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Boa leitura,
Helô Oliveira
● Ele é frio como o gelo.
● Ela é doce e gentil.
● Ele não quer amar.
● Ela sonha com o amor.
A minha noite foi mais uma daquelas em que a insônia tomou conta
de mim, tentei ler um dos meus romances secretos, que eu mantinha
escondidos em cima do pequeno guarda-roupa. Morro de vergonha que
descubram que eu gosto de ler esses romances quentes.
Só tive um namorado na vida e digamos que não acabou nada bem,
foram três anos juntos, porém, a imagem que eu tinha dele se perdeu
quando descobri que ele me traiu. Todos os sonhos e planos que eu tinha
para nós dois se acabaram.
Nunca me achei uma garota daquelas linda e quando Tom me olhou
naquele dia, senti como se o meu conto de fadas tivesse finalmente
começado, ele parecia não se importar com as minhas roupas simples ou
com o meu cabelo malcuidado, mas o que eu não sabia era que ele só tinha
um interesse em mim, ajudar a bancar sua faculdade! Já trabalhava como
professora e tudo o que eu ganhava eu dividia entre as despesas mais
necessárias da minha casa e em ajudar Tom pagar a faculdade, no fim de
tudo, fiquei com as dívidas dos empréstimos bancários e sem o namorado
que me trocou por uma garota siliconada da faculdade.
Passei a me apaixonar apenas por personagens literários, pelo menos
com eles, poderia sonhar em paz e não me preocupar com a decepção.
Olho mais uma vez para o relógio antigo e não tenho mais tempo
para enrolação. Antes o relógio até tocava música, mas agora depois de
todos esses anos ele mal mostra a hora.
Levanto e tomo um banho rápido, abro o meu guarda-roupa e
procuro por uma roupa adequada. O único problema é que nenhuma das
minhas roupas parece adequada para encontrar Noah Thompson, então pego
a que eu mais gosto, um vestido longo floral, um cardigã rosa-claro e as
minhas inseparáveis botas, na verdade, eram os únicos calçados que eu
tinha, eu as havia comprado em um bazar na escola e, graças aos céus, elas
estavam durando.
Mesmo após um ano do meu término com Tom, ainda estava
afundada nas dívidas, pagando os empréstimos, então no fim do mês eu
tinha que escolher entre comprar roupas novas para mim, ou pagar as
contas.
Prendo o meu cabelo da melhor maneira que consigo, já que ele é
bastante rebelde, volumoso e cacheado. Talvez com os tratamentos certos
ele ficasse bonito, mas nesse momento ele parecia mais uma espiga de
milho.
Olho no espelho, até gostando do resultado, afinal, melhor que isso
não dava para ficar. Pego minha bolsa e o endereço que Judith me passou,
alguns trocados para o ônibus e saio. O endereço fica do outro lado da
cidade e será preciso pegar dois ônibus e andar mais alguns quarteirões a pé
para chegar no local, mas isso não importa, se for preciso, vou até o outro
lado do mundo.
Como já era de se esperar, peguei ônibus lotados e andei bastante,
estou com os pés doloridos.
Thompson Enterprise... finalmente cheguei!
— Oi, tudo bem? — Cumprimento a moça elegante da recepção. Ela
me olha dos pés à cabeça, deixando-me constrangida. Provavelmente estou
descabelada de tanto que andei. — Me chamo Scarlett Baker, gostaria de
falar com o Senhor Noah Thompson.
— Horário marcado?
Demoro um pouco para entender o que ela está falando.
— Ah não! — Sorrio. — Não tenho hora marcada com ele, mas é
urgente!
— O Senhor Thompson não atende sem horário agendado. — Ela
volta a olhar para o seu computador, me ignorando.
Droga o que vou fazer agora? Tenho que falar com esse homem!
Afasto-me da recepção e vejo que há algumas moças em um canto
do salão, elas parecem simples como eu, talvez uma delas conhecesse
alguém, que conhecesse alguém que pudesse me ajudar. Não custa nada
tentar a sorte, não é? Aproximo-me e quando estou prestes a falar com uma
delas, uma mulher vestida em um uniforme com o logo da Thompson se
aproxima do grupo.
— Vamos lá, a entrevista já vai começar, me acompanhem, são duas
vagas para trabalhar na limpeza da ala presidencial — A mulher começa a
falar enquanto caminha até o elevador, vou seguindo o grupo esperando
uma oportunidade de pedir ajuda — Quem for contratada não deve nunca se
dirigir ao Senhor Thompson, vocês têm que ser invisíveis. — Explica e fico
horrorizada, o que esse homem é? Um rei? — Vamos fazer o teste com às
quatro hoje e, o que fiquei sabendo é que ele não está de bom humor, então
quem sobreviver até o fim da tarde, será contratada. — Fala com
naturalidade, provavelmente já está acostumada.
Tento falar com uma menina ao meu lado, mas a porta do elevador
se abre e a minha frente está o lugar mais limpo e bonito que já vi, as
janelas de vidro vão do chão ao teto, o piso tem um brilho impecável, o
cheiro do lugar é cheiro de riqueza, as pessoas caminham como se pisassem
em nuvens. A mulher nos olha e faz sinal de silêncio com o dedo indicador
e nos leva até uma porta, assim que entramos ela nos entrega um uniforme e
um carrinho de limpeza para cada uma.
— É, por favor. — Começo a falar, mas ela me interrompe.
— Nenhuma palavra nesse andar, podem se trocar e comecem a
limpeza, sempre pelas salas vazias — Ordena e sai do pequeno cômodo.
Não estou aqui para uma entrevista de emprego, mas talvez essa seja
a única oportunidade que tenho de encontrá-lo.
Pensando assim, troco de roupa e guardo as minhas coisas no
pequeno armário que me foi entregue a chave. Após estar pronta, saio
daquela sala empurrando o meu carrinho em busca de Noah Thompson.
Capítulo 3
Desde que me tornei o CEO da empresa faço um trabalho árduo
para fazer dela o que é hoje, a maior empresa de engenharia de São
Francisco. Não é um trabalho fácil, mas compensador. Quando assumi a
presidência, a empresa era apenas mais uma no mercado, mas hoje ela se
destaca, tornando-se a melhor.
Meu pai nunca teve tino para os negócios, ele se contentava em
ganhar apenas o suficiente para manter a nossa família, no entanto, não
penso dessa maneira, estou sempre querendo mais e mais. Poder e dinheiro
são duas coisas tenho de sobra e estou sempre em busca de mais.
Zac, meu irmão mais novo, sempre foi um aventureiro e nunca
gostou de trabalhar na empresa. Passou boa parte da juventude surfando e
gastando sua herança com mulheres, viagens e bebidas, até conhecer uma
moça do subúrbio por quem ficou encantado. Na época, tentei alertá-lo
sobre se envolver com garotas desse nível, mas ele estava cego de amor e
não me deu ouvidos. O sobrenome Thompson atraí muitos sanguessugas.
Eu e meu irmão diferíamos em muitas coisas e constantemente
discordávamos um do outro, mas se tinha algo que tínhamos em comum,
era a certeza de que só tínhamos um pelo outro. Mas, agora ele se foi e
estou sozinho neste mundo. Bem, não totalmente sozinho, afinal, tenho
minha pequena sobrinha. Prometi ao meu irmão que se algum dia algo
acontecesse a ele, estaria aqui para proteger e cuidar da sua filha, mesmo
não sabendo ao certo como fazer isso. A única certeza que tenho é que irei
cumprir com a minha palavra.
Só tenho um pequeno problema que irei resolver em breve, a tal da
tia da minha sobrinha se recusou a aceitar o dinheiro e deixar a guarda
inteiramente para mim. Evitaria dor de cabeça se aquela pobretona tivesse
aceitado, mas não tem problema, passarei por cima dela se for necessário,
por bem ou por mal, ela terá que aceitar.
Uma batida na porta do escritório, interrompe os meus pensamentos.
— Senhor Thompson, desculpe vir até aqui, sei que não gosta de ser
incomodado, mas... — Genna, a governanta da casa, começa a falar,
enrolando como sempre.
— Se sabe, então seja breve e saia — Digo, sem paciência.
— É a menina, ela não para de chamar pelo pai e a mãe. Não sei
mais o que dizer para acalmá-la.
— Diga a verdade.
— Que eles morreram? — Pergunta, com os olhos arregalados.
— Crianças têm que aprender desde pequenas a lidar com perdas,
para não crescerem fantasiando com um mundo perfeito e quebrarem a cara
ao descobrir que o mundo perfeito não existe.
— Senhor, eu não consigo dizer isso a ela. — Genna abaixa a
cabeça.
— Pois bem, deixe que eu mesmo falo. — Me levanto e passo pela
mulher, que me encara assustada.
Não tive muito contato com a minha sobrinha além de algumas fotos
enviadas por meu irmão, fotos essas que muitas vezes sequer abria. Ontem
a babá trouxe-a para cá, mas ainda não fui falar com ela.
Vejo-a sentada no sofá, abraçada com um urso de pelúcia marrom. A
menina tem cabelos castanhos, lembrando muito os da minha mãe, assim
como as suas feições. Aproximo-me e lágrimas começam a rolar pelo rosto
da garotinha.
— Você é o tio Noah? — Pergunta, com a sua voz doce de uma
garotinha.
Tio? Que estranho ouvi-la me chamando assim.
Solto um pigarro.
— Sou. — É tudo que consigo responder e me abaixo na sua frente.
— Tio Noah, por que estou aqui? Onde está o papai e a mamãe?
Sinto saudades deles!
Pensei que fosse mais fácil vir aqui e falar na cara dela que os seus
pais não vão mais voltar, mas agora, diante dela, me faltam as palavras.
— Esse urso é seu? — Puxo qualquer assunto aleatório.
— Sim, esse é o Senhor Rub — Apresenta o seu urso. — Foi o meu
pai que me deu.
— Ele me parece legal!
— Ele parece com você. — Abre um pequeno sorriso.
— Você acha que sou legal?
— É, não é? Geralmente os tios são legais. E ele também tem pelos,
igual a você! — Passa a mão na minha barba. O gesto inocente, pegando-
me de surpresa, acaba me assustando e me afasto.
Não estou acostumado com essas coisas. Na verdade, não estou
acostumado com pessoas no geral.
— Não posso te tocar, tio? — A pequena é esperta e percebe a
minha reação estranha.
Tusso para aliviar a estranha sensação de um nó se formando na
minha garganta.
— Charlotte, preciso te dizer uma coisa muito importante. —
Começo a falar, procurando as palavras certas.
— É sobre o papai e a mamãe? — Como já havia notado, a garota é
realmente muito esperta.
— Sim, é que... — Não consigo falar a verdade. — Eles tiveram que
fazer uma viagem e vão demorar um pouco para voltar.
— Eles morreram, não é tio Noah? — Arregalo os olhos. — Papai
disse isso sobre o Teddy também, mas a verdade é que ele morreu! — Fala,
olhando para baixo e mexendo no urso.
— Quem é Teddy?
— O nosso cachorro, o papai disse que ele fez uma viagem longa
para, que ia alegrar outra família, mas ouvi ele e a mamãe conversando em
uma noite, o papai disse que ele estava morto. O papai e a mamãe foram
cuidar do Teddy, tio Noah? — A menina fica me encarando.
Estou atônito. Pela primeira vez na vida, não encontro palavras para
responder uma pessoa.
— Sim, Charlotte, eles foram cuidar do Teddy. — Sem outra
alternativa, opto pela verdade.
Ela se levanta e corre até mim, abraçando as minhas pernas. A
princípio fico sem saber o que fazer, mas logo me abaixo, deixando que ela
me abrace do jeito certo.
— O Senhor vai cuidar de mim, tio Noah? — Encara-me, os olhos
cheios de lágrimas.
— Sim. — Sinto o meu peito estranhamente apertado.
Charlotte chorou bastante e disse várias vezes que ia sentir muita
falta dos pais, mas aos poucos ela foi se acalmando. Optou por assistir um
desenho animado e adormeceu.
Capítulo 4
Acordo com a campainha tocando sem parar, mas será que Judith
havia perdido a noção da hora? Estava de licença na escola e depois dos
últimos acontecimentos eu merecia descansar.
Fiz a coisa mais louca que já passou na minha cabeça e já estou
começando a me arrepender de ter tomado essa decisão, mas agora não tem
mais volta, é aguardar Noah Thompson decidir.
Levanto ainda sonolenta, e me desloco até a porta. Ao abrir, vejo um
homem engravatado, segurando um envelope.
— Bom dia, preciso falar com a senhora Scarllet Baker.
— Bom dia! Sou eu mesma. — Informo. Aposto que é alguém do
Noah querendo fazer outra proposta.
— Sou oficial de justiça, vim lhe entregar a ordem de execução da
penhora deste imóvel, dentro de setenta e duas horas, essa casa pertencerá
ao banco. — O homem diz, me entregando o envelope e indo embora.
Como assim três dias? Onde eu arrumaria o dinheiro para pagar essa
dívida? Sejamos sinceros, eu não conseguiria.
Desesperada e sem saber o que vou fazer, mando uma mensagem
para Judith, neste momento, preciso de um ombro amigo.
— Ah, Let, o que você vai fazer agora? — Minha amiga questiona,
acariciando os meus cabelos, enquanto choramingo deitada no seu colo.
— Eu realmente não sei, não tenho para onde ir.
— Você sabe que eu não me importaria de você ficar comigo, mas
aquela bruxa não permite que levemos alguém para lá, mesmo que
paguemos o aluguel do quarto.
— Não Jud, não quero ser um problema para você, eu vou dar um
jeito. — Afirmo, sem ter certeza.
— Vamos orar para que Noah Thompson aceite a proposta e você vá
morar lá.
— Já me arrependi de ter feito aquela proposta. Não sei se é uma
boa ideia morar com aquele homem.
— Você vai morar com a sua sobrinha e se ele é tão ocupado como
você diz, vocês nem irão se ver, tudo bem que aquele homem dá medo, mas
ele é tão sexy. — Fala, suspirando.
— Judith! — Repreendo.
— Eu não disse nenhuma mentira, vai dizer que não imaginou
aquela barba passeando por lugares pouco explorados? Ah, Let, você lê
romance hot que eu sei, não negue que já imaginou o senhor Thompson no
lugar de Christian Grey, e você sendo a sua Anastácia — Ela começa a rir e
eu olho séria para ela.
— Você realmente é maluca, Judith!
— E você é tonta!
Olho para o meu cachorro, que me olha de volta, quase que me
perguntando: “E agora Scarllet onde vamos morar?”
Não posso acreditar que perdi tudo o que eu tinha por causa de um
homem sem escrúpulos, que só me enganou e me usou, não era muito, mas
essa casa era tudo o que eu tinha.
Judith fica comigo até a hora dela entrar no trabalho e assim que ela
vai embora, vou tomar banho e tentar arrumar um jeito de organizar a
minha vida.
Pego caixas e começo a guardar as coisas da casa. Os quadros nas
paredes deterioradas pelo tempo, os bibelôs que minha mãe mantinha em
cima da estante, passei a minha infância nessa casa, não era tão fácil me
despedir, deixar tudo isso para trás. Fui embalando tudo o que julguei ser
importante, a verdade era que tudo isso não passavam de velharias, mas
eram as minhas velharias, as lembranças de uma vida toda.
O banco poderia me tomar a casa, mas as minhas lembranças não,
isso eu guardaria para sempre.
A noite já havia chegado quando terminei de guardar tudo o que
julguei importante e a sala da minha casa parecia um depósito.
Tomei outro banho para tirar o suor do corpo e coloquei o meu
pijama favorito, com estampa de desenho animado e para combinar
coloquei as minhas pantufas da Minnie. Estava tomando uma xícara de chá
quando a campainha tocou.
Abro a porta e me deparo com ninguém menos que Noah Thompson
me olhando dos pés à cabeça e demorando um demasiado tempo nos meus
pés escondidos pela pantufa.
— Boa noite! — Me cumprimenta.
— Boa noite, senhor Thompson!
— Me desculpe a hora, mas eu precisava te dar uma resposta.
Cheguei tarde? — Diz olhando para as caixas na minha sala.
— Não. Entre. — Ele está vestido elegantemente com um casaco
marrom, uma camisa de gola alta preta e calça da mesma cor, que o
deixavam ainda mais atraente. — Aceita um chá?
— Não. — Repara em tudo a sua volta. Decido não lhe contar a
verdade, eu não precisava ser mais humilhada, admitindo que perdi a minha
casa por que me endividei para pagar a faculdade do meu ex namorado
traidor.
— Diga porque está aqui.
— Aceito a sua proposta, senhorita Baker, acho justo que
acompanhe de perto a rotina de Charlotte, antes de abdicar da guarda dela
definitivamente.
— E o que te faz pensar que eu vou abrir mão da guarda dela? —
Questiono, rindo.
— Você é uma mulher inteligente, sei que verá que é o melhor para
ela. — Garante.
— Sabia que aceitaria por isso encaixotei as minhas coisas. —
Minto. — Mas fique tranquilo, não vou levar essas coisas para a sua casa,
pedirei para deixar na garagem dos meus vizinhos.
— Não seria mais fácil deixar a casa fechada?
— Vou alugar a casa. — Mais uma mentira.
— Alugar? — Pergunta sem acreditar.
— Sim, para alguns estudantes, acredite, nem todo mundo liga para
o luxo.
— Certo, então esteja à vontade para se mudar quando quiser,
senhorita Baker. — Ele se levanta, faço o mesmo e começamos a caminhar
em direção a porta.
Noah me encara e olha mais uma vez para a casa antes de sair. Posso
sentir o meu rosto corar, nunca fui boa em mentir, certeza que apareceu um
grande letreiro neon em cima da minha cabeça com a palavra MENTIRA
piscando sem parar.
Eu era um desastre natural!
Capítulo 12
Havia descoberto algo sobre Scarllet Baker hoje, ela não era boa em
mentir, tinha algo por trás dessa história de alugar a casa para estudantes e
eu ia descobrir.
Assim que entrei no carro liguei para o meu advogado.
— James, descubra o que está acontecendo com a casa de Scarllet
Baker.
— Ok.
Encerramos a ligação.
As pessoas que trabalhavam a minha volta, já sabiam o que deviam
e principalmente o que não deviam fazer, elas faziam o que eu mandava,
sem perguntas, com o meu advogado não era diferente, ele sabia o que fazer
e principalmente como fazer.
Volto para casa e encontro Charlotte dançando no tapete da sala, fico
um tempo observando a menina, rodando e fazendo alguns passos de balé,
ela era luz em meio à escuridão dessa casa, ela era a alegria que não existia
em mim.
Quando ela me vê, vem sorrindo ao meu encontro.
— Oi tio Noah. — Me abraça.
— Oi Charlotte, como foi o seu dia?
— Foi tudo bem, tio Noah.
— Charlotte, tem algo que preciso te falar. — Me sento no sofá e ela
se senta ao meu lado.
— Fiz algo errado, tio Noah?
— Por que acha isso? — Questiono.
— Porque toda vez que o papai falava assim, ele me dava uma
bronca. Sinto falta dele e da mamãe. — Fala, seu tom de voz mostrando
tristeza.
— Imagino que sim, também sinto falta do meu irmão. — Digo, e
realmente eu sentia falta do meu irmão, falta da nossa infância, de quando
conversávamos na varanda até tarde, olhando as estrelas e adivinhando os
nomes das constelações. — Mas quero falar com você sobre outra coisa.
— Estou ouvindo. — Brinca com os dedos enrolando a ponta dos
cabelos cor de chocolate.
— Lembra que falamos sobre a sua tia?
— Sim, a tia Scarllet, eu gostaria de conhecê-la!
— Consegui encontrá-la e a convidei para passar uns dias conosco
aqui. O que acha?
— Sério mesmo, Tio Noah? Ela vem? — Charlotte parece bastante
animada com essa ideia.
— Sim, ela vem! — Afirmo, mas não tão animado quanto ela.
— Obrigada, Tio Noah! — A menina se joga nos meus braços.
Esse contato ainda era estranho para mim, ter alguém realmente por
perto ainda era algo novo para alguém que passou uma vida toda sozinho
nessa casa.
Apenas sorrio para ela que sai pulando feliz pela casa, eu não
imaginava que essa notícia a deixaria tão contente, mas é bom vê-la assim.
Meu celular toca e vejo o nome do meu advogado na tela.
— Alô?
— Senhor Thompson, a senhorita Baker perdeu a residência da
família para o banco, na verdade ela tem o prazo de três dias contando a
partir de hoje para saldar a divida e manter a casa. — Ele me informa.
Aquela notícia me incomodou mais do que deveria, afinal o
problema era dela e não meu, mas considerando que ela estava se mudando
para a minha casa, se ela não tivesse para onde voltar ela não iria embora.
— Pague a dívida junto ao banco, mas não diga nada a ela. —
Oriento.
— Certo. Pedirei sigilo ao banco. — James desliga.
Ela não ia perder a casa, mas também não a teria de volta tão
facilmente, era uma troca justa, a casa pela guarda de Charlotte, ela não
teria como recusar.
Essa seria a minha carta na manga.
A noite passou rapidamente, mas eu fui acometido por sonhos
inquietos, sonhos devassos, eu via o seu corpo nu, suas mãos passeando
pelo o meu e os seus olhos pareciam arder em chamas, desejo, luxuria, eu
via os olhos daquela mulher, daquela pequena mulher que estava invadindo
a minha vida, com as suas roupas feias, os seus cabelos estranhos, eu via
Scarllet Baker ali nua na minha frente, pedindo por mais.
Acordo assustado, olhando para os lados, aquela mulher estava
invadindo os meus sonhos, estou duro por ela! Definitivamente meu pau
está muito duro por ela!
Levo a mão ao meu rosto e respiro fundo, o que estava acontecendo
comigo?
Tomo um banho frio para tentar acalmar o fogo que estava em mim,
mas nem mesmo a água gelada, estava acalmando o meu corpo. Continuava
duro por ela e tudo o que eu via quando fechava os meus olhos eram os seus
olhos, a imagem dela, mesmo naquele pijama horrível, que lhe cobria o
corpo todo, mas a transparência do tecido me deixou ver o desenho da
pequena calcinha em sua bunda redonda. Uma das minhas mãos desce até o
meu pau e eu o seguro com força, movimentando a minha mão para cima e
para baixo, enquanto seguro firme no box com a outra.
Fecho os meus olhos e me permito imaginar aquela pequena mulher
ali na minha frente, intensifico os movimentos, sentindo o meu pau pulsar
na minha mão. Porra! Eu desejava aquela mulher como nunca desejei outra
antes.
Gozo, os jatos atingindo a parede do box.
A verdade é que desde que assumi a responsabilidade pela a minha
sobrinha eu não havia estado com nenhuma mulher, ou seja, desde que
Scarllet Baker entrou na minha vida.
Saio do banho e procuro por uma roupa confortável, hoje era sábado
e eu não precisava ir à empresa, pego uma camiseta e uma calça de
moletom, calço os meus chinelos e quando estava saindo do quarto, ouvi
vozes vindas do andar debaixo, vozes e latidos.
O que diabos estava acontecendo aqui?
Desço as escadas e quando chego à sala, me deparo com Scarllet
Baker e a sua volta, inúmeras malas velhas e feias, para piorar tudo, lá
estava aquele maldito cachorro brincando com Charlotte no tapete, no meu
tapete persa. Quando aquele vira lata me viu começou a latir como um
louco e rosnar, era nítido que não gostava de mim e eu menos ainda dele.
— O que está acontecendo aqui? — Pergunto e todos me olham em
silêncio, apenas aquele latido infernal ecoa.
Capítulo 13
Eu não teria batido naquela porta se não fosse pela minha sobrinha.
Havia entendido o recado dele, ele me usou e saiu de fininho antes que eu
acordasse.
Agora aqui sentada nesse banco, sendo acalentada por ele, não
posso evitar sentir o meu coração bater acelerado.
Me dói saber que Charlotte está passando por tudo isso. A falta da
minha irmã me causa uma dor terrível, imagina para uma criança da idade
dela ter que se acostumar de uma hora para outra que perdeu os seus pais, o
seu porto seguro? Não é fácil.
Eu não queria ter mostrado a ele a minha fraqueza, eu não queria
estar abraçada a Noah Thompson como se eu estivesse a deriva no mar e ele
fosse um colete salva-vidas.
— Vamos entrar. Tenho certeza que ela logo ficará bem e irá
saltitando para casa.
Me afasto, limpando as lágrimas do meu rosto e abro um pequeno
sorriso, imaginando Charlotte toda saltitante.
— Sim, vamos. — Quando estou passando por ele, sou surpreendida
quando segura na minha mão.
— Scarllet?
— Não se preocupe, está tudo bem, vamos esquecer o que
aconteceu. — Digo, fingindo que aquilo não havia mexido comigo.
— Só queria dizer que não precisa se preocupar com uma gravidez
ou doença. Estou limpo e não posso ter filhos. Posso te mostrar meus
exames se quiser.
Estranhamente sinto um nó se formar na minha garganta.
— Não há necessidade, mas se quiser, posso mostrar os meus
exames também.
— Não precisa. Só queria esclarecer.
— É bom deixar as coisas claras.
Dou as costas para ele e caminhamos em direção ao interior do
hospital novamente. Sento-me em uma daquelas cadeiras, enquanto observo
Noah cuidar da papelada.
Pouco tempo depois Charlotte aparece e corre para os meus braços.
— Tia Scarllet, quero ir para casa. — Ela diz coçando os olhinhos,
indicando que estava cansada e com sono.
— Nós vamos, meu amor.
Noah não fala nada, caminhamos em silêncio até o carro e assim
seguimos todo o trajeto.
Era só o que me faltava ter que me casar com esse homem… O que
a justiça sabe sobre carinho? Amor? Nada! A verdade é que são um bando
de hipócritas.
Passo o restante do dia trancada no meu quarto, não queria olhar
para ele, mas o latido de Josh no corredor me chamou atenção e tive que
sair para ver o que estava acontecendo e me deparei com a cena mais
cômica, um homem daquele tamanho com medo de cachorro. Mas como
sempre ele foi um escroto e me deixou lá parada segurando o Josh.
Volto para o meu quarto e ligo para Jud.
— Olha quem apareceu. — Fala ao atender ao telefone.
— Preciso de você, estou triste.
— Estou trabalhando Let, mas pode vir aqui e conversamos, é um
lugar super animado, com vários gatos. — Sussurra, animada.
A música alta ao fundo entregava que ela estava no bar que
trabalhava ocasionalmente.
— Não sei se é uma boa ideia. — Pondero.
— Vem logo, Let, estou te esperando. — Desliga o telefone.
Precisava mesmo conversar com ela e dizer tudo o que estava
acontecendo na minha vida, desde que vim para essa casa, mal temos nos
falado.
Caminho até o closet, que estava vazio, pois as roupas que tenho
nunca encheriam esse lugar, procuro por algo adequado, certamente os
meus vestidos floridos não combinariam com o lugar que eu estava indo.
Vejo o pacote de presente que minha irmã havia me dado há alguns
anos, um vestido preto curto muito bonito, mas nunca o havia usado por
achar revelador demais. Porém, hoje me parece a ocasião perfeita. Combino
com uma sandália de salto da mesma cor, que eu tinha comprado para a
minha formatura. Prendo os meus cabelos em um rabo de cavalo e passo
apenas um gloss nos lábios.
Peço um carro por aplicativo e sigo para o bar. Assim que cheguei,
vi Jud atrás do balcão, me aproximo, sentando em uma banqueta e ela sorri
ao me ver.
— Olha ela, toda linda!
— Oi Jud.
Ela coloca um drink colorido na minha frente.
— É por conta da casa. — Informa.
— Não vou beber, Jud. — Empurro o copo de volta para ela.
— Vai sim, porque pela sua cara vem bomba por aí. — Me devolve
o copo.
Ela estava certa, tinha um problema muito grande, chamado Noah
Thompson.
— Talvez você tenha razão. — Aceito a bebida, tomando um longo
gole.
Um homem do outro lado do balcão pede uma cerveja e vejo a
minha amiga revirar os olhos.
— Um dia ainda largo tudo isso. — Resmunga, caminhando em
direção ao homem sentado na outra ponta.
Começo a beber o drink, que tem um gosto doce, minha mente me
leva diretamente aos braços de Noah, aquele drink era como ele, perigoso,
sexy e viciante.
Jud volta e para na minha frente me olhando.
— Anda, fala tudo! — Exige, curiosa.
—Transei com Noah Thompson. — Conto de uma vez e vejo ela
levar as mãos até a boca.
— Caralho! Como isso aconteceu? Quando?
— Ontem à noite.
— Mas por que está com essa cara? Foi ruim?
— Não, foi perfeito, nunca estive com alguém como ele, mas esse é
o problema, eu não poderia ter transado com ele. — Bufo.
— Por que não? Vocês são solteiros, livres e desimpedidos. Não
estou vendo problema.
— E totalmente opostos. — Complemento sua fala.
— Mero detalhe, totalmente irrelevante no sexo. — Me serve outro
drink.
— Vou me casar com ele. — Conto, tomando um longo gole da
bebida.
— Scarllet Baker, ficou louca?
— A justiça acha que não temos condições de cuidar da Charlotte,
na verdade, temos tudo o que ela precisa, porém separados e o advogado
dele propôs que nos casássemos, para assim ter a guarda dela, um acordo,
um contrato, um casamento de mentira. — Explico tudo.
— Casamento de mentira? Com você rebolando no pau dele? Me
poupe né, Let! — Começa a rir.
— Você é ridícula, sabia? — Não consigo segurar uma risada.
— Posso até ser, mas pelo menos não sou eu que estou me
enganando, está na sua cara que está apaixonada por ele.
— Ficou louca? — Me levanto, percebendo que sou fraca e a bebida
já fez efeito. — Não quero mais falar nisso, vou dançar.
Jud assente, sorrindo.
Caminho até a pista de dança e começo a mexer o meu corpo na
batida da música, fecho os meus olhos e imagino Noah ali comigo, continuo
mexendo o meu corpo até sentir alguém segurar na minha cintura, abro os
olhos e vejo um rapaz moreno sorrindo para mim. Tento me afastar, mas ele
me segura de novo e alguém o puxa pelo ombro, afastando-o de mim.
— Qual é coroa? — O rapaz confronta a pessoa que o puxou e só
então vejo que é Noah parado ali.
— Tire as mãos dela. — Ele se põe ao meu lado e segura a minha
mão, me levando para fora dali.
— Preciso da minha bolsa. — Aviso e ele levanta a mão, mostrando
que está com a bolsa.
Caminhamos até o carro dele.
— Como me achou aqui? — Questiono.
— Um dos seguranças viu quando você saiu e a seguiu. — Abre a
porta do carro para que eu entre.
— Sou uma prisioneira agora? — Seguro a porta e o encaro.
— Não, você é a minha noiva.
— Não por minha vontade. — Entro no carro bufando.
— Nem minha Scarllet — Garante, sentando ao meu lado. — Mas
se vamos fazer isso temos que fazer direito. — Fica me encarando e desço o
meu olhar para os seus lábios.
Noah fecha a divisória do carro nos deixando escondidos do
motorista, suas mãos ágeis me puxam para o seu colo.
— Não pode fazer isso. — Diz, passando a mão suavemente pela
minha coxa exposta.
— Isso o quê? — Pergunto, confusa.
— Me provocar, se vestir assim, deixar que eu sinta o cheiro da
bebida na sua boca, me desafiar, deixar que outro homem a toque, você é
minha Scarllet. — Sua mão apertar forte a minha cintura, fazendo me
ofegar.
— É um casamento de mentira. — Minha voz falha, o desejo se
instalando bem no meio das minhas pernas.
— Mas isso aqui não é. — Leva a minha mão até o seu pau, que está
duro sob a calça.
Um gemido tímido escapa dos meus lábios e ele me beija com
paixão. O carro está em movimento, estamos na rua, mas a adrenalina me
excita ainda mais. Seus dedos encontram a minha pequena calcinha e a
coloca de lado, o polegar fazendo movimentos circulares no meu clitóris.
Os gemidos começam a escapar da minha boca sem pudor e ele me beija.
Levanto o corpo um pouco para que ele liberte o seu pau e me sento
novamente sobre ele, rebolando, enquanto ele segura a minha cintura,
intensificando os meus movimentos.
Seus olhos são puro desejo e luxuria, sinto o seu corpo tremer e me
deixo explodir de desejo junto com ele.
Ficamos ali abraçados por um tempo e o mundo lá fora parecia não
existir, mas ao chegar na mansão nem olhei para os lados e segui direto para
o meu quarto, estava morta de vergonha, nem sei como vou olhar na cara
desse motorista, mas eu nem tinha como saber qual deles era, o que mais
tinha nessa casa eram empregados.
Tomo um banho e coloco meu pijama, sorrindo ao me lembrar da
nossa aventura no carro.
Capítulo 20
Custei para dormir essa noite e acordei bem cedo, seguindo para o
escritório, não queria encontrá-la e sei que isso pode parecer errado, mas a
verdade é que não sei bem como lidar com ela, não sei o que dizer, ela me
perturba de uma maneira que ninguém nunca perturbou antes.
Tento me concentrar nos muitos relatórios sobre a minha mesa, mas
não consigo tirar aquela pequena mulher da minha cabeça.
— Noah Thompson a essa hora na empresa? — James diz, entrando
na minha sala.
— Diga o que quer e saia.
— Mau-humor, bom isso não é novidade. Vim trazer os papéis do
casamento, está tudo pronto e marcado para daqui a uma semana, então
sugiro que comecem a ser vistos juntos por aí, deixem ser fotografados
juntos.
— Era só o que me faltava, você melhor do que ninguém sabe o
quanto priorizo a minha privacidade, não vou ficar posando para esses
abutres da imprensa.
— Sei disso, mas os agentes precisam acreditar que vocês estão
apaixonados ou do contrário perderão a menina.
— Isso não!
— Então vamos fazer as coisas certas, agendei com a equipe de
marketing umas fotos na parte da tarde e uma nota, peça para Scarllet estar
presente.
— Consiga o endereço da escola em que ela trabalha.
— Te enviarei por mensagem. — Assinto e ele sai da minha sala.
Passo a manhã toda mergulhado em contratos que precisam ser
lidos, mas por um momento ou outro, os olhos dela invadiam a minha
mente.
Olho no relógio e vejo que está quase na hora do almoço, sigo para
o endereço que James me enviou.
Paro o carro do outro lado da rua e saio, ficando encostado nele,
esperando ela aparecer. Pouco tempo depois ela aprece no seu vestido
florido, sua bolsa de pano de lado e vários livros na mão. Scarllet sorri para
algumas crianças e as mães delas. Mesmo naquela simplicidade, ela estava
linda.
Seus olhos fixam nos meus e esboço um sorriso, vendo-a respirar
fundo e atravessar a rua, se aproximando de mim. Antes que ela possa dizer
qualquer coisa, aproximo os meus lábios dos dela e dou um beijo rápido.
— O que faz aqui? E por que me beijou? — Questiona, confusa.
— Vim te buscar para almoçarmos juntos e temos que ser vistos
como um casal, se lembra?
Ela assente.
— Não estou vestida adequadamente para almoçar com você.
— Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso. — Abro a porta do
carro para ela, entrando logo em seguida.
Dirijo até o centro da cidade para uma loja de uma velha conhecida,
na verdade, Madeleine e eu passamos algumas noites juntos, mas isso foi há
muito tempo.
— Vem. — Abro a porta do carro para ela.
Scarllet olha tudo ao seu redor e assim que entramos, Madeleine
vem ao nosso encontro.
— Noah, quanto tempo, a que devo a honra da visita? — A loira
elegante pergunta, sorrindo para mim.
— Como vai Mad? Hoje estou apenas como acompanhante, a
cliente é a minha noiva, Scarllet Baker. — Apresento.
— Noiva? — Madeleine pergunta olhando Scarllet de cima a baixo
—Quem diria que um dia você se casaria Noah.
— As coisas mudam.
— Certamente. — Sorri — Venha querida, vamos escolher algumas
coisas. — As duas saem caminhando juntas.
Fico aqui aguardando e ela volta vestindo um terninho branco que
contorna as suas curvas, com um top de renda por baixo, que a deixa
extremamente sexy, uma sandália de salto da mesma cor. Haviam feito uma
maquiagem nela e seus cabelos estavam arrumados.
— Aqui está a sua noiva. — Madeleine diz, sorrindo.
— Mande tudo o que escolhi para a mansão. — Ordeno e ela
balança a cabeça concordando.
Caminho até Scarllet e dou um leve beijo em seus lábios.
— Está muito bonita! — Elogio passando a mão pelo seu rosto.
Sabia que as fofoqueiras de plantão se encarregariam de espalhar o
boato por toda a sociedade californiana.
Entramos no carro.
— Não precisava ter comprado tantas coisas.
— Precisava sim. — Afirmo.
— Para quê? — Coloca o cinto de segurança.
— Para que as pessoas a vejam bem vestida. — Coloco o meu cinto
e dou partida no carro.
— E os conjuntos de lingerie? Também é para que as pessoas me
vejam? — Ela sorri.
— Não, estes são para que eu a veja. — No mesmo instante sinto o
meu pau pulsar dentro da minha calça, imaginando-a nas peças íntimas.
Posso ouvir a sua respiração acelerada, ela estava tão nervosa
quando eu e certamente lhe causava o mesmo efeito que ela causava em
mim.
Capítulo 21
Me senti um lixo naquela loja, era nítido que tudo o que aquela
mulher estava fazendo era só por Noah, se eu tivesse entrado ali sozinha,
certamente teria sido expulsa.
Sem contar que a loira, de nariz em pé, não fez questão de esconder
em nenhum momento que já esteve na cama dele.
Mesmo que eu não quisesse, mesmo que eu tentasse alertar a mim
mesma que aquilo tudo era um maldito contrato de casamento, senti ciúmes.
Quando entramos de mãos dadas no restaurante, me senti mais
confiante, graças as roupas que estava usando.
Fomos recepcionados por um homem muito simpático, que descobri
ser amigo de Noah, nos sentamos próximo à janela, mas ele parecia
incomodado.
Percebi que uma mulher sentada em uma mesa ao lado não parava
de nos olhar, ela era loira e tinha cara de nojenta assim como a da loja.
— Está tudo bem?
— Sim, James levou os papéis do casamento hoje.
— Mas já estão prontos? — Inquiro — Pensei que essas coisas
demoravam para ficarem prontas.
— Não para mim.
Reviro os olhos diante de tanta soberba e ele esboça um leve sorriso.
Percebo que a mulher, continua nos olhando.
— Quem é ela? — Decido questionar.
— Ninguém que deva se preocupar.
Infelizmente, tinha um sexto sentido muito aguçado e ele estava
gritando falando que ela era alguém que devesse me preocupar sim.
— Vou ao banheiro. — Aviso, me levantando.
Entro no cômodo e me escoro na pia, respirando fundo.
— Aqui está a noiva de Noah Thompson — Me viro, encontrando a
mulher que estava nos encarando. — As revistas e tabloides só falam sobre
isso e eu me pergunto o que Noah viu em alguém como você, quando ele
esteve ao lado de alguém como eu.
— E por que mesmo não está mais com ele?
— Isso não é da sua conta!
— Assim como o meu casamento não é da sua. — Encaro a mulher
na minha frente.
— Noah não pode se casar com alguém como você, mesmo nessas
roupas de grife, nota-se que é uma pobretona.
— Ele não parece se importar muito com isso. — Lanço-lhe uma
piscadela. — Aliás, quando me casar com ele, serei bem rica. — Passo por
ela e saio do banheiro. Mesmo não gostando desse tipo de coisa, não queria
sair tão humilhada. — Quero sair daqui. — Paro na frente da mesa e aviso a
Noah.
— O que houve? — Questiona, estreitando os olhos.
— Acabei de conhecer a sua ex no banheiro e antes que ela me
provoque de novo e eu perca a cabeça te envergonhando, melhor irmos
embora. — Ele assente e se levanta, segura na minha mão e caminhamos
para fora do restaurante.
Antes de chegar a porta de saída, a mulher se aproxima.
— Noah precisamos conversar. — Olha direto para as nossas mãos
entrelaçadas.
Consigo perceber o desconforto dele perto dela.
— Não temos nada para conversar.
Saímos do restaurante e entramos no carro sem falar nada. Noah
dirigi rápido pelas ruas de São Francisco.
— Ainda estou com fome. — Decido puxar conversa, tentando
quebrar aquele clima chato que havia ficado.
— Não conseguiremos uma reserva essa hora em nenhum
restaurante.
— Conheço um lugar, mas não é como esses restaurantes chiques
que você frequenta.
Ele encosta o carro e fico sem entender.
— Ótimo, você dirige. — Sai do carro e abre a porta para mim
— Não posso dirigir o seu carro!
— Já dirigiu antes, certo? — Assinto. — Então não vejo problema.
— Sim, mas era um Fusca 79, não um Jaguar.
— É a mesma coisa.
Saio do banco carona e me acomodo atrás do volante, com as mãos
tremulas, começo a dirigir e não, não era a mesma coisa, era mil vezes
melhor.
Dirijo até a lanchonete onde Jud trabalha e estaciono em frente.
Entrando de mãos dadas.
— Puta que pariu, você está linda! — Jud me abraça. — Olá,
Senhor Thompson. — Cumprimenta formalmente.
— Olá, Judith.
— Vamos querer hambúrgueres. — Faço os pedidos.
— Os dois? — Arqueia a sobrancelha para Noah.
— Sim. — Ele afirma e ela sorri.
— Certo, vou colocar vocês na nossa melhor mesa. — Ela nos leva
para a mesa.
— São amigas há muito tempo? — Ele pergunta assim que nos
sentamos.
— De uma vida toda. Jud esteve comigo nos melhores e piores
momentos. — Fico olhando para minha amiga atendendo outras mesas. —
Só queria poder ajudar ela de alguma forma.
— Ela está ilegal no país?
— Sim e por isso não consegue um bom emprego, mesmo tendo
diploma, sem o visto, não vale de nada.
— Ela é formada em quê?
— Em marketing. Ela é muito boa no que faz, por várias vezes
ajudou Tomás com os trabalhos da faculdade.
— Seu ex? — Assinto. — Me fale sobre ele.
— Definitivamente não vale a pena.
— Scarllet, sei que as dívidas que adquiriu foi por causa dele.
Sinto o meu rosto corar.
— Como sabe disso
— Sei tudo sobre você.
Respiro fundo, não gostava de lembrar de Tomás e menos ainda do
que vivi ao seu lado, mas se íamos nos casar, mesmo que fosse um
casamento de mentira, tínhamos que ser sinceros.
— Quando o conheci, Siena tinha acabado de se casar e eu estava
completamente sozinha, no começo parecia um sonho, afinal ninguém
nunca havia olhado para mim, mas Tomás estava ali. No começo ele ia me
buscar no trabalho, me levava chocolate, íamos ao cinema e não demorou
muito para me pedir em namoro. Foi aí que as coisas começaram a mudar.
Ele começou a exigir dinheiro, queria me trancar em casa, apertava o meu
braço sempre que algo o incomodava, exigia que eu me comportasse como
ele queria, sempre dizia que se ele me deixasse ninguém iria me querer. —
Puxo o ar e solto lentamente. — Um dia decidi fazer uma surpresa e ir até
o seu apartamento. Mesmo com todo esse jeito rude, eu era apaixonada por
ele. Definitivamente, uma trouxa. Nesse dia, acabei encontrando ele na
cama com outra mulher.
— Qual foi a sua reação?
— Não disse nada, apenas fui embora. Ele até veio atrás de mim,
mas a Jud o colocou para correr da minha casa e ficou comigo todos os
dias. Eu melhorei, mas as dores que ele me causou ainda continuam vivas
em mim.
Noah prestava atenção em cada palavra.
— Esse cara é um idiota, Scarlett!
Jud chega com os nossos pedidos e vejo Noah olhar para o prato
como uma criança perdida.
— Não tem talheres? — Questiona.
— Não, você come com as mãos assim. — Pego o meu lanche,
mostrando para ele.
Ele pega o dele e começa a comer, parece uma criança e eu não
posso evitar rir quando ele suja a barba de molho, pego um guardanapo e
aproximo a minha mão, assustando-o.
— Tem molho na sua barba. — Aviso, limpando.
Noah despertava muitas emoções em mim e eu não sabia ao certo
explicar, tinha medo dele, mas, ao mesmo tempo, ele parecia indefeso.
E eu estava completamente confusa.
Capítulo 22
Quando voltei para casa já era tarde da noite, vi o meu lugar posto
na mesa de jantar, mas não compareci.
Respirei fundo e subi as escadas, indo direto para o quarto de
Charlotte, ela estava dormindo profundamente.
Estava seguindo direto para o meu quarto, mas quando passei diante
da porta do quarto dela, algo foi mais forte que eu e acabei entrando,
caminhando com passos lentos para não fazer barulho e acordá-la. Scarllet
estava dormindo serenamente, parecia um verdadeiro anjo.
Ela dormiu lendo mais uma vez, retiro o livro da sua mão com
cuidado e olho a capa e involuntariamente abro um sorriso, estava lendo
mais um daqueles romances mentirosos.
Scarllet realmente gostava de viver no mundo das fantasias.
Deixo o livro sobre a mesa de cabeceira, olho para o lado e vejo o
seu vestido de noiva pendurado, mas como estava escuro, não conseguia ver
os detalhes. Decido que é hora de sair para não acordá-la.
Ao entrar vejo o smoking pendurado, era inevitável, em poucas
horas estaria casado com Scarllet, uma mulher completamente oposta a
mim.
Capítulo 25
Ali, com ela nos meus braços, o mundo parecia finalmente fazer
sentido, mesmo que dentro de mim a parte racional gritasse que aquilo tudo
era um contrato, uma mentira, algo com um propósito maior, estava me
sentindo livre dançando com ela e eu não me sentia assim há muitos anos,
pela primeira vez eu não me sentia prisioneiro da minha própria vida.
A verdade é que hoje, olhando todas essas pessoas aqui, percebi o
quão vazia a minha vida sempre foi, que tudo era um grande teatro, uma
teia de mentiras baseada em acordos milionários, rodeado de pessoas que eu
nem sequer sei o nome ao certo, que encontrei algumas vezes em reuniões
ou nem isso, que estão aqui apenas por causa do sobrenome Thompson e o
poder que ele tem. Pessoas que sorriem para mim e para a minha esposa
apenas por protocolo, para manter acordos e contratos, certamente devem
estar comentando nesse exato momento o quão velho eu sou para ela ou
como somos diferentes, porque a sociedade é julgadora e maldosa.
A festa continua, observo Charlotte correr entre as mesas deixando
as babás malucas atrás dela e acabo sorrindo ao ver que ela está feliz, afinal
para ela esse teatro todo é uma grande festa.
A verdade é que a minha vida havia mudado depois que ela e a sua
tia maluca entraram, tudo havia se transformado, havia se colorido. Sorri
mais vezes nesses últimos dias do que em toda a minha vida.
Após algumas horas as pessoas começaram a ir embora e fiquei
observando Scarllet se despedindo de algumas delas, as mesmas que
sorriam falsamente e que estavam nos julgando de longe, mas ela
interpretou bem o seu papel de noiva feliz e realizada.
Quando entramos na mansão, a segui. Charlotte já estava dormindo
há algum tempo, cansada de tanto brincar e fazer as babas correrem atrás
dela.
Scarllet subiu as escadas e parou diante das janelas que mostravam o
jardim, me aproximei devagar e ela me olhou, dando um sorriso fraco.
— E agora? — Questiona, me olhando.
— Estamos casados.
Continuo olhando para ela, que parece assustada.
— Sim. — Sua voz soa com tanta incerteza e medo.
— Se alguém me perguntasse sobre o dia do casamento, eu diria que
seria corrido ou algo assim, ao menos para o noivo e a noiva, mas para nós
estava tudo pronto, não sentimos as emoções desse dia. — Digo, enquanto
observo seus dedos trêmulos brincando com o véu cheio de pontinhos de
luz.
— Como vai ser agora, Noah? — Pergunta, com os seus olhos
marejados.
— Não entendi.
— Eu quis dizer o casamento, o que vem agora? — Explica. —
Quando todos os convidados forem embora, como será a nossa vida? Como
será esse teatro?
— Será como antes, mas com a diferença que os nossos nomes estão
lado a lado naquela certidão, estamos ligados por um contrato, um
casamento de mentira, não somos marido e mulher Scarllet, somos sócios
em um grande e arriscado negócio. — Quero colocar isso na minha cabeça
para proteger a mim mesmo daquela loucura que era ver ela vestida de
noiva ali na minha frente e, toda a confusão de sentimentos e sensações que
estavam dentro de mim.
— Você tem razão, isso tudo é uma farsa. — Ergue o vestido
caminhando em direção ao seu quarto, caminho atrás dela, mas ela entra e
fecha a porta, sem ao menos olhar para trás.
Fico ali com a testa encostada na parede, Scarllet parecia uma bruxa
e eu parecia estar enfeitiçado por ela.
Essa guerra eu não podia perder.
Capítulo 27
Desde o dia em que Scarllet saiu com Charlotte, achei que ela voltou
estranha, só estava falando comigo coisas essenciais sobre a Charlotte ou
sobre o processo de adoção que estava chegando ao fim e com isso o nosso
divórcio se aproximando.
Ela evitava contato comigo sempre que podia e sabia que eu mesmo
quem fiz isso, mas não pensei que me incomodaria tanto assim.
Estava respondendo alguns e-mails quando Charlotte entrou no meu
escritório.
— Oi, tio Noah. — Se aproxima.
— Oi pequena.
— Tio Noah, a minha tia foi embora? — Pergunta segurando as
pequenas mãos, igual à tia dela quando estava nervosa.
— Não, ela não foi, só está chegando mais tarde. — Informo.
— A tia Scarllet está doente tio Noah? — Questiona.
— Que eu saiba não, mas por que está me perguntando isso,
Charlotte? — Me preocupo com a sua pergunta.
— Ela passou mal na casa da tia Jud, fiquei com medo tio Noah, não
quero que ela morra igual a minha mãe. — Seus olhinhos ficam cheios de
lágrimas.
— Não se preocupe pequena, deve ter sido apenas um mal-estar. —
A tranquilizo e ela me abraça.
Depois de mais alguns minutos conversando, ela volta para o seu
quarto.
Scarllet estava dando aulas de reforço e chegando mais tarde em
casa, mas hoje decidi esperar por ela, James havia me entregado os papéis
da guarda de Charlotte, nós havíamos conseguido e eu queria dividir isso
com ela, mas também queria saber sobre o mal-estar que ela não comentou
nada, fiquei na sala sentado, com um copo de uísque na mão.
Observei ela entrar pela porta e tirar os sapatos, ela estava no
primeiro degrau da escada quando acendi o abajur.
— Scarllet — A chamo em meio à escuridão.
— Meu Deus, que susto! — Leva a mão ao peito.
— Não foi minha intenção assustá-la, mas eu preciso falar com
você. —Aviso, tomando um gole da bebida no copo.
— Não poderia ser em outro momento? Estou um pouco cansada.
— Na verdade, não, já que mal te vejo em casa, preciso aproveitar o
momento. — Me aproximo dela, que me olha assustada.
— Tenho trabalhado bastante. — Segura com força o corrimão da
escada.
— Eu sei, e me evitado também.
— Não é isso. — Desmente, gaguejando.
— Sabe o que é isso? — Pergunto, erguendo o envelope em minha
mão.
— Não.
— A guarda definitiva da Charlotte.
Scarllet sorri.
— Graças a Deus! — Ela me abraça.
Sentir o seu perfume de novo ali tão perto de mim, me deixa
enfeitiçado, capturo os seus lábios e a beijo, um beijo cheio de saudade.
Mas de repente ela sai correndo e entra no primeiro banheiro, fico
preocupado e vou atrás dela, seguro o seu cabelo.
— Está melhor? — Pergunto, preocupado com o seu mal-estar.
— Sim, deve ser algo que comi. — Scarllet parece nervosa.
— Como no dia em que foi na casa da sua amiga? — Ao perguntar
isso, ela fica assustada.
— Como sabe disso?
— Charlotte me contou, o que você está me escondendo Scarllet?
Está doente? — Me preocupo e ela nega com a cabeça.
— Estou bem.
— Por que será que não acredito em você?
Ela passa por mim e segue para sala, a sigo e seguro o seu braço
fazendo-a me olhar.
— Já disse que estou bem, me solte Noah! — Seus olhos me
encaram com fúria.
— Scarllet se está doente, eu preciso saber, vamos nos divorciar,
mas vamos compartilhar a guarda da Charlotte, você tem que estar bem. —
digo ainda segurando o seu braço.
Ela me olha e então começa a chorar.
— O que está acontecendo? Me diga Scarllet. — Insisto, ainda mais
preocupado por ela estar chorando.
— Não podemos nos divorciar Noah. — Sussurra.
— Como não? Combinamos isso desde o começo, é um casamento
de mentira. — Me afasto, passando a mão pelo me cabelo.
— Mas o bebê que espero é de verdade, Noah, estou grávida, estou
esperando um filho seu! — Me encara e nesse momento sinto a raiva me
consumir.
Como ela podia inventar isso para que eu não me divorciasse dela?
Aproximo-me em passos lentos e olho nos seus olhos.
— Você pode até estar grávida, Scarllet Baker, mas esse filho não é
meu. Sinceramente, não pensei que seria tão baixa assim, tentar me dar o
golpe da barriga? Como pode? — Sinto-me extremamente irritado e estou
tentando me controlar.
— Não estou mentindo, Noah.
— Esse filho não é meu e sabe como tenho certeza disso? Não posso
ter filhos, Scarllet, me submeti a uma cirurgia anos atrás, justamente para
não cair em golpes de mulheres como você. — Seus olhos se arregalam. —
Teria ficado com você se dissesse estar apaixonada por mim, mas tentar me
dar um golpe? Isso eu não aceito, quero que saia dessa casa, agora!
Passo por ela, subindo as escadas e assim que entro no meu quarto,
soco a parede. Havia confiado em uma mulher de novo e ela tinha tentado
me dar um golpe, tudo pelo maldito dinheiro, sempre é o dinheiro.
Continuo bebendo no meu quarto e me condenando por ter
acreditado nela.
Uma hora depois ouvi um carro sair, ela havia partido, junto com
toda a sua mentira, junto com o seu golpe.
Capítulo 29
Os dias sem ela estavam sendo os piores possíveis, além da falta que
sentia dela, tenho que lidar com a sensação de ter sido enganado mais uma
vez e com Charlotte sentindo saudade da tia. Por mais que eu a enviasse
todos os finais de semana para a casa da tia, ela sentia falta da rotina que
construímos e eu não poderia julgá-la, pois eu mesmo me peguei várias
vezes querendo ela de volta nessa casa, mas quando lembrava do que ela
fez, a saudade dava lugar a raiva.
James entra na minha sala, com um envelope nas mãos.
— Aqui está Noah, ela já assinou. — Ele coloca o envelope em
cima da minha mesa.
— Ela assinou? Sem pedir nada em troca? Impossível para alguém
que tentou me dar um golpe!
— Noah, eu acho que Scarlett não é como você pensa, não a vejo
como uma golpista.
— Como não? James ela está grávida e disse que o filho é meu, isso
é impossível! — Afirmo.
— Será mesmo? Depois que fez a cirurgia voltou ao médico para
saber se havia dado certo? — Questiona, plantando a dúvida em minha
cabeça. De fato, depois da cirurgia, havia saído com outras mulheres, mas
nunca sem me prevenir, mas com ela eu nunca usei preservativo, confiava
nela.
— Impossível!
— Cuidado Noah, a vida pode ter te dado uma chance de ser feliz e
você estar jogando fora, pense nisso, nem tudo é o que parece.
James sai da minha sala, me deixando pensativo.
Pego o envelope e olho o documento, a letra dela, ela tinha mesmo
assinado, ela queria se divorciar de mim e eu também queria. Então por que
não consigo assinar esses papéis?
Bufo e coloco o envelope dentro da minha gaveta, James havia
plantado uma dúvida na minha cabeça e eu tinha que tirar esse enorme "se"
de cima dela.
Saio da empresa e vou até a clínica do médico que fez a minha
cirurgia.
E mais uma vez, graças ao meu sobrenome e dinheiro, consigo um
horário.
— Noah Thompson, já faz muito tempo desde a última vez em que
esteve aqui. — O médico me encara.
— Tenho uma vida corrida, estou aqui para saber qual a
possibilidade de a cirurgia não ter dado certo. — Vou direto ao ponto.
— Noah, é raro, mas há a possibilidade do canal se ligar novamente,
não é impossível. Ainda mais porque não fizemos os exames pós-cirúrgicos
para comprovar a eficácia do procedimento, mas podemos fazer um exame
agora;
— Doutor, há uma mulher dizendo que espera um filho meu, preciso
ter a certeza de que não sou o pai.
— Ou de que é o pai. — Ele sorri — Vamos colher o material e até
o fim do dia te enviarei o resultado.
Finalmente tiraria essa dúvida da minha cabeça de uma vez por
todas e poderia tirar Scarllet Baker da minha vida.
Saí daquela clínica dividido, metade de mim queria que a cirurgia
tivesse dado certo, mas a outra metade pedia para que aquele filho fosse
meu.
E se fosse o que eu faria? Ela me perdoaria por ter a acusado
daquela forma?
Voltei para a empresa e aguardei ansiosamente pelo e-mail da
clínica, que só foi chegar ao final da tarde. Quando eu vi o resultado, me
amaldiçoei pelo que fiz a ela, tinha noventa e nove vírgula nove por cento
de chances de ser pai, ela não estava mentindo, o filho era meu.
Tento ligar para ela, mas a chamada não completa, ela deve ter
bloqueado o meu número.
Começo a ficar nervoso e ando de um lado para o outro.
Ligo para James.
— Preciso do novo endereço de Scarlett. — Falo assim que ele
atende.
— Tem uma anotação na parte de trás do contrato, encontrará o
endereço lá.
— James, sei que não sou de agradecer a ninguém, mas obrigado
por ter me aberto os olhos, fui a clínica hoje e fiz o exame, eu posso ser pai.
— E está esperando o que para ir atrás dela Noah?
— Estou indo. — Aviso e desligo o telefone.
Pela primeira vez estou com medo. Medo dela me mandar embora
da sua vida, medo de que não me perdoe.
Sigo para o endereço, que está anotado atrás do contrato, toco a
campainha algumas vezes e ninguém atende. Quando eu estava desistindo a
porta é aberta.
— Você aqui?
— Me desculpe Judith, sei que está surpresa em me ver aqui, mas eu
preciso falar com Scarlett, ela está? — Atropelo as palavras, aflito, olhando
por cima dos ombros dela.
— Não, ela não está. Depois da visita do seu advogado ela ficou
muito abalada, com medo e sozinha, ela saiu para caminhar. — Informa, me
olhando com a cara fechada e cruzando os braços sobre o peito.
— Me diz onde posso encontrar ela Judith, por favor — Imploro.
— Para quê senhor Thompson? Acusá-la de ser uma golpista?
Chamá-la de mentirosa? Você pode não conhecê-la, mas eu a conheço e sei
que ela não está mentindo, ela não é o tipo de mulher que você pensa!
— Agora eu sei também. Preciso me redimir.
Um silêncio constrangedor se instala e os segundos parecem uma
eternidade.
— No parque, próximo ao chafariz na esquina, mas ouça bem, se a
magoar de novo, esqueço toda ajuda que me deu e acabo com a sua vida. —
Defende a amiga.
Sigo o caminho que ela me disse e entro no parque, procurando por
ela. Finalmente a vejo sentada em um banco próximo ao lago, ela está de
costas e não me vê.
Me aproximo devagar e paro atrás dela, respiro fundo sentindo o seu
perfume, então fico a ouvindo conversar com a sua barriga, com o nosso
filho.
— Não sei se você é menina ou menino, não sei se terá os meus
olhos ou os do seu pai, mas sei que te amo muito e vou te proteger para
sempre, nunca vou deixar você sozinho, não sei porque o seu pai nos
rejeitou, mas eu nunca vou te abandonar. — Sua voz está embargada pelo
choro.
— Eu estava com medo. — Digo e ela se vira em minha direção,
enxugando as lágrimas.
— O que faz aqui? Como me achou? — Pergunta, nervosa.
— Judith me disse onde estava. — Confesso.
— Não temos mais nada para conversar, já assinei o divórcio, não
era o que você queria?
— Mas eu não, eu não assinei.
— E por que Noah? Não era esse o acordo desde o começo?
— Era, era esse o acordo, mas o acordo era também não me
apaixonar por você, não querer você ao meu lado e falhei miseravelmente,
eu a quero desde a primeira vez em que te vi Scarlett. E tudo o que eu disse
foi por medo, por ter sido enganado no passado. Hoje fui até a clínica fazer
o exame, sei que esse filho é meu e se quer saber eu já tinha essa certeza
dentro de mim, antes mesmo daquele resultado, mas o idiota que me
domina às vezes não me deixa ver o que está bem diante dos meus olhos,
você não é como as outras mulheres, você é honesta e se puder me perdoar,
prometo nunca mais errar, vou pensar só em nós, nos nossos filhos e em
como você transformou a minha vida. — Olho dentro dos seus olhos,
querendo beijá-la.
Dou mais um passo em sua direção e acaricio o seu rosto.
Imediatamente ela se afasta e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— De nada vale o seu amor agora, Noah Thompson! Você me
humilhou, me fez duvidar de tudo e agora vem falar de amor? Você não
sabe o que é amor, você só conhece o que o seu maldito dinheiro pode
comprar e o amor não se compra!
— Eu te amo Scarlett. — Finalmente consigo libertar os meus
sentimentos.
— Eu te amo Noah, isso é verdade, mas não posso te perdoar pelo o
que fez. — Scarllet se levanta e passa por mim.
— Scarllet. — A chamo, mas ela não olha para trás e segue em
frente.
Fui um idiota e agora ela não me quer mais e não sei o que fazer
sem ela.
Capítulo 31
Ando o mais depressa que posso de volta para casa e quando entro,
Jud me olha assustada.
— Você disse a ele onde eu estava? — Questiono, irritada.
— Sim, mas ele me parecia arrependido. — Ela tenta se justificar.
— É tarde para ele se arrepender, Jud, estamos quebrados. —
Caminho em direção ao quarto, sento na cama e deixo que o choro contido
saia, entre soluços e lagrimas recordo as suas palavras, não consigo perdoá-
lo, ele duvidou de mim, me acusou de estar dando um golpe.
Sigo para o endereço que ele me deu e quando chego, vejo que é
uma clínica médica, entro e me aproximo do balcão.
— Boa tarde, sou Noah Thompson. — Digo a recepcionista,
conforme James havia me orientado.
— Ah, sim, me acompanhe.
A sigo por um grande corredor cheio de portas, ela abre uma delas e
eu entro, há um grande televisor na parede e um vidro onde é possível ver
outra sala, consigo ver quando Scarllet entra, olho assustado para a mulher
ao meu lado.
— Não se preocupe, ela não pode vê-lo. — A mulher diz antes de
sair da sala, fechando a porta.
Fico olhando para ela, tão linda com aquele barrigão. Deita na maca
e logo o monitor da sala em que eu estava é ligado, os borrões começam a
aparecer e vejo que estão fazendo um ultrassom. As imagens da minha filha
começam a surgir na tela e quando o som do coraçãozinho preenche o lugar,
não contenho as lágrimas, era a nossa filha ali e eu amava, assim como amo
a mãe dela, como nunca amei ninguém na vida.
Ao final do exame, ela se levantou e trocou de roupa, estava aflito,
não sabia o que fazer. A porta da sala em que eu estava foi aberta e ela
entrou, me olhando assustada.
— O que faz aqui? — Questiona, visivelmente confusa.
— Estava vendo a nossa filha.
— Por que faz isso, Noah? Compra tudo e todos com o seu
dinheiro? Quanto pagou para que essas pessoas o deixasse entrar aqui? —
Scarllet está furiosa.
— Nada, eu não paguei nada, Scarllet, você precisa me ouvir. —
Insisto.
— Não quero te ouvir, Noah Thompson. — Ela tenta abrir a porta,
mas a mesma está trancada.
—Ah não! — Resmunga e me aproximo tentando abrir, mas a porta
não abre. — Ei, alguém abre aqui !— Grita, batendo na porta.
Nesse momento o televisor liga de novo e a imagem de Charlotte
aparece na tela.
— Oi papai, oi mamãe, sou eu, a Charlotte... — O vídeo começa na
pequena televisão. — Me desculpem por essa travessura, a tia Jud e o tio
James me ajudaram, depois que insisti muito, eles me contaram a verdade
sobre o casamento de vocês, sei que fizeram tudo isso por mim, para que eu
não ficasse sozinha, mas mesmo assim eu estou. Estou sem vocês do
mesmo jeito e não quero que a minha irmãzinha passe por isso também,
então eu coloquei vocês de castigo e só vão sair daí quando estiverem de
bem, amo vocês.
O televisor desliga e Scarllet me encara.
— Vou deixá-la de castigo por um ano! — Scarllet fala irritada,
andando de um lado para o outro na pequena sala.
— Scarllet, ela está certa. — Ela me encara. — Começamos tudo
isso por ela e no fim, nos afastamos. A obrigamos a se dividir entre nós e
agora há a nossa filha. Sei que fui o pior homem com você e me
amaldiçoou por isso todos os dias, se pudesse voltar atrás, nunca teria me
comportado daquela forma. Tinha medo, medo do amor, medo de ser
enganado, mas você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e se
quer saber? Ainda não assinei aquele divórcio, não consigo. Eu te amo
Scarllet! Por favor, me perdoe, vamos cuidar das nossas meninas, juntos. —
Imploro, me atropelando nas palavras.
Vejo os seus olhos cheios de lágrimas, me aproximo devagar, sinto o
seu perfume me invadir, ela fecha os olhos, ergo o seu rosto com o polegar
e vou aproximando os meus lábios dos dela e quando por fim os sinto,
inicio um beijo carregado de saudade e amor. Suas mãos se erguem até os
meus ombros e quando a sua barriga encosta em mim, sinto um pequeno
chute, sorrimos os dois.
— Parece que alguém está feliz. — Comento.
— Acho que sim. — Ela concorda.
A seguro em meus braços e ela me olha nos olhos.
— Eu te amo professorinha, eu te amo muito! — Passo a mão pelo o
seu rosto.
— Eu te amo Noah, eu realmente te amo, seu velho rabugento! —
Se declara e eu a beijo de novo.
Saímos daquela clinica juntos e certos que iríamos cuidar das nossas
meninas, juntos.
Epílogo
Helô Oliveira.