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Copyright © 2023 J Munyz

Capa: Dennis Romoaldo


1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimento descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados


Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida por
quaisquer meios existentes sem a autorização prévia e expressa da autora. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei N° 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO

SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
EPÍLOGO
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SINOPSE

Ele é frio como um iceberg. Temível. Insensível.


Ela é apenas uma órfã, saída de um orfanato e sem muitas
opções para o futuro.
Ele é um bilionário, averso a relacionamentos.
Ela é uma garota que é obrigada a vender o próprio corpo para
garantir o seu sustento.
Maya Oliveira é a primeira acompanhante de luxo virgem e
caiu justamente na cama do libertino.
Marco Mancini é o primeiro cliente da inexperiente garota.
Um encontro explosivo. Tesão. Vontade. Querer.
Uma proposta. Um contrato.
Um ano juntos, para matar o desejo. Para se apaixonarem.
Mas ele precisa casar e Maya jamais seria sua escolhida.
Ela aceitou por muito tempo ser amante, mas agora,
apaixonada, jamais aceitaria ser a outra.
PRÓLOGO

Jamais achei que ao sair do orfanato me depararia com esta


situação. Não imaginei que me veria obrigada a vender o próprio
corpo para ter que me manter. Não pensei que seria tão difícil fora
das paredes do orfanato e que apenas me restasse esta
possibilidade.
Não que as coisas por lá fossem fáceis, claro que não. Lógico
que existia bullying, agressões, brigas, solidão e um vazio que
carrego comigo até hoje. Por não saber minha origem, quem me
colocou no mundo e o meu questionamento mais íntimo e mais
doloroso: por que não me quiseram?
Ouvir constantemente de uma funcionária maldosa que eu era
filha de chocadeira é apenas um exemplo de como fui atacada,
machucada e apenas mais uma lembrança ruim que tento aos
poucos deixar para trás.
Felizmente nem tudo se resumia a lembranças ruins, há
também coisas boas a serem lembradas.
Há na minha mente momentos mínimos de afeição, de abraços
e beijos. Todos de Catarina Oliveira, que foi quem me encontrou
quando fui deixada na porta do orfanato.
Segundo a mesma foi amor à primeira vista e este amor ela
demonstrou até o dia de sua morte precoce, em um acidente de
trânsito, quando eu tinha oito anos de idade.
Foi Catarina que escolheu meu nome Maya e que deu-me seu
sobrenome para que eu tivesse o mínimo. Ela que teve que cuidar
do marido na luta contra um câncer, que anos depois foi perdida e
que assim que viveu seu luto, deu entrada na papelada para a
minha adoção. Ia ser de verdade uma Oliveira, pois ela seria
verdadeiramente a minha mãe, mesmo que meu coração já a
reconhecesse como tal.
Mas ela não teve tempo de realizar seu sonho. Não teve
possibilidade de realizar meu maior sonho.
De ter uma mãe. Uma família.
Uma batida. Um motorista embriagado. E foi-se embora meu
desejo mais querido, minha única possibilidade, pois aos oito anos
jamais tive sequer outra chance, jamais foi cogitado que eu deixasse
aquele lugar a partir de uma adoção. Ficou claro para mim que
somente sairia na maioridade.
E depois daí vieram os maus-tratos, pois sem Catarina o
carinho e a proteção se foram.
Minhas lembranças a partir de então se resumem apenas a dor
e sofrimento.
Implicância por ser ruiva, destoando de todas as outras
crianças, ter sardas, ser alta e magra demais, segundo a opinião de
muitos que usaram minhas diferenças para me machucarem, para
fazerem de mim uma vítima sem chance alguma, tamanha era a
horda de crianças maiores e até mesmo funcionários envolvidos na
rotina maldosa em que se tornou a minha vida depois da morte de
Catarina.
Mas felizmente as coisas não foram ruins para sempre, pois
quando estava com 16 anos encontrei uma amiga e, pela primeira
vez desde que Catarina morreu, tinha alguém com quem contar.
Tinha Jéssica.
Garota de 17 anos, que foi trazida para lá após ter sido
resgatada de uma casa de prostituição. Aparentemente já tendo
visto de tudo na vida e tendo sido obrigada a vender o corpo para
sustentar o vício de drogas da mãe, que era responsável pelo
prostíbulo de onde foi resgatada. A mãe de Jéssica foi presa, o lugar
fechado e, como ela era de menor e não tinha parentes, foi trazida
para o orfanato.
E apesar das diferenças entre nós, apesar do oceano de
experiências de vida que nos separava, o entendimento foi imediato.
Viramos amigas. Melhores amigas. Cúmplices.
E a partir daí ninguém mais ousou mexer comigo. A partir daí
existia uma leoa ao meu lado.
Pronta para brigar, preparada para me defender. Morrer e
matar para que ninguém voltasse a me machucar.
Éramos um time. Éramos Jéssica e eu.
Até que ela fez dezoito anos. Até que teve que partir.
Infelizmente eu ainda teria um ano aqui dentro. Infelizmente eu
teria que enfrentar tudo isso sozinha mais uma vez.
Mas as coisas não foram ruins como pensei. Agora eu tinha a
sombra de Jéssica ao meu redor, o amadurecimento e o
fortalecimento que a nossa convivência me proporcionou. Tinha os
telefonemas de minha amiga para me dar forças para seguir por
aqui e a possibilidade de ficarmos juntas tão logo meu tempo por
aqui se findasse.
E demorou a passar. O ano pareceu arrastar-se e transformar-
se em três, quatro ou mais. Mas chegou. Felizmente o dia de partir
finalmente chegou.
E do lado de fora estava minha amiga. Minha irmã de coração
que me abraçou, me acolheu e me levou para casa.
— Não, não e não!
Jéssica é enfática em sua negativa.
— Você jamais vai entrar nesta vida, jamais vou permitir isso.
Minha amiga é firme, tenta de alguma forma me demover
desta decisão. Mal sabe ela o quão impossível isso é. Mal sabe ela
que isso é fato consumado.
— Não vou aceitar que você tenha essa vida...
— Quer dizer que você pode ter essa vida! Que você pode
pagar todas as despesas da casa, enquanto eu fico sem colocar
nenhuma grana aqui dentro, apenas sendo uma despesa, um
estorvo para você!
A voz embarga. Saber que a minha amiga vende seu corpo
para sustentar a nós duas apenas faz a vontade de chorar aflorar,
apenas faz as lágrimas virem aos montes.
— Claro que você não é um estorvo, você é minha família.
Somos você e eu contra o mundo.
Jéssica me abraça. Aperta-me em seus braços.
Entendo que ela quer me proteger, entendo que ela já viu
coisas demais nesta vida.
Um pouco mais calma ela tenta conciliar, tenta me dissuadir da
ideia.
— Maya, tenha paciência. As oportunidades irão surgir...
— Quando? Já está com seis meses que deixei o orfanato...
— Estude, faça cursos...
— Para você pagar, para ser uma conta a mais no final do
mês? Isso não é justo, Jéssica! Você ter que levar esta vida,
enquanto eu fico em casa sem colocar nenhum centavo aqui dentro!
— Não é bem assim, Maya. Você já trabalhou, já colocou
dinheiro...
— Quando? Quando eu arrumei subempregos em lugares que
nada mais eram do que ambientes onde os proprietários permitiam
que os clientes abusassem das garçonetes? Que por eu não ter
qualificação profissional ou estudo eram as únicas oportunidades
que tinha e que no final ao invés de gorjetas, a única coisa que eu
recebia eram abusos e violações por parte dos clientes que
acreditavam que eu fazia parte do cardápio?
Ela fica muda por um instante, lembrando das vezes que
chegava em casa sentindo-me violada, das vezes em que fui
orientada a ser boazinha com os clientes, o que apenas levou-me a
optar por demitir-me e parar de sujeitar-me a tudo isso.
— Maya, você não entende! É por lembrar-me de como tudo
isso lhe afetava que jamais vou permitir que você venda seu corpo,
que jamais...
— É diferente, Jéssica, agora será consensual, por opção e
aceitação minha. Será profissional.
— Mas vai dar no mesmo. Terá alguém te tocando, você estará
se vendendo...
Sua voz embarga. Dói nela. Dói demais.
Por mais que ela faça isso desde sempre, machuca.
Não é isso que sonhava para a sua vida, certamente este não
seria o sonho de ninguém. Tampouco é o meu.
Mas não posso deixar que se flagele sozinha, que se sacrifique
sozinha.
Não posso deixar tão somente para ela esta dor.
E é por isso que qualquer argumento será rebatido. Que essa
discussão se mostrará infrutífera.
Porque nada me fará mudar de ideia. Nada no mundo me fará
não ir por este caminho.
Pois tenho que ajudá-la com as despesas da casa. Tenho que
contribuir com algum dinheiro.
Na verdade, o que preciso mesmo é dividir com Jéssica esta
realidade que a aniquila. Dividir com ela este fardo que, a cada dia
que passa, percebo estar ainda mais difícil de ser carregado
sozinho.
CAPÍTULO 01

Frio, insensível. Homem de gelo.


Iceberg.
Apenas alguns dos adjetivos que a mídia repetitiva e sem
criatividade usa para se referir a minha pessoa.
Algo que não me causa raiva, e nem abalo. Apenas tédio.
Enfado.
Tampouco poderia me chatear, pois na verdade é o que sou. E
agradeço por isso.
Essa frieza garante que tenha pulso para administrar a
empresa de investimentos que herdei. Garante que a mantenha no
patamar de excelência e confiabilidade no qual está desde que eu
me lembre.
A Mancini Investimentos é a maior empresa nacional neste
ramo e, se depender de mim, continuará sendo.
Trabalho arduamente para isso. Todos os meus funcionários
empenham-se para isso.
E por este motivo a minha conta é sempre recheada e meu pai
pôde se aposentar precocemente e sem qualquer preocupação com
relação a estabilidade da empresa que conduzo com competência e,
por que não, sangue-frio.
Este sou eu. Este é Marco Mancini.
CEO, bilionário e, segundo os sites sensacionalistas, um dos
solteiros mais cobiçados do país. Título que serve para atrair ainda
mais mulheres para a minha cama, e claro que isso não é motivo
nenhum para reclamação.
Porra, gosto de mulher.
Ruiva. Loira. Negra.
Curvilíneas, mignons.
Brasileiras, gringas.
Qualquer que seja o idioma, a etnia, pois o que gosto mesmo é
de uma gostosa na minha cama. Uma que saiba o que fazer entre
quatro paredes.
Que faça o meu sangue ferver e que mostre que a frieza que
me é tão comum no mundo dos negócios, jamais está presente nas
minhas fodas. Pois neste momento sou fogo puro. Cheio de taras,
desejos, porque adoro foder. Adoro comer uma gostosa.
Não importa que seja uma modelo, socialite, uma que encontre
nas noites cariocas ou simplesmente uma acompanhante de luxo.
Nada disso importa, desde que eu esteja bem enterrado em uma
boceta quentinha e que a mulher saiba que é apenas sexo e que
jamais pode esperar de mim nada mais do que isso.
Claro que não precisaria pagar por sexo, a minha aparência e
conta bancária garantem que as mulheres orbitem ao meu redor.
Mas pago e gosto de pagar. E talvez seja uma das coisas que o
meu dinheiro compre que me traga mais satisfação. Seja algo que
realmente vale a pena ser comprado.
Horas de prazer. Horas em que alguém que sabe o que faz
exerce com maestria aquilo a que se propõe.
E claro que por serem tão dedicadas e por me fazerem gozar
tão fodidamente gostoso, é que são mais do que recompensadas.
Com muito mais do que o cafetão cobra e sempre com um orgasmo
de sair do prumo.
E esses pensamentos apenas me fazem pegar o celular para
contactar Beto, que não quer ser designado como cafetão e sim
como agenciador. O caralho que me importo com isso, desde que
ele continue conseguindo as mais gostosas e experientes mulheres.
Disco o número dele e ele não demora a atender. Jamais
decepcionaria um cliente do meu gabarito.
— Boa tarde, senhor Mancini!
Diz simplesmente.
— Nove horas, no local de sempre.
Um hotel cinco estrelas. Sem vínculo ou intimidade, mas com
todo o conforto possível.
Nada mais precisa ser dito. Ele tem tempo demais nesta vida,
eu tenho contratado mulheres demais para que ele tenha qualquer
dúvida.
— A escolha de hoje fará com que seja generoso. Muito
generoso.
Beto ri como se estivesse aprontando algo, como se estivesse
escondendo algo.
E tudo isso é combustível. Este simples diálogo serve de
estímulo para mais tarde.
E mais do que nunca torço para que ele esteja certo.
Mais do que nunca torço para que a surpresa seja grata.
E neste momento me vem à cabeça os motivos que me fazem
continuar saindo com acompanhantes de luxo: a variedade e a
oportunidade de escolher o tipo que desejo em determinado
momento.
Mas principalmente a possibilidade de ser surpreendido. A
possibilidade de sair da rotina e da mesmice que por vezes me
abate.
Até parece que faz semanas que não transo e não apenas
dias. A ansiedade em meu corpo parece querer desmentir esta
realidade.
E tudo porque Beto insinuou algo, instigou-me.
Mal vejo a hora de ser surpreendido, mal vejo a hora de me
fartar no corpo de mais uma delícia.
E parece que não terei que esperar muito, pois a campainha
toca e sei que é a escolhida da noite.
Todos no hotel agem com confidencialidade, jamais um
renomado hotel como este agiria de forma diferente.
Assim que a garota chega, eles a trazem até mim. Trazem a
presa ao meu encontro.
E saem discretamente, permitindo que seja apenas eu e a
acompanhante da vez.
Vou em direção à porta, quero ver o que Beto aprontou desta
vez.
E não demoro a saber que ele tinha razão. Quando abro a
porta concordo que ele merece que eu seja generoso.
Uma ruiva. De lindos olhos verdes. Com uma expressão de
inocência que é capaz de enganar até mesmo um cínico como eu.
Meus olhos correm por todo o seu rosto, apreciando inclusive
as sardas que salpicam sua pele translúcida.
E meu olhar se demora, muito mais do que o normal. Até
mesmo a curiosidade por visualizar seu corpo é vencida pela
apreciação instantânea que me toma.
Linda. Demais.
E esta constatação apenas é reforçada quando meus olhos
iniciam a inspeção por seu corpo.
Gostoso. Cheio de curvas nos lugares certos. Que mal posso
esperar para confirmar com mãos e língua esta minha primeira
impressão.
Dificilmente digo meu nome, ou perco tempo com meras
formalidades. Eu não gosto de tal intimidade, elas aparentam
também não quererem qualquer tipo de envolvimento.
Profissionais. Um trabalho, que coloca comida em suas mesas.
Pela primeira vez tenho vontade de dizer meu nome e
principalmente de saber o dela.
Talvez por saber que não teremos somente esta vez. Por saber
que esta ninfa ruiva estará ainda outras vezes em minha cama.
Estendo então a mão e digo:
— Marco.
Sem necessidade de sobrenome. Apenas um nome que ela
possa gritar enquanto me enterro dentro dela.
— Maya.
Diz enquanto leva sua mão à minha.
Gosto do nome. Muito.
Mas gosto principalmente do toque.
E neste momento sei que posso ser generoso, muito generoso
com aquele que colocou esta linda ruiva no meu caminho.
CAPÍTULO 02

Claro que a todo instante penso em desistir. Claro que sei que
se seguir em frente com esta minha decisão será um caminho sem
volta.
Lógico que tentei evitar. Saí infinitas vezes atrás de emprego e
em todo canto diziam que não tinha qualificação, experiência e toda
e qualquer desculpa que pudesse confirmar a negativa. Os dois
únicos sins que recebi nada mais eram do que emprego onde o
proprietário escolhia moças jovens que pudessem atrair a atenção e
as mãos de seus clientes. Sem ser consensual, desejado e o pior,
obrigando-nos a serem coniventes e até mesmo dóceis com algo
tão ultrajante.
Isso levou-me a demissão. A pedir para sair. Mesmo sabendo
que precisava ajudar Jéssica e que não era justo que somente ela
fosse responsável por nos manter.
E a incapacidade de conseguir outra qualificação, associada a
percepção de que os programas de Jéssica tinha um intervalo cada
vez menor, fez-me estudar outras possibilidades, fez-me decidir por
também ir por este caminho.
— Eu sabia que seria demais para você!
Ela diz com certeza, com propriedade.
— Pois se apenas estas roupas ousadas lhe causam
desconforto, imagina o contato, o toque.
Engulo em seco sabendo que ela está certa.
— Vou ligar agora para o Beto e...
— Não!
Digo firme, tentando encerrar a discussão.
— Mas Maya...
— Não é você que sempre diz que confia nas escolhas de
Beto, que ele jamais lhe colocou em roubada, que os clientes dele
são...
— Tá, tá eu sei o que digo sobre ele! Mas é diferente!
Sei o que ela quer dizer e por isso não vou enfrentar, vou por
outro caminho.
— Jéssica, não foi você que solicitou pessoalmente a ele que
escolhesse...
— Foi. Pedi que escolhesse um cara legal, que não tivesse
fetiches capazes de assustar você e que não fosse adepto do
BDSM.
Engulo em seco, pois até mesmo uma virgem como eu sabe o
que isso significa.
— Sou mais do que grata pelo seu cuidado...
— É o mínimo que poderia fazer tendo em vista que você é
virgem!
Sim, ela tem um ponto.
— Só pode estar louca de se propor...
— Jéssica, você acha que não tentei outras coisas? Acha que
faria isso se tivesse outra escolha, ou que você faria isso se também
tivesse escolha?
Ela engole em seco.
— Claro que não! E mais, você fala em virgindade como se eu
fosse intacta. Já beijei, já toquei e fui tocada. Apenas não tive
namorado sério, e talvez por isso não me entreguei, pois não queria
que o meu primeiro fosse um dos caras aleatórios que peguei em
minhas saídas. Mas não é que romantize a virgindade ou que ache
que casaria com o primeiro que transasse. Apenas não aconteceu.
Ela suspira, aparentemente mais tranquila com o que escuta.
De repente ela percebe que esta é uma briga perdida.
— Parece que não mudará de ideia e que não tem outro jeito a
não ser aceitar sua decisão.
Dou um sorriso fraco, pelo menos venci esta batalha, mesmo
que o meu interior esteja cheio de conflitos que não sei se serei
capaz de superar. Somente a noite mostrará se serei ou não capaz.
— O que não tem remédio, remediado está!
Filosofa.
— Então vem, Maya. Já que está decidida a seguir em frente,
ajudarei você a ficar ainda mais bela. Tornarei você irresistível.
Certamente o cara escolhido por Beto agradecerá aos céus assim
que colocar os olhos em você.
Suas palavras apenas me agitam mais, pois faz tudo parecer
ainda mais real. Infelizmente foi minha escolha e será minha opção
de vida até que consiga enxergar uma outra forma de não ser um
peso para aquela que me acolheu, que me deu um teto e comida,
em um mundo em que ela é meu único vínculo, minha única amiga.
Minha irmã.

Mesmo com tudo em mim gritando para que desista, sigo em


frente. Contrariando as necessidades das minhas entranhas, aperto
a campainha.
E enquanto espero, meu coração bate alucinado. Enquanto
aguardo aquele a quem me venderei, temo ter uma síncope.
Felizmente ou infelizmente minha espera acaba.
A porta é aberta. Tenho diante de mim um homem alto, com
olhos de um azul intenso. Traços másculos, barba por fazer e cabelo
um pouco maior do que convencionalmente vemos em um homem
de terno e gravata.
Sim ele está vestido formalmente e isso apenas o deixa ainda
mais bonito.
Não que eu esteja aqui para apreciá-lo, não que sua beleza
melhore algo do que se passa dentro de mim.
Estende a mão e diz:
— Marco.
Apenas o nome, não querendo qualquer outra intimidade que
não seja a que me propus a fazer.
— Maya.
Também sou sucinta enquanto estendo a mão.
O toque é agradável. Quente.
Interrompo o contato. Isso não é uma apresentação para uma
amizade futura, é apenas como se fosse um aperto de mão entre
partes e entre o que foi firmado.
Felizmente ele parece bem à vontade, como se lhe fosse
comum situações como esta. Deixarei que me guie, que me leve,
pois uma virgem não seria capaz de dar às cartas.
Apenas seguirei meus instintos e torcerei para que seu toque
continue me sendo agradável.
Para que o que me espera seja ao menos aceitável.
E logo descobrirei, pois ele não parece ter tempo a perder, pois
mal o nosso contato é encerrado, ele já me coloca para dentro e
fecha a porta.
E mal estamos sozinhos e ele já me aperta em seus braços,
com minhas costas comprimidas na parede.
Aparentemente não tem tempo a perder. Parecendo querer
tirar todo o proveito do dinheiro investido.
E a mim resta apenas tentar ser no mínimo responsiva. Que
não dê motivos para que ele reclame da minha “performance”, pois
realmente preciso me sujeitar a seguir com isso, ao menos neste
momento da minha vida.
E o mais importante, que eu consiga esconder a minha
virgindade, pelo menos enquanto não houver a penetração, pois não
quero que ele desista, porque ao menos com Marco, se realmente
este for o seu nome, não senti repulsa, aversão. Apesar de esta não
ser de forma alguma a situação que escolheria para ter estes braços
fortes ao meu redor.
CAPÍTULO 03

Gostosa, é a única coisa em que consigo pensar.


Ter meu corpo colado ao seu confirma o que suas roupas
mínimas sugeriram.
Enquanto a tenho envolta em meus braços, agradeço por ser
uma acompanhante de luxo, pois não há necessidade de conversa e
muito menos de dourar a pílula. Ela sabe por que está aqui, não
preciso agir com falsos pudores, não preciso inventar um jantar e
muito menos um encontro para que possa mapear seu corpo com
minhas mãos ansiosas. Não preciso perder tempo quando a única
coisa que quero é foder, é comer esta linda ruiva.
Enquanto minhas mãos percorrem o corpo de Maya, lembro de
algo que precisa que seja exposto imediatamente.
— Maya, eu não beijo. Nunca.
Digo baixinho em seu ouvido.
— Garanto que gostará do nosso tempo juntos, mas beijo para
mim é um limite rígido.
Deixo claro, apesar de nunca ter tido problemas com nenhuma
menina do Beto. Elas sempre são solícitas, até mesmo submissas.
Ela faz um pequeno movimento confirmatório com a cabeça, o
que faz com que minha boca roce ainda mais em sua orelha.
Aproveito e exploro toda a região. Mordo, lambo e chupo o lóbulo,
pescoço e nuca.
Ouço um arfar e um gemido abafado. Gosto disso. Gosto que
seja tão responsiva.
Minhas mãos ansiosas decidem que já foram castas demais,
decidem que não tenho mais um segundo a perder.
E começo a exploração. Pela parte da barriga que está à
mostra, pelos seios mal cobertos pelo top. Duros, que cabem
perfeitamente em minhas mãos. Toco-os, aperto-os, mas não é
suficiente. Preciso vê-los. Colocá-los na boca.
Levo a mão à suas costas e acho o zíper e em poucos
segundos consigo o que quero. Retiro então o tecido e a tenho nua
da cintura para cima. E por mais que salive de vontade de tomar
seus mamilos em minha boca, preciso vê-los.
Então afasto-me e a cena é de mexer com a libido até mesmo
de um padre.
Maya está levemente descabelada, com os olhos fechados, a
boca semiaberta. Seu colo totalmente à mostra. Seios lindos,
empinados, com mamilos rosados.
Minha calça estufa. Mal começamos e estou duro, muito duro.
Mas eu tenho controle, sempre.
Por mais que eu esteja louco para cair de boca nela, obrigo-me
a ficar onde estou, obrigo-me a tirar minhas roupas.
Lentamente, como se eu não tivesse louco para tê-la.
Maya então abre os olhos, talvez estranhando a minha
distância.
E parece hipnotizada, deslumbrada.
A cada parte minha que se desnuda, percebo-a ansiosa,
desejosa.
E tiro quase tudo sob o olhar apreciativo da garota. Fico
somente com a boxer branca que deixa claro o meu estado.
E então decido que já me controlei demais, decido que ela é
gostosa demais para ficar longe de mim.
Aproximo-me e tiro a saia. Deixo a ruiva somente com uma
calcinha minúscula e com a sandália de salto alto. Perfeita.
Colo novamente nossos corpos, faço-a sentir o meu desejo.
Ela ofega e eu gosto. Ainda há tecido entre nós, mas é gostoso o
atrito.
Viro-a de costas e sua bunda está exposta em um fio dental
que faz o pau pulsar e babar na cueca.
— Você é gostosa pra caralho, ruiva! — digo, com a boca
colada em seu ouvido.
Encaixo o pau na sua bunda empinada e ela geme. Minhas
mãos acariciam os mamilos tesos e ela busca ainda mais o contato.
Uma das minhas mãos vai em direção à barriga plana, o
umbigo e segue ao seu destino.
Ela ofega quando acaricio seu sexo por cima do tecido, mas é
insuficiente.
Afasto a porra da calcinha e ela geme como uma gata no cio.
— Porra, garota, você está encharcada!
Moendo em sua bunda gostosa, com meus dedos estimulando
o seu clitóris duro, somente posso pensar que Beto acertou em
cheio na escolha.
Linda, gostosa demais e responsiva ao meu toque.
Nada de fingimentos ou gemidos forçados, tenho certeza em
afirmar que ela está curtindo nosso lance tanto quanto eu.
E por isso ela merece um orgasmo. O primeiro da noite. O
primeiro de muitos.
Mas não gozará nos meus dedos, gozará no meu pau.
Viro-a de frente e ela geme frustrada. Talvez por eu ter
interrompido o toque.
Ela abre os olhos e vejo tesão puro em suas pupilas. Apenas a
confirmação do seu desejo me deixa insano. Tenho vontade de
meter duro, contra a parede. Fodendo-a até a exaustão.
Mas algo me impele a levá-la para a cama. Não sei se sua
entrega, não sei se a certeza de que não me contentarei com um
lance rápido.
Quero degustá-la, saboreá-la. Quero-a montada em mim, de
quatro, quero-a vezes sem fim.
— Vamos para a cama, ruiva. Não posso mais esperar.
O bom de estar com uma acompanhante é a possibilidade de
dizer o que realmente sinto. Não preciso me policiar e muito menos
temer que se gere qualquer expectativa. Elas sabem o que espero
delas e o que esperar de mim.
Levanto-a em meus braços, sequer consigo esperar que
caminhe até a cama.
Coloco-a sobre os lençóis e olho a cena à minha frente. Os
cabelos formando uma cortina ruiva, a pele alva fazendo contraste
com o tom escuro das cobertas e a respiração de Maya indicando o
quanto está afetada.
Ela me olha desejosa e eu encaro-a de volta.
Massageio o meu pau por cima da cueca e ela suspira alto.
Lentamente removo o obstáculo derradeiro e seus olhos quase
saltam das órbitas. Imagino que seja o comprimento do meu
membro que tenha lhe causado tal assombro, ou até mesmo o meu
estado de excitação.
Masturbo-me olhando para sua boquinha aberta, imaginando-a
ao redor do meu eixo. Decido que hoje ainda receberei um boquete
dela, mas por ora preciso estar dentro da ruiva.
Olho para o móvel ao lado da cama e vejo os preservativos.
Olho então para Maya e digo:
— Tire a calcinha.
A voz de comando. A necessidade crua no tom.
Ela retira lentamente e percebo talvez um receio, uma
vergonha.
Logo afasto para o lado tal pensamento, pois sei que ela já fez
isso mais vezes do que poderia contar. Mesmo que tal pensamento
me cause um aperto que sequer sei o motivo.
Afasto todo e qualquer pensamento quando a vejo nua.
Totalmente.
A boceta lisinha, brilhando de excitação.
Nos pés ainda a sandália, que decido que tirarei.
Quero-a sem nada, quero-a como veio ao mundo.
Solto meu membro pulsante e pego seu pé. Retiro a sandália.
Faço o mesmo do outro lado.
Lambo seus pés delicados e sinto o tremor.
Subo lentamente por todo o seu corpo, lambendo, chupando e
massageando tudo que encontro pelo caminho.
Meu rosto fica frente a frente com sua boceta e salivo para
colocar minha boca lá. Ela arqueia um pouco o corpo e sei o que
precisa.
Mas já está decidido que ela gozará no meu pau. Teremos
muito tempo depois para saciarmos todas as nossas taras
Estico meu braço e pego um preservativo. Abro-o com a boca
e rapidamente encapo o meu pau. Ela parece deslumbrada com
tudo, se eu não soubesse como leva a vida, poderia até dizer que
tudo é muito novo para a ruiva.
Posiciono-me sobre ela e levo minha boca aos seus seios.
Chupo um, depois o outro, enquanto meu pau comprime o
clitóris necessitado de atenção.
Ela geme enquanto arqueia sua pelve em busca de mais.
Maya quer, e só Deus sabe o quanto quero.
Pouco a pouco invado sua boceta quente. Por mais que eu
esteja louco para meter duro, quero sentir seu calor, quero sentir a
sensação de tê-la engolindo lentamente todo o meu pau.
De repente sinto uma resistência, de repente sinto-a tentar
fechar as pernas.
Sou um homem experiente, caralho. Sei o que essa barreira,
que impede meu pau de avançar, significa.
— Puta que pariu! O Beto mandou para mim a porra de uma
virgem?!
Digo exasperado. Fodido de ódio por ter debaixo de mim algo
inimaginável: uma acompanhante de luxo virgem.
CAPÍTULO 04

— Puta que pariu! O Beto mandou para mim a porra de uma


virgem?!
Escutar Marco praticamente gritar a descoberta da minha
virgindade, faz eu perceber que estava errada por achar que ele não
notaria, e faz eu lutar fortemente para sair da bolha de luxúria em
que estava envolvida.
Não sei se foi a atração intensa, ou se foi a forma como me
deixou à vontade quando não falou em dinheiro ou sequer me
lembrou em nenhum momento daquilo a que me propus. Ou se foi a
necessidade latente que sentia cada vez mais do seu toque, ou a
forma como me fez sentir desejada. Talvez tenha sido o fato dele ser
certamente alguém que eu escolheria para ficar, se me fosse dado
essa opção, pois ele não era nada mais que desejável, certamente
meu número. Tudo isso, junto com a minha determinação em fingir
que estava em um encontro enquanto bloqueava tudo e qualquer
coisa relacionado a dinheiro, ou ao trabalho que desempenharei até
que encontre outra forma de me manter, fez de mim alguém
desejosa por seus toques, seguramente ansiosa por entrega-lhe
minha virgindade.
Até que escutei suas palavras. Até que senti que saía
rapidamente do meio das minhas pernas.
— Não gosto de ser feito de bobo. Não gosto de levar gato por
lebre.
A voz irada e todo o calor de outrora sendo substituído pela
vergonha e pela sensação de rejeição.
Como se fosse um pecado ser virgem, como se todo o tesão
tivesse evaporado como por encanto.
Mas tenho meu orgulho, meu valor. Não é porque decidi fazer
do sexo meu meio momentâneo de vida, que me rebaixarei, que
implorarei para que continue de onde parou.
— Sou virgem sim e não menti para o Beto. Ele até mesmo
escolheu você para ser o meu primeiro, afirmando que não era
pervertido como alguns de seus clientes e talvez fizesse dessa
minha experiência algo “agradável”.
Faço aspas com os dedos enquanto me levanto da cama à
procura das minhas roupas.
Deixo meus longos cabelos encobrirem minha face, pois não
quero que ele perceba minha vergonha, mesmo que minha voz não
demonstre nada menos que altivez.
— Talvez Beto tenha subestimado você ao acreditar que ficaria
satisfeito em ter em sua cama uma virgem. Certamente não
imaginaria que ficaria parecendo um leão enjaulado com a
descoberta.
Enquanto visto minha calcinha, vejo que ele se aproxima.
Longe do calor do momento, a timidez se abate fortemente sobre
mim, mas meu orgulho supera todo e qualquer sentimento.
— Acredito que se você ligar agora para o Beto, ele mandará
alguém mais do seu agrado.
Olho diretamente nos seus olhos e vejo ira e raiva, certamente
não gosta de ser contrariado, de ter seus desejos frustrados.
Acredito que seja também a frustração que me impele a ter
tanta coragem, quem sabe a súbita rejeição.
— Se vocês pensam que vão me fazer de trouxa e que vai
ficar por isso mesmo, vocês estão bastante enganados!
Ele ameaça e faz a ruiva espevitada vir à tona.
— Escute bem o que vou dizer: eu estou aqui, por todo o
tempo me propus a fazer aquilo para que fui contratada, mesmo
sendo uma virgem. Agora, se você não gostou desta minha
condição, ou se sentiu enganado, converse com Beto, brigue com
ele, não faça mais negócio com ele. Pouco me importa.
Ele parece a ponto de explodir, e isso apenas me faz ser ainda
mais impertinente.
— E quanto a esta minha condição que tanto abominou, há de
existir alguém disposto a resolvê-la. Mas desta vez farei com que
Beto deixe isso bem claro para o próximo cliente. Quem sabe o fato
de alardear que ainda tenho o hímen intacto possa tornar-me mais
desejável? Quem sabe ele possa até mesmo fazer um leilão com
relação a isso que você mostrou tanto desprezo e desinteresse?
Mesmo a conversa me deixando ainda mais sensível, não
alivio nas palavras.
E não espero resposta. Sigo atrás das minhas outras peças de
roupa. Não ficarei aqui ouvindo impropérios de um idiota que acha
que tem o direito de me rechaçar porque ainda tenho a droga de
uma membrana.
Mas não faço isso rapidamente, não corro até a parede onde
minhas roupas estão amontoadas no chão. Muito pelo contrário,
tento ir lentamente, em momento algum deixo de rebolar ou de fazer
movimentos sinuosos.
E aposto que ele olha, aposto que baba na minha bunda, pois
ainda lembro de como a achou desejável antes de toda esta
confusão começar.
Mas ainda insinuarei mais, ainda não estou satisfeita com as
provocações.
Quando chego até onde as pequenas peças de roupas estão,
curvo-me para pegá-las, enquanto empino meu bumbum
sensualmente em direção ao ogro.
Sou uma virgem, mas já me agarrei, já seduzi.
E não me faço de rogada. Estou sendo rejeitada, mas passarei
por isso em grande estilo.
Mas parece que a rejeição não acontecerá, parece que ele não
é capaz de resistir a um truque tão velho quanto a invenção da roda.
Confirmo isso quando sinto-o colado tão logo ajeito minha postura,
quando sinto-o tirar as peças que juntei de minhas mãos e jogar em
outro canto qualquer.
Infelizmente, para ele, não facilitarei. Mesmo estando
morrendo de desejo, farei Marco pedir, farei com que lute para ter a
chance de ser o meu primeiro.
E por isso me afasto, ou tento.
Pois logo sinto ele me pressionar contra a parede e sinto
novamente seu membro comprimindo minha bunda.
Sua mão vai ao meu pescoço, enquanto diz zangado:
— O que você quer dizer com leilão, com...
Não preciso que vire minha cabeça, eu mesma procuro seus
olhos enquanto digo sem vacilar.
— Você entendeu muito bem. A única inexperiente aqui sou eu
e sequer sou inocente. Então não me faça perder ainda mais tempo
do que já perdi.
Digo e minha voz traz determinação. E mesmo ainda pingando
de vontade dele, obrigo-me a tentar me afastar.
Mesmo que seja impedida, mesmo que não consiga mover-me
um milímetro sequer.
Percebo que ele está alterado. Mexido.
Posso jurar que Marco mudou de ideia.
Mas infelizmente agora ele vai ter que rebolar.
Ou então dobrar e muito a aposta.
Mesmo que eu saiba que me deitaria com ele até mesmo de
graça.
Mas ele não precisa saber. E darei tudo de mim para que ele
não saiba.
Para que ele sequer desconfie.
CAPÍTULO 05

Respiro fundo tentando buscar um pouco de normalidade, um


pouco do meu gelo habitual.
Apesar de saber ser impossível. Não quando estou pulsando
desesperadamente entre as bandas de sua bunda.
Claro que jamais escolheria uma virgem, até mesmo a
dispensaria se Maya desejasse seguir por outro caminho, sequer
tentaria reaver o que já paguei ao fodido do Beto. Mas esta não é
sua intenção, muito pelo contrário. Pensa em procurar outro. Dar a
outro o que de bom grado me oferecia ainda há pouco.
E isso eu não vou aceitar, não vou permitir que um idiota
qualquer conheça o céu antes de mim.
— Claro que não vai procurar outro. Estou mais do que
disposto a continuar de onde paramos.
E esfrego-me despudoradamente contra sua bunda gostosa,
frustrado por ela ter colocado a calcinha, mesmo que minúscula,
entre nós.
— Mas eu não estou. Mudei de ideia. Gostei do lance do leilão.
Meus ouvidos custam a entender o que ela diz, e por um
segundo tenho vontade de esganá-la.
Mesmo sabendo que não vou adiante, aperto seu pescoço.
Dou uma pequena mostra de minha mais íntima vontade.
Ela não parece intimidada. Sequer parece estar no clima.
Enquanto babo por ela, enquanto faço questão agora de ser o
primeiro a me enterrar profundamente em suas dobras.
Tento então ir por outro caminho. Tento então negociar com
ela, pois se é um leilão que ela quer, é um leilão que terá. E garanto
que não há ninguém capaz de cobrir minha proposta, não quando
decidi que serei seu primeiro.
— Diga quanto, digo o valor. Garanto que não há entre os
contatos de Beto alguém capaz de cobrir minha oferta.
Digo confiante, sei que o sexo entre nós será uma realidade.
Ela leva sua mão até a minha e a afasta de seu pescoço. Não
ofereço resistência.
Ela de pronto se vira e neste momento sei que pagarei tanto
quanto Maya pedir.
A imagem de sua face perfeita, seus lindos olhos, a cor única
dos seus cabelos, fazem-me ter certeza de que não jogarei para
perder.
Quase escuto as engrenagens de sua cabeça funcionando e
espero ansioso para saber quanto terei que pagar para tê-la em
minha cama.
— Infelizmente agora o valor está totalmente fora do seu
alcance. Você, Marco, está fora do páreo.
Tenho vontade de rir, de gargalhar. Mal sabe ela que tenho a
maior fortuna deste país, que minha empresa é a mais sólida no
mercado.
— Apenas diga quanto. Quem sabe não lhe dou uma gorjeta.
Quem sabe com o valor você desista de levar a vida como
acompanhante de luxo e possa...
Não termino, pois ela me interrompe.
E diz o seu preço. Diz algo que talvez realmente não esteja
disposto a pagar.
— Como?
Pergunto para ter certeza de que não me enganei.
— Beijos. Quero beijos.
A fodida da garota quer me fazer perder as estribeiras.
— Você só pode estar brincando! Já disse que não beijo!
— Por isso falei que seria algo fora do seu alcance.
Respiro fundo e tento tê-la sem precisar fazer algo que sempre
evitei.
— Por que tudo isso agora? Você já tava ciente de que não
teria beijos e...
— Decidi que não terei minha primeira vez sem sequer ser
beijada. Talvez não tenha valorizado minha virgindade como ela
merecia. Nem financeiramente e nem nas condições em que a
perda dela aconteceria.
Porra de garota atrevida. Mas se ela pensa que vou ceder, ela
está muito enganada. Não com relação a esta condição.
Sem parar de olhá-la, digo decidido:
— Você já teve uma pequena amostra e viu que a ausência de
beijos em nada afetará a dinâmica entre nós. Mesmo que não
permita que eles aconteçam, garanto que você será bem
recompensada, tanto em dinheiro, quanto em orgasmos.
Ela morde o lábio cheio enquanto pensa. Não lembro de ter
desejado tanto uma resposta positiva, de ter desejado tanto foder
uma mulher.
— Infelizmente minha resposta é não! Não perderei minha
virgindade com você!
Dou um passo para trás, tamanho o baque que suas palavras
me causam.
— Você realmente me excitou muito, como nenhum outro.
Talvez até por isso jamais tenha chegado até o fim com os caras
com quem já fiquei. Infelizmente agora, pelo que me propus a fazer,
minha virgindade será uma questão de tempo, talvez aconteça já no
próximo encontro, quando espero que o cliente não seja tão averso
a virgens.
Bufo em ouvi-la falar sobre estar com outros quando tão
claramente rejeita estar comigo.
— Por me fazer sentir o que senti, somente o que já pagou ao
Beto seria suficiente, mas agora decidi que jamais abdicarei de
beijos. Muitos deles. Não na minha primeira vez.
É mesmo uma atrevida, uma abusada.
Mas infelizmente não há na terra alguém que faça mudar uma
opinião tão enraizada em meu íntimo.
— Não há acordo. Como eu disse este é meu limite rígido.
Quando penso que ela vai se afastar, tenho uma grata
surpresa.
Maya se aproxima. Totalmente.
Colados novamente. Respirando o mesmo ar.
Sinto suas mãos em meu peito, sua língua deslizar pelo meu
pescoço e nuca.
— Infelizmente não serei sua. Não totalmente.
Ela morde o lóbulo da minha orelha.
— Mas nada impede você de ganhar uma pequena amostra,
visto que foi até bem generoso no que se refere ao depósito que fez
ao Beto.
E antes que eu possa realmente entender o que suas palavras
querem dizer, sinto sua mão pequena envolver o meu membro.
Sinto-me novamente no paraíso.
Maya massageia a glande inchada e logo estou novamente
pronto.
— Como você rejeitou gozar dentro de mim, e agora, depois
de tudo, isso tornou-se impossível, resta a mim somente garantir
que goze, mesmo que seja somente com o toque da minha mão,
pois você merece isso, tanto pelo que pagou, quanto pelo que me
fez sentir.
E ela parece se esforçar para que aconteça. Com os dedos,
mão e movimentos que rapidamente me levam à borda. Somado a
isso há lambidas, chupões e mordidas. Em todos os cantos, onde
ela alcança.
Vez por outra atrevidamente ela aproxima-se da minha boca,
mas jamais a toca. Apenas insinua, jamais ultrapassa a barreira que
impus.
Aproveito a proximidade e puxo a lateral da sua calcinha, logo
a fina tira rompe-se.
E a tenho totalmente nua. A meu bel-prazer.
Toco-a. Delicio-me com seus mamilos, com sua bunda
gostosa, com sua boceta quente.
Ela geme, se esfrega, sem jamais parar de me masturbar.
De repente ela acerta o ritmo, a pressão exata, e demonstra
um querer que me põe insano.
Vejo que a ruiva também não está longe, percebo seu corpo a
ponto de se desmanchar.
As palavras desconexas, a busca desesperada pelo atrito.
E eu estou igual, louco para esporrar o meu desejo.
E ela vem, convulsionando em meus dedos.
— Ahhhhhhhh
E eu não aguento mais, apenas deixo vir.
Jatos e mais jatos de porra. Gozando apenas com os dedos de
Maya.
Sem boca, sem língua e muito menos boceta. Apenas o toque
de uma menina virgem.
Que mostrou-me a porta do paraíso. Que mostrou-me que ele
está literalmente a um beijo de distância.
CAPÍTULO 06

Poderia dizer que fiz isso para não devolver o dinheiro, poderia
dizer que já estou pensando como a profissional que me dispus a
ser.
Mas esta não é a verdade, e está bem longe de ser.
A verdade é que jamais tinha me sentido assim, que jamais
nenhum dos poucos caras com quem fiquei me fizeram sentir o que
Marco me fez sentir.
E não saberia dizer se foi sua beleza, seu toque experiente, ou
a química explosiva entre nós. Realmente não saberia dizer.
O que certamente saberia afirmar é que bati o pé e não voltaria
atrás e nem ele tampouco, mas jamais poderia deixar este quarto
sem ter o meu desejo saciado, pois o que era para ser algo
profissional, tornou-se querer, tornou-se realmente um momento de
desejo entre um homem e uma mulher.
Talvez tenha sido sua experiência, ou minha inexperiência,
certamente eu não tenho a resposta e nem me esforçarei para ter.
Queria saciar suas vontades e o fiz, assim como Marco
seguramente retribuiu a gentileza.
E agora é vida que segue, cada um para o seu canto.
Universos diferentes, com chance nenhuma de reencontro.
E tendo esta certeza tento me recompor e, tão logo consigo
um mínimo de controle e dignidade, busco o afastamento. Dou
passos no sentido de evitar que acabe implorando para que me faça
dele, retirando a condição imposta por mim, sabendo que se
certamente tivesse dinheiro ofereceria para que ele me levasse para
a cama, consumando o que começamos mais cedo.
Mas como as coisas estão longe de ser assim, continuo a me
afastar, mesmo que não perceba movimento algum de sua parte.
Marco continua inerte, não fala nada, muito embora saiba que
acompanha meus movimentos. A respiração profunda, ruidosa.
E quando aproximo-me novamente das minhas roupas, escuto:
— Espere.
Continuo de costas, embora não tenha feito qualquer menção
de pegar as peças espalhadas pelo chão.
O coração bate alucinado, louco para que ele nos permita
concluir o que queremos.
Sei que ele está vindo em minha direção. Sei que ainda resta
uma chance.
Sinto suas mãos em meus ombros, fazendo-me virar-se para
si.
Olho ansiosamente para sua boca e espero as palavras, a
agonia é tanta que mordo meu lábio inferior.
Ele parece não saber o que dizer, ou como dizer. Até que ele
faz algo melhor, muito melhor.
Mostra o que quer. Marco surpreendentemente me beija.
Com desespero. Com fome. Com luxúria.
E eu retribuo, sem cantar vitória, porque nós dois somos
vencedores.
Pois teremos nossos desejos saciados, terminaremos o que
anteriormente começamos.
Sua língua na minha, seu gosto arrebatando-me. Tornando-me
desejosa, querente. Refém.
O sabor, o querer. Um simples beijo transportando-me a uma
espiral de sensações que sequer sei como nomear.
E verdadeiramente não o quero. Somente quero sentir.
Deleitar-me, entregar-me.
E o beijo parece durar para sempre, ao mesmo tempo que
parece não durar tempo suficiente.
Afastamo-nos ofegantes, arfantes.
Tão logo separamos nossos lábios, Marco me coloca em seus
braços. Leva-me para a cama.
Beijo seu pescoço. Faço carinho.
Pois ultrapassamos suas barreiras mais íntimas.
Ultrapassamos as minhas também.
E agora não é mais sobre o dinheiro, pois já prestamos conta.
Agora é a sua vontade, é a minha vontade.
Ele me coloca na cama e logo está sobre mim. Jamais deixa
de me tocar, de me beijar.
Coloco a mão em seu membro e sei que está pronto.
Masturbo-o, pois é mais forte do que eu.
Ele retribui o contato e arranca de mim um suspiro desejoso.
Seus dedos se lambuzam em meu querer, em minha vontade de tê-
lo dentro de mim.
E ele parece entender esta minha necessidade, parece não
mais suportar esta espera.
Pelo jeito como busca pelo preservativo, pela forma apressada
com que o coloca.
Olho-o e mostro que estou pronta. Ele encara-me com fome.
— Faça valer a pena.
Diz simplesmente.
E não temos mais tempo. Não podemos esperar mais.
Ele se coloca na minha entrada. Com cuidado, como se
temesse me partir.
Marco avança lentamente, temendo me causar dor.
E mesmo com tanto zelo, a dor é inevitável.
Ele parece temer continuar. Eu, ao contrário, somente quero
que ele continue.
E mostro isso pelo aperto que minhas pernas fazem ao seu
redor, pela forma como ergo meus quadris.
— Continue. Prometo que farei valer a pena.
E o beijo.
Com sofreguidão. Dando-lhe permissão.
E ele entende. E continua.
Rompendo a barreira derradeira, causando-me uma dor que
parece insuportável.
Até que seus dedos encontram novamente meu clitóris, até
que ele faz-me desmanchar novamente sob seu toque.
E então Marco inicia os movimentos lentamente, como se lhe
fosse custoso, como se lhe matasse controlar-se tanto.
Ele grunhe, eu gemo.
Ele percebe que a dor foi substituída, percebe que estou
totalmente rendida às sensações.
E os movimentos aumentam o ritmo. E o toque de seus dedos
levam-me rapidamente à borda.
— Porra de ruiva apertada!
Ele diz de forma descontrolada. Os movimentos alucinados.
E sei que estou perto. Que falta pouco, muito pouco.
Talvez um toque. Um comando. Uma arremetida derradeira.
E ele me proporciona tudo, enquanto diz:
— Goza, ruiva safada. Goza gostoso no meu pau.
— Ah Marco....
E o êxtase vem.
Intenso. Glorioso. Devastador.
Algo que jamais senti, algo que me faz perder todo e qualquer
controle.
E gemo, mordo. Aperto-o em meu interior.
E era talvez o que faltava, o estímulo que Marco precisava.
Pois ele logo me acompanha. Sua libertação acontece.
Dura. Violenta. Pecaminosa.
Mostrando uma expressão de prazer aparente. Sua boca
emitindo um som que não deixa dúvida nenhuma de sua satisfação.
E sem que eu espere, Marco cola nossas bocas. Sem que eu
precise pedir, sem que seja condição alguma para algo entre nós.
Apenas porque quer, porque queremos.
Pois o beijo entre nós é bom demais para ser reprimido. O
contato de nossas bocas é fodidamente necessário depois do que
se passou neste quarto.
Algo que não tem a ver com obrigação, dinheiro e muito menos
dever.
Que tem a ver com a vontade mais primitiva, com o anseio
mais insano.
Com o desejo visceral entre um homem e uma mulher. Com o
querer cru entre o macho e a fêmea.
Onde se desconsidera a experiência, a inexperiência e os
limites autoimpostos.
Onde somente a luxúria e o prazer são senhores soberanos de
todas as vontades.
CAPÍTULO 07

Pensei que fosse me martirizar por permitir tamanha


intimidade, por permitir que depois de tanto tempo uma mulher
tivesse sua boca na minha.
Na verdade nem lembrava mais quando tinha sido a última vez
que havia beijado de língua. A única coisa que não esqueço é o
motivo por que parei de fazê-lo.
Expectativa. Ilusão. Esperar mais do que prazer de qualquer
envolvimento comigo. Isso foi o que me fez parar.
De beijar. De ficar próximo depois do sexo.
Coisas que evito, que deixo claro. Jamais crio falsas
expectativas.
Não cheguei a alardear quanto a não dormir ou ficar juntos,
pois não seria esperado por Maya, mas o beijo deixei claro. Muito
claro.
E mesmo assim, cedi. Depois de tanto tempo. De muito tempo.
Era isso ou perder a excelente foda que aconteceu. Era isso
ou permitir que a ruiva fosse embora sem que eu tivesse me fartado
em sua boceta apertada.
E foi isso. Assim as coisas aconteceram.
E enquanto esperava arrependimento, o que senti foi
satisfação. Êxtase.
Pois foi gostoso demais. Apesar de ter-me feito ultrapassar
meu limite rígido, foi algo que certamente faria novamente.
E foi tão bom que já em casa, deitado em minha cama, ainda
penso em tudo que aconteceu esta noite. Tenho certeza que se toda
esta atração tivesse acontecido com alguma mulher com quem
costumo sair, fatalmente repetiria a dose até me fartar.
De repente penso em algo. De repente me dou conta de que
posso sim garantir que Maya seja minha. Pelo menos até que sacie
o desejo que a ruiva despertou.
E de quebra acalmo um pouco do desconforto que me tomou
desde que nos despedimos, desde que tomei consciência de que
ela está disponível para outro e que seu agenciador garantirá
agenda cheia, pois isto também implicará em lucro para ele.
Desde o instante que nos afastamos, este desconforto me
acompanha, e mesmo não querendo admitir, não gostaria de abrir
mão de Maya. Não ainda.
Porra, fui seu primeiro. Fui o único a estar dentro dela.
E por mim ainda seria assim por uns dias, porque não estou
satisfeito que outro possa estar com ela. Não agora.
E posso fazer isso acontecer, pois tenho o dinheiro necessário,
o contato da pessoa que marcará seus programas, além do desejo,
que mesmo tendo sido aplacado momentaneamente, está longe de
ser extinguido.
E acontecerá, porque agora mesmo direi como quero que as
coisas aconteçam.
Pego o telefone que estava jogado na mesinha ao lado da
cama e rapidamente procuro o contato de Beto. Disco então para
ele, que atende logo no segundo toque.
— Boa noite, senhor Mancini! Em que posso lhe ajudar?
Percebo em sua voz o temor. Pensa que estou ligando para
reclamar da condição de Maya. Tenho até motivos e seria justificável
que o fizesse. Felizmente para ele a foda foi tão boa que, desta vez,
deixarei passar.
— Quero que reserve as próximas cinco noites de Maya para
mim!
Talvez sejam noites demais, provavelmente me fartarei logo na
segunda. Mas não tem problema, posso muito bem me dar ao luxo
de pagar pelas demais, mesmo que meu corpo perca o interesse. O
que não quero é passar vontade, imaginá-la com outro, quando
poderia ser eu o cara com quem Maya transaria.
— Eu poderia garantir três noites, pois amanhã e depois ela já
tem compromisso.
Ódio puro me consome.
— Desmarque! Quero as próximas cinco noites de Maya!
Minha voz não deixa dúvida da minha vontade, meu poder
impedirá que tenha qualquer outra resposta que não a positiva.
— Posso tentar transferir os programas para a parte da tarde e
garantir que às noites Maya esteja disponível.
Filho da puta! Quem este idiota pensa que sou? Não quero ela
cansada, nem quero compartilhá-la.
Na hora minha mente me faz lembrar que jamais me
incomodei em compartilhar, na verdade é algo que até gosto. Mas
não com Maya e sequer entendo por que com ela estou agindo
diferente.
E sequer quero entender, o que quero mesmo é que ele
compreenda que isso é algo inegociável e que não aceito não ter
minha vontade atendida.
— Quero exclusividade.
Digo firme.
— Mas, senhor Mancini, são clientes antigos, não posso falhar
com eles.
Será que ele não entendeu? Será que preciso desenhar?
— Olha, Beto, você sabe que gosto de variar e por isso mesmo
sabe que talvez eu enjoe dela antes que o prazo acabe. Então você
terá noites de sobra para marcar quem quer que seja para ela. Mas
não agora. Neste momento quero exclusividade.
— Senhor Mancini, não sei como dizer isso para...
— Ora, garanto que se você se esforçar, consegue. De
inocente você não tem nada, Beto. Diga que ela está gripada, que
vai viajar, que vai se mudar. Isso é com você. O que quero é que
garanta que eu tenha exclusividade durante este tempo que estou
estipulando.
Ele fica calado. Parece pensar em uma forma de me agradar.
Sei como posso forçar um pouco mais, pois não há nada que
meu dinheiro ou poder não possa resolver.
— Sabe, Beto, estou disposto a ser muito generoso com Maya
e também com você, caso consiga atender a este meu pedido.
Infelizmente se sua resposta for negativa, saiba que jamais receberá
novamente um telefonema meu. Fique certo de que nunca mais
faremos negócios novamente.
O tom gelado que me é comum. A segurança e a
determinação que me são inerentes.
Escuto seu arfar no outro lado da linha, sabendo que pensa
em uma forma de resolver esse impasse. Sei também qual será sua
resposta, jamais tenho meus desejos contrariados.
— Você poderia dizer de quanto estamos falando?
Ele não seria um cafetão se não perguntasse.
E digo. Quanto ele receberá. Quanto ela receberá.
A mudez toma conta da linha de vez. Certamente ele não
esperava uma soma tão alta.
E resolve. Finalmente escuto o que quero.
— Considere feito, senhor Mancini. Deixarei para agenciar
Maya após estes dias estabelecidos por você. Resolverei com os
demais clientes. O senhor tem prioridade, fique certo que Maya será
sua pelos próximos cinco dias.
Rio comigo mesmo, por ter novamente conseguido o que
quero.
É sempre assim. Minhas vontades são sempre soberanas.
Absolutas.
E o mais importante: Maya será minha.
Pelo tempo que quero. Pelo tempo que seguramente preciso
para saciar minhas taras.
Pode ser que seja somente um capricho ou excentricidade de
um bilionário que tem tudo o que quer, mas a verdade é que não
passo vontade. Nunca.
E com Maya não será diferente.
Eu a quero, eu a terei. Por pouco tempo, mas por todo o tempo
que durar o meu desejo.
CAPÍTULO 08

O mesmo hotel, a mesma cena.


Toco a campainha e espero que Marco abra a porta.
Nem acreditei quando Beto me procurou com a proposta de
exclusividade e muito menos acreditei no valor oferecido. Claro que
conhecendo seu cliente como sei que conhece, o meu agenciador
deixou bem claro que eu não criasse ilusões quanto a este
interesse, pois talvez ele enjoasse de mim antes mesmo de findar
os dias pagos. Disse também que eu ficasse com os dois pés no
chão, pois acreditava que esta oferta era sorte de principiante.
Sei que ele teme que, por ser inexperiente, eu possa me iludir
achando que isso entre Marco e eu possa se transformar em algo
mais do que sexo, ou achar que receberei por meus próximos
programas tudo que estou recebendo por estas noites de
exclusividade.
Lógico que não bancarei a trouxa e criarei castelos no ar. Claro
que não. Agirei com prudência, sabendo exatamente onde estou
pisando. Também serei inteligente, guardarei este lucro que não
estava esperando, pois não quero ficar por muito tempo trabalhando
como acompanhante de luxo.
A porta é aberta e dissipa meus pensamentos. Na verdade
olhar para tanta beleza afasta qualquer coisa da minha mente que
não seja as lembranças quentes vividas por Marco e eu.
— Oi, Marco.
Digo com um sorriso. Embora esteja ansiosa, estou longe de
estar temerosa e receosa como da outra vez. O que sinto agora está
muito mais relacionado à presença marcante do homem à minha
frente, que tem o torso nu, além de uma expressão no rosto que só
pode ser descrita como esfomeada.
— Entre, ruiva. Tenho muitos planos para você esta noite.
Engulo em seco, enquanto caminho para dentro da suíte do
hotel.
Tão logo a porta é fechada, sinto seus braços ao meu redor.
Meu corpo esquenta e sinto uma vontade desesperada de virar-me
e beijar-lhe.
Mas não o farei. Deixarei que as coisas sejam como ele quer, a
única coisa que faço questão é que Marco me satisfaça, e a julgar
pela atração que crepita entre nós, sei que não terei motivos para
reclamar.
— Combinei com Beto cinco noites. Tempo mais do que
suficiente para eu ter tudo de você.
Ele empurra o quadril para que eu sinta seu órgão
pressionando minha bunda. Duro.
Eu suspiro e esfrego-me nele, pois o desejo já desponta.
Intenso. Cru.
— Garanto, Maya, que estes dias serão de aprendizagem, pois
ensinarei você a conseguir extrair o máximo de prazer do seu corpo,
do meu corpo. Será também um tempo para conseguirmos saciar
todo este desejo que palpita entre nós.
A voz já é rouca, as mãos sobem em direção aos meus seios.
E antes do toque, ele busca me deixar nua. Marco tira o
pequeno top que cobria meu colo.
— Ahhhhhh!
Gemo, pois o toque de seus dedos é gostoso demais.
Marco faz uma pressão nos mamilos e sinto minha calcinha
inundar de desejo.
Rebolo e sinto-o pulsante, querente.
Ele leva a mão até o cós da saia e rapidamente a retira do meu
corpo.
Parece ter pressa. Parece não poder esperar.
E quando ele percebe como minha calcinha é minúscula e
como ela está toda enterrada em minha bunda, vocifera:
— Puta que pariu, ruiva!
Com uma ousadia que nem sei de onde vem, afasto-me.
Quero que me veja de frente, quero que veja em minha expressão a
vontade que estou de ser novamente dele.
Encaro-o. Surpreendentemente fico à vontade com ele. Acho
que é porque Marco jamais toca no assunto dinheiro ou na forma
como escolhi ganhar a vida. Ele somente me deseja, mesmo que
por tempo determinado, assim como eu o desejo.
Vejo em seus olhos apreciação. Vejo também urgência.
Que logo confirmo quando sinto meu corpo esmagado contra a
parede, quando ele me faz envolver sua cintura.
Mesmo com as peças de roupas entre nós, consigo senti-lo
onde preciso. Marco coloca um de meus seios na boca e a única
coisa que consigo fazer é me esfregar em seu sexo duro. Ele alterna
a carícia de um seio para o outro e só sei gemer como uma gata no
cio.
— Maya, preciso foder você!
Diz e caminha comigo para a cama. Em segundos sinto a
maciez dos lençóis em minhas costas.
Observo vidrada Marco tirar a calça social, a cueca, sapatos e
meias. Um espetáculo à parte.
Assistir a tudo isso somente eleva meu desejo às alturas.
Percebo que, assim como não consigo tirar meus olhos dele,
Marco também parece incapaz de desgrudar os olhos do meu
corpo. Desejo lhe dar mais munição, decido fazer também a minha
parte.
Sem parar de olhá-lo, tiro minhas sandálias. Quando levo a
mão à minha calcinha, vejo o pomo de adão de Marco se mover. A
luxúria é absoluta, a atração é quase incontrolável.
— Pare!
Ele ordena e eu umedeço mais.
Obedeço, enquanto arfo desejosa.
Ele avança sobre mim e arranca minha calcinha. Com um
puxão. Sem qualquer delicadeza.
E eu me excito mais.
Ele estica a mão e pega um preservativo que está
providencialmente próximo. Estende-o para mim.
Sou inocente, não tenho prática nenhuma nisso, mas não
titubeio.
Pego o preservativo e abro o pacote com a boca. Em nenhum
momento Marco desvia o olhar. Parece hipnotizado com a cena.
Aproximo minhas mãos de seu membro e começo a desenrolar o
látex, com cuidado.
Ele trinca os dentes e antes que eu conclua o que estou
fazendo, Marco assume e termina de colocar a proteção. Parece
não conseguir esperar mais, parece estar no seu limite.
De repente sinto-o sobre mim, sinto-o diretamente na minha
entrada.
Mesmo com o membro deslizando em minhas dobras, ele
toca-me para confirmar que estou pronta.
— Tão encharcada!
Ruge.
Beijo seu peito, pescoço. Beijo e lambo tudo que encontro pela
frente.
Louca para beijar sua boca, desesperada por seus beijos.
Infelizmente não darei este passo, mesmo que me mate ter
que reprimir esta vontade absoluta.
Ele começa a avançar o membro, lentamente. Mesmo que não
seja mais virgem, ainda há um desconforto. E não consigo disfarçar.
Minha face e meu gemido entregam o que sinto.
E neste momento o mais improvável acontece.
Não sei se devido a dor ou se por necessidade, o que sei é
que sinto sua boca na minha.
E não é algo calmo, ou confortador. É algo desesperado.
Algo que não tenho como controlar e nem quero.
Duas línguas que duelam, gostos e sensações únicas.
E sem que eu perceba, Marco enterra-se totalmente dentro de
mim. E começa os movimentos, enquanto devora minha boca
alucinadamente.
Um vai e vem enlouquecedor. Gemidos agora de prazer.
Suspiros de deleite.
E o ritmo apenas aumenta de intensidade, os toques tornam-
se cada vez mais ousados.
Com nossas bocas juntas, beijos permeando todo o momento.
Arranho, aperto minhas pernas ao seu redor. E ele apenas
martela dentro de mim, sem dó nem piedade.
E é bom demais para eu me controlar, as sensações me
tomam sem que eu consiga reprimir.
Meu corpo estremece por inteiro. Meu canal aperta o membro
de Marco.
E ele vem.
E viemos juntos.
Marco finalmente desfaz o contato de nossas bocas, tão
somente para emitir um som gutural. Animalesco.
Aparentemente tão satisfeito quanto eu. Tão rendido a tudo
isso como eu.
Entregue às sensações. Satisfazendo um desejo que, pelo
menos para mim, está longe de ser saciado.
Felizmente ainda temos alguns encontros para isso.
Felizmente esta noite está apenas começando.
Somente quero que minha inexperiência com o sexo oposto
não me leve a iludir-me, a esperar algo que jamais acontecerá.
Somente espero que meu coração nunca entre nesta equação,
pois certamente é algo que Marco apenas desprezará.
Porque sei que ele pode até ter se rendido aos beijos, mas
jamais se renderá às emoções.
CAPÍTULO 09

Sei que cheguei cedo demais, muito embora seja proposital.


Queria pensar enquanto espero por Beto. Queria maquinar a
minha proposta para Maya.
Por incrível que pareça as coisas entre nós não esfriaram, e a
ruivinha está me saindo melhor que a encomenda.
E por isso chamei seu agenciador. Para que, junto comigo,
monte uma estratégia irrecusável. Para que, como a pessoa que
está autorizada a representá-la e certamente a conhece melhor do
que eu, possa me mostrar o caminho das pedras.
Não quero que o nosso lance acabe, nem tão cedo. Também
não quero ter que ficar negociando seu tempo e muito menos ter
que intervir para que ela não fique com outros.
Quero sua exclusividade, seu tempo. Quero-a
momentaneamente para mim.
Tudo isso de maneira comercial, contratual.
Pretendo oferecer o que ela receberia nesta vida que
escolheu, sem precisar de um cafetão e nem temer pelas condutas
dos clientes a quem ela se submeteria. Planejo pagar, como venho
fazendo, mas quero Maya a minha disposição por um tempo
indeterminado.
Quero Maya como minha amante.
Aquela que é a outra, que não cobra.
Aquela a quem eu serei mais do que generoso, mas que
somente darei dinheiro, conforto e sexo.
Sem cobranças ou compromisso. Sem vínculo afetivo.
Estou ainda perdido em pensamentos quando vejo Beto se
aproximar.
Um cara boa-pinta, que não entrega como ganha a vida.
— Senhor Mancini!
Ele cumprimenta-me formalmente, inclinando a cabeça.
Retribuo e aponto a cadeira, convidando-o silenciosamente a
sentar-se.
— Beto, serei objetivo: quero Maya.
Ele olha-me sem nenhuma surpresa e diz:
— Imaginei, como o prazo de vocês tinha esgotado, que
realmente o senhor quisesse prorrogar...
— Quero fazer um contrato, quero exclusividade por um tempo
maior.
— Posso conversar com ela. Claro que se a oferta for tão boa
como a anterior, Maya não terá motivos para recusar. Por quantos
dias seria?
Ele é frio, assim como eu. Parece estar comercializando um
objeto e não a intimidade de uma garota. Isso é apenas mais um
motivo para colocar em prática minha ideia, pois não acredito que
ele tenha escrúpulos quando o tema é dinheiro. Quem me garante
que ele, com o passar do tempo, não começará a arrumar outros
clientes, nas minhas viagens, ou simplesmente enquanto estou na
empresa? Agora foi fácil, pois foram poucos dias e o lucro que ele
recebeu foi mais do que suficiente.
Mas conheço tipos como ele, dinheiro nunca é o bastante,
ainda mais quando é com o suor alheio.
Quero-a longe de sua influência, quero-a sob os meus
cuidados.
— Beto, quero Maya como minha amante fixa. Em um
apartamento, longe desta vida. Com conforto e com a possibilidade
de, quando encerrar nosso tempo juntos, jamais voltar a trabalhar
como acompanhante de luxo.
Não sei o que a levou a vender seu corpo e nem quero saber.
Na verdade não quero este tipo de intimidade. Somente quero
exclusividade, em contrapartida garantirei que não precise mais
voltar para isso quando as coisas entre nós esfriarem.
— Ela não vai aceitar!
Diz firme.
Esperava por isso. Pela barganha. Quer tentar valorizar o
passe dela para obter um lucro maior. Mal sabe ele que estou
disposto a investir o que for preciso, mas no final a terei sob o meu
teto.
— E por que não?
— Maya tem uma amiga, quase uma irmã. Ela jamais vai
deixá-la sozinha. Ela não vai deixar Jéssica sozinha nisso.
Ela mora com alguém que também é acompanhante de luxo?
E as duas são fonte de lucro para Beto?
— Talvez o melhor fosse que as coisas permanecessem como
estão e vocês se encontrassem...
— Não!
Sou incisivo, pois sei o que ele quer.
Rendimento máximo.
Eu quero o oposto. Quero Maya longe de sua influência, com
contrato e com a possibilidade de um futuro diferente.
Mas terei que ir por outro caminho. Minha mente já vislumbrou
a possível solução.
— E se no pacote eu fosse generoso e garantisse também um
futuro diverso para a amiga?
Ele me olha assombrado, percebe que estou determinado e
infelizmente me conhece o bastante para saber que não entro em
uma causa para perder. Jamais.
É somente uma questão de tempo, estratégia e planejamento,
mas no fim minhas vontades são sempre soberanas.
Ele vai tentar ganhar o dele. Vai tentar garantir todo o lucro do
qual abrirá mão com a minha proposta.
— E de quanto tempo estamos falando? Dois meses?
Penso. Certamente seria suficiente. Talvez até menos. Mas a
proposta tem que ser vantajosa para Maya e a amiga. Então será
um período de benefício maior para elas, o que garantirá um futuro
diferente para ambas. Tempo suficiente para que elas cortem este
contato profissional com Beto, que pela forma como não quer abrir
mão das garotas, lucra e muito em cima delas.
— Um ano!
Firme. Sem margem para negociação.
Claro que estou muito longe de querer comer uma mulher por
tanto tempo, mas ele não precisa saber.
— Impossível, elas não vão...
— Beto, elas vão aceitar sim! A proposta será irrecusável.
Inclusive para você.
Ele me fita sem sequer piscar, agora falei a sua língua.
Sei como atacar e quando atacar. Sei até mesmo quando
recuar. Eu não seria praticamente uma lenda no mundo de ações e
bolsa de valores, se não tivesse esse tino, essa percepção.
Além de ter dinheiro suficiente capaz de comprar literalmente
qualquer briga.
Herança materna e paterna, que vem de gerações. Fortuna
pessoal que vem da Mancini Investimentos e das diversas empresas
que fazem parte do grupo, espalhadas nos mais diversos ramos.
Por isso, e pelo esforço que faço todos os dias para manter
tudo dando cada vez mais lucros, é que posso me dar a este luxo e
quantos mais desejar.
— Diga-me, o que essa amiga seria se pudesse escolher? O
que ela gostaria de fazer?
Ele parece pensativo. Não perco tempo e completo:
— Apenas diga e farei acontecer. Estou disposto a garantir o
máximo de vantagens. Para os três.
Seus olhos brilham e neste momento confirmo o que já sabia.
Que posso mandar o meu advogado de confiança redigir o
contrato.
CAPÍTULO 10

No momento em que Beto nos abordou com a proposta


tivemos comportamentos diferentes.
Primeiramente neguei, pois jamais deixaria Jéssica para trás.
Quando Beto explicou que Marco estava disposto a ser generoso
também com minha irmã de coração, cedi. E foi a hora de Jéssica
terminantemente negar.
Ela deixou bem claro que eu iria me esforçar sozinha, me
sacrificar para que ela tivesse seu sonho realizado.
Sim, ela tinha um sonho. Eu sabia. E Beto também. Sua
vontade era ser modelo e sonhava ser descoberta por algum figurão
da área. Era linda, tinha um corpo esperado para essa profissão,
pois mesmo não acreditando que algum dia pudesse seguir nesta
carreira, ela sempre se cuidou muito, sempre garantiu que estaria
pronta caso a oportunidade aparecesse.
E apareceu. De maneira atravessada, inesperada, mas
apareceu. E eu jamais permitiria que ela deixasse passar.
— Não, Maya. Eu jamais vou sair desta vida e deixar você
nela. Eu não vou deixar que fique à mercê deste cara para que...
— Este cara é dono da maior fortuna do país, e está disposto a
gastar muito. Não pense que somente você terá vantagens, Jéssica.
Nós três teremos.
E ele explicou tudo, cada ponto. Disse que, caso aceitasse,
teria que me mudar para um apartamento luxuoso, que seria meu
quando o contrato findasse. Que receberia uma pensão mensal,
depositada na minha conta e que, no final do acordo, o montante
seria de um milhão, para eu gastar e investir no que quisesse.
Contou também que Jéssica seria modelo da mais disputada
agência do país, da qual ele é sócio majoritário e que teria um
contrato de um ano, bem vantajoso para alguém desconhecido e
sem experiência como ela.
— E se eu não conseguir render o esperado na passarela?
— Será modelo fotográfico, será inserida no mundo digital, ou
será garota propaganda de qualquer uma de suas empresas. O
homem é poderoso. É capaz de qualquer coisa e não medirá
esforços desde que Maya diga sim.
Perfeito. Jéssica sairá definitivamente desta vida.
— Temo que Maya se envolva emocionalmente, temo que esta
convivência faça com que ela comece a esperar por algo diferente
do que ele está oferecendo.
Jéssica diz, mas quanto a isso acredito que não há problema.
O cara é um gostoso, mas será apenas um cliente, como qualquer
outro que teria caso continuasse como acompanhante de luxo. Até
vejo vantagens, pois transarei somente com alguém que sabe o que
faz entre quatro paredes, com quem sabidamente tenho química e
que de bônus é lindo e muito gostoso. Além disso, alguém que
garantirá que minha amiga não precisará mais se vender, uma
herança maldita deixada por uma mãe irresponsável e desumana.
— Duvido que o cara passe tempo suficiente ao lado de Maya
para que isso aconteça. Aposto que logo ele desencana. Marco é
acostumado a um universo de atrizes, modelos famosas, além das
mais ricas e lindas herdeiras que vez ou outra aparecem ao lado
dele. Sempre vi seu contato comigo mais como um fetiche ou
extravagância, algo que acontecia esporadicamente. Foi uma
surpresa ele pedir para estender por mais cinco noites seu tempo
com Maya e agora esta sua excentricidade, vamos dizer assim, me
deixou completamente bestificado. Claro que sei que o tempo de
convivência de vocês será bem menor do que o esperado, mas nós
receberemos toda a integralidade do que foi combinado.
Beto deixou claro que o contrato também é muito vantajoso
para ele, mas não era somente por isso que estava tentando colocar
juízo nas nossas cabeças. Era por todo o pacote.
— E Maya não terá poder algum neste acordo?
Jéssica está reticente. Mesmo que seja a realização do sonho
de uma vida, jamais me prejudicaria no processo.
— Jéssica, você fala como se fosse algo ruim para Maya.
Vamos lá. Ela já tinha se proposto a explorar sexualmente o seu
corpo, e com isso pelo tempo de um ano, nem de longe receberia
pelo menos perto do que vai receber. Ela também ganhará, ao final,
um apartamento luxuoso, coisa que tampouco ela conquistaria como
acompanhante de luxo. E mais, garantirá tudo isso sem precisar
cumprir todo o período estipulado, pois Marco jamais ficaria tanto
tempo assim com alguém. Mas respondendo a sua pergunta, Maya
terá sim um poder absoluto, que será cláusula expressa do contrato.
Depois de um ano ela pode seguir em frente, sem olhar para trás,
recebendo devidamente todos os bônus que foram combinados e a
partir de então seguir sua vida, sem ter que se vender novamente, e
com dinheiro suficiente para começar de novo. E melhor, ela não
terá nem vinte anos, e poderá finalmente ter a vida que quiser e não
se sujeitar às únicas possibilidades que lhe foram oferecidas pelo
destino. Tudo isso e de quebra ainda te levar para fora dessa sujeira
toda. E sabem o que mais?
Ele faz uma pausa e diz sem nos encarar.
— Com a parte que me cabe, quem sabe até eu mesmo não
caia fora disso. Vocês sabem que o agenciador é aquele que
sempre se fode, e talvez eu não queira pagar pra ver. Quem sabe
eu não me aposente, quem sabe eu não pense em algo que não
suje minhas mãos com prostituição e com todo este universo
imundo em que estamos envolvidos.
Parece vantajoso. Até demais.
E infelizmente para nós, irrecusável.
O contrato ideal, com muitas vantagens, e que somente
poderia ser oferecido por quem tem mais dinheiro do que é capaz
de gastar. Talvez até mais do que poderia gastar por várias e várias
gerações.
Ótimo para Jéssica. Muito bom para Beto. Excelente para mim.
Somente tenho que ir ao escritório do advogado assinar o
contrato e a mágica acontecerá.
Uma vozinha, que sequer sei de onde vem, faz-me lembrar de
algo: que eu somente tenho que deixar meu coração e emoções
distantes deste acordo.
Afasto para o fundo da mente tal aviso, imaginando que esse
temor seja algo fora de cogitação.
Agradecendo esta oportunidade, sendo grata pela proposta
generosa de Marco envolver também Beto e Jéssica.
Mais uma vez a vozinha impertinente dar o ar da graça.
Tenha muito cuidado, pois quando a esmola é grande, o santo
desconfia.
CAPÍTULO 11

Finalmente! Contrato devidamente assinado e reconhecido.


Pouquíssimo tempo, devido o poder que meu nome carrega,
mas infelizmente para meu desejo, tempo demais.
Mas a espera finalmente acabou e hoje à noite a terei
ocupando o apartamento que destinei para os nossos encontros e
que será dela quando esse fogo acabar.
Um frisson me toma e parece até mesmo derreter o gelo que
me é tão peculiar, essa capacidade que tenho de manter às
emoções à margem, esta capacidade que tenho de não sentir.
Meu celular toca e vejo que é minha mãe. Suspeito que meu
bom humor desaparecerá após esta ligação.
Mas Júlia Mancini não é alguém que possa ser ignorada. E a
sua insistência em conseguir o que quer, é um lembrete para que eu
atenda e descubra logo do que se trata este telefonema.
— Oi, mamãe!
Digo calmo, sabendo que não estarei assim por muito tempo.
— Oi, meu filho. Como você está? Parece que faz uma
eternidade que não tenho notícias suas.
Mesmo também morando no Rio de Janeiro e recebendo,
quase que religiosamente, minhas visitas aos domingos, mamãe
insiste em agir como se fosse diferente, como se eu não fosse
obrigado a participar de almoços dominicais, onde tem sempre
pretensas candidatas ao cargo de minha esposa, que geralmente
são espantadas pelo meu gélido humor ou, quando são gostosas,
evoluem para uma foda ainda na mesma noite. Algo para
compensar estes momentos que minha mãe insiste em chamar de
confraternização entre família e amigos, e que eu internamente
chamo de armadilha para desavisados, o que certamente não é o
meu caso.
— Pare de drama, dona Júlia, nos vimos no domingo. Você
não tem motivo nenhum para reclamar.
Mesmo pela ligação, escuto-a bufar. Odeia que eu seja assim,
segundo ela, desamoroso. Sempre diz que a imprensa acertou em
cheio na forma de me chamar.
— Meu querido, como você quer que uma mãe se contente
com apenas uma visita por semana de seu único filho?
E suspira. Alto.
Meu pai, Fausto Mancini, acha este jeito dela charmoso. Eu
particularmente acho dramático. Desnecessário.
— E para que você quer me ver mais do que uma vez por
semana? Será que você conseguiria tantas pretendentes se nos
víssemos com mais frequência?
Não finjo que desconheço suas intenções. Minha mãe também
não esconde suas pretensões.
Outro suspiro. Parece que o assunto hoje vai longe.
— Eu não precisaria destas artimanhas se você fosse um filho
mais tranquilo. Que tivesse uma namorada e que não vivesse em
festas e sendo clicado em situações cada vez mais íntimas ou até
mesmo reveladoras.
Ela jamais vai esquecer uma postagem onde fui flagrado
fazendo sexo em uma boate. Vira e mexe e minha mãe volta a este
assunto.
— Mamãe, tenho apenas vinte e nove anos. Acho-me ainda
muito novo para qualquer coisa neste sentido.
— Querido, você nunca namorou. Jamais levou uma mulher a
sério. Já não sou tão nova. Você sabe que quando tive você já tinha
até mesmo perdido as esperanças de ser mãe. E agora que já tenho
setenta anos, temo jamais conhecer um neto.
A mesma história. Sempre os mesmos argumentos.
— Marco, eu não estou ficando mais nova e muito menos seu
pai. Realize este nosso desejo. Deixe-nos partir tranquilos, sabendo
que está sossegado, que está formando a sua própria família.
Dessa vez nada de desfaçatez, apenas a verdade. O pedido.
O que ela quer. O que sempre quis.
De repente percebo que em algum momento terei que ceder.
De repente percebo que posso sim lhe dar um pouco de
tranquilidade, sem acatar seu desejo totalmente.
— Mamãe, garanto a você que quando fizer trinta anos,
casarei.
Digo firme, e ela não tem motivo nenhum para desconfiar de
minhas palavras. Ela sabe que não minto e nem finjo, como jamais
faço o que não quero.
— Promete, meu querido?
Na sua voz tem tanta esperança que me sinto mal por ter lhe
negado isso por tanto tempo.
Posso sim lhe dar um neto. Ou dois.
Não tem problema algum, pois no nosso meio os casamentos
não contam com o componente fidelidade. Então posso sim me ligar
a uma mulher, desde que ela não espere de mim fidelidade,
exclusividade, porque sou um puto e jamais deixarei de ser.
Também não cobrarei, isso para mim é irrelevante.
Na mesma hora minha mente lembra que mexi céus e terras
para impedir que Maya fosse de outro. Instantaneamente uma
desculpa se forma, a lembrança de sua virgindade. Esse foi o real
motivo de não querer dividi-la. Pelo menos não ainda.
O que não é o caso das mulheres com quem saio. Elas são tão
ou mais experientes do que eu e certamente gostarão de um
casamento com um bilionário e ainda por cima tendo a possibilidade
de variação na hora do sexo.
— Meu filho, você promete?
Ela repete a pergunta. Louca por uma resposta positiva minha.
— Não só prometo, como deixarei que escolha a nora. Você,
mais do que ninguém, sabe dos meus gostos e com certeza não irá
me decepcionar.
Escuto sua risada do outro lado da linha. Dona Júlia parece
encantada com o desenrolar desta ligação.
Lembro de algo.
— Em contrapartida também quero que você prometa algo.
— O que você quiser, Marco!
Solícita, pois não poderia estar mais satisfeita.
— Que não mais se meterá nos meus lances. Que deixará que
eu aproveite este meu último ano de liberdade. Que não reclamará
das matérias que com certeza aparecerão.
Sei que vai ser difícil para ela fazer vista grossa para todo o
sensacionalismo que sempre envolve o meu nome. Mas ela tem
muito a ganhar. Minha mãe tem a oportunidade de realizar seu
grande sonho de ser avó.
— Garanto que vou me esforçar o máximo para isso!
Já é alguma coisa. Sei que finalmente terei algum sossego.
— Posso lhe fazer um último pedido?
A voz suave. De uma mãe quando quer conseguir algo de um
filho. E mesmo eu sendo frio, como dizem, dona Júlia sempre
consegue arrancar tudo de mim.
— Faça, mamãe. Somente não prometo que vou ser capaz de
cumprir.
— Posso continuar convidando pretendentes para os nossos
almoços? Quem sabe você não consiga enxergar alguém que possa
vir a ser sua noiva, quando o momento finalmente chegar.
Rio. Muito.
Minha mãe não dá ponto sem nó. Ela pode até deixar de
reclamar da minha vida desregrada, mas jamais deixará de se
colocar como cupido.
— Pode sim, mamãe. É até bom que elas sejam convidadas,
pois é uma forma de garantir a minha foda de domingo à noite.
Digo irônico.
— Ah Marco, não vejo a hora deste ano passar. Não vejo a
hora de ver você sossegar.
Tenho vontade de destruir suas esperanças, pois posso até me
casar e tornar-me mais discreto, mas jamais sossegarei. Não quero
e nem preciso de rédeas e muito menos de controle sobre o que
faço ou deixo de fazer.
Mas deixarei passar, a conversa já foi longe demais.
— Agora que você já garantiu sua promessa de que em breve
formarei minha família, está mais do que na hora de me deixar
trabalhar, pois algum Mancini precisa dar duro, alguém precisa fazer
o dinheiro que está no banco aumentar.
Ela ri das minhas palavras. Está feliz.
E nada me custou. Talvez tenha agido mais do que certo.
Dona Júlia se despede e finalmente posso continuar o que
estava fazendo.
Antes olho no relógio, preciso saber quanto tempo falta para ir
ao encontro de Maya.
Felizmente agora não muito. Logo mais estarei enterrado
dentro dela.
E meu pau responde, pulsa de ansiedade.
E neste momento sei que fiz um ótimo investimento,
sabidamente prazeroso.
Pois Maya desperta em mim um desejo insano e isso é motivo,
mais do que suficiente, para que eu gaste o quanto dinheiro for
necessário para saciá-lo.
Porque a ruiva é gostosa demais para que eu deixe passar.
Ela é linda demais para que eu não a tenha em minha cama.
CAPÍTULO 12

Olho ao redor e apenas vejo luxo e poder.


Em nenhum momento me foi dito que seria uma cobertura,
mesmo que isso não fizesse diferença alguma, mesmo que ela
jamais fosse o motivo para eu estar aqui.
O que me trouxe aqui foi a possibilidade de realizar o sonho de
Jéssica, bem como a oportunidade de uma nova vida para Beto,
assim como a certeza de que no futuro não precisarei mais vender o
meu corpo. E o futuro será precisamente daqui a um ano, nem
depois disso e não antes.
A não ser que o todo-poderoso decida. Por opção minha,
jamais. Em hipótese nenhuma posso romper o contrato. Pelo menos
não se eu quiser que ele cumpra com a sua parte no acordo.
Marco é esperto, muito.
Ele não teria tanto dinheiro se não fosse.
Sim, eu pesquisei sobre ele. O cara é uma lenda no mundo
das finanças, além de ser um empreendedor. É sócio praticamente
em quase toda empresa rentável do país. Resumindo, Marco ganha
dinheiro até dormindo. Apenas existindo.
E sua esperteza trouxe-me a esta situação e aqui ficarei, se eu
não quiser perder o que tão generosamente me foi oferecido. Mas
certamente não serão as minhas regalias que me impedirão de
romper o tal acordo, o que seguramente me impedirá é saber que
na mesma hora Jéssica perderá o apoio, o contrato e o impulso que
receberá. É saber que ele é poderoso demais para ser questionado,
para ter seus desejos frustrados e, pela forma que me amarrou a
este contrato, tenho absoluta certeza de que ficarei até o fim, até
que ele decida que eu não sou mais tão interessante como vem me
achando, até que ele decida não mais aparecer por aqui.
E o documento que assinei especifica tudo. Que quando Marco
perder o interesse, o que estiver neste apartamento será meu, em
contrapartida não poderei questionar a sua decisão e muito menos
tentar prorrogar algo que estará acabado. Não cabe insistência,
lamúria ou qualquer tipo de ameaça. É seguir em frente, sem
qualquer tipo de contato da minha parte. E se isso acontecer no final
do prazo, tudo isso será aplicado também a ele.
Um dia ele não mais aparecerá, e neste dia terei a minha
liberdade de volta. Poderei então ter minhas próprias escolhas,
mesmo que eu não as tivesse antes de Marco.
Serei então uma jovem livre. Para estudar, trabalhar e amar.
Por enquanto sou apenas um objeto, para ser usado e com
prazo máximo para ser descartado.
Um objeto, mesmo capaz de proporcionar mudanças na vida
das únicas pessoas que são verdadeiramente próximas a mim.
Mas apenas e simplesmente um objeto.

Sei que estou sendo observada.


Apesar de estar de olhos fechados, sei que ele está aqui.
Mesmo que seja silencioso como um felino, o magnetismo que nos
envolve torna o ar a nossa volta diferente, entrega sua presença.
— Se eu soubesse que teria uma recepção desta, já teria
saído do escritório há muito tempo.
Abro os olhos e o vejo. De terno, lindo. Capaz de mexer com
os hormônios de qualquer mulher.
Olho para mim e noto muita espuma envolvendo meu corpo.
Sei que a visão de uma mulher na banheira, totalmente entregue ao
momento, pode ser sim muito chamativa, muito embora Marco não
esteja tendo acesso visual a nada que não seja a silhueta da minha
face.
Mesmo assim ele parece mexido, mesmo assim sei que
despertei o seu desejo.
E é justo, pois ele mesmo vestido já desperta-me a vontade, o
querer que permeou todo o nosso tempo até aqui.
— Pensei em muitas situações enquanto vinha para cá, me
imaginei fodendo você em cada canto deste lugar, mas
surpreendentemente não visualizei em nenhum momento transar
com você nesta banheira.
Ele é sempre sincero no que se refere aos seus desejos. Cru.
Mesmo que nossos diálogos jamais sejam profundos e que
não saibamos nada da vida pessoal do outro, o que sentimos
quando estamos juntos sempre é dito.
— E a minha presença aqui o decepcionou? A banheira não
seria um bom lugar para fazer aquilo que nós dois temos em mente?
Quando o conheci era inexperiente e no primeiro momento me
senti até mesmo tímida no que se relacionava aos meus desejos,
mas agora não mais. Fico totalmente à vontade com ele. Marco me
ensinou a saber do que gosto, a conhecer meu corpo e minhas
vontades. A dizer o que quero e como quero.
— Melhor do que responder a esta sua pergunta, é mostrar.
E começa a tirar a roupa. Lentamente e eu presencio o
espetáculo
O corpo trabalhado, malhado. O membro pronto.
Lindo e gostoso. Demais para uma pobre mortal como eu.
Rapidamente ele vem em minha direção.
Marco levanta-me e senta-se. Posiciono-me de forma que o
seu membro fique em contato direto com o meu sexo. Gememos.
Juntos.
Sinto suas mãos em meus mamilos sensíveis e fecho os olhos.
É bom demais. Sinto-me inundar de vontade de tê-lo dentro de
mim.
— Sabe o que está fodendo meu juízo neste momento? É não
poder estar dentro de você. Mata-me saber que não poderei te
comer como preciso.
E na hora essa realidade se abate sobre mim. Sem proteção,
não poderemos continuar. Pelo menos não aqui.
Se pelo menos eu estivesse protegida!
Não. Na hora interrompo o rumo dos meus pensamentos, pois
como não serei sua parceira exclusiva, jamais vou abdicar do uso
de preservativo.
E talvez seja algo que nem passe pela cabeça dele. Ficar
exposto a possibilidade de uma gravidez, com alguém que para ele
é tão somente uma acompanhante de luxo, é algo que certamente
Marco está longe de querer.
— Preciso de você montada no meu pau.
— Não passe vontade, Marco. Acho que podemos deixar o
banho para depois.
E mesmo interrompendo as carícias, ergo-me. É por um bem
maior. O bem da minha sanidade.
Ele logo junta-se a mim.
Sai da banheira e me dá a mão. Aceito-a sem titubear e logo
estamos seguindo rapidamente para a cama.
Molhando tudo. E isso é o que menos importa.
Ele abre a gaveta e pega tiras de preservativo. Sei que este
era um lugar de fodas para ele, e isso é apenas mais um motivo
para eu passar por tudo isso de olhos bem abertos. Sabendo que
sou apenas mais uma em sua cama, que talvez permaneça um
pouco mais do que algumas, mas que certamente terá o mesmo fim.
Ele coloca o preservativo e eu o admiro.
Grande. Grosso.
Mesmo que eu não tenha algo com que comparar, sei que seu
membro é fora da curva.
— Monta gostoso no meu pau, ruiva.
A voz é rouca, diz muito sobre o tesão que ele sente.
Eu estou pronta, melada. Diz muito do tesão que sinto.
E desço em seu membro. Suspiro, pois a sensação de ser
preenchida por ele é demais para eu reprimir.
Subo, desço. Rebolo.
Ele acaricia meus seios. Aperta. Lambe.
Eu acelero o ritmo, alucinada em busca do prazer.
Marco leva a mão ao meu clitóris e eu enlouqueço.
Os movimentos aumentam de intensidade, estou a um passo
da libertação.
Ele retira a outra mão dos meus seios e leva ao meu quadril,
ajudando nos movimentos.
Levo minhas mãos aos meus mamilos, eles cobram atenção.
Inclino minha cabeça para trás, sentindo tudo, amando cada
instante.
— Linda demais!
E todo o conjunto parece despertar a besta em Marco. Sua
pelve busca o atrito com a minha, seus dedos castigam o meu botão
duro.
E parece impossível o controle. Somente deixo o orgasmo vir.
Intenso. Esmagador.
Que deixa todo o meu corpo trêmulo, meu coração parecendo
a ponto de sair pela boca.
E no mesmo instante Marco vem. Goza profundamente dentro
de mim.
Grunhindo como um animal, libertando-se de toda a vontade
que nos consumia.
E neste momento imagino que este tempo junto me trará muita
satisfação. Que terá sim muitas vantagens.
Somente o tempo me mostraria que eu estava enganada. Que
toda esta loucura somente me traria dor e sofrimento.
Muito mais do que se é humanamente capaz de suportar.
CAPÍTULO 13

Viciado, é assim que me sinto.


Viciado na porra de uma boceta ruiva.
E mesmo que tal dependência seja motivo para me preocupar,
no momento estou pouco me fodendo para isso.
Passaram-se apenas dois meses do contrato, então tenho
certeza absoluta que o desejo cessará. Não tão rápido como
imaginei, mas mais dia menos dia ele arrefecerá.
É questão de tempo. E isso temos de sobra. Dez meses
inteiros.
Acho que toda a vontade que sinto, se dá pelo fato de Maya
ser a porra de uma gostosa, além do fato da ruiva ter um
comportamento que muito me agrada. Ela não cobra, não liga e
jamais pede ou mostra interesse no que quer que seja. Não quer
aparecer ao meu lado, não quer se promover com a minha imagem
e nem espera jantares, flores e muito menos joias.
Lógico, ela recebe uma pensão astronômica, não tem motivo
algum para pedir o que quer que seja. Minha mente aponta.
Sei que isso é um fato, mas conheço várias mulheres que se
percebessem a fissura que estou, não mediriam esforços para ter
mais e mais vantagens, e não estou falando de nenhuma que
abertamente vende seus favores, como foi o caso de Maya. Estou
falando de garotas ricas, com muito dinheiro na conta, mas que não
acham nenhum extrato bancário suficiente, não quando o assunto é
dinheiro e todos os benefícios que ele pode trazer.
Interrompo meus pensamentos e me preparo para sair. Já deu
minha hora na empresa, já fiquei um pouco mais rico com a compra
e venda de ações que foram feitas por mim e por minha equipe.
Aumentei meu patrimônio e todos os patrimônios dos clientes da
Mancini Investimentos.
E é neste momento que o telefone toca. Verifico o visor para
ver se vale a pena o meu tempo.
Na tela vejo o nome de Leandro Vasconcelos e de pronto
atendo.
— Fala, puto!
Ele ri, acostumado com meu tratamento.
— Tô ligando para saber se o homem de gelo não quer
derreter um pouco desta geleira.
Diz com sarcasmo. Adora fazer referência a este apelido idiota.
Certeiro, mas ainda assim idiota.
— Vai rolar uma social aqui em casa esta noite e queria...
— Pode contar comigo!
Digo rápido, antes que me arrependa. A constatação de que
estou viciado em Maya me fazendo aceitar, mesmo sem vontade
alguma.
— É assim que se fala, Marco. Você não vai se arrepender.
Conversamos um pouco mais e nos despedimos. Dou a minha
palavra de que mais tarde aparecerei.
Não é isso que eu verdadeiramente quero, mas hoje será
assim.
Já basta ter ficado com ela todos os domingos, dispensando
as pretendentes escolhidas a dedo por mamãe.
Sim, não levei nenhuma para cama. Acabei todas as noites de
domingo ao lado de Maya.
Apenas não transei com ela nas noites em que tive de me
ausentar do Rio de Janeiro a negócios e durante o seu ciclo
menstrual. E mesmo neste período passei por lá para ganhar um
boquete, que a ruiva aprendeu a fazer com maestria.
Talvez seja o hábito que está me deixando tão viciado, ou sua
presença constante e exclusiva em minha cama.
Não temos um relacionamento e nem jamais teremos. Nada
disso faz parte do acordo.
Então está na hora de variar, sair um pouco em busca de
diversão.
Transar com uma loira, quem sabe uma morena.
E o melhor de tudo, sabendo que no final a ruiva estará lá.
Pelo tempo que o meu desejo exigir. Ou por todos os dez
meses que ainda restam no contrato.

Mais do mesmo. É a expressão que define esta festa.


Blogs de fofocas do lado de fora da mansão. Do lado de
dentro, mulheres seminuas e muita bebida. Fui amplamente
fotografado na entrada, meu copo ainda não ficou vazio nem um
instante sequer, mas ainda não peguei mulher.
Apesar de já ter sido abordado logo na chegada, perto dos
holofotes, garantindo assim visibilidade para aquela que soube
aproveitar o momento. Não me incomodei. Muito pelo contrário, sorri
para a câmera, posicionei minha mão sugestivamente próximo à
bunda da gostosa e deixei-me fotografar. Não devo nada a ninguém
e este é o comportamento que até mesmo meus parceiros
comerciais esperam de mim, pois eles não se incomodam com o
que faço longe da empresa, porque seus lucros são sempre
garantidos. No entanto rejeitei o oferecimento da gostosa, ainda
estava cedo demais para começar.
Foi o que pensei, mas logo que o tempo começa a passar e
dispenso alguns convites, um sinal de alerta é ligado. Começo a me
preocupar por nenhuma delas deixar meu pau nem minimamente
animado. Será que ele está viciado em boceta ruiva? Será que, por
enquanto, as demais perderam momentaneamente o encanto?
Penso que se for por conta disso, logo resolverei. Escolherei
uma ruiva e procurarei um canto qualquer para foder gostoso.
Olho em volta e não consigo me animar com as opções.
Não consigo encontrar uma ruiva natural, nenhuma com o
corpo que me chame a atenção.
Então bebo e a cabeça tenta foder com tudo.
Forçando-me a admitir que as estou comparando à Maya, pois
quero alguém com o corpo que me acenda como o dela, que tenha
os fios de cabelos longos e naturais e que pareça uma ninfa capaz
de seduzir até mesmo o mais frio dos mortais.
Assim como fez comigo.
— Oi, Marco.
Ela sabe o meu nome. A maioria faz o dever de casa.
— Oi, linda.
Nem pergunto o nome da ruiva. Sei que ela interpretou como
interesse a avaliação minuciosa que fiz para verificar se ela poderia
ser aprovada como possível escolha da noite.
Infelizmente não foi, mas como veio até onde estou, tentarei
fazer algo a respeito.
Não perco tempo e puxo-a para o meu colo. Ela esfrega-se e
ronrona e o som não me apraz.
Mesmo assim insisto, quero afastar as lembranças de Maya da
minha mente.
Passeio a mão vagarosamente por seu corpo e espero o
desejo vir. Nada.
Ela tenta me beijar, e logo impeço isso de acontecer.
— Eu não beijo.
E todos sabem. Ela sabe.
Pois foi depois que uma despeitada deu uma entrevista
contando sobre esta minha reserva, que a imprensa resolveu me
chamar de homem de gelo.
Não foi só por isso, mas começou a partir disso.
Mas a Maya você beija!
Minha mente fodida alardeia sobre isso e eu tento justificar
afirmando que ela é uma constante em minha cama e talvez por
isso não me incomode com os beijos. Também tento acalmar minha
mente ao lembrar que Maya sabe o seu lugar e jamais vai esperar
intimidade e sentimento, não vai esperar nada além do que está
estipulado no contrato.
E este pensamento em Maya afasta qualquer tesão que
pudesse surgir, mesmo que a ruiva tente me animar esfregando a
bunda grande no meu pau.
Nada. Nenhuma fagulha.
— Vou pegar uma bebida.
E a levanto, ficando de pé tão logo a tiro do meu colo.
Caminho sem olhar para trás, sabendo que ela deve estar me
chamando de um monte de palavrão. Constatando que sou mesmo
um fodido de um homem de gelo.
E isso não me importa. Nem um pouco.
O que está perturbando meu juízo no momento é não estar
gozando em uma boceta qualquer. É, neste instante, parecer tão
viciado em apenas uma.
Mas decido que mesmo morrendo para dar o braço a torcer e ir
atrás de Maya, não irei. Ficarei aqui.
Beberei, socializarei e ainda tentarei algo, apesar de saber que
não rolará, pois já passei a vista um milhão de vezes e nenhuma
mulher me atraiu suficientemente para que o meu pau se animasse.
E como ele não fez o que minha mente desejava, tampouco
cederei à sua vontade. Não irei até a ruiva.
Permanecerei na festa, permanecerei por muito tempo ainda.
Beberei, se for do meu agrado, até cair. Por isso trouxe o
motorista, não preciso e nem quero me policiar.
Outro dia foderei Maya, pois ela é minha ainda por muito
tempo. Ela é minha pelo tempo que eu desejar.
CAPÍTULO 14

Não sei como as coisas chegaram a este ponto. Não sei como
isso foi acontecer.
Apaixonada por Marco. É assim que estou. Não foi difícil para
mim reconhecer meus sentimentos, mesmo que eu jamais tenha
sentido algo nem minimamente parecido.
A ansiedade por sua chegada, as mãos suadas ante a mera
visão de Marco, o que sentia durante o sexo. Não era mais apenas
prazer, estava diferente. O coração faltava explodir de emoção
perante o orgasmo, ou ao pegar no sono juntinhos, acordando
sempre emaranhados um no outro. Para começar tudo de novo. E
começar de novo.
E cada vez mais o contato com ele era insuficiente. Cada vez
mais a separação era doída para mim.
Mesmo que fosse por pouco tempo. Mesmo que ele sempre
retornasse à noite.
E durante estes dois meses, Marco somente não esteve
comigo nas noites em que viajou, não que ele tenha me informado,
não temos este tipo de relação.
Soube de seus compromissos por sua rede social, que
acompanho sem nenhum pudor, através de um perfil falso. Lá soube
que tinha viajado a trabalho.
E foi então que percebi o tamanho da merda em que estava
metida. Por não receber nenhuma justificativa por sua ausência, por
temer que durante esta viagem outra ocupasse um lugar ao seu
lado na cama.
E sofri, muito. E neste dia vieram as primeiras lágrimas. Por ter
sido tão fraca ao ponto de deixar-me dominar por um sentimento
sem futuro algum, por ter me permitido apaixonar perdidamente por
alguém que somente me vê como um objeto, que somente me quer
em sua cama, e eu jamais fui iludida ou enganada do contrário.
E isso me martirizava, deixava-me entristecida.
Até mesmo Jéssica já tinha percebido, e por isso sempre me
convidava para ir ao shopping, para um almoço, algo que me
distraísse, que me ajudasse a passar por meus dias solitários, pois
por mais que minhas noites fossem quentes, com sexo tórrido, meus
dias eram monótonos, permeados de uma expectativa sem fim.
E as coisas só não estão piores porque Jéssica me presenteou
com um curso completo de escrita, além é claro de um tanto de
material voltado para aqueles que desejam publicar livros de forma
independente. O meu sonho. E ela sabia disso.
Existiam muitos rascunhos, mas antes não tinha tempo e nem
dinheiro para ir além. Pois tinha que tentar ajudar minha amiga a
colocar um teto sobre nossas cabeças e comida na mesa.
Talvez até, em algum momento, eu poderia pensar em dedicar-
me totalmente a este universo ao qual tenho devoção, muito embora
antes do contrato, meu passado não oferecia condições para isso.
O que não é o caso agora. Atualmente tenho tempo e dinheiro.
Posso dar-me ao luxo de pagar por serviços como revisão,
diagramação, divulgação e até mesmo ilustração. Além de poder
passar todas as horas do meu dia escrevendo, pesquisando.
E é este meu envolvimento com tudo isso que me impediu de
surtar, de fraquejar.
Tudo isso me manteve forte até aqui. Até hoje.
Pois desde que o relógio marcou a hora em que ele
comumente aparece, meu coração se comprimiu no peito. Por sua
ausência. Por saber que ele não virá.
Esta certeza me foi trazida por um site de fofocas qualquer,
que me mostrou o destino de Marco. Sim eu os acompanho, recebo
até mesmo alerta de novas notícias. Acompanho desde a fatídica
viagem dele. Para saber se descobria algo, para saber se realmente
as fotos em sua rede social condizia com a total realidade do que
ele se propôs a fazer fora do estado.
E a reportagem de hoje me trouxe o lugar onde Marco estava.
Uma festa, em uma mansão. Na casa de um tal de Leandro
Vasconcelos.
Na matéria foi mostrado sua chegada, devidamente
acompanhado. Numa intimidade aparente, a posição de sua mão
não deixava dúvida alguma disso.
E a stalker que me tornei foi muito além das fotos. Foi na rede
social do, até então desconhecido para mim, Leandro Vasconcelos.
E praticamente acompanhei a festa pelos stories. Mulheres
fazendo topless à beira da piscina. Casais em situações
comprometedoras e ele.
Com uma ruiva no colo. Íntimos, sabidamente nas preliminares
que antecederam o sexo que certamente aconteceu.
E foi quando chorei. Foi quando me desesperei.
Não sei se pela dor de saber que o homem por quem sou
apaixonada não sente o mesmo por mim, ou se foi porque para
Marco é muito fácil e prazeroso ter outra em sua cama, quando para
mim ele é o único, quando morro por tê-lo dentro de mim. Ou se foi
pela minha menstruação que desceu pela manhã, trazendo uma
cólica infernal, acompanhada por uma TPM jamais sentida, não
antes de ter colocado meus olhos nestas imagens que destruíram
meu coração.
E a certeza de sabê-lo ao lado de outra, derrubou-me.
Aniquilou-me.
Fazendo-me chorar sem parar. Causando ao meu ser uma dor
sem precedentes.
Por saber que aquele a quem meu coração escolheu amar,
jamais poderá ser meu. Aquele por quem meu coração clama,
jamais poderá saber daquilo que trago em meu peito.
E ainda resta tempo demais para eu fingir. Ainda restam dez
meses para eu aguentar calada noites como a de hoje. Silenciada
por um contrato que outrora achei que pudesse me trazer algum
benefício. Hoje percebo que este dito contrato apenas me colocou
numa linda e triste gaiola dourada.

Em algum momento da noite meu corpo cede ao cansaço e


caio em um sono agitado, em que as imagens vistas mais cedo
fazem questão de me perseguir.
Até ser acordada por alguém. Até ser acordada por Marco.
— Quero você, ruiva.
Diz com a voz totalmente embolada. Certamente a quantidade
de bebida ingerida na noite passou longe de ser considerada
socialmente adequada.
E beija-me. Nas costas, pescoço e nuca. Onde sua boca
alcança.
O cheiro de álcool se sobressaindo a qualquer outro, mesmo
que saiba que seu corpo deve estar cheirando a outra, a outras.
Meu corpo traiçoeiro me instiga a aproveitar o contato. Instiga-
me a procurar por sua boca.
Felizmente meu orgulho impede-me de obedecer a tão burro
órgão. Meu amor-próprio evita que eu perca o restante do respeito
que tenho por mim mesma.
E graças aos céus tenho a desculpa ideal. Graças a Deus
minha menstruação é a barreira necessária para evitar seus
avanços.
— Marco, hoje não posso, estou menstruada.
Ele demora a entender. Parece lento. O excesso de álcool
cobrando seu preço.
— Como?
— Estou naqueles dias, não podemos fazer nada.
Digo sem me virar. Não quero vê-lo, seria impossível não me
entregar.
Mesmo que ele talvez nem perceba ou se incomode com meus
olhos inchados pelo choro, mesmo que sua bebida ou falta de
sentimento o deixe cego a tudo e qualquer coisa que não seja o
desejo que ele ainda sente por mim.
— Mas podemos...
— Estou com muita cólica, Marco.
Digo, interrompendo-o de pronto, mesmo sabendo que minha
menstruação jamais foi empecilho para que tivéssemos nossos
momentos, o empecilho de agora tem a ver com a noitada que
Marco teve, com a outra que ele colocou no meu lugar.
— Ruiva, tô com saudades!
Por pouco não entendo o que ele quer dizer. Melhor até seria
se não tivesse entendido.
Pois dói saber que se trata de uma mentira, dói ter visto tudo
que vi.
— Realmente estou com muita dor.
Insisto, valorizando a situação. Sabendo que estou longe de
estar tão afetada assim.
— É melhor você ir para a sua casa. Talvez lá...
— Não, quero dormir com você!
E me agarra. Fortemente.
Aperta-me como se eu fosse importante. Como se jamais
fosse me deixar.
E isso faz as lágrimas que estava segurando saírem em
abundância. Faz o choro vir.
Silencioso, para que não entregue toda a dor que sinto.
Mesmo que já o escute ressonando, a noitada finalmente vencendo-
o pelo cansaço.
E enquanto ele dorme ao meu lado, com o corpo traidor
totalmente colado ao meu, eu me desmancho em lágrimas. Deixo o
meu sofrimento vir à tona.
Às quatro horas da manhã, de um dia que ainda nem nasceu,
mas que já traz uma certeza dolorosa.
Tenho pela frente um tempo de dor. Tenho pela frente um
castigo que jamais achei que merecesse.
O de amar um homem impossível. O de amar um homem que
não me é fiel.
E o pior de tudo é que tenho que calar, que silenciar.
Pois esta foi a minha escolha, assinei papeis que obrigam o
meu silêncio.
Mesmo que minha alma grite e meu coração sangre.
Mas nada posso fazer, terei que suportar.
Somente posso torcer para que o tempo que reste passe
rapidamente, ou rezar para que ele me liberte do contrato que
aprisionou e destruiu o meu coração.
CAPÍTULO 15

Minha cabeça está me matando, parece que tem uma bateria


de escola de samba dentro.
Sequer consigo abrir meus olhos, sequer consigo me situar no
tempo e no espaço.
Até que o cheiro do travesseiro invade minhas narinas, até que
descubro que vim atrás de Maya.
Neste momento abro meus olhos com assombro, algo que
jamais deveria ter feito. Pois a dor aumenta em níveis astronômicos,
parece até mesmo impossível de ser suportada.
Mas saber que vim até ela me tira do prumo. Saber que,
mesmo forçando-me a manter-me afastado, meu desejo por Maya
decidiu meu destino.
Cobertura da ruiva. Dormir mais uma vez ao lado dela.
Como a porra do viciado que me tornei. Como um caralho de
um dependente físico de boceta.
Apesar da dor que parece querer explodir minha cabeça, tento
lembrar das coisas que aprontei.
E vem a certeza de que não peguei mulher alguma, que bebi e
fiquei embriagado igual a um gambá e que não me controlei e pedi
ao motorista que me trouxesse até Maya.
E a partir daí tudo se torna um borrão, tudo fica confuso na
minha mente tomada pelo álcool, na minha cabeça dominada por
uma ressaca infernal, que não lembro de já ter sentido uma nem
minimamente parecida.
Imagens do motorista me ajudando a subir, sendo dispensado
por mim ao conseguir me colocar para dentro. A procura por ela, a
lembrança de tê-la achado linda e perfeita esparramada em sua
cama.
Lembro também que houve toques, sei que queria sexo. Tenho
dúvidas se aconteceu, tenho dúvidas se minha embriaguez permitiu
que eu fosse capaz de comer uma mulher.
Não forço minhas lembranças, neste momento não parece tão
importante, não quando apesar de tudo a que tinha me proposto,
encontro-me aqui.
Isso sim é importante, a porra da dependência, o querer muito
maior do que a minha vontade de me manter afastado. Apenas por
uma noite.
Tento ir ao banheiro, preciso parecer humano novamente.
Colocar a cabeça no lugar e voltar a ser o Marco Mancini de
sempre.

De banho tomado saio à procura de Maya e de algo que faça


minha cabeça parar de latejar.
Encontro-a no sofá, parecendo entretida olhando o celular.
Abatida, de uma forma que não lembro de já tê-la visto. Algo em
mim muda, neste momento até procurar alívio para a minha dor se
torna algo sem importância. Tudo em mim foca nela e em sua
expressão que milagrosamente mexe com algo dentro de mim.
— Bom dia, Maya. Está tudo bem?
Ela assusta-se, não tinha percebido minha aproximação.
E leva os olhos até os meus e sinto um pouco da geleira que
carrego comigo, derreter.
— Oi, Marco. Estou com cólica, em um nível que jamais tinha
sentido.
A curiosidade por descobrir sobre a noite de ontem se esvai.
Até mesmo desisto de procurar um remédio para mim. Preciso
tentar ajudá-la, está sendo difícil não enxergar nela toda a
vivacidade que lhe é tão peculiar.
— Quer que eu peça uma medicação, veja um chá ou...
— Está tudo bem. Já estou medicada. Talvez apenas precise
de um pouco de descanso.
Diz e levanta-se, claramente decidida a ir para o quarto.
E mesmo com a cabeça explodindo, nego-me a deixá-la se
afastar. Preciso de um toque, preciso de algum contato.
— Maya, venha...
— Marco, juro que não estou bem. Só quero me deitar para
que isso passe.
E se vai. E eu fico estático. Pela primeira vez sentindo-me
rejeitado, mesmo sabendo que tudo nela indica que realmente não
está bem.
Penso um pouco e decido ir embora. Tentar curar esta dor
infernal e colocar a cabeça no lugar.
Tentar parar de pensar com o pau. Retomar o comportamento
frio que me é conhecido e que me deixa à vontade.
E principalmente parar de orbitar em volta de Maya, pois
situações como a de ontem não podem voltar a acontecer.
Talvez precise me manter mais distante, esforçar-me mais para
não ceder tanto.
Talvez precise mesmo cessar com os beijos, pois certamente é
tal intimidade que me faz tratá-la diferente. É seguramente tal
concessão que fez de mim esse drogado que sequer sou capaz de
reconhecer.

Com um copo de uísque na mão, reflito sobre os rumos da


minha vida. Tenho menos de um mês para tomar algumas decisões
muito importantes.
O contrato de Maya está na iminência do fim, faltam vinte e
poucos dias para que o prazo estipulado se finde. Mamãe me
lembra a todo instante da minha maldita promessa, cobra que eu
cumpra o prometido. Inclusive garante que finalmente encontrou a
candidata ideal.
Coisas demais a se pensar, decisões importantes demais para
serem tomadas, enquanto a porra do relógio parece girar em meu
desfavor.
A cabeça dói, a mente não me dá sossego. Infelizmente o cara
que está sentado no sofá em nada lembra o homem de gelo de
outrora.
Longe de ser desapegado, longe de ser aquele que quase não
repetia mulher.
Uma dor incômoda surge. E ela sempre surge. Desde que a
proximidade do fim começou a me atormentar, desde que decidi que
preciso fazer algo para evitar que isso aconteça.
Estou com Maya há tempo demais e o fogo de antes está
longe de ser extinto, muito pelo contrário. A cada dia a desejo mais,
sempre me vejo voltando e voltando para a cobertura, mesmo que
me obrigue a dormir em casa algumas vezes, mesmo que tenha
voltado a ir a boates e que não falte fotografias minhas em situações
que somente podem ser descritas como mentirosas, pois por mais
que sempre apareça próximo a lindas mulheres, meu pau
permanece irredutível, fiel a porra da ruiva.
E isso me mata. Fode com meu juízo. Isso foi o que realmente
me tornou humano.
A necessidade, a fixação e ultimamente o medo de perdê-la.
Uma vozinha traidora me lembra que já a perdi e faz muito
tempo.
Não lembro exatamente quando, não lembro o motivo, mas sei
que Maya há tempos não é a mesma. Não irradia mais a alegria,
sequer parece feliz ao me ver. Percebo-a sempre no automático,
talvez rezando para que o nosso tempo juntos acabe e eu somente
pare de aparecer.
Mesmo que o nosso sexo seja como antes, talvez até melhor.
Permeado de sensações, e um toque de desespero, sabidamente
sentido por mim, por não me ver sem ela, pelo menos não ainda.
Apesar de agora evitar beijos, de obrigar-me a não me perder
em sua boca. E quando me é impossível negar-me tal necessidade,
percebo-a arredia, tentando também evitar que o contato aconteça.
Mesmo que inevitavelmente aconteça. Desesperado. Intenso.
Varrendo as decisões e trazendo certezas.
Mexendo com muita coisa, derretendo gelo e trazendo
humanidade, vontade, necessidade.
O telefone toca, olho e vejo que é minha mãe.
Para falar da tal moça. Para dizer que domingo ela me
surpreenderá.
Clamo até para que isso aconteça, quem sabe muita coisa se
resolva, quem sabe até meu pau decida parar com sua fodida
decisão de apenas querer a porra da ruiva.
Bebo mais um gole, tento amenizar um pouco destes conflitos.
Querendo que realmente eu tenha interesse na escolhida de
mamãe. Precisando que Maya fique comigo por mais algum tempo.
Quem sabe meus desejos não sejam atendidos e eu
finalmente me torne um homem de família?
Quem sabe Maya não perceba que o que temos é único e
decida ficar permanentemente em minha cama?
CAPÍTULO 16

Continuo a minha contagem regressiva. Agora falta pouco.


Faltam vinte e sete dias para a data estipulada no contrato.
Constantemente vibro que tudo isto esteja acabando,
invariavelmente choro por saber que o fim se aproxima.
E esta montanha-russa de emoções torna-me alguém diferente
da pessoa que já fui um dia.
Às vezes penso que conseguirei superá-lo se estiver distante,
às vezes sinto que o amor que carrego jamais me abandonará.
E isso mexe demais comigo. Por vezes me deixa apática, por
vezes emotiva demais da conta.
A única coisa que em hipótese alguma é alterada é o meu
desejo.
Continua firme. Forte. Absoluto.
Fazendo-me sempre ansiar por Marco. Fazendo com que o
sexo me torne cada vez mais refém do sentimento que apenas
aumenta a cada dia.
Boba. Idiota. É assim que me sinto.
Jéssica se preocupa, por vezes se culpa por ter permitido que
eu concordasse com a proposta, sente-se mais culpada ainda por
ter aceitado as vantagens que tudo isso trouxe para a sua vida.
Mesmo que a cada vez que ela toque neste assunto, eu deixe claro
que vê-la brilhar nas passarelas do país é algo que me conforta, que
me traz alguma felicidade.
Mas não é somente as coisas boas que vem acontecendo na
vida de Jéssica que me trazem algum alento, o relativo sucesso que
consegui em publicar meus livros de forma independente também
trouxe-me conforto, praticamente evitou que eu surtasse em meio a
este ano tão doloroso. O envolvimento e a possibilidade de fazer
algo que me causasse realização pessoal impediram que eu
cometesse uma loucura.
Que gritasse. Que cobrasse. Que me declarasse.
Quando via suas fotos em festas. Quando por dias não
aparecia.
Quando evitava beijos, quando era eu que esquivava-me.
Quando ele aparecia saudoso, quase amoroso. Às vezes em
um sexo desesperado, às vezes em algo que meu tolo coração
denominava como fazer amor.
E tudo isso me fez definhar, perder toda e qualquer vivacidade.
Esperando por alguém que não sabia quando viria, buscando
informações na internet que apenas me machucava, apenas fazia
meu sofrimento ser quase insuportável.
E por isso conto os dias e por isso a data que se aproxima me
é tão incerta. Traz esperança, mas traz também uma dor sem
precedentes.
Poderia já ter encerrado o contrato, pois há muito decidi que
não quero este lugar que foi testemunha de todo o meu tormento.
Também não quero o dinheiro no banco, pois o que ganho dá muito
bem para pagar minhas modestas despesas, em uma cidade do
interior onde pretendo firmar residência. Onde buscarei inspiração, e
tentarei curar meu coração.
No começo minha decisão não foi bem aceita por Jéssica, mas
agora ela até já faz planos para passar fins de semana e até mesmo
feriados ao meu lado.
Já fechei contrato de aluguel, mesmo que minha amiga insista
para que retire pelo menos um pouco do dinheiro de Marco e
compre um imóvel para mim. Diz que é justo, depois de tudo que
passei.
Mas ela não entende, apenas meu coração doente de amor é
capaz de compreender.
Não posso cobrar dinheiro para me deitar com o homem que
amo, não posso cobrar um preço pelo que sinto por Marco.
Mesmo que seja somente um negócio para ele, mesmo que
tenha sido também assim para mim.
No começo. Bem no começo.
Quando eu fui boba ao achar que era capaz de separar as
coisas. Quando eu imaginei que me apaixonar fosse algo
impossível.
Penso na conta que abri como pessoa jurídica, para receber
mensalmente o lucro que a escrita me traz. Sei que ela que custeará
minhas despesas quando me mudar, ela que me trará a
possibilidade de começar de novo.
E mais uma vez me acho uma sádica por esperar o fim.
Sabendo que Jéssica já não mais precisa do apadrinhamento de
Marco, que eu não quero absolutamente nada do que foi
combinado.
Então estou verdadeiramente livre para partir, sem ter que
esperar pela despedida dolorosa, que certamente me matará.
Mas há em mim algo que me impede de tomar esta decisão,
que me impede de interromper este ciclo de angústia e sofrimento.
A fugaz esperança de que um milagre aconteça. De que Marco
me queira verdadeiramente.
De que ele pense em mim como alguém para a sua vida, e não
somente alguém que aqueça sua cama.
Que toda a necessidade que ele parece ter do meu corpo,
mascare um sentimento, mascare uma verdadeira emoção.
E rio. Sem vontade. Sem fé.
Por saber se tratar de mais um devaneio, se tratar de uma
ilusão impossível e derradeira.
Que apenas me mantém exposta a mais e mais dor, que
apenas me mantém presa a um lugar e a uma pessoa que
sabidamente me faz mal.
Faço um risco no calendário que tenho em meu computador.
Continuando a contagem regressiva.
Agindo como a sádica que descobri ser. Esperando um milagre
certamente impossível de acontecer.
Tento sair desta bolha de autopiedade em que constantemente
me coloco, tento buscar um pouco de praticidade em meio ao caos.
E decido pesquisar mais um pouco sobre o lugar em que
morarei.
Onde passear, onde comer. Lugares em que buscarei tentar
esquecer.
Locais onde procurarei inspiração, locais que possam servir de
refúgio e cura para a alma atormentada que carregarei.
E assim sigo, apenas existindo.
Não sabendo o que este domingo me aguarda. Desejando que
Marco apareça, como invariavelmente aparece nestes dias.
Implorando para que ele não venha, pois sua vinda apenas
fará com que eu me entregue mais uma vez.
Apaixonada. Carente. Esperançosa.
Para somente acordar mais uma vez em uma cama vazia, para
somente confirmar o que até mesmo o meu tolo coração já sabe.
Que o fim se aproxima e que Marco seguirá em frente.
Sem olhar para trás. Sem não mais retornar a esta cobertura.
Escolhendo talvez a próxima amante, ou tão somente
transando com mulheres aleatórias como continuou fazendo por
todo este ano.
Esta certeza acaba comigo e causa ainda mais destruição ao
meu apaixonado coração, pois sei que os dias que ainda restam
serão realmente de despedida e seguramente uma fonte extra de
agonia e de aflição.
E nem mesmo isso é capaz de me fazer ir. Nem mesmo isso é
capaz de me impedir de passar por todos os vinte e sete dias
infernais que terei pela frente.
CAPÍTULO 17

Bianca é bonita. Muito.


Vem de uma família tradicional, herdeira de um vasto império.
Seu pai é colega de golfe de papai, sua mãe é envolvida com
as mesmas causas sociais que a minha.
Certamente uma escolha bem pensada e, se avaliado a
sangue frio, a melhor opção até aqui, pois ela não parece ser uma
mulher grudenta, que sabidamente vê vantagem no meu
sobrenome. Parece apenas conformada, sabe que é adequado que
dê este passo e talvez me veja até mesmo como um negócio
necessário.
E é bom que seja assim. Não vai esperar amor e muito menos
fidelidade. Não sendo possivelmente um empecilho para que eu
mantenha meu caso com Maya. Suspiro fundo, pois se meus
instintos estiverem corretos, aparentemente um dos meus
problemas estará resolvido.
Formarei uma família e minha mãe parará de martelar o meu
juízo. Não precisarei mais comparecer a festas e baladas, pois a
cada dia que passa meu desinteresse por lugares assim é evidente
e, se me enveredar pelos planos de minha mãe, ninguém vai
esperar que um homem casado continue nesta rotina de solteiro.
Faz tempo que sequer aproveito estes lugares e será um alívio
parar de frequentá-los.
— O que você acha de darmos uma volta no jardim?
Convido. São quase cinco horas da tarde, e o horário permite
este tipo de passeio.
— Acho uma ótima ideia.
Decidida. Prática.
Não é melosa e nem parece ser fingida.
A cada hora que passa, Bianca me agrada mais e mais.
Coloco seu braço no meu, e o toque é agradável, muito
embora esteja longe de ser eletrizante como o de Maya.
Invariavelmente meus pensamentos retornam a ela e neste
momento trato de afastá-la da minha mente. Preciso de
concentração e coerência para dar o passo a que me dispus.
Mais tarde focarei todas as minhas fichas na ruiva, pois não
pretendo mais adiar a proposta que tenho, os planos que fiz para
nós dois.
O corpo se agita já antecipando que ela novamente me dirá
um sim, que novamente teremos um acordo. Só que desta vez não
estipularei data, não cairei novamente nesta cilada. Desta vez serei
ainda mais generoso, serei capaz de dar tudo o que a ruiva pedir,
pois uma garota que mantém meu interesse por todo um ano,
merece todas as regalias, merece que tenha toda e qualquer
vontade atendida.
— Você sabe o que eles estão fazendo, não sabe?
Bianca diz e agradeço por iniciar uma conversa. Por me tirar
dos meus pensamentos e me trazer para o momento atual, que
também é de suma importância para o meu futuro.
— Claro que sei. Isso incomoda você?
Decido ser direto, assim como ela.
— Não, desde que não imagine que tenho algum tipo de
paixão por você.
Diz irônica e mais uma vez confirmo o quanto ela é diferente
das demais pretendentes.
Realmente Bianca é a única que esteve no páreo até aqui.
Preciso somente confirmar se é capaz de passar pela sabatina que
virá a seguir.
— Sei que não. Mas tem este sentimento por alguém?
— Claro que não, do contrário jamais teria vindo a um lugar
onde todos esperam que eu firme compromisso com o filho do
anfitrião.
Espirituosa. Direta. Gosto disso.
— E você vê algum problema em cogitarem um possível
compromisso?
— Lógico que não, pois, se for sincera, você é de longe minha
melhor opção.
Rio com vontade. E peço para que seja mais clara.
Bianca não se faz de rogada. Conta sobre o desejo dos pais
de arrumarem um genro que administre os negócios da família e,
dentre as opções propostas, já apareceram todos os tipos de
pretendentes: nerds, alguém remunerado para desposá-la e até
mesmo um filho de um amigo de seu pai, sabidamente
homossexual.
— Como vê, você lidera o ranking de possíveis esposos.
Graceja.
— E você não se opõe que seus pais tentem controlar sua vida
desta forma?
Encaro-a, enquanto aguardo uma resposta.
— Para mim sua situação não é diferente da minha.
Touché.
— Sabe de uma coisa, Marco?
Olho-a, esperando que continue.
— Não aguento mais essa lenga-lenga! Estou cheia de ouvi-
los dizer que nossa linhagem e nosso patrimônio vão acabar. Estou
cheia de ser apresentada a tipinhos medíocres e que me veem
como um trampolim. Acredite quando digo que você foi o que mais
me agradou, pois não precisa do meu dinheiro, certamente vai gerir
com maestria os negócios da família e permitir que meu pai tenha
uma velhice tranquila e sem preocupações, além de que posso
contar com você para aquecer minha cama, porque se os tabloides
relatarem ao menos a metade da verdade, você até que é bem viril.
E me encara, esperando minha resposta.
— E não desagrada você o fato de que seu possível futuro
marido seja tão libertino?
Pergunto. Não que eu queira continuar aparecendo nas
primeiras páginas de fofocas, mas quero saber se este lance de
fidelidade incomoda Bianca.
— Acredito que para um homem casado, não pegaria bem
tanta exposição, mas jamais impediria que você tivesse outras
mulheres, muito embora queira deixar bem claro que exigirei que
haja com discrição.
Bianca é perfeita. Será que já posso pedi-la em casamento?
Mas antes que eu possa abrir a boca, ela continua:
— Quero que saiba que também tenho meus fetiches e meus
casos e que prego direitos iguais para nós.
Até parece que estamos criando cláusulas de um contrato.
Mamãe tinha razão em dizer que Bianca era a pretendente
ideal.
— Onde eu assino, futura noiva? Estou mais do que pronto
para dar esta alegria aos nossos queridos pais.
Ela ri satisfeita e sei que pelo menos um dos meus problemas
já está resolvido.
O que mais queria neste momento era ir até a cobertura. Ir até
Maya.
Mas haverá tempo. Terei a noite inteira para colocar em prática
o que tenho em mente.
Primeiro preciso cumprir meus deveres, preciso passar por
este jantar.
Sim, estou indo para um restaurante frequentado pela nata
carioca, onde repórteres fazem fila por um único clique das
personalidades que frequentam o lugar. E isso apenas para que
meus pais e os de Bianca celebrem o sucesso de suas intenções.
Pois tão logo falamos que tínhamos muito em comum e
iríamos tentar nos conhecer melhor, nossos pais ficaram eufóricos,
querendo que terminássemos o dia em um jantar em família.
E claro que escolheram o mais badalado restaurante, onde
seguramente haverá registros de Bianca e eu juntos. Certamente
até mesmo eles são capazes de convocar algum repórter para dar a
notícia em primeira mão. E, ademais, sei que em toda e qualquer
oportunidade eles falarão sobre isso, acredito que a partir de agora
este seja o tema principal de suas conversas.
— Arrependido, homem de gelo?
Por um momento tinha esquecido que Bianca estava ao meu
lado.
— Apenas refletindo sobre como os coroas escolheram a dedo
o lugar que iremos.
— E isso incomoda você?
Ela pergunta. Neste pouco tempo de convivência, descobri que
Bianca é sempre direta. Pergunta tudo o que tem vontade.
— Claro que não, pois se optamos por tentarmos, em algum
momento as manchetes começarão.
Finalmente chegamos ao nosso destino.
Paro o carro e entrego a chave ao manobrista. Vou até a porta
do passageiro colocar em prática o meu cavalheirismo.
Assim que Bianca desce do carro e se posiciona ao meu lado,
somos alvos de alguns flashes e sei que agora não há mais como
voltar atrás.
— Acho que não custa nada darmos um pouco de munição
para eles.
Na hora não entendo direito o que ela quer dizer, mas este
meu lapso dura somente até ter seus lábios colados nos meus.
Por pouco não me afasto, dou tudo de mim para não repelir o
contato.
— Sei que não beija, mas certamente seremos mais
convincentes se você abrir uma exceção para a sua futura noiva.
E agora uma dezena de flashes são disparados. A mídia
parece enlouquecida com esta maldita exceção.
E enquanto somos bombardeados por alguns repórteres que
rapidamente se aproximam, apenas penso em uma coisa: parece
que a minha quase futura esposa fez certinho a lição de casa.
CAPÍTULO 18

Choro, choro muito, pois é a única coisa que consigo fazer


desde que cheguei neste bendito hotel.
Sei que poderia ter ido para a casa de Jéssica, mas não queria
que ela me visse neste estado, também não queria ser encontrada,
caso Marco decidisse ir atrás de mim para que eu cumprisse o
restante de dias que faltam para o término de nosso contrato.
Eu não aguentaria. Não suportaria.
Sequer seria capaz de ficar frente a frente com ele.
Então fugi. Como uma bandida. Com a noite já alta.
O medo que ele me procurasse foi o que me fez tomar uma
atitude tão drástica. A possibilidade dele ver minha cara inchada
pelo choro foi o que me fez sair de sua vida para sempre.
Sim, é o nosso fim. Percebi que não há qualquer esperança,
que não há possibilidade alguma de eu passar o restante dos dias
que ainda faltam ao lado de Marco.
E esta descoberta veio quando milhões de notícias dele
apareceram na mídia, quase em tempo real. Ao lado de uma mulher.
Com a presença de seus pais e os pais da tal Bianca, a linda
acompanhante que ele tinha ao seu lado.
Nos sites não faltaram elogios à beleza e riqueza da moça.
Não pouparam elogios ao mais novo casal.
Sim, a própria mãe de Marco, Júlia Mancini, alardeou a alegria
de ter seu filho envolvido com tão preciosa moça. E claro que neste
momento meu coração já estava em frangalhos, assim como tinha a
certeza de que não poderia ficar na cobertura nem mais um
segundo sequer.
Sabia que teria que colocar meus planos em prática bem antes
do que tinha me proposto, pois não conseguiria continuar com ele,
amando-o como amo, sabendo que ele jamais seria meu, sabendo
que escolheu outra e que logo mais casaria com sua pretendida.
E a minha decisão de partir foi reforçada quando vi a cena que
se repete na minha cabeça até agora. Quando vi a cena que
despedaçou de vez meu coração.
Um beijo, que destruiu qualquer esperança que ingenuamente
tivesse.
Um beijo, que confirmou tudo o que foi dito pelos familiares
orgulhosos, que deu credibilidade a toda e qualquer matéria que
apareceu desde então.
Claro que não perdi tempo lendo-as enquanto ainda estava na
cobertura, teria tempo demais para isso, teria a minha vida inteira
para remoer tal decepção.
Precisava sair de lá. Urgentemente. Precisava evitar ficar
frente a frente com ele, pois havia a possibilidade de Marco
aparecer, porque ele apareceu até mesmo depois de noitadas e até
mesmo por vezes embriagado. Não poderia dar sorte para o azar.
Por isso fiz minha mala. Colocando nela pouquíssimas coisas,
somente o que levei quando cheguei há um ano atrás. Conferindo
se todos os meus documentos estavam na bolsa, tendo a precaução
de carregar comigo o meu notebook, que seria a minha fonte de
renda a partir de agora.
Mesmo no auge da dor e do desespero tive o cuidado de
deixar um bilhete, tive o cuidado de explicar o fim do nosso acordo.
E doeu escrever as palavras, assim como doeu deixar para
trás todo o resto.
O quarto onde vivemos tantas coisas, a cama onde me iludi
achando que os momentos que para mim eram especiais, também
eram especiais para Marco. No entanto o tempo e os fatos me
provaram que para ele era apenas sexo, mais uma transa qualquer.
E pouco a pouco caminhei pelos cômodos, sem jamais deixar
de chorar. Despedindo-me silenciosamente do lugar que por algum
tempo foi meu lar, do lugar em que jamais colocarei meus pés
novamente.
E depois segui para fora, jamais controlando o choro.
Felizmente o táxi não demorou e não se incomodou de rodar a
esmo por um tempo longo demais. Um tempo para eu tentar me
controlar, um tempo para que eu pesquisasse lugares onde me
hospedar.
E decidi-me por um lugar distante, por um que me colocasse a
muitos quilômetros da minha antiga vida.
E foi assim que cheguei até aqui. Foram todos estes
acontecimentos devastadores que me trouxeram a este hotel.
Um hotel que sequer tive ânimo para verificar acomodações ou
conforto. Um lugar em que seguramente não ficarei por muito
tempo.
Apenas tempo suficiente para que eu possa controlar meu
choro, um lugar em que possa me concentrar para dar os próximos
passos.
Que certamente não serão fáceis, mas que fatalmente me
levarão para o mais distante possível de Marco Mancini.
Após algum tempo perdida em um choro sentido, escuto o som
do meu celular. Pensei que tivesse desligado, pois queria ficar
incomunicável caso Marco tentasse fazer contato. Infelizmente
parece que esqueci de desligá-lo, mas é algo que certamente farei.
Uma olhada no visor e vejo que não é ele. Na mesma hora
minha mente traiçoeira me lembra que ele está com Bianca e que
não sentirá minha falta tão cedo, pelo menos não esta noite.
Afasto meus pensamentos masoquistas e me concentro em
firmar minha voz, pois não quero que minha amiga se preocupe
comigo.
Mal atendo o telefone e escuto Jéssica praticamente gritar do
outro lado:
— Maya, estou indo te buscar. Você não fica mais nenhum
segundo aí...
— Calma, Jéssica. Não precisa vir me buscar, ainda me restou
algum amor-próprio.
Faço uma pausa e escuto-a perguntar:
— O que você quer dizer com isso, Maya?
— Que eu arrumei minha mala e saí. Deixei a cobertura.
Abandonei Marco.
Um silêncio sepulcral se faz do outro lado. Quase posso ouvir
as engrenagens de sua cabeça funcionando.
— E onde você está? Por que não veio para a minha casa?
Finalmente fala alguma coisa. Não esconde a indignação.
Até mesmo agradeço este tipo de diálogo, de cobrança, pois
impede minha mente de retornar novamente ao motivo das minhas
lágrimas.
— Estou em um hotel e não fui para a sua casa porque seria o
primeiro lugar em que ele me procuraria. Não que eu tenha alguma
ilusão quanto a qualquer sentimento por parte dele, mas como ainda
restam alguns dias para cumprir minha parte no acordo, então ele
pode se achar no direito de vir atrás de mim para cobrar. E neste
momento eu não quero ver a cara daquele infeliz nem pintada de
ouro.
Solto um suspiro alto. A raiva aparente servindo ao propósito
de camuflar as minhas reais emoções.
Amor, decepção e sofrimento.
— Ah Maya, por que você não me ligou para que eu fosse te
buscar? Para que você não...
— Jéssica, eu não tinha tempo. A todo momento temia que ele
voltasse, temia que ao vê-lo toda a minha determinação caísse por
terra...
E taí. As lágrimas. O choro. A dor.
— Eu vou matar aquele infeliz!
Ela parece desesperada do outro lado. Não duvidaria que ela
cumprisse essa promessa se porventura o encontrasse.
— Por que motivo você faria isso?
Respiro fundo para tentar me fazer entender.
— Ele jamais me enganou! Marco somente me contratou,
nunca fez promessa alguma. E posso até dizer que ele foi por
demais generoso, pois se hoje somos capazes de sonhar com um
futuro melhor foi graças...
— A que custo? Ao custo de sua infelicidade?
A voz embargada. Dói nela também. Tudo isso machuca
Jéssica também.
— Eu me apaixonei e ele não tem culpa de não sentir o
mesmo. Isso pode acontecer com qualquer pessoa.
— Não venha defendê-lo, Maya!
— Não o estou defendendo, só estou constatando um fato.
Infelizmente eu fui fraca demais para passar por tudo isso ilesa.
Falo da minha inocência, da convivência, de confundir sexo e
tesão com amor e necessidade.
— Maya, você não entende. Ele se comprometeu com outra,
ele...
— Ele deu a outra o que mais desejo? Ele construirá com outra
o que jamais cogitou construir comigo? Eu sei, Jéssica. E é isso que
está literalmente me matando.
Não aguento mais e explodo num pranto sentido e doloroso.
— Maya, querida, não chore. Não aguento saber que está
sofrendo por aquele infeliz.
Não digo nada, apenas choro.
— Por favor diga onde você está, deixe eu ficar com você!
Implora chorosa.
E eu finalmente cedo e falo em que hotel estou.
Pois não aguento mais me fingir de forte. Não aguento mais
ficar aqui sozinha.
— Estou indo para aí.
E antes que ela desligue, digo:
— Por favor, Jéssica, venha. Eu preciso de você.
E encerramos a ligação, porque ela não traz conforto algum.
Quero-a aqui, preciso dela como não lembro de já ter algum
dia precisado.
Quero o carinho de Jéssica. Quero o seu colo.
Quero o amor da única pessoa que certamente sente tal
sentimento por mim.
CAPÍTULO 19

A noite passa lentamente. Testando meu controle. Brincando


com meus limites.
Estar em uma mesa com pessoas falando sobre futuro, onde
neste dito futuro sou um homem casado, para mim é uma conversa
no mínimo surreal. Mas esta abertura, esta possibilidade acontece
porque permiti que minha mãe criasse ilusões a este respeito.
Porque me dispus, na conversa que tive com Bianca mais cedo, a
tentar.
E não estou confortável com isso, mesmo que a escolhida de
minha mãe seja por demais compreensiva, seja até mesmo tão
pragmática quanto eu.
Atribuo a inquietação que me toma ao fato de que ainda não
resolvi minha situação com Maya, ao fato de que o maldito contrato
está na iminência de se encerrar e eu não tenho garantia nenhuma
de que ela vai aceitar minha oferta atual.
A única certeza que tenho é que ela gosta dos nossos
momentos tanto quanto eu, que ela goza gostoso no meu pau.
E taí, o mero pensamento faz o meu membro pulsar querente
na cueca, faz-me louco para abandonar tudo e ir ao encontro dela.
Para fodê-la desesperadamente. Para adorá-la lentamente
como a minha ruiva merece.
Começo então a bater os dedos desesperadamente na mesa,
sequer participo da conversa atual.
— Está ansioso para ir a algum lugar, namorado?
Bianca diz, sarcástica.
— Acho que este tipo de questionamento não cabe à nossa
incipiente relação, querida!
Estou gostando da nossa interação, apesar de neste momento
minha cabeça está bem longe daqui.
— Que pena! Bem que gostaria de ajudar você, mas
aparentemente você não quer.
Fala baixinho no meu ouvido, fingindo uma intimidade que não
existe.
— O que você quer dizer com isso?
— Você quer ou não quer a minha ajuda?
A desgraçada responde minha pergunta com outra. Afirmo
com a cabeça, não tenho nada a perder.
— Podemos dizer que vamos embora. Podemos encerrar a
noite por aqui. Viemos juntos e não há problema nenhum os
pombinhos decidirem por um pouco mais de privacidade.
Sorrio, Bianca está me saindo melhor que a encomenda.
Certamente se ela for sempre compreensiva assim, casaremos sim,
e será realmente até que a morte nos separe.
— Pelo jeito você gostou da minha proposta, mas lembrando
que me deve uma, homem de gelo.
Ela até pode ser compreensiva, mas é uma jogadora. E gosto
disso.
— Devo sim, Bianca. Estarei aqui quando você precisar.
Ela ri, satisfeita com minhas palavras.
— Acho que para nós a noite já deu. Marco e eu iremos
embora.
Logo começa um alvoroço, todos na mesa falam de horário,
mas a atriz que eu tenho ao meu lado apenas continua:
— Acredito que vocês ainda tem muito o que conversar, então
não precisam encerrar o programa por nós. Fiquem e divirtam-se,
pois é o que Marco e eu iremos fazer.
Decidida, até mesmo crua. E a pretensa sugestão do que
faremos surpreende meus pais, mas jamais os dela.
Passada a surpresa dos meus velhos, logo um sorriso se
forma, de satisfação. E nos lábios dos quatro.
E depois disso vem as despedidas e em pouco tempo saímos.
Não sem antes sermos abordados por repórteres e termos
novamente imagens nossas capturadas.
Mas em algum momento, próximo da meia-noite, finalmente
estou dentro do carro. Para deixar Bianca em casa. Para ir, enfim,
ao encontro de Maya.

Sei que a esta hora ela está deitada, então não perco tempo
nos demais cômodos. Sigo rapidamente para o quarto. O coração já
bate ansioso, o corpo já vibra por ela. Um ano e ainda é assim e, se
eu for sincero comigo mesmo, as sensações apenas aumentam.
Uma vontade de tê-la sempre por perto. Uma saudade a cada
instante que me afasto e um aperto no peito, quase incontrolável,
quando me obrigo a ficar longe.
Talvez, com a história deste casamento, eu não precise me
obrigar a estar em festas e orgias, pois não será esperado de mim.
Então esporadicamente posso fazer um programa cedo com Bianca
e depois correr para onde eu realmente quero estar: na cama de
Maya.
Deixo o blazer pelo caminho e já começo a desabotoar
ansiosamente a minha blusa. Entro no quarto, já excitado, já louco
pela ruiva.
O ambiente escuro não me deixa ver a beleza que tenho entre
os lençóis. Infelizmente.
Deixo como está, apenas sigo para colar meu corpo no dela.
Deito-me e suspiro alto. Finalmente, depois de um domingo de
saudade. Certamente este instante é sempre o ponto alto do meu
dia. Admito que sou um viciado, não nego a minha dependência.
E viro-me sabendo exatamente onde ela está. Minhas mãos
desesperadas por tocá-la.
Mas não a encontro. Ela não está na cama. Seu lugar está
vazio.
Rapidamente sento na cama e procuro o interruptor. Aperto-o e
escaneio o quarto. Nada.
Sigo para o banheiro e uma imagem nítida de como a
encontrei em seu primeiro dia aqui, aparece na minha mente.
Na banheira. Linda. Uma visão que jamais consegui esquecer.
E minha calça já estufa, a ruiva tem este poder sobre mim.
Apenas imagens e lembranças são capazes de me pôr assim.
Louco de desejo. Arrebatado de tesão.
Pronto.
Abro a porta do banheiro e nada.
E neste momento o desejo se vai e fica a angústia.
O closet. A varanda ao redor do quarto.
Nada.
Um aperto, o início de um desespero. E um mau presságio me
toma.
Retorno ao quarto e meu olhar encontra uma folha de papel.
Sobre um móvel qualquer, com um molho de chaves
encostado.
Dizendo um milhão de coisas, a simples imagem falando que
acabou.
Seguro o papel com meus dedos gelados e nem preciso ler
para saber o que ele significa.
O fim.
Maya me deixou.
Fecho os olhos sem conseguir ler o que está escrito. Sem
conseguir acreditar no que está acontecendo.
Apenas torcendo para que isso seja a porra de um pesadelo.
Rezando para que eu acorde deste sonho ruim.
Pois não posso ficar sem a minha ruiva.
Meu corpo não aguentaria.
E mais uma vez a vozinha aparece e diz: o coração não
suportaria.
CAPÍTULO 20

Sento-me na cama, fecho os olhos e respiro fundo.


As mãos levemente trêmulas seguram a minha sentença.
E sei que não posso mais adiar, não posso mais tardar a saber
o que está escrito.
E mesmo tendo certeza de que apenas dor me aguarda,
começo:
“Marco, talvez sair na surdina não seja uma atitude honrosa,
mas quase nada foi verdadeiramente honroso entre nós.
A forma como nos conhecemos. Como me vendi. Como você
me comprou.
Então essa cena final é apenas isso. Mais do mesmo.
Sei que ainda restam alguns dias, e que não cumpri totalmente
o contrato. Talvez por isso não mereça o dinheiro, a cobertura ou as
roupas que ganhei. O contrato sempre foi claro, tinha uma data
limite e não cheguei até ela, então nada mais justo que eu não
receba minha parte no combinado. E por isso deixo tudo para trás.
Sou grata pelo que fez por Jéssica e por Beto, e sendo assim,
acho que o que eles receberam foi compensado pelo tempo que
ficamos juntos. Então penso e acredito que estejamos quites.
Queria que assim fosse, e que me libertasse. Acho que está
justo e que poucos dias não farão diferença alguma para você.
Deixe-me seguir. Apenas seguir em frente.
Talvez eu até esperasse nosso acordo findar, mas descobri
hoje que você tem uma noiva e não me sinto bem enganando-a, não
me sinto bem em me deitar com o homem de outra.
Pois até mesmo uma acompanhante de luxo tem escrúpulos,
até mesmo uma amante os tem.
E descobri que posso abrir mão destas coisas materiais que
deixei para trás, se conseguir preservar o mínimo de respeito que
seja por mim mesma.
Seja feliz, Marco. Você merece.
Foi generoso com três criaturas desvirtuadas pelos
acontecimentos da vida, desenganadas com o futuro. Ajudou-nos,
talvez de uma forma torta e interesseira, mas a ajuda veio. E mudou
nossa vida. Mudou a vida dos três.
Obrigada.
Isso é uma despedida. Um adeus.
De um tempo que foi bom, mas que se findou. E que jamais
voltará.
Não lhe procurarei e espero que você faça o mesmo.
Seu compromisso apenas antecipou o que fatalmente
aconteceria, mas para mim este é, como você mesmo diz, um limite
rígido.
E é isso. Um fim.
Uma vida nova.
Para nós dois.”

Maya
Leio e releio as letras à minha frente e não consigo acreditar
no que está escrito.
Ela viu reportagens sobre Bianca e eu.
Maya foi embora e deixou tudo para trás.
São muitas informações e trazem uma certeza dolorida
demais: ela se foi.
E não ficaria, não aceitaria a minha nova oferta. Não depois
que decidi acatar os desejos de minha mãe.
Porra. A garota nunca reclamou de qualquer imagem minha
que saiu na imprensa durante todo este tempo. Cenas com
mulheres em meu colo, cenas em que se demonstrava uma
intimidade além do que jamais aconteceu, mas ainda assim bem
sugestivas.
E nada. Nenhuma reclamação.
E agora ela se vai, sem sequer me escutar, sem sequer saber
dos planos que tinha para nós dois.
Mas isso não vai ficar assim. Não pode ficar assim.
Pego meu telefone e disco seu número.
Meu coração falta sair pela boca, enquanto espero a chamada
completar.
Somente para ouvir uma gravação. Telefone desligado. E tento
novamente.
De novo. E de novo.
Sempre a mesma mensagem, que a cada vez que é ouvida,
apenas me desmonta mais.
Rapidamente tenho um estalo. Lembro de Beto.
Ele deve saber o telefone da tal Jéssica, ou até mesmo o
endereço.
Maya está com ela, isso para mim é um fato.
Acho o contato e ligo. Não completa.
Vou no aplicativo de mensagens e a foto que aparece nem de
longe lembra o cafetão.
Mudou de número, e isso era esperado, visto que saiu
totalmente do ramo.
Um desespero me bate. Por não saber dela. Por não conseguir
qualquer contato.
Quero gritar, bater. Quero quebrar tudo.
Mas não é isso que preciso.
O que preciso agora é de álcool. Para espairecer as ideias,
para tentar pensar em algo.
Levanto-me e vou rapidamente para o bar.
Pego uma garrafa de uísque e sigo para o sofá. Nada de voltar
para o quarto, as lembranças que lá me assombrarão, em nada me
ajudarão.
Como se não tivesse lembranças no sofá, no tapete e na
parede. Como se vocês não tivessem lembranças em cada canto
deste lugar.
A vozinha. A fodida da vozinha.
Tento calá-la, tento ignorá-la.
Foco no litro. Foco em encher a cara.
Em buscar uma solução. Em tentar não enlouquecer.
Pois a dor é sem precedentes. A angústia que sinto ameaça
me tomar.
Viro a garrafa diretamente na boca. Tento uma amortização, ou
até mesmo algum conforto.
Tento pensar em algo, tento pensar no que fazer.
Pois não posso ficar sem a ruiva. Nem agora. Nem tão cedo.
Sequer sei se algum dia posso abdicá-la.
Meu corpo sabe a resposta. E o aperto em meu peito não me
deixa iludir-me em achar que posso ficar sem ela.
Sem seu corpo. Sem seus carinhos. Sem seus beijos.
Beijos que nunca consegui evitar. Que jamais consegui ficar
sem eles.
E esta certeza me instiga a beber mais, me instiga a pensar
em algo.
Para trazê-la de volta para cá. Para mim.
Sei que quando amanhecer conseguirei a localização da amiga
e, assim, achar a ruiva.
Mas encontrá-la não será o bastante. Não depois do que li.
Ela não ficará comigo, pois acha que este pretenso casamento
é de verdade.
Resta a mim contar-lhe que é meramente um acordo de
negócios. Talvez até mesmo prometer-lhe que jamais tocarei em
Bianca.
E isto é fácil. Afastar-me de qualquer mulher nada me custa.
Somente desejo a ruiva. Meu tesão tem nome e sobrenome.
Maya Oliveira.
Claro que isso me assusta, leva-me a pensar no motivo de
tanta dependência.
Mesmo que já esteja apaziguado dentro de mim que sou um
dependente físico, que sou um viciado.
Penso que não se trata somente disso, mas minha mente
impede que eu me aprofunde em tal necessidade.
Pois não é hora para isso. Não é hora para reflexões.
É hora de montar planos e estratégias. É hora de pensar em
algo que seja capaz de trazer Maya de novo para mim.
Porque preciso dela. Muito. Mais até do que sou capaz de
mensurar.
E o meu corpo trêmulo diz isso. Meu coração apertado
confirma isso.
Então tenho que pensar no que precisa ser feito. No que
preciso ofertar. No que preciso abrir mão.
Penso que posso oferecer dinheiro, imóveis, e até mesmo uma
vida de rainha.
Posso abrir mão de farras, e prometer que meu casamento
será apenas de fachada e que jamais encostarei em Bianca.
Ela comprovará isso na minha presença constante neste lugar,
pois não penso em dormir longe dela mais nenhuma noite sequer.
Acho que isso confirmará minhas intenções, garantirá que
ceda e que retorne à esta cobertura.
Desejo, do fundo do meu coração, que isto baste, pois não
saberia ficar sem Maya.
Jamais conseguiria não tê-la em minha cama, não tê-la em
minha vida.
Pois nunca seria capaz de viver com esta dor e muito menos
com esta saudade absurda.
Jamais conseguiria existir tendo Maya longe de mim.
Isso é a certeza absoluta de um homem já dominado pelo
efeito do álcool, mas também dominado por algo que ele se nega a
sequer pensar em reconhecer.
CAPÍTULO 21

Com a cabeça latejando de ressaca, sigo para o apartamento


de Jéssica.
Consegui fácil descobrir onde a amiga de Maya morava, pois
como ela é modelo em uma empresa em que sou sócio, bastou uma
ligação e seu endereço estava nas minhas mãos. Também com um
telefonema resolvi toda a minha semana.
Liguei para o vice-presidente, elenquei as ações que ele
deveria ficar de olho, quais ele poderia comprar e as que talvez
tivesse que se desfazer. Solicitei que ele acompanhasse a equipe e
ligasse para mim, se necessário, pois não iria à empresa esta
semana. Tiraria umas férias. Tiraria uns dias para Maya e eu.
Sim, quero convencê-la de que, se aceitar voltar para a
cobertura, as coisas serão diferentes desta vez. E sei que melhor do
que dizer, será provar. Quero convidá-la para uma viagem, qualquer
local que ela escolher. Podemos até ir para fora do país, tudo que
ela quiser.
Quero também passar um tempo com Maya fora da cama.
Conversar, assistir, fazer qualquer coisa que ela possa gostar e que
demonstre que desta vez não me manterei tão distante. Manter
distância dela sempre foi difícil e desta vez seguirei mais meus
instintos, desta vez doarei uma parte minha maior à ruiva.
Sei que mulheres gostam destas coisas e posso sim derreter
um pouco do gelo que me rodeia. Posso sim tentar ser um homem
de carne e osso.
Também penso em comprar-lhe uma casa de praia, quem sabe
um apartamento numa destas capitais mundiais badaladas. Posso
dar-lhe qualquer coisa, tenho dinheiro suficiente para isso.
E você acha que ela vai querer? Somente usava o cartão que
recebeu para pagar as contas de casa, não quis a cobertura,
rejeitou o dinheiro da conta e não levou uma roupa sequer das que
a renomada estilista escolheu. Você terá que pensar em algo
melhor, homem de gelo.
A vozinha. Sempre a fodida da vozinha.
Que tira-me do prumo. Que faz a porra da ressaca aumentar.
Que faz o medo da rejeição me dominar.
Sim, eu temo ser rejeitado. Eu temo que o sexo que temos não
seja suficiente.
Que ela queira viver sua juventude, que queira sentir-se livre
pelo menos uma vez na vida.
Eu a investiguei. Sei que viveu presa às paredes de um
orfanato por longos dezoito anos e que pouco tempo depois que
saiu, ligou-se a mim. Por isso era tão inexperiente. Por isso Maya
era virgem. E eis o meu temor. Que queira sair, ir à festas, ficar com
caras aleatórios, que queira viver plenamente e não estar ligada a
alguém que já viveu tudo isso até a exaustão e até por isso quer um
pouco de sossego.
Claro que você não quer sossego, você quer Maya. Por isso
não tem vontade de farra, pois não quer outras mulheres. Você está
bem fodido.
Esse caralho de voz quer me desestabilizar. Quer foder com
meu controle.
Agora que estou estacionando no meu destino. Agora que
estou a instantes de tentar resolver toda esta merda.
Depois de inventar uma história absurda sobre surpresa e
romance, consigo que o porteiro libere minha entrada sem ser
anunciado. Minha consciência sequer dói pela mentira, apenas
quero ficar cara a cara com Maya.
E agora é questão de segundos, penso nisso após tocar a
campainha. Sei que Jéssica está em casa, pois o porteiro avisou
que ela acabou de chegar. Talvez da academia, de uma caminhada.
Pouco importa, apenas quero que ela abra a porra da porta.
Escuto a fechadura girando e meu coração acelera. Daqui a
instantes conseguirei um pouco de conforto para tudo que me
consome.
A dona da casa me encara sem qualquer cordialidade e diz:
— O que você quer, Marco Mancini?
Nada de cumprimentos, Jéssica é apenas direta. E eu vou
também por este caminho.
— Quero falar com Maya. Quero...
— Maya não está aqui!
Diz séria.
— Quer que eu acredite?
Passo por ela e adentro no apartamento.
Ela não parece nem minimamente feliz com essa minha
atitude.
— Jéssica, sem teatro. Nós dois sabemos que ela está aqui,
então economize nosso tempo e...
— Qual parte de Maya não está aqui você não entendeu?
Cruza os braços e me olha afrontosa.
— Quer comprovar com seus próprios olhos? Vá em frente.
Claro que ela está blefando. Não vou cair neste truque.
Movimento-me rapidamente para ir em direção aos quartos, a
angústia e o medo de que Jéssica esteja falando a verdade, já
agindo sobre as minhas emoções.
— Cara, Maya não está aqui. Inclusive acabei de chegar do
hotel em que ela está hospedada.
Paro. Subitamente.
Não querendo que seja verdade, mas algo me dizendo que a
modelo infelizmente não está mentindo.
— Hotel?
Viro-me e a encaro. Querendo confirmar esta história.
— Para mim também foi surpresa ela não ter vindo para cá,
mas alegou que seria o primeiro lugar onde você a procuraria.
E ela estava certa. Tinha até mesmo certeza que estava aqui.
— Jéssica, preciso do endereço deste hotel, preciso...
As palavras saem atropeladas, até serem interrompidas por
ela.
— Ela não quer te ver. Por isso não veio para cá.
Dói. Demais.
— Eu preciso conversar com ela...
— Você quer que ela cumpra os últimos dias de contrato?
Cara, ela não levou nada, não ganhou nada em toda esta confusão.
Ela respira fundo e continua:
— Claro que questionei essa loucura de Maya, mas ela está
irredutível. Não quer nada. Então acho justo você liberá-la deste
contrato idiota.
Tento focar na conversa, tento evitar me desesperar.
Busco a frieza que me é comum, tento ser pragmático.
— Olha, não quero saber o que você considera justo, mas se
Maya não cumprir sua parte no contrato, tanto você quanto Beto
irão...
— Perder o que você nos ajudou a construir? Infelizmente não
posso falar por Beto, mas da minha parte estou pouco me lixando.
Posso começar do zero, posso vender meu corpo de novo, posso o
escambau, mas se depender de mim você jamais encontrará Maya.
Claro que não vou prejudicá-los, pois não estou aqui para fazer
Maya cumprir vinte e poucos dias de contrato. Estou aqui para levá-
la para casa, estou aqui porque preciso da ruiva.
De repente um temor me toma, suas palavras me fazem
pensar em algo.
— Maya vai vender seu corpo? Ela vai...
— Não, não vai. Eu jamais permitiria que isso acontecesse
novamente.
Ela diz fervorosa e sei que posso acreditar no furor de suas
palavras.
Com isso apaziguado dentro de mim, tento arrancar dela a
informação da qual tanto necessito.
— Jéssica, preciso conversar com Maya. Por favor me diga
onde ela está.
Insisto. Imploro.
— Você precisa conversar com Maya? Sobre seu noivado?
Seu casamento?
Ela é sarcástica. Até mesmo desagradável.
— Eu não vou discutir isso com você! Só quero que você me
diga onde ela...
— Sabe quando que eu vou dizer? Nunca. E se depender de
mim você jamais saberá onde ela está.
— Seja razoável...
— Razoável? Cara, você está comprometido, você vai casar
com outra mulher.
— Não sei o que isso tem a ver...
— Idiota. É isso que você é. Escuta o que você tá dizendo? O
que isso tem a ver? A Maya tá apaixonada por você. É isso o que
tem a ver!
Um silêncio sepulcral nos envolve tão logo Jéssica diz as
palavras.
No mesmo instante ela percebe que falou demais, assim como
eu percebo que para mim é tarde demais.
CAPÍTULO 22

Apaixonada. Maya está apaixonada.


A palavra ainda me assombra, mesmo que há tempos eu já
tenha saído da casa de Jéssica.
Rodei a esmo, voltei para a cobertura e abri outro vidro de
uísque.
E agora estou aqui olhando para a garrafa e pensando em
como vou sair de toda esta merda.
Porque sei que agora isso muda tudo. O fato de Maya gostar
de mim inviabilizará todas as minhas chances
Ela não vai querer dinheiro, como já não o quis e, saber dos
seus sentimentos, apenas justificam sua recusa. Ela não me
aceitará casado e o que sente talvez tenha sido o motivo principal
dela ter partido.
Sequer quer me ver, pois Jéssica garantiu que ela a fez
prometer que jamais diria onde ela iria morar.
Sim, Maya vai sair do Rio, vai trocar o número do telefone. Vai
começar uma vida nova. Como disse na carta. Como sugeriu que eu
fizesse.
Mas não sou capaz.
Não sou capaz de viver uma vida inteira e não tê-la
novamente, não provar sua boca, não colocar meus olhos sobre ela.
Apenas esta mera possibilidade me angustia. A incapacidade
de saber onde Maya se encontra está roubando meu juízo.
Encontrar-me de mãos atadas, cheio de coisas a dizer, de
propostas a fazer e não ser sequer capaz de mandar-lhe uma
simples mensagem, torna-me insano.
Pronto para bater, brigar. Destruir.
Leva-me a ficar de pé e deferir chutes e murros, a quebrar tudo
que encontro pelo caminho.
A destruição se inicia e eu pouco me importo, apenas busco
conforto, procuro extravasar um pouco da dor que neste momento
me aniquila.
Decoração quebrada, sofá revirado, tudo destruído.
Mãos doloridas, ensanguentadas.
Um espetáculo triste, sem plateia alguma.
Raiva. Medo. Dor.
Tantos sentimentos dentro daquele considerado gelado,
insensível.
Alguns sentimentos que jamais senti, e que temo até mesmo
reconhecer.
Que sequer sei nominar. Temo até mesmo denominá-los.
E ver a bagunça que fiz não diminuiu nem minimamente tudo
isso. Ter perdido o controle desta forma apenas me mostrou que a
imprensa estava errada. Sempre esteve.
Sou humano. Sou de carne e osso.
Capaz de sentir. Pelo menos no que se refere a Maya.
E isso não é de agora, depois que partiu.
Isso é desde sempre.
Desde que transei com ela, mesmo sabendo de sua
inexperiência. Desde quando abri uma exceção e a beijei, quando
me recusava terminantemente a fazê-lo com qualquer outra.
Quando continuei a beijá-la, mais e mais, sem jamais conseguir me
conter. Quando propus o contrato e, para convencê-la, beneficiei
aqueles que tinham alguma importância em sua vida.
E posso enumerar milhões de situações que apenas podem
comprovar que ela mexia comigo, mais do que fui capaz de admitir.
Quando mesmo embriagado, voltava para ela. Quando o
contrato ainda estava em vigor e eu já buscava uma maneira de
convencê-la a ficar comigo. Mas tem algo crucial, há a prova cabal.
Que a imprensa não imagina. Que meus amigos sequer suspeitam.
Somente transei com Maya. Há um ano quero somente a sua
boceta. Por mais que tente, que insista e que finja.
Somente ela me excita. Quero unicamente ela.
E isso por si só já seria um sinal, isso por si só já me
confirmaria o tamanho da confusão em que tinha me metido. Mas
não percebi, não pensei ou não quis enxergar.
Machucado e assombrado, sento-me em um canto qualquer da
sala.
Perto da garrafa. Perto da única coisa que pode me dar algum
alívio.
Passageiro, efêmero, mas necessário.
Para parar de doer. Para que eu tente pensar em algo que
evite que eu enlouqueça.
De saudade. De tanto querer e desejar a ruiva.
Começo novamente a minha saga de secar o litro. Começo
novamente a tentar o esquecimento.
Pois dói tanto que não estou conseguindo existir. Resistir.
Dói demais essa distância, este desconhecimento do seu
paradeiro.
Dói demais saber que está sozinha em um canto qualquer.
Sofrendo de amor, sem qualquer familiar, longe até mesmo de sua
única amiga.
Exposta a toda a maldade do mundo. Exposta ao interesse e
ao desejo de um cara qualquer.
Este mero pensamento faz-me virar o litro com vontade. Com
desejo de cessá-los, com necessidade de conseguir controlar o
rumo que eles tomam.
Mas isso é impossível e eles continuam e continuam.
Temo então por minha sanidade. Por minha capacidade de
suportar esta ausência.
Mas temo mais ainda admitir o que me vem à mente. Admitir o
que trago dentro de mim há tempo demais.
Uma admissão que Maya já o fez, porque ela foi mais
inteligente, mais sensível e mais esperta.
Pois percebeu o que ia em seu íntimo sem precisar de bebida,
sem precisar ser abandonada.
Percebeu porque reconheceu o que toda aquela dependência
significava. Percebeu porque reconheceu o que toda aquela emoção
camuflava.
O sentimento mais intenso e mais puro que existe. Que nem o
contrato, nem o dinheiro e muito menos minhas atitudes foram
capazes de macular.
Sentimento que ela aceitou e acatou, mas que alguém cínico
como eu não foi sequer capaz de cogitar sentir.
Mesmo que os sinais sempre estivessem presentes, quando a
desejei e venerei, desde que pousei meus olhos nela.
Somente não fui esperto o suficiente para entender, ou fui
burro o bastante para ir sempre em sentido contrário.
Ao encontro de boates, de outras mulheres. Até mesmo
aceitando um casamento.
E nada disso fez o que descobri sentir arrefecer ou esmorecer.
Ele está aqui. Pulsante. Arrebatador.
Não deixando dúvida, nem espaço para nada que não seja
este sentimento.
O sublime amor. Dos livros. De meus pais. De Maya.
Do qual eu sempre fugi e sempre me escondi.
Ele está aqui. Em mim. Por ela.
Pela Maya pura e inocente que outrora conheci.
Pela ruiva linda e gostosa que aqueceu minha cama e que
mexeu com minha libido como nenhuma outra foi capaz.
Ele está aqui e parece não querer ir embora.
Está em meu peito e aparentemente aqui ficará.
Mesmo que pareça que eu não tenho mais nenhuma chance.
Que pareça que eu estraguei tudo para sempre.
CAPÍTULO 23

Minha vida caiu numa rotina. Dolorida, mas uma rotina.


Choro, procuro notícias dele nas redes sociais e falo com
Jéssica.
Diariamente, não que seja eu a ligar, mas jamais deixo de
atender, apesar deste meu comportamento depressivo, apesar de
somente querer ficar quietinha no meu canto, sofrendo de amor e de
saudade.
Minha amiga tenta me animar, tenta me visitar.
Eu finjo que ela consegue me animar, mas impeço que venha
me ver.
Pois depois que ela contou que Marco tinha ido procurar-me e
tinha insistido para que ela dissesse onde eu estava, fiquei
ressabiada.
Temo que ele consiga segui-la. Temo que ele apareça por aqui.
E esse temor apenas aumentou quando ela me confidenciou
que falou dos meus sentimentos para ele. Claro que sei que não
falou por querer, mas agora Marco sabe que me apaixonei.
E sagaz como é não duvido que use isto contra mim, não
duvido que consiga me convencer a ficar ao seu lado explorando
toda e qualquer fraqueza de uma mulher apaixonada.
Por isso não posso falar com ele e muito menos vê-lo.
Já troquei meu número e somente Jéssica tem o meu contato
atual. Estou bem próxima do dia da mudança e a partir de agora
todo o cuidado é pouco.
Infelizmente não pude ocupar a casa antes da data que estava
prevista, por isso ainda não fui para Resende. Somente por isso
ainda estou aqui.
Isolada em um quarto de hotel, vendo o tempo passar
lentamente, esperando a qualquer momento encontrar mais e mais
notícias sobre ele.
Sobre seu casamento. Sobre sua noiva linda e perfeita.
Que tem a linhagem adequada para ser a senhora Mancini.
Que frequenta, ao seu lado, restaurantes em família e que tem a
liberdade de beijar sua boca mesmo com a imprensa não perdendo
nenhum detalhe.
Sei que se tivesse juízo não buscava saber como ele está
levando a vida, mas é mais forte do que eu.
Não consigo escrever meus livros, não consigo dormir direito.
Somente consigo me manter neste ciclo vicioso.
Que me faz sofrer e chorar.
Que me faz padecer e quase enlouquecer.
E se os dias são difíceis, as noites são insuportáveis.
As lembranças vem sem controle, o corpo clama
incessantemente pelo de Marco.
Foram muitas noites ao seu lado, foram muitos dias sendo dele
Pois fui dele desde o primeiro olhar, e certamente serei para
sempre.
Pois o que sinto é verdadeiro demais para ser curado pelo
tempo, o amor que tenho no peito é real demais para ser esquecido.
E faz-me ficar assim.
Sem rumo. Sem norte. Sem prumo.
Apenas existindo.
Louca para voltar atrás e tê-lo pelo restante do contrato. Louca
para aceitar ser dele do jeito que for.
Sendo amante, sendo a outra, mas sendo dele.
Felizmente ainda tenho amor-próprio suficiente para impedir tal
desatino. Felizmente tenho a possibilidade de um futuro me
esperando em Resende.
Pode se apresentar solitário e doloroso, mas será meu futuro.
Será longe do meu grande amor, mas também será longe de
toda a dor que ele é capaz de me causar.

O que mais me dói é não poder me despedir de Jéssica. De


não poder dar um abraço apertado na minha amiga.
Mesmo ela insistindo, mantive-me firme. Mesmo ela
implorando, resisti.
E somente agora, com o carro de aplicativo avançando em
direção ao meu destino, é que consigo respirar aliviada, pois sei que
estarei segura da minha tentação.
Que insiste em procurar por mim, que não desiste de tentar
arrancar qualquer informação de Jéssica.
Minha amiga diz que Marco retorna ao seu apartamento quase
que diariamente, que parece abatido, parece estar sofrendo.
Que pede, que implora.
Que sequer parece o antigo Marco e que nada em suas
atitudes lembram o famigerado homem de gelo.
Dizer que isso mexe comigo é eufemismo. Dizer que isso me é
indiferente é uma grandessíssima mentira.
Jéssica chegou a pedir para que o ouvisse. Chegou a pedir
permissão para fornecer a ele o meu endereço.
Mas as matérias envolvendo seu nome não cessavam, sua
mãe fazia questão de alardear em como estava feliz agora que seu
filho estava em um relacionamento sério.
Ela não cansava de elogiar a nora, não cansava de confirmar
que logo logo seu filho seria um homem casado.
E isso me dava forças para rechaçar o contato, para evitar
ceder.
Até que o dia da viagem chegou e tenho finalmente a
oportunidade de colocar uma grande distância entre nós.
E é em tudo isso que penso enquanto o carro avança,
enquanto me leva para longe de Marco.
Sei que esta distância não vai fazer o sentimento diminuir, mas
sei que poderá parar de me fazer querer fraquejar.
Pois tudo ainda é muito recente. O amor, a dor e o sofrimento
não me deixam esquecer o motivo do meu afastamento. Fazendo-
me fraca. Querendo e desejando um instante derradeiro. Precisando
estar com ele de uma forma ou de outra.
E sei que agora, distante dele, as coisas podem começar a se
encaixar. A minha vida pode começar a entrar nos eixos, e posso
finalmente começar a reagir.
Parar de stalkear Marco, dedicar-me, como vinha fazendo, à
minha carreira de autora e principalmente sair da bolha de
autopiedade em que me envolvi desde que descobri que o homem
que amo vai se casar.
E como se não bastasse descobrir tal coisa por meio da
imprensa, ainda há um agravante, algo que machuca e me faz
entender que sempre fui a amante e sempre seria se lá
permanecesse. O que piora sobremaneira a situação é saber que
ele procura por mim para que eu seja a outra, para que eu aceite
deitar-me com um homem casado.
Talvez Marco imagine que uma amante não tenha princípios e
muito menos amor-próprio. Talvez ele acredite que porque aceitei
toda aquela situação, aceitaria qualquer condição que ele me
propusesse. O que ele não sabe é que o momento em que me
encontrava era favorável e as vantagens oferecidas eram
importantes para mudar a nossa realidade e até mesmo o nosso
futuro. Por isso me propus a ser acompanhante de luxo, por isso
aceitei ser amante.
Mas cumpri praticamente tudo que combinei e agora as
condições que me prendiam a ele foram resolvidas. Beto tem seu
próprio negócio, Jéssica é relativamente famosa no meio da moda,
conseguindo viver muito bem com os seus rendimentos e eu estou a
cada dia evoluindo mais na escrita, sendo capaz de manter-me e
até mesmo ter minha pequena poupança com a venda e
empréstimo dos meus livros digitais.
Então eu não teria motivo nenhum para me sujeitar a tal
situação, mesmo porque eu sequer quis receber minha parte no
acordo. No final sequer fui capaz de receber dinheiro para ficar ao
lado do homem que amo. O que verdadeiramente me prendia a ele
era o sentimento, o desejo e a necessidade. E talvez eu até ouviria
o que tem a me dizer, ou até mesmo permaneceria numa relação
unilateral e que tanto mal faria ao meu coração, pois o amor me
obrigaria a ficar. A aceitar.
Contudo a dinâmica de tudo isso mudou quando apareceu
outra pessoa na equação.
Uma pessoa que beija, que terá um anel e que receberá o seu
sobrenome. Uma pessoa que comparecerá ao seu lado nos eventos
e que estará em sua cama todas as noites.
E isso é demais para mim.
Não suporto mais. Não me submeterei a mais sofrimento.
Por mais que o amor seja paciente, seja bondoso e
despretensioso, ele machuca. Quando não é regado, quando é
desprezado. E eu já tive a minha cota de dor.
Por isso estou partindo. Por isso estou tentando começar de
novo.
Queira Deus que consiga. Queira Deus que eu seja forte o
suficiente para esquecer Marco Mancini.
CAPÍTULO 24

— Claro que Maya não pode ter desaparecido sem deixar


rastros! Não pode ter evaporado no ar!
Digo agitado. Andando inconformado de um lado para o outro
da sala.
— Não estou dizendo que ela desapareceu, apenas estou
dizendo que infelizmente ainda não tenho nenhuma pista.
Quase trinta dias e o cara vem me dizer que não tem nenhuma
pista!?
Segundo recomendações o senhor Gonçalves é um dos mais
renomados detetives do Rio de janeiro. Um investigador policial
aposentado e que é extremamente conceituado, mas que não está
sendo capaz de me trazer nenhuma informação sobre o paradeiro
da minha ruiva.
Não sabe me dizer se ela está no Rio, no Brasil ou se está no
exterior. Ela pode estar até mesmo na lua e ainda assim eu não
saberia, se dependesse deste senhor que está comigo ao telefone.
Porra! Não aguento mais estas ligações que nunca trazem
nada de novo. É um teste de paciência para alguém como eu.
— Olha, eu sei que a Jéssica continua tendo contato com ela,
em algum momento elas se encontram e...
— Senhor Mancini, lhe garanto que depois que me contratou
elas não se encontraram. Essa amiga está sendo vigiada vinte e
quatro horas por dia e ela não chegou nem perto da senhorita que
estamos procurando.
Talvez a minha insistência em retornar quase que diariamente
ao apartamento de Jéssica tenha levantado alguma suspeita e por
isso, mesmo seguindo a modelo para todo canto, o investigador não
consegue descobrir onde Maya está.
— E as transações bancárias? Ela certamente usou algum
cartão...
— Já fiz este levantamento e a única movimentação foi no dia
seguinte ao que ela desapareceu. Fez um saque vultoso, e depois
disso ela não usou novamente a conta do banco. Nenhuma
movimentação.
Caralho, ela só pode estar querendo foder com o meu juízo.
Até parece que ela planejou tudo isso. Até parece que fez tudo de
caso pensado.
Mas antes que eu desconte a minha frustração nesta sala, eis
que ele fala:
— Senhor Mancini, garanto que queria lhe trazer endereços,
informações precisas sobre Maya Oliveira, mas infelizmente meu
trabalho é assim, demorado e muito criterioso. Não trabalho com
datas e muito menos com prazo. Mas tem algo que os meus anos
nesta profissão me ensinaram.
Ele faz uma pausa, e sem um pingo de paciência, pergunto:
— E o senhor poderia me dizer que ensinamentos seriam
esses?
Não consigo conter o sarcasmo. A volatilidade de minhas
emoções não permite isso, todo o álcool que venho ingerindo
apenas potencializa o meu mau humor.
— Que mais hora menos hora elas se descuidarão. Que
quando menos imaginarmos elas baixarão a guarda. E estaremos a
postos, de tocaia, pois garanto que se realmente gostam uma da
outra como o senhor afirmou, a saudade falará mais alto e em
algum momento elas cederão a este sentimento.
O que ele diz faz sentido, são palavras realmente de alguém
do ramo, que sabe o que esperar em situações como esta.
Só não sei se terei nervos para aguardar por um tempo
indefinido, ou se terei fígado suficiente para suportar todo o álcool
que venho ingerindo desde que a minha ruiva me abandonou.
Mas infelizmente terei que esperar, terei que confiar que em
algum momento acontecerá como o investigador está a afirmar.
Enquanto grito impaciente pela empresa, enquanto trabalho
como um condenado para não ter que voltar para aquela cobertura
onde as lembranças me assombram.
Para não ter que ir para lá e encher a porra da cara, como um
dependente, como um fraco. Como aparentemente alguém que me
tornei desde que Maya se foi.

A pior parte de toda esta maldita situação é saber que


provavelmente ela não tem nenhuma boa lembrança do que
vivemos, não tem nada que a impeça de seguir em frente.
Há somente sexo, cama e uma relação resumida às paredes
da porra desta cobertura, que me policio a não vir, a evitar.
Mas não consigo me controlar, na verdade controlo
pouquíssima coisa em mim nesses dois meses que se passaram
desde que Maya partiu.
E por isso estou novamente no lugar em que tive tanto prazer,
em que mantinha guardada a minha ruiva. No local para onde eu
sempre voltava, pois jamais conseguia me manter longe.
E ainda não o posso. Ainda sigo vindo para cá,
invariavelmente. Deixar a mente reviver as lembranças, ou
simplesmente somente encher a cara para tentar evitar que doa
mais, tentar evitar que eu enlouqueça de vez.
E é nestes instantes, entre a consciência e a inconsciência
trazida pelo álcool, nesta limbo que imagino-a com outro. Alguém
que seja capaz de dar-lhe o céu, ou tão somente tratá-la como
única, como especial. Um cara que a leve para jantar, e que seja
somente dela. Que não pense em um casamento fadado ao
fracasso ou que apareça na mídia com alguém a quem se refiram
como futura esposa. Um cara digno, que segure sua mão e a mostre
como sua. Que a valorize e que queira construir algo ao seu lado.
É o que ela merece. É o que qualquer idiota que tiver a chance
vai fazer, mas é algo que eu não fui capaz sequer de cogitar.
Não sei se culpo a minha insensibilidade sempre tão presente,
ou se culpo a minha incapacidade em perceber a necessidade que
sempre existiu e que hoje reconheço ser algo muito maior,
reconheço inclusive saber do que se trata. O que sei é que deixei
passar, o que sei é que mesmo que tivesse tido a chance de
conversar com ela, era somente outro contrato que apresentaria a
Maya, era somente mais do mesmo.
Talvez somente conseguisse foder com tudo, somente
conseguisse magoá-la com outra proposta esdrúxula envolvendo
dinheiro e sexo. Envolvendo prolongar a sua permanência ao meu
lado como minha amante.
Não sei quando me tornei tão burro que não percebi o que era
toda aquela dependência, aquele vício. Ou quando me tornei tão
fraco por não ser capaz de aceitar ou reconhecer que eu era dela. E
era há muito tempo.
Inclusive nem sei se foi o sofrimento, o álcool que venho
ingerindo ou todo o tempo que passo pensando nela, o que sei é
que descobri o que era tudo isso e estou mais do que pronto para
viver toda esta descoberta ao lado dela.
E saber o que a ruiva sente apenas despertou em mim a
necessidade insana de encontrá-la, apenas despertou em mim a
loucura incontrolável de fazê-la minha mulher.
De começar do jeito certo. De começar da forma como deveria
ter sido desde que coloquei meus olhos em Maya Oliveira.
CAPÍTULO 25

Os finais de semana são piores. Sempre.


Pois exagero ainda mais na bebida e fatalmente me entrego à
inconsciência trazida pelo álcool, porque a realidade é dolorida
demais para suportar são.
Sequer deixo a ressaca passar. Sequer procuro outro lugar
para virar mais uma garrafa.
Nada de boates, bares ou companhia. Rechaço até mesmo os
convites dos amigos. Não quero justificar, conversar ou muito menos
ter que dispensar as mulheres que insistem em querer de mim algo
que não consigo dar.
Sexo. Foda. Sequer conseguem de mim uma ereção.
Pois tudo pertence exclusivamente a Maya, inclusive o
sentimento.
Que bate no peito afoito, que bate desesperado e carente.
De um olhar. De um toque.
Coisas que tive por muito tempo e talvez por isso não esteja
conseguindo lidar com esta privação.
Que me faz beber e gritar. Que me faz me masturbar.
Todos os dias. Buscando prazer. Tentando qualquer conexão.
E mais uma vez cedo aos desejos do meu corpo e também da
minha alma.
Mais uma vez me toco. Freneticamente. Alucinadamente.
A mente envolta em lembranças, o corpo envolto em um
desejo sôfrego.
Que é relativamente saciado quando gozo chamando o nome
dela. Quando a imagem de Maya gemendo e clamando por mim me
faz esporrar em minha mão.
Mesmo que no fim perceba que me encontro novamente
sozinho, na cama que por vezes a tive rendida e gemendo enquanto
gozava lindamente.
E que agora abriga meu corpo momentaneamente satisfeito,
muito embora a alma continue sofrida, carente e solitária.
Sem perspectiva de redenção. Sem notícia alguma daquela
que arrebatou meu coração.
Assusto-me com o som do telefone.
Que perturba o meu pós-gozo. Que consegue afugentar a
melancolia que novamente começava a se instalar.
Após a masturbação. Após novamente me ver sozinho e
distante dela.
O toque é insistente. Persistente. Mas não me interessa. Nada
me interessa.
Sigo para o banheiro, busco tentar conseguir um pouco de
dignidade.
Da bebedeira de ontem à noite. Da meleira que fiz ainda há
pouco.
Esfrego com força meu corpo, tento tirar de mim tudo isso.
E o toque continua. Chego a pensar que pode ser importante.
Decido encerrar o banho. Decido descobrir quem tanto me
perturba.
Coloco uma toalha ao meu redor e sigo para o quarto sem me
importar com o rastro de água que deixo pelo caminho.
Na hora em que me aproximo ele para de tocar. Pego-o para
ver de quem vinha tal insistência.
E na hora meu coração quase para, meu corpo tremula ante a
possibilidade que pode advir deste contato.
Desesperadamente decido retornar a ligação, mas antes que o
faça o telefone novamente toca.
Atendo ainda no primeiro toque.
Esbaforido. Agitado.
— Bom dia, senhor Gonçalves.
— Até que enfim! Pensei que não fosse conseguir falar com
você.
Diz visivelmente aliviado.
— Espero que tenha boas notícias!
Um misto de esperança e ansiedade. Tudo que este mísero
contato me causa é demais para que eu consiga mascarar.
— As notícias não poderiam ser melhores!
Certamente ele quer que eu infarte. Parece que não
presenciou meu desespero durante estes meses.
— Senhor Gonçalves, eu preciso que seja mais...
— Eu a encontrei. Eu sei onde Maya Oliveira está.
Sinto tudo girar e minhas pernas fraquejarem.
Sento-me na cama. Procuro respirar profundamente.
O álcool e a má alimentação que venho tendo, cobrando seu
preço. A emoção do momento tornando-me humano.
Engulo em seco e tomo coragem para indagar, busco um
mínimo de controle para fazer a pergunta.
Mas antes que eu sequer pronuncie as palavras, ele antecipa-
se e diz:
— Ela está em Resende. Morando em uma casa simples e
neste momento recebendo a visita da amiga.
Tento assimilar tudo que é dito. Tento calcular quanto tempo de
distância me separa de Maya.
— Eu sabia que em algum momento a amiga viria até ela.
Sabia que com paciência descobriríamos a sua localização.
Agradeço por Bianca ter me incentivado a contratar um
investigador. Sim, eu contei para a minha dita noiva tudo que diz
respeito à ruiva.
Ouvi poucas e boas e fui chamado de idiota uma centena de
vezes, mas no fim ela me orientou a contratar uma pessoa, pois era
nítido que Maya não queria ser encontrada, e somente um
profissional seria capaz de me ajudar.
Não falamos sobre o cancelamento do acordo, por mais que
saibamos que é o que acontecerá. Apenas não falamos sobre, pois
no momento isso é conveniente para que não nos arrumem outros
pretendentes, e para que eu possa curtir minha dor de cotovelo e
bebedeiras longe do olhar aguçado da imprensa.
— Demorou um pouco mais do que imaginei, mas a amiga me
trouxe até Maya Oliveira.
Minha mente tenta sabotar a razão, a emoção incontrolável
tenta dispersar a coerência.
Busco controle, busco focar no agora e no que preciso fazer
para ficar frente a frente com ela.
— E garanto ao senhor que é a primeira vez que se veem.
Muito choro, abraços e beijos.
Saber que minha ruiva passou este tempo longe da única
pessoa que ela considera família me faz mal, mas tenho que ser
prático.
— Senhor Gonçalves, eu preciso que neste momento seja
ainda mais invisível. Você não pode deixar que elas percebam...
— O senhor contratou o melhor, então isso não é algo com que
tenha que se preocupar.
Sei que diz a verdade, mas não posso correr risco algum agora
que estou tão perto.
— Quero que me mande a localização, estou indo para
Resende agora mesmo.
Ele não parece surpreso com minhas palavras. O aparente
desespero que teve que aguentar, certamente deixou claro qual
seria minha atitude caso Maya fosse encontrada.
— Mandarei tão logo desligue o telefone. Assim como ficarei a
postos aqui e acompanharei toda a movimentação das duas.
Garanto ao senhor que não perderei Maya Oliveira de vista e não
deixarei que descubra que está sendo vigiada.
Suspiro aliviado, pois pela primeira vez meu pesadelo parece
perto de acabar.
Ou apenas está perto de começar. Minha mente traidora
insiste em me assombrar.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro, buscando
afugentar todo e qualquer pensamento negativo.
— Faça isso, senhor Gonçalves, pois estarei aí tão logo seja
humanamente possível estar.
A euforia é evidente e já começo a caminhar em direção ao
closet.
— Não precisa ter pressa, pois a senhorita estará sendo muito
bem monitorada.
Não irei me expor ainda mais falando da minha necessidade
de encontrá-la. Que simplesmente morro por vê-la.
Morro por ter meus olhos nela, meus braços ao redor dela.
Mesmo que aparentemente ele saiba, não preciso que escute
da minha boca, e por isso digo somente:
— Confio no senhor. Sei que manterá a guarda.
E me despeço. E desligo.
Pois tenho que me arrumar. Preciso ir para Resende.
Em busca de Maya. Da minha ruiva.
Querendo perdão, redenção e amor.
Querendo o mínimo de alívio para o meu sofrido coração.
CAPÍTULO 26

— Eu não acredito que você está aqui!


Digo pela milionésima vez. Sei que estou sendo repetitiva, mas
a saudade e a emoção em ter Jéssica em minha casa é demais
para que eu consiga me policiar.
Das outras vezes que disse ganhei abraços, beijos e
chamegos. Agora ela apenas me olha e sei que não está satisfeita
com o que vê na sua frente.
— Precisava vir. Mesmo temerosa de que alguém pudesse me
seguir, arrisquei-me. Não sem antes tentar despistar, andando sem
rumo pelo Rio de Janeiro. Senti-me num verdadeiro filme de
aventura.
Ela dá uma risada, mesmo que no fim não transpareça
felicidade.
— Sabe, Maya, ouvir sua voz desanimada no telefone me
matava de preocupação, mas olhar agora para você acaba comigo.
Sei o que ela vê. Uma mulher magra, desanimada, uma
sombra da pessoa alegre e cheia de viço que já fui.
— Jéssica, é algo comum para quem acabou de se afastar da
pessoa que gosta, tenho certeza que com o tempo conseguirei...
— Assim como Marco conseguirá? Maya, vocês estão
horríveis. O estado dele é igual ou pior do que o seu.
Não conto as vezes em que ela me disse isso. Mesmo jamais
soltando nada para Marco, e não agindo com menos do que firmeza
para com ele, Jéssica sempre me confidencia que ele parece estar
sofrendo, que parece não aguentar mais ficar longe de mim.
E isso me balança. Isso me faz ter vontade de ceder, ao
menos um pouco.
Ligar. Conversar. Escutar.
Mas o bom senso me impede e, saber que ele ainda continua
noivo, me detém.
Pois mesmo depois que parti, há uma foto deles. Em um
restaurante. Por demais íntimos.
E ainda dói. Sangra.
E o fato de sua mãe continuar alardeando sobre o
compromisso do filho apenas me leva a crer que Jéssica possa
estar enganada, ou que ele sente simplesmente falta do sexo bom e
fácil que encontrava ao meu lado.
Você sabe que o sexo que tinham não era apenas bom, que
mesmo não tendo outras experiências, a química entre vocês não
poderia somente ser considerada boa. A voz da minha consciência
insiste sempre em me mostrar fatos, mesmo que não seja saudável
para mim reconhecê-los.
— Jéssica, sei que não posso e nem vou evitar o assunto,
mesmo que somente possa afirmar sobre o que sinto e sobre o que
estou passando. Apenas peço que me deixe curtir você um pouco,
que me deixe ser mimada pela minha irmãzinha.
E mal as palavras saem da minha boca, já estou novamente
em seus braços. Sentindo-me amada. Sentindo-me acalentada e
acarinhada por minha amiga.
Sabendo que ela aceitou minha trégua, mas sabendo que
retornaremos ao assunto, que não terei como fugir da conversa
séria que me aguarda.
Mas por ora vou curtir a paz e o amor que emanam deste
momento. Que emanam da única família que tenho.

E a manhã passou voando, envolta em assuntos leves,


enquanto preparávamos um almoço fácil e saudável.
Depois de almoçarmos e arrumarmos um pouco a cozinha,
deitamos no tapete da sala. Minha cabeça apoiada na barriga de
Jéssica. O momento da verdade chegando.
E sei que não tenho mais como fugir, pois sei que ela está
preocupada. Então tenho que falar sobre o assunto, tenho que
tentar de alguma forma tranquilizá-la.
Mas antes que eu sequer organize meus pensamentos, eis
que a campainha toca.
Estranho, pois ela raramente toca. E hoje, por ser a segunda
vez, pode até mesmo ser considerado um recorde. Claro que já
apareceu algum vendedor, a surpresa se dá pelo movimento neste
dia, visto que passo dias sem sequer ver vivalma.
Digo isso para Jéssica, enquanto caminho para a porta.
Abro pensando no que vou encontrar pela frente. Que tipo de
produto me será oferecido.
E nada me prepara para o que encontro.
Marco Mancini.
De repente estou cara a cara com ele, que aproveita meu total
assombro e entra em minha casa. Sem permissão, sem sequer ser
convidado.
Quando sou capaz de atinar sobre tudo isso é tarde demais,
ele já ultrapassou o batente da porta.
Respiro fundo e fecho os olhos, isso só pode ser um pesadelo.
— Maya...
Abro imediatamente os olhos, não o deixo sequer continuar.
— O que você está fazendo aqui?
Digo com toda firmeza que sou capaz de colocar na voz.
E finalmente olho diretamente para ele, para que Marco
perceba a decisão em minhas palavras.
E o que vejo é algo que me espanta.
Cabelos bagunçados que parecem carecer de um corte. Barba
muito maior do que comumente usava.
Mas o que me assusta é sua face, bem mais magra do que me
lembrava, com olhos fundos e olheiras visíveis
— Eu preciso falar com você!
— Nós não temos mais nada para conversar.
Mesmo assustada com sua imagem, tento não baixar a
guarda, tento demonstrar uma determinação que estou longe de
sentir.
— Claro que temos. Você simplesmente desapareceu!
Ele diz agitado, parece até mesmo descontrolado.
E isso para mim é uma surpresa, pois Marco sempre foi
controlado, até mesmo frio como é descrito pela imprensa.
— Marco, eu deixei uma carta!
— Você deixou a porra de uma carta, dizendo que não
cumpriria o restante do acordo e...
Agora entendi o que o trouxe aqui.
— Você quer reivindicar os dias que faltavam para o restante
do contrato, você quer...
— Eu quero que esse contrato idiota vá pra puta que pariu!
E ele perde as estribeiras, parece até mesmo insano.
E neste momento Jéssica vem até nós e não parece surpresa
em vê-lo. Certamente soube se tratar de Marco, pois em nenhum
momento o tom de voz que usamos foi sequer razoável.
— Acho que é melhor vocês acalmarem os ânimos e agirem
como os adultos que são.
Ela respira fundo e continua.
— Jamais achei que o todo-poderoso Marco Mancini
precisasse seguir uma pessoa para...
— Eu não precisaria se você tivesse me dado o endereço de
Maya.
Fala, querendo justificar esta atitude tão pouco nobre.
— Ela teria dado se eu permitisse, mas como disse não temos
mais nada a conversar!
Ele fecha os olhos, buscando talvez um comportamento que
condiga mais com o Marco que conhecemos.
— Não concordo com a atitude de Marco, mas certamente
acredito que vocês tem muito o que conversar.
Fulmino-a com o olhar, não entendendo de que lado ela está.
Mas antes que eu questione suas palavras traidoras, Jéssica diz:
— E por isso vou dar a vocês este espaço, esta oportunidade
de colocarem os pingos nos is.
— Jéssica, nós não temos...
— Maya, esta é a minha opinião e, olhando bem para vocês,
sei que uma conversa é o mínimo que precisam.
Bufo, enquanto Marco não consegue conter um suspiro de
alívio.
— Vou dar um rolé e conhecer um pouco a cidade. Tentem não
se matar na minha ausência. Juro que não demoro.
Evita me encarar. Sabe que sua atitude em nada me agrada.
E segue para a porta rapidamente. Como se temesse mudar
de ideia, como se soubesse que lanço um olhar mortal sobre ela.
E assim que escuto a porta bater, digo:
— Espero que seja rápido e que tenha um bom argumento
para justificar esta sua vinda até aqui.
Tento aparentar frieza. Tento não demonstrar a emoção que
me toma por estar sozinha com ele novamente.
Pois apesar de saber que Marco Mancini não passa de um
grandessíssimo cafajeste, meu tolo coração não consegue controlar
todo o amor que traz dentro de si.
CAPÍTULO 27

Não foi nem de longe assim que imaginei nosso reencontro.


Jamais esperei tanta frieza por parte de Maya.
Enquanto eu estou trêmulo e totalmente descontrolado, ela
aparentemente está forte e nem parece afetada ao me ver, mesmo
depois de tanto tempo. Enquanto insisto em uma conversa, ela me
rechaça. Ao passo que imploro pela chance de dizer por que estou
aqui, ela sequer parece minimamente interessada em saber o
motivo de ter vindo até ela.
Não queria me exaltar, mas o simples fato de colocar meus
olhos sobre ela me descontrolou.
Fiquei tão abalado que sequer tive tato ou bom senso no que
disse. E isso não melhorou as coisas para mim, nem a tornou mais
receptiva. Muito pelo contrário.
Felizmente tenho uma chance sozinho com ela e espero ser
capaz de conduzir melhor as coisas a partir de agora.
Tentando este intento, começo:
— Sei que você deixou uma carta, mas você sabe, assim
como eu, que as coisas entre nós estavam longe de acabar.
Ela estreita os lindos olhos verdes e diz:
— Faltavam vinte e poucos dias e isso não pode ser
considerado tanto tempo assim!
Respiro fundo, buscando continuar com o diálogo, não posso
perder a única chance que tenho.
— Não estou falando sobre o contrato, estava falando do
tesão, da química. De quão bom era estarmos juntos. Tinha até uma
proposta de redigirmos um novo documento, onde não
determinaríamos tempo...
— E você decidiu isso quando? Quando marcava a data do
noivado? Quando decidia as coisas do casamento?
Fecho os olhos. Esta conversa está sendo pior do que
imaginei.
— Convivemos muito tempo e parece que você nunca me
conheceu de verdade. Não é porque aceitei fazer programas, que
não tenho princípios e muito menos porque assinei um contrato que
fez de mim uma amante, que não tenho respeito por mim mesma.
— Maya, eu não penso isso de você, eu...
— Claro que pensa, pois se você está planejando casar com
aquela moça, que justificativa daria para me propor continuar com o
que tínhamos, se isso implicaria em traição, onde meu status de
amante evoluiria de forma ainda mais negativa, pois eu seria a
outra, a traidora, a destruidora de lares.
— Maya, as coisas não são assim como você está
imaginando...
— Eu não estou imaginando, eu sei. Ou você nega essa
história de noivado? Ou você nega que este tal novo contrato
aconteceria enquanto você desposaria a mulher que nas fotos
aparece como sua pretendente?
Não tenho o que falar, pois foi exatamente assim que pensei.
Mas isso foi antes das descobertas que fiz, foi antes de todo
desespero em que me vi quando Maya me deixou.
— Acho que contra fatos não há argumentos, não é mesmo?
Mas como você se deslocou até aqui, merece que eu responda ao
que iria me propor. Não, eu não aceitaria fazer isso com a moça,
mesmo que eu sequer a conheça, e não há no mundo proposta
alguma que me fizesse mudar de ideia.
Ela diz exaltada. A respiração alterada e a face ruborizada. E
só posso achá-la linda, mesmo que o momento não possa ser mais
inadequado.
— Agora que já me disse o que me proporia e que também já
sabe a minha resposta, acho que não temos mais nada para
conversar.
Percebo um sentimento, na voz algo parecido com tristeza.
Que não se compara ao aperto em meu peito e a dor que ameaça
me dominar.
Ela faz menção de abrir a porta e na hora lembro de tudo que
passei estes dias. Das bebedeiras, das noites insones e da certeza
absoluta de que a quero. De que quero somente Maya.
E num rompante de desespero colo meu corpo no dela,
comprimo-a contra a porta. Impedindo-a de abri-la, realizando meu
louco desejo de estar junto de Maya.
Ela arfa, não sei se de susto ou de querer. Eu grunho,
certamente de tesão, de vontade.
Aperto-me ainda mais contra ela e pareço estar finalmente livre
do sofrimento que não me abandonou todo este tempo.
Seu cheiro delicioso e seu calor logo me fazem refém. Meu
corpo logo está pronto e meu peito parece a ponto de explodir.
— Maya, por favor, não me mande embora. Estou doente de
saudade!
Cheiro seu cabelo, seu pescoço e pela primeira vez sinto que
tive algum avanço, pois sinto-a amolecer em meus braços.
— Sinto demais a sua falta. Não consigo comer, dormir. Mal
consigo trabalhar.
A voz num tom enrouquecido, que não consegue esconder a
emoção que me toma.
E por mais perfeito que esteja, preciso de sua boca, morro por
um beijo seu.
E a viro para mim. Lentamente. Aproveitando todo e qualquer
instante para contemplá-la, para tentar matar um pouco desta
saudade que parece me devorar vivo.
Seus olhos fechados, a boca trêmula, o subir e descer de sua
respiração. Que me confirma que Maya ainda não me esqueceu,
que ela ainda sente.
Apenas peço que o amor que Jéssica afirmou que ela sentia,
ainda exista. Apenas imploro que ela ainda não o tenha arrancado
de si.
E não posso mais me conter, não posso mais me controlar.
Preciso beijá-la. Preciso sentir o seu gosto, assim como
necessito do ar para respirar.
E não espero mais, não consigo mais.
Em um instante minha boca está na sua, de repente o mundo
parece novamente no lugar.
O gosto, o sabor único.
Minha língua na dela, um enroscar desesperado.
Chupo ensandecido a sua, ofereço a minha para que seja ela a
me dominar.
E eu endureço mais, eu enlouqueço somente com a porra do
beijo.
Suspiro, mordo, sugo.
Pareço um adolescente. Certamente alguém apaixonado.
Esfrego-me nela, para que sinta mais, para que não tenha
dúvida nenhuma do que faz comigo, do que somente ela é capaz de
fazer.
Ela também busca a fricção, também geme com o contato de
nossas pelves desejosas.
Minhas mãos passeiam ensandecidas por seu corpo gostoso,
talvez mais magro, mas o único capaz de me enlouquecer. E
encontram os seios, com seus mamilos eriçados, prova viva do seu
desejo, assim como tudo em mim entrega meu estado.
A respiração descompassada, o pau babado e duro como uma
barra de ferro.
O corpo arrepiado, o coração a ponto de sair pela boca.
Da forma que estou seria capaz de gozar apenas com os
gemidos de Maya, apenas com o duelo gostoso de nossas línguas.
De esporrar apenas com o atrito de nossos sexos, apesar de toda a
roupa que impede o contato que tanto preciso.
Mas isso seria um sacrilégio. Não sentir o seu calor, não
invadir a sua boceta apertada.
E é somente esta necessidade alucinada que me obriga a
afastar minimamente nossos lábios para dizer:
— Quero você, Maya! Preciso demais de você!
É o que meu corpo anseia, mas é também o que minha alma
implora.
É sobre tesão, mas é certamente também sobre sentimento.
Não sei se já estou pronto para nomear, mas seguramente
estou pronto para viver e me entregar.
CAPÍTULO 28

— Quero você, Maya! Preciso demais de você!


E é como um balde de água fria, ou como um toque de mágica
que me transporta novamente para a realidade.
Onde sou a amante, cogitada para ser a outra.
E onde percebo que estes toques nada mais são do que o
desejo que sempre soube que Marco sentia por meu corpo, mas
que felizmente não são suficientes para me fazer rebaixar ainda
mais, subjugar-me de uma forma a acabar até mesmo com o
respeito que tenho por mim.
E por isso o afasto. Empurro-o.
Mesmo que tudo em mim exija para que o puxe para mais
perto, para que implore para que me faça dele apenas mais uma
vez.
Ele parece desorientado, desnorteado. Certamente jamais
esperava ser empurrado, não quando não fiz nada diferente do que
gemer como uma gata no cio.
Não estou orgulhosa de mim, mas existem coisas que não tem
explicação. E assim é o desejo que sinto por ele, assim também é o
amor que ocupa todo o meu ser.
Não posso brigar quanto a isso e o tempo e minhas tentativas
me provaram que não consigo mudar a minha realidade. Mas posso
me impor, fazer-me respeitar. Posso mostrar que não quero nada da
minha antiga vida e que seguirei em frente, apesar de saber que
meus dias não serão fáceis e que minhas noites serão solitárias e
dolorosas.
E por isso me afasto. Colocando uma distância segura entre
nós.
Ele tenta novamente se aproximar, como se não conseguisse
ficar longe.
Eu apenas espalmo a mão e espero que este meu simples
gesto seja suficiente para que minha vontade seja respeitada.
E o é. Ele para. Estanca mesmo com a calça estufada e o
corpo tenso de um desejo que nenhum dos dois consegue disfarçar.
— Maya...
Sequer o deixo terminar. Não quero que ele fale em querer,
pois isso eu sei, é inegável, de ambas as partes. Mas não é
suficiente, não mais. E a presença certa de outra pessoa naquilo
que tínhamos, apenas torna o meu não inevitável. Necessário.
— Acabou! Por favor, Marco, aceite minha vontade!
A voz não poderia ter saído mais fraca, mais chorosa.
— Como você diz que acabou, Maya, se estávamos há pouco
tempo...
— Praticamente transando, mesmo que vestidos? Que
estávamos cheios de tesão e certamente ainda estamos?
É vergonhoso, mas é a verdade. Não haverá mais mentiras,
nem camuflarei meus sentimentos com uma cortina de desejo. Direi
a verdade, pois já que ele não desistiu com a negativa, seguramente
o que sinto será capaz de afugentá-lo de uma vez por todas.
— Não quero mais isso para minha vida. O desejo entre nós
não é mais suficiente para eu ficar ao seu lado.
Deixo nas entrelinhas, pois percebi que não sou forte o
bastante para admitir meus sentimentos, não olhando em seus
olhos.
Então fico de costas, querendo que finalmente seja capaz de
dizer o que sinto. Implorando para que seja capaz de colocar em
palavras aquilo que me impede de ceder ao desejo, aquilo que me
impele a afastá-lo de mim.
— E o que seria suficiente? Admitir que estes dias sem você
foram um inferno, e que para mim também aquilo que tínhamos está
longe de ser satisfatório?
Assombro-me com suas palavras. Confundem-me de tal forma
que me vejo imaginando coisas, delirando.
Por isso continuo de costas, por medo de me decepcionar.
Medo de me enganar.
— Ou admitir que não consigo mais ficar longe, que sequer
consigo dormir ou parar de beber? Que mesmo que você tenha me
deixado, não fui capaz de procurar nenhuma outra, e nem lembro
quando foi que me deitei com uma mulher que não fosse você?
A voz é embargada, mas não é isso que me afeta mais. É o
teor do que é dito. É o significado que suas palavras trazem.
O sonho tão querido, ao mesmo tempo tão impossível.
Viro-me. Mesmo fraca, carente e apaixonada, preciso deste
enfrentamento.
Necessito buscar a verdade, necessito entender que isso não
é apenas mais um sonho delirante, que comumente tenho e que
frequentemente me faz confundir ilusão com realidade.
Seus olhos tentam me provar que diz a verdade. A tensão em
seu corpo também fala que eu talvez não esteja delirando.
E faço a pergunta que martela em minha mente. Faço a
pergunta de milhões.
— Você não procurou outras? Você não...
— Faz tempo que é só você. Faz tempo que só faço amor com
você!
Estremeço. Não somente pela afirmação de que não foi de
outra, mas também e principalmente pela escolha das palavras.
Fazer amor, como se houvesse sentimento, como se não fosse
apenas sexo aquilo que fazíamos.
Fecho os olhos, não consigo conceber tudo isso, sequer
consigo me situar no universo ao meu redor.
Ele aproveita que baixo a guarda e me envolve em seus
braços. Aproveita minha aparente fraqueza e cola nossas testas.
— É somente você, Maya. Quero somente você, minha ruiva!
Suspiro alto, a emoção é demais para suportar.
Esperava contratos, propostas, dinheiro.
Que ele usasse até mesmo o sexo para tentar me convencer a
aceitá-lo de volta, mas em nenhum momento esperei ser jogada
neste caleidoscópio de emoções, de sensações.
Meus olhos continuam fechados, talvez tema abri-los e
descobrir que tudo isso é uma mentira, ou pior, descobrir que tudo
isso não passa de um sonho.
Sinto sua respiração rente à minha boca, sinto seus lábios
tocando levemente os meus.
— Maya, preciso ver seus olhos, preciso de seu brilho verde.
Necessito que olhe para mim.
Implora, como se morresse por isso, como se não aguentasse
mais que eu os mantivesse fechados.
E eu cedo. À vontade dele e também a minha.
De descobrir se ouvi direito, se eu estou realmente gozando de
todas as minhas faculdades mentais.
E ao encará-lo encontro querer, encontro paixão, mas encontro
também verdade.
Que consegue bagunçar tudo dentro de mim, confundir tudo
aquilo que tinha como certeza absoluta.
Sua frieza, seu modo de ser e o que queria daquilo que
tínhamos.
Neste momento somente consigo enxergar nele algo parecido
com o que carrego, aquilo que foi somente motivo de dor e
sofrimento para mim.
E talvez as coisas também não tenham sido fáceis para ele. O
tremor de seu corpo mostra isso, o medo em sua face prova isso.
Abro a boca para emitir qualquer som, tentando articular
qualquer palavra.
Mas ele antecipa-se, talvez tema o que seja dito.
— Volta pra mim, Maya. Não suporto mais ficar longe de você!
E me beija. Antes que eu responda, decerto temendo que eu
impeça.
E talvez tenha sido a melhor decisão, pois não saberia o que
dizer e certamente jamais seria capaz de impedir.
CAPÍTULO 29

Não me sinto fraco por minha admissão, muito menos


arrependido.
Sinto-me aliviado e completo por ter finalmente colocado para
fora aquilo que trazia no mais profundo do meu ser. Por tê-la
completamente rendida em meus braços.
Beijando-me com ardor e com algo mais.
Com querer, necessidade, mas também com sentimento.
E sei e percebo isso, pois é assim que também beijo, é assim
que também me sinto.
Rendido. Querente.
Totalmente apaixonado.
Louco de amor, desesperado por Maya.
E isso fica claro na loucura do nosso beijo e na forma como
minhas mãos buscam sua pele.
Puxando. Apertando. Desnudando.
Mas não é suficiente, está até muito longe de ser.
— Por favor, ruiva, deixe-me fazer amor com você.
Temo que minhas palavras quebrem o encanto. Mas quero
demais. Preciso demais.
E não sei se foi a escolha das palavras ou se foi o fato de
implorar, o que sei é que ela movimenta a cabeça, aceitando.
Permitindo.
E segura a minha mão e me conduz pela casa.
Certamente rumo ao seu quarto e sequer respiro por medo de
fazê-la mudar de ideia.
Ela abre a porta e nem mesmo olho ao redor. Apenas sou
tomado pelo alvoroço por saber que estou novamente com ela
próximo a uma cama e que tenho permissão para fazê-la minha.
E não posso mais esperar que Maya caminhe, não consigo
mais mantê-la longe dos meus braços.
E a trago para mim, faço-a me envolver com suas pernas e
sinto-me finalmente no paraíso.
E colo nossas bocas e redescubro seu corpo.
Sabendo decorado cada forma, cada nuance. Mesmo que as
sensações sejam outras, que a emoção do momento seja ímpar.
Sem parar de beijá-la, levo-nos até a cama. Preciso estar
dentro dela.
Roupas são desabotoadas, algumas peças completamente
tiradas.
E logo estamos sobre a cama, retirando as poucas peças que
ainda estão a nos cobrir.
De repente é pele contra pele, de repente não há mais nada
que nos separe.
Posiciono meu pau entre as pernas dela. Inicio um vai e vem
melado que por pouco não me faz gozar.
Quero lamber, chupar. Quero meu pau na sua boca, sua
boceta na minha língua.
Quero isso e muito mais. E quero para sempre.
Mas não agora. Não posso. Não suporto mais.
E com ela é igual. Sei que Maya precisa disso tanto quanto eu.
E comprovo isso quando ela envolve minha cintura com suas
pernas. Convidando. Induzindo. Implorando.
E eu vou. Eufórico. Desesperado. Alucinado.
Com movimentos intensos, bruscos, brutos.
De quem morre de saudade. De quem está há tempo demais
sem este contato.
Gememos, grunhimos. Suspiramos.
Ensandecidos. Enlouquecidos.
Mãos por toda parte. Unhas arranhando minha pele,
causando-me ainda mais tesão por esta ruiva gostosa.
As estocadas são profundas, certeiras e intensas.
O suor escorre. O atrito gera um som que somente me deixa
ainda mais desejoso.
E escutar a sua voz aflita apenas me leva ainda mais
rapidamente à borda.
— Ah Marco....estou tão perto...
E eu sei o que ela precisa. Conheço seu corpo. Sei dos seus
gostos.
Levo então minha mão ao seu clitóris duro, carente. Que pulsa
necessitado de atenção.
Massageio. Esfrego. Bolino.
E Maya vem. Desmancha-se em meus braços.
E eu me perco, já estava por um fio.
Derramo-me dentro dela, jatos e mais jatos de prazer.
Uivando. Gritando.
— Ah ruiva, estava com tanta saudade!
A verdade. Não quero esconder, nem mais negar.
— Só quero você...só você!
Estremeço de prazer. Por um segundo perco a noção da
realidade ao meu redor.
E procuro sua boca. Preciso demais. Nada parece suficiente.
Chupo seus lábios, peço passagem.
Ela abre a boca, as línguas se buscam.
Enroscam-se uma na outra e tudo parece perfeito.
Seu calor quente abrigando meu pau, sua boca dizendo sem
palavras que para ela também foi especial.
Muito embora nem mesmo a perfeição deste beijo pode durar
para sempre, pois precisamos respirar. E é com pesar que me
afasto de sua boca, mesmo que deixe selinhos singelos.
É dolorido ter que sair de sua boceta quente. É um suplício
perder o contato, não estou nem minimamente perto de matar toda
a saudade que me consome.
Retiro meu membro lentamente, sabendo que em instantes ele
estará novamente pronto.
Para Maya. Apenas para ela.
Mas assim que deixo completamente seu calor, percebo algo.
Somente agora vejo que não usamos camisinha.
Isso jamais tinha me acontecido. Até mesmo com Maya
sempre usei.
Temo que isso seja motivo para desentendimento. Temo
começar qualquer conflito entre nós.
— Ruiva, acabei me descuidando e não usei camisinha.
Ela me fita e ainda parece fora de foco. Ainda lhe é difícil
conceber a realidade.
Maya olha para onde estou olhando e vê o motivo do meu
assombro.
— Garanto a você que estou limpo e que nunca fiz sexo sem
proteção. Sequer lembro a última vez que saí com outra mulher.
Ela parece tranquila. Satisfeita.
— Ruiva, se você quiser posso providenciar a pílula do dia
seguinte...
— Eu uso anticoncepcional. Uso desde o começo. Nós nunca
corremos qualquer risco.
Ela diz e sei que essa explicação carrega muitos sentidos.
Também sei que precisamos conversar, verdadeiramente nos
entendermos, mas por ora somente preciso dela em meus braços.
Deito ao seu lado e a trago para mim.
— Precisamos conversar, sobre isso e também sobre tudo.
Precisamos também de um banho e limpar toda essa sujeira. Mas
no momento o que mais necessito é ter você em meus braços, é
saber que isso não é um sonho e muito menos um delírio trazido
pelo álcool. No momento somente quero curtir você, minha ruiva.
Digo e afago suas costas. Ela fecha os olhos, com um sorriso
singelo. Linda demais. Perfeita de uma forma que sequer tenho
palavras para descrever.
Eu fecho os meus e agradeço por este passo importante que
demos, mesmo que saiba que é apenas o começo. Que ainda falta
muito o que dizer, que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Mas neste instante é o suficiente, pois ela está em meus
braços e isso é mais do que alguém insensível como eu é capaz de
merecer.
CAPÍTULO 30

Mal abro os olhos e uma enxurrada de lembranças me vem à


mente.
Beijos, abraços e um orgasmo que me deixou mole.
Palavras, promessas e um carinho jamais demonstrado por
Marco.
Que me fazem sonhar, desejar. Iludir-me.
Que me fez querer tudo isso para sempre.
E sou tirada das minhas doces lembranças e anseios por uma
boca quente, que deixa um rastro de pequenos beijos na minha
nuca.
Eu apenas suspiro, pois me é impossível ficar imune a tal
carícia.
Ele me vira de frente para ele e vejo um universo de coisas.
Carinho, querer, mas vejo também medo.
Ele cola nossas testas e diz:
— Poderia ficar o dia inteiro assim, mas sei que já abusei
demais da sorte. Sei que precisamos de uma conversa franca.
Eu apenas aceno, sem forças para estragar este momento que
para mim nada mais é do que um sonho querido.
Mas Marco, assim como eu, sabe que o momento chegou.
Que não podemos mais esperar.
Então ele senta-se, com as costas apoiadas na cama e me
traz para junto de si.
Nas suas pernas. Encostada em seu peito.
Parece não querer ficar longe, ou não poder.
— Maya, tudo que falei é verdade. Não saí com outras
mulheres, faz tempo demais que somente me deito com você.
Sinto sinceridade, mas não hesitarei em perguntar, em tirar
todas as minhas dúvidas.
— E todas aquelas fotos, todas aquelas...
— Fingimento. Mentira. Nada mais foi do que uma forma de
enganar a mim mesmo.
Ele não parece confortável em admitir tal comportamento.
— Você quer que eu acredite que não transou com aquelas
mulheres?
— Maya, eu bebia, fingia e tocava. Tentava forçar meu corpo a
querer, a reagir. Mas nada. Apenas dava munição para a imprensa e
voltava para a cobertura. O corpo implorando, desejando
unicamente você.
A voz é baixa. Envergonhada.
Pelo que fazia, por admitir esta dependência.
Reflito sobre suas palavras e lembro deste tempo. De como
chegava tarde, certamente com o comportamento alterado pelo
álcool. Louco por transar comigo, desesperado por deitar-se comigo.
E sei que ele pode estar falando a verdade, muito em suas
atitudes confirma o que ouvi.
Mas ainda resta uma pergunta crucial, o real motivo de eu ter
partido.
— E a sua noiva? O que você tem a dizer sobre este noivado
com Bianca Mendonça?
Pergunto. A voz trêmula, a dor é indisfarçável, pois o amo.
Muito. E saber de suas intenções me machuca, me destrói.
Ainda não admiti o que sinto, mas ele sabe. Ficou claro
durante o amor que fizemos, Jéssica não deixou dúvida alguma
quando me entregou. Certamente entende o tom que uso, também
sabe o quanto esta informação é importante para que possamos
tentar começar algo, sonhar com um futuro.
— Mais uma mentira, apenas mais um fingimento.
Será que ele pensa que sou tola? Ou que não leio jornais?
Que não sei das intenções de casamento, filhos e felizes para
sempre?
Ou será que Marco simplesmente acha que vou aceitar que ele
coloque em prática tudo isso, e espera que esta necessidade e
querer que ele admitiu sentir por mim sejam suficientes para que eu
releve, para que eu aceite ser a outra?
Seguramente ele vai se decepcionar, pois isso jamais vai
acontecer.
Então viro-me para que ele veja isso em meu olhar, para que
ele entenda que mesmo o meu sentimento não fará com que eu me
subjugue desta forma.
— Uma mentira que lhe levaria ao altar? Um fingimento que
geraria filhos?
A voz embargada, o choro contido com muito esforço.
— Maya...
— A verdade, Marco. Eu quero a verdade. Somente assim
poderemos ter uma chance.
Ele engole em seco e fecha os olhos. Quando volta a me olhar
vejo medo e sei que não vai ser fácil o que vou escutar.
— Maya, minha mãe cobrava demais que eu sossegasse. Que
eu casasse e construísse uma família e, como já não aguentava
mais esta ladainha, autorizei que ela arrumasse uma noiva que
considerasse adequada. Foi acordado um prazo de um ano para
que eu continuasse levando a vida como sempre tinha levado. No
final do prazo ela me apresentaria a mulher com quem eu me
casaria.
A dor é tanta que se eu pudesse evitaria que Marco
continuasse, pois saber que eu nunca fui uma opção, é somente um
motivo a mais para que meu coração aperte no peito. Mas como não
posso evitar, apenas espero que ele tome seu tempo antes de
continuar.
— E fui apresentado a ela naquele dia em que você viu as
fotos. Naquele dia em que você me deixou.
— E o que você queria que eu fizesse? Que esperasse por
você? Que lhe congratulasse pela escolha da noiva?
As lágrimas já não podem ser contidas, o choro é impossível
de ser impedido.
E ele vem e mexe com Marco. Ele tenta um contato maior,
tenta me trazer novamente para os seus braços.
Eu impeço, pois tenho medo de fraquejar. De ceder a qualquer
disparate que ele pense em propor para ficarmos juntos.
Quero estar a uma distância segura quando ouvir de Marco
quais são seus planos para nós.
— Maya, o casamento não seria de verdade! Bianca e eu
conversamos e...
— Vocês não transariam, não haveria herdeiros?
Ele engole em seco e apenas a sua expressão é suficiente
para que obtenha a minha resposta.
— Maya, eu fui atrás de você. Assim que saí do restaurante fui
à cobertura para...
— Você foi até lá para me convencer a aceitar tudo isso?
Sabendo que nosso contrato já estava na iminência do fim? Foi
oferecer mais dinheiro, imóveis, benefícios?
Sei que acertei nos palpites quando ele baixa a vista. Quando
ele tem a decência de se mostrar envergonhado.
— Em minha defesa garanto a você que não sabia como se
sentia e muito menos desconfiava de como me sentia.
Diz sério.
— Felizmente fugi e evitei este encontro, pois imagina como eu
me sentiria sabendo que dormia com você todos os dias, que
amava-o com todas as forças do meu ser e que para mim seria
oferecido somente dinheiro, contrato e dor. Que eu seria a outra e
que jamais seria vista como nada além disso. Sou grata por ter
decidido partir, mesmo sabendo que poderia ser vítima de
represálias suas.
— Eu jamais faria nada contra você!
Diz inflamado, como se ele fosse incapaz de algo sequer
parecido.
— Sabe, Marco, eu sei do que você foi capaz para que eu
assinasse o contrato e sei como a imprensa o enxerga. Tenho
ciência de como é impiedoso, frio e um ótimo negociador, quando há
em jogo algo que você realmente quer. Então desculpe-me se não
acredito. Desculpe-me se me escondi e se só me senti segura
quando coloquei muitos quilômetros entre nós.
Olho firme para ele, na voz um leve sarcasmo, mesmo que eu
tenha tentado evitar.
— Você tem razão em muitas coisas que disse. Você conhece
bem a pessoa que fui. Então não a julgo por não acreditar e muito
menos por fugir. Mas tem algo que não está levando em conta, algo
que talvez somente desconfie. Que ainda não tenha sido admitido,
ou dito com palavras como deve ser dito. Como deve ser ouvido.
A voz rápida, agitada.
Incomum ao homem de gelo, muito distante da maneira calma
e fria como sempre se dirigiu a mim.
— Eu sou doido por você, Maya. Apaixonado e louco de amor.
Sua partida abriu meus olhos para isso, a saudade e o sofrimento
me alertaram para o que eu realmente trazia dentro de mim.
Olho-o estupefata. Esperava palavras no clamor do ato, ou
sinalizações e indicações do que ele sentia.
Não esperava ouvir as palavras, não esperava que ele me
bombardeasse desta forma.
— E foi isso que vim dizer, foi isso que vim fazer aqui. Dizer
como me sinto e que não haverá mais casamento. Levar você pra
casa e começar tudo do jeito certo, como tem que ser.
E me puxa para seus braços e cola nossas bocas.
Para confirmar a verdade em suas palavras ou simplesmente
porque não pode mais ficar longe de mim um instante sequer.
CAPÍTULO 31

Dizer as palavras tornou meu coração mais leve. Admitir em


voz alta o que sinto libertou-me de uma prisão de fingimento e
enganação em que vivia.
E essa sensação é boa, muito boa. Somente não é melhor do
que este beijo
Ansioso. Sentido. Por demais gostoso.
De língua. De amor.
Que faz Maya suspirar. Que me faz ofegar.
De desejo. De necessidade.
Que faz meu pau babar. Que me faz praticamente abdicar de
respirar.
E me faz perceber que ela está perto, mas não o suficiente.
Então tento nos aproximar mais, tento fazer com que minha
ruiva monte em meu membro desejoso.
Mas Maya não parece querer isso ainda, parece que nossa
conversa ainda não terminou.
Mesmo que seu olhar anuviado de desejo diga que ela
também quer, e que para ela também é sofrido qualquer distância.
— Marco, eu também sou apaixonada por você!
Meu coração vibra com suas palavras, com seu olhar. Com
esta declaração que nem sabia o quanto precisava escutar.
— Sei que Jéssica já havia me entregado, mas se estamos
abrindo o nosso coração, não pode mais haver meias-verdades,
nada pode ficar subentendido.
Concordo plenamente com ela, mesmo que não me conforme
em estar afastado de sua boca gostosa.
— E por isso digo o que sinto, por isso não vou mais esconder
ou fingir que não o amo.
Abro um sorriso enorme, o coração batendo ensandecido no
peito.
— Mas apesar de todo o sentimento, há muito a ser discutido,
as coisas não se resolverão assim de forma tão simples.
O medo, o pavor.
— Como não? Nós nos amamos e vamos ficar juntos. Vou
soltar uma nota sobre o fim do casamento e...
— Marco, haverá a sua família, a família da moça. Haverá a
imprensa querendo saber dos motivos, procurando culpados.
Querendo encontrar o pivô da separação do casal que eles vem
pintando como perfeito.
Não estou entendendo onde ela quer chegar. Temo perguntar
o que suas palavras querem realmente dizer.
Por isso somente espero. Ansioso, mas sem coragem de
sequer abrir a boca.
— Não vou me colocar no olho do furacão. Não quero isso e
nem posso me permitir passar por isso neste instante da minha vida.
— Não vamos ficar juntos? Você não quer ficar comigo?
A voz denuncia o medo, tudo em mim demonstra o pavor que
sinto enquanto espero sua resposta.
— Claro que quero ficar com você, lógico que quero começar
uma história ao seu lado.
Mesmo não entendendo o que quis dizer anteriormente, ouvir
estas suas palavras arranca de mim um suspiro de alívio, garante a
sanidade que preciso para continuar esta conversa.
— Marco, podemos namorar, podemos começar do jeito certo.
Sem contratos, sem dinheiro, apenas importando o que sentimos.
Assinto com a cabeça, embora saiba que ela ainda não disse
tudo. Apesar de estar temeroso com o que virá pela frente.
— Quero e preciso de você. Desimpedido, solteiro e pronto
para ser o homem que necessito.
— E serei, minha ruiva, pode acreditar. Não vejo a hora de
levá-la comigo e...
— Marco, eu não vou, eu...
— Como não, Maya? Como você vai ficar aqui, longe de mim,
quando diz que podemos namorar, quando diz que me ama?
A voz é alta. Traz indignação, confusão, mas principalmente
medo.
— Vou ficar aqui, por um tempo. Enquanto as coisas se
resolvem por lá, enquanto a poeira baixa. Enquanto você comunica
a imprensa e explica para as duas famílias que o casamento não
mais acontecerá.
— Vai ficar aqui, longe de mim?
Pergunto incrédulo, pois para mim isso não faz sentido algum.
— Por enquanto, vou. Não quero que descubram sobre nós
neste momento, não quero ser crucificada pela escolha que você fez
ao aceitar casar por conveniência, e muito menos quero ser julgada
simplesmente por me sentir como me sinto em relação à você.
O baque. O início do desespero.
— Claro que nós vamos ficar juntos! Não iremos morar em
cidades separadas!
Digo exaltado.
Vejo que ela abre a boca para argumentar, mas continuo, de
forma agitada.
— Maya, passei um inferno longe de você, não vou aguentar
passar por tudo aquilo novamente. Quero e preciso dormir e acordar
ao seu lado todos os dias. Preciso de você para que não
enlouqueça de vez.
Não me incomodo de demonstrar fragilidade, não me
incomodo com nada que não seja impedir que ela coloque em
prática tal sandice.
— Marco, você não passará por nada daquilo, pois saberá
onde me encontrar e poderá me visitar quando sentir saudade.
— Sempre, todos os dias.
Digo, para logo continuar.
— Tirarei férias. Ficarei aqui com você, indefinidamente, até
que queira voltar. Posso trabalhar em home office, posso...
— Marco, você precisa resolver a confusão que criou e não
desaparecer do Rio e colocar os holofotes em cima de você. Precisa
estar lá, precisa conversar e resolver essa história.
— O que eu preciso é ficar perto de você!
A verdade. Como realmente me sinto. A minha verdadeira
necessidade.
— E ficaremos. Sempre que você puder vir até aqui e, de
forma definitiva, quando todos esquecerem esse bendito casamento
do ano, esquecerem que você de bom grado se comprometeu a
casar com alguém a quem não amava.
Diz firme, ainda magoada.
Percebo que não há mais possibilidade de argumentar o que
quer que seja, percebo que isso é o máximo que conseguirei neste
momento.
Resolvo dar a mão à palmatória, resolvo ceder, pois sei que
estas são as consequências por minhas atitudes, por minha
cegueira.
Insuportáveis para o meu coração apaixonado, mas bem
menores do que as consequências que eu realmente mereço.
Por isso suporto. Com meu coração apertado, com uma
angústia já se fazendo presente por saber da distância que existirá.
— Está bem, Maya, neste momento será do seu jeito. Sei que
mereço e sei que realmente tem toda esta merda a ser resolvida,
mas saiba que logo mais tudo isso será esquecido e, quando isso
acontecer, a imprensa e a minha família conhecerão a minha
verdadeira escolhida.
Digo de um só fôlego. Digo antes que me arrependa de
concordar com este desatino.
— Saiba também, ruiva, que não serão estes poucos
quilômetros que me manterão distantes, que evitarão que eu a
tenha em meus braços todas as noites. Não medirei esforços e
muito menos dinheiro para estar aqui. De dia estarei lá, resolverei
toda esta confusão e pousarei como o empresário frio que todos
estão acostumados, mas no fim do expediente retornarei para cá,
para você. Usarei meu jatinho para não perder nenhum segundo a
mais do que o necessário longe de você, meu amor.
Piegas? Sim.
Brega? Talvez.
Mas certamente convincente, pois minha ruiva se joga em
meus braços, procurando minha boca, aliviando um pouco da
saudade que já começa a se instalar.
Depois de um beijo que mexe com tudo dentro de mim e faz
meu parco controle ir para o espaço, ela se afasta minimamente
para dizer:
— E eu estarei aqui, ansiosa. Saudosa. Louca para estar com
você, louca para ser sua, Marco.
E eu esmago sua boca. Desesperado de desejo. Morrendo de
vontade.
Já sabendo que esta distância não será fácil, mas não me
impedirá de sentir o seu sabor, noite após noite.
Pois ela é meu vício. Meu querer.
Maya Oliveira é minha maior necessidade. É o verdadeiro
amor da minha vida.
CAPÍTULO 32

Jamais vou admitir que talvez Maya estivesse certa em manter


todos estes quilômetros entre nós, nem mesmo sob tortura.
Mas olhando com frieza, foi uma decisão acertada, pois mal a
assessoria de imprensa da Mancini Investimentos comunicou sobre
o fim do meu “relacionamento” com Bianca, uma enxurrada de
notícias, especulações e perseguições começaram.
Um verdadeiro caos.
Sem falar que conversar com a família da dita noiva também
não foi algo fácil, mas felizmente tive a ajuda de Bianca neste
sentido. Ela que está se mostrando uma boa amiga e a quem, no
momento certo, apresentarei à minha ruiva.
Com os Mancini as coisas não foram de todo ruim, pois depois
do momento inicial em que mamãe soube de tudo pela imprensa e
quase estourou meus ouvidos, com uma ligação cheia de lamúrias e
gritos histéricos, as coisas foram se ajustando. Fiz uma visita, em
meu horário de almoço, e expliquei que estava abdicando do nosso
acordo com relação à Bianca, mas que ela ganharia sim uma nora,
e que futuramente ganharia netos.
Pois quero tudo com a minha ruiva. Quero namorar, noivar e
casar.
E quero filhos. Muitas ruivas em miniatura, para eu amar e
adorar igualmente farei com Maya.
E dizer que mamãe ficou feliz é minimizar o show que ela deu,
o alarde que fez.
Louca para conhecer minha mulher, obrigando-me a levar
Maya até eles.
Tive então que explicar as circunstâncias do nosso
relacionamento, e como minhas atitudes me levaram a ficar a
quilômetros de distância da minha ruiva.
Mamãe me ameaçou, me deu leves tapas no ombro e ainda
pediu para meu pai me ensinar a agir como homem. Fui execrado, e
praticamente deserdado, mas fui perdoado depois que prometi que
logo esta distância acabaria e ela poderia mimar Maya e ser a mãe
que ela não teve.
E Júlia Mancini está mais do que disposta e ansiosa para
exercer esta função. Ela e meu pai não veem a hora de conhecer a
minha ruiva.
E eu, mais do que ninguém, não vejo a hora de tê-la no Rio de
Janeiro. Para almoçar com ela sempre que desejar, para adorar a
minha mulher todos os instantes do dia.
Já se passaram 17 dias desde que nos declaramos e durante
este tempo jamais dormi longe dela. Mesmo quando a nota da
assessoria foi divulgada, dei um jeito de me esgueirar, de fugir dos
repórteres e ir para Resende. E continuo a ir todos os dias, tenho
voado para estar com ela mesmo antes que a bolsa de valores
feche, mesmo antes que o expediente se encerre. Acompanho tudo
pelo computador, adianto o que tem que ser feito em meu horário de
almoço, tudo para chegar cedo em Resende, para ter Maya o
quanto antes em meus braços.
E é como se fizesse meses que não a vejo, como se eu não
tivesse estado dentro dela ainda de manhã.
É um desespero, uma loucura que só diminui quando a beijo
demoradamente, quando a envolvo firmemente em meus braços.
E não vejo a hora dela ceder, de Maya finalmente encerrar o
meu castigo, a minha tortura.
Por ter sido cego, por ter pensado em nos condenar a uma
vida infeliz.
Por ter pensado em oferecer a ela riquezas e dinheiro infinitos,
quando a única coisa que ela queria jamais poderia ser comprada,
pois tem valor inestimável.
O amor.
Que sinto. Que ela sente.
Que foi declarado. Que é vivido.
De forma intensa, mas também sublime.
E que é afirmado a cada dia.
Em palavras, gestos e por nossos corpos.
E que será reafirmado hoje, amanhã e para sempre.
Pois a ruiva é a minha vida, a minha mulher e o único amor do
meu coração.

— Sabe uma coisa que me chateou muito em toda esta


história?
Maya diz baixinho e temo a resposta. Pois virei um frouxo, um
medroso.
Estávamos em um silêncio gostoso, depois de termos
consumado nosso desejo. Depois de todos os sons que fizemos
enquanto nos perdíamos no corpo um do outro.
E a ruiva diz, para me deixar sem fala. Para me deixar
temeroso com o que ela tem a dizer.
E como se trata de uma pergunta retórica, a resposta não
tarda.
— O beijo. Ver esta intimidade entre vocês foi o que me fez ter
certeza de que eu precisava partir, pois sabia que era algo que você
não fazia, que considerava íntimo demais. Aí depois me toquei que
ela era a noiva, e que ela era aquela que merecia seus beijos,
seus...
Sua voz quebra e eu não suporto lembrar de todo o sofrimento
que causei a nós dois. De forma agitada faço com que me olhe e
digo:
— Ei, Maya, pare. Você sabe que era uma mentira e que
Bianca fez porque não sabia da sua existência e também para dar
veracidade à matéria. Ela não sabia de nós e não tinha como
imaginar a dor que isso causaria.
Seus olhos cheios de lágrimas partem meu coração.
Certamente homem de gelo é algo que não sou mais, estou até
muito longe de ser.
Mesmo que machuque, gosto que tenhamos intimidade para
tal, e ora ou outra estamos relembrando e conversando sobre o que
passou. Invariavelmente traz dor, pois o acordo que tínhamos era no
mínimo imoral e indigno, mas acredito que pontuando e
conversando podemos construir um futuro de verdade, respeito e
amor.
Beijo-a para afastar da mente de Maya tais imagens, para que
ela sinta que o único beijo que quero é o seu.
Gostoso. Molhado. Excitante.
Capaz de me ter rendido em instantes. De manter-me viciado
para sempre.
— Quero somente os seus beijos...a sua boca. Somente a sua.
Digo entre um beijo e outro, e apenas me afastando quando
respirar se torna imprescindível.
Então olho para ela e meu olhar entrega esta verdade. Entrega
meu coração.
— Eu sei, meu amor, eu sei. É que às vezes esta imagem vem
e as lembranças dolorosas daquela época são inevitáveis.
— Não pense que não sei como é, pois eu sei. Ainda é bem
vívido na minha mente tudo isso, por mais que estejamos
construindo lembranças lindas, por mais que esteja mais do que
feliz por tê-la ao meu lado. Mas infelizmente tudo ainda é muito
recente e, mesmo que queiramos evitar, este passado ainda nos faz
muito mal.
Sou realista, dolorosamente realista.
— Estou admirada de ainda não ter perguntado nada sobre o
livro!
Inesperadamente ela muda de assunto, querendo afastar de
nós estas lembranças.
Eu só tenho a agradecer.
— E então, minha linda escritora, conseguiu terminar o
epílogo? Conseguiu finalizar o seu próximo sucesso?
Sim, ela se abriu comigo. Disse como vinha se mantendo.
Dividiu comigo seus anseios e seu pseudônimo.
Claro que fucei a plataforma de empréstimo e venda de livros
onde ela publica seus e-books e posso afirmar que meu coração
quase explodiu de orgulho e felicidade. Por vê-la lutando, vencendo.
Por vê-la feliz em se dedicar ao que realmente gosta.
— Terminei sim e gostei muito do final.
Diz com um sorriso lindo, que mexe com tudo dentro de mim.
Na hora me acho um idiota, por não ter percebido antes como
Maya sempre foi o meu mundo, como tudo nela sempre me abalou.
— E sabe de uma coisa?
Faço que não com a cabeça, esperando que ela me conte
como a história terminou.
— Agora que concluí o livro, estou pronta para voltar para o
Rio. Vou começar uma nova história de ficção lá, e é também lá que
continuaremos a viver todo este amor que sentimos um pelo outro.
Paro abalado, de repente asfixiado. Esperava algo sobre o
livro, jamais esperava que ela de repente me fizesse o homem mais
feliz do mundo.
— Maya, diga que não ouvi errado, diga que...
— Que vou entregar esta casa? Que você não precisará mais
voar todos os dias para dormir ao meu lado?
Não me contenho e a encho de beijos. Salpico rosto, pescoço
e qualquer lugar onde minha boca encontrar.
Ela ri feliz, eu rio mais feliz ainda.
De repente ela me afasta um pouco e fica séria. Juro que não
gosto de sua expressão.
— Queria apenas combinar com você que por enquanto ficarei
na casa da Jéssica, que...
— Claro que não, você é a minha mulher e ficará comigo!
— Lógico que não ficarei naquela cobertura, que não voltarei
para lá.
No mesmo instante me toco, percebo que aquele é o último
lugar do mundo para começarmos esta nossa nova fase.
— Você está certa, meu amor, mas tenho outros imóveis...
— Impessoais? Ou onde você levava suas mulheres?
Ela é ciumenta e eu sou mais. E ela está certa.
— Façamos assim, por ora você ficará lá, mas iremos procurar
um canto para nós. Do nosso jeito, do nosso gosto.
Ela abre mais um sorriso lindo e confirma com a cabeça. Eu
abro outro, pois finalmente minha ruiva inicia seu retorno para casa.
— Tenho apenas uma condição?
Na face uma indagação. Aguarda ansiosa minhas próximas
palavras.
— Que a Jéssica me suporte em sua casa. Que permita que
eu durma com você todas as noites.
— Ah meu homem de gelo, com certeza essa também é a
minha única condição.
E me beija, mostrando com o gesto que estamos combinados,
de acordo.
Dizendo com seu gosto e com seu sabor que é minha e
sempre será.
Provando, com a sua decisão de retornar, que finalmente
viramos a página e que a partir de agora faremos nossa própria
história.
De amor. De compromisso. E de relacionamento.
Com direito a noivado, casamento e filhos.
Todos os que Deus, em sua bondade, nos conceder.
CAPÍTULO 33

Extremamente nervosa, é assim que estou.


Mesmo que Marco já tenha me dito, um milhão de vezes, que
sua mãe não vê a hora de me conhecer e que seu pai está muito
satisfeito com o seu status de comprometido.
Olho-me mais uma vez no espelho e sei que a roupa é
adequada, pois Jéssica me auxiliou na escolha e ninguém melhor
para ajudar nestas coisas do que alguém do meio.
Sei que não devo me demorar, pois não ganharei ponto
nenhum com eles se, logo no primeiro encontro, chegar atrasada.
Então suspiro alto e saio do quarto. Vou em direção ao meu
homem.
Que está na sala com Jéssica, numa conversa tão baixa que
não consigo escutar o que dizem.
E quando meus passos denunciam minha aproximação, a
conversa cessa de vez, o que me deixa desconfiada.
Imagino que possa ser algo sobre este almoço na casa dos
pais dele, que eles não estejam de acordo em ter como nora a
mulher que outrora foi amante.
— Você está linda, Maya!
Sequer tenho tempo de verbalizar meus anseios e medos, pois
Marco diz estas palavras e vem ao meu encontro.
Para me abraçar. Para me cheirar. E tomar minha boca.
Num beijo ansioso. E saudoso.
De uma saudade que não é para existir, mas que jamais se
finda.
Estou de volta ao Rio de Janeiro há exatos 21 dias, e a
dinâmica atual do nosso relacionamento ainda é insuficiente. Todo o
tempo que temos ficamos juntos, mas nunca é o bastante.
Por isso estamos procurando um canto, por isso estou indo ver
seus pais hoje.
Pois, segundo Marco, não posso transformá-lo em um homem
decente, sem sequer conhecer meus sogros pessoalmente.
Faz dias que adio este momento, mas infelizmente meu tempo
acabou.
Ter minha língua sugada faz-me afastar este e qualquer
pensamento, qualquer coisa que não seja a sensação única de ser
beijada por este homem.
Entrego-me, enrosco-me. Dou tudo e qualquer coisa de mim.
Pois sou dele. Sempre fui.
— Acho bom vocês pararem com esta pouca-vergonha,
porque acredito que se continuarem jamais sairão daqui.
Jéssica diz com um tom de riso na voz, sabendo que se
realmente continuarmos, o mais longe que iremos é para o meu
quarto.
Afasto-o, mesmo que Marco apresente resistência.
Ele ainda me puxa para um contato derradeiro, como se
morresse por meus beijos.
— Para quem não gostava de beijos, você está até bem
interessado em ter sua boca na minha!
Digo brincando, risonha. Tentando quebrar o clima, tentando
afastar da minha mente a preocupação com o bendito almoço.
— Ah Maya, você, mais do que ninguém, sabe que sou viciado
em seus beijos, que morro por eles. E que realmente não gosto de
outros beijos, nunca gostei. Só gosto dos seus, só quero os seus.
Minha boca somente tocará a sua, enquanto eu existir.
Marco agora deu para estes rompantes românticos, deu para
me surpreender com frases cheias de declarações.
E eu amo que meu homem de gelo aos poucos esteja
derretendo, amo que ele me mostre todas as suas facetas, todos os
seus sentimentos.
— Também adoro seus beijos, também adoro esse novo
Marco.
E o encaro, para que ele perceba o quão sinceras são minhas
palavras.
— Mas infelizmente por ora teremos que nos comportar,
infelizmente temos um compromisso. Então é melhor irmos logo,
antes que eu mude de ideia.
Ele me conhece e sabe como estou me sentindo.
Pega a minha mão e aperta. Dando-me confiança. E guiando-
me para o tal almoço.
Mostrando que estamos juntos e que ao seu lado nada tenho a
temer.
E neste momento sei que posso enfrentar tudo, pois nosso
amor me faz forte, segura.
Faz-me sentir amada. Sentir-me especial.
Assombro-me com a grandeza de tudo ao meu redor. Luxo,
elegância e sofisticação. As palavras poder e dinheiro ganhando
para mim um outro significado.
— Eles vão adorar você! — Marco diz.
Ele está a todo momento querendo me proporcionar confiança
e, por mais louco que possa parecer, está sendo feliz em seu
intento.
— Minha nossa, sua namorada é linda, Marco!
Travo. Olho a procura da dona da voz e a encontro.
Elegante. Muito bonita.
Andando na frente de um senhor que é a cópia de Marco, que
me mostra como o meu homem ficará daqui a alguns anos.
Charmoso e muito bonito, pois a genética dos Mancini parece
melhorar com a idade.
— É um crime você ter mantido essa preciosidade longe de
nós por tanto tempo.
Olho para Marco, surpresa por saber que ele falou do tempo
que estamos juntos. Constrangida por temer que ele também tenha
falado das condições.
Não consigo escrutinar sua face em busca de respostas, pois
logo tenho os braços da senhora ao meu redor.
Ela beija a minha face com carinho e somente depois se
preocupa com as apresentações.
— Desculpe os modos, minha querida, mas esperei por este
momento quase que minha vida inteira.
Eu sorrio, satisfeita com a recepção. Tinha medo de pompa ou
de etiqueta, jamais de carinho. Fui privada disso a minha vida
inteira, fui privada por tempo demais para não aproveitar, e mais
ainda quando este se apresenta de forma tão espontânea e sincera.
— Sou Júlia Mancini e este é Fausto. Somos sua família a
partir de hoje, Maya.
E meus olhos enchem-se de lágrimas. Pelo acolhimento, pelo
abraço que volto a receber dela. Por saber que finalmente encontrei
o meu lugar.
Mas principalmente por saber que os meus medos eram
infundados e por sentir em meu coração que tudo dará certo.
Que tudo dará mais do que certo.

Rio das histórias engraçadas que Júlia conta. Sim, já me refiro


a ela pelo primeiro nome, sem qualquer formalidade. Ela insistiu e
estou bem à vontade quanto a isso.
— Marco era uma peste no colégio. Era o terror dos
coleguinhas e dos professores.
Olho para o meu namorado e não vejo vergonha ou
repreensão. Vejo-o leve, feliz com a minha interação com seus pais.
— Acho melhor alimentarmos Maya, ou talvez ela nem queira
mais retornar a esta casa, pois a convidamos para um almoço e até
agora nada.
Fausto graceja e na mesma hora Júlia fica agitada, levando a
sério as palavras de seu esposo.
— Desculpe-me, minha querida. O assunto estava tão bom
que acabei cometendo este lapso. Que isso não seja motivo para
você não retornar a esta casa.
— Não se preocupe, Júlia. Está tudo bem. E certamente
voltarei aqui, sempre que for convidada.
Ela me olha com uma expressão carinhosa e diz:
— Você não precisa de convite, linda Maya, pois essa casa
também é sua. Você agora é da família, minha querida.
Emociono-me mais uma vez. Meu coração de pronto
compreende todo o carinho e verdade nestas palavras.
Ela parece gostar que eu aparentemente não consiga controlar
ou disfarçar minhas emoções. Parece gostar do quanto tudo isso me
emociona, do quanto tudo isso me faz feliz.
— Entendo por que meu filho se encantou por você, Maya. E
lhe digo com certeza que Fausto e eu também estamos encantados.
Deus não poderia ter me dado nora melhor. Ele finalmente ouviu as
minhas preces.
Jamais esperei tanto carinho. É com esforço que contenho o
choro.
Marco me abraça e diz rente ao meu ouvido:
— Ele não poderia conhecer melhor minhas necessidades, não
poderia me fazer mais realizado do que estou. Apesar de eu jamais
ter pedido, Ele sabia o que eu realmente precisava para ser feliz.
E com estas palavras uma lágrima vem, pois me é impossível
conter tanta felicidade.
Depois de uma vida inteira sem a presença de familiares de
sangue, depois de um relacionamento sem qualquer sinalização de
sentimento.
Mas este tempo passou e agora é um tempo novo.
De agregar pessoas queridas, de ter finalmente um amor
verdadeiro.
E este tempo novo é de gratidão.
E é de um futuro feliz, que certamente teremos pela frente.
CAPÍTULO 34

— E se não aparecer ninguém? E se eu não conseguir


responder as perguntas? E se...
— Maya, para. Vai ser um sucesso. Você vai ser a atração da
Bienal do Rio!
Minha amiga diz, mas não consegue me convencer totalmente.
Não sei se é porque não vou ter Marco ao meu lado, pois
justamente hoje ele resolveu viajar. Sei que era inevitável e que era
algo que já estava programado, mas não tê-lo ao meu lado apenas
me deixa ainda mais nervosa.
Também não ajuda o fato de estar ansiosa pela minha
mudança.
Olhar em volta e ver tudo empacotado, torna real a
proximidade deste novo ciclo.
Finalmente escolhemos uma casa linda, que atende às nossas
necessidades. Com um jardim perfeito, fonte, estufa e calmaria para
me inspirar na criação das minhas histórias. Com um escritório
amplo, onde, segundo Marco, ele tem a possibilidade de trabalhar
em casa quando não conseguir se afastar totalmente de mim.
Palavras fofas, mas surpreendentemente dele, não minhas.
Do mais, uma cozinha moderna, espaço para receber
parceiros comerciais, familiares e amigos. Além de um quarto amplo
e aconchegante, que certamente será palco de noites calientes e
dias de carinho e muito amor.
— Ah não, Maya! Daqui a pouco você será a atração mais
esperada do evento literário promovido pela plataforma onde publica
seus e-books e você fica aí perdida, pensando nesta mudança.
Parece até que está louca para se livrar de mim.
Fala para tentar tirar-me dos meus pensamentos, para acabar
com meu nervosismo, mas sei que também é uma forma de dizer
que vai sentir saudades. Conheço-a há tempo demais para saber
que está feliz por todas as minhas conquistas, mas que vai sentir e
muito a minha falta, agora que sabe que minha mudança é
definitiva. Que vou finalmente construir uma vida ao lado do homem
que amo.
Vou até ela e a abraço. Ela parece surpresa por sentir meu
carinho após uma repreensão.
Mas não pensa muito, apenas retribui.
— Obrigada, minha irmã. Por tudo que você foi e é para mim.
Ela me aperta mais. Parece fungar, pois sabe que é uma
despedida. Da nossa antiga vida. De todo um passado de solidão e
abandono.
— Você será para sempre a minha pessoa preferida no
mundo. A que sempre me amou, que me deu meu primeiro lar fora
do orfanato. A que cuidou de mim, a que sempre enfrentou as
batalhas por mim. Que as enfrentou comigo.
E choramos. Talvez não seja o momento ideal, visto a
proximidade do evento que participarei, mas certamente é
necessário, pois minha alma clama para dizer as palavras, para
receber o abraço da irmã que a vida me deu.
— Marco é o meu amor, mas você, Jéssica, sempre será meu
exemplo, meu norte, meu porto seguro. Sei que você sempre estará
aqui para mim, e eu sempre serei a irmã que você precisar. Eu te
amo, Jéssica, e o fato de me mudar definitivamente daqui, não
afetará em nada a nossa relação. Aqui sempre será a minha casa,
como o lugar em que morarei será para você um lar.
E nos abraçamos, fungando, chorando.
Pois a hora da partida está chegando. Sem rompimento, sem
barreira e nem distância emocional.
Apenas uma de nós encontrando o seu caminho. Apenas uma
de nós encontrando o seu felizes para sempre.
E torço para que ele logo chegue para a minha amiga. Pois ela
merece muito.
Seria apenas a vida e o universo conspirando para devolver a
ela tudo que a maldade humana lhe privou.
Amor. Carinho. Uma casa que fosse um lar, e não uma fonte
de sofrimento, privações e exploração.
Mas isso tudo passou, não sem deixar marcas, mas passou.
E um novo tempo também chegará para ela, porque Jéssica
merece. Talvez ninguém mereça tanto quanto ela.
E quando chegar eu vou estar ao seu lado. Pois ela é minha
irmã querida, um anjo, minha melhor amiga.
E merecemos esta felicidade. Agora sou eu e logo será ela.
Pois Deus existe, e sua justiça tarda, mas não falha. Ela nunca
falha.

Extremamente nervoso, é assim que estou.


E não é por causa da multidão que está ao redor de Maya no
evento, ou porque o público que aqui está é tão diferente daquele
que costumo dialogar.
Todo o meu nervosismo se dá pelo medo da rejeição, de ser
rechaçado por Maya.
Por termos nos acertado há pouco tempo, por ser muito nova,
por irmos morar juntos a partir de amanhã e não termos jamais tido
este tipo de intimidade, pois dormir e acordar juntos, nunca será o
mesmo que dividir closet, banheiro e refeições. De dividir a vida.
Enfim, a ruiva tem milhões de motivos para dizer um não ao
meu pedido de noivado e tenho medo de não suportar se ela assim
o fizer. Não passa por minha cabeça a vergonha, a publicidade
negativa ou uma possível chacota, o que me atemoriza é não vê-la
usando o meu anel, é não chamá-la de noiva e não dar mais um
passo rápido rumo ao nosso casamento.
Isso sim me apavora. Isso sim me adoece.
Mas o momento da verdade está perto, pois estou escrito para
fazer uma pergunta e sou o próximo a me manifestar.
Como tudo é compactuado com a organização, consegui ficar
escondido atrás do palco improvisado onde minha mulher está, por
isso minha presença ainda não foi denunciada.
Antes que eu me sentisse realmente pronto, recebo em minha
mão um microfone e o sinal de positivo de Jéssica.
Toco na caixinha guardada em meu bolso, tentando buscar
forças e caminho para me posicionar em um lugar em que Maya
veja claramente quem está falando com ela.
— Boa tarde a todos!
Muitas cabeças viram em minha direção, mas não retiro meu
olhar de onde minha mulher está. Quero ver todas as suas reações.
Vejo a surpresa quando reconhece minha voz e a vejo procurar
por mim em meio a pequena multidão que está em volta dela.
Seus olhos encontram os meus e vejo o reconhecimento, a
felicidade, mas também a dúvida.
— Meu nome é Marco Mancini, conhecido por muitos como
homem de gelo.
Quero quebrar um pouco o clima, quero tentar ficar mais
relaxado.
— Muito embora quero que me conheçam como o homem de
Maya Oliveira, como seu namorado, confidente e companheiro.
Escuto exclamações melosas e não poderia ser diferente, pois
a maioria aqui é formada de românticas incuráveis, e o estilo literário
entrega isso, inclusive minha amada ruiva pode ser definida também
como tal.
— Muitos devem estar se perguntando o que um homem de
terno, em pleno horário comercial, faz neste tipo de evento, que
admito jamais tinha estado.
Faço uma pausa, pois a emoção é demais para controlar. E ter
o olhar ansioso da ruiva sobre mim, não ajuda em nada o meu
estado de nervos.
— Principalmente um homem que contou uma pequena
mentira para sua amada, alegando uma viagem que foi mais do que
dispensada quando percebeu que coincidiria com a participação de
sua namorada neste evento.
Mais suspiros e um olhar terno da minha mulher.
— Eu não seria capaz de não prestigiá-la, pois quero
acompanhar todos os seus passos. Quero estar com ela nos
momentos bons, nos ruins, quero estar com ela para sempre.
Vejo seus olhos marejados, pois ela se emociona sempre que
deixo meu coração se declarar, sempre que afasto ainda mais de
mim o rótulo de homem insensível.
— Quero deixar bem claro aqui para todos que sou um puta de
um sortudo, pois namoro essa ruiva linda e a partir de amanhã
dividiremos a mesma casa, por todo o restante das nossas vidas.
Desta vez ouvi inclusive o suspiro de Maya e isso me faz ter
certeza de que o momento chegou.
Aproximo-me muito dela, fico rente ao batente do palco. Ela
age como uma mariposa em volta da luz e vem ao meu encontro.
— Você é louco!
Diz baixinho e não resisto, puxo-a para os meus braços.
Ela se assusta e dá um gritinho. Eu a seguro firme e a coloco
no chão rente a mim.
A plateia se movimenta formando um círculo ao nosso redor e
sei que preciso criar coragem e fazer o pedido.
— Sou louco sim, linda Maya, louco por você. Também sou
sortudo, como já disse, mas acima de tudo sou ganancioso, pois
não estou satisfeito com o status de namorado, nem mesmo
sabendo que amanhã dividiremos o mesmo teto. Quero mais. Quero
tudo.
Beijo sua testa, tentando desmanchar a expressão espantada
que ela traz na face.
Expressão essa que somente aumenta quando ela me vê cair
de joelhos, quando ela entende o que eu realmente vim fazer aqui.
Suas mãos vão imediatamente à boca e eu atrapalho-me ao
procurar o anel, pois as minhas mãos estão trêmulas, frias.
Nervosas.
Finalmente tenho a caixinha onde quero. Abro-a, mostrando o
lindo anel e o levanto, aproximando-o da minha ruiva.
— Poderia ser descrito como uma cena de livro, pois somente
na ficção um ogro como eu seria capaz de um gesto tão romântico.
Somente na ficção um homem é capaz de se reinventar tanto, ou
até mesmo amar tanto. Mas garanto a vocês que tudo isso acontece
também na vida real e eu sou a prova disso. Sou a prova de que o
amor une o diferente, o improvável, o inesperado. Que este
sentimento muda, transforma, faz milagres. Ele, este dito
sentimento, me tomou por inteiro e me fez dela, irremediavelmente
dela. E por isso estou aqui, de joelhos, oferecendo a Maya um anel,
mas oferecendo principalmente o meu coração, a minha devoção e
o meu amor infinito. Estou oferecendo a ela todos os meus dias e
toda a minha vida. Estou oferecendo a ela o que sou, o que sinto e o
que tenho. Estou me oferecendo para ser dela, por todo o tempo
que eu respirar.
Um coral de suspiros, é isto que escuto. Enquanto meu corpo
treme e meu coração está na iminência de parar.
— Então, linda Maya, você aceita o que estou lhe ofertando,
aceita este homem de gelo, totalmente derretido e apaixonado?
Aceita ser minha? Aceita este anel?
A voz embargada. O corpo tenso, ansioso por uma resposta
que não vem. Nem em forma de gesto ou de qualquer sinalização.
Engulo em seco e vou para o último ato, para a pergunta
derradeira.
— Minha ruiva, você aceita se casar comigo, dividir a vida e
todos os dias que tivermos pela frente?
Empurro mais o anel e ela parece finalmente perceber que
precisa falar ou demonstrar algo.
E finalmente ela o faz. De forma acanhada. Um mero balançar
de cabeça, enquanto as lágrimas banham seu rosto.
Levo a mão ao coração e suspiro alto, aliviado por sua tímida
resposta.
Levanto-me rapidamente e coloco o anel.
Beijo a sua testa e a aperto em meus braços para consolá-la,
para disfarçar as lágrimas que também escorrem por minha face.
De repente Maya se afasta, aparentemente mais controlada.
Pega o microfone de minhas mãos e diz:
— Não poderia deixar um príncipe tão destemido sem
resposta. Minhas mocinhas jamais deixariam.
Muitos risos, depois de algumas lágrimas.
— Eu aceito me casar com você, Marco Mancini. Aceito fazer
de você um homem honrado, enquanto você faz de mim a mulher
mais feliz do mundo.
Mais risos e aplausos.
Uma enxurrada de gente gritando beija, tudo que foi imaginado
pela organização do evento, indo pelo ralo.
Ficando apenas um casal apaixonado, envolto por mulheres
em polvorosa por estarem participando deste instante tão especial.
E resolvo atender o pedido. Das fãs de Maya, mas também do
meu coração.
De selar o momento com um beijo. De dar ainda mais munição
para elas.
E trago Maya para mim. E ela vem feliz e ansiosa para o que a
espera.
E colo nossos lábios. E é como sempre bom demais para que
eu possa me conter.
Mas desta vez tem algo mais.
Promessa. Futuro. A eternidade.
Tem a certeza de que ela aceitou ser definitivamente minha,
assim como sou dela desde o momento em que encarei seus lindos
olhos.
Fui dela de boca, como não me permitia ser.
Fui dela de corpo, mesmo não entendendo o que isso poderia
ser.
E finalmente sou dela de coração e alma, e assim serei
enquanto eu respirar.
CAPÍTULO 35

Somente poderia definir nossos dias como perfeitos.


Claro que tem muito trabalho, pois cada um leva muito a sério
as suas atribuições, mas tem muito mais do que isso.
Tem cumplicidade. Intimidade. E muito amor.
Tem noites e noites de conversas, carinhos, encontros
românticos e sexo.
Selvagem, intenso, mas tem também amorzinho.
Sempre saciando nossos corpos e também nossas almas.
A imprensa está em polvorosa com o homem apaixonado e
cheio de cuidados que as lentes clicam. Estão enlouquecidos com a
beleza e simpatia de Maya. Encantados com a personalidade e
simplicidade da minha ruiva.
E isso me faz muito feliz, embora não o seja totalmente.
Pois ela ainda não me deixou marcar a data do casamento, e
nem marca. Está literalmente me enrolando.
Estamos juntos há seis meses e acho que já está mais do que
na hora de darmos o próximo passo, mas infelizmente Maya não
pensa assim.
Mesmo meus pais fazendo campanha e até Jéssica tomando
partido a meu favor, ainda assim minha noiva responde sempre que
ainda é cedo.
E não é por falta de pedidos, pois acontecem quase que
diariamente. Acontecem nos mais inusitados lugares.
E sempre a mesma resposta. Ela sempre me pede para
esperar.
De uns dias para cá minha família jogou a toalha. Jéssica
também.
De uns dias para cá este meu sonho parece muito mais longe
de se realizar e isto acaba por macular um pouco o que considero a
melhor fase da minha vida.
Mas mesmo desanimado, puxo-a para mim. Acordo-a com
beijos leves, pronto para receber mais um não.
E mal ela abre os lindos olhos, faço a pergunta. Para não
perder o costume, tentando não perder as esperanças.
— Meu amor, você quer se casar comigo?
Não coloco muita expectativa, este tempo já passou.
Mas pela primeira vez ela parece realmente pensar, pela
primeira vez eu pareço ter uma chance.
E o meu coração enlouquece. A qualquer momento terei uma
síncope.
— Aceito, mas com uma condição.
Não acredito no que estou ouvindo, não acredito na minha
sorte.
— Tudo o que você quiser, Maya. Qualquer coisa que pedir.
O céu. As estrelas. O universo.
— Quero fazer um ensaio fotográfico. Numa praia. Os dois de
branco. Para guardarmos de lembrança desta nossa fase de
noivado. Para enfim darmos o passo derradeiro.
Maya sendo Maya. E Marco sendo Marco.
Eu esperando coisas materiais, que o dinheiro pudesse
comprar, como se não conhecesse a mulher que amo, como se não
soubesse o que tem valor para ela.
Como se não soubesse que ela prefere momentos,
sentimentos e sensações. E pouco a pouco é também o que quero,
o que prefiro.
Por isso adoro a ideia, ainda mais por ser o trampolim que me
levará finalmente ao que mais anseio, ao que mais desejo.
Ao nosso casamento. Nosso nome no papel. Ao único contrato
que realmente tem valor.
— Pode marcar o dia e o local.
Ela ri, satisfeita com minha resposta.
— E digo mais, minha ruiva, se fosse amanhã ainda não seria
cedo o suficiente.
Maya gargalha alto.
Feliz, só duvido que esteja tão feliz quanto eu.

— Sempre considerei meu filho muito esperto, jamais


imaginaria que ele caísse nessa. Não esperei que ele fosse ser tão
facilmente enganado e ainda estivesse gostando e muito de ser feito
de trouxa.
Minha sogra diz rindo, com seu atual humor duvidoso. Acho
que o fato de estar se aproximando da hora do casamento, está
mexendo e muito com ela. Na verdade está mexendo com todos
nós.
E Júlia continua:
— E pensar que ele escolheu, junto com você, as roupas, o
hotel, a praia. Nem consigo acreditar em como o meu filho se deixou
levar por esta sua conversa mole.
Sim, vamos nos casar. E será uma surpresa.
Marco acha que vamos posar para fotos em família. De
branco. Numa tenda linda que está montada na praia.
Ele mesmo deu palpites no local, sem sequer imaginar que
Jéssica se encarregaria de levar o juiz de paz até lá, enquanto
estamos terminando de nos arrumar para as ditas fotografias.
Estamos minha sogra e eu sendo arrumadas por uma equipe,
enquanto Marco e seu pai estão em outra suíte, também vestindo as
roupas escolhidas para este momento.
E dizer que Marco parece um menino, não é nem de longe
uma comparação que possa ser feita. Ele certamente está além de
qualquer analogia, não existe palavras para descrever sua
ansiedade, sua empolgação.
— E aí, Júlia, como estou?
Digo, quando finalmente fico pronta.
— Linda, Maya! Você está linda! Vai deixar meu filho ainda
mais apaixonado.
Minhas bochechas ficam vermelhas na hora, ainda não me
acostumei totalmente com a sinceridade da mãe de Marco.
Ela se aproxima mais, segura em minhas mãos e diz:
— Nunca serei grata o suficiente por você existir. Por fazer do
meu filho este novo homem. Que sente, que ama. Este homem
melhor.
As lágrimas teimam em querer cair. Mesmo que eu respire
fundo e tente reprimi-las.
— Espero que minha maquiagem seja realmente à prova
d’água, senão seu filho pode não dizer o tão esperado sim quando
chegar a hora.
— Ah minha filha, é mais fácil todo esse mar ao nosso redor
secar, do que Marco não gritar o seu sim quando chegar a hora.
E depois destas palavras as lágrimas cessam, restando
somente sorrisos, abraços e a expectativa do grande momento que
logo acontecerá.

Apesar de Jéssica ter me garantido que no interior da tenda


está tudo dentro do combinado, estou nervosa. Muito.
E Marco percebe, pois diz:
— Você está calada demais, meu amor.
Não tenho tempo de responder, porque minha sogra logo me
socorre:
— Com certeza Maya está imaginando usar este cenário lindo
na sua próxima história.
Marco parece acreditar e não insiste no assunto. Eu agradeço
por minha sogra ter presença de espírito, pois não conseguiria
mentir para ele, não mais.
E já não preciso mais, pois adentramos na tenda e tudo no
local indica que isso está longe de ser somente um ensaio
fotográfico.
A decoração, a presença do juiz de paz, seus apetrechos que
indicam que ele está pronto para celebrar um casamento.
E de repente a ficha cai e Marco percebe que daqui a pouco
seremos um só. Que daqui a pouco estaremos casados.
E seus olhos umedecem e seus braços me envolvem num
abraço apertado e emocionado.
— Maya, você consegue me fazer mais feliz a cada gesto, a
cada instante. Você consegue ser tudo que preciso apenas por
existir.
E beija meus lábios de forma singela e respeitosa. Beija meus
lábios como noivo pela última vez.
— Pensei que você fosse o mais ansioso por este casamento,
Marco, e no entanto não vejo você dando permissão para que a
cerimônia se inicie, muito pelo contrário.
Jéssica diz jocosa, talvez tema que o homem de gelo derreta
literalmente à nossa frente.
— Podemos começar, sim. Na verdade este momento está
com meses de atraso.
E rimos, enquanto nos postamos para que o tão desejado
momento aconteça.
E ele começa. Com o juiz dizendo as palavras. Comigo e com
Marco nos emocionando com tudo que é dito.
Mãos trêmulas, corações acelerados e peles frias.
Lágrimas fortuitas, em todos os presentes, pois apesar da
cerimônia não ter a pompa esperada, tem certamente a emoção e o
sentimento necessário.
E de repente chega o momento mais aguardado, chega o
momento de fazermos nossas juras.
E Marco começa. Emocionado.
— Eu te amo, Maya, e sempre vou te amar. Na alegria,
tristeza, e em todo e qualquer passo da nossa caminhada, pois você
fez de mim este novo homem que sou e que somente quer e precisa
amar você enquanto respirar. E prometo, por todos os dias e anos
que teremos pela frente, que cuidarei de você com zelo e devoção e
que adorarei você como a dona única e absoluta do meu coração.
Surpresa no rosto de todos por Marco se desnudar tanto.
Lágrimas no meu por votos tão lindos e emocionantes.
Ele então coloca a aliança em meu dedo e o momento não
poderia ser mais especial.
Infelizmente não posso somente chorar e agradecer a Deus
por ter colocado este homem maravilhoso no meu caminho, pois
tenho votos a dizer, tenho mais emoção a viver.
— Eu te amo mais, Marco, e vou estar ao seu lado até o meu
último suspiro. Você que me deu a família que eu tanto ansiei, você
que se tornou o homem perfeito que eu sempre desejei. Mesmo que
tenhamos começado do jeito errado, a vida tratou de nos colocar no
caminho certo. No caminho do amor, do sentimento e agora do para
sempre. E por todo o tempo que teremos a partir de hoje, prometo
amá-lo, respeitá-lo e adorá-lo em todos os instantes da minha vida.
Digo já chorando, o corpo convulsionando de soluços pela
emoção vivida.
Mal consigo colocar a aliança em seu dedo, o tremor de
minhas mãos tornando o ato praticamente impossível de ser
realizado.
Marco então me abraça, me acalenta. Ele mesmo tenta se
conter para continuarmos.
E pouco a pouco nos controlamos. E logo a cerimônia se
reinicia.
Com os últimos dizeres, com a permissão do beijo.
Que vem respeitoso, cheio de carinho.
Com muitos significados e repleto de amor.
Selando o compromisso firmado ainda há pouco, com as
pessoas que realmente importam como testemunhas.
Sabendo que este é apenas o começo, de uma vida inteira que
teremos pela frente.
EPÍLOGO

— Rafael, deixa de implicar com a sua irmã!


Escuto as palavras de Marco e apenas balanço a cabeça.
Sabendo que Nina aproveita que tem seu pai enrolado no seu dedo
mindinho, para dramatizar toda e qualquer brincadeira do irmão
mais velho. Até mesmo Rafael se diverte em ver o pai tratá-los
como se ainda fossem crianças e não adolescentes. Defendendo a
ruivinha espevitada, como se fosse um ser inocente e celestial.
Meu lindo marido não poderia estar mais enganado.
— Está certo então, vou deixar a Nina em paz. Inclusive vou
deixar que ela marque o cinema, ou o que quer que estivesse
combinando com o colega idiota dela.
Um, dois, três...
— Como é que é?
Em ação o pai ciumento, o cão de guarda.
— Ele está mentindo, papai, eu...
— Mentindo? A única que está mentindo aqui é você, ruiva do
mal. E é isso mesmo que o senhor está ouvindo, a santinha aqui
estava marcando de sair com um pivete e por isso tomei o telefone
da mão dela, mas se soubesse que deixaria o senhor insatisfeito,
teria deixado que...
— Claro que não, Rafael. Eu não sabia que era esse o motivo,
pensei que estivesse apenas implicando com sua irmã. Você não
somente está certo, como tem minha autorização para ficar de olho
em Nina, inclusive afastar qualquer um que ouse se aproximar do
meu bebê ruivo.
— Papai, você não pode fazer isso! O Rafa já é um chato, já
pega direto no meu pé, imagine agora que tem sua permissão!
Minha vida vai se transformar num inferno!
Nessa hora tiro a vista do meu notebook, pois vai começar o
espetáculo.
Carinha manhosa, fungado, olhos lacrimejantes. Kit completo
para deixar o pai babão rendido.
Ele engole em seco, com vontade de ceder. Marco sempre fez
todas as suas vontades, assim como faz as minhas.
Ele entra numa luta ferrenha, pois sempre a tratou como uma
princesinha intocável, inclusive criou Rafael, que herdou dele tanto o
gênio, quanto as características físicas, para proteger a irmã e a
mim.
E o meu primogênito cumpre seu papel de protetor com
maestria e sequer tem ciúme com as atitudes do pai para com a
irmã, pois entende que ela é uma daminha e que precisa deste tipo
de cuidado. Muito embora não seja como o pai em achá-la inocente
e muito menos seja manipulado por Nina como Marco é.
Vejo meu marido em seu dilema. Atender a vontade da filha ou
deixar o seu ciúme falar mais alto. Claro que tenho um palpite, mas
ficarei calada apenas esperando que o gelo dele derreta ainda mais,
se é que ainda tenha algo a ser derretido. Sei que a imprensa ainda
o trata como implacável, frio e insensível, mas não poderiam estar
mais enganados. Pelo menos não no que se refere a nossa família.
E acompanho o momento exato em que ele decide.
Acompanho o momento exato em que toma a decisão.
Ele baixa os olhos, pois não conseguiria dizer não à filha
olhando para ela. Não conseguiria ver a mágoa em seu olhar.
— Rafael, você tem a minha autorização para cuidar da sua
irmã e principalmente o meu aval para manter todo e qualquer
engraçadinho longe dela.
Nina parece não acreditar que seu pai não cedeu à sua
chantagenzinha barata, que somente engana Marco, pois eu e seu
irmão sabemos muito bem do que a ruivinha é capaz.
Ela bufa e sai em direção à escada, batendo os pés. Rafael vai
para a cozinha com um sorriso nos lábios, pois agora sabe que
pode fazer o que adora, que é pentelhar a irmã e ainda tem o aval
do pai.
Espero estarmos sozinhos e olho novamente para o grande
Marco Mancini, que nem de longe lembra o multimilionário temido
no mundo empresarial. Neste momento ele tão somente parece um
garoto perdido.
Triste por não ter cedido aos desejos de Nina, abalado por
saber que a deixou chateada.
— Será que Nina um dia vai me perdoar?
Olho para ele e não acredito que tenha feito esta pergunta.
Levanto e então me aproximo dele.
Porque Marco precisa de um abraço. Porque, mesmo depois
de tantos anos, não consigo manter minhas mãos longe dele por
muito tempo.
Envolvo-o em meus braços. Garanto o contato que tanto
gostamos.
— Marco, claro que ela vai te perdoar. Inclusive você dirá
ainda muitos outros nãos e ela ficará chateada novamente. É assim.
Toda a adolescência será assim. Essa gangorra entre amor e ódio
entre pais e filhos.
Ele me olha assustado, e se eu pensava que minhas palavras
iriam acalmá-lo, estava muito enganada.
— Mas não precisa me olhar com esta cara, ainda daremos
boas risadas de tudo isso.
Marco me olha esperançoso e diz:
— E quando isso acontecerá, sábia mãe?
— Ora, quando os dois estiverem casados e com filhos!
Ele fecha a cara. De vez.
Como se não suportasse o assunto. Como se essa mera
possibilidade lhe fizesse mal.
Resolvo provocá-lo mais um pouco.
— Sei que sua preocupação não parece ser com Rafael,
mesmo porque ele é muito centrado e maduro para a idade. Parece
que Nina é o motivo dessa sua expressão.
— Porra, Maya, ela é o meu bebê!
Resolvo perturbá-lo. Apenas mais um pouco.
— Pois reze, Marco, para que ela não encontre em seu
caminho um empresário frio, que proponha um acordo indecente e
que não tenha uma boa intenção sequer para com ela. Que
somente queira sexo e que jamais pense em levá-la a sério.
Começo a falar e ele se assombra, até se revolta que alguém
seja capaz de agir assim com nossa menina. Depois a ficha cai e
percebe que tudo o que disse apenas retrata o começo da nossa
história.
— Será que a justiça divina realmente existe e que pagarei por
tudo que aprontei com você? Será que a vida me deu uma filha, tão
parecida com você, para eu amar, adorar e pagar por todos os meus
pecados?
Na voz um desespero que me causa pena, mas também uma
vontade insana de rir, pois o Marco de hoje é o oposto de quem já
foi um dia.
Um homem de família. Dedicado, pai exemplar, marido
totalmente apaixonado.
— Marco, está além de nossas forças imaginar o que a vida
guarda para Nina e para Rafael. Somente nos resta ensinar, orientar
e amá-los por todo o caminho.
Ele parece conformado, mesmo que ainda não esteja aliviado.
— E ademais, não tenho do que reclamar. O que passamos
juntos nos trouxe até aqui. O contrato e tudo mais foi o começo da
nossa história de amor.
— Queria ter feito diferente. Outras escolhas, ter percebido
antes o quanto eu te amava e que apenas queria você e que queria
para sempre.
Sempre que pode ele mostra arrependimento da pessoa que
foi, do início de tudo que vivemos.
— Não adianta lamentarmos pelo que passou, não adianta
querermos mudar nosso passado. Nossa história é como é. Trouxe
choro, dor e sofrimento. Assim foi com a gente e assim também
acontece com tantos e tantos casais. Mas tudo isso tinha um
propósito maior, tudo isso era o começo da nossa linda história. Que
poderia ser mudada em tantas e tantas coisas, mas é perfeita como
é. Com o descobrimento do nosso sentimento, com nosso
amadurecimento e com nosso sim, que foi o início do nosso para
sempre. Apaixonei-me pelo homem que foi, mesmo que não
merecesse, e a cada dia que passa amo ainda mais o homem que
você é hoje. E digo, com toda certeza do meu coração: amarei por
todo o tempo que respirar.
Ele se emociona, pois foi nisso que o grande iceberg se
transformou. Um homem que ama, que chora e que demonstra tudo
que sente por mim e por nossos filhos.
— Eu te amo, Maya, e sou grato por você ter entrado na minha
vida. Para virá-la de cabeça para baixo, para dar-lhe sentido e para
fazer de mim um homem melhor. Para fazer de mim o homem mais
feliz do mundo. Um homem que mudou, que aprende e que busca
melhorar a cada dia. Que é pai e que certamente ama seus filhos
acima de tudo. E que sabe que ainda tem muito o que aprender,
assim como acabou de perceber que não terá dias fáceis nesta
nova fase da vida de Nina e Rafael.
Ele faz uma pausa, pois o Marco de hoje sente e se emociona.
O Marco de hoje é o príncipe que toda mulher sonha e deseja.
— Mas sabe também que jamais estará sozinho e que ao seu
lado terá a mulher mais especial, a mais bela e a mais sábia. A
mulher que o apoiará, o guiará. Que ensinará e que aprenderá. A
sua ruiva. O seu único e verdadeiro amor.
Emociono-me, as lágrimas molham meus olhos.
Pois as lembranças são muitas. De um tempo ruim, um tempo
que ficou no passado. Também há memórias boas, memórias lindas
e especiais. Há também uma família que não é perfeita, mas é muito
mais do que alguém que nunca possuiu uma, merece.
Uma vida e uma história abençoada.
Escrevendo, que é algo que amo. Dedicando-me a causas
sociais voltadas para crianças órfãs.
E tendo ao meu lado o meu porto seguro. Pai dos meus filhos
tão amados.
Um homem que outrora foi de gelo e que hoje tão somente é
de carne, osso e coração.
O mocinho perfeito, que idealizava nos livros que escrevia e
que hoje está ao meu lado.
Apoiando-me. Amando-me.
Sendo o príncipe da minha vida real.
Sendo todo o amor do meu coração.

FIM
CONHEÇA OS OUTROS TRABALHOS DA
AUTORA

Depois de tudo...amor
Mariana sonha com um amor impossível!
Menina humilde, trabalha há algum tempo na casa de
abastados e influentes advogados da capital paulista. Mesmo sem
qualquer esperança, alimentou por anos uma paixão platônica pelo
filho de seus patrões, o herdeiro e sucessor do legado Andrade.
Percebendo ser em vão este sentimento, resolve mudar
atitudes e comportamentos. Após anos de dor e sofrimento, resolve
seguir em frente.
Leonardo é o típico cafajeste. Libertino, jamais se apega. Muito
ligado a aparência e status, descrente no amor e no casamento.
Não quer compromisso e está sempre rodeado de lindas mulheres
de sua classe social.
Mesmo com toda a vida desregrada que leva, tem na doce
Mariana, seu ponto fraco. Seu limite absoluto.
No decorrer do livro percebemos o crescimento e o
afastamento de Mariana e como isto afeta e desestabiliza o
inveterado mulherengo. Como a distância imposta por nossa
protagonista, abala tão afamado pegador.
Neste embate entre amor, simplicidade, dinheiro e poder, qual
lado sairá vencedor?
Totalmente Seu
Alice não aguenta mais viver um casamento de aparências.
Não suporta saber que não faz parte da vida de seu esposo, saber
que com o tempo, o sucesso e o dinheiro, ela foi ficando para trás. É
nítido como ela e as crianças ficaram em segundo plano na vida de
Paulo.
Ela percebe que há sentimento, carinho, mas sente que para
Paulo isso não é suficiente. É visível a necessidade que ele tem de
ir além, de ir sozinho em busca de algo que talvez nem ele saiba o
que é. O coração dela sangra por saber que não bastam para ele,
sofre porque sabe que não pode e nem merece continuar assim. Em
algum momento se perderam pelo caminho. Infelizmente o cansaço
pela situação imutável a domina. Jamais tentará concorrer com o
glamour e a ostentação da vida que aparentemente ele tanto gosta.
Deixará Paulo livre. Sabe que não merece estar numa relação
assim. Não quer nunca mais sentir que não é o bastante para seu
próprio esposo.
Estes são os conflitos que preenchem o âmago da nossa
personagem. No decorrer do livro exporemos os sentimentos de
Paulo e veremos se serão capazes de superar os muitos obstáculos
que os impendem de alcançar a felicidade.
Completamente Dela
Flávia sempre foi tranquila em seus relacionamentos. Quando
jovem procurou viver intensamente e nunca buscou amor ou
compromisso. Gostava do novo, de sair e se divertir. Independente,
dona do próprio nariz, não deixava ninguém guiar seus passos e a
forma como vivia suas relações favorecia ainda mais essa faceta de
sua personalidade.
Dizer que ficou feliz em conhecer alguém tão parecido com ela
não reflete tudo o que sentiu ao conhecer Ricardo. Colegas desde o
curso de marketing, trabalham desde formados na mesma empresa
de publicidade, que hoje é responsável pela maior fatia deste tipo de
mercado no país.
Toda essa convivência com Ricardo criou uma cumplicidade e
intimidade que evoluiu rapidamente para os dois rolando na mesma
cama. Sexo sem compromisso, oportunidade de variedade e
ausência de cobranças. Esta situação era a realização dos seus
sonhos, era a certeza de continuar com o estilo de vida que sempre
prezou.
Com o passar dos anos tudo isso passou a ser insuficiente. A
vontade de estar com outros acabou e o estilo de vida de Ricardo,
que sempre foi perfeito para Flávia, passou a ser fonte de dor e
sofrimento. Flávia se apaixonou, viu-se amando alguém averso a
relacionamentos, um solteiro convicto e um cafajeste assumido.
Sabendo que ele jamais se comprometeria com ela, desfez a
relação aberta que tinham e a partir de então tenta juntar os cacos,
tenta reconstruir sua vida.
Percebeu que esse estilo de vida não lhe era mais suficiente.
Percebeu que queria amor, não queria mais viver ilusões
passageiras.
Precisava então se afastar de Ricardo e seguir em frente.
Precisava ser forte e tentar esquecer esse sentimento que habitava
todo o seu ser.
O CEO e a Loba Má
Essa história não terá nenhum final que não seja Álvaro aos
meus pés. Que não seja nós dois juntos como tem que ser.
Nunca entro numa batalha para perder. Tudo o que quero
consigo. E eu o quero. Deus como eu o quero!
Lindo, gostoso, safado e mulherengo. Nunca quis
compromisso, não promete fidelidade e muito menos deseja largar a
vida de libertinagem.
Quer a mim como a tantas outras, sem vínculo e sem
cobranças. E me tem. Arrebatada e entregue. Com um amor no
peito maior do que se é capaz de mensurar. Mas com muito orgulho,
força de vontade e sabedoria para fazer esse cafajeste ser meu e de
mais nenhuma outra.
Não jogarei limpo, não me dobrarei. Passarei por cima de tudo
e de todas como um rolo compressor.
Essa sou eu, Mirela.
E esta é história onde transformo um CEO inalcançável em um
cordeirinho apaixonado. Onde transformo um homem de baladas
em um cara de família.
Este é meu conto de fadas às avessas, mas certamente com
um final feliz.
Acompanhem e conheçam o meu para sempre.
O CEO e um conto de fadas moderno
Esta história contém quase todos os elementos de um conto
de fadas: uma madrasta má, uma bela princesa e um príncipe
encantado.
Mas como tudo se passa na nossa época, pequenas
diferenças se fazem presentes.
A bela princesa não consegue manter a inocência dos antigos
contos, a madrasta não é apenas má, ela é além e o príncipe foi
corrompido pelo universo de bebidas, farras e belas mulheres.
Então seria errado tal designação? Certamente não.
Clara, nossa linda princesa, perderá sua inocência com todos
os dissabores vividos, a madrasta má pagará por suas crueldades e
o príncipe, quando se descobrir apaixonado, fará tudo que estiver ao
seu alcance para viver o seu felizes para sempre.
Haverá muita intriga, inveja e injustiças.
Mas haverá muito amor, romance e redenção.
Apaixone-se por Marcelo, odeie com todas as forças a
malvada Virgínia e lute junto com Clara por seu grande amor e por
sua afirmação pessoal.
Esteja pronto para viver intensamente esta história, que
representa a pureza do amor verdadeiro e a certeza de que com
força de vontade e fé, dias melhores sempre virão.
A Proposta do Bilionário
Melissa Lacerda tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas o
que ela mais deseja não está à venda.
Lucius Martins pode comprar qualquer coisa, mas o seu
dinheiro e poder não são capazes de evitar algo que ele mais
abomina: compromisso.
Ela sempre o quis para si, mas jamais achou que pudesse
competir com as festas e toda a luxúria em que ele estava
envolvido.
Ele sempre percebeu sua devoção, mas sabia que ela não se
encaixava no seu mundo de devassidão.
Infelizmente o destino não pensava desta forma.
Infelizmente para garantir a solidez de sua empresa, ele
precisaria fazer a proposta.

Poderia Melissa achar que um libertino como ele seria capaz


de sossegar?
Poderia Lucius imaginar que continuaria com toda a sua
depravação, mesmo depois de fazer a proposta?
Muitas emoções, risos e choro.
Muito amor-próprio, redenção e sentimento.

Convido vocês a conhecerem A Proposta do Bilionário.


Proibida para Rafael
Sempre amarei Mia, e isso é um fato. Embora jamais possa
fazê-la minha e ficarmos juntos nunca será uma opção.
Apaixonei-me talvez ao primeiro olhar, quando ela era apenas
um bebê e eu um garotinho de dois anos. Somente ser apaixonado
desde sempre justifica uma vida em função dela e para ela.
Cuidando e protegendo de tudo e de qualquer coisa que pudesse
tirar o sorriso de sua face.
Minha Mia, como o garotinho sempre a chamou, mas como o
homem feito jamais poderá fazê-lo, por termos sido criados para
sermos irmãos, por jamais ser aceitável qualquer envolvimento entre
nós.
Fui estudar longe, o mais distante que consegui. Para tentar
sufocar o amor, para tentar enganar-me com outras bocas, com
outros corpos. Mas quis o destino que ela viesse morar comigo, e
que toda a distância que impus por dois anos e toda a quase
normalidade que consegui dar à minha vida, fosse jogada ao vento,
pois apenas olhá-la, logo na chegada, mostra-me que nada mudou,
mostra-me que ainda a amo.
E não ajuda saber que sou correspondido, que o coração de
Mia também bate por mim.
Serei eu capaz de sufocar tanto sentimento? Será Mia capaz
de esquecer seu amor, seu primeiro beijo?
A Noviça e o Jogador
Gustavo Leão é um sobrevivente.
Órfão de uma mãe viva, desde muito cedo teve que conviver
com o alcoolismo do pai, que não foi forte o suficiente para superar
a partida da esposa.
O garoto franzino viu então no futebol uma válvula de escape
para enfrentar seus problemas, além de enxergar no esporte a única
oportunidade para fugir da sua dolorosa realidade.
Aplicado nos treinos e com um talento extraordinário, Guto
Leão logo caiu nas graças do empresário Vicente Mello, o que foi
um divisor de águas na vida desta jovem promessa do futebol
brasileiro.
Infelizmente não foi cedo o suficiente para custear um
tratamento adequado para o pai, que acabou falecendo de cirrose
antes de ver o grande jogador que o filho se tornaria.
Condoído com a situação de Guto, Vicente foi para ele mais do
que um empresário, foi talvez um pai, cuidando do garoto desde
então.
Mas o empresário também tinha um passado trágico, tinha
perdido sua esposa em um acidente de trânsito, deixando-o
totalmente desnorteado, não tendo sido sequer capaz de cuidar de
sua única filha, que ficou aos cuidados da tia, uma religiosa que não
hesitou em levar a criança de seis anos para o convento que dirigia.
Anos depois um ataque fulminante ceifou a vida da madre,
deixando a garota novamente sem uma figura materna. Clarisse,
agora com 20 anos, não viu como continuar no convento sem a
presença de sua amada tia Fernanda.
Mesmo lhe sendo muito doloroso, Clarisse abdicou da única
vida que conhecia e foi morar com seu pai, na mesma casa que o
devasso e mulherengo Gustavo.
Poderia uma ex-noviça, totalmente inocente, resistir a tão lindo
jogador?
Poderia um jogador, sabidamente cafajeste, apaixonar-se por
alguém com crenças e valores tão diferentes dos seus?
O Filho Desconhecido do Sertanejo
O medo de ser obrigada a interromper minha gravidez levou-
me para longe do homem que amava. A mera possibilidade do
aborto afastou-me da única realidade que conhecia.
Sem dinheiro, sem estudo e grávida. Felizmente acolhida por
uma tia até então desconhecida, felizmente sendo capaz de gerar o
meu filho.
E valeu a pena. Meu Levi valeu todo o meu esforço, tudo que
abdiquei. Valeu inclusive o esforço de abandonar João Miguel.
Jamais esperei que o homem que amava fosse capaz de
sugerir tamanha atrocidade, jamais achei que o cantor sertanejo,
que teve meu coração desde sempre, fosse capaz de pronunciar
tais palavras.
Por isso fugi, escondi-me. Ocultei a existência de Levi e tudo
estava indo bem, na medida do possível.
Até que uma coincidência infeliz forçou-me a ficar frente a
frente com João Miguel.
Até que sua ira indomável e seu desejo de vingança fosse
capaz de nos colocar novamente sob o mesmo teto.
Como resistir a tanto amor?
Como aceitar todo o sofrimento que me é infligido?
Como esquecer tudo que ele é capaz de fazer?
Penso que estou condenada a esta realidade. Penso que não
há mais chance alguma para nós.
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