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Título Original: Casamento de Mentira.


Capa: @maya_designer_capas
Diagramação: Ane Le
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Todos os direitos reservados. É expressamente proibida e totalmente


repudiável a venda, aluguel ou quaisquer usos comerciais do presente
conteúdo sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos
autorais é um crime, estabelecido na Lei nº9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Criado no Brasil.
Obra Registrada.

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,


personagens, sobrenomes, lugares e acontecimentos reais, é mera
coincidência.
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PRÓLOGO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual
valha a pena escrever...
(Benjamin Franklin)

Chegamos com esse romance clichê, um amor que dá certo, um


amor que enfrentou obstáculos e venceu, vamos conhecer Noah e Scarllet, e
nos permitir apaixonarmos por esse romance!
A todos aqueles que ainda acreditam no amor apesar dos seus altos e
baixos.

Boa leitura,
Helô Oliveira
● Ele é frio como o gelo.
● Ela é doce e gentil.
● Ele não quer amar.
● Ela sonha com o amor.

Scarllet Baker é uma jovem humilde que acaba de perder a irmã


em um trágico acidente de carro.

Noah Thompson é um CEO frio que aprecia a sua solidão e gosta


de viver recluso, evitando até ir ao velório do próprio irmão.

Noah jurou ao irmão que cuidaria da sua sobrinha e fará de tudo


para cumprir com a sua promessa, inclusive, se casará com Scarllet, que
também faz questão da guarda da sobrinha.
Era para ser só um contrato, mas eles acabaram se envolvendo e
agora ela está grávida, mas Noah jura que Scarllet quer dá o golpe nele,
afinal, há alguns anos ele fez uma vasectomia.

O que você vai encontrar em Casamento de mentira: Romance com


diferença de idade, classe social e costumes, quebrando tabus na sociedade
californiana.
PRÓLOGO

Hoje o dia não amanheceu ensolarado e não ouvi o cantar dos


pássaros. O vento está frio e as diversas nuvens no céu mostram que a
tempestade chegou.
O meu coração está despedaçado.
Olho para o caixão e a dor é quase sufocante, as lágrimas que rolam
por minha face não são o suficiente para limpar a dor em minha alma.
Minha única irmã está deitada ali, pálida, serena e linda como
sempre, mas ela não tinha vida. Como dói perder alguém que amamos
tanto!
Lembro-me da nossa infância simples e que sempre fomos uma pela
outra. Até o dia em que ela se apaixonou, se casou e foi embora viver a sua
vida com o seu marido. Apesar de terem vidas completamente distintas,
Siena estava feliz com o seu relacionamento e para mim, era somente isso
que importava, a sua felicidade.
Olho para as pessoas ao redor e é tudo tão superficial. Pessoas que
parecem estar aqui apenas por posição e para mostrar as suas roupas caras,
como se fosse um desfile de moda. A maneira como me olham chegam a
ser repugnante, consigo perceber o desprezo de longe, mas eu não me
importo, não estou aqui por dinheiro, não estou aqui para mostrar minhas
roupas, sapatos e joias, não estou aqui só porque o marido da minha irmã
tinha muito dinheiro. Estou aqui porque eu amo a pessoa deitada nesse
caixão, estou aqui porque não aceito que ela se foi, porque não consigo
imaginar um mundo onde eu não possa mais ouvir a sua risada ou vê-la. A
vida é cruel!
A maioria das pessoas está em volta do caixão de Zac, passam pelo
de Siena rapidamente me encarando e logo saem.
Prendo meu cabelo em um coque no alto da cabeça e olho para os
lados, procurando por minha sobrinha, Charlotte. Como me dói saber que
agora ela está sem os seus pais, assim como eu e Siena ficamos, o ciclo se
repete.
Vi minha sobrinha poucas vezes, assim como era com a minha irmã,
nós duas já não tínhamos contato frequente por conta da incompatibilidade
de nossas vidas, mas de fato, o amor nunca mudou. Ela me ofereceu ajuda
diversas vezes, mas eu não quis aceitar, embora saiba que era de coração,
não queria dinheiro, poderia muito bem continuar trabalhando e
conquistando minhas coisas.
Não encontro Charlotte e fico me perguntando onde ela deve estar e
como deve estar se sentindo. Queria poder abraçá-la agora e dizer com toda
a certeza do mundo de que ela não está sozinha.
Sinto a presença de alguém ao meu lado e viro-me para ver quem é.
É um homem com uma expressão séria, um terno preto impecável e um ar
de superioridade igual a quase todos que estão aqui. O dito cujo me olha
dos pés à cabeça e inevitavelmente me sinto intimidada.
— Você deve ser Scarlett Baker? — Pergunta, ainda me encarando.
— Sim, sou eu mesma. — Empino o nariz e tento encará-lo de igual
para igual. — E quem é você?
— Represento os interesses do Sr Thompson. — Olho para o caixão
do meu cunhado, que está um pouco mais afastado do da minha irmã. — O
Sr Noah Thompson.
Recordo-me desse nome, eu acho que ouvi algo sobre isso, esse
homem era irmão do marido da minha irmã, mas o que ele poderia querer
comigo?
— E? — Arqueio uma sobrancelha, tentando entender o que ele
quer comigo.
— Podemos ir lá fora conversarmos um pouco? — Sugere. Pondero
se devo confiar nesse homem. — É sobre a sua sobrinha.
Como o assunto muito me interessa, sigo para a parte externa.
— Sua sobrinha está na casa do Sr Thompson. — Avisa, sem
rodeios.
— Gostaria muito de ir vê-la.
— Ele deseja a guarda da criança.
Pisco diversas vezes, tentando assimilar a forma direta que esse
homem fala as coisas.
— Como?
— Preciso apenas que a senhorita assine um documento,
concordando que a guarda da menina Charlotte fique única e
exclusivamente com o Sr Thompson. — Estreito os olhos. — Como deve
saber, a menina só possui vocês dois como parentes próximos e vivos. Vejo
que não tem nenhum recurso para criá-la. — Aponta para a minha roupa. —
Sendo assim, o lugar mais adequado para ela é com ele. O que estou te
propondo é que assine sem qualquer problema e combinaremos um valor
generoso para você, deixando ambas as partes satisfeitas.
— Espera! — Exclamo, totalmente indignada com o que acabei de
ouvir. — Vocês estão querendo comprar a minha sobrinha? — Solto uma
risada irônica.
— Tudo depende do ponto de vista.
— Vocês pensam que eu sou burra? — Seus olhos frios me encaram.
— Eu não vou assinar nada!
— Ela é filha do irmão do Sr Thompson... — Nem deixo ele
terminar e interrompo sua fala.
— É filha da minha irmã também!
— Você não tem nenhuma condição de cuidar de uma criança e dá
ela uma vida digna.
Bato o pé no chão e dobro os braços na altura do peito.
— Como é? Quem você pensa que é para saber se eu tenho ou não
condições?
— Só olhar para você.
— Olha só, seu idiota! — Descruzo os braços e aponto o dedo em
sua direção. — Não é porque não sou rica igual ao seu chefe que não tenho
condições de cuidar da minha sobrinha. Fique sabendo que não é só
dinheiro que uma criança precisa, entendeu? Eu quero que você e o seu
chefe vão para o inferno! — Começo a sair dali. — Avise a ele que eu
jamais vou assinar.
— Receio que terá grandes problemas.
Paro de andar imediatamente.
— Está me ameaçando? — Questiono, sentindo um certo medo, mas
não demonstro.
— Só estou falando que entrará em uma briga à toa.
— Veremos!
— A Senhorita tem noção de quem é Noah Thompson? — Pergunta
e eu solto uma risada.
— Tenho, sim, um babaca que acha que pode comprar tudo e todos.
Não abrirei mão da minha sobrinha e pode apostar que vou lutar por ela. —
Saio de perto daquele homem o mais rápido possível.
Sinto as minhas pernas tremerem, nunca havia enfrentado alguém
assim.
Volto para o velório e acompanho a cremação dos corpos. Sem
dúvidas, essa parte é a mais difícil, a partir dali soube que não a veria mais.
Voltei para a minha casa aos prantos. Ainda morava na casa em que
crescemos, num bairro simples, no subúrbio de São Francisco, apesar das
condições difíceis, aqui todo mundo se conhecia, e os vizinhos acabavam se
tornando parte da família, e isso é até bom, porque me sinto menos sozinha,
já que eu vivia sozinha com Josh, o meu cachorro que me fazia companhia.
Confesso que estou com um pouco de medo depois da conversa que
tive com aquele homem estranho, mas eu não podia desistir da minha
sobrinha, eu tinha que lutar para estar ao lado dela, afinal agora éramos
apenas nós duas. Tenho certeza que minha irmã ficaria muito decepcionada
se eu renunciasse a Charlotte dessa maneira, sem contar que eu também não
me perdoaria.
Capítulo 1

Estava fazendo um lanche na cozinha da minha casa, quando ouvi


alguém bater na porta, atravessei a pequena sala e abri a porta antiga de
madeira, vendo a minha única amiga, Judith, ali parada.
— Desculpa, não consegui chegar antes, hoje aquele restaurante
estava uma loucura — Se justifica, entrando e deixando a bolsa sobre o sofá
antigo.
— Tudo bem, acabei de chegar.
— E como foi lá? — Se senta e eu faço o mesmo.
— Estranho, apesar de todo esse tempo longe da minha irmã, é
estranho me despedir dela assim. — Suspiro pesado. — Acho que acabei de
entrar em uma briga grande.
— Como assim? De que briga está falando? — Judith inquire e se
ajeita no sofá, esperando pela fofoca.
— Apareceu o advogado do irmão do meu cunhado lá, oferecendo
até dinheiro para eu abdicar sem qualquer problema da guarda da minha
sobrinha.
— Meu Deus, Scarllet! E agora?
— Não sei, ele provavelmente tem muito dinheiro e bem mais
chances de ganhar a guarda dela.
— O fato dele ter dinheiro, não faz dele a melhor opção para ficar
com ela — Judith diz.
— Diga isso para as autoridades americanas. Você sabe que quem
tem dinheiro sempre tem vantagem.
Ela tira uma maça da bolsa e começa a comer.
— Isso não é justo. Tenho certeza que sua irmã iria querer que ela
ficasse com você.
— Sabe, se for pensar pela lógica, ele tem mais condições de criar
ela, pode dar tudo que ela precisa.
— Dinheiro não é tudo, minha amiga, você tem amor, carinho e
dedicação a oferecer.
— Isso lá enche barriga, Judith? Ela foi criada no luxo, estuda em
uma escola que a mensalidade daria para fazer uma compra no
supermercado para uma família de dez pessoas, ela anda em um carro com
motoristas e seguranças. Enquanto eu em alguns dias nem tenho dinheiro
para o ônibus.
— Está pensando em desistir dela? — Pergunta, me encarando, um
pouco confusa.
— Não posso, eu não conseguiria viver com a culpa, mas nem sei
como vou pagar um advogado que possa brigar contra Noah Thompson no
tribunal. — Já me sinto derrotada antes mesmo de começar essa briga.
— Noah Thompson? O CEO da engenharia? — Judith praticamente
grita. — A empresa dele é responsável pela construção dos maiores e mais
bonitos arranha-céus de São Francisco, ele é tão ruim que as pessoas dizem
que ninguém consegue trabalhar com ele, e ninguém nunca nem sequer viu
uma foto dele nos jornais, ele trabalha recluso no seu escritório na cobertura
de um dos maiores edifícios no distrito financeiro, e dizem que ele vai
trabalhar de helicóptero todos os dias. — Ela praticamente me entrega um
arquivo completo da vida do homem.
O que só serviu para me deixar ainda mais apavorada.
— Preciso falar com ele, talvez ele entenda que eu não posso ficar
longe da minha sobrinha. — Reflito na melhor opção.
— E como vai conseguir chegar perto dele, mulher? Não ouviu nada
do que eu disse?
— Não sei, mas preciso encontrar um meio para isso.
— Eu ficava com um carinha que trabalha na portaria do edifício
que ficam os escritórios dele, e ele dizia que ninguém chegava perto do
homem.
Uma ideia surge na minha cabeça.
— Você ainda tem contato com esse cara?
— Scarllet, o que tem em mente? — Pergunta, já me conhecendo
bem.
— Judith eu preciso tentar, talvez se eu explicar ele entenda e se
comova, não tenho como pagar um advogado, tenho que apelar para o bom
coração.
— Noah Thompson se comover? — Ela começa a rir. — Dizem que
o homem nem tem coração, Scarlett!
— Tenho que tentar, por favor, me ajuda? Preciso entrar naquele
edifício. — Imploro.
Ela respira fundo e acaba concordando.
— Tudo bem, mas se sair presa de lá, não me ligue, não posso ter
problemas com a polícia, você sabe da minha situação no país.
Judith é uma imigrante mexicana, ainda não conseguiu o visto para
ficar no país, e morre de medo de ser deportada. E é claro que eu também
tenho esse medo, afinal, ela é a única pessoa que tenho agora, não posso
ficar sem ela.
Capítulo 2

A minha noite foi mais uma daquelas em que a insônia tomou conta
de mim, tentei ler um dos meus romances secretos, que eu mantinha
escondidos em cima do pequeno guarda-roupa. Morro de vergonha que
descubram que eu gosto de ler esses romances quentes.
Só tive um namorado na vida e digamos que não acabou nada bem,
foram três anos juntos, porém, a imagem que eu tinha dele se perdeu
quando descobri que ele me traiu. Todos os sonhos e planos que eu tinha
para nós dois se acabaram.
Nunca me achei uma garota daquelas linda e quando Tom me olhou
naquele dia, senti como se o meu conto de fadas tivesse finalmente
começado, ele parecia não se importar com as minhas roupas simples ou
com o meu cabelo malcuidado, mas o que eu não sabia era que ele só tinha
um interesse em mim, ajudar a bancar sua faculdade! Já trabalhava como
professora e tudo o que eu ganhava eu dividia entre as despesas mais
necessárias da minha casa e em ajudar Tom pagar a faculdade, no fim de
tudo, fiquei com as dívidas dos empréstimos bancários e sem o namorado
que me trocou por uma garota siliconada da faculdade.
Passei a me apaixonar apenas por personagens literários, pelo menos
com eles, poderia sonhar em paz e não me preocupar com a decepção.
Olho mais uma vez para o relógio antigo e não tenho mais tempo
para enrolação. Antes o relógio até tocava música, mas agora depois de
todos esses anos ele mal mostra a hora.
Levanto e tomo um banho rápido, abro o meu guarda-roupa e
procuro por uma roupa adequada. O único problema é que nenhuma das
minhas roupas parece adequada para encontrar Noah Thompson, então pego
a que eu mais gosto, um vestido longo floral, um cardigã rosa-claro e as
minhas inseparáveis botas, na verdade, eram os únicos calçados que eu
tinha, eu as havia comprado em um bazar na escola e, graças aos céus, elas
estavam durando.
Mesmo após um ano do meu término com Tom, ainda estava
afundada nas dívidas, pagando os empréstimos, então no fim do mês eu
tinha que escolher entre comprar roupas novas para mim, ou pagar as
contas.
Prendo o meu cabelo da melhor maneira que consigo, já que ele é
bastante rebelde, volumoso e cacheado. Talvez com os tratamentos certos
ele ficasse bonito, mas nesse momento ele parecia mais uma espiga de
milho.
Olho no espelho, até gostando do resultado, afinal, melhor que isso
não dava para ficar. Pego minha bolsa e o endereço que Judith me passou,
alguns trocados para o ônibus e saio. O endereço fica do outro lado da
cidade e será preciso pegar dois ônibus e andar mais alguns quarteirões a pé
para chegar no local, mas isso não importa, se for preciso, vou até o outro
lado do mundo.
Como já era de se esperar, peguei ônibus lotados e andei bastante,
estou com os pés doloridos.
Thompson Enterprise... finalmente cheguei!
— Oi, tudo bem? — Cumprimento a moça elegante da recepção. Ela
me olha dos pés à cabeça, deixando-me constrangida. Provavelmente estou
descabelada de tanto que andei. — Me chamo Scarlett Baker, gostaria de
falar com o Senhor Noah Thompson.
— Horário marcado?
Demoro um pouco para entender o que ela está falando.
— Ah não! — Sorrio. — Não tenho hora marcada com ele, mas é
urgente!
— O Senhor Thompson não atende sem horário agendado. — Ela
volta a olhar para o seu computador, me ignorando.
Droga o que vou fazer agora? Tenho que falar com esse homem!
Afasto-me da recepção e vejo que há algumas moças em um canto
do salão, elas parecem simples como eu, talvez uma delas conhecesse
alguém, que conhecesse alguém que pudesse me ajudar. Não custa nada
tentar a sorte, não é? Aproximo-me e quando estou prestes a falar com uma
delas, uma mulher vestida em um uniforme com o logo da Thompson se
aproxima do grupo.
— Vamos lá, a entrevista já vai começar, me acompanhem, são duas
vagas para trabalhar na limpeza da ala presidencial — A mulher começa a
falar enquanto caminha até o elevador, vou seguindo o grupo esperando
uma oportunidade de pedir ajuda — Quem for contratada não deve nunca se
dirigir ao Senhor Thompson, vocês têm que ser invisíveis. — Explica e fico
horrorizada, o que esse homem é? Um rei? — Vamos fazer o teste com às
quatro hoje e, o que fiquei sabendo é que ele não está de bom humor, então
quem sobreviver até o fim da tarde, será contratada. — Fala com
naturalidade, provavelmente já está acostumada.
Tento falar com uma menina ao meu lado, mas a porta do elevador
se abre e a minha frente está o lugar mais limpo e bonito que já vi, as
janelas de vidro vão do chão ao teto, o piso tem um brilho impecável, o
cheiro do lugar é cheiro de riqueza, as pessoas caminham como se pisassem
em nuvens. A mulher nos olha e faz sinal de silêncio com o dedo indicador
e nos leva até uma porta, assim que entramos ela nos entrega um uniforme e
um carrinho de limpeza para cada uma.
— É, por favor. — Começo a falar, mas ela me interrompe.
— Nenhuma palavra nesse andar, podem se trocar e comecem a
limpeza, sempre pelas salas vazias — Ordena e sai do pequeno cômodo.
Não estou aqui para uma entrevista de emprego, mas talvez essa seja
a única oportunidade que tenho de encontrá-lo.
Pensando assim, troco de roupa e guardo as minhas coisas no
pequeno armário que me foi entregue a chave. Após estar pronta, saio
daquela sala empurrando o meu carrinho em busca de Noah Thompson.
Capítulo 3
Desde que me tornei o CEO da empresa faço um trabalho árduo
para fazer dela o que é hoje, a maior empresa de engenharia de São
Francisco. Não é um trabalho fácil, mas compensador. Quando assumi a
presidência, a empresa era apenas mais uma no mercado, mas hoje ela se
destaca, tornando-se a melhor.
Meu pai nunca teve tino para os negócios, ele se contentava em
ganhar apenas o suficiente para manter a nossa família, no entanto, não
penso dessa maneira, estou sempre querendo mais e mais. Poder e dinheiro
são duas coisas tenho de sobra e estou sempre em busca de mais.
Zac, meu irmão mais novo, sempre foi um aventureiro e nunca
gostou de trabalhar na empresa. Passou boa parte da juventude surfando e
gastando sua herança com mulheres, viagens e bebidas, até conhecer uma
moça do subúrbio por quem ficou encantado. Na época, tentei alertá-lo
sobre se envolver com garotas desse nível, mas ele estava cego de amor e
não me deu ouvidos. O sobrenome Thompson atraí muitos sanguessugas.
Eu e meu irmão diferíamos em muitas coisas e constantemente
discordávamos um do outro, mas se tinha algo que tínhamos em comum,
era a certeza de que só tínhamos um pelo outro. Mas, agora ele se foi e
estou sozinho neste mundo. Bem, não totalmente sozinho, afinal, tenho
minha pequena sobrinha. Prometi ao meu irmão que se algum dia algo
acontecesse a ele, estaria aqui para proteger e cuidar da sua filha, mesmo
não sabendo ao certo como fazer isso. A única certeza que tenho é que irei
cumprir com a minha palavra.
Só tenho um pequeno problema que irei resolver em breve, a tal da
tia da minha sobrinha se recusou a aceitar o dinheiro e deixar a guarda
inteiramente para mim. Evitaria dor de cabeça se aquela pobretona tivesse
aceitado, mas não tem problema, passarei por cima dela se for necessário,
por bem ou por mal, ela terá que aceitar.
Uma batida na porta do escritório, interrompe os meus pensamentos.
— Senhor Thompson, desculpe vir até aqui, sei que não gosta de ser
incomodado, mas... — Genna, a governanta da casa, começa a falar,
enrolando como sempre.
— Se sabe, então seja breve e saia — Digo, sem paciência.
— É a menina, ela não para de chamar pelo pai e a mãe. Não sei
mais o que dizer para acalmá-la.
— Diga a verdade.
— Que eles morreram? — Pergunta, com os olhos arregalados.
— Crianças têm que aprender desde pequenas a lidar com perdas,
para não crescerem fantasiando com um mundo perfeito e quebrarem a cara
ao descobrir que o mundo perfeito não existe.
— Senhor, eu não consigo dizer isso a ela. — Genna abaixa a
cabeça.
— Pois bem, deixe que eu mesmo falo. — Me levanto e passo pela
mulher, que me encara assustada.
Não tive muito contato com a minha sobrinha além de algumas fotos
enviadas por meu irmão, fotos essas que muitas vezes sequer abria. Ontem
a babá trouxe-a para cá, mas ainda não fui falar com ela.
Vejo-a sentada no sofá, abraçada com um urso de pelúcia marrom. A
menina tem cabelos castanhos, lembrando muito os da minha mãe, assim
como as suas feições. Aproximo-me e lágrimas começam a rolar pelo rosto
da garotinha.
— Você é o tio Noah? — Pergunta, com a sua voz doce de uma
garotinha.
Tio? Que estranho ouvi-la me chamando assim.
Solto um pigarro.
— Sou. — É tudo que consigo responder e me abaixo na sua frente.
— Tio Noah, por que estou aqui? Onde está o papai e a mamãe?
Sinto saudades deles!
Pensei que fosse mais fácil vir aqui e falar na cara dela que os seus
pais não vão mais voltar, mas agora, diante dela, me faltam as palavras.
— Esse urso é seu? — Puxo qualquer assunto aleatório.
— Sim, esse é o Senhor Rub — Apresenta o seu urso. — Foi o meu
pai que me deu.
— Ele me parece legal!
— Ele parece com você. — Abre um pequeno sorriso.
— Você acha que sou legal?
— É, não é? Geralmente os tios são legais. E ele também tem pelos,
igual a você! — Passa a mão na minha barba. O gesto inocente, pegando-
me de surpresa, acaba me assustando e me afasto.
Não estou acostumado com essas coisas. Na verdade, não estou
acostumado com pessoas no geral.
— Não posso te tocar, tio? — A pequena é esperta e percebe a
minha reação estranha.
Tusso para aliviar a estranha sensação de um nó se formando na
minha garganta.
— Charlotte, preciso te dizer uma coisa muito importante. —
Começo a falar, procurando as palavras certas.
— É sobre o papai e a mamãe? — Como já havia notado, a garota é
realmente muito esperta.
— Sim, é que... — Não consigo falar a verdade. — Eles tiveram que
fazer uma viagem e vão demorar um pouco para voltar.
— Eles morreram, não é tio Noah? — Arregalo os olhos. — Papai
disse isso sobre o Teddy também, mas a verdade é que ele morreu! — Fala,
olhando para baixo e mexendo no urso.
— Quem é Teddy?
— O nosso cachorro, o papai disse que ele fez uma viagem longa
para, que ia alegrar outra família, mas ouvi ele e a mamãe conversando em
uma noite, o papai disse que ele estava morto. O papai e a mamãe foram
cuidar do Teddy, tio Noah? — A menina fica me encarando.
Estou atônito. Pela primeira vez na vida, não encontro palavras para
responder uma pessoa.
— Sim, Charlotte, eles foram cuidar do Teddy. — Sem outra
alternativa, opto pela verdade.
Ela se levanta e corre até mim, abraçando as minhas pernas. A
princípio fico sem saber o que fazer, mas logo me abaixo, deixando que ela
me abrace do jeito certo.
— O Senhor vai cuidar de mim, tio Noah? — Encara-me, os olhos
cheios de lágrimas.
— Sim. — Sinto o meu peito estranhamente apertado.
Charlotte chorou bastante e disse várias vezes que ia sentir muita
falta dos pais, mas aos poucos ela foi se acalmando. Optou por assistir um
desenho animado e adormeceu.
Capítulo 4

Na manhã seguinte, Charlotte acordou como se nada tivesse


acontecido. Decidi que chegaria um pouco mais tarde que o habitual na
empresa, pois tomaria café da manhã com ela, antes dela ir para o colégio.
Não costumava sair da rotina, de certa forma, isso me irritava um
pouco, mas pensei que seria importante que tivesse com ela naquele
momento e eu estava certo. A pequena menina ficou bem feliz com esse
pequeno gesto. Ela pediu que eu a levasse no colégio, mas acabaria me
atrasando demais e prometi que outro dia faria isso. Charlotte não parece
uma menina que me dará trabalho, a meu ver, foi bem-educada.
Entrei no elevador, que ficava no heliporto e desci no andar
presidencial. Caminhei pelos corredores silenciosos, tudo estava do mesmo
jeito de sempre, o que me agradava bastante.
Minha paz foi tirada quando entrei na minha sala e havia uma
mulher cantarolando enquanto limpava. Ela estava com um balde na mão e
um pano na outra.
— O que faz aqui? — Pergunto, sem qualquer delicadeza ou
paciência.
Ela se assusta e deixa o balde cheio de água cair com tudo no meio
da sala, fazendo a maior bagunça.
— Mais que droga! — Reclama, olhando para o estrago que fez.
Rapidamente seus olhos arregalados são direcionados para mim. — Me
perdoe, vou ajeitar tudinho. Aliás, me chamo Scarllet, sou a nova faxineira.
— Se apresenta, toda sorridente.
— Não importa, esse será o seu último dia mesmo, limpe essa
bagunça e saia imediatamente da minha sala! — Ordeno.
Como se já não bastasse o estrago, a moça dá um passo para frente e
escorrega no piso molhado, caindo com tudo no chão. Aproximo-me e
quando ela tenta levantar, escorrega novamente, mas dessa vez sou mais
rápido e a seguro, impedindo que caia.
Era só o que me faltava, um processo trabalhista.
Minhas mãos vão parar na sua cintura e nossos olhos se encontram.
Sinto sua respiração bem próxima à minha.
— Obrigada! — Sua voz sai como um sussurro.
— Você é uma desastrada! — Solto-a e caminho até a minha mesa.
— Limpe isso logo e cuidado para não cair novamente.
— Grosso! — Escuto-a resmungar.
— Limpa isso logo e saia, tenho muitas coisas para fazer!
— Por favor, Senhor, preciso muito desse emprego. — Choraminga.
— Se precisasse tanto, seria mais cuidadosa. — Sento-me,
começando a ajeitar os papéis que estão na mesa.
— Me dê uma chance, prometo que serei mais cuidadosa. Vou
limpar tudinho, mas não conta nada a ninguém, se o chefão, o tal do Senhor
Thompson souber, não terei nenhuma chance, ouvi dizer que ele é um
tirano.
Tirano? Mais que menina abusada!
— Tudo bem, não falarei nada. — Entro no jogo, estou até me
divertindo com ela sem saber quem realmente sou.
Ela começa a dar pequenos pulinhos de felicidade, agradecendo.
De onde essa maluca havia saído?
Ignoro sua loucura e começo a prestar atenção nos papéis, mas vez
ou outra, olho para ela, que cantarola baixinho enquanto limpa.
— Prontinho — Avisa que terminou, sorrindo. — Mais uma vez
muito obrigada! — Não respondo e ela sai da sala.
Disco o ramal da minha secretária, chamando-a.
— Sim Senhor — Entra e caminha até a minha mesa.
— Contrataram novas faxineiras? — Questiono.
— Sim. Eu vi quando a novata saiu daqui, peço desculpas por isso.
Solicitarei o desligamento dela da empresa agora mesmo. — Se justifica.
— Hanna — Tamborilo os dedos na mesa, pensando em executar
uma ideia muito louca que acabou de passar por minha cabeça.
— Sim?
— Não lhe dei essa ordem. — Ela anui. — No entanto, nenhuma
delas devem saber que Noah Thompson sou eu. — Digo e vejo-a arregalar
os olhos.
— Por que, Senhor?
— Não sabia que te pagava para fazer perguntas.
— Perdão. — Abaixa a cabeça.
— Apenas faça o que mandei. — Volto a minha atenção para os
papéis.
— Sim, Senhor. — Vira as costas e sai da sala.
Olho mais uma vez para o piso da minha sala, de fato ela havia
limpado tudo. Pego-me rindo da mulher desastrada e olha que era raridade
alguma coisa me fazer rir, mas a mulher conseguiu esse feito.
Talvez eu pudesse me divertir um pouco.
Capítulo 5

Mais que ótima maneira de começar no emprego!


Meu Deus, como sou sonsa! Acabei me assustando e derrubei o
balde cheio de água na sala daquele homem, que com todo aquele ar de
arrogância, provavelmente é um homem muito importante.
Tudo bem que não fazia questão do emprego, mas essa é a única
maneira que encontrei de me aproximar de Noah Thompson. Ainda não
consegui, a informação é de que ele mal aparece na empresa e quando
aparece vive recluso, mas esperarei com paciência, só que para isso
acontecer, preciso que aquele homem não conte a ninguém o que aconteceu
na sala e não peça a minha demissão.
No fim do dia estava realmente cansada, há muito tempo não fazia
faxina nem mesmo em casa, mas acho que me saí bem, tirando o episódio
na sala daquele homem mal-encarado.
Hoje a mulher que me contratou me chamou para falar que passei no
teste e que amanhã seria meu primeiro dia oficialmente contratada.
Confesso que o salário será muito bem-vindo. Noah paga muito bem os
seus funcionários, ali estaria ganhando mais do que quando estou
trabalhando como professora.
Chego em casa após um dia cansativo, tomo um banho e nem tenho
tempo de comer, apenas quero dormir.

Acordo assustada achando que havia perdido a hora, mas graças a


Deus o despertador velho e antigo havia despertado na hora certa. Tomo um
banho, troco de roupa e sigo para o ponto de ônibus.
Chego na Thompson antes do horário e procuro pela supervisora,
que me entrega a chave do armário e dois conjuntos de uniforme. Já com o
uniforme colocado, começo a minha jornada. Desta vez, apresso-me em
limpar as salas antes que os granfinos cheguem.
Estava limpando os vidros do corredor quando vejo novamente
aquele homem. Abro um pequeno sorriso, cumprimentando-o.
— Bom dia, Senhor, preciso lhe agradecer por não ter falado nada
para o todo-poderoso. Passei no teste e agora estou oficialmente trabalhado
aqui. — Comento, toda animada.
— Todo-poderoso? — Pergunta, arqueando a sua sobrancelha
grossa e bem-feita.
— Sim, o tal Senhor Thompson.
— Claro. Fique tranquila, não disse nada para ele.
— Já limpei a sala do Senhor, está um brinco.
Ele apenas me dá um leve aceno de cabeça e segue em direção a sua
sala.
Reparo que algumas pessoas que passam por ali ficam me olhando
de um jeito estranho, assustadas, com os olhos arregalados.
O que fiz de errado?
Ignoro esses pensamentos e sigo trabalhando pela empresa,
prestando atenção em tudo, mas ainda não tinha encontrado o Noah e nem
ouvido ninguém falar dele. Continuo o meu trabalho, afinal, mais cedo ou
mais tarde eu o encontraria.
Os dias que se seguiram forma tranquilos, eu sempre encontrava
aquele Senhor pelos corredores da empresa, mas ainda não havia
encontrado o todo-poderoso, tudo bem que ele era um homem reservado,
mas ficar dias sem vir a própria empresa era estranho.
Estava tirando o pó dos móveis na sala daquele homem estranho
quando ele abriu a porta e entrou.
— Ah, me desculpe, pensei que o Senhor já tinha ido embora. —
Justifico minha presença na sua sala.
— Estava em reunião. — Fala, com a mesma cara de poucos amigos
de sempre.
— Com licença. — Recolho meu material de limpeza e caminho
para fora da sala.
— Pode continuar o seu trabalho. — Ordena, sua voz um pouco
mais rouca que o habitual.
Acabo reparando mais nele. É um homem mais velho, mas bem
charmoso e também cheiroso, muito cheiroso, sem contar que é bonito,
mesmo com esse ar misterioso e sombrio, ele é bem bonito.
— Tá olhando o quê? — Questiona. Acho que passei tempo demais
reparando-o.
— Nada. Desculpa! — Vou até a estante, tirando o pó dos livros.
— Gosta de livros? — Sua pergunta me pega de surpresa.
— Sim, sempre gostei de ler, mas foi na faculdade que me apaixonei
ainda mais pela leitura.
— É formada em quê?
— Educação infantil.
— E está trabalhando como faxineira aqui? — Inquire, olhando-me
com certa desconfiança.
— Sabe, desde que comecei a trabalhar aqui, você tem sido legal,
com o seu jeitão frio aí, mas legal — Viro-me e me aproximo dele para
conversar. — É que não estou aqui exatamente pelo emprego. — Confesso.
— Como assim? — Vejo-o ficar confuso.
— É que eu preciso muito falar com Noah Thompson, mas nunca o
vejo por aqui.
— E o que exatamente você quer falar com ele?
— É uma longa história. — Suspiro pesado.
— Temos tempo, sente-se. — Aponta para a cadeira à frente da sua
mesa.
— Posso mesmo? — Questiono.
— Senta logo menina! — Ordena, com seu jeito todo mandão.
— É que estou querendo conversar com ele sobre a minha sobrinha.
— Falo, enquanto me sento na cadeira.
— Sua sobrinha? — Estreita os olhos, parecendo interessado no
assunto.
— É — Puxo o ar, pegando fôlego para começar a história. — O
irmão dele era casado com a minha irmã, os dois morreram em um acidente
de carro e deixaram uma filha, minha sobrinha e também, sobrinha dele. O
que acontece é que no meio do velório da minha irmã e do meu cunhado, o
crápula mandou um advogado me oferecer dinheiro para abdicar da guarda
dela, ele nem sequer se deu ao trabalho de ir ao velório do próprio irmão, e
ainda queria comprar o meu direito sobre a minha sobrinha. Isso não é um
absurdo? — Ele continua me encarando, sem falar nada. — Olha, sei que
sou pobre, mas eu tenho todo amor do mundo para dar para a minha
sobrinha e dinheiro nenhum pode comprar isso, o senhor entende? Esse
Noah Thompson precisa entender que nem tudo é sobre dinheiro! — O
homem continua calado. — Não vai falar nada?
— E aí você resolveu trabalhar aqui?
— Não foi bem assim. Vim para tentar falar com ele, mas fui
barrada na recepção, a moça disse que só conseguiria com horário
agendando, como ia conseguir isso? Acabou que me misturei meio que sem
querer no meio das meninas que iam fazer entrevista e bom, aqui estou eu.
— Certo. Seremos racionais, você não acha que seria mais
confortável para a menina ficar com ele?
— Fala isso só por causa do dinheiro que ele tem? Mas, e amor?
Carinho? Tempo? Essas coisas? Duvido que esse homem arrogante possa
proporcionar a ela essas coisas. O dinheiro não é tudo nessa vida não!
— Preciso ir. Até mais! — Diz, se levantando e saindo às pressas da
sala.
Eu hein, que homem estranho!
Capítulo 6

Saio da minha sala um pouco transtornado após descobrir quem


realmente é aquela mulher. Claro que eu sabia da existência da tia de
Charlotte, mas não podia imaginar que aquela desastrada que limpa minha
sala, fosse a tal. Em nada ela se parece com a mulher interesseira que
idealizei que fosse, ou estaria encenando um papel de boa moça? Caso seja
isso, devo lhe parabenizar, pois merece o Oscar de boa atriz.
Sigo direto para a minha casa e, ao chegar, encontro a minha
sobrinha brincando no tapete da sala. Paro alguns segundos para contemplar
essa visão, uma criança ingênua brincando, sem se preocupar com a
maldade do mundo. Não posso negar, é bonito de se ver. Charlotte nota
minha presença, me olha e sorri, então vem correndo em minha direção.
— Tio Noah! — Ela grita e abraça as minhas pernas.
Não sei bem o que fazer ou como me comportar, nunca tive uma
criança tão perto de mim assim.
— Oi, Charlotte. — Cumprimento-a, secamente, mas a garotinha
parece não se importar.
— Vamos jantar juntos? Mamãe e eu sempre esperávamos o papai
para o jantar. — Olhos pequenos brilham ao falar dos seus pais.
Sinto algo estranho, um incomodo quando ela fala assim, vejo que
ela está sozinha assim como eu estive a vida toda.
Assinto, não consigo cogitar a ideia de falar não para essa menina.
— Vamos sim, só vou tomar um banho, tá bom?
— Vou esperar assistindo desenho. — Sai correndo, saltitando pela
sala.
Subo as escadas e entro no meu quarto, esse é o meu verdadeiro
refúgio. Gosto de estar na empresa, mas a tranquilidade que o meu quarto
me traz é reconfortante. A decoração em tons escuros, mostra exatamente
como eu sou por dentro, sombrio.
Tiro o paletó jogando sobre a poltrona e desfaço o nó da gravata,
também a tirando. Caminho até a porta da varanda e abro, deixando o ar
puro da noite bater no meu rosto. Fecho os olhos, apreciando o vento
fresco, estranhamente vem a imagem daquela mulher na minha cabeça, seus
olhos brilhantes e seu jeito meigo de falar. Imediatamente abro os olhos e
balanço a cabeça de um lado para o outro. Por que estou pensando nela?
Mais que porra! Estou enlouquecendo!
Entro para o quarto, indo direito para o banheiro, ligo o chuveiro na
água gelada e deixo que caia sobre os meus ombros, refrescando-me.
Opto em por uma roupa fresca, nada de roupas formais e desço as
escadas, Charlotte já está sentada à mesa de jantar, me esperando, sorridente
como sempre, junto-me a ela para que possamos jantar.
A pequena engata uma conversa sobre como foi o dia dela e apesar
de não me interessar muito sobre o assunto, prestei atenção nela e fiquei
bravo quando me contou que os amigos da escola a deixaram solitária, mas
tentei acalmá-la explicando que o primeiro dia é complicado e que logo ela
se adaptaria e faria muitos amigos, pois é uma menina muito simpática.
— Vou ficar bem aqui com o Senhor, não é tio Noah?
— Sim, estará segura aqui comigo. — A tranquilizo.
Farei todo o possível para que a guarda dessa menina seja minha,
nem que para isso, tenha que subornar meio mundo ou até mesmo, o mundo
inteiro.
Terminamos o jantar e já estava indo para o meu quarto, quando
Charlotte insistiu que eu ficasse com ela assistindo desenho. Agora estou
aqui, entediado, vendo esses bichos falando, cantando e dançando. Como
ela pode gostar dessas coisas bobas? Incentivar crianças a acreditarem que
os animais falam é no mínimo estúpido.
— Veja tio Noah, o cisne é a princesa! — Charlotte fala animada e
eu presto atenção à tela, o cisne feio era na verdade, uma linda princesa, que
foi enfeitiçada por uma bruxa má.
— Certo, agora está tarde, vamos para o quarto. — Digo.
— Mas eu não estou com sono, Tio Noah, vamos assistir só mais
um pouquinho? Por favor... — Insiste, com os olhos vermelhos, indicando
que está com sono, mas insiste em negar.
— Só mais um pouquinho. — Acabo concordando com a pequena.
Após alguns minutos, sinto sua respiração ficar lenta e quando olho,
ela já está dormindo.
A babá aparece, parece que sentiu que a menina dormiu.
— Vou levá-la para a cama. — Ela se abaixa para pegar Charlotte,
mas a impeço.
— Pode deixar, vou levá-la. — Pego-a no colo e subo as escadas,
indo direto para o quarto dela.
Abro a porta do quarto e vejo que já o decoraram conforme o gosto
dela, havia desenhos de princesas por todo o lado, vários ursos espalhados,
e a cor rosa predominava no quarto.
Coloco ela na cama e a cubro com o edredom rosa, ela ressona,
agarra o meu braço, então balbucia.
— Eu te amo, tio Noah!
Olho para a menina dormindo e penso que eu não sei o que é o
amor, mas se for querer cuidar e proteger alguém acima de tudo, então eu
também a amava.
Saio do quarto dela e caminho para o meu, assim que entro, pego o
notebook e me sento na poltrona, aproveito para mandar um e-mail para
James, o meu advogado e peço para ele descobrir tudo sobre a tia de
Charlotte, onde morava e o que fazia da vida além de estar trabalhando de
fachada na minha empresa.
Capítulo 7

Custei a dormir essa noite, mas já estou acostumado com as


constantes crises de insônias. Mal entro na minha sala e Hanna já anuncia a
chegada de James, meu advogado.
— Bom dia, Senhor Thompson. — Me cumprimenta.
Mesmo sabendo que não tem ninguém na minha sala, olho para os
lados para verificar que a estabanada não está perdida aqui.
— Bom dia! — Disco para a minha secretária solicitando dois cafés
e pedindo que não me interrompa.
James se senta na cadeira à minha frente e me entrega a pasta com
os documentos que pedi.
— Resuma para mim o que descobriu. — Peço, antes de abrir o
documento.
— Scarllet Baker tem vinte e três anos e é professora de educação
infantil. Ela ainda mora na casa da família, em um bairro simples no
subúrbio da cidade, ela não tem carro e nenhum outro tipo de bens em seu
nome, aliás, ela tem uma grande dívida de empréstimo no banco. — Fala e
eu abro o documento para ler.
— Se ela tem dividas, por que não aceitou a minha oferta? —
Inquiro, ainda olhando para os papéis.
— Talvez o valor não fosse o que ela esperava. — James conclui.
O que acho um absurdo já que o valor é muito bom, além de quitar a
sua dívida no banco, daria para ela ter uma vida humilde tranquilamente.
Nesse momento, uma batida na porta nos interrompe.
— Entre. — Autorizo, pensando ser a minha secretária.
De repente, a vejo entrando com a bandeja de café na mão. Ela me
olha e depois para James, que também me olha confuso. O barulho da
bandeja caindo no chão toma conta da sala e Scarllet sai correndo.
Ela havia descoberto a minha verdadeira identidade.
Pergunto-me porque a minha secretária não trouxe o maldito café e
a mandou no seu lugar?
— Ela é a, a... — James começa a falar, mas acaba gaguejando e
balança a cabeça de um lado para o outro.
— Scarllet Baker — Termino sua frase incompleta. — Ela começou
a trabalhar aqui como faxineira, segundo ela, aceitou esse emprego para se
aproximar de mim, mas ela não sabia que eu era o Thompson e acabei por
deixá-la pensando dessa maneira. — Explico.
— Que loucura! — Passa as mãos nos cabelos. — E agora? Quer
que eu fale com ela?
— Não, pode deixar que eu mesmo vou conversar com ela, mas não
agora, tudo tem a hora certa.
James assente e eu o dispenso. Hanna entra desesperada na minha
sala.
— Senhor Thompson, me desculpe, eu mesma me encarregarei de
fazer a demissão daquela estabanada.
— Eu pedi para você trazer o café. — Não me importo de soar
ignorante.
Vejo-a engolir em seco.
— É que eu estava ocupada e achei que ela poderia trazer, me
perdoe. — Abaixa a cabeça.
— Você não tem que achar nada Hanna, você é paga para fazer o
que eu mando. Agora saia e me deixe trabalhar.
— Desculpe Senhor, isso não vai se repetir. — Gira nos calcanhares
para sair da sala.
— Onde a moça está? — Decido perguntar.
— A recepção informou que ela foi embora. — Hanna responde, seu
tom de voz é baixo e mostra chateação.
— Desmarque a minha próxima reunião. — Me levanto, pego o meu
paletó e a pasta com as informações sobre ela.
— Senhor Thompson — Ela se vira para mim — É uma reunião
muito importante.
— Desmarque. — Ordeno novamente e saio da sala.
Entro no elevador e sigo para a garagem do edifício, costumo
manter um carro aqui para situações em que eu precisasse dirigir, e essa era
uma delas.
Sigo em direção ao endereço anotado aqui e vejo que de fato é um
bairro simples, com casas e pessoas mais humildes ainda. Estaciono em
frente à casa velha. O jardim é a única coisa bonita na frente daquela
velharia.
Desço do carro e caminho sobre o assoalho velho de madeira na
varanda e toco a campainha. Um cachorro late sem parar dentro da casa.
Detesto cachorros, tenho trauma, mesmo os menores me assustam. De
repente, a porta é aberta e uma mulher, que nunca vi antes, me olha dos pés
a cabeça.
— Essa é a casa de Scarllet Baker? — Pergunto, diante do silencio
da mulher.
— Sim e quem é você?
— Noah Thompson. — Informo e vejo-a arregalar os olhos.
— Senhor Thompson? Noah Thompson? — Ela praticamente grita e
abre um largo sorriso, mas que logo se desfaz. — Me chamo Judith e sou a
melhor amiga da Scarllet. — Estende a mão para mim.
— Poderia chamar a Scarllet? — Recua a mão ao não ser
correspondida.
— Scarllet! — Ela grita tão alto que até o vizinho do outro lado da
esquino poderia ouvir.
Scarllet se aproxima da porta, a ponta do seu nariz está avermelhada
e os olhos inchados, indicando que estava chorando.
— O que faz aqui? — Pergunta, os olhos se arregalando em
descrença.
— Precisamos conversar.
— Bom, eu já vou indo, Let. Se precisar, me manda mensagem. —
Se despede da amiga — Foi um prazer conhece-lo, Senhor Thompson. — A
mulher também se despede de mim e sai, nos deixando a sós.
— O que quer conversar comigo? — Scarllet empina o nariz e fecha
a expressão.
— Posso entrar?
— Não acho que a minha casa seja apropriada para receber alguém
como o Senhor. — Sua fala repleta de ironia.
— Não é apropriado conversar na varanda, ainda mais sobre o
assunto que vamos falar.
— Tá legal, entre. — Me dá passagem.
Quando eu entro, vejo uma casa extremamente simples, com poucos
móveis e os que tinham estavam bem antigos e deteriorados. Apesar da
velharia, era um lugar limpo e organizado.
Ela aponta para o sofá e nós dois nos sentamos.
— Scarllet, eu sei que pensa que eu fiz de propósito, mas a verdade
é que eu só soube quem você era ontem, quando me contou a sua história.
—Começo a me explicar.
— E poderia ter me dito quem era, mas preferiu continuar me
enganando. Fiquei falando mal de você para você mesmo. Aposto que
permitiu isso para usar contra mim no tribunal. — Tira suas próprias
conclusões.
— Não foi proposital. — Afirmo. — No começo foi legal ter
alguém que não tremia só de falar comigo, alguém que não ensaiava
palavras para me dizer um simples bom dia e por isso deixei as coisas como
estavam.
— Por que será que as pessoas preferem ver o diabo a ver você, né?
— Revira os olhos.
Se eu tivesse o costume de sorrir, faria isso agora.
— Ouça Scarllet, vamos direto ao assunto. Você pode não gostar de
mim, mas tem que concordar que é melhor para Charlotte ficar comigo, ela
não conseguiria...
Ela me interrompe.
— Viver aqui? Nessa casa velha e caindo aos pedaços? Era isso que
iria falar?
— Eu não disse isso. — Defendo-me.
— Mas aposto que foi o que pensou! Acredite, se eu pudesse,
também não viveria, mas essa é a minha realidade! — Scarllet parece bem
ofendida com a conversa.
— Precisa pensar no bem-estar da garota, na minha casa não falta
nada a ela e Charlotte está vivendo bem lá.
— Falta, eu tenho certeza que falta. — Garante, como se convivesse
com a gente.
— Acredite, não falta. Charlotte tem as melhores roupas, os
melhores brinquedos, estuda na melhor escolha da cidade, tem conforto e...
Mais uma vez ela me interrompe.
— E o amor? Carinho? Atenção? Ela tem isso também? Acredite,
Senhor Thompson, crianças precisam de amor, isso marcará a vida dela para
sempre, e não os brinquedos e roupas caras!
— Abra mão da guarda dela, eu posso lhe dar um bom dinheiro,
posso triplicar o valor oferecido antes. — Insisto novamente.
— Minha promessa a minha irmã não está à venda. — Garante e
cruza os braços.
— A que fiz ao meu irmão também não!
Nos encaramos em um claro embate.
Capítulo 8

— A que fiz ao meu irmão também não! — Ele diz me olhando


fixamente.
De fato, me sinto intimidada por seu olhar severo, mas não
demonstro.
— Então temos um problema, Senhor Thompson, eu não vou
desistir da minha sobrinha, tenho o mesmo direito que você de estar com
ela! Só éramos minha irmã e eu, não vou deixar a minha sobrinha crescer
sem nem ao menos saber que eu existo! — Sustento o seu olhar, aquele
homem me causava medo, mas eu não podia abaixar a cabeça. Por mais que
a minha situação seja difícil, eu sei que se eu me esforçar, pegar algumas
aulas de reforço, eu consigo manter o básico para a minha sobrinha.
— Você não está me dando outra opção, será que não vê que se
formos à justiça, certamente a guarda de Charlotte será dada a mim? —
Pergunta com a voz firme.
— E você tem tanta certeza por que tem muito dinheiro, estou certa?
— Inquiro.
— Sim, porque Charlotte foi criada em meio ao dinheiro, ela sempre
teve tudo, ela será ouvida pelo o júri, e nenhum juiz mudaria a vida de uma
criança tão drasticamente.
— Pois saiba, Senhor Thompson, que a família materna sempre tem
preferência para ficar com a guarda da criança. — Informo, sem ter muita
certeza, se nesse caso, isso se aplicaria, mas tudo bem, só quero responder à
altura.
— Sim, quando a família tem condições de oferecer ao menos o
básico a essa criança, e não um lugar como esse. — Aponta ao seu redor.
Esse homem é um idiota, é notório que ele não sabe o que é uma
família de verdade, um lar cheio de amor, ele só conhece os muitos dólares
da conta bancaria dele.
— Senhor Thompson, se era só isso o que veio fazer aqui, peço que
se retire.
— Aqui está o meu contato — Me entrega o seu cartão — Pense
bem, Scarllet Baker, pense no que é melhor para Charlotte, e deixe o
orgulho de lado. — Ele se levanta e passa por mim, deixando o rastro do
seu perfume caro pelo caminho.
Levanto em seguida e caminho até a porta, observando ele entrar no
seu luxuoso carro e sair. Respiro fundo e fecho a porta, passo os olhos pela
casa e imagino o tipo de casa que a minha sobrinha está acostumada, o tipo
de vida que ela tem. O que eu faria?
Olho o cartão que ele deixou em cima da mesa e o pego, até as letras
no papel eram douradas e remetiam poder, como tudo naquele homem, o
seu terno feito sob medida, o seu perfume, o relógio caro em seu pulso, a
barba bem aparada, o cabelo minuciosamente penteado para trás.
Rasgo o cartão e jogo no lixo, eu não ia dar o braço a torcer.
Pego o meu celular que está tão velho, que mal enxergo as imagens
na tela trincada, disco o número de um senhor, advogado, e mora próximo a
minha casa, ele era amigo da minha mãe e talvez possa me ajudar.
— Olá, Senhor Garil, é a Scarllet, gostaria muito de poder conversar
pessoalmente. — Digo ao homem do outro lado da linha, que
imediatamente me pede para ir até a sua casa.
Pego o meu casaco e saio caminhando pela rua. O Senhor Garil
mora na esquina de cima. Assim que eu toco a campainha e aguardo
atender.
— Olá, Scarllet, entre menina, está frio ai fora! — Me saúda com
um sorriso e me dá passagem para entrar na sua casa.
— Obrigada!
Acompanho o senhor até a sala e me sento. Logo sua esposa aparece
nos servindo um café fresquinho que está com um aroma e sabor magnífico.
— Diga filha, como posso te ajudar? — Pergunta e beberica o seu
café.
— Acho que me envolvi em uma encrenca, Senhor Garil.
— Drogas? — Arregala os olhos.
— Oh não! Definitivamente não. — Rio, isso é um absurdo, jamais
me envolveria com coisas ilícitas. — O Senhor se lembra da minha irmã
Siena?
— Claro que me lembro! Inclusive, soube do acidente e lamento
muito pela sua perda, meus pêsames.
Assinto, agradecendo.
— Siena deixou uma filha pequena, como ela e o meu cunhado
faleceram no acidente, a minha sobrinha está com o irmão do meu cunhado.
— Começo a explicar.
— E você quer a guarda da sua sobrinha, certo? — Astuto, logo saca
o meu interesse.
— Exatamente, Charlotte é a única pessoa que eu tenho, não posso
ficar longe dela.
— E qual o problema com a guarda?
— O tio de Charlotte também faz questão. — Suspiro, com medo de
não conseguir.
— Já tentou conversar com ele?
— Ele é um homem muito rico e percebi que a conversa não é algo
que ele esteja familiarizado. Me ofereceu dinheiro para desistir da guarda
dela e até ameaçou ir para ajustiça caso eu não aceite o acordo.
— Então ele tem dinheiro? — Arqueia a sobrancelha.
— Muito, ele é Noah Thompson. — Informo, pelo nome deve saber
de quem estou falando.
— O CEO da engenharia?
— Sim, ele mesmo. — Afirmo.
— Scarllet, não posso mentir para você, toda vizinhança conhece a
sua situação, por mais que a preferência seja da família materna, o júri vai
considerar as condições financeiras que você tem e ao que a criança está
acostumada. — Explica e me sinto desanimada.
— Ela foi criada em meio ao luxo. — Comento baixo.
— Filha, a situação é muito complicada. O certo seria um acordo
entre vocês, uma concessão, talvez você pudesse visitar a sua sobrinha com
frequência. Esse Senhor é casado? Tem filhos?
— Não, ele é solitário e não me parece ter apresso por crianças. —
Deduzo.
— Entendo, mas ele tem algo que conta muito.
— O dinheiro.
— Sim, vai ser difícil, Scarllet. — Concluí o advogado.
— Então eu devo desistir? — Questiono, muito desanimada com o
rumo da conversa, mas sem querer desistir da minha sobrinha.
— Não menina! — A voz da mulher ecoa atrás de mim, eu nem
havia notado que dona Abigail havia voltado à sala.
— E qual minha outra opção?
— Bom, se você tem amor, mas não tem dinheiro para ficar com a
menina, e ele tem dinheiro, mas não tem amor, vocês poderiam cuidar da
menina juntos! — Fala, animada com a sua ideia.
— Dona Abigail, não entendo, como posso cuidar dela junto com
aquele homem? Isso é loucura!
— Scarllet, Abigail tem razão, proponha um acordo a esse homem,
se ele é solitário como você diz, deve estar sendo difícil para ele ter uma
criança em casa, proponha que passem algum tempo na mesma casa, para
que a própria criança possa escolher com quem ficar e ele mesmo pode
abdicar da guarda da sua sobrinha. — Ele parece ter gostado da ideia da
esposa.
Isso era loucura, estar junto com aquele homem arrogante e frio
como gelo, estava fora de cogitação.
Agradeço ao casal e volto para a minha casa, estava ficando sem
opção.
Faço um lanche com o pão que comprei ontem. Tomo um banho
rápido e mergulho nos meus livros, na minha caixinha do nada, lá não
existia Noah Thompson, não existia esse vazio que se tornou a minha vida.
Capítulo 9
Se aquela mulher queria iniciar uma guerra, por mim tudo bem, não
seria eu a fugir, afinal tudo estava ao meu favor, uma criança não vive só de
amor e era obvio que ela não tinha a menor condição financeira de cuidar
de Charlotte. A menina estava acostumada com uma vida sem dificuldades,
morava em uma casa grande, estudava em uma das melhores escolas de São
Francisco, tinha tudo de melhor, nenhum juiz daria a guarda para aquela
maluca.
Volto para casa, pensando na situação em que ela vivia, no bairro
onde morava, ela não era burra, eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela
daria o seu preço e toda essa dor de cabeça terminaria.
Quando cheguei, jantei com Charlotte e ela me obrigou a ver mais
um dos desenhos de princesa que ela adorava. Hoje ela quis assistir um em
que a princesa começou o desenho não sendo princesa, aliás ela era uma
garçonete, que conheceu um sapo. Inacreditável, não? Pois é, também me
pergunto por que os produtores de desenho adoram animais falantes. Enfim,
ela simplesmente se tornou um sapo também. Cheguei à conclusão que
esses desenhos fazem mal as crianças, elas passam a acreditar que tudo dá
certo, que tudo é lindo, e que príncipes encantados existem, quando, na
verdade, o mundo está cheio de sapos.
— Charlotte, posso te fazer uma pergunta?
— Sim tio Noah. — Ela me encara.
— O que sabe sobre a família da sua mãe? — Sondo.
— A mamãe uma vez me disse que os pais dela haviam morrido já,
mas que ela tinha uma irmã, a tia Scarllet, nunca vi a tia Scarllet — Faz
uma pausa, mas logo continua: — a mamãe me mostrou uma foto dela e ela
é bem bonita! Mamãe sempre dizia que a tia Scarllet nos visitaria em
breve, que ela era muito ocupada, porque era professora. — Explica.
Olho para menina e me pergunto em que momento deixei que ela
entrasse na minha vida dessa forma. Construí um muro a minha volta e ela
com suas pequeninas mãos escalou esse muro e fez morada junto a mim,
além de eu não querer descumprir a promessa que fiz ao Zac, a verdade é
que eu já não suportaria ficar longe dela.
— E você gostaria de conhecer a sua tia?
— Muito tio Noah! — Responde animada.
— Vou fazer o possível para isso acontecer, tudo bem?
— Promete? — Questiona e sinto o meu coração acelerar. Não
gostava de fazer promessas, gostava menos ainda de quebrá-las.
— Prometo que vou tentar, agora vamos para a cama, pois amanhã a
senhorita tem aula cedo! — Decido trocar o assunto.
Após deixá-la no quarto dela sigo para o meu.
Enquanto a água gelada escorre por meu corpo, me pego pensando
naquela mulher vestida com roupas estranhas, com o seu cabelo armado,
seus óculos de grau e sua petulância em me enfrentar.
Por mais que eu tentasse evitar, aqueles olhos verdes não saiam da
minha mente, ela era desafiadora e há muito tempo eu não me sentia assim
em relação a uma mulher.
Quando conheci Miranda, me encantei por ela a primeira vista, era
uma mulher bonita, inteligente, filha de um grande político, o que eu não
sabia era que ela havia armado o nosso encontro desde o primeiro momento
e que até o marginal que tentou roubar a sua bolsa na porta do restaurante
havia sido contratado por ela e por seu pai, que estava a beira da falência e
viu a salvação dos seus negócios em mim, para isso fez com que eu a
conhecesse, que a defendesse, que me apaixonasse, que quisesse dar a ela
tudo o que tinha, inclusive o meu coração, e assim foi, cai de amores por
Miranda, ela era encantadora, engraçada, gentil, ao menos eu a via assim,
mas em alguns momentos ela deixava o personagem que criou de lado e eu
comecei a desconfiar de tudo, coloquei um detetive atrás dela e um
investigador atrás do pai dela, foi aí que descobri que tudo era uma armação
para me arrancar dinheiro, Miranda, na verdade, se encontrava com um
barman todas as terças no subúrbio da cidade e o bancava com o meu
dinheiro, pois o pai estava falido.
Senti o meu coração se partir no dia em que recebi aquelas fotos,
mas mesmo assim marquei um encontro com ela, a levei até o bar em que o
seu amante trabalhava e lá eu disse que nunca mais queria vê-la, jurei que
ela e o pai pagariam por tudo o que me fizeram e pagaram. Desde então,
meu coração está fechado para esse sentimento tolo, que chamam de amor.
Amor não existe, a vida é um grande jogo de negócios, onde quem conhece
bem as regras vence.
E durante todos esses anos, o meu contato com mulheres foi apenas
por algumas horas na cama de um hotel qualquer.
Mas agora, mais uma vez eu quero saber mais sobre alguém. Ao sair
do banho, envio uma mensagem ao investigador que confio e peço um
dossiê completo sobre Scarllet Baker, se Charlotte queria conhecer a sua tia,
eu queria antes saber quem de fato ela era.
Capítulo 10

Adormeci ainda pensando na pequena mulher e quando acordei o


sol já invadia o quarto através das cortinas escuras, o meu celular notificou
uma nova mensagem de August o investigador, nela ele dizia que as
informações sobre Scarllet estavam no meu e-mail, ele foi rápido deve ter
trabalhado a noite toda, mas pelo o valor que eu pago a ele, corresponde ao
serviço prestado.
Pego o notebook e abro o arquivo, ela tem vinte e três anos e é
professora de educação infantil, isso eu já sabia, a casa onde mora está com
a hipoteca atrasada, dada como garantia em um empréstimo bancário, que
estava em atraso e com ordem de execução para tomarem-lhe o imóvel. Ela
havia tido apenas um namorado e os empréstimos foram feitos para pagar a
faculdade dele, ele a traiu. Aqui consta que ela só tem uma amiga, Judith, a
moça que conheci no dia que fui à casa dela. Uma imigrante mexicana.
Aqui também diz que ela não costuma sair muito de casa e é querida
pela vizinhança. Nada muito relativo.
O que me deixou curioso foi a informação de que ela fez os
empréstimos para pagar a faculdade do namorado que a traiu. Além do cara
ser um gigolô, ainda é um cretino!
Fecho o notebook e respiro fundo, o que teria de errado com ela,
além de ser alguém humilde e cheia de problemas?
Troco de roupa e quando desço para o café, Charlotte já havia ido
para a escola, decido não ir à empresa hoje, minha cabeça não estava para
os negócios.
Tomo o meu café enquanto leio o jornal do dia e quando estava
prestes a voltar para o meu quarto, a governanta entra na sala.
— Senhor Thompson, sei que pede para dispensar os estranhos no
portão, mas tem uma moça lá que está dizendo ser a tia da Charlotte, o
nome dela é...—
— Scarllet Baker — Respondo por ela.
— Isso mesmo, o que eu faço?
— Deixe que entre. — Ela assente e sai da sala.
O que ela queria aqui? Por que veio atrás de mim na minha casa?
Assim que a vejo entrar pela porta, estranhamente sinto a minha
boca secar. Ela olha tudo a sua volta. Está com suas roupas simples, o
cabelo preso. O mais engraçado é o suéter colorido, poderia jurar fazer
parte de alguma coleção infantil.
— O que quer aqui? — Questiono, olhando a mulher parada na
minha frente, segurando a bolsa como se fosse um colete salva-vidas.
— Vim retribuir a visita. — Abre um pequeno sorriso.
— É muita gentileza da sua parte, mas eu sei que não está aqui para
isso, me diga já tem um valor?
Scarllet me olha furiosa, como se sentisse ofendida.
— Não vim lhe dizer um valor, Senhor Thompson, só quero impor
algumas condições. — Empina o nariz.
— Pois bem, estou ouvindo. Sente-se.
— Obrigada! — Agradece e se senta. — Posso até abrir mão da
guarda da minha sobrinha, no entanto, quero ver de perto como ela vive
aqui com você, qual a rotina dela, o que ela come, os seus horários, o
convívio entre vocês.
— Não vejo como fazer isso, quer que eu te envie vídeos todos os
dias? — Pergunto, um tanto confuso.
— Não seria o bastante. Proponho que eu me mude para cá, por
alguns meses, e fique perto da minha sobrinha.
— Você? Aqui na minha casa? Só pode ser brincadeira!
— Não é, essa é a minha condição! — Fala, com convicção.
— Menina não seja tola! — Respiro fundo, tentando me acalmar e
não ser tão grosseiro. — Sei que tem dívidas, muitas dívidas ainda, posso te
dar um bom dinheiro, você as paga e salva aquele lugar que chama de casa
de ser tomado pelo banco. — Proponho.
— Aquele lugar é o meu lar, Senhor Thompson, cresci ali, rodeada
de amor e carinho, não em uma mansão cheia de riquezas e vazia de
sentimentos, não tenho vergonha de ser quem eu sou, morar onde moro, me
vestir como me visto, porque eu tenho caráter e isso dinheiro nenhum
compra. — Me encara.
Era só o que me faltava, ter que conviver com essa mulher na minha
casa todos os dias.
— Aguardo a sua resposta, Senhor Thompson. — Diante do meu
silêncio, ela se levanta e sai, me deixando com dor de cabeça.
Ligo para James e conto sobre a conversa com a pequena mulher na
minha casa e a resposta dele me deixa pensativo.
— Noah, talvez seja algo bom, pense comigo... se ela puder ver com
os seus próprios olhos a vida que a sobrinha leva, terá certeza de que nunca
conseguirá dar a mesma coisa a ela, e desistirá dessa briga inútil. —
Começo a pensar que ele pode ter razão, talvez tê-la por perto seja a
única saída.
Estava decidido, Scarllet Baker iria morar na minha casa.
Capítulo 11

Acordo com a campainha tocando sem parar, mas será que Judith
havia perdido a noção da hora? Estava de licença na escola e depois dos
últimos acontecimentos eu merecia descansar.
Fiz a coisa mais louca que já passou na minha cabeça e já estou
começando a me arrepender de ter tomado essa decisão, mas agora não tem
mais volta, é aguardar Noah Thompson decidir.
Levanto ainda sonolenta, e me desloco até a porta. Ao abrir, vejo um
homem engravatado, segurando um envelope.
— Bom dia, preciso falar com a senhora Scarllet Baker.
— Bom dia! Sou eu mesma. — Informo. Aposto que é alguém do
Noah querendo fazer outra proposta.
— Sou oficial de justiça, vim lhe entregar a ordem de execução da
penhora deste imóvel, dentro de setenta e duas horas, essa casa pertencerá
ao banco. — O homem diz, me entregando o envelope e indo embora.
Como assim três dias? Onde eu arrumaria o dinheiro para pagar essa
dívida? Sejamos sinceros, eu não conseguiria.
Desesperada e sem saber o que vou fazer, mando uma mensagem
para Judith, neste momento, preciso de um ombro amigo.

— Ah, Let, o que você vai fazer agora? — Minha amiga questiona,
acariciando os meus cabelos, enquanto choramingo deitada no seu colo.
— Eu realmente não sei, não tenho para onde ir.
— Você sabe que eu não me importaria de você ficar comigo, mas
aquela bruxa não permite que levemos alguém para lá, mesmo que
paguemos o aluguel do quarto.
— Não Jud, não quero ser um problema para você, eu vou dar um
jeito. — Afirmo, sem ter certeza.
— Vamos orar para que Noah Thompson aceite a proposta e você vá
morar lá.
— Já me arrependi de ter feito aquela proposta. Não sei se é uma
boa ideia morar com aquele homem.
— Você vai morar com a sua sobrinha e se ele é tão ocupado como
você diz, vocês nem irão se ver, tudo bem que aquele homem dá medo, mas
ele é tão sexy. — Fala, suspirando.
— Judith! — Repreendo.
— Eu não disse nenhuma mentira, vai dizer que não imaginou
aquela barba passeando por lugares pouco explorados? Ah, Let, você lê
romance hot que eu sei, não negue que já imaginou o senhor Thompson no
lugar de Christian Grey, e você sendo a sua Anastácia — Ela começa a rir e
eu olho séria para ela.
— Você realmente é maluca, Judith!
— E você é tonta!
Olho para o meu cachorro, que me olha de volta, quase que me
perguntando: “E agora Scarllet onde vamos morar?”
Não posso acreditar que perdi tudo o que eu tinha por causa de um
homem sem escrúpulos, que só me enganou e me usou, não era muito, mas
essa casa era tudo o que eu tinha.
Judith fica comigo até a hora dela entrar no trabalho e assim que ela
vai embora, vou tomar banho e tentar arrumar um jeito de organizar a
minha vida.
Pego caixas e começo a guardar as coisas da casa. Os quadros nas
paredes deterioradas pelo tempo, os bibelôs que minha mãe mantinha em
cima da estante, passei a minha infância nessa casa, não era tão fácil me
despedir, deixar tudo isso para trás. Fui embalando tudo o que julguei ser
importante, a verdade era que tudo isso não passavam de velharias, mas
eram as minhas velharias, as lembranças de uma vida toda.
O banco poderia me tomar a casa, mas as minhas lembranças não,
isso eu guardaria para sempre.
A noite já havia chegado quando terminei de guardar tudo o que
julguei importante e a sala da minha casa parecia um depósito.
Tomei outro banho para tirar o suor do corpo e coloquei o meu
pijama favorito, com estampa de desenho animado e para combinar
coloquei as minhas pantufas da Minnie. Estava tomando uma xícara de chá
quando a campainha tocou.
Abro a porta e me deparo com ninguém menos que Noah Thompson
me olhando dos pés à cabeça e demorando um demasiado tempo nos meus
pés escondidos pela pantufa.
— Boa noite! — Me cumprimenta.
— Boa noite, senhor Thompson!
— Me desculpe a hora, mas eu precisava te dar uma resposta.
Cheguei tarde? — Diz olhando para as caixas na minha sala.
— Não. Entre. — Ele está vestido elegantemente com um casaco
marrom, uma camisa de gola alta preta e calça da mesma cor, que o
deixavam ainda mais atraente. — Aceita um chá?
— Não. — Repara em tudo a sua volta. Decido não lhe contar a
verdade, eu não precisava ser mais humilhada, admitindo que perdi a minha
casa por que me endividei para pagar a faculdade do meu ex namorado
traidor.
— Diga porque está aqui.
— Aceito a sua proposta, senhorita Baker, acho justo que
acompanhe de perto a rotina de Charlotte, antes de abdicar da guarda dela
definitivamente.
— E o que te faz pensar que eu vou abrir mão da guarda dela? —
Questiono, rindo.
— Você é uma mulher inteligente, sei que verá que é o melhor para
ela. — Garante.
— Sabia que aceitaria por isso encaixotei as minhas coisas. —
Minto. — Mas fique tranquilo, não vou levar essas coisas para a sua casa,
pedirei para deixar na garagem dos meus vizinhos.
— Não seria mais fácil deixar a casa fechada?
— Vou alugar a casa. — Mais uma mentira.
— Alugar? — Pergunta sem acreditar.
— Sim, para alguns estudantes, acredite, nem todo mundo liga para
o luxo.
— Certo, então esteja à vontade para se mudar quando quiser,
senhorita Baker. — Ele se levanta, faço o mesmo e começamos a caminhar
em direção a porta.
Noah me encara e olha mais uma vez para a casa antes de sair. Posso
sentir o meu rosto corar, nunca fui boa em mentir, certeza que apareceu um
grande letreiro neon em cima da minha cabeça com a palavra MENTIRA
piscando sem parar.
Eu era um desastre natural!
Capítulo 12

Havia descoberto algo sobre Scarllet Baker hoje, ela não era boa em
mentir, tinha algo por trás dessa história de alugar a casa para estudantes e
eu ia descobrir.
Assim que entrei no carro liguei para o meu advogado.
— James, descubra o que está acontecendo com a casa de Scarllet
Baker.
— Ok.
Encerramos a ligação.
As pessoas que trabalhavam a minha volta, já sabiam o que deviam
e principalmente o que não deviam fazer, elas faziam o que eu mandava,
sem perguntas, com o meu advogado não era diferente, ele sabia o que fazer
e principalmente como fazer.
Volto para casa e encontro Charlotte dançando no tapete da sala, fico
um tempo observando a menina, rodando e fazendo alguns passos de balé,
ela era luz em meio à escuridão dessa casa, ela era a alegria que não existia
em mim.
Quando ela me vê, vem sorrindo ao meu encontro.
— Oi tio Noah. — Me abraça.
— Oi Charlotte, como foi o seu dia?
— Foi tudo bem, tio Noah.
— Charlotte, tem algo que preciso te falar. — Me sento no sofá e ela
se senta ao meu lado.
— Fiz algo errado, tio Noah?
— Por que acha isso? — Questiono.
— Porque toda vez que o papai falava assim, ele me dava uma
bronca. Sinto falta dele e da mamãe. — Fala, seu tom de voz mostrando
tristeza.
— Imagino que sim, também sinto falta do meu irmão. — Digo, e
realmente eu sentia falta do meu irmão, falta da nossa infância, de quando
conversávamos na varanda até tarde, olhando as estrelas e adivinhando os
nomes das constelações. — Mas quero falar com você sobre outra coisa.
— Estou ouvindo. — Brinca com os dedos enrolando a ponta dos
cabelos cor de chocolate.
— Lembra que falamos sobre a sua tia?
— Sim, a tia Scarllet, eu gostaria de conhecê-la!
— Consegui encontrá-la e a convidei para passar uns dias conosco
aqui. O que acha?
— Sério mesmo, Tio Noah? Ela vem? — Charlotte parece bastante
animada com essa ideia.
— Sim, ela vem! — Afirmo, mas não tão animado quanto ela.
— Obrigada, Tio Noah! — A menina se joga nos meus braços.
Esse contato ainda era estranho para mim, ter alguém realmente por
perto ainda era algo novo para alguém que passou uma vida toda sozinho
nessa casa.
Apenas sorrio para ela que sai pulando feliz pela casa, eu não
imaginava que essa notícia a deixaria tão contente, mas é bom vê-la assim.
Meu celular toca e vejo o nome do meu advogado na tela.
— Alô?
— Senhor Thompson, a senhorita Baker perdeu a residência da
família para o banco, na verdade ela tem o prazo de três dias contando a
partir de hoje para saldar a divida e manter a casa. — Ele me informa.
Aquela notícia me incomodou mais do que deveria, afinal o
problema era dela e não meu, mas considerando que ela estava se mudando
para a minha casa, se ela não tivesse para onde voltar ela não iria embora.
— Pague a dívida junto ao banco, mas não diga nada a ela. —
Oriento.
— Certo. Pedirei sigilo ao banco. — James desliga.
Ela não ia perder a casa, mas também não a teria de volta tão
facilmente, era uma troca justa, a casa pela guarda de Charlotte, ela não
teria como recusar.
Essa seria a minha carta na manga.
A noite passou rapidamente, mas eu fui acometido por sonhos
inquietos, sonhos devassos, eu via o seu corpo nu, suas mãos passeando
pelo o meu e os seus olhos pareciam arder em chamas, desejo, luxuria, eu
via os olhos daquela mulher, daquela pequena mulher que estava invadindo
a minha vida, com as suas roupas feias, os seus cabelos estranhos, eu via
Scarllet Baker ali nua na minha frente, pedindo por mais.
Acordo assustado, olhando para os lados, aquela mulher estava
invadindo os meus sonhos, estou duro por ela! Definitivamente meu pau
está muito duro por ela!
Levo a mão ao meu rosto e respiro fundo, o que estava acontecendo
comigo?
Tomo um banho frio para tentar acalmar o fogo que estava em mim,
mas nem mesmo a água gelada, estava acalmando o meu corpo. Continuava
duro por ela e tudo o que eu via quando fechava os meus olhos eram os seus
olhos, a imagem dela, mesmo naquele pijama horrível, que lhe cobria o
corpo todo, mas a transparência do tecido me deixou ver o desenho da
pequena calcinha em sua bunda redonda. Uma das minhas mãos desce até o
meu pau e eu o seguro com força, movimentando a minha mão para cima e
para baixo, enquanto seguro firme no box com a outra.
Fecho os meus olhos e me permito imaginar aquela pequena mulher
ali na minha frente, intensifico os movimentos, sentindo o meu pau pulsar
na minha mão. Porra! Eu desejava aquela mulher como nunca desejei outra
antes.
Gozo, os jatos atingindo a parede do box.
A verdade é que desde que assumi a responsabilidade pela a minha
sobrinha eu não havia estado com nenhuma mulher, ou seja, desde que
Scarllet Baker entrou na minha vida.
Saio do banho e procuro por uma roupa confortável, hoje era sábado
e eu não precisava ir à empresa, pego uma camiseta e uma calça de
moletom, calço os meus chinelos e quando estava saindo do quarto, ouvi
vozes vindas do andar debaixo, vozes e latidos.
O que diabos estava acontecendo aqui?
Desço as escadas e quando chego à sala, me deparo com Scarllet
Baker e a sua volta, inúmeras malas velhas e feias, para piorar tudo, lá
estava aquele maldito cachorro brincando com Charlotte no tapete, no meu
tapete persa. Quando aquele vira lata me viu começou a latir como um
louco e rosnar, era nítido que não gostava de mim e eu menos ainda dele.
— O que está acontecendo aqui? — Pergunto e todos me olham em
silêncio, apenas aquele latido infernal ecoa.
Capítulo 13

Ao menos havia me sobrado o dinheiro para o táxi, já que eu nunca


conseguiria levar todas essas malas e o Josh em um ônibus. A verdade é que
contei com a boa vontade do Seu Rey, um vizinho que tinha um modesto
táxi, mas que não se recusou a me levar com o pequeno animal.
— Você vai morar nessa mansão? — O senhor me pergunta assim
que cruzamos aquele grande portão de ferro.
— É só por um tempo. — Afirmo, não querendo dar detalhes da
minha estadia na casa de Noah Thompson.
Rey me ajuda a colocar as malas no hall da grande sala e olha tudo
em volta. Trato de pagar ele logo, para que ele fosse embora, imagine Noah
Thompson, vendo o homem simples na sua sala olhando tudo ao seu redor.
A governanta me olha dos pés à cabeça, eu odiava esse tipo de
gente, que pensa que por que trabalha para gente rica é rico também. Se
bem que o uniforme dela vale o triplo das roupas que estou usando, aliás,
valia mais que todas as minhas roupas, que não eram muitas mesmo.
— Você deve ser a senhorita Baker, certo? — Pergunta com desdém.
— Sim, qual o seu nome? — Pergunto.
— Eu sou Astrid, sou a governanta da casa, mando em tudo por aqui
na ausência do senhor Thompson. Ele confia plenamente nos meus
serviços.
— Aposto que sim. — Abro um pequeno sorriso e Josh começa a
latir, ficando agitado e pula do meu colo.
Vejo uma pequena menina se aproximar, ela me olha com receio e
sorrio, imaginando ser Charlotte.
— Oi, você é a Charlotte, não é? — Inquiro e ela assente.
— Oi, você é a tia Scarllet? — Devolve a pergunta.
— Sim, sou eu.
— Você parece com a minha mãe, mas é diferente. — Fala,
sorrindo.
Podia entender o que ela queria dizer, Siena e eu sempre fomos
parecidas, porém, ela sempre foi mais bonita, mais arrumada, mais elegante.
— Posso te dá um abraço, Charlotte?
— Claro que sim, tia. — A pequena corre na minha direção e se
joga nos meus braços.
Ficamos alguns segundos abraçadas, mas ela se afasta e pergunta:
— Esse cachorro é seu?
— Sim, ele se chama Josh.
— Oi Josh.— Ela o cumprimenta e se abaixa para brincar com ele.
Fiquei observando os dois brincando, quando Josh olhou para o alto
da escada e começou a latir, não precisei nem me virar para saber quem
estava lá, o arrepio nas minhas costas já tinha me dado à resposta.
— O que está acontecendo aqui? — A voz fria e grossa daquele
homem ecoa pela sala, todos ficamos em silêncio, apenas o latido de Josh se
faz presente.
— Veja tio Noah, a tia Scarllet trouxe um cachorrinho. — Charlotte
fala toda animada.
— Estou vendo, a pergunta é por que você trouxe esse animal? —
Finalmente olho para ele, seus olhos pareciam sair faísca, o semblante mais
sério que o normal, definitivamente ele estava bravo.
— Você disse que eu podia vir.
— Você, não esse, esse negócio peludo. — Ele espirra.
— Eu não podia deixá-lo para trás.
— Livre-se desse cachorro, eu não gosto de cachorros. — Ordena.
— Se ele não puder ficar, eu também não fico! — Bato o pé no
chão.
— Ele é só um cachorro.
— Para mim não, ele foi meu companheiro todos esses anos,
acredite senhor Thompson, nem todo mundo aprecia a solidão. — Vejo a tal
Astrid me olhar surpresa, certamente pela forma que falei com o todo-
poderoso Noah Thompson.
— Tio, por favor, ele é muito fofo! — Charlotte diz e eu vejo ele
sorrir para ela, deixando claro que a única pessoa que o poderia convencer a
fazer algo que ele definitivamente não queira é a pequena menina de
cabelos cor de chocolate a nossa frente.
— Astrid —Chama e a mulher se aproxima dele.
— Sim, senhor?
— Arrume as coisas necessárias para que esse animal fique no
quarto da senhorita Baker, e não saia de lá.
— Senhor, mas um cachorro dentro de casa? Vai estragar os moveis
e os tapetes — Ela opina.
— Faça o que eu disse Astrid!
Ela sai com cara de poucos amigos e me olha mais uma vez antes de
desaparecer pelo corredor que provavelmente levava aos fundos da casa.
Apenas sorri para ela, tinha a certeza de que essa mulher seria um problema
para mim, ela era jovem e a forma como ela olhava para Noah Thompson,
deixava claro o interesse dela por ele, mas suponho que ele não tenha o
mesmo interesse por ela.
— Pedi para arrumarem um quarto para você na mesma ala do
quarto de Charlotte e o meu, assim poderá estar mais perto dela. — Explica.
— Obrigada! — Olho para as escadas e depois para as minhas malas
de tecido florido espalhadas pela sala.
— Vou pedir para alguém levar ao quarto, fique à vontade nessa
casa Scarllet, afinal ela será o seu lar por mais alguns meses.
— Vou me acostumar. — Garanto.
— Espero que sim. Saiba que seguimos alguns horários nessa casa,
principalmente refeições, sempre fazemos todas as refeições juntos.
— Creio que isso não será possível.
— Me dê ao menos uma boa explicação. — Pede, cruzando os
braços.
— Trabalho do outro lado da cidade e tenho que pegar dois ônibus
para chegar lá e vice e versa.
— Apenas tente não se atrasar para o jantar. — Avisa e sai da sala.
Que homem intragável!
E esse ainda é o primeiro dia, posso imaginar o que vem depois.
Capítulo 14

Ainda estava me perguntando se, de fato, essa havia sido a melhor


escolha, ter essa mulher e esse maldito cachorro na minha casa, certamente
ia me enlouquecer.
Entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim com força, passo
as mãos pelos meus cabelos e solto a respiração, que parecia estar presa
durante todo o tempo em que ela esteve na minha frente.
Caminho até a frente do grande espelho na parede oposta à minha
cama e me olho. Havia me isolado durante todos esses anos, havia me
tornando alguém frio e solitário e era isso que eu via refletido naquele
espelho.
Volto à realidade quando o meu celular toca.
— Alô? — Atendo a ligação de James.
— Senhor Thompson, a casa já foi arrematada, o que devo fazer
agora? — O advogado do outro lado da linha pergunta.
— Apenas guarde os documentos, na hora certa eu os solicitarei. —
Desligo o telefone.
Apesar de ter decidido não ir ao escritório hoje, peguei meu
notebook para verificar os últimos relatórios, mas quando estava tentando
ler aquelas intermináveis planilhas, os gritos e risos vindos do jardim, me
atrapalharam.
Coloquei o notebook sobre a cama e caminhei até a janela, afastei a
cortina e olhei para o jardim, Charlotte corria gritando e sorrindo, enquanto
a sua tia maluca corria atrás dela sendo seguida por aquele vira-lata. Elas
riam e se abraçavam quando alcançava uma à outra, apesar de terem se
visto apenas hoje, elas pareciam se conhecer de uma vida toda. Fico ali por
alguns minutos, apenas olhando para elas, observando e gravando na minha
mente cada traço daquela pequena mulher, os seus olhos, o seu sorriso, a
sua voz... Balanço a minha cabeça, na tentativa inútil de disseminar essas
imagens, mas tudo isso já estava gravado na minha mente, cada pedacinho
de Scarllet Baker.

Já se passaram algumas semanas desde que Scarllet se mudou e


acabei me tornando um prisioneiro em minha própria casa. Evitava o
quanto eu podia encontrar com ela, mas ansiava o dia todo pelo jantar, onde
eu poderia olhar para ela sem julgar a mim mesmo por não conseguir
desviar os meus olhos dela.
Os jantares eram sempre animados, pois Charlotte sempre tinha uma
história engraçada que havia acontecido no colégio e por algumas vezes eu
até ria das suas risadas infantis, mas Scarllet ouvia tudo pacientemente, sem
desviar os olhos da pequena e eu observava aquele carinho e atenção, que
de fato eu não conseguia dar.
Charlotte havia mudado a minha vida desde que veio morar comigo,
eu havia finalmente deixado alguém se aproximar de mim, alguém me
abraçar, com suas pequeninas mãos ela havia tocado lugares no fundo da
minha alma que ninguém antes havia conseguido, não depois daquilo, não
depois dela e de todo aquele inferno que passei.
Eu não me permiti amar, não quero amar de novo e ser enganado,
usado, o amor é algo inventado por tolos, para nos fazer de tolos.
Já estava deitado em minha cama, quando ouvi o trovão ecoar pelo
céu de São Francisco. Me levantei e caminhei pelo corredor, um relâmpago
cortou a noite escura e as luzes se apagaram, deixando o corredor em
completo breu. Caminhei sabendo qual era a porta do quarto de Charlotte e
abri para me certificar que a luz de emergência havia acendido. Ela dormia
profundamente, então sai do quarto fechando a porta, mas senti alguém
esbarrar em mim e os meus reflexos fizeram com que eu segurasse
rapidamente a pequena mulher que certamente cairia na escuridão.
Sua respiração estava acelerada, e quando outro relâmpago clareou
o corredor através da grande vidraça, pude ver os seus olhos assustados me
encarando e inevitavelmente, os meus correram para o decote da sua
camisola. Podia sentir o tecido fino sob os meus dedos, enquanto a segurava
em meus braços.
— É, é, acabou a energia, fiquei preocupada com a Charlotte... —
Se explica, a voz falhando.
Posso sentir o seu coração acelerado e não podia negar que o meu
também estava.
— Ela está bem. — Afirmo, erguendo ela e a colocando em pé.
Meus olhos se acostumam à penumbra e consigo ver a sua silhueta e
suas curvas sob o fino tecido que a cobre, sinto o meu pau ganhar vida no
mesmo instante, ela está ali parada me olhando, seu perfume me invade, o
desejo me domina e dou um passo em sua direção, mas ela recua,
encostando-se à parede.
— Você tem medo de mim, Scarllet? — Pergunto me aproximando,
meu corpo encosta no dela.
— Não. — Nega, mas sua voz não me convence.
— Então por que está respirando rápido? — Inquiro.
Ela continua ali parada me olhando e quando um gemido tímido
escapa dos seus lábios, perco o controle e a tomo nos meus braços, colando
os nossos lábios em um beijo cheio de desejo. Minhas mãos alcançam a sua
cintura e eu a puxo mais para mim, suas mãos apertam os meus braços,
posso sentir a sua pele arrepiada pelo o meu toque e o meu corpo todo
deseja o dela.
— Noah...— Chama o meu nome quando os nossos lábios se
afastam um pouco, parecia mais uma súplica, para que eu parasse? Ou para
que eu a tomasse ali mesmo?
Meus lábios escorregam por seu pescoço e a minha mão alcança o
seio, que está com o bico rígido, aperto e ela geme baixinho. Meu pau
pulsa. Eu a queria, eu realmente a queria muito!
Desço os meus lábios pela sua pele arrepiada, chegando ao seio,
minha língua circula o mamilo rígido, ela segura firme nos meus cabelos,
me puxando mais para ela e eu sugo com força o seu seio, alcanço o outro
com a minha mão e aperto, seus gemidos tímidos, eram como combustível
para o meu desejo. Eu certamente ia me arrepender do que estava fazendo,
mas talvez me arrependesse mais ainda se não fizesse.
— Apenas me diga sim para que eu continue. — Minha voz sai mais
rouca que o habitual, carregada de desejo. Precisava ouvir dela, que ela
queria aquilo tanto quanto eu.
— Sim, Noah... — E isso basta para que eu a erga em meus braços.
Scarlett circula as pernas na minha cintura e eu a carrego pelo o
corredor até o seu quarto, fecho a porta com o pé assim que entro com ela
em meus braços e a coloco sobre a cama.
— Por favor, diga que aquele cachorro não está aqui. —
Praticamente imploro, ainda sobre ela.
— Não, ele está na dispensa, fiquei com medo dele latir aqui em
cima. — Diz, rindo.
— Ótimo!
Inverto nossas posições na cama, fazendo com ela sente sobre mim.
Minhas mãos alcançam o decote da camisola e eu puxo, rasgando o
tecido e deixando os seus seios a mostra, a luz de emergência no canto do
quarto deixa o ambiente pouco iluminado e eu posso ver o seu rosto corar,
quando analisei o seu corpo nu.
Passo a mão pelo vão dos seus seios até chegar à renda da pequena
calcinha, ela se ergue um pouco e eu consigo alcançar a sua boceta, sinto o
quanto ela está molhada e isso me excita ainda mais.
— Tão molhada, Scarllet... veja como os meus dedos deslizam pela
sua boceta. — Ela geme quando circulo o seu clitóris com o meu polegar,
instintivamente ela rebola sobre o meu pau, e ele pulsa pedindo por
liberdade, ela parecia um anjo rebolando sobre mim, um anjo devasso.
Capítulo 15

Os dias até haviam sidos calmos e dificilmente eu o via nessa casa,


antes do jantar. Já tinha voltado a dar aulas e chegava tarde, mas como ele
fazia questão, todos os dias na hora do jantar estávamos sentados à mesa
ouvindo Charlotte contar animadamente como foi o seu dia. Aos poucos ela
estava esquecendo o fato de não ver mais os seus pais, eu, no entanto, a
cada vez que olhava para ela, via a minha irmã e segurava as lágrimas, pois
a saudade ainda fazia morada no meu peito e olhar para a minha sobrinha
me fazia lembrar de que Siena não estava mais aqui e que eu nunca mais ia
poder ouvir a sua risada pela casa.
Meus dias eram sempre iguais, acordar, arrumar as minhas coisas,
pegar dois ônibus, dar aula, voltar para casa, ajudar Charlotte com as tarefas
e esperar o todo-poderoso. Esse homem era tão escuro quanto os seus ternos
caros feitos sob medida, mas ele era tão bonito e tão sexy, que poderia
facilmente ser um dos personagens dos livros que leio. Confesso que agora
mesmo, enquanto leio mais um livro hot, estou imaginando Noah
Thompson nu na minha frente.
Deixo o livro cair da minha mão, quando um forte trovão ecoa, o
quarto se torna escuro, e eu só consigo pensar que morro de medo de
tempestades e se Charlotte puxou a mãe dela, ela também tem, procuro pelo
o meu robe, mas não o encontro nessa escuridão e menos ainda o meu
chinelo. Tenho que ir no quarto da minha sobrinha ver se está tudo bem.
Isso tinha que acontecer justo hoje que decidi colocar essa camisola
minúscula? Estava com intenções de brincar com meu vibrador.
Caminho pelo quarto, tentando não bater em nada, abro a porta
devagar e caminho pelo o corredor escuro. Antes de chegar na porta do
quarto de Charlotte dou de cara com uma parede, uma parede de músculos,
com um perfume que me deixou inebriada.
Era ele, Noah Thompson estava me segurando em seus braços, pois
atrapalhada como sou, havia tropeçado em meus próprios pés.
Podia sentir a sua respiração contra a minha pele e a minha boceta
pulsar, também podia sentir a sua ereção contra o meu corpo quando ele me
prensou na parede, e que bela ereção, caralho era uma ereção e tanto.
Seus lábios encostaram nos meus e as suas mãos apertaram o meu
corpo. Nessa hora, toda e qualquer sanidade que eu tinha se foi de mim e eu
só conseguia sentir a minha boceta molhar cada vez mais. A voz rouca dele
me perguntando se eu também queria aquilo, me deixava ainda mais
molhada e queria gritar que sim, queria tanto quanto ele.
Neste momento não importava quem ele era ou se estava disputando
a guarda da minha sobrinha comigo, tudo o que importava era que eu queria
aquele homem dentro de mim.
Noah me ergueu em seus braços e caminhou comigo até o quarto,
agradeci silenciosamente a nossa senhora das calcinhas molhadas, pois um
homem como aquele, era literalmente um personagem de livro.
O barulho do tecido da minha camisola se rasgando quando ele
puxou, fez a minha boceta fisgar, aquele homem era dominador e eu
gostava disso.
Ele me olhava como se eu fosse a sua presa, e eu queria gritar: me
coma!
Perdi tudo quando os seus dedos alcançaram a minha boceta,
circulou o meu clitóris e meu corpo tremeu. Rebolei sobre ele, me
esfregando em seus dedos e sentindo o seu pau duro embaixo de mim.
Levei minhas mãos até a sua camiseta e a tirei, expondo o corpo malhado,
apesar da idade ele era extremamente sexy, me abaixei alcançando os seus
lábios, pondo em prática tudo o que aprendi nos livros, desci os meus lábios
pelo o seu pescoço, enquanto ele segurava a minha bunda, apertando a pele,
que com certeza ficaria marcada.
Desci os beijos por sua barriga e hora ou outra me arriscava olhar
para ele, que estava com os olhos fechados. Fui descendo até o cós da calça
e apertei o seu pau, era um senhor de um pau, ele gemeu e eu tive a certeza
que estava no caminho certo.
Libertei seu pau e quando o vi ali diante dos meus lábios, não pude
resistir, comecei a lamber e os seus gemidos se tornavam cada vez mais
rápidos. Fui enfiando aquele pau magnífico na minha boca, subindo e
descendo até onde eu conseguia, ele segurava os meus cabelos, mas não me
puxava para ele, apenas me guiava.
Noah afastou a minha boca e olhei para ele, pensando ter feito algo
errado, mas em um movimento rápido ele nos virou na cama e se
posicionou entre as minhas pernas. Seus dedos enroscaram na minha
calcinha e ele aproximou seus lábios da minha boceta, fazendo-a pulsar
mais ainda de antecipação. Primeiro os seus dedos passaram por toda a
carne exposta e soltei um gemido alto, fazendo-o abrir um sorriso de
satisfação.
Mal posso acreditar que Noah Thompson sorriu!
Sua língua, junto com seus dedos, me invadiram, me levando a
loucura. A língua brincando com o meu ponto G me fez chegar em um
orgasmo incrível, algo que nunca senti antes, gozei deliciosamente
chamando o seu nome.
Ele se ergueu, parecendo muito satisfeito em ter me dado prazer, me
olhou e tomou os meus lábios, nossos gostos misturados, o cheiro de sexo e
perfume amadeirado tomando conta do lugar.
Senti o seu pau encostar na minha entrada e ir entrando devagar,
mesmo molhada como eu estava, sentia certa resistência, mas ele foi
entrando pacientemente e quando finalmente estava dentro de mim,
começou a estocar com força. Era a tortura mais gostosa que alguém
poderia me fazer sentir. O seu pau batendo fundo na minha boceta, nossos
gemidos tomando conta do quarto, suas mãos apertando o meu corpo, sua
voz rouca me dizendo o quanto eu era gostosa.
Noah Thompson era um amante perfeito e nos minutos seguintes,
gozei mais vezes do que em todas as transas que já tive na vida. Fiquei
extremamente cansada, acabei adormecendo nos seus braços.
Quando abri os meus olhos novamente, o sol já entrava pela janela e
eu estava sozinha na cama, nua, com o cheiro dele impregnado na minha
pele. O que me fazia ter a certeza de que não havia sido um sonho, ele
esteve aqui comigo.
Capítulo 16

Abro os meus olhos e a vejo dormindo ao meu lado, me dou conta


do que havia feito e do erro que eu tinha cometido. Acabei me deixando
levar pelo desejo ou como o meu pai dizia, pensado com a cabeça debaixo e
não com a cabeça de cima.
Levanto-me devagar, não queria acordá-la, era muito cedo para ter
uma conversa séria como essa, o fato é que o que aconteceu aqui, não
poderá se repetir, mesmo que o meu pau tenha ganhado vida só de olhar ela
dormindo nua entre esses lençóis.
Coloco a minha roupa e saio do quarto. Passo pelo quarto de
Charlotte e abro a porta devagar, ela ainda está dormindo, então caminho
em direção ao meu quarto.
O cheiro dela parecia estar impregnado em mim, na minha pele.
Tomo um banho rápido e escolho uma roupa qualquer, estou determinado a
passar o dia no meu quarto, assim evito encontrá-la.
Sei que esse não é o papel de um homem da minha idade, mas
preciso pensar bem no que falar para ela, tenho que deixar claro que o que
aconteceu não irá se repetir, antes que ela comece a nutrir falsas esperanças
e eu tenha que lidar com mais um problema, além dos muitos que já tenho.
Sento na poltrona próximo à janela e pego o livro dela que trouxe
comigo, a capa era mais uma desses livros de romances, um casal
apaixonado, mas o que me deixou curioso mesmo foi o título “Meu CEO
absurdamente Sexy”.
Decido ler algumas páginas e acabei ficando confuso. Sério mesmo
que as mulheres acreditam que vão esbarrar em um homem milionário e ele
vai se apaixonar por elas da noite para o dia? É por esse tipo de leitura que
muitas mulheres se frustram, isso não existe, amor não existe, é tudo uma
troca, tudo são negócios.
Vou direto para a página que há um marcador e começo a ler a cena
ali descrita, é uma cena de sexo no escritório, sobre a mesa.
Seria isso que Scarllet estava lendo antes de me encontrar? Não
consigo evitar uma risada e o pensamento: será que ela estava me
imaginando como o personagem?
Ah que besteira!
Coloco o livro sobre a mesa ao lado e fecho os meus olhos,
encostando a minha cabeça na poltrona. A imagem dela nua em meus
braços me invade, seus olhos carregados de luxúria e tesão... ah, eu tinha
que tirar essa mulher de perto de mim, definitivamente trazê-la para essa
casa foi uma péssima ideia.
Continuava com os olhos fechados, quando uma batida na porta me
trouxe de volta a realidade.
— Entre. — Autorizei, me ajeitando na poltrona.
A porta se abre e lá está ela, o motivo da minha inquietação.
— Desculpe, eu não queria incomodar, mas Charlotte está febril. Eu
poderia levá-la ao médico sem incomodar, mas não sei onde o convênio
dela atende.— Scarllet diz tudo de uma vez, olhando para baixo, apertando
as próprias mãos.
— Vamos levá-la ao hospital! — Levanto e pego a minha carteira.
Ela caminha na minha frente e mesmo em meio a essa situação não
posso evitar olhá-la, seus cabelos estão molhados e ela veste uma calça
jeans que deixa as suas curvas bem á mostra.
Entro no quarto de Charlotte e a pequena menina está deitada em
sua cama, me aproximo e ela segura a minha mão, ela realmente está muito
quente. Pego-a em meus braços e a babá entrega os documentos dela para
Scarllet, que me olha confusa.
— Vamos.
— Eu também posso ir?
— Prometemos cuidar dela, não? — Pergunto, olhando fixamente
em seus olhos.
— Sim. — Ela parece contente com a minha decisão e caminha na
minha frente pelo corredor.
Descemos até a garagem e eu coloco Charlotte no banco de trás de
um dos meus carros.
— Senhor — O motorista se aproxima de nós.
— Vou dirigir hoje. — Informo e ele me olha assustado, afinal, não
costumo dirigir o meu próprio carro.
Scarllet se acomoda no banco de trás com a pequena e seguimos
para o hospital. Hora ou outra, nossos olhares se encontram pelo retrovisor.
Definitivamente, não queria que aqueles olhos me afetassem tanto quanto
afetam.
Assim que chegamos ao hospital, passamos pela consulta e ela foi
fazer alguns exames.
Scarllet anda de um lado para o outro na sala de espera, apertando as
mãos, ela estava nervosa, era visível. Me aproximo e ofereço um copo de
café.
— Ela ficará bem.
— Obrigada! — Agradeço pelo café. — Ela é tão pequena.
— Mas é muito forte. — Garanto e ela força um sorriso, se
afastando, indo em direção a janela, com vista para a ponte Golden Gate.
O médico aparece na sala de espera.
— Senhor Thompson — Me chama e Scarllet se aproxima de nós.
— Sim?
— Vejam só, fizemos todos os exames necessários, Charlotte não
tem nenhuma infecção. Não achamos nada que possa justificar a febre.
— Então por que ela está assim? — Scarllet pergunta, preocupada.
— A menina nos contou que perdeu os pais recentemente e acredito
que essa febre pode ser emocional, pela falta que ela sente deles. Em todo
caso, deixaremos ela em observação por mais alguns minutos.
Assinto e ele se retira.
— Se quiser ir para casa, ficarei aqui com ela. — Aviso.
— Gostaria de ficar aqui com ela.
Não vejo motivos para negar o seu pedido, afinal, ela é a tia da
menina.
Scarllet começa a chorar e fico confuso.
— O que aconteceu? — Me aproximo.
— Ela é tão nova e já está passando por isso. Tadinha de Charlotte,
se eu sinto falta da minha irmã, não posso nem imaginar como ela está se
sentindo, sem os pais.
— Faremos de tudo para suprir essa falta. — Garanto e puxo-a para
os meus braços, tentando acalmá-la e cessar o seu choro.
Capítulo 17

Eu não teria batido naquela porta se não fosse pela minha sobrinha.
Havia entendido o recado dele, ele me usou e saiu de fininho antes que eu
acordasse.
Agora aqui sentada nesse banco, sendo acalentada por ele, não
posso evitar sentir o meu coração bater acelerado.
Me dói saber que Charlotte está passando por tudo isso. A falta da
minha irmã me causa uma dor terrível, imagina para uma criança da idade
dela ter que se acostumar de uma hora para outra que perdeu os seus pais, o
seu porto seguro? Não é fácil.
Eu não queria ter mostrado a ele a minha fraqueza, eu não queria
estar abraçada a Noah Thompson como se eu estivesse a deriva no mar e ele
fosse um colete salva-vidas.
— Vamos entrar. Tenho certeza que ela logo ficará bem e irá
saltitando para casa.
Me afasto, limpando as lágrimas do meu rosto e abro um pequeno
sorriso, imaginando Charlotte toda saltitante.
— Sim, vamos. — Quando estou passando por ele, sou surpreendida
quando segura na minha mão.
— Scarllet?
— Não se preocupe, está tudo bem, vamos esquecer o que
aconteceu. — Digo, fingindo que aquilo não havia mexido comigo.
— Só queria dizer que não precisa se preocupar com uma gravidez
ou doença. Estou limpo e não posso ter filhos. Posso te mostrar meus
exames se quiser.
Estranhamente sinto um nó se formar na minha garganta.
— Não há necessidade, mas se quiser, posso mostrar os meus
exames também.
— Não precisa. Só queria esclarecer.
— É bom deixar as coisas claras.
Dou as costas para ele e caminhamos em direção ao interior do
hospital novamente. Sento-me em uma daquelas cadeiras, enquanto observo
Noah cuidar da papelada.
Pouco tempo depois Charlotte aparece e corre para os meus braços.
— Tia Scarllet, quero ir para casa. — Ela diz coçando os olhinhos,
indicando que estava cansada e com sono.
— Nós vamos, meu amor.
Noah não fala nada, caminhamos em silêncio até o carro e assim
seguimos todo o trajeto.

Quando chegamos na mansão, subi com ela para o quarto e deitei ao


seu lado em sua cama.
— Tia Scarllet, me fala como minha mãe era quando criança?
— Claro — Coloco uma mecha solta do seu cabelo atrás da orelha.
— A sua mãe era a menina mais peralta de toda a vizinhança, mas também
era a mais forte de todas e vivia me defendendo das confusões que eu
arrumava. — Conto rindo e ela me acompanha. — Mas a sua mãe sempre
foi doce, livre como o vento.
— Papai sempre dizia que eu tinha que ser livre, fazer as minhas
próprias escolhas. — Ela lembra, enquanto segura o seu inseparável urso.
— Seu pai estava certo, Charlotte, você tem que ser livre. — Aperto
a ponta do seu pequeno nariz.
— Tia Scarllet, agora você e o tio Noah serão meus pais?
— Não Charlotte, serei sempre a sua tia e Noah o seu tio, mas
vamos cuidar de você.
— Eu vou ter que escolher um de vocês? — Pergunta, abraçando o
urso ainda mais forte.
Charlotte é esperta e provavelmente já sacou o que está
acontecendo.
— O juiz vai decidir quem está mais preparado para cuidar de você,
mas não se preocupe com isso. Você sempre terá os dois por perto, apenas
vai morar com um e o outro irá te visitar com frequência. — Esclareço,
tentando acalentar a ela e a mim mesma.
Charlotte apenas me dá um leve aceno de cabeça e não fala mais
nada.
Fico ali com ela até que ela pegue no sono.
É nítido que Noah também a ama, assim como eu a amo, mas quem
o juiz escolheria? Quem ele julgaria ser o melhor para aquela pequena
menina que perdeu os pais tão repentinamente.
Saio do quarto fechando a porta calmamente atrás de mim, então me
assusto quando o vejo parado no corredor, o mesmo corredor em que
estávamos ontem à noite. Sua expressão é séria e com as mãos no bolso.
— Scarllet, precisamos conversar.
— Se for sobre ontem, não se preocupe, eu sei quando as coisas não
passam de sexo, apesar da pouca idade, não sou tão inexperiente.
— Você lê bastante, tem uma vasta experiência. — Ele fala em tom
de deboche.
— Acha que sabe sobre mim? — Agora sou eu quem debocho.
— Sei o suficiente para afirmar que você é mais uma daquelas
garotas sonhadoras, que pensam que vão achar aqui na vida real, homens
como os dos livros.
— Não, eu sei que não encontrarei homens como nos livros, porque
os homens dos livros são educados e gentis, coisa rara de se encontrar hoje
em dia. — Viro de costas, caminhando para o meu quarto.
— Preciso que esteja no escritório em meia hora, meu advogado
vem conversar conosco. — Avisa e quando me virei para lhe dizer que eu
não ia, ele já havia descido as escadas.
Maldito seja Noah Thompson, é por isso que eu não achei o meu
livro hoje de manhã, ele o pegou.
Capítulo 18

Estar perto dela era perturbador, ela me desafiava, me instigava,


meu corpo reagia a sua presença sem que eu pudesse evitar. Então eu tinha
que me afastar, passar a noite com ela foi o meu pior erro, Scarllet não era
mulher para mim, nenhuma mulher era, todas eram interesseiras.
Entro no meu escritório e me sirvo de uma dose de uísque, as
imagens dela nua em meus braços invadem a minha mente, é perturbador
lembrar dos seus olhos enquanto eu estava dentro dela. Passo a mão pela
minha barba, mas o cheiro dela parece estar em mim, preso ao meu corpo.
Uma batida na porta interrompe os meus pensamentos e vejo James
entrar.
— Senhor Thompson. — James caminha na minha direção.
— Suponho que tenha algo muito importante para me dizer, já que
veio até aqui em pleno domingo.
Puxo a cadeira, me sentando e ele faz o mesmo.
— Sim, de fato há algo importante a ser discutido, mas pensei que a
senhorita Baker também estaria aqui.
— Estou aqui. — Scarllet anuncia a sua chegada e se aproxima de
nós.
— Suponho que vocês já se conhecem. — Comento, dispensando as
apresentações.
Eles dois dão um leve aceno de cabeça.
— Sente-se. — Aponto para a cadeira.
— Estou bem em pé, podem falar. — Ela diz, me desafiando.
Maldita mulher!
— Bom, como sabem há um processo em andamento pela guarda de
Charlotte Thompson, vocês dois estão disputando na justiça, no entanto,
nenhum dos dois parece apto para cuidar da menina. —James diz olhando
para mim e depois para ela.
— Como assim? Tenho condições para cuidar dela, tenho dinheiro,
posso lhe proporcionar o melhor.
— E eu tenho todo o amor do mundo para dar a ela, atenção,
cuidado... — Scarllet também luta para que a guarda seja dada a ela.
— Essa é a questão, vocês têm tudo o que ela precisa, mas
separados e separados não servem para a justiça. — James cruza os braços,
se encostando à cadeira.
Scarllet me olha, ela aperta as próprias mãos, sinal claro que estava
nervosa, nesse tempo juntos, pude observar alguns dos seus trejeitos,
quando estava envergonhada, ela colocava o cabelo atrás da orelha, mesmo
que ele não estivesse desarrumado, quando estava nervosa, apertava as
mãos e mordia o lábio inferior quando optava por não dizer o que pensava.
— O que sugere? — Inquiro olhando para James.
— Um casamento. — Diz, dando de ombros.
— O quê? Como assim um casamento? — Scarllet pergunta
assustada.
— Exatamente, um casamento de mentira, claro, seria uma forma de
driblar as leis, vocês teriam tudo o que Charlotte precisa juntos.
— Isso é loucura, você não pode estar falando sério, eu não vou me
casar com ele, isso é estúpido! — Esbraveja, andando de um lado para o
outro na sala.
— Talvez não seja tão estúpido. — Pondero, olhando para ela, que
me olha de volta indignada.
— Eu não quero me casar com você! — Fala olhando nos meus
olhos.
— Nem eu com você, mas diante do perigo iminente de perdermos a
guarda de Charlotte, acho a melhor solução. Vamos nos casar, conseguimos
a guarda dela e nos divorciamos, simples. — Me levanto
— E depois? — Questiona.
— Depois eu te dou um bom dinheiro e você pode sair dessa casa.
— E vai me afastar dela? Serei usada apenas para conseguir o que
quer, senhor Thompson? — Ela pergunta com as mãos na cintura, mas
receio que ela não esteja falando só sobre o casamento, mas se refere
também a noite de ontem.
— Vamos acertar esses detalhes depois Scarllet, por hora temos que
pensar na menina ou você quer que ela vá para um orfanato? Que cresça
longe das únicas pessoas da sua família? Que seja adotada por pessoas
desconhecidas? Você viveria com a sua consciência em paz? Por causa de
um capricho? — Pergunto irritado, olhando em seus olhos verdes. Ela
sustenta o meu olhar por alguns segundos.
— Eu me caso, mas que fique bem claro, é um casamento de
mentira. — Concorda e sai da sala batendo a porta atrás de si com força.
— É — James pigarreia — Aconteceu alguma coisa? — Pergunta
me observando.
— Aconteceu, Scarllet Baker aconteceu, o maior problema que o
meu irmão poderia ter me deixado. — Bufo, irritado.
— O que devo fazer?
— Prepare os papeis, vou me casar.
— Tem que ser algo convincente, os assistentes sociais vão
investigar, tem que sair na mídia, fotos, uma grande festa, vocês têm que
parecer apaixonados. — Aconselha.
— Um grande circo. — Abro um pequeno sorriso.
— Circo ou não, tem que ser um grande espetáculo.
— Ótimo, que comece a palhaçada!
— Vou providenciar os papéis, sugiro que contrate alguém para
providenciar a festa, saia com ela, locais públicos, será bom para a mídia.
— James se levanta. — Não vou tomar mais o seu tempo, qualquer dúvida
me ligue.
Observo o homem sair do meu escritório, me sento, fecho os meus
olhos e encosto na cadeira, como a minha vida havia mudado assim de uma
hora para a outra? Vivia exatamente da forma que eu gostava, sozinho,
procurava por sexo quando tinha necessidade, não precisava estar com
ninguém e agora estou prestes a me casar com uma mulher totalmente
diferente de mim, tenho uma criança correndo pela casa e um maldito
cachorro latindo pelo meu gramado.
Em que encrenca eu me meti?

Era fim de tarde quando deixei os relatórios de lado e decidi sair do


meu quarto, quando abri a porta e saí no corredor vi aquele pequeno diabo
parado me olhando, a minha vontade era de gritar e sair correndo, mas eu
tinha uma reputação a zelar, como um homem como eu, podia ter medo
daquele saco de pulgas?
— Vai embora! — Ordeno, olhando para o cachorro que continua
parado.
Mas quando ele late e começa andar em minha direção, o desespero
toma conta.
Ele chega perto de mim e começa a cheirar a minha perna, fecho os
meus olhos e a minha mente é invadida pela lembrança do dia em que Zac e
eu fomos atacados por cães ferozes, tudo bem que aqueles tinham dez vezes
o tamanho desse aqui, mas eles têm dentes iguais.
Abro os meus olhos quando escuto a voz dela.
— Ei Josh, vem aqui.
O pequeno ser de quatro patas, corre para os braços dela, como se
fosse a criatura mais dócil do planeta.
— Você tem que manter esse animal longe de mim! — Grito
irritado.
— Ele não vai te matar. — A risada dela ecoa no corredor.
— Quero esse bicho longe de mim, é o último aviso Scarlett.
Passo por ela e o cretino do cachorro ainda late, me assustando e ela
ri de novo.
Admitir que eu tenho medo de alguma coisa é algo inaceitável para
mim, mas eu realmente tenho medo de cachorros.
Capítulo 19

Era só o que me faltava ter que me casar com esse homem… O que
a justiça sabe sobre carinho? Amor? Nada! A verdade é que são um bando
de hipócritas.
Passo o restante do dia trancada no meu quarto, não queria olhar
para ele, mas o latido de Josh no corredor me chamou atenção e tive que
sair para ver o que estava acontecendo e me deparei com a cena mais
cômica, um homem daquele tamanho com medo de cachorro. Mas como
sempre ele foi um escroto e me deixou lá parada segurando o Josh.
Volto para o meu quarto e ligo para Jud.
— Olha quem apareceu. — Fala ao atender ao telefone.
— Preciso de você, estou triste.
— Estou trabalhando Let, mas pode vir aqui e conversamos, é um
lugar super animado, com vários gatos. — Sussurra, animada.
A música alta ao fundo entregava que ela estava no bar que
trabalhava ocasionalmente.
— Não sei se é uma boa ideia. — Pondero.
— Vem logo, Let, estou te esperando. — Desliga o telefone.
Precisava mesmo conversar com ela e dizer tudo o que estava
acontecendo na minha vida, desde que vim para essa casa, mal temos nos
falado.
Caminho até o closet, que estava vazio, pois as roupas que tenho
nunca encheriam esse lugar, procuro por algo adequado, certamente os
meus vestidos floridos não combinariam com o lugar que eu estava indo.
Vejo o pacote de presente que minha irmã havia me dado há alguns
anos, um vestido preto curto muito bonito, mas nunca o havia usado por
achar revelador demais. Porém, hoje me parece a ocasião perfeita. Combino
com uma sandália de salto da mesma cor, que eu tinha comprado para a
minha formatura. Prendo os meus cabelos em um rabo de cavalo e passo
apenas um gloss nos lábios.
Peço um carro por aplicativo e sigo para o bar. Assim que cheguei,
vi Jud atrás do balcão, me aproximo, sentando em uma banqueta e ela sorri
ao me ver.
— Olha ela, toda linda!
— Oi Jud.
Ela coloca um drink colorido na minha frente.
— É por conta da casa. — Informa.
— Não vou beber, Jud. — Empurro o copo de volta para ela.
— Vai sim, porque pela sua cara vem bomba por aí. — Me devolve
o copo.
Ela estava certa, tinha um problema muito grande, chamado Noah
Thompson.
— Talvez você tenha razão. — Aceito a bebida, tomando um longo
gole.
Um homem do outro lado do balcão pede uma cerveja e vejo a
minha amiga revirar os olhos.
— Um dia ainda largo tudo isso. — Resmunga, caminhando em
direção ao homem sentado na outra ponta.
Começo a beber o drink, que tem um gosto doce, minha mente me
leva diretamente aos braços de Noah, aquele drink era como ele, perigoso,
sexy e viciante.
Jud volta e para na minha frente me olhando.
— Anda, fala tudo! — Exige, curiosa.
—Transei com Noah Thompson. — Conto de uma vez e vejo ela
levar as mãos até a boca.
— Caralho! Como isso aconteceu? Quando?
— Ontem à noite.
— Mas por que está com essa cara? Foi ruim?
— Não, foi perfeito, nunca estive com alguém como ele, mas esse é
o problema, eu não poderia ter transado com ele. — Bufo.
— Por que não? Vocês são solteiros, livres e desimpedidos. Não
estou vendo problema.
— E totalmente opostos. — Complemento sua fala.
— Mero detalhe, totalmente irrelevante no sexo. — Me serve outro
drink.
— Vou me casar com ele. — Conto, tomando um longo gole da
bebida.
— Scarllet Baker, ficou louca?
— A justiça acha que não temos condições de cuidar da Charlotte,
na verdade, temos tudo o que ela precisa, porém separados e o advogado
dele propôs que nos casássemos, para assim ter a guarda dela, um acordo,
um contrato, um casamento de mentira. — Explico tudo.
— Casamento de mentira? Com você rebolando no pau dele? Me
poupe né, Let! — Começa a rir.
— Você é ridícula, sabia? — Não consigo segurar uma risada.
— Posso até ser, mas pelo menos não sou eu que estou me
enganando, está na sua cara que está apaixonada por ele.
— Ficou louca? — Me levanto, percebendo que sou fraca e a bebida
já fez efeito. — Não quero mais falar nisso, vou dançar.
Jud assente, sorrindo.
Caminho até a pista de dança e começo a mexer o meu corpo na
batida da música, fecho os meus olhos e imagino Noah ali comigo, continuo
mexendo o meu corpo até sentir alguém segurar na minha cintura, abro os
olhos e vejo um rapaz moreno sorrindo para mim. Tento me afastar, mas ele
me segura de novo e alguém o puxa pelo ombro, afastando-o de mim.
— Qual é coroa? — O rapaz confronta a pessoa que o puxou e só
então vejo que é Noah parado ali.
— Tire as mãos dela. — Ele se põe ao meu lado e segura a minha
mão, me levando para fora dali.
— Preciso da minha bolsa. — Aviso e ele levanta a mão, mostrando
que está com a bolsa.
Caminhamos até o carro dele.
— Como me achou aqui? — Questiono.
— Um dos seguranças viu quando você saiu e a seguiu. — Abre a
porta do carro para que eu entre.
— Sou uma prisioneira agora? — Seguro a porta e o encaro.
— Não, você é a minha noiva.
— Não por minha vontade. — Entro no carro bufando.
— Nem minha Scarllet — Garante, sentando ao meu lado. — Mas
se vamos fazer isso temos que fazer direito. — Fica me encarando e desço o
meu olhar para os seus lábios.
Noah fecha a divisória do carro nos deixando escondidos do
motorista, suas mãos ágeis me puxam para o seu colo.
— Não pode fazer isso. — Diz, passando a mão suavemente pela
minha coxa exposta.
— Isso o quê? — Pergunto, confusa.
— Me provocar, se vestir assim, deixar que eu sinta o cheiro da
bebida na sua boca, me desafiar, deixar que outro homem a toque, você é
minha Scarllet. — Sua mão apertar forte a minha cintura, fazendo me
ofegar.
— É um casamento de mentira. — Minha voz falha, o desejo se
instalando bem no meio das minhas pernas.
— Mas isso aqui não é. — Leva a minha mão até o seu pau, que está
duro sob a calça.
Um gemido tímido escapa dos meus lábios e ele me beija com
paixão. O carro está em movimento, estamos na rua, mas a adrenalina me
excita ainda mais. Seus dedos encontram a minha pequena calcinha e a
coloca de lado, o polegar fazendo movimentos circulares no meu clitóris.
Os gemidos começam a escapar da minha boca sem pudor e ele me beija.
Levanto o corpo um pouco para que ele liberte o seu pau e me sento
novamente sobre ele, rebolando, enquanto ele segura a minha cintura,
intensificando os meus movimentos.
Seus olhos são puro desejo e luxuria, sinto o seu corpo tremer e me
deixo explodir de desejo junto com ele.
Ficamos ali abraçados por um tempo e o mundo lá fora parecia não
existir, mas ao chegar na mansão nem olhei para os lados e segui direto para
o meu quarto, estava morta de vergonha, nem sei como vou olhar na cara
desse motorista, mas eu nem tinha como saber qual deles era, o que mais
tinha nessa casa eram empregados.
Tomo um banho e coloco meu pijama, sorrindo ao me lembrar da
nossa aventura no carro.
Capítulo 20

Custei para dormir essa noite e acordei bem cedo, seguindo para o
escritório, não queria encontrá-la e sei que isso pode parecer errado, mas a
verdade é que não sei bem como lidar com ela, não sei o que dizer, ela me
perturba de uma maneira que ninguém nunca perturbou antes.
Tento me concentrar nos muitos relatórios sobre a minha mesa, mas
não consigo tirar aquela pequena mulher da minha cabeça.
— Noah Thompson a essa hora na empresa? — James diz, entrando
na minha sala.
— Diga o que quer e saia.
— Mau-humor, bom isso não é novidade. Vim trazer os papéis do
casamento, está tudo pronto e marcado para daqui a uma semana, então
sugiro que comecem a ser vistos juntos por aí, deixem ser fotografados
juntos.
— Era só o que me faltava, você melhor do que ninguém sabe o
quanto priorizo a minha privacidade, não vou ficar posando para esses
abutres da imprensa.
— Sei disso, mas os agentes precisam acreditar que vocês estão
apaixonados ou do contrário perderão a menina.
— Isso não!
— Então vamos fazer as coisas certas, agendei com a equipe de
marketing umas fotos na parte da tarde e uma nota, peça para Scarllet estar
presente.
— Consiga o endereço da escola em que ela trabalha.
— Te enviarei por mensagem. — Assinto e ele sai da minha sala.
Passo a manhã toda mergulhado em contratos que precisam ser
lidos, mas por um momento ou outro, os olhos dela invadiam a minha
mente.
Olho no relógio e vejo que está quase na hora do almoço, sigo para
o endereço que James me enviou.
Paro o carro do outro lado da rua e saio, ficando encostado nele,
esperando ela aparecer. Pouco tempo depois ela aprece no seu vestido
florido, sua bolsa de pano de lado e vários livros na mão. Scarllet sorri para
algumas crianças e as mães delas. Mesmo naquela simplicidade, ela estava
linda.
Seus olhos fixam nos meus e esboço um sorriso, vendo-a respirar
fundo e atravessar a rua, se aproximando de mim. Antes que ela possa dizer
qualquer coisa, aproximo os meus lábios dos dela e dou um beijo rápido.
— O que faz aqui? E por que me beijou? — Questiona, confusa.
— Vim te buscar para almoçarmos juntos e temos que ser vistos
como um casal, se lembra?
Ela assente.
— Não estou vestida adequadamente para almoçar com você.
— Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso. — Abro a porta do
carro para ela, entrando logo em seguida.
Dirijo até o centro da cidade para uma loja de uma velha conhecida,
na verdade, Madeleine e eu passamos algumas noites juntos, mas isso foi há
muito tempo.
— Vem. — Abro a porta do carro para ela.
Scarllet olha tudo ao seu redor e assim que entramos, Madeleine
vem ao nosso encontro.
— Noah, quanto tempo, a que devo a honra da visita? — A loira
elegante pergunta, sorrindo para mim.
— Como vai Mad? Hoje estou apenas como acompanhante, a
cliente é a minha noiva, Scarllet Baker. — Apresento.
— Noiva? — Madeleine pergunta olhando Scarllet de cima a baixo
—Quem diria que um dia você se casaria Noah.
— As coisas mudam.
— Certamente. — Sorri — Venha querida, vamos escolher algumas
coisas. — As duas saem caminhando juntas.
Fico aqui aguardando e ela volta vestindo um terninho branco que
contorna as suas curvas, com um top de renda por baixo, que a deixa
extremamente sexy, uma sandália de salto da mesma cor. Haviam feito uma
maquiagem nela e seus cabelos estavam arrumados.
— Aqui está a sua noiva. — Madeleine diz, sorrindo.
— Mande tudo o que escolhi para a mansão. — Ordeno e ela
balança a cabeça concordando.
Caminho até Scarllet e dou um leve beijo em seus lábios.
— Está muito bonita! — Elogio passando a mão pelo seu rosto.
Sabia que as fofoqueiras de plantão se encarregariam de espalhar o
boato por toda a sociedade californiana.
Entramos no carro.
— Não precisava ter comprado tantas coisas.
— Precisava sim. — Afirmo.
— Para quê? — Coloca o cinto de segurança.
— Para que as pessoas a vejam bem vestida. — Coloco o meu cinto
e dou partida no carro.
— E os conjuntos de lingerie? Também é para que as pessoas me
vejam? — Ela sorri.
— Não, estes são para que eu a veja. — No mesmo instante sinto o
meu pau pulsar dentro da minha calça, imaginando-a nas peças íntimas.
Posso ouvir a sua respiração acelerada, ela estava tão nervosa
quando eu e certamente lhe causava o mesmo efeito que ela causava em
mim.
Capítulo 21

Me senti um lixo naquela loja, era nítido que tudo o que aquela
mulher estava fazendo era só por Noah, se eu tivesse entrado ali sozinha,
certamente teria sido expulsa.
Sem contar que a loira, de nariz em pé, não fez questão de esconder
em nenhum momento que já esteve na cama dele.
Mesmo que eu não quisesse, mesmo que eu tentasse alertar a mim
mesma que aquilo tudo era um maldito contrato de casamento, senti ciúmes.
Quando entramos de mãos dadas no restaurante, me senti mais
confiante, graças as roupas que estava usando.
Fomos recepcionados por um homem muito simpático, que descobri
ser amigo de Noah, nos sentamos próximo à janela, mas ele parecia
incomodado.
Percebi que uma mulher sentada em uma mesa ao lado não parava
de nos olhar, ela era loira e tinha cara de nojenta assim como a da loja.
— Está tudo bem?
— Sim, James levou os papéis do casamento hoje.
— Mas já estão prontos? — Inquiro — Pensei que essas coisas
demoravam para ficarem prontas.
— Não para mim.
Reviro os olhos diante de tanta soberba e ele esboça um leve sorriso.
Percebo que a mulher, continua nos olhando.
— Quem é ela? — Decido questionar.
— Ninguém que deva se preocupar.
Infelizmente, tinha um sexto sentido muito aguçado e ele estava
gritando falando que ela era alguém que devesse me preocupar sim.
— Vou ao banheiro. — Aviso, me levantando.
Entro no cômodo e me escoro na pia, respirando fundo.
— Aqui está a noiva de Noah Thompson — Me viro, encontrando a
mulher que estava nos encarando. — As revistas e tabloides só falam sobre
isso e eu me pergunto o que Noah viu em alguém como você, quando ele
esteve ao lado de alguém como eu.
— E por que mesmo não está mais com ele?
— Isso não é da sua conta!
— Assim como o meu casamento não é da sua. — Encaro a mulher
na minha frente.
— Noah não pode se casar com alguém como você, mesmo nessas
roupas de grife, nota-se que é uma pobretona.
— Ele não parece se importar muito com isso. — Lanço-lhe uma
piscadela. — Aliás, quando me casar com ele, serei bem rica. — Passo por
ela e saio do banheiro. Mesmo não gostando desse tipo de coisa, não queria
sair tão humilhada. — Quero sair daqui. — Paro na frente da mesa e aviso a
Noah.
— O que houve? — Questiona, estreitando os olhos.
— Acabei de conhecer a sua ex no banheiro e antes que ela me
provoque de novo e eu perca a cabeça te envergonhando, melhor irmos
embora. — Ele assente e se levanta, segura na minha mão e caminhamos
para fora do restaurante.
Antes de chegar a porta de saída, a mulher se aproxima.
— Noah precisamos conversar. — Olha direto para as nossas mãos
entrelaçadas.
Consigo perceber o desconforto dele perto dela.
— Não temos nada para conversar.
Saímos do restaurante e entramos no carro sem falar nada. Noah
dirigi rápido pelas ruas de São Francisco.
— Ainda estou com fome. — Decido puxar conversa, tentando
quebrar aquele clima chato que havia ficado.
— Não conseguiremos uma reserva essa hora em nenhum
restaurante.
— Conheço um lugar, mas não é como esses restaurantes chiques
que você frequenta.
Ele encosta o carro e fico sem entender.
— Ótimo, você dirige. — Sai do carro e abre a porta para mim
— Não posso dirigir o seu carro!
— Já dirigiu antes, certo? — Assinto. — Então não vejo problema.
— Sim, mas era um Fusca 79, não um Jaguar.
— É a mesma coisa.
Saio do banco carona e me acomodo atrás do volante, com as mãos
tremulas, começo a dirigir e não, não era a mesma coisa, era mil vezes
melhor.
Dirijo até a lanchonete onde Jud trabalha e estaciono em frente.
Entrando de mãos dadas.
— Puta que pariu, você está linda! — Jud me abraça. — Olá,
Senhor Thompson. — Cumprimenta formalmente.
— Olá, Judith.
— Vamos querer hambúrgueres. — Faço os pedidos.
— Os dois? — Arqueia a sobrancelha para Noah.
— Sim. — Ele afirma e ela sorri.
— Certo, vou colocar vocês na nossa melhor mesa. — Ela nos leva
para a mesa.
— São amigas há muito tempo? — Ele pergunta assim que nos
sentamos.
— De uma vida toda. Jud esteve comigo nos melhores e piores
momentos. — Fico olhando para minha amiga atendendo outras mesas. —
Só queria poder ajudar ela de alguma forma.
— Ela está ilegal no país?
— Sim e por isso não consegue um bom emprego, mesmo tendo
diploma, sem o visto, não vale de nada.
— Ela é formada em quê?
— Em marketing. Ela é muito boa no que faz, por várias vezes
ajudou Tomás com os trabalhos da faculdade.
— Seu ex? — Assinto. — Me fale sobre ele.
— Definitivamente não vale a pena.
— Scarllet, sei que as dívidas que adquiriu foi por causa dele.
Sinto o meu rosto corar.
— Como sabe disso
— Sei tudo sobre você.
Respiro fundo, não gostava de lembrar de Tomás e menos ainda do
que vivi ao seu lado, mas se íamos nos casar, mesmo que fosse um
casamento de mentira, tínhamos que ser sinceros.
— Quando o conheci, Siena tinha acabado de se casar e eu estava
completamente sozinha, no começo parecia um sonho, afinal ninguém
nunca havia olhado para mim, mas Tomás estava ali. No começo ele ia me
buscar no trabalho, me levava chocolate, íamos ao cinema e não demorou
muito para me pedir em namoro. Foi aí que as coisas começaram a mudar.
Ele começou a exigir dinheiro, queria me trancar em casa, apertava o meu
braço sempre que algo o incomodava, exigia que eu me comportasse como
ele queria, sempre dizia que se ele me deixasse ninguém iria me querer. —
Puxo o ar e solto lentamente. — Um dia decidi fazer uma surpresa e ir até
o seu apartamento. Mesmo com todo esse jeito rude, eu era apaixonada por
ele. Definitivamente, uma trouxa. Nesse dia, acabei encontrando ele na
cama com outra mulher.
— Qual foi a sua reação?
— Não disse nada, apenas fui embora. Ele até veio atrás de mim,
mas a Jud o colocou para correr da minha casa e ficou comigo todos os
dias. Eu melhorei, mas as dores que ele me causou ainda continuam vivas
em mim.
Noah prestava atenção em cada palavra.
— Esse cara é um idiota, Scarlett!
Jud chega com os nossos pedidos e vejo Noah olhar para o prato
como uma criança perdida.
— Não tem talheres? — Questiona.
— Não, você come com as mãos assim. — Pego o meu lanche,
mostrando para ele.
Ele pega o dele e começa a comer, parece uma criança e eu não
posso evitar rir quando ele suja a barba de molho, pego um guardanapo e
aproximo a minha mão, assustando-o.
— Tem molho na sua barba. — Aviso, limpando.
Noah despertava muitas emoções em mim e eu não sabia ao certo
explicar, tinha medo dele, mas, ao mesmo tempo, ele parecia indefeso.
E eu estava completamente confusa.
Capítulo 22

Nunca imaginei que estaria sentado em uma lanchonete, comendo


um lanche qualquer, mas essa pequena mulher havia conseguido até isso,
mudar os meus hábitos, me tirar da minha zona de conforto.
A verdade é que eu nunca me permiti viver uma vida diferente do
que a que eu estava acostumado, eu era Noah Thompson e aquela era a
minha vida, chata e monótona.
A raiva tomou conta de mim quando ela contou sobre o idiota do ex
dela, como ele pode fazer isso com ela? Tudo o que eu queria naquele
momento foi cuidar dela, protegê-la de tudo e todos, Scarlett era alguém
quebrada assim como eu.
— Agora é a sua vez. — Fala, assim que a sua amiga recolhe os
pratos.
— A minha vez de quê?
Sei do que ela está falando, mas tento evitar o assunto.
— De me contar sobre aquela mulher no restaurante.
Era justo, ela compartilhou comigo o seu passado, deveria fazer o
mesmo.
Seus olhos curiosos me encaram e passo a mão pela minha barba,
reunindo coragem para tocar nesse assunto.
— Miranda é minha ex noiva, filha de um empresário importante da
cidade, pensava que o destino havia a colocado na minha vida naquela noite
chuvosa, mas depois descobri que tudo não passou de um golpe armado por
ela e pelo pai dela. Miranda foi alguém que me machucou muito, porque
acreditei e confiei nela. Quis dividir a minha vida com ela e tudo o que fez
foi me enganar e mentir para mim. — Conto, me recordando do quanto
sofri quando descobri a verdade, das noites amarguradas que passei na
companhia de uma garrafa de uísque e as lembranças dos dias em que
pensei que era feliz.
— Sinto muito por tudo que passou. Amamos pessoas erradas que
não nos merecem.
Ela olha os carros pela janela, era nítido o quanto a história dela,
também a havia machucado.
Ficamos ali sentados conversando por mais um tempo, falamos
sobre a Charlotte e em como ela estava lidando com a perda dos pais. A
verdade é que eu gostava de ouvi-la, gostava de como as palavras saiam da
sua boca e em como ela acreditava que tudo daria certo, ao contrário de
mim, que sempre estava pronto para que algo desse errado.
Pagamos a conta e seguimos para a empresa, Scarlett estava
nervosa, podia notar pela forma que ela olhava para as pessoas ao nosso
redor e em como apertava as mãos, mas quando a equipe de marketing
entrou senti o seu corpo tencionar ao meu lado e a sua mão que agora eu
segurava ficou gelada, ela parecia prestes a ter uma crise de pânico.
Segui o seu olhar e vi o homem, que também a olhava fixamente, no
seu crachá estava escrito o nome Tomás, então liguei uma coisa à outra, o
idiota trabalhava aqui, ele era o ex-abusador dela, o cara que a usou e a
enganou.
Começamos a tirar as fotos, ela continuava tensa ao meu lado, mas
conseguiu sorrir em algumas delas e eu fiz questão de abraçá-la, não só
pelas fotos, mas para que ela se sentisse segura de alguma forma.
Esperei todos saírem da sala, assim que terminaram as fotos.
— Está tudo bem?
Olho para ela, que abraça o próprio corpo com força, um sinal claro
que está com medo.
— Sim, só um pouco de dor de cabeça, posso ir para casa? Chamo
um táxi.
— Nós vamos juntos.
Hanna bate na porta.
— Pode entrar.
— Senhor Thompson desculpa interromper, mas os diretores estão
em uma videoconferência com os alemães e eles exigem falar com o senhor,
dizem que não fecharão o contrato se o senhor não estiver presente, será
que pode ir até a sala de reuniões?
Olho para Scarlett como se precisasse da autorização dela, eu Noah
Thompson pedindo autorização para fazer algo?
— Tudo bem, eu te espero aqui. — Abre um pequeno sorriso.
— Volto logo. — Garanto e saio da sala, indo para a sala de
reuniões.
Capítulo 23

Assim que ele sai com a secretária me aproximo da vidraça e


observo a cidade aos meus pés, mesmo que por uma mentira a minha vida
havia mudado tanto e ver Tomás aqui, havia me feito recordar quem eu era,
abraço o meu corpo e sinto um arrepio subir pelas minhas costas, no mesmo
instante em que a voz fria de Tomás ecoa na sala, me levando de volta para
aqueles dias em que tudo o que eu via era ele e o meu amor cego por ele.
— Quem diria, hein? A inocente Scarlett dando um golpe desse
tamanho, nunca imaginei que seria esperta o suficiente para conseguir um
velho rico, mas vejo que me enganei. — Escuto a voz de Tomás invadir a
sala.
— O que está fazendo aqui? Melhor você sair ou vou chamar a
segurança!
Olho a minha volta, procurando por algo que eu possa usar para me
defender, mas estou acuada em um canto da sala.
— Sair daqui? Te deixar em paz? Ah, baby girl, o que te faz pensar
que eu não quero uma parte do que vai ganhar com esse casamento? Vai ter
que dividir comigo, se lembra quando eu te chamava de baby girl? Ainda
fica molhadinha quando escuta esse nome? — Ele se aproxima de mim,
segurando o meu rosto entre as suas mãos.
— Tire as mãos de mim — cuspo as palavras — Tenho nojo de
você! Não estou dando golpe em ninguém, eu amo o Noah!
Já não sabia se isso era mentira ou se de fato eu estava me
apaixonando por Noah Thompson.
— Ah, não venha com essa, você não ama um velho daquele,
quando teve alguém como eu. Você vai fazer o que eu quero Scarlett, sabe
por quê? Está vendo esse pendrive aqui na minha mão? Ele tem fotos e
vídeos nossos, vídeos bem gostosos que eu ainda uso para bater uma de vez
em quando, tenho certeza que o velho do seu noivo adoraria te ver
chupando o meu pau. — Ri. — Sabia que um dia isso ia me ser útil e veja
só, agora vai ser. — Prensa o meu corpo contra a vidraça, mostrando o
pendrive.
Tomás tem um sorriso diabólico no rosto e me pergunto como pude
um dia amar esse homem?
Ele começa a passar a mão pelo o meu corpo e aperta o meu seio
com força, tentando me beijar.
Fecho os olhos e lágrimas começam a rolar pelo o meu rosto.
— Tire as mãos de cima dela, seu imbecil! — Ouço a voz de Noah e
logo Tomás é puxado para trás.
Noah acerta um soco com força no rosto dele, o derrubando no
chão. Tomás revida.
— Noah, cuidado! — Grito ao vê-lo ser atingido.
Tomás é atingindo por vários socos e cai no chão, sendo chutado por
Noah.
— Noah o pendrive. — Aviso.
Ele me olha e depois para a mão de Tomás. Se abaixa e pega o
pendrive da mão dele, o acertando de novo.
Finalmente os seguranças entram na sala.
— Joguem esse desgraçado na rua, bem longe daqui, para que ele
nunca mais volte! — Noah ordena e os seguranças tiram Tomás.
Noah se aproxima dele e olha em seus olhos.
— Se chegar perto dela novamente, vou cuidar pessoalmente para
que nunca mais veja a luz do sol.
Os seguranças saem arrastando aquele verme.
Noah atravessa a sala e me abraça com força me puxando para ele,
beijando a minha cabeça.
— Tudo bem pequena, já acabou, estou aqui.
Abraço ele como se a minha vida dependesse disso, como se ali nos
braços dele, nada pudesse me atingir.
— Ele era o meu, o meu... —Tento dizer entre lágrimas, mas não
consigo terminar a frase, a voz embargada pelo choro não sai.
— Eu sei quem ele era, não precisa dizer nada.
Ele se senta na cadeira e me puxa para o seu colo, então coloca o
pendrive na minha mão. O encaro.
— Eu não quero saber o que tem aí Scarlett, não me interessa ver
nada, quero te ver pelos os meus olhos e não pelos olhos daquele imbecil.
— Assinto e jogo o pendrive dentro do vaso de flores sobre a mesa,
observando-o afundar na água.
Olho para ele que fixa os seus olhos sobre os meus, sua mão
percorre suavemente o meu rosto e ele me puxa, colando os nossos lábios.
Não havia ninguém a quem convencer nesse momento de que
éramos um casal, só estávamos ele e eu, então aquele beijo, aquele cuidado,
não era encenação, ele me queria assim como eu o queria também.
Sinto a sua mão abrir o botão do meu blazer e alcançar o meu seio
sob o tecido de renda do top e quando ele aperta o bico, um gemido escapa
dos meus lábios. Viro no seu colo, ficando de frente para ele e passando
uma perna de cada lado da sua cintura, sua boca percorrendo o meu
pescoço, a sua barba me causando arrepios. Nossos corações acelerados e o
desejo gritando, de fato, o tesão dominou aquela sala de tal forma que tudo
o que eu queria era estar nos braços de Noah Thompson, sentir as suas mãos
me provocando, os seus beijos me instigando a querer cada vez mais.
Ele coloca a mão na minha nuca, ao mesmo tempo que entrelaça os
dedos no meu cabelo. Seus lábios estão quentes e parecem se encaixar
perfeitamente nos meus. Ele me puxa para o lado, enquanto fecha as
persianas através de um controle, tirando-nos da vista das pessoas que
possam passar por ali, e me encosta na parede, apertando o seu corpo contra
o meu. Desço uma das minhas mãos até a sua cintura e junto mais o corpo
dele ao meu. Nossos quadris ficam praticamente colados e, mesmo por cima
da calça, consigo sentir sua ereção. Seus lábios continuam nos meus e sua
língua se entrelaçando na minha, explorando todo o interior da minha boca.
Subo a mão da sua cintura pelas suas costas, passando as unhas por cima da
camisa dele. Ele me beija com mais intensidade e desce uma das mãos até a
minha bunda, ao mesmo tempo que vai andando de costas até o banheiro.
Nem o vejo abrir a porta. Só escuto o barulho dela batendo após entrarmos
e meu corpo sendo pressionado contra ela enquanto ele está trancando-a.
Em nenhum momento paramos o beijo e parece que ele está ficando mais
intenso a cada segundo que passa.
Desço a mão até a sua calça, passando por cima de sua ereção, que
parece aumentar com o meu toque. Aperto o seu pau por cima da calça e ele
solta um gemido baixo com os lábios ainda nos meus, até que eles
finalmente se afastam, ao mesmo tempo que ele se afasta de mim e abre a
calça, abaixando-a um pouco até que sua cueca boxer preta fique à mostra.
Sem a calça posso ver melhor sua ereção. Está marcando o tecido e só de
olhar fico mais excitada.
Levanto o olhar do seu pau para o seu rosto e vejo que ele está me olhando fixamente.
— Chupa—fala, fazendo com que eu volte o olhar imediatamente
para o seu pau. Ele está com a mão sobre ele agora, segurando-o por cima
da cueca.
Definitivamente não vai ser preciso falar duas vezes, eu realmente
quero muito isso.
Abaixo na frente dele, ele tira a mão de cima da cueca. Levo a mão
até a cueca boxer e enfio a mão dentro dela, segurando o seu pau e tirando-
o lá de dentro. Puta merda mil vezes. O pau dele é simplesmente... Enorme.
E está duro. Muito duro. Nas outras vezes eu não pude ver tão de perto esse
monumento.
Aproximo o meu rosto e passo a língua pela cabeça do seu pau,
descendo e passando-o por toda a extremidade. Volto para a ponta e começo
a chupar a cabeça, só depois a enfiando na minha boca. Ele solta um
gemido abafado e, ao olhar para cima, vejo que ele está trincando os dentes.
Continuo chupando, mas agora olhando para ele, que está com os
olhos castanhos cheios de desejo e com os dentes trincados. Tiro e coloco o
pau dele na minha boca. Nesse momento ele segura a minha cabeça,
movendo contra o seu pau. Sinto-o chegar à minha garganta e quase
engasgo, mas continuo chupando, com mais força ainda.
— Puta que pariu!— diz com a respiração acelerada. — Se você não
parar agora, eu vou gozar na sua boca — adverte.
Continuo chupando, louca para sentir aquele líquido quente saindo
desse pau. Não demora muito para sentir o jorro quente saindo de seu pau
diretamente na minha boca. Engulo e passo a língua por ele, até chegar às
suas bolas, por onde passo a língua também. Nisto, ele me agarra pelo
cabelo e me puxa, me levantando. Estou muito excitada. O que será que ele
vai fazer agora?
— Você tem uma boca maravilhosa—diz aproximando o meu rosto
do dele e passando a língua pelo contorno dos meus lábios—E agora você
me deixou muito excitado—diz enquanto passo a mão pelo seu pau.
Suas mãos alcançam o botão da minha calça e ele abre fazendo o
tecido escorregar pelas minhas pernas, ele tira o meu blazer e também o top
de renda que eu uso, me deixando apenas com uma minúscula calcinha e as
sandálias de salto.
Ele vira o meu corpo contra a bancada fria de mármore deixando a
minha bunda empinada, sinto os seus dedos colocando a minha calcinha de
lado, e o seu pau entrando na minha boceta molhada, ele vai se enfiando e
acelerando os seus movimentos depois que consegue se enterrar todo em
mim.
— Ah, você é deliciosa.
A voz rouca ecoa no pequeno banheiro, o espelho a nossa frente
reflete a luxúria estampada em nossos olhos.
As suas mãos seguram com força a minha cintura, puxando o meu
corpo para ele.
Sinto o meu corpo tremer, e as minhas pernas vacilam quando o
orgasmo me atinge, ele me sustenta e continua socando cada vez mais até
que ele mesmo goza gemendo mais alto.
Olho em seus olhos através do espelho, e, ao mesmo tempo que vejo
desejo, vejo uma louca confusão dentro dele também.
Capítulo 24

Sete dias depois...

Decidi evitar me encontrar Scarllet durante esses dias, saindo cedo


de casa e ficando até tarde na empresa, eu precisava de um tempo para
organizar os meus pensamentos, eu estava muito perto dela e isso estava
causando uma confusão sem tamanho dentro de mim.
Logo que desci as escadas pude notar a movimentação pela casa, o
pessoal da decoração já estava trabalhando aqui e deixando tudo pronto
para amanhã. Finalmente chegaria o dia em que me casaria com ela.
Passo em meio às pessoas e sigo para a empresa, tinha que ficar
longe de tudo aquilo, longe dela. Scarllet estava tomando um lugar na
minha vida que não deveria tomar e eu queria cada vez mais estar com ela,
ficava repetindo para mim mesmo, que isso tudo era um contrato, um
casamento de mentira.
Quando abro a porta da minha sala, dou de cara com a última pessoa
que eu queria ver na minha frente.
— Poupe o meu tempo e me diga quem a deixou entrar aqui
Miranda, para que eu possa mandar embora. — Atravesso a sala, colocando
a minha pasta sobre a minha mesa e ignorando essa mulher.
— Noah, eu precisava falar com você, não se case Noah, eu te amo!
— Se aproxima de mim.
— Me ama? Como pode ser tão mentirosa? Você só ama a si mesma
ou quem sabe ama também o barman com quem me traiu!
— Foi tudo armação do meu pai, eu não sabia de nada! — Insiste na
mentira.
— Você me trair também foi armação do seu pai? — Pergunto,
irônico.
— Esse foi o meu único erro. Por favor, me perdoe, ainda podemos
ser felizes juntos.
Ela tenta se aproximar, mas estendo a mão, evitando que encoste em
mim.
— Miranda, saia da minha sala, vou me casar amanhã e não quero te
ver nunca mais. — Os seguranças entram na sala logo após ativar o botão
de emergência embaixo da minha mesa.
Assim que ela foi tirada da minha sala, James entrou.
— Uau, o dia começou animado por aqui. — Comenta.
— Espero que não esteja me trazendo mais problemas. —
Resmungo e me sento.
— Pelo contrário, aqui está o documento da casa dela. — Coloca a
pasta em cima da mesa. — Também vim informar que a amiga dela já está
estabelecida no setor de marketing.
— Ótimo! Certifique-se que Scarllet receba o valor assim que nos
divorciamos.
— Vai mesmo se divorciar dela? — Inquire.
— E por que eu não iria? — Devolvo a pergunta.
— Parece apaixonado por ela.
— Não fale besteiras. — Encaro ele com o olhar furioso.
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou. — James se levanta e
sai da sala.
Era só o que me faltava, eu estar apaixonado por aquela mulher, isso
só poderia ser uma piada. Definitivamente James estava louco, jamais
estaria apaixonado por ela.
Fico até tarde na empresa, evitando voltar para casa, amanhã será o
nosso casamento e estou me perguntando a todo o momento, se estou
fazendo isso só pela Charlotte mesmo.
Me levanto e caminho até a vidraça, daqui podia ver toda a cidade
aos meus pés e uma vista linda da Golden Gate, iluminada e os carros indo
e vindo por ela.
Uma batida na porta me assusta.
— Noah, posso entrar? — Surpreendo-me ao ver o Steven parado
ali.
Ele havia sido muito amigo do meu pai e estava na empresa desde
que foi fundada, mas já fazia um tempo que não nos falávamos.
— Claro Steven, entre.
— Vim lhe parabenizar e saber se está ansioso para o casamento.
Brindaremos com uísque? — Assinto e ele nos serve. — Ansioso para o
casamento?
— Um pouco.
— Noah, James é seu advogado pessoal e um profissional
extremamente competente e discreto, no entanto, sou o diretor jurídico e
tudo passa por mim, sei sobre o contrato e admiro que estejam fazendo isso
pela menina. É um risco e tanto a correr. Porém, hoje mais cedo eu o vi ao
lado dela e os seus olhos pareciam brilhar. Confesso que em todos esses
anos trabalhando ao seu lado, nunca o vi assim. — Levanta o copo como se
estivesse brindando e bebe.
— É só um contrato Steven, apenas um contrato.
— Será mesmo? Já se perguntou se não está apaixonado por ela
— E se eu estivesse? Que futuro teríamos? Somos diferentes,
opostos, ela é vinte anos mais nova que eu. De qualquer maneira, isso não
daria certo.
— Isso não muda o que sentem um pelo outro. Pare de viver um
teatro, as pessoas irão sempre procurar um motivo para nos julgar e deixar
de ser feliz devido à opinião alheia é a pior burrice.
— As mulheres são interesseiras, Steven, todas elas. — Viro o
líquido do copo em minha boca.
— Não julgue todas, porque uma te magoou. Há pessoas de bom
caráter neste mundo. — Sorri. — Estou velho já, mas se tem algo que fiz
nessa vida foi amar e o amor vence qualquer coisa, pense sobre isso filho.
— Se levanta.
— Pensarei. — Afirmo.
— Até amanhã. — Steven se despede e sai da sala.
As palavras dele ecoam na minha mente, e se ela fosse diferente
mesmo?
Por que estou pensando nessa possibilidade? Ela não era diferente,
todas são iguais e isso é apenas um contrato.

Quando voltei para casa já era tarde da noite, vi o meu lugar posto
na mesa de jantar, mas não compareci.
Respirei fundo e subi as escadas, indo direto para o quarto de
Charlotte, ela estava dormindo profundamente.
Estava seguindo direto para o meu quarto, mas quando passei diante
da porta do quarto dela, algo foi mais forte que eu e acabei entrando,
caminhando com passos lentos para não fazer barulho e acordá-la. Scarllet
estava dormindo serenamente, parecia um verdadeiro anjo.
Ela dormiu lendo mais uma vez, retiro o livro da sua mão com
cuidado e olho a capa e involuntariamente abro um sorriso, estava lendo
mais um daqueles romances mentirosos.
Scarllet realmente gostava de viver no mundo das fantasias.
Deixo o livro sobre a mesa de cabeceira, olho para o lado e vejo o
seu vestido de noiva pendurado, mas como estava escuro, não conseguia ver
os detalhes. Decido que é hora de sair para não acordá-la.
Ao entrar vejo o smoking pendurado, era inevitável, em poucas
horas estaria casado com Scarllet, uma mulher completamente oposta a
mim.
Capítulo 25

O dia começa bem agitado. Várias pessoas entrando e saindo da


mansão. Desde floristas, mestre de cerimônia até a equipe de cabelo e
maquiagem. Todas cumprindo o seu papel de bajular a noiva de Noah
Thompson perfeitamente. Sim, era isso que eu era, mesmo por conta de um
contrato, a noiva desse homem poderoso.
O altar foi montado no gramado da mansão, tudo com muito bom
gosto e requinte.
Olho meu vestido tão lindo, cinturado, com as alças não tão grossas,
mas que deixavam parte dos meus ombros à mostra. A renda bordada com
flores arabescas abraçavam o meu corpo e os pontos de luz espalhados pela
saia do vestido, deixava um charme. Sobre os meus cabelos um véu longo,
que se estendia até o chão, igualmente cheio de pontos de luz.
Charlotte entra no meu quarto, usando um vestido igual ao meu.
Lindíssima!
— Tia Scarlett, como você está linda! — Me elogia, levando as
pequeninas mãos à boca, claramente encantada com o que vê.
— Você também está, meu amor. Uma verdadeira princesa! —
Retribuo o elogio, sorrindo para ela.
Ela gira, segurando o seu vestido e sorrindo.
Charlotte estava radiante com tudo o que estava acontecendo e nem
imaginava que esse casamento era uma grande farsa.
Depois dos últimos retoques, saímos do quarto em direção às
escadas. Estava nervosa, mas não podia voltar atrás.
Começo a descer as escadas, pensando em tudo o que está
acontecendo, o meu coração está acelerado e posso ouvir cada batida dele.
Assim que chego ao gramado, o vejo me esperando no altar. Ele está
lindo, vestindo um smoking preto impecável, mas o seu semblante continua
frio como sempre.
Vejo todos os convidados com suas roupas caras, exalando poder e
riqueza.
Charlotte entra na minha frente, jogando pétalas de rosas pelo
caminho.
A marcha nupcial começa a tocar e eu caminho lentamente até ele.
Meu coração acelera ao ponto de quase sair pela boca. Como eu
queria que isso tudo fosse de verdade, que não fosse somente por conta de
um contrato, que ele estivesse ali apaixonado por mim, assim como eu
estava por ele. O mais engraçado é que só tive essa certeza nesse exato
momento, pois eu não poderia imaginar outra pessoa me esperando naquele
altar que não fosse ele, mesmo com o seu jeito frio, mesmo ele sendo quem
ele é.
Cada passo que eu dou em sua direção, sinto o meu coração bater
mais rápido, a música, as pessoas, tudo parece sumir quando os meus olhos
focam nos dele e quando a sua mão segura a minha e seus olhos ficam fixos
nos meus, sinto um arrepio por todo o meu corpo.
Eu nem sequer ouvi o que o homem de trás da mesa disse, minha
mente estava barulhenta demais para que eu prestasse atenção e só repeti as
palavras de Noah.
— Sim. — A voz fria dele ecoa.
— Sim. — Minha voz sai carregada com toda incerteza e certeza do
mundo.
Estávamos casados, ligados por um contrato de casamento e eu não
tenho ideia do que vai acontecer daqui a pouco.
As pessoas se enfileiraram para nos parabenizar. Sentia que poderia
desmaiar a qualquer momento, se não fosse pela mão firme dele segurando
a minha cintura.
E quando caminhamos para a pista de dança, senti o meu coração
parar, ele me olhou nos olhos, a música ecoando, as pessoas nos olhando,
mas quando ele me segurou em seus braços, o mundo todo pareceu sumir
ao meu redor e tudo o que eu conseguia ver eram os olhos de Noah
Thompson, e sentir as suas mãos me segurando.
Capítulo 26

Ali, com ela nos meus braços, o mundo parecia finalmente fazer
sentido, mesmo que dentro de mim a parte racional gritasse que aquilo tudo
era um contrato, uma mentira, algo com um propósito maior, estava me
sentindo livre dançando com ela e eu não me sentia assim há muitos anos,
pela primeira vez eu não me sentia prisioneiro da minha própria vida.
A verdade é que hoje, olhando todas essas pessoas aqui, percebi o
quão vazia a minha vida sempre foi, que tudo era um grande teatro, uma
teia de mentiras baseada em acordos milionários, rodeado de pessoas que eu
nem sequer sei o nome ao certo, que encontrei algumas vezes em reuniões
ou nem isso, que estão aqui apenas por causa do sobrenome Thompson e o
poder que ele tem. Pessoas que sorriem para mim e para a minha esposa
apenas por protocolo, para manter acordos e contratos, certamente devem
estar comentando nesse exato momento o quão velho eu sou para ela ou
como somos diferentes, porque a sociedade é julgadora e maldosa.
A festa continua, observo Charlotte correr entre as mesas deixando
as babás malucas atrás dela e acabo sorrindo ao ver que ela está feliz, afinal
para ela esse teatro todo é uma grande festa.
A verdade é que a minha vida havia mudado depois que ela e a sua
tia maluca entraram, tudo havia se transformado, havia se colorido. Sorri
mais vezes nesses últimos dias do que em toda a minha vida.
Após algumas horas as pessoas começaram a ir embora e fiquei
observando Scarllet se despedindo de algumas delas, as mesmas que
sorriam falsamente e que estavam nos julgando de longe, mas ela
interpretou bem o seu papel de noiva feliz e realizada.
Quando entramos na mansão, a segui. Charlotte já estava dormindo
há algum tempo, cansada de tanto brincar e fazer as babas correrem atrás
dela.
Scarllet subiu as escadas e parou diante das janelas que mostravam o
jardim, me aproximei devagar e ela me olhou, dando um sorriso fraco.
— E agora? — Questiona, me olhando.
— Estamos casados.
Continuo olhando para ela, que parece assustada.
— Sim. — Sua voz soa com tanta incerteza e medo.
— Se alguém me perguntasse sobre o dia do casamento, eu diria que
seria corrido ou algo assim, ao menos para o noivo e a noiva, mas para nós
estava tudo pronto, não sentimos as emoções desse dia. — Digo, enquanto
observo seus dedos trêmulos brincando com o véu cheio de pontinhos de
luz.
— Como vai ser agora, Noah? — Pergunta, com os seus olhos
marejados.
— Não entendi.
— Eu quis dizer o casamento, o que vem agora? — Explica. —
Quando todos os convidados forem embora, como será a nossa vida? Como
será esse teatro?
— Será como antes, mas com a diferença que os nossos nomes estão
lado a lado naquela certidão, estamos ligados por um contrato, um
casamento de mentira, não somos marido e mulher Scarllet, somos sócios
em um grande e arriscado negócio. — Quero colocar isso na minha cabeça
para proteger a mim mesmo daquela loucura que era ver ela vestida de
noiva ali na minha frente e, toda a confusão de sentimentos e sensações que
estavam dentro de mim.
— Você tem razão, isso tudo é uma farsa. — Ergue o vestido
caminhando em direção ao seu quarto, caminho atrás dela, mas ela entra e
fecha a porta, sem ao menos olhar para trás.
Fico ali com a testa encostada na parede, Scarllet parecia uma bruxa
e eu parecia estar enfeitiçado por ela.
Essa guerra eu não podia perder.
Capítulo 27

Assim que entro naquele quarto e fecho a porta, deixo as lágrimas


escorrerem pelo meu rosto, caminho até o banheiro e me olho no espelho,
observo cada detalhe do vestido.
— É um acordo Scarllet. — Repito para mim mesma. — Apenas um
acordo, não seja tola, não se apaixone por ele.
Era tarde demais, sentia dentro de mim que o amava e o queria ao
meu lado, mas ele não, para ele era tudo sexo e negócios. Fui uma tola por
imaginar que alguém como ele pudesse se apaixonar por mim, uma pessoa
tão comum e sem atrativos.
Tiro o véu da minha cabeça e solto os meus cabelos, tento alcançar o
fecho do vestido, mas minhas mãos não chegam até lá.
— Merda! — Bufo com raiva.
Caminho de volta para o quarto, buscando uma solução para tirar
aquele vestido, sem outra alternativa decido olhar no corredor, talvez algum
empregado estivesse passando naquele momento e pudesse me ajudar, abro
a porta devagar e o meu coração quase para quando o vejo ali parado no
mesmo lugar.
— Tudo bem? — Pergunta com a sua voz fria, me encarando.
— É, você pode chamar alguma empregada? — Evito olhar nos seus
olhos.
— O que precisa?
— Preciso de ajuda para abrir o vestido. — Sinto o meu rosto
esquentar.
— Posso te ajudar com isso. — Faz um gesto com a mão para que
eu entre.
Me viro e entro no quarto, ouço quando ele fecha a porta assim que
entra.
Sinto a sua respiração na minha nuca, então ele coloca o meu cabelo
de lado e seus dedos tocam a minha pele que se arrepia por inteira quando
ele começa a abrir os botões.
Minha respiração está acelerada.
— Quanto antes entendermos que esse casamento é um acordo, será
melhor para todos nós, Scarllet. — Fala, passando os seus dedos pelo meu
ombro nu.
O vestido cai e eu o seguro, cobrindo os meus seios.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto e me viro na sua direção.
— Sei que isso tudo é um contrato Noah, um casamento de mentira,
mas fica mais difícil quando a outra parte não ajuda, fazer sexo com o meu
sócio não é muito profissional, não acha?
— Isso não vai mais acontecer. — Garante. — Em breve, James
dará entrada no processo de adoção e assim que tivermos a guarda dela
podemos nos separar, mas não se preocupe, me certificarei de que não saia
sem nada desse acordo.
— Não quero o seu dinheiro, só quero poder estar com a minha
sobrinha e quanto antes isso acabar é melhor. — Digo, num misto de mágoa
e raiva.
— Sim, quanto antes acabar será melhor. — Repete o que eu disse,
me olhando, então se vira e sai do quarto, exalando o seu poder e controle
sobre tudo e todos.
Fico ali parada no meio do cômodo, segurando o tecido sobre o meu
corpo, as lágrimas escorrendo pelo o meu rosto, sem que eu as possa
controlar.
Amaldiçoando o dia em que aceitei essa loucura toda, já sabia que
Noah Thompson levaria o meu coração e mesmo assim me deixei ser usada,
ser enganada como uma adolescente boba.
Escorrego entre rendas, grinalda e dor e me deixo chorar, choro por
estar sozinha, choro por Charlotte estar sozinha e choro por que me
apaixonei por um homem frio que vê tudo como um grande negócio.
A raiva me domina e começo a rasgar o vestido, enquanto os
soluços de choro escapam da minha boca, como pude ser tão tola? Como
pude me entregar a ele dessa forma, desarmada, indefesa?

Acabei pegando no sono e quando acordei o dia já havia


amanhecido. Decido que preciso tomar as rédeas da minha vida de novo,
não posso ser um brinquedo nas mãos de Noah Thompson.
Ligo para Jud, tentando marcar um almoço, desde que ela começou
a trabalhar na Thompson, mal temos nos falado, mas ela havia finalmente
conseguido dar entrada nos papéis para regularizar a sua situação no país e
isso me deixava muito feliz.
— Oi, Jud.
— Let, achei que estaria ocupada essa hora, você se casou ontem.
— Ela ri.
— Podemos almoçar juntas?
— Sim, claro Let, é bom que você já conhece o meu novo
apartamento. — Fala animada.
Estava feliz por ela estar conseguindo conquistar as suas coisas.
— Logo estarei aí.
Tomo um banho e olho a aliança no meu dedo, a maior e pior
mentira da minha vida.
Escolho um vestido preto e um sapato de salto, dentre as muitas
roupas que ele havia mandado colocar ali, e não por que ele queria me dar,
mas por que a esposa de Noah Thompson não poderia andar como eu
andava antes.
Desço as escadas e encontro Charlotte e ele tomando café, a
pequena me olha e sorri.
— Oi tia Scarllet, a senhora está tão bonita! —Charlotte fala,
sorrindo.
— Obrigada princesinha.
— Vai sair? — Noah pergunta.
— Sim. — Respondo, sem olhá-lo.
— Posso saber aonde vai? — Inquire, deixando a xícara sobre o
pires.
— Não que eu te deva satisfações, mas eu vou visitar a Jud. —
Sustento o seu olhar.
— Posso ir também tia Scarllet? — Charlotte pergunta, olhando
para mim e depois para o tio.
— Se o seu tio permitir, ficarei feliz em levar você.
— Posso tio Noah? Por favor?
— Pode, pegue um casaco. — Ele autoriza.
— Obrigada, tio Noah! — Sai correndo escada acima para buscar o
casaco.
— Vou pedir ao motorista para levá-las. — Informa, se levantando.
— Não precisa se incomodar, pedi um carro por aplicativo. —
Aviso.
— Vocês não vão com um carro de aplicativo, é perigoso, há pelo
menos cinco carros disponíveis nessa casa, se não quer ir com o motorista,
escolha um e dirija, afinal você sabe.
— O que te faz pensar que pode decidir o que vou fazer ou não? —
Pergunto com as mãos na cintura.
— O meu sobrenome depois do seu nome, uma certidão de
casamento e a aliança no seu dedo.
— Nada disso é verdade.
— Alguma coisa tem que ser. — Rebate.
— Tudo isso é apenas negócio, Noah, somos sócios. — Uso suas
próprias palavras.
Charlotte volta e seguro a sua mão saindo rumo à garagem,
escolhemos um dos carros, vermelho, porque Charlotte gostou mais desse e
seguimos para o apartamento de Jud.
Estacionei o carro em frente ao edifício e entramos, Charlotte estava
radiante e andava pulando pelo caminho todo.
— Olha só quem veio também. — Jud fala sorrindo ao ver
Charlotte.
— Olá, eu sou a Charlotte. — A pequena se apresenta.
— Eu sei bem quem você é princesa, entrem.
Entramos e Charlotte logo se encanta com a coleção de bonecas de
Jud, se distraindo.
— A sua cara não é a de uma mulher que acabou de se casar.
Coloco a bolsa sobre o balcão e respiro fundo, ela me puxa para
sentar no sofá ao seu lado.
— Jud, eu errei, me apaixonei por ele, mas para ele é tudo um
contrato, um grande e maldito negócio. — Desabafo.
— Let, já pensou que isso pode ser confuso para ele também? Ele
pode estar com medo e tentando se defender de alguma forma?
— Se defender magoando os outros? — Pergunto me levantando,
incomodada com o cheiro que vem da cozinha.
— O que foi? — Jud questiona
— Que cheiro é esse?
— Bolo de cenoura, o seu preferido.
Sinto o meu estômago revirar. Pergunto onde é o banheiro e quando
ela aponta, saio correndo, vomitando bastante.
— Está melhor? — Ela pergunta, quando por fim me sento.
— Acho que sim, deve ter sido algo que comi ontem na festa.
— Ou te comeram né? Let, está tomando anticoncepcional? Há
quanto tempo você e ele transaram pela primeira vez?
Sua pergunta faz a minha cabeça rodar, a verdade é que eu havia
pulado um ou dois dias.
— Pouco mais de um mês, mas não, isso não é possível, não pode
ser Jud. — Sinto o meu coração disparar.
— Possível é né Let, vamos pedir testes na farmácia e acabar com
essa dúvida de uma vez por todas, a verdade é que só não engravida quem
não transa e você minha amiga, tem transado bastante. — Ri, me ajudando
a levantar.
Voltamos para sala e Charlotte me olha preocupada.
— Tia, a senhora está bem?
— Sim, meu amor, já estou melhor. — Passo a mão no seu rosto.
Minha cabeça estava a mil, eu não poderia estar grávida, isso não
podia acontecer.
Logo os testes chegam, a exagerada da Jud, pediu logo três de uma
vez, eu fiz os três juntos e sai do banheiro com os testes na mão, quando vi
a minha amiga, a abracei com força e comecei a chorar.
— Não, eu não posso... — Começo a falar, mas as lágrimas me
interrompem.
— Você não está sozinha, eu estou com você e com esse bebê.
Sinto o meu coração parar, ia ter um filho de Noah Thompson e isso
era totalmente errado.
Capítulo 28

Duas semanas depois...

Desde o dia em que Scarllet saiu com Charlotte, achei que ela voltou
estranha, só estava falando comigo coisas essenciais sobre a Charlotte ou
sobre o processo de adoção que estava chegando ao fim e com isso o nosso
divórcio se aproximando.
Ela evitava contato comigo sempre que podia e sabia que eu mesmo
quem fiz isso, mas não pensei que me incomodaria tanto assim.
Estava respondendo alguns e-mails quando Charlotte entrou no meu
escritório.
— Oi, tio Noah. — Se aproxima.
— Oi pequena.
— Tio Noah, a minha tia foi embora? — Pergunta segurando as
pequenas mãos, igual à tia dela quando estava nervosa.
— Não, ela não foi, só está chegando mais tarde. — Informo.
— A tia Scarllet está doente tio Noah? — Questiona.
— Que eu saiba não, mas por que está me perguntando isso,
Charlotte? — Me preocupo com a sua pergunta.
— Ela passou mal na casa da tia Jud, fiquei com medo tio Noah, não
quero que ela morra igual a minha mãe. — Seus olhinhos ficam cheios de
lágrimas.
— Não se preocupe pequena, deve ter sido apenas um mal-estar. —
A tranquilizo e ela me abraça.
Depois de mais alguns minutos conversando, ela volta para o seu
quarto.
Scarllet estava dando aulas de reforço e chegando mais tarde em
casa, mas hoje decidi esperar por ela, James havia me entregado os papéis
da guarda de Charlotte, nós havíamos conseguido e eu queria dividir isso
com ela, mas também queria saber sobre o mal-estar que ela não comentou
nada, fiquei na sala sentado, com um copo de uísque na mão.
Observei ela entrar pela porta e tirar os sapatos, ela estava no
primeiro degrau da escada quando acendi o abajur.
— Scarllet — A chamo em meio à escuridão.
— Meu Deus, que susto! — Leva a mão ao peito.
— Não foi minha intenção assustá-la, mas eu preciso falar com
você. —Aviso, tomando um gole da bebida no copo.
— Não poderia ser em outro momento? Estou um pouco cansada.
— Na verdade, não, já que mal te vejo em casa, preciso aproveitar o
momento. — Me aproximo dela, que me olha assustada.
— Tenho trabalhado bastante. — Segura com força o corrimão da
escada.
— Eu sei, e me evitado também.
— Não é isso. — Desmente, gaguejando.
— Sabe o que é isso? — Pergunto, erguendo o envelope em minha
mão.
— Não.
— A guarda definitiva da Charlotte.
Scarllet sorri.
— Graças a Deus! — Ela me abraça.
Sentir o seu perfume de novo ali tão perto de mim, me deixa
enfeitiçado, capturo os seus lábios e a beijo, um beijo cheio de saudade.
Mas de repente ela sai correndo e entra no primeiro banheiro, fico
preocupado e vou atrás dela, seguro o seu cabelo.
— Está melhor? — Pergunto, preocupado com o seu mal-estar.
— Sim, deve ser algo que comi. — Scarllet parece nervosa.
— Como no dia em que foi na casa da sua amiga? — Ao perguntar
isso, ela fica assustada.
— Como sabe disso?
— Charlotte me contou, o que você está me escondendo Scarllet?
Está doente? — Me preocupo e ela nega com a cabeça.
— Estou bem.
— Por que será que não acredito em você?
Ela passa por mim e segue para sala, a sigo e seguro o seu braço
fazendo-a me olhar.
— Já disse que estou bem, me solte Noah! — Seus olhos me
encaram com fúria.
— Scarllet se está doente, eu preciso saber, vamos nos divorciar,
mas vamos compartilhar a guarda da Charlotte, você tem que estar bem. —
digo ainda segurando o seu braço.
Ela me olha e então começa a chorar.
— O que está acontecendo? Me diga Scarllet. — Insisto, ainda mais
preocupado por ela estar chorando.
— Não podemos nos divorciar Noah. — Sussurra.
— Como não? Combinamos isso desde o começo, é um casamento
de mentira. — Me afasto, passando a mão pelo me cabelo.
— Mas o bebê que espero é de verdade, Noah, estou grávida, estou
esperando um filho seu! — Me encara e nesse momento sinto a raiva me
consumir.
Como ela podia inventar isso para que eu não me divorciasse dela?
Aproximo-me em passos lentos e olho nos seus olhos.
— Você pode até estar grávida, Scarllet Baker, mas esse filho não é
meu. Sinceramente, não pensei que seria tão baixa assim, tentar me dar o
golpe da barriga? Como pode? — Sinto-me extremamente irritado e estou
tentando me controlar.
— Não estou mentindo, Noah.
— Esse filho não é meu e sabe como tenho certeza disso? Não posso
ter filhos, Scarllet, me submeti a uma cirurgia anos atrás, justamente para
não cair em golpes de mulheres como você. — Seus olhos se arregalam. —
Teria ficado com você se dissesse estar apaixonada por mim, mas tentar me
dar um golpe? Isso eu não aceito, quero que saia dessa casa, agora!
Passo por ela, subindo as escadas e assim que entro no meu quarto,
soco a parede. Havia confiado em uma mulher de novo e ela tinha tentado
me dar um golpe, tudo pelo maldito dinheiro, sempre é o dinheiro.
Continuo bebendo no meu quarto e me condenando por ter
acreditado nela.
Uma hora depois ouvi um carro sair, ela havia partido, junto com
toda a sua mentira, junto com o seu golpe.
Capítulo 29

As palavras dele foram como flechas atiradas em minha direção e


fiquei ali parada olhando ele subir a escada após me acusar de ser uma
golpista.
Senti o mundo se abrir sob os meus pés e tudo o que eu consegui
fazer foi chorar, pois a dor que eu senti me rasgou por dentro.
Subi as escadas devagar e peguei a minha velha mala, coloquei
apenas o que eu trouxe comigo para essa casa, tudo o que ele me deu eu
deixei para trás, passei pelo quarto da Charlotte e a beijei com carinho,
enquanto ela dormia, depois eu tentaria explicar tudo a ela e deixaria claro
que eu não a estava abandonando.
Peguei o meu cachorro e sai daquela casa, mas não da mesma
maneira que entrei, agora eu carregava um filho dele, estava apaixonada e
totalmente destruída.
Segui para o apartamento de Jud, havia lhe mandado uma
mensagem durante o caminho falando o que havia acontecido e quando ela
abriu a porta, não disse nada, apenas me abraçou com força.
— Estou aqui amiga, eu estou aqui, você não está e nunca estará
sozinha.
— O que eu vou fazer agora? O que eu vou fazer da minha vida,
Jud? —Choro.
— Agora você vai chorar tudo o que tiver para chorar, mas amanhã
você vai erguer a cabeça e mostrar para aquele filho da puta, que você não é
uma golpista, vai pensar nesse bebê, na Charlotte e em você, porque você é
e sempre foi uma mulher forte, nós vamos cuidar desse bebê juntas. — Me
consola.
Sei que ela nunca vai me deixar sozinha.
— Estou com muito medo. — Confesso.
— Eu sei Let, mas não pode se acovardar, podemos exigir um DNA.
— Não, ele tem poder demais, se ele comprovar que esse filho é
dele, ele vai me tirar essa criança, só para me punir, por achar que eu quis
dar um golpe nele.
— Você tem razão, nós não precisamos dele.

Estava morando com a Jud, há pouco mais de dois meses e aos


finais de semana o motorista dele trazia Charlotte para mim, era período de
férias escolares e estava ficando em casa, ainda continuava com as aulas de
reforço, afinal eu teria um bebê para criar em breve.
Minha barriga já estava começando a aparecer e pelas contas da
médica eu estava entrando no quarto mês de gestação e em breve eu saberia
se esperava uma menina ou um menino. Os enjoos haviam finalmente
passado, mas a saudade e a dor ainda se faziam presentes todas as noites,
ainda sentia falta dele, mesmo ele tendo sido um idiota.
Estava limpando a cozinha, quando a campainha tocou, pensei ser o
lanche que pedi, mas quando abri a porta dei de cara com James.
— Olá Scarllet, podemos conversar? — Pergunta olhando nos meus
olhos e depois na minha barriga que estava de fora.
— Tudo bem, entra. — Dou passagem ao homem, vestido com um
terno impecável, me perguntava como ele estava aguentando o calor que
estava fazendo, porque eu estava suando.
— Scarllet, trouxe os papeis do divórcio.
— Onde eu assino? — Pergunto de imediato.
— Scarllet, não penso como Noah, eu não acho que tenha tentado
dar um golpe nele, mas ele é cabeça dura e está irredutível, fez uma cirurgia
anos atrás e acha impossível você estar grávida dele.
— James, posso ser pobre, uma professorinha como ele diz, mas eu
tenho caráter, nunca mentiria sobre isso, mas isso não é mais sobre ele, nós
e esse maldito casamento de mentira acaba hoje. — Pego os papéis em cima
da mesa e assino todos onde estava o meu nome e o sobrenome dele escrito.
—Pronto, já está assinado, estou livre de Noah Thompson.
James se levanta e o acompanho até a porta.
— Scarllet, não desista dele. — Pede antes de sair.
— Eu não posso desistir de mim mesma, do meu filho e da minha
sobrinha, Noah sempre foi uma mentira, eu que me deixei levar e me
entreguei a um homem sem caráter.
Seguro as lágrimas e vejo o homem sair.
Caminho até o quarto e pego o porta retrato, com a foto do dia do
nosso casamento, a única coisa que trouxe daquela casa, abraço o objeto e
deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, amava aquele homem e ele
me quebrou de mil maneiras diferentes.
Capítulo 30

Os dias sem ela estavam sendo os piores possíveis, além da falta que
sentia dela, tenho que lidar com a sensação de ter sido enganado mais uma
vez e com Charlotte sentindo saudade da tia. Por mais que eu a enviasse
todos os finais de semana para a casa da tia, ela sentia falta da rotina que
construímos e eu não poderia julgá-la, pois eu mesmo me peguei várias
vezes querendo ela de volta nessa casa, mas quando lembrava do que ela
fez, a saudade dava lugar a raiva.
James entra na minha sala, com um envelope nas mãos.
— Aqui está Noah, ela já assinou. — Ele coloca o envelope em
cima da minha mesa.
— Ela assinou? Sem pedir nada em troca? Impossível para alguém
que tentou me dar um golpe!
— Noah, eu acho que Scarlett não é como você pensa, não a vejo
como uma golpista.
— Como não? James ela está grávida e disse que o filho é meu, isso
é impossível! — Afirmo.
— Será mesmo? Depois que fez a cirurgia voltou ao médico para
saber se havia dado certo? — Questiona, plantando a dúvida em minha
cabeça. De fato, depois da cirurgia, havia saído com outras mulheres, mas
nunca sem me prevenir, mas com ela eu nunca usei preservativo, confiava
nela.
— Impossível!
— Cuidado Noah, a vida pode ter te dado uma chance de ser feliz e
você estar jogando fora, pense nisso, nem tudo é o que parece.
James sai da minha sala, me deixando pensativo.
Pego o envelope e olho o documento, a letra dela, ela tinha mesmo
assinado, ela queria se divorciar de mim e eu também queria. Então por que
não consigo assinar esses papéis?
Bufo e coloco o envelope dentro da minha gaveta, James havia
plantado uma dúvida na minha cabeça e eu tinha que tirar esse enorme "se"
de cima dela.
Saio da empresa e vou até a clínica do médico que fez a minha
cirurgia.
E mais uma vez, graças ao meu sobrenome e dinheiro, consigo um
horário.
— Noah Thompson, já faz muito tempo desde a última vez em que
esteve aqui. — O médico me encara.
— Tenho uma vida corrida, estou aqui para saber qual a
possibilidade de a cirurgia não ter dado certo. — Vou direto ao ponto.
— Noah, é raro, mas há a possibilidade do canal se ligar novamente,
não é impossível. Ainda mais porque não fizemos os exames pós-cirúrgicos
para comprovar a eficácia do procedimento, mas podemos fazer um exame
agora;
— Doutor, há uma mulher dizendo que espera um filho meu, preciso
ter a certeza de que não sou o pai.
— Ou de que é o pai. — Ele sorri — Vamos colher o material e até
o fim do dia te enviarei o resultado.
Finalmente tiraria essa dúvida da minha cabeça de uma vez por
todas e poderia tirar Scarllet Baker da minha vida.
Saí daquela clínica dividido, metade de mim queria que a cirurgia
tivesse dado certo, mas a outra metade pedia para que aquele filho fosse
meu.
E se fosse o que eu faria? Ela me perdoaria por ter a acusado
daquela forma?
Voltei para a empresa e aguardei ansiosamente pelo e-mail da
clínica, que só foi chegar ao final da tarde. Quando eu vi o resultado, me
amaldiçoei pelo que fiz a ela, tinha noventa e nove vírgula nove por cento
de chances de ser pai, ela não estava mentindo, o filho era meu.
Tento ligar para ela, mas a chamada não completa, ela deve ter
bloqueado o meu número.
Começo a ficar nervoso e ando de um lado para o outro.
Ligo para James.
— Preciso do novo endereço de Scarlett. — Falo assim que ele
atende.
— Tem uma anotação na parte de trás do contrato, encontrará o
endereço lá.
— James, sei que não sou de agradecer a ninguém, mas obrigado
por ter me aberto os olhos, fui a clínica hoje e fiz o exame, eu posso ser pai.
— E está esperando o que para ir atrás dela Noah?
— Estou indo. — Aviso e desligo o telefone.
Pela primeira vez estou com medo. Medo dela me mandar embora
da sua vida, medo de que não me perdoe.
Sigo para o endereço, que está anotado atrás do contrato, toco a
campainha algumas vezes e ninguém atende. Quando eu estava desistindo a
porta é aberta.
— Você aqui?
— Me desculpe Judith, sei que está surpresa em me ver aqui, mas eu
preciso falar com Scarlett, ela está? — Atropelo as palavras, aflito, olhando
por cima dos ombros dela.
— Não, ela não está. Depois da visita do seu advogado ela ficou
muito abalada, com medo e sozinha, ela saiu para caminhar. — Informa, me
olhando com a cara fechada e cruzando os braços sobre o peito.
— Me diz onde posso encontrar ela Judith, por favor — Imploro.
— Para quê senhor Thompson? Acusá-la de ser uma golpista?
Chamá-la de mentirosa? Você pode não conhecê-la, mas eu a conheço e sei
que ela não está mentindo, ela não é o tipo de mulher que você pensa!
— Agora eu sei também. Preciso me redimir.
Um silêncio constrangedor se instala e os segundos parecem uma
eternidade.
— No parque, próximo ao chafariz na esquina, mas ouça bem, se a
magoar de novo, esqueço toda ajuda que me deu e acabo com a sua vida. —
Defende a amiga.
Sigo o caminho que ela me disse e entro no parque, procurando por
ela. Finalmente a vejo sentada em um banco próximo ao lago, ela está de
costas e não me vê.
Me aproximo devagar e paro atrás dela, respiro fundo sentindo o seu
perfume, então fico a ouvindo conversar com a sua barriga, com o nosso
filho.
— Não sei se você é menina ou menino, não sei se terá os meus
olhos ou os do seu pai, mas sei que te amo muito e vou te proteger para
sempre, nunca vou deixar você sozinho, não sei porque o seu pai nos
rejeitou, mas eu nunca vou te abandonar. — Sua voz está embargada pelo
choro.
— Eu estava com medo. — Digo e ela se vira em minha direção,
enxugando as lágrimas.
— O que faz aqui? Como me achou? — Pergunta, nervosa.
— Judith me disse onde estava. — Confesso.
— Não temos mais nada para conversar, já assinei o divórcio, não
era o que você queria?
— Mas eu não, eu não assinei.
— E por que Noah? Não era esse o acordo desde o começo?
— Era, era esse o acordo, mas o acordo era também não me
apaixonar por você, não querer você ao meu lado e falhei miseravelmente,
eu a quero desde a primeira vez em que te vi Scarlett. E tudo o que eu disse
foi por medo, por ter sido enganado no passado. Hoje fui até a clínica fazer
o exame, sei que esse filho é meu e se quer saber eu já tinha essa certeza
dentro de mim, antes mesmo daquele resultado, mas o idiota que me
domina às vezes não me deixa ver o que está bem diante dos meus olhos,
você não é como as outras mulheres, você é honesta e se puder me perdoar,
prometo nunca mais errar, vou pensar só em nós, nos nossos filhos e em
como você transformou a minha vida. — Olho dentro dos seus olhos,
querendo beijá-la.
Dou mais um passo em sua direção e acaricio o seu rosto.
Imediatamente ela se afasta e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— De nada vale o seu amor agora, Noah Thompson! Você me
humilhou, me fez duvidar de tudo e agora vem falar de amor? Você não
sabe o que é amor, você só conhece o que o seu maldito dinheiro pode
comprar e o amor não se compra!
— Eu te amo Scarlett. — Finalmente consigo libertar os meus
sentimentos.
— Eu te amo Noah, isso é verdade, mas não posso te perdoar pelo o
que fez. — Scarllet se levanta e passa por mim.
— Scarllet. — A chamo, mas ela não olha para trás e segue em
frente.
Fui um idiota e agora ela não me quer mais e não sei o que fazer
sem ela.
Capítulo 31

Ando o mais depressa que posso de volta para casa e quando entro,
Jud me olha assustada.
— Você disse a ele onde eu estava? — Questiono, irritada.
— Sim, mas ele me parecia arrependido. — Ela tenta se justificar.
— É tarde para ele se arrepender, Jud, estamos quebrados. —
Caminho em direção ao quarto, sento na cama e deixo que o choro contido
saia, entre soluços e lagrimas recordo as suas palavras, não consigo perdoá-
lo, ele duvidou de mim, me acusou de estar dando um golpe.

Os dias passavam devagar e Noah passou a trazer Charlotte


pessoalmente, mas eu sempre dava um jeito de não vê-lo, mesmo amando-
o, ainda não consigo perdoá-lo.
Um mês se passou desde aquela noite no parque, já sabia que
esperava uma menina e apesar de todo o sofrimento, estava feliz.
Jud vivia me dizendo que eu precisava pensar melhor e que ela via
nos olhos dele que ele estava sofrendo de verdade, mas as duras palavras
estavam bem vivas na minha memória.
Minha vida havia mudado muito, já não tinha minha casa, tinha a
minha filha e Charlotte, que perante a lei era minha filha também e
recentemente, para a minha felicidade, começou a me chamar de mãe.
Passava o dia bem, mas o fim da noite era sempre igual a todas as
outras, em meu quarto com o porta-retratos onde há uma foto nossa na mão
e mil lágrimas sobre o meu travesseiro. Queria poder parar de fingir que
estou feliz, quando na verdade estou destruída, mas preciso ser forte e não
só por mim, mas pela minha filha, que nem sequer sabe a situação aqui fora.
Jud e eu já estávamos organizando o enxoval e a cor rosa
predominava em tudo. Ansiava pelo o dia em que a teria em meus braços, a
minha menina, um pedacinho do amor mais lindo e mais louco que tive, já a
amava mais que tudo.
Capítulo 32

Aquele dia no parque ainda estava vivo na minha memória, ainda


conseguia ouvir a voz dela, eu ainda a via indo embora. Desde aquele dia a
minha vida nunca mais foi a mesma, perdi contratos importantes, porque eu
simplesmente não consegui ir à empresa. Passava horas no quarto dela,
sentindo o seu cheiro e relendo o livro que ela deixou.
Comprovei da pior forma que o dinheiro não é nada se não temos
quem amamos ao nosso lado, passei a levar Charlotte para a casa dela
pessoalmente, mas nunca a vejo.
Decidi então ir até a escola onde ela trabalhava e ficar olhando de
longe, ela estava tão linda, sua barriga já era visível e Charlotte estava
encantada por que vai ter uma irmãzinha.
Nunca quis ser pai, agora sou de duas meninas, Charlotte tem me
chamado de pai. No começo, achei estranho, mas aos poucos fui me
acostumando, ela não havia esquecido os seus verdadeiros pais, mas havia
aprendido a viver sem eles.
A bebida havia sido a minha companheira todos esses dias e hoje é
só mais um deles.
Olho o copo de uísque a minha frente, nunca pensei que sofreria por
amor outra vez.
— Noah. — A voz de James ecoa.
— O que quer aqui? — Pergunto, sem paciência, engolindo mais um
pouco do líquido amargo.
— Até quando vai continuar assim? Sentindo pena de si mesmo,
sentado, se escondendo atrás da bebida? — Questiona, me encarando.
— Não pedi a sua opinião.
— Mas estou dando mesmo assim. Noah olhe para você, nem de
longe esse é o homem por quem ela se apaixonou, vá à luta, vai atrás da
mulher que você ama, da mãe das suas filhas.
— Ela não me quer — Digo irritado, jogando o copo na parede.
— Ela está ferida Noah, e se não for atrás dela vai se arrepender
pelo o resto da vida. Imagine a mulher que ama se casando com outro,
dançando com outro, sendo feliz com outro. — Sinto o meu coração
acelerar, não ia aguentar vê-la com outro alguém.
Sento na poltrona ao meu lado e coloco as mãos na minha cabeça,
olhando para o homem em pé na minha frente e inquiro.
— O que eu faço?
— Comece por um banho, você está horrível! — Tripudia — Depois
siga até esse endereço, nesse horário. — Me entrega um papel.
— O que é isso? — Questiono, confuso.
— Você saberá quando chegar, na recepção, apenas diga que é Noah
Thompson, eles te orientarão.
James sai do meu escritório e faço o que ele disse, tomo um banho,
aparo a minha barba e coloco um dos meus ternos.

Sigo para o endereço que ele me deu e quando chego, vejo que é
uma clínica médica, entro e me aproximo do balcão.
— Boa tarde, sou Noah Thompson. — Digo a recepcionista,
conforme James havia me orientado.
— Ah, sim, me acompanhe.
A sigo por um grande corredor cheio de portas, ela abre uma delas e
eu entro, há um grande televisor na parede e um vidro onde é possível ver
outra sala, consigo ver quando Scarllet entra, olho assustado para a mulher
ao meu lado.
— Não se preocupe, ela não pode vê-lo. — A mulher diz antes de
sair da sala, fechando a porta.
Fico olhando para ela, tão linda com aquele barrigão. Deita na maca
e logo o monitor da sala em que eu estava é ligado, os borrões começam a
aparecer e vejo que estão fazendo um ultrassom. As imagens da minha filha
começam a surgir na tela e quando o som do coraçãozinho preenche o lugar,
não contenho as lágrimas, era a nossa filha ali e eu amava, assim como amo
a mãe dela, como nunca amei ninguém na vida.
Ao final do exame, ela se levantou e trocou de roupa, estava aflito,
não sabia o que fazer. A porta da sala em que eu estava foi aberta e ela
entrou, me olhando assustada.
— O que faz aqui? — Questiona, visivelmente confusa.
— Estava vendo a nossa filha.
— Por que faz isso, Noah? Compra tudo e todos com o seu
dinheiro? Quanto pagou para que essas pessoas o deixasse entrar aqui? —
Scarllet está furiosa.
— Nada, eu não paguei nada, Scarllet, você precisa me ouvir. —
Insisto.
— Não quero te ouvir, Noah Thompson. — Ela tenta abrir a porta,
mas a mesma está trancada.
—Ah não! — Resmunga e me aproximo tentando abrir, mas a porta
não abre. — Ei, alguém abre aqui !— Grita, batendo na porta.
Nesse momento o televisor liga de novo e a imagem de Charlotte
aparece na tela.
— Oi papai, oi mamãe, sou eu, a Charlotte... — O vídeo começa na
pequena televisão. — Me desculpem por essa travessura, a tia Jud e o tio
James me ajudaram, depois que insisti muito, eles me contaram a verdade
sobre o casamento de vocês, sei que fizeram tudo isso por mim, para que eu
não ficasse sozinha, mas mesmo assim eu estou. Estou sem vocês do
mesmo jeito e não quero que a minha irmãzinha passe por isso também,
então eu coloquei vocês de castigo e só vão sair daí quando estiverem de
bem, amo vocês.
O televisor desliga e Scarllet me encara.
— Vou deixá-la de castigo por um ano! — Scarllet fala irritada,
andando de um lado para o outro na pequena sala.
— Scarllet, ela está certa. — Ela me encara. — Começamos tudo
isso por ela e no fim, nos afastamos. A obrigamos a se dividir entre nós e
agora há a nossa filha. Sei que fui o pior homem com você e me
amaldiçoou por isso todos os dias, se pudesse voltar atrás, nunca teria me
comportado daquela forma. Tinha medo, medo do amor, medo de ser
enganado, mas você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e se
quer saber? Ainda não assinei aquele divórcio, não consigo. Eu te amo
Scarllet! Por favor, me perdoe, vamos cuidar das nossas meninas, juntos. —
Imploro, me atropelando nas palavras.
Vejo os seus olhos cheios de lágrimas, me aproximo devagar, sinto o
seu perfume me invadir, ela fecha os olhos, ergo o seu rosto com o polegar
e vou aproximando os meus lábios dos dela e quando por fim os sinto,
inicio um beijo carregado de saudade e amor. Suas mãos se erguem até os
meus ombros e quando a sua barriga encosta em mim, sinto um pequeno
chute, sorrimos os dois.
— Parece que alguém está feliz. — Comento.
— Acho que sim. — Ela concorda.
A seguro em meus braços e ela me olha nos olhos.
— Eu te amo professorinha, eu te amo muito! — Passo a mão pelo o
seu rosto.
— Eu te amo Noah, eu realmente te amo, seu velho rabugento! —
Se declara e eu a beijo de novo.
Saímos daquela clinica juntos e certos que iríamos cuidar das nossas
meninas, juntos.
Epílogo

Três anos depois...

Observo enquanto Noah e Charlotte ensinam a pequena Chloe a


brincar de esconde-esconde no jardim.
A nossa filha nasceu perfeita e muito amada por todos. Charlotte
ama a irmã e cuida dela com todo o carinho, ela chama a mim e o Noah de
mãe e pai, mas nunca a deixamos esquecer os verdadeiros pais dela, sempre
mostramos fotos deles a ela e falamos sobre eles.
Depois que nos entendemos naquela clínica, Noah rasgou os papéis
do divórcio e também me deu a escritura da minha casa, confessando que
havia arrematado junto ao banco. Deixei a casa para Jud morar, mas sabia
que era por pouco tempo, já que ela havia caído nas graças de James e
estavam noivos.
Durante alguns meses enfrentamos os julgamentos das pessoas que
insistiam em nos julgar pela diferença de idade, pela classe social e até
pelos costumes. Mas passamos por isso juntos e estamos mais unidos do
que nunca.
Depois do nascimento da nossa filha, em um dia lindo de sol e calor,
Noah me ajudou a abrir uma escola no bairro em que eu morava e agora
posso ajudar as crianças de baixa renda a ter um ensino de qualidade.
As pessoas mais próximas dizem que eu trouxe luz a vida de Noah,
que antes de mim, ele vivia em uma eterna escuridão, mas a verdade é que
ele quem mudou a minha vida, de tal forma que não me vejo sem ele mais.
E o que era um casamento de mentira, se tornou a maior e única
verdade das nossas vidas.
Hoje eu acredito ainda mais nos meus livros de romances.
Conquistei o meu CEO e não pensem que eu deixei de ler, ainda tenho a
minha coleção secreta de livros e sempre que posso mergulho na minha
caixinha do nada.
A todas as minhas amadas Leitoras, as minhas amigas e a
minha família pelo apoio.
E especialmente a minha amiga e colega de profissão Ane
Le, que foi a minha "Madrinha" nesse projeto.

Um grande beijo repleto de gratidão e espero vocês no


próximo lançamento.

Helô Oliveira.

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