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Copyright © 2020 todos os direitos reservados à Mithiele Rodrigues

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quaisquer meio eletrônico, mecânico e processo xerográfico, sem a permissão
da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é mera
coincidência.

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Todos os direitos reservados

APENAS AMIGOS, Mithiele Rodrigues


1. Romance 2. Contemporâneo 3. Ficção I. Título
Nota da autora

Olá, querido leitor, primeiramente, esse livro retrata ansiedade e depressão,


então, se já se sentiu mal em algum momento, espero que saiba que tudo vai
ficar bem, nada dura para sempre, nem a felicidade e nem a tristeza.
Segundo, os personagens são fictícios, e os lugares, mesmo que sejam
ambientados nos Estados Unidos, são lugares que foram criados, em sua
maioria, pela minha imaginação.
Terceiro, espero que esse livro traga uma mensagem de esperança.
Mas se o mundo estivesse acabando, você viria, certo?
Você viria e passaria a noite
Você me amaria só pelo inferno disso tudo?
Todos os nossos medos seriam irrelevantes.
- If the world was ending
Cora

Encontrar você foi como transportar um sonho para a realidade.-


Luke

Amo a forma como os doramas asiáticos são extremamente


dramáticos. Quer dizer, uma hora você está no ônibus e uma freada brusca
faz o amor da sua vida ficar cara a cara com você, tempo o suficiente para
algo espetacular acontecer.
Isso é bem típico dos doramas, no entanto, infelizmente, não
acontece na vida real.
Nos doramas, coisas mágicas acontecem e os homens, além de
lindos, são gentis e carinhosos.
Na minha vida, eu experimento uma coisa totalmente diferente.
Sinto na maior parte dos dias como se eu fosse uma pessoa sem graça(que de
fato devo ser).
Maior parte dos meus dias, quando assisto essas novelas coreanas,
fico me imaginando como uma protagonista delas, sendo uma personagem
importante.
Na realidade, sinto como se não fosse protagonista nem da minha
própria vida.
E é aqui que a vida real me atinge, quando chego no meu trabalho. A
cafeteria é linda por fora, tem flores por todo lado e até colocaram uma
bicicleta rosa para que os clientes tirassem fotos fofas.
O lugar é pequeno e aconchegante, e por parte é por isso que gosto
de trabalhar aqui, mesmo que a dona seja horrível comigo, e por outro lado,
suporto porque ganho bem e sempre posso ver a Vic, a filha da bruxa(é assim
que chamo a Regina, minha chefe).
Todos os dias eu tento ao meu máximo ser uma garota legal, que
atende as pessoas com gentileza, mesmo que eu não receba isso de volta.
Gentileza gera gentileza.
Essa frase é conhecida, mas não é tão colocada em prática no
presente século em que vivemos.
— Cora! Você está quase dez minutos atrasada.
Até a voz dela irrita!
— O trânsito estava horrível.
E de fato estava, demorei ainda mais para estacionar o meu Toyota
Crown rosa na rua ao lado, onde geralmente o deixo e não levo multa.
— Você vai ficar mais dez minutos depois do expediente.
Geralmente eu fico um pouco mais, todos os dias, mas não retruco
com ela, até porque estou ganhando o meu salário. Só tenho que achar uma
maneira de guardar meu dinheiro e investir em algo só meu.
— Tudo bem.
Vou para o estoque e guardo a minha bolsa no armário. O cheiro de
brownie me atinge e sei que a minha colega de trabalho já começou a
cozinhar.
A demanda da lover cake shop é altíssima, primeiramente por causa
da aparência do local e segundo por causa das delícias que fazemos por aqui.
Volto para a cozinha e acho Annie com a mão na massa…
literalmente. Ela é uma amiga enquanto estou aqui e sinto como se fosse a
minha segunda mãe.
— O cheiro já está delicioso…
— Olá, Cora, ouvi os gritos da Regina daqui, o que houve?
— Me atrasei, sabe como é, o trânsito não está ajudando esses dias.
O cheiro doce me faz esquecer dos problemas de ter uma chefe
péssima, sabe como é, o dia a dia vai nos acostumando.
— Pobre Cora.
— Já estou acostumada com a Regina.
— Ninguém deveria se acostumar com coisas ruins.
— Sei disso…
Coloco meu avental e prendo o meu cabelo que é altamente
volumoso. E não estou diminuindo a situação, ele é realmente volumoso e
grande.
Preciso aparar essa bufa.
Vou até a geladeira e percebo que houve uma mudança na ordem
dos ingredientes.
— Sabe onde está o chocolate belga, para que eu comece a derreter
em banho maria?
— Acho que a Regina colocou mais embaixo.
Abaixo-me e encontro um bilhete.
“Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?”
Fui eu que escrevi isso, uns dias atrás, quando estava de saco cheio
de tudo e ainda por cima, a TPM atacou.
Não demora muito para que eu ache e comece a trabalhar. Enquanto
mexo o chocolate, fico imaginando quando a minha vida vai começar.
— Annie… posso fazer uma pergunta?
— Claro.
— Já sentiu como se estivesse sozinha no mundo?
Só de pensar isso, sinto vontade de chorar, isso tem acontecido
comigo bastante ultimamente.
— Todas nós temos um momento em que sentimos isso, querida.
Respiro fundo e vejo que o ponto está quase perfeito.
— É que em maior parte dos dias, me sinto como a Rapunzel, presa
na torre, esperando algo de extraordinário acontecer e finalmente poder viver
a minha própria história.
— Então saia mais.— ela dá de ombros e eu reflito por alguns
segundos.
— O problema é que eu só gostava de sair com as minhas amigas, e
agora elas estão distantes…
Nunca sei aproveitar os lugares, quando estou sozinha. Penso que as
pessoas vão me achar esquisita e solitária.
— Então, você não gosta da sua própria companhia, Cora.
Penso em rebater, dizer que amo a minha própria companhia, mas
seria uma mentira, e é quando eu percebo que Annie tem razão, eu não curto
sair sozinha.
É como um soco no estômago. Eu preciso aprender a me divertir
sozinha, pois nem lembro quando foi a última vez. A solidão deixa as pessoas
instáveis…
— Sei que você é introvertida, mas tente algo diferente, em vez de
ficar em casa assistindo televisão.
— Gosto de assistir televisão.— dou de ombros.
Penso no quanto é incrível assistir ao “Goblin” pela milésima vez e
suspiro, imaginando em viver uma história de amor.
No entanto, é uma mentira, pois nem sempre assistir televisão
sozinha, é divertido. Na maior parte, eu choro com os meus doramas e fico
querendo que algum gostosão apareça na minha frente.
— Se quiser passar na minha casa, posso cozinhar para você e
assistimos algo feito nos Estados unidos.
— Passo por hoje, nenhum ator dos EUA pode se comparar aqueles
deuses coreanos. O sonho da minha vida é conhecer um e viver o meu
próprio dorama.
— Acho que nunca conheci alguém tão sonhadora quanto você.
E sou mesmo, é por isso que vivo no meu próprio mundinho e
esqueço de encarar a realidade. Porque no meu mundo, tudo parece mais
legal.
— Ta ok, vamos cozinhar, antes que a Regina nos demita.
— Se isso acontecer, ela vai à falência, Cora.
Sei que somos os pés e as mãos da Regina nessa cafeteria, mas fico
quieta, pois já falei demais hoje.
••
Assim que chego na minha casa, depois de um expediente cansativo,
vou preparar uns pães recheados para o meu jantar e sinto o coração acelerar.
— Ando muito ansiosa ultimamente, isso é um saco!
Sim, eu falo sozinha. E sim, eu não aguento mais viver presa pela
minha própria mente.
Mando mensagens para as minhas melhores amigas e ligo a
televisão. Está passando “Uma odisseia Coreana”, um dos doramas que eu
mais choro em posição fetal, mesmo assim, abro um sorriso e me jogo no
sofá.
O coração dispara mais uma vez, sem nenhum motivo aparente e eu
reviro os olhos. Nunca soube como lidar com a minha própria ansiedade.
Pego o meu celular, abro nas notas e digito.
“Para o amor, que um dia chegará”.
Gosto de fazer listas, mas, estranhamente, nunca tinha feito uma com
especificações do meu futuro namorado.
Sorrio de mim mesma por ser uma romântica incurável e começo:
1- Obviamente, tem que ser coreano.
2- Tem que aguentar assistir os doramas comigo(mas é claro que ele
vai gostar, porque ele vai ser coreano).
3- Seja carinhoso.
4- Ser engraçado é essencial.
5- Falar “eu te amo” para mim em coreano.
6- Ser um bom filho e ter um bom relacionamento com seus pais.
7- Goste de mim, mesmo se eu começar a gaguejar.
O sorriso esmorece do meu rosto e nem sei porque escrevi isso, mas
meus dedos praticamente se moveram por conta própria. Jogo o celular de
lado e volto a focar na televisão ligada.
Só queria que todos os traumas do meu passado me deixassem por
um tempo.
Leonard
Eu queria que você pudesse sentir o meu coração se agitar ao ver
você chegar.-Cora

Não sei o que acontece nas minhas horas vagas, simplesmente não
consigo parar de pensar em números, mesmo quando devo relaxar.
— Léo, venha aqui.
A minha mãe é sempre tão bonita, aquela aparência conservada que
as pessoas afirmam que, nós, asiáticos, temos.
— Há algo em que posso lhe ajudar?
— É que tenho notado você bastante impaciente nesses dias.
— Não consigo evitar, mãe, acho que sou a única pessoa que detesta
um dia livre.
— Acho que precisa de algo para desacelerar a mente.
— Me diga como…
— Uma mulher, Leonard!
— Não quero nada sério no momento.
— Você sabe que o meu sonho é ser avó.
— Mãe, nem pense em arrumar alguém para mim, estou muito bem,
solteiro.
Vejo o olhar de minha mãe, como se estivesse achando graça de
tudo. Houve uma vez que ela praticamente jogou a filha de uma colega dela
para mim.
— Só quero ver você feliz, filho.
— E eu estou feliz, tenho um emprego incrível e não moro tão longe
da minha família.
Bem nessa hora, o meu pai entra e minha irmã vem logo atrás dele,
ela sorri para mim e sei que escutou que acabei de falar.
— Hum…
E é verdade mesmo, amo a minha vida, e amo tanto o meu emprego
que penso nele até mesmo quando estou longe.
Meus pais são tão amorosos que me pergunto como deve ser amar
alguém tanto assim. Já a minha irmã, é uma daquelas adolescentes chatas e
“populares”.
— Querido, eu estava convencendo Leonard a sair com algumas
mulheres.
— Mas eu saio com mulheres.— tento soar o mais verdadeiro
possível, pois a última vez que fiquei com alguém já faz algumas semanas.
Não sou um garanhão…
— Você entendeu o que eu quis dizer.
A risada da minha irmã e do meu pai reverberam pelo ambiente e me
contagia.
— Uma hora o amor vai chegar para ele, querida, não se preocupe.
Só em imaginar nisso, sinto um arrepio, no momento, penso em
romance como se fosse algum tipo de vírus contagioso, e não preciso disso.
Imagine só como deve ser insuportável ter alguém nos seus pensamentos 24
horas por dia.
— A cara dele é a melhor!— Kim sorri e pega o seu iphone caro.—
Parece que é a pior coisa que pode acontecer.
— E de fato, é, não quero me apaixonar.
Entendo que a minha mãe queira netos, mas isso vai demorar
bastante, mesmo se eu achar a mulher dos meus sonhos. Sim, sou um pouco
romântico, mas nunca contei isso para ninguém.
— Não falo mais nisso.— Mamãe diz e ergue as mãos em sinal de
paz, mas sei que em breve os questionamentos continuarão.
Maior parte das pessoas, pensa que há uma ordem natural de
acontecimentos que traçam a vida, mas não acho que ninguém deveria se
casar quando outras pessoas resolvessem que estaria na hora. Deve ser algo
natural.
— A senhora não respondeu a minha pergunta…
— Que pergunta?
— Se precisa da minha ajuda…
Mamãe balança a cabeça e sorri. Anda bastante esquecida
ultimamente e isso tem me preocupado.
— Vá descansar um pouco antes que esse jantar saia, Leonard
Matsui.
Respiro fundo, mas acabo saindo da cozinha. Sei o quanto a minha
mãe gosta de cozinhar, então acho melhor me concentrar em qualquer outra
coisa nesse momento.
Pego o meu celular e coloco “Rockstar” de Post Malone para tocar.
Ultimamente, escutar esse tipo de música tem me deixado menos ansioso.
Antes que eu possa chegar no meu quarto, sinto uma mão se fechar
no meu cotovelo. Paro e vejo a minha irmã sorrir para mim.
Caramba, como ela cresceu… ainda ontem era apenas uma
criancinha! As vezes, sinto que estou ficando velho demais.
— Será que pode me ajudar com uma coisa, Léo? É
megaimportante!
— Houve algo que você não contou para a mãe ou para o pai?
— Relaxa, cabeção, só queria ajuda com essa foto…— Ela me
mostra o celular e desliza a tela, mas não vejo diferença alguma.
— E qual a diferença entre as duas?
— Dã, o efeito é completamente diferente.
— Para mim parece a mesma coisa, Kim.
— Aff, que saco! Vou perguntar para Lune, ela vai me ajudar…
E então, ela sai e eu me pego sorrindo.
Mais um dia normal na casa Matsui.
Cora
A vida é passageira, por isso que te peço, fica comigo enquanto
nosso para sempre durar.-Luke

Se tem algo que tenho certeza, é que a minha vida é completamente


sem graça. Okay, já disse isso antes, mas é verdade!
Sempre que vejo as pessoas no meio das ruas, de mãos dadas com
alguém ou pessoas bem resolvidas, que tem vários “contatinhos” sinto um
pouco de inveja.
Olho para mim mesma e vejo que todos os meus dias são tão
iguais…
Pego o meu “monstrinho rosa” que é como apelido carinhosamente o
meu carro, e vou até a cafeteria, a mesma coisa de sempre.
Fecho os olhos e desejo viver um romance arrebatador, daqueles que
eu costumo assistir, algo que me faça a voltar a ter paixão pela vida e não em
ficar dentro de casa apenas existindo.
Por favor, Deus, manda um homem extraordinário para mim.
Sim, eu sei que é um pedido ridículo, até porque tem muita gente
morrendo de fome e vive no meio de guerras, mas depois faço uma oração
especial para esses casos.
No meio do caminho, paro para comprar um donut, um daqueles
bastante recheados, mas ninguém pode me julgar, mesmo que eu ganhe uns
quilinhos a mais, vale a pena.
Chego na Lover e sinto como se o ar estivesse sobrecarregado. Com
certeza, algo aconteceu…
No entanto, isso não é motivo de surpresa para mim, pois Regina
tem uma péssima áurea e raramente está de bom humor, o que significa que
nós acabamos ficando mal também.
Ao ver Vic, meu sorriso se abre, a menininha abre os braços para
mim e me abaixo para abraçá-la, e eu fico feliz, mesmo que ela não apareça
tanto por aqui.
— Cora!
— Oi, lindinha, como você está?— Minha voz ai abafada pelos seus
cabelos cacheados.
Foi assim que nos tornamos amigas, ambas temos cabelos
cacheados, a única diferença é que sou ruiva e ela loira.
— A mamãe me deixou vir hoje.
O seu sorriso está tão radiante, que quase desejo ser criança
novamente.
Inspiro fundo e percebo que não há nada no forno, e isso me faz
franzir a testa.
— Você sabe onde está a Annie?
— A mamãe está chateada porque ela ainda não chegou.
Ah, isso explica muita coisa…
Vou até a cozinha e já sei o que me aguarda antes mesmo que ver
Regina quase soltar fogo pelas narinas.
— Ah, você chegou! Achei que fosse fazer a mesma coisa que a
irresponsável da Annie.
— Calma, Regina… ela não mandou mensagem, nem nada?
Começo a ficar preocupada em algo ter acontecido na casa da minha
amiga.
— Nem para avisar! Sinceramente, não sei o que faço com vocês.
— Mas o que eu tenho a ver com isso?
Havia uma época em que eu não rebatia as palavras de Regina, mas
atualmente, não dá mais para ficar quieta enquanto ela é insuportável.
— Não sei, comece a fazer algo, antes que a loja abra e não tenha
nada para vender.
Regina sai da cozinha, resmungando, como sempre faz e estou tão
tensa que relaxo os ombros.
Coloco a mão na cabeça e respiro fundo.
Olho para o meu celular e pela hora, sei que nenhum cliente pede
algo muito difícil, essa é a hora do café, então, não precisava de tanto alarde.
O sonho da minha vida é ter minha própria empresa e sair desse
lugar asqueroso.
Trabalhar aqui me deixa exausta, mas ganho muito bem.
Infelizmente, a ruiva aqui, não sabe administrar bem o dinheiro, pois
sempre gasta com comida e isso faz com que nunca sobre uma reserva no
final do mês.
Minutos depois, escuto a porta da cozinha abrir e Annie passar por
ela, o rosto pálido, e sei que escutou bastante da nossa chefe.
— Só me atrasei vinte minutos.
— Eu sei, eu sei, mas você já devia saber como a Regina é.
— A bateria do meu celular morreu, por isso não pude ligar.
— Não precisa me dar explicações, venha aqui…— Solto o que
estou fazendo e dou uma abraço nela, tomando cuidado para não melá-la.
— Oh, Cora, assim você vai me fazer chorar.
— A intenção não é essa, Annie, só quero te lembrar que quando eu
abrir a minha própria doceria, você vai ser tratada como uma rainha que é. Se
tem algo que eu tenho como essencial, é tratar as pessoas bem.
— Minha menina, espero que dê tudo certo.
— Tem que dar.
A melhor parte de trabalhar aqui, é ver Vic vez ou outra, mas não
posso viver assim.
Preciso mudar!
Vou começar a juntar dinheiro.
••
Não vou começar a juntar dinheiro.
As vezes sinto uma raiva enorme de mim mesma. É que eu vi uma
torta red velvet perfeita, e fiquei com desejo dela.
Comprar comida é algo que eu sempre faço e isso acaba com todas
as minhas reservas.
Mas agora, encarando essa delícia, quase não me sinto arrependida.
Quase.
Lembro de como Annie foi tratada hoje e me sinto muito mal, pois
simplesmente não entendo como alguém pode maltratar outra pessoa daquela
maneira.
Acho que nunca conseguiria e ninguém imaginaria uma ruiva
baixinha e toda trabalhada na cor-de-rosa, tratando alguém com grosseria.
Chego no elevador e as portas estão quase fechando quando alguém
coloca a mão e faz com que abra novamente.
— Boa noite.— É uma voz grave e bonita que me faz levantar o
rosto para encarar o dono dela.
E quase como se fosse a cena de um dorama, vejo um rosto asiático.
Fecho os olhos e os abro novamente para ter certeza de que não estou ficando
louca.
Não estou!
Demora alguns segundos antes que eu possa voltar a raciocinar
novamente.
O meu coração parece querer sair pela boca e eu me encolho no
canto, esperando ficar invisível desse ladinho da caixa metálica que é o
elevador.
— Boa noite.
Conheço esse rosto de algum lugar. O asiático também está me
encarando, fico sem jeito, até que o elevador faz um plim, mas não abre.
Nem sei o que fazer com a mão livre e definitivamente não sei o que
fazer quando as luzes apagam.
— Ah não…— Solto e me arrependo.
— Você tem claustrofobia?
Essa voz novamente…
Sinto minhas entranhas se contorcerem e sei que estou parecendo
uma virgem no auge dos seus vinte e cinco anos.
Não respondo e começo a apertar os botões, como se magicamente,
o problema fosse se resolver e o elevador fosse voltar a funcionar.
— Não, é que isso acontece quase sempre… infelizmente, eles não
consertam essa droga de elevador! Se um dia alguém morrer sufocado aqui
dentro…
Não sei porque as palavras não param de sair da minha boca, até que
eu me dou um tapa mentalmente e aperto os meus lábios com força.
Assim que ele se vira para mim, desvio meu rosto.
— Acho que te conheço de algum lugar.
Tento me manter imóvel, mas sua proximidade me deixa sem saber
como agir.
Minhas mãos se movem muito rápido e a torta quase vai para o chão.
Assim que consigo salvá-la, respiro fundo, como se minha vida dependesse
disso.
— Conhece? Acho que não.
— Fiz faculdade em Queens, acho que já te vi por lá.
Franzo a testa, e viro-me para ele novamente, o homem é tão alto
que tenho que olhar para cima.
— Também estudei lá.
— Meu nome é Leonard Matsui e o seu?
Por um segundo, tudo para.
Ai meu Deus!
Como eu não lembrava dele?
1) Tive uma quedinha por ele, assim que o vi pela primeira vez.
2) Skylar quase teve um caso como ele.
3) Ele é um dos coreanos mais lindos que já conheci.
Em minha defesa, ele está bastante diferente com esse terno caro e
essa pasta de homem de negócios na mão.
— Cora Powell…
Espero que ele não lembre de mim, mas assim que vejo algo passar
por seu olhar, sei o quanto estou ferrada.
— Como não lembrei de você? Como vai Skylar?
Talvez, por eu ser invisível demais por onde eu passe, sabe como é…
Sempre fui a mais quieta do grupo e sempre passei despercebida de
tudo. Sky era a beleza em forma de gente. Mia era incrível em tudo. E eu…
bem, eu cozinho.
— Ela está bem.— dou um sorrisinho sem graça.
É estranho estar em um elevador à meia luz, esperando que ele volte
a funcionar normalmente, com alguém que você acha super gato e teve
sentimentos no passado.
— E você? Continua cozinhando?
Não esperava que ele fosse lembrar disso, então sinto meu coração
dar uma pequena acelerada.
— Sim, e trabalho numa doceria bem famosa aqui perto…
É estranho ficar presa em um elevador com ele, e agora que sei
quem é, é como se eu não pudesse respirar.
— Bom saber, posso passar lá qualquer dia.
Sei que ele não falou com segundas intenções, mas meu coração
acelera novamente e eu apenas assinto.
Leonard olha para o bolo em minha mão e sorri, é o sorriso mais
lindo que já vi na vida, e sei que estou ferrada ao quadrado.
— Esse bolo vem de lá?
— Não, mas se a minha chefe descobrir, ela me mata…— Leonard
sorri e eu continuo — É que, tem uma loja de donuts que são simplesmente
perfeitos, então sempre que dá, eu passo por lá… e assim se vai o meu
salário… não sou o tipo de pessoa que economiza.
— Então, além de cozinhar, você gosta de comprar comida?
Dou de ombros e sorrio. Tento respirar fundo para controlar o
turbilhão de sentimentos que está se passando no meu coração, mas é bem
inútil.
— Sim, sei que parece idiota, mas as vezes não gosto da minha
própria comida.
— Assim que comecei a morar sozinho, pensei a mesma coisa.
— Não é?! A comida fica sem graça quando é você quem tem que
fazer. É como se você perdesse o paladar.
Leonard sorri e vejo as rugas de seu rosto se aprofundarem, isso me
faz sorrir também. Se ele soubesse o poder desse sorriso…
Ele está bem mais sexy agora, dá pra perceber que ainda tem o corpo
atlético(ou talvez mais, mas nunca saberei disso), olho bem para os olhos
puxados e em seguida para o nariz afilado, por último, sua boca cheia e solto
o ar pela boca.
Acho que ele percebe, mas o clima não demora muito, pois a luz no
elevador volta e com um solavanco, ele sobe e nos afastamos o máximo
dentro do espaço minúsculo.
— Então… Cora, nos vemos por aí?
A porta abre e é quando percebemos que estamos no mesmo andar, o
sétimo.
— Você também desce aqui?
— Sim…— Ele parece um pouco encabulado, algo que nunca pensei
sobre ele.
— E nunca nos esbarramos antes?
— Me mudei faz pouco tempo, e meio que vivo fora de casa,
então…
Isso explica muita coisa, pois nesse andar só tem três apartamentos.
Vou para um lado e ele para o outro, mas acho que nenhum de nós
quer se afastar.
Quero perguntá-lo como anda a sua vida, mas nunca tive tanto
contato com ele. Talvez seja apenas a minha carência por homens asiáticos…
Ou talvez, seja a minha ilusão por doramas, pois coisas assim não
acontecem na vida real.
— Boa noite, Leonard.
— Boa noite, Cora. Aproveite o bolo.
Dou a costas antes de falar alguma bobagem, que é bem típico de
mim e abro logo a porta do meu apartamento. Entro e fico encostada na porta,
sem saber como reagir depois desse “encontro” com o passado.
Meu coração está agitado e umedeço meus lábios que estão secos.
Não posso me permitir ficar apaixonada por alguém que já ficou com
a minha melhor amiga, é como se eu fosse uma fura olho. Tudo bem que Sky
está noiva, mas mesmo assim.
Fecho os olhos e sigo em direção ao meu quarto. Nem mesmo o bolo
perfeito está chamando a minha atenção, e só há uma coisa, depois dos
doramas que pode me distrair.
Conversar com as meninas.
Leonard
E toda vez que nos despedimos, deixo uma parte de mim com você.-
Leonard

“Aproveite o bolo.”
Sério que eu falei mesmo isso? Não estou acreditando em mim.
Quando me tornei um maricas?
Eu devia ter ficado calado, mas essas palavras simplesmente
escaparam.
Se meus amigos me vissem falar isso, teriam tirado sarro da minha
cara.
Caramba, pensar nos meus amigos me deixa triste, pois todos eles
parecem ter me esquecido, ou talvez eu que tenha deixado eles de fora da
minha vida depois que comecei a trabalhar arduamente.
Jogo-me na cama e pego o celular, preciso mandar umas mensagens
para os caras, ou vou acabar sozinho e sem ninguém para conversar nas
minhas horas vagas.
Abro a minha galeria e vejo várias fotos minhas e da minha família,
essas pessoas são tudo para mim.
Eu iria até o inferno por eles.
E é quando vejo uma foto dela, a grota que partiu o meu coração em
mil pedaços. Fecho meus olhos e o aperto no meu coração se acentua.
O nó na minha garganta só diminui quando eu choro.
Já amei mais do que é permitido e não sei se conseguiria dar o meu
coração novamente, nessa mesma intensidade.
Há riscos muito grandes quando amamos.
Cora
Todas as vezes que penso em você, um sorriso se estende pelo meu
rosto.-Skylar

— Gostei do look dessa garota.— digo ao ver a morena sair pela


porta rosa da cafeteria.
É o tipo de roupa que eu usaria, all pink e com mangas bufantes.
— Você deveria usar outras cores de roupas, Cora.
Apoio meu braço na bancada e coloco o queixo na palma da mão.
— Rosa é uma cor muito fofa.
— Existem outras cores fofas, talvez alguma que possa realçar os
seus olhos.
Dou uma gargalhada quando percebo que ela está mesmo falando a
verdade.
— Mas eu…— A fala fica presa no meio quando vejo um homem
alto passando pela porta, está com a camisa social e o terno em sua mão.
Incrivelmente sexy.
Acho que estou quase babando quando ele se aproxima de mim com
um sorriso no rosto, me deixando sem ação.
Ontem estava escuro, então não pude ver seu rosto tão bem quanto
estou vendo agora e é quando franzo a testa, pois não sei como, Leonard
Matsui achou o meu lugar de trabalho.
— Olá, bom dia.
Essa voz grave ainda vai me matar…
Annie nos observa com um sorriso bobo no rosto, e é claramente
porque ela sabe de minha paixão por asiáticos.
— Oi…
— Finalmente descobri onde você trabalha, Powell. Fiz uma
pesquisa de todos os lugares próximos do apartamento e fui em alguns antes
de entrar aqui e ver o seu belo rosto.
Meu cérebro ainda não captou tudo o que foi dito nesse último
minuto e sei que estou um pouco embasbacada por ele ter feito uma pesquisa
e ter me procurado pelas docerias do bairro.
E, novamente, o meu coração bobo está a mil por hora, e estou quase
babando por esse homem.
Preciso me recompor, urgente!
Se eu não me cuidar, posso acabar me apaixonando.
— Meu belo rosto?— Toco a minha bochecha e ele me observa com
uma carinha de menino travesso, dando um leve sorriso, que quase me faz
delirar.
— Queria experimentar algo feito por você…
— Tem certeza? Acho que depois você vai ficar desapontado.
— Eu duvido bastante, no entanto, talvez eu me arrependa.
Como assim, se arrepender? Não consigo não ficar ofendida e fecho
a cara.
— Como assim, se arrepender?
— De não ter experimentado algo feito por você, antes.
Esse homem quer me matar do coração?
Franzo a testa mais uma vez e é Annie quem interrompe a nossa
“conversa”.
— A Cora fez um sanduíche de brownie incrível, já saiu quase tudo!
— Então é isso que vou querer.
Leonard joga o terno caro nos ombros e acho que perco um pouco do
meu fôlego. Bato mentalmente na minha cara, pois preciso me recompôr mais
uma vez.
Não posso ficar como uma adolescente sempre que ele aparece com
esse sorriso e estilo incrível.
— Depois me confirme que é totalmente sem graça.
Ele sorri e dá uma piscadela para mim.
Acho que ele sabe o quanto me afeta, pois sempre fico sem reação.
Sem jeito. Sem palavras. Ou, quem sabe, com palavras demais.
— É somente quando nós mesmo cozinhamos, lembra?
— Eu havia esquecido esse pequeno detalhe.— Faço um gesto para
indicar isso e vejo um vislumbre de sorriso.
Leonard senta em uma das mesas e a cadeira parece minúscula para
ele, com suas pernas compridas. Ele olha para mim e me chama.
Até parece que minhas pernas estão bambas, mas consigo caminhar
como se nada estivesse acontecendo.
— Sente-se comigo, Cora.
— Mas…
— Eu te procurei, queria muito a sua companhia.
Sabendo que a chata da Regina não está por aqui nesse horário e
recebendo um aceno de cabeça de Annie, acabo sentando-me ao lado do
asiático.
— Achei bacana você ter me procurado.
Sei que obviamente ele só quer a minha amizade, o seu jeito
relaxado não nega, mas, mesmo assim, não consigo agir normalmente.
— Queria conversar, faz tempo que não encontro ninguém do
Queens.
Só isso basta para que eu pare de me sentir especial, está bastante
claro que ele só quer uma amizade de faculdade. No entanto, desde aquele dia
do elevador, sinto um desejo de ser amiga dele.
— Idem. E todas as minhas amigas moram longe de mim, é um saco
isso… quer dizer, eu tenho amigas aqui, não é como se eu fosse uma
solitária…
Quando vejo que já estou falando demais, paro e respiro fundo.
— Com certeza você tem…— ele me fita por um momento e me diz
— já te falei como seus olhos são bonitos?
Seguro a minha respiração, e umedeço meus lábios. Obviamente já
me falaram isso, mas faz tanto tempo que não escuto isso de um homem
interessante, que até me sinto zonza.
— Ainda não, mas obrigada.
E como se despertasse de um transe, ele balança a cabeça e bem
nesse momento, vejo Annie vindo com um prato pequeno e cor-de-rosa.
— Espero que goste, essa menina cozinha demais! — ela fala, com
um sorriso no rosto.
Anne me chamar de “menina”, me faz dar uma olhada severa para
ela.
Leonard dá uma olhada rápida para mim antes de voltar a sua
atenção para o brownie. O jeito que me olha, me causa um arrepio.
— Pelo cheiro, está incrível.
Assim que ele parte e leva o brownie até a boca, fico com medo de
ter colocado algo de errado na minha receita(tipo, sal em vez de açúcar) e
estragar esse momento.
Mas, assim que ele experimenta, com os olhos fechados e faz um
som audível de prazer, o meu medo vai para o espaço.
— Não só o cheiro, pelo visto.
No momento em que ele se inclina na minha direção, sinto o seu
cheiro forte me atingir com força. De repente, me sinto ainda mais zonza.
— Você está bem?
— Sim, sim. Só acho que a minha pressão caiu.
— Posso te ajudar?
E quando eu penso que não pode piorar, ele toca o meu braço e
respiro fundo antes de puxá-lo de volta.
— Eu tô bem, de verdade, acho que só fiquei sem ar por um
segundo, não é muito tempo, né?!
— Qualquer coisa, posso te levar ao hospital.
Eu passaria vergonha, pois o meu principal sintoma é desejo pelo
mesmo homem que quer me socorrer.
— Não precisa se preocupar, Leonard.
Dou o meu melhor sorriso e baixo a minha cabeça, deixando o meu
cabelo esconder o meu rosto.
— Esse brownie está divino, Cora. Aposto que deve receber elogios
todos os dias.
— Nem sempre… sou um pouco esquecida, então posso esquecer de
colocar algo na receita e tudo fica um desastre.
Leonard simplesmente sorri e é o melhor sorriso de todos. Me dou
um tapa mentalmente, por lembrar que ele é um cara legal, mas não me
olharia dessa maneira.
— O que importa é que esse está espetacular. O melhor brownie que
eu já comi em toda a minha vida.
É a minha vez de sorrir e sinto uma pontada no coração assim que
ele acelera.
Fala sério, quais as chances de um crush seu do passado
simplesmente aparecer e ainda por cima ser bacana? Eu não tenho essa sorte
e devo estar sonhando.
— Está triste?
— Eu? Não! Me desculpe. É que, as vezes fico aérea.
— Já sei três coisas sobre você: somos vizinhos, você é esquecida e
as vezes fica no mundo da lua.
É minha vez de abrir um sorriso e mais uma vez, baixo a minha
cabeça, pois não quero que perceba o quanto estou “corada.”
— Tá mais para o mundo da Cora.
Leonard acaba o restante do brownie e Annie retira o pratinho. Eu
meio que agradeço com um aceno e sei o quanto está amando todo esse clima
entre mim e Léo.
— Então, vizinha… nos vemos depois?
— Claro.
— Obrigado pela companhia e pelo brownie, estava perfeito.
E assim que ele se levanta, sinto como se meu coração estivesse
partindo em milhares de pedaços.
— Obrigada pela companhia, espero que volte mais vezes.
Conversamos mais um pouco e quando ele vai embora, desejaria que
o tempo não tivesse passado tão rápido.
Leonard
Não sei se algum dia já senti esse tipo de paixão, um que arrebata a
minha alma e me faz querer ficar junto todos os segundos possíveis.- Skylar

O que deu em mim?


Estou agindo de forma patética!
E daí se Cora Powell é gata pra caramba?
Sei que ela se parece muito com…
Mas, o jeito como ela fica tímida comigo é tão fofo que meio que me
deixa sem forças.
Procuro ela nas redes sociais e antes de segui-la fico nervoso, pois
não quero que pense que estou stalkeando ou algo do tipo.
— Quero sua amizade, Cora.— sussurro para mim mesmo e coloco
o celular sobre o peito, fechando os olhos.
No entanto, sei que não é apenas a amizade dela que eu quero.
Então, em vez de ficar confuso sobre meus desejos, abro os olhos e
vou para o banheiro. Tudo o que eu preciso para tirar Cora Powell da minha
mente é um tempo na academia.
••
Já fiz tudo o que eu deveria fazer hoje e ela não me sai da mente.
Talvez eu apenas queira ser um amigo. Talvez, saber que ela veio da mesma
faculdade que eu tenha acionado algo na minha mente.
Ou… talvez eu esteja interessado.
Mas, estou preocupado, porque sei que não devo brincar com os
sentimentos dessa mulher.
Simplesmente não posso evitar que ela se parece muito com alguém
do meu passado e que isso pode estar influenciando.
Eu não gostaria se Cora olhasse para mim e visse alguém do
passado. Gostaria que ela olhasse para mim e gostasse do que visse.
Vou tomar um banho e tirar a minha roupa de treino, suei tanto que
estou fedendo como um gambá… okay, essa comparação foi bizarra, não
estou fedendo tanto assim.
Fico um bom tempo debaixo do chuveiro, e é quando dou conta de
que Cora me fez pensar menos no meu trabalho e não sei se é bom ou ruim.
Escuto a campainha soar e meu coração dispara, pois não estou
esperando visitas e por alguma razão, penso que pode ser a ruiva que anda
nos meus pensamentos.
Procuro a minha toalha rapidamente e me seco na velocidade da luz,
colocando a primeira roupa que vejo pela frente, antes de disparar até a sala e
abrir a porta.
— Ah, oi.
Assim que vejo o rosto de Sheila, o sorriso desvanece. Essa vizinha
não sai do meu pé desde que ficamos uma única vez. Ela quis outras vezes e
eu sempre recuei.
— Fiz lasanha e vim te trazer um pedaço.
Observo bem a gororoba no prato em que ela estende, mas já que
teve o trabalho de me trazer, não vou fazer desfeita, por isso, o pego
gentilmente e tento um sorriso.
— Não precisava.
— Ah, eu fiz questão.
O jeito como Sheila gosta de acrescentar “ah” em cada frase sempre
me deixou um pouco irritado. O jeito como ela faz um biquinho que pensa ser
sedutor, também.
Parece um bico de pato…
— Enfim, depois eu devolvo o prato.
Assim que faço menção de fechar a porta, ela dá um passo e joga o
cabelo para as costas, inclina o seu tórax de maneira que os seios ficam mais
aparentes, e, bem… eu sou homem, né?
— Não quer me convidar para entrar?
Estou quase cedendo, quando o elevador abre a porta e vejo Cora
sair dele. Ela parece desolada e isso me deixa muito mal, nem sei o que
pensar nesse momento.
— Houve alguma coisa, Cora?
Ela não tinha percebido a minha presença até isso e vejo o momento
exato em que nossos olhos se encontram, é quase como se uma força nos
unisse.
Respiro fundo e ela tenta um sorriso, mas seus olhos não mentem, dá
para perceber que algo aconteceu, mas nem faço ideia do que pode
transformar alguém que é habitualmente feliz, nisso.
Sheila tosse e quebra todo o momento, e Cora olha de mim para a
mulher ao meu lado e balança a cabeça negativamente.
— Não é nada… boa noite.— ela passa por nós e segue para seu
apartamento.
Sheila responde educadamente, mas sei que só está interessada que
Cora saia do nosso caminho o mais rápido possível.
— Não estou no clima, Sheila.— Sussurro para ela, e sei que não
fica nada contente com isso, mas respeita e vai embora.
Não penso duas vezes e sigo até o apartamento de Cora, batendo
duas vezes na porta. Preciso saber como ajudá-la.
Prendo a respiração assim que ela abre a porta. Ainda está com a
mesma blusa rosa claro e suas bochechas têm um tom de rosa que é fofo.
Aposto que os caras devem cair matando para cima dela.
— Oi.
— Você não parece bem. Então, vim conversar, se quiser um ombro
amigo.— inclino o ombro e consigo arrancar um sorriso de seu rosto pela
primeira vez.— O meu é bem grande.
Cora abre a porta, como um sinal para que eu entre. Fico lisonjeado
por ela fazer isso, pois mal nos conhecemos.
— Obrigada por ter vindo, me sinto especial.
Ela me leva até o sofá e eu peço licença antes de sentar ao seu lado.
— Mas, com um rostinho desse, com certeza você é especial, Cora
Powell.
Ganho mais um sorriso e sou eu quem me sinto especial no
momento.
— Não precisava ter vindo ver como eu estava, não é como se eu
estivesse deprimida nem nada do tipo.
— Você está?
Cora baixa a cabeça, e nesse momento, parece bastante depressiva, o
que me preocupa.
— Acho que não, são apenas os problemas da minha vida.
— E posso saber quais são?
— Porque você é um ombro amigo, né?
— Com certeza.
Cora respira fundo e fecha os olhos antes de abrir a boca:
— É que eu nunca consigo guardar dinheiro, é um saco. Eu tenho
planos incríveis, mas não consigo colocá-los no papel.
De todos os problemas, nunca imaginei que fosse algo relacionado a
dinheiro.
— Achei que tivesse levado um pé na bunda.— Sorrio e vejo suas
bochechas ficarem ainda mais vermelhas.
— Eu? Mas como eu levaria um pé na bunda, se não saio com
ninguém?
— Agora você me deixou surpreso, como assim “não sai com
ninguém?”
Vejo Cora colocar as mãos no rosto, como se isso fosse diminuir a
vermelhidão, e o sorriso mais lindo que já vi, brota em seu rosto.
Simplesmente não consigo parar de olhar para ela. Até parece que
eu nunca tinha visto esse tom de vermelho.
— Isso é uma piada, correto?
— Claro que não, Powell, já se olhou no espelho hoje?
— Faz anos que não saio com ninguém, Leonard.
Agora, estou surpreso, nem sei o que falar.
— Isso é brincadeira, certo?
— Pensando bem, eu saí bastante com Annie e o marido dela.
— Aquela que trabalha com você?
— Uhum. Mas acho que eu meio que atrapalhei o lance com a sua
namorada…
— Quem? A Sheila? Claro que não, ela só foi me levar uma lasanha
ruim.
— Bem, ela está tentando conquistar você pela barriga.
Quase como um reflexo, eu olho para baixo e passo a mão pelo meu
abdome. Sorrio e balanço a cabeça.
— Powell, posso saber o que deixou você tão mal? Porque o
dinheiro é um problema?
— Não consigo guardar nada, e hoje recebi a conta do cartão de
crédito… eu sou uma negação.
— Esse é o problema?
— Sim.
— Aquele carro enorme e rosa é seu?
— Sim.— Responde, com um sorriso travesso e eu reviro os olhos
meio que brincando.
— Deve gastar muita gasolina.
— E gasta, mas não é só isso.
Umedeço meus lábios e sorrio mais uma vez, o jeitinho dela, meio
atrapalhado, meio meigo, me cativa mais a cada segundo.
— Sou todo ouvidos.
— Eu gasto muito com comida, Leonard, e não consigo me
controlar… como eu vou realizar os meus sonhos dessa maneira?
E meio que do nada, ela começa a chorar. Homens não são treinados
para situações como essas, então fico observando por alguns segundos, antes
de fazer a coisa certa e me aproximar um pouco mais dela.
— Não chore…— Passo a mão pelo seu ombro e fico meio sem jeito
de fazer mais alguma coisa.
E parece que assim que essas palavras deixam a minha boca, ela
chora mais. Eu, definitivamente, não sei como agir em situações como essa.
— O que eu faço com a minha vida? Eu ganho bem pra caramba,
mas gasto com comida todos os dias…— Sua voz está abafada pela minha
camisa.
— Comer é bom demais, eu não julgo.
Seus ombros se mexem quando solta uma gargalhada e é quando
percebemos o quanto estamos próximos, mas nenhum dos dois faz esforço
para se afastar.
— É bom falar quando tem um corpo atlético assim. Olhe para
mim… estou com uns quilinhos a mais.
— Não estou vendo eles, não deveria se importar.
Na verdade, fico um pouco animado demais ao ver os peitos de Cora
saindo do decote um pouco mais do que deveria. E, percebemos que o clima
fica cada vez mais pesado.
Nossas respirações começam a ficar entrecortadas e eu vejo o seu
rosto perto demais.
Não quero beijar Cora quando ela acabou de chorar nos meus
braços, pois sei o quanto está mal. Quero que me beije quando estiver feliz e
saiba o que está fazendo, e não vulnerável dessa maneira.
— Acho que eu vou melhorar quando for dormir.
É a minha deixa, por isso, me afasto devagar e levanto. Acho que
fazer isso nunca foi tão difícil para mim, quase dói fisicamente.
— Amanhã eu tenho um plano para você, Cora.
— Que seria?
— É surpresa, mas logo você saberá.
Ela franze a testa, mas acaba sorrindo. Com isso, descubro que ela
não é uma pessoa tão curiosa assim, ou me pressionaria para saber de mais
detalhes.
— Hum…
— Tenha uma boa noite, e se quiser um ombro para chorar, estou
bem perto.
— O-obrigada.— Ela gagueja levemente por causa do choro e fico
com vontade de abraçá-la, mas não posso fazer isso. Não agora.
— Não precisa me agradecer.
— Mesmo assim, obrigada.
— Tenha bons sonhos, Cora.
E saio do apartamento, com um sentimento de que fiz a coisa certa,
mas se Cora se sente assim regularmente, ela precisa de acompanhamento
terapêutico.
Cora
E, de repente, tudo mudou.- Cora

Já parou para pensar nas coincidências da vida?


Tipo, eu já vi uma reportagem em que o homem ficou a um segundo
da morte. Uma roda de caminhão invadiu a pista e quase o acertou.
Se ele tivesse saído de casa um segundo antes, não teria vivido para
contar a história.
Penso nisso, quando saio para comprar alguns ingredientes para a
cafeteria e começa a chover, não daquele tipo de chuva forte, mas aquela
garoa que deixa as pessoas resfriadas.
Vejo as pessoas correndo de um lado para outro, procurando abrigo,
enquanto eu, apenas aproveito o tempo e tomo cuidado para que as gotas não
caiam nos meus olhos.
É tão belo ver as gotas caírem lentamente e as luzes da cidade
refletirem a água pelo chão e pelo ar. Estou esperando o sinal abrir para poder
ir até o outro lado em segurança, mas há pessoas que se arriscam.
Já está de noite e eu estava levemente chateada por ter que comprar
isso no início da noite, mas agora, me sinto feliz.
De repente, não sinto mais a chuva na minha pele e ao olhar para o
lado, vejo que há um homem segurando o guarda-chuva na minha direção.
Os olhos puxados quase me fazem suspirar, pois ele é coreano, e
bem… vocês, leitores, sabem da minha obsessão secreta por eles. Ninguém
pode me julgar por isso.
— Na minha cultura, não podemos deixar uma mulher bonita levar
chuva.
O sotaque carregado é a coisa mais perfeita do mundo. Não faço
ideia de onde esse homem brotou, mas sou grata por ter saído agora.
— Obrigada.— Tenho certeza absoluta que estou parecendo um
tomate de tão vermelha. Principalmente o meu cabelo.
O sinal abre e começo a caminhar. Para a minha sorte, o bonitão vem
ao meu lado, está sorrindo para mim e isso me deixa constrangida, pois não
sei como agir.
Quando chegamos do outro lado da rua, nem sei oque fazer e isso
faz o meu coração disparar e a minha respiração fica entrecortada.
— Para onde você vai?
— Aqui perto, então não precisa se incomodar.
Sei que a minha voz ficou estranha, então clareio a garganta.
— Mas a chuva está ficando cada vez mais forte.
É verdade, mas nem o conheço e isso não é um conto de fadas, então
ele pode ser um louco qualquer, que busca vítimas indefesas nos sinais.
— Pode ficar tranquilo, mas, de qualquer forma, obrigada.
— Sinto-me mal de deixar você sozinha nessa chuva.
— Já estou acostumada.— Dou de ombros e começo a andar, mas
ele não deixa.
— Então, pelo menos me deixe te deixar em algum lugar.
A insistência dele me faz bufar, mas acabo concordando, então,
perto da cafeteria, peço para que ele pare em um lugar onde posso esperar a
chuva diminuir.
— Sei que isso vai soar muito clichê, mas você vem sempre aqui?
Atrevo-me a olhar descaradamente para ele e cruzo os braços,
mesmo com o peso da sacola de compras. Somos adolescentes por acaso?
— Venho, sou dona de uma cafeteria aqui perto.— só nos meus
sonhos, mas tudo bem, isso em breve será uma realidade.
— Sério? Achei que você fosse do tipo que cozinhasse…
— Foi um comentário machista?— sinto uma raiva queimar dentro
de mim por ter sido rapidamente iludida por esse rostinho coreano.
As aparências enganam… ainda mais se você gostar desse tipo de
aparência.
— Me expressei mal, perdão.
Se isso fosse um dorama, esse cara seria do tipo bonzinho por fora,
mas um chato por dentro.
— Pode ir embora, a chuva já está quase passando.
— Está esquisito, e se alguém aparecer e querer te assediar?
— No entanto, você está aqui e isso está parecendo muito com um
assédio, pois não quer me deixar em paz.
— Não havia percebido isso… não foi o que eu quis, só quis parecer
educado.
Solto o ar e ele parece estar sendo sincero. Só porque gosto de
assistir doramas, não significa que eu sei como conhecer os coreanos.
— Acho que vou embora daqui, e obrigada pelo guarda-chuva.
— Por nada, e boa sorte com a cafeteria.
Com uma última olhada, fico ressentida ao pensar se fui mal
educada com ele, mas não vou pedir desculpa para homem nenhum por me
defender, então fico calada e sigo o meu caminho.
No entanto, ele é um coreano muito bonito e clareou a minha vista
por um bom tempo.
E, falando em coreanos, lembro que Leonard vai fazer uma surpresa
para mim e isso faz o meu coração disparar de zero a cem, numa velocidade
impressionante.
Chego na cafeteria e vejo uma Anne sorridente.
— O que houve para esse sorrisinho bobo?
— Olhe só para você, vá colocar algo quente, ou vai ficar doente.
Balanço a cabeça, mas acabo indo em direção aos banheiros, onde
temos roupas reserva. Porém, antes de ir eu franzo os olhos para ela e digo:
— Não me contou do sorrisinho…
— É, que Regina parece estar de bom humor hoje, então, eu também
estou.
— Uau, isso é bem raro.
Nós duas sorrimos, pois isso é de fato, um acontecimento anual.
Cora
Nunca aceite menos do que você merece.- Skylar

Estou terminando de arrumar as coisas, quando vejo um último


cliente entrar e para a minha falta de sorte, veja só, é Leonard. E não me
entenda mal, ele é um colírio para os meus olhos, mas o meu coração não
sabe diferenciar gentileza com flerte.
— Boa noite, pensei em irmos juntos para casa. Passei aqui mais
cedo, mas você não estava.
Talvez, isso explique porque Regina estava de bom humor.
— Você não veio de carro?
— O meu está na oficina, então pensei em encontrar você e
voltarmos juntos.
Dou um sorrisinho sem jeito, pois vai ser um longo caminho até em
casa…
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Regina aparece, com seus
cabelos perfeitos e bem cuidados.
— Olá, boa noite, você voltou…
O jeito como a voz dela está doce, me surpreende, porque ela não
costuma ser assim.
— Consegui achá-la.— Léo aponta para mim e não consigo
compreender o que está havendo aqui nesse exato momento.
— Ah, sim, que bom.— A voz dela, claramente perde a alegria e até
parece que está com… ciúmes?
O clima fica muito estranho e eu começo a caminhar em direção de
Leonard, percebendo o sorriso sincero em seu rosto.
— Vai me contar a surpresa no caminho?
Leonard semicerra os olhos e não sei bem se é um sim ou um não, e
é bem esquisito estar junto dele. Ontem eu perdi a noção e comecei a chorar,
foi bem ridículo, mas não consegui controlar.
Tenho cada vez mais certeza de que preciso muito de ajuda
psicológica.
Respiro fundo e seguimos até onde o meu enorme carro rosa está
estacionado. Fico com vontade de rir quando vejo o rostinho de Leonard
encarando o meu monstrinho.
— O que foi? É rosa demais para você?
— Muito rosa. Posso fazer uma pergunta?
Entramos no meu carro e vejo ele inspirar profundamente, sentindo o
perfume do meu cheirinho de rosas(da flor, para que fique bem claro).
— Já está fazendo uma, né?
— Por que esse amor todo pela cor rosa?
Dou partida no carro e reviro os olhos, já me perguntaram isso
milhares de vezes, e a resposta é sempre a mesma, a verdade:
— Minha mãe gosta da cor e sempre colocou na minha cabeça que é
uma cor feminina.
— Então, é basicamente, porque você tem medo de parecer
masculina?
— Olhe, a minha família é bem complicada…
— Se não quiser falar, tudo bem.
Não tem nenhum problema falar alguns detalhes da minha vida
caótica. Na real, acho que vai me fazer bem, por isso, eu expiro e começo:
— Não tem problema, é só que, meu pai é o tipo de pessoa bem
homofóbico e machista, então, não suportava me ver com outra cor de roupa,
por isso acabei me acostumando.
— Meu Deus, Cora, você já falou isso para alguém?
— Somente para as minhas melhores amigas, mas não tem
problema, eu realmente gosto dessa cor.
— Talvez isso não te faça bem mentalmente, sabe?
Eu sei disso, mas não consigo me desprender da cor rosa, até a
cafeteria que eu trabalho tem essa cor. É quase como uma maldição, mas toda
vez que eu tentava usar alguma cor que é dita como masculina, me sentia
mal.
— Quem sabe? Qualquer dia desses, vou tentar usar outra cor.
— Aposto que você vai ficar bem linda, e feminina.
Dou uma risada, pois essa frase não faria sentido se eu não tivesse
passado por um inferno na minha vida.
— Tá bem, te contei algo sobre a minha família, me conte sobre a
sua…
— Tenho uma irmã e amo a minha família, eles são incríveis, tenho
certeza que amariam você.
Quase pergunto a razão de eles me amarem, e isso faz com que o
meu coração bobo comece a imaginar um milhão de possibilidades.
— Posso te levar lá qualquer dia desses.
Fico quieta, sem saber como agir, pois sei que é estranho levar uma
“amiga” para a casa dos pais, e fico me questionando se ele não quer algo
mais sério comigo.
Óbvio que não, sua boba, ele quer a sua amizade e isso inclui passar
um dia com os pais dele!
— Okay. Porque não?
— Está tudo bem? Falei algo que não deveria?
— Não, fica tranquilo, não sou um cristalzinho frágil… na verdade,
sou muito forte. A quantidade de queimaduras que eu levo todos os dias é
impressionante, sabia? Eu aguento sofrimento!
— Ninguém falou em sofrimento, Cora.— Leonard sorri e eu faço
uma careta para mim mesma, por falar besteira demais ao ficar nervosa.
— Só disse que não precisa agir como se eu fosse frágil.
— Eu sei que você não é, mas fiquei com medo de ter acelerado
demais as coisas.
Acelerar as coisas demais… meu coração reage acelerando mais
uma vez.
— Relaxa, somos adultos, não é como se a sua mãe fosse me
empurrar para você…
Certo?
— Ah, você ainda não conheceu as mães coreanas, Cora. A minha é
louca para que eu me case e tenha filhos.
— Filhos, no plural?
— Sim, e eu nem sei se quero tudo isso.
Por alguns segundos, eu suspiro, eu sempre fui muito sonhadora e
coisas que são besteira no século XXI, para mim, são como sonhos se
tornando realidade.
— Eu sou o tipo de pessoa que gosta de viver a moda antiga. Quero
tudo isso… casamento, filhos, cuidar de uma casa grande, ter a minha família
feliz… mas sei o quanto isso é utópico no mundo de hoje.
— Por que acha isso?
— Olhe ao seu redor, Leonard, as pessoas vivem por algo passageiro
e o que eu sonho é quase impossível.
— Não acho que seja, talvez exista alguém que pensa igual a você. É
um mundo bem grande…
— Bem, maior parte das pessoas pensa como você, sem querer filhos
e casamentos, mas eu acho que isso é a maior benção da vida.
— Uau, você é mesmo uma mulher diferenciada, Cora.
— Falei demais, não é mesmo? Me desculpe.
— Não se desculpe por ser genuína.
— Só falei a verdade, eu sempre quis começar a minha própria
família… o meu próprio negócio… e sou um desastre em ambos.
— Talvez você só precise olhar mais ao seu redor.
Penso em olhar para ele, mas não posso tirar a atenção do trânsito,
além disso, estamos quase chegando no prédio.
— Todas as minhas amigas dizem isso! Mas, tenho medo de sair da
minha zona de conforto.— Acho que nunca havia sido tão sincera assim,
antes, nem mesmo para mim mesma.
Vivo repetindo que gosto da minha vida, que gosto de ficar em casa
enquanto todo mundo sai, mas é uma mentira e eu sei disso. Preciso de algo e
não sei bem como começar a procurar.
— Me desculpe, eu acabei desabafando demais, Leonard…—
Continuo, antes que ele possa falar alguma coisa.
— E mais uma vez pedindo desculpas…
— E já ia pedir novamente, é puro instinto. Mas, me diga qual a
surpresa que havia preparado para mim.
E, enfim, chegamos na portaria do prédio. Desligo o carro e relaxo
no banco do motorista. O meu cabelo espeta o meu pescoço, e eu o jogo para
o lado, deixando o ombro a mostra.
— Quero fazer uma planilha para os seus gastos, e assim você vai
conseguir organizar o seu dinheiro.
— Sério? Você faria isso por mim?
— Claro que sim. Fiquei muito mal em te ver daquele jeito.
— Isso não acontece sempre, okay? Não quero que pense que eu fico
chorando o tempo todo.
— Na real, Cora, acho que você se isola no próprio mundo e isso
não faz bem para os seus sentimentos.
— Tem certeza que você cursava matemática? Tá parecendo um
psicólogo falando…
— Meu diploma diz que sim…
Sorrimos, mas sei que ele tem razão. Sempre me isolo bastante no
meu mundo e acabo ficando sozinha. As minhas melhores amigas, têm os
seus namorados, mas eu, fico em casa nos finais de semana, comendo sozinha
e assistindo doramas.
É quase triste, quando paro para pensar.
— Mas, você tem razão, preciso sair dessa e montar o meu próprio
negócio.
— Sei que você consegue, Cora!
— É, que, maior parte das vezes, penso que não vou conseguir…
E, sem motivo nenhum, começo a chorar, as lágrimas caem
silenciosamente até as minhas mãos e baixo a cabeça. Mais uma vez,
chorando na frente do homem que eu tenho uma paixonite adolescente.
Leonard, não diz nada, apenas segura a minha mão e acaricia
levemente os meus dedos com o seu polegar.
— Nem sei porque estou chorando, desculpe.
— Você não fez nada para se desculpar.
— Tem razão.
Não sei o que está acontecendo comigo esses dias, não sei o que
fazer para tudo isso passar.
— Cora, vou te ajudar a fazer isso dar certo, mas tem que prometer
que vai se empenhar, certo?
Fungo e assinto.
— Vou tentar ao máximo, e mais uma vez, obrigada por ser um
ombro amigo.
— Se precisar é só me chamar, estou bem perto.
Por obra do destino ou do que queira chamar, está sim, bem perto de
mim.
Leonard
Você me deixa leve.- Mia

Estou fazendo uma pesquisa sobre depressão enquanto tomo o meu


café da manhã, pois tenho quase certeza de que Cora está precisando de
acompanhamento profissional.
Já tive amigos que estavam passando por um momento difícil e deve
ser angustiante, mesmo que eu nunca tenha passado por isso. Parece que a
dor interior, supera a exterior e por isso, muitos deles se cortam.
Isso não é vida!
1- Mudanças de humor.
Essa, eu nem preciso pensar muito, pois, em um dia, ela está
sorrindo, com aquelas bochechas rosadas e fofas, no outro dia, ela está
chorando sem razão aparente.
2- Isolamento social.
Outro ponto que tenho observado, pois pelo que eu percebo, ela é
bem solitária, no entanto, não tenho certeza, ainda não passei tanto tempo
com ela para saber disso.
3- Choro excessivo.
Nem preciso comentar esse.
4- Fome excessiva ou a falta dela.
Esse, ela mesmo me disse que não conseguia passar em um lugar
sem comprar comida, algum tipo de compulsão.
Desabo na minha mesa de escritório e fico pensando se posso ajudá-
la de alguma maneira, pois tenho quase certeza de que Cora está depressiva.
Será que ninguém está percebendo que ela está pedindo socorro?
Passo as mãos pelo meu rosto e fecho a aba de pesquisa.
Quero dizer a ela que eu percebi isso e que estou com ela para o que
precisar, afinal, é isso que fazem os amigos.
Hoje é sexta-feira e meu primo vem almoçar comigo, mas ainda não
fiz nada, nem estou tão a fim de cozinhar, para ser sincero. Então, ligo para
ele e peço para que passe em algum lugar para comprar e o reembolso.
Fico trabalhando nos meus cálculos, até que nem percebo a hora
passar, quando escuto uma batida na porta.
— Já estou indo!
Ao abrir a porta, tomo um susto, ao ver que é Cora quem está
olhando para mim. E eu achei que fosse o meu primo com o nosso almoço.
— Oi.— sua voz está normal, sem indícios de choro e fico feliz por
isso.
— Oi, quer entrar?
Ela assente e eu indico o meu sofá para que sente.
— Me desculpe aparecer sem aviso prévio, mas queria te convidar
para algo.
— Já estou grato mesmo antes de saber.
— É que, vai ter um evento de cozinha e eu não queria ir sozinha
nesse ano, quer dizer… eu sempre vou com a Annie, mas queria ir com outra
pessoa…
— Não precisa me pedir duas vezes, eu vou.
Ela solta o ar que estava prendendo e parece de fato aliviada, como
se eu fosse dizer que não.
— Muito obrigada, é que… acho que as pessoas pensam que eu sou
uma garota solitária… não que as pessoas me percebam nos lugares, mas…
— Tudo bem, Cora, não precisa se preocupar com o que as pessoas
vão dizer e eu fico grato por ter pensado em mim.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, antes de eu perceber que
ela está ficando sem jeito.
— Bela blusa.— Fiquei tão absorto na nossa conversa, que não havia
percebido a cor azul, contrastando com o rosa de sempre.
— Resolvi seguir o que você disse, e vestir uma cor diferente.
Comprei essa blusa faz um tempo e nunca consegui usá-la, mas gostei de
como ficou na minha pele.
— Ficou linda, Cora.
De repente, olho para a sua boca rosada e fico tentado e me inclinar
em sua direção, para beijá-la e saber se esses lábios são tão macios como
parecem.
Sinto que ela percebe a tensão ao nosso redor e definitivamente está
querendo me beijar também, pois vejo seus olhos baixarem até a minha boca.
Se nós dois queremos, porque não fazer isso?
Começo a me aproximar, sentindo a sua respiração acelerada e o
calor de sua pele emanar para a minha, até ficar insuportável estar tão perto
dela.
No entanto, há uma batida na porta e nos assustamos.
O rosto de Cora fica muito vermelho, o que indica que está muito
envergonhada.
Levanto-me frustrado e vou atender a porta, e desta vez, é de fato o
meu primo, com uma sacola na mão.
— Não sabia exatamente o que trazer e como você não estava
atendendo a droga do seu celular, preferi trazer tudo…
Saio do caminho para que ele entre e ao me virar, vejo que toda a cor
anterior, saiu do rosto de Cora e é como se ela estivesse vendo um fantasma.
— Você aqui?— Diz Brendan e eu franzo a minha testa.
Se Brendan chegou aqui a pouco tempo, como os dois se conhecem?
— Não sabia que vocês dois se conheciam…
— Não nos conhecemos de fato, ele só me ajudou a não pegar chuva
um dia desses.— Cora olha de mim para Brendam, com um olhar assustado.
— Hum, parece que o meu primo aqui foi um cavalheiro!
— Eu nunca deixaria uma mulher bonita levar chuva e ficar doente
depois.
— Você quase ultrapassou todos os limites naquele dia e eu nem
sequer sei o seu nome.— Cora parece estar um pouco mais atrevida, agora
que toda a tensão inicial passou.
— Você não entendeu que eu queria ser educado?
Fico quieto, enquanto os dois pombinhos discutem. Não sei como
em menos de dez minutos, tudo mudou. Eu estava quase beijando Cora
Powell e agora, ela está discutindo com o meu primo, na minha casa.
— Não estava parecendo educação, mas o que passou, passou.
— Quer almoçar conosco, Cora?— pergunto educadamente, já que
temos comida de sobra.
— Acho melhor não, só vim fazer o convite para você, agora preciso
ir, tenho coisas a resolver.
— Você tem uma cafeteria, certo? Pode me dar o endereço para ir lá
depois? Agora você já sabe que não sou um assediador.
— Preciso ir embora, tipo agora.
Não acredito que ele pensa que Cora tem uma cafeteria, então, ela
mentiu para que ele desse o fora? Essa história fica cada vez mais
interessante.
Cora, vai embora sem nem olhar para trás e eu fico sem entender
como isso foi acontecer. Preciso urgentemente de mais detalhes.
— O que foi que acabou de acontecer?
— Essa mulher é a mesma que te falei naquele dia…
Meu coração acelera, quando lembro do que ele comentou comigo
uma outra vez. Não consigo acreditar que ele está interessado na minha Cora.
Minha Cora…
— Não brinca com ela, cara…
— Eu não brincaria, essa mulher é diferente, especial. Queria que
tivesse visto, ela parecia encantada com a chuva, Leonard!
— Nunca imaginei que fosse Cora…
— Até o nome dela é lindo… ela te convidou para onde?
— Um lance de cozinha.
— Cara, se não quiser ir, pode deixar que eu vou.
Ah, mas com certeza, eu irei.
— Não tem nada acontecendo entre vocês, né? Tenho você como um
irmão!— continua quando vê que eu fiquei quieto.
— Somos apenas amigos.
— E é exatamente assim que começa um relacionamento.
Faço um sinal como se isso não fizesse diferença para mim, mas faz
bastante.
Eu quase a beijei e agora estou desejando sentir aquela boca na
minha tão quanto preciso respirar.
— Sei disso… mudando de assunto, vamos comer, estou morrendo
de fome.
E realmente estou, e fico grato quando o assunto morre aqui.
Cora
Dançar loucamente, é uma coisa muito gosta de se fazer.- Skylar.

Chego em casa, ainda abalada, pois não é possível que o coreano


bonitão seja primo de Leonard. A genética dessa família é espetacular, um
homem mais gato que outro.
Encosto na porta e fico pensando no quase beijo que aconteceu entre
mim e Léo. Em um instante, nós estávamos conversando, no outro estávamos
quase nos beijando.
Era uma energia tão surreal que agora me sinto frustrada por não ter
acontecido.
Aquela boca deliciosa dele me fez suspirar desde a primeira vez que
o vi. Sempre o observei a distância e ele nunca me notou, e agora, quando
finalmente íamos nos beijar(para quem sabe, acontecer algo a mais… e não
me julgue por ser uma safadinha!), o primo dele empata.
Por que a sorte nunca está ao meu favor?
Meu telefone toca e atendo rapidamente quando vejo que é Mia. Faz
um tempinho que não conversamos, por causa do nosso tempo apertado,
então, fico tão animada que o meu coração acelera.
— Oi, amiga!
— Cora, já liguei para Sky e agora estou te ligando para contar a
novidade.
A sua voz está tão agitada, que me pergunto a razão para tanta
felicidade.
— Pode dizer, agora estou curiosa!
— Estou grávida!
Quase caio para trás, pois isso era algo que nunca imaginaria.
— O quê? Parabéns, amiga, você merece isso e muito mais!
— Não era o que eu queria nesse momento, mas eu e meu
amorzinho estamos muito felizes. É a oportunidade de mudar para uma casa
maior.
— Que incrível, Mia!
Meus olhos enchem de lágrimas e não sei a razão, acho que estou
um pouco emotiva demais esses dias.
— Estou chorando de felicidade.
— Oh, amiga, obrigada, sei o quanto você gosta de crianças, vai ser
uma ótima madrinha para o meu bebê…
Eu ouvi bem? Madrinha? Ai meu Deus!
— Quer que eu seja a madrinha do bebê?
— Claro que sim! Você e a Sky são as minhas melhores amigas,
quero vocês duas envolvidas com essa criança.
— Ainda não estou acreditando nisso, cara, é demais para absorver.
— Calma, respira, você não tá respirando!
E não estou mesmo, então, paro e respiro fundo.
— Mia, sei o quanto você está feliz, mas estou me sentindo mal
esses dias, preciso comentar com alguém.
O tom dela muda automaticamente, sabe que para eu falar, a coisa é
séria.
— O que houve? Alguém do trabalho está te pressionando?
— Não é bem isso… quer dizer, a minha chefe é péssima, mas não é
isso.
— Me conte tudo.
E então, eu conto, como me sinto na maior parte dos dias, a tristeza
que me tira a vontade de viver e que, eu sinto vontade de chorar o tempo
inteiro.
— Cora… você está com sintomas de depressão, precisa achar uma
ajuda.
— Nem quero sair de casa, não sinto vontade de nada.
O nó em minha garganta aumenta e minha voz fica bastante trêmula,
é insuportável viver assim. Primeiro, achei que fosse a pressão do trabalho,
mas depois, percebi que em todos os momentos, sinto como se fosse faltar o
meu ar.
— Cora, assim você me deixa preocupada.
— Não! Não quero te preocupar, você está grávida! Só queria
desabafar mesmo, para ver se passa.
— Não vai passar, amiga! Você precisa de terapia, todo mundo
precisa.
Fecho os olhos, e lembro das palavras do meu pai, quando uma vez,
a minha mãe foi ao terapeuta. “Você está louca de vez!”
— Acho que estou enlouquecendo, Mia.
Olho para as minhas mãos e sinto o quanto estão frias, até parece
que estou em eterno alerta, como se algo muito ruim fosse acontecer a
qualquer momento.
— Você é um ser humano, Cora. E precisa urgente procurar ajuda,
eu posso dar conselhos de amiga para amiga, mas não posso curar o que está
sentindo.
— Eu sei, já até me sinto melhor ouvindo isso.
Sei que não estou sozinha no mundo.
— Promete que vai procurar ajuda e ficar bem?
— Prometo. Não quero te deixar preocupada comigo.
— Eu sempre fico preocupada com quem é importante para mim.
E, depois dessas palavras, sei que há pessoas que se importam de
verdade comigo.
Cora
Algumas pessoas merecem o mundo todo para elas.- Damon

Estou em casa, comendo uma pipoca e aproveitando a minha própria


companhia, quando escuto batidas e mais batidas na minha porta.
Até fico um pouco assustada, pois, a pessoa está desesperada.
— O que houve?!— digo assim que abro a porta e vejo Leonard com
um sorriso travesso no rosto.
— É urgente, preciso te levar para um lugar.
— Como sabia que eu estava de folga hoje?
— Digamos que eu tenho os meus contatos.
— Não me diga que fez amizade com Annie e ela já te contou todos
os meus podres…
— Tão esperta… vamos logo, ou vai perder!
— Estou de pijama, Leonard!
Ele franze a testa e sorri, é sempre tão lindo que o meu coração
acelera. A proximidade dos nossos corpos me deixa em alerta.
— Você passa o dia todo de pijama? São três horas da tarde.
— É confortável.
E realmente é, ninguém pode me julgar, pelo menos eu tomei banho.
— E aí, vai ou não?
Reviro os olhos e dou de ombros, já estou ansiosa, pois sair de casa,
com o homem que faz o meu coração disparar é demais para mim.
Respiro fundo e corro até o meu quarto, colocando a primeira coisa
que acho pela frente. É um cardigã rosa choque, com bolinhas brancas e uma
calça jeans rasgada.
— Para onde vamos?— digo ao voltar para a sala e encontrá-lo
sentado confortavelmente no meu sofá branco.
— É surpresa, e ainda bem que você foi rápida.
— Sempre sou rápida.— dou de ombros e sorrio.
Leonard levanta e segura a minha mão, fico estática por causa do
contato quente dos nossos corpos e mal fecho a porta do meu apartamento
quando ele corre comigo para dentro do elevador.
••
— Todo esse suspense para me trazer aqui?
Observo o parque cheio de árvores e inspiro fundo. Mesmo que seja
pertinho de casa, faz um tempo que não passo por aqui.
— Acho que você está precisando de algo assim na sua vida.
— O quê? Levar um susto do meu vizinho no dia da minha folga?
Quando foi que eu fiquei com a língua tão afiada assim?
— Não, relaxar e ver a cor do céu, sem ter que se preocupar com
nada.
Baixo os ombros e percebo que faz tempo que não faço coisas
normais. Só fico na minha casa, esperando algo acontecer, e nunca acontece.
— Não sei o que está havendo com a minha cabeça, as vezes, estou
fazendo algo e a ansiedade ataca, o meu coração acelera e eu fico com
vontade de chorar.
— Acho que você está com depressão, Cora.
— A minha melhor amiga disse o mesmo… ela me contou que
estava grávida e a primeira coisa que eu fiz foi chorar, mas não acho que foi
somente de emoção.
— Isso é um dos sinais.
— Faz um tempo desde que não me sinto feliz de verdade.
— Tipo genuinamente feliz?
— Sim, mesmo quando as coisas estão dando certo, eu fico triste.
Leonard para de caminhar e me abraça, fico um pouco sem jeito no
início, mas depois envolvo o seu corpo também, quase nem consigo respirar,
para que ele não se afaste.
— Está triste agora?
— Nesse exato momento, não, mas a qualquer momento, posso
desabar novamente.
E, então, ele passa a mão pela juba que é o meu cabelo, me
tranquilizando, só por isso, me sinto tão acolhida que sinto vontade de chorar,
mas Leonard já me viu desabar o bastante.
— Você não vai, tá certo? Vamos ter uma tarde incrível.
Assinto e ele se afasta, deixando o ar frio bater na minha pele e me
fazer estremecer levemente.
— Ta bem, eu acredito em você.
Fecho os olhos por um pouco mais de tempo do que o necessário e
depois continuamos a caminhar.
—O que te fez mudar para aqui?— pergunto, quando percebo
que estamos ficando sem assunto.
— Quis ficar perto dos meus pais e por coincidência, achei um
emprego de que gosto bastante.
— Que sortudo…
— E você?
— Gosto daqui e também tenho um emprego que gosto.
— Mesmo com a sua chefe horrível?
— Ela é um pé no saco, mas, pelo menos eu ganho bem e posso
cozinhar.
— Acho que lembro de uma vez que fomos a uma festa e você
cozinhou algo para levar…
— Ah, não me diga que lembra que eu fiz quase todo mundo ter dor
de barriga.— interrompo, pois só de lembrar fico constrangida.
— Eu lembro sim, mas você sempre foi muito quieta.
— Ao lado de Skylar, realmente.— sorrio ele me acompanha.
— Mas, você sempre chamou a atenção dos caras.
— E nenhum nunca chegava em mim, então, não tem valor nenhum.
Sempre fui muito bonita, mas sempre ficava pelos cantos, então,
sempre presumiam que eu fosse péssima de cama(só para constar, já ouvi um
cara me dizer isso) e uma garota tímida.
— Você é linda, Cora Powell.
— Mesmo com todo esse chororô? Acho que fico horrível quando
choro.
— Na verdade, não. O seu nariz fica bem vermelho e suas bochechas
acompanham a cor, é bem fofo, para ser sincero.
— Ah, pare! Ninguém é bonita chorando.
— Acredite em mim quando digo que você é.
Balanço a cabeça, pois, sei que só está sendo legal comigo, mas sou
feia demais chorando.
— Okay, vou fingir que acredito.
Sorrimos e eu inspiro fundo o ar puro.
— Está com fome?— ele muda repentinamente a pergunta.
— Um pouco…
E, de repente, Leonard está me puxando e estamos correndo em
direção a uma barraca de cachorro quente.
— Gosta?
— Uhum.
Ele compra dois e insiste em pagar, o que faz com que eu acabe
aceitando.
— Eu deveria ter pago para nós dois…
— Por que?
— Gosto de pagar as coisas.
— E é por isso que precisa de mim, para te ajudar com as finanças.
— Será que eu vou conseguir me controlar?
— Vai sim, vamos fazer isso, juntos.
— Nem sei como te agradecer.
— Sua amizade já é o melhor agradecimento.
— Você é fofo, Leonard.
— Ta aí, uma coisa que nunca me disseram antes.
Nós dois sorrimos, e fico feliz pelo quanto posso ser quem eu sou
quando estamos juntos. Ele gosta de mim da minha maneira.
Comemos em silêncio e, desta vez, não preciso falar nada, pois me
sinto confortável. Olho para o céu e sei que daqui a algumas horas, o sol vai
se pôr, trazendo uma paz gostosa dentro de mim.
— Gosto de vir por aqui quando estou estressado, achei que poderia
te ajudar.
— Foi uma ótima ideia, me sinto bem melhor.
— Isso, porque ficar em casa não é a melhor solução.
— Você falando assim, parece que eu tento me esconder na minha
casinha, que sou um animal indefeso.
— Talvez você seja.
Talvez eu seja mesmo, mas ouvir isso dele, me deixa um pouco mal.
— Eu sei que o problema sou eu, Leo, não precisa me lembrar disso.
— Não se cobre tanto. Você é incrível e pode ter tudo o que sempre
sonhou.
— Sempre sonhei me casando com um coreano e morando em uma
casa bem linda e rosa, e bem, isso parece impossível…— Assim que as
palavras saem da minha boca é que percebo a besteira que falei.— Quer
dizer, não precisa ser coreano, é só que eu amo doramas, então acho lindo.
— Bem, se quer um coreano, tem um na sua frente.
Arregalo os meus olhos e fico sem saber como agir e o que falar.
— Falei sem pensar.
— Então, gosta de doramas?
— Sim, é a minha diversão. Sempre que estou sem nada para fazer,
ligo a televisão e passo horas sonhando acordada com as histórias.
— Acredita que nunca assisti?
— Como assim? Eu vou te mostrar esse mundo incrível dos
doramas.
— Calma aí, Powell, dorama é coisa de mulherzinha.
— Deixe de ser machista e assista a um episódio comigo.
— Tudo bem, escolha o dia e nós assistimos.
Dou um high five mentalmente e sorrio, está sendo uma tarde
bastante proveitosa para mim, pois, não estou me sentindo solitária e nem
vazia por dentro.
Talvez, sair e passar a tarde com amigos, seja um calmante para a
minha mente negativa.
— Você sabe a história do seu nome?— ele pergunta.
Sorrio ao me lembrar das vezes, em que a minha mãe me explicava
porque eu me chamo Cora, então, é uma boa pergunta.
— Por causa de Cora whiterspoon, atriz de um filme que ela gostava
bastante na adolescência. Acho um nome divertido. Apesar de que, quando
eu me casar e ter um bebê, vou deixar o pai escolher.
Leonard sorri e puxa vida, é um sorriso muito lindo, nem sei como
reagir quando ele faz isso.
— Não sei porque minha mãe me deu um nome tão americano, mas
também gosto dele.
— Também acho o seu nome muito bonito.
— Mais bonito que o meu rostinho?— ele sorri e acabo fazendo o
mesmo.
— Talvez um pouco mais.
— Essa doeu.
— Agora me conta aí, o que te faz querer desistir? É para o meu
TCC.— Brinco.
— Várias coisas, mas acho que principalmente o medo.
— Verdade, o medo atrapalha demais os nossos sonhos. Mas, eu
geralmente quero desistir, porque as coisas nunca funcionam para mim,
sempre acabo frustrada. Sonho alto e tudo desmorona.
— Talvez, você seja uma pessoa pessimista.
— Eu sou mesmo, já que nunca consigo fazer as coisas darem certo.
— Primeiro, você tem que parar com esse pensamento, pois talvez
seja isso que te faça fracassar.
— Essa doeu.
— Você pode tudo, Cora, olhe ao seu redor, pense em quantas
pessoas têm vontade de fazer algo, mas tem medo do que pode acontecer?
— Nunca havia pensado dessa maneira.
— Tudo o que fazemos é uma roleta russa, pode dar certo ou pode
dar muito errado.
— Agora, você me deixou pensativa.
— Era a minha intenção.
Respiro fundo e penso que pode ser verdade. Eu sempre acabo
pensando negativamente, e isso pode fazer as coisas desandarem muito fácil.
Se eu conseguir manter os meus pensamentos positivos, tudo pode fluir.
Olho para a tela do meu celular, após acabar o meu cachorro quente,
primeiro do que Leonard, fingindo que há algo de muito interessante nele,
mas tudo exala tédio.
— Agora que comemos, podemos ter uma tarde bastante produtiva.
— diz e eu franzo a minha testa.
O que pode ser produtivo em um passeio da tarde com um
amigo/paixão secreta?
— Não tem como ser produtiva, o que você tem em mente?
— Vamos procurar um ponto para o seu negócio.
Franzo ainda mais a minha testa e logo em seguida, abro um sorriso,
pois é muito fofo o que ele está tentando fazer.
— Muito obrigada por tirar a tarde para me fazer companhia e
definitivamente, muito obrigada por me fazer acreditar nos meus sonhos.
— Só estou dando um empurrãozinho, pois acredito em você e onde
pode chegar.
Fico emotiva, pois ninguém jamais fez isso por mim, sem me
conhecer tão bem, e bem… eu já estou bastante sensível ultimamente.
— Não comece a chorar, Cora. Nunca sei o que fazer quando te vejo
mal.
— Mas, se eu chorar agora, é de felicidade.
Levanto-me e seguimos na busca do imóvel ideal para a minha
cafeteria.
Andamos bastante e pegamos alguns números, e quando volto para
casa, estou me sentindo renovada, mesmo que os meus pés estejam doendo
por causa da caminhada.
Leonard
Muitas vezes, as pessoas pensam que são realistas, mas, na verdade,
são pessimistas. -Cora

Se há algo que me irrita, são pessoas que acham que cantam bem,
mas, na verdade, têm uma voz péssima.
Espere, não pense que estou sendo um babaca, mas experimente
passar o dia, escutando uma voz aguda e chata no seu ambiente de trabalho.
Multiplique isso por cinco dias na semana e fique louco.
Resolvo mandar uma mensagem para Cora.
Eu: Você gosta de cantar?
Cora: Talvez, no chuveiro, por que?
Eu: A mulher que trabalha comigo não para de cantar e acho
que vou precisar de descanso. Topa sair mais tarde?
A resposta demora um pouco para vir, e é um emoji seguido de
texto.
Cora: Você está brincando? Esqueceu do evento que te convidei?
Eu: Como assim? Hoje é dia 27?
Cora: Dã!
Olho para o meu calendário e levo um susto. Como o tempo passou
tão rápido nesse mês?
Eu: Me desculpe, estou meio aéreo esses dias.
Cora: Sem problemas, só não esqueça de estar pronto antes das
19hrs.
Eu: Não irei.
Se eu não tivesse conversado com Cora, estaria ferrado. Passar um
tempo com ela está sendo agradável. Nós nos entendemos demais, e nossas
conversas são ao mesmo tempo, sérias e divertidas.
Acho que ela vai aceitar o meu conselho e ir atrás de ajuda
psicológica, e isso me deixa muito feliz.
Se tem algo que eu quero no momento, é vê-la mentalmente estável.
Escuto a cantoria da minha colega novamente e reviro os olhos, acho
que estou sendo de fato um babaca. Tenho um emprego de que gosto, um
bom salário e uma casa incrível, não deveria reclamar porque alguém está
cantando insuportavelmente agudo.
Penso na minha adolescência e em como a minha ex namorada
gostava de cantar, porém, a voz dela era de anjo, era o tipo de garota em que
eu achava que podia confiar.
Ty dizia para mim que era virgem e eu, sinceramente, nunca vi
problema nisso, não faz diferença para mim, mas aquela garota me enganou e
me fez perceber que uma carinha bonita muitas vezes não é verdadeira.
Ela sempre me dizia que queria que fosse especial e o como gostaria
que a sua primeira vez fosse comigo, mas me apunhalou pelas costas e me
traiu de diversas maneiras.
Bem, eu estava indo fazer uma surpresa para ela, em sua casa, pois
sabia que os seus pais haviam viajado, vi um carro estacionado na garagem,
mas estava tão excitado para vê-la que nem sequer titubeei e subi pela treliça
de sua casa, sempre fazíamos isso para darmos uns amassos.
Porém, no momento em que cheguei em sua varanda, escutei uns
gemidos e assim que abri a porta e tirei as cortinas da frente, ela estava
transando com um dos meus amigos, o Paul.
Por alguns instantes, eu fiquei parado, observando os dois me
reconhecerem e ver Ty chorar, arrependida. Aquele olhar foi algo que nunca
esqueci.
— Você não deveria estar aqui e ver isso.— disse e parecia muito
triste.
— Isso acontece a muito tempo?— Foi a minha pergunta e ninguém
nem precisou me responder nada, pois estava na cara que eu já estava sendo
traído a muito tempo e que Ty não era nada virgem.
Depois disso, não namorei mais, no início, fiquei com ódio das
mulheres e sentia como se cada uma delas fosse uma traidora, e em seguida,
quando tudo isso passou, percebi que eu curtia a minha solteirice.
Respiro fundo e fico desapontado comigo mesmo, pois a primeira
coisa que me chamou atenção em Cora, foi o jeito que ela parecia inocente
como Ty.
Sim, Ty também era ruiva e a semelhança me assustou no início,
mas depois de um tempo, fui vendo o coração de Cora, que é simplesmente
fantástico.
Cora me faz querer pensar em relacionamentos novamente, o que é
estranho, pois achei que nunca mais fosse querer algo com alguém. Mas, a
cada encontro com ela, eu quero mais.
Todavia, nesse momento, quero apenas a sua amizade e ver onde
isso pode nos levar.
Espero que o destino me dê uma forcinha e me ajude a decidir o que
eu quero da minha vida.
Cora
Tudo o que você sonha, pode estar a apenas um passo de distância.-
Luke

Estou com um vestido vermelho que aluguei uns dias atrás e dou
uma voltinha para me ver através do espelho. Sei o quanto estou gata, o meu
reflexo pode dizer isso por mim, mas me pego pensando se não estou vulgar
demais.
Ah, quer saber? Dane-se!
Tiro uma selfie e mando para Leonard. Essa foto quer mandar uma
mensagem, que quer dizer “não se atrase, já estou pronta”.
Leonard visualiza, mas não responde e nem vejo as bolinhas
flutuarem pela tela para me dizer que está escrevendo algo.
Dois minutos depois, escuto batidas na porta e abro um sorriso, pois
isso vale mais do que qualquer SMS.
— Oi, bela.— Diz assim que abro a porta.
Dou mais um sorrisinho tímido e peço para que ele entre, pois ainda
temos tempo suficiente.
— Achei que fosse se atrasar.
— Eu estava esperando uma mensagem sua, mas quando recebi
aquela foto, fiquei sem palavras. Você está ainda mais bonita pessoalmente.
Aposto que as minhas bochechas estão coradas além do normal
nesse momento. Já decidi que quero a amizade de Leonard, então por mais
que eu esteja interessada, não quero passar do ponto.
Somos amigos, repito pela milésima vez.
— Obrigada, você também não está nada mal.
Não quero falar o quanto ele está sexy com esse smoking, mas a
maneira como o tecido cai perfeitamente em sua pele, é demais para não dar
uma olhadinha.
Baixo a minha linha de visão até que… olho sem querer para suas
partes mais baixas e vejo o volume. Ninguém pode me julgar por dar essa
olhadela, pois faz um tempo desde que não vou para a cama com um gato.
— Sabe quando você vê aqueles comerciais de perfume importado e
as pessoas são altamente sexys?
— Sei sim…— respondo com cautela e me pergunto se ele percebeu
para onde eu tinha olhado.
— Acho que quando chegarmos no evento, vamos ser os
protagonistas desse tipo de comercial.
— Então, vai ter câmera lenta e tudo mais?
— Ah, com certeza.
A ideia de parecermos um casal sexy de comercial me faz rir, pois,
eu sei que não sou exatamente a definição de sexy. Talvez, eu seja a garota
boba que fica com um mocinho chato no final de um livro, mas nunca,
alguém que sabe como provocar um homem.
— Vamos? Já está ficando tarde.
— Você é uma mulher bem pontual.
— Eu surto se chego tarde em algum lugar.
— Por que?
— Acho que vou chamar atenção, então, nem chego tão cedo e nem
tão tarde.
— Sabe que vai chamar atenção de todo jeito, né?
Não respondo, mas dou um sorrisinho, antes de partirmos.
••
Definitivamente há várias pessoas olhando na minha direção, mas eu
sei que é por causa do coreano que está ao meu lado.
— Sabe o que me dá mais raiva?— pergunta quando sentamos em
uma mesa bem reservada, perto de uma janela.
— Hum?
— Não poder ficar com ciúmes da minha amiga.
— E por que você ficaria com ciúmes de mim?
— Não percebeu todos os olhares em sua direção?
— Não, porque ninguém estava olhando para mim.
— Com certeza estavam… e você está acompanhada, o que é pior,
quem esses caras pensam que são?— diz brincando e isso arranca um sorriso
meu.
— Na verdade, muitos caras não dão a mínima se a mulher está
acompanhada, e é horrível, sabe?
— Não gosta de receber atenção?
— Porque estamos conversando com perguntas?
— Não sei, agora continue sua linha de raciocínio.
— Não gosto de caras olhando para mim como se eu fosse um
pedaço de carne.
— Então, tem que me perdoar, pois já te olhei assim diversas vezes,
só nessa noite.
Isso arranca uma risada minha. Leonard sempre me deixa com um
sorriso no rosto. Me sinto feliz conversando com ele. Esses nossos flertes
cada vez mais constantes, me fazem pensar que estamos virando bons
amigos.
— Posso fazer uma pergunta aleatória?
Assinto e, mesmo que não pareça nada demais, o meu coração
acelera.
— Você acha que é mais difícil perdoar ou pedir perdão.
— Sinceramente… não sou uma pessoa rancorosa, eu perdoo fácil,
mas também, peço perdão demais.
— Eu percebo isso… então, acha que é igual?
— Sim, posso te contar um segredo?
— Claro.
— Eu gaguejo as vezes…
— Acho que todo mundo gagueja, Cora.
— Não… eu gaguejo mesmo, quando fico muito nervosa, e o meu
pai sempre me batia quando acontecia. Hoje em dia, é raro, porque aprendi a
controlar.
Lembro de uma das vezes, que ela gaguejou levemente enquanto
falava comigo e percebo que aquilo não foi casual.
— Mas ele não tentou te levar para um médico?
— Não, ele achava mais fácil me bater para que eu parasse de fazê-
lo passar vergonha.
— Isso é ridículo, Cora, inaceitável.
— Mas, eu o perdoei e não vivo em pé de guerra com ele.
— E depois, você procurou ajuda?
— Não, preferi ver alguns vídeos na internet e treinei para tentar
melhorar, claro que eu tenho alguns deslizes, as vezes, mas já estou bem
melhor.
— Você fala perfeitamente, mas deveria ter procurado um
profissional, Cora. Estou percebendo que você sempre deixa os problemas te
engolirem.
Fico sensível, pois ele tem razão. Sempre fico varrendo as coisas
para debaixo do tapete.
— Isso é passado, agora não penso mais nisso, só lembrei por causa
da pergunta que você me fez.
— Não é passado, pois você está fazendo a mesma coisa com a sua
saúde mental. Está ficando sobrecarregada de coisas do passado e isso pode
estar te influenciando no presente.
Minha respiração fica desregular, e por uns segundos, não sei como
reagir.
— É verdade, eu me saboto de todas as maneiras possíveis! Porque
eu faço isso, Leo?
— Sei que não faz por mal, mas já pensou na quantidade de traumas
que isso te gerou?
— Não gosto de pensar nessas coisas, só fico ainda mais triste.
— Olhe, Cora, coisas assim, devemos colocar para fora, pois feridas
abertas, nunca cicatrizam.
Olho para as minhas mãos e tento regular a minha respiração.
— Me desculpe, não deveria ter contado isso.
— Sou seu amigo e quero te ver bem. Fico muito mal ao saber disso,
ninguém deveria passar pelo que você passou.
Assinto e respiro fundo mais uma vez.
— As coisas nunca foram fáceis para mim, Leonard, e sei que você
tem razão, eu deveria t-ter procurado ajuda em vez de resolver tudo sozinha.
— Você se fecha demais para tudo.
— Eu aprendi a ser assim desde sempre.
— Não precisa mais disso, eu estou aqui, se precisar de mim.
— Muito obrigada, por isso.
— Já disse que não precisa me agradecer, agora, quer me dar a honra
de dançar comigo?
— Talvez eu pise no seu pé.
— Não me importo, só quero que você volte a sorrir, como estava
fazendo antes.
Relaxo o meu corpo e rosto e aceito a sua mão estendida. Talvez, eu
devesse relaxar e aproveitar o agora, sem pensar no amanhã.
Assim que estamos em um lugar fofo, feito justamente para dançar,
tento seguir o ritmo de Leonard e não pisar em seu pé, mas é quase
impossível no início, até que pego o jeito e as pisadas diminuem.
— Acho que você vai acordar com o pé dolorido.
— Vai valer a pena, pode ter certeza.
E dessa vez, quando eu sorrio, é bem sincero.
••
A noite passou rapidamente. Eu e Leonard conversamos bastante até
que chegou a hora de ir para casa e a princesa voltar a ser gata borralheira.
Leonard estaciona e ficamos no carro por alguns segundos. Estou
pensando no que devo fazer com a minha vida e ele se vira na minha direção:
— Está muito quieta.
— Sou naturalmente assim.
— Mas, está mais do que o normal.
— É, que, eu vou escutar o que você disse, quero fazer terapia e
acho que estou mesmo deprimida.
— Isso é algo que você tem que fazer, para ficar bem.
— Eu sei, mas é que, as vezes, não sei por onde começar, como agir
em certas situações e se eu mereço as coisas.
— Cora, escute o que está dizendo, é claro que você merece!
— Olhe, Leonard, eu entendo se quiser se afastar de mim, sou muito
complicada, sou uma mulher cheia de cicatrizes internas, e elas doem todos
os dias, é quase insuportável viver assim.
E então, começo a chorar mais uma vez.
Estou ficando patética, porque eu sei que tive uma noite incrível,
então, deveria estar feliz, mas só sinto vontade de chorar e chorar por estar
falando sobre esse assunto.
— Entenda que tudo o que eu mais quero, é a sua amizade, Cora
Powell e nunca vou querer me afastar.
— Eu entendo se não quiser ser meu amigo, porque eu choro demais
e sou entediante.
E, de repente, sinto braços quentes me envolverem, o calor do seu
corpo sobre o meu me faz parar com qualquer pensamento que eu poderia ter.
— Você é linda, engraçada, charmosa e eu poderia continuar falando
a noite inteira. Não vou me afastar de você, e se está chorando, é porque está
se sentindo mal. Pode chorar o quanto quiser, Cora, estarei aqui para te ajudar
com isso.
E é por isso que eu continuo chorando, até que eu me sinta
levemente bem novamente.
— Acho que estou com a maquiagem borrada por todo o rosto.—
digo ao me afastar.
— Não tem problema, ainda, continua a garota mais bonita de toda a
cidade.
— É uma cidade bem populosa…
— Mesmo assim e nem ouse me agradecer por isso.
Eu já ia mesmo agradecer, por ele estar aqui, e ficar mesmo
enquanto eu choro como uma doida, sem motivo aparente.
— Eu tenho um amigo incrível ao meu lado.
— E ao mesmo tempo, sou o seu vizinho.
— Não posso prometer que as minhas feridas vão cicatrizar do dia
para a noite, mas posso prometer que vou me esforçar ao máximo para que
essa dor diminua.
— Aceito isso, por enquanto.
— Trato feito, Leo.
Apertamos as mãos e eu fico decidida a procurar ajuda amanhã.
Coloco na minha cabeça, que eu sou maior do que qualquer dor incessante no
meu peito
Cora
Não é incrível quando você conhece alguém que te faz esquecer a
realidade?- Leonard

Um mês se passou e eu fiz duas sessões de terapia, não vou dizer que
estou melhorando, pois ainda tenho bastante caminho pela frente, mas estou
fazendo exercícios para me sentir melhor.
Por exemplo, sempre que tenho algum pensamento negativo, penso
em algo positivo e procuro indícios de que vai dar certo.
As vezes, tenho crises de ansiedade, mas sempre mando uma
mensagem para Leonard e ele me acalma. É legal ter um amigo,
principalmente se ele for um coreano gentil.
Por falar nisso, hoje vamos assistir um dorama, apesar dele não ter
curtido muito a programação, já deixei bem claro que é isso que eu quero
fazer hoje.
Assim que ele aparece, com um balde de pipocas recém feitas na
mão, eu sinto algo na boca do meu estômago. Leonard é sempre tão lindo e
cheiroso que tenho que refrear os meus pensamentos de como seria ficar com
ele.
A minha paixão por ele multiplicou, por ele ser um cara tão gentil e
bacana comigo, e eu até fiz uma lista de “como saber que está se
apaixonando”.
1- Tenho certeza de que os meus olhos brilham sempre que ele está
por perto.
2- Ele faz o meu coração disparar a qualquer mensagem, é tão bobo,
que até parece o típico clichê adolescente.
3- Porque ele me faz sorrir e eu aposto que fico com cara de idiota.
4- Porque eu conto os segundos para vê-lo.
Aqui está ele, ao meu lado no sofá, enquanto eu, fico pensando em
como seria dormir de conchinha e ao acordar, ver esse rosto lindo.
— Qual o dorama que vamos assistir?— sua pergunta me faz sair do
devaneio e fico envergonhada pelos meus pensamentos.
— Ainda estou pensando, talvez o Goblin…
Foi um dos primeiros que assisti, e é incrível, então coloco ele e não
demora muito até eu estar envolvida pela beleza asiática.
— Você está quase babando, Cora.
— É… não consigo me controlar quando assisto essa série. Tanta
gente bonita…
— Tem um coreano bem aqui ao seu lado.
— Cale a boca e preste atenção, vai começar a melhor parte do
episódio.
Sei que tem um coreano lindo ao meu lado, mas ele me lembrar
disso, me faz suspirar e olhar de esguelha.
Assim que o primeiro episódio acaba, ele se vira para mim com um
sorriso. Acabo sorrindo por reflexo.
— O que foi? Gostou? Pode ser sincero…
— Não é tão ruim quanto eu pensava, mas é bem bobo…
— Não é não.
— E esses beijos, não são nem um pouco verdadeiros.
— Ah é? Você é do tipo “beijo francês”, então?
Leonard se ajeita no sofá e dá mais um sorriso para mim, olhando
nos meus olhos e é quando eu fico desconfortável e desvio o olhar.
— É mais excitante esse tipo de beijo do que apenas encostando as
bocas, não acha?
Sinto um frio na barriga, que me diz, que sim, eu prefiro a excitação,
e estou ficando levemente nervosa nesse momento.
— Sim, confesso.
— Então, esses beijos de doramas são uma piada.
— São no mínimo, fofos.
— Ninguém pensa em fofura quando está beijando alguém, quer
levar o beijo adiante.
Não tenho resposta para isso, pois de fato é verdade. Olho para os
lábios de Leonard e com toda a certeza do mundo, eu gostaria de bem mais
do que apenas encostar os lábios nos seus.
Há toda aquela tensão que temos sentido cada vez mais, mas sei que
se nos beijarmos, vamos querer algo a mais e tudo vai mudar. Na pior das
hipóteses, vamos ficar sem nos falar e ele tem sido muito importante para
mim.
— Cora, eu…
Sua mão está vindo na direção do meu rosto e eu fico sem saber se
me afasto ou fico quieta no meu canto, quando escutamos batidas na porta.
Arregalo os meus olhos, pois não sei quem pode ser.
Além disso, chegou exatamente no tempo certo.
Levanto-me, sentindo as pernas um pouco bambas e assim que abro
a porta, vejo a minha amiga Skylar com uma mala pequena e preta ao seu
lado.
— Surpresa!
Realmente estou bastante surpresa com a aparição dela aqui.
— O que está fazendo aqui?
Ela olha para dentro do apartamento e vê que não estou sozinha, o
seu rosto se ilumina quando percebe quem é.
— Leonard! O que está fazendo aqui?— pergunta e não responde a
mesma pergunta que eu fiz a ela.
Os dois sorriem um para o outro e não consigo não sentir ciúmes ao
vê-los se abraçando. Sei que Sky está comprometida, mas sinto vontade de
vomitar mesmo assim.
— Cora me fez assistir a um episódio de dorama.
— Não acredito! Não consigo imaginar você assistindo esse tipo de
coisa.
Fico quieta no meu canto, enquanto os dois começam a colocar a
conversa em dia, isso dura uns dois minutos.
— Então, Cora, porque não havia me dito que você e o Léo eram
vizinhos?
— Eu acabei esquecendo, tantas coisas aconteceram nesses dias…—
digo, um tanto envergonhada.
— Eu vim te visitar, porque Mia me ligou bastante preocupada.
Você está melhor?
— Estou sim, não precisava ter se preocupado tanto e ter vindo.
— Cora, nós te conhecemos bem e sabemos que você é não gosta de
compartilhar quando está passando mal, e guardou isso por tanto tempo que
agora está se sentindo mal.
— Relaxe, Sky, já estou fazendo terapia, e a partir de agora, não vou
mais guardar todo o sofrimento para mim.
Tudo o que eu precisava era me sentir segura, e Leonard está me
ajudando bastante nisso. Nem sei como agradecê-lo pela sua amizade. Mas
não posso contar isso para Skylar, pois do jeito que é, vai tentar me juntar
com o nosso amigo em comum.
Olho para Leonard e ele me olha no mesmo instante. Sei que estou
muito apaixonada por ele, mas é tão intenso como as horas parecem voar
quando estamos juntos e na quantidade de vezes que ele me fez sorrir,
quando eu quis chorar…
Estou muito ferrada, eu sei disso.
— Nunca mais guarde nada dentro dessa cabecinha.
— Para você é bem fácil, Sky, você fala pelos cotovelos.— Léo diz
e nós sorrimos.
— Eu gosto de falar, acho que gosto do som da minha voz.
— Percebemos.
— Agora, me digam, o que os dois pombinhos estavam fazendo?
— Estávamos assistindo novelas coreanas. Finalmente consegui
fazer Leonard parar para ver.
— Ai meu Deus. Cora sempre amou ver esse tipo de coisa.
Sinceramente, acho muito esquisito.
— Eu sou coreano e acho estranho.— Léo dá de ombros.
— Vocês não entendem o que é bom…
Leonard levanta e sorri para mim.
— Depois nos falamos, Cora, tenho algumas coisas do trabalho para
resolver.
— Ta bem, até depois.
Assim que ele sai pela porta, Sky olha para mim com o seu olhar
acusatório, e eu sabia que isso aconteceria.
— Quero saber o que está acontecendo aqui, e não diga que é apenas
amizade, pois ele aceitou assistir doramas com você!
— Sky, não é nada disso, ele só veio me fazer companhia e tem sido
um bom amigo.
— Mas, os seus olhos dizem outra coisa, dá pra ver que está caidinha
por ele.
— Não sou uma adolescente, Sky!
— Pode me dizer a verdade, eu sei que há algo rolando entre vocês.
— Sinto muito te desapontar, mas somos apenas amigos.
— Ai, Cora, isso é o que a sua boca linda está dizendo, mas o seu
coração, sabe disso?
Não consigo falar nada, pois ela está certa. Não consigo esconder o
que o meu coração está gritando dentro do peito. E o meu maior medo é que
Leonard perceba o quanto eu gosto dele.
— Skylar, podemos mudar de assunto?
E, por um pequeno milagre, ela aceita e começa a falar sobre Luke e
sobre como os dois estão felizes juntos, mas que as vezes, ambos se
estressam por besteira.
Toda essa conversa me faz pensar em mim e Léo.
Sempre pensei que o amor fosse bater a minha porta, mas e quando
esse amor mora bem perto da sua casa?
Como você diz para o seu coração que não podem ficar juntos?
Cora
Estou ocupada demais com as minhas neuroses, para ouvir que vai
ficar tudo bem.-Cora

A parte difícil da vida real, é que ela é difícil!


Sei que parece estranho ver essa frase, mas é que, quando estou
vendo alguma série, fico com raiva quando os personagens não conversam
sobre os seus sentimentos, mas aqui estou eu, ao lado do homem que eu
gosto, sem saber como agir, nem como contar que talvez eu tenha misturado
as coisas.
— E, assim, você vai conseguir juntar esse dinheiro até o final do
ano.
Ele estar ajustando alguns detalhes da planilha que fez para que eu
conseguisse juntar o dinheiro de abrir a minha própria cafeteria, só me faz
gostar ainda mais dele.
Caramba, eu sou adulta, e não uma adolescente, então, deveria saber
como controlar os meus sentimentos.
— Será que eu vou mesmo conseguir?
— Claro que sim, tenho percebido que está economizando bem
mais.
— Verdade, em vez de comprar comida nos 7 dias na semana, só
compro em 3.
— Temos que melhorar até que não precise mais comprar.
— Eu sei, é que não consigo me controlar, toda vez que passo na
frente da loja.
— Então, não passe na frente da loja.
— Vou lembrar disso na próxima vez.
— Posso contar algo?
— Claro que sim!
— Estou tão cansado, Cora… acho que vão me promover, pois estão
aumentando a quantidade de trabalho para mim.
— Isso deveria ser bom, não é?
— Deveria, se eu quisesse isso, mas nunca quis uma promoção. O
clima está bastante competitivo, e estou com a cabeça a mil.
— Se eu soubesse, não teria o incomodado com a minha planilha de
gastos, me desculpe, não sabia que estava tão ocupado assim.
— Não se preocupe, gosto de passar o tempo com você. Tem sido a
minha única amiga de verdade e eu não quero que nada estrague o que temos.
Será que isso foi uma indireta e ele tem percebido que estou
apaixonada por ele?
Ah, não!
— Posso dizer o mesmo, Leo e agradeço bastante por tudo o que
está fazendo por mim.
— Não é nada.
E então, ele me abraça e eu retribuo, o frio na barriga aumenta
novamente e por um segundo, imagino onde poderíamos chegar.
Ficamos assim por alguns segundos, até que sinto a sua respiração
acelerar, primeiro acho que é coisa da minha cabeça, mas em seguida,
percebo que ele está mesmo ofegante.
— Cora…
E nos afastamos e eu vejo com os meus próprios olhos que não é
coisa da minha cabeça. Ele está me olhando com desejo e eu tenho certeza de
que estou fazendo o mesmo.
O frio na minha barriga se intensifica e levo as mãos até o seu
cabelo, há uma tensão no ambiente que poderia ser cortada ao meio, de tão
real.
Respiro fundo e percebo que ele está se aproximando, não quero que
se afaste, por isso fico quietinha, esperando ansiosamente pelos próximos
segundos.
— Não sei se consigo fazer isso, Cora.
Fico frustrada, pois não era exatamente o que eu gostaria de ouvir,
agora, é quase como se ele não quisesse me beijar.
— Fazer oque?— Pergunto com o tom de voz um pouco mais rude
do que eu costumo.
— Ignorar o que eu sinto por você.
Ah, que merda! Eu sempre acabo com todo o clima do ambiente.
Parabéns, Cora!
— Não sei o que dizer, Leonard.
— Diga que sente o mesmo, se sentir, mas não posso mais esconder
isso, e tenho muito medo de estragar a nossa amizade, mas não consigo
evitar. Passar um tempo com você só faz te querer ainda mais.
Suas palavras sinceras, mexem comigo, pois eu sinto o mesmo.
Nunca imaginei que fosse me apaixonar por um amigo, e ainda por cima, que
ele fosse asiático, como sempre sonhei.
— Eu sinto o mesmo por você, Léo e tenho muito medo de te perder.
— Se nós dois queremos isso, então vamos ver no que dá.
Isso não é exatamente o que eu imaginava, pois ele não está me
prometendo algo sério, está deixando que a vida se encarregue disso.
— Tenho medo de que algo dê errado, pois não quero perder a sua
amizade, principalmente nesse momento, entende? Eu sempre estive sozinha
e quando finalmente tenho alguém ao meu lado, me aproximo demais e acabo
me apaixonando.
Quando fui fazer a minha primeira sessão de terapia, contei à
psicóloga o quanto sempre me senti sozinha no mundo, como se ninguém
conseguisse me ouvir e eu vivesse na minha própria bolha. Chorei bastante
nessa sessão, e sei que posso parecer patética por ter esse medo, mas ele foi
enraizado por anos, tanto por causa da minha família, quanto por mim, que
não permitia me abrir completamente com as pessoas.
— Não vamos pensar tanto no futuro e aproveitar o momento?
Não sei se consigo fazer isso, mas começo a assentir, quando ele se
aproxima e toma a minha boca com a sua. Nem nos meus sonhos mais
selvagens eu imaginaria que isso aconteceria.
Sempre quis guardar o meu coração, para que não pudesse se
apaixonar por ninguém e agora estou aqui, sentindo a respiração dele na
minha pele.
Seus lábios são macios e me pegam de jeito, pois não conseguiria
criar isso na minha imaginação. A realidade é mil vezes mais gostosa.
Leonard segura o meu cabelo com uma das mãos e a outra vai até o
meu queixo, é tão gostoso que sinto vontade de chorar de prazer.
Passo a mão por suas costas e ele continua o movimento, até invadir
a minha boca com a sua língua, é delicioso quando ele investe com
movimentos com ela.
Sem conseguir me controlar, levanto um pouco a sua blusa, para
tocar no seu abdome e me arrependo quase instantaneamente de fazer isso,
pois fico dez vezes mais excitada.
Esse homem é tudo de bom!
Nos separamos, para respirar um pouco, pois ambos estamos sem
fôlego.
Estou tão excitada que a minha cabeça pensa em coisas que eu não
deveria nesse momento.
— Agora não tem volta, Cora.
Até penso em perguntar do que ele está falando, mas eu sei muito
bem. Esse beijo mudou tudo, pois eu quero muito mais, não foi o suficiente.
Nem de perto.
— Então, me beija de novo!
E, ele se aproxima e toma a minha boca mais uma vez, mas faz um
pouco diferente, os movimentos se tornam mais lentos, quase dolorosos
demais.
Passo a mão pelos seus cabelos e com um gesto de ousadia, subo em
seu colo, deixando-o bastante surpreso. Sua língua envolve a minha com
força e eu luto por um pouco de ar em cada pausa.
Definitivamente quero mais.
— Não sei o que falar agora, Cora, você é deliciosa.
Abro um sorrisinho satisfeito e abaixo a minha cabeça levemente até
morder o lóbulo de sua orelha e dar um beijo molhado no seu pescoço.
— Se continuarmos assim, não vou sair daqui tão cedo.
— Não quero que saia, estamos exatamente onde deveríamos estar.
— Tem certeza?
A minha calcinha, úmida, está respondendo por mim, então, a única
coisa que eu faço é balançar os quadris sobre os seus e beijá-lo novamente.
— Nunca tive tanta certeza na vida.
E logo que as palavras atrevidas saem da minha boca, ele passa a
mão pelas minhas costas e desce até a minha bunda, envolvendo-a.
Gemo levemente, até sentir algo duro abaixo de mim. É incrível
saber que alguém me deseja dessa forma e sua boca envolve o meu pescoço
com força, sugando-o até que eu revire os olhos de prazer.
Minhas mãos vão até a barra de sua camisa e dessa vez, puxo pela
sua cabeça, até ver aquele corpo sarado sem nada a esconder.
— Você disse que eu era deliciosa, mas olhe para você, eu poderia
lambê-lo agora mesmo.
Não sei de onde saiu toda essa ousadia, mas ele parece gostar, pois
me leva até o quarto e assim que tira a minha calcinha, sei que tem planos
bem safadinhos para mim.
Leonard
Você atrai tudo de melhor em mim.- Cora

Não estou pensando em nada no momento em que tiro a calcinha de


Cora, mas devo admitir que estamos nos divertindo bastante.
Sinceramente, pensei que ela fosse se assustar e querer se afastar de
mim, mas assim que a jogo na cama, vendo o seu olhar safado, não tenho
dúvidas que não fui o único que se apaixonou.
— Tem certeza mesmo que quer continuar?
— Parece que eu quero voltar atrás?
Droga! Ela é bem safadinha quando está excitada e estou amando
isso. Parece que essa mulher é tudo em uma só.
Sexy, linda para caramba e amável.
Tiro o restante de sua roupa e percebo que fica um pouco
envergonhada quando a observo. Seus peitos que geralmente estão
escondidos em alguma camisa cor-de-rosa e cada pedacinho do seu corpo, é
delicioso.
Passo os dedos pelos sinais que ela tem pelo corpo e vejo a sua pele
arrepiar.
Tiro o restante das minhas roupas e é quando lembro que precisamos
de camisinhas.
— Você é tão perfeita que eu já estava esquecendo da camisinha.
— Aposto que deve ter alguma na sua carteira.
— E tenho.
Sorrimos e eu procuro a minha carteira para pegar a camisinha.
Assim, que estamos preparados, beijo Cora mais uma vez, antes de
estocá-la e é tão profundo, tão intenso que o sentimento me assusta um
pouco.
Depois que vejo o seu corpo estremecer, acabo gozando também e
olho dentro dos olhos da minha melhor amiga.
— Eu gosto mesmo de você, Cora.
Cora
A multidão inteira some quando você aparece.- Skylar.

“Gosto mesmo de você, Cora”


Passei o dia todo com esse pensamento na minha cabeça. Até Anne
já perguntou porque estou tão aérea.
É estranho transar depois de tanto tempo.
Perdi a minha virgindade aos 16 anos, quando um garoto me chamou
para sair e fomos para um motel no centro da cidade. Assim que eu percebi o
que aconteceria, fiquei assustada, mas todas as minhas amigas estavam
fazendo sexo e eu quis tentar.
Bem, não preciso dizer que foi assustador demais quando eu vi que o
pau dele estava vindo na minha direção e entrando em mim. Depois que ele
acabou, eu chorei e fui tomar um banho, pois sangrei demais. Obviamente, eu
não cheguei ao meu orgasmo e foi frustrante.
Depois de um tempo, eu tentei novamente, mas não foi nada legal,
então, desisti de transar por um tempo.
Até, Leonard…
E dessa vez, foi bastante diferente, pois temos uma conexão, temos
química e ele foi cuidadoso e se importou comigo, perguntando várias vezes
se eu tinha certeza.
Bem, essa é a diferença de transar com um homem de verdade.
— Cora!
— O que foi?
— Você quase queimou o chocolate!
Olho para a panela e percebo que é verdade, o chocolate está quase
pegando na panela preta e eu desligo o fogo rapidamente.
— Desculpe, Anne. Estou meio aluada hoje.
— Está relacionado aquele gato do seu amigo?
— Não fale dele assim. E não tem nada a ver com ele.
Contar para as pessoas o que aconteceu, só vai gerar mais e mais
perguntas, e não estou pronta para encarar o que estou vivendo no momento.
— Seus olhinhos estão mais brilhantes e ele até passou aqui mais
cedo.
— Passou?— agora, ela consegue toda a minha atenção, pois ele
nem me mandou mensagem para avisar!
— Eu só queria ver a sua reação, pois está na cara que está
escondendo algo, Powell.
— Não é nada, Anne, só estou pensativa, porque vou para a minha
sessão de terapia hoje.
— Vou fingir que acredito, mas só vou dizer uma coisa.
Ela sorri e eu sei que vai ser alguma besteira, por isso, acabo
sorrindo também.
— Cuidado para não queimar as coisas, ou Regina vai te matar.
— E a bruxa vence mais uma vez.
É o nosso bordão para “Regina está de TPM”.
••
Vou contar a minha terapeuta.
Preciso mesmo contar para alguém, ou vou enlouquecer.
Assim que entro pela sala branca, fico esperando a minha vez e
quando chega, as minhas mãos começam a suar frio.
Estou bastante nervosa.
— Olá, senhorita Powell, como está se sentindo?
— Nunca escala de um a dez, estou confusa sobre quanto eu deveria
estar feliz…
A doutora sorri do meu comentário e eu prendo o meu cabelo, para
que ela possa ver o meu rosto melhor.
— Conte-me mais sobre o que está sentindo.
— Eu deveria estar saltitando de felicidade, pois eu tive uma noite
incrível de sexo com o meu vizinho.
— Aquele que comentou da última vez?
Fico envergonhada de ter contado sobre Leonard, mas senti uma
necessidade de falar a ela sobre o quanto eu gostava da companhia dele.
— Ele mesmo, e nós somos amigos, então estou com medo de ferrar
com a nossa amizade.
— Se você está feliz por ter ficado com ele, porque está pensando?
— Não sei! Mas não quero estragar a nossa amizade, ele é muito
importante para mim.
— Percebi, pelos inúmeros comentários sobre ele quando você vem.
Dou um sorrisinho, pois, de fato, comento bastante sobre ele, mas
ninguém pode me julgar, se Leonard é a pessoa mais próxima de mim no
momento.
— E, agora, não sei se ele vai querer algo a mais, ou se seremos
amigos que transam.
Sei que não deveria usar esse termo na frente da minha terapeuta,
mas estou pagando, então, dane-se.
— Não consigo parar de pensar nisso e se algo der errado, então,
estou entrando em colapso.
— Não sei se está percebendo o quanto está preocupada por algo que
nem aconteceu, Powell.
— Sei disso, mas não consigo evitar. Se ele achar que eu fui péssima
e quiser se mudar para longe de mim, para me evitar…
— Calma, respire fundo.
— Desculpe, estou a ponto de ter uma crise de ansiedade.
— Não há nenhum indício de algo de ruim vai acontecer, então não
precisa ficar ansiosa.
— Eu sei. Vou tentar não pensar tanto nisso.
— Pense positivo e não no que pode acontecer se algo der errado.
Respiro fundo e relaxo um pouco, pensando nas palavras da
profissional.
Não sei porque estou me preocupando por algo que nem aconteceu
ainda. Minhas mãos estão geladas e trêmulas e eu deveria estar feliz, por ter
tido uma noite incrível com Leonard Matsui.
— Ninguém morre por causa da ansiedade, Powell, pense nisso
quando estiver tendo uma dessas crises.
— Vou tentar, juro que vou, mas é que o futuro sempre parece tão
incerto para mim. Sempre catastrófico.
— Deixe as coisas acontecerem antes de ficar assim. Vou passar um
exercício de respiração para quando estiver desse jeito.
— A ansiedade é uma droga, sabe? Eu estou pensando em algo e
tudo começa a ficar pior, começo a suar, dentre outras coisas.
— Algumas pessoas perdem a vontade de comer, mas você me disse
que faz o inverso, certo?
— Sim, eu fico pensando em comida e desejando doces.
— Tem que aprender a controlar essa compulsão também, mas faça
isso aos poucos.
— Vou tentar.
Estou tentando ao máximo melhorar mental e fisicamente, mas sinto
como se eu mesma não quisesse colaborar, entende? A minha mente me
prende demais e eu estou com ela 24hrs por dia.
••
Assim que saio do elevador do prédio, vejo Leonard animado e
vindo na minha direção.
— Você demorou…
— A sessão foi um pouco mais longa, mas também foi bastante
produtiva.
— Você falou sobre nós?— ele se aproxima um pouco mais e enlaça
a minha cintura, beijando o meu pescoço com delicadeza.
Eu sorrio, porque é tão gentil e fofo! Algo que nunca imaginava que
ia ter na minha vida.
— Não fique tão convencido.
— Estou brincando, mas fico feliz por te ver toda feliz assim.
Ah, se ele soubesse que eu falei bastante dele, mas não quero dar
esse gostinho por enquanto.
— Eu estou?
— Sim, está com o semblante alegre.
— Talvez, seja por ter tido uma ótima noite…
Dou uma olhadela de lado e nós sorrimos. Logo que fizemos sexo,
Leonard precisou ir embora e por mais que eu quisesse que ele tivesse ficado,
sei que havia algumas coisas para resolver do seu trabalho.
— Ah, então, eu também devo estar extraordinariamente feliz.
— Hum… está?
Ele não me responde, apenas me envolve em um abraço e me beija
novamente, desta vez, na boca e eu fecho os meus olhos, absorvendo ao
máximo a sensação dos seus lábios nos meus.
Movo a minha cabeça para o outro lado e é um beijo tão gostoso que
acabo me esquecendo que não entramos em casa ainda.
— Acho melhor entramos, ou alguém pode nos ver.
— Está com medinho de ser vista, babe?
— Ah, não, estou com medo de continuar esse beijo e alguém nos
ver e denunciar por atentado ao pudor…
Assim que recebo um sorrisinho de lado, já sei que ele entendeu o
que eu quis dizer e me deixa abrir a porta, mas antes que possa entrar, já está
me beijando novamente.
Me pergunto se algum dia eu vou enjoar disso e percebo que não,
pois ele é tudo o que eu sempre desejei em uma pessoa só. Veja bem, ele é
coreano, e só isso fez com que ganhasse muitos pontos.
— Não paro de pensar em você, Cora.— diz quando nossas bocas se
separam e é claro que eu abro um sorriso bobo.
Quem é que não gosta de ouvir esse tipo de coisa?
— Eu também não paro de pensar em você.
Sei que não é o momento certo, mas já estou pensando em como
nossos filhos nasceriam.
AI MEU DEUS!
— Você gostou de ontem?— pergunto, antes de falar uma outra
bobagem, como “vamos nos casar?”
— Claro que sim, por que a pergunta?
— Porque eu fiquei pensando demais em tudo o que aconteceu e…
Leonard não me deixa continuar e coloca seu dedo na minha boca,
então deixo um pouco da minha tensão de lado.
— Não quero que pense demais, apenas aproveite esse momento,
Powell, quero que se divirta tanto quanto eu estou me divertindo.
— Também estou me divertindo…
— Então, por que ainda estamos conversando, em vez de estamos
nus na sua cama?
— Bom ponto, acho que você deveria me levar para lá… tipo, agora
mesmo.
Ele passa os dedos pelo meu rosto e sinto todo o nervosismo me
deixar. Me beija tão intensamente que cada pensamento evapora da minha
mente, só penso em como suas mãos sabem como achar meus pontos fracos.
É… eu posso aproveitar essa noite, como se fosse a última da minha
vida, certo?
Cora
Como alguém pode ser tão linda e incrível assim?- Leonard

— Está sorridente demais hoje.— Regina me olha com desdém e eu


franzo a testa.
— Se eu estiver sorridente, vou vender mais, com a minha simpatia.
Sem respostas, ela sai da cozinha e me deixa sozinha com Annie.
— Você está mesmo sorridente e nem venha me dizer que não tem a
ver com o seu vizinho coreano.
— Okay, é por causa dele, sim.
— Hum… a minha doce Cora está saindo com alguém, finalmente.
— Não é como se eu estivesse encalhada, Anne.
— Ah, minha querida, você estava bastante encalhada.
— Eu gosto de estar sozinha, isso não é problema algum.
— Não, Cora, você preferia ficar na sua zona de conforto, isso sim.
Fico feliz por estar explorando algo novo.
Não quero dizer que ela tem razão, por isso, ignoro e volto a fazer os
brigadeiros recheados com leite condessado.
— Eu ainda não saí da minha zona de conforto. Preciso montar a
minha própria empresa.
Sempre dizem “siga os seus sonhos”, ou coisa parecida, mas isso é
quase impossível com o nosso sistema capitalista. A vida real é bem mais
difícil em todos os aspectos.
Várias vezes já assisti nos doramas que as mocinhas se apaixonam
por homens bem-sucedidos e conseguem tudo o que sempre sonharam, mas
nessa parte eu sempre discordei.
Quero conseguir as coisas com o meu mérito, porque eu corri atrás e
consegui.
Fico feliz por Leonard estar me ajudando a fazer a planilha, mas a
partir daí, eu vou conseguir controlar as minhas finanças e me livrar desse
emprego, levando a minha chefe/bruxa junto.
— Eu confio que você vai conseguir.
— Nesse final de mês, acho que vou conseguir economizar uma boa
parte do meu salário, então, já é um começo.
Preciso ir atrás de um empréstimo para dar o startup nos meus
negócios e só em pensar nisso, sinto uma emoção sem fim dentro de mim.
— Essa é a garra que eu quero ver.
— Cansei de levar reclamação de Regina sem ter feito nada, e cansei
de cozinhar para outra pessoa.
— Agora sim, você está indo no caminho certo.
••
Estou fazendo umas comprinhas saudáveis para o meu jantar e
esbarro o meu carrinho em alguém. Fico surpresa ao ver que é o primo de
Leonard assim que ele se vira.
— Me desculpe, não tinha visto você.
— Sou bem espaçoso, querida.— ele dá um sorriso malicioso, e eu
franzo a testa.
Temos questões mal resolvidas, desde que ele me levou, embaixo do
seu guarda-chuva. Caraca, naquele dia ele foi bacana, enquanto atravessava
comigo até o outro lado, depois disso foi só ladeira abaixo.
— Então, já que estamos aqui, quero te fazer uma pergunta.—
continua e eu assinto.
— Por que mentiu sobre ter um negócio próprio.
— Veja bem, eu não te conhecia, não sabia que era parente de
Leonard e eu não costumo dar informações da minha vida para estranhos.
— Hum, interessante, ou você queria que eu te achasse ainda mais
interessante por ter sua própria empresa…
Se ele pensa que eu falei isso para atraí-lo para mim, está muito
enganado. Eu nunca mentiria para parecer mais “interessante”.
— Hahaha! Até parece, vai sonhando.
— Isso é o que você diz…
— Olhe, não quero parecer rude, mas não se acha tanto, okay? Eu
estou saindo com Leonard.
Por alguns segundos, vejo o choque estampado em seu rosto, como
se estivesse sendo traído, o que não faz sentido, pois não sou nada dele.
— Como assim?
— Isso mesmo que você ouviu, nós estamos saindo, então, só me
deixa em paz.
Começo a empurrar o meu carrinho novamente, mas ele me para e
eu reviro os olhos.
— Não acredito que ele não me contou.
— Estou te contando, agora me deixa ir.
Empurro o carrinho mais uma vez e continuo o meu percurso natural
até as frutas, e tento ao máximo não virar o meu rosto para ver se ele fez o
mesmo, mas não deixo de pensar na sua reação.
Leonard
Estar com a pessoa que você ama, te faz feliz durante 24hrs por
dia.- Cora.

— É porque Cora parece com ela, não é?


É a primeira coisa que Brendam diz assim que eu atendo, e eu me
pergunto como ele descobriu sobre mim e Cora. Sei que está chateado por eu
não ter dito nada antes.
— Não é nada disso, Brendam.
— Ela parece com a sua ex, você acha que eu não lembro?
— Não diga isso, a Cora é bastante diferente dela, nem se compara.
— Mas fisicamente, Leo, e eu sei que a Cora não merece isso.
— Vou contar para ela, mas não é nada.
— Cara, você sabe que é algo e está com medo de perdê-la, além
disso eu disse do meu interesse por ela. Sobre como a acho interessante.
O que ele diz me atinge como um soco e eu fico me sentindo
culpado, pois se Cora descobrir, isso pode magoá-la e é a última coisa que eu
desejo fazer no momento.
— Nunca quis magoá-la.
— Mas, seja sincero, isso foi a primeira coisa que te fez vê-la?
— Foi.— sou sincero e falar isso em voz alta é ainda mais doloroso
do que eu havia imaginado.
— Leonard, converse com ela.
— Olhe, nós só estamos saindo, não é nada demais.
Talvez, se eu mentir, ele me deixe em paz, por um tempo. Pois,
estou mesmo apaixonado por Cora Powell e todos os dias, quando acordo e
recebo sua mensagem, é como se algo mudasse em mim.
Sei que o meu dia será incrível, pois a tenho na minha vida.
Estou totalmente rendido a Cora, e o medo de perdê-la por causa
disso está começando a me corroer.
— Você ainda tem a foto dela no celular?
Sei que não é de Cora que ele está falando.
— Eu vou apagar, ela está no meu passado.
— Caramba, Matsui, você está ferrado!
Eu realmente não apaguei porque gosto de ficar me magoando cada
vez mais, não porque ainda nutro algum sentimento pela minha ex, Ty,
definitivamente está no meu passado.
Cora
Sorria, seja gentil com as pessoas, mesmo que elas não façam o
mesmo.- Mia
Puxo mais uma carta e pergunto:
— Se tivesse que escolher uma parte do seu corpo para colocar um
seguro, qual seria?
— Definitivamente seria o meu pau, porque as coisas que você faz
com ele…
— Pare de falar esse tipo de coisa enquanto estamos jogando, Léo.
— Então, porque não paramos de jogar agora mesmo?
Ele vem na minha direção e não sei se é coisa da minha cabeça, mas
estava mais distraído que o normal quando chegou e agora está tentando me
seduzir, isso não é um bom sinal.
— Quero jogar mais um pouco, mas antes eu tenho que perguntar,
você está bem?
— Claro, porque não estaria? Tenho uma mulher sexy ao meu lado,
jogando cartas de perguntas comigo.
Inclino a minha cabeça, e semicerro os meus olhos, talvez eu esteja
neurótica demais.
— Sexy, é?
— Demais e eu amei essa blusa vermelha, o seu decote está me
provocando demais.
Baixo os meus olhos e vejo que meu decote está bastante aparente,
essa blusa não é nada fofa.
— Vamos continuar, Leonard, depois você pode fazer algumas
coisas com o que está embaixo dessa blusa e desse decote.
— Minha nossa! Agora eu não consigo mais prestar atenção nesse
jogo.
Abro um sorriso e entrelaço os meus braços no seu pescoço. Agora
olhando em seus olhos, percebo que nunca mais senti vontade de chorar sem
motivo e que estou bastante feliz ultimamente.
— Sabe, Leonard, dizem que o sol é um antidepressivo natural.
— Gostei de saber disso.
— E você é o meu sol.
Ele me olha, com tanta ternura, que o meu coração dispara, pois
quero dizer que o amo, que estou perdidamente apaixonada por ele. E são
tantas coisas não ditas, que por ora, prefiro deixar apenas na minha mente.
Resolvi seguir o que a minha psicóloga disse e apenas viver, sem me
preocupar com os problemas do dia seguinte.
Apenas viva, Cora!
— Você é tão linda, meu bem, mas não é apenas isso, é um conjunto
enorme de qualidades que te fazem única.
— Assim eu choro, Leonard.
— Como você gostaria que eu te pedisse em namoro? Com um
grande buquê de flores e uma aliança?
As palavras ficam no ar, quando eu me inclino em sua direção e o
beijo, assim que as nossas bocas se encontram, sinto uma alegria imensa
invadir o meu peito.
— Meu Deus, eu gosto de coisas simples. Já fico feliz por ser você.
— Nesse caso, aceita namorar comigo?
— Na verdade, achei que hoje em dia, ninguém mais pedisse em
namoro.
— Bem, eu sou um cara à moda antiga. E ainda não respondeu a
pergunta.
Encosto a minha testa na dele, com o coração teimando em sair pelas
minhas costelas e acho que isso é a definição de algo genuíno, se sentir bem
nos braços de outra pessoa.
— É claro que aceito, seu bobo, que mulher não gostaria de
compartilhar a vida com você?
— Isso é um fato, eu sou bastante atraente e muitas me procuram.
— Metido!
— Mas, desde que viramos amigos, a única mulher que me interessa
é você, e não digo apenas na área sexual.
— Bom saber…
— A sua vontade de crescer, junto com a sua fragilidade externa, te
tornam uma mulher diferente e instigante.
— Fragilidade, é?
— Eu disse que era externa, pois por dentro, você é incrivelmente
forte.
— Obrigada.— Minha voz já começa a ficar embargada, pois estou
recebendo tanto carinho que começo a ficar dengosa.
— Você passou por muita coisa e está aqui e quer vencer na vida,
Powell, isso é o que me faz te admirar.
— Oh, Leo, não diga esse tipo de coisa sem esperar que eu não
chore.
As lágrimas caem pelo meu queixo, mas não estou triste, pelo
contrário, estou extremamente feliz.
— Quero te pedir uma coisa, e não sei se é muito cedo para isso,
então, não precisa aceitar se não quiser.
— Pode falar.
— Quero que conheça os meus pais.
Respiro fundo e sorrio, aliviada. Ele quer que eu conheça os pais
dele, então é sério mesmo.
— Será um prazer.
— Hum, falando em prazer, será que eu posso tirar essa blusa agora?
Ou ainda é cedo demais?
— Cedo demais.— Digo, mas começo a beijá-lo com um sorriso no
rosto.
E, nesse momento, ele sabe.
Cora
Admire a mulher safada que você é e seja feliz. -Cora

Sou uma mulher linda, confiante e brilhante.


É o que estou repetindo sem parar para mim mesma no dia de hoje,
pois vou conhecer os pais de Leonard e obviamente estou surtando.
Faz uma semana que ele me convidou e eu fiquei empurrando com a
barriga, mas o momento finalmente chegou e, mesmo não estando preparada,
sei que é necessário.
Passei a noite com ele e, tudo o que posso falar, é que dormi como
uma pedra. Foi uma noite fria, então, ter o corpo dele me esquentando, foi
incrível.
Encontro Leonard, na sala, fazendo flexões, como se não estivesse
nada ansioso pelo meu encontro com a sua família, e por alguns segundos,
fico fissurada em como ele está bonito nesta manhã.
Acho que nem percebe que estou olhando, até que se levanta e vira
na minha direção.
— Fiz café, mas assim que cheguei aqui e te vi se exercitar, não quis
incomodar…
— Olhe só para você, Powell, está vestindo a minha camisa e isso é
sexy demais. Além disso, nunca me incomodaria.
— Hum, estou?
— Está.— Ele vem na minha direção e me puxa num abraço,
encosto o queixo na curva do seu pescoço.— Quer se exercitar comigo antes
de irmos para a casa dos meus pais?
— Não precisa…— Afasto-me e meio que entro em pânico.
— Não precisa ficar nervosa, baby, é impossível alguém não gostar
de você.
— Leo, eu sempre penso que as pessoas não vão gostar de mim. As
vezes, penso que nem mesmo o meu próprio pai, gosta.
— Não diga isso, querida, e pense positivo. Tenho certeza que eles
te amarão.
— Espero…
— É sério, Cora, coloque um sorriso nesse rosto, pois você vai
ganhar mais uma família.
E, para que fique bem claro, eu realmente tento sorrir.
É uma verdade universalmente conhecida, que, sogras são horríveis
e que sempre entram em conflito com as noras, e é exatamente isso que estou
temendo no momento.
Espero, sinceramente, que eu seja bem recebida.
••
Estou vestindo uma camisa feminina toda cor-de-rosa listrada, umas
saias jeans e uns tênis brancos, para ter aquele ar delicado.
Os meus batimentos cardíacos poderiam me ajudar a agir
tranquilamente, mas eu estou tão agitada que isso reverbera por todo o meu
corpo.
Sei que o meu namorado percebe, pois envolve a minha cintura com
o seu braço, mas isso não me tranquiliza completamente.
Minhas mãos estão tremendo e eu estou batendo o meu pé
ansiosamente no chão, até que alguém abre a porta e é a mãe de Leonard.
— Olá, bom dia.
Ela é bastante cordial, mas parece muito animada. Antes que eu
possa falar qualquer coisa, ela continua:
— Sou a Jina Matsui, e espero que sinta-se em casa, querida.
A sua voz é tão gentil, que isso me acalma um pouco, pois não me
parece que ela é uma bruxa do mal, na verdade, se eu for sincera, está
parecendo tão nervosa quanto eu.
— Olá, senhora Jina, sou Cora Powell e é um prazer conhecê-la.
Não sei o que fazer, então, me aproximo e tento um abraço, e para a
minha surpresa, ela retribui e dá um sorrisinho, fazendo com que o meu
cabelo voe levemente.
— O prazer é todo meu, agora, espero que goste de comida coreana.
Estou sonhando? Ou talvez, eu tenha morrido e estou no céu, pois
definitivamente é tudo o que eu sempre sonhei.
Comida coreana de verdade.
— Eu nunca experimentei, mas tenho certeza de que vou amar.
— Cadê o restante da família, mãe?
Ela arregala os olhos, como se tivesse esquecido deles e só lembrado
agora.
— Estão lá dentro, esperando, me desculpe, não fui muito educada,
eles deveriam estar aqui.
— Não tem problema…— Tranquilizo.
— Ah, tem sim, é a primeira vez que você vem aqui e eu quero
causar uma boa impressão, Cora.
Fico feliz de vê-la falar o meu nome e sei o quanto isso parece bobo,
mas estou tentando focar nas pequenas alegrias desse dia.
Jina me puxa em direção ao que parece ser a cozinha e eu dou uma
olhadela para Leonard, percebendo que ele está muito calado, então também
deve estar nervoso.
Assim que chegamos no cômodo, vejo três pessoas e uma delas, eu
já conheço faz um tempo. Sei que Brendam é primo de Leo, mas não sei
porque está aqui.
— Essa aqui é a Cora.— Me apresenta e aperto a mão deles, a minha
timidez me mata por dentro, mas consigo passar por tudo isso, sem ter um
ataque de pânico.
Kim é a irmã mais nova de Léo e parece ser bem simpática, me trata
muito bem e é muito linda, o que deve ser genética dessa família.
O pai dele é Kwan e também é muito legal comigo, o que me deixa
sem saber como agir, pois, na minha mente ansiosa, tudo já estava destinado
a dar errado.
Brendam está olhando tanto para mim que estou ficando sem jeito e
ao mesmo tempo, com raiva.
Por isso, assim que nos sentamos à mesa, Leonard começa algum
assunto e todos passam um tempo conversando, enquanto eu, tento me
manter o mais quieta possível.
— Como se conheceram?— Brendam pergunta, sendo inconveniente
e eu percebo que todos ficam calados e olham na nossa direção, esperando
uma resposta.
— Ér…— Começo, mas Leonard toma a frente por mim:
— Já nos conhecíamos faz um tempo, Cora estudou na mesma
faculdade que eu, mas nunca tínhamos conversado e eu fui um burro de não
ter feito isso antes.
— Que lindo! Vocês combinam bem.— Jina sorri e eu retribuo em
sua direção.
Essa família é tão querida, que nem sei porque fiquei com medo de
conhecê-los.
Bem, exceto por Brendam, pois ele está fazendo o possível para tirar
Leonard de sério.
— Não acham estranho que Leonard tenha se apaixonado tão cedo?
— Na verdade, seu mané, acho que já estava na época certa.— Kim
responde e eu sorrio mentalmente.
— Eu me apaixonei por Cora assim que pus os olhos nela, só não
sabia disso ainda.
— Você é estranho, Leonard, ninguém se apaixona apenas vendo
uma pessoa, a não ser que ela te lembre alguém.
Sinto o meu namorado congelar ao meu lado e não entendo a razão
de Brendam falar as mesmas coisas. Como se houvesse algo que Léo não
tivesse me contado.
Busco as mãos de Leonard por baixo da mesa e tento acalmá-lo, sei
que é algo da minha cabeça, querendo me fazer desistir, mais uma vez.
— Deixe de falar besteira, Brend.
O clima fica pesado e logo que a comida sai, todo mundo fica em
silêncio, há apenas uma troca de olhares estranha.
Brendam ainda está olhando para mim, e se estivéssemos a sós, eu já
teria mandado ele para vários lugares diferentes.
— Quando vamos conhecer a sua família, Cora?— Quem faz a
pergunta é Kim e parece realmente empolgada para misturar as famílias.
— Quando vocês quiserem, só marcar um dia em que eles não
estejam viajando…
Acho que deixo bem claro no tom da minha voz o quanto os meus
pais são distantes. A minha mãe, é uma mulher calma e carinhosa, mas,
infelizmente, age igual ao meu pai quando ele está por perto, e isso é quase
sempre.
Só consigo vê-la, quando estamos sozinhas e, com o passar dos anos,
não formamos uma amizade, se é que me entende.
Assim que contei que estava namorando, as suas palavras foram
“legal, vou contar ao seu pai”.
Não entendo como alguém pode ser tão influenciada por outra, mas
o que mais me magoa, é que ela continua com ele, depois de tudo o que fez
conosco.
Viver naquela casa, com todas aquelas brigas causadas pela minha
gagueira, foi o meu inferno pessoal.
— Então, eles são o tipo de casal que gosta de aproveitar cada
segundo, juntos.— É Kwan que fala.
— Sim, eles saem bastante, e sempre trazem alguma lembrancinha
para mim.
A infinidade de blusas de lugares aleatórios, guardadas em uma
gaveta esquecida provam isso. Os dois sempre me mostram as fotos e dizem
“olhe, Cora, que lugar incrível”, quase como se dissessem “nunca podemos ir
quando você estava por perto”.
— Bem, e você, querida, gosta de viajar?
Antes que eu consiga responder, Kim olha para mim e diz:
— Amei o seu look, garota, depois quero fazer um boomerang com
você.
Franzo a testa levemente, pois acho que ela quer dizer que vai tirar
uma foto comigo, coisa normal de adolescente.
— Obrigada e, sim, eu gosto bastante, mas não faço isso com
frequência.
Na verdade, fui para poucos lugares e sempre por uma razão
específica.
— A nossa família gosta bastante de viajar para lugares com praia.
— É verdade.— Diz Leonard e eu já estava estranhando o seu
comportamento quieto.
Quase pergunto se aconteceu algo que o chateou, mas guardo para
um outro momento.
Assim que almoçamos, ficamos um pouco na mesa e logo em
seguida, peço para ir ao banheiro, sendo guiada pela minha cunhada até o
cômodo.
Não demoro muito, mas assim que abro a porta, escuto algumas
vozes sussurradas, e me escondo para tentar ouvir.
Vejo Leonard sussurrar algo para Brendam e isso tudo é muito
esquisito, então, tento melhorar a minha audição.
— Eu disse para você não se meter na minha vida.
— Mas não é somente da sua vida que estamos falando.
— Você não sabe nada sobre a Cora, Brendam, então fica calado.
— Mas eu sei que ela pode ficar arrasada.
— Nunca faria nada para magoá-la.
Então, é isso? O Brendam, acha que Leonard pode me magoar?
Claro que ele nunca faria isso… certo?
— Você já fez, Leonard, ela só não sabe ainda.
E então, com o coração quase saltando pela boca, escuto Jina chamá-
los e os dois se afastam. Não sei sobre o que eles estavam falando, mas agora,
a curiosidade, está me matando.
Será que Leonard está saindo com alguém e Brendam descobriu?
AI MEU DEUS…
Calma, Cora, não há nada que indique isso, pelo contrário, Leonard é
sempre incrível quando está com você.
Respiro fundo e, penso que, talvez, Brendam queira fazer inimizade,
não sei se eles são próximos ou não, e digo a mim mesma que tudo vai ficar
bem.
Mas, eu não fazia ideia do furacão que estava à minha frente.
Cora
Os céus sempre indicam quando há chuva, assim como o nosso coração
indica que há algo de errado. -Damon

As semanas voaram e se transformaram e meses, bem… não tantos


meses assim, mas eu e Leonard estamos comemorando o nosso terceiro mês
de namoro e tantas coisas aconteceram que sinto como se já fosse há anos.
Sei que está cedo, mas estou pensando em mudar as minhas coisas
para a sua casa. Ele me ofereceu na semana passada e eu disse que pensaria.
Mudar para a casa do homem que eu estou apaixonada é um passo
muito grande, certo?
Mas, se estou me jogando de cabeça, acho que devo aceitar.
Nos damos bem de todas as maneiras possíveis e eu fico muito feliz
por isso. As minhas ideias sobre um futuro catastrófico estão começando a
diminuir, mas vez ou outra me pego pensando, quando é que tudo vai
começar a dar errado.
Não me julgue, mas eu assisto muitas séries e filmes, e quando o
casal está muito feliz, sempre acontece algo de muito ruim para atrapalhar
isso.
E então, como alguém que gosta de sofrer gratuitamente, eu fico
pensando, quando as coisas vão mudar e eu vou levar um tombo da vida,
porque ninguém pode ser tão feliz assim… né?
Passo um pouco mais de sombra nos meus olhos e sorrio para o
reflexo do espelho. Estou muito bonita e hoje vou fechar negócio com uma
galeria, para ter a minha própria loja de bolos.
Não sei se estou pronta para assumir essa responsabilidade, mas terei
a minha amiga Anne ao meu lado, e ela será um braço direito para mim.
Bem a tempo, escuto batidas na porta do meu apartamento. Estava
planejando algo romântico para mim e Leonard, talvez, comprar umas velas e
um jantarzinho bem lindo e íntimo.
Assim que abro a porta, dou de cara com o homem mais lindo que
conheço, com um sorriso tímido e torto, uma blusa de manga longa azul-
marinho. Como é injusto que alguém seja tão lindo assim…
— Como é possível ficar ainda mais lindo a cada dia?
O seu sorriso aumenta e ele vem me dar um abraço. É tão gostoso
quando ele faz esse tipo de gesto antes mesmo de me beijar. Me sinto segura
em seus braços.
— Posso perguntar a mesma coisa a você?
— Sempre que quiser…
— Olha, deu um pequeno problema no meu chuveiro, teria problema
eu tomar banho aqui?
— Claro que não. Você praticamente mora aqui, então não precisava
nem pedir.
O jeito tão educado de Leonard ainda me espanta as vezes, mas aí
lembro a forma como ele foi criado e que ele é coreano de verdade.
Sei que vocês já conhecem esse fato, mas é que nem eu mesma
acredito que namoro com um asiático!
— Você sabe que eu não consigo fazer esse tipo de coisa sem pedir.
— Tudo bem, meu gatinho, pode ir.
Leonard me dá um beijo e sinto o seu hálito mentolado e refrescante,
quando a sua língua invade a minha boca por alguns segundos.
— Se continuar assim, vou ter que ativar o meu modo safada e você
não vai tomar banho antes de terminarmos…
— Parece que o modo safadinha já está sendo ativado…
— Hum. Vá logo tomar esse banho, Leonard!
Ele levanta as mãos, em sinal de rendição, e vai em direção ao
banheiro, quando eu grito:
— Sabe onde tem as toalhas limpas?
— Sei.
O banheiro fica no meu quarto, então, como quem não quer nada,
entro no cômodo e me jogo em cima da cama, para que eu seja a primeira
coisa que o meu namorado verá ao sair do banho.
Tiro a sandália e fico esperando, quando, de repente, vejo a tela do
celular dele acender.
É quase como um instinto natural, fico tentada a ver qual foi a
notificação. Não consigo me segurar e pego o celular, a notificação mostra
que há uma nova mensagem, de um número desconhecido.
Fecho os olhos e começo a devolver o celular para onde ele estava,
mas há aquela mosquinha atrás da minha orelha e respiro fundo antes de
desbloquear o aparelho.
Leonard sempre diz que acha um desperdício de tempo colocar
senha no celular, por isso, qualquer pessoa pode desbloquear facilmente e é
isso que eu faço.
Meus dedos ágeis abrem a mensagem e eu vejo que é uma foto de
mulher. Mesmo que o número não esteja registrado, sei que os dois se
conhecem, pois ela disse “eu entendo que faz tempo, mas o encontro nos fez
bem, deixamos tudo para trás e podemos seguir a nossa vida”.
Sinto algo na boca do estômago que me faz querer vomitar.
Se eles se encontraram, fico pensando se fizeram algo a mais do que
apenas conversar, já que a mensagem diz “o encontro nos fez bem”.
Será que eles tiveram uma “despedida” selvagem?
O pensamento faz o meu estômago embrulhar mais uma vez e eu
fico com vontade de chorar, por ter sido traída sem nem perceber os sinais.
Mesmo com a respiração acelerada, crio coragem para ver a pessoa
com quem Leonard me traiu. Me arrependo imensamente assim que a foto
carrega, pois a ruiva bonita e atraente, é muito parecida comigo, o que me
causa uma enorme confusão.
Se somos parecidas, porque ele me trocou por ela?
Uma lágrima começa a cair, seguida de várias outras e é quando eu
escuto a porta se abrir. Encaro Leonard e vejo o choque bem presente no seu
rosto, e percebo que é verdade o que eu li.
Ele realmente ficou com outra mulher.
Não acredito que eu realmente acreditei que dessa vez a vida fosse
ser bacana comigo!
Claro que em algum momento as merdas iam começar a aparecer,
pois, bem, eu sou Cora Powell.
— Cora, o que está fazendo com o meu celular?
— Ah, então…— Minha voz está tão embargada que nem sei como
continuar a falar — A-agora, não posso pegar no seu celular e descobrir o seu
segredinho sujo?
As lágrimas caem desenfreadamente pelo meu rosto, e eu passo a
mão, tentando limpá-las, inutilmente.
— O que você leu, Cora?
— Li o suficiente para não querer mais olhar na sua cara!
Levanto-me e sei que o meu rosto deve estar cheio de máscara para
cílios, mas, ergo o meu queixo e faço a única coisa que eu consigo pensar,
para a minha saúde mental.
— Sai da minha casa, Leonard, eu nunca mais quero ver você!
— Me deixa explicar, querida.
— Não há nada para explicar, sai daqui.
Jogo o celular para ele, que quase cai no chão, e sinceramente, seria
perfeito se quebrasse, assim como o meu coração está nesse momento.
Depois que ele sai do meu quarto, me deixando totalmente destruída,
eu volto a chorar e soluçar.
— Nunca mais… eu vou dar o meu coração a ninguém.— sussurro,
deixando com que as lágrimas corram livremente através dos meus olhos.
Acho que eu chorei tanto que poderia ver o meu reflexo no chão.
Cora
Quantas vezes, fui enganada pela minha própria ilusão?- Mia

— Acho que deveria falar com ele, minha filha.


Annie está me ajudando a organizar a minha doceria. Tudo está
ficando perfeito, optei pela cor branca com azul, para fugir da cor-de-rosa,
pela primeira vez na minha vida.
As paredes de tijolinho ficaram incríveis, com uma namoradeira
rosa(bem, não fugi de todo o rosa, certo?), encostada com uma manta peluda
e algumas almofadas.
Está tudo muito estiloso e é a minha doceria que está me ajudando a
superar a traição de Leonard.
Tenho estado tão ocupada, que quando chego em casa, só penso um
pouco nele, antes de cair no sono, e de manhã, tenho tantas coisas para fazer
que Leonard não tem lugar nos meus pensamentos.
E contei para Annie sobre o meu término com o asiático.
Obviamente, ela disse que eu deveria escutá-lo, mas é muito fácil falar,
quando se tem provas do que aconteceu.
— Não temos nada para falar, ele que errou comigo, não o contrário.
— Só acho que deveriam ter um fim melhor do que esse.
— A minha maior raiva é que a família dele é incrível, Annie! A
mãe dele disse a mim que eu era como uma filha, e olhe só o que ele fez
comigo!
— Não estou dizendo que ele está certo, só que você deveria sentar
com ele e conversar, como adulta.
Sei que não fui nem um pouco adulta, é que, me entenda, eu me senti
humilhada ao chorar na frente dele por algo que ele tinha feito comigo e
depois, simplesmente não consegui encará-lo.
Tenho evitado esbarrar com ele ao máximo, e como sei os seus
horários, fica bem fácil.
— Agora que você falou isso, lembrei da primeira vez que fui
conhecer sua família… o primo dele estava alertando ele sobre algo, e era
sobre isso. Leonard estava de casinho com aquela ruiva fazia tempo e eu fui
uma tonta por não perceber.
— Cora, escute o que você está dizendo… você realmente deve falar
com ele, e não estou dizendo para perdoá-lo.
— Eu nunca perdoaria uma traição, e você sabe disso. Só não
consigo olhar para o rosto dele, porque me magoa demais.
— Uma hora você vai ter que conversar com ele, não pode
simplesmente fingir que nada aconteceu.
— É complicado.
E isso faz a conversa parar, mudo o assunto para algo relacionado a
doceria e isso faz a atenção de Annie mudar.
Se está se perguntando o que aconteceu com Regina, aqui vai. Assim
que assinei o contrato de aluguel da doceria, pedi demissão e foi tão
libertador, sabe?
Simplesmente, saí de lá, sabendo que construiria algo feito por mim,
e ser a minha própria chefe foi de longe a melhor decisão da minha vida.
Regina não aceitou isso muito bem, ainda mais quando levei Annie
junto comigo, disse que jogaria uma praga para que as coisas dessem errado,
mas eu tô de boa, porque não acredito nessas coisas.
Além disso, a minha vida tá tão complicada, que uma praga a mais
ou a menos não fará tanta diferença assim.
Uma pena que eu vou perder o contato com Vic, a filha da bruxa má,
mas penso que vamos dar um jeito de nos ver. Talvez a bruxa má possa me
perdoar um dia.
Eu acredito muito que as coisas dão certo no fim, mesmo sendo
pessimista.
Não sou uma mulher ingrata, pelo contrário, sei que Leonard me
ajudou a controlar as minhas finanças e isso me fez ter um capital para
começar as coisas. Vou tentar me virar por um mês e vou trabalhar até as
minhas mãos doerem para conquistar tudo com o meu próprio suor.
— Me passa aquele prato, por favor.— Annie me pede e assim que
eu viro, sinto algo na ponta do meu estômago e minha visão escurece.
Apoio-me na mesa redonda e levo uma das mãos à cabeça.
— O que houve?
— Só tive uma tontura. Acho que girei rápido demais.
Sinto o meu estômago revirar e respiro fundo, tentando fazer com
que os meus batimentos cardíacos voltem a se acalmar.
Fecho os olhos e sinto o corpo ficar molenga, até que Annie chega
perto de mim, com a testa franzida e me ajuda a sentar.
— Vou pegar uma água para você, está muito pálida.
Continuo com os olhos fechados até que ela me traga a água e eu
beba todo o líquido.
— Senti como se fosse desmaiar, e isso nunca aconteceu.
Lembro, de várias vezes, que via os personagens desmaiarem e ficar
me perguntando como seria esse sentimento. Agora sei que não é nada legal e
nem divertido.
—Quer ir ao hospital?
— Prefiro ver se vai passar, não gosto muito de ir para hospitais.
Espero um minutinho, mas a inquietação não diminui, e sinto como
se fosse desmaiar novamente. Tento manter os olhos abertos, mas assim que
ficam pesados demais, tudo escurece por completo.
••
Abro os olhos, e a luz me incomoda bastante por alguns segundos.
Vejo Annie com o rosto preocupado se inclinar na minha direção.
— Ai meu Deus, até que enfim, já estava morrendo de preocupação.
Vou chamar o médico!
Mal tenho tempo para processar o que houve, quando vejo o médico
entrar, com o seu jaleco e alguns papéis na mão. Franzo a minha testa,
tentando lembrar de como vim parar aqui.
— O que houve?— pergunto, com a voz falhando.
— Ela vai ficar bem, doutor? Acho que foi o estresse das últimas
semanas…
— Vai sim, pedi para fazer um exame de sangue rápido e gostaria de
conversar com a senhorita Powell.
Tento abrir um pouco mais os olhos e não vejo nenhum rastro de
preocupação nele, por isso, tento ficar calma, para não voltar a desmaiar.
— O que houve?— pergunto novamente.
— Como está se sentindo?
É tão gentil o tom de sua voz, que tento abrir um sorrisinho gentil.
Eu estou bem, talvez seja a falta de vitaminas no meu corpo, devido
as horas em que não tenho me alimentado.
— Agora, estou me sentindo melhor…
— Ótimo, você tem se sentido enjoada atualmente?
Olho para Annie e a cor parece sumir do seu rosto, dá uma olhada
para o médico e senta na poltrona do acompanhante.
— Tenho gastrite causada pela ansiedade, então, me sinto enjoada
regularmente…
É um pesadelo ficar ansiosa e enjoada ao mesmo tempo, pode
acreditar!
— Sua menstruação está regular?
— Bem, a minha menstruação é desregulada, pois tenho cistos no
meu ovário, mas na semana passada, tive alguns dias de sangramento de
escape.
O médico me olha com uma cara estranha e eu começo a ficar
preocupada. Será que estou com algo pior do que cistos no meu ovário?
Talvez um mioma? Câncer?
— E que cor era esse sangramento?
Franzo a testa e penso em como achei estranho a minha menstruação
estar com uma cor diferenciada, quase rosa bem clarinha. Diferente da cor
vermelha habitual.
— Estava esquisita, quase rosa.
Ai meu Deus, estou com câncer, não estou?
— Bem, isso só prova a minha teoria.
As minhas sobrancelhas estão quase unidas, devido ao meu
nervosismo e quase dou um grito para que ele possa me dizer logo o que está
acontecendo.
— Eu vou morrer?
— Não, Cora, mas você está grávida!
A minha visão escurece levemente, mas luto para que os meus olhos
não fechem, até que as palavras recaem sobre mim e eu dou uma risadinha.
— Impossível! Não estou ficando com ninguém faz quase um mês e
eu acabei de falar que menstruei!
Se eu menstruei, como posso estar grávida, isso é impossível demais.
— O que você teve, Powell, se chama de nidação e ocorre quando o
óvulo fecundado se posicionou no útero.
De repente, eu respiro fundo, e olho para Annie, com os olhos
arregalados.
— Impossível! Foi isso que deu no meu exame de sangue?
— Sim, e parece que você não quer ouvir os parabéns?
— Não, não quero, péssima hora!
Tento lembrar como fui deixar isso acontecer e é óbvio que recordo
do dia que fiz sexo desprotegido com Leonard, pois estava excitada demais e
não tínhamos camisinha sobrando.
— Que droga!
— Vou te deixar com a sua acompanhante.
E depois de jogar essa bomba, ele sai, claramente acostumado a dar
essa notícia, como quem dá bom dia.
— Meu Deus, Annie, o que eu faço agora?
— Vai ter essa criança.
— Só porque é crime abortar, porque eu não quero ter esse filho!
Ainda mais com um traidor.
Meu Deus, um filho com o homem que me traiu! Isso é demais para
o meu coração lidar.
— Calma, não pense besteira, é até um pecado pensar em abortar.
— Como poderia ser um pecado se ainda é um feto? Não estou
matando nada.
— Não acredito que realmente está pensando em abortar, Cora.
Eu realmente estou, mas, é claro que é crime, então, não posso fazer
isso. O que me deixa ainda pior é saber que eu vou ter um bebê, e mal sei
cuidar de mim mesma.
Pior ainda… vou ter que conviver com Leonard, quebrando o meu
coração em milhares de pedaços sempre que o ver por aí e sei que quando ele
se apaixonar por outra pessoa, vou estar sempre me magoando.
— Eu tô mesmo, porque é difícil, e agora sim, estou pensando no
futuro mais catastrófico possível. Sei que estarei, cuidando de uma criança,
sozinha, e precisando levá-la até o meu trabalho.
— Você poderia contratar uma babá!
— Não sei se quero outra pessoa criando o meu filho.
— Já está começando a aceitar?
O pensamento me faz chorar, porque eu nunca pensei em ter filhos
nesse momento, queria que o meu negócio já estivesse bem firmado até
pensar nisso.
— Não… eu quero morrer, Annie.
— Nunca mais diga esse tipo de coisa.
Mesmo com o tom rude de sua voz, ela vem até mim e me abraça,
tomando cuidado para não bater no meu soro.
Estou me sentindo destruída, pois estou grávida e isso para mim é
um pesadelo. O pior cenário em que eu poderia estar.
Penso em mim, com um bebê nos meus braços, chorando o tempo
inteiro, várias noites reviradas, e ainda tendo que dar conta da minha própria
empresa.
— Isso é demais para mim, então, sim, eu quero que esse bebê não
nasça.
Sei que pareço egoísta falando esse tipo de coisa, e eu sempre fui
contra aborto, mas agora, me vendo nessa situação, sem saída, estou
pensando diferente.
Além disso, abortar deveria ser uma escolha da mulher e não das
leis, pois é o nosso corpo.
— Olhe, querida, você tem o direito de estar confusa, mas essa
criança não tem culpa de nada. Espero que entenda isso.
Annie se afasta até poder olhar nos meus olhos.
— Sei que não tem, agora, quero dormir um pouco… você trouxe o
meu celular? Quero assistir alguma coisa para poder relaxar, se é que me
entende…
— Claro.
A minha amiga senta na poltrona e liga para o marido, para avisar
que estou bem e que depois conta o restante da história, enquanto isso,
pesquiso sobre histórias de pessoas que abortaram.
É horrível!
As primeiras páginas falam em como você consegue, mas os riscos
são enormes. A mulher pode sangrar até ter hemorragias, dentre outras
coisas.
Sou muito burra por ter engravidado, mas ao ver essas manchetes,
em que vários procedimentos dão errado, prefiro não me arriscar.
Ademais, eu estaria cometendo um crime, então, do que adiantaria,
eu não ter um bebê, mas ir para a prisão?
Choro baixinho até dormir, e espero que Annie não tenha escutado.
Leonard
Não há nada para dizer nesse momento.- Leonard

A primeira coisa que eu faço ao ver o número na minha tela, é piscar


os olhos com força, para ter certeza de que não é um sonho.
O número de Cora aparece junto de sua foto sorridente e eu me sinto
um merda ao lembrar da última vez que nos falamos. As semanas se
arrastaram depois que ela descobriu sobre o meu passado. Eu não a julgo,
mas, Cora, deveria ter me escutado e talvez, tivesse ficado.
Minhas mãos estão trêmulas quando eu atendo, e escuto apenas o
som de sua respiração. Sinto tanto a sua falta que até me emociono e sinto um
nó na garganta.
— Oi, precisamos conversar.
Era tudo o que eu gostaria de ter ouvido, algumas semanas atrás.
— Claro… você está em casa?
— Estou na porta da sua casa, pode abrir?
O meu coração acelera, a pensar que a garota que eu amo está tão
perto de mim, e quer conversar comigo.
Assim que abro a porta, ela está com o celular na mão, olhando para
mim e percebo que chorou. Será que está ainda tão mal, mesmo depois de
todo esse tempo?
— Oi.
— Oi.
Peço para que Cora entre e sente no meu sofá, e ficamos em silêncio
por alguns segundos, antes que eu comece.
— Então…
A proximidade está me matando e a minha ansiedade para saber o
assunto, também.
— Tenho que contar algo.
— Eu também preciso dizer algo, antes que você comece, Cora…
É estranho o jeito como ela está agindo, pois, parece que está
assustada.
— Pode falar, então.
— Não quero que pense que te traí, você leu uma parte da conversa e
entendeu tudo errado.
— Não sei se consigo acreditar, Leonard, já que estava bastante
explícito.
O seu tom de voz é tão distante, como se não se importasse com
mais nada, que começo a ficar apreensivo. Será que eu a deixei depressiva
depois daquele dia?
— Tem que acreditar em mim, Cora. Aquela mulher estava no meu
passado e eu precisava encontrá-la para colocar um ponto final em tudo.
— Entendo… é só isso?
Respiro fundo e fico com vontade de abraçá-la, beijá-la e todo o
resto.
— O que está acontecendo, Cora? Porque não parece que está aqui
para ouvir as minhas desculpas…
— Olhe, Leonard, não sei como isso foi acontecer, mas…
Ela para e começa a chorar, e desta vez, não posso ser o seu ombro
amigo, pois não é o que ela quer.
— Pode falar, não há nenhum problema.
Por alguns segundos, penso que ela vai me dizer que me traiu e eu
vou ficar arrasado, mas o que sai da sua boca é diferente.
— Estou grávida!
O meu mundo cai e eu fico completamente sem palavras, pois não
sei o que devo dizer nesse momento. Eu serei pai?
Quase digo que nos protegemos bem, mas recordo de uma vez que
estávamos empolgados demais para procurar uma camisinha, e isso foi pouco
antes de terminarmos.
— Tem certeza? Talvez seja algum problema hormonal.
— Ah, Leonard, você não faz ideia do quanto eu desejaria que fosse.
— Eu assumo.
— Não vim aqui para isso, só queria avisar.
— Cora…
— Nunca planejei uma gravidez, Léo, mas ela veio e agora, não sei
o que fazer.
— Vou te ajudar nisso, querida, pode ter certeza.
— Esse momento é bastante delicado para mim, por causa da minha
empresa.
— Eu sei disso, mas estou disposto a ajudar. Só queria que soubesse
que eu amo você, Cora Powell.
Vejo nos seus olhos que ela sente o mesmo, mas eu acho que
estraguei tudo quando resolvi dar um ponto final no meu passado.
— As vezes, o amor não é suficiente. Eu não fui suficiente para
você, Leonard.
— Amor, você tem que acreditar em mim, talvez eu possa te
explicar o que aconteceu.
— Você pode tentar.
Esse é o momento que eu sei que ela ainda gosta de mim, ou não me
daria a oportunidade de dar a minha satisfação.
— Conheci aquela mulher há muito tempo, e ela me traiu da pior
maneira possível, por coincidência, ela era muito parecida com você.
— Você apenas me notou por causa dela?
— No início, pensei que sim, sendo bem sincero, mas te olhando
agora, você é uma mulher incrível, Cora, então, tenho certeza que outras
coisas chamariam mais a minha atenção do que apenas a beleza.
— É muito difícil ouvir isso, porque somos realmente muito
parecidas, talvez, se não fosse por isso, eu não estivesse aqui.
— Não diga isso, Cora, eu realmente amo você, de uma forma única
e especial.
— Você pode ter dito a mesma coisa para ela e eu nunca saberia!
— Ter um filho com você significaria um mundo para mim e eu
nunca pensei nessa possibilidade antes de te conhecer melhor.
Isso faz com que ela pare e fique me olhando, procurando as
palavras certas para falar comigo.
— É muita coisa para esse momento, Leonard, mas porque você quis
falar com a sua ex-namorada?
— Precisava me encontrar para deixar tudo para trás, porque aquela
traição mexeu muito comigo.
— Tenho que pensar em tudo isso.
— Pense, Cora, mas volte para mim. Sei que estou pedindo demais,
mas quero criar essa criança junto a você e sei que nós seremos muito felizes.
— Nós já éramos muito felizes, até aquele dia.
— E podemos ser novamente, me perdoe e eu prometo que vou
contar tudo para você.
— Você deveria ter me dito isso antes…
— Eu errei ao esconder algumas coisas sobre o meu passado, mas
estou muito arrependido e determinado a mudar.
— Depois eu falo com você, Leonard, não estou me sentindo muito
bem agora.
Arregalo os meus olhos e assim que ela levanta, faço o mesmo.
— O que está sentindo?
— Estou um pouco enjoada, mas, agora, estou descobrindo que não
é nada fácil engravidar.
— Tomou algum remédio?
— Não, só preciso deitar… ou vomitar, mas tudo bem.
— Não está tudo bem se você está mal.
— Não se preocupe, eu sei me virar. Fique bem.
E, então, ela me deixa.
Não sei como consigo ser forte, mas ela sai pela porta e eu desabo no
meu sofá.
Ainda não acredito que serei pai. Terei um filho com a mulher que
eu ainda amo.
Como se o destino quisesse nos juntar novamente.
Sei que, vou lutar para reconquistá-la, mesmo que isso me custe
caro.
Cora
Tudo nessa vida, tem um limite.- Luke

Quando eu e Leonard éramos amigos, encontrei alguém que


realmente me entendia, e pensar onde chegamos, me faz ficar triste, pois eu
podia contar com ele para tudo.
Talvez, o nosso erro tenha sido se entregar ao desejo.
Eu estava muito bem, sozinha, e depois que ele apareceu, tudo
mudou. Finalmente, eu tinha alguém para confiar, para assistir algo no fim da
noite.
Se eu pudesse voltar, naquele dia, no elevador, teria ficado na minha
e não ter desejado algo a mais.
Mas, quando finalmente resolvi seguir o meu coração, ele foi
despedaçado em mil pedaços.
O erro de Leonard foi não ter me dito sobre o seu encontro com o
passado, e se ele não me contou algo assim, como espera que eu possa
confiar em algo depois?
No entanto, há outra parte de mim, que quer tentar mais uma vez, e
não apenas por mim, mas pela criança que está no meu ventre.
Envolo a minha barriga e, mesmo que no primeiro momento eu
tenha pensado em abortar, agora, tenho um senso de proteção com esse bebê.
Me pergunto, como ele vai ser e, se vai ter os mesmos olhinhos puxados do
pai.
É estranho, porque, talvez, esse bebê mude toda a minha estratégia
profissional. Daqui a menos de 9 meses, vou ter que contratar mais alguém
para trabalhar comigo, porque vou ser mãe.
Eu vou ser mãe!
A ficha está começando a cair, e é bem nesse momento, que eu
começo a me desesperar um pouco mais.
••
— Vim te convidar para um passeio.
Leonard chega tão rápido enquanto estou tirando algumas coisas da
minha caixa, que nem tenho tempo de ficar nervosa antecipadamente.
— Como descobriu onde é a minha cafeteria?
— Tenho os meus métodos…
Tenho quase certeza de que foi Annie e seu instinto maternal de
querer fazer as coisas darem certo.
— E para onde quer me levar?
— É surpresa.
— Você sabe que eu sou naturalmente ansiosa.
E, não tenho certeza se já pensei o suficiente nas coisas que ele me
falou no outro dia.
— Sei, mas não precisa ficar comigo.
Minhas mãos já estão geladas após essa aparição surpresa, mas fico
calada.
— Vamos lá, Cora, sei que quer ir.
— Não pode vir aqui e me dizer o que eu quero.
— Tudo bem, mas o que me diz.
— Ta certo, eu vou, mas tenho que voltar cedo, para terminar de
organizar as coisas.
Já está quase tudo encaminhado, então, não tem problema sair um
pouco, além disso, estou tão sobrecarregada que realmente preciso disso.
••
Paramos no Corona Park e eu dou um sorrisinho, porque, gosto
bastante do ambiente animador.
— Você gosta bastante de parques, não é?— pergunto.
Leonard estaciona e vira para mim, por um segundo, parece que
nada aconteceu e que estamos nos divertindo juntos, como antigamente.
— Gosto, mas me responda uma coisa…
— Pode falar.
— Grávidas podem caminhar ou tem alguma restrição?
O comentário me faz dar uma gargalhada, pois só agora ele vem me
perguntar isso, quando já estamos aqui.
— Claro que eu posso caminhar, Leonard, não é como se eu
estivesse doente!
Ele solta o ar e sorri, parece realmente bastante aliviado por eu não
estar doente.
— Não quero que aconteça nada com você ou com o meu filho.
Nunca vai ser normal ouvir isso. Porque é muito estranho estar
grávida. Sinto os sintomas, mas não consigo acreditar que é verdade, que há
uma pessoa se formando em mim.
É quase como se houvesse um alienígena aqui dentro.
— Não vai, não se depender de mim.
Fico em silêncio por alguns segundos, esperando que ele diga
alguma coisa, mas ele não faz e me encara. Talvez esteja procurando as
palavras certas.
— Olhe, quis te trazer aqui para fazer o seu dia ficar melhor.
— E como você sabia que ele estava ruim?
— Sei que não estava ruim, porque você estava organizando as
coisas da sua empresa, mas queria deixar ainda melhor.
Fico tocada por suas palavras, e sei que tenho medo de traição e de
tudo o que envolve um relacionamento que não é saudável, mas quero ver
onde essa tarde irá nos levar.
O relacionamento dos meus pais é baseado em traição e eu não
gostaria de viver a minha única vida, da mesma maneira.
— E o que preparou para essa tarde?
— Queria caminhar com você.
O meu coração bobo vê a sinceridade em suas palavras e dança
dentro do meu peito.
— Vamos, então.
Está, de fato, um belo dia para uma caminhada, pois, mesmo que o
sol esteja forte, o clima está ameno por causa do vento.
Nos primeiros minutos é um pouco esquisito, mas a paisagem está
deixando tudo mais leve e estamos indo para perto da fonte com o globo.
— Planejei tudo na minha cabeça e não consigo falar nada nesse
momento.— diz ele e inclina a cabeça na minha direção.
Assim que chegamos na fonte, sento-me, e o som da água me faz
relaxar um pouco.
— Comece do começo…
— Bem, eu só queria ressaltar o quanto você é incrível e o quanto
me orgulho por ter conseguido fundar a sua própria empresa.
— Não foi fácil… sei que todos os empresários dizem isso, mas é
verdade, porque eu não consigo me controlar quando vejo alguma vitrine
bonita de bolos.
— Ah, eu lembro bastante de quando nos conhecemos…
— Parece que foi ontem, mas, ao mesmo tempo, parece que faz
muito tempo.
— Isso, porque o tempo é relativo, quando estamos junto da pessoa
que amamos, a hora passa mais rápido.
— Deve ser.
Leonard estende a mão e toca na minha, nem tenho forças para me
afastar, pois quero sentir o calor do seu corpo no meu.
— Me orgulho bastante da mulher que você é, de como superou o
seu consumismo e está levando o seu sonho adiante.
— Eu não conseguiria sem a sua ajuda. Obrigada por estar comigo e
me ajudar com a sua planilha, eu evitei bastante gasto depois dela.
— Fico feliz por ter feito a minha parte e te ajudado.
E, sinto o coração acelerar mais uma vez, quando ele começa a me
alisar. É tão íntimo e acalentador, que preciso respirar fundo.
— Está melhor da sua ansiedade?
— Estou, continuo fazendo terapia, e é o que tem me feito suportar a
vida, ultimamente.
É libertador quando eu faço uma sessão de terapia e saio com
minhas energias renovadas dela. Acho que todo mundo deveria ter
acompanhamento psicológico, para experimentar o quanto é energizante.
Desde que comecei, a minha ansiedade começou a ser controlada,
pois, como a minha psicóloga disse, mesmo que a ansiedade seja muito
grande, ela não mata ninguém, nós podemos controlá-la com a nossa mente.
— Nunca conheci ninguém como você, sabia? A sua forma de ver o
mundo e de como usa rosa como se fosse uma religião…
— Rosa é uma cor muito bonita, sabe?
— É a sua cor.
— Sei que as coisas estão estranhas entre nós, mas temos que ser
amigos, pelo bem do nosso bebê.
— Olhe, Cora, sinto muito que tenha visto aquela mensagem e sinto
muito de como terminamos, mas eu fui sincero no que eu disse.
A forma como ele está me olhando e me tocando, quase me faz
chorar, porque, pois não sei no que acreditar. A razão diz que eu deveria
desconfiar, mas o meu coração, quer acreditar nele e em suas palavras.
— Leonard, você foi o meu porto seguro quando eu estava
desabando, e é um amigo maravilhoso, mas nesse momento não sei o que
pensar.
— Sempre quis que o nosso relacionamento fosse mais do que
apenas sexo, Cora, e se você me der mais uma chance, quero fazer as coisas
do jeito certo.
— E o que isso significa?
— Que eu quero casar com você!
Acho que o meu queixo cai, assim como naqueles desenhos
animados, a boca indo até o chão, sem acreditar no que ele acabou de dizer.
— Achei que fosse mais adepto a modernidade, e que casar fosse
algo muito brega.
— Com você, meu amor, eu gostaria de tudo, porque você merece
viver um amor inesquecível.
Suas palavras me fazem chorar. Fico calada e observo as pessoas
indo e vindo de todas as direções.
— Realmente não sei o que dizer.
— Quero cada pedacinho de você, Cora Powell, e eu realmente tinha
todo um texto preparado na minha cabeça, para que você pudesse me aceitar
de volta e não houvesse escolha a não ser me querer.
O problema, querido leitor, é que eu quero bastante, quero com cada
pedaço de mim, quero como preciso do ar. Eu amo esse asiático que entrou
na minha vida e me fez sonhar com um amor como o de um livro. Aquele
amor clichê e brega que todo mundo sonha uma vez na vida.
Por isso, eu choro e sei que grande parte disso, se deve ao
monstrinho que carrego na minha barriga, misturado com o meu ascendente
em câncer.
— Não precisa preparar nada, eu gosto quando as coisas são feitas
na hora.
— Então, aqui vai, sei que se você está aqui, talvez tenha pensado
em nós dois juntos, ou talvez, só queira ser minha amiga, pois teremos uma
criança, juntos.
— Continue…— digo quando ele faz um pausa, mas não falo se está
correto ou não.
E, sim, ele está correto nas duas coisas, uma não anula a outra.
— E eu quero ser o seu amigo, querida, quero estar ao seu lado em
todos os momentos, mas também, quero ser o seu parceiro e ser a pessoa que
acorda ao seu lado, todos os dias.
Leonard dá uma pausa e sua mão vai até o meu rosto. O seu toque
me faz arrepiar. Cada parte de mim deseja esse homem com todo o meu ser.
— Cora Powell, eu amo você, e o meu coração nunca escondeu isso.
Nunca pensei que fosse querer começar uma família, mas quero tudo, desde
que você esteja comigo.
Já estou soluçando de tanto chorar, e, por impulso, sento no seu colo
e o abraço, nem me importo com as pessoas que estão olhando na nossa
direção.
— Não pode… me dizer… esse tipo de coisa…
— Posso e ainda tem mais… esse tempo que estive longe de você foi
muito difícil para mim, porque eu percebi que nunca mais me recuperaria.
É nesse momento, movida pelos hormônios, que eu crio coragem e o
beijo, é só um selinho no início, mas logo puxo o seu cabelo e intensifico as
coisas entre nós.
— Estamos num lugar público, Cora.
Quase digo que não me importo, mas eu deveria, pois podemos ser
presos e eu não quero que o meu filho tenha uma mãe com antecedentes.
— Realmente não gostaria de interromper esse beijo delicioso,
mas…
— Não precisa dizer nada, eu entendo.
E realmente entendo.
— E mais uma coisa sobre você…
— Hum…?
— É a mulher mais bonita de todas, a mais incrível e eu sou grato
por conceber com você.
— Conceber? Que maneira horrorosa de falar.
— Não ligo, foi a primeira palavra que veio na minha mente.
Balanço a cabeça, mas sorrio, pois, ao ouvir essas palavras, decidi
que quero dar uma chance a nós dois. Talvez tenha sido muito rápido, mas eu
o amo e o meu coração é dele.
— Hum… acho que depois disso, vou querer apenas a sua amizade.
— Poxa vida, nunca imaginei que apenas uma palavra mudasse tudo.
— Mudou.
— Você nem imagina o quanto a minha mãe ficou feliz quando disse
que você estava grávida…
— Ainda não contei aos meus pais.
— O sonho da minha mãe era ser avó.
— Eu amo a sua família.
— Quando se casar comigo, será a nossa família…
Só em pensar em viver numa família legal, o meu coração bate mais
rápido.
— Você contou a ela que nos separamos?
— Deixei esse pequeno detalhe de fora.
— E se não voltássemos?
— Eu sabia que você não resistiria ao meu charme coreano.
— Bem convencido.
— Cora, você me dá uma chance para recomeçarmos juntos?
— Ainda estou me acostumando com a ideia.
— Talvez, se me beijar mais uma vez, terá a resposta que tanto
busca.
Abro um sorriso e encosto a minha testa na sua, querendo cada vez
mais e mais desse contato, desse calor humano que tanto senti falta.
— Talvez…
E com isso, encosto a minha boca na sua.
O meu coração, está quase explodindo de felicidade.
— Amo você, Leonard Matsui.
E, nesse momento, ele olha para mim, os olhos cheios de lágrimas, e
coisas não ditas.
Poucas palavras, de fato, mudam tudo.
Cora
Epílogo

Ao ouvir o choro e segurar a minha filha nos braços pela primeira


vez, não consigo conter as lágrimas. Não sei como fui tão forte e aguentei
todas as noites mal dormidas e dores na minha coluna, mas tudo isso valeu a
pena.
Viro o meu rosto para o outro lado e vejo Leonard com o rosto cheio
de lágrimas, observando toda a cena. Dá para ver que está tão feliz quanto eu.
Nossa menininha!
Não consigo expressar o quanto é incrível vê-la pela primeira vez, os
olhinhos puxadinhos e eu sorrio, pois é ainda mais linda do que eu andava
imaginando.
— Ela saiu de mim, amor.
— Saiu sim, querida, e é a mais linda do mundo.
Querido leitor, esses últimos meses eu fui mais feliz do que qualquer
ser humano poderia ser. Algo parecido com um conto de fadas moderno, mas
nada se iguala a esse momento.
É estranho perder a barriga enorme, mas é surreal poder segurar a
minha bebê nos braços. Poder tocar o seu rostinho tão lindo.
Hoje é o melhor dia da minha vida e eu posso dizer isso com
convicção.
— Sou a mulher mais feliz do mundo.
— E eu sou o cara mais sortudo, por ter encontrado vocês duas.
— Eu te amo.
— Te amo demais, querida.
E eu choro novamente, pois já sou naturalmente uma manteiga
derretida.
Quando os médicos levam a minha filha para longe, olho para
Leonard, pois combinamos que ele escolheria o nome assim que ela nascesse.
Foi arriscado? Sim, mas também, torna tudo ainda mais especial.
— Heaven.
— Heaven Matsui, é um nome perfeito!
Sinto uma leve pontada, porque estou sendo costurada nesse exato
momento, e isso também é muito estranho.
Sei que Heaven também é um outro nome para céu, que lembra
Skylar e foi ela que nos uniu no passado, de uma maneira bem esquisita.
E então, começo a pensar na nossa história, de quando estávamos na
faculdade, até aqui.
— Obrigada por existir, baby.
— Eu poderia agradecer pelo mesmo motivo.
E, mais uma vez, querido leitor, eu começo a chorar.
Agradecimentos

Queria dar um final fofo para a Cora, porque ela merecia.


Não devemos falar da ansiedade apenas em um mês específico, mas
nos outros onze também.
Durante essa pandemia, passei por muitas crises de ansiedade, então,
tentei colocar nesse livro tudo o que eu sentia, enquanto escrevia.
Só de pensar nisso, sinto uma vontade de chorar(sou muito chorona).
Eu busquei ajuda psicológica, mesmo que online, porque as crises
estavam muito frequentes, e eu estou conseguindo vencer isso, então, você
também pode.
Estamos passando por uns momentos difíceis por causa desse
“corona vírus”, mas tudo nessa vida passa.
De onde você estiver, sinta-se abraçado. Pode contar comigo, seja de
onde for.
Espero que tenha uma boa vida.
Abraços.

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