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1º Edição
Abril de 2022
Optamos neste livro usar a linguagem contemporânea, tanto na
narrativa quanto nos diálogos, para ficar um texto mais próximo do que
falamos no nosso dia a dia.
Nem sempre os contos de fadas seguem o script que estamos
condicionados a imaginar, às vezes eles começam de maneira torta, para
poderem tomar o seu rumo.
Príncipe Thomas Cassel teve o seu coração quebrado quando uma
grande paixão foi cruelmente tirada da sua vida. Ele se transformou em um
homem reservado, fechando-se completamente para qualquer tipo de
relacionamento.
Porém, a vida tem seus planos e o levou até Fiorella Torcasio, uma
jovem viúva, que viveu um mundo de terror com o seu falecido marido, um
mafioso cruel, que a torturou das piores maneiras possíveis.
Nenhum dos dois acredita no amor, ambos são pessoas profundamente
feridas, de mundos opostos. No entanto, será justamente a dor que carregam
no coração que irá os unir, levando ambos a descobrirem que recomeçar,
pode significar renascer e entender que todo fim, tem o seu começo.
Será o amor capaz de quebrar tradições e unir a realeza com a máfia
italiana?
Nota da Autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1 – Nova Iorque
Capítulo 2 – Só fique bem
Capítulo 3 – Vista algo sexy
Capítulo 4 – Me surpreenda
Capítulo 5 – Príncipe de Vichi
Capítulo 6 – Podemos ser amigos
Capítulo 7 – É ele!
Capítulo 8 – Encontro
Capítulo 9 – Bom moço
Capítulo 10 - Aventura
Capítulo 11 – Queria muito te beijar
Capítulo 12 – Parabéns!
Capítulo 13 – Demônios
Capítulo 14 – Um novo mundo
Capítulo 15 – Onde me levar
Capítulo 16 – Nasci na máfia
Capítulo 17 - Rendido
Capítulo 18 – Momento novo
Capítulo 19 – Como eu a quero!
Capítulo 20 – Todo meu
Capítulo 21 – O que está fazendo aqui?
Capítulo 22 – O agora
Capítulo 23 – Quero cuidar de você
Capítulo 24 – Por onde anda?
Capítulo 25 – Eu mudei
Capítulo 26 – O deus do amor
Capítulo 27 – Grandes problemas
Capítulo 28 – Plano
Capítulo 29 – Hamptons
Capítulo 30 – Vamos esquecer o passado
Capítulo 31 – Tensão
Capítulo 32 – Protetor
Capítulo 33 - Ataque
Capítulo 34 – Só viva
Capítulo 35 – Plano
Capítulo 36 – Maldito!
Capítulo 37 – Eu não vou!
Capítulo 38 – Ela é especial
Capítulo 39 – Conflito
Capítulo 40 – Pequena garota
Capítulo 41 - Atentado
Capítulo 42 – Boa viagem
Capítulo 43 – Destino sombrio
Capítulo 44 – Um milagre
Capítulo 45 - Confronto
Capítulo 46 – Reunião
Capítulo 47 – Elo
Capítulo 48 – Conselho
Capítulo 49 – O céu
Capítulo 50 – Um verdadeiro milagre
Epílogo
Epílogo 2
Não diga adeus!
Agradecimentos
Contatos da Autora
Olho através das janelas de vidro as pessoas andando tão pequenas lá
embaixo diante da grandeza de Nova Iorque. Cada uma tem a sua história de
dor, família, solidão, amizade, amor, rancor, desespero... entre tantos outros
sentimentos inerentes à humanidade.
A verdade é que somos bombas-relógios ambulantes, prestes a explodir
por motivos mínimos, nenhum de nós está a salvo das desventuras que o
mundo nos proporciona. Somos apenas cobaias, sujeitas aos experimentos do
destino.
Não ter o controle de todos os fatos, da minha própria vida, é algo que
não sei lidar. Eu gosto de planejar meus passos, saber qual caminho seguir,
quais atalhos acessar para alcançar meus objetivos. Entender que quando se
trata do jogo da vida eu sou apenas uma peça, me causa uma sensação de
impotência sufocante.
Algumas pessoas acreditam que por eu ser um príncipe, tenho a sorte
de poder realizar todos os meus desejos. Que grande ilusão. Privilégios
financeiros, status social, fama, não significam que você realmente tenha o
que deseja.
Não é assim que funciona e, justamente por determinados caprichos da
vida, todos nós em algum momento, nos tornamos iguais.
Eu tenho poder, dinheiro, fama, um corpo esculpido por horas na
academia, uma legião das mais belas mulheres sempre buscando a minha
atenção. Só que nada disso me faz acordar sorrindo ou me causa qualquer
tipo de satisfação.
Tudo perdeu a cor quando ela se foi e me deixou para trás com um
vazio, que não sei explicar o quanto me sufoca. Eu fui um tolo em me calar,
não revelar o quanto ela me encantava nos mínimos detalhes. O seu sorriso
era sempre tão espontâneo, a sua alegria quando comprava roupas, poderia
ser comparado a uma criança na hora de abrir os presentes de Natal.
Clover[1] era pura luz, a suavidade da sua personalidade foi o que me
encantou. Acreditei que teríamos uma bela história para contar, por infinitas
vezes eu me preparei para confessar o quanto a queria, mas sempre colocava
um empecilho para não me aproximar.
Que idiota eu fui. Ela foi arrancada deste mundo sujo de uma maneira
tão vil, que depois de quase cinco anos da sua partida, eu ainda não consegui
assimilar tudo o que aconteceu.
Até hoje seguro a minha dor, meu irmão sabe que não superei o que
aconteceu, Stuart, meu melhor amigo, não toca no assunto, mas tenta de todas
as maneiras me fazer ser o antigo Thomas, só que eu não consigo, sinto que
uma tonelada de cimento segura os meus pés.
Por que ela se foi? Por que não fui capaz de viver tudo o que sonhei?
Por que tanta gente ruim anda pelas ruas e alguém tão bondosa teve que
pagar um preço alto pelos erros alheios?
Por quê?
Essas perguntas me consomem todos os dias e enrijecem o meu coração
a cada batida, que não obtenho essas respostas.
Eu sou um homem arruinado, destruído pela dor, consumido pela culpa.
Vivo o agora, não penso no futuro e sigo sempre sozinho, livre de
sentimentos, expectativas e esperança.
Lembrem-se sempre: Contos de Fadas só existem nos livros, príncipes
encantados são sempre canalhas assim como eu e, finais felizes, é a mais pura
ilusão que a humanidade inventou.
ROMA
Quando Eros disse que a festa seria badalada eu não esperava por tanto,
estou rodeada de grandes personalidades do esporte, música, cinema, fora, os
figurões da alta sociedade.
Apenas quando cheguei aqui é que descobri que o anfitrião é nada mais
nada menos que o príncipe do reino de Vichi, ele veio morar nos Estados
Unidos, após a faculdade e abriu uma empresa de tecnologia em jogos
eletrônicos.
O seu sucesso nos negócios chamou a atenção do meu primo, Nero
começou a investir o dinheiro da máfia na empresa do príncipe. Hoje será o
lançamento de um jogo e tudo indica que será um sucesso.
Nunca conheci pessoalmente o príncipe, já vi no passado fotos dele,
mas isso faz muito tempo, conheço apenas o seu irmão, ele foi um dos
convidados nos casamentos de Paolo e da Giovanna.
— Você precisa distrair Nero, eu quero beijar uma pessoa. — Giada
fala no meu ouvido.
— Beijar? Não pode fazer isso — digo horrorizada.
— Claro que posso, eu beijo rapazes desde meus quinze anos. — Fico
em choque. — Ella, aqui não é o seu clã, eu estudava em uma escola comum,
tinha contato com meninos.
— Já pensou se o seu pai descobre sobre isso? Você está perdida.
— Ninguém vai saber, eu sou sempre discreta.
— Não quero confusão, seu irmão está sendo bom para mim me
deixando ficar aqui.
— É só uns beijos, nada demais vai acontecer, só conversa com ele, eu
fujo para um canto escuro e beijo, não posso perder essa oportunidade, ele é
lindo.
Fico indecisa, se o irmão dela descobre essa armação, nós duas
estaremos encrencadas.
— Seja breve e por favor não me coloque em apuros.
— Eu não vou. — Ela me abraça. — Fico te devendo essa.
Balanço a cabeça e vou em busca do meu primo, ele está conversando
com algumas pessoas. Quando nota minha presença me chama para perto e
começa a me apresentar às pessoas.
Uma das meninas do grupo diz que já foi a Roma, acabamos engatando
uma conversa animada. O papo é tão bom que esqueço do tempo, assim como
Giada, que sumiu e isso não é nada bom.
— Ei! Venha dançar comigo. — Eros para ao meu lado e segura minha
mão.
— Você sumiu.
— Sentiu minha falta? — Ele apoia as mãos na minha cintura.
— Para de ser convencido. — Sorrindo, ele nos move para o meio da
pista de dança.
— Tive que resolver um probleminha.
— Com alguma mulher.
— Mulheres não são problemas, baby — diz com a boca rente ao meu
ouvido. — Você está com ciúmes de mim? Devo ficar esperançoso?
— Por que leva tudo na brincadeira?
— Devia saber que estou falando sério — não insisto no assunto, Eros
gosta de me provocar.
Danço com ele me sentindo leve, é estranho essa sensação de liberdade.
A minha vida mudou, preciso entender isso o quanto antes, o tempo de dor
passou, só as lembranças do que vivi ainda me assombram.
— Preciso ir ao banheiro — falo no seu ouvido. — Já volto.
— Vou até o bar pegar uma bebida.
— Tudo bem.
Ando entre as pessoas na direção do banheiro, pelo caminho tento
achar Giada, mas ela desapareceu. Eu espero que não entre em problemas, já
está sumida por tempo demais.
Não me surpreendo ao encontrar um banheiro luxuoso, tudo neste lugar
exala elegância.
Uso o reservado e quando saio lavo as mãos e ajeito o meu cabelo.
Quando volto para a festa sigo para o bar, mas no meio do caminho sou
interceptada por um homem.
— Você é muito linda, vamos beber algo juntos? — Olho para sua mão
que segura o meu braço.
— Pode me soltar? — Começo a me sentir agitada.
— Calma, só quero dividir uma bebida com você e te conhecer um
pouco. — Ele se aproxima ainda mais.
Cenas do meu falecido marido vindo na minha direção com o seu olhar
furioso começam a piscar na minha frente. O aperto no meu braço me lembra
de Carmelo me arrastando pela casa antes de começar a me agredir. Começo
a sentir minhas mãos suando, o meu corpo estremece ao relembrar cada
momento de dor.
— Quero que me solte — peço com a voz instável.
— Adam, solte-a. — Uma voz potente soa nas minhas costas.
— Só a estou convidando para uma bebida.
— Se não percebeu ela não quer, se afaste imediatamente. — O homem
me olha com raiva, causando um estremecimento ao longo do meu corpo.
— Tudo bem com você? — Olho para o alto e encontro um dos
homens mais lindos que já pude ver.
Ele tem o cabelo castanho bem curto, com um estiloso topete, sua barba
é rala, os olhos são dourados e sua boca tem um tom rosado fascinante.
Tenho a estranha sensação de que já o vi antes, mas duvido que se já tivesse
conhecido esse homem pessoalmente me esqueceria dele.
— Agora estou bem, obrigada pela ajuda.
— Não precisa agradecer. — Seu olhar mapeia todo o meu rosto, ele
parece me analisar atentamente.
Um calor estranho me consome pela maneira que me encara, ele tem
um olhar tão cheio de conflitos, parece que, assim como eu, carrega uma dor
profunda. Sinto uma inesperada conexão com ele, é como se nós dois
dividíssemos um grande segredo.
— Com licença, mas está na hora da apresentação. — Uma mulher
elegante avisa ao se aproximar. — Vamos para o grande ato, senhor?
— Claro, Meghan — responde sem tirar os olhos de mim. — Preciso
trabalhar um pouco, mas eu queria te oferecer uma bebida mais tarde, ficaria
feliz se aceitasse.
Não sei exatamente o que responder, estou me sentindo confusa com a
sua presença.
— Se eu ainda estiver por aqui, tudo bem — respondo por impulso.
— Fique na festa, eu não vou demorar. — Ele pisca e se afasta.
Fico paralisada, o acompanhando com os olhos caminhar com
segurança na frente da mulher que veio chamá-lo.
Eu só posso estar louca em dar qualquer esperança a ele, certamente
esse homem não é da máfia e pode ser um risco para mim. Vou grudar no
meu primo, ao lado dele ninguém irá se aproximar.
Acabo me lembrando que Eros me espera, corro para o bar em busca da
sua segurança, ele também é uma pessoa que pode me proteger.
O encontro flertando com uma mulher, mas quando nota a minha
presença rapidamente foca a atenção em mim.
— Você demorou. — Seus olhos astutos me sondam.
— Tive que lidar com um idiota. — O rosto de Eros fica tenso.
— Ele passou dos limites? Apenas me diga quem te incomodou que eu
resolvo tudo. — A sua preocupação me deixa grata.
— Não foi nada demais, um rapaz me ajudou a afastá-lo.
— Rapaz? — questiona erguendo uma sobrancelha, mas não tenho
tempo de respondê-lo, pois a nossa atenção é desviada quando anunciam a
presença do anfitrião da noite no palco.
Quando ele sobe no palco, o meu queixo despenca. Acompanho atônica
o homem que acabei de conversar sorrindo e saudando os convidados. Para
minha completa surpresa descubro que estive há pouco segundos na frente do
poderoso e belo príncipe de Vichi.
Agora entendo a sensação de familiaridade, ele mudou desde que vi
suas fotos, agora é um homem mais maduro e extremamente sensual.
Tenho uma bebida marcada com um príncipe e, sinceramente, não vou
comparecer. Somos de mundos opostos, fora, que me assusta gostar tanto de
olhá-lo, esse homem é perigoso, tenho que me manter longe.
A primeira parte do meu plano está correndo bem, a festa é um sucesso,
todos os convidados estão aproveitando o luxo que fiz questão de oferecer.
Para a noite ser um completo sucesso preciso apenas que o lançamento do
jogo seja um fenômeno de vendas na internet.
Meus olhos são atraídos para uma cena que me faz ficar atento. Adam,
filho de um influente empresário do setor da construção civil, está falando
com uma mulher.
Poderia ser um encontro comum se a garota estivesse gostando da sua
companhia. Sua postura é tensa, claramente não está confortável com o toque
dele no seu braço.
Por que certos homens não aprendem que para falar com uma mulher
não existe necessidade de tocá-las?
— Quero que me solte. — Ouço-a pedir com a voz nervosa.
— Adam, solte-a — ordeno tentando não perder a paciência.
Tenho negócios com a família dele, mas acho Adam um merda. Ele é o
típico cara riquinho, que acha que por ter dinheiro todos devem lamber os
seus pés.
Apesar de viver do dinheiro de pessoas como ele, não tenho paciência
com suas atitudes egoístas. Sou um príncipe, tenho mais dinheiro do que
posso gastar, ainda que eu viva mil anos, no entanto, eu não uso do meu
status para ser melhor do que ninguém.
— Só a estou convidando para uma bebida — responde com sua
costumeira arrogância.
— Se não percebeu ela não quer, se afaste imediatamente. — Ele a
encara raivoso, mas sabendo bem com quem está lidando, se afasta frustrado.
— Tudo bem com você? — Ela levanta o rosto e me encara.
A primeira coisa que me chama atenção é o medo no seu olhar, Adam a
assustou e eu vou querer saber o que o bastardo falou para que o temesse
tanto.
Já no segundo momento noto o quanto é bonita. Ela tem um longo
cabelo castanho, seus olhos é uma mistura complexa entre o verde e o azul.
Já a sua boca tem os lábios fartos, pintados de vermelho.
Porra! Ela é muito bonita, mas é a tristeza nos seus olhos que me
prendem. Existe um sofrimento grande neles, sei disso porque quando me
olho no espelho vejo essa mesma dor.
Saber que ela carrega um sofrimento me deixa curioso para conhecê-la
mais, não sei explicar o porquê desejo descobrir o que a atormenta, só sinto
que preciso entender um pouco do que se passa com essa enigmática mulher.
— Agora eu estou bem, obrigada pela ajuda.
— Não precisa agradecer — admiro cada parte do seu rosto, segurando
a vontade de tocar a sua face.
— Com licença, mas está na hora da apresentação. — Meghan aparece
em um péssimo momento. — Vamos para o grande ato, senhor?
— Claro, Meghan — respondo ainda intrigado pela mulher a minha
frente. — Preciso trabalhar um pouco, mas eu queria te oferecer uma bebida
mais tarde, ficaria feliz se aceitasse.
Não posso deixar de conversar com ela, preciso entender o que existe
nela que me fascina e instiga tanto.
— Se eu ainda estiver por aqui tudo bem. — Ela é evasiva na resposta,
porém noto que também ficou mexida com o nosso encontro.
— Fique na festa, eu não vou demorar. — Dou uma piscadinha e me
afasto — Mande alguém ficar de olho nela, Meghan, quando eu acabar minha
apresentação quero conversar com a senhorita.
— Certo, ela não fugirá do meu radar.
Aceno para a minha secretária e subo no palco ainda com a bela mulher
que encontrei na minha mente. Não sei explicar exatamente o que acabou de
acontecer, mas ela despertou em mim um fascínio inusitado.
Talvez tenha sido aquele olhar triste, ou a forma vulnerável com que
me encarou. De verdade, é difícil explicar, só senti vontade de protegê-la
quando a vi nervosa com a abordagem deselegante do Adam.
Bem... em breve eu saberei mais dela, agora eu preciso me concentrar e
fazer meu show para a nata da alta sociedade americana, garantindo assim
que os meus investidores fiquem felizes com o resultado de mais um produto.
Saúdo o meu público e começo a falar sobre o novo jogo, que eu
mesmo ajudei a desenvolver, juntamente a minha equipe de criação. Sou uma
pessoa apaixonada por tudo do universo tecnológico, criei meu próprio jogo
aos onze anos de idade.
Claro que não era algo vendável, mas foi o suficiente para que eu
buscasse mais informações e criasse outros projetos. Tudo o que aprendi até
hoje foi de maneira autodidata, simplesmente amo os desafios que encontro
no ramo tecnológico.
Inicio com tranquilidade a apresentação do lançamento, no telão
aparece parte de como o jogo funciona. Explico todos os detalhes para o
público-alvo que queremos atingir. Enquanto falo busco pela misteriosa
mulher que me encantou, tento encontrá-la, no entanto, não obtenho sucesso.
Finalizo a minha fala avisando que neste momento as vendas serão
abertas e que a Cassel Company Eletronic espera que mais um sucesso esteja
nascendo.
Os aplausos se espalham pelo salão, aceno para todos antes de sair do
palco. Entrego o microfone para uma das assistentes da equipe organizadora
do evento, em seguida busco por Meghan.
— Onde ela está? — pergunto de uma vez.
— Acho que temos um problema. — Ergo uma sobrancelha indicando
que termine de falar. — Ela está na companhia do senhor Cirrincione.
Agora eu estou muito surpreso, é estranho pensar nela com Eros. Uma
garota que aparenta ser tão vulnerável não me parece apropriada para ficar
com um homem do estilo dele.
— Em que lugar eles estão? — Meghan ergue o queixo para perto do
bar.
Caminho determinado na direção que me indicou, ao longo do meu
destino sou interceptado por algumas pessoas que querem me parabenizar
pelo lançamento.
Converso com elas escondendo a minha falta de interesse no que falam,
neste momento preciso apenas descobrir o motivo de Eros estar com a
misteriosa mulher de olhos tristes.
Quando consigo me desvencilhar das parabenizações, me aproximo do
bar, localizando-a imediatamente. Para minha surpresa não só Eros, como seu
chefe estão ao redor dela.
Isso não está me cheirando bem, acho que me interessei por alguém
fora do meu alcance.
— Aí está o grande figurão da noite. — Nero me estende a mão. —
Parabéns pela apresentação, será mais um sucesso, você é foda.
— Obrigado. — Olho por sobre o ombro dele e encaro o motivo de
estar aqui. — Eu espero que seja tão bem recebido pelo mercado como nosso
último jogo.
— Não tenho dúvidas de que será.
— Meus parabéns, príncipe, você é bom em cima de um palco, fica até
um pouco bonito. — Eros como sempre é sarcástico.
Não sou muito fã dele, prefiro Nero, é mais centrado e muito direto no
que deseja. Eros é um bon-vivant, não leva muito a vida a sério, tudo para ele
é motivo de piada.
— Está me achando bonito? — eu o provoco.
— Acho que foram as luzes que me enganaram, olhando de perto não é
a mesma coisa. — Sorrio, ele sabe se livrar bem de uma enrascada.
— Beba algo com a gente. Sei que o seu tempo hoje está requisitado,
mas uns minutos de conversa conosco não te fará mal. — Nero chama a
minha atenção.
— Realmente estou com o tempo corrido, até queria beber algo com
você, o problema é que tenho compromisso. — Meus olhos encontram a bela
mulher que nos observa. — Marquei um drinque com a senhorita ali. —
Inclino a cabeça para observá-la melhor.
Os dois homens seguem a direção do meu olhar, na mesma hora eles
ficam tensos.
— Como assim marcou algo com a minha prima? Você a conhece? —
Prima? Eu ouvi bem o que ele falou?
— Ela é sua prima? — pergunto ainda sem acreditar na informação.
— É irmã do Paolo. — Puta que pariu!
Há quase cinco anos eu não me sentia tão interessado em alguém, como
fiquei por essa garota, mas a vida tinha que me foder gostoso ao colocar no
meu caminho uma pessoa da mais alta hierarquia da máfia romana.
— Que surpresa. — Não sei exatamente o que comentar neste
momento.
— Como a conheceu? — Eros já não sorri, tanto ele quanto seu Capo
estão no modo proteção.
Esses homens da máfia são sempre um saco, tratam as mulheres como
se elas fossem suas propriedades.
Patéticos!
— Um idiota estava a importunando, eu o afastei e pedi que ela bebesse
algo comigo depois da apresentação.
— Lamento, príncipe, mas ela não está disponível. — Eros me fita
intensamente.
Ele também a quer? Interessante, no geral esse babaca sai com uma
mulher por noite e nenhuma delas faz parte do seu núcleo.
— É só uma bebida, Nero, você me conhece bem, só vamos conversar.
— Ele me analisa com a frieza que lhe é característica.
— Ela é uma viúva, veio ficar comigo para sair da rotina e tentar
superar a merda de marido que teve, eu não quero homens perto dela.
— Sou o último homem desse mundo que posso causar algum mal à
sua prima.
— Não penso da mesma maneira. — Nos encaramos intensamente.
— Com licença. — Uma voz suave nos interrompe. — Nero, ele me
ajudou em uma situação complicada, prometi que se estivesse ainda na festa
tomaríamos uma bebida juntos, não vejo problemas, você está aqui. —
Encaro o seu rosto, ela parece ainda mais bonita do que no nosso último
encontro.
— Estarei de olho, não a toque em hipótese nenhuma. — Seguro a
vontade de revirar os olhos com o seu pedido.
— Qual é? Vai deixá-la ficar com ele? — Eros olha o amigo com fúria.
— Que porra de ficar? Está louco, Eros? — Nero olha para a prima. —
Se quiser beber algo com Thomas vá, mas eu estou atento em vocês.
Os olhos dela encontram os meus, vejo certa indecisão passar por eles,
parece que não está muito animada em ficar um tempo comigo, no entanto ela
inspira fundo e claramente decidindo o que vai fazer.
— Eu não vou demorar. — Dando um passo à frente se aproxima de
mim.
Não posso tocá-la, preciso manter isso em mente, um problema com
Nero não está nos meus planos esta noite.
— Por favor. — Faço um gesto para que vá à frente.
— Idiota. — Ouço Eros blasfemar, mas o ignoro, tenho assuntos mais
interessantes a tratar.
Guio-a até o ponto oposto do imenso bar onde o local está com um
movimento mais calmo. Bem no final encontro algumas banquetas vazias, a
festa está no seu ápice e a maioria das pessoas optou por ir dançar ou
conversar pelo salão.
— O que vai querer beber?
— Um Martini. — Ajudo-a a se sentar.
Não consigo deixar de captar o seu cheiro suave, não dá para identificar
a fragrância, mas é algo tão delicado quanto ela.
Acomodo-me ao seu lado e peço nossas bebidas, prontamente o barman
me atende, por hoje sou o seu chefe, ele necessita largar qualquer cliente para
estar a minha disposição.
— Como ainda não fomos apresentados oficialmente, sou Thomas
Cassel, é um prazer te conhecer. — Ela me encara e corre a língua pelos
lábios, demonstrando mais uma vez a sua insegurança.
— Sou Fiorella Torcasio.
— Irmã do Paolo.
— Exato. — Um discreto sorriso nasce nos seus lábios. — Paolo é um
pouco famoso, ele é amigo do seu irmão.
— Sei bem disso. — Nossas bebidas chegam. — Um brinde ao nosso
encontro inusitado. — Tocamos nossos copos.
— Obrigada por me ajudar com aquele rapaz, ele estava me
importunando.
— Percebi. — Experimento o meu uísque. — Adam é um babaca, acha
que pode fazer o que deseja a qualquer momento, o pai ajudou a construir
essa sua ilusão, infelizmente.
— Homens poderosos acreditam que conseguem ter tudo. — Ela corre
a ponta da unha na borda da sua taça. — E na verdade, eles podem. —
Quando me encara vejo uma dor tão profunda, que preciso me segurar para
não a tocar.
— Não podem — afirmo com segurança. — Eles até alcançam alguns
dos seus desejos, mas com o destino não se pode lutar, é ele que controla
tudo, não importa sua classe social. — Fiorella abre a boca, parecendo
surpresa com as minhas palavras. — Nero disse que perdeu seu marido, meus
sentimentos.
— Não sinto nada por sua partida, eu me libertei — sua resposta
imediata me deixa em sinal de alerta.
— Fico feliz que tenha se libertado de quem te fazia mal, às vezes a
morte é algo bom. — Olho para o além, pensando nas boas pessoas que
partem inesperadamente.
— Concordo com você. — Fiorella prova o Martini. — Nunca desejei a
morte de alguém como desejava do meu marido.
Sua fala me deixa intrigado, quero perguntar o que ele fez para que ela
tenha tanto rancor, mas não posso ir além.
— O universo te ouviu e você agora está livre. — Nos encaramos. —
Veio passar férias na cidade?
— Ainda não sei se serão férias, eu não tenho prazo para voltar, Paolo
me deixou livre para tentar me recompor dos dias difíceis do casamento.
A sua resposta me anima, ela pode passar um tempo na cidade, isso
significa que podemos nos ver mais vezes.
Imediatamente a realidade me acerta, Fiorella é uma mulher da máfia,
ela está destinada às tradições do seu clã.
Caralho! Eu sou muito azarado mesmo, quando sinto algo diferente por
uma mulher, ela é proibida.
Penso no que posso fazer, ela tem algo que me fascina, quero conhecê-
la um pouco mais, apesar de saber que somos de mundos opostos.
Há algum tempo experimentei a pior face da vida e naquele momento
entendi que eu não posso perder uma oportunidade. Preciso reencontrá-la,
meu problema será seu primo e as tradições que a cercam.
O que posso fazer? Preciso encontrar uma solução para me aproximar.
— Queria te encontrar novamente, você pode colocar o seu número no
meu celular? — Sou direto, não vou perder tempo.
— Não posso te encontrar, Nero não permitiria.
— Esqueça seu primo, eu posso lidar com ele. — Pego meu celular e
destravo a tela. — Só quero te conhecer, acho que temos algumas coisas em
comum, podemos ser amigos.
Que mentira Thomas! Você não quer ser amigo dela, mas uma boa
amizade pode ser o estopim para algo a mais. Mesmo ela sendo da Cosa
Nostra, não é mais uma menina inocente, podemos nos entender sem
comprometer o seu destino, sou um homem discreto. Jamais a prejudicaria,
mas eu não posso deixar de me aproximar, Fiorella me encantou como há
muito tempo não me encantava por uma mulher.
— Não sei se é uma boa ideia. — Ela morde o lábio inferior atraindo
meu olhar para a sua boca sedutora.
— Faço parte do time dos meninos bons, se eu fosse uma pessoa
indesejável você não estaria conversando agora comigo, Nero sabe da minha
índole, posso te apresentar Nova Iorque pelos melhores ângulos, com a
segurança que necessita. — Ela me lança um discreto sorriso.
— Você é bom com as palavras.
— Tive excelentes professores em diplomacia — digo radiante quando
ela começa a digitar o número do seu celular.
— Podemos nos falar por telefone, mas um encontro não vai acontecer,
eu preciso obedecer a Nero. — Aperto os lábios com raiva, odeio a
submissão que as mulheres da máfia precisam seguir.
— Apenas deixe comigo nosso contato, eu me dou bem com seu primo,
você vai se surpreender com o que posso conseguir. — Sorrio para ela, já
pensando na pressão que farei em Nero.
Ele vai me deixar vê-la de qualquer maneira, eu preciso de um tempo
com Fiorella e ninguém vai me impedir disso. Jogarei sujo se for preciso, só
me importo em conseguir um novo encontro.
Estico as minhas pernas no sofá e penso sobre a noite anterior. Ainda
estou um pouco perdida sobre o que aconteceu, no primeiro momento tive
certeza de que não queria tomar uma bebida com o príncipe, mas aí o vi
conversando com o meu primo, empenhado em conversar comigo, naquele
momento eu percebi que também queria esse encontro.
Não sei exatamente o que ocorreu comigo, apenas senti um desejo
inusitado em dividir um momento sozinha com Thomas. O mais assustador
foi gostar da sua companhia.
Ele é tão leve, tranquilo, não senti nenhum medo enquanto
conversávamos, pelo contrário, se dependesse de mim ainda estaria ouvindo
sua voz profunda.
O que está acontecendo comigo?
Ouço o meu celular começar a vibrar na mesa de centro, estico a mão e
pego o aparelho. Sinto meu coração sacudir quando vejo um número
desconhecido.
Será que é Thomas ligando? Não pode ser, certamente não ligaria tão
rápido, homens como ele têm um ego imenso.
— Alô — digo me preparando para ouvir qualquer pessoa, menos o
príncipe.
— Bom dia.
Meu Deus, é ele!
Reconheceria essa voz em qualquer lugar, ao longo da madrugada
relembrei inúmeras vezes a nossa conversa e sua voz foi algo que eu fiz
questão de gravar.
— Bom dia. — Não sei o que falar, nunca conversei com homens
estranhos, estou completamente insegura neste momento. — É... — Gaguejo.
— Por acaso é o Thomas? — Aperto os olhos me sentindo uma idiota.
— Sou eu sim. — Ele solta uma risada baixa. — Espero não tê-la
acordado, ainda é cedo, mas eu queria falar com você antes de entrar em uma
reunião.
Por que minhas mãos estão suando?
— Eu não dormi muito. — Foi difícil pegar no sono e quando
finalmente adormeci, eu sonhei o tempo todo com ele.
— Também não dormi bem, minha mente estava acelerada demais por
conta da noite passada.
— Eu imagino como deve ter sido tenso para você, toda a agitação com
o lançamento do seu jogo te deixou ansioso.
— Não foi exatamente o jogo que me deixou acelerado. — Fico quieta,
não sei o que responder. — O que você vai fazer hoje? — Sua mudança de
assunto me desestabiliza.
— Nada, a não ser que minha prima tenha alguma programação, mas
ela ainda está dormindo.
— Salve meu número e envie uma mensagem caso esteja livre, hoje eu
vou ter um dia conturbado, estarei em várias reuniões, mas no final da tarde
falarei com o seu primo, quero te levar para jantar, isso se você quiser estar
comigo.
Rapidamente me sento e sinto que a qualquer momento vou ter um
infarto.
Jantar com ele? Sozinha? Não sei se consigo, mesmo sabendo que
Thomas é um homem íntegro, ficar a sós com ele é mais do que posso fazer.
Sinto minha mão tremer, estou ansiosa e sem saber como negar seu
convite sem ofendê-lo ou demonstrar que sou uma mulher limitada.
— Tudo bem, eu te aviso se eu tiver algo para fazer. — Dispensá-lo por
mensagem vai ser mais fácil.
— Eu espero que não tenha. — Sorrio da sua fala e me assusto por
estar feliz em saber que ele deseja tanto me encontrar. — Já vou, estou em
uma ligação importante. — Ouço-o falar para alguém que o chama. —
Desculpa, a minha reunião vai começar.
— Não tem problema, prometo te mandar mensagem mais tarde.
— Caso saia com outra pessoa, marcamos para amanhã, não quero
demorar para te reencontrar.
Por que ele quer tanto me ver? Estou ficando desconfiada de toda essa
pressa.
— Espero não ser indelicada, mas estou me perguntando o motivo de
tanta ansiedade para um encontro — decido ser sincera. — Você é um
príncipe, deve ter muitas opções de companhia para um jantar.
— Realmente tenho, não vou mentir, mas eu não quero jantar com
ninguém além de você. — Ele é direto. — Há algum tempo Fiorella, eu
aprendi de uma forma muito dura que não devemos deixar para depois o que
podemos fazer agora. Quero te rever o quanto antes e se também
compartilhar do meu desejo, espero que nosso encontro aconteça mais tarde.
— Entendi. — Não sei muito o que dizer, ele me pegou de surpresa
com a sua declaração.
— Infelizmente preciso desligar, aguardo o seu contato.
— Boa reunião.
— Obrigado, até mais. — Ele encerra a ligação e me deixa pensativa.
Um lado meu quer se encontrar com ele, o outro está temeroso de ficar
sozinha na sua presença.
O que eu vou fazer?
— Que cara é essa? — Giada pergunta ao entrar na sala e se sentar
perto de mim.
— Aconteceu algo que me deixou confusa.
— Foi o príncipe?
— Ele acabou de ligar, quer jantar comigo. — Minha prima arregala os
olhos.
Ontem antes de dormir contei para ela todos os detalhes do meu
encontro com Thomas.
— Quando vai ser isso?
— Hoje à noite, se Nero deixar e eu quiser ir.
— Se meu irmão colocar algum empecilho nesse encontro mato ele.
— Thomas não é da máfia.
— Foda-se, ele é um príncipe lindo, rico, famoso, poderoso, a máfia
tem que abrir uma exceção para ele.
— Não quero saber do status dele, não me importo com nada disso —
digo com certa irritação, em momento nenhum pensei nele por causa do seu
título. — Nem quero ir nesse jantar, não se isso significar ficar sozinha sem
ter Nero por perto.
— Você vai nesse jantar sim e meu irmão vai deixar, não pode perder
essa oportunidade, Thomas é o que precisa, uma aventura não te fará mal,
precisa viver um pouco.
— A minha mãe me mataria se eu saísse com ele, isso vai acabar com a
minha reputação. — Giada revira os olhos.
— Até onde sei você não quer se casar, com a reputação arruinada
ninguém vai te querer, aí você consegue o que tanto deseja e de quebra tem a
oportunidade de ficar com aquele monumento. O homem é perfeito em tudo,
o sonho de consumo de qualquer mulher, se ele me chama para um jantar, já
estava me arrumando.
— Giada, você pode entrar em problemas, ontem sumiu por muito
tempo, Nero estava perguntando por você e eu inventando desculpas. Já te
alertei que não quero confusão, vim passar um tempo aqui para descansar.
— Como você é certinha. — Ela levanta e faz uma careta ao colocar a
mão na testa. — Eu só fui beijar, não transei com ninguém, sou pura, como
todos esperam de mim, mas beijar eu posso, ninguém vai descobrir.
— Uma hora podem descobrir e você sabe das consequências.
— Eu vou ser obrigada a me casar com um homem que não amo, então
tenho o direito de antes desse destino de merda acontecer, beijar quem eu
quiser.
— Você não tem juízo.
— Assim como você é boba em não querer jantar com o príncipe. —
Fico calada, não quero brigar com ela. — Vou atrás de um analgésico, ontem
bebi demais.
Ela se afasta e eu fico pensativa, realmente sou boba, o problema é que
não sei o que fazer perto dos homens. Quando eu estava com o falecido era
ele quem ditava o que eu tinha de fazer, raramente podia falar quando
estávamos em um evento. Em casa ele só trocava algumas palavras comigo
quando queria transar, fora isso não nos falávamos.
Ontem foi a primeira vez que conversei com um homem estranho e
consegui fazer isso porque já tinha bebido, totalmente sóbria seria
impossível.
Que Nero não permita nosso encontro, apesar de querer revê-lo, o meu
medo está falando mais alto.
Realmente sou uma boba.
Caminho para a entrada lateral da boate Glory, essa é uma das casas
noturnas mais badalas de Nova Iorque, a máfia italiana tradicionalmente
comanda a noite nas cidades que domina e não é diferente aqui. Boa parte dos
estabelecimentos bem renomados do entretenimento é posse deles, isso inclui
também os imóveis.
— Nero me espera — digo ao segurança imenso que protege a porta.
— Pode entrar, senhor. — O homem me dá passagem.
Meus dois seguranças me seguem de perto, infelizmente não posso me
livrar deles. Aprendi da pior maneira que devo mantê-los sempre na minha
cola.
O barulho de mesas e copos me alcança, a esta hora estão preparando a
casa para que possa abrir. Não demora muito vejo Nero sentado no bar,
acompanhado de Eros e Lorenzo, o último é o executor da máfia, o homem
tem tanto sangue nas mãos que nem toda a água do mundo seria capaz de
limpá-las.
Lidar com a máfia italiana sempre me desagrada, eles não são melhores
do que Raul Diaz, o falecido líder do maior Cartel mexicano, que destruiu a
vida de Clover e todos nós que ficamos sem ela.
— O príncipe chegou. — Eros me fita com seu olhar debochado.
Como é insuportável, sorte a dele que evito conflitos, se fosse meu
irmão, ele certamente teria muitos problemas.
— Boa noite, senhores. — Cumprimento a todos.
— Sente-se aí, Thomas, vamos beber para comemorar o dinheiro que
você está me fazendo ganhar — Nero aponta para um banco ao lado de
Lorenzo.
— Acho que você vai ganhar mais dinheiro do que possa imaginar —
digo ao me sentar.
— É por isso que trabalhamos juntos — ele diz ao chamar o barman. —
Eu invisto e você triplica a minha grana.
— O mesmo que eles estão bebendo — peço ao rapaz. — Acho que
dessa vez será mais que o triplo. — Eros assovia.
— Você é literalmente um menino de ouro — comenta exibindo seu
sorriso sarcástico.
— Eu me esforço para ser sempre um sucesso. — A minha bebida
chega.
— Sabe o que mais admiro em você? — Lorenzo me encara com seus
nebulosos olhos negros. Faço um sinal de negativo e espero por sua fala. —
Podia ficar de braços cruzados, usufruindo das mordomias do seu reino, só
que não, você quis arriscar e é bom no que faz. — Ele bate nas minhas costas.
O seu elogio eleva meu ego, Lorenzo é um homem reservado, de
poucas palavras, receber esse tipo de comentário dele é gratificante.
— Obrigado, eu gosto de ter minha própria vida e conquistar meus
próprios objetivos.
— Faz bem, um homem de verdade deve ter suas metas e lutar por elas.
Concordo com Lorenzo, não existe nada mais gratificante do que você
conseguir ter suas próprias conquistas.
Entramos em uma conversa fútil, os meninos comentam sobre
problemas que estão tendo com alguns associados. Essas são as pessoas que
prestam serviço para a máfia.
Eu não faço parte desse grupo, é a máfia que depende de mim, então
não necessito prestar satisfação a ninguém.
— Preciso atender essa ligação. — Lorenzo avisa e se afasta.
— Agora que estamos só nós três, diga o que quer falar comigo. —
Nero balança o copo fazendo o gelo se mexer.
— Prefiro ter essa conversa em privado. — Eros me encara com
desgosto.
— Segredos, príncipe?
— Pare de me provocar — alerto.
— Vai fazer o que se eu não parar? Chamar a guarda real?
— Basta, Eros! — seu chefe o alerta. — Thomas, ele é meu
Consigliere, dividimos qualquer tipo de assunto.
É insuportável toda essa hierarquia da máfia, mas entendo o ponto dele,
Stuart também sabe de toda a minha vida. Tudo bem que ainda não comentei
sobre o meu encantamento por Fiorella, mas não vou demorar a contar.
— Quero jantar com sua prima hoje.
— É o quê? — Eros me encara parecendo não acreditar no que pedi. —
Você está falando sério?
— Quando não falo sério? — questiono Eros. — Eu não sou o bobo da
corte como você. — Ouço seu rosnado, mas a risada de Nero quebra a tensão.
— Vocês se odeiam mesmo? — pergunta com descontração. — Parem
de brigar. — Ele apoia o cotovelo sobre o balcão. — Fiorella é uma mulher
da máfia, nossas mulheres não têm encontros, elas são destinadas a apenas
seus pares e você não é do nosso universo.
Inspiro fundo, não posso me descontrolar agora, preciso de paciência
para lidar com a hipocrisia do universo dele.
— É só um jantar, não vou tocá-la.
— Você quer tocar sim, não minta para mim.
Penso no que responder, ele está certo, quero tocar cada parte dela,
estou completamente fascinado por sua figura frágil.
— Sei como funciona seu mundo, mas eu dou a minha palavra que será
apenas um jantar.
— Fiorella teve um marido fodido, que abusou dela física e
psicologicamente, Paolo o matou e agora ela veio tentar se reencontrar aqui.
— Fico calado, não esperava ouvir algo parecido, jamais imaginei que ela
tivesse tido um casamento tão terrível. — Eu não vou deixar ninguém se
aproximar, principalmente quando esse alguém quer comer minha prima. As
mulheres do meu mundo não são como as do seu, elas são protegidas, não
andam de uma cama para outra.
Não o respondo de imediato, premedito as minhas palavras com calma.
Sei que estou lidando com o chefe da máfia nova-iorquina, isso significa que
devo saber onde pisar, um embate com ele não seria bom para nenhum de
nós.
— Vocês protegem tanto que elas são agredidas. — Opto por apertar a
ferida.
Nero fecha a expressão, ele me encara com raiva. Falei demais, mas
foda-se, podemos brigar no mesmo nível.
— Cuidado, você pode ser um príncipe, mas eu sou o caralho do Capo
desta merda de cidade.
— Cidade essa que não é sua. — Nos encaramos com raiva. — Não
vou mentir que gostei da sua prima, ela tem algo especial, quero conhecê-la,
jamais a desrespeitarei.
— Esqueça esse assunto, Fiorella não irá se encontrar com você.
— Posso conversar com Paolo, se ele me autorizar não poderá fazer
nada.
— Meu primo não autorizaria, ele é ainda mais protetor que eu.
— Porra, Nero! — Bato no balcão com raiva. — Sou o último homem
nesse mundo que a machucaria, sua prima é uma viúva, ela pode tomar as
próprias decisões, não é uma virgem inocente.
— Príncipe, cale o caralho da sua boca e vá embora. — Eros me encara
com raiva.
— Vocês são patéticos com essas tradições ridículas, o que tem de mal
nos encontrarmos? Eu fornecerei a segurança que ela precisa, a tratarei bem,
ela merece ter escolha, parem de tratar suas mulheres como um objeto, elas
precisam ter vozes. Nem todas as tradições precisam ser seguidas à risca,
olhem para mim. — Abro os braços. — Sou a porra de um príncipe, tenho
um reino me esperando, mas estou aqui, trabalhando incansavelmente para
ter o meu próprio sucesso, por que uma pessoa da máfia não pode sair
comigo?
— Porque temos nosso código, agora vá embora, Fiorella é uma garota
delicada, não precisa da sua atenção. — Eros se ergue e me encara furioso.
— Mas você quer ter a atenção dela — afirmo.
— Isso eu já tenho — diz ao erguer um canto da boca em um sorriso
torto.
— Parem — Nero ordena. — Seus argumentos foram bons, Thomas.
— Ele aperta os olhos ao me fitar. — Gosto da ideia da máfia e a realeza
juntos.
— Como é? Vai deixar esse babaca se aproximar da Fiorella? — o
amigo o questiona quase espumando de raiva.
— Eu não vou deixar — anuncia sem tirar os olhos dos meus. — Quem
vai decidir isso é a própria Fiorella. — Relaxo todo o meu corpo com sua
afirmação. — Se ela quiser esse jantar tudo bem, não vou impedir, mas ele
acontecerá no meu apartamento, com o meu pessoal observando os dois.
— O local não importa, só quero revê-la.
— Falarei com ela quando chegar em casa, eu ligo avisando a resposta.
— Ela tem o meu número, peça para me avisar.
— Eu disse que ligo. — Não o desafio mais, consegui o que queria e
estou satisfeito.
— Tudo bem, aguardo o seu contato. — Olho para Eros e não me
seguro. — Até mais, foi um prazer te reencontrar.
— Vá se foder, seu merda! — esbraveja, mas não me abalo, apenas
sorrio e me afasto.
Enquanto caminho para a saída pego o celular e começo a digitar uma
mensagem para Fiorella.
Nosso encontro só depende da sua aceitação, Nero estará com você
em breve.
Guardo o aparelho feliz, ansioso para que aceite o nosso jantar e eu
possa de novo encarar pessoalmente seu sorriso doce e o seu olhar triste, que
me faz querer mais do que tudo protegê-la de todo mal.
Releio a mensagem do Thomas e novamente meu coração acelera.
Depende apenas de mim ter a oportunidade de revê-lo.
Eu queria ser um pouco mais corajosa, bloquear todas minhas
lembranças e ser uma mulher comum, assim como Giada. Se ela estivesse no
meu lugar, já estaria se arrumando para o jantar.
— Fiorella. — Ouço a minha prima Serena bater à porta enquanto me
chama.
— Pode entrar. — Imediatamente vejo sua figura surgir.
Serena é bem diferente de Giada em todos os sentidos, ela tem cabelo
mais claro e olhos cor de mel e seu temperamento é tranquilo.
— Nero chegou e está te chamando, quer falar algo com você. — Sinto
meu corpo esquentar.
— Ele disse o que quer? — pergunto ansiosa, estou temerosa como ele
pode reagir em saber que estou mantendo contato com Thomas.
Na hora que ele pediu meu número não pensei nas consequências, agi
por impulso e agora eu posso me dar mal.
— Claro que não, desde quando aquele lá diz algo? — Ela revira os
olhos. — Mas não é algo ruim, ele está calmo. — O alívio me domina,
Serena conhece bem o irmão.
Ela vai para o seu quarto, enquanto eu sigo para o andar de baixo em
busca do meu primo.
Encontro Nero na sala falando algo com o seu segurança, ele me encara
com a expressão neutra, não consigo identificar se estou em apuros.
Ainda assim não consigo controlar o meu nervosismo em ser
repreendida por dar meu telefone ao príncipe.
— Sente-se, Ella, precisamos conversar — ordena.
Sua voz fria faz minhas mãos suarem, estou acostumada com os
arroubos do meu irmão, já com Nero tudo é novo e incerto.
— Aconteceu alguma coisa? — não me seguro e pergunto.
— Digamos que aconteceu algo... — Ele faz uma pausa angustiante
antes de terminar sua fala. — Inusitado.
— Humm — resmungo sem jeito.
— Thomas veio conversar comigo hoje, o interessante foi que o
assunto envolvia você. — Não gosto da maneira calma como está falando. —
Pelo jeito deixou uma boa impressão no príncipe. — Entrelaço meus dedos
agitada. — Por que deu o seu número de telefone a ele? Sabe muito bem que
não pode ter contato com outros homens que não sejam da máfia. — Agora
sua voz sai dura.
— Nero, eu... — Molho os lábios que repentinamente ficaram secos. —
Na hora não pensei direito, estávamos conversando, ele disse que podíamos
ser amigos, eu apenas fui impulsiva, desculpa, nunca mais farei isso.
— Por que foi impulsiva? — Encaro meu primo, tentando entender o
motivo dessa sua pergunta. — Seja sincera, não gosto de mentiras.
Inspiro fundo, buscando as palavras certas para respondê-lo
apropriadamente.
— Sinceramente não sei explicar, por algum motivo não senti medo
dele, Thomas me inspirou confiança. Ele é calmo, gentil e diferente de todos
os homens que convivo, foi bom conversar com um estranho fora do meu
mundo, gostei do tempo que estive ao seu lado e acabei não pensando direito
nas consequências quando pediu meu número.
Meu primo fica calado enquanto coça o queixo e me observa. Por não
pensar nos meus atos posso ter que voltar para casa.
— O príncipe quer um jantar com você.
— Jantar? — O meu coração acelera. — Acho que não é uma boa
ideia.
— Não quer reencontrá-lo? — pergunta ao erguer uma sobrancelha.
— Uma parte minha quer — decido ser sincera. — Mas a outra diz que
não devo vê-lo.
— E qual das duas partes está ganhando? — Os seus questionamentos
estão estranhos demais. — Eu disse a Thomas que se você quisesse ir ao
jantar eu não me oporia, mas se essa não for sua vontade, eu o aviso que não
é mais para entrar em contato.
Abro a boca surpresa, não esperava que ele fosse concordar em permitir
esse jantar.
— Vai me deixar jantar sozinha com um homem fora da máfia? — Ele
ergue o canto da boca.
— Não, pequena, eu vou deixar você jantar sob vigilância e com um
príncipe, ele não é um homem qualquer.
— Mas... — Fico sem palavras.
— Se quiser esse encontro teremos que fechar um acordo agora. Tudo
será feito entre nós, ninguém pode saber, eu vou abrir uma exceção porque
conheço Thomas e você precisa se livrar do passado. — Nero me fita
seriamente. — Ele te quer Fiorella, sei bem quando um homem deseja uma
mulher. Por mais que eu siga as tradições da máfia, não concordo com a
maioria delas, por isso vou deixar você resolver o que fará.
Fico estática, assimilando tudo o que acabei de ouvir. Posso rever
Thomas se eu desejar, assim como posso estar de maneira mais íntima com
ele. Nero acaba de me dar carta-branca para ter um caso com o príncipe de
Vichi.
Solto uma risada nervosa, tudo o que está acontecendo é um pouco
surreal em todos os sentidos dessa situação.
— Do que está rindo? — sua pergunta tem um tom de desgostoso.
— Desculpa, estou um pouco em choque ao receber sua autorização
para ser a amante do príncipe.
— Não será amante, que loucura é essa? — questiona raivoso. — Você
só se envolverá com ele, desde que isso seja feito de maneira discreta, senão
nós dois estaremos fodidos com Paolo e seu clã.
— Vai se arriscar assim por mim?
— Eu me arrisco todos os dias quando saio de casa, minha maior
preocupação nessa história é só a sua reputação, de resto não ligo. — Dá de
ombros. — Você é maior de idade, viúva e sabe bem o que esperar da vida.
Sem querer ofender, dentro do nosso mundo já perdeu o que importava, se
aventurar com ele não será um crime.
Passo a mão pelo cabelo, ainda perdida com sua oferta e seu
pensamento tão moderno para um Capo. Nero realmente me deixou sem chão
com o seu comportamento.
— Estou com medo de revê-lo — assumo. — Ele me faz sentir
estranha.
— Isso é bom. — Meu primo para a minha frente. — Sentir desejo faz
parte da vida, é justamente isso que está sentindo por ele, tesão. — Sinto meu
rosto ruborizar. — O jantar será no meu apartamento, já o alertei que não
abro mão disso, você pode chutar a bunda dele quando quiser.
— Quando foi que se transformou em alguém tão legal? — Nero sorri.
— Não sou o ranzinza do seu irmão.
— Estou vendo isso. — Levanto-me, já com a minha decisão tomada.
— Vou ao jantar, preciso enfrentar os meus medos.
— Certo. — Com um aceno se afasta e pega o celular. — Providencie
um bom jantar para Fiorella, às 21h ela estará te esperando no meu
apartamento, nada de atrasos e seja prudente, eu não quero que os meus
homens precisem cortar sua mão, seria bem fodido iniciar uma guerra com
Vichi. — Arregalo os olhos com sua ameaça. — Você sabe que não brinco,
apenas evite um conflito.
Nero não espera pela resposta dele, apenas encerra a ligação.
— Onde foi parar o homem tranquilo que estava falando comigo? —
pergunto ainda sob o efeito da ameaça.
— Está na sua frente, mas minha tranquilidade é para pessoas especiais
como você — responde ao apoiar a mão no meu ombro. — Agora vá se
arrumar, quando estiver pronta me avise, alguém irá te levar até o meu
apartamento.
— Tudo bem. — Antes de passar por ele, paro e o encaro. — Obrigada
pelo que está fazendo por mim.
— Você mais do que ninguém merece ser feliz.
Dou as costas ao meu primo e corro para o meu quarto, preciso estar
bonita, porque tenho um encontro com um lindo príncipe.
Pela milésima vez corro a mão pelo meu vestido, estou praticamente
tendo uma crise de ansiedade. Não sei por que concordei com essa loucura,
eu não devia estar aqui, mais uma vez fui impulsiva e agora estou com medo
do que está prestes a acontecer.
— O senhor Cassel está subindo. — Cassio, o segurança que está
responsável por mim avisa.
Quando minha mãe foi embora, Nero exigiu que os seguranças que
Paolo enviou também fossem, ele disse que o meu irmão estava o
desrespeitando ao não confiar nele para me proteger. Como todos os homens
da máfia têm problemas com orgulho, meu irmão entendeu que estava indo
além dos limites.
Foi bom não ter os meus seguranças me vigiando, se eles estivessem
comigo, certamente eu não estaria aqui.
Será que fiz certo em aceitar esse jantar? Nunca tive um encontro e,
quando tenho é com um membro da realeza.
O que exatamente eu tenho na cabeça?
Minha pergunta se perde quando o elevador privativo de Nero abre as
portas e revela Thomas em toda a sua gloriosa beleza e elegância,
acompanhado de dois seguranças.
Ele está com calça e camisa branca, um terno bege claro quebra a
hegemonia do branco. Seu cabelo está imaculadamente arrumado, os dois
primeiros botões da blusa estão abertos e o seu olhar intenso faz meu corpo
esquentar.
Só posso estar sonhando, nada disso é verdade, no mundo real Nero
não permitiria que eu me encontrasse com um homem fora da máfia, muito
menos, ele seria um príncipe.
— Você não sabe como fiquei feliz quando soube que aceitou jantar
comigo — diz assim que para a minha frente. — Queria muito te rever. —
Ele segura a minha mão e leva até os lábios. — Está ainda mais linda do que
ontem à noite.
Responde algo Fiorella.
Ordeno mentalmente, mas parece que perdi a capacidade de falar.
Estou nervosa demais, não só por toda a aflição que sinto por ter meu
primeiro encontro, mas também porque não sei o que fazer.
— Obrigada. — Consigo pronunciar algo.
— Não precisa ficar nervosa, está segura. — Thomas solta a minha
mão. — Nero já me explicou algumas coisas, sei como funciona seu mundo,
estamos aqui para conversar.
A gentileza no seu olhar me acalma, ao mesmo tempo que percebo seu
interesse em mim, também vejo que ele não tem intenção de acelerar as
coisas. Thomas é a imagem da serenidade, não existe nenhum traço de
agressividade vindo da sua parte.
— Com licença. — O mordomo do meu primo aparece. — Vocês
querem beber algo?
— Podemos dividir um vinho? — pergunto.
— O que quiser, eu não me importo. — Sinto meu rosto esquentar pela
maneira que ele me encara.
— Trago o vinho que Nero já deixou reservado.
— Sim, senhora. — O homem acena e se afasta.
— Vamos nos sentar? — Estou completamente constrangida.
Não sabia que seria tão difícil, nos filmes os primeiros encontros não
parecem ser tão tensos, estou tão rígida que tenho até dificuldade de fazer os
meus músculos me obedecerem.
— Fiorella, olhe para mim como um amigo, você está apreensiva
demais — Thomas diz ao escolher uma poltrona longe de onde me sentei.
— Eu não tenho amigos. — Sou sincera. — Quer dizer, tenho o Leo,
mas ele é gay. — Ele repuxa um canto da boca.
— Eu não sou gay, então fica um pouco complicada a minha situação.
O nosso vinho chega, me dando mais um pouco de tempo para me
acalmar.
— Vamos fazer um brinde ao nosso reencontro?
— Claro. — Toco minha taça na sua e rapidamente bebo um pouco.
Talvez o álcool me relaxe e eu consiga agir com naturalidade, não
como um robô.
Se controla Fiorella!
— Então... — Ele cruza as pernas e relaxa contra a poltrona. — Você é
a irmã mais velha entre as meninas? Sei que a caçula se casou com
Domênico, lembro que não pude comparecer ao casamento deles porque no
dia tinha um grande evento da minha empresa, mas estive com eles na lua de
mel em Vichi.
— Eu sou a irmã do meio, a mais velha é Chiara, ela acabou de ter um
bebê. — Falar da minha família é algo que me deixa confortável.
— A família está crescendo rápido, primeiro Paolo, agora sua irmã.
— E em breve espero que seja Gio, ela ama crianças, tem uma
desenvoltura incrível para cuidar das meninas.
— São todas garotinhas?
— Sim. — Sorrio, sentindo todo meu nervosismo se dissipar. — Elas
são perfeitas, a filha do Paolo é ruivinha, igual a mãe.
— Por Deus que aquele homem com uma filha será um inferno nesta
terra quando ela crescer. — Thomas olha para o alto em um gesto dramático.
Solto uma risada aguda ao imaginar como meu irmão ficará ainda mais
surtado.
— Tenho peninha da Caterina, ela terá muita dor de cabeça com o pai.
— Realmente não será fácil, tenho na minha família uma réplica de
Paolo, talvez até um pouco mais controlador. — Thomas bufa. — Minha
cunhada está grávida, já tenho pena da pobre criança tendo Mitchell como
pai.
— Oh! — Exclamo surpresa. — A princesa vai ter um bebê? Que
ótima notícia.
— Eles estavam ansiosos por isso, merecem essa alegria, Kim em
especial. — Repentinamente o seu olhar fica triste. — Em breve eles virão
passar uns dias comigo, estou ansioso para ver minha cunhada grávida.
— Fico feliz por eles, é um momento lindo para um casal que se ama.
— Abro um discreto sorriso, um pouco encabulada com a maneira que ele me
encara. — O que foi? — questiono quando me sinto incomodada com seu
olhar profundo.
— É bom te ver sorrindo sem estar parecendo querer fugir de mim. —
Quebro o nosso olhar me sentindo novamente tímida. — Viu como
conversamos com tranquilidade? Apenas relaxe, Fiorella, pode confiar em
mim, eu não sou como os homens da máfia, sequer gosto do mundo de merda
que eles vivem.
— Esse é o meu mundo.
— Infelizmente. — Thomas toma mais um pouco de vinho. — Quero
saber um pouco mais de você, conte-me sobre algo que goste.
— Não tenho muito o que falar, minha vida é limitada. — Ele descarta
a sua taça e se senta bem na ponta da poltrona.
— Só diga do que gosta, qual seu filme favorito, a sua música predileta,
qualquer coisa que me ajude a entender quem é a mulher enigmática à minha
frente.
Sinto certa emoção me dominar, Carmelo nunca me pediu isso, ele
jamais se importou com meus gostos, se eu estava feliz, com dor ou me
sentindo sozinha.
Inspiro fundo e afasto a lembrança do monstro que me destruiu. Ele não
está mais aqui, agora eu estou liberta da sua maldade e tenho na minha frente
um homem lindo, que se importa em saber até sobre a música que gosto.
Começo a contar meu amor pelo mar, se eu pudesse morava de frente
para praia, em uma casa aconchegante.
Sem perceber me solto e converso com Thomas como se fossemos
amigos de longa data.
Como Nero deixou a sua equipe de funcionários disponível para o
jantar providenciei apenas a comida. Utilizando o meu prestígio consegui que
um dos maiores chefs da cidade fizesse um menu especial para nós.
Enquanto seguimos para a mesa de jantar, aproveito para observar
Fiorella caminhando um pouco a minha frente. Ela está com um vestido
verde-escuro de saia solta, que alcança a metade das suas coxas.
Seu cabelo escorre por suas costas, provocando uma comichão na
minha mão para poder tocá-lo e descobrir se é tão sedoso quanto aparenta.
Está sendo um fardo me segurar, eu sei que preciso ter calma, ela tem
um passado, assim como eu. Nós carregamos nossas dores, porém pelo pouco
que Nero contou, a sua não se compara a minha, é muito pior e eu tenho
receio de descobrir tudo o que passou.
— Pedi que não colocassem a mesa de maneira tradicional, espero que
não se incomode com isso.
Não deixo de observar sua formalidade, ela se comporta de uma
maneira submissa que me incomoda, claramente foi criada para ser uma
exímia anfitriã, a esposa perfeita.
— É um jantar entre dois amigos, qualquer tipo de formalidade está
dispensada. — Um discreto sorriso brinca em seus lábios.
Gosto quando ela sorri, parece mais jovem, nesses raros momentos a
tristeza some do seu olhar.
— Então eu acertei. — Ela se aproxima da cadeira para se sentar, mas
eu me adianto para puxá-la sendo um bom cavalheiro. — Pode parar, amigos
não fazem isso, posso muito bem ajeitar minha própria cadeira.
Agora ela me pegou, não posso argumentar.
— Qualquer homem cavalheiro faria isso — digo com desgosto e mais
uma vez ela sorri.
Essa mulher precisa rir mais vezes, é uma perfeição ver seus olhos
ficarem pequenos e as lindas covinhas que se formam nas suas bochechas.
Fiorella tem uma beleza perturbadora, ao mesmo tempo que é delicada, existe
algo nela que exala poder.
Essa mulher é um grande mistério e eu estou mais que disposto a
desvendar cada um deles.
— Pedi que o chef colocasse em cada prato uma opção vegana, não
sabia seu gosto, então tudo o que iremos comer é em dose dupla.
— Você... — Ela se cala e olha para a taça de água a sua frente, vejo
seu peito expandir quando respira fundo. — Obrigada por ser tão atencioso,
eu como praticamente tudo.
— Gosto dessa informação.
Comemos de entrada uma deliciosa salada Caprese, enquanto conto um
pouco sobre Vichi. Infelizmente ela não conhece o meu país, pelo pouco que
me contou só viajava para os lugares que o pai queria e quando se casou o
marido não a levava para viajar.
É um pouco difícil imaginar ter uma esposa tão linda e a manter dentro
de casa. Uma mulher como ela tem que estar ao lado do marido em qualquer
ocasião.
Que tipo de homem não consegue enxergar o quanto é valiosa?
No momento que chegamos ao prato principal, Fiorella se espanta por
eu ter escolhido massa. Os olhos dela brilham quando me encara e mais uma
vez sorri, me matando por dentro por não poder puxá-la para mim e
reivindicar seus lábios.
— Esse espaguete com lagostim no molho de limão-siciliano é um dos
meus pratos preferidos do chef Anderson.
— Estou com água na boca, faz tempo que não como essa receita.
— Então aproveite.
Sem me decepcionar a comida de Anderson está perfeita, não é por
menos que já ganhou algumas estrelas Michelin, o homem tem mãos
mágicas.
— Meu Deus! Isso aqui está sensacional. — Fiorella fecha os olhos e
geme ao provar da comida.
Fico com o garfo no meio do caminho, observando com fascínio ela
experimentar esse momento de prazer. A minha mente acelera sem que eu
possa me conter, o que me faz imaginá-la com essa mesma expressão ao
gozar.
Puta que pariu! Eu não sei se consigo ser o bom moço que ela necessita
neste momento.
Todo mundo acredita que eu sou um verdadeiro lorde, só que não é
bem assim. Claro que não sou um canalha, mas eu gosto de uma boa
sacanagem, principalmente quando tenho ao meu lado uma mulher que faz
meu corpo ferver de desejo apenas por observá-la comer.
Se Fiorella fosse uma mulher comum, já estaria sobre esta mesa, sendo
devorada pela minha boca.
— Você está bem? — pergunta ao abrir os olhos e me flagrar a
observando.
— Claro. — Disparo um sorriso sem graça e levo o garfo à boca.
Essa cidade tem milhões de mulheres, eu fui me interessar justamente
por uma com um passado nebuloso e pertencente a máfia.
Caralho, Thomas! Por que você não tem uma gota de sorte quando o
assunto é mulher?
— Obrigada por esta noite, confesso que pensei inúmeras vezes que foi
um erro aceitar esse jantar, mas eu realmente apreciei cada momento.
— Ufa! Que alívio — digo ao levar a mão contra o peito fazendo um
drama. — Já estava aqui pensando como faria para te convidar para nosso
próximo encontro.
— Você vai querer me ver outra vez?
— Na verdade, outras vezes. — Lentamente me aproximo dela e seguro
sua mão.
Observo sua reação, não quero que se assuste, até por que eu não vou
fazer nada demais.
— Por que quer me ver? — O medo brilha no seu olhar, isso me deixa
angustiado, não quero que ela se afaste.
— Fiorella. — Envolvo totalmente sua mão na minha. — Prefere que
eu seja sincero ou diga uma discreta mentira?
— Seja sincero — responde segura.
— Faz tempo que uma mulher não me chama tanto atenção, eu quero te
conhecer melhor, mas não vou esconder que minha intenção é ter você — ela
não diz nada, apenas me olha. — Não sei nada do seu passado, a única
informação que Nero me deu é que você teve um péssimo casamento.
— Acho que alguém como você jamais imaginará o tipo de casamento
que tive. — Vejo seus olhos ficarem brilhantes com as lágrimas contidas. —
Por que dentre tantas mulheres que pode ter escolheu a mim? Não sou uma
pessoa comum, estou aprisionada ao meu clã, condenada a seguir às suas leis,
ainda que elas me levem direto para o inferno.
Endureço o rosto quando suas palavras me acertam, não é justo em
pleno século XXI a máfia ainda ter essas tradições arcaicas que podam as
mulheres. Fiorella é uma menina linda, jovem, com uma doçura encantadora,
pensar nela no meio daqueles homens rudes, cruéis, é demais para mim.
— Poderia dizer que quero você justamente por ser proibida, ou por ter
uma beleza impressionante, também pode ser porque quando sorri tudo se
ilumina, porém gosto mais da opção de ser o homem que terá o desafio de
tirar a dor do seu olhar e te fazer enxergar a vida com olhos de bondade e
esperança. — Trago nossas mãos unidas até minha boca e deposito um beijo
entre seus dedos, em seguida as descanso contra meu peito. — Nós não
podemos ter um futuro juntos, mas eu estou disposto a construir boas
memórias a cada encontro, só depende de você.
Mergulho no seu olhar e vejo que a luminosidade da luz deixou seus
olhos em um tom de verde com raios amarelos explodindo neles. É fascinante
acompanhar o desejo se expandir em sua face delicada.
Quero essa mulher e ninguém vai me impedir de tê-la.
— Eu não sou boa para você.
— Isso quem decide sou eu — digo firmemente. — Só preciso que
decida se podemos seguir para um novo nível. — Fiorella encara nossas mãos
unidas, ela fica um bom tempo em silêncio antes de voltar a me olhar.
— Podemos nos encontrar, eu gosto da sensação de confiança que sinto
ao seu lado, mas existem algumas coisas que precisa saber sobre mim. —
Fico tenso.
— Vamos combinar uma coisa? — ela assente. — No nosso próximo
encontro a pauta será tudo o que quiser me contar. Será bom para me sentir
mais próximo de você e entender como posso te conquistar. — Abaixando a
cabeça, ela sorri.
— Já aceitei te ver, acho que você conquistou ao menos um pouco do
meu interesse. — Gosto quando fica mais descontraída.
— Isso é um ótimo avanço. — Mirando seus olhos aproximo o rosto do
seu, na mesma hora noto todo o corpo dela ficar rígido.
Merda! Realmente queria beijá-la, mas não é o momento, por isso
desvio meu caminho da sua boca e encosto meus lábios na sua bochecha.
O cheiro dela me envolve, é suave, levemente floral.
— Entro em contato assim que souber aonde iremos e não se preocupe
com Nero, ele saberá todos os meus passos. — Com muito esforço me afasto
e caminho para o elevador.
Meus seguranças entram logo atrás de mim e, quando me viro, encontro
Fiorella parada, olhando diretamente para onde estou.
Não desvio o olhar, fixo minha atenção no seu rosto, até que as portas
de aço quebram nosso contato.
Dois dias que não a vejo e durante todo esse tempo não paro de pensar
nela. Fiorella se instalou na minha mente de uma maneira que não consigo
mais tirá-la, penso nessa mulher o tempo todo.
Descarto a caneta que estava assinando uns documentos e giro minha
cadeira para encarar o céu de Nova Iorque.
Eu me fechei desde que Clover foi covardemente assassinada, a partir
daquele evento venho colecionando mulheres na minha cama tentando
esquecer o quanto fui covarde por passar três anos ao lado dela sem revelar o
quanto a queria.
Foi completamente ridículo esperar a conclusão dos nossos cursos na
faculdade para me aproximar. Nunca vou me perdoar por essa idiotice, todos
os dias lamento não saber como seria seu sabor.
Não vou repetir a mesma coisa com a Fiorella, ela será minha e Nero
terá que aceitar isso. Estou esperando sua autorização para que ela vá até meu
apartamento ter outro jantar comigo. Como é uma mulher proibida, sei que
não podemos nos mostrar em público sozinhos, para não termos nossas vidas
expostas pela imprensa.
Ouço meu celular tocar, giro a cadeira e observo o nome de Nero
aparecer no visor. Até que enfim esse maldito entrou em contato, mandei
mensagem para ele no dia seguinte ao meu jantar com sua prima, mas o
desgraçado me ignorou.
— Bom saber que está disponível a me responder. — Sou irônico ao
atender.
— Eu não sou seu súdito, alteza, não tenho obrigação de estar a sua
disposição quando quer.
— Por que tanta agressividade? — Rodo a cadeira para voltar a
observar a cidade.
— Nasci num mundo agressivo. — Pelo jeito ele não está nos seus
melhores dias. — Se Fiorella quiser te encontrar vou enviar dois seguranças
para ficar de olho em você, minha prima está passando por um momento
complicado, não quero que se machuque com qualquer idiota.
— Obrigado por me chamar de idiota. — Faço uma pausa antes de
voltar a falar. — Não tenho intenção de machucá-la, no que depender de mim
sempre estará protegida. Ao contrário dos homens da sua realidade, eu trato
bem as mulheres. — Ouço seu rosnado.
— Vai se foder, Thomas.
— O que posso fazer se estou sendo sincero? — pergunto. — No meu
apartamento ela terá muito mais segurança do que no seu, jamais a forçarei a
nada, só quero conhecê-la mais um pouco.
— Vocês não podem ser vistos em público, precisam manter a
descrição.
— Não tenho pretensão de expor nada, tanto que quero um tempo com
ela em um local seguro.
— Seguro? — questiona. — Penso diferente.
— Apenas larga de ser um merda e deixe-a ir até minha casa sem seus
capangas.
— Que tal ser mais agradável?
— Nero, pare de brincadeira.
— Vou conversar com ela, se aceitar te encontrar não vou me meter,
mas tenha cuidado, eu posso até ser maleável, mas Paolo não será.
— É uma ameaça?
— Não! — responde sem pestanejar. — Estou sendo seu amigo e te
avisando que o italiano não vai se importar se é um príncipe. Se magoar a
irmã dele, estará com um alvo na testa e seu pai ou irmão não irão poder te
defender.
— Isso não irá acontecer — afirmo.
— Bom para você — diz soltando uma risada. — Fiorella te ligará se
achar que deve te encontrar.
— Nero — falo seu nome com a voz grave. — Confie em mim, eu vou
cuidar dela.
— Sei disso, caso contrário não permitiria que se aproximasse —
afirma com segurança. — Preciso trabalhar, tenho um problema com os
albaneses, nos falamos depois. — Ele encerra a ligação.
Apoio o celular na minha coxa e sorrio, tenho certeza de que Fiorella
aceitará me ver, ela gostou do nosso último encontro. Sei que devo me
conter, mas dessa vez eu vou seguir um pouco mais além.
Ouço as vozes dos meninos vindo da sala, eles andam agitados, estão
enfrentando algum problema, Paolo também fica assim quando os russos
começam a dar trabalho.
Tento não atrapalhar e me esgueiro pelo canto indo na direção da
escada, mas no meio do caminho Eros nota a minha presença.
— Por que está se escondendo? — Ele cruza os braços, apertando seus
enigmáticos olhos azuis.
Que homem intrometido, eu estava quase subindo sem ser vista, em
certos momentos é uma pessoa extremamente irritante.
— Não estou me escondendo, só não queria atrapalhar a conversa de
vocês.
— Converso o dia todo com seu primo, você não atrapalharia nada,
inclusive prefiro conversar com você, a ter que olhar para o rosto feio dele —
diz ao escorregar os olhos pelo meu corpo. — Linda como sempre.
— Eros, para de gracinha. — Nero o recrimina. — Fiorella, o príncipe
quer um novo jantar com você, eu disse que se aceitasse o convite, ligaria
para marcarem o encontro.
— Esse merda está empenhado mesmo em conquistar a sua prima.
— Ella o encantou.
— Não fiz nada demais — falo tímida. — Estou um pouco surpresa
com todo interesse dele.
— Pois, não deveria ficar — meu primo comenta antes de se afastar.
— Qualquer homem que tenha um porcento de visão se interessaria por
você. — Eros inclina a cabeça ao me fitar. — Eu tô muito puto com esse
chamego dos dois, mas não posso negar que ele é um bom homem. Thomas é
exatamente o que você precisa para sair desse casulo que o maldito falecido
te prendeu. — Com a ponta dos dedos afasta o meu cabelo do rosto. —
Queria ser um homem melhor para entrar em uma briga com o príncipe, só
que eu sou um canalha. — Sorrio quando ele repuxa o canto dos lábios e
pisca para mim. — Só tenha cuidado com esse coração, baby, você não é o
tipo de mulher que tem um caso sem se envolver.
Sinto certa carência, isso me faz abraçá-lo, buscando um pouco da sua
segurança.
— Estou temerosa. — Assumo.
— Com o quê? — Ergo o rosto para encará-lo.
— Eu sou inexperiente, é a primeira vez que tenho um homem
interessado em mim, não sei nem o que falar com Thomas. — Eros acaricia
minha bochecha com o polegar.
— Apenas seja você, isso basta para qualquer homem.
— Nunca fui suficiente para Carmelo, ele sempre jogou na minha cara
o quanto eu era medíocre como mulher. — A expressão dele muda, a raiva
brilha nos seus olhos.
— Aquele infeliz não era homem, era um cão sarnento. — Rosna. —
Cachorro não, que estou ofendendo os pobres bichos, ele era uma besta fera
medíocre. — Agora ele me faz sorrir. — Esqueça tudo o que aquele filho da
puta disse, você é linda e pode ter quem quiser, inclusive um príncipe. —
Mordo o lábio inferior tentando segurar a minha insegurança.
— Então vou ligar para ele, também quero revê-lo.
— Cuidado, querida, eu conheço esse tipo de olhar. — Eros beija
minha testa. — Agora vá fazer sua ligação, tenho assuntos fodidos para
resolver, hoje o dia está sendo só dor de cabeça.
— Eros, larga logo Fiorella e venha aqui, temos problemas a resolver.
— Seu primo é um pé no meu saco — resmunga ao revirar os olhos. —
Preciso ir.
— Obrigada por ser um bom amigo.
— Infelizmente esse foi o título que me restou, amigo da bela ragazza
italiana. — Com um gesto cheio de charme beija minha mão.
Assim que ele se afasta subo para meu quarto, vou ligar logo para
Thomas e marcar o nosso encontro, estou cheia de insegurança, mas eu
preciso encarar a vida, agora que tenho a oportunidade de ter um pouco de
liberdade.
Entro no meu quarto e pego o celular, busco pelo número dele, sentindo
meu coração disparar. Desde que o conheci ando passando por um conflito
intenso de emoções, nunca me senti tão eufórica como agora.
— Fiorella. — A sua voz rouca me arrepia inteira.
— Como está, Thomas?
— Melhor agora que estou ouvindo sua voz. — Ao fundo ouço um
burburinho.
— Se eu estiver atrapalhando ligo depois.
— Você não atrapalha. — O barulho diminui. — Como está ligando
acredito que Nero conversou com você.
— Sim, ele disse que gostaria de marcar outro encontro.
— Se possível amanhã.
— Bem... — Molho os lábios com a ponta da língua. — Não tenho
nada para fazer.
— Ótimo. — A sua voz sai animada. — Eu vou providenciar tudo e
pedir que Nero peça a alguém para te levar até meu apartamento.
— O jantar vai ser na sua casa? — questiono surpresa. — Meu primo
não permitirá isso.
— Já conversamos sobre o local, Nero não quer te expor a comentários,
não existe lugar mais discreto e seguro que minha casa. — Sinto meu coração
disparar, estar no território dele me deixará vulnerável. — Não precisa se
preocupar, Fiorella, eu sempre vou respeitar seus limites.
É difícil tentar entender o que faz um homem na posição dele estar
interessado em uma mulher como eu. Sou tão complicada, cheia de traumas e
ainda assim ele se mostra tão empenhado em me encontrar.
O que ele viu em mim?
— Tudo bem, eu estarei na sua casa na hora que marcar.
— Excelente. — Jogo o corpo sobre o colchão sorrindo. — Tem algum
pedido especial para o jantar?
— Nenhum, pode escolher o cardápio, da última vez você teve um bom
gosto incrível.
— Vou tentar acertar novamente. — Não acredito que estou flertando
com um príncipe. — Já estou ansioso pelo nosso encontro.
— Eu também. — Sou sincera.
— Estou em um evento com alguns investidores, preciso desligar.
— Meu Deus, Thomas! Você disse que eu não estava atrapalhando.
— E não atrapalhou, mas agora preciso voltar a dar atenção a eles.
— Nos falamos amanhã.
— Claro que sim, te ligo assim que tiver com tudo arrumado, até mais
querida.
— Até. — Com pesar desligo.
Abro um largo sorriso, eu vou revê-lo, não vejo a hora de voltar a sentir
o frisson em estar na sua presença. Nunca imaginei que me sentiria tão
eufórica por estar com um homem, Thomas mexeu comigo.
— Ella, posso entrar? — Ouço a voz da Giada por trás da porta.
— Pode. — Grito.
— Nero falou que chegou, vim logo te avisar que consegui vaga com
uma psicóloga. Ela é bem requisitada, trabalha para a máfia, o pai dela é um
dos associados.
— Obrigada, Giada, vai me ajudar muito conversar com um
profissional.
Pensei sobre o assunto desde que ela sugeriu a terapia e decidi que já é
hora de buscar novamente ajuda profissional, para superar todo o meu
passado.
— Você não deveria ter largado a terapia.
— A verdade é que eu não queria falar do passado, mas agora é
diferente, entendi que preciso de apoio.
— Foi o príncipe que te fez querer isso?
— Também. — Não posso negar que ele tenha influenciado a minha
decisão. — Mas a conversa que tivemos me ajudou a enxergar um novo
ângulo, você abriu os meus olhos.
— Fico feliz em ouvir isso. — Ela me abraça. — Você é tão linda,
cheia de vida, não pode ficar presa ao passado.
— Eu não vou, prometo que me esforçarei para seguir em frente.
— Isso aí. — Giada lança um sorriso arteiro. — E como estão as coisas
com o príncipe? Vai rolar outro encontro?
— Jantaremos amanhã.
— O quê? Como só estou sabendo disso agora?
— Acabei de falar com ele.
Começo a contar para a minha prima o que conversamos e meu medo
com esse encontro na casa dele. Giada obviamente me recrimina, ao contrário
de mim ela não se intimida.
Ela acaba me convencendo a ir comprar uma roupa nova, de acordo
com ela para jantar com um príncipe eu preciso estar divina. Apesar de ter
roupas apropriadas para esse encontro, eu acabo me empolgando, porque
quero de verdade impressionar Thomas.
Corro até meu celular quando ele vibra, fico animada quando vejo o
nome da Masha.
Ontem tive uma chamada de vídeo com minha mãe, Chiara e minha
sobrinha. A pequena Ramona está tão linda, sinto a ausência delas, mas ainda
não posso regressar a Roma, preciso aproveitar tudo o que estou vivendo com
Thomas.
— Masha, como está?
— Estressada com Caterina andando tudo e quebrando cada objeto que
encontra. Tive que proteger todas as tomadas ao alcance dela, a arteira gosta
de enfiar os dedos nelas, levou um choque que me matou de susto, Paolo
quase infartou. — Senhor! Posso imaginar a aflição do meu irmão.
— É a fase Masha, vocês terão que ficar atentos a cada um dos passos
dela.
— Falei isso para seu irmão, mas ele é difícil, está neurótico com tudo,
não anda fácil aturar seus surtos.
Entendo Masha, o seu marido tem um temperamento complexo, quando
ele fica descontrolado é difícil segurá-lo.
— Lamento de verdade, sei o quanto Paolo é chato.
— A sorte dele é que o amo muito, caso contrário já estaria morando
com Andrei, Paolo é turrão demais. — Sorrio.
— Ele também te ama, seja mais condescendente.
— Pode apostar que sou, só que meu marido não me dá trégua, está
sempre reclamando de algo. — Ela bufa. — Agora me diga como as coisas
estão aí? Estamos sentindo tanto sua falta, nossos encontros de família não
são os mesmos sem você. — Sinto a nostalgia me inundar.
— Estou bem, em Nova Iorque vivo uma nova rotina, as minhas primas
são maravilhosas e Nero cuida de mim, ando passando por um bom
momento, a terapia está me fazendo bem.
— Você não sabe como estou feliz em ouvir isso. — Sua voz é repleta
de emoção. — Quando Gio me disse que estava na terapia novamente fiquei
radiante.
— Eu não deveria ter feito antes, mas sempre acredito que tudo tem seu
tempo.
— Tem sim e torço para você curar suas feridas o mais rápido possível.
— Estou me esforçando justamente para isso. — Um grito estridente
interrompe a nossa conversa.
— Mama! — Ouço a voz fofa de Caterina.
— Leo será que não consegue controlar essa menina ao menos
enquanto converso com Fiorella? — Masha reclama.
— Quero falar com minha florzinha. — Sua voz alegre me faz sorrir,
sinto tanta falta desse falastrão, Leo onde chega leva uma energia positiva
incrível. — Amore mio, como está?
— Ah...Leo, como sinto sua falta.
— Vou fingir que acredito.
— Estou falando sério, queria ter você aqui comigo para poder fofocar.
— Acabo de me ofender, você disse que sou fofoqueiro.
— Ela só disse a verdade — Masha provoca o amigo.
— Quieta! Vá cuidar da sua mafiosinha atarantada. — Leo a
recrimina. — Amore, como andam os mafiosos americanos? Já arrumou um
para você? Se eu estou aí já tinha me ajeitado com algum bonitão e não
voltaria a Roma, ficaria de vez em Nova Iorque, Chiara me mostrou uma foto
do tal Eros. Por Deus, bambina, molhei a calcinha.
— Leonardo! — Minha cunhada grita, enquanto eu caio na gargalhada.
Leo tem um fogo fora do comum, principalmente quando se trata dos
homens da máfia.
— Acho que você iria gostar dos homens daqui, são realmente lindos e
Eros é um destruidor de corações.
— Por acaso ele destruiu o seu?
— Meu coração ainda está ferido, não daria oportunidade para algum
homem fazê-lo sangrar novamente.
— Minha querida, você é mais forte do que pensa, não chegou onde
está por acaso. Levanta essa cabeça, mande o passado se foder e arrume um
mafioso bem gostoso para sentar. Nada como uma boa gozada para a gente se
erguer.
Suas palavras me fazem refletir, realmente fui forte durante todo o meu
casamento, sou uma sobrevivente e mereço desfrutar plenamente desse
momento de liberdade que estou vivendo.
Converso mais um pouco com eles e no final da ligação peço que
Masha me mande algumas fotos da Caterina, mesmo de longe quero
acompanhar de alguma maneira o seu desenvolvimento.
Sinto muita falta deles, porém vou ficar mais tempo por aqui para poder
viver plenamente essa nova experiência que a vida me presenteou.
Assim que terminamos o nosso café liguei para Nero e pedi que
Fiorella ficasse aqui, ele não se opôs, permitiu sua permanência pelo tempo
que quisesse. A pedido dela, perguntei se sua prima Giada poderia trazer
algumas das suas roupas e ficar na piscina com ela e minha cunhada.
Ele resmungou um pouco, mas como sabia que eu e Mitchell
estaríamos presentes acabou liberando a presença da irmã. Agora todas estão
na piscina, conversando como se fossem velhas amigas.
— Como está o seu relacionamento financeiro com a máfia? Para Nero
ser tão receptivo aos seus pedidos, está recebendo bem.
— Ele é um bom parceiro, mesmo não gostando de me relacionar com
a Cosa Nostra, não posso negar que ter o investimento deles e algumas
indicações me trouxe um bom capital para tornar a minha empresa em um
fenômeno de vendas.
— Isso é bom, se eles tiveram grana alta, ficam mais calmos.
— Nero é uma cara bem racional, ele sabe os passos que dá, diferente
do primo.
— Paolo é um homem ímpar, por isso tenho muito cuidado ao lidar
com ele. Gosto do italiano, confio nele, hoje somos amigos, mas eu não posso
negar o quanto ele é perigoso e destemido. Estou realmente preocupado com
tudo o que está acontecendo, o clã de Roma é bem problemático, ano passado
tiveram traições dentro da Famiglia, foi onde o marido da sua namoradinha
morreu.
— Se ele não tivesse morrido, eu mesmo matava, porque um homem
que agride covardemente uma mulher, não merece viver.
— Concordo com você. — Mitchell leva a long neck até a boca e sorve
um gole. — Infelizmente dentro da máfia mulheres são objetos, a maioria dos
homens as agridem, Paolo é um dos poucos que conheço que tenta protegê-
las.
— Mas não protegeu a irmã.
— Quando uma mulher se casa é o marido que fica responsável por
tudo, ele não poderia se meter mesmo sendo o Capo, apesar de ter interferido
quando as coisas saíram do controle.
— Como assim saíram do controle? — Olho para o meu irmão, que
agora exibe a mandíbula travada, demonstrando o quanto está irritado.
— É passado, agora ela está aqui segura e dentro de uma nova
confusão. — Ele balança a cabeça com desgosto. — Onde está o tio dela?
Gastone não é tão moderno assim.
— Os tios estão na Ásia, viajaram para o Japão e passarão por outros
países da região.
— A história só fica melhor — diz claramente desgostoso. — Quem
está sabendo dessa merda?
— Nero, Eros e a prima — aponto para Giada.
— Os outros primos não sabem?
— Ela não me falou nada se sabiam.
— Menos ruim, talvez você consiga se livrar da ira do Paolo,
certamente ela não vai demorar por aqui, já tem tempo que está viúva e
precisa de um novo casamento.
Seguro com força a minha garrafa de cerveja, pensar nela longe,
seguindo para uma vida que não deseja, com alguém que não gosta, me deixa
completamente ensandecido.
— Ele não pode obrigá-la a se casar.
— Não só pode como vai, é o mundo dela. — Mitchell me encara. —
Uma vez que se nasce dentro da máfia, você está condenado a suas tradições,
ninguém pode mudar isso.
O celular dele toca, interrompendo nossa conversa. Meu irmão se
afasta, me deixando sozinho, com os olhos presos em Fiorella.
Ela sorri de algo que minha cunhada fala, Kim coloca a mão na barriga
e a acaricia, certamente está falando sobre a sua gravidez. Volto a observá-la,
sentindo meu coração comprimir por pensar nela sendo obrigada a ter mais
um relacionamento forçado, não é justo tirar suas escolhas, é desumano esse
tipo de tradição.
Parecendo notar que a observo ela gira o rosto na minha direção, um
sorriso tímido brinca na sua boca, ela é tão frágil para habitar o mundo da
máfia, se a forçarem a se casar, mais uma vez a tristeza dominará seus olhos.
Não é justo tirarem as suas escolhas, eu não vou aceitar isso.
Visto a minha saída de praia e deixo minha prima conversando com
Kimberly, a princesa é extremamente comunicativa e muito simpática.
Foi um baque grande quando vi o irmão do Thomas no apartamento, eu
não esperava por isso e fiquei apreensiva. Ele é amigo do meu irmão e
poderia ser uma grande preocupação entregar o nosso relacionamento.
Passei por um momento de pânico, até que Thomas apareceu e me
garantiu que tudo estava bem, que eu não precisava me preocupar com nada.
Apesar da sua afirmação eu ainda não me sinto confortável, tenho a
sensação de que a qualquer momento algo de ruim pode acontecer.
Thomas se aproxima de mim enquanto fala ao celular, ele voltou a
vestir o terno, pois tem que ir a um almoço de negócios. Esticando o braço
me puxa contra seu corpo, em seguida encosta os lábios na minha testa.
— Resolva qualquer adversidade, Laura, é você que tem o controle de
tudo, então apenas tome as decisões necessárias. Não confiei a administração
da minha empresa a você sem motivos, sei da sua capacidade. — Ele ouve o
que a mulher fala. — Tudo bem, me ligue se for necessário, estou indo para
um almoço de negócios, depois estarei em casa com o meu irmão e a esposa.
Quando ele encerra a ligação envolve os braços por minha cintura.
Apoio as mãos em seus ombros, sentindo a minha ansiedade começar a ficar
sem controle por saber que ele ficará algumas horas ausente.
— Eu não vou demorar, infelizmente não posso desmarcar esse
compromisso.
— Tudo bem. — Na verdade, não está bem, mas eu não posso
atrapalhar o trabalho dele.
— Acho que você não tem noção do quanto seus olhos são expressivos.
— Ele apoia a mão na minha cabeça. — Não se preocupe com Mitchell, sei
que é um pouco intimidador, mas ele sabe até onde pode ir. Se por acaso meu
irmão passar do limite chame Kim, ela tem total controle sobre ele.
— Não precisa se preocupar comigo, sei me cuidar.
— Eu não tenho dúvidas que sabe se cuidar, caso contrário não
estaríamos aqui juntos. — Sua mão aprisiona a minha nuca. — Mas quando
está dentro da minha casa, sou eu que cuido de você.
Ofego quando ele me beija com intensidade, sempre que estou dentro
dos seus braços eu sinto que tudo na minha vida pode ganhar um novo rumo.
Thomas entrou no meu caminho e me transformou em outra pessoa, o
ruim de tudo o que está acontecendo entre nós é que eu estou criando
esperanças em algo que eu sei que nunca irá acontecer.
Jogo o meu cabelo para trás quando caminho ao lado de Eros, para a
festa de um dos membros da Famiglia. Andrea Bacari é filho do subchefe da
Filadélfia, ele tem uma das mais prósperas produtoras musicais do país. Sua
fama é internacional e ninguém imagina que faz parte do alto clã da máfia
italiana na América.
— Uau! — exclamo ao ver a produção da festa.
— Andrea gosta de uma ostentação. — Eros pega duas taças de
champanhe de um garçom que passa próximo. — A nós, minha bela ragazza.
— Ele toca a taça na minha.
— Está resgatando suas origens italianas? — pergunto ao provar da
minha bebida.
— É para você matar a saudade da sua terra. — Ele camufla o sorriso
ao fechar os lábios na borda da taça.
Eros tem um humor peculiar, se eu não soubesse do que é capaz, jamais
diria que é um homem violento. Sua beleza perturbadora nos faz imaginá-lo
como um anjo pecaminoso, não um mafioso cruel.
— Pode parar com esses galanteios. — O repreendo e olho ao redor.
— Você sabe que não resisto. — Ele rodeia a minha cintura e começa a
andar entre as pessoas.
O local da festa é uma badalada casa noturna pertencente a Famiglia. O
cenário é extremamente tropical, com cores vivas que simbolizam o verão
que acabou de começar.
Identifico vários artistas pelo caminho, alguns deles sou fã, mas como
Eros passa direto por todos, não tenho tempo de admirá-los.
Subimos para uma área mais reservada, onde logo noto membros do clã
nova-iorquino. Eros acena para algumas pessoas que me olham com
curiosidade.
Já estou na cidade há dois meses, mas não interagi muito com as
pessoas da Famiglia, meus dias passaram a ser dedicados aos meus encontros
com Thomas e atividades com as minhas primas.
Avisto Nero ao lado de uma mulher loira, ela está grudada em seu
braço enquanto ele conversa com Lorenzo. Todas as vezes que o encontro em
festas está com uma acompanhante diferente, meu primo parece se recusar a
repetir suas mulheres.
Agora sendo o Capo, ele terá que tomar um rumo, apesar de ainda ser
jovem, os membros mais antigos irão cobrar esposa e filhos. Se bem conheço
a pressão, ele não poderá ficar solteiro por muito tempo.
Claro que o casamento não o impedirá de ter quantas mulheres quiser,
mas ao menos em festas oficiais, ele terá que trazer a própria esposa.
— Até que enfim chegaram — Nero diz quando nos avista. — Pensei
que iria ter que enviar alguém atrás de vocês.
— A minha acompanhante demorou para se arrumar, como se ela
precisasse de muitos preparativos para ficar bonita. — Eros beija meu rosto.
— Comporte-se. — Meu primo o alerta. — Fiorella essa é Katheryn
York, uma amiga.
— Muito prazer. — Sorrio para ela.
— O prazer é meu. — Katheryn é mais amistosa do que as outras
garotas que já conheci. — Você é linda, poderia ser modelo se quisesse, o
meu agente ficaria feliz em te conhecer.
— Que ele arrume outra felicidade, minha prima não está aqui para ser
modelo. — Nero a corta abruptamente.
— Mas se ela mudar de ideia vai ter sucesso.
— Só que ela não vai mudar. — Ele a encara com uma expressão
irritada.
Olho para Eros preocupada com a maneira dura que meu primo falou
com Katheryn.
— Seu primo é bom em foder mulheres, não em lidar com elas — diz
rente ao meu ouvido.
— Ele é sempre sereno comigo e com as irmãs.
— Vocês são família, não dê muito crédito a esse seu lado atencioso,
Nero é um merda na maior parte do tempo.
— E você não? — Os olhos dele brilham com diversão enquanto sua
boca se retorce em um sorriso travesso.
Eros parece um menino levado, que sempre está pronto para fazer
alguma pegadinha.
— Eu sou um docinho, mas não nego que por onde passo deixo
corações destroçados. — Ele descarta sua taça de champanhe vazia em uma
mesa e faz o mesmo com a minha. — Até mesmo as putas que às vezes trepo
tem dificuldade de seguir com o trabalho depois de uma boa foda comigo. —
Ele pisca para mim. — Sei o que faço com uma mulher, baby, e o meu
equipamento como um todo é fora dos padrões. — Dá de ombros ao segurar a
minha mão, nos levando para a pista de dança.
— Como consegue ser tão convencido?
— Não sou convencido. — Suas mãos aprisionam a minha cintura. —
Sou honesto — afirma ao me puxar contra seu corpo. — Se tivesse me dado
uma chance, saberia do que sou capaz.
— Prefiro alguém que queira me encontrar mais vezes do que apenas
uma noite de loucura.
— Com você eu teria noites, tardes e manhãs de muitas loucuras. —
Inesperadamente a minha pele se arrepia com o seu hálito quente sussurrando
no meu ouvido. — Você não é qualquer mulher, tanto que aquele príncipe
bundão te pegou logo.
— Não o chame assim. — Eros revira os olhos.
— Estou sendo fofo com a maneira que falo dele em sua consideração,
porque no geral eu o chamo de pau no cu.
Não tenho tempo de falar nada, ele me gira e abraça meu corpo
enquanto se movimenta ao ritmo da música.
Como ele é implicante quando quer, se eu não o conhecesse bem,
acreditaria que realmente está interessado em mim.
Passamos um bom tempo dançado, Eros é um bom dançarino, ele se
move pela pista com extrema tranquilidade, atraindo olhares de homens e
mulheres.
Impossível não o admirar, são quase dois metros de puro músculo,
olhos azuis e pele naturalmente bronzeada. Acho que se o agente da
acompanhante do meu primo o conhecesse, certamente teria uma proposta
para ele.
Quando meus pés protestam puxo-o para mais uma bebida na área VIP.
Encontro Nero em um canto aos beijos com a modelo. Sorrio para Eros, que
parece não se importar com a cena.
— O que vai querer beber?
— Uma cerveja.
— Sério? — Ergue a sobrancelha ao se encostar no balcão do bar. —
Não quer um drinque mais chique?
— Não. — Ele sorri e faz o pedido também optando por uma cerveja.
Enquanto esperamos nossas bebidas conto a ele sobre minha chamada
de vídeo com Paolo. Nunca fui de conversar muito com homens, mas com
Eros parece ser natural um diálogo.
— Lindo casal. — Olho para trás e vejo Piero nos observando. — Vão
assumir o romance para a Famiglia?
— Talvez. — Eros rodeia o braço pela minha cintura.
— Sua mãe não vai gostar de saber que está com uma viúva. — O meu
corpo fica tenso com a fala do Piero.
— E Paolo não ficaria feliz em saber que está menosprezando a irmã
dele. — Imediatamente o sorriso sarcástico de Piero morre, meu primo
melhor do que ninguém sabe que Paolo passaria por cima dele sem maiores
dificuldades.
Ao contrário de Nero, Piero é um fraco, gosta de provocar, mas não
possui a coragem e força.
— Se vai ficar com ela, ao menos faça isso da maneira certa.
— Vá tomar conta da sua vida.
Toda a conversa entre eles perde meu interesse quando vejo surgir em
meio as pessoas a figura imponente do Thomas, ao lado do seu irmão,
cunhada e mais um rapaz.
O meu coração acelera, parece que não o vejo por uma eternidade. Ele
está extremamente elegante com uma camisa cinza que gruda em seus
músculos e calça preta.
Seus olhos fixam na mão do Eros que está possessivamente na minha
cintura. O seu rosto fica tenso, claramente não gostou do nosso contato mais
íntimo.
Tento me afastar, mas Eros finca ainda mais a mão na minha cintura.
Nos encaramos, ele tem as sobrancelhas unidas, parecendo tentar entender o
porquê estou me afastando.
— Como vai, Eros? — A voz do Thomas se sobressai ao barulho do
lugar.
— Olá, príncipe. — Eros me puxa para ainda mais perto de si. —
Quanto tempo. — Ele inclina a cabeça sorrindo. — Olha quem está aqui.
Mitchell Cassel chegou à cidade.
— Vim descansar um pouco. — Mitchell me olha com curiosidade, em
seguida encara meu primo que está ao nosso lado. — Como vai, Piero? —
Ele o cumprimenta.
— Muito bem. — Piero troca um aperto de mão com ele e Thomas,
depois cumprimenta Kimberly, assim como o homem que está perto dela, em
seguida ele se afasta.
Para a minha sorte tenho um problema a menos, a presença dele sempre
me incomoda. Agora preciso apenas saber o que exatamente está passando
pela cabeça do Thomas.
— Acho que está com a acompanhante errada, Eros. — Mitchell corre
os olhos entre nós.
— Estou na companhia perfeita. — Ele beija a minha bochecha, me
deixando tensa ao ver o Thomas ficar emburrado.
— Você está brincando com o perigo. — O alerta do Mitchell vem
junto de um sorriso.
— Prazer, alteza, eu sou o perigo. — Eros faz uma saudação com a
cabeça repleta de sarcasmo.
— Como são patéticos — Kimberly diz com desgosto e me abraça. —
Senti sua ausência esses dias, mas Mitch me disse que tinha problemas em
casa.
— Meu primo mais novo anda pegando no meu pé.
— Vamos resolver isso, eu tenho uma ideia. — Ela pisca para mim. —
Stuart, quero que conheça Fiorella, ela é irmã do Paolo.
— Como eu estava curioso para te conhecer. — Stuart beija a minha
mão. — Ouvi histórias suas vindas do meu amigo. — Confessa, me fazendo
enrubescer.
— Vou roubar sua parceira — Kim avisa Eros.
— Faça o que quiser, princesa. — Eros beija a mão dela. — Parabéns
pelo bebê, que venha com saúde.
— Ahh... muito obrigada.
— Solte a minha mulher. — Mitchell rosna por ainda ver Eros
segurando a mão dela.
Como esses homens são possessivos, parecem até criança.
Kimberly segura a minha mão e começa a me puxar para longe dos
meninos, mas quando passo por Thomas, ele intercepta os meus passos.
— Não quero mais te ver perto do Eros. — Nos encaramos tensos.
— Ele é só o meu amigo.
— Foda-se o que ele é, não me importo, só não quero mais ver as mãos
dele em você. — Sem me dar direito de resposta se afasta.
Olho para suas costas largas enquanto Kimberly me arrasta entre as
pessoas. Eu espero que não tenhamos nenhum conflito por causa do Eros,
realmente somos amigos, ele é como da família, apesar de lindo, eu não sinto
nada por ele. Meu coração bate acelerado apenas por Thomas e cada dia que
passa eu estou mais preocupada com a necessidade que sinto de sempre estar
ao lado dele.
Equilíbrio sempre foi algo que dominei sem maiores problemas, não
tenho dificuldades em esconder minhas emoções. O lado passional da minha
família pertence a Mitchell, esse tem o sangue quente demais. Porém, toda a
minha racionalidade evaporou quando vi Eros tocando Fiorella.
Quase esqueci de onde estávamos e parti para cima dele. Eros é um
galanteador barato. Já ficamos com parceiras em comum e sempre que ele me
encontrava com alguém que já havia ficado, falava suas gracinhas.
Não gosto dele, só o tolero porque Nero é um bom parceiro de negócios
e aliado do meu irmão.
— Lembre-se que ela é da máfia e estamos dentro do território deles —
meu irmão sussurra no meu ouvido.
— Não prometo nada. — Mitch me lança um olhar preocupado, mas
nossa conversa é interrompida pela aproximação do Nero.
— Finalmente consigo te encontrar. — Ele aperta a mão do meu irmão.
— Sentiu minha falta? — Como sempre Mitchell soa sarcástico.
— Na verdade, senti falta de ganhar de você na esgrima. — Agora ele
mexeu com o orgulho do meu irmão, ele odeia quando alguém o vence na
luta.
— Isso só aconteceu uma vez e eu estava me recuperando de uma gripe
forte.
— Esqueça suas desculpas, eu venci e ponto final. — Nero faz um
gesto de menosprezo com a mão. — Como vai, Thomas? — Trocamos um
aperto de mãos.
— Bem — a minha resposta curta o faz suspender a sobrancelha.
— De onde estou não parece nada bem.
— Talvez se ele beber algo se anime. — Eros ergue sua garrafa de
cerveja sorrindo.
Como eu quero jogar essa cerveja sobre ele e estragar seu peteado
estiloso.
Exibido do caralho.
— O que eu perdi? — Nero pergunta.
— Seu amigo estava com a mulher alheia. — Mitchell comunica.
— Relaxa, Thomas, ele não é uma ameaça. — Não digo nada, ainda
sinto o ímpeto de socá-lo. — Vamos nos sentar em um lugar discreto para
conversarmos.
Nero lidera o caminho e se acomoda em uma das poltronas. Seu fiel
escudeiro senta ao seu lado, enquanto eu e meu irmão nos acomodamos na
outra extremidade, juntamente com Stu.
— Está na cidade a trabalho, Mitch?
— Vim visitar meu amado irmão e trazer minha mulher para comprar
roupas para nosso bebê.
— Esqueci de dar os parabéns, uma criança é sempre uma bênção para
o casal.
— Que essa criança puxe a sua esposa, porque se ela tiver o azar de se
parecer com você, vai precisar de terapia. — Eros sorri da sua piada sem
graça.
— Digo o mesmo quando tiver seus filhos, nenhum deles merece ter
nenhum traço seu. — Tento não rir, mas falho.
Eros aperta os olhos, descontente com a minha descontração. Fico feliz,
consegui atingi-lo de algum jeito.
— Hoje é dia de festa, Eros, contenha suas ironias.
Nero pede bebidas e não demora muito temos quatro copos de uísque à
nossa frente e uma nova cerveja para o piadista da noite.
— Como andam as coisas por aqui? Algum problema? — Mitchell
pergunta.
— Sempre temos problemas, é uma cidade imensa, com muitas
organizações espalhadas.
— Mas conseguimos controlar tudo, somos a Cosa Nostra — Eros
emenda a fala do amigo.
— Os chineses andam causando grandes problemas — Nero continua a
falar — Eles estão tentando invadir um dos territórios que conquistamos
deles ainda na década de noventa. Song está passando dos limites, não queria
um embate com ele, mas pelo que estou vendo, eu vou ter que derramar um
pouco de sangue para que entenda o seu lugar.
A sua fala me faz lembrar da conversa que tive com Kwon, o Testa de
Ferro dos chineses. As palavras dele ainda estão na minha mente, não gostei
da ameaça velada que me fez.
— Encontrei Kwon há algumas semanas, de acordo com ele seu chefe
quer ser meu parceiro. — Os três homens me encaram interessados na minha
declaração.
— O que exatamente quer dizer sobre parceria? — Nero tem a
expressão tensa.
— Estava tomando uma bebida com Stuart e Kwon veio me propor
negócios, Song quer investir na minha empresa, assim como vocês investem,
ele afirmou que pode me tornar rapidamente líder de mercado. Estava para te
contar isso, mas acabei tendo tantos compromissos que esqueci.
— Você aceitou? — Eros pergunta.
— Não sou louco de me envolver com os chineses, prontamente
neguei, disse que tinha o dinheiro necessário que precisava para os meus
projetos. O que não gostei foi do que Kwon me disse após a negativa.
— E o que ele disse? — Nero está atento ao meu relato.
— Que seu chefe não receberia bem a minha recusa, já que eu trabalho
com o dinheiro dos italianos. — A tensão se espalha entre nós. — Tive um
novo contato de Kwon renovando a proposta.
— Por que só estou sabendo disso agora? — Mitchell questiona
irritado.
— Não achei necessário falar, eu mesmo coloquei Kwon no seu devido
lugar, no entanto, não nego que me senti incomodado com a segunda
proposta, por isso cheguei a falar com Nero que precisávamos conversar.
— Cuidado, Thomas, Song não é de confiança e certamente está
possesso por não aceitar o dinheiro dele. O chinês é orgulhoso e não gosta de
perder. Recentemente Hunter Parker, chefe da gangue do Bronx, me pediu
ajuda. Song tentou derrubá-lo, o desgraçado está atacando as menores
organizações, o objetivo dele é conquistar o maior número de territórios para
tentar controlar a cidade, até mesmo os russos estão nervosos com o seu
avanço. — Fico apreensivo com a revelação do Nero.
— Ele é um problema eminente estamos contendo os seus movimentos
o mais rápido que conseguimos, mas o desgraçado se move com agilidade. —
Agora Eros perdeu toda sua ironia, assumiu o seu lado mafioso.
— Não gosto disso. — Mitchell sorve um gole da sua bebida. —
Sempre os evitei, eles são instáveis e fechados demais, não se pode confiar
em nada do que falam, os códigos que seguem são arcaicos e privilegiam
apenas os seus.
— Exatamente. — Nero bate com força seu copo sobre a mesa. — Eles
são traiçoeiros, ninguém do submundo que tenha um pingo de juízo se
envolve com aqueles ratos.
— E falando no diabo... — Olhamos para onde Eros sinaliza e nos
deparamos com Song caminhando para a nossa mesa, acompanhado de dois
dos seus cães de guarda.
— Puta que pariu! — meu irmão sussurra.
— Senhores. — Ele abre um sorriso exibindo um dente de rubi.
Song não é muito alto, mas tem o corpo com músculos bem definidos.
Tatuagens escapam por seu pescoço e alguns piercings se espalham por suas
orelhas, um em especial se destaca em sua sobrancelha.
— Que surpresa, Song. — Mitchell cruza as pernas e estende o braço
por sobre o encosto da poltrona em uma posição relaxada. Sua intenção é
demonstrar ao inimigo que não se importa com a sua presença — Não me
lembro bem quando nos vimos pela última vez.
— Faz tempo alteza, você não vem muito à cidade, mas quando está
por aqui, as notícias se espalham. — Ele me encara. — Thomas, estava
ansioso para te encontrar.
— E por qual motivo? — pergunto friamente.
— Se me der a honra de um encontro, podemos conversar.
— Sobre? — Ergo uma sobrancelha.
— Você sabe bem, acho que em uma conversa pessoal, podemos nos
entender.
— Até onde me lembro, eu já mandei duas vezes resposta para sua
proposta.
— Não foi a que eu queria. — Vejo a raiva se espalhar em seus olhos.
— É a única que tenho, lamento.
— Song. — A voz arredia de Nero interrompe o nosso diálogo. — Não
esqueça que estamos dentro de um território da Famiglia, não cause
problemas.
— Sou um convidado — diz sem se intimidar. — Recebi de Andrea um
convite, posso transitar e conversar com quem eu quiser. — Pela expressão
do Nero, sua afronta não foi bem recebida.
— Então, vá conversar longe daqui. — Os dois se encaram, a tensão é
palpável.
Os capangas de Song entram em estado de alerta, enquanto Eros
espalma as duas mãos sobre a mesa. Ao fundo vejo os soldados de Nero se
aproximarem, assim como os oficiais do serviço secreto que estão na nossa
segurança. Fico rígido, não sou uma pessoa de confronto, sei bem o quanto a
violência pode ser devastadora, mas no momento estou em meio a homens
que vivem mergulhados no mundo do crime.
Enquanto a guerra de olhares se instala, minha atenção recai sobre
Fiorella e Kimberly que param na nossa mesa, alheias a tensão que está
acontecendo.
Apesar do momento não ser apropriado meus olhos mapeiam cada
parte do corpo da Fiorella, até que me concentro no seu decote. Caralho! Ela
está gostosa demais, preciso levá-la para casa hoje, não aguento mais ficar
tanto tempo longe dela.
— Boa noite, senhoras. — Song abaixa a cabeça respeitosamente para
elas. — É um prazer ter a presença de vocês.
— Boa noite — Kimberly responde tranquila sem perceber que está
bem à frente de um inimigo.
Já Fiorella apenas o observa, ela é cria da máfia, tem uma percepção
maior do perigo.
— Não quero atrapalhar — Song diz exibindo um falso sorriso. —
Aproveitem a noite. — Ele acena e se afasta seguido dos seus seguranças.
— Que homem estranho — Kimberly comenta quando ele some entre
as pessoas.
— Estranho é pouco — Stuart diz ao me encarar nervoso.
— Não gostei desse encontro. — Mitchell tem a visão focada por onde
Song sumiu. — Ele quer problemas.
— E vai encontrar — Nero afirma ameaçadoramente.
Toda a situação me incomoda, mas o que mais me deixa desconfortável
é quando vejo Eros chamar Fiorella para sentar-se ao seu lado. Todos os
meus músculos ficam tensos, odeio vê-lo tão perto dela.
Nero percebe o meu desconforto, mas pede que eu fique calmo,
prometendo que no final da noite, ela irá embora comigo.
A boca dele vem contra a minha tomando meus lábios com fervor.
Desalinho os fios do seu cabelo ao me entregar de corpo e alma a este
momento.
Thomas tomba meu corpo na cama e desliza a minha calcinha por
minhas pernas até descartá-la no chão. Os olhos dele me fitam com desejo,
sempre que me olha assim a sensação que tenho é de ser a mulher mais
desejada do mundo.
Ele me lança um sorriso sacana quando desce a calça juntamente com a
cueca revelando sua potente ereção. Rodeio meus braços em torno dele
quando seu corpo cobre o meu.
Eu o quero tanto que chegar doer, em certos momentos acho que foi um
grande erro ficarmos juntos, mas aí eu penso em todas as experiências que
vivi ao seu lado e entendo o quanto tudo o que vivemos mudou quem eu sou.
— Pare de pensar. — Encaro seus olhos assustada por ele perceber que
minha mente se perdeu. — Fique aqui comigo, viva este momento, é tudo o
que temos. — A intensidade com que ele me olha faz minhas emoções
ficarem em conflito.
Eu me sinto perdida, completamente à deriva com todos os meus
sentimentos. Não quero perdê-lo, Thomas foi a única coisa boa que eu tive
nesta vida.
Não o respondo, apenas levo meus lábios aos seus, necessitando
desesperadamente me conectar a ele.
Seguro o seu membro sentindo a força da sua rigidez na minha mão.
Acaricio com a ponta do polegar toda a sua glande, espalhando o líquido pré-
sêmen por toda a região.
Ele geme contra meus lábios, apertando com força o meu quadril. Abro
mais as pernas, o incentivando a se encaixar entre elas. Sem demora ele
obedece ao meu pedido silencioso e nos conectamos prazerosamente,
iniciando mais uma vez o momento em que existe apenas nós dois.
Erguendo minha perna ele afunda toda a sua ereção em mim. Apoio as
mãos na sua bunda, dando a exata profundidade que eu quero que ele vá.
Thomas sorri e acata minha vontade indo em um ritmo que eletrifica todo
meu corpo.
Em um movimento hábil coloca minhas pernas contra seus ombros.
Solto um chiado profundo quando ele se precipita em uma única estocada.
Thomas sempre teve o cuidado de não ser muito agressivo na cama, mas
desde que voltamos de Hamptons, tem sido mais incisivo no sexo.
A princípio fiquei perdida com esse novo modo dele agir, mas depois
eu me deixei levar e hoje exijo um sexo com mais pegada, eu me excito com
essa maneira forte com que me segura.
Noto que sua testa tem gotículas de suor e seu rosto está tenso,
demonstrando o quanto ele está no limite. Gosto de saber que eu o
descontrolo, não estou sozinha nessa atração louca que sinto por ele.
— Preciso de um pouco mais — peço sem ar, ansiosa para conseguir
meu orgasmo.
— Não fala assim — grito quando ele me penetra com mais força. —
Eu não quero te empurrar além do limite.
— Desde que te conheci esqueci meus limites. — A mão dele aperta
minha cintura com força.
Thomas se solta e me dá exatamente o que pedi. A maneira viril com
que me penetra faz todo o meu corpo vibrar, eu me sinto completamente dele,
é como se fossemos apenas um.
Eu gozo deixando um grito escapar quando sinto cada célula do meu
corpo explodir. O cheiro da nossa união embriaga os meus sentidos,
deixando-me zonza. Fecho os olhos, completamente sonolenta após sentir um
orgasmo devastador.
— Como vou fazer para abrir mão de você? — Ouço sua voz longe,
mas não sei ao certo se foi ele a falar, ou eu que esbocei em meio a névoa de
sono o meu medo do momento da nossa separação.
— Como vou fazer para abrir mão de você? — Sopro essas palavras
quando ela fica mole entre meus braços.
Ajeito o seu corpo na cama e coloco o travesseiro sob sua cabeça, em
seguida puxo o lençol e a cubro. Passo um tempo admirando seu rosto,
perdido nos sentimentos que estou lutando para não sentir.
Em algum momento eu passei a respirar apenas Fiorella, eu não
consigo mais tirá-la da minha mente.
Jogo a cabeça para trás e recosto sobre a cabeceira da cama, eu me meti
em uma grande furada, agora já não sei como vou fazer para conseguir sair
dessa enrascada.
Pulo da cama e caminho até a janela. Olho para o céu esperando que
um grande milagre aconteça e mude todo o nosso destino. Ser um príncipe
sempre foi algo que me incomodou, mas agora que ela está na minha vida, o
meu título parece ainda mais esmagador.
Pode parecer um pouco contraditório, mas neste momento eu queria
pertencer à máfia. Se eu fosse um deles a reivindicaria como minha e não
permitiria que partisse.
Volto a olhar para ela dormindo serenamente e segura na minha cama.
É assim que a quero sempre, o que me deixa angustiado é saber que não vou
poder estar por perto para impedir que algum mal lhe aconteça.
Vou até o banheiro me limpar e depois visto a calça do pijama, mais
uma vez verifico Fiorella antes de sair do quarto. Preciso conversar com o
primo dela, para saber como anda os preparativos para a nossa ofensiva
contra Song.
— É sério que vai passar as férias viajando por aí e não virá me visitar?
— pergunto à minha irmã.
— Conheço uma pessoa que vivia viajando por aí e só visitava a
família por alguns dias antes de voltar à faculdade.
— Hill, não misture as coisas, eu fugia dos compromissos do reino,
você vindo me visitar irá só se divertir.
— Prometo que passarei por aí.
— Eu vou cobrar. — Aproveito para mexer com a curiosidade dela. —
Queria que conhecesse alguém.
— Como assim? Está saindo com alguma mulher especial?
— Saberá se vier me visitar.
— Thomas Cassel, não me mate de curiosidade.
Jogo a cabeça para trás enquanto rio, Hill é muito curiosa, nunca muda.
Eu poderia falar sobre a Fiorella, mas não farei isso, a não ser que ela venha
me ver. Estou sentindo falta dessa pestinha, quero passar uns dias ao seu
lado.
Desvio das suas perguntas e acabo conseguindo o que tanto quero. Ela
virá me visitar antes do retorno das suas aulas.
Quando finalizo a chamada estou sorrindo, conversar com Hill sempre
eleva meu humor.
Olho para o relógio e vejo que já está quase na hora do meu encontro
com Nero. Vamos fechar todo o plano para foder Song e alertá-lo que não
deve nos pressionar.
O desgraçado teve a audácia de voltar a me ameaçar na semana
passada, quando nos encontramos em mais um evento. Song está ganhando
muito dinheiro de maneira ilegal e está desesperado para lavar essa grana de
maneira segura.
Peço um rápido encontro com Laura, ela tem sido uma grande fonte de
apoio. Eu já tinha uma ideia da sua competência, mas estou realmente
surpreso com o seu trabalho perfeito. A ausência do Scott é sentida por toda a
equipe, no entanto, Laura o substituiu com louvor.
Não demora muito e ela está no meu escritório, começo a nossa
conversa pedindo que fique alerta sobre os boatos que começaram a surgir
sobre nosso problema de segurança.
Coincidentemente o burburinho teve início dias depois do meu
encontro com Song. O infeliz está tentando me pressionar de todo jeito, não
vejo a hora de foder com a vida dele.
Assim que a Laura vai embora eu envio uma mensagem para Stuart
pedindo que ele venha a minha sala.
Se tudo correr bem, em alguns dias irei foder com gosto a máfia
chinesa, eles irão entender que não devem brincar comigo, muito menos
achar que podem me pressionar.
Não gosto de usar meu poder, mas eu sou a porra de um príncipe e
tenho um reino para me apoiar no que eu precisar. Fora os parceiros
poderosos como a Cosa Nostra que, apesar de não andarem na legalidade,
sabem ser fiéis com aqueles que lhes oferecerem lucro.
— O que deu em você hoje? — Fecho os olhos quando sinto sua mão
acariciando meu cabelo. — Está tão calado, eu fiz algo que o aborreceu?
Posso ir embora se quiser. — Aperto sua cintura, meu problema é justamente
saber que ela precisará ir embora e eu não sei quando iremos nos ver
novamente.
— Você não fez nada. — Suspendo seu corpo e a monto sobre mim. —
Nero me alertou sobre seus tios, depois de hoje não sei quando te verei.
A tristeza toma conta do seu rosto, desde que chegou aqui não falou
sobre o retorno dos seus tios, certamente estava querendo evitar o assunto.
— Meu primo disse que dará um jeito.
— E quanto a Paolo? Você vai precisar voltar. — Fiorella encosta a
cabeça no meu ombro.
— Inevitavelmente esse momento vai chegar, não podemos evitar.
— Não é possível que não exista nada que eu possa fazer. — Estou a
ponto de explodir de tanta raiva.
— Você sabe como funciona minha realidade. — Ela beija meu
pescoço. — Tudo o que vivemos até aqui foi o maior presente que a vida me
deu, quando eu voltar para casa estarei levando dentro do meu coração um
pouco de felicidade, obrigada por cada momento especial que passei ao seu
lado.
Eu a seguro com força, não quero largá-la nunca mais. Estou
apaixonado por Fiorella, eu me perdi nos meus sentimentos, me sinto rendido
por ela e desesperado em imaginar que nunca mais a verei.
— Não quero te perder, porra! — Seguro sua cabeça e a beijo.
Esqueço que preciso responder alguns e-mails e me concentro apenas
na mulher a minha frente. Abro um espaço na minha mesa e a sento. Foda-se
meu trabalho! Nada neste mundo é mais importante do que aproveitar cada
segundo ao seu lado.
Abro o botão da sua calça e rapidamente deslizo a peça por suas pernas.
Fiorella sorri quando engancho a mão nas laterais da calcinha e a retiro em
um movimento firme.
Encontro o paraíso quando me instalo entre suas coxas. É uma sensação
única saber que sou responsável por cada som de prazer que escapa da sua
boca. Sempre me preocupei com a prazer das minhas parceiras, mas quando
se trata dela é praticamente uma obsessão fazê-la gozar com intensidade.
— Thomas! — Ela grita quando goza e quase arranca os fios do meu
cabelo.
Espalho beijos entre suas coxas, até que encaro seu rosto corado pelo
orgasmo. Linda demais. Eu não posso permitir que parta, preciso encontrar
uma maneira de convencer Paolo a deixá-la comigo.
— Eu nunca gostei de guerra — digo quando desato o laço da minha
calça de moletom e libero a minha ereção. — Mas pela primeira vez na vida,
estou cogitando iniciar uma unicamente por você.
— O que está querendo dizer? — pergunta quando centralizo a minha
ereção na sua entrada.
— Que a Cosa Nostra não é maior que Vichi. — Sorrio ao começar a
sentir o seu calor.
Eu não sou a porra de um príncipe por acaso, essa merda de título deve
servir para algo. Qual o pecado se uma mulher da máfia furar as tradições e
se unir com realeza?
Interrompo meus pensamentos e apenas fico concentrado no momento
único que é me unir ao seu corpo. Estou me sentindo mais vivo do que nunca
neste momento, ao seu lado eu reencontrei o Thomas que há muito tempo foi
adormecido. Eu me sinto livre neste momento e tudo é unicamente pela
mulher que está gemendo o meu nome, entregue ao sentimento profundo que
nos une.
Preciso esfriar a minha cabeça e encontrar uma maneira de mudar o
caralho das tradições da máfia e fazê-la apenas minha.
— Por que estou com essa sensação de que nada vai ser igual quando
eu sair por esta porta? — pergunto quando seguro seus braços.
— É porque não sabemos quanto tempo ficaremos sem nos vermos. —
Ele enrola o meu rabo de cavalo na mão. — Juro que vou tentar junto ao seu
primo encontrar uma maneira segura de nos encontrarmos, não podemos
perder nenhum segundo, você pode ser pressionada a voltar.
— Paolo disse que posso levar meu tempo, o problema é a minha mãe.
— Ela não pode te deixar em paz depois de tudo o que aconteceu?
— A minha mãe é difícil. — Reviro os olhos. — Ela tem medo de que
eu perca a reputação e nunca mais me case.
— Sua mãe é uma piada de mau gosto.
— Senhor, estamos prontos, os seguranças da senhorita a esperam. —
A voz do Alec interrompe nossa conversa.
— Ela já está descendo — Thomas responde sem tirar os olhos do meu
rosto. — Fique atento em tudo enquanto a escolta até em casa.
— Não se preocupe. — Alec pede licença e se afasta.
— Por que tantos seguranças? Você não está me contando a verdade.
— Precaução — diz ao me beijar. — Assim que puder nos
encontramos, ligue-me mais tarde.
— Tudo bem — concordo ao abraçá-lo, eu não queria me separar dele
nunca mais, Thomas conquistou todo o meu coração.
Com muito pesar eu me separo dele e sigo os seguranças que já me
aguardam no elevador. Olho para Thomas quando fico no meio dos dois
homens, ele está com cenho franzido, encarando-me com um olhar
indecifrável.
Quando as portas de metal se fecham, sinto minha respiração falhar. A
sensação de que nada mais entre nós será como antes me engole, eu tento me
recompor, mas lágrimas começam a despontar dos meus olhos com o
sentimento sufocante que me engole.
Enquanto espero por Fiorella penso na conversa que tive mais cedo
com a minha irmã. Nós não podemos de fato aproveitar nossas vidas, somos
prisioneiros de todos os protocolos de segurança que precisamos seguir. Se
dermos um passo em falso, o pior pode acontecer.
Ergo a cabeça quando ouço uma movimentação, meus olhos caem para
as pernas torneadas dela descendo as escadas.
Como é bonita, a cada vez que eu a encontro me sinto mais apaixonado.
Vou ao seu encontro e a espero no final da escada, um sorriso tímido
brinca nos seus lábios. Ela é tão charmosa e delicada, sua suavidade me deixa
completamente encantado.
— Eu poderia estar chateado por encontrá-la em qualquer lugar, mas
quando te vejo, nada mais importa — digo ao segurar sua mão e levar até os
lábios.
— Você está romântico.
— Eu tento me esforçar. — Roço o polegar na sua bochecha. — Venha
aqui. — Seguro a sua mão levando-a na direção do sofá.
Antes de rodear o móvel a faço parar e estico o braço para pegar o
buquê. A surpresa no seu rosto me faz questionar internamente por que não
lhe presenteei com flores antes.
— Que rosas lindas. — Fiorella segura o buquê e inspira
profundamente. — Nunca recebi algo assim. — Paraliso quando vejo
lágrimas despontarem dos seus olhos.
Às vezes eu esqueço que não é uma mulher comum, o que estamos
vivendo é pura novidade para ela, minha pequena garota nunca pôde escolher
seus parceiros.
— Então a partir de hoje você receberá muitos outros — digo ao
abraçá-la. — Pode pedir tudo o que quiser, faço questão de realizar todos os
seus sonhos.
— Como eu queria que meus sonhos pudessem ser realizados. —
Aperto meus braços ao seu redor ao perceber sua tristeza. — Como estão as
coisas? Hoje não vi Nero. — Ela muda de assunto.
— Tudo calmo demais. — Seguro sua mão para ajudá-la a sentar-se no
sofá. — Não estou gostando disso.
— Acha que o tal chinês está preparando um ataque?
— Ele é capaz de tudo. — Pego o buquê da sua mão e o descarto. —
Mas não vamos falar disso. — Seguro seu rosto. — Passei o dia apenas
pensando em você, Song é a última pessoa que eu quero colocar entre nós.
Selo nos lábios, tudo o que preciso é sentir seu sabor, saber que ela
ainda é minha. Camuflo a raiva que começa a me dominar, pensar nela longe,
sem a minha proteção e entregue as malditas leis da máfia, me deixa
completamente insano.
Toda vez que penso nela longe sinto o meu autocontrole ruir. Preciso
encontrar o mais rápido possível uma maneira de convencer Paolo a permitir
que ela fique definitivamente comigo.
— Pedi um jantar especial em um dos meus restaurantes preferidos —
digo assim que interrompo o beijo.
— Você sempre pensa em tudo.
— Digamos que eu sou um pouco organizado.
Uma das funcionárias do Nero aparece e avisa que nosso jantar está
servido. Agradeço por ela agilizar a organização da nossa comida, não quero
perder muito tempo rodeado de pessoas, quero ficar rapidamente sozinho
com Fiorella.
Enlaço o braço dela ao meu e sigo para a mesa do jantar. Durante a
nossa refeição Fiorella comenta que Paolo está monitorando a situação e,
menos tenso, por saber que meu reino está envolvido nesse conflito. Ele
confia em Mitch, os dois são amigos e eu fiz meu irmão garantir a Paolo que
Vichi estava de olho nas movimentações do Song.
Aparentemente isso o acalmou, garantindo a Ella o prolongamento da
sua estadia. Não sei até quando vou sustentar sua presença aqui, mas até que
precise partir, espero que um milagre mude as regras do jogo.
Assim que terminamos o jantar dividimos uma última taça de vinho na
sala. Apesar da minha ansiedade em estar a sós com ela, sigo a sua
movimentação, não quero que pense que só a vejo como fonte de sexo, o que
existe entre nós vai muito além.
— Ficou perfeito aqui — ela diz ao admirar as rosas em uma mesa
perto da janela do seu quarto.
— Vai ter espaço para todas que eu mandar?
— Pode parar, não seja exagerado.
— Eu quero ser. — Seguro sua cintura. — Ella, eu desejo proporcionar
cada um dos seus sonhos, você merece realizá-los — Beijo seu pescoço. —
Não quero te perder. — Assumo angustiado.
Sem nenhuma palavra ela se recosta em mim, envolvo seu corpo com
força, querendo de alguma maneira prendê-la para sempre ao meu lado.
— Já sabemos o nosso destino — por fim diz com a voz quebrada. —
Eu queria ter coragem de dar as costas para tudo, mas a minha família é
muito importante para mim.
Entendo o seu sentimento, eu também sou ligado à minha família
apesar de viver longe deles. Se eu tivesse que escolher entre nunca mais vê-
los, me sentiria no mesmo conflito que ela.
— Pode me chamar de sonhador, mas até o último segundo não vou
deixar de acreditar que podemos enfrentar toda essa merda de sistema arcaico
que te aprisiona.
Fiorella se move entre meus braços, ela apoia uma mão em meu peito e
a outra vai para o meu pescoço.
— Você é um príncipe, merece alguém que esteja à altura do seu título.
— Os seus olhos estão inundados por lágrimas. — Faz amor comigo,
Thomas? Preciso de cada grama do seu carinho para ter o que me agarrar
quando tudo ruir.
O seu pedido me desmorona, dessa vez sou eu a lutar contra a vontade
de chorar. Ela é o meu bem mais valioso, praticamente um diamante bruto,
que aos poucos estou esculpindo. Não posso abrir mão dela, de alguma
maneira preciso encontrar um jeito de mantê-la comigo.
Beijo o seu rosto no exato lugar por onde uma lágrima escorre,
lentamente abro o zíper do seu vestido, expondo seu corpo delicado aos meus
olhos.
Vê-la sofrer esmaga meu coração, depois de tudo o que passou merece
apenas sorrir.
Com calma eu a deixo completamente nua, em seguida retiro as minhas
roupas e nos encaminho até a cama. Deito-a bem no centro e por alguns
segundos admiro seu rosto. Eu não me canso de olhá-la, Fiorella parece ter
sido esculpida, a sua beleza é arrebatadora.
Cubro o seu corpo de beijos, mesmo estando fervendo de tesão, eu me
contenho. O seu pedido foi especial, ela não quer uma boa foda, Fiorella
pediu que eu faça amor com ela.
Sua exigência tem um significado muito importante, porque revela o
sentimento que sente por mim. Ambos estamos apaixonados e incertos com
os rumos do nosso futuro. Porém, saber que ela está tão envolvida quanto eu,
me faz ter certeza de que posso tomar medidas extremas.
Quando não existe mais nenhuma parte do seu corpo sem que eu tenha
beijado, eu me instalo entre suas pernas e a devoro com volúpia. O seu gosto
é único e especial, eu sou completamente viciado no seu sabor.
Ela explode na minha boca com um grito rouco, a sua pele aquecida se
arrepia inteira, enquanto meu nome escapa da sua boca. Beijo entre suas
coxas e me ergo encarando seus olhos. O sorriso saciado dela me deixa
hipnotizado, o que sinto por essa mulher é muito mais que paixão, eu a amo e
por esse amor eu sou capaz de tudo.
Abro suas pernas e roço a minha ereção na entrada da sua boceta, ela
geme e me puxa para mais um beijo. Nossas bocas se chocam no exato
momento que eu começo a penetrá-la.
Eu vou até o fundo do seu canal sentindo a sensação incrível do seu
calor me recepcionar. Saio lentamente até quase me retirar completamente,
em seguida eu volto a estocar arrancando dela um gemido.
Nossos olhos se prendem enquanto começo a me movimentar com mais
agilidade. Quero ir devagar, mas quando estamos juntos tudo ganha uma
proporção gigante. Por mais que eu tente ter controle, o meu corpo ganha
vida própria e só consegue correr ensandecido atrás do nosso orgasmo.
Abaixo a cabeça e capturo um dos seios na boca, sugo-o com força.
Fiorella afunda os dedos no meu cabelo, ela resmunga quando faço um
movimento de sucção na mama, rodeio a língua pelo bico e sigo para o outro
seio.
O barulho dos nossos corpos se encontrando domina o quarto, estamos
em um ritmo intenso, bem diferente das nossas primeiras transas.
Eu me sinto completamente conectado a ela, pela primeira vez na vida
eu quero pertencer a alguém.
— Thomas... — ela sussurra meu nome.
— Estou aqui — digo ao beijar seu queixo e encarar seus olhos. — Eu
quero estar sempre com você, não me interessa as regras do jogo, você é
minha.
Apoio uma mão acima da sua cabeça e me impulsiono com vigor
dentro dela. Porra! Ninguém vai nos separar, dessa vez eu vou lutar com
todas as armas que possuo, estou cansado de levar “não” da vida, eu vou
construir o meu “sim”.
Gozamos ao mesmo tempo, em uma sincronia que só possuo com ela.
Apoio os cotovelos em cada lado do seu rosto e tento estabilizar a
minha respiração. Ela escorrega as mãos por minhas costas, em um carinho
terno que arrepia a minha pele. Aperto os olhos quando ela beija lentamente a
minha garganta, em seguida sua boca roça na minha.
— Sempre serei sua, Thomas. — Sua voz suave me faz abrir os olhos e
encará-la. — Não importa onde eu esteja, meu coração sempre estará batendo
por você.
Encosto minha testa na dela, não sei o que falar sem revelar o quanto
ela é importante para mim. Eu a amo e saber desse sentimento não só me
assusta, mas também me dá forças para lutar por este amor.
Olho para o lado quando ouço a porta do quarto abrir. Nero aparece
todo desgrenhado e com um pequeno corte na testa. Ele está péssimo, mas a
escuridão nos seus olhos mostra o quanto está furioso.
— Como ela está? — pergunta ao encarar o corpo adormecido da
prima.
— O médico aplicou um calmante e lhe deu um analgésico, ela deve
dormir pelas próximas horas. Fora isso está bem, não quebrou nada, só está
com algumas escoriações, nada grave.
— Melhor. — Ele passa a mão pelo cabelo. — Song já assumiu a
responsabilidade — diz ao se aproximar e parar ao meu lado na janela. —
Vou caçá-lo até tê-lo sob meu domínio, não quero mais provocações, o que
aconteceu hoje poderia ter sido fatal, consegui evitar o pior e protegê-la, mas
o final poderia não ser esse.
— Estou à disposição para te ajudar no que for preciso.
— É algo pessoal, eu mesmo vou resolver. — Nos fitamos. — Se eu
não tomar uma atitude exemplar, terei todas as organizações existentes nesta
cidade achando que podem me confrontar.
— Você está certo. — Nero volta a olhar para frente e solta toda a
respiração.
— Vamos ao escritório, precisamos conversar.
Não quero deixar Fiorella sozinha, mas eu sei que precisamos ter uma
longa conversa. Antes de sair do quarto beijo sua testa e ajeito a manta que
recobre seu corpo.
A contragosto me afasto, seguindo Nero de perto na direção do
escritório. Quando nos isolamos no local ele vai até o pequeno bar e nos
serve duas doses de uísque.
— Falhamos, Thomas — comenta assim que toma toda a dose da
bebida. — Não conseguimos protegê-la. — Outra vez joga no copo mais uma
dose. — Consegui agir rápido, mas ainda assim ela se feriu.
— Foi um evento inesperado, vamos ter que rever todos os protocolos
de segurança.
— Você sabe que só isso não vai adiantar. — Ele espalma as duas mãos
sobre a mesa. — Fiorella é minha responsabilidade, ela não pode ter um fio
de cabelo danificado, ficar com ela aqui neste momento é impossível.
— Precisamos encontrar uma solução, ela não pode partir.
— Não está nas minhas mãos essa decisão, em breve Paolo saberá
disso, meu pai já me ligou e não irá demorar a avisá-lo, papai está bem
aborrecido com o ocorrido e por Ella estar aqui comigo.
— Nero, não vamos agir no calor da emoção.
— Porra! Eu não... — O som do celular dele interrompe o que ia falar.
O seu rosto se retorce em uma careta ao verificar o visor. — É ele, puta que
pariu! — Xinga ao pegar o telefone e colocar a chamada no viva-voz. —
Estou ouvindo.
— Onde está a minha irmã? — Nos encaramos ao ouvir o berro do
Paolo.
Ele já não é muito certo do juízo em circunstâncias comuns, quando o
assunto é sua família ninguém segura o homem.
— No quarto, dormindo, fica tranquilo que foi apenas um susto.
— Susto é o caralho! — grita. — Quero Fiorella amanhã mesmo vindo
para Roma, vou mandar um avião particular buscá-la, um dos meus homens
irá trazê-la até mim.
— Paolo, só tenha calma.
— Não peça para ter calma, porra! A minha irmã foi atacada, tudo
poderia acabar em tragédia.
— Mas não acabou, ela estava comigo, eu agi rápido.
— Sorte a sua, ou eu estaria chegando em Nova Iorque agora mesmo
em busca da sua cabeça. — Nero corre a mão pelo rosto.
— Pode ao menos esperar Fiorella se estabilizar? Ela está abalada, acho
melhor descansar uns dias e depois ela volta para casa.
— Não vou esperar nada, amanhã enviarei alguém, ele ficará aí caso
ela não possa viajar de imediato e não existe discussão na minha decisão.
Nero me encara já rendido, segurar Paolo é algo complexo, o homem é
intransigente e inflexível, para o contermos teríamos que nos abrirmos mais
do que podemos.
— Desculpa — fala com a voz quase inaudível. — Ela voltará assim
que estiver se sentindo bem, acredito que não irá demorar a estar em casa.
— Acho bom — diz rispidamente. — Mate logo Song, mostre a esses
merdas de chineses que você tem culhões e que manda no caralho desta
cidade.
O som da ligação sendo interrompida preenche todo o escritório.
— Maldição! — Nero quebra o copo ao batê-lo com força contra a
mesa. — Não bastasse toda a merda que passei hoje, ainda saio como fraco
da história.
— Você está longe de ser fraco — afirmo ao encerrar meu uísque. —
Paolo está puto, ele quis apenas te ofender gratuitamente. — Descarto meu
copo na sua mesa. — Vou conversar com Mitch, ele vai encontrar uma
maneira de mudar a opinião do seu primo.
— Ninguém vai mudar a decisão dele. — Afirma ao limpar a mão com
um guardanapo. — Também não a quero aqui, os próximos dias serão
difíceis quando eu fizer tudo o que for preciso para acabar de vez com Song,
é melhor ela estar segura em Roma. Você é inteligente, sabe que é o certo a
fazer.
Olho para o teto, sentindo um dilema interno me consumir. Sei que o
melhor é ela ir embora, o que aconteceu hoje deixou claro que algo
inesperado pode acabar provocando uma tragédia. Só que um lado meu é bem
egoísta e não gosta de imaginar que nunca mais a verá.
— Vá ficar com ela, príncipe, o tempo de vocês esgotou. — Nos
olhamos tensos.
A minha vontade é tirá-la daqui e escondê-la em algum lugar que
nenhum deles possa ter acesso, no entanto não faço isso porque sei que
sofreria por estar longe da família.
— Eu não posso apenas vê-la partir, ninguém vai me fazer ficar de
braços cruzados enquanto a tiram de mim. — Nero rodeia a mesa e se
aproxima.
— Não brinque com o perigo. — Rosna furioso. — Se tem um pingo
de sentimento por ela deixe-a ir, vocês não podem ficar juntos, é um fato que
infelizmente não pode ser mudado, porra! — grita ao segurar a minha blusa.
— Não a coloque em risco quando sabe que nunca poderá tê-la, deixe-a ir, é
o melhor para todos nós.
Seguro o seu punho, quero socar a cara dele, mas não posso fazer isso
porque Nero está coberto de razão. Para ficar com ela eu teria que tirá-la do
radar da máfia, isso a faria viver escondida, sem poder ter uma vida comum.
Por mais que eu a ame, não posso condená-la a passar o resto dos seus
dias nas sombras, tendo uma existência medíocre.
— Apenas faça o certo. — Se eu não o conhecesse bem, diria que Nero
acaba de implorar que eu seja prudente.
— Já perdi alguém muito especial um dia, não vou fazer isso com sua
prima. — Tiro sua mão da minha camisa. — Amo Fiorella, Nero. — Assumo
o deixando de boca aberta. — E por amá-la tanto eu não vou condená-la a
viver longe da família, muito menos permitirei que corra riscos. — Inspiro
fundo, me sentindo destroçado por ter perdido o jogo. — Mas vou te falar
apenas uma coisa. — Ergo o dedo bem à frente do seu rosto. — Se eu
descobrir que ela está novamente sendo agredida, não vai existir caralho de
máfia nenhuma que irá me impedir de pegá-la. Seu primo estará morto antes
que ele possa reagir e quem atravessar meu caminho terá o mesmo destino.
— Empurro seu peito pouco me fodendo para as consequências. — E saiba
que não é uma ameaça vazia.
Sem mais palavras caminho para a saída do escritório, para o meu azar
trombo com Eros. Parecendo entender que não é o melhor momento para suas
gracinhas ele apenas me encara, empurro seu peito com o ombro e sigo em
frente. Agora preciso me agarrar as poucas horas com a mulher que amo,
antes de ser obrigado deixá-la ir.
O carro passa pelo pesado portão de ferro da casa da minha mãe. Sinto
como se pesadas algemas fossem colocadas em mim. Amaro me estende a
mão para sair do carro, fizemos uma viagem tranquila e silenciosa. Ele
entendeu que não estava bem e não tentou puxar assunto.
Gosto dele, é um rapaz sempre tranquilo, com um papo descontraído e
de extrema confiança. Possuo um carinho especial por ele, pois se não fosse
sua intervenção no passado, minha irmã Giovanna teria sofrido violência
sexual do próprio sogro.
Toda a minha família é grata a ele, tanto que Paolo o promoveu a um
dos seus tenentes, como forma de demonstrar o quanto reconhece sua
lealdade e, eu dei de presente a casa que um dia vivi com o meu falecido
marido.
— Minha filha, como você fez falta nesta casa. — A minha mãe me
abraça e, apesar de todas as nossas brigas, fico feliz. Eu a amo
incondicionalmente, ela foi a única fonte de amor que conheci quando era
criança.
— Também senti sua falta — falo com sinceridade.
— Sentiu mesmo? Pensei que nunca mais fosse voltar. — Olho para o
chão, porque realmente não queria voltar.
— Foi uma experiência nova poder passar esse tempo fora, com
pessoas diferentes.
— Eu sei que precisava disso, mas não pude evitar ficar preocupada por
estar tão longe.
— Desculpem atrapalhar. — Amaro chama nossa atenção. — As malas
da senhora Fiorella já foram descarregadas, quer que eu mande levá-las ao
quarto dela? — pergunta à minha mãe.
— Não se preocupe, eu vou mandar arrumar tudo em breve.
— Obrigada por me trazer em segurança, Amaro. — Não posso deixar
de agradecer todo compromisso que ele teve comigo.
— É o meu serviço. — Ele ergue um canto da boca. — Se não
precisam mais de mim vou encontrar o chefe.
— Pode ir, eu cuido dela a partir de agora. — Amaro acena e se afasta.
— Quer que eu mande te servir algo para comer?
— Só preciso de um banho e cama.
— Então vá descansar, vou pedir que subam com sua bagagem.
— Tudo bem. — Olho para o topo da escada e engulo em seco para não
chorar. — Como está Gio e Chiara?
— Bem, amanhã estarão aqui para o café, pedi que não te
incomodassem hoje já que sabia que chegaria tarde.
Não digo nada, realmente estou exausta, preciso apenas dormir um
pouco e tentar acalmar meu coração.
Subo as escadas sentindo as minhas pernas pesarem toneladas. Quando
entro no meu quarto não consigo mais sentir a familiaridade de antes. É como
se eu não pertencesse mais a este lugar.
Tomo um banho rápido e coloco uma camisola confortável. Quando me
deito na cama olho para o teto e imagens diversas de tudo o que vivi com
Thomas correm soltas pela minha mente.
Tudo não passou de uma ilusão que apenas acabou com meu coração.
Desperto sentindo um carinho no cabelo que me fez muita falta nesses
meses que estive longe. Mesmo sem abrir os olhos sei que Gio está aqui, seu
cheiro de flores é inconfundível.
— Senti sua falta todos os dias — digo sem abrir os olhos.
— Eu senti mais. — Ela beija meu cabelo. — Como você está?
— Acho que devastada resume bem como estou.
— Ah, minha irmã, eu queria poder fazer algo por você. — Gio se
acomoda ao meu lado e me abraça.
— Eu não fazia ideia de que o amor podia doer tanto.
— Dói sim — afirma com a voz reflexiva. — Quando achei que
perderia Dom quase não suportei, pensar em não o ter comigo é impossível.
— Você é uma mulher de sorte, tem o homem que ama do seu lado.
— Ella, não pense muito, tente apenas se acalmar, o futuro é uma
caixinha de surpresas, tudo pode acontecer.
— Não irá acontecer Thomas na minha vida, sabemos disso.
— Como diz o antigo filósofo grego Sócrates: “Só sei que nada sei”. —
Ergo a cabeça e a encaro.
— De onde tirou isso?
— Da faculdade — responde sorrindo. — Lá aprendemos algumas
coisas interessantes.
Sorrio pela primeira desde que sofri o atentado, só mesmo Giovanna
para me alegrar.
— Ei, vocês estão confraternizando e não nos chamaram. — Chiada diz
da porta, segurando a filhinha no colo.
Logo atrás dela está Masha e Caterina, com seus lindos cachos ruivos.
O meu coração incha dentro do peito, como senti falta de todos elas.
— Seja bem-vinda, Ella, todos nós sentimos sua falta — Masha diz ao
colocar a minha sobrinha no chão, que vem rapidamente correndo na minha
direção.
Pego o seu corpo fofinho entre os braços e a beijo, ela cresceu bastante
desde que parti. A filha de Chiara nem se fala, está uma verdadeira
princesinha.
Pensar nessa palavra me deixa tensa, mas todos os meus pensamentos
se dissolvem quando vejo Paolo de braços cruzados e com o ombro
encostado no batente da porta.
O meu irmão é a rocha da família e, por mais que eu ame Thomas,
pensar em viver o resto da vida sem ter contato com ele é demais.
— É bom tê-la de volta, minha ragazza.
Deixo Caterina sentada na cama e corro até ele, abraço sua cintura e
afundo meu rosto em seu peito. Dentro dos seus braços sempre me sinto
segura, é assim desde que eu era criança.
— Agora que estou aqui é que percebo o quanto senti falta de todos. —
Olho para a minha família e sinto o amor explodir no meu coração. — Eu
amo vocês mais do que um dia imaginei — digo emocionada.
Thomas tinha razão, eu não seria feliz sem ter eles comigo. Sendo um
pouco sincera, nunca serei feliz, porque apesar de ter a minha família ao meu
lado, não poderei ter o homem que amo. Vou precisar conviver com essa
verdade até meu último dia de vida.
Há um mês a minha vida deu uma reviravolta que ainda não consegui
superar. Desde que voltei a Roma me enterrei em uma rotina monótona, não
sinto vontade sequer de sair do quarto. Meu apetite sumiu, vivo de comer
migalhas e gelato. Este último eu ando viciada, não fico um dia sem comer.
Minhas irmãs têm tentado me animar, Chiara anda desconfiada da
minha apatia, mas não me força a contar o que realmente está acontecendo.
Meus momentos de felicidade ficam concentrados quando estou com minhas
sobrinhas, nas aparições surpresas do Leo ou quando falo com Eros e Giada,
os dois me ligam constantemente, porém nenhum deles toca no nome do
Thomas.
Em alguns momentos eu me sinto tentada a saber sobre ele, mas seguro
minha curiosidade para não sofrer ainda mais, quanto menos eu souber da sua
vida, melhor para meu emocional.
— Não aguento mais te ver dentro desse quarto. — Olho para trás e
vejo Giovanna de braços cruzados. — Você precisa reagir.
— Tudo é muito complicado, Gio — digo me afastando da janela. —
Você não deveria estar na faculdade?
— Hoje só apresentei um trabalho, aí vim te ver.
A sua preocupação comigo sempre me deixa com o coração aquecido.
— Suas visitas são sempre bem-vindas. — A abraço.
— Essa em especial tem um motivo por trás.
— E o que seria? — pergunto curiosa.
— Ninguém sabe além de Dom, então vai precisar fazer segredo,
porque só vou contar à família no jantar de sábado na casa do nosso irmão.
— Está grávida? — Ela apenas sorrir.
Volto a abraçar Gio, ela vai ser uma mãe incrível, tem uma
desenvoltura maravilhosa com nossas sobrinhas, irá tirar de letra quando for
cuidar do próprio filho.
— Meus parabéns! — digo ao apertá-la com força. — Como Dom está
se sentindo?
— No céu — responde alegre. — Nós descobrimos ontem, ele mesmo
pegou o resultado.
— Vocês programaram? Lembro que disse que queria terminar a
faculdade.
— Esse era o plano original, mas mudei de ideia, quero meu próprio
filho, estou cansada de roubar minhas sobrinhas. — Sorrimos, entendo bem
ela, realmente ficamos atrás das meninas como doidas. — Dom não se opôs,
apesar de ele achar que eu precisava de mais tempo para poder me dedicar
aos estudos, mas se Masha consegue dar conta de Caterina e Paolo, eu
também dou.
— Disso não tenho dúvidas, Paolo vale por cinco crianças.
— Se ele ouvir isso, já sabe.
— Não vamos contar. — Seguro sua mão. — Estou tão feliz, você e
Dom merecem muito essa criança.
— Também estou, quero construir uma família numerosa com o meu
marido.
— Você vai, o amor de vocês merece tudo o que desejarem.
— Ella, algo me diz que você também terá o que deseja.
— Eu não vou, mas neste momento não é sobre mim e sim você. —
Volto a abraçá-la. — Já que agora está grávida, não pode beber um vinho,
então vamos providenciar um belo suco de uva, assim brindamos sem chamar
atenção de ninguém.
— Acho perfeito. — Os seus olhos brilham de animação.
É tão bom vê-la feliz, Gio teve muito medo do seu casamento com
Domênico, mal sabia ela que estava seguindo um caminho reto para um
futuro feliz. Ela é uma mulher de sorte.
Aguardo meu pai atender o telefone, ele é bem displicente com relação
ao celular, em algumas ocasiões ligamos ou para minha mãe ou um dos seus
assessores, só assim ele nos atende. Por sorte desta vez ele não me faz esperar
demais.
— Oi, filho, que surpresa a sua ligação a esta hora.
— Como estão as coisas por aí?
— Acabei de chegar de um encontro com alguns amigos e sua mãe está
no banho. — Não vou enrolar muito, preciso ir direto ao motivo da minha
ligação.
— Pai, eu preciso da sua ajuda.
— Sabe que faço o que precisar, só dizer. — Neste momento meu
irmão entra na sala, ele estava em uma ligação com a esposa, Kimberly sabe
de tudo e estava preocupada com a reação do Paolo.
— Eu estou apaixonado por uma mulher.
— Que notícia boa. — Ele me interrompe. — Esperei tanto por esse
dia, quero conhecê-la imediatamente.
— Pai... — Mitchell faz sinal para que eu continue falando. — A
situação não é tão simples, por isso preciso da sua ajuda.
— Como assim não é simples? Estou confuso.
— A mulher em questão é Fiorella Torcasio, a irmã do Paolo. —
Espero pela reação dele, mas meu pai não fala nada. — Você ouviu o que
falei?
— Ouvi e estou incrédulo.
— Sei que é algo inusitado, mas eu a conheci em Nova Iorque e nos
envolvemos e acabamos apaixonados.
— Ela é uma mulher da máfia, filho, não pode se envolver com
ninguém, a não ser que seja do seu meio.
— Aconteceu, pai e, agora preciso do seu apoio para que eu possa tê-la
comigo.
Faço um rápido resumo sobre toda a história que nos envolve, desde
quando nos conhecemos, até o atentado e consequentemente meu encontro
com Paolo e a exigência dele que meu pai esteja presente para poder
intimidar o Conselho.
— Então é isso, eu necessito que esteja em Roma para que pressione
junto comigo e Mitchell o clã da Cosa Nostra romana.
— Garoto, que confusão você se meteu — diz com a voz tensa. —
Confesso que não gosto do que está acontecendo, ter uma união de Vichi com
a máfia é algo que pode nos trazer sérios problemas, Mitchell deveria ter lhe
alertado sobre isso.
— Mitch sabe como o coração funciona, ele também foi pego de
surpresa quando se apaixonou por Kimberly.
— Ela não é da máfia, Thomas, você está querendo que nossa família
mergulhe oficialmente no submundo do crime.
— Lidamos com esse mundo o tempo todo. — Eu não esperava que ele
fosse ser tão resistente ao meu pedido.
— É diferente e você sabe disso. — Suspiro fundo, era só o que me
faltava ele não me apoiar.
— Pai, nunca te peço nada, quando preciso de você vai me negar
ajuda?
— A questão não é negar nada, mas você causar um imenso problema
para toda a nossa família. Em alguns núcleos as pessoas sabem exatamente a
origem real do Paolo, estaremos deixando claro que temos um membro da
máfia dentro da família real, isso é algo preocupante, sua mãe vai
enlouquecer quando souber disso.
— Porra, pai! Vai me deixar sozinho mesmo?
— Jogue a cartada final, use todas suas armas — meu irmão sussurra.
— Ela está grávida, pai, não vou deixar meu filho ser um bastardo,
muito menos arriscar que Paolo a case com algum filho da puta do clã e ela
volte a ser espancada como acontecia no antigo casamento.
Espero sua reação, mas ela não vem, um longo silêncio se estende pela
ligação. Encontro os olhos do meu irmão, sentindo meu coração dar um pique
preocupante, se meu pai me deixar sozinho agora, eu me afastarei da minha
família.
— O que precisa que eu faça? — Todo o meu corpo relaxa quando
ouço sua voz.
— Em dois dias teremos uma reunião aqui em Roma, Paolo quer sua
presença para poder intimidar os conselheiros e garantir assim que eles não se
oponham ao nosso casamento.
— Eu estarei aí e você terá seu casamento, assim como meu neto todos
os direitos reais — diz com segurança. — Se eles não concordarem com isso,
Paolo terá que encontrar novos conselheiros.
Sorrio, esse é o pai que conheço, Mitchell tem a quem puxar, é a cópia
fiel dele. Eu tive a sorte de ganhar o coração gigante da minha mãe, mas um
lado meu quando quer, é tão duro quanto o meu pai.
Que venha o Conselho e suas tradições ridículas, irei derrubar todas
elas, porque não existe ninguém neste mundo que vá me tirar Fiorella.
Seguro o cordão que Thomas me deu e o aperto com força, esse
pequeno objeto é uma espécie de elo entre nós, quando o tenho comigo me
sinto inteiramente conectada a ele. Nem nos mais delirantes sonhos imaginei
tudo o que aconteceu aqui nesta noite, Thomas literalmente me pegou de
surpresa ao vir arriscar tudo por mim.
Saber que ele também me ama deixa meu coração acelerado, pensei
que o sentimento era unilateral, mas depois dele enfrentar meu irmão, com
tanta coragem, impossível negar a veracidade desse amor.
Ouço uma batida na porta e mando quem quer que esteja do outro lado
entrar. A imagem poderosa do meu irmão se revela, Paolo fecha a porta e se
recosta sobre ela.
Sei que está com raiva de mim, eu o meti em uma confusão que pode
custar, não só seu cargo, como até mesmo sua vida. Se todos os conselheiros
se virarem contra ele, meu irmão pode ser morto sem piedade.
— Como você está? — ele pergunta ao se afastar da porta e se
aproximar de onde estou deitada na cama.
— A pergunta certa não seria como você está depois do que fiz? —
Paolo para a minha frente e cruza os braços.
Sua postura defensiva me deixa agitada, conheço bem o temperamento
do meu irmão e, se eu não fosse sua irmã, ele não estaria tão calmo.
— Nada do que fizer pode ser pior do que já fizeram com você. — Ele
se senta na cama e fica de frente para mim. — Se eu não fosse o líder de uma
organização e tivesse que respeitar determinadas tradições, pode ter certeza
de que estaria muito feliz em saber que Thomas é seu escolhido e que vão
formar uma família.
— Eu o amo muito Paolo, desde que o vi pela primeira vez senti algo
diferente, não pude evitar me envolver.
Sou surpreendida quando meu irmão sorri e segura a minha mão.
— Não conte a ninguém, mas eu sei bem o que sentiu. — Ele encara
nossas mãos unidas. — Quando vi pela primeira vez meu inferno vermelho,
um sentimento estranho me possuiu, não era nada sexual, ela era apenas uma
menina assustada, mas determinada a enfrentar seus inimigos. Naquela noite
eu quis apenas protegê-la, como nunca quis com outra pessoa a não ser minha
família e Dom. — Fico quieta, surpresa por ele se abrir comigo, isso nunca
aconteceu. — Então eu a trouxe para minha casa e graças a Domênico ela
ficou morando comigo. Quando Masha virou uma mulher, eu entendi que
estava muito fodido, porque eu passei a desejá-la com uma intensidade
assustadora, não pude evitar reivindicá-la como minha esposa, eu não podia
ter outra mulher comigo.
O meu coração apaixonado neste momento transborda de amor, saber
que meu irmão consegue ter esse tipo de sentimento é algo inusitado e
impactante.
— Foi exatamente o que senti — digo ao apertar sua mão. — Por mais
que eu soubesse que não existia a mínima possibilidade de ficarmos juntos,
queria viver aquele momento para ter algo meu para lembrar quando voltasse
para casa.
— Dentre todos os homens que conheço, ele é o ideal para estar com
alguém que já sofreu tanto. — Ele beija minha testa. — O príncipe tem um
bom coração e sabe ser corajoso, ele cuidará bem de você, não me importo
que fiquem juntos, mas não depende só de mim.
— Eu sei disso e estou feliz por você não está com raiva de mim.
— Fiquei só um pouco aborrecido. — Ele me puxa para um abraço. —
O meu lado irmão sabe que você precisava de um pouco de alegria, mas essa
minha face tem que ficar bem escondida, porque eu sou um Capo e não posso
permitir que nada saia do meu controle. — Sua mão ergue meu queixo,
fazendo nossos olhos se cruzarem. — Vocês têm a minha bênção pessoal,
mas só vou autorizar esse casamento se o Conselho aceitar.
— Estou com medo desse Paolo sentimental. — Ele enruga as
sobrancelhas.
— Não sou sentimental, só quero que você siga o caminho que deseja.
— Agora está de volta o Capo ranzinza. — E se em algum momento aquele
merda de príncipe te magoar, eu corto a cabeça dele e declaro guerra a Vichi,
foda-se se são uma monarquia, eu não ligo.
Volto a abraçá-lo, dessa vez eu solto uma risada alta, Paolo não sabe,
mas ele é uma comédia. Seu esforço para ser mau quando está com a família
é maravilhoso, mas todas nós sabemos o quanto ele tem um coração imenso,
que é destinado unicamente às poucas pessoas que ama.
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[1]
Personagem do livro O Amor do Príncipe, primeiro livro da série Homens Dominantes
[2]
Personagem do livro O Amor do Príncipe.