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COMPLETAMENTE

MEU
A história de Charlotte e
Benjamin
Copyright © 2017 Tamires Barcellos

Capa: Dri K. K.
Revisão: Tamires Barcellos
Diagramação Digital: Tamires Barcellos

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter


as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da
Língua Portuguesa.
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reprodução de qualquer parte dessa obra, através
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artigo 184 do Código Penal.
SINOPSE

Acostumada a não ter medo de nada, a princesa


Charlotte Rose toma uma decisão importante: enfrentaria
os pais e contaria que tinha o dom para pinturas e que
queria fazer Artes Plásticas em uma renomada faculdade
de Paris.
Ela já tinha tudo planejado, iria falar com eles,
terminar seu namoro enfadonho com John Medson e
seguiria com o seu futuro.
Até ver Benjamin Prescott na missa de batizado de seu
sobrinho mais novo. Ele era tudo o que os seus olhos
gulosos conseguiam ver, sem contar no arrepio que sentiu
em apenas estar em sua presença.
Ela o que queria e ele iria ser dela, porque Charlotte
era determinada e sempre tinha o que queria.
Mas na segunda vez em que se viram, ele riu dela e a
rejeitou. A chamou de pirralha e disse que jamais se
envolveria com ela.
Com raiva e magoada, Charlotte resolve deixa-lo de
lado e seguir em frente. Consegue sua tão sonhada
permissão para estudar em Paris, mas com uma única
condição imposta por seu pai: ela teria um segurança
particular que iria vigia-la vinte e quatro horas por dia.
Pensou em recusar, mas viu que não poderia, pois, seu
maior sonho estava em jogo. Sendo assim, aceitou.
Qual não foi a sua surpresa ao ver que seu novo
segurança particular era ninguém menos do que o homem
que a rejeitara.
No momento em que o viu novamente, ela teve a
certeza de uma única coisa:
Ele seria completamente dela.
PRÓLOGO

Era o batizado de meu sobrinho e afilhado Christian,


filho de Olivia e Christopher. Isso mesmo, Christian...
Bem criativo, bem parecido com o nome do pai babão.
Estava com ele em meu colo, que dormia
tranquilamente, enquanto o padre fazia a missa e falava
sobre alguma coisa que eu não conseguia prestar atenção.
John, meu namorado, estava sentado ao meu lado,
parecendo prestar atenção na missa, assim como todos da
minha família.
Será que eu era a única que achava aquilo um pouco
tedioso? Perdoe-me, Deus, nada contra o Senhor, mas...
Eu só queria ir embora.
Só queria me trancar em meu quarto e pensar na minha
vida. Eu precisava tomar um rumo, sentia-me cada vez
mais perdida e deslocada.
Eu amava desenhar e pintar. Ninguém sabia, nem
mesmo minha mãe, pois sempre escondi todos os meus
desenhos, mas estava cada vez mais certa de que era isso
que queria fazer da minha vida. Eu queria ser pintora, eu
queria estudar Arte.
Meu sonho era estudar na Université Paris-Sorbonne
uma das melhores faculdades de Artes do mundo. Mas não
tinha coragem de encarar os meus pais e fazer esse
pedido. Na verdade, a quem eu queria enganar? Eu não
tinha coragem para nem mesmo falar que eu desenhava e
pintava escondida desde os meus doze anos de idade.
Todos achavam que eu era muito corajosa, mas, na
verdade, eu era uma verdadeira medrosa. Não queria
desapontar minha mãe. O sonho dela era que Eva e eu
tomássemos conta de sua escola de balé quando ela se
aposentasse, mas, apesar de eu amar o balé, não era a
minha verdadeira paixão. Apenas em pensar em me ver
presa àquela escola algo morria dentro de mim.
Também não queria encarar o meu pai e ouvir o seu
“não” ao pedir para fazer uma faculdade em outro país.
Ele simplesmente não deixaria.
Mas sabia que eu teria que engolir o meu medo e
encara-los. Não poderia viver uma vida que não era
minha, muito menos me fadar a ser infeliz para sempre,
trabalhando com algo que não era o meu sonho.
Determinada, acariciei o rostinho rosado de Christian
e sorri para ele, pensando em como sua vida de bebê era
cômoda e fácil.
Ainda olhando para ele, senti um arrepio passar pelo
meu corpo e levantar cada pelinho da minha nuca.
Assustada, olhei para cima e encontrei um homem lindo
andando silenciosamente pelo corredor da igreja. Ele era
alto e forte, tinha os cabelos pretos e lisos que batiam em
sua testa. Usava uma calça jeans e camisa social preta,
sapatos de couro.
Ele andou e se sentou na ponta do banco da fileira ao
lado, em minha direção. Não consegui para de olhar para
ele. Era lindo! Estava prestando atenção no que o padre
dizia e eu estava prestando atenção nele, encantada.
Até que virou a cabeça e seus olhos muito azuis
encararam os meus. Engoli em seco, golpeada por sua
beleza tão masculina, seus olhos azuis muito sérios, seu
maxilar rígido.
Ele olhou para mim por alguns segundos, depois para
Christian em meu colo e voltou a virar a cabeça para
frente, ignorando-me.
Senti algo dentro de mim se aflorar, um sorriso
malicioso no canto da minha boca.
E soube que ele tinha que ser meu.
Capítulo 1 - Charlotte

Olhei para imagem refletida no espelho e gostei da


minha aparência. Gostei do vestido preto que ia até a
altura dos joelhos, da jaqueta de couro que me protegia do
vento um pouco mais frio naquela época do ano. Gostei os
cílios alongados pelo rímel e do batom que dava uma leve
cor aos meus lábios.
Só não gostei daquele sentimento que parecia me
corroer por dentro. A tensão que só aumentava e me
pressionava.
— Esqueça isso, Charlotte! Essa é uma noite para se
divertir — falei para mim mesma, virando-me de costas e
pegando minha bolsa.
Sai do meu quarto sabendo que a conversa que eu
pretendia ter com os meus pais não poderia mais ser
adiada. Ainda assim, decidi deixar o assunto para o jantar
da noite seguinte. Por enquanto, eu iria apenas aproveitar
a noite de sábado com as minhas amigas.
Encontrei papai e mamãe sentados na sala. Raramente
via-os assim, parados e relaxados e senti um aperto no
peito ao ver tal cena. Sentiria muita falta deles se, por um
milagre, eles permitissem que eu fosse estudar em Paris.
— Está linda, querida — minha mãe comentou,
sorrindo.
— Está mesmo... Onde é mesmo o lugar onde você
vai?
— Vou no Dragon’s, pai, o pub que abriu no centro. É
aniversário da Jessy, lembra? Como os pais dela
morreram no final do ano passado, ela decidiu que não
iria fazer festa, mas conseguimos convence-la a
comemorar com alguns drinques.
— Poucos drinques, ok? Johnson vai te levar e ficará
por perto. Tome cuidado.
— Sim, senhor! — sorri, batendo continência.
Ele arqueou uma sobrancelha para mim, como sempre
fazia, mas vi um indício de sorriso no canto dos seus
lábios. Me despedi com um beijo na bochecha de cada um
e prometendo que iria me comportar e que não voltaria
tarde.
Johnson já estava com o carro pronto e logo estávamos
a caminho do pub. A cidade estava cheia, mesmo com o
outono mostrando que o inverno seria rigoroso. O
Dragon’s Pub era um local não muito grande. Tinha um
pequeno e charmoso palco para apresentações ao vivo, a
decoração era rústica, lembrava um pouco a era dos
Vikings, só que ao invés de ter chifres espalhados pelo
lugar, tinha imagens e esculturas de dragões.
Já havia ido ali algumas vezes e o lugar me conquistou
por ser algo mais íntimo, com a iluminação mais escura,
as mesas afastadas umas das outras, dando privacidade.
Minhas duas amigas, Jessy e Alisson, já estavam
sentadas na nossa mesa de sempre. Abracei Jessy com
força e dei a ela o presente que eu havia comprado. Ela
estava visivelmente mais animada, apesar do semblante
um tanto cabisbaixo. Era o primeiro aniversário desde a
morte dos seus pais e eu poderia apenas imaginar o que
ela estaria sentindo.
— Lottie, nós já pedimos o seu drinque, o garçom deve
trazer daqui a pouco — Alisson disse, olhando ao redor.
— Sua sombra já se escondeu?
— Johnson? Com certeza, ele é ótimo no que faz. Eu
não consigo entender como ele consegue se esconder e
aparecer tão rápido — falei, rindo. — Hei, Jessy, hoje
nós queremos que você se divirta, ok? A apresentação ao
vivo deve começar logo, logo e eu ouvi dizer a banda é
bem animada.
— Eu disse isso para ela. Hoje nós vamos dançar e
sorrir, apenas.
— Meninas, muito obrigada por toda essa força. Eu sei
que deve ser um saco aguentar uma amiga que está em
luto...
— Nem comece! — interrompi, fazendo-a se calar. —
Somos suas amigas e estaremos ao seu lado para o que
der e vier, certo?
— São as melhores amigas do mundo todo! — ela
disse, sorrindo de verdade. — E você, Lottie? Já falou
com os seus pais?
O garçom trouxe nossas bebidas e eu dei um gole em
minha margarita antes de responder.
— Ainda não...
— Você vai adiar isso até quando, amiga? Precisa
falar com eles!
— Eu sei, Ali, por isso que vou conversar com os
dois, amanhã. Eu juro, de amanhã não passa!
— E o John?
— John e eu não temos futuro. Eu sinceramente não sei
porque ainda estou com ele. Somos tão diferentes! E eu
nem mesmo me sinto apaixonada por ele... Antigamente,
sim, eu era apaixonada. Mas, hoje, eu me sinto muito
diferente. Ele é muito ligado em toda burocracia da
empresa dele, fusões e aquisições, todo responsável,
cheio de compromissos, agenda apertada... E eu sou mais
espírito livre. Tão livre, que em breve estarei
desembarcando em Paris, se Deus quiser!
— Então, vai mesmo terminar com ele? — Jessy
perguntou.
— Sim, vou.
— E se os seus pais não te deixarem ir para Paris?
— Ainda assim, irei terminar. Não posso ficar presa
em um relacionamento sem amor.
— Nossa, que romântica! Quem é você e o que fez com
a Charlotte que eu conheço? — Alisson brincou, me
fazendo rir.
— No fundo, eu sou muito romântica, ok? Meus pais e
meus irmãos são casados e tem um relacionamento lindo...
Eu quero ter o meu no futuro. Aliás, falando em
relacionamento... Eu não consigo esquecer aquele homem
que apareceu no batizado do Christian! Ele não sai da
minha mente!
— Conseguiu descobrir como ele entrou na Igreja?
— Não! Perguntei para Christopher primeiro, porque
achei que poderia ser algum amigo dele, mas ele disse não
conhecia ninguém com aquelas características. Também
não é amigo de Arthur, nem de Olivia, nem do papai.
Perguntei aos seguranças e ninguém soube me explicar
quem ele era. O homem, além de lindo, é um mistério!
— Mistério mesmo, porque eu não o vi na Igreja, nem
a Ali... Tem certeza que não foi alucinação? — Jessy
perguntou, rindo.
— Idiota, claro que não! Eu tenho certeza — ri,
tomando um gole da minha bebida. — Talvez ele seja um
daqueles homens que a gente só pode olhar, desejar e
sonhar, mas não ter, sabe? O que é uma pena... Eu acho
que ele e eu combinamos e muito!
— Safada! — Alisson riu, jogando um guardanapo em
mim.
Continuamos a conversar e logo a banda entrou no
palco. A vocalista de cabelo colorido se apresentou e
logo começaram uma animada música pop. Arrastei as
meninas para perto do palco e logo o lugar estava cheio,
todo mundo dançando e cantando as músicas.
Ver Jessy se soltar e dançar, me fez muito feliz. Ela
estava precisando deste momento, deixar o luto de lado e
voltar a viver. Tenho certeza que é assim que seus pais
queriam vê-la, principalmente hoje, no dia de seu
aniversário.
Continuamos a dançar e até fizemos uma coreografia
maluca no meio da pista, gargalhando e cantando.
Continuamos assim, até que começou a tocar uma música
mais calma. Alguns casais se formaram na pista, mas nós
três apenas diminuímos o ritmo e começamos a dançar de
forma mais lenta. Estava cantando a música baixinho e
dançando perto das meninas, quando minha visão capitou
um homem alto andando em direção ao bar.
Foi instantâneo. Meus pelos se eriçaram e senti um
arrepio no final da espinha. Não consegui ver o seu rosto,
mas ainda assim, eu sabia que era ele. Eu tinha certeza!
— Vou pegar uma bebida pra gente — falei para as
meninas, já indo em direção ao bar.
Me obriguei a ficar calma e passei pelo pessoal. O bar
estava um pouco mais cheio, quem estava
desacompanhado aproveitou aquele momento mais calmo
para pegar uma bebida, mas havia alguns bancos vazios.
Me sentei ao lado dele e observei o barman andar de um
lado para o outro, anotando pedidos.
O bonitão misterioso pediu um uísque e sua voz rouca
foi o suficiente para me fazer remexer na banco macio de
couro. Quando o barman parou na minha frente, tive que
lutar para me concentrar e fazer o pedido.
— Três margaritas, por favor.
Ele se afastou e eu mordi o lábio, um pouco nervosa,
ao me virar para ele. O bonitão estava concentrado na
parede cheia de bebidas na nossa frente, mas tomei
coragem e puxei assunto:
— Oi, qual é o seu nome?
Ele se virou para mim e me olhou de cima a baixo.
Mesmo com o ambiente pouco iluminado, eu consegui ver
aqueles olhos azuis mais uma vez.
— Benjamin Prescott.
Continuei olhando para ele, esperando que ele
perguntasse o meu nome, mas ele não o fez. Se virou e
voltou a olhar para a parede com bebidas, no mesmo
momento em que o barman voltou com o seu uísque.
Observei-o dar um generoso gole na bebida e resolvi me
apresentar.
— Eu sou Charlotte. Charlotte Rose Andrigheto
Domaschescky — sorri, vendo seu olhar em cima de mim,
mais uma vez.
— A princesa — falou, sério.
— Sim, a princesa.
O barman colocou as três margaritas na minha frente e,
para fazer um charme, peguei a minha taça e tomei um
gole, olhando para ele. Sua expressão facial continuou a
mesma e, pela primeira vez, ousei me perguntar se não
tinha algo errado com ele.
— Vem muito por aqui? — perguntei.
— Primeira vez.
— É um ótimo lugar, bem divertido... — como vi que
ele não ia falar nada, continuei. — Eu te vi no batizado do
meu afilhado... Você é amigo de alguém da minha família?
Desculpa perguntar assim, é que o evento era fechado,
então...
— Não sabia que aqui servia bebidas para menores de
idade. Talvez não seja um lugar tão bom assim.
O quê?
Olhei para ele, a boca um pouco aberta por ter sido
interrompida no meio da minha fala, mas, na verdade, foi
o choque que me impediu de fecha-la. Como ele ousou
falar aquela maneira comigo?
— Eu sou maior de idade, tenho vinte e um anos. Quer
ver minha identidade ou algo do tipo, já que está tão
preocupado?
— Preocupado, eu? Não, não estou preocupado...
Estou entediado. Você não tem nada melhor para fazer?
— Você é sempre tão grosso assim?
— E você é sempre tão intrometida? Se não percebeu,
eu quero ficar sozinho e tomar uma bebida. Se eu quisesse
companhia, com certeza, eu teria alguém ao meu lado.
Sem conseguir me conter, me levantei e me aproximei
dele. Ele continuou parado, com a irritante expressão
séria e enfadada.
— Eu estou ao seu lado, é uma pena que você seja tão
irritante!
— Não, princesa, você não entendeu o que eu quis
dizer... Se eu quisesse companhia, eu teria uma mulher ao
meu lado e não uma pirralha recém-saída das fraldas.
Com os nervos à flor da pele, grunhi e peguei seu copo
de uísque em cima do balcão, tacando todo o líquido na
cara dele. Ele fechou os olhos com força, seu maxilar se
apertou e eu senti o gostinho da vitória por ter causado
algum tipo de emoção naquele poço de seriedade e
grosseria.
— Ops, desculpa! Foi o meu lado “pirralha” que fez
isso. Espero que possa me perdoar. Esse lado se aflora
com gente babaca — falei, virando-me e pegando as três
taças de margaritas.
Saí do bar sem olhar para ele, com a raiva me fazendo
tremer em cima do salto alto. Ainda assim, levantei a
cabeça e não me permiti abaixar a guarda por causa de um
homem grosso.
Lindo, mas igualmente babaca e idiota.
— Charlotte, querida — Johnson apareceu na minha
frente, saído do nada, como sempre. — O que aconteceu?
Vi você jogando a bebida naquele homem... Ele mexeu
com você? Por que não me chamou?
— Não foi nada, Johnson. Ele foi um babaca e eu
joguei a bebida nele, apenas isso. Eu sei me defender.
— Com um copo de uísque? — perguntou, sorrindo de
lado.
— Era a única arma disponível no momento.
Johnson se afastou, mas não antes de deixar escapar
uma risadinha. Cheguei perto das meninas, dei a bebida
para cada uma e, deixando minha curiosidade vencer, dei
uma olhadinha rápida para o bar.
Benjamin, o grosso estúpido, já tinha ido embora.
Melhor assim!
— O que foi?
— Por quê?
— Você está com aquela cara de quem chupou limão...
— Acredita que o cara do batizado do meu sobrinho,
estava ali, no bar?
— Sério?
— E que eu fui falar com ele, me apresentei, fui
educada e ele me chamou de pirralha recém-saída das
fraldas?
— Não acredito, Charlotte!
— Nem eu! — bradei, cruzando os braços.
— E o que você fez? — Jessy perguntou.
— Joguei um copo de uísque na cara dele.
As meninas me olharam, um pouco atônitas, eu diria,
mas um segundo depois, estavam rindo. Eu tentei procurar
a graça, mas não achei em lugar algum.
— Do que estão rindo?
— Jura que você jogou uísque na cara dele?
— Sim!
— Sério, você é a melhor de todas! Eu acho que sairia
de lá com o ego uma droga, autoestima zero — Alisson
disse, ainda rindo.
— Acha mesmo que eu vou me abalar por causa de um
cara babaca, idiota e grosso? Não mesmo! Eu sei muito
bem que pirralha é a última coisa que eu sou. Só fico com
pena dele, porque, apesar de lindo, é tão estupido quanto.
Vamos voltar a dançar!
Ainda rindo, as meninas me acompanharam para a
pista de dança. As acompanhei nos passos, sorri, mas, no
fundo, eu estava sim abalada. Jamais iria admitir, óbvio,
mas estava sim um pouco magoada.
No caminho para casa, pouco depois da meia noite,
tomei uma decisão. Querendo ou não, as palavras do tal
Benjamin me deram coragem. Se eu parecia mesmo uma
pirralha, estava, então, na hora de me tornar adulta e
responsável.
Se eu tinha algum resquício de dúvidas sobre a
conversa que teria com meus pais, a mesma acabou ali,
naquele momento.
Estudar em Paris era tudo o que eu realmente
precisava.
Capítulo 2 - Charlotte
A mesa de café da manhã estava cheia e animada,
como sempre. As vozes felizes das crianças se
misturavam com as vozes dos adultos, que passavam as
comidas uns para os outros.
Observei aquela cena tão corriqueira e senti toda a
minha convicção ficar um pouco abalada. Será que eu
conseguiria ficar três anos longe de tudo aquilo? Minha
família era tão grande e animada, tão unida... Será mesmo
que eu estava preparada para seguir em frente e ir morar
sozinha em um outro país?
“Se eu quisesse companhia, eu teria uma mulher ao
meu lado e não uma pirralha recém-saída das fraldas.”
Novamente, a voz dele se infiltrou em minha mente e
soou como um sino irritante em meu ouvido. Dormir muito
mal, repassando cada parte da nossa conversa e ouvindo
de novo e de novo Benjamin Prescott me chamar de
pirralha.
Como se me conhecesse! Se soubesse quem eu sou e o
que sou.
Novamente, foram as suas palavras que me deram a
certeza de que sim, eu estava pronta para falar com os
meus pais e seguir em frente com o meu futuro. Sou uma
mulher adulta de vinte e um anos e não uma pirralha.
— Está tão calada... O que foi? Está pensando no seu
namoradinho CEO? — Christopher falou, sentado à minha
frente, com aquele sorrisinho irritante.
— Chris, deixa a sua irmã... — mamãe interveio,
revirando os olhos enquanto sorria. — Vocês crescem só
na idade, não é mesmo? Agem como se ainda fossem
adolescentes...
— É aí que está a graça, mamãe: continuar um
adolescente para poder irritar a princesinha caçula.
— Idiota — ralhei, jogando o guardanapo nele. —
Não, eu não estou pensando em John, ok?
— E está pensando em quê? Está muito quieta, com a
cabeça nas nuvens... — Eva provocou.
— Estou pensando que preciso conversar com todos
vocês.
— Ih... Lá vem bomba, com certeza!
— Deixa a sua irmã, amor!
— Docinho, olha a cara dela. Tenho certeza que
aprontou alguma coisa.
Olivia revirou os olhos, rindo e eu soltei um suspiro.
Chris sempre acordava com esse bom-humor e adorava
me provocar, mas eu estava nervosa demais para entrar na
onda dele.
— É uma conversa séria, Chris — falei, vendo-o
prestar atenção em mim, de verdade, assim como todos na
mesa. — Podemos nos reunir na sala, depois do café?
— O que aconteceu? — papai perguntou, franzindo o
cenho.
— Nada sério... Mas talvez aconteça, depois da
conversa.
Sem dizer uma palavra, meu pai se levantou. O barulho
da cadeira se arrastando no chão ecoou pela sala de
jantar.
— Todos já tomaram café, não é mesmo? Então,
crianças, vão brincar nos jardins. Família, vamos para a
sala.
Antes de sair, cavalheiro e amoroso como sempre,
papai estendeu a mão para mamãe e os dois saíram da
sala de jantar, juntos. As crianças foram para o jardim
com as babás e eu me levantei da cadeira, um pouco mais
tensa do que gostaria.
— Tem certeza que não aconteceu nada? — Eva
perguntou, andando ao meu lado.
— Tenho, mas como eu disse, algo acontecerá depois
da conversa.
— Ah, Deus, estou nervosa! — disse, dramática como
sempre. — Você está grávida? É isso?
— O quê? Não!
— Está suspeitando de uma gravidez?
— Não, Eva, não é nada disso. Nenhuma criança está
dentro de mim e nem pretendo que esteja!
— Credo! Ter filho é uma benção de Deus, sabia?
— Sim, tanto que você já tem três e daqui a pouco está
indo para o quarto.
— Não, parei no terceiro mesmo.
— E eu pretendo nem ter o primeiro. Me contento com
meus sobrinhos — falei, respirando fundo ao entrar na
sala.
Minha mãe estava sentada no sofá, ninando Christian, o
filho de Chris e Olivia. Arthur estava com a menininha
dele e de Eva nos braços. Chris e Olivia estavam sentados
no sofá em frente ao da minha mãe, ao lado de tio Dimir e
tia Dalah. Meu pai estava em pé, com a mão apoiada no
ombro de minha mãe.
Droga, família reunida...
Coragem, Charlotte!
— Então, Lottie, o que tem para nos falar? — papai
perguntou.
— Eu só preciso pegar algo antes, volto logo.
Apressada, andei a passos largos para a escada e subi
de dois em dois degraus. Cheguei ofegante ao corredor
que me levava ao meu quarto e me encostei na porta assim
que a fechei atrás de mim.
Não tinha mais volta.
Sem me dar tempo de pensar e pular pela janela, corri
para o meu closet e peguei o quadro que tinha separado
hoje de manhã. Olhei para a pintura e,
surpreendentemente, me acalmei.
Meu coração começou a desacelerar, minhas mãos
pararam de suar e minhas pernas pararam de tremer.
Aquela pintura nas minhas mãos me mostrou que sim, eu
estava certa em lutar pelo meu sonho. Era algo tão meu!
Algo que eu amava tanto! Por que demorei tanto tempo
para aceitar o meu destino?
Com um sorriso no rosto, sai do quarto e desci as
escadas lentamente. Ouvi uma conversa calma na sala,
mas todos pararam de falar quando me viram, os olhares
caindo para a tela que eu segurava. A pintura estava
virada para mim e isso fez com que a curiosidade saltasse
nos olhos de cada um.
Andei até o centro da sala e fiquei em uma posição
onde todos conseguiriam ver a pintura. Antes de virar a
tela, olhei para minha mãe e para o meu pai.
— O que tenho aqui é algo muito, muito importante
para mim. É o meu sonho e o assunto que tenho para tratar
com vocês. Espero que vocês gostem.
Virei o quadro e ouvi uma série suspiros e sussurros.
As expressões de surpresa e admiração mexeram demais
comigo.
A pintura era realmente linda. Eu me orgulhava muito
dela. Ali estavam retratados o meu pai e minha mãe,
abraçados e felizes no jardim. Me lembro como se fosse
hoje quando vi os dois assim, da sacada do meu quarto.
Gravei cada detalhe, a roupa que estavam vestindo, o sol
brilhando intensamente em cima dos dois, as flores e
árvores ao redor. O sorriso e o olhar da minha mãe para o
meu pai e o seu sorriso e olhar para ela. Tão intenso e tão
bonito como só os dois poderiam ser.
— Uau... — mamãe suspirou, levantando-se com
Christian em seu colo. Ela se aproximou do quadro, tocou
na tela com delicadeza e levantou os olhos marejados
para mim. — Querida, foi você que...
— Sim — conclui, vendo seu sorriso. — Fui eu que
pintei.
— Filha... — meu pai murmurou, parando ao lado da
minha mãe. — É magnífico.
— Incrível! Lottie, desde quando você pinta dessa
forma?
— Desde os doze anos.
— O quê? — Eva perguntou, levantando-se. — E por
que nunca nos contou?
— Porque... Eu não sei, eu acho. No começo, eu
achava que eram apenas desenhos bobos. Com o tempo,
fui me apaixonando de verdade, mas sempre tive muito
medo de mostrar e desapontar a mamãe.
— Me despontar? Mas como, querida? Como me
desapontaria com algo tão lindo?
— Porque eu percebi que é isso que quero para minha
vida, mamãe. Eu amo o balé, mas não é a minha vocação.
Eu sinto muito, mas não quero tomar conta da escola de
balé ao lado da Eva. Eu quero estudar Artes, quero me
aprofundar, ter conhecimento e me tornar uma pintora de
verdade.
O silêncio reinou na sala. Os olhos dos meus pais não
saíram de cima de mim, mas, ao contrário do que eu
pensei que ficaria, eu não senti o nervosismo me tomar. Eu
estava calma e pronta para lutar pelas minhas escolhas.
— Bom, uma pintora você já é, porque este quadro é
incrível, Lottie — tia Dallah disse, sorrindo para mim.
— Concordo, é formidável.
— Acho que você poderia pintar a Eva e eu, não é,
Pequena?
— Eu concordo, amor — Eva disse, sorrindo.
— Já pintei... — murmurei, vendo-os me olhar com
atenção. — Já retratei vocês, Olivia e Christopher, tia
Dallah e tio Dimir, as crianças...
— Eu não acredito que você escondeu isso da gente
esse tempo todo! Eu quero ver o meu quadro —
Christopher disse.
— E eu não acredito que não nos contou porque estava
com medo de me desapontar. Querida, essa é a última
coisa com que deveria se preocupar. Eu não posso obriga-
la a ser algo, muito menos incutir o meu sonho em você.
Você tem um dom lindo, meu amor. Deveria ter nos falado
antes.
— Você não é apenas uma pintora, filha. Você não
retrata apenas uma cena, você retrata o sentimento. Tem
um olhar único. Eu consigo sentir em meu coração um
amor ainda mais forte por sua mãe apenas olhando para o
seu quadro.
Não sou do tipo que chora fácil, mas senti minha
garganta arranhar. Não esperava que eu fosse ouvir tudo
aquilo dos meus pais. Eu estava preparada para tudo:
negação, comentários ruins, mas não para isso.
— Vocês não imaginam o quão feliz eu estou por ouvir
isso — falei, sorrindo.
— E você não imagina o quão orgulhosos nós estamos,
querida — meu pai falou, dando um beijo em minha testa.
— Este era o assunto? Você queria revelar que pintava?
— Parte do assunto.
— Viu, eu disse que ia vir bomba, eu avisei... — Chris
brincou, me fazendo rir e revirar os olhos.
— Não é nada demais, ok?
— Então, fale o que é! Estou curiosa — Olivia falou.
— Como eu disse anteriormente, eu quero muito
estudar Artes...
— E nós apoiamos totalmente — minha mãe disse.
— Em Paris.
— O quê? — meu pai perguntou e sua voz ecoou pela
sala.
Todos ficaram em silêncio novamente e respirei fundo,
tomando coragem, tentando me lembrar do discurso que eu
já vinha ensaiando há um mês.
— Pai, eu pesquisei muito durante esses anos, li sobre
muitas faculdades e a Université Paris-Sorbonne, foi a
que mais me identifiquei. Sem contar que é uma das
melhores faculdades de Artes do mundo. Por favor, papai,
eu já tenho 21 anos, sou adulta, posso me cuidar sozinha.
Eu preciso estudar lá, é o meu sonho.
— Charlotte, é uma faculdade na França! Você terá que
ficar lá por anos.
— Mas eu venho visita-los nas férias, nos feriados, eu
juro!
— Filha, tem certeza que precisa ser tão longe? —
minha mãe perguntou, aflita.
— Sim, mãe. Veja bem, não é nem em outro Continente
ou do outro lado do mundo... Fica apenas há algumas
horas de avião.
— E você acha que é responsável o suficiente para
morar sozinha em outro país?
A pergunta do meu pai trouxe à tona a fatídica
conversa que tive com o grosseiro Benjamin Prescott. Sua
voz me chamando de pirralha foi o suficiente para que eu
colocasse a tela no sofá e respirasse fundo, obrigando-me
a ficar calma.
— Sim, eu sou. Não sou nenhuma criança, pai. Sou
adulta, maior de idade e quero muito, muito estudar nessa
faculdade. Sei que peguei a todos de surpresa, mas eu
preciso seguir com o meu sonho. Esse é o meu futuro e eu
não posso abrir mão dele, ou adia-lo.
Novamente, a sala entrou em um silêncio profundo.
Olhei para minha mãe e ela estava olhando para o meu
pai, enquanto seu olhar estava cravado em mim. Não sei
que estava se passando na cabeça dele, mas só poderia
esperar que fosse algo positivo.
— Eu apoio a minha irmã — a voz de Christopher
soou ao meu lado. Logo senti o seu braço pousar em meus
ombros. — Charlotte tem razão, pai. Sei que é difícil, que
ela é sua caçula, que você e mamãe a enxergam como uma
bebê ainda, mas ela precisa começar a caminhar com as
próprias pernas. Esse é o sonho dela, ela tem um talento
incrível e acho que se é isso que ela quer, nós precisamos
apoia-la.
— Eu concordo — Eva disse, parando do meu outro
lado e pegando minha mão. — Sempre soube que
Charlotte não era uma menina que ficaria em casa e sob as
nossas asas por muito tempo. Está realmente na hora dela
seguir com o seu sonho. Sentirei muita saudade, mas te
desejo toda a sorte do mundo, irmã. Eu te amo.
— Também amo você — falei, virando-me para Chris.
— E você também, mesmo quando me irrita.
— Você vai sentir falta de mim que eu sei.
— Eu ainda não decidi nada, portanto, nada de pensar
em saudades ou desejar sorte — papai falou, pegando a
tela que coloquei no sofá. — Vou para o escritório,
levarei o quadro comigo. Preciso pensar sobre esse
assunto. Com licença.
Papai seguiu para o escritório e mamãe deu Christian
para Olivia. Em seguida veio a mim e segurou minha mão.
— Querida, saiba que tem todo o meu apoio. Meu
coração vai ficar apertado de saudade, mas eu vejo nos
seus olhos o quanto isso é importante para você. Pode
deixar que eu vou falar com o seu pai.
— Rei Dom já está balançado, com o Anjo dele
falando então... Acho melhor você arrumar as malas,
maninha, porque Paris te espera! — Christopher disse,
rindo.
— Que Deus te ouça!

***

Eu já não aguentava mais tanta espera.


Já estava anoitecendo e eu só sabia andar de um lado
para o outro na sacada do meu quarto, nervosa e ansiosa.
Minha mãe garantiu que convenceria meu pai, mas, e se
ele fosse irredutível?
E se falasse não?
Eu já estava a ponto de arrancar os cabelos!
— Lottie?
Ouvi a voz da minha mãe na entrada do meu quarto e
quase virei o pé ao correr para a porta. Ela riu do meu
desespero e estendeu a mão para mim.
— Venha, seu pai quer falar com você.
Saímos juntas do quarto e pegamos o elevador, que
estava lerdo demais para o meu gosto. Me segurei muito
para não correr quando as portas se abriram e andei ao
lado da minha mãe, segurando sua mão. Chegamos no
escritório e meu pai estava sentado em seu lugar, com o
costumeiro semblante de dono do mundo.
Bem apropriado, já que ele era o dono do meu futuro
naquele momento.
Mamãe e eu nos sentamos e meu pai começo a falar:
— Bem, Charlotte, eu pensei muito...
— E eu falei muito... — minha mãe emendou, sorrindo.
— Sim, sua mãe falou muito, tomando o seu partido,
mas eu me decidi.
— E qual é a sentença?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, mas, por
fim, arqueou a sobrancelha e disse:
— Você pode estudar na tal universidade em Paris.
Eu pulei na cadeira, literalmente. Um sorriso de orelha
a orelha se abriu em meu rosto e me segurei para não
gritar. A voz do meu pai soou novamente:
— Mas, tenho algumas observações a fazer.
— Eu prometo seguir tudo, nem vou pestanejar.
— Eu pesquisei sobre a universidade, também pedi
para que Johnson trouxesse um relatório completo. Você
tinha razão, é realmente uma das melhores faculdades de
Artes e gostei do que vi. Entretanto, você não vai morar
no Campus ou nada do tipo. Como você sabe, nossa casa
na França não fica em Paris, portanto vai ficar no
apartamento que eu acabei de adquirir para você.
— Certo, tudo bem.
— Johnson já contratou um motorista e empregados
para cuidar do apartamento.
— Perfeito para mim! Pai, estou tão feliz!
— Que bom que gostou das observações, mas, para
você realmente ir para Paris, precisa aceitar uma
condição.
Parei de sorrir na hora. Eu sabia! Estava tudo fácil
demais.
— Qual condição?
— Você terá um segurança, vinte quatro horas, sete
dias por semana. Ele morará com você, dormirá no quarto
de hóspedes e vai acompanha-la em todo e qualquer lugar
que você for.
— Segurança ou babá? Jura, pai? Tem necessidade
disso? Pensei que confiasse em mim!
— E confio. Eu não confio no mundo ao redor. Você é
uma pessoa pública, uma princesa e isso atrai todo tipo de
gente, principalmente pessoas ruins.
— Ótimo! Então, se for ao banheiro, ele vai comigo?
Se eu espirrar, ele estará com um paninho para assoar o
nariz? Isso é ridículo, pai.
— Perfeito, então, você fica.
Olhei para ele e vi a decisão em seus olhos. Eu
conhecia muito bem o meu pai, quando ele colocava algo
na cabeça, nem mesmo minha mãe conseguia fazê-lo
mudar de ideia.
— Filha, pensa bem. Você estará em um país estranho.
Por mais que tenha a equipe de Johnson, que irá lhe
auxiliar, você precisa ter uma pessoa que fique por perto.
Quem sabe ele não vira seu amigo? Vocês podem construir
uma relação amigável.
— Esses seguranças parecem um poste, mãe. Nós
falamos, eles acenam e acabou. Não tem diálogo.
— Ela não vai aceitar, Anjo, sendo assim, nossa
conversa está encerrada.
Meu pai se levantou e eu pensei rápido.
O que era um segurança na minha cola, perto do meu
sonho de estudar em Paris? Eu poderia lidar com isso!
Talvez ele nem fosse tão competente assim, eu posso
muito bem convencê-lo a ficar longe em algum momento...
— Papai, espere! — falei, me levantando. Ele parou
no meio do caminho e me olhou. — Eu aceito! Eu aceito o
segurança.
— Ótimo — dando meia volta, meu pai voltou a se
sentar e apertou uma tecla no telefone. — Johnson, entre
com o segurança.
Um segundo depois, Johnson entrou e eu não fiz
questão de virar para trás para olhar a minha babá. Meu
pai começou a falar:
— Charlotte, Johnson me apresentou esse segurança,
na verdade, é sobrinho dele. Gostei do seu currículo e
como é alguém de extrema confiança de Johnson, é de
minha extrema confiança também. Por favor, cumprimente-
o. Seu nome é Benjamim Prescott.
Meu coração deu um salto tão grande no peito, que eu
pensei que iria enfartar. Sem contar no jeito que dei em
meu pescoço ao me virar tão rápido para ver se o
Benjamin Prescott, meu segurança/babá era o mesmo
Benjamin Prescott da balada da noite anterior.
Bem, o destino queria mesmo nos unir, afinal.
Lá estava ele, de pé, ao lado de Johnson. O mesmo
semblante sério, os mesmos olhos azuis intensos, só que
usando um terno preto.
Sem conseguir me conter, me levantei e ele me
reverenciou — sim, ele fez isso e eu amei! —, falando:
— Vossa Alteza, sou Benjamin Prescott, seu segurança
pessoal. Estou ao seu dispor.
Ao meu dispor.
Isso soou como música para os meus ouvidos. Tudo o
que eu queria fazer naquele momento era rir. Gargalhar
bem alto, bem forte. Mas me contive.
Quando eu poderia imaginar que veria o poço de
grosseria novamente? Fazendo reverência a mim e
dizendo que estava ao meu dispor?
Sinceramente? Eu estava amando!
— Benjamin Prescott... Não sei, mas tenho a
impressão de que já nos conhecemos de algum lugar... —
falei e ele continuou sério, sem demonstrar qualquer
emoção. — Enfim, deve ser apenas uma impressão boba.
De qualquer modo, eu acho que iremos nos dar bem. Essa
sua ideia foi muito boa, papai. Será ótimo ter alguém ao
meu dispor.
— Ótimo. Johnson já está colocando-o a par de todas
as suas obrigações e ele embarcará com você no jatinho
que vai te levar para Paris.
— Perfeito! Eu vou subir, quero começar a arrumar
minhas malas — falei, mas, antes de ir, dei um abraço em
minha mãe e outro em meu pai. — Muito, muito obrigada
por permitirem! Eu amo vocês.
— Também amamos vocês, querida — mamãe falou,
sorridente.
Antes de sair, parei na frente de Benjamin. Ele me
olhou nos olhos e eu senti um arrepio passar pela minha
espinha.
— Até a nossa viagem, Benjamin.
— Alteza — ele me reverenciou novamente.
E eu nunca, nunca amei tanto ser uma princesa!
Capítulo 3 - Charlotte

Nunca imaginei que ficaria nervosa ao me sentar na


frente de John meu — por enquanto — atual namorado.
Mas, sim, eu estava nervosa.
Seu apartamento continuava da mesma forma, grande,
bem decorado, masculino. Ainda assim, eu estava olhando
ao redor como um idiota, enquanto segurava uma taça de
vinho nas mãos e o tinha sentado na minha frente, no
enorme sofá de couro negro.
— O que está acontecendo, Lottie? — perguntou ele,
tocando em minha mão. — Você sabe que pode me contar
o que quiser.
Sim, e vim contar que vou terminar com você.
Claro, minha mente, como sempre, não estava fazendo
o mínimo esforço para me ajudar.
— Sim, eu sei, mas a conversa que quero ter é muito
séria, John.
— Séria? Por quê? Aconteceu alguma coisa no balé da
sua mãe?
John tinha a irritante mania de achar que minha única
preocupação, era o balé da minha mãe. Ele sempre fazia
questão de deixar claro, de uma forma bem sútil, que eu
era uma dondoca que não tinha nada a me preocupar e que
o balé da minha mãe, para mim, era só um passatempo.
Por isso, sempre que eu surgia com um assunto sério,
ele achava que eu estava preocupada com algo
relacionado ao balé, pois era meu passatempo e só isso
poderia me deixar minimamente preocupada.
— Não, não é sobre o balé. Quer dizer... Não é só
sobre o balé.
— Então, me diga o que é.
Olhei para ele mais uma vez e, em seguida, olhei ao
redor. Apesar de ele ser irritante ás vezes, um dia, eu me
considerei apaixonada por ele. Me entreguei a ele. E não
queria magoa-lo, pois sabia que ele tinha sentimentos por
mim.
— Eu quero terminar com você.
Ele parou com a taça a caminho da boca e me fitou
com os olhos castanhos arregalados.
— O quê?
— Eu quero...
— Como assim quer terminar comigo? — me
interrompeu, pousando a taça na mesinha de centro, mas
sem tirar os olhos de mim. — Assim, de uma hora para a
outra, você simplesmente decide que quer acabar com o
nosso relacionamento? Está louca, Charlotte? Estamos
juntos há quase quatro anos!
— Eu sei, mas...
— Você não pode, simplesmente, tomar uma decisão
dessas sem ao menos me consultar, sem ao menos
conversarmos!
— Estamos conversando agora.
— Não estamos conversando, Charlotte. Você apenas
me comunicou que quer terminar comigo. Isso não é uma
conversa.
Ele tinha razão e eu sabia disso. Eu apenas não sabia
como tratar dessa questão sem ser de forma direta.
Sempre odiei conversas enroladas, que davam voltas e
voltas para chegar a um objetivo.
Entretanto, sabia que esse tipo de questão deveria
envolver mais delicadeza.
— Me desculpe, John, você tem razão — falei,
colocando minha taça ao lado da dele.
— Me explique, Charlotte. Me dê ao menos um motivo
para esse término repentino.
— Eu sou uma pintora — falei, vendo-o franzir o
cenho. — Sempre pintei e desenhei escondida dos meus
pais, mas, essa semana, tomei uma decisão e decidi
revelar a eles sobre o que eu realmente gosto de fazer.
— Por que nunca me contou? Pensei que, além de
namorados, fôssemos amigos.
— Não é nada pessoal conta você, John. Eu
simplesmente nunca contei para ninguém. Para as minhas
amigas, apenas, ainda assim, contei apenas a um mês
atrás. Eu sempre tive medo de que meus pais me
proibissem de pintar, ou que não me apoiassem, enfim...
Eu estava totalmente enganada. Eles me apoiaram não só
com a pintura, mas como a minha decisão de estudar Artes
em Paris.
— O quê? Em Paris?
— Sim. Me mudarei para Paris na quarta-feira.
Ele continuou a me olhar como se eu, de repente,
tivesse criado duas cabeças e isso me deixou desapontada
comigo mesma. Eu o estava magoando e não era isso que
eu queria. Apesar não estar mais apaixonada por ele, eu
gostava muito de John, como um amigo.
— Nossa... Que bom que você teve a consideração de
me avisar há, o quê, três dias antes de viajar?
— John...
— Charlotte, será que você não entende? Você sabe o
que significa um relacionamento? Por Deus, estamos
juntos há quase quatro anos e não quatro dias, para você
me comunicar que quer simplesmente terminar comigo
para estudar Artes em Paris!
— John, me escute, não é só por isso!
— Ah, então tem mais? Me diga, o que está
escondendo dessa vez, Charlotte?
Seu rosto sempre calmo estava com uma carranca
severa e eu soltei um suspiro, sabendo que a minha
vontade de terminar amigavelmente, tinha sido jogada
pela janela.
— Eu não me sinto mais como antes, sobre... Você —
falei, olhando-o nos olhos. — Não quero terminar apenas
por que vou estudar em Paris, não é só por isso. Eu gosto
de você, John, mas eu sinto que toda aquela paixão que me
consumia... Simplesmente não existe mais. E você sabe
disso. Por favor, não minta, dizendo que nosso
relacionamento continua o mesmo, porque não é verdade.
— Pensa que eu não sei disso? Pensa que não sinto o
quanto estamos distantes, o quanto o nosso relacionamento
esfriou? Eu sinto, Charlotte, mas pensei que poderíamos
lutar e fazer esse namoro continuar.
— Não temos como lutar contra a maré, John. Esses
anos ao seu lado foram um dos mais felizes da minha vida,
você sempre estará no meu coração e na minha memória,
mas não podemos mais empurrar esse namoro com a
barriga. É hora de cada um tomar o seu rumo. Será melhor
para nós dois.
Ele soltou um suspiro que denunciou o seu esgotamento
e a sua tristeza. Tomei suas mãos nas minhas e seu olhar
voltou a encontrar o meu:
— Tem certeza que não quer continuar? Talvez, essa
viagem veio mesmo a calhar, Lottie. Talvez a distância
seja o combustível que precisamos para nos reaproximar,
para sentirmos a falta um do outro.
— Não quero dar falsas esperanças a nós dois, John.
Assim como não quero que nos magoemos, continuando
com esse namoro.
Ele levou minhas mãos a sua boca e beijou cada uma
lentamente, como o lindo cavalheiro que era.
— Tem horas que eu ainda te acho uma adolescente
louca e linda, mas, tem horas, como agora, que eu te acho
tão responsável e dona de si mesma. Você é incrível,
Charlotte. Tenha certeza que eu nunca irei me esquecer de
você.
Quase soltei um suspiro de alívio ao ouvir suas
palavras. Por fim, ele estava aceitando todos os meus
argumentos e enxergando a situação com clareza.
— Também nunca me esquecerei de você, até porque,
isso não será necessário. Somos amigos acima de tudo,
lembra?
— Sim, com certeza — ele sorriu de leve. — Te
desejo muita sorte em Paris e, por favor, não se esqueça
de me enviar um convite para a sua primeira exposição.
— Nunca!
Bem, no final, a minha vontade de ter um término
amigável não havia se atirado pela janela.
E eu agradeci internamente por isso.

ALGUNS DIAS DEPOIS.


Abracei meu pai e minha mãe mais uma vez, sentindo
um imenso aperto no peito. A saudade já estava me
consumindo e eu ao menos havia partido de Orleandy.
— Meu amor, por favor, se cuide em Paris. Ligue-nos
todos os dias, mande muitas fotos e e-mails, por favor!
Não se esqueça que você tem uma mãe morrendo de
saudade e de preocupação.
— Pode deixar, mamãe.
— Tenha juízo, ok? Nós confiamos em você, lembre-se
sempre disso.
— Sim, papai.
— Nós te amamos, querida.
Meu pai me beijou na testa e minha mãe me deu um
último abraço, antes de se afastar. Segurando o nó preso
em minha garganta, acenei para o resto da minha família e
me virei para seguir em direção ao carro.
Esperando ao lado do carro, estava Benjamin Prescott,
vestido em um terno negro e óculos escuros.
Ele me animou um pouco e me tirou da melancolia de
estar partindo para longe da minha família.
— Bom dia, Alteza — saudou, abrindo a porta do
carro para mim.
— Bom dia, Benjamin. Por favor, me chame apenas de
Charlotte.
— Sinto muito, Alteza, mas a formalidade precisa ser
respeitada.
— E a princesa também. Então, por favor, chame-me
apenas de Charlotte — falei, piscando levemente para ele.
Entrei no carro e Benjamin fechou a porta. Vi quando
ele deu a volta para guardar as malas no porta-malas e me
virei para Johnson, que estava ao volante.
— Seu danado! Por que não me disse que ele era o seu
sobrinho?
— Não me ocorreu no momento, Charlotte.
— Jura? Ou será que, naquela noite, ele já não estava
passando por algum tipo de teste para entrar para a sua
tropa de seguranças?
— Não, juro que não estava. Foi realmente uma
coincidência e só percebi que o homem que você havia
jogado a bebida, era Benjamin, quando fui tirar
satisfações com ele. Ele não estava em um bom dia, por
isso te tratou mal.
— Ele já esteve em algum bom dia, Johnson? —
perguntei, vendo-o sorrir de leve. — Mas pode ficar
tranquilo, vou fazer questão de animar os dias dele em
Paris.
— Eu sei que sim, Charlotte. Tenho certeza.
Ele continuou com aquele sorrisinho de quem sabia de
tudo e logo Benjamin entrou no carro, tomando o lugar do
passageiro. Alguns segundos depois, Johnson colocou o
veículo em movimento, sendo escoltado por dois enormes
carros blindados afrente e atrás do nosso carro.
Observei Benjamin pelo retrovisor e, novamente, senti
algo me tocar por dentro. Não era apenas a beleza dele ou
o maxilar muito bem marcado e desenhado, bem como os
lábios cheios, a expressão séria... Era algo... A mais. Algo
que eu não conseguia identificar.
— Benjamin.
— Sim, Alteza.
— Me dê os seus óculos, por favor.
Sem hesitar, Benjamin tirou os óculos em estilo
aviador e me deu. Coloquei o par dentro da minha bolsa e
voltei a mira-lo pelo retrovisor. Dessa vez, seus incríveis
olhos azuis estavam em cima de mim.
— Primeira regra: nada de óculos perto de mim. Eu
preservo muito o contato visual, principalmente com
pessoas que não expressam o que estão sentindo.
Seu maxilar trincou um pouco, por apenas um milésimo
de segundo. Se meus olhos não estivessem tão presos
nele, eu teria perdido isso e acharia que ele era
inabalável.
Sorte a minha, pois ele não era.
— Sim, Alteza.
Tirando os olhos de cima de mim, Benjamin voltou a
fitar a paisagem do lado de fora do vidro fumê e blindado.
Eu sorri de leve e Johnson sorriu também, sendo sempre o
meu cúmplice.
Que bom, mais que bom mesmo, que Benjamin era seu
sobrinho.
Obrigada, Deus!

***
Depois de quatro horas de viagem, o jatinho pousou
em segurança em uma pista reservada no aeroporto de
Paris.
Johnson, que ficaria em Paris por apenas dois dias
para orientar a equipe, nos levou para o meu novo
apartamento. O prédio era luxuoso, mas discreto e tinha
um elevador reservado que só era liberado através de uma
senha e nos levava direto para a cobertura.
Bem, dizer que meu pai havia exagerado no espaço e a
segurança, era bobagem.
A cobertura tríplex contava com um hall grande e
ornamentado, com o piso em porcelanato branco e
brilhante, que nos levava em direção a sala ampla, com
um grande jogo de sofás em couro cor de creme, uma
mesinha de centro em madeira maciça. Mas o que
realmente tirou o meu fôlego, foram as enormes paredes
de vidro que iam do chão ao teto e que me davam uma
vista espetacular da Torre Eiffel.
O corredor a direita levava direto para a cozinha no
canto esquerdo, próximo a parede de vidro, tinha a escada
que nos levava para o segundo andar. No piso superior,
haviam três suítes e eu já sabia o que faria com a terceira
que estava sobrando: um estúdio para mim.
E no terraço, havia uma piscina grande e uma jacuzzi,
ambas cheias. A jacuzzi borbulhando quase me chamou
para entrar e desfrutar daquela água quente e convidativa,
mas me contive e desci, encontrando Johnson na sala ao
lado de Benjamin, a equipe de segurança e duas
empregadas.
— Alteza, por favor, deixe-me apresenta-la o resto da
equipe.
Na frente dos outros empregados, Johnson fazia
questão de ser profissional. Me encarando uma última
vez, ele se virou para as duas mulheres a sua esquerda:
— Essas são Mary e Grace. Mary cuidará da limpeza
do apartamento e virá duas vezes por semana. Grace
cuidará da alimentação e virá três vezes por semana.
Assenti e as duas fizeram uma longa reverência.
— Será um prazer servi-la, Alteza — as duas
disseram, em uníssono.
— É um prazer conhece-las — falei, estendendo a mão
para Mary.
Ela me olhou assustada e em seguida olhou para
Johnson, como se buscasse instrução ou alguma permissão
para apertar minha mão. Johnson apenas sorriu e eu
assentiu, em seguida, sua mão um pouco calejada tocou a
minha. Com um sorriso tímido, Grace apertou a minha
mão quando estendi para ela.
— Esses são Thor, Peter, Graham, Asher e Jack. Thor
e Peter farão a segurança na frente do prédio, Graham é
seu motorista particular e Asher fará a segurança do
elevador. Ninguém, sem a sua permissão, passará por ele.
Jack cuidará do carro que a escoltará a qualquer lugar que
você for e Thor o acompanhará, para que você não fique
desprotegida. E, bem, como você já sabe, Benjamin é seu
segurança pessoal.
— Perfeito. É um prazer conhece-los também, rapazes.
— Será um prazer servi-la, Alteza — falaram,
igualmente em uníssono.
Os empregados se dispersaram. Grace já havia
preparado a refeição e ela, juntamente com Mary,
voltariam daqui a dois dias. Thor, Peter, Graham, Asher,
Jack e Johnson desceram e restou no apartamento apenas
Benjamin e eu.
Um apartamento tríplex, em Paris, apenas para nós
dois.
O destino sabia mesmo surpreender!
— Licença, Alteza, levarei as minhas malas para cima.
Thor havia subido com as minhas malas e restou
apenas as de Benjamin. Havia duas malas grandes ao seu
lado, mas uma pequena, de mão. Antes que ele a pegasse,
fui mais rápida e segurei a alça.
— Eu levo essa.
— Alteza, por favor, isso não é necessário...
— Eu faço questão.
— Alteza...
— Já estou subindo, Benjamin... — falei, parando nos
degraus da escada. — Vai ficar aí?
Sem alterar a expressão facial, Benjamin me seguiu. O
quarto dele ficava exatamente ao lado do meu. Por ser um
quarto de hóspedes, era um pouco menor, mas não perdia
em nada em luxo e conforto.
Deixei a mala próximo ao closet e me virei para ele,
que estava atrás de mim. Sem uma palavra sequer, deixou
as malas no chão e me fitou:
— A senhorita deseja alguma coisa? Quer fazer algo?
— Como o mundo dá voltas, não é, Benjamin? Quem
diria que iríamos nos encontrar de novo depois de eu ter,
sem querer, derramado um pouquinho de uísque na sua
cara? O destino é realmente surpreendente.
— Foi bom a senhorita tocar neste assunto. Eu gostaria
de me desculpar pelo meu comportamento naquela noite.
Foi realmente imperdoável e eu mereci a sua reação.
— Imperdoável? Que isso, sabia que eu nem me
lembrava mais? Sua presença naquele dia, no escritório
do meu pai, foi o que acendeu a minha mente.
— Ainda assim, espero que possa me desculpar...
— Só se você me chamar de Charlotte — falei,
encostando-me deliberadamente na cômoda ao meu lado.
Bem, não tão deliberadamente. Foi só para fazer um
charme mesmo, eu confesso.
— Alteza, não seria de bom tom...
— Seu tio me chama de Charlotte. Por que você não
pode fazer o mesmo?
— Porque meu tio trabalha para o Rei há muitos anos,
praticamente a viu crescer. Ele pode ter esse tipo de
intimidade, eu, não.
— Eu estou lhe dando essa intimidade, Benjamin. Não
será um desrespeito.
Ele me olhou nos olhos e eu agradeci por estar
encostada na cômoda, se não, com certeza eu teria caído.
Seu olhar fez minhas pernas tremerem.
— Quem sabe com o tempo, eu não consiga agir tão
informalmente.
— Naquela noite, você agiu bem informalmente. Até
me chamou de pirralha recém-saída das fraldas — falei,
sorrindo, sem deixar que a irritação me tomasse.
Ao contrário do que eu havia afirmado anteriormente,
claro, eu me lembrava muito bem daquela noite.
— Alteza, eu já pedi perdão...
— Eu só o perdoarei se me chamar de Charlotte. Antes
disso, nada feito, Benjamin — falei, desencostando-me.
Caminhei para perto da porta, talvez deixando meu
quadril balançar um pouquinho além do normal.
Quando me virei, seu olhar estava concentrado em
mim.
— Talvez a informalidade, intimidade ou como quer
que queria chamar, fará muito bem a nós dois, Ben.
Com uma piscadela final, saí de seu quarto e entrei no
meu.
Quando caí em cima da enorme cama queen-size, eu só
sabia rir, animada e excitada como nunca me senti antes na
vida.
Capítulo 4 – Benjamin

“Talvez a informalidade, intimidade ou como quer


que queria chamar, fará muito bem a nós dois, Ben”.
Encarei-me no espelho, ouvindo mais uma vez a sua
voz invadir a minha mente.
Ben!
BEN!
Mas que audácia!
— Acalme-se, Benjamin — murmurei para o meu
reflexo. — Você precisa deste emprego. Não coloque tudo
a perder.
Não poderia ser tão ruim ser o segurança pessoal da
princesinha mimada. Isso foi o que eu pensei quando meu
tio bateu na minha porta naquela tarde de domingo,
acordando-me do sono profundo produzido pelo uísque
barato que eu havia encontrado na dispensa da minha
casa.
Depois de sair da balada sem ter aliviado a minha
tensão e preocupação com um sexo sem compromisso e,
ainda por cima, com a dose de uísque que a princesa
irritante jogou na minha cara e o sermão do tio Johnson
em modo “sou todo segurança, me respeite”, eu só quis
saber de ir para casa e beber.
Beber até esquecer os meus problemas.
Pena que meu tio não me deixou aproveitar o torpor
que o uísque — ou álcool puro — havia me dado.
Ainda me lembro do que ele disse quando entrou —
sem ter sido convidado, claro:
“— Jogue uma água nesse rosto, escove os dentes e
volte para a sala. Vamos ter uma conversa séria agora”.
Bom, eu poderia esperar qualquer coisa, menos a
proposta havia me feito. Eu já tinha trabalhado como
segurança para um cantor famoso, mas isso tinha sido há
quase três anos atrás. Juntei uma boa grana com esse
emprego e pude, finalmente, ingressar na faculdade dos
meus sonhos, Ciências Contábeis.
Estava tudo indo muito bem, até o começo deste
maldito ano! Infelizmente, ter que deixar a faculdade foi o
menor dos meus problemas.
“— Você precisa de um emprego que pague bem e eu
preciso de um homem de confiança — disse ele — Não
vejo o porquê de você não aceitar.
— A mimadinha jogou uísque na minha cara, tio!
— Porque você mereceu, com certeza.
— O senhor e essa mania de sempre defender todos
daquele castelo!
— Tenho certeza que você não foi agradável com ela,
Benjamin. Supere isso. Você é um homem de vinte e nove
anos, não acha que está um pouco velho demais para se
comportar como um menino pirracento?”
Ele tinha razão e por isso — e pelo valor do salário —
eu aceitei o emprego.
Talvez eu tenha pensado em desistir quando a vi
novamente, no escritório de seu pai. A surpresa que vi em
seu olhar, naquela noite, logo foi substituída por uma
expressão de quem havia acabado de ganhar na loteria. Eu
poderia me sentir lisonjeado, se não soubesse que, para
ela, talvez eu fosse apenas um desafio.
Eu a vi no dia do batizado do menino. Eu vi a forma
como ela olhou para mim, eu vi o desejo ali. Vi o mesmo
desejo quando ela surgiu, misteriosamente, ao meu lado
naquela noite, no bar. E eu ainda conseguia ver o desejo
em seus olhos, agora.
Mas eu não entraria em seu joguinho, não mesmo.
Charlotte era linda, realmente. Tinha longos cabelos
castanhos, um corpo esguio, muito bonito. Deveria medir
1,65m, não muito alta, tampouco muito baixa e eu
conseguia notar nitidamente as suas curvas por debaixo
das calças jeans pretas e da blusa de seda cinza que havia
usado hoje, para viajar.
Seria cego se não a achasse estonteante, mas seria um
burro se fosse para cama com ela. Havia um limite muito
rígido entre nós: ela era uma princesa, minha patroa e eu
era apenas o seu empregado.
E era assim que iria ficar.
— Por isso, controle-se! Você não pode mais chama-la
de pirralha quando bem entender.
Voltei a me vestir. Em casa, eu poderia deixar o terno e
me vestir com calças jeans e uma blusa com manga.
Quando sai do banheiro, parei de súbito ao vê-la
novamente em meu quarto, sentada em minha cama,
usando agora uma calça jeans clara e uma blusa preta,
com um decote na frente.
— Desculpa, a porta do quarto estava aberta, resolvi
te esperar aqui dentro — falou, sorrindo.
Aquela sua carinha de atrevida sabia mexer comigo de
diversas formas. Pela primeira vez, tive que ser justo
comigo mesmo: não era apenas irritação que eu sentia por
ela ser tão insolente. Havia algo a mais, algo que eu não
queria descobrir.
— Precisa de alguma coisa, Alteza?
— Sim, preciso de companhia para o jantar.
— A senhorita já contatou alguma de suas amigas que
vivem aqui em Paris? Quer que eu peça para Graham ir
busca-la?
— Eu só tenho duas amigas e ambas vivem em
Orleandy. Eu quero a sua companhia para o jantar, Ben.
Não adianta se fazer de bobo! Você já sabe
exatamente que ela é direta e fala o que quer.
— Alteza, talvez não seja apropriado...
— Grace fez um salmão que parece estar maravilhoso!
Eu mesma coloquei a mesa e só estava esperando você —
disse, levantando-se. — Vamos descer? Não é possível
que não esteja com fome.
— Seria antiético sentar na mesma mesa que a
senhorita.
— Antiético é negar o meu convite, Benjamin. Vamos?
Segurei um suspiro e assenti, pedindo apenas um
segundo para poder calçar meu tênis e colocar no bolso o
celular utilizado para entrar em contato com a equipe de
segurança.
Saímos juntos do quarto e eu me obriguei para olhar
em linha reta e não para a sua bunda bem marcada pela
calça jeans, que a vestia como uma segunda pele. A mesa
já estava posta e eu passei a sua frente, para arrastar a
cadeira para ela.
— Espere só um segundo, eu vou apenas na cozinha
pegar as travessas com as comidas.
— Eu faço isso, Alteza. Por favor, sente-se.
Pensei que iria lutar comigo, mas, sem falar uma
palavra, ela se sentou. Seu corpo passou rente ao meu e eu
pude sentir o cheiro adocicado que vinha de seus cabelos.
Controle-se, Benjamin!
Assim que se acomodou, eu me afastei e segui para a
cozinha. As duas travessas com as comidas estavam sobre
a bancada de granito. Ao voltar para a sala de jantar, vi
Charlotte enchendo duas taças de vinho. Coloquei as
travessas sobre a mesa e a fitei:
— Posso servi-la?
Charlotte assentiu e eu peguei a travessa com o que
parecia ser um arroz cremoso, algo, com certeza, bem
fino.
— Está me servindo apenas por que é o meu segurança
ou por que resolveu ser cavalheiro comigo?
O sorriso imbecil que quis nascer no canto dos meus
lábios me lembrou o quão danada Charlotte poderia ser.
Normalmente, sou um homem centrado e inteligente,
preparado para lidar com qualquer coisa, de qualquer
pessoa, mas não de Charlotte. No curto momento em que
ficamos juntos, ela me pegou de surpresa diversas vezes e
isso me preocupava quanto ao futuro.
Principalmente quando vinha com sacadas como essa,
que mexia com o meu humor de uma maneira... Boa.
— Por ambos os motivos, Alteza — respondi, pegando
a travessa com o salmão.
— Prefiro pensar que o cavalheirismo tenha um peso
maior.
— Talvez, realmente tenha.
Me sentei na cadeira que ficava de frente para a sua e
me servi com um pouco do tal arroz e o salmão. Charlotte
esperou por mim para comer e quando colocou a primeira
garfada na boca, soltou um gemido que fez conexão direta
com a minha virilha.
Porra!
— Hm... Está delicioso! Eu simplesmente amo esse
risoto de limão siciliano. É o meu favorito, tenho certeza
que Johnson disse isso a Grace.
— Está realmente muito bom, Alteza — concordei,
porque realmente estava.
Continuamos a comer em silêncio e percebi que
Charlotte não tirava os olhos de mim. Quando tomou um
gole de seu vinho, sua voz voltou a imperar pela sala de
jantar:
— Não vai beber?
Segui seu olhar para a taça intocável a minha frente e
balancei a cabeça.
— Não, Alteza.
— É antiético beber um pouco em um jantar?
— Quando estou trabalhando, sim.
— Finja que não está trabalhando.
— Não é tão simples, Alteza. Eu estou trabalhando.
Sou seu segurança pessoal, isso quer dizer que trabalho
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
Ela balançou a cabeça, pousando sua taça sobre a
mesa.
— Você está complicando as coisas, Ben... Aliás,
posso te chamar de Ben, não é?
— Jura que está me perguntando isso agora?
Droga!
Minha boca abriu antes mesmo de a frase passar pelo
filtro do meu cérebro. Trinquei o maxilar, lembrando-me o
porquê de ter negado este emprego de imediato: Charlotte
me fazia falar — e sentir — coisas que eu não queria.
— Perdoe-me, Alteza, eu fui extremamente rude. A
senhorita pode me chamar do que quiser.
Meu olhar estava no meu prato e quando percebi que
ela não iria me responder, obriguei-me a olhar para ela.
Encontrei Charlotte com um sorriso de orelha a orelha.
— É disso que eu estou falando, Ben. Você estava
complicando muito as coisas, não sendo você mesmo.
Sabe, como você mesmo disse, você é meu segurança
pessoal, estará ao meu lado em todo o momento. O que
custa sermos amigos? Não quero alguém do meu lado que
me chame de Alteza o tempo todo e me lembre a cada
segundo que eu tenho alguém tomando conta de mim.
Quero ter um amigo. Estamos morando juntos, então, qual
o problema de me tratar como um igual?
Já conhecia a sua franqueza, mas não esperava que ela
fosse madura o suficiente para me mostra a situação com
tanta veracidade. E, no fundo, eu sabia que ela tinha razão.
— Está bem, Charlotte.
Como se fosse possível, seu sorriso se abriu ainda
mais e eu a achei encantadora. Merda, eu tinha realmente
que me decidir! Ora a achava um tanto insuportável, ora a
achava uma coisinha linda.
Qual era o meu problema?
— Sua voz é linda. Chamando o meu nome então, ficou
perfeita — disse, erguendo sua taça. — Vamos fazer um
brinde a nossa amizade.
Peguei a minha taça e o barulho do cristal se tocando
levemente ecoou pela sala silenciosa. Tomamos um gole e
o vinho era muito, muito bom. Doce, mas não muito suave.
Como a princesinha.
— Vamos nos dar muito bem, Ben. Você vai ver.
— Sim, Charlotte.
Eu assenti, mas, por dentro estava sentindo algo
diferente. Se sua voz continuasse a se conectar com a
minha virilha daquela forma, talvez, nos dar bem se
tornaria algo complicado.
Bem complicado.
Capítulo 5 - Charlotte

Université Paris-Sorbonne era ainda mais bonita ao


vivo. Jamais conseguirei colocar em palavras o que senti
quando saí do carro e vi aquela construção rica e antiga,
onde se localizava a universidade.
Era, realmente, o meu sonho sendo realizado.
Com a matrícula feita, pude andar pelo campus já
movimentado. Benjamin estava ao meu lado e havia mais
dois seguranças um pouco afastados e eu não me
incomodei com isso. Nada poderia me incomodar,
enquanto eu estivesse ali dentro, no lugar que tanto sonhei
e almejei estar.
— Não é lindo? — perguntei em admiração, parando
em uma sacada que tinha vista para toda a universidade.
— Sim, é muito bonito.
Me virei para Benjamin e o peguei olhando para mim.
Seus incríveis olhos azuis cristalinos estavam sobre o meu
rosto e eu senti uma pontada no coração.
— Nunca pensou em entrar para a faculdade, Ben?
Ele desviou o olhar e eu tive a esquisita sensação de,
de repente, estar sozinha. A verdade, é que eu amava ter
os seus olhos sobre mim.
— Eu estava na faculdade até o fim do ano passado.
— Ah... E por que saiu?
— Aconteceram algumas que não me permitiu
continuar.
Ok, como sempre, sendo o grande e misterioso
Benjamin... Por que eu achei que isso iria mudar?
— E você cursava o quê?
— Ciências Contábeis.
— Uau... Então, você é de exatas.
— E você, de humanas.
— Está explicado porque não nos demos bem logo no
começo.
Pegando-me de surpresa, ele sorriu abertamente e até
mesmo vi o seu ombro chacoalhar um pouco em uma
gargalhada curta e silenciosa. Caramba! O homem era
ainda mais bonito sorrindo. Senti que minhas pernas
poderiam se transformar em gelatina a qualquer momento.
— E você? Por que escolheu Artes?
— Pensei que seu tio tivesse falado para você.
— Não, ele é muito discreto sobre a vida pessoal da
sua família.
— Eu amo pintar, desde pequena. Então, quando
resolvi que era isso que eu queria fazer da minha vida,
comecei a pesquisar sobre cursos que me aperfeiçoariam.
Me apaixonei por Artes e por essa universidade.
— Que bom que você tem condições de realizar todos
os seus sonhos.
— Sim. Eu sei que muitas pessoas não têm a mesma
sorte que eu, por isso, valorizo muito tudo o que tenho e o
que os meus pais fazem por mim. Sempre serei grata a
eles.
Ele me olhou de uma forma diferente, eu senti, mesmo
sua expressão estando intacta. Por fim, desviou o olhar
primeiro que eu e apenas assentiu.
Nossa conversa acabou por aí e logo saímos da
universidade.

***

UMA SEMANA DEPOIS

O professor da era renascentista estava focado em


explicar uma arte projetada pelo slide e eu estava focada
na porta da sala de aula, que estava fechada.
Eu olhava para a porta como se ela pudesse se abri a
qualquer momento, o que era ridículo, visto que já
estávamos na metade da aula e todos os alunos estavam
fazendo anotações no caderno.
Ainda assim, minha atenção estava toda naquela porta
de madeira, ou melhor, no que estava do outro lado
daquela porta.
Benjamin estava ali, parado, esperando a aula terminar
para me seguir como se fosse a minha própria sombra. O
que eu não poderia reclamar, pois nunca, em toda a minha
vida, eu tive uma sombra tão máscula, bonita e sensual.
Entretanto, o que me incomodava, era o fato de que ele
havia se distanciado. Certo, ele nunca chegara a ser
próximo, mas, ainda assim, se distanciara de mim. Ainda
me chamava pelo meu nome quando não estávamos em
público, ainda fazia as refeições comigo, mas o seu modo
“caladão” estava em alta desde a nossa conversa quando
viemos conhecer a faculdade.
Ele estava retraído, pensativo, presente com o seu
corpo, mas sua cabeça — até mesmo sua alma — estava
muito, muito distante.
— Dante Alighiere foi um dos mais importantes
escritores humanistas na era renascentista...
A voz do professor voltou a invadir minha mente e eu
anotei algumas coisas que estavam no slide. Talvez esse
lance de distância fosse algo contagioso pois, agora que
finamente estava aqui, estudando o que realmente queria,
o que eu tinha sonhado durante quase toda a minha vida,
eu me sentia desconectada.
Minha conexão, claro, estava do outro lado da porta
daquela sala de aula.
Alguns minutos mais tarde, o professor encerrou a aula
e eu arrumei rapidamente as minhas coisas. Ao sair da
sala, encontrei Benjamin parado ao lado da porta, no
telefone. Ele me olhou, mas ainda consegui ouvir algumas
de suas palavras antes de ele se despedir:
— Tudo bem, por favor, não esqueça de me manter
informado. Morro de preocupação por estar tão longe...
Preciso ir, até mais.
Ele colocou seu celular particular no bolso do seu
terno e me encarou, com o semblante fechado como
sempre.
— Pronta para ir para casa, Alteza? Ou gostaria de
passar em algum outro lugar?
Ele estava no modus “segurança pessoal” e tudo o que
eu queria, de verdade, era que ele deixasse essa função de
lado e me olhasse como uma amiga, colega, qualquer
coisa, menos como a princesa que ele deveria tomar
conta.
— Sim, estou pronta para ir para casa.
Caminhamos lado a lado. O campus estava cheio,
algumas pessoas me olhavam com verdadeira admiração e
já tinha até mesmo falado com alguns deles, mas eu não
estava em um bom momento para conversar ou
cumprimentar alguém.
Alguma coisa estava acontecendo com Benjamin, e eu
precisava descobrir o que era.
O caminho para o apartamento foi feito em silêncio.
Aproveitei aquele momento para conversar com Eva por
mensagem e ela me encheu de foto das crianças, do papai
e da mamãe. Meu coração se apertou de saudade. Eu sabia
que não seria fácil ficar longe deles por tanto tempo,
mesmo estando apenas uma semana afastada deles.
Benjamin e eu subimos juntos pelo elevador privativo
e Grace nos recebeu com um sorriso convidativo.
— Alteza, é um prazer recebe-la de volta — falou e eu
a abracei antes que ela pudesse fazer reverência.
— Obrigada, Grace. Como você está bem?
— Muito bem, Alteza, obrigada por se preocupar. O
almoço já está pronto, também fiz alguns lanches e tortas,
estão na geladeira. Espero que goste de tudo.
— Sei que vou adorar.
— Espero que sim. Estou indo agora e volto depois de
amanhã. Tenha uma ótima tarde, Alteza.
— Você também, Grace.
— Eu te acompanho, Grace — Benjamin disse, já
apertando o botão do elevador e discando a senha.
Grace saiu alguns minutos depois e eu esperei até que
a porta do elevador se fechasse, para me virar para
Benjamin. Ele afrouxou o nó da gravata, mas parou
quando viu que eu estava o observando.
— Deseja alguma coisa, Charlotte?
Deus! Eu ainda não tinha me acostumado ao meu nome
no tom da sua voz. Era tão... Sexy. Sim, muito sexy.
— Benjamin, você sabe que eu o considero como um
amigo, não é? Por mais que você queira assumir o papel
de segurança durante vinte e quatro horas, eu te considero
como um amigo.
— Charlotte, eu sou pago para ser o seu segurança.
Não é apenas um papel, é a minha função.
— Sim, mas isso não impede que eu o considere como
meu amigo, não é? Ou quer que eu o considere como um
inimigo ou algo do tipo?
Ele me fitou por alguns segundos, deixando a gravata
de lado e enfiando as mãos nos bolsos.
— Não, claro que não. Amigo está ótimo para mim.
— Então, eu quero que você me considere como uma
amiga também — falei, me aproximando. Parei a poucos
centímetros de invadir o seu espaço pessoal. — Sei que
tem algo acontecendo com você, sinto que está distante,
preocupado... Você não precisa me contar o que é, se não
quiser, quero apenas que saiba que pode contar comigo
sempre que precisar. Para conversar, desabafar ou se você
apenas precisar de uma companhia silenciosa... Ou se
quiser sorrir, também. Não sou tão boa com piadas, mas...
— Meus problemas não são da sua conta — falou, me
cortando em um tom rude. — Acho que você não tem
condições para lidar com um problema de verdade, de
pessoas de verdade. Seu mundo é totalmente diferente do
meu e da metade da população mundial, o que,
claramente, te torna incapaz de lidar com qualquer uma
das minhas questões.
Ele se aproximou de mim, invadindo meu espaço
pessoal, agora com as mãos fora dos bolsos, fechadas em
punho e o maxilar rígido.
— Você quer forçar uma relação entre nós dois, que
não vai existir. Eu vi o modo como olhou para mim no
batizado do seu sobrinho. O seu namorado estava do seu
lado e você ao menos o respeitou, me olhou como se fosse
pular em cima de mim a qualquer momento! Vi o modo
como me olhou no pub, novamente, como se estivesse
desesperada para ir para a cama comigo, mas, sabia,
Charlotte, isso nunca vai acontecer! Nunca!
— Benjamin...
— Tenha um pouco mais de respeito por si mesma e
pare de tentar me seduzir, isso é ridículo! Olha para
você... Uma princesinha mimada, imatura, que não tem
noção alguma de como a vida é dura de verdade! Não
quero ser seu amigo, não quero ser nada seu. Se eu
pudesse, não seria nem mesmo seu segurança, mas,
infelizmente, a vida não me deu muita escolha. Sendo
assim, me deixe fazer o meu trabalho e permaneça como o
que você é, a princesinha que precisa de um babá.
Ele saiu da sala e correu em direção as escadas. Subiu
de dois em dois degraus, desapareceu do meu campo de
visão e a próxima coisa que ouvi, foi a porta —
provavelmente do seu quarto — sendo batida com força.
Estremeci.
Meu coração batia tão forte que, por um momento,
senti um medo terrível de que ele pudesse, simplesmente,
pular da caixa torácica e se espatifar no chão.
O que tinha sido aquilo?
Eu só queria ser legal! Por Deus! Tudo bem, nossos
dois primeiros encontros foram realmente desastrosos, eu
senti sim vontade pular em cima dele, mas eu pensei que
tivéssemos superado aquilo. Ele havia até mesmo me
pedido desculpas por ter me tratado mal no pub! Como, de
repente, ele explode dessa forma?
Continuei a olhar para a escada, como se ela, de
repente, pudesse me dar uma resposta. Suas palavras se
repetiam na minha mente, me machucavam e eu ainda não
entendia o que eu tinha feito para merecer aquilo.
Normalmente, eu teria explodido também.
Normalmente, eu estaria subindo as escadas de dois em
dois degraus e estaria esmurrando a sua porta, gritando até
que ele pudesse me ouvir.
Mas, ao invés disso, eu subi as escadas lentamente,
ainda sem reação. Parei em frente a porta do seu quarto,
olhei a madeira branca, sua voz chegou aos meus ouvidos.
— Eu vou arranjar o dinheiro! Não, não importa
como, eu vou! Não deixarei que isso aconteça, confie em
mim!
Sua voz era grave, raivosa e desesperada. E foi
exatamente isso, o seu desespero, que conseguiu penetrar
a mágoa e tocar o meu coração.
Eu iria descobrir o que estava acontecendo com ele, ou
não me chamava Charlotte Rose Andrigheto
Domaschescky!
Capítulo 6 - Charlotte

O celular de Johnson só dava ocupado e depois da


décima quinta ligação, joguei o celular na cama e fui para
o banheiro.
Um banho! Era isso que eu precisava.
A mágoa ainda estava ali dentro, pressionando o meu
peito, mas a raiva já estava começando a me consumir.
Pela vigésima vez, passei aquela conversa sem noção na
minha cabeça e a falta de motivos para aquela explosão
de Benjamin, apenas ajudou a aumentar a minha
frustração.
Quem ele pensava que era para falar daquela maneira
comigo?
A água quente só me ajudou a ferver ainda mais, por
isso, mudei para a água gelada e deixei que ela caísse
com força em minhas costas e minha cabeça. Não sei por
quanto tempo fiquei no banho, mas foi o suficiente para
que eu saísse com os dedos dormentes e gelados.
Me envolvi em um roupão quentinho e saí do banheiro.
A última coisa que eu esperava era encontrar Benjamin
sentado na minha cama, com os braços apoiados nas
pernas e o rosto abaixado, em uma clara expressão de
derrota.
Parei no meio caminho, entre a porta do banheiro e o
tapete felpudo no chão. Acho que ele sentiu minha
presença, pois levantou o rosto e me fitou. Sua expressão
não era a mesma de quando me atacou, pelo contrário.
Não havia raiva, presunção ou seriedade. Havia apenas
uma tristeza que tocou profundamente o meu coração.
Ainda assim, não abaixei a guarda.
— O que está fazendo aqui?
Ele continuou me encarando em silêncio, seus olhos
azuis presos nos meus.
— Benjamin, eu ainda não tenho o poder de ler mentes,
então...
— Vim pedir desculpas.
Ele se levantou e andou em minha direção. Eu tentei —
juro que tentei! — não olhar para o seu corpo atlético em
movimento, mas não consegui. Ele já não vestia mais o
terno e sim uma calça jeans desbotada e uma blusa cinza
de manga comprida. A manga estava enrolada na altura
dos seus cotovelos e as veias salientes em seus braços
quase conseguiram nublar a minha mente.
— Pelo visto, pedir desculpas já é algo bem arranhado
em seu repertório — falei, dando alguns passos para trás.
Ele continuou caminhando na minha direção e só parou
quando os dedos dos seus pés quase tocaram os meus.
Seus mais de 1,85m me fazeram jogar a cabeça um pouco
para trás para ver os seus olhos.
— Você tem razão. Pedir desculpas é algo arranhado e
também é muito pouco. Eu fui um idiota, Charlotte. Por
favor, me perdoe, eu não quis...
— Ah, não, por favor! — falei, empurrando-o de leve
e saindo da sua frente. Caminhei e parei perto do closet,
vendo seu olhar já em cima de mim. — Não venha com
esse papinho furado de que não quis me dizer aquilo, que
estava nervoso e tudo mais. Você disse o que pensa,
Benjamin.
Ele me fitou em silêncio, seus ombros sempre altivos,
agora jogados para baixo. Parecia que ele não tinha mais
forças para sustentar o que quer que fosse. Por um
momento, quis abraça-lo até que ele se sentisse bem, o
que me assustou. Eu não sou do tipo que abraça qualquer
um, só pessoas que eu realmente goste.
Ah, não...
Não mesmo!
Não ouse se apaixonar por ele! Atração sexual é uma
coisa, paixão é outra. Não seja estúpida!
— Acho que é melhor você voltar para o seu quarto,
Benjamin — falei, fechando ainda mais o roupão em meu
corpo, como se ele fosse um escudo para o meu coração
idiota.
— Charlotte...
— Apenas saia — pedi, sentindo minha garganta
arranhar. — Por favor.
Ele me fitou por mais alguns segundos. Em seguida,
saiu, fechando a porta silenciosamente atrás dele. Minha
garganta arranhou mais um pouco e senti minhas glândulas
lacrimais querendo começar um show, mas não permiti
que isso acontecesse.
Chorar já é demais. Não bastar estar se
apaixonando?
Quão idiota uma pessoa poderia ser? Entrei no closet e
me fitei no espelho, olhando para uma Charlotte que tinha
a ponta do nariz vermelho pelo choro reprimido e o olhar
brilhante por lágrimas não derramadas.
Quando deixei aquilo acontecer?
Certo, eu me sentia atraída por ele. Ok, eu me sentia
muito atraída por ele, mas, paixão? Não, isso não estava
nos meus planos. Queria que ele fosse meu, mas, na cama,
quem sabe? Uma aventura, talvez? Não em meu coração.
Pelo amor de Deus, o cara mal conversava comigo!
Ficava ao meu lado como uma sombra, mas, como ele
mesmo fizera questão de dizer, apenas porque ele não teve
muita escolha. Pelo o que eu pude entender, ele precisava
de dinheiro e este era um trabalho que pagava bem. Me
aturar, era apenas a parte muito ruim do pacote.
Como pude me apaixonar assim? Eu o conhecia a
pouco mais de uma semana. Quer dizer... Eu convivia com
ele, não o conhecia. O máximo que sabia de sua história,
era que ele fazia faculdade de Ciências Contábeis e teve
que parar por conta de problemas pessoais. E agora, que
ele precisava de dinheiro — e soube disso não porque ele
me contou e sim porque ouvi atrás da porta.
Que ridículo!
Eu era ridícula.
Algumas lágrimas escaparam pelos cantos dos meus
olhos, mas logo as sequei. Me vesti com a primeira
camisola que vi pela frente, tirei o excesso de água dos
meus cabelos e fui para cama.
Não foi uma decisão sabia, porém. O que tinha com as
camas que sempre faziam com que as lágrimas se
avolumassem?
Como a boa idiota que eu era, chorei. Silenciosamente,
porque chorar alto seria humilhação demais e eu ainda
tinha que manter a minha máscara de mulher supermadura
e decidida.
Não sei por quanto tempo fiquei desidratando, mas
senti os olhos pesarem em algum momento e me entreguei
ao sono.

***

— Charlotte?
Uma vez grossa e levemente rouca começou a invadir a
massa nebulosa que era o meu cérebro. Senti um toque
gentil e delicado no meu ombro e quando abri os olhos,
fitei uma teia grossa que logo entendi que era meu cabelo.
Dedos gentis colocaram os fios para trás da minha orelha
e então, eu o vi.
Meu coração tremeu de verdade e eu quase soltei um
suspiro. A visão daquele par de olhos azuis era a coisa
mais linda que eu já tinha visto. Pena que foram esses
mesmos olhos que fizeram com que meu cérebro
despertasse com força e trouxesse a lembrança de mais
cedo à tona.
— Você não desceu para o almoço e já passam das
seis horas. Trouxe algo para você lanchar.
Me sentei e meus olhos levemente embaçados fitaram
Benjamin e a bandeja que ele havia depositado na minha
cama. Meu estômago estremeceu e eu agradeci por ele ter
feito isso silenciosamente.
Benjamin empurrou a bandeja para perto de mim e me
estendeu uma caneca branca de porcelana. A peguei e
quando seus dedos esbarraram nos meus, senti um choque
gostoso. O que era totalmente ridículo, pois eu deveria
odiá-lo agora.
— É chocolate quente. Espero que esteja do jeito que
você gosta.
O cheiro do chocolate fumegante me atingiu e eu senti
minha boca se encher de água. Tomei um gole e consegui
conter o gemido de prazer — ele não precisava saber que
estava do jeito que eu gostava.
Não falei nada e acho que ele não esperava uma
resposta, pois logo pegou um croissant na bandeja e tirou
um pedaço. Quando levou o pedaço a minha boca, eu me
afastei, um tanto confusa.
Ele ia mesmo me alimentar?
— Coma, por favor. Você passou o dia todo com
apenas o café da manhã no estômago.
Um pouco desconfiada, comi o pedaço que ele colocou
próximo a minha boca. O croissant estava uma delícia e
praticamente se desmanchou na minha boca, mas o fato de
ele estar me alimentado, tornou tudo ainda mais...
Delicioso.
Continuamos assim, eu em silêncio e ele me
alimentando com pequenos pedaços de croissant.
Beberiquei um pouco mais do chocolate quente e o
observei com atenção. Seus olhos só saiam dos meus
quando tinha que pegar mais um pedaço de croissant na
bandeja, mas logo voltavam a me fitar.
— O arrependimento te deixa mais gentil, então —
murmurei, por fim, tomando mais um gole do chocolate.
— Não estou fazendo isso para me desculpar.
— Está fazendo porque é o meu babá, então —
constatei, com seus olhos ainda nos meus. — E como eu
sou uma princesinha mimada, talvez eu precise que
alguém me dê comida na boca.
Ele ofereceu mais um pedaço de croissant e eu aceitei.
Continuou a falar, enquanto eu ainda estava mastigando:
— Estou fazendo isso porque, ao contrário do que eu
disse mais cedo, eu gosto de você. E me preocupo. Você
passou o dia todo sem comer nada, pode ficar doente.
— Não precisa fingir algo que você não sente,
Benjamin. Você não gosta de mim e eu vou aceitar isso. Se
nem Jesus agradou a todos, por que eu vou agradar?
— Eu estava nervoso, Charlotte. Isso não é desculpa,
eu sei, mas... Eu acabei descontando os meus problemas
em cima de você. Usei você e falei o que eu não devia.
Misturei tudo... Por favor, me perdoe.
— Você pareceu bem convicto do que estava falando,
Benjamin.
Ele ficou em silêncio, mas seus olhos não desviaram
dos meus em nenhum momento. Havia arrependimento e
tristeza neles.
— No começo, eu realmente te achava uma garota
mimada, que não aceita um “não” como resposta. Mas
durante essa semana, você demonstrou ser alguém
diferente. Foi muito boa comigo, me tratou como um igual
e... Eu acho que não queria acreditar que você é realmente
assim. Não queria admitir para mim mesmo que você não
era nada daquilo que eu havia criado na minha cabeça e
hoje, quando você se mostrou toda preocupada, eu
explodi. Senti raiva, porque...
— Porque... — o incitei a continuar.
— Porque... Charlotte, eu não posso gostar de você.
Quer dizer, sim, eu posso gostar de você, mas eu não
posso me envolver com você, entende? Por isso senti
raiva hoje. Porque você estava se preocupando comigo,
quando, na verdade, você deveria mesmo ser a menina
mimada que não se importa com a dor do próximo. Seria
muito mais fácil para mim! Mas, então, você simplesmente
me enxergou, enxergou o que eu estava sentindo e se
ofereceu para me ajudar. E eu, o idiota e troglodita de
sempre, acabei magoando você. Me perdoe, por favor.
Você não imagina o quanto estou arrependido.
Bem... Eu esperava tudo, qualquer tipo de explicação,
menos aquilo que acabara de ouvir. Estava chocada e sem
palavras — coisa que raramente acontecia —, sem saber
ao certo que pensar.
— Por que não pode se envolver comigo? —
perguntei, pois foi a primeira coisa que veio na minha
mente.
Claro, até porque, até mesmo o meu cérebro estava de
quatro por ele e precisava dessa resposta.
Ele ficou em silêncio, mas eu insisti.
— Não me diga que é por causa do trabalho, ou porque
a ética não permite...
— É por tudo isso, mas também porque eu não posso.
Estou em um momento tão complicado, Charlotte. E ainda
tem o seu namorado...
— Não estou mais namorando.
— Não?
— Não. Terminei com John antes de viajar. Estou
livre, Benjamin. Pense bem, estamos sozinhos nesse
apartamento, eu sinto uma grande atração por você —
falar que estava apaixonada, certamente, iria manda-lo
para o outro lado do mundo, então, decidi omitir esse fato.
— Somos adultos. Não sei o que está acontecendo com
você, mas acho que, se ficarmos juntos, isso seria bom,
seria uma distração.
Puta merda... Eu estava mesmo me rebaixando a uma
distração?
Ah não!
— Quer dizer, não que eu seja uma distração ou algo
do tipo...
— Não, você jamais seria apenas uma distração,
Charlotte — ele disse, colocando minha caneca já vazia
em cima da bandeja. Sem que eu esperasse, tomou minhas
duas mãos nas suas e me olhou com firmeza. — Você
sugeriu que fôssemos amigos e eu quero isso. Quero ser
seu amigo. Prometo que nunca mais irei magoa-la da
forma como fiz hoje e prometo ser mais do que um
segurança. Mas não me peça nada a mais, por favor.
Ah, droga... Meu coração se apertou em uma dor chata
de rejeição, mas eu lutei para pelo menos pensar pelo
lado bom: eu teria a sua amizade.
— Tudo bem. Sejamos amigos, então.
— Você me perdoa por tudo o que eu disse hoje?
— Sim — falei, porque, realmente, tudo o que ele
tinha falado havia tirado a mágoa do meu coração. —
Espero que você conte comigo para se abrir e dividir os
seus problemas. Prometo ajudar em tudo o que for
possível, sempre.
— Digo o mesmo, prometo ajuda-la em tudo o que for
possível, Charlotte.
Ele sorriu e eu agradeci por estar sentada na cama, se
não, provavelmente eu teria caído com as pernas bambas
e o coração tremeluzindo no peito.
Retribuí o sorriso e olhei para nossas mãos juntas.
Elas se encaixavam perfeitamente e suas mãos eram
grandes, quentes e com a pele um pouco áspera.
Perfeita para mim.
Ele era perfeito para mim.
Por isso, decidi que não iria desistir tão facilmente.
Benjamin ainda seria meu.
Capítulo 7 – Charlotte

A semana passou de forma mais tranquila e o objetivo


de sermos amigos começou a ser alcançado.
Benjamin ainda era o cara sério e cheio de mistérios
— que eu estava prestes a descobrir quais eram —, mas
também passou a ficar mais relaxado quando ficávamos
juntos. Seu sorriso aparecia mais vezes e meu coração
idiota só faltava pular da caixa torácica e fazer acrobacias
na frente.
Ridículo, eu sei.
Sempre que me sentia assim, eu lembrava da conversa
que tive com minha mãe, Eva e Olivia. As três se juntaram
comigo em meu quarto, quando comecei a namorar com
John e resolveram que tinham que me explicar sobre o
amor.
Eu ri durante a maior parte do tempo e Eva me olhou
horrorizada. Bem, eu não poderia culpa-la, porque o amor
era algo que ela conhecia desde o momento em que abriu
os olhos pela primeira vez e enxergou Arthur na frente
dela. Só um cego não perceberia o amor que transbordava
dos dois — e eles nem precisavam estar juntos para que
notássemos isso.
Para minha mãe, era inadmissível que eu namorasse
sem estar amando. Também não poderia julgá-la, pois o
seu amor e o de papai era realmente inspirador, um conto
de fadas de verdade.
Olivia foi a única que pareceu me entender, apesar de
amar loucamente o meu irmão.
Ainda assim, as três fizeram questão de descrever o
que era o amor. Quais seriam os efeitos desse sentimento
quando, finalmente, ele resolvesse aparecer e falar o seu
“olá” para mim. Na época, achei uma loucura.
Quem em sã consciência sentia o coração doer de
amor? Ou sentia a imensa necessidade de sorrir e tocar a
pessoa amada?
Loucura, sim, claro.
Só que não, eu estava errada — e não gosto de admitir
isso.
É realmente verdade que o coração dói e treme
absurdamente; ou que sentimos essa vontade idiota de
sorrir.
Não posso dizer com todas as letras que o que sinto
por Benjamin é amor, mas é realmente algo mais forte.
Paixão, talvez. Admiração. Afeição. Mas eu tinha essa
necessidade de ficar perto, de saber se estava bem, de
querer toca-lo, sentir seus lábios nos meus.
Mas não podia, porque ele queria ser apenas o meu
amigo.
Amigo, que coisa mais ridícula!
— Não sabia que para pintar você precisa bufar e
revirar os olhos a cada dois minutos.
Levantei os olhos da tela a minha frente o fitei.
Benjamin estava encostado no batente da porta do meu
estúdio, com os braços cruzados na frente do peito,
observando-me.
Perdi o fio da meada dos meus pensamentos. Puta
merda, como ele era lindo com todos aqueles músculos!
Que Deus me segurasse, pois eu sentia que poderia cair de
joelhos na frente dele a qualquer momento. E não para ser
submissa e todas essas baboseiras e sim para conhecer o
seu corpo com a minha língua.
— Não revirei os olhos para o quadro e sim para os
meus pensamentos.
— E sobre o que estava pensando?
— Rá! É melhor você nem saber.
Melhor mesmo. A não ser que queira minha língua
descendo pela sua barriga e indo em direção ao cós da
calça...
— Hei, ouviu minha pergunta?
Ele perguntou e eu pisquei. Ele já não estava mais no
batente da porta e já tinha andado uns bons passos na
minha direção.
— Pare aí mesmo!
— O quê? Então, eu não posso dar uma espiada na sua
nova criação? Você está trabalhando nesse quadro há três
dias, Lottie. Quero ver o que está aprontado.
Ah, Lottie... Como meu apelido ficava sensual na voz
dele!
— Vai ter que esperar ficar pronto. Não pode ver a
obra de um artista pela metade.
— Mas eu não sou qualquer pessoa, eu sou seu amigo.
Isso deveria vir com um bônus, né?
— O bônus que eu quero, você não quer me dar —
pensei em voz alta.
Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada e eu me
preparei para mais um sermão de “somos amigos”, “não
misture as coisas”, “já conversamos sobre isso”.
— Qual bônus você quer, Charlotte?
Acho que levantei minha cabeça tão rápido para olhar
novamente para ele, que eu teria um torcicolo por uma
semana. Mas valeu a pena. Ele ainda estava com aquela
sobrancelha arqueada e tinha um sorrisinho nascendo no
canto dos seus lábios.
— O quê? — perguntei, como uma idiota.
— Qual bônus você quer?
— Você sabe o que eu quero.
— Queria que você especificasse.
— Quer mesmo que eu especifique, Benjamin? Tenho
medo de que, ao me ouvir, você saia correndo como um
adolescente virgem.
Ele me olhou e sorriu abertamente. Em seguida, se
sentou em uma poltrona e me observou.
— Fale, eu não vou fugir.
Olhei para ele e vi a certeza em seus olhos. Ele não
iria fugir, mas isso não queria dizer que eu iria jogar o
jogo dele. Tampei o quadro, coloquei minhas tintas e
pinceis em seus lugares e me virei para ele.
— Quer mesmo saber? Então, me encontre lá em cima,
na jacuzzi.
Não dei tempo para que ele concordasse ou não. Saí
do estúdio e fui em direção as escadas que levava a
cobertura. A jacuzzi estava ligada e borbulhando, porque
eu realmente pretendia relaxar ali mais tarde. Tirei minha
blusa de seda, as sapatilhas e a calça jeans, ficando
apenas com a calcinha e o sutiã, ambos rosa e delicados.
Entrei na jacuzzi e me sentei. A água quente e
convidativa borbulhava ao meu redor. Esperei e esperei
mais um pouco, olhando ansiosa para a porta da
cobertura. A noite estava estrelada, o tempo ameno, mas
eu me sentia ferver por dentro de ansiedade e expectativa.
Quando comecei a achar que Benjamin não viria mais,
ele apareceu. Ainda vestia o jeans escuro e a camisa
branca, mas estava descalço. Primeiro ele olhou para as
minhas roupas jogadas em cima da espreguiçadeira, em
seguida, olhou-me e eu sorri.
— Pode ficar tranquilo, não vou te atacar. Eu só não
poderia entrar na jacuzzi com calça jeans, não é mesmo?
— Eu sou grandinho. Se você me atacar, saberei me
defender.
Então, ele tirou a camisa e eu senti uma pressão
absurda no baixo ventre. O homem era ainda melhor sem o
pano tampando seu abdômen! Eu pude contar seis
gominhos, pude ver a trilha de pelos no peito a outra trilha
maravilhosa que sumia no cós da sua calça... Que também
foi tirada em silêncio, mostrando-me um par de coxas
grossas e firmes.
Benjamin vestia uma cueca boxer preta, aquelas que
fazem mulheres indecentes e excitadas com eu, suspirar.
Caminhou relaxado em direção a jacuzzi e entrou,
sentando-se na minha frente.
Eu já não sabia mais como fazia para respirar. Minha
boca estava seca.
— Então, estou aqui, Charlotte. Podemos voltar ao
assunto?
Assunto? Que assunto?
Eu só conseguia olhar para ele e para o seu corpo que
estava quase todo coberto pela água.
Concentre-se, Charlotte! Você consegue vencer este
jogo!
— Quais bônus você quer? — ele repetiu a pergunta.
— Quero ser mais do que sua amiga.
— Me chamou aqui para falar isso? Vamos lá, você
consegue ser mais específica.
Me aproximei um pouco, ficando mais perto dele. Ele
não recuou e eu me senti mais confiante.
— Quero que me toque.
— Mais o quê? — sua voz estava grave e rouca.
— Quero poder tocar em você também... Onde eu
quiser e quando eu quiser.
Ele arqueou uma sobrancelha e entendi que era para
continuar.
— Quero mostrar para você que posso ser muito mais
do que uma amiga, uma princesinha mimada ou uma
pirralha, Benjamin. Eu posso enlouquecer você, posso
dominar você e fazer com que seja completamente meu.
A cada palavra falada, eu me aproximava mais. Meu
rosto, agora, estava a centímetros do dele e eu podia
sentir seu hálito quente contra os meus lábios.
— Me deixe beija-lo apenas uma vez. Uma única vez.
E se você não gostar, eu prometo nunca mais tocar neste
assunto.
Suas pupilas estavam dilatadas e suas mãos estavam
fechadas em punhos embaixo d’água. Eu sentia o esforço
que ele estava fazendo para não me tocar.
— Beije-me — ele não precisou ordenar duas vezes.
Minhas mãos voaram para o seu pescoço e meus lábios
tocaram os deles, que se abriram para que minha língua
pudesse entrar. Seu gosto era o céu e o inferno! Ao mesmo
tempo que quase me fez chorar de emoção, me esquentou e
fez com que minhas paredes vaginais se apertassem com
força.
Suas mãos agarraram para minha cintura e ele me
puxou para o seu colo. Minha vagina estava colada em seu
pau, que começava a intumescer abaixo de mim, apenas a
sua cueca e a minha calcinha nos preparando. Engano meu
se eu achei que iria controlar o beijo; os lábios de
Benjamin brigaram comigo pela posse, pelo domínio e
aquilo me fez ficar ainda mais excitada.
Cristo, como eu era louca naquele homem!
Me esfreguei sobre sua ereção e vi estrelas na parte de
trás dos meus olhos. Estava excitada, molhada, com os
mamilos tensos presos no confinamento do meu sutiã.
Como se soubesse disso, Benjamin subiu as mãos pelas
minhas costas e desprendeu a peça com rapidez. Só nos
separamos para que o sutiã fosse boiar na água e então,
um pedaço do céu!
Sua boca, sua língua, seus lábios e dentes, começaram
a brincar o bico duro e excitado. O gemido que soltei com
certeza chegou ao apartamento vizinho, mas, sério, quem
disse que eu ligava?
Eu não dava a mínima! Eram os lábios de Benjamim
em mim, suas mãos brincando com minha cintura, fazendo-
me esfregar ainda mais em seu pau duro e aparentemente
enorme.
Agarrei seus cabelos negros com as duas mãos e ele
mordeu o bico do seio, passando para o outro. Eu estava
perto de gozar, realmente muito perto e forcei minha
boceta molhada com mais afinco em sua ereção. Meu
clitóris roçava a carne dura e eu sentia o paraíso se
aproximando.
— Goze, anda! — ele mandou, começando a passar a
língua pelo mamilo.
Não pude fazer outra coisa se não obedecer. Era a
ordem mais deliciosa do mundo! Eu estava delirando,
gemendo, me esfregando e sentindo tudo, algo tão forte,
algo que nunca experimentara antes.
Com a ponta do dedo ele beliscou um mamilo e com os
dentes, mordiscou o outro. Eu me entreguei. Meu clitóris
pulsou e tudo virou glitter e fogos quando gozei com
força. Benjamim forçou meus quadris nos dele com mais
força e um gemido rouco escapou dos seus lábios.
Não um gemido, mas sim meu nome, dito no auge do
seu prazer, onde não pensamos nada e apenas sentimos.
E eu senti! Ah, eu senti tudo e mais um pouco.
Minhas coxas estavam trêmulas e eu joguei minha
cabeça contra o seu peitoral. Seu coração batia forte
contra o meu ouvido e suas mãos acariciavam minhas
costas.
— Esse foi o melhor beijo que eu já dei em alguém...
— murmurei, rindo contra a sua pele quente.
Esperei que ele fizesse alguma piadinha ou que ao
menos risse comigo, mas tudo o que recebi de volta foi o
silêncio e a carícia em minhas costas.
Com aquilo, comecei a interpretar seus sinais. Aquela
não era uma carícia de um amante e sim de alguém que
queria consolar. Com receio, levantei meu tronco e
encarei seus olhos azuis, agora normais e um pouco
distantes.
— Benjamin... O que foi?
— Nós não deveríamos ter feito isso. Não sei o que
deu em mim...
— O quê? Não acredito que está falando uma
babaquice dessas!
— Charlotte, você não entende...
Com raiva, sai do colo dele e me levantei. Ele ainda
tentou me segurar, mas fui mais rápida e saí jacuzzi. Seus
olhos passaram pelo meu corpo, concentraram-se nos
meus seios, mas logo os tampei com os braços, sentindo-
me subitamente exposta demais.
— Sabe, Benjamin, eu realmente não entendo! Você me
deseja, demonstrou isso agora e por mais que eu esteja te
achando um babaca, um filho da mãe covarde, eu sei que
aí dentro, você sente algo por mim também! Eu só não
entendo porque luta tanto contra isso!
— Lottie...
— Quer saber? Não importa! Isso mesmo, não
importa! Eu vou parar de ser idiota e de implorar por suas
migalhas e vou começar a viver. Chega de querer você, de
te desejar. Pensei que depois do que aconteceu aí dentro,
iríamos para uma nova fase, encararíamos nossos
sentimentos e desejos, mas você sempre me surpreende.
Infelizmente, sempre me surpreende da forma errada.
Virei as costas e saí dali, com a cabeça erguida e o
nariz empinado.
Mas por dentro... Ah, por dentro! Além da minha
vagina ainda estar pulsando pelo orgasmo recente, o meu
coração pulsava por ter sido um babaca.
Capítulo 8 - Benjamin
O gosto de Charlotte permanecia na minha boca,
mesmo depois de horas.
Era difícil determinar o que me levou àquela loucura:
se fora o sentimento que estava se alastrando em mim, sem
a minha permissão, ou se fora apenas o desejo.
No fundo, eu sabia que tinha sido por conta dos dois.
Estava sendo difícil me mantar o lado de Charlotte e
seguir como se fosse apenas o seu amigo e segurança.
Nunca pensei que aquela pestinha iria se infiltrar em meus
pensamentos, mas ela o fez. Eu seria um grande mentiroso
se dissesse que era indiferente a Charlotte. E,
infelizmente, demonstrei isso da maneira mais prazerosa
possível.
A verdade é que eu me sentia totalmente diferente ao
lado dela. Em cada uma de nossas conversas, eu consegui
deixar para trás todos os meus problemas, tudo o que me
assolava por dentro. Desde o dia em que explodi com ela
e fui um idiota, eu tomei a decisão de que não deixaria
que meus problemas pessoais interferissem na nossa
relação e essa foi, de longe, a melhor decisão que já
tomei.
Com o nosso acordo de sermos apenas amigos,
consegui conhecer de verdade a Charlotte que eu não
queria enxergar. Ela era muito mais do que o seu “título”
definia e isso me surpreendeu. Charlotte tinha um estilo de
humor ácido que combinava com o meu; é divertida,
carismática e sincera. E linda. Muito linda.
Ela mexia comigo de todas as formas. E vê-la hoje à
tarde, tão concentrada, em meio a sua arte, me fez perder
o resto do juízo que eu ainda guardava a todo custo. A
única coisa que via na minha frente era ela e o desejo que
fazia com que meu sangue corresse como lava em minhas
veias. Fui contra a tudo o que sempre preguei e me
entreguei a ela, ao desejo.
Por pouco, não a fiz totalmente minha.
Rolei na cama. Eram pouco mais de três da manhã e o
sono não vinha. Estava preocupado e ansioso. Charlotte se
trancou no quarto, se recusou a falar comigo e agora eu
estava sendo obrigado a esperar o dia amanhecer para
poder falar com ela e explicar o que eu quis dizer na
jacuzzi.
Não quis ser um babaca, longe de mim. E não, eu não
estava arrependido pelo o que fizemos. Fora, de longe, o
melhor amasso que já dei em alguém, mas eu precisava
que ela entendesse que aquilo não deveria se repetir. Ela é
minha patroa e eu sou o seu empregado. Além do mais,
certamente, jamais poderíamos ficar juntos. Ela é uma
princesa e eu sou um cara pobre, que não teve nem mesmo
condições de terminar o curso superior.
Nunca daria certo. Nunca seríamos aceitos.
Precisava deixar claro que o quer que estivesse
crescendo entre nós, deveria morrer. Poderíamos
continuar sendo amigos, poderíamos continuar rindo
juntos e partilhando as refeições.
Mas aquela paixão que estava nascendo... Ela não
poderia continuar entre nós.
Não poderia continuar a crescer dentro de mim.

***

Eram um pouco mais de sete da manhã quando desci as


escadas. Grace já tinha preparado a mesa do café e sorriu
para mim antes de deixar a sala de jantar. Como sempre,
coloquei no prato de Charlotte o seu croissant preferido e
seu chocolate quente na xícara. Ela deveria descer em
pouco menos de cinco minutos.
Me sentei em meu lugar habitual e fiz de tudo para
deixar a minha expressão calma e pacífica. Por dentro, eu
estava nervoso e agitado; não tinha a mínima ideia de
como Charlotte reagiria a mim depois do episódio na
jacuzzi e isso me deixava um pouco inseguro. Anteceder
um ataque é a minha função, mas com Charlotte, eu sempre
ficava no escuro.
Ouvi os seus passos antes de vê-la. Ainda assim, nada
me preparou para o que senti quando ela entrou em meu
campo de visão. Charlotte estava linda como sempre.
Usava seu habitual jeans preto, uma blusa de seda salmão
e um colar fino de ouro. Hoje, seu cabelo estava preso em
um rabo-cavalo despojado, que chegava próximo a sua
cintura.
— Bom dia — saudei, me levantando rapidamente
para arrastar a cadeira para ela.
— Bom dia, Benjamin — falou, me dando um
sorrisinho e voltando a digitar no celular. — Obrigada.
Voltei para o meu lugar e a observei. O sorrisinho
continuava marcado em seus lábios, mas, dessa vez, não
era dirigido a mim e sim ao celular. Por fim, ela o colocou
em cima da mesa, ao lado de seu prato e tomou a xícara
nas mãos, tomando um gole do chocolate quente.
— Quais são seus planos para hoje?
— Por enquanto, tenho três aulas hoje pela manhã. Não
sei o que farei a tarde.
Assenti, sem saber como chegar ao assunto que havia
me feito perder o sono. Seu celular vibrou e ela
rapidamente o pegou, voltando a digitar. Esperei, tomando
um gole do meu café preto. Quando ela colocou o celular
na mesa, pigarreei e comecei:
— Charlotte, sobre ontem...
— Benjamin, está tudo bem — me interrompeu, muito
calma, algo muito diferente de sua personalidade. —
Como dizem, o ontem já é passado, então, vamos deixa-lo
lá, no passado.
— Mas...
— Eu entendi o seu ponto de vista e, sabe, finalmente
acho que você tem razão.
— Tenho?
— Sim, claro. Você é meu segurança e amigo, não é
obrigado a ficar comigo, a me beijar ou fazer sexo comigo
e tudo bem. Eu também entendi que o que eu sentia por
você não é nada tão extraordinário assim. Sabe, era
apenas um desejo e o que aconteceu ontem, amenizou
tudo.
— Amenizou?
— Sim — disse, dando mais um gole em seu
chocolate. — O que aconteceu ontem não foi nada demais,
você sabe... Já tive momentos melhores. E isso me fez
compreender que, na verdade, eu tinha uma grande
expectativa sobre você e, no final, sai um pouco frustrada.
Mas, tudo bem, sem ressentimentos, amigo.
Ela deu um sorrisinho e piscou para mim, voltando a
pegar o celular na mesa.
Acho que fiquei uns bons dois minutos olhando para
ela, em choque, tentando processar as suas palavras.
— Como assim saiu frustrada? Por que não transamos,
é isso? Pelo o que me lembro, não interrompi nada antes
que você gozasse e parasse de gemer no meu ouvido —
falei, encarando-a.
— Sim, verdade, eu gozei. Mas como eu disse, não foi
nada extraordinário, Benjamin — falou, revirando os
olhos.
— Não foi nada extraordinário? Engraçado, juro que
ouvi você falando que aquele foi o melhor “beijo” que
você já tinha dado em alguém.
— Não seja ingênuo, Ben. Nessas horas, não
conseguimos pensar direito e achamos que qualquer
orgasmo foi o melhor orgasmo do mundo. É só depois,
com mais calma, que conseguimos analisar melhor tudo o
que aconteceu.
— Está fazendo isso para me provocar, não é? Bem
típico de você, Charlotte.
— Te provocar? Não, nada disso. Estou apenas
falando a verdade e reiterando que está tudo bem entre
nós. Sem problemas e sem ressentimentos, tudo bem? —
falou, se levantando. — Vamos? Não quero chegar
atrasada na aula.
Ela saiu da sala de jantar sem me dar a oportunidade
de falar qualquer coisa a mais. Puto, me levantei e a segui,
encontrando-a na sala, já colocando sua bolsa no ombro.
Seguimos em silêncio, mas na minha mente, sua voz ainda
soava clara e em bom som.
Como aquela pestinha tinha coragem de falar que o que
aconteceu ontem não havia sido nada extraordinário? Para
mim foi tudo mais do que extraordinário! Eu perdi
completamente o controle, me entreguei, senti seu corpo,
seu cheiro, a toquei, podia até mesmo ainda sentir a
textura macia de seus mamilos contra a minha língua. Eu
havia gozado na porra da minha cueca, coisa que não
acontecia desde a minha puberdade, porque simplesmente
não consegui controlar o meu desejo.
E agora ela vinha com essa cara de pau, me falar que
não havia sido nada demais? Ela só podia estar de
brincadeira comigo!
O elevador chegou ao térreo e cumprimentamos o
motorista. Abri a porta para Charlotte e ela entrou no
carro, alheia a minha carranca, pois estava entretida
demais respondendo a alguma mensagem idiota. Senti
vontade de arrancar o telefone de sua mão e jogar longe,
mas me controlei e fechei sua porta, tomando meu lugar de
passageiro.
Precisava me acalmar. Era lógico que ela estava
fazendo aquilo para me provocar. Um homem sabe quando
uma mulher perde a cabeça e se entrega e eu sabia que ela
havia se entregado para mim ontem à noite. Não fomos até
o fim, mas eu cuidei dela, a enlouqueci, fiz questão que
gozasse e tremesse em cima de mim.
Precisava pensar com frieza. Talvez, fosse melhor
assim. Aliás, não era isso que eu queria? Que ela
enxergasse que não poderíamos ficar juntos e esquecesse
todo e qualquer tipo de sentimento sobre mim? Eu deveria
estar agradecido, aliviado.
Mas não estava. E aquela porra estava me
enfurecendo.
Chegamos a sua faculdade e seguimos direto para a sua
primeira aula. Os corredores estavam movimentados
como sempre, mas todos já estavam acostumados com
Charlotte e eu, sua sombra, que a seguia aonde quer que
ela fosse. Tomei meu posto habitual na porta da sala de
aula e ali, quando o fluxo de pessoas finalmente se
acalmou, eu pude pensar com mais clareza.
Charlotte estava mentindo e isso era um fato. Como
também era um fato que, mentira ou não, aquilo me afetava
e afetava o meu ego. Ainda assim, eu precisava aproveitar
aquele momento. Charlotte finalmente havia percebido
que todo aquele desejo e aquela paixão, era infundada.
Por fim, eu percebi que deveria estar agradecendo por
ela ter “acordado”.
Tudo ficaria bem, claro. Continuaríamos sendo amigos,
eu ainda teria o meu emprego, minha vida pessoal também
iria mudar... E aquele desejo, aquela paixão, morreria.
Fim.
Charlotte seguiu para mais duas aulas e aquele era o
momento mais chato — ficar longe dela, sem ouvir sua
voz ou sua risada sacana, era chato demais. Por fim, sua
terceira aula terminou e então, a vi saindo da sala.
Acompanhada por um homem alto, loiro, que sorria
para ela como se ela fosse a coisa mais linda que já havia
pousado os olhos.
Quando eles chegaram perto de mim, interrompi o que
quer que estivessem conversando e assumi meu posto de
segurança pessoal.
— Pronta para ir, Alteza?
— Na verdade, não, Benjamin. Vou ficar um tempo na
sala de pinturas com Gregory. Aliás, Greg, esse é
Benjamin, meu segurança pessoal.
— Ah sim, eu já havia o notado. Ele está sempre te
seguindo, não é? — Gregory sorriu ainda mais, passando
uma mão pelo cabelo, antes de estendê-la a mim. — Sou
Gregory Piagossi.
Ignorei e me virei para Charlotte, tentando ocultar
aquela raiva que estava corroendo meu peito.
— Alteza, a senhorita havia me dito que não tinha
planos para depois da aula.
— Sim, eu não tinha, mas agora eu tenho. E por favor,
seja educado com Greg, Benjamin.
Me virei para o idiota, que tinha agora um sorriso
amarelo no rosto. Ele era alto, mas eu era mais e me senti
estranhamente contente por poder intimida-lo.
— Sou Benjamin Prescott, segurança pessoal da
princesa Charlotte Rose Andrigheto Domaschescky —
falei, virando-me para Charlotte. — Me dê apenas alguns
segundos para que eu possa avisar a equipe de segurança
sobre os seus planos, Alteza.
Engoli a raiva e disquei para um dos seguranças que
estavam do lado de fora da universidade. Informei a eles,
entredentes, sobre os planos da princesinha e, em seguida,
desliguei. Charlotte apenas esperou que eu guardasse o
celular no bolso e seguiu em frente com o idiota loiro.
Eles conversavam e riam, praticamente ao mesmo
tempo. Quando ele tocou em sua mão e entrelaçou os
dedos, eu senti os meus lábios enrolarem para mostrar os
dentes.
Jesus Cristo! Eu poderia matar o almofadinha.
Chegamos em frente a sala de pintura e ele abriu a
porta para que Charlotte pudesse passar. Eu sabia que meu
lugar era sempre do lado de fora, mas não contive e
entrei, fechando a porta atrás de mim.
— Ficarei aqui no canto — falei, sério, puto.
Acho que até mesmo Charlotte percebeu que era
melhor não me contrariar.
Os dois seguiram para uma tela em branco e o idiota
tirou um lápis grosso de carbono de dentro da sua pasta
preta. Charlotte tirou um parecido de dentro de sua bolsa
e ambos começaram a rabiscar algo na tela, sempre rindo
e conversando.
Eu seria idiota se não percebesse o quanto eles eram
parecidos. Era óbvio que o idiota era riquinho e mimado.
Era perceptível pelas suas roupas, estilo, pela maneira
como se portava. E como se não bastasse, também era
louco por Artes como ela. O par ideal.
Só por cima do meu cadáver!
A raiva estava me deixando cego e eu quase não podia
raciocinar. Enrolei minhas mãos em punho, pressionei as
unhas na palma e me obriguei a ficar parado e em silêncio
quando Charlotte tocou o seu ombro e correu a mão pelo
seu braço.
— Seus braços são fortes! Nunca diria que seria tão
delicado em seus traços no desenho — falou, ainda o
acariciando.
— Eu malho três vezes por semana. Você sabe...
Preciso manter a forma, não é?
— Pois continue, porque você está ótimo.
— Um elogio vindo de uma garota tão linda... Ganhei
meu dia!
— Hm... Bobo!
Ela deu aquele sorriso sacana, o sorriso que dava
apenas para mim e eu quase espumei.
O ciúme era como uma dose longa e amarga. E eu
estava odiando experimentar essa porra!
— Você tem alguma coisa para fazer hoje à noite?
— Eu? Não. Estou sem planos... Por quê?
— Quer jantar comigo? Conheço um restaurante
maravilhoso. Nada dessas coisas de velho, cheio de
regras e etiquetas... É um restaurante bem jovem e
descontraído.
— Seria maravilhoso! Estou precisando mesmo
conhecer novos lugares... Fico muito tempo presa no meu
apartamento e já não tem nada de interessante que me
prenda lá.
Filha da mãe!
— Perfeito! Então, eu te busco às oito.
— Na verdade, isso é contra as regras. O senhor não
irá busca-la. A princesa irá ao seu encontro, escoltada
pelos seguranças — falei, minha voz saindo rouca pela
raiva que entalava minha garganta.
— Ah, claro, tudo bem. Jamais iria contra as regras —
o almofadinha disse, sorrindo sem graça.
Charlotte me olhou e revirou os olhos em seguida,
voltando a dar atenção ao idiota.
Subitamente, me acalmei, um plano se formando em
minha mente. Sim, ela iria nesse jantar. Mas eu não
poderia prometer que, quando ela voltasse para casa, sua
noite seria pacífica e serena.
Ela iria me pagar por tudo o que estava fazendo.
Ou eu não me chamava Benjamin Prescott.
Capítulo 9 - Charlotte

“Você foi tão perfeito! Sério, não sei como posso te


agradecer!”
“Mon amour, me agradeça amarrando esse homem
em uma cama e fazendo todos os tipos de loucuras com
ele!”

Sorri para a tela do meu celular, desviando o olhar


rapidamente para cima. Benjamin estava concentrado,
lendo o jornal naquele fim de tarde. Sua expressão séria
poderia me enganar, se não fosse pela inclinação das suas
sobrancelhas, que, de tão franzidas, formavam uma ruga
de expressão entre elas.
Ah, como eu amava que ele estivesse tão puto!

“Mas, bebé, você acha que eu fui bem mesmo? Amo


minha faculdade de Artes, mas tenho essa leve
inclinação para Artes Cênicas. Acha que eu passei a
impressão de um macho hétero?”
“Greg, você viu a expressão do Ben? Ele quase te
atacou, claro que você se saiu bem. Aliás, superbem! Eu
tive que me segurar muito para não rir da cara dele, ele
quase espumou, hahahaha”.
“É verdade! Eu senti medo, pensei que ele fosse me
morder... Tudo bem, eu nem iria reclamar mesmo”.
“Como você é safado! Pensei que fosse meu amigo”.
“E eu sou, bebé, mas também sou feito de carne,
osso e glitter! E estou babando pelo seu segurança
sim!”

Eu ri bem alto e Benjamin me fitou por cima do jornal.


Sua expressão passou de séria para um pouco furiosa e eu
me levantei do sofá, indo em direção as escadas.
— Vou me arrumar para o meu encontro, Ben. Estarei
ocupada pelas próximas horas.
Ele não me respondeu e eu continuei a subir, rindo
como uma hiena louca. Como aquilo era divertido! Se eu
soubesse, tinha feito muito antes.
Gregory foi a primeira pessoa com quem falei na
faculdade. Ele tinha 22 anos e natural da França, mas
passou alguns anos morando na Inglaterra, com seus pais.
Ele era gay e havia se assumido há pouco tempo para a
família e amigos e íntimos. Nos demos bem assim que
batemos os olhos no outro.
Ele percebeu rapidamente que eu estava caidinha por
Benjamin e me incentivou a investir nele. Disse que eu
tinha mesmo que me aproximar cada vez mais, passar
umas cantadas, agir de forma natural, mas sedutora. E isso
resultou no que aconteceu na jacuzzi, no dia anterior. Foi
com ele que passei o resto da noite de ontem, trancada no
quarto, trocando mensagens por celular.
E foi aí que o nosso plano surgiu.
Eu queria me vingar de Benjamin, mostrar a ele que eu
tinha superado o que quer que tivesse acontecido entre
nós. De quebra, ainda mostraria a ele que se ele não me
quisesse, tem quem queria — mesmo que fosse o meu
amigo gay e que tudo não passasse de uma mentirinha.
Ele mordeu a isca e eu estava exultante! Estava escrito
na testa dele o quanto ele estava furioso. Eu vi seus
olhares em cima de mim e Greg na sala de pintura, vi sua
postura. E isso, somando a nossa conversa na hora do café
da manhã, havia resultado em um Benjamin puto,
enraivecido e sem paciência durante todo o dia.
E eu? Ah, eu estava amando!

“E então, Greg, me ajuda! O vestido preto ou o


vermelho?”

Eu havia experimentado os dois vestidos e tirado foto.


Enviei para ele sua resposta veio logo em seguida:

“O vermelho, lógico! Olha como ele abraça as suas


curvas! E ainda tem esse decote maravilhoso nas
costas. Quase estou vendo a sua bunda”.
“Não exagera, idiota, hahaha”.
“Faça um coque! Isso vai valorizar o decote das
costas. Coloque um colar discreto, mas com brilho,
para valorizar o seu colo. E não se esqueça de
caprichar na make, por favor!”
“Sim, senhor! Mais alguma recomendação?”
“Capricha na calcinha, porque, mon amour... Esse
homem vai cair matando em cima de você, eu tenho
certeza!”
“Será? Eu não tenho tanta certeza assim”.
“Bebé, sem insegurança. Eu sei do que estou
falando. Agora, deixe o celular de lado e vai se
arrumar para o seu guarda-costas sensual”.

Fiz como me pediu e corri para o banheiro. Como a


minha depilação estava em dia, me concentrei em tomar
um banho relaxante e hidratante na banheira, já que eu
ainda tinha algum tempo livre antes de começar a me
arrumar.
Em meio a água morna e aos sais de banho, voltei a
focar em uma informação importante que eu havia
descoberto ontem pelo início da tarde. Eu ainda não havia
desistido de descobrir o que assolava Benjamin e porque
ele precisava tanto de dinheiro.
Como eu sabia que Johnson não iria me ajudar — ele
era leal demais para isso —, contratei um detetive
particular. Muitas das coisas que ele descobrira, batera
com as informações que Benjamin já havia soltado para
mim em uma de nossas conversas. Ele realmente havia
deixado a faculdade no ano passado, seu pai, irmão de
Johnson, havia morrido quando ele ainda era criança e sua
mãe sumira no mundo.
Ele fora criado basicamente por Johnson e sua avó por
parte de mãe. E essa era a questão. Alguma coisa aí não
encaixava. Por que ele precisava tanto de dinheiro? Será
que havia se metido com gente que não prestava? Será que
devia a algum criminoso? Será que sua mãe voltara e
estava encrencada?
Meu detetive dissera que estava prestes a descobrir o
que era. Já tinha uma pista, mas só iria me confirmar,
quando tivesse certeza. Eu estava ansiosa demais para
saber e, também, para ajudar no que fosse necessário.
Um pouco mais de vinte minutos depois, saí da
banheira comecei a me arrumar de verdade.
Prendi meu cabelo em um coque alto, mas frouxo e
despojado. Na maquiagem, resolvi marcar o côncavo com
uma sombra marrom, destaquei o canto interno com um
pigmento dourado e fiz um delineado que marcou meus
olhos junto com o rímel e o lápis de olho. Um pouco de
blush e um batom vermelho, um tom um pouco mais
fechado do que o meu vestido.
Pensando sobre a calcinha, resolvi seguir o conselho
de Greg e coloquei uma peça pequena de renda branca. O
vestido ficou realmente lindo em mim e o coque deixou
minhas costas livres e nuas. O decote era profundo,
acabava um pouco antes do cóccix. Na frente, o decote
deixava um pouco dos meus seios amostra e o colar deu
realmente um destaque a mais.
Finalizei com um salto alto e quando me olhei no
espelho, realmente amei o resultado. Normalmente eu não
usava vestido — sempre deixei isso para minha mãe e
irmã. Eu era fã mesmo era um bom jeans e jaquetas pretas
—, mas tinha que dar o braço a torcer: um bom vestido
mudava todo o visual de uma mulher.
Greg me mandou uma mensagem, avisando que já
estava a caminho do restaurante e eu respondi falando que
sairia em cinco minutos. Coloquei um pouco de perfume e
saí do quarto. Benjamin estava na sala, vestido em seu
habitual terno negro, parado em frente as enormes janelas
de vidro. Desci em silêncio, mas ele percebeu a minha
presença e se virou, fitando-me.
Seus olhos passearam por todo o meu corpo, desde os
pés em minhas sandálias de salto, demorando-se um
pouco nas pernas, um pouco mais em meu decote e ainda
um pouco mais nos meus lábios. Por fim, pousaram em
meus olhos e eu já não sabia mais como se fazia para
respirar.
Seus olhos e desejo poderiam facilmente serem
confundidos. Eu sabia reconhecer o desejo quando o via e
ele estava lá, vívido e brilhante em seus olhos, na sua
postura e sua expressão. Ele deve ter percebido isso, pois
rapidamente se endireitou, piscou e limpou a garganta.
Ainda assim, seus olhos haviam marcado meu cérebro
a ferro. Jamais me esqueceria daquela expressão.
— Podemos ir?
— Sim — respondi, virando-me para ir em direção ao
elevador.
Percebi que eu estava andando sozinha quando apertei
o botão do elevador e não senti sua presença ao meu lado.
Ao me virar, encontrei Benjamin ainda parado no mesmo
lugar, seus olhos cravados do que deveriam ser minhas
costas. Contive um sorriso quando ele pigarreou
novamente e começou a andar em passos largos, como se
não suportasse ter sido pego em flagrante.
O elevador chegou e entramos juntos. O silêncio era
incômodo, mas eu não fiz nada para preenche-lo.
Benjamin estava sério, com as mãos nos bolsos, enquanto
o elevador descia lentamente.
— Você está linda — murmurou e eu me surpreendi.
Pensei que ele não falaria nada.
— Obrigada.
— Será que esse Gregory vale toda essa produção?
— Eu acho que sim. Ele é um homem fascinante.
Ele soltou uma risada sem humor e balançou a cabeça,
ainda olhando para a porta do elevador.
— Do que está rindo?
— “Fascinante”. Se fosse traduzido para uma escala
de 0 a 10, seria 5. Razoavelmente bom, mais inclinado
para o ruim.
— E por que isso deveria interessar a você? Sou eu
que estou saindo com ele, não é mesmo? — perguntei,
elevando uma sobrancelha.
Por fim, ele me olhou e eu me obriguei a continuar com
a expressão relaxada e um pouco altiva.
— Eu tenho certeza que você vai para esse jantar,
passará a noite inteira falando e ouvindo abobrinhas e
quando voltar para casa, ao menos terá molhado a
calcinha.
— E quem disse que eu estou usando uma?
Sua boca se abriu e a porta do elevador, também. Me
apressei para sair e cumprimentei os seguranças. Senti
Benjamin em meu encalço, por fim, ele se apressou e
chegou antes ao carro, abrindo a porta do passageiro.
Quando me inclinei para entrar, ele soprou entredentes no
meu ouvido:
— Espero que esteja brincando.
— Sobre o quê? — perguntei, ao me acomodar no
banco.
— Você sabe o quê — falou, sugestivo, dando um
olhar rápido para a junção das minhas coxas.
Sorrindo, cruzei as pernas, fazendo com o que o pano
do vestido subisse um pouco mais, expondo mais as
minhas coxas. Vi seu maxilar enrijecer antes de ele fechar
a porta e assumi seu lugar no banco da frente. Seus olhos
encontraram os meus pelo retrovisor e ele continuou
assim, mesmo depois do carro ter saído do prédio e
ganhado a avenida principal.
A viagem durou cerca de vinte minutos e logo paramos
em frente ao restaurante de faixada elegante em madeira
rústica. Mesmo do lado de fora, consegui ver boa parte da
clientela e foi realmente como Greg falou: gente jovem e
animada.
Benjamin abriu a porta para mim e seguimos juntos
para a entrada. Nem precisei me apresentar. O maitre,
como o bom conhecer e anfitrião que era, fez uma mesura
para mim e me levou para a mesa onde Greg estava
sentado. Era uma mesa mais reservada, mas próxima a
uma grande janela de vidro. O fundo, a Torre Eiffel
brilhava, imponente.
Greg se levantou e pegou minha mão, com um sorriso
charmoso e beijou o dorso. Senti Benjamin ficar rígido ao
meu lado.
— Você está deslumbrante, Charlotte.
Seu famoso jeito glamoroso e expansivo havia dado
lugar a um homem sexy e altamente masculino. Ele era
perfeito! Se eu não soubesse que era gay, jamais poderia
imaginar.
— Obrigada, Greg — falei. — Benjamin, você pode
nos dar licença?
Ele continuava com o maxilar rígido, mas assentiu.
— Estarei em uma distância segura, Alteza.
Ele saiu e Greg arrastou a cadeira para que eu pudesse
me sentar. Em seguida, sentou-se na minha frente e abriu
um sorriso imenso.
— A distância segura dele significa: estarei a apenas
alguns metros, em uma posição que dê para observar tanto
você quanto o filho da puta que está olhando para os seus
peitos.
Fui obrigada a rir e olhei pelo canto dos olhos.
Benjamin estava realmente bem próximo, em pé, próximo
ao bar, que ficava a alguns metros de distância. A música
em som ambiente e a movimentação dos clientes não daria
para que ele ouvisse a nossa conversa, por isso, relaxei
um pouco mais.
— Sério, se aquele olhar pudesse matar... Eu estava
queimado como um churrasquinho nesse chão de
porcelana francesa.
— Ele está com muita raiva e, talvez eu tenha
provocado um pouco a onça.
— O que você fez?
— Falei para ele que estou sem calcinha.
Greg quase cuspiu o vinho, em seguida, começou a rir.
Para que não desse muito na telha, colocou a mão por
cima da minha, passando o polegar pela minha pele.
— Não acredito! Sua pestinha!
— Cada um usa as armas que tem — dei de ombros,
sorrindo e tomando um gole do vinho branco e adocicado.
— E você realmente está sem calcinha?
— Não! Só falei para provoca-lo.
— Bem, então, no final do jantar, é melhor que você vá
ao banheiro e tire mesmo a calcinha. Vai que você tem que
provar o seu ponto?
— Boa ideia — falei, sorrindo.
Fizemos os nossos pedidos e Greg, a todo momento,
me atualizava sobre Benjamin, já que ele tinha uma visão
melhor do que a minha. Ao que tudo indicava, Benjamin
continuava parado como um poste, mas com a expressão
de quem poderia atacar como um cão raivoso a qualquer
momento.
— Toda vez que eu toco na sua mão, eu sinto meu
pescocinho ser degolado — Greg falou, voltando a pousar
a mão na minha. — Sério, se eu aparecer morto por aí,
você já sabe quem foi o assassino.
— Credo! — ri, entrelaçando meus dedos nos seus. —
Imagina se você fizer um movimento mais ousado...
— Tipo, isso?
Gregory soltou minha mão e passou os dedos pelo meu
braço, até onde o espaço da mesa entre nós o permitiu. Se
fosse o toque de Benjamin, eu certamente estaria tendo um
colapso e minha calcinha já teria se dissolvido. Mas,
como era Greg, a única coisa que senti foi a sua
cumplicidade para comigo.
— Ele se moveu! Meu Deus, acho que vai vim me
esfolar... — sussurrou, ainda me acariciando.
De longe e para qualquer pessoa, aquela era uma cena
comum entre um casal. Greg me acariciava e parecia
sussurrar palavras sexys e eu ria. Mas, o melhor de tudo,
era que apenas nós dois sabia o que realmente estava
rolando ali. O que deixava tudo ainda mais divertido.
O garçom chegou com nossos pedidos e Greg foi
obrigado a deixar meu braço. As vieiras estavam
deliciosas e combinavam totalmente com o vinho.
Arriscando um olhar, notei Benjamin ainda parado no
mesmo lugar, os olhos cravados em Gregory.
— É, acho que ele está mesmo com um pouco de raiva.
— Um pouco? Bebé, ele está prestes a me comer vivo.
E não é da forma que eu queria que ele me comesse.
Fui obrigada a rir e seguimos em um papo sobre a
faculdade. Nossos olhos discretamente procuravam por
Benjamin e foi assim durante todo o jantar. Quando
partimos para sobremesa, pedi licença para ir ao banheiro
e Greg me deu um sorriso malicioso.
Benjamin, como era de se esperar, me seguiu. Estava
calado, mas o calor que emanava dele me mostrava a
raiva que estava sentindo.
— Está tudo bem, Ben?
— Tudo ótimo.
Assenti e entrei no banheiro feminino. Seguindo o
conselho de Gregory, tirei a calcinha e a coloquei em
minha bolsa. Demorei mais um pouco, em seguida, saí do
banheiro. Benjamin me olhou e deu espaço para que eu
andasse na frente. Aproveite e rebolei, sutilmente,
enquanto andava.
Eu adorava provoca-lo!
Voltei para a mesa no mesmo instante em que o garçom
trazia nossa sobremesa. Os profiteroles saltaram em meus
olhos e eu comi, soltando um leve gemido de satisfação.
— Achei que ele iria te atacar no banheiro feminino —
Greg disse, sorrindo.
— Acho que ele está com raiva demais para isso.
Rimos juntos e terminamos a sobremesa. Gregory
pagou a conta, em seguida, se levantou e segurou minha
mão, ajudando-me a levantar. Pousou a palma em minhas
costas e deu um beijo demorado em meu rosto, enquanto
Benjamin se aproximava. Sabia o que ele estava fazendo,
por isso, segui seu plano e fingi que estava adorando ser
tocada por ele.
Seguimos para fora do restaurante e meu carro já
estava à minha espera. Benjamin abriu a porta do
passageiro e esperou pacientemente. Então, essa era a
hora do show.
— Muito obrigada pelo convite para jantar, Greg. Foi
maravilhoso passar esse tempo com você.
— Digo o mesmo, Charlotte — ele passou os dedos
levemente pelo meu braço e seguiu para o meu rosto. —
Acho que estou apaixonado.
Dei uma risadinha e toquei em seus ombros,
despretensiosamente.
— Seu bobo! Deve falar isso para todas.
— Só há você para mim, bebé — disse em uma
conotação sensual. — Tenha uma boa noite, Charlotte.
— Você também, Greg.
Então, para dar um toque final, ele se inclinou e deu
um longo beijo no canto dos meus lábios, com as duas
mãos apoiadas em minhas costas nuas. Ao se afastar,
sorriu para mim e esperou que eu entrasse no carro, para
se distanciar.
Benjamin fechou a porta sem dizer uma única palavra e
tomou seu assento no banco da frente. Meu celular vibrou
dentro da bolsa e com um sorriso maroto, o peguei. A
mensagem de Greg brilhava na tela.

“Se eu não morri agora, não morro nunca mais!


Por favor, caia na cama desse homem, ele vai correr
atrás de mim e não vai ser para me fazer gemer de
prazer! Boa sorte, amiga!”
“Hahahaha, você é idiota! Obrigada, Greg, você foi
perfeito hoje”.
“Bebé, eu sou perfeito sempre. Espero que você não
me mande mensagem pelo resto da noite. Pode ter
certeza que eu entenderei o recado silencioso,
hahahaha”.
“Sinceramente? Eu também espero”.

Voltei a guardar o telefone e encontrei os olhos de


Benjamin em cima dos meus pelo retrovisor. Encarei por
um tempo, mas seu olhar estava tão intenso, que me vi
obrigada a recuar.
Estava nervoso, meu estômago estava dando um nó. O
que aconteceria quando chegássemos ao apartamento?
Sinceramente, eu não sabia se queria saber ou não.
Mentira, eu queria saber. Queria muito saber!
A viagem de volta fora ainda mais rápida. Logo
estávamos no estacionamento. Me despedi dos meninos e
segui ao lado de Benjamin para o elevador. Subimos em
silêncio e só meu coração retumbava no meu peito e em
meus ouvidos.
Será que ele não iria fazer nada?
O barulho do elevador me sobressaltou e Benjamin me
deu espaço para sair. O apartamento se iluminou com o
nosso movimento e então, um grande corpo pressionou as
minhas costas e me obrigou a encostar na parede gelada.
A ereção grossa e dura de Benjamin pressionou minha
bunda e eu ofeguei quando senti suas mãos se apossarem
da barra do meu vestido.
— Você me provocou a noite inteira, Charlotte... Acha
mesmo que é isso que uma boa menina deve fazer? —
sussurrou em meu ouvido, sua voz grossa e rascante
enviando uma onda de arrepios pelo meu corpo.
— Nunca disse que eu era uma boa menina —
respondi, empurrando minha bunda contra ele.
— Tem razão. Por isso, vou te dar o que uma menina
má merece.
Sua mão se chocou com a minha bunda e a dor leve
enviou um raio para a minha vagina nua, que ficou
molhada. Senti sua língua percorrer minha nuca, seus
dentes mordiscaram o meu ombro e senti o mundo rodar
de leve. Então, suas mãos levantaram meu vestido e
deixaram minha bunda nua amostra.
— Sem calcinha? Ah, bebé... — ele repetiu o apelido
e minhas paredes vaginais pulsaram — Você não deveria
ter feito isso.
Senti meu corpo estremecer quando enfiou um dedo
longo e grosso em minha vagina. Quando seu gemido
rouco chegou ao meu ouvido, eu tive a certeza de que
estava totalmente perdida.
E que seria completamente dele naquela noite.
Capítulo 10 – Charlotte
— Você teve mesmo a audácia de jantar com ele sem
calcinha? — sua voz rouca invadiu meu ouvido, enquanto
seu dedo continuava me acariciando devagar. — Ou a
tirou naquela hora em que foi ao banheiro?
— O que você acha?
Seus dentes fizeram uma trilha desde o meu ombro
direito, passando pela nuca, até pararem para o meu
ombro esquerdo. Seu dedo se curvou dentro de mim e
acariciou um ponto macio que me fez ver estrelas e me
contorcer de prazer.
Eu já não era mais dona do meu corpo. Mas isso não
queria dizer que tinha perdido a minha mente. Eu ainda
podia provoca-lo.
— Acho que você está brincando com fogo, Charlotte.
— Que bom, porque eu adoro me queimar.
Sem dizer uma palavra, ele tirou o dedo de dentro de
mim e me virou para si. Seu corpo prensou o meu contra a
parede e sua ereção maciça praticamente se afundou em
minha barriga. Meus seios estavam pressionados contra o
seu peito largo e seu cheiro era tudo o que ocupava o meu
olfato. Assim como o seu rosto era a única coisa que
ocupava a minha visão.
Ele continuou fitando os meus olhos e eu não desviei,
mesmo sentindo meu corpo quente e minha vagina —
agora totalmente nua com o vestido enrolado em minha
cintura — pulsar de desejo. Esperei que ele fizesse
alguma coisa ou ao menos falasse alguma coisa, mas tudo
o que recebi em troca fora o silêncio e os seus olhos
dentro dos meus.
— O que foi? Desistiu de me queimar? — perguntei,
passando os dedos de leve pelos seus cabelos.
— Desisti — murmurou, pegando minhas mãos e as
aprisionando acima da minha cabeça. — Desisti de lutar
contra esse desejo absurdo que praticamente me consome.
Eu não sou um moleque, Charlotte, não sou alguém para
você brincar de casinha, de foda ou de qualquer outra
coisa. Sou um homem, sou quase dez anos mais velho que
você e na hora em que eu afundar o meu pau na sua
boceta, não terá mais volta. Será apenas eu e você. Mais
ninguém.
— Eu sempre quis apenas você, Benjamin. Desde o
dia em que te vi pela primeira vez.
— Por quê? Me dê um motivo, porque, sinceramente,
não consigo acreditar que você me queira para mais
alguma coisa além de uma foda.
Seus olhos estavam como brasa dentro dos meus. Me
prendiam, me derretiam. Ele sentia tesão, raiva,
incompreensão. Estava tudo tão explícito ali, como nunca
esteve antes.
— Não sei o porquê. A única coisa que sei, é minha
visão capitou a sua presença no batizado do meu sobrinho.
Meu coração sofreu um baque, minha mente se apagou e a
única coisa que eu conseguia enxergar na minha frente, era
você. Nada mais importava. Eu não sabia seu nome, não
sabia de onde você era, não sabia quem você era. Ainda
assim, você era tudo o que eu queria, tudo o que eu
precisava — falei, expondo todos os meus sentimentos. —
Tudo o que eu ainda preciso.
Ele abriu a boca, como se fosse dizer algo, mas ficou
em silêncio.
— E você, Benjamin? Sempre se mostrou tão
contrariado a ficar comigo, a ficar no mesmo ambiente
que eu. O que mudou? Me dê um motivo, porque,
sinceramente, não consigo acreditar que você me queira
para mais alguma coisa atém de uma foda — murmurei,
repetindo sua pergunta.
Sua mão que não segurava as minhas acima da minha
cabeça, acariciou minha cintura nua. Seu polegar começou
a rodopiar em minha pele, trazendo um arrepio delicioso
pelo meu corpo. Ele mal havia me tocado, mas parecia
conhecer cada um dos meus pontos fracos.
— Esses dias que passamos juntos, que ficamos mais
próximos, me mostrou que eu estava errado ao seu
respeito. Em minha cabeça, você não passava de uma
menina mimada, mas você é muito mais, Charlotte. Óbvio
que fiquei interessado em você naquela noite, no bar. Fui
rude, um estúpido, não só lá, como aqui também, naquele
dia, mas era porque eu não via um futuro entre nós. Ainda
não vejo. Somos tão diferentes...
— Isso é uma desculpa. Esse lance de posição social
não existe na minha família.
— Existe em qualquer lugar, Charlotte — falou,
convicto. — Ainda assim, eu não consigo mais ficar
longe. Hoje... Acho que hoje foi um dos piores dias da
minha vida! Ver aquele filho da puta tão perto de você, te
tocando, te passando mensagens durante toda a porra do
dia, te fazendo sorrir... Eu vi que poderia perder você.
Obviamente, ele combina muito mais com você do que eu,
ainda assim, eu sou egoísta. Eu não quero aquele
almofadinha tocando em você, chegando perto de você!
Tive que lutar muito comigo mesmo para não acabar com
a raça dele hoje.
Sorri, pressionando ainda mais o meu corpo contra o
dele. Ele ainda estava muito sério, nossa conversa era
muito séria, mas ele continuava com o pau duro
pressionado contra mim e seu polegar continuava a me
acariciar, agora mais embaixo, em meu monte de vênus.
Estava tão perto de onde eu o queria... Aquilo era uma
tortura.
— Te ver com ciúmes de mim me deixa com tesão —
confessei, mordendo o lábio para não soltar um gemido.
— Sei que você queria me provocar e, parabéns, você
conseguiu.
Um barulho sexy e másculo saiu do fundo da sua
garganta quando ele soltou minhas mãos de repente, para
agarrar a minha cintura e me impulsionar para cima.
Rapidamente enrolei minhas pernas envolta da sua cintura
e, dessa vez, sua ereção pressionou diretamente em meu
clitóris, me fazendo gemer.
— Mas agora, chega de joguinhos — falou, seus lábios
quase roçando os meus. — Se seguirmos em frente, não
existirá mais nada entre nós e esse tal de Gregory estará
excluído da sua vida.
Ele estava realmente com raiva de Greg e eu mordi
meu lábio para não rir. Ah, quando ele soubesse que Greg
estava longe de ser uma ameaça...
— Entendeu, Charlotte? Você e eu, juntos.
— Com o seu pau enterrado em mim?
— Eu posso fazer esse sacrifício... — ele sorriu de
lado, mas logo voltou a ficar sério. Suas mãos
acariciaram a parte externa da minha coxa e seus olhos se
conectaram com os meus. — Quero uma resposta,
Charlotte. Quero saber se concorda com tudo o que eu
disse.
— Claro que eu concordo — falei, tocando seu
pescoço, subindo o osso firme de seu maxilar. — Você, eu
e seu pau enterrado em mim. Isso é tudo o que eu preciso.
Um sorriso voltou a brincar no canto dos seus lábios e
eu quase suspirei.
— Que bom, porque isso é tudo o que eu preciso,
também.
E então, sua boca estava colada na minha.
Sua língua estava quente e seu hálito tinha um leve
gosto de hortelã. Não sei em que momento ele começou a
andar comigo em seu colo, nem saberia dizer como ele
conseguiu subir as escadas, porque minha boca estava na
sua, seu corpo estava colado ao meu e seu pau roçava
intensamente em meu clitóris e, para mim, isso era tudo o
que importava.
Em algum momento, ele entrou em um dos quartos e me
jogou na cama. Não parei para perceber se era o meu
quarto ou dele — quem se importava com aquilo? —, pois
estava ocupada demais vendo parar na minha frente, de pé
em frente a cama, entre as minhas pernas abertas.
Lentamente, Benjamin tirou o paletó e começou a
desabotoar a camisa social branca. Me apoiei em meus
cotovelos para ter uma visão melhor e mordi o lábio com
força quando o seu peitoral ficou livre de qualquer tecido.
Era incrível como ele era tão lindo! Seu peitoral era
largo, os músculos eram definidos, seis gomos
maravilhosos ao todo. Havia pelos em seu peito e uma
trilha maravilhosa que sumia dentro de sua calça que,
aliás, estava começando a ser desabotoada.
Esperei com expectativa, mas Benjamin apenas sorriu
e largou a calça com o botão e a braguilha aberta. Sua
cueca box branca ficou um pouquinho amostra e sua
ereção continuou contida e enorme dentro da calça.
— Por que parou? Ah, não! Não vai me dizer que
desistiu! — implorei, desesperada.
Que decadência, eu sei. Mas não conseguiria me
segurar se ele falasse que queria desistir de tudo. Acho
que iria enlouquecer!
Benjamin me deu um sorriso sacana e, do nada, me
segurou pelos tornozelos e me virou na cama. Soltei um
gritinho e depois um gemido quando senti sua língua
seguir a linha da minha coluna, desde o cóccix até a nuca,
lentamente, fazendo meu corpo se contorcer. Quando
chegou na lateral do meu pescoço, suas mãos apertaram
minha bunda com força, segurando as nádegas bem forte
com as duas mãos enormes. Seu nome saiu pela minha
boca em um arquejo desejoso.
— Acha mesmo que eu iria desistir de você? —
perguntou em meu ouvido. Sem que eu esperasse,
Benjamin afastou minhas nádegas e esfregou seu pau ainda
coberto ali, descendo pelo meu ânus até tocar em meu
clitóris. — Agora que eu finalmente a tenho onde quero,
na minha cama, embaixo de mim? Não, linda... Jamais.
Seus lábios desceram lentamente pela parte de trás da
minha orelha e quando chegaram a lateral do meu
pescoço, sugou minha pele com força. Eu me contorci e
arranhei a cama, puxando o edredom. Cristo, como ele era
bom naquilo! Era como se um raio tivesse passado pelo
meu corpo e se concentrado em minha vagina.
Sua boca desceu pelas minhas costas, sugando cada
pedaço de pele que poderia alcançar. Minha mente já
tinha se transformado em uma massinha de modelar, assim
como o meu corpo e Benjamin era dono de ambos,
usando-me e fazendo de mim o que queria.
— Seu vestido me deixou de pau duro a noite inteira
— falou, sua boca se arrastando pelo meu cóccix,
próximo ao final do decote do vestido. — Sabe qual era a
minha vontade, Charlotte?
Não consegui responder, minha boca estava seca e meu
cérebro parecia não obedecer a qualquer um dos meus
comandos. Benjamin lambeu minhas costas e sua mão se
infiltrou embaixo do meu coque, puxando meu cabelo com
força, mas sem machucar, até minha cabeça estar próxima
a sua boca.
— Você sabe qual era a minha vontade, Charlotte?
— N-não... Não sei.
— Minha vontade era de fazer exatamente o que eu fiz
agora, marcar toda a sua pele, deixar bem claro para
aquele filho da puta que você é totalmente minha — falou,
prendeu o lóbulo da minha orelha entre os seus dentes. —
Fala a verdade, baby... Você se arrumou para mim e não
para ele, não foi?
— Será? — consegui responder, provocando-o.
Com a mão livre, Benjamin deu uma palmada na minha
bunda, que me pegou de surpresa e fez o meu corpo
chacoalhar de desejo.
— Sem provocações, pestinha... — seu nariz subiu e
desceu pelo meu ombro. — Eu sei que foi para mim.
— Talvez tenha sido — murmurei, aproveitando que
minha mente voltara a ser minha. — Que bom que surtiu
algum efeito sobre você.
— Qualquer coisa que você faça, surte efeito sobre
mim — confessou, soltando meu cabelo do coque e
deixando que as mechas se acomodassem sobre minhas
costas.
Seu corpo saiu de cima do meu, mas logo senti suas
mãos em meus tornozelos, tirando minhas sandálias.
Quando meus pés ficaram livres, suas mãos subiram por
minha panturrilha, coxas e me viraram de frente quando
chegaram em minha cintura.
Seu corpo voltou a se curvar em cima do meu. Pensei
que iria me beijar, mas, ao invés disso, suas mãos tocaram
a alça do meu vestido e as empurraram para baixo.
Lentamente, ele começou a descer o pano leve, deixando
meu colo, meus seios e minha barriga amostra. Levantei
meu quadril e ele passou o vestido por ali, tirando-o
totalmente do meu corpo.
Agora sim, eu estava completamente nua para ele,
como nunca havia estado antes. Senti um misto de
nervosismo se misturar com a minha excitação, quando
seus olhos desceram lentamente pelo meu corpo,
capturando cada detalhe, cada pedaço de pele.
— Você é tão linda — murmurou, sem me tocar, apenas
me observando. — Ainda mais linda do que eu imaginara.
— Toque-me — pedi, acomodando-me melhor na
cama.
Ao contrário do que imaginei, Benjamin não me tocou
com as mãos e sim com a boca. Seus lábios, primeiro,
passearam por minha testa e desceram lentamente pelo
meu nariz, até chegar em minha boca. Nos beijamos. Não
foi um beijo desesperado, mas sim um beijo calmo, quente
e carregado de desejo e promessas.
Mordiscou meu lábio inferior e o deixou escapar,
apenas para descer com os lábios pelo meu queixo, a
linha da minha garganta e passear pelo colo. Apenas seus
lábios tocaram um mamilo, depois o outro e eu me
contorci com seu toque leve como uma pluma, que
deixava uma linha de fogo por onde passavam.
Como se nem mesmo ele pudesse suportar tanta tortura,
sua língua golpeou um mamilo, o que arrancou um gemido
dos meus lábios. Apenas a ponta da sua língua subia e
descia pelo bico duro do seio, fazendo-me contorcer
sobre a cama e debaixo dele. Logo seus dentes
mordiscaram e, por fim, ele sugou o mamilo com força e
precisão.
Segurei seus cabelos e gemi seu nome, pressionando-o
contra o bico quente e muito pontiagudo. Ele logo rumou
para o outro, repetindo o processo, fazendo meu corpo se
arrepiar e a minha vagina ficar úmida e ainda mais
desejosa.
Eu precisava de mais! Por isso, abri mais minhas
pernas e comecei a mover meus quadris, tentando me
esfregar contra ele. O maldito sabia o que eu estava
fazendo, pois afastou a parte baixa do corpo e sorriu para
mim, ainda sugando meu seio. Puxei seus cabelos e ele
deixou o bico em “pop”, sorrindo sacana para mim.
— Você está me enlouquecendo... — gemi, manhosa,
vendo-o descer lentamente pela minha barriga.
— Apenas retribuindo tudo o que você fez para mim,
hoje.
— Eu não fiz nada!
— Ah, fez sim... Você sabe que fez.
Ok, eu sabia que tinha feito, mas ele tinha que ter
piedade. Seus lábios dançaram em meu monte de vênus e
suas mãos seguraram minha cintura, obrigando-me a parar
de mover. Minhas pernas estavam abertas para ele e sua
cabeça estava lá, entre elas, tão perto da parte que
pulsava e escorria de excitação.
— Benjamin!
— O que foi?
— Não me torture mais...
— O que você quer?
— Quero que você me chupe! — falei, ficando agitada
demais.
Ele me olhou com as duas sobrancelhas arqueadas e eu
me apoiei em meus cotovelos, para poder olha-lo.
— O que foi? Achou mesmo que eu ficar enrolando
para falar isso? Eu quero que me chupe! Quero sua língua
dentro de mim!
— Tem muitas partes do seu corpo que eu posso
chupar, linda... Acho que você tem que ser um pouquinho
mais específica.
Revirei os olhos e quando voltei a fita-lo, ele estava
rindo. Esfregou o nariz pelo meu monte de vênus e eu
quase vi estrelas por ele estar tão perto do meu clitóris.
— Quero que chupe a minha boceta, Ben! — exclamei,
levando uma mão para tocar o seu cabelo. — Bem aí,
onde você está. É só esticar a língua e... Ah, isso!
Ele fez o que pedi e esticou a língua, passando-a lenta
e tortuosamente em meu clitóris. Estremeci e me larguei
na cama, sentindo o prazer me golpear. Pensei que
Benjamin iria me torturar ali também, mas ele agarrou
minha cintura com mais força e sua boca se abriu sobre
minha vagina, começando a sugar meu clitóris com uma
força que fez com que eu me arqueasse na cama.
Vi estrelas e algo a mais, quando sua língua desceu e
me penetrou rapidamente, entrando e saindo, dentro e fora,
tocando em alguns nervos específicos, principalmente
quando ele começou a rodeá-la lá dentro, bem rápido.
— Ah, Ben, assim!
Seu nome saia da minha boca como se eu estivesse
programada em modo repeat. Senti minha cabeça rodar e
seu polegar voltou a atormentar meu clitóris, rodeando na
mesma direção que sua língua dentro de mim. Meu corpo
estremeceu com força e um raio atingiu tudo lá embaixo,
me fazendo ter um orgasmo poderoso, que me deixou cega
por vários segundos.
Meu corpo ainda tremia quando Benjamin parou de
dedilhar meu clitóris e lambeu toda a minha vagina,
parecendo se deliciar com todo o líquido ali embaixo.
Quando tocou em meu clitóris, eu miei como uma gatinha
manhosa e sensível, fazendo-o rir.
— A senhorita é uma delícia, Alteza — falou, ainda lá
embaixo.
Abri os olhos no momento em que ele me lambeu de
novo, dando uma atenção especial ao meu clitóris
supersensível. Gemi de novo, sentindo minhas coxas
trêmulas demais para que eu pudesse fecha-las.
— Aguenta mais de mim, Alteza?
Ele se levantou lentamente e, como se fosse possível,
sua ereção parecia estufar ainda mais sua calça. Reunindo
minhas forças, me sentei e toquei em sua cintura.
— O que você acha? — perguntei, enganchando meus
dedos em sua calça e cueca.
Puxei os dois juntos e seu pau saltou em riste na minha
frente. Cristo, ele era ainda mais lindo completamente nu.
Suas coxas eram grossas e seu pau era lindo, grosso, com
veias aparentes e grandes.
Caramba, grande mesmo.
A glande avermelhada brilhava bastante na ponta com
o líquido pré-sêmen e eu senti minha boca se encher
d’água. Sem pedir permissão, peguei a carne grossa e
quente me minhas mãos e comecei a toca-lo. Benjamin
soltou um gemido rouco e seus dedos correram pelo meu
pescoço, descendo rapidamente até os meus seios.
Quando começou a acariciar os mamilos, um gemido
escapou do fundo da minha garganta.
Me aproximei mais e deixei meus lábios tocarem a
glande melada. Suguei apenas a cabeça sensível e seu
gosto levemente salgado atingiu minhas papilas gustativas.
Senti Benjamin estremecer, principalmente quando
comecei a sugar a glande com um pouco mais de força.
— Isso, Lottie...
Meu apelido nunca fora pronunciado com tanto desejo
e por uma voz tão máscula. Uma de suas mãos deixou o
meu seio e subiu para minha nuca, puxando-me um pouco
de leve para frente. Entendi seu recado silencioso e,
olhando em seus olhos, o levei mais fundo em minha boca.
Benjamin soltou um gemido rouco, seu maxilar ficando
rígido.
O levei até próximo a minha garganta e chupei com
força, passando a língua na área embaixo da glande, na
pele fina e sensível que tinha ali. Seu corpo estremeceu de
leve mais líquido de seu pré-gozo invadiu minha boca.
Ele estava perto de gozar e deixou que eu chupasse apenas
um pouco mais, antes de tirar o pau da minha boca.
Ainda assim, continuou esfregando a glande de leve em
meus lábios molhados e levemente inchados. Ele era tão
sexy, tão gostoso e poderoso. Puta merda, eu estava muito
ferrada por esse cara.
— Preciso estar dentro de você — ele murmurou,
tirando o pau da minha boca e se curvando na minha
frente.
Sua boca atacou a minha e suas mãos agarraram minha
cintura, empurrando-me ainda mais para trás na cama. Ele
subiu no meio das minhas pernas e seus lábios desceram
pelo meu queixo e pescoço. Seu corpo ficou
completamente em cima do meu, o senti se esticar para
mexer na mesa de cabeceira, em seguida, ajoelhou-se na
minha frente.
Com os dentes, rasgou o pacote laminado e desenrolou
o preservativo por toda a ereção grossa e furiosa. Abri
ainda mais minhas pernas, para acomoda-lo melhor e ele
se deitou sobre mim. Seus lábios cobriram os meus, sua
mão livre passeou pelo meu rosto e afastou o cabelo
grudado pelo suor.
E então, ele me penetrou.
Bem devagar, lentamente, ocupando todo o espaço. Um
gemido escapou dos meus lábios quando me apertei em
volta dele e seus olhos se fixaram aos meus, enquanto ele
escorregava devagar por todo o caminho, abrindo-me para
contê-lo. Seu pau tocou em todas as minhas terminações
nervosas e meu coração retumbou forte no peito.
Quando ele chegou ao fundo, ficou parado por alguns
segundos, para que eu me acostumasse. Suas mãos
acariciaram meu corpo, meu rosto, seus lábios resvalaram
lentamente sobre os meus e minhas mãos passearam por
suas costas. Lentamente, ele começou a se me movimentar,
entrando e saindo só um pouquinho, deixando que eu me
acostumasse com seu tamanho.
Em seguida, quando ele sentiu meu corpo estremecer
prazer, ele aumentou as investidas. Gememos juntos
quando me apertei em volta dele, recebendo-o e me dando
na mesma proporção. Seu peitoral pressionava meus
seios, seu corpo se esfregava no meu e quando sua pélvis
roçou em meu clitóris, o mundo deixou de existir e o
prazer me mostrou só havíamos eu e Benjamin.
Nós dois. Juntos. Finalmente juntos, como tanto sonhei
e desejei.
— Estou louco por você — ele sussurrou, seus lábios
entre os meus. — Completamente louco por você,
Charlotte...
— E eu estou louca por você — retornei, gemendo.
Ele se levantou um pouco e começou a meter com mais
força e precisão. Seu pau tocou em todos os lugares e
descobriu alguns novos, que eu não tinha sequer
conhecimento. Senti que eu estava bem próxima, o
orgasmo estava perto de me levar novamente.
Arranhei suas costas e levei meus movimentos de
encontro a ele. Benjamin sorriu para mim, seus olhos
cravaram nos meus, antes dele me deixar abruptamente.
Quase o xinguei, mas ele me pegou de surpresa e me virou
tão rápido, que não tive nem tempo de soltar o famoso
gritinho de surpresa.
Com habilidade, ele ajeitou meus quadris e me
colocou de quatro. Então, voltou a me penetrar, agora
ainda mais fundo. Meu nome saiu do fundo da sua garganta
e eu segurei o edredom com força, sentindo-o
perfeitamente dentro de mim, bem rápido.
— Ah, Lottie... — ele gemeu, sua boca começando a
roçar minhas costas. — Sei que você está perto... Vem,
goza bem gostoso para mim.
— Benjamin...
Seu nome saiu em arquejos e eu estremeci, gozando
com força, arranhando o edredom e empurrando meu
quadril de encontro a ele. Benjamin continuou metendo,
prolongando meu orgasmo, até que saiu de mim e me virou
novamente de frente. Esticou minhas pernas, colocando-a
em seus ombros e voltou a me penetrar.
Meu orgasmo ainda estava recente, mas senti que iria
gozar de novo. E ele sabia disso, pois continuou a se
movimentar sem parar, atingindo um ponto dentro de mim
que me fazia gritar e me contorcer. Quando gozei de novo,
meus olhos se reviraram e eu vi uma infinidade de pontos
brilhantes.
Meu corpo estremeceu com força. Benjamin abaixou
minhas pernas, enfiou a língua na minha boca e meteu
rapidamente, ofegando e então, meu nome saiu do fundo
de sua garganta direto para a minha, seu beijo me fez
engolir o seu gemido alto e poderoso, enquanto ele gozava
e tremia em cima de mim.
Lentamente, ele continuou a se movimentar, enquanto
me beijava, agora com mais calma, sua língua passeando
em minha boca. Deixei minhas mãos subirem e descerem
por suas costas, indo até a sua nuca e os cabelos molhados
de suor que estavam ali.
Por fim, quando Benjamin se afastou e olhou em meus
olhos, eu senti meu coração dar um salto. Era real e, ao
mesmo tempo, ainda parecia um sonho que ele estivesse
ali, em cima e dentro de mim.
— Não sei o que está acontecendo entre nós e não
quero nomear nada ainda, Charlotte — ele murmurou,
baixinho. — Mas sei que, a partir de hoje, eu tenho
certeza de que eu não posso mais ficar sem você. O que
temos aqui é real e eu quero que dure.
Droga! Meu coração apaixonado quase saltou do peito.
— Vamos fazer durar, Ben.
Ele sorriu para mim. Sorriu de verdade e eu quase
desfaleci. Mas voltei a viver quando seus lábios tocaram
os meus.
Era real.
Era real até demais.
Até porque, ali, eu tive a plena convicção de que eu
estava totalmente apaixonada por ele.
Capítulo 11 - Charlotte
Havia um corpo enroscado ao meu e uma mão
segurava possessivamente o meu seio. Um respirar leve
soprava em meu pescoço e, por um momento, eu pensei
que estava apenas tendo mais um sonho e que, em breve,
eu iria acordar sozinha e desolada na minha cama.
Mas, não. Era real.
Era incrivelmente real!
Abri os olhos e encarei um Benjamin em sono
profundo. Suas pernas estavam enroscadas nas minhas,
sua mão segurava o meu seio e seu rosto estava quase
todo enfiando na curva entre meu pescoço e ombro. Me
virei devagar, com medo de acorda-lo e o observei bem
de perto.
Ele era tão charmoso, tão bonito! Estávamos em seu
quarto, as cortinas estavam afastadas e o sol fraco da
manhã ultrapassava os vidros da janela. Os raios
iluminavam seu rosto forte, mas relaxado. Acho que era a
primeira vez que o via assim, sem o famoso cenho
franzido e a ruga que aparecia entre as suas sobrancelhas.
Daquela forma, ele aparentava que tinha mesmo trinta
anos e não demonstrava que tinha tanta responsabilidade e
preocupações.
Passei de leve minha mão por seu cabelo, tirando os
fios da testa. E então, pegando-me de surpresa, um sorriso
nasceu no canto dos seus lábios e ele abriu um pouco os
olhos, preguiçosamente.
Pega em flagrante!
— O que eu preciso fazer para acordar todos os dias
dessa forma? — perguntou, sua voz rouca pelo sono.
— Se repetir a performance da noite passada, talvez
você tenha alguma chance de acordar mais vezes assim.
— Hum... Anotado, princesa.
Ele piscou e sua mão se agarrou um pouco mais em
meu seio. Senti meus mamilos ficarem eriçados,
principalmente quando sua ereção roçou em meu quadril.
— Um beijo de bom dia?
— Sim, senhor.
Ele sorriu e seu corpo trombou sobre o meu,
obrigando-me a deitar de costas na cama. Seus lábios
pincelaram de leve sobre os meus e sua língua logo
invadiu minha boca, sem receio. Não foi um beijo louco
ou cheio de fúria como o da noite passada; foi calmo,
leve, mas cheio de um sentimento que fez o meu coração
bater muito forte.
Não sou uma mulher de suspirar como Eva ou
romântica como minha mãe; mas, com certeza, eu poderia
me transformar uma se Benjamin me beijasse assim todos
os dias.
Seus lábios desceram pelo meu pescoço e minha
vagina pulsou, uma onda de desejo invadindo cada célula
do meu corpo. Seu suspiro rouco invadiu o meu ouvido
logo em seguida.
— Quero você de novo — murmurou ele, mordendo o
lóbulo da minha orelha.
— Sou toda sua, Benjamin.
Se ele soubesse o quanto aquilo significava,
certamente não agiria tão naturalmente ao voltar a me
beijar. Eu me sentia sim totalmente dele e não era apenas
por causa do sexo. Era mais, era muito, muito mais.
Passei a mão pelas suas costas, sentindo a pele quente
e macia na ponta dos meus dedos. Um gemido saiu da sua
boca e foi de encontro a minha, enquanto ele se esticava
para pegar uma camisinha na gaveta da mesinha de
cabeceira.
Rapidamente se vestiu, seus olhos ainda nos meus,
seus lábios tão próximos que eu quase podia senti-los.
Então, ele me penetrou, lentamente. O deslizar do seu pau
em contato com as minhas paredes vaginais me fez
alucinar e buscar por ar, buscar por algo, qualquer coisa,
que aplacasse aquele desejo insano.
Senti que meu coração poderia explodir a qualquer
momento e ali eu me dei conta que paixão era algo muito
simples para o que eu estava sentindo. Eu não sabia como,
não sabia o porquê, não sabia em que momento aquilo
havia acontecido, mas eu amava aquele homem.
Eu amava com todo o meu coração e entendi o que
mamãe e Eva sempre me disseram sobre o amor. Ali,
embaixo dele, naquele sexo amoroso pela manhã, nossos
corpos banhados pelo sol fraco, eu entendi toda a
extensão do meu sentimento.
E tive um medo tremendo de tudo aquilo.
— O que foi? — ele sussurrou, completamente parado
no meu interior.
Como eu poderia dizer? Certamente, ele me chamaria
de louca.
Eu estava me achando louca.
— Nada. Só continue, por favor, está me matando com
essa demora... — tentei soar brincalhona e sexy e seu
olhar não saiu do meu. Sua expressão era séria e
concentrada.
— Charlotte... — seus dedos passearam por meu rosto
e vi um sentimento de ternura em seu olhar.
Pensei que falaria mais alguma. Quase vi seus lábios
se moverem, mas então, ele se retraiu e empurrou dentro
de mim. Um gemido involuntário escapou por minha
garganta e eu fechei os olhos, primeiro por prazer, mas
também por medo de que ele pudesse enxergar a verdade
ali.
Para mim, estava bem explícito o que eu sentia. E tinha
um medo tremendo de ele saber e sair correndo.
— Não, Lottie, olhe para mim... — sussurrou, suas
duas mãos agora em meu rosto, afastando os fios de meus
cabelos. — Quero seus olhos em mim enquanto estamos
juntos, enquanto estou dentro de você.
Abri os olhos e encontrei suas órbitas azuis brilhando.
Ele gemeu e acelerou seus movimentos e eu arranhei suas
costas, sentindo meu sangue ferver nas veias.
Deus do céu, eu estava completamente louca por
aquele homem. Tesão, amor, prazer, desejo, todos os
sentimentos misturados e entranhados dentro de mim.
Desesperada, comecei a me mover embaixo dele,
encontrando seus movimentos. Seu pau tocava em cada
pequeno nervo e seu osso púbico roçava em meu clitóris,
lançando pequenas lanças de prazer por todo o meu corpo.
Com seus olhos ainda nos meus, senti a pressão do
orgasmo, o desejo se acumulando em meu baixo ventre.
Minhas paredes vaginais apertaram seu pau dentro de
mim, o mundo entrou em desfoque e eu explodi em um
turbilhão de emoções e sensações.
Benjamin me seguiu, meu nome escapou por seus
lábios e seu corpo estremeceu sobre o meu. Seu pau
pulsava, enviando pequenos arrepios em meu corpo. Meus
olhos se fecharam involuntariamente e logo senti sua boca
na minha, sua língua me acariciando, suas mãos tocando
em meu rosto gentilmente.
O beijei de volta, sentindo meu coração se revirar no
peito. Era um sentimento tão forte e tão desconhecido para
mim; ainda assim, eu sabia que poderia me magoar
profundamente.
Benjamin encostou a testa na minha e eu abri os olhos.
Ele me olhava fixamente, uma expressão aperta e confusa
estampava o seu rosto.
— Charlotte...
Novamente, ele soou como se fosse me falar alguma
coisa e eu esperei por incontáveis segundos. Quando
pareceu que tinha tomado coragem, o celular ao nosso
lado tocou estridentemente. Benjamin se moveu
rapidamente e atendeu, seu corpo ainda sobre o meu,
apoiado em apenas um braço, seu pau ainda dentro de
mim.
— Sim, Thor?
Era o celular da segurança. Benjamin ficou alguns
segundos em silêncio. Senti seu corpo se retrair sobre o
meu e então, ele saiu de dentro de mim como um raio, me
fazendo estremecer.
— Certo, sim, pode manda-lo subir — disse, sua voz
seca e rude, antes de desligar.
— O que foi? Quem está aí?
Ele se levantou e tirou a camisinha rapidamente, sem
me olhar, caminhou em direção ao banheiro, dizendo:
— Acho melhor correr, porque o seu namorado está
subindo.
O quê?
— Como assim? Que namorado? — perguntei, me
levantando, sem me importar se estava nua ou não.
Parei na porta do banheiro, a tempo de vê-lo jogar a
camisinha no lixo. Em seguida, ele se virou para mim,
segurando a maçaneta da porta.
— Aquele que você disse que tinha se separado.
E então, a porta foi fechada na minha cara em um
baque seco.
Fiquei ali, encarando a madeira branca ainda em
choque. O que foi aquilo? Do que diabos ele estava
falando?
O barulho do elevador chegando me fez despertar. Sem
saber o que fazer, peguei um roupão que estava por ali e
me cobri rapidamente. Corri pelo corredor e parei no
corrimão da escada, vendo John olhar o apartamento, a
procura de alguém.
— John, me dê apenas dez minutos, já estou descendo
— falei, vendo-o me encarar.
— Ah, claro, tudo bem.
Saí sem mais explicações e me tranquei em meu
quarto. O que John estava fazendo aqui? Justamente no dia
em que, finalmente, Benjamin e eu ficamos juntos? Aquilo
era um pesadelo!
Corri para o banheiro e tomei uma ducha rápida, sem
saber ao certo o que pensar ou o que fazer. Me sequei e
vesti a primeira calça jeans que vi pela frente. Coloquei
uma blusa qualquer também, penteei os cabelos e desci,
encontrando John sentado no sofá e Benjamin já vestido e
a postos perto do elevador.
— Oi, John — falei, me aproximando.
Ele se levantou e sorriu para mim, vindo ao meu
encontro. Me deu um abraço apertado e eu retribui porque
gostava dele. Como um bom amigo.
— Lottie, estava morrendo de saudades de você —
falou, se afastando um pouco. — Como você está?
— Bem — perguntei, sem saber o que dizer. — E
você?
Ele se sentou e me levou. Me acomodei e uma olhada
rápida para Benjamin, que continuava parado próximo ao
elevador, olhando além de mim. Certamente, a Torre
Eiffel de fundo era bem mais interessante do que eu e meu
ex-namorado.
— Estou bem, só estava com saudades. Tive uma
reunião com empresários franceses ontem e já que hoje eu
tenho a manhã livre, resolvi te visitar. Por que não
tomamos café juntos? Há uma délicatesse bem próxima
aqui. Por favor, não aceito um não como resposta.
Ah, puta merda.
Dessa vez, eu senti o olhar de Benjamin em cima de
mim.
— Hm, claro — murmurei, porque não sabia realmente
o que dizer. — Só me dê alguns minutos para colocar algo
melhor. Me arrumei às pressas.
— Tudo bem, Lottie. Você sabe que já estou mais do
que acostumado a te ver assim... Você é linda de qualquer
forma.
O sorriso que dei foi um bem grande e amarelo.
Resolvi não olhar para Benjamin daquela vez e segui em
direção as escadas.
Em meu quarto, troquei meu par surrado de jeans por
um mais novo, coloquei sandálias e uma blusa mais
bonita. Apliquei um pouco de rímel e batom e prendi meu
cabelo em um rabo de cavalo alto.
Foi então que eu vi a grande e escandalosa marca de
chupão em meu pescoço.
Caramba! Como eu não tinha visto aquilo antes?
Aturdida, passei um pouco de base na área, o que não
adiantou muito, por isso, tive que soltar os cabelos. Fiz o
que pude para esconder a marca e peguei minha bolsa,
decidida a fingir que não havia um globo vermelho na
lateral do meu pescoço.
Assim que desci, Benjamin chamou o elevador e se
virou para mim.
— Alteza, os seguranças já estão a postos para leva-
los.
— Mas eu vim no meu carro — John disse. — Você
pode ir comigo e os seguranças fazem a escolta, tudo
bem?
— Senhor, sinto muito, mas isso é contra as regras. A
senhorita Charlotte precisa ir no carro com o motorista e
comigo, que sou seu segurança pessoal.
John me olhou, obviamente esperando que eu
contestasse Benjamin, mas eu ainda estava tão aturdida
por tudo, que não sabia ao certo se deveria ou não
contestar Benjamin. Por fim, disse:
— Venha no meu carro, John. Depois você volta
conosco e pega o seu.
Ele assentiu e seguimos para o elevador. O clima era
mais do que pesado; parecia que uma grande e poderosa
nuvem carregada pairava sobre nós. Foram os segundo
mais estranhos da minha vida, porque, querendo ou não,
John estava percebendo que havia algo acontecendo.
Eu podia ver em sua expressão confusa e intrigada.
Quando o elevador chegou ao estacionamento,
seguimos para o carro e Benjamin abriu a porta para nós
dois. Tive vontade de puxa-lo pelo pescoço e beija-lo,
tirar aquela carranca mal-humorada do rosto dele, mas me
contive apenas entrei no veículo, seguida por John.
Fizemos todo o caminho até a délicatesse em um
silêncio constrangedor. Por fim, quando chegamos, fomos
bem recepcionados e nos sentamos em uma mesa afastada
das demais pessoas. Benjamin parou em uma distância
segura, onde ele poderia ver tudo ao redor e também olhar
fixamente para nós dois.
Parecia que um déjà-vu. Era como se a cena da noite
anterior estivesse repetindo nessa manhã, com a diferença
de que, agora, aquele não era um encontro proposital, eu
já tinha estado na cama de Benjamin, sabia que estava o
amando e quem estava sentado na minha frente era o meu
ex-namorado e não o meu amigo gay.
— O que você vai querer? — perguntou.
— Um croissant e chocolate quente — murmurei, de
repente, me dando conta que em todos aqueles anos de
relacionamento, John ainda não sabia o que eu gostava de
comer.
Enquanto Benjamin, em poucas semanas, já sabia tudo
de cor.
Um garçom anotou nossos pedidos e se afastou
silenciosamente. John me encarou por alguns segundos e,
por fim, disse:
— Está mesmo tudo bem? Estou te achando muito
quieta, você não é assim.
— Eu estou apenas surpresa com a sua visita. Você
poderia ter telefonado, avisado, mandado uma
mensagem... — parei, porque estava, obviamente,
tagarelando.
— Não imaginei que te atrapalharia... Quer dizer, hoje
é sábado, você não tem faculdade. E quis mesmo te fazer
uma surpresa — fez uma pausa e então, sua mão tocou a
minha por cima da mesa. — Fiz mal? É que eu estava
louco de saudades de você.
— Não, quer dizer... Está tudo bem. É bom te ver.
— Falando assim, parece não sentiu nem um pouco a
minha falta.
E não senti mesmo.
— Para com isso, claro que senti sua falta — menti,
colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
— Parece que eu senti muito mais a sua falta.
— John, você sabe... Nós nos separamos. Somos
apenas amigos agora.
— Sim e você foi rápida em encontrar outra pessoa —
falou, me encarando. — Esse chupão no seu pescoço. Foi
ele quem fez?
Seu olhar parou em Benjamin e o meu tempo, enquanto
levava minha mão inconscientemente ao meu pescoço, em
cima da marca vermelha. O garçom me salvou e apareceu
justamente nessa hora, trazendo nossos pedidos. Sem dar
tempo para responder, peguei o chocolate e tomei um
gole, queimando a língua.
Praguejei por dentro, mas deixei meu olhar pairar
sobre o croissant.
— Não vai me responder?
— Não sou obrigada a te dar uma resposta sobre a
minha vida sexual, John — falei, de saco cheio.
Que droga! Aquele dia tinha tudo para ser perfeito e
John, com seu timing horrível, estragara tudo.
— Então, foi realmente ele — concluiu, colocando sua
xícara sobre o pires. — Por que, Charlotte?
— Como assim “por quê”?
— Me dê um motivo. Acha que sou bobo? Eu vi este
homem no batizado do filho do Christopher, eu vi o modo
como você o olhou. Aliás, qualquer pessoa que tivesse
olhos deve ter visto. Não falei nada na época, até porque,
achei que estava imaginando coisas. Então, você se separa
de mim e inventa de fazer faculdade aqui, em Paris. E qual
não é a surpresa de chegar no seu apartamento e ver este
mesmo homem descendo as escadas, vestindo um terno,
como se fosse o dono do lugar. Eu vi o modo como ele me
olhou. E então, eu vi o modo como ele te olhou e como
você o olhou de volta. Novamente, achei que eu estivesse
apenas imaginado coisas, mas então, tem esse chupão na
porra do seu pescoço! O que quer que eu pense?
O olhei, dividida entre o choque e a raiva.
— Não quero que pense nada.
— Me dê uma explicação, Charlotte! Há quanto tempo
está se envolvendo com esse cara? Há quanto tempo
esteve me enganando?
— O quê?
John estava nervoso, vermelho, mas ainda assim, sabia
manter a compostura como ninguém. Por outro lado, eu
estava quase a ponto de arrancar seus olhos. O que aquele
panaca estava querendo dizer?
— Novamente, você acha que eu sou algum idiota?
Está óbvio para mim que você e esse cara já estão se
envolvendo há algum tempo. Provavelmente, um tempo
longo demais, para ele virar o seu segurança do dia para
noite. Por que me traiu dessa forma, Charlotte?
— Eu nunca te traí! Pelo amor de Deus, você está
sendo ridículo.
— Eu estou sendo ridículo?
— Claro! Está entendendo tudo errado e está me
insultando. Quem você pensa que é para pensar que eu sou
suja o suficiente para traí-lo?
— O que você quer que eu pensei quando encontro
esse homem no seu apartamento? Quando vejo esse
chupão no seu pescoço?
— John, eu acho que você se esqueceu de que estamos
separados. E que qualquer marcar que esteja no meu
corpo, não lhe diz respeito — falei, entredentes. — Nunca
te traí. Benjamin é meu segurança pessoal porque Johnson
é seu tio e ele é o único homem que Johnson confiou para
o cargo. Apenas isso. Foi uma coincidência.
Uma coincidência que eu amava, aliás. Mas ele não
precisava saber.
— Por isso ele teve permissão para entrar na missa
naquele dia. Eu o olhei porque, bem, ele é um homem
muito bonito e apesar de ser sua namorada, eu não estava
cega. Desculpe-me se o magoei naquele dia, você poderia
ter falado comigo na hora. Mas nunca te traí com ele ou
com qualquer outra pessoa.
Óbvio que ele não precisava saber do nosso pequeno
incidente no bar, onde eu descaradamente dei mole para
Benjamin. Ainda assim, não sei se teria coragem para
ficar com Benjamin, se ele não tivesse me recusado.
E como nada havia acontecido, John não tinha direito
algum de pensar daquela forma sobre mim.
— Se não acredita em mim, pode perguntar ao Johnson
ou até mesmo ao meu pai. Não fará diferença para mim,
entretanto. Se antes eu já não pensava em voltar para
você, agora então, essa ideia acabou de ser totalmente
esquecida.
Seus olhos se arregalaram e sua mão rapidamente
segurou a minha.
— Droga, Lottie, sinto muito. Porra, sinto muito
mesmo, eu estava cego de ciúmes. Ainda estou com
ciúmes, aliás — falou, bem mais calmo. — É que não foi
fácil para mim perder você. Eu te amo e dói muito estar
longe, estar separado. Realmente pensei que você
precisava apenas de um tempo sozinha e que, ao me ver
hoje, voltaria correndo para mim. Mas, pelo visto, eu
cheguei bem tarde.
— Eu sei que terminei com você de forma abrupta,
John, mas foi preciso. Você sempre foi um namorado
muito ausente, mal tínhamos tempo para ficar juntos, você
sempre esteve focado demais nos negócios e isso fez com
que meus sentimentos esfriassem. Não estou colocando a
culpa toda em você, mas, na verdade, eu nunca te amei. Eu
estive apaixonada por você, o que é bem diferente de
paixão. E eu sei que você também não me ama como
pensa. Você vai encontrar uma mulher maravilhosa e
então, você vai descobrir o que é o amor de verdade.
Como eu descobri essa manhã, quando Benjamin e eu
estávamos fazendo amor.
John me olhou profundamente e eu tomei mais um gole
do chocolate quente, me sentindo um pouco incomodada
com sua inspeção.
— Você está diferente — disse, por fim. — Não sei o
que é, mas parece que você está mais madura, mais...
Mulher.
— Eu não era muito mulher quando estávamos juntos?
— perguntei, sorrindo de leve.
— Você me entendeu — ele riu um pouco, dando de
ombros. — Você gosta mesmo dele?
— Muito — murmurei, com a xícara ainda próxima
aos meus lábios. — Como nunca gostei de ninguém antes.
— Nossa, isso doeu.
— Desculpe, não foi minha intenção.
— Eu sei — falou, suspirando. — Pelo menos eu fico
contente em saber que você está bem. Espero que ele não
fique com muita raiva por eu ter aparecido assim, de
surpresa. Se você quiser, eu posso conversar com ele e
esclarecer tudo...
— Não, não precisa, eu mesma falo com ele.
— Seus pais sabem?
— O quê? Não, ainda não! Está tudo muito recente —
recente demais. — Por favor, não fale nada com nenhum
deles.
— Claro que não, Lottie, sabe que eu jamais faria isso
— disse e eu sabia que era verdade.
John era um dos caras mais incríveis que já tive o
prazer de conhecer. Acho que foi isso que fez com que eu
me apaixonasse por ele no início: seu caráter primoroso e
sua fidelidade.
Terminamos de tomar o café em uma conversa mais
agradável. Ele pagou a conta e seguimos juntos para o
carro. Benjamin estava no modo “segurança sério, não
fale gracinhas”. Percorremos o caminho até o prédio em
um silêncio um pouco mais confortável e quando
chegamos ao estacionamento, John me deu um abraço de
despedida.
— Foi bom vê-la novamente. Por favor, me desculpe
por tê-la insultado e por ter atrapalhado alguma coisa.
— Está tudo bem. Foi muito bom vê-lo também, John.
Ele se afastou e se despediu com um aceno, antes de
entrar em seu carro luxuoso e esportivo. Assim que ele
partiu, Benjamin e eu seguimos para o elevador. Passamos
aqueles segundos tortuosos em silêncio e quando
chegamos ao meu apartamento, eu o puxei pela mão.
— O que foi? — perguntou, olhando-me.
— Vai mesmo ficar em silêncio e sem me dirigir um
olhar? Pensei que já tivéssemos passado dessa fase.
— Sinto muito se eu não tenho o sangue tão frio quanto
o do seu namoradinho — falou, soltando-se de mim.
— Acho que ficou bem claro que ele não é o meu
namorado.
Me aproximei dele e passei meus braços por seu
pescoço, ficando na ponta dos pés para roçar nossos
lábios.
— Você é o único homem que eu quero, Ben.
Pensei que ele iria ceder quando moveu as mãos. Mas,
ao invés de segurar minha cintura com elas, ele segurou
meus braços e me afastou, dando um passo para trás.
— Eu preciso ficar sozinho, Charlotte. Só um pouco
sozinho, com licença.
Ele se dispersou e subiu as escadas. Não furioso como
da última vez, mas lentamente, como se estivesse cansado,
como tivesse um peso grande demais para suportar.
Senti meu peito se apertar em aflição. Não apenas
porque ele estava se distanciando de mim, mas também
porque eu sabia que o que quer que ele estivesse
escondendo, era um fardo que, talvez, fosse mais pesado
do que ele pudesse carregar.
Capítulo 12 - Charlotte

Parei em frente a porta do quarto de Benjamin e


levantei a mão para bater, mas parei a segundos de o
fazer. Sentia meu coração pesar em meu peito e pensei
duas vezes se deveria mesmo chamar por ele agora ou
não.
Ele já estava no quarto há mais de cinco horas. Não
havia saído ao menos para comer. Olhei para bandeja de
sanduíches que havia preparado e decidi que sim, eu
deveria chamar por ele. Ele poderia me escorraçar
depois, mas ao menos deixaria a bandeja em seu quarto.
Decidida, fui novamente bater na porta, mas, dessa
vez, não foram os meus pensamentos que me interrompeu
e sim o meu celular, que começou a vibrar no bolso da
minha calça jeans. O nome de Benson brilhava na tela.
Senti meu coração pular ainda mais forte no peito e me
distanciei da porta de Benjamin, entrando silenciosamente
no meu quarto.
— Oi, Benson. E aí, alguma novidade para mim?
Benson era o detetive que eu havia contratado para
descobrir os mistérios de Benjamin. Em nossa última
ligação, ele havia me dito que tinha uma grande pista
sobre o que Benjamin escondia, mas que só iria me contar
quando tivesse todas as provas em mãos.
— Olá, Alteza. Sim, tenho novidades. Lembra quando
eu disse que tinha uma pista sobre o segredo do
segurança? Então, consegui levantar todas as informações
e provas que eu precisava. Já enviei tudo para o seu e-
mail, mas, se quiser, posso adiantar algumas coisas pelo
telefone.
— Fale, por favor. Não aguento essa curiosidade.
— Bem, infelizmente, não é algo feliz o que eu
descobri — ele disse, sua voz perdendo um pouco do
entusiasmo pelo serviço feito. — Como o próprio
Benjamin havia dito, ele só tem dois parentes vivos, que é
o segurança da sua família, Johnson Prescott e sua avó por
parte de mãe, Alice Wells.
— Sim, mas, o que tem eles?
— Não eles, mas ela. A avó de Benjamin tem câncer
no pâncreas e está internada no Hospital de Tratamento de
Câncer em Orleandy.
Sentei na cama, subitamente perdendo as forças das
minhas pernas.
— Câncer?
— Sim. Pelo as informações que levantei, ela
descobriu a doença há pouco mais de três meses. O câncer
está bem no início, mas ela precisa fazer a cirurgia o
quanto antes, para a retirada do tumor. Então, esse é o
problema de Benjamin: o dinheiro. A cirurgia é cara, bem
como os custos médicos, remédios... A própria internação
dela nesta clínica, custa um bom dinheiro. Você sabe, este
é um dos melhores hospitais para tratamento de câncer no
mundo...
As informações giravam em minha cabeça. Avó de
Benjamin com câncer.
Tudo começou a fazer sentido para mim. O nervosismo
de Benjamin, sua agitação, seu semblante sempre fechado
e preocupado, os raros momentos em que um sorriso
aparecia no seu rosto, sua saída da faculdade... Tudo
começou a se encaixar.
— Alteza, está me ouvindo?
— Sim, sim, estou — falei, sentindo meu coração bater
forte no peito. — Você enviou tudo para o meu e-mail?
— Sim, Alteza.
— Perfeito. Estarei depositando o restante do valor na
sua conta ainda hoje. Muito obrigada, Benson.
— Disponha, Alteza. Qualquer coisa, basta me
telefonar.
Desliguei e corri em direção ao meu notebook. Abri
rapidamente o navegador e cliquei no e-mail enviado por
Benson.
Havia uma ficha extensa com todas as informações da
avó de Benson, bem como as atualizações sobre o seu
câncer, até mesmo uma ficha do hospital. Seu nome era
Alice Wells Hold, tinha 65 anos e morava em uma casa do
lado norte de Orleandy. Estava internada há exatamente
três meses e vinte e um dia, internada na ala de pacientes
graves.
Seu câncer estava estágio inicial, mas por conta da sua
idade e saúde debilitada, precisava fazer a cirurgia com
urgência.
Havia uma foto dela e senti meu coração se apertar no
peito. Era muito parecida com Benjamin. Seus cabelos já
eram cinzas, mas seus olhos eram de azul um claro e
intenso, como de Benjamin. Ela sorria para a foto, mas
tinha a expressão muito cansada. Ao seu lado, estava
Benjamin. Ele sorria como nunca ao lado da avó, parecia
até mesmo outra pessoa ao lado dela, mais relaxado, feliz.
Meu coração ficou apertado. Por um momento,
imaginei algum parente meu na mesma situação e soube
que não conseguiria lidar com isso, principalmente não
tivesse dinheiro para pagar o tratamento.
Rapidamente transferi o dinheiro para a conta de
Benson e fiz mais algumas coisinhas rápidas no
computador. Desliguei e peguei novamente a bandeja,
indo em direção ao quarto de Benjamin. O mundo poderia
acabar, mas, dessa vez, nada me faria desistir de vê-lo.
Bati na porta e esperei alguns minutos. Apenas o
silêncio me respondeu. Bati novamente, impaciente,
ansiosa, com uma vontade imensa de abraça-lo, pega-lo
em meu colo e embala-lo até que tudo isso passasse, até
que, como em um passe de mágica, a doença de sua avó
não mais existisse.
Estava prestes a bater novamente, quando ouvi a chave
virar e vi a maçaneta se mover. Benjamin abriu a porta e
sua expressão era a pior possível, como se um caminhão
tivesse passado por cima dele. Estava com olheiras,
cabelo desalinhado. Vestia apenas uma calça de moletom
e, sem uma palavra, se moveu para o lado e me deixou
passar.
Caminhei até a cama e depositei a bandeja em cima do
colchão. Ouvi a porta se fechar atrás de mim e, em
seguida, Benjamin apareceu em meu campo de visão.
— Você passou o dia todo sem comer... Trouxe esses
sanduíches para você.
— Me desculpe por ter passado o dia todo aqui no
quarto, eu não estava me sentindo muito bem — falou,
sentando-se.
Me sentei de frente para ele e peguei um sanduíche,
levando aos seus lábios. Ele mordeu um pedaço e eu
percebi que nossos papéis haviam se invertido. Há alguns
dias, ele havia me alimentado. Agora, eu o alimentava e
nunca me senti tão bem fazendo algo por outra pessoa.
Contive um grande suspiro. A verdade é que, se eu
pudesse, pegaria todas as dores de Benjamin e as
transferiria para mim.
— Eu que peço desculpas, Ben. Pelo aparecimento
repentino de John, pela confusão que ele causou. Não
menti para você, nós realmente terminamos antes de
viajarmos, mas acho que ele tinha alguma esperança de
que voltássemos.
— Com certeza ele tinha, dava para ver em seus olhos
— disse. — Eu fui um babaca, Charlotte. Quer saber a
verdade?
Senti meu coração bater forte. Ele iria contar sobre sua
avó? Cristo, eu esperava que sim!
— Sim, sim, claro — respondi, um pouco afobada.
— Eu morri de ciúmes.
Ele disse e eu o olhei com os olhos arregalados,
surpresa. Esperava tudo — qualquer coisa —, menos
aquilo.
— Morri de ciúmes, fiquei cego. Não pensei com
clareza, vi tudo vermelho quando Thor telefone hoje cedo,
falando que John estava subindo. Em seguida, eu vi o
modo como ele te olhou, como te desejou. Tive vontade
arrancar os olhos dele.
Ri um pouco, vendo-o me olhar com seriedade.
— Um pouco homem das cavernas, não?
— Talvez, mas estou sendo sincero — disse, dando de
ombros. — Eu gosto muito de você, Charlotte. Se eu já
não soubesse disso, teria a certeza hoje. Não sei o quão
longe iremos na nossa relação, mas quero fazer tudo
direito. Quero ter você só para mim e quero ser seu.
Sempre fui muito sozinho, como você sabe, fui criado pela
minha avó e meu tio Johnson nos visitava ocasionalmente.
Não sei lidar muito com sentimentos, não gosto muito de
nomeá-los, mas eu quero que nosso relacionamento dê
certo.
Ele havia tirado a noite para me surpreender. Mordeu
mais um pedaço do sanduíche e continuou olhando em
meus olhos. Por um momento, quase falei que já sabia
sobre a sua avó. Quase o abracei e sussurrei em seu
ouvido que eu estava ali, que iria apoia-lo, que iria ajudar
em tudo o que fosse possível, que iria mover mundos e
fundos.
Mas, então, decidi me manter em silêncio. Eu ia assim
ajudar, eu ia sim mover mundos e fundos, mas iria,
também, esperar que ele se sentisse confortável para me
dizer. Que ele confiasse em mim. Benjamin era um homem
muito fechado, muito duro, mas ali, na sua frente, percebi
que não era porque ele gostava de manter aquela aura de
mistério ao seu redor e sim porque ele demorava a
confiar.
E eu queria que ele confiasse em mim. Que ele visse
em mim um porto seguro para contar seus medos, uma
amante para afogar seus desejos e uma âncora para se
manter firme.
Enquanto isso, silenciosamente, eu iria abraça-lo e
segura-lo a cada momento, principalmente quando ele não
pudesse segurar tudo sobre os seus ombros.
— Nosso relacionamento dará certo, Ben. Não é
apenas sexo ou desejo, é algo mais e nós dois sabemos
disso.
Eu, então... Sabia de cor.
— Sim, é muito mais — falou, me puxando pela
cintura.
Me acomodei em seu colo, de frente para ele. Suas
mãos acariciaram meu rosto e eu acariciei os cabelos em
sua nuca, sentindo o calor do seu corpo no meu.
— Prometo nunca mais dar uma de louco e te deixar
sozinha.
— Sim, por favor, não faça mais isso. Eu morro de
preocupação — falei, meus lábios quase roçando os seus.
— Se estamos juntos, temos que compartilhar cada
problema, cada preocupação. Precisamos aprender a
confiar um no outro.
Preciso que você confie em mim, pois eu já confio em
você.
— Sim, você tem razão, Alteza — disse, sorrindo de
leve. — A partir de hoje, somos apenas um, Lottie.
— Apenas um.
Nos beijamos e meu quase coração quase derreteu.
Soube, enquanto sua língua se enroscava na minha e suas
mãos adentravam minha blusa, que seria apenas questão
de tempo para que ele se abrisse comigo.
E eu estaria lá, para capturar para mim cada uma das
suas dores.
Capítulo 13 - Charlotte

UMA SEMANA DEPOIS

Uma onda de prazer passou levemente pelo meu corpo,


começando a despertar. Senti meus mamilos ficarem
eriçados e dedos percorrem todo o caminho da barriga até
os meus seios. Quando uma língua quente e molhada
passou pelo meu clitóris, despertei totalmente, soltando
um gemido involuntário do fundo da garganta.
Sem abrir os olhos, levei minhas mãos até a cabeça de
Benjamin e acariciei seus cabelos, movendo meu quadril
de encontro a sua língua.
Melhor forma de acordar!
Ouvi sua risada baixinha, então, ele apertou meus
mamilos com a ponta dos dedos e sugou meu clitóris para
dentro da sua boca. Uma nova onda de prazer me golpeou
e minhas paredes vaginais se apertaram, desesperadas
pelo orgasmo.
— Ah, isso, Ben...
Sua língua percorreu toda a minha vagina, pincelou
meu clitóris duas vezes e então, me penetrou. Não era uma
penetração funda, mas foi o suficiente para me fazer ver
estrelas, principalmente quando começou a sair e entrar
rapidamente, enquanto seu polegar acariciava meu
clitóris.
O orgasmo me pegou de surpresa e me fez gritar. Gozei
com seu nome saindo pela minha boca e meus quadris se
movendo na cama, em busca de mais fricção. Com o
corpo mole, senti seus lábios deixando uma trilha de
beijos pela minha barriga, subindo até os meus seios.
Passou a língua em cada mamilo, torturando-me, me
deixando excitada novamente. Em seguida, seus lábios
encontraram os meus.
Seu beijo não foi lento ou romântico. Foi puro fogo,
me entorpecendo. Sua língua brincou com a minha, suas
mãos apertaram minha bunda com força e um gemido
rouco escapou de sua garganta. Quando se afastou, seus
lábios desceram por meu queixo, pescoço e pararam em
minha orelha, onde seus dentes mordiscaram o lóbulo.
— Sou louco por você... — murmurou, empurrando
sua ereção maciça entre os meus lábios vaginais. Cada
vez que roçava em meu clitóris, eu delirava. — Cada vez
que te vejo, sinto como se meu coração fosse pular do
peito, Charlotte. Não sei o que é isso, mas sei que me faz
bem. Você me faz bem, linda.
— Você me faz bem também, Ben... — não imagina o
quanto, quis emendar. — Preciso de você dentro de mim,
agora.
Ele se afastou um pouco e sorriu, esticando-se para a
mesinha de cabeceira. Pegou um preservativo e logo o
vestiu, seu pau estava grande e muito duro, deixando-me
ainda mais louco de excitação.
Quando me penetrou, prendi a respiração e o apertei
dentro de mim, apenas para senti-lo ainda mais. Seus
olhos estavam dentro dos meus, suas mãos estavam em
minha cabeça, tirando o cabelo do meu rosto e minhas
mãos estavam em seus ombros. Apertei e senti seus
músculos tencionarem sobre as minhas palmas, sua pele
quente trazendo ainda mais calor a minha pele.
Ele começou a se movimentar e eu prendi seus quadris
com as minhas pernas, mudando o ângulo da penetração.
Ele foi mais fundo, tocando cada pequeno nervo dentro de
mim, ocupando um espaço que já era seu por direito. Que
sempre seria seu. Seus lábios encontraram-se com os
meus, como se não pudesse mais ficar afastado de mim e
nossos gemidos se misturaram.
Seus quadris começaram a ficar mais rápidos, seu pau
grande e grosso entrando e saindo, provocando-me,
instigando-me a ter um orgasmo que eu sabia que abalaria
todas as minhas estruturas. A cada arremetida, minhas
unhas o arranhavam e ele gemia, sentindo meu aperto ao
redor da sua ereção, sentindo tanto prazer quanto eu.
Mordi seu lábio, gemi e uma de suas mãos desceu pelo
meu corpo. Quando seu dedo tocou meu clitóris inchado e
molhado, senti o céu se aproximando e seu nome escapou
por meus lábios, o orgasmo me atingindo com força. O
beijei e estremeci, gozando ao redor do seu pau,
apertando-o com força.
Seu corpo tremeu sobre o meu, sua mão segurou meu
cabelo com força e ele meteu mais rápido, gozando com
meu nome escapando dos seus lábios. Estremecemos
juntos, a onda de prazer tomando os nossos corpos.
Seus lábios pincelaram os meus e um sorriso enorme
se abriu em seu rosto. Um sorriso que eu tinha certeza que
era um reflexo do meu.
— Bom dia, Alteza — sussurrou, passando a mão pelo
meu rosto.
— Bom dia, baby — sorri ainda mais, acariciando
suas costas. — Continue me acordando assim e você
sempre terá uma mulher sorridente e feliz pela manhã.
— Só pela manhã?
— Sim, porque, de tarde, você precisa comparecer de
novo ao departamento “vagina” para garantir que eu
continue de bom humor.
Ele gargalhou e aquele barulho feliz me deu um tremor
no estômago e um aperto de felicidade em meu coração.
Era tão bom vê-lo assim. Benjamin quase nunca relaxava,
a doença de sua avó tomava conta de praticamente cada
segundo do seu dia. Vê-lo sorrir dessa forma me mostrou
que eu poderia ajudá-lo a esquecer de seus problemas,
nem que fosse apenas por algum tempinho.
— Bem, pode ter certeza que eu vou ficar muito feliz
em comparecer ao departamento “vagina” — disse,
tocando o nariz no meu. — E aos departamentos “boca” e
“peitos” também.
— Ah, eu tenho certeza que sim...
Ainda sorrindo, ele me beijou. Dessa vez, fora um
beijo lento, calmo, amoroso. Sua língua me acariciou,
reverenciou e eu fiz o mesmo com a dele, entregando-me.
Será que ele percebia que, nesses momentos — ok, em
todos os momentos —, minha alma e meu coração
suspiravam e se entregavam sem reservas? Pois era isso
que acontecia comigo.
Eu me entregava totalmente àquele homem.
O barulho do meu celular ecoou pelo quarto
silencioso. Benjamin continuou a me beijar durante o
primeiro, o segundo e o terceiro toque. Por fim, se afastou
com um suspiro desolado, que me fez rir. Se esticou e
pegou meu celular em cima da mesinha de cabeceira e
soltou uma risadinha.
— É sua mãe. Só por causa disso, vou deixar você
atender — disse, piscando para mim.
— Como você é gentil — falei, pegando o celular.
— Sim, eu sou, linda — disse, me dando um beijo
rápido, enquanto saia de dentro de mim. — Vou aproveitar
e descer para preparar algo para o nosso café da manhã.
Em menção a comida, meu estômago roncou
vergonhosamente. Benjamin já estava fora da cama a essa
altura, mas, ainda assim, sua gargalhada imperou pelo
quarto.
— Isso não foi nada gentil, Alteza.
— Sou uma mulher que foi usada durante boa parte da
noite e da manhã. Ature minha fome e me alimente!
— Usada? Eu te dei seis orgasmos! — gritou do
banheiro.
— Agora eu preciso de, no mínimo, um café da manhã
decente!
Àquela altura, meu telefone já havia parado de tocar.
Sua gargalhada voltou a soar alto e eu suspirei — sério,
eu suspirei por causa da risada de um cara —, feliz e
satisfeita por estar o divertindo. Se fosse para ouvir a sua
gargalhada tranquila, eu deixaria meu estômago roncar por
horas.
Benjamin saiu do banheiro vestindo apenas uma calça
de moletom e segurando uma toalhinha. Se aproximou de
mim novamente, me beijou e passou a toalha molhada e
morna em minha vagina, arrancando um sorriso de mim.
— Hm... Isso foi realmente gentil — falei entre os seus
lábios.
Ele sorriu e se afastou um pouco.
— Eu posso ser um gentleman quando quero.
Com mais um beijo, ele deixou a toalhinha no banheiro
e saiu do quarto, encostando um pouco a porta. Continuei
a olhar pela fresta, que dava visão para o corredor, com
um sorriso idiota no rosto. A definição de “louca de
amor” deveria ser idiota, com certeza.
Voltei minha atenção para o celular e disquei para
minha mãe. Ela me atendeu no segundo toque:
— Oi, querida! Estava dormindo, não é? Tenho certeza
que te acordei.
Ah, se ela soubesse como eu fui acordada...
— Oi, mãe. Não, não me acordou.
— E por que não atendeu?
— Estava no banheiro — menti, sentando-me na cama.
— Como você está? Estou com saudades!
— Também estou com saudades, meu amor. Ah, seu pai
está aqui. Disse que está morrendo de saudades também.
— Coloque no alto-falante, quero ouvi-lo.
— Ah, ele acabou de sair, tinha um telefonema
importante para fazer.
— Em pleno sábado? Papai nunca para de trabalhar —
falei, revirando os olhos. Ainda assim, até mesmo disso
eu sentia saudade.
— E eu não sei? Ele acha que é uma máquina — ela
riu. — Mas, me conte, como está a faculdade?
— Está ótima! Estou adorando, mãe. De verdade, é
tudo o que eu sempre sonhei.
— Fico tão feliz em ouvir isso, querida. Até acalenta
um pouco esse meu coração louco de mãe — disse ela,
suspirando. — Já fez amizades? Conheceu algum rapaz?
Olhei novamente pela fresta da porta e como não vi
Benjamin, me senti mais confortável para falar.
— Sim, já fiz amizades. E estou conhecendo alguém...
— murmurei, ficando com o rosto quente.
Odiava ficar envergonhada, mas amava conversar com
a minha mãe sobre garotos. Ela sempre, sempre me
entendia e nunca me julgava.
— Que ótimo! E como ele é?
— Você o conhece — falei, dando uma risadinha.
— Conheço? De onde?
— É o Benjamin, mãe.
— Benjamin? — ela ficou em silêncio por alguns
segundos, em seguida, soltou um gritinho que me fez rir.
— Ah, Benjamin Prescott? Seu segurança?
— Sim!
— Ah, meu Deus! — ela riu baixinho e eu ri também,
olhando novamente pela fresta da porta. — Como isso
aconteceu?
— Na verdade, é uma longa história...
Resumi como eu havia conhecido Benjamin e toda a
tensão que rolou entre nós na boate e depois aqui, em
Paris. Minha mãe riu, porque ela realmente adora me
ouvir contando sobre garotos e sobre como eu sou um
tanto atrevida. Ela diz que eu sou totalmente o meu pai e
não tenho quase nada dela.
— Então, agora, finalmente consegui dobra-lo e
estamos juntos — falei, ouvindo-a suspirar. — Quer dizer,
não realmente juntos, mas nos conhecendo melhor.
— Mas pelo tom da sua voz, sei que está gostando dele
de verdade. Pelo menos, nunca ouvi esse tom em você
quando falava sobre John.
— Ah, mãe... Sim, eu estou gostando muito dele. De
verdade — falei, mexendo no lençol da cama. — Como
nunca gostei de ninguém antes.
— Ah, querida, é muito bom ouvir isso. Você merece
mesmo um bom relacionamento. John era ótimo, mas
estava muito claro que ele não te fazia feliz. Espero que
Benjamin te faça muito feliz. Quero conhece-lo melhor!
— Mãe, por favor, calma — falei, rindo. — Por favor,
não comente nada com ninguém ainda. É muito recente,
não quero apressar nada.
— Fique tranquila, não vou falar com ninguém.
— Nem com o papai, por favor!
— Muito menos com o seu pai! Ele com certeza
mandaria preparar o jatinho na hora e iria aí para
interrogar o pobre homem — ela disse, rindo. Por fim,
suspirou. — Mas, por favor, tome cuidado, querida. Você
sabe, não é? Use camisinha sempre! E não deixe que ele te
machuque ou eu mesma irei aí para acabar com ele.
— Pode deixar, tomarei cuidado, não se preocupe —
falei, rindo. — Preciso ir, mãe, te amo muito. Mande um
beijo para todos e diga que estou morrendo de saudades.
Farei uma visita em breve.
— Pode deixar, falarei com todos. E venha mesmo.
Também te amo muito, filha.
Desligamos e eu me levantei. Fui ao banheiro, fiz toda
a higiene matinal e enquanto escovava os dentes, me senti
mais leve. Toda a conversa com minha mãe causava esse
efeito em mim. Poderíamos ser muito diferentes, mas ele é
e sempre seria a minha melhor amiga.
Vesti uma camisa qualquer de Benjamin, que estava no
quarto e desci. O cheiro do chocolate quente fez meu
estômago estremecer de fome.
Encontrei Benjamin colocando as coisas no balcão da
cozinha, que era onde fazíamos as refeições quanto
estávamos sozinhos. Ele sorriu quando me viu e eu me
estiquei para beija-lo na boca.
— O cheiro está delicioso!
— Modéstia à parte, eu sei fazer um bom chocolate
quente — disse. — O resto, Thor acabou de entregar aqui
em cima. Veio da padaria mesmo.
Sorri para ele me sentei ao seu lado, pegando pedaço
de queijo. Benjamin colocou uma xícara com chocolate
quente na minha frente e, me pegando de surpresa, me
agarrou pela cintura e enfiou o rosto em meu pescoço. Me
inclinei mais para ele, adorando seu ataque de carinho.
— O que houve? — perguntei, olhando-o.
— Não sei, estou sentindo algo estranho — murmurou,
sem tirar o rosto do meu pescoço.
— Algo estranho? Como assim?
— Como se nosso tempo junto fosse contado... Como
se fosse terminar em breve — então, me olhou. E,
realmente, seus olhos azuis me diziam o quão temeroso
ele estava. — Esquece, não quero pensar nisso. Deve ser
bobagem da minha cabeça.
Ainda assim, seus braços continuaram em volta da
minha cintura. Sem falar nada, me levantei e me sentei em
seu colo. Passei um braço pelo seu ombro e levei minha
mão livre para o seu rosto, acariciando sua barba por
fazer.
— Não se prenda a isso, ok? Nosso tempo não vai
acabar, nunca — sorri e o beijei no rosto. — Estamos
apenas no começo e o nosso tempo é infinito.
— Espero que seja, de verdade — falou, colocando
meu cabelo atrás da orelha. — Porque eu estou
apaixonado por você, Charlotte.
Minha respiração saiu em arquejos com sua
declaração. Não esperava aquilo. Quer dizer, queria muito
ouvir, muito, mas não esperava. Ele viu a surpresa em
meus olhos e sorriu, passando o polegar sobre o meu
lábio inferior.
— Lembra quando você disse que queria que eu fosse
completamente seu? — perguntou e eu assenti, igual uma
idiota. — Então, eu sou. Sou completamente seu,
Charlotte.
Ah, Deus.
Eu precisava falar alguma coisa, não é?
— Puta merda.
Não! Não era isso que eu queria falar, mas foi a única
coisa que meus lábios produziram. E, ao contrário de
todas as possibilidades, Benjamin riu. Ele gargalhou bem
alto, o som imperando na cozinha, seu peito tremendo
embaixo de mim. Era para eu me senti tímida, mas, sem
querer, sua gargalhada me contagiou e logo me peguei
rindo também.
Nada em nosso relacionamento era normal, não é
mesmo?
— Eu esperava ouvir um “estou apaixonada por você
também”, mas, como sempre, você nunca segue um
roteiro, não é? — perguntou, seu sorriso enorme nos
lábios.
— Mas eu estou apaixonada por você também, eu só
fui pega de surpresa, estava em choque com a sua
declaração — falei, sorrindo para ele.
— Agora eu não sei se acredito. E se você estiver me
falando isso só porque eu falei pra você?
Ele disse em tom de brincadeira, mas vi um pequeno
brilho de insegurança em seus olhos. Para acabar com
aquilo, peguei seu rosto em minhas mãos e o beijo,
tentando que ele conseguisse sentir, de uma vez por todas,
que eu me entregava total e completamente sem reservas a
ele.
— Eu sou completamente sua também. Jamais mentiria
sobre isso ou falaria só porque você me falou —
murmurei entre os seus lábios. — Estou totalmente
apaixonada por você, Ben. Com todo o meu coração.
Na verdade, eu o amava. De verdade. Completamente.
Entretanto, sabia que era muito cedo para falar sobre
amor. Meu amor poderia esperar um pouquinho mais e
poderia se contentar com a paixão de Benjamin por mim.
Meu estômago, entretanto, não poderia mais suportar a
fome e reclamou em alto e bom som. Benjamin riu de
novo, se esticou e pegou um croissant da cesta atrás de
nós.
— Vem, me deixe alimentar esse monstrinho na sua
barriga — disse, rindo.
Ele colocou um pedaço do delicioso croissant na
minha boca e, de repente, percebi que eu nunca havia sido
tão feliz.
Benjamin está apaixonado por mim.
E eu, finalmente, sou a felicidade em pessoa.
Capítulo 14 - Charlotte
Estava tudo perfeito no mundo!
Sério, estava realmente tudo maravilhoso. Os últimos
dias foram uns dos mais felizes da minha vida. Benjamin e
eu estávamos juntos, de verdade. E eu o convenci a
mostrarmos isso para todos. Todos, no caso, os
seguranças, Grace e Mary. E, como eu havia pensado,
todos nos respeitaram e não houve nenhum clima estranho
ou constrangimento.
E Benjamin finalmente relaxou. Óbvio que, quando
íamos na rua, para faculdade ou algo assim, ele assumia
seu status “sou segurança”, mas, em todos os outros
momentos, éramos apenas um casal normal e apaixonado.
E eu amava isso. Amava essa normalidade, essa
paixão que nos consumia a cada segundo. Era incrível
como não conseguíamos manter as mãos longe um do
outro por muito tempo. Greg nos apelidou de “casal
coelho”, o que arrancou boas risadas de nós dois.
Aliás, Greg e Benjamin ficaram amigos! Isso, claro,
depois de eu ter contado a Benjamin que Greg é gay e que
nunca, jamais, fora uma ameaça para ele. No começo,
achei que Benjamin teria raiva de mim, até porque, Greg e
eu fizemos um plano sórdido para deixa-lo com ciúmes.
Mas, ao contrário do que pensei, ele riu. Benjamin
achou graça e disse que agradecia pelo plano, pois o risco
de me perder deu a ele o gás que precisava para admitir
que me queria e que me desejava.
Nem preciso falar que quase me derreti em uma poça
de amor quando falou isso, não é? Pois é, me derreti feito
uma idiota.
Fazer o quê? O amor faz essas coisas.
Como agora, eu estava de novo como uma idiota
apenas por estar sentada agarrada a ele no sofá da sala.
Estávamos vendo um filme qualquer na televisão e eu
estava mais do que feliz porque, finalmente, havia o
convencido a sair de noite.
Queria dançar com ele, em uma boate, nós dois
agarrados e suados. E depois voltar para casa e mandar
ver na cama.
O filme estava em uma cena qualquer de ação, quando
o celular de Benjamin tocou. Seu celular pessoal e não o
dos seguranças. Ele praticamente deu um pulo do sofá e
seu corpo ficou tenso quando viu quem estava ligando.
— E então, conseguiu alguma informação para mim?
Seu corpo ficou ainda mais tenso e suas sobrancelhas
se franziram. Mordi o lábio, ficando tensa também, pois
tinha certeza que era algo a ver com a sua avó. Meu
coração batia forte no peito.
Do nada, Benjamin fechou os olhos com força, jogou a
cabeça para trás e suspirou. O que quer que tenha
escutado do outro lado da linha, o deixou ainda mais
preocupado e frustrado. Por fim, murmurou alguma coisa
que não consegui entender e desligou o telefone.
Quando voltou a abrir os olhos, me pegou o encarando.
Não desviei o olhar ou fiquei envergonhada, apenas falei
o que estava entalado na minha garganta:
— Você não acha que precisa confiar em mim e
desabafar um pouco?
Ele continuou a me olhar em silêncio. Cansada de tudo
aquilo, de toda a sua reclusão, me levantei do sofá e parei
na sua frente. O céu tingido de laranja, vermelho e purpura
por conta do anoitecer, iluminava seu rosto.
— Fale comigo, Benjamin. Eu não estou aqui de
enfeite! Por favor!
Eu não conseguia entender porque ele não confiava em
mim para falar sobre sua avó doente. O que o impedia?
Será que eu não era boa o suficiente para saber? Será que
eu só servia como um escape para fazê-lo esquecer de
todos os seus problemas?
— Eu não quero falar sobre isso agora.
— Você nunca quer falar! Esse é o seu problema, você
quer enfrentar tudo sozinho, mas, se somos um casal, um
deve apoiar o outro, o seu problema se torna meu
problema também. Eu quero ajudar você, quero que
compartilhe sua dor e sua preocupação comigo.
— Não agora — falou, se afastando. — Você não
queria sair? Acho melhor começar a se arrumar. Eu vou
fazer o mesmo.
Sem me dar chances de resposta, ele virou as costas e
subiu as escadas.
Eu estava cansada! Cristo, eu estava tão cansada! Ele
sempre fazia aquilo, sempre me dava as costas e subia as
escadas como se o seu quarto fosse o seu refúgio. Isso me
distanciava, me colocava em uma posição totalmente
contrária à de uma namorada.
Namorada! A quem eu estava querendo enganar? Nem
mesmo isso eu era. Não havíamos nomeado o nosso
relacionamento, então, nem nessa categoria eu estava
qualificada. Minha vontade era de subir aqueles degraus
de dois em dois, mas desisti e apenas encarei o anoitecer
pelas enormes janelas de vidro.
Será que o que tínhamos era tão real para ele quanto
era para mim? Será que ele sentia ao menos metade do
que eu sentia? Eu odiava toda aquela dúvida, odiava não
ter certeza das coisas. Minha vida sentimental fora sempre
tão simples! Nunca houve sequer um ruído de dúvida
sobre nada, sempre fora tudo preto no branco e eu amava
que fosse assim.
Até Benjamin aparecer e virar tudo de cabeça para
baixo.
Uma onda de raiva ameaçou tomar o meu corpo, mas
respirei fundo e decidi que precisávamos mesmo de
alguma distração. Talvez aquilo salvasse a nossa noite.
Soltando um grande suspiro, subi as escadas e decidi
me arrumar.

Encontrei Benjamin na sala, vestido em jeans preto,


uma blusa cinza com as mangas enroladas até o cotovelo.
Estava simples e casual, combinando com meu vestido
também cinza.
Resolvi ignorar a ideia de que a cor combinava com o
nosso estado de espírito.
— Vamos? — perguntou ele, levantando os olhos do
celular, onde digitava furiosamente.
Apenas assenti e fomos juntos em direção ao elevador.
Minha alma feminina esperou algum elogio vindo da parte
dele, mas Benjamin parecia estar em outra dimensão,
enquanto olhava para o celular.
Quase me virei e perguntei se era algo sobre sua avó.
Foi por muito pouco, realmente, mas não o fiz. Ainda tinha
dentro de mim aquele pingo de esperança de que ele fosse
me olhar e, finalmente, compartilhar comigo tudo o que
estava acontecendo.
Fomos em direção ao carro e ele abriu a porta para
mim. Em seguida, tomou o lugar do passageiro, na frente,
o que fez meu coração afundar no peito. Por que aquela
distância? Todos ali já sabíamos que estávamos juntos.
Olhei para o retrovisor, esperando que ele me olhasse de
volta, mas ele nunca o fez.
Estupidamente, senti minha garganta começar a
arranhar. Com raiva, respirei fundo. Não, eu não iria
chorar por ele. Benjamin estava sendo um idiota e não
merecia que eu me sentisse tão tocada ao ponto de chorar.
Não, ele realmente não merecia.
Percebi, naquele momento, como eu estava sendo
idiota também. Desde que vi Benjamin pela primeira vez,
ele se tornou o centro do meu mundo. Eu ainda ligava para
a faculdade, mas aprendia as técnicas para aperfeiçoar os
desenhos que fazia dele. Pegava a história da Arte,
qualquer coisa sobre o amor romântico e referia a ele. Era
nele que eu pensava a cada vez que abria os olhos pela
manhã.
Minha vida estava girando em torno de um homem que
sequer confiava em mim para contar sobre os seus
problemas. Para compartilhar suas frustrações e
preocupações. Para descobrir sobre sua vida, eu precisei
contratar um detetive! Que coisa mais absurda, por Deus!
Dessa vez, deixei que a raiva se instalasse em cada
poro do meu corpo. Olhei novamente pelo retrovisor e
Benjamin ainda estava em outra dimensão, focado nas
mensagens que trocava pelo celular.
Pelo visto, eu estava sendo idiota duas vezes. Quem
poderia me garantir que ele estava falando com alguém
sobre a sua avó? Pelo o que eu sabia, médicos não tinham
tempo para papear com parentes de pacientes. No mínimo,
ele deveria estar conversando com outra pessoa, com
outra mulher.
Furiosa de ciúmes, percebi que o carro parava em
frente a área VIP da boate. Desci do carro sem esperar
que Benjamin abrisse a porta e o encontrei no momento
em que ele saiu do carro. Sua expressão era séria, mas ele
me olhou com o cenho um pouco franzido, obviamente se
perguntando o porquê de eu ter saído daquela forma.
Não liguei. Eu iria mostrar a ele que eu era totalmente
superior a isso.
Andamos lado a lado para porta luxuosa da área VIP.
O segurança nos deixou passar e Thor nos acompanhou de
perto. Ainda era cedo, um pouco depois das dez, mas o
lugar já tinha bastante gente. A boate era toda decorada
em tons dourados e azuis, que contrastavam com as luzes
coloridas. As mesas eram longes uma das outras, dando
privacidade e o DJ, que comandava a música tanto para a
área comum, quanto para a área VIP, ficava um pouco
distante, em frente a um telão de led.
O andar debaixo, que era a área comum, estava lotada
de corpos dançantes. Queria estar tão animada quanto
todos eles, mas me sentia muito distante dali. Ainda
assim, não deixei que nada atrapalhasse a minha diversão.
Logo tomei uma mesa e me virei para Benjamin, que ainda
estava digitando no celular.
— Vou pegar uma bebida. Vai querer algo?
— Por enquanto, não — disse, me olhando
rapidamente antes de voltar a teclar.
Tive vontade arrancar os seus olhos e seus dedos, mas,
claro, apenas segui em direção ao bar. Pedi uma margarita
e olhei para a pista de dança. Não pensei duas vezes e
segui para lá, entrei no meio dos corpos dançantes e
comecei a me balançar no ritmo da música, enquanto
tomava a bebida forte e um pouco amarga.
Quis que minhas duas amigas estivessem ali, quis que
qualquer conhecido estivesse ali, mas eu estava sozinha.
Logicamente, deveriam ter um pouco mais de duzentas
pessoas ao meu redor, mas eu estava sozinha, me sentia
sozinha e furiosa. Quando planejei aquela noite, tinha
pensado em algo totalmente diferente. Como, por
exemplo, dançar em meio aos braços do homem que eu
amava e, em seguida, ir para casa e transar como coelhos
no cio.
Logicamente, meus planos tinham ido por água a baixo.
Ainda assim, não deixei que aquilo me abalasse. Pelo
contrário, deixei minha raiva assumir ainda mais o
controle do meu corpo e dos meus sentimentos, bem como
o álcool e aí sim, comecei a sentir a música.
Acompanhei os corpos que batiam em mim, dancei e
suei. Minha bebida acabou e logo fui em direção ao bar,
pedindo mais uma. Voltei para pista e cantei em alto e
bom som uma música atual. Ainda assim, sentia minha
mente ligada ao homem que havia me acompanhado, mas
que, em nenhum momento, esteve ali comigo.
Me virei e consegui enxerga-lo. Benjamin estava
sentado em um sofá longo, de couro, mexendo no celular.
Por Deus, quase fui até ele e taquei aquele celular na
parede! Meu maxilar ficou tenso, bem como o meu corpo
e estaquei no meio da pista, meus olhos em cima dele
como se fossem raios lasers.
— Opa, opa! Moça bonita, por que está tão nervosa?
— uma voz disse atrás de mim.
Me virei, pronta para chutar quem quer que fosse, mas
dei de cara com um homem lindo. Lindo mesmo. Quer
dizer, não tanto como Benjamin — por que minha mente
fodida achava que ele era o homem mais lindo da face da
Terra —, mas ainda assim, lindo. Tinha os olhos verdes,
cabelos loiros e era muito alto e forte. Seu sorriso
estampava todo o rosto, o que me impeliu a sorrir
também, uma ideia passando pela minha mente.
Fora provocando ciúmes em Benjamin que consegui
atrai-lo para mim. Talvez, se eu fizesse aquilo de novo...
— Nervosa, eu? — sorri, tomando um gole da minha
bebida. — Foi apenas uma impressão sua.
— Qual o seu nome?
— Charlotte — falei, ocultando a parte do “princesa”.
Não precisa daquilo, não agora. — E o seu?
— Calton — disse, sorrindo ainda mais. — Vi que sua
bebida está acabando... Poderia pagar outra para você?
— Claro.
Fomos juntos para o bar e eu pedi mais um margarita,
enquanto Calton pediu uma Budweiser. Com as bebidas
em mãos, bridamos e voltamos para a pista.
— O que uma mulher tão bonita está fazendo sozinha?
— Não estou sozinha. Tem um cara comigo, mas o
celular parece que está mais importante — falei,
apontando para Benjamin.
Que, vejam só, finalmente pareceu notar que eu estava
ali. Seus olhos estavam em cima de mim, seu cenho estava
franzido.
— Sinto muito, Charlotte, mas devo dizer que ele é um
babaca.
— Ah, sim, eu concordo.
— Não, ele realmente é um idiota. Como pode deixa-
la sozinha dessa forma? Será que ele não sabe que há
homens com olhos por aqui? Enquanto você estava
dançando, percebi quantos olhares você levou. Por isso
me adiantei. Se eu não viesse falar com você, certamente
outros viriam.
Sorri para ele, sentindo-me, finalmente, um pouco mais
bonita naquela noite.
— Sei que está exagerando, mas obrigada.
— Não estou, juro. Estou sendo totalmente sincero —
disse, aproximando-se um pouco mais. — Agora, que tal
mostrarmos para esse babaca o que ele está perdendo?
Tenho certeza que dançar com você será a parte mais
deliciosa da minha noite.
Apenas assenti e me deixei levar quando ele colocou a
mão nas minhas costas e nos embrenhou mais na pista.
Começamos a dançar juntos, seu corpo bem próximo ao
meu, sua mão livre em minha cintura. O sorriso no rosto
de Calton era largo e, por um momento, eu soube que se
eu não estivesse e não sentisse nada por Benjamin,
certamente me encantaria por ele.
Bom, isso foi o que pensei até ele invadir o meu
espaço pessoal.
Dei um passo para trás e ele me seguiu, dando outro
para frente e me puxando mais de encontro a ele. Seu
sorriso diminuiu um pouco, se tornou um tanto sensual,
mas eu comecei a me sentir nervosa. Com minha mão
livre, empurrei um pouco seu peito, não obtendo muito
sucesso.
— Calton, você está me apertando.
— Ah, Charlotte, está tudo bem. Você não quer dar um
pouco de ciúmes ao babaquinha? Estou aqui para isso.
— Ok, mas não precisa chegar tão perto...
— Temos que mostrar veracidade, linda...
Seu rosto chegou próximo do meu. Ele iria me beijar,
eu tinha certeza, por isso, deixei que minha taça caísse no
chão e tentei empurrar o seu corpo forte com força. Ele
saiu voando e, por um momento, achei que eu tivesse
criado superpoderes e adquirido muita força, mas então,
eu vi Benjamin voar para cima de um Calton jogado no
chão.
— Benjamin!
Gritei por cima da música, mas o punho de Benjamin
já tinha encontrado o queixo de Calton àquela altura.
Todos se afastaram e Calton tentou se defender, mas
Benjamin parecia estar cego de raiva, furioso, desferindo
socos como se fosse uma máquina.
— Benjamin, pare!
De longe, vi Thor correndo com os seguranças da
boate. Me afastei e Benjamin foi tirado de cima de um
Calton com um nariz quebrado, olho roxo e boca
sangrando. Fiquei em choque, sem saber o que fazer, o que
dizer.
— Filho da puta! Você vai me pagar por isso!
— Ouse aparecer na minha frente e eu termino que
comecei, seu babaca! Só pense em encostar nela uma vez,
só mais uma vez!
— Chega, Benjamin! — falei, parando na frente dele.
Seus olhos ainda estavam em cima de Calton, que era
levado para fora da boate. — Vamos embora!
Benjamin se soltou das mãos de Thor e saiu andando
na frente. À essa altura, todos já haviam voltado a dançar
e eu me senti um pouco menos constrangida. Thor me
acompanhou e saímos da boate junto com os outros
seguranças.
Benjamin já estava no carro, sentado no banco do
carona. Dessa vez, estava sem o celular e sua expressão
era tão séria e tão raivosa que, por um momento, senti
medo. Nunca o tinha visto assim, tão furioso, como se não
pudesse se controlar.
Entrei silenciosamente no carro e foi assim que
seguimos a viagem, em um silêncio que nem mesmo o
motor do carro tinha coragem de interromper. Olhei para
Benjamin pelo retrovisor, mas seu rosto estava virando
para janela. Ainda assim, eu tinha a sensação que ele
olhava a paisagem sem realmente ver.
Com o coração preso a garganta, soube que, o que quer
que fosse acontecer quando chegássemos no meu
apartamento, não seria nada como eu havia planejado.
E aquela sensação fora como um soco no estômago.
Capítulo 15 - Charlotte

Chegamos no prédio e foi Thor quem abriu a porta


para que eu saísse do carro. Segui atrás de Benjamin para
o elevador e aqueles segundos tortuosos em que ficamos
presos na caixa de aço, me deixou nervosa e enjoada.
As portas se abriram e entramos juntos no apartamento.
Meu coração deu um pulo quando Benjamin se virou para
mim, furioso.
— Que porra estava passando pela sua cabeça? —
gritou, apontando o dedo para o meu rosto.
— Não grita comigo! — gritei de volta, nervosa.
— O que você quer que eu faça? Porra, Charlotte, no
que estava pensando? Que diabos estava na sua cabeça
para se esfregar no primeiro cara que viu pela frente,
como se fosse uma cadela no cio?
— O quê? Fala direito comigo! Está ficando maluco?
— Você se agarra com um cara no meio da boate e sou
eu que estou ficando maluco?
— Eu não estava agarrada nele, eu estava dançando!
Até porque, é isso que acontece quando uma mulher está
sozinha em uma boate, ela acaba dançando com outras
pessoas!
— E eu era um enfeite lá?
— Bem, eu acho que sim, não? Você me ignorou a
noite inteira, Benjamin! Ficou na porra do celular como se
precisasse mais dele do que respirar. Nem olhou para
mim, você nem me viu! Estava lá, mas era a mesma coisa
que não estar!
— Ora, me desculpe se eu não tenho uma vida tão
inútil quanto a sua, Charlotte!
Olhei para ele, subitamente sem palavras. Benjamin se
aproximou, seu dedo apontado para o meu rosto.
— Me desculpe se eu não sou uma princesa que tem
como única preocupação, estudar em uma faculdade cara
e morar em um tríplex em Paris! Você não tem noção do
que é ter realmente algo para se preocupar, Charlotte. Não
sabe o quanto é difícil acordar todos os dias e não saber
se vai conseguir seguir em frente, se vai conseguir aplacar
tudo o que te corrói por dentro. Sua vida é e sempre foi
muito fácil. Você é fútil demais, não entenderia.
— Você fala como se eu tivesse culpa por ter nascido
onde nasci. Benjamin, eu sei que a vida da maioria da
população mundial não é como a minha, mas você não
pode me culpar por ser filha de um rei. E muito menos
pode julgar o meu caráter só por causa disso. Eu sou
muito mais do que uma princesinha fútil. Pensei que você
tivesse tomado ciência disso — falei, ainda sem querer
acreditar em suas palavras.
— Eu me iludi, achando que você era realmente mais
do que isso, mas depois de hoje à noite? Bem, eu só tive
certeza de que eu vim me enganando durante todo esse
tempo. Você quis sim dançar com aquele cara, quis me
fazer ciúmes, quis chamar a minha atenção com a menina
mimada e pirracenta que você é. No final das contas, eu
sempre estive certo. Você é sim uma pirralha que mal saiu
das fraldas, Charlotte. Idiota fui eu por ter me envolvido
com uma pessoa tão imatura e infantil.
Algo me corroía por dentro. Sem pensar muito, tive
ciência de que era uma tristeza profunda, porque,
finalmente, Benjamin e eu tínhamos chegado ao fundo do
poço. Olhei para ele, procurando todo o sentimento que
vira em seus olhos nas últimas semanas. Ele nunca disse
que me amava, mas dissera que estava apaixonado por
mim. E agora, eu não via nada.
Nenhum sentimento. Nem a raiva estava ali, presente.
— Não, Benjamin, idiota fui por ter me sujeitado a ser
o seu escape — murmurei, cansada, arrasada.
Ele me olhou, aturdido.
— O quê?
— É, ou você acha mesmo que eu não percebi isso?
Acha que eu não notei que você só me usou para esquecer
todos os seus problemas, que, aliás, você não confiou nem
um por cento em mim para compartilhar?
— Para de falar bobagem...
— Bobagem? Ah, claro, é só isso que sai mesmo da
minha boca, não é? Bobagem, coisas infantis, pirraças.
Minhas atitudes são abomináveis, meu jeito de ser é
horrível e veja só, minha conta bancária, ou melhor, a
conta bancária dos meus pais, já diz exatamente quem eu
sou. Uma pessoa fútil, inútil, não é?
Eu odiei como o som da minha voz saiu quebrada no
final. Odiei que aquilo estivesse me matando por dentro.
Odiei a dor. Mas, ainda assim, me obriguei a ir em frente.
— Mas ainda assim, eu, que sou uma pessoa tão
horrível, que sou uma pessoa tão inútil e mesquinha... Eu
te amo, Benjamin. Eu te amo e eu sinto muito por tudo.
— Por tudo o quê? — perguntou ele, a voz baixa, os
olhos nos meus.
— Por tudo o que você está passando. Pela sua avó
estar doente e em um hospital, por toda a preocupação e o
medo que você sente. Eu esperei pacientemente pelo dia
em que você iria dividir isso comigo, mas você nunca o
fez. Porque você não consegue olhar para mim e me
enxergar de verdade — falei, as lágrimas descendo pelo
meu rosto. — Desde o começo, você colocou em sua
cabeça que eu não era nada além de uma idiota mimada.
Ainda assim, eu consegui te atingir um pouquinho, ao
ponto de você transar comigo, talvez, mas foi só isso.
— Charlotte, claro que não...
— Claro que sim! Não ouse mentir para mim — falei,
agora apontando o dedo para ele.
A forma como ele engoliu em seco, demonstrou que eu
estava certa. Que eu sempre estive certa.
— Eu já sei sobre a sua avó há algum tempo. Você
quase não falava nada sobre a sua vida, eu estava curiosa
e queria saber mais. Havia também toda a essa
preocupação, esse peso que você parecia carregar. Por
isso, contratei um detetive. Não foi difícil para ele
descobrir tudo sobre você. Meu primeiro impulso foi te
pegar no colo e cuidar de você, dizer que eu sentia muito,
mas procurei esperar até o momento em que você
confiasse em mim e se sentisse confortável para
compartilhar. Enquanto isso, eu cuidei de você como
pude. Eu me entreguei para você como nunca fiz para
ninguém, Benjamin. Como nunca mais me entregarei, eu
acho, porque, o amor... Não é para alguém como eu.
— Alguém como você?
— É. Eu sempre fui muito diferente da minha mãe, da
minha irmã, da minha cunhada... Elas amam e são amadas
de volta, porque elas são diferentes de mim. Eu sou muito
mais expansiva, expressiva, eu falo o que penso, quase
nunca tenho medo e isso incomoda. Isso faz com que as
pessoas me enxerguem como você enxerga agora e talvez
seja por isso que ninguém nunca irá sentir esse amor por
mim. E tudo bem, talvez seja melhor assim.
A quem eu queria enganar? Sinceramente, eu não sei,
porque eu não estava nada bem.
— Lottie...
Ele tentou se aproximar, mas eu dei um passo para trás.
Era a primeira vez que eu colocava uma distância entre
nós.
— Faz um favor para mim, Benjamin?
— O quê?
— Pegue o primeiro avião, volte para Orleandy. Fique
com a sua avó, eu tenho certeza que ela precisa muito de
você.
Eu não esperei que ele me respondesse e, novamente,
pela primeira vez, fui eu quem dei as costas para e ele fui
em direção as escadas. Comecei a subir os degraus
rapidamente, mas sua voz me deteve no meio do caminho:
— Charlotte?
— Sim? — perguntei, me virando.
— Ao contrário do que você pensa, você nunca foi um
escape para mim. Está muito longe disso. O que sinto por
você é tão forte, que chega a me sufocar. Eu ainda não sei
nomear, mas é mais forte do que eu mesmo — falou, sua
voz quebrando um pouco no final.
Quase esperei que ele falasse que era amor. Mas,
claro, aquelas três palavrinhas jamais saíram da sua boca.
Sem saber o que dizer, assenti e voltei a subir. Quando
cheguei no meu quarto, a única coisa que consegui fazer
foi me arrastar para a cama e chorar.
Chorar como eu nunca tinha feito em toda a minha
vida.
Capítulo 16 – Charlotte

Acordar no dia seguinte e dar de cara com o


apartamento vazio, me mostrou que nossa briga havia sido
real e não um terrível pesadelo, como eu tanto queria
acreditar.
Ainda assim, eu voltei a subir as escadas e fui no
quarto de Benjamin, apenas para ter certeza de que eu não
estava pirando. Entretanto, a única coisa que encontrei
foram as portas do closet abertas e seu interior vazio, sem
nenhuma peça de roupa do homem que eu amava.
Melancólica, passei a mão pelos cabides, pela
mesinha de cabeceira e foi então que eu vi o pedaço de
papel em cima da cama.
Com o coração doendo, peguei o recado em minhas
mãos. A letra corrida de Benjamin fez algo se retorcer
dentro de mim.

“Charlotte,
O tempo que passamos juntos foi muito, muito
importante para mim. Nunca me esquecerei de todos os
nossos momentos, de todas as vezes que você me fez
sorrir, que você fez com que eu me sentisse tão
importante.
Peço perdão por toda a mágoa que causei a você,
Lottie.
Você sempre estará em meu coração.
Beijos,
Ben”.

Simples assim.
Tão impessoal, como se não tivéssemos compartilhado
algo, como se não houvesse sentimento algum da parte
dele. E talvez, realmente não houvesse.
Deixei o bilhete onde o encontrei. Suas palavras não
serviram para acalentar meu coração, muito menos para
diminuir a mágoa por todas as coisas que havia me dito.
Sua voz ainda retumbava em meu cérebro, que fazia
questão de repassar aquela conversa fatídica a cada
maldito segundo.
Saí do quarto e senti que um pedaço do meu coração
ficou por ali. Talvez na cama, onde tantas vezes fizemos
amor, talvez no banheiro, onde passamos infinitas horas
juntos, na banheira. Não sabia dizer.
Ou talvez, ele tivesse levado meu coração com ele. E
só agora eu me dera conta disso.
***

— Como assim ele foi embora? — Greg perguntou,


olhando para Thor, que estava parado na porta da nossa
sala de aula.
— Nós tivemos uma briga horrível ontem, onde tudo
fora esclarecido. E ele foi embora hoje — murmurei,
arrumando meu material em cima da mesa. — Foi melhor
assim.
— Melhor assim? Para quem? Para você é que não foi,
você está péssima, bebé.
— Está tão na cara assim?
— Estampado na sua testa e nos seus olhos — disse,
pegando em minhas mãos. — Me conte exatamente o que
aconteceu.
Repeti para ele cada detalhe e foi como se pequenas
lanças estivessem atravessando o meu corpo. A dor era
quase física.
Então fora assim que Olivia se sentiu quando ela e
Christopher brigaram e se separaram? Cristo, na época, eu
pude imaginar a dor. E ainda assim, não chegava perto do
que eu estava sentindo agora.
— Eu não acredito que ele disse tudo isso para você,
bebé. Que imbecil!
— Sim. Mas foi bom, pelo menos ele deixou bem claro
o que ele realmente pensa sobre mim. E o que ele sentia
de verdade por mim.
— Mas você não merecia ouvir tudo aquilo. Ele foi um
idiota por não enxergar nem a metade da mulher que você
é!
Apenas assenti, porque as palavras me faltavam. É
algo que quase nunca acontece comigo, mas, dessa vez, eu
me sentia distante de tudo e muito conectada a minha dor.
Palavras não eram essenciais. A arte era, por isso, quando
o professor entrou na sala, me obriguei a prestar atenção
em cada uma de suas explicações.
Pelo menos o meu amor pela arte eu faria sobreviver.

***

No dia seguinte, segui com a minha mais nova rotina:


acordar com o apartamento vazio, tomar — sozinha — o
café de Grace havia tão gentilmente preparado, ir para
faculdade e ter Thor na porta da sala de aula e afogar
minha mágoa entre um sussurro e outro nos ombros de
Greg.
Que decadência, eu sei. Mas a foça era muito mais
forte que eu.
Deixei minha bolsa no sofá, tirei as sapatilhas e apenas
com o celular em mãos — por que, sim, meu coração tinha
aquela pequena centelha de esperança de que Benjamin
poderia me ligar —, fui direto para a minha sala de
pintura.
Havia uma imagem que não saia da minha mente, por
isso, peguei minha paleta de cores, meu carbono e me
sentei em frente ao quadro em branco.
Não sabia dizer quanto tempo havia se passado —
horas, talvez —, mas deixei minha mente e o meu coração
me levar. O desenho começou a tomar forma, os traços
finos na tela, apenas para me dar uma dimensão antes de
começar a pincelar. Ao fundo, o silêncio me fazia
companhia.
Estava terminando o desenho com o carbono, quando
meu celular tocou ao meu lado. Meu coração deu um pulo
forte e quase derrubei a paleta para pega-lo. Entretanto,
não era o nome de Benjamin que estava brilhando na tela.
— Oi, mãe — murmurei, deixando o carbono em cima
da mesa. — Tudo bem?
— Liguei para perguntar exatamente isso, Lottie. Está
tudo bem, meu amor?
De alguma forma, minha mãe sabia o que havia
acontecido. Eu tive certeza em apenas ouvir o tom da sua
voz.
— Benjamin já falou com vocês? Sobre a demissão?
— Sim, ele acabou de sair daqui. O que aconteceu,
Lottie? Eu pensei que vocês estivessem juntos. Pelo
menos foi isso que você me disse na nossa última ligação.
— Sim, nós estávamos, mas não deu certo, mãe.
Decidimos terminar.
— Ah, querida... — ela lamentou e ouvir aquilo da
minha mãe fez com que tudo se tornasse mais real. — Eu
sinto muito. Ele parecia muito triste. O seu pai não sabe
do envolvimento de vocês, mas até mesmo ele percebeu o
quanto ele estava para baixo. Acho que esse término
magoou muito a vocês dois.
Não sabia dizer se Benjamin estava triste por conta do
nosso término ou por causa da situação de sua avó.
Provavelmente, era a segunda opção, mas meu coração se
agarrou demais a primeira.
— Eu o amo, mãe — confessei, afundando na grande
poltrona. A minha frente, o entardecer tomava conta de
Paris. — O amo como nunca amei homem algum e isso é
uma merda, porque não vamos ficar juntos.
— Eu sei que você o ama, sei pelo tom da sua voz. Ah,
querida, queria tanto te dar um abraço agora. Volte para
casa, tranque a faculdade, depois você retorna. Fique
conosco. Me deixe te dar um colo, Lottie.
— É uma proposta tentadora, mas preciso ficar um
pouco sozinha, mãe — falei, sentindo minha garganta
arranhar um pouco. — A faculdade está me distraindo,
também tem o Greg, aquele amigo que te falei, ele é
ótimo, me anima muito. Se eu voltar para Orleandy agora,
talvez, será ainda mais difícil de esquecer Benjamin. E eu
preciso ficar longe dele.
Para o bem do meu coração.
— Tudo bem, mas saiba que estamos nos planejando
para te visitar, ok? Estamos morrendo de saudade. Me
ligue se precisar de qualquer coisa, filha. Eu te amo
muito, você sabe disso. Você é uma mulher maravilhosa,
me dá tanto orgulho... Se Benjamin realmente te ama, ele
vai perceber isso, vai perceber a burrada que fez ao ir
embora, ao se afastar de você.
— Não, mãe, ele não vai — murmurei, dessa vez,
deixando minhas lágrimas se derramarem. — Ele não me
ama. Não vai voltar.
— Ah, meu amor... Não fique assim, pode ter certeza
que o futuro ainda vai te reservar um grande amor. Você
ainda é tão jovem, tem a vida toda pela frente.
— Sim, eu sei.
Mentira. Na verdade, a única coisa que eu realmente
sabia, é que eu jamais amaria alguém como amava
Benjamin. E que meu coração jamais iria pertencer a outra
pessoa.
Fiquei conversando com minha mãe por mais alguns
minutos e quando terminamos, me senti exausta. Como se
uma onda de cansaço exaurisse todas as minhas energias.
Coloquei um pano por cima da tela e me dirigi ao meu
quarto.
Talvez, se eu me entregasse ao sono, a dor dormiria
também.
Capítulo 17 – Benjamin
Olhei para trás e observei o palácio ficar cada vez
mais distante, conforme o táxi se afastava. Senti meu
coração se apertar no peito. O fato de oficializar a minha
demissão deixava tudo ainda mais real. Esfregava na
minha cara que Charlotte e eu havíamos realmente
terminado.
Que eu nunca mais iria beija-la, tocar em seu corpo,
sentir sua respiração na minha pele. Nunca mais ouviria a
sua voz, seus sussurros desejosos enquanto fazíamos
amor.
Desviei os olhos sabendo que, em maior parte, a culpa
era minha. E talvez, Charlotte realmente tivesse razão; eu
enxerguei nela apenas o que eu quis ver e não o que ela
tinha para me mostrar.
Daquela vez, não quis colocar a culpa no meu estresse,
na minha preocupação. A culpa era minha. Eu explodi e
falei para ela tudo o que eu pensava, tudo o que eu achava
que era certo. E talvez eu estivesse realmente certo, não?
Charlotte era ainda tão jovem, sempre teve tudo o que
quis, na hora que quis. Como ela mesmo havia dito, não
era sua culpa ter nascido onde nasceu, mas, ainda assim,
ela não conhecia a dura realidade de não se ter quase
nada, apenas o essencial.
E só Deus sabia o quanto eu queria tudo agora, para
salvar minha avó.
— Você pode ir mais rápido, por favor? Tenho um
pouco de pressa.
O motorista do táxi assentiu e acelerou.
Havia dois dias que eu estava sem notícias sobre a
minha avó. Seu médico, que havia me passado seu número
para que pudéssemos conversar, não respondia minhas
mensagens e não retornava minhas ligações. O hospital
não queria me passar informações por telefone, pois não
era permitido.
Estava quase enlouquecendo, sem saber o que tinha
acontecido.
Paguei a corrida e saí quase correndo do táxi, em
direção ao grande e luxuoso hospital. Cada diária ali era
uma fortuna, ia quase todo o meu salário, mas eu não
podia me dar ao luxo de tirar minha avó dali e coloca-la
em um hospital inferior; ela precisava ser tratada pelos
melhores, sua saúde necessitava disso.
No balcão de informações, mostrei minha identidade a
secretária e ela pediu para que eu fosse ao nono andar,
onde ficava o consultório do doutor Richard Briar. Fiz o
que me pediu e contei cada segundo dentro do elevador,
com o coração na mão. No nono andar, falei novamente
com uma outra secretária. Dessa vez, ela me pediu que eu
aguardasse alguns segundos, pois o doutor estava com
uma paciente no consultório.
Me sentei e observei o ponteiro do relógio a minha
frente. Ele se movia devagar demais para o meu gosto e,
com isso, tirava minha atenção. Minha mente foi para
longe, para aquele apartamento em Paris e senti uma
vontade enorme de ligar para Charlotte, de perguntar
como ela estava. Ouvir sua voz me acalmava e me dava
forças e, só agora, que ela estava tão longe, eu me dei ao
luxo de perceber isso.
— Senhor Prescott? — a secretária chamou, parada na
porta do consultório. — O doutor Richard irá recebe-lo.
Me levantei e me obriguei a andar civilizadamente ao
invés de correr. A secretária abriu a porta e eu entrei,
encontrando com o doutor Richard, que se levantou e
apertou minha mão.
— Benjamin, até que enfim consegui algum contato
com você.
— Digo o mesmo, doutor Richard. Há dois dias venho
tentando falar com o senhor e não consigo. Mandei
mensagens, liguei... O senhor não viu?
Ele apontou para a cadeira na frente da sua mesa e eu
me sentei, enquanto ele se acomodava em seu costumeiro
lugar.
— Meu celular quebrou e só consegui um novo hoje.
Mas minha secretária vem tentando entrar em contato com
você, ligou várias vezes, mas seu celular só dava fora da
área de cobertura.
— Eu estava viajando, deve ter sido por isso — me
adiantei, cansado de toda a enrolação. — Por favor, me
diga como minha avó está. Estou aflito.
Ao contrário do que pensei, Richard abriu um grande
sorriso.
— Sua avó está bem. A cirurgia foi um sucesso!
— Como?
Seu sorriso diminuiu um pouco e seu cenho se franziu.
— A cirurgia, Benjamin.
— Que cirurgia?
— A cirurgia para a retirada do tumor. Onde está sua
cabeça, rapaz? — ele soltou uma risadinha, mas eu não
senti graça.
— Está querendo dizer que a cirurgia foi realizada?
— Sim, claro.
— Mas, como? E o dinheiro?
— Você pagou pela cirurgia, Benjamin.
— Não, eu não paguei.
Richard franziu ainda mais o cenho, assim como eu. O
que estava acontecendo?
— Como não? A cirurgia foi paga, Benjamin. Vinte mil
euros.
— Vinte mil euros? — perguntei, espantado. Era muito
mais do que eu precisava, mas cobria praticamente todo o
tratamento da minha avó e não apenas a cirurgia. — Mas
não foi paga por mim — falei. — Quem mandou o
dinheiro?
— Seu tio Johnson veio aqui, há pouco mais de uma
semana — ele disse. — Ele trouxe o dinheiro e assinou
toda a papelada necessária. Eu pensei que você soubesse.
Olhei para ele, ainda em choque. Meu tio havia pagado
a conta do hospital. Mas, como? Ele não tinha todo esse
dinheiro, havia me dito quando fui conversar com ele.
Será que havia pedido um empréstimo para o rei? Mas,
por que não havia me dito?
— Bem, foi uma sorte ele ter pagado no início da
semana. Eu pensei em agendar a cirurgia da sua avó para
a semana que vem, mas ela piorou muito de uns três para
cá. Agilizamos tudo e fizemos a cirurgia. Agora ela está
na UTI, em observação. Deve ir para o quarto daqui a
alguns dias. Como você sabe, a saúde de sua avó é muito
delicada, mas ela é forte, uma guerreira e a cirurgia foi um
sucesso. Ela vai melhorar, tenho certeza.
— Eu posso vê-la? — murmurei, ainda sem acreditar
direito em tudo aquilo.
— Claro. Vou agilizar tudo para a sua visita, me dê um
segundo.
Ele falou no telefone com alguma pessoa, mas não
prestei atenção, minha mente ainda estava muito longe.
Então, havia terminado? Toda a minha preocupação, todo
o estresse, todo o desespero para arranjar o dinheiro,
havia acabado? Eu ainda não conseguia acreditar.
— Benjamin, me acompanhe até o décimo quinto
andar.
Fui junto com Richard, enquanto ele murmurava todos
detalhes da cirurgia e da retirada do tumor e o que
aconteceria a partir de agora. Minha avó passaria pela
quimioterapia, pois, apesar da retirada do tumor, ela
precisava terminar de matar todas as células em seu
corpo. Isso me deixou em alerta, pois a retirada do tumor
não significava a retirada de todo o câncer e sim apenas o
começo de sua verdadeira batalha.
Coloquei a roupa apropriada e quando entrei na UTI,
senti meu coração vacilar no peito. Minha avó estava
dormindo, serena, seu semblante calmo. Tomei sua mão na
minha, fixei meus olhos nela e minha audição na máquina
ao lado, que fazia um barulho a cada batida do seu
coração. Seu coração tão forte... Eu sabia que ela não
desistiria.
— Estou aqui, vovó — murmurei, apertando um pouco
sua mão. — Fique firme, a cirurgia foi um sucesso e tudo
vai ficar bem. Estarei ao seu lado, sempre. Eu amo você.
Dei um beijo em sua mão enrugada e deixei que um
suspiro pesado saísse de dentro de mim. Precisava falar
com tio Johnson. Precisava me ajoelhar aos seus pés e
agradecê-lo por ter salvado a vida da minha avó. O
médico havia deixado bem claro que, se não fosse pelo
pagamento da cirurgia, minha avó poderia não ter
resistido, pois seu caso havia piorado.
Mas agora, eu tinha certeza que tudo ficaria bem. O
dinheiro era mais do que suficiente para cobrir todas as
despesas médicas e a minha única obrigação era ficar ao
lado dela, era dar apoio e suporte.
Fiquei ali, segurando sua mão, até a enfermeira me
chamar. Antes de sair, dei um beijo na testa enrugada de
minha avó e sussurrei que voltaria em breve. Quando saí
do hospital e respirei fundo, senti que um enorme peso
havia saído dos meus ombros. A preocupação agora
estava focada na recuperação da minha avó e não em
como eu poderia pagar para que ela se recuperasse.
Entrei no primeiro café que encontrei, pedi um
cappuccino e me sentei em uma mesa no fundo. Com o
celular em mãos, tinha como objetivo ligar para tio
Johnson, mas a foto no plano de fundo do celular me fez
parar por um tempo. Era Charlotte. Me lembro de quando
havia tirado aquela foto, ela sorrindo para mim,
espontânea, em uma manhã qualquer em seu quarto.
Estava deitada na cama, os cabelos espalhados pelo
travesseiro, e não olhava para câmera, mas sim para mim.
Seu sorriso era para mim, o brilho dos seus olhos era para
mim. A pegada de dor em meu coração me fez soltar um
arquejo baixo. Nunca gostei tanto de alguém, como
gostava de Charlotte.
Não... A quem eu queria enganar? Gostar era tão
pouco, chegava a ser um insulto perto do tamanho do que
eu sentia. Eu amava aquela mulher. Precisava admitir ao
menos para mim mesmo. Eu amava aquela mulher com
todo o meu coração.
Mas o nosso mundo era tão diferente. Ela fora feita
para brilhar e imperar, eu fui feito para ficar nos
bastidores e fazer a segurança dela. Sua forma de pensar,
de agir, era muito diferente da minha. Nossas diferenças
conseguiam ser bem maiores do que nossa semelhança.
Ainda assim, aquele amor ainda batia forte em meu
peito. E eu sabia que ele jamais iria morrer.
Com um suspiro contido, liguei para o meu tio. O
celular chamou algumas vezes antes que ele atendesse:
— Pensei que iria se esconder de mim para sempre —
saudou ele.
— “Oi” para você também, tio.
— Bom, quando meu sobrinho decide sair do emprego
que eu arrumei para ele, sem ao menos me comunicar, eu
fico com raiva. Lide com isso, garotão.
— Sinto muito por não ter falado com o senhor. Tomei
essa decisão há apenas alguns dias, não pensei muito em
como iria reagir.
— Imagina o susto que eu levei quando o rei Dominick
me chamou em seu escritório para avisar que meu
sobrinho havia pedido demissão. O mínimo que o rei
esperava era que eu falasse com ele antes da sua visita.
Pegou a todos nós de surpresa, Benjamin. Deveria ter
avisado antes, para que pelo menos um substituto fosse
contratado para assumir o seu lugar.
Assumir o meu lugar.
Senti um nó intenso na garganta. Alguém iria me
substituir. Provavelmente um homem. Apenas a ideia
disso era como um soco no estômago. Alguém vivendo
com Charlotte durante 24 horas, sete dias por semana...
— Benjamin, ainda está aí?
— Sim, sim — murmurei, limpando a garganta. —
Substituto, é?
— Sim. Ou achou mesmo que a princesa ficaria sem
um segurança pessoal?
— Não, claro que não. O senhor tem razão.
— Vai me contar o porquê dessa sua decisão?
— Tio...
— Tem a ver com o seu envolvimento com Charlotte?
— Algum segurança te contou?
— Não. A rainha me contou.
— A rainha? Mas... Como ela soube?
— Mães e filhas conversam, Benjamin — ele disse,
simplesmente. — Ela veio me perguntar se você era
realmente um bom homem. Me disse que Charlotte havia
comentado com ela que vocês dois estavam se
conhecendo melhor e quis saber se ela poderia confiar em
você.
Fique atônito, olhando para a frente da cafeteria como
se, a qualquer momento, alguém pudesse entrar me ligar
novamente na tomada.
Charlotte havia falado sobre nós dois para sua mãe?
Mas quando? Por que não havia me contado? Certo, ela
fora a primeira a mostrar o nosso relacionamento para os
outros seguranças, mas uma coisa é assumir o nosso
envolvimento para os funcionários, outra totalmente
diferente era falar sobre nós dois para sua mãe.
Sei que posso estar errado de novo, mas pensei que ela
seria a primeira a querer esconder o nosso relacionamento
da sua família. E, por mim, tudo bem, porque queria
aproveitar o máximo de tempo ao lado dela e sabia que,
se por um acaso sua família soubesse, tudo entre nós
estaria terminado.
Jamais aceitariam nossa relação. Eu era o segurança e
ela, a princesa. Era tão claro como água que jamais
permitiriam que ela ficasse comigo.
Não é?
— Benjamin, estou começando a ficar preocupado! O
que está acontecendo? Por que está tão silencioso?
— Sinto muito, tio. Eu apenas... Não sei. Não esperava
que Charlotte tivesse falado com a rainha. Nunca passou
pela minha cabeça.
— Benjamin, Charlotte é uma mulher surpreendente.
Você não imagina o quanto.
— Sim, eu sei — concordei, porque era verdade. —
Mas nosso relacionamento não daria certo. Somos muito
diferentes, tio.
— Por que ela é a princesa e você é o segurança? Que
idiotice, Ben.
— Nossos mundos não se coincidem. E Charlotte
ainda é muito imatura... Um pouco mimada... Não daria
certo, eu sei.
— Imatura? Não vejo isso nela.
Senti que meu tio iria falar mais alguma coisa, mas
resolvi corta-lo. Falar sobre Charlotte, sobre o nosso
rompimento, só fazia com que tudo fosse ainda mais real.
— Enfim, tio, não foi para isso que liguei — falei,
tomando mais um pouco da bebida quente. — Tio, por que
não me falou que havia pagado pelo tratamento da minha
avó? Como pôde esconder isso de mim? Por que não me
contou logo e me aliviou dessa preocupação? Aliás, de
onde tirou o dinheiro? Vinte mil euros não caem do céu de
uma hora para outra!
— Espere, Ben, são muitas perguntas — falou, um
pouco cauteloso. — Sobre isso, quero conversar
pessoalmente com você.
— Tio, não me enrole mais, por favor! O médico me
contou que você pagou pelo tratamento... Por que não me
disse?
— Porque eu não podia.
— Como assim não podia?
Ele soltou um suspiro do outro lado da linha, como se
não soubesse exatamente o que falar.
— Benjamin, vamos fazer assim: vá na minha casa
hoje à noite. Prometo que terá uma pizza, algumas
cervejas e conversaremos sobre isso com calma.
— Por que está sendo tão misterioso? De onde saiu
esse dinheiro, tio Johnson?
—Hoje à noite, na minha casa. Te espero às oito.
E desligou. Simplesmente desligou, como se
tivéssemos conversado sobre um assunto tão trivial quanto
o clima lá fora. Olhei para o telefone, ainda um pouco em
choque. Até pensei em ligar novamente, mas resolvi
esperar.
Eu arrancaria a verdade dele. Não aceitaria sair de sua
casa com menos do que isso.
Capítulo 18 - Benjamin
A casa de tio Johnson ficava bem próximo ao castelo
porque, segundo ele, ele tinha que estar a postos sempre
que o rei precisasse. Era uma casa muito bonita, com o
jardim bem cuidado, de dois andares. Tio Johnson era um
homem solteiro, mas não sozinho. Tinha alguns casos, mas
nunca se casou, o que era bom para ele e seu emprego.
As oito em ponto eu estava batendo em sua porta. Ele
me atendeu, usando calça jeans e uma blusa de malha.
Estava tão acostumado a vê-lo de terno, que vê-lo assim
era um tanto estranho.
— Entra aí, estou vendo um jogo de basquete. Vou
pegar sua cerveja.
Fui para a sala e me sentei, observando o jogo de
basquete na televisão. A pizza de pepperoni estava em
cima da mesinha de centro. Tio Johnson chegou com uma
Budweiser e se sentou ao meu lado. Dei um gole na
cerveja gelada e o encarei.
— Pronto, estamos juntos, pessoalmente. Me conte o
porquê de ter escondido o pagamento do hospital, tio
Johnson?
Ele abaixou o volume da TV e me encarou.
— Escondi porque não fui eu quem pagou a conta do
hospital, Benjamin.
Olhei para ele por um tempo, certamente com a
expressão de quem via duas cabeças em seu corpo ao
invés de uma. Era assim que eu me sentia. Confuso,
perdido.
— Como não? O doutor Richard me disse que o senhor
levou vinte mil euros e pagou todas as despesas do
hospital, bem como a cirurgia e o tratamento.
— Sim, eu levei o dinheiro, mas ele não era meu.
Tio Johnson deu mais um gole em sua cerveja, como se
tivéssemos comentando sobre o jogo de basquete e não
falando sobre algo tão sério.
— Eu não estou entendendo...
— Benjamin, você sabia que eu não tinha todo esse
dinheiro. Gastei todas as minhas economias para reformar
essa casa, comprar o meu carro... Ganho bem, mas não
sou rico.
— Sim, eu sei. Mas foi o senhor quem levou o dinheiro
e assinou a papelada do hospital. Se puder me explicar
como fez isso, eu iria agradecer — falei, olhando para
ele. De repente, uma luz se acendeu dentro da minha
cabeça. — Já sei! O senhor falou com o rei, é isso? Ele
emprestou o dinheiro?
Ele balançou a cabeça e colocou a lata em cima da
mesa. Quando voltou a me encarar, estava sério, sem a
postura relaxada de antes. Como se, finalmente, se desse
conta sobre o que estávamos conversando.
— Pensa bem, Benjamin. Quem mais, além de você e
eu, teria interesse em ajudar sua avó?
— Ninguém — respondi, de pronto.
— Ninguém? — ele elevou as duas sobrancelhas. —
Tem certeza?
— Claro que sim. Quem mais poderia ter interesse em
ajudar minha avó? Ela só tem a mim e ao senhor.
— Certo, então, me deixe reformular a pergunta...
Quem teria interesse em ajudar a sua avó, por sua causa?
Para que você parasse de sofrer e se preocupar?
Olhei para ele, novamente, como se uma nova cabeça
tivesse saído do seu corpo. Nada do que ele falava fazia
sentido para mim. Ele deve ter percebido, pois soltou um
suspiro e revirou os olhos.
— Como você pode ser tão idiota? Agora eu entendo o
porquê de seu relacionamento com Charlotte não ter dado
certo.
— O quê? O que Charlotte tem a ver com isso?
— O que você acha da Charlotte, Benjamin? O que
você realmente entende de sua personalidade?
— Como? Tio Johnson, isso não é...
— Me responda!
Ele usou aquele tom de quem não aceitava uma outra
resposta. Eu estava confuso, queria entender aonde ele
queria chegar, mas, ainda assim, sabia que ele não me
deixaria pular essa pergunta.
— Ela é uma garota linda, extrovertida, encantadora...
Certamente, minha opinião não conta, porque sou
totalmente apaixonado por ela. Ainda assim, apesar de
tudo o que sinto, sei que Charlotte é mimada, imatura, até
um pouco egocêntrica. Mas ela é muito jovem, não é?
Geralmente, os jovens são assim. Sendo ela uma princesa,
então...
— Então, você acha que ela é imatura, mimada e
irresponsável? Por que é jovem e princesa?
— Sim, eu acho — suspirei, deixando a cerveja de
lado. — Como sei que ela jamais saberia lidar com a
doença da minha avó. Não creio que ela tenha maturidade
para lidar com isso e não contei nada para ela. Ainda
assim, ela descobriu. Ela disse que colocou um detetive
para pesquisar sobre a minha vida, pois eu sempre fui
muito calado e misterioso. Mas, acredita que ao saber
disso, eu não consegui sentir raiva dela? Até achei
interessante o que ela fez — sorri um pouco. — Ela pode
ser surpreendente quando quer.
Tio Johnson ficou em silêncio, olhando para mim, sem
ao menos piscar. Em seguida, sacodiu a cabeça e sorriu
um pouco.
— Sabe, acho que foi bom vocês terem se separado.
— Por quê?
— Porque sua resposta só me mostra que você não
conhece nem um pouco aquela garota — disse. — Então,
você acha que Charlotte não teria maturidade para lidar
com a doença da sua avó?
— Sim, eu acho. Provavelmente, ela sentiria pena e
iria querer me consolar e você sabe que eu odeio isso.
Pena é o sentimento mais ridículo do mundo. Não me senti
confortável para falar sobre isso com ela, muito menos
preocupa-la com meus problemas...
— Benjamin, foi Charlotte quem pagou pelo tratamento
da sua avó — tio Johnson me interrompeu.
E então, percebi que o mundo estava começando a
desmoronar ao meu redor. As palavras de tio Johnson se
embaralharam e, em seguida, voltaram a soar com clareza
dentro da minha cabeça. Ele estava na minha frente, mas,
de repente, não era ele quem eu estava vendo.
Era Charlotte. E seu sorriso. Seus olhos sinceros. E ela
pagando pelo tratamento de câncer da minha avó.
— Como? — murmurei, mais para mim do que para
meu tio.
— Não fui eu, não foi o empréstimo com o rei, não foi
o Papa... Foi Charlotte — ele disse, sério. — Ela me
ligou no início desse mês. Disse que sabia sobre a
situação da sua avó e que queria ajudar. Me perguntou
quanto era o tratamento, as despesas do hospital, a
cirurgia... Tudo. Eu falei o valor, mas ela depositou não só
o que eu informei, como um pouco mais na minha conta e
disse que queria que eu quitasse o hospital. Me fez
prometer que eu não falaria com você. Eu disse que
falaria, porque você estava louco de preocupação para
arranjar o dinheiro, mas ela disse que conversaria com
você, que explicaria tudo... Eu aceitei.
Eu fiquei em silêncio, sem saber o que dizer, o que
pensar, o que sentir.
— Ao contrário do que você pensa, o rei Dominick
não deixa os filhos terem acesso a rios de dinheiro. Ele e
a rainha Kiara são, acima de qualquer coisa, pais. E
apesar de serem ricos, não criaram os filhos tendo tudo de
mão beijada. Hoje, Charlotte recebe uma mesada, porque
não está trabalhando e precisa se manter em Paris, mas
quando morava aqui, ela só recebia pelo o que trabalhava
na escola de balé de sua mãe. Bem como Eva. E
Christopher, que trabalha junto com o pai. Claro que não é
um salário mixuruca, mas, pelo o que eu sei, o dinheiro
que Charlotte deu para o para pagar o tratamento da sua
avó, não veio do pai e sim dela. Do trabalho dela, de
meses atrás e da mesada que recebe hoje.
Ele fez uma pausa, como se estivesse me dando tempo
para ingerir tudo.
— Benjamin, Charlotte não é uma dondoca. Não é
imatura ou irresponsável. Ela pode ser um pouco mimada,
querer tudo do jeito dela, ser um pouco persuasiva, mas
ela é uma mulher incrível. Mulher, Benjamin, não uma
garota, uma criança ou uma pirralha. Ela pagou pelo
tratamento da sua avó, primeiro, porque ela te ama, e
segundo, porque ela queria ajudar. Se você não percebeu
a pessoa incrível que ela é no tempo que passou com ela,
então, sinto muito, mas está bem claro que você não
merece estar com ela. Você quis enxergar a Charlotte que
você já tinha criado em sua mente e não quem ela é de
verdade.
O silêncio que se seguiu logo foi interrompido pelo
celular do meu tio. Em algum lugar da minha mente eu
capitei seu pedido de licença e o vi sair da sala. De resto,
eu ainda estava mergulhado no mar de suas palavras, que
vinham como ondas revoltas dentro da minha cabeça e do
meu coração.
Charlotte havia pago pelo tratamento da minha avó.
Ela deu ao meu tio vinte mil euros. Não foi um dinheiro
dado pelo seu pai, foi o dinheiro do seu trabalho. Ela era
uma princesa, morava em um castelo, mas só tinha o que
recebia a cada mês, depois de ter trabalhado.
Meu coração bateu forte no peito, como se não
aguentasse a dor do choque e do arrependimento. Em
minha mente, eu tentava buscar o porquê de não ter visto a
verdadeira Charlotte no tempo em que estive com ela.
Meu tio e ela disseram praticamente a mesma coisa, que
eu criei uma Charlotte em minha mente, que me impedira
de enxergar a Charlotte de verdade.
A Charlotte que me amava. Que quis ajudar. Que pagou
pelo tratamento de câncer da minha avó e que salvou a sua
vida.
Charlotte salvou a vida da minha avó. E o que dei em
troca para ela? Palavras rudes de um ataque em que, na
minha cabeça, eu achei ser sincero? Como fui capaz de
falar que ela não saberia lidar com problemas de
verdade? Com meus problemas? Com toda aquela
situação? Ela salvou a minha avó. E não precisou esfregar
nada na minha cara para fazer isso.
Ela apenas foi lá e... Fez.
Não me lembro que momento eu saí da casa do meu
tio. Nem em que momento eu peguei um táxi, muito menos
como cheguei ao aeroporto e paguei uma passagem para o
primeiro voo para Paris.
Até porque, a única coisa que passava na minha mente
naquele momento, era que eu precisava chegar naquela
cidade. Precisava pedir perdão a mulher que eu amava.
Capítulo 19 - Charlotte
O almoço deveria estar delicioso e foi isso que disse a
Grace quando ela me perguntou o que eu havia achado da
comida. Mas, na verdade, eu não havia sentido o gosto de
nada.
Era uma droga que a tristeza conseguisse deixar tudo
insosso em minha vida.
Bom, quase tudo. A pintura era a única coisa que
conseguia trazer de voltar alguma outra emoção que não
fosse a mágoa, a tristeza e a foça.
— Alteza, a senhorita precisa de mais alguma coisa?
A pergunta veio de Allie Kennedy, minha nova
segurança pessoal, que havia chegado naquela manhã. Era
uma mulher alta, negra e linda. Tinha um rosto sério, mas
sua voz era suave e eu gostei dela, mesmo não estando
animada para conversar e conhece-la melhor.
— Não, Allie, está tudo bem. Vou para minha sala de
pinturas.
— Sim, Alteza.
Ela assentiu e ainda não tinha conseguido tirar o
“Alteza” das suas frases — mesmo eu já tendo pedido
para deixar a formalidade de lado.
Pedi licença e saí da sala de jantar. A sala de pintura
estava do jeito que eu gostava — as cortinas afastadas, o
sol morno de Paris iluminando cada cantinho. Me
posicionei e tirei o pano que cobria o quadro.
Como sempre, me afundei em meio a pintura. Era como
se eu entrasse em outro mundo e o exterior ficasse longe,
inalcançável. O amor em meu coração transbordava em
direção a tela e ficava registrado ali, em traços de cores
que se transformavam em imagens.
— É incrível como eu senti falta dessa vista, mesmo
estando apenas alguns dias longe.
Por um momento, eu achei que fosse o quadro falando
comigo. Como se ele tivesse criado voz ao Benjamin que
eu estava pintando na tela. Mas, então, eu comecei a sentir
o seu cheiro tão característico. E soube que ele estava ali.
Foi só olhar para frente e o vi parado em seu
costumeiro lugar, encostado no batente da porta, de braços
cruzados, olhando para mim. Normalmente ele sorria
quando fazia isso; hoje, ele apenas tinha os olhos
brilhando de tristeza.
— Benjamin? O que houve? — perguntei, deixando a
paleta de tinta em cima da mesa ao meu lado e me
levantando. — Ah, meu Deus, sua avó...
— Ela está bem, na medida do possível — disse,
entrando de vez na sala. — Graças a você.
Então, tudo fez sentido. Ele havia descoberto sobre o
dinheiro. Meu coração deixou de bater de saudade para
bater um pouco frustrado. Era óbvio que ele não viria
atrás de mim do nada, simplesmente para pedir perdão e
dizer que queria voltar. Não, ele jamais faria isso.
Não o Benjamin que me enxergava como uma garota
mimada e egocêntrica.
— Não, não graças a mim. Graças a Deus e aos
médicos. Fico feliz que ela esteja melhor — falei, me
obrigando a não chorar, a não demonstrar que eu estava
ficando louca com toda a mágoa que me corroía.
Ele chegou mais perto e só parou quando ficou a
centímetros de mim. Seu corpo tão perto do meu, que eu
era capaz de sentir seu calor, de sentir seu cheiro ainda
mais forte.
— Por que não me contou? Sobre o dinheiro?
— Por que não me contou que sua avó estava doente?
— rebati.
Ele engoliu em seco e eu dei um passo para trás,
apenas para que ele desse mais um passo para frente e
voltássemos a mesma distância de antes.
— Porque eu não queria que você se preocupasse.
— Me fale a verdade, Benjamin.
— Essa é a verdade.
— Pode ser parte da verdade, mas isso não é tudo. Me
diga todo o motivo.
Ele olhou para baixo, enfiou as mãos nos bolsos da
calça, como se, de repente, não tivesse coragem para falar
comigo. Para olhar para mim.
— Me diga, Benjamin!
— Porque achei que você não saberia lidar com isso.
Que você era...
— Que eu era...
Ele me olhou e vi um arrependimento e uma tristeza
infinita em seus olhos azuis.
— Que você era imatura demais para entender o que
eu estava passando. Que não encararia toda a situação
com seriedade. Achei que esse era um assunto que você
não faria questão de saber ou conversar.
Eu já sabia que ele pensava isso de mim. Em nossa
última conversa — briga —, eu falei isso, mas ouvir de
sua boca... Doeu. Doeu muito mais do que eu poderia
imaginar
— Sabe por que eu não falei sobre o dinheiro,
Benjamin?
Ele apenas continuou me olhando, esperando
silenciosamente que eu respondesse.
— Porque eu não queria que você me olhasse
diferente, que sentisse algo por mim, apenas porque dei o
dinheiro para pagar o tratamento da sua avó. Eu não
queria que isso — apontei para ele e depois para mim. —
Estivesse acontecendo agora.
Voltei a me afastar e quando ele tentou se aproximar,
levantei a mão, indicando que parasse. Ele parou, mas me
olhou como se quisesse me abraçar e nunca mais me
deixar ir embora.
— Benjamin, eu fico muito feliz que sua avó esteja
melhor. Eu sempre torci por isso, desde o dia em que
descobri que ela estava no hospital. Dei o dinheiro não só
porque amo você e queria te ver bem, mas, acima de tudo,
queria que ela ficasse bem. Que se recuperasse. Eu sei o
quanto ela é importante para você.
— Você salvou a vida dela — murmurou. — Minha
avó piorou e teve que passar por uma cirurgia de
emergência para a retirada do tumor. Se não fosse o
dinheiro que você deu... Provavelmente, ela não estaria
mais aqui.
— Eu não salvei a vida dela, Ben, Deus e os médicos
fizeram isso — falei, dando um sorrisinho para encoraja-
lo. — Agora, por favor, volte para Orleandy. Fique ao
lado dela, ela precisa muito de você.
Achei que ele assentiria e iria embora silenciosamente,
com fizera da última vez. Mas então, ele se aproximou. E
suas duas mãos seguraram o meu rosto, sua testa se
encostou na minha e quando seu hálito quente foi de
encontro a minha pele, senti minhas pernas ficarem
bambas e meu coração bater ainda mais forte.
— E eu preciso de você — sussurrou. — Preciso que
me escute, que me perdoe... Você tinha razão, Lottie. Eu
não enxerguei você, eu enxerguei a imagem que criei de
você. E ainda assim, eu me apaixonei. Não, eu não me
apaixonei... Eu amei você. Eu amo você.
— Benjamin... — toquei em suas mãos para afasta-lo,
mas ele as pressionou mais em minhas bochechas.
— Por favor, me escute — pediu e eu me calei. —
Saber que o dinheiro veio de você não me fez começar a
ama-la, Charlotte, apenas fez com que eu a amasse ainda
mais. Me mostrou como eu fui idiota por não perceber a
mulher maravilhosa e amorosa que você é. Esfregou na
minha cara que eu estive ao lado da pessoa mais incrível
que já tive a oportunidade de conhecer e, ainda assim, a
magoei. Eu te magoei tantas vezes, gritando e sendo um
idiota que só despejava merdas em cima de você... E
mesmo assim, você me amou. Você pensou em mim, na
minha avó, você salvou a vida dela.
“Eu sei que não mereço alguém como você. Não
apenas por você ser uma princesa e eu um reles
empregado, mas por você ser alguém tão incrível e eu ser
um idiota completo. Eu precisei terminar de ferir o seu
coração, descobrir que você salvou minha avó, para
perceber o que eu estava perdendo. O que eu estava
deixando escapar pelos meus dedos, como se fosse areia.
Eu não quero perder você, Lottie. Por favor, por favor, me
perdoa. Me deixe te mostrar o quanto eu amo você, o
quanto eu te quero ao meu lado, para sempre”.
Meu coração bateu forte e se quebrou ao meio com o
som da sua voz. Nunca o vira assim, tão desolado,
desesperado, quebrado. Benjamin parecia estar se
desintegrando na minha frente e, realmente, estava. Estava
deixando de lado o orgulho, estava se declarando para
mim.
Mas, por quê?
Por que ele não conseguira me enxergar de verdade
antes? Por que precisara descobrir o que eu havia feito,
para ver que eu não era nada do que ele pensava? Se ele
não houvesse descoberto, será que estaria aqui, na minha
frente, agora?
A resposta era tão clara como água para mim. E foi
isso que me fez ser forte, tirar suas mãos de meu rosto e
me afastar.
Colocar aquela distância entre nós me machucava. Ver
seus olhos marejados me machucava. Estar tão perto e ao
mesmo tempo tão longe, acabava comigo.
— Lottie...
— Por favor, Ben — pedi, fazendo-o parar de se
aproximar. — Eu queria tanto acreditar que você já me
amava antes... Queria tanto. Mas não consigo. Porque sei
que se você não soubesse do dinheiro, não estaria aqui,
agora, falando tudo isso para mim. Não quero alguém que
diz me amar por causa das minhas atitudes e sim por quem
eu sou. Você não me ama por quem eu sou.
— Claro que sim. Eu te amo por quem você é!
— E quem eu sou, Benjamin? Você saiu dessa casa
achando que eu era mimada, fútil e imatura. Achando que
eu não poderia agir como uma adulta e lidar com seus
problemas. E então, só porque descobriu a verdade, volta
achando que eu sou uma supermulher. Minha atitude te
trouxe até aqui, não quem eu sou. Você me enxergou de
verdade por conta do que eu fiz, não por quem eu sou. E
isso não basta para mim.
Ele ficou em silêncio, como se não soubesse o que
dizer para me fazer mudar de ideia.
— Eu quero alguém que ame a mim, não às minhas
atitudes.
— Acredite em mim, Lottie. Eu não estaria aqui se eu
não amasse você. Eu não teria pegado o primeiro avião
assim que soube da verdade. Você pode pensar que sua
atitude tenha me feito amar você, mas eu sei que não é
isso. Eu te amo de verdade, mas tive medo de admitir até
mesmo para mim. Camuflei como se fosse paixão, como
se fosse cuidado, mas, por dentro, eu já sabia que era
amor.
Ele voltou a colocar as mãos nos bolsos. Seus ombros
estavam tensos e segurei a enorme vontade correr para ele
e abraça-lo.
— Como eu disse antes, sua atitude não me fez
começar a amar você, me fez te amar mais. E eu vou
provar para você que estou falando a verdade. Não sei
como, mas vou.
Então, sem que eu esperasse, ele se aproximou de mim
e seus lábios se encostaram nos meus. Um suspiro de
surpresa escapou por meus lábios. Uma mão segurou
minha nuca e a outra passeou pelo meu rosto, sua língua
tocou a minha. O beijo tinha gosto de tristeza, pesar, amor
e saudade e isso terminou de partir meu coração.
Deus, como eu amava aquele homem! Por que ele não
podia me amar da mesma forma?
Lágrimas escaparam dos meus olhos e quando levei
minhas mãos ao seu rosto, senti suas lágrimas quentes
molharem as pontas dos meus dedos. Limpei cada uma
delas, assim como ele limpou cada uma minhas, sua língua
calma ainda me explorando. Senti vontade de arrancar
cada uma das suas roupas, deita-lo no chão e fazer amor
até que a dor tivesse saído de nossos corações.
Desejei me reconciliar ali, naquele momento.
Mas não podia.
Não podia, porque, infelizmente, eu ainda não
conseguia acreditar nas palavras que ele me dissera.
Quando se afastou, Benjamin voltou a pegar meu rosto
em suas mãos. Seus olhos marejados encararam os meus e
ele fungou, antes de dizer:
— Eu vou voltar para Orleandy, mas não pense, nem
por um segundo, que vou desistir de você, do seu amor e
do seu perdão. Vou lutar por você, Charlotte. E vou te
provar que falei a verdade.
Seus lábios rasparam de leve em minha bochecha e
seus braços desceram para minha cintura. Benjamin me
abraçou com força, escondeu o rosto em meu pescoço e
então, fez o que sempre desejei que fizesse.
Me usou como suporte, como sua âncora e começou a
chorar.
Seu choro não foi calmo, foi tempestuoso. Alto. Seus
ombros balançavam, múrmuros saiam de sua garganta e
seu peito me chacoalhava. Eu o agarrei com força, passei
a mão em suas costas e chorei silenciosamente com ele.
Eu sabia que aquele choro não era por mim, era por sua
avó. Finalmente, ele estava colocando para fora toda a
dor, toda a preocupação, todo o medo de perde-la.
Deus sabe o quanto quis que ele tivesse se aliviado
antes. O quanto quis que ele tivesse confiado em mim para
segura-lo. Finalmente, ele se libertou.
— Eu pensei que não conseguiria... — ele falou, o som
de sua voz abafado contra o meu pescoço. — Pensei que
não conseguiria o dinheiro e que ela... Que ela fosse...
— Shiu... — acariciei seus cabelos e seu corpo
estremeceu. — Mas ela não vai, Ben — falei, ocultando
qualquer palavra semelhante a morte. — Ela é forte, eu
tenho certeza. Se você é tão forte assim, é porque ela
também é. Ela vai ficar bem, você vai ver.
— Muito obrigado — seus olhos encontraram os meus.
Estavam inchados e vermelhos, mas, ainda assim,
continuavam a ser os olhos mais lindos que eu já vira. —
Eu nunca, nunca serei capaz de agradecer pelo o que você
fez. Não importa o quanto eu tente, eu jamais, jamais...
Sua voz se perdeu em meio ao soluço e eu toquei em
seu rosto banhado de lágrimas.
— Não precisa agradecer, nunca. Ouviu? Nunca. Não
se preocupe com isso.
— Sempre serei grato, Lottie. E vou lutar com todas as
minhas forças para que você me perdoe e que me permita
ser capaz de te fazer a mulher mais feliz do mundo. Eu te
amo tanto, que meu coração chega a doer. Eu jamais
mentiria sobre isso, por favor, acredita em mim.
— Eu quero acreditar — murmurei, limpando suas
lágrimas. — Deus sabe o quanto eu quero acreditar, Ben.
— Vou fazer você acreditar, Charlotte. Eu prometo —
seus lábios roçaram nos meus. — Muito obrigado, meu
amor.
Ele se afastou e terminou de limpar as últimas lágrimas
que insistiram em cair. Então, voltou de novo e me beijou.
Um beijo forte dessa vez, cheio de promessa, de amor, de
futuro.
Quando se afastou, me olhou uma última vez e um
sussurro saiu de sua boca:
— Eu te amo. E vou te provar isso.
Então, com passos silenciosos, ele saiu da minha sala
de pintura. Me deixou sozinha fisicamente, mas eu senti
que seu coração ficou comigo. Sua alma ficou comigo.
Pela primeira vez, eu senti que Benjamin se entregara
para mim, da mesma forma que eu sempre me entreguei a
ele. E foi isso que fez com que eu me agarrasse a
esperança de que ficaríamos juntos.
De uma forma ou de outra, eu sabia que ele me amava.
E sabia que ele iria provar isso.
Capítulo 20 - Charlotte
A primeira mensagem de Benjamin chegou no dia
seguinte, no horário exato em que acordei:

“Bom dia, linda. Espero que esteja bem. Sei que está
acordando agora. Cheguei em Orleandy ontem à noite.
São nove horas da manhã agora e estou no hospital.
Minha avó será transferida hoje para o quarto. Estou
ansioso para que ela acorde logo. Não esqueça que eu te
amo, Lottie. Beijos!”

Olhei para o celular ainda meio sonolenta e abri um


sorriso ao ler sua mensagem. Fora uma surpresa
inesperada e eu amei.

“Bom dia, Ben. Sim, acabei de acordar. Fico muito


feliz que sua avó já esteja indo para o quarto. Dê um
beijo nela por mim”.

Enviei e reli sua mensagem duas vezes, antes de digitar


outra:
“E eu também amo você”.

Não esperei pela resposta e fui direto tomar banho.


Meu coração batia forte e me perguntei se seria assim se
ele continuasse me mandando mensagens.
Pelo visto, sim. Pois quando saí do banheiro e peguei
meu celular, ainda enrolada no roupão, vi que havia uma
nova mensagem dele. E meu coração bateu feito um louco
no peito.

“Estou no quarto com ela”.

Ele havia me mandado uma foto. Era sua mão


segurando a mão frágil e enrugada de uma senhora. Senti
minha garganta arranhar de leve, emocionada. Como eu
estava feliz por sua avó ter passado pela cirurgia e por
estar no quarto, se recuperando.

“Ela ainda está dormindo, o sedativo está saindo de


seu organismo, deve acordar daqui a duas horas. Estou
ansioso para falar com ela, saber como ela está, ouvir
sua voz”.

Ah, como era bom tê-lo falando comigo, dividindo


suas esperanças e preocupações. Em todo o tempo que
passamos juntos, lado a lado, fosse na cama, no sofá, no
carro, na faculdade, ele nunca havia se aberto tanto. O
pensamento de que estava fazendo aquilo apenas porque
eu havia dado o dinheiro me assolou um pouco, mas, no
fundo, eu sabia que não era isso.
Eu sabia que ele, finalmente, estava aprendendo a
confiar em mim. Que estava me enxergando como eu era.
E percebi que, se eu quisesse mesmo que aquela
relação desse certo, não dependia apenas dele. Não
dependia apenas dele olhar para a verdadeira Charlotte.
Dependia, também, de mim e da minha disposição em
mostrar para ele quem eu era de verdade.
Nada melhor do que mostrar isso dando todo o apoio
possível para ele nesse momento. Que era o que eu
realmente iria fazer, sendo sua namorada, amiga ou
qualquer outra coisa. Porque eu o amava. E minha mãe
sempre me ensinou que o amor é estar ao lado da pessoa
amada, principalmente nos momentos mais difíceis.

“Sei que ela deve estar morrendo de saudade de


você também. Vai ficar muito feliz quando abrir os
olhos e te encontrar aí, ao lado dela. Ela precisa muito
da sua força para seguir em frente, Ben”.
“E eu preciso da sua força para seguir em frente
também. Muito obrigado, Lottie, por tudo. Por tudo o
que fez e por estar me respondendo agora, mesmo sem
ter obrigação alguma”.
“Conte comigo, sempre ;)”.

***

Na faculdade, estava anotando tudo o que o professor


explicava e mostrava nos slides, quando meu celular
vibrou em cima da mesa. Vi o nome de Benjamin no visor,
mostrando que havia me mandando uma mensagem. Greg
virou para mim e olhou para a tela do celular. Seu sorriso
se abriu no mesmo instante.
— Hm... Então, o segurança está mesmo de volta!
Eu havia contado a ele sobre a visita de Benjamin,
sobre a nossa conversa e sobre as mensagens que
havíamos trocado. Gregory ficou exultante e disse que
sabia que, mais cedo ou mais tarde, Benjamin iria cair em
si e perceber a burrada que havia feito.
— Ele só está me atualizando sobre o caso da avó dele
— falei, sentindo meu rosto ficar quente.
Já disse que odeio ficar envergonhada?
— Ah, está com as bochechas vermelhas, que fofa... —
murmurou, rindo baixinho. — Ora, até parece que ele quer
te atualizar apenas sobre o quadro de sua avó. Ele quer é
te atualizar sobre seu novo modus operandi.
— Novo modus operandi?
— Sim. O Benjamin “amando demais a Charlotte” —
piscou para mim. — Não vai responder a ele? Não deixe
o pobre esperando, olha que ele pode pegar o primeiro
voo para Paris e vir atrás de você.
Ri para ele e peguei meu celular. Dessa vez, era uma
foto linda da sua avó sorrindo. Tinha os olhos um pouco
caidinhos, certamente por conta da operação e sedativos,
mas senti meu coração bater forte no peito, de felicidade.

“Minha avó te mandou um beijo. Disse que está


louca para te conhecer”.
“Você falou sobre mim para ela?”
“Claro! Ela disse que te acha linda demais”.
“Mostrou uma foto minha também?”
“Não precisei. Ela adora a sua família e já sabia
quem você era. Disse que adora quando você sai no
jornal usando calça jeans ao lado da sua irmã e sua
mãe, que só usam vestidos, hahaha”.

Ri, gostando ainda mais da sua avó. Greg olhou para


mim, um sorriso escancarado em seu rosto.
— É impressionante como esse homem faz bem a você.
Olha esse sorrisinho bobo — falou, dando uma espiadinha
no celular. — O que ele disse?
— Disse que sua avó está louca para me conhecer, que
adora quando saio no jornal usando calça jeans.
— Rá! Eu sabia que a avó dele iria te adorar! Isso é
tão lindo, não acha? Se você já foi aceita pela avó do
cara, então, amor, esse seu romance com Ben já está no
papo!

“Pontos para mim, não é? Engole essa, Ben, até sua


avó me adora. Meu charme é mesmo irresistível”.
“Sim, seu charme é realmente irresistível, linda, eu
que o diga”.

— Eu li isso, eu li, eu li! — Greg vibrou baixinho ao


meu lado. — Está esperando o quê para ir no banheiro e
mandar um nude para ele?
— Idiota, claro que não vou fazer isso — falei, rindo.
— Ora, bebé, não seja boba. Está claro que esse
homem te ama, Lottie.
Olhei novamente para a tela do celular, agora apagada,
como se dali fosse sair a resposta para todas as minhas
dúvidas e inseguranças.
— Sei que ele disse muita coisa horrível, mas acho
que agora ele entendeu quem você é de verdade.
— Só porque paguei pelo tratamento da avó dele,
Greg. Não era por isso que eu esperava que ele fosse me
conhecer de verdade.
— Mas, pensa bem, esse foi o pontapé inicial. E,
convenhamos, ele está lá em Orleandy, ao lado da avó
doente e mesmo assim, está te enviando mensagens e
falando sobre você para ela. Quando o homem fala sobre
a mulher para a mãe, avó ou qualquer figura materna, é
porque ele ama mesmo. Não tem nem o que dizer sobre
isso.
Olhei para Greg e o vi sorrindo corajosamente para
mim. Ah, droga! Se ele continuasse a falar essas coisas,
certamente eu largaria tudo e iria atrás de Benjamin em
um piscar de olhos.
Resolvi não responder. Mas ficou claro que suas
palavras ficaram rondando a minha cabeça por toda a
aula, porque minha concentração estava dividida em dois
lugares: pensar em Benjamin com sua avó em Orleandy e
ficar louca com a conversa que havia acabado de ter com
Gregory.

BENJAMIN

Terminei de dar a sopa para a minha avó e ela limpou


a boca com o guardanapo de pano que estava próximo a
sua bandeja de comida. Um sorrisinho nasceu no canto da
sua boca e eu já sabia exatamente sobre o que ou quem ela
iria falar.
— Então, meu lindo neto está apaixonado pela
princesa Charlotte Rose — ela soltou um suspiro. — E
ela também está apaixonada por ele. Sempre soube que
você encontraria um amor, querido. Estou tão feliz por
você.
Tirei a bandeja e coloquei em cima da mesa. Em
seguida, voltei a me sentar na poltrona confortável ao lado
da sua cama.
— Eu só ficarei feliz de verdade quando ela me
perdoar, vovó — falei. — Fiz e falei muita besteira, a
magoei muito.
— Você é um homem incrível, querido, mas é muito
cabeça dura também. Sempre te falei para moderar esse
temperamento...
— Sim, eu sei. E eu tentei. Juro que tentei, mas tinha
horas que minhas emoções se misturavam e eu acabava
descontando nela. Falava coisas que eu achava que eram
certas. A senhora sabe, eu e minha mania de sempre achar
que sou dono da verdade, que sei sobre tudo.
Sem que eu esperasse, minha avó esticou a mão.
Entendi o que ela queria e entrelacei nossos dedos.
— Errar é humano, querido e reconhecer o próprio
erro é uma dádiva. Você viu que errou e agora está lutando
para consertar tudo o que fez. Sei que você ama essa
menina, nunca vi esse brilho em seus olhos antes e ele
sempre aparece quando você fala sobre ela. Sei que ela
vai te perdoar e que vão ficar juntos.
— E se a família dela não me aceitar, vó? Olhe para
mim, eu não tenho nada, não tenho posses, nem estudo
superior...
— Querido, isso é bobagem! A esposa do príncipe
Christopher vendia tortas na festa de São Felício,
trabalhava em um bar e ainda assim, a aceitaram. Rei
Dominick e a rainha Kiara são maravilhosos! Veja, até
mesmo a rainha era uma mulher simples, professora de
balé... Eles não ligam para isso, querido. Eu adoro essa
família justamente por isso, por aceitar a todos, sem
exceção.
Eu me lembrava sobre Charlotte falar vagamente que
sua nora não era uma mulher rica ou de berço. Ela não
estendeu o assunto, pois estávamos no meio de uma
discussão, mas saber sobre toda a história, me deu um gás
a mais, uma motivação.
— A senhora acha que eu devo falar com o rei
Dominick? Falar que estou apaixonado por Charlotte?
— Querido, você leu a minha mente — ela sorriu,
encorajando-me. — O que ainda está fazendo aqui? Vá
falar com o rei, explique que você ama aquela menina e
peça permissão para reconquista-la.
Sem mais, me levantei da poltrona e dei um beijo na
testa da minha avó. Ela soltou uma risadinha que fez o
meu coração se encher de amor. Como eu amava vê-la
assim.
— Me deseje sorte.
— Toda a sorte do mundo, querido. Tenho certeza de
que voltará com boas notícias.
Tomei um táxi assim que saí do hospital. Em uma
ligação rápida, expliquei a tio Johnson que precisava
muito falar com o rei e ele me confirmou que o rei estava
em casa e que iria me receber. Uma onda de nervosismo
ameaçou me atormentar, mas decidi me manter firme,
precisava de confiança se eu quisesse realmente a benção
do pai de Charlotte.
Falando nela, peguei novamente meu celular e lhe
mandei uma mensagem:

“Linda, estou indo conversar com uma pessoa muito


importante, agora”.

Eu sabia que ficaria curiosa. Sua mensagem chegou em


menos de minuto:

“Com quem?”
“Não posso falar ainda. Se a conversa terminar bem,
eu te conto com quem fui falar”.
“Benjamin, você sabe que eu odeio ficar curiosa!
Por favor, me conte”.
“Ainda não. Preciso ir, mais tarde eu te chamo aqui.
Amo você”.

O táxi parou em frente ao palácio. Me identifiquei e


logo tive permissão para entrar. A construção era enorme
e imponente, um castelo bem característico do século
XVIII. Quando saí daqui alguns dias atrás, depois de pedir
minha demissão, não havia imaginado que estaria
voltando aqui, novamente para conversar com o rei, para
pedir sua benção para ficar com sua filha.
Estaria mentindo se falasse que aquela onda de
nervosismo não havia voltado a me atacar.
A governanta me recebeu no hall e pediu para que eu
aguardasse alguns minutos. Assenti e me sentei em uma
imponente poltrona, enquanto esperava.
Ao olhar ao redor, me indaguei se algum dia poderia
me acostumar com aquilo. Com aquela construção antiga,
com a decoração luxuosa, com todo o esplendor daquela
família. Sempre fui simples, fui criado em uma casa
pequena, de dois quartos, sempre tive apenas a minha avó
e ao meu tio. E aquela família, além de ser Real, era muito
grande.
Será mesmo que conseguiria me encaixar?
— Eu sabia que você iria voltar.
Uma voz baixa e feminina soou atrás de mim. Quando
me virei, vi a rainha parada na entrada do hall. Ela era
muito bonita, uma versão mais velha de Charlotte.
Rapidamente me levantei e me curvei, cumprimentando-a.
— Majestade, perdoe-me por vir sem avisar.
— Por favor, não precisa de todo esse formalismo
comigo — disse, rindo um pouco. — Se você vai fazer
parte desta família, o “majestade” deve ser descartado.
A olhei, sem entender. Certo, tio Johnson havia me
contado que Charlotte conversara com ela sobre o nosso
envolvimento. Mas como a rainha poderia saber sobre o
que vim conversar com o rei?
— Quando você veio aqui pela última vez, eu vi o
sofrimento em seus olhos. E soube que você amava,
realmente, a minha filha. Soube que a magoou, que vocês
brigaram, mas, de certa forma, eu sabia que você iria
voltar. Sabia que você viria aqui, mais cedo ou mais
tarde, conversar com meu marido sobre esse sentimento.
Corrija-me se eu estiver errada, mas foi para isso que
veio, não?
— Sim, Majestade.
— Apenas Kiara, por favor.
— Kiara — me corrigi e seu nome saiu um tanto
estranho. Seria difícil me acostumar a chama-la pelo
nome. — Eu amo a sua filha. Realmente, eu errei muito, a
magoei, mas amo com todo o meu coração.
— Só por que ela pagou pelo tratamento da sua avó?
Ela não perguntou em tom ofensivo — aliás, eu
realmente acho que essa mulher nem sabia o que era um
tom ofensivo, tamanha delicadeza transpirava dela —,
mas, sim, em um tom que me sondava, que esperava a
verdade, fosse ela qual fosse.
— Não, jamais. Saber sobre o que Charlotte fizera,
não me fez começar a ama-la, apenas me fez a ama-la
ainda mais. Charlotte é a mulher mais incrível que já
conheci. Ela é jovem e tem esse espírito jovem dentro
dela, mas também é responsável, amorosa, dedicada,
talentosa... Ela me conquistou totalmente. Como ela
mesmo diz, eu sou “completamente dela” — falei,
sorrindo um pouco. — Mesmo se o rei não me der a
benção para ficar com ela, mesmo que Charlotte nunca me
perdoe... Eu continuarei a ama-la. Irei ama-la para
sempre, até o meu último suspiro de vida.
A rainha continuou a me olhar em silêncio e, por
incrível que pareça, eu senti todo o nervosismo voar para
bem longe. Eu abri completamente o meu coração ali,
naquele hall, para aquela mulher tão delicada e com um
olhar tão amoroso. E soube que, o que quer que saísse da
boca dela, eu iria aceitar. Porque fui sincero e acreditava
totalmente no sentimento que habitava meu coração.
Sem que eu esperasse, a rainha se aproximou. Eu era
bem mais alto, ainda assim, ela passou os braços pelos
meus ombros. Me abaixei um pouco e ela me abraçou com
força.
— Seja bem-vindo a família, querido.
Quando se afastou, um sorriso enorme emoldurava
todo o seu rosto. Eu sorri também e quando ia agradecer,
senti uma terceira presença no hall. Era o rei, soube antes
mesmo de enxergar sua figura imponente na entrada.
Ao contrário da esposa, que transpirava delicadeza, o
rei transpirava algo mais duro, rude. Seu olhar estava
cravado em mim como se fosse uma ave rapina e eu soube
que, de alguma forma, ele sabia sobre o que vim
conversar.
— Vamos para o meu escritório — falou, sua voz
imponente tomando toda a sala.
— Sim, Majestade.
— Dom — a voz de Kiara soou e o rei a olhou. O
brilho de amor em seus olhos me pegou desprevenido. Era
tão claro como água o quanto ele amava a esposa. — Seja
gentil.
Ele assentiu e deu um beijo em seus lábios. Em
seguida, me deu novamente um olhar duro e começou a
andar na frente. Eu o segui, sentindo que a conversa com
ele não seria tão agradável como fora com a rainha.
Entramos em seu enorme escritório e ele tomou o seu
lugar atrás da mesa. Me sentei na poltrona disponível em
frente a ele. Seu olhar voltou a me sondar, sua expressão
impassível não me deixava saber sobre o que ele estava
pensando. Se ele iria me matar, me jogar aos leões ou algo
do tipo.
— Então, você ama a minha filha? — perguntou, uma
sobrancelha se elevando.
— Sim, Majestade. Com todo o meu coração.
— Mas deixou bem claro para a rainha que a magoou.
— Sim, falei coisas que não deveria.
— Que coisas?
Ele se inclinou um pouco sobre a mesa, olhando-me
mais de perto, me avaliando e esperando por minha
resposta.
— Coisas erradas e sem cabimento, Majestade. Julguei
mal a sua filha, achava que ela era imatura,
inconsequente... A imagem que criei dela, não me deixou
enxerga-la de verdade.
— Se você não a enxergou de verdade, como pode ter
certeza de que a ama? Para amar alguém, você precisa
conhecer esse alguém.
— Me apaixonei e comecei a ama-la pelo que conheci
dela. Por seu sorriso, seus gestos, sua voz, sua animação,
sua forma leve e descontraída de encarar a vida. E mesmo
que ela fosse uma mulher imatura ou inconsequente, ainda
assim, eu continuaria a ama-la, simplesmente porque seria
ela.
Dominick continuou a me encarar, realmente me
analisando, avaliando a veracidade do que eu falava, dos
meus sentimentos.
— Johnson me disse que Charlotte pagou pelo
tratamento da sua avó — disse, franzindo um pouco o
cenho. — Tem certeza que não está confundindo seus
sentimentos? Tem certeza de que isso que sente é amor e
não admiração, gratidão?
— Majestade, eu sentiria admiração e gratidão se o
senhor, meu tio Johnson ou qualquer outra pessoa, tivesse
dado esse dinheiro. Mas não por Charlotte. Logicamente,
serei eternamente grato pelo o que fez, ela salvou a vida
da minha avó, de verdade. Mas o que eu sinto é amor. A
verdade é que eu iria atrás dela, mesmo se não soubesse
sobre o dinheiro. Mesmo que ainda acreditasse em tudo o
que minha mente inventou. Porque ficar longe de Charlotte
é como perder totalmente o meu coração. Ela é a última
pessoa que penso antes de dormir e a primeira que penso
ao acordar, ficar longe dela chega a me sufocar, me faz
perder boa parte do sentido da minha vida. Sei que errei
muito com ela, mas agora eu quero lutar para acertar.
O rei continuou em silêncio e me senti um pouco mais
à vontade para continuar a falar.
— Sei que o senhor não me conhece, sei que é difícil
me encarar e confiar, principalmente porque sabe que
magoei a sua filha, mas quero que saiba que isso nunca
mais vai acontecer. Eu vou fazer o que tiver ao meu
alcance para fazer de Charlotte a mulher mais feliz do
mundo. Eu vou ama-la e protege-la com todo o meu
coração, com tudo de mim, senhor. Só peço que me dê sua
benção para que eu possa provar isso.
Dessa vez, o silêncio que se seguiu não foi um convite
para que eu continuasse a falar. Dominick continuou a me
encarar. Não desviou os olhos castanhos, que eram
idênticos aos de Charlotte, dos meus. Senti como se
pudesse enxergar além de mim e não fiz nada para
esconder meus sentimentos, para esconder a verdade em
minhas palavras.
— Eu deveria te escorraçar daqui pelo o que você fez
com a minha filha. Charlotte é uma garota alegre, feliz,
quase nada consegue magoa-la e se você diz que a
magoou, então, tenho certeza que fez uma merda muito
grande — disse, duro. — Mas, tem algo em você que me
diz que está sendo sincero, que me diz que eu posso
confiar. Então, eu vou confiar em você, mas peça muito a
Deus para que você não volte a magoar a minha filha,
pois, se o fizer, não serei tão condescendente.
— Muito obrigado, Majestade. Acredite em mim, eu
nunca mais irei magoa-la.
Ele assentiu e se levantou. Era um gesto silencioso de
que a nossa conversa estava encerrada. Me levantei
também e estava prestes a pedir licença, quando sua voz
voltou a imperar:
— Se por um acaso Charlotte o aceitar de volta, nós
dois teremos uma nova conversa. Por enquanto, você é
apenas o cara que está tentando se tornar o namorado da
minha filha. Até realmente ser o namorado dela, você tem
um caminho grande a percorrer.
Bem, estava tudo fácil demais, não é mesmo?
— Sim, Majestade.
Saímos juntos de seu escritório. Me despedi dele e da
rainha e quando saí do palácio, senti um novo peso deixar
as minhas costas.
Com um sorriso no rosto, peguei meu celular e digitei
uma mensagem para Charlotte:

“Acabei de conversar com seu pai. E, linda, me


desculpe, mas agora eu tenho o aval do rei (e meu futuro
sogro) para te reconquistar”.

Rindo, peguei um táxi e fui novamente para o hospital.


Mal podia esperar para receber sua resposta.
Capítulo 21 – Charlotte
A mensagem brilhava na tela do celular, como se
tirasse sarro de mim — e realmente estava tirando.
Benjamin estava tirando sarro de mim. Só poderia ser!
Ainda assim, a dúvida corroía minha mente. Será que
ele havia mesmo falado com meu pai? E será que meu pai
tinha mesmo o apoiado? Sinceramente, eu não via o rei
Dominick apoiando Benjamin, simplesmente porque mal o
conhecia.
Mesmo assim... Para sanar a dúvida, disquei para
minha mãe. Ela jamais mentiria para mim.
No terceiro toque, ela atendeu:
— Oi, filha! Como você está?
— Mãe, é verdade que o Benjamin foi conversar com
o papai?
Sua risada ecoou do outro lado da linha, muito
tranquila para o meu gosto, fazendo-me estremecer. Ela
nem precisava responder mais — eu já sabia que era
verdade.
— Que bom que Benjamin já te contou sobre a
conversa.
— Não, ele não contou! Quer dizer... Ele apenas me
mandou uma mensagem, falando que meu pai havia dado
seu aval para que ele pudesse me reconquistar — falei,
um pouco nervosa. — Ele não está brincando, não é?
— Não, não está. Ele realmente veio aqui hoje à tarde.
Conversou primeiro comigo e depois com o seu pai.
— Com a senhora? Sobre o que conversaram?
— Eu apenas falei a verdade, que eu sabia que ele
voltaria aqui em casa para conversar com seu pai sobre o
relacionamento de vocês. Quando ele veio aqui pedir
demissão, sua cara de arrasado me mostrou que ele
realmente amava você. Ainda assim, eu reforcei a
pergunta hoje.
— E o que ele disse?
Poderia ser bobagem perguntar, mas meu coração
estava quase saindo pela boca de tanta ansiedade. Ele
havia falado com meus pais!
— Ora, que te ama! Que te ama mais do que qualquer
coisa no mundo... Que mesmo que o Dom não desse
permissão e mesmo que você nunca o perdoasse, ele
continuaria te amando. E que te amará até seu último
suspiro de vida.
Ah, Deus!
Meu coração iria mesmo sair pela boca!
— Mãe, para... Sei que está exagerando — sim, minha
voz saiu abafada pela emoção.
— Não estou, juro! Ele disse isso, só estou repetindo.
Jamais inventaria uma coisa dessas, querida — ela
parecia sorrir do outro lado da linha. — Esse homem
realmente ama você. Enfrentar o seu pai e admitir que a
magoou não é para qualquer um. Se ele não a amasse de
verdade, provavelmente jamais teria pisado aqui. E a
coragem dele, bem como o amor que demonstrou,
convenceu seu pai. E a mim também.
Fiquei em silêncio por um tempo, sem saber ao certo o
que dizer — nem o que sentir. Ao mesmo tempo que meu
coração, como já disse, parecia que sairia pela boca,
minha mente começava a soltar pensamentos do tipo: “por
que você não dá uma chance para ele?”.
Tenho certeza que, no mundo todo, não existia alguém
mais confusa do que eu.
— Filha, por que você não pensa um pouco? Ele está
se esforçando muito para ter você de volta. Eu sei o
quanto você o ama. Talvez, esteja na hora de deixar todas
as mágoas de lado e aproveitar esse amor tão bonito de
vocês dois.
— Tenho medo de me magoar de novo, mãe —
murmurei.
— Eu sei que sim, mas você não pode deixar esse
medo ditar a sua vida. Reflita um pouco, o que você
prefere: passar a vida com medo ou ser feliz ao lado do
homem que você ama e que te ama de volta?
Posto assim, obviamente, eu escolhi a segunda opção
sem ao menos pensar direito sobre. E sabia que minha
mãe tinha razão. Nunca fui uma covarde, pelo contrário.
Se estou em Paris hoje, é porque enfrentei todos os meus
medos. E estava na hora de enfrentar esse medo também.
— A senhora tem razão. Esse medo jamais vencerá a
minha vontade ser feliz — falei, sorrindo. — Obrigada,
mãe.
— De nada, querida. Eu amo você.
— Eu amo você.
Desligamos e eu fui em direção a minha sala de
pinturas, decidida a fazer uma última coisa, antes de pegar
o primeiro voo para Orleandy.

BENJAMIN

Vi o dia nascer pela janela do quarto da minha avó no


hospital. Havia acordado a poucos minutos e, claro,
Charlotte rondava a minha mente. Ela não havia
respondido a minha mensagem do dia anterior e isso me
deixou apreensivo.
Será que ela havia encarado mal a minha visita ao seu
pai? Será que ele havia ligado para ela e falado algo? Por
que simplesmente havia me ignorado?
Com o celular nas mãos, comecei a escrever um
pedido de desculpas. Entretanto, parei. Não, eu não iria
pedir desculpas por ter falado com seu pai. Me orgulhava
de ter ido lá, de ter esclarecido o que eu sentia, de pedir
sua permissão para me reconciliar com ela.
Sem contar que sua falta de resposta não indicava,
necessariamente, que ela havia odiado a minha atitude.
Talvez, se eu tentasse me desculpar, soaria como se eu
estivesse arrependido de ter falado com seu pai, coisa que
eu não estava nem um pouco.
Com um suspiro, apenas mandei um bom dia e disse
que a amava. Por sorte, ela me responderia quando
acordasse.

***

Minha avó riu de alguma piada que o apresentador de


TV havia contado e eu sorri para ela, animado. Ela estava
tomando o café da manhã lentamente, mas bem mais
esperta do que no dia anterior.
Tomei um gole do meu café preto e duas batidas
soaram na porta de madeira. Tio Johnson entrou com um
sorriso no rosto.
— Alice, como você está? — perguntou, dando um
beijo no rosto dela.
— Estou muito bem, John — minha avó sorriu. Só ela
chamava meu tio de John. — Fico muito feliz que tenha
vindo me visitar.
— Sim, estava lhe devendo uma visita, mas,
infelizmente, não poderei ficar por muito tempo.
— Ah, por quê?
— Trabalho, vovó. Sabe como tio Johnson é louco por
trabalho — comentei, rindo.
Ele riu um pouco e assentiu.
— Sim, trabalho. Aliás, vim aqui a trabalho.
— Como assim? — perguntei.
— Trouxe uma visita muito especial, que está muito
ansiosa para conhece-la, Alice — disse, se afastando. —
Vou pedir para que ela entre.
Tio Johnson abriu a porta e falou alguma coisa para
alguém que estava lá fora. E então, senti meu coração
parar duas batidas. Charlotte entrou no quarto com um
sorriso tímido. Usava calça jeans preta, uma blusa de seda
vermelha e uma jaqueta de couro. Sua roupa de sempre,
mas estava tão linda, que, por um momento, pensei que o
tempo tivesse voltado e que eu estava em Paris
novamente, em seu apartamento.
Mas, não, ela estava aqui! Bem na minha frente, em
carne e osso e com os olhos brilhando. Ainda mais bonita
do que eu me lembrava.
— Olá, senhora Wells
Ela se aproximou e só naquele momento, percebi um
embrulho em sua mão. Parecia um quadro e meu coração
bateu mais forte com a expectativa. Quando ela se virou
para mim, cara, juro que agradeci a Deus por estar
sentado.
— Oi, Ben.
Sabia que eu deveria falar alguma coisa, mas acho que
estava em choque. Só conseguia pensar no quanto ela
estava linda e no quanto eu estava feliz por ela estar ali.
Por sorte, a voz da minha avó ecoou pelo quarto, me
salvando.
— Alteza, Benjamin falou tanto de você! — pude
perceber que minha avó estava encantada. — A senhorita
é ainda mais linda pessoalmente! Se parece tanto com sua
mãe. Mas esses olhos, é do rei Dominick com toda a
certeza.
Charlotte riu um pouco e se aproximou mais da cama.
O suspiro da minha avó foi audível.
— Muito obrigada e, por favor, me chame apenas de
Charlotte.
— Oh, claro que não, Alteza...
— Por favor, apenas Charlotte. Eu não gosto muito de
toda essa formalidade.
— Isso é verdade — consegui falar, chamando atenção
das duas. — Charlotte não liga muito para isso, vó. Aliás,
Lottie... Estou muito feliz pela sua visita.
Claro que ela já havia percebido isso pelo sorriso
gigante em meu rosto, mas achei justo reafirmar. Minha
vontade mesmo era de pega-la no colo e beija-la até seus
lábios ficarem inchados. Contudo, apenas me levantei da
poltrona e caminhei lentamente.
— Sente-se, por favor.
Ela sorriu para mim e se sentou na poltrona. Seu cheiro
chegou ao meu nariz quando ela passou por mim e,
novamente, me segurei para não abraça-la.
— Estou muito feliz em saber que está se recuperando,
senhora Wells.
— Ora, por favor, se eu posso chama-la de Charlotte,
você com certeza pode me chamar de Alice — disse
minha avó, rindo. — Quando me chamam de senhora, me
sinto muito velha. E eu quero me sentir jovem, apenas
isso.
— Mas a senhora... Quer dizer, você, é muito jovem. E
linda.
Meu coração estremeceu um pouco, primeiro de
felicidade, depois de pesar. Como pude ser tão idiota?
Observando aquela cena, era assim que me sentia. Um
idiota por não ter me aberto com Charlotte antes, por ter
duvidado dela, por tê-la julgado tão mal. Minha avó
estava radiante com sua visita e Charlotte estava tão feliz
quanto ela. E tudo isso poderia ter acontecido bem antes,
se eu não tivesse sido tão...
Idiota. Simples assim.
— Minha querida, nunca poderei agradecer pelo o que
fez por mim e pelo meu neto — minha avó disse, ficando
mais séria. — Sei que pagou pelo meu tratamento. Como
sei que não tinha obrigação nenhuma de fazê-lo. O fez
porque tem um coração enorme, porque é muito boa.
Muito, muito obrigada.
— Não precisa agradecer — Charlotte disse,
segurando a mão de minha avó com sua mão livre. — O
faria novamente, quantas vezes fosse preciso. Sempre
torci muito para sua recuperação, mesmo sem conhece-la.
Como se pudesse, ali, eu amei ainda mais aquela
mulher.
— Ah, querido — vovó suspirou, olhando para mim.
— Ela é realmente uma mulher incrível! Que sorte a sua
por ama-la e por ser amado de volta.
Vi as bochechas de Charlotte ficarem vermelhas e
sorri. Sabia que ela não gostava de ficar envergonhada,
mas ela ficava tão linda com as bochechas coradas e o
sorrisinho que despontava no canto de seus lábios. Sem
poder me segurar mais, me aproximei dela e me ajoelhei
ao seu lado. Plantei um beijo em sua bochecha quente,
ouvindo a risadinha da minha avó.
— Sim, vovó, que sorte a minha.
Charlotte me fitou e aquele brilho em seu olhar ficou
mais intenso, me dando a certeza de que era um reflexo de
meus olhos também. Meu coração ainda batia como um
louco, apenas por tê-la ali, ao meu lado.
Ela foi a primeira a desviar o olhar e eu me levantei.
Em seguida, ela pegou o quadro embrulhado e deu para
mim.
— Fiz esse quadro para vocês dois, espero muito que
gostem.
Ansioso, tomei o quadro de suas mãos e tirei o
embrulho rapidamente. Quando vi a tela pintada, tive
certeza de que meu coração havia explodido no peito.
Minha boca se abriu, como se eu fosse falar algo, mas, na
verdade, era apenas o choque ao ver algo tão belo.
Era minha avó e eu. Estávamos sentados em um banco
branco, no jardim do hospital. Havia muitas flores ao
nosso redor e minha vó sorria para mim, enquanto eu
segurava a sua mão.
A cena retratada ali, se repetiu em minha cabeça.
Quando minha avó soube que ficaria internada, eu a visitei
todos os dias. E durante todos os dias de sol, nós
descíamos até o jardim e ficávamos lá por uma hora ou
mais, sempre conversando e sorrindo. Eu fazia questão de
repetir isso a cada dia porque, primeiro, queria que minha
avó sentisse o quanto era amada por mim. Segundo,
porque não queria que ela se sentisse isolada naquele
hospital.
E, terceiro, porque eu não sabia quanto tempo mais eu
a teria comigo. E queria que minhas últimas lembranças
ao lado dela, fossem as mais bonitas de todas.
— Como você... — minha garganta estava embragada
e precisei limpa-la um pouco. Meus olhos estavam um
pouco marejados. — Como soube disso?
— Teve uma vez que liguei para o hospital, para
perguntar sobre a sua avó, queria saber como ela estava.
Tive que usar meu nome para que eles pudessem me
informar e, bem, a recepcionista começou a me contar
melhor sobre como sua avó estava e disse que ela sentia
sua falta. Me falou que vocês passavam muito tempo
juntos, no jardim. Essa cena ficou presa na minha mente e
precisei coloca-la para fora. Havia fotos do jardim do
hospital na internet, então, eu apenas retratei aquela
imagem e inseri vocês dois.
Meu olhar vagou para o dela e suas bochechas ficaram
um tanto vermelhas de novo.
— Espero que eu não tenha desapontado vocês.
— O quê? Não, nunca — falei, olhando novamente
para o quadro. — É perfeito, Lottie, é... Eu não tenho
palavras.
— Querida, você tem um dom tão lindo... — vovó
disse, emocionada. — Eu nunca vi uma pintura tão bela.
Veja, Ben! É como se ela já tivesse nos vistos no jardim e
tivesse tirado uma foto. Estou encantada.
— Fico muito feliz que tenham gostado.
— Eu estou sem palavras! Como consegue fazer algo
tão lindo?
Charlotte sorriu e ela e minha avó começaram a
conversar sobre quadros e pinturas. Eu só fiquei dividido
entre olhar para a mulher que eu amava e para o seu
trabalho tão lindo e belo. A delicadeza que ela imprimiu
naquele quadro, o amor, a admiração... Cristo, se eu
pudesse voltar no tempo... Se apenas pudesse voltar atrás,
eu me daria um soco a cada palavra rude que passou por
minha cabeça e que minha boca proferiu.
Pensei que eu já estivesse totalmente arrependido, mas
depois deste quadro... Eu queria me matar por tê-la
magoado tanto. Por ter sido um ogro imbecil. Um cego
idiota.
De canto de olho, vi Charlotte se levantar e dar um
beijo na bochecha da minha avó. Soube que estava se
despedindo, então, me adiantei.
— Lottie, podemos tomar um café juntos?
Ela me olhou um tanto indecisa e a voz a da minha avó
voltou a imperar no quarto.
— Isso, querido. Tome um café com ela e depois vá
para casa descansar. Não sai desse hospital desde que
chegou de viagem. Eu posso ficar um tempo sozinha.
— Tem certeza, vovó?
— Claro. E, por favor, deixe o quadro aqui. Ficarei
olhando para ele o dia todo.
Charlotte sorriu para ela e eu coloquei o quadro em
cima da poltrona. Dei um beijo em sua testa e me despedi,
saindo do quarto com Charlotte. Tio Johnson estava lá
fora, junto com um outro segurança.
— Vai tomar um café comigo? — perguntei.
— Só se esse café for na sua casa. Você está mesmo
com o semblante cansado.
— Claro, onde você quiser.
Já em seu carro, nos sentamos lado a lado no banco do
passageiro. Tio Johnson voltou para o palácio e o outro
segurança ficou encarregado de nos levar para minha
casa. Sem conseguir me segurar, tomei a mão de Charlotte
na minha e beijei o dorso. Um suspiro audível saiu de
seus lábios.
— Muito obrigado. Por ter voltado, por ter visitado
minha avó, pelo quadro... Por tudo. Eu amo muito você,
Charlotte, muito.
Ela sorriu um pouco e encostou a cabeça em meu
ombro. Pensei que seguiríamos a viagem em silêncio,
quando sua voz baixinha ecoou pelo carro.
— Eu também amo muito você, Ben.
Capítulo 22 – Charlotte
— Por favor, não repare na bagunça. Só cheguei em
casa e deixei a mala na sala mesmo e sempre aqui que
acabo deixando minhas roupas por aqui.
O apartamento de Benjamin era pequeno, mas
aconchegante. A sala era aberta e dividida com a cozinha
estilo americana. Os sofás eram de um tom cinzento e
tinha algumas peças de roupa em cima dele, que ele estava
tirando rapidamente.
Com uma risada, me aproximei e toquei em suas mãos.
— Para com isso, sabe que não ligo para essas coisas.
— Bem, é a primeira vez que você vem na minha casa.
Queria que encontrasse tudo com um aspecto mais
agradável.
— Seu cheiro está por todo o lugar. Pode ter certeza
que isso já é agradável o bastante para mim — falei,
sorrindo.
Ele sorriu para mim e acabou deixando as roupas
emboladas no canto do sofá. O lugar tinha uma decoração
sóbria, típica de um homem solteiro. Mas era tudo tão a
sua cara, que senti meu coração ficar apertado de
saudade, amor e... Bem, todos esses sentimentos bobos de
uma mulher loucamente apaixonada.
— Então, quer dizer que você foi conversar com o rei
Dom — comecei, voltando a fita-lo.
— Rei Dom? Não sabia que o rei Dominick tinha um
apelido.
— Minha mãe o chama assim — falei, me
aproximando um pouco. — Ela também me disse que você
conversou com ela.
— Sim, conversei. E também tive o aval dela para
reconquistar você.
Ele continuou parado no mesmo lugar e soube que
estava respeitando meu espaço pessoal. O que era uma
pena, pois eu não estava nem um pouco afim de respeitar
o espaço dele. Com mais um passo, fechei a distância
entre nós. O calor de seu corpo envolveu o meu.
— E de quebra, ainda conquistou os dois.
— Seu pai, eu não sei, mas sua mãe... Com certeza —
disse, sua voz ficando um pouco mais rouca ao me fitar.
Quando toquei em seu peitoral, suas mãos voaram para me
deter e ele soltou um gemidinho frustrado. — Charlotte,
não faça isso.
— Por quê?
— Porque eu não quero perder a cabeça. Sabe que sou
louco por você e quando começa a me tocar...
— Quero que perca a cabeça — falei, minha voz
saindo mais rouca também. — Quero que me faça sua
novamente, Benjamin. Quero que mostre o quanto me ama,
só que, dessa vez, na cama. Chega de tanta mágoa, chega
de separação. Eu quero você para mim, completamente.
Ele me fitou, seus olhos azuis brilhando de desejo e de
dúvida. Acho que estava se perguntando se eu estava
falando realmente sério. Para sanar qualquer questão que
estivesse em sua cabeça, fiquei na ponta dos pés e o
beijei.
Foi apenas um toque de nossos lábios, mas, ao mesmo
tempo, como se riscasse um fósforo e o jogasse de
encontro a gasolina.
Explodimos.
Benjamin soltou minhas mãos, agarrou minha cintura e
me impulsionou até ter minhas pernas envoltas na sua
cintura, então, sua língua entrou em minha boca e um
gemido de saudade e prazer escapou por minha garganta.
Seu gosto estava ainda era fantástico, sua língua
acariciava a minha com fome, com um desejo tão latente,
que me fez tremer de antecipação.
De alguma forma, chegamos ao quarto, pois logo
minhas costas bateram em um colchão. Seu corpo veio
para cima do meu e suas mãos arrancaram minha jaqueta,
assim como as minhas arrancaram a blusa que ele usava.
Seus lábios desceram pelo meu queixo, pescoço e sua voz
soou tão rouca em meu ouvido, que eu quase não entendi o
que ele dizia:
— Eu sou e sempre serei completamente seu, Lottie —
disse, mordendo o lóbulo da minha orelha. — Assim
como você sempre será completamente minha.
— Sim! — gemi, pois sua boca já sugava meu pescoço
e suas mãos já levantavam minha blusa.
Meu corpo ardia de desejo e necessidade. Minha
vagina pulsava, molhada e excitada para ele. Minha blusa
voou para algum canto do quarto, bem como nossas
calças, minhas botas e seus tênis.
Sua língua roçou a ponta do meu seio e quando seus
lábios sugaram os mamilos, senti o mundo estremecer ao
meu redor. Cristo, como era bom! Como eu sentira
saudade daquilo. Do seu toque, do seu desejo, da forma
como ele sabia me enlouquecer.
Seus dentes mordiscaram o bico duro e seu dedo
indicador e polegar começaram a beliscar o outro.
Excitada, levantei meu quadril e meu clitóris ainda
escondido pela calcinha, roçou em seu pau duro dentro da
cueca. Seu nome saiu em arquejos pelos meus lábios e
minha vagina estremeceu de excitação, principalmente
quando Benjamin passou a dar atenção ao outro mamilo
teso e o sugou com precisão para dentro da boca, fazendo
com que um raio de prazer se alojasse em meu clitóris.
Desci minhas mãos pelo meio do nosso corpo, até
entrar em sua cueca e libertar sua dura ereção. Toquei a
glande quente e enorme com o polegar, espalhando o
líquido de pré-gozo ali e por toda extensão. Benjamin
estremeceu em cima de mim e quando fechei minha mão
em seu pau e comecei a masturba-lo, meu nome saiu
abafado por entre seus lábios.
Seus beijos começaram a descer pelo meu corpo e eu
gemi um pouco frustrada quando o seu pau escapou de
minhas mãos. Ele riu, mas eu logo esqueci o porquê da
frustração quando ele colocou minha calcinha para o lado
e soprou meu clitóris. O vento frio em contato com o
nervo quente me fez arquear na cama, como se tivesse
levado um choque.
Então, sua língua quente me lambeu lentamente, apenas
para que mais um sopro gelado me fizesse estremecer e
gritar, literalmente. Ele repetiu aquilo mais duas vezes e
eu apertei seu cabelo com força, tão excitada e
necessitada, que já estava quase começando a implorar.
Mas não precisei. Ele pareceu ouvir meus pensamentos —
ou talvez eu tenha gritado, vai saber? — e sua boca se
fechou com precisão sobre meu clitóris.
A onda de prazer foi forte demais e eu desabei na
cama, gemendo seu nome. Sua boca sugava meu clitóris e
seu dedo médio me penetrou, tocando em um nervo atrás
do osso púbico que fez com que lágrimas saísse dos meus
olhos. Sua língua passeou pelo nervo duro, excitado e
quando começou um movimento rápido de subir e descer,
juntamente com seu dedo que entrava e saia, eu senti o
mundo começar a desabar.
Gozei tão forte que o grito que saiu da minha garganta
me deixou rouca. Minhas pernas não se sustentaram e
caíram para os lados, enquanto meus quadris estremeciam,
bem como cada parte do meu corpo. Meu centro ficou
sensível e com as mãos trêmulas, consegui cobrir meu
sexo de seu ataque.
Benjamin riu e subiu pelo meu corpo. Cada um de seus
beijinhos eram como pequenos choques. Sua língua
pincelou um mamilo, depois outro e logo seus lábios
estavam sobre os meus. Meu gosto era bem forte ali, em
seus lábios, em sua língua e uma nova onda de excitação
tomou o meu corpo quando seu pau tocou em minha
barriga.
Em algum momento ele havia tirado a cueca e eu
aproveitei aquilo para voltar a toca-lo. Seu gemido foi
engolido por minha boca e seu quadril estremeceu quando
minhas duas mãos começaram a subir e descer por todo o
seu pau.
— Eu preciso de você, linda — sussurrou em meus
lábios. — Porra, preciso agora!
Sem que eu esperasse, Benjamin deitou de costas na
cama e me levou junto, fazendo-me deitar em cima dele.
Rapidamente tirei a calcinha e me ajoelhei, enquanto ele
se sentava e se esticava, pegando uma camisinha na
mesinha de cabeceira. Se cobriu com o preservativo e
suas duas mãos voaram para minha cintura, puxando-me
para frente, até ficar acomodada sobre seu pau.
Devagar, acomodei a cabeça larga em minha abertura e
comecei a sentar. Benjamin apertou minha cintura com
força e um gemido saiu dos meus lábios, enquanto mais
paredes vaginais se ajustavam para recebe-lo. Quando ele
chegou ao fundo, seus lábios encontraram os meus e eu
comecei a me mover.
Primeiro, lentamente, mas nossa excitação exigiu mais,
por isso, comecei a ir mais rápido. Suas mãos em minha
cintura me ajudaram e conforme meu quadril ia para frente
e para trás, meu clitóris roçava com força em seu osso
púbico, fazendo-me ver estrelas.
— Eu te amo tanto — ele sussurrou, roçando os lábios
em meu rosto, meu pescoço, suas mãos indo para minha
bunda e segurando as nádegas com força. — Porra,
Charlotte, você não imagina o quanto eu amo você.
Revirei os olhos, não só pelo prazer sexual que me
atacava, mas também pelo prazer emocional que sua
declaração me causava. Sempre quis ouvir aquilo vindo
dele na hora do sexo. E vindo naquela hora, no sexo de
reconciliação, fez tudo se tornar ainda mais especial.
Suas mãos levantaram minhas nádegas e me
impulsionaram para cima e para baixo. Seu pau batia em
um nervo bem no fundo da minha vagina, que me fez gritar
e me pegou de surpresa com um orgasmo que me fez
perder as forças. Minhas paredes vaginais se apertavam e
meu corpo cedeu para frente, cansado.
Benjamin sorriu e nos virou na cama. Me fez abrir as
pernas e quando achei que me penetraria novamente,
desceu pelo meu corpo e atacou meu clitóris com a língua.
Mesmo já tendo gozado duas vezes, a onda de prazer que
tomou meu corpo foi algo sensual e muito forte. Minha
garganta já doía pelos gemidos, mas eu não conseguia
parar, não com sua cabeça entre minhas pernas e sua
língua golpeando aquele nervo que voltara a ficar
excitado.
Segurei seus cabelos em minhas mãos e ergui meu
quadril, roçando mais minha vagina em sua boca.
Benjamin gemeu e sua língua começou a me penetrar, me
deixando ensandecida. O orgasmo estava se aproximando,
minha vagina se apertava em todo da língua rígida, quando
ele se levantou e me penetrou em um único golpe.
Minhas unhas agarraram suas costas, seus olhos
cravaram-se nos meus e seu quadril começou a golpear
com tanta força, que o barulho chegava a ser mais rápido
do que os nossos gemidos. Seu pau foi fundo, forte, rápido
e eu estremeci ao seu redor, gozando mais uma vez.
Dessa vez, Benjamin veio comigo. Seu gemido ecoou
pelo quarto e um “eu te amo” saiu em alto e bom som,
enquanto ele gozava e continuava a meter com força.
Quando o orgasmo deu um descanso a nós dois, ele
continuou a se movimentar dentro de mim, devagar dessa
vez, apenas um carinho, enquanto seus lábios passeavam
pelo meu pescoço.
— Eu também te amo muito, Ben — murmurei, minha
garganta ainda sensível depois de tantos gritos. Éramos
um casal muito barulhento, eu tinha de admitir.
Ele ergueu o rosto para mim e me fitou. Seus olhos
brilhavam.
— Jura que não estou sonhando? Jura que está
realmente aqui, comigo?
— Acho que você está duvidando, porque não ficou
surdo por causa dos meus gritos.
Ele riu, seu ombro tremendo debaixo das minhas mãos.
— Hm, verdade, mas fiquei bem perto de ficar surdo
sim.
— Ah, claro, falou o homem mais silencioso do
mundo. Imagina, você nem geme e nem grita o meu nome...
Ele continuou a rir e saiu lentamente de dentro de mim.
Tirou a camisinha cheia do pau semiereto e a descartou ao
lado da cama, em seguida, se deitou e me puxou de frente
para si. Seus dedos tiraram o cabelo do meu rosto e sua
voz ficou um pouco mais séria.
— Você me perdoou?
— Sim — respondi, sem hesitação. — Quando o cara
vai falar com o pai da garota para pedir permissão para
reconquista-la, é porque ele deve ama-la ao menos um
pouquinho, não é?
— Um pouquinho? Assim você ofende os meus
sentimentos — disse, sorrindo um pouco. — Eu te amo
muito, sua abusada. Muito! Do tamanho do universo e um
pouco mais.
— Hm, é muito amor mesmo, senhor Prescott.
— Está sendo sarcástica comigo? — perguntou,
franzindo o cenho.
— Eu? Sarcástica? Isso é de comer?
Sua boca se abriu como se ele fosse falar alguma
coisa, mas, em seguida, suas mãos atacaram o meu corpo.
Seus dedos estavam por toda a parte, em minhas costelas,
minha barriga, pescoço, me fazendo cócegas e me tirando
o ar de tanto rir.
Eu esperneava e implorava, gritava seu nome e ele ria
de mim, continuando o ataque.
— Diga que acredita em mim, princesa, agora!
— Eu... Eu...
— O quê? Ainda não ouvi nada...
Seus dedos se concentraram em minhas costelas e eu
estremeci, perdendo o ar, começando a gritar enquanto ria.
— Eu acredito, acredito, eu juro!
— Prometa que nunca mais duvidará do meu amor!
— Eu prometo... Por favor, eu prometo...
Sua risada ecoou pelo quarto quando, finalmente, ele
voltou a se deitar tirou as mãos de cima de mim.
— Eu te amo, Lottie. Obrigado por voltar para mim, eu
prometo que nunca mais magoarei você.
— E eu acredito totalmente em você.
Me aproximei e acariciei seu nariz com o meu.
— Eu te amo muito, Ben.
Capítulo 23 – Benjamin
SEIS MESES DEPOIS

Minhas palmas das mãos suavam e estavam levemente


trêmulas. Droga! Eu não queria admitir, mas, sim, eu
estava nervoso. Estava muito nervoso.
E se ela desistisse?
— Relaxa, cara, a pirralha não vai fugir — disse,
Christopher, meu cunhado e mais novo amigo.
Ele estava rindo da minha cara, lógico.
— Chris, pare com isso. Não tire sarro dele. Quando
foi com você, você quase desmaiou.
— Docinho, ele não precisa saber disso! — reclamou,
ficando carrancudo.
— Teve uma queda de pressão, é? — perguntei, rindo
um pouco.
Ele revirou os olhos e cruzou os braços, balançando a
cabeça. Tão temperamental!
Voltei a olhar para frente, esperando ansiosamente pelo
momento em que ela entraria por ali, de braços dados com
Dominick. Limpei as mãos discretamente na calça e minha
avó, que estava ao meu lado, sorriu para mim.
Ela estava tão linda! Usava um vestido longo rosa chá
— que pra mim era rosa e ponto, mas ela fez questão de
explicar o nome exato da cor —, seus cabelos estavam
bem curtinhos e ela fez questão de deixá-los amostra,
orgulhosa. Ela havia vencido o câncer! Fez quimioterapia,
fez todo o tratamento e agora estava se recuperando, seus
cabelos estavam voltando a crescer e ela era só sorrisos.
Logo fez amizade com a família de Charlotte e sua
admiração por todos crescera ainda mais. A tratavam
realmente como uma avó — até mesmo o rei Dominick,
ele a adorava — e era muito querida por toda a família.
E eu? Bem, certamente, eu era o homem mais feliz do
mundo. Ainda morava com Charlotte em Paris e havia
voltado a fazer faculdade há dois meses. Trabalhava a
distância para o rei Dominick e Christopher, cuidando da
maior parte das transições e fusões do país.
Nunca, em toda a minha vida, me imaginei trabalhando
diretamente para o rei e o príncipe. Bem, nunca imaginei
que um dia me apaixonaria pela princesa e olha onde
estou agora.
No altar, nervoso, quase tendo uma síncope porque
Charlotte estava atrasada há três minutos e vinte e cinco
segundos!
— Ela disse que não se atrasaria!
— Elas sempre dizem isso, cara — Arthur disse ao
meu lado. — Eva me prometeu que não se atrasaria e
entrou quase dez minutos depois do horário marcado.
— Não foi culpa minha, amor. Eu tive que retocar a
maquiagem, estava muito emocionada no dia — Eva
disse, com a ponta do nariz vermelho. — Como estou
agora! Ah, meu Deus, minha irmãzinha vai se casar. Ainda
não acredito.
— Nem eu, Pequena, nem eu... — Arthur riu baixinho.
— Ela não desistiu, não é? Sério, porque, se ela
desistir, eu não sei o que faço... Acho que eu morro, não
sei...
Então, a marcha nupcial soou em alto e bom som. Me
virei tão rápido, que senti uma leve tontura, mas a visão
de Charlotte me trouxe de volta a realidade. Uma
realidade linda de se assistir.
Ela estava... Esplêndida. Não, esplêndida é algo tão
pequeno, jamais descreveria aquela visão.
Seu vestido de noiva era tomara-que-caia, abraçava a
sua cintura e descia levemente pelo seu corpo. Nada
daquelas coisas rodadas e cheias de frescuras, porque,
como ela mesmo me dissera um mês antes, não tinha nada
a ver com ela. Aquele vestido, sim, era a perfeição.
Não tinha tanto brilho nem nada e, ainda assim, ela
estava se destacava, como se fosse o próprio Sol. Claro
que isso poderia ser apenas a minha visão de homem
muito apaixonado, mas, não, ela estava realmente linda.
Maravilhosa. E caminhava em minha direção, para se
casar comigo.
Deus era realmente muito bom para ter me dado um
presente tão maravilhoso.
Caminhei em sua direção e sua mão livre tocou a
minha. Beijei longamente o dorso, minha garganta
arranhando, emocionado.
— Cuide bem dela, Benjamin — Dominick disse,
sério. Por fim, me deu um sorrisinho. — Espero que vocês
sejam muito, muito felizes.
— Cuidarei com tudo de mim, Dominick — falei,
apertando sua mão.
Ele deu um beijo na testa de Charlotte, sussurrou algo
que não consegui decifrar, então, se posicionou ao lado de
uma Kiara chorosa e encantada.
— Você está linda — murmurei, levando-a para o
altar.
— Não seja tão clichê, amor — ela riu.
— Estou sendo sincero — seu olhar encontrou o meu e
ela parou de sorrir, olhando-me encantada. — Você é a
mulher mais linda do mundo. Eu amo você.
— Eu também amo você.
Nos ajoelhamos e o padre começou o seu discurso
sobre amor, casamento e respeito. Minha mão ficou o
tempo todo na de Charlotte, bem como os meus olhos, que
se recusavam a olhar para qualquer outra coisa que não
fosse ela.
Naquele momento, percebi o que realmente era o amor.
O amor não ligava muito para personalidade, aparência,
dinheiro ou poder. Charlotte poderia ser mesmo a menina
que eu pensei que era no começo de nosso relacionamento
e, ainda assim, eu iria ama-la. Simplesmente porque era
ela. Meu coração só batia por ela, só ela tinha o poder de
me deixar sem fôlego, de me deixar louco de desejo, de
felicidade, de paixão.
Cada respiração sua era uma certeza de que aquilo
estava acontecendo. De que eu a tinha ao meu lado, não só
naquele altar, como na minha vida.
Quando Charlotte se virou para mim, tive ciência de
tudo ao redor e a voz do padre pedindo para que ela
fizesse seus votos, adentrou meus ouvidos. Charlotte
sorria para mim, suas mãos nas minhas, a aliança pronta
para deslizar sobre meu dedo, seus olhos nos meus.
— Ben, nem preciso dizer que sou péssima com esse
negócio de me declarar, não é? — ela disse, arrancando
risadas de mim e das demais pessoas. — Por isso,
deixarei meu coração falar por mim. Quando te vi aqui,
nesta igreja, pela primeira vez, senti que, minha alma se
ligou a sua de alguma forma. Senti que nossas vidas
haviam se interligado. Se interligaram, não é? O destino
fez sua grande mágica e, de alguma forma, você apareceu
na minha casa naquele anoitecer há meses atrás e se
apresentou como meu segurança pessoal. Ali, eu tive a
certeza de que fomos feitos um para o outro. E não errei.
“Você lutou contra mim no início, mas sou muito
perseverante, sabe? E não te deixei escapar. Nossa
história não é a mais comum de todas, tivemos nossos
momentos felizes, nossos dramas e sei que ainda teremos
infinitos momentos felizes e infinitos dramas pela frente.
E, mesmo assim, estamos embarcando nessa loucura de
casamento e amor. E eu jamais me arrependerei disso. Eu
te amo muito e, hoje, quero que sabia que sou a mulher
mais feliz do mundo por me tornar a sua esposa. Não vou
falar todos aqueles clichês de que prometo “isso e
aquilo”, porque você sabe que sim, eu prometo. Assim
como prometo te amar para todo o sempre, com todo o
meu coração”.
Meu peito quase explodiu e minha garganta voltou a
arranhar. Certamente, eu era o noivo mais emotivo da face
da Terra. Deslizando a aliança sobre seu dedo, comecei:
— Linda, devo concordar com você, você é sim muito
perseverante. Mas, mesmo se não fosse, eu me
apaixonaria por você. Charlotte, você é a mulher mais
incrível, maravilhosa e corajosa que já conheci. Hoje,
tenho certeza de que sou o homem mais feliz do mundo,
porque estou com você aqui, neste altar, declarando para
Deus e toda a igreja o quanto eu te amo. Te fazer feliz é o
meu único objetivo de vida e nada nem ninguém tirará
isso de mim. Você tem razão quando diz que nossas vidas
se interligaram e eu agradeço muito ao destino por isso.
Hoje começamos a nossa história e o infinito ainda é
muito pouco para gente. Eu te amo, linda, te amo para todo
o sempre e com todo o meu coração.
Seus olhos brilharam e uma lágrima escorreu de seu
olho direito. Ah, como era bom vê-la daquela forma, feliz
e emocionada, se sentindo amada. Eu iria viver para
repetir esse momento por muitas e muitas vezes.
— Benjamin Wells Prescott — o padre me chamou. —
Você aceita Charlotte Rose Andrigheto Domaschescky
como sua legítima esposa, para amar e respeitar, até o
último dia de sua vida?
— Sim — respondi, querendo gritar.
— Charlotte Rose Andrigheto Domaschescky, você
aceita Benjamin Wells Prescott como seu legítimo esposo,
para amar e respeitar, até o último dia de sua vida?
— Sim, claro!
Sua resposta foi uma mistura de emoção com um “o
que você acha que estou fazendo aqui se não for pra falar
sim, padre?” e eu sorri ainda mais — como se fosse
possível.
— Então, com o poder cedido a mim, eu vos declaro
marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Certamente, ele não teve que pedir duas vezes. Puxei
Charlotte para mim pela cintura e tomei seus lábios nos
meus, beijando-a com todo o amor e felicidade que
pareciam explodir em meu peito. Sua língua tocou a minha
e, de longe, eu ouvi o som de palmas ecoando ao nosso
redor.
Quando nos afastamos, seu sorriso brilhava mais do
que o Sol.
Começamos a caminhar para fora da igreja, pétalas de
rosas nos atingia e muitas pessoas gritavam felicitações.
Quando chegamos ao lado de fora, no entanto, eu não
consegui segurar a minha própria felicidade e tomei
Charlotte em meus braços. Ao nosso redor, as pessoas
gritaram animadas e Charlotte riu para mim, segurando-se
em meu pescoço.
A puxei mais para o meu colo e rocei meus lábios nos
dela, falando apenas para ela ouvir.
— Agora sou, oficialmente, completamente seu.
— Sim, completamente meu — sussurrou de volta,
sorrindo. — E eu sou completamente sua. Para sempre.
— Para sempre.
Epílogo
CHARLOTTE
CINCO ANOS DEPOIS.

Aquilo. Doía. Muito!


— Isso, meu amor, você está indo muito bem, eu estou
com você.
Agarrei o braço de Benjamin com força, o suor
escorrendo em meu rosto como se fosse uma cachoeira.
Um gemido de raiva escapou por minha garganta.
— Está comigo? Onde? Meu Deus, Benjamin, eu juro
que vou matar você!
— Mas, amor...
— Isso dói muito, muito! Meu Deus do céu, alguém faz
parar!
Uma nova contração me pegou de surpresa e eu
empurrei com todas as minhas forças. Parecia que
estavam me partindo ao meio.
— Acho melhor aplicar a peridural nela, ela está
esgotada — ouvi Benjamin dizer.
Com raiva, o puxei pela camisa até seu rosto estar
colado meu. Seu corpo quase caiu na piscina inflável que
haviam instalado no nosso quarto.
— Eu vou até o fim! Não quero injeção alguma!
— Tudo bem, meu amor, vai ser tudo do seu jeito... —
murmurou, beijando minha testa. — Mas tem certeza de
que não quer a peridural?
Pensei em responder, mas a contração veio mais cedo
do que o previsto e a única coisa que saiu da minha boca
foi um grito de dor. A obstetra sorriu na minha frente e eu
continuei a empurrar.
— Isso, Charlotte! Continue!
Empurrei até o fim das minhas forças e joguei minha
cabeça para trás, soltando um suspiro. Estava cansada,
parecia que estava há um século sentindo aquelas dores.
Segundo minha mãe, haviam se passado apenas duas
horas. E isso indicava que eu estava bem, porque um
trabalho de parto poderia levar dias.
— Eu juro que se você me engravidar de novo, eu
corto o seu pau fora!
— Filha, calma, por favor — mamãe murmurou, aflita.
— Amor — Benjamin engoliu em seco e me fitou. —
Se eu pudesse, transferiria toda a sua dor para mim...
— Mas você não pode! Você só... Ah, porra!
Uma nova contração e dessa vez, senti um pulsar muito
forte em minha vagina. A médica comemorou, vi de
relance Benjamin entrar na piscina e se ajoelhar na minha
frente, sorrindo.
— Amor, eu posso ver a cabeça. Continue, força!
Ele podia ver a cabeça! Ah, Cristo!
Empurrei de novo quando uma nova contração me
atacou. Ouvi mais comemorações, mais incentivos de
Benjamin, e então, um choro.
Primeiro, pareceu vir de longe, como se estivesse
tímido demais. Em seguida, um verdadeiro estrondo! Abri
os olhos e encarei Benjamin com um bonequinho no colo.
Ele chorava também e meus olhos, de repente, ficaram
embaçados demais. Meu coração batia forte demais, como
se fosse sair do peito.
— É uma menina — disse, aproximando-se de mim.
Com cuidado, Benjamin a passou para o meu colo.
Sempre tive muito medo de segurar bebês, mas, ali,
naquele momento, eu senti uma força indestrutível,
inabalável. Porque eu havia me tornado mãe. Simples
assim. E me dei conta de que meu coração não iria sair do
peito, ele já havia saído do meu peito. E estava ali, em
meus braços, na forma de uma bebê linda, cabeluda,
chorona e de intensos olhos azuis.
— Meu Deus, como ela é linda... Muito linda.
— Sim, meu amor, muito linda — Benjamin disse,
choroso.
— Eu quero ter várias iguais ela! Mas podem vir com
piruzinhos também, eu não me importo.
O quarto rompeu em uma risada alta e percebi que
todos haviam se aproximado. Minha mãe chorava
agarrada ao meu pai de um lado e a Eva de outro. Bem,
Eva e meu pai também choravam. Ah, o rei Dominick...
As lágrimas estavam molhando suas bochechas. Estavam
sim.
— Como vamos chama-la? — Benjamin perguntou,
tocando em seus cabelos clarinhos.
Olhei para ela e seus olhos estavam quase se fechando.
Seu choro havia cessado e sua respiração estava se
acalmando.
— Alice — falei, voltando meus olhos para Benjamin.
Ele me fitou e seus olhos azuis brilharam com lágrimas
de emoção. Eu sabia que ele não esperava, até porque, sua
avó Alice estava bem viva e muito nervosa lá embaixo e,
normalmente, só homenageiam os mortos e não os vivos.
Mas eu queria muito que nossa filha se chamasse Alice. E
que fosse tão forte, doce e generosa como sua bisavó.
— Não sei como isso é possível, mas eu acho que eu
te amo ainda mais — murmurou, tão baixo que tive que
fazer um esforço para ouvir. — Você e Alice são a minha
vida, Lottie. Eu te amo, para sempre.
— Eu te amo, para sempre.
Nos beijamos e um corpinho quente e sujo se mexeu
levemente entre nós. Quando voltei a fita-la, o mundo
ficou ainda mais colorido e feliz. Porque eu amava e era
amada de volta.
Porque eu era mãe.
E porque eu era a mulher mais feliz do mundo.
CAPÍTULO ESPECIAL
DOMINICK ANDRIGHETO
DOMASCHESCKY

Segurei o corpinho quente e adormecido de Alice em


meu colo e olhei ao redor.
Eu nunca me cansava de olhar ao redor.
Meus netos gargalhavam, corriam e brincavam em
meio aos jardins do castelo. Meus filhos estavam ali por
perto, sempre olhando, chamando e atenção e brincando
junto com eles. E o sorriso no rosto de cada um deles, era
um prêmio, uma vitória, que eu fazia questão de emoldurar
em meu coração.
Houve uma época em que esse castelo era pobre. Não
pobre em termos financeiros, isso, jamais. Mas pobre de
vida. De sorrisos. De felicidade. Houve uma época em
que eu era pobre de felicidade, de sorrisos, de vida.
Nunca imaginei que viveria isso um dia. Em toda a
minha vida, sempre fui um homem centrado, focado,
rigoroso, mas comigo mesmo. Com a minha satisfação
pessoal, com as minhas vontades. Sem consciência, sem
humanidade, sem amor.
Mas aquela mulher... Aquela, que eu havia comprado
em um leilão, que eu havia mentido, enganado, magoado...
Ela me salvou. Ela me tirou do mar perverso no qual eu
estive mergulhado durante trinta anos e me trouxe a uma
superfície que eu não sabia como lidar.
Porque é tão difícil se adaptar a uma vida de amor e
felicidade, quando tudo o que você conheceu fora o
silêncio, a dor e a crueldade. E é ainda mais difícil
aceitar que você é merecedor de tal vida.
Por muito tempo, eu não aceitei. Por muito tempo tive
medo de que, o que eu estava vivendo, tivesse um tempo
contado. Que, de uma hora para a outra, tudo iria se
findar, ruir. Que, sem mais nem menos, eu pudesse perder
a mulher que eu amava e tudo de bom que ela havia
instaurado na minha vida.
Por muitos anos, mesmo depois do nascimento dos
meus filhos, eu vivi em uma corda bamba. Com o medo de
que, se eu piscasse, todos eles iriam desaparecer.
Mas não despareceram. Pelo contrário, se
multiplicaram.
Hoje, eu tenho uma família enorme. Eu tenho filhos do
meu sangue, filhos que não são do meu sangue — Arthur,
Olivia e Benjamin —, tenho seis netos e uma senhora
sorridente que adotei como uma avó.
E tenho o meu Anjo. O meu mais lindo Anjo, Kiara.
A mulher responsável por cada uma das minhas
felicidades. Cada um dos meus sorrisos, cada uma das
minhas lágrimas de emoção e alegria.
Deus sabia o quanto eu amava aquela mulher. Eu
moveria céus e terra apenas para ver o seu sorriso. Eu iria
ao inferno e viveria lá por toda a eternidade, apenas para
ouvir sua voz me chamando de “Dom”, com aquele tom
que, depois de tantos anos, ainda conseguia fazer o meu
coração tremer.
Por ela. Tudo por ela, sempre por ela.
— Dom — sua voz soou ao meu lado e meu coração
deu uma guinada forte no peito. — Está tudo bem?
Me virei e a encontrei sentada ao meu lado. Seu cheiro
adocicado tomou conta de todo o lugar.
— Sim, Anjo. Por quê?
— Não sei, você está tão quieto, pensativo... Com essa
ruga entre as sobrancelhas — disse, sorrindo.
Seu sorriso... Puta merda, ele iluminou tudo ao redor.
— Você disse que acha essa ruga um charme, Anjo.
— Sim, eu acho. Mas gosto mais quando ela aparece
quando você está analisando papéis no escritório e não
aqui, olhando para a sua família — disse, tocando o meu
rosto. — O que houve?
— Estava pensando no quanto eu sou feliz — declarei,
vendo seu sorriso ficar maior. — Na quão sortudo eu sou
por ter uma família enorme, linda, amorosa e unida.
— Ah, Dom... — ela encostou o rosto no meu peito e
eu passei um braço em volta do seu ombro, mantendo
Alice protegida com o outro braço. — Sabe que, às vezes,
eu me pego pensando o mesmo? No quanto eu sou feliz, no
quanto somos felizes. Cada coisa que passamos juntos,
valeu a pena.
— Mesmo? Toda a mágoa que causei... Tudo? —
perguntei, um pouco inseguro.
Kiara levantou a cabeça e me fitou. Seu sorriso ainda
estava lá, seus olhos ainda eram amorosos e felizes.
— Cada pequena coisa — disse. — Eu passaria por
tudo um milhão de vezes, apenas para ser a sua esposa,
apenas para ter o seu amor. Dom, eu teria sido muito
infeliz se não tivesse você ao meu lado. Meu amor por
você sempre foi maior do que qualquer raiva, qualquer
mágoa, assim como o seu amor por mim, trouxe à tona o
homem maravilhoso que você é.
— Às vezes, acho que não sou merecedor de tanta
felicidade — murmurei.
— Dom, por favor, olhe ao redor.
Quando não o fiz, ela apertou a mão em meu rosto e o
virou para frente.
— Vamos, olhe — obedeci e sua voz voltou a soar,
calma e serena como sempre. — Veja cada um desses
rostinhos felizes. Meu amor, você é merecedor de cada
um deles. Cada sorriso, cada palavra de afeto... Cada
um é um presente para você. Você merece todo o amor
do mundo, porque, dentro do seu peito, você guarda e
distribui o maior amor do mundo. Nós só recebemos
aquilo que somos capazes de retribuir. E você retribui,
Dom.
Voltei meu olhar para ela e, como sempre, toda e
qualquer insegurança foi embora. Ainda me sentia um
bobo sobre como ela era capaz de me acalmar, de tocar
tão fundo dentro de mim. Eu era a tempestade e Kiara
era a calmaria. E ela dominava a cada um dos meus
tempos chuvosos.
Ansioso, coloquei Alice em seu carrinho e a cobri
com a mantinha rosa. Em seguida, me virei para Kiara e
toquei em seu rosto, puxando-a para mais perto de mim.
— Anjo, você é e sempre será a maior das minhas
felicidades — sussurrei, meus lábios tocando os dela.
— Pois veio de você os meus maiores presentes: meus
filhos, meus netos, minha família e todo esse imenso
amor. Sem você, eu não teria nada, eu não seria nada,
nem ao menos um por cento do homem, pai, avô e rei
que sou hoje. Sempre foi você o meu maior amor e a
minha maior riqueza. E sempre será.
Seus olhos se encheram de lágrimas e, devo admitir,
os meus também. Quando elas molharam sua bochecha,
limpei cuidadosamente cada uma.
— Ah, Dom... Já se passaram tantos anos e, ainda
assim, você consegue me deixar sem palavras — sorriu,
tocando em meu cabelo. — Você também e sempre será
o meu maior amor. Meu melhor amigo, meu amante, meu
cúmplice... Meu Rei Dom. Eu te amo com tudo de mim.
— Eu te amo com tudo de mim, meu Anjo.
Quando a beijei, tive a mesma sensação de quando
toquei seus lábios pela primeira vez: eu havia me
tornado um homem melhor. Havia me tornado
merecedor.
Quando a beijei, meu coração estremeceu no peito e
o amor tomou conta de cada lugar daquele castelo.
Quando a beijei, meu mundo se tornou mais bonito.
Quando a beijei, tive a certeza de que eu era o
homem mais feliz do mundo.
Porque eu tinha a ela. Meu amor. Minha Kiara. Meu
eterno Anjo.
AGRADECIMENTOS
E, aqui, encerramos essa linda aventura que vivemos
com a Família Real Andrigheto Domachescky.
Quando criei Dominick e sua história de amor, não
havia imaginado que ele conquistaria tantos corações.
Muito menos, que seus filhos criariam asas e voariam. E
é tão lindo estar aqui, agora, escrevendo os
agradecimentos da filha caçula do Rei Dom e da Kiara.
Estou muito, muito, muito feliz. E triste ao mesmo
tempo, por estar, definitivamente, fechando as páginas
dessa linda família, que sempre estará em meu coração.
Meus eternos agradecimentos a Deus, acima de tudo.
Sempre por Ele e para Ele. Para minha mãe e minha
família.
Minhas melhores amigas, Luana e Lorrane.
Minhas leitoras tão incríveis e maravilhosas!
Certamente, Arthur e Eva, Christopher e Olivia,
Charlotte e Benjamin não teriam suas respectivas
histórias, se não fosse por vocês.
Então, para vocês, meu eterno agradecimento.
Obrigada por todo apoio, cada palavra de incentivo,
cada puxão de orelho quando eu atrasava as postagens!
Obrigada por tudo, sempre.
Com amor,
Tamires Barcellos.

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