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Copyright © 2022 Vania Freire

Capa: Gialui Design


Beta: Eliane Diniz
Revisão: Lidiane Mastello, Natalia Souza,
Mariana Santan
Ilustração: Sheila Garché
Diagramação: Vania Freire
_________________________
Noiva Substituta
Vania Freire
2ª Edição — 2022
______________________
Registro: AVCTORIS 57c0108d8194355
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São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Copyright © 2022 Vania Freire
Sinopse
Mensagem da autora
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capitulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo
Agradecimento
Outras obras
Redes Sociais
Sinopse
AGE GAP + ENEMIES TO LOVERS +SLOW BURN
Uma jovem meiga buscando reconstruir sua vida.
Um poderoso bilionário, arrogante e protetor.
Uma criança tagarela e solitária.
Julia Amorim é uma digital influencer que viu seu sonho e a reputação que levou anos para
construir serem arruinados pelas mentiras de seu ex-marido.
Ela estava triste e magoada quando conheceu a carinhosa Maria e se encantou
perdidamente pela doce garotinha. O pai dela, por outro lado, não lhe causou uma boa
impressão
Emílio Castro Agustini é viúvo, pai solo de uma menina de cinco anos e dono de vários
hotéis pelo mundo.
Ele luta arduamente contra a atração por uma mulher muito mais nova e com uma fama
deplorável nas redes sociais.
Quando o perigo ronda a vida da mulher insolente que permeia seus pensamentos, uma
proposta audaciosa é feita.
Era para ser apenas um acordo. O amor não estava nos planos.

Livro 1 Marido Substituto,


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Mensagem da autora
Querida leitora, muito obrigada pelo carinho e por interesse
em minha obra.
A história de Julia e Emílio é sobre recomeços e segunda
chance. É sobre acreditar em si mesma e tomar as rédeas da sua
vida. É sobre não se calar porque quando o oprimido se cala, o
agressor ganha.
O romance deles aborda; relacionamento familiar, decepções,
recomeços, agressões físicas, psicológicas e empoderamento.
É uma história com diferença de idade, com aquela
implicância deliciosa entre o casal e que o romance demora um
pouco a acontecer, mas depois que começa...
Bem, vou deixar vocês descobrirem.
Desejo que se encantem com a história desse casal.
PS: Este livro é recomendado para maiores de 18 anos,
contém cenas de sexo explícito, gatilhos emocionais para pessoas
sensíveis, pois há cenas de violência.
Playlist
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Capítulo 1

Mais uma vez seguro o braço do meu pai e verifico as horas


no caro relógio de ouro que adorna seu pulso.

— Filha, já passamos do horário considerado de bom-tom


para uma noiva se atrasar — adverte.

— Ela vem, pai, eu sei que vem. Julieta não me deixaria


sozinha no meu casamento, ela sabe o quanto este dia é importante
para mim. — Desvio meus olhos dele e fito a porta, buscando o ar
com força e o soltando rapidamente.

— Nunca vi vocês discutirem como na semana passada —


lamenta e faz um meneio negativo com a cabeça. — Contudo, não
posso deixar de salientar que, no fundo, Julieta tem razão.

Sou a filha mais nova do empresário do ramo têxtil Arthur


Amorim, Julieta é a filha mais velha brilhante, realmente ela é
incrível. Assumiu os negócios da nossa família quando meu pai
apresentou um problema de saúde há alguns anos. Minha irmã em
pouco tempo conseguiu quase triplicar a nossa fortuna. Tamanha
demonstração de competência apenas acirrou ainda mais a
rivalidade entre meu irmão Juliano e ela.

Na verdade, meu irmão briga sozinho, Julieta é ocupada


demais para dar atenção às merdas que ele faz. Com dois filhos que
requerem tanta atenção, não sobrou muito tempo para a filha mais
nova.

Talvez seja por esse motivo que sempre me senti insegura,


vulnerável e vivo eternamente buscando uma aceitação incansável.
Quando iniciei meu Instagram, nunca imaginei que teria mais de 15
milhões de seguidores em tão pouco tempo. Não sou artista nem
uma atriz famosa, foi questão de sorte, um vídeo mostrando as
roupas que uso para cada ocasião viralizou e do dia para noite
várias pessoas estavam ávidas para saber sobre mim.

Ali eu encontrei meu lugar. Aquelas pessoas desconhecidas


se tornaram meu conforto, meu porto seguro, elas estão ali por mim,
torcem pela minha felicidade, eles me ajudam a superar a solidão
que sinto. Um sentimento que ninguém entendia: apesar de estar
rodeada de pessoas e familiares, eu me sentia sozinha.

Sei que meu pai me ama, mas não sou sua prioridade, muito
menos para minha irmã, mesmo com todo amor que sei que ela
sente por mim. Sua prioridade são os negócios. Sempre me senti à
parte, evitava demonstrar que não estava bem para não ser um
peso. O sentimento de inferioridade e baixa autoestima estavam
enraizados em mim como uma segunda pele.

Comecei a fazer terapia e fui diagnosticada com distimia, um


tipo de depressão crônica cujos portadores têm um elevado senso
de autocrítica. Por fora, sou uma mulher considerada por muitos
linda, extrovertida e engraçada, mas por dentro sou uma bagunça
total e absoluta.

E meus seguidores me ajudam de uma forma que eles nem


sequer imaginam. Com eles, não me sinto incompleta e muito
menos acredito que estou incomodando, eles estão ali porque
querem e isso é importante demais para mim. O que começou como
uma brincadeira, se tornou primeiro minha terapia, meu lugar
perfeito no mundo e depois, minha profissão. Hoje tenho contrato
com diversas marcas.

Foi em um trabalho de publicidade que conheci Gabriel.


Charmoso, galante, bonito, meus seguidores o amaram a ponto de
criar uma hashtag para nós, “#GaJu”. Pela primeira vez em minha
vida, me senti aceita. Meus seguidores amavam a cada vez que
postava algo sobre nós dois.

Quando ele me pediu em casamento no meio de uma live,


não consegui dizer não, foi um verdadeiro alvoroço. Várias marcas
imploraram para patrocinar nossa cerimônia, ganhamos uma viagem
para as Maldivas com tudo pago por um hotel e em troca
postaríamos sobre a nossa lua de mel no local.

Eu estou vivendo um sonho.

Ou quase, porque minha família não aceita Gabriel, pelo


menos não meu pai e minha irmã.

Sorrio e elevo minha cabeça olhando para o teto, sentindo


meus olhos pinicarem tentando conter as lágrimas. Meu pai nunca
negou ser contra meu casamento, como também sempre deixou
claro que Julieta era sua filha preferida. Por um bom tempo da
minha vida isso me incomodou, até o momento em que compreendi
que não importava o quão comportada e educada eu fosse, nunca
seria boa o suficiente para ganhar a atenção que tanto queria do
meu pai.

Não importava as notas altas que tirasse ou se eu evitasse


dar tantas dores de cabeça como Juliano. Não importava o quanto
me esforçasse, eu nunca seria excelente como ela é. Isso, ligado ao
fato de que minha irmã me adora e não cansa de dizer o quanto me
ama fez com que boa parte do desconforto fosse embora.

Julieta me ama tanto ao ponto de brigar comigo porque pensa


que eu estou cometendo uma insensatez ao me casar com Gabriel.

No entanto, existe uma pequena parte de mim que ainda


sonha em ser a número um do coração do meu pai. Nem que seja
no dia do meu casamento.

— Ela vem, eu sei que sim, eu sei que vem... — As palavras


escapolem da minha boca, como um mantra. Sigo com a cabeça
elevada, olhando o desenho barroco com traços angelicais do teto
da igreja, tentando conter a tristeza que começa me envolver. —
Não consigo sem ela — murmuro.

— Este deveria ser mais um indício para você desistir dessa


loucura. — A voz fria e simultaneamente calma de Julieta invade o
ambiente, fazendo-me fechar os olhos e perder a luta contra as
lágrimas e suspirar aliviada.
— Sabia que você viria. — Minha voz não passa de um
sussurro.

Posso não ser a filha preferida do meu pai, mas sou a irmã
preferida de Julieta, mesmo com raiva, mesmo não gostando, ela
está aqui para mim, por mim, porque ela sabe que esse dia é
especial.

— Na verdade, eu queria que você ainda fosse criança para


que eu pudesse apertar a sua orelha enquanto te arrastava daqui e
impedisse que se casasse com aquele homem. Queria conseguir
proteger você das merdas que eu vejo vir, queria conseguir tirar o
saco preto que você pôs na cabeça que te impede de ver o quão
errado ele é para você. Mas eu não posso! — Julieta puxa o ar com
força, e eu finalmente a fito.

Minha irmã está linda, trajando um vestido verde oliva que


modela seu corpo cheio de curvas e realça sua pele preta. Seus
cabelos estão presos em um coque e a maquiagem que outrora
devia estar perfeita, agora está borrada pelas lágrimas. Ela aperta
as mãos e as mantêm rente ao corpo como se assim conseguisse
se impedir de cumprir as ameaças que fez.

— Eu não posso, Julia, não posso te arrastar daqui. Você


merece mais, muito mais! Merece ser amada, ter um homem que te
adore e entenda o quanto você é especial e aquele que te espera no
altar não é esse homem.

Aponta para a porta, eu não vejo mais nada, minha vista está
nublada pelas lágrimas.
— Não posso te arrancar daqui, mas irei ficar do seu lado.
Entregarei meu cristalzinho nas mãos de alguém que não sabe o
quanto você é perfeita.

Soluço enquanto a vejo dar alguns passos em minha direção


e segurar a minha mão.

— Vou com raiva, com rancor, porém estarei ao seu lado.


Sempre, em qualquer momento ou ocasião. — Minha irmã me
abraça forte, e eu deito a cabeça em seus ombros e soluço,
enquanto ela sussurra o quanto me ama ao meu ouvido.

— Obrigada por estar aqui, mesmo não apoiando meu


casamento. — Fungo e mordo meu lábio inferior

— Ainda dá tempo de desistir. — Levanta uma sobrancelha.

— Julieta! — resmungo.

— Julia! — retruca, e sorrimos juntas.

— Estou realizando um sonho. Sem falar que esta cerimônia


saiu uma pequena fortuna e tem a imprensa, meus seguidores,
imagina o falatório? Não saberia nem como sair daqui e muito
menos quero tentar — brinco.

— Sairia ao meu lado, segurando a minha mão e eu duvido


que alguém se meteria a besta de contestar.

— Gabriel contestaria. — Julieta bufa, e eu aperto sua mão


levemente. — Vou me casar e eu serei feliz — afirmo com uma
confiança que de fato, não sinto.
— Eu prometo a você que se aquele homem a fizer sofrer, eu
terei o enorme prazer de acabar com ele — assegura tão friamente
que eu não duvido de suas palavras e apenas assinto, porque não
há mais o que falar.

— Suponho que preciso chamar a maquiadora novamente —


meu pai diz, fazendo-nos rir.

Após a maquiadora nos deixar apresentável novamente,


seguimos para a igreja. Antes de entrarmos, meu pai segura meu
rosto em suas mãos e beija minha testa enquanto faz um ligeiro
carinho na minha face.

Sei que ele me ama, apenas não demonstra tanto quanto eu


gostaria. Sem falar uma única palavra, enlaça meu braço, minha
irmã ajeita meu véu e caminhamos em direção ao altar.

Observo os olhos de Gabriel em mim, sorrindo largo e eu


retribuo, afastando qualquer dúvida que habita meu coração. Meu
futuro marido pisca quando paro à sua frente, segura minha mão e a
beija.

Ouço o suspirar das pessoas e somente então olho ao redor,


a igreja está lotada, mais de cem pessoas presentes, na festa terá
cinco vezes mais que isso.

Logo depois do padre nos declarar casados, caminhamos de


braços dados recebendo os sorrisos e felicitações, com os
fotógrafos nos acompanhando. Ao sair, encontramos muitos
seguidores que carregam cartazes com meu nome, desejando
parabéns, oferecendo presentes. Fiz questão de tirar algumas fotos
com eles. Na frente do local da festa, também encontrei alguns. Foi
uma noite linda e divertida e, no final, me despedi da minha irmã e
do meu pai com um aceno de cabeça e partimos para a nossa lua
de mel. Em meu peito eu levava a certeza de que seria feliz para
sempre.

Eu estava enganada.
Capítulo 2

Fecho meus olhos e respiro fundo enquanto meus pulmões se


enchem do aroma gostoso do mar. Deitada na cama, sinto uma paz
abundante me invadir.

— Este lugar é maravilhoso, amor! — Sorrio, ainda mantendo


meus olhos fechados.
— Acordamos tarde, Julia. Já éramos para ter feito no mínimo
dois stories — Gabriel reclama saindo da cama e ajeitando o tripé
na frente dela.

— Estamos em lua de mel, amor, meus seguidores vão


entender, volta para a cama, vamos curtir essa paisagem linda
agarradinhos — sugiro chamando-o com um dedo.

— Não ganhamos esta viagem em troca de nada, Julia.


Temos que fazer publicidade do local. Chegamos ontem e só
postamos algumas fotos, temos que gravar os vídeos e mostrar o
hotel.

— O meu acordo com os contratantes é bem flexível, relaxa.


— Tento mais uma vez.

— Você já tem um nome no mercado, mas eu estou


começando nisso agora, tenho que mostrar profissionalismo —
pontua ríspido, e segue instalando a câmera no tripé e a ajustando
em frente à cama.

Seguro a vontade de dizer que o hotel fechou contrato


comigo, não com ele e os contratantes deixaram bem claro que era
no meu conteúdo que estavam interessados. Não é a primeira vez
que trabalho com essa agência de publicidade e nem o primeiro
hotel em que ganho estadia por publicidade.

Na verdade, há muito tempo parei de fazer isso. Hoje em dia,


só assino contratos em que sou remunerada financeiramente. Até
posso visitar hotéis e resorts, mas não troco mais por estadia e sou
muito bem paga. Contudo, quando Gisele Alves, minha assessora e
amiga, comentou na frente de Gabriel sobre a proposta, ele ficou
encantado por ser nas Maldivas e disse que seria a oportunidade
perfeita para ele se tornar influencer.

Confesso que fiquei meio surpresa, já que ele trabalha no


mercado financeiro. Porém seus pedidos e promessas de que nossa
lua de mel seria maravilhosa me fizeram ceder e aceitar.

— Você poderia sorrir para câmera e mostrar a mesma


felicidade que estampava seu rosto há poucos minutos? — pede
com certa rispidez.

— A alegria que trazia em meu rosto foi embora com o seu


comportamento, Gabriel — retruco levantando-me da cama.

Ele enlaça minha cintura, abraçando-me por trás e beija


minha cabeça.

— Desculpe, amor, estou nervoso. É a minha primeira


publicidade e você prometeu me ajudar. — Gira-me de modo que
fique de frente para ele e solta um suspiro enquanto põe meu cabelo
atrás da orelha. — Aposto que na sua primeira vez também ficou
uma pilha de nervos — brinca.

— Não, sempre foi natural, conversar com meu público


sempre foi algo fácil. Se fosse diferente acredito que não teria tantos
seguidores.

— Me ajuda, amor, vamos fazer um vídeo rápido, por favor. —


Esfrega seu nariz no meu e me beija delicadamente.

Assinto com um suspiro.


Ao ligar a câmera, eu sorrio largo e pela primeira vez eu minto
para os meus seguidores, demonstro uma felicidade absoluta que
nem de longe sinto. Estou muito chateada, mas acredito que seja
empolgação momentânea, Gabriel nunca falou comigo assim.

— Obrigado, amor. — Mais uma vez me beija, carinhoso. —


Vamos nos arrumar para tomar café no restaurante.

— Pensei que comeríamos aqui.

— Julia, o hotel está cheio de celebridades, vai ser bom fazer


novos contatos. — Aperta minha bochecha e entra no banheiro
cantando.

Busco meu celular em cima da mesinha e vejo os comentários


dos meus seguidores, parabenizando pela lua de mel em um lugar
paradisíaco.

— Vem tomar banho comigo, querida, já estou com saudades


de você. — Usa um tom manhoso, fazendo-me esquecer todo o
atrito que tivemos.

Nossa lua de mel não foi o que sonhei. Gabriel passou todo o
tempo tentando se promover. Às vezes, chegava a ser
inconveniente e, no momento seguinte, me cobria de carinhos,
fazendo-me pensar que talvez eu estivesse exagerando. Mais uma
vez, eu culpei a empolgação de quem está começando a trabalhar
com a internet. Mas não era só isso, e muito menos passou depois
que voltamos da lua de mel. Gabriel só queria ir a lugares onde
houvesse pessoas que ele considerava importantes. O problema é
que sozinho, ele não tinha conteúdo e nem despertava interesse no
público.

Foi quando as coisas começaram a ficar piores.

Eu deveria saber que não daria certo, acredito que bem lá no


fundo talvez eu soubesse, mas ainda assim, segui adiante, mesmo
com os protestos do meu pai e da minha irmã, mesmo com todos os
meus alertas piscando, aceitei me casar com Gabriel e fazer uma
das cerimônias mais caras que este país já viu.

Por meses saíram notas sobre nosso casamento nos perfis de


fofocas, revistas e até mesmo programas de televisão. Éramos o
casal do momento.

Eu percebi que o que ele queria mesmo era ser notícia


sozinho, ser convidado para publicidades e ter milhões de
seguidores. Porém, não conseguiu.

Aquele homem carinhoso e atencioso foi desaparecendo


lentamente conforme seu desejo de se tornar um influencer não foi
concretizado. Meu marido só tinha notoriedade quando estava ao
meu lado ou parecia em meus stories, nesses momentos, Gabriel
voltava a ser o homem que eu conheci, por quem me apaixonei e
sonhei viver um grande amor.

Um ano depois, a nossa relação esfriou completamente no


instante em que os holofotes abaixaram e, então, os primeiros
indícios de traição surgiram. Não quis acreditar, mascarei a angústia
com sorrisos, as lágrimas com maquiagem e a tristeza com
compras, meus seguidores não notaram que o ar de felicidade era
pura falsidade. Eu tinha receio de decepcioná-los. Eles torceram
tanto por mim, esperavam minha felicidade, queriam que eu fosse
feliz.

Por medo de perder a atenção e o amor dos meus


seguidores, que são tão importantes para mim, eu criei a imagem do
casal perfeito e me vi presa nessa ilusão, como um passarinho na
gaiola sem coragem de voar.

Não revelei para minha irmã o quanto estava infeliz; recusei


seus convites para jantar e inventei desculpas quando ligava.
Comecei a aceitar mais trabalhos de publicidade para me manter
ocupada, para não pensar, para não admitir que errei.

À medida em que meu marido estreitava relações com meu


irmão, nossa relação se tornou insustentável. Gabriel não escondia
mais as suas traições ou fazia questão de me tratar com um mínimo
de educação. Saía para noitadas com Juliano e, quando fui
questionar, ouvi que eu não era mulher para ele, que não fazia as
coisas que ele gostava, que não o satisfazia.

Tais palavras me magoaram mais que um tapa e comecei a


me questionar se a culpa não era minha. Talvez, se eu perdesse
dois quilos ou se trabalhasse menos, ou se fosse mais carinhosa, ou
se...

Tentei de tudo para que aquela ilusão do começo voltasse.


Ainda o queria. Na verdade, não sei se o queria, acho que desejava
pertencer a alguém, sentir que era especial, enxergar o brilho no
seu olhar quando me visse, mas nada disso existia.

Até que, três anos após nosso casamento, o flagra aconteceu,


na minha casa, na minha cama. Aquela que eu amava mostrar fotos
de nós dois juntos demonstrando uma felicidade inexistente nas
minhas redes sociais.

Eu pedi que ele saísse da minha casa, mas Gabriel se


recusou. Ameaçou revelar ao meu público que eu sabia que ele
ficava com outras mulheres, que o nosso casamento era aberto e
que não cumpri o que prometi a ele, não o ajudei e que por esses
motivos, ele foi obrigado a aceitar o convite do meu irmão para
trabalhar na empresa da minha família.

Eu ouvi aquilo incrédula. Como ele podia distorcer os fatos


daquela forma? E o pior é que eu sei como a internet funciona.
Muitas vezes a mulher é cancelada mesmo estando certa, mesmo
não tendo feito nada de errado. Muitas vezes a palavra de um
homem tido como uma boa pessoa pode acabar com a reputação
que uma mulher levou anos para construir com seu público.

Gabriel pode não ter ganhado a ascensão que ele queria, mas
era visto como um marido perfeito e tudo por culpa minha, fui eu que
criei essa imagem de homem exemplar. Para o meu público ele é o
marido ideal, porque eu inventei isso.

Eu menti, porque não tive coragem de contar o quão infeliz


estava. Não queria os apontamentos, nem as recriminações por me
casar tão rápido. Mesmo admitindo para mim que errei, não queria
que todos soubessem.
Então eu saí, porque não aguentava mais ficar no mesmo
lugar que ele e liguei para a única pessoa que eu sabia que
seguraria minha mão.

Julieta.

E como sempre ela não me decepcionou, não fez muitos


questionamentos, apenas me abraçou forte e me deixou chorar.
Como uma perfeita inocente eu supus que encerrava uma fase da
minha vida, que agora precisava somente me recuperar e seguir
adiante.

Mas estava enganada, meu inferno pessoal estava apenas


começando.
Capítulo 3

Estacionei meu carro na frente do meu prédio e um medo


surreal tomou conta do meu corpo e me paralisou. Levei um tempo
antes de sair, precisava manter meu equilíbrio para lidar com meu
ex-marido.

Gabriel diariamente postava o quanto me amava; em


contrapartida, eu arquivei todas as nossas fotos, e isso foi o
suficiente para que alguns rumores da nossa separação circulassem
nos perfis de fofoca.

Alguns falavam que me envolvi com um modelo com quem fiz


uma campanha publicitária recentemente, outros que eu queria ficar
solteira para curtir a vida. Não estava curtindo a vida em festas,
apenas fazia presença VIP e meu ex é tão inconveniente que os
contratantes pediram que eu fosse sozinha.

Quando perguntavam ao Gabriel, ele dizia que me amava


demais. Que era apenas uma fase ruim pela qual todo casamento
passa e que não queria que ninguém falasse mal de mim. Isso era a
mesma coisa que juntar fogo e gasolina.

Meu público estava questionando o porquê do meu silêncio e


meu número de seguidores estava começando a cair. Eles nem
imaginavam que era por causa dos contratos publicitários que me
impediam de falar. Os representantes das marcas pediam para
evitar conflitos, ou levaria uma multa. Mas eu sabia que teria que me
resolver com Gabriel antes que ele acabasse com tudo que levei
anos para construir e enfiasse minha saúde mental de vez no
esgoto.

Respiro fundo, saio do carro e entro no prédio, cumprimento o


porteiro com um sorriso e sigo em direção ao elevador. Quando as
portas se abrem no meu andar, caminho com passos vacilantes
para o apartamento que decorei com tanto amor e carinho, mas que
hoje só me traz mais angústia.

Adentro o ambiente luxuoso e um sentimento angustiante


toma conta de mim.
— Pensei que viria um pouco mais tarde. — Viro meu rosto e
vejo Gabriel entrando na sala com um copo de bebida em suas
mãos.

Ele se joga no sofá e ingere o líquido com os olhos fixos em


mim.

— Preferi vir mais cedo para resolvermos logo. — Tento soar


segura, mas acredito que não surtiu o efeito desejado, pois ele sorri
de lado como se soubesse o quanto estou nervosa.

— E o que você quer resolver? — pergunta, fazendo-se de


desentendido.

— Como assim o que eu quero resolver? — retruco. — Temos


que resolver a nossa separação — concluo.

— Gosto de como as coisas estão. Poderíamos ficar assim


por um bom tempo.

— Você ficou doido? — me exalto.

Ele deixa o copo em cima da mesinha de centro e impulsiona


o corpo para a frente, deixa seus cotovelos apoiados nos joelhos e
me olha com atenção.

— Não tenho a mínima intenção de mudar as coisas. Não


quero divulgar que nos separamos — repete.

Fecho os olhos e tento conter a vontade de gritar, e ele


continua:
— Você realmente quer que seu público e os seus
contratantes saibam que tudo o que você contou sobre nós era
mentira? Quer arriscar perder os seus tão amados seguidores? Os
mesmos seguidores que você diz que te acalentaram quando você
estava triste? Aquelas marcas que jogam rios de dinheiro para você
mostrar suas roupas? Ou melhor, aqueles que você diz que
conseguem fazê-la sorrir em sua carência de afeto, de quem o amor
te deixa feliz?

Engulo em seco enquanto torço minhas mãos. Abro a boca,


mas ele não para de falar:

— Imagina o que diriam quando descobrissem que você me


enganou? Que enganou seu público, que na cama, não era mulher
para mim, que me deixou tão depressivo que acabei cometendo
uma loucura e me entregando à outra? — soa cínico.

— Como você pode falar tantas mentiras?

— Imagina as notícias nos perfis de fofoca. Eles amariam


detonar a princesinha da moda Julia Amorim — diz com desprezo.

— Eu quero o divórcio. — Não consigo mais me controlar e


grito.

— Não vou sair perdendo desse casamento, Julia. Eu


esperava muitas conquistas e só consegui a merda de um emprego
na empresa da sua família.

— Você tem um cargo de confiança lá — saliento, sentindo


meu corpo tremer.
— O que você ganha em uma semana de publicidade, eu levo
um ano para ganhar trabalhando de segunda a sexta — cospe.

Naquele instante, compreendi que ele queria dinheiro, no final


das contas, nosso casamento era envolto por interesses. Não
adiantava falar que tentei ajudá-lo, que o apresentei para as
pessoas certas e o indiquei para agências e contratantes, um
esforço em vão, porque ele não tinha carisma, não soube conquistar
o seu público. Talvez eles tivessem visto o que eu só estou vendo
agora. Gabriel é mesquinho e interesseiro.

— O que você quer para me dar o divórcio? — indago,


sentindo-me cansada.

— O apartamento, o carro e os cartões — exige.

Eu rio, uma risada amarga que arranha minha garganta.

— Realmente pensa que Julieta deixaria você ficar aqui? —


inquiro com uma sobrancelha levantada.

— Você vai convencê-la se não quiser que nosso divórcio seja


um show de horrores na internet — devolve provocativo.

— Não posso te deixar ficar com o apartamento, ele está no


nome da empresa. Julieta moveria céus e terra para te escorraçar
daqui. — Engole em seco. Ele conhece a minha irmã tão bem
quanto me conhece.

Uma vez alguém me disse para ter cuidado com quem eu


revelasse meus maiores medos, porque essa pessoa teria poder
sobre mim. Estou sentindo isso na pele.
— Fico aqui por 2 anos.

— Isso não vai dar certo. No máximo, alguns meses. Mas tem
que me prometer que não vai envolver meu trabalho no nosso
divórcio — admito a minha derrota.

Gabriel me tem em suas mãos. Sabe quais são meus maiores


medos e está me manipulando. Eu apenas quero que tudo isso
acabe. Quero que novamente a internet seja o meu lugar de paz,
onde eu me sinto em casa, e, no momento, por causa dele, não
estou me sentindo assim. Então, se para ter novamente aquela
sensação de conforto, eu tenho que pagar por um mal que eu não
cometi, eu pago.

— Inclua uma pensão e fico calado — exige.

— Como pude me enganar tanto com você? — Não escondo


minha tristeza.

Busco minha bolsa, aperto-a com força e tento


desesperadamente não chorar, não desabar na sua frente. Tudo o
que quero é sair daqui correndo.

— Não se preocupe, Julia. Todos vão pensar que nossa


separação foi um mar de rosas e que nos apoiamos mutuamente —
debocha enquanto pronuncia tais palavras.

Saio do apartamento com a garganta apertada.


Inocentemente pensei que, após ceder às exigências de
Gabriel, ele me deixaria curar minha dor em paz. Porém não foi isso
que aconteceu. Além de me esquivar dos questionamentos da
minha irmã, que não entendia por que eu o deixava no apartamento
e a impedia de demiti-lo da empresa da nossa família, também
havia meus seguidores me cobrando os reais motivos da nossa
separação, já que a declaração que meu ex-marido deu causou
mais reboliço.

Ele fez um comunicado no qual dizia que para sempre me


amaria, mas que, contra a sua vontade, seguiríamos caminhos
diferentes dali em diante e pediu aos seguidores que respeitassem a
nossa decisão.

Este curto post apenas piorou tudo.

Eu amava fazer lives e interagir com os meus seguidores,


mas estava recebendo tantos haters, havia tantas pessoas me
xingando, inventando mil e uma coisas a meu respeito, que
simplesmente não consigo mais. Apenas faço os vídeos e minha
assessora os posta.

Recusei vários trabalhos e algumas empresas rescindiram


contratos devido ao cancelamento virtual que estava passando. As
empresas que ficaram comigo recebiam ataques em suas redes
sociais e pediram para eu falar o mínimo possível sobre o meu
divórcio. Mesmo em meio ao caos, eu tentava sorrir, fingia estar
lidando bem, que aquilo não me afetava. Enquanto, por dentro,
estava me desfazendo aos poucos, chorando escondido, querendo
simplesmente sumir.
Para minha família, dizia que meu sofrimento era por causa
das traições de Gabriel. Minha irmã não tem noção das coisas que
meu ex-marido fez comigo, não tem ideia das humilhações,
chantagens, coações e agressões psicológica. Achei melhor assim,
não queria que ninguém mais sofresse por causa das escolhas
erradas que fiz.

Eu me envolvi nos preparativos do casamento de Julieta com


Miguel e finalmente entendi tudo o que ela me disse no dia do meu
casamento. Julieta amava seu noivo, mas ele não era o homem
perfeito para ela. E, ao contrário da minha irmã, que faltou pouco
para me tirar da igreja, eu não disse nada, porque ela o amava,
porque ela parecia estar feliz.

Porém, quando foi revelado que Miguel não era o primogênito


e sim Romeu, e pior, que nosso irmão tinha um caso com seu noivo,
vi algo que nunca tinha visto antes: Julieta desabar.

Sofri com ela, me sentia passando novamente pela dor e


angústia das traições de Gabriel.

Mas diferente de mim, que escondo meus sentimentos e


frustrações em uma ostra quando algo não dá certo em minha vida
e busco ajudar outras pessoas para esquecer meus problemas,
minha irmã aceitou o desafio de se casar com o homem que ela
implica desde adolescência. Esse homem é Romeu, ele é
completamente apaixonado por ela.

Nas últimas semanas vi minha irmã mudando sem se dar


conta, observei de longe meu cunhado a cercando de cuidado,
atenção, amor e carinho mesmo quando era tratado com
indiferença. O lema dele era persistir, desistir não era uma opção.

E eu quero isso para mim, anseio por alguém que lute pelo
nosso relacionamento. Desejo tudo o que minha irmã me disse
merecer no dia em que me casei com o cara errado.
Capítulo 4

Vejo Gisele andando de um lado para outro com um celular na


mão e outro grudado em sua orelha falando com blogueiros e
administradores de Instagram de fofocas. Michele e Pedro não
estão diferentes. Eles são a minha equipe, trabalham comigo desde
o começo. Na verdade, Gisele chegou primeiro, quando ainda era
algo amador. Só então veio Thiago, que é praticamente um faz tudo:
fotógrafo, maquiador e editor. Em seguida, chegou Michele, ela
entende muito de mídias sociais e tem um amplo conhecimento em
contratações de publicidade.

Os três me ajudam a administrar minha carreira e mídias


sociais. Se alcancei o sucesso, foi com a ajuda deles. E vê-los tão
angustiados quanto eu, tentando contornar algo que fica cada vez
pior é terrível e me deixa mais aflita.

Nunca enfrentamos uma crise assim.

Já sofri racismo, preconceito por ser de uma família rica, fui


taxada como patricinha, fútil, por estar em um nicho de moda, e
várias outras coisas. Nós sempre conseguimos contornar. Desta
vez, no entanto, a onda de ódio está desenfreada. Ontem, me
chamaram de vagabunda enquanto estava desfilando para uma
marca no São Paulo Fashion Week, um dos maiores eventos de
moda do país. Foi constrangedor, a cada vez que eu entrava na
passarela, era um xingamento diferente. Há mais de três anos abro
e fecho o desfile da marca, mas ontem não consegui, caí em uma
crise de choro.

— Mais uma marca quer rescindir o contrato. — Michele falta


pouco para jogar o celular longe.

— Estou bloqueando todos os que estão mandando


mensagens de ódio — Thiago murmura com o rosto fixo no celular.

— Tire a opção de comentar nos posts mais recentes —


Gisele sugere assim que termina a ligação. — Não entendo por que
estão fazendo isso com a Julia? Ela não fez nada de errado! E o
pior são as grandes marcas que têm contratos mais vantajosos
exigindo o seu silêncio. — Puxa seus cabelos.

— Bando de filhos da puta, isso sim! Sugiro processar todas


as marcas que rescindirem os contratos devido a um macho escroto
falando merda de uma mulher. Mas o que fode mesmo são as
cláusulas jurídicas dos contratos vigentes, as multas são muito
altas. — Michele bufa indignada.

— E adiantará do que processá-los?! Quem quer fechar


contrato com uma influencer que está sendo cancelada na internet?
― questiono, ou melhor, tento, porque começo a ver tudo
embaçado.

Tomo fôlego e continuo:

― E não é só por causa dos contratos que não adianta falar,


já fizemos comunicados, fiz vídeos, stories, dizendo que não tinha
ninguém, que o divórcio foi por diferenças, mas eles não querem me
ouvir, o que Gabriel diz é mais interessante, esta que é a verdade ―
lamento.

— Mas a culpa não é sua, Julia. Você não fez nada de


errado, apenas se apaixonou por um cretino! ― Michele assegura.

— Um cretino de quem criei uma imagem perfeita. Na


verdade, nós criamos! — Aponto para eles e para mim. — Fizemos
um homem maravilhoso e agora ele está fazendo minha caveira. —
Fungo.
— Eu não acredito que Gabriel fez vários stories chorando
com a música do casamento de vocês ao fundo! — Pedro ruge.

— Não creio. — Michele e Gisele se aproximam dele, e eu


nem sequer tenho vontade de ver.

Gabriel permanece fazendo a imagem de pobre ex-marido


apaixonado, e eu sou uma puta rica e mimada que o largou para
ficar com vários.

— Tenho vontade de esganar esse homem — Gisele grita.

Eu levo minha mão à minha cabeça, desolada, sem saber o


que fazer e como agir. O telefone volta a tocar, faço menção de
pegá-lo, mas as meninas não deixam. Eles têm tentado me manter
à parte de tudo isso, mas não tem como. Não quando as merdas
não param de acontecer.

Sentindo-me sufocada, busco minha bolsa e digo que darei


uma volta. É tão injusto tudo o que está acontecendo, tão triste. Meu
ex-marido não quer apenas dinheiro, ele quer me humilhar, quer me
tirar todo o prestígio que lutei para conquistar, e o pior é que ele está
conseguindo.

Com a raiva borbulhando em minhas veias, parto em direção


à empresa para confrontar Gabriel. Mas esta foi uma das piores
decisões que tomei. Ao entrar em sua sala, o encontro transando
com a secretária de Juliano.

— Pensei que este fosse seu local de trabalho — recrimino


entrando na sala e cruzando os braços.
Nenhum dos dois mostrou constrangimento por serem pegos
em flagrante.

— Realmente é, mas estamos em nosso horário de almoço —


a mulher, que só conheço de vista, fala em um tom de zombaria.

— O que você tem de tão importante para falar a ponto de


interromper meu momento íntimo com Rogéria?

Abro e fecho a boca vendo-a se vestir devagar, sem se


incomodar com sua nudez, mantendo um sorriso debochado nos
lábios. Gabriel nem se dá ao trabalho de pôr ao menos as calças, se
senta nu no sofá e eleva uma sobrancelha, me esperando dizer
algo. Mas não consigo falar nada, meu estômago embrulha e me
dou conta de que não importa o que eu disser, ele não mudará. Não
parará.

Giro meu corpo com a intenção de sair dali, mas Rogéria


segura meu braço.

— Eu e Gabriel estamos namorando. Já que o traiu tantas


vezes, sugiro que mantenha distância dele — exige e meu queixo
quase cai, viro meu rosto para ele e o vejo segurar o riso.

— A única coisa que quero é que ele pare de falar mentiras ao


meu respeito — berro liberando toda raiva que carrego dentro de
mim.

Saio dali correndo, com as lágrimas banhando meu rosto,


esbarrando em algumas pessoas, ouvindo outras perguntando o
que houve, mas não paro. Preciso ficar longe de tudo e de todos.
Deixo meu carro na garagem, chamo um pelo aplicativo e
peço para me deixar na praia de Ipanema. Ao chegar, tiro meus
sapatos e caminho pela areia até perto do mar. Me sento, pego um
punhado de areia e deixo-o cair vagarosamente das minhas mãos.
Sinto como se todo o meu controle estivesse fugindo de mim. Estou
a ponto de surtar, eu não sei mais como consertar isso, não sei
como fazer as pessoas entenderem que não estou fazendo nada de
errado, que a culpa não foi minha pelo meu casamento ter
terminado!

Busco meu celular e abro meu Instagram, e não consegui


segurar as lágrimas ao ler as mensagens de ódio que estou
recebendo. Meu lugar perfeito não existe mais, Gabriel destruiu
tudo.

Observo o pôr do sol tentando descobrir o que fazer, mas


nada vem à minha mente. Um vento frio faz meu corpo arrepiar,
levanto-me e decido ir para casa. Envio uma mensagem para minha
equipe garantindo que está tudo bem, mas eles sabem que nada
está bem.

Em casa, brinco com minhas sobrinhas, converso com meu


pai, janto e faço tudo o que sempre fiz, mascaro a minha tristeza
com sorrisos.

Quando Julieta chega, é impossível não sentir um pouco de


inveja do seu sorriso. Minha irmã vai se casar com Romeu em
algumas semanas, ela está feliz como eu nunca vi. Apesar de ela
dizer que não gosta dele, ele consegue tirar a dureza que sempre a
envolveu. Ele a faz feliz.
Minha irmã questionou o porquê da minha expressão de
tristeza, mas eu não tive coragem de contar a humilhação que
passei na empresa ou revelar tudo o que estou passando. Apenas
me limito a dizer que ele está namorando a secretária de Juliano e
mais uma vez a deixo acreditar que minha dor é pela separação.
Julieta me pediu novamente para deixá-la expulsar Gabriel da
empresa e do meu apartamento. Eu reflito, me lembro das crianças,
do nosso pai, dos meus assessores, mas ela fala algo que me faz
decidir:

— Faça algo por você!

E o que fiz por mim até hoje?

Na internet, estava lá para agradar meus seguidores e era


reconfortante receber o carinho deles. Seguia a cartilha que meus
contratantes exigiam, calada e discreta sobre meus problemas
pessoais. Tentei agradar meu marido, meu pai, minha irmã, meus
seguidores e os representantes das marcas que me contratavam.

Em minha vida, sempre estou tentando agradar alguém.


Finalmente, estou cansada disso. Por isso, aceito o seu pedido e a
deixo lidar com Gabriel de agora em diante. Não há nada que possa
ficar pior do que já está. Ele já conseguiu acabar com a minha
imagem.

Para completar, decido fazer uma viagem longa pela Europa.


Ligo para os meus assessores e aviso que decidi ficar distante das
minhas redes sociais até toda esta onda de ódio passar. Informo-
lhes que não serão prejudicados, que continuarei pagando seus
salários, pelo menos até eu voltar e decidir o que fazer. É uma
conversa triste demais, Gabriel destruiu não só o meu trabalho, mas
o deles também.

Gisele, Thiago e Michele me dizem que continuarão tentando


reverter a situação. Me convencem a deixar algumas fotos e vídeos
prontos, para que possam gerir tudo para, assim, não deixarmos
todo o nosso trabalho ruir. Eles querem resistir enquanto eu só
penso em desistir. Fugir da dor que a internet se tornou. Após muito
insistirem, aceito, com a condição de poder ficar longe.

Resolvi esperar o casamento de Julieta para viajar e durante


esse período, fiz várias fotos e vídeos que a minha equipe pediu.
Minha irmã cumpriu o que prometera, expulsou Gabriel do
apartamento e da empresa. Ele entrou em contato comigo diversas
vezes, mas não atendi a nenhuma ligação.

E quando o dia da viagem chegou, meu pai, minhas sobrinhas


e minha equipe me acompanharam até o aeroporto e, eu entrei no
avião com a certeza de que desta vez encontraria a minha
felicidade.
Capítulo 5

O táxi para em frente ao luxuoso hotel Castro Agustini, situado


no refinado bairro de Mayfair. É um dos lugares mais exclusivos de
Londres, em frente ao parque Franklin D. Roosevelt Memorial. Aqui,
os restaurantes são requintados e a vida noturna agitada. Não é a
primeira vez que venho a Londres, mas é a primeira que venho
sozinha. Na verdade, é a primeira vez que viajo sozinha.

Passo pela recepção e sou acompanhada por um funcionário


até meu quarto. No caminho, esbarro em uma criança linda, por
volta de seus cinco ou seis anos.

— Cuidado, você vai se machucar. — Sorrio tocando em seus


cabelos castanhos claros presos em um laço azul. Ela eleva a
cabeça e arregala os olhos. — Falei em português, ela não deve ter
entendido nada — resmungo.

Antes que eu abra a boca para repetir a frase em inglês, a


menina diz:

— Eu entendi o que você disse. A língua portuguesa é falada


em muitos países. — Sorri largo e mostra a falta de dois dentes na
frente.

— Você é muito inteligente — elogio com um sorriso.

— Muito obrigada! — Ela continua me observando. — Você é


tão linda, parece a princesa Tiana, do filme A princesa e o sapo —
soa encantada e arranca um sorriso do meu rosto.

— Por que estou com um vestido verde? — indago apontando


para a minha roupa e ela faz um movimento negativo de cabeça.

— Não, porque você é tão linda quanto ela. Tiana é a minha


princesa favorita. — Volta a exibir seu sorriso banguela, faltando
dois dentinhos na frente, muito fofa, e meu sorriso aumenta.

— Maria Luíza! — Uma voz autoritária a faz dar um pulo. Ela


acena em despedida e sai correndo em disparada.

Viro meu rosto e, sem conseguir me conter, seguro a


respiração ao me deparar com o homem mais atraente que eu já vi
na minha vida. Desço meus olhos devagar por ele, é alto, muito alto
e veste um terno preto sofisticado, que não esconde seu porte
atlético. Seu rosto é másculo, e os seus cabelos pretos volumosos
com alguns fios brancos denunciam ser mais velho que eu. O
homem tem uma aura marcante e imponente.

Ele caminha como se fosse o dono do lugar, poderoso e


dominante. Como quem manda em tudo ao seu redor. Ao passar por
mim, retira os óculos devagar e eu solto o ar aos poucos ao ganhar
toda a sua atenção. Seus olhos são castanhos escuros, quase
pretos, seus lábios são finos e o rosto, quadrado sem barba, lisinho.
Seu aroma me envolve, é madeirado, tão forte e sexy como o
homem à minha frente.

Nosso contato não dura nem dez segundos. Ele volta a pôr os
óculos e segue na direção em que a criança foi sem me dirigir a
palavra nem uma única vez. Somente quando está distante consigo
piscar algumas vezes.

— Peço desculpas pelo inconveniente. — Apenas neste


momento me lembro do rapaz parado ao meu lado, que se desculpa
enquanto empurra o carrinho com a minha bagagem em direção ao
elevador.

Ainda impactada pelo desconhecido, apenas aceno e


seguimos. Minha vontade é de perguntar quem era aquele homem.
Contudo, me contenho. Acabei de me livrar de um relacionamento
que praticamente destruiu tudo o que conquistei, a última coisa que
quero, no momento é me envolver com alguém, por mais
impressionante que essa pessoa seja.

Sinto o sol banhar meu rosto e aquecer minha pele. Londres


está no meio da primavera e ao contrário do Rio de Janeiro, em que
neste período a temperatura chega aos 33°C, aqui, nos dias mais
quentes, não passa de 20°C e nos mais frios, pode chegar a 4°C.

Cheguei há dois dias, hoje é o primeiro que saio do meu


quarto. O frio, junto com o cansaço mental me fez ficar entre os
lençóis. De manhã, ao abrir a janela, via algumas pessoas
passeando no parque e como boa carioca, me animei para sair.

Caminho observando as pessoas andando apressadas, sem


parar para admirar o local. Creio que todas estão acostumadas, ou
eu sou a única turista desocupada. Rio com pensamento. Encontro
um banco vazio, me sento e cruzo minhas pernas, elevo meu rosto
e suspiro profundamente com os olhos fechados.

Há alguns dias estaria com o celular na minha mão, olhando


minhas redes sociais, sentindo meu coração acelerar e contendo o
choro ao ler as mensagens de ódio. Desde que cheguei avisei ao
meu pai e à minha equipe que estava tudo bem, desliguei o celular e
não voltei a ligá-lo.

Não surgiu em mim nenhuma vontade de pegar o aparelho.


Outrora, dormia com ele ao meu lado, ao acordar a primeira coisa
que fazia era pegar o celular e fazer alguns stories. Amava falar com
meus seguidores, mas hoje tenho pavor só em pensar no
julgamento de pessoas que não estão interessadas em saber a
verdade.

— Oi, Princesa! — Uma voz gostosa e infantil me faz abrir


meus olhos e jogar para o fundo da minha mente sentimentos tão
inquietantes. Abro um amplo sorriso ao observar a menina linda que
encontrei quando cheguei.

— Oi, meu anjo! Tudo bem? — cumprimento olhando para os


lados, tentando encontrar a sua acompanhante. — Você está aqui
sozinha? — indago, preocupada.
— Não, minha babá está ali. — Aponta para uma mulher
vestida de branco, falando ao telefone e de costas para a criança. A
primeira coisa que penso é no quanto ela é irresponsável.

— Você quer se sentar aqui? — Indico o banco.

Ela acena com a cabeça e se senta.

— Posso te fazer uma pergunta? — questiona levantando um


dedinho.

Ah! Mas ela é tão fofa!

— Pode, o que você quer saber sobre mim?

— Qual o seu nome? De que país você é? Você veio com as


outras princesas? Elas também vão se hospedar no hotel? — Me
enche de perguntas e solto uma gargalhada.

— Mas você fez um monte de perguntas.

— Desculpe. — Ela abaixa a cabeça. — É que eu fiquei te


procurando pelo hotel, mas meu papai disse que eu não posso
incomodar os hóspedes — explica.

Volto a sentir uma vontade imensa de saber mais sobre


aquele homem, mas a engulo com a saliva e respiro fundo antes de
voltar a falar:

— Me chamo Julia Amorim, sou brasileira, não vim com as


outras princesas, na verdade, nem princesa eu sou. E qual é o seu
nome?
— Eu ainda acho que você se parece com a princesa Tiana.
Meu nome é Maria Luíza Castro Agustini e vou fazer 6 anos em
alguns meses — informa, altiva.

— Estou impressionada com a sua dicção — elogio. — Você


também é brasileira?

— Não, eu sou inglesa. Meu pai nasceu no Brasil, minha


bisavó nasceu no Brasil. Eu fui visitar uma vez. Meu pai fala em
português com a minha bisavó, menos quando estamos fora da
nossa suíte, aí ele fala em inglês, mas também tem a minha babá
do Brasil. A daqui é inglesa, mas também tem a babá de quando
vamos para Paris, aí ela fala em francês, mas també... — a menina
tagarela, falando sem tomar fôlego e eu sorrio a ouvindo.

— E você viaja para todos esses lugares? — pergunto


voltando a atenção para a babá, que olha em nossa direção e volta
a falar no celular.

Muito irresponsável.

— Sim, meu papai viaja muito e me leva para todos os


lugares.

— E você sempre fica com babás?

— Sim, meu papai é muito ocupado para ficar comigo, então


eu tenho várias babás, uma em cada país, e minha bisavó. — Ela
movimenta os ombros, conformada, e sorri para mim. — Eu posso
tocar no seu cabelo? Ele tem tantos cachinhos! Eu queria ter
cachinhos, mas não tenho nenhum.
Assinto, e ela acaricia meus cabelos admirando meus cachos.

Escorrego meus olhos para a profissional que deveria estar


cuidando da criança e volto meu olhar para ela. A situação me
remete ao meu passado, eu passei por isso muitas vezes. Por
diversas vezes, fiquei com babás enquanto meu pai trabalhava.
Nem todas eram boas comigo, algumas me deixavam sozinha nos
brinquedos do parquinho e ficavam horas conversando. Assim como
a mulher que deveria estar cuidando de Maria Luíza, está fazendo
agora.

— Você vai ficar muito tempo aqui? Você quer ser minha
amiga? Eu não tenho amigos. Você pode brincar comigo na nossa
suíte, lá tem um quarto só para mim. Se o meu papai deixar, você
vai? — Mais uma vez faz várias perguntas.

E eu encontro mais uma coisa em comum com ela. Maria


Luíza parece ser uma criança solitária, ansiando por atenção e
carinho.

— Nossa, tem um quarto só pra você? — brinco.

— Sim, nossa suíte é enorme, papai diz que ela é


presidencial. Tem o quarto do papai, da minha bisavó, o meu,
também tem o escritório do papai e várias outras coisas. — Detalha
mostrando os dedinhos. — Você aceita ser minha amiga?

— Eu vou amar ser sua amiga. — Estico meu braço,


oferecendo minha mão e a pequena a pega e a sacode feliz.

Conversamos por mais algum tempo e eu noto a babá


finalmente se aproximando de nós. Maria Luíza se despede com um
aceno e só então reparo em três seguranças atrás dela.

— Ela estava sendo vigiada o tempo todo — murmuro, mais


tranquila.

Levanto-me e caminho devagar vendo a menina andar de


cabeça baixa, sendo repreendida pela babá, quando de fato a
errada era a profissional que a negligenciou para ficar ao telefone.

— Ei! Por que está chamando a atenção dela? Você que foi
relapsa — a repreendo falando em inglês.

Eu sei que deveria ter ficado calada, mas simplesmente não


consegui.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — uma voz


rouca e autoritária, exige.

Viro meu rosto e me deparo com o mesmo homem


ridiculamente lindo que encontrei quando cheguei aqui.

— Papai, o senhor veio brincar comigo? — Maria Luíza se


empolga.

— Minha estrelinha, papai está muito ocupado. Mas outro dia


brinco. — Se abaixa e beija a cabeça da menina, que apenas
acena.

Bufo, eu perdi as contas de quantas vezes passei por isso


com meu pai, de quantas vezes ouvi um “outro dia” e esse dia
nunca chegou.

— E a senhora é? — Volta a sua atenção para mim.


— Julia Amorim — informo altiva.

— Essa é a segunda vez que a vejo com a minha filha. Sugiro


que mantenha a distância e principalmente não fale com a sua babá
— exige, e o meu queixo quase cai.

— Papai! — A menina puxa a ponta do seu terno chamando a


sua atenção e ele move a cabeça em sua direção.

E só por esse gesto fez minha indignação abrandar um pouco.

Esse homem é bonito e arrogante, mas parece tratar a filha


com carinho.

— Sim, meu amor.

— Ela é minha amiga, é a princesa que falei ontem — Maria


Luíza meio que cochicha, e ele me olha pelo canto do olho e volta
sua atenção à sua filha.

— Filha... — começa, mas um homem ao seu lado o


interrompe e diz que estão atrasados.

— Conversaremos à noite. — Acaricia o rosto da filha. E,


quando vira para mim, exibe uma expressão séria. — Volto a pedir
que mantenha a distância.

— O senhor deveria estar mais preocupado com o tipo de


pessoa que contrata para cuidar da sua filha!

— A senhora não deveria se meter em algo que não é


assunto seu. — Ele não me dá a chance de retrucar, vira as costas
e sai andando com os outros e com mais alguns homens atrás dele.
— Não fica triste com meu papai. — Maria Luíza segura
minha mão.

Apenas sorrio em resposta e lhe ofereço uma piscadela. Se


dissesse algo, estaria provavelmente mentindo.

Acaricio seu rosto e me afasto. Respiro fundo e solto o ar


devagar, o homem bonito e arrogante, de certo modo tem razão. Eu
não deveria me intrometer em assuntos que não são meus. Sequer
consigo resolver os meus problemas e literalmente fugi para me
afastar.

Giro meu corpo e mais uma vez olho para a menina com
quem tive uma identificação tão forte em tão pouco tempo. Maria
Luíza acena entusiasmada e eu volto a abrir um sorriso e retribuo o
gesto.

São engraçados esses encontros que a vida nos proporciona.


Uma criança me tocou de uma forma que nunca poderia imaginar,
em contrapartida, não quero nunca mais olhar o pai dela na minha
vida. Aquele homem cheira a problema e dor de cabeça, além de ter
deixado claro que não gostou nem um pouco de mim.

Melhor assim, eu quero distância de homem!


Capítulo 6

Mulher irritante!

Inspiro profundamente me distanciando dela e entro no carro


que está à minha espera. Durante o percurso até a minha empresa,
eu tento entender por que esta mulher mexe tanto comigo?
Desde a primeira vez que a vi, algo nela chamou minha
atenção. Não é somente pela beleza exótica e exuberante. Estou
acostumado a ver mulheres belíssimas. Foi algo em seu olhar, foi o
segurar de respiração quando passei à sua frente, a boca pequena
entreaberta que me deixou excitado imediatamente.

Talvez tenham sido os cabelos longos com cachos volumosos,


seu corpo esguio e sexy com curvas provocantes, quem sabe não
seja sua pele preta perfeita que parece tão sedosa e macia, ou seus
olhos castanhos-escuros instigantes.

Fecho meus olhos tentando entender por que depois de


tantos anos uma mulher mexeu comigo assim? E eu sequer gosto
dela. Não, isso não é verdade, não a conheço o suficiente para
gostar ou não. Eu não gosto das emoções traiçoeiras e primitivas
que ela me faz sentir, mas não posso negar que ela chama a minha
atenção, como um ímã, e isso me irrita.

Eu tentei fingir que aquele arrepio foi apenas pelo frio, tentei
apagar aquele pequeno encontro que nem foi um encontro de fato,
porém não consegui. Minha filha não deixou. Ela está
completamente encantada por aquela mulher, não para de falar que
ela se parece com a Tiana, do filme A princesa e o sapo. Me
perguntou se ela podia ser sua amiga, eu tentei fazê-la esquecer
esse assunto, porque ela não deve incomodar os hóspedes do
hotel, mas minha pequena é teimosa como a sua bisavó.

Sem conseguir me conter, fiz uma pequena e discreta


pesquisa sobre a mulher que mexeu comigo. Há dois dias, a
brasileira Julia Amorim se hospedou em meu hotel. Uma famosa
influencer que se divorciou recentemente, está envolvida em vários
escândalos e suspeitas de traição por sua parte. Não é o tipo de
mulher que eu quero perto da minha filha e muito menos perto de
mim.

Franzo o cenho, analisando os papéis que minha equipe de


gerenciamento de risco elaborou enquanto ouço os apontamentos
do conselho sobre o resort que quero construir em Trancoso, na
Bahia.

— O Grupo Castro Agustini tem um nome a zelar, por anos


somos conhecidos como referência em hotéis mais refinados e
sofisticados do mundo. Mais uma vez reforço minha opinião de que
investir em um resort de classe média não é nem um pouco
benéfico — diz Roberto Alves, um dos membros do conselho
administrativo.

Ele é o que tem mais idade no grupo, tem 86 anos e está no


conselho desde a época do meu avô. Minha empresa tem capital
fechado. Quando meu bisavô comprou seu primeiro hotel, usou toda
a sua fortuna sonhando em torná-lo um dos mais luxuosos da
Europa e, de fato, conseguiu: reis, príncipes, sheiks e várias
celebridades se hospedaram no primeiro Hotel Castro Agustini.

Contudo, na época em que meu avô a herdou, a propriedade


era um luxuoso hotel que mais dava despesas que ganhos, as
finanças estavam uma verdadeira bagunça. Ele não quis abrir o
capital, não tinha interesse em dividir a administração do hotel com
outras pessoas. Então, com muito trabalho e diversos cortes com
extravagâncias desnecessárias, conseguiu equilibrar as finanças.
Porém, para não correr os mesmos riscos que seu pai, ele fundou
um conselho administrativo e construiu vários hotéis ao redor do
mundo.

Há doze anos, assumi as empresas da minha família. Na


época, tínhamos cinquenta hotéis espalhados por dez países; hoje,
temos mais de duzentos em trinta países e eu fiz questão de manter
boa parte dos conselheiros, contudo também indiquei novos
membros para assim conseguir um equilíbrio entre as decisões a
tomar.

Atualmente, todos os hotéis do grupo são avaliados em cinco


estrelas, para clientes com alto poder aquisitivo. Ultimamente, surgiu
em mim a vontade de abrir um resort com valores mais acessíveis,
mantendo o padrão de qualidade.

— Será realmente difícil manter as taxas de lucro com valores


mais baixos e oferecendo os mesmos padrões de qualidade dos
outros hotéis — comenta Tom O'Connel, um dos conselheiros
indicados por mim e um dos meus melhores amigos. — No entanto,
podemos não oferecer o mesmo padrão, mas algo similar — conclui.

Outros conselheiros seguem dando suas opiniões, metade


contra; outra parte a favor.

Desvio meus olhos dos documentos e analiso um por um


enquanto expõem suas opiniões. Um movimento na porta me faz
desviar deles e focar em Zoe Smith, minha secretária. Ela trabalha
comigo há anos e nos entendemos apenas com um olhar, e o que
ela me oferece agora me causa um arrepio na coluna.

Faço um leve movimento de cabeça autorizando sua entrada.


Ela vem em minha direção sem desviar os olhos dos meus, desliza
um pedaço de papel branco em minha frente e solta o ar devagar
como se o tivesse mantido preso enquanto caminhava.

Fito o papel e leio as palavras escritas com a caligrafia bonita


da minha secretária.

Maria Luíza sofreu uma queda e está no hospital.

Volto a fitá-la, vejo-a assentir e me levanto imediatamente.

— Peço desculpas, mas terei que me ausentar. Em outro


momento, realizaremos mais uma reunião — informo tentando não
deixar transparecer o receio que começa a me dominar.

Saio da sala sendo seguido por minha secretária.

— Recebi uma ligação da babá e ela disse que sua filha caiu
e ficou desacordada por um tempo, ela chamou um médico e ele
decidiu encaminhá-la ao hospital.

Alongo meu pescoço de um lado para o outro, procurando me


manter calmo, mas não consigo e soco a minha mão.

— Liguei para lá e eles me informaram que ela está estável e


em observação.

— A babá disse como minha filha caiu? — quase rosno.

— Não, ela estava muito abalada.


— Desmarque todos os meus compromissos — peço assim
que chegamos à garagem.

— Já fiz isso. Tenho certeza de que ficará tudo bem com sua
filha. — Sorri gentil.

Assinto e entro no carro.

Os vinte minutos que levei para chegar ao hospital foram


tensos e minha mente foi invadida por recordações dolorosas do dia
em que Zoe interrompeu uma assinatura de contrato para segurar
meu braço e pedir para segui-la naquele momento. Somente
quando estávamos no carro ela me informou que minha mulher
tinha sofrido um acidente de carro e estava no hospital.

Foi o pior dia da minha vida. Sabrina, meu amor de


adolescência, tão calma e delicada, que fazia meu mundo ser leve e
sereno, morreu antes da nossa filha nascer. Ela não a conheceu.
Infelizmente, naquele dia, me tornei pai e viúvo. Eu me vi desolado,
sem chão, sem rumo, sem a parte doce da minha vida.

Já faz quase seis anos e desde então dediquei todo amor que
há em meu peito à minha filha e avó. Não consegui voltar para a
casa que comprei assim que pedi Sabrina em casamento. Saí do
hospital com minha bebê recém-nascida e me hospedei na suíte
presidencial de um dos meus hotéis, e assim estou até hoje, em
suítes dos meus hotéis com minha filha e minha avó, contratando
babás provisórias sem nunca me fixar em um lugar.

Para o meu trabalho, é perfeito. Visito meus hotéis com


frequência, não fico somente preso a escritórios. Estou quase
sempre próximo à minha filha e à minha avó, que insiste em nos
seguir nas viagens, mesmo eu pedindo para ela ficar em seu
apartamento.

Mas, no fundo, eu a entendo. Perdemos meu avô dois anos


após a morte de Sabrina. Foi um golpe duro demais para ambos,
nós dois focamos em Maria Luíza para conseguirmos seguir
adiante.

Esfrego meu rosto com as mãos e repito o processo algumas


vezes até finalmente o carro parar na frente do hospital. Saio do
carro e praticamente corro em direção à recepção e, após me
identificar sou encaminhado para o quarto em que minha filha está.
Assim que entro, vejo minha avó sentada ao lado da cama
segurando sua mão.

— Oh, Emílio... — Começa a lamentar, mas não termina, seus


lábios tremem e em três passadas estou ao seu lado, abraçando-a
forte.

— Oi, papai, eu tropecei e fiz um dodói na cabeça — minha


estrelinha fala apontando para a região machucada.

Beijo a testa da minha avó, a ajudo a se sentar no sofá


próximo à janela e me sento na cama ao lado da minha filha. Só
então solto um suspiro de alívio, beijo seu rosto várias vezes e a
abraço forte, com os olhos fechados.

— Ai, papai, tá doendo — soa manhosa.

Sorrio relaxando meu aperto.


— Minha estrelinha, só a cabeça está doendo? Está sentindo
mais alguma coisa? — pergunto olhando todo o seu corpinho. — O
que aconteceu, filha?

— Ó, foi assim, depois que o senhor foi embora e a Julia se


despediu, a babá perguntou se eu queria dar mais uma volta no
parque e brincar, aí, eu disse que sim. Aí, o telefone da babá tocou
novamente. Aí, um homem, que eu nunca vi, me disse que era para
eu ir com ele porque ele iria me levar até você, mas o senhor falou
que não era para eu sair sem a bisa ou sem você ou sem a babá ou
sem a tia Sarah. Aí, eu saí correndo, mas aí, acabei caindo e não
me lembro de mais nada — minha filha narra com sua voz infantil,
cheia dos “aís” que ela ama falar, e eu engulo em seco e guardo em
minha mente a informação de que um homem estranho se
aproximou dela.

— Me diz, como você está se sentindo, filha? — Volto a


perguntar mais preocupado no momento com ela, assim que tiver a
certeza de que minha menina está bem descobrirei o que realmente
aconteceu.

— Você já falou com o médico? — minha avó indaga,


segurando meu braço, e só então percebo que estou apertando a
grade da cama com tanta força que meus dedos ficam brancos.
Relaxo-os e imprimo um sorriso em meus lábios antes de virar meu
rosto para ela.

— Não, vim direto ver como a Maria estava. Sequer sabia que
a senhora estava aqui.
— E onde mais estaria? — Movimenta os ombros e joga as
mãos para cima. — Uma funcionária do hotel apareceu na nossa
suíte, nervosa, dizendo que nossa Maria havia sofrido um pequeno
acidente. Acredito que perdi alguns anos de vida naquele momento,
e Deus bem sabe que já não tenho muitos pela frente — soa
dramática, como sempre faz.

Minha avó é brasileira, ela diz que quem tem sangue latino
tem um pé no drama e outro na malandragem. Nunca entendi isso
muito bem.

Também nasci no Brasil, meus pais foram acompanhar a


construção de um de nossos hotéis, minha mãe estava grávida na
época e ficaram por lá por quase dois anos. Infelizmente, eles
morreram em um acidente de avião, meus avós foram me buscar e
visitei o país poucas vezes apenas em ocasiões de trabalho. Mas
diferente da minha avó, consigo manter minhas emoções sob
controle, menos quando o assunto é sobre minha filha.

— Vó, isso lá é coisa de se falar em um momento desses!? —


ralho, fazendo um meneio negativo.

— Mas é verdade! Só consegui relaxar quando cheguei aqui e


a vi. — Solta um suspiro. — Ela não pode mais viver assim, Emílio.
Não é saudável para uma criança de 5 anos, Maria precisa de
estabilidade, e estar em um país e ter uma babá diferente a todo
mês não é sinônimo de constância — esbraveja.

— Não briga com meu papai, bisa — minha princesa reclama


e eu a beijo.
— Não vou me afastar da minha filha até ela fazer 9 anos e ir
para o Instituto Le Rosey.

— Então, se case! E, definitivamente, pare de mudar de babá


a cada vez que viajar — insiste.

— Isso está fora de cogitação, não vou me casar — afirmo.

— Eu queria ter uma mamãe — minha filha solta, fazendo-me


segurar o ar.

— Eu não vou viver para sempre, Emílio, quero que você se


case novamente. Não só por Maria, mas por você também. —
Segura minha mão e a aperta com força.

Não quero me casar, não por amor, nunca mais quero sentir a
dor da perda de alguém que eu amo, nunca mais vou deixar alguém
ser tão importante para mim assim e correr o risco de tê-la
arrancada de mim, deixando-me em um mar de desespero.

Obviamente, não fiquei sem companhia durante esses anos,


tenho apenas 40 anos, sou saudável e gosto de sexo, mas todos
são casos sem nenhuma profundidade. Eu já tenho as pessoas que
detêm toda a minha afeição, minha filha e minha avó. Não gosto de
como me sinto quando uma delas passa mal ou como agora, cai ou
desmaia. Nunca mais vou me sentir tão desesperado, a ponto de
não saber se vou para frente ou para trás. Nunca mais vou amar
tanto uma mulher a ponto de ela ser meu primeiro pensamento ao
acordar e o último antes de dormir.

Não vou deixar meu corpo ser dominado por desejos ou


paixão. Prefiro manter minha mente sã e consciente, prefiro ficar
longe de todas essas emoções e conservar o equilíbrio, prefiro
continuar como estou, dedicando-me à minha filha, avó e aos
negócios.

Nunca mais vou me permitir amar novamente.


Capítulo 7

Observo minha filha brincar com uma boneca que ganhou da


sua tia Sarah, que, na verdade não tem nenhum vínculo de sangue
com ela, somente afetivo.

Tem exatas duas semanas que minha filha sofreu aquele


estúpido acidente e, desde então, tomei algumas decisões
importantes. A primeira foi despedir a babá e contratar outra. Me
irrita saber que aquela pequena atrevida brasileira tinha razão.

Em todos os países que visito com minha filha, sempre


seleciono pessoalmente as babás que ficarão com ela. E devo
salientar que nunca tive problema com nenhuma profissional. Até
algumas semanas atrás.

Minha outra decisão e talvez a mais importante foi o pedido de


casamento que fiz à Sarah. Ela é lindíssima, inglesa, dona de belos
olhos verdes, cabelos loiros curtos, muito elegante, sofisticada e
educada. Ela tem 35 anos, é solteira e trabalha no mercado
financeiro. É uma boa amiga.

Confesso que a proposta partiu de um momento de incerteza


e possivelmente receio das coisas que minha avó proferiu. Mas não
posso negar que as fortes emoções que senti por uma mulher com
quem tive rápido contato por apenas duas vezes também me ajudou
a decidir propor um casamento por contrato e conveniência com a
prima distante da minha falecida esposa.

Julia me fez sentir coisas que eu não quero sentir e a mera


possibilidade dessa vulnerabilidade me deixou receoso. Sei que ela
ficará apenas por mais três semanas e depois irá embora e
provavelmente nunca mais a verei de novo. E essa certeza faz toda
a confusão que aquela pequena insolente me faz sentir sossegar.

— Eu ainda não acredito que você pediu essa mulher em


casamento, ela teve a coragem de sugerir que enviássemos Maria
mais cedo para o Instituto Le Rosey! — minha avó inclina o corpo e
sussurra no meu ouvido, indignada.
O Instituto Le Rosey é um refinado, sofisticado e exclusivo
colégio interno localizado na Suíça, onde príncipes e Reis
estudaram. Minha esposa e Sarah estudaram lá e era o desejo da
mãe de Maria que ela tivesse a melhor orientação que o dinheiro
pudesse comprar.

Eu concordo com isso, minha filha é herdeira de um império e


desde muito nova tem que se preparar para um dia assumir meu
lugar. Contudo ainda não estou preparado para enviá-la para lá.

Estamos sentados na sala, tomando um chá, enquanto vemos


a interação de Sarah com Maria. Ela gosta da minha filha, e minha
filha dela. Só isso já é um bom motivo para me casar, aliado ao fato
de que sinto um grande carinho por ela. A proposta de casamento
me pareceu uma boa ideia.

Sarah aceitou de imediato, o que me surpreendeu. Pensei que


pediria alguns dias para pensar. Por este motivo, achei melhor
deixar claro que seria um casamento por conveniência, teríamos
vidas íntimas separadas. Entretanto, garanti que manteria discrição.
Voltei a acentuar que haveria respeito, carinho, amizade,
companheirismo, mas somente isso. Mais uma vez, achei que ela
iria desistir, porém novamente ela aceitou.

— A senhora pediu que me casasse. — Escorrego um olhar


para minha avó, que levanta o queixo e vira o rosto.

Seguro o olhar nela, a conheço bem o suficiente para saber


que ela não deixará o assunto morrer assim tão fácil.

— Pedi que se casasse por amor e paixão. — Me fita irritada.


Como pensei, ela simplesmente não consegue se segurar.

— Pelo que me recordo, suas palavras foram: se case. Maria


precisa de uma mãe! Amor não estava entre as palavras ditas. —
Levanto uma sobrancelha, enquanto a vejo abrir e fechar a boca.

— Papai, minha boneca não é linda? — Maria corre em minha


direção.

Rapidamente ponho a xícara na mesa de centro e ajeito


minha filha em meu colo.

— Sim, estrelinha, ela é linda. — Beijo sua testa.

— Posso mostrar ela a Julia? — indaga com os olhos


brilhantes.

— Quem é Julia? — Sarah questiona, aproxima-se e se senta


no sofá à nossa frente.

— Minha amiga, e ela se parece com a princesa Tiana —


Maria explica em tom de confidência.

— Maria fala tanto dela que até já fiquei curiosa em conhecer.


— Minha avó solta pouco antes de tomar seu chá com uma
expressão que de inocente não tem nada.

— Ela é apenas uma hóspede do hotel, irá embora em 20


dias. — Me apresso a informar a Sarah que me oferece um sorriso
singelo.

E quando viro meu rosto para minha avó, encontro-a me


olhando com um sorriso de lado e um levantar sugestivo de
sobrancelha. Ela me conhece bem o bastante para saber que algo
me incomoda em relação à tal hóspede. Infelizmente não consegui
mascarar minha voz e imprimir um tom de pouco interesse ao me
referir à mulher que invade meus sonhos sorrateiramente.

— Emílio podemos conversar a sós um instante? Você se


incomodaria de ficar um pouco com a Maria, Sarah? — pede a
minha futura mulher .

Com um sorriso, minha avó se levanta e eu sorrio para Maria


e Sarah antes de segui-la.

— Estou atrasado, vó — digo assim que entramos no meu


escritório. — E foi uma indelicadeza da sua parte se retirar da sala
com visita.

— Tenho idade o suficiente para não me importar com essas


coisas — resmunga. — Esquece essa loucura, não se case com
ela.

— Por favor, não comece. — Levo minhas mãos às minhas


têmporas.

— Você merece um amor de verdade, daqueles que roubam o


fôlego e dão tremedeira nas pernas. — Ela faz um gesto com as
mãos para enfatizar sua fala.

— A última coisa que eu quero é ter meu fôlego roubado e


prefiro manter minhas pernas bem firmes, vó — brinco.

— Estou falando sério, Emílio — enfatiza.

— Eu também vó — retruco.
Por um tempo não falamos nada, nos olhamos medindo
forças. Não sou um jovem inexperiente que fica nas mãos dos mais
velhos, amo minha avó, mas eu que decido minha vida.

— Então dê mais tempo, não precisa se casar tão rápido —


pede, recuando, suavizando a voz. Ela sabe que não faço nada que
não queira fazer.

— Eu preciso. — Aperto minhas mãos quando em minha


mente surge a imagem da brasileira sensual e espevitada. — Tenho
que me casar.

— Está parecendo mais como uma fuga — especula, mas


não respondo. — Você não é o tipo de homem que faz algo por
impulso, não comece agora — completa.

Dá alguns passos em minha direção, beija meu rosto e sai do


escritório me deixando pensativo. Pouco tempo depois, eu a sigo e
as encontro na sala conversando animadamente.

— Surgiu um imprevisto e infelizmente terei que cancelar


nosso compromisso com o advogado hoje — falo para Sarah,
evitando desviar o olhar para minha avó.

— Eu compreendo, querido. — Sarah sorri e assente.

Beijo a testa da minha filha e, quando inclino a cabeça para


me despedir da minha avó, ela sussurra um “obrigada”.

Eu só espero não me arrepender por esperar um pouco para


assinar o contrato de casamento e marcar a data da cerimônia.
Ao sair do elevador encontro Julia conversando com uma
mulher. Ela ri de algo que a outra disse, joga a cabeça para trás e,
mesmo de longe, sua gargalhada reverbera pelo meu corpo.
Decidido caminho com a intenção de ignorá-la, busco meus óculos
escuros no bolso e coloco-os no rosto.

Não consigo desviar meus olhos dela. Vejo o exato momento


em que nota a minha presença. Reparo o arfar e aquela porra de
boca pequena aberta me deixa excitado novamente. Não dura
muito, logo ela a fecha e vira o rosto atrevido para a frente, com a
clara intenção de também me ignorar. Ao passar por mim, seu
perfume adocicado me envolve e inebria, fazendo-me buscar o ar
discretamente.

― Eu tenho que ficar o mais longe o possível dessa mulher —


murmuro.
Capítulo 8

Solto a respiração assim que entro no elevador.

— Por que eu simplesmente não consigo fingir que esse


homem não existe? — sussurro.
Essas últimas semanas têm sido maravilhosas, um verdadeiro
detox mental. Minha equipe não me passa o que estão falando
sobre mim nas redes sociais e nem eu procuro saber. Meus
assessores me garantiram que todos os contratos estão sendo
cumpridos e pedi que, por enquanto, não aceitassem novos. Pelo
menos até eu saber quais passos dar de agora em diante.

Hoje, pela primeira vez em meses, senti novamente a alegria


de ver um seguidor. Confesso que o receio me bateu em cheio
quando fui reconhecida na entrada do hotel. Travei ao ouvir meu
nome sendo chamado, aguardei ansiosa para ver qual seria sua
reação, mas para o meu alívio foi de carinho e acolhimento. Suspirei
discretamente e em seguida sorri largo. Era uma seguidora de
muitos anos que sempre comenta nas minhas postagens.

Sentindo-me aliviada, virei-me e vi a fonte do meu incômodo


caminhando em minha direção. Não sei por que ele mexe comigo,
principalmente porque é óbvio que nós dois fazemos questão de nos
evitarmos.

Ele é grosseiro, arrogante, prepotente e lindo pra cacete!

— Só mais algumas semanas, vou para Paris e nunca mais


irei vê-lo na vida! — exclamo.

Decidida, encho meus pulmões de ar e jogo fora em uma forte


baforada, sigo para o elevador, confiante, e sou surpreendida pelo
pequeno furacão chamado Maria Luíza abraçando minhas pernas.

— Julia! — A pequena me abraça forte, fazendo-me sorrir


largo. Abaixo meu corpo à sua altura e beijo sua cabeça.
— Maria! Você sabe que não pode incomodar os hóspedes —
uma mulher loira, alta e muito elegante ralha.

— Mas ela é minha amiga, tia Sarah! — Maria bate o pé no


chão.

— Ela é uma hóspede do hotel e nada mais que isso. — A


mulher segura a mão da menina e a puxa ao seu encontro, mas
Maria não se afasta de mim.

O meu instinto de proteção me pega forte, levanto-me e


enlaço os ombros da criança mantendo-a perto de mim.

— Ela não está me incomodando, gosto demais de Maria —


esclareço.

Minha ligação com essa garota é algo que não sei explicar,
apenas sentir. Enquanto espero ansiosa pelo dia em que não vou
ver mais o pai dela, lamento porque não a verei mais.

Eu poderia ter mudado de hotel ou até antecipado minha


estadia em Londres e seguir para outro país, mas qualquer uma
dessas decisões me manteria longe deste anjinho e eu ainda não
estou preparada para me despedir dela.

Confesso que esta menina tem me ajudado muito, suas visitas


ao meu quarto com a babá e várias bonecas ou as vezes que nos
encontramos no parque e conversamos, ou, melhor, que ela fala,
como uma pequena tagarela. Esses momentos sempre me fazem
rir. Ela me faz esquecer as dores que deixei para trás, ouso julgar
que comecei um processo de cura. Achei que ficaria muito tempo
lamentando pelo meu casamento e por tudo o que houve, mas não,
tenho aproveitado bastante Londres e essa criança tem me entretido
muito.

É gostoso ouvir sobre suas viagens pelo mundo, sua visão


infantil das coisas dá um ar de fantasia aos lugares. E isso me faz
jogar para longe todas as tristezas que deixei no Brasil.

Claro que sinto saudades da minha irmã, meu pai e minhas


sobrinhas, falo com eles diariamente, mas pelos próximos meses
não quero voltar. E a pequena Maria que conheci há poucas
semanas consegue acalentar meu coração.

— Querida, por favor, me obedeça, deixe a hóspede em paz,


eles não são seus amigos, são pessoas passageiras que você
jamais verá novamente. — A forma como ela pronuncia tais
palavras me soa maldosa.

Sinto os braços de Maria afrouxarem ao meu redor e a seguro


no lugar.

— Apesar de não ser inglesa, falo inglês fluentemente e tenho


certeza de que você entendeu quando eu disse que ela não está me
incomodando. Na verdade, como Maria salientou, nós somos
amigas — profiro devagar e a mulher levanta uma sobrancelha.

— A senhora é uma estranha para a filha do meu noivo —


revela fazendo-me prender a respiração.

Essa descoberta não deveria me inquietar, na verdade,


sequer deveria perder um segundo pensando nisso. Mas não é isso
que acontece, porém me recuso a me aprofundar nesse sentimento
inoportuno.
— Vamos, querida? — Volta a chamar, despertando-me da
minha confusão momentânea. Ela me fita e sorri friamente. —
Compreendo que exista certa afeição entre vocês, entretanto,
espero que a senhora entenda que não posso alimentar esse tipo de
comportamento. A senhora foi receptiva, mas o mesmo pode não
acontecer com outros hóspedes — conclui.

Ela tem razão. A mulher não estava sendo arrogante, apenas


estava preocupada com a filha do seu noivo. Eu a vi dessa forma,
talvez por ciúme da criança, um sentimento que não tenho direito de
sentir. Maria não é nada minha. Só preciso que minha mente
compreenda isso. Gosto tanto desta pequena, ela ocupou um lugar
imenso no meu coração sem fazer esforço algum, de forma rápida e
imediata.

— Posso ficar com você, Julia? — Maria me pergunta e eu


queria muito abraçá-la forte e levá-la para brincar, mas não posso.

— Meu anjo, vamos fazer o seguinte: você pede à sua bisavó


ou ao seu papai e se eles deixarem, aí você pode ir brincar comigo
e com a sua babá. Não vai fazer como da última vez que apareceu
de surpresa, sem contar para ninguém. — Aperto o seu nariz. —
Hoje vou passar a tarde no hotel, só vou sair à noite. Então, se eles
deixarem, você pode ficar comigo. — Beijo sua cabeça e, ao
levantar noto que a mulher não ficou feliz com minha resposta.

Maria Luíza se despede de mim com uma expressão triste e


eu sigo do mesmo jeito.

Ao entrar em meu quarto deixo as bolsas em cima do sofá e


me jogo na cama.
— Vou sentir saudades dessa menina quando sair daqui. —
Sorrio triste.

Tentando espantar a tristeza, me levanto e começo a guardar


as coisas que comprei. Separo as que vou enviar para o Brasil e as
que vão seguir viagem comigo.

— Preciso entrar em contato com o serviço de envio


internacional. Vou tomar um banho e depois ligo para recepção do
hotel — resmungo olhando as bolsas espalhadas na cama.

Perco a noção do tempo na banheira e, ao sair, ouço batidas


à porta. Pensando se tratar de Maria Luíza, visto um roupão
apressada e abro a porta com um sorriso imenso nos lábios. Mas
não é a menina tagarela que encontro e sim, seu pai, com uma
expressão severa e olhar frio.

— Me desculpe incomodá-la, mas precisamos conversar.


Posso entrar? — Sua pergunta soa como uma ordem, e me vejo
dando alguns passos para trás, boquiaberta.

Como este homem ficou mais bonito nas poucas horas que se
passaram desde que o vi passando por mim com um olhar
indiferente? Ou melhor, desde que fingi não o ver.

Ele dá alguns passos com os olhos presos nos meus,


fazendo-me segurar o fôlego, depois desvia e percorre meu quarto,
por fim, volta para mim. Desce o olhar vagarosamente e, quando
fixa nos meus olhos, eu solto o ar devagar. A porra do homem fez
minhas pernas tremerem sem falar nada.
— O que queria falar comigo? — Finjo que sua presença não
mexe comigo.

Ele não me responde, apenas segue me olhando, e eu


deveria me sentir desconfortável e incomodada, mas o único
incômodo que sinto é entre minhas pernas.

Este homem me excita apenas com um olhar e isso me


intriga, porque é algo que nunca aconteceu comigo. Sempre me
revesti de uma máscara risonha para disfarçar minha carência de
atenção e afeto. Foi por isso que deixei Gabriel se aproximar de
mim, nunca me senti fortemente envolvida sexualmente por ele. Eu
queria que ele me desse apenas carinho e atenção.

Porém, deste homem à minha frente, não quero carinho e


atenção. Meu corpo pede por uma satisfação imediata, nunca me
senti pulsar por um homem, claro que já fiquei excitada e tive
orgasmos satisfatórios. Mas o seu olhar é de um homem experiente,
do tipo que promete te virar do avesso, te fazer gemer a noite inteira
e sentir um prazer nunca antes experimentado.

Puxo o ar com força e solto devagar, e ele faz o mesmo.


Continua sério, com a expressão fechada, nem de longe se vê um
sorriso em seu rosto, sua expressão é de homem malvado, e eu
imagino o tipo de maldades que ele pode fazer comigo.

Sem conseguir me controlar, sorrio de lado, travessa, levanto


uma sobrancelha e fico esperando-o falar algo, quando não
acontece, eu começo a falar:
— Veio aqui só para ficar olhando o meu rosto bonito? —
indago.

— Sua pequena insolente! — Irradiando raiva pelos poros, ele


dá mais alguns passos em minha direção e para bem próximo a
mim.

Sua explosão me faz sorrir largo e me mostra que ele não é


tão frio e calculista como aparenta ser.

— Mas por que sou insolente? Estou aqui paradinha,


esperando você me dizer por que veio ao meu quarto — minha voz
soa mansa.

— Foi um erro vir aqui. — Se vira de costas para mim. — Por


favor, fique longe da minha filha, não quero que ela se apegue a
uma hóspede que não poderá ver daqui a algumas semanas.
Principalmente uma que, aparentemente, fugiu do Brasil para se
esconder de um escândalo de traição — ordena, grosseiro.

— Pensei que os ingleses fossem famosos por suas


cordialidade e educação, mas acho que o senhor faltou essa aula na
escola — rebato, possessa.

— Como ousa?! — Volve o corpo e fica novamente de frente a


mim.

— Como eu ouso?! Como você ousa fazer suposições dos


motivos que me levaram a viajar! — revido, debochada.

— Por um acaso disse alguma mentira? É só digitar seu nome


na internet que chove matérias sobre a sua conturbada vida
amorosa e suas traições — ruge.

— Mesmo que eu tivesse dado para meio Brasil, você e nem


ninguém teria absolutamente nada com a minha vida! — retruco,
irritada.

— Você tem toda razão, não tenho nada com sua vida.
Apenas continue passeando, fazendo compras, vivendo sua vida, e
se mantenha distante de mim e de minha filha.

— Eu não quero chegar perto de você. Na verdade,


contrariando o trabalho que você se deu de procurar saber quem eu
era, nem sequer tive vontade de saber o seu nome. Sei que você é
o pai da Maria Luíza, porque ela me disse, mas fora isso, não sei
nem quero saber absolutamente nada sobre você — desdenho.

Chego bem perto dele, invadindo seu espaço pessoal e falo


com meu rosto bem próximo ao seu:

— Não me interesso por homens velhos — menosprezo.

Ele me surpreende enrolando meu cabelo em suas mãos e


dando um puxão firme ao encontro do seu corpo, forte o suficiente
para me fazer arregalar os olhos, mas não o suficiente para doer.

— Não sou um dos moleques com quem você está


acostumada a lidar, menina ― avisa com os olhos presos aos meus.

— As rugas no seu rosto denunciam isso ― alfineto, sorrindo


de lado.

— Eu posso acabar com você — ameaça, deslizando a mão


livre pelo meu rosto, passando lentamente pelo meu pescoço e
segurando minha garganta.

— Jura?! E como você faria isso? — Minha voz não passa de


um sussurro.

Eu deveria estar com medo, na verdade, deveria estar


apavorada. Estou sozinha, com apenas um robe escondendo meu
corpo nu, com um homem maior que eu segurando meu cabelo e
ameaçando acabar comigo. Eu realmente deveria estar muito
amedrontada, e não tão atiçada a ponto de sentir a minha excitação
descer pelas minhas pernas.

Uma discussão sempre me deu crise de choro, mas agora


estou quase implorando para ele me mostrar o quão malvado pode
ser. Mas ele não faz nada. Apenas se afasta enquanto mordo meu
lábio inferior e sai do meu quarto deixando-me ofegante e excitada.

— Mas que porra foi essa!?


Capítulo 9

Eu não devia ter entrado naquele quarto. Não devia ter


segurado o cabelo dela daquela forma e muito menos olhado sua
boca com volúpia, doido para beijá-la, para saber se é tão gostosa
quanto aparenta, louco para abrir seu robe e confirmar se realmente
estava nua, desesperado para sentir seu sabor.
Engulo saliva junto à vontade de dar meia-volta e fazer tudo o
que seu olhar me pedia de forma silenciosa e ardente.

— Isso é uma loucura! Eu a conheço tem poucas semanas e


esta é a segunda vez que troco algumas palavras com ela e mal
consegui me segurar — murmuro, entrando no elevador e ficando o
mais longe daquela mulher.

Quando Sarah me ligou e me disse que Maria Luíza ficou


inconsolável após o rápido encontro com Julia e relatou o quanto a
hóspede foi inconveniente, não pensei duas vezes antes de vir exigir
que ela ficasse o mais distante possível da minha filha.

Não me interesso por homens velhos.

Sua fala invade minha mente, fazendo-me cerrar os punhos.


Sempre me vangloriei por ser um homem que não se abala por
qualquer coisa, na verdade, as únicas coisas que conseguem me
tirar do tão rigoroso controle são minha filha e minha avó.

— E, agora pelo jeito uma pirralha que mal saiu das fraldas
está me deixando descontrolado desse jeito! — Bufo, inconformado.

Busco meu celular e chamo Tom, que atende após o segundo


toque.

— Está ocupado? Pode me encontrar no hotel? — pergunto


com um suspiro.

Conheço Tom há muitos anos, além de fazer parte do


conselho da minha empresa, é um grande amigo.
— Claro, mas aconteceu alguma coisa? Sempre sou eu que
tenho que te tirar do escritório à força para beber algo ou
simplesmente desfocar.

— É exatamente isso que preciso agora, desfocar. Quero


relaxar antes de encontrar minha filha e minha avó.

— Você nunca deixa o trabalho interferir na sua relação com


elas. O que houve?

— Vou te esperar no bar do hotel e falo o que anda tirando


minha paz. Aposto que você vai gostar de saber. — Rio baixo.

— Não acredito que uma boceta de ouro finalmente virou sua


mente — soa depravado.

— Às vezes me esqueço do quão libidinoso você é —


reclamo em um tom de zombaria.

Desligo o telefone e sigo em direção ao bar do hotel, escolho


uma mesa reservada e peço um drink enquanto espero meu amigo.

Meu celular toca e vejo que é uma ligação de Sarah. Respiro


fundo antes de atender.

― Boa noite, querido, vamos jantar hoje? Precisamos resolver


sobre a ida de Maria para o Instituto e assinarmos o contrato ―
convida e eu sinto uma pontada na minha cabeça.

― Infelizmente hoje não poderei, irei me encontrar com Tom


daqui a pouco.

― Compreendo. Então... podemos almoçar amanhã?


― Vou verificar minha agenda e te confirmo, se não der para
almoçarmos, jantamos. Infelizmente ainda não consegui marcar
uma nova reunião com meus advogados para falar sobre o contrato.

― Entendo, o prazo de matrícula para o primeiro ano letivo no


Instituto é concorridíssimo, temos que resolver agora se Maria vai
este ano.

― Creio que, por mais algum tempo, vou preferir a educação


domiciliar, não quero enviar Maria agora para a Suíça, falamos
sobre isso da última vez.

― Como você quiser, querido. Nos encontramos amanhã e


conversamos melhor.

Sarah termina a ligação e pouco tempo depois Tom entra no


Bar. Após fazer um rápido resumo, tenho que aguentar sua risada.

— Eu não acredito que a mulher já está mexendo com você


antes mesmo de ter dormido com ela — provoca.

— E nem vou dormir! — exclamo.

— Já achava seu noivado um erro, agora, tenho certeza.

— Sarah não tem nada a ver com isso.

— Pelo jeito, ela tem tudo a ver com isso. Você nem sente
tesão ou paixão pela mulher, como pode se casar com ela?

— Nem tudo se resume a tesão.

— Casamento sem tesão é uma merda! Já tive essa


experiência e não deu certo. Agora sou casado com a mulher que
mexe com minha mente, coração e é dona do meu pau, e eu
aconselho você a fazer o mesmo. — Aponta o copo de bebida para
mim antes de ingeri-lo.

— Você teve sorte, esse tipo de amor só se tem uma vez na


vida, e eu já tive com Sabrina.

— Sabrina era realmente uma mulher maravilhosa, mas ela


faleceu há mais de 5 anos, você tem que seguir sua vida.

— É o que farei me casando com Sarah.

— Não, você irá se esconder, Sarah apenas será mais um


escudo de proteção. Ela sequer mexe com você, não existe emoção
nenhuma entre vocês dois. Ao menos pelas mulheres que passaram
pela sua cama nos últimos anos, você sentia desejo; já com Sarah,
nem isso. Como pode se casar com ela?! — Meu amigo não
esconde sua indignação.

— E o que você me sugere, me envolver com uma mulher que


tem fama de trair seu marido com vários homens? Só porque ela
mexe comigo?! Isso não vai acontecer.

— Você está se baseando no que a imprensa está dizendo, já


pensou se for mentira? Ou você se esqueceu do que costumam
falar de você? Todo mês dizem que você vai se casar com uma
mulher que sequer você conhece! E até filhos já disseram que você
tem. Tudo mentira. E se for mentira o que falam dela?

Ao terminar ele levanta uma sobrancelha e eu não consigo


retrucar.
— Não importa se é mentira, isso é irrelevante. O melhor para
mim é ficar bem longe dela.

— Nunca vi tão cabeça dura! — Ri, e eu acompanho.

Entro na nossa suíte e encontro minha avó me esperando


sentada no sofá. Pela forma como me olha sei que está bastante
irritada.

— Vou ver Maria e depois conversamos. — Beijo sua cabeça


e não lhe dou chance de protestar, afasto-me e caminho para o
quarto da minha filha.

Tomo uma forte respiração antes de entrar e a encontro


sentada na cama folheando um livro.

— Por que não está dormindo? Está tarde. — Fecho o livro,


levanto a coberta e ela se aconchega debaixo dela.

— Eu estou muito triste para dormir. — Cruza os braços


fazendo bico.

— Por que, minha estrelinha? — Acaricio seus cabelos.

— Eu acho que a Julia não quer ser mais minha amiga pela
forma como a tia Sarah falou com ela — choraminga.

Não gosto de ver minha filha triste, não gosto nem um pouco.
Deito-me ao seu lado e a puxo para meus braços.
— Meu amor, a Julia é uma hóspede que vai embora em
algumas semanas.

— Mas ela é minha amiga, sei que ela vai embora, mas
podemos nos falar por cartas, por mensagem, por e-mail, por
telefone. — Minha menina revira os olhos, fazendo-me rir.

— Eu sei, filha, mas não pode incomodar os hóspedes.

— Eu nunca incomodei os hóspedes dos hotéis, papai, mas


ela aceitou ser minha amiga e selamos nossa amizade com um
aperto de mãos bem forte e isso é para sempre! — diz solenemente.

— Não quero te ver triste, filha, nem sofrendo quando ela não
te responder uma mensagem ou não atender sua ligação.

— Isso não vai acontecer, papai! Tenho certeza. A Julia disse


que eu já moro em seu coração e ela mora no meu, como você e a
vovó.

— E a tia Sarah? Não mora mais?

— Eu estou triste com ela.

— Mas ela sempre esteve com você há mais tempo que a


Julia que você conhece há pouco tempo.

— Mas com a Julia é diferente, ela... não sei explicar, só é


diferente.

Eu queria dizer que isso é coisa da sua cabeça, mas não


posso, porque me sinto da mesma forma. A Julia é diferente e está
entrando em nossas vidas de forma sorrateira e tomando conta de
tudo.

— Ela me disse que tem duas sobrinhas que ama muito,


também disse que trabalha na internet, mas que, no momento, está
triste porque a internet está falando um monte de mentiras sobre ela
e por isso que ela veio viajar. Ela tem dois irmãos, uma menina e um
menino, mas todos são mais velhos que ela. Disse também que,
quando era criança, também ficava com babás como eu. Ela brinca
comigo, passeia no parque comigo e a nova babá, e ainda ouve
tudinho que falo, sem revirar os olhos ou dizer que não tem tempo,
ou que está atrasada para o trabalho, e nunca diz que eu falo muito,
nunquinha.

A culpa me pega em cheio, eu tento ser um bom pai, mas sei


que falho em quesito atenção.

— Não me afaste dela, papai, nós também não vamos ficar


muito tempo aqui. Nunca ficamos muito tempo em nenhum lugar.

— Daqui a algumas semanas, vamos para Doha, no Qatar, e


depois para Dubai.

— Vou poder visitar Cisco. — Maria bate palmas ao se referir


ao seu cavalo que fica em um haras, em Dubai. — Pena que Julia
vai para Paris, se ela também fosse para lá, poderia lhe mostrar
meu cavalo. Mas posso tirar foto dele e mostrar para ela —
confabula, empolgada.

— Filha, sobre Julia, eu acho melhor...


— Por favor, papai, não me peça para me afastar dela! —
implora.

— Vou pensar melhor sobre isso, mas enquanto não me


decidir, não quero você perto dela. Tudo bem?

Beijo sua testa, volto a ajeitar suas cobertas e saio do quarto


sabendo que deixei minha filha triste e eu não gosto nem um pouco
disso.

Ao chegar à sala, encontro minha avó lendo um livro com uma


xícara de chá ao seu lado. Até penso em desviar e ir para meu
quarto, mas a conheço bem o suficiente para saber que ela iria atrás
de mim.

Alongo o pescoço de um lado para outro e me preparo para


ouvir o que minha avó tem a falar.
Capítulo 10

Coloco algumas pedras de gelo em um copo e despejo whisky


sabendo que sou observado pela minha avó. Ingiro um longo gole
antes de me sentar à sua frente e cruzar minhas pernas.

— O que a senhora gostaria de conversar comigo? —


pergunto e a observo pousar o livro fechado em suas pernas antes
de começar a falar.

— Maria voltou para casa bastante irritada.

— Ela me disse.

— Parte da sua irritação se deve às atitudes de Sarah


mediante a hóspede que se tornou uma pessoa muito querida para
Maria.

— Já pedi para essa hóspede manter distância da minha filha.

— E você não acha que está um pouco atrasado nessa sua


resolução? Maria já se afeiçoou à mulher e em uma breve conversa
com a babá, tive a certeza de que o sentimento é recíproco. Há
semanas que elas passeiam juntas e Maria até já foi brincar no
quarto dela com a babá. Confesso que me surpreendi quando
soube, Maria não é dada a esses rompantes de desobediência e
nunca tinha dito uma mentira para a babá levá-la a algum lugar.
Adverti a babá de que tudo deveria passar primeiro pela minha ou
sua autorização. Pelo menos o segurança as acompanhou. Enfim,
ainda não tive o prazer de conhecê-la, mas vou remediar isso em
breve.

— Não há necessidade de a senhora conhecê-la. Na verdade,


prefiro que sequer a veja — ordeno.

Não preciso de mais uma pessoa encantada por Julia, a


última coisa que quero é essa mulher muito perto de mim.

— E por que eu não deveria conhecê-la, já que minha bisneta


gosta tanto dela? Maria não tem amigos de sua idade, na verdade,
ela não tem amigos que não sejam seus funcionários. Esse vínculo
tão forte é de fato inesperado, mas apenas mostra o quanto sua
filha está frágil e vulnerável. E, pelo que vejo, essa mulher consegue
fazer algo se mexer dentro de você. A moça já me é, no mínimo,
interessante.

— Não começa, vó. Ela não mexe comigo. — Contradizendo


minhas palavras, engulo a bebida de uma vez só, me levanto para
encher o copo novamente e desisto de me sentar. — Não a
conhecemos, já tinha pedido para ela se manter distante de Julia e
hoje voltei a pedir cordialmente.

— Você não conhece o significado dessa palavra — afirma,


fazendo-me fitá-la. — Eu te amo, é meu único neto, mas é
arrogante, frio, calculista e, por muitas vezes, prepotente. Sem falar
que costuma esmagar quem você não gosta como se fosse formiga
indefesa.

Mais uma vez não retruco, ela me conhece, mas hoje a única
forma com que quis esmagar Julia foi com minha boca colada
firmemente nela.

— Apenas mantenha distância, vó.

— Se ela te incomoda tanto, por que vai se casar com Sarah?

— Novamente o mesmo assunto! — Solto um longo suspiro.

— Nunca te vi fugir de nada, mas este casamento me parece


uma fuga.

— Como você mesma disse, Maria precisa de uma mãe.


— E o pequeno passeio de hoje à tarde já serviu para
notarmos que Sarah não é a pessoa adequada para tal tarefa. É
muito fácil ser uma tia agradável quando se vê uma criança quatro
vezes por ano e envia presentes adoráveis. Mas conviver com uma
diariamente nem sempre será algo fácil de se lidar. Maria é uma
criança maravilhosa, contudo tem seus momentos difíceis.

— E acha que em uma tarde pode se avaliar isso? Como a


senhora mesma disse, foi apenas um momento difícil. Vou seguir
com o casamento, vó — decreto.

Beijo sua testa e dou o assunto por encerrado.

Na manhã seguinte, depois de passar a noite pensando nas


palavras da minha avó e nos pedidos da minha filha, saio do meu
quarto e encontro Zoe conversando com as duas. É comum ela vir
aqui na parte da manhã para irmos juntos para a empresa. Minha
família se despede de mim e sai para um passeio. Eu encho uma
xícara de café, e minha secretária começa a falar:

— Hoje o senhor tem uma reunião com o conselho a respeito


do resort no Brasil; uma reunião por videoconferência com o gestor
do hotel de Paris e depois com o gestor do da Grécia. Preciso
confirmar com o hotel de Doha se realmente irá para lá e por quanto
tempo ficará. Também tem uma reunião com o chefe da equipe de
segurança da sua filha. Além disso, precisa analisar esses
documentos — enumera e desliza uma pasta em minha direção.
— Confirme a viagem para Doha, ficaremos por três semanas.
Creio que nesse tempo dê para resolver tudo. Em seguida irei para
Dubai, agende uma reunião com o gestor do hotel, iremos ficar por
no mínimo duas semanas. Por favor, contrate uma babá para Maria
e uma acompanhante para a minha avó.

— Posso verificar se as profissionais que as atenderam da


última vez estão disponíveis? Ou prefere que contrate outras?

— Pode ser as do ano passado, elas gostaram delas. Se


estiverem disponíveis, pulamos a fase da adaptação, que é sempre
desgastante. Mais alguma coisa?

— Saiu uma nota sobre o casamento do senhor, e alguns


jornalistas entraram em contato questionando se a reportagem é
verdadeira. Devo enviar um comunicado confirmando ou negando?
— indaga mostrando-me a notícia no tablet que segura.

Pego o aparelho e engulo um xingamento. Não queria que


meu casamento fosse noticiado até termos assinado o contrato. O
mais interessante é que a notícia não diz com quem vou me casar,
mas insinua que a noiva é da indústria do entretenimento.

Já estou acostumado com notícias inverídicas a meu respeito.


Modelos com que nunca fiquei, atrizes que sequer conheço. Todos
os meus relacionamentos são com pessoas discretas, não com
famosas ou socialites. Com todas, passei momentos agradáveis,
mas elas sabem que nossos encontros são sem envolvimento
emotivo ou compromisso. Procuro me relacionar com mulheres que
entendem, aceitam e pensam como eu.
Recordo-me de Tom me alertando que talvez eu estivesse
concebendo suposições a respeito de Julia. Será que tudo o que li
sobre ela não passou de boatos maldosos? E por que me importo?
Por que me incomodo de ter sido injusto? Por que simplesmente
não consigo esquecer e apagar essa mulher da minha mente?

— Por enquanto não envie nenhum comunicado, se voltarem


a procurar, informe que prefiro não falar sobre a minha vida
pessoal.

— O senhor sabe que isso vai apenas inflamar ainda mais os


boatos — previne.

— Sim, em breve farei o anúncio do meu casamento. — Ela


assente. — Por favor, vá primeiro para a empresa, tenho que
resolver algo antes de ir — peço.

Zoe faz um pequeno meneio de cabeça antes de sair.

Algum tempo depois, estou parado em frente ao quarto de


Julia. Bato à porta e pouco tempo depois ela abre, e... Puta merda!
Novamente sua beleza me surpreende e me deixa mudo.

Ao contrário de ontem, que estava somente com um robe,


hoje ela usa um vestido branco curto, colado ao seu corpo esbelto e
sexy, deixando à mostra um belíssimo par de pernas. Seus cabelos
estão soltos e jogados para o lado. Esta mulher é linda demais!

Mais uma vez, eu respiro fundo e solto o ar devagar e o que


me fode é a forma como ela me olha. Talvez por ser nova demais,
ou por não ter vivido muitas paixões, ela não consegue mascarar o
desejo em seu olhar. Mas não é só isso que vejo ali, há mágoa e
raiva. Eu a magoei e estou aqui para remediar meu erro.

— Deixe-me adivinhar, veio aqui para me ofender mais um


pouco? — pergunta com a mão na cintura.

— Vim me desculpar. Eu posso entrar? Não quero ter esta


conversa no corredor — peço abrandando meu tom.

Ela dá um passo para trás e eu entro, fixo meus olhos nos


seus e os mantenho ali, procurando manter meu equilíbrio intacto.

— Ontem eu fui grosseiro e invadi sua privacidade, o que fiz


foi imperdoável. Peço desculpas pela forma como agi e pelas coisas
que falei, isso nunca mais ocorrerá. — Escolho ser direto, encerrar o
assunto e seguirmos nossas vidas.

Compreendi que separá-la da minha filha irá magoar minha


estrelinha. Então, resolvi deixar essa amizade seguir adiante, mas
me manter bem distante dessa mulher.

— Eu decidi que vou embora mais cedo, daqui a dois dias


precisamente. Você não precisa mais se preocupar, vou levar minha
má influência para bem longe da sua filha — informa, cruzando os
braços.

— Isso não será necessário, peço mais uma vez que me


desculpe, eu...

— Você é um pai preocupado com sua filha, entendi isso. Sua


noiva também estava bastante preocupada com a minha
aproximação dela.
— Sarah ainda não é minha noiva — esclareço.

— Pouco me importa o seu estado civil. Como disse, vou


embora em breve e pretendo não te ver nunca mais. Eu passei por
muitas coisas na minha vida por causa de um homem e não vou
deixar nenhum outro se achar no direito de me destratar.

— Eu já pedi desculpas, admiti que cometi um erro.

— E eu não preciso te desculpar só porque você pediu


desculpas. Saiba que as palavra são piores que um tapa na cara.

— Peço que não vá, não interrompa sua viagem por minha
causa.

— Não foi o que você me pediu ontem.

— O que mais eu posso fazer para você simplesmente


esquecer o que aconteceu, as coisas que falei? Já me desculpei, sei
que fui impulsivo, que não deveria ter vindo aqui.

— E por que voltou?

— Porque minha filha gosta muito de você.

— Eu a adoro, muito mesmo. Mas não gosto do pai dela. E,


como disse antes, não te desculpo, não!

— Eu já pedi desculpas! — ralho. Respiro fundo e imprimo um


sorriso em meu rosto. — Não precisa se preocupar com a conta do
hotel, sou o dono e vou custear toda a sua estadia, fique o tempo
que quiser. — Tento soar calmo, mas ela ri, ela simplesmente ri.
— Você não deve estar acostumado com mulheres lhe
dizendo não — especula. — Não preciso que você custeie minha
conta do hotel, não preciso que você venha aqui e tente remediar as
coisas. Eu não te desculpo, conviva com isso. E, por favor, saia
daqui. Você pode ser o dono do hotel, mas até eu ir embora, este
quarto é meu! — Aponta o dedo para a porta, deixando-me
atordoado e continua:

— Vou me despedir de Maria Luíza e, se permitir, manterei


contato com ela. Como disse, gosto demais da sua filha, de uma
forma que nem sei explicar. Mas não se preocupe, não vou
mencionar o quão mal-educado e arrogante o pai dela é. Agora, por
favor, saia! — Abre a porta.

E, pela primeira vez na minha vida, uma mulher, uma pequena


insolente, muito mais nova que eu, me deixou sem fala.
Capítulo 11

Fecho a porta e deixo meu corpo tombar nela, levo as mãos à


minha boca aberta.

— Eu consegui! Eu me defendi sozinha — sussurro, incrédula.

Dou alguns passos indecisos e paro no meio do quarto.

— Eu consegui, porra! — grito. — Botei o dono do hotel para


fora daqui! E ele não é apenas o dono do hotel, é a porra do homem
que me deixa excitada, que faz minhas pernas tremerem, que mexe
comigo como nenhum outro — murmuro.

Sento-me na cama rindo e chorando ao mesmo tempo. Pela


primeira vez na minha vida, eu não precisei de alguém para me
defender, nem precisei de desculpas, nem muito menos aceitei uma
desculpa, que antigamente aceitaria somente para o outro ficar bem
enquanto eu ainda estava puta, calada, engolindo merda com um
sorriso no rosto.
Eu não precisei da minha irmã para gritar por mim, não
precisei do meu pai para resolver as coisas, não precisei fingir uma
falsa alegria, nem muito menos precisei mostrar que estava tudo
bem. Não está nada bem, ele me machucou, me feriu, tocou em
emoções que eu já estava começando a controlar.

Ele ainda mexe comigo pra caralho. Ainda me excita, seu


cheiro ainda me faz querer tirar as suas roupas e me esfregar nele.
Mas nunca mais vou deixar um homem me tratar mal, nunca mais
vou deixar um homem achar que meras desculpas podem me fazer
esquecer seus atos. Anos de experiência me fizeram entender que
desculpas demais são manipulação. Por anos, eu fui manipulada
pelo meu ex-marido, e eu nunca mais vou me permitir estar naquela
situação.

Deito-me na cama com um sorriso no rosto por essa vitória


pessoal, por me escolher, por defender meus sentimentos.

— Homem cheiroso e gostoso do caralho! Mas ele vai


precisar de muito mais que um simples pedido de desculpas para eu
sequer olhar para a cara dele novamente — decido e solto uma alta
gargalhada.

Animada, levanto-me e começo a cantarolar uma música


enquanto organizo minhas coisas. Sei que poderia chamar o serviço
de camareiras, mas gosto de fazer as malas.

Foi uma decisão difícil interromper a viagem, mas necessária,


pela minha paz e saúde mental. Esse homem tem um magnetismo
absurdo, o tesão que sinto por ele é algo surreal que nunca
experimentei antes. Se antes eu já imaginava que ele era problema,
agora tenho certeza. E olha que apenas brigamos. Não, isso não é
verdade, houveram toques em meu rosto e a forma como ele
segurou o meu cabelo...

— Por que eu simplesmente não esqueço isso e foco apenas


na forma grosseira com que ele falou comigo? — grito frustrada.

E a resposta é a umidade na minha calcinha. Ele me deixa


excitada apenas por pensar nele.

— É por isso que vou embora, não é uma fuga, e sim,


preservação! Mais um encontro e é capaz de eu pular nele e beijar
aquela boca que eu tenho certeza de que me levaria ao delírio e
depois vou ficar chorando por ter sido fraca e perder todas as
conquistas que alcancei — murmuro.

Volto a me sentar na cama.

— Mas que falta vou sentir de Maria... — choramingo.

Um toque no telefone do hotel me faz sair do meu monólogo.

— Será que é ele novamente? — questiono pouco antes de


atender.

— Bom dia, senhora Amorim. A senhora Alexandra Castro


Agustini, bisavó da senhorita Maria Luíza, gostaria de convidá-la
para um chá no restaurante do hotel em uma hora, se a senhora
estiver disponível, claro — uma mulher de voz calma e pausada fala
em inglês.

— Tudo bem, estarei lá. — Termino a ligação e passo um


tempo olhando para o telefone. — Agora só falta a avó de Maria
também ser grosseira comigo — resmungo, voltando a fazer as
malas.

Na hora marcada, adentro o restaurante do hotel. Jantei aqui


apenas uma vez desde que me hospedei. A comida é excelente,
mas confesso que agora, à luz do dia, o lugar parece ainda mais
lindo, muito exclusivo e com poucas mesas. O salão é de tons
pastéis, mármores italianos e paredes com arte floral. É um dos
restaurantes mais caros que fui aqui, mas valeu cada centavo. Só
não voltei antes porque queria visitar o máximo de lugares e
restaurantes possível em Londres.

Antes do maître me abordar, uma mulher muito elegante, alta


e preta se aproxima e me pergunta se sou Julia Amorim, confirmo e
ela se identifica como Scarlet, acompanhante da senhora Alexandra.
Pede que a acompanhe até a mesa de uma senhora de cabelos
grisalhos presos em um coque, branca, magra, muito sofisticada,
trajando um vestido azul-claro e com um sorriso largo simpático.

Após uma pequena apresentação, sento-me e sorrio para ela.


Aguardo em silêncio sua minuciosa avaliação. Vim com roupas
simples, uma saia preta longa e uma blusa vinho, meus cabelos
estão soltos e optei por não usar muita maquiagem.

— É um prazer conhecê-la, senhora Alexandra, gosto demais


da sua bisneta — revelo.

— Me chame de Alexandra, por favor. Saiba que é recíproco,


este é um dos motivos pelos quais quis te conhecer — fala
suavemente.
— E qual seria o outro? — pergunto receosa. — Se for pedir
para eu me afastar da Maria não se preocupe, resolvi antecipar
minha viagem, vou embora em dois dias.

— Fico triste em saber, e tenho certeza de que Maria também


ficará, ela gostaria de ter sua companhia por mais algum tempo. E
meu outro motivo é para me desculpar, em nome do meu neto, por
qualquer indelicadeza que ele talvez tenha cometido, e desconfio de
que este seja o motivo para você resolver encurtar a sua viagem —
especula.

— A senhora conhece bem seu neto. — Me limito a dizer, sem


dar maiores detalhes.

— Sinceramente, lamento o inconveniente. Há algo que eu


possa fazer para mudar a sua decisão? — indaga, soando sincera.

— Não, será melhor assim. Mas se a senhora não se


incomodar, gostaria de manter contato com a Maria, eu realmente
gosto demais dela.

— É no mínimo, curioso o quanto vocês duas se conectaram


tão rápido.

— É algo que nem sei explicar. — Rio e ela me acompanha.

— Maria me disse que não é filha única como ela.

— Tenho dois irmãos, Julieta e Juliano. Sou a mais nova. Na


verdade, há algumas familiaridades entre mim e Maria.

— O que, por exemplo? — questiona, observando-me com


atenção.
— Apesar de ter dois irmãos mais velhos, ficava mais com as
babás do que com eles ou meu pai, que se divorciou quando ainda
era criança e se dividia entre os negócios e os filhos.

— Você se sentia solitária?

— Sim, mas não me entenda mal, amo demais minha irmã e


meu pai. E sei que eles me amam. Apenas... enfim.

— Você queria mais atenção? — pergunta.

— Sim. Acho que foi isso que me chamou a atenção em


Maria, vi nela refletido um sentimento que para mim, era conhecido.

— Fico imensamente feliz que vocês tenham se encontrado.

— Eu também. Quando cheguei aqui, estava em um momento


conturbado, com minhas emoções abaladas. E sua neta, com toda
irreverência, me ajudou no processo de cura. Eu simplesmente não
pensava no que me fazia mal, porque estava prestando a atenção
no tanto que ela falava. — Sou sincera.

Esta mulher é a bisavó da criança que tomou um lugar


especial em meu coração e me sinto na obrigação de mostrar quem
eu realmente sou, sem nenhuma máscara. Quero que ela confie que
eu realmente gosto da sua bisneta, sem segundas intenções, é um
sentimento genuíno que gostaria de levar por toda a minha vida,
mesmo à distância.

— E como ela fala. — Ri levemente.

— Uma tagarela muito linda — concordo.


— Então você viajou para se curar de uma dor? — indaga.

— Passei por um divórcio complicado recentemente e foi o


assunto da Internet. Não tiveram interesse em ouvir a minha versão,
fui muito massacrada pelos juízes on-line. A história que meu ex-
marido inventava atraía mais cliques e com isso mais engajamento.
Tenho minha parcela de culpa, claro, escondi o que realmente
estava acontecendo por muito tempo, passei uma imagem de que
era muito feliz, quando, de fato, não era. — Rio, triste. — Minha
viagem é como um recomeço, uma descoberta. Estou aprendendo a
me defender sozinha, a me fortalecer e a me escolher. E eu nunca
poderia imaginar que uma criança me ajudaria nisso. — Me
emociono e ela escorrega a mão até a minha e a aperta levemente.

— Mais uma vez afirmo que eu fico feliz que tenham se


encontrado. Minha bisneta precisa de uma pessoa como você em
sua vida.

Limpo discretamente o rosto.

— Creio que tenho mais uma coisa em comum com Maria,


nós duas somos tagarelas, ou a senhora é boa em arrancar as
coisas das pessoas. Contei quase minha vida toda para a senhora.
— Sorrio e ela me acompanha.

— Você foi bastante discreta, tomando cuidado para não


maldizer a pessoa que te feriu e nem mesmo meu adorável neto,
que deve ter falado horrores — brinca.

Sem saber o que falar, apenas sorrio.


— O que você faz? Deve ser alguém famosa no Brasil, já que
seu divórcio foi tão noticiado como diz.

— Sou digital influencer do nicho moda. Ou era, não sei ao


certo no momento, essa parte da minha vida está meio nebulosa.

— Por isso a viagem?

— Sim.

— E qual será seu próximo destino?

— Paris.

— Ficará em um dos nossos hotéis?

— Oh, não! Quero distância do seu neto. É capaz de eu voar


no pescoço dele. — Mal termino a frase e arregalo os olhos. — Me
desculpe. — Ela me surpreende com sua risada.

— Agora compreendo algumas coisas. — Busca a xícara de


chá e o ingere calmamente.

— Mais uma vez me perdoe pela indiscrição.

— Você é autêntica, apaixonada e sincera, são características


que eu admiro muito. Daqui a alguns meses vamos visitar o Brasil e
gostaria muito de reencontrá-la — elogia, fazendo-me soltar um
discreto suspiro.

— Se eu já estiver de volta ao Brasil, gostaria muito de


reencontrá-la, e a Maria também.
— Mas não meu neto? — pergunta suavemente, olhando-me
por cima da xícara.

— Não quero vê-lo nem pintado de ouro. — Não consigo


esconder minha raiva por aquele homem, e eu queria do fundo do
meu coração que fosse somente raiva.

Ela abre um lento sorriso matreiro e eu identifico ali um pouco


de Maria.

Esta senhora é tão perigosa quanto o neto e a bisneta. Se eu


der mole me apaixono pela família toda.

Ou quase toda.

Porque aquele homem, eu já odeio. Só que sinto um


pouquinho de tesão por ele.

Só isso!
Capítulo 12

Observo as imagens que Richard Fox, o chefe de segurança,


me passou. Trabalho com sua empresa há muitos anos e confio
nele. Após o incidente com minha filha, ele demitiu os profissionais
que estavam trabalhando na segurança naquele dia.
— Pelas câmeras dos estabelecimentos ao redor do parque,
não dá para identificar quem era o homem que abordou Maria no dia
em que ela se machucou — concluo após olhar as imagens.

— Acionei as autoridades locais, mas, infelizmente até o


presente momento, não conseguimos identificar quem é esse
homem e quais eram as suas intenções — revela.

— Houve mais alguma coisa? Mais algum estranho tentou se


aproximar da minha filha? — inquiro.

— Não, nenhuma pessoa que já não tenha entrado em


contato com ela antes. Neste relatório constam todos que se
aproximaram da sua filha. — Escorrega uma pasta em minha
direção.

Eu a abro e analiso rapidamente, ali constam os nomes da


minha avó, da babá, dos seguranças, da Sarah, alguns funcionários
do hotel e de Julia.

— O que você acha que aconteceu? — indago, fechando a


pasta, e o fito com atenção.

— É normal na sua posição haver ameaças de sequestro, na


verdade, minha equipe já te livrou de várias situações assim —
relembra.

— Verdade, mais de uma vez. Sempre há um ex-funcionário


descontente ou algum criminoso em busca de resgate pelo meu
sequestro — concordo.
— Mas pela sua filha, nunca houve. Mesmo assim, acredito
que seja uma possibilidade — alerta.

— Intensifique a segurança da minha filha e da minha avó e


me deixe a par de quaisquer novidades.

— Sim, senhor. — Sai da minha sala deixando-me pensativo.

Volto a buscar a pasta e novamente analisá-la e me dou conta


de algo que minha avó disse:

Maria não tem amigos de sua idade, na verdade, ela não tem
amigos que não sejam seus funcionários.

— Era tão mais fácil quando ela era apenas um bebê. —


Suspiro.

Minha menina está crescendo e sua carência por contato está


gritante a ponto dela se apegar a uma hóspede.

Necessito dar uma estabilidade familiar para minha filha,


preciso me fixar em um lugar. Maria anseia por criar laços afetivos.
Por um tempo pensei que se a cobrisse de luxo, viagens e
segurança, seria o suficiente, mas não é.

— Tenho que me casar com Sarah — murmuro.

Mas quando penso em casamento em vez da imagem de


Sarah vir à minha mente, é Julia que a invade. Na verdade, é o que
eu mais faço ultimamente. Pensar naquela atrevida.

Eu deveria estar tranquilo por ela ir embora, mas não estou.


Há um incômodo dentro de mim desde o momento em que saí
daquele quarto. Encosto na cadeira e levo minhas mãos às
têmporas enquanto sua fala povoa minha cabeça.

Eu passei por muitas coisas na minha vida por causa de um


homem e não vou deixar nenhum outro se achar no direito de me
destratar.

— Por que eu simplesmente não consigo ignorar aquele olhar


angustiante? Por que não esqueço essa mulher? Eu a conheço há
poucas semanas, é mais nova, petulante e para meu desespero,
extremamente sexy — questiono-me em voz alta.

Sem conseguir tirar aquela insolente dos meus pensamentos,


envio uma mensagem para Sarah e marco nosso encontro para o
dia seguinte. Peço que minha secretária marque um jantar hoje com
Julia, para que eu possa me desculpar melhor e assim, quem sabe,
eu faça este incômodo passar e consiga seguir minha vida sem
voltar a pensar nela.

Porém, com o total de zero surpresa, ouço minha secretária


incrédula informar que Julia Amorim, recusou o convite. Eu solto
uma alta gargalhada pela expressão assombrada da minha
secretária, que nunca ouviu uma mulher recusando um convite meu
para jantar, mas particularmente não esperava outra coisa daquela
insolente.

Agradeço a Zoe que antes de sair, me avisa que Tom ligou


informando que irá se atrasar alguns minutos para a nossa reunião.
Peço que ela o mande entrar assim que chegar. Espero-a sair da
minha sala e eu mesmo ligo para aquela petulante. Após três toques
ela atende.
— Alô. — Sua voz suave reverbera por todo o meu corpo e eu
fecho meus olhos antes de falar. — Se não vai falar nada, vou
desligar — avisa.

Eu me controlo para não a advertir.

— Sou eu, Emílio Castro Agustini — identifico-me, altivo.

— Imaginei que fosse — desdenha. — Me ligou para ouvir


minha negativa ao seu convite para jantar? — zomba.

— Liguei para avisar que estarei à sua espera às 20h no


restaurante do hotel, sinto que não me desculpei de forma
apropriada no nosso último encontro e gostaria de remediar —
informo.

— Pois vai mofar me esperando, porque eu não vou! E


cuidado, dizem que homens mais velhos, se ficam muito tempo
sentados, têm dores na coluna — implica, e eu volto a respirar
fundo. — Em relação às desculpas, sua avó já se desculpou por
você, confesso que ela e sua filha são extremamente gentis. Já
você, não! Eu não quero te ver, não vou te perdoar e viva sabendo
que eu não gosto de você! — grita, atrevida e desliga o telefone,
não me dando a chance de replicar.

— Mas essa pirralha gosta de me deixar sem fala! — Bufo


indignado.

Até faço menção de ligar novamente, mas desisto.

— Sinto vontade de esganá-la lentamente. — Aperto as mãos.


— Meu Deus! Espero que não seja eu que você quer esganar
— Tom brinca entrando no meu escritório.

— Deveria, já que você sempre chega atrasado às nossas


reuniões, nem parece um autêntico inglês — devolvo, irritado.

— Desculpe, demorei um pouco a mais na reunião com os


especialistas sobre o resort no Brasil — explica.

— E já tem os dados complementares? Daqui a quarenta


minutos começa a reunião com o conselho — inquiro.

— Sim, mas você realmente quer fazer um resort no Brasil?


Pesquisei outros países também, como Tailândia, que é um local
que não tem nenhum hotel do Grupo Castro Agustini — sugere.

— Interessante, você fez um estudo sobre o local?

— Sim, um para você ver agora e outro para apresentar ao


conselho se você gostar da ideia inicial. — Entrega-me um tablet e
clico no vídeo de apresentação enquanto ouço Tom fazer um breve
resumo dos benefícios de um empreendimento no país

— Tailândia. Não estava nos meus planos, confesso que


conheço muito pouco o país. Pode apresentar as duas opções na
reunião do conselho. — Assinto, entregando-lhe o tablet.

— Agora que tratamos de trabalho e ainda falta um tempo


para a reunião com o conselho, me diga, por que estava tão
irritado? Ainda a hóspede que tanto te incomoda? — Guarda os
documentos e o tablet na pasta enquanto me questiona.
— Ela me disse hoje de manhã que vai embora em dois dias,
resolveu antecipar sua partida depois da nossa conversa.

— E não era isso que queria?

— Sim, era.

— E por que não esquece isso?

— Porque estou sentindo um incômodo terrível desde que ela


me expulsou do seu quarto, hoje de manhã, agora há pouco
recusou meu convite para jantar e ainda bateu o telefone na minha
cara — desabafo.

— Seria orgulho ferido? — pergunta, e eu não identifico


nenhuma malícia. — Ou seria algo a mais? — conclui.

— É a mais pura e densa raiva! — exclamo. — Aquela


desaforada teve a coragem de dizer com todas as palavras que
estou velho! — revelo enfurecido.

— Pelo que você me diz, ela é muito mais nova que você —
provoca.

— Nós dois temos a mesma idade, Tom, 40 anos. Na


verdade, você faz aniversário antes que eu, ou seja, você é mais
velho! — replico, fazendo-o fechar e abrir a boca, e ambos caímos
na risada.

— Como você pode pensar em se casar com Sarah se tem


uma mulher que mexe tanto com você? — pergunta demonstrando
preocupação.
— Não vamos voltar a esse assunto. — Solto um alto suspiro.

— Ontem, vi que você não estava receptivo para ouvir isso e


também pensei que você ia esquecer essa mulher, mas isso não
aconteceu, porque pelo que entendi, você hoje a procurou. Duas
vezes — aponta.

— Uma coisa não tem nada a ver com outra, eu queria


apenas me desculpar — justifico.

— Mas só por você ter esse sentimento já é estranho,


principalmente se tratando de uma pessoa que pouco se importa
com o que o outro pensa, isso mostra que você se importa com ela
— pontua.

— Apenas porque minha filha gosta muito dela — explico.

— Emílio, somos amigos há anos e eu nunca o vi falar de uma


mulher com tanta emoção — expõe.

— Esta emoção se chama raiva — asseguro.

— Que pode ser confundida com paixão ou tesão — rebate.

— Não importa, isso vai passar em alguns dias — reafirmo.

— Será que vai, meu amigo? Será que depois que você se
casar com Sarah vai tirar essa mulher da cabeça? E se vocês
voltarem a se encontrar, será que vai conseguir ignorar? Uma coisa
é se casar por contrato quando seu coração está vazio e não sente
nenhuma emoção por ninguém em especial, mas se casar com uma
pensando em outra é desonesto com você e com a Sarah —
aconselha.
— Eu já assumi um compromisso com a Sarah — lembro.

— Não, você está postergando para assumir um compromisso


com Sarah. Já era para ter anunciado esse noivado e não o fez
porque provavelmente também tem suas dúvidas.

— Não tenho dúvidas, apenas ainda não assinamos o


contrato.

— Tem certeza de que é apenas isso? Na hora que você


quiser, o advogado vai até vocês para assinarem o contrato. Por que
ainda não o fez? Volto a perguntar, se seguir em frente, vai tirar
essa mulher da sua mente? Como será que a Sarah irá reagir ao se
dar conta de que você está com a mente povoada por outra mulher?

— Ela sabe das condições do nosso casamento.

— Sim, mas você ia entrar com o coração livre.

— Pelo amor de Deus, meu coração está livre!

— Mas sua mente, não. Pense melhor neste casamento por


contrato — aconselha.

Após uma leve batida à porta, Zoe anuncia que estamos


sendo aguardados na sala de reunião do conselho.

— Reflita sobre as coisas que disse. — Tom se levanta e eu


não falo nada antes de sair da minha sala e caminhar pensativo
para a sala de reunião.
Capítulo 13

Gargalho alto ao pôr o telefone no gancho e danço sozinha


pelo quarto até cair na cama sorrindo.

— Ai, que delícia que é dizer não! Por que demorei tanto a
fazer isso? Por que, por tantos anos, deixei que os desejos dos
outros fossem mais importantes do que os meus? Por que me deixei
em segundo lugar? Por que deixei que me machucassem?
Fecho meus olhos e sinto uma lágrima deslizar pelo meu
rosto. Lembrar de um passado tão recente ainda machuca. Faz
pouquíssimo tempo que estava me sentindo presa em um quarto
escuro, sendo julgada e incriminada por coisas que não fiz. Tentei
fazer me ouvirem, mas não quiseram me escutar. É por isso que
hoje o meu “não” é tão importante, a cada negativa proferida é uma
afirmação de que eu posso, eu consigo!

Nunca poderia imaginar que dois membros de uma família


que acabei de conhecer pudessem me ajudar tanto, eu pensei que
levaria meses para compreender as coisas que Emílio e Maria me
ensinaram.

Ela com sua meiguice e carência me fez enxergar a criança


que um dia fui e a perdoar as minhas dores, talvez perdoar não seja
a palavra certa e sim aceitar que, por mais que eu quisesse mais,
meu pai fez o melhor para mim e por mim naquela época.

Também me fez entender que eu preciso me perdoar por


todos os “sins” que dei quando deveria ter entregue um “não”, por
todas as vezes que deixei que me magoassem. Não tenho mais
essa culpa em mim. Em algumas semanas uma criança muito
especial me fez algo que anos de terapia não fizeram.

Entender que a culpa não era minha, que os problemas eram


com eles, e não comigo.

Em contrapartida, seu pai me ensinou o valor da palavra não.


Que o “não” para quem me magoou é um “sim” para mim. Eu não
preciso perdoar quem me fez mal, não preciso tentar entender ou
inventar uma desculpa pela pessoa ter me machucado. Eu não
preciso engolir algo que me fere.

E tá tudo bem!

O sorriso que carrego em meu rosto é de vitória por coisas


ainda pequenas, ainda tenho um longo caminho antes de retornar
às redes sociais. Por enquanto, não estou preparada, mas agora sei
que vou chegar lá.

Uma leve batida à minha porta me faz fechar os olhos e


respirar fundo, a bisavó de Maria me aconselhou a conversar com
ela hoje em invés de daqui a dois dias, quando vou partir, para não
ser um distanciamento tão abrupto e eu concordei.

Com um impulso, levanto-me e me preparo para receber


Maria e explicar a ela que vou embora mais cedo. Não tenho a
mínima noção de como ela vai agir.

Abro a porta do quarto e ela abraça minhas pernas.

— Eu estou tão feliz que meu pai deixou nós duas sermos
amigas. — Ela me aperta forte. — Bem, ele não disse isso, mas
minha bisavó deixou, então acho que ele também vai deixar, porque
ele faz tudo o que a bisavó quer. Tudinho mesmo! — Balança a
cabeça em afirmação fazendo-me soltar uma gargalhada.

Cumprimento a babá que entra logo depois dela e noto que


dois seguranças ficam do lado de fora quando ela fecha a porta.

— Por que as suas malas estão abertas? — indaga,


apontando para os objetos. — Você comprou mais coisas para suas
afilhadas?

— Não, meu anjo. — Seguro sua mão e dou alguns passos


em direção à cama. — Sente-se aqui ao meu lado, quero falar algo
com você.

Faz o que peço e mais uma vez olha para as malas e desvia
seus olhos para mim.

— Você vai embora? — pergunta em um fio de voz.

— Sim. — Escolho ser sincera. Apesar de muito nova, Maria é


uma criança inteligente demais para eu ficar enrolando e procurando
palavras.

— Por quê? — inquire e seus olhinhos se enchem de


lágrimas.

Sinto um aperto em meu peito, elevo minha mão e acaricio


seu cabelo.

— Não chora, meu anjo, vamos continuar nos falando todos


os dias por mensagem.

— É por minha causa? Você vai embora porque meu pai


brigou com você por minha causa? — Soluça.

Minha única reação é abraçá-la forte.

— Não! Claro que não é culpa sua. — Limpo seu rosto e


ponho algumas mechas atrás da sua orelha.

— Então por que você vai? — resmunga.


— Se lembra quando você disse que amou demais conhecer
Paris?

— Sim.

— Então, eu fiquei morrendo de vontade de conhecer, foi só


isso. — Beijo sua testa.

Por mais que quisesse contar logo que iria embora, não podia
de forma alguma falar que seu pai tinha uma enorme parcela de
culpa nisso.

— Mas você pretendia ir embora só daqui a algumas


semanas. Pensei que ficaríamos mais tempo juntas — reclama.

— Oh! Coisa mais linda. — Eu a abraço forte, sacudindo


nossos corpos de um lado para o outro, fazendo-a soltar um risinho.
— Não importa para onde eu for, você vai comigo em meu coração.
— Acaricio seu rosto.

— Jura que não vai me esquecer?

— Jamais!

— E se você conhecer outra criança que goste muito, muito,


muito mesmo? — insiste, insegura.

— Eu vou dizer que no meu coração já tem três crianças que


eu gosto demais, demais, demais mesmo! — imito seu tom de voz,
e ela sorri. — Você e minhas sobrinhas. Cada uma tem um lugar
aqui dentro, pra sempre — afirmo.

— Promete?
— Prometo! Hoje me encontrei com sua avó e deixei meus
contatos com ela. Então sempre vamos nos falar. E sempre que
quiser conversar comigo, é só pedir para ela me ligar. Que tal agora
você me contar por cada lugar que suas bonecas passaram? —
Faço-lhe cosquinhas, fazendo-a rir.

Passamos umas duas horas juntas e ao se despedir ela me


faz novamente prometer que nunca vou esquecê-la. Faço um gesto
afirmativo com a cabeça, emocionada demais para falar algo.

Tentei aproveitar ao máximo o tempo antes de me despedir da


cidade. Fui a uma boate muito badalada e dancei muito, fui a
restaurantes e a uma galeria de arte. E, todas as vezes que Emílio
entrou em contato comigo, me convidando para jantar, eu recusei. E
foram deliciosas todas as vezes que disse não.

No meu último dia em Londres, Maria me pediu para passear


com ela no parque em frente ao hotel. O local estava cheio, devia
ser alguma data comemorativa. Dois seguranças e sua babá nos
acompanhavam. Enquanto andávamos, novamente ela me fez
prometer que seríamos amigas para sempre, que não iria esquecê-
la.

Confesso que quase vacilei, que quase mudei de ideia, quase


resolvi ficar algumas semanas a mais ao lado dessa criança que
mexe tanto comigo. Mas ao levantar a cabeça avisto seu pai nos
olhando, ele está em frente ao hotel com alguns seguranças ao seu
lado, e eu me lembro dos motivos que me levaram a tomar esta
decisão.

Então eu apenas a abraço e afirmo mais uma vez que jamais


a esquecerei. Noto que seu pai atravessa a rua e entra no parque e
decido me despedir ali mesmo, naquele parque lindo, cheio de
árvores e flores, onde nossa amizade nasceu, onde uma criança
muito inteligente me fez sorrir quando eu achava que não
conseguiria fazer isso tão cedo.

Afasto-me de Maria e caminho devagar em direção à saída, a


cada passo que dou, me aproximo de Emílio que segue seu
caminho. Ele ainda está longe, não consigo ver se está olhando
para mim ou para Maria. Minha intenção é passar por ele e sequer
cumprimentá-lo.

E faria isso mesmo, se não tivesse visto um homem andando


apressado com a mão no bolso. Ele vem pela entrada lateral do
parque, veste um sobretudo preto e uma boina na cabeça, como se
quisesse esconder o rosto. Não sei porque sigo aquele homem com
o olhar, não sei por que viro meu corpo e ao constatar que Maria
vem correndo em minha direção segurando algumas flores,
distanciando-se dos seguranças e da babá, não consigo ficar
parada esperando-a e saio correndo ao seu encontro.

Foi por instinto, algo que não sei explicar, uma urgência
gritando “perigo!” impulsionando-me a me mexer. Não raciocinei,
sequer por um segundo penso, antes de segurar a mão dela, puxá-
la ao meu encontro e colocá-la atrás de mim.
É rápido demais; ouço barulho de tiros, uma confusão se
instaura, muitas pessoas correm. Vejo um dos seguranças dela
caído no chão sangrando, a babá abaixada com as mãos nos
ouvidos e o outro atirando. Procuro Emílio com olhar e não o
encontro. Mantenho Maria atrás de mim. Meu coração bate
acelerado assim como minha respiração. Percorro o local com o
olhar, tentando encontrar seu pai, mas não o vejo, não vejo
ninguém.

Um barulho alto estoura perto de mim e provoca um zumbido


em meu ouvido, logo surge uma fumaça branca, que me faz fechar
os olhos por alguns instantes. Maria grita, deixando-me alerta
novamente, aperta-me forte. Giro meu corpo e a seguro em meus
braços, não sei de onde arranjo forças, mas sei que preciso me
mexer, estou no meio do parque com barulhos de tiros, bombas de
fumaça e gente gritando e correndo. Tremendo, começo a procurar
uma rota de fuga. Alguns homens se aproximam, não os reconheço,
estão vestidos de preto, como aquele homem que vi correndo em
direção à Maria.

— Vem comigo, vamos proteger a menina — um deles grita.

Eu a aperto forte e balanço a cabeça em negativa. Meu corpo


está todo trêmulo, o medo toma conta de tudo, meus olhos estão
arregalados, a respiração rasa e as pequenas mãozinhas de Maria
me apertam, segurando-me firmemente.

Ela chora baixinho, eu nem pisco.

O homem eleva a arma e aponta para mim.


— Larga a menina, ela vem comigo — ordena.

Não tive tempo para protestar, ouvimos mais tiros, ele se


abaixa e eu olho para trás. Aproveito e corro muito, agarrada à
Maria, tentando entender que merda está acontecendo.

Sinto uma ardência no braço e no quadril, mas não paro de


correr. Até que somos cercadas por vários homens, me apavoro,
demoro a reconhecer que são os mesmos que estavam ao lado de
Emílio antes de tudo se tornar um caos. Chamo por ele, eu acho,
não tenho certeza, só consigo correr, sei que se parar vou desabar.

Deito a cabeça de Maria no meu ombro. Eu mal respiro. A


aperto forte. Ela abraça meu pescoço e chora. Ouço o barulho de
sirenes indicando que a polícia está chegando. Os tiros cessam.

Finalmente encontramos Emílio, que tenta tirar Maria do meu


colo, mas não largo a menina. Seguimos correndo, cercados pelos
seus seguranças armados até entrarmos no hotel.

— Filha, meu Deus! Você se feriu? — indaga desesperado.

Ele retira a menina dos meus braços e a verifica. Espero


ansiosa, preocupada, com medo de ela ter se ferido gravemente,
com medo de não ter conseguido protegê-la, com medo de ter feito
algo errado.

Quero me desculpar por ter falhado, mas não consigo falar,


estou apreensiva demais. Inspiro e a aguardo responder:

— Não me machuquei, papai — diz entre lágrimas.


Solto o ar que mantive preso desde o momento em que ele
perguntou se ela estava ferida. Respiro fundo. Só então, eu sinto
uma dor surreal.

Levo minha mão ao meu quadril e vejo muito sangue.

— Julia se machucou, papai! — Maria grita.

Emílio vira o rosto para mim e se levanta.

— Ela está ferida! — berra, chamando o médico.

Inspiro mais uma vez e sinto meu braço arder. A dor se irradia
por todo meu corpo. Começo a enxergar tudo escuro.

— Eu vou te levar ao médico, nada vai acontecer — promete.

— Não saia do lado de Maria — peço.

E as últimas coisas que ouço antes de desmaiar são ele e


Maria chamando meu nome.
Capítulo 14

Alongo a coluna e estalo o pescoço.

— Pelo tanto de doações que faço para este hospital, era para
no mínimo as cadeiras serem mais confortáveis — resmungo
fazendo uma careta.

Há exatamente dois dias, Julia salvou minha filha de um


sequestro. Os bandidos foram audaciosos, tentaram levá-la
enquanto estava no parque Franklin D. Roosevelt Memorial,
exatamente em frente ao meu hotel e, pior vieram fortemente
armados, balearam os seguranças dela e apenas a babá conseguiu
escapar com alguns arranhões.

Por pouco não levaram minha filha! Julia foi mais rápida e a
salvou. Na verdade, ela viu antes de todo mundo quais eram as
intenções do homem que se aproximava de Maria. Confesso que
por alguns segundos, achei estranho ela correr, do nada, em direção
à minha filha. Quando a segurou e fugiu para longe dos
sequestradores, me desesperei.

No momento em que vi a movimentação corri. Nunca senti


tanto medo em minha vida. Mas as perdi de vista quando
começaram a soltar bombas de fumaça e as pessoas começaram a
correr e a gritar.

Meus seguranças quiseram me impedir de seguir, mas esta


não era uma opção, eu tinha que encontrar minha filha. Precisava
saber se ela estava bem, se tinham conseguido levá-la. Procuramos
pelo parque, com os seguranças em volta de mim, ouvia barulho de
tiros, andava com o tronco curvado, tentando encontrá-las através
da fumaça.

— Senhor Emílio, eu preciso que o senhor deixe que meus


homens te levem em segurança para o hotel, para podermos fazer
nosso trabalho e achar sua filha — Richard grita, em meio à
confusão.

Eu faço um meneio negativo.


— Vocês não fizeram seu trabalho, não conseguiram proteger
minha filha. Se algo acontecer com ela, eu juro que mato você com
as minhas próprias mãos! — berro agarrando seu terno.

— Eu juro, pela minha vida, que vou trazer sua filha de volta
— rebate no mesmo tom. — Mas eu não posso procurar por ela e
proteger você ao mesmo tempo. Pelo amor de Deus, homem, me
escuta! — implora.

Estava pronto para negar novamente, quando um dos seus


homens grita:

— Nós as avistamos, senhor!

— Onde? — grito olhando ao redor e não as vendo.

— Fique aqui! — Richard insiste. — Eu vou até lá.

— Traz a minha filha!

Ele não responde. Dois homens ficam comigo e três vão com
ele. Dura menos de dois minutos até eu vê-las e finalmente respirar
aliviado. Julia segura Maria em seus braços, seus olhos estão
arregalados e suas roupas, manchadas de sangue.

Mais uma vez o pavor toma conta do meu corpo com o receio
de minha filha ter sido baleada. Tento tirar Maria dos seus braços
enquanto nos encaminhamos para o hotel com os seguranças ao
nosso redor, mas Julia se recusa. Parece que ela está em choque,
respirando pela boca, com os olhos muito abertos, segurando a
cabeça da minha filha em seus ombros como se tentasse protegê-la
de ver toda essa merda. Há sangue escorrendo pela lateral direita
do seu corpo e algo em mim sabe que ela só largará Maria quando
achar que estarão seguras.

Assim que passamos pela porta do hotel, pego minha filha


dos seus braços e pelo canto do olho vejo-a dobrar o corpo,
puxando o ar com força. Porque naquele momento o que mais me
preocupava era Maria, precisava saber se aquele sangue era dela.
Depois de verificar todo o seu corpinho e notar que ela não foi
ferida, volto meu rosto para Julia e ela está cambaleando, levanto-
me a tempo de pegá-la em meus braços.

A ambulância não demora a chegar, vamos todos para o


hospital. Maria passou por uma bateria de exames e Julia também.
Graças a Deus, Maria não sofreu nenhum arranhão sequer, já Julia,
levou dois tiros de raspão, um no quadril e outro no braço. Fui vê-la
assim que os médicos me permitiram, precisava agradecer, não sei
nem o que poderia acontecer se ela não tivesse corrido e segurado
minha menina.

Agora, Maria está em segurança na minha suíte, os


sequestradores estão presos e descobrimos que eles trabalhavam
com uma pessoa da agência de babás, por isso sabiam sempre
onde ela estava. Pelo que me informaram, é um grupo famoso por
orquestrar grandes roubos e sequestros, tem pessoas infiltradas em
vários locais, inclusive na polícia, por esse motivo era tão difícil
conseguir descobrir algo sobre eles.

Já a mulher insolente que invade meus sonhos, conquistou


minha filha e minha avó, dorme há dois dias. Os médicos me
informaram que provavelmente é estresse pós-traumático, já que
não identificaram nada em seus exames.

As poucas vezes que saí de perto dela foram quando estava


com minha filha. Mas minha estrelinha está bem, graças a esta
mulher que desafiou um grupo armado para defendê-la. Minha
dívida com ela é eterna.

Levanto-me e dou alguns passos em direção à cama. Desde o


primeiro momento em que a vi sua beleza me atingiu em cheio. E,
agora, mesmo debilitada é impossível não ficar impressionado pelos
seus traços perfeitos. Sem conseguir me conter, passo meus dedos
lentamente pelo contorno do seu rosto até seu queixo.

— O que eu vou fazer com você, pequena? — murmuro


completamente enfeitiçado.

Não posso mais negar que esta mulher mexe comigo. Ela
conseguiu derrubar uma barreira de proteção que criei em volta de
mim sem fazer o mínimo esforço.

Sorrio ao me lembrar do pedido que minha filha me fez hoje


de manhã:

Beija ela, papai! Faz como nos contos de fadas. Com um


beijo, a princesa acorda. E Julia é uma princesa!

— Maria pediu para eu te beijar. Será que se eu te beijar, você


acorda? — indago em um sussurro, delineando seus lábios grossos.

— Não se atreva a me beijar! Já disse que não gosto de


homens velhos! — Ela me surpreende abrindo os olhos e me fitando
com raiva. Volta a fechá-los, franze o cenho e solta um gemido.

— Você estava acordada? Há quanto tempo está fingindo que


estava dormindo? — pergunto com um sorriso largo tentando conter
a vontade de abraçá-la.

— Despertei há uns quinze minutos, estava esperando você


sair para chamar um médico e me dizer o que diabos está
acontecendo — resmunga.

— Não esperaria outra coisa de uma mulher irritante como


você. Por acaso não notou minha preocupação?

— Como está Maria? Ela se machucou? — ignora


completamente minha pergunta e indaga, se movendo, mas seus
machucados a fazem soltar um alto gemido e ela volta à posição
inicial. — Jesus, um caminhão passou por cima de mim!

— Um caminhão não, mas você levou dois tiros de raspão. E,


graças a você, Maria está bem — informo enquanto aciono o botão
de emergência.

Logo uma enfermeira entra e ao constatar que Julia está


acordada, vai informar ao médico.

— Serei eternamente grato pelo que você fez — agradeço,


voltando meu olhar para ela.

O médico entra, faz um rápido exame físico, dá mais detalhes


do que houve com ela e avisa que precisará passar por alguns
exames e se estiver tudo bem, terá alta em um ou dois dias.
— Preciso do contato da sua família para avisar o que houve
com você — peço assim que ficamos sozinhos novamente.

— Não precisa. — Faz uma pequena careta.

— Eu iria ficar preocu...

— É exatamente isso que não quero, preocupá-los. Minha


irmã acabou de se casar, está em lua de mel e só Deus sabe o
quanto aquela mulher precisa relaxar. E meu pai está todo atarefado
com minhas sobrinhas, meu irmão sequer entra na equação. Então,
não precisa. Posso cuidar de mim. — Suspira assim que consegue
uma posição confortável.

— E como você vai se cuidar sozinha? Apesar de terem sido


tiros de raspão, você levou bastante ponto.

— Posso contratar uma enfermeira. — Balança os ombros.

— Jamais deixarei que se recupere sozinha. Exijo que fique


em minha suíte até sua total recuperação — decreto.

Ela ri, ou tenta, antes de soltar um gemido de dor.

— Você exige? Ah, velhinho, quem é você para exigir alguma


coisa! — desdenha.

— Não me chame de velho! — ralho.

— Ou o quê? — Eleva uma sobrancelha.

— Ah, pelo amor de Deus, mulher irritante! Estou apenas


preocupado com você.
— Muito obrigada pela sua preocupação, mas ela não é bem-
vinda. — Fecha os olhos e balança a cabeça, fazendo bico.

— Mulher insolente! — Só não sacudo seus braços porque ela


está acamada.

— Olha, eu entendo que você esteja se sentindo em dívida


comigo, mas não precisa, faria tudo novamente só para ver Maria
bem — assegura.

Assim ela me quebra, porque pela forma como falou, não


deixou a menor dúvida de que faria qualquer coisa para deixar
minha filha em segurança.

— Além do mais, nos odiamos, não precisamos ficar na frente


um do outro mais que o necessário. — Volta a dar de ombros, mas
não me fita nos olhos.

— Não odeio você. Sinto muitas coisas, mas nenhuma delas é


ódio. E eu tenho certeza de que você também não me odeia. Na
verdade, pela forma como estremeceu e passou a língua pelos
lábios quando segurei seu cabelo com força, creio que ódio seja a
última coisa que sente. — Sorrio de lado ao vê-la arregalar os olhos
e abrir e fechar a boca.

— Ah, velhinho, a idade já deve ter afetado a sua audição.


Você não ouviu quando te expulsei do meu quarto? Na verdade,
gostaria que você fosse embora agora mesmo, mal consigo olhar
para você. — Fecha os olhos, e é a minha vez de rir.

Mais relaxado, enfio minhas mãos no bolso da calça e me


aproximo da cama. Ela continua com os olhos fechados. Eu inclino
meu corpo e sussurro em seu ouvido:

— Nossa conversa ainda não terminou. — Ela bufa, mas não


abre os olhos. — Eu cuido das minhas responsabilidades.

— Não sou sua responsabilidade. — Fita-me, indignada.

— Se tornou no momento em que foi baleada duas vezes


para salvar minha filha. No segundo em que você segurou Maria no
colo e correu com ela, a protegendo dos sequestradores, você se
tornou minha... — Aproximo meu rosto do dela e falo com nossos
lábios quase se tocando: — ... minha responsabilidade. e eu vou
cuidar de você. — Pisco um olho, deixando-a de boca aberta.

Saio do seu quarto com um sorriso nos lábios e decidido não


mais lutar contra o que esta mulher provoca em mim. Mas, antes,
tenho que resolver um assunto pendente.

Sarah.
Capítulo 15

Assim que entro na nossa suíte, minha filha corre em minha


direção questionando como está Julia.

— Calma, minha estrelinha. — Eu a puxo para meu colo e


beijo seus cabelos.

— Fala logo, papai, você a beijou, como pedi? — pergunta


ansiosa.
Elevo um olhar e noto que minha avó e Sarah estão sentadas
tomando chá. E vejo o exato momento em que Sarah para a xícara
no meio do caminho até a boca. É óbvio que ela ouviu o que Maria
Luíza disse. Contudo, não tece nenhum comentário.

— Não, Maria, não a beijei.

— Mas, papai!

— Filha, a Julia acordou e está bem. No máximo daqui a dois


dias, ela estará de alta.

— Graças a Deus! — minha avó diz. — Temos uma dívida


eterna com essa mulher.

— Sim, vó, é verdade. — Beijo sua testa. — Como vai,


Sarah? — Eu a cumprimento com um beijo no rosto.

— Ainda um pouco atordoada com tudo o que houve. Mas sua


avó tem razão, todos seremos eternamente gratos pelo que essa
senhora fez pela Maria.

— Eu não disse que ela era minha amiga?! — Minha filha se


orgulha.

— E eu fico feliz demais por você ter uma amiga tão leal. —
Sarah acaricia o rosto da minha filha, soando sincera.

Preciso conversar com ela. Não posso mais levar esta


situação adiante. Porém, antes que fale algo, ela se direciona a mim
com um sorriso angelical em sua face.
— Emílio, querido, imagino que esteja exausto, já que
praticamente não saiu do hospital desde o acontecido. Contudo,
será que você poderia me doar um pouco do seu tempo para
conversarmos? — questiona, como sempre, polida e formal.

— É claro. — Abaixo-me e falo para Maria Luíza: — Vou


conversar no restaurante com sua tia Sarah.

— Promete contar tudinho sobre a Julia depois? Quero saber


se os machucados dela já estão sarando — minha menina pergunta,
demonstrando preocupação.

— Prometo. — Beijo sua cabeça.

Sarah se despede da minha filha com um forte abraço e da


minha avó com um beijo. Seguimos para o bar do hotel em silêncio,
opto por uma mesa reservada e escolhemos nossas bebidas assim
que nos sentamos.

— Apesar de provavelmente estar cansado, você me parece


tranquilo e sereno — comenta olhando-me com um sorriso
simpático.

Gosto da Sarah, sempre foi uma pessoa gentil e educada. Ela


é prima de 2° grau da minha falecida esposa, e minha filha também
gosta dela. Mas, infelizmente, não posso mais me casar com ela.
Não depois de admitir o quanto estou envolvido por Julia, não seria
justo com nenhum de nós dois.

— Talvez seja porque estou mais calmo depois que a Julia


acordou, essa situação me deixou muito tenso — admito.
Pausamos a conversa quando o garçom chega com nossas
bebidas.

— Gosto de vê-lo assim, mais leve. Quando Sabrina faleceu,


você se fechou, ergueu um muro invisível ao seu redor. Fico
realmente feliz que alguém tenha conseguido quebrá-lo. Mas
confesso que uma parte de mim fica sentida por não ter sido eu —
fala suavemente.

Abro a boca para contestar, no entanto, seria mentira, então


prefiro ficar em silêncio e deixá-la falar. Vendo que não rebato, ela
continua:

— Quando você me propôs casamento por conveniência, eu


aceitei porque no fundo achei que em algum momento iríamos nos
aproximar. No entanto, os dias foram passando, você começou a me
evitar e eu comecei a reparar que, mesmo não falando, você estava
com dúvidas, então, preferi me abster de fazer cobranças.

— Você sempre foi uma mulher muito elegante e discreta.

— Obrigada pelo elogio. Porém não pude deixar de notar a


afeição que Maria havia adquirido pela hóspede e a antipatia que
você sentia pela mesma pessoa. No primeiro momento, cheguei a
pensar que era uma reação normal de pai preocupado.

Ela faz uma pausa e ingere um pouco da bebida alcoólica e


eu não teço nenhum comentário.

— Eu estava no Hall do hotel no dia em que houve a tentativa


de sequestro — revela.
— Me desculpe, eu não a vi. — Sou sincero.

— Sei que não, imagino que com toda confusão, obviamente


se esqueceu que marcou um jantar comigo. No jantar, eu pretendia
te dizer que estava em dúvida sobre seguir com o nosso casamento.

— Me desculpe — peço sem saber o que falar.

— Minhas dúvidas foram sanadas naquele dia e confirmadas


nos dias que se seguiram. A forma como você a segurou nos
braços, o desespero com que gritava por socorro, sua dedicação
enquanto ela estava hospitalizada. Tudo isso me deu a confirmação
de que não podemos nos casar, porque você nunca irá sentir por
mim algo assim. E eu descobri que não quero me casar, mesmo que
seja por conveniência, com alguém que tenha tamanhos
sentimentos por outra pessoa — declara.

Abro a boca para novamente me desculpar, mas ela faz um


meneio negativo com a cabeça.

— Não se desculpe. Como disse antes, fico feliz que alguém


tenha lhe tirado da sua concha, apenas sinto por não ter sido eu.
Desejo sinceramente que você seja feliz, Emílio, e que, por favor,
me deixe continuar mantendo contato com Maria.

— Jamais ousaria afastá-la de Maria, Sarah. Você é uma


pessoa simplesmente maravilhosa de quem minha filha gosta
demais.

— Fico feliz em ouvir isso. Bem, acho que já falei tudo o que
queria. — Levanta-se e força um sorriso.
— Eu também desejo que você seja feliz, Sarah. — Despeço-
me com um beijo no rosto e a observo sair do restaurante
altivamente.

Não esperaria outra coisa de Sarah. Afinal, quase me casei


com ela por ser essa pessoa sensata.

Engulo o conteúdo do copo de uma só vez e volto pensativo


para a minha suíte. Após passar alguns bons minutos informando-
lhe que Julia estava bem, Maria se dá por satisfeita e segue para o
seu quarto para brincar com suas bonecas.

— Ela estava bastante ansiosa — minha avó diz quando me


sento ao seu lado.

— Eu sei. — Suspiro.

— Terminou o noivado?

— A Sarah terminou.

— Está triste?

— Acho que a palavra seria aliviado.

— Viu como eu tinha razão? Esse casamento seria um


enorme erro — diz solenemente.

Rio, mas não falo nada.

— Espero que você traga Julia para a nossa suíte. É o


mínimo que eu espero que você faça.

— Fiz o convite, mas ela não aceitou.


— E você desistiu? — Abro os meus olhos e apenas a
observo. Ela sorri de lado. — Gostei dela.

— Vocês conversaram apenas uma vez.

— Mas foi o suficiente para perceber que ela é uma boa


pessoa. Vou visitá-la amanhã, tenho certeza de que serei mais
convincente que você.

É a minha vez de sorrir.

Eu sabia que Julia já tinha conquistado a todos.

Na manhã seguinte, até penso em passar no hospital antes de


ir para empresa, como fiz nos últimos dias, mas desisto ao ver
minha avó ajeitando o lenço no pescoço.

— A senhora vai a algum lugar? — pergunto.

— Vou ao hospital — responde beijando a cabeça da minha


filha.

— A senhora vai ver a Julia? Me leva, por favor, eu quero vê-


la! — Maria implora.

— Talvez em outro momento, se somente minha visita não for


o suficiente — fala a última parte em um sussurro, mas eu ouvi
perfeitamente bem. — Se o seu pai deixar, é claro.

Eu a amo, mas reconheço o quanto ela é ardilosa, às vezes.


— Por favor, papai, deixa. Estou com saudades da Julia —
choraminga.

— Sua avó vai visitar Julia primeiro, se ela estiver melhor e


podendo receber visitas, você pode ir vê-la amanhã, comigo, é
claro. — Sorri para a minha avó, que revira os olhos.

Não sei o que essa senhora matreira está armando, mas


tenho certeza de que ela vai dar seu jeito de trazer Julia para nossa
suíte.

Ela se despede. Tomo café e pouco tempo depois Zoe chega


com algumas pastas.

— Bom dia, senhor Emílio. Trouxe os documentos que o


senhor precisa analisar e assinar.

— Bom dia, Zoe, vamos direto para a empresa hoje. — Vejo-a


manter o sorriso no rosto e piscar algumas vezes. — Me desculpe
por tanto transtorno nos últimos dias.

— Imagina, senhor, estou aqui para ajudá-lo. — Segura a


pasta na frente do corpo.

Ao sair do hotel, observo o parque que há poucos dias foi


palco de uma verdadeira confusão. O motorista abre a porta do
carro e após meu segurança e Zoe entrarem, seguimos viagem.

— Tem notícias de como estão os seguranças feridos? —


questiono.

— Estão estáveis.
— Todas as despesas hospitalares são por minha conta e, por
favor, verifique se as famílias deles estão sendo assistidas.

— Sim, senhor. Saíram algumas informações sobre o senhor


na mídia.

— Em relação ao quase sequestro da minha filha?

— Também, mas com um teor mais pessoal. — Ela mexe um


pouco no tablet e em seguida me entrega o aparelho.

Algumas matérias em jornais e sites mencionava a tentativa


de sequestro da minha filha e que minha noiva a salvou. Dizer que
fiquei surpreso é pouco. Obviamente, sabia do interesse da
imprensa sobre o caso, mas jamais poderia imaginar que
classificariam Julia como minha noiva.

— Há vários vídeos com o senhor a segurando em seus


braços, gritando por ajuda no hall do hotel, então alguns colunistas
acham que a senhora Julia Amorim é a tal noiva que haviam
noticiado anteriormente.

Volto a verificar se o nome dela foi divulgado em alguma


matéria e suspiro aliviado ao perceber que em todas aparece
apenas a palavra noiva.

— Posso enviar uma nota para a imprensa negando o


noivado? — Zoe indaga.

Por um momento fico em silêncio, imaginando Julia como


minha noiva. Reprimo um sorriso só de pensar que ela
provavelmente bufaria de raiva se ouvisse algo assim.
— Senhor, posso enviar a nota? — chama a minha atenção.

— Por enquanto, não.

— Me desculpe, senhor, mas será que a senhorita Julia


Amorim irá gostar disso?

— Provavelmente, não. — Não consigo esconder um sorriso.


— Por favor, me passe os dados que você levantou das possíveis
babás de Maria — peço, mudando de assunto.

Mal posso esperar para reencontrar aquela pequena atrevida.


Capítulo 16

Aperto os olhos com força enquanto o médico verifica meu


ferimento.

— Sente muita dor? — indaga analisando a ferida.


— Uma dor suportável. — Reprimo um gemido ao sentir um
leve toque nos pontos. — O senhor acha que posso ser liberada
hoje? — pergunto, ansiosa para sair do hospital.

— Hoje teremos os resultados dos exames que fez ontem, se


tudo estiver bem e você estável, te libero amanhã — informa
enquanto escreve algo em meu prontuário.

— Mas o senhor disse ontem que talvez me liberaria hoje


caso os resultados estivessem bons. — Quase choramingo.

— Você dormiu por dois dias, antes de te liberar, preciso ter


certeza de que está realmente tudo bem. Assim que tiver os
resultados, venho te ver.

Assinto, porque sei que nada que eu disser vai fazê-lo me


liberar. Tenho que começar a pensar em como vou me virar aqui.
Chamar a minha família não é uma alternativa. Este é apenas mais
um obstáculo que tenho que percorrer para me tornar mais forte.

O problema é que estou em Londres, não no Brasil. Se


estivesse em meu país, saberia que era só passar em uma
farmácia, comprar os medicamentos e chamar minha equipe para
me ajudar. Provavelmente eles contratariam uma enfermeira por
pelo menos uns 10 ou 15 dias. Mas, aqui, eu sequer sei por onde
começar a procurar uma profissional.

— Não surta, Julia, você trabalha com internet, ali se encontra


de tudo!

Tenho certeza de que vou conseguir encontrar uma


enfermeira e pedir os medicamentos, mas como faço com o quarto
do hotel? Era para ter saído há dois dias, será que eles botaram
minhas coisas em um depósito?

Arregalo meus olhos e abro a boca.

— Se controla, Julia! — Fecho meus olhos e respiro fundo


tentando conter meus pensamentos acelerados.

Estou nervosa e não tem como ser diferente. Somente hoje,


quando prestava depoimento para os policiais, tive noção do que
houve, do que fiz. Eles me questionaram por que saí correndo com
Maria, se desconfiava que ela seria sequestrada, se já tinha visto os
sequestradores. Todas as minhas respostas foram negativas. Antes
de sair eles me informam que os bandidos foram presos, disseram
também que se caso precisem de maiores informações, entrarão em
contato comigo. Tudo isso junto ao que Emílio me disse ao sair
daqui ontem só me deixa mais ansiosa.

— Como esse homem tem a coragem de dizer que eu sou


sua responsabilidade?! — Bufo, indignada.

Eu queria ter xingado, tê-lo mandado se lascar ou até mesmo


bater nele, mas não fiz nada, sequer consegui falar. Porque o jeito
como ele pronunciou tais palavras, bem próximo ao meu rosto, me
fez segurar o fôlego. E creio que se não estivesse tão cheia de
pontos e mal podendo me mexer direito após ter dormido por dois
dias, teria mordido aqueles lábios e sugado forte.

— Eu preciso ficar longe desse homem. — Levo as mãos ao


rosto e reclamo da dor no braço.
Uma leve batida à porta me faz olhar para aquele local e abrir
um amplo sorriso ao ver a senhora Alexandra, bisavó de Maria
Luíza, entrar.

— Você pode receber visitas agora? — pergunta com um


sorriso simpático.

— Claro que sim. — Faço um gesto afirmativo.

Observo a senhora adentrando em meu quarto com a sua


acompanhante, Scarlet, ela me entrega um pequeno buquê de flores
e em seguida sai do quarto, deixando-nos sozinhas.

— Muito obrigada, as flores são lindas. — Me viro para pôr as


flores na mesinha ao lado da cama hospitalar e não consigo reprimir
um gemido de dor.

— Oh, minha querida, você está sentindo muitas dores? Quer


que eu chame o médico? — indaga atenciosa.

— Não precisa, ele acabou de sair daqui. — Solto um suspiro


e me ajeito. — Daqui a pouco alivia, às vezes, me esqueço dos
pontos — explico.

— Jamais poderemos ser gratos o suficiente pelo que você


fez pela Maria — agradece segurando a minha mão.

— Por favor, não precisa... — Ela não me deixa terminar.

— Sim, precisa. Além de conquistar minha bisneta, você ainda


a protegeu em um momento tenso.

— Gosto demais da sua neta.


— E é recíproco, ela anda ansiosa querendo saber como você
está, está doida para a ver novamente. Você já avisou sua família?

— Não quero incomodá-los.

— Como assim, minha querida? Você está machucada e em


outro país é algo importante a se comunicar.

— Minha irmã é recém-casada, caso soubesse, largaria o


marido e a empresa e viria para cá. Capaz de ela querer ir atrás dos
homens que atiraram e os esganar. Meu pai, que no momento está
cuidando das minhas sobrinhas, ficaria preocupado por Julieta estar
aqui e também se preocuparia por eu ter me machucado, me ligaria
a cada dez minutos e tentaria me mandar de volta. Já meu irmão,
muito provavelmente diria que eu provoquei isso de alguma forma.
Enfim, eu apenas quero evitar mais problemas. — Movimento os
ombros, tento sorrir, mas não consigo.

— Sua irmã parece te amar muito.

— Julieta me chama de seu cristalzinho. — Sorrio ao me


lembrar da minha irmã tão brava e segura de si. — Ela é a CEO das
empresas da minha família. Sempre que tenho um problema, Julieta
entra na frente e tenta resolver. Foi assim com meu ex-marido, ela
fez o que não consegui fazer. Enfim, quero e preciso aprender a me
virar sozinha, sem precisar deles — concluo.

— Compreendo. Então irá ficar aqui sozinha, sem a ajuda de


nenhum familiar? E o médico já lhe disse quando estará de alta?

— O médico me disse que se meus exames estiverem bem,


serei liberada amanhã. Vou entrar em contato com o hotel para
tentar reservar o mesmo quarto por mais alguns dias, contratar uma
enfermeira e assim que estiver recuperada, sigo viagem.

— Oh, minha querida, me perdoe a intromissão, mas pedi


para transferirem suas coisas para a nossa suíte. Visto que você ia
embora no dia em que houve a tentativa de sequestro e todos os
imprevistos que ocorreram depois, eu julguei que seria meu dever
cuidar de você até estar melhor. Jamais me perdoaria se ficasse em
um quarto de hotel machucada, em um país desconhecido.
Principalmente agora que sei que ficará sozinha. Cuidarei de você,
minha querida — afirma fazendo-me arregalar os olhos.

Engulo saliva antes de dizer:

— Senhora Alexandra, sei que se sente em dívida comigo,


mas... — Mais uma vez me interrompe com uma batidinha em
minha mão.

— Não quero que se preocupe com nada! Maria está muito


empolgada, você não imagina o quanto ela quer cuidar de você
também. Ou você prefere ficar longe de nós? — Ela afasta as mãos
e as leva à boca. — Oh! Por acaso tudo o que houve foi um trauma
muito grande e você quer distância da pobre da Maria? — Seus
olhos se enchem de lágrimas e eu me apresso a negar.

— Não! Nunca! Jamais culparia Maria por alguma coisa, nada


do que houve foi culpa dela. — Busco sua mão e a aperto. —
Continuo sentindo o mesmo por ela e estou louca para abraçá-la.

— Ah, que alívio! Ela vai ficar tão feliz por ter você ao lado
dela.
— Mas eu não disse que ia...

— Não precisa se preocupar com nada! — Sorri, angelical,


ignorando a minha negativa.

— Mas senhora Alexandra... — Tento falar, meio atordoada.

— Amanhã viremos te buscar. Ah, que alegria! Agora tenho


que ir, minha querida. Vou dar esta notícia maravilhosa para Maria
que te espera ansiosa! Como disse, não se preocupe. Vou contratar
uma enfermeira para cuidar dos seus curativos e pedir ao nosso
chef que elabore um cardápio bem nutritivo para você. — Se inclina
e beija meu rosto.

— Senhora Alexandra... — ainda tento falar, mas ela sai do


quarto deixando-me literalmente de boca aberta.

Passo boa parte do dia com a sensação de que fui enrolada


por uma senhora que deve ter mais de setenta anos. Solto uma alta
gargalhada ao me lembrar da nossa conversa.

Meus exames estavam normais e o médico me garantiu que


se passar a noite bem, na manhã seguinte terei alta.

Não sei quando adormeci, mas ao despertar, eu o vi sentado


na mesma cadeira que estava ontem. Hoje, Emílio usa uma blusa
branca social e calça preta, há um terno jogado na lateral da
cadeira. Suas pernas estão cruzadas, ele segura um tablet e em
suas pernas repousa um aparelho celular.

Está sério e concentrado no que estava lendo, até sem fazer


nada o homem era um espetáculo. Perco um tempo o admirando,
ainda não gosto muito dele, mas não posso deixar de admitir que
ele é lindo.

Desço meus olhos por ele lentamente e faço o caminho de


volta bem devagar, bebendo da sua imagem e quando paro em seus
olhos, me surpreendo por estarem fixos nos meus. Em seus lábios
há um sorriso preguiçoso de lado, como se soubesse o efeito que
causa nas mulheres. E eu não tenho a menor dúvida de que sabe.
Capítulo 17

Saio da sala de reunião com a promessa de visitar a Tailândia


antes de tomar uma decisão. Não era algo que estava planejando,
mas não posso negar que talvez seja uma ótima oportunidade de
negócios.

A caminho da minha sala, Zoe me avisa que os seguranças


que pedi para ficarem na porta do quarto de Julia a informaram que
ela foi interrogada pela polícia. Me disse também que minha avó
ordenou que as coisas dela fossem enviadas para a nossa suíte e
ela me pediu para me informar que um dos quartos vagos, será
ocupado por Julia.

Como ela conseguiu convencer aquela teimosa? Não faço a


mínima ideia. E também não reclamei, na verdade, sorri
discretamente. Ao final do dia, fui ao hospital visitá-la, mesmo
sabendo que provavelmente ela iria me expulsar de lá.

O problema é que a forma como ela me irrita me cativa. Ou


seja, a cada momento que passa estou mais fodido.

Eu a encontro dormindo, retiro meu terno, sentando-me na


maldita cadeira incômoda e começo a analisar alguns documentos.
Acho que senti o seu olhar, não, na realidade, ouvi um leve suspirar.
Bem discreto e só o percebi porque o quarto estava em completo
silêncio.

Julia despertou e mais uma vez estava me observando


calada. Como fizera ontem, por algum tempo fingi que não havia
notado, mas não me contive, elevei a vista e percebi que seus olhos
me percorriam bem devagar.

Já recebi inúmeros olhares assim, sei quando uma mulher me


deseja. E essa pequena atrevida pode até não gostar de mim, mas
é inegável o fogo que eu vejo em seus olhos. E, quando seu olhar
encontra o meu, eu não consigo esconder um sorriso vitorioso.

Minha vontade é de segurar seus cabelos e beijar seus lábios


carnudos que neste momento estão entreabertos, quase me
deixando louco. Permaneço em silêncio, esperando seu próximo
passo, jamais seria grosseiro dizendo algo sobre tê-la flagrado me
admirando abertamente.

A atrevida levanta o queixo e empina o nariz assumindo um ar


de indiferença que nós dois sabemos que ela não sente. Entro no
seu jogo. Desligo o tablet e o pouso em minhas pernas. Ainda não
falo nada, simplesmente aguardo para ver o que essa boca, que
parece deliciosa, irá pronunciar.

— Foi bom você ter aparecido hoje. Preciso que dê um recado


para a sua avó! — exige, altiva, ajeitando-se na cama.

Ela faz uma careta enquanto se movimenta e minha vontade


era de ir até ela e lhe ajeitar, mas não saio do lugar, sei que ela
apenas ficaria mais irritada.

— Como você passou o dia? — indago, ignorando sua fala


anterior.

— Tirando o incômodo dos pontos, estou bem, obrigada.


Sobre sua avó...

— Os seguranças disseram que a polícia veio falar com você


— a interrompo.

— Seguranças? Como eles sabem que os policiais vieram


aqui? — pergunta, confusa.

— Mandei dois seguranças ficarem aqui do lado de fora, te


protegendo — esclareço.
— Você mandou? Pode desmandar, não preciso de
segurança — ordena.

— Isso não será possível. Você foi a pessoa que impediu que
uma quadrilha sequestrasse minha filha, pode haver represálias e
eu não quero correr o risco que fique mais machucada do que já foi.
Os seguranças ficam! — declaro.

— E o que o CEO todo-poderoso diz tem que ser levado à


risca — desdenha.

— Não sou CEO. — Rio.

— Não? Pensei que era o dono do hotel?

— Sim, não só dele, de vários outros ao redor do mundo.

— Mas tem um CEO que manda em você — zomba, e eu


abaixo a cabeça e não reprimo uma pequena risada.

— Sou o chairman da minha empresa. Presidente do


conselho consultivo. A minha empresa tem vários CEO, um em cada
país, e todos se reportam a mim.

— Mas é tão soberbo.

— Já me chamaram de muitas coisas, mas soberbo é a


primeira vez. — Cruzo meus braços, divertindo-me com a nossa
conversa.

— Não vejo necessidade dos seguranças.

— Eles ficam! — decreto friamente.


— Você é tão irritante.

— Prefiro precavido.

— Enfim, sobre a sua avó.

— O médico disse que terá alta amanhã? — mais uma vez a


interrompo e é delicioso vê-la morder os lábios e respirar fundo
como se buscasse paciência.

— Sim! E eu gostaria que falasse para sua avó que agradeço


imensamente o convite, mas infelizmente não poderei aceitar. Seria
impossível conviver no mesmo ambiente que você. — Faz uma
careta.

— Não sou um garoto de recado, mulher insolente!

— Garoto! Jamais confundiria você com um garoto, é velho


demais para isso — debocha.

— Já disse para parar de me chamar de velho. — Levanto-me


em um rompante e me aproximo da sua cama.

— E vai fazer o que se não parar?

Não paro, não penso, apenas sigo meu instinto. Seguro seu
rosto, escorrego minha mão pelos seus cachos, pego um punhado
dos seus cabelos, prendendo-o em meus dedos, do jeito que eu
queria, do jeito que venho desejando. Aproximo meu rosto do seu e,
por um segundo, paro, esperando que me xingue, que diga não.

Mas ela não faz isso, solta apenas um leve arfar e sua língua
passa rapidamente pelos seus lábios, e é demais para mim, colo
minha boca na dela.

Seguro seu cabelo mais forte, ela geme, se abrindo, e


saboreio sua língua, seu cheiro me inebria, confunde meus sentidos,
nosso beijo é quente, molhado, sexy e sensual. Sinto um arrepio
percorrer meu corpo e ir direto para meu pau, que desperta duro e
ansioso.

Julia é mais deliciosa do que eu imaginava, seus lábios são


suaves, movimenta a língua devagar, nosso beijo tem um encaixe
perfeito. Não sei se é meu ou dela, chupo seu lábio inferior e volto a
introduzir a língua na sua boca, sedento, sentindo uma euforia tomar
conta do meu peito.

Acaricio sua bochecha enquanto devoro sua boca, mantenho


sua cabeça firme no lugar, querendo que este momento dure o
máximo possível.

Seus dedos entram em meus cabelos, arranham meu


pescoço e o gemido que ouço não é de prazer, e sim de dor.

Afasto-me ofegante.

— Você se machucou? Vou chamar o médico. — Viro-me,


confuso demais, querendo sair dali para tentar entender porque
perdi o controle tão fácil.

— Não precisa, vai passar. — Sua voz não passa de um


sussurro. — Isso foi um erro — decreta.

Fecho meus olhos e aperto minhas mãos com força. Eu até


poderia achar que fui imprudente, ela está se recuperando de dois
ferimentos à bala, mas não posso chamar o beijo que ainda faz meu
corpo estremecer e meu pau pulsar de um erro.

Contudo, mantenho-me em silêncio.

— Por favor, diga à sua avó que não posso. — Ela pausa e
respira fundo. — Eu saí de um relacionamento que me destruiu de
muitas formas. Estou me recuperando. Corpo e alma estão
fragilizados.

Dou alguns passos em direção à cadeira pego meu paletó e o


dobro-o no braço.

— Não se preocupe, nunca mais vou te tocar, a não ser que


me peça. — Solto um longo suspiro. — Mas eu não posso chamar
nosso beijo de erro, não quando meu corpo ainda vibra.

— Nunca vou pedir para você me beijar — afirma.

Viro minha cabeça e a fito. Ela puxa o ar com força, lábios


mais inchados por causa do nosso beijo apaixonado, cabelos
revoltos e, puta que pariu, mais gostosa ainda. Desvio dela
rapidamente antes que eu perca o controle novamente.

— Minha avó e minha filha apenas querem ter certeza de que


você ficará bem antes de seguir viagem.

— E você, não?

— Eu descobri que quero muitas coisas, Julia, mas todas


elas, de agora em diante dependem de você também querer —
confesso.
Não adianta mais lutar contra este desejo, não adianta mais
fingir que é apenas uma raiva, que vai passar, eu quero esta mulher
na minha cama gemendo meu nome, quero fazê-la gozar em cada
quarto de hotel que tenho pelo mundo, quero fazê-la delirar até nós
dois não sabermos nossos nomes e eu tenho sérias dúvidas se vou
deixá-la sair da minha cama depois disso.

Normalmente eu não me envolvo com mulheres que tenham


algum vínculo com minha filha, salvo Sarah, que seria minha
esposa. Porém, não havia tesão envolvido.

Com Julia é diferente, é a porra de um desejo que me faz


sonhar como seria despi-la lentamente, uma paixão por muitas
vezes confundida com raiva e irritação.

Não vou mais lutar contra isso.

— Não estou gostando de nada disso, não gosto nem um


pouco da forma como você está falando. Prefiro que volte a ser o
homem rude, agressivo e autoritário de sempre.

— Creio que não seja mais possível, Julia. Principalmente


depois do que ocorreu aqui. Simplesmente cansei de lutar contra
algo que vem me tirando o sono nas últimas semanas. E eu sei que
você compreende isso, no momento em que nossos lábios se
encontraram... sei que você sentiu o mesmo. A única diferença é
que eu já tenho experiência o suficiente para saber que lutar contra
isso apenas vai fazer mais mal que bem.

— Eu não sei de nada! E avise a sua avó que não vou! —


ruge.
Seguro meu tablet e quando estou quase saindo viro meu
rosto para ela e falo:

— Como disse antes, não sou garoto de recados. Caso queira


recusar o convite, fale isso para a minha avó amanhã quando ela
vier lhe buscar com minha filha, que está empolgada, achando que
irá ajudar a cuidar da princesa ferida que é amiga dela.

— Emílio, por favor — choraminga e soa como um gemido


fazendo-me lembrar que há poucos minutos ela estava gemendo
enquanto a beijava.

— Tenha uma ótima noite, Julia. E volto a afirmar que só irei


te tocar quando me pedir. — Saio do quarto antes que a beije,
ouvindo-a chamar meu nome, dizendo que jamais acontecerá
novamente enquanto eu apenas sorrio.
Capítulo 18

Assim que ele sai, eu levo uma mão aos meus lábios e outra
ao peito. Ignoro o incômodo no braço, meu coração bate acelerado,
meus olhos estão arregalados e meu corpo meio trêmulo.

— Que porra foi essa? — sussurro.


Desde a primeira vez em que o vi, soube que Emílio era o tipo
de homem que nos deixa de pernas bambas após uma noite de
sexo, mas não poderia imaginar que um beijo fosse me
desconcentrar dessa forma.

Mordo meu lábio inferior ainda sentindo seu gosto em minha


boca.

— Seria uma loucura passar uma noite com esse homem,


mas será que eu sairia intacta? — murmuro.

A forma como segurou meu cabelo, mantendo-me presa,


cativa. O jeito como tomou minha boca e a sugou forte, minando
qualquer resistência, fazendo-me desejá-lo, ansiar por mais. Emílio
não me beijou, ele me devorou, e infelizmente eu adorei cada
segundo.

— Não posso sequer pensar nisso novamente. — Olho para o


teto. — Vou tirar esse beijo da minha mente, ficar longe desse
homem, me recuperar e seguir viagem para Paris.

Na manhã seguinte, aguardo ansiosa a visita do médico e


respiro aliviada quando ele me dá alta, recomendando que evite
esforço. Ele ainda pediu que faça repouso, tenha uma alimentação
balanceada e que volte em cinco dias para retirar os pontos e que
espere de quinze a vinte dias para viajar.
Assinto enquanto observo atentamente a enfermeira fazer o
curativo.

— Não é difícil, consigo fazer isso sozinha. — Solto o ar


devagar assim que ela termina.

— Mas a senhora não precisa se preocupar com isso, seu


noivo com certeza irá contratar alguém para auxiliá-la — a
enfermeira diz enquanto recolhe os produtos que utilizou.

— Meu noivo? — indago confusa.

A enfermeira fita o médico, que faz um movimento negativo a


repreendendo e logo ela sai da sala.

— Aqui está a receita dos medicamentos para dor e para o


ferimento. Qualquer coisa diferente que sentir, venha ao hospital. —
Entrega-me uma folha e, em seguida, se retira.

— Será que ela achou que eu era a noiva de Emílio porque


ele veio aqui com frequência? — Rio do engano que a enfermeira
cometeu.

Após uma leve batida à porta, Alexandra entra segurando a


mão de Maria.

— Olá, bom dia, encontramos seu médico no corredor e ele


nos informou que você recebeu alta — comemora acariciando a
cabeça da neta, que me olha apreensiva.

— Sim, já posso voltar para o hotel. — Fito a pequena que me


encara receosa. — Você não vai me dar um beijo, Maria? Sua
bisavó e seu pai disseram que você estava ansiosa para me ver. —
Estico minha mão para ela.

Ela eleva o rosto para a bisavó que assente, então caminha


em minha direção devagar como se a qualquer momento fossem
pedir para ela parar.

Busco Alexandra com o olhar e ela solta um suspiro.

— Conversamos com ela hoje de manhã, dissemos que você


estava se recuperando, que não poderia te abraçar muito forte nem
fazer barulho no hospital — explica.

— Oh, meu anjo, pode me abraçar bem apertado, é só tomar


cuidado com meu braço e quadril, vem cá, vem — a chamo, e esse
é o incentivo que ela precisava.

Maria sobe na cama, abraça a minha cintura, encosta a


cabeça no meu peito e eu prendo a respiração quando suas
mãozinhas descem um pouco.

— Desculpa. — Sua voz soa chorosa.

— Não se desculpe, meu anjinho. — Acaricio sua cabeça.

— Você se machucou por minha causa. — Funga.

— Não foi por sua causa.

— Foi sim! — choraminga. — Eu rezei todo dia para você ficar


bem, até pedi a meu papai para te dar um beijinho, as princesas nos
contos de fadas melhoram assim.
— Oh, minha querida! — Seguro seu rosto e limpo suas
lágrimas. — Nunca pense que foi culpa sua, foram aqueles homens
maldosos, não você.

— Mas vai para a nossa suíte para cuidarmos de você, não é?


Seu quarto fica na frente do meu, eu vou contar história pra você,
prometo não fazer barulho e logo, logo, você vai ficar bem. — Olha-
me esperançosa.

— Maria...

— Por favor, diz que vai, meu coraçãozinho dói muito, muito,
muito. — Leva a mão ao peito e fecha os olhos.

Meu Deus! O drama é de família, penso enquanto tento conter


um riso.

— E seu coração dói por quê, minha querida?

— Porque estou muito preocupada com você, Julia, por favor,


vem para a nossa suíte.

— Julia, eu prometo que você não precisa se preocupar com


nada. Se sua preocupação é com meu neto, saiba que ele não irá te
incomodar — Alexandra assegura.

— Papai quase não fica na suíte, e ela é enorme, você nem


vai ver ele — Maria fala, pega minha mão e leva ao seu peito. —
Sente como meu coração bate de preocupação.

E eu não aguento e solto uma risada.


— Vocês duas são terríveis! — Puxo Maria para mim e ela
enlaça minha cintura, tomando cuidado com meu quadril.

— Você estará cercada de carinho e atenção.

— Eu sei, mas como lhe expliquei, estou em processo de...

— Mas você vai ter coragem de deixar uma idosa e uma


criança preocupadas sem saber se você caiu no chuveiro ao tentar
tomar banho? — diz, horrorizada.

— Ou se comeu seu lanchinho — Maria acrescenta imitando a


expressão da bisavó.

— Agora entendo porque você diz que seu pai faz tudinho o
que sua bisavó quer, vocês duas são perigosas. — Rio com gosto.
— Tudo bem, mas fico por apenas cinco dias até tirar os meus
pontos, certo?

— Certo. — As duas matreiras se olham e sorriem e eu não


acredito nem um pouco nelas.

Adentro no hotel com Maria segurando minha mão. A caminho


do elevador, noto alguns funcionários sorrindo e retribuo o
cumprimento. Ao contrário do que imaginava, não seguimos para o
elevador que estava acostumada, mas para outro, que vai direto
para a suíte presidencial. Confesso que estava bastante curiosa
sobre essa suíte, mas absolutamente nada me preparou para o que
eu vejo quando o mordomo abre a porta após um breve
cumprimento de cabeça.

Maria me conduz por uma sala ampla, com muitas janelas de


vista para o horizonte do refinado bairro de Mayfair, compartilhada
com uma sala de estar. Os móveis são de um design
contemporâneo, combinados a um toque tradicional e muito
elegante. Ao fundo, há um piano de cauda Steinway.

No ambiente seguinte, há uma mesa de jantar para oito


pessoas. Elas me mostram a sala de cinema, com algumas
poltronas e uma tela que ocupa toda a parede. Em outro momento,
Maria aponta para uma porta que diz ser do escritório do seu pai,
mas não entramos ali. Levam-me a seis quartos amplamente
decorados, cozinha e um amplo terraço equipado com telescópio e
alguns sofás.

— Uau! — É o que consigo falar após pararmos.

— Nossa suíte ocupa todo último andar do hotel — Maria fala


empolgada.

— Venha, vamos te mostrar o quarto em que vai ficar. Você


deve estar exausta, mas esta criança estava com borboletas no
estômago para lhe mostrar tudo — Alexandra brinca e eu a sigo
sorrindo com Maria segurando minha mão.

Elas me levam a um dos quartos e Maria reafirma que o meu


é de frente ao dela. No quarto que vou ocupar, tem uma cama king,
um sofá de dois lugares, mesinha de centro, cômoda e cadeira. No
banheiro, há uma ducha e uma banheira grande.
— Suas roupas estão aqui — diz mostrando-me o guarda-
roupa embutido. — O médico deve ter lhe passado a receita, peço
que me dê para pedir a nosso mordomo que providencie os
medicamentos.

— Imagina, eu compro.

— Não quero que se preocupe com absolutamente nada. À


tarde, uma enfermeira virá para fazer o curativo. Você está com
fome, sede?

— Não. Só quero mesmo descansar um pouquinho.

— Claro. Vamos deixar você descansar e mais tarde venho te


chamar para almoçar. — Segura a minha mão. — Quero que você
se sinta à vontade aqui.

— Obrigada.

Maria me dá um beijo no rosto e as duas saem do quarto.

Levanto-me e sigo em direção à janela.

— Este lugar é realmente impressionante. — Solto um suspiro


e mordo os lábios quando fito o parque e à minha mente vêm tudo o
que houve.

Um desconforto no quadril me faz dar alguns passos até a


cama e me deitar, até penso em pegar meu celular, e enviar uma
mensagem para os meus assessores para assegurá-los de que está
tudo bem; depois de três dias sem me comunicar, eles devem estar
preocupados. Por fim, desisto e resolvo fazer uma ligação para
Gisele, a quem faço um breve resumo do que houve. Ela fica
assustada, mas faço o possível para que entenda que estou bem e
peço que não fale nada para minha família.

Antes de encerrar a ligação, ela me diz que tem algo para


conversar comigo, mas quando indaguei o que era, afirma que não
é nada importante no momento. Até penso em insistir, mas a dor no
braço e no quadril se intensifica. Encerro a ligação, deito-me de lado
e fico quietinha até a dor aliviar.
Capítulo 19

Desperto com um leve carinho em meus cabelos.

— Julia, Julia. — A voz suave de Maria me faz abrir um amplo


sorriso.

— Oi. Eu dormi demais?


— Só um pouquinho. — Faz uma careta engraçada. — A
minha bisavó pediu para perguntar se você vai se levantar para
almoçar ou se prefere comer aqui.

— Vou me levantar. — Esquecendo-me do ferimento no


braço, apoio-o na cama e solto um gemido.

— Julia! Vou chamar a minha bisavó. — Maria se assusta.

— Calma, meu anjo, já vou melhorar.

Encho meu peito de ar e o solto levemente. Repito o processo


e me levanto tomando cuidado tanto com o quadril quanto com o
braço. Seguro sua mão e saímos do quarto andando devagar, às
vezes parando por uma forte fisgada no quadril. Ao chegarmos à
mesa, estou suando, suspiro discretamente ao me sentar.

Apesar do desconforto, foi uma delícia almoçar com as duas.


Alexandra contava histórias engraçadas e Maria gargalhava. Ao
terminarmos, seguimos para a varanda e tomamos chá sentindo o
gostoso vento frio.

Um pouco mais tarde, recebi a visita da enfermeira, que


trouxe meus medicamentos, e ela também fez um comentário sobre
eu ser a noiva de Emílio, julguei ser pelo fato de eu estar aqui, mas
expliquei que a noiva dele era outra pessoa e ela apenas assentiu e
pediu desculpas pela indelicadeza. Não dei muita importância ao
fato.

À noite, o machucado do quadril estava latejando demais,


porém não queria ser indelicada e ficar no quarto quando estava
sendo tão bem recebida.
Andando devagar, cheguei à sala de jantar e imprimi um
sorriso em meus lábios. Interagi com elas o máximo que consegui,
mas prendi a respiração quando vi Emílio caminhar em direção à
mesa.

Maria soltou um grito e correu em sua direção. Esperei


apreensiva para ver qual seria sua reação.

Vivi essa cena tantas vezes com meu pai quando era criança.
Eu sempre corria em direção ao meu pai e abraçava suas pernas e
recebia um beijo na testa. Ele repetia o gesto com meus irmãos e
em seguida se fechava no escritório. Estava sempre trabalhando.
Quando não se trancava lá para trabalhar, era para advertir Juliano
por algo que fizera de errado ou para conversar com Julieta.

Mas para a minha surpresa, Emílio se abaixou, pegou Maria


em seus braços e fez o restante do caminho até a mesa com sua
filha enlaçada ao seu pescoço ouvindo atentamente o que ela
falava.

Completamente fascinada, vejo-o se sentar com ela no colo e


a encher de beijos. Ela, então, escorrega do seu colo e volta para o
lugar. No decorrer do jantar, Maria faz várias perguntas sobre como
foi o dia do pai e ele responde detalhadamente o que fez e, ao
terminar, retribui a pergunta e sua filha repete o seu gesto.

Eu achei aquela interação tão linda, era como se cada um


fizesse uma nota mental do que fez para relatar ao outro, para que
ambos se sentissem como se tivessem passado o dia juntos. Eu
acho que sorri e talvez seja esse gesto que o fez me fitar.
— Boa noite — sua voz soa grossa e seus olhos me
percorrem, não de forma sensual, mas avaliativa, para saber se
estava bem.

— Desculpe esses dois, minha querida. Quando Emílio chega,


não vê nada nem ninguém que não seja sua filha — Alexandra
explica carinhosamente.

Eu assinto em resposta.

É engraçado como algumas situações representam gatilhos


que sequer sabíamos que tínhamos. Não esperava que uma cena
assim me tocasse, mas pegou tão forte que por um segundo fiquei
desnorteada.

Com o decorrer dos anos, eu entendi que meu pai estava


sempre ocupado. Nunca foi falta de amor, mas de presença, de
quando estava ao lado, realmente estar ali inteiro. Hoje em dia meu
pai é muito mais presente e carinhoso que antes, acho que as netas
trouxeram isso a ele.

Eu acabei de me dar conta de que julguei Emílio sem


conhecer. Ele até pode passar o dia inteiro longe da filha e contratar
babás para ficar com ela, mas quando está ao seu lado, sua
atenção é só dela, ele está ali por inteiro.

Eles seguem conversando e ele ri a cada coisa engraçada


que Maria fala. Ao terminarmos de jantar, Alexandra nos convida
para tomarmos um chá na sala. Mas, ansiosa para chegar ao meu
quarto e tomar o remédio de dor, recuso, despeço-me deles e, na
ânsia de sair, dou alguns passos rápidos e sinto uma forte pontada
de dor no quadril que me obriga a parar.

Não contenho um fraco gemido e antes que consiga dar outro


passo, Emílio está ao meu lado. Arregalo os olhos no instante que
entendo o que vai fazer. Ele pega meu braço, põe ao redor do
pescoço e enlaça minha cintura.

— Não precisa — digo, mas ele ignora a minha negativa e em


poucos segundos me toma em seus braços.

— Chame a enfermeira, vó. Maria, por favor, abra a porta do


quarto de Julia.

— Meu Deus, homem, eu consigo andar. Não estou


morrendo, é só um incômodo por causa dos pontos — ralho.

Ele sequer me olha enquanto seguimos para o quarto e, ao


entrarmos, ele me pousa na cama devagar.

— Você está se sentindo melhor, Julia? — Maria me pergunta


com os olhos arregalados.

— Sim, não precisa se preocupar. — Viro meu rosto para


Emílio. — Não precisa chamar a enfermeira.

— Que mulher teimosa! — Range os dentes.

Normalmente eu retrucaria com uma frase irritante, porém


apenas rio, ou tento, mas fecho os olhos quando a fisgada aumenta.

Pouco tempo depois, Alexandra entra no quarto com a


enfermeira, Rebeca, e se retira com Maria. Pensei que Emílio
também sairia, mas sequer se mexeu.

Eu informo à moça que era apenas uma fisgada, que tinha


certeza de que após tomar o remédio, melhoraria, contudo, ao
levantar o vestido e lhe mostrar o curativo, ela percebe que a gaze
está bastante ensanguentada.

Rebeca refaz o curativo, me medica e sai.

— Como ela chegou tão rápido? — pergunto ao homem que


me olha sério.

— O médico deve ter receitado descanso, por que não ficou


no quarto? — inquire, ignorando minha pergunta.

— Não queria ser indelicada.

— Julia, apesar de ter sido dois tiros de raspão, o ferimento é


profundo. Seu corpo precisa de repouso para se recuperar. — Sua
voz suaviza aos poucos. Ele caminha até a cama e se senta
próximo a mim. — Custa ficar alguns dias de repouso?

— Como a enfermeira chegou aqui tão rápido? — indago


novamente, fitando seus olhos. Sua proximidade mexe comigo, seu
aroma me envolve e meu olhar recai em seus lábios.

— Ela está hospedada na nossa suíte pelo tempo que você


precisar dela.

— Não precisa.

— Sim, precisa. Eu te avisei que cuido das minhas...

— De suas responsabilidades — bufo.


— Reconheço que foi uma péssima colocação de palavras.

— Concordo.

Um sorriso brinca em seus lábios e eu queria não retribuir,


mas não consigo.

Ele eleva uma mão e eu prendo a respiração com sua


aproximação. Emílio pega um cacho e o acaricia, inclina a cabeça e
inala o aroma que exala do meu cabelo; levanta a cabeça e prende
seus olhos em mim.

— Você é linda demais para a minha saúde mental —


sussurra.

— Julia, você melhorou? — Maria entra correndo no quarto e


só então eu solto o ar que nem me dei conta que prendia.

— Sim, meu anjo. — Seguro sua mão e a beijo.

— Vamos, estrelinha. Julia precisa descansar. — Pega a filha


no colo. — Pelos próximos dias, vou pedir para trazerem suas
refeições aqui. Por favor, descanse — pede e eu quero rebater, mas
apenas assinto e aceno para Maria.

Pelos próximos dois dias minha rotina se resume a ser


mimada. Não há outra palavra para definir a forma como Maria e
sua avó me tratam. Não vi Emílio em nenhum momento, é como se
ele estivesse me evitando, coisa que agradeço. Ainda estou confusa
com as coisas que esse homem me faz sentir.

Estava receosa quanto a como seria nosso convívio. Contudo


essa suíte é tão grande, que conseguimos passar esses dias sem
nos ver.

Outra coisa que me impressionou é a rotina de Maria. Ela tem


uma tutora que ensina matérias gerais, uma professora de francês e
espanhol, além de aulas de piano, canto e ballet.

Quando questionei sua avó se não era muita coisa para uma
criança que não tem nem seis anos, ela me informou que Maria
estava sendo preparada para ir para o mesmo colégio interno em
que sua mãe estudou na Suíça, pelo que entendi, o próprio Emílio
também estudara em um, só que na Inglaterra. Então eu
compreendi que essa criança está sendo instruída desde muito
pequena para um dia assumir os negócios da sua família.

A pequena Maria, risonha e espoleta, nasceu herdeira de um


império bilionário. Algo dentro de mim sentiu por todas as coisas
que ela não poderá fazer sem estar cercada de seguranças. Por
outro lado, ela não é uma criança como as outras. Maria vive
viajando para vários países e se hospedando em suítes milionárias
e, se for ver as coisas de forma prática, ela tem sim que estar
preparada para o mundo em que vai viver.

Isso também aconteceu com minha irmã, a única diferença é


que Julieta não estudou em um colégio interno. No Brasil, não
temos esse tipo de tradição. Mas seus estudos e preparo para
assumir os negócios da nossa família foram intensos.
Maria não mentiu quando disse que era fã da princesa Tiana,
do filme “A princesa e o sapo”. Seu quarto é um sonho, com várias
bonecas da personagem, e eu simplesmente amei. Sentindo que
estava começando a andar sem sentir tantas dores no quadril e
achando que as aulas de Maria tinham terminado, saí do quarto e
segui em direção à sala, mas, ao chegar, reparei que ela ainda
estava na aula de piano.

Não querendo interromper, ando pela suíte e ouço a voz de


Emílio falando ao celular enquanto caminha em minha direção com
os olhos presos em mim. Eu não sei o que acontece com meu corpo
todas as vezes que vejo esse homem. Noto seu olhar me percorrer
lentamente e eu quero continuar a andar, quero fingir que não sinto
nada, mas não consigo. Desde aquele maldito beijo eu não consigo
mais fingir que não sinto nada.

Porque eu sinto tudo.

Nunca imaginei que ficaria excitada ao ver um homem andar


com uma mão no bolso, a outra segurando seu celular, trajando um
terno que deve ser ridiculamente caro que o veste como se fosse
feito exclusivamente para ele e com um olhar cheio de promessas.

— Nosso relacionamento terminou, Sarah. — Ele dá uma


pausa, olhando-me como se essa mensagem fosse para mim.

Ele está me informando que terminou o compromisso que eu


havia me esquecido que ele tinha.

— Contudo, como disse antes, jamais impedirei você de ter


contato com Maria — conclui e também soa como um aviso.
Sarah não é mais a noiva, mas continua na vida deles. Não
que isso me interesse, de forma alguma! Faço um leve cumprimento
de cabeça e ao passar por ele, fecho os olhos quando sinto seu
aroma. O cheiro desse homem é algo surreal. Uma mistura cítrica,
amadeirada e algo mais que não sei identificar, mas que é gostoso
demais.

— Pode pegar Maria para passar a tarde com você. E sobre o


colégio interno...

Até chego a parar e me virar, mas ele entra em uma sala e de


lá não consigo mais ouvi-lo.

Com um suspiro, sigo para a varanda.


Capítulo 20

O vento frio me faz estremecer, busco meu celular no bolso e


ligo para Gisele.
— Olá, estou ligando só para dizer que estou viva e me
recuperando bem — brinco. — Quase não sinto mais dores e daqui
a dois dias vou tirar os pontos e, no máximo, duas semanas sigo
para Paris.

— Fico feliz que esteja bem. — Ela faz uma pausa e solta um
suspiro.

— O que houve?

— Sei que você pediu para não te passar nada do que está
acontecendo aqui...

— O que está acontecendo?

— Gabriel está jogando na impressa que vocês estão se


reconciliando — solta, surpreendendo-me.

— O quê?! Esse homem ficou maluco? Nos divorciamos há


meses.

— Ele está dando várias entrevistas para perfis de fofoca,


dizendo que vocês estão tentando novamente, mas que agora
preferem manter a privacidade. E não importa o quanto negamos, já
fizemos posts dizendo que vocês não estão juntos e que nem no
Brasil você está. Mas o infeliz sempre posta algo insinuando que
vocês estão juntos em algum lugar. Eu acho que ele pega fotos
antigas de vocês e faz alguma montagem, entende? Isso, ou o
cretino contratou alguém parecido com você para posar de costas
ou com um roupão sem mostrar o rosto.
— Jesus! — digo, horrorizada. É a única coisa que consigo
falar.

Uma tristeza imensa me abate, a mesma que sentia quando


estava vivendo aquele inferno. Quando eu achei que estava livre,
quando pensei que tinha forças para recomeçar, Gabriel volta a me
assombrar.

— Eu já tinha até esquecido que esse homem existe —


confesso.

— Pois eu acho que ele só não entrou em contato porque


trocou seu número, mas andou perguntando sobre você.

— Ele já conseguiu tudo que queria, por que esse canalha


está fazendo isso?

— O assunto morreu, ninguém mais queria saber sobre o


divórcio de vocês, não era mais notícia. Acho que ele quer voltar à
mídia. Um conhecido me informou que quando ele começou a dizer
que vocês estão reatando, chamaram ele para fazer uma
publicidade.

— Esse homem não vai me esquecer nunca! Você acha que


Julieta sabe de algo? Não queria que ela tivesse mais dores de
cabeça por causa do Gabriel.

— Creio que não. Ela já teria entrado em contato comigo ou


com você.

— Falei com ela e com meu pai ontem, eles não comentaram
nada.
— Tem mais uma coisa que você tem que ficar alerta.

— Mais coisa?

— Ele sabe que você sempre vai para Paris em março por
causa da Fashion Week.

— Até vou a Paris, mas não pretendo ir a nenhum desfile,


apenas gostaria de ver as tendências para a próxima temporada.

— Sei disso, mas ele acha que você vai para assistir aos
desfiles ou participar de festas de algum estilista famoso como
sempre fez. Acredito que ele vá te procurar em um desses desfiles.

— Gisele, ele não pode ser tão louco assim.

— Julia, não se esquece que ele é o homem que quase te


destruiu para ficar na mídia.

— Mesmo depois do processo que Julieta meteu nele e de


todo o terror que me fez passar, esse homem não desiste de me
infernizar.

— Sinto muito ter que falar isso, mas não queria que ele a
surpreendesse em Paris. Poderia fazer uma live, daí mesmo e falar
que vocês não têm nada.

— Nas últimas vezes isso só piorou, talvez ele esteja


esperando isso mesmo. Eu não quero que minha volta às redes
sociais seja para fazer um pronunciamento por causa desse safado.

— O que você vai fazer?


— Eu não sei. Vou pensar em algo. Por enquanto, sempre
que perguntarem, negue incessantemente.

Termino a ligação pedindo que ela me mantenha a par das


merdas que Gabriel anda fazendo. Olho para o céu e penso o que
posso fazer para que esse homem esqueça que existo.

— Enfrentando problemas com seu ex? — A voz grossa de


Emílio me assusta.

— Conhece alguém que eu possa contratar para fazê-lo sumir


do mapa? — brinco.

— O que ele fez?

— O que ele não fez! — Mordo meus lábios tentando controlar


a vontade de chorar. — Você vai enviar Maria para um colégio
interno este ano? Desculpa, acabei ouvindo quando falava com sua
noiva. — Mudo completamente de assunto buscando fazer a
angústia que estou sentindo passar.

— Ex-noiva! Na verdade, nem chegamos a assinar o contrato


de casamento — salienta. — Por enquanto, não. Este era o desejo
da sua mãe. Ela e Sarah estudaram no Instituto Le Rosey, na Suíça,
desde muito pequena, e tinham ótimas lembranças. Contudo, depois
que Maria quase foi sequestrada, eu preferi adiar até que ela
complete doze ou treze anos.

— Colégio interno é algo que não faz parte da minha cultura.


Nós brasileiros gostamos dos filhos todos grudados na barra da
saia. — Balanço os ombros e ele sorri.
— Eu compreendo o seu pensamento. O local onde minha
filha irá estudar mais parece um resort luxuoso que um internato.
Ela terá aulas de esportes, tanto aquáticos quanto terrestres,
culinária, artes, agricultura, quatro línguas, além de acesso a um
dos ensinos mais exclusivos do mundo. É um local onde já
estudaram reis, príncipes, presidentes e muitos chefes de Estado e
executivos de todo o mundo. No entanto, o mais importante é que
ela poderá andar livremente e viver todas essas experiências sem
um monte de segurança ao seu lado.

— Nossa, não tinha visto por esse lado.

— Amo minha filha intensamente e quero oferecer para ela o


melhor que o dinheiro pode comprar. Porém ultimamente eu
comecei a repensar muitas coisas em minha vida.

— O que por exemplo?

— Vou fixar residência em um país, dar mais estabilidade para


Maria até ela ir para o Le Rosey. E também vou me permitir sentir
tudo.

— Não entendi.

— Desde a morte da minha esposa, eu escolhi levar a vida


evitando fortes emoções, não queria me machucar novamente.

— Me ensina? Quero viver assim, quero ficar tão forte a ponto


de não sentir mais nada do que fazem comigo, porque eu sinto tudo!
Quando acho que estou ficando mais forte, acontece algo que me
deixa frágil e desestabilizada novamente.
— O que ele fez? — Emílio se aproxima e para bem perto de
mim.

— Meu ex-marido anda dizendo que estamos voltando.

— E você pensa nisso?

— Jamais!

— Então é só negar.

Eu rio e fungo, sentindo uma lágrima descer pelo meu rosto.

— Minha assessoria já enviou um comunicado, mas ele


prossegue mentindo para ganhar mídia.

— Não chore, ele não vale suas lágrimas — pede


aproximando-se. Eleva uma mão e limpa meu rosto.

— Vai me ensinar a não sentir nada? — Sorrio tentando


mudar de assunto.

— Não.

— Malvado! — Rimos. — Você também tem que informar às


pessoas que não sou sua noiva. As enfermeiras, tanto do hospital
quanto a daqui, acham que sou — brinco.

— E por que não se torna?

— O quê?

— Minha noiva.

Gargalho.
— Eu e Sarah iríamos nos casar por contrato, sem nenhum
vínculo emocional. Era uma boa proposta para ambos.

— E eu seria a noiva substituta? — zombo.

— E, por que não? Me desculpe a indelicadeza, mas ouvi um


pouco da sua conversa e acredito que se anunciasse um noivado,
seu ex-marido desapareceria da sua vida.

— Estou nesta confusão porque por meses menti para meus


seguidores. Fingi que meu relacionamento era perfeito enquanto
sofria em segredo. Depois, quando quis falar a verdade, ninguém
quis me ouvir. Se me envolvesse em mais uma mentira, as coisas
começariam a piorar.

— Pelo que entendi, seu noivo te enganou. No nosso caso,


nós dois estamos de acordo com tudo.

— Você só pode estar brincando.

— Não estou. Pense comigo, se você revelasse que está


noiva quando seu ex diz para todos que estão juntos, você provaria
que ele está mentindo e viraria o jogo. Além do mais, estaria noiva
de um bilionário, dono de vários hotéis pelo mundo, isso gera
curiosidade. Você finalmente contaria seu lado da história e todos
estariam sedentos por ouvir, porque iriam querer saber como você
deu a volta por cima.

— Isso é loucura?

— Eu só vejo vantagens para você.


— E para você, qual seria a vantagem? — inquiro e
estremeço com a forma como me fita.

— Entra, está muito frio — ordena.

— Você tem uma irritante mania de querer mandar em mim,


velhinho — debocho, desviando do seu corpo, mas ele me
surpreende ao segurar meu braço e me aproximar dele.

Seus dedos seguram minha garganta, fazendo-me elevar a


cabeça.

— Se esqueceu o que aconteceu na última vez que me


chamou assim? — sussurra contra a minha boca.

— Você fez a proposta para transar comigo? Isso nunca vai


acontecer — desafio.

Em resposta, ele aproxima o rosto do meu e murmura no meu


ouvido:

— Ah, minha querida, nós dois sabemos, que vai. Em breve


meu pau estará tão enterrado dentro de você, que arranhará minhas
costas quando me sentir pulsar.

Minha réplica é um leve arfar e um engolir em seco. Nunca o


imaginei sendo obsceno. Seu hálito quente, sua mão segurando
minha garganta e outra no meu braço, me mantendo presa, estão
fazendo um estrago na minha calcinha.

Continua:
— Eu quero te fazer gozar em cada suíte que eu tenho pelo
mundo, te quero gritando de prazer, delirando, gemendo gostoso,
sorrindo, implicando comigo, me provocando. — Esfrega o nariz na
curva do meu pescoço. Tombo a cabeça para o lado, não impondo
nenhuma resistência a este homem. — Mas não te quero chorando,
nem com medo ou se sentindo indefesa. Por isso quero que aceite
minha proposta, quero te dar as proteções que precisa contra esse
cretino.

Quando eu achei que esse homem não poderia mais me


surpreender ele fala isso.

Emílio retira a mão do meu pescoço e acaricia meu rosto


lentamente.

— Aceite a minha proposta e eu prometo que nunca mais


esse homem te machucará. Eu não vou permitir. Você pode usar
meu nome e meu poder para te proteger.

— Isso é loucura!

— O que nós dois sentimos é loucura. Esse tesão à flor da


pele, essa vontade que só cresce a cada dia que passa. Isso sim é
insano, gostoso e sexy. Minha proposta é um acordo que te
protegerá e também uma forma de vingança.

— Julia. — Ouvimos a voz de Maria de longe e nos


afastamos.

— Pense na minha proposta e quando tiver uma resposta, me


procure e resolveremos os termos do nosso noivado.
Ele sai do terraço antes que eu consiga falar algo, deixando-
me excitada e confusa.

— Ah, te encontrei! — Maria sorri largamente ao me achar e


abraça minhas pernas. — Eu estou tão feliz por você estar aqui
comigo!

Ela fala isso todo dia. Eu acaricio sua cabeça e sorrio.

— Também estou, minha linda.

— Vou pedir ao papai para irmos a Paris, assim ficamos


juntas por mais tempo. — Ela pula empolgada como se tivesse tido
uma ótima ideia. — Vamos entrar, está muito frio. Você ainda está
doente.

Tal pai, tal filha. Sorrio enquanto a deixo me conduzir para


dentro.
Capitulo 21

No decorrer dos dias fingi que aquela conversa não


aconteceu. Nas vezes que encontrei Emílio, ele não tocou no
assunto, mas a forma como me olhava... Nossa! Fazia todo meu
corpo se arrepiar. Não consegui conter a curiosidade sobre esse
homem que me fez uma proposta tão insana.
Descobri que ele tem mais de duzentos hotéis de luxo
espalhados pelo mundo. Não achei nenhum escândalo, apenas
reportagens sobre supostas namoradas e uma noiva misteriosa.
Achei várias fotos dele com mulheres diferentes e todas lindas,
sempre saindo de algum restaurante ou o acompanhando a algum
evento. Ele foi eleito por uma revista como o bilionário mais bonito e
cobiçado do ano e eu entendo o porquê.

Após retirar os pontos, a dor no quadril e no braço


praticamente desapareceu, até pensei em me mudar para um quarto
no hotel, mas confesso que estes dias próxima à Maria me fizeram
muito bem. A cada vez que conversava com minha equipe ficava
mais angustiada e aquela menina tão meiga e carinhosa me
acalentava, mesmo sem saber dos problemas que povoavam minha
cabeça.

Às vezes, deitada na cama, ficava olhando para o teto e me


dava uma vontade imensa de pegar meu celular e fazer um vídeo
xingando aquele cretino. Nesses momentos meu rosto chegava a
esquentar de tanta raiva. Já até peguei o celular e comecei a gravar,
mas parava e pensava que talvez seja exatamente isso que ele
quer.

Todas as vezes que tentei me justificar, que tentei mostrar


meu lado, a situação se virou contra mim. Diziam que estava me
vitimizando, querendo atenção, etc. As marcas que ainda tinham
contrato também me pressionavam a ficar calada, deixar o assunto
morrer para não afetá-las. Calei-me porque parecia que estava
gritando ao vento. E Gabriel se beneficiou com isso.
Sempre que penso nisso uma raiva surreal me abate. Eu já
havia admitido que tinha me lascado, estava me recuperando, mas
ele vem e quer me jogar naquele inferno de novo.

Talvez se todos vissem que estou noiva, me deixariam em paz


e as coisas que Gabriel diz não chamariam mais atenção. Contudo
não quero me envolver, sequer penso em me apaixonar novamente.
Nesses momentos, a proposta que Emílio me fez me parece
tentadora, já que ele deixou subentendido que o romance não
estaria envolvido. O único problema é o tesão que sinto por esse
homem, a cada vez que ele me toca, mesmo que levemente, eu
pego fogo.

Me tocar foi o que ele mais fez nos últimos dias: um roçar de
mãos quando nos encontrávamos pela suíte, apenas para me fazer
segurar o fôlego, esperando o que ele diria ou faria em seguida, e
nada acontecia além disso.

— Isso é loucura! Não posso pensar nisso. Boa parte desta


confusão é por culpa de uma mentira, de um fingimento de um casal
feliz. Não posso me meter em algo assim novamente!

Decidida, busco meu celular, compro uma passagem para


Paris para daqui a três dias e faço uma reserva em um hotel.

— Agora eu me despeço dessa família que me conquistou e


sigo com meus planos de viagem. Em algum momento, Gabriel ou
os perfis de fofoca vão se cansar dessa história.
Falar para Maria que chegou o momento de partir foi mais
difícil do que da primeira vez. Para nós duas. Nas últimas semanas,
ficamos grudadas. Quando comecei a me sentir melhor, passamos a
sair juntas, sempre acompanhadas por sua babá e os seguranças.
Sua avó às vezes nos acompanhava.

Fomos ao teatro e assistimos a uma apresentação infantil de


Romeu e Julieta. Não me contive, tirei uma foto e enviei para minha
irmã que me respondeu com o emoji de olhos para cima. Sempre
que voltávamos para a suíte, estava exausta e normalmente tomava
algum remédio para dor.

Os dias passaram voando, Maria está triste porque partirei


amanhã e mais uma vez disse que pediria ao pai para ela ir à
França me encontrar. Eu apenas sorri em resposta.

Agora estou organizando as coisas depois de ter ficado um


bom tempo na banheira. Maria saiu com Sarah, e sua avó foi se
encontrar com algumas amigas. Suspiro pensando que será a última
noite, pelo menos por um bom tempo, que jantaremos juntas. Seco
meus cabelos e escolho deixá-lo solto. Retiro o roupão e visto uma
lingerie branca. Enquanto hidrato meu corpo, ouço uma batida à
porta. Imaginando ser alguma funcionária, volto a vestir o roupão e,
ao abrir, me surpreendo com Emílio.

— Posso entrar?

— Sim. — Dou um passo para trás e ele adentra meu quarto,


nota a mala aberta no chão e sorri de lado. — Acho que já vivi esta
cena, você de roupão e várias malas espalhadas pelo chão.
— Veio me insultar como da última vez em que estivemos
nesta situação? — Levanto uma sobrancelha.

— Você nunca vai esquecer esse meu erro?

— Pode ter certeza de que não!

Ele me olha por um tempo, depois sorri e eu o acompanho.

— Desta vez vim te agradecer por ter aceito nosso convite de


ficar aqui e também por me mostrar algo que não estava
enxergando.

— Eu que tenho que agradecer, mesmo que tenha aceitado o


convite na base da chantagem. — Solto uma gargalhada. — Não
me arrependo um minuto sequer, fui muito bem acolhida. Mata a
minha curiosidade, o que te ajudei a ver?

— Que Maria tem uma grande carência afetiva e que eu


estava deixando de viver muita coisa por medo de sofrer.

— Sobre Maria, eu entendo muitas coisas que ela sente


porque também sentia o mesmo quando criança, mas posso te
garantir que, em relação a você, ela se sente amplamente amada.
Confesso que até vê-los convivendo, eu tinha uma ideia errônea.
Você até pode ficar longe por causa do trabalho, mas quando está
ao seu lado, sua atenção é só dela, e isso é lindo de ver.

— Amo demais minha filha.

— Eu sei.

— Você pensou sobre a minha proposta?


— Não há muito o que pensar, não quero entrar em um
relacionamento falso.

— Mesmo que isso te ajude a manter seu ex-marido longe?

— Sim, tenho que aprender a resolver isso, uma hora ele


cansa.

Ele abre a boca como se fosse rebater, mas desiste.

— Maria tanto me pediu que a deixei, junto com minha avó,


passar dois dias com você em Paris antes de me encontrar em
Doha, no Qatar. Queria te oferecer nossa suíte em Paris e que
depois nos acompanhasse pela viagem que faremos pelos
Emirados Árabes, contudo, na última vez que fiz uma proposta
parecida, você não gostou nem um pouco. — Ele sorri e eu desço
meus olhos por ele discretamente.

Calça social preta, blusa branca com as mangas dobradas até


o cotovelo e três botões abertos que deixam escapar alguns pelos
em seu peito. Eu definitivamente, não devia ter descido meu olhar,
se tivesse fixado em seus olhos e me mantido ali, não estaria
sentindo meu centro pulsar e minha mão coçar com a vontade de
tocar seu peito e constatar se é tão macio quanto parece.

— Você tem razão, eu recusaria o convite. Não conheço o


Oriente Médio, não está em meus planos de viagem. Quem sabe
ano que vem visito — comento olhando para vários lugares menos
para ele.

— Olhe para mim — pede com a voz rouca.


— Acho melhor você ir, daqui a pouco sua filha chega e eu
tenho que acabar de me vestir — falo rápido andando até a porta,
sentindo o coração bater acelerado.

Mas antes que eu possa abrir, ele cola sua mão na porta e eu
fico presa. Fecho meus olhos e respiro fundo, sou envolvida pelo
seu aroma e eu adoro como ele cheira, sempre o mesmo perfume
marcante. Forte, sexy e sensual.

— Olhe para mim — implora e eu sinto seus dedos em meu


cabelo, o calor do seu corpo bem próximo ao meu, a respiração
profunda, inalando meu cheiro.

Meu corpo responde a ele. Minha pele se arrepia, eu


estremeço, sinto minha calcinha molhada, um frenesi na boca do
estômago e uma vontade insana de me esfregar nele. Mas me
mantenho no lugar, com olhos fechados, a boca entreaberta e o
centro latejando. E para acabar com o meu controle, ele segura forte
o meu cabelo, daquele jeito que ele sempre faz e me deixa louca de
tesão.

— Me deixa te beijar antes de partir, só uma vez. — Morde


minha orelha e eu não seguro mais um gemido.

Vira minha cabeça e eu vejo o desejo em seu olhar, o mesmo


fogo que me queima inteira. Sem me conter, colo minha boca na
dele e Emílio me devora, exigente, poderoso e dominante. Encosta
seu corpo no meu e eu sinto sua ereção, fico doida de tesão, chupo
sua língua com o mesmo ardor que ele me beija.
Ele geme, retira sua mão da porta, segura meu pescoço, o
morde levemente e eu estremeço. Fecho minhas pernas para tentar
conter o pulsar do meu clitóris, sinto como se fosse gozar com
apenas um beijo. Acho que ele sente minha agonia, pois desliza sua
mão devagar, sua boca descola da minha e percorre um caminho de
beijos pelo meu pescoço enquanto sua mão abre meu roupão. Mas,
do nada, ele para.

— Não pare — imploro, segurando sua mão e a levando até a


minha boceta.

Empurro minha bunda em direção à sua virilha e faço o que


tanto anseio, me esfregar nele. Não penso, nem quero ter o mínimo
de raciocínio nesse momento, só quero sentir. Emílio me faz sentir
tudo. Sinto seus dedos entrando na minha calcinha e encontrando
meu clitóris, que ele massageia devagar. Encosto minha cabeça em
seu ombro e arfo, abrindo as pernas, facilitando seu acesso.

Ele retira a mão do meu cabelo e eu protesto; morde meu


ombro, retirando o robe sem parar de me dedilhar. Põe meu cabelo
para o lado e beija minhas costas. Tombo meu corpo para a frente,
apoio as mãos e a testa na porta, sentindo sua língua percorrer
minha coluna. Ele tira minha calcinha molhada e morde cada polpa
da minha bunda, fazendo-me gemer baixinho e minha excitação
descer pelas minhas pernas. Abre minhas nádegas e me invade
com sua língua. Prendo a respiração ao senti-lo lamber meu ânus,
descer para minha boceta e voltar, faz isso várias vezes antes de
enfiar a língua onde nunca entrou nada.
Minha resposta é um gemido alto. Arranho a porta, fico na
ponta dos pés, meu clitóris lateja desesperado, meus seios doem e
minha pele arrepia.

— Você não tem noção do quanto venho sonhando em fazer


isso, anseio em foder esse buraco bem devagar. Gostosa! — Seus
dedos entram em minha carne, apertando-me forte. Ele volta a me
lamber, me mantém aberta, subindo e descendo com sua língua
deixando-me alucinada.

— Nunca fiz sexo anal, mas do jeito que você está me


lambendo está me deixando muito curiosa. — Minha voz não passa
de um sussurro.

— Você é virgem aqui? — Introduz um dedo no meu ânus e


um arrepio passa pela coluna. Respiro fundo, sentindo um prazer
imensurável.

Retira os dedos de mim, contorna meu corpo e para na minha


frente, suga meu lábio inferior enquanto percorre minhas curvas
com suas mãos. Sinto tudo dentro de mim vibrar no momento que
ele desliza dois dedos pelas minhas dobras, provando-me,
mordendo meu lábio, sem enfiá-los em mim. Ele se move para
baixo, sugando meu seio, morde minha barriga, até se sentar no
chão. Apoia as costas na porta, estica as pernas entre as minhas,
deixando-me aberta, lambe os lábios com volúpia e me puxa até
minha virilha estar ao alcance da sua boca. E então chupa forte meu
clitóris, fazendo-me segurar seus ombros.

— Ah — ronrono.
— Gosta? — pergunta com o dedo entrando e saindo devagar
do meu ânus e alternando entre lambidas e chupadas fortes na
minha boceta.

— Me deixaria entrar aqui? — Enfia mais um dedo no meu


ânus. — E aqui? — Enfia o dedo na minha boceta.

Ele movimenta os dedos e gruda seus lábios no meu botão.


Meu coração bate forte, minha respiração é rasa, meu corpo treme e
um redemoinho se forma em meu ventre; mordo o lábio inferior e
não desvio meus olhos dele. Ele me chupa sedento, com os olhos
fechados, rosto lambuzado com a minha essência, cravo minhas
unhas em seus ombros quando o orgasmo me pega em cheio.

Ele retira seus dedos de dentro de mim e me suga com mais


anseio, como se quisesse beber minha essência, fico mais excitada,
necessito senti-lo dentro de mim.

Mas antes que eu diga algo, alguém bate à porta e eu


arregalo os olhos.

— Senhora Julia. — Ouço a voz do mordomo.

Tento me afastar de Emílio, mas ele me segura firme no lugar


e não para de me lamber.

Faço um movimento negativo com a cabeça e ele golpeia meu


clitóris inchado com a língua, fazendo-me levar a mão à boca para
conter um gemido e desce as mãos, me deixando livre para me
afastar.
Eu sei que deveria dar um passo para trás e acabar com essa
loucura, mas o olhar desse homem, poderoso, visto como um dos
homens mais cobiçados do mundo, que no momento está
literalmente aos meus pês, lambendo minha boceta como se fosse
um manjar dos deuses, me faz segurar seu cabelo e puxá-lo para
mais perto.

Espero seu protesto, mas recebo uma sugada forte.

Do lado de fora, o mordomo bate a porta chamando meu


nome enquanto rebolo na boca de Emílio.

Seguro meu seio e aperto o bico com meus dedos puxando os


cabelos dele à medida que ele continua me lambendo gostoso. Olho
para o teto, nunca me senti tão livre, tão plena, tão dona do meu
prazer. Gozo na sua boca, uma, duas vezes, e ele me suga até eu
não me aguentar mais de pé, depois me pega em seus braços e me
deixa na cama.

— Você é linda e gostosa demais. — Beija e acaricia minhas


curvas e eu suspiro ao seu toque.

Ele se levanta da cama e eu vejo o volume em suas calças,


minha boca se enche de água.

— Faça uma boa viagem, Julia. — Inclina a cabeça e me beija


levemente nos lábios.

— Você já vai? — questiono, incrédula.

— Sim.

— Mas eu pensei que...


— No dia em que eu estiver dentro de você, estará usando
meu anel de noivado. Eu quero devorar cada pedacinho do seu
corpo. — Desliza o dedo pelo bico do meu seio. — Você não tem
ideia do esforço que estou fazendo para não saciar a sede que
tenho de você. Tenha uma boa viagem, Julia, e pense com carinho
na minha proposta.

Beija-me levemente nos lábios e sai do quarto, deixando-me


literalmente com a boca aberta.
Capítulo 22

Deito-me na cama e fito o teto incrédula, em seguida começo


a gargalhar do absurdo da situação.

— Será que ele pensa que pode me manipular por sexo? —


murmuro.
Admito que nunca me senti assim antes, tão plena e satisfeita,
foi intenso, poderoso e arrebatador. O toque de Emílio é exigente e
dominador, mas ao mesmo tempo me fez sentir como se eu
controlasse cada passo, quando eu sabia que era uma massa
sedenta por satisfação sendo guiada ao seu bel prazer.

Eu me senti livre, dona das minhas escolhas e dos meus


desejos e exatamente por isso não vou deixá-lo me manipular. Eu
tive um pequeno deslumbre do que pode ser uma noite de muito
sexo com Emílio e eu quero tudo, mas vai ser do meu jeito e quando
eu quiser!

— Eu quero que seja hoje! — decreto com um sorriso


travesso. — Antes de eu ir me despedir da família Castro e Agustini
e ir para Paris. Se prepara, velhinho todo poderoso. — Rio e saio da
cama traçando um plano para tê-lo esta noite.

Debaixo do chuveiro, sentindo a água morna tocar meu corpo,


fecho meus olhos e suspiro quando as imagens dele sentado no
chão me chupando invadem a minha mente. Sinto a excitação tomar
conta do meu corpo lentamente. Termino meu banho e escolho uma
lingerie sexy, opto por um vestido envelope vinho, preso por um laço
na cintura, maquiagem leve, nada ostensivo nem provocante.

Uma leve batida à porta chama minha atenção, é o mordomo.


Prendo a respiração com receio de ele ter ouvido algo, mas ele não
emite nenhum sinal ou gesto que me deixe desconfortável, apenas
informa que as coisas que pedi para serem enviadas para o Brasil já
foram postadas. Também informa que em breve o jantar será
servido e que Alexandra e Maria estão me aguardando na sala. Faz
um breve meneio de cabeça e se retira, só então eu respiro aliviada.
Fecho a porta e rio baixinho.

Algum tempo depois, sigo para sala e a primeira pessoa que


eu vejo é Emílio. Ele está com os cabelos molhados, denunciando
um recente banho, veste uma camisa social preta e calça jeans,
suas pernas estão cruzadas e em sua mão há um copo com whisky.
Ele é a imagem do pecado. Seus olhos passeiam por mim
lentamente e param em meus olhos.

— Boa noite, Julia — cumprimenta como se não estivesse há


menos de duas horas me fazendo gozar feito louca.

— Boa noite, Emílio — digo rapidamente e me sento antes


que deixe transparecer algo.

Maria me abraça e seguimos para a sala de jantar. Evito


trocar olhares com ele enquanto ouço a voz animada de Maria
contando como foi sua tarde. Alexandra também comenta sobre seu
encontro com suas amigas.

Eles revelam que vão me encontrar em Paris em uma semana


e eu comemoro. Avisam que será uma visita rápida, apenas dois
dias e depois iram seguir para o Qatar.

Ao terminar de comer, Maria está bocejando e Alexandra


também decide se retirar. Despeço-me de ambas com um forte
abraço.

Emílio leva a filha no colo e ela pede para eu ir junto. Assim


que entramos, ele a coloca no chão e avisa que estará no escritório,
caso precise de algo, faz um meneio de cabeça para mim e sai do
quarto. Eu ajudo Maria a se trocar, conversamos sobre o que
pretendemos fazer em Paris quando nos encontrarmos e não
demora muito para ela pegar no sono.

Saio do quarto tomando cuidado para não fazer barulho. Até


cogito entrar no meu e esquecer essa loucura. Mas é só fechar os
olhos que toda aquela emoção volta à minha mente.

Encho meus pulmões e engulo junto uma boa quantidade de


autoconfiança. Expulso o ar devagar e repito o processo.

— O não você já tem, agora vamos atrás do sim e de uma


noite inteira de prazer — murmuro pouco antes de bater à porta do
escritório.

Ele me manda entrar. Eu o encontro sentado atrás de uma


mesa de mogno. Em suas mãos tem um tablet e na mesa, uma
pequena maquete de um prédio.

— Você está ocupado? Estou te atrapalhando? — indago


fechando a porta e dando alguns passos até lá.

— Apenas analisando o projeto de um novo hotel. — Sorri de


lado travando a tela do tablet e pondo o aparelho na mesa.

— E será esse? — questiono.

Inclinando a cabeça para olhar melhor. Reparo que além de


vários chalés, também há uma área verde com pequenas árvores,
plantas, flores e três piscina.

— Sim, será um resort. O que achou? — pergunta enquanto


se levanta, contorna a mesa e para ao meu lado.
— Bem bonito, mas completamente diferente deste. Não
imagino uma suíte desta em um resort.

— E realmente não terá, quero algo mais popular.

— Sério?

— Sim, acho que será um bom negócio oferecer a qualidade


dos hotéis Agustini por um valor mais acessível — comenta.

— Pensamento interessante. Achei que você preferia ter


somente hotéis 5 estrelas para pessoas com alto poder aquisitivo.

— Tenho alguns assim.

— Alguns? Pelo que o Google diz, você tem algumas duas


centenas espalhadas pelo mundo.

— Então finalmente pesquisou sobre mim? — implica,


sorrindo.

— Tinha que saber mais sobre o homem que me fez uma


proposta de noivado.

— Veio me dizer que aceita?

— Não. — Desfaço o laço do vestido e com a adrenalina


correndo solta em minhas veias, deslizo-o pelos meus ombros e o
deixo cair no chão. — Vim terminar o que começamos mais cedo.

Emílio ofega e me olha com cobiça. Escorrego minhas mãos


nas minhas costas e quando estou quase retirando o sutiã, ele me
para.
— Não! — Movimenta a cabeça de um lado para o outro.

Eu paro, a rejeição me pega e me golpeia. Abaixo a cabeça e


deixo meus cachos esconderem meu rosto, eu sabia que corria esse
risco, só não achei que ficaria tão decepcionada. Abaixo o corpo e
ele faz o mesmo.

Ele acaricia meu rosto e suspira.

— Não aqui — murmura.

Eu o fito, confusa, e ele conclui:

— Na minha cama.

— Ah... — Mordo meu lábio, abro um amplo sorriso e me


levanto. — Mas eu quero aqui! — Seguro sua mão e o levo até a
cadeira, empurro-o levemente e ele cai sentado e ergue uma
sobrancelha.

— Quer que eu te foda em meu escritório? É isso que você


quer? — indaga recostando na cadeira e passando a mão
levemente nos lábios.

— Eu cansei de fazer o que os outros querem, agora quero


fazer o que eu quero. — Retiro o sutiã devagar e jogo a lingerie para
longe, faço o mesmo com a calcinha.

— Você é absurdamente linda — sussurra.

Apoio meus braços na sua cadeira e o beijo levemente.

— Me faça sentir poderosa como fez hoje à tarde — peço com


minha boca colada na dele.
Emílio segura meu rosto e me beija com volúpia.

— Seja minha noiva por contrato? — exige.

— Não! — Mordo seu lábio inferior. — Quero apenas que me


faça delirar em seus braços.

— Eu deveria dizer não! — Ele se afasta e volta a se encostar


na cadeira, mas sua mão passeiam pelo vale entre meus seios,
desce até minha boceta e esfrega lentamente, depois leva o dedo à
boca e o suga fechando os olhos.

Viro-me e afasto alguns objetos de cima da mesa, sento-me


nela e apoio meus pés nos braços da sua cadeira.

— Puta que pariu. — Ele solta um lento suspiro.

— Eu já fui manipulada demais na minha vida e prometi que


nunca mais deixarei isso acontecer comigo. Vai ser do jeito e
quando eu quero ou não vai ser.

Desço minhas mãos lentamente pelos meus seios e depois as


levo para trás do meu corpo, apoiando-as na mesa. Abro minhas
pernas, me oferecendo sem nenhum pudor.

— Desde o primeiro momento em que eu te vi, eu sabia que


deveria me manter distante, algo me dizia que você seria altamente
viciante, que viraria meu mundo do avesso — confessa deslizando
uma mão pelas minhas pernas segurando meu tornozelo e o
beijando.

Mordo meu lábio inferior, sentindo minha pele se arrepiar ao


seu toque e ele continua a falar:
— Eu sou incapaz de resistir a você. — Leva minha perna até
seu ombro e ele aproxima a cadeira da mesa. — Agora me diz,
como vou trabalhar nesta mesa novamente sem pensar em você, no
seu gosto, no seu cheiro? Como vou conseguir tirar esta imagem da
minha mente? — Morde minha perna e o ardor da mordida faz meu
centro pulsar.

— Cala a boca e faz o que nós dois queremos — ordeno,


ousada.

— E o que seria? — Segura minha outra perna e a coloca no


outro ombro.

— Me faça gozar bem gostoso na sua boca e depois me come


até minhas pernas ficarem bambas.

Ele segura minha bunda e me puxa para ele com força,


fazendo-me dar um pequeno grito.

— Mulher petulante, insolente, atrevida e gostosa pra caralho


— rosna antes de abaixar a cabeça e me fazer gemer.
Capítulo 23

O sabor desta mulher é algo que não sei definir em palavras,


a forma como geme enquanto deslizo minha língua por sua boceta
molhada é como música para os meus ouvidos. Suas pernas
tremem em meus ombros, sua mão segura meus cabelos
mantendo-me onde ela quer ao mesmo tempo em que a outra
segura seu seio esquerdo, apertando o bico.
Seguro sua bunda e a elevo, trazendo-a para mais perto do
meu rosto, introduzo um dedo nela e soco devagar. Levanto a
cabeça e a observo, ela está com a boca aberta e gemendo
baixinho. Retiro meu dedo e a chupo, devoro, lambuzando-me com
sua essência.

Fico louco quando começa a rebolar contra meus lábios, sugo


seu clitóris, sedento, mais uma vez levanto a cabeça, fascinado com
as emoções que passam pelo seu rosto. Acaricio seu ânus e sorrio
de lado ao vê-la morder os lábios. Meu pau está duro como uma
pedra, doido para me libertar, doido para estar dentro dela.

Enfio o dedo devagar, ela ondula o quadril e estremece,


circulo seu botão com a língua e meto mais um dedo, e então ela
goza contra meus lábios, chamando meu nome. Suas pernas
tremem e meu pau pulsa quando a vejo aberta, com sua lubrificação
descendo e com dois dedos enfiados em seu ânus.

— Você é deliciosa.

— Quero você dentro de mim. Quero que substitua seus


dedos pelo seu pau. Quero que seja o primeiro com quem farei sexo
anal, quero que segure minha garganta enquanto mete forte —
verbaliza o que tanto anseio. — Não consigo parar de pensar nisso
desde hoje à tarde.

É impossível não sorrir, retiro suas pernas do meu pescoço,


seguro-a pela cintura e desço-a da mesa, giro seu corpo e deslizo
minhas mãos pelas suas curvas perfeitas.
— Tem certeza? — murmuro no seu ouvido, seguro sua
bunda e a aperto forte. — Quer que eu seja o primeiro aqui? —
Mordo seu ombro e ela estremece.

— Quero que seja com você — geme. — Sei que vai me


proporcionar um prazer indescritível.

— Você me deixa doido. — Seguro sua cabeça e a viro para


mim beijando sua boca com paixão.

Passo a mão na mesa, jogando algumas coisas pelo chão.


Julia ri e eu a empurro gentilmente, fazendo-a se deitar com os
seios contra a mesa. Passo a língua pela sua coluna, molhando a
pele no processo, até chegar à sua bunda empinada. Fico de joelho,
abro suas nádegas e pincelo sua boceta com a língua.

Ela geme.

Eu dou um tapa na sua bunda e depois a mordo.

Ela grita.

E eu rio e beijo o local onde bati.

— Não se mexa! — ordeno ficando em pé.

— Você e essa mania de querer mandar em mim — reclama,


mas não se mexe.

Gargalho retirando minha camisa, jogando-a no canto da sala


e fazendo o mesmo com a calça. Nunca fiz algo parecido, jamais
trouxe uma mulher para a minha suíte, sempre as encontrava em
suas casas ou em outro hotel, mas jamais no mesmo em que minha
filha estivesse hospedada.

Julia me fez quebrar todas as minhas regras. Contudo, ao


descer meus olhos por ela, eu não tenho a menor dúvida de que
absolutamente nada me faria desistir de estar aqui. Julia é linda em
todos os sentidos, e me faz querer fazer loucuras, me faz vibrar, me
faz me sentir vivo.

Acaricio suas costas e me encaixo entre as suas pernas.


Roço devagar ao mesmo tempo que abro a gaveta, pego minha
carteira, retiro dela o pacote de preservativo. Me controlo para não
tirar a boxer e me enterrar nela.

Ela se vira e me empurra, prendo a respiração achando que


vai desistir, mas ela me surpreende ao ficar de joelhos na minha
frente e abaixar minha boxer, lentamente.

— Põe seu pau na minha boca, velhinho — provoca.

— Mulher atrevida.

Seguro-a pelo queixo e esfrego a cabeça do pau na sua boca.


Ela a abre sem tirar os olhos de mim.

Julia me suga gostoso, tão sedenta como eu estava dela. A


imagem dessa mulher de cabelos volumosos de joelhos me
chupando, me faz estremecer.

— Preciso entrar em você agora. — Seguro seus braços


puxando-a para mim.
Tomo seus lábios enquanto a empurro, deito-a na mesa de
frente para mim, levanto uma perna e a ponho em meu ombro. Visto
a camisinha no meu pau e pincelo em sua boceta melada pouco
antes de introduzi-lo lentamente. Ela é apertada demais. Mordo meu
lábio querendo meter logo tudo, mas me controlo, sei que sou
grande, não quero que sinta dor, só prazer.

Julia geme, eu entro por completo e começo a me


movimentar, toco seu clitóris, ela ondula o quadril fazendo-me
morder os lábios. Subo minha outra mão pela sua pele e seguro sua
garganta, arremetendo incessantemente em sua boceta.

Ela grita, chama meu nome, eu fico doido com seus


murmúrios, prendo seu botão entre dois dedos e ela goza, seu
corpo inteiro treme. Não a deixo se recuperar, estou vidrado de
tesão, completamente enlouquecido. Viro seu corpo que está mole
do recente gozo, troco a camisinha, abro suas nádegas e cuspo no
meio delas. Meu coração bate acelerado quando começo a me
enfiar ali, ela choraminga, ainda trêmula. Introduzo bem devagar, ela
arfa, seguro seus seios e aperto os bicos com metade do meu pau
dentro do seu anus.

Ela respira fundo, o corpo está trêmulo e molhado de suor,


linda pra caralho! Enfio tudo, ela geme, mas não se afasta. Deixo-a
se acostumar, mordo meu lábio sentindo meu corpo inteiro arrepiar,
puxo a respiração algumas vezes, beijo suas costas e passo a
língua em sua pele salgada.

Quando remexe o quadril, eu deslizo minha mão até sua


boceta e a toco enquanto a outra mão vai para sua garganta
apertando-a e então começo a me movimentar.

— Era assim que queria? — sussurro no seu ouvido, enfiando


um dedo dentro da sua boceta molhada.

— Sim. Ah. Sim. Não para, não para! — implora.

— Nunca!

Mordo seu ombro, chupo sua orelha, aperto-a contra mim,


querendo sentir sua pele contra a minha enquanto estou todo dentro
dela. Sinto o orgasmo se construindo, ela geme descontrolada e
goza uma, duas vezes, cai exausta na mesa e eu seguro sua
cintura. Pele batendo contra pele, gotas de suor descendo pelas
costas, sua excitação escorrendo pelas pernas e eu queria que este
momento durasse para sempre, mas a explosão que me toma me
deixa zonzo. Eu gozo urrando seu nome.

― Você está bem? ― pergunto preocupado, percorrendo


suas costas com a mão, sentindo-a estremecer.

― Sim ― responde ofegante.

Retiro-me de dentro dela e sigo para o banheiro, sentindo


meu coração batendo tão forte que parece que sairá pela minha
boca. Busco algumas folhas de lenço umedecido e volto, visto
minha boxer, e enquanto a limpo, ela suspira.

— Eu literalmente não consigo mexer as minhas pernas —


murmura. — Quando te vi, eu soube que você era o tipo de homem
que deixa qualquer mulher de pernas bambas.
Gargalho, Julia parece quase sem forças. Ela bochecha
sonolenta enquanto ponho suas roupas, mas com um sorriso
satisfeito nos lábios. Eu queria fotografá-la para eternizar esta
imagem.

— Que tal irmos para o meu quarto e passarmos a noite


fazendo amor? — indago enquanto fecho seu vestido e ela me
oferece um olhar engraçado.

— Foi a primeira vez que fiz sexo anal, eu não sei nem se vou
conseguir me sentar, quanto mais transar novamente hoje. Você é
uma máquina de sexo, por acaso? — Levanta uma sobrancelha. —
Eu preciso de uma banheira com água quente para assim, quem
sabe, minhas pernas pararem de tremer. Você não é pequeno, não,
é enorme, grosso e... Nossa! Não posso nem pensar nisso, mal
consigo respirar sem tremer.

Rio com gosto.

— Não pareço tão velhinho agora, não é mesmo? — provoco,


beijando-a rapidamente e ela me afasta.

— Hum! — Bufa, levanta o queixo e sai do meu escritório de


cabeça erguida andando devagar.

— Mulher maluca! Mas é gostosa e me fez esquecer até meu


nome. — Rio alto, sentindo-me feliz como há muito tempo não me
sentia.
Vejo Julia e Maria se abraçando no salão do aeroporto. O voo
dela foi chamado há dois minutos e desde então as duas estão
abraçadas. Algo se aquece em meu peito ao ver esta cena, uma
chama que vem queimando lentamente, quebrando o gelo que
deixei surgir dentro de mim.

Não consegui dormir essa noite, não tinha como, as


lembranças dela não me deixaram. A forma como se entregou a
mim, seu aroma, seu sabor, suas curvas, seu centro latejando ao
redor do meu pau a cada vez que gozava me deixaram louco. Minha
vontade era de entrar em seu quarto e tomá-la novamente, mas me
contive, sei que fui intenso e ela comentou que há muito tempo não
fazia sexo e fui o primeiro com quem fez anal e queria garantir que
fosse o único.

Julia beija a testa de Maria e fala algo baixinho só para ela


ouvir, minha filha assente.

— É emocionante vê-las juntas, você não acha? — minha avó


diz, maliciosa.

Escorrego meus olhos para ela e sorrio, não admitindo e nem


negando. Julia se aproxima da minha avó e a abraça forte, ela está
emocionada. Maria abraça minha perna e chora baixinho.

Minha estrelinha está sofrendo por sua amiga estar indo


embora e eu entendo esse sentimento, queria poder segurá-la aqui
conosco. Pego minha filha em meus braços e ela deita a cabeça nos
meus ombros.

Julia aproxima de nós e acaricia a cabeça de Maria.


— Não chora, meu anjo, em dez dias vamos nos ver
novamente. — Ela funga e eu tenho uma vontade imensa de puxá-la
para mim e abraçar a mulher que eu fiz delirar ontem e que hoje mal
me olha.

— Obrigada por tudo, Emílio. — Morde os lábios e respira


fundo antes de me fitar. — Você não tem noção do quanto me
ajudou.

— Pense melhor sobre a minha proposta — peço segurando


sua mão, doido para puxá-la para mim, doido para grudar meus
lábios nela.

— Não posso, mas obrigada. — Começa a se afastar e


desliza sua mão da minha.

Acena, pega a alça da sua mala e se afasta de nós. O peito


aperta enquanto a vejo se distanciando. Consolo minha filha, que
chora copiosamente, e quando perco Julia de vista, me viro e
saímos do aeroporto.

Entramos no carro e ajeito Maria em meu colo.

— Estrelinha você vai vê-la em breve, não chore. — Beijo sua


testa.

— Papai eu queria que a Julia nunca se afastasse de nós —


choraminga.

— Eu também não, meu amor. — Limpo seu rosto.

— Papai, o senhor acha Julia bonita?


— Ela é muito linda.

— Então se case com ela, assim ela se torna minha mamãe,


minha amiga, vai brincar sempre comigo, conversar comigo e nunca
mais vai embora.

— Você quer que eu me case com ela?

— Sim, quero muito. — Ela deita a cabeça em meus ombros.

Eu viro minha cabeça para a janela, vendo um avião passar


no horizonte e prometendo que teria aquela mulher novamente.
Capítulo 24

Acordo ofegante e sentindo meu centro pulsar, sonhei com ele


novamente. Faz cinco dias que estou em Paris e ainda não
consegui tirar aquela noite da minha mente.

— E como se esquece uma noite daquela? — murmuro,


jogando um braço no meu rosto.
Com um impulso, me levanto, peço o café da manhã e solicito
que seja deixado na mesa do terraço. Após tomar um longo banho,
visto-me e sigo para lá.

— Graças a Deus que fui para Inglaterra primeiro. Caso


contrário, não conseguiria aproveitar a beleza que é esta cidade. —
Sorrio pegando uma xícara e sorvendo um gole de café enquanto
admiro a torre Eiffel.

Urge em mim a vontade de tirar uma foto dessa paisagem, há


muito tempo não tenho esse desejo. Outrora, já teria fotografado
cada detalhe do quarto e do terraço para mostrar aos meus
seguidores.

Estou hospedada em um belíssimo hotel no centro de Paris,


com uma vista magnífica. Busco meu celular e tiro algumas fotos,
mas não tenho a menor vontade de postar. Quero guardá-las para
mim, para que se algum dia me sentir para baixo, eu possa me
lembrar deste momento em que estou me sentindo plena, feliz e
confiante.

Tirando as saudades que estou de Maria e os sonhos tórridos


que tenho com o pai dela, esses foram os dias mais tranquilos que
vivi.

Paris para mim sempre foi sinônimo de trabalho, muitas


presenças em festas de estilistas, desfiles, visitas à ateliê de moda e
lojas de grandes marcas. Mas nesses dias a vi como puro
divertimento, mesmo assim, confesso que não consegui ficar longe
das lojas dos grandes estilistas. Senti novamente o frisson ao
encontrar uma peça que ficaria perfeita se combinasse com outra,
um comichão de querer comprar várias roupas, bolsas e sapatos
para montar diversos looks. Em minha mente, imaginei até mesmo o
melhor cenário para cada roupa.

É gostoso sentir isso novamente, é como se estivesse


voltando lá para o começo, quando o que eu queria era somente
mostrar as roupas das marcas que eu gostava e os seguidores
davam suas opiniões. Quando minha vida pessoal não estava
envolvida, era somente eu, minha paixão por moda e um monte de
gente que gostava da mesma coisa.

Senti saudades de fazer vídeos pela cidade para mostrar os


melhores brechós de Paris. Amava mostrar as tendências em alta e
as em baixa. Revelava como era por trás de um desfile de alta
costura ou de um ateliê. Era uma das minhas publicidades mais
caras, minha agenda em Paris nessa época ficava sempre cheia.

Ao terminar meu café, resolvo sair do hotel e passear pela


cidade. Ao passar pelo Ateliê Madame Louise, resolvo entrar para
conferir seus modelos mais recentes.

Ouço meu nome e, ao me virar, surpreendo-me ao encontrar


Louise Riviera, a estilista e dona do ateliê. Não imaginei encontrá-la,
em alguns dias começa a temporada de desfiles e sei o quanto eles
ficam loucos nesta época.

Contudo, é uma grata surpresa, principalmente pelo abraço


que recebo.

— Não acredito que esteja aqui! — Louise é uma brasileira


que ganhou fama e reconhecimento no mundo da moda ao vestir
algumas estrelas de cinema.

— Vim a passeio. Os novos modelos estão belíssimos —


elogio reparando no corte e design da peça.

— Por acaso fechou com algum estilista e está me traindo? —


indaga franzindo a testa.

— Não fechei com ninguém para esta temporada, estou a


passeio. É uma viagem de ressignificação.

— Mas vai ao meu desfile e não aceito um não como


resposta!

— Louise...

— Venha ao meu escritório para conversarmos um pouco.

Entramos em seu escritório e após pedir um café à sua


secretária, nos sentamos.

— Ainda tomando litros de café por dia? — brinco.

— E tem como ser diferente? — Ri e acende um cigarro. —


Agora me conte, por que tirou um ano sabático?

— Tenho certeza de que sabe do escândalo que foi meu


divórcio. Um verdadeiro show de horrores.

— Eu lamento muito. Quando sua equipe me disse que sua


agenda estava fechada por alguns meses, quase surtei. Você foi a
primeira influencer com quem trabalhei. Na verdade, acreditou em
meu trabalho quando muitos não davam valor. Sequer me cobrava,
eu apenas mandava as peças, você vestia e as mostrava no stories
e boom! Era uma explosão de vendas. — Bate palmas, sorridente.

— Eu precisava de um tempo da internet. E você é


simplesmente um gênio, todos precisam conhecer suas peças.

— Não deixe que um cretino atrapalhe sua vida. É


simplesmente mágico vê-la, você não vende uma peça, mostra
como aquela roupa é magnífica ou não. Seu olhar ao mostrar uma
roupa sempre me emocionou e aos que te seguem também, por
isso é um sucesso com as publicidades.

— Muito obrigada — agradeço com sinceridade.

— Ah, minha querida! Estou sendo puramente egoísta, mas


você de férias aqui é um desperdício de talento. — Joga as mãos
para o alto e solta a fumaça longe.

— Nesta temporada estou como visitante, na próxima venho a


trabalho.

— É assim que se fala. Agora vamos tirar uma foto juntas, vou
fazer meus concorrentes morrerem de inveja. — Sua irreverência
me faz sorrir.

Ela tira a foto e guarda o celular.

— Agora venha comigo tenho o vestido perfeito para você


assistir ao meu desfile. — Empolgada, segura minha mão e me leva
em direção ao local onde estão as roupas.

Saio do ateliê com várias bolsas e com o vestido que ela faz
questão de que eu vista em seu desfile. Após passar a tarde
visitando outras lojas, ateliês e recebendo o mesmo carinho que
Louise me ofereceu, volto para o hotel com um sorriso imenso.
Jogo-me no sofá, exausta, e deixo as bolsas no chão. Meu celular
vibra indicando uma ligação, escorrego o braço e o busco em minha
bolsa.

— Por que, em nome de Deus, você não nos avisou que iria
ao ateliê da Louise hoje? — Gisele quase grita. — Você não tem
noção da loucura que está aqui desde que ela postou a foto de
vocês duas juntas. Tem vários pedidos de publicidade para
presença VIP, até de uma revista. A imagem está em todos os perfis
de subcelebridades e seu engajamento subiu horrores — fala
empolgada.

— Calma. — Rio com o seu entusiasmo. — Eu apenas


passei, nem imaginava que ela estaria lá. Foi tão bom sentir o
carinho dela, que tive vontade de ir a outros e em todos foi a mesma
recepção, o mesmo carinho.

— Minha amiga, você ficou tão focada no que as pessoas


estavam falando de ruim sobre você que se esqueceu o enorme
número de pessoas que te admira.

— Eu tive que me afastar e curar minhas feridas para


conseguir enxergar isso. Porém creio que seja porque aqui eles
estão mais focados em trabalho que nas fofocas. E ter essa visão
me ajudou muito, sempre misturei trabalho com vida pessoal, e esse
foi meu grande erro. Quando voltar, quero estabelecer limites, falar e
mostrar apenas meu trabalho e muito pouco da minha vida.
— Então já está pensando em voltar? Podemos selecionar as
publicidades e te enviar para você decidir quais fazer enquanto está
aí? — indaga esperançosa.

— Não! — Rio alto quando ela solta um resmungo. — Ainda


estou descobrindo essa nova Julia, estou dando passos pequenos e
readquirindo minha confiança novamente. Daqui a alguns meses
volto, e talvez participe da temporada de Milão.

Conversamos por mais algum tempo e termino a ligação, feliz


por ter tomado a decisão de esperar.

Nos dias seguintes, me aventurei a visitar os brechós, lojas de


sapatos e bolsas. Sempre voltava para o hotel cheia de bolsas e o
celular carregado de imagens.

Já estava há dez dias em Paris quando Maria chegou


acompanhada por Alexandra. Eu disse para mim mesma que o
incômodo que senti no peito não foi desânimo por seu pai não
acompanhá-las, é melhor assim.

Aproveitamos nosso tempo juntas. Levei a pequena para


conhecer algumas das minhas lojas de roupas preferidas. Em uma
delas, compramos roupas parecidas: vestidos vermelhos com
bolinhas brancas e sapatos brancos, um salto para mim e uma
sapatilha para ela. Maria sorria alegre quando nos viu vestidas com
roupas iguais. Visitamos a Torre Eiffel, o Museu do Louvre e a
Catedral de Notre-Dame. Quando falei para ela que amava um filme
antigo que se passava naquela igreja, ela me fez prometer que
veríamos “O Corcunda de Notre-Dame” juntas.
Uma babá e cinco seguranças nos acompanhavam em todos
os lugares. Almoçamos com Alexandra e vimos o filme na suíte da
sua família. Elas queriam que eu dormisse lá, mas eu disse que
tinha um compromisso, iria assistir a um desfile que prometi a Maria
que tiraria fotos e mostraria para ela antes que fosse embora, no dia
seguinte. Só de pensar que mais uma vez me despediria dessa
menina, sentia uma dor por dentro.

Cheguei ao local do desfile e foi como se estivesse ali pela


primeira vez. A assessora de Louise me indicou o local em que
ficaria, uma das cadeiras de frente. Durante todo o desfile mantive
um sorriso nos lábios, não forçado, e sim genuíno. Sentia um frenesi
a cada modelo que desfilava.

Tirei várias fotos e enviei para Gisele, conversei com algumas


influencers e ignorei outras. Havia muitas pessoas ali que na época
mais complicada do meu divórcio, postavam indiretas sobre eu ter
um caso, ajudando a alimentar a fofoca.

Algumas me observaram com os olhos arregalados, como se


não acreditassem que eu estivesse ali, sentada na primeira fila.
Notei que duas que me criticaram abertamente, fecharam contrato
com uma marca que rescindiu o contrato comigo. E não duvido que
tenham oferecido um valor bem abaixo do mercado, só para fechar
com a marca.

O mundo dos influencers de moda tem muita gente honesta e


de bom caráter, mas também tem muita gente querendo puxar o
tapete do outro e, principalmente, muita hipocrisia.
Ao final dos desfiles, procurei a estilista e a parabenizei, em
seguida comecei a conversar com algumas pessoas e, em
determinado momento, fui ao banheiro.

Na saída, eu o vi.

— Gabriel — murmuro incrédula.

Travei, prendi a respiração e arregalei os olhos. Ele estava


percorrendo o local como se procurasse por algo. Quando me
encontra, seu olhar trava no meu. Sinto meu corpo gelar, solto o ar
rápido e o puxo novamente e meu coração bate acelerado. A cada
passo que ele dá em minha direção, sinto o pânico me dominar e
quero me mexer, quero sair dali, quero evitar que fale comigo, mas
não consigo.

Então fico parada sentindo todo o meu corpo tremer, sabendo


que as pessoas ao redor o veem com um sorriso aberto, como se o
nosso encontro fosse marcado, como se eu quisesse sua
aproximação, quando eu queria apenas que ele ficasse o mais longe
o possível de mim. Sinto vontade de chorar, me sinto impotente por
não conseguir sair desta situação.

Esse homem me fez tão mal psicologicamente, destruiu cada


grama da pouca autoconfiança que tinha, me destruiu nas redes
sociais, prejudicou meu trabalho. E ele simplesmente quer mais,
quer continuar sugando minha energia.

Algumas pessoas pensam que a única violência que existe é


a física, mas há muitas outras. Entre elas, a psicológica, a que nos
maltrata por dentro enquanto sorrimos por fora e muitas pessoas
não veem, porque as vítimas usam uma cortina de fumaça para
esconder o que está acontecendo.

Tudo o que passei volta para mim como uma avalanche, as


traições, as humilhações, as manipulações, as chantagens, as
mentiras. O quanto eu tentei me explicar para meus seguidores, as
cobranças dos patrocinadores para me calar, os contratos que perdi,
os xingamentos, o cancelamento e, por fim, a minha fuga para tentar
sair da boca do furacão.

Viro minha cabeça de um lado para o outro e confirmo que as


pessoas estão olhando para nós. Gisele me disse que talvez ele
fizesse algo assim, que apareceria aqui para que as pessoas
acreditassem na mentira que estava contando por aí. No entanto, eu
nunca poderia supor que ele seria tão baixo.

Sinto-me novamente presa pela circunstância. Mesmo que


conseguisse me defender, não posso fazer um escândalo no desfile
da Louise, que me recebeu com tanto carinho. Novamente estou me
sentindo acuada sem saber como sair desta situação.

Sinto minhas pernas tremerem. Eu sei que ele vai me abraçar,


beijar e fazer todo o seu teatro para a imprensa e não poderei fazer
nada.

Estou a ponto de chorar quando braços fortes enlaçam minha


cintura e um corpo quente e forte encosta no meu, aquecendo-me e
afastando o frio que me dominava. Sugo o ar com força e seu cheiro
invade minhas narinas, fazendo-me suspirar e, por alguns
segundos, fecho os olhos.
— Não se preocupe, estou aqui para te proteger — a voz de
Emílio soa grossa.

Viro meu rosto para ele e noto que está olhando para a frente,
para Gabriel. Olho na mesma direção e vejo o sorriso convencido do
meu ex murchar.

E eu volto a suspirar, sabendo que não vou enfrentar aquele


babaca sozinha. Emílio está aqui comigo.
Capítulo 25

Emílio emite uma áurea de força e poder, sinto-me acolhida e


pequena nos seus braços. Um leve aperto, seguido por uma
pequena carícia em minha cintura, me faz encará-lo. Ele ainda olha
para a frente. Me toca, mas sequer tem consciência disso, é como
se fosse algo natural para ele, me acalmar quando estivesse
nervosa, com medo ou me sentindo acuada.

Eu quero beijá-lo, quero segurar seu rosto e beijá-lo


apaixonadamente para agradecer, não por estar ao meu lado para
me defender de Gabriel, mas sim por estar aqui me consolando.

Ele vira o rosto em minha direção e pisca um olho. Não volto a


olhar para a frente, nada mais existe ao meu redor a não ser este
homem que está aqui me acalentando.

— Cadê a atrevida insolente que me faz perder noites


acordado e me fez mudar minha rota de viagem e deixar todos os
meus executivos malucos porque eu estava doido para vê-la
novamente? — Levanta uma sobrancelha, implicando comigo,
fazendo-me sorrir. Meus olhos estão marejados e estou fazendo
uma força sobre-humana para não deixar as lágrimas caírem.

— Quando os fantasmas do passado voltam para me


assombrar, fraquejo.

— Estou aqui para socar esses fantasmas se for preciso.

— Por que está aqui? Por que está me ajudando?

Ele abaixa a cabeça e sussurra no meu ouvido:

— Já te disse que te quero rindo, me irritando, me


provocando, gargalhando com a minha filha, delirando na minha
cama e depois saindo, me deixando de boca aberta. Mas não quero
você com medo. Você é a mulher mais linda que eu já vi na vida, é
forte e defendeu minha filha contra os sequestradores. Eu quero
trazer essa mulher à superfície em todos os momentos.

Sorrio largo quando ele beija meu rosto, bem próximo à minha
boca.

— Vamos curtir a festa pós-desfile.

— Mas cadê...? — Olho ao redor, procurando Gabriel, e não o


encontro.

— Eu disse que afastaria seus fantasmas. — Pisca um olho.

— Eu prefiro voltar para o hotel, ele deve estar por aí. — Volto
a procurá-lo, correndo o local com os olhos.

— Você, agora, vai respirar fundo e brilhar, como estava antes


daquele merda aparecer.

— Você já estava aqui?

— Sim, cheguei pouco antes de você e fiquei te observando.


Na verdade, acho que poucas pessoas aqui não repararam na sua
beleza excepcional — elogia, acariciando meu rosto.

— Obrigada. — Minha voz não passa de um sussurro.

— Em agradecimento, aceite meu pedido de noivado. —


Eleva uma sobrancelha, matreiro. — Agora vamos circular por aí. —
Me dá um leve puxão, aproximando-me do seu corpo.

— Sou uma mulher troféu, por acaso? Além de querer me


fazer ser sua noiva substituta, ainda quer me exibir por aí? Como
aqueles velhinhos com uma mulher mais jovem ao seu lado? —
implico e ele solta uma gargalhada, fazendo várias pessoas nos
olharem.

— Agora, sim, é a mulher insolente que eu conheço. —


Abaixa a cabeça e fala baixinho: — E quando voltarmos ao hotel,
você vai pagar por cada provocação. Cada uma será um tapa na
sua bunda — promete antes de segurar minha mão e me puxar para
o salão.

Escondo um sorriso sentindo-me mais leve. Circulamos pelos


convidados e não tem uma pessoa que não vira o rosto para nós,
mas eu acho que quem ganhou mais olhares foi ele. O homem está
impressionante, trajando um terno vinho, impecável.

Nos aproximamos da estilista e o apresento como um amigo,


quando digo isso, levo um forte aperto na cintura que ignoro
prontamente.

O olhar de Louise em Emílio chega a ser cômico. Em nosso


meio, estamos acostumadas a ver homens bonitos, mas ele não é
só lindo, ele tem aquela coisa no olhar que nos faz suspirar.

Eu a compreendo, foi isso que senti ao vê-lo pela primeira


vez, mesmo em meio ao meu drama pessoal, eu o notei. E depois
que ficamos juntos, eu sei o quanto ele sabe satisfazer uma mulher.

Um grupo de empresários nos cerca, achando que ele estava


no desfile em busca de novos negócios. Tento me afastar, mas ele
não deixa, apertando o cerco em minha cintura.

Em determinado momento, madame Louise, me chama para


tirarmos algumas fotos. Sinto seu olhar em cada passo que dou. Ao
terminar, não voltei para perto dele, que me fitou com a sobrancelha
levantada. É delicioso implicar com esse homem. É interessante que
com ele, me sinto segura e livre para ser eu, sem nenhuma
máscara, sem sentir medo.

Converso com uma pessoa aqui, outra ali, sabendo que ele
está me olhando, protegendo-me. Volto a me divertir, chego até a
esquecer que vi Gabriel. E é neste momento que meus olhos
cruzaram com os dele novamente.

O cretino faz um movimento de cabeça indicando que quer


falar comigo, e eu ignoro. Viro o rosto na direção oposta, busco
Emílio e ele está olhando para mim, mas não se aproxima, porém
eu sei que, se precisar, ele virá.

Eu entendi que Gabriel não chegará perto de mim enquanto


Emílio estiver aqui e mais uma vez agradeço mentalmente ao
homem que rouba meu fôlego e me protege.

Sorrio para o pai de Maria e ele retribui, ficamos por mais um


tempo e eu aviso que vou me despedir da estilista. Abraço Louise
fortemente, e ela me agradece pela presença. Algumas pessoas se
aproximam e, na confusão, sinto meu braço ser puxado e a princípio
penso que é Emílio, mas o aperto do pai de Maria me acalenta e
esse está me machucando.

Achando estranho, viro meu rosto e vejo Gabriel.

— Fica quieta e vem comigo — ordena.

— Me larga! — exijo.
— Estou por um fio, se não vier conversar comigo, vou fazer
um escândalo e acabar com desfile da sua amiga! — ameaça
segurando minha cintura e a apertando forte, andando no meio das
pessoas.

Olho para trás e vejo o sorriso lindo de Louise, busco por


Emílio e não o encontro, provavelmente está me procurando.

Gabriel me leva até o banheiro. Ao entrarmos, fecha a porta e


confere as cabines para ver se há alguém, depois vem em minha
direção.

— Quem é aquele homem? — grita no meu rosto, enfurecido.

— Você ficou maluco? — Eu o empurro e ele segura meu


braço, apertando-me.

— Quem é ele? — inquire balançando meus ombros.

— Não te interessa! — berro e o tapa vem forte no meu rosto,


com tanta força que eu perco o equilíbrio e caio no chão.

Abaixo a cabeça e ele grita algo, mas não ouço, sinto como se
estivesse presa em um pesadelo. Meu rosto arde, meu coração bate
rápido, engulo em seco e sinto um gosto metálico na boca. Até
Gabriel segurar meu cabelo e levantar minha cabeça. Nunca o vi
desta forma, olhos vermelhos olhando-me com tanto ódio que eu
temo pelo que possa acontecer comigo.

— Quem é ele? — coage e eu grito quando ele eleva a mão


novamente e fecho meus olhos esperando pelo tapa que não vem.
Eu demoro a perceber que Emílio entrou no banheiro até ouvi-
lo falar.

— Eu sou o homem que vai te matar se você encostar nela


novamente — avisa pouco antes de dar um soco na cara de Gabriel.

Apavorada, arrasto meu corpo para trás, distanciando-me


deles, e o vejo desferir vários socos em Gabriel, que cai no chão.
Emílio começa a chutá-lo. O cretino tenta se levantar, mas não
consegue desviar dos chutes e socos.

Emílio segura a blusa de Gabriel e cada palavra que fala é um


soco que desfere na cara do meu ex-marido.

— Nunca. — Soco!

— Mais. — Soco!

— Se aproxime. — Soco!

— Dela. — Soco!

Quando se dá por satisfeito, a cara de Gabriel está


ensanguentada, o maldito não teve a menor chance contra ele.

Emílio se vira para mim, se abaixa e seca meu rosto com o


dorso da mão. Vejo que ela está machucada.

— Você se machucou por minha causa. — Soluço.

— Vamos sair daqui. — Ele me ajuda a levantar, puxa um


lenço do seu bolso e limpa meu rosto.

— E ele? — indago vendo o verme deitado no chão.


— Meus seguranças vão cuidar dele. — Ajeita meu cabelo e
me beija nos lábios. — Me desculpe por ter demorado.

Sinto meus olhos novamente se encherem de lágrimas. Ele


me abraça e ao sair do banheiro, noto que tem três seguranças na
porta impedindo as pessoas de entrarem. Emílio cochicha algo ao
ouvido de um dos homens e ele entra no banheiro enquanto os
outros dois ficam do lado de fora.

Saímos do local o mais rápido que conseguimos e entramos


na limusine que está parada na frente do local.

— Ele te bateu! — rosna avaliando meu rosto. — Eu deveria


ter matado aquele desgraçado!

— Não fale algo assim, pense em Maria. Eu não queria te


trazer dores de cabeça, nunca poderia imaginar que ele faria algo
assim.

Viro meu rosto, olho pela a janela e fecho meus olhos.

— Minha assessora me avisou que isso poderia acontecer e


eu não acreditei, julguei que ele não viria até aqui. Minha irmã o está
processando, Jesus! — Levo minha mão ao rosto. — Se Julieta
souber, é capaz de capar ele.

Emílio gargalha.

— Acho que vou gostar da sua irmã.

— Julieta é perfeita, ela me trata como um cristalzinho. Por


um tempo eu senti ciúme dela, não existe uma coisa que minha irmã
não saiba fazer, mas o ciúme virou admiração. Ela me pediu tanto
para não casar com Gabriel, brigamos na semana anterior ao
casamento e no dia da cerimônia ela ainda tentou me arrancar de lá.
Eu deveria saber que ela estava certa, Julieta sempre tem razão. —
Não controlo mais minhas lágrimas.

Emílio enlaça meus ombros e me aperta contra ele.

— Ele não vai mais encostar em você, não vou deixar —


promete.

— O que você falou para seu segurança?

— Que o levasse dali discretamente e garantisse que ele


voltasse para o Brasil.

Assinto e suspiro quando noto que chegamos ao hotel em que


estou hospedada. Sequer perco meu tempo perguntando como ele
sabia.

Eu o vejo fazer menção de sair do carro e seguro seu braço.

— Não precisa me acompanhar, estou bem, vá ficar com a


Maria. Obrigada por tudo. — Estico meu pescoço e beijo seu rosto.

Ele toma minha boca, seu beijo é suave e carinhoso, bem


diferente da explosão de tesão da última vez que nos beijamos.

— Maria não sabe que estou aqui, era para estar no Qatar
agora. — Beija minha testa. — Minha avó está com ela, sei que está
bem. Hoje quero cuidar de você.

— Não estou no clima para...


— Eu sei, não falei de sexo, disse cuidar. Venha, vamos entrar
— diz a última frase como uma ordem.

— Mas que mania de mandar em mim, velhinho! — digo


saindo do carro e levo um beliscão na bunda.
Capítulo 26

Fecho meus olhos e solto um suspiro quando sinto as mãos


de Emílio, massagearem meus ombros. Estou dentro da banheira
cheia de espuma, bebendo uma taça de vinho, enquanto ele está
sentado na borda.
— Está se sentindo melhor? — indaga fazendo-me tombar o
pescoço para o lado, beijando a região.

— Você não me deixou sequer pensar desde que entramos


aqui. — Rio e sorvo um gole da bebida. — Já sei quase tudo da sua
vida, sobre sua esposa, o colégio que Maria vai estudar, como seu
avô construiu o hotel, qual foi o seu último lançamento, quais serão
os próximos e quais estão em construção, os que estão na planta e
os que ainda estão em fase de pesquisa.

— Pois se sinta privilegiada, não sou um homem que fala


muito.

— Você é o tipo de homem que rosna e resmunga feito um


velhinho. — Mordo o lábio inferior, esperando sua réplica que não
vem.

Suas mãos deslizam pelo meu rosto e eu solto um gemido


pelo incômodo.

— Eu bati pouco naquele desgraçado! — esbraveja.

Pego sua mão e vejo os dedos vermelhos pelos socos que


deu em Gabriel. A princípio, pensei que o sangue era dele, mas era
daquele babaca.

Estremeço ao me lembrar da cena. Nas últimas duas horas,


Emílio contou toda a sua vida para mim, para me fazer não pensar
no que houve, eu ouvi e internamente agradeci por tudo o que este
homem está fazendo por mim.

— Vamos sair daqui.


Enrola-me em uma enorme toalha, eu me seco sob o seu
olhar, depois ele me oferece roupas íntimas e uma camisola. Assim
que me visto, solto um grito quando me pega no colo e me leva até
a cama, deita-se comigo de conchinha e eu apoio minha cabeça em
seus braços enquanto ele envolve minha cintura.

— Eu nunca tive uma crise de pânico, mas foi exatamente


isso que senti quando o vi caminhando em minha direção com um
sorriso vitorioso nos lábios.

Emílio beija meu ombro e me puxa ao encontro do seu corpo,


colando seu peito nas minhas costas.

— No caminho até o banheiro, parecia que não tinha voz, não


conseguia gritar, não conseguia pedir ajuda, ele minou minha
resistência quando disse que iria destruir o desfile da Louise. Jamais
imaginei que ele me agrediria, nunca poderia supor que faria algo
assim.

Emílio eleva a mão que estava na minha cintura e faz um leve


carinho no meu rosto. Estamos grudados, corpo contra corpo, não
de forma maliciosa, mas carinhosa.

Volta a beijar meu ombro e não fala nada, é como se ele


soubesse que eu apenas quero desabafar. E ele respeita esse
momento.
Acordo de madrugada sentindo o peso da sua perna em cima
de mim.

Acho que ele está pensando que vou fugir. — Penso


enquanto saio da cama sem acordá-lo e caminho para a sala da
suíte.

Confiro as horas e vejo que são 4h da manhã, mordo o lábio e


faço uma conta rápida. A diferença de fuso horário entre o Rio de
Janeiro e Paris é de 5 horas.

— Acho que meu pai ainda deve estar acordado — murmuro


sentando-me no sofá e pegando meu celular.

Ele atende na terceira chamada.

— Julia?! Aconteceu alguma coisa? Você está bem? —


indaga, preocupado.

— Estou sim.

— Por que está sussurrando?

— Peraí.

Com medo de acordar Emílio, visto um casaco, enrolo-me em


um cobertor e sigo para o terraço.

— Pai, pensa em um frio! — brinco, estremecendo.

— Março é inverno na França. Já aqui, o calor está


insuportável. — Ele ri. — Filha, tem certeza de que está tudo bem?

— Encontrei Gabriel.
— Em Paris?

— Sim.

— O que esse cretino foi fazer aí?

— Ele...

— Julia, o que ele fez? — questiona com aflição.

Eu não tenho coragem de falar para o meu pai que Gabriel me


agrediu. Sinto vergonha por não ter me defendido, culpa por não ter
gritado e por ter ido ao banheiro com ele. É humilhante relatar que
sofri uma agressão do meu ex-marido.

— O que ele fez, Julia? Vou ligar para Julieta agora mesmo e
vamos para aí, eu juro que esgano esse homem se ele tocou em
você — ele berra, alterado.

— Pai, calma. Me ouve, ele não me tocou, eu estava com um


amigo, ele não chegou perto de mim. — E mais uma vez eu minto
para encobrir uma merda que Gabriel fez, com receio de meu pai
passar mal, com medo de as coisas piorarem, não querendo
incomodar, não querendo dar mais preocupações.

— Eu deveria ter sido um pai melhor, deveria ter impedido


você de se casar com aquele safado, deveria ter te protegido. —
Sua voz falha e minha garganta aperta.

— Você não poderia fazer nada, pai, eu quis me casar.

— Eu falhei tanto com você, filha. Sei que fiz o meu melhor,
mas não foi o suficiente, eu sei disso.
Não consigo falar nada, mordo meu lábio e sinto as lágrimas
banharem meu rosto. Ele continua:

— Você era pequena demais quando me separei da sua mãe,


tinha apenas 5 anos. Eu me vi perdido, com dois adolescentes, uma
criança, a empresa e minha dor pessoal. Achei que se te enchesse
de brinquedos e contratasse boas babás, eu poderia lidar com os
problemas que estavam estourando na minha cara. Julieta se
culpando por minha separação, Juliano fazendo merda atrás de
merda, a empresa exigindo atenção. Naquela época, eu achei que
ia surtar, perdi as contas de quantas vezes fiquei olhando para o
nada sem saber o que fazer.

Abaixo minha cabeça vendo tudo nublado pelas minhas


lágrimas.

— Conforme os anos foram passando, as coisas foram se


acertando e quando você virou adolescente, eu já estava mais
preparado. Mas o estrago já tinha sido feito, você já tinha se
fechado, não se abria para ninguém, sempre sorrindo e mostrando
que estava tudo bem. Eu sabia que não estava, mas não sabia
como resolver. Não sabia como chegar até você, era como se você
não precisasse mais de mim.

― Pai, não se preocupe, eu estou bem. ― Tento controlar a


emoção, limpando meu rosto e respirando fundo, mas falho.

— Eu sinto que isso está acontecendo agora novamente, você


não está se abrindo, não está falando, não está me deixando te
ajudar. Eu não sei o que fazer, filha, não sei o que fazer pra te
proteger. Eu amo você, filha, nunca se esqueça disso.
Respiro fundo, limpo meu rosto e olho para cima sentindo o
vento frio tocar minha pele, mas meu coração está aquecido. Solto o
ar devagar e finalmente compreendo meu pai. Eu queria ter ouvido
isso quando era criança e buscava atenção, ou quando era
adolescente e achava que nada do que fazia era suficiente. Mas
talvez eu ainda não estivesse preparada para esta conversa.

Ele fez o melhor que pôde, me amou do jeito que sabia e me


deu o que ele achou que era o melhor para mim. Finalmente posso
entender.

— Eu precisava ouvir isso, pai.

— Me diz o que está acontecendo?

— Eu conheci uma pessoa. Na verdade, primeiro conheci a


filha dele e me encantei com ela e ela comigo. Ele quer me ajudar,
me propôs para sermos noivos por contrato com data para terminar
para me ajudar a afastar Gabriel da minha vida. Ele é uma boa
pessoa, me ajudou hoje, deu alguns bons socos em Gabriel. Me
trata com carinho e atenção, não precisa de mim para nada, é muito
bem-sucedido e quer me ajudar. Mas eu não quero me envolver.

— Não o conheço, mas já gosto dele só por ter socado aquele


desgraçado.

— Ele me segurou quando estava caindo e eu tenho uma


conexão tão especial com a filha dele, é algo que nem sei explicar,
pai, o tanto que gosto dessa menina.

— O que te impede de ter um relacionamento com ele?


— Não quero me machucar, pai. Não novamente.

— Você disse que seria por contrato, como o de Julieta e


Romeu? Aquele homem é apaixonado pela sua irmã e pelo pouco
que você está falando, parece que esse aí também é apaixonado
por você.

— Eu não quero que ele me ame. Nem quero me apaixonar


por ele.

— Já ouvi algo assim. — Ele ri baixinho. — Filha, eu tenho um


orgulho enorme de você. Você é uma mulher gentil, carinhosa,
abnegada e muito amorosa. Não tenha medo de viver algo novo. E
se der errado, eu estou aqui, se você me deixar ajudar, eu estou
aqui para você sempre que precisar.

— Obrigada, pai.

— Eu sei que você vai saber tomar a melhor decisão para si,
principalmente depois de tudo que passou. Sei que vai saber
diferenciar um moleque de um homem.

— Eu te amo, pai.

— Eu também te amo, filha, tem certeza de que não quer que


eu vá para aí?

— Sim, eu estou bem. Como estão as meninas? — Mudo de


assunto.

Me viro e me surpreendo ao encontrar Emílio com o corpo


apoiado na porta, uma perna flexionada e as mãos no bolso.
Será que ele ouviu tudo o que eu disse? Mas não era
segredo. Não quero me apaixonar novamente. Ele me encanta,
excita e me faz delirar, contudo não quero amar novamente.

— Estão bem, com saudades de você, todos estamos.


Amaram os presentes.

— Vai chegar mais semana que vem. Pai, vou desligar.


Obrigada por me ouvir.

— Não importa a hora, se precisar de mim, me liga. E não se


esqueça que eu te amo filha.

Desligo o telefone e respiro fundo antes de entrar, passo ao


seu lado e ele sorri, também entrando e fechando a porta.

— Está tudo bem? — Senta-se ao meu lado no sofá.

— Sim. Estava conversando com meu pai.

— Falou para ele tudo o que houve?

— Não consegui.

— Por quê?

— Por vários motivos.

— Quais?

— Vergonha, humilhação, e não queria lhe causar


preocupação, não queria que se sentisse mais culpado do que já
estava se sentindo.
— Essa é uma preocupação que todo pai quer ter. Sempre
queremos saber se nossos filhos estão bem e, se for preciso,
quebrar a cara a de uns mau-caráter por aí. Você não tem motivo
para sentir vergonha, a culpa não foi sua. Você é a vítima.

— Obrigada. — Ele faz um leve carinho em meu rosto e eu


deito a cabeça na sua mão e fito seus olhos. — Sua proposta ainda
está de pé? Ainda quer que eu seja sua noiva substituta?

— Por que você cismou que será minha noiva substituta?


Confessa que diz isso só para me irritar. Às vezes eu não sei se te
esgano ou se te beijo. — Segura minha garganta e eu jogo a cabeça
para trás e rio com gosto.

— Eu aceito ser sua noiva substituta, velhinho — zombo.

Ele me segura com mais força, puxa minha cabeça em sua


direção e quando acho que vai me beijar, apenas diz:

— Primeiro vamos estabelecer as regras do contrato.

— E depois?

— Depois eu vou te castigar por todas as vezes que me


chamou de velhinho hoje. — Cola a boca na minha e me beija
apaixonadamente.
Capítulo 27

Desperto, procuro Julia com as mãos e levanto-me assustado


quando não a encontro na cama. Busco-a pela suíte e a encontro no
terraço, enrolada em uma manta, falando ao telefone. Ela chora
baixinho e eu não demoro para compreender que está falando com
o seu pai. Encosto-me na parede e a espero terminar. Não me
lembro de alguma vez ter ficado tão preocupado com uma mulher.
Me recrimino por tê-la julgado erroneamente quando a
conheci, eu fui igual às pessoas que tanto a machucaram. Talvez
seja por este motivo que me sinto tão protetor em relação a ela,
quiçá seja porque ela salvou minha filha ou pela forma como elas se
sentem uma com a outra. Só sei que não consigo tirá-la da minha
mente, a ponto de reorganizar toda a minha agenda para passar um
dia com ela.

Não acredito que seja por estar me apaixonando por ela,


classifico como uma deliciosa obsessão. Julia está na minha pele,
não quero apenas a foder até perder os sentidos, quero que ela me
deixe protegê-la e abraçá-la em dias como este.

Ouço-a dizendo ao pai que não quer se apaixonar novamente


e sinto um gosto amargo na boca. Ela é jovem demais para nunca
mais querer se apaixonar, por outro lado, não gosto nem de pensar
em outro homem a tocando. Eu estou cada dia mais fodido,
querendo negar uma verdade que está escancarada na minha
frente.

Julia vira o corpo e se surpreende ao me encontrar ali, entra e


me faz sorrir largo ao aceitar meu pedido de noivado.

— Ótimo. Agora vamos definir os termos... — começo, mas


sou interrompido por ela.

— Não quero e não vou me apaixonar e não quero que você


se apaixone por mim. Essas são as minhas únicas exigências —
decreta.

Sorrio, cruzo minhas pernas.


— Você não quer que eu me apaixone por você?
Normalmente é o homem que pede isso — pontuo.

— Ainda não sei qual será seu benefício nisso, mas o meu é
óbvio.

— Você quer manter seu ex bem distante de você.

— Exatamente, quero que me ajude a afastar meu ex-marido


de mim. Mas eu exijo que você não faça nada pelas minhas costas
em relação a ele, quero saber de cada passo, de cada ação dele.
Gabriel é traiçoeiro e não quero ser pega desprevenida como hoje,
minha assessora me alertou, mas não achei que ele seria capaz de
vir aqui e muito menos de me agredir. Quero que sejamos parceiros,
mas não quero envolver meu coração nisso. Já percorri esse
caminho e saí machucada.

— Que caminho?

— Já criei uma fantasia perfeita para a mídia, um casal


apaixonado e feliz, quando na intimidade era traída e humilhada, e
isso é muito triste.

— Compreendo.

— O que você espera de mim? Não falo em relação a sexo, e


sim em relação a este noivado.

— Sexo nunca esteve e nunca estará no nosso acordo. O que


acontecer em nosso quarto nada tem a ver com o contrato. Entre
quatro paredes, é íntimo e pessoal e só diz respeito a nós dois —
saliento.
— Concordo, mas e fora da cama? O que você espera que
sua noiva faça?

— Me acompanhar a jantares, festas, enfim, esse tipo de


encontros sociais.

— Você pode escolher a mulher que quiser, por que eu?

— Porque eu quero você na minha cama, ao meu lado em um


evento social, brincando com minha filha, conversando com minha
avó e implicando comigo. Você tem razão, poderia escolher a
mulher que eu quisesse, mas a que eu quero é você. Nenhuma
outra me faria sentir o que você faz. Por isso tem que ser você.

Vejo-a ofegar e abaixar a cabeça.

— Não se apaixone por mim. Eu não quero amar novamente


— pede novamente.

— E você acha que amou aquele homem? Você sabe o que é


amar alguém? Eu sei, eu já amei, com todo meu corpo, alma e
coração. Quando ela faleceu, foi como se um pedaço de mim
tivesse sido arrancado. Sobrevivi por Maria, minha avó e pelo Grupo
Castro Agustini.

Julia abre e fecha a boca, mas não fala nada.

— Acho que você compreende o significado da palavra


sobreviver, estar ali sem realmente sentir completamente o gosto
das coisas, sem sentir uma emoção profunda, ou melhor, não se
deixar sentir, seja por medo ou autopreservação. Vivi assim por
anos até conhecer você, até você me irritar, até você me fazer
sentir. Confesso que sentia raiva e queria te esganar, mas ao menos
sentia algo.

— Isso se chama ranço, e no nosso caso, foi mútuo. —


Levanta os ombros, debochada.

— Mas não foi só isso, tinha fogo ardendo, me queimando por


dentro, você me fez sentir. Então, eu acho que você não sabe o que
é amar alguém, o que é sentir tanta paixão a ponto de a pessoa se
tornar seu mundo, seu porto seguro, seu céu, mar e estrelas. — Não
desvio meus olhos dos dela e ela me fita sem piscar. — Acredito
que tenha vivido uma grande ilusão, uma enorme mentira que
confundira com amor e paixão. Que te maltratou e magoou. Mas
você, minha pequena atrevida, nunca amou ou foi amada
verdadeiramente. Disso, eu tenho certeza.

Julia desvia os olhos dos meus e arranha a garganta.

— Voltando ao contrato. — Muda o assunto, me fazendo


entender que esse é um ponto que ela não quer tocar. Assinto. Ela
continua: — Vamos ficar em hotéis separados? Você vai contar para
Maria e sua avó sobre nosso relacionamento? Se sim, eu gostaria
que falasse que não é algo sério, não quero Maria triste ou
magoada, muito menos sua avó. Não quero que elas criem
expectativas futuras.

— Concordo em relação à minha avó e filha, porém será


impossível elas não criarem expectativas. E quanto aos hotéis,
exceto quando estivermos em algum país dos Emirados Árabes,
você vai ficar na minha suíte e na minha cama! — decreto.
— Precisamos conversar sobre essa mania de mandar em
mim. — Demonstra irritação e eu rio.

— Te quero na minha cama para te foder bem gostoso ao


acordar, antes de dormir, de madrugada ou a noite inteira. — Baixo
meu tom de voz.

Ela se ajeita na cadeira. Eu simplesmente amo o quanto ela


reage a mim.

— Voltando ao assunto do nosso noivado... — Cruza as


pernas e as balança com vigor. — Quanto tempo vai durar?

Analiso-a por um tempo, normalmente nenhuma mulher


mantém meu interesse por muito tempo, mas eu acho que Julia será
diferente.

— Um ano.

— Acho muito, não posso ficar tanto tempo longe de casa.

— Vou visitar o Brasil em três meses.

— Então esse será o tempo, acho que dois meses será o


suficiente.

— Não será! Não tirarei você da minha mente em dois meses!

— Aí é algo que você terá que lidar sozinho. Bem, já que está
tudo decidido, vou dormir.

— Não decidimos praticamente nada, Julia. Ainda falta a


questão financeira.
— Questão financeira? — Ela ri alto. — Velhinho, eu não
preciso do seu dinheiro para absolutamente nada!

Levanta-se e ao passar por mim, seguro seu braço e ela solta


um suspiro exagerado.

— Ainda falta a questão do tempo do contrato. Um ano é o


mínimo, não aceito nada menos que isso!

— Então você fica aí, escrevendo o seu contrato e depois me


envia que eu leio, porque, agora, vou dormir. — Boceja.

Incrédulo, vejo-a caminhar altiva para o quarto.

O objetivo dessa mulher é me deixar maluco!

Eu a sigo até o quarto e me deito ao seu lado. Envolvo sua


cintura e a puxo ao encontro do meu corpo. Nosso encaixe é
perfeito. Enfio meu rosto em seus cabelos e respiro profundamente,
seu cheiro é algo surreal e viciante. Escorrego meu nariz pela
orelha, chego ao seu pescoço, deslizo para seu ombro, deixo um
beijo casto ali e sinto um leve tremor passar pelo seu corpo.

Respiro fundo, fecho meus olhos e tento controlar a ereção


que começa a crescer. Não faço nenhum movimento, não quero
seduzi-la depois de tudo o que passou hoje.

Esperei, ansioso, com o coração acelerado, algum indício de


que ela tinha mudado de ideia. E sua resposta foi pegar minha mão
e levar até o seu seio.

— Tem certeza? — indago, doido para virar seu rosto e beijá-


la, maluco para saciar a fome que tenho dela.
— Estou sentindo que está excitado. Tem uma vara enorme
cutucando minha bunda. — Ri baixinho.

Retiro minha mão do seu seio e viro seu rosto para mim.

— Jamais faça sexo com um homem porque ele está com


tesão, não sou um adolescente que não consegue controlar seus
anseios. É obvio que estou louco por você, mas isso não significa
que vamos fazer sexo somente por que eu quero, entendeu?

Ela assente e eu continuo:

— Posso perfeitamente passar a noite inteira abraçado a você


e nada acontecer, não sou insensível a ponto de te seduzir depois
de tudo que houve. — Contorno seu rosto com meu dedo. — Só não
consigo controlar as reações do meu corpo quando estou perto de
você.

Beijo seu nariz e volto a abraçá-la.

— Agora vamos dormir que amanhã vamos para o Qatar.

Ela bufa e volta a pegar minha mão e desta vez a põe dentro
da calcinha.

— Você não é o único que não consegue controlar as reações


do corpo. — Mergulha meu dedo na sua boceta e ela está molhada.
— Há algum tempo, disse que seria quando e do jeito que eu
quisesse, e eu quero agora! — diz deliciosamente petulante.

— Tem certeza? — pergunto, controlando-me para não enfiar


meus dedos nela e senti-la pulsando.
— Quero terminar esta noite delirando de prazer. Cansei de
chorar, Emílio, me faça esquecer. Hoje você foi meu protetor quando
me defendeu de Gabriel, meu amigo quando chegamos aqui e eu só
queria ser abraçada. Mas agora quero que seja meu amante e me
faça gozar bem gostoso. — Morde meu lábio inferior.

— Eu sou seu noivo! — decreto antes de tomar sua boca.

Sinto sua umidade em meus dedos e toco seu clitóris, fazendo


movimento circulares. Julia geme na minha boca e aproxima mais o
corpo do meu, encostando sua bunda em mim. Seguro sua perna e
a deixo em cima da minha, resvalo minha mão pela sua pele, sinto-a
se arrepiando, volto a deslizar minha mão para dentro da sua
calcinha e roço no seu botão.

Ela arfa.

Eu a beijo.

Ela geme.

Eu enfio dois dedos nela.

Julia rebola, melando minha mão com sua essência, suga


meu lábio, depois o morde.

— Preciso de você dentro de mim agora — exige.

— Peça — ordeno socando os dedos rápido dentro dela.

— Ahhh, Emílio, por favor — ela implora.

Retiro meus dedos dela, mas mantenho a perna em cima da


minha. Estico meu braço e busco minha carteira na mesinha ao lado
da cama. Retiro um preservativo, rasgo o plástico com o dente e
visto meu pau. Levanto mais sua perna, ponho sua calcinha de lado
e entro nela bem devagar, abraçando sua cintura.

Estamos de conchinha na cama, com sua perna em cima da


minha, e começo a me movimentar, entrando e saindo
vagorosamente, sentindo sua boceta apertar meu pau, colando seu
corpo no meu, sentindo seu estremecimento, ouvindo-a gemer
gostoso.

— Mais rápido! — exige.

— Não, quero te comer bem devagar — sussurro na sua


orelha.

Mordo seu ombro e seguro seu seio. Toco a maciez de seus


bicos arrepiados, aperto-os delicadamente e ela pulsa ao redor do
meu pau.

— Eu estou enlouquecendo, me ajuda — suplica ronronando,


rebolando, fazendo meu pau entrar por inteiro.

Seguro seu quadril, mantendo-a parada.

— Sinta meu pau entrando e saindo, aprecie o momento, as


emoções, o tesão crescendo, o arrepio quando acaricio sua pele,
venerando suas curvas, o tremor quando aperto o bico do seu seio,
o pulsar da sua boceta quando mordo seu ombro e chupo sua
orelha — murmuro sem parar de meter meu pau vagorosamente na
sua boceta.
Arranho suas curvas, seguro seu queixo e beijo seus lábios.
Pele contra pele, o fogo crescendo, gemidos e sussurros se
igualando, corpos molhados. Aliso para cima e para baixo, indo até
o vale entre seus seios e descendo até sua virilha, mas não a
tocando, e subo novamente até a sua garganta, segurando forte.

Julia procura minha boca desesperada, contrai os músculos


da vagina, fazendo-me estremecer. E então ela goza assim, com os
lábios contra os meus, o corpo trêmulo, e só então eu começo a
socar com força, a fazendo gozar novamente, gritar meu nome e
explodo em êxtase.
Capítulo 28

Desperto sentindo mordidas na minha perna, abro meus olhos


e o vejo dar um beijo cálido na região da mordida. Ele percorre
minhas pernas lentamente com a língua sem tirar os olhos de mim
até deslizar pela minha boceta e depois grudar os lábios no meu
clitóris.
— Hum! Jeito bom de acordar. — Seguro sua cabeça e abro
mais as pernas.

Suas mãos apertam minhas coxas, sua língua me invade,


ofego e elevo o quadril buscando mais, precisando de mais. Solto
um grito quando ele segura minhas pernas e me gira na cama, sobe
nas minhas pernas e abre minha bunda.

— Agora não vou ser lento nem delicado — avisa.

Meu coração acelera, viro a cabeça e o vejo rasgar um pacote


de preservativo e vestir seu pau. Ele aperta suas pernas ao redor
das minhas, fechando-as o máximo possível, encaixa seu pau na
minha boceta e enfia de uma vez só.

Eu grito alto, arde, mas não dói, estou muito molhada, mas ele
é muito grande e grosso. Uma mão pressiona meu cóccix quando
tento elevar o quadril e a outra segura meu cabelo, o puxa e começa
um vai e vem vigoroso.

Os bicos dos meus seios esfregam na cama, ele me invade


com movimentos circulares. Meus dedos seguram o lençol, sinto
uma lambida nas minhas costas, minha pele arrepia, eu gemo cada
vez mais alto com o tesão escalando cada vez mais rápido. Sei que
não vou demorar a gozar e o meu ápice é a mordida que ele dá em
meu ombro, quando grito seu nome e ele não para.

Emílio introduz uma perna entre as minhas, abrindo-as,


segura minha cintura e levanta meu quadril, deixando-me de quatro
enquanto ele apoia um joelho na cama e flexiona a outra perna.
Volta a puxar meu cabelo, volta a socar forte, fazendo-me gemer
alto.

Seu saco bate no meu clitóris, fazendo-o vibrar a cada


contato, sua mão desliza pelas minhas curvas, deixando um
caminho de fogo por onde passa, vai até meu seio esquerdo e o
segura.

Eu o sinto em todos os lugares, puxando meu cabelo,


apertando o bico dos meus seios, seu pau metendo forte. Mais uma
vez ele me faz delirar, mas desta vez me acompanha. Eu desabo na
cama e ele se joga ao meu lado.

— Você está bem? Fui muito intenso? — indaga beijando meu


ombro e acariciando minhas costas.

— Você sempre é intenso mesmo quando vai lento. — Mal


consigo falar, ainda tento me recuperar do forte orgasmo. — Mas
estou bem. Deliciosamente bem.

— Vou pedir nosso café e depois pegamos Maria e minha avó


e seguimos para o Qatar — avisa, levantando-se.

— Você quis dizer que você, Maria e sua avó vão, certo?
Porque eu vou ficar aqui em Paris por mais dois ou três dias.

— Não vou te deixar aqui sozinha.

— Eu vou ficar bem, vou tomar mais cuidado. Ainda há


lugares e pessoas que eu quero ver.

— Então vou adiar minha viagem por mais dois dias.


— Você já alterou seus planos por mim, siga viagem que eu
encontro vocês em dois dias.

— Mulher teimosa! — resmunga saindo do quarto em direção


ao banheiro, depois volta completamente nu e aponta um dedo para
mim. — Dois seguranças vão ficar com você, e isso não é um
pedido — avisa.

Até tento argumentar, mas desisto, ainda estou me sentindo


plena pelo efeito dos poderosos orgasmos que ele me proporcionou.

À tarde, me encontrei com Maria, sua babá e os seguranças


na Disneyland Paris. Depois de passarmos duas horas nos
divertindo e tirando várias fotos, ela reclama que está com fome e
escolhemos um dos restaurantes temáticos para fazermos um
lanche.

— Eu estou tão feliz! Ainda não tinha vindo aqui, você já? —
pergunta, enquanto devora um hambúrguer.

— Sim, já trouxe minhas sobrinhas aqui. — Sorrio pegando


uma batata.

Maria deixa o sanduíche no prato e limpa seus lábios com um


guardanapo, acho tão bonitinho o quanto ela é extremamente
educada.

— Para onde foi sua fome? — Aperto seu nariz e ela sorri
largo.
— Eu queria conversar com você — confessa em tom de
confidência.

Eu sorrio entrando no seu jogo.

— E o que você queria me contar? — indago no mesmo tom.

— Hoje meu papai me falou que não vai mais se casar com a
tia Sarah.

— Oh, meu anjo, eu sinto muito.

— Eu não falo para o meu papai, mas eu queria ter uma


mamãe. Na verdade, não falo pra ninguém, mas você é minha
amiga e eu confio em você.

— Obrigada pela confiança, você também é minha amiga. —


Seguro sua mão e a beijo.

— Meu papai também me disse que agora você é a noiva dele


e eu fiquei feliz, mas depois fiquei preocupada, por isso quis falar
com você.

— O que está te preocupando?

— Você ainda vai ser minha amiga?

— Claro que sim.

— Eu pedi a meu papai para se casar com você, para nunca


mais sair de perto de nós. Se você se casar com ele, você será
minha mamãe? E poderemos fazer mais passeios como o de hoje e
nos vestir iguais, como no outro dia? — indaga ansiosa.
Engulo em seco e respiro fundo, sentindo um nó na garganta,
eu entendo o sentimento de Maria. Quando criança, eu sonhava
com isso, que para muitos pode ser coisa pequena, mas, para mim,
não era.

Eu queria andar de mãos dadas com minha mãe, queria o


carinho dela, a atenção, eu queria tudo isso. Meu pai tinha
namoradas, mas nenhuma delas eu conseguia ver como minha
mãe.

— Maria, eu não sei se vou me casar com seu pai,


começamos agora. Está tudo muito recente e ainda estamos nos
conhecendo. — Resolvo ser o mais sincera que posso.

Vejo-a abaixar a cabeça, entristecida.

— Porém eu posso te prometer que enquanto estiver por


perto, vou fazer tudo o que fizemos nos últimos dias. Vou ser sua
amiga, você pode me contar tudo o que quiser, vamos nos divertir e
ficar bem grudadinhas. E mesmo que não me case com seu pai, eu
garanto que, sempre que puder, estarei bem pertinho de você. Você
já tem um lugar enorme no meu coração, eu gosto de você demais,
demais, demais.

— Você vai viajar conosco e se hospedar na nossa suíte?

— Sim, daqui a dois dias, vou me encontrar com vocês no


Qatar e me hospedar na suíte da sua família. E pelos próximos
meses, vou acompanhar vocês em todas as viagens, vamos ficar
muito grudadinhas e vamos pesquisar lugares para ir em cada
destino, para nos divertirmos muito — afirmo e ela abre um amplo
sorriso.

— Meu pai disse que depois vamos para Dubai, aí vou te


levar para conhecer meu cavalo, ele é lindo e grandão.

— Você tem um cavalo?

— Tenho. Vou deixar você andar nele.

— Eu não sei andar a cavalo. — Faço uma expressão


exagerada. Ela solta uma risada gostosa.

O clima tenso passa, ela volta a comer enquanto planejamos


as coisas que vamos fazer. Por fim, nos despedimos com um forte
abraço e com a promessa de que em breve nos veremos.

Volto para o hotel e após um longo banho, pego meu celular e


ligo para Gisele.

— Ah, que bom que ligou, está uma loucura por aqui, tem
fotos suas espalhadas por vários sites ao lado de um homem
misterioso. Quando descobriram que ele é o bilionário do ramo
hoteleiro, Emílio Castro Agustini, ficaram em polvorosa. Todos
estão perguntando se você está com ele. Você quer que envie
alguma nota? — questiona.

— Não, siga o mesmo ritmo, sempre diga que não falo mais
da minha vida pessoal. Saiu algo sobre Gabriel?

— A última coisa que ele postou foram uns Stories dizendo


que iria encontrar o amor dele em Paris, acho que ele nem viajou.
Olha, eu confesso que amei quando você apareceu com aquele
homem lindo de morrer.

— Gabriel me encontrou. Foi horrível. — Fecho meus olhos


lembrando-me de tudo o que houve.

— Ai, meu Deus, o que houve? — pergunta preocupada.

Faço um pequeno resumo e Gisele fica horrorizada.

— Você tem que denunciar esse verme.

— Não, você é a única pessoa a quem consegui falar isso,


nem para o meu pai consegui.

— Julia, se você ficar calada, ele vai sair impune. Isso é


crime!

— Eu só quero esquecer.

— E se ele te encontrar novamente, e se fizer algo pior?

— Não vou mais viajar sozinha, vou ficar com Emílio e sua
família, ele colocou alguns seguranças para me acompanhar.

— Vocês estão juntos?

— Sim.

— Prefere que não falemos nada?

— Por enquanto, não.

— Eu não acho isso certo, você deveria contar para todo


mundo o que esse canalha fez.
— Eu só quero esquecer. ― Solto um suspiro. — Daqui a dois
dias vou para o Qatar e resolvi que a partir de agora vou começar a
enviar para vocês algumas fotos para abastecer Stories, vamos
voltar assim, aos poucos. Qatar é um lugar lindo e quero visitar
alguns pontos relacionados à moda, enfim, sobre o meu nicho.

— Vou fazer uma pesquisa para você sobre lojas e ateliês.


Em relação às fotos, não vamos postar em tempo real, mas com
uma diferença de 24 horas ou mais, assim, garantimos sua
segurança.

— Obrigada, Gisele. Mande um beijo para todos.

— Por favor, tome cuidado.

Termino a ligação e me jogo na cama refletindo sobre o


porquê de Gabriel ainda não ter feito nenhum alerde sobre o que
aconteceu. Preferi não comentar com minha assessora nada
referente ao meu acordo com Emílio, como ele disse, isso é íntimo e
pessoal. Meu celular toca e, achando que é Gisele, atendo com uma
brincadeira:

— Mal termina de falar e você já me liga, já está sentindo


saudades de mim?

— Com quem exatamente você acha que está falando? — a


voz de Emílio soa séria e fria.

— Com a minha assessora, acabamos de nos falar por


telefone. — Rio da situação.

— Você está bem?


— Sim. Conversei com Maria sobre nosso noivado hoje.

— Ela me disse — responde ainda sério.

— O que houve, Emílio?

— Acho que o nome do que estou sentindo é ciúme.

— De mim?

— E de quem mais seria?

— Por qual motivo? Eu conversei com Maria e tentei ser o


mais sincera possível com ela, lhe disse que sempre seremos
amigas independentemente do que acontecer entre nós.

— Não é sobre a minha filha.

— Sobre o que então?

— Pela forma que você atendeu o telefone. — Sua


sinceridade me quebra.

Mordo meu lábio inferior, contendo um sorriso.

— Era somente minha assessora, não existe outra pessoa em


minha vida além de você.

— Não conversamos sobre isso, mas eu exijo exclusividade.

— Eu também. Mal dou conta de você na cama. — Rio. —


Não imaginei que fosse um homem ciumento.

— Nunca fui antes. Eu acho que você faz algo comigo, estou
louco para te ver, sentir seu cheiro, seu gosto, te abraçar e te
manter bem perto de mim.

Como vou conseguir blindar meu coração com ele falando


essas coisas?

— Em dois dias vamos nos ver — murmuro, tentando não


mostrar o quanto sua fala mexeu comigo.

— Vou mandar meu jatinho para te buscar.

— Não precisa, posso pegar um voo comercial.

— Eu sei que pode, mas vou mandar mesmo assim. Tenha


uma boa noite, Julia, e saiba que provavelmente vou sonhar com
você.

Ele desliga e eu passo um bom tempo olhando o celular.

— Como vou manter meu coração longe desse contrato?


Capítulo 29

Desço do jatinho e sou acompanhada até uma limusine onde


uma mulher loira de vestido azul, cabelos longos e muito bonita me
aguarda.

— Boa tarde, senhorita Amorim, me chamo Zoe Smith, sou


secretária do senhor Casto Agustini, prazer em conhecê-la. — Sorri
oferecendo-me a mão.

— Prazer. — Retribuo o cumprimento.

— Ele me pediu para te acompanhar até o hotel, pois por


motivos de trabalho, infelizmente não pode vir pessoalmente. A
senhorita fez uma boa viagem?

— Sim, obrigada.

Entramos no carro e seu celular toca, ela se desculpa e


informa que é sobre trabalho e começa a falar em japonês. Viro meu
rosto e é impossível conter um sorriso ao ver a cidade pela janela.
Doha está localizada na parte leste do Qatar, é conhecida como
uma das mais ricas do mundo e pelas construções monumentais, já
tinha visto fotos e ouvido falar sobre, mas ao vivo ela realmente é
impressionante.

Após terminar a ligação, Zoe me passa as regras básicas para


não ter problemas em um país dos Emirados Árabes:

— No geral, beijos e abraços não são bem-vindos em locais


públicos e devem ser evitados, não se deve estender a mão ou
tocar nas pessoas, os cumprimentos são feitos de forma verbal ou
com um leve inclinar de cabeça. Caso queira ir à piscina do hotel ou
à praia, procure evitar usar roupas íntimas ou muito expostas, sugiro
algo bem-comportado. É proibido consumir bebida alcoólica em
lugares públicos, salvo em hotéis, alguns restaurantes e boates.
Não pode fumar, fotografar ou filmar pessoas em lugares públicos.
Em relação às roupas, evite mostrar os ombros e os joelhos —
conclui, deixando-me de boca aberta.
— Meu Deus, neste calor que faz aqui?! Acho que a sensação
térmica deve estar perto dos 50 graus ou mais — brinco e ela sorri.
— Minha assessoria me informou sobre algumas coisas, mas eu
pensei que a maioria das restrições era para os mulçumanos.

— Realmente está bastante calor, março é uma das épocas


mais quentes no Qatar. Em relação às restrições, são para todos os
turistas. Contudo, no seu caso há um diferencial. O senhor Emílio
me informou do noivado de vocês e, como deve saber, ele tem um
hotel aqui e é obrigado a seguir as regras à risca para evitar
problemas judiciais severos — esclarece.

Somente neste momento entendo que ter um relacionamento


com Emílio não traz somente benefícios, também tenho deveres a
seguir. Sua secretária não foi explícita, porém deixou subentendido
que caso cometa alguma dessas inflações, trarei problemas para
Emílio.

— Compreendo. — Faço um movimento afirmativo.

— Desejo que você se divirta aqui, este lugar é fabuloso e


qualquer coisa que precise, por favor, entre em contato comigo. ―
Ela me oferece um cartão.

Zoe é uma pessoa simpática e educada, gostei dela.

Quando chegamos ao hotel, engulo uma exclamação ao olhá-


lo, se o de Londres era sofisticado, este aqui e majestoso, não
existe outra palavra para descrevê-lo. Fica na região de The Pearl-
Qatar, uma ilha artificial que abriga complexos residenciais e hotéis
de luxo que podem deixar qualquer um de queixo caído.
Seguimos para a suíte e sou recebida por Alexandra que me
abraça forte. Maria me mostra a suíte de 10 quartos, com direito à
piscina particular e uma vista surreal. Não ficamos muito tempo
juntas, logo ela precisa começar a sua rotina de estudos e
Alexandra me mostra o quarto em que vou ficar.

Mal entro e ouço meu celular, percebendo que é uma ligação


restrita. Atendo, receosa:

— Alô?

— Fez boa viagem? — A voz rouca de Emílio me faz sorrir,


caminho em direção à janela e abro as cortinas.

— Sim, obrigada.

— Me desculpe não ter ido te buscar, creio que até amanhã


termino meus negócios em Singapura e volto para Doha — informa
deixando-me surpresa.

— Você está em Singapura?

— Sim. — Não oferece maiores detalhes.

— Por que mandou seu jatinho para me buscar? Eu poderia


vir com um voo comercial normal.

— Já te disse o porquê. Fretei um jatinho para vir para cá.

— Vou demorar um pouco para me acostumar com tudo isso.

— A única coisa que você tem que se acostumar é a acordar


e dormir em minha cama, se divertir com minha filha, sozinha e
obviamente comigo — diz em um tom autoritário.
— Gostei disso. Essa é a primeira ordem que você me dá que
eu gosto e nem vou retrucar — brinco e ele ri.

— Você gostou do quarto?

— Sim.

— Deixei o contrato aí, leia detalhadamente antes de assinar.

Vasculho o local e encontro um envelope branco em cima da


mesinha ao lado da cama.

— Achei, vou ler mais tarde.

— Seu quarto é na frente do meu, supus que por enquanto,


você preferiria ficar em quarto separados, mesmo que não
estivéssemos em um país do Emirados Árabes.

— E realmente prefiro, conversei com Maria, mas não com


sua avó e, enfim, prefiro assim.

— Imaginei.

— Você está começando a me conhecer.

— Meu o objetivo é desvendar você por inteira, Julia, até não


haver nenhuma parte sua desconhecida ou obscura para mim.

Levo uma mão ao meu peito ao senti-lo bater acelerado,


respiro fundo e fechei meus olhos tentando enviar ao meu cérebro a
informação de que este relacionamento tem data para terminar.

— Julia! — chama suavemente.

— Estou aqui. — Minha voz não passa de um sussurro.


— Amanhã nos vemos, pequena atrevida.

— Mal posso esperar, velhinho.

— Julia!

— Oi.

— Estou sentindo sua falta. — Ele desliga e eu solto um


suspiro.

Puta merda, como vou sobreviver a esse homem?

Após um banho relaxante, escolho um vestido leve, mas


longo, e saio do quarto à procura de Alexandra, encontrando-a na
sala lendo um livro.

— Terei que comprar algumas roupas, não trouxe nada para


um clima tão quente. Minha programação era viajar pela Europa, no
inverno. — A avó de Emílio solta uma gostosa gargalhada.

— Pois eu confesso que vou amar ter você conosco, não


preciso nem dizer o quanto Maria está eufórica. Depois que ela
terminar os estudos, vocês podem sair e comprar roupas, aqui tem
shoppings belíssimos.

— Eu prometi que iria a vários lugares com ela, mas confesso


que depois de todas as orientações que recebi, estou um pouco
receosa.
— É um país com muitas regras e restrições que os ocidentais
estranham um pouco, mas é um lugar lindo. A profissional que está
responsável pelos cuidados de Maria, fala inglês fluentemente e vai
acompanhar vocês e te auxiliar caso tenha dúvidas sobre algo.

— Não é a mesma babá de Londres?

— Não, Maria não tem uma babá fixa. Meu neto acredita que
é mais benéfico culturalmente para ela ter uma profissional em cada
país.

— Maria é realmente impressionante, a maioria das crianças


demoraria alguns bons dias para se adaptar, mas hoje a vi toda
serelepe quando cheguei.

— Minha bisneta é uma criança muito especial, mas solitária.


Por isso fiquei tão feliz quando Emílio me revelou que vocês estão
noivos. Maria precisa de constância e muito carinho.

— Não é um noivado tradicional, seu neto está me ajudando a


manter meu ex-marido bem longe de mim. É apenas um acordo,
não um relacionamento real, não vamos nos casar — explico.

— Compreendo. — A forma como ela fala não me convence


nem um pouco.

— Conversei com Maria e expliquei que não vamos nos casar,


não com essas palavras, mas deixei bem claro que, mesmo depois
do nosso acordo acabar, não pretendo me afastar dela, já a amo
demais — saliento.
— E eu fico imensamente feliz com a sua preocupação com
os sentimentos da minha bisneta. Só me confirma que não me
enganei ao seu respeito.

— Ela tinha dúvidas e eu não quero que ela se machuque


imaginando um futuro que não vai acontecer, a senhora me
entende?

— Claro, minha querida, não se preocupe, eu não me envolvo


na vida pessoal do meu neto — fala suave e sorri carinhosa.

Eu rio, simplesmente não consigo me conter.

— Não mesmo? — indago ainda rindo.

— Bem, só um pouquinho — admite piscando o olho.

— Não quero me apaixonar, ainda estou muito machucada


com tudo que me aconteceu.

— Deixe meu neto cuidar das suas feridas, com a


convivência, você verá o quão perfeito ele é. Será um marido
maravilhoso e Maria vai amar ter novos irmãos, ela precisa disso —
confabula.

— Senhora! O que eu disse sobre o nosso noivado ser um


acordo? Não terá casamento e nem filhos.

— Claro, claro! Isso é hipoteticamente, é obvio. Eu não vou


me envolver, não se preocupe. — Pega minha mão e dá pequenas
batidinhas.

Eu não acredito em uma única palavra que sai da sua boca.


Capítulo 30

A cidade de Doha é realmente maravilhosa, mas muito


restritiva. Senti isso na pele quando estava passeando com Maria
pelos canais aquáticos inspirados na cidade de Veneza. Quando
saímos do barco, caminhamos pelos pontos turísticos da cidade e
em determinado momento, ela fala o quanto está feliz em me ter
aqui ao seu lado e em um ato de afeto, pego-a no colo e encho seu
rosto de beijos.

Quando a coloco no chão, noto que algumas pessoas estão


nos olhando e fico receosa de ter feito algo que para mim era
natural. Não demorei muito a descobrir, a babá me informou que
deveria evitar esse tipo de demonstração em público.

Desculpei-me com ela, realmente tinha sido avisada pela


secretária de Emílio, contudo achei que ela se referia a
demonstrações de afetos explícitas, como beijos apaixonados, mas
compreendi que era a cultura do país e eu, como visitante, tinha o
dever de seguir.

Isso me fez pensar que seria interessante fazer um vídeo


sobre o assunto: o que não se deve fazer ao visitar Doha, no Qatar,
e dicas de lugares onde comprar roupas. Foi algo tão natural que
em uma tarde já tinha vários vídeos gravados. Tomei cuidado para
não filmar Maria e nenhuma outra pessoa, principalmente as
mulheres muçulmanas.

Visitamos as lojas que minha assessora havia me passado e


outras que fui encontrando pelos shoppings a que fomos, pedi
autorização para fazer vídeos nas lojas e eles foram muito
simpáticos, então prometi marcá-los nas postagens. Na verdade,
todos que encontrei foram muito cordiais e educados.

Estava empolgada para entrar em contato com Gisele quando


voltamos para o hotel. Mal entro em meu quarto e começo a enviar
as fotos e os vídeos que fiz para ela e, em seguida, confiro as horas
e noto que são quase quatro da tarde. Como a diferença é de 6
horas, deve ser umas dez da manhã no Brasil.

Faço uma chamada de vídeo em grupo, é uma delícia rever


toda a minha equipe. Cada um está em sua casa e todos ficaram
animados com a ideia que tive. Montamos um plano de postagens
para os vídeos e o material está tão rico, tanto em imagens quanto
em vídeos, que eles me sugerem abrir um canal no YouTube para
postar vídeos longos e fazer alguns curtos para o Instagram.

Ficamos quase duas horas em reunião e marcamos de nos


encontrar on-line no dia seguinte para me mostrarem uma prévia da
edição dos vídeos e de como seria a apresentação do canal.

Após jantar com Maria e Alexandra, ficamos conversando ao


redor da piscina privada da suíte, sentindo a brisa quente esquentar
nossa pele. Algum tempo depois, a avó de Emílio se recolhe, eu
acompanho Maria até o seu quarto e ficamos planejando o próximo
dia até ela adormecer, em seguida, volto para o meu quarto.

Essa rotina se estendeu por alguns dias, Emílio não


conseguiu retornar na data que previra e eu fiquei tão envolvida com
a produção de conteúdo, reuniões com minha equipe para bolar
uma estratégia de postagens e meus momentos com Maria, que mal
prestei a atenção nos dias que se passaram.

Ele voltou em uma noite estrelada, todos já haviam dormido e


eu estava nadando. Demorei a perceber a sua presença e quando o
vi abri um imenso sorriso, nadei até a borda, apoiei as mãos nela e
ergui meu corpo.

— Você voltou! — Sorrio largo, feliz em vê-lo.

Ele me surpreende ao me segurar pelas axilas e me


suspender, tirando-me da piscina.

— Você vai cair na água! — Gargalho.

Emílio não fala, encosta meu corpo molhado no seu e toma a


minha boca com volúpia.

— Estava desesperado para te beijar — murmura contra a


minha boca.

— Seu louco! Me põe no chão — ralho com um sorriso nos


lábios.

— Não!

— Sabia que não pode praticar putaria aqui? Você será preso!
— brinco, enquanto ele morde meu queixo.

— Estamos na minha suíte e você é minha noiva, ninguém vai


me impedir de enterrar meu pau em você — rosna contra a minha
boca e eu quase derreto. — Envolve suas pernas em minha cintura
— ordena.

— Velhinho mandão — implico, mas faço o que ele exige.

Emílio começa a andar e eu envolvo seu pescoço com os


braços.
— Eu estou pingando, você vai molhar a casa toda.

— Não importa!

— Podem nos ver.

— Não vão se você ficar quieta até chegarmos ao meu quarto.


— Beija meu nariz.

Ele encosta a boca na minha sem realmente me beijar e eu


tento conter o riso sentindo seus dedos apertando minha bunda, sua
respiração no meu rosto enquanto minhas mãos seguram seus
ombros.

Não demoramos a chegar no seu quarto, as luzes acendem


automaticamente, mas ele as desliga.

Segue dando passos até eu sentir o vidro frio contra as


minhas costas. Viro a cabeça e vejo a as luzes da cidade, a parede
da frente do seu quarto é toda espelhada e a vista é espetacular.
Porém, não tenho tempo de observar, as mãos de Emílio deslizam
por minhas curvas como se as estivessem moldando. Aperta minha
cintura, desloca para meu seio e puxa o bico no mesmo instante em
que sua língua invade minha boca.

Gemo alto, ele desfaz o nó do meu biquíni nas minhas costas


e o retira, deixando-me nua até a cintura, levanta meu corpo, eu
desfaço o enlace na sua cintura e abaixo minhas pernas. Ele me
ergue até meus seios ficarem na altura dos seus lábios.

Emílio suga, fazendo um barulho delicioso de sucção, morde


e o ardor me faz gemer, então dá a mesma atenção ao outro,
fazendo-me estremecer, fazendo meu centro pulsar.

Ele me põe no chão e eu tenho que me encostar no vidro, de


tanto que minhas pernas tremem. Dá alguns passos para trás e
começa a tirar a gravata.

— Linda, absurdamente linda — elogia devorando-me com os


olhos.

Ofego quando ele tira cada peça de roupa lentamente em


uma deliciosa tortura. Fito seus olhos, meu coração bate acelerado,
minhas mãos pinicam para tocá-lo, Emílio é gostoso demais. Em
seu olhar há tanta paixão, tesão e saudades, o mesmo que sinto em
meu peito e em meu centro que lateja por ele.

Quando está completamente nu, veste um preservativo.


Engulo em seco e passo minha língua em meus lábios, eu o queria
em minha boca, mas ele tem outros planos.

Caminha em minha direção, majestoso e sexy pra caralho,


segura minha garganta do jeito que ele sabe que me deixa doida,
enfia a mão na minha calcinha e me toca.

— Ah, molhada do jeito que eu gosto. — Introduz dois dedos


em mim e eu gemo alto.

— Xiii! Sem gemidos altos, pequena insolente. Vai sentir meu


pau entrando nessa boceta apertada sem gritar.

— Ah! Eu vou gozar — anuncio, arranhando seu braço.

— Vai gozar comigo enterrado em você!


Retira seus dedos de dentro de mim, me vira de frente para o
vidro e noto que há um prédio residencial.

— O vidro é transparente? Vão nos ver? — questiono


sentindo sua mordida em meu ombro.

— Não! O vidro é espelhado, podemos ver o que acontece lá


fora, mas ninguém pode ver o que acontece aqui dentro — explica
tirando minha calcinha. — Ninguém vai ver que você está nua,
encostada no vidro enquanto eu soco na sua boceta — promete.

Ele segura meu cabelo, põe a mão na minha coluna,


forçando-me a inclinar o tronco para frente, abrir as pernas e
empinar a bunda. Puxa meu quadril para trás e entra em mim
devagar.

Colo minha testa no vidro e mordo meus lábios, observando


os prédios. As luzes da cidade criam uma sensação indescritível.
Saber que podemos sofrer uma grande penalidade se descobrem o
que estamos fazendo me dá mais tesão ainda. É proibido, obsceno
e libertador.

Uma das suas mãos aperta meu cabelo, a outra escorrega até
meu clitóris, ele o acaricia devagar, entrando e saindo de dentro de
mim. Gemo baixinho, desesperada para gritar.

Tremo quando ele insere um dedo no meu ânus, ondulando o


corpo, seus dedos não param, bem como os movimentos, apertando
meu clitóris, metendo no ânus, enquanto seu pau duro soca
vigoroso na minha boceta. Não demoro a sentir o orgasmo tomar
conta de mim, ele me pega em cheio e eu fecho meus olhos com
força enquanto murmuro seu nome.

Busco fôlego, olhando para a frente. Sorrio sentindo minha


excitação descer pelas pernas, pensando se alguém imagina o que
está acontecendo aqui.

Emílio sai de dentro de mim, envolve meu corpo, me deixando


de frente para ele, segura minhas pernas na altura do quadril, tomba
meu corpo para trás para ajustar ao seu tamanho e mete fundo.
Segura minha outra perna e me levanta, deixando-me mais aberta,
sentindo o contato da sua virilha no meu clitóris.

Minhas costas estão grudadas no vidro, ouço o barulho que


minha pele faz quando desliza pela superfície fria a cada estocada.
Sua boca desce no meu seio, suga forte e eu mordo o lábio inferior.
Emílio me fode como um insano, desesperado, eu seguro seu
ombro, o arranho, arfo e tento impedir o grito quando mais um
orgasmo começa a ser construído. Ele começa a fazer movimentos
circulares e mais uma vez, eu me desfaço e dessa vez, ele me
acompanha.

Segura-me nos braços e me leva para a cama.

— Você está bem? — Assinto, ainda recuperando o fôlego.


— Volto já. — Beija-me delicadamente.

Vai ao banheiro e eu aproveito para me espreguiçar na cama.

Eu adoro esse cuidado que ele tem comigo, sempre


perguntando se estou bem depois do sexo.
— Oi. — Sorrio passando um dedo no seu rosto quando ele
retorna.

— Oi.― Pega minha mão e a beija. — Você leu e assinou o


contrato?

― Sim, ao ler, notei que não tinha muitas cláusulas.

― Já que você não quis definir as cláusulas, achei melhor


incluir apenas a confidencialidade e a data de término do nosso
noivado em um ano. ― Assinto, e ele me beija. ― Assim que a
banheira encher, vamos relaxar.

— Você já me deixou bem relaxada. — Pisco um olho.

— Quero sentir sua pele contra a minha o máximo de tempo


possível. — Puxa-me para cima do seu corpo e eu apoio as mãos
no seu peito.

— Você vai me deixar mal-acostumada.

— Esse é o meu objetivo, me tornar inesquecível e


insubstituível. — Morde meu lábio inferior.

— Emílio, você sabe que nosso acordo tem data para terminar
e não envolve sentimentos.

— Com data sim, mas sem sentimentos é impossível, minha


querida. Você me faz sentir coisas que julguei jamais sentir
novamente. Me leva da raiva ao delírio em um piscar de olhos. Me
seduz, cativa e encanta.
— Homem, pelo amor de Deus, pare de falar essas coisas. Já
disse que não quero me envolver! — brigo saindo de cima dele e da
cama.

Ele me segura no colo e me leva para o banheiro, entra na


banheira comigo e senta-se atrás de mim.

— Eu vou continuar te falando tudo o que você me faz sentir,


Julia, porque é avassalador demais pra controlar. Eu tentei, por
algum tempo briguei comigo e com você, mas desisti e agora eu
apenas quero deixar fluir. Não se preocupe, não vou te obrigar a
ficar comigo quando nosso contrato acabar, mas até lá, vou fazer de
tudo para que você não queira ir.

Beija meu ombro e eu engulo em seco, completamente sem


fala.
Capítulo 31

Desperto sentindo uma carícia em meus cabelos, abro meus


olhos e vejo Emílio sentado em minha cama.

― O que você está fazendo aqui? ― sussurro sentando-me.

Ontem saí do seu quarto de madrugada e o deixei dormindo,


não queria que fôssemos pegos nem pela sua filha ou sua avó.
― Você fugiu de mim. ― Segura minha nuca, puxa minha
cabeça em sua direção e me beija lentamente.

― Meu quarto é na frente do seu. ― Não consigo tirar o


sorriso bobo dos meus lábios.

― Queria te trazer em meus braços e te dar isso. ― Pega


uma caixinha preta de veludo e me entrega.

Ao abri-la, vejo um colar cravejado de brilhantes com uma


pedra verde e um par de brincos com a mesma pedra e brilhantes
ao redor dela.

― Que lindo, mas não posso aceitar. ― Fecho a caixa e lhe


devolvo.

― Não só pode como deve. ― Retira o colar da caixa, abaixa


o lençol e o põe ao redor do meu pescoço. ― Quando vi este
conjunto com brilhantes e jade, eu pensei em você, a imaginei nua,
me cavalgando com esse colar em seu pescoço.

― Isso deve ter custado uma fortuna.

― Não combinamos que você não iria pensar sobre os


valores que eu gasto?

― Mas...

― Apenas aceite, esse será o primeiro de muitos ― avisa,


beijando-me novamente, depois se levanta. ― Quero vê-la usando
no jantar de hoje à noite que o sheik irá oferecer a mim, vou
apresentá-la oficialmente como minha noiva.
― Nós vamos jantar com um sheik? ― indago incrédula. ― E
você fala isso como se fosse algo comum, tipo, vamos comer no
restaurante da esquina! ― Não consigo esconder meu assombro.

― Acostume-se, minha querida, teremos jantares com


príncipes, sheiks, chefes de Estado, mas também jantares íntimos, e
quero lhe apresentar meus amigos, quero que conheça meu mundo,
que todos saibam que você é minha mulher. ― Morde meu lábio.

― Sou sua noiva por contrato com data para terminar, não se
esqueça disso! ― saliento sentindo meu corpo estremecer.

Ele sorri, aquele sorriso convencido de quem sabe que vai


conseguir me conquistar.

― Claro, minha querida. ― Desce a alça da minha camisola,


abaixa a cabeça e suga meu seio, depois o circula com a língua e,
em seguida, morde. ― Mas enquanto durar, você será minha para
adorar, venerar, encher de joias, carinho e paixão.

Percorre um lento caminho de beijos até a minha boca e


sussurra:

― Acostume-se com isso, querida. ― Pisca um olho e sai do


quarto, deixando-me com o coração acelerado e o centro pulsando.

Algum tempo depois, chego à sala de jantar e encontro Emílio


sentado com Zoe ao seu lado, ela está mostrando algo em seu
tablet e eles estão próximos. Não gosto do que senti ao ver essa
cena, um incômodo desagradável na boca do estômago. Forço-me
a desviar os olhos deles e reparo que Maria e Alexandra também
estão à mesa.
Aproximo-me e me sento.

― Bom dia! ― cumprimento-os com um sorriso e eles


retribuem.

― Dormiu bem, querida? ― Alexandra indaga.

― Sim.

― Meu pai voltou, Julia! ― Maria exclama, eufórica.

― Eu vi, querida. ― Pisco para ela.

Escorrego meus olhos para Emílio e noto que ele está me


fitando enquanto Zoe diz algo. Viro minha cabeça e falo para Maria:

― Meu anjo, que tal você me ajudar a escolher um vestido


hoje?

― Podemos comprar vestidos parecidos como em Paris?

― Sim, podemos.

― Eu posso, pai? Eu vou depois que terminar minhas aulas


― pergunta, fazendo uma voz manhosa.

― Claro, minha estrelinha, eu irei acompanhá-las ― avisa


fazendo-me girar a cabeça em sua direção.

― Não precisa, sei o quanto é ocupado.

― Passei alguns dias longe da minha filha, vou acompanhá-


las. ― Ele se levanta, beija a filha, a avó, e quando se aproxima de
mim, eu arregalo os olhos e faço um meneio negativo com a
cabeça, mas ele não para até estar à minha frente, pegar minha
mão e beijá-la.

― Te vejo mais tarde.

Solto um suspiro enquanto o vejo sair com sua secretária.


Quando viro para frente, Maria e Alexandra compartilham o mesmo
sorriso conspirador.

Fazer compras com Emílio foi no mínimo desafiador, ele


escolheu as lojas que iríamos e pediu para que provássemos as
roupas para ele ver, só aceitei porque Maria ficou empolgadíssima.
Após escolhermos alguns vestidos e peças de roupas iguais, ele
nos leva até uma loja exclusiva e faz o mesmo pedido para que eu
experimente os vestidos longos e luxuosos. Eu literalmente desfilo
para ele. Depois de uma hora e meia provando vestidos, Maria fica
entediada e a babá a leva até a ala infantil com a promessa de que
logo iremos nos encontrar.

― Perfeita ― elogia.

― Acho que prefiro este. ― Deslizo minhas mãos pelo vestido


preto. ― Acho que é delicado e sofisticado sem chamar muita
atenção.

― Seria impossível você não chamar atenção, minha


pequena insolente.
― O senhor deseja ver mais algum vestido? ― a atendente
pergunta a ele e não a mim, e eu o fito com a sobrancelha
levantada.

― Vou levar todos os que ela vestiu.

― São mais de quinze vestidos, Emílio! ― recrimino.

― Por favor, envie todos para o Hotel Castro Agustini, suíte


presidencial. Menos o que ela está vestindo, este vamos levar agora
― ordena, oferecendo seu cartão Black para a atendente, que sorri
largo.

Extremamente irritada, sigo para o provador e troco de roupa,


entrego o vestido para a atendente e espero sair da loja para falar
com ele.

― Por que ela perguntou para você se era eu quem estava


provando os vestidos? E por que você pagou? Posso perfeitamente
pagar pelas minhas roupas ― indago revoltada.

― É algo puramente cultural aqui, os homens são


responsáveis pelas mulheres.

― Mas você bem que gostou, sequer disfarçou seu olhar


satisfeito.

― Simplesmente amei ― confessa. ― Já te disse, não vou


perder uma única oportunidade de mimá-la. Como você costuma
dizer: acostume-se com isso. ― Eleva uma sobrancelha, deixando-
me incrédula.
Ao chegarmos ao hotel, ele não entra, se despede de Maria e
segura meu queixo antes de falar:

― Iremos sair por volta das 20h.

― Ou seja, tenho apenas quatro horas pra me preparar.

― Apenas coloque o vestido e as joias. Você já é


deslumbrante naturalmente. ― Beija-me nos lábios e eu arregalo os
olhos.

Maria nos fita com um sorriso imenso.

Saio do carro com sua filha e a todo momento ela me olha e


sorri, mal passamos pela porta da suíte e a garotinha já vai em
busca da bisavó. Quando a encontra, revela que o pai me beijou e
as duas batem palmas, deixando-me constrangida.

Como prometeu, Emílio me apresentou a todos como sua


noiva. Algumas pessoas não disfarçavam a curiosidade. Não sei se
por eu ser preta e ele branco ou pela nossa diferença de idade,
talvez porque somos um casal sexy pra caralho. Seja qual for o
motivo, não tiraram os olhos de nós a noite toda.

Ele, como sempre, estava belíssimo com um terno impecável


e não saía do meu lado, mesmo não me tocando. Eu falei pouco,
percebi que a maioria das mulheres mal falava.

Assim que chegamos à suíte, todos estavam dormindo.


— Eu estou exausta. — Tiro meu sapato e caminho em
direção ao quarto, seguida por Emílio.

Solto um suspiro quando paro em frente à porta.

— Boa noite, Emílio. — Abro a porta e entro.

Ele entra comigo.

— O que houve?

— Nada, apenas cansaço.

— Não faça isso, não se esconda de mim, me fale o que está


te incomodando?

— Já disse, não é nada, apenas cansaço. — Sorrio tentando


convencê-lo.

Ele dá um passo em minha direção, me pega em seus braços


e se senta no sofá comigo em seu colo.

— Eu quero ser aquela pessoa que você pode falar tudo,


qualquer coisa que te incomode, que te magoe.

— Mas...

— Alguém falou alguma coisa que te magoou? Fala comigo,


não se feche, não se esconda de mim.

— Eu mal falei lá. As pessoas também só me


cumprimentaram. Eu sabia que por sermos um casal inter-racial, em
algum momento enfrentaríamos esse tipo de olhares, estou
acostumada a isso. Aquele que te mede de cima a baixo tentando
classificar se você é boa o suficiente para estar ali.

— Você é maravilhosa e nunca se esqueça disso. É tão linda


que invadiu minha mente e minha alma de forma avassaladora.
Sempre terão pessoas que falarão sobre nós dois, que nos olharão
de forma interrogativa.

Acaricia meu rosto e eu deito minha cabeça em sua mão.


Então continua a falar:

― A começar pela nossa diferença de idade de 14 anos e


minha fortuna. Sempre haverá alguém dizendo que você está
interessada em meu dinheiro ou que você é nova demais para mim.
Quando na verdade, você só se interessa pelo meu pau. — Pisca
um olho fazendo-me sorrir. — Não importa o que disserem, nós dois
sabemos a verdade. Você sabe que é uma mulher linda, por dentro
e por fora, sabe que é carinhosa, amorosa e dona do próprio nariz.
— Aperta meu nariz.

— Talvez seja esse lugar, eu não consigo ser eu mesma, fico


com medo de fazer algo que o prejudique. Vamos ficar muito tempo
aqui?

— Mais uma semana e vamos para Dubai por sete dias.


Depois vamos a Coreia do Sul, Japão, Barcelona, Suíça, Veneza...

— Você tem hotéis em todo o mundo?

— Em 50 países.

— E vamos visitar todos?


— Não todos, somente alguns, lembra que tenho um monte
de CEO trabalhando para mim?

— Exibido. — Beijo seus lábios e ele segura meu rosto.

— Não tente me afastar nem criar um muro ao seu redor que


eu vou derrubar um por um até chegar em você.

— Não fala essas coisas para mim.

— Já disse que não consigo evitar.

— Promete não me machucar, promete não mentir para mim?

— Jamais quero te magoar, minha pequena insolente.

― Promete que não haverá mentiras entre nós dois?

― Prometo ― sussurra contra a minha boca antes de me


beijar.

E eu acredito em suas palavras.


Capítulo 32

A semana passou correndo, eu e Emílio saímos quase todas


as noites, sempre havia um compromisso importante para ele ir.
Sinceramente, não sei como ele conseguia ser tão ativo, passava os
dias no escritório, à noite ia a eventos ou jantares de negócios e na
madrugada fazia amor comigo.
Chegamos a Dubai em uma noite chuvosa, mas em nada
diminuiu a beleza da cidade, ele me informou que ficaremos uma
semana aqui e quando questionei se os costumes eram tão rígidos
quanto em Doha, descobri que é mais flexível. Contudo, também é
um país mulçumano, então ainda existem regras a seguir que no
geral são as mesmas em todos os países dos Emirados Árabes:
evitar demonstração pública de afeto, usar roupas mais
comportadas, etc.

A suíte é mais luxuosa que a da Inglaterra e a de Doha, a


decoração é em preto e ouro, muito ostensiva. Também tem mais
quartos, 12 ao todo, na verdade, tudo neste lugar é grandioso.

No dia seguinte ao que chegamos, Maria e Emílio me levaram


para conhecer seus cavalos. Meu coração perdeu uma batida
quando a vi vestida com roupa de montar e subindo naquele cavalo
enorme. Olhei para Emílio apreensiva e ele me acalmou, dizendo
que ela sabia cavalgar bem e que estaria acompanhada.

Segurei sua mão por todo tempo que ela andou a cavalo e só
respirei aliviada quando desceu e veio correndo em minha direção.

― Quase infartei a vendo naquele cavalo enorme. ― Eu a


abraço forte, e ela agarra minha cintura.

― Eu não corri perigo, Cisco é muito doce. Você quer andar


nele? ― pergunta empolgada.

― Eu não tenho nem roupa e nem coragem para isso, minha


querida. ― Aperto sua bochecha.

― Podemos comprar uma, aqui vende ― sugere.


Viro meu rosto para Emílio, pedindo ajuda.

― Eu vou amar te ver cavalgar. ― Tem a coragem de dizer


com uma expressão inocente.

Meu queixo quase cai.

― Vamos, Julia, vamos andar juntas! ― pede segurando


minha mão e me olhando com os olhos brilhantes.

― Aguardo vocês aqui. ― Sorri de lado e atende a uma


ligação.

Eu e Maria compramos a roupa, ela me leva até o vestiário e


quando voltamos quase uma hora depois, encontramos Emílio ainda
falando ao telefone. Ele acena sem cessar a ligação.

Um funcionário muito sorridente me ajuda a subir no belíssimo


cavalo preto enorme, nunca tremi tanto na vida. Durante todo o
tempo, ele segura as rédeas do animal, o controlando. Maria me
chama, eu viro a cabeça e a vejo montada no outro cavalo, um
pouco mais distante, sua alegria me contagia, me faz sorrir, me faz
perder só um pouquinho do medo de estar em cima desse animal
majestoso. Algum tempo depois, o funcionário é muito atencioso e
me ajuda a descer do cavalo.

Maria dá pulinhos felizes em minha direção, eu me contenho


para não a pegar no colo e enchê-la de beijos, apenas acaricio seu
rosto e ela olha para o pai. Sigo seu olhar e, em vez de olhar para
nós, Emílio está encarando o homem que me ajudou e percebo que
ele está me observando. Volto a fitar meu noivo e seu olhar intenso
agora está focado em mim.
O pai da Maria ficou em silêncio durante todo o caminho até o
hotel, ele não subiu com a gente, nos despedimos com um aceno de
cabeça e ele seguiu com uma expressão fechada.

Passei o restante do dia tentando entender o que houve com


ele. Fiz uma reunião com minha equipe e comemoramos o sucesso
do canal, até agora postamos apenas três vídeos, para testar a
audiência e foi simplesmente maravilhoso. Em menos de uma
semana o canal do YouTube já conta com mais de trezentos mil
inscritos e os três vídeos juntos calculam mais de cinco milhões de
visualizações.

Minha assessora acha que o sucesso foi porque as pessoas


não se esqueceram de mim, porém eu tenho outra opinião. Acho
que as pessoas estavam esperando eu fazer um vídeo me
desculpando por algo que não tenho culpa, esperavam me ver
chorando e dizendo algo como: me desculpem, eu errei!

E o que encontraram foram imagens belíssimas, de alta


qualidade cultural, em que apareço feliz e sorridente, me
aventurando em algo novo, não falando somente sobre peças de
grife, mas de costumes, lugares para ir, o que não fazer e roupas
para vestir.

Obviamente teve vários comentários maldosos falando sobre


meu ex. Eu sabia que viriam, estava preparada para isso e não
liguei, foquei nas coisas positivas, nas centenas de comentários
falando do quanto eu parecia estar plena e feliz em vez de nas
dezenas que falavam merdas.
Gisele me informou que já começaram a chegar propostas de
patrocínios, mas por enquanto não quero ficar presa a nenhuma
marca. Estou curtindo este novo momento, ganhando segurança,
estou recomeçando, mais forte, mais segura e principalmente
sabendo que jamais vou agradar a todos.

Foi preciso me ver sem saída e me afastar de tudo para


descobrir um novo caminho. Planejamos um roteiro para Dubai e eu
fiquei de enviar os primeiros vídeos no dia seguinte.

Jantei com Maria e Alexandra, depois assistimos a um filme


antigo, quando estávamos saindo da sala de cinema, encontramos
Emílio na varanda tomando um drink.

― Desculpem a demora, estava preso em uma reunião. ―


Ele se levanta e beija o rosto da avó e o de Maria. ― E também
porque fui comprar isso.

Leva a mão ao bolso e retira uma caixinha preta de veludo, a


abre e nos mostra um anel com um pequeno rubi cravejado de
diamantes.

― Eu não quero que nunca mais alguém pense que você é


livre para ser cortejada. ― Dá alguns passos em minha direção, e
eu prendo a respiração quando segura minha mão direita e desliza o
anel pelo meu dedo anelar, depois leva a mão aos lábios e a beija,
fazendo-me suspirar. ― Todos saberão que é minha noiva e no que
depender de mim, este anel não sai daqui nunca mais.

Não tive tempo de falar algo, com um forte puxão ele me


aproxima do seu corpo, põe minha mão sobre seu peito, em cima do
seu coração, envolve minha cintura e cola sua boca na minha em
um beijo apaixonado. Por um momento esqueço onde estou,
esqueço quem está ao nosso lado, me esqueço de tudo. Menos do
homem que me aperta forte contra ele.

Paramos para buscar fôlego e ele me olha de uma forma tão


intensa que sinto tudo dentro de mim tremer. O som de palmas me
faz despertar e voltar à realidade, Emílio está me beijando na frente
da sua avó e da sua filha.

― Vamos deixar os adultos conversarem, minha querida. Hoje


eu vou te pôr na cama. ― Alexandra nos olha de forma maliciosa e
Maria abraça nós dois pelas pernas, ao mesmo tempo e segue com
a avó cochichando algo.

― Por que você foi me beijar na frente delas? Agora vão ficar
confabulando sobre nós ― brigo.

Ele sorri, ou melhor, ele levanta a lateral do lábio e mais uma


vez me beija. Mais uma vez eu me perco em sua boca, suspiro
quando sua língua invade a minha em uma dança sensual.

― Vamos sair.

― Agora?

― Sim, quero dançar com você, passar um momento só


nosso. ― Esfrega seu nariz no meu.

Sou incapaz de negar, não com ele me pedindo assim, com


esse olhar tão encantado, com o seu anel em meu dedo e minha
boca ainda pinicando pelos seus beijos.
― Preciso trocar de roupa.

― Vou dar um beijo em Maria e nos encontramos.

Assinto, sigo para o quarto e tomo um banho rápido. Opto por


um vestido branco mais solto e sem decote, com o comprimento até
o joelho, bonito e recatado. Ainda tenho receio de infringir alguma lei
e ter complicações.

Ao sair, encontro-o na sala mexendo no celular.

― Procurei vestir nada muito sexy.

― Você já é naturalmente sensual, Julia ― elogia guardando


o aparelho no bolso. ― Faltou lhe dar isso. ― Segura meu pulso e
prende uma pulseira de brilhantes.

― É linda, obrigada.

― Sim, não consigo ver uma joia sem pensar em você.


Vamos?

Emílio segura a minha mão e passamos uma noite mágica,


em que por um tempo me esqueci que este noivado tem data para
terminar. Quando dançamos, ele me abraça forte como se não
quisesse que me afastasse nunca, mergulho nos seus olhos e vejo
tanto sentimentos, não é só tesão, não é só atração, seu olhar me
mostra o quanto me quer, o quanto sou especial para ele.

Voltamos para o hotel de madrugada. Fizemos amor devagar,


sentindo cada toque, olhos nos olhos, palavras presas na garganta,
cada carícia era uma promessa silenciosa. Não falamos uma
palavra sequer, mas nossos corações bateram no mesmo
compasso, nossos corpos ficaram suados pela paixão que nos
envolvia.

Eu o sentia todo dentro de mim, nossas peles separadas


apenas pelo látex da camisinha. Arranhei suas costas quando senti
o primeiro orgasmo, envolvi minhas pernas na sua cintura quando o
segundo começou a ser construído no meu ventre. Ele sussurrou
que estava louco por mim ao meu ouvido, mordeu meu ombro e
aumentou a velocidade, segurou minha mão, entrelaçou nossos
dedos e a levou para cima da minha cabeça. Meu corpo
estremeceu, ele sugou meu lábio inferior e um êxtase devastador
roubou meu fôlego. Eu gemi baixinho, chamando seu nome, e ele
me acompanhou urrando.

Algum tempo depois, estava deitada com a cabeça em seu


peito enquanto ele acariciava minhas costas.

― Seu ex-marido voltou a entrar em contato com você? Ele


voltou a te incomodar? ― indaga fazendo-me franzir o cenho.

― Não, sempre que converso com minha assessora, pergunto


se saiu mais alguma nota em algum Instagram de fofoca ou se ele
disse algo a meu respeito. Na verdade, Gabriel está estranhamente
silencioso. Por que a pergunta? ― inquiro, sentando-me na cama e
o olhando com atenção.

― Apenas curiosidade. ― Puxa-me para novamente me


deitar em seu peito.

― Ele entrou em contato com você? Fez chantagem pelo que


houve em Paris? É a cara daquele cretino fazer isso. Por favor, não
me esconda se ele te procurar, não me deixe de fora se algo assim
acontecer, vou ficar bem chateada se não me contar, prezo muito
pela verdade. Não quero trazer mais aborrecimentos para ninguém
por causa daquele homem.

― Ficamos noivos para mantê-lo longe de você, Julia.

― Sim, mas daqui a alguns meses nosso contrato termina e


não quero aquele cretino o incomodando depois disso. Me promete
que me dirá se ele te procurar?

― Eu não quero que ele atrapalhe mais a sua vida.

― Não está! Eu voltei a produzir conteúdo, agora estou com


um projeto novo, um canal no YouTube: Julia Amorim pelo mundo.
Está sendo bem aceito pelo público, não estou focando apenas em
moda, mas também em curiosidades em cada país que estou
visitando pela primeira vez.

― Então vou te levar a mais países nos próximos meses, me


diga aonde quer ir que te levo.

― Não quero que mude sua rota de viagem por minha causa,
sei que sua rotina é atribulada e mesmo assim reserva um tempo
para mim e sua família.

― Ainda não entendeu que você mudou a forma que eu vejo


tudo ao meu redor?

― Não fale essas coisas, não quero me apaixonar por você ―


peço.
Ele não fala nada, apenas sorri daquele jeito que me faz
morder o lábio inferior e mais uma vez me faz delirar em seus
braços.
Capítulo 33

Os últimos três meses foram como um sonho, não tenho outra


forma de definir. Viajamos para a Tailândia, Itália, Japão, Coreia do
Sul, Barcelona, Suíça, e agora estamos em Veneza há uma
semana. Emílio disse que ficaremos por mais dois dias antes de
irmos para o Brasil.
Falo com minha família frequentemente, principalmente com
meu pai, que sempre pergunta como estou em relação ao noivado.
Eu sempre digo que estou bem, que é apenas um acordo para
manter Gabriel longe. O que não é de fato verdade.

Meu ex-marido realmente não voltou a citar meu nome nas


redes sociais, mas não posso mais dizer que meu relacionamento
com Emílio é apenas um contrato. Não quando ele demonstra a
cada toque o quanto me quer, a cada carícia e olhar. Ele não faz a
mínima questão de esconder que me ama.

A frase “eu te amo” ainda não foi pronunciada, mas agora eu


compreendi que quando se é verdadeiramente amada, você sente
em cada osso do seu corpo, sua alma é acalentada, palavras não
são necessárias, está ali, demonstrado, não falado.

Tudo nele me encanta, seu corpo, a forma como fazemos


amor, selvagem ou carinhosamente, seu olhar, seu poder. O jeito
como trata sua filha e sua avó, o cuidado que tem para protegê-las.

Emílio me eleva de todas as maneiras possíveis, como mulher


e como profissional. Ele me leva para conhecer seus projetos, me
mostra alguns na planta e outros em construção. Quando
estávamos no Japão, me surpreendeu ao me presentear com vários
equipamentos portáteis de última geração, tinha de tudo: câmera,
filmadora, celular, computador, me disse que com eles eu poderia
produzir conteúdo melhores.

No decorrer das nossas viagens, me deu vários presentes,


joias, roupas, mas o que eu mais gostei foi isso, acho que ele não
se deu conta do quanto esse gesto foi importante.
Com o passar do tempo, eu aprendi que não posso dar um
passo fora do hotel sem um segurança. No começo foi complicado,
ficava irritada, me sentia vigiada, mas esse é um dos ônus de ter um
relacionamento com um homem como Emílio.

Outro é que as mulheres voam em cima dele como moscas


varejeiras. Na Itália, eu senti na pele o que era sentir ciúmes desse
homem. Em uma festa reconheci uma das mulheres que saía em
fotos nas revistas com ele.

No momento em que o vi abraçando a mulher e dando dois


beijos em sua bochecha eu senti vontade de esganá-lo, só não falei
nada porque em seguida ele enlaçou minha cintura, apresentou-me
como sua noiva e ficou grudado comigo a noite toda. Houve outras
situações, as mulheres o cobiçam e eu entendo o porquê, mas isso
não me impede de sentir ciúmes.

Maria chama a minha atenção mostrando-me o desenho que


fez. Estamos no Museu Peggy Guggenheim, que fica em frente ao
canal de Veneza que, aos domingos, oferece atividades infantis.
Emílio virá nos encontrar mais tarde com Alexandra para fazermos
um passeio de gôndolas.

Aceno feliz por ela estar se divertindo. Pela primeira vez,


saímos sem

sua babá que teve um problema pessoal, estamos eu ela e dois


seguranças.

Ouço um ranger de garganta e viro em direção ao som, duas


mulheres loiras me olham de cima a baixo. Conheço esse olhar,
todo preto conhece, já sentiu na pele.

Sorrio de lado, levanto a sobrancelha e espero o que ambas


vão falar, preparando-me psicologicamente para o que vou ouvir.

― Boa tarde ― começa uma delas. ― A senhora é babá de


uma das crianças? ― indaga, mais uma vez subindo e descendo o
olhar. Permaneço olhando fixamente para elas.

― As babás ficam sentadas naquele banco ali. ― A outra


aponta, e eu sequer viro a cabeça.

Já passei por outras situações assim com Maria, já senti


esses olhares outras vezes, mas até então, não era algo verbal.
Algumas pessoas quando veem uma mulher preta com uma criança
branca, automaticamente a confundem com a babá da criança.

Posso não ser a mãe biológica de Maria, contudo a amo


absurdamente, esta é uma das poucas certezas que tenho em
minha vida, o quanto eu adoro essa criança.

Pelo canto do olho, vejo os seguranças se aproximando e


antes que eu fale alguma coisa, para rebater o racismo velado, ouço
a voz brava de Maria:

― Julia é noiva do meu pai, não é minha babá! ― meu


anjinho diz.

― Algum problema, senhora? ― Um dos seguranças


questiona, pondo-se ao meu lado e o outro se posiciona do lado
oposto.

― Não sou a babá. ― Me limito a dizer.


Mais uma vez esperei a reação delas que se olham
visivelmente constrangidas. É interessante vê-las arregalando os
olhos. Elas vão em direção às crianças, pegam duas e saem
apressadas.

― Vamos tomar um sorvete? ― pergunto acariciando o rosto


de Maria.

Caminhamos até a Piazza San Marco, a praça central de


Veneza, tomamos sorvete e Maria se diverte correndo atrás dos
pombos. Um aperto em minha cintura junto a um beijo em meus
ombros me faz levar um susto.

― Encontrei você. ― A voz sedutora de Emílio me faz sorrir.

― Me assustou ― resmungo sentindo mais um casto beijo em


meus ombros.

Viro meu corpo e o beijo, sedenta e apaixonada. Eu estou


louca por este homem, por mais que tentara, não consegui evitar, e
ele não facilitou em nada. Carinhoso, amoroso, leva-me ao delírio
na cama e me cobre de atenção e respeito fora dela. Pretendo falar
para ele esta noite que não quero mais um contrato com data certa
para terminar, eu o quero para sempre em minha vida e em minha
cama.

Maria vê o pai e corre em sua direção, ele a abraça forte.


Seguimos até as gôndolas de mãos dadas com Maria entre nós
dois, segurando nossas mãos. Ela sorri, feliz.

Prefiro não comentar com Emílio o que houve no museu, a


atmosfera entre nós estava deliciosa, não queria estragar com algo
desagradável. Infelizmente, ainda existem muitas pessoas assim no
mundo, essa não foi a primeira e eu creio que nem será a última vez
que passo por algo parecido.

O passeio foi uma delícia, demos duas voltas pelos canais de


Veneza e depois seguimos para o hotel. À noite, após deixarmos
Maria na cama, saímos para encontrar seu amigo Tom e a esposa.

Eles estavam comemorando por terem conseguido a


autorização do governo para construir o resort na Tailândia, que foi
sugestão de Tom. Ele e sua esposa são muito simpáticos.

Quando voltamos para o hotel, eu estava com fome daquele


homem, mal entramos no quarto e eu o empurrei até cair sentado na
cama.

― Hoje eu quero te devorar ― anuncio tirando seu blazer.

― Gosto disso. ― Sorri faceiro.

Encaixo-me entre as suas pernas, sinto suas mãos subirem


pelas minhas, arranhando-as levemente até pararem na minha
bunda, apertando forte.

Retiro sua camisa e deslizo minhas mãos pelos seus ombros


largos, Emílio tem os músculos nos lugares certos, ganhos em
treinos diários. Percorro seus braços fortes, desloco para o
abdômen trincado e subo lentamente até seu queixo e o seguro.

― Vou te chupar até você gozar na minha boca ― prometo


antes de prender seu lábio inferior entre os dentes.

― Porra! ― Suspira.
Me ajoelho no chão, apoio meus braços nas suas pernas,
inclino meu corpo até tocar no seu, circulando seu peito com a
língua. Ele arfa, segura meu cabelo e eu afasto a cabeça.

― Quero suas mãos na cama, não nos meus cabelos ―


ordeno e mordo o bico do seu peito.

― Mandona! ― reclama com um sorriso nos lábios e faz o


que eu peço.

Escorrego minha língua lentamente pelo seu abdômen,


molhando sua pele, sentindo seu estremecimento enquanto abro o
zíper da sua calça. Desço sua boxer e sorrio ao ver que seu pau
está duro.

Com os olhos fixos nos dele, arrasto minha língua pelo


comprimento, rodeio a cabeça e finalmente a ponho na boca. Só a
cabeça, chupando devagar enquanto o masturbo lentamente.
Depois o introduzo o máximo que consigo na minha boca, não
chega nem na metade, ele é grande e grosso.

Chupo gostoso, ouvindo seus gemidos, sentindo a excitação


me dominar. Emílio eleva o quadril, arremetendo na minha boca.

― Boca gostosa ― urra, fazendo movimentos pélvicos,


entrando e saindo. ― Vou gozar ― anuncia soando mais como um
rugido.

Aumento a sucção, seu corpo treme, ele chega ao êxtase


gritando meu nome. Não paro de chupar, Emílio está lindo, com a
cabeça jogada para trás, as pernas abertas e respirando fundo.
Afasto-me e lambo meus lábios sem parar de tocá-lo.

― Seu objetivo na vida é me deixar doido.

― Pode ter certeza disso.

Emílio segura meus ombros, me puxa e me põe no seu colo


com as pernas abertas para ele. Toma a minha boca com ânsia, põe
minha calcinha de lado e seus dedos entram em mim, me
encontrando melada.

Rio quando estica o braço e pega um preservativo na mesinha


ao lado da cama. Sem me tirar de cima dele, veste o pau, o esfrega
na minha entrada e mete fundo.

― Me cavalga gostoso ― pede entre gemidos.

Retira meu vestido e eu facilito levantando os braços. Enlaço


seu pescoço e rebolo, sentindo-o todo dentro de mim. Ele escorrega
uma mão entre nós dois e toca meu clitóris, eu mexo o quadril num
ritmo rápido, sinto-o entrando e saindo de dentro de mim, beijo sua
boca, arranho suas costas, sinto meu corpo estremecer e vibrar.
Não demoramos a alcançar um poderoso orgasmo juntos.

Deito minha cabeça em seu ombro. Ele agarra minha cintura,


me levanta e nos leva para o banheiro, andando a passos curtos,
pois suas calças estão arriadas até o joelho.

― Olha a situação que você me põe. ― Gargalhamos até o


chuveiro.

Ouço meu celular tocar e ele me segura.


― Ainda não acabamos, pequena insolente.

― O que mais o velhinho quer me mostrar? ― Em resposta,


eu levo um tapa na minha bunda.

Enlaço seu pescoço sentindo a água molhar nossos corpos.

― Se lembra do que você me disse em Paris, sobre ser o céu,


mar e estrelas de alguém?

― Sim. ― Beija-me levemente.

― Você é meu céu azul, meu mar calmo e minha noite


estrelada. ― Seu sorriso me faz sorrir junto.

― Eu amo você ― sussurra contra a minha boca.

Fazemos amor no chuveiro e ao terminar, meu celular ainda


toca. Tento pegá-lo e mais uma vez ele me segura.

― É madrugada no Brasil, depois que dormirmos um pouco


você retorna.

― Vou pelo menos ver quem é. ― Verifico que é Gisele. ― É


a minha assessora, deve estar querendo falar algo sobre trabalho,
dá para dormir um pouco e falar com ela mais tarde.

Mas antes de desligar o celular, noto que recebo uma


mensagem de texto que literalmente estraga a minha noite.

“Um famoso jornalista de celebridades me ligou para


confirmar se é verdade que Gabriel foi espancado em Paris pelo
senhor Emílio Castro Agustini e que ele está processando seu
noivo.”
Arregalo os olhos e viro o celular para Emílio.

― Isso é verdade?
Capítulo 34

Vejo Emílio proferir um xingamento e passar as mãos no


cabelo.

― Esse processo está em segredo de justiça e já foi ganho


em primeira instância. Nenhum jornalista deveria dar uma nota
sobre isso. ― Senta-se na cama, irritado.
― Por que você não me falou sobre esse processo? Sempre
me pergunta se Gabriel entrou em contato comigo, por que não
comentou nada? ― inquiro ainda não acreditando que ele mentiu
para mim.

― Não queria que você se preocupasse com isso, Julia. ―


Suaviza a voz.

― Mas esse é um problema meu, Emílio! ― explodo.

― Não é mais! ― retruca. ― Esse é um problema nosso ―


decreta, frio.

― Gabriel já estava fazendo merda na minha vida antes


mesmo de te conhecer ― relembro.

― Você aceitou ser minha noiva para afastá-lo, para ficar


longe desse problema ― pontua.

― E quando terminar, esse cretino não vai desaparecer do


nada, por isso eu queria saber de tudo, para me preparar para as
merdas, para me defender ― retruco.

― Mas eu estou aqui para te defender e não vou deixar


aquele infeliz chegar perto de você ― afirma.

― Você não estará ao meu lado para sempre ― alego.

― Só se você não quiser, Julia, você é a única que pode me


afastar da sua vida ― assegura.

― Como posso ficar com uma pessoa que escondeu isso de


mim? Eu pedi para você me falar se ele te incomodasse. Implorei
para ser sincero comigo, para não me esconder nada, não uma,
mas várias vezes ― questiono, controlando-me para não chorar,
sentindo a decepção tomar conta de tudo.

― Julia eu apenas não queria te trazer dores de cabeças, não


queria abalar sua felicidade. Você estava recomeçando, está
exalando alegria pelos poros, não queria tirar o seu sorriso ―
garante parando na minha frente.

― Você disse “recomeçando”? Emílio meu canal já tem quase


três meses, há quanto tempo rola esse processo? ― pergunto, com
receio da resposta.

― Merda! Não era para nenhum jornalista saber disso. ― Não


me responde, levanta-se, veste uma boxer e pega seu celular. ―
Vou mandar meus advogados cuidarem disso.

― Você não conhece os colunistas do Brasil, a maioria não


sabe o que é escrúpulo ou ética, não existe um processo que eles
não descubram ― revelo irritada. ― Há quanto tempo está rolando
esse processo, Emílio? ― Volto a perguntar.

― Agora não é o momento de falar sobre isso, Julia. Não se


preocupe meus advogados vão cuidar disso ― reitera.

― Agora é o momento de falar disso! ― decreto vendo tudo


nublado.

― Julia...

― Emílio, tem um dos jornalistas mais baixos na minha cola,


minha assessora está segurando a notícia, mas a qualquer
momento ela explode. Se eu não falar com ele antes disso, minha
vida mais uma vez vai se tornar um inferno e tudo o que eu progredi
nos últimos meses vai para o ralo.

― Eu já disse que cuido disso.

― Eu quero saber! ― grito.

Ele me fita sem tirar o celular do ouvido.

― Um jornalista brasileiro descobriu sobre o processo que


aquele verme move por agressão e tentativa de homicídio, quero
que resolva isso ― ordena sem desviar os olhos dos meus.

― Meu Deus! ― Levo as mãos à boca ao me dar conta de


que é muito mais sério do que eu imaginava.

― Não se preocupe com isso, minha querida. Você é minha


mulher, não vou deixar nada te prejudicar ― promete.

― Eu não sou sua mulher, sou sua noiva por contrato! A


pessoa que implorou pra você sempre ser sincero, que te disse o
quanto odeia mentiras. ― Soluço, sem conseguir me conter.

― Não fala isso, Julia, há muito tempo deixou de ser assim.


Na verdade, para mim, nunca foi. Só sugeri o contrato porque era
uma forma de ter você por perto, você estava com medo de se
envolver, julguei que o acordo te deixaria mais segura e foi
exatamente isso que aconteceu ― revela.

― E por minha causa você levou um processo por agressão e


tentativa de homicídio. Por minha causa mais uma pessoa é
prejudicada por Gabriel, por minha causa você quase foi
condenado. Você pensou em Maria? Como você acha que vou ficar
se algo acontecer com você, por minha causa? ― Limpo meu rosto
com um misto de sentimentos confusos, uma mistura de decepção e
raiva.

― Isso não vai acontecer! Eu disse que já ganhei a causa em


primeira instância ― insiste.

― Como pode ter tanta certeza disso? Ele pode recorrer, é a


cara do Gabriel fazer algo assim.

― Ele passou dias me chantageando antes de entrar com o


processo, ele exigia dinheiro em troca de silêncio. Temos provas das
tentativas de extorsões. Por isso ganhamos, o processo já está
finalizando.

― E a história só piora. Como pôde me esconder tudo isso


quando eu implorei tanto para ser sincero comigo?

― Por favor, vamos esquecer isso, não é a primeira vez que


passo por algo assim. Não se preocupe, esse processo não vai para
frente, eu estava defendendo minha mulher de um cretino que a
agrediu.

― E como eu não fui envolvida nesse processo?

― Meus advogados cuidaram disso, apenas precisamos usar


as imagens do desfile para comprovar. Se não fosse por esse
jornalista você sequer saberia.

― Você não conhece o Gabriel, ele já deve ter entendido que


não vai conseguir tirar dinheiro de você e enviou a informação para
os jornalistas para conseguir dinheiro de outra forma.

― Julia vamos esquecer isso.

― Não dá para esquecer. Pelo amor de Deus, me fala tudo!

Emílio anda de um lado para o outro, segura os cabelos com


força e depois começa a falar:

― No dia seguinte ao ocorrido, comecei a receber as


ameaças.

― Enquanto ainda estava em Paris?

― Sim, ele foi ao meu hotel, tentou entrar em contato comigo,


mas obviamente não conseguiu e deixou uma carta na recepção.
Minha secretária me avisou e eu enviei aos meus advogados.

― E daí ele entrou com o processo?

― Não, enquanto estava em Singapura, ele continuou a ir ao


hotel de Paris e alguns dias depois entrou com o processo. Tive que
voltar para Paris para resolver isso.

― Então enquanto você me dizia que estava enrolado com o


trabalho em Singapura, na verdade, estava em Paris, sendo
processado por ter batido no meu ex? ― indago incrédula.

― Não foi bem assim.

― E foi como?

― Julia, não vamos deixar isso ser um problema entre nós.


― Emílio isso se tornou um problema entre nós quando você
não me disse o que estava acontecendo.

― Eu estava te protegendo!

― Eu tinha o direito de saber.

― Essa discussão é ridícula! Eu ganhei o processo, ele não


tem como recorrer, o assunto está resolvido. Não me prejudicou em
nada, não teria porque te preocupar com isso, eu queria evitar o que
está acontecendo agora, estamos brigando por uma merda que seu
ex fez.

― A questão, Emílio, é que o assunto não está encerrado. A


bomba está prestes a estourar.

― Eu vou resolver isso.

― Não quero que você resolva! Eu nunca quis.

― Ficamos noivos para eu resolver tudo! ― lembra.

― Não, ficamos noivos para você me ajudar a resolver as


coisas, não para me esconder tudo. Queria que estivesse ao meu
lado enquanto eu resolvesse, segurasse a minha mão se em algum
momento eu fraquejasse, mas jamais me deixasse de fora das
merdas.

― Pelo amor de Deus, Julia, apenas vamos esquecer isso ―


pede mais uma vez.

― Não dá, Emílio.


Levanto-me, visto um roupão e quando estou quase saindo do
quarto, ele pede:

― Não deixe isso nos afetar.

― Tarde demais, Emílio. Como vou confiar que você não vai
me esconder algo assim novamente?

Saio do quarto e entro em outro que está vazio, respiro fundo


e ligo para Gisele.

― Graças a Deus que você entrou em contato.

― Ele já publicou a matéria?

― Não, eu disse que você entraria em contato com ele.

― Eu deveria ter desconfiado que Gabriel estava calmo


demais.

― Você não sabia de nada?

― Não, isso caiu como uma bomba em cima de mim.

― Ah, Julia, será que aquela loucura vai voltar?

― Não, mas desta vez vou gritar tão alto quanto conseguir, o
problema é conseguir fazer com que esse jornalista não publique a
nota.

― Por que você não liga para ele e faz um acordo?

― Que acordo?

― Você disse que estava voltando para o Brasil.


― Sim, em dois dias, mas minha vontade é de ir amanhã.

― Liga para ele e conta tudo o que houve, mas fala tudo
mesmo.

― Será que ele vai querer ouvir?

― Julia você nunca deu uma entrevista. Fez carta aberta, fez
comunicados, mas não deu entrevista.

― Os patrocinadores estavam me pressionando.

― A maioria dos contratos terminou ou está para terminar.


Você mudou o seu nicho...

― Não mudei, ainda falo de moda.

― Você se adaptou, nada mais te prende, está mais do que


na hora de você dar a sua versão, de você contar tudo o que aquele
infeliz te fez.

― Gisele e se...

― Julia, você se acha fraca, mas não conheço ninguém tão


forte quanto você. Aguentou toda aquela merda, se reinventou, está
conquistando novos públicos, além de manter aqueles que
realmente gostam de você. Estaremos ao seu lado se der merda e
tentaremos de outra forma, o que você não pode mais é ser
subjugada por aquele homem.

― Você tem razão. Não posso mais ficar calada.

― Na verdade, nunca ficou, mas quanto mais falava pior


ficava. Era frustrante não só para mim como para toda a sua equipe,
víamos o seu sofrimento, a sua angústia e nos sentíamos
impotentes. ― Gisele se emociona e eu sinto meus olhos cheios de
lágrimas também.

― Aquilo não pode voltar a acontecer.

― Então fale, revele tudo o que aquele verme te fez.

― Me passe o número do jornalista.

Gisele me passa o contato e eu desligo prometendo que não


iria mais me calar.

Sequer penso antes de enviar uma mensagem para ele


oferecendo-me para dar uma entrevista. Para minha surpresa, ele
me retorna prontamente.

― O senhor não dorme, senhor Ricardo Dulare? ―


cumprimento ao atender o telefone.

― A história é interessante demais para esperar.

― Eu quero te dar uma entrevista.

― Hoje?

― Sim.

― Poderíamos nos encontrar?

― Estou em Veneza, volto ao Brasil em dois dias.

― Não vou segurar a nota por dois dias.

― Está me ameaçando?
― Imagina, apenas gostaria de propor uma entrevista em
vídeo.

― Eu tenho muita coisa para dizer.

― E eu vou amar ouvir tudo.

― Podemos fazer agora se você quiser.

― Vou preparar tudo e retorno em meia hora, pode ser?

― Sim.

Respiro fundo e junto com o ar engulo uma boa quantidade de


coragem.

― Está mais do que na hora de ouvirem o que eu tenho a


dizer.
Capítulo 35

Desabo sentado na cama e fecho meus olhos.

― Droga!

Desde que essa merda começou eu tenho feito de tudo para


que isso não chegasse até Julia, para que não atrapalhasse a sua
felicidade. No que dependesse de mim, nunca mais a veria como a
vi em Paris, frágil, com medo, indefesa.

Não a quero mais assim.

Julia é apaixonante, amorosa e talentosa, ela vibra.

Ela tem medo de se relacionar novamente, tem receio de


amar. Por isso, julguei que o contrato fosse uma forma de mantê-la
próxima, de protegê-la, de nos dar uma chance, de fazê-la se
permitir.

Não posso mais fingir que vou conseguir tirá-la da minha


mente, na verdade, há muito tempo sei que ela não sairá da minha
cabeça. Julia está em minha pele, não é só sexo é muito mais que
isso. Eu a amo, com toda a minha alma, corpo e mente. A amo
desesperadamente e de forma irrevogável. Não é somente porque
quando nos encontramos pegamos fogo, muito menos pelo quanto
ela ama minha filha. É pela forma como me sinto quando estou com
ela. É como ela reage ao meu toque e pelo jeito que me olha.

Prendo a respiração ao vê-la entrando no quarto, Julia segue


direto para o guarda-roupa sem ao menos falar comigo.

― Julia vamos conversar ― peço quando a vejo entrando no


banheiro e a sigo.

Paro na porta e noto que ela está se maquiando.

― Você vai sair? ― indago vendo o vestido pendurado em um


gancho na parede.
― Vou dar uma entrevista ― informa sem parar de se
maquiar.

― Julia, você não pode falar sobre o processo, ele corre em


segredo de justiça ― alerto.

― Não vou falar sobre o processo, mas sobre a minha vida e


principalmente sobre como aquele desgraçado destruiu tudo que
conquistei.

― Eu vou com você ― aviso virando de costas.

― Não, quero fazer isso sozinha.

Eu paro, respiro fundo, aperto minhas mãos tão forte que sinto
minhas unhas afundarem na minha pele. Julia está magoada e eu
chateado com toda esta situação.

― Não tive a intenção de te magoar, e sim te proteger.


Acreditei, e ainda tenho o mesmo pensamento, que esse processo
era algo que você não precisava saber. Esse ser apaga a sua luz,
você deixa de brilhar, fica triste e isso é a última coisa que eu quero.

― Não quero falar sobre isso agora, porque se tocar nesse


assunto novamente vou me lembrar que você me escondeu algo
importante e vamos brigar. ― Ela puxa e solta o ar com força. ―
Tenho que reservar todo meu foco para enfrentar uma das coisas
que mais me magoaram. Vou finalmente bater de frente com Gabriel
e desta vez, não quero ninguém ao meu lado, nem minha família e
nem você.

― Você não está sendo justa.


― Eu preciso fazer isso sozinha. Não posso mais deixar
aquele homem prejudicar ninguém ao meu redor. Foi assim com
minha irmã e agora com você. Ele não vai mais incomodar ninguém
que eu amo.

― Não, você não precisa fazer isso sozinha, eu estou aqui!


Aquele mosquito não me prejudicou, sequer me preocupei, sabia
que meus advogados resolveriam tudo.

― Ele te processou ― pontua. Tento argumentar, mas ela não


deixa ― Agora chega! Não dá mais para fugir, nem para pôr uma
barreira entre mim e ele. Tenho que enfrentar esse homem de frente
e quero fazer isso sozinha!

Ela termina de se maquiar, coloca o vestido, passa por mim,


tomando o cuidado de não me tocar, segue para a porta e para.

― Vamos conversar sobre o que aconteceu, mas não agora.

Julia sai do quarto e eu xingo, com raiva da situação. Talvez


essa questão do processo não teria tido grande importância se não
viesse junto com mais uma tentativa de prejudicá-la. Aquele homem
não perde uma oportunidade de tirar vantagem dela.

Volto a ligar para os meus advogados e faço o que deveria ter


feito há muito tempo. Peço para vasculharem a vida daquele homem
e usar tudo o que posso para destruí-lo. Ao terminar, tomo a decisão
de não deixar as coisas como estão, Julia está se fechando e eu sei
o quanto ela afasta as pessoas da sua vida quando está assim.

Ela tomou dois tiros de raspão protegendo minha filha, foi


agredida pelo ex-marido e escondeu tudo isso da família para não
os preocupar. Se eu deixar, vai fazer o mesmo comigo. As
lembranças de como ela estava indefesa no dia em que ele a
encontrou em Paris ainda me afligem.

― Eu vou estar ao lado dela, mesmo que brigue comigo por


isso.

Decidido, visto uma roupa e a procuro pela suíte.

Não demoro a encontrá-la em um dos quartos, Julia está


montando o tripé para encaixar o celular.

— Emílio, o que você está fazendo aqui? — indaga com os


olhos arregalados.

— Eu vim ficar ao lado da minha noiva e futura mulher.

— Não começa Emílio! — reclama e volta a ajeitar o tripé.

Calmamente me sento em frente ao sofá que ela está


posicionando a câmera. A puxo e ela cai sentada nas minhas
pernas. Seguro seu queixo e a faço olhar para mim.

― Eu amo você e eu sei que você sabe disso e sei que


também me ama. Tenho certeza de que sente a cada vez que te
toco, beijo, acaricio ou apenas te olho. Te amo de uma forma que
não achei que seria possível novamente. E não vou deixar você me
afastar. Sei que está com raiva, sei que precisa de um tempo para
processar tudo o que houve, mas vamos fazer isso juntos!

― Emílio não é o melhor momento.

― Eu a amo e você é...


― Se você disser que sou sua responsabilidade eu juro que
bato em você ― alerta me fazendo sorrir.

― Você é minha mulher e eu vou ficar ao seu lado, não vou


tecer nenhum comentário, mas vou ficar aqui.

― Eu disse que quero fazer isso sozinha!

― Mas você não está sozinha, nunca mais. Quando se ama


alguém como eu te amo, se protege. Quando se tem um atrito ou
divergência, se resolve. Quando se está com raiva por uma atitude
que o outro cometeu, se senta e conversa.

― Eu disse que estava com raiva, falei que não queria


conversar.

― Me desculpa. Tentei te proteger, jamais imaginei que isso te


magoaria dessa forma. Sei que sua mágoa não vai passar rápido e
eu vou aguardar pacientemente até você querer conversar sobre,
mas não vou ficar longe nas dificuldades. Eu vou estar aqui, porque
eu sei o quanto este momento é importante para você.

Ela abre a boca, mas seu celular toca.

― Não fala nada! ― ordena.

Eu aceno e suspiro sabendo que para manter essa mulher ao


meu lado, agora terei que ter paciência. Mas isso não significa que
não vou continuar a protegendo.

Enquanto Julia conversa com o jornalista me mantenho em


silêncio. Ela me apresenta como seu noivo.
É uma entrevista difícil, Julia revela tudo e ao terminar está
exausta. Eu a pego no colo e ela não oferece resistência e me deixa
levá-la para o nosso quarto. Nos deitamos na cama, de conchinha e
ela chora baixinho enquanto a abraço forte.
Capítulo 36

Escorrego dos braços de Emílio fazendo o mínimo movimento


para não o acordar. Me afasto da cama e o fito.

Eu o amo.

Cada parte do meu corpo sabe disso. Talvez por isso que
esteja doendo tanto o que ele fez.
Uma parte racional dentro de mim sabe que ele apenas tentou
me proteger, algo no fundo do meu ser tenta ardentemente buscar
alternativas e motivos para ele não ter cumprido a única exigência
que eu fiz em nosso relacionamento. Minha mente busca qualquer
justificativa apenas para fazer o que meu corpo, minha pele e meu
coração querem: voltar para a cama, me aconchegar em seus
braços e deixá-lo cuidar de tudo.

Mas eu não posso.

Não posso mais deixar ninguém fazer nada para me proteger


e, no final, sair prejudicado. Não quero procurar justificativas para
perdoar algo que me machucou, me feriu, porque amo a pessoa.
Amo Emílio. Agora mais do que nunca, eu sei disso.

Mesmo através da dor, eu o amo.

Mesmo através do ressentimento, eu ainda o amo.

Mas eu tenho que me amar mais.

Eu preciso de um tempo para curar minhas feridas. Ele


precisa de um tempo para entender que eu não vou mais aceitar
que me esconda nada. Nós precisamos de um tempo. Mesmo nos
amando loucamente.

Saio do quarto devagar e sigo para o que fiz a entrevista.


Entro, corro o local com os olhos e sinto a mesma angústia e
tristeza que oprimiam meu peito há algumas horas. Dou alguns
passos, me sento devagar na cama e fito a câmera ainda no tripé.
Emílio me tirou daqui em seus braços, estava me sentindo oca por
dentro depois de derramar tudo o que aconteceu comigo para o
jornalista.

Sinto algo cair em meu braço, abaixo a cabeça e percebo que


está molhado, levo minha mão ao meu rosto e noto que estou
chorando.

Me levanto e sigo até o banheiro, encho minhas mãos com


água fria e jogo no rosto. Repito o processo várias vezes. Observo
minha imagem refletida no espelho, meus olhos vermelhos de tanto
chorar, as olheiras e o medo.

Tomo uma forte respiração enquanto me olho.

― Nunca mais vou chorar por causa daquele homem, nunca


mais vou sentir medo pelo que pode acontecer, pelo que Gabriel
possa fazer. Ele já me fez fugir, já me fez quase desistir do meu
sonho, já me fez sentir incapaz, como se fosse uma fraca. Nunca
mais isso vai acontecer. Nunca mais vou deixar alguém me defender
dele ― decido, falando em voz alta, sentindo as palavras
penetrarem em meus ouvidos.

Me levanto e caminho devagar em direção à janela, puxo as


grossas cortinas e, enquanto olho para o horizonte, eu prometo a
mim mesma que desta vez será diferente. Gabriel pode armar o
circo, que eu vou tacar fogo na porra toda.
Assim que o avião pousa, Alexandra pergunta se eu e Emílio
estamos bem, eu sorrio e digo que não precisa se preocupar. Avisei
à minha equipe que estava chegando e assim que eles me viram,
vieram correndo em minha direção. Abracei cada um fortemente,
apresentei Emílio, sua avó e Maria.

Expliquei ao meu anjinho que desta vez não ficaria no hotel


com eles porque tinha muitas coisas para resolver. Abracei
Alexandra, e ela me pediu baixinho, no meu ouvido, para ficar bem,
acalmar meu coração e depois conversar com Emílio.

Minha intenção era me despedir de Emílio com um breve


aceno de cabeça, mas ele tinha outros planos. Segurou minha
cintura e me beijou apaixonadamente, pouco ligando que
estivéssemos em um aeroporto com um monte de gente olhando.
Ele não ligava para nada disso. E, por um breve momento, eu me
esqueci que ainda estava magoada com ele, que ainda queria um
tempo para pôr meus pensamentos em ordem, apaguei toda a
confusão que estava minha vida naquele instante. Só tinha
consciência dos seus braços me apertando forte, me puxando para
mais perto, e da sua língua invadindo minha boca em uma dança
perfeita e sensual.

Ao terminar, eu estava ofegante, ele me beijou novamente e


mais uma vez me perdi em seus braços.

― Vou fazer o que me pediu e não vou interferir, mas estarei


ao seu lado, a um passo, se precisar de ajuda ― prometeu contra a
minha boca. ― Vou dar o espaço que você quer, mas estarei ao
alcance dos seus olhos.
Ele se afasta, dá um passo para trás e vira o rosto para os
meus assessores, que estão com um sorriso nos lábios.

― Prazer em conhecê-los, sou Emílio Castro Agustini, noivo


da Julia. Este é o meu cartão, caso precisem de ajuda, não hesitem
em me chamar ― oferece seu cartão para minha assessora, que o
pega encantada. Em seguida, se vira para mim. — Dois seguranças
vão te acompanhar aonde você for, e isso não é algo questionável.

― Você não tem jeito! ― ralho.

― É mais forte do que eu, sempre vou tentar te proteger,


minha pequena atrevida. ― Segura meu queixo e me beija
rapidamente na boca. ― Nos vemos mais tarde.

Pisca um olho e segue com seus seguranças. Maria e a avó


se despedem com um aceno.

Os próximos dois dias foram de pura provação, me mantive


forte quando os ataques vieram, cumpri o que prometi e não chorei
ao ler as coisas horríveis que falavam ao meu respeito. Quase
fraquejei em alguns momentos e foi então que compreendi que
precisava de ajuda profissional, precisava voltar para a terapia.

Finalmente entrei com um processo contra Gabriel por


agressão física, verbal, violência psicológica e moral. Dei várias
entrevistas e apareci em programas de televisão. Eu queria falar,
nada mais iria me calar.

Queria que as pessoas entendessem o que eu passei e,


assim, quem sabe, ajudar a outras mulheres na mesma situação.
Apesar de toda a confusão, não fiquei um dia sem ver Maria e
abraçar Alexandra. Após nosso beijo no aeroporto, Emílio acatou o
meu pedido e se manteve longe, mas, como ele prometera, à
distância de um abraço. Ele me acompanhou em todos os lugares
que fui, seja para dar entrevista ou em jantares com a minha família.

Ainda não conseguimos conversar.

Eu o amo. Mas ainda estou magoada.

Observo Maria brincar com Julia e as sobrinhas na piscina da


mansão do pai dela. Acho que nunca vi minha filha tão feliz. Faz
duas semanas que chegamos ao Brasil, conheci a irmã e o cunhado
de Julia. Romeu e Julieta são um casal apaixonado, mas as suas
diferenças são gritantes.

Julieta é tudo que sua irmã disse, inteligente, passa uma


imagem de executiva séria e fria, já Romeu é ao contrário,
extrovertido, com um sorriso que nunca o abandona e que
conquistou minha filha instantaneamente. Maria o julga um príncipe
encantado saído direto dos contos de fadas. Sua expressão ao ouvir
isso foi cômica. Apesar das diferenças, o amor entre eles chega a
ser palpável.
Nos hospedamos em um hotel do Rio de Janeiro e, pela
primeira vez em meses, Julia não ficou conosco, preferiu ficar na
casa do seu pai, disse que precisava de um tempo para pensar.

Sei que ela estava passando por bastante coisa, voltou a


fazer terapia e novos jornalistas entraram em contato após a
entrevista que deu em Veneza. Poucos dias depois que chegamos
ao Brasil, ela deu várias entrevistas. Eu estive ao lado dela em
todas, mesmo que não aparecesse nos vídeos, estava lá. Mesmo
que ela ainda não estivesse falando comigo direito, ainda assim,
estava lá.

Gabriel, por outro lado, fez o mesmo que ela. Mas, dessa vez,
o público estava ao lado de Julia, não todos, mas a maioria. Minha
pequena atrevida, teimosa e valente está enfrentando tudo de
frente, e eu estou muito orgulhoso dela. Sempre rebatendo as
merdas que Gabriel falava, sem descer ao nível dele, sem
xingamentos, mantendo sua essência, sua doçura.

A única vez que a vi perder a compostura foi quando saiu uma


nota insinuando que ela estava comigo por interesse, que ficamos
noivos muito rápido e que talvez já estivéssemos juntos enquanto
ela era casada. Nesse caso, minha noiva xingou de tudo que é
nome e moveu um processo contra o jornalista.

Foi nesse momento que compreendi que Julia não é uma


pessoa de ação, mas sim de reação. Ela aguenta todas as ofensas,
difamações e até mesmo agressões verbais se forem feitas somente
para ela. Contudo, quando recaem sobre alguém que ama, ela
reage, entra na frente e até mesmo sofre as consequências para o
outro não sofrer.

Entendi também seus motivos de ter ficado tão puta comigo.


Não foi somente pelo fato de não ter falado o que estava
acontecendo, e sim porque Gabriel tentou me prejudicar, mas eu
não dei a ela a chance de tentar fazê-lo parar. Muito provavelmente
ela teria dado o que ele queria, dinheiro para nos deixar em paz.

Além de tudo, finalmente entendi que, para nos acertarmos,


eu precisava me afastar para deixá-la pensar e sentir falta de nós.
Então fiquei longe por alguns dias, viajei para Trancoso, na Bahia,
para visitar o terreno que pretendo comprar para construir o resort.

Acostumei-me nos últimos meses a ter Julia me


acompanhando nessas visitas, dando sua opinião, compartilhar com
ela os lugares onde quero construir novos hotéis, mostrar as
plantas, visitando as obras. Acostumei-me com ela ao meu lado e
agora estou louco de vontade de tirá-la dessa piscina e beijá-la, mas
ela mal me olha.

Vejo minha avó conversando com Julieta, o pai dela e a mãe


de Romeu.

― Aceita? ― Viro meu rosto para Romeu, que me oferece um


copo de cerveja.

― Obrigado. ― Aceito e volto a olhar para Julia.

― Pelo jeito já descobriu que se apaixonar por uma irmã


Amorim não é uma tarefa nada fácil ― solta em um tom engraçado.
― É complicado ― admito.

― Passei por isso. ― Sua risada me faz fitá-lo. ― Julieta era


uma mulher malvada! Maltratou meu coração antes de admitir que
me amava ― diz de forma dramática.

É impossível não sorrir.

Romeu é aquele tipo de pessoa que é tão carismático que,


quando me dei conta, estava desabafando.

― Confesso que pensei que este clima entre nós ia durar


apenas alguns dias, mas já faz semanas e às vezes acho que ela
está sendo infantil; outras, acho que ela está me testando, e, em
outras, que ela quer que eu desista.

― Você pretende desistir ou vai vencê-la no cansaço?

― Por acaso pareço o tipo de homem que desiste de algo?


Mas cedo ou mais tarde ela vai entender que tudo o que eu fiz foi
para o bem dela. Enquanto isso, travamos uma guerra fria.

― Você a ama?

― Demais, a amo demais.

― Tenha paciência, Julia passou e está passando, por


momentos complicados. Aquele infeliz do Gabriel está tentando
fazer um inferno na vida dela, está um verdadeiro show de horrores.

― Eu sei, meus advogados estão colhendo informações


contra ele, acredito que em mais alguns dias, entraremos com
vários processos.
― Julieta já entrou com um, mas nada parou aquele cretino.

― Ele não imagina o que o aguarda, muito em breve estará


na cadeia.

― Julia ama sua filha e não terminou o relacionamento com


você e, o melhor de tudo, não te xinga. Vai por mim, eu passei por
isso. ― Solta mais um suspiro sofrido. — Dê tempo para ela pensar,
as coisas vão se acertar.

Viro minha cabeça para a piscina e a pego me olhando.


Sorrio, sabendo que ela pode até negar, mas sente a minha falta
tanto quanto eu sinto a dela.
Capítulo 37

Apoio meus braços na borda da piscina e olho discretamente


para Emílio, ele está conversando com Romeu e eu nem quero
imaginar as pérolas que meu cunhado está falando; pela expressão
de Emílio, deve ser algo engraçado.
Sorrio discretamente, não quero admitir, mas estou com
saudades dele. Cheguei a julgar que, quando voltasse para o Rio de
Janeiro, ele desistiria do acordo, desistiria de mim. Talvez seja a
melhor coisa a fazer. A guerra que estou travando com Gabriel está
feia e acaba envolvendo o nome dele e dos seus hotéis.

Seria melhor para ele se terminássemos. Mesmo que eu


sofresse, assim ele não seria mais prejudicado.

― Julia! Obrigada, obrigada, obrigada! ― Sinto os bracinhos


de Maria rodearem meu pescoço. ― Você me prometeu que eu teria
amigas e cumpriu, Mônica e Amanda são minhas amigas. Eu estou
tão feliz! ― Eu sorrio largo e beijo seu braço.

Ela não fica muito tempo e logo retorna para perto das minhas
sobrinhas.

― As meninas a amaram ― Julieta salienta, se senta na


borda e balança suas pernas na água.

― E em breve vem mais uma prima ou primo para Maria


amar. ― Acaricio sua barriga.

― É tão bom te ter aqui, mas ainda estou meio chateada por
você ter me escondido tanta coisa. ― Aperta minha bochecha.

A conversa com minha irmã e com meu pai foi difícil para
todos nós, houve muita culpa de todos os lados, muito choro, muita
raiva. Meu pai compreendeu mais rápido que minha irmã. Na
verdade, acho que ele já desconfiava desde aquela ligação em
Paris. Em todas as vezes que nos falamos depois disso ele me
questionava se Gabriel tinha entrado em contato e se eu estava
bem.

Já com Julieta foi mais complicado, principalmente ao revelar


que quando fui embora, não estava triste por causa das traições ou
porque ele estava tendo um caso com a secretária do meu irmão.
Era muito mais que isso. Ela precisou de um tempo para absorver
essa informação, depois voltou a ser a irmã que sempre fora,
conseguiu uma medida restritiva contra Gabriel e agora ela e Emílio
disputam quem vai ferrá-lo mais.

Em relação ao meu trabalho, tudo voltou a ser como antes de


viajar, algumas mensagens de ódio, os cancelamentos de alguns e
a perda de alguns seguidores. O que mais me impressiona são os
ataques das mulheres, algumas dizendo que eu queria atenção,
outras, que eu estava revelando agora para conseguir mais
seguidores no meu canal do Youtube, entre outras coisas absurdas.

Era triste ver que muitas mulheres amam levantar a bandeira


de sororidade feminina, mas não perdem uma oportunidade de
defender um macho escroto, mesmo eu dando todas as provas das
agressões, tanto físicas, quanto psicológicas, mesmo eu contando o
quanto fui manipulada e literalmente roubada. Mesmo assim muitas
ainda ficam do lado dele.

Isso foi uma das coisas que mais me abalaram na época do


divórcio, a diferença foi que, dessa vez, não me deixei ser afetada
por esse tipo de mensagem.

Continuei produzindo conteúdo de moda, tinha muito material


que gravei nos países que visitei e, principalmente, agora não fiquei
calada. A cada vez que Gabriel gritava, eu gritava mais alto, ele
tentou uma medida judicial para eu não mais citar seu nome,
medida essa que os advogados de Emílio derrubaram em poucas
horas.

Pensando em Emílio, volto meu olhar em sua direção. Ele não


voltou a falar que me amava, mas não saiu do meu lado, ficou em
silêncio, esperando minha raiva passar, auxiliando sem que eu
pedisse ajuda.

Não me tocou, não me beijou, sequer invadiu meu espaço


pessoal uma única vez. Ele estava esperando, aguardando meu
sim. Ele é um verdadeiro lorde inglês, e eu agradeço por isso.

― Me tira uma dúvida. Quando voltou, você me disse que


iriam se casar por contrato, ele por causa da ex-noiva, e você, por
causa daquele traste. Isso é verdade? ― inquire chamando a minha
atenção.

― Não, ele nunca teve um atrito com a ex, só eu quem tive ―


esclareço. ― Desculpe por todas as mentiras.

― Não quero nem voltar nesse assunto, ainda estou chateada


por não ter me falado quando aquele cretino te agrediu, eu teria
acabado com a raça dele.

― É exatamente isso que eu não queria. Você estava em um


momento especial, não queria atrapalhar, Romeu já estava sofrendo
para te conquistar. ― Rio para quebrar a tensão.

― Então você ficou noiva para manter aquele infeliz distante?


― Sim.

― E Emílio? Por que ele fez a proposta?

― Eu fiz essa pergunta várias vezes, mas ele só falava que


me queria por perto, que queria me proteger.

― Eu já ouvi algo parecido de Romeu. ― Pisca um olho se


referindo a quando Romeu a pediu em casamento para cumprir o
contrato que nossa família tinha com a dele. ― Você o está
maltratando mais do que eu na época em que não gostava de
Romeu ― conclui.

― Ninguém judiou de um homem como você fez com Romeu.


― Rio e ela me joga água. ― Seu marido parecia um cão sem dono
abanando o rabo para você ― implico.

― O seu noivo parece um cão que caiu da mudança


abanando o rabo para você ― replica me fazendo soltar uma
gargalhada.

― Não sou tão má assim.

― É pior que eu! ― Mais uma vez me joga água. ― Eu não


amava Romeu quando o queria longe de mim, mas você, minha
querida irmã, o ama, e nem adianta negar para mim. Você o segue
com os olhos quando acha que ele não está vendo.

― Eu o amo demais, acho que será melhor para ele se nos


separarmos, estou no olho do furacão novamente, e dessa vez
estou com o ventilador ligado, jogando merda no ar e,
consequentemente, o sujando. Estão jogando hates na página do
Grupo Castro Agustini.

― Esse povo é maluco! ― esbraveja.

― Não quero prejudicá-lo mais ― revelo.

― E você acha que um homem que tem um império desse


tamanho vai se prejudicar por um bando de doido falando merda na
página de hotéis que com certeza sequer pôs o pé? ― debocha, me
fazendo rir.

― Eu estou bastante confusa. ― Minha irmã abaixa a cabeça


e sorri.

― Eu me lembro que falei algo parecido quando você decidiu


viajar e me disse para não ter medo de amar. Se lembra disso?

― Era diferente.

― Isso é verdade, naquela época, eu ainda não amava


Romeu, mas estava encantada por ele. Já você, minha doce, linda e
maravilhosa irmã, você o ama. Não tenha medo de ser feliz.

― Julieta...

― Se lembra das coisas que eu falei quando tentei te tirar do


seu casamento?

― Acho que nunca vou me esquecer daquele dia.

Suspiro. Meus olhos se enchem de lágrimas.


― Eu nunca vou me perdoar por não ter lhe tirado dali à força,
por ter permitido que aquele desgraçado ferisse meu cristalzinho,
nunca vou me perdoar por isso ― lamenta.

― Você não teve culpa, eu queria me casar. Naquele dia,


você disse que eu estava com um saco preto na cabeça, e eu agora
sei que tinha razão, eu estava com olhos e ouvidos tampados.

― Naquele dia, eu disse que você merecia ser amada, ter um


homem que te adorasse e entendesse o quanto você é especial, e
eu acho que esse homem é aquele que está ao lado do meu marido
olhando para cá ansioso por um movimento seu.

― Como pode ter certeza disso? O conhece há apenas três


semanas.

― Porque eu conheci Gabriel por meses antes de vocês se


casarem e ele nunca me passou confiança, já Emílio, em três
semanas me mostrou o quanto te ama, te respeita e, principalmente,
espera o seu tempo. Seu amor chegou, minha irmã, o homem que
eu sempre sonhei que você tivesse, aquele que eu sei que vai saber
te valorizar e te elevar como mulher e como profissional.

― Ele mentiu para mim, Julieta. Não me falou sobre o


processo quando eu pedi para não haver nenhum segredo entre nós
dois.

― E você já o fez entender o erro que cometeu, eu duvido


muito que vá fazer isso novamente.

― E se eu sofrer novamente?
― E se você for feliz para sempre?

― E isso existe? É possível ser feliz para sempre?

― Eu acho que existe uma vontade de ser feliz, entende?


Quando os dois cedem, os dois querem as mesmas coisas, os dois
não desistem e, principalmente, os dois se amam. Eu não estou
dizendo que não vão brigar, eu mesmo não passo um dia sem
querer esganar Romeu, mesmo o amando loucamente. Contudo,
entre nós dois, não existe a opção de desistir.

― Ele me disse algo parecido em Veneza.

― O amor que você sempre sonhou está na sua frente, e eu


acho que ele vai esperar você reconhecer isso, nem que seja no
cansaço. ― Ela ri, e eu a acompanho. ― E repara que ele está
conversando com Romeu. Imagine o tanto de coisas doidas que
meu marido está falando. ― Gargalha.

O som chama a atenção de Romeu, que vem em nossa


direção perguntando se Julieta quer alguma coisa.

É tão fofo ver os dois juntos, é tão bom ver minha irmã mais
leve e feliz. Observo Emílio andando até a avó e se sentando ao seu
lado. Ele cruza as pernas e fixa seu olhar no meu, eu sustento por
algum tempo, mas logo desvio, tamanha intensidade que ele
transmite.
Capítulo 38

Precisando ficar um pouco sozinha, peço para Julieta ficar de


olho nas meninas e saio da piscina. Me enrolo em um roupão, entro
na casa e sigo em direção às escadas. Então escuto a voz do meu
irmão:

― Ora, ora, ora se não é a cancelada influencer Julia.


― Oi pra você também, Juliano.

― Você e seu ex-marido têm protagonizado matérias


interessantes pelas redes sociais ― zomba.

― É porque agora eu devolvo na mesma moeda. Não fico


mais calada escutando merda.

― Perdeu o medinho de seus seguidores te abandonarem?

― Perdi! Só vai ficar quem quiser, os que saírem, que vão


com Deus! E você, meu querido irmão, já conseguiu arrumar um
emprego? Pelo que eu soube, está desempregado, já que foi
expulso da empresa. ― Rio de puro deboche.

― Isso mudará em breve! ― salienta, irritado, e eu gargalho.

― Eu duvido. Enquanto Julieta for CEO, você não pisa mais


lá.

― A influencer cancelada agora tem garras ― caçoa.

― A influencer aqui viajou por vários países do mundo sem


precisar do dinheiro do nosso pai, já você, anda precisando muito de
ajuda ― devolvo no mesmo tom. — E é bom você parar de falar
merda, porque, senão, corre o risco de ser processado por calúnia e
difamação — aviso.

— E quem me processaria? — Cruza os braços.

— Eu, e não seria a única irmã a te processar. Pelo que fiquei


sabendo, Julieta também vai.
Estamos parecendo duas crianças de cinco anos brigando e
estou pouco me fodendo para isso, só não vou mais escutar desse
infeliz.

― Soube que conheceu um bilionário. Na verdade, eu vim


conhecê-lo, quem sabe ele não se interessa por mais um Amorim,
como o ex de Julieta ― implica.

― Chega perto do meu noivo e eu não serei tão educada


como Julieta foi, eu arranco seus dentes! ― ameaço apontando um
dedo para ele.

Meu irmão teve um caso com o noivo de Julieta. Na época, o


noivado dela era por contrato, mas ela o amava muito. No meio
dessa confusão tinha Romeu, que sempre amou minha irmã e
acabou assumindo o lugar do ex-noivo no contrato e se casando
com ela. E, depois de muito tentar, conseguiu conquistá-la hoje eles
são um casal apaixonado.

― O que está acontecendo aqui? ― A voz grossa de Emílio


me faz dar um pulo.

― Você deve ser Emílio Castro Agustini, eu sou Juliano


Amorim.

Meu irmão dá um passo em sua direção e eleva a mão, mas


ele segue com as dele no bolso.

― Perguntei o que está acontecendo aqui ― inquire, frio.

― Apenas uma conversa entre irmãos, não é mesmo,


Julinha? ― Juliano sorri, insolente.
― Sugiro, para o seu próprio bem, que não tenha mais esse
tipo de conversa com a minha noiva ― ameaça, ríspido.

― Acho que você entendeu errado, estávamos só brincando.


― Juliano toca o braço de Emílio, que fita o local até ele abaixar a
mão. ― Vou ver minhas filhas. Foi um prazer te conhecer, Emílio.

Ele sai da sala me deixando sozinha com meu noivo.

― Você está bem? ― pergunta parando perto de mim.

— Me desculpa por... — Ele não me deixa terminar.

— Não se desculpe pelas atitudes e erros dos outros. O que o


seu irmão fala ou faz é problema dele, não seu.

— Eu sei.

— Você está bem? — indaga novamente, segurando minha


mão a acariciando levemente.

Eu estremeço ao seu toque. A última vez que nos tocamos foi


quando chegamos ao Brasil, meu corpo sente falta dele. Sua mão
sobe lentamente, e eu ofego, sentindo minha pele arrepiar pelo seu
toque.

― Preciso ir. ― Me afasto com o coração acelerado.

― Meus advogados acharam muitas coisas contra aquele ser.


Eu prometi não te esconder mais nada, por isso estou te avisando
que vou com tudo para cima dele.

Assinto.
Já desisti de tentar impedi-lo, ele simplesmente não consegue
não me proteger.

— Por favor, peça aos seguranças para não virem mais, me


sinto desconfortável com eles.

— Julia, é para sua segurança.

— Já consegui uma medida restritiva, Gabriel não pode


chegar perto de mim. Por favor, peça para não virem.

― Tudo bem. Mas se ele aparecer perto de você, os


seguranças voltam — avisa.

— Acho um bom acordo.

— Vou viajar amanhã, ficarei quatro dias nos Estados Unidos,


mas quando voltar, podemos jantar e conversar?

― Você voltou ontem, depois de ficar cinco dias fora, vai viajar
novamente?

― Sentiu minha falta? ― pergunta enquanto introduz uma


mão nos meus cabelos e me puxa em sua direção.

Não espera minha resposta e me beija. Eu recebo sua língua


em minha boca com um suspiro saudoso, meus braços enlaçam seu
pescoço e o puxo para perto de mim, sentindo mil borboletas em
meu estômago.

― Volte logo para mim ― sussurro contra a sua boca.

― Sempre.
Entro no meu quarto e me jogo na cama após me despedir de
Maria e Alexandra, que me abraçaram forte, e eu prometi almoçar
com a avó de Emílio amanhã, depois da terapia. Meu noivo me
beijou no canto da boca e por pouco eu não o agarrei novamente.

― Acho que vou ficar louca. ― Pego o travesseiro apertando-


o em meu rosto e solto um grito.

Julieta tem razão, eu o amo. Mas não sei se quero a mesma


coisa que ele. Emílio quer se casar, ter filhos, e eu não, pelo menos
não por enquanto. Demorei muito para me sentir dona das minhas
vontades, do meu destino, para me sentir livre. Quero estar com ele,
ao lado dele, mas não quero me casar, não agora.

Enquanto divago, meu celular toca. Atendo sem verificar o


número.

― Se você não parar de infernizar minha vida, você irá se


arrepender! ― Gabriel ameaça.

― Ficou maluco? E como conseguiu meu número? ― inquiro,


irritada.

― Para de ficar dando entrevista, manda seu namoradinho de


merda parar de fuxicar minha vida ― ordena, e eu rio.

― Você não chega aos pés do Emílio, seu bosta.


― Se você não parar, eu vou... ― Não o deixo terminar de
falar.

― Você acha que ainda me põe medo? Realmente acredita


que, depois de tudo que revelei na mídia, depois de tudo que passei
por sua causa, ainda existe alguma parte de mim que sente algum
receio de você? ― debocho.

― Ora sua...

― Não me ligue mais, não entre em contato comigo, senão


prometo que irá se arrepender. ― Termino a ligação e sinto anseio
de arremessar o aparelho na parede.

Sinto todo o meu corpo tremer, uma raiva surreal tomando


conta de mim. Como ele pode ainda entrar em contato comigo,
como ele tem coragem?!

Demorei a conseguir dormir. No dia seguinte, após ir a uma


sessão com o terapeuta, me encontro com Alexandra em um
restaurante na Lagoa. Assim que entro, uma seguidora me
reconhece. Paro para falar brevemente com ela, que me pede para
tirarmos uma foto, concordo e, após algumas selfies, sigo para
mesa em que Alexandra está sentada, a comprimento e me sento.

― Desculpe o atraso, acabei ficando tempo demais na


terapia. Preciso de ajuda psicológica para conseguir passar por tudo
isso sem cair novamente.

― Não tem problema, também cheguei há pouco. Meu


motorista teve um problema e o segurança precisou vir dirigindo o
carro, e ele não conhecia este local.
― Como você está?

― Estou indo bem, melhor do que a primeira vez que passei


por todo esse reboliço.

― É vergonhoso o julgamento que as redes sociais fazem da


mulher. Na verdade, sempre foi assim, quando jovem, eram os
jornais e as fofoqueiras da cidade, mas eu pensei que os dias de
hoje seriam melhores.

― O tempo passa e parece que as coisas pioram. Hoje estou


enfrentando melhor que há alguns meses, quando larguei tudo e
viajei. Apesar de ter sido a melhor decisão que tomei, porque
conheci vocês.

― Emílio está pensando em comprar uma casa aqui no Rio


de Janeiro para ficar mais próximo de você.

― E o que a senhora acha disso?

― Eu quero que ele fixe residência em algum lugar e que,


principalmente, se case.

― Compreendo.

― Você ama meu neto?

― Sim, amo muito.

― Pretende se casar com ele?

― Um dia, se ele quiser esperar por mim. ― Sorrio e ela


retribui.
― Você se vê como mãe de Maria?

― Amo sua bisneta em um grau que não consigo definir em


palavras.

― Eu sei que ama, sei que até já desafiou os sequestradores


por ela. Mas não foi isso que perguntei.

― Eu quero estar na vida de Maria, quero ser a pessoa que


ela vai procurar quando estiver com medo, alegria, tristeza, quando
algo bom ou ruim acontecer na sua vida. Quero contar histórias para
ela dormir e, ao acordar, quero tomar café da manhã com ela. Quero
levá-la para passear, ver seus sorrisos e secar suas lágrimas e,
principalmente, quero garantir que ninguém nunca a magoe. ―
Sorrio sentindo meus olhos cheios de lágrimas.

Ela escorrega a mão pela mesa e aperta a minha.

― Que bom que vocês se conheceram ― fala, emocionada.

― Eu agradeço todos os dias por isso, vocês foram uma luz


em um momento de escuridão e eu quero ser tudo o que vocês
merecem. Mas ainda não estou preparada.

― Eu tenho certeza de que vamos saber esperar, vale a pena


esperar por você. ― Aperta minhas mãos.

― Obrigada.

Conversamos por mais algum tempo e, ao terminarmos de


almoçar, paramos na porta do restaurante enquanto o segurança vai
buscar o carro. Sorríamos planejando visitar a Bahia, quando senti
um forte puxão em meu braço.
― Vem comigo e fique quieta, senão faço um escândalo aqui.
Precisamos conversar ― Gabriel exige.

Me viro para ele e arregalo meus olhos, viro para a frente e


vejo Alexandra com uma expressão assustada.

― Me solta, seu desgraçado! ― O empurro, gritando.

― Cala a boca!

Volta a se aproximar e eu acerto um tapa em seu rosto, então


ele segura meu cabelo.

― Quero que você pare de citar meu nome nas redes sociais.
― Sacode minha cabeça, puxando forte meus cabelos.

Eu esperneio, grito, arranho, bato nele com minha bolsa,


xingo. Não abaixo a cabeça. Não fico parada. Me defendo, mostro
que não sou mais a presa fácil de outrora.

Alexandra também bate nele com a bolsa e ele a empurra


enquanto segue me segurando pelos cabelos. Quando a vejo cair
sentada, eu surto de vez. Começo a socar a barriga de Gabriel e, de
repente, ele é afastado de mim. Puxo o ar com força quando vejo o
segurança o mobilizar, olho ao redor e vejo as pessoas no
restaurante com os celulares apontados para fora, estavam nos
filmando, mas nenhum filho da puta veio nos ajudar.

Ando até a avó de Emílio e a ajudo a se levantar

― Meu Deus! ― diz apavorada.


― A senhora se machucou? Vamos até o hospital. ― Procuro
por algum ferimento em seu corpo.

― Não me machuquei, vamos agora para a delegacia, quero


pôr esse desgraçado atrás das grades. Como ele ousa encostar na
noiva do meu neto?! ― Nunca a vi tão alterada.

Chamo a polícia para ele ser preso em flagrante e, enquanto


entramos no carro para seguir para a delegacia, vejo mais pessoas
tirando fotos e filmando.

Foi preciso acontecer mais uma agressão para as pessoas


verem que eu estava falando a verdade.

Hoje eu consegui me defender, mas poderia ser muito pior,


vejo casos assim todos os dias nos jornais. Agora posso provar que
esse desgraçado tenta há muito tempo destruir a minha vida.
Capítulo 39

No caminho até a delegacia, ligo para Emílio e faço um breve


resumo de tudo o que houve.

― Eu vou matar esse homem!


― Pela primeira vez eu gritei, não o deixei me ameaçar. Eu
me defendi, Emílio!

― Meu amor, eu queria estar ao seu lado agora.

― Estamos bem, vamos prestar queixa assim que chegarmos


na delegacia.

― Vou voltar imediatamente dos Estados Unidos, entrarei em


contato com meus advogados para irem até aí, mas provavelmente
vão demorar, eles estão na Bahia resolvendo a compra do terreno e
a autorização da prefeitura para aprovar a construção do resort.

― Você acabou de chegar aí, não se preocupe com sua avó,


ficarei com ela até você. Vou ligar para Julieta e pedir para ela falar
com os advogados da nossa família.

― Vocês vão ficar aí sozinhas?

― Você conheceu minha irmã, realmente acha que ela vai me


deixar aqui sozinha? Capaz de quando chegarmos na delegacia,
Julieta e meu pai já estarem lá ― brinco. Ele suspira.

― Vou tentar chegar o mais rápido que consigo. Vou te ligar a


cada meia hora, por favor, me atenda.

― Vou atender, não se preocupe.

― Como não me preocupar, aquele cretino tocou em você


novamente e também na minha avó ― ruge.

― Se acalme, por favor. Vou passar o celular para Alexandra,


converse com ela.
Ele conversa por um tempo com a avó, e ela o certifica de que
está bem. Em seguida, ele fala novamente comigo e desliga,
prometendo mais uma vez voltar em algumas horas.

Chegamos à delegacia e o delegado ouviu nosso depoimento.


Julieta chegou com nosso pai e nossos advogados pouco tempo
depois. Após passarmos por toda a burocracia, fomos liberadas. Eu
me despedi da minha irmã e do meu pai ali mesmo.

Já anoitecia quando eu e Alexandra chegamos ao hotel em


que eles estavam hospedados. Soltei um grande suspiro quando
passamos pela porta da suíte. Abraço fortemente Alexandra e ela
segue para o seu quarto. Procuro por Maria e passo algum tempo
brincando com ela, tentando tirar da mente tudo o que houve hoje.
Quando ela dorme, saio do seu quarto e sigo para o do seu pai.

Tomo um banho e visto uma blusa de Emílio. Me deito na


cama e pego meu celular, há várias ligações da minha equipe.
Desde que troquei meu celular, pouquíssimas pessoas sabem meu
número, só minha família e minha equipe, confio neles, sei que
nunca passariam meu telefone para Gabriel, ele deve ter descoberto
de alguma forma ilegal.

A curiosidade me toma e entro nas minhas redes sociais, está


uma confusão só.

Ligo para Gisele, faço um resumo de tudo o que houve e peço


para ela não falar nada por enquanto, prometo fazer alguns Stories
após falar com um advogado, não quero fazer nada que possa
prejudicar o processo que vou meter naquele desgraçado. Garanto-
lhe que estou bem e tento dormir, porém não consigo. Não consigo
parar de pensar.

Por volta das três da manhã, a porta do quarto se abre,


Emílio me abraça forte, segura meu rosto e cola sua boca na minha.
Eu estava com tantas saudades disso, senti tanta falta dele. Ele me
pega nos braços e nos sentamos na cama e me puxa para o seu
colo, beija todo o meu rosto e encosta a testa na minha.

― Eu me defendi, Emílio, não fiquei calada, bati de volta,


gritei, berrei.

― Meu amor, eu sinto muito.

― Estou triste por toda essa situação, mas feliz por ter
conseguido reagir; da última vez, eu não consegui.

― Você é forte, lutadora e é resiliente.

― Eu amo tanto você ― sussurro contra a sua boca,


enlaçando seu pescoço.

Sua língua invade minha boca, suas mãos me apertam mais


contra seu corpo.

― Eu amo mais. ― Beija o meu nariz.

― Você viu a sua avó?

― Sim. Ela está dormindo, não quis acordá-la.

― Você está com olheiras, poderia ter vindo amanhã.

― Não poderia, não ficaria em paz.


Sorrio contra sua boca.

― Estava com tantas saudades de ficar assim com você. ―


Encosto a testa na dele.

― Vamos nos casar, não aguento mais ficar longe de você ―


declara, mordendo meu lábio inferior, e eu travo.

Emílio sente e afasta a cabeça.

― Você não quer se casar comigo? ― indaga em um fio de


voz.

― Não ― digo e, em resposta, ele abaixa a cabeça e solta um


suspiro. Eu continuo. ― Pelo menos não agora.

Elevo sua cabeça e acaricio seu rosto cansado.

― Eu amo você, muito, muito mesmo. Contudo ainda não


estou preparada para o tipo de relacionamento que você quer, não
estou pronta para me casar novamente. Não enquanto ainda estou
uma bagunça por dentro, não enquanto ainda estou me
recuperando de todas as merdas que me aconteceram e ainda vão
acontecer. Minha batalha com Gabriel agora será judicial, amanhã
vou fazer alguns Stories e uma carta aberta contando ao meu
público o que houve hoje. Eu amo você, mas não posso me casar
agora.

― Julia... ― Ele tenta falar, mas o interrompo beijando seus


lábios levemente.

― Nos conhecemos há cinco meses e durante esse tempo


aconteceram várias coisas e, no meio do caminho, nos
apaixonamos.

― Exatamente, se nos amamos, por que ficarmos separados?

― Mas eu não disse que ficaremos separados, não consigo


ficar distante de Maria, da sua avó e muito menos de você. Só que
eu ainda não estou pronta pra me casar. Há duas semanas, explodi
por algo que hoje conseguiria resolver com uma conversa, porém só
tive essa percepção depois de voltar para a terapia e de conversar
com minha irmã e, durante esse período, o fiz sofrer.

― Você tinha chegado ao seu limite, todos estouram quando


chegam em seus limites.

― Eu ainda estou, Emílio. Agora estou cuidando da minha


saúde mental. Quando viajei, eu comecei um processo, mas foi uma
fuga e, no meio do caminho, me encantei por Maria e me apaixonei
por você. Eu quero ser a mãe de Maria, quero ser sua esposa, mas
eu não quero fazer isso enquanto minha vida está uma bagunça.
Não seria justo nem saudável, nem para mim e muito menos para
vocês.

― E o que você me sugere?

― Emílio Castro Agustini, você aceita ser meu noivo?

― Já somos noivos.

― Não, agora realmente quero ser sua noiva, o certo seria


“namorada”, mas eu acho que, se baixasse a classificação do nosso
relacionamento, você surtaria de vez. ― Rio.

― Eu tenho 40 anos, Julia, eu quero me casar com você!


― Eu tenho 26 anos, Emílio, nos conhecemos há cinco
meses. Saí de um relacionamento em que fui magoada,
manipulada, traída, extorquida, chantageada, humilhada e agredida.
E isso aconteceu poucos meses antes de te conhecer. Eu não estou
pronta para me casar agora, e eu falo isso por mim e por você.

Tomo fôlego e o vejo morder o lábio inferior.

― Eu amo você, amo demais, mas eu amo mais a mim e eu


preciso passar por esse processo e gostaria que você estivesse ao
meu lado.

Ele segura minha garganta e aproxima meu rosto do seu.

― Será sempre assim? Tudo será do jeito que você quer? ―


pergunta com sua boca próxima à minha.

― Sim, do jeito que eu quero. E você ama fazer minhas


vontades, velhinho.

― Eu vou te esperar, minha pequena atrevida insolente.

Emílio me beija com paixão, carinho e devoção, e eu retribuo


tudo com o mesmo ardor. Fazemos amor a noite toda, trocamos
declarações apaixonadas e prometemos que, de agora em diante,
sempre seremos sinceros um com o outro.

O dia seguinte foi um caos, foi pior que quando voltei ao Brasil
depois da entrevista em que revelei todas as merdas que Gabriel
fazia. Agora tinha fotos e vídeos da sua agressão contra mim e a
avó de Emílio.

Recebi muitas mensagens de mulheres que diziam que


passavam por isso, muitas pessoas falando que jamais imaginariam
que algo assim acontecia com uma pessoa bonita e rica, e outras
afirmando que, de alguma forma, eu provoquei a agressão.

Eu fiz uma live com meu advogado para esclarecer tudo o que
houve comigo. Emílio estava sentado um pouco distante para não
aparecer no vídeo, mas estava ao meu lado. Ele sempre estava ali,
mesmo quando estava chateada e não queria falar com ele, ele
ainda estava ali.

Acho que a experiência traz a paciência, e isso ele tem de


sobra. Sempre espera o meu tempo, sempre cuidadoso e acolhedor.
Me observando de longe, mas perto o suficiente para me segurar se
eu desabar.

Depois de tudo o que me aconteceu, eu achei que nunca mais


iria amar.

Às vezes, quando achamos que tudo está acabado, o destino


coloca anjos em nossos caminhos. Há cinco meses, eu conheci um
anjo lindo chamado Maria, me encantei por ela e, através dela,
conheci seu pai. Ele me mostrou o que era ser verdadeiramente
amada.
Epílogo
4 anos depois

Finjo que não ouço Maria e Julia cochichando, elas estão


assim há uma semana. Estamos em Nova York, caminhando pela
Times Square e fazendo compras para comemorar o aniversário da
minha filha. Ela está fazendo dez anos e as duas ainda compram
roupas parecidas, ainda se divertem juntas e se amam cada vez
mais.

― Mãe, olha isso! ― Maria chama Julia, que vira a cabeça na


direção que ela aponta.

Confesso que ainda hoje sinto algo vibrando dentro de mim ao


ver como elas se tratam. Na primeira vez que Maria chamou Julia de
mãe, ela se desculpou dizendo que foi sem querer, e Julia chorou
feito uma criança e disse que iria amar se ela a chamasse sempre
assim. Isso foi há quatro anos.

Mas ela ainda não aceitou se casar comigo.

Moramos juntos, viajamos o mundo juntos, dividimos nossa


vida, resolvemos os problemas juntos, mas, mesmo assim, essa
mulher irritante e atrevida ainda não admite que é minha.

Fazemos amor todos os dias, ela diz baixinho ao meu ouvido


o quanto me ama, me espera ansiosa quando viajo e me envia fotos
na nossa cama. Me liga falando o quanto sente minha falta, me
enche de carinho, amor e atenção. Mas ainda não disse sim ao meu
pedido de casamento.

Ela não seria a mulher que virou meu mundo do avesso se


fosse algo fácil de lidar. Contudo ela me deu o que minha avó
sempre quis, estabilidade para Maria e emoção para minha vida.

Só falta aceitar ser minha esposa!

Ela parece ler os meus pensamentos, gira a cabeça e pisca o


olho enquanto balança o quadril lentamente. Eu desço meu olhar
para sua bunda e me lembro que há poucas horas estava todo
enterrado dentro do seu ânus, com ela gritando meu nome e
gemendo gostoso.

A insolente joga um beijo para mim e sorri largo.

É tão bom ver seu sorriso. Por alguns meses, quase não o vi.
A época do processo contra Gabriel foi complicada. Ele está preso
até hoje, não somente pela agressão, mas por todos os crimes que
descobrimos dele. O cretino falsificou a assinatura de Julia e fez
várias coisas ilegais. No que depender de mim, ele morre lá dentro.

Julia abriu uma ONG para mulheres que sofrem violência e dá


várias palestras sobre o assunto.

Eu não consigo mensurar o orgulho que sinto por essa mulher


tão resiliente.

Elas param do nada, cortando minha linha de pensamento,


noto que estamos na frente do prédio One Times Square e que as
duas olham para cima.

― O que houve? ― indago e vejo Maria apontando para o


prédio sorrindo.

― Olha, papai! ― diz, alegre.

Olho para a direção que ela aponta e gargalho alto ao ler as


palavras que estão escritas no letreiro do prédio.

“Casa comigo, velhinho?”


Volto minha cabeça para elas e encontro Julia ajoelhada na
minha frente com um joelho no chão e o outro flexionado e uma
caixinha preta aberta com duas alianças de ouro e brilhantes em
suas mãos.

― Emílio Castro Agustini, você aceita se casar comigo?


Aceita ser meu marido, amigo, companheiro e pai dos bebês que
ainda vão vir? ― pede sorrindo largo.

Eu a pego em meus braços, a aperto forte e a beijo ao som


das palmas da minha filha.

Enquanto ela põe a aliança no meu dedo, eu podia jurar que


meu coração batia tão rápido que parece prestes a sair voando pela
boca.

― Demorei demais?

― Você veio na hora certa. Agora, sim, é minha mulher!

― Só depois que nos casarmos, velhinho. Maria e eu estamos


planejando um casamento de contos de fadas, né, meu amor?

― Isso mesmo, papai, um casamento enorme...

As duas caminham fazendo planos para o casamento, e eu


olho minha aliança e percebo que tem algo escrito,

De sua pequena atrevida insolente para o meu velhinho.

Sorrio e as alcanço. Seguro a mão de Julia, que estica o


pescoço, me beija e volta a atenção para minha filha.
Três anos depois

Nem tento controlar as lágrimas e abraço Maria forte. Hoje ela


vai para o Instituto Le Rosey, eu sei que é o melhor para ela, mas
nada me impede de sofrer por saber que não vou mais ficar grudada
nela.

― Mama. ― Luiz bate em meu braço e eu viro meu rosto para


meu filho que está no colo do pai.

― Não chora, mãe, vamos nos falar todos os dias e nas férias
vamos nos ver. ― Meu anjo limpa minhas lágrimas.

― Se alguém tocar em você, me avisa que vou lá bater em


todo mundo! ― aviso e ela ri.

― Mãe, você viu o lugar, é lindo, vou ficar bem. Vou sentir
muito a sua falta, do papai, do Luiz e da vovó, mas estudei a minha
vida toda para entrar lá. Se lembra como quase fiquei doida por
causa da prova?

Maria virou noites estudando para o teste do instituto, Emílio


contratou os melhores professores para ajudá-la e ela vibrou
eufórica quando passou.
Meu marido passa nosso filho para mim e segura sua filha
forte em seus braços. Fala o quanto a ama com os olhos marejados
e Alexandra faz o mesmo.

Maria se abaixa e cochicha perto da minha barriga. Descobri


recentemente que estou grávida novamente.

― Maninho ou maninha, espere eu voltar para nascer, viu! ―


sussurra.

― Não se preocupe que não vou comprar uma meia até você
voltar ― prometo, e todos riem.

Abraçados, a vemos acenar e caminhar até o prédio, então


ela começa a conversar com algumas meninas.

― Ela vai ficar bem, meu amor. ― Emílio me abraça e beija a


cabeça do nosso filho.

― Eu sei. ― Me volto em sua direção e o beijo.

Maria está linda em seu uniforme azul com o brasão da


escola. Minha menina cresceu, tem 13 anos, é uma linda
adolescente, e eu sabia que este dia chegaria, só não estava
preparada para isso.

― Para mim, ela sempre será aquela criança que esbarrou


em mim no hotel em Londres e roubou parte do meu coração. A
outra, você que roubou. ― Seguro sua mão e a beijo.

― Você, minha pequena insolente, me faz mais feliz do que


jamais imaginei que seria. ― Encosta a boca na minha e nosso filho
de dois anos gruda o rosto em nós, beijando-nos.
Seguimos em direção à limusine e, enquanto Emílio segue
com nosso filho no colo, eu enrosco meus braços nos de Alexandra.

— Acho que nunca vi Emílio tão feliz — comenta olhando seu


neto fazer cosquinhas na barriguinha do nosso filho.

— Ele ficou receoso quando disse que estava grávida


novamente.

— Há medos que nunca nos abandonam, minha querida. —


Dá pequenas batidinhas em minha mão.

Ela se refere ao medo que seu neto tem de me perder como


perdeu sua primeira esposa.

— Obrigada por trazer alegria às nossas vidas.

— Obrigada por me enrolar naquele hospital e me obrigar a ir


para a suíte de vocês.

— Eu, enrolar? Imagina! Sou uma idosa ingênua e com


memória curta — mente com descaramento, e eu gargalho.

À noite, deitados na cama depois de fazer amor, acaricio as


costas do meu marido e ouço o leve ressonar.

Nunca me imaginei sendo tão feliz.

Meu canal do YouTube, hoje, tem mais de vinte milhões de


seguidores; no Instagram, quase dobrou o número que tinha antes
de toda a confusão com Gabriel.

Além dos dois, também tenho um podcast em que falo sobre


agressão física, psicológica e mental. Convido pessoas que
passaram por isso, psicólogos, psiquiatras e terapeutas para
conversar.

Com a ajuda de Emílio, criei uma ONG para ofertarmos ajuda


psicológica para quem passa por esse tipo de abuso. Vi a
necessidade disso porque, enquanto estava vivendo aquele
turbilhão, muitas pessoas falavam que viviam coisas parecidas e
fizeram urgir em mim a vontade de ajudar de alguma forma quem
precisava.

Demorou muito, mas compreendi que eu precisava falar sobre


o que houve. Errei quando me calei, pois, quando o oprimido se
cala, o agressor ganha. E foi isso que fiz por muito tempo, até que
dei um basta, até que entendi que não podia mais ficar calada.

Eu desejo que todas as mulheres que passam por isso falem,


não se calem, não abaixem a cabeça, procurem ajuda, seja qual for
o tipo de violência que estejam passando.

Quanto a Gabriel, segue preso até hoje. Há alguns meses, me


enviou uma carta de perdão, mas há coisas que não podem e nem
devem ser perdoadas.

— Você quer ficar aqui por alguns meses? — Emílio indaga


cortando meus devaneios.

— Como descobriu?

— Porque eu te conheço. Ao menor sinal de que Maria estiver


com problemas, você vai arrombar o portão e tirá-la de lá.

— Ah, vou mesmo — confirmo.


Rio e ele me acompanha.

— Ela vai ficar bem. — Volta a afirmar.

— Vai te atrapalhar muito se ficarmos aqui?

— Apenas terei que viajar algumas vezes. Os resorts no Brasil


e na Tailândia deram tão certo que estamos construindo mais cinco
em alguns países. E a ONG, Podcast e as suas palestras?

— A ONG está aos cuidados de profissionais competentes e


faço reuniões quinzenais. O podcast é uma vez por semana e pode
ser feito por videoconferência. As palestras, vou reduzir a duas por
mês. Quando você voltar das viagens, estarei te esperando nua e
com as pernas abertinhas. — Pisco um olho.

— Atrevida safada.

— Velhinho gostoso.

Fim.
Agradecimento
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, pois sem ele nada
seria possível. E a minha amada e luz da minha vida, minha filha,
Gabi.

Agradeço às parceiras e amigas literárias, pelas indicações e ajuda


nas divulgações, a Lidiane Mastello, Mariana Santana e revisoras
desta obra, a Eliane Diniz, que foi a beta desta história e me deu
dicas maravilhosas, a Natália minha leitora crítica e 2° revisora, que
com sua voz, meiga, calma e tranquila diz que vou consegui
terminar, que sempre me incentiva a escrever novas histórias,
obrigado por tudo, adoro vocês. E agradeço ainda a você leitor pelo
desejo de conhecer minha obra.
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