Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Índice
Pág. 05 A lenda da origem cigana
Pág. 07 A criação
Pág. 09 Origens ciganas
Pág. 15 O Pestim
Pág. 19 A tartaruga
3
Contos Ciganos| Alma Cigana
5
Atividades/desafios | Alma Cigana
A criação
No tempo da Criação, Deus achou que gostaria de fazer os seres humanos
à sua imagem e semelhança e, para tal, pegou em muita farinha e água,
fê-las numa pasta e deu-lhes forma de gente. Meteu-as no forno celes-
tial a cozer mas, desgraçadamente, foi tratar de outra coisa qualquer e
esqueceu-se delas.
7
Contos Ciganos| Alma Cigana
Origens ciganas
Nosso Senhor, quando estava prestes a subir ao céu, começou por convocar
uma assembleia dos povos do mundo para a Plaza Mayor. E disse:
- Amanhã vou para o céu e aqueles que quiserem aqui vir antes da minha
partida, eu atribuirei uma profissão neste mundo. Os que chegarem
atrasados não levam nada.
E, na véspera da partida, conferiu a toda gente uma profissão, mestre-
-escola, doutor, tudo. Havia dois ciganos que eram muito preguiçosos e um
disse para o outro:
- Olha, primo, Nosso Senhor vai-se embora hoje. Vai para o céu e já toda
a gente está destinada. Vamos chegar atrasados.
E começaram a correr para a Plaza Mayor e quando chegaram lá já
Nosso Senhor ia a partir, pois eles eram muito preguiçosos. Chamaram por
ele:
- Pai Nosso, deste um destino a toda a gente do mundo. Vais-te embora
assim e deixas os ciganos sem lugar destinado?
O Senhor disse:
- Arranjai-vos conforme puderdes.
Foi-se embora e nós lá nos vamos arranjando conforme podemos. Os ciga-
nos vivem e comem pelos seus meios. Não têm lugar destinado no mundo.
9
Contos Ciganos| Alma Cigana
O barqueiro cigano
Era uma vez um gramático que queria ir passar algum do tempo que tinha
a andar num barco num rio.
Por isso alugou um barco a um cigano cujo ofício era ser barqueiro. Du-
rante o passeio o gramático perguntou ao barqueiro cigano:
- Sabes alguma coisa de literatura? Sabes escrever? Sabes ler?
E o barqueiro respondeu:
- Não, estou sempre a trabalhar, sempre com uma mão à frente e outra
atrás, a tentar alimentar a minha família, nunca tive tempo para aprender
a ler. Para mim, é só uma perda de tempo. Sei do meu ofício, sei tudo de
barcos e é só isso que tenho que saber.
E o gramático disse:
- Que pena! Gastaste metade da tua vida nos barcos e nada sabes das coi-
sas mais requintadas da vida.
E assim continuaram a argumentar para trás e para diante sobre a necessi-
dade de saber ler e de conhecer literatura e as coisas mais requintadas da
vida.
De súbito, apareceu um grande remoinho e as coisas ficaram feias. O
barqueiro perguntou ao gramático:
- Olha lá, sabes nadar?
- Não.
- Oh, que pena!… Gastaste metade da tua vida a estudares gramática e
literatura e a arte de escrever e nunca aprendeste a nadar? Pois senão
aprendes a nadar agora será o fim da tua vida!
11
Contos Ciganos| Alma Cigana
A lenda do violino
Conta uma antiga lenda cigana que havia um cigano muito fértil de ima-
ginação que, nas noites de lua cheia, tocava o seu violino, encantando a
todos que o escutavam, junto à fogueira, e que até os pássaros faziam
silêncio para o escutar.
E o cigano ficava ali, pensando que algum dia existiria um pássaro que
imitaria o som do seu violino.
Passaram-se alguns anos até que, muito velho, o cigano deixou este mun-
do.
Nesse mesmo dia, a altas horas da madrugada, surgiu num galho de ár-
vore, junto à tcera (barraco/casa) do cigano violinista, um pássaro ama-
relo como ouro, que cantou, cantou e o seu cantar e trinado imitavam o
violino cigano.
Nascia aí o canário, que canta imitando o violino cigano, cheio de magia.
13
Contos Ciganos| Alma Cigana
O pestim
Dantes, os ciganos viviam todos no Egito. É lá a nossa terra, é de lá que
viemos há séculos. Todos os ciganos, filhos de um homem do Egito e de
uma indiana. Desse casamento nasceu a «raça» cigana.
Um dia, lá no Egito, anda um molhe de ciganos nas caravanas, de terra
em terra. Os tempos eram muito mais antigos, mas a vida dos ciganos era
a mesma: andar de um lado para o outro, a penar. Nesse dia, apareceu
no acampamento um senhor, uma senhora, um bebezinho e um burro.
Pediram se podiam integrar a caravana; os ciganos reuniram-se e, depois,
ficaram de acordo.
Andaram, andaram de terra em terra.
Às vezes, os ciganitos, a brincar, guerreavam o menino e partiram-lhe a
cabeça. O menino começava a chorar, aparecia a senhora e dizia:
- Deixa, não faz mal que já passou.
Passava-lhe a mão pela cabeça e a dor passava logo. Mas os ciganos nem
reparavam nisso, não viam que a ferida estava a escorrer sangue e que
parava logo. Antigamente, não se notava isso, pelo menos, é o que se diz.
Outras vezes, era o senhor que ia dar palha ao burrinho e, quando virava
costas, os ciganos tiravam a palha e iam pô-la nos burros deles. Mas,
noutro lugar, tornava a aparecer a palha e cada vez mais. Os ciganos
ficavam muito admirados.
Foi quando souberam que aquelas pessoas eram São José, Nossa Senhora,
o Menino Jesus e o burrinho que sempre os acompanhou nas andanças.
Era a altura em que eles andavam fugidos do rei para não morrerem e
acharam que o sítio mais seguro e protegido era misturarem-se por entre
os ciganos. Ninguém ia lá procurá-los. E é verdade, quando um cigano
quer esconder alguém, não há polícia que descubra!
Foi assim que eles se safaram, graças aos ciganos. A Nossa Senhora gos-
tava muito deles. Até há ciganos que dizem que a Nossa Senhora é cigana,
mas isso já não sei! Ela ensinou-lhes muita coisa e o pestim, bolo que só
nós fazemos e só pelo Natal, foi receita dada pela Virgem.
15
Contos Ciganos| Alma Cigana
O rei perdido
Um rei cigano tinha ido passear, adentrando-se numa densa floresta.
Tanto caminhou que se perdeu.
Nada mais havia a fazer para reencontrar o caminho. O rei, muito per-
turbado, gritava desesperado, imaginando-se já morto, ferido ou devorado
por bichos ferozes.
De repente, uma pequena voz fez-se ouvir: um pequeno ouriço estava nas
proximidades do bosque.
- Grande rei, se quiseres, posso mostrar-te o caminho, mas com uma con-
dição.
- Qual é a condição, Ouriço? Estou pronto a tudo. Terás o ouro que dese-
jares.
- Não quero ouro, mas a mão da tua filha.
- O quê?
A indignação do rei não demoveu o Ouriço. O rei tinha tanto medo que
acabou por aceitar a condição:
- Dou-te a minha palavra de honra que casarás com a minha filha.
O Ouriço pôs-se a caminho, guiando o rei. Chegados ao castelo, viram a
filha do rei gritando desesperadamente:
- Não caso com um ouriço de maneira nenhuma! Apesar do rei argumentar
que a tinha prometido.
Após uma grande discussão, a princesa foi mesmo obrigada a obedecer ao
seu pai.
O rei organizou as núpcias, oferecendo pão e sal aos noivos. Todos os
ciganos convidados, passada a surpresa, beberam, comeram e festejaram,
rindo e cantando. Menos a filha do rei que não parava de chorar. Mas,
de repente, aconteceu um milagre: à décima segunda badalada da meia-
-noite, o Ouriço abalou e desmaiou, e, no seu lugar, apareceu um príncipe.
Era o príncipe de um reino vizinho. Explicou que uma fada má o tinha
enfeitiçado, transformando-o em ouriço até que uma princesa o aceitasse
como esposo. A princesa secou as lágrimas, o seu rosto iluminou-se de
alegria e a festa aumentou o seu entusiasmo. Desde esse tempo, se algumas
raparigas continuam a comer ouriço, porque é bom, outras recusam porque
não querem arriscar devorar o seu príncipe encantado!
17
Contos Ciganos| Alma Cigana
A tartaruga
Era uma vez uma mulher muito avarenta que nunca dava nada aos ciga-
nos. Um dia, Deus encontrou a mulher sob um manto de velha mendiga:
- Por caridade.
- Não tenho nada.
- Só um pedaço de pão.
- O meu saco está vazio. Vai-te embora, ó velha vagabunda!
E Deus foi-se embora abanando a cabeça. A mulher abriu então o seu saco
e apercebeu-se que todo o pão que tinha estava bolorento e negro.
- Deve ter aprendido a lição, pensou Deus. Mas não. No dia seguinte Deus
voltou para a convencer. Mas nada a fazer. E para não haver mais dis-
cussão, a avarenta verteu um alguidar com água de lavar a loiça para se
esconder debaixo. Mas Deus sabia que a avarenta estava lá debaixo. Deus
disse-lhe com firmeza que era preciso entreajudar-se, que os mais ricos
deviam dar aos pobres, pois «quem dava aos pobres emprestava a Deus»
e que este saberia recompensar «o dobro».
- Pois, não queres falar. Pois então, ficarás muda e não sairás daí.
Assim, a velha ficou muda e com o alguidar em acima das costas, tornan-
do-se numa tartaruga!
19
Contos Ciganos| Alma Cigana
Noite de tempestade
Uma noite, caiu uma tempestade terrível sobre o reino: ouviam-se terríveis
trovões, viam-se enormes relâmpagos e chovia a cântaros.
De súbito, no meio da tempestade, alguém bateu à porta do castelo.
– Meu Deus! Quem terá coragem de andar lá fora com esta tempestade?,
perguntou o rei.
– Deve ser algum pobre que não tem onde ficar. É melhor deixá-lo entrar
para se secar e se aquecer.
O velho rei abriu a porta do castelo e, para sua grande surpresa, depa-
rou com uma jovem rapariga. Mas em que estado a chuva e o vento a
tinham posto!
A água escorria-lhe dos cabelos e das roupas, entrava-lhe pela biqueira
dos sapatos e voltava a sair pelos tacões.
O velho rei mal podia acreditar no que os seus olhos viam.
– Peço desculpa por estar a incomodar – disse a jovem – a minha car-
ruagem voltou-se e fui obrigada a procurar abrigo. Ficaria admirado se
soubesse como há poucas pessoas dispostas a ajudar uma verdadeira prin-
cesa, que lhes bate à porta numa noite de tempestade como esta!
21
Contos Ciganos| Alma Cigana
A semente abençoada
Era uma vez uma mulher que queria muito ter um filho, mas que não con-
seguia realizar este seu desejo. Um dia, foi procurar uma fada e pediu:
- Gostava tanto de ter um filho! Ajude-me, por favor e diga-me onde
posso arranjar um!
- Isso é fácil!, respondeu-lhe a fada. Aqui tens um grão de semente
abençoada. É muito diferente da que cresce na seara do lavrador e é co-
mida pelas galinhas. Planta-a num vaso de flores e repara bem no que
lhe vai acontecer.
- Obrigada – disse a mulher, dando à fada doze moedas, que era o preço
do grão da semente abençoada.
A mulher regressou a casa e plantou o grão. Imediatamente nasceu uma
grande e bela flor.
- Que linda flor!, disse a mulher.
Nesse instante, a flor desabrochou e, no seu interior, tinha um grão com
uma semente cor-de-rosa que refletia tanto brilho que parecia quase luz. A
mulher pegou na semente e engoliu-a. Passado uns tempos, a mulher ficou
grávida e foi mãe de uma linda menina.
23
Atividades/desafios
Atividades/desafios | Alma Cigana
- A criação
- Origens ciganas
- O barqueiro cigano
27
Alma Cigana | Atividades/desafios
- A lenda do violino
- O pestim
- O rei perdido
- A tartaruga
28
Atividades/desafios | Alma Cigana
- Noite de tempestade
- A semente abençoada
29
Atividades/desafios | Alma Cigana
1 - Contos Ciganos
- Propostas educativas para os contos
A criação
(com sentido de humor, aborda-se “o orgulho cigano”,
a aprendizagem pela tentativa e erro e os vários tons de pele)
Origens ciganas
(A valorização da capacidade de adaptação às mudanças e aos contextos)
31
Alma Cigana | Atividades/desafios
O barqueiro cigano
(respeito pelos saberes de cada um)
A lenda do violino
(Um conto de Natal: A solidariedade e a valorização da fé)
O pestim
(Valorização da música: um canário imita o trinar
do virtuosismo de um violonista)
32
Atividades/desafios | Alma Cigana
O rei perdido
(Variante do conto «A princesa e o sapo», mas com um ouriço;
valorização da promessa cumprida)
A tartaruga
(Castigo por ser-se avarento)
- Associar este conto com a lenda de S. Martinho, que também fala da par-
tilha e da solidariedade para com os mais necessitados.
- Pesquisar sobre os demais animais que são «mudos».
- Pesquisar e dramatizar como é que os mudos falam, por exemplo, aos
surdos?
- Abordar a importância da comunicação, seja ela oral, seja de outra forma.
-Pesquisar os vários tipos de tartarugas/cágados: do mar, de água doce
e de terra e os seus ecossistemas.
- Desenhar os padrões das carapaças das tartarugas e o que a sua dimensão
e desenhos nos revelam.
Noite de Tempestade
(Variante do conto «A princesa e a ervilha»;
valorização da hospitalidade)
33
Alma Cigana | Atividades/desafios
é ouro»,«nem tudo o que parece é», etc. que valorizam a importância de não
rotular logo uma pessoa pelas aparências.
- Desenhar noites de tempestade, utilizando pinturas de artistas plásticos
e várias técnicas.
- Associar a hospitalidade ao saber acolher os refugiados deslocados de
guerra ou de catástrofes naturais, lembrando o conto da origem dos ciga-
nos…
- Lembrar também os portugueses que foram sendo acolhidos, como emi-
grantes, em países como a França, quando fugiam,«a salto» pela raia fron-
teiriça, ao fascismo, à guerra colonial e à fome.
A semente abençoada
(desejo de maternidade, importância de ter filhos/filhas)
34