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Copyright © 2022 Lily Freitas

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Revisão: Margareth Antequera

Capa: One Minute Designer

Diagramação Digital: Autora Jack A. F.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição

Abril de 2022
Optamos neste livro usar a linguagem contemporânea, tanto na
narrativa quanto nos diálogos, para ficar um texto mais próximo do que
falamos no nosso dia a dia.
Nem sempre os contos de fadas seguem o script que estamos
condicionados a imaginar, às vezes eles começam de maneira torta, para
poderem tomar o seu rumo.
Príncipe Thomas Cassel teve o seu coração quebrado quando uma
grande paixão foi cruelmente tirada da sua vida. Ele se transformou em um
homem reservado, fechando-se completamente para qualquer tipo de
relacionamento.
Porém, a vida tem seus planos e o levou até Fiorella Torcasio, uma
jovem viúva, que viveu um mundo de terror com o seu falecido marido, um
mafioso cruel, que a torturou das piores maneiras possíveis.
Nenhum dos dois acredita no amor, ambos são pessoas profundamente
feridas, de mundos opostos. No entanto, será justamente a dor que carregam
no coração que irá os unir, levando ambos a descobrirem que recomeçar,
pode significar renascer e entender que todo fim, tem o seu começo.
Será o amor capaz de quebrar tradições e unir a realeza com a máfia
italiana?
Nota da Autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1 – Nova Iorque
Capítulo 2 – Só fique bem
Capítulo 3 – Vista algo sexy
Capítulo 4 – Me surpreenda
Capítulo 5 – Príncipe de Vichi
Capítulo 6 – Podemos ser amigos
Capítulo 7 – É ele!
Capítulo 8 – Encontro
Capítulo 9 – Bom moço
Capítulo 10 - Aventura
Capítulo 11 – Queria muito te beijar
Capítulo 12 – Parabéns!
Capítulo 13 – Demônios
Capítulo 14 – Um novo mundo
Capítulo 15 – Onde me levar
Capítulo 16 – Nasci na máfia
Capítulo 17 - Rendido
Capítulo 18 – Momento novo
Capítulo 19 – Como eu a quero!
Capítulo 20 – Todo meu
Capítulo 21 – O que está fazendo aqui?
Capítulo 22 – O agora
Capítulo 23 – Quero cuidar de você
Capítulo 24 – Por onde anda?
Capítulo 25 – Eu mudei
Capítulo 26 – O deus do amor
Capítulo 27 – Grandes problemas
Capítulo 28 – Plano
Capítulo 29 – Hamptons
Capítulo 30 – Vamos esquecer o passado
Capítulo 31 – Tensão
Capítulo 32 – Protetor
Capítulo 33 - Ataque
Capítulo 34 – Só viva
Capítulo 35 – Plano
Capítulo 36 – Maldito!
Capítulo 37 – Eu não vou!
Capítulo 38 – Ela é especial
Capítulo 39 – Conflito
Capítulo 40 – Pequena garota
Capítulo 41 - Atentado
Capítulo 42 – Boa viagem
Capítulo 43 – Destino sombrio
Capítulo 44 – Um milagre
Capítulo 45 - Confronto
Capítulo 46 – Reunião
Capítulo 47 – Elo
Capítulo 48 – Conselho
Capítulo 49 – O céu
Capítulo 50 – Um verdadeiro milagre
Epílogo
Epílogo 2
Não diga adeus!
Agradecimentos
Contatos da Autora
Olho através das janelas de vidro as pessoas andando tão pequenas lá
embaixo diante da grandeza de Nova Iorque. Cada uma tem a sua história de
dor, família, solidão, amizade, amor, rancor, desespero... entre tantos outros
sentimentos inerentes à humanidade.
A verdade é que somos bombas-relógios ambulantes, prestes a explodir
por motivos mínimos, nenhum de nós está a salvo das desventuras que o
mundo nos proporciona. Somos apenas cobaias, sujeitas aos experimentos do
destino.
Não ter o controle de todos os fatos, da minha própria vida, é algo que
não sei lidar. Eu gosto de planejar meus passos, saber qual caminho seguir,
quais atalhos acessar para alcançar meus objetivos. Entender que quando se
trata do jogo da vida eu sou apenas uma peça, me causa uma sensação de
impotência sufocante.
Algumas pessoas acreditam que por eu ser um príncipe, tenho a sorte
de poder realizar todos os meus desejos. Que grande ilusão. Privilégios
financeiros, status social, fama, não significam que você realmente tenha o
que deseja.
Não é assim que funciona e, justamente por determinados caprichos da
vida, todos nós em algum momento, nos tornamos iguais.
Eu tenho poder, dinheiro, fama, um corpo esculpido por horas na
academia, uma legião das mais belas mulheres sempre buscando a minha
atenção. Só que nada disso me faz acordar sorrindo ou me causa qualquer
tipo de satisfação.
Tudo perdeu a cor quando ela se foi e me deixou para trás com um
vazio, que não sei explicar o quanto me sufoca. Eu fui um tolo em me calar,
não revelar o quanto ela me encantava nos mínimos detalhes. O seu sorriso
era sempre tão espontâneo, a sua alegria quando comprava roupas, poderia
ser comparado a uma criança na hora de abrir os presentes de Natal.
Clover[1] era pura luz, a suavidade da sua personalidade foi o que me
encantou. Acreditei que teríamos uma bela história para contar, por infinitas
vezes eu me preparei para confessar o quanto a queria, mas sempre colocava
um empecilho para não me aproximar.
Que idiota eu fui. Ela foi arrancada deste mundo sujo de uma maneira
tão vil, que depois de quase cinco anos da sua partida, eu ainda não consegui
assimilar tudo o que aconteceu.
Até hoje seguro a minha dor, meu irmão sabe que não superei o que
aconteceu, Stuart, meu melhor amigo, não toca no assunto, mas tenta de todas
as maneiras me fazer ser o antigo Thomas, só que eu não consigo, sinto que
uma tonelada de cimento segura os meus pés.
Por que ela se foi? Por que não fui capaz de viver tudo o que sonhei?
Por que tanta gente ruim anda pelas ruas e alguém tão bondosa teve que
pagar um preço alto pelos erros alheios?
Por quê?
Essas perguntas me consomem todos os dias e enrijecem o meu coração
a cada batida, que não obtenho essas respostas.
Eu sou um homem arruinado, destruído pela dor, consumido pela culpa.
Vivo o agora, não penso no futuro e sigo sempre sozinho, livre de
sentimentos, expectativas e esperança.
Lembrem-se sempre: Contos de Fadas só existem nos livros, príncipes
encantados são sempre canalhas assim como eu e, finais felizes, é a mais pura
ilusão que a humanidade inventou.
ROMA

O segurança leva minha última mala, finalmente o dia da minha viagem


chegou e eu estou ansiosa para passar esse tempo fora, longe das lembranças
torturantes que me assombram.
Corro os olhos pelo meu quarto uma última vez antes de fechar a porta
e seguir para as escadas. Ouço a risada da minha sobrinha, vou sentir tanta
falta dela, Caterina está cada dia mais fofa e levada, sem contar na filhinha da
Chiara, a pequena Ramona é um verdadeiro anjo, vai ser difícil ficar longe
delas, mas eu preciso mudar de ares, viver uma nova rotina.
Assim que nota a minha presença Paolo me olha preocupado, apesar de
saber que eu estarei segura com o nosso primo, ele não deixa de temer que
algo possa acontecer.
— Pronta? — pergunta assim que termino de descer as escadas.
— Estou. — Ele beija a minha testa.
Eu amo o meu irmão, ele sempre foi protetor com todas nós, recebia os
nossos castigos para evitar que o papai nos machucasse. Lembro de uma vez
que teve seu braço quebrado só porque nosso pai o flagrou brincando comigo
de tomar chá.
Por sorte ele não se transformou em um homem cruel como o papai, ele
é mau no seu trabalho, mas não quando se trata da própria família. Com a
gente, sempre foi tolerante e cuida de todos nós com muita dedicação.
— Fique com Nero o tempo que quiser, se por acaso decidir voltar na
próxima semana venha embora, está em suas mãos a sua estadia por lá.
— Não acho que eu vá voltar tão rápido.
— Já estou sentindo a sua falta. — Giovanna, minha irmã caçula, vem
me abraçar.
Depois que fiquei viúva voltamos a nos reaproximar, antes, eu não
podia ter muito contato com ela, o maldito do meu falecido marido não
gostava que ninguém da minha família se aproximasse demais de mim.
Foram tempos difíceis que passei ao lado de Carmelo, quando penso
em tudo o que precisei enfrentar, não acredito que consegui suportar tanto
terror.
— Você pode ir me visitar se eu demorar muito.
— Claro que eu vou, já avisei ao Dom para ele tirar uns dias de folga.
— Não inventa, Giovanna. — Paolo a recrimina. — Preciso do Dom
aqui.
— Meu marido não é escravo, ele merece uma folga.
— Deixe o seu irmão quieto. — Domênico apoia as mãos na cintura
dela, em seguida envolve os braços ao redor da esposa. — Aproveite muito
Nova Iorque, Ella, viva intensamente essa aventura, você merece.
— Obrigada, Dom, eu estou animada com essa viagem.
— E não poderia ser por menos. — Masha me abraça. — Ligue todos
os dias, vou sentir a sua falta.
— Nem precisa pedir, não vou correr o risco da minha sobrinha me
esquecer. — Olho para Caterina que está no colo da minha mãe.
Ela irá viajar comigo, ficará duas semanas por lá, além de querer rever
a irmã, quer se certificar que estar com Nero não vá comprometer meu nome.
Ao contrário de Paolo, que não toca no assunto sobre arrumar um novo
casamento, ela já está levantando alguns nomes dentro do nosso clã. Para
minha sorte meu destino está nas mãos do meu irmão, no momento não tenho
que me preocupar com ele escolhendo um novo marido para mim.
Chiara vem da cozinha com a filha no colo, ela se aproxima de mim
com os olhos marejados. De todas nós, é a mais sentimental, ainda bem que
minha irmã tem um bom marido, pois não duraria um dia nas mãos do
maldito Carmelo.
— Eu sei que você precisa de um tempo, mas eu não posso negar que já
sinto a sua falta.
— Vai passar rápido. — Beijo a cabeça da Ramona. — Com essa
princesa para ocupar seu tempo nem vai sentir a minha ausência.
— Claro que eu vou. — Minha irmã beija o meu rosto. — Aproveite
muito as suas férias, você merece.
— Eu vou sim, estou ansiosa para experimentar uma nova rotina.
— Vamos? — Paolo pergunta. — Não quero que se atrasem.
— Estou pronta — digo ao ir beijar Caterina, que sorri animada com a
minha presença.
A cada dia ela está mais bonita, com seus lindos cabelos ruivos de
cachinhos fofos. Ela é uma mistura perfeita dos pais, mas a personalidade já
deu para notar que é idêntica a do meu irmão.
Passo por mais uma sessão de abraços com minhas irmãs e cunhada, até
que sigo Paolo ao lado da nossa mãe, que também se despede de todos.
Quando entro no carro e o veículo começa a se afastar da minha casa, sinto
uma sensação estranha, como se eu estivesse para entrar em um novo mundo.
Não sei ao certo o que vou encontrar em Nova Iorque, mas qualquer
coisa é melhor do que a vida que eu tinha quando era casada. Nada que possa
me acontecer a partir de agora irá se comparar a viver dentro do inferno.

Sorrio quando avisto Nero na área de desembarque ao lado da sua irmã


Giada, faz tanto tempo que não a vejo, temos praticamente a mesma idade, eu
estou com vinte e três e, ela acabou de fazer vinte. Giada tem uma beleza
vibrante, com encorpados cabelos castanhos e olhos cor de amêndoa.
— Ella, você está tão linda. — Giada corre para me abraçar. — Seja
bem-vinda a Nova Iorque.
— Quanto tempo. — A última vez que a vi foi no casamento do Paolo.
— Estou empolgada para me divertir por aqui.
— Nós vamos aproveitar muito — Giada fala empolgada — Você não
vai ter tempo de descansar.
— Assim eu espero. — Nero apoia a mão na minha cabeça com um
discreto sorriso.
Ele tem um ar de mistério, seus cabelos e olhos são castanhos, uma
barba rala, emoldura o seu rosto e, a tatuagem de águia que é o símbolo da
Famiglia nova-iorquina se destaca em sua garganta.
Quando eu era adolescente tinha uma paixão platônica pelo meu primo,
Nero não tem uma beleza clássica, ele é rude, mas o seu charme envolve
qualquer pessoa, principalmente quando faz sua cara de mau.
Já não tenho ilusões com ele, acho que nunca vou ter por nenhum
homem, porém, não posso negar que o meu primo chama a atenção por onde
passa.
— Tudo bem, pequena? — Ele beija o meu cabelo. — Espero que
tenham feito boa viagem. — Os olhos dele vão para a minha mãe. — Como
está, tia?
— Cansada, odeio aviões, eu me sinto claustrofóbica. — Ela revira os
olhos.
— Vamos para casa, a mamãe está ansiosa para vê-las. — Nero ergue
uma sobrancelha para os dois seguranças que o meu irmão enviou na nossa
cola. — Eu avisei ao Paolo que já tinha homens para cuidar de vocês.
— Ele achou apropriado nós termos a nossa própria segurança —
minha mãe comenta.
— Seu filho é insuportável, tia. — Nero apoia a mão na base da minha
coluna. — Vamos embora, tem uma recepção animada esperando vocês.
— Como assim recepção? — Ergo o rosto para poder encará-lo.
— Você vai descobrir em breve. — Ele pisca escondendo um sorriso,
enquanto nos encaminha para a saída do aeroporto.
Quando Nero disse recepção, ele esqueceu de avisar que tínhamos uma
festança em nossa homenagem. A cobertura dos meus tios está repleta de
convidados. Eu não esperava ver tanta gente.
— Você ficou ainda mais bonita do que me lembro — Eros, o primo
por parte de pai do Nero e, futuro Consigliere da Famiglia comenta ao parar
ao meu lado. — Foi bom saber que está viúva, nunca gostei do seu falecido
marido.
— Então, temos algo em comum, sempre odiei Carmelo. — Os olhos
de Eros se fecham em uma fenda quando sorri.
Ele não é exatamente bonito, Eros possui uma beleza cinematográfica.
Sua pele é naturalmente bronzeada, o cabelo é repicado, na altura do pescoço
e, uma franja estilosa cai por sua testa, deixando-o com um visual moderno.
Seus olhos têm um tom azul-metálico, com raios dourados explodindo
por sua íris, um sorriso sedutor completa o seu visual pecaminoso. Se eu não
me engano ele tem vinte e seis anos, é alguns meses mais novo que Nero.
Ficar interessada por sua figura sexy é bem fácil, se eu fosse uma mulher
comum certamente estaria dando abertura para que ele se aproximasse.
— Morrer como um traidor do clã foi bem a cara daquele maldito, ele
nunca foi digno de se unir a sua família, o seu pai fez um mau movimento ao
te casar com ele.
— O meu pai quis me destruir e de certa maneira conseguiu. — Sinto o
toque da mão de Eros no meu cabelo.
— Passou, Fiorella, você está em outro momento, aproveite essa nova
oportunidade que está tendo.
— Nada é tão simples. — Experimento o meu vinho. — Certas coisas
que nos acontece marcam de uma maneira que você não consegue
simplesmente abandonar. Ele conseguiu me quebrar, mesmo eu tentando
resistir, Carmelo feriu minha alma.
— Ele está morto, lembre-se disso quando os demônios gritarem na sua
cabeça. Você venceu e, hoje é livre.
— As mulheres da máfia não são livres.
— Estamos em um novo tempo, você pode ter voz.
— Não, no meu clã. — Sei que aqui as coisas são diferentes, mas em
Roma as tradições são rígidas. — Eu não quero me casar, Eros, pensar nisso
me causa um temor que não sei colocar em palavras.
— Então, não pense, só aproveite Nova Iorque, aqui você vai ter muitos
lugares para se divertir e se reencontrar.
— Talvez eu tenha mais liberdade quando a minha mãe for embora. —
Ergo o queixo na direção dela, que nos observa atentamente parada ao lado
de Serena, irmã mais nova do meu primo. — Ela não está feliz com a nossa
conversa.
Eros a encara, em seguida ergue o copo de uísque em um brinde
provocativo. Minha mãe faz uma careta e me lança um olhar reprovador. A
fama de Eros é de ser um galanteador, ele nunca fica mais de uma noite com
a mesma mulher, estar perto dele não é aconselhável quando você é uma
recém-viúva.
Só que eu não ligo, até porque não tenho interesse nele, Eros é o tipo de
homem que eu não perderia meu tempo, mesmo que tivesse disposta a
encontrar um relacionamento.
— Vamos esperar ela voltar para casa, aí eu te levo nos melhores
lugares desta cidade.
— Não quero confusão. — Ele sorri.
— Você veio para Nova Iorque, baby, aqui é a terra da confusão. —
Ele bate o copo no meu, exibindo um sorriso de lado, que indica que vai
aprontar.
Conheço bem essa peça, Eros não tem limites e eu vou precisar me
manter longe, para ele não me jogar em alguma furada.
Levo a xícara de café até os lábios, enquanto ouço minha secretária
pontuar alguns encontros importantes da minha agenda. Quando eu decidi
abrir minha empresa de jogos eletrônicos, não imaginei a sobrecarga de
trabalho que teria. Amo o que faço, criar jogos é um grande prazer, mas
assumir a maior parte dos projetos acaba sendo estafante.
Tenho um CEO que administra tudo, mas eu sou o presidente da
empresa, é graças ao meu rosto e status social que a Cassel Company
Eletronic se transformou em um sucesso meteórico, preciso estar
pessoalmente à frente dos negócios para atrair o maior número de
investidores.
— Será um dia intenso — digo ao descartar a minha xícara. — Acho
que preciso de umas férias.
— O senhor não tem tempo para férias. — Meghan me lança um olhar
aguçado. — Está no ápice do sucesso, aproveite.
Nossa conversa é interrompida com o toque do meu celular, sorrio ao
ler no visor o nome da minha mãe. Ela me liga com frequência, a rainha Ava
não cansa de lamber as suas crias.
— Como está a minha pessoa favorita? — pergunto sem esconder o
sorriso.
— Esperando você largar tudo aí e vir ficar comigo.
— Sabe que pode vir até aqui, não é mesmo?
— Eu sei, meu amor, mas seu pai não consegue uma abertura na
agenda para que possamos ir até você.
— Venha sozinha, mãe, o rei pode viver sem a sua presença.
— Martin anda cada dia mais grudado a mim, se eu viajar sem ele irá
fazer um drama.
Deve ser sensacional estar com a mesma pessoa por mais de trinta anos
e ainda assim amá-la incondicionalmente. O amor dos meus pais é um dos
mais bonitos que já vi, eles não se desgrudam nem por um segundo.
— Seu marido é bem grandinho, deixo-o se virar sozinho. — Ela solta
uma risada.
— Vou tentar convencê-lo a passar uns dias aí, sinto falta dos meus
filhos, Hill anda tão atarefada com o final da faculdade, quase não temos
tempo de nos falar.
— É um período difícil, mas em breve passa e aí terá sua filha de volta.
— Ela conversou com você?
— Nos falamos há alguns dias, mas não me disse nada demais.
— Acho que Hill quer seguir seus passos e ficar na América, estou um
pouco aflita, dois filhos longe é demais para mim.
Não posso dizer que estou surpreso com esta notícia, Hill ama a vida
aqui nos Estados Unidos, então, optar por ficar no país não seria novidade.
— Não sofra por antecedência, espere para ver o que ela vai decidir, a
senhora sabe que não pode prender os filhos a vida toda sob suas asas.
— Vocês têm compromissos com o reino, não podem simplesmente
morarem em outro país. — Inspiro fundo, este é sempre um assunto delicado
entre nós.
— Mitch é o príncipe herdeiro, ele está aí, eu e Hill não precisamos ser
figuras decorativas, podemos ter nossas vidas.
— E por que não podem viver aqui? Sinto tanta falta de vocês. — Lá
vem ela com o drama.
— Precisamos seguir nossos caminhos, mãe, é assim que funciona. —
Ela fica em silêncio.
— Vocês não deveriam ter crescido, eu era mais feliz com todos
correndo pela casa. — Suas palavras me fazem sorrir.
— Não vou negar que também era feliz nesse tempo, hoje o trabalho
me consome.
— Vá devagar, filho, você não precisa de toda essa loucura.
— Gosto do que faço, me ajuda a distrair a mente.
— Eu te amo, querido, meu sonho é te ver livre do passado.
— O passado é parte de quem somos. — Olho para o horizonte, mas
me nego a deixar as lembranças me sufocarem. — Preciso desligar, Meghan
acaba de me passar uma agenda insana, hoje será um dia turbulento.
— Se cuida, meu anjo.
— Não se preocupe, te amo. — Ela sorri e desliga.
Posso ter críticas sobre alguns aspectos da minha vida, nunca sobre a
minha mãe. Ela é uma das melhores pessoas que conheço, difícil encontrar
alguém com um coração tão generoso quanto a rainha Ava.
— Vamos começar a trabalhar? — pergunto à Meghan quando me
levanto.
— Só esperando o senhor.
Começo a ditar ordens para tentar acelerar o dia e, quem sabe, sair um
pouco mais cedo da empresa.

Aperto o dedo médio e o polegar entre os olhos, ainda estou no início


da tarde e já me sinto exausto. Tudo o que eu queria era uma bebida e alguém
para me distrair.
Ergo os olhos quando ouço uma batida na minha porta, Meghan avisa
que Scott, o meu CEO, está querendo falar comigo. Enrugo a testa surpreso,
neste horário normalmente ele está envolvido no trabalho. Peço que o deixe
entrar e não demora para ela fechar a porta quando ele entra na minha sala.
— Espero não estar te atrapalhando muito.
— Você nunca atrapalha. — Faço um gesto para ele se sentar. — O que
aconteceu para estar aqui a essa hora? — Scott abaixa os olhos, indicando
que tenho um problema à frente.
— É um assunto difícil, Thomas, mas não posso mais adiar. — O meu
corpo enrijece, o olhar dele indica que não vou gostar do que irá me dizer.
— Apenas fale, Scott. — Aguardo para descobrir o que está deixando-o
tão aflito.
— Venho enfrentando alguns problemas de saúde nos últimos meses,
precisei inclusive me ausentar do trabalho em parte do dia para fazer alguns
exames. — Não o interrompo apenas espero para saber, por onde vai seguir.
— Infelizmente o prognóstico não é bom, eu vou precisar de um longo tempo
para me tratar.
Encaro Scott, preocupado ao sentir o quanto ele está aflito. Quando
criei a empresa, fui em busca de alguém que tivesse a experiência necessária
para me ajudar a administrar o meu negócio e ele teve seu nome no topo da
minha lista.
Desde que começamos a trabalhar juntos formamos uma equipe
excelente, Scott sabe o que faz e me deixa livre apenas para recrutar novos
investidores e focar na criação dos jogos.
— O que você tem? — pergunto de uma vez, já me preparando para o
pior.
— Estou com linfoma não-Hodgkin bem agressivo, precisarei começar
a quimioterapia imediatamente. — Prendo a respiração.
Scott tem cinquenta e cinco anos, é um homem jovem, que sempre
demonstrou ter uma saúde de ferro, descobrir que ele está com um câncer é
um pouco assustador.
— Vá se tratar agora mesmo, eu estou aqui para o que precisar, só fique
bem. — Ele aperta os lábios.
— Vou lutar com todas as forças, mas o prognóstico não é dos
melhores, eu estou em uma luta às cegas.
— Já deu tudo certo, amigo. — Levanto e vou abraçá-lo. — Eu tenho
certeza de que estará conosco muito em breve, quero que se trate com os
melhores especialistas, é por minha conta.
— Agradeço à sua generosidade, mas já tenho uma boa equipe me
auxiliando.
— Ainda assim quero assumir qualquer gasto, estamos juntos nessa. —
Os olhos dele brilham com lágrimas contidas.
— Sua generosidade é emocionante, muito obrigado por me apoiar.
— Não poderia ser diferente. — Bato em suas costas. — Quero ficar
informado sobre cada passo do seu tratamento.
— Eu vou reportar cada detalhe, não se preocupe. — Os olhos dele
encontram os meus. — Você vai precisar encontrar um novo CEO para te
ajudar aqui, mas de antemão já deixo a indicação da Laura Gatti, ela é meu
braço direito, apesar de muito jovem, é um prodígio em termos de
administração e liderança.
Laura sempre está ao redor dele, já conversamos algumas vezes, mas
não sei nada sobre o seu currículo. Vou conversar com Stuart para saber a
opinião dele.
— Não se preocupe com isso, Stuart pode me auxiliar enquanto você
está se tratando, eu vou avaliar o nome da Laura enquanto fica fora.
— Se precisar contratar alguém em definitivo não tem problema, eu
aceito minha demissão.
— Apenas esqueça isso — digo bruscamente. — Você vai ficar bom e
voltar, eu me viro enquanto isso.
— Certo, você é o chefe. — Sorrimos com cumplicidade.
— Agora vá se tratar, tudo acabará bem.
— Assim eu espero. — Vejo a insegurança brilhar no seu olhar. —
Mais uma vez obrigado pelo apoio.
— Só se cuide. — Aceno enquanto Scott deixa a minha sala.
Corro a mão pelo cabelo nervoso, não sei da gravidade da doença dele,
mas pela sua expressão nervosa, não está nada bem.
Que merda! Só espero que ele fique curado e possa retomar a sua vida
normal.
— Que coisa foda — Stuart esbraveja. — Não lembro do último
resfriado que Scott teve, do nada vem essa maldita doença.
— Porra! Nem me fale. — Coço a barba. — Eu estou verdadeiramente
preocupado, a forma como ele falou da doença não foi com muita esperança.
— Vamos ser positivos, ele vai sair dessa.
— Assim espero. — Fico pensativo. — Estou preocupado com a
administração da empresa, ficará pesado para nós cuidarmos de tudo. — Stu
fica quieto enquanto o garçom nos serve mais uma dose de uísque.
— Talvez tenhamos que contratar alguém por um período.
— Scott levantou o nome da Laura Gatti, ele disse que ela é
extremamente competente, mas sei lá. — Faço uma careta. — Ela é muito
jovem.
— Nós também somos e estamos dando conta de tudo.
— Quanto a isso você tem razão.
— Vamos com calma, eu vou levantar todo o histórico dela e a
colocarei para trabalhar diretamente comigo. Terei uma opinião sobre ela em
pouco tempo.
Corro a ponta do dedo pela sobrancelha, avaliando a sua proposta.
— Certo, veja como ela se sai.
— Apenas fique tranquilo, tudo vai dar certo.
Obviamente eu confio nele, Stuart além de meu melhor amigo é um
mago dos números, ele sabe como ninguém avaliar alguém que seja
competente para conduzir a empresa.
— Que surpresa encontrar vocês. — Olho para o lado e vejo Nero
juntamente com o seu fiel escudeiro, Eros.
Assim que vim me instalar em Nova Iorque conheci os dois, são
parceiros do meu irmão e estavam dispostos a investirem na minha empresa.
Eu não tinha intenção de me associar à máfia italiana, senti na pele o
quanto o mundo do crime pode ser cruel, no entanto não pude deixar de
aceitar o investimento deles.
A Cosa Nostra em Nova Iorque tem um poder imenso e está dentro dos
grandes negócios. Eu não lido com o lado obscuro deles, apenas tenho o
dinheiro “limpo” da máfia.
— Sentem aí — aponto as cadeiras vazias. — Vamos conversar um
pouco.
Rapidamente eles se acomodam e não demora muito para o garçom os
servirem.
— Como estão os preparativos para o lançamento do jogo? — Nero
pergunta.
— Estamos apenas preparando o marketing, em breve anunciaremos a
propaganda.
— Tenho certeza de que será um sucesso, você sabe o que faz — Eros
comenta.
— Assim espero, meus investidores não ficarão felizes se eu não
emplacar esse lançamento. — Ergo uma sobrancelha provocativamente e
arranco um sorriso de Nero.
— Eu espero que você não foda meu dinheiro — ele diz com
descontração.
— Gosto de dinheiro, a ideia é fazer deste lançamento um sucesso
astronômico.
— Você vai conseguir, sabe bem o que faz. — Gosto de saber que
confia em mim, Nero é uma pessoa crítica e saber que ele aposta no meu
trabalho me deixa mais confiante.
— Teremos um evento para comemorar o lançamento, vou enviar um
convite para vocês, quero algo grandioso, várias celebridades estarão
presentes.
— Gosto da parte das celebridades, elas sempre trazem uma boa
aventura. — Eros pisca ironicamente. — Eu quero um convite extra, tenho
uma pessoa especial para levar.
— Pessoa especial? — Nero o encara com curiosidade. — Quem é?
— Uma italiana linda, ela vai gostar dessa festa.
— Eros, por favor, não me cause problemas.
— E desde quando eu te causo problemas? — pergunta se fazendo de
bom moço. — Só quero que a ragazza se divirta, a festinha do príncipe será
um bom momento para ela se distrair.
— Vocês estão com uma convidada da Itália? — pergunto ao beber
meu uísque. .
— É a irmã do Paolo, ela veio passar um tempo conosco depois de ficar
viúva — Nero explica.
— Leve-a na festa, eu vou ficar feliz em conhecê-la — Stuart comenta
animado, mas Nero enrijece a expressão.
— Minha prima não está disponível.
— Stu, está brincando. — Tento conter um conflito. — Nós sabemos
como funciona a máfia. — Olho feio para meu amigo. — Mas leve sua
prima, a festa será animada.
— Claro que ela vai, será minha acompanhante — Eros diz claramente
com más intenções.
— Pare de cercar Fiorella, eu não te quero perto dela. — Nero alerta o
parceiro.
— Você não manda em mim. — Os dois se encaram intensamente.
Puta que pariu! Só me faltava eles brigarem aqui, sei bem o quanto
Nero pode ser intransigente.
— Vamos beber, meninos, esqueçam a festa por enquanto.
Tento conter o conflito, não vim me distrair para acabar com dois
mafiosos tendo um atrito, bem na minha frente.
Os olhos da minha mãe brilham quando a vendedora expõe um elegante
colar de pérolas. Ela e a irmã decidiram passar uma tarde de compras nas
mais elegantes lojas de Nova Iorque.
Estou há uma semana na cidade e não pude fazer quase nada com a
mamãe vigiando os meus passos. Parece até que sou uma criança, não tenho
sequer autonomia de escolher onde quero ir.
Estou contando os dias para ela ir embora, quero sair com Giada,
conhecer os restaurantes, ir às casas noturnas da máfia e assistir algum
espetáculo da Broadway.
— Que desânimo o seu. — Giada se aproxima de mim ao finalizar uma
ligação. — Acho que você é a única mulher que conheço a não apreciar uma
tarde de compras.
— Eu gosto de compras, mas não quando sou obrigada a vir nas lojas
que nossas mães querem, só desejo conhecer a cidade do meu jeito.
— Você vai, só tenha calma. — Ela enlaça o braço no meu, enquanto
andamos entre os diversos expositores. — A tia vai embora na próxima
semana e aí ganharemos Nova Iorque do nosso jeito.
— E Nero vai deixar? Sinto que aqui vou ser ainda mais vigiada do que
em Roma.
— Relaxa, sei o que estou falando.
— Nero é menos truculento que Paolo, você tem sorte, as regras aqui
são mais brandas.
— Bem... Paolo é bem difícil, não nego que o meu irmão é mais calmo,
só não se engane demais, ele sabe ser durão quando a ocasião pede, eu tento
sempre não o desagradar, aprendi a ganhar à sua confiança.
— Agradar ao Paolo é um pouco difícil, acho que só a esposa faz isso.
— É o amor. — Giada dá de ombros. — De acordo com Nero o nosso
primo é louco pela mulher.
— Acho estranho amor na máfia, nosso mundo é tão frio e sombrio.
— Meus pais se amam do jeito deles, por mais que meu pai tenha sido
um canalha quando jovem, sempre o vi se esforçando para deixar a mamãe
feliz. Ela ainda é nitidamente apaixonada pelo marido, morre de ciúmes
quando ele vai aos encontros privados do Conselho.
— Seu pai não foi um homem cruel como o meu.
— Graças a Deus ele sempre teve equilíbrio, ao menos com a família.
— Meninas, vocês não vão comprar nada? — Tia Fausta nos pergunta.
— Estamos bem, mãe, mas vamos tomar um café do outro lado da rua
enquanto vocês se divertem.
— Acho melhor não, prefiro que Fiorella fique por perto. — Como
sempre minha mãe é uma estraga-prazeres.
— Tia, apenas aproveite a tarde com a sua irmã, temos bons seguranças
nos vigiando. — Sem esperar por uma posição das nossas mães, Giada faz
sinal para o seu segurança nos seguir.
— Como conseguiu calar a minha mãe?
— É costume, eu faço isso o tempo inteiro com Nero e o papai. — Ela
me lança uma piscadinha.
Preciso aprender a me impor assim, estou cansada de ouvir o que as
pessoas desejam para a minha vida. Espero aprender algumas lições com a
minha prima, assim eu luto pela minha paz quando eu tiver que retornar para
casa.

— Como estão as coisas? — Gio me pergunta assim que atendo a sua


ligação.
— Do mesmo jeito que nos falamos da última vez, a mamãe não larga
do meu pé, ela está neurótica que alguém comece a falar de mim por estar
viúva em uma cidade estranha.
— Quando ela irá aprender a não ser tão rigorosa? Será que tudo o que
você passou não a ensinou nada? Eu não entendo nossa mãe, sinto tanta raiva
deste seu comportamento.
— Eu já desisti de entender, ando cansada demais com toda sua
vigilância, não vejo a hora que volte para Roma, aí sim eu vou aproveitar a
minha viagem.
— Não vai demorar, semana que vem ela já estará de volta.
— Estou ansiosa por isso. — Ouço uma batida na porta e vou verificar
quem é.
— Olá! — Arregalo os olhos ao encontrar Eros com uma mão apoiada
na parede e parte da franja caindo sensualmente pela sua testa.
Ele veste uma blusa preta de seda com mangas arregaçadas, calça
social da mesma cor e o seu perfume amadeirado flutua até mim.
Se eu tivesse que defini-lo em uma palavra seria pecado. Eros exala
sensualidade, o pior é que o desgraçado sabe do próprio charme, usa e abusa
do seu poder de sedução.
— Arrume-se baby, vamos sair, vista algo sexy.
— Como assim, vamos sair? O que está aprontando?
— Ouvi dizer que você anda entediada com a sua mãe controlando os
seus passos, eu peguei autorização com o chefão para você ir à festa de
aniversário do filho de um dos tenentes.
— Tio Gastone me deixou ir?
— O futuro Capo deixou, ele estará lá também, agora não demore, eu
vou beber algo enquanto se arruma. — Ele não me espera dizer mais nada,
apenas sai andando pelo corredor.
— Ella, o que está acontecendo? Quem estava falando com você?
— Eros veio me convidar para uma festa.
— Que bom, vá aproveitar e ignore a nossa mãe.
— Claro que eu vou me divertir, Nero estará lá, ela não vai poder
contrariá-lo. — Sorrio animada. — Preciso me arrumar.
— Tudo bem, só me diga uma coisa.
— O que é?
— Eros continua lindo? Que Dom não me ouça, mas na última vez que
estive em Nova Iorque fiquei meio que apaixonada por ele. — Essa eu não
sabia, mas não a julgo, quando somos adolescentes acabamos nos
apaixonando a cada hora.
— Ele é um homem feito agora, você deve imaginar o quanto está
irresistível.
— Gosta dele? Eros é da máfia, vocês podem ficar juntos. — É irritante
a mania das pessoas viverem pensando em me casar com alguém.
— Ainda que eu gostasse dele, a família de Eros não aceitaria uma
viúva para o futuro Consigliere — digo com amargura. Ser viúva jovem na
máfia te faz ser uma pária. — Além disso Eros não é o tipo de homem que eu
escolheria para mim, ainda que seja absurdamente lindo.
— Que pena, eu queria tanto que você tivesse alguém como Dom do
seu lado, meu sonho é que encontre o amor.
— Cada um tem o que merece nesta vida, Giovanna, agora preciso
desligar, Eros não é muito paciente.
— Bom passeio, amanhã quero saber cada detalhe.
— Eu vou contar. — Apesar de querer conversar com a minha irmã,
encerro a ligação.
Estou empolgada em sair pela primeira vez a noite e sem minha mãe
me rodeando. Só espero que Eros se comporte, posso achá-lo lindo, mas eu
não estou disponível a nenhum tipo de envolvimento, na verdade, talvez eu
nunca esteja.
Remexo o palitinho com a azeitona que enfeita o meu drinque. Encaro
o céu de Nova Iorque e observo os prédios ao redor. Esta é a cidade que
nunca dorme, as ruas sempre estão movimentadas.
Descanso os braços no gradil, ao fundo a música eletrônica toca na
sala, onde grupos de jovens dançam felizes. Tenho a mesma idade que a
maioria das pessoas aqui, mas me sinto uma verdadeira anciã depois de tudo
o que passei.
Às vezes sonho em acordar e não ter nenhuma lembrança, apagar em
definitivo os últimos anos da minha vida. Talvez assim eu me transformasse
em uma garota comum e conseguisse me soltar.
— O que uma mulher tão bonita quanto você está fazendo aqui
sozinha? — A voz inesperada faz meu corpo enrijecer. — Muito prazer, sou
Joseph Gringer e você é? — Encaro-o desconfiada.
— Fiorella Torcasio, sou prima do Nero Montanari. — Ele ergue as
sobrancelhas.
— Você não é da cidade, nunca te vi por aqui.
— Cheguei há uma semana.
— Hummm. — Joseph coça a barba.
Ele é um homem bonito, tem olhos escuros e cabelo castanho curto. A
camisa social tem dois botões abertos e um terno cor de chumbo cai por cima
dela. Vejo tatuagens escaparem através do espaço exposto pelos botões, ele é
sexy, ainda assim, o quero longe.
— É italiana. — Faço um gesto positivo e volto a me apoiar no gradil,
não estou interessada em falar com ele, espero que entenda isso e vá embora.
— Quando cheguei te vi conversando com Piero, porém jamais
imaginei que seriam parentes.
Piero é o irmão mais novo de Nero, ele estava viajando e chegou hoje à
tarde, nos reencontramos aqui na festa. Não somos de nos falar, ele virou um
bad boy e dá muito trabalho para o pai, mas nesta noite foi bem gentil ao
conversar comigo.
— Somos bem diferentes, meu primo puxou ao pai.
Realmente se parece muito com meu tio, ambos têm cabelos claros e
olhos puxados para o verde. A personalidade também é parecida, a arrogância
transborda quando eles falam.
— Quando penso em italianos e seus descendentes sempre imagino que
tenham a pele dourada como a sua. — Ele se aproxima perigosamente. —
Vamos dançar? — Olho para a mão que estende para mim.
— Cai fora, Joseph, ela está acompanhada. — Eros joga a franja para o
lado interrompendo a nossa conversa.
— E quem está com ela? — Os dois se encaram com tensão.
— Está olhando para ele. — Inclinando a cabeça, Eros cruza os braços
e espera pela resposta do outro.
— Qual é? Você não pode ser tão rápido assim, ela está na cidade há
uma semana.
— Só preciso de um minuto. — Ele para ao meu lado. — Vamos
dançar, preciso deixar claro que você é zona proibida.
— Eu não sou um objeto para você colocar uma placa de indisponível.
— Antes fosse, eu te comprava e carregava para minha cama. Agora
vamos e você a esqueça, não arrume briga com Nero, sabe como ele é.
Joseph não se move quando nos afastamos, ele apenas nos observa com
um discreto sorriso.
— Vocês são rivais?
— Não, eu não perco tempo com tipos como ele. — Parando de andar
me encara. — Joseph é filho do prefeito da cidade, ele come até a namorada
do irmão, fique longe. — O encaro assustada. — Estamos em Nova Iorque,
baby, aqui pode não ser a cidade do pecado, mas é a cidade da falta de
escrúpulos.
Pegando o meu copo ele o coloca sobre uma pequena mesa, em seguida
envolve a minha cintura me levando para o meio das pessoas que dançam. Ao
fundo Nero nos observa, ele troca um olhar com o primo, até que volta a
conversar com duas mulheres que quase se jogam sobre o meu primo.
Esse universo deles é muito diferente do meu, acho que vou precisar
ficar mais atenta para não me meter onde não devo.
Hoje é um dia especial, meu primo assumirá a liderança do clã, desde
cedo o apartamento dos meus tios está pura confusão com a preparação do
jantar familiar e depois teremos a recepção para alguns convidados.
A primeira parte da cerimônia de posse é feita apenas entre os homens
da máfia, é um evento restrito aos líderes, nós mulheres somos proibidas de
participar, como sempre o mundo machista que vivemos fala mais alto.
Meu tio não vai se afastar completamente da máfia, ele assumirá o
lugar que o seu falecido pai ocupava. Será o Boss, o grande chefe, mas a sua
função, de acordo com a tradição, é a partir de agora manter a Famiglia
unida, quem passa a coordenar todos os negócios é Nero, ele será o homem a
ser temido por todos.
Ao contrário de Paolo meu primo é mais centrado, ele me lembra mais
Domênico, fala pouco, segura as emoções e tem um humor cáustico, não vive
emburrado como o meu irmão.
Claro que ele não é um homem bom, como Capo precisa ter pulso forte,
mas para a família sempre se apresenta como uma pessoa equilibrada, sem a
maldade que eu estava acostumada a viver com o meu pai e depois Carmelo.
— Eles estão chegando. — Minha tia anuncia sorridente.
Agora que o marido não tem mais responsabilidade administrativa com
a máfia, vai poder viajar como gosta, inclusive eles estão de viagem marcada
para a Ásia, irão viajar por alguns países de lá.
O primeiro a passar pela porta é tio Gastone, ele caminha com o rosto
erguido, exibindo toda a sua arrogância. Logo atrás vem os seus dois filhos,
Eros acompanha os meninos de perto, agora ele é Consigliere e será o braço
direito do primo.
— Meus parabéns, filho. — Tia Fausta beija os dois lados do rosto do
novo Capo. — Tenho certeza de que será um grande líder, assim como seu
pai foi.
— É o que todos esperamos — Piero comenta com desdém, ele odeia
saber que não irá ocupar esse cargo, o seu sonho era ser o primogênito.
— Se comporte. — O pai o recrimina. — Estou farto da sua
indisciplina.
Piero apenas dá de ombros e vai para o bar pegar uma bebida.
Sigo logo atrás da minha mãe para falar com Nero, daqui a pouco a
família de Eros chega e iniciaremos o jantar, pois ainda teremos a recepção
para o restante da alta classe do clã.
— Parabéns, primo, estou feliz com o seu novo cargo, prepare-se para
trabalhar muito. — Nero me abraça, beijando em seguida o topo da minha
cabeça.
— Ao menos por hoje você podia não me lembrar como minha rotina
será um inferno.
Noto que sua mão tem um curativo, para ser um Capo é preciso que
jure lealdade à Famiglia com sangue, é uma tradição que temos em Roma e
foi mantida quando a Cosa Nostra veio expandir os negócios na América.
— Foi por impulso.
— Eu também ganhei novo cargo, mereço um beijo da bela italiana. —
Nero muda a expressão e encara o amigo com desagrado.
— Já conversamos sobre suas piadas sem graça.
— Não estou falando uma piada. — Eros escorrega os olhos pelo meu
corpo. — Porra! Você está linda. — Ele segura a minha mão e a leva até os
lábios. — Assim eu me apaixono.
— Eros... — Meu primo rosna, mas sua reprimenda não vai adiante,
pois os pais do seu Consigliere chegam, assim como os dois irmãos dele.
Os meninos não se parecem com o irmão, eles têm a pele mais pálida,
cabelos castanhos e olhos tão negros como a noite, o cabelo é um corte
tradicional, longe da modernidade de Eros. Não são homens simpáticos,
fechados como o pai. Eros puxou a beleza e simpatia da mãe, lembro que da
última vez que vim aqui, antes de me casar, ela me levou para um dia de
SPA, eu amei participar daquele encontro.
— Estou de olho nesse tal de Eros, não ando gostando da aproximação
dele com você. — Reviro os olhos ao ouvir minha mãe resmungar mais uma
vez.
— Ele é apenas um rapaz divertido, gosta de provocar, nada demais.
— Você é uma viúva, não é mais pura, homens como ele querem se
aproveitar, pois sabem que já perdeu o que mais tinha de valor. — Olho para
ela sentindo uma raiva intensa me consumir, abro a boca para respondê-la,
mas me lembro que daqui a dois dias eu estarei longe da sua presença tóxica.
— É uma pena que tenha chegado nessa altura da vida e não tenha
aprendido nenhuma lição, eu tenho dó da senhora — digo ao me afastar e
procurar por alguma das minhas primas.
Tentarei ficar longe da minha mãe até que vá embora, evitar um
conflito entre nós é a melhor opção, se eu perder o controle ela pode
convencer Paolo a me levar de volta para casa e, tudo o que eu não quero é
ter que ficar sob o mesmo teto dela com toda a mágoa que estou sentindo ao
ouvi-la a cada segundo que preciso me casar.

O jantar transcorre com tranquilidade, estou tão acostumada com


encontros conflituosos, que ter todos conversando sem tensão é até estranho.
Meus olhos encontram com Eros, ele pisca, o desgraçado sabe ser
charmoso, uma mulher comum já estaria babando por ele.
— Cuidado. — Piero nota nossa troca de olhares. — Esse babaca pode
parecer inofensivo, mas eu já o vi quebrar uma infinidade de mulheres
experientes, uma viuvinha como você não duraria muito nas mãos dele. —
Não consigo identificar se o desprezo na voz do meu primo é por eu ser uma
viúva ou por Eros ser um homem mais atraente que ele.
— Não tenho interesse nele, fique tranquilo. — Ergo um canto dos
lábios em um sorriso contido.
— Eu não me importo de verdade com você, Fiorella, por mim pode ir
para a cama com ele, mas eu me preocupo com o nome da minha família,
uma viúva se envolvendo com a chefia do meu clã não é algo que eu goste.
O que deu nele hoje? Desde que nos reencontramos foi sempre
educado, agora está com uma agressividade desproporcional.
Inspiro fundo antes de respondê-lo, sei do seu temperamento instável e
não quero causar um conflito.
— No que depender de mim o nome da sua família permanecerá ileso,
não vim atrás de um marido, se eu for forçada a me casar, farei isso em
Roma.
— Para o que Eros quer de você, não é necessário se casar. — Nos
encaramos, quero soltar um comentário ácido, mas minha atenção se perde
em Giada, que me pergunta o que vou fazer amanhã.
Assim que o jantar termina os primeiros convidados chegam. A maioria
fica curiosa com a minha presença e vários homens do clã me olham com
interesse, em especial os casados. Como bem disse Piero, uma viúva é
atrativa para sexo sem compromisso.
Sinto o nojo me invadir com cada olhar lascivo que recebo, esses
homens são completamente podres. Começo a me sentir sufocada, vou para o
espaço externo do apartamento duplex do meu tio. Eu não sei se vou suportar
todo o julgamento das pessoas, talvez seja melhor voltar para casa, lá ao
menos tenho Paolo que intimida a todos, ninguém se atreve a ser deselegante
comigo.
— O que foi? Por que está aqui sozinha? — Nero pergunta ao se
aproximar.
— Não é nada, eu só precisava de espaço. — Ele aperta os olhos.
— Deveria saber que não gosto quando mentem para mim. — Certa
irritação passa por seu olhar, mas ele se controla.
— É que... — Penso no que falar para que ele não entenda errado e
acabe causando algum atrito entre seus homens. — Ser uma viúva não é fácil,
para mim é incômodo os olhares de cobiça que recebo.
— Se alguém te disse algo ofensivo, te ordeno que me conte agora,
embaixo do meu teto ninguém desrespeita a minha família. — Fico nervosa.
— Ninguém se atreveria a me dizer nada, mas as pessoas não
controlam a maneira que me olham. Sou uma novidade em meio ao clã de
vocês, estou achando que não é uma boa ideia ficar aqui, vou voltar para
Roma com a mamãe.
— Claro que não vai. — Rapidamente refuta minha fala. — Você vai
ficar aqui e irá ignorar a todos, caso alguém ouse ser indelicado, apenas me
comunique, tenho certeza de que essa pessoa nunca mais falará com você. —
Ele apoia a mão na minha cabeça. — Agora vá se enturmar, você veio aqui
para respirar novos ares, não permita que ninguém tire a sua paz.
Não discuto com ele, volto para a festa, mas ainda me sinto reticente
em ficar aqui, sinto que estarei mais segura perto do meu irmão.

O dia da viagem da mamãe chegou, surpreendentemente estou agitada


com a sua partida, por mais que brigamos, ela é uma fonte de segurança.
Depois de tudo o que passei, me transformei em uma pessoa vulnerável, eu
me sinto mais confiante quando tenho o meu núcleo familiar por perto.
Insisti em ir embora, mas tanto Giada quanto Nero foram contra e me
convenceram a ficar ao menos um mês. Estou um pouco arrependida de ter
aceitado a proposta deles, mas já que dei a minha palavra que ficaria,
enfrentarei esse mês longe de casa.
— Sabe que pode voltar quando quiser, não é? — minha mãe pergunta,
ela notou a minha insegurança com a sua partida.
— Eu sei, combinei com Nero de passar este mês aqui, em breve estarei
em casa.
— Estou contando os segundos, tenha juízo, filha, mesmo seu primo
sendo responsável por você, esta cidade é perigosa.
— Não se preocupe, a senhora mesmo já me disse que não tenho mais
valor. — Ela quebra o nosso olhar.
— Filha eu não quis...
— A senhora só foi honesta, está tudo bem. — A abraço. — Assim que
pisar em Roma me ligue.
— Sei que às vezes sou dura, mas quero só o seu bem, eu amo todos
meus filhos.
— Nunca duvidei do seu amor, foi o único que recebi, meu pai nunca
foi capaz de dedicar a mim nenhum afeto.
— Ele te amou do jeito dele. — Balanço a cabeça em negativa.
— Talvez ele tenha amado Chiara, ela sempre foi a preferida, mas ao
resto dos filhos nunca foi capaz de ter um pingo de ternura. — Controlo a
vontade de chorar.
— Vamos, tia? — Nero pergunta ao verificar o relógio. — Estamos
com a hora no limite, não quero arriscar enfrentar algum congestionamento e
nos atrasarmos. — Mais uma vez ela me abraça.
— Se cuida, filha — aceno para ela quando se afasta.
Fico a observando partir e um misto de alívio e apreensão cruza o meu
corpo.
O que será que Nova Iorque tem reservado para mim ao longo desse
mês?

Desço as escadas em busca de uma das minhas primas, a sala está


silenciosa, com Nero no comando, meus tios viajaram dois dias após a
partida da minha mãe para Roma.
Não encontro nenhuma das meninas, mas ouço vozes do corredor que
leva até a cozinha. Começo a seguir para o local querendo descobrir onde
minhas primas estão, mas ouço a porta da entrada bater.
Olho para trás e vejo meu primo chegando ao lado do seu Consigliere.
Imediatamente os olhos de Eros caem em mim, ele sorri maliciosamente ao
encarar minhas pernas desnudas. Como estamos chegando perto do verão, o
tempo está extremamente agradável, por isso decidi colocar um vestido curto,
com uma saia rodada.
— Você está linda. — Seu sorriso torto deixa claro o quanto está
gostando do que vê.
— Pare — Nero ordena. — Cadê as meninas? — pergunta das irmãs.
— Eu ia procurar por elas agora.
Antes que Nero diga qualquer coisa Giada aparece na sala secando a
testa com uma toalha e com roupas de malhação. Como não poderia ser
diferente, o apartamento tem uma academia particular e minha prima a
frequenta quase todos os dias.
— Uma já apareceu — digo ao meu primo.
— Aconteceu alguma coisa? — Giada pergunta.
— Nada, só queria saber onde você e Serena estavam. — Nero descarta
as chaves e celular na mesa de centro.
— Serena ainda deve estar no quarto. — Ela olha para Eros. — Não é
cedo demais para estarem em casa? Vocês agora são chefes, os
compromissos dobraram.
— Eu sei dos meus horários — observo quieta Nero despejar seu mau
humor nela. — Providencie o jantar logo, estou com fome.
— Vai ficar nos vigiando? — questiona sem esconder a chateação com
o irmão. — Não existe risco em ficarmos sozinhas aqui sem o papai.
— Giada, eu sei o que faço, agora mande servir o caralho do jantar.
Enquanto ela resmunga algo, Eros vem na minha direção com o seu
sorriso sacana.
— Tenho um convite para você — diz quando se aproxima.
— O que está aprontando agora? — Como de costume ele enrosca uma
mecha do meu cabelo no dedo.
— Preciso ir em uma festa badalada, é o lançamento de um jogo de
videogame de uma das empresas que investimos, você irá comigo, tenho
certeza de que gostará. — Ergo uma sobrancelha.
— Isso não parece um convite, você já decidiu por mim. — O safado
ergue um canto do lábio superior.
— Eu não decidi nada, mas pensei imediatamente em você.
Por que não sinto nada por ele? Eros é tão leve, sei que está interessado
em mim e, pelo que conheço, não teria dificuldade em enfrentar sua família
se nós ficássemos juntos, mas eu não consigo vê-lo além de um amigo,
pensar nele me tocando me causa medo, ainda que eu saiba que não me
machucaria.
— O que Nero acha disso?
— Ele irá também, é um dos maiores investidores, você estará segura
comigo, se assim quiser. — Ele nunca perde tempo, por isso todos fazem
questão de alertar o quanto é conquistador.
— Não tenho nada que fazer de qualquer maneira. — Dou de ombros.
— Posso ir.
— Vá fazer compras com Giada, quero você deslumbrante.
— Não preciso de roupas novas, trouxe bastante coisa.
— Baby. — Ele desliza as pontas dos dedos pelo meu braço, arrepiando
minha pele. — Compre algo novo, a festa é grande e eu quero que seja a
mulher mais linda do lugar. — Ele beija meu rosto e se afasta.
Quero muito contrariá-lo, mas algo dentro de mim se rebela e diz que
devo provocar Eros. Nunca teremos nada, mas eu gosto da maneira que me
olha, desperta em mim algo que não sei explicar.
— Uau! Esse vestido ficou perfeito em você — Giada comenta.
Olho para a minha imagem e avalio meu visual. Realmente o vestido
caiu perfeitamente no meu corpo, não é o que costumo usar, ele é brilhoso,
curto demais e modela minhas curvas, no entanto, estou fascinada por sua
beleza.
— Está fora da minha zona de conforto, mas eu o amei.
— Então é seu. — Ela segura meus ombros. — Vai arrasar na festa,
Eros vai gostar, ele está interessado em você, mas tenha cuidado, aquele
idiota só usa as mulheres.
— Já entendi o que ele quer, mas eu não estou interessada, é difícil para
mim me aproximar de um homem. — Giada fica séria.
— Ella, nem todo homem é abusivo como o seu falecido marido, você
precisa se abrir, ter novas experiências.
— Não consigo — digo segurando o choro. — Você não tem ideia do
que passei. — Minha prima me encara tensa. — Ele me violentou das
maneiras mais abusivas possíveis, eu vivi no inferno, não sei como cheguei
até aqui.
— Ahh... querida, eu lamento tanto. — Nos abraçamos. — Entendo seu
medo, mas precisa crer que existe amor neste mundo, Eros mesmo sendo um
sedutor barato, seria bom para você.
— Queria muito me abrir, mas é complicado, as lembranças do que
passei me assombram todos os dias.
— Você necessita de terapia, temos profissionais qualificados dentro da
máfia que podem te ajudar, posso marcar uma consulta para você.
— Já tentei terapia, mas não gosto de falar do que passei.
— Querida, não é questão de querer falar, precisa se abrir com alguém,
entender que as coisas possam ser diferentes. Compreendo o que passou, seus
medos, mas nem todos os relacionamentos são iguais. Você é jovem, bonita,
não pode simplesmente se apagar para o mundo.
— Vou pensar sobre isso. — Prometo.
— Ótimo. — Ela sorri. — Agora vamos escolher um sapato à altura
desse vestido, porque quero você linda nessa festa.
A animação dela me contagia, acabo esquecendo o passado e
mergulhando no novo mundo, que estou tendo a oportunidade de viver.

Jogo o meu cabelo para frente enquanto observo meu reflexo no


espelho, eu estou realmente bonita e atraente. Eros vai aprovar o vestido que
escolhi, não tenho interesse nele, no entanto, por algum motivo sinto vontade
de obter a sua aprovação.
Estou com as palavras da Giada na minha cabeça, preciso entender que
nem todo homem é um Carmelo, no entanto, me sinto presa a tudo o que vivi.
Sei que minhas irmãs são felizes no casamento, Masha ama meu irmão
e ele é bom para ela, mas eu lembro do meu pai agredindo minha mãe e meu
marido sendo um verdadeiro sádico comigo. Não é fácil esquecer tudo o que
sofri, eu me sinto completamente apreensiva ao imaginar um homem se
aproximando de mim.
É difícil acreditar em amor, paixão, companheirismo. Eu nunca tive
isso no meu casamento, desde o momento que fui destinada a Carmelo, eu
apenas sofri.
Espanto meus pensamentos e calço o sapato, escolhi um modelo alto
demais, não estou acostumada com algo assim, no entanto, necessito sair da
minha zona de conforto.
Quando estou totalmente arrumada sigo para a sala, vou esperar Giada
e Eros, bebendo algum drinque. Preparo um Martini e me sento em frente à
imensa porta de vidro.
Gosto de observar o céu noturno de Nova Iorque, existe um mistério na
noite desta cidade.
— Um milhão de dólares pelos seus pensamentos. — A voz grossa de
Eros me assusta.
— Acha que os meus pensamentos valem tanto?
— Para mim vale. — Ele para na minha frente e vai subindo os olhos
desde meus sapatos, passando lentamente por minhas pernas, até que alcança
meus olhos.
— Como consegue ser tão safado? Você não devia me olhar assim.
— Então me diga como devo olhar uma mulher tão bonita? —
Parecendo me desafiar cruza os braços musculosos.
Ao contrário do meu primo que tem um corpo esguio com músculos
discretos, Eros é extremamente forte, parece uma obra de arte em forma de
homem.
Agora é a minha vez de examiná-lo com calma. Uma calça de linho
preta modela perfeitamente as suas coxas musculosas, ele usa uma camisa
cinza de seda, com três botões abertos, mostrando a ponta de uma tatuagem.
Finalizando o visual uma corrente de ouro com um grosso crucifixo se
destaca ao redor do seu pescoço.
— Você está bonito. — Suas sobrancelhas erguem-se em surpresa.
— Obrigado, baby, formaremos um belo casal esta noite.
— Não existe esse lance de casal — digo ao me levantar. — Vou
chamar Giada. — Antes que eu me afaste ele segura minha mão.
— Sei exatamente o que passou com o puto do seu falecido marido,
mas acabou. Você precisa deixar a escuridão ir embora, se abra para a luz,
dentro do seu coração existe uma força que talvez desconheça, busque por
ela. — Fico calada quando ele beija a minha testa.
Não esperava ouvir algo assim vindo dele, suas palavras me pegaram
de surpresa e acertou um ponto profundo no meu coração.
Entendo que esteja coberto de razão, eu vou colocar um pouco de
esperança no meu coração e, assim como Giada sugeriu, irei procurar uma
terapia, preciso me abrir para tentar expurgar a dor que me consome.

Quando Eros disse que a festa seria badalada eu não esperava por tanto,
estou rodeada de grandes personalidades do esporte, música, cinema, fora, os
figurões da alta sociedade.
Apenas quando cheguei aqui é que descobri que o anfitrião é nada mais
nada menos que o príncipe do reino de Vichi, ele veio morar nos Estados
Unidos, após a faculdade e abriu uma empresa de tecnologia em jogos
eletrônicos.
O seu sucesso nos negócios chamou a atenção do meu primo, Nero
começou a investir o dinheiro da máfia na empresa do príncipe. Hoje será o
lançamento de um jogo e tudo indica que será um sucesso.
Nunca conheci pessoalmente o príncipe, já vi no passado fotos dele,
mas isso faz muito tempo, conheço apenas o seu irmão, ele foi um dos
convidados nos casamentos de Paolo e da Giovanna.
— Você precisa distrair Nero, eu quero beijar uma pessoa. — Giada
fala no meu ouvido.
— Beijar? Não pode fazer isso — digo horrorizada.
— Claro que posso, eu beijo rapazes desde meus quinze anos. — Fico
em choque. — Ella, aqui não é o seu clã, eu estudava em uma escola comum,
tinha contato com meninos.
— Já pensou se o seu pai descobre sobre isso? Você está perdida.
— Ninguém vai saber, eu sou sempre discreta.
— Não quero confusão, seu irmão está sendo bom para mim me
deixando ficar aqui.
— É só uns beijos, nada demais vai acontecer, só conversa com ele, eu
fujo para um canto escuro e beijo, não posso perder essa oportunidade, ele é
lindo.
Fico indecisa, se o irmão dela descobre essa armação, nós duas
estaremos encrencadas.
— Seja breve e por favor não me coloque em apuros.
— Eu não vou. — Ela me abraça. — Fico te devendo essa.
Balanço a cabeça e vou em busca do meu primo, ele está conversando
com algumas pessoas. Quando nota minha presença me chama para perto e
começa a me apresentar às pessoas.
Uma das meninas do grupo diz que já foi a Roma, acabamos engatando
uma conversa animada. O papo é tão bom que esqueço do tempo, assim como
Giada, que sumiu e isso não é nada bom.
— Ei! Venha dançar comigo. — Eros para ao meu lado e segura minha
mão.
— Você sumiu.
— Sentiu minha falta? — Ele apoia as mãos na minha cintura.
— Para de ser convencido. — Sorrindo, ele nos move para o meio da
pista de dança.
— Tive que resolver um probleminha.
— Com alguma mulher.
— Mulheres não são problemas, baby — diz com a boca rente ao meu
ouvido. — Você está com ciúmes de mim? Devo ficar esperançoso?
— Por que leva tudo na brincadeira?
— Devia saber que estou falando sério — não insisto no assunto, Eros
gosta de me provocar.
Danço com ele me sentindo leve, é estranho essa sensação de liberdade.
A minha vida mudou, preciso entender isso o quanto antes, o tempo de dor
passou, só as lembranças do que vivi ainda me assombram.
— Preciso ir ao banheiro — falo no seu ouvido. — Já volto.
— Vou até o bar pegar uma bebida.
— Tudo bem.
Ando entre as pessoas na direção do banheiro, pelo caminho tento
achar Giada, mas ela desapareceu. Eu espero que não entre em problemas, já
está sumida por tempo demais.
Não me surpreendo ao encontrar um banheiro luxuoso, tudo neste lugar
exala elegância.
Uso o reservado e quando saio lavo as mãos e ajeito o meu cabelo.
Quando volto para a festa sigo para o bar, mas no meio do caminho sou
interceptada por um homem.
— Você é muito linda, vamos beber algo juntos? — Olho para sua mão
que segura o meu braço.
— Pode me soltar? — Começo a me sentir agitada.
— Calma, só quero dividir uma bebida com você e te conhecer um
pouco. — Ele se aproxima ainda mais.
Cenas do meu falecido marido vindo na minha direção com o seu olhar
furioso começam a piscar na minha frente. O aperto no meu braço me lembra
de Carmelo me arrastando pela casa antes de começar a me agredir. Começo
a sentir minhas mãos suando, o meu corpo estremece ao relembrar cada
momento de dor.
— Quero que me solte — peço com a voz instável.
— Adam, solte-a. — Uma voz potente soa nas minhas costas.
— Só a estou convidando para uma bebida.
— Se não percebeu ela não quer, se afaste imediatamente. — O homem
me olha com raiva, causando um estremecimento ao longo do meu corpo.
— Tudo bem com você? — Olho para o alto e encontro um dos
homens mais lindos que já pude ver.
Ele tem o cabelo castanho bem curto, com um estiloso topete, sua barba
é rala, os olhos são dourados e sua boca tem um tom rosado fascinante.
Tenho a estranha sensação de que já o vi antes, mas duvido que se já tivesse
conhecido esse homem pessoalmente me esqueceria dele.
— Agora estou bem, obrigada pela ajuda.
— Não precisa agradecer. — Seu olhar mapeia todo o meu rosto, ele
parece me analisar atentamente.
Um calor estranho me consome pela maneira que me encara, ele tem
um olhar tão cheio de conflitos, parece que, assim como eu, carrega uma dor
profunda. Sinto uma inesperada conexão com ele, é como se nós dois
dividíssemos um grande segredo.
— Com licença, mas está na hora da apresentação. — Uma mulher
elegante avisa ao se aproximar. — Vamos para o grande ato, senhor?
— Claro, Meghan — responde sem tirar os olhos de mim. — Preciso
trabalhar um pouco, mas eu queria te oferecer uma bebida mais tarde, ficaria
feliz se aceitasse.
Não sei exatamente o que responder, estou me sentindo confusa com a
sua presença.
— Se eu ainda estiver por aqui, tudo bem — respondo por impulso.
— Fique na festa, eu não vou demorar. — Ele pisca e se afasta.
Fico paralisada, o acompanhando com os olhos caminhar com
segurança na frente da mulher que veio chamá-lo.
Eu só posso estar louca em dar qualquer esperança a ele, certamente
esse homem não é da máfia e pode ser um risco para mim. Vou grudar no
meu primo, ao lado dele ninguém irá se aproximar.
Acabo me lembrando que Eros me espera, corro para o bar em busca da
sua segurança, ele também é uma pessoa que pode me proteger.
O encontro flertando com uma mulher, mas quando nota a minha
presença rapidamente foca a atenção em mim.
— Você demorou. — Seus olhos astutos me sondam.
— Tive que lidar com um idiota. — O rosto de Eros fica tenso.
— Ele passou dos limites? Apenas me diga quem te incomodou que eu
resolvo tudo. — A sua preocupação me deixa grata.
— Não foi nada demais, um rapaz me ajudou a afastá-lo.
— Rapaz? — questiona erguendo uma sobrancelha, mas não tenho
tempo de respondê-lo, pois a nossa atenção é desviada quando anunciam a
presença do anfitrião da noite no palco.
Quando ele sobe no palco, o meu queixo despenca. Acompanho atônica
o homem que acabei de conversar sorrindo e saudando os convidados. Para
minha completa surpresa descubro que estive há pouco segundos na frente do
poderoso e belo príncipe de Vichi.
Agora entendo a sensação de familiaridade, ele mudou desde que vi
suas fotos, agora é um homem mais maduro e extremamente sensual.
Tenho uma bebida marcada com um príncipe e, sinceramente, não vou
comparecer. Somos de mundos opostos, fora, que me assusta gostar tanto de
olhá-lo, esse homem é perigoso, tenho que me manter longe.
A primeira parte do meu plano está correndo bem, a festa é um sucesso,
todos os convidados estão aproveitando o luxo que fiz questão de oferecer.
Para a noite ser um completo sucesso preciso apenas que o lançamento do
jogo seja um fenômeno de vendas na internet.
Meus olhos são atraídos para uma cena que me faz ficar atento. Adam,
filho de um influente empresário do setor da construção civil, está falando
com uma mulher.
Poderia ser um encontro comum se a garota estivesse gostando da sua
companhia. Sua postura é tensa, claramente não está confortável com o toque
dele no seu braço.
Por que certos homens não aprendem que para falar com uma mulher
não existe necessidade de tocá-las?
— Quero que me solte. — Ouço-a pedir com a voz nervosa.
— Adam, solte-a — ordeno tentando não perder a paciência.
Tenho negócios com a família dele, mas acho Adam um merda. Ele é o
típico cara riquinho, que acha que por ter dinheiro todos devem lamber os
seus pés.
Apesar de viver do dinheiro de pessoas como ele, não tenho paciência
com suas atitudes egoístas. Sou um príncipe, tenho mais dinheiro do que
posso gastar, ainda que eu viva mil anos, no entanto, eu não uso do meu
status para ser melhor do que ninguém.
— Só a estou convidando para uma bebida — responde com sua
costumeira arrogância.
— Se não percebeu ela não quer, se afaste imediatamente. — Ele a
encara raivoso, mas sabendo bem com quem está lidando, se afasta frustrado.
— Tudo bem com você? — Ela levanta o rosto e me encara.
A primeira coisa que me chama atenção é o medo no seu olhar, Adam a
assustou e eu vou querer saber o que o bastardo falou para que o temesse
tanto.
Já no segundo momento noto o quanto é bonita. Ela tem um longo
cabelo castanho, seus olhos é uma mistura complexa entre o verde e o azul.
Já a sua boca tem os lábios fartos, pintados de vermelho.
Porra! Ela é muito bonita, mas é a tristeza nos seus olhos que me
prendem. Existe um sofrimento grande neles, sei disso porque quando me
olho no espelho vejo essa mesma dor.
Saber que ela carrega um sofrimento me deixa curioso para conhecê-la
mais, não sei explicar o porquê desejo descobrir o que a atormenta, só sinto
que preciso entender um pouco do que se passa com essa enigmática mulher.
— Agora eu estou bem, obrigada pela ajuda.
— Não precisa agradecer — admiro cada parte do seu rosto, segurando
a vontade de tocar a sua face.
— Com licença, mas está na hora da apresentação. — Meghan aparece
em um péssimo momento. — Vamos para o grande ato, senhor?
— Claro, Meghan — respondo ainda intrigado pela mulher a minha
frente. — Preciso trabalhar um pouco, mas eu queria te oferecer uma bebida
mais tarde, ficaria feliz se aceitasse.
Não posso deixar de conversar com ela, preciso entender o que existe
nela que me fascina e instiga tanto.
— Se eu ainda estiver por aqui tudo bem. — Ela é evasiva na resposta,
porém noto que também ficou mexida com o nosso encontro.
— Fique na festa, eu não vou demorar. — Dou uma piscadinha e me
afasto — Mande alguém ficar de olho nela, Meghan, quando eu acabar minha
apresentação quero conversar com a senhorita.
— Certo, ela não fugirá do meu radar.
Aceno para a minha secretária e subo no palco ainda com a bela mulher
que encontrei na minha mente. Não sei explicar exatamente o que acabou de
acontecer, mas ela despertou em mim um fascínio inusitado.
Talvez tenha sido aquele olhar triste, ou a forma vulnerável com que
me encarou. De verdade, é difícil explicar, só senti vontade de protegê-la
quando a vi nervosa com a abordagem deselegante do Adam.
Bem... em breve eu saberei mais dela, agora eu preciso me concentrar e
fazer meu show para a nata da alta sociedade americana, garantindo assim
que os meus investidores fiquem felizes com o resultado de mais um produto.
Saúdo o meu público e começo a falar sobre o novo jogo, que eu
mesmo ajudei a desenvolver, juntamente a minha equipe de criação. Sou uma
pessoa apaixonada por tudo do universo tecnológico, criei meu próprio jogo
aos onze anos de idade.
Claro que não era algo vendável, mas foi o suficiente para que eu
buscasse mais informações e criasse outros projetos. Tudo o que aprendi até
hoje foi de maneira autodidata, simplesmente amo os desafios que encontro
no ramo tecnológico.
Inicio com tranquilidade a apresentação do lançamento, no telão
aparece parte de como o jogo funciona. Explico todos os detalhes para o
público-alvo que queremos atingir. Enquanto falo busco pela misteriosa
mulher que me encantou, tento encontrá-la, no entanto, não obtenho sucesso.
Finalizo a minha fala avisando que neste momento as vendas serão
abertas e que a Cassel Company Eletronic espera que mais um sucesso esteja
nascendo.
Os aplausos se espalham pelo salão, aceno para todos antes de sair do
palco. Entrego o microfone para uma das assistentes da equipe organizadora
do evento, em seguida busco por Meghan.
— Onde ela está? — pergunto de uma vez.
— Acho que temos um problema. — Ergo uma sobrancelha indicando
que termine de falar. — Ela está na companhia do senhor Cirrincione.
Agora eu estou muito surpreso, é estranho pensar nela com Eros. Uma
garota que aparenta ser tão vulnerável não me parece apropriada para ficar
com um homem do estilo dele.
— Em que lugar eles estão? — Meghan ergue o queixo para perto do
bar.
Caminho determinado na direção que me indicou, ao longo do meu
destino sou interceptado por algumas pessoas que querem me parabenizar
pelo lançamento.
Converso com elas escondendo a minha falta de interesse no que falam,
neste momento preciso apenas descobrir o motivo de Eros estar com a
misteriosa mulher de olhos tristes.
Quando consigo me desvencilhar das parabenizações, me aproximo do
bar, localizando-a imediatamente. Para minha surpresa não só Eros, como seu
chefe estão ao redor dela.
Isso não está me cheirando bem, acho que me interessei por alguém
fora do meu alcance.
— Aí está o grande figurão da noite. — Nero me estende a mão. —
Parabéns pela apresentação, será mais um sucesso, você é foda.
— Obrigado. — Olho por sobre o ombro dele e encaro o motivo de
estar aqui. — Eu espero que seja tão bem recebido pelo mercado como nosso
último jogo.
— Não tenho dúvidas de que será.
— Meus parabéns, príncipe, você é bom em cima de um palco, fica até
um pouco bonito. — Eros como sempre é sarcástico.
Não sou muito fã dele, prefiro Nero, é mais centrado e muito direto no
que deseja. Eros é um bon-vivant, não leva muito a vida a sério, tudo para ele
é motivo de piada.
— Está me achando bonito? — eu o provoco.
— Acho que foram as luzes que me enganaram, olhando de perto não é
a mesma coisa. — Sorrio, ele sabe se livrar bem de uma enrascada.
— Beba algo com a gente. Sei que o seu tempo hoje está requisitado,
mas uns minutos de conversa conosco não te fará mal. — Nero chama a
minha atenção.
— Realmente estou com o tempo corrido, até queria beber algo com
você, o problema é que tenho compromisso. — Meus olhos encontram a bela
mulher que nos observa. — Marquei um drinque com a senhorita ali. —
Inclino a cabeça para observá-la melhor.
Os dois homens seguem a direção do meu olhar, na mesma hora eles
ficam tensos.
— Como assim marcou algo com a minha prima? Você a conhece? —
Prima? Eu ouvi bem o que ele falou?
— Ela é sua prima? — pergunto ainda sem acreditar na informação.
— É irmã do Paolo. — Puta que pariu!
Há quase cinco anos eu não me sentia tão interessado em alguém, como
fiquei por essa garota, mas a vida tinha que me foder gostoso ao colocar no
meu caminho uma pessoa da mais alta hierarquia da máfia romana.
— Que surpresa. — Não sei exatamente o que comentar neste
momento.
— Como a conheceu? — Eros já não sorri, tanto ele quanto seu Capo
estão no modo proteção.
Esses homens da máfia são sempre um saco, tratam as mulheres como
se elas fossem suas propriedades.
Patéticos!
— Um idiota estava a importunando, eu o afastei e pedi que ela bebesse
algo comigo depois da apresentação.
— Lamento, príncipe, mas ela não está disponível. — Eros me fita
intensamente.
Ele também a quer? Interessante, no geral esse babaca sai com uma
mulher por noite e nenhuma delas faz parte do seu núcleo.
— É só uma bebida, Nero, você me conhece bem, só vamos conversar.
— Ele me analisa com a frieza que lhe é característica.
— Ela é uma viúva, veio ficar comigo para sair da rotina e tentar
superar a merda de marido que teve, eu não quero homens perto dela.
— Sou o último homem desse mundo que posso causar algum mal à
sua prima.
— Não penso da mesma maneira. — Nos encaramos intensamente.
— Com licença. — Uma voz suave nos interrompe. — Nero, ele me
ajudou em uma situação complicada, prometi que se estivesse ainda na festa
tomaríamos uma bebida juntos, não vejo problemas, você está aqui. —
Encaro o seu rosto, ela parece ainda mais bonita do que no nosso último
encontro.
— Estarei de olho, não a toque em hipótese nenhuma. — Seguro a
vontade de revirar os olhos com o seu pedido.
— Qual é? Vai deixá-la ficar com ele? — Eros olha o amigo com fúria.
— Que porra de ficar? Está louco, Eros? — Nero olha para a prima. —
Se quiser beber algo com Thomas vá, mas eu estou atento em vocês.
Os olhos dela encontram os meus, vejo certa indecisão passar por eles,
parece que não está muito animada em ficar um tempo comigo, no entanto ela
inspira fundo e claramente decidindo o que vai fazer.
— Eu não vou demorar. — Dando um passo à frente se aproxima de
mim.
Não posso tocá-la, preciso manter isso em mente, um problema com
Nero não está nos meus planos esta noite.
— Por favor. — Faço um gesto para que vá à frente.
— Idiota. — Ouço Eros blasfemar, mas o ignoro, tenho assuntos mais
interessantes a tratar.
Guio-a até o ponto oposto do imenso bar onde o local está com um
movimento mais calmo. Bem no final encontro algumas banquetas vazias, a
festa está no seu ápice e a maioria das pessoas optou por ir dançar ou
conversar pelo salão.
— O que vai querer beber?
— Um Martini. — Ajudo-a a se sentar.
Não consigo deixar de captar o seu cheiro suave, não dá para identificar
a fragrância, mas é algo tão delicado quanto ela.
Acomodo-me ao seu lado e peço nossas bebidas, prontamente o barman
me atende, por hoje sou o seu chefe, ele necessita largar qualquer cliente para
estar a minha disposição.
— Como ainda não fomos apresentados oficialmente, sou Thomas
Cassel, é um prazer te conhecer. — Ela me encara e corre a língua pelos
lábios, demonstrando mais uma vez a sua insegurança.
— Sou Fiorella Torcasio.
— Irmã do Paolo.
— Exato. — Um discreto sorriso nasce nos seus lábios. — Paolo é um
pouco famoso, ele é amigo do seu irmão.
— Sei bem disso. — Nossas bebidas chegam. — Um brinde ao nosso
encontro inusitado. — Tocamos nossos copos.
— Obrigada por me ajudar com aquele rapaz, ele estava me
importunando.
— Percebi. — Experimento o meu uísque. — Adam é um babaca, acha
que pode fazer o que deseja a qualquer momento, o pai ajudou a construir
essa sua ilusão, infelizmente.
— Homens poderosos acreditam que conseguem ter tudo. — Ela corre
a ponta da unha na borda da sua taça. — E na verdade, eles podem. —
Quando me encara vejo uma dor tão profunda, que preciso me segurar para
não a tocar.
— Não podem — afirmo com segurança. — Eles até alcançam alguns
dos seus desejos, mas com o destino não se pode lutar, é ele que controla
tudo, não importa sua classe social. — Fiorella abre a boca, parecendo
surpresa com as minhas palavras. — Nero disse que perdeu seu marido, meus
sentimentos.
— Não sinto nada por sua partida, eu me libertei — sua resposta
imediata me deixa em sinal de alerta.
— Fico feliz que tenha se libertado de quem te fazia mal, às vezes a
morte é algo bom. — Olho para o além, pensando nas boas pessoas que
partem inesperadamente.
— Concordo com você. — Fiorella prova o Martini. — Nunca desejei a
morte de alguém como desejava do meu marido.
Sua fala me deixa intrigado, quero perguntar o que ele fez para que ela
tenha tanto rancor, mas não posso ir além.
— O universo te ouviu e você agora está livre. — Nos encaramos. —
Veio passar férias na cidade?
— Ainda não sei se serão férias, eu não tenho prazo para voltar, Paolo
me deixou livre para tentar me recompor dos dias difíceis do casamento.
A sua resposta me anima, ela pode passar um tempo na cidade, isso
significa que podemos nos ver mais vezes.
Imediatamente a realidade me acerta, Fiorella é uma mulher da máfia,
ela está destinada às tradições do seu clã.
Caralho! Eu sou muito azarado mesmo, quando sinto algo diferente por
uma mulher, ela é proibida.
Penso no que posso fazer, ela tem algo que me fascina, quero conhecê-
la um pouco mais, apesar de saber que somos de mundos opostos.
Há algum tempo experimentei a pior face da vida e naquele momento
entendi que eu não posso perder uma oportunidade. Preciso reencontrá-la,
meu problema será seu primo e as tradições que a cercam.
O que posso fazer? Preciso encontrar uma solução para me aproximar.
— Queria te encontrar novamente, você pode colocar o seu número no
meu celular? — Sou direto, não vou perder tempo.
— Não posso te encontrar, Nero não permitiria.
— Esqueça seu primo, eu posso lidar com ele. — Pego meu celular e
destravo a tela. — Só quero te conhecer, acho que temos algumas coisas em
comum, podemos ser amigos.
Que mentira Thomas! Você não quer ser amigo dela, mas uma boa
amizade pode ser o estopim para algo a mais. Mesmo ela sendo da Cosa
Nostra, não é mais uma menina inocente, podemos nos entender sem
comprometer o seu destino, sou um homem discreto. Jamais a prejudicaria,
mas eu não posso deixar de me aproximar, Fiorella me encantou como há
muito tempo não me encantava por uma mulher.
— Não sei se é uma boa ideia. — Ela morde o lábio inferior atraindo
meu olhar para a sua boca sedutora.
— Faço parte do time dos meninos bons, se eu fosse uma pessoa
indesejável você não estaria conversando agora comigo, Nero sabe da minha
índole, posso te apresentar Nova Iorque pelos melhores ângulos, com a
segurança que necessita. — Ela me lança um discreto sorriso.
— Você é bom com as palavras.
— Tive excelentes professores em diplomacia — digo radiante quando
ela começa a digitar o número do seu celular.
— Podemos nos falar por telefone, mas um encontro não vai acontecer,
eu preciso obedecer a Nero. — Aperto os lábios com raiva, odeio a
submissão que as mulheres da máfia precisam seguir.
— Apenas deixe comigo nosso contato, eu me dou bem com seu primo,
você vai se surpreender com o que posso conseguir. — Sorrio para ela, já
pensando na pressão que farei em Nero.
Ele vai me deixar vê-la de qualquer maneira, eu preciso de um tempo
com Fiorella e ninguém vai me impedir disso. Jogarei sujo se for preciso, só
me importo em conseguir um novo encontro.
Estico as minhas pernas no sofá e penso sobre a noite anterior. Ainda
estou um pouco perdida sobre o que aconteceu, no primeiro momento tive
certeza de que não queria tomar uma bebida com o príncipe, mas aí o vi
conversando com o meu primo, empenhado em conversar comigo, naquele
momento eu percebi que também queria esse encontro.
Não sei exatamente o que ocorreu comigo, apenas senti um desejo
inusitado em dividir um momento sozinha com Thomas. O mais assustador
foi gostar da sua companhia.
Ele é tão leve, tranquilo, não senti nenhum medo enquanto
conversávamos, pelo contrário, se dependesse de mim ainda estaria ouvindo
sua voz profunda.
O que está acontecendo comigo?
Ouço o meu celular começar a vibrar na mesa de centro, estico a mão e
pego o aparelho. Sinto meu coração sacudir quando vejo um número
desconhecido.
Será que é Thomas ligando? Não pode ser, certamente não ligaria tão
rápido, homens como ele têm um ego imenso.
— Alô — digo me preparando para ouvir qualquer pessoa, menos o
príncipe.
— Bom dia.
Meu Deus, é ele!
Reconheceria essa voz em qualquer lugar, ao longo da madrugada
relembrei inúmeras vezes a nossa conversa e sua voz foi algo que eu fiz
questão de gravar.
— Bom dia. — Não sei o que falar, nunca conversei com homens
estranhos, estou completamente insegura neste momento. — É... — Gaguejo.
— Por acaso é o Thomas? — Aperto os olhos me sentindo uma idiota.
— Sou eu sim. — Ele solta uma risada baixa. — Espero não tê-la
acordado, ainda é cedo, mas eu queria falar com você antes de entrar em uma
reunião.
Por que minhas mãos estão suando?
— Eu não dormi muito. — Foi difícil pegar no sono e quando
finalmente adormeci, eu sonhei o tempo todo com ele.
— Também não dormi bem, minha mente estava acelerada demais por
conta da noite passada.
— Eu imagino como deve ter sido tenso para você, toda a agitação com
o lançamento do seu jogo te deixou ansioso.
— Não foi exatamente o jogo que me deixou acelerado. — Fico quieta,
não sei o que responder. — O que você vai fazer hoje? — Sua mudança de
assunto me desestabiliza.
— Nada, a não ser que minha prima tenha alguma programação, mas
ela ainda está dormindo.
— Salve meu número e envie uma mensagem caso esteja livre, hoje eu
vou ter um dia conturbado, estarei em várias reuniões, mas no final da tarde
falarei com o seu primo, quero te levar para jantar, isso se você quiser estar
comigo.
Rapidamente me sento e sinto que a qualquer momento vou ter um
infarto.
Jantar com ele? Sozinha? Não sei se consigo, mesmo sabendo que
Thomas é um homem íntegro, ficar a sós com ele é mais do que posso fazer.
Sinto minha mão tremer, estou ansiosa e sem saber como negar seu
convite sem ofendê-lo ou demonstrar que sou uma mulher limitada.
— Tudo bem, eu te aviso se eu tiver algo para fazer. — Dispensá-lo por
mensagem vai ser mais fácil.
— Eu espero que não tenha. — Sorrio da sua fala e me assusto por
estar feliz em saber que ele deseja tanto me encontrar. — Já vou, estou em
uma ligação importante. — Ouço-o falar para alguém que o chama. —
Desculpa, a minha reunião vai começar.
— Não tem problema, prometo te mandar mensagem mais tarde.
— Caso saia com outra pessoa, marcamos para amanhã, não quero
demorar para te reencontrar.
Por que ele quer tanto me ver? Estou ficando desconfiada de toda essa
pressa.
— Espero não ser indelicada, mas estou me perguntando o motivo de
tanta ansiedade para um encontro — decido ser sincera. — Você é um
príncipe, deve ter muitas opções de companhia para um jantar.
— Realmente tenho, não vou mentir, mas eu não quero jantar com
ninguém além de você. — Ele é direto. — Há algum tempo Fiorella, eu
aprendi de uma forma muito dura que não devemos deixar para depois o que
podemos fazer agora. Quero te rever o quanto antes e se também
compartilhar do meu desejo, espero que nosso encontro aconteça mais tarde.
— Entendi. — Não sei muito o que dizer, ele me pegou de surpresa
com a sua declaração.
— Infelizmente preciso desligar, aguardo o seu contato.
— Boa reunião.
— Obrigado, até mais. — Ele encerra a ligação e me deixa pensativa.
Um lado meu quer se encontrar com ele, o outro está temeroso de ficar
sozinha na sua presença.
O que eu vou fazer?
— Que cara é essa? — Giada pergunta ao entrar na sala e se sentar
perto de mim.
— Aconteceu algo que me deixou confusa.
— Foi o príncipe?
— Ele acabou de ligar, quer jantar comigo. — Minha prima arregala os
olhos.
Ontem antes de dormir contei para ela todos os detalhes do meu
encontro com Thomas.
— Quando vai ser isso?
— Hoje à noite, se Nero deixar e eu quiser ir.
— Se meu irmão colocar algum empecilho nesse encontro mato ele.
— Thomas não é da máfia.
— Foda-se, ele é um príncipe lindo, rico, famoso, poderoso, a máfia
tem que abrir uma exceção para ele.
— Não quero saber do status dele, não me importo com nada disso —
digo com certa irritação, em momento nenhum pensei nele por causa do seu
título. — Nem quero ir nesse jantar, não se isso significar ficar sozinha sem
ter Nero por perto.
— Você vai nesse jantar sim e meu irmão vai deixar, não pode perder
essa oportunidade, Thomas é o que precisa, uma aventura não te fará mal,
precisa viver um pouco.
— A minha mãe me mataria se eu saísse com ele, isso vai acabar com a
minha reputação. — Giada revira os olhos.
— Até onde sei você não quer se casar, com a reputação arruinada
ninguém vai te querer, aí você consegue o que tanto deseja e de quebra tem a
oportunidade de ficar com aquele monumento. O homem é perfeito em tudo,
o sonho de consumo de qualquer mulher, se ele me chama para um jantar, já
estava me arrumando.
— Giada, você pode entrar em problemas, ontem sumiu por muito
tempo, Nero estava perguntando por você e eu inventando desculpas. Já te
alertei que não quero confusão, vim passar um tempo aqui para descansar.
— Como você é certinha. — Ela levanta e faz uma careta ao colocar a
mão na testa. — Eu só fui beijar, não transei com ninguém, sou pura, como
todos esperam de mim, mas beijar eu posso, ninguém vai descobrir.
— Uma hora podem descobrir e você sabe das consequências.
— Eu vou ser obrigada a me casar com um homem que não amo, então
tenho o direito de antes desse destino de merda acontecer, beijar quem eu
quiser.
— Você não tem juízo.
— Assim como você é boba em não querer jantar com o príncipe. —
Fico calada, não quero brigar com ela. — Vou atrás de um analgésico, ontem
bebi demais.
Ela se afasta e eu fico pensativa, realmente sou boba, o problema é que
não sei o que fazer perto dos homens. Quando eu estava com o falecido era
ele quem ditava o que eu tinha de fazer, raramente podia falar quando
estávamos em um evento. Em casa ele só trocava algumas palavras comigo
quando queria transar, fora isso não nos falávamos.
Ontem foi a primeira vez que conversei com um homem estranho e
consegui fazer isso porque já tinha bebido, totalmente sóbria seria
impossível.
Que Nero não permita nosso encontro, apesar de querer revê-lo, o meu
medo está falando mais alto.
Realmente sou uma boba.

Apoio a cabeça no encosto da cadeira e fecho os olhos, estou exausto,


porém feliz. O lançamento do jogo foi um sucesso estrondoso, em segundos
vendemos milhões de unidades, a imprensa não para de noticiar o nosso
recorde de vendas.
— Mais uma missão cumprida. — Stuart abre o botão do terno e se
acomoda no sofá lateral do meu escritório. — Os acionistas estão sorrindo
felizes.
— Isso é um alívio.
— Vamos comemorar essa noite? Posso escolher o local?
— Talvez eu tenha um compromisso, se eu estiver livre podemos beber
algo. — Stu ergue uma sobrancelha.
— Compromisso com quem?
— Em breve você vai saber. — Uma batida na porta interrompe nossa
conversa. — Pode entrar.
— Senhor, Cassel, desculpa atrapalhar, mas preciso avisar que o senhor
Montanari disse que pode lhe encontrar na boate Glory às 18h.
— Muito obrigado, Meghan. — Ela acena e se afasta.
— O que quer com Nero? — Stuart pergunta assim que ficamos
sozinhos.
— Preciso ter uma conversa pessoalmente com ele. — Sou evasivo na
minha resposta, não quero abrir minhas intenções no momento.
— Está me escondendo algo — afirma.
— Você que está muito curioso. — Sou salvo com o toque do meu
celular.
Abro um sorriso ao ver o nome do meu irmão piscar, sinto falta desse
merda, preciso tirar um tempo para ir a Vichi.
— E aí? Como você está?
— Melhor impossível. — Sua voz é animada. — Kim está grávida, já
fez três meses, descobrimos por que ela teve um desmaio, pois a menstruação
dela ainda que irregular, está vindo.
Não sei exatamente o que falar, esse sempre foi o sonho do Mitchell,
ele vivia falando que estava ansioso para ter um filho.
— Parabéns, Mitch, finalmente realizou o seu sonho. — Olho para
frente e vejo Stuart me encarando com curiosidade. — Kimberly está grávida
— digo para não matar meu amigo de ansiedade. — Stu está comigo, estou
contando a novidade.
— Assim que ela fizer todos os exames iremos passar uns dias aí, sei
que você anda cheio de trabalho, inclusive o motivo dessa ligação é também
te parabenizar pelo sucesso do lançamento. Aqui em Vichi seu nome está em
todos os meios de comunicação, papai parece que vai flutuar, foi estressante
ele babando pelo filhinho empreendedor.
Sorrio, Mitchell é extremamente ciumento e possessivo, ele ama ser o
centro das atenções.
— Desculpa ser o foco dos elogios do papai. — Implico com ele.
— Você merece, buscou seus objetivos e conseguiu sucesso.
— É fácil trabalhar com o que se ama.
— Concordo, mas fazer o tipo de sucesso que conseguiu é mais
complicado.
— Obrigado por me apoiar desde o início, sem você o papai não teria
cedido.
— Ele te ama, iria implicar, mas aceitaria sua decisão de qualquer jeito.
— Talvez você tenha razão.
— Curta seu sucesso e dê um abraço em Stuart, Kim vai ligar para ele,
mande fingir surpresa, porque ela quer contar pessoalmente ao amigo sobre
nosso filho.
— Tudo bem, eu converso com Stu, dê um beijo na minha cunhada,
estou aguardando vocês aqui.
— Beijar a minha mulher é o que mais gosto de fazer, nos falamos
depois.
— Se cuida. — Encerro a ligação. — Mitchell disse que Kim deve te
ligar hoje, finja que não sabe da gravidez, ela quer fazer surpresa.
— Sou um ator nato. — Sorrio do bobão. — Ela deve estar muito feliz,
Kimberly precisava dessa alegria para se reerguer de vez. — Aceno
concordando.
Minha cunhada passou momentos difíceis depois que sua melhor amiga
se foi, Clover era o ponto de alegria em nossas vidas, perdê-la tão
brutalmente foi devastador para todos nós.
— A vida nem sempre é cruel — digo ao olhar para o relógio. —
Preciso ir ou me atraso para o meu encontro com Nero.
— Não vai me dizer mesmo qual o assunto que vai tratar com ele?
— Pare de ser curioso. — Visto meu terno. — Nos falamos depois.
— Sinto cheiro de mulher nesta história. — Fico calado, Stuart é muito
fofoqueiro. — Seu silêncio diz muito.
— Vai se foder.
— Acertei. — Bato a porta e o ignoro, vai ser chato assim na casa do
caralho.

Caminho para a entrada lateral da boate Glory, essa é uma das casas
noturnas mais badalas de Nova Iorque, a máfia italiana tradicionalmente
comanda a noite nas cidades que domina e não é diferente aqui. Boa parte dos
estabelecimentos bem renomados do entretenimento é posse deles, isso inclui
também os imóveis.
— Nero me espera — digo ao segurança imenso que protege a porta.
— Pode entrar, senhor. — O homem me dá passagem.
Meus dois seguranças me seguem de perto, infelizmente não posso me
livrar deles. Aprendi da pior maneira que devo mantê-los sempre na minha
cola.
O barulho de mesas e copos me alcança, a esta hora estão preparando a
casa para que possa abrir. Não demora muito vejo Nero sentado no bar,
acompanhado de Eros e Lorenzo, o último é o executor da máfia, o homem
tem tanto sangue nas mãos que nem toda a água do mundo seria capaz de
limpá-las.
Lidar com a máfia italiana sempre me desagrada, eles não são melhores
do que Raul Diaz, o falecido líder do maior Cartel mexicano, que destruiu a
vida de Clover e todos nós que ficamos sem ela.
— O príncipe chegou. — Eros me fita com seu olhar debochado.
Como é insuportável, sorte a dele que evito conflitos, se fosse meu
irmão, ele certamente teria muitos problemas.
— Boa noite, senhores. — Cumprimento a todos.
— Sente-se aí, Thomas, vamos beber para comemorar o dinheiro que
você está me fazendo ganhar — Nero aponta para um banco ao lado de
Lorenzo.
— Acho que você vai ganhar mais dinheiro do que possa imaginar —
digo ao me sentar.
— É por isso que trabalhamos juntos — ele diz ao chamar o barman. —
Eu invisto e você triplica a minha grana.
— O mesmo que eles estão bebendo — peço ao rapaz. — Acho que
dessa vez será mais que o triplo. — Eros assovia.
— Você é literalmente um menino de ouro — comenta exibindo seu
sorriso sarcástico.
— Eu me esforço para ser sempre um sucesso. — A minha bebida
chega.
— Sabe o que mais admiro em você? — Lorenzo me encara com seus
nebulosos olhos negros. Faço um sinal de negativo e espero por sua fala. —
Podia ficar de braços cruzados, usufruindo das mordomias do seu reino, só
que não, você quis arriscar e é bom no que faz. — Ele bate nas minhas costas.
O seu elogio eleva meu ego, Lorenzo é um homem reservado, de
poucas palavras, receber esse tipo de comentário dele é gratificante.
— Obrigado, eu gosto de ter minha própria vida e conquistar meus
próprios objetivos.
— Faz bem, um homem de verdade deve ter suas metas e lutar por elas.
Concordo com Lorenzo, não existe nada mais gratificante do que você
conseguir ter suas próprias conquistas.
Entramos em uma conversa fútil, os meninos comentam sobre
problemas que estão tendo com alguns associados. Essas são as pessoas que
prestam serviço para a máfia.
Eu não faço parte desse grupo, é a máfia que depende de mim, então
não necessito prestar satisfação a ninguém.
— Preciso atender essa ligação. — Lorenzo avisa e se afasta.
— Agora que estamos só nós três, diga o que quer falar comigo. —
Nero balança o copo fazendo o gelo se mexer.
— Prefiro ter essa conversa em privado. — Eros me encara com
desgosto.
— Segredos, príncipe?
— Pare de me provocar — alerto.
— Vai fazer o que se eu não parar? Chamar a guarda real?
— Basta, Eros! — seu chefe o alerta. — Thomas, ele é meu
Consigliere, dividimos qualquer tipo de assunto.
É insuportável toda essa hierarquia da máfia, mas entendo o ponto dele,
Stuart também sabe de toda a minha vida. Tudo bem que ainda não comentei
sobre o meu encantamento por Fiorella, mas não vou demorar a contar.
— Quero jantar com sua prima hoje.
— É o quê? — Eros me encara parecendo não acreditar no que pedi. —
Você está falando sério?
— Quando não falo sério? — questiono Eros. — Eu não sou o bobo da
corte como você. — Ouço seu rosnado, mas a risada de Nero quebra a tensão.
— Vocês se odeiam mesmo? — pergunta com descontração. — Parem
de brigar. — Ele apoia o cotovelo sobre o balcão. — Fiorella é uma mulher
da máfia, nossas mulheres não têm encontros, elas são destinadas a apenas
seus pares e você não é do nosso universo.
Inspiro fundo, não posso me descontrolar agora, preciso de paciência
para lidar com a hipocrisia do universo dele.
— É só um jantar, não vou tocá-la.
— Você quer tocar sim, não minta para mim.
Penso no que responder, ele está certo, quero tocar cada parte dela,
estou completamente fascinado por sua figura frágil.
— Sei como funciona seu mundo, mas eu dou a minha palavra que será
apenas um jantar.
— Fiorella teve um marido fodido, que abusou dela física e
psicologicamente, Paolo o matou e agora ela veio tentar se reencontrar aqui.
— Fico calado, não esperava ouvir algo parecido, jamais imaginei que ela
tivesse tido um casamento tão terrível. — Eu não vou deixar ninguém se
aproximar, principalmente quando esse alguém quer comer minha prima. As
mulheres do meu mundo não são como as do seu, elas são protegidas, não
andam de uma cama para outra.
Não o respondo de imediato, premedito as minhas palavras com calma.
Sei que estou lidando com o chefe da máfia nova-iorquina, isso significa que
devo saber onde pisar, um embate com ele não seria bom para nenhum de
nós.
— Vocês protegem tanto que elas são agredidas. — Opto por apertar a
ferida.
Nero fecha a expressão, ele me encara com raiva. Falei demais, mas
foda-se, podemos brigar no mesmo nível.
— Cuidado, você pode ser um príncipe, mas eu sou o caralho do Capo
desta merda de cidade.
— Cidade essa que não é sua. — Nos encaramos com raiva. — Não
vou mentir que gostei da sua prima, ela tem algo especial, quero conhecê-la,
jamais a desrespeitarei.
— Esqueça esse assunto, Fiorella não irá se encontrar com você.
— Posso conversar com Paolo, se ele me autorizar não poderá fazer
nada.
— Meu primo não autorizaria, ele é ainda mais protetor que eu.
— Porra, Nero! — Bato no balcão com raiva. — Sou o último homem
nesse mundo que a machucaria, sua prima é uma viúva, ela pode tomar as
próprias decisões, não é uma virgem inocente.
— Príncipe, cale o caralho da sua boca e vá embora. — Eros me encara
com raiva.
— Vocês são patéticos com essas tradições ridículas, o que tem de mal
nos encontrarmos? Eu fornecerei a segurança que ela precisa, a tratarei bem,
ela merece ter escolha, parem de tratar suas mulheres como um objeto, elas
precisam ter vozes. Nem todas as tradições precisam ser seguidas à risca,
olhem para mim. — Abro os braços. — Sou a porra de um príncipe, tenho
um reino me esperando, mas estou aqui, trabalhando incansavelmente para
ter o meu próprio sucesso, por que uma pessoa da máfia não pode sair
comigo?
— Porque temos nosso código, agora vá embora, Fiorella é uma garota
delicada, não precisa da sua atenção. — Eros se ergue e me encara furioso.
— Mas você quer ter a atenção dela — afirmo.
— Isso eu já tenho — diz ao erguer um canto da boca em um sorriso
torto.
— Parem — Nero ordena. — Seus argumentos foram bons, Thomas.
— Ele aperta os olhos ao me fitar. — Gosto da ideia da máfia e a realeza
juntos.
— Como é? Vai deixar esse babaca se aproximar da Fiorella? — o
amigo o questiona quase espumando de raiva.
— Eu não vou deixar — anuncia sem tirar os olhos dos meus. — Quem
vai decidir isso é a própria Fiorella. — Relaxo todo o meu corpo com sua
afirmação. — Se ela quiser esse jantar tudo bem, não vou impedir, mas ele
acontecerá no meu apartamento, com o meu pessoal observando os dois.
— O local não importa, só quero revê-la.
— Falarei com ela quando chegar em casa, eu ligo avisando a resposta.
— Ela tem o meu número, peça para me avisar.
— Eu disse que ligo. — Não o desafio mais, consegui o que queria e
estou satisfeito.
— Tudo bem, aguardo o seu contato. — Olho para Eros e não me
seguro. — Até mais, foi um prazer te reencontrar.
— Vá se foder, seu merda! — esbraveja, mas não me abalo, apenas
sorrio e me afasto.
Enquanto caminho para a saída pego o celular e começo a digitar uma
mensagem para Fiorella.
Nosso encontro só depende da sua aceitação, Nero estará com você
em breve.
Guardo o aparelho feliz, ansioso para que aceite o nosso jantar e eu
possa de novo encarar pessoalmente seu sorriso doce e o seu olhar triste, que
me faz querer mais do que tudo protegê-la de todo mal.
Releio a mensagem do Thomas e novamente meu coração acelera.
Depende apenas de mim ter a oportunidade de revê-lo.
Eu queria ser um pouco mais corajosa, bloquear todas minhas
lembranças e ser uma mulher comum, assim como Giada. Se ela estivesse no
meu lugar, já estaria se arrumando para o jantar.
— Fiorella. — Ouço a minha prima Serena bater à porta enquanto me
chama.
— Pode entrar. — Imediatamente vejo sua figura surgir.
Serena é bem diferente de Giada em todos os sentidos, ela tem cabelo
mais claro e olhos cor de mel e seu temperamento é tranquilo.
— Nero chegou e está te chamando, quer falar algo com você. — Sinto
meu corpo esquentar.
— Ele disse o que quer? — pergunto ansiosa, estou temerosa como ele
pode reagir em saber que estou mantendo contato com Thomas.
Na hora que ele pediu meu número não pensei nas consequências, agi
por impulso e agora eu posso me dar mal.
— Claro que não, desde quando aquele lá diz algo? — Ela revira os
olhos. — Mas não é algo ruim, ele está calmo. — O alívio me domina,
Serena conhece bem o irmão.
Ela vai para o seu quarto, enquanto eu sigo para o andar de baixo em
busca do meu primo.
Encontro Nero na sala falando algo com o seu segurança, ele me encara
com a expressão neutra, não consigo identificar se estou em apuros.
Ainda assim não consigo controlar o meu nervosismo em ser
repreendida por dar meu telefone ao príncipe.
— Sente-se, Ella, precisamos conversar — ordena.
Sua voz fria faz minhas mãos suarem, estou acostumada com os
arroubos do meu irmão, já com Nero tudo é novo e incerto.
— Aconteceu alguma coisa? — não me seguro e pergunto.
— Digamos que aconteceu algo... — Ele faz uma pausa angustiante
antes de terminar sua fala. — Inusitado.
— Humm — resmungo sem jeito.
— Thomas veio conversar comigo hoje, o interessante foi que o
assunto envolvia você. — Não gosto da maneira calma como está falando. —
Pelo jeito deixou uma boa impressão no príncipe. — Entrelaço meus dedos
agitada. — Por que deu o seu número de telefone a ele? Sabe muito bem que
não pode ter contato com outros homens que não sejam da máfia. — Agora
sua voz sai dura.
— Nero, eu... — Molho os lábios que repentinamente ficaram secos. —
Na hora não pensei direito, estávamos conversando, ele disse que podíamos
ser amigos, eu apenas fui impulsiva, desculpa, nunca mais farei isso.
— Por que foi impulsiva? — Encaro meu primo, tentando entender o
motivo dessa sua pergunta. — Seja sincera, não gosto de mentiras.
Inspiro fundo, buscando as palavras certas para respondê-lo
apropriadamente.
— Sinceramente não sei explicar, por algum motivo não senti medo
dele, Thomas me inspirou confiança. Ele é calmo, gentil e diferente de todos
os homens que convivo, foi bom conversar com um estranho fora do meu
mundo, gostei do tempo que estive ao seu lado e acabei não pensando direito
nas consequências quando pediu meu número.
Meu primo fica calado enquanto coça o queixo e me observa. Por não
pensar nos meus atos posso ter que voltar para casa.
— O príncipe quer um jantar com você.
— Jantar? — O meu coração acelera. — Acho que não é uma boa
ideia.
— Não quer reencontrá-lo? — pergunta ao erguer uma sobrancelha.
— Uma parte minha quer — decido ser sincera. — Mas a outra diz que
não devo vê-lo.
— E qual das duas partes está ganhando? — Os seus questionamentos
estão estranhos demais. — Eu disse a Thomas que se você quisesse ir ao
jantar eu não me oporia, mas se essa não for sua vontade, eu o aviso que não
é mais para entrar em contato.
Abro a boca surpresa, não esperava que ele fosse concordar em permitir
esse jantar.
— Vai me deixar jantar sozinha com um homem fora da máfia? — Ele
ergue o canto da boca.
— Não, pequena, eu vou deixar você jantar sob vigilância e com um
príncipe, ele não é um homem qualquer.
— Mas... — Fico sem palavras.
— Se quiser esse encontro teremos que fechar um acordo agora. Tudo
será feito entre nós, ninguém pode saber, eu vou abrir uma exceção porque
conheço Thomas e você precisa se livrar do passado. — Nero me fita
seriamente. — Ele te quer Fiorella, sei bem quando um homem deseja uma
mulher. Por mais que eu siga as tradições da máfia, não concordo com a
maioria delas, por isso vou deixar você resolver o que fará.
Fico estática, assimilando tudo o que acabei de ouvir. Posso rever
Thomas se eu desejar, assim como posso estar de maneira mais íntima com
ele. Nero acaba de me dar carta-branca para ter um caso com o príncipe de
Vichi.
Solto uma risada nervosa, tudo o que está acontecendo é um pouco
surreal em todos os sentidos dessa situação.
— Do que está rindo? — sua pergunta tem um tom de desgostoso.
— Desculpa, estou um pouco em choque ao receber sua autorização
para ser a amante do príncipe.
— Não será amante, que loucura é essa? — questiona raivoso. — Você
só se envolverá com ele, desde que isso seja feito de maneira discreta, senão
nós dois estaremos fodidos com Paolo e seu clã.
— Vai se arriscar assim por mim?
— Eu me arrisco todos os dias quando saio de casa, minha maior
preocupação nessa história é só a sua reputação, de resto não ligo. — Dá de
ombros. — Você é maior de idade, viúva e sabe bem o que esperar da vida.
Sem querer ofender, dentro do nosso mundo já perdeu o que importava, se
aventurar com ele não será um crime.
Passo a mão pelo cabelo, ainda perdida com sua oferta e seu
pensamento tão moderno para um Capo. Nero realmente me deixou sem chão
com o seu comportamento.
— Estou com medo de revê-lo — assumo. — Ele me faz sentir
estranha.
— Isso é bom. — Meu primo para a minha frente. — Sentir desejo faz
parte da vida, é justamente isso que está sentindo por ele, tesão. — Sinto meu
rosto ruborizar. — O jantar será no meu apartamento, já o alertei que não
abro mão disso, você pode chutar a bunda dele quando quiser.
— Quando foi que se transformou em alguém tão legal? — Nero sorri.
— Não sou o ranzinza do seu irmão.
— Estou vendo isso. — Levanto-me, já com a minha decisão tomada.
— Vou ao jantar, preciso enfrentar os meus medos.
— Certo. — Com um aceno se afasta e pega o celular. — Providencie
um bom jantar para Fiorella, às 21h ela estará te esperando no meu
apartamento, nada de atrasos e seja prudente, eu não quero que os meus
homens precisem cortar sua mão, seria bem fodido iniciar uma guerra com
Vichi. — Arregalo os olhos com sua ameaça. — Você sabe que não brinco,
apenas evite um conflito.
Nero não espera pela resposta dele, apenas encerra a ligação.
— Onde foi parar o homem tranquilo que estava falando comigo? —
pergunto ainda sob o efeito da ameaça.
— Está na sua frente, mas minha tranquilidade é para pessoas especiais
como você — responde ao apoiar a mão no meu ombro. — Agora vá se
arrumar, quando estiver pronta me avise, alguém irá te levar até o meu
apartamento.
— Tudo bem. — Antes de passar por ele, paro e o encaro. — Obrigada
pelo que está fazendo por mim.
— Você mais do que ninguém merece ser feliz.
Dou as costas ao meu primo e corro para o meu quarto, preciso estar
bonita, porque tenho um encontro com um lindo príncipe.

Pela milésima vez corro a mão pelo meu vestido, estou praticamente
tendo uma crise de ansiedade. Não sei por que concordei com essa loucura,
eu não devia estar aqui, mais uma vez fui impulsiva e agora estou com medo
do que está prestes a acontecer.
— O senhor Cassel está subindo. — Cassio, o segurança que está
responsável por mim avisa.
Quando minha mãe foi embora, Nero exigiu que os seguranças que
Paolo enviou também fossem, ele disse que o meu irmão estava o
desrespeitando ao não confiar nele para me proteger. Como todos os homens
da máfia têm problemas com orgulho, meu irmão entendeu que estava indo
além dos limites.
Foi bom não ter os meus seguranças me vigiando, se eles estivessem
comigo, certamente eu não estaria aqui.
Será que fiz certo em aceitar esse jantar? Nunca tive um encontro e,
quando tenho é com um membro da realeza.
O que exatamente eu tenho na cabeça?
Minha pergunta se perde quando o elevador privativo de Nero abre as
portas e revela Thomas em toda a sua gloriosa beleza e elegância,
acompanhado de dois seguranças.
Ele está com calça e camisa branca, um terno bege claro quebra a
hegemonia do branco. Seu cabelo está imaculadamente arrumado, os dois
primeiros botões da blusa estão abertos e o seu olhar intenso faz meu corpo
esquentar.
Só posso estar sonhando, nada disso é verdade, no mundo real Nero
não permitiria que eu me encontrasse com um homem fora da máfia, muito
menos, ele seria um príncipe.
— Você não sabe como fiquei feliz quando soube que aceitou jantar
comigo — diz assim que para a minha frente. — Queria muito te rever. —
Ele segura a minha mão e leva até os lábios. — Está ainda mais linda do que
ontem à noite.
Responde algo Fiorella.
Ordeno mentalmente, mas parece que perdi a capacidade de falar.
Estou nervosa demais, não só por toda a aflição que sinto por ter meu
primeiro encontro, mas também porque não sei o que fazer.
— Obrigada. — Consigo pronunciar algo.
— Não precisa ficar nervosa, está segura. — Thomas solta a minha
mão. — Nero já me explicou algumas coisas, sei como funciona seu mundo,
estamos aqui para conversar.
A gentileza no seu olhar me acalma, ao mesmo tempo que percebo seu
interesse em mim, também vejo que ele não tem intenção de acelerar as
coisas. Thomas é a imagem da serenidade, não existe nenhum traço de
agressividade vindo da sua parte.
— Com licença. — O mordomo do meu primo aparece. — Vocês
querem beber algo?
— Podemos dividir um vinho? — pergunto.
— O que quiser, eu não me importo. — Sinto meu rosto esquentar pela
maneira que ele me encara.
— Trago o vinho que Nero já deixou reservado.
— Sim, senhora. — O homem acena e se afasta.
— Vamos nos sentar? — Estou completamente constrangida.
Não sabia que seria tão difícil, nos filmes os primeiros encontros não
parecem ser tão tensos, estou tão rígida que tenho até dificuldade de fazer os
meus músculos me obedecerem.
— Fiorella, olhe para mim como um amigo, você está apreensiva
demais — Thomas diz ao escolher uma poltrona longe de onde me sentei.
— Eu não tenho amigos. — Sou sincera. — Quer dizer, tenho o Leo,
mas ele é gay. — Ele repuxa um canto da boca.
— Eu não sou gay, então fica um pouco complicada a minha situação.
O nosso vinho chega, me dando mais um pouco de tempo para me
acalmar.
— Vamos fazer um brinde ao nosso reencontro?
— Claro. — Toco minha taça na sua e rapidamente bebo um pouco.
Talvez o álcool me relaxe e eu consiga agir com naturalidade, não
como um robô.
Se controla Fiorella!
— Então... — Ele cruza as pernas e relaxa contra a poltrona. — Você é
a irmã mais velha entre as meninas? Sei que a caçula se casou com
Domênico, lembro que não pude comparecer ao casamento deles porque no
dia tinha um grande evento da minha empresa, mas estive com eles na lua de
mel em Vichi.
— Eu sou a irmã do meio, a mais velha é Chiara, ela acabou de ter um
bebê. — Falar da minha família é algo que me deixa confortável.
— A família está crescendo rápido, primeiro Paolo, agora sua irmã.
— E em breve espero que seja Gio, ela ama crianças, tem uma
desenvoltura incrível para cuidar das meninas.
— São todas garotinhas?
— Sim. — Sorrio, sentindo todo meu nervosismo se dissipar. — Elas
são perfeitas, a filha do Paolo é ruivinha, igual a mãe.
— Por Deus que aquele homem com uma filha será um inferno nesta
terra quando ela crescer. — Thomas olha para o alto em um gesto dramático.
Solto uma risada aguda ao imaginar como meu irmão ficará ainda mais
surtado.
— Tenho peninha da Caterina, ela terá muita dor de cabeça com o pai.
— Realmente não será fácil, tenho na minha família uma réplica de
Paolo, talvez até um pouco mais controlador. — Thomas bufa. — Minha
cunhada está grávida, já tenho pena da pobre criança tendo Mitchell como
pai.
— Oh! — Exclamo surpresa. — A princesa vai ter um bebê? Que
ótima notícia.
— Eles estavam ansiosos por isso, merecem essa alegria, Kim em
especial. — Repentinamente o seu olhar fica triste. — Em breve eles virão
passar uns dias comigo, estou ansioso para ver minha cunhada grávida.
— Fico feliz por eles, é um momento lindo para um casal que se ama.
— Abro um discreto sorriso, um pouco encabulada com a maneira que ele me
encara. — O que foi? — questiono quando me sinto incomodada com seu
olhar profundo.
— É bom te ver sorrindo sem estar parecendo querer fugir de mim. —
Quebro o nosso olhar me sentindo novamente tímida. — Viu como
conversamos com tranquilidade? Apenas relaxe, Fiorella, pode confiar em
mim, eu não sou como os homens da máfia, sequer gosto do mundo de merda
que eles vivem.
— Esse é o meu mundo.
— Infelizmente. — Thomas toma mais um pouco de vinho. — Quero
saber um pouco mais de você, conte-me sobre algo que goste.
— Não tenho muito o que falar, minha vida é limitada. — Ele descarta
a sua taça e se senta bem na ponta da poltrona.
— Só diga do que gosta, qual seu filme favorito, a sua música predileta,
qualquer coisa que me ajude a entender quem é a mulher enigmática à minha
frente.
Sinto certa emoção me dominar, Carmelo nunca me pediu isso, ele
jamais se importou com meus gostos, se eu estava feliz, com dor ou me
sentindo sozinha.
Inspiro fundo e afasto a lembrança do monstro que me destruiu. Ele não
está mais aqui, agora eu estou liberta da sua maldade e tenho na minha frente
um homem lindo, que se importa em saber até sobre a música que gosto.
Começo a contar meu amor pelo mar, se eu pudesse morava de frente
para praia, em uma casa aconchegante.
Sem perceber me solto e converso com Thomas como se fossemos
amigos de longa data.
Como Nero deixou a sua equipe de funcionários disponível para o
jantar providenciei apenas a comida. Utilizando o meu prestígio consegui que
um dos maiores chefs da cidade fizesse um menu especial para nós.
Enquanto seguimos para a mesa de jantar, aproveito para observar
Fiorella caminhando um pouco a minha frente. Ela está com um vestido
verde-escuro de saia solta, que alcança a metade das suas coxas.
Seu cabelo escorre por suas costas, provocando uma comichão na
minha mão para poder tocá-lo e descobrir se é tão sedoso quanto aparenta.
Está sendo um fardo me segurar, eu sei que preciso ter calma, ela tem
um passado, assim como eu. Nós carregamos nossas dores, porém pelo pouco
que Nero contou, a sua não se compara a minha, é muito pior e eu tenho
receio de descobrir tudo o que passou.
— Pedi que não colocassem a mesa de maneira tradicional, espero que
não se incomode com isso.
Não deixo de observar sua formalidade, ela se comporta de uma
maneira submissa que me incomoda, claramente foi criada para ser uma
exímia anfitriã, a esposa perfeita.
— É um jantar entre dois amigos, qualquer tipo de formalidade está
dispensada. — Um discreto sorriso brinca em seus lábios.
Gosto quando ela sorri, parece mais jovem, nesses raros momentos a
tristeza some do seu olhar.
— Então eu acertei. — Ela se aproxima da cadeira para se sentar, mas
eu me adianto para puxá-la sendo um bom cavalheiro. — Pode parar, amigos
não fazem isso, posso muito bem ajeitar minha própria cadeira.
Agora ela me pegou, não posso argumentar.
— Qualquer homem cavalheiro faria isso — digo com desgosto e mais
uma vez ela sorri.
Essa mulher precisa rir mais vezes, é uma perfeição ver seus olhos
ficarem pequenos e as lindas covinhas que se formam nas suas bochechas.
Fiorella tem uma beleza perturbadora, ao mesmo tempo que é delicada, existe
algo nela que exala poder.
Essa mulher é um grande mistério e eu estou mais que disposto a
desvendar cada um deles.
— Pedi que o chef colocasse em cada prato uma opção vegana, não
sabia seu gosto, então tudo o que iremos comer é em dose dupla.
— Você... — Ela se cala e olha para a taça de água a sua frente, vejo
seu peito expandir quando respira fundo. — Obrigada por ser tão atencioso,
eu como praticamente tudo.
— Gosto dessa informação.
Comemos de entrada uma deliciosa salada Caprese, enquanto conto um
pouco sobre Vichi. Infelizmente ela não conhece o meu país, pelo pouco que
me contou só viajava para os lugares que o pai queria e quando se casou o
marido não a levava para viajar.
É um pouco difícil imaginar ter uma esposa tão linda e a manter dentro
de casa. Uma mulher como ela tem que estar ao lado do marido em qualquer
ocasião.
Que tipo de homem não consegue enxergar o quanto é valiosa?
No momento que chegamos ao prato principal, Fiorella se espanta por
eu ter escolhido massa. Os olhos dela brilham quando me encara e mais uma
vez sorri, me matando por dentro por não poder puxá-la para mim e
reivindicar seus lábios.
— Esse espaguete com lagostim no molho de limão-siciliano é um dos
meus pratos preferidos do chef Anderson.
— Estou com água na boca, faz tempo que não como essa receita.
— Então aproveite.
Sem me decepcionar a comida de Anderson está perfeita, não é por
menos que já ganhou algumas estrelas Michelin, o homem tem mãos
mágicas.
— Meu Deus! Isso aqui está sensacional. — Fiorella fecha os olhos e
geme ao provar da comida.
Fico com o garfo no meio do caminho, observando com fascínio ela
experimentar esse momento de prazer. A minha mente acelera sem que eu
possa me conter, o que me faz imaginá-la com essa mesma expressão ao
gozar.
Puta que pariu! Eu não sei se consigo ser o bom moço que ela necessita
neste momento.
Todo mundo acredita que eu sou um verdadeiro lorde, só que não é
bem assim. Claro que não sou um canalha, mas eu gosto de uma boa
sacanagem, principalmente quando tenho ao meu lado uma mulher que faz
meu corpo ferver de desejo apenas por observá-la comer.
Se Fiorella fosse uma mulher comum, já estaria sobre esta mesa, sendo
devorada pela minha boca.
— Você está bem? — pergunta ao abrir os olhos e me flagrar a
observando.
— Claro. — Disparo um sorriso sem graça e levo o garfo à boca.
Essa cidade tem milhões de mulheres, eu fui me interessar justamente
por uma com um passado nebuloso e pertencente a máfia.
Caralho, Thomas! Por que você não tem uma gota de sorte quando o
assunto é mulher?

— Obrigada por esta noite, confesso que pensei inúmeras vezes que foi
um erro aceitar esse jantar, mas eu realmente apreciei cada momento.
— Ufa! Que alívio — digo ao levar a mão contra o peito fazendo um
drama. — Já estava aqui pensando como faria para te convidar para nosso
próximo encontro.
— Você vai querer me ver outra vez?
— Na verdade, outras vezes. — Lentamente me aproximo dela e seguro
sua mão.
Observo sua reação, não quero que se assuste, até por que eu não vou
fazer nada demais.
— Por que quer me ver? — O medo brilha no seu olhar, isso me deixa
angustiado, não quero que ela se afaste.
— Fiorella. — Envolvo totalmente sua mão na minha. — Prefere que
eu seja sincero ou diga uma discreta mentira?
— Seja sincero — responde segura.
— Faz tempo que uma mulher não me chama tanto atenção, eu quero te
conhecer melhor, mas não vou esconder que minha intenção é ter você — ela
não diz nada, apenas me olha. — Não sei nada do seu passado, a única
informação que Nero me deu é que você teve um péssimo casamento.
— Acho que alguém como você jamais imaginará o tipo de casamento
que tive. — Vejo seus olhos ficarem brilhantes com as lágrimas contidas. —
Por que dentre tantas mulheres que pode ter escolheu a mim? Não sou uma
pessoa comum, estou aprisionada ao meu clã, condenada a seguir às suas leis,
ainda que elas me levem direto para o inferno.
Endureço o rosto quando suas palavras me acertam, não é justo em
pleno século XXI a máfia ainda ter essas tradições arcaicas que podam as
mulheres. Fiorella é uma menina linda, jovem, com uma doçura encantadora,
pensar nela no meio daqueles homens rudes, cruéis, é demais para mim.
— Poderia dizer que quero você justamente por ser proibida, ou por ter
uma beleza impressionante, também pode ser porque quando sorri tudo se
ilumina, porém gosto mais da opção de ser o homem que terá o desafio de
tirar a dor do seu olhar e te fazer enxergar a vida com olhos de bondade e
esperança. — Trago nossas mãos unidas até minha boca e deposito um beijo
entre seus dedos, em seguida as descanso contra meu peito. — Nós não
podemos ter um futuro juntos, mas eu estou disposto a construir boas
memórias a cada encontro, só depende de você.
Mergulho no seu olhar e vejo que a luminosidade da luz deixou seus
olhos em um tom de verde com raios amarelos explodindo neles. É fascinante
acompanhar o desejo se expandir em sua face delicada.
Quero essa mulher e ninguém vai me impedir de tê-la.
— Eu não sou boa para você.
— Isso quem decide sou eu — digo firmemente. — Só preciso que
decida se podemos seguir para um novo nível. — Fiorella encara nossas mãos
unidas, ela fica um bom tempo em silêncio antes de voltar a me olhar.
— Podemos nos encontrar, eu gosto da sensação de confiança que sinto
ao seu lado, mas existem algumas coisas que precisa saber sobre mim. —
Fico tenso.
— Vamos combinar uma coisa? — ela assente. — No nosso próximo
encontro a pauta será tudo o que quiser me contar. Será bom para me sentir
mais próximo de você e entender como posso te conquistar. — Abaixando a
cabeça, ela sorri.
— Já aceitei te ver, acho que você conquistou ao menos um pouco do
meu interesse. — Gosto quando fica mais descontraída.
— Isso é um ótimo avanço. — Mirando seus olhos aproximo o rosto do
seu, na mesma hora noto todo o corpo dela ficar rígido.
Merda! Realmente queria beijá-la, mas não é o momento, por isso
desvio meu caminho da sua boca e encosto meus lábios na sua bochecha.
O cheiro dela me envolve, é suave, levemente floral.
— Entro em contato assim que souber aonde iremos e não se preocupe
com Nero, ele saberá todos os meus passos. — Com muito esforço me afasto
e caminho para o elevador.
Meus seguranças entram logo atrás de mim e, quando me viro, encontro
Fiorella parada, olhando diretamente para onde estou.
Não desvio o olhar, fixo minha atenção no seu rosto, até que as portas
de aço quebram nosso contato.
Dois dias que não a vejo e durante todo esse tempo não paro de pensar
nela. Fiorella se instalou na minha mente de uma maneira que não consigo
mais tirá-la, penso nessa mulher o tempo todo.
Descarto a caneta que estava assinando uns documentos e giro minha
cadeira para encarar o céu de Nova Iorque.
Eu me fechei desde que Clover foi covardemente assassinada, a partir
daquele evento venho colecionando mulheres na minha cama tentando
esquecer o quanto fui covarde por passar três anos ao lado dela sem revelar o
quanto a queria.
Foi completamente ridículo esperar a conclusão dos nossos cursos na
faculdade para me aproximar. Nunca vou me perdoar por essa idiotice, todos
os dias lamento não saber como seria seu sabor.
Não vou repetir a mesma coisa com a Fiorella, ela será minha e Nero
terá que aceitar isso. Estou esperando sua autorização para que ela vá até meu
apartamento ter outro jantar comigo. Como é uma mulher proibida, sei que
não podemos nos mostrar em público sozinhos, para não termos nossas vidas
expostas pela imprensa.
Ouço meu celular tocar, giro a cadeira e observo o nome de Nero
aparecer no visor. Até que enfim esse maldito entrou em contato, mandei
mensagem para ele no dia seguinte ao meu jantar com sua prima, mas o
desgraçado me ignorou.
— Bom saber que está disponível a me responder. — Sou irônico ao
atender.
— Eu não sou seu súdito, alteza, não tenho obrigação de estar a sua
disposição quando quer.
— Por que tanta agressividade? — Rodo a cadeira para voltar a
observar a cidade.
— Nasci num mundo agressivo. — Pelo jeito ele não está nos seus
melhores dias. — Se Fiorella quiser te encontrar vou enviar dois seguranças
para ficar de olho em você, minha prima está passando por um momento
complicado, não quero que se machuque com qualquer idiota.
— Obrigado por me chamar de idiota. — Faço uma pausa antes de
voltar a falar. — Não tenho intenção de machucá-la, no que depender de mim
sempre estará protegida. Ao contrário dos homens da sua realidade, eu trato
bem as mulheres. — Ouço seu rosnado.
— Vai se foder, Thomas.
— O que posso fazer se estou sendo sincero? — pergunto. — No meu
apartamento ela terá muito mais segurança do que no seu, jamais a forçarei a
nada, só quero conhecê-la mais um pouco.
— Vocês não podem ser vistos em público, precisam manter a
descrição.
— Não tenho pretensão de expor nada, tanto que quero um tempo com
ela em um local seguro.
— Seguro? — questiona. — Penso diferente.
— Apenas larga de ser um merda e deixe-a ir até minha casa sem seus
capangas.
— Que tal ser mais agradável?
— Nero, pare de brincadeira.
— Vou conversar com ela, se aceitar te encontrar não vou me meter,
mas tenha cuidado, eu posso até ser maleável, mas Paolo não será.
— É uma ameaça?
— Não! — responde sem pestanejar. — Estou sendo seu amigo e te
avisando que o italiano não vai se importar se é um príncipe. Se magoar a
irmã dele, estará com um alvo na testa e seu pai ou irmão não irão poder te
defender.
— Isso não irá acontecer — afirmo.
— Bom para você — diz soltando uma risada. — Fiorella te ligará se
achar que deve te encontrar.
— Nero — falo seu nome com a voz grave. — Confie em mim, eu vou
cuidar dela.
— Sei disso, caso contrário não permitiria que se aproximasse —
afirma com segurança. — Preciso trabalhar, tenho um problema com os
albaneses, nos falamos depois. — Ele encerra a ligação.
Apoio o celular na minha coxa e sorrio, tenho certeza de que Fiorella
aceitará me ver, ela gostou do nosso último encontro. Sei que devo me
conter, mas dessa vez eu vou seguir um pouco mais além.
Ouço as vozes dos meninos vindo da sala, eles andam agitados, estão
enfrentando algum problema, Paolo também fica assim quando os russos
começam a dar trabalho.
Tento não atrapalhar e me esgueiro pelo canto indo na direção da
escada, mas no meio do caminho Eros nota a minha presença.
— Por que está se escondendo? — Ele cruza os braços, apertando seus
enigmáticos olhos azuis.
Que homem intrometido, eu estava quase subindo sem ser vista, em
certos momentos é uma pessoa extremamente irritante.
— Não estou me escondendo, só não queria atrapalhar a conversa de
vocês.
— Converso o dia todo com seu primo, você não atrapalharia nada,
inclusive prefiro conversar com você, a ter que olhar para o rosto feio dele —
diz ao escorregar os olhos pelo meu corpo. — Linda como sempre.
— Eros, para de gracinha. — Nero o recrimina. — Fiorella, o príncipe
quer um novo jantar com você, eu disse que se aceitasse o convite, ligaria
para marcarem o encontro.
— Esse merda está empenhado mesmo em conquistar a sua prima.
— Ella o encantou.
— Não fiz nada demais — falo tímida. — Estou um pouco surpresa
com todo interesse dele.
— Pois, não deveria ficar — meu primo comenta antes de se afastar.
— Qualquer homem que tenha um porcento de visão se interessaria por
você. — Eros inclina a cabeça ao me fitar. — Eu tô muito puto com esse
chamego dos dois, mas não posso negar que ele é um bom homem. Thomas é
exatamente o que você precisa para sair desse casulo que o maldito falecido
te prendeu. — Com a ponta dos dedos afasta o meu cabelo do rosto. —
Queria ser um homem melhor para entrar em uma briga com o príncipe, só
que eu sou um canalha. — Sorrio quando ele repuxa o canto dos lábios e
pisca para mim. — Só tenha cuidado com esse coração, baby, você não é o
tipo de mulher que tem um caso sem se envolver.
Sinto certa carência, isso me faz abraçá-lo, buscando um pouco da sua
segurança.
— Estou temerosa. — Assumo.
— Com o quê? — Ergo o rosto para encará-lo.
— Eu sou inexperiente, é a primeira vez que tenho um homem
interessado em mim, não sei nem o que falar com Thomas. — Eros acaricia
minha bochecha com o polegar.
— Apenas seja você, isso basta para qualquer homem.
— Nunca fui suficiente para Carmelo, ele sempre jogou na minha cara
o quanto eu era medíocre como mulher. — A expressão dele muda, a raiva
brilha nos seus olhos.
— Aquele infeliz não era homem, era um cão sarnento. — Rosna. —
Cachorro não, que estou ofendendo os pobres bichos, ele era uma besta fera
medíocre. — Agora ele me faz sorrir. — Esqueça tudo o que aquele filho da
puta disse, você é linda e pode ter quem quiser, inclusive um príncipe. —
Mordo o lábio inferior tentando segurar a minha insegurança.
— Então vou ligar para ele, também quero revê-lo.
— Cuidado, querida, eu conheço esse tipo de olhar. — Eros beija
minha testa. — Agora vá fazer sua ligação, tenho assuntos fodidos para
resolver, hoje o dia está sendo só dor de cabeça.
— Eros, larga logo Fiorella e venha aqui, temos problemas a resolver.
— Seu primo é um pé no meu saco — resmunga ao revirar os olhos. —
Preciso ir.
— Obrigada por ser um bom amigo.
— Infelizmente esse foi o título que me restou, amigo da bela ragazza
italiana. — Com um gesto cheio de charme beija minha mão.
Assim que ele se afasta subo para meu quarto, vou ligar logo para
Thomas e marcar o nosso encontro, estou cheia de insegurança, mas eu
preciso encarar a vida, agora que tenho a oportunidade de ter um pouco de
liberdade.
Entro no meu quarto e pego o celular, busco pelo número dele, sentindo
meu coração disparar. Desde que o conheci ando passando por um conflito
intenso de emoções, nunca me senti tão eufórica como agora.
— Fiorella. — A sua voz rouca me arrepia inteira.
— Como está, Thomas?
— Melhor agora que estou ouvindo sua voz. — Ao fundo ouço um
burburinho.
— Se eu estiver atrapalhando ligo depois.
— Você não atrapalha. — O barulho diminui. — Como está ligando
acredito que Nero conversou com você.
— Sim, ele disse que gostaria de marcar outro encontro.
— Se possível amanhã.
— Bem... — Molho os lábios com a ponta da língua. — Não tenho
nada para fazer.
— Ótimo. — A sua voz sai animada. — Eu vou providenciar tudo e
pedir que Nero peça a alguém para te levar até meu apartamento.
— O jantar vai ser na sua casa? — questiono surpresa. — Meu primo
não permitirá isso.
— Já conversamos sobre o local, Nero não quer te expor a comentários,
não existe lugar mais discreto e seguro que minha casa. — Sinto meu coração
disparar, estar no território dele me deixará vulnerável. — Não precisa se
preocupar, Fiorella, eu sempre vou respeitar seus limites.
É difícil tentar entender o que faz um homem na posição dele estar
interessado em uma mulher como eu. Sou tão complicada, cheia de traumas e
ainda assim ele se mostra tão empenhado em me encontrar.
O que ele viu em mim?
— Tudo bem, eu estarei na sua casa na hora que marcar.
— Excelente. — Jogo o corpo sobre o colchão sorrindo. — Tem algum
pedido especial para o jantar?
— Nenhum, pode escolher o cardápio, da última vez você teve um bom
gosto incrível.
— Vou tentar acertar novamente. — Não acredito que estou flertando
com um príncipe. — Já estou ansioso pelo nosso encontro.
— Eu também. — Sou sincera.
— Estou em um evento com alguns investidores, preciso desligar.
— Meu Deus, Thomas! Você disse que eu não estava atrapalhando.
— E não atrapalhou, mas agora preciso voltar a dar atenção a eles.
— Nos falamos amanhã.
— Claro que sim, te ligo assim que tiver com tudo arrumado, até mais
querida.
— Até. — Com pesar desligo.
Abro um largo sorriso, eu vou revê-lo, não vejo a hora de voltar a sentir
o frisson em estar na sua presença. Nunca imaginei que me sentiria tão
eufórica por estar com um homem, Thomas mexeu comigo.
— Ella, posso entrar? — Ouço a voz da Giada por trás da porta.
— Pode. — Grito.
— Nero falou que chegou, vim logo te avisar que consegui vaga com
uma psicóloga. Ela é bem requisitada, trabalha para a máfia, o pai dela é um
dos associados.
— Obrigada, Giada, vai me ajudar muito conversar com um
profissional.
Pensei sobre o assunto desde que ela sugeriu a terapia e decidi que já é
hora de buscar novamente ajuda profissional, para superar todo o meu
passado.
— Você não deveria ter largado a terapia.
— A verdade é que eu não queria falar do passado, mas agora é
diferente, entendi que preciso de apoio.
— Foi o príncipe que te fez querer isso?
— Também. — Não posso negar que ele tenha influenciado a minha
decisão. — Mas a conversa que tivemos me ajudou a enxergar um novo
ângulo, você abriu os meus olhos.
— Fico feliz em ouvir isso. — Ela me abraça. — Você é tão linda,
cheia de vida, não pode ficar presa ao passado.
— Eu não vou, prometo que me esforçarei para seguir em frente.
— Isso aí. — Giada lança um sorriso arteiro. — E como estão as coisas
com o príncipe? Vai rolar outro encontro?
— Jantaremos amanhã.
— O quê? Como só estou sabendo disso agora?
— Acabei de falar com ele.
Começo a contar para a minha prima o que conversamos e meu medo
com esse encontro na casa dele. Giada obviamente me recrimina, ao contrário
de mim ela não se intimida.
Ela acaba me convencendo a ir comprar uma roupa nova, de acordo
com ela para jantar com um príncipe eu preciso estar divina. Apesar de ter
roupas apropriadas para esse encontro, eu acabo me empolgando, porque
quero de verdade impressionar Thomas.

— Diga se não foi divertida nossas compras? — Giada entra no


apartamento toda feliz.
— Não posso debater com você. — Coloco minhas bolsas no chão e
largo o corpo contra o sofá. — Estou cansada, você não tem limites.
— Para certas coisas na vida não necessitamos de limites. — O telefone
dela toca. — Preciso atender. — Imediatamente corre na direção da varanda.
— Que ela não esteja aprontando nada — sussurro enquanto pego
minhas bolsas e vou para o meu quarto.
Tiro meus sapatos e descarto minhas compras sobre uma poltrona.
Estou tentando a muito custo segurar tudo o que está acontecendo comigo,
mas a cada dia está mais difícil.
Preciso dividir com Gio as novidades dos últimos dias, ela é a única
pessoa que eu confio plenamente em guardar esse segredo. Sei que não
contará nada ao marido ou a nosso irmão, nesse ponto Giovanna é tão
discreta quanto eu, já não posso dizer o mesmo de Chiara.
Faço a ligação e aguardo ansiosamente ela atender. Sinto falta de poder
visitá-la, apesar de ter minhas primas aqui, nada se compara a presença de
Gio.
— Lembrou que tem irmã? Há dois dias não nos falamos.
— Mando mensagem sem falta.
— Não é a mesma coisa, sabe disso.
— Certo, tem razão. — Olho pela janela a movimentação da cidade. —
É que aconteceram algumas coisas e eu não sabia como te contar.
— O que exatamente aconteceu? — Sua voz sai um pouco apreensiva.
— Primeiro vou voltar à terapia, começo semana que vem, Giada me
convenceu que preciso de ajuda profissional.
— Ahh... eu fico tão feliz por saber disso, fiquei realmente chateada
quando decidiu não ir mais na que arrumamos aqui em Roma.
— Sei disso, mas agora estou diferente, ando cansada de relembrar
minhas dores, de não ser uma pessoa normal, viver com medo não é algo
agradável.
— Claro que não é — afirma convicta. — Você precisa entender que
está em um novo momento da sua vida, o tempo de dor passou.
Encaro o céu e noto uma nuvem que tem um formato engraçado
parecendo um coração. Minha irmã tem total razão, estou experimentando
aqui uma realidade que jamais imaginei existir.
— Realmente ando passando por uma revolução desde que cheguei
neste lugar — comento enigmática. — Preciso te contar uma coisa, mas antes
tem que prometer que será nosso segredo, nem mesmo Dom pode saber. —
Ela fica em silêncio, certamente está em dúvida se deve ou não se
comprometer com meu pedido.
— Ella, não sei se devo prometer nada até que eu saiba o que é.
— Se não pode prometer eu não vou te contar. — Não posso arriscar
que fale nada ao marido e ele corra para contar ao meu irmão. — Nero sabe o
que está acontecendo, Giada também, mas queria dividir tudo com você.
— Merda! — Ouço Gio se movimentando. — Eu prometo, não conto
nada a ninguém. — Fico aliviada com sua promessa.
— Conheci alguém, jantei recentemente com ele na casa do nosso
primo, hoje à noite temos outro encontro, eu estou nervosa, com medo e ao
mesmo tempo ansiosa para reencontrá-lo.
— Ai, meu Deus! — Gio exclama alto. — Não acredito que se
interessou por um rapaz, estou eufórica e muito feliz por você.
— É estranho sentir vontade de estar perto de um homem, mas ele é
diferente, sei que não vai me ferir, ainda que minha mente lute
constantemente com esse fato.
— Quem é? Se Nero sabe e aprova, significa que ele é um dos seus
homens de confiança. — Ela faz uma pausa. — É o Eros? Mama disse que
ficou preocupada com ele te cercando, resmungou sobre isso o tempo todo,
Paolo não gostou da notícia, até comentou que conversaria com nosso primo.
— Não é Eros — digo ao me sentar na cama. — É alguém que conheci
em uma festa.
— Ele não é da máfia? — Sua voz sai estridente.
— Não — minha resposta vem com satisfação, uma das coisas que
mais gosto no Thomas é justamente ele não ser da máfia. — É alguém que
nosso primo tem negócios.
— Fiorella Torcasio, pare de mistério, quero saber quem é esse homem
agora mesmo. — Mordo o lábio inferior me sentindo um pouco temerosa do
que minha irmã vai dizer, preciso do apoio dela para ter certeza de que não
estou fazendo nada errado.
— É Thomas Cassel, o príncipe de Vichi.
Espero sua reação, mas Gio se cala, é como se estivéssemos em um
vácuo, nem mesmo a sua respiração eu ouço.
— Não vai dizer nada? — pergunto nervosa.
— Se eu tivesse palavras para dizer algo... — O nervosismo me
domina.
— Ele é demais para mim, não é o que está pensando? Eu também acho
isso, não existe nada em comum entre nós, vou desmarcar o jantar, é melhor
acabar logo com essa loucura.
— Não faça isso! — ordena. — Você merece o melhor desse mundo,
inclusive um príncipe, eu só estou preocupada por ele não ser do nosso meio.
Você nunca se relacionou e homens como o Thomas, são fáceis de nos
envolver, tenho medo de se machucar.
— Ninguém pode me machucar mais do que meu falecido marido. — É
um pouco difícil não trazer Carmelo para meu presente, ele será sempre a
lembrança constante do quanto sofri.
— Sei que não, mas ele pode machucar seu coração, será outro tipo de
dor.
— Talvez eu tenha nascido apenas para sofrer. — Sinto meus olhos
marejarem.
— Pare de falar bobagem — ralha comigo. — Se sente vontade de se
encontrar com ele, vá, não pense muito, apenas siga à sua intuição, porém
tenha cuidado, ninguém pode saber o que está acontecendo, Paolo não vai
gostar se descobrir.
— Nero já me disse isso, eu vou ser discreta.
— E nosso primo concordou com essa situação?
— Ele não é uma pessoa tradicional, Nero odeia as leis da máfia e de
acordo com ele mereço um momento meu, com alguém que eu deseje.
— Nosso primo subiu no meu conceito, não esperava isso vindo dele,
principalmente agora que virou o Capo.
— Nem eu, mas confesso que ele tem sido uma grata surpresa.
— Então aproveite, meu sonho era que se abrisse e encontrasse alguém
que soubesse dar o valor que merece, estou torcendo por você.
— Obrigada pelo apoio, Gio.
— Sempre estarei ao seu lado.
Mudamos o assunto e pergunto sobre minhas sobrinhas, Giovanna me
atualiza sobre as traquinagens delas. Quando eu voltar para casa, passarei um
longo tempo grudada nas duas.
Olho o fluxo intenso da cidade, enquanto o motorista me leva para o
meu novo encontro com Thomas. Tentei bloquear toda a minha ansiedade
enquanto me arrumava para encontrá-lo, mas agora que está chegando o
momento de colocar os olhos nele, o nervosismo me domina.
Corro a mão pela minha saia de seda preta, ela é elegantemente sexy,
foi uma escolha da minha prima, na hora achei reveladora demais, agora
gosto de como fiquei atraente dentro dela.
O motorista rodeia o Central Park, Thomas também mora na região do
Upper East Side, não é muito longe de onde minha família mora, eu poderia
vir a pé se não fosse uma mulher da máfia.
Poucos segundos depois o carro desacelera e entra em uma garagem de
um dos edifícios mais caros de Nova Iorque. Não fico surpresa com a
localização do apartamento dele, é condizente com seu status social.
Antes que eu possa pensar em abrir a porta um homem faz isso por
mim. Ele veste um elegante terno e tem um discreto sorriso nos lábios.
— Boa noite, senhorita. — Recebo seus cumprimentos. — O senhor
Cassel a aguarda. — Segurando a minha mão me ajuda a sair do veículo.
— Muito obrigada. — Agradeço quando me encaminha para a entrada
do prédio.
— A senhora vai subir pelo elevador privativo, não se preocupe que
tudo está seguro. — Apenas aceno enquanto me escolta até o elevador.
Volto a agradecer o homem pela atenção antes do elevador me isolar do
mundo. Inspiro fundo tentando me acalmar, mas é uma missão um tanto
quanto impossível.
Sinto meu coração disparar a cada número do painel que me leva até a
cobertura. Quando chego ao meu destino, um misto de ansiedade e
insegurança me domina. Não tenho tempo de pensar em nada, pois quando as
portas se abrem, Thomas me espera parecendo ainda mais bonito do que na
última vez que nos encontramos.
— Fiorella — diz meu nome ao esticar a mão. — Estava ansioso pela
sua chegada.
— Como vai, Thomas? — O cumprimento quando seguro sua mão.
— Melhor agora — responde ao beijar meu rosto, me envolvendo com
seu perfume. — Venha, vamos entrar, quero te mostrar minha casa.
No chão do hall de entrada um piso branco revela a elegância do lugar,
bem em cima de nós um pesado lustre mostra a imponência da residência. Ao
lado esquerdo uma escada com corrimão em metal dourado leva ao andar
superior, já a nossa direita tem uma sala com piso de madeira clara e móveis
de estofado caramelo.
Meus tios moram em um apartamento extremamente luxuoso, Nero
também, mas nenhum dos dois lugares pode se comparar ao que vejo agora.
Nunca estive em um local assim, nem o mais alto membro da máfia consegue
ostentar tanto glamour.
— Meu Deus! — exclamo em choque.
Sei que deveria ser mais discreta, no entanto não consigo, me sinto
dentro de um dos castelos da Inglaterra, sendo que esse castelo está no topo
de um dos mais elegantes prédios de Nova Iorque.
— Isso significa que gostou? — pergunta quando nos leva para o meio
da sala.
— Não sei o que falar, tudo é... — Intercepto minhas palavras ao
observar uns objetos no tom dourado, fico com receio de perguntar se
realmente são de ouro. — Eu esperava um apartamento bem elegante, mas
isso aqui ultrapassou qualquer pensamento que tive.
— O imóvel é da minha família, quando resolvi me instalar na cidade
uma das exigências era que eu me estabelecesse aqui. — Pela maneira que
fala não foi do seu agrado vir morar no apartamento. — Meus pais não
gostaram da ideia de não ter o filho em Vichi, mas cederam depois de um
tempo, porém não pude escapar de ter que ficar aqui.
— Sua casa é perfeita.
— Obrigado, é bom saber que gostou. — Ele me puxa para sentar no
sofá. — Aceita um champanhe?
— Claro. — Ajeito minha saia e descarto minha bolsa ao meu lado.
Enquanto Thomas serve nossas bebidas, aproveito para observá-lo. Ele
está com uma calça preta justa e uma blusa de mangas compridas e gola alta
na mesma cor.
É simples e ao mesmo tempo elegante, combina bem com sua
personalidade enigmática.
— Aqui. — Oferece a taça. — Que nós dois possamos ter muitos
outros encontros — diz ao tocar a taça na minha.
— Se assim nós desejarmos.
— Eu desejo — afirma ao erguer a taça aos lábios escondendo um
sorriso.
Também desejo, estou verdadeiramente atraída por ele, ainda que por
dentro, um conflito intenso se desenrole. Eu espero que meu encontro com a
terapeuta me traga equilíbrio, eu preciso aproveitar cada momento que estiver
com ele.
— Mitchell me disse que conversou com seu irmão, durante o papo
Paolo contou que você estava aqui. — Fico apreensiva.
— Meu irmão não pode saber que nos encontramos, ele me faria voltar
para casa.
— Sei disso. — Thomas senta-se ao meu lado, mas não tão próximo,
ele mantém certa distância. — Mas não se preocupe, Mitch não sabe sobre
nossos encontros.
— Eu me sinto uma criminosa me escondendo das pessoas. — Bebo
um pouco do champanhe.
— Ei! Pare com isso — pede ao apoiar a mão sobre a minha. —
Infelizmente essa é a nossa vida. — Vejo os olhos deles ficarem escuros.
— Você deve passar por suas privações também, não é? — pergunto
curiosa.
— Muitas. — Thomas corre a mão pela parte de trás do cabelo. — Ser
príncipe só parece bom para quem não sabe como é o dia a dia da família real
e todos os perigos que corremos.
— Entendo sua vida. — Nos encaramos. — Você ao menos pode ter
escolhas, eu nem isso posso. — Vejo suas sobrancelhas se unirem.
— É difícil acreditar que a máfia viva no século passado, o que fazem
com vocês mulheres é um absurdo.
Fico pensativa, porque a máfia não é o melhor dos mundos, mas fora
dela nós mulheres também não estamos seguras.
— A grande verdade, Thomas, é que as mulheres sofrem em qualquer
nicho da sociedade. Na máfia temos algumas particularidades, tipo boa parte
dos homens serem como meu falecido marido, mas algumas encontram
felicidade e segurança, é o caso das minhas irmãs e cunhada.
Por um tempo ele fica em silêncio, parecendo avaliar minhas palavras.
— Você achou um bom ponto, tenho que concordar. — Seus olhos
percorrem todo o meu rosto. — Não sei o que já passou, mas eu lamento
muito, fico feliz que Paolo tenha exterminado seu marido.
Solto uma respiração profunda, lembro do exato momento em que meu
cunhado Domênico contou sobre a morte do meu marido. Foi estranho sentir
tanta felicidade e alívio com a morte de alguém.
— Uma pessoa como você não pode imaginar metade do terror que
passei. — Não consigo conter a angústia e me levanto, agitada com as
lembranças que começam a borbulhar na minha mente.
Vou até a imensa janela de vidro, observo a escuridão da noite, os
carros trafegando pela rua e o mistério das árvores do Central Park. Ninguém
jamais entenderá o que sofri, o medo que sentia quando ouvia a voz de
Carmelo ao chegar em casa.
Escutar seus passos se aproximando do meu quarto, era a mais
profunda tortura. Todos os dias eu tentava me matar, mas sempre fui covarde
demais para seguir em frente, a minha criação católica me fazia enxergar um
inferno pior do que eu vivia com meu marido.
— Fiorella. — Ouço a voz do Thomas nas minhas costas. — Posso
tocar na sua cintura? — Olho para ele, surpresa com o seu pedido. — Só
quero de alguma maneira te confortar.
O meu corpo parece amolecer com seu pedido, Thomas sequer é meu
amigo, mal nos conhecemos, mas sua delicadeza ao se aproximar de mim é
linda.
Ser tocada para mim é sinônimo de dor, então ouvir de um homem o
pedido para se aproximar sem a intenção de me machucar, tem uma
conotação de extrema importância.
Faço um leve aceno, não consigo falar nada no momento, estou
sentindo minha garganta embargada.
A sua mão pesa na minha cintura, mas não de uma maneira bruta, é
apenas sua força natural.
Aperto meus olhos quando o sinto beijar meu cabelo, imediatamente a
intensidade do seu perfume amadeirado me consome. Seguro a vontade de
me recostar nele, surpreendentemente Thomas me faz sentir a necessidade de
me aproximar.
— Independentemente do que tenha acontecido, passou, você precisa
seguir em frente. — Sua mão na minha cintura dá um aperto, mas não é nada
que possa me machucar. — Está fazendo terapia? Precisa de ajuda
profissional.
— Começo na segunda, minha prima arrumou uma terapeuta que
trabalha com a máfia.
— Isso é bom, vai te ajudar. — Ele sobe a mão e apoia na minha
cabeça. — Eu comecei uma terapia há dois anos, resisti por um longo tempo,
mas entendi que precisava de um escape. — Sua revelação me deixa
surpresa.
— Espero que esteja melhor agora — digo com sinceridade.
— Eu estou vivendo um dia após o outro — afirma ao sorrir. — Vamos
conhecer o resto do meu apartamento? Assim paramos com assuntos que só
nos entristece.
— Acho uma ideia excelente.
Não me oponho quando segura a minha mão e nos encaminha para o
andar superior, onde encontro ainda mais luxo. Esse lugar parece ter sido
retirado de um livro ou filme, tudo é escandalosamente exuberante, eu não
saberia morar em um lugar assim. Sou acostumada com lugares sofisticados,
mas nada se compara onde esse homem mora.

— Consegui acertar novamente no jantar? — pergunta quando segura a


minha mão para me ajudar a levantar.
— Não sei nem o que falar, estava tudo divino — afirmo quando nos
afastamos da mesa.
— Dessa vez os créditos estão por conta da Carmem, ela trabalha
comigo há alguns anos.
— Então dê os parabéns a ela, estava delicioso.
— Em breve irá conhecê-la.
Thomas nos encaminha para a área externa do seu apartamento, onde
fica uma varanda elegante que nos dá uma bela visão da cidade.
— Isso significa que eu virei mais vezes aqui? — Olho para o alto e
encaro seu rosto.
— Se quiser pode vir todos os dias. — Ficamos de frente um para o
outro.
O meu coração acelera, ele está muito perto, consigo sentir seu cheiro e
o calor que irradia do seu corpo. Queria que me abraçasse, deve ser incrível
sentir o carinho de alguém como ele, mas eu não sei o que fazer, preciso que
ele dê esse passo.
— Thomas, posso te falar uma coisa? — pergunto me sentindo nervosa.
— O que quiser. — Inspiro profundamente quando ele passa a mão
pelo meu cabelo.
— Eu nunca estive com outro homem além do meu marido, acho que
sabe bem como funciona a realidade de uma mulher na máfia.
— Sei o básico e não gosto de nada do que me falaram. — Seu rosto
está sério.
— Só preciso que saiba que eu tenho muitos problemas, eu não sei nem
o que falar com você, eu me sinto muito insegura. — Agora sua expressão
suaviza, os seus olhos ficam extremamente aquecidos.
— Não precisa se sentir insegura com nada. — Estremeço quando ele
acaricia minha bochecha. — Gosto da sua naturalidade, o que me incomoda é
saber de toda a dor que passou. É difícil acreditar que possa existir alguém
neste mundo que seja capaz de ferir uma pessoa tão meiga.
Nos encaramos, não existe nos seus olhos um pingo de maldade. Eu
vivi por quatro anos com um monstro, sei exatamente como identificar
quando alguém é cruel.
— Existem pessoas com um nível de maldade que você se assustaria.
— Nada neste mundo me assusta, acredite em mim. — Seus olhos
caem para minha boca. — Queria muito te beijar.
As minhas mãos estão suando, beijar não é algo que me agrade, nos
poucos beijos que Carmelo me deu eu sentia muito nojo. Em algumas vezes
ele mordia meus lábios até machucá-los, para ele me ver sangrar era uma
espécie de prazer.
Preciso focar no presente, o homem a minha frente é outro, ele não vai
me ferir.
— Também quero — assumo. — Essa será a primeira vez que beijo
alguém por vontade própria.
Um brilho de fúria se espalha nos seus olhos dourados, mas essa raiva
não é para mim, ele está furioso com o mundo que vivo.
A minha respiração parece ficar suspensa enquanto ele vai
aproximando o rosto do meu. Acompanho encantada as pequenas sardas no
seu nariz, sua boca rosada e a barba rala.
Ele é tão lindo, difícil acreditar que estou prestes a beijar este homem.
Aperto os olhos quando nossos lábios se encontram, uma sensação
estranha me domina, no primeiro momento a imagem de Carmelo puxando
meus cabelos e me obrigando a beijá-lo me faz querer repelir Thomas, mas aí
ele move a boca lentamente, enquanto seus braços rodeiam meu corpo com
delicadeza.
Tento me agarrar ao momento, deixar trancado em um canto da minha
mente as más lembranças. Enlaço seu pescoço e me deixo ser envolvida por
seu beijo.
Movendo nossos corpos, Thomas me encosta na sacada, ele lambe
meus lábios antes de pedir passagem com a língua para o interior da minha
boca.
Eu me entrego, é bom beijá-lo, nunca pensei que um simples beijo
pudesse ser tão prazeroso. Não me controlo e gemo, quero que continue me
beijando.
O meu corpo esquenta, sinto uma sensação diferente me consumir,
jamais imaginei que poderia ser tão bom estar em contato com um homem.
Agora entendo minhas irmãs, elas devem sentir essa mesma euforia ao estar
com seus maridos.
— Senhor! — Thomas exclama e interrompe abruptamente o nosso
beijo.
Olho para ele confusa, será que não gostou de me beijar? Fiz algo
errado e não sei?
— Desculpa — peço me sentindo envergonhada.
Um homem como ele beijou muitas mulheres, nada do que eu faça irá
satisfazê-lo. Posso ter sido casada, mas sempre fui apenas um objeto para
meu marido.
— Está se desculpando por quê? — Abaixo o rosto, queria poder sumir
agora. — Olhe para mim — pede ao apoiar o indicador embaixo do meu
queixo e erguê-lo. — Você não fez nada de errado para pedir desculpa.
— Você não gostou do beijo.
— Como é? — pergunta ao erguer as sobrancelhas. — E como sabe
disso?
— Pensei que estávamos indo bem, mas você se afastou. — Ele me
abraça.
— É difícil acreditar que uma mulher que foi casada possa ser tão
ingênua — diz ao soltar uma risada amarga. — Eu não gosto de pensar no
que seu marido fez com você.
— Ele nunca me beijou assim — confesso em um sussurro.
O corpo dele enrijece imediatamente, seus braços me apertam com
mais força, ainda assim não sinto medo, sei que sua raiva não é direcionada a
mim.
— Você não fez nada errado — fala ao me fitar. — Eu só interrompi
nosso beijo para me controlar. — Seus lábios vêm contra os meus
lentamente, apenas sondando a minha boca. — Já entendi que tudo entre nós
precisa ser lento, quero muito ter você na minha cama agora mesmo, mas não
vou te empurrar além do que possa lidar.
O meu coração dispara, ele pensa em mim, se importa com o que eu
sinto.
— Tem certeza de que vai querer uma pessoa tão problemática? — Ele
sorri.
— Nunca tive tanta certeza em toda a minha vida, só preciso que confie
em mim.
— Eu confio — digo sem pestanejar. — E quero estar com você, ainda
que tudo entre nós me assuste.
— Não tenha medo de nada, apenas viva intensamente, nunca sabemos
quando será nosso último segundo.
Ele volta a me beijar e, dessa vez, eu me sinto mais afoita, grudo meu
corpo ao dele, deixando de lado todos os meus pensamentos conflituosos.
Preciso aproveitar essa oportunidade de estar com alguém que eu
desejo. Serão as lembranças que formarei ao lado dele, que me sustentarão no
futuro incerto que me espera.
Giro a caneta entre os dedos, essa é uma mania vinda da adolescência,
me relaxa quando estou pensando.
Desde meu último encontro com Fiorella há alguns dias, ando com a
mente acelerada, incomodado com o seu passado e de como isso influencia
quem ela é atualmente.
Sei que cada um tem sua própria realidade, mas pensar nela sendo
agredida covardemente pelo marido é algo que não consigo aceitar. Ela é uma
mulher extremamente delicada, deveria ser protegida e, não sofrer abuso.
Aperto a caneta na mão, sentindo a raiva ganhar espaço dentro de mim.
Se o marido dela já não estivesse morto, eu mesmo providenciaria seu
destino. Não sou agressivo como meu irmão, violência não é algo que me
agrade, mas para a proteger eu tomaria qualquer atitude.
Hoje ela terá sua primeira sessão de terapia na cidade, espero que a
ajude, Fiorella precisa renascer e superar toda a dor que passou. Eu também
preciso me desvencilhar do passado, não posso mudar o que aconteceu.
Talvez nós dois juntos possamos nos apoiar, ambos temos problemas,
dores que ninguém pode entender.
O meu celular toca, chamando a minha atenção, sorrio quando o nome
dela aparece, certamente está ligando para falar da terapia. Combinamos
neste final de semana que me contaria como foi sua primeira experiência.
— E aí? Como foi na consulta? — pergunto sem rodeios.
— Foi boa, ela fez aquelas perguntas clássicas para poder me conhecer
melhor.
— Ela realmente necessita saber quem é, até porque precisa traçar seu
perfil e entender como te ajudar.
— Foi bem isso que ela me falou. — Pela entonação da sua voz está
sorrindo, isso me faz lembrar do nosso encontro e de como foi uma
experiência única poder provar dos seus lábios.
Eu tive uma quantidade grande de mulheres na minha vida, jamais
poderia precisar quantos beijos já dei, porém posso afirmar que nada se
comparou ao prazer que senti quando nossas bocas se uniram.
Sei que tenho uma mulher especial na minha vida e, irei a fundo para
passar o maior tempo possível ao lado dela. Dessa vez não vou desperdiçar
nenhum segundo, eu viverei intensamente tudo o que puder.
— Aconteceu o mesmo comigo no meu primeiro dia de terapia, acho
que deve ser algo padrão.
— Eu estava um pouco nervosa, mas gostei da terapeuta, ela é
simpática e muito calma.
— Isso é bom. — Recosto contra a cadeira. — O que você acha de nos
vermos hoje? Precisamos comemorar esse novo passo que está dando.
— Preciso falar com Nero. — Fecho os olhos, puto por ela ser tão
submissa a merda do primo.
— Você só precisa pedir que sua equipe de segurança te acompanhe,
Nero sabe que estamos nos encontrando.
— Não quero aborrecê-lo, Thomas, ele pode nos afastar. — Esfrego o
polegar e o indicador nos olhos contendo a vontade de falar algo
inapropriado.
— Seu primo não vai nos afastar, fique tranquila, sei como lidar com
ele. — Nero é um homem prático e muito racional, coloca os negócios acima
de tudo, ao contrário do irmão dela. — Só o avise que pedi um encontro e
que precisa ir ao meu apartamento.
— Vou conversar com ele, ligo se algo inesperado acontecer.
— Vamos nos encontrar hoje, Fiorella, seu primo querendo ou não —
afirmo. — Vou sair mais cedo, te envio mensagem quando estiver perto de ir
para casa, assim temos mais tempo de ficarmos juntos.
— Combinado. — Ela faz uma pausa. — Estou ansiosa para te ver.
— Não mais que eu, querida, ninguém vai impedir esse encontro, agora
preciso trabalhar, porque cada minuto perdido significa menos tempo com
você.
— Nos falamos mais tarde.
— Até mais. — Desligo relutante, estou fissurado nela, não vejo a hora
da noite chegar para revê-la.
Apoio o cotovelo contra a mesa e afundo o rosto entre as mãos, só
penso em levá-la para a cama, mas Fiorella precisa de muito mais. Eu deveria
me afastar, só que não dá, nunca terei paz se não a tiver inteiramente como a
desejo, preciso desvendar cada parte do seu corpo, saber como é a sua
expressão quando está gozando.
Não tenho a intenção de magoá-la, mas também não consigo ser
racional o suficiente para interromper nossos encontros.
O barulho de um novo e-mail chegando capta a minha atenção, vejo
que é do Stuart, no assunto está escrito o nome de Laura Gatti.
Ela foi a indicação que Scott nos deixou antes de sair de licença, desde
então Stuart está encarregado de avaliá-la pessoalmente para saber se
podemos colocar em suas mãos o cargo de CEO da empresa.
Abro o e-mail e nele tem o currículo da Laura, ela é uma jovem de
vinte e nove anos, formada em administração por Harvard e com
especialização na universidade de Cambridge.
Porém, não é só o seu currículo que é impecável, a sua experiência na
equipe administrativa de uma grandiosa montadora de carros da Europa
chama bastante atenção. Ela trabalhou diretamente com Javier Martolo, um
dos maiores nomes do meio corporativo.
Stuart faz um breve relatório sobre o que observou nos dias que
trabalhou com ela. De acordo com meu amigo Laura sabe liderar a equipe,
tem o respeito dos colegas, além de possuir uma genialidade estrondosa para
lidar com os problemas administrativos.
Pelos elogios que Stu tece a moça, não me restam dúvidas que
temporariamente ela será a nossa CEO.
Peço para Meghan chamar Laura até a minha sala. Quero resolver logo
esse assunto, com ela no cargo terei menos um problema nos meus ombros.
Enquanto aguardo a sua chegada, respondo alguns e-mails, ando com
tanto trabalho que estou negligenciando minhas mensagens pessoais.
Não demora muito e sou informado que Laura chegou, peço que entre
imediatamente. Fecho meu e-mail no mesmo segundo que ela abre a porta.
— Com licença, senhor Cassel.
— Entre e sente-se — aponto para a cadeira a minha frente. — Preciso
conversar algo com você. — Laura me olha apreensiva.
Não é a primeira vez que a vejo, no entanto nunca tinha reparado na sua
beleza. Ela tem o corpo esguio, cabelo preto na altura do ombro e sua pele
possui um bronzeado natural.
É uma mulher muito bonita, mas a determinação no seu olhar chama
muito mais atenção. Laura é o tipo de pessoa que sabe o que deseja, isso é
algo importante quando se quer ser um executivo de sucesso.
— Aconteceu algo? — pergunta ao se acomodar na cadeira.
— Apenas relaxe — peço. — Você sabe que por conta do problema de
saúde do Scott estou sem um CEO.
— Claro, toda a nossa equipe está se desdobrando para ajudar o senhor
Daley.
— Eu estou sabendo do excelente trabalho que estão fazendo, Stuart
tem me mantido informado, é justamente por isso que está aqui. — Laura me
observa com cautela. — Acabei de ver seu currículo, você teve uma formação
exemplar e trabalhou com Martolo, ele é um nome forte no meio empresarial.
— Aprendi muito com ele, foi justamente por ter composto sua equipe
que consegui um emprego aqui.
— Scott confiava em você, inclusive me indicou seu nome para o
substituir. — Ela arregala os olhos.
— Ele fez isso?
— Sim. — Rodo a minha caneta entre os dedos. — De acordo com ele
você tem a liderança necessária para assumir o cargo e, Stuart concorda com
essa escolha. — Laura corre as mãos pelo tecido da saia claramente nervosa.
— Estou verdadeiramente feliz em saber disso.
— Talvez fique um pouco mais feliz. — Apoio os braços sobre a mesa
e entrelaço os dedos. — Quero fazer um teste com você sendo a minha nova
CEO, terá três meses para mostrar que pode assumir tudo até que Scott esteja
prontamente recuperado.
— Meu Deus! — exclama ao colocar a mão contra o coração. — Eu
aceito, prometo que não irá se arrepender em confiar em mim.
— Assim eu espero. — Levanto e rodeio a mesa. — Parabéns, Laura,
agora você manda em tudo aqui, faça um bom trabalho, eu gosto de apostar
em jovens, está em suas mãos consolidar seu nome no meio empresarial. —
Estendo a mão para ela.
— Muito obrigada pela oportunidade, eu irei trabalhar com muita garra
— afirma ao apertar minha mão com força.
— Gosto da sua determinação. — Ela sorri feliz. — Vou pedir a minha
secretária que avise ao RH para que providenciem a mudança no seu cargo,
mas já pode iniciar suas atividades agora mesmo e mude-se para a sala do
Scott, agora ela é toda sua.
— Certo, mais uma vez obrigada.
— Quero que me agradeça trabalhando com competência, agora pode
ir.
— Eu vou me dedicar ao máximo, até mais.
Sem deixar de sorrir ela sai da minha sala parecendo flutuar. Espero
que corresponda às minhas expectativas, eu gostei dela, senti confiança no
seu olhar.

Seco o cabelo apressado, acabei ficando preso em uma entrevista e me


atrasei para chegar em casa. Preferi não mudar o horário que marquei de
encontrar Fiorella, corri como um louco tentando não me atrasar muito, ainda
assim ela chegou quando eu estava no meio do banho.
Pego um jeans qualquer e visto, opto por uma blusa branca simples, de
malha e gola canoa. Quando fico apresentável, desço rapidamente ansioso
para colocar meus olhos na mulher que não sai da minha cabeça.
Eu a encontro na sala, sorrindo com algo que Carmem fala. A minha
governanta tem um carisma único, todo mundo se apaixona por sua figura
amorosa. A conheci em um café, quando estava na reta final da faculdade, ela
era a garçonete e nos demos bem assim que nos olhamos.
Passei meses indo ao mesmo lugar só para conversar com ela, Carmem
não fazia ideia de que eu era um príncipe, então me tratava como um
estudante qualquer, isso fazia com que me sentisse uma pessoa comum.
Acabei descobrindo que ela era ilegal no país, veio do Brasil junto do
marido buscar uma vida melhor para a família. O seu sonho era conseguir
visto definitivo e trazer os filhos para morar com ela.
Pedi para o serviço secreto do meu país investigá-la e como esperava,
nada de ruim foi encontrado sobre sua vida. Isso me fez convidar ela e, o
marido para trabalharem comigo quando vim me estabelecer em Nova
Iorque. Consegui os vistos definitivos do casal com a ajuda do meu pai e
trouxe os seus filhos para morarem aqui.
Carmem é como uma mãe, ela cuida de mim com todo amor, não me
admira que Fiorella já esteja encantada por sua figura animada e falante.
— Vejo que já conheceu, Carmem — digo ao me aproximar. — Na
última vez que esteve aqui ela não estava, pois tinha um compromisso para
comparecer.
— Como demorou, não podia deixar a menina sozinha — Carmem
comenta. — Trouxe algo para ela comer e beber, aproveitei para conversar
um pouco.
— Não seria você se não começasse a falar sem parar. — Ela faz uma
careta.
— Só fui simpática.
— Adorei sua companhia — Fiorella fala com sua voz meiga.
Aproveito para observar sua beleza, ela está com uma calça preta que
gruda nas suas pernas esguias, uma blusa creme de seda e jaqueta preta
completa o visual.
Simples e elegante. Fiorella consegue ficar linda usando qualquer tipo
de roupa. Não vejo a hora de poder vê-la nua, tenho certeza de que será uma
visão inesquecível.
— Se precisarem é só me chamar.
Espero Carmem se afastar para poder me aproximar dela.
— Desculpa por não estar presente quando chegou, eu tive uma
entrevista como último compromisso do dia, acabou sendo mais longa do que
pensei.
— Não tem problema. — Seguro sua mão.
— Quero te beijar — aviso, sei que não posso me aproximar
inesperadamente dela.
— Eu também quero.
Imediatamente seguro sua cabeça e reivindico sua boca. Estou sedento
por seu sabor, quero cada grama de contato que ela puder me oferecer.
Fiorella envolve os braços pelo meu pescoço, devolvendo o beijo com a
mesma ansiedade.
Deus! Como é bom beijá-la. Sua boca é macia, o cheiro dela é delicado,
e seu corpo pequeno some entre meus braços grandes.
Mordisco seus lábios dando rápidos beijos antes de me afastar. Encaro
seus olhos e vejo o quanto estão brilhosos, não existe a tradicional tristeza
que sempre me incomoda. Agora parecem vivos, felizes, quero sempre os ver
assim.
— Você é tão linda — digo ao acariciar seu rosto.
— Assim você me deixa sem graça. — Ela descansa a cabeça contra
meu peito.
Esse gesto simples faz meu coração acelerar, apesar de todos seus
traumas ela confia em mim.
Aperto seu corpo entre meus braços e beijo o topo da sua cabeça, é um
pouco estranho me sentir tão familiarizado com uma pessoa, Fiorella parece
pertencer ao meu mundo há muito tempo.
— Quando será sua próxima sessão de terapia? — pergunto ao buscar o
seu rosto.
— Na próxima segunda, decidi fazer uma sessão por semana.
— Ótimo. — Seguro a sua mão e a levo para o sofá. — Veja sempre se
ela tem alguma vaga extra na agenda, será bom para você agilizar o
processo.
— Vou ver isso. — Antes que ela se sente ao meu lado a puxo para
meu colo.
— Tudo bem ficar aqui? — pergunto ao beijar seu queixo. — Acho que
já está subentendido que estamos juntos.
— De verdade não sei se está tudo bem, mas vamos descobrir em
breve. — Ela me encara apreensiva.
— Não quero te forçar a nada.
— E não está — afirma ao acariciar minha nuca. — Tudo é novidade
para mim, nunca recebi esse tipo de carinho, muito menos vi nos olhos de um
homem o quanto ele me deseja.
— Porra, Fiorella. — Seguro seu corpo com força. — Uma pena seu
marido estar morto, eu queria poder me acertar com ele.
— Você é uma pessoa muito boa, não merecia conhecer aquele
monstro. — A tristeza volta ao seu olhar, o que me deixa furioso.
— Não vamos falar dele. — Beijo rapidamente sua boca. — Temos
coisas melhores a fazer. — Acaricio sua coxa, mas sem avançar demais.
— E o que seria? — Ela me encara com expectativa.
— Posso mesmo mostrar o que é? — Fiorella aperta os olhos.
— Você está afoito demais hoje.
— Culpa sua. — Beijo seu pescoço. — Passei o dia pensando em te
reencontrar, agora que está aqui preciso aproveitar.
— Como quer aproveitar? — Abro um lento sorriso.
— Por enquanto, vou aproveitar te enchendo de beijos — digo segundo
antes de prender sua boca na minha.
Eu espero que essa terapeuta seja boa, porque não sei até quando vou
conseguir só beijá-la, eu preciso estar dentro dessa mulher o quanto antes, é
praticamente uma obsessão descobrir como deve ser incrível ouvi-la gozar.
Preciso dessa experiência, não vou ter paz até que ela seja completamente
minha e que descubra o verdadeiro significado do prazer.
Não consigo explicar o que estou sentindo, é uma sensação inédita e
completamente embriagadora. Meu corpo jamais esquentou tanto, muito
menos desejei ir mais longe com alguém.
Desde que fiquei viúva, tive a certeza de que queria passar o resto da
minha vida sozinha. Só que Thomas cruzou meu caminho e agora eu já não
me reconheço. Penso nele a cada segundo, quero encontrá-lo todos os dias,
beijá-lo é um prazer indescritível e ter essa sensação de calor consumir meu
corpo é algo que me assusta ao mesmo tempo que me instiga a seguir em
frente.
Estou com medo de tudo o que ando sentindo, mas eu não posso deixar
de viver essa aventura, finalmente fazer algo que eu quero e com alguém que
anseio em estar junto.
Gemo quando ele morde meu lábio inferior e vai espalhando beijos
pelo meu pescoço. Não reajo quando Thomas firma as mãos na cintura e me
faz montá-lo.
Certa aflição me domina, as más lembranças começam a emergir, isso
me faz abrir os olhos, para me agarrar ao presente e lembrar que estou ao lado
de um homem especial, não de um bárbaro.
Passo a mão pelo seu cabelo ainda úmido do banho, o seu cheiro
másculo é estimulante, quando estou ao seu lado o meu corpo parece estar
eletrificado.
Thomas arranha os dentes no osso da minha clavícula, suas mãos que
estão na minha cintura descem um pouco até que aperta a minha bunda.
Ofego nervosa, mas não o afasto, estou segura ao seu lado e, apesar da
minha mente não parar nenhum momento, meu corpo tem ânsia de
experimentar cada nova sensação.
— Estou passando dos seus limites? — ele pergunta ao erguer os olhos
até os meus.
— Tudo é novidade, estou tentando assimilar as sensações que estou
sentindo.
— Elas são boas?
— São surpreendentes, nunca pensei que estar com um homem pudesse
ser tão bom. — O rosto dele muda, imediatamente seus olhos ficam
sombrios. — Mas não vamos falar sobre isso, quero você longe do meu
passado. — Deposito um beijo na sua boca, sem tirar meus olhos dos seus. —
Eu só quero continuar a descobrir essas novas sensações.
Grudo nossas bocas, me perdendo nos seus lábios, não quero pensar em
mais nada, necessito tanto continuar a experimentar todas essas emoções
inéditas que ele está me fazendo sentir.
Em certo momento sinto-o começar a enrijecer, fico aflita, um misto de
desejo e receio me domina. Não estou pronta para o próximo passo, apesar
de, pela primeira vez, querer explorar o sexo ao lado de alguém.
— Fiorella, vamos fazer uma pausa. — Thomas afunda o rosto entre
meus seios. — Se a gente não se segurar eu vou perder o controle. — Suas
mãos apertam com força minha cintura.
Aperto os olhos, ele tem razão, eu não tenho condições de seguir
adiante, apesar do meu corpo estar completamente acelerado e louco para ver
tudo o que posso descobrir ao seu lado.
— Você tem razão, precisamos parar. — Com relutância desço do seu
colo. — Acho que deve me achar patética por ser tão limitada.
Ele se move e beija meu pescoço, seu nariz corre pela minha mandíbula
até que nos encaramos.
— Estou longe de te achar patética. — O seu polegar acaricia minha
bochecha. — Eu te enxergo como uma pessoa forte pra caralho. — Sinto meu
coração acelerar. — Poucas pessoas que sofreram como você possuem tanta
garra de querer seguir adiante.
Não digo nada, apenas o abraço, porque na verdade, não sou essa
pessoa forte, eu apenas estou tentando emergir e não me afogar no mar de dor
que me sufoca.
— Desculpa atrapalhar vocês, mas o jantar está servido. — Carmem
aparece na sala. — Quando quiserem, podem comer.
— Já estamos indo. — Thomas a comunica. — Quer jantar agora?
— Acho bom. — Descanso meu rosto contra o seu peito. — Gostei da
Carmem, ela é tão doce.
— Realmente é. — Ele segura a minha mão e me faz levantar. — Por
isso a escolhi para ficar ao meu lado, ela é uma pessoa especial.
Sigo ao seu lado até a sala de jantar, encontro uma mesa repleta de
guloseimas que fazem o meu estômago roncar.
Thomas com toda a sua educação me serve alguns itens, por mais que
eu tente colocar minha vida de casada para um canto, não consigo deixar de
compará-lo com Carmelo.
Quando éramos casados eu era obrigada a servi-lo, meu marido me
tratava como uma serva, na visão dele eu precisava ser a sua empregada
pessoal. Ele era o meu dono, minha função era realizar todas as suas
vontades.
Ver um príncipe colocar comida no meu prato, com tanta simplicidade,
é algo que realmente me deixa completamente desarmada. Ele é diferente,
preciso colocar isso em mente para poder me abrir quando estivermos juntos.
Eu espero que a minha terapeuta me ajude a bloquear meu passado, não
posso viver de memórias, preciso construir novas expectativas e entender que
coisas boas podem acontecer na vida de qualquer um.

Thomas descansa nossas mãos unidas em sua coxa enquanto nos


encaminhamos para o apartamento da minha família. Ele dispensou os
homens de Nero, usou apenas os seus para manter a nossa segurança.
— Eu vou ter três dias intensos de divulgação do lançamento do jogo,
terei que ir para a Flórida gravar alguns vídeos, não vamos nos ver nos
próximos dias.
— Tudo bem — digo já sentindo a sua falta. — Estou feliz com o seu
sucesso.
— Para mim foi um alívio conseguir emplacar mais um jogo novo no
mercado. — Ele apoia a mão na minha cintura. — Assim que eu voltar vou
ver se Nero te deixa passar uns dias comigo em Hamptons.
O meu coração acelera ao pensar em ficar sozinha com ele. Ao mesmo
tempo que desejo estar do seu lado, eu também sinto medo por saber o rumo
que isso vai tomar.
— Acho que está empurrando meu primo além do que ele pode tolerar.
— Sei lidar com ele. — O carro para na frente do meu edifício. —
Quando se sentir preparada para dormir no meu apartamento avise-me
imediatamente, ter tão pouco tempo ao seu lado está sendo bem foda.
Sinto certa insegurança me dominar, tenho medo dele se cansar das
minhas limitações e se afastar.
— Não queria ser tão problemática, desculpa. — Thomas aperta os
olhos, claramente contrariado.
— Por que desculpa? O que fez para que eu precise te desculpar? — O
rosto dele fica tenso. — A única pessoa que deveria pedir desculpas está
morta, o seu marido é que foi um merda e não soube te tratar como merecia.
— Ele segura a minha cabeça e me beija.
Eu me aconchego nele quando me abraça. Thomas é tão especial, difícil
acreditar que um homem desse possa existir de verdade.
Puxo o ar com força quando ele se afasta, sentir o quanto me deseja
deixa meu corpo em um estado de excitação intenso.
— Vou ligar todos os dias, trate de me atender. — Ele enruga a
sobrancelha, fazendo uma cara linda de zangado.
— Se eu estiver livre atendo — brinco.
— Pare de gracinhas. — Thomas aperta meu nariz entre o indicador e o
dedo médio, me fazendo sorrir. — Agora vá ou eu acabo desistindo de te
deixar partir.
É difícil conter a pulsação do meu coração quando ele não esconde o
quanto me quer. Eu preciso superar meus traumas, não posso deixar de
aproveitar cada momento ao seu lado.
— Obrigada pelo jantar, eu amei tudo. — Encosto rapidamente meus
lábios nos seus antes de abrir a porta e sair.
Se eu continuar neste carro não vou conseguir me afastar dele, Thomas
está mexendo demais comigo e despertando em mim emoções até então,
desconhecidas.
Antes de entrar no meu prédio olho para trás e o flagro me observando
pela janela. Ele me lança uma piscadinha sexy que faz meu corpo esquentar.
Prendo um sorriso eufórica por estar flertando com um homem tão lindo
quanto ele.
Jamais imaginei que vindo para Nova Iorque eu fosse viver algo tão
surpreendente e emocionante.

Caminho para a mesa do café da manhã ainda com um sorriso nos


lábios por ter recebido uma mensagem do Thomas de bom dia. Nunca
experimentei esse tipo de flerte, mas já posso afirmar que gosto da maneira
atenciosa que ele me trata.
Fico surpresa ao encontrar Nero tomando café, no geral ele não está em
casa a essa hora.
— Bom dia! — Cumprimento não só ele como Serena.
— Bom dia — ambos dizem ao mesmo tempo.
— Cadê Giada? — pergunto ao me acomodar na cadeira.
— Ela saiu cedo, foi para a aula de dança — minha prima responde. —
E eu preciso ir para a escola, estou contando os dias para terminar logo o
ensino médio, nos vemos mais tarde Ella.
Sorrio ao vê-la sair toda saltitante, é bom ver sua empolgação em
terminar seus estudos.
— Como foi na psicóloga? — Nero pergunta. — Giada me disse que
ontem teve consulta.
— Gostei dela, tivemos um bom papo.
— Excelente, Ella, eu espero que consiga superar tudo o que passou. —
Ele me encara. — Eu sei que não é fácil, conheço de perto a realidade que
viveu, mas você precisa entender que nem todos os homens são sádicos e
miseráveis como Carmelo. — Os olhos dele brilham com raiva. — Existem
muitos que não se satisfazem em agredir suas mulheres e Thomas é um
desses, se aquele merda de príncipe fosse um risco, ele sequer teria permissão
para te olhar.
É bom ouvir esta sua afirmação, saber da confiança irrestrita do meu
primo em Thomas me deixa ainda mais tranquila para enfrentar meus medos.
— Eu estou trabalhando duro para me afastar o quanto posso de todas
as más lembranças do meu casamento.
— Quantas sessões de terapia terá por semana?
— Será todas as segundas.
— Marque duas vezes na semana, você precisa intensificar sua
recuperação, não perca tempo, no geral ele não joga do nosso lado.
— Vou ver se ela tem vaga.
— Ela terá — afirma ao se levantar. — Diga que eu quero mais uma
sessão. — Ele se aproxima e firma uma mão na minha cabeça. — Quero ver
esses olhos felizes, são tão tristes. — Sinto meu coração se comprimir. —
Você é bonita demais para carregar tanta tristeza, Paolo demorou muito para
eliminar seu marido, ele não merecia viver tanto tempo para te fazer todo esse
mal.
— O que importa é que sobrevivi à barbárie que ele me fez vivenciar.
— Sobreviver não significa que você consiga seguir adiante, pequena
— comenta exibindo um olhar vago. — Ele afetou sua alma e isso é algo
grande, os danos são evidentes.
— Vou ficar bem, Nero, prometo. — Aperto os olhos quando ele beija
minha testa.
— Eu farei com que fique bem.
A sua afirmação acerta um lugar profundo no meu coração, o zelo que
meu primo está tendo por mim é extremamente especial, ele anda me dando
oportunidades que jamais pensei que um dia seria possível.

Sento-me na frente da terapeuta, ela sorri e abre uma pequena agenda.


Assim como Nero me instruiu liguei para ela e pedi que pudéssemos fazer
duas sessões por semana, prontamente aceitou e marcou para o dia seguinte
um encontro no seu último horário.
— Vamos começar? — pergunta.
— Claro. — Tento relaxar o corpo contra a cadeira.
— O que te levou a querer ter mais um encontro na semana? — Penso
um pouco antes de responder.
— Meu primo pediu que eu fizesse mais sessões, para que eu tente me
libertar o quanto antes do passado, no entanto, eu também tenho meus
motivos.
— E quais seriam seus motivos?
— Conheci alguém e ele é especial, mas o meu passado interfere no
meu presente, isso me faz travar em um relacionamento.
— Por quê? — Meu corpo estremece, já que para responder sua
pergunta eu vou ter que revisitar meu passado. — Fale neste momento o que
te deixar confortável.
Aceno e fecho os olhos ao inspirar fundo, preciso me abrir, expor todas
as minhas dores, buscar pela cura da minha mente e alma. Não dá mais para
trancar tudo o que passei, eu sei que preciso extravasar meus sentimentos.
— Tive um casamento abusivo, o meu marido morreu há quase um ano
e desde então eu me fechei para o mundo.
A terapeuta faz algumas anotações antes de me encarar.
— O que quer me falar sobre o período que foi casada?
— Na verdade, nada. — Olho para as minhas mãos unidas sobre meu
colo. — Foi tanta dor, que lembrar me faz sentir cada golpe que recebi.
— Revisitar memórias nem sempre é fácil, mas torna-se essencial para
nos libertarmos das amarras que nos prendem a esses momentos de dor. —
Ergo os olhos e a encaro. — Conte apenas o que conseguir, aos poucos
avançamos.
Inspiro fundo, tentando seguir sua ordem, preciso ser forte e não
permitir que Carmelo me arruíne para a vida.
— Eu me casei por obrigação e, desde o momento que entrei no quarto
de núpcias, mergulhei de cabeça no centro do inferno. — Quando olho para a
terapeuta ela tem o rosto inexpressivo, me encara com um olhar profundo. —
Meu marido foi mal para mim porque ele gostava de me ver sofrer, era parte
do prazer dele escutar meus gritos, me fazer sangrar e implorar para que
parasse de me ferir. Não consigo dissociar sexo a dor, mesmo que eu tenha
no momento uma pessoa que nunca demonstrou nenhuma intenção de me
machucar.
— É compreensível o seu temor, não se culpe por tê-lo. — Sua voz é
suave.
— Não posso permitir que aquele infeliz vença. — Sinto meus olhos
serem inundados por lágrimas. — Minhas irmãs encontraram bons maridos,
elas vivem uma união de amor, eu só quero experimentar um pouco de
emoção ao lado de alguém que sinto interesse antes que meu destino seja
novamente selado, mas é difícil silenciar meus demônios.
— Eles podem ser exorcizados — diz com um discreto sorriso. —
Vamos trabalhar para que você entenda que mudanças acontecem e muitas
delas são boas, você vai vencer seus medos, eu estarei do seu lado.
De alguma maneira suas palavras penetram meu coração e eu sinto um
fio de esperança me envolver, talvez nem tudo esteja perdido.
Eu programei passar três dias fora, mas a minha agenda mudou e acabei
estendendo a viagem para aproveitar ao máximo os novos contatos que fiz.
Em outro tempo eu não teria problemas em passar esse tempo longe,
mas com a Fiorella dentro do jogo só pensava em voltar a revê-la. A minha
sorte é que Nero anda tão feliz com os milhões que está ganhando comigo,
que vem facilitando a minha vida. Esta noite ela jantará na minha casa e, se
quiser, pode passar à noite comigo.
O meu celular toca, não preciso olhar para saber quem é, dona Ava tem
pontualidade britânica quando o assunto é falar com os filhos.
— Oi, mãe como está?
— Tudo bem, nenhuma novidade. Como foi sua viagem? Conseguiu
divulgar bem seu trabalho?
— Foi uma semana corrida, mas valeu cada compromisso que
compareci.
— Eu estou tão feliz com o seu sucesso, sinto um orgulho imenso de
você.
— Consegui realizar meu sonho e fiz isso com meus méritos.
— Você sempre foi talentoso. — O carinho na sua voz me envolve, eu
tenho muita sorte em ter pais que apoiam incondicionalmente seus filhos.
— O meu talento não seria nada se eu não pudesse usar dos meios que
possuo para dar seguimento ao meu sonho.
— Você sabe que é especial, nem todo o nosso dinheiro conseguiria o
sucesso que está tendo se não fosse competente. — Essa é a minha mãe,
sempre elevando o ego dos filhos.
— Te amo muito, dona Ava. — Preciso externar o quanto ela é
importante para mim.
— A mamãe ama muito mais, todos os meus filhos são os meus
maiores tesouros.
Conversamos mais um pouco, até que encerro a ligação e volto ao
trabalho. Um tempo depois Stuart invade a minha sala enquanto fala ao
celular. Ele senta-se a minha frente e mantém a conversa, salvo o arquivo que
estou trabalhando e consigo entender que está falando com Laura.
— Qualquer coisa me ligue, estou aqui com Thomas, mas vamos sair
para almoçar.
— Vamos? — pergunto quando desliga.
— Sim. — Ele guarda o celular. — Precisamos conversar.
— Sobre?
— Vá se foder. — Ele se levanta. — Agora vamos embora.
— Tenho um compromisso em algumas horas, preciso terminar o meu
serviço, almoçamos outro dia.
— Você não vai escapar. — Stu me pega de surpresa quando se inclina
sobre a mesa e desliga meu computador. — Agora vamos, eu também tenho
os meus compromissos.
Como é chato, puta que pariu! Não sei onde eu estava com a cabeça em
ser o melhor amigo dele.
Sem ter o que fazer eu o sigo, Stuart é teimoso demais, não adianta
querer lutar contra ele.

— Vamos lá, estou esperando o relatório. — Stu se recosta contra a


cadeira e remexe sua taça de vinho.
Olho para ele tentando entender o que exatamente esse maluco está
querendo.
— Relatório?
— Não se faça de idiota, tem algo acontecendo com você e eu quero
saber o que é.
Até que ele demorou a me encurralar, a minha ansiedade para voltar à
cidade e já chegar trabalhando feito um louco para ter a tarde livre chamou a
atenção do fofoqueiro.
Eu não quero esconder o que está acontecendo comigo e Fiorella, só
queria contar quando nós estivéssemos mais íntimos.
— Estou me encontrando com Fiorella Torcasio. — Sou direto.
— Por que sinto que conheço esse sobrenome? — Ele inclina a cabeça
pensativo.
— Porque o sobrenome pertence à família de Nero. — Agora toda a
atenção dele está em mim. — Ela é irmã do Paolo. — Meu amigo abre a boca
incrédulo.
— Paolo, o mafioso cruel?
— Esse mesmo.
— Puta que pariu! — Xinga antes de dar um longo gole no vinho. —
Está querendo morrer? Se aquele lunático descobrir isso você vai ter uma
morte lenta. Mulheres da máfia não se envolvem com pessoas comuns, ainda
que você não seja tão comum assim, mas enfim...
— Pare de exagero.
— Sabe bem que não é exagero, já ouvi histórias terríveis desse Paolo.
— A irmã dele é viúva, sabe o que faz e já passou por muitas coisas,
Paolo sequer tem moral de falar nada quando não pode interferir no
casamento fodido que ela teve.
— O que exatamente quer dizer com “casamento fodido”?
— Você entendeu bem. — Minha atenção é atraída para o homem que
caminha na direção da minha mesa.
— Que surpresa o encontrar aqui — Kwon Suen diz com sua voz
suave.
Ele é um empresário que conseguiu fazer fortuna sendo o rosto da
máfia chinesa na América. Kwon tem uma mente incrível para negócios e o
carisma que falta aos líderes da máfia. Com sua voz serena, consegue
facilmente conquistar a confiança das pessoas. No entanto, não me engana,
sei o quanto é ardiloso e perigoso.
— Como vai? — Aperto sua mão.
— Bem. — Sorri para Stuart antes de cumprimentá-lo. — Mas posso
ficar ainda melhor se você ouvir minha proposta.
Sem ser convidado ele se acomoda em uma cadeira e me faz erguer
uma sobrancelha. Olho rapidamente para meu amigo, que claramente está
desconfortável com a invasão de Kwon.
— O que você quer? — pergunto sem rodeios.
— Song está admirado com o seu sucesso e gostaria de investir na sua
empresa, eu estava para entrar em contato com sua secretária e marcar uma
reunião, mas já que nos encontramos aqui, tudo fica mais fácil.
Song Xiao é o Cabeça de Dragão da máfia chinesa, ele é uma espécie
de Capo, só que ao contrário de Nero e Paolo, não possui um pingo de honra.
Meu irmão sempre evitou os chineses, justamente por eles serem
traiçoeiros. Se Mitchell não quer assunto com eles, não serei eu a permitir
que se metam nos meus negócios. Não me importo de ter os italianos da Cosa
Nostra comigo, eles sabem o que fazem e buscam apenas o lucro limpo sem
misturar seus negócios escusos, no caso dos chineses eles querem apenas
foder com qualquer um fora do seu meio.
— Já tenho investimento suficiente, agradeço por seu chefe notar meu
sucesso, mas no momento eu estou apenas concentrado em divulgar meu
novo jogo.
— Estou falando de muitos milhões, Thomas, sua empresa pode se
tornar líder de mercado em um piscar de olhos.
— Ela vai ser líder no mercado na hora certa, sei cuidar dos negócios
Kwon, não tente me ensinar como gerenciar o que é meu. — Ele se retrai e
seu sorriso fácil some.
— Tem certeza de que vai negar uma negociação com Song? Ele não
vai receber bem essa recusa, já que você não teve problemas em ter os
italianos do seu lado.
— Está me ameaçando? — Apoio um braço na mesa e o encaro. —
Avise ao seu chefe que agradeço a proposta, mas a dispenso, tenho o
investimento necessário para os planos que pretendo cumprir e não quero
problemas. Certamente ele irá encontrar outro bom investimento.
— O.k. — Ele levanta e fecha o terno. — Transmitirei a sua resposta,
foi bom te reencontrar.
Aceno e o acompanho atentamente se afastar e seguir para uma mesa
do outro lado do restaurante.
— Não gostei dessa conversa.
— Também não. — Bebo de uma única vez meu uísque. — Só se eu
fosse louco para me meter com os chineses.
— Você fez certo, meu problema está no que pode acontecer por não
aceitar o dinheiro deles.
— Bem... — Cruzo as mãos e encaro meu amigo. — Não gosto de
envolver meu pai nos meus assuntos, mas se eles causarem problemas, usarei
o poder do meu reino para mostrar quem manda aqui.
Stuart acena concordando comigo, mas ainda assim seu rosto não perde
a tensão. Sabemos que os chineses são perigosos, porém espero não precisar
ter um confronto com eles.

Tento conter a vontade de sorrir como um bobo quando Fiorella


caminha até o carro. Porra! Ela está linda em um vestido florido, com uma
saia esvoaçante.
Essa mulher vai acabar comigo, não consigo parar de pensar no
momento que vai se entregar a mim.
— Oi. — Ela sorri timidamente ao entrar no carro.
Deixo a educação de lado e não respondo nada, apenas a puxo para um
beijo. Faz muito tempo que a vi, a necessidade de sentir sua boca contra a
minha é um desejo incontrolável.
Aperto sua cintura e aprofundo o beijo, preciso respeitar seus limites,
mas a cada encontro fica mais complicado, desejo Fiorella com uma
intensidade assustadora.
— Oi — falo quando afasto a boca. — Trouxe tudo o que pode
precisar? — Ela apenas acena positivamente. — Ótimo. — Coloco seu cabelo
atrás da orelha e a puxo para perto de mim. — Não é uma pressão, mas eu
espero que fique até amanhã comigo. — Fiorella me encara com seus olhos
tristes e inseguros, acabo me arrependendo da minha fala.
— Não sei como terminará a nossa noite, mas eu vou seguir meu
coração. — Acaricio sua bochecha.
— Você está no caminho certo. — Roço meus lábios nos seus. —
Nunca traia seu coração.
Entrelaço as nossas mãos e mudo completamente de assunto. Não
quero que ela pense que estou a pressionando, essa não é minha intenção,
posso estar louco por ela, mas entendo tudo o que passou.
Quando chegamos ao meu apartamento levo Fiorella diretamente para o
meu quarto e peço que troque de roupa enquanto vou conversar com
Carmem.
Ela claramente fica constrangida por estar no meu quarto, mas eu a
acalmo quando digo que a esperarei mudar de roupa.
Busco toda a calma que existe dentro de mim e a deixo sozinha, sei que
minha hora vai chegar, só preciso de um pouco mais de paciência. Meu
problema é que eu não gosto de esperar, sei o quanto a vida é traiçoeira, basta
um pequeno vacilo que tudo se perde.
Espanto os maus pensamentos e busco por Carmem, quero que ela
providencie algo gostoso para nos servir na piscina. Mais cedo avisei que
Fiorella estaria aqui até a hora do jantar.
— Até que enfim chegou — Carmem fala assim que me avista. — Já
tenho tudo pronto, basta vocês irem para a piscina.
— Quanta eficiência. — Olho para o Ronaldo, seu marido, e o encaro.
— Sua mulher por acaso quer um aumento?
— Não me admira se pedir um. — Ele prende o sorriso e Carmem joga
um pano nele.
— Para de bobagem, homem.
Gosto dessa espontaneidade deles, é um traço da cultura brasileira, que
com o tempo aprendi a compreender.
— Já que preparou tudo, eu vou para a piscina, providencie um
drinque, daquele jeito que você sabe fazer.
— Não se preocupe com nada, apenas vá curtir sua namorada.
— Nós não somos namorados.
— Ainda. — Carmem pisca. — Mas pelos meus instintos, posso
afirmar que serão em breve.
Fico calado, Carmem tem um sexto sentindo um pouco assustador, eu
não vou fazer nenhum tipo de comentário, é melhor não a contrariar.
Subo as escadas de dois em dois degraus, quando paro na porta do meu
quarto, bato não querendo invadir a privacidade da Fiorella.
— Posso entrar? — pergunto, mas não obtenho resposta. — Fiorella,
cadê você?
Não espero por sua autorização, entro no quarto em busca dela. No
primeiro momento não a encontro, isso me faz seguir para a porta do
banheiro que está fechada.
— Fiorella, você está aí? — pergunto rente à porta.
— Acabei de trocar de roupa. — Ouço sua voz e relaxo.
— Te chamei e não respondeu.
— Desculpa, eu não ouvi — ela diz assim que abre a porta, exibindo
uma saída de praia transparente, que apenas nubla parcialmente seu corpo
gostoso.
Ela ainda me mata.
— Tudo bem, só fiquei preocupado. — Tento manter meus olhos nos
seus, não quero constrangê-la. — Vou colocar um short e já vamos para a
piscina, me espere aqui. — Beijo seu rosto e a puxo para o meu quarto.
Nem fodendo que vou vestir uma sunga de praia, preciso de algo que
disfarce um pouco, caso eu não controle minha excitação por ela.
Entro no meu closet e procuro um dos meus shorts floridos que
comprei quando estive no Havaí. Lá é um lugar mágico, se eu pudesse
passava todo o meu verão naquele paraíso.
Quando estou pronto volto para o quarto e a encontro olhando um dos
meus porta-retratos.
— Sua família é linda, apenas na foto dá para ver o quanto se amam. —
Paro atrás dela e envolvo meus braços por seu corpo.
— Realmente nós nos amamos, eu não tenho do que reclamar da minha
família, eles são meu porto seguro.
— Isso é muito importante, Thomas. — Ela se recosta contra meu
peito.
— É sim, meu anjo. — Beijo seu cabelo. — Vamos para a piscina? No
primeiro dia que veio aqui eu não te apresentei essa parte do meu
apartamento.
— Esse seu apartamento está maior do que a casa do meu irmão. — Ela
se vira e me encara sorrindo. — E olha que a casa dele é imensa.
— Digamos que minha mãe seja exagerada. — Seguro sua mão e saio
do quarto.
Sigo com ela para a escada que leva até o topo do edifício, onde fica a
área de lazer, um pequeno jardim, a piscina e jacuzzi.
Realmente a grandiosidade desse apartamento foi ideia da minha mãe,
ela queria algo amplo na cidade, que pudesse abrigar toda a família, quando
descobriu que essa cobertura estava sendo construída, não pensou duas vezes
antes de comprar.
Quando chegamos no último andar, Fiorella ofega com a beleza do
local. Realmente é um espaço imponente e luxuoso, mas como estou
acostumado, já não vejo tanto glamour.
Como estamos às vésperas do verão, a temperatura está quente, ideal
para um banho ao ar livre.
— Carmem ficou de nos trazer uns drinques, então vamos entrar logo
na água. — Puxo-a na direção da borda da piscina.
— Só um minuto, preciso tirar o meu vestido. — Ela interrompe meus
passos.
Não falo nada, apenas acompanho fascinado ela exibir, dentro de um
maiô, seu corpo cheio de curvas. Necessito desta mulher, enquanto ela não
for inteiramente minha não terei paz.
— Você é linda — digo quando a puxo até que se molde ao meu corpo.
— Tudo em você é perfeito. — Beijo seu pescoço.
— Thomas... — sua voz se quebra quando sugo a pele da sua garganta.
— Nunca vou te pressionar a nada, já te disse isso, mas eu estou aqui
para te cobrir de prazer, jamais a tocarei para te machucar. — Nossos olhos
se encontram e eu vejo o brilho de lágrimas brilharem neles.
Para evitar qualquer tipo de constrangimento da parte dela eu a beijo,
porque quando nossas bocas se unem eu sei que ela entende o quanto a desejo
e a quero apenas para mim.
Queria poder tirar suas lembranças, mas eu bem sei que nosso passado
é extremamente importante para que escolhamos os caminhos do nosso
futuro.
Só espero que ela entenda que precisa recomeçar e que eu estou aqui
para segurar a sua mão e lhe mostrar um novo mundo.
Estou constrangida com a maneira que Thomas encara meu corpo.
Carmelo sempre apontou meus defeitos, ele dizia que meus seios deviam ser
maiores, que eu precisava fazer um preenchimento labial e frequentar a
academia para ter um corpo mais definido.
Sempre me neguei como pude a realizar qualquer procedimento
estético, aos vinte anos nunca achei que eu precisasse modificar meu rosto e
corpo.
Claro que minha recusa tinha consequências, ele me diminuía sempre
que podia, comparava minha forma física a de outras mulheres do clã que
tinham um corpo mais definido. Era horrível o terror psicológico que fazia
comigo, ao longo do tempo passei a achar vários defeitos em mim e até hoje
sou extremamente insegura com a minha aparência.
Por ser um príncipe, sei que Thomas se relaciona com mulheres
perfeitas, construídas nas mais caras clínicas de estética, certamente ele deve
estar reparando em cada um dos defeitos do meu corpo.
E ainda tem as malditas cicatrizes espalhadas ao longo do meu tronco, é
justamente por conta delas que jamais uso biquíni.
Faço um esforço descomunal para retribuir o seu beijo sem que perceba
a minha insegurança. Ele disse que sou linda, mas eu sei que não pensa isso
de fato, só está sendo educado.
— Vamos entrar na água? — pergunta encarando intensamente meus
olhos.
Apenas aceno, dentro da água ficarei longe dos seus olhos,
consequentemente da sua avaliação. Se por acaso eu receber alguma crítica,
tudo o que construímos até aqui estará arruinado.
Seguro a sua mão e caminho ao seu lado para a escada da piscina.
Thomas entra na frente e me ajuda a descê-las sorrindo.
Estou dentro de um turbilhão de emoções que está me descontrolando,
me sinto insegura com meu corpo e assustada com o desejo que ele me
desperta.
É um pouco complicado me sentir desejada, querida e confiar em
alguém. Não tenho referências de um relacionamento saudável e espontâneo,
então é difícil me soltar.
— O que está acontecendo? — Thomas pergunta quando me abraça. —
Você está tensa. — Fico surpresa por ele perceber minha mudança de
postura.
— Eu estou bem. — Descanso a cabeça no seu ombro.
— Fiorella, olhe para mim — pede ao segurar meu queixo e erguer
meu rosto. — Não quero que minta, prezo por sinceridade em cada âmbito da
minha vida, com você não será diferente.
Inspiro fundo, me sentindo ridícula por permitir que minhas
inseguranças ganhem vida. Eu me acho tão patética, certamente todos os
meus problemas acabarão o afastando se eu não me controlar.
— Não é nada demais, eu só fico um pouco incomodada em estar com
o corpo exposto. — Ele enruga a testa.
— Por quê? — Olho para além do seu ombro, sem querer encarar seu
olhar inquisidor.
— Meu marido dizia que eu precisava ter um corpo melhor, ele insistia
que eu colocasse uma prótese de silicone entre outros procedimentos. —
Sinto os dedos do Thomas se afundando na minha cintura.
— Você é perfeita, não existe necessidade de nenhuma alteração no seu
corpo a não ser que exista algo que te incomode.
— Não tenho vontade de fazer nada, mas também não sou confiante
com minha aparência, sei que os homens preferem mulheres mais esculpidas.
— Ele acaricia minha bochecha.
— Não generalize, querida. — Sua boca desliza lentamente sobre a
minha. — Nem todos os homens são idiotas como seu falecido marido. — Eu
sei que ele tem razão, existem homens como ele e meu irmão, mas anos de
abuso psicológico faz um senhor estrago na mente de uma pessoa. — Para
mim você é incrivelmente linda, não mudaria absolutamente nada no seu
corpo, a única coisa que me incomoda são esses olhos tristes, meu desejo é
fazê-los ser alegres o tempo todo.
— Os seus olhos não são melhores que os meus. — O seu semblante
fica sério.
Para evitar qualquer tensão entre nós eu me agarro a ele. Thomas
parece um sonho, tenho medo de acordar e me deparar com a minha vida
antiga, cheia de dor e maldade.
— Eu queria muito deixar tudo para trás, mas não consigo. — Revelo
meu desejo.
— Infelizmente leva tempo para superar certos eventos da vida, você
precisa apenas colocar em mente que acabou. — Ele segura meu rosto me
forçando a encará-lo. — Sempre que as más lembranças surgirem, olhe para
mim, veja que quem está com você sou eu, isso te fará ficar no presente. —
Passo a mão pelo seu cabelo.
— Vou começar a fazer isso. — Desço minha mão e acaricio sua barba.
Thomas gira o rosto e beija a parte interna da minha mão, em seguida
ele iça meu corpo, me fazendo rodear as pernas por sua cintura. Suas mãos
grandes cravam na minha bunda quando seu corpo imprensa o meu contra a
parede da piscina.
O nosso beijo sai violento, ele parece querer me devorar. Sinto cada
parte minha ser incendiada pelo desejo, é incrível os tipos de sensações
desconhecidas que me faz sentir.
Ele segura a minha cabeça e avança contra meu pescoço, arranhando os
dentes na minha pele. Infiltro as mãos em seu cabelo e gemo quando sinto
sua língua percorrer o osso da minha clavícula.
Descendo mais um pouco ele vai salpicando beijos até alcançar o a
curva exposta do meu seio. A ponta da sua língua roça sensualmente a minha
pele. Aperto sua cintura com as pernas, tentando conter a minha
surpreendente excitação.
Inesperadamente ele lambe uma pequena cicatriz que tenho no local
onde Carmelo me mordeu, praticamente arrancando um pedaço de pele.
Sem que eu consiga controlar regresso ao momento da agressão, abro
os olhos e encaro a cabeça baixa do Thomas enquanto ele já está se movendo
e indo na direção do outro seio.
Não é o Carmelo... não é o Carmelo.
Repito mentalmente tentando não perder o controle. Thomas não vai
me machucar, só preciso ficar no presente e me concentrar no que está
acontecendo entre nós.
— Porra! — Ele se afasta e olha para o alto. — Fiorella, você está
fodendo comigo. — Seus olhos dourados me encaram. — O dia que eu puder
me perder de verdade no seu corpo, eu vou te fazer gozar como nunca gozou
antes.
Não digo nada, apenas o abraço porque me sinto abalada com suas
palavras eróticas, mas principalmente evito o seu olhar, pois tenho vergonha
em assumir que nunca tive um orgasmo.
Já sou tão problemática, não vou revelar essa vergonha para ele, posso
acabar o afastando de mim por conta de todos os meus problemas.
— Falei algo errado? — pergunta ao acariciar meu cabelo.
— Você não disse nada, eu estou apenas tentando lidar com as emoções
que estou sentindo.
— E elas são ruins? — Nossos olhos se encontram e vejo o quanto ele
está apreensivo comigo.
— Algumas sim, outras não e, boa parte delas, são inéditas.
— O que devo pensar na parte em que diz “inéditas”? — Sorrio com
sua preocupação.
— Que você está me mostrando uma nova realidade e eu gosto demais
do que estou descobrindo. — O rosto dele se ilumina. — Acho que seria
melhor pararmos com essa conversa, vamos nadar um pouco? — pergunto,
pois não quero revelar muito do que estou sentindo, estou passando por um
momento de conflito.
— É você que manda, meu anjo. — Ele me dá um beijo rápido antes de
segurar minha mão e nos levar para um mergulho.
Penteio meu cabelo enquanto meus pensamentos vagam pela tarde que
passei na piscina. Eu me perdi em muitos momentos, mas sempre que minha
mente tentava ganhar controle, eu seguia o conselho do Thomas e abria os
olhos para me certificar de quem estava ao meu lado.
Funcionou todas as vezes, a partir de agora vou fazer sempre isso, só
assim eu vou conseguir viver plenamente todos os nossos momentos juntos.
O som estridente do meu celular me faz sair do banheiro. Thomas me
pediu para me arrumar enquanto ele fazia uma ligação de trabalho. Ainda
estou um pouco deslocada em estar no seu quarto, para mim é um pouco
difícil transitar na intimidade de outro homem.
Meus olhos caem para o nome do Nero no visor, sinto meu coração
retumbar, será que ele está aborrecido com algo? Não queria ir embora agora,
mas se ele pedir que eu vá, não poderei discordar da sua ordem.
— Oi, Nero, aconteceu algo? — pergunto aflita.
— Comigo não, mas quero saber se com você está tudo bem. —
Respiro aliviada. — Thomas está se comportando?
— Acho que você sabe que ele é um príncipe e segue à risca o título.
— Meu amor, o príncipe Charles era casado com Diana e a traía, então
não se apegue a título, homens são naturalmente safados, mas se ele for um
merda com você basta me avisar.
— Está tudo bem, de verdade. — Olho pelas imensas janelas de vidro
que mostram o céu escurecendo. — O problema todo está em mim, Thomas é
sempre paciente e atencioso.
— Realmente ele é um bom rapaz, por isso está aí sozinha. — Ouço
uma voz irritada falando com meu primo. — Estou em uma ligação
importante, ao menos me esqueça uns minutos Eros. — Sorrio ao ouvir Eros
resmungar. — Difícil aturá-lo quando está de mau humor.
— Queria vê-lo mal-humorado, sempre que estamos juntos ele é
animado.
— Só porque você é mulher, no trabalho ele não é tão acessível. —
Meu primo bufa. — Fiorella, quero te dizer que não vou me opor se quiser
dormir aí, desde que permiti esses encontros sei como as coisas irão acabar,
mas pelo amor de Deus não seja vista em público com ele. Eu não quero uma
guerra com Roma, se esses encontros vazarem irá me foder na liderança da
Famiglia.
Prendo a respiração, não esperava uma conversa tão direta com meu
primo, Nero acaba de me pegar de surpresa.
— Sei que está se arriscando por mim, agradeço tudo o que está
fazendo, não irei te causar problemas.
— Estou fazendo isso porque sei que precisa do seu momento, eu não
vejo as mulheres apenas como objetos de prazer, muito menos concordo que
vocês tenham seus destinos traçados sem ser consultadas. Mas eu sou o chefe
da máfia, não posso lutar contra todas as leis do nosso sistema.
— Compreendo, por isso sou grata por pensar em mim.
— Queria poder fazer mais, bambina. — Sua voz sai um pouco
cansada. — Fique com esse merda, caso não se sinta confortável me ligue, eu
mesmo te busco. — Sua oferta me aquece por dentro, Nero tem sido tão
atencioso comigo.
— Mandarei uma mensagem se decidir ficar.
— Combinado! Agora preciso desligar, tenho que me encontrar com
uma pessoa nada agradável.
— Espero que seu encontro não seja tão ruim.
— Eu também espero, não quero terminar a noite em meio a sangue. —
O meu corpo fica tenso. — Até mais, ligue-me se precisar de algo, ou fale
com Eros, ele é ridículo com suas cantadas baratas, mas vai saber cuidar de
você.
— Tudo bem — não falo muito, odeio essa parte deles sempre estarem
em meio a situações de perigo.
Apoio o celular contra o peito, pensativa sobre como a minha vida deu
uma reviravolta desde que pisei nesta cidade. Não sei se estou fazendo a
coisa certa ao me envolver com Thomas, mas ao menos tenho a certeza de
que pela primeira vez estou seguindo pelo caminho que escolhi.

Eu me aconchego a Thomas sentindo uma paz reconfortante. Jantamos


uma comida deliciosa que Carmem preparou e agora estamos confortáveis no
seu sofá, assistindo uma comédia boba, enquanto trocamos carícias.
É difícil acreditar que eu possa estar vivendo algo assim, esse tipo de
interação só vi na televisão e nos livros de romance que li. Jamais imaginei
que um dia eu poderia estar ao lado de alguém que me oferecesse carinho e
que eu desejasse estar junto.
— Fiorella, está ficando tarde, se quiser ir embora, me avise para
montar sua segurança, prometi ao seu primo que eu mandaria minha equipe te
levar. — Inspiro fundo, temerosa de tomar uma atitude que acabe causando
algum desconforto entre nós.
Eu quero muito ficar com ele, na verdade, não quero sair do seu lado,
meu temor é o que pode acontecer mais tarde, não sei se vou reagir bem caso
ele queira dar um passo adiante.
Ainda me sinto frágil, confusa com minhas emoções e perturbada pelo
passado. Só que ao mesmo tempo eu quero me libertar, experimentar novas
experiências, poder ser feliz com quem eu quero, ao menos por um momento.
Vá em frente Fiorella, você consegue.
Uma voz interna grita em desespero, me empurrando contra o
precipício.
— Eu quero ficar, isso se você não se importar, não quero atrapalhar.
— Encaro seus olhos.
— Tudo o que eu queria ouvir era que ficaria comigo. — Sua boca
pressiona a minha. — Não se preocupe com nada, eu prometo ser um bom
menino. — Ele pisca e me faz sorrir.
O que mais gosto nele é justamente a sua falta de pressão no que temos,
porém eu sei que não posso ficar o tempo todo nessa zona neutra. Eu tenho
na minha frente um homem único, que meu primo confia. Até mesmo Eros
não se impôs aos nossos encontros, a aceitação dos meninos indica que eu
devo baixar a guarda com Thomas, e eu farei isso a partir desta noite.
— Quero que apenas seja você. — Acaricio sua orelha. — Eu tenho
medo de tudo, sabe disso, mas eu preciso arriscar. — Escorrego as pontas dos
dedos pelo seu cabelo. — Sendo do seu lado eu quero correr qualquer risco.
Ele fica sério, em seguida me segura com força e desce a boca contra a
minha. Recebo-o com volúpia, envolvendo seu pescoço e retribuindo com
intensidade o seu beijo.
— Queria muito que dormisse comigo, não aguento mais imaginar
como deve ser bom ter você ao meu lado a noite toda. — Os seus olhos estão
tomados de desejo. — Juro que só preciso te sentir dentro dos meus braços.
Vê-lo deixar em minhas mãos o que irá acontecer entre nós tem um
significado, extremamente, importante para mim.
— Vamos apenas seguir o fluxo, iremos descobrir juntos até onde eu
consigo ir.
— Combinado. — Ele beija minha testa. — A última palavra sempre
será sua, apenas vou te seguir para onde me levar.
Sinto meu coração disparar, ele sabe como me desarmar, Thomas está
me levando por um caminho que irá me arruinar, mas eu não posso deixar de
viver essa experiência. Prefiro passar o resto da vida com um coração partido,
a ter memórias sombrias de tudo o que fui obrigada a enfrentar quando estive
casada com Carmelo.
Estou extremamente nervosa enquanto caminho ao lado do Thomas na
direção do seu quarto. Sei que ele vai respeitar meus limites, ainda assim eu
estou apreensiva, receosa que eu estrague tudo entre nós.
— Tem certeza que não preciso ligar para seu primo? — ele pergunta
quando abre a porta do quarto para que eu entre.
— Avisei que se eu fosse ficar enviaria uma mensagem.
— Então, tudo bem. — Thomas apoia a mão nas minhas costas. —
Trouxe uma camisola? Se precisar posso pegar algo da minha irmã para você,
Hill tem um armário abarrotado de roupas aqui.
— Eu trouxe tudo o que preciso.
— Então, vá se arrumar — ordena segundos antes de beijar minha
testa. — Tem uma escova de dentes fechada na gaveta da pia do lado
esquerdo, pode usá-la.
Pego a bolsa com os itens que achei que poderia precisar e entro no
banheiro.
O meu coração está completamente descontrolado, depois de
praticamente um ano, eu estou novamente ao lado de um homem. Só que
dessa vez é por vontade própria, ainda assim, eu não consigo relaxar.
Encaro meu reflexo no espelho, sentindo todas as minhas inseguranças
emergirem com força. Eu me odeio por permitir que mesmo morto Carmelo
ainda me assombre, ele parece me rondar a cada segundo.
— Maldito! — digo baixo. — Você não vai me vencer, eu mereço um
pouco de felicidade e vou buscar isso nem que seja por pouco tempo.
Tiro minha blusa, determinada a enfrentar meus medos, posso não me
soltar completamente nesta noite, mas ao menos vou aproveitar cada grama
de carinho que Thomas me oferecer.
Assim que retiro toda a roupa a penduro em um canto perto da porta,
em seguida visto a minha camisola. Procuro pela escova de dentes que ele
falou para fazer minha higiene bucal.
Quando termino toda a minha rotina vou para o quarto, não encontro
Thomas, tudo está silencioso demais.
Aonde esse homem foi?
Fico sem saber o que fazer, opto por me sentar na poltrona perto da
deslumbrante parede de vidro que me proporciona um visual maravilhoso da
cidade.
Meus olhos vão para as luzes do lado de fora, os carros andando na rua
são tão minúsculos, que parecem apenas brinquedos mediante a altura em que
me encontro.
Um barulho chama a minha atenção, quando olho para trás Thomas
está saindo de uma porta quase ao lado do banheiro vestindo apenas uma
calça de seda azul-marinho do pijama. Só agora percebo que estava no closet.
— Já está pronta para dormir?
— Estou — consigo responder, mesmo meus olhos teimando em
avaliar cada canto esculpido do seu corpo.
Eu vou dormir com esse homem, é inacreditável que algo tão
fenomenal esteja acontecendo comigo.
— Ótimo, eu já volto. — Ele some no banheiro e me deixa sozinha.
A ansiedade começa a me consumir, não sei o que fazer, posso até ter
sido casada, mas eu nunca pude expressar meus desejos, apenas seguia as
ordens do meu marido. Estar a sós com um homem por livre e espontânea
vontade é um pouco apavorante.
Pego meu celular e envio uma mensagem para Nero, alertando que
decidi dormir aqui.
Vejo que tem uma mensagem de Gio, ela me deseja sorte e pede que eu
não pense em nada além do príncipe que tenho em mãos. Mais cedo
conversamos e contei que eu iria passar parte do dia e, talvez, a noite com ele.
Respondo que estou me esforçando para apenas viver o momento.
Realmente é isso que estou fazendo, não quero ser a Fiorella que a vida tanto
maltratou, nesta noite eu desejo ser a garota que eu fui obrigada a abandonar
quando subi no altar e disse sim a um monstro.
No instante que Thomas retorna ao quarto eu me surpreendo por não
estar tão nervosa, apenas sinto que estou no lugar certo, com o homem que eu
desejo.
Ele sorri, de um jeito tímido e se aproxima da cama. Deslizo meus
olhos por suas tatuagens, ele tem várias, mas uma delas que me chama mais
atenção é a do pequeno príncipe, voando em um cometa.
— Mandou mensagem para Nero? — pergunta ao caminhar até mim.
— Sim, não se preocupe com nada. — Thomas afaga meu cabelo, em
seguida coloca algumas mechas atrás da minha orelha.
— Venha. — Estende a mão. — Precisamos descansar.
— Você mais do que eu — digo ao segurar a sua mão. — Não tenho
nada de interessante para fazer no dia a dia, então estou descansada.
— Por que não arruma algo que goste de fazer? — pergunta ao nos
encaminhar para a cama.
— Minha vida é complicada, eu preciso de autorização para tudo. —
Thomas me encara com o rosto franzido.
— Desculpa, querida, mas eu odeio seu irmão e todo o mundo que te
envolve. — Ele apoia as mãos na minha cintura. — Você não é um bicho de
estimação, que deve seguir as ordens do dono. — Encosto a lateral do rosto
no seu peito.
— Paolo é bom para mim, mas vive aprisionado às regras da máfia.
— Regras de merda. — Rosna.
Ele puxa bruscamente o elegante edredom que recobre a cama e se
senta sobre o colchão, para logo em seguida me acomodar no seu colo.
— Como Capo da máfia romana Paolo não pode mudar essas regras?
— pergunta ao me abraçar.
— Ele anda fazendo o possível para proteger as mulheres do clã, mas
os membros antigos são resistentes a mudanças, se ele for além dos limites
pode sofrer retaliações e acabar sendo alvo dos seus adversários.
— O mundo de vocês é bem pior que o meu, ao menos em relação as
mulheres. — Com carinho deposita um beijo no meu queixo. — Odeio
pensar que você está sujeita a essas drogas de tradições.
— Nasci na máfia, Thomas — digo ao acariciar seu cabelo. — Sou
uma mulher condenada a não ter voz própria.
Fico assustada quando vejo uma explosão de raiva nublar seus olhos.
Sua mão que aprisiona a minha cintura afunda na minha pele com uma força
que ele jamais usou comigo. Meu coração dá uma acelerada, sei que ele não
vai me ferir, no entanto o seu toque bruto desperta minhas piores memórias.
— Toda condenação merece uma libertação. — Sua declaração se
quebra quando ele me beija, fazendo meu corpo todo incendiar.
Limpo a minha mente e me entrego ao nosso momento, eu mereço um
pouco de calmaria e prazer, quero descobrir como é poder estar com um
homem sem ter medo. Se minhas irmãs e cunhada são felizes em seus
respectivos casamentos, ao menos por um tempo, também posso ser com
Thomas.
Afundo as mãos no seu cabelo, enquanto retribuo seu beijo, seus braços
me rodeiam com força, trazendo o meu corpo para ainda mais perto do seu.
— Diga até onde posso ir — pede ao espalhar beijos por meu pescoço.
— Você sempre será meu guia — afirma ao colocar meu corpo sobre a cama.
— Eu não sei dos meus limites, mas descobriremos juntos.
Thomas me fita por alguns segundos, até que deposita um beijo no meu
ombro.
Fecho os olhos quando sua mão sobe pela minha coxa, ele vai
espalhando beijos por meu pescoço sem nenhuma pressa, fazendo com que
meu corpo esquente.
É inacreditável que apenas a boca e o toque delicado de um homem
consigam despertar esse tipo de sensação prazerosa, jamais imaginei que eu
pudesse sentir esse tipo de desejo.
Prendo a respiração quando ele escorrega a alça da minha camisola e
expõe meu seio, olhando em meus olhos lambe lentamente apenas o bico.
Fico fascinada acompanhando quando toda sua boca se fecha ao redor
da mama, ele suga com uma pressão que me faz gemer. Bloqueio
imediatamente a lembrança de Carmelo me mordendo no mesmo lugar,
arrancando sangue ao ferir minha pele. O maldito está morto, agora tenho
comigo um homem incrível que sabe cuidar de mim.
— Está tudo bem? — pergunta ao deslizar a mão pela parte interna da
minha coxa.
— Sim. — Não sou capaz de dizer muito, estou sendo bombardeada
por uma infinidade de emoções.
Ofego quando sua mão alcança a minha calcinha, ele corre o indicador
por toda a minha fenda, até que seu toque se intensifica no meu clitóris. Uma
inesperada onda de prazer me invade, sequer consigo conter o
estremecimento do meu corpo.
— Posso te livrar dessa calcinha?
— Pode — sussurro.
Ele engancha as mãos nas laterais dela e desliza por minhas pernas sem
tirar os olhos dos meus. Assim que a descarta sobe a mão pela minha perna.
— Quero te provar, Fiorella, não consigo mais apenas imaginar em
sentir seu sabor.
Sinto meu rosto ficar quente, sei exatamente o que ele quer fazer, no
entanto, não posso negar que estou apreensiva, nunca recebi sexo oral,
Carmelo jamais quis algo assim, apenas eu era obrigada a fazer tal prática
nele.
— Thomas... — Interrompo o que eu ia falar sem saber ao certo como
dizer que nunca experimentei esse tipo sexo.
— Se não quiser tudo bem, posso esperar, não quero te forçar a nada.
— Os meus olhos ficam úmidos, ele é tão calmo, sempre respeita a minha
vontade.
— Eu quero, é só que... — Aperto os olhos. — Nunca fiz isso, nem sei
se é algo que eu vou gostar, na verdade, nunca gostei de sexo, sempre
acreditei ser frígida, mas desde que te conheci meu corpo anda diferente, com
você sinto desejo e vontade de ser tocada em qualquer lugar. — Quando o
encaro vejo Thomas me olhando com a expressão petrificada.
Fico confusa quando ele se afasta e se senta na cama, em seguida finca
os cotovelos nos joelhos e cobre o rosto com as mãos.
— Você está bem? — pergunto ao me mover e apoiar a mão nas suas
costas.
— Não estou nada bem. — Sua voz enraivecida me deixa tensa. — Que
inferno de vida foi essa que te deixaram viver? — não respondo nada quando
me encara, ele está completamente furioso. — O que o maldito do seu marido
fazia com você na cama?
— Por que quer saber disso?
— Preciso entender tudo o que passou para saber como devo agir sem
que você fique com medo de mim.
— Eu não tenho medo de você, sei que não vai me ferir. — Thomas
apoia a mão na minha cabeça.
— Ele te forçava a fazer sexo? — Abaixo os olhos sem conseguir
sustentar seu olhar. — Porra!
Esbraveja ao ergue-se e se afastar, uma lágrima solitária cai em cima da
minha coxa. Eu não devia estar aqui, sou quebrada demais para poder manter
qualquer tipo de relação com outro homem, principalmente com alguém
como ele.
— Acho melhor eu ir embora — digo ao me levantar.
— Não! — Ele se move com agilidade e para na minha frente. —
Fique.
— Nada do que estamos fazendo está certo. — Outra lágrima escorre
pelo meu rosto. — Você não merece uma mulher com tantas cicatrizes do
passado, é melhor pararmos por aqui, será melhor para nós dois.
— Querida. — Ele segura o meu rosto. — É você que não merecia ter
sofrido tanto. — Com o polegar ele seca mais uma lágrima que desliza pela
minha face. — Eu vou cuidar de você, vou te mostrar o que é um homem de
verdade dentro e fora da cama. — Sua boca sonda delicadamente a minha. —
E vou começar te mostrando que vai amar um sexo oral.
Com facilidade me ergue do chão e caminha até a cama. Sem deixar de
me fitar, retira a minha camisola. Seu olhar ganha um tom luxurioso quando
encara meu corpo nu, sinto vontade de me cobrir, estou com vergonha dele
perceber todas as marcas que meu casamento deixou.
Meus temores se concretizam quando ele toca a cicatriz que Carmelo
fez quando me acertou com a fivela do cinto.
— Foi ele que fez isso? — pergunta com o rosto endurecido.
— Sim. — Inspiro fundo. — Ele me acertou com uma fivela, foi um
machucado difícil, infeccionou e eu fiquei bem mal, mas não tinha
autorização para ir ao médico, nem podia pedir ajuda porque ele me trancou
no quarto sem telefone, os empregados que cuidaram de mim do jeito que
podiam. — Thomas aperta os olhos.
Antes de reabri-los ele solta toda a respiração, em seguida sua mão
acaricia a marca.
— Você não tem ideia de como admiro sua força — diz ao se inclinar e
me beijar.
Envolvo meus braços por seu pescoço e me entrego ao beijo, feliz por
estar ao lado dele, experimentando tantas sensações novas.
Thomas vai espalhando beijos pelo meu corpo, dando atenção especial
a cada marca que encontra. Ele parece não ter pressa, apenas desbrava cada
parte minha pacientemente. Quando alcança o interior das minhas coxas eu
fico um pouco tensa, não sei como vou reagir ao que ele está prestes a fazer.
O primeiro toque da sua língua me faz arrepiar, ele apenas lambe
lentamente a minha abertura. Seus olhos buscam os meus, Thomas parece
pedir silenciosamente permissão para seguir adiante. Acaricio seu cabelo,
deixando explícito que estou bem com tudo o que está acontecendo.
Prendo a respiração quando sua língua corre pelo meu clitóris. Sinto os
músculos das pernas tremerem com a sensação eletrizante que me domina.
Gemo alto quando ele me suga avidamente, Thomas avança contra a
minha intimidade parecendo faminto. Fecho os olhos quando sua língua faz
um movimento circular no meu clitóris, jamais imaginei que pudesse existir
esse tipo de prazer, estou com o corpo pegando fogo, ansiando por sentir
mais dessa sensação poderosa que está me consumindo.
A cada segundo sua boca fica mais exigente, agora ele tem dois dedos
dentro do meu canal, enquanto toda sua atenção está concentrada no meu
ponto pulsante.
Um redemoinho de prazer começa a me consumir, nunca senti nada
parecido. Jamais gozei durante o sexo, mas eu sei que as mulheres que
desejam seus parceiros conseguem alcançar tal sensação. Gio me revelou que
goza em todas as relações com o marido, Dom jamais a deixa sem seu
próprio momento de prazer.
— Thomas! — chamo por ele quando todo o meu corpo sofre um
impacto forte.
Afundo as mãos nos fios do seu cabelo, gritando ao ser consumida pelo
orgasmo. Thomas não para de me lamber, ele mantém a pressão no meu
clitóris até me sentir relaxar.
— Você é uma delícia — fala enquanto espalha beijos por minha coxa.
— Quando você goza fica ainda mais bonita. — Sorrio para ele tímida, é
estranho saber que a poucos segundos ele estava com a boca entre as minhas
pernas. — Eu adoro esse seu jeitinho envergonhado. — Ele me beija, fazendo
com que eu sinta meu próprio gosto.
Eu me enrosco nele, contente por ter decidido passar a noite aqui. O
que acabei de experimentar foi algo inexplicável, nunca imaginei que seria
tão bom ter um orgasmo.
— Como foi sua primeira experiência no sexo oral? — Ele ergue uma
sobrancelha, me fazendo sorrir.
— Sinto que foi minha primeira experiência em todos os sentidos. —
Acaricio o seu cabelo. — Foi incrível, principalmente porque tive prazer pela
primeira vez na vida, ao contrário do que me fizeram acreditar, não sou
frígida, eu posso sentir prazer. — Seus olhos viram uma fenda.
— Realmente nunca gozou? Nem mesmo sozinha?
— Nunca me toquei, sexo para mim é dor, eu nunca senti desejo
sexual, é a primeira vez que quero estar com um homem. — Thomas corre a
mão pela lateral do meu rosto.
— É um crime o que te fizeram passar, você é tão frágil, merece apenas
ser cuidada. — Fecho os olhos quando ele beija minha testa. — Eu vou te
cobrir de prazer, iremos experimentar tudo o que sexo pode nos proporcionar,
vou te fazer gozar das mais diversas maneiras.
— Com você eu quero experimentar tudo. — Beijo sua boca.
— É muito bom ouvir isso. — Ele me abraça. — Agora vamos dormir,
acho que você passou por muitas emoções hoje.
— Dormir? — Ergo o rosto para encará-lo. — E quanto a você? —
Olho para sua ereção que marca a calça do pijama. — Também precisa do
seu prazer.
— Até preciso, mas não agora. — Thomas sorri, de uma maneira terna.
— Hoje foi sobre você, a minha hora vai chegar.
— Não é justo, eu posso... — Mordo o lábio inferior um pouco sem
jeito. — Também posso fazer sexo oral em você, ou se quiser podemos ir
além.
— O que não é justo foi tudo o que te fizeram passar — diz ao me
abraçar. — Você ainda não está preparada para dar o próximo passo, eu estou
satisfeito apenas por te provar e vê-la gozando com a minha boca, talvez no
nosso próximo encontro podemos avançar mais um pouco.
— Thomas... — Ele me silencia ao colocar o indicador contra meus
lábios.
— Sem mais. — Recebo um beijo rápido. — Jim, escureça os vidros e
apague as luzes.
— Jim? — pergunto confusa no instante que uma voz eletrônica
começa a falar e deixa o quarto escuro.
— É meu assistente remoto — responde com a voz divertida. — A casa
tem um sistema inteligente, tudo é controlado pelo Jim, basta chamá-lo e dar
o comando que quiser.
— Que legal. — Thomas me puxa contra seu peito.
— Amanhã peça algo para ele fazer, divertir-se.
— Eu vou pedir mesmo — digo animada e ouço sua risada. —
Obrigada por ser tão gentil comigo, hoje foi muito especial tudo o que me fez
sentir.
— Vou fazer sentir muito mais, é só o começo. — Abro um sorriso
quando ele beija a minha testa.
Eu confio nele e quero viver ao seu lado tudo o que me foi impedido
quando fui obrigada a me casar. Podemos não passar muito tempo juntos,
mas sei que serão as lembranças de tudo que estamos vivendo que irão me
sustentar quando eu tiver que voltar para casa e assumir minhas obrigações
dentro da máfia.
Apoio a cabeça na mão e observo Fiorella dormindo, ela parece um
verdadeiro anjo, é tão delicada. Sinto tanta raiva por saber que passou por um
casamento violento, eu queria ter poder para apagar da sua memória todas as
más lembranças.
Agora que tenho certa noção de tudo o que passou, vou até as últimas
consequências para mostrar um outro lado da vida. Quero que Fiorella viva
novas experiências e me certificarei que todas elas sejam as melhores.
Inclino-me um pouco na sua direção e inspiro o seu perfume, é um
pouco floral, tão suave quanto ela. Seguro a vontade de abraçá-la, não quero
incomodar seu sono, no entanto, não posso negar que está sendo difícil tê-la
na minha cama sem poder fazer tudo o que desejo.
Fiorella move o corpo vindo para perto de mim, não me controlo e
descanso minha mão no seu quadril, em seguida beijo seu cabelo.
Acompanho fascinado ela bater os olhos tentando se acostumar com a luz
parca do abajur.
Lentamente um sorriso nasce na sua boca e suas bochechas ganham um
tom rosado.
Meu Deus! Como ela é perfeita, não existe nada nela que possa ser
mudado, Fiorella é um sonho de mulher.
— Bom dia — digo ainda hipnotizado por sua beleza.
— Bom dia — Ela se aproxima mais e esconde o rosto no meu
pescoço. — Por que está me olhando assim? Estou muito bagunçada?
— Você está fodidamente linda — respondo ao trazê-la para se
aconchegar completamente em mim.
— Pode parar Thomas, sei que não é verdade. — Passo a mão pelo seu
cabelo e afasto um pouco meu rosto para encarar o dela.
— Não estou mentindo, você consegue ficar bonita em qualquer
ocasião.
— Você vai me matar de vergonha. — Mais uma vez ela se refugia
contra meu pescoço, me fazendo sorrir.
Essa sua timidez é a coisa mais fofa que já vi, quando ela fica toda
envergonhada a minha vontade é enchê-la de beijos.
— Existem maneiras mais prazerosas para que eu posso te matar. —
Seus olhos encontram os meus, vejo claramente o desejo se estampar neles.
— Que tal chamar o Jim? Certamente Carmem já preparou o nosso café.
— O que exatamente peço a ele? — Seu sorriso animado me deixa
encantado.
— Comece pelo clareamento dos vidros, depois mande apagar o abajur
e aí pode perguntar algo, como a temperatura, ou as notícias mais relevantes
do dia, faça o que quiser. — Ela morde o lábio inferior enquanto sua boca
exibe um sorriso.
— Jim, bom dia.
— Bom dia. — A voz eletrônica a saúda fazendo com que ela alargue o
sorriso. — Do que precisa?
— Apague o abajur e clareie os vidros — ordena.
— O.k. — Jim a obedece imediatamente.
— Isso é maravilhoso — diz quando todo o quarto fica claro.
— Nero não tem nada parecido no apartamento dele? — pergunto ao
sair da cama.
— Na máfia certas tecnologias não são bem-vindas, podemos ficar
expostos demais.
— O sistema de segurança do Jim é excelente, mas além dele tenho
outra inteligência artificial para suprir qualquer problema.
— Você entende profundamente de tecnologia, pode coordenar tudo
sozinho, meu primo não.
— É... nesse ponto tem razão. — Entro no banheiro e inicio a minha
higiene matinal.
Ouço Fiorella fazendo perguntas a Jim, sua voz é repleta de
empolgação, ela está adorando a novidade.
— Qual o nome dos príncipes do reino de Vichi? — Ouço sua pergunta
quanto estou escovando os dentes.
— O reino de Vichi possui três príncipes, o herdeiro direto do trono
Mitchell Cassel, seguido de Thomas Cassel e Hill Cassel.
Jogo a cabeça para o alto ao rir, Fiorella realmente está se divertindo.
Quando saio do banheiro ela já se cansou do Jim e está parada olhando
a paisagem através da parede de vidro.
Eu me aproximo devagar, sem querer assustá-la. Firmo minhas mãos
nos seus ombros, em seguida beijo o topo da sua cabeça. Ouço-a soltar um
suspiro profundo. Envolvo meus braços ao redor do corpo e a aperto entre
eles.
— Vou descer e fazer algumas ligações, enquanto isso se arrume.
— Tudo bem. — Ela acaricia a minha mão. — Obrigada por ser
paciente comigo, sei que estou exigindo demais de você, mas eu não consigo
ir tão rápido.
— Não está exigindo nada. — Beijo seu rosto. — Eu quero curtir cada
um dos passos que der. — Fiorella ergue o rosto para poder me olhar.
— Não me acha patética por ser tão problemática?
— Eu te acho uma guerreira. — Acaricio sua bochecha com o polegar.
— Confesso que depois de um evento que ocorreu na minha vida eu não
gosto de esperar por nada, faço tudo o que está ao meu alcance, mas eu te
espero. — Seus olhos ficam úmidos.
— Você é incrível.
— Tento ser às vezes. — Roço meu nariz contra o seu. — Agora vá se
arrumar, nos encontramos na mesa do café da manhã, tudo bem?
— O.k.
— Enquanto se arruma pergunte mais detalhes de Vichi, vai gostar de
saber sobre o meu país.
— Acho que vou perguntar mais sobre você. — Ela ergue uma
sobrancelha.
— Pergunte, vai descobrir que sou um príncipe comportado — digo ao
aproximar a boca da sua orelha. — Ao menos publicamente. — Sugo
delicadamente o lóbulo da sua orelha.
Fiorella ofega, me deixando louco para jogá-la na merda da cama e me
perder no seu corpo. Sempre vou respeitar seus limites, mas não nego que
estou quase explodindo de tesão por ela.
— Não demore — peço quando relutantemente me afasto.
Essa mulher está fodendo a minha vida, nunca desejei tanto alguém.
Estou completamente perdido com a fascinação que ela está exercendo sobre
mim.
Desço as escadas em um trote constante, quando me aproximo da mesa
do café escuto Carmem brigando com o marido.
— Bom dia — revelo a minha presença.
— Bom dia — os dois falam ao mesmo tempo.
— Algum problema? — Olho entre ambos.
— Nada demais, só esse homem sendo teimoso.
— Não sou teimoso, é você que implica com tudo. — Ronaldo a olha
com desagrado.
Fito Carmem, que revira os olhos para a resposta do marido. Um dos
motivos de gostar dela é justamente por não mentir quando está irritada.
— Posso ajudar em algo?
— Não! — eles respondem ao mesmo tempo.
— Eu resolvo a teimosia dele — Carmem bufa. — O café está pronto,
se precisar de algo me chame.
Com um aceno ela e o marido me deixam sozinhos. Fico preocupado
com eles, mas decido não me intrometer. Se eu vir que estão realmente com
problema, intervenho na situação.
Coloco um pouco de café na xícara e começo a ler as notícias do dia.
Acabo vendo sobre um incêndio que ocorreu em China Town, isso me faz
lembrar de Song e do encontro estranho que tive com Kwon.
Não gostei nada da maneira que ele me abordou, muito menos da sua
ameaça velada. Eu espero não ter problemas com os chineses, fujo desse tipo
de atrito, porém eu não me importo em usar de força maior se eles resolverem
me perturbar.
Um barulho chama a minha atenção, quando olho para trás Fiorella está
se aproximando da mesa.
— Sente-se aqui — indico o lugar ao meu lado.
— Que mesa farta — diz ao olhar todos os itens que Carmem
disponibilizou.
— Digamos que Carmem é um pouco exagerada.
— Percebi. — Ela sorri e pega uma uva. — Mas eu amei tudo. — Fico
feliz com sua afirmação.
— Então, coma o que quiser, eu vou te levar pessoalmente até em casa
e verei com Nero nosso próximo encontro.
Ela me lança um discreto sorriso, que faz meu coração ficar em
chamas. Não vejo a hora de torná-la apenas minha, estou completamente
rendido por esta mulher.
Cruzo as pernas e apoio as mãos sobre a minha bolsa. Levo alguns
segundos para organizar as ideias na minha mente e começar mais uma
sessão de terapia.
Está sendo incrível cada encontro que tenho com a doutora Hawk, ela é
tão serena, seu jeito calmo me deixa mais à vontade.
Quando estou à sua frente, eu me sinto mais leve e confiante. Já perdi
as contas de quantas sessões tivemos, no entanto, posso afirmar que ela já me
trouxe equilíbrio.
Hoje está completando duas semanas que tive meu primeiro contato
sexual com Thomas, desde aquele dia nos encontramos mais quatro vezes,
porém ele mantém nossos encontros de maneira mais lenta, sem avançar
demais. Nos últimos cinco dias ele esteve fora, o combinado é que chegue
amanhã na cidade e eu não vejo a hora de poder estar com ele.
— Eu estou vivendo um momento novo — começo a falar. — Que
nunca pensei que pudesse acontecer, está sendo um grande aprendizado, mas
fico incomodada por sempre buscar comparações com meu passado. Thomas
é o oposto do meu falecido marido, eu sei que nunca me machucaria, ainda
assim não consigo me entregar completamente.
— Natural — a terapeuta me lança um sorriso acolhedor. — A
comparação é um passo importante para notar as diferenças e entender que
está vivendo uma nova realidade. Você só não pode transformar as
lembranças em algo obsessivo, se já conseguiu ter a percepção que seu
parceiro é o oposto do anterior, coloque em mente que deve se permitir ter
novas experiências.
— Eu sei que são diferentes, mas ainda assim não consigo... — Paro de
falar e olho para minhas mãos. — Quando estamos juntos é difícil me soltar.
— Quantas vezes já estiveram juntos com a intenção de fazerem sexo?
— Quatro vezes, ele é um homem muito ocupado, estava viajando,
chegará à cidade amanhã e aí voltaremos a ficar juntos.
— O quanto avançaram no sexo? — Sinto meu rosto esquentar. —
Relaxa, Fiorella, eu estou aqui para te ouvir em todos os assuntos. — Aceno
para ela mesmo sentindo a vergonha me consumir.
— Ele fez sexo oral em mim algumas vezes, mas nunca aceitou que eu
retribuísse o ato. — Assumo.
— Isso te fez entender que ele não é seu ex-marido?
— Sim.
— Então dê um passo à frente e permita-se viver este novo momento,
nada é garantido nesta vida, mas só saberemos o que iremos encontrar mais
adiante se nos aventurarmos. O que precisa entender é que agora tem escolha,
é você que determina quando começa e termina, ter o poder em nossas mãos
é algo importante e deve focar nisso. A palavra final é apenas sua.
Um estalo soa dentro de mim e, pela primeira vez, eu me sinto
confiante.
Sou eu que tenho a direção do próximo passo e serei eu a dá-lo assim
que me encontrar com Thomas.

Corro até meu celular quando ele vibra, fico animada quando vejo o
nome da Masha.
Ontem tive uma chamada de vídeo com minha mãe, Chiara e minha
sobrinha. A pequena Ramona está tão linda, sinto a ausência delas, mas ainda
não posso regressar a Roma, preciso aproveitar tudo o que estou vivendo com
Thomas.
— Masha, como está?
— Estressada com Caterina andando tudo e quebrando cada objeto que
encontra. Tive que proteger todas as tomadas ao alcance dela, a arteira gosta
de enfiar os dedos nelas, levou um choque que me matou de susto, Paolo
quase infartou. — Senhor! Posso imaginar a aflição do meu irmão.
— É a fase Masha, vocês terão que ficar atentos a cada um dos passos
dela.
— Falei isso para seu irmão, mas ele é difícil, está neurótico com tudo,
não anda fácil aturar seus surtos.
Entendo Masha, o seu marido tem um temperamento complexo, quando
ele fica descontrolado é difícil segurá-lo.
— Lamento de verdade, sei o quanto Paolo é chato.
— A sorte dele é que o amo muito, caso contrário já estaria morando
com Andrei, Paolo é turrão demais. — Sorrio.
— Ele também te ama, seja mais condescendente.
— Pode apostar que sou, só que meu marido não me dá trégua, está
sempre reclamando de algo. — Ela bufa. — Agora me diga como as coisas
estão aí? Estamos sentindo tanto sua falta, nossos encontros de família não
são os mesmos sem você. — Sinto a nostalgia me inundar.
— Estou bem, em Nova Iorque vivo uma nova rotina, as minhas primas
são maravilhosas e Nero cuida de mim, ando passando por um bom
momento, a terapia está me fazendo bem.
— Você não sabe como estou feliz em ouvir isso. — Sua voz é repleta
de emoção. — Quando Gio me disse que estava na terapia novamente fiquei
radiante.
— Eu não deveria ter feito antes, mas sempre acredito que tudo tem seu
tempo.
— Tem sim e torço para você curar suas feridas o mais rápido possível.
— Estou me esforçando justamente para isso. — Um grito estridente
interrompe a nossa conversa.
— Mama! — Ouço a voz fofa de Caterina.
— Leo será que não consegue controlar essa menina ao menos
enquanto converso com Fiorella? — Masha reclama.
— Quero falar com minha florzinha. — Sua voz alegre me faz sorrir,
sinto tanta falta desse falastrão, Leo onde chega leva uma energia positiva
incrível. — Amore mio, como está?
— Ah...Leo, como sinto sua falta.
— Vou fingir que acredito.
— Estou falando sério, queria ter você aqui comigo para poder fofocar.
— Acabo de me ofender, você disse que sou fofoqueiro.
— Ela só disse a verdade — Masha provoca o amigo.
— Quieta! Vá cuidar da sua mafiosinha atarantada. — Leo a
recrimina. — Amore, como andam os mafiosos americanos? Já arrumou um
para você? Se eu estou aí já tinha me ajeitado com algum bonitão e não
voltaria a Roma, ficaria de vez em Nova Iorque, Chiara me mostrou uma foto
do tal Eros. Por Deus, bambina, molhei a calcinha.
— Leonardo! — Minha cunhada grita, enquanto eu caio na gargalhada.
Leo tem um fogo fora do comum, principalmente quando se trata dos
homens da máfia.
— Acho que você iria gostar dos homens daqui, são realmente lindos e
Eros é um destruidor de corações.
— Por acaso ele destruiu o seu?
— Meu coração ainda está ferido, não daria oportunidade para algum
homem fazê-lo sangrar novamente.
— Minha querida, você é mais forte do que pensa, não chegou onde
está por acaso. Levanta essa cabeça, mande o passado se foder e arrume um
mafioso bem gostoso para sentar. Nada como uma boa gozada para a gente se
erguer.
Suas palavras me fazem refletir, realmente fui forte durante todo o meu
casamento, sou uma sobrevivente e mereço desfrutar plenamente desse
momento de liberdade que estou vivendo.
Converso mais um pouco com eles e no final da ligação peço que
Masha me mande algumas fotos da Caterina, mesmo de longe quero
acompanhar de alguma maneira o seu desenvolvimento.
Sinto muita falta deles, porém vou ficar mais tempo por aqui para poder
viver plenamente essa nova experiência que a vida me presenteou.

— Hoje nós malhamos de verdade. — Serena enxuga a testa.


— Você quase me matou. — Esguicho um pouco de água na boca.
— O verão está aí, precisamos estar em forma. — Ela pisca e sobe
correndo as escadas indo para seu quarto.
Quanta disposição.
Também sigo para o meu quarto, preciso de um banho urgente. Retiro
meus tênis e meias e entro no banheiro. Antes que eu possa tirar meu top o
meu celular toca, vejo o nome do Eros piscar. Ele estava viajando, precisou ir
a Chicago, ajudar a máfia local com um problema.
— Olá, sumido! — Implico com ele.
— Sentiu minha ausência, baby? — Como Eros é arrogante.
— Pare de ser convencido. — O recrimino. — Diga o que deseja.
— Não me faça esse tipo de pergunta que eu respondo sendo bem
sincero. — Solto uma risada alta, ele é tão bobo.
— Vamos lá, por que me ligou?
— Tenho um evento bem foda para ir hoje, vou te levar comigo, quero
aproveitar que está livre do entojo do príncipe.
— Pare com isso. — Ele é tão implicante.
— Só estou sendo sincero. — Reviro os olhos. — Te pego depois das
22h, esteja arrumada e ainda mais linda do que já é. Até mais tarde. — O
sem-vergonha desliga na minha cara.
Ainda mato Eros. Ele é arrogante demais, no entanto não posso negar
que adoro suas provocações.
Volto a entrar no banheiro, já pensando na roupa que vou vestir mais
tarde.

Puxo a barra do vestido enquanto sigo Eros, mais cedo ele me


surpreendeu ao enviar a peça pedindo que eu usasse. Achei o visual
extremamente atrevido para os meus padrões, porém não pude deixar de
negar que era lindo. Giada me convenceu a usá-lo e agora estou aqui
arrependida por estar com uma roupa tão curta.
— Pare de ficar puxando esse caralho! Você está gostosa demais,
apenas siga em frente e esqueça o maldito vestido.
— Como posso esquecê-lo se sinto que minha calcinha está
aparecendo? — Eros me lança um olhar sacana.
— Quem dera que estivesse aparecendo, eu iria adorar encontrar uma
forma de tirá-la. — Ele interrompe os passos e me faz tropeçar. — Na
verdade, eu a tiraria com os dentes, seria uma aventura incrível.
— Para de ser pornográfico. — Bato no seu ombro.
— Você não tem noção do quanto posso falar e fazer pornográfica por
horas — diz sorrindo ao voltar a andar e entrar na elegante casa noturna onde
está sendo realizada a festa.
— Que lugar lindo — digo ao correr os olhos por todo o local.
— É propriedade do Lorenzo, mas quem administra é a irmã mais
velha, ela é boa em relações públicas, conseguiu fazer o lugar ser um dos
melhores points da cidade.
— Uma mulher da máfia administra uma boate?
— Pois é. — Eros enlaça a minha cintura. — Aqui as regras são
diferentes, o pai dita a vida dos filhos no que se refere a estudo e trabalho. Se
o chefe da família manda a filha para a faculdade antes de se casar, o marido
precisa respeitar esta decisão e, se ele não se importar da esposa trabalhar, ela
está livre para ter seu próprio emprego desde que seja dentro dos nossos
negócios e não corra riscos.
— Eu não estava sabendo desse tipo de liberdade.
— Aqui somos menos tradicionais em alguns assuntos, mas depende da
família, a maior parte delas infelizmente não são tão modernas.
— Por que só estou sabendo disso agora?
— Porque nunca perguntou. — Ele beija meu rosto. — Vamos beber
algo, depois vamos dançar um pouco.
Eros me puxa até o bar, enquanto minha cabeça processa tudo o que me
falou. Sempre soube que aqui a Famiglia era mais maleável, porém não
imaginava que era tanto, estou verdadeiramente surpresa e com inveja das
mulheres do clã, queria que no meu fosse assim.
Rapidamente tenho um drinque em minhas mãos, Eros brinda a nossa
noite juntos e a minha liberdade provisória.
A cada dia que passo aqui sinto mais receio do meu regresso, estou
feliz por não ser tão controlada, eu queria ter esse estilo de vida em Roma.
Algumas pessoas se aproximam de nós, todos fazem parte da máfia e
ficam curiosos com a minha presença. Eros não sai de perto de mim, mesmo
quando engato um diálogo com duas meninas muito simpáticas. Uma delas
inclusive não esconde o quanto está fascinada pela figura do meu
acompanhante.
Não posso recriminá-la, ele é extremamente atraente, difícil não se
interessar quando uma perfeição de homem está na sua frente.
Meu primo se junta a nós, ele está ao lado de uma mulher muito
elegante, acabo descobrindo que ela é uma modelo internacional famosa. A
soberba dela é evidente, sequer se esforça para interagir com as outras
pessoas. Não consigo conter a antipatia, odeio gente metida.
Em certo momento Eros me puxa para a pista de dança, ele me envolve
em seus braços e dita o ritmo da nossa dança. O seu atrevimento é
extremamente irritante, mas eu gosto desse sem-vergonha. Ele tem um astral
diferente, eu me sinto bem quando estamos juntos.
Acabo me lembrando do Thomas, passamos a semana trocando
mensagens, estou ansiosa para revê-lo. Nunca senti tanta falta de alguém, em
certos momentos me assusto com o desejo que sinto por ele.
Dessa vez quando estivermos juntos vou seguir o conselho da terapeuta
e fazer minhas próprias escolhas, sem permitir que o passado tome conta do
meu presente.
Os meus pés protestam, o que me faz pedir a Eros para dar uma pausa
na nossa dança. Ele segura a minha mão e nos encaminha para o bar. Aviso
que preciso ir ao banheiro, mas peço que providencie a minha bebida.
Encontro uma fila não muito grande até conseguir usar o reservado.
Perco alguns segundos arrumando meu cabelo, confiro se minha maquiagem
precisa de retoque e constato que tudo está certo.
Puxo novamente o vestido na esperança dele ganhar alguns
centímetros, eu não fui feita para esse tipo de roupa, da próxima vez não vou
sucumbir aos gostos do Eros, irei usar minhas próprias roupas.
Saio do banheiro pronta para ir direto ao bar, mas uma mão gruda em
meu braço, fazendo todo meu corpo ficar tenso.
— Esse vestido é um perigo. — Arregalo os olhos com a voz que
sussurra no meu ouvido. — Não gosto de saber que está com algo tão sexy
fora do meu alcance.
— Thomas... — digo seu nome ao girar o corpo e encará-lo. — O que
está fazendo aqui? Você não chegaria amanhã? — Ele retorce a boca em um
sorriso cheio de charme.
— Queria fazer uma surpresa, mas me avisaram que você estava se
divertindo com o prepotente do Eros. — Ele me puxa para um canto que tem
pouquíssima iluminação. — Tive que vir te buscar, eu não quero ninguém te
rondando. — Sua mão aprisiona a minha cabeça no momento que me prende
contra a parede. — Você é só minha.
Seus lábios capturam os meus, em um beijo eufórico, repleto de desejo.
Meu coração acelera, ainda estou meio incrédula em tê-lo aqui comigo, no
entanto, eu travo minha mente e apenas me deixo levar por sua boca
luxuriosa, que parece querer me devorar.
Viajar faz parte do meu trabalho, sempre estou participando de algum
evento, mas desde que certa mulher apareceu no meu caminho, tem sido um
imenso sacrifício sair da cidade.
Fiorella está poluindo completamente meus pensamentos, o desejo que
sinto por ela é perturbador. Vou esperar o tempo que precisar para ser toda
minha, porém não posso negar que está sendo difícil segurar todo o tesão que
estou sentindo.
— Thomas... — ela sussurra meu nome contra meus lábios. — Já
esqueceu que não podemos ser vistos juntos?
— Ninguém irá nos ver aqui. — Escorrego a mão pela curva do seu
quadril. — E se não fosse a sua situação eu não ligaria que nos vissem, seria,
na verdade, um prazer mostrar a todos que estamos juntos. — Ela morde o
lábio inferior.
— Acho que sua família não ficaria feliz em saber que está saindo com
uma viúva da máfia.
— A minha família tem a própria vida, eu sei das minhas escolhas. —
Envolvo meus braços por sua cintura. — Você vai querer ficar mais tempo
aqui ou já podemos ir embora? — Espero que ela não peça para ficar, estou
ansioso para levá-la embora daqui.
— Eu vim com Eros, preciso conversar com ele antes de ir, não quero
que fique chateado comigo. — Solto a respiração, irritado por ela estar na
companhia dele.
Sempre me dei bem com Nero desde que o conheci, gosto do seu
temperamento frio, mas Eros é outro caso, ele é extremamente arrogante,
nunca conseguimos nos entender.
— Ele não tem motivos para se chatear com nada, até porque estamos
juntos.
— Ainda assim não quero chateá-lo, vou falar com ele e podemos ir
quando quiser.
— Então vá na frente, preciso trocar algumas palavras com seu primo e
aí um dos meus seguranças te tira daqui discretamente.
— Tudo bem. — Antes de ir embora ela me puxa para um rápido beijo.
Com um sorriso de satisfação se afasta exibindo um sexy rebolado no
microvestido. Ela está gostosa demais, quando a vi nessa roupa quase
enlouqueci.
Espero alguns segundos e sigo no seu rastro, quando me aproximo do
bar ela está cochichando algo no ouvido do Eros. Não me considero um
homem ciumento, esse posto na família fica para meu irmão mais velho, no
entanto, hoje sinto um desconforto imenso em vê-la tão próxima de outro
homem.
Seguro a vontade de tirar Fiorella de perto dele e me encaminho até
onde Nero está com Sabrina Gonzales, uma famosa modelo que adora se
envolver com homens perigosos. Acho que ela deve ter algum fetiche por
criminosos, talvez seja aquele tipo de pessoa que ama correr riscos.
— Olá, senhor Cassel? — Nero me cumprimenta ironicamente.
— Pare de bobagem. — O recrimino e olho para a sua acompanhante.
— Como está Sabrina?
— Ótima. — Ela apoia a mão no ombro do Nero. — Faz tempo que
não nos encontramos, ando acompanhando seu sucesso pela mídia.
— O trabalho tem sido grande. — Mudo a minha atenção para Nero. —
Depois preciso conversar com você.
Tive mais um contato do homem do Song e isso está me incomodando
demais.
— Se aprontou algo... — Seus olhos vão para a prima.
— Relaxa, nesse quesito está tudo bem, é só uma situação que
aconteceu e eu queria discutir com você. Fiquei um pouco desconfortável
com o ocorrido.
— Estou começando a ficar preocupado.
— Espero que não seja um problema para nós, depois te conto tudo,
estou indo para casa. — Olho rapidamente para Fiorella e Eros. — Algum
problema de ela ficar comigo?
— Só não a magoe, eu odiaria enviar sua cabeça a Vichi — diz
sorrindo.
— Engraçadinho. — Faço uma carreta. — Eu vou ir na frente, um dos
meus seguranças irá acompanhá-la.
— Não se preocupe, eu a escolto até a saída, apenas deixe alguém a
esperando lá fora.
— Combinado. — Trocamos um aperto de mãos.
Não olho mais para Fiorella ou Eros, apenas me afasto e comunico a
um dos seguranças que ele deve aguardar Nero na porta da casa noturna.
Peço que deixem meu carro à disposição, em pouco tempo sou alertado
que ele está chegando. Assim que entro no veículo ordeno ao motorista que
dê uma volta no quarteirão, será o tempo suficiente para que Fiorella esteja
preparada para poder ir embora comigo.
Descanso a cabeça no encosto do banco e fecho os olhos, estou exausto
fisicamente, trabalhei o dia inteiro em propaganda publicitária, ainda assim
eu não podia ficar um segundo longe de Nova Iorque e da mulher que não sai
da minha cabeça.
Estou completamente fissurado nela, só consigo pensar quando irá
derrubar todas as barreiras que existem entre nós e se entregar inteiramente a
mim.
Como eu a quero!
Sinto o carro parar, isso me faz abrir os olhos. Quando a porta se abre,
ela entra enchendo o veículo com o seu perfume suave.
Meus olhos correm por todo seu rosto, até que me fixo no seu sorriso.
Mal espero ficarmos isolados para puxá-la para um beijo, a cada encontro o
meu controle evapora.
Por mais que eu tente me segurar, sou agressivo no beijo, é difícil
conter minhas emoções quando eu sei que cada segundo é valioso. Respeito
seus limites, mas eu não posso conter a minha própria necessidade de ter tudo
com urgência.
Opto por interromper nosso beijo, preciso de controle e ter sua boca
contra a minha não vai me ajudar em nada.
Encaro seus olhos com certo receio dela estar temerosa com a maneira
que a beijei. Para a minha surpresa encontro neles o mesmo desejo que me
consome.
Não contenho a alegria, ela está se entregando, entendendo que não
podemos mais nos segurar.
— Estava ansioso para te reencontrar. — Assumo.
— Eu também. — Ela encosta o rosto contra meu peito. — Contei os
segundos até poder voltar para casa. — Fecho meus braços contra seu corpo.
— Prometo que vamos aproveitar muito agora que estamos juntos.

Sorrio quando Fiorella senta-se no meu colo com um copo de


champanhe na mão.
Estamos em um momento de cumplicidade que nunca dividimos até
agora. Ela exibe um relaxamento que está me deixando completamente
empolgado. Se tudo continuar correndo bem, talvez hoje seja o dia que nos
conectaremos como tanto anseio.
— Então...você fez uma boa propaganda da sua empresa na viagem? —
ela pergunta ao descansar a cabeça no meu ombro.
— Fiz. — Beijo seu cabelo. — Tive que gravar algumas publicidades,
nada que eu já não esteja acostumado a fazer.
— Se eu tivesse que sobreviver gravando comerciais estaria perdida,
sou tímida demais para isso.
— É uma questão de costume, nada demais.
— Você sabe que não é tão simples.
— Talvez você tenha razão. — Olho para o céu escuro sobre nós. —
Como está indo a terapia?
— Bem, a cada sessão eu me solto mais e sinto minha confiança em
encarar o futuro crescendo.
A resposta dela me anima, se Fiorella está pensando no futuro, significa
que encontrou um rumo para deixar o passado onde ele deve ficar.
— Ouvir isso é animador. — Ela se move no meu colo até que estamos
nos encarando.
— A psicóloga disse que agora eu tenho escolhas e devo aprender a
tomá-las.
— Ela está coberta de razão, pode parecer um pouco assustador ser,
ainda que momentaneamente, dona do seu destino, mas eu te garanto que vai
ser emocionante todas as decisões que tomar. — Apoio a mão na sua cintura.
— E vou te dar um conselho. — Faço uma pausa antes de voltar a falar. —
Não pense muito, siga seus instintos, você está aqui agora, o próximo
segundo é incerto, tudo pode se acabar e apenas o remorso vai te fazer
companhia.
— Está dividindo comigo alguma experiência do passado?
Sua pergunta transporta a minha mente para o momento que recebi a
notícia que Clover, minha amiga de faculdade e uma paixão secreta, foi
covardemente assassinada.
— Estou. — Desço meus olhos até os seus. — Se arrepender de algo
que poderia ter vivido é um tipo de tortura que eu não desejo a ninguém, em
especial a você.
Fiorella não diz nada, ela apenas me encara pensativa, claramente com
as engrenagens da cabeça girando sem parar.
— O dia que quiser dividir tudo o que aconteceu estarei pronta para te
ouvir. — Ela move o corpo e deposita sua taça de champanhe na mesinha ao
lado. — Você tem razão, é melhor se arrepender do que vivemos. — Sua mão
vai até o meu cabelo, em um carinho gostoso. — Eu não quero voltar para
Roma com nenhum arrependimento, Thomas. — O meu coração dá um
murro forte no peito.
— Tem certeza?
— Estou fazendo uma escolha.
Libero toda a minha respiração, que eu nem sabia que estava
prendendo. Não acredito que finalmente o momento que tanto esperei
chegou.
— Juro que não irá se arrepender dessa escolha — afirmo quando me
livro do champanhe.
— Sei disso. — Fiorella apenas sorri quando a ergo e entro no
apartamento, seguindo direto para a escada que leva até a área onde fica o
meu quarto.
Sei que deveria levar tudo entre nós mais lentamente, só que porra! Não
aguento mais segurar o tesão por ela, Fiorella precisa ser minha o quanto
antes.
— Podemos parar quando você quiser — digo ao bater à porta com o
pé. — Mas eu espero de verdade que queira seguir adiante.
Ela sorri, com o seu jeitinho meigo que tanto me encanta. Neste
momento seus olhos estão luminosos, a tradicional tristeza que sempre está
estampada neles desapareceu.
— Tudo o que mais quero é estar com você.
Coloco-a no chão com todo o cuidado, se esse é o desejo dela eu vou
fazer com que seja um momento especial. Quero que Fiorella lembre-se da
nossa primeira vez sendo algo de extremo carinho e prazer.
Seguro a sua cabeça e desço minha boca até a dela, lambo seu lábio
inferior, em seguida sugo-o lentamente. Ela geme, deixando meu corpo ainda
mais quente.
Mantendo nossas bocas coladas, eu desço sem pressa o zíper do
vestido, até que afasto uma das alças. Interrompo o nosso beijo, para poder
encarar seus olhos e me certificar de que tudo está bem.
Não detecto nenhum tipo de hesitação, ela apenas tem um brilho
luxurioso no olhar. Sorrio discretamente ao jogar a outra alça para baixo, sem
deixar de mirar seu rosto, permito que o vestido caia do seu corpo.
Fiorella morde o lábio, demonstrando certa insegurança. Entendo sua
apreensão, ela está perto de dar um passo importante, será a primeira vez que
se entregará completamente a um homem por livre e espontânea vontade.
— Limpe sua mente de tudo o que te faz mal, neste momento existe
apenas você e eu, ambos unidos pelo mesmo desejo. — Escorrego minha
mão por suas costas até envolver a protuberância avantajada da sua bunda. —
E juntos criaremos o nosso mundo exclusivo de puro prazer.
— Confio em você. — Ouvi-la confiar plenamente em mim, faz um
sentimento de posse esmagar minha garganta, ela não tem a mínima ideia do
quanto está mexendo comigo.
Em determinados momentos palavras demais atrapalham, por isso eu
opto por beijá-la, vou demonstrar com o meu toque o quanto estar ao seu lado
é único.
Não dou a mínima ideia para onde estamos seguindo, apenas tenho a
certeza de que o único lugar que eu gostaria de estar agora é ao lado desta
bela mulher.
Estou extremamente nervosa e não é por conta do meu passado, meu
medo é não ser suficiente para Thomas. Pensar que ele possa perceber que
sou limitada na cama, me deixa em pânico.
Apesar de anos casada, eu não sei nada sobre sexo, sequer tenho ideia
do que me agrada entre quatro paredes. Se eu não consigo ter noção do que
gosto, como posso agradar um homem?
— Pare de pensar — Thomas pede ao tirar a blusa. — Você está com
alguma dúvida? — A preocupação no seu olhar deixa meu coração
amolecido.
— Eu só... — paro de falar sem saber ao certo como expressar tudo o
que está passando pela minha cabeça.
— Acho melhor a gente parar por aqui, você ainda não está preparada.
— Não! — Rapidamente me posiciono. — Eu quero mais que tudo
estar com você, só me sinto uma idiota por não ter noção do que fazer para te
agradar. — Olho para o chão, sem saber como encará-lo. — Nunca senti
necessidade de agradar um homem como sinto quando estamos juntos. — Ele
me abraça.
— Você não precisa pensar em nada para me agradar, basta ser você.
— Seu polegar acaricia a minha bochecha. — Vem comigo. — Segurando a
minha mão ele me arrasta até o banheiro.
— O que vai fazer?
— Algo para te relaxar.
Sorrindo abre os jatos de água e começa a colocar sais de banho
parecendo ter todo o tempo do mundo. A espuma começa a surgir, no mesmo
momento em que um cheiro suave de rosas se espalha pelo ar.
Com toda a calma do mundo ele se livra dos restos das roupas e fica
completamente nu. Me sinto quente quando observo a perfeição do seu corpo
e o quanto ele está excitado. Molho os lábios, sem conseguir desviar os olhos
da beleza extraordinária a minha frente.
Várias tatuagens despontam por seu tronco e coxas, ele é tão lindo,
parece ter sido esculpido por um artista talentoso.
— Pare de me olhar assim, eu estou tentando ser calmo, mas se não
parar de me devorar com esses olhos gulosos, eu esqueço que devo ser um
legítimo príncipe com você e vou te foder sem piedade.
Ergo os olhos rapidamente, focando completamente no seu rosto sério.
Um arrepio percorre a minha pele ao notar a maneira que me observa, é
diferente de qualquer um dos olhares que já me deu.
Thomas me segura pela cintura, erguendo-me sem dificuldades nos
encaminha para dentro da banheira. Deixo completamente em suas mãos o
que vai acontecer de agora em diante, se eu pensar mais um pouco vou acabar
surtando e estragando a nossa noite.
Sem protestar eu me recosto contra o seu peito quando me senta entre
as suas pernas. Ele pega uma esponja e começa a correr pelo meu ventre, em
um movimento delicado e preguiçoso.
Fecho os olhos aproveitando a sensação gostosa dele me dando banho,
nunca vivi algo assim, mas já posso afirmar que gosto desse tipo de mimo.
Minha mente se perde no extremo prazer dele deslizando a esponja ao
longo do meu corpo, porém tudo muda quando a sua mão avança entre as
minhas pernas.
Agora já não existe mais a esponja, é apenas seus dedos firmes
buscando pela minha intimidade. Um gemido alto escapa dos meus lábios ao
sentir seu polegar massageando meu clitóris.
Sinto uma necessidade intensa me consumir, quero que ele me faça
gozar novamente, desde a última vez que estivemos juntos, não paro de
ansiar por este momento.
Por puro instinto eu me esfrego na sua mão, buscando o alívio que meu
corpo pede. Thomas suga a pele do meu pescoço, em seguida a ponta da sua
língua corre pela região, até que ele morde a minha orelha.
— Ainda não — diz ao afastar a mão da minha vagina e subi-la até
abarcar com força um dos meus seios. — Você vai gozar com a minha boca,
mas não agora.
Solto um grito quando ele me ergue e sai da banheira, assim que encaro
seu rosto vejo um sorriso safado brincando na sua boca.
— O que exatamente está aprontando? — pergunto quando ele me
entrega uma toalha e pega outra para si.
— Nada que você possa reclamar. — Fico estática o fitando com a
toalha contra o peito. — Seque-se! — ordena ao começar a correr a toalha
felpuda pelo seu próprio corpo.
Imediatamente o obedeço, esse seu lado mais autoritário é um pouco
excitante, apesar de não ter boas memórias dos momentos que precisei seguir
ordens, com Thomas é diferente, sei que ele só tem a intenção de me cobrir
de prazer.
— Vem aqui. — Seu braço se enrosca na minha cintura, enquanto sua
boca prensa a minha.
Sem parar de me beijar nos leva para o quarto, em seguida tenho meu
corpo depositado sobre a cama, enquanto ele se posiciona sobre mim.
Travo toda a minha mente e foco meu olhar nele, estou vivendo uma
aventura que eu pude escolher, quero estar neste quarto ao seu lado.
— Chame sempre por meu nome se sentir qualquer tipo de
insegurança, certifique-se a qualquer segundo de que sou eu que estou aqui
com você.
— Tudo bem — concordo sem tirar a atenção dele, que agora desce a
boca entre o vale dos meus seios.
Erguendo os olhos na minha direção, ele captura um mamilo na boca.
Toco seu cabelo e gemo quando suga meu seio com volúpia. Não consigo
manter por muito tempo meu foco, fecho os olhos me deixando levar por
todas as sensações de prazer que assolam meu corpo.
Thomas não tem pressa, ele desbrava o meu corpo com extrema
dedicação. Cada um dos seus toques nas minhas cicatrizes causam um arrepio
em minha pele, elas representam momentos de dor que sofri e me marcaram
eternamente.
Quando ele abre as minhas pernas e morde a minha virilha, eu sinto o
calor me varrer inteiramente.
Jogo a cabeça contra o travesseiro e afundo as mãos em seu cabelo. É
incrível tudo o que ele me faz sentir apenas com a sua boca. Se nossos
caminhos não se cruzassem, jamais acreditaria que tal prazer pudesse existir.
Ele suga o meu clítoris, em seguida rodeia lentamente o centro da
língua por todo o local. As minhas pernas tremem, me fazendo gemer alto
com o seu avanço cheio de fome.
Uma explosão acontece em meu interior, arrancando um grito rouco da
minha garganta. Impulsiono meu corpo contra sua boca, buscando por algo
que não sei como explicar.
Thomas firma as mãos nas minhas coxas, sugando cada gota do meu
prazer. Começo a me sentir letárgica, meus olhos pesam quando a calmaria
me alcança.
Solto um lento resmungo, ainda sentindo os espasmos do gozo me
consumir. Ele começa a espalhar beijos pelo meu corpo, enquanto sua mão
vai me acariciando. Quando sinto seus lábios alcançarem meu queixo, abro os
olhos e o encaro.
Lentamente Thomas vai erguendo um canto da boca, os seus olhos
brilham de satisfação, não sei como é possível, mas ele está ainda mais sexy
com essa expressão safada.
— Te olhar depois de gozar é uma visão muito foda. — Ele acaricia o
meu quadril. — Como você está? Podemos seguir adiante?
— Estou aqui com você, nada mais importa. — O seu semblante fica
enrijecido, ele beija o meu queixo, para logo em seguida sua boca vir contra a
minha.
Nos beijamos com fervor, ele me domina completamente. Envolvo
meus braços em torno do seu corpo, me deixando levar por sua intensidade.
— Toque-me onde quiser Fiorella, faça tudo o que desejar — diz
quando me encara. — Quero que seja espontânea sempre que estivermos
juntos, não precisa pensar muito antes de agir. — Toco o seu rosto, sentindo
meu coração ficar esmagado pelo sentimento sufocante que parece querer me
engolir.
— Tudo o que quero agora é você dentro de mim, preciso que me ajude
a entender de uma vez por todas que posso sentir prazer no sexo. — Vejo sua
mandíbula travar com a minha fala.
— Você não vai entender, meu anjo. — Ele estica a mão e abre a
gaveta da mesa de cabeceira. — Vai sentir a partir de agora vários níveis de
prazer.
Com destreza rasga o pacote de preservativo e se afasta para poder
envolver sua ereção com a camisinha. Aproveito esse momento para admirar
sua masculinidade, Thomas tem um membro proporcional ao seu corpo forte,
é bem maior do que estou acostumada, mas não sinto nenhum receio em
recebê-lo, pelo contrário, estou ansiosa para nos unirmos.
Assim que ele tem a camisinha ajustada inclina-se e sua boca encosta
delicadamente no pescoço.
Apoio as mãos em seus braços e prendo o seu olhar ao meu quando
começo a sentir os primeiros centímetros da sua ereção me invadir.
Ofego quando ele me preenche por completo, o seu semblante é
compenetrado, parece que está se contendo. Lentamente se retrai, para voltar
em um movimento firme até o final do meu canal.
Gememos ao mesmo tempo quando ele inicia uma penetração mais
firme. Os seus olhos me analisam com atenção como se estivesse em busca
de qualquer reação negativa.
Para tranquilizá-lo puxo sua cabeça e o beijo, não posso negar que
estou sentindo uma infinidade de sentimentos conflituosos, porém não quero
interromper nada, quero ir até o fim.
Ele me faz cruzar as pernas na sua cintura, deixando assim as mãos
livres. Solto um gemido longo ao sentir sua mão cobrir meu seio, a pressão
que ele faz na minha mama é deliciosa. Intensifico o nosso beijo, tentando
mostrar o quanto estou apreciando o seu toque.
Resmungo quando nosso beijo é quebrado, mas não tenho tempo de
protestar, pois Thomas abaixa a cabeça e leva um seio na boca. Solto um
grito quando ele o suga com força, as minhas mãos seguram a sua cabeça,
enquanto meus olhos ficam presos na visão dele se fartando na minha mama.
— Porra! Isso é muito bom — diz ao abandonar meu seio e me fitar
sorrindo. — Você é incrivelmente gostosa.
Uma sensação de felicidade me invade, ele está gostando de estar
comigo, é bem nítido o quanto sente prazer no que estamos dividindo.
Não tenho tempo de dizer nada, pois ele muda a nossa posição,
erguendo as minhas pernas e as colocando em seus ombros. Thomas sorrir ao
aprofundar a penetração, sua testa tem gotículas de suor e sua respiração sai
pesada.
Ele é tão bonito, é um pouco difícil de acreditar que estou neste
dividindo um momento tão íntimo com alguém que realmente desejo.
Aperto os olhos quando seu polegar fricciona meu clitóris, gemo alto,
sentindo uma onda intensa começar a se formar no meu baixo ventre.
Em poucos minutos o meu corpo se espatifa em um orgasmo poderoso,
que me deixa zonza. O meu coração acelera sem controle, minha pele
superaquece e meus olhos perdem o foco.
Perco completamente a noção da realidade, apenas mergulho em um
mundo paralelo, onde aproveito os últimos resquícios de prazer.
— Caralho! — Ouço Thomas rosnar segundos antes dele se afastar.
O seu corpo tomba ao lado do meu, mas ainda me sinto incapaz de ter
qualquer tipo de reação, estou me sentindo esgotada demais para poder me
mover.
Se tudo o que acabou de acontecer aqui foi um sonho, eu não quero
mais acordar, necessito viver eternamente neste mundo de ilusões.
Consegui ter dois orgasmos em um intervalo ridículo de tempo e ainda
estou querendo mais, me sinto uma verdadeira devassa.
— Está tudo bem? — A mão dele se espalma contra a minha barriga.
— Raciocinar está um pouco difícil. — Seus lábios depositam um beijo
no meu ombro enquanto esconde um sorriso.
— Vou tomar sua declaração como elogio. — Ele me puxa para mais
perto do seu corpo. — Você é incrível. — Afundo meu rosto contra seu
pescoço.
— Obrigada, Thomas, por ser paciente comigo e por me mostrar que
sexo não é dor. — Mesmo não querendo fito seus olhos. — Nunca imaginei
que eu pudesse sentir algo tão poderoso com um homem, estou feliz que essa
descoberta tenha sido feita ao seu lado.
— Você apenas começou suas descobertas, temos muitas coisas a
experimentar. — Ele beija a minha boca. — Só preciso que deixe no passado
todas as más lembranças, juntos iremos construir as suas melhores memórias.
— Estou me esforçando para não me perder em pensamentos tristes. —
Seu dedo indicador contorna uma das minhas cicatrizes.
— Só quero te ver sorrindo quando estiver comigo, não vou mais
admitir que nenhuma tristeza te alcance.
— Quando me beija não tenho tempo de pensar muito, então não existe
espaço para tristeza. — Ele aperta os olhos exibindo um sorriso sacana.
— Você está aprendendo rápido a ter o que deseja. — Em um
movimento ligeiro ele fica sobre o meu corpo. — Não sei se você sabe, mas
posso te beijar por horas, então eu acho que você não terá tempo para
nenhum tipo de tristeza.
O meu sorriso morre quando ele captura meus lábios, envolvo meus
braços pelo seu pescoço, retribuindo o seu beijo com fervor.
Ele é realmente um homem dos sonhos. O príncipe encantado que
parece existir apenas na ficção, mas que neste momento, é todo meu.
Calço o sapato e me ergo da cadeira, ajeito as lapelas do terno ao
conferir meu visual. Logo pela manhã tenho uma reunião com Stuart e minha
nova CEO Laura, na hora do almoço irei me encontrar com George Harrison,
um empresário do Texas, que tem uma boa ideia sobre um jogo para o
público infantil.
Ele tem o projeto, mas não possui os meios para realizar sua ideia, se
nos acertarmos, eu posso fazer seu sonho ganhar vida. Abro a porta do closet
que dá direto para o banheiro e encontro Fiorella penteando o cabelo.
Meus olhos deslizam por seu corpo e novamente a chama do desejo me
incendeia. A noite passada não foi suficiente, eu precisava de muito mais
dela, no entanto, tive que me frear para poder mostrar que não é apenas sexo,
eu quero que ela se abra, desabroche para a vida.
— O que você prefere fazer mais tarde? — pergunto ao parar atrás
dela. — Ficar aqui em casa assistindo um filme ou um jantar fora? — Ela
descarta o pente e se vira.
— Prefiro ficar aqui, assim não precisamos de todo o processo
estressante de seguranças.
— Esqueça essa parte, se quiser jantar fora não tem problema.
— Você tem Carmem que cozinha maravilhosamente bem, realmente
quero ficar aqui.
— Considere seu pedido realizado. — Rodeio meus braços por sua
cintura. — Pedirei que ela faça algo especial.
— Não precisa ser nada elaborado.
— Fique tranquila. — Beijo rapidamente sua boca. — Carmem ama
cozinhar, ela saberá o que fazer para nos surpreender.
— Já estou ansiosa pelo jantar. — Apoio a mão na sua cabeça quando
ela a descansa contra meu peito toda dengosa.
Amo o meu trabalho, estar na empresa é algo que me causa plena
satisfação, mas hoje tudo o que eu queria era passar o dia ao lado dela.
— Eu vou mandar te levarem, quando eu encerrar o dia aviso e vou
pegá-la pessoalmente.
— Posso vir com os meus seguranças, não precisa se preocupar
comigo.
— Eu vou te pegar. — Inclino a sua cabeça e a beijo profundamente.
Que vontade de jogá-la na minha cama e deixar todos os meus
compromissos de lado. A minha cabeça está completamente dominada por
essa mulher e depois da noite passada meu desejo por ela só se intensificou.
— Você é teimoso demais — diz quando finalizo o beijo. — A minha
sorte é estar acostumada a lidar com homens mandões.
— Sou um mandão do bem, diferente dos homens da sua família. —
Seguro a sua mão e saio do banheiro. — Você havia me dito que seus tios
estão fora da cidade, quando eles voltam?
— Não tenho ideia, acho que só Nero deve saber dessa informação, as
minhas primas nunca comentaram sobre nada. Por que a pergunta?
— Só estou um pouco preocupado com nossos encontros. — Pego meu
celular antes de seguir para o corredor. — Não sei se o seu tio vai aprovar o
que está acontecendo, ele pode não ser um homem extremamente tradicional,
mas certamente não ficará feliz em saber que estamos ficando juntos.
— Eu não havia pensado nisso. — Sua voz sai preocupada. — Acho
que vou conversar com meu primo.
— Deixe isso comigo, resolverei qualquer problema, só preciso estar
preparado para possíveis conflitos.
— Por que está se arriscando tanto por mim? — pergunta quando
alcançamos o final da escada. — Você pode ter qualquer mulher do seu lado,
não precisa perder tempo com alguém da máfia italiana.
— Quem está se arriscando aqui é você, a máfia não pode me fazer
mal.
— Você não faz ideia do que eles são capazes.
— Eu faço, meu anjo. — Seguro seu rosto. — E eles também sabem do
que eu sou capaz.
Os seus olhos estão tomados de preocupação, isso me faz beijá-la
novamente, não quero que ela se preocupe comigo, tenho meios de me
cuidar.
— Que cena romântica. — Ergo imediatamente a cabeça ao ouvir a voz
de alguém que conheço profundamente.
Fico estático quando encaro Mitchell com os braços cruzados e o seu
característico sorriso debochado parado bem a nossa frente.
— O que está fazendo aqui? — minha pergunta sai de maneira brusca.
— Parece que você não gostou da minha presença. — O seu sorriso se
alarga.
Eu odeio esse seu jeito provocador, Mitchell sempre foi intrometido e o
tempo ressaltou esse lado intragável da sua personalidade.
— Bom dia! — o implicante diz diretamente a Fiorella. — Por que
tenho a sensação de que te conheço? — Ele aperta os olhos.
— Mitch, você... — Kim aparece na sala e paralisa ao constatar a nossa
presença — Oh! — ela exclama ao nos encarar. — O que a irmã do Paolo faz
aqui? Ou será que estou enganada?
— Irmã do Paolo? — Meu irmão questiona a esposa. — Você está
falando do Torcasio?
— Ele mesmo. — Kim responde com calma. — Ela estava no
casamento do Domênico, eu me lembro de todas as irmãs presentes da noiva,
tenho boa memória, tenho quase certeza que é ela sim. — Mitchell volta a
nos fitar.
— Alguém me diz que isso não é verdade?
Puta que pariu! Eu não precisava desse tipo de situação logo cedo.
— Por que não me avisou que viria para a cidade? — pergunto
estressado.
— Não tenho que te dar satisfação das minhas viagens. — Como
sempre ele é grosso.
— Mitchell! — Kim o recrimina. — Seu nome é Fiorella, acertei? —
minha cunhada pergunta com doçura.
— Isso mesmo, é um prazer reencontrá-la. — As duas se aproximam e
trocam dois beijos. — Soube da gravidez, uma criança é sempre uma bênção,
parabéns.
— Ah, muito obrigada, eu e Mitch estamos felizes, era um sonho muito
desejado ter um filho. — Kimberly envolve os braços na cintura do marido.
Ele a abraça e beija o centro da sua cabeça, meu irmão pode ser um
merda com as outras pessoas, mas quando se trata da esposa vira um homem
completamente diferente.
— Como vai, Fiorella? — Mitchell a cumprimenta com a voz grave.
— Tudo bem — sua resposta sai tensa.
— O café da manhã está servido, por que vocês duas não vão comer na
frente enquanto eu tenho uma palavrinha com o meu irmão querido? — Passo
a mão pela nuca com sua fala, já sei que vou me aborrecer logo pela manhã.
— Vamos Fiorella, os meninos precisam conversar. — Kimberly acena
e segue para a mesa do café.
Faço um leve gesto na direção da Fiorella pedindo que siga a minha
cunhada, não quero que presencie Mitchell soltando os cachorros em cima de
mim.
— Vamos para o escritório — ele ordena.
— Estamos na minha casa, sou eu que dito o que iremos fazer.
— Vai se foder! — esbraveja ao me encarar com raiva. — Cala essa
boca e vem comigo.
Ele não me espera, apenas segue na minha frente com todo o corpo
rígido. Podemos ser homens feitos, cada um com suas responsabilidades, mas
ele sempre se comporta como se eu ainda fosse uma criança.
Bato a porta do meu escritório e me recosto sobre ela, cruzo meus
braços e observo meu irmão caminhar em círculos ao passar a mão pelo
cabelo.
— Que porra pensa que está fazendo comendo a irmã do Torcasio?
Paolo sabe disso? — Enrijeço o corpo, se ele pensa que está falando de uma
mulher qualquer, eu vou precisar freá-lo agora mesmo.
— Acho melhor refazer a sua pergunta, nem mesmo você vai se referir
a Fiorella de maneira deselegante. — Suas sobrancelhas se erguem.
— Está apaixonado pela viúva?
Amo meu irmão, ele é meu segundo pai, mas eu não posso negar o
quanto Mitchell pode ser um verdadeiro merda.
— Vamos entrar em um acordo? — peço tentando não perder o
controle.
— Fale. — Sua voz é fria.
— Se quer conversar sobre o meu relacionamento com a Fiorella, pense
nela como a Kim, não me venha com palavras chulas e apelidos pitorescos.
— Meu irmão ergue uma das sobrancelhas.
— Relacionamento? — Ele cobre o rosto com as mãos e solta um
suspiro profundo. — Você tem noção do vespeiro que se meteu? O que Paolo
está achando dessa merda toda?
— Ele não sabe e nem pode descobrir o que está acontecendo entre nós.
— Meu Deus! — Mitchell volta a andar agitado pelo escritório. — Se
ele descobrir tudo, uma guerra vai acontecer entre Roma e Vichi, papai vai
comer seu fígado no jantar quando souber da merda que está fazendo.
— Nero sabe de tudo, foi ele que autorizou nossos encontros, só pediu
discrição. — Agora tenho a atenção do meu irmão. — Fiorella teve um
casamento abusivo, ela sofreu diversas agressões do marido, as cicatrizes no
corpo dela deixa bem claro o que passou. — O rosto do meu irmão se
transforma, se existe algo que Mitch abomina é que agridam uma mulher. —
Nero achou justo ela ficar com alguém que gostasse, mesmo que burle as
regras da máfia, que ele mesmo abomina.
O peito do meu irmão se expande, me dando às costas vai até a janela
observar a paisagem. Muito mais do que eu, Mitchell sabe toda a merda que
envolve o mundo da máfia.
— Thomas eu entendi tudo, mas não concordo com nada. — Nossos
olhos se cruzam e vejo o quanto ele está se segurando. — Nero é um Capo
novato, ele tem muito o que conquistar em relação a prestígio, diferente de
Paolo, que é uma lenda no submundo.
— Sou um príncipe, ele não poderá fazer nada comigo.
— Paolo joga sujo se for necessário, principalmente quando se trata das
irmãs, a família dele é seu único ponto de humanidade, você não tem noção
do que o italiano é capaz.
— Não vou recuar Mitch, ficarei com Fiorella até que ela seja obrigada
a voltar para Roma.
— Vocês não irão conseguir esconder isso, Paolo saberá de alguma
maneira e o inferno estará na sua porta.
— Quem é ele para condenar nossa relação? Paolo não foi capaz de
proteger a irmã de um monstro. Ela nunca teve um orgasmo, era obrigada a
transar com o marido. Estou há mais de um mês com ela e ontem transamos
pela primeira vez. Você consegue imaginar o que essa mulher passou? — O
rosto do meu irmão despenca, ele abre a boca completamente em choque. —
Se ele vier atrás de mim, pela primeira vez na vida usarei meu poder para
enfrentá-lo. Foda-se a máfia e suas regras que só servem para maltratar as
mulheres.
Mitchell cruza as mãos atrás da cabeça e olha para o alto, ele fica em
silêncio, parecendo travar uma guerra interna, até que desfaz sua posição e
me encara.
— Vamos tomar café, cheguei à cidade cedo e vim direto para sua casa,
depois iremos marcar uma conversa com Nero, já que te meteu nisso, vai
assumir toda a responsabilidade caso Paolo descubra essa merda. Se ele é o
novo Capo da Famiglia, irá assumir suas decisões. Vichi permanecerá aliada
de Roma, ele que se vire com o carcamano do primo.
— Por que esse inferno de máfia não pode mudar as regras? —
pergunto me sentindo puto.
— Porque eles seguem as tradições, assim como nós seguimos —
responde ao apoiar a mão no meu ombro. — Nada é tão simples.
— Não vou desistir dela até que eu precise deixá-la ir. — Meu irmão
me olha sério.
— Sabe qual é meu problema?
— Qual? — pergunto curioso.
— É você não a deixar ir e uma guerra chegar até nós.
Batendo nas minhas costas, ele me puxa para a porta do escritório,
rumo a mesa do café da manhã.
Sigo ao seu lado até onde as meninas tomam o café, Carmem conversa
com elas com toda a sua simpatia.
Assim que nota a minha presença Fiorella me fita apreensiva, apoio a
mão na sua cabeça e beijo seu cabelo, não quero que ela se preocupe com a
atitude exagerada do meu irmão ao nos ver juntos.
— Está tudo bem — sussurro no seu ouvido.
Seus olhos se suavizam, o que me deixa muito feliz, não quero que
fique insegura, estamos evoluindo aos poucos e não ajuda nada ela travar
novamente porque meu irmão não sabe controlar sua irritação.
— Vocês precisam de mais alguma coisa? — Carmem pergunta.
— Está tudo certo, pode ir — digo ao me servir de um pouco de café.
— Essa mesa está perfeita, tem comida americana e italiana, Carmem
disse que sempre coloca algo para agradar Fiorella — Kim comenta feliz. —
Esse pão italiano com bacon e ovo é tudo, está delicioso. — Ela coloca uma
grande quantidade da comida na boca.
— Quando quiser comer algo assim na nossa casa avise, eu mando
fazer especialmente para você — meu irmão a alerta, fazendo a esposa sorrir.
— Eu vou querer sempre. — Me divirto da animação dela, Kim passou
por momentos difíceis, merece toda essa felicidade.
— Então, Fiorella... — meu irmão começa a falar enquanto pega
algumas panquecas. — Quanto tempo pretende ficar na cidade? — A voz
dele sai tranquila, acho que entendeu o quanto ela é uma pessoa sensível.
— Não sei, Paolo não me deu prazo para voltar, apenas me deixou livre
para ter um tempo só meu.
— Humm — ele resmunga ao mastigar. — Isso significa que pode
passar um ano por aqui?
— Acho que sim.
— Nova Iorque é uma cidade maravilhosa, você nunca vai ficar parada.
— Kim entra na conversa. — Thomas pode te levar nos melhores lugares.
— O caso deles não é tão simples, meu amor — Mitchell fala com
calma. — Fiorella é uma mulher da máfia e tem códigos a seguir. — Enrijeço
o corpo, já me preparando para o ataque. — Seu mundo é incrivelmente
ridículo e não concordo com nenhuma das suas tradições. — Vejo os olhos
dele ficarem turvos de raiva, certamente está lembrando que ela foi
brutalmente agredida. — A máfia deveria se modernizar, faria bem a todos os
membros.
— Infelizmente não é assim. — Começo a ficar irritado em ver a
tristeza ganhar forma em seus olhos.
— Não vamos falar de assuntos desagradáveis durante a refeição. —
Corto a conversa. — Vou cancelar a agenda, o dia está lindo, vamos
aproveitar a piscina, mas já adianto que tenho um almoço inadiável, voltarei
quando terminar.
— Thomas, não viemos te visitar para atrapalhar seu trabalho. — Kim
rapidamente se posiciona sem esconder o descontentamento com minha
mudança de planos.
— Não estão atrapalhando, será um prazer passar um tempo com vocês.
— Olho para Fiorella. — Vou ligar para Nero, quero que passe o dia com
minha família.
— Prefiro deixar vocês à vontade.
— Pare de bobagem. — Mitchell se mete. — Você não irá atrapalhar,
inclusive acho uma boa ideia, Kim vai gostar da sua companhia, não é
mesmo, meu bem?
— Eu vou amar. — As duas trocam um sorriso.
— Então tudo bem, será um prazer.
— Assim que terminarmos de comer me diga do que irá precisar, eu
mando buscar.
— Certo. — A sua animação me deixa feliz.
Apesar do primeiro contato não muito amistoso com meu irmão,
acabamos terminando o nosso café da manhã de uma maneira mais suave,
que tudo continue assim, não quero instaurar um conflito desnecessário com
o meu irmão.

Assim que terminamos o nosso café liguei para Nero e pedi que
Fiorella ficasse aqui, ele não se opôs, permitiu sua permanência pelo tempo
que quisesse. A pedido dela, perguntei se sua prima Giada poderia trazer
algumas das suas roupas e ficar na piscina com ela e minha cunhada.
Ele resmungou um pouco, mas como sabia que eu e Mitchell
estaríamos presentes acabou liberando a presença da irmã. Agora todas estão
na piscina, conversando como se fossem velhas amigas.
— Como está o seu relacionamento financeiro com a máfia? Para Nero
ser tão receptivo aos seus pedidos, está recebendo bem.
— Ele é um bom parceiro, mesmo não gostando de me relacionar com
a Cosa Nostra, não posso negar que ter o investimento deles e algumas
indicações me trouxe um bom capital para tornar a minha empresa em um
fenômeno de vendas.
— Isso é bom, se eles tiveram grana alta, ficam mais calmos.
— Nero é uma cara bem racional, ele sabe os passos que dá, diferente
do primo.
— Paolo é um homem ímpar, por isso tenho muito cuidado ao lidar
com ele. Gosto do italiano, confio nele, hoje somos amigos, mas eu não posso
negar o quanto ele é perigoso e destemido. Estou realmente preocupado com
tudo o que está acontecendo, o clã de Roma é bem problemático, ano passado
tiveram traições dentro da Famiglia, foi onde o marido da sua namoradinha
morreu.
— Se ele não tivesse morrido, eu mesmo matava, porque um homem
que agride covardemente uma mulher, não merece viver.
— Concordo com você. — Mitchell leva a long neck até a boca e sorve
um gole. — Infelizmente dentro da máfia mulheres são objetos, a maioria dos
homens as agridem, Paolo é um dos poucos que conheço que tenta protegê-
las.
— Mas não protegeu a irmã.
— Quando uma mulher se casa é o marido que fica responsável por
tudo, ele não poderia se meter mesmo sendo o Capo, apesar de ter interferido
quando as coisas saíram do controle.
— Como assim saíram do controle? — Olho para o meu irmão, que
agora exibe a mandíbula travada, demonstrando o quanto está irritado.
— É passado, agora ela está aqui segura e dentro de uma nova
confusão. — Ele balança a cabeça com desgosto. — Onde está o tio dela?
Gastone não é tão moderno assim.
— Os tios estão na Ásia, viajaram para o Japão e passarão por outros
países da região.
— A história só fica melhor — diz claramente desgostoso. — Quem
está sabendo dessa merda?
— Nero, Eros e a prima — aponto para Giada.
— Os outros primos não sabem?
— Ela não me falou nada se sabiam.
— Menos ruim, talvez você consiga se livrar da ira do Paolo,
certamente ela não vai demorar por aqui, já tem tempo que está viúva e
precisa de um novo casamento.
Seguro com força a minha garrafa de cerveja, pensar nela longe,
seguindo para uma vida que não deseja, com alguém que não gosta, me deixa
completamente ensandecido.
— Ele não pode obrigá-la a se casar.
— Não só pode como vai, é o mundo dela. — Mitchell me encara. —
Uma vez que se nasce dentro da máfia, você está condenado a suas tradições,
ninguém pode mudar isso.
O celular dele toca, interrompendo nossa conversa. Meu irmão se
afasta, me deixando sozinho, com os olhos presos em Fiorella.
Ela sorri de algo que minha cunhada fala, Kim coloca a mão na barriga
e a acaricia, certamente está falando sobre a sua gravidez. Volto a observá-la,
sentindo meu coração comprimir por pensar nela sendo obrigada a ter mais
um relacionamento forçado, não é justo tirar suas escolhas, é desumano esse
tipo de tradição.
Parecendo notar que a observo ela gira o rosto na minha direção, um
sorriso tímido brinca na sua boca, ela é tão frágil para habitar o mundo da
máfia, se a forçarem a se casar, mais uma vez a tristeza dominará seus olhos.
Não é justo tirarem as suas escolhas, eu não vou aceitar isso.
Visto a minha saída de praia e deixo minha prima conversando com
Kimberly, a princesa é extremamente comunicativa e muito simpática.
Foi um baque grande quando vi o irmão do Thomas no apartamento, eu
não esperava por isso e fiquei apreensiva. Ele é amigo do meu irmão e
poderia ser uma grande preocupação entregar o nosso relacionamento.
Passei por um momento de pânico, até que Thomas apareceu e me
garantiu que tudo estava bem, que eu não precisava me preocupar com nada.
Apesar da sua afirmação eu ainda não me sinto confortável, tenho a
sensação de que a qualquer momento algo de ruim pode acontecer.
Thomas se aproxima de mim enquanto fala ao celular, ele voltou a
vestir o terno, pois tem que ir a um almoço de negócios. Esticando o braço
me puxa contra seu corpo, em seguida encosta os lábios na minha testa.
— Resolva qualquer adversidade, Laura, é você que tem o controle de
tudo, então apenas tome as decisões necessárias. Não confiei a administração
da minha empresa a você sem motivos, sei da sua capacidade. — Ele ouve o
que a mulher fala. — Tudo bem, me ligue se for necessário, estou indo para
um almoço de negócios, depois estarei em casa com o meu irmão e a esposa.
Quando ele encerra a ligação envolve os braços por minha cintura.
Apoio as mãos em seus ombros, sentindo a minha ansiedade começar a ficar
sem controle por saber que ele ficará algumas horas ausente.
— Eu não vou demorar, infelizmente não posso desmarcar esse
compromisso.
— Tudo bem. — Na verdade, não está bem, mas eu não posso
atrapalhar o trabalho dele.
— Acho que você não tem noção do quanto seus olhos são expressivos.
— Ele apoia a mão na minha cabeça. — Não se preocupe com Mitchell, sei
que é um pouco intimidador, mas ele sabe até onde pode ir. Se por acaso meu
irmão passar do limite chame Kim, ela tem total controle sobre ele.
— Não precisa se preocupar comigo, sei me cuidar.
— Eu não tenho dúvidas que sabe se cuidar, caso contrário não
estaríamos aqui juntos. — Sua mão aprisiona a minha nuca. — Mas quando
está dentro da minha casa, sou eu que cuido de você.
Ofego quando ele me beija com intensidade, sempre que estou dentro
dos seus braços eu sinto que tudo na minha vida pode ganhar um novo rumo.
Thomas entrou no meu caminho e me transformou em outra pessoa, o
ruim de tudo o que está acontecendo entre nós é que eu estou criando
esperanças em algo que eu sei que nunca irá acontecer.

— Eu já fui em muitos apartamentos elegantes na minha vida, mas


nenhum deles é igual a esse — Giada sussurra. — Tudo aqui parece saído de
um ensaio fotográfico, cada item de decoração é puro luxo.
— O que você estaria esperando da casa de um príncipe? — Abraço a
almofada contra o peito. — Eles vivem em uma realidade ainda mais
diferente do que a nossa.
— Nós podíamos ser livres, não é? Ter o direito a escolher nosso
futuro, quem queremos ser, com quem devemos nos relacionar.
— É um sonho impossível de se realizar.
— Às vezes penso em fazer uma loucura — sua fala inesperada chama
a minha atenção.
— O que exatamente está querendo dizer? — pergunto preocupada.
— Tenho medo do meu futuro, Ella, estou com vinte anos, sei que
estou prestes a enfrentar um compromisso e não me sinto preparada para isso.
— Entendo perfeitamente o seu temor, eu senti o mesmo quando completei
meus dezoito anos.
Para uma mulher da máfia, chegar à maioridade é um momento
tenebroso, porque perdemos toda a nossa vida, ficamos a cargo do que o
nosso marido vai determinar sobre nosso destino.
— Você não tem um pai sádico, tio Gastone pode não ser a melhor
pessoa do mundo, mas ele jamais te colocaria nas mãos de um qualquer.
— Nem sempre os lobos se mostram no primeiro momento. — Giada
fecha os olhos.
Bem...nesse ponto ela está coberta de razão.
— Quem sabe você não tenha sorte e se case com alguém que gosta?
Gio achou que seria infeliz com Dom e agora os dois dividem um amor lindo.
— Você sabe que eles tiveram sorte. — Mais uma vez fico sem
argumentos. — Por isso aproveito as oportunidades que tenho. Quando
chegar o meu momento de me casar, ao menos eu terei boas lembranças do
passado.
— Infelizmente somos condenadas, Giada — digo triste.
— Sei disso. — Nos olhamos com pesar, cada uma presa à sua tristeza.
Nunca seremos donas das nossas vidas, sempre estaremos à mercê dos
desejos alheios.

— Como é ser uma princesa? — minha prima pergunta quando nos


acomodamos no sofá após o almoço.
— Eu não me sinto uma princesa — Kimberly responde sorrindo. —
Minha vida é normal, só percebo que existe algo diferente quando meu
marido tem compromissos oficiais, fora isso, levamos uma vida comum.
— E como vocês se conheceram? — O sorriso da Kim se alarga.
Ela começa a contar a história do momento em que encontrou o marido
e todo o seu mundo foi revirado, a cada palavra que fala fica nítido que a
paixão entre eles foi instantânea.
Enquanto Kimberly vai narrando sua história meus olhos vão para a
varanda, onde Mitchell anda em círculos ao conversar no telefone. Ele tem
uma das mãos no bolso da bermuda e sua postura altiva deixa bem claro o
tipo de homem poderoso que é.
Já ouvi muitas histórias sobre ele, apesar de ser um monarca, vive em
um mundo de perigo, por muitos anos lidou pessoalmente com os grandes
nomes do submundo do crime. Apenas quando se casou foi que ele se afastou
do trabalho e passou a ter uma vida mais pacata ao lado da esposa, ainda
assim seu nome é motivo de temor entre os vários núcleos do crime.
É um pouco difícil acreditar que um príncipe seja capaz de negociar
com pessoas como o meu irmão e ainda conseguir respeito das diversas
organizações criminosas. Se eu não soubesse desse lado oculto da sua vida,
jamais diria que o homem elegante à minha frente, de certa maneira, é um
mafioso real.
Parecendo notar que o observo ele ergue a cabeça e me encara. Fico
envergonhada por ser pega no flagra, ainda assim não consigo desviar o
olhar, Mitchell tem uma espécie de magnetismo, que nos hipnotiza. Dá para
entender perfeitamente o motivo da Kimberly ficar fascinada por ele no
primeiro olhar.
O barulho do elevador chegando desvia a minha atenção, sinto o meu
corpo ficar agitado na esperança de ser Thomas. Já faz bastante tempo que ele
foi para o seu compromisso, estou ansiosa para que volte, com ele aqui eu me
sinto menos insegura.
Para a minha alegria Thomas entra na sala com o terno pendurado no
braço e as mangas da camisa arregaçadas. Ele está extremamente charmoso
com esse visual desalinhado, a cada vez que estamos juntos eu me sinto mais
distante do controle dos meus sentimentos.
— Até que enfim chegou — Kim comenta quando ele se aproxima de
onde estamos.
— O almoço foi mais longo do que pensei. — Ele para ao meu lado. —
Tudo bem? — pergunta baixinho.
— Não se preocupe com nada. — Thomas acaricia meu cabelo.
— Vou trocar essa roupa — diz ao afrouxar a gravata. — Stuart deve
chegar a qualquer momento, ele ficou animado quando soube que estava
aqui. — O rosto da Kimberly se ilumina com a notícia.
— Aquele cretino nunca mais foi me visitar, sinto falta dele
tagarelando coisas fúteis.
— Sou o culpado do sumiço dele, Stu é meu braço direito, sem ele eu
estaria perdido.
— Eu entendo e estou feliz com o sucesso de vocês.
— É um pouco inacreditável que Stuart sendo tão bobalhão entenda
realmente de economia. — A voz do Mitchell preenche a sala.
— Para de implicância. — Thomas o recrimina. — Ele só tem o humor
exagerado, mas no trabalho é um profissional valioso.
— Ponto para ele, sabe ser bobo na hora certa.
— Deixe de ser chato, Mitch — Kim o repreende.
— Ele nasceu implicante — Thomas diz com descontração. — Fiorella
vem comigo, preciso conversar algo com você — pede ao enrolar a gravata
na mão. — Vamos passar a tarde na piscina?
— O que mais tem para fazer aqui? — Mitchell dá de ombros.
— Já volto — digo a minha prima.
— Não tenha pressa. — Ela pisca para mim, me fazendo sorrir.
Seguro a mão do Thomas e sigo até o andar superior, quando entramos
no seu quarto ele bate à porta e me imprensa contra ela.
Não tenho tempo de dizer nada, pois sua boca vem furiosa contra a
minha, pedindo passagem com a língua, invadindo a minha boca com
ansiedade.
Seu terno e gravata caem no chão quando ele me abraça, moldando seu
corpo ao meu. Enrosco meus braços em seu pescoço, me deixando levar pelo
seu beijo. Um gemido escapa da minha garganta quando sua mão aperta a
minha bunda.
Afundo os dedos no seu cabelo, retribuindo seu beijo na mesma
intensidade. Ontem à noite tivemos um sexo perfeito, ele me deu um prazer
inacreditável e foi extremamente carinhoso em cada um dos seus toques. Eu
me senti dentro de um sonho, descobrir esse tipo de prazer é algo que sempre
achei ser impossível.
— Eu amo meu irmão, mas estou muito puto por ele chegar
inesperadamente e nos atrapalhar — diz ao interromper o beijo.
— Não fale assim, ele não atrapalhou nada.
— É claro que atrapalhou, eu queria era estar sozinho com você,
aproveitando cada segundo. — Sorrio da contrariedade que ele exibe no seu
rosto bonito.
— Estamos aproveitando. — Encosto rapidamente minha boca na sua.
— Não como eu queria. — Sua mão grande sobe por minhas costas. —
Eu tinha bons planos para nós.
— E quais seriam? — Um sorriso sacana se espalha por sua boca.
— É segredo. — Ele se afasta. — Meu irmão se comportou? —
pergunta ao começar a se livrar das roupas.
Essa espécie de intimidade é nova para mim, eu não tinha isso no meu
casamento, jamais existiu momentos de cumplicidade com meu falecido
marido.
Tento não demonstrar a minha estranheza por ele começar a se despir
na minha frente, na noite passada vi cada parte do seu corpo, então não tenho
motivos para me sentir constrangida agora.
— Ele passou boa parte do tempo no celular — comento ao deslizar
meus olhos por seu corpo quando fica apenas com a boxer. — Durante o
almoço foi bem simpático.
— Bom saber disso — fala ao entrar no banheiro. — Mitchell é um
pouco instável, por mais que a gente tente controlá-lo, sempre consegue
perder o equilíbrio.
— Dessa vez você pode ficar calmo, ele foi bem tranquilo com a gente.
— Sorte a dele, porque se chego aqui e você me conta que aprontou, o
faria voltar para casa imediatamente.
— Para de exagero. — Ele entra no quarto vestindo um short.
— Só estou sendo sincero. — Parando na minha frente, descansa as
mãos na minha cintura. — Vamos para a piscina. — Deixo minhas pálpebras
descansarem quando ele espalha beijos pelo meu pescoço. — Não vamos
deixar meu irmão muito tempo sozinho, ele odeia ser ignorado. — Sorrio.
— Temos um Paolo em Vichi? — pergunto com descontração.
— Por que acha que eles são amigos? — Thomas ergue uma das
sobrancelhas, alargando ainda mais meu sorriso.

— Eu vou embora com a Giada, você precisa de um tempo com sua


família.
— Preciso de um tempo com você — afirma quando me puxa para si.
— Mas se realmente não quiser ficar, vou entender, é você que sabe o que
deve fazer.
— É claro que eu quero estar com você, mas também não quero
atrapalhar.
— Você sabe que não atrapalha. — Ele beija o topo da minha cabeça.
— Depois do jantar Mitchell vai ficar com a esposa e não é justo eu ficar
sozinho. — A sua carinha de cachorro pidão me arranca uma risada.
— Que carência é essa, príncipe? — Envolvo meus braços na sua
cintura.
— Culpa sua. — Ele desliza a boca contra a minha. — Vou
providenciar a segurança da sua prima e não esqueça de avisar ao Nero que
não irá para casa.
— Tudo bem.
Vou atrás da Giada e a encontro na varanda, observando a paisagem.
Paro ao seu lado e sinto o vento bater no meu rosto, a brisa de fim de tarde do
verão aquece a minha pele.
— Thomas está providenciando os seguranças para te levar para casa.
— Vai ficar aqui?
— Ele pediu que eu ficasse.
— Aproveite cada segundo que tiver, Ella, serão essas lembranças que
te fará suportar o que está para acontecer. — Sua mão cobre a minha. —
Você teve uma chance única para viver algo fora da nossa realidade, sinta-se
uma mulher afortunada por isso.
— Eu sei da sorte que tenho e sou grata a Nero por me permitir viver
essa experiência. — Ergo o rosto para o céu. — Meu receio é como será
quando eu tiver que assumir minha vida real, estou com medo de não
conseguir cumprir minhas obrigações.
— Não pense, apenas viva o agora, é o que você tem de real.
— Giada, quando quiser ir embora é só avisar. — A voz do Thomas
interrompe a nossa conversa.
— Eu estou pronta. — Ela me puxa para um abraço. — Vá fundo, ele
gosta de você e te trata com muito carinho, você precisa disso para se curar.
— Estou tentando ao máximo aproveitar, obrigada por estar sempre do
meu lado.
— Somos família. — Giada aperta a minha mão. — Curta seu príncipe.
— Ela pisca antes de se afastar e entrar na sala.
Assim que fico sozinha, sinto a angústia ganhar espaço dentro de mim.
Pensar que em algum momento eu terei que me afastar do Thomas causa um
pavor sufocante. É difícil imaginar que não poderemos ter mais contato, em
algum momento eu me conectei a ele de uma maneira inexplicável.
Quando Thomas retorna estou apenas tentando controlar a tristeza que
me dominou inesperadamente.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta ao parar na minha frente.
— Está tudo bem. — Apoio a mão contra seu peito. — Eu queria
descansar um pouco antes do jantar, todo o sol que peguei me deixou exausta.
— Não precisa pedir, basta ir para o quarto. — Ele beija a minha testa.
— Estamos juntos, Fiorella, então eu quero que se sinta à vontade aqui, faça
o que desejar sem precisar da minha autorização. — Solto uma risada baixa.
— Acho que você não entende o quanto é difícil para mim ter minhas
próprias escolhas. — Suas mãos envolvem meu rosto.
— Comigo sempre fará o que quiser, só não irei permitir que corra
algum risco, de resto é você que terá a última palavra.
— Isso vai passar, Thomas, e eu vou voltar a apenas obedecer. — Não
consigo me controlar e lágrimas escorrem por meu rosto.
— Ei! O que deu em você? — Afundo o rosto contra seu peito tentando
me controlar. — Sua prima te disse algo? Você estava tão bem.
— Giada é um doce, não fez nada, mas enquanto conversarmos não
pude deixar de temer o futuro. Uma hora tudo vai acabar e eu vou voltar a ter
que dizer sim para tudo, perderei novamente minha fala. — Seus braços me
apertam com força.
— Pare de pensar no futuro, não vai te fazer bem.
— Sei disso, mas não consigo me conter. — Thomas beija minha
têmpora e ergue meu queixo.
— Há muito tempo eu aprendi a não desperdiçar as oportunidades,
assim como aproveito cada segundo da vida. Não podemos controlar o nosso
futuro, mas podemos viver o presente da melhor maneira possível. — Seu
polegar roça no meu lábio inferior. — Só temos o agora e neste agora nós
queremos estar bem aqui, um nos braços no outro, dividindo essa experiência
única. Não pense muito, só viva.
Solto um lento suspiro antes de ele encostar a boca na minha e me
beijar com lentidão, causando diversos arrepios por todo o meu corpo. Eu
também quero estar neste momento com ele, mas não posso deixar de
lamentar que temos o tempo contado, quando eu me for, uma parte minha
ficará em suas mãos.
— O que deu na Fiorella? Ela parecia bem desanimada durante o jantar,
Kim ficou preocupada. — Mitchell pergunta ao girar o copo de uísque na
mão.
— O problema dela é o futuro. — Corro a mão pelo cabelo. — Apesar
de não ter data para retornar à Itália, ela já está sofrendo com tudo o que a
espera lá. — Meu irmão coça a barba pensativo.
— Você gosta realmente dela, não é mesmo?
— Gosto o suficiente para me esforçar em sempre fazê-la sorrir. — Sou
sincero. — Estou me sentindo impotente pra caralho por não poder oferecer
alguma ajuda. Quando Paolo ordenar sua volta, eu não poderei mais protegê-
la.
— Vocês estão dentro de uma situação bem fodida. — Mitchell apoia
uma mão no meu ombro. — Queria poder te dar alguma esperança, mas dessa
vez nem mesmo minha boa relação com Paolo pode intervir nessa situação.
— Aprendi a viver no presente e buscar incansavelmente o que eu
desejo, mas desde que começamos a ficar juntos, o futuro passou a ser uma
sombra incômoda.
— Vá ficar com sua garota, aproveite bem o tempo que podem estar
juntos. — Ele aperta a minha nuca, é uma mania que possui desde que
éramos pequenos. — Vou terminar essa bebida e irei atrás da minha mulher.
— E falando na Kim eu a parabenizei pelo bebê, mas não fiz isso com
você. — Puxo meu irmão para um abraço. — Meus parabéns, eu estou feliz
pra caralho com a chegada da nova geração da família.
— Obrigado. — Mitchell bate nas minhas costas. — Queríamos muito
um filho, mas Kim precisava de um tempo para estar pronta para uma
gravidez.
— Ela é uma guerreira. — Depois da preocupante depressão que
enfrentou, após a morte da melhor amiga, vê-la se reerguer é uma grande
satisfação.
— A minha mulher é muito especial. — É bom ver o amor explodir nos
olhos do meu irmão. — Agora vá ver como Fiorella está.
— É bom ter você aqui, estava sentindo a sua falta.
— Eu sei que você me ama. — Reviro os olhos e não o respondo, é
melhor não elevar o ego dele.
Subo as escadas com agilidade e caminho apressado até o meu quarto.
Quando entro, encontro Fiorella sentada na poltrona perto da parede de vidro
abraçando as pernas, enquanto seu rosto descansa nos joelhos.
Fico alguns segundos parado, apenas observando sua figura tão frágil.
Daqui sinto sua tristeza e isso me mata por dentro, o sentimento de
impotência é algo que não sei lidar.
Com passos lentos eu me aproximo dela, apoio a mão na sua cabeça,
fazendo na sequência um carinho lento. Fiorella ergue o rosto, mostrando o
inchaço nos seus olhos.
Merda! Ela chorou mais uma vez. Está acabando comigo essa sua
tristeza inesperada.
— Por que não vamos nos deitar? Você precisa de uma noite boa de
sono para recuperar as suas energias. — Seguro a sua mão e a faço levantar.
— Thomas não sei se é uma boa ideia passar a noite aqui. — Paraliso
com sua fala.
— Não quer ficar? — pergunto preocupado.
Fiorella morde o lábio inferior, demonstrando toda a sua insegurança.
Sinto a raiva me dominar, porém eu me controlo, não quero assustá-la com
uma explosão de fúria.
— Eu só não quero te contaminar com meus problemas — responde
triste. — Não sei exatamente o que aconteceu comigo, mas estou me sentindo
extremamente fragilizada.
Não digo nada, apenas a abraço com força. Vou tentar mantê-la aqui,
assim posso cuidar dela do meu jeito. Beijo seu rosto e afago suas costas,
sinto como se fosse derretendo entre meus braços.
— Fique comigo, quero cuidar de você. — Fiorella ergue o rosto.
— Você não tem obrigação de me ajudar com meus problemas.
— Só que desejo ajudar unicamente você. — Apoio a mão na sua face.
— Enquanto estivermos juntos, eu estarei sempre pronto para te fazer sorrir.
— Uma lágrima solitária escorre pelo seu rosto.
— Você é um anjo. — Retorço a boca, em um sorriso malicioso.
— Se você pudesse entrar na minha mente, veria que estou longe de ser
um anjo. — Um lento sorriso se espalha em seu rosto, o que me faz ficar
feliz, eu gosto de vê-la sorrir.
— O que sua mente quer fazer comigo?
— Nada que possa ser feito agora por conta do seu estado.
— Apenas me diga, eu quero saber. — A determinação na sua voz me
surpreende.
Por mais que ela tenha essa aparência frágil, em alguns momentos
mostra uma força surpreendente.
— Quero te deixar nua e explorar cada parte do seu corpo, depois eu
quero que goze com a minha boca e só então eu poderei me perder dentro de
você. — Nossos olhos se conectam e a tristeza que antes dominava seu olhar
agora é substituída por puro fogo.
Sem dizer uma palavra Fiorella escorrega as alças da camisola até que a
peça vire uma poça de seda aos seus pés. Ela fica apenas com uma pequena
calcinha de renda branca, que não tem muito sucesso em esconder seu sexo.
O meu corpo se acende, no entanto, eu tento me frear, preciso me
certificar que ela está em condições de seguir adiante. Por isso não me movo
quando se aproxima e começa a abrir a minha bermuda. Seguro sua mão, sem
tirar meus olhos dos seus.
— Você esteve chorando — digo com a voz serena. — Acho que
podemos deixar para amanhã tudo o que minha mente pervertida quer fazer.
— Não! — Fiorella começa a baixar a minha bermuda. — Estou com
muito medo do que terei que enfrentar em breve, mas não posso deixar isso
nos afastar, você foi a única coisa boa que aconteceu na minha vida.
Seguro seus braços e a beijo, ela também é especial, faz muito tempo
que não sinto essa vontade desesperadora em estar com uma mulher em
específico.
— Tem certeza do que você quer? — pergunto querendo me certificar
que podemos seguir adiante.
— Eu estou escolhendo não deixar meus medos tirarem algo bom de
mim. — Sua mão acaricia meu rosto. — Estou com muito medo, Thomas,
mas não é de você, é do que virá quando não estiver mais na minha vida.
Caralho! Ela me reduz a pó quando mostra todo o seu temor com o
futuro.
Rapidamente me livro da camisa e a levo até a cama. Assim como
prometi eu exploro o seu corpo com calma, mordiscado, lambendo,
observando atentamente cada arrepio que se espalha por sua pele. Quando me
instalo entre suas pernas, afasto suas coxas e me perco no seu calor.
A intensidade dos gemidos dela me guia, a princípio sigo em um ritmo
lento, mas quando Fiorella começa a puxar os meus cabelos, sei que ela está
ansiando por seu prazer, assim como eu já não aguento mais esperar pelo
momento de me perder dentro dela.
Com um gemido agudo Fiorella explode na minha boca estremecendo
intensamente com a força do seu orgasmo. Sugo todo seu gozo, saboreando
seu sabor único.
No instante que seu corpo se acalma, eu fico sobre ela e encaro seu
rosto. O sorriso de satisfação sexual que se espalha em sua boca deveria ser
eternizado. A beleza dela é bem perturbadora, mas quando acaba de gozar, é
algo difícil de colocar em palavras.
— Parte da promessa foi cumprida — digo ao acariciar sua bochecha.
— Você é bom com promessas. — Ela me abraça. — Mas não cumpriu
todas.
— Não se preocupe com isso, a última parte cumprirei com louvor.
Antes que ela diga algo eu a beijo, devoro a sua boca com a mesma
intensidade do desejo que sinto por essa bela mulher. Envolvo a minha
cintura com suas pernas assim que coloco o preservativo e começo a penetrá-
la. Observo atentamente sua face, encantado com a mudança da coloração
dos seus olhos. Eles ganham um tom escuro quando o tesão pede espaço.
Abocanho seu seio enquanto começo a me mover, Fiorella segura
minha cabeça e solta um som rouco de prazer. Ergo os olhos para poder
acompanhar o que está acontecendo com ela. A sua boca está semiaberta e os
olhos fechados.
Intensifico a penetração, na mesma proporção que sugo com mais força
seu seio. Um grito escapa dos seus lábios apetitosos quando seguro a coxa e
entro mais fundo. Nos encaramos com desejo, a expressão de prazer dela
quase me faz perder o controle.
Aproximo meu rosto do seu, encarando com fascínio seus olhos escuros
de tesão. Mordo seu maxilar, arrancando um grunhindo dela. Sorrio quando
sua mão vai até a minha bunda e aperta com força.
— Quer mais forte? — pergunto rente ao seu ouvido.
— Sim. — A minha pele se arrepia com o sussurro sexy da sua voz.
Recuo e abro suas pernas, expondo toda a sua boceta à minha visão.
Deslizo meu pau entre suas dobras, apreciando a imagem dele sendo engolido
por seu canal. Vê-la me receber com tanta volúpia, causa um reboliço dentro
de mim, faço um esforço extremo para não perder o controle e gozar com a
bela visão dela me devorando.
— Thomas... — Meu nome escapa em um sopro dos seus lábios.
Suas unhas afundam nos meus braços no momento que seu corpo fica
rígido com a explosão do orgasmo. Tento acompanhar cada segundo do seu
prazer, mas o meu próprio me assalta com uma força que trava todos os
músculos.
Deslizo até o final do seu canal estremecendo sem controle, desabo
sobre ela buscando estabilizar a minha respiração. Sinto seus braços me
rodeando, em seguida um beijo suave é depositado no meu pescoço.
— Obrigada por me ajudar a fugir dos meus demônios. — Recuo um
pouco para poder observá-la.
— Eu queria poder te fazer fugir de tudo o que pode te fazer mal. —
Seus olhos são assaltados por uma potente tempestade.
— Você está construindo as lembranças certas para me fazer suportar
um futuro de infelicidade.
Ela não me dá a opção de retrucar sua declaração, pois me beija com
uma urgência que reflete bem o quanto ela está temerosa pelo destino que irá
enfrentar.
Eu não sei exatamente que caminho seguir, mas preciso encontrar um
jeito de não permitir que a forcem a se casar. Tem que existir uma solução, a
máfia não pode ter mais poder que um príncipe.

— O que aconteceu que você não apareceu lá em casa? Kim ficou te


esperando. — Pergunto ao Stuart quando acabamos de verificar as vendas
extraordinárias do último lançamento.
— Tive que ajudar um amigo, acabei chegando tarde em casa e não
pude ir ver a Kim, mas já avisei que estarei na sua casa mais tarde.
— Amigo ou amiga? — Ergo uma sobrancelha querendo saber um
pouco mais da história.
— É realmente amigo, idiota — responde ao fazer uma careta. — Ele
terminou o casamento, fui apenas ajudá-lo na mudança.
— Que pena. — Desbloqueio a tela do meu celular e vejo uma
mensagem da Fiorella avisando que já saiu da terapia e que hoje se sente bem
melhor.
Escondo a vontade de sorrir, não quero dar munição para Stu, mas no
fundo eu estou feliz demais por ela sentir vontade de dividir comigo as suas
conquistas.
— Casamento é foda, eu corro de compromisso, não quero um dia
descobrir que fui traído e ter dias contados para levar minhas coisas embora.
— Ele foi traído? — Agora a história me atrai.
— Com o próprio sócio, tá uma confusão danada a vida dele.
— Porra! — Uma traição já é difícil, mas de alguém que você confia é
bem pior. — Posso imaginar como ele deve estar fodido.
— Senti pena dele, era apaixonado pela esposa, descobrir a traição
acabou com ele.
— Conte o que aconteceu a Kim, ela está bem chateada com você.
— Percebi isso pela mensagem que enviou, eu vou conversar com ela.
Nosso papo é interrompido com o toque do telefone. Atendo a ligação e
sou informado pela minha secretária que meu pai vai entrar em uma chamada
de vídeo nos próximos cinco minutos.
Logo cedo ele me ligou avisando que precisava conversar comigo,
como estava enrolado, marquei uma conversa à tarde.
— Tenho uma conversa com meu pai em alguns minutos, nos falamos
depois.
— Eu vou esperar para dar um “oi” a majestade real.
— Sabia que você é abusado? — questiono escondendo um sorriso.
Uma das coisas que mais gosto na sua personalidade é justamente a sua
espontaneidade, Stuart esbanja carisma e conquista todos por onde passa.
Começamos a conversar, até que me conecto pelo computador ao
aplicativo de mensagem e aguardo meu pai ficar on-line. Em pouco tempo
sua figura altiva entra em foco.
— Filho, quanto tempo.
— Nos falamos semana passada, não seja dramático como a mamãe.
— Se dependesse de mim, te veria todos os dias, essa casa é vazia
demais sem meus filhos. — Ele faz uma careta. — Agora que Mitchell e
Kimberly viajaram, tudo está ainda mais triste.
— Senhor Cassel, não combina com sua personalidade tanta
emotividade. — Meu pai sorri, mas percebo que seu sorriso não é por conta
da minha fala, sua empolgação é porque Stuart aparece atrás de mim.
— Majestade pode pedir umas férias ao seu filho? Preciso renovar as
energias no lugar mais lindo desse mundo, estou sendo mantido em trabalho
escravo. — Faço força para não revirar os olhos, meu amigo é um puxa-saco.
— Venha quando quiser, tenho certeza de que meu filho tem uma
equipe econômica preparada para suprir a sua ausência.
— Ele vai ter férias no tempo certo, agora é impossível. — Escuto
Stuart suspirar fundo.
— Essa empresa sem mim não tem sucesso. — Cutuco a sua barriga.
— Ai! Isso doeu. — Ele empurra meu ombro. — Foi um prazer revê-lo
majestade, mande um beijo a rainha. Preciso resolver uns problemas antes de
ir encontrar Kim, ainda não tive tempo de vê-la.
— Diga a minha nora que já estamos sentindo a ausência deles aqui em
casa e falarei à Ava que mandou lembranças.
Espero Stuart se afastar para retomar a conversa com meu pai.
— Está acontecendo algo, pai? — pergunto quando finalmente estamos
sozinhos.
— Nada demais, apenas tenho um bom contato para você. — Cruzo os
braços e espero que termine de falar. — Tenho um poderoso investidor grego
que deseja te encontrar, ele quer expandir os negócios e está impressionado
com o seu sucesso.
— Eu estou com grandes nomes investindo na empresa, ele vai ter que
lutar por uma fatia do bolo.
— Converse com ele, eu gostei muito dos planos que me falou.
— Não vou prometer nada. — Sou sincero.
— Apenas tente ouvi-lo ao menos por mim.
— Tudo bem. — É melhor não discutir com ele. — Onde está a
mamãe?
— Foi ao dermatologista, depois vai almoçar com uma amiga.
— Que vida mais chata. — Sorrimos ao mesmo tempo.
— E seu irmão? Vai ficar no seu apartamento mesmo? Ou já foi para
nossa casa em Hamptons?
— Ele disse que vai ficar uns dias comigo, Kim quer fazer umas
compras.
— Será que devo preparar o avião de carga presidencial para buscar as
compras dela?
Solto uma risada estrondosa, meu pai tem um humor único, mas
desconfio que se Kimberly ouvir a sua piada, ela não vai achar tanta graça.
— E você, como está? — Ele muda o assunto.
— Trabalhando muito, o sucesso tem seu preço.
— Isso é bom. — Meu pai se recosta na cadeira e a gira pensativo. —
Como anda esse coração? Alguém conseguiu quebrar essa casca-dura com a
qual você o cobriu?
Os meus pais se preocupam demais comigo, desde que me fechei em
um casulo, após a trágica partida de Clover, eles vivem empenhados em me
jogar em um relacionamento. Entendo a preocupação deles, mas não posso
fazer nada para mudar o meu modo de viver.
— Meu coração está batendo muito bem, fique tranquilo. — Papai faz
uma careta.
— Eu quero mais netos, você precisa esquecer o passado, lamento o
que aconteceu, mas seguir adiante é necessário.
Não consigo deixar de pensar em Fiorella, ela foi a única mulher que
realmente conseguiu captar o meu interesse. Infelizmente não posso tê-la
como desejo.
— Pai, posso te fazer uma pergunta? — Suas sobrancelhas se unem.
— Faça. — Penso com calma antes de questioná-lo.
— O quanto somos mais poderosos que a máfia italiana? — Os olhos
dele viram uma fenda.
— Não nos metemos com eles além do necessário, cada um sabe do seu
espaço.
— O senhor não respondeu claramente a minha pergunta. —
Entrelaçando os dedos ele apoia os braços sobre a mesa.
— Possuímos um título, controlamos uma nação, temos muitos
veículos oficiais ao nosso favor, ainda assim não queremos desentendimentos
com a máfia. — Basicamente ele disse o mesmo que meu irmão. — Está com
problemas com alguns deles? Nero tem ações na empresa, não é isso? Ele
está aprontando algo?
— Nero é um bom parceiro comercial, está tudo bem.
— Então qual o motivo da pergunta?
— Tenho outros interessados em investir na minha empresa, queria
saber até que ponto posso ir. — Desconverso. — Eu vou ter calma quando eu
negociar com qualquer um deles, nem todos são confiáveis.
— Fale com Mitchell, ele conhece todo mundo, se surgir alguma
dúvida Paolo é de confiança quando o assunto é nossa família. O italiano não
é fácil de lidar, mas sabe que somos confiáveis, ele saberá te ajudar.
Evito soltar uma risada, o meu problema é justamente o maldito Paolo.
Preciso encontrar uma maneira de enfrentá-lo, mas pelo que entendi, usar
Vichi como escudo não será a melhor opção.
Preciso urgentemente descobrir como ajudar Fiorella, sem causar um
grande conflito.
Jogo mais um bombom na boca enquanto encaro o teto pensativa. Meus
dois últimos encontros com Thomas não saem da minha cabeça, cada um dos
seus toques ainda parece queimar a minha pele.
Tudo o que estou vivendo ao seu lado é algo que está me mudando
internamente. Conversei com a psicóloga sobre as diversas emoções que
estou sentindo e meu temor pelo futuro.
O conselho dela foi me manter no presente, viver novas experiências,
sem me cobrar ou esperar demais. É um pouco difícil seguir tudo o que me
disse, mas eu vou me esforçar para isso.
Estamos sem nos ver há cinco dias, no dia anterior ao nosso último
encontro não quis ir para o seu apartamento, apesar da sua insistência preferi
dar privacidade à sua família. Na noite passada fui a um jantar na casa de
uma das famílias do clã, era aniversário do pai do Lorenzo, homem de
confiança do meu primo.
Como não ando interagindo com a Famiglia, Nero achou que eu
deveria estar presente ao evento. Não posso negar que gostei, foi bem
animado e a comida estava divina, mas eu preferia estar ao lado do homem
que não sai da minha cabeça.
Nunca imaginei que poderia sentir tanta falta de alguém como sinto de
Thomas. Se dependesse apenas de mim passaria todo o tempo que estou aqui
grudada nele.
— Eu vou tentar ir. — Serena entra na sala falando ao celular. — Se eu
não conseguir prometo marcar um encontro especial na Glory, teremos uma
noite insana.
Assim que nota a minha presença sorri, eu gosto da personalidade dela,
lembra muito a Gio, as duas têm grandes ambições, mesmo sendo mulheres
presas às tradições da máfia.
— Tudo bem, conversamos com calma depois. — Rapidamente
encerra a ligação. — E aí? Como você está?
— Bem. — Estico a caixinha de bombons. — Quer um?
— Ainda pergunta? — Serena sorri e pega um chocolate. — Eu amo
essa marca, são os meus preferidos.
— Os meus também. — Volto a pegar outro bombom, a minha
ansiedade me deixa extremamente propícia a comer doces, em especial os de
chocolate.
— Ando sentindo sua falta por aqui, perguntei para Nero por onde
estava e ele me mandou tomar conta da minha vida. — Olho para ela sem
saber o que dizer, confio na Giada, mas Serena ainda é uma incógnita para
mim.
— Estou buscando conhecer a cidade. — Minto.
Serena pega mais um bombom e o degusta sem presa, olhando algo no
celular, assim que termina de comer ela lambe os dedos.
— Tem certeza de que é só a cidade? — Seus olhos expressivos me
fitam curiosamente.
— E o que mais eu conheceria? — Lentamente ela começa a sorrir.
— Os rapazes lindos que existem por aqui — diz despretensiosamente.
— Giada faz isso sempre, ela sabe aproveitar a vida antes que a coloquem em
uma coleira. — Fico surpresa com sua fala. — Deveria fazer o mesmo, você
merece.
Antes de se levantar ela pega mais um chocolate e segue na direção das
escadas enquanto digita uma mensagem.
Não estava preparada para esse tipo de conselho, espero que ela não
esteja vendo garotos, já basta Giada se arriscando.
— Que surpresa te ver por aqui. — Levo um susto ao ouvir a voz do
Piero.
Faz tempo que não o vejo, acho que a última vez foi no dia em que
Nero assumiu a posição de Capo.
— Como vai, Piero? — Ajeito meu corpo no sofá.
— Bem. — Ele joga a jaqueta preta de couro sobre o sofá e segue para
o bar.
O acompanho em silêncio se servir de uma dose de uísque e beber de
uma só vez, em seguida ele coloca mais um pouco e vem para onde estou
sentada.
— Por onde anda? Nas vezes que vim aqui não te vi. — O meu coração
acelera.
Piero não é de confiança, ele tem inveja do irmão, queria ter o seu
poder e prestígio. Desde cedo causa problemas, quando ainda era adolescente
se envolveu com uma gangue do Bronx.
Tio Gastone teve muito trabalho com o filho, mas conseguiu controlá-
lo, no entanto, ninguém confia plenamente nele, Piero é sorrateiro, capaz de
qualquer atitude.
Como ele mora sozinho, raramente aparece na casa dos pais,
principalmente agora que Nero está passando um tempo por aqui.
— Estou tentando conhecer a cidade.
— Sozinha? — Tento manter minha expressão neutra.
— Tenho minhas companhias, Eros e Giada são os mais constantes. —
Jogo o nome dos dois para evitar problemas.
— Companhia do Eros? — pergunta ao esticar um braço pelo encosto
do sofá e beber um pouco do uísque. — Ele não tem companhia feminina que
não seja para foder. — Enrijeço o corpo, ele está claramente querendo me
intimidar.
— Não sou uma mulher qualquer, sou a prima do Capo, Eros me deve
respeito. — Cutuco sua ferida, ele odeia saber que o irmão é o grande líder.
O seu rosto fica sombrio, talvez eu tenha exagerado na minha
provocação, Piero não reage bem quando confrontado. Minhas mãos
começam a suar, estou com medo do que ele pode fazer, principalmente se
decidir me vigiar.
— Você é uma viúva jovem, bonita, gostosa e querendo descobrir
como é bom trepar sem ser com um porco nojento como Carmelo. — Um
sorriso maldoso se espalha por seus lábios. — Eros é o homem ideal para dar
prazer verdadeiro a uma viuvinha.
Abro a boca para respondê-lo, mas neste momento Nero entra na sala
acompanhado de Lorenzo e o próprio Eros. O alívio me domina, com eles
aqui Piero terá que se comportar.
Assim que nota a presença do irmão Nero endurece o rosto, ele desvia
o olhar até onde estou, claramente preocupado comigo.
— Que presença ilustre — Eros diz exibindo um sorriso provocador. —
Você por aqui é uma novidade.
— É a casa dos meus pais. — Piero o encara com desgosto.
— Nossos pais estão viajando, você não tem motivos para estar aqui.
— Nero dobra as mangas da camisa ao se aproximar de onde estamos. —
Aconteceu alguma coisa? — pergunta ao cruzar os braços em uma posição
intimidadora.
— Até onde sei minha presença não está proibida. — Piero sorri. —
Posso passar uns dias aqui, assim como você.
Era só o que me faltava ele neste apartamento, tomando conta de todos
os meus passos. Espero ansiosa a posição de Nero, ele tem o poder de
controlar esta situação.
— E por que quer ficar aqui? — meu primo pergunta com clara
irritação.
Enquanto a discussão se desenrola Lorenzo acena para mim e caminha
em silêncio para o bar, começando a preparar umas bebidas.
Ele me causa certo arrepio, seu olhar é semelhante a um abismo
profundo, onde qualquer tipo de sentimento parece ser inexistente. Não posso
negar que é um homem bonito, tem um rosto anguloso, olhos cor de
chocolate, cabelos densos castanhos e um corpo firme.
Lorenzo tem uma áurea de mistério que nos atrai, mas por saber o tipo
de serviço que ele realiza com muita tranquilidade, prefiro me manter longe.
— Não posso ficar aqui? — pergunta querendo provocar o irmão.
— Vai caçar algo de útil para fazer, Piero, pare de ser um merda, eu
não tenho tempo para você querendo fazer gracinhas.
— Está nervoso sem motivos. — Eles se encaram tensos. — Acho que
vou passar uns dias aqui. — Piero me lança um sorriso que para qualquer
outra pessoa poderia parecer dócil, mas eu bem sei que está pronto para dar o
bote. — Depois nos falamos, Ella, não tivemos tempo de conversar direito.
— Com um aceno ele deixa a sala sorrindo feliz por irritar o irmão.
— Cada dia que passa, Piero está mais insuportável, não consigo mais
tolerar a sua presença. — Eros rosna.
— A sorte dele é ter uma família poderosa para segurar a sua cabeça —
Lorenzo diz com desgosto.
— Vem comigo. — Nero faz um sinal com o indicador para que eu o
acompanhe.
Entramos no seu escritório, ele parece irritado e isso não é nada bom.
— Piero te encurralou? Não gostei de ele fazer questão de ficar aqui.
— Eu não faço ideia desse seu comportamento estranho.
— Meu irmão não é de confiança, precisarei ser mais prudente quando
você for ver Thomas.
— Sei disso — digo nervosa.
— Hoje você não sai daqui e tente não ficar andando pela casa sozinha,
não o quero te rondando.
— Tudo bem. — Nero se aproxima de mim e apoia a mão na minha
cabeça. — Como estão as coisas com o príncipe?
— Bem, Thomas tem sido um homem incrível para mim.
— Isso é bom. — Agora sua expressão se suaviza. — Paolo me ligou,
perguntou como você está, parece que sua mãe continua preocupada por não
ter ninguém de Roma por aqui, garanti que está segura e feliz com todas as
novidades que está conhecendo.
— Hoje conversei com a mamãe, ela ainda acha que Eros é um risco
para minha honra. — Meu primo ergue um canto da boca.
— Ele realmente é um risco para a honra de qualquer mulher, mas não
no seu caso. — Ele passa o braço por meus ombros e começa a sair do
escritório. — Se sua mãe soubesse que o grande risco é um membro real,
talvez ela não ficasse tão nervosa.
— Mas ele não é dá máfia, ela não ficaria feliz.
— Ah, ragazza, ela ficaria sim. Sua mãe gosta de poder e isso Thomas
tem de sobra, o problema dela seria quebrar a tradição, mas se existisse uma
única chance de vocês se unirem, a tia daria todo apoio, confie em mim.
Eu não vou me arriscar a discordar da sua opinião, conheço bem a
minha mãe e sei que Nero está coberto de razão. Se porventura a máfia não
fosse tão cheia de regras, ela ficaria exultante com meu relacionamento com
Thomas.
Apoio as mãos nos joelhos e puxo o ar com força, o suor escorre pelo
meu rosto, por hoje já deu, estou me sentindo exausto.
— Você já foi mais ativo — Mitchell comenta ao enrolar a corda em
que esteve há poucos segundos pulando na mão.
— Por acaso acompanhou a sequência que acabei de fazer? — pergunto
ao esguichar água na boca.
— Não vi nada demais. — Ele seca o rosto. — Como o irmão mais
novo, você deveria ter mais fôlego que eu. — Reviro os olhos, Mitchell é
implicante demais. — Sua garota vai aparecer hoje? Ela anda sumida.
— Fiorella acha que está incomodando a nossa interação em família.
— Que bobagem — diz ao pendurar a toalha no pescoço. — Ela só não
pode atrapalhar a minha interação com a Kim, você eu não ligo.
Ele me dá as costas e começa a caminhar para a saída da academia.
Sorrio e sigo logo atrás, como é mentiroso, se existe alguém neste mundo que
gosta de receber toda a atenção é o meu irmão.
— Posso conquistar a atenção da Kimberly e da Fiorella ao mesmo
tempo — digo ao dar uma chave de braço nele. — Não esqueça que sou o
melhor amigo da sua esposa.
— Larga de ser um merda. — Ele segura meu braço com as duas mãos.
— A sua sorte é ser meu irmão e ter colocado no meu caminho a minha pedra
preciosa.
— É estranho demais você todo meloso com a Kim, sempre foi tão
indiferente com as mulheres. — Libero-o do meu aperto.
— Ela não é qualquer mulher. — Mitch me dá um olhar de lado. —
Kimberly é a mulher da minha vida, quando encontrar a sua, entenderá
exatamente o que eu sinto por minha esposa. — Não digo nada.
Por eu ter pais que se amam profundamente, sei que um amor
verdadeiro transforma a vida de alguém. Infelizmente nem todas as pessoas
conseguem ter esse tipo de conexão com outra pessoa, talvez esse seja o meu
caso.
— Você é um homem de sorte. — Bato nas costas dele.
— Que tal procurar sua sorte também? — Ele gira o rosto para poder
me encarar. — Mas faça isso longe da máfia, não quero um irmão morto.
Nossa conversa é interrompida quando entramos na sala e nos
deparamos com Stu e Kim rindo sem controle. O meu coração
inesperadamente acaba ficando comprimido, ver a interação deles me lembra
de um passado onde éramos quatro amigos
A vida é algo tão fodido. Pessoas ruins levam uma vida de anos sendo
más por onde passam, enquanto pessoas boas têm uma partida tão repentina.
— Terminaram de tonificar os músculos? — Stuart não é fã de
academia, ele mantém a forma praticando esporte, em especial o tênis.
— Eu terminei, já Thomas cansou — Mitchell me provoca.
— Como consegue viver ao lado dele? — pergunto a Kim ao correr a
toalha pelo rosto.
— Ele não é tão chato o tempo todo. — Os dois trocam um olhar
cúmplice.
— E a namoradinha do meu amigo? — Stuart me fita com diversão. —
Quero conhecê-la.
Se existe algo que ele possui em exagero é a curiosidade. Enquanto não
consegue o que deseja não dá sossego.
— Vou ligar para ela e pedir que venha jantar com a gente.
— Assim que eu gosto. — Stu me lança uma piscada debochada.
Dou as costas para todos e subo até o meu quarto, antes de ligar para
Fiorella tomo uma ducha. Estamos sem nos ver há alguns dias e a ausência
dela está me sufocando.
O sentimento que ando nutrindo por ela anda me deixando agitado, não
me lembro a última vez que desejei tanto ver uma mulher.
Amarro a toalha na cintura e saio do banheiro, pego meu celular e
procuro pelo seu nome. Enquanto ouço o barulho da chamada caminho até a
poltrona e me sento.
— Oi. — A sua voz meiga faz meu coração acelerar. — Estava
pensando em você.
Essa sua declaração me quebra, eu penso nela sempre, Fiorella aparece
em meus pensamentos nos momentos mais inusitados.
— Gosto de saber disso — digo com suavidade. — Acho que nossos
pensamentos andam conectados. — O som do seu sorriso me deixa exultante.
— É mesmo? — Sinto uma nota de insegurança na sua voz.
Odeio que ela seja tão reticente a sentimentos, tudo o que eu queria
nesta vida era que Fiorella fosse uma mulher comum e nós pudéssemos ter
uma relação normal.
— Quero que venha jantar comigo, tenho um amigo aqui que deseja te
conhecer. — Ela fica em silêncio. — Fique tranquila que ele é de confiança,
sabe exatamente da nossa situação — aviso. — Stuart inclusive conhece seu
irmão e Domênico, ele entende bem o universo que vive.
— Infelizmente não posso ir, estou com um problema. — Meu corpo
fica tenso.
— Que tipo de problema?
— É meu primo Piero. Ele resolveu passar a noite aqui, Nero pediu que
eu ficasse em casa.
Conheço Piero, ele é bem arrogante e por ser filho do líder da máfia
nova-iorquina se acha acima de todos. Não simpatizo com ele, sempre que
nos encontramos conversamos por pura formalidade social, ao contrário de
Nero, ele não inspira nenhum tipo de confiança.
— Piero está suspeitando especificamente de nós?
— Não — responde com segurança. — Mas disse que tem vindo aqui e
não me encontra.
— Que droga! — Levanto chateado. — Não gosto desse seu primo, já
ouvi algumas histórias desagradáveis sobre ele.
— Realmente Piero é problemático, por isso Nero não quer que ele
fique me perseguindo.
— Isso significa que vamos demorar a nos ver?
— Acredito que não, Nero disse que vai dar um jeito nele.
Ando surpreso com o apoio de Nero com nossa relação, em alguns
momentos fico um pouco apreensivo, tenho receio dele querer cobrar toda
essa gentileza que anda fazendo.
— Quero que me mantenha informado sobre essa situação e, assim que
estiver livre, me avise.
— Claro que te aviso. — Sinto a tristeza dominar a sua voz. —
Lamento te causar tantos problemas.
— Você não tem culpa do sistema em que é obrigada a viver — digo
com raiva. — Eu queria muito poder te ajudar a se libertar de todas essas
regras.
— Acho que você não tem noção o quanto está me ajudando. — Sinto a
sua fragilidade, como eu queria abraçá-la agora. — Hoje já me sinto uma
nova mulher, tudo isso graças a você.
Ergo o rosto e fecho os olhos, eu não sei o motivo da vida sempre
querer me foder.
— Quero ajudar ainda mais, só não sei como.
Uma ideia louca passa pela minha cabeça, preciso conversar com meu
irmão, ele entende bem sobre o universo obscuro da máfia e vai poder me
dizer se eu posso fazer o movimento que estou pensando.

— Problemas? — Mitchell pergunta ao se sentar ao meu lado.


Ao fundo ouço minha cunhada rindo com algo que Stuart fala, sinto
uma angústia me dominar quando mais uma vez minha mente se descontrola
e volta ao passado.
Quando estávamos na universidade nos reuníamos a noite no meu
apartamento para beber algo e conversar. Stuart sempre foi o responsável
pelas péssimas piadas, que faziam as meninas rirem.
Naquela época éramos quatro, até que o destino nos deu um golpe
doloroso e acabamos virando três. Ela se foi brutalmente, deixando um vazio
no meu coração.
Fui covarde ao não me abrir, eu deveria ter revelado que gostava dela,
que queria tentar um namoro. Clover era tão luz, sempre sorrindo e pronta
para uma aventura. Só que eu calei meus sentimentos, achei que não era o
tempo certo de revelar o que eu sentia. Aí ela partiu deste mundo e eu nunca
pude descobrir como era o seu gosto.
Prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria para o amanhã o que
posso resolver hoje. Isso se aplica a Fiorella, eu quero tentar ajudá-la a se
livrar de um futuro infeliz. Não é justo mais uma vez ela ser obrigada a casar
sem amor.
— Quero ajudar Fiorella — digo ao meu irmão enquanto mantenho os
olhos no céu escuro.
— O que está querendo dizer? — questiona com cautela. — Ela está
com algum problema sério e por isso não pode jantar conosco?
— Na verdade, ela tem vários problemas, a sua ausência no jantar foi
porque Piero está na casa do pai, Nero não quer expô-la.
— Isso não é nada bom, se Piero desconfiar de vocês, fodeu.
— Justamente por isso Nero não permitiu que ela saísse.
— Infelizmente você se encantou pela pessoa errada, é complicado.
— Quero oferecer ajuda a ela, Mitch. — Olho para o meu irmão, que
me encara com as sobrancelhas unidas.
— Que tipo de ajuda?
— Fiorella não quer assumir um novo casamento, mas será obrigada
por conta das tradições.
— É o mundo dela.
— Posso oferecer um novo mundo, tenho meios para isso. — Mitchell
ergue-se de uma só vez.
— Por acaso está querendo dizer que vai assumir a garota?
— Não pensei em algo tão profundo, até porque estamos nos
conhecendo, mas eu posso ajudar numa fuga e dar uma nova identidade para
que a máfia não a ache.
— Puta que pariu! — Ele corre a mão pelo cabelo. — Você está louco?
— Nunca estive tão certo do que desejo fazer — digo com segurança.
— Para que serve a porra de título se tememos a droga da máfia?
— Não tememos ninguém, apenas mantemos boas relações para os
negócios andarem com tranquilidade. Se você vai contra as leis de um grupo
que é seu parceiro, fode todo o equilíbrio conquistado.
— Caralho, Mitchell! Eu não vou ficar de braços cruzados vendo o
sofrimento nos olhos dela quando fala em voltar para casa. — Minha voz se
altera. — Sequer tenho o direito de levá-la a uma festa, todos os nossos
encontros são no meu apartamento, porque ninguém pode desconfiar que
estamos nos vendo. Quando ela for embora, não sei como será sua vida, se
novamente cairá nas mãos de um homem que a agride.
Meu irmão fecha os olhos, o peito dele se expande. Sem dizer nada
Mitchell caminha até o parapeito e abaixa a cabeça.
Ele sempre foi mais impulsivo do que eu, sei que se estivesse no meu
lugar não só pensaria igual a mim, como já teria tomado uma atitude mais
enérgica.
— Paolo é zeloso com relação as irmãs, ele saberá escolher um bom
marido para Fiorella.
— Você conseguiu entender a parte que ela não quer mais se casar?
— Não está nas mãos dela esta decisão.
— Se eu ajudá-la poderá tomar suas próprias decisões.
— Thomas, não arrume problemas com Paolo, ele não conhece limites,
o homem é uma fera ambulante. Não é porque agora está casado e com uma
filha, que se tornou bom. O italiano é um inimigo que ninguém quer ter. Se
por acaso desconfiar que você ajudou na fuga da irmã, estaremos dentro de
um conflito que pode causar sérios problemas ao nosso reino.
— E o que ele pode fazer conosco? Somos uma monarquia,
controlamos um país.
— Paolo é uma das faces da Cosa Nostra, eles estão espalhados pelo
mundo, o poder da união deles é infinito. — Mitchell abre os braços. — Nero
comanda metade desta cidade, você mora dentro dos limites da máfia, eles
estão infiltrados em todos os lugares, inclusive na sua empresa. — Escondo o
rosto entre as mãos irritado, meu irmão está certo. — O prefeito de Nova
Iorque tem sociedade com o tio do Nero, o governador tem um assessor que é
um dos conselheiros do clã nova-iorquino. Eles estão na Casa Branca, dentro
da indústria cinematográfica e são amigos pessoais do Primeiro-ministro
inglês. A máfia sabe que para se manter firme precisa estar em todas as
esferas do poder, eles são como uma praga e não devem ser subestimados
nem mesmo por nós.
— Então está dizendo que Vichi é submisso a eles?
— Não. — Meu irmão cruza os braços. — Estou dizendo que devemos
respeito um ao outro, se eles invadirem nosso espaço iremos causar danos
que podem desestruturar a ordem da máfia e o mesmo vale para nós. Ambas
as partes sabem que podem perder se um conflito explodir e nós não
queremos que algo assim aconteça, por isso trabalhamos juntos.
— Eu não sei se vou conseguir ficar passivo nesta situação vendo tão
de perto o sofrimento dela.
— Tente ser inteligente, se afaste dela se não estiver mais tendo
controle das suas ações. Fiorella nunca será sua, então não existe motivos
para insistir nesses encontros. Seja honesto com ela e explique que é melhor
cada um seguir seu caminho, todos sairão ganhando no final.
Trinco os dentes com raiva, ele sempre faz o que quer, mas quando é a
minha vez de tomar uma decisão, Mitchell se ergue contra mim.
— Não me afastarei dela — digo ao me levantar. — Ficarei com
Fiorella até quando puder e, se por acaso ela quiser fugir da família, eu irei
ajudá-la.
— Thomas você não pode...
— Posso o que eu quiser! — esbravejo. — Você não trouxe a morte
para o meio dos meus amigos? — Eu me aproximo dele com raiva. — Por
sua culpa Clover morreu. — Sinto todo o meu corpo tremer de raiva. — Se
não fosse sua vida de merda entre criminosos, Raul Diaz[2] não saberia da
existência dela e hoje estaria entre nós. Não vou te ouvir, muito menos vou
soltar a mão de alguém que fez meu coração bater novamente. — Ficamos
rente um ao outro, nossos narizes quase se tocando. — Sei que ela nunca
poderá ser minha, mas se eu puder torná-la uma mulher livre, farei isso sem
pensar duas vezes. Estará nas mãos dela a decisão. Eu sou o caralho de um
príncipe, não é possível que eu não encontre meios de manipular a máfia.
— Você vai trazer muito mais que a morte, Thomas. — Ele grita ao
segurar a minha blusa.
— Isso nós vamos ver.
— Parem! — A voz nervosa da Kimberly se espalha pela varanda. —
O que exatamente pensam que estão fazendo?
— Nunca quis que seus amigos corressem perigo — meu irmão grita
furioso.
— Foda-se o que você queria, Clover está morta.
— Falei para pararem com isso. — Ela segura o braço do marido. —
Solta o Thomas, agora! — Por alguns segundo Mitchell não se move, até que
ele solta a minha blusa.
— Não seja estúpido como eu, você sempre foi mais prudente.
Dou um passo atrás, ainda o encarando, talvez ele tenha razão,
realmente sempre fui mais equilibrado, só que tudo muda, assim como as
pessoas. Eu mudei desde que Clover se foi, aquele Thomas já não existe, hoje
eu sei como é tenebroso o lado obscuro da vida.
Aprendi que se eu quero algo, vou atrás, eu não protelo nada do que
desejo e não vai ser dessa vez que vou recuar.
Abro a tela do notebook e espero o aparelho iniciar, enquanto aguardo
me acomodo na poltrona confortável do escritório do meu tio. Há três dias
não consigo me encontrar com Thomas e já sinto uma falta absurda dele.
Piero anda aparecendo em momentos inoportunos e fingindo simpatia
por mim, mas eu sei que ele está querendo confusão. Sua intenção é apenas
colocar seu irmão em uma situação complicada mediante à Famiglia.
Entro no programa de ligação de vídeo e busco pelo contato do meu
irmão. Vejo que ele já está on-line, ontem nos falamos e marcamos uma
chamada de vídeo para que eu matasse um pouco a saudade da minha
sobrinha. Gosto de estar aqui, mas sinto muita falta da minha família.
— Paolo! — digo seu nome emocionada quando o vejo aparecer na tela
do computador.
Os meus olhos ficam marejados, meu irmão não é uma pessoa fácil, ele
tem seus imensos defeitos, mas eu o amo incondicionalmente. Desde criança
ele me protege e sei que apesar das tradições arcaicas da máfia, ele tenta a
todo custo pensar no melhor, não só para mim, como para minhas irmãs.
— Como está a minha ragazza? — pergunta com um discreto sorriso.
— Você está ainda mais bonita, Nova Iorque anda te fazendo bem.
— Sinto muita falta de todos vocês, mas não posso negar que ando feliz
por aqui — digo sorridente. — Estou conhecendo muitas novidades, as
nossas primas são acolhedoras e, Nero tenta sempre me distrair com algum
evento.
— Bom saber disso. — Paolo coça a barba. — Nero disse que tudo está
tranquilo e que você se adaptou bem à nova rotina.
— Não tive muitas mudanças no geral, só a cidade que é nova.
— Excelente. — Ele remexe a cadeira. — Estou feliz em ver esse seu
sorriso, faz tempo que não vejo seu semblante tão iluminado.
— Desde quando possui esse tipo de sensibilidade? — o provoco.
— Não é sensibilidade, bambina, é preocupação de irmão. — O seu
rosto fica sério. — Tudo o que envolve minhas irmãs é extremamente
importante e da minha responsabilidade. Eu posso não ser um homem bom,
mas eu cuido de quem eu me importo.
O meu coração derrete, Paolo tem muito mais bondade no seu coração
do que pensa. Se ele realmente fosse mau, Masha não teria um bom destino.
Ele a salvou do pior e lhe entregou o seu coração.
— Como estão as coisas por aí?
— Nada de anormal, os problemas de sempre — sua resposta é calma.
— No momento o meu grande problema é nossa mãe reclamando da sua
ausência. — Meu irmão faz uma careta.
— E Caterina? Estou morta de saudades dela e da filhinha da Chiara.
Estar aqui tem sido bom para mim, mas estou preocupada em perder essa fase
de descoberta delas.
— Você precisa desse momento, as bambinas estão bem, cada dia mais
levadas, em breve estará novamente conosco. — Ele olha para o lado e sorri.
— Tem uma surpresa para você.
Em segundos Caterina aparece no colo dele e Masha se posiciona atrás
do marido. Os meus olhos marejam quando vejo minha sobrinha, ela parece
maior e seus cabelos ruivos estão cheios de cachinhos.
Como é linda, Caterina é a mistura perfeita entre o pai e mãe. Paolo
aponta para a tela e ergue a mão da filha para que ela dê tchau para mim. A
pequena sorri, parecendo me reconhecer.
— Estamos sentindo a sua falta — Masha fala ao apoiar as mãos nos
ombros do marido. — Sei que precisa espairecer, mas sua ausência é uma
unanimidade entre todos nós.
— Também estou sentindo falta de vocês, por mais que aqui seja um
novo mundo, não se compara a estar todos os dias perto da minha família.
— Fique mais um pouco só para se distrair, mas quando sentir que
precisa voltar é só avisar que mando te buscar — Paolo diz ao ajeitar a filha
no colo.
— E tente se conectar a alguém, Nova Iorque pode ser o lugar onde seu
grande amor está. — Paolo ergue o rosto e encara a mulher com as
sobrancelhas unidas. — O que foi? — ela pergunta irritada. — Se ela gostar
de alguém lá nós vamos apoiar, Fiorella merece um amor como o nosso.
Sorrio quando vejo meu irmão retorcer o rosto porque a esposa falou
demais. Ele tenta fingir que não a ama, mas todos nós da família sabemos dos
seus sentimentos. Masha despertou um lado terno do meu irmão e eu a
admiro muito por isso.
— Não estou à procura de um grande amor, infelizmente nem todos
possuem a sorte de vocês. — Agora meu irmão encara a tela do computador
com o semblante preocupado.
— Eu te quero aqui, assim posso tomar conta de você, mas se algo
inusitado acontecer eu vou ouvir sua vontade. Assim como nossas tias se
estabeleceram aí, você pode fazer o mesmo. Nero está sendo um bom líder e
cuidará de você com o mesmo zelo que eu cuidaria. — O meu coração se
expande com suas palavras.
— Obrigada por sempre pensar em mim.
— Você é minha irmã, eu cuido da minha família até o meu fim e não
me importa as leis, todas vocês são minha prioridade.
Como pode um homem com um coração tão generoso ser
extremamente cruel no seu trabalho?
Mudo o rumo da conversa e pergunto sobre Gio e Chiara, não quero
demonstrar o quanto a minha nova vida está mexendo comigo. Eu nunca
imaginei que poderia me sentir tão feliz em uma nova cidade, no entanto,
desde que cheguei aqui eu estou vivendo uma outra realidade.
Sinto falta da minha família, porém não posso deixar de viver cada
segundo ao lado do Thomas. Serão as memórias que construirei com ele, que
me manterão sã quando eu tiver que enfrentar meu futuro.
Visto o roupão apressada quando ouço batidas insistentes. Saio do
banheiro correndo e abro a porta do meu quarto. Umas das funcionárias que
trabalham na casa está com uma bolsa na mão.
— Entrega para a senhora. — Ela a estende.
— Quem mandou? — pergunto ao espiar o que tem dentro.
— Eu não sei, apenas pediram para entregá-la.
— Obrigada. — Agradeço e fecho a porta.
Jogo a bolsa sobre a cama e investigo o conteúdo, retiro um vestido
azul-escuro em um tecido acetinado. É deslumbrante, com um corte que
modela o corpo e uma altura que certamente alcança o meio das minhas
coxas.
Meus olhos são atraídos para um pequeno cartão no fundo da bolsa.
Pego-o com o coração acelerado, se Thomas se arriscou a me enviar algo
assim, eu vou matá-lo.
Já não nos encontramos há cinco dias e eu não aguento mais ficar longe
dele. Nossas conversas pelo telefone não podem ser comparadas a estar ao
seu lado.
Quero você bem linda hoje à noite, tenho um evento especial para te
levar. Vou passar aí para te pegar às 21h, vamos dar ainda mais motivos
para a Famiglia falar de nós, assim despistamos os abutres.
Eros, o seu deus do amor.
Um sorriso se espalha pelo meu rosto, ele pode sempre implicar por eu
estar com o Thomas, mas desde que Piero passou a ser inconveniente, está
incomodado por ele não me deixar em paz.
Não sei se é um bom movimento as pessoas pensarem que estamos
flertando, mas Eros é dá máfia e, apesar da minha mãe não simpatizar com
ele, Paolo não ficaria de fato incomodado caso eu estivesse interessada nele.
Na verdade, meu irmão poderia até gostar, Eros é filho do irmão do tio
Gastone, ele pertence a alta cúpula da Famiglia, seria um bom partido para
uma viúva.
Ergo o vestido e volto a avaliá-lo, é extremamente lindo, o safado tem
um bom gosto incrível. Certamente ele deve comprar muitos vestidos para
suas acompanhantes, até onde sei ele tem uma legião de mulheres sempre
esperando para ter a sua atenção.
Antes de ir para o banheiro começar a me arrumar eu olho o celular,
mas não tem nenhuma mensagem do Thomas. Sinto uma sensação estranha,
essa situação com Piero pode afastá-lo. Se isso acontecer vou entender, ele é
um príncipe, um homem importante, que pode ter a mulher que quiser. Não
tem necessidade de lidar com alguém como eu, que sequer tem controle da
própria vida.
Aperto o vestido contra o peito tentando conter a confusão de
sentimentos que está me consumindo. Não vou poluir a minha mente com
pensamentos ruins, vou esperá-lo entrar em contato, pelo pouco que o
conheço, se ele não quiser seguir com nossos encontros, vai ser sincero
comigo.
Esqueço o celular e vou me arrumar, tenho uma festa para comparecer,
amanhã eu converso com Thomas.

Jogo o meu cabelo para trás quando caminho ao lado de Eros, para a
festa de um dos membros da Famiglia. Andrea Bacari é filho do subchefe da
Filadélfia, ele tem uma das mais prósperas produtoras musicais do país. Sua
fama é internacional e ninguém imagina que faz parte do alto clã da máfia
italiana na América.
— Uau! — exclamo ao ver a produção da festa.
— Andrea gosta de uma ostentação. — Eros pega duas taças de
champanhe de um garçom que passa próximo. — A nós, minha bela ragazza.
— Ele toca a taça na minha.
— Está resgatando suas origens italianas? — pergunto ao provar da
minha bebida.
— É para você matar a saudade da sua terra. — Ele camufla o sorriso
ao fechar os lábios na borda da taça.
Eros tem um humor peculiar, se eu não soubesse do que é capaz, jamais
diria que é um homem violento. Sua beleza perturbadora nos faz imaginá-lo
como um anjo pecaminoso, não um mafioso cruel.
— Pode parar com esses galanteios. — O repreendo e olho ao redor.
— Você sabe que não resisto. — Ele rodeia a minha cintura e começa a
andar entre as pessoas.
O local da festa é uma badalada casa noturna pertencente a Famiglia. O
cenário é extremamente tropical, com cores vivas que simbolizam o verão
que acabou de começar.
Identifico vários artistas pelo caminho, alguns deles sou fã, mas como
Eros passa direto por todos, não tenho tempo de admirá-los.
Subimos para uma área mais reservada, onde logo noto membros do clã
nova-iorquino. Eros acena para algumas pessoas que me olham com
curiosidade.
Já estou na cidade há dois meses, mas não interagi muito com as
pessoas da Famiglia, meus dias passaram a ser dedicados aos meus encontros
com Thomas e atividades com as minhas primas.
Avisto Nero ao lado de uma mulher loira, ela está grudada em seu
braço enquanto ele conversa com Lorenzo. Todas as vezes que o encontro em
festas está com uma acompanhante diferente, meu primo parece se recusar a
repetir suas mulheres.
Agora sendo o Capo, ele terá que tomar um rumo, apesar de ainda ser
jovem, os membros mais antigos irão cobrar esposa e filhos. Se bem conheço
a pressão, ele não poderá ficar solteiro por muito tempo.
Claro que o casamento não o impedirá de ter quantas mulheres quiser,
mas ao menos em festas oficiais, ele terá que trazer a própria esposa.
— Até que enfim chegaram — Nero diz quando nos avista. — Pensei
que iria ter que enviar alguém atrás de vocês.
— A minha acompanhante demorou para se arrumar, como se ela
precisasse de muitos preparativos para ficar bonita. — Eros beija meu rosto.
— Comporte-se. — Meu primo o alerta. — Fiorella essa é Katheryn
York, uma amiga.
— Muito prazer. — Sorrio para ela.
— O prazer é meu. — Katheryn é mais amistosa do que as outras
garotas que já conheci. — Você é linda, poderia ser modelo se quisesse, o
meu agente ficaria feliz em te conhecer.
— Que ele arrume outra felicidade, minha prima não está aqui para ser
modelo. — Nero a corta abruptamente.
— Mas se ela mudar de ideia vai ter sucesso.
— Só que ela não vai mudar. — Ele a encara com uma expressão
irritada.
Olho para Eros preocupada com a maneira dura que meu primo falou
com Katheryn.
— Seu primo é bom em foder mulheres, não em lidar com elas — diz
rente ao meu ouvido.
— Ele é sempre sereno comigo e com as irmãs.
— Vocês são família, não dê muito crédito a esse seu lado atencioso,
Nero é um merda na maior parte do tempo.
— E você não? — Os olhos dele brilham com diversão enquanto sua
boca se retorce em um sorriso travesso.
Eros parece um menino levado, que sempre está pronto para fazer
alguma pegadinha.
— Eu sou um docinho, mas não nego que por onde passo deixo
corações destroçados. — Ele descarta sua taça de champanhe vazia em uma
mesa e faz o mesmo com a minha. — Até mesmo as putas que às vezes trepo
tem dificuldade de seguir com o trabalho depois de uma boa foda comigo. —
Ele pisca para mim. — Sei o que faço com uma mulher, baby, e o meu
equipamento como um todo é fora dos padrões. — Dá de ombros ao segurar a
minha mão, nos levando para a pista de dança.
— Como consegue ser tão convencido?
— Não sou convencido. — Suas mãos aprisionam a minha cintura. —
Sou honesto — afirma ao me puxar contra seu corpo. — Se tivesse me dado
uma chance, saberia do que sou capaz.
— Prefiro alguém que queira me encontrar mais vezes do que apenas
uma noite de loucura.
— Com você eu teria noites, tardes e manhãs de muitas loucuras. —
Inesperadamente a minha pele se arrepia com o seu hálito quente sussurrando
no meu ouvido. — Você não é qualquer mulher, tanto que aquele príncipe
bundão te pegou logo.
— Não o chame assim. — Eros revira os olhos.
— Estou sendo fofo com a maneira que falo dele em sua consideração,
porque no geral eu o chamo de pau no cu.
Não tenho tempo de falar nada, ele me gira e abraça meu corpo
enquanto se movimenta ao ritmo da música.
Como ele é implicante quando quer, se eu não o conhecesse bem,
acreditaria que realmente está interessado em mim.
Passamos um bom tempo dançado, Eros é um bom dançarino, ele se
move pela pista com extrema tranquilidade, atraindo olhares de homens e
mulheres.
Impossível não o admirar, são quase dois metros de puro músculo,
olhos azuis e pele naturalmente bronzeada. Acho que se o agente da
acompanhante do meu primo o conhecesse, certamente teria uma proposta
para ele.
Quando meus pés protestam puxo-o para mais uma bebida na área VIP.
Encontro Nero em um canto aos beijos com a modelo. Sorrio para Eros, que
parece não se importar com a cena.
— O que vai querer beber?
— Uma cerveja.
— Sério? — Ergue a sobrancelha ao se encostar no balcão do bar. —
Não quer um drinque mais chique?
— Não. — Ele sorri e faz o pedido também optando por uma cerveja.
Enquanto esperamos nossas bebidas conto a ele sobre minha chamada
de vídeo com Paolo. Nunca fui de conversar muito com homens, mas com
Eros parece ser natural um diálogo.
— Lindo casal. — Olho para trás e vejo Piero nos observando. — Vão
assumir o romance para a Famiglia?
— Talvez. — Eros rodeia o braço pela minha cintura.
— Sua mãe não vai gostar de saber que está com uma viúva. — O meu
corpo fica tenso com a fala do Piero.
— E Paolo não ficaria feliz em saber que está menosprezando a irmã
dele. — Imediatamente o sorriso sarcástico de Piero morre, meu primo
melhor do que ninguém sabe que Paolo passaria por cima dele sem maiores
dificuldades.
Ao contrário de Nero, Piero é um fraco, gosta de provocar, mas não
possui a coragem e força.
— Se vai ficar com ela, ao menos faça isso da maneira certa.
— Vá tomar conta da sua vida.
Toda a conversa entre eles perde meu interesse quando vejo surgir em
meio as pessoas a figura imponente do Thomas, ao lado do seu irmão,
cunhada e mais um rapaz.
O meu coração acelera, parece que não o vejo por uma eternidade. Ele
está extremamente elegante com uma camisa cinza que gruda em seus
músculos e calça preta.
Seus olhos fixam na mão do Eros que está possessivamente na minha
cintura. O seu rosto fica tenso, claramente não gostou do nosso contato mais
íntimo.
Tento me afastar, mas Eros finca ainda mais a mão na minha cintura.
Nos encaramos, ele tem as sobrancelhas unidas, parecendo tentar entender o
porquê estou me afastando.
— Como vai, Eros? — A voz do Thomas se sobressai ao barulho do
lugar.
— Olá, príncipe. — Eros me puxa para ainda mais perto de si. —
Quanto tempo. — Ele inclina a cabeça sorrindo. — Olha quem está aqui.
Mitchell Cassel chegou à cidade.
— Vim descansar um pouco. — Mitchell me olha com curiosidade, em
seguida encara meu primo que está ao nosso lado. — Como vai, Piero? —
Ele o cumprimenta.
— Muito bem. — Piero troca um aperto de mão com ele e Thomas,
depois cumprimenta Kimberly, assim como o homem que está perto dela, em
seguida ele se afasta.
Para a minha sorte tenho um problema a menos, a presença dele sempre
me incomoda. Agora preciso apenas saber o que exatamente está passando
pela cabeça do Thomas.
— Acho que está com a acompanhante errada, Eros. — Mitchell corre
os olhos entre nós.
— Estou na companhia perfeita. — Ele beija a minha bochecha, me
deixando tensa ao ver o Thomas ficar emburrado.
— Você está brincando com o perigo. — O alerta do Mitchell vem
junto de um sorriso.
— Prazer, alteza, eu sou o perigo. — Eros faz uma saudação com a
cabeça repleta de sarcasmo.
— Como são patéticos — Kimberly diz com desgosto e me abraça. —
Senti sua ausência esses dias, mas Mitch me disse que tinha problemas em
casa.
— Meu primo mais novo anda pegando no meu pé.
— Vamos resolver isso, eu tenho uma ideia. — Ela pisca para mim. —
Stuart, quero que conheça Fiorella, ela é irmã do Paolo.
— Como eu estava curioso para te conhecer. — Stuart beija a minha
mão. — Ouvi histórias suas vindas do meu amigo. — Confessa, me fazendo
enrubescer.
— Vou roubar sua parceira — Kim avisa Eros.
— Faça o que quiser, princesa. — Eros beija a mão dela. — Parabéns
pelo bebê, que venha com saúde.
— Ahh... muito obrigada.
— Solte a minha mulher. — Mitchell rosna por ainda ver Eros
segurando a mão dela.
Como esses homens são possessivos, parecem até criança.
Kimberly segura a minha mão e começa a me puxar para longe dos
meninos, mas quando passo por Thomas, ele intercepta os meus passos.
— Não quero mais te ver perto do Eros. — Nos encaramos tensos.
— Ele é só o meu amigo.
— Foda-se o que ele é, não me importo, só não quero mais ver as mãos
dele em você. — Sem me dar direito de resposta se afasta.
Olho para suas costas largas enquanto Kimberly me arrasta entre as
pessoas. Eu espero que não tenhamos nenhum conflito por causa do Eros,
realmente somos amigos, ele é como da família, apesar de lindo, eu não sinto
nada por ele. Meu coração bate acelerado apenas por Thomas e cada dia que
passa eu estou mais preocupada com a necessidade que sinto de sempre estar
ao lado dele.
Equilíbrio sempre foi algo que dominei sem maiores problemas, não
tenho dificuldades em esconder minhas emoções. O lado passional da minha
família pertence a Mitchell, esse tem o sangue quente demais. Porém, toda a
minha racionalidade evaporou quando vi Eros tocando Fiorella.
Quase esqueci de onde estávamos e parti para cima dele. Eros é um
galanteador barato. Já ficamos com parceiras em comum e sempre que ele me
encontrava com alguém que já havia ficado, falava suas gracinhas.
Não gosto dele, só o tolero porque Nero é um bom parceiro de negócios
e aliado do meu irmão.
— Lembre-se que ela é da máfia e estamos dentro do território deles —
meu irmão sussurra no meu ouvido.
— Não prometo nada. — Mitch me lança um olhar preocupado, mas
nossa conversa é interrompida pela aproximação do Nero.
— Finalmente consigo te encontrar. — Ele aperta a mão do meu irmão.
— Sentiu minha falta? — Como sempre Mitchell soa sarcástico.
— Na verdade, senti falta de ganhar de você na esgrima. — Agora ele
mexeu com o orgulho do meu irmão, ele odeia quando alguém o vence na
luta.
— Isso só aconteceu uma vez e eu estava me recuperando de uma gripe
forte.
— Esqueça suas desculpas, eu venci e ponto final. — Nero faz um
gesto de menosprezo com a mão. — Como vai, Thomas? — Trocamos um
aperto de mãos.
— Bem — a minha resposta curta o faz suspender a sobrancelha.
— De onde estou não parece nada bem.
— Talvez se ele beber algo se anime. — Eros ergue sua garrafa de
cerveja sorrindo.
Como eu quero jogar essa cerveja sobre ele e estragar seu peteado
estiloso.
Exibido do caralho.
— O que eu perdi? — Nero pergunta.
— Seu amigo estava com a mulher alheia. — Mitchell comunica.
— Relaxa, Thomas, ele não é uma ameaça. — Não digo nada, ainda
sinto o ímpeto de socá-lo. — Vamos nos sentar em um lugar discreto para
conversarmos.
Nero lidera o caminho e se acomoda em uma das poltronas. Seu fiel
escudeiro senta ao seu lado, enquanto eu e meu irmão nos acomodamos na
outra extremidade, juntamente com Stu.
— Está na cidade a trabalho, Mitch?
— Vim visitar meu amado irmão e trazer minha mulher para comprar
roupas para nosso bebê.
— Esqueci de dar os parabéns, uma criança é sempre uma bênção para
o casal.
— Que essa criança puxe a sua esposa, porque se ela tiver o azar de se
parecer com você, vai precisar de terapia. — Eros sorri da sua piada sem
graça.
— Digo o mesmo quando tiver seus filhos, nenhum deles merece ter
nenhum traço seu. — Tento não rir, mas falho.
Eros aperta os olhos, descontente com a minha descontração. Fico feliz,
consegui atingi-lo de algum jeito.
— Hoje é dia de festa, Eros, contenha suas ironias.
Nero pede bebidas e não demora muito temos quatro copos de uísque à
nossa frente e uma nova cerveja para o piadista da noite.
— Como andam as coisas por aqui? Algum problema? — Mitchell
pergunta.
— Sempre temos problemas, é uma cidade imensa, com muitas
organizações espalhadas.
— Mas conseguimos controlar tudo, somos a Cosa Nostra — Eros
emenda a fala do amigo.
— Os chineses andam causando grandes problemas — Nero continua a
falar — Eles estão tentando invadir um dos territórios que conquistamos
deles ainda na década de noventa. Song está passando dos limites, não queria
um embate com ele, mas pelo que estou vendo, eu vou ter que derramar um
pouco de sangue para que entenda o seu lugar.
A sua fala me faz lembrar da conversa que tive com Kwon, o Testa de
Ferro dos chineses. As palavras dele ainda estão na minha mente, não gostei
da ameaça velada que me fez.
— Encontrei Kwon há algumas semanas, de acordo com ele seu chefe
quer ser meu parceiro. — Os três homens me encaram interessados na minha
declaração.
— O que exatamente quer dizer sobre parceria? — Nero tem a
expressão tensa.
— Estava tomando uma bebida com Stuart e Kwon veio me propor
negócios, Song quer investir na minha empresa, assim como vocês investem,
ele afirmou que pode me tornar rapidamente líder de mercado. Estava para te
contar isso, mas acabei tendo tantos compromissos que esqueci.
— Você aceitou? — Eros pergunta.
— Não sou louco de me envolver com os chineses, prontamente
neguei, disse que tinha o dinheiro necessário que precisava para os meus
projetos. O que não gostei foi do que Kwon me disse após a negativa.
— E o que ele disse? — Nero está atento ao meu relato.
— Que seu chefe não receberia bem a minha recusa, já que eu trabalho
com o dinheiro dos italianos. — A tensão se espalha entre nós. — Tive um
novo contato de Kwon renovando a proposta.
— Por que só estou sabendo disso agora? — Mitchell questiona
irritado.
— Não achei necessário falar, eu mesmo coloquei Kwon no seu devido
lugar, no entanto, não nego que me senti incomodado com a segunda
proposta, por isso cheguei a falar com Nero que precisávamos conversar.
— Cuidado, Thomas, Song não é de confiança e certamente está
possesso por não aceitar o dinheiro dele. O chinês é orgulhoso e não gosta de
perder. Recentemente Hunter Parker, chefe da gangue do Bronx, me pediu
ajuda. Song tentou derrubá-lo, o desgraçado está atacando as menores
organizações, o objetivo dele é conquistar o maior número de territórios para
tentar controlar a cidade, até mesmo os russos estão nervosos com o seu
avanço. — Fico apreensivo com a revelação do Nero.
— Ele é um problema eminente estamos contendo os seus movimentos
o mais rápido que conseguimos, mas o desgraçado se move com agilidade. —
Agora Eros perdeu toda sua ironia, assumiu o seu lado mafioso.
— Não gosto disso. — Mitchell sorve um gole da sua bebida. —
Sempre os evitei, eles são instáveis e fechados demais, não se pode confiar
em nada do que falam, os códigos que seguem são arcaicos e privilegiam
apenas os seus.
— Exatamente. — Nero bate com força seu copo sobre a mesa. — Eles
são traiçoeiros, ninguém do submundo que tenha um pingo de juízo se
envolve com aqueles ratos.
— E falando no diabo... — Olhamos para onde Eros sinaliza e nos
deparamos com Song caminhando para a nossa mesa, acompanhado de dois
dos seus cães de guarda.
— Puta que pariu! — meu irmão sussurra.
— Senhores. — Ele abre um sorriso exibindo um dente de rubi.
Song não é muito alto, mas tem o corpo com músculos bem definidos.
Tatuagens escapam por seu pescoço e alguns piercings se espalham por suas
orelhas, um em especial se destaca em sua sobrancelha.
— Que surpresa, Song. — Mitchell cruza as pernas e estende o braço
por sobre o encosto da poltrona em uma posição relaxada. Sua intenção é
demonstrar ao inimigo que não se importa com a sua presença — Não me
lembro bem quando nos vimos pela última vez.
— Faz tempo alteza, você não vem muito à cidade, mas quando está
por aqui, as notícias se espalham. — Ele me encara. — Thomas, estava
ansioso para te encontrar.
— E por qual motivo? — pergunto friamente.
— Se me der a honra de um encontro, podemos conversar.
— Sobre? — Ergo uma sobrancelha.
— Você sabe bem, acho que em uma conversa pessoal, podemos nos
entender.
— Até onde me lembro, eu já mandei duas vezes resposta para sua
proposta.
— Não foi a que eu queria. — Vejo a raiva se espalhar em seus olhos.
— É a única que tenho, lamento.
— Song. — A voz arredia de Nero interrompe o nosso diálogo. — Não
esqueça que estamos dentro de um território da Famiglia, não cause
problemas.
— Sou um convidado — diz sem se intimidar. — Recebi de Andrea um
convite, posso transitar e conversar com quem eu quiser. — Pela expressão
do Nero, sua afronta não foi bem recebida.
— Então, vá conversar longe daqui. — Os dois se encaram, a tensão é
palpável.
Os capangas de Song entram em estado de alerta, enquanto Eros
espalma as duas mãos sobre a mesa. Ao fundo vejo os soldados de Nero se
aproximarem, assim como os oficiais do serviço secreto que estão na nossa
segurança. Fico rígido, não sou uma pessoa de confronto, sei bem o quanto a
violência pode ser devastadora, mas no momento estou em meio a homens
que vivem mergulhados no mundo do crime.
Enquanto a guerra de olhares se instala, minha atenção recai sobre
Fiorella e Kimberly que param na nossa mesa, alheias a tensão que está
acontecendo.
Apesar do momento não ser apropriado meus olhos mapeiam cada
parte do corpo da Fiorella, até que me concentro no seu decote. Caralho! Ela
está gostosa demais, preciso levá-la para casa hoje, não aguento mais ficar
tanto tempo longe dela.
— Boa noite, senhoras. — Song abaixa a cabeça respeitosamente para
elas. — É um prazer ter a presença de vocês.
— Boa noite — Kimberly responde tranquila sem perceber que está
bem à frente de um inimigo.
Já Fiorella apenas o observa, ela é cria da máfia, tem uma percepção
maior do perigo.
— Não quero atrapalhar — Song diz exibindo um falso sorriso. —
Aproveitem a noite. — Ele acena e se afasta seguido dos seus seguranças.
— Que homem estranho — Kimberly comenta quando ele some entre
as pessoas.
— Estranho é pouco — Stuart diz ao me encarar nervoso.
— Não gostei desse encontro. — Mitchell tem a visão focada por onde
Song sumiu. — Ele quer problemas.
— E vai encontrar — Nero afirma ameaçadoramente.
Toda a situação me incomoda, mas o que mais me deixa desconfortável
é quando vejo Eros chamar Fiorella para sentar-se ao seu lado. Todos os
meus músculos ficam tensos, odeio vê-lo tão perto dela.
Nero percebe o meu desconforto, mas pede que eu fique calmo,
prometendo que no final da noite, ela irá embora comigo.

Abro os botões da camisa enquanto caminho para o meu quarto,


Kimberly fala algo com Fiorella e as duas sorriem, ao meu lado Mitchell
digita rapidamente uma mensagem no celular. Ele ainda está em estado de
alerta por conta de Song, depois da aparição do chinês, meu irmão e Nero não
relaxaram mais.
— Amanhã vamos combinar de sairmos para fazer umas compras, será
que seu primo autoriza? — Kimberly pergunta quando para na frente do seu
quarto.
— Vou conversar com ele logo cedo.
— Certo. — As duas trocam um rápido abraço. — Eu espero que não
tenha problemas, estou sentindo falta de uma presença feminina nas compras,
meu marido não é exatamente um homem paciente. — Mitchell bufa.
— Vamos dormir, você precisa descansar. — Ele segura a mão da
esposa e entra no quarto ao nos dar boa-noite.
Olho para Fiorella quando ficamos sozinhos no corredor. Ela me encara
tensa, vejo no seu olhar insegurança e me sinto mal por ser o causador desse
sentimento. Desde que saímos da casa noturna não me aproximei dela,
certamente está achando que estou chateado por ter passado a noite ao lado
de outro homem.
Realmente estou chateado, porra! Mas não a toquei porque se fizesse
isso perderia o controle.
Ainda sem falar nada eu caminho para meu quarto, abro a porta e a
espero passar. Antes de entrar ela me lança mais um olhar preocupado, como
não digo nada, passa por mim com a postura tensa.
Inspiro fundo e sigo logo atrás, preciso ter calma para não avançar
sobre ela. Não quero assustá-la, mas estou realmente louco para pegá-la do
jeito que eu tanto desejo.
— Thomas, eu sei que está chateado, mas não existe nada entre Eros
e...
Não permito que ela termine sua declaração, puxo-a pelo braço e
encosto seu corpo contra a porta. A minha boca avança sobre a dela com
fúria, infiltro a mão por baixo do seu vestido e aperto sua bunda.
Ela geme rente aos meus lábios e cruza os braços ao redor do meu
pescoço. Espalmo minhas duas mãos contra sua bunda erguendo seu corpo
forçando-a rodear a minha cintura.
Fiquei tempo demais sem poder tocá-la, não imaginei que me sentiria
tão necessitado em estar junto dela. Espalho beijos por seu pescoço, seguindo
ansioso para seu decote. Sugo com força a pele exposta, em seguida corro a
ponta da língua no vale dos seios.
Seus dedos se infiltram no meu cabelo, os seus gemidos se espalham
pelo quarto elevando ainda mais a minha excitação.
— Hoje não estou no meu modo delicado, mas também não quero te
assustar — digo quando a fito.
— Eu confio em você. — Não existe nenhuma hesitação na sua
declaração.
Neste momento eu me perco, impossível segurar a onda de desejo que
me consome. Vou para a cama e me sento, Fiorella me encara sorrindo, ela
me abraça e sela nossos lábios.
Subo minhas mãos por suas costas em busca do zíper, lentamente abro
seu vestido, livrando-a rapidamente da peça. Seus seios disparam nus,
redondos e com bicos eriçados.
Capturo um deles na boca, sugando-o com volúpia. Ouço-a soltar um
gemido dolorido, ela apoia uma mão na minha cabeça e empina o corpo me
oferecendo sem pudor a mama.
Eu me perco em cada um deles, são perfeitos demais, assim como todo
o restante dela.
— Quero que me monte — digo ao apertar sua bunda. — Levanta! —
ordeno.
Imediatamente ela me obedece e cambaleia para trás. Com pressa eu
me livro das minhas roupas e subo na cama, me posicionando bem no centro.
Fiorella fica parada me observando, seus olhos deslizam por meu corpo
lentamente, até que sua atenção foca na minha ereção. Para provocá-la eu
seguro o meu pau e o manipulo sem tirar minha atenção dela.
Acompanho a sua língua deslizar por todo o lábio inferior, o seu rosto
está completamente tomado pelo tesão.
— Vem pegar — provoco ao rodear meu membro pela base e balançá-
lo.
Um sorriso sacana explode em seus lábios carnudos, eu gosto dessa sua
face safada, quero que ela exiba mais esse seu lado para mim. Tirando a
calcinha sobe na cama e monta sobre meu corpo, encaixando meu pau entre
suas dobras molhadas.
Estico a mão e abro a gaveta da mesa de cabeceira, retiro um pacote de
camisinha colocando-o na sua mão. Ela encara o envelope parecendo um
pouco insegura.
— Nunca coloquei um preservativo em um homem. — Apoio minhas
mãos nas suas coxas.
— Vai aprender a colocar hoje. — Abro a embalagem e começo a
explicar como deve proceder.
Ela se mostra uma boa aluna e não enfrenta nenhuma dificuldade em
seguir minhas ordens. Quando o meu pau está completamente protegido, eu a
puxo para meu colo.
— Faça o que quiser, hoje você está no comando.
— Só hoje? — pergunta ao se esfregar na minha ereção.
— Posso ter em outros dias, mas não se acostume com isso, eu gosto de
comandar tudo. — Afundo meus dedos no seu traseiro. — Comece.
Apoiando uma mão no meu membro ela o guia para seu interior. O seu
calor me envolve, me fazendo gemer quando deslizo fundo sem maiores
dificuldades. Fiorella está extremamente lubrificada, o que me deixa louco
por saber o quanto ela me deseja.
Rodeio minhas mãos na sua cintura e a apoio para que tenha mais
equilíbrio ao começar a se movimentar sobre mim. Ela joga o cabelo para o
lado e segura meus ombros, sua boca vem até a minha, mas ao invés de me
beijar, ela apenas morde meu lábio, enquanto seus olhos mergulham nos
meus.
Um tremor se espalha por meu corpo, sinto como se eu estivesse sendo
consumido pelo fogo. Abraço-a com força puxando-a contra meu peito.
Tomo a sua boca com avidez, inserindo a minha língua entre seus lábios.
Ergo um pouco seu corpo e começo a me mover para poder ir ainda mais
fundo.
Gememos juntos, ela segue meus movimentos e me recebe
completamente. Observo fascinado ela jogar a cabeça para trás e morder o
próprio lábio quando começamos a foder descontroladamente.
Se não fosse um risco para nossa vida pessoal, eu queria gravar este
momento, eternizar a perfeição que é essa mulher linda cheia de tesão.
Ela é a primeira a alcançar o êxtase, o seu corpo convulsiona sobre o
meu descontroladamente. Acompanho atento cada um dos seus movimentos,
até que mudo nossas posições e fico sobre ela. Seguro suas coxas e a fodo
intensamente, deixando todo o tesão que sinto fluir sem filtro.
Os meus músculos travam quando sou tomado pelo orgasmo. O nome
dela escapa dos meus lábios, quero que saiba que estou me sufocando de
prazer por sua causa.
Parecendo entender a minha intenção, ela estica a mão apoiando-a
contra o centro meu peito e sorri. É o sorrio mais lindo que já vi na vida, tudo
nela me encanta, Fiorella é o exemplo da perfeição.
Foda-se minha agenda, eu vou cancelar todos os meus compromissos e
vou dar um jeito de carregá-la em segurança para minha casa em Hamptons.
Quero um tempo longe de tudo, em um lugar onde teremos segurança e
liberdade para aproveitarmos cada minuto juntos.
— Não se preocupe muito com Piero, ele é sempre desagradável, mas
não pode enfrentar Nero, apenas relaxa — Giada diz tranquila, enquanto
digita uma mensagem.
Estou extremamente incomodada pelas piadas dele e por sempre vir a
casa dos seus pais com mais frequência. Thomas me ligou na noite passada e
avisou que está arquitetando um plano para que fiquemos longe da cidade
Tentei descobrir o que estava aprontando, mas ele foi inflexível e não
me revelou absolutamente nada do que está querendo fazer.
— O problema é que não posso arriscar, tenho medo dos meus
encontros com Thomas vazar e Paolo descobrir.
— Confie no meu irmão, ele vai te proteger.
Sei que Nero está fazendo o possível para que eu fique com Thomas
sem que ninguém saiba, no entanto, temo por algo dar errado e eu ter que me
afastar dele abruptamente.
— Confio nele, mas se o pior acontecer eu estou perdida. — O celular
dela toca assim que termino de falar.
Giada sorri largamente ao ouvir a pessoa do outro lado da ligação, pela
sua animação algo de bom vai acontecer.
— Certo, vou avisá-la e começaremos a preparação — diz empolgada.
— Relaxa, tudo estará perfeito. — Ela encerra a ligação e me olha feliz. —
Teremos um jantar especial, vamos nos arrumar — avisa ao se levantar da
minha cama.
— Jantar? — questiono curiosa. — Será aqui?
— Sim. — Ela aperta os olhos toda animada. — É surpresa, apenas
fique muito linda. — Antes que eu possa fazer qualquer pergunta, ela sai do
meu quarto toda saltitante.
Não acredito que vou ficar na curiosidade sobre quem vai jantar com a
gente. Espero ao menos que não seja um dos membros chatos do clã, me
enchendo de perguntas.

Preparo um drinque para minhas primas, elas estão conversando no


sofá empolgadas. Até o momento não faço ideia de quem estará no jantar,
Giada fez questão de ficar em silêncio.
Como Piero estará presente, presumo que será alguém importante do
clã. Nero não faria tantas exigências se não fosse uma pessoa especial.
Sirvo as bebidas das meninas. Serena se anima, oficialmente ela ainda
não pode beber, pois ainda fará dezoito anos em alguns meses, mas dentro de
casa Nero a liberou para se aventurar em bebida alcoólica, desde que seja
com moderação.
— Está bom? — pergunto ao me sentar em uma poltrona.
— Delicioso. — Giada lambe os lábios. — Eu poderia beber isso a
noite toda.
— Controle-se, Nero não iria gostar de te ver bêbada. — Serena
recrimina a irmã.
Começamos a conversar e programamos de fazer um dia de meninas no
SPA. Agora que Serena terminou seu ensino médio, está livre para aproveitar
a vida.
Nero chega ao lado de Lorenzo, ele nos cumprimenta antes de seguir
com seu parceiro para o escritório. Eu não sei como aguentam trabalhar o
tempo todo, é um pouco sufocante vê-los tão focados em suas tarefas.
— Esse visual novo do Lorenzo ficou interessante — Serena comenta.
— Ele sempre usou cavanhaque, vê-lo com uma barba mais densa é
diferente.
— Está de olho nele? — A irmã a provoca. — Lorenzo é um dos
homens mais perigosos da máfia, fique longe.
— Não posso apenas elogiá-lo? Não vejo mal nisso.
— Mantendo-se apenas no elogio está tudo bem, o problema é quando
você ultrapassa essa barreira.
— Tenho a merda de um jantar de família para participar, não vai rolar
chegar aí tão cedo. — A entrada do Piero na sala interrompe o papo das
meninas. — Bem, se não está contente com isso o problema é seu, agora
preciso desligar. — Ele mal ouve o que a pessoa do outro lado fala e encerra
a ligação. — Que horas o jantar será servido? Nero já chegou?
— Boa noite para você também, Piero — Giada diz sarcástica.
— Sem gracinhas, responde logo a minha pergunta.
— Você não manda em mim. — Ela o enfrenta.
— Pare de me provocar, se pensa que sou Nero que não tem pulso com
você está enganado.
— Piero, será que pode parar um pouco de ser implicante? — Serena
pede.
— Cala a boca, não falei com você.
Eu não sei o que anda dando nele para sempre estar agressivo. Quando
cheguei aqui, Piero conversou comigo com tranquilidade, até fiquei surpresa
com o seu comportamento, mas nos últimos tempos ele está insuportável.
Fico em silêncio, ando evitando qualquer embate com ele, quanto
menos Piero prestar atenção em mim, melhor. Fico aliviada quando a
governanta se posiciona próxima ao elevador, significa que nossos
convidados secretos chegaram.
Sinto o ar fugir dos meus pulmões quando a figura altiva do Thomas
aparece acompanhado do irmão e cunhada. Não acredito que eles são os
convidados da noite.
— Por essa eu não esperava — Piero diz sorrindo. — A realeza dentre
os meros mortais.
— Sejam bem-vindos — Giada os saúda sorridente. — É uma honra
recebê-los na nossa casa.
— Ficamos felizes com o convite. — Thomas encara a minha prima,
ignorando completamente a minha presença.
— Venham se sentar, eu vou chamar Nero.
— Não será preciso, eu já estou aqui. — Meu primo aparece na sala
acompanhado de Lorenzo. — Estou lisonjeado por aceitarem meu convite.
— Se não aceitássemos acho que minha esposa ficaria bem chateada —
Mitchell comenta ao apertar a mão do Nero. — Kimberly estava ansiosa para
conversar com Fiorella.
— Estou cansada de só conviver com homens, preciso de uma presença
feminina. — Ela cumprimenta todos os outros rapazes e vem até onde estou.
— Gostou da surpresinha? — Trocamos um abraço.
— Nunca iria imaginar que vocês eram os convidados para o jantar.
— Faz parte do plano para vocês terem um tempo livre — sussurra no
meu ouvido.
Kimberly vai falar com minhas primas parecendo ser amiga delas há
muito tempo. Serena se encanta por ela, acho que deve ser difícil alguém não
se sentir admirada por sua figura carismática.
Enquanto preparo novos drinques, Lorenzo vai embora e os meninos se
reúnem em um canto da sala. Tento ignorar a presença do Thomas, mas
inevitavelmente meus olhos sempre são atraídos para onde está. Ele por sua
vez parece concentrado na conversa, não olha para os lados.
O jantar é anunciado e todos seguimos para a mesa. Apenas neste
instante o olhar do Thomas cai sobre mim, ele me fita de maneira fria, fico
incomodada, mas quando percebo a aproximação do Piero, entendo toda a
sua indiferença.
Apesar da presença do meu primo não consigo conter a minha agitação,
estar tão perto dele sem poder me comportar com naturalidade é muito
estranho.
A refeição avança em meio a uma conversa tranquila. Kimberly elogia
efusivamente o macarrão que é servido. Como uma boa família italiana,
sempre temos massa à mesa e esta, em especial, realmente está divina.
— Quando voltarão para Vichi? — Nero pergunta.
— Só quando for para a abertura oficial do verão, meu pai oferece um
baile e toda a família precisa estar presente. Enquanto não chega o dia vamos
passar uma semana em Hamptons, queremos descansar um pouco — Mitchell
responde com tranquilidade.
— Nós também temos uma casa na região, adoro quando podemos
passar uns dias lá — Giada comenta.
— Por que vocês não ficam com a gente? Mitchell tem que trabalhar e
eu vou ficar sozinha, seria tão bom ter alguém para me fazer companhia. —
A voz da Kimberly sai suave e despretensiosa. — Já foi lá, Fiorella?
— Não tive esse prazer, mas pelo pouco que já vi na televisão é um
lugar lindo.
— Pode apostar que é, principalmente o lugar onde fica a casa dos
meus sogros, não vejo a hora de poder ficar naquele paraíso.
— Se a nossa casa já é chamativa, não consigo imaginar como deve ser
a da família real — a fala da Serena faz os príncipes sorrirem.
— A minha mãe gosta de um pouco de ostentação, realmente é uma
casa extraordinária. — Sinto meu corpo esquentar com o tom profundo da
voz Thomas.
— A família Obama tem uma casa próxima a deles, então dá para
imaginar o tipo de vizinhança ilustre que possuem. — Minha prima arregala
os olhos com a informação do Nero.
— Uau!
— Fiorella, se quiser fazer companhia a Kimberly fique à vontade,
desde que eu possa acompanhar sua segurança não vejo problemas. — Meu
primo comunica. — Mitchell é muito amigo do Paolo, posso conversar com
seu irmão para não ter dúvidas que possa viajar com o casal.
— Se eu puder ir vou ficar contente. — Troco um sorriso cúmplice
com a Kim.
— E as outras meninas, irão também? — ela pergunta às minhas
primas.
— Infelizmente não posso, ainda estou resolvendo alguns problemas na
minha escola. — Fico aliviada com a recusa da Serena.
— Quando pretendem viajar? — Giada questiona.
— Amanhã — Mitchell responde. — Se minha esposa passar mais um
dia aqui, ela compra o restante das roupas de bebê de toda Nova Iorque. —
Todos sorrimos da careta que ela faz, até mesmo Piero não se segura.
— Ah, que pena, eu tenho alguns eventos a comparecer, mas vou tentar
encontrar vocês depois, isso se Nero deixar.
— Veremos isso. — Meu primo a corta. — Fiorella irá, Kimberly, vou
conversar com o irmão dela, mas duvido que Paolo se importe.
— Ai dele não deixar, avise a Paolo que não se deve aborrecer uma
mulher grávida, ele sabe bem disso.
— Existem certos riscos que nem mesmo um mafioso tem a intenção
de correr — Thomas diz com descontração.
— Dessa vez tenho que concordar com você. — Piero o encara com
uma expressão divertida, me deixando surpresa.
Giada pergunta se Thomas irá também, mas ele desconversa e reponde
que tem muito trabalho na empresa. Agora estou entendendo o plano do meu
primo, ele está construindo uma boa narrativa, para despistar Piero.
Quem irá desconfiar de um casal real? Na verdade, acompanhá-los
parece algo inofensivo e nem mesmo Piero pode falar o contrário.
Finalmente terei meu momento de liberdade com Thomas, já me sinto
ansiosa por esta viagem.
Apesar de todos os alertas sobre a imponência da casa da família real,
eu não estava preparada para o que encontrei. O lugar é imenso, parece saído
das telas do cinema. Quando se junta à paisagem paradisíaca, a sensação que
temos é que estamos entrando em um pedaço do paraíso.
— Que lugar lindo — digo encantada com a luminosidade do sol que
entra pelas charmosas portas francesas. — A sua mãe realmente gosta de
luxo. — Mitchell sorri e retira os óculos.
— A mamãe não economiza em nada, principalmente quando o assunto
é o conforto da família.
— Já eu prefiro coisas mais simples. — Kimberly passa por mim e abre
as portas, permitindo que o cheiro do mar se espalhe pelo ambiente. — Nem
tudo na vida se resume a ostentação, é na simplicidade que construímos as
melhores memórias.
— Você está filosófica hoje? — Mitchell pergunta ao abraçar a esposa.
— Para de bombagem. — Ela bate no seu peito. — Só estou
esclarecendo à Fiorella que luxo não é sinônimo de felicidade.
— Eu sei bem disso — digo pensativa. — A minha origem deixa bem
claro esta verdade.
— Vem comigo, vou pedir para te levarem até seu quarto. — Kim
segura a minha mão. — Coloque um biquíni e depois me espere na sala,
vamos para a praia, a noite Thomas estará por aqui e você vai poder
aproveitar a companhia dele sem a preocupação de ninguém por perto.
— Quem foi o idealizador de toda essa história? — pergunto ao se
segui-la.
— O seu amado. — Kimberly me lança um olhar aguçado. — Ele
queria um tempo a sós com você, infelizmente para isso terá a minha
presença e do meu marido.
Fico com o coração acelerado, Thomas está me desestruturando e isso
não é nada bom.

Seguro a ponta do meu cabelo e vou desembaraçando os fios. O


barulho das ondas quebrando na areia me faz companhia. Thomas ainda não
chegou, ele precisou resolver alguns problemas na empresa e perdeu mais
tempo do que o esperado.
Estou ansiosa para que chegue, passei o dia na expectativa de que se
juntasse a mim. Poder ficar com ele em um novo ambiente é algo que me
anima, aqui eu não preciso temer que alguém descubra que estamos juntos.
— Como eu esperei por esse momento. — A escova cai da minha mão
quando ouço sua voz.
— Que susto — digo ao apoiar as mãos contra o peito.
— Desculpa, não foi minha intenção te assustar. — Ele se aproxima de
mim. — Precisei levar mais tempo na empresa para não ter risco de voltar lá
antes do tempo.
— Você foi muito esperto ao bolar todo esse plano. — Meus olhos
deslizam por seu corpo, ele está com uma calça jeans, blusa azul e tênis.
Esta é a primeira vez que o vejo tão informal, ele sempre está de terno
ou com um visual esporte fino. Vê-lo tão despojado, é algo que me agrada
demais.
— Fiz a coisa certa? — pergunta ao parar na minha frente.
— Mais do que certo. — Rodeio meus braços ao redor do seu pescoço
alargando meu sorriso. — Não acredito que poderemos ficar juntos sem eu
ter a preocupação de voltar para casa.
— Odeio toda essa restrição sobre você. — Uma de suas mãos apoia-se
na minha cintura, já a outra delicadamente coloca uma mecha do meu cabelo
atrás da orelha. — Eu queria poder sair contigo para qualquer lugar.
— O que importa é estarmos juntos. — Esta é a grande verdade, apenas
nós dois é o suficiente.
Fico em êxtase quando sua boca toma a minha, não existe nada mais
prazeroso do que cada um dos nossos encontros. Estar com Thomas é sempre
um momento único.
Ele me abraça e move nossos corpos para dentro do quarto. O seu
cheiro sensual me envolve, me fazendo aquecer de desejo. A boca dele
escorrega pelo meu pescoço, mordiscando a minha pele causando um
estremecimento por todo o meu corpo.
Jogo o pescoço para trás dando completo acesso a ele, Thomas
resmunga algo, em seguida infiltra a mão por baixo do meu vestido. Solto um
longo gemido quando seus dedos cravam na carne da minha bunda. O seu
toque não me assusta, agora eu confio nele, sei que a última coisa que faria
seria me ferir.
Nunca imaginei que poderia me sentir tão liberta com um homem, ele
está transformando não só a minha vida, mas quem eu sou como mulher.
— Essa merda de vestido tem zíper? — pergunta exibindo as
sobrancelhas franzidas.
Toco o seu rosto sorrindo, quando impaciente fica tão lindo. Não me
canso de olhá-lo, a cada vez que estamos juntos eu acho sempre algo novo
para admirar, hoje por exemplo, as pequenas sardas que possuem ao longo do
nariz chamam a minha atenção.
— Não existe um zíper — a minha resposta o agrada, pois o seu rosto
fica iluminado por um sorriso.
— Perfeito. — Em um movimento hábil a peça some do meu corpo.
Os olhos dele caem para meus seios nus, os bicos estão eriçados,
implorando para sentirem o calor da sua boca. Contrariando meu desejo,
Thomas gira meu corpo abruptamente.
— Porra! — seu xingamento é feito com a voz rouca. — Que calcinha
linda — diz ao apertar minha bunda. — Assim você me faz esquecer que
preciso ser suave quando estamos juntos.
— Só preciso que continue sendo você.
— Posso realizar esse seu desejo de olhos fechados.
Sem prévio aviso meu corpo é içado até que tenho minhas costas contra
o colchão. Thomas avança sobre meu seio, me fazendo gritar quando o suga
com extrema vontade.
É incrível ver o quanto também me quer, sinto mais segurança sabendo
que ele me deseja na mesma proporção que eu o desejo.
Enquanto ele se perde no meu seio a sua mão afasta a minha calcinha.
O primeiro toque dele no meu clitóris faz todo o meu corpo estremecer. Enfio
os dedos no seu cabelo, gemendo com todas as sensações extraordinárias que
me consomem.
Sorrio como uma boba por estar vivendo um momento só meu, com
alguém que eu quero. Para as outras pessoas pode ser algo sem valor, mas
para mim, que fui criada para ser a esposa ideal de um homem escolhido para
ser meu marido, poder experimentar a liberdade com uma pessoa que
realmente gosto, é algo que não consigo colocar em palavras.
— Caralho, Ella, você é um vício, eu não consigo me controlar quando
estamos juntos. — Olho para ele ainda assimilando a forma carinhosa como
me chamou.
Esse é um apelido que geralmente apenas minha família me chama,
mas ouvi-lo na sua voz me causa uma emoção diferente.
— Do que me chamou? — pergunto só para ter certeza de que não
estou ouvindo errado.
— Ella — diz ao beijar o osso da minha clavícula. — Ouvi suas primas
te chamando assim, achei fofo. — Sorrio, para mim quem é fofo é ele.
— Gosto de ouvi-lo me chamando pelo apelido.
— Bom saber disso. — Ele ergue-se sobre mim e fita meus olhos. —
Quero você agora, não posso mais esperar.
— E por que esperar? — Thomas sorri, mas seu sorriso é pura malícia,
é o sorriso de um verdadeiro predador.
Em outro tempo eu teria medo, mas agora só quero me entregar
completamente a ele.
Com urgência o ajudo a se livrar da blusa, o jeans é o próximo item a
sumir do seu corpo. No momento em que ficamos nus, ele cobre o seu
membro com a camisinha e me penetra com um movimento contínuo que nos
faz gemer em uníssono.
Espalmo as mãos na sua bunda, pedindo que ele vá mais fundo. Não
vou reprimir meus desejos, minha terapeuta me aconselhou a seguir meus
instintos, descobrir ao lado dele o que realmente me faz feliz, sem medo de
possíveis julgamentos.
Quando ela me deu esse conselho eu fiquei reticente, é algo que está
longe da criação que tive, porém nada do que vivo com Thomas se compara a
minha realidade, então, eu posso me arriscar, apenas deixar fluir os
sentimentos que sinto quando estamos juntos.
Seguro a sua cabeça e o beijo, sugando sua língua com avidez no
mesmo momento que rodeio minhas pernas por sua cintura, levando-o ainda
mais fundo.
Sem precisar de palavras ele entende o que quero e começa a me
penetrar intensamente. Os meus gemidos se espalham pelo quarto sem
nenhum controle. Estou completamente perdida, apenas ansiando pelo
momento em que vou me desintegrar debaixo do seu corpo forte e suado.
Não demora e o orgasmo me sufoca, afundo minhas unhas na sua pele,
enquanto grito seu nome em um desespero delicioso. Eu não sei ao certo
como ele consegue, mas a cada um dos nossos momentos íntimos, sinto um
novo tipo de prazer.
Thomas apoia a mão ao lado da minha cabeça e encara meus olhos no
exato momento que goza. Fico sem conseguir me mover, pois o seu olhar me
prende de uma maneira profunda. É difícil decifrar todos os sentimentos que
vejo neles, mas me sinto confortável por saber que ele está tão abalado
quando eu.
— Você é simplesmente incrível — afirma segundos antes de me beijar
e fazer meu coração disparar.
Apoio minha cabeça no ombro do Thomas e levo a taça de vinho aos
lábios. Depois do nosso momento no quarto, descemos até a cozinha para ele
comer algo. Como ficou atarefado o dia todo para adiantar o seu trabalho, não
conseguiu sequer almoçar, apenas comeu um lanche no final da tarde.
Apesar de não ser uma expert na cozinha, eu o ajudei a esquentar os
itens que sobraram do jantar. É um pouco estranho ver um príncipe tão
desprovido de luxos. Tanto ele quanto Mitchell são pessoas tranquilas, não
vejo neles o tipo de soberba de alguns homens da máfia. Ambos realizam
tarefas comuns, como pegar um copo de água. Dentro do meu meio já vi
pessoas sequer colocarem suas próprias comidas no prato.
— Quanto tempo poderemos ficar aqui? — pergunto ao esfregar meu
nariz no seu pescoço.
— Temos uma semana — responde ao beijar minha testa. — Depois
tenho que ir a Vichi, inaugurar a temporada de verão.
Sinto uma inesperada tristeza me invadir, ele ficará um tempo longe de
mim.
— Você vai demorar por lá? — Tento não transparecer o quanto estou
chateada com a sua ausência.
— Apenas três dias. — Ele ergue meu rosto. — Só não te levo porque
lá ficaria muito exposta. — Fico feliz por ele notar que não quero ficar longe
dele. — Seu irmão e cunhado foram convidados, ambos poderão estar lá, não
podemos nos meter em problemas.
— Está tudo bem. — Ele tem razão.
— Sei que não está, mas não posso arriscar — afirma ao me puxar para
mais perto.
— Tenho plena consciência das minhas limitações, não se preocupe
comigo. — Jogo meu braço na sua cintura.
— Se existe algo neste mundo que me causa muita preocupação é você.
Fecho os olhos quando beija meu cabelo, após alguns segundos reabro
os olhos e observo as ondas do mar que quebram na areia da praia, bem perto
de onde estamos acomodados.
É bom saber que ele se importa comigo, quando vejo sua preocupação,
eu me sinto importante. É um sentimento novo, que não posso negar que me
deixa exultante.
Fico quieta e apenas aproveitando o silêncio que nos rodeia, apreciando
a paz que apenas sinto quando estou ao seu lado.

— Bom dia! — Mitchell nos cumprimenta enquanto se acomoda à


mesa.
Ele lança um olhar aguçado ao irmão, enquanto nós dois respondemos
sua saudação. Não demora muito e Kimberly aparece, como sempre ela está
animada e cheia de planos para nosso dia.
— Querida, não acho que os pombinhos terão tanta disposição para os
seus planos — o marido comenta ao cortar um pedaço de queijo. — Pelos
gemidos e gritos da noite anterior, eles estão cansados.
— Mitchell! — Kim bate no seu braço. — Como consegue ser tão
indelicado? — Ela o olha com horror, ao mesmo tempo em que eu fico
ruborizada.
Tento me lembrar se passei dos limites, mas tudo foi tão intenso, que eu
não posso me sentir segura de não ter sido tão escandalosa.
— Não falei nada demais — ele responde com tranquilidade.
— Que bom que não foi só eu e Ella que nos excedemos, nós dois
estamos juntos nesta situação. — O comentário do Thomas é tranquilo e mais
uma vez não perco que me chamou pelo apelido.
Vejo o rosto da Kim ficar vermelho, o que me faz prender os lábios
para não sorrir. Pelo jeito ela e o marido também tiveram seu momento
tórrido, acho que estamos empatados.
— O que posso fazer se minha pedra preciosa é escandalosa? —
Mitchell dá de ombros, parecendo não se importar com a provocação do
irmão.
— Vocês precisam conter essas indiscrições — Kim diz
desconfortável.
— Acho que não é possível — comento sorrindo. — O importante é
que estamos no mesmo clima. — Mitchell me lança um sorriso.
— Você realmente é a irmã do Paolo. — Ele limpa a boca com o
guardanapo. — Infelizmente pela manhã terei duas conferências on-line, você
terá que distrair as meninas, querido irmão.
— Não vejo nenhum problema — ele responde tranquilo.
— Então perfeito, espero que se divirtam.
— Tente não ficar apenas focado no trabalho, viemos passar um tempo
aqui para podermos relaxar. — Kimberly olha para o marido.
— Será só uma manhã, meu amor. — Com delicadeza ele sela os lábios
aos dela.
É cativante presenciar o amor deles, é bem claro o quanto se amam,
ambos têm sorte de viverem um amor tão profundo.

Eu me sento na areia e cruzo as pernas, enrolo o cabelo e coloco os


óculos escuros. Olho para Kim e ela está passando o protetor solar na barriga.
Acabo me lembrando da minha irmã e cunhada nessa fase de gestação.
Nunca me imaginei grávida, sempre tive pavor de uma gestação. Ao longo do
casamento tomei anticoncepcional escondido, graças a ajuda da minha irmã
Chiara.
Meu falecido marido não queria filhos no início da nossa união, porém
depois de um tempo ele começou a me cobrar um herdeiro. O desespero me
tomou, ser uma mulher infértil dentro da máfia é algo que pode te levar a
morte. Muitos maridos matam suas mulheres por elas não poderem perpetuar
sua linhagem.
A cada vez que transávamos eu ficava aflita, por saber que era difícil a
possibilidade de um filho. Apanhei diversas vezes por não conseguir
engravidar, ele me chamava de inútil. Além de não conseguir satisfazê-lo na
cama, eu não lhe dava um herdeiro.
Pensar em ter um filho com ele me causava repulsa, não queria meu
filho dentro de uma união infeliz.
Por sorte Paolo me libertou do meu terror e eu saí do meu casamento
abusivo livre de um filho, mas não posso negar que desejo ter uma família,
mesmo sabendo que nunca terei uma do jeito que sonhei.
— Hoje eu e Mitch teremos um jantar especial, aproveite para curtir
essa casa com Thomas, vocês merecem. — Kim me olha com um sorriso
malicioso.
— Cada momento com ele é especial — digo pensativa. — Eu
aproveito todos os segundos, temos pouco tempo. — Sinto a mão dela sobre a
minha.
— Se realmente se gostam, lutem sem medo para ficarem juntos.
— Não é apenas sobre o quanto nos gostamos, existem mais coisas
envolvidas entre nós. — Olho para o horizonte. — Vivo em um sistema
rígido, que só pode ser rompido pela morte ou fuga. — Sou sincera. — Não
quero envergonhar minha família fugindo, então em breve terei que enfrentar
meu futuro, mesmo que eu tenha toda uma vida infeliz.
— Já conversou com seu irmão? Não conheço a fundo seu mundo,
tento não me envolver com esse lado obscuro que meu marido tem acesso,
mas Paolo é um homem justo e solícito com as pessoas que se importa. Se
você conversar com ele pode encontrar um caminho para conseguir tentar um
relacionamento sólido com Thomas.
Sorrio, Kimberly não tem ideia de como funciona as leis da máfia,
vivemos em um mundo paralelo, distante da realidade da maioria das
pessoas.
— Na máfia seguimos a tradição — falo com calma. — Tanto os
homens quanto as mulheres possuem suas obrigações. Claro que nós
pegamos a pior parte, não temos vozes, somos obrigadas a seguir a vontade
do patriarca da família ou seu sucessor. Paolo é bom para todas as irmãs, mas
ele precisa cumprir a tradição. O que tenho com Thomas é proibido e ele não
irá aprovar jamais. Preciso viver tudo o que eu puder antes que me chamem
de volta a Roma, quando eu retornar para a minha vida, terei que seguir o
destino que escolherem para mim. Ou faço isso ou tenho duas outras opções.
— E quais são? — Eu a encaro e fico em dúvida se devo ser sincera,
mas como Kim tem demostrado ser uma mulher forte, opto por falar a
verdade.
— Ou eu me mato ou fujo. — O rosto dela perde toda a cor. — Não
quero fazer nada disso, minha família ficaria destruída. — Claro que não farei
essa loucura, vou seguir meu rumo, por isso quero aproveitar cada segundo
com Thomas, serão as memórias que criei com ele que me farão seguir
adiante, sem pensar em cometer um ato que irá ferir as pessoas que amo.
— Você é tão forte. — Ela me abraça. — Tudo o que Thomas precisa
na vida dele é de alguém como você, pela primeira vez desde que uma grande
tragédia caiu sobre nós, eu vejo os olhos dele ganharem vida por uma mulher.
Estou extremamente frustrada por saber que vocês não podem ficar juntos.
— Não sei o que aconteceu no passado dele, Thomas até o momento
não quis se abrir.
— Em algum momento sei que ele te contará. — Kim entrelaça os
dedos aos meus. — Vocês se completam e algo me diz que a máfia não terá
poder para o que está para surgir. A união da realeza com o submundo é algo
existente em Vichi, isso pode se estender a vocês. Poder é uma palavra muito
forte, que agrada ambas as partes envolvidas nesta história. Não seja
pessimista, apenas pense nas possibilidades.
Ela me deixa sem palavras, Kimberly acaba de dar um nó na minha
cabeça e me deixar reflexiva sobre vários questionamentos. Queria ter a
confiança dela, mas nasci dentro da máfia e sei como o sistema funciona.
Encerro a ligação com minha CEO Laura e vou verificar se Carmem
preparou tudo o que pedi. Não a encontro na cozinha, seu marido me avisa
que ela está na parte externa da casa, terminando de preparar os itens que
solicitei.
Sigo para a varanda principal onde servimos as refeições ao ar livre.
Antes de entrar no espaço ouço a risada da Carmem, ela e Fiorella se dão
bem, sempre que tiram um tempo para conversar, dão boas risadas.
Quando chego na porta paro e observo as duas conversando. Fiorella
tem o cabelo preso em um rabo de cavalo e usa um vestido azul sem alças. O
sorriso fácil que ilumina seus olhos é bonito de se ver, quando a conheci,
esses mesmos olhos refletiam uma tristeza que vinha direto da sua alma.
Sei que fui o principal caminho para que ela reencontrasse essa vontade
de sorrir, sinto um orgulho diferente por ter consigo trazer um pouco de
alegria.
— Vocês ainda vão acabar me matando de ciúmes — digo ao entrar de
vez na varanda. — Sempre estão rindo de algo e me deixando de fora.
— O que está acontecendo? Você nunca foi ciumento.
— Sempre fui, só finjo bem. — Carmem olha para o alto fazendo uma
cena.
— Está tudo arrumado para o almoço de vocês, me chamem se
precisarem de algo.
— O que seria de mim sem você?
— Certamente não teria uma vida tão fácil — afirma com um discreto
sorriso me provocando.
Um dos motivos de gostar tanto dela é justamente por me tratar como
uma pessoa comum. Carmem me vê como um dos seus filhos, se ela tiver que
me repreender ou dar algum conselho, não pensa duas vezes.
— Gosto tanto dela — Fiorella diz ao se aproximar.
— Ainda não conheci ninguém que não gostasse dessa tagarela. —
Estico o braço e a puxo para mim. — Você está ainda mais linda com esse
visual fofo.
— Sério? — Ela apoia as mãos contra meu peito. — Também gosto de
você esportivo, fica parecendo mais jovem.
— Você não sabe como gosto de me vestir assim, eu me sinto
aprisionado dentro de um terno. — Ergo o seu corpo até deixá-la no nível do
meu rosto.
Colo nossos lábios, feliz por finalmente tê-la só para mim, sem a
preocupação dela precisar voltar para casa.
Vou aproveitar cada segundo que eu puder, não vou desgrudar dela em
nenhum momento.
— Vamos almoçar. — Coloco-a no chão e seguro sua mão.
— Carmem disse que fez moussaka — comenta feliz. — Eu disse que
era uma comida que eu gostava e fazia tempo que não comia, ela resolveu
matar minha vontade.
— É bem o estilo dela guardar o que falamos e nos surpreender.
Fiorella tenta soltar minha mão para se sentar, mas eu não permito e
puxo uma cadeira a levando para se acomodar no meu colo.
— O que está fazendo? — pergunta ao me encarar surpresa.
— O que pretendo fazer até nosso último minuto aqui. — Aliso seu
rabo de cavalo.
— E seria? — Puxo seu cabelo e exponho seu pescoço.
Mordisco a sua garganta, depois deslizo a ponta da língua até alcançar
o final do seu pescoço. Deposito um beijo na sua pele, aproveitando para
inalar o seu cheiro.
— Não vou te deixar mais do que meio metro longe de mim.
— Isso quer dizer que sou uma espécie de prisioneira? — Ela acaricia a
minha orelha.
— Pare de me dar ideias, você não está preparada para ficar presa na
minha cama. — Os olhos dela brilham de desejo, apesar de todos os seus
bloqueios, o seu corpo tem um ritmo próprio.
— Você tem razão, não estou pronta para algo assim, mas estou para
ficar grudada em você.
— Então você vai ficar exatamente onde está durante todo o almoço.
— Está falando sério? — pergunta incrédula.
— Nunca brinco quando o assunto é você. — Pego um prato e começo
a nos servir, seguindo as orientações dela do que deseja comer de imediato.
Como sempre Carmem fez uma mesa farta, ela não é de poupar quando
o assunto é comida.
Quando experimentamos a moussaka, ela geme prazerosamente. Não
me controlo e começo a ficar duro, até mesmo comendo a mulher me deixa
louco.
— Thomas. — Ela me lança um olhar reprovador.
— Ignore o atrevido. — Tento minimizar minha ereção. — É difícil ter
controle quando você solta esse gemido. — Sua boca se retorce em um
sorriso.
— Você é tão safado. — Não posso discordar dela.
— Ainda não viu nem dez porcento do quanto posso ser safado. —
Subo a mão por sua perna, até que alcanço o elástico da calcinha. — Mas
temos uma semana para que eu possa te mostrar ao menos, metade de toda a
safadeza que mora dentro de mim.
Ela ofega quando meu polegar pressiona seu centro de prazer. Tudo o
que eu queria era jogá-la sobre esta mesa e me perder entre suas pernas, mas
não posso arriscar uma intromissão da Carmem. Eu não a avisei para ter
privacidade absoluta, o que significa que podemos ser interrompidos a
qualquer momento.
Um dos motivos de ter decidido vir até aqui, foi porque quando nos
conhecemos ela disse que adorava praia, inclusive tinha o sonho em ter uma
casa de frente para o mar.
Por não podermos ir tão longe, Hamptons surgiu como o destino ideal
para termos nosso tempo e ela apreciaria o passeio.
Fiorella pula a onda que se aproxima dos seus pés e gira o rosto
sorrindo como se fosse uma criança. Ela abre os braços e rodopia ao olhar o
céu.
Quando me disse que gostava da praia, eu não imaginei o quanto eu a
veria tão livre, distante de todos seus traumas e receios.
— Existe lugar melhor do que estar em contato com o mar e toda essa
natureza? — pergunta ao virar o corpo para mim e andar de costas.
— De fato é um lugar especial. — Seguro sua mão e a puxo para perto.
— Mas sabe o que gosto de verdade?
— Do quê? — Ela segura meus braços.
— Vê-la sorrindo. — Salpico um beijo na sua boca. — Você está tão
serena, seus olhos estão brilhando, não existe nada de tristeza neles. — O seu
rosto fica sério e o seu olhar ganha uma luminosidade intensa.
— Tudo isso é obra sua. — Seus braços rodeiam o meu pescoço. —
Graças a você eu estou vivendo o sonho de ser livre, nunca pensei que eu
fosse poder experimentar algo meu, com alguém tão especial.
Acaricio seu rosto, sentindo um misto de sentimentos me engolir. A sua
força é admirável, ela sabe o que lhe espera no futuro, ainda assim busca
extrair o melhor nas migalhas de felicidade que a vida lhe oferece.
Eu não sei como vou conseguir deixá-la partir, sabendo que sua
liberdade será ceifada. Não nego que em certos momentos me arrependo de
tê-la conhecido, mas quando a tenho dentro dos meus braços, como agora, eu
só queria poder parar o tempo.
Sirvo duas taças de vinho e vou até o sofá da varanda principal.
Encontro Fiorella sorrindo para o celular. Seu cabelo ainda está úmido pelo
banho longo que tomamos na banheira, depois de um exaustivo sexo que me
deixou com o coração disparado.
Com ela tudo parece sempre ser novo, nada se repete entre nós, a
sensação que sinto quando estamos juntos, é de que a tenho pela primeira
vez.
— Boas notícias? — pergunto ao me sentar ao seu lado e estender sua
taça.
— Gio me enviou uma foto, ela está na casa do meu irmão. — No
mesmo instante ergue a tela do celular. — Olha como a filhinha do Paolo está
linda. — Uma bela ruivinha sorri para a câmera. — Caterina é nosso xodó,
foi a primeira criança da nova geração dos Torcasio.
— Ela é muito linda, puxou a mãe, graças a Deus não tem nada do
Paolo. — Fiorella empurra meu ombro.
— Meu irmão é bonito.
— Há controvérsias. — Implico com ela. — Acho que a beleza da
família ficou toda com você. — Beijo seu rosto, imediatamente ela se derrete.
— Para de bobagem, minhas irmãs também são lindas.
— Não como você. — Passo o braço por seus ombros. — Mas não
nego que sua sobrinha parece uma boneca, imagino o quanto Paolo não deve
ser protetor com a pequena.
— Nem fale sobre isso, a pobrezinha vai sofrer nas mãos dele, Masha
vai ter que ter muita paciência com o marido.
— Para conseguir se casar com ele, certamente sua cunhada sabe lidar
com o seu irmão.
— Isso ela sabe até demais. — Fiorella bebe o vinho. — Paolo não é
um homem flexível, mas com Masha ele é outra pessoa.
— É o coração dele falando mais alto. — Beijo seu ombro.
O barulho da porta se abrindo chama a nossa atenção, depois de um dia
fora de casa, meu irmão e sua esposa chegam sorridentes e abraçados.
Nunca imaginei um dia ver Mitchell tão entregue a uma mulher, a
minha amiga soube como ninguém fisgar o coração dele. O amor dos dois é
visível a qualquer um, é tão forte que fez meu irmão recuar e abandonar seu
posto de líder da segurança pública de Vichi.
— O dia foi animado — digo em voz alta chamando atenção do casal.
Eles identificam onde estamos sentados e seguem na nossa direção de
mãos dadas.
— Que fofo vocês aqui à luz da lua, tomando um vinho. — Kim
comenta ao se aconchegar no marido. — Você devia fazer esse tipo de evento
comigo, amor.
— Não combina comigo esse romantismo. — Meu irmão a encara. —
Eu prefiro algo mais quente. — Reviro os olhos.
— Por que você é tão chato? — pergunto irritado.
— Porque esse sou eu — sua resposta é simples. — Tiveram um bom
dia? Conseguiram namorar bastante? — O seu sorriso irônico deixa claro que
quer nos provocar.
— Eu espero que sim, não venham me dizer que passaram o dia todo
dentro de casa. — Kimberly corre os olhos entre nós.
— Minha pedra preciosa. — Mitchell segura o queixo dela, forçando-a
a observá-lo. — Se fossemos nós dois, não sairíamos da cama.
— Cala a boca! — Ela bate no peito do marido. — Vamos nos deitar,
tivemos um dia corrido demais, boa noite, pombinhos. — Kim começa a
arrastar meu irmão para a sala.
— Eu não disse que a cama é o nosso point favorito? — Mitch diz
sarcasticamente, causando revolta na esposa e nos fazendo sorrir.
— É lindo ver o amor deles, em cada olhar a gente percebe o
sentimento profundo que sentem.
Não posso discordar dela, realmente eles se amam e esse amor foi forte
o suficiente para que eles superassem toda a dor que passaram.
— Algumas pessoas têm sorte, eles foram sorteados para viverem um
grande amor.
Fiorella fica quieta, ela gira a taça entre os dedos, em uma pose
reflexiva. Penso em perguntar no que está pensando, mas decido dar espaço e
esperar pelo que vai dizer.
— Tenho certeza de que existe alguém destinado a você, no momento
certo ela vai aparecer.
Não deixo de perceber a nota de tristeza na sua voz, ela sequer me
encara, sua postura está tensa. Estamos juntos há pouco tempo, mas de
alguma maneira eu já sei identificar quando algo a desagrada.
— Cada um tem sua própria história — digo serenamente. — Nem
todos são contemplados por um grande amor. — Inspiro fundo. — Nós dois
sabemos bem como a vida é dura.
Ela não diz nada, sorve um pouco do vinho e observa sua taça quase
vazia. Um vento suave do mar nos alcança e balança seu cabelo.
— Você sabe como foi duro para mim, mas não sei nada sobre seu
passado.
— A minha vida não é segredo, uma rápida busca na internet é
suficiente para descobrir quem eu sou.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade — diz ao se levantar. —
Existe algo que te machucou e eu ainda espero que divida comigo o ocorrido,
como eu dividi boa parte do meu passado.
— Mas não dividiu tudo — digo ao encarar suas costas.
Fiorella paralisa seus passos e seu corpo fica rígido, ela vira-se e seus
olhos estão tão nebulosos, que sinto um arrepio me consumir.
— Você não precisa saber de todas as humilhações que sofri, eu não
me sentiria bem em revelar cada surra que levei, cada estupro que sofri, cada
cicatriz que ganhei. É algo que eu não superei, que me doí, me envergonha.
Seu mundo é outro, você tem escolhas, as mulheres que se relaciona possuem
fala. — Seu peito se expande com uma respiração intensa. — Eu não tenho
direito de saber para onde seguir, posso apenas tentar me manter viva. — Ela
abre os braços. — Isso o que estamos vivendo aqui é um grande presente, eu
estou onde quero, com quem eu desejo. Nunca pensei que isso fosse
acontecer, mas a vida me deu essa oportunidade, no entanto, não estou
disposta a revelar tudo o que sofri, nenhum de nós merece visitar o inferno
sem necessidade.
Fico estático, sentindo uma infinidade de sentimentos me consumir.
Quero abraçá-la, trazê-la para dentro dos meus braços, dizer que agora ela
está segura, mas não consigo fazer nada disso.
Eu também não quero visitar o passado, mas se ela se abriu comigo,
merece saber um pouco do que já passei.
— Estou longe de ter experimentado algo que já vivenciou. — Infiltro a
mão pelo cabelo pensativo. — Quando ainda estava na faculdade eu tive uma
paixão por uma amiga, ela era parte do meu grupo com a Kim. — O passado
parece me engolir. — Como éramos do mesmo círculo de amizade, eu não
quis misturar as estações. Decidi que seria melhor esperar que nós
terminássemos nossos cursos para revelar o quanto ela era importante para
mim.
Olho para ela e vejo que toda a sua atenção está concentrada em mim.
Não queria neste momento revelar meus demônios do passado, mas devo isso
a ela depois de ter confidenciado parte do seu passado.
— Só que não houve tempo. — Nossos olhos se cruzam e vejo aflição
se espalhar por seu rosto. — Clover morreu quando o líder do maior Cartel
mexicano a sequestrou juntamente com a Kimberly. Raul Diaz era uma
pessoa má e aniquilou com a vida dela sem misericórdia. Kim teve sorte de
sair viva, mas nossa amiga encontrou um triste destino.
Ergo o rosto e tento me manter sereno, lembrar da partida de Clover me
causa uma angústia imensa. Nunca vou poder afirmar se realmente iriamos
ter um relacionamento, pois não pudemos nos envolver como eu tanto queria.
Ainda assim uma sensação de impotência quando penso nas oportunidades
que perdi em mostrar o quanto a queria.
— Perdê-la me marcou, mostrou que não posso controlar o futuro, que
devo me manter agarrado ao presente. — Levanto e descarto minha taça. —
Foi graças a lição que aprendi com Clover, que eu não desisti de você. —
Lentamente me aproximo dela. — Mesmo sabendo que era proibida eu segui
em frente, não quero mais sentir o gosto amargo de perder alguém que eu
realmente quero estar junto. — Seguro sua cintura e a puxo contra mim. —
Até o último segundo que puder estar comigo, eu vou me dedicar totalmente
a você. Quero te ver partir, sabendo que dividimos as melhores memórias. —
Acaricio seu rosto. — E se não quiser partir, eu vou te ajudar a construir uma
nova vida, você é boa demais para ser prisioneira da máfia. — Um lastro de
fogo se expande nos seus olhos.
— Se eu fugir envergonho minha família — diz com a voz embargada.
— Mas vai viver feliz. Você só tem uma vida, viva a que quiser, quem
realmente te amar, vai saber entender suas escolhas.
Seus olhos ganham o brilho de lágrimas, neste momento sua boca vem
contra a minha, em uma ânsia inédita. Moldo seu corpo ao meu,
correspondendo fervorosamente o seu beijo. Ela mexeu com meu mundo,
virou a minha cabeça de uma maneira que não gosto de pensar.
— Vamos esquecer o passado, ele não pode mais ser mudado.
— Concordo. — Esfrego meu nariz no seu. — Precisamos viver o
presente, é apenas ele que podemos desfrutar.
— Quero que me faça sua. — Seu pedido me arrepia inteiro.
— Isso não é nenhuma dificuldade.
Seguro-a no colo e sigo para as escadas que levam ao andar superior. A
minha boca não desgruda da dela, quero sentir a cada segundo o seu sabor.
Quando entramos no quarto, rapidamente ficamos nus e nos
entregamos a todo desejo que já não conseguimos reprimir.
Infiltro os dedos por entre os fios de cabelo do Thomas gemendo por
ter sua boca sugando firmemente meu seio. Depois da conversa que tivemos,
sinto que estamos mais conectados.
Ele também tem suas dores, apesar de ser um príncipe, sua vida não é
um mar de rosas. Foi bem estranho ouvi-lo dizer que uma mulher o marcou, o
sentimento que senti na hora da revelação me assustou demais, pois sei que
nada profundo pode acontecer entre nós dois.
O problema é conseguir controlar o coração, esse gosta de nos pregar
peças.
Todo o meu pensamento se quebra quando o toque da sua língua
encontra meu clítoris. Neste momento eu me perco e fico apenas à mercê da
sensação poderosa que me domina.
Gozo ruidosamente quando todo o meu corpo é eletrocutado pelo
orgasmo. Ainda me sinto incrédula por sentir prazer em cada uma das nossas
transas, para uma pessoa que via sexo como um algo torturante, desejar esse
tipo de ato com alguém é bem inesperado.
Prendo a respiração quando ele beija a cicatriz que tenho nas costelas,
essa foi feita de uma maneira tão dolorosa, que passei dias com febre por
causa da infecção que tive.
Thomas me pega de surpresa quando começa a beijar as marcas que
possuo pelo corpo, ele parece saber cada uma delas. A minha mente se
descontrola e volta para cada momento que todas foram criadas.
A dor me consome de uma maneira que parece que vai me sufocar.
Aperto os olhos, tentando afastar a imagem psicótica de Carmelo da minha
cabeça. Ele não pode mais me ferir, eu consegui sobreviver ao caos, agora eu
estou segura e ao lado de alguém que faz meu coração bater sem controle.
— Sei que suas memórias jamais serão apagadas. — A voz suave dele
me faz abrir os olhos. — Mas no que eu puder, enquanto estivermos juntos,
quero construir novas lembranças. — Sua mão aprisiona o meu quadril. —
Não é fácil para mim ver todas as suas marcas. — O seu rosto agora está
tenso. — Eu queria poder vingar todas elas.
— O importante é que tudo acabou e agora eu estou no lugar que meu
coração quer. — Toco carinhosamente seu rosto. — Você não sabe o quanto
me faz bem. — Seguro sua nuca e o trago para um beijo lento. — Com você
me redescobri e encontrei a paz. — Nos encaramos e vejo uma infinidade de
emoções passar no seu olhar.
— Você é especial, Ella — meu apelido saindo em um sussurro, faz
meu coração acelerar. — Lembre-se sempre disso.
Ele me beija, enquanto suas mãos erguem minhas coxas, as
escancarando para que possa me deixar exposta à sua penetração. Gemo
quando nossos corpos se conectam, ele morde meu lábio indo até o fundo do
meu canal.
Escorrego as mãos por suas costas, sentindo seus músculos rijos nas
pontas do meu dedo.
Ofego quando ele começa a se mover com intensidade, nossos olhos se
cruzam, um sorriso se desenha na boca dele ao me fitar. Cravo as unhas na
sua bunda, exigindo silenciosamente que ele vá mais fundo.
— Você está muito atrevida — diz rente ao meu ouvido. — Isso é
muito bom.
Solto um grito quando ele se afunda no meu interior completamente.
Thomas imprime um ritmo insano, fazendo meu corpo superaquecer.
Movo o rosto e busco por sua boca, mordo seu lábio inferior antes de
aprofundar o beijo. É uma loucura o que ele consegue fazer comigo, eu me
sinto tão feliz quando estou dentro dos seus braços.
Eu me enrosco no seu corpo, enquanto sou consumida pela intensidade
da sua penetração. Um arrepio se espalha por minha pele quando o orgasmo
me alcança.
— Thomas! — grito seu nome quando começo a estremecer.
Todas as nossas transas são intensas, mas hoje tudo parece diferente.
Apoio a mão na sua nuca quando mergulho na onda imensa de prazer
que me consome. Ele rosna rente ao meu ouvido, seus músculos travam
quando ele começa a gozar.
— Você é perfeita pra caralho — diz ao beijar meu pescoço. — Por que
não te encontrei antes? — Sorrio e seco o suor da sua testa.
— Nos conhecemos no momento certo. — Acaricio seu rosto. — Nada
nesta vida é por acaso.
— Realmente não é. — Thomas salpica um beijo na minha boca e se
ergue.
Olho para o teto me sentindo esgotada e satisfeita. Quando acho que
não podemos mais elevar nosso sexo, sou surpreendida com mais uma transa
inesquecível.
— Ella. — Abro os olhos e o encaro, ele tem as sobrancelhas franzidas,
parece incomodado por algo.
— O que foi? — Apoio o cotovelo na cama para poder observá-lo
melhor.
— Eu esqueci o preservativo. — Fico paralisada, processando sua fala.
— É um problema? Eu tomo anticoncepcional. — O informo. —
Quando eu era casada tinha pavor de engravidar, já com relação a minha
saúde está em dia, fiz exames recentemente.
— Também não precisa se preocupar com a minha saúde, mas não foi
uma ação legal ter esquecido a camisinha.
— Você não esteve sozinho em momento nenhum nesta cama. — Fico
de joelhos e o abraço. — Posso confessar algo? — Ele inclina o rosto para
poder me encarar.
— Diga. — Faço um carinho na sua orelha.
— Gosto de saber que tivemos esse nível de intimidade. Eu me sinto
ainda mais próxima de você. — Thomas enlaça a minha cintura e puxa para
seu colo.
— Eu não sei o que vou fazer contigo — diz ao esconder o rosto contra
meu pescoço. — Também não me sinto preocupado com a ausência do
preservativo, toda a minha preocupação está sobre o seu futuro.
— Não vamos falar disso. — Encosto a minha boca na sua e o beijo
profundamente.
Preciso apenas dele neste momento, pensar no futuro não está nos meus
planos.

Assim que termino de me arrumar desço para o café da manhã. Thomas


acordou mais cedo, pois tinha uma videoconferência para fazer. Ainda me
sinto presa à noite anterior, quando elevamos ao máximo o nosso nível de
intimidade.
Quando chego na sala encontro-o conversando com o seu amigo Stuart.
Eles não me notam, mas pela postura de ambos o assunto não é dos melhores.
Dou um passo à frente querendo revelar minha presença, mas no
instante que vejo o Thomas afundando os dedos nos olhos, paraliso. O seu
amigo apoia a mão no seu ombro, em um gesto reconfortante.
Stuart acaba me notando e cochicha algo no ouvido do Thomas. Ele
ergue a cabeça e vejo seus olhos brilhando com lágrimas. O meu coração
acelera, com medo do motivo que o deixou assim.
— O que foi? — pergunto sem conseguir me conter.
— Meu CEO faleceu — diz com a voz triste. — Scott ainda era jovem,
com uma família linda, tinha tanta vida pela frente.
— Oh, meu Deus! — exclamo angustiada. — Lamento sua perda. —
Vou abraçá-lo.
— Obrigado. — Ele beija a minha testa. — Já estávamos preparados
para tudo, ainda assim não é fácil receber esse tipo de notícia.
— Claro que não é. — Acaricio seu rosto.
— Desculpa atrapalhar o passeio de vocês — Stuart diz com pesar. —
Mas achei que precisava dar a notícia pessoalmente.
— Você fez bem. — Thomas bate no seu ombro. — Já que está aqui,
passe o dia com a gente, eu vou ligar para a esposa do Scott e prestar os meus
sentimentos.
— Faça isso. — Stuart olha para a escada, onde Kimberly aparece ao
lado do marido.
— O que aconteceu? Por que Stu está aqui tão cedo? — Kim olha entre
nós apreensiva.
— Vão tomar café. — Thomas se afasta de mim. — Stuart contará tudo
para vocês enquanto faço uma ligação. — Sem mais palavras ele deixa a sala
e segue para o escritório.
— Devo me preocupar? — Mitchell pergunta.
— Não. — Stuart beija Kimberly. — Tivemos uma perda grande na
empresa, vamos nos sentar que conto tudo.
Ele lidera o caminho para a mesa do café da manhã, só que depois
dessa notícia triste, mesmo não conhecendo Scott, eu perdi o apetite. Em
algum lugar tem uma família destruída pela partida de alguém que se ama.

Thomas passou o dia anterior introspectivo, não falou muito, entendi


que precisava de um tempo e até sugeri dormir em outro espaço, mas ele não
permitiu, apenas disse que necessitava ficar quieto.
Hoje pela manhã ele acordou cedo e foi correr na praia com o irmão,
depois passamos um tempo juntos no terraço da casa, trocando conversas
triviais. Agora estamos à beira da piscina, vendo o início do entardecer.
— Nero te ligou?
— Sim — acaricio seu abdômen.
— Então já sabe que teremos um dia a menos aqui?
— Infelizmente sei. — Olho para o alto. — Por mim ficava aqui sem
dia certo de ir embora.
— Tente pensar pelo lado positivo. — Ele segura meu queixo,
forçando-me a observá-lo. — Ao menos tivemos nosso tempo sem termos
que nos esconder no meu apartamento.
— É difícil ser obrigada a me contentar com tão pouco. — Descanso a
cabeça no seu ombro.
Eu sempre fico em paz ao seu lado, é tão bom sentir seu cheiro, o calor
do seu corpo sempre me acalma.
Um disparo interrompe nosso momento de cumplicidade. Os braços do
Thomas me seguram com força e sou jogada no chão. Fico estática, apenas
escutando vozes alteradas que certamente são dos seguranças.
— Você está bem? — ele pergunta ao me fitar com olhos agitados.
— Estou. — Seguro seus braços. — Estamos sendo atacados? — Neste
momento meu coração está acelerado.
— Impossível alguém se aproximar daqui — responde seguro. — É
uma das áreas mais reservadas de Hamptons, Mitchell é neurótico com
segurança, temos um verdadeiro exército nos vigiando.
— Senhor Cassel, vocês estão bem? — A voz encorpada de um homem
atravessa toda a extensão da piscina.
— Que porra está acontecendo, Alec? — Com rispidez Thomas
questiona o chefe da sua segurança.
— Detectamos um drone sobrevoando a propriedade, decidi abatê-lo,
não tem nenhum morador ocupando as casas ao redor, então é uma ação
suspeita.
Thomas ergue-se e me ajuda a levantar, seus olhos inspecionam todo
meu corpo, genuína preocupação brilha neles.
— Eu estou bem. — O abraço, só para conseguir controlar a tensão.
— Alec, quero ver o drone, preciso descobrir se estavam filmando algo
— ele ordena.
— Já está sendo recolhido, senhor.
— Ótimo. — Fico mais calma quando sinto os lábios do Thomas
pressionados na minha testa.
— Por motivo de segurança preciso que vocês entrem na casa, vamos
trancar tudo até que tenhamos certeza de que não existe ninguém rondando a
propriedade.
— Mais que porra! — Thomas exclama e segura minha mão.
Entramos correndo na casa, com os seguranças nos rodeando
apreensivos. Assim que chegamos na sala, Mitchell está acabando de descer
as escadas.
— Onde está Kimberly? — O rosto dele está transtornado, parece a
ponto de matar alguém.
— Estou aqui. — Ela aparece e o marido vai correndo abraçá-la.
— Puta que pariu! Quase infartei quando não te achei no quarto —
esbraveja ao rodear os braços nela.
— Fui buscar algo para comer, estava com a Carmem quando ouvimos
um tiro.
— O que está acontecendo? — Mitchell pergunta com irritação.
— Um drone estava sobrevoando a casa. — Thomas vai até o bar e
serve uma dose de uísque. — Os seguranças abateram o equipamento, eu vou
verificar se existia alguma gravação.
— Inferno! — O irmão dele rosna.
— Vá buscar o drone, Alec, se eu não puder obter as informações
necessárias aqui o levarei para minha casa, lá tenho os meios ideais para
descobrir tudo o que eu quiser.
O chefe da segurança se afasta imediatamente ao ouvir a ordem do
chefe, levando seus subordinados juntos.
— Eu espero de verdade que tenha uma gravação nesse aparelho —
Mitchell diz ainda tenso. — Porque se estavam transmitindo ao vivo nossa
movimentação, será uma grande preocupação — A última parte da sua fala é
dita ao me encarar.
O meu corpo estremece com tal possibilidade. Se estavam nos
transmitindo para alguém, pode ser um dos inimigos do meu primo, o que
significa que eu posso estar dentro de uma grande enrascada.
Olho para o drone e de certa maneira eu sinto alívio por apenas ver uma
câmera. Não existe nele um sistema de envio de imagem on-line.
Em parte, é um bom sinal, significa que ninguém teve acesso às
imagens. Por outro lado, eu não vou poder identificar quem foi o infeliz que
tentou nos vigiar.
— E aí? — Meu irmão espalma as mãos sobre a mesa do escritório.
Ele parece a ponto de explodir, se existe algo que tira o equilíbrio do
Mitchell é qualquer tipo de ameaça à nossa segurança.
Nós dois temos bons motivos para isso, já vimos de perto o que um
deslize na nossa proteção pode causar. Mesmo após tanto tempo, eu ainda
sinto os reflexos da minha falha em não manter a segurança acirrada em
Clover e Kimberly. Graças a minha fraqueza, perdi não só uma amiga, como
uma mulher que fazia meu coração acelerar.
— Só tem uma câmera — digo ao erguer o objeto.
— Consegue ver as imagens?
— Aqui não tenho o aparelho certo para conectá-la.
— Porra! — Mitchell bate sobre a mesa. — Alec, veja se é viável irmos
embora agora, se for preciso mande um helicóptero nos buscar.
— Certo, senhor! — Alec sai do escritório.
— Não acho que necessitamos sair às pressas.
— Preciso saber o que filmaram. — Ele passa a mão pelo cabelo. — Se
isso já estiver acontecendo há algum tempo pode ser perigoso, especialmente
para você.
— Acha que um membro do clã pode estar desconfiado dos meus
encontros com Fiorella?
— Também. — Mitchell para em frente à janela e cruza os braços. —
Mas pode ser alguém sem ser os italianos.
— E quem poderia ser? — pergunto ao parar ao seu lado.
— Song — responde tenso. — Ele tem coragem suficiente para tentar
conseguir algo que o faça aceitá-lo na sua empresa. Se conquistar o seu
apoio, Song ficará tão forte quanto Nero e poderá recuperar o poder nas áreas
que a Cosa Nostra usurpou do seu grupo.
— Não acredito que ele seria capaz de tentar me chantagear, isso
poderia acabar mal para ele.
— Você nunca lidou com o submundo do crime, não sabe o que esses
merdas são capazes. — Agora não posso discordar dele. — Nem todos os
criminosos seguem o estilo de Nero ou Paolo. A maior parte não tem palavra
e são traiçoeiros. Os italianos não são santos, mas eles conseguem ser fiéis
quando dão sua palavra, ao menos a maior parte deles.
— Puta que pariu. — Esfrego as mãos no rosto. — Por que diabos esse
Song cismou comigo?
— Porque você está no topo do poder, é praticamente um homem
intocável. Ele precisa de você para expandir seu negócio, sem ter os tiras na
cola da sua organização. Ninguém com status quer se aliar a Song, preferem
os italianos, existe um glamour por trás deles, o cinema ajudou nisso, já os
chineses sempre foram inimigos, assim como os russos. E isso vai além do
cinema, é diplomático. Se Song consegue uma parceria com você, ele se
transforma no homem mais poderoso do submundo do crime chinês, ganha
respeito entre os seus e o poder necessário para incendiar as ruas de Nova
Iorque.
Encaro meu irmão, sentindo minha cabeça fervilhar com todas as
informações que acaba de me passar. Um dos motivos que me fez querer
ficar fora da estrutura administrativa de Vichi, foi justamente não ter que
lidar com esse mundo cruel do crime que Mitchell transita tão bem.
— Você está certo, precisamos sair daqui, não quero colocar Fiorella
em risco.
— Nem eu com minha esposa. — Ele bate no meu ombro. — Já
tivemos nossa lição sobre cuidados com segurança, jamais iremos repetir
outro erro.
Concordo com ele, eu não ligo de me colocar em risco, porém não farei
isso com outra pessoa, Fiorella já tem uma vida dentro do perigo, não precisa
acrescentar outro alvo nas costas.

— Thomas você precisa relaxar, no final não foi nada demais. —


Fiorella toca as minhas costas e me observa através do espelho.
Agora já estamos no meu apartamento, saímos de Hamptons de
helicóptero porque Mitchell achou mais seguro para todos nós. Assim que
chegamos fui verificar as imagens, mas não existia nada além do exterior da
casa, isso me acalmou, ainda assim não gosto de pensar que alguém esteve
querendo nos vigiar.
— Por mais assustador que tenha sido, eu não estou verdadeiramente
surpresa, vivo entre mafiosos.
— Eu sei. — Seguro sua mão e a coloco na minha frente. — Só que a
partir do momento que você está sob a minha responsabilidade, as coisas
mudam. — Acaricio com o polegar sua bochecha. — Jamais me perdoaria se
mexessem em um único fio do seu cabelo.
— Por isso confio em você. — Na sua afirmação não existe nenhuma
hesitação, isso me faz experimentar um sentimento estranho, que esmaga
inteiramente o meu peito.
— E pode confiar sempre. — Seguro sua cabeça deixando-a no ângulo
certo para poder beijá-la.
Embolo minha língua na dela, sugando cada um dos seus gemidos.
Envolvo uma banda da sua bunda e aperto com força.
Sempre que estou ao seu lado sinto o meu corpo se encher de energia, é
como se antes eu estivesse morto, mas desde que ela chegou ressurgiu para a
vida com uma gana intensa.
Coloco a mão por baixo da sua camisola querendo sentir a maciez da
sua pele. Queria ter o controle de ir com calma quando estamos juntos, mas o
desejo que sinto por ela me faz destruir todos os meus planos.
— Posso fazer algo?
— O que quiser.
Sorrindo Fiorella desata o nó da calça do meu pijama e desce a peça
por minhas pernas juntamente da minha boxer. Prendo a respiração quando
ela segura meu membro e desliza a ponta do polegar sobre a glande.
Nunca pedi que me fizesse sexo oral, pois em uma das nossas
conversas ela soltou sutilmente que esse era um momento que trazia más
recordações. Não quis ir muito a fundo no assunto, porque pensar no que o
seu falecido marido já fez, é perturbador demais.
Fico quieto e deixo nas mãos dela os próximos passos. A minha pele se
arrepia quando ela lambe toda a extensão do meu pau. Prendo a respiração
quando lentamente sua boca vai engolindo a minha extensão.
Arfo ao senti-la fazer um movimento de sucção quando tem apenas a
ponta do meu membro entre os lábios.
Porra! Ela está me enlouquecendo.
Apoio a mão na sua cabeça e acompanho fascinado Fiorella me
presentear com um boquete lento e extremamente prazeroso. Ela não tenta
fazer uma performance como algumas parceiras que já tive, muito pelo
contrário, segue seu próprio ritmo e, diga-se de passagem, é sexy demais.
— Você não cansa de me surpreender — afirmo ao interrompê-la. —
Só que vamos parar por aqui. — Percebo que ela está insegura, certamente
está achando que fez algo errado. — Pare de pensar bobagem. — Levo-a para
a cama. — Só te parei porque quero gozar dentro de você, não aceito nada
menos que isso.
Agora ela sorri e se enrosca em mim quando deito-me sobre ela.
Tirando a sua calcinha ergo uma das suas pernas e centralizo minha ereção
em sua entrada. Fiorella lambe meu lábio superior, enquanto começo a
penetrá-la. Conectamos nossos olhares, ela está completamente aberta, é
nítido que entre nós já não existe as reticências que foram presentes quando
começamos a nos encontrar.
— Você é sempre incrivelmente deslumbrante, mas nada se compara
quando está com essa expressão de tesão — sussurro quando entro até o
fundo do seu canal. — Eu gosto desse seu lado obsceno. — Ela me lança um
sorriso sexy.
Abaixo a cabeça e capturo um dos seios na boca, sugo sua mama com
volúpia, fazendo Ella resmungar alto quando puxo o bico entre os dentes.
Em determinado momento ela me empurra, eu a encaro confuso, no
entanto verifico que existe serenidade no seu rosto. Não falo nada, apenas
permito que faça o que tem em mente.
Desabo na cama e observo Fiorella montar sobre mim e arranhar as
unhas ao longo do meu peito. Uno as sobrancelhas quando entendo seu
movimento.
A animação me domina quando ergue o quadril e centraliza meu pau na
entrada da sua boceta. Afundo os dedos na sua cintura, a estabilizando
quando começa a me receber.
É o paraíso poder tê-la sem nada nos separando, não consigo sequer
descrever o quanto é especial estar conectado tão cruamente a ela.
Ergo a mão e cubro um dos seios, rodeio o bico com o polegar. Vê-la
me montando é extremamente excitante, posso gozar em segundos apenas
com essa visão.
Com um sorriso ela joga o cabelo para o lado e morde o lábio quando
se apoia no meu ombro requebrando o quadril. Ela quer me arruinar e está
conseguindo sem maiores dificuldades.
— Linda — digo hipnotizado por sua beleza selvagem.
Fiorella apenas sorri e me fode com uma desenvoltura impressionante.
Difícil acreditar que quando nos conhecemos ela não conhecia o que era
prazer na cama. Eu não sei que tipo de homem pode ter uma mulher como ela
e não a cobrir de prazer.
Travo os dentes quando percebo que estou perto de perder o controle,
não posso abandoná-la.
Parecendo perceber que estou em uma luta interna, ela desacelera, me
levando até o fundo e fazendo um movimento lento, causando gotículas de
suor na minha testa por me forçar a conter meu orgasmo.
Como é cruel, eu poderia dominá-la agora e dar a nós dois o que
queremos, mas entendo que é o momento dela de ser a dona da situação.
Concentre-se Thomas, você consegue se segurar.
Tento pensar em algo bem brochante para não me perder, mas sou
atraído pelo balanço dos seus seios. É difícil ter controle com ela me fodendo,
eu não sou tão forte.
Para a minha sorte ela também tem suas necessidades e volta a descer
sobre mim aceleradamente. Despencamos juntos, ambos exclamando um
gemido ruidoso quando nossos corpos são consumidos pelo gozo.
Porra! Nós temos uma química do caralho, poucas pessoas conseguem
encontrar um equilíbrio tão grande com outro par. O que fode a nossa vida é
que nossos mundos opostos e estando comigo ela corre perigo. O que
aconteceu hoje mostra bem que ao meu lado os perigos que a rondam podem
dobrar.
Eu posso ser egoísta em alguns momentos, porém jamais seria quando
se trata de vê-la segura.
É triste ter que assumir, mas o que temos é apenas a oportunidade de
construímos bons momentos, para podermos lembrar quando nossos
caminhos ganharem rumos distintos.

Entro na igreja onde o velório do Scott está sendo realizado. Tento


manter meu rosto inexpressivo, esse é um momento que me causa lembranças
dolorosas demais.
Avisto Rose recebendo um abraço, espero ela terminar de conversar
com a pessoa e me aproximo.
— Eu sinto muito, Rose — digo ao envolvê-la em meus braços.
Seu corpo treme e o pranto vem com força, não digo nada, apenas a
embalo tentando de alguma maneira confortá-la. Entendo a sua dor, perder
alguém é sempre um momento difícil, mas quando perdemos um grande
amor, essa dor é algo que deve consumir a alma.
Assim que ela se acalma Stuart e Laura também prestam seus
sentimentos. Todos na empresa ficaram extremamente abalados com morte
do seu marido.
— Preciso que saiba que Scott não era apenas um funcionário, era um
valioso amigo. — Afago sua mão. — Vim aqui porque precisava dar meu
apoio diretamente a você e te garantir que estarei ao seu lado a todo
momento, pode contar comigo para o que precisar, não deixarei que nada
falte à sua família, tem a minha palavra que cuidarei de todos vocês. — Rose
me lança um sorriso triste.
— Pouco antes de morrer meu marido disse que estava tranquilo em
partir porque sabia que você não nos deixaria sozinhos, ele confiava
plenamente em você. — Suas palavras me deixam abalado, é uma
responsabilidade imensa virar o protetor da família de outro homem, mas eu
farei isso com muito carinho.
— Assim como ele confiava quero que também confie em mim. —
Aperto sua mão. — Estou do seu lado para o que precisar.
— Você não sabe como eu me sinto mais calma sabendo disso, é difícil
imaginar que não o terei na nossa casa, cuidado dos nossos filhos. — Mais
lágrimas despontam dos seus olhos.
— Seja onde ele estiver, tenho certeza de que estará sempre te enviando
forças. — Passo o braço por seus ombros tentando consolá-la quando mais
uma vez ela cai em prantos.
Quando vou embora do velório estou me sentindo emocionalmente
exausto, lidar com a morte é algo que sempre desperta minhas piores
lembranças.
Ligo para meu terapeuta e pergunto se ele consegue uma consulta de
última hora. Como sempre Kelland abre espaço na sua agenda para poder me
atender.
Preciso conversar com ele, a minha cabeça está começando a ir por um
caminho perigoso demais.
Assim que saio da terapia o meu celular toca, visualizo o número do
meu escritório e algo me diz que terei problemas.
— O que foi? Será que não posso ter um pingo de paz para resolver
meus assuntos particulares? — pergunto sem paciência.
— Temos um grave problema, senhor. — A voz tensa da minha CEO
chama minha atenção.
— O que aconteceu?
— Estão atacando o sistema da empresa e nenhum dos funcionários do
TI conseguem resolver o problema, o senhor precisa vir para a empresa
imediatamente.
Paraliso meus passos quando alcanço a porta do carro sem acreditar no
que acabei de ouvir.
Se existe algo que me orgulho é ter um sistema eletrônico com nível de
segurança igual ao de Vichi.
Seja quem for que acredita poder invadir meu sistema é uma pessoa
extremamente preparada e com acesso a um computador de alta potência.
Certamente vai ser uma dor de cabeça desgraçada tentar rastreá-lo, mas eu sei
os meios mais sujos para fazer isso e não vou medir esforços para pegar o
filho da puta que teve essa ousadia de pensar em foder com meu negócio.
Chego na empresa tentando controlar a fúria que me consome, se o
caralho da notícia que estamos tendo nosso sistema operacional atacado for
vazado, iremos ter uma queda sem precedentes nas ações da empresa.
— Que porra está acontecendo? — pergunto quando entro na sala onde
fica a central da TI.
— Estamos tentando conter os ataques, mas eles surgem a todo
momento, chegamos a perder o controle das câmeras de segurança — Ally, a
chefe do setor responde claramente desesperada.
— Você precisa conter isso — Stuart está um horror, sua gravata pende
por seu pescoço e sua blusa tem os três botões abertos. — Laura está tentando
manter toda essa merda apenas entre nós, mas se não resolvermos o problema
a empresa será afetada entre os investidores.
Em um canto vejo minha CEO falando ao celular exibindo gestos de
mão agitados. Esse ataque pode representar milhões de dólares e mais a
reputação da minha empresa.
— Eles estão controlando algo neste momento? — Descarto o terno e
arregaço as mangas da camisa.
— Neutralizamos a tentativa de invadirem o financeiro. — Stuart apoia
a mão no meu ombro. — Faça o que for necessário, não precisamos de um
escândalo quando estamos surfando uma onda gigante de sucesso.
Eu o ignoro e começo a trabalhar dando ordens a toda minha equipe de
informática. Para evitar maiores transtornos peço que Laura dispense os
outros funcionários, alegando uma instabilidade operacional que está sendo
restabelecida por nossa equipe.
Mantenho na empresa apenas os executivos para tentar, com a ajuda
deles, conter os danos que certamente irão aparecer.
Quatro horas depois consigo não só interromper os ataques, como
iniciar uma nova modificação nos protocolos de defesa do sistema. Ainda
vou ter que mexer em muita coisa, mas será o suficiente para bloquear
prováveis invasões que possam ocorrer em um curto espaço de tempo.
Seja quem for que tenha tentado invadir a porra do sistema, sabia
exatamente o que estava fazendo.
— Esse ataque foi muito bem programado, quem esteve envolvido tem
uma técnica específica para inativar nossas tentativas de contenção. — Laura
constata o óbvio.
— Eles tinham um objetivo — afirmo pensativo.
— Senhor Cassel. — Tomy, um jovem nerd que se formou há pouco
tempo em Harvard se aproxima da minha mesa. — Consegui rastrear a
localização de um dos computadores. — Ele coloca o dedo indicador no meio
dos óculos e os empurra para cima. — Confesso que usei métodos não
ortodoxos, mas o momento exigia qualquer tipo de ação.
— Eu disse que podiam fazer o que bem quisessem. — Descanso o
corpo contra o encosto da cadeira. — O que tem para mim?
— É estranho. — Aperto os olhos esperando pela conclusão da sua
fala. — Ele está em Hong Kong.
Cruzo os dedos e os apoio atrás da cabeça tentando não demonstrar aos
meus funcionários o quanto esta notícia me desestruturou.
— Ei! — Outro funcionário se aproxima. — Identifiquei mais um
computador, desta vez aqui em China Town, esse deixou sua localização ser
rastreada propositalmente. — Recebo o exato lugar onde o hacker está ou
esteve tentando me foder.
— Gente isso está estranho — Ally comenta, sem saber que não existe
nada de estranho no que aconteceu.
Lanço um olhar aguçado para minha CEO, ela capta que algo não está
bem e entende que preciso de privacidade.
— Voltem aos seus trabalhos e fiquem atentos a tudo, se algo de
anormal acontecer apenas me avisem — ordena. — Provavelmente ficaremos
por aqui além do horário de expediente. — Ela espera todos se dispersarem
para se aproximar de mim. — O que realmente está acontecendo?
Certos assuntos divido apenas com Stuart e meu amigo sabe tudo sobre
o interesse de Song na minha empresa. Fora ele eu evito conversar com
alguém sobre minha ligação com algumas figuras do crime nova-iorquino.
Sou a porra de um príncipe e empresário famoso, não pega bem para minha
reputação ter uma ligação direta com criminosos.
— Tenho uma suspeita de quem seja, mas isso eu vou resolver
pessoalmente. — Não vou me abrir com ela, Laura ainda necessita ganhar
minha total confiança. — Preciso apenas que mantenha tudo sob controle,
caso eles voltem a nos atacar, me avise imediatamente.
— Não se preocupe com nada — diz entendendo bem, que estou sendo
reticente. — E confie em mim, estou aqui para o que precisar.
— Tudo ao seu tempo. — Não vou fingir que ela não tem razão na
minha falta de confiança.
Com um aceno seco ela sai da sala me deixando apenas com Stuart.
— Que porra foi essa? — Stuart é direto.
— Vamos sair daqui. — Pego meu terno e sigo ao lado do meu amigo
direto para minha sala.
Quando chegamos lá abro um dos armários e pego uma garrafa de
uísque. Sirvo duas doses duplas e entrego uma delas a Stu. Bebemos ao
mesmo tempo, ambos estamos extremamente estressados.
— Isso foi obra do Song — digo cansado. — Ele está puto porque
neguei que investisse na empresa.
— Por que esse infeliz cismou contigo? — pergunta irritado. — Porra!
Você não é como Mitchell.
— Não sou — concordo. — Mas possuo o mesmo título que ele e lido
com os italianos.
— Mas eles não causam problemas.
— Por isso mantenho contato, mas os chineses não são iguais, esse
ataque mostra bem do que podem ser capazes.
— O que você vai fazer? — penso na pergunta por alguns segundos.
— Vou aproveitar Mitchell na cidade para ele me ajudar a revidar,
também trarei Nero para meu lado.
— Thomas... — Stu se aproxima exibindo um olhar preocupado. —
Não te quero dentro de problemas, já tivemos a perda da Clover, chega de
mortes.
Entendo seu ponto de vista, nós dois sofremos quando ela se foi, cada
um por seus motivos, só que dessa vez tudo é diferente.
— Apenas relaxe, o contexto atual é outro. — Bato nas suas costas. —
Preciso fazer umas ligações, fique de olho em tudo, não acho que os ataques
vão parar, ao menos até eu tomar as providências necessárias.
— Você é tão louco quanto seu irmão — comenta irritado.
— Não chego tão longe. — Deus me livre ser como meu irmão,
Mitchell não tem um pingo de juízo ou de limites.

— Você não vai me dizer o que está acontecendo? — Fiorella pergunta


novamente.
— Nada que precise se preocupar — respondo ao calçar o sapato.
— Como não vou me preocupar se você vai receber Nero
inesperadamente na sua casa?
Ajeito minha camisa e coloco um novo relógio. Entendo sua agitação,
mas o que vou tratar com seu primo não é nada que envolva o que temos
juntos.
— São negócios, preciso da ajuda dele em um problema inesperado que
surgiu hoje.
— Que problema?
— Pare de ser curiosa. — Puxo-a para perto e beijo sua boca. — Coisas
na empresa, Nero tem dinheiro investido lá e pode me ajudar no que
necessito, só esqueça esse encontro, não envolve você.
— Tem certeza?
— Absoluta. — Seguro sua mão e saio do quarto. — Não fique presa a
essa visita, temos mais um dia juntos antes que precise voltar para a casa dos
seus tios, então vamos aproveitar cada segundo.
— Como aproveitamos se você vive sumindo por conta do trabalho? —
Agora ela me pegou de jeito, realmente ando tendo um problema atrás do
outro.
— Vou tentar mudar isso. — Não prometo nada concreto, até porque os
contratempos que tive foram completamente fora da rotina.
Chegamos na sala e encontramos Kimberly, Mitchell e Stuart
conversando. Nos juntamos a eles e chamo os meninos para dividir uma
bebida enquanto aguardamos Nero chegar.
O meu irmão não sabe a fundo tudo o que aconteceu, fiz um rápido
resumo e vou colocá-lo a par de tudo quando tivermos a nossa reunião, assim
faço um só relato.
Não demora muito e a subida de Nero é anunciada, como esperado sou
informado que ele está acompanhado de Eros e seu fiel soldado Cassio.
Caminho até o hall de entrada e espero o elevador chegar, nunca recebi
Nero no meu apartamento, meu contato com a máfia é sempre feito em um
local discreto, mas como a nossa situação mudou por conta da Fiorella, achei
correto ele mesmo ver o quanto cuido da sua prima enquanto a tenho sob os
meus cuidados.
— Que prazer recebê-lo, Nero, seja bem-vindo. — Estendo a mão e
trocamos um rápido aperto.
— Quando acabarmos nossa conversa decido se houve qualquer prazer
— diz ríspido. — Mitchell. — O cumprimenta com um aceno.
— Olá. — Meu irmão demonstra na saudação todo o seu mau humor.
— Vamos para o escritório, não quero perder tempo. — Ele nos dá as costas
e sai andando.
— O humor dele é incrível — Eros comenta com sarcasmo. — Belo
apartamento alteza.
Tento evitar revirar os olhos ele é implicante demais.
— Você não muda, Eros. — Stuart diz descontraído. — Sua ironia é
motivacional.
— Adoro elogios. — Assim que ele acaba de se gabar, Fiorella entra na
sala ao lado da Kim.
Os olhos dela correm entre nós, a preocupação é evidente no seu
semblante tenso.
— Como você está, pequena? — Nero pergunta parecendo tentar
descobrir se o assunto importante que precisamos tratar pessoalmente
realmente não a envolve, como fiz questão de garantir quando o convidei
para uma conversa.
— Estou bem, mas preocupada.
— Com exatamente o quê? — Ele beija sua testa, em um gesto terno
demais para alguém na posição de Capo.
— Você aqui, me parece uma situação bem preocupante. — Pequenas
linhas aparecem ao lado dos olhos dele quando tenta reprimir um sorriso.
É interessante a maneira atenciosa com que lida com a prima, nem
mesmo com as irmãs ele é tão tranquilo.
— Eu espero que não seja nada demais, o seu príncipe não me disse o
motivo do convite. — Sua atenção vai para Kimberly. — Boa noite.
— Boa noite — ela responde sem se importar em estar em meio a
mafiosos. — Querem que eu mande servir algo para vocês comerem
enquanto conversam?
— Não será necessário, Kim, obrigado. — Agradeço por ser sempre
prestativa. — Vamos para o escritório antes que Mitchell tenha uma crise
histérica.
— Depois conversamos, ragazza — Eros diz à Fiorella. — Você está
mais bonita do que da última vez que nos vimos.
— Para, Eros. — Ela o recrimina sem deixar de esconder o sorriso.
Olho enciumado para os dois, odeio essa maneira íntima com que ele a
trata. Ao contrário de Nero que é seu primo legítimo e está fora de jogo, Eros
é um primo de consideração, já que é sobrinho de Gastone. Isso deixa o
caminho livre, uma vez que os dois não dividem o mesmo sangue.
Infelizmente não contenho minha expressão de descontentamento e
Eros se diverte ao ver o quanto estou chateado. Eu preferia que Nero andasse
grudado em Rocco, o seu subchefe, esse é um homem centrado.
Dou as costas para eles e vou na direção do escritório, já encontro
Mitchell parado perto da janela com as mãos nos bolsos da calça. Ele já tem o
humor ruim, quando está em meio a um problema fica insuportável.
— Uau! Quantos livros — Eros exclama. — Conseguiu ler alguns,
alteza? Ou é só para fingir ser intelectual?
— Sem provocações. — Nero o alerta. — O que está acontecendo? Só
espero que não tenha mentido para mim e esse encontro envolva a minha
prima. — O tom da sua voz é ameaçador. — Porque se fez alguma merda que
a feriu, seu reino vai ter que providenciar um funeral.
— Vamos com calma, Nero. — Mitchell chama sua atenção sem
esconder que não gostou da sua ameaça.
— Vocês podem parar com toda essa merda? — peço já sem paciência.
— Porra! É chato pra caralho essa briga de egos. — Dou a volta na mesa e
me acomodo na poltrona. — Sente-se e quem quiser sirva-se de uma bebida.
— É de bom-tom o anfitrião nos servir a bebida. — Nero se acomoda a
minha frente ao me provocar.
— Aqui você pega sua bebida, quantas vezes quiser.
— Ao menos não dá limites. — Vejo o brilho de diversão nos seus
olhos.
Parece que ele se desarmou, menos um com humor pesado, está mais
acessível que meu irmão.
— Bem... — Entrelaço os dedos ao apoiar os cotovelos sobre a mesa.
— Dois fatos inusitados aconteceram em um curto espaço de tempo.
— E quais seriam?
Pego na prateleira ao lado da minha mesa o drone que estava
sobrevoando a casa de Hamptons.
Explico para ele tudo o que aconteceu, deixando claro que o drone não
tinha sistema de transmissão ao vivo. Nero fica irritado com meu relato e me
enche de perguntas com medo da segurança da prima.
— Essa parte do drone não é um problema. — Mitchell entra na
conversa. — A câmera foi destruída com todas as imagens e em nenhuma
delas sua prima foi flagrada, pegaram apenas a casa.
— Ao menos isso. — Nero ordena que seu soldado pegue um pouco de
uísque. — Acham que estavam atrás da Fiorella, ou é algo de vocês?
— Não podemos ter certeza sobre isso — sou sincero na minha
resposta. — Mas um evento que aconteceu hoje, está me fazendo pensar que
esse drone pode estar ligado ao que iremos discutir agora.
— Sem suspense, apenas diga o que aconteceu.
— Ao menos alguém aqui que não gosta de enrolação — Mitchell
comenta satisfeito ao ouvir o ultimato do Nero.
Lidar com dois apressados é foda, ou você é mais paciente que eles, ou
a briga está formada.
Para evitar mais reclamações conto sobre as tentativas de invasões no
sistema da minha empresa. Todos me ouvem atentamente, em alguns
momentos me fazem perguntas. Stuart me ajuda a esclarecer algumas, em
especial o período que o ataque foi iniciado e eu estava longe.
— No final descobrimos onde os dois hackers estavam — afirmo ao
finalizar meu relato.
— E onde foi? — Nero me encara com atenção.
— Um estava em Hong Kong. — As sobrancelhas do meu irmão
grudam no couro cabeludo. — E o outro adivinha? — A sala fica em silêncio
absoluto.
— Em China Town — Eros é o primeiro a se pronunciar. — Acertei?
— apenas concordo com a cabeça sem emitir uma única palavra. — Kalel
está na área — diz ao encarar o chefe.
Nero esfrega os olhos entre o polegar e o dedo médio claramente
irritado.
— Vocês conhecem o hacker? — questiono curiosamente.
— Ele é um fugitivo — Eros me responde. — Trabalhava para várias
organizações, até que invadiu o sistema do governo russo e se fodeu. A máfia
chinesa o abrigou e o esconde em troca dele cometer crimes virtuais, os
desgraçados ganham uma fortuna com isso, atualmente é um dos principais
ramos dos negócios deles, por isso andam com muito dinheiro para investir e
tentar lavar legalmente toda a grana.
Fico impressionado com o relato dele, mas não surpreso com a astúcia
do hacker. Para me causar tanta dor de cabeça, certamente ele é bom.
— E quem estava em Hong Kong? — a pergunta do meu irmão é
apropriada.
— Provavelmente ninguém, Kalel normalmente manda um sinal falso
para despistar, ou então pediu a algum amigo para enganar vocês.
— Só que uma coisa chama atenção nessa história. — Stuart se
manifesta. — Se ele jogou a localização em Hong Kong, por que deixou
escapar a de China Town?
— Porque ele queria que soubéssemos de quem foi o ataque. —
Mitchell diz com o olhar fervendo de raiva, em seguida fita Nero. — Eles
querem problemas.
— Na verdade, eles andam causando problemas — afirma ao se
levantar. — Song não vai parar, vamos precisar enviar um bom recado a ele.
— E o que teremos de fazer? — pergunto não gostando do rumo da
conversa.
— Você é bom em invadir sistemas? — Seu questionamento não me
agrada.
— Por que quer saber?
— Apenas responda. — A arrogância no seu pedido me deixa
silencioso.
— Thomas é capaz de tudo, ele é um dos melhores hackers que já
conheci. — Stu me entrega.
— O príncipe tem um pé no crime, interessante. — Eros sorri feliz em
saber do meu lado oculto.
— Diga seu plano, Nero. — Dessa vez é Mitchell a lhe dar ordem. —
Se for uma boa proposta, eu e Thomas iremos avaliar o que fazer.
— Não temos muitas opções, sabe disso, Song é um risco iminente a
todos nós, isso inclui a minha prima e eu não vou permitir que nada aconteça
com ela. — Agora ele tem toda a minha atenção, se Fiorella pode ficar no
meio dessa situação, eu sou capaz de qualquer coisa.
— Estou te ouvindo. — Recosto contra a cadeira esperando para
descobrir o que ele tem em mente.
Para manter Fiorella segura, eu coloco toda China Town no chão, em
poucos segundos.
UM MÊS DEPOIS

Ligo o notebook e começo a entrar no programa de videochamada. A


minha terapeuta precisou viajar até a Flórida e me avisou que nossa terapia
seria on-line.
Enquanto me conecto penso na falta que ando sentindo do Thomas e da
minha família. Ele andou enfrentando problemas na empresa e tivemos um
tempo afastados quando precisou ir para o Festival de Verão em Vichi.
Essa separação inesperada me mostrou o quanto estou apaixonada por
ele. Estou verdadeiramente preocupada, eu não sei como será o momento que
eu tiver que partir.
Cada dia que passa, a pressão para que eu volte fica maior, minha mãe
está em uma empreitada para que eu retorne ainda este mês. Ela anda
pressionando Paolo, mas para minha sorte meu irmão permanece deixando
nas minhas mãos o momento que devo retornar.
— Oi, doutora.
— Olá. — Ela me recebe com um sorriso radiante. — Podemos
começar?
— Claro. — Aproximo um pouco mais a cadeira da mesa.
— Estou te achando um pouco abatida, quer conversar sobre o que
anda te afligindo? — É impressionante como ela consegue me decifrar.
— Minha mãe quer que eu volte para casa, não está feliz com as
notícias de que ando saindo pela cidade, ela quer ter controle sobre mim e me
arrumar um marido o quanto antes.
— O que seu irmão acha disso?
— É ele que anda me mantendo aqui, mas tenho medo de ceder aos
caprichos da mamãe e me fazer voltar.
— E o seu romance? Como está?
— Na mesma — respondo sem ânimo. — Ele continua trabalhando
sem parar, nossos encontros diminuíram. — Corro a ponta da unha pela barra
do meu vestido. — Estou um pouco insegura com nossa relação.
— Por quê? — Encaro a tela e vejo Jeniffer me observar atentamente.
— Não estou controlando o que sinto por ele. — Assumir esta verdade
é libertadora. — Nunca poderemos ficar juntos, eu não queria me apaixonar,
mas não consegui evitar. — Minha terapeuta fica muda, ela parece levar
algum tempo para encontrar as palavras certas a me dizer.
— Nós não somos capazes de controlarmos o que sentimos. — Sua voz
é suave. — Só viva, Fiorella, não pense em nada além do que já possuem
juntos. Você como uma mulher da máfia tem suas obrigações. Tenha esse
momento como algo só seu, vai doer sim quando tudo acabar, mas será uma
dor diferente de tudo o que sentiu. Com o tempo esse sentimento irá sofrer
transformações e você terá um lugar seguro para visitar quando a sua
realidade te sufocar.
É um conselho duro, mas tão verdadeiro. Eu tenho um destino que será
escolhido em breve e não poderei fugir, então neste momento só me resta
viver a pouca liberdade que me deram de presente.

Passo a mão pelo meu cabelo enquanto olho os números do painel


digital do elevador seguir direto para o último andar. O segurança do Thomas
que sempre me acompanha está a minha frente, ele está ao meu lado desde
que Nero me deixou a frente de um elegante prédio no centro de Manhattan.
Assim que as portas se abrem sigo o segurança um pouco confusa
quando noto o imenso restaurante com meia luz e completamente vazio. Os
pelos da minha nuca ficam eriçados, eu confio em Thomas, mas ver esse
lugar tão silencioso não me agrada.
— Siga até as janelas de vidro. — O segurança aponta um local que
tem uma iluminação difusa.
Faço um delicado gesto de cabeça e o agradeço por me acompanhar até
aqui. Com passos lentos caminho para onde indicou, não demoro a identificar
a figura austera do Thomas.
Antes que eu o alcance ele vira-se e me fita. Como sempre acontece
quando estamos juntos meu coração não se controla e bate com rapidez.
Ele veste uma calça justa preta, camisa cinza sem gravata. Está simples,
porém extremamente elegante. A verdade é que ele é charmoso em qualquer
situação. Não importa o que vista, está sempre lindo.
— Estava ansioso para te rever depois de uma semana longe — diz ao
me encontrar no meio do caminho. — Você está linda. — Seus lábios
encostam suavemente nos meus, só que eu preciso de mais, por isso
aprofundo o beijo ao cruzar meus braços em seu pescoço.
Sinto a surpresa dele pela minha ação, normalmente eu sou mais
comedida, no entanto, depois de tanto tempo sem poder tocá-lo eu me sinto
completamente sem controle.
— Não me recepcione assim quando temos uma equipe nos observando
— sussurra ao interromper beijo.
— Desculpa — peço ao descer minhas mãos e segurar sua cintura. — É
que parece fazer muito tempo que nos vemos.
— Tentei resolver tudo o mais rápido que pude, mas têm sido dias
difíceis. — Ele acaricia o meu rosto. — Vamos nos sentar. — Seguro a sua
mão e sigo para a mesa que já possui alguns itens postos. — Espero que goste
do que preparei.
— Você realmente fechou o restaurante? — pergunto ao correr os olhos
pelo local vazio.
— Queria um momento nosso, fora do habitat que estamos
acostumados a estar.
Não consigo dar uma resposta apropriada, estou extremamente
emocionada por ele pensar em algo tão especial para nosso encontro depois
de tanto tempo separados.
Para a minha sorte o Maître aparece na nossa mesa dando os
cumprimentos da casa e deixando o cardápio. Thomas começa a falar sobre
os melhores pratos do restaurante e me avisa que o chef está pronto para fazer
o que pedirmos.
Escolho um risoto de cogumelos, a entrada e sobremesa ficam por
conta do Thomas. A grande verdade é que não tenho muita fome, tudo o que
desejo é poder ficar a sós com ele.
Enquanto esperamos nosso jantar o garçom serve o vinho, ele me
pergunta como foi minha última sessão de terapia. Sempre que que
demonstra esse tipo de atenção sobre meus sentimentos, eu me sinto
completamente emotiva.
O nosso jantar transcorre de maneira tranquila, o ambiente vazio joga
uma áurea de paz e, pela primeira vez desde que estamos juntos, eu me sinto
importante na sua vida.
Para o meu desespero o meu coração já apaixonado se derrete pelo
homem a minha frente.
Quando nosso jantar termina e saímos do restaurante, sinto um conflito
imenso dentro de mim ao pensar que tudo o que estamos vivendo é uma
ilusão.
Mais cedo Nero me informou que meus tios estão voltando e isso
significa que nossos encontros serão interrompidos.

A boca dele vem contra a minha tomando meus lábios com fervor.
Desalinho os fios do seu cabelo ao me entregar de corpo e alma a este
momento.
Thomas tomba meu corpo na cama e desliza a minha calcinha por
minhas pernas até descartá-la no chão. Os olhos dele me fitam com desejo,
sempre que me olha assim a sensação que tenho é de ser a mulher mais
desejada do mundo.
Ele me lança um sorriso sacana quando desce a calça juntamente com a
cueca revelando sua potente ereção. Rodeio meus braços em torno dele
quando seu corpo cobre o meu.
Eu o quero tanto que chegar doer, em certos momentos acho que foi um
grande erro ficarmos juntos, mas aí eu penso em todas as experiências que
vivi ao seu lado e entendo o quanto tudo o que vivemos mudou quem eu sou.
— Pare de pensar. — Encaro seus olhos assustada por ele perceber que
minha mente se perdeu. — Fique aqui comigo, viva este momento, é tudo o
que temos. — A intensidade com que ele me olha faz minhas emoções
ficarem em conflito.
Eu me sinto perdida, completamente à deriva com todos os meus
sentimentos. Não quero perdê-lo, Thomas foi a única coisa boa que eu tive
nesta vida.
Não o respondo, apenas levo meus lábios aos seus, necessitando
desesperadamente me conectar a ele.
Seguro o seu membro sentindo a força da sua rigidez na minha mão.
Acaricio com a ponta do polegar toda a sua glande, espalhando o líquido pré-
sêmen por toda a região.
Ele geme contra meus lábios, apertando com força o meu quadril. Abro
mais as pernas, o incentivando a se encaixar entre elas. Sem demora ele
obedece ao meu pedido silencioso e nos conectamos prazerosamente,
iniciando mais uma vez o momento em que existe apenas nós dois.
Erguendo minha perna ele afunda toda a sua ereção em mim. Apoio as
mãos na sua bunda, dando a exata profundidade que eu quero que ele vá.
Thomas sorri e acata minha vontade indo em um ritmo que eletrifica todo
meu corpo.
Em um movimento hábil coloca minhas pernas contra seus ombros.
Solto um chiado profundo quando ele se precipita em uma única estocada.
Thomas sempre teve o cuidado de não ser muito agressivo na cama, mas
desde que voltamos de Hamptons, tem sido mais incisivo no sexo.
A princípio fiquei perdida com esse novo modo dele agir, mas depois
eu me deixei levar e hoje exijo um sexo com mais pegada, eu me excito com
essa maneira forte com que me segura.
Noto que sua testa tem gotículas de suor e seu rosto está tenso,
demonstrando o quanto ele está no limite. Gosto de saber que eu o
descontrolo, não estou sozinha nessa atração louca que sinto por ele.
— Preciso de um pouco mais — peço sem ar, ansiosa para conseguir
meu orgasmo.
— Não fala assim — grito quando ele me penetra com mais força. —
Eu não quero te empurrar além do limite.
— Desde que te conheci esqueci meus limites. — A mão dele aperta
minha cintura com força.
Thomas se solta e me dá exatamente o que pedi. A maneira viril com
que me penetra faz todo o meu corpo vibrar, eu me sinto completamente dele,
é como se fossemos apenas um.
Eu gozo deixando um grito escapar quando sinto cada célula do meu
corpo explodir. O cheiro da nossa união embriaga os meus sentidos,
deixando-me zonza. Fecho os olhos, completamente sonolenta após sentir um
orgasmo devastador.
— Como vou fazer para abrir mão de você? — Ouço sua voz longe,
mas não sei ao certo se foi ele a falar, ou eu que esbocei em meio a névoa de
sono o meu medo do momento da nossa separação.
— Como vou fazer para abrir mão de você? — Sopro essas palavras
quando ela fica mole entre meus braços.
Ajeito o seu corpo na cama e coloco o travesseiro sob sua cabeça, em
seguida puxo o lençol e a cubro. Passo um tempo admirando seu rosto,
perdido nos sentimentos que estou lutando para não sentir.
Em algum momento eu passei a respirar apenas Fiorella, eu não
consigo mais tirá-la da minha mente.
Jogo a cabeça para trás e recosto sobre a cabeceira da cama, eu me meti
em uma grande furada, agora já não sei como vou fazer para conseguir sair
dessa enrascada.
Pulo da cama e caminho até a janela. Olho para o céu esperando que
um grande milagre aconteça e mude todo o nosso destino. Ser um príncipe
sempre foi algo que me incomodou, mas agora que ela está na minha vida, o
meu título parece ainda mais esmagador.
Pode parecer um pouco contraditório, mas neste momento eu queria
pertencer à máfia. Se eu fosse um deles a reivindicaria como minha e não
permitiria que partisse.
Volto a olhar para ela dormindo serenamente e segura na minha cama.
É assim que a quero sempre, o que me deixa angustiado é saber que não vou
poder estar por perto para impedir que algum mal lhe aconteça.
Vou até o banheiro me limpar e depois visto a calça do pijama, mais
uma vez verifico Fiorella antes de sair do quarto. Preciso conversar com o
primo dela, para saber como anda os preparativos para a nossa ofensiva
contra Song.
— É sério que vai passar as férias viajando por aí e não virá me visitar?
— pergunto à minha irmã.
— Conheço uma pessoa que vivia viajando por aí e só visitava a
família por alguns dias antes de voltar à faculdade.
— Hill, não misture as coisas, eu fugia dos compromissos do reino,
você vindo me visitar irá só se divertir.
— Prometo que passarei por aí.
— Eu vou cobrar. — Aproveito para mexer com a curiosidade dela. —
Queria que conhecesse alguém.
— Como assim? Está saindo com alguma mulher especial?
— Saberá se vier me visitar.
— Thomas Cassel, não me mate de curiosidade.
Jogo a cabeça para trás enquanto rio, Hill é muito curiosa, nunca muda.
Eu poderia falar sobre a Fiorella, mas não farei isso, a não ser que ela venha
me ver. Estou sentindo falta dessa pestinha, quero passar uns dias ao seu
lado.
Desvio das suas perguntas e acabo conseguindo o que tanto quero. Ela
virá me visitar antes do retorno das suas aulas.
Quando finalizo a chamada estou sorrindo, conversar com Hill sempre
eleva meu humor.
Olho para o relógio e vejo que já está quase na hora do meu encontro
com Nero. Vamos fechar todo o plano para foder Song e alertá-lo que não
deve nos pressionar.
O desgraçado teve a audácia de voltar a me ameaçar na semana
passada, quando nos encontramos em mais um evento. Song está ganhando
muito dinheiro de maneira ilegal e está desesperado para lavar essa grana de
maneira segura.
Peço um rápido encontro com Laura, ela tem sido uma grande fonte de
apoio. Eu já tinha uma ideia da sua competência, mas estou realmente
surpreso com o seu trabalho perfeito. A ausência do Scott é sentida por toda a
equipe, no entanto, Laura o substituiu com louvor.
Não demora muito e ela está no meu escritório, começo a nossa
conversa pedindo que fique alerta sobre os boatos que começaram a surgir
sobre nosso problema de segurança.
Coincidentemente o burburinho teve início dias depois do meu
encontro com Song. O infeliz está tentando me pressionar de todo jeito, não
vejo a hora de foder com a vida dele.
Assim que a Laura vai embora eu envio uma mensagem para Stuart
pedindo que ele venha a minha sala.
Se tudo correr bem, em alguns dias irei foder com gosto a máfia
chinesa, eles irão entender que não devem brincar comigo, muito menos
achar que podem me pressionar.
Não gosto de usar meu poder, mas eu sou a porra de um príncipe e
tenho um reino para me apoiar no que eu precisar. Fora os parceiros
poderosos como a Cosa Nostra que, apesar de não andarem na legalidade,
sabem ser fiéis com aqueles que lhes oferecerem lucro.

Guardo meu celular dentro do bolso interno do terno quando passo


pelas portas do elevador e sigo na direção da sala do Nero. Ele possui um
escritório no centro da cidade, onde realiza a parte legal dos seus negócios.
Quem não o conhece de fato, jamais imagina que o bem-sucedido
empresário, na verdade, é um poderoso mafioso e controla boa parte das ruas
de Nova Iorque.
— O chefe está lhe esperando. — Cassio me avisa ao abrir a porta do
escritório.
— Obrigado. — Passo por ele acompanhado de Stuart e Alec, o chefe
da minha segurança.
— Thomas, é um prazer recebê-lo. — Nero rodeia a mesa e vem
apertar a minha mão.
— Uma pena o assunto que me trouxe até o seu escritório não ser
agradável.
— Poucas coisas na vida são. — Ele intensifica o aperto de mão e dá
dois tapas nas minhas costas. — Infelizmente é a nossa realidade.
— A minha realidade é um pouco diferente da sua. — Estendo a mão
para Rocco, o subchefe dele. — Quanto tempo.
— O trabalho anda pesado — responde com sua costumeira voz serena.
Rocco é um homem reservado, raramente o vejo nos eventos que
encontro Nero, depois que se casou ficou ainda mais recluso, nas poucas
vezes que nos encontramos, sempre está acompanhado da esposa.
Dentro da máfia ter amor em um relacionamento é algo raro, mas pela
maneira que a esposa olha para o marido, ele teve sorte e encontrou uma
parceira que o ama verdadeiramente.
— Sente-se. — Nero aponta para as cadeiras à frente da sua mesa.
Stuart é o primeiro a se acomodar, sigo logo atrás dele e acabo
percebendo a ausência do Eros. O exibido é praticamente uma sombra do
chefe, desde que os conheço vejo ambos grudados.
Ao contrário de mim que me dou bem com meu irmão, Nero não tem
esse tipo de relacionamento com Massimo, quem realmente parece ser irmão
dele é seu Consigliere, eles dividem uma parceria estreita e fiel.
— Onde está sua sombra? — Não me seguro e pergunto.
— Ele foi resolver um problema, não vai demorar a chegar.
— Pensei que eu estava com sorte. — Nero sorri.
— Essa implicância de vocês parece até amor não correspondido.
— Não fode, Nero — esbravejo fazendo-o alargar ainda mais o sorriso.
— Vamos ao que interessa? — Rocco entra na conversa. — Vocês
querem uma bebida?
— Um uísque seria bom. — Stu apoia uma perna sobre o joelho
fingindo estar tranquilo, mas eu bem sei o quanto está desconfortável.
— A minha dose pode ser dupla — digo a Rocco que se encaminha
para um armário no canto do escritório.
— Então vamos ao nosso plano. — Nero cruza as mãos sobre a mesa.
— O negócio é simples. Song vai receber drogas vindas da Colômbia em
alguns dias, é uma carga grande in natura, que será preparada nos
laboratórios dele aqui. Existe um esquema entre os agentes de segurança do
porto, como já havia falado. — Faço um leve aceno de cabeça, essa parte do
plano eu já estou por dentro. — Nós recebemos a informação sobre o dia e
hora da chegada da carga, preciso que você trave o sistema do porto, para os
tiras chegarem lá de surpresa e apreenderem a droga.
— Por que não me sinto admirado por você ter esse tipo de contato
com a polícia? — Nero se recosta contra a cadeira exibindo um sorriso torto.
— Como acha que eu vendo minhas drogas?
A realidade do mundo dele cai sobre mim de uma maneira sufocante,
apesar da aparência de um homem rico, Nero não é melhor do que qualquer
traficante que roda as ruas da cidade.
— Eu preciso estar em todas as esferas da sociedade, Thomas, a polícia
é uma das principais dela.
— Você tem razão. — Pego o uísque. — Não será um problema invadir
o sistema deles.
— Gosto desse seu lado criminoso. — Endureço o rosto, eu não me
sinto feliz em tomar certas atitudes.
— Como você vai fazer Song saber que nós fomos os responsáveis por
dedurar a carga dele? — Stuart pergunta.
— Isso será a parte mais fácil — Rocco comenta ao parar ao lado da
mesa do chefe. — Song terá a notícia vinda diretamente de mim.
— Ele vai espumar — Stu afirma sorrindo.
— Na verdade, o desgraçado vai aprender o seu devido lugar — Nero
vocifera no exato momento em que a porta se abre e Eros entra com o
semblante tenso. — O que aconteceu?
— Um dos nossos associados foi atacado, não sabemos ao certo se
foram os chineses ou os albaneses, mandei alguns homens verificarem de
perto o problema.
— Porra! — Nero bate sobre a mesa — Quem foi?
— Hunter. — Já ouvi falar desse nome, mas no momento não consigo
me lembrar quem é. — Invadiram uma das oficinas de moto dele e
destruíram tudo.
— Malditos! — Rocco vocifera extremamente irritado. — Precisamos
saber quem foi para contra-atacarmos, Hunter é um bom parceiro.
— Posso estar enganado, mas tem dedo do Song aí, ele está doido para
tomar o posto do Hunter e liderar a área dele — Nero afirma ao correr a mão
pelo cabelo.
— Quando vamos foder com filho da puta? — Eros pergunta
espumando de raiva.
— Em alguns dias. — Os olhos de Nero caem em mim. — Fique a
postos, vou confirmar uma última vez sobre a chegada das drogas. — Sua
voz sai rascante. — Vamos comer o rabo do Song a seco.
— É tudo o que desejo — digo sentindo a adrenalina correr por minhas
veias.
Estou ansioso para mostrar a Song que ele fez um movimento errado
quando pensou que poderia me pressionar a ser seu parceiro.

Espero o computador ligar enquanto sorvo um gole de vinho, é hoje o


grande dia que vamos foder com Song e enviar um belo recado que deve
recuar na sua investida contra mim e a Cosa Nostra.
Stuart transita agitado ao meu redor, ele está em nível extremo de
ansiedade, nós não estamos acostumados a lidar com esse tipo de assunto,
então, nos sentimos apreensivos.
— Se algo der errado Mitchell vai te proteger, não é mesmo? — ele
pergunta ansioso.
— O que pode dar errado? — pergunto ao começar a acessar o sistema
do porto.
— Muita coisa. — Ele olha para um dos homens de Nero que estão
dentro da luxuosa suíte em que estamos.
Para não me expor decidimos que eu faria a invasão utilizando uma das
propriedades da máfia. O hotel onde nos encontramos é um dos mais
opulentos da cidade e bem conhecido no submundo por pertencer a um dos
tenentes da Cosa Nostra.
— Apenas relaxa, nada vai acontecer — afirmo com tranquilidade.
— Você sabe que não gosto de me envolver com esse tipo de gente.
— Não tivemos opção, Stu, infelizmente eles estão no nosso caminho e
precisamos administrar esta situação.
— Eles já nos destruíram uma vez. — Nossos olhos se cruzam.
— O cenário era diferente. — Realmente era, quem fodeu nossa vida
foi o chefe do maior cartel mexicano, agora estamos lidando com outra rede
de crime, essa ainda mais perigosa.
É justamente por conta de os chineses serem letais, que eu preciso
neutralizá-los logo. Song precisa entender que não deve entrar no meu
caminho, ele pode encontrar outros parceiros, eu jamais estarei disponível
para qualquer tipo de assunto com ele.
O meu celular vibra e o nome do Nero aparece, destravo a tela e
coloco-o no viva-voz.
— Diga chefe. — Faço questão de provocá-lo.
— Posso me acostumar com você sendo um dos meus soldados.
— Sonhe mais. — Ergo um canto da boca, gosto dele,
independentemente de ser um mafioso, é um homem que sabe ser sociável.
— Estamos apenas esperando por você, a polícia está pronta.
— Em minutos estarei controlando tudo, fique na ligação.
Começo a acessar todo o sistema e inicialmente congelo as câmeras,
em seguida entro no sistema central e paraliso tudo. Assumo completamente
o controle do porto, até que eles consigam contra-atacar minha invasão, a
operação estará finalizada.
— Estamos dentro — aviso Nero. — Agora é com vocês.
— Que comece o show. — Ele encerra a ligação.
Olho para Stu, ele tem uma garrafa de Gin na mão e despeja a bebida
no seu copo. Sua expressão é de preocupação, apesar de saber que não existe
a possibilidade de ninguém nos atacar, ele teme pelo que pode nos acontecer
no futuro por estarmos de alguma maneira envolvidos com o crime.
Não nego que me incomodo em ter parceria com Nero, mas o mundo
dos negócios é complexo, o crime está espalhado pelas várias esferas do
poder, não dá para fugir dessa realidade.
O tempo parece parar enquanto a polícia entra no porto e segue direto
para a área de desembarque das cargas. Acompanho em primeira mão todo o
processo, como estou no controle das câmeras tenho uma visão privilegiada
de toda a operação.
A satisfação me domina quando os homens do Song são surpreendidos.
Eles tentam resistir a prisão, mas o cerco está bem formando e todos são
presos, assim como as drogas.
Vencemos!
Conseguimos enviar o recado que tanto queríamos. Eu espero de
verdade que ele entenda que deve seguir outro rumo.
— Diga que tudo acabou — Stu pede ao parar atrás da minha cadeira.
— Conseguimos. — Ergo o rosto e olho para ele. — Foi tão fácil que
chegou a ser entediante.
— Não brinca comigo, porra! — Ele volta a encher o copo de Gin. —
Eu quase infartei, a sensação que eu tinha era que os homens do Song
entrariam aqui.
— Para de viajar, Stuart — digo caindo na risada. — Você está
assistindo séries policiais demais. — Meu celular volta a tocar, sequer me
dou o trabalho de olhar o nome de quem está ligando, já sei exatamente de
quem se trata — fale — ordeno ao girar a cadeira feliz.
— Parabéns, seu trabalho foi ímpar, pode liberar o sinal de onde saiu o
ataque, o resto fica a nosso cargo, resolveremos tudo e mandaremos o recado
bem explícito a Song.
— Espero que não tenhamos mais nenhum trabalho juntos.
— Teremos se nossos negócios estiverem em risco. — Sua voz sai
dura. — Nos falamos amanhã. — Ele encerra a ligação.
Cruzo os dedos e os apoio na nuca, odeio saber que Nero tem razão.
Ele é um dos meus investidores com mais ações, se algo estiver indo errado
com meus negócios, realmente vou precisar da sua ajuda. O meu problema
real é saber que ele sempre usará meios ilícitos para ter o que deseja.
Eu não fui feito para estar dentro da máfia, não é meu estilo lidar com o
submundo, principalmente depois dele quase ter me destruído, mas por ela eu
sou capaz de tudo.
— Evite fazer aparições públicas, já alertei Alec sobre redobrar sua
segurança. — Como sempre Mitchell me trata como se eu ainda fosse uma
criança.
— Sei me cuidar. — Esfrego a mão no rosto ainda sonolento, meu
irmão acordou bem cedo só para me encher de recomendações sobre
segurança.
— Thomas, você acaba de entrar no olho do furacão. — Sinto sua
tensão através da ligação. — Song pode optar por não retaliar diretamente
você, já que ele não faz ideia que esteve pessoalmente envolvido na
emboscada, mas ele sabe que Nero fez isso como uma forma de alertar sobre
a insistência dele em tentar ser seu parceiro comercial. Esse cara não tem
escrúpulos, é o tipo de bandido que se arrisca apenas para mostrar aos seus,
que não teme ninguém.
— Impossível Song conseguir chegar perto de mim.
— Tudo é possível nesta vida, você fica exposto demais nos eventos
que frequenta, deve evitar ao máximo aparições públicas até que as coisas
esfriem.
— Serei discreto. — Na verdade, já sou discreto em todos os momentos
da minha vida.
— Preciso que me ligue caso algo aconteça, não posso confiar
inteiramente em Nero, quando você está no meio de um conflito.
— Mitchell, apenas relaxe, nada vai acontecer. — Entro no banheiro.
— Agora pode me deixar começar meu dia? Já que me acordou tão cedo, vou
começar a trabalhar de casa.
— Não vá a empresa hoje. — Pede preocupado. — Trabalhe em casa,
chame sua garota para ficar com você e tome cuidado com ela, Deus me livre
algo acontecer a Fiorella, além de lidarmos com Song, teremos o carcamano
no nosso pé.
— Ela estará segura, tanto eu, quanto o primo dela garantiremos isso.
— Assim eu espero. — Meu irmão é dramático. — Se cuida.
— Você também. — Ele bufa do outro lado, Mitchell tem a péssima
mania de tomar conta da vida dos outros, mas quando somos nós tentando
protegê-lo de algo, fica logo irritado.
Assim que termino minha higiene matinal escolho uma roupa
confortável e desço na esperança de encontrar Carmem. Para a minha sorte a
encontro fazendo café.
— Bom dia. — A pobrezinha praticamente pula quando ouve minha
voz.
— Que susto! — diz ao apoiar a mão contra o coração. — O que deu
em você para acordar tão cedo?
— Mitchell me ligou.
— Aconteceu algo? — Ela sabe o quanto meu irmão é um controlador
compulsivo.
— Nada que você precise se preocupar. — Pego um copo de água. —
Quando terminar de fazer o café leva até o escritório? Vou resolver alguns
assuntos e depois como algo.
— Claro que levo. — Aceno para ela antes de sair da cozinha.
Assim que ligo o meu computador faço uma rápida busca para saber se
a imprensa já tem informação sobre a apreensão das drogas. Encontro no
principal jornal da cidade uma matéria pequena, falando sobre a operação e
avisando que ao longo da manhã a polícia irá fornecer mais detalhes.
O recado foi dado, agora é esperar para saber como Song irá se
comportar. Eu espero de verdade que ele entenda de uma vez por todas que
deve continuar se mantendo longe, será bom para todos nós se ele não insistir
em uma retaliação.
Aproveito a paz da manhã e a minha sensação de dever cumprido para
trabalhar em um novo jogo. Ainda estou curtindo o sucesso do meu último
lançamento, mas não posso parar, preciso sempre trazer novidades para meus
clientes.
Carmem traz o meu café e avisa que em quinze minutos a mesa estará
pronta. Apenas agradeço e volto ao que estou fazendo, quando a fome
realmente bater eu vou comer algo, por enquanto só um cafezinho já é o
suficiente.
O som estridente do meu celular quebra o silêncio do escritório,
praguejo baixinho e verifico quem já está ligando. O nome do Nero brilhando
na tela acaba me deixando agitado.
— Já está ativo tão cedo?
— Preciso estar — responde sem rodeios. — Song já recebeu o recado,
Rocco ontem mesmo já liberou a informação de onde saiu o ataque. Com
relação a você já está tudo certo, ele foi alertado que deve recuar, no meu
caso ainda tenho contas a acertar com ele, de qualquer maneira fique atento,
não acho que ele vá se movimentar para o seu lado, mas todo cuidado é
pouco.
— Assim eu espero, não quero mais problemas.
— Infelizmente os problemas surgem, só precisamos resolvê-los. —
Ele tem razão, não podemos fugir de certos percalços. — Preciso te avisar
que meus pais estão chegando na cidade, eu vou tentar fazer um novo arranjo
para seus encontros com Fiorella.
Ela havia me dito que os tios estariam de volta e as coisas ficariam
ainda mais complicadas entre nós.
— Que horas eles chegam?
— No início da noite.
— Mande-a passar o dia comigo, vou trabalhar diretamente de casa,
não sei quando poderei vê-la.
— Ela terá que partir, Thomas, a minha tia anda dando trabalho a Paolo
e com esse conflito com os chineses não é muito seguro tê-la aqui. Assim que
meu primo souber do que fizemos na noite passada vai querer levá-la embora.
— Tente segurá-la por aqui só mais um pouco. — Apoio a mão na
testa. — Eu prometo que a manterei segura, estamos passando pelo nosso
melhor momento, Fiorella finalmente está se libertando do passado. — Ouço-
o soltar um longo suspiro.
— Não posso prometer nada, Paolo tem a palavra final, mas tentarei
mantê-la por perto o máximo que eu puder, desde que não identifique
qualquer risco, ela irá ficará hoje com você, porém, preciso que antes do final
da tarde esteja em casa.
— Ela estará, tem a minha palavra.
— Meus homens irão levá-la e buscá-la, não existe negociação com
relação a isso.
— Faça como quiser, eu manterei os meus na retaguarda, quando mais
protegida estiver, melhor.
— Ótimo. — Sem mais rodeios ele encerra a ligação.
Afundo o rosto entre as mãos me sentindo completamente impotente.
Desde que a conheci sabia que não poderíamos ter nada além de bons
momentos juntos, só que agora já não é o suficiente, eu preciso de muito
mais.

— O que deu em você hoje? — Fecho os olhos quando sinto sua mão
acariciando meu cabelo. — Está tão calado, eu fiz algo que o aborreceu?
Posso ir embora se quiser. — Aperto sua cintura, meu problema é justamente
saber que ela precisará ir embora e eu não sei quando iremos nos ver
novamente.
— Você não fez nada. — Suspendo seu corpo e a monto sobre mim. —
Nero me alertou sobre seus tios, depois de hoje não sei quando te verei.
A tristeza toma conta do seu rosto, desde que chegou aqui não falou
sobre o retorno dos seus tios, certamente estava querendo evitar o assunto.
— Meu primo disse que dará um jeito.
— E quanto a Paolo? Você vai precisar voltar. — Fiorella encosta a
cabeça no meu ombro.
— Inevitavelmente esse momento vai chegar, não podemos evitar.
— Não é possível que não exista nada que eu possa fazer. — Estou a
ponto de explodir de tanta raiva.
— Você sabe como funciona minha realidade. — Ela beija meu
pescoço. — Tudo o que vivemos até aqui foi o maior presente que a vida me
deu, quando eu voltar para casa estarei levando dentro do meu coração um
pouco de felicidade, obrigada por cada momento especial que passei ao seu
lado.
Eu a seguro com força, não quero largá-la nunca mais. Estou
apaixonado por Fiorella, eu me perdi nos meus sentimentos, me sinto rendido
por ela e desesperado em imaginar que nunca mais a verei.
— Não quero te perder, porra! — Seguro sua cabeça e a beijo.
Esqueço que preciso responder alguns e-mails e me concentro apenas
na mulher a minha frente. Abro um espaço na minha mesa e a sento. Foda-se
meu trabalho! Nada neste mundo é mais importante do que aproveitar cada
segundo ao seu lado.
Abro o botão da sua calça e rapidamente deslizo a peça por suas pernas.
Fiorella sorri quando engancho a mão nas laterais da calcinha e a retiro em
um movimento firme.
Encontro o paraíso quando me instalo entre suas coxas. É uma sensação
única saber que sou responsável por cada som de prazer que escapa da sua
boca. Sempre me preocupei com a prazer das minhas parceiras, mas quando
se trata dela é praticamente uma obsessão fazê-la gozar com intensidade.
— Thomas! — Ela grita quando goza e quase arranca os fios do meu
cabelo.
Espalho beijos entre suas coxas, até que encaro seu rosto corado pelo
orgasmo. Linda demais. Eu não posso permitir que parta, preciso encontrar
uma maneira de convencer Paolo a deixá-la comigo.
— Eu nunca gostei de guerra — digo quando desato o laço da minha
calça de moletom e libero a minha ereção. — Mas pela primeira vez na vida,
estou cogitando iniciar uma unicamente por você.
— O que está querendo dizer? — pergunta quando centralizo a minha
ereção na sua entrada.
— Que a Cosa Nostra não é maior que Vichi. — Sorrio ao começar a
sentir o seu calor.
Eu não sou a porra de um príncipe por acaso, essa merda de título deve
servir para algo. Qual o pecado se uma mulher da máfia furar as tradições e
se unir com realeza?
Interrompo meus pensamentos e apenas fico concentrado no momento
único que é me unir ao seu corpo. Estou me sentindo mais vivo do que nunca
neste momento, ao seu lado eu reencontrei o Thomas que há muito tempo foi
adormecido. Eu me sinto livre neste momento e tudo é unicamente pela
mulher que está gemendo o meu nome, entregue ao sentimento profundo que
nos une.
Preciso esfriar a minha cabeça e encontrar uma maneira de mudar o
caralho das tradições da máfia e fazê-la apenas minha.

Atravesso a varanda e entro na sala em busca do meu celular. Hoje está


sendo um dia tão foda, a apreensão de drogas se espalhou como um rastro de
pólvora e a iminente chegada dos tios da Fiorella está me deixando
completamente sem controle.
Enrugo as sobrancelhas quando vejo um número não identificado
ligando. Sinto os pelos da minha nuca ficarem eriçados, uma sensação ruim
me consome.
— Estou ouvindo. — Sou seco ao atender.
— Estou verdadeiramente admirado com a sua capacidade em foder a
vida de alguém. — Reconheço a voz do Song. — Não foi por menos que eu
sabia que devíamos ser parceiros, uma pena você escolher a parte errada.
— Eu sei das minhas escolhas — digo tentando esconder a raiva.
— Talvez suas escolhas tenham um nome específico. — Todo o meu
corpo enrijece. — Príncipe eu sou um homem que nasci no crime, sei o meu
destino. Cuide da sua sombra e de quem se importa, eu não vou parar, Nero
terá seu castelo arruinado e eu não me intimidarei com sua linhagem, irei
avançar e destruirei quem eu achar que pode impedir meus objetivos. Chame
a segurança real e avise ao seu parceiro que ninguém da família dele estará
segura nesta cidade.
— Vai se colocar realmente em um conflito que claramente irá perder?
Não vou me intimidar com nenhum tipo de ameaça.
— Eu não tenho ninguém especial para me importar, eu espero que
também não tenha. — Soco a mesa quando a ligação é interrompida.
— Maldito! — esbravejo.
Odeio conflito, mas também não recuo quando entro em um. Se esse
desgraçado ousar ferir quem eu amo, ele estará morto.

Estou me sentindo a ponto de explodir a qualquer momento. Um dos


motivos que tanto lutei para ter a minha empresa foi justamente me manter
longe dos negócios paralelos da minha família.
Nunca quis me envolver com pessoas tipo Song e Nero, no universo
deles não existe nada que me atraia, sempre abominei o crime e nunca senti
um pingo de vontade de negociar com essas pessoas, como meu irmão faz.
Claro que a vida não me deixaria longe de toda essa merda, mesmo sem
querer Nero cruzou meu caminho e minha sede de sucesso sem precisar usar
dinheiro da minha família me fez tê-lo como um dos meus investidores.
Agora Song se acha no direito de também exigir uma fatia do meu
negócio, impondo sua presença quando claramente não é bem-vindo.
— Quero uma equipe redobrada para levar Fiorella até em casa, Nero
irá mandar alguns dos seus homens também, ainda assim preciso que fique
em alerta máximo.
— A situação com o chinês piorou? — Alec pergunta preocupado.
— Ele está atirando para todos os lados depois de perder sua
mercadoria — falo ainda remoendo sua ameaça. — Não quero que ela sofra
qualquer tipo de risco.
— Se me permitir e não for sair do apartamento, eu mesmo lidero o
comboio, acho que o senhor ficará mais tranquilo.
— Boa ideia. — Neste momento Fiorella desponta no topo da escada,
com os cabelos presos em um rabo de cavalo e exibindo um olhar apreensivo.
Desde que passamos a ficar juntos seus olhos ganharam vida, ver essa
mudança positiva neles sempre foi motivo de orgulho para mim, mas quando
noto que estão temerosos, fico aflito.
— Assim que Nero avisar que estão vindo buscá-la te chamo.
— O.k. — Alec acena quando nota a presença de Ella e se afasta.
— Por que você e Nero estão tão agitados? — pergunta ao parar na
minha frente. — Hoje ele fez questão dos seus seguranças me trazerem,
quando perguntei o motivo apenas respondeu que sabia o que estava fazendo.
— E realmente sabe. — Beijo sua testa. — A cidade anda em ebulição,
alguns grupos estão tentando deixar as coisas conturbadas.
— Por isso vocês estão preocupados?
— Sim. — Envolvo meus braços nela. — Não podemos vacilar com
sua segurança.
— Acha que algum deles podem tentar me atacar?
— É sempre um risco, mas estamos tomando todas as providências. —
Acaricio seu rosto. — Estou preocupado por não saber quando vou poder te
ver. — Fiorella se aninha contra meu peito.
— Eu também estou, não queria ir embora. — Envolvo-a entre meus
braços sem querer soltá-la.
— Lembre-se que tem meu apoio se quiser fugir, eu posso te dar uma
nova vida.
— Não posso fazer isso — responde ao erguer o rosto e me encarar. —
Amo a minha família, eu ficaria triste em nunca mais vê-los. — As lágrimas
fazem seus olhos brilharem. — Quero ver as minhas sobrinhas crescendo,
tenho minhas irmãs e Paolo ficaria decepcionado comigo.
— Você merece ter uma vida livre, não é justo decidirem seu destino.
— Eu sei, mas eles são importantes para mim, se eu fugir estarei
sozinha.
— Nunca te deixaria sozinha. — Com delicadeza ela acaricia meu
rosto.
— Thomas, você é um homem incrível, sei que cuidaria de mim, só que
em algum momento teria que seguir em frente com a sua vida com uma
mulher livre e eu seria um peso para você.
— Claro que não seria, eu... — Ela me interrompe ao colocar dois
dedos contra meus lábios.
— Seria sim — afirma com a voz serena, porém firme. — Em algum
momento eu seria um empecilho, não quero isso para você, muito menos para
mim. Não sei quando nos veremos novamente, mas caso nossos encontros
não aconteçam mais, preciso que saiba que cada instante que vivemos foi
mágico. Eu nunca serei capaz de te agradecer por insistir em ficar comigo,
você me fez perder o medo e me transformou para sempre. A Fiorella que
chegou aqui já não existe, hoje eu sou uma nova versão e me orgulho muito
da mulher que me transformei.
Sua boca vem contra a minha, a princípio suave, apenas sondando meus
lábios. O problema é que eu nunca consigo ser sereno com ela, com Fiorella
eu sou uma força da natureza, pronto para destruir tudo.
Avanço contra seus lábios desesperado, os devorando com uma ânsia
que jamais senti. A possibilidade de nunca mais vê-la me aterroriza, é
impossível imaginar não sentir seu cheiro, não poder tocar a delicadeza da
sua pele.
Nero terá que esperar, eu preciso de um pouco mais, talvez enquanto eu
estiver me perdendo no seu corpo, um milagre aconteça e ela não precise
mais ir embora, ao menos por hoje.
É um pensamento bobo, eu sei disso, mas quando estamos apaixonados,
ser bobo é quase uma obrigação.
O meu coração bate em uma velocidade um tanto quanto assustadora.
Estou com medo, sinto que algo grande está acontecendo e Thomas não quer
me contar.
Choramingo quando ele suga com força a parte alta do meu seio, em
seguida sua língua rodeia lentamente o bico. Nunca me canso de me
surpreender com as diferentes sensações que ele me faz sentir.
Arranho minhas unhas por suas costas, ouço rosnar, ele sempre reage
quando faço isso. Mesmo estando poucos meses juntos, eu já consegui
descobrir algumas maneiras de deixá-lo ainda mais excitado.
— Fica de quatro — pede ao se afastar e me encarar com olhos
nebulosos de luxúria.
O meu corpo estremece de tesão, seguir as suas ordens não é algo que
me incomode, muito pelo contrário, eu sei que tudo o que pede é com o
intuito de me cobrir de prazer.
Sem contestar eu fico na posição que pediu, empinando a bunda com a
clara intenção de provocá-lo. Dou uma leve requebrada e jogo o cabelo para o
lado quanto giro o rosto encarando-o.
Thomas sorri e aperta a minha bunda, a maneira com que me fita faz
meu interior se aquecer, eu não sei em que momento as coisas entre nós
mudaram, apenas me sinto íntima a ele de uma maneira diferente.
Sua mão desliza por minhas costas, até que sinto-o cobrir meu corpo.
Enrolando meu cabelo na mão, puxa a minha cabeça e encosta a boca contra
minha orelha.
— Eu sou louco por você. — A minha respiração fica presa com sua
declaração. — Todas as mulheres do mundo podiam estar na minha frente,
ainda assim eu iria apenas te querer.
Gemo quando ele começa a me penetrar, não vou pensar nas suas
palavras agora, posso remoer isso depois, no momento eu só preciso sentir a
força do seu corpo me possuindo.
A nossa transa é intensa, mais uma vez elevamos o nível, mesmo assim
eu quero mais, com Thomas eu sempre estou disposta a ir adiante.
Imploro que ele vá mais fundo, que me jogue para além do limite. Para
a minha surpresa ele não recua, segue à risca as minhas instruções e me faz
ser consumida por um orgasmo intenso.
Ele apoia o braço logo abaixo dos meus seios, endireitando meu corpo,
colocando minhas costas contra seu peito. A sua invasão vem com
velocidade, eu estou completamente presa a ele, Thomas controla todo o meu
corpo.
Se eu estivesse nessa posição quando comecei nossos encontros estaria
apavorada, mas hoje eu apenas me sinto dele, rendida ao amor que
desenvolvi por esse homem incrível. Queria poder pedir que nunca mais me
solte, mas para ter a mínima chance de ter esse sonho realizado, eu teria que
renunciar quem eu sou e toda minha família.
Por mais que eu não goste de pensar no que me espera em Roma, nunca
mais poder ter contato com a minha família e viver escondida me destruiria.
Sei da minha força, não cheguei até aqui sendo uma mulher fraca, vou
conseguir novamente sobreviver, ao menos dessa vez as lembranças do que
vivemos me farão companhia.

— Por que estou com essa sensação de que nada vai ser igual quando
eu sair por esta porta? — pergunto quando seguro seus braços.
— É porque não sabemos quanto tempo ficaremos sem nos vermos. —
Ele enrola o meu rabo de cavalo na mão. — Juro que vou tentar junto ao seu
primo encontrar uma maneira segura de nos encontrarmos, não podemos
perder nenhum segundo, você pode ser pressionada a voltar.
— Paolo disse que posso levar meu tempo, o problema é a minha mãe.
— Ela não pode te deixar em paz depois de tudo o que aconteceu?
— A minha mãe é difícil. — Reviro os olhos. — Ela tem medo de que
eu perca a reputação e nunca mais me case.
— Sua mãe é uma piada de mau gosto.
— Senhor, estamos prontos, os seguranças da senhorita a esperam. —
A voz do Alec interrompe nossa conversa.
— Ela já está descendo — Thomas responde sem tirar os olhos do meu
rosto. — Fique atento em tudo enquanto a escolta até em casa.
— Não se preocupe. — Alec pede licença e se afasta.
— Por que tantos seguranças? Você não está me contando a verdade.
— Precaução — diz ao me beijar. — Assim que puder nos
encontramos, ligue-me mais tarde.
— Tudo bem — concordo ao abraçá-lo, eu não queria me separar dele
nunca mais, Thomas conquistou todo o meu coração.
Com muito pesar eu me separo dele e sigo os seguranças que já me
aguardam no elevador. Olho para Thomas quando fico no meio dos dois
homens, ele está com cenho franzido, encarando-me com um olhar
indecifrável.
Quando as portas de metal se fecham, sinto minha respiração falhar. A
sensação de que nada mais entre nós será como antes me engole, eu tento me
recompor, mas lágrimas começam a despontar dos meus olhos com o
sentimento sufocante que me engole.

Calço a sandália e ajeito meu vestido, meus tios chegaram há algumas


horas, daqui a pouco preciso descer para o jantar de boas-vindas.
Escuto uma batida na porta e vou verificar quem é, abro uma fresta e
encontro Giada toda arrumada. Ela sorri animada, abro mais um pouco a
porta, permitindo a sua entrada.
— Vim te buscar para beber um pouco, porque pra aguentar a minha
mãe falando da viagem não será fácil.
— Você é tão terrível. — Ando até minha caixinha de joias e escolho
um par de brincos de diamante.
Mesmo sabendo que estaremos em família, sei o quanto minha tia gosta
de luxo.
— Sou bem sincera, a minha mãe fala demais. — Ela se senta na minha
cama. — Como estão as coisas com seu príncipe? Sei que passou o dia com
ele.
— Com a chegada dos seus pais não sei como as coisas ficarão, nossos
encontros serão mais escassos.
— Que droga! — pragueja. — Tenho certeza de que Nero dará um jeito
para vocês se verem.
— Ele já está fazendo demais por mim, nunca imaginei que Nero fosse
capaz de algo assim, serei eternamente grata por me dar esse presente.
— Você está apaixonada pelo Thomas, não é?
— Estou. — Sou sincera. — Ele tem meu coração.
— Ah, prima. — Giada me abraça. — Lamento não poder viver esse
amor. — Tento controlar a vontade de chorar. — Eu bem sei o que está
sentindo, entendo sua dor.
— Como assim entende? — Fito seus olhos.
— Esquece o que falei. — Ela me lança um sorriso triste. — Vamos
beber, ajuda esquecer a merda de vida que precisamos enfrentar todos os
dias. — Segurando a minha mão ela me arrasta para fora do quarto.
Quando chegamos na sala encontramos tudo vazio, Giada segue direto
para o bar e nos serve um martini. Sentamos no sofá e começamos a
conversar trivialidades. Um tempo depois Serena se junta a nós.
Enquanto nosso papo flui tio Gastone entra na sala, ele não nos dá
muita atenção, apenas fala rapidamente comigo e segue na direção do
escritório.
No mesmo momento que os pais de Eros chegam para o jantar a tia
Fausta aparece na sala animada para recepcionar os convidados.
Os próximos a chegarem é meu primo e seu Consigliere. Noto de
imediato Eros sério, ele nos cumprimenta sem falar nenhuma gracinha, o que
é bem estranho.
Espero um tempo até todos se distraírem e me aproximo do Eros
curiosa para saber o que deu nele.
— O que você tem? — pergunto sem enrolação.
— Nada que deva se preocupar. — Acaricia minha bochecha. — Você
parece desanimada.
— Como não estaria? — Olho para minha tia conversando com a mãe
dele. — Agora com meus tios aqui as coisas irão mudar para mim.
— Eu sei que é uma merda não ter escolha. — Ele beija meu cabelo. —
A única diferença entre nós é que eu posso foder com quem eu quero antes e
depois de casado, já você... — Eros bufa. — Já tem data para voltar? Você
passa tanto tempo com o merdinha que não conversamos mais.
— Não fala assim dele. — O recrimino. — Até o momento, Paolo não
me pediu para voltar.
— Mas fique pronta para tudo. — Cerro os olhos com o seu
comentário.
— Por que está me dizendo isso? Nero te contou algo que não sei?
— Ele não, mas as ruas da cidade estão dizendo que iremos enfrentar
tempos difíceis, talvez tê-la aqui já não seja o ideal. — Sinto meu corpo
estremecer, eu não posso partir agora, ainda não me sinto preparada para
dizer adeus a Thomas.
— São os russos que estão causando problemas?
— Antes fosse. — Eros olha para além de mim. — Nova Iorque é uma
cidade com muitas organizações espalhadas, algumas delas com poder de nos
desestabilizar.
— Mas vocês sempre tiveram o controle de tudo.
— Nós temos, mas não significa que não podemos ser atacados e
fragilizados.
— Paolo não pode saber disso, se souber não vou mais poder ficar aqui.
— Sinto o pânico me dominar. — Você precisa me ajudar a convencer Nero
a não falar nada para ele.
— Seu tio sabe do que está acontecendo, ele veio mais cedo das férias
justamente para mostrar aos nossos inimigos que o filho não está sozinho. Tio
Gastone é temido, ele sabe ser cruel e impõe respeito. Se Paolo ainda não
sabe, pode apostar que será questão de dias para que esteja por dentro de
tudo. — Ele passa o braço por meus ombros e me puxa contra seu corpo
grande. — Lamento, baby, mas ninguém pode te ajudar. Vamos ver se
contornamos tudo o mais rápido possível, talvez Paolo confie em Nero e te
deixe mais um tempo por aqui.
Não falo nada, estou completamente apavorada com a possibilidade de
ir embora e sequer poder me despedir do Thomas.
Agora ficou claro o motivo dele estar tão estranho, Thomas sabe o que
está acontecendo, por isso a mudança no seu comportamento e o zelo
extremo com minha segurança.
Será que eu nunca conseguirei ter um pingo de paz nesta vida?

— Se você não se importar, vou marcar um jantar aqui em casa e


apresento os dois. Angelo é um viúvo influente, riquíssimo, que lida com o
ramo imobiliário. É um partido excelente para Fiorella, tenho certeza de que
se encantará por ela.
Abandono o livro que estou lendo e olho na direção da minha tia que
está entrando na sala falando ao celular.
— Sei que a quer perto de você, mas não pode negar que encontrar um
marido no nível do Angelo seja uma dádiva. Ele só tem cinquenta anos, não é
velho demais, fora que cuida muito bem do corpo, acho que podemos tentar,
Fiorella se adaptou tão bem à cidade, ela seria feliz aqui. — Fecho o livro
com força extrema, não acredito no que estou ouvindo. — Claro, vou passar
para ela. — Minha tia estende o celular na minha direção. — Sua mãe quer
falar com você, querida.
Tento não retorcer o rosto com sua voz serena, ela chegou a menos de
vinte e quatro horas e já está tramando um casamento para mim.
— Oi, mãe. — Mesmo tentando me controlar, minha voz sai em um
rosnado.
— Isso é jeito de falar comigo? — Aperto os olhos, não quero brigar
com ela, até porque estou de mau humor.
— Não fiz nada demais, estou falando normal.
— Está sendo grossa ao me cumprimentar. — Ela me repreende. —
Sua tia tem um possível pretendente para você, ela me garantiu que é um bom
partido. — As minhas mãos começam a tremer de raiva. — Apesar de querê-
la por perto, não posso deixar passar boas oportunidades. Se você achar que
pode morar aí, conheça o tal homem, confio no julgamento da Fausta. Se ele
gostar de você, peço a Paolo que assuma a situação.
— Então é assim? Eu vou esperar ele dizer se eu sirvo ou não para ser
sua esposa? A minha opinião não conta em nada?
— Fiorella, você sabe como as coisas funcionam.
— Eu sei e não concordo. — Pisco rapidamente para espantar as
lágrimas. — Não vou conhecer ninguém, não quero um marido, muito menos
ele sendo um velho.
— Ele tem cinquenta anos, para um homem ainda é jovem.
— Já falei que não vou conhecer ninguém.
— Não me faça passar vergonha com sua tia, você vai encontrá-lo e
será uma mulher educada como eu te ensinei.
— Eu não vou! — Encerro a ligação já sem conter a vontade de chorar.
— O que pensa que está fazendo? — A voz baixa e tensa da minha tia
me faz olhar para onde ela está parada, me encarando com sobrancelhas
franzidas. — Desde quando fala assim com sua mãe? Ela te deu uma ordem,
você tem que cumprir.
— Cumpro o que Paolo pedir, é ele que vai decidir meu futuro.
— Ele vai decidir o acordo final, sua mãe pode encontrar um bom
marido para você.
— Eu não quero um marido.
— Você precisa de um, todas nós mulheres precisamos.
— Quem disse que precisamos? — Altero a voz.
— Vá para seu quarto. — Meu tio interrompe nossa briga. — Na minha
casa você não vai destratar a minha mulher, eu vou conversar com Paolo
sobre o seu comportamento atrevido, ele precisa assumir a posição de líder e
colocá-la no seu devido lugar, agora suma da minha frente, menina.
Sinto o meu rosto esquentar, quero gritar com ele, mas se eu fizer isso
estarei em maus lençóis. Deixo o celular da minha tia na mesa e corro para
meu quarto chorando.
No meio do caminho encontro Serena, ela tenta me parar querendo
saber o que aconteceu, mas eu desvio dela e me tranco no quarto.
Eu não vou me casar com ninguém, não quero conhecer nenhum
homem, será que as pessoas não podem me ouvir? Tudo o que desejo é viver
sozinha, já que não posso estar com quem eu realmente desejo.
Ligo para Thomas, mas ele não me atende em nenhuma das três
tentativas. Começo a me sentir sufocada, eu não aguento mais ser silenciada,
não ter controle da própria vida.
Olho para o teto e deixo o pranto me dominar, pensar em viver
novamente ao lado de um homem sem amá-lo me apavora. Agora que eu sei
como é especial estar com quem se gosta, eu não aceito nada menos que me
casar por amor.
Não sei quanto tempo fico chorando, apenas quando meu celular toca, é
que percebo que o céu já está escuro. O meu coração retumba com força
quando vejo o nome do meu irmão. Certamente tio Gastone falou com ele e
Paolo terá que me punir.
— Estou ouvindo. — Não consigo conter o tremor na voz.
— Gastone te maltratou de alguma forma? — A fúria na sua voz faz
minha pele se arrepiar.
— Ele só me repreendeu porque estava discutindo com nossa tia, me
mandou para o quarto e avisou que falaria com você.
— Foi só isso mesmo? Não minta para mim.
— Estou falando a verdade.
— Certo. — Ele faz uma pausa, pelo som que ouço está fumando. — O
tal encontro não acontecerá, não dei permissão para isso, você ainda não está
pronta para se casar ou conhecer qualquer pessoa. — O alívio me domina. —
Vou conversar com nossa tia e a mamãe está proibida de falar sobre
casamento.
— Obrigada, Paolo, você não sabe como fico aliviada em ouvir isso.
— Fiorella, eu estou dando um tempo para que respire, trate seus
traumas, mas eu tenho minhas obrigações, não poderá ficar sozinha para
sempre. — Novas lágrimas despontam dos meus olhos.
— Eu sei.
— Ótimo. — A voz dele é severa. — Estou sabendo que Nero está com
problemas, vou me inteirar do que realmente está acontecendo, se ele não
tiver controle da situação na próxima semana te quero aqui.
Por que o mundo parece repentinamente estar desabando sobre a minha
cabeça?
— Na próxima semana? Eu não quero ir embora.
— A questão não é você querer, é estar segura.
— Paolo, eu não...
— Sei exatamente o que faço — diz ao me interromper. — Não quero
ser grosseiro, então apenas me obedeça. — Inspiro fundo. — Aqui eu sei
cuidar de você e se algo acontecer é apenas minha responsabilidade. Nero é
um jovem Capo, ele não pode assumir sua segurança quando já tem as
próprias irmãs para cuidar, então se for necessário você volta e depois quando
as coisas se acalmarem te deixo passar mais uns dias por aí.
— Tudo bem. — Infelizmente não posso ir contra meu irmão.
— Lamento minha ragazza, mas eu preciso ter cuidado com você.
— Eu sei.
— Se Gastone for desagradável me avise, não gostei de como
conversou comigo.
— Quase não tenho contato com ele.
— Melhor assim, evitamos uma dor de cabeça desnecessária. Agora
preciso desligar, tenho alguns problemas para resolver.
— Estão todos bem? E Caterina?
— Tudo tranquilo aqui, minha mini-inferno vermelho continua me
dando cabelos brancos, assim como a mãe. — Sorrio, só mesmo as duas para
fazerem meu irmão ter humor.
— Dá um beijo nelas, estou sentindo falta das duas.
— Apenas volte para casa, aí você não vai sentir saudade de ninguém.
— Em breve estarei com vocês.
— Assim espero. — Ele se despede e encerra a ligação.
Fico olhando para o celular, com mil pensamentos passando por minha
cabeça. Queria ter coragem de aceitar a proposta do Thomas e fugir para
poder construir minha própria história, mas se eu fizer isso darei as costas
para toda a minha família.
Eu conseguiria viver sem eles dentro de uma nova realidade?
Desabo na cama sentindo uma pontada de dor na cabeça. Estou mais do
que nunca perdida, não sei que caminho seguir, a única certeza que possuo é
a que eu já não sou mais a mesma. A Fiorella atual viveu uma nova
experiência e talvez nunca mais esteja pronta para assumir seu lugar na
máfia, sendo a esposa exemplar.
Acordo assustada com uma insistente batida na porta. Depois de chorar
pensando no futuro sombrio, acabei cochilando. Cambaleio até a porta ainda
sentindo minha mente turbulenta depois de todo o estresse que passei.
Seguro com força a maçaneta quando a figura imponente do meu primo
se revela. Nero tem o olhar frio, claramente está furioso. Encolho-me por
dentro, certamente está com raiva por eu ter causado uma briga com seus
pais.
— Como você está? — sua pergunta me pega de surpresa.
— Tudo bem.
— Tem certeza? — Ele cerra os olhos. — Sei o quanto meu pai pode
ser grosseiro quando irritado e, pela ligação que me fez, você o irritou
demais.
— Desculpa, Nero, não quis causar confusão, só perdi o controle
quando sua mãe e a minha estavam me forçando a conhecer um viúvo. —
Meu primo aperta os olhos e pragueja.
— Pegue algumas das suas roupas e itens pessoais, você vai para o meu
apartamento.
— O quê? — Olho para ele confusa.
— Você ouviu o que falei. — Nero entra no meu quarto. — Pegue o
essencial, amanhã você busca o resto. Ficará comigo até ir embora, o que
acredito que não irá demorar, lamento.
Fico parada ainda assimilando a última parte da sua fala,
completamente abalada por essa reviravolta inesperada que aconteceu esta
noite.
— Vamos, Ella, pegue suas coisas, quero ir para casa, hoje me aborreci
demais, só preciso de um bom banho quente e cama.
Faço meus pés se moverem e começo a organizar uma pequena bolsa
com tudo o que posso necessitar de imediato. Assim que tenho os itens
guardados, sigo meu primo para o andar inferior.
— O que está acontecendo aqui? — tio Gastone pergunta quando nos
avista descer pela escada.
— Nada. — Nero guarda o celular dentro do bolso. — Fiorella ficará
comigo para evitar maiores problemas, não quero Paolo comendo meu rabo
porque não quer a irmã sendo destratada.
— Não destratei ninguém, apenas fui enérgico como Paolo deveria ser.
Ele ouve demais as irmãs, isso não é nada bom.
— Paolo sabe o que faz. — Ele encara a mãe. — E a senhora cuide das
próprias filhas, o destino da Fiorella será decidido quando ela voltar a Roma.
— Só tive as melhores das intenções, Angelo é um ótimo partido.
— Angelo é um egocêntrico grosseiro, não é o parceiro ideal para
alguém como Fiorella.
— Ele é rico. — Não acredito que minha tia tenha dito algo assim. —
Sequer fica muito tempo em casa, seria um bom negócio ter um marido
ausente depois do que ela passou.
— Vamos embora, Ella. — Nero segura meu braço.
— Não acho certo ela ficar sozinha com você, podem sair comentários
maldosos.
— Quem comentar perder a língua, pai. — Com essas palavras ele nos
isola no elevador. — Porra! Estou exausto de tanta merda acontecendo ao
mesmo tempo — diz ao encostar a cabeça contra a parede de metal.
— Juro que eu não quis causar toda essa confusão.
— Você é o menor dos problemas. — Ele se aproxima e beija minha
testa.
Neste momento meu celular toca e o nome do Thomas aparece. Sinto
um alívio imenso saber que vou ouvir sua voz, estou com tanto medo de
nunca mais poder vê-lo.
— É o Thomas — aviso a Nero antes de atender.
— Avise que estará comigo, mande-o ir ao meu apartamento, preciso
conversar pessoalmente com ele.
— Tudo bem. — Aceno positivamente antes de aceitar a ligação. —
Thomas... — A minha voz sai completamente aflita.
— O que aconteceu? Eu estava em uma reunião, só vi sua ligação
agora.
— Não se preocupe — falo enquanto acompanho meu primo quando o
elevador chega na garagem. — Estou indo ficar na casa do meu primo, ele
pediu para você ir até lá, precisa falar contigo.
— Você está realmente bem?
— Sim.
— Quero conversar com Nero agora.
— Thomas, não precisa se preocupar com nada.
— Apenas faça o que pedi — ordena inflexível.
— Ele quer falar com você. — Nero abre a porta do carro para que eu
entre antes de pegar o meu celular.
— Fale comigo quando chegar no meu apartamento, até breve. — Ele
encerra a ligação e me entrega o aparelho. — Entre logo neste carro.
Rapidamente o obedeço, no geral Nero é sempre contido, mas hoje já vi
que não está nos seus melhores dias, então é melhor evitar um atrito, já me
basta o que aconteceu com minha tia e seu marido.
Antes de entrar no carro ele conversa com um dos seus seguranças.
Quando se senta ao meu lado liga o veículo em silêncio, em seguida o coloca
em movimento.
Fico rígida ao seu lado, tenho várias perguntas a fazer, no entanto sei
que não é o momento certo. O trajeto até seu apartamento é muito rápido, se
não fossemos alvos fáceis, poderíamos ir caminhando.
Girando o volante com uma única mão Nero entra na garagem do seu
prédio. Saio do carro carregando minha bolsa assim que ele estaciona. Sigo-o
de perto tentando acompanhar seus passos apressados.
Nero praticamente soca o teclado numérico para destravar o elevador.
Essa é a primeira vez que o vejo sem sua máscara de controle, normalmente
ele fica suave quando está perto de mim.
— O segundo quarto à direita é o seu, já pedi que o deixassem
arrumado. Você já jantou?
— Não, acabei cochilando depois que conversei com Paolo.
— Então vou pedir que te sirvam algo, quando Thomas chegar
conversarei com ele em privado, assim que terminarmos vocês podem
aproveitar à noite.
— Aproveitar? O que exatamente está querendo dizer? — Nero inclina
a cabeça, sem esconder sua irritação.
— Que podem foder até perderem as forças, o tempo de vocês está
acabando. — Eu deveria ficar envergonhada em ouvi-lo dizer algo tão
explícito, mas o medo de nunca mais ver Thomas faz minha timidez sumir.
— Não quero ir embora, ainda não me sinto preparada para dizer adeus.
— Ele solta uma longa respiração e apoia as mãos em meus ombros.
— Você nunca estará pronta, esta é a verdade. — Neste momento
existe ternura em seu olhar, o que me faz ficar hipnotizada em seus olhos. —
Apenas viva intensamente esses poucos dias que terá com ele, por isso te
trouxe para ficar comigo. — Fico surpresa com sua declaração. — Quando a
hora da despedida chegar, apenas siga em frente, com a coragem e força que
apenas um Torcasio possui.
Sem dizer mais nada ele me faz virar e me empurra até a escada.
Entendo seu pedido silencioso, subo os degraus sentindo meu coração ir
quebrando em pequenos pedaços, o momento que eu tanto temia está
próximo, o que me resta agora é tentar gravar na minha memória cada
segundo que ainda temos direito juntos. Depois eu estarei sozinha, entre os
meus medos e os desejos dos outros.
Desfaço o nó da gravata enquanto subo até o apartamento do Nero.
Mesmo tendo falado com Fiorella, ainda me sinto ansioso para poder vê-la
pessoalmente.
Hoje tive duas reuniões importantes, uma com os meus funcionários
responsáveis pelo planejamento de um novo jogo e outra com meu irmão e
Allan, o chefe de segurança de Vichi.
Ambos estavam preocupados com as ações do Song, o chinês não
reagiu bem ao nosso ataque e está causando problemas em algumas regiões
da cidade que são mais suscetíveis a ataques.
Por estar preso nesses compromissos perdi suas ligações, quando
consegui retornar não gostei da maneira que me atendeu, muito menos em
saber que ela estaria no apartamento do primo, algo está acontecendo e isso
está fodendo a minha cabeça.
Espero meus dois seguranças saírem assim que as portas do elevador
abrem, por mais que eu confie em Nero, diante do momento que estamos
vivendo, não posso bobear.
— Seja bem-vindo, o senhor Montanari o aguarda no escritório. — Um
dos seguranças faz um gesto para que eu o acompanhe.
Enquanto o sigo procuro pela presença da Fiorella, mas não vejo
vestígios dela. Passo pelo segurança e entro no escritório, deparando-me
apenas com a presença de Nero. Normalmente sua sombra sempre está
presente, não encontrar Eros é motivo de alívio.
— Bom recebê-lo, Thomas, sente-se aí, vou te servir uma bebida.
— Onde está Fiorella? — pergunto diretamente.
— Cada assunto ao seu tempo. — Nero deposita o copo de uísque na
minha frente. — Song incendiou hoje o carro de um dos meus associados, o
desgraçado também queria negócios com ele, mas Harold se negou a fechar
qualquer parceria. Parece que o chinês virou um kamikaze, está disposto a
mostrar que não teme ninguém.
— Isso não é bom.
— Realmente não é. — Nero recosta-se contra a mesa e sorve um
pouco do uísque. — Acredito que ele virá com tudo atrás de mim, porém se
ele me fragilizar, fico exposto demais e outras organizações podem aproveitar
para tentar me foder.
— O que deseja que eu faça?
— No momento nada, mas você precisa estar ainda mais atento e... —
Ele faz uma pausa, pela sua expressão não vou gostar do que vai falar. —
Paolo está sabendo dos problemas que estou enfrentando, ele quer ter uma
conversa comigo, hoje consegui escapar do meu primo, mas amanhã vai ser
difícil.
— Quem avisou a Paolo?
— Se você não sabe, o mundo é conectado.
— Sem ironias, Nero. — Neste momento não estou com humor para
nenhum tipo de brincadeira. — Você precisa conter esta situação, Fiorella
não pode partir.
— Ela partirá se o irmão quiser, eu estou com problemas demais, não
posso correr o risco de algo acontecer com minha prima.
— Eu posso garantir a segurança dela. — Ergo-me rapidamente. —
Pedirei que mais homens da segurança real venham para Nova Iorque. Exija
o que desejar, faço o que for necessário, só não permita que ela vá embora.
Nero não diz nada, ele cruza um braço contra o peito e apoia um
cotovelo contra a mão, enquanto move o copo de uísque em um movimento
lento. Seus olhos me avaliam com cautela, ele parece pensar em tudo o que
acabei de dizer.
— Você está apaixonado por ela? — sua pergunta me deixa paralisado,
não esperava por um questionamento tão direto.
— Fiorella é especial — sou evasivo na resposta.
— Sim, realmente ela é — afirma ao se mover. — Minha prima está
apaixonada por você, vi nos olhos dela hoje quando conversamos sobre a
situação que estou passando. — Ele coça a barba, em seguida corre a mão
pela imponente tatuagem de águia na garganta que representa o símbolo do
seu clã. — Eu sabia que algo parecido poderia acontecer, ainda assim assumi
o risco só para ver os olhos dela brilhando.
Fico calado, a emoção que vejo surgir em seu rosto é surpreendente.
Homens da máfia são normalmente uma tela em branco, eles não exibem
emoções, a não ser que queiram matar alguém.
Nero dentro do meio corporativo é sempre educado, firme e sociável,
mas todos sabemos que é apenas uma fachada, por trás de toda a sua figura
compenetrada existe o perigo. Por isso vê-lo tão aberto, se importando com
os sentimentos da prima, é um momento único.
— Acho que todos nós fomos pegos de surpresa. — Agora que o vi
sem suas barreiras erguidas, me desarmo. — Após cinco anos amargando
uma paixão perdida, Fiorella me fez reviver. — Nossos olhos se encontram,
dessa vez existe apenas dois homens conversando abertamente. — Qual a
possibilidade que eu tenho de lutar por ela?
— Nenhuma — sua resposta me atinge com força. — O clã de Roma é
bem rígido, se fosse aqui, sua fortuna e título fariam os conselheiros
balançarem e entrarem em um acordo. Lá eles respiram tradição.
— Sou um príncipe, Nero, eu posso ser uma fonte de poder para vocês.
— Eu sei disso e ficaria feliz pra caralho se quisesse uma das minhas
irmãs. Tenho certeza de que meu pai ficaria louco com a possibilidade de
exibir aos inimigos a aliança com Vichi, mas para Paolo e seu clã você não
representa nada.
— E se eu a tomar para mim sem o consentimento dele? — Seu rosto
se transforma e em um segundo ele está na minha frente, segurando o
colarinho da minha camisa, me puxando contra seu rosto.
— Não se atreva a pensar nisso novamente. — Rosna contra meu rosto.
— Fiorella está sob meus cuidados e ela não seria feliz longe da família.
— Mas seria feliz sendo agredida? — questiono ao segurar seu pulso.
— Você sabe quantas cicatrizes ela tem no corpo? — A raiva brilha em seus
olhos. — Ela é feliz comigo, eu também sou. Entendo sua posição, ela está
sob seus cuidados, mas para tê-la comigo, eu sou capaz de qualquer atitude.
— Sem medo o desafio.
— Posso te matar agora. — Ele me sacode.
— Pode sim. — Minha voz não muda o tom. — Faça isso logo, mas
prepare-se para ter seu reinado como Capo arruinado. Vichi virá até você,
certamente será a primeira vez que meu irmão irá negociar com os chineses e
entregar Nova Iorque de bandeja a eles.
— Está me ameaçando?
— Estou. — Nos encaramos parecendo dois touros prestes a se
enfrentar.
— Você é um belo de um filho da puta corajoso — diz ao me empurrar
para trás. — Ela está no segundo quarto a direita, vá até lá, fique com ela esta
noite, minha prima precisa de você. — Fico surpreso com sua oferta. — Não
tente fazer nenhuma bobagem — alerta. — Ella voltará para Roma, mas tem
a minha palavra que irei me movimentar e verificar se existe a mínima
possibilidade de uma aliança entre a Cosa Nostra romana e Vichi.
— E se não houver?
— Aí você a deixa em paz, pois Fiorella ama a família. Arrancarei uma
promessa de Paolo que permitirá a ela escolher seu próximo marido. Não me
pressione demais, príncipe, eu sigo apenas o sistema, não faço mágica.
Eu me desarmo quando percebo que toda a raiva dele não é por conta
da nossa conversa, mas por não ser capaz de realizar o desejo da prima.
— Cada nascer do sol é uma mágica, assim como o momento que
acordamos — digo ao ajeitar minha blusa. — Tudo é possível.
Dou-lhe as costas e saio do escritório, agora tudo o que me importa é
estar com Fiorella. Preciso aproveitar cada segundo ao seu lado, talvez eu não
consiga impedir a sua partida, mas isso não irá me impedir de lutar por ela.
Pela primeira vez na vida vou usar o meu poder para ter o que tanto desejo.
Apoio as duas mãos no batente da porta e espero Fiorella abri-la. No
momento em que sua figura graciosa se revela, pergunto silenciosamente
como será a minha vida depois que ela partir.
Porra! Eu não posso permitir que parta sem uma boa briga, ela merece
uma batalha épica e eu estou disposto a tudo para garantir que fique ao meu
lado.
— Thomas... — Sua voz sai em um misto de alívio e surpresa.
Neste momento não consigo conversar com ela, preciso apenas senti-la
entre meus braços, ter sua boca na minha e seu corpo rendido sob o meu.
Seguro o seu pescoço e a beijo, esses lábios suculentos não saem da
minha cabeça. Penso nessa boca mais do que deveria, eu queria tê-la ao meu
alcance a qualquer hora do dia.
Fecho a porta com o pé e enlaço sua cintura com um braço. Inclino um
pouco mais sua cabeça, buscando o ângulo certo para poder aprofundar o
beijo.
Nunca pensei sentir algo tão intenso por alguém, sempre fui um homem
controlado nos meus sentimentos, depois que perdi Clover eu me retraí ainda
mais. Já com Fiorella eu sou puro instinto, são minhas emoções que me
guiam completamente.
— Thomas... — Ela afasta a boca e segura meu rosto.
— Agora não — digo ao espalhar beijos por seu pescoço. — Eu só
preciso de você, depois conversamos.
Nossos olhos se cruzam, ambos temerosos e com medo do que o futuro
nos reserva. Com a delicadeza que só ela possui, acaricia a minha barba, em
seguida deposita um beijo lento no canto da minha boca. Seus movimentos
são lentos, tão delicados quanto ela. Meus olhos ficam pesados quando ela
lambe meu lábio inferior e depois o suga.
Tão doce...tão minha, a mulher mais especial que já pude conhecer.
Avanço contra sua boca, preciso dela agora, apenas ela pode aplacar o
desespero que estou sentindo.
Suspendo-a e nos encaminho para a cama, deito-me sobre seu corpo,
infiltrando em seguida a mão por baixo da sua camisola. A maciez do cetim
me recepciona, sinto na ponta dos dedos o quanto o tecido está úmido.
Um rugido ressoa através da minha garganta ao sentir o quanto ela
também me quer. Quando começamos a nos envolver essa bela mulher
sequer acreditava ser capaz de gozar, agora ela se excita apenas com meus
beijos.
Mesmo lamentando eu me afasto e puxo de qualquer jeito a minha
camisa. Os sapatos, calça, boxer e meias são os próximos itens a sumirem.
Quando novamente me junto a ela, eu revelo o seu corpo lentamente,
beijando cada uma das suas cicatrizes, desejando internamente que ela nunca
mais tenha que passar por esse tipo de atrocidade.
Eu sei o quanto Paolo preza pelas irmãs, elas são o ponto de
humanidade do temido Capo. Se ele realmente se importa com Fiorella, terá
que romper as tradições e permitir que fiquemos juntos.
Não me interessa se Nero afirmou que é praticamente nula a
possibilidade de tê-la, eu vou encontrar uma maneira de mudar o final desta
história.
Ergo sua perna apoiando-a no meu quadril, com os olhos grudados nela
vou deslizando para seu interior. Sua boca se abre quando todo o meu pau a
preenche.
É estranho pensar que quero ter sempre essa visão na minha frente, hoje
é impossível imaginar ter outra mulher do meu lado.
Essa noite não consigo ser calmo, estou agitado demais para me conter.
Mesmo sabendo que agora ela confia em mim, sempre tento começar nossas
transas com menos intensidade, só que agora não dá.
Capto um dos seios na minha boca, sugo-o com vontade, fazendo com
que gema alto. Ela infiltra os dedos no meu cabelo, enquanto se contorce sob
mim.
Sorrio com sua ação, é tão bom vê-la desinibida, dona dos seus
próprios atos. O desabrochar dela é encantador, difícil acreditar que a mulher
cheia de temores que conheci, hoje se entrega a mim com todo coração.
— Por favor, Thomas, eu preciso gozar. — Implora com a voz
ofegante.
— Por que a pressa? — Seguro suas coxas e me afundo com tudo na
sua boceta. — Temos a noite toda — provoco-a, mas no fundo eu também
não posso esperar.
— Não brinca comigo.
Se ela soubesse o quanto levo a sério cada momento que dividimos.
Dou exatamente o que me pede, ela merece cada gota de prazer que eu
puder lhe oferecer.
Observo Fiorella se desmanchar, enquanto eu a penetro agilmente. Suas
unhas cravam dolorosamente nos meus braços. Ela se retorce, todo o seu
corpo estremece violentamente.
Eu estou dando todo esse prazer a ela, sou eu que tenho o controle do
seu orgasmo, é o meu nome que ela grita quando todo o seu corpo está se
espatifando em mil pedaços.
Foda-se o mundo! Serei sempre eu a garantir que ela tenha esse prazer,
Fiorella é minha e não existe ninguém que irá mudar isso.

— O que Nero conversou com você? — pergunta enquanto faz círculos


aleatórios no meu peito.
— Alguns assuntos, mas o principal foi que Paolo pode te mandar
voltar.
— Eu não quero voltar. — Ela apoia o cotovelo na cama e me encara
com olhos temerosos.
— Fique calma, vou cuidar disso. — Acaricio sua bochecha.
— Se ele exigir que eu volte, Nero não vai ter muito o que fazer.
— Eu vou encontrar uma maneira junto ao seu primo para te manter
aqui. O problema do seu irmão é que ele tem medo da sua segurança, se eu a
garantir não precisará partir.
— E como fará isso sem ele desconfiar de nós? — Puxo-a para se
aconchegar contra meu peito, não quero ficar nem um minuto sem tocá-la.
— Tenho negócios com Nero e estou diretamente ligado ao conflito
que está acontecendo.
— Como assim ligado diretamente? — Ela volta a se apoiar no
cotovelo para me olhar.
Volto a colocá-la na mesma posição. Que mulher curiosa!
— Song é inimigo em comum e ele está atacando a todos que não
querem negociar com ele.
— Meu Deus, Thomas!
— Eu fui o primeiro alvo dele, como não aceitei seus termos, uma
grande confusão se formou.
— E agora? O que você vai fazer?
— No momento só te proteger, comigo nada vai acontecer, Song é
atrevido, não burro.
— Você não pode garantir isso, o submundo é muito perigoso.
— Eu sei. — Seguro seu queixo e a beijo suavemente. — Mas ele
também sabe das consequências se me atacar.
— Estou com medo, não gosto de pensar que algo possa te acontecer.
— Apenas esqueça. — Mudo as nossas posições e fico sobre ela. —
Você imaginou algum dia estar na casa do seu primo, na cama com um
homem fora da máfia? — Um sorriso travesso se espalha na boca dela.
— Jamais. — Ela acaricia meu pescoço. — Mais uma vez Nero está me
surpreendendo, nunca imaginei que pudesse ser capaz de algo assim.
— Às vezes as pessoas nos surpreendem positivamente. — Escorrego
as pontas dos dedos pela lateral do seu corpo. — Quero que me monte,
preciso ver esses seios fartos balançando na minha frente.
— Thomas! — Ela esconde o rosto contra meu pescoço. — Assim você
me deixa tímida.
— Aqui, entre nós, nunca vai existir timidez. — Seguro a sua cabeça e
a faço-me encarar. — Fiorella — digo o seu nome baixinho. —Eu não vou
deixar você partir.
— Uma hora vou precisar ir. — Vejo seus olhos ficarem iluminados
pelas lágrimas.
— Irá se quiser — afirmo. — Eu estou disposto a tudo para te manter
aqui, só depende de você. — Nos encaramos profundamente e percebo que
ela tem diversas perguntas a fazer.
Antes que faça alguma delas e nos leve para um momento de tensão eu
a beijo, não podemos desperdiçar tempo, essa conversa pode ser em outro
momento, quando eu já tiver tudo dentro dos trilhos.

Apoio o queixo na mão enquanto velo o sono do Thomas, ele está


dormindo tão sereno, sequer parece que está enfrentando tantas situações de
conflito.
Se eu tiver que ir embora imediatamente, deixarei meu coração com
ele. É difícil acreditar que em tão pouco tempo ele revolucionou a minha vida
e me fez ser outra pessoa. Hoje estou muito longe da Fiorella que saiu de casa
em Roma, agora eu sei o que é ter prazer por estar com alguém que possuo
sentimentos.
Eu o amo.
Esta é uma verdade incontestável. Não sei quando esse sentimento
surgiu dentro do meu coração, apenas tenho plena certeza de que ele é tudo o
que mais desejo.
O tremular das suas pálpebras indica que despertou. Em segundos seus
olhos dourados estão nos meus, mesmo ainda estando sonolento, vejo o
brilho de luxúria neles.
— Bom dia — digo baixo.
— Bom dia. — Ele segura a minha cintura. — Estava admirando a
minha beleza enquanto eu dormia?
— Convencido. — Thomas sorri e me puxa para perto.
— A quem diga que eu estou só sendo sincero. — Reviro os olhos com
o seu convencimento.
— Você nem é tão bonito assim. — Inclino o pescoço quando ele
começa a espalhar beijos pelo local.
— Cuidado com o que fala, tem muita gente lá fora que diz o contrário.
— E quem diz? — Empurro seu peito e monto sobre ele.
— Ciúmes? — Sua mão se fecha em um dos meus seios.
— Você amanheceu tão engraçadinho. — A minha voz sai um pouco
alterada, pois nesse momento ele já tem a boca sugando avidamente a minha
mama.
Jogo a cabeça para trás e gemo com a sensação prazerosa que apenas
ele me faz sentir.
Por que não posso acordar todos os dias ao seu lado? Eu já sofri tanto,
mereço ter um pouco de felicidade nesta vida.

Corro a mão pelo cabelo agitada, tentando conter um pouco a ansiedade


que me consome. Assim que desci com Thomas para o café da manhã, Nero
se trancou com ele no escritório por um bom tempo. Quando ele retornou,
apenas me disse que precisava resolver alguns problemas na sua empresa e
foi embora.
Novamente a sensação ruim de nunca mais vê-lo me engoliu, não
ajudou nada quando ouvi Nero atender o celular e dizer o nome do meu
irmão.
Agora eu estou aqui, roendo as unhas, com medo de Paolo decretar o
meu regresso imediatamente.
Praticamente pulo quando meu celular toca, investigo o visor e vejo o
nome da Gio. Inevitavelmente um sorriso se espalha em meus lábios,
conversar com a minha irmã é sempre um momento especial.
— Gio, que bom falar com você.
— Como está? Dom disse que nosso primo está tendo alguns conflitos
por aí.
— Parece que os chineses estão causando problemas, mas eu não sei
muita coisa, Nero é reservado.
— Paolo está nervoso, ele quer te trazer de volta.
— Não quero voltar agora, ainda não é o momento.
— E será em algum dia? — não a respondo de imediato, pois nem eu
mesmo sei o que falar. — Ella, você está apaixonada pelo príncipe, nunca vai
querer voltar. Eu sei como o coração funciona, passei isso com meu marido,
mesmo Dom tendo seus limites e me magoando, eu não queria ficar longe,
porque já estava apaixonada.
Minha irmã tem total razão, eu nunca vou querer voltar, o meu coração
está aqui, junto do Thomas. Se eu partir, estarei voltando para a minha vida
de infelicidade, onde terei que aceitar o destino que Paolo acha apropriado
para mim.
— Thomas disse que eu só volto se quiser, ele está disposto a tudo para
me manter aqui — digo sentindo meu coração acelerar.
— O que seria esse tudo? — Gio questiona.
— Não perguntei, mas teve uma vez que ele afirmou que poderia me
dar uma nova vida. — A minha irmã fica em silêncio.
— Se ele quiser assumir o risco de ficar com você de verdade, não
volte, enfrente todos, é a sua felicidade em jogo. Paolo terá que renunciá-la
como parte da Famiglia, mas esse será o preço por sua felicidade. Agora se a
oferta dele for para te manter como uma amante, venha embora, aqui
resolvemos seu futuro, talvez com o tempo consiga se sentir confortável com
alguém, ou até se apaixonar novamente. Farei com que Dom segure nosso
irmão até que esteja pronta para um novo relacionamento.
Saber que tenho o apoio dela me deixa mais tranquila, Giovanna apesar
de ser a irmã mais nova de todos nós, é a que mais tem personalidade. Ela
quando se compromete com algo, ninguém segura.
— Eu o amo Gio, mas também amo vocês, não sei o que fazer, tenho
medo de arriscar e no final me arrepender.
— A vida é um risco, minha irmã, siga seu coração, ele irá te mostrar o
caminho certo.
— Obrigada, Gio, você não sabe como eu fico feliz em ouvir isso.
— Sempre estarei ao seu lado e se você resolver ficar, não me importa
o que eu precise enfrentar, não irei te abandonar, estarei com você até o fim.
— Se eu ficar vou ter que sumir, você sabe que Paolo irá precisar dar o
exemplo para que a Famiglia não o mate.
— Pode ter certeza de que eu te acharei e ninguém saberá. Eu te amo
demais, a Famiglia não representa nada para mim perto de você. — Meus
olhos ficam marejados, admiro a força dela.
— Eu também te amo.
— Fique forte e não esqueça de seguir o seu coração.
— Vou seguir seu conselho.
Nos despedimos e imediatamente sinto a angústia me dominar por
imaginar que dependendo da atitude que eu tomar, posso nunca mais ter
contato com minha família.
Já passei por muitas situações tensas na minha vida, mas todas elas
eram apenas relacionadas a mim, nunca tive que sofrer a pressão de tomar
uma atitude que pode mudar drasticamente a vida de toda minha família.
O que eu devo fazer?
— Fiorella! — A voz profunda do meu primo me deixa nervosa e
acabo derrubando o celular no carpete. — Desculpa, não quis te assustar. —
Rapidamente ele se retrata. — Precisamos conversar antes que você fale com
seu irmão.
— O que ele quer?
— Você sabe. — Ele senta-se a minha frente. — Paolo está
extremamente preocupado com sua segurança aqui — diz sério. — Mas eu
garanti que estou no controle da situação, porque Thomas irá trazer reforço
extra para que você fique bem.
— Ele prometeu isso?
— Na verdade, ele já cumpriu, em algumas horas teremos agentes da
segurança real na sua escolta. — Sinto meu coração se expandir. — Porém eu
disse a Paolo que Vichi também está interessado na situação e mandou
recursos extras para garantir a nossa segurança, preciso que confirme isso ao
seu irmão e que diga que irá ficar mais em casa até que tudo se resolva.
— Vou poder ver Thomas? — Se eu ficar afastada dele nada fará
sentindo.
— Vocês passarão a se encontrar aqui em casa, é mais seguro.
— E você vai permitir esses encontros?
— Permiti desde o início. — Nero levanta-se. — Eu resolvi me arriscar
quando achei que você merecia um pouco de liberdade, por isso não vou
recuar, até que volte ou toda essa merda seja exposta, estarei apoiando os
dois. — Ele retira o celular do bolso da calça. — Agora fale com Paolo, siga
o que conversamos, o resto eu dou conta.
Pego o seu celular e espero meu irmão atender, espero que ele concorde
com a minha permanência, ou então eu vou ter que tomar uma rápida atitude
sobre o meu futuro.
— Ella, como você está? — A voz do meu irmão faz meu coração
amolecer.
— Muito bem. — Sou sincera, pois nunca estive tão tranquila em toda
a minha vida. — Sei que Nero está tendo problemas, mas ele está sendo
prudente e tem a ajuda de alguns parceiros, até onde sei, Vichi está mandando
ajuda, o seu amigo Mitchell esteve por aqui e soube dos problemas que está
acontecendo na cidade.
— Estou menos apreensivo por isso, Nero disse que Thomas também
está no foco da máfia chinesa, por Vichi está disposto a intervir nesta
situação e eles sabem o que fazem. Mitchell não dorme em serviço, é mais
estrategista do que eu, se parece muito com Dom, sabe como neutralizar o
inimigo.
— Por isso estou calma, sei que eles irão resolver tudo — Paolo não diz
nada de imediato.
— Vou acompanhar esta semana de perto toda a situação, sei que você
está se divertindo, Nero me garantiu que sua terapia está indo bem, mas se eu
detectar algum risco irá voltar, aqui providencio uma nova terapeuta. Prefiro
você perto de mim, estamos em um bom momento em Roma, eu consegui
conter os russos.
— Tudo bem, Paolo, você sabe o que faz. — Não vou discutir com ele,
até eu decidir o que fazer, preciso concordar com ele.
— Passe mais tempo em casa, não se arrisque.
— Fique tranquilo, vou me resguardar.
— Ligue-me se precisar de algo.
— Obrigada, por se preocupar comigo.
— Você é minha eterna criança. — Sorrio e me despeço dele.
Sinto falta da minha família, mas também não posso negar que quero
viver aqui, ao lado do homem que amo.
— Hoje vou tentar resolver alguns problemas, você não vai sair de casa
— Nero me comunica ao pegar o celular. — Giada passará o dia com você, a
noite Thomas estará aqui, eu devo chegar tarde.
— Até que ponto está disposto a se arriscar por mim? — não resisto e
pergunto.
— Já estou me arriscando, só não sei em que merda tudo isso vai
acabar, muito menos as consequências que eu terei que assumir.
Com essas palavras ele sai da sala, me deixando com o coração aflito
por saber que sou responsável por ele estar dentro de um conflito por minha
causa.
Será que devo permanecer aqui? Ou devo ter coragem e permitir que
Thomas me esconda para sempre, tirando-me do radar da máfia?
Sinceramente eu não sei o que fazer, estou dentro de um conflito e sem
rumo a seguir.
— Como estão as coisas por aí? — pergunto assim que Hill atende.
Há uma semana estou mudando, não só a minha segurança, como a da
minha irmã e de Fiorella. Alguns agentes extras vieram de Vichi, meu irmão
garantiu os melhores homens do nosso serviço de segurança para que possam
reforçar as equipes que já trabalham conosco.
Desde o último problema com Song não tivemos notícias dele, isso me
preocupa demais, pois sei que não se rendeu, está apenas esperando o
momento certo para agir.
— Thomas, que droga está acontecendo? Você e Mitchell me ligando
no mesmo dia não é um bom sinal. — Como sempre Hill é irritadinha. — Se
também me pedir para redobrar os cuidados com a minha segurança vou
começar a ficar com medo.
— A sua segurança sempre deve ser motivo de preocupação.
— Sei disso, mas pelo modo que Mitchell falou, foi diferente. — Posso
imaginar como ele deve estar surtado por conta dela.
Faço um breve resumo da situação que está acontecendo. Nunca
escondo nada dela, depois do que passamos juntos, Hill entendeu que a sua
segurança é algo de extrema importância.
— Seja prudente e não venha me visitar, no momento não é seguro.
— Você está me deixando aflita por saber que está em risco.
— Eu não estou em risco de fato, mas com você aqui tudo se complica,
pode virar um alvo.
— Thomas... — A voz dela se quebra.
— Não se preocupe comigo, minha segurança está reforçada, mas eu
não quero ter que me preocupar contigo. Só vamos ser prudentes por um
momento.
— Tudo bem. — Ouço-a soltar toda a respiração. — Juro que vou ficar
atenta e seguir rigidamente a minha segurança.
— Isso aí, meu anjo, não se arrisque.
A última coisa que quero é ela ser atingida por um problema que é só
meu. Hill é minha eterna menininha e por ela eu sou capaz de qualquer coisa.

Enquanto espero por Fiorella penso na conversa que tive mais cedo
com a minha irmã. Nós não podemos de fato aproveitar nossas vidas, somos
prisioneiros de todos os protocolos de segurança que precisamos seguir. Se
dermos um passo em falso, o pior pode acontecer.
Ergo a cabeça quando ouço uma movimentação, meus olhos caem para
as pernas torneadas dela descendo as escadas.
Como é bonita, a cada vez que eu a encontro me sinto mais apaixonado.
Vou ao seu encontro e a espero no final da escada, um sorriso tímido
brinca nos seus lábios. Ela é tão charmosa e delicada, sua suavidade me deixa
completamente encantado.
— Eu poderia estar chateado por encontrá-la em qualquer lugar, mas
quando te vejo, nada mais importa — digo ao segurar sua mão e levar até os
lábios.
— Você está romântico.
— Eu tento me esforçar. — Roço o polegar na sua bochecha. — Venha
aqui. — Seguro a sua mão levando-a na direção do sofá.
Antes de rodear o móvel a faço parar e estico o braço para pegar o
buquê. A surpresa no seu rosto me faz questionar internamente por que não
lhe presenteei com flores antes.
— Que rosas lindas. — Fiorella segura o buquê e inspira
profundamente. — Nunca recebi algo assim. — Paraliso quando vejo
lágrimas despontarem dos seus olhos.
Às vezes eu esqueço que não é uma mulher comum, o que estamos
vivendo é pura novidade para ela, minha pequena garota nunca pôde escolher
seus parceiros.
— Então a partir de hoje você receberá muitos outros — digo ao
abraçá-la. — Pode pedir tudo o que quiser, faço questão de realizar todos os
seus sonhos.
— Como eu queria que meus sonhos pudessem ser realizados. —
Aperto meus braços ao seu redor ao perceber sua tristeza. — Como estão as
coisas? Hoje não vi Nero. — Ela muda de assunto.
— Tudo calmo demais. — Seguro sua mão para ajudá-la a sentar-se no
sofá. — Não estou gostando disso.
— Acha que o tal chinês está preparando um ataque?
— Ele é capaz de tudo. — Pego o buquê da sua mão e o descarto. —
Mas não vamos falar disso. — Seguro seu rosto. — Passei o dia apenas
pensando em você, Song é a última pessoa que eu quero colocar entre nós.
Selo nos lábios, tudo o que preciso é sentir seu sabor, saber que ela
ainda é minha. Camuflo a raiva que começa a me dominar, pensar nela longe,
sem a minha proteção e entregue as malditas leis da máfia, me deixa
completamente insano.
Toda vez que penso nela longe sinto o meu autocontrole ruir. Preciso
encontrar o mais rápido possível uma maneira de convencer Paolo a permitir
que ela fique definitivamente comigo.
— Pedi um jantar especial em um dos meus restaurantes preferidos —
digo assim que interrompo o beijo.
— Você sempre pensa em tudo.
— Digamos que eu sou um pouco organizado.
Uma das funcionárias do Nero aparece e avisa que nosso jantar está
servido. Agradeço por ela agilizar a organização da nossa comida, não quero
perder muito tempo rodeado de pessoas, quero ficar rapidamente sozinho
com Fiorella.
Enlaço o braço dela ao meu e sigo para a mesa do jantar. Durante a
nossa refeição Fiorella comenta que Paolo está monitorando a situação e,
menos tenso, por saber que meu reino está envolvido nesse conflito. Ele
confia em Mitch, os dois são amigos e eu fiz meu irmão garantir a Paolo que
Vichi estava de olho nas movimentações do Song.
Aparentemente isso o acalmou, garantindo a Ella o prolongamento da
sua estadia. Não sei até quando vou sustentar sua presença aqui, mas até que
precise partir, espero que um milagre mude as regras do jogo.
Assim que terminamos o jantar dividimos uma última taça de vinho na
sala. Apesar da minha ansiedade em estar a sós com ela, sigo a sua
movimentação, não quero que pense que só a vejo como fonte de sexo, o que
existe entre nós vai muito além.
— Ficou perfeito aqui — ela diz ao admirar as rosas em uma mesa
perto da janela do seu quarto.
— Vai ter espaço para todas que eu mandar?
— Pode parar, não seja exagerado.
— Eu quero ser. — Seguro sua cintura. — Ella, eu desejo proporcionar
cada um dos seus sonhos, você merece realizá-los — Beijo seu pescoço. —
Não quero te perder. — Assumo angustiado.
Sem nenhuma palavra ela se recosta em mim, envolvo seu corpo com
força, querendo de alguma maneira prendê-la para sempre ao meu lado.
— Já sabemos o nosso destino — por fim diz com a voz quebrada. —
Eu queria ter coragem de dar as costas para tudo, mas a minha família é
muito importante para mim.
Entendo o seu sentimento, eu também sou ligado à minha família
apesar de viver longe deles. Se eu tivesse que escolher entre nunca mais vê-
los, me sentiria no mesmo conflito que ela.
— Pode me chamar de sonhador, mas até o último segundo não vou
deixar de acreditar que podemos enfrentar toda essa merda de sistema arcaico
que te aprisiona.
Fiorella se move entre meus braços, ela apoia uma mão em meu peito e
a outra vai para o meu pescoço.
— Você é um príncipe, merece alguém que esteja à altura do seu título.
— Os seus olhos estão inundados por lágrimas. — Faz amor comigo,
Thomas? Preciso de cada grama do seu carinho para ter o que me agarrar
quando tudo ruir.
O seu pedido me desmorona, dessa vez sou eu a lutar contra a vontade
de chorar. Ela é o meu bem mais valioso, praticamente um diamante bruto,
que aos poucos estou esculpindo. Não posso abrir mão dela, de alguma
maneira preciso encontrar um jeito de mantê-la comigo.
Beijo o seu rosto no exato lugar por onde uma lágrima escorre,
lentamente abro o zíper do seu vestido, expondo seu corpo delicado aos meus
olhos.
Vê-la sofrer esmaga meu coração, depois de tudo o que passou merece
apenas sorrir.
Com calma eu a deixo completamente nua, em seguida retiro as minhas
roupas e nos encaminho até a cama. Deito-a bem no centro e por alguns
segundos admiro seu rosto. Eu não me canso de olhá-la, Fiorella parece ter
sido esculpida, a sua beleza é arrebatadora.
Cubro o seu corpo de beijos, mesmo estando fervendo de tesão, eu me
contenho. O seu pedido foi especial, ela não quer uma boa foda, Fiorella
pediu que eu faça amor com ela.
Sua exigência tem um significado muito importante, porque revela o
sentimento que sente por mim. Ambos estamos apaixonados e incertos com
os rumos do nosso futuro. Porém, saber que ela está tão envolvida quanto eu,
me faz ter certeza de que posso tomar medidas extremas.
Quando não existe mais nenhuma parte do seu corpo sem que eu tenha
beijado, eu me instalo entre suas pernas e a devoro com volúpia. O seu gosto
é único e especial, eu sou completamente viciado no seu sabor.
Ela explode na minha boca com um grito rouco, a sua pele aquecida se
arrepia inteira, enquanto meu nome escapa da sua boca. Beijo entre suas
coxas e me ergo encarando seus olhos. O sorriso saciado dela me deixa
hipnotizado, o que sinto por essa mulher é muito mais que paixão, eu a amo e
por esse amor eu sou capaz de tudo.
Abro suas pernas e roço a minha ereção na entrada da sua boceta, ela
geme e me puxa para mais um beijo. Nossas bocas se chocam no exato
momento que eu começo a penetrá-la.
Eu vou até o fundo do seu canal sentindo a sensação incrível do seu
calor me recepcionar. Saio lentamente até quase me retirar completamente,
em seguida eu volto a estocar arrancando dela um gemido.
Nossos olhos se prendem enquanto começo a me movimentar com mais
agilidade. Quero ir devagar, mas quando estamos juntos tudo ganha uma
proporção gigante. Por mais que eu tente ter controle, o meu corpo ganha
vida própria e só consegue correr ensandecido atrás do nosso orgasmo.
Abaixo a cabeça e capturo um dos seios na boca, sugo-o com força.
Fiorella afunda os dedos no meu cabelo, ela resmunga quando faço um
movimento de sucção na mama, rodeio a língua pelo bico e sigo para o outro
seio.
O barulho dos nossos corpos se encontrando domina o quarto, estamos
em um ritmo intenso, bem diferente das nossas primeiras transas.
Eu me sinto completamente conectado a ela, pela primeira vez na vida
eu quero pertencer a alguém.
— Thomas... — ela sussurra meu nome.
— Estou aqui — digo ao beijar seu queixo e encarar seus olhos. — Eu
quero estar sempre com você, não me interessa as regras do jogo, você é
minha.
Apoio uma mão acima da sua cabeça e me impulsiono com vigor
dentro dela. Porra! Ninguém vai nos separar, dessa vez eu vou lutar com
todas as armas que possuo, estou cansado de levar “não” da vida, eu vou
construir o meu “sim”.
Gozamos ao mesmo tempo, em uma sincronia que só possuo com ela.
Apoio os cotovelos em cada lado do seu rosto e tento estabilizar a
minha respiração. Ela escorrega as mãos por minhas costas, em um carinho
terno que arrepia a minha pele. Aperto os olhos quando ela beija lentamente a
minha garganta, em seguida sua boca roça na minha.
— Sempre serei sua, Thomas. — Sua voz suave me faz abrir os olhos e
encará-la. — Não importa onde eu esteja, meu coração sempre estará batendo
por você.
Encosto minha testa na dela, não sei o que falar sem revelar o quanto
ela é importante para mim. Eu a amo e saber desse sentimento não só me
assusta, mas também me dá forças para lutar por este amor.

Olho entre as duas opções de vestidos que coloquei sobre a cama. Um é


roxo e o outro verde, gosto dos dois, porém um é mais sensual que o outro.
Hoje eu vou acompanhar meu primo em uma festa de noivado de um
dos membros da Famiglia. Eu não estou no clima para festa, muito menos
queria reencontrar meus tios. Desde que saí da casa deles há mais de uma
semana, tia Fausta sequer me ligou, ela está verdadeiramente chateada
comigo.
Lamento esta situação, não foi minha intenção instaurar um
desentendimento entre nós, espero que quando ela se acalmar, possamos
conversar com calma.
Opto pelo vestido roxo, mesmo sendo mais ousado, a cor está bonita
demais. Começo a me arrumar, não quero deixar nada para cima da hora.
Nero não é muito paciente, quando ele me chamar preciso estar pronta.
No momento que estou enrolando a última mecha, no modelador de
cachos, ouço meu primo bater à porta e avisar que vai me esperar na sala.
Agilizo os últimos detalhes que faltam e sigo apressada para a sala.
Encontro Nero pegando sua arma para colocar no coldre. Ele tem o cabelo
fixado por gel, todo jogado para trás. Uma blusa de seda cinza chumbo
acompanhada de uma gravata totalmente preta faz com que se pareça ainda
mais um mafioso.
Meu primo é um belo exemplo de homem, por onde passa as mulheres
enlouquecem, quando ele começar a procurar sua esposa, terá uma fila grande
de garotas querendo ser a companheira do Capo.
— Estou pronta.
— Ótimo. — Ele veste o terno. — Não posso me atrasar — fala ao
guardar o celular. — Quando voltarmos vou te levar até o apartamento do
Thomas.
— Sério? — pergunto ao andar ao seu lado na direção do elevador. —
Pensei que só iria poder encontrá-lo aqui.
— Reorganizei sua segurança, é seguro ir até lá ficar com seu
namoradinho.
Ele me lança um olhar divertido, o que me faz sorrir, gosto desses
momentos suaves do meu primo.
— Conseguiu controlar os chineses?
— Estou no caminho para estabilizá-los. — Nero desliza os olhos ao
longo do meu corpo. — Você está linda. — Seu elogio faz meu rosto
esquentar. — Por isso o príncipe anda tão encantado.
— Assim você me deixa sem graça.
— Não fique. — Ele passa o braço por meus ombros. — É só um
elogio.
Saímos do elevador abraçados, hoje ele está mais relaxado, bem
diferente da agitação que esteve nas últimas semanas.
Abrindo a porta do carro faz um gesto galante me mandando entrar.
Não sei o que deu nele, mas eu gosto dessa sua espontaneidade.
Eu me acomodo no banco de couro e observo os seguranças se
movimentarem. Meu primo se acomoda ao meu lado, enquanto eu coloco o
cinto.
Saímos da garagem e ganhamos as ruas de Nova Iorque, Nero coloca
um Jazz para tocar, ele gosta desse estilo de música, ao contrário de Eros que
adora Hip hop. Apesar de serem melhores amigos, os dois são completamente
diferentes.
Observo pelo retrovisor o carro dos seguranças nos seguindo de perto.
Meus olhos vão para as pessoas que andam pelas calçadas tranquilamente,
deve ser muito bom ter liberdade, sem necessitar um batalhão de homens
vigiando cada um dos seus passos.
— Onde será a festa de noivado?
— É ao redor do rio East.
— Em breve será o seu próprio noivado, daqui a pouco seu pai vai
começar a cobrar uma esposa.
— Ele já está cobrando. — Meu primo faz uma careta. — Mas eu vou
escolher uma esposa com calma, tenho tempo.
— Espero que goste dela, um casamento sem amor é um pesadelo. —
Não consigo impedir que minha mente volte para o momento que descobri
que precisaria me casar com o meu falecido marido.
— Ei. — Nero apoia a mão no meu joelho. — Nada de tristeza. —
Trocamos um rápido olhar, ele não sabe, mas o apoio que tem me dado foi
um dos melhores presentes que já recebi na vida.
— Não estou triste. — O tranquilizo.
Meu primo acena e se concentra na direção, enquanto eu deixo a minha
mente vagar. Claro que meu pensamento vai para Thomas, o que me faz
sorrir, ele trouxe luz para minha vida, ao seu lado eu renasci e descobri uma
nova Fiorella.
— Mas que porra é essa? — Nero blasfema segundos antes de girar o
volante do carro quando o carona de uma moto joga algo na nossa direção.
Uma explosão acontece sacudindo todo o carro, tento me segurar
quando meu primo sobe na calçada e bate em um hidrante. O airbag dispara,
praticamente me sufocando.
— Caralho! — A voz irritada do Nero me alcança, causando um zunido
nos meus ouvidos. — Você está bem? — pergunta ao começar a rasgar meu
airbag.
— Acho que sim. — Pisco várias vezes. — Na verdade, me sinto tonta.
A porta ao meu lado se abre e um dos seguranças aparece segurando a
arma. Ele me encara preocupado, quando nota que estou bem, visivelmente
relaxa.
— Tire-a daqui agora — Nero ordena.
— O senhor está bem, chefe?
— Estou, retorne com Fiorella para o meu apartamento e chame Ricci
para examiná-la, ande logo.
O homem me segura no colo e corre comigo para o outro carro. Olho
para trás e vejo meu primo saindo pelo lado do passageiro, já que a parte do
carro do seu lado ficou destruída com a explosão.
— Meu primo — digo ao ser colocada no carro. — Não podemos
deixá-lo sozinho.
— Ele não ficará, os outros seguranças irão cuidar dele, fique quieta,
preciso colocá-la em segurança.
Quero discutir com ele, mas eu me sinto zonza demais, minha mente
não consegue raciocinar direito. Encosto a cabeça no banco do carro e fecho
os olhos, só agora sinto meu corpo começar a tremer.
Foi por muito pouco, se o carro não fosse blindado certamente o pior
teria acontecido.
Jogo uma uva dentro da boca enquanto observo a animação que projetei
sobre o novo jogo. Está ficando exatamente como imaginei, espero que
também seja um sucesso de vendas.
O meu celular toca, estico a mão e destravo a tela. Meus olhos caem
para o nome do Nero, ainda é cedo para me ligar, sei que a essa hora deve
estar em um evento com Fiorella. Se esse merda for desistir do que
acordamos mais cedo vou ficar muito puto, pois estou contando os segundos
para ficar com minha garota.
— O que foi? — Já sinto meu humor ficar azedo.
— Vá para o meu apartamento, sofri um atentado com Fiorella, ela
parece bem, mas preciso que fique ao seu lado enquanto resolvo as coisas
com a polícia. — O meu corpo todo esquenta. — Um médico amigo vai
examiná-la, se houver algum problema maior mande algum dos seguranças
chamar Eros, ele sabe em que hospital pode levá-la. — Sem me deixar falar
nada encerra a ligação.
Levo alguns segundos para assimilar tudo o que falou, quando minha
mente volta a raciocinar pulo da cadeira e sigo correndo para o meu quarto.
Visto a primeira camisa que encontro e calço um par de tênis. Saio do
quarto apressado e chamo o chefe da segurança noturna. Ordeno que ele
prepare imediatamente alguns homens para me levar até Fiorella, enquanto
aguardo eles se organizarem tento ligar para ela, mas não sou atendido.
O caminho até o apartamento do Nero é bem curto, porém por conta do
medo que sinto parece que estou cruzando o Atlântico. Entro no elevador
com a respiração acelerada, só vou ter paz quando eu colocar meus olhos nela
e ver se realmente está bem.
Esqueço completamente os protocolos de segurança e invado o
apartamento sem esperar a verificação do meu pessoal, só preciso neste
momento estar com Fiorella.
— Onde ela está? — pergunto ao segurança que vem ao meu encontro.
— A levei para o quarto, o médico está a examinando.
Aceno e sigo direto para o seu quarto apressado, encontro um
segurança na porta que apenas abre a porta para mim em silêncio.
Entro no quarto sentindo minhas mãos suarem, estou me esforçando
para não permitir que minha mente volte ao passado, pois pensar no dia que
perdi Clover só vai piorar a situação.
Quando nossos olhos se encontram vejo medo nos dela, mas também
existe alívio. Em uma rápida avaliação noto que Fiorella não possui nenhuma
lesão no rosto, ao menos nada gritante. Eu me aproximo da cama tentando me
acalmar, porém quando vejo lágrimas começarem a brotar dos seus olhos eu
já não me sinto capaz de conter minhas emoções.
— Thomas... — ela sussurra meu nome, chamando atenção do médico,
que me encara surpreso.
Conheço Ricci, ele é um famoso cardiologista, costuma tratar a elite da
cidade, em especial os pacientes da máfia. Ele também faz parte do clã, seu
pai é um dos mais importantes membros da alta cúpula da Cosa Nostra na
Filadélfia. É um homem reservado e muito bem-conceituado.
— Que surpresa o ver por aqui, Cassel.
— Como ela está? Nero me pediu para vir. — Busco não fornecer
muita informação, não quero que faça perguntas demais.
— Aparentemente tudo bem, não quebrou nada, mas já avisei que se
ela sentir tontura ou vontade de vomitar teremos que fazer uma tomografia.
— Ela já tomou alguma medicação?
— Apliquei um analgésico e um leve calmante, Fiorella estava agitada,
não vai demorar a dormir. — Escuto tudo o que o médico diz sem tirar os
olhos dela. — Ela teve algumas escoriações nos braços e pernas, mas nada
preocupante, ficará apenas com algumas manchas arroxeadas.
— É um alívio saber disso. — Volto a respirar com mais naturalidade.
— Vou ficar de companhia até Nero chegar, durma um pouco — digo para
ela ao acariciar seu cabelo.
— Terminei meu trabalho aqui, se algo inesperado acontecer apenas
peça para me ligarem.
— Obrigado por tudo, Ricci, tenho certeza de que Nero o
recompensará.
— O meu trabalho é servir à Famiglia. — Apertamos as mãos antes
dele se despedir e ir embora.
Quando fecha a porta do quarto nos deixando a sós, eu me sento ao
lado da Fiorella e a trago para dentro dos meus braços. Rapidamente ela se
aconchega a mim, seguro sua mão e noto que está gelada, levo-a até meus
lábios e deposito beijos suaves.
— Como realmente se sente?
— Apenas sonolenta, mas não quero dormir, estou preocupada com
Nero.
— Ele está bem, me ligou e pediu que ficasse com você enquanto
resolve toda burocracia com a polícia. — Beijo sua testa. — Você lembra o
que aconteceu? — Mesmo sabendo que ela precisa descansar, eu necessito de
alguma informação.
— Foi tudo rápido, estávamos conversando e do nada uma moto nos
ultrapassou, em seguida jogaram algo sobre o carro, era algum tipo de
bomba. Nero fez um movimento brusco, ele jogou o próprio lado do carro
para ser atingido e acabamos batendo em um hidrante. — Sua cabeça
descansa contra meu peito. — O resto é tudo confuso.
— Descanse, eu vou ficar te fazendo companhia.
— Promete que quando eu acordar vai estar aqui? — pede já com a voz
sonolenta.
— Eu prometo, agora durma. — Seguro-a e a acomodo sobre meu colo.
Ela apoia a cabeça no meu ombro e fica encolhida enquanto a abraço.
Não demora muito sua respiração muda, encaro seu rosto adormecido e sinto
a raiva me consumir ao notar um pequeno hematoma na lateral do seu rosto.
Sei muito bem quem provocou esse atentado, essa afronta não ficará
assim, eu vou atrás do Song e ele irá se arrepender por ter ferido uma
inocente.
O maldito chinês não perde por esperar.

Olho para o lado quando ouço a porta do quarto abrir. Nero aparece
todo desgrenhado e com um pequeno corte na testa. Ele está péssimo, mas a
escuridão nos seus olhos mostra o quanto está furioso.
— Como ela está? — pergunta ao encarar o corpo adormecido da
prima.
— O médico aplicou um calmante e lhe deu um analgésico, ela deve
dormir pelas próximas horas. Fora isso está bem, não quebrou nada, só está
com algumas escoriações, nada grave.
— Melhor. — Ele passa a mão pelo cabelo. — Song já assumiu a
responsabilidade — diz ao se aproximar e parar ao meu lado na janela. —
Vou caçá-lo até tê-lo sob meu domínio, não quero mais provocações, o que
aconteceu hoje poderia ter sido fatal, consegui evitar o pior e protegê-la, mas
o final poderia não ser esse.
— Estou à disposição para te ajudar no que for preciso.
— É algo pessoal, eu mesmo vou resolver. — Nos fitamos. — Se eu
não tomar uma atitude exemplar, terei todas as organizações existentes nesta
cidade achando que podem me confrontar.
— Você está certo. — Nero volta a olhar para frente e solta toda a
respiração.
— Vamos ao escritório, precisamos conversar.
Não quero deixar Fiorella sozinha, mas eu sei que precisamos ter uma
longa conversa. Antes de sair do quarto beijo sua testa e ajeito a manta que
recobre seu corpo.
A contragosto me afasto, seguindo Nero de perto na direção do
escritório. Quando nos isolamos no local ele vai até o pequeno bar e nos
serve duas doses de uísque.
— Falhamos, Thomas — comenta assim que toma toda a dose da
bebida. — Não conseguimos protegê-la. — Outra vez joga no copo mais uma
dose. — Consegui agir rápido, mas ainda assim ela se feriu.
— Foi um evento inesperado, vamos ter que rever todos os protocolos
de segurança.
— Você sabe que só isso não vai adiantar. — Ele espalma as duas mãos
sobre a mesa. — Fiorella é minha responsabilidade, ela não pode ter um fio
de cabelo danificado, ficar com ela aqui neste momento é impossível.
— Precisamos encontrar uma solução, ela não pode partir.
— Não está nas minhas mãos essa decisão, em breve Paolo saberá
disso, meu pai já me ligou e não irá demorar a avisá-lo, papai está bem
aborrecido com o ocorrido e por Ella estar aqui comigo.
— Nero, não vamos agir no calor da emoção.
— Porra! Eu não... — O som do celular dele interrompe o que ia falar.
O seu rosto se retorce em uma careta ao verificar o visor. — É ele, puta que
pariu! — Xinga ao pegar o telefone e colocar a chamada no viva-voz. —
Estou ouvindo.
— Onde está a minha irmã? — Nos encaramos ao ouvir o berro do
Paolo.
Ele já não é muito certo do juízo em circunstâncias comuns, quando o
assunto é sua família ninguém segura o homem.
— No quarto, dormindo, fica tranquilo que foi apenas um susto.
— Susto é o caralho! — grita. — Quero Fiorella amanhã mesmo vindo
para Roma, vou mandar um avião particular buscá-la, um dos meus homens
irá trazê-la até mim.
— Paolo, só tenha calma.
— Não peça para ter calma, porra! A minha irmã foi atacada, tudo
poderia acabar em tragédia.
— Mas não acabou, ela estava comigo, eu agi rápido.
— Sorte a sua, ou eu estaria chegando em Nova Iorque agora mesmo
em busca da sua cabeça. — Nero corre a mão pelo rosto.
— Pode ao menos esperar Fiorella se estabilizar? Ela está abalada, acho
melhor descansar uns dias e depois ela volta para casa.
— Não vou esperar nada, amanhã enviarei alguém, ele ficará aí caso
ela não possa viajar de imediato e não existe discussão na minha decisão.
Nero me encara já rendido, segurar Paolo é algo complexo, o homem é
intransigente e inflexível, para o contermos teríamos que nos abrirmos mais
do que podemos.
— Desculpa — fala com a voz quase inaudível. — Ela voltará assim
que estiver se sentindo bem, acredito que não irá demorar a estar em casa.
— Acho bom — diz rispidamente. — Mate logo Song, mostre a esses
merdas de chineses que você tem culhões e que manda no caralho desta
cidade.
O som da ligação sendo interrompida preenche todo o escritório.
— Maldição! — Nero quebra o copo ao batê-lo com força contra a
mesa. — Não bastasse toda a merda que passei hoje, ainda saio como fraco
da história.
— Você está longe de ser fraco — afirmo ao encerrar meu uísque. —
Paolo está puto, ele quis apenas te ofender gratuitamente. — Descarto meu
copo na sua mesa. — Vou conversar com Mitch, ele vai encontrar uma
maneira de mudar a opinião do seu primo.
— Ninguém vai mudar a decisão dele. — Afirma ao limpar a mão com
um guardanapo. — Também não a quero aqui, os próximos dias serão
difíceis quando eu fizer tudo o que for preciso para acabar de vez com Song,
é melhor ela estar segura em Roma. Você é inteligente, sabe que é o certo a
fazer.
Olho para o teto, sentindo um dilema interno me consumir. Sei que o
melhor é ela ir embora, o que aconteceu hoje deixou claro que algo
inesperado pode acabar provocando uma tragédia. Só que um lado meu é bem
egoísta e não gosta de imaginar que nunca mais a verá.
— Vá ficar com ela, príncipe, o tempo de vocês esgotou. — Nos
olhamos tensos.
A minha vontade é tirá-la daqui e escondê-la em algum lugar que
nenhum deles possa ter acesso, no entanto não faço isso porque sei que
sofreria por estar longe da família.
— Eu não posso apenas vê-la partir, ninguém vai me fazer ficar de
braços cruzados enquanto a tiram de mim. — Nero rodeia a mesa e se
aproxima.
— Não brinque com o perigo. — Rosna furioso. — Se tem um pingo
de sentimento por ela deixe-a ir, vocês não podem ficar juntos, é um fato que
infelizmente não pode ser mudado, porra! — grita ao segurar a minha blusa.
— Não a coloque em risco quando sabe que nunca poderá tê-la, deixe-a ir, é
o melhor para todos nós.
Seguro o seu punho, quero socar a cara dele, mas não posso fazer isso
porque Nero está coberto de razão. Para ficar com ela eu teria que tirá-la do
radar da máfia, isso a faria viver escondida, sem poder ter uma vida comum.
Por mais que eu a ame, não posso condená-la a passar o resto dos seus
dias nas sombras, tendo uma existência medíocre.
— Apenas faça o certo. — Se eu não o conhecesse bem, diria que Nero
acaba de implorar que eu seja prudente.
— Já perdi alguém muito especial um dia, não vou fazer isso com sua
prima. — Tiro sua mão da minha camisa. — Amo Fiorella, Nero. — Assumo
o deixando de boca aberta. — E por amá-la tanto eu não vou condená-la a
viver longe da família, muito menos permitirei que corra riscos. — Inspiro
fundo, me sentindo destroçado por ter perdido o jogo. — Mas vou te falar
apenas uma coisa. — Ergo o dedo bem à frente do seu rosto. — Se eu
descobrir que ela está novamente sendo agredida, não vai existir caralho de
máfia nenhuma que irá me impedir de pegá-la. Seu primo estará morto antes
que ele possa reagir e quem atravessar meu caminho terá o mesmo destino.
— Empurro seu peito pouco me fodendo para as consequências. — E saiba
que não é uma ameaça vazia.
Sem mais palavras caminho para a saída do escritório, para o meu azar
trombo com Eros. Parecendo entender que não é o melhor momento para suas
gracinhas ele apenas me encara, empurro seu peito com o ombro e sigo em
frente. Agora preciso me agarrar as poucas horas com a mulher que amo,
antes de ser obrigado deixá-la ir.

A minha cabeça está latejando e meus olhos parecem cheios de areia.


Passei a noite acordado, apenas admirando o rosto adormecido da Fiorella,
enquanto me despedia silenciosamente dela.
Provavelmente em algumas horas alguém estará aqui para buscá-la e eu
nunca mais poderei me aproximar dela.
— Juro que gostaria de te ajudar, mas neste caso não posso, é a lei
deles, precisamos respeitá-las — Mitchell diz sinceramente consternado.
— Não me importo com as leis deles, o que está me fazendo deixá-la ir
é o medo que passei ontem. — Eu não gosto sequer de pensar no desespero
que senti quando Nero me ligou. — Se ela se ferir por um capricho meu
jamais me perdoarei.
— Eu te entendo mais do que ninguém, por isso deixe-a seguir seu
próprio caminho junto a família. Em Roma ela estará mais segura, aí é um
lugar de muita exposição.
— Sei disso, mas não é simples cruzar os braços sem lutar pelo que eu
quero. — Mitch fica em silêncio.
— Realmente não é fácil, mas em certos momentos da nossa vida
precisamos tomar decisões difíceis.
O ranger da cama me faz olhar para trás, encontro Fiorella atenta a
mim, seus olhos estão arregalados, pelo jeito ouviu minha conversa.
— Preciso desligar, Ella acordou.
— Converse abertamente com ela, exponha seus medos, sua garota é
uma mulher que lida constantemente com o perigo, saberá entender que o fim
para vocês chegou.
— Até mais. — Não quero mais falar com ele.
Conheço bem meu irmão, se estivesse no meu lugar não seria tão calmo
como está sugerindo que eu seja. Mitchell lutaria por Fiorella, entraria em
uma briga com a máfia e daria um jeito de mantê-la segura ao seu lado.
Eu até poderia fazer isso, mas meus traumas do passado não permitem.
O atentado que ela sofreu ontem é um lembrete que não devo me envolver
demais, o melhor para todos nós é ela ir embora.
— Como você está? — pergunto ao me aproximar da cama.
Fiorella não me responde, apenas me encara com o rosto sério. O meu
coração acelera, fico com medo dela estar sentindo algo.
— Não se sente bem? Quer que eu chame o médico? — Uma lágrima
pesada escorre por seu rosto, em seguida outras fazem o mesmo caminho, em
poucos segundos ela começa a soluçar.
Sento-me ao seu lado e a trago para meu colo sem entender exatamente
o que está acontecendo. Sinto o seu peito tremer quando começa a ter
dificuldade de respirar por conta do pranto intenso.
— Ei, se acalme por favor. — Beijo seu cabelo. — Está sentindo dor?
— pergunto com a voz suave. — Ela apenas faz um aceno positivo. — Onde
dói? — Sua mão segura a minha e a leva até o seu coração.
Fico estático, sem saber ao certo o que dizer. Eu queria poder fazer uma
mágica e mudar toda a realidade de nossas vidas, mas isso é impossível. A
única coisa que está ao meu alcance é lidar com os fatos e tentar da melhor
maneira possível garantir sua segurança.
— Não quero partir.
— Também não quero que vá, mas você precisa sair daqui, não é
seguro.
— Você disse que iria me proteger. — Seus olhos molhados buscam os
meus.
— Por isso mesmo não vou me opor ao que seu irmão decidiu. —
Seguro seu queixo. — Alguém está vindo te buscar, provavelmente ainda
hoje retornará para casa.
— Não! Eu não vou me afastar de você. — Aperto os lábios, buscando
em meu interior força para não tomar uma atitude que eu posso me
arrepender depois.
— Fiorella, escuta o que vou te dizer. — Seguro sua cabeça. — Eu sei
o que é perder alguém importante, quando perdi Clover foi um baque que
apenas agora estou conseguindo aceitar, só que eu não sentia por ela metade
do que sinto por você, então se eu te perder, nunca mais vou conseguir se
inteiro. Caso o pior tivesse acontecido ontem, hoje eu estaria destruído para
sempre.
— Como vou passar o resto da minha vida sem te ver?
— Eu não sei. — Encosto minha testa na dela. — A única certeza que
tenho é de que você precisa da sua família e estar longe dessa merda de
cidade. — Seguro seu braço e beijo um dos hematomas roxos. — Nunca mais
quero imaginar que possam te fazer mal, Roma está calma, lá Paolo saberá o
que fazer.
— Continuarei correndo risco, não importa onde eu esteja.
— Sei disso, mas aqui, comigo, os riscos são incalculáveis, eu não
posso viver com isso.
A porta do quarto dela se abre e Nero entra com uma expressão nada
amistosa.
— Lamento interromper o casal, mas preciso providenciar o retorno de
Ella. Amaro está vindo buscá-la, Paolo quer o regresso dela imediatamente.
— Por favor, Nero, não me deixe ir, ainda não estou preparada para me
afastar do Thomas.
— Você nunca estará — diz friamente. — Giada está aqui para te
ajudar com as malas, despeça-se do Thomas logo, ele precisa ir embora. —
Sem mais palavras sai do quarto.
— Eu não vou — diz convicta.
Seguro o seu corpo com força, querendo protegê-la de todos.
— Você ama a sua família, não conseguirá viver sem eles. — Apoio o
indicador sob seu queixo e roço meus lábios nos seus. — Sempre estarei por
perto, jamais deixarei de saber dos seus passos. — Sento-a na cama. — Fique
com isso. — Tiro o pequeno cordão de ouro com o brasão da família real. —
Sempre que sentir falta de mim o segure, será uma maneira de estar perto de
você. — Coloco o cordão na sua mão.
— Por favor, faça algo, eu não quero ir.
Quebro o nosso olhar, se eu não sair daqui agora mesmo, irei chorar na
frente dela e arruinar tudo.
— Você precisa ir, sabíamos disso o tempo todo. — Beijo sua testa e
me levanto, preciso respirar ar puro. — Lembre-se que nunca estará sozinha,
se precisar de mim basta ligar, eu vou ao seu encontro aonde for. Se cuida,
Ella, não importa quanto tempo vá passar, eu nunca vou te esquecer.
Te amo.
Essa parte eu digo apenas na minha mente, não posso revelar o real
sentimento que sinto, não é justo com nenhum de nós dois.
Não consigo mais olhá-la, apenas dou as costas e saio do quarto como
se todos os cães do inferno estivessem atrás de mim. No meio do caminho
encontro sua prima, mas não sou capaz de cumprimentá-la, apenas desço as
escadas querendo sair o quanto antes deste maldito lugar.
Ignoro o chamado de Nero, não temos mais nada a falar, nem mesmo
sobre negócios quero ter contato com ele, a partir de hoje será Laura a ter
qualquer conversa com o Capo.
De agora em diante meu contato com a máfia está restrito, quero todos
esses filhos das putas desgraçados bem longe de mim.
Aperto o cordão do Thomas na mão e o sinto queimar minha pele, já
meu coração está estraçalhado, sangrando como nunca sangrou antes. Nem
mesmo quando ficava sozinha depois de uma sessão de agressão, dentro do
meu casamento caótico, eu me sentia tão ferida.
Giada entra no meu quarto e paralisa quando me avista sentada no meio
da cama, chorando como se eu fosse apenas uma criança. Ela corre até onde
estou e me abraça. O seu acolhimento parece despertar uma represa dentro de
mim, soluço sem controle, pedindo a Deus que tudo não passe de um
pesadelo.
— Você precisa se acalmar, está completamente histérica. — Ouço seu
pedido, porém não consigo segui-lo, está doendo demais, ele se foi e sequer
olhou para trás. — Fuja com ele, eu te ajudo a sair daqui, busque sua
felicidade, Ella.
— Não posso — sussurro. — Eu teria que fugir o resto da vida e
Thomas em algum momento se cansaria de me proteger.
— Se ele te ama não te abandonaria.
— Só que ele não me ama. — A certeza disso me faz chorar ainda
mais, sei que ele tem um carinho especial por mim, mas se me amasse, não
me daria as costas com tanta facilidade.
Quero sentir raiva dele, xingá-lo, jogar longe esse maldito cordão, mas
eu não posso.
— Que porra está acontecendo? — A voz irritada do Eros parece rasgar
o ar.
— Ella está descontrolada, precisamos fazer algo — minha prima diz
aflita.
— Puta que pariu. — Ouço-o falar algo com alguém, em seguida se
aproxima e me tira dos limites da minha prima. — Respira, baby, só tente
manter a respiração sob controle.
Ele beija minha testa, enquanto seus braços musculosos me apertam
com força. Agarro sua blusa e mantenho meu choro, o meu único ponto de
felicidade se foi, eu vou voltar a ser cativa a uma vida que odeio.
— Tome esse remédio, o médico deixou prescrito caso você ficasse
agitada. — Aceito o pequeno comprimido.
Bebo um pouco da água que uma das funcionárias da casa me oferece.
— Giada, pode nos dar um tempo? — pede a minha prima.
— Vou esperar lá fora, nada de gracinhas, Eros.
— Vá logo. — Rosna. Ouço os passos da minha prima se afastarem, até
que a porta do quarto se fecha. — Tente dormir. — Ele me iça sem
dificuldade, em seguida coloca-me deitada sobre seu corpo. — Vai ficar tudo
bem, vamos encontrar um jeito de fazer Paolo te deixar voltar.
— Sei que não vou voltar, Nero não quer, Paolo nunca deixará e
Thomas teme por minha segurança. — Solto um suspiro trêmulo. — Acabou
o sonho, durou tão pouco. — Volto a chorar.
— Porra, Ella, não faz assim. — Ele beija o meu cabelo e fecha os
braços ao meu redor com mais força.
Sinto seu calor me aquecer e, aos poucos, meus olhos começam a pesar.
Sou engolida pela escuridão, completamente impotente sobre as escolhas da
minha própria vida.

Acordo zonza, um pouco perdida sobre onde estou. Pisco os olhos e


começo a reconhecer meu quarto na casa do Nero. A realidade imediatamente
me engole, todo o caos que estou rodeada esmurra meu peito.
— Até que enfim acordou dorminhoca. — Olho para o lado e vejo
Giada sentada na poltrona próxima da cama. — Está mais calma?
— Na verdade, não. — Passo a mão pelo rosto e me sento. — Preciso ir
ao banheiro.
— Vá, depois precisamos conversar.
Entro no banheiro e quando paro em frente ao espelho levo um susto ao
ver meu rosto pálido e com olheiras imensas. Estou um desastre, pareço até
estar doente. O meu estômago se revira quando penso em tudo que terei que
enfrentar a partir de agora.
Retorno para o quarto, Giada está no mesmo lugar, olhando algo no
celular.
— Que horas são? Eu dormi muito?
— Já anoiteceu, você apagou depois que tomou o calmante que o
médico indicou.
— Meu Deus! — Desabo na cama. — Mesmo dormindo esse tempo
todo me sinto exausta.
— Posso imaginar. — Ela senta-se ao meu lado. — Preciso te informar
que o enviado de Paolo já chegou, como estava dormindo e ainda agitada,
Nero pediu ao seu irmão para você partir amanhã cedo.
O meu coração se afunda, não posso fazer nada a não ser aceitar meu
destino. Fugir causaria ainda mais dor, eu estaria sozinha e pensar em estar
longe de todos que amo é tão cruel quanto assumir minhas responsabilidades
na máfia.
— Tudo bem — digo rendida. — Pode me arrumar um pouco de água?
— Na verdade, você precisa comer.
— Não tenho fome.
— Coma só um pouco, não pode ficar em jejum. — Ela acaricia a
minha mão e sai do quarto.
Recosto-me contra os travesseiros e fecho os olhos. Agora não sei se
foi uma boa ideia ter vindo até aqui. Se eu tivesse ficado em Roma, não teria
noção do quanto a vida pode ser perfeita quando você está perto de quem se
ama.
— Vim apenas verificar pessoalmente como está. — Abro os olhos ao
ouvir a voz do meu primo. — Eu queria de verdade fazer mais por você, só
que eu tenho meus limites.
— Acho que ninguém nunca fez tanto por mim quanto você. — Apesar
de toda dor que vou levar comigo, não posso negar que ele me deixou viver
novas experiências. — Obrigada por me receber aqui e desculpa por toda a
confusão que causei.
— Você não fez nada demais. — Nero se acomoda ao meu lado e
segura a minha mão. Ele acaricia as pontas dos meus dedos pensativo. —
Amaro está aqui, será ele o responsável por te acompanhar até em casa.
— Certo. — Não sou capaz de dizer muito sem me emocionar.
— Paolo irá cuidar de você, pequena, ele não é como seu pai.
— Isso é o que me acalma.
Uma funcionária chega com a minha comida, o que faz Nero se afastar
e sair do quarto. Tento comer o máximo que posso, mas a minha fome é nula.
Bebo todo o suco de laranja que está na bandeja, depois abandono o resto da
comida.
Eu me encolho na cama e não me interesso muito quando Giada avisa
que já fez todas as minhas malas. Nada de pessoal que eu possua tem
importância, o que eu queria levar de verdade para casa vai ficar aqui e nunca
mais serei capaz de colocar meus olhos nele novamente.

— Ella, acorda. — A voz da minha prima Serena me desperta. — Você


precisa se arrumar para a viagem.
Estico meu corpo, apaguei a noite toda, mesmo tendo passado o dia
anterior adormecida. Estou sentindo meu corpo fraco, eu só queria voltar a
dormir e esquecer tudo.
— Já vou me arrumar.
— Trouxe seu café, coma antes.
— Não tenho fome, talvez eu coma algo durante o voo.
— Tome ao menos o suco, vou te esperar lá embaixo, todos estão aqui
para se despedir de você.
— O.k.
Pouco me importa as despedidas, seria até melhor se apenas Amaro
estivesse me esperando.
Tento ficar apresentável e faço uma maquiagem mais reforçada para
esconder as olheiras. Escolho uma roupa confortável para a viagem. Prendo
meu cabelo em um rabo de cavalo simples e volto ao quarto. Olho para o
ambiente que passei minhas últimas duas semanas na cidade. Depois que eu
partir, nada será mais igual.
Desço as escadas e ouço conversas na sala, a minha família está
presente, com exceção de Piero. Para a minha alegria Eros também apareceu
para se despedir de mim.
Em um canto Amaro me aguarda, vê-lo me faz ter um choque de
realidade, não tenho mais para onde fugir.
— Ella, suas malas já estão no carro. — Meu primo comunica. —
Volte quando quiser, será sempre um prazer recebê-la aqui. — Nero beija
minha testa.
— Obrigada pela hospedagem, serei eternamente grata a todos vocês.
— Meus olhos escorregam por todos eles.
— Querida, boa viagem. — A minha tia me abraça. — Lamento termos
ficado afastadas nos seus últimos dias aqui, mas saiba que te amo de todo
coração.
— Somos família, tia, nada do que aconteça está acima do sangue.
— Você está certa. — Com carinho ela beija meu rosto.
Abraço Serena, ela está claramente emocionada com a minha partida. A
convido para ir a Roma, sei que nunca voltarei aqui, mas seria um prazer
receber minhas primas lá em breve.
Tio Gastone também se despede, ele é discreto como de costume e me
manda ter um pouco de juízo. Não comento nada, estou indo embora e não
cabe uma discussão entre nós.
Já Giada me abraça e chora sem pudor, me fazendo prometer que
iremos nos falar todos os dias. Certamente ela será a pessoa que mais sentirei
falta, desenvolvemos uma amizade muito valiosa.
— Vou te levar até o carro, não posso perder a oportunidade de ficar
um pouco mais do seu lado. — Eros pisca, com seu tradicional jeito
conquistador.
— Comporte-se, rapaz. — Meu tio rapidamente o recrimina. — Já
estamos tendo problemas demais.
Ele dá de ombros, não se importando com o alerta, segurando a minha
mão caminha para o elevador. Amaro vem logo atrás, ele está sério e apenas
acena na minha direção.
Inspiro fundo quando as portas do elevador se fecham, um sentimento
estranho borbulha dentro de mim. Eros aperta a minha mão, olho para o alto e
ele envolve meus ombros, trazendo meu corpo para junto dele.
Tento pegar um pouco da sua força para enfrentar minha mãe quando
eu pisar em casa. Estando perto dela sei que não vou poder fugir das suas
exigências.
Saio do elevador ainda abraçada a Eros, quando nos aproximamos do
carro o segurança pessoal dele se aproxima com um lindo buquê de rosas
vermelhas.
— Para você levar de lembrança de Nova Iorque. — Eros me entrega
as rosas e beija meu rosto. — Foi ele que pediu que te entregasse. —
Cochicha no meu ouvido. — O cara realmente gosta de você, lamento o fim
não ser o que esperava.
— Precisamos ir, o chefe não para de ligar. — Amaro anuncia.
— Vou seguir vocês por via das dúvidas. — Eros abre a porta do carro
para mim. — Entre, princesa — diz com a voz baixa.
Ignoro a última parte da sua fala e me acomodo no banco. Coloco o
buquê de lado, quando eu chegar no aeroporto darei o destino apropriado a
ele.
Apesar de ter diversos carros nos escoltando fico apreensiva por todo
caminho, as imagens do atentado que sofremos não sai da minha cabeça.
Respiro um pouco mais aliviada quando chegamos ao aeroporto.
Eros faz uma última despedida e, antes de me afastar ao lado do Amaro
para a área restrita, onde iremos embarcar, faço um pedido:
— Pode se livrar dessas flores para mim? — peço a Amaro quando já
estou longe da visão do Eros.
— Vai descartar o presente?
— Não quero nada que me lembre desta cidade. — Empurro o buquê
em suas mãos e caminho determinada rumo ao meu antigo inferno particular.

O carro passa pelo pesado portão de ferro da casa da minha mãe. Sinto
como se pesadas algemas fossem colocadas em mim. Amaro me estende a
mão para sair do carro, fizemos uma viagem tranquila e silenciosa. Ele
entendeu que não estava bem e não tentou puxar assunto.
Gosto dele, é um rapaz sempre tranquilo, com um papo descontraído e
de extrema confiança. Possuo um carinho especial por ele, pois se não fosse
sua intervenção no passado, minha irmã Giovanna teria sofrido violência
sexual do próprio sogro.
Toda a minha família é grata a ele, tanto que Paolo o promoveu a um
dos seus tenentes, como forma de demonstrar o quanto reconhece sua
lealdade e, eu dei de presente a casa que um dia vivi com o meu falecido
marido.
— Minha filha, como você fez falta nesta casa. — A minha mãe me
abraça e, apesar de todas as nossas brigas, fico feliz. Eu a amo
incondicionalmente, ela foi a única fonte de amor que conheci quando era
criança.
— Também senti sua falta — falo com sinceridade.
— Sentiu mesmo? Pensei que nunca mais fosse voltar. — Olho para o
chão, porque realmente não queria voltar.
— Foi uma experiência nova poder passar esse tempo fora, com
pessoas diferentes.
— Eu sei que precisava disso, mas não pude evitar ficar preocupada por
estar tão longe.
— Desculpem atrapalhar. — Amaro chama nossa atenção. — As malas
da senhora Fiorella já foram descarregadas, quer que eu mande levá-las ao
quarto dela? — pergunta à minha mãe.
— Não se preocupe, eu vou mandar arrumar tudo em breve.
— Obrigada por me trazer em segurança, Amaro. — Não posso deixar
de agradecer todo compromisso que ele teve comigo.
— É o meu serviço. — Ele ergue um canto da boca. — Se não
precisam mais de mim vou encontrar o chefe.
— Pode ir, eu cuido dela a partir de agora. — Amaro acena e se afasta.
— Quer que eu mande te servir algo para comer?
— Só preciso de um banho e cama.
— Então vá descansar, vou pedir que subam com sua bagagem.
— Tudo bem. — Olho para o topo da escada e engulo em seco para não
chorar. — Como está Gio e Chiara?
— Bem, amanhã estarão aqui para o café, pedi que não te
incomodassem hoje já que sabia que chegaria tarde.
Não digo nada, realmente estou exausta, preciso apenas dormir um
pouco e tentar acalmar meu coração.
Subo as escadas sentindo as minhas pernas pesarem toneladas. Quando
entro no meu quarto não consigo mais sentir a familiaridade de antes. É como
se eu não pertencesse mais a este lugar.
Tomo um banho rápido e coloco uma camisola confortável. Quando me
deito na cama olho para o teto e imagens diversas de tudo o que vivi com
Thomas correm soltas pela minha mente.
Tudo não passou de uma ilusão que apenas acabou com meu coração.
Desperto sentindo um carinho no cabelo que me fez muita falta nesses
meses que estive longe. Mesmo sem abrir os olhos sei que Gio está aqui, seu
cheiro de flores é inconfundível.
— Senti sua falta todos os dias — digo sem abrir os olhos.
— Eu senti mais. — Ela beija meu cabelo. — Como você está?
— Acho que devastada resume bem como estou.
— Ah, minha irmã, eu queria poder fazer algo por você. — Gio se
acomoda ao meu lado e me abraça.
— Eu não fazia ideia de que o amor podia doer tanto.
— Dói sim — afirma com a voz reflexiva. — Quando achei que
perderia Dom quase não suportei, pensar em não o ter comigo é impossível.
— Você é uma mulher de sorte, tem o homem que ama do seu lado.
— Ella, não pense muito, tente apenas se acalmar, o futuro é uma
caixinha de surpresas, tudo pode acontecer.
— Não irá acontecer Thomas na minha vida, sabemos disso.
— Como diz o antigo filósofo grego Sócrates: “Só sei que nada sei”. —
Ergo a cabeça e a encaro.
— De onde tirou isso?
— Da faculdade — responde sorrindo. — Lá aprendemos algumas
coisas interessantes.
Sorrio pela primeira desde que sofri o atentado, só mesmo Giovanna
para me alegrar.
— Ei, vocês estão confraternizando e não nos chamaram. — Chiada diz
da porta, segurando a filhinha no colo.
Logo atrás dela está Masha e Caterina, com seus lindos cachos ruivos.
O meu coração incha dentro do peito, como senti falta de todos elas.
— Seja bem-vinda, Ella, todos nós sentimos sua falta — Masha diz ao
colocar a minha sobrinha no chão, que vem rapidamente correndo na minha
direção.
Pego o seu corpo fofinho entre os braços e a beijo, ela cresceu bastante
desde que parti. A filha de Chiara nem se fala, está uma verdadeira
princesinha.
Pensar nessa palavra me deixa tensa, mas todos os meus pensamentos
se dissolvem quando vejo Paolo de braços cruzados e com o ombro
encostado no batente da porta.
O meu irmão é a rocha da família e, por mais que eu ame Thomas,
pensar em viver o resto da vida sem ter contato com ele é demais.
— É bom tê-la de volta, minha ragazza.
Deixo Caterina sentada na cama e corro até ele, abraço sua cintura e
afundo meu rosto em seu peito. Dentro dos seus braços sempre me sinto
segura, é assim desde que eu era criança.
— Agora que estou aqui é que percebo o quanto senti falta de todos. —
Olho para a minha família e sinto o amor explodir no meu coração. — Eu
amo vocês mais do que um dia imaginei — digo emocionada.
Thomas tinha razão, eu não seria feliz sem ter eles comigo. Sendo um
pouco sincera, nunca serei feliz, porque apesar de ter a minha família ao meu
lado, não poderei ter o homem que amo. Vou precisar conviver com essa
verdade até meu último dia de vida.
Há um mês a minha vida deu uma reviravolta que ainda não consegui
superar. Desde que voltei a Roma me enterrei em uma rotina monótona, não
sinto vontade sequer de sair do quarto. Meu apetite sumiu, vivo de comer
migalhas e gelato. Este último eu ando viciada, não fico um dia sem comer.
Minhas irmãs têm tentado me animar, Chiara anda desconfiada da
minha apatia, mas não me força a contar o que realmente está acontecendo.
Meus momentos de felicidade ficam concentrados quando estou com minhas
sobrinhas, nas aparições surpresas do Leo ou quando falo com Eros e Giada,
os dois me ligam constantemente, porém nenhum deles toca no nome do
Thomas.
Em alguns momentos eu me sinto tentada a saber sobre ele, mas seguro
minha curiosidade para não sofrer ainda mais, quanto menos eu souber da sua
vida, melhor para meu emocional.
— Não aguento mais te ver dentro desse quarto. — Olho para trás e
vejo Giovanna de braços cruzados. — Você precisa reagir.
— Tudo é muito complicado, Gio — digo me afastando da janela. —
Você não deveria estar na faculdade?
— Hoje só apresentei um trabalho, aí vim te ver.
A sua preocupação comigo sempre me deixa com o coração aquecido.
— Suas visitas são sempre bem-vindas. — A abraço.
— Essa em especial tem um motivo por trás.
— E o que seria? — pergunto curiosa.
— Ninguém sabe além de Dom, então vai precisar fazer segredo,
porque só vou contar à família no jantar de sábado na casa do nosso irmão.
— Está grávida? — Ela apenas sorrir.
Volto a abraçar Gio, ela vai ser uma mãe incrível, tem uma
desenvoltura maravilhosa com nossas sobrinhas, irá tirar de letra quando for
cuidar do próprio filho.
— Meus parabéns! — digo ao apertá-la com força. — Como Dom está
se sentindo?
— No céu — responde alegre. — Nós descobrimos ontem, ele mesmo
pegou o resultado.
— Vocês programaram? Lembro que disse que queria terminar a
faculdade.
— Esse era o plano original, mas mudei de ideia, quero meu próprio
filho, estou cansada de roubar minhas sobrinhas. — Sorrimos, entendo bem
ela, realmente ficamos atrás das meninas como doidas. — Dom não se opôs,
apesar de ele achar que eu precisava de mais tempo para poder me dedicar
aos estudos, mas se Masha consegue dar conta de Caterina e Paolo, eu
também dou.
— Disso não tenho dúvidas, Paolo vale por cinco crianças.
— Se ele ouvir isso, já sabe.
— Não vamos contar. — Seguro sua mão. — Estou tão feliz, você e
Dom merecem muito essa criança.
— Também estou, quero construir uma família numerosa com o meu
marido.
— Você vai, o amor de vocês merece tudo o que desejarem.
— Ella, algo me diz que você também terá o que deseja.
— Eu não vou, mas neste momento não é sobre mim e sim você. —
Volto a abraçá-la. — Já que agora está grávida, não pode beber um vinho,
então vamos providenciar um belo suco de uva, assim brindamos sem chamar
atenção de ninguém.
— Acho perfeito. — Os seus olhos brilham de animação.
É tão bom vê-la feliz, Gio teve muito medo do seu casamento com
Domênico, mal sabia ela que estava seguindo um caminho reto para um
futuro feliz. Ela é uma mulher de sorte.

A confusão de vozes enquanto a sobremesa é servida é imensa,


Caterina está no colo do pai, enquanto ele lhe serve um suculento bolo de
chocolate. Ela está fazendo uma bagunça imensa, mas ainda assim meu irmão
é a paciência em pessoa.
Difícil acreditar que Paolo Torcasio, o Capo truculento, seja tão suave
com a própria filha.
— Preciso contar uma novidade a vocês. — Finalmente Gio resolve se
manifestar, já não aguento mais guardar esse segredo.
Ela fita o marido com olhos brilhantes, ele segura sua mão e sorri. O
amor deles é evidente, minha intempestiva irmã dobrou o frio mafioso.
— Eu e Dom estamos esperando nosso primeiro filho.
A mesa fica em silêncio, todos encaram o casal surpresos, também não
é por menos, ambos sempre deixaram claro que filhos era algo bem distante
para eles.
— Dio Santo! Domênico fez um filho na minha irmã caçula, eu vou
infartar. — Paolo bebe todo o vinho da taça e acaba arrancando uma
gargalhada generalizada.
O tempo pode passar, mas ele não supera que o melhor amigo se casou
com Gio.
— Esqueçam Paolo e vamos brindar a mais um membro chegando a
nossa família. — Masha chama Mirta e pede champanhe.
— Ahhh... um lindo mafiosinho chegará. — Leo apoia duas mãos sobre
o coração. — Tenho certeza de que será menino e lindo como Dom. — Esse
não tem jeito, é eternamente apaixonado por meu cunhado.
Não demora muito e nossas taças são servidas, Gio e Chiara
obviamente ficam no suco, a minha irmã mais velha ainda está na fase da
amamentação, portanto proibida de ingerir álcool.
— Que o filho de vocês venha com muita saúde. — Masha inicia o
brinde.
— E que seja o primeiro de muitos outros, quero minha casa cheia de
netinhos. — Minha mãe está radiante com a notícia.
— Senti a indireta daqui, querida sogra. — Giane, o marido da minha
irmã faz graça.
Até onde sei os dois não pretendem ter mais que dois filhos.
— Espero que essa criança seja a sua cópia Gio, não gosto de imaginar
que se pareça com Dom. — Como sempre Paolo é implicante.
— Por Deus, Paolo, não pode ser agradável nem quando sua irmã está
grávida? — A esposa o recrimina.
— Você nunca vai entender o que sinto. — O drama dele me faz
prender os lábios para não sorrir.
Impossível viver sem minha família, eles são uma extensão de mim.
Sinto falta do Thomas todos os dias, depois que eu parti nunca mais nos
falamos, em alguns dias seguro o cordão que me deu para buscar forças para
seguir adiante.
Queria odiá-lo, tirar do meu peito esse maldito amor que sinto, mas eu
não tenho forças para isso, apenas sobrevivo a cada dia, sentindo o meu
coração morrer lentamente.
— Volte para o presente, não deixe o passado te engolir. — Leo diz
baixinho, ele sabe tudo o que passei e tem sido um apoio valioso desde que
cheguei.
Aceno para ele antes de erguer minha taça para o brinde. A felicidade
de todos é latente, até mesmo de Paolo que finge não gostar do casamento da
Gio, está alegre, no fundo ele sabe que Dom é o marido ideal para ela.
Levo a taça aos lábios e sorvo um pouco do champanhe, imediatamente
meu estômago se agita. Prendo a respiração quando a ânsia de vômito me
consome.
O que está acontecendo comigo? Sempre bebi champanhe e nunca tive
problema. Tento mais uma vez beber e dessa vez o enjoo é ainda maior.
Sinto meu coração acelerar ao começar a perceber que ando sentindo
repulsa por alimentos que sempre fizeram parte da minha dieta.
Fico alheia a toda a conversa que se desenrola ao meu redor quando
tento me recordar da última vez que menstruei.
Ai meu Deus!
Não pode ser, é apenas minha mente já em conflito pensando bobagem.
Eu não posso ter esse azar, necessito estar enganada, ou eu estarei dentro de
um problema de dimensões gigantescas.

Ando de um lado para o outro na sala da casa da minha irmã. Giovana é


a única pessoa que confio plenamente para me ajudar nesta situação. Estou há
três dias vivendo em angústia, com medo de descobrir se estou grávida.
Depois que me acalmei fiz as contas e percebi que estou há mais de um
mês sem menstruar. O pior foi lembrar que na minha última menstruação o
fluxo não foi como estou acostumada.
As minhas mãos começam a suar, porque no fundo do meu coração
sinto que estou muito ferrada.
— Desculpa a demora, eu estava tomando banho. — Gio aparece na
sala de cabelos molhados e com um vestido rosa muito fofo.
Ela já está com o brilho que só as grávidas possuem, quando sua
barriga começar a aparecer ficará ainda mais bonita.
— Preciso da sua ajuda — digo sem rodeios. — Mas você precisa me
prometer que não irá contar a ninguém.
— O que está acontecendo?
— Apenas prometa. — Giovanna enruga as sobrancelhas do mesmo
jeito que nosso irmão faz quando está contrariado.
— Eu prometo.
Encaro seus olhos e vejo o quanto minha irmã está sendo sincera.
Sempre tivemos uma ligação forte, mas quando me casei fui obrigada a me
afastar dela. Agora que sou livre, restaurei a amizade e companheirismo que
sempre tivemos.
— Preciso da sua ajuda para fazer um teste de gravidez. — Os olhos
dela ficam arregalados.
— Está grávida?
— Não sei, mas pelos sintomas que estou sentindo acho que sim.
— Senhor! — Ela exclama perplexa. — Vamos ter calma, pode não ser
uma gravidez, talvez você esteja apenas com seu emocional abalado. — Gio
se afasta e pega o telefone. — Vou ligar para o laboratório que fiz meu exame
e pedir que enviem alguém para colher o seu sangue agora mesmo.
— Não! — Imediatamente a paraliso. — Ninguém pode saber, se eles
vierem aqui seus funcionários podem contar a Dom.
— Eles não irão contar por que são de confiança, fique tranquila, sei o
que faço.
Não me sinto nada calma, mas irei dar um voto de confiança a ela.
Giovanna liga para o laboratório e conversa com o atendente. Em pouco
tempo ela tem a promessa que um profissional chegará ao seu apartamento.
A minha irmã me explica que esse laboratório faz serviços para a máfia
e que são discretos. Em seguida ela vai conversar com sua equipe e, quando
retorna, volta a garantir que ninguém irá comentar sobre o que acontecerá.
Passo os próximos quarenta minutos angustiada, até que Santino avisa
que a funcionária do laboratório chegou. Fico apreensiva não só pelo exame,
mas também porque Santino era o segurança pessoal de Dom. Ele é fiel ao
chefe e pode me entregar a meu cunhado com facilidade.
— Só tenta ficar calma. — Gio me pede quando estamos no quarto dela
enquanto tiro o sangue.
Não leva sequer cinco minutos e a simpática funcionária avisa que dará
prioridade ao meu exame, poderei consultar o resultado após as 20h.
Agradeço a sua gentileza e fico no quarto da Gio enquanto ela leva a mulher
até a porta. Quando ficamos sozinhas trocamos um olhar nervoso. Tanto eu,
quanto ela, sabemos o que pode acontecer se esse teste for positivo.
— Não pense muito, caso realmente esteja grávida não pode ficar
nervosa.
— Se eu estiver esperando um filho a minha vida irá virar um inferno,
serei rejeitada por todos, inclusive por nossa família.
— Ninguém irá te rejeitar, nosso amor por você será o mesmo, mas terá
que assumir as consequências de uma gravidez fora do casamento.
— A mamãe vai me odiar. — Solto um sorriso amargo.
— Ela é o menor dos problemas. — Gio segura a minha mão. — Mas
não vamos pensar nisso agora, ainda não sabemos o resultado.
Fico em silêncio, porque no fundo do meu coração eu sei bem o que
está por vir.

Mais uma vez minha irmã entra no site do laboratório em busca do


resultado, já passou mais de dez minutos do horário marcado, se eu não tiver
um ataque do coração agora, não terei nunca mais.
— Saiu! — Gio fala sem esconder a ansiedade. — Quer ler você
mesma?
— Não — respondo sem pestanejar. — Pode ler antes de mim.
Espalmo as mãos contra o coração, enquanto aperto os olhos.
Dependendo do resultado, a minha vida pode mudar para sempre.
Os segundos passam e nada de Gio se pronunciar, quando penso em
contestá-la, sinto seus braços me rodeando.
— Parabéns, você está grávida. — Abro os olhos e a encaro.
Minha irmã tem um sorriso largo nos lábios, ela é a perfeita imagem da
felicidade. O que ela não entende é que sou uma mãe solteira dentro da máfia,
a minha reputação está arruinada, principalmente porque o pai do meu filho
não é do nosso clã.
Lágrimas começam a despontar dos meus olhos, meu filho será um
bastardo e nunca terá prestígio na Famiglia. Seremos excluídos de tudo, se
Paolo for generoso nos colocará em um dos apartamentos destinados às
amantes dos conselheiros e eu viverei de migalhas, porque até minha herança
se ele quiser pode me tirar.
— Não chore, Ella, você não pode ficar triste.
— Como não vou ficar? Eu vou ser afastada de todos, meu filho será
um bastardo.
— Claro que não, ele tem pai, você precisa contar a Thomas o que está
acontecendo.
— Contar? — Balanço a cabeça, Gio vive dentro de um conto de fadas
com Dom, ela não tem ideia do mundo que existe lá fora. — Thomas nunca
mais entrou em contato comigo, ele nem deve se lembrar de mim. Esse filho
é apenas meu e eu terei que assumir as consequências dessa gravidez.
— Ele também é responsável.
— Gio, o pai dessa criança é um príncipe, entende a gravidade disso?
As famílias de ambas as partes jamais aceitarão meu filho, eu estou sozinha
nessa.
— Nunca estará, eu vou te apoiar em tudo.
— Você tem sua vida, está construindo a própria família, não vai se
envolver nos meus problemas.
— Somos irmãs, estou ao seu lado o tempo todo. — Ela aperta a minha
mão. — Vamos pensar em uma solução.
Eu queria muito ter a fé dela, mas no mundo em que vivemos, uma
mulher que engravida fora do casamento perde todo o valor. Qualquer que
seja o meu futuro será ainda mais sombrio do que imaginei.

— Você está horrível, essas olheiras são inadmissíveis. — Minha mãe


mais uma vez briga comigo.
Estou há uma semana sem dormir, consigo apenas cochilar quando o
dia já está amanhecendo. Comer tem sido quase impossível, o meu apetite é
zero, estou tendo sérios problemas na hora das refeições, preciso dizer que
estou de dieta e pedir alimentos que eu sei que consigo tolerar.
Como minha mãe aprova uma boa dieta, sempre que jogo essa
justificativa ela me elogia e não reclama por me alimentar tão pouco.
Ainda me sinto perdida no que vou fazer, Gio quer contar ao marido
para que ele nos ajude. Ela não entende que Dom precisa ser fiel ao seu Capo,
no segundo que ele souber da minha situação vai contar a Paolo.
— Mãe, apenas me deixe. — Subo as escadas apressada, ignorando o
pedido dela para que fique na sala.
Entro no meu quarto com o coração acelerado, não posso mais viver
nesta situação, preciso decidir o que fazer o quanto antes. Em um rompante
eu entro no meu closet e me arrumo, chega de covardia, se eu tive coragem
em me envolver com Thomas, eu vou ter para proteger meu filho, contarei a
Paolo tudo o que está acontecendo.
Assim que estou arrumada e devidamente maquiada saio do quarto,
para a minha sorte não encontro minha mãe no andar inferior, o que facilita a
minha saída.
Peço a minha equipe de segurança que me leve até a casa do meu
irmão, não demora muito estou dentro do carro, com as mãos frias e o
coração disparado. Abro minha bolsa e pego o cordão do Thomas, aperto-o
tentando de alguma maneira sentir sua força, agora carrego um pedaço dele
dentro de mim, estaremos ligados para sempre.
Toda a determinação que estava sentindo escorre por meu corpo
quando paro em frente à porta da casa do Paolo. Já passei muitos momentos
difíceis na minha vida, mas nunca tive uma terceira pessoa totalmente
dependente de mim.
Já amo incondicionalmente o meu filho, ele é fruto do melhor momento
que tive em minha vida e do homem que não consigo deixar de amar. Por ele
sou capaz de tudo, inclusive ser renegada por toda a minha família.
Inspiro fundo e abro a porta, não vou desistir agora, espero que Paolo já
esteja em casa, assim eu falo tudo de uma vez.
Infelizmente a sorte não tem sido minha companheira nos últimos
tempos e Mirta me informa que seu chefe ainda não chegou.
A minha coragem começa a diminuir e penso em ir embora, mas Masha
aparece e acabo sendo obrigada a ficar.
— Que bom te encontrar aqui, está tudo bem? Você parece aflita. —
Ela tem o dom de decifrar as pessoas, sempre entende o nosso estado de
humor.
— Vou ficar bem. — Olho ao redor e não vejo minha sobrinha. —
Onde está Caterina?
— Na cozinha comendo uva com Leonel, eles se dão tão bem, Paolo
até sente ciúmes. — Sua declaração me faz sorrir.
— É difícil imaginar Leonel tomando conta de uma criança.
— Agora ele se acostumou. — Ela segura minha mão e me arrasta para
o sofá. — Posso ser sincera com você sobre algo?
— Claro que sim. — Minha cunhada me olha sério.
— Desde que voltou de Nova Iorque, você está diferente, emagreceu
muito. — Fico quieta, tentando não demonstrar que sua declaração me deixou
afetada. — No último almoço você quase não comeu e percebi que o
champanhe te fez mal. — Como ela notou meu desconforto com a bebida? —
Pode confiar qualquer coisa a mim, sei guardar segredo até do meu marido,
se isso significar proteger qualquer uma de vocês.
Os meus olhos marejam, Masha é tão especial, ela entrou em nossas
vidas e transformou não só o nosso irmão, como a todos nós.
— Estou grávida, Masha, vim contar ao meu irmão e receber de uma
vez minha punição, não aguento mais sofrer com esse segredo. — Ela
arregala os olhos, completamente incrédula sobre o que falei.
— Você está o quê? — Nós duas olhamos para a entrada da porta e nos
deparamos com Paolo e Dom parados. — Repita, Fiorella, quero ter certeza
de que não ouvi errado.
— Paolo, calma. — Masha pede, mas os olhos dele estão concentrados
apenas em mim.
— Cale-se! Esse assunto não é seu. — Fico rígida, nunca vi meu irmão
ser grosseiro com a esposa.
— Não admito que fale assim comigo, você tem que... — Toco a mão
dela, não permitirei que briguem por minha causa.
— Por favor, não briguem — peço a ambos. — Eu estou grávida,
Paolo, vim até aqui porque preciso saber qual a sua decisão sobre o meu
futuro e do meu filho. — Todo o rosto dele empalidece. — Vou aceitar o que
fizer, assumo minha responsabilidade.
Espero por sua explosão, mas ele apenas me encara, seus olhos brilham
com uma infinidade de sentimentos, entre eles raiva e decepção.
Fico parada, apenas aguardando o que irá dizer, o meu destino está em
suas mãos.
— Quem é o pai? — sua pergunta faz meu corpo estremecer.
— Meu filho só tem mãe. — Jamais irei revelar quem me engravidou.
— Não, minha ragazza, seu filho tem pai e eu vou descobrir agora
mesmo quem é o filho da puta que fodeu a sua vida, ele vai assumir você e
essa criança, ou não me chamo Paolo Torcasio.
Corro para impedi-lo de cometer alguma loucura, mas Dom me segura
antes que eu possa alcançá-lo.
— Se quiser pode me dizer o nome do pai, apesar que eu já desconfie
de quem seja, caso não queira falar, deixe seu irmão agir, você não vai
assumir essa responsabilidade sozinha.
— Eu quero assumir.
— Mas não vai. — Domênico segura meus ombros. — É Eros? Amaro
me disse que vocês estavam íntimos.
Que droga! Não pensei que Eros podia levar a culpa.
— Dom, eu vou assumir essa criança sozinha, só preciso que Paolo
diga o que vai fazer. — Ele endurece o rosto, deixando em evidência sua face
fria que todos temem.
— Não importa quem seja o pai, ele vai ter que ser homem suficiente
para assumir o que fez, você não terá um bastardo. — Ele dá um passo atrás e
solta meus ombros. — Cuide dela, Masha, vou tentar controlar seu marido.
Sem mais palavras nos dá as costas e todo o meu corpo começa a
tremer. Se Paolo desconfiar de Thomas, uma guerra entre a Cosa Nostra e
Vichi será inevitável.
Escuto com atenção a explicação do Eros sobre o nosso plano para
roubar um dos carregamentos de armas do Song. Estou em uma ofensiva
pesada contra ele, já minei alguns dos seus negócios e incendiei um dos seus
estabelecimentos que armazenam drogas. Em duas semanas ele teve grandes
perdas, que o desestabilizou completamente.
Ele é um problema que não vou resolver em um piscar de olhos, mas
não vou parar até conseguir derrubá-lo.
— Vamos atacar o barco que trará as drogas ainda no mar, temos um
esquema fechado com a Guarda Costeira, eles irão intervir quando tivermos a
situação sob controle, ficarão como responsáveis por terem interceptado o
carregamento.
— Que foda. — Rocco rosna. — A gente faz todo o serviço e os
merdas que se dão bem.
— O importante é enfraquecermos Song — digo momento antes do
meu celular tocar e o nome do Paolo aparece. — Só um minuto. — Peço a
minha equipe. — E aí Paolo? A que devo a honra da ligação?
— Não existe honra nessa ligação seu desgraçado. — Fico petrificado.
— O que existe é a minha impossibilidade de estar aí agora mesmo para
estourar a sua cara.
Que merda exatamente está acontecendo?
— Pode ao menos me explicar o motivo da sua irritação?
— Irritação? — Ele solta uma risada sarcástica. — Você não tem noção
do instinto assassino que estou sentindo agora, irritado eu fico com meu
inferno vermelho, com você eu só sinto vontade de cortar cada parte do seu
corpo.
Puta que pariu, o que deu nesse homem?
— Então vamos lá — digo também perdendo a paciência. — O que
aconteceu?
— Nero — a voz dele é um sussurro sombrio. — Quando deixei
Fiorella aos seus cuidados, eu acreditei na sua capacidade de cuidar dela.
— E eu cuidei, apesar do incidente que tivemos, sua irmã voltou para
casa inteira.
— Voltou inteira e grávida, caralho! — Meus olhos vão para Eros, ele
me observa atentamente.
Percebendo a situação delicada que estou, meu fiel escudeiro pede que
todos deixem imediatamente a sala.
— Paolo... — Afundo o polegar e o indicador nas pálpebras tentando
me controlar. — Como assim ela está grávida?
Eros arregala os olhos e rapidamente se aproxima da minha mesa.
— Nero não se faça de idiota logo no momento que quero sangue. —
Passo a mão pela testa. — Fiorella acaba de me comunicar que está grávida e
se nega a contar quem é o pai, mas eu sei exatamente que é de Eros e esse
filho da puta vai assumir minha irmã e o filho deles.
— Eros é o pai do filho da sua irmã? — Olho para meu Consigliere que
me fita em choque, rapidamente coloco o telefone no viva-voz.
— E quem mais seria, porra?! Desde que minha mãe voltou de Nova
Iorque falou sobre esse filho da puta em cima da Fiorella — Paolo esbraveja.
— Amaro quando chegou aqui também comunicou a intimidade deles. Não
se faça de idiota comigo, você não impediu seu primo de se aproximar da
minha irmã, agora ele vai assumir a responsabilidade nesta situação, porque
não vou permitir que minha irmã tenha um bastardo só para proteger seu
Consigliere.
Encaro Eros ainda me sentindo aturdido, não acredito que Ella esteja
grávida do Thomas. Tudo o que eu não precisava era que algo assim
acontecesse.
Antes ela estivesse grávida de Eros, realmente ele assumiria, mas esta
situação é muito mais grave.
— Não precisa exigir nada, Paolo, obviamente eu iriei assumir tudo,
sou um homem de honra, não um moleque. — Sou pego de surpresa como
Eros se manifesta.
— Está louco? — balbucio para ele, que apenas me ignora.
— Jamais permitiria que sua irmã tivesse esse filho sozinha, sempre
estive disposto a assumi-la, mas Fiorella preferiu voltar para casa.
— Eros... — Paolo sibila perigosamente o seu nome. — Eu quero
cortar o seu pau agora mesmo, sua sorte é estar longe.
— Não pense algo assim, quero mais filhos com Ella. — O desgraçado
sorri, parecendo não entender que acaba de entrar em um imenso problema ao
mentir para Paolo.
— Quer morrer maldito? — Escuto Paolo bater na mesa.
— Escute o que ele está falando, você precisa resolver este problema,
não causar outro matando o pai do seu sobrinho. — A voz controlada do
Domênico desliza pela ligação.
Ao contrário de Eros ele é um Consigliere centrado. Se eu tivesse um
Dom me auxiliando, estava feliz demais, porque lidar com Eros e suas
provocações o tempo todo é foda.
— Dom está certo, Paolo, precisamos resolver isso com calma. —
Volto a olhar para Eros, sem acreditar que ele vai assumir essa merda toda.
Ele coloca um papel na minha frente e quando leio preciso assumir que
o desgraçado tem culhões.
Não a deixarei sozinha, gosto de Ella, assumo essa responsabilidade,
preciso me casar de qualquer jeito, serei feliz com sua prima.
Abaixo a cabeça, eu meti meu melhor amigo nessa quando permiti que
Ella se envolvesse com Thomas. Toda essa confusão é minha culpa, se eu não
tivesse a péssima ideia de deixá-la experimentar um pouco de liberdade,
todos estávamos longe desse entrave.
Espalmo a mão sobre o bilhete, orgulhoso por meu primo, melhor
amigo e conselheiro, ter esse tipo de atitude. Eu poderia ir atrás do Thomas,
não nos falamos desde que o vi pela última vez, mas se eu for exigir dele
assumir esta criança, estarei piorando ainda mais a situação da minha prima.
Ella já sofreu demais, não quero que seja expulsa do clã e fique à deriva
sozinha com um filho, porque eu fui um irresponsável ao permitir os
encontros dela com um homem fora do nosso meio.
— Vou agendar uma viagem até Roma, eu e Eros estaremos aí para
formalizar o... — Sou interrompido quando ouço uma confusão ao fundo da
ligação.
— Mas que porra é essa? — A voz exaltada do Paolo me deixa em
estado de alerta. — É uma invasão real? — Enrugo as sobrancelhas, o que ele
está querendo dizer?
— Precisamos conversar, Paolo. — Fico rígido quando identifico a voz
ao fundo.
Não pode ser. Ele não seria capaz de fazer algo assim sem antes me
comunicar.
— Por favor, Thomas, precisa ir embora. — A voz aflita da Fiorella
confirma minhas suspeitas.
Merda! Merda! Merda! Eu estou muito fodido agora.
— Caralho! — Eros joga o cabelo para longe da testa. — Agora ele vai
arrancar o seu pau também, a gente tá muito fodido.
— Antes disso acontecer eu mato o Thomas. — Rosno furioso. —
Paolo não desliga.
— Infelizmente terei que desligar, quero saber a que devo a visita de
dois príncipes com uma expressão nada amigável. — Caralho! O que esse
infeliz do Thomas pensa que está fazendo? — Assim que eu resolver esse
problema me acerto com você e seu Consigliere de merda.
Ele não me deixa falar mais nada e desliga. Jogo a cabeça para trás
sentindo a frustração e raiva me consumir. Não acredito que toda essa droga
está acontecendo.
Eu só quis dar um pouco de felicidade para Ella depois do inferno que
ela atravessou, não me arrependo, porém não contava que sairia dessa
situação grávida, muito menos que Thomas fosse atrás dela sem me dar um
prévio comunicado.
— O que vamos fazer? — Eros me pergunta claramente preocupado.
— No momento, nada — respondo me sentindo impotente. — O que
nos resta é esperar e confiar que o maldito príncipe não seja morto e consiga
um milagre.
UMA SEMANA ANTES DO CONFRONTO

Encerro a ligação com Rose, a esposa do meu falecido CEO. Tento


sempre manter contato com ela, saber como estão as coisas com os filhos do
casal. Devo isso a Scott e vou zelar sempre por sua família.
Descanso o rosto contra as mãos me sentindo exausto, eu sabia que não
seria nada fácil quando Fiorella partisse, só não imaginei que eu perderia
completamente o sabor pela vida.
Não canso de olhar as fotos dela no meu celular, só assim consigo
aplacar a falta que sinto. Sonho todas as noites com ela, seu cheiro parece
nunca sair do meu quarto.
Será que também pensa em mim tanto quanto penso nela?
Todos os dias sinto o ímpeto de ir a Roma enfrentar o mundo para tê-la
comigo, deve existir uma maneira de quebrar essas leis patéticas da máfia.
— O que eu faço, Senhor? — Olho para o alto em busca de uma luz,
não dá mais para ficar sem tê-la na minha vida. — Droga!
— Resolva logo esta situação. — Aprumo a cabeça e vejo Stuart
parado na porta com uma pasta na mão. — Ligue para seu irmão e peça a ele
que vá com você enfrentar o carcamano. Ao lado do Mitchell será menos
perigoso, Paolo não poderá matar dois príncipes e sair vivo da história. Você
a ama e está péssimo depois que Fiorella se foi.
— Nada é tão simples, você sabe.
— Sim, eu sei disso. — Ele joga a pasta sobre a minha mesa. — Esse é
o relatório da equipe de projetos, olhe com calma quando voltar de Roma,
agora vá tomar uma atitude, esse teu título tem que servir para alguma coisa,
só não deixe mais uma vez passar uma oportunidade, você já teve sua lição.
Sem mais palavras ele deixa a minha sala e, minha cabeça começa a
acelerar sem que eu consiga controlar. Recordo de uma das conversas que
tive com Nero. Ele me garantiu que era impossível uma união entre a máfia e
Vichi, mas como vou saber se essa possibilidade realmente é inviável se eu
não tentar?
Desde que Fiorella se foi nunca mais conversei com ele, apenas tive o
desprazer de encontrar com Eros em um evento social, cumprimentei o infeliz
por pura educação e fiz questão de me manter distante.
Se é para entrar em contato com a máfia, farei isso unicamente para ter
a mulher da minha vida comigo, caso contrário finjo que eles não existem.
Chega! Preciso tomar uma atitude de vez, não dá para ficar mais de
braços cruzados. Pego o celular e ligo para Mitchell, foda-se tudo, eu não vou
mais segurar o que estou sentindo, preciso ir atrás da minha felicidade.
— Como vai, irmãozinho?
— Mitch, não posso mais ser sensato, eu vou atrás da Fiorella. — Ele
fica em silêncio. — Eu sei que se estivesse no meu lugar faria o mesmo, te
conheço bem.
— Thomas, você precisa de calma.
— Não existe calma quando eu estou longe da mulher que eu amo,
porra! — Dessa vez ele não vai me conter. — Estou indo para Roma em
alguns dias, só preciso resolver umas situações na empresa antes da viagem.
— Você quer mesmo morrer, não é?
— Não, Mitch, eu só quero lutar pelo amor da minha vida. — Ambos
nos calamos, ele sabe bem tudo o que já passei, tenho total direito de brigar
pela minha felicidade.
— Certo. Você está entrando em uma situação fodida, mas eu estarei
com você. Paolo é meu amigo e se resolver te matar fará isso de maneira
rápida em consideração a mim.
— Era para ser uma piada? Porque se for não achei graça.
— Infelizmente não é. — A voz dele sai brusca. — Também não é
brincadeira que eu o eliminarei se ele te matar, será uma cena feia em Roma,
mas vamos lá, você é meu irmão e eu vou até o inferno por você. — Eu
também sou capaz de tudo por ele. — Resolva seus problemas que eu vou
agilizar algumas coisas aqui, quando estiver pronto para viajar me avise, nos
encontramos e vamos juntos enfrentar o Capo.
— Tudo bem. — Sinto a adrenalina começar a correr pelo meu corpo.
— Devo ir armado? — Deixo meu humor fluir.
— De preferência leve uma arma de guerra, será útil. — Ele entra na
brincadeira.
— Nós não somos normais — digo sorrindo. — Obrigado por me
apoiar.
— Não te apoio, idiota, só quero te trazer vivo desse confronto porque
não quero problemas com a mamãe, até mais. — Ele interrompe a ligação.
Fecho os olhos e deixo um sorriso brincar nos meus lábios, de alguma
maneira ela será minha, Paolo não vai entrar no meu caminho, ele terá que
aceitar que amo a sua irmã e estou disposto a fazê-la feliz.
Que venha a máfia, Paolo e se for o caso, o próprio diabo na minha
porta, ela será minha e fim.

Resolvi todos os meus problemas antes de marcar a minha ida a Roma.


Mitchell ficou em alerta e no dia combinado nos encontramos no hotel que
ele está acostumado a se hospedar quando vai à cidade.
Enquanto eu estava no avião a minha determinação só aumentou, tudo
o que eu imaginava era pegar Fiorella e levá-la para casa comigo.
Ajeito minha gravata e pego o terno, vou enfrentar Paolo na minha
melhor versão. Meu pai sempre diz que quando estamos para encarar um
conflito, precisamos mostrar quem nós somos e, nesta história, eu sou o
príncipe de Vichi.
— Paolo está em casa, eu acabei de me informar. — Mitchell entra no
meu quarto tão elegante quanto eu.
— Perfeito. — Alinho meu terno e encaro meu reflexo no espelho. —
Vamos resolver isso logo, quero levar Fiorella embora o quanto antes.
— Acha mesmo que será fácil? — Ele ergue uma sobrancelha. — Você
não tem ideia de quem é Paolo.
— Foda-se quem ele é. — Giro e encaro meu irmão. — Se formos
avaliar bem, nós dois temos o triplo do poder dele.
— Realmente temos. — Mitchell coloca as mãos no bolso da calça. —
Mas Paolo tem toda a maldade do mundo nas costas, ele não é bom, muito
menos se intimida em um combate.
— Você se intimidaria se tivesse que lutar por Kimberly? — A postura
do meu irmão muda, ele fica ereto e me encara com os olhos brilhando de
raiva.
— Vamos embora — ordena ao me dar as costas e seguir para a sala da
suíte que estamos ocupando. — Allan, tudo está preparado? — pergunta ao
atual chefe de toda segurança de Vichi.
Ele é o melhor amigo do meu irmão e assumiu o seu posto quando
Mitchell se casou e decidiu abandonar a linha de frente da segurança pública.
— Só estamos esperando vocês.
— Ótimo. — Mitchell pega uma arma e verifica o recarregador, ele a
esconde dentro do terno, em seguida pega outra idêntica à sua e me estende.
— Ainda sabe usar uma pistola?
— Não sou um idiota. — Faço a mesma verificação que ele, antes de
guardá-la.
— Espero não termos que usar de força maior. — Allan se encaminha
para a porta. — Se tivermos que ir além, estaremos bem fodidos.
— Nós já estamos — Mitchell comenta ao acompanhar o amigo.
Fico quieto, eu não temo Paolo assim, ele é impulsivo, disso não posso
discordar, mas o homem sabe muito bem com quem deve se meter.
O hotel que ficamos é relativamente perto da casa do Paolo, por conta
do trânsito demoramos um pouco mais de quinze minutos para chegar ao
nosso destino. Quando o carro se aproximou das grades de ferro do portão do
poderoso Capo, comecei a sentir o sangue correr com força por minhas veias.
O momento do embate estava bem à minha frente e todo o meu desejo
era apenas resolver de uma vez a situação.
Mitchell anuncia aos seguranças que deseja ver Paolo, a sua entrada é
permitida sem maiores dificuldades. Os quatro carros que nos acompanham
ingressam na área pavimentada.
— Não provoque demais Paolo, seja objetivo nos seus argumentos. —
Mitchell me alerta antes de abrir a porta do carro e sair.
Odeio a maneira extremamente protetiva que ele me trata. Eu sei me
cuidar, não sou combativo como ele, que gosta de se meter em situações de
perigo. Sempre busquei ficar à margem desse mundo do crime, o que não
significa que eu não saiba me posicionar se for necessário.
Somos recepcionados por um dos seguranças, ele avisa que o chefe está
em uma ligação e que irá informá-lo sobre a nossa presença.
— Não temos tempo para perder, Mitch — digo ao meu irmão.
— Estamos na casa do predador, apenas relaxe.
— Você está brincando comigo? — pergunto já perdendo a paciência.
— Quero muita coisa neste momento, menos relaxar.
Sigo no encalço do segurança, no intuito de ir direto para o escritório
do Paolo. Não posso esperar nem mais um minuto, preciso urgentemente
resolver esta situação.
— Caralho, Thomas! Volte aqui. — Ignoro o pedido do meu irmão e
acelero meus passos.
Se fosse outra situação eu não agiria por impulso, mas não posso ser
racional, quando meu futuro com Fiorella está em jogo.
Empurro a porta onde o segurança tem a mão apoiada e revelo a minha
presença. Escuto Mitchell praguejar logo atrás de mim, porém não me
importo, meu foco está inteiramente em Paolo.
— Mas que porra é essa? — Paolo me encara surpreso. — É uma
invasão real? — Ele olha para minhas costas, onde meu irmão está.
— Precisamos conversar, Paolo — digo com a voz fria.
Neste momento eu estou pronto para qualquer coisa, não me importo
com as consequências, eu vou até o fim neste conflito.
— Por favor, Thomas, precisa ir embora. — Sou surpreendido com a
presença da Fiorella, eu não esperava vê-la aqui.
O meu coração dispara quando nossos olhos se encontram. Firmo os
pés no chão para não ir até ela e envolvê-la em meus braços. Noto que seus
olhos estão vermelhos, ela chorou e isso não é um bom sinal.
— Só fique calma, sei o que estou fazendo. — Ao fundo vejo a
cunhada dela me encarando com apreensão.
— Não faça isso — suplica.
— Eu preciso, confie em mim.
— Infelizmente terei que desligar, quero saber a que devo a visita de
dois príncipes de Vichi, que estão com uma expressão nada amigável. — A
voz do Paolo me faz voltar a fitá-lo. — Assim que eu resolver esse problema
me acerto com você e seu Consigliere de merda. — Ele encerra a ligação e
recosta-se contra a cadeira. — Que caralho está acontecendo aqui? —
pergunta friamente.
— Temos um assunto a tratar — digo ao entrar no escritório.
Ele ergue uma sobrancelha.
— E desde quando temos assuntos em comum?
— Desde que Fiorella entrou na minha vida. — O rosto dele se
transforma e agora eu entendo bem o motivo do meu irmão pisar em ovos
com o mafioso.
Aprumo o corpo, nada do que Paolo falar irá me fazer recuar. Só saio
dessa casa quando tiver a promessa que Fiorella será minha.
— Mitchell, pode me explicar sem rodeios o que está acontecendo? —
questiona ao meu irmão, mas eu me adianto na resposta.
— O assunto é meu, Mitchell está fora disso.
— Então, por que ele está aqui?
— Porque se você matar Thomas, eu te mato em seguida e acabamos
esse encontro de maneira justa — Mitch o responde.
— E por que eu mataria seu irmão, príncipe? — Paolo coça a barba.
— Estou apaixonado por sua irmã, vim até aqui para entrarmos em um
acordo, eu quero me casar com ela. — Sou eu a sanar sua curiosidade.
O silêncio se estende pelo escritório, parece até que a respiração de
todos está suspensa. Sinto um toque no meu braço, quando olho para o lado
Fiorella me encara com olhos brilhantes, seu rosto está pálido, ela parece que
vai desmaiar a qualquer momento.
— Você está bem? — pergunto preocupado ao segurar sua mão e notar
que está extremamente gelada.
— Ele vai te matar — sussurra.
— Todos para fora, só vai ficar aqui Dom, Mitchell e o defunto —
Paolo ordena e chama a minha atenção.
Ele sorri, parecendo sentir prazer com sua ameaça. Se o maldito acha
que vai me intimidar, está muito enganado.
— Allan ficará — Mitchell fala com calma. — Deixe Nicolo do seu
lado, seremos três, não haverá injustiça. — Os dois se encaram.
— Nós também ficaremos. — A esposa do Paolo entra no escritório e
segura a mão da Fiorella.
— Vá para a sala agora, Masha, eu resolvo esse assunto — o marido
ordena.
— Não vou. — Ela o enfrenta. — Se ele está aqui por conta de Fiorella,
sua irmã tem o direito de presenciar a conversa e eu como cunhada e amiga,
não vou deixá-la sozinha.
Agora dá para entender o motivo deles serem casados, Masha é tão
forte quanto o marido, uma mulher fraca não poderia enfrentar tão
abertamente o grande Capo.
— Masha tem razão. — Dom para ao lado da mesa do chefe e cruza os
braços. — Feche a porta Nicolo, o resto dos homens dos dois lados ficam no
corredor esperando nossa reunião.
Paolo não discute, ele apenas me fita querendo me matar apenas com o
olhar.
Controlo minha respiração, neste momento não posso demonstrar
nenhum tipo de vulnerabilidade ou ele vai me engolir com facilidade.
— Comece — Paolo ordena.
— Não tenho muito o que falar, eu e sua irmã nos apaixonamos quando
a conheci em Nova Iorque. Tentei não causar nenhum conflito porque sei
como funcionam as leis da máfia, mas ter ficado um mês longe dela me
mostrou que não posso permanecer de braços cruzados, aceitando essa merda
de tradições que vocês seguem — falo praticamente sem respirar. — Estou
aqui para entrar em um acordo com você, sobre Fiorella.
Ele apoia o cotovelo no braço da cadeira e coloca o indicador embaixo
do queixo em uma pose pensativa.
— Se apaixonaram... — Paolo olha para irmã. — Nero autorizou a
aproximação dele? — pergunta diretamente à Fiorella.
— Ele...
— Sim. — Interrompo a fala dela. — Nero achou que depois da sua
irmã passar por um casamento abusivo ela merecia ter um pouco de liberdade
para conhecer alguém por livre e espontânea vontade.
Pela primeira vez vejo-o perder a compostura, Paolo baixa os olhos,
completamente desconcertado com minhas palavras.
— Nero não tem que achar nada, ele não lidera os membros do meu clã
— responde com frieza.
— Uma pena, ele é um líder confiável e moderno, você deveria
aprender algumas coisas com ele. — Inesperadamente ele se ergue e espalma
as duas mãos sobre a mesa.
— Não me insulte, garoto.
— Onde está o garoto? Sou um homem de vinte e oito anos, sei
exatamente o que falo e as responsabilidades das minhas ações. Se acha que
vou ter medo de você, lamento, mas está enganado. Eu amo a sua irmã e
ninguém vai me fazer recuar, nem mesmo suas tradições. Não aceitarei sair
daqui sem a promessa que ela será a minha esposa.
— Vamos nos acalmar, só precisamos ser diplomáticos e tentar resolver
esta situação da melhor maneira. — Para minha surpresa Mitchell está
tentando ser um conciliador.
— Fiorella. — Paolo se dirige diretamente para a irmã. — Acabei de
conversar com Nero. — Ela não responde nada, apenas o encara apreensiva.
— Contei sobre a situação que está passando e fui surpreendido por Eros
assumir toda a responsabilidade.
Os olhos dela se expandem, vejo o quanto está chocada. Enrugo as
sobrancelhas, tentando entender exatamente o que está acontecendo.
— Eros fez o quê? — pergunta com a voz baixa.
— Ele assumiu tudo. — Paolo mantém o enigma. — Mas acho que fui
ludibriado. — Agora seus olhos estão em mim. — Se entendi bem a situação,
você está grávida do príncipe.
Paraliso. O meu corpo sequer responde, fico apenas em um mundo
paralelo, flutuando sem rumo.
Uns segundos depois me recupero e procuro por Fiorella. Ela me
encara enquanto lágrimas correm por seu rosto, neste momento sei que Paolo
fala a verdade.
— Está grávida? — questiono com a voz baixa.
— Eu... — Ela cruza as mãos sobre o colo e as encara. — Descobri
recentemente e vim contar a Paolo para saber qual seria minha punição. —
Começo a perder o controle.
— E por que Eros disse que é o pai? — Minha respiração sai em
lufadas rápidas e inconstantes.
— Não faço ideia, o filho é seu.
Alívio. Esse é o sentimento que me domina, agora eu consigo colocar
ar nos meus pulmões com mais calma.
— Acho que temos um herói em Nova Iorque e um homem destinado à
morte em Roma. — Ignoro a ameaça de Paolo e dou um passo na direção
dela.
— Não ia me contar sobre meu filho? — Estou começando a sentir a
raiva me dominar.
— Como podia contar se iam querer te matar? — Ela soluça, fazendo
meu coração comprimir. — Quando fiquei com você sabia que não podíamos
ficar juntos, jamais deixaria a maldade do meu mundo te alcançar.
Quero quebrar algo, estou com tanta raiva nesse momento. Por conta da
máfia ela iria sofrer sozinha se eu não decidisse vir atrás dela.
— Foda-se a máfia, Fiorella, quando você carrega o nosso filho, sou eu
que decido se quero ou não morrer por vocês.
Mais uma vez o silêncio impera, todos nos observam, mas ninguém se
atreve a nos interromper.
— Como posso te condenar a morte se te amo?
Porra! Ela acaba de me reduzir a pó, eu estou completamente rendido a
essa mulher que mudou a minha vida.
— Que tal nos sentarmos? — Domênico diz com sua voz segura. — A
conversa será longa, é melhor estarmos confortáveis.
Sem me importar com o olhar assassino do seu irmão, seguro a mão da
Fiorella e me sento com ela em um sofá no canto do escritório.
Paolo volta a se acomodar na cadeira sem tirar os olhos de nós, Dom
ocupa a cadeira da esquerda, que fica na frente da mesa do chefe e, Masha a
da direita. Meu irmão se junta a mim no sofá, enquanto Allan arrasta um
banco que fica no pequeno bar e se acomoda parecendo bem tranquilo, já o
segurança do Paolo fica em pé na porta de braços cruzados.
Chegou o momento da primeira batalha, estou mais que preparado e só
saio dessa cidade com a vitória em mãos.
Cruzo meus dedos aos de Fiorella e sinto o quanto sua mão está fria.
Fico preocupado, ela não pode ficar nervosa, não fará bem ao nosso bebê.
Se algo acontecer com meu filho, o irmão dela responderá pelas
consequências.
— Estou ouvindo. — A voz do Paolo está calma demais para o meu
gosto.
— Agora que existe uma gravidez no meio, toda a situação ficou mais
complexa — digo ainda me sentindo impactado pela notícia. — Nós teremos
que resolver minha situação com sua irmã o quanto antes.
— Teremos? — pergunta sarcasticamente. — Eu não teria tanta certeza
disso.
— Paolo. — Sua esposa entra na conversa. — Será que pode ouvi-lo
sem ironias? É a vida da sua irmã e sobrinho em jogo, apenas deixe Thomas
falar, faça isso por mim.
O rosto dele muda completamente, uma ligeira suavidade se espalha em
seu olhar. Ele a ama, é evidente apenas pela maneira com que fica sereno
perto da Masha. Difícil acreditar que um homem como ele possa ter qualquer
tipo de sentimento fora o ódio.
Paolo não diz nada, apenas faz um gesto de mão para que eu volte a
falar.
— Estou ciente das leis que governam seu clã, mas teremos que
encontrar uma maneira de mudar algo para que eu possa me casar com
Fiorella. Se antes eu já estava disposto a tudo para tê-la comigo, agora que
carrega meu filho eu só saio daqui morto. Ninguém vai me impedir em vida
de ficar longe dos dois.
Masha sorri, ela está claramente feliz com minha declaração. Dom
troca um olhar com Paolo, os dois parecem dividir uma conversa silenciosa.
— Uma mulher da máfia só se casa entre os nossos — Paolo diz o
óbvio.
— Eu sei — falo com calma. — Assim como ela era agredida por um
dos seus. — Não vou aliviar a situação. — Sabe quantas cicatrizes ela possui
pelo corpo? — O rosto dele é como uma pedra. — São tantas que eu não tive
coragem de contar. — Fiorella aperta a minha mão, quero muito trazê-la para
dentro dos meus braços, mas no momento tenho que me concentrar no
embate que simboliza o nosso futuro. — Tudo o que quero é amá-la e dar
uma vida de felicidade a sua irmã.
— Você consegue entender que se eu concordar com essa loucura
posso ser morto pelos conselheiros por descumprir as tradições?
— Não será se você souber como manipulá-los — afirmo convicto, me
apoiando na conversa que tive com Nero, quando ele me disse que em Roma
o clã é mais rígido, diferente do seu em Nova Iorque. — Se eu me casar com
Fiorella, a Cosa Nostra romana se unirá a Vichi, vocês conseguirão uma
aliança poderosa que nenhuma outra organização do mundo terá. O seu
poder, em particular, será supremo, seu clã só tem a ganhar com esta união —
noto as engrenagens da cabeça dele trabalhando. — Eu sei que dentro das
tradições arcaicas de vocês uma viúva não tem tanto valor para um futuro
casamento, mesmo sendo a irmã do Capo. — Odeio passar a impressão de
que a estou desvalorizando, mas neste momento eu preciso trazer a realidade
da máfia para a conversa, só assim vou conseguir meu objetivo. — Então,
uma viúva sendo uma princesa é algo bem grande.
Ele olha para Domênico, que o fita intensamente. Os dois trocam um
longo olhar, ambos estão avaliando a minha fala.
— Vichi é um dos reinos mais prósperos da Europa, Paolo — Mitchell
se manifesta. — Se você apoiar esse enlace, eu mesmo garanto que o rei pode
te apoiar com o Conselho.
— E Martin sabe disso?
— Saberá ainda esta noite se você aceitar o casamento deles.
— Acha mesmo que seu pai vai querer uma mulher da máfia na família
real?
— Ele vai aceitar a mulher que o filho dele ama, não importa a origem
dela. — A segurança do meu irmão não tem como ser contestada. — O rei
aceitou a minha mulher, uma jovem universitária, Fiorella será abraçada pela
família Cassel com todo o amor e respeito que merece.
— Com o nosso casamento, seu clã terá poder ilimitado, eu forneço
milhões de dólares a Nero, com você dentro da minha família, tudo será ainda
maior.
— Entendo o ponto do poder — Masha diz ao me olhar. — Mas aqui,
entre nós, temos que pensar no amor. Eu vi de perto o que Fiorella passou e
não quero mais vê-la machucada. — Sua atenção vai para o marido. — Os
conselheiros não podem resistir a esse casamento, é vantajoso para eles. —
Fico admirado com a segurança com que ela toma conta da conversa. — E
você precisa apoiar a sua irmã, porque sabe mais do que ninguém tudo o que
ela sofreu.
Paolo abre uma gaveta e puxa um maço de cigarros, ele pega um e o
acende. Fico irritado por fumar perto da Fiorella, essa merda de fumaça pode
fazer mal ao nosso filho, mas preciso me conter.
— Dom... — diz o nome do seu Consigliere ao expirar uma espessa
nuvem de fumaça. — Estou esperando sua avaliação das palavras dos dois
príncipes.
Domênico corre o olhar entre nós, ele é o tipo de pessoa que você
nunca sabe o que está pensando. Sua face rígida e os olhos de gelo são
praticamente impenetráveis.
— O Conselho gosta de poder, ter essa união será um desafio, mas
também um momento em que jogaremos o nosso clã em um nível de respeito
alto demais. Quem terá coragem de nos enfrentar quando a irmã do Capo está
dentro da família real?
Ao menos um deles consegue ser pragmático, não é por menos que
Dom é o conselheiro da máfia e extremamente respeitado por todos.
— Você quer se casar com ele, Fiorella? — questiona a irmã.
— Eu o amo, Paolo, tudo o que mais quero neste mundo é viver este
amor. — Aperto sua mão e levo até meus lábios. Ela me fita e vejo todo o
amor que sente escorrer por seus olhos.
Sou capaz de morrer por ela, nada neste mundo vai me impedir de viver
ao seu lado.
— Em dois dias reunirei o Conselho, quero Martin aqui, porque se eu
vou colocar minha cabeça a prêmio, farei isso jogando com todas as cartas.
— O alívio cai sobre mim deixando meu corpo sem forças. — Tenho uma
família, Thomas, eu preciso me resguardar porque quero ver minha filha
crescer ao lado da minha mulher. Se eu vou derrubar uma das mais antigas
tradições do clã, quero ter todas as armas a minha disposição e seu pai é o
maior armamento que posso ter. Se ele não vier e reprovar esse casamento,
não vou arriscar meu pescoço.
— Ele virá, eu te dou a minha palavra. — Não faço ideia da reação do
meu pai, mas como Mitchell bem falou, ele vai me apoiar quando souber que
amo Fiorella.
— Então encerramos essa reunião, nos vemos em dois dias, no La
Fontaine, eu aviso qual horário será a reunião.
— Graças a Deus, não houve mortes — Allan diz aliviado. — Posso
beber um pouco de conhaque? Eu preciso de uma bebida urgente.
— Faça o que quiser. — Dom o autoriza.
— Paolo posso ficar responsável por Fiorella nesses dois dias? Estou
hospedado com Mitchell em um hotel não muito longe daqui e, ela terá toda a
segurança necessária.
— Até que ela seja sua esposa, eu sou o seu responsável. Fiorella ficará
sob os cuidados da minha mulher, se quiser vê-la posso autorizar algum
horário, fora isso, não. Só ficará sozinho com ela quando se casarem e já
providencie um anel de noivado, porque se o Conselho aprovar o casamento
de vocês, eu a quero oficialmente comprometida.
— No que depender de mim o casamento será feito o mais rápido
possível.
— Eu não me oponho a isso, também acho que devem se casar logo.
— Então, concordamos em algo, mas sobre eu não poder ficar com
Fiorella até o casamento acho que você está pegando pesado demais.
— Essa é uma exigência que não existe possibilidade de discussão.
Como é intransigente, o pior é que eu não posso empurrá-lo demais,
porque se mudar de ideia eu ficarei sem a reunião do Conselho.
— Posso cuidar desta situação? — Masha olha para o marido. — Eu
ficarei responsável por tudo relacionado aos encontros dos dois. — Aguardo
pela posição dele.
Paolo fita longamente a esposa, claramente contrariado com seu
pedido.
— Não me cause dor de cabeça, inferno vermelho.
— E quando foi que te trouxe problemas? — pergunta sorrindo.
— Desde o dia que te conheci. — Ele também sorri, mas não é um
sorriso qualquer, seu sorriso é repleto de lembranças felizes, que só os
apaixonados possuem.
É... definitivamente ele morre de amores por ela.
— Exagerado. — Masha se ergue. — Vocês todos ficarão para o jantar,
Fiorella e Thomas podem conversar na varanda enquanto providencio tudo,
venham comigo. — Ela começa a sair do escritório.
Olho para Paolo, ainda incerto do que devo fazer, ele apenas me
dispensa com um gesto de mão, sem esconder o quanto está irritado por ceder
aos desejos da esposa.
Puxo Fiorella para fora do escritório antes que o infeliz mude de ideia.
Depois de tanto tempo sem vê-la preciso aproveitar cada segundo que puder
estar ao seu lado, até que ela finalmente seja a minha esposa.
— Obrigada por testar meu coração — Masha fala quando começamos
a andar pelo corredor que leva até a sala. — Depois desse embate, sei que
nunca vou ter um infarto.
— Eu pensei que seria pior, até que ele não foi sanguinário.
— Vou ser sincera, Thomas. — Ela para de andar quando entramos na
sala. — Meu marido gosta muito dos Cassel e mais do que tudo, ama todas as
irmãs. Apesar de ser um mafioso perigoso, ele faz de tudo para ver as
meninas felizes. Se você não fosse de confiança e ele não soubesse que,
mesmo tendo cuidado para escolher um marido dentro do clã, Fiorella ainda
poderia sofrer mais uma vez, certamente essa conversa não teria o mesmo
fim.
Entendo o ponto de vista dela, realmente tive sorte por Paolo ter todo
esse sentimento pela irmã.
— Você tem razão, eu sou um homem de muita sorte.
— É sim. — Masha me lança um sorriso caloroso. — Agora vão
conversar enquanto providencio o jantar, sei que vocês têm muito o que falar.
— Ela se afasta e nos deixa a sós.
— Você é completamente louco — Fiorella diz assim que a cunhada
some das nossas vistas.
— Realmente sou. — Seguro seu rosto. — Eu sou completamente
louco por você. — Abaixo a cabeça e a beijo.
Caralho! Como eu senti falta dessa boca, do gosto dela, do seu cheiro e
o do sentimento único que apenas ela me desperta.
Envolvo seu corpo entre meus braços trazendo-a para ainda mais perto.
Tudo o que mais desejo é tê-la comigo para sempre, sem riscos de alguém
pensar em nos separar.
— Pensar em não te ver quase me matou — confesso quando
interrompo o beijo e encosto a testa na dela. — Foi um pesadelo esse mês que
ficamos separados.
— Ainda não acredito que está aqui. — Os olhos dela estão marejados.
— Onde é a varanda? Vamos logo ficar lá, não quero mais uma briga
com seu irmão.
Fiorella segura a minha mão e segue para uma porta que nos leva
diretamente para uma varanda ampla e charmosa.
— Você me deixou partir, por que veio atrás de mim? — Ela está
magoada comigo, sua expressão não esconde o que sente.
— Achei que não podia te manter segura depois do atentado que sofreu.
— Na verdade, esse foi um dos motivos que me levou a não impedir que
fosse embora. — Mas o seu amor por sua família foi decisivo para que eu não
insistisse para que fugisse. Você não seria feliz longe deles, se escondendo de
todos. — Estou sendo completamente sincero. — E se fosse uma fugitiva, eu
não iria poder te assumir, esse era um destino que não queria para você. —
Uma lágrima escorre por seu rosto.
— E o que te fez mudar de ideia? — Apoio as mãos por sua cintura.
— Foi saber que eu te amo e que não poderia viver sem você. —
Fiorella me abraça, deixando o pranto escapar com força. — Não chore, isso
pode fazer mal ao nosso bebê. — Ela segura a minha camisa. — Estou um
pouco chocado com essa novidade.
— Eu tive tanto medo, Thomas — diz ainda com o rosto grudado no
meu peito. — Cheguei aqui imaginando os piores cenários que Paolo poderia
me dar, jamais passou pela minha cabeça que apareceria de repente disposto a
tudo por mim.
— Sempre estarei disposto a tudo quando você estiver envolvida. —
Beijo o topo da sua cabeça. — Se existe uma lição que a vida me ensinou é a
de que não se pode desistir do que realmente desejamos.
Seguro seu corpo com força, convicto que nem o Conselho da máfia
será capaz de me afastar dela. De alguma maneira sairemos vitoriosos dessa
guerra, não importa os danos que deixaremos para trás.

Aguardo meu pai atender o telefone, ele é bem displicente com relação
ao celular, em algumas ocasiões ligamos ou para minha mãe ou um dos seus
assessores, só assim ele nos atende. Por sorte desta vez ele não me faz esperar
demais.
— Oi, filho, que surpresa a sua ligação a esta hora.
— Como estão as coisas por aí?
— Acabei de chegar de um encontro com alguns amigos e sua mãe está
no banho. — Não vou enrolar muito, preciso ir direto ao motivo da minha
ligação.
— Pai, eu preciso da sua ajuda.
— Sabe que faço o que precisar, só dizer. — Neste momento meu
irmão entra na sala, ele estava em uma ligação com a esposa, Kimberly sabe
de tudo e estava preocupada com a reação do Paolo.
— Eu estou apaixonado por uma mulher.
— Que notícia boa. — Ele me interrompe. — Esperei tanto por esse
dia, quero conhecê-la imediatamente.
— Pai... — Mitchell faz sinal para que eu continue falando. — A
situação não é tão simples, por isso preciso da sua ajuda.
— Como assim não é simples? Estou confuso.
— A mulher em questão é Fiorella Torcasio, a irmã do Paolo. —
Espero pela reação dele, mas meu pai não fala nada. — Você ouviu o que
falei?
— Ouvi e estou incrédulo.
— Sei que é algo inusitado, mas eu a conheci em Nova Iorque e nos
envolvemos e acabamos apaixonados.
— Ela é uma mulher da máfia, filho, não pode se envolver com
ninguém, a não ser que seja do seu meio.
— Aconteceu, pai e, agora preciso do seu apoio para que eu possa tê-la
comigo.
Faço um rápido resumo sobre toda a história que nos envolve, desde
quando nos conhecemos, até o atentado e consequentemente meu encontro
com Paolo e a exigência dele que meu pai esteja presente para poder
intimidar o Conselho.
— Então é isso, eu necessito que esteja em Roma para que pressione
junto comigo e Mitchell o clã da Cosa Nostra romana.
— Garoto, que confusão você se meteu — diz com a voz tensa. —
Confesso que não gosto do que está acontecendo, ter uma união de Vichi com
a máfia é algo que pode nos trazer sérios problemas, Mitchell deveria ter lhe
alertado sobre isso.
— Mitch sabe como o coração funciona, ele também foi pego de
surpresa quando se apaixonou por Kimberly.
— Ela não é da máfia, Thomas, você está querendo que nossa família
mergulhe oficialmente no submundo do crime.
— Lidamos com esse mundo o tempo todo. — Eu não esperava que ele
fosse ser tão resistente ao meu pedido.
— É diferente e você sabe disso. — Suspiro fundo, era só o que me
faltava ele não me apoiar.
— Pai, nunca te peço nada, quando preciso de você vai me negar
ajuda?
— A questão não é negar nada, mas você causar um imenso problema
para toda a nossa família. Em alguns núcleos as pessoas sabem exatamente a
origem real do Paolo, estaremos deixando claro que temos um membro da
máfia dentro da família real, isso é algo preocupante, sua mãe vai
enlouquecer quando souber disso.
— Porra, pai! Vai me deixar sozinho mesmo?
— Jogue a cartada final, use todas suas armas — meu irmão sussurra.
— Ela está grávida, pai, não vou deixar meu filho ser um bastardo,
muito menos arriscar que Paolo a case com algum filho da puta do clã e ela
volte a ser espancada como acontecia no antigo casamento.
Espero sua reação, mas ela não vem, um longo silêncio se estende pela
ligação. Encontro os olhos do meu irmão, sentindo meu coração dar um pique
preocupante, se meu pai me deixar sozinho agora, eu me afastarei da minha
família.
— O que precisa que eu faça? — Todo o meu corpo relaxa quando
ouço sua voz.
— Em dois dias teremos uma reunião aqui em Roma, Paolo quer sua
presença para poder intimidar os conselheiros e garantir assim que eles não se
oponham ao nosso casamento.
— Eu estarei aí e você terá seu casamento, assim como meu neto todos
os direitos reais — diz com segurança. — Se eles não concordarem com isso,
Paolo terá que encontrar novos conselheiros.
Sorrio, esse é o pai que conheço, Mitchell tem a quem puxar, é a cópia
fiel dele. Eu tive a sorte de ganhar o coração gigante da minha mãe, mas um
lado meu quando quer, é tão duro quanto o meu pai.
Que venha o Conselho e suas tradições ridículas, irei derrubar todas
elas, porque não existe ninguém neste mundo que vá me tirar Fiorella.
Seguro o cordão que Thomas me deu e o aperto com força, esse
pequeno objeto é uma espécie de elo entre nós, quando o tenho comigo me
sinto inteiramente conectada a ele. Nem nos mais delirantes sonhos imaginei
tudo o que aconteceu aqui nesta noite, Thomas literalmente me pegou de
surpresa ao vir arriscar tudo por mim.
Saber que ele também me ama deixa meu coração acelerado, pensei
que o sentimento era unilateral, mas depois dele enfrentar meu irmão, com
tanta coragem, impossível negar a veracidade desse amor.
Ouço uma batida na porta e mando quem quer que esteja do outro lado
entrar. A imagem poderosa do meu irmão se revela, Paolo fecha a porta e se
recosta sobre ela.
Sei que está com raiva de mim, eu o meti em uma confusão que pode
custar, não só seu cargo, como até mesmo sua vida. Se todos os conselheiros
se virarem contra ele, meu irmão pode ser morto sem piedade.
— Como você está? — ele pergunta ao se afastar da porta e se
aproximar de onde estou deitada na cama.
— A pergunta certa não seria como você está depois do que fiz? —
Paolo para a minha frente e cruza os braços.
Sua postura defensiva me deixa agitada, conheço bem o temperamento
do meu irmão e, se eu não fosse sua irmã, ele não estaria tão calmo.
— Nada do que fizer pode ser pior do que já fizeram com você. — Ele
se senta na cama e fica de frente para mim. — Se eu não fosse o líder de uma
organização e tivesse que respeitar determinadas tradições, pode ter certeza
de que estaria muito feliz em saber que Thomas é seu escolhido e que vão
formar uma família.
— Eu o amo muito Paolo, desde que o vi pela primeira vez senti algo
diferente, não pude evitar me envolver.
Sou surpreendida quando meu irmão sorri e segura a minha mão.
— Não conte a ninguém, mas eu sei bem o que sentiu. — Ele encara
nossas mãos unidas. — Quando vi pela primeira vez meu inferno vermelho,
um sentimento estranho me possuiu, não era nada sexual, ela era apenas uma
menina assustada, mas determinada a enfrentar seus inimigos. Naquela noite
eu quis apenas protegê-la, como nunca quis com outra pessoa a não ser minha
família e Dom. — Fico quieta, surpresa por ele se abrir comigo, isso nunca
aconteceu. — Então eu a trouxe para minha casa e graças a Domênico ela
ficou morando comigo. Quando Masha virou uma mulher, eu entendi que
estava muito fodido, porque eu passei a desejá-la com uma intensidade
assustadora, não pude evitar reivindicá-la como minha esposa, eu não podia
ter outra mulher comigo.
O meu coração apaixonado neste momento transborda de amor, saber
que meu irmão consegue ter esse tipo de sentimento é algo inusitado e
impactante.
— Foi exatamente o que senti — digo ao apertar sua mão. — Por mais
que eu soubesse que não existia a mínima possibilidade de ficarmos juntos,
queria viver aquele momento para ter algo meu para lembrar quando voltasse
para casa.
— Dentre todos os homens que conheço, ele é o ideal para estar com
alguém que já sofreu tanto. — Ele beija minha testa. — O príncipe tem um
bom coração e sabe ser corajoso, ele cuidará bem de você, não me importo
que fiquem juntos, mas não depende só de mim.
— Eu sei disso e estou feliz por você não está com raiva de mim.
— Fiquei só um pouco aborrecido. — Ele me puxa para um abraço. —
O meu lado irmão sabe que você precisava de um pouco de alegria, mas essa
minha face tem que ficar bem escondida, porque eu sou um Capo e não posso
permitir que nada saia do meu controle. — Sua mão ergue meu queixo,
fazendo nossos olhos se cruzarem. — Vocês têm a minha bênção pessoal,
mas só vou autorizar esse casamento se o Conselho aceitar.
— Estou com medo desse Paolo sentimental. — Ele enruga as
sobrancelhas.
— Não sou sentimental, só quero que você siga o caminho que deseja.
— Agora está de volta o Capo ranzinza. — E se em algum momento aquele
merda de príncipe te magoar, eu corto a cabeça dele e declaro guerra a Vichi,
foda-se se são uma monarquia, eu não ligo.
Volto a abraçá-lo, dessa vez eu solto uma risada alta, Paolo não sabe,
mas ele é uma comédia. Seu esforço para ser mau quando está com a família
é maravilhoso, mas todas nós sabemos o quanto ele tem um coração imenso,
que é destinado unicamente às poucas pessoas que ama.

Levo a xícara de chá de maçã até os lábios e deixo o sabor delicado se


espalhar por minha boca. Ainda estou me sentindo fora do corpo, após
encontrar Thomas na noite passada.
— Essa história toda é uma loucura — Chiara comenta ao se erguer da
cadeira com Ramona no colo.
— É típico da nossa família, não temos uma vida comum — Gio diz
sem esconder o sorriso. — Estou tão feliz que Thomas tenha vindo atrás de
você, tenho certeza de que ele convencerá o Conselho que o casamento é uma
opção vantajosa para todo mundo. Dom me disse que essa união trará uma
grande vantagem ao clã, duvido que eles irão perder essa oportunidade.
— Estou magoada com vocês — Chiara fala com o rosto emburrado.
— Fui a última a saber de tudo o que estava acontecendo.
— Você tem uma bebê para cuidar, eu não poderia te envolver nos
meus problemas.
— Claro que podia, Ella, sou sua irmã mais velha. — Olho para Gio,
que apenas me pede para ter calma.
— Chiara, sua vida estava agitada demais, Ella fez certo em não te
preocupar, sabemos o quanto você fica aflita por qualquer coisa. — Giovanna
beija a cabeça da nossa sobrinha. — Não me venha com pirraça, já basta
Dom me acusando de esconder a verdade dele — sua fala chama a minha
atenção.
— Domênico brigou com você? — Não quero que eles entrem em
atrito por minha causa.
— Se acalme, ele só ficou chateado por eu não dividir o que sabia sobre
vocês, mas eu expliquei que não podia te trair e sabia que sua segurança não
corria riscos. Ele bufou um pouco, fez um drama, mas quando disse que não
estava me sentindo bem esqueceu tudo e foi cuidar de mim. — Minha irmã
abre um sorriso safado, difícil ver Gio tão solta com relação ao marido, ela
não queria se casar, mas agora está vivendo uma linda história de amor.
— Eu imagino como Dom cuidou de você — digo sarcasticamente,
arrancando um sorriso largo dela. — Já parou para pensar que iremos ter
bebês quase ao mesmo tempo?
— Vai ser maravilhoso. — Giovanna encara Chiara. — Nossas
crianças crescerão juntas e serão grandes amigos.
— Claro que serão — Chira me lança um olhar preocupado. — E a
mamãe já sabe disso?
— Ainda não, Paolo disse que só conversará com ela depois da reunião
do Conselho.
— Não gosto de pensar na confusão que ela irá causar. — Gio me olha
preocupada.
— Se Paolo autorizar meu casamento, minha mãe não tem o que fazer a
não ser aceitar a decisão dele.
— Isso é verdade.
— Não vamos sofrer por antecedência, precisamos primeiro esperar
pelo Conselho, está nas mãos deles o destino da nossa irmã. — Neste ponto
Chiara tem total razão, a minha felicidade depende de homens cruéis, que não
dão a mínima para o amor.
Hoje é o fatídico dia que iremos enfrentar os conselheiros do clã
romano. Estou extremamente ansioso por este momento, quero de uma vez
por todas encerrar esta história.
Estico a mão e pego o meu celular que não para de tocar, espero que
não sejam más notícias.
Para meu alívio verifico que se trata da minha mãe. Nós ainda não
conversamos sobre o que está acontecendo comigo, meu pai só contou para
ela o problema que teremos que enfrentar, horas antes de viajar para a Itália.
Esta ligação dela até que demorou para acontecer.
— Oi, mãe. — Meu pai não me deu detalhes sobre o que ela está
achando da minha história com Fiorella, ele se limitou a dizer que em breve
entraria em contato comigo.
— Como você está, filho?
— Apreensivo, hoje tenho algo grande para fazer que mudará a minha
vida.
— Sempre achei que dividiria os seus segredos comigo. — Aperto os
olhos, a minha mãe é sensível demais, principalmente quando se trata dos
filhos.
— Mãe, nesse caso eu só pensei em preservar minha parceira, ela tem
uma condição delicada e eu a respeitei. — Espero por sua resposta, que
demora um pouco a vir.
— Entendi e sinto orgulho de você por ter essa atitude, me desculpe por
ficar chateada.
— A senhora pode sentir o que quiser, minha preocupação é saber que
está ao meu lado. — Ouço seu sorriso.
— Meu amor, eu sempre estarei ao lado dos meus filhos,
principalmente se eles estão no caminho do amor. Quero que saiba que estou
torcendo para tudo dar certo, Martin saiu daqui disposto a tudo, ele me
garantiu que em breve conhecerei sua futura esposa. — Ouvir dela que me
apoia, deixa meu coração radiante. — Fiorella será recebida aqui com todo o
carinho possível, eu não me importo sobre a origem dela, só quero te ver
feliz. — Porra! A minha mãe é incrível. — No momento que ela se tornar sua
noiva, será amada como filha, assim como amo Kimberly. Desejo toda a sorte
do mundo para você nesta reunião e espero ansiosa para conhecê-la.
— Eu te amo muito, mãe, sou um afortunado em ser seu filho.
— Pois, eu te amo muito mais e sempre estarei do seu lado.
Fico com a garganta embargada, eu tenho pais especiais, eles sempre
estão ao lado dos filhos, nos apoiam em todos os momentos.
— Estou ansioso em apresentá-la a senhora.
— Eu também e quero que saiba que meu coração está explodindo de
felicidade por ter mais um neto chegando.
Sorrio feliz, ter a bênção dela é extremamente importante, se ela não
aceitasse Fiorella, minha alegria não seria completa.
Conversamos mais um pouco, até que nos despedimos para que eu
termine de me arrumar para ir lutar pelo meu futuro. Quando entro na sala
encontro Mitchell conversando com Allan, enquanto meu pai está parado no
bar, bebendo um uísque, ao lado do Gregory, o chefe da guarda real.
Enquanto eu visto uma calça risca de giz com uma camisa branca sem
gravata, meu pai está com uma blusa de gola alta, calça social e jaqueta de
couro, tudo na cor preta. Quando não está em compromisso oficial, ele gosta
de se vestir de maneira mais esportiva.
Já Mitchell praticamente o acompanha no visual, a diferença é que ele
está com uma camisa de mangas arregaçadas.
— Todos prontos? — Chamo a atenção deles.
— Esperando você. — Meu pai se manifesta.
— Então, vamos.
Checamos nossas armas, precisamos estar preparados para tudo, não
sabemos de fato o que iremos encontrar nesta reunião.
Saímos juntos da suíte, o meu coração está extremamente agitado, pois
eu não faço ideia do que irá acontecer quando o Conselho se reunir.
No momento em que entro no elevador, coloco em mente que nada vai
me tirar Fiorella e meu filho. Eles já fazem parte da minha vida e eu irei lutar
até a morte para construir a minha família com a mulher que eu amo.

Já estive no La Fontaine algumas vezes em que vim a Roma, é a casa


noturna mais badalada da cidade, frequentada por diversas celebridades. O
que as pessoas não imaginam é que este lugar funciona como o escritório
central da Cosa Nostra romana.
Lidero o comboio que segue para o espaço onde iremos nos reunir com
o Conselho. Em alguns minutos estarei dentro da maior luta da minha vida e
só aceito a vitória como desfecho.
— Chefe Paolo já os aguarda. — O homem que nos guia abre uma
pesada porta de madeira.
Aceno para ele e entro na sala, todos os conselheiros já estão presentes
e observam atentamente a nossa chegada. Certamente estão ansiosos para
saber o que traz toda a família real ao covil da máfia.
— É um prazer receber não só o rei Martin, como os príncipes de
Vichi. — Paolo se aproxima e aperta primeiramente a mão do meu pai.
— Quanto tempo Paolo, nunca mais foi ao meu país.
— Ando com muito trabalho, mas pretendo passar uns dias no seu reino
com minha família.
— Será muito bem-vindo. — Meu pai olha para Dom e vai
cumprimentá-lo.
— Mitchell. — Paolo lança um olhar aguçado ao meu irmão, que rosna
um cumprimento enquanto aperta sua mão. — Príncipe Thomas. — A sua
voz sai mais profunda ao falar meu nome.
Seguro a sua mão e trocamos um aperto firme, ele encara meus olhos
com intensidade, deixando claro o quanto está agitado com o motivo do
nosso encontro.
Na noite passada quando fui ficar um pouco com Fiorella, acabamos
nos encontrando e ele fez questão de deixar claro que essa reunião seria tensa
e com muita discussão. Não me abalei, porque se alguém precisar temer algo,
esse alguém são os seus conselheiros.
— Como está? — pergunto com fingida educação.
— Querendo começar o show — responde baixo e se afasta.
Como esperado meu pai toma conta dos cumprimentos aos
conselheiros, que aparentemente se mostram animados com sua presença.
Sou apresentado a todos, meu irmão já conhece pessoalmente a maioria e não
perde muito tempo em falar com eles. Mitchell está no seu modo ação, isso
faz com que seu humor que já não é dos melhores fique extremamente
sombrio.
— Agora que a realeza chegou, vamos ao motivo da convocação do
conselho. — Paolo cruza os braços ao se encostar em uma mesa.
— Estou extremamente curioso para descobrir o que trouxe o próprio
rei de Vichi ao nosso espaço.
— É por um bom motivo, Mattia — Paolo abre um sorriso sarcástico
ao responder seu conselheiro. — Agora sente-se que eu vou começar a falar.
— O homem o fuzila com o olhar, no entanto o obedece. — O que trouxe a
família real ao nosso encontro é um assunto complexo que envolve o nosso
clã e nesta noite teremos que tomar uma decisão que pode mudar a vida de
todos os senhores.
— Se antes eu já estava curioso, agora então não vejo a hora de saber
que assunto Vichi pode ter com a Cosa Nostra. — Um dos conselheiros
declara.
— Thomas, aproxime-se. — Imediatamente me movo quando Paolo me
chama. — O assunto principal está na frente dos senhores. — Doze pares de
olhos me encaram atentos. — Diga ao meu Conselho o que trouxe você e sua
família até aqui.
Inspiro fundo, esse é o momento que tanto esperei, chegou a hora de
enfrentar a todos e garantir o futuro ao lado da Fiorella.
— Boa noite! Eu espero que nossa conversa termine com o desfecho
que eu vim buscar.
— E qual seria? — Meus olhos vão para Franco, ele é o avô da Masha
e o subchefe da máfia.
— Eu quero me casar com Fiorella Torcasio, estou aqui para entrar em
um acordo para que o nosso casamento aconteça.
O choque se espalha pelo rosto dos conselheiros, eles me olham
parecendo não acreditar no que falei.
— Isso é sério? — um deles pergunta.
— Mais do que sério — o respondo encarando diretamente seus olhos.
— Nossas mulheres só se casam com membros do clã, elas não podem
se unir a outros homens. — O tal de Mattia se pronuncia.
— Sei que existe esta regra, mas ela terá que ser alterada, porque eu
vou me casar com ela.
— Paolo, você está de acordo com isso? — Franco pergunta.
— Estou disposto a entrar em um acordo com o príncipe.
— Isso é uma loucura. — Um baixinho calvo de cabelos grisalhos
levanta-se. — Como Capo você deveria ter alertado que esse tipo de arranjo é
impossível.
— Pasquele modere a voz para falar comigo se não quiser ter um dente
quebrado. — Olho para Mitchell, ele apenas faz um gesto de cabeça para que
eu fique quieto. — Sei dos meus deveres como Capo, tanto que vocês estão
aqui para ouvir a proposta do Thomas.
— E espero que ouçam sem interromper meu filho ou desrespeitá-lo.
— Meu pai se pronuncia e causa um profundo silêncio em todos os
conselheiros. — Diga o que viemos propor, Thomas, eu não tenho tempo a
perder.
— Bem... eu conheci Fiorella em Nova Iorque e nos apaixonamos. —
Alguns deles fazem careta, como se apaixonar por uma mulher fosse algo
abominável. — Vim até aqui sabendo das tradições que possuem, mas quero
propor uma união de Vichi e o clã de vocês.
Um burburinho se espalha pela sala, alguns conselheiros estão
extremamente irritados, enquanto outros cochicham, parecendo avaliar a
proposta.
— Senhores! — Chamo a atenção deles. — Será que conseguem
imaginar o poder que terão quando as outras organizações descobrirem que
uma mulher do clã está casada com um dos herdeiros de Vichi? — Eles ficam
pensativos, o que claramente é um bom sinal.
— A irmã do Capo já é viúva, não é uma garota virgem, prometida a
algum dos seus. — Mitchell entra em cena. — Em alguns momentos na vida,
abrir exceções é uma oportunidade preciosa para alcançarmos voos mais
altos.
— Príncipe. — Mattia se levanta para falar. — Se quebrarmos a
tradição, abrimos brechas para que outras exceções aconteçam, somos uma
instituição muito antiga, que sobrevive estável justamente por manter as
regras.
— Mas as tradições serão quebradas, porque esse casamento vai
acontecer. — Meu pai dá um passo à frente, se aproximando de onde os
conselheiros estão. — Fiorella está grávida e o meu neto vai nascer dentro da
família Cassel, com todos os direitos reais que ele possui. Se não
concordarem com isso, hoje mesmo o Capo de vocês estará sem nenhum
conselheiro.
— Está nos ameaçando? — Um deles pergunta.
— Estou revelando o destino de vocês caso sejam contra o casamento
— a resposta do meu pai é direta.
— Não precisamos ir tão longe, basta entenderem que não abrirei mão
da Fiorella e que um casamento entre nós será apenas um novo negócio que
vocês irão realizar. — Tento evitar um confronto que só dificultará o meu
objetivo.
Odeio usar da lógica machista deles, mas não tenho para onde fugir.
— Teremos um poder nunca antes visto dentro de qualquer organização
existente. — Dom se intromete. — Precisamos pensar friamente, porque este
casamento traz uma vantagem política e de força que irá nos privilegiar
perante nossos inimigos. Todos dentro do submundo conhecem os Cassel,
eles sabem quão fortes são, Mitchell nos últimos tempos fez um bom trabalho
mostrando o quanto devem respeitar Vichi. — Meu irmão sorri, satisfeito
com o elogio.
— Ninguém sairá perdendo neste acordo — digo tentando pressioná-
los ao máximo. — Apesar de quebrarem uma tradição, vocês também estarão
fortalecendo o clã perante os inimigos.
— O que pensa disso Paolo? — Mattia pergunta.
— Quero poder — sua resposta sai de imediato. — Eu terei muito com
Vichi do meu lado.
Mais uma onda de silêncio cai sobre o Conselho, eles sabem que devem
aceitar a proposta, está bem nítido que sairão em vantagem.
— Vocês só podem ter uma resposta e eu não quero mais esperá-la. —
O ultimato do meu pai sai de maneira seca.
— Meu voto é pelo casamento. — Franco se posiciona. — Não vejo
motivo de me opor em algo que irá me beneficiar. — Ele encara meu pai. —
Também quero viver, não vou arriscar perder a cabeça para o rei. — Um
discreto sorriso brinca nos seus lábios.
Obviamente por ter sua neta casada com Paolo ele não iria contrariar
seu Capo, só espero que os outros conselheiros sigam seu exemplo.
— Se Paolo nos garantir que esse casamento será apenas um ponto
específico e que não irá mudar as nossas regras, eu também concordo. —
Mattia, que parece ser um dos mais influentes conselheiros, dá seu parecer.
— Seremos invencíveis nos aliando a Vichi.
— Nada irá mudar, esse casamento será um consenso entre nós visando
o fortalecimento do clã, eu deixarei isso bem claro. — Paolo tranquiliza a
todos.
— O meu voto também é sim, só enxergo vantagem nessa união. —
Dom também me apoia.
— Vocês podem votar logo? — Mitchell pergunta ao olhar para o
relógio. — Preciso voltar a Vichi ainda hoje porque tenho compromissos
pendentes e uma mulher grávida me esperando, ao que tudo indica a cegonha
presenteou a minha família com bebês na mesma época. — Agradeço
silenciosamente a pressão dele, meu irmão é muito bem-visto dentro da
máfia.
— Vamos senhores, votem e vamos encerrar essa merda, eu já estou
farto de olhar para vocês. — Paolo demonstra toda sua irritação.
Cada um dos conselheiros começa a dizer sim, até que todos votam a
favor do casamento. Quero pular de alegria, mas permaneço imóvel perante
eles, não posso demonstrar minhas emoções para esses homens.
— Parabéns, Thomas, oficialmente você tem o parecer favorável para
tornar a minha irmã a sua noiva. Amanhã quero um anel de noivado no dedo
dela e o casamento não pode demorar.
— Quero colocar o anel ainda hoje, já estou com ele aqui. — Nem
fodendo que perco um segundo para torná-la minha.
— Você está apressado demais.
— Ele não está. — Meu pai se aproxima de nós. — Eu quero conhecer
a minha nora antes de embarcar para meu reino, vou pegar minha bagagem
no hotel, em seguida irei até a sua casa. — Ele aperta a mão do Paolo. — Os
preparativos do casamento começarão amanhã mesmo, minha esposa entrará
em contato com Fiorella para que elas decidam o que fazer, preciso que
arrume alguém que fique responsável para ir com sua irmã até Vichi quando
for necessário fechar os detalhes da cerimônia.
— Posso providenciar isso.
— Perfeito.
— Paolo, quero que o casamento seja em Vichi, é tradição os príncipes
se casarem no nosso país — aviso-o sobre meus planos.
— Minha irmã já teve um casamento em Roma, não vejo problemas em
ela se casar no seu país.
— Então, temos um acordo. — Aperto sua mão.
— Temos. — Os olhos dele brilham de satisfação, indicando o quanto
está feliz com o desfecho da nossa conversa.
É interessante ver o tanto que preza pela felicidade das irmãs, saber que
Paolo possui um coração é surpreendente.
— Parabéns por se manterem vivos, eu não pensaria duas vezes em
matar cada um de vocês. — Meu pai acena para os conselheiros. — Vamos
embora, já acabamos a nossa missão.
Sem mais palavras ele lidera a nossa saída, deixando todo o Conselho
da Cosa Nostra em silêncio.
Consegui alcançar meu objetivo, estou feliz demais.
— Parabéns. — Mitchell bate nas minhas costas. — Você foi muito
bem, não deixou margens para que eles o atacassem.
— Posso ser durão quando a situação pede.
— Nunca duvidei disso — meu irmão diz sorrindo.
— Vamos beber algo, eu preciso de álcool para diminuir a minha
vontade de socar esse bando de merda — a fala do meu pai nos faz sorrir.
Serei eternamente grato por ele me apoiar neste momento, a sua
presença foi fundamental para intimidar o Conselho. Poucas pessoas no
mundo têm coragem de enfrentá-lo, não seria os hipócritas dos conselheiros
que bateriam de frente com o poderoso rei Martin.
Agora Fiorella será minha noiva e o mais rápido possível estaremos
casados e unidos para sempre.
Desço as escadas apressada sentindo meu coração disparar. Masha
mandou me chamar avisando que a mamãe chegou e que Paolo estará em
casa em breve.
A essa hora o Conselho já foi reunido, mas até o momento Thomas não
entrou em contato comigo. Se meu irmão está vindo para casa, significa que
todos estão vivos, ou será que não?
— O que está acontecendo? Paolo me fez vir às pressas até aqui. —
Ouço a voz da mamãe. — Não estou gostando disso, já basta ele proibir
Fiorella de voltar para casa.
— O seu filho tem seus motivos, ele não deve demorar a chegar —
Masha a responde com tranquilidade.
— Oi, mãe. — Ela me olha sem esconder a irritação.
— Por que não pode mais voltar para casa? O que aprontou que não
quer me contar, Fiorella?
— Eu... — Ouço a porta abrir e Paolo entra acompanhado de Dom,
Franco e Nicolo.
As minhas pernas amolecem quando observo o rosto contrariado dele,
pela tensão na sua postura, a reunião não acabou nada bem.
— Fique calma — ele diz ao perceber o meu temor. — Ninguém
morreu, se é isso que está te apavorando.
— Não brinca comigo. — Ralho com ele. — Onde está Thomas?
— Bem aqui. — O alívio me domina quando vejo sua figura surgir pela
porta acompanhado do pai e do irmão.
Se eles estão presentes é porque deu tudo certo. A minha visão fica
escura e eu me apoio em um pequeno móvel ao meu lado para evitar minha
queda.
— Ella... — Paolo rapidamente me apoia. — O que você tem?
— Acho que tive uma queda de pressão por conta do estresse.
— Você precisa sentar-se — Thomas diz quando para ao meu lado. —
Está gelada — comenta no instante que toca meu braço.
— Como não estaria sem saber o que estava acontecendo com você? —
Eu o abraço, feliz por tê-lo vivo bem na minha frente.
— Paolo, o que isso significa? — A voz da minha mãe se espalha pela
sala, quando ela aponta Thomas me abraçando.
— Ajude Fiorella a se acomodar no sofá para que tenhamos nossa
conversa. — Meu irmão pede a Thomas. — Martin e Mitchell por favor
entrem.
Passo pela minha mãe ao lado do Thomas enquanto ela nos analisa
chocada. Eu fiquei tão preocupada com o Conselho que esqueci
completamente que ela poderia ser mais um empecilho.
— Mãe, a senhora já conhece o rei e os príncipes de Vichi, então não é
necessário uma apresentação.
— Claro que conheço. — Agora ela sorri feliz. — É um prazer receber
vocês na casa do meu filho.
— Boa noite, senhora. — O rei segura a mão dela e leva até os lábios,
fazendo minha mãe se derreter inteira. — Espero que esteja bem.
— Certamente estou — diz encantada.
Não a julgo, o pai do Thomas tem uma beleza bruta perturbadora, o
homem é imenso e tem um corpo tão rígido quanto uma rocha, ninguém diz
que já está com mais de cinquenta anos.
— Mãe, a família real está aqui porque acabamos de ter uma reunião
com o Conselho para resolvermos o futuro da Fiorella.
— O quê? Do que exatamente está falando?
— Senhora. — Thomas se aproxima dela. — Conheci sua filha em
Nova Iorque e nos apaixonamos, eu vim aqui reivindicar a mão dela em
casamento.
O choque se espalha pela face da minha mãe, ela está completamente
sem fala.
— Se apaixonou por ela? Como isso aconteceu? Minha filha não pode
ter contato com homens fora da máfia.
— Não vem ao caso como aconteceu, depois Fiorella conta tudo, o que
importa é que ela irá se casar com Thomas, acabei de receber a permissão do
Conselho. — Paolo como sempre é ríspido em suas respostas.
— Meu filho, isso não pode acontecer, seremos alvos de críticas das
outras famílias.
— Críticas sobre o que, Martina? — Franco pergunta. — Sua filha vai
se casar com um príncipe, você percebe quão grande é isso?
— Acho que minha sogra ainda não entendeu essa parte. — Dom
comenta com um discreto sorriso. — Ela será uma princesa de verdade, sua
família agora faz parte do reino de Vichi.
Os olhos dela brilham, a minha mãe ama status social, poder exibir a
minha condição para as amigas será um prazer indescritível para ela.
— E Fiorella será recebida com todas as honras que merece por ser a
noiva do meu filho. — O rei diz ao se aproximar de mim. — Sente-se
melhor? — pergunta ao parar a minha frente.
— Estou sim. — Ele segura a minha mão e me faz ficar em pé.
— Vim aqui apenas para conhecê-la pessoalmente e dizer não só no
meu nome, como no da minha esposa, que você é muito bem-vinda à família
real. — Fico emocionada com suas palavras. — A partir de hoje é como uma
filha, iremos amá-la e protegê-la de todo mal. — Ele beija a minha testa. — E
meu neto já é aguardado com muita ansiedade por todos nós.
— Neto? — minha mãe pergunta. — Você está grávida e eu não sei?
— Eu não tive oportunidade de contar a senhora, quando vim avisar
Paolo uma confusão imensa aconteceu e eu acabei ficando presa aqui.
— Vocês querem me matar com tanta novidade. — Ela coloca a mão
no coração.
— Desculpa, senhora. — Thomas fala sorrindo. — Mas teremos outra
novidade. — Ele tira uma caixa de veludo do bolso da calça. — Eu queria
muito um grande evento para este momento, mas não posso perder tempo. —
Fico estática quando ele abre a caixa e revela o maior diamante que já vi na
minha vida. — Fiorella, aceita se casar comigo? — pergunta ao segurar a
minha mão.
— Oh, Thomas... — A minha voz se quebra quando as lágrimas
começam a cair. — É tudo o que mais quero nessa vida.
A minha mão treme quando a estendo para que coloque o anel. Não
acredito que meu grande sonho está se tornando realidade, eu vou me casar
com o homem que amo.
— Prometo te amar e te fazer sorrir todos os dias da minha vida. —
Seguro seus braços quando ele se aproxima e me beija.
Eu me sinto flutuar nas nuvens, imersa em mundo de sonhos, onde
apenas nós dois existem.
— Pode parar de beijar a noiva, pelo amor de Deus que não mereço ver
isso. — Paolo rosna.
— Relaxa amigo — Mitchell diz com descontração e dá dois tapas nas
costas dele. — Deixe o jovem casal em paz. — Ele olha para minha cunhada,
que seca uma lágrima enquanto segura a filhinha. — Masha, será que você
tem um champanhe para brindarmos o casamento do novo casal real?
— É claro que tenho. — Ela empurra a filha no colo do marido. — Eu
já volto.
— Paolo, sua filha é idêntica à mãe, que sorte essa menina linda teve
em não puxar você. — Martin provoca meu irmão.
— O rei hoje está distribuindo piadas? — O meu irmão não tem jeito,
ele não alivia nem quando está na frente de um monarca.
— É um dia feliz, meu filho vai se casar e eu tenho mais um neto a
caminho. Por que eu estaria emburrado como você?
— Martin, não ache que Caterina é doce como Masha, essa aí tem um
temperamento tão difícil quanto o pai, esse rosto de anjo é para enganar —
Dom comenta claramente querendo implicar com meu irmão.
— Olha como você fala da minha filha, ela só tem personalidade forte,
é uma boa qualidade.
— Vamos brindar. — Masha aparece trazendo o champanhe ao lado de
Mirta que carrega a bandeja com as taças.
— Thomas, por favor abra, já que você é o noivo.
— É um prazer, Masha. — Ele pega a garrafa e abre rapidamente.
Enquanto enchem as taças minha cunhada me entrega um suco de uva,
como sempre ela pensa em todos, ela é uma anfitriã perfeita.
— À felicidade dos noivos e a saúde do futuro príncipe, ou princesa. —
Martin inicia o brinde.
— E a união de nossas famílias. — Paolo completa.
— Que vocês tenham um casamento com muito amor, ambos merecem.
— Mitchell ergue sua taça.
— Desejo que Deus abençoe vocês. — A minha mãe se junta ao brinde.
— Eu te amo filha, mesmo quando erro, é pensando sempre no melhor.
— Também te amo, mãe. — Ergo a minha taça e todos brindamos.
Thomas toca a minha cintura, a felicidade está estampada nos seus
olhos.
— Agora você não tem para onde fugir, é toda minha. — Encosto a
cabeça contra seu peito, ainda incrédula que vou passar o resto da minha vida
ao seu lado.
— Eu não quero pertencer a mais ninguém — confesso. — Desde que
te vi pela primeira vez, meu coração se entregou a você. — Ele sobe a mão
por minhas costas, até que aprisiona a minha cabeça.
— E naquele dia, eu soube que lutar por você seria tão necessário
quanto respirar. — Sorrio. — Te amo, Ella, você é meu maior tesouro.
— Eu também te amo e nunca vou deixar de te agradecer por me fazer
renascer.
Esqueço que tenho um pequeno público nos assistindo e fico na ponta
dos pés para beijar o homem da minha vida, aquele que cruzou o meu
caminho e mudou todo o meu destino.
— Eu não acredito que perdi o pedido de casamento, estou tão chateada
— Gio mais uma vez reclama.
— Não deu tempo de avisar, desculpa.
— Você não tem culpa, foi pega de surpresa, mas Dom sabia do que ia
acontecer, ele deveria ter me avisado para vir.
— Por favor, não brigue com seu marido.
— Ela não tem tempo para brigar, com um homem daquele a gente só
pensa em sentar. — Leo olha para ela sorrindo, ele não perde a mania de
provocá-la. — Ainda estou passado que terei uma amiga princesa, as minhas
férias serão puro luxo em Vichi, eu vou ficar um nojo.
— Leonardo vamos com calma, eu vou morar em Nova Iorque.
— Melhor ainda, vou passar a férias atrás do tal Eros, o gostoso com
nome de deus do amor — ele suspira fundo.
— Você não tem jeito. — O meu celular toca. Estico a mão e o pego
sobre a mesa lateral próxima ao sofá. — A que devo sua ligação? — digo
sorrindo ao atender justamente Eros.
— Queria dar os parabéns pelo noivado, você conseguiu realizar seu
sonho.
— Ainda acho que vou acordar a qualquer momento.
— É tudo realidade, futura princesa. — Ele me provoca. — Eu estou
realmente feliz por você, quando Nero me contou liguei imediatamente para
te parabenizar.
— Obrigada por sempre ter estado ao meu lado.
— Uma pena que eu não fui o escolhido.
— Para de bobagem. — Ouço sua risada.
— Nero quer falar com você, mais uma vez meus parabéns e não
esqueça de enviar um convite para o casamento, estou louco para aproveitar
as mordomias de ser um convidado real.
— Você não vale nada.
— Sei disso. — Eu não aguento seu humor.
— Ella, também quero te dar os parabéns, estou realmente admirado
por Thomas conseguir dobrar o Conselho. — Meu primo entra na ligação. —
Seu noivo ganhou meu total respeito.
— Ele teve ajuda da família, não foi simples.
— Não importa como conseguiu, de qualquer forma foi algo
surpreendente.
— Obrigada, Nero, você é o responsável por tudo isso.
— Pequena, foi você a única responsável por sua felicidade, eu só te
dei uma oportunidade. Estou feliz, Thomas será o marido que precisa, desejo
que construam uma linda família.
— Nós vamos, nos amamos muito.
— É bom ouvir essa sua voz tão alegre, se cuida e nos vemos no seu
casamento.
— Será em breve, quero todos vocês em Vichi.
— Claro que nós estaremos lá, até mais.
Encerro a ligação feliz, eu ainda não me convenci que tudo é real, acho
que vou precisar de um tempo para entender que realmente tudo mudou.

UMA SEMANA DEPOIS


Aperto a mão do Thomas quando começamos a caminhar para a porta
de entrada da casa dos seus pais. A mãe dele nos intimou a comparecer para
que eu pudesse conhecê-la pessoalmente, antes que ele tivesse que voltar para
Nova Iorque.
— Está pronta?
— Claro que sim — respondo sentindo minha empolgação acelerar.
— Não se preocupe com nada, a minha mãe é uma das melhores
pessoas do mundo, ela vai ficar encantada com você.
— Ela é sua mãe, não espero nada menos do que conhecer uma pessoa
especial. — Ele faz uma pausa nos seus passos e me beija lentamente
exibindo um discreto sorriso.
— Sejam bem-vindos, o casal real já os aguarda. — O nosso beijo é
interrompido quando ouvimos uma voz com um tom bem formal.
— Obrigado, Kate. — Ele agradece à funcionária.
Não fico surpresa quando entro em um hall extremamente luxuoso, se o
apartamento dele em Nova Iorque já é deslumbrante, a mansão dos seus pais
não poderia ser diferente.
Entramos em uma ampla sala decorada com móveis claros e elegantes.
Seus pais já nos esperam abraçados e sorrindo, sentados no sofá estão
Mitchell, sua esposa Kimberly e uma jovem sorridente que rapidamente
identifico como sendo sua irmã.
Conheci Hill no casamento da Giovanna, ela é um doce de pessoa e
super alto astral.
— Como eu estava ansiosa para que chegassem. — A rainha vem em
nossa direção, ela se parece muito com Thomas, possui cabelos castanhos e
olhos dourados como os dele. — Você é tão linda. — Seus braços me
rodeiam carinhosamente, eu me sinto completamente acolhida por ela. — É
um prazer te conhecer, estou muito feliz por ter conquistado o coração do
meu filho, esperei tanto por este momento.
— Obrigada por me receber com tanto carinho.
— Não poderia ser diferente, você já é da família e todos nós iremos te
amar sem restrições. — Ela apoia a mão no meu rosto. — O que não falta
nesta casa é amor. — Fico com os olhos marejados.
— A gente sente assim que entra aqui. — Rei Martin se aproxima de
nós.
— Agora sua família cresceu — comenta ao apoiar a mão no meu
ombro. — E devo dizer que somos um pouco possessivos, gostamos de ter
todos os membros da família sempre reunidos. Infelizmente minha filha Hill
gosta de fugir de alguns encontros, mas dessa vez ela veio. — O rei lança um
olhar para a filha, que rapidamente levanta e vem falar comigo.
— Fiorella, espero que tenha paciência com esses dois. — Ela me
abraça. — Vim de Harvard especialmente para felicitar os noivos, eu não
poderia perder esse momento épico. — O sorriso feliz dela me deixa radiante.
— É um imenso prazer poder te reencontrar.
— Agora somos família, estaremos juntas o tempo todo. — Kim se
aproxima de nós.
— Eu vou adorar estar com vocês — digo com sinceridade.
— Cuidado com o que fala — Kimberly me puxa para um abraço. —
Você não sabe como estou contente em ver vocês juntos. — Recebo um
abraço forte. — Estou ansiosa para começar os preparativos do casamento.
— Também estou. — Olho para sua barriga que já está em evidência.
— Como cresceu desde que nos vimos.
— Pois é, esse bebê está começando a aparecer. — Ela alisa o ventre.
— Se dependesse de mim já teria nascido. — Mitchell rodeia a cintura
da esposa. — Fiorella, eu espero que adote Vichi como sua segunda casa,
todos nós estamos felizes com sua entrada na família.
— Não consigo descrever o que estou sentindo. — Realmente é difícil
acreditar que em poucos meses eu me casarei novamente e dessa vez com o
homem que meu coração escolheu.
— Apenas sorria, porque a partir de agora eu só quero te ver sorrir a
cada segundo. — Thomas beija meu rosto, antes de me abraçar.
Encaro seus olhos, ainda com um medo lá no fundo do meu coração de
tudo ser apenas um sonho. Depois de caminhar tantos anos pelo inferno, eu
consegui encontrar o céu.
DOIS MESES DEPOIS

Apesar de todos os olhares estarem em mim, eu só consigo enxergar o


homem que me fita no centro do altar da imponente catedral. Milagrosamente
a rainha Ava conseguiu providenciar um casamento grandioso, ela me
garantiu que tudo estaria pronto na data programada e, por mais que eu
confiasse nela, não acreditei que daria tempo.
Mas o que eu poderia esperar de uma rainha? Ela tem um batalhão de
pessoas dispostas a fazer tudo o que pedir, não é uma pessoa comum que
precisa realizar todas as tarefas.
Nesses últimos dois meses vi Thomas apenas cinco vezes, Paolo não
permitiu que eu ficasse com ele, optou por não quebrar mais uma tradição.
Fiquei chateada por ele controlar nossos encontros, mas aceitei seu veredito,
afinal, eu terei toda uma vida para estar ao lado do meu amor.
Esse tempo separados acabou sendo proveitoso, acabamos nos
conhecendo mais em cada ligação que fazíamos. Foram horas de conversas
sobre temas diversos, que me mostraram o quanto temos gostos em comum.
Hoje eu me sinto ainda mais conectada a ele e ansiosa para iniciar uma nova
vida ao seu lado.
Com passos firmes Thomas desce os degraus do altar e caminha até
onde eu e Paolo paramos. No meu primeiro casamento quem me levou ao
altar foi meu pai, naquele dia minhas lágrimas eram de tristeza e raiva,
diferente de agora, que estou com os olhos marejados por estar unindo a
minha vida a alguém que amo de verdade.
— Cuide bem dela, príncipe, preserve sua vida e a paz entre nossas
famílias.
— Por que não vai para o seu lugar e pare de falar bobagem? —
Thomas mantém o sorriso no rosto enquanto fala com meu irmão.
— Eu sei muito bem o que devo fazer. — Paolo beija meu rosto e vai
ficar ao lado da esposa.
— Nem em um dia de festa ele relaxa. — Olho para Thomas, que
segura a minha mão com tranquilidade. — Vamos subir?
— Claro. — Ergo levemente a saia do meu vestido e o acompanho.
Desta vez escolhi um modelo simples, com uma elegante cauda cheia
de cristais. A grande verdade é que não me importo com o meu vestido, eu só
quero ser feliz com a nova família que vou construir com meu marido.
Ouço a bênção do padre, mas eu não me concentro na cerimônia, a
minha mente está projetando vários flashbacks de tudo o que passei até
chegar aqui.
A minha jornada é um verdadeiro milagre, porque eu não só consegui
sobreviver a um casamento violento, como encontrei um novo amor fora da
máfia que foi capaz de lutar por nós sem medo.
Os nossos votos acabam virando um momento de comoção entre as
nossas famílias, as mulheres não conseguem segurar a emoção. As minhas
irmãs e minha mãe, em especial, sabem exatamente o significado que tem
para mim estar dando este passo.
Dizer sim para Thomas é a decisão mais feliz que já tive a oportunidade
de tomar. De todo o meu coração desejo estar sempre ao seu lado, fazendo a
nossa família crescer rodeada de muito amor.
Consigo segurar o choro até o momento em que o padre nos abençoa e
encerra a cerimônia, mas quando fico de frente para Thomas, sabendo que a
partir de agora seguiremos uma vida juntos, a emoção me domina
completamente.
Toco seu rosto quando ele se inclina para me beijar, suas mãos me
puxam para junto do seu corpo e nossas bocas se encontram. O mundo para
de existir, neste instante somos apenas nós dois, vencendo a máfia, nossos
medos e acreditando em um futuro juntos.
— Eu te amo — sussurra contra meus lábios, seu olhar quente parece
me queimar.
— E eu sou grata a Deus porque sei que o amor que sinto por você é
retribuído na mesma intensidade. — Ele sorri, a felicidade está estampada no
seu olhar.
Unimos as nossas mãos e descemos do altar, quando começamos a
passar por entre as pessoas avisto minhas primas logo na segunda fileira, elas
acenam sorrindo, Giada tem os olhos vermelhos, ela mais do que ninguém
sabe como foi difícil chegar até aqui.
Nero acena para nós discretamente, ele chegou com toda a família há
três dias, decidiram aproveitar para tirarem um tempo de descanso. Já Eros
me lança uma piscadinha, imediatamente a mão do Thomas aperta a minha
com força, os dois continuam não se bicando e o meu marido, agora posso
chamá-lo assim, odeia todos os contatos que nós temos.
Quando saímos da igreja uma brisa fresca bate no meu rosto, como se
fosse uma leve carícia. Olho para o céu repleto de estrelas e sinto como se eu
estivesse ingressando em um novo mundo, onde a violência e ódio não farão
mais parte da minha vida, eu amo o meu marido e tenho certeza de que ao
lado dele eu terei paz.
Estive muitas vezes prestes a pular no abismo, mas eu resisti. As
marcas desse tempo ficaram, para me lembrarem sempre que eu venci.

NOVA IORQUE – TRÊS MESES


DEPOIS.
Saio da cozinha com duas canecas de chocolate quente em mãos. Entro
na sala e encontro Fiorella enrolada em uma manta, enquanto observa pelas
portas de vidro o mar a sua frente.
Hamptons é o destino preferido dela quando tenho um tempo extra para
descansar. Minha esposa ama o mar, estou cogitando futuramente ir morar na
Califórnia, lá o clima é mais quente e podemos nos fixar em alguma cidade
praiana. Malibu é a minha opção preferida, seria o local ideal para criarmos
nossos filhos.
— Aqui, amor. — Ela ergue os olhos e sorri ao pegar sua xícara.
— Obrigada.
Eu me acomodo no sofá e a trago para se apoiar em mim. Enquanto
bebo um pouco do chocolate, deslizo minha mão por seu ventre. A sua
barriga está grande, em pouco mais de um mês e meio receberemos nossa
primeira herdeira. Descobrimos o sexo há dois meses, eu fiquei em êxtase
quando soube que era uma menina, estou ansioso para saber se puxará a
beleza encantadora da mãe.
Paraliso o carinho quando sinto um chute, a minha pequena menina
sempre se agita quando toco a barriga da sua mãe.
— Lá vem ela ficar nervosinha porque o pai chegou.
— O que posso fazer se ela já tem preferência por mim? — Beijo o seu
cabelo.
— Você é tão convencido.
— E você ciumenta. — Roço meu nariz no seu pescoço. — Em breve
providenciaremos outro filho, dessa vez será um menino e eu tenho certeza
de que ele irá preferir você.
— Vamos com calma, não tivemos nem o primeiro.
— O tempo passa rápido demais, precisamos estar com os planos em
dia. — Apoio o queixo contra o centro da sua cabeça. — Ano passado nessa
época, eu não imaginava que estaria casado, à espera da minha primeira filha
e mais feliz do que um dia imaginei ser.
Fiorella não diz nada, apenas acaricia a minha mão que está sobre a sua
barriga. Ficamos um tempo em silêncio, observando as ondas quebrarem na
areia e o som do vento batendo no vidro.
— A vida é uma caixinha de surpresas mesmo. — Ela quebra o
silêncio. — Um dia você não sente vontade de viver, no outro tudo o que
deseja é aproveitar cada segundo que tiver. — Com certa dificuldade ela
ajeita o corpo e encara meus olhos. — Hoje eu acordo ansiosa para te ver,
ouvir sua voz e programar cada detalhe do nosso dia. — Não digo nada,
porque sempre que ela mostra o quanto é feliz comigo, eu me sinto um merda
de homem sortudo. — Sou tão grata por você lutar por mim. — Sua mão vai
para meu rosto. — Se não fosse você eu não estaria aqui.
Coloco minha xícara sobre a mesa lateral e faço o mesmo com a dela.
Em seguida eu entrelaço nossos dedos, levando nossas mãos contra o meu
peito.
— Você está onde pertence — afirmo ao tocar seu rosto. — As nossas
dores jamais foram em vão, meu amor, elas serviram para que pudéssemos
extrair lições e compreender a intensidade do amor que sentimos. — Esfrego
meus lábios nos seus. — Talvez se tivéssemos uma vida diferente, não
teríamos a força necessária para lutarmos por nosso amor.
— Eu nunca tinha pensado nisso.
— Essa é uma reflexão que aprendi na terapia, as nossas experiências
servem para construirmos novos caminhos e aprendizados. — Ambos
continuamos na terapia, ainda temos um longo caminho para resolver todos
os conflitos que já atravessamos no passado.
— Isso é verdade. — Ela apoia o rosto contra meu peito. — Mas eu
acho que se não tivéssemos nossas próprias experiências, eu iria te amar de
qualquer jeito. — Sorrio, pois concordo com ela. — Porque não consigo
imaginar te ver e não sentir meu coração acelerar.
— Pode parar. — Mordo seu lábio inferior. — Se continuar com essas
declarações eu me descontrolo e sua médica avisou que precisamos ser mais
calmos nessa reta final de gravidez. — Ela solta uma risada. — Estou falando
sério.
— Basta ser carinhoso, sei que pode ser suave.
— Posso, mas quando a minha mulher se declara para mim, eu não
quero porra nenhuma de suavidade.
— Seja um príncipe comigo, o ogro da família é meu irmão.
— Nem me lembre dele. — Infiltro minha mão por baixo da sua blusa.
— Posso ser um príncipe, mas quero ser um príncipe bem devasso.
— E o quanto devasso pretende ser?
— Aí você terá que descobrir.
Quebro o seu sorriso com um beijo, sentindo meu corpo esquentar
quando nossas línguas se encontram. Eu sou desesperado por minha mulher,
a cada dia que passa eu entendo que fiz o certo ao colocar minha vida em
risco para ficarmos juntos.
Se eu tivesse que morrer mil vezes para ficar com ela, eu morreria sem
me preocupar. Qualquer sacrifício seria irrelevante, perante a felicidade em
saber que todos os dias eu a verei e desfrutarei intensamente do amor que
sentimos.
MESES DEPOIS

Ajeito com cuidado o corpo rechonchudo da Noelle no berço, seguro


sua mão pequena e levo aos lábios. Ontem ela completou seis meses e desde
o dia que entrou na minha vida nada mais foi igual.
O amor que sinto por ela transcende todos os sentimentos que já senti.
Difícil colocar em palavras tudo o que ela representa na minha vida.
Quando me casei pela primeira vez temia ser mãe para não oferecer ao
meu filho uma vida cheia de maldade, mas tendo Thomas ao meu lado tudo é
diferente. Sei que Noelle vai crescer em um lar cheio de amor e respeito.
— Ella, precisamos ir. — Giro o rosto e vejo Thomas entrando no
quarto da nossa filha enquanto fecha o terno.
— Só estava babando um pouco minha cria. — Ele sorri e me abraça
por trás, seus lábios tocam delicadamente meu ombro, causando um arrepio
de excitação por minha pele.
— Será que algum dia vamos deixar de ficar bobos perto dela?
— Acho que não.
Admiro o seu rostinho sereno enquanto dorme tranquilamente. Noelle
puxou o pai, desde a aparência física até a personalidade calma, a única parte
dela que se parece comigo são os olhos.
Os dois se dão tão bem que às vezes fico enciumada, quando minha
pequena se irrita e começa a chorar, apenas ele a acalma.
— Vou pegar a minha bolsa para podermos ir.
— Tudo bem. — Ele beija meu rosto e se aproxima do berço.
Deixo os dois sozinhos e vou até meu quarto pegar minha bolsa, hoje é
o evento de lançamento de mais um jogo do meu marido. Ele passou o dia
ansioso, mesmo sabendo que todos esperam esse novo produto, Thomas não
consegue conter o temor que algo dê errado.
Há quase dois anos eu estava indo justamente em um evento dele sem
saber que naquela noite a minha vida ganharia um novo rumo. Se não nos
encontrássemos na festa, hoje eu não estaria vivendo uma vida de sonho.
Encontro meu marido no corredor e sigo de mãos dadas com ele para o
andar inferior. Por alguns segundos conversamos com Carmem e a babá que
cuida da Noelle, as meninas elogiam nossa elegância e nos desejam uma boa
festa.
— Você está extremamente gostosa nesse vestido — Thomas sussurra
no meu ouvido quando entramos no elevador. — Vou contar os segundos
para poder tirá-lo.
— Comporte-se. — Dou uma leve cotovelada nele ao esconder um
sorriso.
— Perto de você é impossível. — Ele afunda o rosto contra meu
pescoço. — Você vai ser a mulher mais linda da festa e o melhor é saber que
é toda minha. — Nossos olhos se cruzam no exato momento que a porta do
elevador abre.
Sinto meu coração acelerar ao ver todo o amor estampado no seu olhar.
É um privilégio poder dividir esse tipo de amor intenso com outra pessoa.
Saímos abraçados e caminhamos até o nosso carro. Agora que estamos
seguindo para a festa estou me sentindo um pouco ansiosa. Essa será a
primeira vez que estarei ao lado dele em um grande evento em Nova Iorque.
Já fizemos algumas aparições públicas, mas nenhuma delas foi da
grandiosidade da que iremos enfrentar agora.
Conforme o carro vai avançando pelas ruas da cidade vou sentindo meu
marido ficar tenso. Eu me aconchego nele e beijo o seu queixo, tentando
acalmá-lo.
— Vai dar tudo certo — digo tentando passar confiança.
— Estou contando com isso. — Ele me olha e sorri. — Posso te pedir
uma coisa?
— O que quiser.
— Fique longe do maldito Eros, quando ele te encontrar vai vir com as
piadinhas sacanas, não quero expulsá-lo da festa. — Sorrio, a implicância
entre eles piorou terrivelmente desde que nos casamos.
Thomas nunca vai engolir o fato de Eros ter se oferecido para assumir a
minha gravidez.
— Por que vocês não sabem se comportar? Os dois são irritantes.
— É ele que irrita. — Thomas me olha enviesado quando nosso carro
para. — Vamos. — Seguro sua mão quando abrem a porta sairmos.
Preciso piscar sucessivamente quando os flashes dos fotógrafos
explodem a nossa frente. Nunca vou me acostumar com essa parte da vida do
meu marido, odeio esse tipo de exposição.
— Senhor Cassel, pode conversar com nossa equipe? — uma repórter
pergunta.
— É verdade que estão esperando outro filho? — Olho o homem que
fez a pergunta horrorizada.
De onde tiraram essa ideia?
— Não tenho nada a declarar — Thomas fala rispidamente.
Rapidamente os seguranças nos isolam até que entramos no grande
espaço onde será realizado o evento.
— Ainda estou tentando entender como engravidei sem saber. — Olho
para o alto e encontro meu marido sorrindo.
— Por falta de tentativas não foi, treinamos muito todos os dias. — Ele
envolve minha cintura. — E eu não me importo que engravide logo, vai ser
bom para Noelle ter um irmãozinho.
— Pode parar, ela ainda é muito bebê, precisa de toda a minha atenção.
A secretária dele aparece ao lado de Stuart, enquanto eles conversam
olho ao redor tentando encontrar meus primos, sei que Giada está perdida por
aqui, ela estava superansiosa por esta festa.
— Ella! — Olho para trás e sorrio ao avistar minha prima vindo na
minha direção.
— Estava te procurando. — Nos abraçamos.
— Você está linda, é uma legítima princesa.
— Pode parar. — Reviro os olhos. — Serena não veio?
— Está por aí com meus pais, eles estão a apresentando para algumas
pessoas.
— Querem que ela case antes de você?
— Na verdade, minha mãe quer me casar logo a todo custo. — Ela faz
uma careta, entendo bem o momento que está passando. — Mas não vamos
falar de coisas desagradáveis.
— Isso mesmo. — Aperto sua mão. — Hoje é dia de nos divertimos.
— E de beijar na boca — comenta baixinho. — Já tenho dois alvos
para me divertir.
— Giada, não entre em confusão, por favor.
— Eu não vou, são só inofensivos beijos.
— Como vai, Giada? — Thomas para ao nosso lado.
— Ótima — responde sorrindo. — Sua festa está linda.
— Muito obrigado, tentei deixar tudo perfeito. — Thomas fixa a mão
na base da minha coluna. — Sei que querem conversar, mas eu preciso que
cumprimente algumas pessoas comigo.
— Tudo bem. — Olho para minha prima. — Assim que eu terminar as
formalidades te encontro.
— Fique tranquila. — Giada me abraça. — Vai lá e arrasa, princesa. —
Ela pisca antes de se afastar.
— Como é boba — digo sorrindo.
— Ela só falou a verdade, você é uma princesa, um dia pode até se
tornar rainha.
— Não brinca com isso.
— É quase inevitável, amor, pretendo viver bem mais que meu irmão.
— Ele beija a minha mão e começa a me puxar para o meio da festa.
Desde que me casei com ele eu apenas concentro a minha atenção no
nosso amor, o título dele é algo que não gosto de pensar, é grandioso demais
e me incomoda saber que sou parte de uma monarquia. Prefiro imaginar que
somos uma família cheia de amor, mesmo que ao nosso redor tenhamos
tantos problemas acontecendo.
Abro um sorriso amistoso para cada roda de pessoas que converso,
aprendi a ser uma boa anfitriã desde a adolescência, minha mãe soube bem
como ensinar as filhas a ser a esposa ideal. Claro que com Thomas tudo é
diferente, mas não posso negar que todos os ensinamentos que aprendi me
ajudam a conversar com naturalidade.
Assim que nos despedimos do prefeito da cidade encontramos toda a
minha família ao lado de Eros e Rocco, o subchefe da máfia, com sua esposa.
— Thomas, está magnífica a sua festa, meus parabéns.
— Muito obrigado, Gastone. — Meu marido troca um aperto de mão
com meu tio, em seguida cumprimenta todos os outros. — Queria algo
grandioso para lançar meu próximo produto.
— Que com certeza será mais um sucesso — Nero diz satisfeito. —
Terei mais alguns milhões na minha conta.
— Esse é o objetivo.
— Você é um verdadeiro gênio. — Meu tio não esconde a animação.
— Fiorella, está muito elegante, a maternidade te fez bem.
Como as coisas mudam, quando fui embora de Nova Iorque meu tio
mal falava comigo, agora ele é todo atencioso, me trata com uma atenção
extrema.
— Obrigada, tio.
— Para algumas mulheres realmente a maternidade traz um viço,
Fiorella teve sorte. — Minha tia sorri toda meiga.
Eu me dou bem com ela, mas não consigo esquecer dela tentando me
arrumar um marido com o dobro da minha idade.
— Fiorella sempre foi linda, uma pena ela não me escolheu como seu
marido. — Sinto Thomas ficar tenso ao meu lado com a fala de Eros.
— Sem brincadeiras. — O recrimino, tentando evitar uma briga. —
Angelina, quanto tempo não nos falamos. — Cumprimento a esposa do
Rocco.
Engato uma conversa com ela, querendo tirar a atenção de mim.
Thomas passa um tempo conversando com minha família, até que sua
presença é requisitada em outro local.
Ele se despede de mim e se afasta, fico conversando com as mulheres
enquanto os homens se reúnem em um canto. Algumas pessoas nos
cumprimentam e param para conversar, o tempo acaba passando e quando
dou por mim ouço anunciarem a presença do meu marido para um discurso.
Aplausos efusivos explodem por todo lugar assim que Thomas se
posiciona no meio do palco. Ele sorri, demonstrando uma calma que eu sei
que não sente.
Sinto o orgulho inundar meu coração, sei o quanto foi difícil ele chegar
a este momento, meu marido passou noites em claro aperfeiçoando cada
detalhe do novo projeto.
— Boa noite, senhoras e senhores. — Sua voz grave se espalha pelo
público. — É uma honra tê-los aqui em mais um lançamento da Cassel
Company Eletronic.
Mais aplausos são ouvidos, até que Thomas inicia o seu discurso,
falando dos desafios que o novo jogo trouxe para sua equipe. Enquanto ele
fala admiro não só a sua beleza, mas o homem íntegro que eu tenho o prazer
de dividir a vida.
Ele entrou no meu caminho me mostrando que a felicidade é real e o
impossível não existe quando o amor entra em cena. Se não fosse ele
enfrentar tudo por mim, talvez hoje eu estivesse dentro de mais um
casamento infeliz. Sou grata não só pelo seu amor, mas por ter a sua presença
luminosa em todos os meus dias.
— Eu espero que se divirtam com mais este lançamento, foi trabalhoso
todo o processo de criação, mas saiu como planejamos. — Ele sorri. —
Quero agradecer toda a minha equipe, são profissionais engajados, que
mergulham sem medo em cada um dos meus devaneios. — Olho para parte
da equipe dele que está bem perto do palco. — E preciso agradecer em
especial, a minha CEO Laura Gatti, que assumiu com maestria o posto de
Scott Sander, um grande amigo que já não está mais entre nós. — Sigo o
olhar do meu marido e vejo Rose, a esposa do Scott, secando uma lágrima. —
Agradeço também ao meu grande amigo Stuart Daley, que cuida de toda a
parte financeira da empresa e sempre está me apoiando em cada desafio. —
Stu ajeita a gravata, exibindo um sorriso orgulhoso. — E por último e não
menos importante, preciso agradecer a minha esposa, Fiorella Cassel, por me
dar o suporte que necessito dentro da nossa casa sempre sorrindo e cuidando
de mim com muito amor. — Seus olhos prendem os meus. — Eu te amo,
Ella, você é meu porto seguro.
Apoio as duas mãos sobre o coração, sentindo lágrimas despontarem
dos meus olhos. Não acredito que ele se declarou para mim na frente de
tantas pessoas, esse homem ainda me mata do coração.
Eu te amo muito mais.
Digo essas palavras apenas movendo meus lábios sem deixar a voz
escapar, para que saiba que todo o meu coração pertence a ele.
— Você merece todo esse amor — ouço a voz do Nero sussurrando no
meu ouvido. — Não me arrependo nem por um segundo de permitir que
ficassem juntos. — Olho para meu primo. — Acho que foi a única boa ação
que fiz na vida. — Ele acaricia meu rosto. — Talvez eu tenha uma morte
rápida por causa disso.
— Pare de falar bobagens. — Apoio a mão no seu coração. — Eu ainda
vou te ver muito feliz e vivendo por longos anos, você é especial e irá
encontrar uma mulher para amar assim como eu encontrei Thomas e Paolo
encontrou Masha. — O rosto dele fica tenso e seus olhos se perdem em meio
à multidão. — Não duvide de mim, eu sei o que falo.
Não sei exatamente como explicar, mas a certeza que a vida do meu
primo irá mudar é uma verdade que praticamente consigo tocar.
Ele foi essencial para que eu encontrasse a minha felicidade, por isso
vou lutar para que também encontre a sua. Nero pode ser o líder de uma
máfia, mas seu coração é tão generoso com a família quanto o do meu irmão,
por isso eu quero vê-lo tão feliz quanto eu sou.
Sinto uma mão tocar minha cintura, olho para o alto e encontro Thomas
sorrindo.
— Acho que te amo um pouco mais depois dessa declaração — digo
ainda emocionada.
— Que bom. — Ele segura a minha mão e leva até os lábios. — Porque
a cada segundo que passa meu amor por você só triplica.
Sem se importar com a plateia que temos ao nosso redor ele me beija,
mostrando sem pudor o quanto nós nos amamos e somos felizes juntos.
Pego um pouco do drinque e encho meu copo, enquanto bebo um
pouco observo o movimento ao redor da piscina. Reunir as nossas famílias é
algo raro, então quando estamos juntos nos divertimos de verdade.
— Thomas, segura o Jordan rapidinho, preciso pegar os morangos dele,
acho que esqueceram de trazer. — Kim joga no meu colo seu filho.
Jordan me olha com o rosto risonho, ele tem uma mistura fantástica dos
pais, possui traços de cada um, mas o humor é do avô, o pequeno sabe ser
sisudo e espontâneo no momento certo.
— E aí garotão? — Ergo seu corpo no alto, ele está perto de completar
um ano e já anda balbuciando mamãe, acabando com a expectativa do meu
irmão que queria que ele falasse papai na frente. — Você está grande demais.
— Mordo sua barriga e recebo em troca uma risada que me contagia.
— Para de morder meu filho. — Mitchell para ao meu lado e pega um
pouco do drinque.
— Consegue não ser chato só por um minuto?
— Não. — Ele segura a mão do Jordan e beija. — Quem diria que um
dia estaríamos ao redor da piscina, com nossos filhos juntos, na companhia
do Paolo?
— A vida é surpreendente não é mesmo?
— Muito.
Olhamos para a piscina onde meus pais estão reunidos com toda a
família do Paolo.
Apesar da vida corrida, combinamos de nos encontrar ao menos duas
vezes no ano fora as datas comemorativas. A abertura do verão em Vichi
entrou para a programação de todos, este será um momento para que nossos
filhos possam ter um tempo juntos.
Tanto Jordan quanto minha Noelle são os que mais ficam isolados, uma
vez que os outros primos convivem diariamente. Em certos momentos
percebo que Fiorella sente falta desse convívio mais diário com a família,
queria poder proporcionar a ela mais tempo com eles, o problema é que meu
trabalho neste momento está completamente concentrado em Nova Iorque.
— Quem quer morango? — Kim ergue a fruta e Jordan se agita no meu
colo.
— Temos um viciado em morangos aqui? — questiono sorrindo
quando entrego meu sobrinho a mãe.
— Ele ama muito, não se controla e come todos que eu oferecer.
— O bom gosto pelo que é bom é de família — Mitchell diz e beija a
minha amiga.
É prazeroso ver que o amor deles só aumenta, eles foram feitos um para
o outro e merecem toda a felicidade do mundo.
— Você é tão arrogante. — Ela faz uma careta e segue para onde
Fiorella e as irmãs estão sentadas conversando, juntamente com Leonardo, o
melhor amigo de todas.
A filhinha da Chiara rapidamente pega um dos morangos que Kimberly
oferece, já Massimo, filho da Giovanna, ignora a fruta. Ele e Noelle nasceram
com um mês de diferença, mas apesar de ela ser mais nova, começou a andar
antes do primo, para a revolta do Domênico.
— É lindo ver a família cheia de amor que formaram. — Hill se
aproxima de nós. — Quando vejo todas essas crianças, sinto até vontade de
ter filhos.
— Em breve terá os seus, estamos ansiosos para aumentar a família real
— Mitchell fala ao enlaçá-la pela cintura. — Já imagino uma menininha
turrona como você.
— Eu não sou turrona. — Ela empurra o peito dele. — Sou um doce de
pessoa.
— Quem disse isso? — Sorrio da careta dela quando se afasta e vai
para a borda da piscina ficar com nossa mãe, que tem a filha do Paolo ao seu
lado.
Caterina é uma ruiva tão geniosa quanto o pai, apesar de só ter três
anos, fala com uma desenvoltura extrema. Algo me diz que Paolo terá muito
trabalho pela frente.
— É uma reunião entre irmãos? — Dom pergunta ao colocar algumas
mechas do cabelo atrás da orelha.
— Só estamos admirando o núcleo familiar que formamos. — Ergo o
queixo na direção das pessoas que mais amamos.
— Se um dia me dissessem que máfia e realeza viveriam em harmonia,
eu não acreditaria.
— Não somos uma realeza comum. — Mitchell bate no ombro dele. —
Do mesmo jeito que temos negócios, podemos ter famílias em comum. —
Meu irmão me lança um olhar. — O que me surpreende é o cristal da família,
o menino inteligente, ser o responsável por trazer a máfia para o seio real.
— Culpe o destino por fazer esse arranjo inusitado. — Nós três
sorrimos.
— Thomas, pode vir aqui? — Fiorella me chama.
— Com licença senhores, mas a dona da minha vida solicita a minha
presença.
— Apenas vá, não é sábio deixar uma esposa esperando. — Dom ergue
um canto da boca.
Ele sabe bem como devemos obedecer às nossas mulheres, assim como
eu, é apaixonado por Giovanna.
É estranho ver que mafiosos possam ser tão conectados com suas
esposas. Paolo e Dom têm uma fama cruel no submundo do crime, ainda
assim conseguem ser maridos e pais exemplares.
— O que foi? — pergunto a Ella quando me aproximo.
— Qual a possibilidade de irmos a Roma no próximo mês? Tem um
evento no clã que eu gostaria de participar. — Ela me encara com
expectativa.
— Eu vou ver a minha agenda. — A decepção na sua face me deixa
incomodado.
— Príncipe, você tem bons profissionais na empresa, arrume um tempo
para sua família, eles são mais importantes. — Fito Leo, ele é sempre um
palhaço, mas quando decide falar sério não perde tempo.
— Ele tem razão, eu tomo conta de tudo com a Laura. — Stuart
intervém na nossa conversa.
— Obrigado. — Dou dois tapinhas nas suas costas. — Podemos ir ao
evento, ficaremos também uns dias por lá para que possa se divertir com sua
família.
— Faço questão que fique na minha casa, quero que Massimo passe um
tempo com a prima. — Gio rapidamente se manifesta.
— Se não for incomodar vocês, eu não vejo problemas. — Agora
minha esposa sorri, feliz em poder ficar com a irmã.
— Será tão bom ter todos os meus netos em Roma. — Minha sogra
beija o filho da Giovanna, apesar de não gostar muito dela, não posso negar o
quanto ama os netos.
— Já estou ansiosa para ficarmos todos juntos. — Ella levanta e me
abraça. — Obrigada por sempre realizar meus desejos.
Olho para o rosto da minha mulher e vejo o quanto ela está feliz. É
assim que sempre quero vê-la, o tempo de tristeza que foi obrigada a viver é
passado, no que eu puder, sempre colocarei um sorriso nesses lábios que eu
amo beijar.
— Quer matar a minha filha?! — A voz irritada do Paolo chama a
nossa atenção. — Pode me devolver Caterina imediatamente, Martin, vamos
evitar que eu te afogue.
— Ela está se divertindo. — Meu pai olha para Caterina, que sorri
animada em seu colo.
Para o desespero de Paolo novamente meu pai tampa o nariz dela e
mergulha. Quando ambos emergem a ruivinha solta um grito feliz, enquanto
seu pai parece a ponto de ter um ataque do coração.
— Viu como ela gosta?
— Vai pra puta que pariu, Martin, você realmente está querendo matar
a minha filha.
— Não xinga perto dela. — Masha o recrimina. — Sabe que ela repete
tudo o que você fala.
— Então mande essa merda de rei parar de afundar nossa filha.
— Meda de rei. — Caterina repete ao olhar sorrindo para meu pai.
— Tá vendo só? Ela xingou o rei. — Os olhos azuis da Masha se
expandem.
— Caty, minha ruiva travessa, presta atenção no que esse merda de rei
faz com seu pai usando uma só mão.
Pegando Paolo de surpresa meu pai prende a sua cabeça e o mergulha
com tudo dentro da água. Caterina sorri toda feliz ao ver o pai se debater, até
que ele consegue se estabilizar e emerge praguejando todos os palavrões
possíveis.
A cena é tão bizarra que todos rimos da situação, só mesmo o meu pai
para ter coragem de fazer esse tipo de brincadeira com Paolo.
— Vamos fugir do seu pai, ruiva, ele é chato. — Colocando a pequena
sobre os ombros meu pai começa a se afastar do Paolo correndo com ela
dentro da água, que não para de sorrir.
— Acho que nunca vi minha família tão feliz — Fiorella comenta
enquanto seu irmão espuma de raiva do meu pai se divertindo com a irritação
dele.
— Não somos muito funcionais juntos — observo cada um que está
presente. — Mas conseguimos sempre construir momentos memoráveis.
Agora Masha está pendurada nas costas do marido, beijando seu
pescoço o acalmando. Como um passe de mágica o Capo ranzinza, sorri,
esquecendo completamente a briga com o rei.
Dom e Mitchell fazem piadinha para irritá-lo, mas Paolo está mais
preocupado em receber o carinho da esposa.
— Eu amo nossa família. — Ella me fita emocionada. — E amo mais
ainda você por me fazer feliz todos os dias.
— É bom ver o brilho no seu olhar, eles não são mais tristes, eu cumpri
minha missão em vê-los cheios de alegria. — Acaricio sua bochecha. — Eu
te prometo que até meu último suspiro irei te amar com todo meu coração,
você e Noelle são minhas maiores riquezas, nada mais importa se eu não tiver
vocês.
A confusão generalizada ao nosso redor perde todo o sentindo quando
nossos lábios se encontram. É com ela que eu me torno completo, ao seu lado
eu esqueço meus medos, minhas inseguranças e todos os problemas do
mundo. Apenas ela tem o poder de ver cada parte de mim.
É nos braços dessa linda mulher que eu me torno apenas Thomas, um
homem que teve o privilégio de encontrar o seu verdadeiro amor.
Eu poderia falar para vocês se despedirem definitivamente desses
Homens Dominantes, mas não posso fazer isso, porque ainda é cedo para
dizer adeus a essa turma.
Novos personagens desse universo viciante da máfia chegarão em uma
outra realidade e nessas histórias teremos sempre a participação dos meninos
dominantes.
Vocês poderão matar saudades deles e saber como andam a vida desses
casais tão carismáticos.
Até breve!
Meu maior agradecimento vai para as minhas leitoras que fizeram
dessa série um verdadeiro fenômeno de vendas e leituras na Amazon. São
mais de trinta milhões de leituras apenas nos três primeiros livros e milhares
de e-books vendidos.
Nada disso seria possível sem o apoio e indicações de vocês, que
divulgaram com muito amor esta série. Obrigada de todo o meu coração,
vocês são incríveis.
Deixo meu agradecimento mais que especial a minha beta e amiga
Wilka Andrade, que participou de todo o processo de criação do livro e foi
essencial para estas histórias serem tão viciantes.
Preciso também agradecer a Paolo Torcasio, um dos maiores
personagens que já criei e que entrou na história do príncipe Mitchell para
fazer apenas uma rápida participação. Esse mafioso me conquistou de tal
maneira que me fez virar uma consumidora fervorosa de livros de máfia e
mergulhar nesse submundo que acabou virando um vício delicioso. Se não
fosse Paolo exigir sua história, eu não teria tantos motivos para sorrir.
E por fim deixo o meu agradecimento a Deus, que me presenteou com
essa série em um sonho e trouxe para a minha vida um novo momento na
minha carreira. Como sempre Ele me surpreende quando menos espero.
Gratidão por tudo!
Com amor,
Lily Freitas.
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[1]
Personagem do livro O Amor do Príncipe, primeiro livro da série Homens Dominantes
[2]
Personagem do livro O Amor do Príncipe.

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