que ele diz sobre isso. —O
que você gosta de fazer? Quero dizer, além do empate.

Viro de lado para poder me deitar ao lado dele. —É


praticamente isso.

—Você não tem outros hobbies?

—Na verdade não.— Eu me paro. —Papai e eu não fizemos


muito juntos.— Acho que essa pode ser a primeira vez que discuto
adequadamente meus pais com Nathan. —Mamãe gosta de
cozinhar, e eu às vezes a ajudava.

Espero que ele pergunte sobre mamãe e papai, mas ele não
pergunta. Nathan continua olhando para frente. —Sua vez—, diz ele
calmamente.

—Você tem algum segredo?

Ele não responde imediatamente, o que me assusta.


Claramente, essa não é a pergunta mais fácil, mas ele responde
antes que eu perceba. —Isso soa ameaçador—, ele finalmente diz.
—Eu posso te prometer que não sou um assassino de machado
nem nada.— Nathan se vira de lado, usando o braço como
travesseiro.

—Como nada ruim?

—O que você quer dizer?

—Assim como… Existe um segredo que você tem, que não


deve ser grande coisa? Que você deveria ser capaz de contar às
pessoas, mas não pode? Tipo, nem é uma coisa ruim, mas parece
que as pessoas pensam que é.

Espero que ele ria na minha cara, me chame de algum tipo de


aberração. Ou me cutucar e cutucar até eu contar a verdade. —
Sim, eu sei exatamente o que você quer dizer.— Suas palavras me
surpreendem. Ele fala devagar, seus olhos castanhos olhando bem
nos meus. —E é aterrorizante.

— Desculpa.— Eu tento rir.— Não quis me aprofundar tanto.

—Não, é legal. Só um pouco inesperado. — Ele respira fundo,


seu peito subindo e descendo. —Coloquei meu leite no meu cereal
primeiro.

É tão aleatório que não posso deixar de rir dele. — O quê?


—Quando faço cereal, coloco o leite em primeiro lugar. É
sempre um gosto melhor assim.

—Como pode ter um sabor diferente?

Ele encolhe os ombros. —Apenas faz.

—Esse é o seu grande e profundo segredo sombrio?

—Nem de perto, mas não posso contar totalmente todo o meu


mistério. Eu tenho que salvar algumas coisas.— Ele pisca, e a
temperatura ao meu redor definitivamente aumenta.

Tento pensar em algo que posso compartilhar, mas nada tão


aleatório quanto colocar leite em uma tigela antes que o cereal me
lembre. —Coloco minhas meias e sapatos, um de cada vez.

—O que isso quer dizer afinal?

—Faço aquela coisa em que calço uma meia e depois o


sapato. Depois a outra meia e o outro sapato. Um passo de cada
vez.

—Por quê?
—Por que você coloca o leite primeiro?— Pergunto
novamente.

—Você me pegou lá, De Backer.— Ele solta esse longo suspiro


e sorri.

Assistir a um filme em um parque é uma experiência


totalmente diferente. Por um lado, as pessoas esgueiram-se em
bebidas. Ninguém se perde, mas isso torna a multidão mais
barulhenta. E há aplausos em frases famosas, e quando a Estrela
da Morte explode. Há alguns boatos sobre a mensagem do
holograma de Leia e pessoas gritando na cerimônia de premiação,
que provavelmente tem mais a ver com o álcool do que qualquer
outra coisa.

Mas eu admiro alegremente que é muito mais divertido com


outras pessoas. Definitivamente muito mais divertido com Nathan.
Em um ponto na metade, eu o pego balbuciando pelas linhas,
olhando com os olhos arregalados para a tela.

—Leia sempre foi a minha favorita—, ele diz quando me pega


olhando. —Chorei por duas semanas quando Carrie Fisher morreu.
—Eu sempre fui mais parcial com Luke.— Ele não era o meu
“despertar gay”, como Mariam gentilmente dizia, mas estava perto.
De fato, Star Wars é totalmente injusto quando se trata de leads
atraentes. Mark Hamill, Carrie Fisher, e Harrison Ford? Total e
completamente desnecessário.

Ficamos por aqui para os créditos, esperando e observando


todo mundo arrumar suas coisas e sair. Nathan fecha o cobertor e o
joga na cesta vazia, descartando nossos sanduíches meio comidos
na lata de lixo perto da entrada.

—Você quer jantar ou algo assim?— ele pergunta. —Eu sei


que os sanduíches não eram muito.

Meu apetite se foi há muito tempo, o pão está pesando muito


no meu estômago, apesar de eu ter comido apenas metade dele. Se
você quiser —Não estou com tanta fome.

—Nah, nós iremos outra hora.

Eu checo meu telefone. — São apenas oito e meia. Parece


cedo para voltar para casa.

—Quer dar um passeio?


—Claro.

—Vamos.— Voltamos para o carro e Nathan deixa a cesta no


banco de trás.

—Então para onde?

—Quer ver o lago?

—Há um lago?

—Bem, é mais um lago glorificado, mas eles colocam essas


luzes sobre a ponte e é muito bonito à noite.

—Parece bom.

—A lagoa é.

Não sei exatamente a que distância essa lagoa está, mas


definitivamente não vejo nenhuma ponte ou lagoa ao meu redor.
Pelo menos é legal, e talvez seja exatamente isso que eu preciso.

—Então, você gostou do filme?— ele pergunta quando


começamos a trilha.
—Não sei, as vinte outras vezes que vi foram ótimas, mas
desta última vez ... A mágica se foi, sabia?

—Ok, Sr. Sarcasmo, é o suficiente.— Ele esbarra em mim


com o ombro.

Engulo o nó na garganta. —Foi ótimo, obrigado.

—O próximo mês é Império. Podemos ir se você quiser.

—Isso seria bom—, eu digo.

Eu sigo Nathan de perto. Pelo menos não está mais muito


cheio. Eu acho que a maioria das pessoas estava pronta para ir
para casa depois do filme.

—Ei.— Nathan para de repente, então eu quase o encontro.


—Você está bem?

—O quê? Sim— digo rapidamente, tentando lembrar onde


estou. —Claro.

—Você parecia um pouco espaçoso lá. Eu disse seu nome


cinco vezes.
— Ah, me desculpe. Eu me perdi na minha cabeça, eu acho.

Eu entendo esse sentimento! —E o que você estava pensando


sobre mim?— ele pergunta.

— Ah, hum… Nada— digo a ele.

—Sério?

Aceno em concordância.

—Quer saber o que eu estava pensando?

Eu sinto essa pequena onda de pânico, como se ele fosse


pegar agora para jogar uma bomba em mim. Eu tenho que dizer a
mim mesme para parar com isso. Ele não vai fazer isso,
especialmente agora. Isso simplesmente não vai acontecer.

Mas não acredito em mim mesma.

—Claro.

—Eu estava pensando em Ryder—, diz Nathan. —


Especificamente, desta vez, quando fomos a uma loja especializada
de animais no centro da cidade e compramos para ele essas coisas
de chocolate que deveriam ser seguras para ele comer.

— O que aconteceu?

—O pequeno punk não os comeu. Gastei vinte dólares em


doces apenas para ele, e ele vira o nariz para mim.

Eu bufo. —Que idiota.

—Eu disse isso a ele também. Ele apenas me deu aqueles


olhos grandes, e eu não pude ficar bravo com ele.

—Qual a idade dele?— pergunto.

—Nove! Mamãe o pegou para mim quando nos mudamos


para cá, pensei que poderia ajudar na transição para um novo
lugar.

—Que legal. Eu sempre quis um gato. Mamãe e papai não são


fãs de animais de estimação mamíferos ou répteis. Eles me
deixaram pegar um peixe quando eu tinha dez anos. Um peixinho
dourado que chamei de Goldie. Porque eu definitivamente fui
criativo com minhas escolhas de nome.
—É aqui em cima.— Ele aponta, e eu mal consigo distinguir
as luzes ao longo da grade. —Ah não!— Ele pega minha mão e
corremos pela trilha em direção à ponte. Não diminuindo a
velocidade até estarmos a um ou dois metros de distância.

Espero que ele me devolva minha mão, mas ele não o faz. É
legal. Tão agradável quanto aquela noite no telhado. Melhor ainda
agora, porque está ficando mais frio e ele é incrivelmente quente.
Tento não pensar em como é isso. Se pudéssemos ficar juntos, se
pudéssemos dar as mãos e andar pela cidade sem ter que nos
esconder.

Não. Afasto os pensamentos. Não posso. Isso só vai piorar


tudo isso.

—Você deveria ver este lugar no quatro de julho. Eles têm


fogos de artifício sobre a água e tudo mais. Está escuro, as luzes da
rua ao longo da passarela e as luzes dos trilhos apenas fazem
muito.

Eu deixei Nathan nos levar até a borda, e ele finalmente


soltou minha mão.

Não tenho coragem de dizer a ele para voltar atrás.


Ele não estava errado, é bonito. É pequeno, mas é o
suficiente, com esta pequena área de praia do outro lado da água, e
uma doca cheia desses barcos a remo de plástico que as pessoas
adoram alugar por algum motivo.

—A água me assusta—, eu digo, espiando por cima da grade


de madeira, olhando para a maneira como a água se move
enquanto os peixes nadam.

—Você está com medo de um lago?

Eu dou de ombros. —Nunca fui fã de água. Uma vez meus


pais me levaram à praia e me cortei em uma concha. Isso não foi
divertido. Ainda tenho a cicatriz branca pálida na parte inferior do
pé. Essa também foi a minha primeira vez em uma sala de
emergência. Aparentemente, tinha sido tão profundo que não
coagularia, e mamãe ficou assustada.

— …Caramba.

—Outra vez eu estava nadando, e um bando de peixes


continuou passando por mim e isso me assustou. Então, eu
comecei a chorar. — Papai me disse para “cuidar”, mas eu passei o
resto do dia sob o guarda-chuva, a areia grudando nas minhas
pernas como uma segunda pele apertada.
Nathan começa a rir incontrolavelmente, tentando esconder o
rosto nas mãos. —Você foi traumatizado pelo oceano, oh meu Deus.

—Eu tinha cinco anos, me deixe em paz.— Eu o empurro. —


Além disso, você viu metade das coisas que os biólogos marinhos
descobrem lá embaixo. O oceano é assustador como o inferno.

Nathan faz isso entre um escárnio e uma risada. —Não posso


discutir com você.

Eu me inclino contra a grade ao lado dele. —Eu odeio a praia


também.

—Por quê?

—Odeio areia. É grosseiro e chega a todos os lugares. — Eu


me pergunto se ele vai entender.

Nathan geme tão alto que as pessoas correndo do outro lado


do parque se voltam para olhar para nós. —Por favor, diga-me que
você não citou apenas o pior filme da saga.

—Pensei que você poderia gostar disso.

—Eu te odeio—, diz ele com um sorriso.


Nós dois rimos até não podermos mais, até o ar da noite ficar
cheio com nada além dos sons da água. É difícil saber que, além
daqueles muros que atravessamos, existe uma cidade inteira de
pessoas. Este lugar é muito calmo para isso.

—Esta noite foi divertida—, eu digo.

—O que?

—Sim. Obrigado por me convidar. Eu sei. Sei que não tenho


sido a pessoa mais fácil de se conviver.

— Tudo bem. — Ele espera um pouco. —Pessoas fáceis são


chatas.

Talvez agora seja o meu momento. No momento em que digo


a verdade, ou no momento em que o alcanço e o beijo. Alguma
coisa. Sinto que devo isso a ele pelo menos. Eu peso tudo na minha
cabeça, mas a resposta é óbvia.

—Ei, Ben.

—O que?— Olho para ele. E isso toma a decisão para mim.


Não posso contar a ele; Eu não posso estragar isso. E nem quero
pensar em como ele pensará de mim depois. Não quero um mundo
em que Nathan Allan me odeie, mesmo que as chances de isso
acontecer sejam muito, muito pequenas. Eu simplesmente não
posso.

—Esta noite foi a primeira vez que você falou sobre seus
pais.— Ele espera. — Como realmente falou sobre eles.

—Huh.— Eu acho que ele está certo. — Desculpa.

—Não, é legal, eu só notei.— Ele respira fundo e exala


lentamente. —Não consigo imaginar como é ser deixado para trás
assim. Especialmente por pessoas que deveriam te amar.

—Eu acho que eles me amavam—, eu digo. —E talvez eles


ainda o façam. Eu sei que uma parte de mim ainda faz. Eu só... Eu
realmente pensei que tudo ficaria bem.

—Esse é o seu segredo, não é? O grande?

Aceno em concordância. Porque eu devo isso a ele.

—Você realmente acha que voltaria a falar com eles


novamente? Depois que eles fizeram isso.

—Agora, quem está fazendo as perguntas pesadas?


—Oh.— Os olhos de Nathan se arregalam. —Me desculpe. Eu
nem ... - ele gagueja. —Não responda a isso.

—Não, está ... tudo bem—, eu digo. Na verdade, essa é outra


pergunta à qual não sei responder. Eu gostaria de poder dar a
Nathan um não firme. Eles me deixaram, me castigaram por apenas
tentar ser eu mesme. Eles não merecem nunca mais me ver. Eu
imaginei uma dúzia de cenários. Voltando para a casa deles e
repreendendo-os. Às vezes estou com Hannah ou Thomas. Outras
vezes estou sozinhe.

Mas eles são meus pais, e não consigo imaginar nunca mais
vê-los. Eu realmente não quero pensar em como nossa última
conversa de verdade foi eles gritando e gritando para eu sair da
casa deles. Nossa casa

—Eu não sei—, eu finalmente digo.

—Ei.— Ele pega minha mão. —Eles não te merecem. Você é


dez vezes a pessoa que eles são, okay?

—Obrigado—, eu digo.
—Aconteça o que acontecer— seu aperto se aperta um pouco
—desejo tudo de bom, Benjamin De Backer.— Ele diz isso com um

sorriso. —Você merece.

Chego em casa mais tarde do que pretendo. Todas as luzes lá


embaixo estão apagadas e a garagem está fechada, então tenho que
entrar pela porta dos fundos. Nathan está esperando que eu saia
pela porta da frente e deixe que ele saiba que estou segure lá
dentro. Subo as escadas, deixo Hannah e Thomas saberem que
estou em casa e rastejo sob os lençóis da minha cama.

Exceto que eu não consigo dormir.

Por pelo menos uma hora e meia, eu me viro, fechando os


olhos e tentando fazer meu corpo descansar. O problema é que não
acho que essa seja minha ansiedade. Isso parece diferente, como se
minha mente estivesse ocupada demais para desligar como deveria.
O que talvez signifique isso é ansiedade, mas não parece normal.
Está trabalhando horas extras e está pensando demais no que
Nathan disse.

Sobre mamãe e papai.


Pego meus lençóis e desço as escadas, tomando cuidado para
não ser alto demais. Não que haja realmente algo errado com o que
estou fazendo.

Se Thomas ou Hannah acordarem, direi que estava pegando


um copo de água, ou tentando entrar em contato com Mariam, ou
algo assim. Pego o laptop em seu espaço na mesa de café e entro no
Facebook, algo que não faço há meses. Eu nunca quis a coisa
maldita, mas mamãe queria poder me marcar nas coisas, e todos os
meus colegas de classe que ainda não haviam descoberto o Twitter
ou o Tumblr conversavam sobre o Facebook como se fosse a coisa
“nova”. Sério, estávamos sempre tão atrasados em Goldsboro,
mesmo nas mídias sociais.

A primeira coisa que vejo é o meu próprio perfil. Uma selfie


estranhamente angulada que eu provavelmente achei que parecia
boa há um ano quando a tirei. Então eu vejo os pequenos ícones
vermelhos no canto. Algumas notificações, fotos em que fui
marcado por algum motivo. Mas meus olhos vão direto para o ícone
da mensagem, o pequeno botão vermelho pairando sobre ele.

Há apenas um.

E é da mamãe.
Eu congelo, encarando a pequena prévia que o Facebook me
dá.

Brenda De Backer enviou uma mensagem: Ben… Não sei o que


dizer para você.

E isso simplesmente interrompe, esperando que eu realmente


abra para ler o resto. Mas eu não posso abrir!

Meu estômago aperta, e eu estou prese aqui, encarando o


nome dela, a versão em miniatura da foto de perfil dela. Uma dela e
eu na praia. Eu quase acreditaria que era algum tipo de insulto,
mas tem sido assim desde sempre. Eu pareço tão diferente. Meu
cabelo é mais curto; Eu estou sorrindo Essa imagem deve ter pelo
menos dois anos agora. Quando eu estava começando a questionar
tudo, quando pensei que talvez fosse gay, e isso seria tudo o que eu
tinha a esconder.

É quase como se alguém estivesse controlando minha mão, e


eu me sento impotente enquanto o cursor se movia para o nome
dela. O perfil da mamãe aparece, os últimos status que ela postou.
Nada muito importante. Mamãe nunca foi grande no Facebook, mas
há algumas fotos novas. Alguns dela e papai em casa, no quintal,
em jantares. E depois de algumas rolagens, chego às fotos comigo.
—Dia com meu bebê!— alguém diz.

Eu realmente sinto falta deles.

O cursor paira sobre a mensagem da mamãe novamente e,


desta vez, eu a abro. É datado de três meses atrás. E não havia
nada antes, exceto um dizendo a ela que meu telefone havia
morrido na escola e que eu queria ficar até tarde para um pouco de
aulas extras.

Ben. Não sei o que dizer para você. Seu pai e eu ... percebemos
o que fizemos e esperamos poder fazer as pazes com você. Não tenho
certeza do que mais posso dizer além de desculpar-nos e que
estávamos confusos sobre o que estava acontecendo. Sabemos que
você ficará com Hannah e esperamos que você não conte a ela sobre
esta mensagem. Talvez possamos nos encontrar um dia, na cidade
ou algo assim, e apenas conversar? Ben, por favor? Você é nosso
filho e, embora possamos não entender essa parte de você, seu pai e
eu gostaríamos de tentar fazer as pazes.

Eu odeio o jeito que as coisas ficaram, e acho que nunca


poderia me perdoar se as últimas vezes que falei com meus dois
filhos fossem em brigas. Por favor, Ben, considere isso?
Eu li a mensagem novamente e, pela terceira vez, esse
sentimento entorpecido tomou conta de mim enquanto eu tentava
entender as palavras novamente. Mas eles acabam perdendo o
sentido e clico na caixinha para digitar minha resposta.

As palavras nunca aparecem, e depois de mais meia hora, eu


saio da minha conta e fecho o laptop.
DEZESSETE
Não consigo tirar a mensagem da minha mãe pelo resto do
meu tempo. Até faço o download do aplicativo do Facebook no meu
telefone para continuar lendo, o que provavelmente não é saudável,
mas não consigo me conter. Eu continuo relendo e relendo,
repetidamente, imaginando o que mudou.

Como demorei muito para encontrar a mensagem, também


decidi verificar minhas contas de e-mail. Há meu e-mail pessoal real
que não recebe nada além de cupons Michaels. Duvido que mamãe
saiba esse endereço. Então meu e-mail antigo para Wayne, que eu
acho que mamãe sabe, porque a mesma mensagem está lá também.

A mensagem que teria sido enviada quase um mês depois que


eu saí.

Depois que eles me fizeram sair.


Eu tento preencher a maioria das noites com algum tipo de
barulho. Quando Mariam não pode fazer o FaceTime ou escrever
uma mensagem, vou até a sala com Hannah e Thomas. Na verdade,
penso em contar a Hannah, mas isso provavelmente terminaria em
desastre. Parte de mim também quer falar com Nathan, mas, na
verdade, sinto que a única pessoa com a resposta certa seria a Dra.
Taylor.

Talvez ela possa me falar sobre isso.

Exceto que não temos um compromisso até a próxima quinta-


feira. Acho que poderia pedir um tempo antes, mas sinto que isso
pode fazer Hannah suspeitar. Ela definitivamente sabia que algo
estava errado então. Além disso, há muito que fazer na escola
agora.

Definitivamente, está chegando mais perto ... bem, de tudo.


Até agora, recebi formulários sobre tutoria para exames finais e até
algumas pessoas querendo que eu as ensine em cálculo; um
panfleto para a noite sênior; informações sobre bilhetes de
formatura e formatura. É quase difícil de engolir. Apenas algumas
semanas, e tudo vai acabar.
—Ei, eu tenho algo para você.— Nathan procura em sua
mochila durante a aula.

—O que foi?— Olho a monstruosidade nas mãos de Nathan.


Está embrulhado principalmente em fita adesiva, mas posso ver os
rostos dos desenhos animados do BB-8 30 e Oscar Isaac
31aparecendo em alguns lugares.

—É um presente—, diz ele lentamente. —Você abre.

Eu pego o pacote e olho para ele.

—Você sabe, você é muito ruim nessa coisa toda de


abertura.— Ele puxa a cadeira para mais perto. —Vá em frente, eu
quero ver seu rosto.

Eu tento o meu melhor para desembrulhá-lo com cuidado,


mas com a fita o papel de embrulho meio que rasga em pedaços. E
por baixo de tudo isso há um caderno de desenho novinho em

30 BB-8 é um robô personagem da franquia Star Wars, sua primeira aparição foi em 2015 no filme
Star Wars: The Force Awakens.
31 Oscar Isaac é um ator e músico guatemalteco-americano. Oscar é mais conhecido pelos papéis em Star

Wars: The Force Awakens, Star Wars: The Last Jedi e Star Wars: The Rise Of Skywalker como Poe Dameron e em
X-Men: Apocalypse como En Sabah Nur / Apocalipse, o vilão título.
folha. Capa dura, encadernada em espiral, sem rabiscos na frente
ou notas ou pedaços extras de papel cutucando as bordas.

— Eu...

—Pensei que você poderia precisar de um novo, seu outro


estava parecendo um pouco bagunçado.

— Obrigado.— Eu olho para ele, e ele está sorrindo como


uma brincadeira total.

— É um prazer. Eu pretendia dar a você na noite em que


vimos o filme, mas isso me deixou totalmente louco.

—É perfeito— A campainha toca e todos os nossos colegas de


classe saem correndo.

Nós olhamos um para o outro por apenas uma batida por


muito tempo. —Bem, acho que te vejo em Chem.

É uma distração decente de mamãe e papai, pelo menos por


um tempo. Mas ainda há isso me atormentando. Talvez eu deva me
encontrar com eles, apenas para ouvir o que eles têm a dizer.
Realisticamente, acho que nunca poderia voltar para a casa deles,
mas só porque eles erraram uma vez não significa que não podemos
consertar o que resta entre nós.

Não é?

Hannah não ficará muito satisfeita, mas talvez ela entenda, e


talvez essa seja sua chance também. Não será perfeito, mas talvez
possamos ser uma família feliz um dia.

—Como foi o resto do seu tempo, Ben?— A Dra. Taylor me


pergunta quando nós dois estamos sentados no escritório dela. A
porta se fechou, aquela parede entre eu e Hannah se levantou.

—Ótimo.— Sinto-me relaxar no feio sofá amarelo.


Definitivamente, as coisas estão ficando mais fáceis com a Dra.
Taylor. Hoje não ligo para as consultas e acho que elas estão
realmente me ajudando. —Eu não fiz muito, eu saí um pouco com
meu amigo Nathan—, eu digo. — Como foi o seu?

— Ah, puxa. —Dra. Taylor ri. —Infelizmente, não tenho folga,


mas minha filha estava animada. Tirei alguns dias de folga e fomos
à Carolina do Sul para ver meus pais.
—Isso parece bom—, eu digo. Acho que é a primeira vez que
ouvi a Dra. Taylor mencionar a família. Há algo de bom nisso,
imaginar toda a vida que ela tem que eu nem conheço.

—Existe algo específico com o qual você deseja iniciar a


sessão, Ben?— ela pergunta.

—Na verdade sim. Eu realmente queria falar sobre algo que


aconteceu.

—Ok.— Ela clica na caneta, sempre pronta. — Vá em frente.

—Encontrei uma mensagem da minha mãe no Facebook. Já


faz alguns meses, mas na outra noite eu estava conversando com
meu amigo. Ele sabe que fui expulso e isso me fez pensar no que
eles estavam fazendo desde que eu saí.

Dra. Taylor se apega a todas as minhas palavras. Quero


dizer, ela sempre faz isso, mas há algo diferente em sua expressão
agora.

—Minha mãe se desculpou, ela queria ver se eu me


encontraria com ela e meu pai para que pudéssemos conversar.—
Pego meu telefone e trago a mensagem, deixando a Dra. Taylor ler
rapidamente.
—Entendo, e como você se sentiu ao ver isso?

—Foi estranho. Eu me senti meio entorpecide.

—Você acha que ela realmente quis dizer isso?— Dra. Taylor
devolve meu telefone. —O pedido de desculpas?

—Eu realmente não sei, acho que é difícil dizer a mensagem.


Além disso, é tão velho, quem sabe se eles se sentem da mesma
maneira agora.

—Você já pensou em contar a Hannah?

—Oh Deus, não, isso não seria bonito—, eu digo um pouco


mais alto do que provavelmente deveria.

A Dra. Taylor ri um pouco, o que me faz sentir melhor. —


Então, você quer se encontrar com eles?

—Era isso que eu queria perguntar a você. Se você achou que


era uma boa ideia.

—Bem.— Ela solta um suspiro profundo. —Essa pode ser


uma pergunta complicada. Por um lado, você quer ouvi-los, não é?
Aceno em concordância.

—E, por outro lado—, continua ela, —o comportamento deles


era realmente algo que você podia perdoar?

—Eu não tenho certeza.— Não quero pensar naquela noite,


mas não posso evitar. Tão frio, tão sozinhe, assustade da minha
mente enlouquecida. E tudo por causa deles. —Quero pensar que
eles mudaram, mas não quero me abrir assim novamente.

—É um pensamento assustador.— A Dra. Taylor suspira. —


Honestamente, não estou confortável sugerindo que você vá. Você
fez muito progresso, Ben, e vê-los novamente pode potencialmente
desfazer meses de trabalho de sua parte.

Eu suspiro. Imaginei que ela diria isso. E isso faz sentido.


Inferno, à noite em que eles apareceram na casa de Hannah deve
ser suficiente para me convencer a ignorar a mensagem. Exclua
meu Facebook para que eles não possam mais entrar em contato
comigo.

Mas eles sabem onde Hannah mora. Eles sabem onde estou.
Então, se eu excluir o meu Facebook, ainda há a chance de eles
aparecerem na porta dela um dia. E eles aparecerem sem aviso
prévio não será bom.
—No final das contas, a decisão é sua, Ben. — Não consigo
parar.

—Hannah ficaria louca se descobrisse—, eu digo.

—E essa é a batalha dela para lutar, não a sua. Talvez eu


esteja errada. Talvez isso possa ser uma coisa de cura? Talvez traga
todos vocês quatro juntos.

— Você acha?

—Não sei ao certo. Não posso prometer que você se


encontrará com eles e tudo terá mudado magicamente, e eles serão
tão receptivos e amorosos quanto você imagina.

—Claro.— Sinto meu estômago revirar. —Eu acho que quero


tentar.

A Dra. Taylor acena com a cabeça levemente. —Posso oferecer


alguns conselhos?

—Não é por isso que você está aqui?— Eu tento rir.


— Verdade.— Dra. Taylor mostra seu sorriso brilhante. —Se
isso é algo que você decide fazer, talvez deva ter um amigo com
você. Esse garoto da escola, talvez?

—Eu não sei se consigo.— Ainda não estou com ele.

—Compreensível, mas talvez apenas tê-lo por perto inspire


alguma confiança?

— Talvez. — Não consigo imaginar pedir para Nathan fazer


parte disso. Mas a ideia de ele estar lá, mesmo que ele fique do lado
de fora enquanto conversamos ou algo assim, isso me faz sentir
melhor. Isso exigiria muita explicação da minha parte, e eu não sei
se posso fazer isso com ele.

—Ben?— A Dra. Taylor espia por cima das armações dos


óculos.

—Desculpe—, eu digo, esfregando as mãos nos joelhos. —Eu


acho que vou fazer isso. Quero conversar com eles, ouvir o lado
deles das coisas.

A boca da Dra. Taylor é quase uma linha reta. —Apenas seja


cautelose, ok?
—Eu irei.

No segundo em que chego em casa, vou para o meu quarto,


certificando-me de que a porta está fechada. Provavelmente isso
parece um pouco suspeito demais, mas deixe Hannah e Thomas
pensarem no que querem. Abro o Facebook no meu telefone e vou
direto para minhas mensagens, relendo a da mamãe novamente.
Perdi a conta de quantas vezes li essa coisa na última semana.
Partes dele são queimadas em minha memória, outras partes que
esqueço estão lá até meus olhos brilharem sobre elas novamente.
Clico na caixa para digitar minha resposta, mas as palavras ainda
não apareceram. Eu tentei e tentei descobrir como responderia,
mas ainda não sei o que devo dizer.

Um texto de Mariam me afasta do aplicativo, a mensagem


piscando na parte superior da tela.

Mariam: Hey pergunta aleatória ...

Mariam: Você mora na Carolina do Norte, certo?

Eu: Sim…

Mariam: Impressionante!
Quase pergunto a el o que está acontecendo, mas el responde
alguns segundos depois.

Mariam: Em qual cidade?

Eu: Raleigh

Mariam: Excelente!

Eu: Por quê?

Mariam: Razões ...

Eu: Você planeja revelar isso em breve?

Mariam: Estou finalizando minha agenda de turnês

Juro que conheço Mariam pelo resto da minha vida e acho


que nunca vou me acostumar com el dizendo ‘agenda da turnê”. Ou
o fato de ser basicamente pague para dar discursos e discutir ser
esquisito e o que isso significa para el. Então eu percebo o que el
está tentando alcançar.

Eu: Espere ... isso significa o que eu acho que faz?


Mariam: Que eu vou para o Harry Potter World depois de
conversar na Universidade da Flórida? Com certeza!

Eu: Mariam…

Mariam: O que! Fico muito empolgue com Harry Potter

Eu: Você vem para Raleigh?

Mariam: Talveeeeeeeez;)

Mariam: Tem esse grupo de apoio lá, eles queriam que eu viesse
falar.

O grupo de apoio. A brochura ainda está guardada na minha


cômoda, sob pilhas de papel inútil que recebi da escola.

Mariam: Eles fizeram parceria com uma das faculdades de lá,


NC State?

Eu: Sim

Mariam: Um bocado.
Mariam: Eles querem que eu faça um pequeno seminário para o
grupo, já que a palestra na universidade é apenas para
estudantes.

Eu: Oh certo

Mariam: Me amigue, você não está tão empolgue quanto deveria.

Mariam: Finalmente vamos nos encontrar! Como pessoalmente,


como se eu estivesse lá e você estivesse lá e seria mágico !!!!

Eu: Não, é legal. Estou animade.

Mariam: Realmente não encontrei o bate-papo, amigue

Eu: É um ... É estranho.

Mariam: E aí?

Por uma fração de segundo, penso em contar a Mariam, mas


realmente sinto que eles tentariam me convencer disso.

Eu: Nada. Qual é o nome do grupo pelo qual você está falando?

Mariam: Projeto Espaço Seguro


Eu: Esse é o grupo de apoio que meu terapeuta queria que eu
fosse.

Mariam: Oh, você já foi?

Eu: Não

A Dra. Taylor e Hannah pararam de mencionar, felizmente,


mas eu me pego pensando nisso em todos os poucos dias. Talvez
não fosse tão ruim começar a ir no verão, quando eu não teria que
lidar com ninguém na escola se eles me vissem na reunião, então
talvez isso facilitasse as coisas? Talvez até lá eu possa ter coragem
de realmente sair.

Mariam: Eu entendo, pode ser assustador

Mariam: De qualquer maneira, estamos saindo, seminário ou


não

Eu: Você sabe

Mariam: Ah, então adivinhe o que aconteceu comigo hoje com


Shauna ...
Parece que tudo está se aglomerando ao meu redor de uma só
vez. Como se eu tivesse que fazer uma lista de tudo o que está
acontecendo. A Sra. Liu continua perguntando sobre a mostra de
arte. Definitivamente está acontecendo, ela tem o apoio de seus
outros alunos, que querem começar a se reunir depois da escola
para planejar tudo.

Mas ainda não posso responder a ela e não sei o que


realmente está me impedindo. Eu odeio essa pressão, e seus
lembretes constantes não estão ajudando.

Há também mamãe e papai.

Eu sinto que toda vez que Hannah olha para mim, ela sabe.
Ela não, mas me sinto tão culpade. E ainda não tenho uma
resposta adequada à mensagem da mamãe. Eu continuo digitando
as coisas, mas nada parece certo. O que você diz às pessoas que a
criaram depois que elas não querem mais você?

Depois, há a reunião real. A ideia de ficar sozinhe com eles é


aterrorizante. Não posso pedir a Hannah que venha comigo por
razões óbvias. E não quero forçar Thomas a mentir para ela e ir
comigo. Parece uma coisa muito grande para perguntar a Dra.
Taylor.

Então isso deixa Nathan.

E de alguma forma, perguntar a ele parece mais assustador


do que qualquer outra coisa.

—Ben?— Meleika me cutuca com o ombro.

—Hã? Desculpe.

—Eu perguntei se você faria parte do plano de arte da Sra.


Liu?

—Oh, eu não sei.— Então eu penso sobre isso. —Como você


sabe disso?

—Ela já está anunciando isso.— Meleika enfia a mão na


mochila. —Ela queria que o conselho estudantil pendurasse
folhetos.

—Por que você não entra?— Nathan pergunta. —É como Ina


Garten não participando de um concurso de culinária.—
—Ina Garten32?— Olho para ele. De fato, nós três damos a ele
um olhar estranho.

—Meu pai gosta da Food Network33, mas esse não era o ponto
aqui—, argumenta Nathan você — deveria fazê-lo.

— Talvez.

—Bem, se você decidir fazer isso—, Sophie começa a dizer, —


certifique-se de conseguir ingressos. Eu tenho a roupa perfeita.

Meleika a olha. —Você tem a roupa perfeita para uma mostra


de arte estudantil?

—Totalmente. — Sophie diz. —Agora fique quieto, eu tenho


que terminar essas unhas.

—E com isso, vou pegar um pouco de água.— Nathan bate os


nós dos dedos contra a mesa. —Alguém quer alguma coisa?

—Eu estou bem—, eu digo. Sophie e Meleika estão muito


ocupadas se concentrando nas unhas de Meleika. Sophie tem esse

32 Ina Garten Rosenberg é uma autora americana, apresentadora do programa do Food Network Barefoot

Contessa, e ex-analista política nuclear da Casa Branca


33 O Food Network é um canal de televisão por assinatura dedicado a quem ama a arte da gastronomia. Desde

a elaboração de diversos pratos, competições gastronômicas e lugares que levam na comida a cultura de diferentes
países, a audiência é convidada a assistir aos mais variados programas.
novo esmalte preto que quase parece azul quando você olha da
maneira certa. É tão impressionante que eu estou considerando
pedir a ela para fazer o meu. Então me bate. —Na verdade sim. Eu
vou com você.

Nathan parece um pouco surpreso, mas dura talvez uma


fração de segundo. —Tudo bem, então.

Eu o sigo até a máquina de venda automática no corredor em


frente à cafeteria. Eu acho que a fila é muito longa para esperar
apenas para comprar uma garrafa de água.

—E daí?— Eu digo, olhando para o enorme logotipo.

—E daí?— Nathan olha para a grande máquina de venda


automática azul.

—Então.— Enfio minhas mãos nos bolsos e mexo os pés. —


Eu queria te pedir um favor. Um grande favor.

—Ok.— Os cantos de sua boca se animam um pouco. —Sem


chance de eu pedir para você fazer isso em forma de enigma?

—Ééé, não. — Eu suspiro. —É um pedido um pouco


estranho.
—Não é tão difícil fazer enigmas para perguntas—, diz
Nathan.

—Não é o que eu quis dizer.— Nego com a cabeça. —Preciso


da sua ajuda.

—Esconder um corpo, não, espere. Você precisa se vingar de


alguém? Eu tenho a maneira perfeita de arruinar o tanque de
alguém.

—Não, não é isso. Deixe-me falar, por favor! Embora o truque


do tanque de gasolina possa ser útil mais tarde. Minha mãe me
enviou uma mensagem on-line, ela e meu pai realmente querem
conversar comigo.

O sorriso de Nathan desaparece em um instante. —Sobre


como eles te expulsaram?— Ele tira um dólar da carteira e o coloca
na máquina de venda automática.

—Isso pode surgir, sim.— Eu chego mais perto. —E eu me


sentiria melhor em ter alguém lá.

—E sua irmã não é uma opção?


Nego com a cabeça. —Eu não preciso que você se sente sobre
isso ou algo assim, mas apenas saber que você está lá pode me
ajudar.

—Eu tenho esse efeito?— Nathan ainda não está sorrindo, e


eu estou ficando meio preocupade.

Eu realmente preciso que haja um limite de quantas vezes as


bochechas podem corar por dia. — Mais ou menos. Seria realmente
bom ter um amigo lá.

—E você realmente acha que é uma boa ideia?— ele


pergunta.

— Não. — eu digo. —Mas sinto que preciso ouvi-los, ouvir o


que eles têm a dizer.

—Ben

—Apenas ... por favor, apenas uma coisa. Por favor?

Nathan deixa escapar um longo suspiro. —Quando você vai


se encontrar?
—Sexta-Feira à noite. — Pego meu telefone e olho para a
mensagem que enviei. Eventualmente, eu encontrei as palavras
certas, ou seja, depois de toda a minha preocupação, eu
simplesmente disse a elas uma hora e um lugar onde poderíamos
nos encontrar. Durante dias, pensei em acrescentar outra coisa, em
pedir algum tipo de explicação ou talvez ir à mamãe.

Mas nada disso parecia certo. Eu queria ouvi-los primeiro,


cara a cara.

—Robin.— Eu digo a ele. —Aquele lugar italiano no centro.

—Oh, eu estive lá.— Nathan tira sua garrafa de água do


pequeno dispensador no fundo. —Não pegue berinjela com
parmesão. É terrível!

—Notável—, eu digo. — Obrigado.

—Problema nenhum.—

—Eles estarão lá por volta das sete, tudo bem?

Nathan sorri. —É um encontro.


DEZOITO
Sim, eu estou fodide.

Definitivamente, eu não deveria ter concordado em fazer isso,


mas agora é tarde demais. Com exceção de apenas pegar Nathan e
correr de volta para o estacionamento.

Mas mamãe e papai sabem onde Hannah mora,


provavelmente.

Olho os olhos de Nathan do outro lado do restaurante. Ele


parece bastante confortável para um cara que está basicamente
aqui sozinho. Ele me pega olhando e pega seu telefone, então meu
telefone vibra.

Nathan: Ainda acho que deveria ter usado chapéu e óculos


escuros.
Eu reviro os olhos.

Eu: Eles não sabem como você é.

Nathan: Ainda!

Eu: Esta não é uma operação de picada ou qualquer coisa.

— Olá!

Eu pulo no meu lugar e quase deixo meu telefone cair no


chão antes de agarrá-lo no último segundo. Meus pais, parados lá,
sorriem em seus rostos enquanto olham para mim.

—Oi—, eu digo, sem saber se devo me levantar ou não.

Fico sentade, e os dois seguem depois de alguns momentos


de silêncio constrangedor. Meu telefone vibra novamente, mas eu o
ignoro. Provavelmente apenas Nathan.

—Você deixou o cabelo ficar comprido demais— é a primeira


coisa que papai diz.
—Eu gosto desta maneira—, eu digo, tocando as
extremidades. Ainda não chegou aos meus ombros, mas Sophie diz
que eu sou como um pedúnculo de brócolis.

Meleika disse couve-flor, por causa de como estou pálide.

—Mas tudo fica embaraçado e emaranhado. — Mamãe chega


do outro lado da mesa, mas eu me inclino para trás, evitando suas
unhas perfeitamente cuidadas.

—Vamos direto ao ponto—, eu digo. —Vocês dois queriam


conversar, certo? Não é por isso que estamos aqui?

—Bem, não se você vai ter uma atitude—, papai murmura


dessa maneira, então ele sabe que eu vou ouvir.

—Eu não tenho uma atitude.— Eu cruzo meus braços. —O


que vocês dois queriam discutir?

—Como você está?— Mamãe pergunta.

—Tudo bem.

—Como está sua irmã?


—Ela está bem— Não que eles realmente se importem. —Ela
e Thomas têm sido muito bons comigo.

Vejo um pouco de dor atravessar os dois rostos, um pouco de


culpa, como se tivessem esquecido que me expulsaram. Eu odeio
me sentir um pouco orgulhose do momento, que é a minha vez de
machucá-los.

—E escola?— Papai pergunta. —Você está mantendo suas


notas, certo? Seus exames devem chegar em breve.

—Sim, mas eu estou passando em todas as minhas aulas.—


Afundo na cadeira, a culpa subindo pela espinha.

—Isso é ótimo!— Mamãe sorri um pouco demais, então ela


enfia a mão na bolsa. —Você sabe que recebemos algumas
respostas das escolas.— Ela desliza o pacote grosso de envelopes
para mim. Alguns deles estão abertos, outros não. —Você entrou no
Estado, mas a UNC disse que não.

—Huh.— Eu folheio eles, olhando os nomes das escolas e os


envelopes decorados com suas cores. —Sem problema.— Eu não
vou para a faculdade de qualquer maneira.
—O que quer dizer?— Papai pergunta. —Claro que você está
indo para a escola.

— Eu não quero.— Deslizo as cartas de volta para mamãe.

—É por causa da Hannah? Podemos dar ao luxo de enviar


você para a escola, você não precisa mais confiar em sua irmã —,
diz papai, quase como se estivesse orgulhoso de si mesmo.

—Na verdade, Hannah e eu já conversamos e ela me disse


que não haveria problema. Eu não gosto.

—Ben -— mamãe começa a dizer, mas papai coloca a mão no


braço dela e isso a impede.

—Vamos discutir isso mais tarde—, diz ele.

—Sobre o que você queria conversar?— Pergunto novamente.


—Pare de evitar a pergunta.

—Ben— Mãe pressiona as mãos juntas. —Queríamos


conversar mais com você sobre toda essa coisa de 'ser não-binário'.

É muito estranho ouvir minha mãe dizer a palavra “não


binário” em voz alta. Realmente não encaixa a ela, como se fosse o
tipo de palavra que você nunca esperaria que alguém como ela
soubesse. —Ok.— Eu me inclino um pouco para a frente. Talvez
isso não seja tão ruim quanto eu pensava.

—Nós, hum ... Estamos apenas confusos. — Mamãe tenta


relaxar. —Então, tentamos encontrar coisas on-line, e isso
realmente não nos ajudou.

—E?— Eu olho para os dois.

—Querido.— Mamãe suspira. —Tentamos, realmente


tentamos. Ainda estamos tentando entender isso.

—Não é exatamente física teórica—, eu digo. —Não me


identifico como homem ou mulher, estou fora do binário de gênero.
Eu uso els/elu pronomes. — Eu mantenho minha voz baixa para
que Nathan não me ouça. Duvido que ele pudesse de qualquer
maneira, do outro lado do restaurante, mas você nunca sabe.

—Bem, filho, você tem que admitir que tudo é muito


estranho—, diz o pai. —Não sei dizer se o “filho” é deliberado ou
não.
—Eu não sou seu 'filho'—, eu digo. —E o que há de tão
estranho nisso? Esse é quem eu sou. Por que vocês dois não
conseguem entender isso?

—Você tem certeza de que não está apenas confuso?— Papai


pergunta. —Talvez você seja apenas gay ou algo assim e este tenha
sido um momento difícil para você?

Papai faz “gay” parecer um insulto.

—Ser gay e não-binário são duas coisas diferentes!— Eu


deveria saber; Passei bastante tempo tendo que me dizer isso.

Mamãe parece surpresa por um segundo.

E papai parece furioso. Sempre o dramático. —Benjamin De


Backer, não leve esse tom conosco, nós somos seus pais.

—Bem, como devo soar? Vocês dois estão sentados aqui me


insultando.

Papai aperta a ponta do nariz e agita a mão. —Ok, vamos


começar de novo.
—Diga-me uma coisa, qual era o objetivo aqui? Por que vocês
dois queriam conversar depois do que aconteceu?

—Queríamos pedir desculpas—, diz mamãe.

—Bem, você está fazendo um trabalho estrondoso—, eu digo.

Papai revira os olhos. —Queremos que você volte para casa.

Eu congelo. — O quê?

—Queremos que você volte para casa—, mamãe repete, e é


óbvio que ela parece mais feliz com isso do que papai. —
Obviamente seria difícil com o término da escola, e estamos
dispostos a esperar até você se formar. Talvez torne a transição um
pouco mais fácil.

Isso me faz rir, mas os dois me encaram.

—Eu não acho muito engraçado—, acrescenta papai.

Inspiro e expiro lentamente. Nunca imaginei meus pais como


idiotas queerfóbicos. Mas talvez seja minha culpa por assumir o
melhor deles.
—Sentimos saudades! Queremos ser uma família
novamente— Mamãe olha para mim, aqueles olhos.

Penso nas palavras deles, repetindo-as para mim várias e


muitas vezes na minha cabeça. Eles me querem de volta? Eles
querem ser uma família de novo?

—Ben, você precisa entender o quanto isso foi difícil para nós
dois.— Mamãe parece que ela realmente pode chorar.

— O quê? Um passo à frente, cem passos para trás. —Você


me expulsa de casa, e tem sido difícil para vocês dois? — Garanto
que estou falando alto o suficiente para que as pessoas na mesa ao
lado estejam olhando. —Você sabe como vocês soam agora?

—Benjamin— Papai olha em volta; ele deve perceber o que


estou tentando fazer. —Diminua seu tom de voz.

—Escuta.— Mamãe levanta a mão. —Ainda estamos


aprendendo aqui. Cometemos erros e queremos trabalhar para
corrigi-los. Mudamos, começamos a procurar um conselheiro e
estamos trabalhando em algumas coisas. Estamos em um momento
difícil. Para todos nós.
—Vocês dois me machucaram—, eu cuspi. —sabiam? Você
percebe a merda que você me fez passar? Não apenas me
expulsando, mas os meses de terapia que tive que passar para
superar tudo? — Lentamente me dei conta de que a Dra. Taylor
estava certa e que eu realmente deveria tê-la ouvido.

—Querido.— Mamãe coloca a mão em cima da minha, e eu


não penso em me afastar antes que seja tarde demais. Sua pele na
minha, o calor dela, é muito familiar e muito estranha ao mesmo
tempo. Eu tento suprimir o aumento no meu estômago. —Sentimos
muito por tudo e só queremos compensar você.

—Você voltará para casa depois de se formar—, diz o pai, e


noto que é mais um comando do que um pedido. —Vamos levá-lo
ao terapeuta que estamos vendo, talvez ele possa ajudá-lo a
trabalhar com algumas das coisas com as quais você está lidando.
E ajudá-lo com esse negócio não-binário.

Eu vou ficar doente. —Eu tenho visto a Dra. Taylor, eu gosto


dela.

—Bem... — Mamãe olha para o pai. —Talvez pudéssemos vê-


la? Juntos.
Eu olho para a mão dela, ainda em cima da minha. —Eu
tenho algumas coisas em que pensar—, eu digo.

—Claro, basta fazê-lo rapidamente.— Papai olha os menus no


final da mesa, empilhados ordenadamente um sobre o outro. —Você
quer pedir alguma coisa?

— Não. — Levanto-me rapidamente e empurro minha cadeira


para baixo. —Vou mandar uma mensagem quando estiver pronta
para conversar.

—Ben, querido.— Mamãe parece que vai se levantar.

Eu paro ela. —Apenas me deixe pensar, por alguns dias.


Tudo bem?

Ela olha para o papai e posso dizer que ele não está satisfeito.
Não era assim que ele queria que essa reunião acontecesse.

Aposto que ambos queriam o reencontro perfeito, onde eu


corria em seus braços e os abraçava e concordava em voltar para
casa com eles, deixando para trás a curta vida que construí aqui.
Hannah, Thomas, Meleika, Sophie, Dra. Taylor.

Nathan
Olho para ele e aceno. Ele já está de pé e esperando na porta
por mim. Acho que mamãe percebe, então ela se vira na cadeira. —
Isso é um amigo seu?

— Não. — eu minto.

—Você estava com tanto medo, filho?— Papai pergunta,


quase como uma piada. Exceto que não estou rindo.

—Vejo vocês mais tarde.— Eu evito correr em direção a


Nathan e sair para o carro dele.

—Bem, espere.— Mamãe pega sua bolsa e começa a me


seguir. —Eu gostaria de conhecer esse garoto.

Porra.

Já é tarde. Mamãe consegue ficar à minha frente, parando


Nathan bem na porta. —Olá!— Ela estende a mão. —Eu sou Brenda
De Backer, mãe de Ben.

Nathan sorri, olhos brilhantes quando ele aperta a mão dela.


—Eu sou Nathan.

—Você é amigo de Ben?


Nathan me pede aprovação, mas o que mais podemos
realmente fazer? Finjir que a mãe está apertando a mão de uma
pessoa que eu não conheço? Não vou mentir, seria engraçado, mas
não adianta nada. Eu aceno Nathan um pouco.

—Sim, nós vamos para North Wake juntos. Ele me pediu uma
carona.

Mamãe me dá uma olhada. —Bem, isso não é legal?


Estávamos nos reunindo para conversar sobre algumas coisas.

—Você está pronto para ir, Nathan?— pergunto. Eu preciso


sair daqui..

—Sim.— Nathan cava no bolso. —Sinto muito, senhora De


Backer, mas estamos encontrando alguns amigos no centro da
cidade e já estamos muito atrasados—, ele mente.

Abençoe Nathan Allan.

— Ah, puxa. Mamãe ainda está sorrindo. —Falaremos em


breve, Ben.— Eu aceno, e mamãe olha para Nathan. —Foi um
prazer conhecê-lo. Fico feliz que Ben tenha encontrado amigos.
—Prazer em conhecê-la também, senhora.— Nathan mantém
a porta aberta para mim e corremos em direção ao carro dele, sem
olhar para trás.

—Telhado?— Nathan pergunta. Estamos sentados na entrada


da garagem dele há um tempo, sem música, sem conversas. Ele
desligou o carro primeiro, mas depois de alguns segundos apenas
sentado lá, ele abaixou as janelas para deixar entrar o ar fresco da
noite.

Eventualmente, olho para ele. —Claro.

Ryder me dá um abraço e eu o esfrego atrás das orelhas, mas


não tenho muito em mim agora. É como se eu estivesse vazio.
Sinto-me exauste, mesmo que tudo o que fizemos foi conversar.

Nathan abre a janela e me ajuda a sair desta vez, pegando


minha mão e me puxando através da abertura. Pelo menos desta
vez, com calças mais justas, quase não caio para a morte.

Na verdade, é ventoso para abril, mas o sol está brilhando,


por isso é mais do que suficiente para se aquecer.
—Então—, diz Nathan, caminhando para o nosso lugar
normal. —Ela parecia legal, sua mãe.

—Hmm.— Sento-me ao lado dele. Eu ficaria chocado, mas


essa é a reação normal quando se trata de mamãe e papai. Eles
colocam essa máscara para estranhos ou amigos da família.
Escorregar em um comentário indireto sobre mim aqui ou ali.

—O que eles falaram para o você...— ele pergunta.

—Eles queriam que eu voltasse para casa.— Até para mim,


minha voz parece vazia.

—Uau.— Nathan passa a mão pelo cabelo. —Isso é …

—Sim.

—Fodido.— Nathan puxa os joelhos para perto.

Olho para a mão dele, tão próxima da minha, e não consigo


resistir. Minha própria mão se instala na dele. Aquele calor, é muito
diferente do da mamãe. Eu quero esse tipo. Eu sinto que preciso
disso. Para me aterrar, se nada mais. Sinto a pele seca da palma da
mão; e, ainda olhando para frente, Nathan envolve seus dedos nos
meus. O resto da pele que traço com o polegar é suave e, por meio
segundo, me pergunto se é assim que ele se sente.

—Obrigado por ir comigo. Eu sei que não era realmente justo


...

—Eu não me importei—, diz ele.

—Eu não quero que você tenha que ser meu protetor. Isso
não é justo para você.

Ele faz isso, essa risada soa como um escárnio. —Você se


preocupa muito.

—E você é um mentiroso rápido—, eu digo.

—Quando vi aquele olhar em seu rosto ... Quando sua mãe


percebeu que você estava comigo. — Ele para, como se estivesse
tentando pensar nas palavras certas. —Eu conhecia esse
sentimento.

—Sério?

Ele assentiu com a cabeça. —Esse desamparo, certo?


— Obrigado. — Eu começo a dizer. Parece um momento
perfeito. Minha segunda chance. Eu estraguei a noite do filme, mas
talvez agora seja a hora. Exceto que sou covarde demais. —Há algo
que eu preciso lhe mostrar.

—Ah, é?

—É uma pintura—, eu digo, enfiando a mão no bolso para


pegar meu telefone. —É, hum ... Bem, é um pouco estranho.

—Você sabe que é realmente péssimo em dar más notícias às


pessoas?— diz ele.

—Sim. Quero dizer, não é ruim nem nada.— Pego a foto da


pintura. —Pelo menos, acho que não. Mas é sua decisão a fazer. É
uma pintura sua.

Nathan faz uma pausa, olhando entre mim e o telefone ainda


na minha mão. —Você me pintou?— ele pergunta.

Aceno em concordância.

—Por favor, me diga que você não encontrou uma maneira de


me pintar nu?
— O quê? — Eu engasgo. —Não!

—Ok, porque você é ótimo, Ben, mas isso pode ou não ser um
diferencial.

—Como isso não poderia ser um disjuntor de negócio?

—Depende de como você captura minhas curvas e sutileza.—


Ele pisca para mim.

Desligo o telefone e deslizo de volta no bolso. — Deixa pra lá.


Deixe o suspense te matar.

— Não, espere. — Ele pega minha mão novamente. —Vamos


lá, eu estava apenas brincando.

Eu aponto um dedo para ele. —Não brinque ok?

—Prometo voltar. — Ele estende a mão novamente. —


Promessa do mindinho.

Pego meu telefone novamente e a imagem da pintura é a


primeira coisa que aparece. Eu me preparo e entrego a ele. Ele não
reage a princípio, então lenta mas seguramente, sua boca se
espalha naquele sorriso familiar demais que eu acho que me
apaixonei.

Eu nunca quero que ele pare de sorrir.

—Ben ...— ele começa, mas sua voz desaparece novamente.

—Isso meio que aconteceu, e eu sei que parece assustador ou


o que seja, então se você quiser me odiar, pode, mas sim. Acabei de
usar algumas das selfies que você tirou no meu telefone. — Estou
falando tão rápido que ele se mistura, e não acho que ele realmente
me entenda. —Eu tive que mudar algumas coisas, tirar de outras
fotos.

—Ben. — Ele agarra meu braço, e isso me fecha. —Eu adorei.

—Sério?

—Eu sou tão amarelo.— Ele ri. —Pode ser o meu favorito.

—Você está dizendo isso porque é o seu retrato.

—Quero dizer, você tem que admitir que eu faço um bom


modelo.— Ele não para de encarar a foto. —Mal posso esperar para
ver a coisa real. Será no show?
—Ainda não sei se estou fazendo isso.

— Ah, qual é! Você tem que fazer.

—É só... Eu não sei.

—Você está com medo de que as pessoas não gostem do seu


trabalho?— ele pergunta.

—Um pouco, eu acho.— Parece que estou me abrindo de


volta. Eu realmente nunca senti esse desejo de compartilhar minha
arte com pessoas, pelo menos com as quais eu não sou íntimo.
Sempre foi esse acordo privado, algo comigo e com alguns poucos
selecionados.

—Ben.— Eu sinto a mão dele novamente, bem em cima da


minha. —Eu realmente acho que você deveria fazê-lo.

—Fácil para você dizer. —O calor de sua pele se espalha pela


minha. Eu juro, esse cara é como um cobertor elétrico ou algo
assim. —Eu quero fazer isso—, eu digo.

— E deveria.

—Eu só estou com medo.


Nathan ri. —Essa é provavelmente uma resposta normal.
Para ser sincero, se você esperava que todo mundo adorasse tudo o
que você faz, provavelmente seria um idiota de arte super
pretensioso.

—Vou ter que emprestar suas golas e óculos hipster.

—Pssh. Como se eu fosse desistir disso. Você pode tomar


meu café. —Ele começa a rir novamente. —Não acredito que vou
participar de uma mostra de arte.— Ele finalmente entrega meu
telefone de volta para mim.

— Pode ser —, eu corrijo. —Desculpe por não pedir permissão


ou qualquer coisa.

—Bem, este sou eu dando a minha bênção para você colocá-


lo no show.— Ele passa a mão pelo cabelo. —É fantástico!
Obrigado.

—Não há de quê.— Estou tentando não corar, mas posso


sentir meu rosto esquentar apesar do frio do ar.

No começo, eu nem ouço o carro entrando na garagem, mas


Nathan se anima e há um som distinto de portas se fechando. —
Meus pais estão em casa.
—Oh.— Olho em volta, como se eles de alguma forma
aparecessem magicamente no telhado.

—Você quer conhecê-los?

Eu dou de ombros. —Acho que realmente não tenho escolha,


tenho?

Nathan se levanta e espia pela borda do telhado para o


quintal. —Essa é uma gota pesada, então ... Estou pensando que
não. — Nathan me oferece sua mão novamente e me ajuda a
levantar. —Eles são legais, eu juro.

—Ok.

Não era assim que eu estava pensando em conhecer os pais


de Nathan. Eu tinha imaginado cerca de uma dúzia de encontros
estranhos diferentes, onde eu os chamava pelo nome errado, ou não
dizia direito o meu próprio, ou os chamava de mãe e pai por
acidente.

Nós caminhamos de volta através do telhado para o quarto


dele. Eu quase caio de novo quando tento avançar. Pelo menos
desta vez as chances de cair tragicamente para a minha morte são
mínimas. Mas Nathan me pega em seus braços.
Ele é realmente quente, e por uma fração de segundo eu
posso sentir o cheiro de seu tipo de perfume terrível e seu
desodorizante. Eu acho que é limão. Provavelmente não deve ser
uma boa combinação, mas, no momento, cheira tão bem.

Merda.

— Obrigado. — Eu tento sorrir de tudo e me puxar o mais


longe que posso.

—Problema nenhum.— Ele me solta lentamente, suas mãos


demorando um pouco demais. Não, espere. Pare, estou sendo
assustador de novo. —Ei, e se você ficasse para jantar?

—Hum, claro. Eu não acho que Hannah se importaria.

—Nathan?— uma voz grita de baixo. —Você está casa?

—Sim, desço em um segundo!— Nathan grita de volta, então


ele olha para mim, estendendo a mão. —Pronto para ir?

Pego devagar e deixo que ele me leve para fora do quarto e


desça as escadas.
DEZENOVE
—Então você é o Ben.— A mãe de Nathan pega minha mão,
apertando-a rapidamente. —Eu sou Joyce, e este é meu marido,
Robert. É bom finalmente conhecer você. Nathan fala muito bem de
você. — Ela pisca, e eu não sei o que isso implica, mas não
questiono.

— Fala?— pergunto.

—Sim, aqui e ali—, diz ela.

Enquanto ele coloca as compras na geladeira, o pai de


Nathan diz: —E todas as noites no jantar, antes de ir para a cama e
no café da manhã.

Eu me viro para Nathan, que atualmente está sentado no


balcão com o rosto enterrado nas mãos, e Deus, ele é tão fofo agora.
—Eu não falo sobre ele 24/7!— ele discute.

—Ele tem razão.— Allan dobra as sobras de plástico e as


coloca em um pequeno recipiente embaixo da pia. —Ele tem que
dormir em algum momento.

— Oh, ha ha ha.— Nathan revira os olhos. Então ele


murmura ‘‘desculpe’’. Mas estou muito ocupado rindo.

—Então, Ben, você quer se juntar a nós para jantar?—A


senhora Allan pergunta.

—Hum, claro—, eu digo. —Se vocês não se importam.

—Não é grande coisa, é? — A senhora Allan se inclina contra


o balcão. —Nós estávamos indo apenas fazer pizza, se estiver tudo
bem com você? Estou muito cansada para cozinhar esta noite, o
trabalho foi um pesadelo. —

Eu dou de ombros. —Eu estou bem com o que for.

—Alguma coisa sobre dieta que eu deveria saber? Sem carne,


sem queijo?

—Não, realmente, eu estou bem.


—O que vocês andam aprontando?—O Sr. Allan pergunta.
Realmente não soa acusatório, mas ainda há essa preocupação.
Como se pensassem que estávamos brincando lá em cima ou algo
assim?

—Só a passear. Eu o levei até o telhado.

Estou realmente meio surpreso que Nathan não cobre, como


dizer que estávamos estudando ou algo assim. Não. Estávamos no
telhado, o que significava que tínhamos que estar no quarto dele
antes de chegarmos lá. Totalmente sozinhos, sem qualquer
supervisão dos pais.

—Meu Deus.— A senhora Allan ri. —Você quer dizer que não
estava completamente apavorado?— ela pergunta.

— Não. — Eu quase digo ‘‘não foi minha primeira vez’’, mas


acho que isso seria contraproducente. —Eu estava no começo, mas
não é tão ruim.

—Eu gostaria que ele parasse de fazer isso—, murmura a Sra.


Allan. —Me assusta até a morte sabendo que ele está lá em cima.

—Não é tão perigoso—, diz Nathan. —E eu sou cuidadoso.


— Eu sei, eu sei. —A Sra. Allan acaricia o topo de sua cabeça
e beija a têmpora de Nathan. —Mas você ainda me preocupou.

—Você quer que eu peça?— O Sr. Allan pergunta à esposa,


com o telefone na mão.

—Sim querido.— Pegue um queijo grande e uma calabresa


grande.

— Pode deixar. Quê? Ah sim. Queria fazer um pedido…— O


Sr. Allan diz ao telefone antes de começar a andar pelo corredor,
sua voz sumindo com ele.

—Então, há quanto tempo você está em Wake, Ben?— A Sra.


Allan pergunta. Eu acho que isso significa que Nathan não disse
nada a eles. Não que eu pensasse que ele faria; é apenas ... bom
saber que ele manteve esse segredo.

—Alguns meses— Eu me mudei para cá em janeiro.

—Você está gostando?

Eu dou de ombros. —É legal. Diferente


—Eu estava tão nervoso com Nathan indo para uma nova
escola quando chegamos aqui. Parece estranho ter que começar
tudo de novo. Novos amigos, novas aulas, novos professores.

—Sim.— Inclino-me contra o balcão, olhando para Nathan.

—Seus pais gostam daqui?

—Moro junto com a minha irmã.— Por alguma razão, parece


impossível mentir para a Sra. Allan.

Ela não pede detalhes, como se não fosse uma coisa super
estranha para ela. Mas talvez não seja, muitas pessoas moram com
seus irmanes, eu acho. —Sua irmã gosta?

—Sim, mas ela vive aqui há um tempo.— Eu posso vê-la


tentando conectar os pontos em sua cabeça. Se ela chega ou não à
conclusão certa, não tenho certeza. Isso é duvidoso.

—Estou feliz que você e Nathan sejam amigos. É difícil passar


o ensino médio sozinho.

—Tá bom, tá bom. — Nathan se levanta. —Chega de


interrogatório.
—Eu estava apenas fazendo perguntas—, protesta a Sra.
Allan.

—E o Ben teve um dia muito ocupado, então vamos assistir


TV.

—Foi um prazer conhecê-la, senhora Allan—, eu digo, antes


de Nathan agarrar minha mão.

— Você também. Então ela tem que gritar porque já estamos


no meio do corredor. —Vamos chamar quando o jantar chegar aqui!

— Obrigado, mãe. — Nathan grita, e ele me leva de volta ao


seu quarto. —Eu vou usar o banheiro bem rápido, ok?

—Ok.— Eu o vejo desaparecer de volta pelo corredor, e me


lembro que estou sozinhe no quarto de Nathan Allan.

Meus olhos capturam todos os títulos que revestem suas


prateleiras inundadas. Eu realmente só quero passar a maior parte
do dia organizando tudo isso para ele. Existem pelo menos cinco
cópias de Orgulho e Preconceito, todas as cópias surradas e gastas.
Eu folheio uma, mas vejo que ele está escrevendo coisas nas
margens, marca-texto desbotado decorando passagens inteiras.
Coloquei de volta rapidamente. Isso parece pessoal demais,
quase como se eu estivesse espiando seu diário. O restante dos
livros varia de fantasia a histórias contemporâneas. Eu posso até
reconhecer alguns deles.

Parece não haver nenhum tipo de organização. Não por série,


ou sobrenome ou título do autor. Até as alturas de todos os livros
estão fora. Sua mesa é arrumada, pelo menos, o protetor de tela do
laptop tocando em segundo plano.

Há um calendário com quase todos os dias marcado quando


se aproxima do final de abril, e um punhado de fotos foi afixado no
quadro de cortiça pendurado na parede. Alguns de Nathan e sua
mãe, outro dos três no centro da cidade. Eles me lembram muito as
fotos que mamãe tirou. Fotos de uma família feliz em jogo.

Exceto quando olho para Nathan e seus pais, sinto que vejo
uma família de verdade.

—Ei.

Eu pulo na voz de Nathan. Oh Deus, e se ele acha que eu


estava olhando suas coisas? Quero dizer, acho que tecnicamente
estou, mas apenas as fotos. Eu não estava passando por suas
gavetas ou algo assim.
—Pegamos isso no ano passado.— Ele aponta para a parede
de fotos, e é difícil dizer de quem ele realmente está falando antes
de se aproximar, os dedos roçando-a. É um com ele, Sophie e
Meleika na água. —Elas não podiam acreditar que eu nunca estive
em uma praia. Isso não é exatamente comum no Colorado.

—É onde você morava antes?— pergunto.

—Sim.— Ele ri. — Sim, foi estranho. Na verdade, nunca estive


em um antes, mas a areia estava muito quente e parecia agradável
sob meus pés.

—Isso é antes de você entrar na água—, eu digo. —Depois


disso, ele começa a grudar em você e você nunca vai conseguir
tudo.

—É justo. Não posso dizer que realmente senti vontade de


voltar.

Sinto o toque de seus dedos e estou muito feliz em pegar sua


mão novamente. Nós não reconhecemos. Nenhum de nós olha para
baixo, ou aperta os punhos, ou diz qualquer coisa.
Porque nós não precisamos.

Segunda-feira chega e a Sra. Liu precisa de uma resposta.

—Eu sei que continuo incomodando você sobre isso, mas o


show é sexta à noite e realmente precisamos de uma resposta se
você-

Parei ela. —Farei isso.

Para ser sincero, eu não tinha entrado na escola com uma


resposta definitiva. Fiquei pensando no que Nathan disse, em ter
medo. Eu realmente não sei se isso ajudou. Na verdade, acho que
acabei de dizer o que veio à mente primeiro.

O que aparentemente era um sim.

O rosto da Sra. Liu se ilumina e ela começa a pular para cima


e para baixo. — Oh, Ben! Estou muito animada. Temos muito o que
fazer! Fiz questão de planejar o seu espaço, então você só precisa
escolher o trabalho que deseja mostrar. Estamos limitando cada
aluno a cinco peças, ok?
—Vou apenas mostrar as pinturas que já fiz—, digo.

—Como o de Nathan?— Sua voz meio que desaparece.

Aceno em concordância. —Essa também.

—Ben, isso é fantástico. Estou pedindo a todos que fiquem


depois da escola na sexta-feira para ajudar na configuração.
Definitivamente, deveria deixar tempo suficiente para você ir para
casa e se trocar.

—Ok. Eu estarei aqui.

Exceto quando sexta-feira finalmente chegar, eu não estou


pronte.

Durante todo o dia na escola, estou com um nervosismo, mal


falando, e não consigo parar de tremer. No almoço, Sophie me dá
esse brinquedo que ela diz que a ajuda quando seu TDAH fica
muito ruim. E isso ajuda um pouco, mas apenas muito.

—Alguma pista do que devemos vestir?— Nathan pergunta.


Nego com a cabeça. Nenhuma. Eu estive pensando sobre a
camisa floral, a que Hannah me comprou. Mas e se isso for formal
demais? Ou muito casual?

—Excelente, eu vou sair do meu traje de aniversário.— Ele


tenta me fazer rir, mas isso não está acontecendo.

—Sim, não precisava dessa imagem mental—, diz Meleika.

—Eu acho que estou emocionalmente assustada por toda a


vida—, Sophie murmura.

Depois da escola, vou para a sala de artes. Não há muito o


que configurar, já que todas as partições para pendurar a arte já
estão instaladas. Nós apenas temos que escolher nossas estações e
mudar nosso trabalho. No segundo em que entro na sala de arte,
estou cercado por um monte de gente. Alguns que eu nunca vi
antes, outros que já vi de passagem.

Por alguns segundos, todos apenas olham, mas depois voltam


para as conversas que estavam tendo antes. A Sra. Liu diz a todos
que estão prontos para ir à frente da escola e escolher seus lugares.
Aqueles de nós que precisam trabalhar pendurados nas costas têm
que se revezar com a escada para descer.
— Isso é incrível. — Essa garota olha por cima do meu ombro
para a pintura de Nathan. —Nathan é tão fofo, oh meu Deus.

—Oh, hum, obrigado—, eu digo, como se eu pudesse receber


crédito por sua fofura. Mas não posso discutir com ela.

Eu escolho um lugar perto da parte de trás, para que não


atraia muita atenção. E assim que termino, a Sra. Liu me dispensa.

—Basta estar aqui às 20h, ok?— Ela diz.

Thomas realmente não precisa mudar, e Hannah está quase


pronta quando chegamos em casa, mas perco quase uma hora
tentando decidir o que vestir, e agora me olho no espelho, e
realmente considero simplesmente não ir a essa mostra de arte.

Eu escolho a camisa floral que Hannah me comprou, a preta


com flores rosa, e acho que estou bem, mas há algo estranho no
meu corpo hoje à noite, e eu tenho esse caroço vermelho no meu
queixo que perguntei a Hannah para encobrir, mas na verdade não
temos tons de pele correspondentes, e eu prefiro ter um solavanco
do que essa faixa aleatória de pele um pouco mais escura.

—Está pronte?— Hannah definitivamente parece melhor do


que eu. Inferno, até Thomas parece mais confortável. Eu sou
apenas um corpo estranho, de forma estranha. Sempre foi,
provavelmente sempre será.

Eu realmente não sei. Eu me dou outro olhar, mas ainda


odeio o que vejo. Em casa, eu usava o que mamãe me comprou. Ela
tinha bom gosto, e as roupas se encaixavam, e elas eram próximas
do que todo mundo usava, então eu me senti menos consciente.

—Quer conversar?— ela pergunta.

—Nada para realmente falar.

—Tem certeza?— Hannah caminha até a minha cama e


senta-se na beira, batendo no local ao lado dela. —Vamos.

Suspiro, mas faço o que me disseram, apoiando os cotovelos


nos joelhos.

— Como está?— Hannah pergunta.

—Apenas nervose—, eu digo, sabendo que não é só isso.

Eu já sei a minha resposta para a pergunta de mamãe e


papai. Não há como eu voltar para aquela casa, não depois de tudo
o que fizeram. Eu quero acreditar que eles mudaram, mas eu
realmente não acho que eles mudaram. Eu acho que esse tipo de
mudança está além deles. Eles não são maduros o suficiente para
crescer por conta própria.

Depois, há a ideia de que eu guardei tudo isso da Hannah.


Acho que nunca poderia contar a ela sobre o encontro com eles.
Parece uma traição total da minha parte, e eu nunca quero ver o
rosto dela se ela descobrir.

Tentei conversar com Mariam sobre tudo isso, mas ainda


parece uma coisa estranhamente particular; Eu realmente não
posso explicar isso. Além disso, nem sempre posso colocar todos os
meus problemas neles e esperar que eles resolvam. Isso não é justo.

—Ei, estar nervose podem ser uma coisa boa—, diz Hannah.

— Como assim?

—Bem...— Ela abre a boca. —Droga, eu não tenho nenhum


conselho.

— Vê?

Hannah dá um tapinha no meu joelho. —Apenas finja que


esta noite será a melhor noite da sua vida.
—Realmente colocando a fasquia 34baixa, não estamos?

—A melhor noite da sua vida, até agora?— ela corrige.

—Melhor—, eu digo, balançando um pouco para frente e para


trás. — Eu consigo. Inspiro e expiro lentamente. —Deixa comigo!—
Por um breve momento, penso em contar a ela. Sobre a mensagem
e a reunião. Mas isso não vai ajudar ninguém.

Eu já tenho minha resposta, minha casa.

—Você entendeu—, diz ela.

Eu ouço Thomas descendo o corredor, ainda arregaçando as


mangas da camisa. —Todo mundo pronto para ir?

Hannah olha para mim pelo canto do olho. —E então?

—Isso, vamos nessa.

34 Ripa de madeira serrada, comprida e estreita.


North Wake à noite é meio estranho. Todas as luzes estão
apagadas, exceto as do edifício principal, onde fica o show. E o
estacionamento está cheio de carros, então acho que qualquer
chance de ser um show pequeno acabou de sair pela janela.

—Seus amigos vão fazer isso hoje à noite?— Hannah trava o


carro atrás de nós.

—Acho que sim.— Verifico meu telefone, mas não há novos


textos. Conversamos sobre isso no almoço hoje, e todos pareciam
animados.

—Ben!— alguém grita do outro lado do estacionamento e de


repente duas pessoas estão correndo em minha direção. Bem,
Meleika está fugindo, Sophie está tropeçando. Ela não pode fazer
muito em seus calcanhares.

—Vocês garotas fizeram isso—. Deixei Meleika me abraçar.

—Por que não?— Meleika pergunta.

—Você não estava respondendo suas mensagens.— Não


quero que pareça algum tipo de acusação.

—Oh, eu estava dirigindo—, diz ela.


—E eu não tenho absolutamente nenhum serviço.— Sophie
toca no telefone com raiva.

—Está tudo bem—, eu digo. —Você sabe onde Nathan está?

—Acho que ele tentaria chegar cedo—, diz Sophie.

O telefone de Meleika dá um ding. —Sim, ele já está dentro.

—Bem, já que Ben não vai nos apresentar, eu irei.— Hannah


oferece a mão para Sophie. —Eu sou Hannah, irmã de Ben.

—Desculpe—, eu digo. —Esta é Sophie e Meleika.

—Ei, meninas.— Thomas acena para as duas.

—Olá, Sr. Waller.— Meleika vasculha sua bolsa por um


segundo. —Pronto para chutar o traseiro desse show de arte?— ela
pergunta.

—Totalmente—, eu digo, seguindo-os para a escola.

Não há muito que você possa fazer com o lobby da escola,


mas com as partições e o trabalho de todos desligando, parece uma
galeria real. E as pessoas já estão andando por aí. Acho que são
principalmente pais, mas reconheço alguns rostos. Eu até vejo
Stephanie. Felizmente, Todd parece ausente.

—Onde estão suas coisas?— Sophie pergunta.

—Por aqui…— Andamos por fileiras e filas de pinturas de


diferentes alunos. Todos parecem estar de pé ao lado, prontos para
conversar com as pessoas a qualquer momento. Quando dobramos
a esquina para o meu lugar, bem no final da fila, finalmente vejo
Nathan.

E ele está olhando para o meu trabalho. Mais


especificamente, ele está olhando para o retrato dele.

—E você deve ser Nathan!— Hannah diz, estendendo a mão.


—Ben e meu marido conversaram bastante sobre você.

—Todas as coisas boas, eu espero?— Nathan pega a mão


dela. Um cavalheiro perfeito, como sempre. —Eu só espero que eu
possa cumprir a recomendação brilhante deles.

—Uau.— Meleika olha com a boca aberta. —Você pintou isso?

Agora, todos os cinco estão olhando. Bem, Thomas nem


tanto, já que ele já viu isso.
—Sim—, eu digo, tentando não corar.

—Alguém já me perguntou se eu pintei—, Nathan murmura.


—Disse a eles que não havia como eu ter tanto talento.

—Isso é muito legal. —Sophie olha de um quadro para outro.


—Oh meu Deus, esse é Nathan!— Ela se inclina bem perto.

—Ei.— Nathan a puxa de volta. —Não respire no meu lindo


retrato, você diminuirá o valor.

Sophie revira os olhos. —Oh Deus, Ben, isso foi um erro. O


ego dele já é grande demais.

—Falaremos sobre isso quando seu retrato estiver em uma


galeria de arte.

Ela o vira, mas os dois estão sorrindo.

As mostras de arte são meio surreais, mesmo que sejam


apenas estudantes. Pelo menos este é. Eu não posso falar pelos
outros.

As pessoas continuam entrando e saindo, algumas paradas


para conversar comigo ou olhando as pinturas. De acordo com
Nathan, Hannah e Thomas estão dando uma volta pela galeria. A
senhora Liu nos encontra alguns minutos depois.

—Oh, Ben, isso não é incrível?— Ela me abraça novamente.


—A participação é melhor do que eu esperava!

—Sim.— O local que escolhi não está muito ocupado, mas as


pessoas passam por algumas paradas, me perguntando como eu fiz
as pinturas. Mas a maioria apenas sorri, assente e segue em frente.
Depois de mais dez minutos, Meleika e Sophie partem para
encontrar a mesa de comida, e a Sra. Liu está conversando com
outra pessoa.

Então agora somos só eu e Nathan.

—Ainda não consigo acreditar que você fez isso—, diz ele,
virando-se para olhar seu retrato novamente. —Gosto de como você
pode ver os detalhes da tinta, como se a tinta não estivesse
esticada? Faz sentido.

—São apenas as pinceladas, nada chique.

—Eu ainda gosto disso. Isso me faz sentir quente.

—Esse seria o amarelo—, eu digo.


—Por que você escolheu amarelo?— ele pergunta.

Estou respondendo antes que eu possa me parar. —Porque é


brilhante e esperançoso.— Eu espero um pouco. — Como você.

Nathan olha para mim pelos cantos dos olhos e me dá aquele


sorriso malicioso.

Sinto meu rosto esquentar. —Desculpe, quero dizer … Não é


nada de especial — argumento, esperando que ele esqueça o que eu
disse. — Veja. — Eu deixei meu dedo pairar sobre a versão pintada
de seu rosto. —As linhas aqui não estão realmente certas.

—Oh, por favor.

—E eu deveria ter acrescentado um tom mais sombrio aqui


para parecer mais uma sombra.

—Ben.— Ele suspira.

— O quê?

—Diga-me uma coisa que você gosta sobre esta pintura.

—O que quer dizer?


—Você sempre aponta as falhas do seu trabalho, mas o que
você gosta nessa pintura? Ou aquela? Ele aponta para o cardeal,
que parece ser de uma vida atrás.

Eu penso por um momento. —Eu gosto de poder inventar, o


espaço ao redor, quero dizer.— Claro, consegui acertar o pássaro,
mas o resto do vazio foi meu parquinho. Uma mistura de azuis e
roxos com o pequeno pássaro vermelho proporcionando o contraste.

—E a coisa de Pollock?

—Pintura por gotejamento—, eu corrijo.

—A pintura de gotejamento—, diz ele com um sorriso no


rosto. —O que você gosta sobre isso?

—Eu gosto de como os roxos ainda aparecem, mesmo sob


todo do azul.

— E esse.— Nathan aponta de volta para o seu retrato.

—Gosto que é sobre você—, digo baixinho, e ele parece não


me ouvir a princípio, ou acho que não.
Então ele diz: —Essa é uma característica muito boa—. Ele
solta um longo suspiro. —Você sempre aponta os problemas com as
pinturas ou os desenhos. Mas e as coisas que você acertou?

—E elas?

—Elas não significam algo?

Suas palavras fazem meu estômago revirar. Eu não sei, talvez


ele esteja certo. Mas não acho que ele perceba o quão difícil pode
ser esquecer todos os erros quando sei que a culpa é minha.
Quando eu sei que deveria ter visto eles. —É difícil se orgulhar de
algo que você errou, mesmo que tudo ao seu redor seja perfeito.

—Não ignore os problemas—, diz ele. —Aprenda com eles.


Mas também, não bata no que você acertar. Todo sucesso merece
uma celebração.

Eu me sinto meio sem palavras, antes que eu consiga cuspir


um —obrigado.

—É para isso que eu vim aqui. Suporte Emocional, ser


modelo por pouco vem em segundo lugar.
—Eu acho que Sophie está certa. Isso não fez muito por esse
ego.

—Tanto faz. Portanto, precisamos discutir oportunidades de


modelagem. Estou pensando que vou ficar completamente nu a
seguir?

—Não nessa vida—, eu digo, rindo dele e tentando realmente


difícil não pensar em Nathan estar nu. — E quanto a você?

—Hmm?

—O que você gosta no meu trabalho?

Nathan olha para mim, mas ele não responde.

—Naquele dia, recebemos a tinta da sala de arte, você agiu


como se fosse dizer algo. O que era?

—Lembra disso?— Ele ri.

—Acho que foi a única vez que te vi sem palavras.— Eu o


cutuco. —Vamos.— Faço minha voz mais profunda, soando o mais
sério possível. —O que você sente quando os vê?
—É um sotaque terrível.

—Eu pareço acadêmico—, eu argumento. —Agora, pare de


evitar a pergunta.

—Suas pinturas parecem ... complicadas.

Eu congelo; ok, realmente não esperava isso. —O que você


quer dizer?

—Não é ... nada—, diz ele, e então começa a rir sem motivo.
—Nada, eu juro.

— Não. — eu digo. —Conte-me.

—Eu não sei, sinto que posso te ver nelas. Isso não faz
sentido.

Não exatamente. Mas eu quero ouvi-lo sobre isso. Continuar


conversando

—Como o Pollock, eu não sei, parece brilhante e ativo. Mas,


tipo, muito escuro ao mesmo tempo. Se isso faz sentido. —Respira
fundo. —Eu acho que é a pintura que mais se parece com você.
—Essa foi apenas uma tarefa. A sra. Liu queria que eu
mostrasse à sua turma de calouros como Pollock pintou.

—Ainda assim, parece você.— Ele ri de novo. —Como uma


pintura muito 'Ben'.

—'Ben'?— eu digo. —Huh.

— Desculpa.

—Não, não, não.— Olho para ele e depois de volta para a


pintura. —Eu entendo. Acho que sim.

—O do pássaro se sente solitário—, Nathan continua. —Como


se você tivesse todo esse espaço vazio, mesmo que seja uma tela
enorme.

—Você deveria criticar a arte—, eu digo.

—Ou talvez eu apenas a critique.— Ele pisca.

—Essa pode ser sua pior linha ainda.— Mas ainda posso
sentir meu rosto ficar um pouco quente e não consigo segurar seu
olhar por mais de alguns segundos.
Espero que ele continue, para dizer algo sobre seu retrato,
mas acho que ele já me disse tudo o que precisa dizer sobre isso. As
cores brilhantes, o ângulo. —Você quer andar por aí?— pergunto a
ele.

—Claro, por que não?

Mas assim que dobramos a esquina, meus olhos encontram


as portas da frente da escola. E as duas pessoas caminhando
através deles.

—Foda-se—, eu sussurro baixinho.

Mamãe e papai estão aqui.


VINTE
—Não não não não não.

Nathan congela. — O que eles estão...

Eu tenho que pensar rápido. —Escute, por favor, encontre


Hannah e Thomas—, digo apenas o suficiente para que apenas
Nathan me ouça. —Distraia-os, mantenha-os longe da minha seção,
ok?

—Pode deixar.— Nathan assente e foge, olhando para os


corredores.

—Oi, querido, onde seu amigo está indo?— Mamãe pergunta.

—Conseguir algo para beber—, murmuro. — O que fazem


aqui?
—Bem, nós estávamos olhando o site da sua escola—, mamãe
diz com um sorriso. —E vimos que havia uma mostra de arte e que
seu nome estava na lista de estudantes!

—Então, nós pensamos em parar por aqui.— Papai dobra um


panfleto que ele recebeu na porta.

—Vocês não acham que deveriam ter me enviado uma


mensagem primeiro? Para ver se eu estava bem com isso?—
pergunto.

—Oh, querido, não seja bobo. Queríamos apoiá-lo.— Mamãe


bate em mim com a mão.

—Agora, onde estão suas coisas?— Eu adoraria vê-lo.

—Eu acho que vocês dois deveriam ir.

Papai zomba. —Então agora não temos permissão para ver o


trabalho de nossa própria criança? Você costumava falar sobre sua
arte o tempo todo, eu pensei que você ficaria animado!

Eu pego a palavra usada, sem “filhos” ainda. Talvez eles


estejam tentando agora? —Hannah está aqui e eu não te convidei.
Não acho que seja uma boa ideia.
—Oh, pare, Ben.— Papai passa por mim. —Vamos dar uma
rápida olhada e depois sair, ok? Talvez a gente saia para jantar para
comemorar.

— Sim, claro. Talvez. — Vou dizer o que for necessário, desde


que eles saiam o mais rápido possível. Eu me inclino na frente da
mamãe e os conduzo em direção à minha pequena seção. —Aqui
está.

—Oh, Deus, estes com certeza são algo, Ben.

Eu evito perguntar exatamente que tipo de “algo” eles são. —


Obrigado.

—Você realmente pintou isso?— Papai pergunta, inclinando-


se para olhar mais de perto. —Estou surpreso; você é mais
talentoso do que eu pensava.

Talvez se ele realmente se desse ao trabalho de olhar para


alguma das coisas que eu lhe mostrei em casa, ele ficaria menos
surpreso. —Sim.— Olho em volta, esperando que Nathan tenha
encontrado Hannah e Thomas.

—Oh, chegue perto, querido.— Mamãe pega o telefone dela.


—Eu quero tirar uma foto!
—Tudo bem, então vocês realmente precisam sair—, eu digo,
de pé ao lado da pintura de gotejamento.

Eu ouço mamãe sussurrar: —Eu gostaria que você estivesse


vestindo uma camisa diferente.— Mas eu escolho ignorá-la. Não faz
sentido deixá-los irritados.

—É seu amigo— Papai pergunta. —Nate?

—Nathan—, eu digo. —E sim

—Parece com ele.— Mas isso não soa como um elogio. Tenho
certeza que as peças estão se juntando em sua cabeça. Pintei o
retrato de um garoto, um garoto com quem me pareço muito
próximo. Na cabeça dele é simples adição.

—Obrigado—, eu digo, talvez apenas para ofendê-lo.

—Você está sendo pago por isso?— Papai pergunta.

—Não, pai.

—Bem, devemos conversar com alguém sobre isso.— Ele


começa a olhar em volta, mas eu tenho que pará-lo.
—Pai, está tudo bem. Este é um show de estudantes.
Ninguém está sendo pago.

Mamãe tira algumas fotos com o telefone. —Bem, isso foi


simplesmente fantástico. Estes são realmente incríveis, Ben.

—Ok, agora, por favor, vão embora.

—Benjamin, não há necessidade de ser rude, viemos por todo


esse caminho.— Papai envolve um braço em volta da cintura da
mamãe.

—Pessoal eu estou implorando! Ouçam...

—Ah... ah...— Papai solta uma risada baixa e olha para


mamãe, mas ela não está rindo. —Agora, quem está expulsando
quem?

Inacreditável essa porra.

E ele só vai continuar rindo na minha cara.

—Essa foi uma das coisas que descobrimos quando você usa
as palavras erradas para alguém—, explica mamãe.
—Bem, então talvez você entenda como não é uma piada de
merda?— Eu digo alto o suficiente para que eles ainda possam me
ouvir.

Nenhum deles reconhece isso. Na verdade, eles começam a


olhar em volta para todos os outros alunos como se estivessem me
ignorando de propósito.

—Sabe, essa é realmente uma boa escola—, diz mamãe. —


Muito moderno.

—Sim, é perfeito.— Deus, por que eles não vão embora? —


Agora por favor.

—Oh, ótimo—, papai sussurra baixinho.

Não!

Que merda!

Hannah está vindo direto para nós, Thomas nos calcanhares


e Nathan atrás de Thomas. Uma porra de linha de conga de
desastre.
—Ben, me desculpe, eu-— Nathan tenta dizer, mas ele é
bloqueado por Hannah.

— O que fazem aqui? —Hannah não perde tempo, ficando


bem no rosto de mamãe.

—Hannah, ouça ...— Eu tento implorar para ela se acalmar.


—Por favor, não faça isso aqui.

—Fique fora disso, Ben—, ela empurra de volta.

—Hannah, querida, vamos lá.— Thomas pega Hannah pelos


ombros e tenta levá-la embora, mas não adianta. —Vamos apenas
sair.

—Eu não vou perguntar novamente.— Ela aponta um dedo


para o rosto do papai. — O que fazem aqui?

—Viemos ver Ben—, mamãe diz calmamente.

—Queríamos apoiá-lo—, diz papai.

Isso não pode ser real, isso não pode estar acontecendo. Não
aqui, por favor, Deus, não no meio do lobby da escola.
—Ah, então agora vocês podem apoiá-los? Depois de expulsar
Ben da maldita casa?

Não aqui, não aqui, não aqui.

Eu sinto Nathan se aproximar, seu braço envolvendo meu


ombro. Tudo o que quero fazer é me afastar, sair correndo pela
porta e sair do lugar. Mas eu não posso. Estou congelade onde
estou, meu estômago revirando quando aquela sensação nauseada
toma conta.

—Hannah Marie De Backer—, papai tenta dizer, mas Hannah


não está tendo nada disso.

—Você entende o que você fez Bem passar, os ataques de


pânico, a ansiedade? Você expulsou seu próprio filho, pelo amor de
Deus.

—Isso não é da sua conta—, papai bufa. —Percebemos nosso


erro e estamos trabalhando para corrigi-lo. Ben até concordou em
voltar para casa depois que ele se formar.

Não!

Hannah se vira para mim. — O quê?


Isso não está acontecendo, isso não pode estar acontecendo.
—Não, não, não foi isso que eu disse!— De onde ele tirou isso?

—Nós nos encontramos no outro dia e discutimos sobre ele


vir ficar conosco depois que ele terminar aqui. Dessa forma, ele
pode seguir corretamente uma educação universitária. — Papai
continua falando.

Hannah começa a rir. —Você se encontrou com eles? Depois


do que eles fizeram?

Eu tenho que lutar para me livrar das garras de Nathan, e


não é até ele se soltar que eu percebo que ele era basicamente a
única razão pela qual eu ainda estava de pé. — Hannah, por favor,
pare. Eu juro que não estou voltando para lá. — Eu tropeço, quase
caindo no azulejo. —Eu nunca disse que voltaria lá.

—Ben.— Papai realmente parece surpreso. —Você disse que


voltaria para casa depois da formatura.

—El não vão a lugar nenhum—, diz Hannah.

—Escute aqui, sua putinha ...— Papai quase levanta a mão.


Eu posso ver o movimento de seu pulso, parando quando ele se
lembra de que estamos em público. Ele nunca bateu em Hannah.
Nunca.

Pelo menos, tanto quanto eu sabia ...

Mas talvez ele esteja no seu limite conosco. Talvez isso seja
prova suficiente. Ele nunca mudará, nenhum deles mudará.

—Eu não estava falando sério.— Eu levanto minha voz sem


querer. —Eu disse o que pensei que iria tirar você das minhas
costas.

—Nós pensamos que você seria um pouco mais


compreensivo.— Papai está ficando mais alto com cada palavra.

E, de repente, estou ciente de todos os que estão ao nosso


redor. Como se isso fosse algum tipo de briga no corredor.

A Sra. Liu está apenas parada ali, olhando para mim, com o
rosto cheio de pena. Meleika e Sophie encontraram Nathan, e os
três parecem estar prontos para brigar ou algo assim. Inferno,
Sophie até colocou os calcanhares nas mãos, pronta para ir.
Stephanie está olhando para o desastre à sua frente, ao lado de
todos os outros estudantes de North Wake aqui. Seus pais e
amigos.
Todos.

— Eu..—. Sinto-me começar a tremer e não consigo parar.

Não consigo parar isso! Não posso fazê-los partir, não posso
fazer Hannah se acalmar, não posso fazer nada.

—Ben.— A voz de Nathan é tão distante. Suas mãos nos


meus ombros, são quase o suficiente para me derrubar de volta.

—Eu não consigo!

—Ben— A preocupação toma conta do rosto de Hannah, a


raiva desapareceu em um instante. —Ben, vamos lá, vamos levá-lo
para casa.

—Não. Não vou a lugar nenhum com você. Balanço a cabeça


e me viro para olhar para Nathan. —Podemos sair?

—Sim ...— ele diz depois de um segundo. —Claro, vamos lá.—


O aperto de Nathan aperta, e ele me leva pela esquina. Direto para
porta.

—Ben!— alguém grita. Não sei quem e, realmente, não me


importo.
Deixei Nathan me levar para o carro dele. Está no lugar
normal no estacionamento dos alunos. Antes que eu possa me
arrastar para o banco do passageiro, ouço o clique de salto atrás de
mim na calçada.

—Benjamin

Mãmãe... E papai está logo atrás dela.

—Pare agora mesmo, jovem!— Papai grita.

—Deixe-me em paz—, tento dizer, mas quando mamãe agarra


meu pulso, não posso deixar de segurar.

—Ben, desculpe. Nós só queríamos apoiá-lo ... para provar a


você ... —Mamãe está gaguejando, e eu percebo que ela está
realmente assustada.

Talvez porque, pela primeira vez em algum tempo, ela não


esteja conseguindo o que quer de mim. E por um segundo, vejo a
mulher que amei. A mulher que ainda pode me amar. —Apenas
volte para casa, ok? Nós podemos conversar sobre isso. Vamos
encontrar esse médico, e talvez ele possa ajudá-lo com algumas
dessas coisas.
Suas unhas cravam-se em minha pele.

—Não—, eu digo; minha voz soa estranha até para mim. —


Não vou a lugar nenhum com vocês.

—Ben, você vai voltar para casa com a gente ...— Papai
começa a dizer, mas eu o interrompo.

—Não sou seu filho. Se você chegar perto de mim ou da casa


de Hannah novamente, eu ligo para a polícia.— Abro a porta do
carro de Nathan lentamente. —Não estou brincando. Nunca mais
fale comigo de novo. — Subo no banco do passageiro, sentindo o
movimento do carro quando Nathan sai de seu lugar.

Vislumbro mamãe e papai no espelho retrovisor, olhando


para o carro, bocas abertas.

E sinceramente espero que seja a última vez que os vejo.


VINTE UM
Quando chegamos à casa de Nathan, subo as escadas para o
quarto dele, como se fosse o dono do lugar ou algo assim.

—Vou conversar com meus pais muito rápido—, diz ele. —Eu
já vou.

Eu quase vou com ele, porque no segundo em que suas mãos


me deixam, sinto falta do seu toque. Mas não posso deixar seus
pais me verem assim. Subo as escadas devagar, mas quando
finalmente chego ao quarto dele, estou perdide. Não sei para onde
ir, se devo deitar na cama ou abrir a janela e me arrastar para o
telhado.

Em pouco tempo, ouço o som de seus passos subindo as


escadas, o rangido do piso de madeira sob seus pés.

—Quer se deitar?— ele pergunta.


—Claro—, eu digo, e sinto essa dor na minha mandíbula. Sei
que se eu continuar falando, vou começar a chorar.

Nathan se senta contra a parede e pega um travesseiro,


colocando-o no colo. —Venha aqui—, diz ele, dando um tapinha.

Não estou com vontade de discutir ou questionar, então subo


na cama e deito minha cabeça. Ele diz: —Minha mãe fez isso por
mim quando eu era mais jovem. Sempre me fazia sentir melhor. —
Suas mãos se movem para o meu cabelo e começam a passar pelos
cachos. É uma espécie de relaxamento que nunca senti antes.

Está tomando tudo em mim para não desmoronar agora. —


Sinto muito, você viu isso.

—Não é sua culpa—, diz ele. Eu escuto sua respiração. —


Existe algo que você quer que eu faça?

—Posso ficar aqui? Só um pouquinho.

—Claro, o tanto que você precise. Algo mais?

Eu dou de ombros. Eu não sou exatamente parcial para nada


agora.
—Eu sei do que precisamos.— Seus dedos não param,
mesmo quando ele se inclina para a mesa de cabeceira para pegar
alguma coisa.

A pressão no meu ouvido me surpreende, mas Nathan desliza


o fone suavemente. Ele toca no telefone e há um som realmente
assustador, quase como um filme de terror. Então esse violão entra
em ação, e um cara começa a cantar com uma voz que soa tão
triste.

—Quem é esse aqui?

—Troye Sivan35.— Nathan ri.

É legal, mas não o que eu esperaria de Nathan. Isso parece


muito sombrio, mas quanto mais perto eu escuto as letras, mais
felizes elas parecem.

Eu fecho os olhos. Eu não quero, mas minhas pálpebras


estão ficando muito pesadas para se manterem abertas.

—Nathan

35 Troye Sivan Mellet é um cantor, ator, letrista e youtuber nascido na África do Sul e naturalizado australiano.

Como ator, interpretou o personagem Wolverine enquanto jovem no filme X-Men Origens: Wolverine, protagonizou a
trilogia sul-africana Spud e participou do filme Boy Erased.
— Hmm?

—Estou feliz que nos conhecemos.

—Eu também, Ben.

—Você fez esses últimos meses sugarem menos.

—O mesmo aqui.

—Sinto muito.

Os dedos de Nathan roçam meu pescoço. —Não é sua culpa.


Nada disso é.

Meus olhos finalmente se fecham e eu me permito chorar.

Não levanto muito da cama nos próximos dias. Eu apenas


deito lá embaixo dos lençóis, meus dedos traçando as formas
crescentes desbotadas no meu pulso que mamãe deixou para trás.
Eles ainda doem se eu pressionar com força suficiente.
Meu telefone continua vibrando do seu lugar na mesa de
cabeceira, a tela de bloqueio cheia de mensagens não respondidas.
Eu olho para o modo como a tela se ilumina, o nome de Nathan
piscando repetidamente. Pego o telefone e olho as mensagens. Cada
uma que ele enviou desde sábado de manhã.

Eu fiquei na cama dele, fiquei com ele o máximo que pude. E


se eu tivesse minha escolha, não teria saído. Mas eu sabia que se
não voltasse para casa, Hannah provavelmente teria apresentado o
relatório de uma pessoa desaparecida ou algo assim. Quando voltei,
ela e Thomas estavam em casa. Os dois tentaram falar comigo, mas
no segundo em que vi Hannah, fiquei com raiva de novo.

Fui para o meu quarto, batendo a porta atrás de mim. E eu


quase não os vi pelo resto do fim de semana. Eles se certificaram de
que eu comi, e foi isso, eu não deixei muito espaço para eles ficarem
por aqui e falar comigo.

Pelo menos eles não me fizeram ir para a escola hoje.

Nathan: Boa tarde!

Nathan: Só quero ver como você está!


Nathan: Senti sua falta hoje, recebi sua lição de casa no
escritório.

Nathan: Mel e Sophie queriam que eu fizesse o check-in, para ver


se você está bem.

Nathan: Você sabia que são os pavões machos que têm toda a
plumagem colorida? As fêmeas têm uma aparência meio
branda.

Não posso deixar de rir da última porque grita Nathan. Eu


realmente não mereço alguém como ele.

Não mereço ninguém.

Nathan: Eu posso continuar enviando fatos aleatórios, se você


quiser!

Nathan: Ou vídeos de filhotes !!!

Ele enviou cinco, e eu assisto todos eles. Eu quero responder,


para que ele saiba que eu sou pelo menos segura. Mas algo em mim
está apenas me impedindo de digitar a mais simples das
mensagens.
Eu estou.

Por alguma razão, é mais fácil enviar uma mensagem para


Mariam. As palavras são mais fáceis com el.

Eu: Ei

Mariam: Ei Benji, o que se passa ???

Eu: Algo aconteceu…

Mariam: uh-oh

Eu: Eu me encontrei com meus pais.

A pequena bolha ao lado do nome de Mariam aparece e


reaparece várias vezes por quase um minuto inteiro.

Eu: você está bem?

Mariam: Eu? Se eu estou bem? Ben você está bem ????

Mariam: desculpe, eu só ...

Mariam: Não conseguia nem pensar no que dizer sobre isso


Mariam: Ben ... o que aconteceu?

Eu conto tudo para el. A mensagem, reunião com mamãe e


papai, eles aparecendo no show de arte e a briga com Hannah. As
mensagens de texto já parecem mais fáceis. Talvez seja porque
Mariam não está realmente aqui. Não consigo ver o rosto del
enquanto digo isso, e el não correm da casa para vir e tentar me
consolar ou o que quer.

Mariam: Você está seguro?

Eu: Sim, eles se foram.

Mariam: Ben… Nem sei por onde começar.

Eu: Eles queriam que eu voltasse para casa com eles.

Eu: Eu disse a eles não

Mariam: Ah merda.

Mariam: Envie-me o endereço deles, eu vou chutar a bunda


deles

Mariam: O que eu posso fazer?


Eu: Me faça companhia?

Mariam: Você entendeu, quer Facetime?

Eu: Não agora.

Eu: Apenas continue falando, não sobre eles.

Mariam: Bem…

Mariam: Eu e Shauna oficializamos, o que é péssimo, porque


minha turnê vai me tirar da Califórnia na próxima semana e ela
não pode vir comigo.

Eu: Isso é ótimo! A parte oficial, não a parte separadora.

Nada parece mais falso do que digitar falso entusiasmo


enquanto sinto que estou apodrecendo de dentro para fora.

Eu: Acho que você não me contou como se conheceram.

Mariam: O jeito usual. Eu ficava vendo ela no Starbucks e derreti


lentamente em uma poça de ansiedade até que ela realmente
veio até mim e começamos a conversar.
Eu: Amor no primeiro ataque de ansiedade

Mariam: É assim que eu faço.

Mariam: E você, o que está acontecendo com os problemas do


seu garoto?

Eu: Eu não sei ... ele estava lá, como se ele visse a luta e outras
coisas.

Mariam: Por favor, me diga que eles não saíram por você

Eu: Eles não

Se havia um revestimento de prata em tudo isso, suponho


que fosse isso.

Eu: Mas eu…

Eu: Eu acho que gosto dele. Como realmente gosto dele. Talvez
mais do que isso.

Mariam: Isso é ótimo, Benji! Eu estou tão feliz por você.


Mariam: Agora, como fazemos a grande declaração de amor? Eu
tenho aqueles canhões que atiram em camisetas.

Mariam: Ou um flash mob? Todos nós podemos dançar uma


música de Carly Rae Jepsen e então você aparece no meio com
uma daquelas placas de 'Will You Go Out With Me'

Quero rir. Eu quero rir tanto, mas não consigo fazer isso.

Eu: Isso nunca vai acontecer

Mariam: Por quê?

Eu: Eu sou muito bagunçade

Mariam: Bagunçade?

Eu respiro fundo. Há aquela sensação estranha no meu


estômago novamente.

Eu: Ele merece algo mais simples.

Eu: E eu não sou assim

Mariam: Você não acha que esse é o seu chamado?


Eu: Não quero machucá-lo

Eu: E eu não quero que ele me machuque.

Mariam: às vezes vale a pena

Mariam: Nunca se sabe até que você tente, certo?

Eu: talvez.

—Ben? A voz de Hannah quase me faz pular. —Você está


bem?

Eu não respondo.

Eu quero, mas não posso agora. É demais... E com toda a


honestidade, Hannah é uma das últimas pessoas com quem quero
conversar agora.

Sinto falta de uma semana inteira de escola. O que não é


inteligente, pois está chegando tão perto da temporada de exames,
mas não me importo. Parece que não consigo me mexer na metade
do tempo, e ainda não há como enfrentar todo mundo em North
Wake. A única vez que me levanto é usar o banheiro. Todos os
outros momentos livres são gastos assistindo algo no meu telefone.
Um dos novos vídeos de Mariam, ou Bob Ross pintando alguma
coisa. Qualquer coisa para aliviar a tensão.

Thomas me traz comida, mas eu posso apenas mordiscá-la,


mesmo que pareça que meu estômago está tentando se digerir. Eu
não tenho muito apetite. Hannah marcou uma consulta com a Dra.
Taylor amanhã. Ela tem uma vaga depois do almoço.

Percebo que não é um pedido. Eu irei a esse compromisso,


mesmo que eles tenham que me arrastar para fora da cama. Vou
ter que dizer a Dra. Taylor que tenho negligenciado meus remédios.
Eu sei que não os tomar está apenas piorando as coisas, mas eu
simplesmente não consigo levá-los, não sei por quê.

—Você pode falar comigo, Ben?— Ele pega minha mão, mas
eu a enterro embaixo dos lençóis. —Ou pelo menos falar com
Hannah?

—Não agora.— Não estou bravo com ela, exceto que estou. Eu
sei que não foi realmente culpa dela, que mamãe e papai mentiram,
como sempre. Tentando se tornar os mocinhos. Ainda doía. Só me
deixa em paz.

—Você acha que quer tentar ir à escola amanhã? Hannah


pode buscá-lo para a consulta.

Nada. Minha resposta seria não. Não posso enfrentar todo


mundo depois de tudo isso. Eu simplesmente não posso. Eu sei que
preciso, e sei que a probabilidade real de alguém se importar com o
que aconteceu em uma mostra de arte para estudantes há uma
semana é pequena. Mas não consigo superar o sentimento.

Apesar de tudo, eu me forço a voltar. É o fim do ano e,


embora eu adorasse nada mais do que mergulhar na minha própria
miséria pelo próximo mês, a ideia de repetir um ano não é algo que
eu acho atraente.

Nathan não tenta falar comigo em química. Talvez ele saiba


que não estou com disposição. Quando a campainha toca, retiro por
alguns segundos.
—Hannah está esperando por você no escritório, Ben—.
Thomas espera que eu pegue minha bolsa. Ele até me segue até o
escritório. Não se preocupe, Thomas, não tenho vontade de correr
para lugar nenhum. Ou eu não tenho energia, pelo menos. Eu
realmente prefiro não fazer nada, mas ir para casa e me arrastar de
volta para debaixo dos lençóis até que eu precise repetir tudo isso
amanhã novamente.

—Está se sentindo bem? — Hannah pergunta quando


estamos no carro.

—Sim—, eu murmuro.

—Eu quero que você conte a ela sobre o show, ok?

Eu realmente não quero falar sobre isso de novo, mas acho


que deveria. Ou eu sei que deveria. Meu palpite é que Hannah já
mencionou algo para ela. Espero que ela tenha. Talvez eu não
precise.

—Ben— O jeito que ela diz meu nome faz parecer que estou a
milhares de quilômetros de distância. Eu apenas olho pela janela
enquanto passamos pelas paredes brilhantes de North Wake. Ela
não tenta iniciar uma conversa novamente. Tenho certeza que ela
sabe que é inútil. É preciso todo o esforço que me resta para sair do
carro e seguir em direção ao elevador. Hannah vai para o lugar de
sempre no canto da sala.

—Bom dia, Ben.— A Dra. Taylor já está segurando a porta


aberta para mim. —Ou devo dizer boa tarde?— Ela ri e olha para o
relógio na parede. — Onde isso vai parar?

Olho para Hannah. Ela me dá um daqueles meio sorrisos que


acho que significa que ela está tentando apoiar. —Hannah pode
entrar?

Os dois parecem meio surpresos, mas eu realmente não


quero que seja eu e a Dra. Taylor.

Dra. Taylor apenas assente. — É claro. —Hannah!

—Você tem certeza, irmane?— Hannah pergunta, pegando


sua bolsa.

Concordo com a cabeça e entro no escritório, ocupando meu


lugar no feio sofá amarelo. Hannah senta do outro lado.

—Então, como você está, Ben?

Dou de ombros e a ouço escrever algo.


—Faz um tempo desde que nos encontramos. Aconteceu
alguma coisa?— Ela pergunta de uma maneira que eu posso dizer
que ela está se referindo à reunião com mamãe e papai. Eu apenas
dou de ombros novamente. Aparentemente, é tudo o que eu sou
bom no momento. Sinto a frustração pela maneira como a Dra.
Taylor suspira e quero me desculpar.

—Posso falar?— Hannah levanta a mão e olha para mim,


como se ela precisasse da minha aprovação ou algo assim.

—Claro—, a Dra. Taylor responde por mim.

—Já faz mais de uma semana e el acabou de...— Hannah


olha para mim. —Assim, como...— Ela para como se estivesse
procurando a palavra certa.

Realmente já faz mais de uma semana? Eu tento definir a


linha do tempo na minha cabeça. Dias deitade na cama, sem tomar
banho, comer ou incomodar-se em conversar com alguém.

Realmente não poderia ter sido uma semana ... poderia?

—Não responde?
—El não faz nada. Sem falar, mal comendo. Eu verifiquei o
diário del e também não acho que el esteja tomando seus remédios.

Verificando meu diário? Quero dizer a mim mesme que isso


significa que Hannah se importa, mas tudo que estou ouvindo é que
ela está passando pelas minhas costas, olhando para coisas que
não são da sua conta.

—O que aconteceu para causar isso?— A Dra. Taylor me


pergunta. Mas Hannah fala antes que eu tenha uma chance.

—Nossos pais—, diz ela. —Eles vieram para a mostra de arte


de Ben.

— Ah. Você se encontrou com eles, não foi?— Dra. Taylor


escreve algo.

—Você sabia disso?— Hannah pergunta.

—Eu fiz—, diz a Dra. Taylor calmamente. —Ben e eu


discutimos sobre isso em nossa última reunião.

Hannah abre a boca, mas então ela apenas bufa e afunda de


volta no sofá. —Não acredito que você achou uma boa ideia.
—Eu nunca sugeri que Ben se encontrasse com eles,
simplesmente dei minha opinião.

— Sim, mas…

—Hannah!— Dra. Taylor levanta um dedo. —Eu deixei Ben


tomar sua própria decisão. Agora por favor.— Uau. Eu olho para a
Dra. Taylor, um pouco aturdide. E, se estou sendo sincere, sinto
um pouco de inveja da maneira como ela fechou Hannah. —Ben,
você se importaria de começar do começo, para que Hannah saiba
toda a história?

—Começou com uma mensagem.— Olho para Hannah. —


Mamãe enviou alguns meses atrás, mas eu não vi isso até
recentemente.— Então eu volto para a Dra. Taylor. —Nós nos
encontramos e eles ... eles queriam que eu fosse para casa com
eles, alegavam que tinham aprendido e queriam tentar.

—Tentar o que, Ben?— Dra. Taylor pergunta.

—Para ser uma família novamente, eu acho.

Hannah ainda não está realmente olhando para mim. — Por


que você não me contou?
—Porque eu sabia que você exageraria.

—Bem, eu realmente não acho que essa seja uma razão.—


Ela cruza os braços. —Você deveria ter compartilhado essa
mensagem comigo. Eu poderia ter ido com você.

—Porque a reunião na escola foi tão bem, não foi?

—Ben—, a Dra. Taylor fala. —Por que você achou que


Hannah exageraria?

—Ela sempre fazia quando se tratava de papai. Eu acho que


ela provou isso no show.

Dra. Taylor anota algo. —Okay agora conte o que eu não sei.

—Eu fiz uma mostra de arte na escola. E tudo estava indo


bem até ...— Começo a dizer.

E Hannah me interrompe. —Eles apareceram.

—Entendo—, diz a Dra. Taylor. —E o que aconteceu?

—Eles fizeram uma cena.— Hannah faz beicinho. —


Envergonhou-me, Ben, e seus amigos.
Eu bufo. —Sim, eles fez uma cena.

—Bem, eles fizeram!— Hannah realmente parece surpresa.


Sério? Ela não pode estar falando sério agora.

—Hannah, nada disso teria acontecido se você tivesse ficado


para trás. Foi por isso que enviei Nathan para afastar você.

—Eles não deveriam estar lá, Ben.

Você acha que eu não sei disso. Deus, ela está realmente indo
para isso. —Eu estava lidando com isso. Eles iam embora antes que
você os visse e começasse uma briga. Como você sempre costumava
fazer.— Eu posso ouvir minha voz ficando mais alta, mas não
consigo mais segurar.

—Ah, então eu comecei as lutas?— Hannah rosna.

— Na maior parte do tempo? Sim! Mamãe e papai eram uma


merda? Claro, mas você não teve que lutar com eles todas as
chances que apareciam. Era isso que eles queriam, Hannah. Eles
prosperaram nessa merda e você também!

—Ben— Os olhos de Hannah estão molhados.


—Você sempre fazia isso. Você continuaria lutando com eles,
mesmo sabendo que não adiantava, que era apenas uma perda de
tempo. E foi o que você fez na escola. Começou uma briga sem
motivo.

—Sem razão. Ben, eles te abandonaram ...

—Bem, eles não foram os únicos que fizeram isso, foram?—


Eu não aguento mais. Está tudo prestes a transbordar, as ondas
estão lambendo a beira, e eu não consigo segurar. —Dez anos,
Hannah. dez anos

—O que quer dizer?— ela pergunta, mas ela já sabe. Não tem
como ela não poder.

—Por dez anos você me deixou com eles. Com uma nota e um
número de telefone, o que poderia muito bem ter sido um grande
'foda-se, eu terminei, você está por sua conta agora, garoto!' — Caio
de volta no sofá, meus ombros tremendos.

Eu não me sinto melhor. Na verdade, sinto que vou ficar


doente.

E então as lágrimas vêm.


Eu era apenas uma criança. Eu não tinha telefone nem nada.
Como eu deveria ligar para você sem que eles soubessem?

— Eu não.— Hannah passa a mão pelos cabelos.

—Mas foi isso. Um número de telefone para o qual não pude


ligar e um endereço para um lugar que não consegui acessar. Eu
entendo que você teve que sair. Que você não aguentou mais, não
estou brave com você por isso.— Limpo meus olhos com a manga e
a Dra. Taylor desliza a caixa de lenços na minha direção. —Eu fui
deixade sozinhe. Eu estava sozinhe e assustade, e realmente não
sabia o que havia acontecido com você. Você sabia o quanto eles
poderiam ficar ruins e acabou de me deixar lutar por mim mesmo.

Por alguns segundos, a sala está totalmente silenciosa, exceto


pelos meus soluços silenciosos. Hannah está olhando para o lugar
no chão, e a Dra. Taylor está olhando entre nós dois. Acho que
talvez esteja esperando a próxima explosão.

—Ben?— A voz da Dra. Taylor é surpreendentemente calma.


—Você está bem?

— Desculpe, eu só... — Nego com a cabeça. —Eu não quis


dizer isso, Hannah, me desculpe.
— Não. — Ela ainda não está olhando para mim. — Não, eu
entendo. —Então ela enterra o rosto nas mãos e solta esse longo
gemido. —Eu não posso acreditar nisso.

—Sinto muito—, eu digo, e depois novamente. E, novamente,


como se fossem as duas únicas palavras restantes. —Me desculpe,
me desculpe, me desculpe.

—Por que você sente muito?— Hannah pergunta, sua voz


composta de metade do riso, metade dos soluços. —Eu sou a única
que deveria estar arrependida. A primeira chance que tive, saí de
casa e nunca olhei para trás. —Seus olhos finalmente encontram os
meus olhos, os olhos do nosso pai. —Eu estraguei tudo.

—Bem, para ser honesto, no tipo de situação em que vocês


dois vieram, raramente existem vencedores—, diz Taylor. —Diga-me
o que você está sentindo, Hannah.

Hannah sopra em um lenço de papel, não o som mais


gracioso—Eu errei.

—Sim, bem ... —Dra. Taylor ri. —Isso eu entendo, mas você
deve estar sentindo algo mais profundo que isso?

—Estou meio confusa e com raiva de mim mesmo.


—Sobre?

—Como Ben está certo.— Ela arranca outro lenço de papel e


limpa debaixo dos olhos. —Quando saí, ainda pensava nel, quase
todos os dias. Até, eu acho ... — A voz de Hannah vacila e ela
começa a balançar a cabeça. —Meu marido, Thomas, ele nem sabia
sobre Ben até namorarmos há alguns anos.

— Não contou a ele? — Dra. Taylor pergunta. —Como ele


descobriu?

—Estávamos desfazendo as malas. Ele encontrou um álbum


de fotos que tirei e viu as fotos de Ben.

—Então, você realmente se esqueceu de mim?— Eu a encaro.


Não sei por que estou chocade. Essa era uma verdade que eu já
sabia. Talvez eu pensasse que ela poderia me provar que estava
errade. Que ela admitiria lutar pela minha custódia ou tentar o seu
melhor para me enviar cartas apenas para que elas fossem
interceptadas por mamãe ou papai.

Mas não. Minha própria irmã se esqueceu de mim.

—Eu não esqueci você, Ben—, diz Hannah. —Eu só ... tinha
outras coisas em mente.
—Ah.— Eu olho para frente. —Porque isso torna tudo melhor.

—Diga-me o que está pensando?— Deus abençoe Dra. Taylor.


Se ela não estivesse aqui para mediar tudo isso, acho que
poderíamos ter começado a arrancar o cabelo um do outro. —Você
está com raiva de Hannah?

—Eu não estou com raiva—, eu digo. Eu não acho que estou,
pelo menos. —Mas ainda dói.

Dra. Taylor assente. —E isso é perfeitamente válido. Você já


pensou que ela poderia compensar você?

—Ela está, não está?— Todas as coisas que ela fez por mim.
Jesus, eu não tenho o direito de ficar com raiva dela. As roupas, a
comida, me levando para a escola, me dando uma cama.

—Você ainda está machucade, não está?

Aceno em concordância.

—É uma coisa difícil de esquecer, não é? Ainda mais difícil de


perdoar?— Dra. Taylor pergunta: —Hannah, você acha que é daí
que vem sua vontade de ajudar Ben?
—Bem, el é meu irmane—, diz Hannah. —Eu faria qualquer
coisa…— Ela para. —Eu gosto de pensar que faria qualquer coisa
por el.

—Exceto se certificar de que el está seguro?— É estranho


como a Dra. Taylor pode impedir que algo pareça uma acusação.
Suas palavras não parecem más ou dirigidas a Hannah em algum
tipo de ataque pessoal. Eles soam como a verdade. Simples e fácil
—Tenho certeza de que seria fácil ajudar Ben agora, vocês dois se
reconectaram e puderam ter um relacionamento real. Mas em
janeiro? Depois de uma década separados, foi realmente tão fácil?

— Não.— Hannah respira. Entrando pelo nariz e saindo pela


boca. —Thomas e eu, não dormimos naquela noite. Depois que fui
buscar Ben.

—Sério?— pergunto.

—Não tínhamos certeza por que você foi expulse. Nenhum de


nós queria assumir o pior, mas, por um momento, consideramos
chamar a polícia. Obviamente, não o fizemos. — Hannah abre um
sorriso. —Quando o sol nasceu, sabíamos que tínhamos que ajudá-
lo, não importa o que tivesse acontecido.
—Hannah!— A Dra. Taylor se endireita na cadeira, com o
bloco de notas e a caneta esquecidos. —Quando você acolheu Ben,
quando comprou roupas e algumas coisas de necessidades, quando
Thomas o levou para uma nova escola, qual era seu objetivo?

Hannah responde sem hesitar. —Proteger ele.

—Você acha que uma parte de você estava tentando


compensar a sua ausência?

Este é menos fácil. A boca de Hannah fica aberta por alguns


segundos, seus olhos sem foco. —Hã... talvez?

—Ben?— A Dra. Taylor olha diretamente para mim, como se


seus olhos afiados pudessem ver através de mim. —Você se sente
melhor? Agora que você contou a Hannah como se sente?

—Na verdade não—, eu digo. Há apenas um vazio maior entre


nós agora, e eu não sei o que poderia preenchê-lo.

—Você gostaria de ter ficado quiete?

—Não. Eu estou feliz por ter dito alguma coisa, mas não sei.
Tudo isso foi realmente muito confuso, e não tenho muita certeza
do que estávamos tentando realizar aqui.
—O que você quer da Hannah agora? O que ela pode fazer
para que você se sinta melhor?

Eu realmente não sei. Não quero mais nada dela; ela fez
muito por mim. —Ela é a única razão pela qual eu cheguei até aqui.

—Não há nada que você possa pensar?

Olho para Hannah, seus olhos vermelhos, seus cabelos


bagunçados. Suponho que pareço à mesma coisa agora. Realmente
não há como nos confundir com outra coisa se não irmanes. Temos
muitos de nossos pais em nós, às vezes demais.

Mas não podemos evitar.

— Não.
VINTE DOIS
—Podemos conversar, só por um segundo?— Hannah me
pergunta quando estamos de volta em casa.

—Não acabamos de fazer isso?— eu digo. Eu não quero ser


ume idiota, mas eu não tenho isso agora.

—Eu queria dizer-lhe algo que eu não queria que a Dra.


Taylor soubesse.

—Oh.

Minha mente já está correndo com o que quer que seja. Algo
tão ruim que ela nem iria querer dizer isso em voz alta para
ninguém além de mim?

—Isso é inteligente? Não devemos fazer isso com ela?


—Se eu quisesse que ela soubesse, eu teria contado para você
na consulta.— A voz de Hannah é surpreendentemente curta, mas
ela fecha os olhos, respira fundo e começa a caminhar em direção à
cozinha. Eu a sigo, o ar entre nós se sentindo mais venenoso a cada
passo. — Desculpa.

Durante toda a volta para casa, não nos falamos. Era


estranho, e eu estava começando a sentir que isso não era algo que
poderíamos consertar.

—Sente-se.— Hannah aponta para a cadeira na mesa no


canto, o local exato em que eu tinha ido até ela. —Não contei isso a
ninguém, exceto Thomas, e contei a ele apenas alguns anos atrás,
depois que nos casamos.

—Ok.

—Quero lhe contar por que saí de casa.

—Eu pensei que era só porque mamãe e papai eram tão


sufocantes— eu digo, mesmo que eu sinta que agora não é minha
hora de falar.

—Isso fazia parte, mas há mais.— Ela junta as mãos.


—Ok. O que era?

—Então, cerca de um mês antes de me formar, eu estava


vendo esse cara, e decidimos dormir juntos.

—Você estava namorando alguém?— pergunto.

Hannah assente. —Isso faz parte da história.

—Ah, me desculpe. Eu não tinha ideia.

Hannah dá um longo suspiro, como se estivesse pensando no


que dizer a seguir. —Estávamos seguros, usamos camisinha e tudo,
mas nem sempre isso funciona. Algumas semanas depois, quando
eu deveria menstruar, não o fiz.

Merda.

— Você estava …?

—Não, não.— Hannah balança a cabeça. —Apenas meu ciclo,


foi estranho. Eu acho que estava sincronizando com algumas das
outras meninas da minha classe. Essa não é a questão. —Ela
respira fundo outra vez. — Eu pensei que talvez estivesse grávida.
Então, eu comprei alguns testes, fiz eles, todos negativos
Percebo que suas mãos estão tremendo.

—Eu pensei que joguei todos eles fora. Fui cuidadosa—.


Hannah balança a cabeça, quase como se estivesse falando mais
consigo mesma do que comigo. —Mas acho que esqueci um ou
talvez mamãe estivesse bisbilhotando no lixo, mas ... ela descobriu.

—Hannah!

—Ela enlouqueceu, obviamente. Eu disse a ela que todos


eram negativos. Foi quando ela descobriu que eu estava namorando
Mark, o garoto com quem eu dormi. Pedi que ela escondesse o
segredo do papai, porque sabia que ele iria queimar um pavio. E ela
me disse que sim.

Hannah engole, e parece que leva uma eternidade para ela


começar a falar novamente.

—Exceto que ela não fez. Ela disse a ele em algum momento,
e ele explodiu. Disse-me que ficou desapontado consigo por criar
uma prostituta—. Essa foi à única vez que ele me bateu, e foi nessa
noite que decidi que não poderia mais estar lá e imaginei que depois
da formatura fosse um momento tão agradável quanto qualquer
outro.
—Hannah, eu não ...

—Eu sei, você não sabia. Eu não te disse por uma razão. Mas
foi por isso que eu saí. E me machucou por tanto tempo saber que
eu estava deixando você com eles, Ben. Parte de mim esperava que
eles melhorassem, ou talvez fossem mais fáceis com você. —Ela
solta uma risadinha lamentável, se é que você pode chamar assim.
—Talvez tudo isso seja minha culpa. Talvez eu devesse ter ligado
para o serviço infantil, contado onde você estava. Mas eu tinha
apenas dezoito anos, não conseguia cuidar de uma criança. Então,
pensei que você acabaria no sistema e se isso acontecesse eu sabia
que nunca mais te veria. —As lágrimas caem rapidamente pelo
rosto dela. —Sinto muito, Ben, sinto muito.

— Eu...— Não consigo me mexer e não há palavras para o


que estou sentindo agora. Essa mistura de desamparo, culpa,
traição, bile subindo no fundo da minha garganta. Levanto-me do
meu lugar e vou até ela, puxando minha irmã para o abraço mais
apertado que consigo. Eu não me importo se isso está me
machucando, ou ela, eu só quero que ela esteja perto de mim agora,
e eu nunca quero deixá-la.

—Sinto muito, Hannah. Desculpa.— Começo a soluçar, a sala


cheia de nada além do som de nós chorando enquanto nos
abraçamos.
—Sinto muito.— Os braços dela me envolvem. —Senti que foi
minha culpa por tanto tempo que deixei você lá com eles. Eu
deveria ter feito mais.

—Não é sua culpa—, digo a ela. —São eles ... não é culpa de
ninguém, mas deles.

Afastamo-nos um do outro e, por um segundo, é um silêncio


constrangedor, mas depois começamos a rir quando nos vemos.
Rostos vermelhos e inchados. A maquiagem de Hannah corre um
pouco.

—Não ria—, diz ela, caminhando até o balcão para pegar


algumas toalhas de papel. —Não é engraçado—, diz ela enquanto
tenta impedir outra risada.

E eu não consigo parar de rir. —É bem engraçado.

Mas então paramos, e é estranho de novo. Hannah fecha a


toalha de papel e me olha, se aproximando um pouco. —Eu amo
você, maninhe. Você é o melhor irmane que eu poderia pedir.

—Eu também te amo.— Nos abraçamos de novo, e há esse


sentimento que me envolve. Porque realmente parece que as coisas
podem ficar bem novamente.
Talvez não imediatamente, mas eles chegarão lá.

Um dia.

A escola está ajudando a manter minha mente ocupada, o


que não é realmente algo que eu tenha pensado em agradecer. É
oficialmente o início da temporada de exames, e Maio é
praticamente ininterrupto para os idosos. Os semestres em North
Wake são mais curtos que os de Wayne, então, em vez do ano letivo
que termina em junho, termina em maio. E todo o mês será gasto
com nossos bonés e vestidos, ensaiando para a formatura,
assinando anuários, preparando-se para a noite do último ano e se
preparando para o baile.

O que significa que ninguém realmente tem tempo para se


preocupar com o que aconteceu na mostra de arte. Talvez eles não
se importassem de qualquer maneira. Ainda há a sensação de que
todo mundo está me observando ou rindo de mim pelas minhas
costas, mas talvez isso seja normal. E Meleika e Sophie não
trouxeram isso à tona. Talvez Nathan tenha conversado com elas.
Ou talvez elas simplesmente saibam não falar sobre isso.
A Sra. Liu também não falou sobre isso, o que pode ser o que
mais me agrada. Ela é muito boa em agir como se nada tivesse
acontecido. Abençoe ela.

Pelo menos eu posso tirar o baile e a noite da minha lista de


coisas para lidar. Eu até pularia a graduação se pudesse, mas
North Wake não permitirá que você se forme, a menos que você
pratique todas as práticas e participe da cerimônia real.
Aparentemente, eles mantêm seu diploma como refém até depois.
Então isso é doce da parte deles.

Há noites que sei que devo estudar, revisar ou fazer os testes


práticos. Mas eu não posso. Porque qual é o objetivo? Quando tudo
estiver terminado, mal poderei escrever em inglês e, se nunca
precisar escrever outro ensaio em minha vida, ficarei muito feliz. Na
verdade, pensei em talvez conseguir a ajuda de Nathan, mas não
conversamos muito nas últimas duas semanas.

Na verdade, ele falou bastante comigo, eu fui egoísta demais


para responder.

Provavelmente não é assim que eu deveria pensar, mas não


consigo me conter. Não tenho ideia do que vou lhe dizer.
O resto das minhas aulas será fácil. Temos que fazer um
exame de arte, o que é péssimo, mas eu sei o suficiente sobre o
aspecto “história” do assunto para passar. A química será o
verdadeiro fracasso, já que Thomas não pode me dar o exame. Algo
sobre nepotismo e não ser justo. Felizmente, o teste é feito pelo
estado, então tudo o que preciso fazer é levá-lo para uma sala
diferente de todos os outros. Apenas três semanas.

Três semanas inteiras.

Três semanas para se preparar para nunca mais ver Nathan


novamente. Ele trouxe sua carta da UCLA para almoçar no outro
dia. Ele entrou, com uma bolsa muito grande também, então ele
nem vai se preocupar com suas outras escolhas. Em três semanas
ele estará se preparando para a escola. Em dois meses, ele estará
em turnê pelo campus, um mês depois, ele será um dos mais novos
alunos da UCLA. E eu não serei nada além de uma memória.

—Ei, garoto—. Hannah bate na minha porta.

—Ei.— Eu tento o meu melhor para parecer casual.


—Você tem algum plano hoje à noite?— Ela se senta bem na
beira da minha cama. O lugar de sempre.

— Não.— Além de mergulhar em uma poça de autopiedade e


ansiedade? Não sei o que me atingiu ultimamente, talvez a mostra
de arte ainda esteja na minha cabeça e tudo o que Hannah me
contou depois. Parece que meus pais não são mais as pessoas que
eu conhecia.

Quero dizer, minha opinião sobre papai não mudou muito,


mas mamãe ... Eu pensei que ela era diferente. Isso me faz pensar
em tudo que eu já disse a ela. Se ela realmente passou pelas
minhas costas, como fez com Hannah.

—Você quer fazer alguma coisa?

—Não muito.

— Ah não!— Ela pula da cama e dá um tapinha nas minhas


pernas. —Vamos festejar, vamos nos soltar. São precisos dois,
vamos lá!

—Por que você está citando Carly Rae Jepsen para mim?
—Ok, antes de tudo, ela apenas cobriu essa música. Em
segundo lugar ...— Hannah balança a cabeça. —Não importa,
vamos lá, você já ficou de mau humor.— Ela pega minha mão antes
de se lembrar de toda a coisa tocante.

Larguei meu caderno de desenho. Não que eu tenha


trabalhado muito de qualquer maneira. Todas as minhas tarefas de
arte estão concluídas, e eu basicamente pintei na escola sem parar
desde que não terei sala de arte em breve. —O que deu em você?

Hannah suspira e passa a mão pelos cabelos. —Ok, pessoal,


eu tentei!— ela grita para ninguém. Ou pelo menos, acho que não é
ninguém, até Nathan e Meleika descerem o corredor.

—Você chama isso de tentar?— Eu ouço Meleika murmurar.

— O que faz aqui?— pergunto.

—Bem, você tem estado tão deprimido ultimamente—, diz


Meleika. —Então nós pensamos em te sequestrar e levá-lo para a
noite sênior!

—Não, obrigado—, eu digo.


—Você quer dizer que eu trouxe está fronha para nada?—
Nathan olha a coisa em suas mãos.

—Eu pensei que poderia ser uma boa ideia para você sair.—
Hannah se recosta na beira da cama. —Vá se divertir, seja jovem
por mais uma noite.

—Eh, não.— Eu rolo de lado.

— Vamos!— Nathan pula no final da cama. —Será divertido.

—Há boliche.— Meleika diz que isso acrescenta algum tipo de


incentivo para eu sair da cama. —E patinar.— Greve dois. —E todo
mundo vai estar lá.— Greve três.

—Ok, eu vou falar com Ben, vocês esperem lá embaixo.—


Hannah tira os dois do meu quarto, fechando a porta atrás deles.

—Eu não vou—, eu digo novamente.

— Ouvi você.

—Ótimo.— Pedirei desculpas a todos na segunda-feira ou


algo assim.
—Ben— Hannah bufa. —Eu sei que este não foi o momento
mais fácil para você.

Eufemismo do ano. —Sim, e agora eu só quero ficar sozinhe.


Tudo bem?

—Você esteve sozinhe no último mês, Ben.— Um mês? — Eu


acho que já faz tanto tempo. Você mal falou comigo, ou Thomas.
Nathan disse que você não respondeu na escola. E no segundo em
que você chega em casa, rasteja para a cama. Eu sei que você está
sentindo muitas coisas, com mamãe e papai e ...

—Estou autorizade a ficar triste com isso, Hannah.— Estou


tentando não ficar frustrade com ela, mas tudo o que ela diz soa
terrivelmente perto dela, me dizendo para superar tudo isso, mesmo
que ela não pretenda.

—Eu não disse que você não deveria se sentir triste. Só estou
dizendo que você precisa provar que estão errados—. Suas palavras
ecoam um pouco, instalando-se nos meus ouvidos. —Fique triste,
inferno, sente-se na cama o fim de semana inteiro e assista à
Netflix. Eu tive esses tempos também. Mas não pare de viver sua
vida por eles.— Eu a sinto cair de volta na cama. —Eu sei que é
difícil e sei que você precisa de ajuda, mas você tem alguns amigos
incríveis que estão lá para você e oportunidades incríveis. E uma
irmã incrível, se eu puder tocar minha própria buzina. Mas você
não pode deixar que eles te controlem assim, Ben.

—Fácil pra você dizer.

—Não, não é.— Ela suspira. —Ainda há dias em que sinto


que eles estão logo atrás de mim, esperando. Eu sempre estou com
medo de que isso nunca desapareça.

Eu tento o meu melhor para não respirar, e não mover um


músculo.

—Porque mesmo quando eu finalmente saí daquela maldita


casa, eles ainda me seguravam. E está partindo meu coração vê-lo
passando pela mesma coisa, Ben.

— Eu...

—Quero que você tenha uma boa vida. Não quero que você
perca anos tentando esquecê-los como eu fiz. Você tem esse incrível
sistema de suporte de pessoas que se preocupam com você. Quero
dizer, quando me mudei, quase não tinha ninguém. Pessoas com
quem conversei em Goldsboro talvez uma ou duas vezes. Na
verdade, tenho inveja de seus amigos, se estou sendo sincera. Eles
parecem incríveis.
Eu me permiti sorrir. — Sim.

— Eu sei. Eu sei que nada disso foi fácil. Mas acho que você
deve isso a si mesmo. Deitade na cama, você não tem nada além de
tempo para sentar aqui e pensar em tudo que eles fizeram.

—Eu não acho que você realmente sabe o que está


acontecendo, Hannah.

—Eu não—, diz ela. —Na verdade não. Só você pode saber
disso. — Ela suspira. —Mas eu estava em um lugar semelhante
quando finalmente saí de debaixo deles.

—E o que ajudou você a sair disso?— pergunto.

—Me colocando lá fora. Fazendo amigos, fazendo coisas. Isso


me impediu de pensar neles o tempo todo.

Eu deixei suas palavras afundarem. E eu sei que ela está


certa. Não posso ficar sentado nessa cama pelo resto da minha
vida. Mas agora, é tudo que eu pareço capaz. O universo desabou
ao meu redor e tudo o que posso fazer é mentir depois.

Talvez eu esteja sendo dramátice.


E talvez eu não seja. Não sei.

Mas o que eu sei é que Hannah está certa. E acho que é hora
de tomar uma decisão por mim mesmo.

—Vou dizer a Nathan e Meleika que você não vem. Talvez


encomendemos comida esta noite ou algo assim. —Ela dá um
tapinha na minha perna e sinto a cama relaxar enquanto Hannah
se levanta, seus passos avançando mais perto da porta.

—Hannah!— Eu digo, minha voz rouca.

—O que?

Sento-me, me vendo no espelho atrás da minha cômoda.


Deus, eu pareço à morte. —Eu vou—, eu digo. —Diga a eles que eu
vou descer em quinze minutos.

—Então, o que fazemos primeiro?— Sophie estaciona o carro


no estacionamento desse imenso complexo esportivo. Ler a lista de
coisas que podemos fazer faz eu me arrepende da minha decisão de
vir aqui. Mas, agora é tarde.
—Boliche — Meleika grita. —Eu vou chutar todas as suas
bundas.

—Pssh—. Nathan revira os olhos. —Se eles deixarem você


colocar nos trilhos para crianças, talvez.

—Ben? —Sophie pergunta.

—O boliche está bem.— Provavelmente vou apenas sentar lá e


assistir de qualquer maneira.

Mostramos nossas identificações de estudante na porta, e já é


bastante caótico aqui. —Vamos.— Nathan nos leva para o lado do
complexo com o enorme letreiro —Boliche—. Não deve ser o esporte
mais popular em Raleigh, porque cinco das doze pistas estão
abertas.

Felizmente, Meleika escolhe a pessoa certa no final. Nós dois


nos sentamos no assento do console central, os olhos saltando da
tela à nossa frente para aquele pendurado no teto.

—Oh, você não precisa me colocar—, eu digo quando a vejo


digitando meu nome.

—Vamos lá, você precisa fazer pelo menos um jogo—, diz ela.
—Eu não sou tão bom no boliche.

—A última vez que estivemos aqui, Nathan jogou quarenta.—


Ela mantém a voz baixa. —Você vai se sair bem.

—Como é possível?!— pergunto.

—Ei, sem sussurros.— Nathan vai até a máquina que aciona


as bolas e mexe com algumas antes de escolher uma que encaixe
seus dedos longos. Com certeza, no momento em que pousa, a bola
desliza para a direita, afundando na sarjeta.

Não consigo parar de rir. —Ai meu Deus.

Nathan está nos dando um olhar tão mal enquanto espera


sua bola voltar. Sua segunda tentativa é marginalmente melhor,
mas ele apenas bate dois pinos.

—Você está tentando ser ruim de propósito?— Sophie


pergunta.

—Não, não, ele não é—, Meleika diz baixinho antes de olhar
diretamente para mim. —É a sua vez.
Além das festas de aniversário quando criança, eu nunca
joguei boliche antes, e naquela época tínhamos essas coisas ruins,
então eu era meio que, acidentalmente, a melhor criança por lá. Eu
nem sei que tipo de bola estou procurando, então eu pego a bola
rosa claro. Parece encaixar bem meus dedos e não é muito pesada.

Jogo a bola pela pista, com medo por um momento, mas ela
escapa dos meus dedos e desliza suavemente, atingindo os pinos
bem no meio e enviando todos eles para cima. A tela grande acima
de mim pisca com um enorme X vermelho.

Isso é bom, certo? Eles provavelmente deveriam encontrar


uma maneira melhor de mostrar um strike. Os três estão todos
batendo palmas para mim quando me sento novamente.

—Vamos dizer que é sorte para iniciantes.— Nathan dá um


tapinha no meu ombro.

—E vamos dizer que você está sendo um perdedor dolorido.—


Sophie dá a sua vez.

É realmente muito divertido, por mais que eu odeie admitir.


Nathan é tão terrível quanto Meleika prometeu, mal passando com
um 60. De acordo com Meleika, isso é o mais alto que ela já viu. No
início, o strike é apenas sorte para iniciantes, mas depois de um
tempo eu entendo e acabo com 200.

—Tem certeza de que não é um jogador profissional secreto e


só quer que a gente se sinta mal por nós mesmos?— Sophie deixa
uma cesta de batatas fritas no meio da mesa. Mais e mais pessoas
começaram a entrar, o que significa que há uma linha para as
pistas agora. Então, só entramos em um jogo antes de fazer uma
pausa.

— Prometo voltar. — Meu telefone vibra no meu bolso.

Mariam: Desembarquei oficialmente em NC, tirando uma


soneca por 15 horas. Nunca voe, Ben, não vale a pena.

Eu rio para mim mesme e envio alguns emojis beijinhos.

Eu: durma bem, até amanhã.

— Quem é? — Nathan se inclina sobre o meu ombro. —


mensagens de alguns rostos com beijinhos.

Meu primeiro instinto é jogar meu telefone do outro lado da


sala. —Ninguém—, eu digo, bebendo minha bebida.
—Então, o que fazemos agora?— Meleika morde uma batata
ao meio.

—O que é que devemos fazer agora?— pergunto.

—É exatamente o que queremos fazer—, diz Sophie. —A


escola aluga todo o local até às seis da manhã, por isso temos
tempo de sobra.

Verifico meu telefone novamente. São apenas nove. —Não


precisamos ficar o tempo todo, certo?

—Ah, nem pensar. — Sophie ri. —Estou colocando o rigoroso


toque de recolher para todos vocês. A menos que você queira ir para
casa.

—Nós poderíamos fazer etiquetas a laser36.— Nathan lê a lista


novamente. —Ou andar de skate?

—Não sei andar de skate—, digo.

36
—Ah, então definitivamente temos que andar de skate.—
Nathan ri. —Eu preciso ver isso.

—De jeito nenhum no inferno—, diz Meleika, piscando para


mim. —Eu também não sei andar de skate.

—Tudo bem.— Nathan geme. —Putt-Putt37?

—Tudo bem— eu digo.

Meleika chuta a bunda de Putt-Putt, mas o jogo está do lado


de fora e está ficando muito frio, então, depois de alguns buracos,
voltamos para dentro. Há uma sala inteira perto da galeria alugada
para dançar. Nathan e Meleika correm diretos, mas Sophie e eu
ficamos para trás, meio que parados ali, olhando para a entrada.

—Vamos.— Sophie passa um braço pelo meu e seguimos em


direção ao fliperama. Fiquei a noite toda esperando que ela e
Meleika dissessem algo sobre a mostra de arte. Mas elas não dizem.
Elas nem disseram nada na escola ainda, mas talvez elas
estivessem esperando para me deixar sozinhe.

37 A série Putt-Putt é uma coleção de jogos infantis de aventura e quebra-cabeça criados por Humongous
Entertainment. Esta franquia foi a primeira série de jogos da Humongous Entertainment a ser desenvolvida.
[1] Eles envolvem principalmente clicar para chegar a um destino, embora algumas subconsultas e minijogos
envolvam o teclado. O personagem principal, Putt-Putt, um conversível roxo antropomórfico, e seu cão de
estimação, Pep, viajam para vários locais.
Ou talvez elas não estejam pensando em dizer nada? Talvez
elas estejam apenas tentando ser o mais humanamente possível
comigo, porque acham que é disso que eu preciso agora? Espero
que seja o último. Porque eu não quero mais falar sobre isso.

Eu quero esquecer que a noite já aconteceu.

—O que você quer jogar?— Sophie pergunta.

Olho em volta e nada parece tão interessante, e cada vez


menos jogos são para dois jogadores, então acabamos na frente do
jogo da máquina de garras. E Sophie é incrível nisso. Tipo,
ridiculamente incrível.

—Meu pai me ensinou alguns truques.— Sophie aponta o


guindaste da maneira certa, então ela pega esse gato de um anime
que eu nunca vi. Sua décima vitória em menos de meia hora. —
Aqui.— Ela entrega o gato para mim.

—Tem certeza?

—Sim, eu já tenho um dele.— Então ela começa a lutar com o


pacote de pelúcias no chão. —Pode me ajudar?
Eu pego a maioria deles, tentando equilibrar todos eles em
meus braços. Realmente não deve ser tão difícil carregar um bando
de animais empalhados.

—Então, é aqui que vocês dois fugiram.— A risada de Nathan


me faz pular. —Ah, fofo.— Ele bate no nariz do Yoshi rosa no topo
da pilha.

—Cala a boca. —Eu quase jogo uma das pelúcias nele, mas
acho que vou largar todas se fizer.

—Mel quer fazer a etiqueta a laser em seguida. Vocês estão


jogando?

—Sim.— Sophie tira as chaves da bolsa. —Aqui, você quer


colocar aqueles no carro?

—Vamos.— Nathan pega as chaves. —Nós vamos encontrar


vocês dois por lá.

—Só não leve meu carro em um passeio.— Sophie pisca e sai


na direção da arena.

Passamos por nossos colegas de classe, Nathan acenando


para as pessoas de vez em quando. Eu tento dizer a mim mesme
que eles estão olhando para Nathan, ou o pacote de bichos de
pelúcia em meus braços. Porque é isso que eles estão fazendo.
Ninguém se importa com a mostra de arte; ninguém se importa com
o que aconteceu lá. Eu só tenho que continuar me dizendo isso.

—Se divertindo?— Nathan me cutuca.

— Sim. — respondo. —Por quê?

—Apenas perguntando.— Ele bufa. —Estava preocupado com


você. Depois que tudo aconteceu. Você não estava realmente
respondendo às minhas mensagens e parecia tão distante na
escola.

—Oh—, eu digo. — Desculpa.

—Não peça desculpas. Não consigo nem imaginar com o que


você está lidando. —Eu o sinto se aproximar, como se ele quisesse
pegar minha mão ou algo assim. Talvez largar todas essas pelúcias
não seria uma coisa tão ruim?

—Tem sido…— Começo a dizer, mas nem sei como terminar


essa afirmação.

—Rude?— ele termina.


—Essa é provavelmente a palavra mais legal que você poderia
usar.— Eu vejo a diretora Smith do outro lado da sala. Eu não acho
que ela estava na mostra de arte. Sem dúvida, ela ouviu tudo sobre
isso. Ela me dá um meio sorriso e um aceno curto quando me pega
olhando.

Eu tento acenar de volta.

É estranho pensar que tudo isso realmente aconteceu por


causa dela. Ela poderia ter dito não para mim, me negado um lugar
em North Wake. Eu nunca teria conhecido a Sra. Liu, ou teria
conseguido pintar tanto quanto eu, ou conhecido Meleika ou
Sophie. Ou Nathan.

—Bem, se você precisar de mim para alguma coisa, apenas


me diga, ok?— Nathan diz.

—Ok— eu digo.

—Qualquer coisa— ele repete. —Estou falando sério, Ben.


Olho à frente e tento não pensar muito sobre o que qualquer
coisa implica. — Obrigado.

Na verdade, eu não durmo bem naquela noite, o que não é


bom porque Sophie me deixa em casa por volta das uma e meia. A
etiqueta a laser demorou um pouco.

Mas tem mais a ver com o fato de que em menos de doze


horas estarei conhecendo Mariam. Pelo menos espero que seja por
isso. Ainda tenho tempo para matar quando finalmente decido sair
da cama. Mariam tem uma excursão programada no campus da
State e algum tipo de almoço especial, mas depois disso somos
totalmente livres para fazer o que quisermos.

—Você quer usar meu carro?— Hannah pergunta.

—Tudo bem?

—Aqui.— Hannah alcança o balcão e pega suas chaves. —


Não se atrase demais, ok? Nos vemos no jantar.

—Ok.
—Só não atropele nenhum hidrante38, por favor?— Hannah
implora.

Eu olho para ela e sorrio. —Quero dizer, não posso


exatamente prometer nada.

—Ha. —Ela pega as chaves de volta. —Engraçado jovem.


Agora prometa.

—Terei cuidado, juro.

Exceto quando o GPS tenta me levar por uma rua de mão


única, eu quase encontro alguém. E então. Eu quase atropelo um
hidrante enquanto tento entrar em um estacionamento para me
virar. Foi por isso que deixei Hannah me levar a todos os lugares.
Eventualmente, chego à cafeteria, mas quando olho em volta, não
vejo Mariam, ou alguém que possa ser Mariam por trás.

Oh Deus, e se eu estiver tão atrasade que el foi embora? Faz


apenas dez minutos, mas talvez el pensem que eu não vou vir.
Tenho que verificar meu telefone para ter certeza de que é o dia
certo. Definitivamente sábado, definitivamente a hora que
combinamos. Onde el está?

38
Há um toque no meu ombro. —Ben? —

—Ah meu Deus!— Meu primeiro instinto é abraçar Mariam,


porque el está aqui, na verdade está realmente aqui. Mas então eu
não me lembro se isso é haram39 para el, então eu mantenho meus
braços ao meu lado e meio que desajeitadamente mexo meus pés.
Melhor prevenir do que remediar.

—Oh, por favor.— Mariam joga os braços para fora. —


Desculpe-me pelo atraso. Você acha que eu estaria acostumade a
atarsar.

—Tudo bem.— Seus braços me envolvem. —Eu estava


preocupade que tivesse sentido sua falta ou algo assim.— Nós nos
abraçamos pelo que parece ser uma eternidade, porque el está aqui.
—El realmente está aqui!

—Desculpe—, eu digo, finalmente me soltando. —Acho que


fiquei um pouco animade.— Eu quase quero chorar.

—Esta legal.

—Então...— Esfrego a parte de trás do meu pescoço.

39
aquilo que Allah e o Profeta proibiram completa e especificamente.
Ótimo. Levou apenas cinco segundos para eu ficar estranhe.
Isso deve ser algum tipo de registro.

—Oh, não fique confuse comigue.— Mariam me cutuca com o


cotovelo. —Vamos lá, estamos tomando café e você está me
mostrando.

—Não posso prometer que vou ser um bom guia de turismo—


digo.

—Excelente, você sempre encontra os melhores lugares


quando se perde.

E perdemos o que somos depois de apenas dez minutos, mas


com Mariam não é tão ruim. Nós apenas meio que vagamos sem
rumo, escolhendo qualquer direção a seguir. Há uma livraria
estranha usada onde tudo dentro amarelou horrivelmente, e o
cheiro é insuportável. E quando voltamos para o lado de fora e
respiramos algumas correntes de ar limpas e reais, atravessamos a
rua para uma loja de iogurte congelada.

Meu café gelado ainda está pesado no meu estômago, então


eu vou com uma baunilha comum e calda de chocolate. Mariam
carrega embora. Tenho certeza de que pelo menos metade da conta
é apenas de coberturas. Vejo ursinhos de goma, cerejas, amêndoas
e migalhas de Oreo. E essa é apenas a camada superior.

—Como você come tudo isso?— pergunto.

—Escute, eu não tive tempo para jantar ontem à noite ou


café da manhã. E o almoço na escola foi um fracasso total, então
estou me tratando.

—Essa combinação não pode ser boa.

—Você está certo, mas eu não me importo.— Mariam pega


um bola coberta de chocolate e age como se fosse jogá-la em mim.

—Ei.— Eu me abato. —Para onde estamos indo?!

— Não sei. Eu quero ver a água.

—Você não mora na Califórnia?

—E?— El encolhem os ombros.

—Tudo bem—, eu digo, e antes que eu percebe, nós dois nos


movemos automaticamente em direção a este parque. Não é Pullen,
é diferente. Mas ainda há uma trilha e muitos lugares para relaxar
na sombra.

—Então, como foi ontem à noite?— Deus, ainda parece que el


vão desaparecer diante dos meus olhos. —Você estava com seus
amigos, certo?

—Sim, foi divertido—, eu digo.

—Você já tem um encontro para o baile? Isso já aconteceu?

—Não, e ainda não. Semana que vem, eu acho, mas não vou.

—Por que não?

Nego com a cabeça. —Por que eu faria isso?

—Porque é muito divertido. Você não deve perder assim.

—Eu não tenho um encontro—, eu digo. —Ou um smoking.—


Não que eu realmente queira usar um.

—Então? E o Nathan? Vocês dois poderiam simplesmente ir


como amigos. Muitas pessoas fazem isso.
—Sim, isso não está acontecendo.— Eu não acho que poderia
suportar isso. Estaríamos tão perto, mas não podíamos dar esse
salto. Aquele salto. Seria uma noite de me punir com cada olhar,
cada toque.

—Caramba, a paixão foi esmagada.

—Só estou me perguntando qual é o sentido.

—Bem, essa é a verdadeira questão, não é?— Mariam toma


sua última colherada de iogurte. —Os ursinhos de goma eram
demais.

Jogo a tigela vazia no lixo junto com a minha. —O doce


quente também pode ter sido um exagero.

—Fudge40 quente é sempre necessário. Então, vou fingir que


você não disse isso. El suspira e se encosta no parapeito, olhando
para a água abaixo de nós. —Então, o que você vai fazer durante as
férias de verão, nunca mais você vai o ver?

40
— Esse é o plano. Tenho certeza que ele voltará para as
férias. Mas nunca será o mesmo. Ele terá novos amigos, encontrará
pessoas de quem ele mais gosta. Inferno, ele pode voltar para casa
um dia com um namorado, namorada ou parceiro. Alguém que não
é um fardo quanto eu.

—Estive lá, fiz isso, peguei a camiseta. Não é divertido, Benji.

—Você diz isso como se eu ainda não soubesse.— Solto um


suspiro lento e olho para a água. Muito mais azul à luz do dia
agora, mas ainda escuro.

—Você merece uma vida feliz, Ben.— Mariam continua. —


Mais do que ninguém que eu conheço. Você é uma pessoa tão
esperta e gentil, e tem muito amor para dar.

—Às vezes o mundo não é tão justo—, eu digo.

—Eu acho que você é uma prova viva disso. Você não acha
que deve a si mesmo pelo menos tentar?

—Tenho pensado nisso...— Ontem à noite, Nathan me disse


que eu poderia falar com ele sobre qualquer coisa, certo? Qualquer
coisa. Eu me pergunto se isso significa que ele já sabe alguma
coisa, ou se suspeita que eu sou gay, bissexual ou pansexual. Ou
se ele de alguma forma descobriu o não-binário. Eu deveria ser
capaz de lhe dizer qualquer coisa. Ele nunca me deu um motivo
para não confiar nele.

—Bom! Você deveria fazer isso, acho que é a escolha certa.

— Talvez.— Porque o que eu fiz para merecer alguém como


Nathan? —E se ele me rejeitar? Ou não quer estar perto de mim.
Vou ter que sair.

—Se ele não aceitar você, então foda-se ele. Mas ele não
parece ser esse tipo de pessoa.

—Você nem o conhece.

— Verdade. Eu te conheço. E você está tão apaixonade por ele


que não é engraçado. É hora de fazer sua grande declaração. Tenho
certeza de que poderíamos encontrar outro canhão de camiseta por
aqui.

Não consigo não rir. —Oh, isso é tão mais fácil dizer do que
fazer.
—Eu sei.— El suspira. —Mas é a verdade. E você só tem mais
duas semanas de escola e, depois disso, você tem três meses com
ele. O que há para perder? Sejam ousados.

—A última vez que fui corajose, fui expulse da minha casa.

—Às vezes vale a pena tentar novamente—, acrescenta


Mariam. —E Nathan não é como seus pais.

—Eu sei.

—Você sonha em voltar para a casa deles e denunciá-los?

—Eu ficaria mais feliz se nunca mais tivesse que vê-los


novamente. Esse seria um verdadeiro presente.

Mariam ri. —Droga, jovem, você está frio.

—Eu terminei com eles.— Eu dou de ombros.

É estranho. Antes de tudo isso, não sei o que acreditava


sobre eles. Mesmo naquela noite no telhado, eu disse a Nathan que
ainda os amava. Acho que não, mas não há como dizer exatamente
o que pensei.
Agora eu sei com certeza. Eles não merecem o meu amor.

E eu com certeza não preciso deles.

—Bem lembrado.

No fundo, eu sei que Mariam está certa. E eu sei que Nathan


não vai me odiar, ele não pode, mas ainda há esse medo.

E talvez valha a pena o risco. Nunca me senti assim por outra


pessoa. Na vida. Quando estou com ele, parece que estou fora, que
ele sabe. Porque ele me faz sentir mais como eu do que alguém que
eu já conheci.

Então há esse desejo. O que eu senti antes de sair para


mamãe e papai. Quando percebi que era não binário, era como esse
segredo. Um que eu só conhecia. Parte de mim queria continuar
assim. Mas com o passar dos meses, senti tudo borbulhando. Todo
comentário em casa ou na escola. Toda vez que eu era chamado
pelo gênero masculino.

Ele continuou subindo e subindo até que eu soube que


precisava contar a alguém. Eu tinha que tirar isso de mim, como se
fosse algum tipo de veneno. E mamãe e papai foram quem eu
escolhi.
É assim que se sente. Toda vez que Nathan usa os pronomes
errados para mim, parece uma facada no estômago. Mesmo que
Mariam, Hannah e Thomas saibam usar os corretos. Suas palavras
são as que mais me interessam no momento.

Eu preciso saber! Tudo pelo meu bem.

Para o dele.

—Eu quero contar a ele.— Eu digo essas cinco pequenas


palavras e elas sentem que poderiam acabar com o mundo. —Que
eu sou não binário.

—O que?— Eu posso sentir a confusão na voz del. Este é o


primeiro passo. A primeira lógica de qualquer maneira. Uma
declaração de amor pode vir mais tarde.

—Estou com medo, Mariam.— É como se tudo estivesse me


alcançando, e parece um sonho. Vou tentar sair com Nathan Allan.
Eu quero sair para Nathan Allan.

—Eu também estava.— El coloca a mão sobre a minha. —Vai


valer a pena.

—E como é que você sabe disso?


El encolhe os ombros. —Qual resposta faz você se sentir
melhor?

—Que você tem um palpite? Isso tudo vai


surpreendentemente, e ele vai me amar por quem e o que eu sou.
Que ele não vai me odiar.

Mariam ri. —Eu tenho um palpite, galbi.

—Galbi?— Olhe para el. — O que seria?

—Significa 'meu coração'.

Eu me inclino para mais perto del, ombro a ombro. —Eu te


amo.

—Também te amo, Benji.

Andamos por mais uma hora, felizmente evitando o tópico


dos meus pais, ou Nathan. É estranho finalmente estar aqui com
Mariam. E nós nos conhecemos há cerca de um ano e meio, mas
quando você deve a alguém a sua vida, você pode realmente chamá-
los de qualquer coisa, menos seu melhor amigo?

Se não fosse por el, não sei exatamente onde estaria.


Provavelmente ainda em casa, me perdendo sob esse teto sozinhe,
sem entender realmente quem eu sou. Ou se eu entendesse quem
eu sou, provavelmente não descobriria isso até muito mais tarde.

—Você deveria vir me ver conversar hoje à noite—, diz


Mariam enquanto caminhamos de volta ao hotel. Seja qual for a
organização para a qual el trabalha, realmente se destaca. Não é o
lugar mais bonito na cidade, mas mesmo uma noite aqui não pode
ser barato.

— Talvez. — É como se a palavra voltasse na minha cabeça


um pouco, e no segundo em que ela saiu, eu odeio. Por que não
estou mais animade com o discurso de Mariam?

—Vamos, multidão menor, e se eu lhes disser que você é meu


amigo, então não haverá pressão, certo?

—Claro.— Quero dizer, fiquei preocupade com o grupo esse


tempo todo, encontrando alguém da escola ou simplesmente tendo
que sair para um grupo inteiro de pessoas. Mas isso é para Mariam.
Minha melhor amiga. Para a pessoa que provavelmente salvou
minha vida.

Não acredito que estava pensando em não ir.

Deus, às vezes sou ume idiota.

— Eu estarei lá. Eu faço a promessa a el e a mim mesmo. —


Só tenho que fazer a coisa mais difícil que já fiz primeiro.

—Vai correr incrivelmente, eu prometo.— Mariam


tranquiliza— Quer jantar quando terminar? Quero falar com você
sobre um novo projeto.

—Novo projeto?— pergunto.

Mariam apenas me dá um sorriso misterioso. —Acho que vai


gostar.

— Eu estarei lá.

—Começa às seis e meia. Vou mandar uma mensagem para o


endereço.
Eu checo meu telefone. Ainda há muito tempo para se
preparar. Talvez eu devesse perguntar a Nathan. Talvez isso
responda a qualquer pergunta que ele tenha. Deus, não acredito
que estou fazendo isso. Vou sair com Nathan Allan. Pode até não
ser o resultado que me assusta. É o que ele vai pensar de mim
depois.
VINTE TRÊS
Eu tento perder tempo andando pelo parque, mas isso me
deixa mais nervose, então eu sento no carro, digitando lentamente
um texto, uma letra de cada vez, até que faça algum sentido.

Eu: Ei, você pode me encontrar perto do Wake County


Community Center? Eu preciso conversar com você.

Fecho os olhos e clico em enviar.

Lá, fora das minhas mãos. Eu tenho que contar a ele agora,
certo?

Nathan: Claro, está tudo bem?

Eu: Sim, só preciso te dizer uma coisa

Nathan: tudo bem ... esteja lá em dez


Dez minutos para decidir como contar a ele. Apenas estar na
frente seria mais fácil. Em teoria, pelo menos.

Apenas diga as palavras. Eu já disse isso antes, e tudo correu


bem, principalmente. Talvez as probabilidades estejam comigo aqui.
Ou talvez eu possa simplesmente entregar meu telefone a ele com
um artigo sobre não ser binário, deixá-lo ler sobre ele. Então eu
posso responder qualquer pergunta que ele tenha.

Talvez eu não faça isso de jeito nenhum. E eu estou perdendo


meu tempo e o dele.

O tempo se arrasta no ritmo de um caracol enquanto espero


Nathan, a visão perfeita do centro comunitário do outro lado da
rua. Com a minha sorte, ele nem aparece, liga e cancela, e eu me
esforçarei por nada.

Olho para o relógio no painel. 05:40 Talvez tenhamos tempo


suficiente para chegar à conversa de Mariam.

—Você pode fazer isso—, eu sussurro para mim mesme,


tentando fazer meu coração bater mais devagar, minhas mãos para
parar de tremer ao redor do volante. Você consegue fazer isso. Ele
não vai te odiar, ou tentar machucar você. Não é quem ele é.
Não seria a primeira vez que eu estava errade. Certamente
não será o último.

Uma batida na janela me puxa para fora desse transe, e por


uma fração de segundo eu nem reconheço Nathan. Mas então ele
me dá aquele sorriso familiar, e eu abro a janela apenas o suficiente
para dizer a ele para entrar. Talvez fazer isso no carro seja melhor,
menos chance de uma cena, e se ele ficar com raiva o suficiente, ele
simplesmente sairá.

— Como está?— Ele estica as pernas para frente, encostando-


se à porta.

—Ei.— Eu tento respirar o mais calmamente que posso.

—Ei. Você está bem? — Ele se inclina um pouco mais para


perto. —Parece que você precisa de ajuda para esconder um corpo.

—Sim, eu só... Preciso lhe contar uma coisa.

—Ok.

—E é muito grande, e eu realmente não quero que você me


odeie, mas eu preciso lhe dizer.
—A menos que essa coisa de corpo inteiro seja verdadeira,
acho que não há nada para odiar em você.— Ele tenta me fazer rir,
ou até abrir um sorriso, mas eu não posso. Eu simplesmente não
posso. Porque está levando tudo dentro de mim para não quebrar
agora.

Estou fazendo isso.

— Eu só... — Eu gaguejo. —Eu preciso que você não seja você


agora.

Ele se recosta no banco, a boca uma linha plana. —


Combinado.

—E eu sei que não é totalmente justo, mas você não pode


fazer mais perguntas, ok? Não até que eu termine.

—Promessa de mindinho.— Ele me oferece seu dedo


mindinho.

E eu pego.

—O motivo pelo qual saí de casa, o motivo pelo qual fui


expulso da minha casa ...— E respiro. —É porque eu sou não
binário.— Observo seu rosto e, para seu crédito, ele não parece
surpreso, chocado ou zangado. E ele não faz nenhuma pergunta.
Eu posso dizer que ele quer, mas ele não faz.

Começo com a noite de véspera de Ano Novo, uma vida atrás,


e conto tudo a ele. Ligando para Hannah, mudando-se para
Raleigh, o carro do lado de fora da casa, as consultas com a Dra.
Taylor e os remédios e tudo com Mariam. Estou tremendo o tempo
todo, e ainda estou tremendo quando terminei de falar, mas
consegui. Pronto. E não há como voltar atrás.

E quando eu terminei, e quando ele pode dizer que eu


terminei, ele finalmente abre a boca. —Uau.

—Me desculpe, eu guardei isso de você por tanto tempo.

—Nem sei o que dizer.— Eu o vejo fazer aquela coisa em que


ele esfrega a nuca.

—Escute, se isso é um desagrado e você não quer mais ser


meu amigo, então eu-

A maneira como ele olha para mim é tão sério quanto eu já o


vi. —Isso não vai acontecer. Por que você acha que eu quero te
perder assim?
Eu dou de ombros, lutando contra as lágrimas. —Eu não sei.
Me desculpe.

—Venha aqui.— Ele me puxa para dentro. No começo, não


quero me mexer, mas ele é tão quente e estou desesperade por um
toque agora. O toque dele. Ele nos balança um pouco para frente e
para trás. —Se alguém deveria se desculpar, sou eu.— Ele está
fungando. Ele está chorando também? —Acabei de passar o último
semestre confundindo você, e você está se desculpando comigo?

—Não é sua culpa.

—Eu gostaria de ter sabido. — Sua voz quebra e sinto suas


lágrimas caírem em minhas mãos. —Sinto muito, Ben, sinto muito,
você teve que aturar isso. E sinto muito por ter feito isso com você
por tanto tempo.— Ele está chorando agora, e isso está me fazendo
chorar mais, e nós dois estamos bagunçados.

—Eu te perdoo—, eu engasgo.

Tenho certeza de que há pessoas andando que podem nos


ver, ou talvez nos ouçam chorando, porque não estamos segurando
isso. Mas nenhum de nós se importa. Ou pelo menos eu não.
—Me desculpe, eu não te contei.— E respiro. Entrando e
saindo. —Eu só estava com medo, eu acho.

—Você realmente precisa parar de se desculpar.— Ele solta


esse som estranho entre um choro e uma risada.

Não consigo evitar. —Sinto muito.

—Você é o pior.

—Eu sei.

Ficamos ali por mais alguns minutos, e eu apenas gosto de


ele estar aqui, o calor dele, o conforto. Não acredito que esperei
tanto tempo para dizer isso a ele, nem acredito que alguma vez
pensei que ele pudesse me odiar.

—Nós dois estamos bagunçados.— Nathan faz o possível para


enxugar as lágrimas.

—Sim, a gente está.— Tento relaxar. Porque acabou, acabou.


Consegui. Esse peso deveria ter desaparecido, mas não está. Ainda
está pendurado lá, pressionando meu coração. Mas parece mais
leve, pelo menos. Pequenas vitórias. Pequenas celebrações.
—Eu me pergunto quantas pessoas estão olhando para nós.

—Provavelmente muitas—, eu digo.

—Então, como isso funciona exatamente? Que tipo de


pronomes devo usar para você?

Eu tento engolir. —Eu uso el,els e elu.

—Ok. Quero que você me corrija se eu usar os errados, ok? —


Me prometa.

—Promessa de mindinho—, eu digo. Podemos ter apenas


alguns meses juntos. Mas agora, eu só quero fingir que temos uma
eternidade.

—Então, o que dizer de coisas como 'cara' ou 'meu homem'?

—Acho que nunca ouvi você dizer 'meu homem' antes.

—Estou tentando algo novo.

—Bem, por favor, não use isso para mim, ou 'cara'.— É


neutro em gênero o suficiente para a maioria das pessoas, mas não
para mim.
—Pode deixar.— Ele olha pela janela para o centro
comunitário. Eu colocaria uma pergunta diferente. Por que aqui?

—Ah, aquel é minha amiga Mariam, a vlogger? El estão


falando aqui hoje à noite e eu queria ir — Olho para o centro
comunitário e depois de volta para Nathan. —Você gostaria de vir
comigo?

—Ora, Benjamin De Backer, seria uma delícia—, diz ele com


um sorriso.

O grupo se reúne no quarto andar do centro comunitário.


Estou realmente feliz que Nathan tenha concordado em vir comigo,
porque realmente não acho que posso fazer isso sozinhe. Não neste
momento. Eu teria esperado Mariam, mas não tenho ideia de
quando el deveria estar aqui.

—Então, esta é sua primeira vez aqui?— Nathan pergunta.

—Sim.
—Ótimo, então eu não sou a única pessoa que está
totalmente nervosa, certo?

— De jeito nenhum. — Aperto o botão do elevador.

—Ótimo.— Nathan suspira quando as portas se abrem. —


Você vai contar para Sophie e Meleika?

Eu dou de ombros. —Eu realmente não sei. Você acha que


elas ficariam bem com isso?

—Eu acho que elas ficariam bem se você fosse uma pessoa
lagarto de três metros de altura em um traje de pele.

—Não vamos testar essa teoria.— Sinto o toque familiar de


sua mão contra a minha.

—Obrigado—, diz ele. —Por confiar em mim com isso.

Nossas mãos pressionam juntas, os dedos dançando. —


Fiquei assustade para ser sincero.

—Espero não ter feito você sentir que não era seguro ou algo
assim.
—Não era realmente você, era ... o depois. Como o que ia
acontecer quando eu finalmente fizesse isso. Eu realmente não
queria te perder também.

—Estou muito orgulhoso de você, Ben.

—Obrigado—, eu digo.

—Estou ficando meio empolgado.— Nathan olha para os


números acima da porta, observando-os subir lentamente. —Para a
reunião.

—Estou feliz que você esteja aqui— ofereço.

Eu tenho que afastar a ideia de que estamos no prédio


errado. Verifiquei todos os endereços duas vezes e a página do
grupo diz que eles se encontram no centro comunitário. Este deve
ser o prédio certo. Eu suspiro de alívio quando a porta do elevador
se abre porque ali na lista de escritórios e o número de seus
quartos é “Projeto Espaço Seguro - Quarto 414”

O diretório do lado de fora do elevador diz que está à


esquerda, por isso seguimos as setas, contando as salas até ver o
rotulado como 414. Por alguma razão, estou esperando uma grande
faixa arco-íris que diz “Todos são bem-vindos aqui!” ou bandeiras
penduradas ao redor da porta ou algo assim, mas corresponde ao
resto dos quartos. De fato, a única “decoração”, se é que se pode
chamar assim, é o pôster que lista as reuniões, denominando-as de
“Projeto Espaço Seguro” e dando as datas das reuniões abaixo.

— Pronto? — Nathan puxa a maçaneta da porta.

—Sim.

Mariam já está sendo chamade para a frente da sala quando


entramos. El nos vê, e um sorriso ilumina seu rosto antes de focar
novamente nos papéis na frente del.

Há apenas alguns olhares de outras pessoas quando


decidimos irromper, ocupando um lugar atrás. Mariam não perde
nada e continua. A conversa em si dura cerca de uma hora, mas
depois há mais meia hora de pessoas fazendo perguntas a Mariam,
e parece que com cada uma delas, Mariam cai nessa toca de
explicação. El nunca me disse qual seria o assunto da conversa,
mas Mariam investiga profundamente a necessidade de mais
espaços seguros e estranhos. Especificamente aqueles voltados
para menores queer, lugares que não se concentram em dançar ou
beber, como a maioria dos clubes.
E não é como se eu não soubesse antes, mas sentade aqui,
ouvindo el falando, me impressiona o quão brilhante minha melhor
amigue realmente é.

—Ok pessoal. Eu adoraria continuar —, eles dizem. —Mas,


infelizmente, essas são todas as perguntas por enquanto.

Os aplausos são imediatos. As pessoas chegam a aplaudir de


pé, o que, vindo de uma multidão menor, é meio estranho. Mas
talvez Mariam mereça esse tipo de reação. Nathan e eu meio que
ficamos perto da parte de trás, mas, como somos novos rostos,
ainda chamamos atenção.

— Oi!— Esse cara vem até nós.

Ele é fofo, ou eu acho que el é fofo. Eu não deveria assumir os


pronomes de ninguém. As chances de eu estragar tudo
provavelmente são maiores aqui. Eu não deveria fazer isso de
qualquer maneira, honestamente; Eu conheço a dor muito bem. —
Você está aqui para o grupo?—, el pergunta.

—Meio.— Eu limpo a garganta. —Meu nome é Ben.

—Eu sou Nathan.— Ele acena.


—Miquéias— El não apertar minha mão ou qualquer coisa, o
que eu aprecio. —Quais são seus pronomes?— el perguntam.

— Ah, hum…— Eu realmente não sei por que isso me pega


desprevenide. —El e elu, por favor.

—Maravilha. Eu uso el e els — el diz antes de olhar para


Nathan.

—Oh, eu uso ele e eles, eu acho. Desculpe, ainda não estou


acostumado com os pronome.

É legal.

Nathan conversa facilmente com Micah, e então mais pessoas


que se aglomeram. Há Camryn, que não é binário como eu; Ava,
que é pan e fluido de gênero; Cody, que é bissexual; e Blair, que é
uma garota trans aromática. Eles meio que ficam presos na atração
gravitacional de Nathan, e eu tenho inveja. Ele apenas entra na
conversa, como se conhecesse todo mundo há anos. Como se
fossemos uma grande e estranha família feliz. Eu acho que esse é
realmente o ponto de todo o grupo.
Eu tento gritar aqui e ali, responder a quaisquer perguntas
que me forem feitas. Mas sério, não posso deixar de assistir Nathan.
Ele parece tão feliz.

Mas, eventualmente, Micah tem que ir para a frente da sala e


anunciar que o prédio está fechando. As pessoas começam a correr
até Mariam, recebendo perguntas e fotos de última hora.

—Talvez devêssemos esperar lá fora—, eu digo.

— Pensei a mesma coisa.

Sentamos naquele silêncio lá fora. O confortável que vem


quando somos apenas nós dois. Bem, nós dois e as poucas pessoas
andando pelo centro da cidade tão tarde da noite, mas parece que
éramos apenas nós dois, o ar fresco da noite nos mantendo
confortáveis.

—Você sabe que os ingressos para o baile estão à venda na


segunda-feira— diz ele do nada.

Por que diabos ele está me dizendo isso? —Ah, é?


—Sim. Você quer ir?

—Eu não tenho nada para vestir.— Ou o dinheiro para alugar


alguma coisa. E não posso pedir a Hannah para fazer isso. Não em
tão curto prazo.

—Podemos encontrar uma coisa para você—, ele oferece.

— Eu estou bem.— Meus olhos voam do chão para o rosto


dele.

—Tem certeza?

—Sim.— Eu posso sentir meu coração batendo mais rápido, e


aquela sensação suada nas palmas das mãos. Porque ele acabou de
me convidar para o baile? Era assim que parecia, certo? Eu apenas
pensei que seria ele e Meleika e Sophie, todos indo como amigos.
Meleika já disse que tinha feito as reservas para o jantar e tudo.

Portanto, mesmo se eu disser que sim, não há realmente


espaço para mim.

—Então, você gostou?— Eu pergunto a Nathan, desesperade


por uma mudança de assunto aqui. Qualquer coisa para nos
afastar do baile. —A conversa, eu quero dizer.
— Sim. — diz ele. —Ela parece bastante popular.

—El—, eu corrijo.

—Ah, certo, desculpe… El, el, el, ele começa a repetir


baixinho. —Qual o nome do canal del de novo?

—Basta procurar Mariam Haidari—, eu digo.

Seus olhos se arregalam quando ele pressiona enter e vê


todos os lugares que o nome de Mariam está aparecendo. —Oh meu
Deus. Você é totalmente amigo de uma pessoa famosa.

—Acho que sim.— Não sei se Mariam já viu dessa maneira.

—Vamos.— Ele continua rolando. —Uau, el fizeram muito.—


Então ele vê a foto. O cenário. E eu posso dizer que é a foto porque
ele agarra meu braço e seus olhos se arregalam. —Els conheceram
Beyoncé?

—Sim, eu tenho, e ela é adorável.— A voz de Mariam


surpreende a nós dois quando eles dobram a esquina. Prazer em
conhecer você.— Nathan, certo?— Els estendem a mão.
Nathan leva tudo muito ansiosamente. —Eu estou supondo
que este está falando de mim?— Ele acena para mim.

—Você é uma dor do meu lado, é meio difícil não sentir—, eu


digo, e Nathan agarra seu peito e finge estar ferido.

—Ai.

—Certo!— Mariam passa os braços em volta dos meus


ombros. —Onde vamos jantar, porque eu não sei sobre vocês dois,
mas estou morrendo de fome!

Nathan já está de pé e andando pela rua. Eu juro, ele poderia


ser o melhor amigo de alguém se você desse tempo suficiente. —Se
descermos um quarteirão, você terá a melhor pizza da cidade. Ainda
é terrível, mas em Raleigh, é o melhor que você encontrará.

—Eu topo.— Mariam olha por cima do ombro. — Você vem,


Ben? Temos algo sobre o que conversar —, els dizem com uma
piscadela.

—Sim.— Eu os sigo de perto, vendo esses dois mundos


colidirem. Ainda parece um sonho.

Mas se for, eu realmente não quero acordar.


VINTE
QUATR0
A semana do baile de finalistas pode ser mais um pesadelo do
que a semana dos exames.

Não, apaga isso.

Semana do baile é definitivamente mais um pesadelo do que


uma semana de exames. O conselho estudantil provavelmente
deveria ter resolvido um pouco mais as coisas, talvez tenha
começado a vender ingressos no início de abril. Mas não, eles
esperaram até a semana de. Então agora há uma fila na entrada da
cafeteria, que se estende até o escritório da frente.
E como Meleika e Nathan fazem parte do conselho estudantil,
eles passam o tempo todo depois da escola decorando, pendurando
panfletos e certificando-se de que tudo está de acordo com os
padrões de Stephanie. Felizmente, parece que a maioria das peças
do Spring Fling pode ser reutilizada.

Na verdade, pensei em vir para Meleika e Sophie quando


voltarmos para a escola na segunda-feira, mas quero contar a elas
ao mesmo tempo, e com a maneira como Meleika está estressada,
que o tempo definitivamente não é agora.

—Eu tenho dois por precaução.— Nathan volta para a mesa


do almoço com os dois ingressos na mão.

—Eu disse que não vou.

—Melhor prevenir. — Ele pisca para mim e desliza a


passagem.

—Obrigado.— Deslizo o bilhete de volta. —Mas eu não vou


precisar.

—Tudo bem.— Ele dobra e enfia na carteira. —E daí o que


você vai fazer sexta à noite?
—Provavelmente Netflix e pizza—, eu digo. Thomas e Hannah
chamaram oficialmente de noite de encontro, já que ele não foi
arrastado para acompanhante este ano, então eu teria toda a casa
sozinhe. Eu gostaria de poder pedir a Mariam para sair novamente,
mas o voo para a Flórida partiu hoje de manhã.

Eu assisto o rosto de Nathan com cuidado. Nós realmente


não conversamos sobre eu ser não binária desde que saí. Ele fez
algumas perguntas, tentou aprender algumas coisas online. Ele até
disse que começou a assistir aos vídeos de Mariam.

—Esse é o sonho.— Sophie suspira. —Eu mostrei para vocês


meu vestido?— Ela vira o telefone.

—Oh meu Deus, eles são animais.— Meleika corre para a


nossa mesa e cai no seu lugar. —Olha, eu lasquei uma unha! E eles
pisaram nos meus sapatos.

—Você os pegou?— Sophie pergunta.

—Sim, Sophie, obrigada por se preocupar com o meu bem-


estar.— Ela entrega a Sophie seu ingresso.

—Obrigada. — Sophie pega, deslizando os dez dólares para


Meleika. —Você tem certeza que não vai, Ben? Vai ser divertido.
—Eu acho que vou sobreviver—, eu provoco.

—Certo!

Naquela semana, fico depois da escola praticamente todos os


dias. Thomas precisa criar uma maneira de passar as duas últimas
semanas de aula, o que parece um desperdício, mas ele diz que tem
algumas experiências legais planejadas. Passei o resto desse tempo
extra na sala de arte. Vai ser difícil deixar esse lugar para trás. Vou
ter que perguntar a Hannah se não há problema em comprar meus
próprios suprimentos. Meu aniversário é em outubro de qualquer
maneira, e um conjunto de tintas pode não ser um presente tão
ruim.

O dia do baile real é muito mais descontraído, especialmente


porque metade da turma sênior decide pular, provavelmente para
se arrumar. Nenhum dos professores realmente se importa
também. Thomas apenas joga Planet Earth, mas de alguma forma
consegue encantar toda a classe, exceto a parte em que o fungo
infecta o cérebro da formiga. Todo mundo tem que se afastar dessa
cena.

—Hey—, Nathan sussurra, e quando eu olho para ele, ele


desliza um pedaço de papel. É fácil escondê-lo no escuro, mas
quando tento lê-lo, preciso apontá-lo para o filme.
Meu lugar, hoje à noite, 21 horas? está escrito em grandes
letras maiúsculas. E por baixo disso ele tem S/N com meu ingresso
extra de baile colado nele.

—Eu disse que não vou—, eu sussurro.

—Apenas de mal humor?— Ele desliza sobre um marcador.

—O que foi?— Olho a nota novamente e depois de volta para


Nathan. Há algo estranho na maneira como ele está olhando, e ele
não consegue me encontrar.

—Apenas responda.

—Não, a menos que você me diga o que está acontecendo.

Nathan revira os olhos. —Sim ou Não?

Eu nunca vou ganhar uma discussão com esse garoto. Eu li


as cinco palavras novamente como se elas tivessem mudado de
alguma forma. Olho para o bilhete, a fonte em preto e vermelho, a
bola de discoteca de clip-art. O que diabos ele poderia estar
planejando fazer com isso? Eu círculo S e devolvo a nota para ele.
—Você vai precisar do ingresso—, diz ele, e eu deslizo o
bilhete de volta e o puxo, mantendo-o dobrado no bolso até chegar
em casa.

Se eu for lá e ele me alugar um smoking e tentar me arrastar


para o baile, não vou facilitar as coisas para ele. De acordo com o
ingresso, a dança começa às oito, então, se ele quisesse me vestir e
me empurrar para dentro de uma limusine, provavelmente me
desejaria lá mais cedo, certo? Por que ele quer que eu vá?

—Ben. Você pode vir aqui por um momento?— A Sra. Liu liga
de seu escritório.

—Hã?— Eu tenho pensado sobre o bilhete no meu bolso


desde que Nathan me deu. Pensando tanto nisso, na verdade, que
não consegui me concentrar em desenhar ou pintar nada. Acabei de
limpar minha estação de trabalho na parte de trás, o que realmente
tem sofrido ultimamente. — Como está? —Eu pergunto, olhando
para o escritório dela.
—Bem, isso é estranho, mas vou precisar da minha chave de
volta.

—Oh. É claro.— Enfio a mão no bolso e pego meu anel de


chaves, deslizando cuidadosamente para a sala de arte. Enquanto
entrego a ela, parece que estou dando esse pedaço de mim mesma.

Adeus, sala de arte.

—Eu também queria dizer o quanto estou orgulhosa de você.

—Eu ... obrigado—, eu digo.

—Em todos os meus anos de ensino, raramente recebo


alunos com o mesmo desejo e ambição que já vi em você, Ben.— Ela
descansa a mão no meu ombro. —Eu realmente vou sentir sua
falta.

Estendo meus braços e a Sra. Liu está ansiosa demais para


me abraçar, me apertando com tanta força que mal consigo respirar
por alguns segundos. —Opa, desculpe. Não conheço minha própria
força.

—Obrigado—, digo a ela. —Você não tem ideia do quanto


tudo o que você fez significa para mim.
—Oh, Ben.— Deus, ela está realmente chorando. É por isso
que não fico sentimental. —Quanto eu tenho que pagar para você
ficar?

Bem, eu ainda estarei em Raleigh. —Alguns milhares?— Eu


ofereço.

Ela ri, limpando os cantos dos olhos com o avental. —


Combinado.

Quando chego em casa, tento me ocupar a tarde toda, mas


não consigo me concentrar em nenhum programa ou no mais novo
vlog de Mariam. A Geórgia é sua próxima parada. Eu tento
conversar com Hannah enquanto ela está pronta, mas eu estou tão
nervose e não consigo ficar parade. Pego meu segundo Xanax do
dia, certificando-me de anotá-lo no diário, mas não está realmente
ajudando esse borbulhar estranho no meu estômago.

—Você está bem, jovem?— ela pergunta.

—Sim, apenas ...— Eu vou embora sem querer.

—Benji?— Ela encaixa os dedos bem na minha cara.


—Será essa nota que Nathan passou por você na aula hoje?—
Thomas pergunta.

Olho para Thomas, que está debruçado sobre a bancada e


digitando algo em seu telefone. —Como você…?

—Não pergunte, jovem—, diz Hannah. —Eu não posso me


safar de nada por aqui.

Thomas aponta para mim e depois para os olhos. —Eu vejo


tudo. Superpotência de professores.

Quando eles saem, eu perco o resto do meu tempo andando


de um lado para o outro no meu quarto, encarando a hora no meu
telefone. Eu juro que está indo mais devagar. Verifico uma vez às
20:15 e, embora pareça que uma hora se passou, são apenas 20:17
quando verifico novamente.

Caio na minha cama de bruços, definindo um alarme para


dez até. Talvez eu consiga dormir os quarenta minutos. Mas não,
não está acontecendo. Eu apenas olho para o meu teto até o alarme
tocar. E quando isso acontece, eu me sinto preso.
Está na hora, mas ainda não tenho certeza do que ele está
fazendo. Verifico se o bilhete ainda está no meu bolso, exatamente
onde o coloquei esta tarde.

Quando chego à sua porta, quase volto para casa e esqueço a


coisa toda. Mas isso é obviamente importante para Nathan. Toco a
campainha e espero alguns segundos, ouvindo o som de passos.
mas não há nada. Nem mesmo o Ryder está latindo. Bato de novo e
espero. Nada ainda.

Então meu telefone começa a tocar, o nome de Nathan


piscando na tela.

—Alô?

—Entre lá dentro, está desbloqueado—, diz ele.

—Ok.— Abro a porta da frente devagar. —Onde você está?

—Você está ficando mais quente.

—Nathan

— Colabore? Passei a semana toda planejando isso. Onde


está você agora?
—O corredor da cozinha.— Eu acho que posso ouvir a voz
dele. Em algum lugar por aqui.

—Ok, você ainda está morno, na melhor das hipóteses. Como


quando você aquece pimenta no micro-ondas e está quente por fora,
mas frio no meio?

—Essa é uma metáfora grosseira.

—Um sorriso, meu caro Watson.

—Eu disse que eu passei no meu exame de inglês?

—Isso é ótimo!

—Sim. Bem, eu mal passei na aula com um C, mas consegui.

—Oh, Benji, eu sabia que você poderia fazer isso.

—Nenhuma ajuda de você—, eu digo, e quase posso ouvi-lo


sorrindo. —Você sabe que poderia me poupar algum tempo e me
avise onde está?— Continuo andando pela cozinha, entrando na
sala de estar. Nada ainda.

—Isso, meu queride amigue, estragaria toda a diversão.


—Devo subir as escadas?

— Talvez.

—Nathan

—Vai valer a pena, eu prometo.

Subo as escadas devagar, quase com medo do que vou


encontrar aqui em cima. O corredor está quase todo escuro, a única
luz que vem da fenda na porta dele. E isso é música? —Nathan?

—Mais quente

Abro a porta do quarto dele lentamente. Está vazio,


parecendo o mesmo de sempre, exceto que a cama dele não está
arrumada. E há um blazer jogado nas costas da cadeira da mesa. —
Você não está aqui—, eu digo.

—Onde mais eu estaria, então?

Meus olhos automaticamente vão para a janela, que está


aberta. Lá fora.
—Mais quente— Então ele termina a ligação. Deslizo meu
telefone de volta no bolso e tento sair para fora sem me machucar.
O que é mais fácil dizer do que fazer. Mas ele está me esperando em
nosso lugar de sempre com aquele cobertor branco deitado sob uma
pilha de travesseiros.

— Você está aqui! — Ele olha para mim e há aquele sorriso.

—Estou ciente—, eu digo. —Então, por que você não está no


baile?— Ele até parece que estava se vestindo para isso, mas parou
no meio do caminho, com suas calças pretas e camisa branca que
está apenas na metade do botão. Tento não pensar muito nesse
último ponto.

—Porque você não está lá.

—Eu realmente não...

—Eu tentei pedir para você ir ao baile, e você me recusou,


então eu pensei que isso poderia ser um pouco mais no seu beco.

—Oh, eu pensei ...— Eu sou realmente assim sem noção? —


Eu não sabia que você estava me perguntando, perguntando-me.

— Tudo bem. Eu gosto mais disso.


—Então, você queria me convidar para o baile?

—Sim, há algumas semanas, eu pensei que poderia ser o


momento perfeito.

— Pelo quê?

—Talvez você devesse se sentar.— Ele esfrega a parte de trás


do pescoço.

—Nathan Allan está sem palavras? — eu o provoco. —Esse


deve ser um momento para os livros de registro.

—Você sabe como, quando me procurou, disse que precisava


que eu não fosse eu?— E a maneira como ele olha para mim, isso
destrói meu coração.

—Oh, Tudo bem!— Eu tomo o lugar ao lado dele. — Me


desculpe. Tem alguma coisa errada?

—Eu gostaria de escrever isso.— Ele finge uma risada; é tão


diferente dele que eu realmente não quero ouvi-lo novamente. —
Você se lembra daquele dia no parque? Quando te levei para ver o
filme?
Como eu poderia esquecer isso? —Sim.

—E você me perguntou se eu tinha um segredo. Um segredo


do qual não havia razão para se envergonhar, mas você ainda
sentia que precisava escondê-lo?

Aceno em concordância.

—Qual foi o seu?

Eu engulo em seco. —Que eu sou não binário.

—Claro.— Ele balança a cabeça rapidamente. —Foi o que eu


percebi. Quero dizer, não na época. Mas você sabe, agora eu posso
ver isso. Então é por isso que eu queria lhe contar a minha.

Ele é tão perturbado, e é tão fofo. —Você sabe que não


precisa.

—Eu sei.— Ele olha para mim, seus lábios se abrindo. —Eu
quero.— Nathan pega minha mão, passando o polegar sobre a pele.
—Estou com muito medo de lhe contar isso, mas desde que você
confiou em mim, vou confiar em você. Tudo bem?

Aceno em concordância. —Ok.


—Ok—, ele diz novamente, e ele respira e expira. —Por um
tempo, eu meio que penso sobre o que sinto por você.— Então ele
começa a balançar a cabeça. —Deus eu realmente deveria ter
anotado tudo isso.

—Está tudo bem. Não tenha pressa.— Eu posso sentir seu


pulso ficando mais rápido.

—Eu sabia que deveria ter copiado o discurso do Sr. Darcy.—


Nathan respira. — Eu, hum... Eu tenho tentado descobrir uma
maneira de dizer como me sinto. Há meses agora, na verdade.

Meses?

—E eu sei que escolhi o melhor momento, já que vou me


mudar pelo país em algumas semanas, mas imaginei que se
pudéssemos ter três meses, seria melhor que nada, certo?

—Nathan, eu...

—Eu realmente gosto de você, Ben. Eu realmente, realmente,


realmente gosto de você — ele finalmente diz, e eu quase posso ver
seus ombros relaxarem. —Eu usaria a outra palavra A, mas se eu
estou sendo cem por cento honesto, isso me assusta
completamente.— Respira fundo. —E eu passei meses tentando
descobrir como eu poderia te contar sem assustar você ou fazer
você me odiar, mas sim.

—Nathan —Eu não consigo nem pensar em algo para dizer a


ele. Porque ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo.
Eu apenas o encaro, como ele é bonito. Com aquele sorriso
brilhante, e aqueles olhos castanhos, e sua pele marrom profunda,
e aquelas sardas que são tão injustas que eu não aguento mais. Eu
nunca quero fazer nada além de encará-lo.

—Se você pudesse dizer algo além do meu nome, eu


realmente aprecio.— Ele solta essa risada exasperada. —Pelo menos
um 'foda-se' ou algo assim.

— Eu, hum... —Eu tento não rir muito. Na verdade, parece


que estou no alto da felicidade agora. Existe isso? —Eu realmente
gosto de você também—, eu digo. —Mais do que gosto, de fato.

—Sério?— Sua voz se contrai um pouco.

—De verdade. Eu tenho por um tempo, na verdade.

Seu sorriso vacila por uma fração de segundo. — Mesmo?

—Sim.
— Desde quando?

Eu nem preciso pensar nisso; Eu sei a resposta há tanto


tempo. —Naquela noite, aqui, depois da festa.

—Eu tenho torturado você com minha boa aparência por


tanto tempo, hein?

Nego com a cabeça. — Não tem ideia?

— Eu... Eu quero beijar você — ele me diz. —Posso fazer isso?

—Sim,— eu sussurro.

Ele se inclina e, bem, é meio terrível. Nossos lábios se


encontram, mas nos movemos muito rápido e batemos o nariz, e
Nathan pega meu lábio inferior. Está apressado, molhado e muito
bagunçado. Mas o bom tipo de bagunça.

Não há fogos de artifício. O tempo não para. E eu não me


importo; Eu também não acho que ele faz. Porque isso está em
andamento há tanto tempo. E, como ele disse, se tivermos três
meses disso, prefiro passar esses três meses praticando isso com
ele.
—Isso foi meio ruim—, diz ele.

—Sou meio novo nisso.— Eu descanso minha testa contra a


dele. —Você quer tentar novamente?

Ele assente com a cabeça. O segundo beijo é melhor. Eu


movo meus braços para que eles caiam dos ombros dele, e as duas
mãos dele estão nas minhas costas agora, nos empurrando o mais
perto possível. Então ele me agarra pela gola da minha camisa e
lentamente caímos nos travesseiros, a música ecoando pela noite.
Deus, eu posso sentir como o corpo dele está se movendo por baixo
da camisa, e é pura magia.

Esse garoto é uma obra de arte.

—Esse foi melhor— eu digo quando me afasto, tentando


recuperar o fôlego.

— Muito melhor.

—Eles dizem que a terceira vez é o charme—. Eu alcanço


novamente e sinto seus lábios contra os meus. Ele emaranha os
dedos nos meus cabelos, e nos sentamos lá. Não sei por quanto
tempo e não me importo. Porque agora o mundo está tão calmo e
pacífico que pode ser apenas nós dois aqui sozinhos, a única
companhia que temos um com o outro. Acho que não me importo
com isso, na verdade.

Mas, eventualmente, temos que entrar, porque mesmo em


maio a noite está ficando fria. Eu não hesito em rastejar na cama ao
lado dele, minha cabeça em seu estômago, subindo e descendo para
sua respiração calma.

—Estou feliz por conhecê-lo, Nathan—, eu digo, porque não


há mais nada a dizer. Estou tão feliz agora, tão ridiculamente e
terrivelmente feliz que acho que nunca poderei descrever com
precisão o sentimento.

—Estou feliz por te conhecer também.— Seus dedos


encontram meu cabelo novamente. —Acho que precisamos
conversar, hein? Porque eu não posso te chamar exatamente de
meu namorado, posso?

Eu nem tinha pensado nisso. —Acho que não—, eu digo. —O


parceiro é um pouco cowboy demais para você?— Eu tiro um
chapéu de cowboy imaginário. —Yee haa.

Ele tenta não rir, mas falha miseravelmente. Bom, não quero
que ele se segure. —Sério, como posso chamá-lo?
—Meu amigo que beija quem não é do gênero binário, mas
que eu amo muito, é um pouco demais?— eu digo.

—Quem disse 'amor'?— Há aquele sorriso.

—Sim eu quero. Estou planejando o futuro. —Eu me estico


para ele, dando-lhe mais um beijo. —E talvez 'parceiro' seja um
pouco demais ... dança quadrada.

—Yee haa— Ele não consegue parar de rir enquanto tira o


chapéu invisível e então seu rosto se acalma. O jeito que ele está me
olhando me aquece de dentro para fora, e parte de mim quer chorar
e a outra parte quer rir e tudo de mim quer que ele me olhe dessa
maneira para sempre. Então ele abre a boca novamente. —E a
minha pessoa?

—Sua pessoa.— Eu gosto do jeito que as palavras soam. Nos


lábios dele e nos meus ouvidos.

—Meu Ben—. Nathan se inclina, beijando o topo da minha


mão, e de repente meu coração está tão cheio. Talvez tenhamos
apenas três meses disso, mas serão três meses bons. —As coisas
podem ser difíceis, quando eu for para a UCLA. Você ainda quer
fazer isso?
—Sim—, eu digo, e nunca tive tanta certeza de mais nada.

Eu respiro fundo e relaxo em seu toque. Deus, eu não posso


nem ter uma noite com esse garoto sem me preocupar com o
futuro, posso? —É isso que você quer que seja? As escrituras
juntos? Por quanto tempo dura?

—Eu não vou ser perfeito. Com os pronomes. Vou seguir em


frente e admitir isso, mas vou me esforçar ao máximo para lembrar.

— Obrigado.— Ele tem sido nada além de perfeito até agora.

—Eu não quero que você tenha medo de me corrigir, ok? Por
favor. Eu não quero machucar você. Nunca mais. —Não se eu
puder ajudar.

—Eu direi.— Não me prometo, mas por ele acho que faria
quase qualquer coisa. —E nós vamos descobrir. Quando você sair
em agosto. Talvez eu possa visitá-lo. Se esse projeto com Mariam se
concretizar, provavelmente posso me dar ao luxo de ir a cada
poucos meses.

—Acho que é por isso que você é minha pessoa, hein?— Ele
passa os braços em volta de mim e me puxa o mais perto que pode.
—Nós vamos descobrir— ele repete.
—Nós vamos ter que descobrir muitas coisas, não é?

—Sim.— Seu aperto em mim aperta. —Mas pelo menos


podemos fazer isso juntos, certo?— Ele se inclina e me beija de
novo, e eu nunca quero que ele pare.
EPILOGO
TRÊS MESES DEPOIS
—Vamos lá, periquitos!— Meleika grita do outro lado do
estacionamento. Nós deveríamos nos apressar. É o último dia das
férias de verão e todo mundo sabe disso, porque o estacionamento
está cheio de carros. Eu não posso nem imaginar como a praia fica
agora.

Mas não quero me mudar, porque não quero que isso acabe.

—Qual é o problema?— Nathan me pergunta, suas mãos se


movendo para a parte de trás da minha cabeça, brincando com a
gravata que mantém meus cabelos para cima.

Eu engulo em seco. —Eu vou sentir sua falta, você sabe.


—Por favor.— Ele revira os olhos e se inclina para perto de
mim. —Você está Ben de novo.

—Estou 'Ben'? Desde quando eu sou um verbo?

—Ei. Você tem esse direito.— Ele ri, os cantos da boca


cutucando e meu coração palpita. Toda hora maldita. —Você está
se preocupando com nada.

Olho para Sophie e Meleika. Elas estão esperando na rampa


que nos levará até a praia. A areia horrível de Deus. Mas Nathan
queria ir. Assim como no último feriado, tínhamos dirigido para
Emerald Isle na esperança de que a multidão pudesse ter diminuído
um pouco.

Oceanos diferentes, eu acho. Tecnicamente. Definitivamente


areia diferente.

—Por que você está sorrindo?— ele pergunta.

—Nada.— Olho para ele, para aquele sorriso pelo qual me


apaixonei e aqueles olhos castanhos. —Eu ainda vou sentir sua
falta—, eu digo novamente.
Ele revira os olhos, sorrindo como um tolo. —Vamos lá, é um
dia.

—Eu sei, mas é um dia que não vou te ver. Um dia inteiro
sem Nathan Allan.

—Ben—, ele repete. —Embora eu suponha que ficaria triste


também se tivesse que passar um dia sem esse rosto.

—Odeio você.

—Eu também te amo.— Ele se inclina e me beija. —A culpa é


sua, pelo menos. É o que você ganha ao reservar seu voo com
atraso.

—Cala a boca.— Eu o beijo novamente. —Você é quem me


distraiu, então realmente tudo isso volta para você.

Nathan suspira e revira os olhos. —Como todo o resto.

Há um toque na janela que nos faz pular. —Se vocês não se


apressarem, estamos arrastando vocêS para fora daquele carro—,
Sophie bufa.
—Eu não passei três horas em um carro para ver vocês dois
se beijando.— Meleika está de pé atrás dela.

—Vamos. Nossa festa aguarda. — Ele pega o enorme cobertor


branco do banco de trás e abre o porta-malas para que eu possa
pegar o guarda-chuva. De jeito nenhum eu estou voando para Los
Angeles vermelho como uma lagosta. Ainda não consigo acreditar
que está acontecendo, que estou saindo deste lugar. Janeiro parece
uma vida atrás.

Mas quando Mariam me pediu para ajudar em um novo


projeto que el estavam iniciando, não havia como recusar. Mesmo
que isso significasse deixar Hannah e Thomas. E Meleika. E
Sophie? Durante todo o tempo, fornecendo um pouco de apoio
emocional ao meu namorado, enquanto ele passa longas noites
escrevendo papéis e bebendo muito café. Claro, ele tem que morar
nos dormitórios pelo primeiro ano, mas Mariam e eu resolvemos
algo.

Meu namorado.

Isso ainda parece estranho de se dizer. Mas o bom estranho.


O estranho que eu nunca quero parar. Porque Nathan Allan é meu
namorado. Levamos algum tempo para nos acostumarmos a isso.
Porque namorar não era exatamente diferente de ser o tipo de
amigos que éramos antes.

Nathan suspeitou que ele é bissexual por um tempo. E


quando ele começou a ir às reuniões do espaço seguro comigo, tudo
meio que clicou nele. Seus pais aceitaram bem. Honestamente, eles
realmente não se importavam com quem ele estava namorando,
contanto que o que fizéssemos envolvesse preservativos, uma
conversa que nenhum de nós estava realmente emocionado demais
por ter. Hannah e Thomas não ficaram surpresos, mas tivemos que
deixar a porta aberta sempre que Nathan fosse lá.

Eu afundo na areia, e já está queimando a parte inferior dos


meus pés. —A areia deve ser ilegal.— Eu tento sacudi-la entre os
dedos dos pés.

—Pare de choramingar.— Nathan se inclina e beija minha


bochecha.

Meleika enfia o dedo na garganta para Sophie, e eu tiro os


dois.

—Ciúme não é uma boa cor, meninas.


—Tanto faz.— Meleika revira os olhos. —Você vai me deixar
pintar isso hoje, certo?— Ela acena em volta do saco de esmalte que
está segurando. —Estou pensando em bolinhas, para o seu grande
dia.

—Claro—, eu digo. Minhas unhas estão bem ásperas, a tinta


preta lasca em alguns pontos. Esta é a primeira vez que consigo
usá-lo por tempo suficiente para que ele se solte.

Vou ter que encontrar tutoriais do YouTube ou algo assim.


Não acho que seja muito lucrativo voar de um lado para o outro
entre a Califórnia e a Carolina do Norte, apenas para Meleika fazer
minhas unhas.

A praia está tão cheia quanto eu pensei que seria, mas


encontramos um local que não fica muito longe da entrada. Eu
martelo o suporte do guarda-chuva na areia, dando algumas voltas
para que eu saiba que o vento não vai acabar com ele. Eu já estou
com calor e suade quando termino, mas não sinto vontade de tirar
minha camisa. Caio sob a sombra do guarda-chuva e olho para
Nathan, e mesmo tendo visto o peito nu uma dúzia de vezes agora,
ainda não consigo parar de olhar.

—Tire uma foto, vai durar mais.— Ele fecha a camisa e a joga
para mim.
—Garoto engraçado.

—Você nem vai experimentar entrar na água.

Nego com a cabeça. —Foi por isso que trouxe o bloco de


desenho. Nem pensar.

—Vamos lá, é sua última chance.— Nathan estende as mãos.

—Eles têm oceanos na Califórnia.

Ele faz aquela coisa estranha de sobrancelha que ele sabe


que me leva até uma parede. —Mas não este oceano.— Eu suspiro e
pego a mão dele. —Você pode deixar isso aqui.— Ele puxa a barra
da minha camisa.

—Esse é um plano elaborado para que eu tire minha


camisa?— Não seria a primeira vez que ficamos sem camisa perto
um do outro. Não será o último. Pelo menos, espero que não seja.

—Vamos. É uma ciência.

—Ok, você terá que explicar esse.


—Sua camisa fica toda molhada e você fica desconfortável
pelo resto do dia, porque você tem essa coisa pesada e que o pesa.

—Sim, toda ciência.— Deslizo meus braços pelos buracos da


minha blusa e a deixo na toalha ao lado de Meleika e Sophie. Os
dois já parecem estar dormindo em suas cadeiras, mas os óculos de
sol dificultam a adivinhação.

—Divirta-se.— Sophie acena para nós. —Não se corte em


uma concha.

—Eu me arrependo de dizer isso—, eu digo antes de Nathan


me arrastar pela areia e em direção à água.

Nós andamos por alguns minutos antes que eu esteja pronte


para sentar em terra seca, mas eu tolero, pelo menos para Nathan.
Eu posso fazer isso por ele. Mas, eventualmente, ele também se
cansa, e voltamos ao nosso lugar, a areia grudando na parte de
baixo dos meus pés. É terrível! Mas pela primeira vez eu não me
importo.

A praia começa a clarear depois de um tempo, o sol se pondo


lentamente até que seja essa enorme bola no céu. É quando Meleika
e Sophie decidem ir para a água, nunca indo além da coxa.
—Ei.— As mãos de Nathan envolvem as minhas. Ele está
sentado atrás de mim, suas pernas esticadas ao meu redor, seu
estômago pressionado nas minhas costas, para que seu queixo
possa descansar no meu ombro.

—Ei.— Eu aperto. Eu realmente não posso acreditar que


tenho essa sorte.

—Parece que você está pensando em alguma coisa.— Nathan


puxa a gravata e os cachos caem no meu ombro, os dedos passando
por eles para tentar desembaraçar. — Boa sorte.

Eu tento rir. —Estou Ben de novo?

—Um pouco.

—Apenas nervoso—, eu digo. —Apenas Mariam e Hannah, e


mudando, e eu não ... Eu não sei.— Na verdade, existem milhares
de coisas diferentes para se preocupar. As coisas que irei levar para
a Califórnia, encontrando outro psiquiatra tão incrível quanto a
Dra. Taylor, preocupando-me com Meleika e Sophie e esperando
que nossa amizade sobreviva a dois de nós que se deslocam pelo
país.
Nos últimos três meses, Mariam e eu trabalhamos desde o
segundo em que acordamos quando desmaiamos na frente de
nossas webcams em ideias e coisas que poderíamos fazer. Mariam
quer que eu entre no canal del, para falar com el em conferências e
eventos.

Construir algo que possa continuar a ajudar crianças que são


como nós.

Demorou muito para eu dizer que sim, principalmente porque


eu não sentia que merecia. Meu histórico em falar sobre minha
identidade não era dos melhores. Mas eu tinha Nathan lá comigo.

Eventualmente, criei coragem para começar a ir às sessões de


terapia em grupo. Foi difícil no começo, mas me acostumei com
isso. Especialmente com Nathan ao meu lado. E, com a ajuda dele,
pude ir até Sophie e Meleika. Ambas tinham algumas perguntas,
mas pareciam entender e se desculpar pelos meses de má
distribuição acidental.

Pensei em fazer uma grande publicação no Facebook ou algo


assim, mas decidi contra. Só não parecia certo.

—Você vai se sair bem, eu sei—, Nathan me diz, e sinto sua


pele contra a minha e a maneira como ele relaxa contra mim. E pela
primeira vez em algum tempo, realmente parece que tudo pode ficar
bem.

—E quanto a Hannah?

— Parece que meio que consertamos as coisas. E agora sou


eu quem a deixa.— Não me ocorreu até eu contar a Hannah e
Thomas sobre o projeto. Mas eu estaria me mudando pelo país.

Ambos estavam felizes, mas eu pude ver o olhar no rosto de


Hannah, que partiu um segundo antes que ela estivesse me
parabenizando. —Eu sou um irmane terrível.

—Exceto que você não é—, diz Nathan.

— Mas eu…

—Quiete, quiete, quiete—, ele sussurra no meu ouvido. —


Apenas fique quiete. Este não é o mesmo tipo de situação, vocês
dois sabem disso.

Eu suspiro, dobrando meus joelhos perto do meu peito. —


Você não acha que ela me odeia?

—Eu acho que demoraria muito para ela te odiar.


— Promete?

Ele assentiu com a cabeça. —Você sabe tão bem quanto ela
que essa não é a mesma situação. Vocês estaram conversando
todos os dias. Agora vocês dois têm telefones celulares e podem
usar o FaceTime. Acredite, Ben, ela não se ressente de você por se
mudar.

—Parece que acabamos de nos tornar irmanes novamente.

Sinto a pele de Nathan contra a minha. —E isso não vai


estragar isso. Você não acha que ela se orgulha de você? Um projeto
destes. É importante, bebê.

—Eu sei.— Sinto meu peito relaxar um pouco. E no fundo, eu


sei disso. Nathan está certo, de qualquer maneira. Hannah me fez
prometer que conversaríamos todos os dias. Durante o verão, as
coisas melhoraram. Lenta mas seguramente, saímos do outro lado.
Confiante. —E você acabou de me chamar de bebê?

—Tentando algo novo, schnookums 41 .— Ele beija meu


pescoço novamente. — Nada bom.

41
Uma palavra ou nome de animal de estimação usado para rotular um
ente querido ou amado .
Eu relaxo contra ele. —Vamos ficar com 'bebê' se for
necessário.

—Posso. Além disso, você deveria estar mais nervose com


essa reunião na próxima semana.

—Por favor, não me lembre.

—Eu estarei lá na plateia, torcendo por você.

Eu me inclino para poder beijá-lo. Aqueles lábios macios


rapidamente se tornaram minha parte favorita de Nathan. —
Nenhuma audiência neste tipo de reunião.

—Eu vou me esgueirar. Já lhe disse, o apoio emocional vem


antes da modelagem. Ele solta um suspiro profundo e nós dois
olhamos para o sol, afundando lentamente, mas seguramente sob a
superfície do oceano escuro. —Desejo-lhe as maiores felicidades,
Benjamin De Backer.

Essas não são as mesmas palavras, mas eu sei exatamente o


que ele quer dizer.

—Eu também te amo.


NOTAS DO
AUTOR
Eu comecei a escrever Desejo a todos o melhor quando
decidi, queria contar a história que precisava quando era mais
jovem. Este livro é o que eu precisava aos quinze anos, aos dezoito e
ainda é a história de que preciso nos meus vinte anos. É assim que
muitas histórias nascem: por necessidade.

Escrever este livro me ajudou a enfrentar minhas próprias


ansiedades e depressão e, finalmente, me ajudou a me confrontar.
Sei que pode ser mais difícil para alguns leitores entender isso e,
para outros, será uma realidade muito relacionável. Durante muito
tempo, lutei para perceber quem exatamente eu sou e, de muitas
maneiras, ainda o faço. Eu luto por acreditar em mim mesma
quando digo às pessoas que não sou binária. Ainda tenho
dificuldade em corrigir os outros quando eles usam os pronomes
errados, porque não quero deixá-los desconfortáveis ou sentir-se
mal. Algumas manhãs, olho no espelho e odeio o que vejo, porque
sinto como se meu corpo não estivesse de acordo com o padrão de
outros membros da comunidade queer.

Alguns dias são melhores do que outros dias em que minha


confiança está fora das paradas e me sinto perfeitamente
confortável no meu corpo e no meu estilo incrivelmente brega. E, à
medida que envelheci e me envolvi com pessoas como eu, acho que
esses dias acontecem com mais frequência do que nunca.

Quando me propus a escrever este livro, minha única


esperança era que as pessoas se sentissem menos sozinhas, não
importando como ou por que você se relacionasse com Ben. Ou até
Nathan, Hannah ou qualquer outra pessoa neste livro. Queria fazer
pelos outros o que havia ajudado a fazer por mim: permitir que os
leitores pudessem ver um pedaço de si mesmos nessas palavras.

E lembre-se: aconteça o que acontecer, desejo tudo de bom.

- Mason Deaver
Então sim, Desejo a todos o melhor está fora, está aqui, está
em suas mãos de uma forma ou de outra. Tem sido uma jornada.
Uma estranha e longa jornada pela qual descobri que sou péssima
ao escrever e-mails, um pouco impaciente e aparentemente incapaz
de não trabalhar alguma coisa enquanto a espera me come de
dentro para fora.

Mas eu sobrevivi, principalmente graças ao meu incrível


sistema de apoio e amigos que me mantiveram me encorajando,
mesmo quando eu estava no nível mais baixo.

Robin, um dos meus queridos amigos e a quem este livro é


dedicado: sem você, este livro não existiria. Literalmente. Nossas
mensagens de texto e ligações noturnas ajudaram a me tirar do
sério. Você está lá desde o início de Ben e Nathan, quando eles
eram dois filhos na faculdade, olhando para o céu noturno e
negando seus sentimentos um pelo outro. Sério, pode não parecer,
mas este livro passou por muitas mudanças, e você estava lá para
todas elas. Do início ao fim.

Mariam Haidari, que me emprestou seu nome para este livro:


você foi o melhor pai de Ben e Nathan, e seu apoio significou muito
para mim. A maneira como você falou sobre essas crianças, a
maneira como as amou e as apoiou. Isso me fez acreditar que um
dia seriam reais. E agora eles são. Seu status como pai nº 1 é
cimentado nessas palavras. E é aqui que peço desculpas por todas
as notas misteriosas que lhe envio, que fazem com que você se
preocupe com o bem-estar de todos os seus futuros filhos fictícios.

Shauna, Cam e Huong: Vocês três são alguns dos meus


melhores amigos do mundo, e não consigo imaginar ir nessa
jornada sem vocês três para compartilhar a experiência.

Becky Albertalli por sua ajuda inestimável durante as etapas


de edição e por seus livros que me mantiveram em atividade. Por
suas palavras gentis e otimismo sobre o futuro desta história, e sua
ajuda ao longo do caminho. Sério, eu te devo muito. Além disso,
você me deu minha primeira obra de arte dos fãs do Ben!

Minha agente, Lauren Abramo, que me deixou absolutamente


sem palavras durante nosso primeiro telefonema. Muitas pessoas
acreditavam em Ben e Nathan, mas Lauren foi a primeira pessoa
que eu realmente entendi o que queria fazer com essa história. Eu
sabia desde a primeira ligação que seríamos ótimos juntos, e estou
feliz por confiar no meu intestino.
Jeffrey West, que foi um editor de sonhos absoluto e viu
coisas que eu não vi e me ajudou a transformar essa história em
algo verdadeiramente fantástico. Tive a sorte de encontrar duas
pessoas para trabalhar que realmente entenderam a história que eu
estava tentando contar.

Aos meus primeiros leitores que me deram seus bons


conselhos e olhos cuidadosos. Mas principalmente, vocês me
mantiveram em tempos difíceis. Ava, Cody, Camryn, Kav, Fadwa,
Megan e Sarah.

Roseanne Wells, que primeiro propôs uma grande revisão e


tornou este livro ainda melhor, mesmo que você seja panqueca da
equipe.

A Caleb, Kari, TJ e Alice, que ajudaram a trazer Ben e Nathan


à vida com suas obras de arte impressionantes, que eu amo de todo
o coração.

E a todos os meus incríveis amigos online que deram seu


apoio constante por toda essa jornada. Através da escrita e edição e
espera. Jonas (que me deu o nome De Backer), Claribel, Sabina,
ambos Jays, Nic, Olivia, Sandhya, Meleika (que também me
emprestou seu nome!), Kimberly, Janani, Meredith, Sona, Zoraida e
qualquer outra pessoa que seguiu este livro, uma vez que não
passavam de trezentas páginas mal escritas com o nome
#EnbyLoveStory. Sério, todos vocês me mantiveram nessa jornada
inteira, e seu apoio significa o mundo para mim.

Nas palavras de Andrew Gold, embora de preferência cantado


por Cynthia Fee: Obrigado por ser um amigo.

Por fim, para minha mãe, que é uma das pessoas mais
corajosas que conheço e a pessoa que mais amo neste mundo.

E para meu pai: você nunca teve a chance de ver essas


palavras, de conhecer esse livro com todos os detalhes. Na verdade,
não sei se você gostaria, e não sei se você gostaria de mim, mas
nunca saberemos realmente, não é? Você só me disse que queria
que eu fosse a próxima JK Rowling. E embora eu não tenha certeza
se gostaria disso, espero que isso esteja próximo o suficiente.
Mason Deaver é um autor e livreiro não-binário de uma
pequena cidade da Carolina do Norte, onde a palavra —todos
vocês— é usada em abundância. Quando não estão escrevendo ou
trabalhando, geralmente são encontrados na cozinha assando algo
ruim para el ou no jardim reclamando do sapo que gosta de cavar
buracos em torno de suas hortênsias. Você pode encontrar Mason
on-line em masondeaverwrites.com e no Twitter em @masondeaver.
Direitos autorais © 2019 por Mason Deaver

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incidentes ou são produto da imaginação do autor ou são usados
ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas reais vivas ou
mortas, estabelecimentos comerciais, eventos ou locais é mera
coincidência.

Dados de catalogação da publicação da Biblioteca do


Congresso

Primeira edição, maio de 2019

Arte da capa © 2019 por Sarah Maxwell

Design da capa de Nina Goffi e Stephanie Yang


e-ISBN 978-1-338-30613-2

Todos os direitos reservados sob as Convenções


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