Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MEU
A história de Charlotte e
Benjamin
Copyright © 2017 Tamires Barcellos
Capa: Dri K. K.
Revisão: Tamires Barcellos
Diagramação Digital: Tamires Barcellos
***
***
Depois de quatro horas de viagem, o jatinho pousou
em segurança em uma pista reservada no aeroporto de
Paris.
Johnson, que ficaria em Paris por apenas dois dias
para orientar a equipe, nos levou para o meu novo
apartamento. O prédio era luxuoso, mas discreto e tinha
um elevador reservado que só era liberado através de uma
senha e nos levava direto para a cobertura.
Bem, dizer que meu pai havia exagerado no espaço e a
segurança, era bobagem.
A cobertura tríplex contava com um hall grande e
ornamentado, com o piso em porcelanato branco e
brilhante, que nos levava em direção a sala ampla, com
um grande jogo de sofás em couro cor de creme, uma
mesinha de centro em madeira maciça. Mas o que
realmente tirou o meu fôlego, foram as enormes paredes
de vidro que iam do chão ao teto e que me davam uma
vista espetacular da Torre Eiffel.
O corredor a direita levava direto para a cozinha no
canto esquerdo, próximo a parede de vidro, tinha a escada
que nos levava para o segundo andar. No piso superior,
haviam três suítes e eu já sabia o que faria com a terceira
que estava sobrando: um estúdio para mim.
E no terraço, havia uma piscina grande e uma jacuzzi,
ambas cheias. A jacuzzi borbulhando quase me chamou
para entrar e desfrutar daquela água quente e convidativa,
mas me contive e desci, encontrando Johnson na sala ao
lado de Benjamin, a equipe de segurança e duas
empregadas.
— Alteza, por favor, deixe-me apresenta-la o resto da
equipe.
Na frente dos outros empregados, Johnson fazia
questão de ser profissional. Me encarando uma última
vez, ele se virou para as duas mulheres a sua esquerda:
— Essas são Mary e Grace. Mary cuidará da limpeza
do apartamento e virá duas vezes por semana. Grace
cuidará da alimentação e virá três vezes por semana.
Assenti e as duas fizeram uma longa reverência.
— Será um prazer servi-la, Alteza — as duas
disseram, em uníssono.
— É um prazer conhece-las — falei, estendendo a mão
para Mary.
Ela me olhou assustada e em seguida olhou para
Johnson, como se buscasse instrução ou alguma permissão
para apertar minha mão. Johnson apenas sorriu e eu
assentiu, em seguida, sua mão um pouco calejada tocou a
minha. Com um sorriso tímido, Grace apertou a minha
mão quando estendi para ela.
— Esses são Thor, Peter, Graham, Asher e Jack. Thor
e Peter farão a segurança na frente do prédio, Graham é
seu motorista particular e Asher fará a segurança do
elevador. Ninguém, sem a sua permissão, passará por ele.
Jack cuidará do carro que a escoltará a qualquer lugar que
você for e Thor o acompanhará, para que você não fique
desprotegida. E, bem, como você já sabe, Benjamin é seu
segurança pessoal.
— Perfeito. É um prazer conhece-los também, rapazes.
— Será um prazer servi-la, Alteza — falaram,
igualmente em uníssono.
Os empregados se dispersaram. Grace já havia
preparado a refeição e ela, juntamente com Mary,
voltariam daqui a dois dias. Thor, Peter, Graham, Asher,
Jack e Johnson desceram e restou no apartamento apenas
Benjamin e eu.
Um apartamento tríplex, em Paris, apenas para nós
dois.
O destino sabia mesmo surpreender!
— Licença, Alteza, levarei as minhas malas para cima.
Thor havia subido com as minhas malas e restou
apenas as de Benjamin. Havia duas malas grandes ao seu
lado, mas uma pequena, de mão. Antes que ele a pegasse,
fui mais rápida e segurei a alça.
— Eu levo essa.
— Alteza, por favor, isso não é necessário...
— Eu faço questão.
— Alteza...
— Já estou subindo, Benjamin... — falei, parando nos
degraus da escada. — Vai ficar aí?
Sem alterar a expressão facial, Benjamin me seguiu. O
quarto dele ficava exatamente ao lado do meu. Por ser um
quarto de hóspedes, era um pouco menor, mas não perdia
em nada em luxo e conforto.
Deixei a mala próximo ao closet e me virei para ele,
que estava atrás de mim. Sem uma palavra sequer, deixou
as malas no chão e me fitou:
— A senhorita deseja alguma coisa? Quer fazer algo?
— Como o mundo dá voltas, não é, Benjamin? Quem
diria que iríamos nos encontrar de novo depois de eu ter,
sem querer, derramado um pouquinho de uísque na sua
cara? O destino é realmente surpreendente.
— Foi bom a senhorita tocar neste assunto. Eu gostaria
de me desculpar pelo meu comportamento naquela noite.
Foi realmente imperdoável e eu mereci a sua reação.
— Imperdoável? Que isso, sabia que eu nem me
lembrava mais? Sua presença naquele dia, no escritório
do meu pai, foi o que acendeu a minha mente.
— Ainda assim, espero que possa me desculpar...
— Só se você me chamar de Charlotte — falei,
encostando-me deliberadamente na cômoda ao meu lado.
Bem, não tão deliberadamente. Foi só para fazer um
charme mesmo, eu confesso.
— Alteza, não seria de bom tom...
— Seu tio me chama de Charlotte. Por que você não
pode fazer o mesmo?
— Porque meu tio trabalha para o Rei há muitos anos,
praticamente a viu crescer. Ele pode ter esse tipo de
intimidade, eu, não.
— Eu estou lhe dando essa intimidade, Benjamin. Não
será um desrespeito.
Ele me olhou nos olhos e eu agradeci por estar
encostada na cômoda, se não, com certeza eu teria caído.
Seu olhar fez minhas pernas tremerem.
— Quem sabe com o tempo, eu não consiga agir tão
informalmente.
— Naquela noite, você agiu bem informalmente. Até
me chamou de pirralha recém-saída das fraldas — falei,
sorrindo, sem deixar que a irritação me tomasse.
Ao contrário do que eu havia afirmado anteriormente,
claro, eu me lembrava muito bem daquela noite.
— Alteza, eu já pedi perdão...
— Eu só o perdoarei se me chamar de Charlotte. Antes
disso, nada feito, Benjamin — falei, desencostando-me.
Caminhei para perto da porta, talvez deixando meu
quadril balançar um pouquinho além do normal.
Quando me virei, seu olhar estava concentrado em
mim.
— Talvez a informalidade, intimidade ou como quer
que queria chamar, fará muito bem a nós dois, Ben.
Com uma piscadela final, saí de seu quarto e entrei no
meu.
Quando caí em cima da enorme cama queen-size, eu só
sabia rir, animada e excitada como nunca me senti antes na
vida.
Capítulo 4 – Benjamin
***
***
— Charlotte?
Uma vez grossa e levemente rouca começou a invadir a
massa nebulosa que era o meu cérebro. Senti um toque
gentil e delicado no meu ombro e quando abri os olhos,
fitei uma teia grossa que logo entendi que era meu cabelo.
Dedos gentis colocaram os fios para trás da minha orelha
e então, eu o vi.
Meu coração tremeu de verdade e eu quase soltei um
suspiro. A visão daquele par de olhos azuis era a coisa
mais linda que eu já tinha visto. Pena que foram esses
mesmos olhos que fizeram com que meu cérebro
despertasse com força e trouxesse a lembrança de mais
cedo à tona.
— Você não desceu para o almoço e já passam das
seis horas. Trouxe algo para você lanchar.
Me sentei e meus olhos levemente embaçados fitaram
Benjamin e a bandeja que ele havia depositado na minha
cama. Meu estômago estremeceu e eu agradeci por ele ter
feito isso silenciosamente.
Benjamin empurrou a bandeja para perto de mim e me
estendeu uma caneca branca de porcelana. A peguei e
quando seus dedos esbarraram nos meus, senti um choque
gostoso. O que era totalmente ridículo, pois eu deveria
odiá-lo agora.
— É chocolate quente. Espero que esteja do jeito que
você gosta.
O cheiro do chocolate fumegante me atingiu e eu senti
minha boca se encher de água. Tomei um gole e consegui
conter o gemido de prazer — ele não precisava saber que
estava do jeito que eu gostava.
Não falei nada e acho que ele não esperava uma
resposta, pois logo pegou um croissant na bandeja e tirou
um pedaço. Quando levou o pedaço a minha boca, eu me
afastei, um tanto confusa.
Ele ia mesmo me alimentar?
— Coma, por favor. Você passou o dia todo com
apenas o café da manhã no estômago.
Um pouco desconfiada, comi o pedaço que ele colocou
próximo a minha boca. O croissant estava uma delícia e
praticamente se desmanchou na minha boca, mas o fato de
ele estar me alimentado, tornou tudo ainda mais...
Delicioso.
Continuamos assim, eu em silêncio e ele me
alimentando com pequenos pedaços de croissant.
Beberiquei um pouco mais do chocolate quente e o
observei com atenção. Seus olhos só saiam dos meus
quando tinha que pegar mais um pedaço de croissant na
bandeja, mas logo voltavam a me fitar.
— O arrependimento te deixa mais gentil, então —
murmurei, por fim, tomando mais um gole do chocolate.
— Não estou fazendo isso para me desculpar.
— Está fazendo porque é o meu babá, então —
constatei, com seus olhos ainda nos meus. — E como eu
sou uma princesinha mimada, talvez eu precise que
alguém me dê comida na boca.
Ele ofereceu mais um pedaço de croissant e eu aceitei.
Continuou a falar, enquanto eu ainda estava mastigando:
— Estou fazendo isso porque, ao contrário do que eu
disse mais cedo, eu gosto de você. E me preocupo. Você
passou o dia todo sem comer nada, pode ficar doente.
— Não precisa fingir algo que você não sente,
Benjamin. Você não gosta de mim e eu vou aceitar isso. Se
nem Jesus agradou a todos, por que eu vou agradar?
— Eu estava nervoso, Charlotte. Isso não é desculpa,
eu sei, mas... Eu acabei descontando os meus problemas
em cima de você. Usei você e falei o que eu não devia.
Misturei tudo... Por favor, me perdoe.
— Você pareceu bem convicto do que estava falando,
Benjamin.
Ele ficou em silêncio, mas seus olhos não desviaram
dos meus em nenhum momento. Havia arrependimento e
tristeza neles.
— No começo, eu realmente te achava uma garota
mimada, que não aceita um “não” como resposta. Mas
durante essa semana, você demonstrou ser alguém
diferente. Foi muito boa comigo, me tratou como um igual
e... Eu acho que não queria acreditar que você é realmente
assim. Não queria admitir para mim mesmo que você não
era nada daquilo que eu havia criado na minha cabeça e
hoje, quando você se mostrou toda preocupada, eu
explodi. Senti raiva, porque...
— Porque... — o incitei a continuar.
— Porque... Charlotte, eu não posso gostar de você.
Quer dizer, sim, eu posso gostar de você, mas eu não
posso me envolver com você, entende? Por isso senti
raiva hoje. Porque você estava se preocupando comigo,
quando, na verdade, você deveria mesmo ser a menina
mimada que não se importa com a dor do próximo. Seria
muito mais fácil para mim! Mas, então, você simplesmente
me enxergou, enxergou o que eu estava sentindo e se
ofereceu para me ajudar. E eu, o idiota e troglodita de
sempre, acabei magoando você. Me perdoe, por favor.
Você não imagina o quanto estou arrependido.
Bem... Eu esperava tudo, qualquer tipo de explicação,
menos aquilo que acabara de ouvir. Estava chocada e sem
palavras — coisa que raramente acontecia —, sem saber
ao certo que pensar.
— Por que não pode se envolver comigo? —
perguntei, pois foi a primeira coisa que veio na minha
mente.
Claro, até porque, até mesmo o meu cérebro estava de
quatro por ele e precisava dessa resposta.
Ele ficou em silêncio, mas eu insisti.
— Não me diga que é por causa do trabalho, ou porque
a ética não permite...
— É por tudo isso, mas também porque eu não posso.
Estou em um momento tão complicado, Charlotte. E ainda
tem o seu namorado...
— Não estou mais namorando.
— Não?
— Não. Terminei com John antes de viajar. Estou
livre, Benjamin. Pense bem, estamos sozinhos nesse
apartamento, eu sinto uma grande atração por você —
falar que estava apaixonada, certamente, iria manda-lo
para o outro lado do mundo, então, decidi omitir esse fato.
— Somos adultos. Não sei o que está acontecendo com
você, mas acho que, se ficarmos juntos, isso seria bom,
seria uma distração.
Puta merda... Eu estava mesmo me rebaixando a uma
distração?
Ah não!
— Quer dizer, não que eu seja uma distração ou algo
do tipo...
— Não, você jamais seria apenas uma distração,
Charlotte — ele disse, colocando minha caneca já vazia
em cima da bandeja. Sem que eu esperasse, tomou minhas
duas mãos nas suas e me olhou com firmeza. — Você
sugeriu que fôssemos amigos e eu quero isso. Quero ser
seu amigo. Prometo que nunca mais irei magoa-la da
forma como fiz hoje e prometo ser mais do que um
segurança. Mas não me peça nada a mais, por favor.
Ah, droga... Meu coração se apertou em uma dor chata
de rejeição, mas eu lutei para pelo menos pensar pelo
lado bom: eu teria a sua amizade.
— Tudo bem. Sejamos amigos, então.
— Você me perdoa por tudo o que eu disse hoje?
— Sim — falei, porque, realmente, tudo o que ele
tinha falado havia tirado a mágoa do meu coração. —
Espero que você conte comigo para se abrir e dividir os
seus problemas. Prometo ajudar em tudo o que for
possível, sempre.
— Digo o mesmo, prometo ajuda-la em tudo o que for
possível, Charlotte.
Ele sorriu e eu agradeci por estar sentada na cama, se
não, provavelmente eu teria caído com as pernas bambas
e o coração tremeluzindo no peito.
Retribuí o sorriso e olhei para nossas mãos juntas.
Elas se encaixavam perfeitamente e suas mãos eram
grandes, quentes e com a pele um pouco áspera.
Perfeita para mim.
Ele era perfeito para mim.
Por isso, decidi que não iria desistir tão facilmente.
Benjamin ainda seria meu.
Capítulo 7 – Charlotte
***
“Charlotte,
O tempo que passamos juntos foi muito, muito
importante para mim. Nunca me esquecerei de todos os
nossos momentos, de todas as vezes que você me fez
sorrir, que você fez com que eu me sentisse tão
importante.
Peço perdão por toda a mágoa que causei a você,
Lottie.
Você sempre estará em meu coração.
Beijos,
Ben”.
Simples assim.
Tão impessoal, como se não tivéssemos compartilhado
algo, como se não houvesse sentimento algum da parte
dele. E talvez, realmente não houvesse.
Deixei o bilhete onde o encontrei. Suas palavras não
serviram para acalentar meu coração, muito menos para
diminuir a mágoa por todas as coisas que havia me dito.
Sua voz ainda retumbava em meu cérebro, que fazia
questão de repassar aquela conversa fatídica a cada
maldito segundo.
Saí do quarto e senti que um pedaço do meu coração
ficou por ali. Talvez na cama, onde tantas vezes fizemos
amor, talvez no banheiro, onde passamos infinitas horas
juntos, na banheira. Não sabia dizer.
Ou talvez, ele tivesse levado meu coração com ele. E
só agora eu me dera conta disso.
***
***
“Bom dia, linda. Espero que esteja bem. Sei que está
acordando agora. Cheguei em Orleandy ontem à noite.
São nove horas da manhã agora e estou no hospital.
Minha avó será transferida hoje para o quarto. Estou
ansioso para que ela acorde logo. Não esqueça que eu te
amo, Lottie. Beijos!”
***
BENJAMIN
“Com quem?”
“Não posso falar ainda. Se a conversa terminar bem,
eu te conto com quem fui falar”.
“Benjamin, você sabe que eu odeio ficar curiosa!
Por favor, me conte”.
“Ainda não. Preciso ir, mais tarde eu te chamo aqui.
Amo você”.
BENJAMIN
***