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Copyright © 2023, Joane Silva

Silva, Joane

MINHA MELHOR AMIGA E A FILHA QUE ESQUECI

1ª Ed.

Brasília - DF, 2023

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua

Portuguesa. Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de

qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive

por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da

internet, sem permissão de seu editor.


A violação de direitos autorais é crime previsto na lei nº.

9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares


e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,

qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera

coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora.


 

O primeiro amor deixa marcas para a vida inteira. 

Nicholas Sparks

 
 
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Epílogo
 

Após sofrer um acidente em campo, o famoso jogador de

futebol acorda de um coma que durou quase dois anos. Ele espera
encontrar seu apartamento de luxo, bebidas e mulheres dispostas

na sua cama, afinal, essa tem sido sua vida desde que o talento nos

gramados o fez mundialmente famoso e milionário. Mas a realidade


que o aguarda é totalmente oposta, então o atleta percebe que

talvez tenha perdido algo essencial nos últimos dois anos.


Não há luxo, não há Marias-chuteiras ou bebidas,

sobretudo, não existe mais aquela velha garota que tanto irritava
quanto o fascinava.

Sua vizinha de uma vida inteira. Sua pirralha e sua

melhor amiga. De repente, a pessoa mais familiar da sua vida passa

a agir como se não fossem íntimos, com tanta frieza que o faz sofrer
e se perguntar em que momento a perdeu.

Na última vez em que a viu, Lara estava na

arquibancada, torcendo como uma fã louca. Agora sua garota tem


uma filha e ele não faz ideia de como isso aconteceu, assim como

não entende por que sente tanto incômodo ao pensar nela com

outro homem.

Calebe sabe que perdeu muitas coisas importantes, mas

nada que se compare a perda da outra metade da sua alma. Sua

missão agora é fazer com que tudo volte a ser como antes, embora
não consiga lidar com a bebê fofa que despertou seu amor e instinto

de proteção desde o primeiro instante.

Entre voltar a viver e tentar entender o que aconteceu

enquanto estava em coma, Calebe descobrirá que sua melhor


amiga não era apenas amiga, que o pai da sua bebê é a última
pessoa que ele poderia imaginar.
 

CALEBE
Mesmo que vinte anos tenha passado, ainda consigo

lembrar de tudo que meu pai me ensinou sobre futebol. A sua voz

apaixonada ainda ressoa na minha mente e o meu coração ainda


dispara da mesma maneira de quando eu chutava uma bola na

direção do gol aos cinco anos de idade.

Aos vinte e cinco anos, sendo ovacionado por mais de

quarenta mil pessoas nas arquibancadas do estádio Mineirão, a


emoção e o sentimento de que estou no lugar certo ainda são os

mesmos de tantos anos atrás.

Valorizo os torcedores, pessoas conhecidas e as


desconhecidas que vêm vibrar pelo time, mas com certeza aprecio

sentir a torcida daqueles que são especiais para mim.

Tão perto do campo quanto é possível, vejo os rostos


alegres da minha família e dos meus amigos. Meu pai e minha mãe.

Minha irmã mais nova e uma das maiores apoiadoras. Lúcio, o meu

melhor amigo com quem eu gostava de praticar o esporte quando


éramos crianças, embora apenas eu tenha a carreira de jogador

profissional.

Não que ele não esteja no meio. Lúcio é o meu

preparador físico e o fato de sermos melhores amigos não faz com

que o cara me dê moleza. Muito pelo contrário, por conhecer o meu

potencial e saber até onde posso ir, ele é mais exigente do que
qualquer outro no seu lugar seria, tenho certeza.

Apesar de tudo isso, apenas um rosto e um sorriso

prendem a minha atenção, enquanto vivo segundos que parecem

uma eternidade antes de bater o pênalti que pode definir a partida.


Pulando, gritando e sorrindo como se tivesse toda energia do
mundo dentro de si, Lara me tem na palma de sua mão.

Houve um tempo em que ela era apenas uma pedra

incômoda no meu sapato. Uma pirralha muito mais jovem do que

eu, que me irritava pela sua incapacidade de entender que eu não

queria ter uma criança no meu pé o tempo todo. A garota era minha
fã antes mesmo de eu me tornar um jogador de futebol reconhecido

e famoso.

Mas o tempo passou, então Lara deixou de ser apenas

uma amiga relutante por tabela, única e exclusivamente pelo fato de

o seu irmão ser meu melhor amigo desde o colegial. Com o tempo,

acabei me acostumando com a garota, e o costume se transformou


em carinho e o carinho se transformou em desejo.

A questão é que eu não deveria ter enxergado a

irmãzinha do meu melhor amigo e também melhor amiga da minha

irmã com outros olhos. Acima de tudo, não deveria ter percebido
que ela também me queria e não deveria ter feito algo a respeito.

Mas fiz muita coisa a respeito. E enquanto tento me

concentrar para não decepcionar o time, ela e minha família,

também tento conter a excitação, porque o fato de a ter torcendo por


mim e de saber que comemorarei dentro da sua boceta mais tarde

me deixam de pau duro.

Ao desviar a atenção da minha gatinha, concentro-me no

goleiro, respiro fundo e então tudo o que não seja eu, a bola e o gol
deixa de existir. O estádio inteiro fica em silêncio quando o juiz apita,

eu puxo a respiração profunda e chuto direto no canto do gol.

Os gritos de comemoração vindo de milhares de pessoas

enchem os meus ouvidos e meu coração fica disparado no peito.


Corro pelo campo para comemorar e sou abraçado pelos meus
companheiros de time. Quando eles se afastam, olho novamente

para onde minha família está e jogo uma piscadinha para a minha
garota.

Sei que no momento estou colocando nosso segredo em

risco, mas não consigo me importar, não agora. Talvez realmente


esteja passando da hora de as nossas famílias saberem que
estamos juntos.

Lúcio trata a irmã como se ela fosse um cristal altamente


quebrável e presenciei a forma como ele começou a afastar os

garotos dela a partir do momento em que passou de criança para


adolescente. Eu até mesmo ajudei na missão de a proteger de
babacas que só queriam se aproveitar e roubar sua virgindade, mas

aqui estou eu: sendo atingido pela sua proteção desmedida,


sentindo na pele o que é não ter liberdade para ficar com o que me

pertence quando e como eu quiser.

É claro que ele terá todos os motivos do mundo para

surtar quando souber, principalmente considerando quem sou eu,


mas não estou disposto a ceder por ninguém. Estou gostando de

verdade de uma garota pela primeira vez e não permitirei que a


minha profissão e a fama de garanhão que carrego atrapalhe o meu

lance.

Eu me divertia, nem metade do que as pessoas pensam,


há alguns meses, mas fiquei com Lara e não consigo mais desejar

outra além dela. Quando a bomba estourar, espero conseguir


convencer a todos de que é de verdade.

Tenho esperança de que acreditem na veracidade dos


meus sentimentos, porque tanto a minha família quanto a dela me

conhece e sabe que eu jamais a magoaria. Conheço a mim mesmo


e tenho convicção de que não teria tocado na Lara se tivesse

sentido que fugir era uma escolha possível.


Eu poderia passar horas e horas pensando nela e em
uma forma de preparar as nossas famílias para o que virá pela
frente, mas o jogo ainda não acabou e eu tenho uma missão a

cumprir.

Depois de cinco minutos de acréscimos, o juiz finalmente


apita e eu caminho para o vestiário ao lado do time.

O vestiário é sempre uma algazarra e não poderia ser

diferente com um bando de homens imaturos, incluindo eu, cheios


de dinheiro para esbanjar e muitas garotas aos seus pés. Há alguns

meses, eu estaria pronto para sair e comemorar a vitória importante


no campeonato brasileiro, mas no momento tudo o que quero é me
encontrar com a minha garota.

Minha namorada. Não costumo pensar muito nessa

palavra quando o assunto é a Lara, porque é a primeira vez que


tenho uma namorada e ainda não fiz o pedido oficial, mas não tenho

dúvidas de que é isso que somos, considerando a monogamia e o


fato de o meu pau ter uma dona.

— Calebe, conte para mim quais são os seus planos —

Kiko Mascarenhas, o zagueiro do time que está tomando banho no


chuveiro ao lado do meu, fala. — Sairá para comemorar e encontrar
uma Maria Chuteira que alivie seu pau? Ou agirá como no último
jogo, como se estivesse com uma unha encravada?

Eu não pensava no meu companheiro de time como um


babaca insuportável, mas depois que comecei a desejar outras

coisas para mim, percebi que ele não cresceu e não amadureceu
nem um pouco nos últimos anos em que estamos jogando no
mesmo time.

A vida do Kiko ainda se resume as festas, bebidas e

todas as bocetas que ele conseguir comer. Eu também era um

pouco assim antes da boceta que me colocou na coleira, mas

rapidamente a vida típica de um jogador famoso de futebol passou a


não ser o suficiente. O sexo pelo sexo se tornou insosso e passei a

desejar mais.

Sempre que estou com a pirralha, que antes de me dar a

virgindade era minha melhor amiga, sinto que estou onde gostaria e
deveria estar.

Embora exista uma diferença de sete anos entre as

nossas idades, nos entendemos perfeitamente bem. Ela é doce,


quente e divertida. Lara Molina é minha.
— Hoje não vai rolar, cara — digo. Prefiro cortar as

expectativas de uma vez.

— Essa sua TPM está durando tempo demais. Eu e os

caras estamos começando acreditar que nasceu uma boceta entre

as suas pernas — o idiota fala e o resto da galera começa a

debochar de mim.

Estou acostumado com cada um deles e sei lidar com

provocações. Às vezes me sinto disposto o suficiente para devolver

na mesma moeda, mas hoje não é uma dessas ocasiões. Estou


feliz, pois poderei passar um tempo com a minha mulher até

precisarmos nos separar novamente e nada azedará meu humor.

— Eu sugiro que você vá se foder, Kiko. Aliás, vão todos

vocês.

  A algazarra infantil continua por mais um tempo, eu

simplesmente desligo os meus pensamentos e finjo que estou

sozinho no banho. Alguns minutos depois, realmente fico sozinho e

respiro aliviado por poder tomar meu banho em paz. Apesar de os


caras terem liberdade para tirarem onda com a minha cara, eles

sabem que tenho um limite e nunca ultrapassam.


Eles estão certos. Quem seria idiota o suficiente para

irritar a estrela do time?

Não me envergonho de ser presunçoso e, sempre que

posso, aproveito os benefícios de ser indispensável para a equipe.

De costas para a porta, tenciono o meu corpo por inteiro

quando braços circulam minha cintura e sou abraçado por trás. Mas

a tensão se esvai quando giro o corpo e vejo a minha garota, que é

muito mais baixa do que eu, sorrindo para mim.

Ela não precisa fazer nada além de sorrir e me abraçar

para que meu pau fique mais duro do que uma barra de ferro. Lara é

perfeita e nunca tive uma chance contra ela.

Lembro-me perfeitamente de como tentei resistir a ideia


de sentir-me atraído pela irmãzinha do meu melhor amigo. Porra!

Ela era a minha melhor e única amiga do sexo feminino, mas eu

deveria ter imaginado que não conseguiria me manter imune a sua


beleza. Fui ingênuo de pensar que poderia manter tudo entre a

gente platônico.

 Confesso que levei vários meses para convencer-me de

que não estava fazendo nada de errado, mas só aceitei o fato de ter
sucumbido a atração quando fizemos sexo pela primeira vez.
Faz muito tempo que sou experiente e transei com tantas

mulheres que não poderia contar nos dedos. Então tirei sua
virgindade, e no momento em que a tive em meus braços pela

primeira vez me senti tão completamente feliz que pareceu que

também era a primeira vez que eu estava entrando em contato com


uma boceta. A nossa química era perfeita como amigos, mas ela é

indescritível quando somos um casal de namorados.

— O que você está fazendo aqui, pequena? — pergunto

preocupado, ao olhar por cima do seu ombro.

Embora não tenha mais ninguém no vestiário, Lara ainda

poderia ficar encrencada de outras maneiras. Sempre há fotógrafos

e repórteres procurando um furo de notícia, ou em busca de um

escândalo, mas prefiro acreditar que minha garota já sabe como


despistar todos eles.

— Imaginei que você estivesse com vontade de me ver.

— Ela faz biquinho com a boca rosada e não resisto a dar uma

mordida no seu lábio inferior carnudo.

— Eu sempre quero te ver, pequena. Mas também tenho

medo de que você tenha problemas, caso alguém te pegue comigo

no vestiário — digo, ao desligar o chuveiro. Ela pode até não estar


preocupada, mas eu estou. Não quero que se molhe e depois fique

doente.

Embora julgue o Lúcio, sempre fui muito protetor com a

Lara. Quando ela era criança, e não faz tanto tempo assim, pensei
que estava a tratando da mesma forma que tratava minha irmã que

tem a sua idade, mas agora vejo que nunca a enxerguei como uma

irmã.

Ela era uma amiga esquisita que estava sempre correndo


atrás de mim quando não tinha idade nem mesmo para amarrar os

próprios cadarços. Agora estamos aqui: loucos um pelo outro.

— Adoro te sentir quando está assim.

— Assim como? — Eu pergunto, ao arquear a


sobrancelha. Sei a que ela se refere, mas gosto de provocá-la e ver

o quanto suas bochechas ficam vermelhas por causa da timidez.

Embora seja uma pessoa introvertida na maior parte do

tempo, minha namorada se sente à vontade comigo e isso se


estende ao quarto. Nossa vida sexual começou há pouco tempo,

mas temos a intimidade de um casal que está junto há anos.

— Molhado, quente e gostoso — diz, ao ficar na ponta


dos pés e oferecer a boca para um beijo.
  Aceito a oferta imediatamente, ao envolver sua cintura

com o braço e agarrar um dos lados da sua bunda com a mão livre.
O beijo que trocamos é voraz desde o primeiro instante, quando sua

língua procura a minha, e dou exatamente o que está buscando.

Meu corpo todo se enche de energia e de tesão quando

sinto o gosto do seu beijo e o cheiro doce do seu perfume do qual


nunca enjoo. Lembro de todos os nossos momentos de prazer com

cheiro de doçura e de rosas. Sou viciado no seu cheiro e em tudo a

seu respeito.

— Eu estou louco para te comer agora … — declaro


contra sua boca, quando termino nosso beijo e desço os lábios para

o seu pescoço.

  Lara se contorce de prazer nos meus braços e aperta

uma perna na outra para aliviar o tesão. Ela é muito receptiva a


mim, e qualquer toque, por mais inocente que seja, a deixa pronta

para montar no meu pau.

— Vim aqui para isso. Nunca transamos no vestiário —


minha namorada fala com tranquilidade e olhando dentro dos meus

olhos, como se fosse uma mulher experiente e acostumada a agir


como as Marias-chuteiras que invadem vestiários e distribuem
boquetes.

— Não tenho camisinha — aviso, mas meu pau já está

mais do que pronto para entrar em ação. Tenho certeza de que está

o sentindo contra sua barriga plana.

— Você pode gozar fora.

Caralho! Como posso resistir com essa gostosa

implorando desse jeito?

Não é uma gostosa qualquer. É a minha namorada


gostosa.

O fato de ela confiar em mim para fazer essa proposta

me deixa ainda mais impossibilitado de negar.

— Lara…

— Me come, Calebe. Eu tenho certeza de que nenhum


dos seus amigos pensaria duas vezes para aceitar a proposta.

Assim que Lara termina de falar o absurdo, desço a mão


sobre a sua bunda com um tapa seco e um gritinho agudo escapa

da sua boca.
Lara não está errada. Que homem seria maluco o
suficiente para rejeitar uma loira linda com os olhos da cor do céu e
corpo escultural como ela? Essa garota tentaria até mesmo um

monge.

— O tapa doeu, seu brutamonte!

— Foi para você aprender a não brincar com o perigo


dessa forma. Sou um homem muito civilizado, pequena, mas eu

foderia a vida de qualquer um que ousasse te tocar. Você é minha.

— Então faça o seu trabalho de namorado e me coma —


insiste, mas não era necessário, porque não existe a menor

possibilidade de eu não trepar com essa mulher no chuveiro.

Não é essa a fantasia que me persegue há meses?

— Parece que alguém aqui estava morrendo de saudade


— falo, ao abaixar a cabeça e mais uma vez beijar seu pescoço.

— Mais especificamente, duas semanas de saudade,

tendo que me contentar com os meus dedos e sonhos eróticos.

— Então, que bom que estou aqui, amor — rebato.

 As palavras fazem os seus olhos brilharem, porque nós


dois sabemos que é a primeira vez que a chamo de amor. A
vontade surgiu de repente e eu não quis ignorar.

Deixando-a ainda mais louca de desejo, beijo sua boca

até que os lábios fiquem avermelhados e sensíveis. Beijo até


escorregar dois dedos para dentro da sua boceta e sentir que está
completamente encharcada e pronta para mim. Então me dou ao

trabalho de somente afastar a sua calcinha minúscula para o lado,


segurar meu pau e meter na sua boceta profundamente e até o final.

  Quando Lara ofega, empurro suas costas contra a


parede, enrolo as suas pernas macias nos meus quadris e penetro-a

sem pausa, porque não estamos no lugar ideal para preliminares e


sexo carinhoso. Além do mais, tenho certeza de que minha
namorada não veio até aqui para fazer amor.

— Como eu estava com saudade do seu pau…

— Porra, eu também estava, bebê... Tanta saudade que


não conseguia mais me segurar. Mais um dia e eu teria jogado tudo
para o alto. Teria pegado o primeiro voo para casa só para te

encontrar.

Foram duas semanas sem conseguir colocar os olhos em


cima da minha garota. Duas semanas jogando fora de casa e
tentando não pensar nela para não perder a concentração ou ter um
baixo desempenho em campo.

— Que bocetinha apertada e gostosa que você tem…


quero morar aqui para sempre — declaro, enquanto meto sem parar

e a beijo com voracidade, como se quisesse roubar seu coração e a


sua alma para mim.

Se eu tivesse a sua alma e o seu coração, nós nunca


precisaríamos ficar tanto tempo longe um do outro.

  Eu amo ser jogador de futebol profissional e sinto que


nasci para isso, mas, desde que me apaixonei, comecei a me
ressentir do fato de precisar estar sempre viajando pelo país. Está

sendo mais difícil ficar longe da minha família e principalmente da


minha mulher.

Sinto tanto a sua falta.

Nosso relacionamento à distância enfrenta várias

barreiras que quase sempre não conseguimos controlar ou transpor,


mas estamos bem. Nós sempre ficamos bem, porque a necessidade
de estarmos juntos supera qualquer obstáculo.

Ao lado dessa mulher, me sinto invencível.


 Tenho esperança de que em breve as coisas ficarão mais

calmas na minha carreira e então terei mais tempo para investir no


meu relacionamento. Estou disposto a conversar com as nossas
famílias para contar que estamos juntos, então a sensação de que

algo pode nos separar a qualquer momento irá embora.

  — Mais forte, lindo… — implora, e então atendo seu

pedido, porque faço tudo por ela e por nós.

Eu não sabia o que estava procurando esse tempo todo,

mas agora que a encontrei, não consigo mais imaginar uma vida
feliz sem que seja ao seu lado. Não sou o mesmo sem Lara Molina.

Minha inspiração.

Meu amor.
 

LARA

DOIS ANOS DEPOIS


Trabalho no CaravelasBar de segunda a sexta-feira, das
oito da manhã às duas e meia da tarde como garçonete, e às vezes

como atendente no balcão de clientes. Tudo o que eu mais queria


era não ter que vir até aqui fora do meu horário de trabalho, mas

nem sempre a vida me dá escolhas.


  Além de servir bebidas, o Caravelas também vende

marmitas na hora do almoço. Não teria sido a minha primeira opção,


mas estou na semana de provas finais e não tive tempo para

preparar meu próprio almoço.

Entre ficar com fome e perder tempo preparando a minha

própria refeição, optei pela saída mais fácil e vim até aqui para
buscar uma marmita. Quando entro no bar e sou cumprimentada por

uma colega de trabalho, que assume meu lugar quando meu turno

termina, vem junto a sensação de que não deveria ter vindo.

— Sentiu saudade da gente, Lara? — Ranu questiona em

tom de provocação quando me aproximo do balcão e apoio o braço

na bancada.

— Sim, da mesma forma que sinto saudades de uma

câimbra — devolvo, e a garota gargalha.

— O que você está fazendo aqui? — Indaga.

— Faça uma marmita, por favor? Preciso estudar para as

provas finais e não tive tempo para preparar meu próprio almoço —

explico.

A garota sorri para mim e se afasta para fazer o que pedi.


Ela pensa que somos amigas e não penso que não somos na maior
parte do tempo. Então lembro de que não é verdade, porque ela não
sabe nada a meu respeito. Ninguém nesta cidade sabe.

Eu deveria ser uma jovem de vinte anos com nenhuma

preocupação além de me formar, mas a minha vida não poderia ser

mais difícil e complicada do que já é.

Depois de ter sido levada a abandonar o curso no ano

passado, voltei para a faculdade e estou concluindo o segundo

semestre agora, mas no momento gostaria de estar em outro lugar.

Em uma cidade pequena, que fica a duas horas daqui, junto com as

pessoas que amo e onde não me sentiria tão sozinha e infeliz.

  Hoje não estou bem e meu único consolo é saber que

daqui algumas semanas o semestre terminará e então poderei voltar

para casa para ficar por pelo menos dois meses.

Odeio sentir pena de mim mesma, mas faz muito tempo

que não consigo evitar o sentimento. Tudo começou quando tive

meu coração partido em milhões de pedacinhos.

Como não sentir pena de mim mesma quando tenho meu

fracasso sendo jogado na minha cara todos os dias da pior forma

possível?
— Aqui está sua marmita. Coloquei bastante molho,

porque sei que você adora.

— Obrigada, Ranu. Você é o máximo — elogio e ela sorri

com sinceridade para mim.

Essa garota faz com que eu me sinta culpada por não

retribuir a amizade que tem por mim da mesma forma. Esforço-me,


mas não consigo retribuir, provavelmente porque dentro de mim não

existe mais sentimentos bons que eu possa dar a alguém.

  Sinto como se eu estivesse me esgotado, como se

minha alma fosse um poço escuro e sem fundo.

Antes que eu tenha a chance de ir embora, observo em

volta por um momento e percebo que há uma movimentação


estranha hoje. Está mais movimentado do que vejo da calçada,

quando passo aqui na frente todos os sábados a caminho do


supermercado.

Também noto que a TV está ligada atrás de mim e


cometo o erro de prestar atenção no que está passando na tela

grande. Todo o burburinho é por causa dele: o maior e melhor


jogador de futebol da atualidade.
 Conhecido internacionalmente e idolatrado por adultos e

crianças, o craque Calebe de Matos é apenas Calebe para mim: o


homem que eu gostaria de esquecer da mesma forma que fui

esquecida por ele.

Faz meses que ele voltou do coma e tudo o que sai a seu

respeito na mídia faz parecer que estão falando de outra pessoa. O


homem não é mencionado pelo bom futebol e seu nome é

constantemente ligado as mulheres com as quais anda transando.

É deprimente, e parece o princípio do triste fim de uma

carreira que talvez acabe precocemente se Calebe não voltar a ser


minimamente o mesmo de antes.

Mas ele não é da minha conta e faz muito tempo que


fechei meu coração para tudo que diz respeito a esse jogador.

— Ele não é um gato? — De olho na TV, Ranu comenta.

— Não faz o meu estilo — minto, viro as costas e vou

embora, antes que ela possa dizer mais alguma coisa.

Eu poderia acabar tratando Ranu mal e minha colega de

trabalho não tem culpa de nada do que aconteceu. Ela nem mesmo
imagina que o jogador e eu nos conhecemos desde sempre, que
temos mais em comum do que o fato de os nossos pais serem
vizinhos e meu irmão ser seu melhor amigo.

Depois de atravessar a rua e chegar até o prédio onde


moro, saio do elevador como se estivesse fugindo da perseguição

de um fantasma, entro em casa e desabo sobre o sofá.

 Moro em um pequeno apartamento que fica na frente do


campus. Embora trabalhe no CaravelasBar, não posso negar que

sou praticamente sustentada pela minha família, considerando que


meus pais e meu irmão se dividem para pagarem tanto o meu

aluguel quanto as mensalidades da universidade.

Mas gastar dinheiro não é nem de longe a coisa mais

importante que estão fazendo por mim.

Quando minha respiração e meu coração se acalmam,

sinto meus olhos começando a arder.

Eu queria ter aprendido a me controlar para não permitir

que ele me afetasse tanto, mas percebo imediatamente que não


evolui nada quando me vejo deitado em posição fetal no meu sofá,

chorando copiosamente.

  É em momentos como esse que percebo que não

poderia estar mais longe de me recuperar da passagem rápida dele


pela minha vida. É verdade que conheço Calebe de Matos desde
que nasci, mas lembro-me com detalhes dolorosos de quando me
olhava como se nada no mundo além de mim importasse para ele.

Foi difícil voltar a me erguer depois do baque, e embora

eu tente fingir, sinto que jamais me recuperarei por completo. Como


poderia, se existe alguém na minha vida que me faz lembrar dele
todos os dias?

Depois que as lágrimas secam, coloco minha comida

para esquentar no microondas e então almoço sozinha no sofá. Ligo

a TV para não me sentir solitária, mas desligo menos de um minuto

depois, quando me deparo novamente com seu rosto na tela. A


forma como sou obrigada a ver o rosto do homem por quem sempre

fui apaixonada ao lado de outras mulheres chega a ser cruel.

  Quando acontece me sinto vazia, mas quase sempre

engulo a tristeza e as lágrimas para seguir em frente, porque sei que


não existe nada que eu possa fazer para remediar a situação.

Nada poderá tirar de mim a sensação de perda, então

continuo olhando para frente, porque existe alguém por quem vivo,
que depende de mim e do meu amor incondicional.
Depois que termino de almoçar, tomo um banho rápido,

pego meu material no quarto e trago para a sala. Desanimada,


sento-me no tapete para começar a tarde tediosa de estudos.

Quando escolhi fazer o curso de nutrição, não passou

pela minha cabeça que encontraria matérias tão chatas e difíceis ao

mesmo tempo. Ou talvez não sejam tão ruins e eu só esteja


passando por um mau momento, que começou há mais de dois

anos e parece que nunca terá fim.

Quando o relógio marca sete horas da noite, os meus


olhos já estão cansados e as palavras começando a ficar

embaralhadas no livro. Esforço-me para aguentar mais uma hora de

leituras e anotações, mas me sinto salva pelo gongo quando ouço o

toque da campainha.

O porteiro do prédio liga no interfone para avisar quando

tem alguém na portaria querendo subir. Ele só não faz isso quando

a visitante é a minha melhor amiga. Flávia, a pessoa de quem estou

fugindo ultimamente, porque não consigo olhar para ela sem


lembrar-me do seu irmão que partiu meu coração.

Sentindo um misto de ansiedade e alegria, porque apesar

de tudo Flávia é a irmã que não tive, corro até a porta e abro-a sem
pensar duas vezes. Talvez eu me sinta melhor se conversar com

ela, embora saiba que não serei perdoada se a garota um dia

descobrir que transei com seu irmão mais velho e escondi o fato.

Mas não é a figura da minha amiga que vejo parada na


minha frente. As minhas pernas ficam fracas e sem forças. Meu

coração erra a batida e quase sai pela boca quando Calebe em

pessoa sorri para mim.

Os meus olhos se enchem de lágrimas quando, sem dizer


uma única palavra, o jogador me puxa para os seus braços e me

abraça com tanta força que posso quase ouvir o som dos meus

ossos trincando. Por um momento, meu coração se enche de


alegria e esperança.

Passa pela minha cabeça a ideia de que ele finalmente

se lembrou do que éramos um para o outro dois anos atrás, antes

do acidente. Antes de ele se esquecer completamente do quanto


estávamos apaixonados e vivendo um romance proibido.

Então o nosso abraço termina e dou espaço para que

entre na minha sala. Calebe nunca esteve aqui, mas imediatamente


fico com a sensação de que conhece o lugar melhor do que eu e

que poderia dominar todos os espaços sem fazer o mínimo esforço.


Depois de passar o olhar pela sala rapidamente, o

jogador se volta em minha direção e apenas o seu olhar é o


suficiente para esclarecer as minhas dúvidas: Calebe não veio até

aqui para dizer que se lembrou de tudo sobre a gente, porque

simplesmente não aconteceu.

Provavelmente, nunca aconteça.

  É uma pena, porque tudo isso causou uma dor que no

início pensei que não poderia suportar.

— O que você está fazendo aqui?

— Não está feliz em me ver, pequena? Pensei que


fôssemos amigos — Calebe sorri, enquanto diz a última frase. Ele

mantém a expressão de contentamento no rosto e nem ao menos

pisca.

Tudo voltou a ser como antes, quando eu não era levada


a sério e era vista apenas como uma pirralha que não saía do seu

pé.

Admito que durante a infância fui um pé no saco, mas as


coisas entre nós mudaram e me mata saber que Calebe não se

lembra.
— Nós somos amigos.

Muito mais do que amigos, sinto vontade de

complementar.

— Então, por que tenho a sensação de que está estranha


comigo? Vamos concordar com o fato de você sempre ter sido um

pouco estranha, mas esse é um nível elevado de estranheza.

— Obrigada pelo elogio — tento entrar na provocação,

mas tenho certeza de que o sorriso forçado não alcança os meus


olhos.

— Vamos falar sério agora, você precisa me dizer o que

está acontecendo. Eu passei quase dois anos em um maldito coma,

provavelmente perdendo a melhor fase da minha carreira como


jogador profissional. Então despertei e me vi rodeado de cuidados,

enquanto tentava recuperar a minha vida de antes, tantos cuidados

que chegou a ser sufocante. Agora estou bem e às vezes parece


que nada mudou, mas existe uma exceção.

— Todos que estão cuidando de você te amam e querem

te ver bem.

— Você é a única exceção — o jogador fala, como se não


tivesse me ouvido. — Logo você, que apesar de ser tão jovem,
sempre foi a única capaz de me manter entretido em uma conversa

por mais do que cinco minutos. Nunca me senti entediado ao seu


lado.

— Obrigada pelo elogio — falo, e embora tente manter a

pose de durona, sinto meu coração doendo como se mil agulhas

estivessem espetando a minha carne.

A única parte boa de estar longe de casa era poder me

esconder dele de alguma forma, mesmo que tenha me perseguido

através da mídia, porque nunca param de falar a seu respeito. Então

Calebe está na minha frente agora e tudo parece mais difícil do que
eu poderia suportar.

O pior de toda a situação é que ele nem entende. Sinto

vontade de o odiar por ter se esquecido de mim e faço em alguns

momentos, mas sempre digo a mim mesma que não é justo que o
culpe por tudo, porque o jogador não escolheu perder a memória e

esquecer-se justamente do relacionamento especial que estávamos

vivendo.

— Alguém machucou você? — Indaga, ao sentir-se à

vontade para sentar no meu sofá.


Cem por cento mais tensa do que ele, continuo em pé na
sua frente.

 Você me machucou, Calebe de Matos. Profundamente.

— A estrela do futebol realmente fez essa viagem porque

estava preocupado com os meus sentimentos? Você não precisa


perder seu tempo, Calebe. Estou bem e levando a vida universitária

da melhor maneira possível. Não sou uma responsabilidade sua.

 — Mas…

— Não sou sua irmã mais nova.

Antes de perceber que a minha paixão não era tão

platônica e não correspondida quanto imaginava, acreditava que

Calebe me tratava e enxergava como uma irmã mais nova. Embora

não tenha sido verdade nem quando eu era criança, a forma como
me trata agora faz parecer que o equívoco de antes se tornou
verdade.

— Mas é minha amiga. Você é a garota que mais me

conhece e agora está agindo como se fôssemos estranhos. Eu


preciso de você, pequena. Não imagina o quanto tenho me sentido
perdido. Estava sufocando na casa dos meus pais, então hoje
peguei o carro e comecei a dirigir sem destino certo. Quando
percebi, estava na sua porta.

Os meus pais não tiveram nenhum problema em dar meu

endereço para o Calebe. E sendo ele a estrela do futebol, o porteiro


do prédio também não achou necessário anunciar sua subida.

 Homens!

— O que você quer que eu faça?

Eu realmente não estou entendendo onde ele quer

chegar.

— Tantas coisas… Quero que você seja você e que me


conte por que está tão fria e distante de mim. Mas o que realmente

preciso agora é que me deixe te abraçar por um momento. Eu só


preciso sentir seu cheiro e o seu calor para que o meu mundo volte
ao eixo — afirma, e suas palavras formam um nó na minha

garganta.

Com os olhos ardendo, fico parada na sua frente,


ponderando sobre como devo agir. Percebendo a minha incerteza, o
jogador estende a mão e espera que eu a segure. Mesmo sentindo

que essa visita acabará comigo quando ele partir, uno nossas mãos
e caio sentada no seu colo quando sou puxada por seu braço forte.
Calebe me abraça apertado pela cintura e envolvo meus
braços no seu pescoço.

 Sua força, o calor e o cheiro do seu perfume fazem com


que eu me sinta em casa depois de muito tempo perdida. Calebe
veio em busca de consolo, mas é ele que me consola quando

enterro o rosto entre seu pescoço e ombro e começo a chorar.

Por um bom tempo, e ainda me segurando em seus


braços, Calebe me abraça. Então ele se cansa de esperar, segura
meu rosto com as duas mãos e olha dentro dos meus olhos, como

se estivesse buscando verdades ocultas.

— Vai me dizer quem te machucou?

— E você? Dirá quem te machucou? — Devolvo a


pergunta.

Confesso que estou morrendo de medo de o ouvir dizer


que está sofrendo por outra mulher.

Dói assisti-lo ao lado de outras mulheres através da mídia


e saber que está dando para elas tudo o que eu queria para mim.

Mas há um lado bom nisso, pois, quanto mais fundo o punhal for
cravado no meu coração, mais rápido me convencerei de que
terminamos e que foi para sempre.
— Foi você.

— Eu? — Questiono, surpresa.

— Estou sentindo a sua falta e quero que as coisas

voltem a ser como antes — declara, mais algumas lágrimas rolam


pelo meu rosto e ele as limpa com carinho.

— Coisas aconteceram nos últimos anos. Eu não sou a


mesma garota que você conheceu. Você também não é mais o
mesmo.

— Os meus sentimentos por você não mudaram. Eu te


amo, pequena.

É claro que Calebe me ama. Ele sempre amou e nunca


teve vergonha de falar as palavras. O problema é que quero outro

tipo de amor: o amor do qual não se lembra.

— Eu também te amo.

Amo como mulher. Como uma amiga. Amo como uma


amante e porque é o pai da minha filha.

— Então me deixe entrar novamente. Serei paciente até


que diga o que está acontecendo na sua vida para que esteja
agindo de forma tão estranha comigo, mas não feche seu coração.

Não para mim, pequena.

  Balanço a cabeça para cima e para baixo, mesmo


sabendo que talvez eu não possa fazer o que está pedindo.

Sinto que dar o que Calebe precisa me destruiria além de

qualquer conserto. Ele veio até aqui e, sem saber, está bagunçando
minha mente e coração, mas partirá em algum momento e espero
não voltar a vê-lo.

Para nós dois e nossas famílias, é melhor que seja assim.

Abraçados como se precisássemos um do outro para


respirarmos, acabamos dormindo.

Só acordo na manhã seguinte deitada sozinha no sofá.

Ao olhar em volta, o silêncio me diz que ele foi embora e fico


dividida entre me sentir triste e aliviada.

Quando meu olhar cai sobre a mesinha de centro, vejo o


pedaço de papel que não estava aqui antes e o pego em minhas

mãos.

 Obrigado por ter me recebido, pequena. Tive que sair

porque tinha uma campanha publicitária para filmar. Nos


veremos muito em breve, pois você não fugirá mais de mim.
Não permitirei.

Te amo.

  — Isso parece um desafio, astro do futebol. Mas, para

variar, as coisas não serão como você espera. Você não bagunçará
meu coração novamente — digo em voz alta, ao amassar o bilhete.
 

CALEBE
  Os meus olhos ficam ávidos na sua figura minúscula,

mas completamente gostosa e que é um colírio para os olhos.

O estádio onde o jogo acontece está com sua capacidade

máxima, mas uma única pessoa chama a minha atenção dentre

milhares.
Ela deve ter no máximo um metro e meio, e deveria ser

um crime para um homem como eu reparar e desejar o seu corpo.


Mas, o que eu poderia fazer para impedir tal reação?

  Nunca tive um tipo específico de garota. Desde que

fosse mulher e carregasse uma boceta entre as pernas, era o

suficiente para despertar meu interesse.

Então uma loira baixinha na minha frente me faz perceber

que claramente tenho um tipo específico de mulher. Meu tipo é loira,

e o topo da sua cabeça mal alcança meu peitoral. A mulher que me


atrai é magra, mas tem belos seios e uma bunda tentadora.

 O destaque com certeza fica com seu rosto. Do pescoço


elegante e delgado aos cabelos loiros, ondulados e longos, o anjo

em forma de garota é pura perfeição. Os olhos são verdes e

enormes. A boca em formato de coração é rosada e eu poderia

beijá-la até gozar e fazê-la gozar junto.

Agora estou na cara do gol, mas todos os meus

pensamentos estão voltados para a minha pequena torcedora

gostosa. Em vez de encarar a bola e o goleiro, estou focado em

babar nela: a minha loirinha com cara de anjo e corpo de feiticeira.


Porra! Eu quero meter na sua boceta muito mais do que desejo
ganhar esse campeonato.

  Meu pau está tão duro e evidente que eu poderia

desconcentrar o goleiro do time rival e marcar esse gol,

considerando que é do conhecimento de todos que o cara curte pau,

mas, mais uma vez, meu foco não está no motivo que me trouxe
aqui.

Agindo como se estivesse no meio de um surto, dou as

costas para o gol e caminho até onde a garota está pulando e

torcendo por mim, enquanto seus peitos deliciosos balançam para

cima e para baixo. A imagem das duas belezas anima meu pau e

me deixa até desnorteado.

Nunca tive tanta necessidade por uma mulher. Já transei

com meio mundo, mas essa seria foda do século. Tenho certeza, é

por isso que estou fazendo merda. Conquistar essa boceta se

tornou mais importante do que garantir o gol da vitória para o meu


time.

  Nunca houve nada que desejei e não pude ter, e a

primeira vez não será com essa garota desconhecida... jovem


demais para que eu esteja tão sedento pelo seu corpo. Ela deve ter

quanto? Dezoito anos?

  Tudo bem, o importante é que seja maior de idade e

legalmente capaz. Para minha sorte, ela será tudo isso.

Com o coração disparado e o pau sofrendo espasmos de

antecipação pelo prazer que terei em breve, quando a levar para o


vestiário, a colocar de costas para mim e comer sua boceta contra a

parede, elimino a distância entre nós.

  Quanto mais me aproximo, mais longe a garota fica e

mais ansioso meu cacete se sente. Ao finalmente chegar perto o


suficiente para tocar em uma mecha do seu cabelo sedoso e loiro,

ela desaparece diante dos meus olhos e vejo apenas uma fumaça
branca e bizarra onde deveria estar.

Desesperado, olho em volta de todo o estádio e vejo


milhares de pessoas, menos a única que eu queria ter por perto, ao
alcance das minhas mãos.

— Pequena! — Sento-me na cama completamente

suado, ofegante… e de pau duro.

— Abra a porta, cara, você esqueceu que temos treino


marcado para hoje? Não pense que irá fugir, antes disso derrubo
essa porra!

Desnorteado, levanto-me da cama e atendo meu

preparador físico e melhor amigo. Em seguida, apresso-me para o


banheiro e peço para que espere na sala até que eu tome um banho
rápido.

Ofegante e perdido como se ainda estivesse sonhando,


ligo a ducha de água fria e me masturbo com violência, ainda vendo

a imagem da garota na minha frente. Quando jatos de porra


espirram no azulejo, sinto um alívio tão grande que as minhas

pernas ficam bambas. Depois de lavar meu corpo rapidamente, saio


da ducha com a toalha enrolada na cintura e paro na frente do
espelho.

Ao encarar meu reflexo, finalmente me permito pensar e

sentir-me culpado pelo que acabou de acontecer. Não é apenas


pelo fato de eu ter gozado, o erro foi ter pensado nela enquanto
fazia isso. Está tudo errado, a começar pela bizarrice de ter tido um

sonho erótico com a irmã mais nova do meu melhor amigo.

Não pude perceber isso durante o sonho, mas era o rosto

da Lara.
Ela não é apenas a irmãzinha do Lúcio. Lara Molina,
contra todas as possibilidades, considerando que somos diferentes
em quase tudo, é minha melhor amiga. Ela é a pessoa que mais me

conhece, ou conhecia antes de a minha vida mudar.

Então tive um sonho erótico e ela parecia muito com a


mulher que poderia me colocar de joelhos. Mas Lara é uma menina.
Ela já tem dezoito anos?

A bile sobe pela minha garganta e sinto vontade de


vomitar por estar pensando nela de forma tão escrota e sexual pela

primeira vez. Porra! Eu sou um filho da puta rodado e ela não passa
de uma criança. Uma criança que nunca enxerguei com outros
olhos.

Lara Molina sempre foi uma amiga para mim, alguém que

eu sentia que deveria proteger, uma necessidade mais latente do


que com a minha própria irmã. De repente, meu mundo deu um giro

de trezentos e sessenta graus e sonho com ela de maneira


inapropriada?

Tudo começou a dar errado na noite em que sofri um

acidente de carro. Eu estava indo de uma partida direto para o


aeroporto, com a intenção de pegar o avião com destino a Milão
para um ensaio fotográfico. As fotos seriam para a campanha
publicitária de uma marca de desodorante masculino.

São informações que só conheço porque me contaram,


considerando que não lembro dos últimos meses antes do acidente.

Segundo os médicos, perdi pelo menos três meses de lembranças,


mas me senti aliviado quando disseram que não aconteceu nada
importante na minha vida no curto período em que minha memória
foi apagada.

 Comprovou-se facilmente que o acidente foi causado por

um motorista bêbado. O carro de aplicativo que me levava para o

aeroporto não estava acima da velocidade permitida para a via e


não havia nada de errado com o veículo. Não se pode dizer o

mesmo a respeito do responsável pela batida, que agora está

respondendo por embriaguez ao volante.

  Sobre o acidente, minha única lembrança é de uma luz


forte me cegando. A mesma luz que às vezes vem a minha memória

como um impacto forte e me faz sentir uma terrível dor de cabeça.

Depois disso, acordei em uma cama de hospital e fui


informado de que fiquei desacordado durante um ano e nove

meses. O desespero que senti por ter perdido tanto tempo levou o
médico a me colocar na sedação e nem mesmo consegui ficar grato

por ter saído vivo do acidente.

Quando despertei pela segunda vez, estava sentindo-me

mais calmo e pude colocar minha mente no lugar, ou pelo menos

tentar.

Então fiquei rodeado pelas pessoas que sempre


estiveram ao meu lado. Ao mesmo tempo em que sou grato pela

minha família e pelos meus amigos, também me sinto sufocado

pelos cuidados excessivos e pela proteção, que faz parecer que sou
uma criança de cinco anos de idade.

Mas não posso negar que foram esses cuidados que

fizeram com que eu me recuperasse mais rápido. Hoje, três meses

depois de despertar de um longo coma, nem parece que sofri um


traumatismo craniano grave e quebrei um braço, uma perna e três

costelas.

Os últimos meses foram estranhos. Estive rodeado por

pessoas que gostam de mim e que fazem com que eu realmente


agradeça pela nova chance que a vida me deu, mas senti falta da

presença de uma pessoa muito importante.


Se tivesse que fazer uma aposta, diria que a pequena

Lara ganharia o título de pessoa que mais passou tempo ao meu

lado em uma cama. Mas isso foi antes do acidente, pois pouco a vi
depois que despertei. Ela esteve no hospital apenas duas vezes

durante as quatro semanas em que permaneci internado fazendo

fisioterapia.

Mesmo sentindo a sua falta, me convenci de que ela teve

um bom motivo para não ter ido me ver com a frequência que eu
esperava. Recebi alta há dois meses, voltei para a minha vida de

antes e realmente tentei sentir que estava tudo em seu devido lugar,

mas a verdade é que não estava.

Minha terapeuta e meus agentes me aconselharam a

voltar para casa e levar um tempo para me recuperar física e

psicologicamente, antes de retomar a rotina de estrela do futebol. O


problema é que eu havia ficado dois anos afastado e estava ansioso

para voltar a ser quem eu era antes do acidente.

Então, ao lado do meu preparador físico e babá nas

horas vagas, voltei para o meu apartamento em São Paulo e tentei


seguir em frente como se nada tivesse acontecido, mesmo que

minha mente nunca tenha me deixado esquecer.


Nas primeiras semanas esforcei-me para estar cem por

cento focado nos treinos e até voltei a rotina badalada de festas


regadas a bebidas e mulheres dispostas a tudo para uma noite de

sexo com um jogador de futebol. Mas logo nos primeiros dias

percebi que havia algo errado comigo.

Nunca me importei com sentimentos profundos e


relacionamentos duradouros, muito pelo contrário, sexo sempre foi

apenas sexo e todas as mulheres com quem transei depois que me

tornei quem sou hoje foram apenas corpos sem rostos e sem
nomes. Eu estava feliz dessa forma, juro que estava.

Mas algo mudou, porque depois que despertei do coma

sinto que o sexo vazio de sempre se tornou ainda mais vazio e que

preciso de muito mais do que algumas estocadas para gozar, isso


quando gozo e não saio frustrado.

As farras que duram a noite toda não são mais tão

divertidas e estou me sentindo tão estranho com todas as reações e

sentimentos desencontrados que tenho a sensação de que minha


alma foi arrancada do corpo e trocada por outra.

Tem alguma coisa faltando na minha vida. Algo muito

importante e primordial, porque essa sensação não pode ser uma


invenção da minha cabeça.

Depois de quase três meses tentando adaptar-me ao que

sempre fui, decidi fazer o que aconselharam no início e voltei para a

casa dos meus pais. Pensei que junto com a minha família poderia
encontrar a parte que estava faltando no quebra cabeça que se

tornou a minha vida, que antes era simples e feliz.

Cheguei a minha cidade natal há duas semanas e,

apesar de estar me sentindo bem mais confortável perto das


pessoas que me amam e me conhecem, a sensação de que estou

deixando algo passar ainda me persegue. Às vezes penso que

estou ficando louco, porque não há nenhum indício de que algo


mudou enquanto estive em coma.

  Cheguei a me perguntar se minha agonia não estava

relacionada às memórias que perdi dos últimos meses antes do

acidente, mas meus amigos e familiares garantiram que não perdi


nada especial e confio em todos eles. Além do mais, eu saberia se

estivessem mentindo para mim.

Cheguei no meu limite há mais ou menos uma semana,

aconteceu quando olhei para os meus pais e minha irmã durante o


jantar e ainda assim me senti perdido e sozinho. Então lembrei da
Lara, porque ela sempre vem a minha mente em momentos

aleatórios, ou quando não estou me sentindo bem.

Estava enganado quando acreditei que a veria com mais


frequência depois que deixasse o hospital. Enganei-me mais ainda

ao acreditar que a nossa relação próxima de amizade voltaria a ser

como era antes de eu passar quase dois anos em coma, mas o que
realmente aconteceu foi o oposto.

Em São Paulo, perguntei por ela algumas vezes e seu

irmão disse que Lara estava bem e havia entrado na universidade.

Ela estuda a algumas horas daqui e vem para casa todos os finais
de semana.

Senti certo desconforto no tom de voz do meu amigo

quando falou a respeito da garota, mas acabei deixando passar para

não alimentar minha paranoia. Além do mais, eu sabia que em


algum momento ela teria que parar de fugir de mim.

  Realmente suspeito que Lara está fugindo de mim por

alguma razão. Se antes eu mal conseguia andar sem tropeçar nos


seus pés, hoje quase não ouço nada a seu respeito.

Depois do jantar que foi a gota d’água para que eu

chegasse no limite da perturbação mental, fui até a casa dos


senhores Molina e consegui o endereço da Lara na capital com seu
irmão. Antes tentei conseguir com a Flávia, mas ela fez perguntas e

não falou o que eu queria ouvir.

Na manhã seguinte fui atrás dela e senti que finalmente

estava bem quando olhei para o seu rosto de anjo. Temos uma
conexão estranha e inexplicável, considerando todas as nossas

diferenças.

Sem termos planejado, dormimos abraçados e sentados


no seu sofá. Foi a primeira vez que tive uma noite tranquila de sono,

foi a primeira vez que acordei descansado e me sentindo mais leve.

Eu queria ter ficado mais um pouco e preparado o café da

manhã para nós dois. Queria ter conversado com Lara para
entender o que estava acontecendo e o porquê de ter sentido que

estava fria e fugindo de mim. Mas eu tinha um compromisso e tive


que ir embora antes de acordá-la.

  Parti para o último compromisso antes das férias mais


leve e mais feliz do que me lembro de ter estado desde que
despertei naquele quarto de hospital. Eu disse a mim mesmo que

voltaria a ver minha pequena e que faria com que tudo voltasse a
parecer como era antes.
Tudo aconteceu há alguns dias. Agora estou em casa
novamente e ela não está aqui. De repente, a vida da garota com a
qual estava acostumado a conviver seguiu em frente e parece que

não faço mais parte dela.

Pensar nisso me deixa irritado, mas não tanto quanto


estou enojado por ter sonhado com ela de uma forma que não

deveria. Eu sei que Lara é linda e que deixa os garotos da sua idade
babando, mas não significa que ela é linda para mim. A porra da
garota está fora dos meus limites, porque tem que ser assim e

porque sequer cogitei enxergá-la como mulher até esse maldito


sonho.

Até hoje estava tentando me manter positivo. Estava me


convencendo de que era normal que estivesse me sentindo

estranho na minha própria pele, porque havia passado tempo


demais fora de órbita. Então veio esse maldito sonho erótico, que
caiu como uma bomba em cima da minha cabeça, e acabo de

perceber que estou precisando de ajuda profissional.

Necessito de um psiquiatra, psicólogo, terapeuta e

qualquer outro profissional que cuide da saúde mental, porque


definitivamente estou enlouquecendo. Se eu estivesse no meu juízo
perfeito, não teria desejado a irmãzinha do meu melhor amigo, a
garota que passei a vida inteira tentando proteger de caras iguais a
mim.

Não suportando a velocidade com que os pensamentos


passam pela minha mente, sacudo a cabeça de um lado para o

outro, olho-me pela última vez no espelho e deixo o banheiro. A fim


de me distrair um pouco, marquei de treinar com o Lúcio e acabei
me atrasando por causa do sonho inoportuno.

Para compensar, visto-me rapidamente e passo a mão

pelos fios mais longos do meu cabelo, antes de ir até a sala para o
encontrar. Em vez de sentar-se, Lúcio ficou caminhando
impacientemente de um lado para o outro.

Meu amigo de infância poderia ter ficado sem jeito na


casa dos meus pais, mas somos vizinhos a vida toda e nossas
famílias são tão amigas que nunca existiu cerimônia entre qualquer

um de nós.

— Porra, cara! Se você fosse uma noiva não teria


demorado tanto para ficar pronto. Estava cagando, por acaso? —
Lúcio, que é remotamente parecido com a irmã por causa do tom de
pele e da cor dos olhos, provoca-me e joga uma almofada em minha
direção.

Cheio de reflexos rápidos como um bom jogador de


futebol, desvio rapidamente e a almofada bate no braço da minha

irmã. Eu não sabia que ela estava em casa, mas o que realmente
chama a minha atenção é o fato de ela estar segurando um bebê
que deve ter por volta de um ano em seus braços.

O brinco em suas orelhas pequenas e a vestimenta cor


de rosa me faz chegar à conclusão de que a criança loirinha é uma

menina. Uma menina linda, mas que não faço ideia de onde surgiu.

— Você poderia ter machucado a Camila, irmão. Está

tudo bem com você, bebê? — Flávia fala toda carinhosa com a
criança, depois beija sua bochecha rosada demoradamente.

Está acontecendo alguma coisa que eu deveria saber?

Minha família não teria escondido se minha irmã tivesse

engravidado, teria?

A possibilidade passa pela minha cabeça e me deixa

doente, mas respiro fundo e opto por não tirar conclusões


precipitadas.
— Posso saber quem são os pais da Camila?

— Por que você não pergunta diretamente para a mãe


dela? — Minha irmã fala, volta a cabeça em direção a porta e eu
acompanho seu olhar.

Lara! A pessoa que está parada na porta, parecendo

completamente assustada, é a minha loirinha.

Um momento…

Minha irmã não está querendo dizer que Lara teve uma
filha e ninguém teve a capacidade de me contar, está?
 

LARA
  Quando finalmente terminei as provas finais e tirei nota

suficiente para passar em todas as matérias, não perdi tempo e no

mesmo dia comecei a arrumar minhas malas para vir para casa.

Se senti falta dos amigos e da minha família antes de ter

que deixar a faculdade por causa da gravidez, voltar foi mais difícil
depois do nascimento da minha bebê.
O desejo de estar em casa tornou-se muito maior depois

que minha filha chegou. O meu peito dói quando tenho que passar a
semana inteira longe dela e sou obrigada a me contentar apenas

com chamadas de vídeo.

Eu pensei que seria mais fácil depois de um ano, mas

não consigo superar que a deixei de certa forma, ela tinha acabado
de nascer. Tentei desistir da faculdade por um tempo e só voltar

quando Camila estivesse maior, mas meus pais e meu irmão mais

velho me convenceram de que eu deveria pensar no futuro,


principalmente por causa da minha bebê.

 Por mais que seja difícil, sei que eles sempre estiveram

certos. Sei que quando me formar e me tornar nutricionista


conseguirei um emprego que pague bem e poderei dar tudo o que

minha menina merece. Teremos nossa independência, porque é

para isso que estou sacrificando meu tempo com ela no momento.

A parte do emprego bom será com a ajuda do meu irmão,

que é preparador físico de jogadores famosos e felizmente sua lista

de clientes não se limita ao Calebe.

  Esse sacrifício deixa meu coração em pedaços quando

meus seios cheios de leite ficam pesados e não tenho a minha filha
nos meus braços para alimentar, mas sei que no final terá valido a
pena quando puder dar a vida confortável que ela merece.

Os meus pais não são pobres ou algo parecido, mas não

quero ser um peso com a minha pequena e não gostaria de

depender dos dois financeiramente pelo resto da vida. Já basta que

estejam apostando em mim a ponto de pagarem minha faculdade


com a ajuda do meu irmão.

Além do mais, depender dos três para tudo daria aval

para que se metessem na minha vida de uma forma que eu não

gostaria. Eles já fazem isso agora e às vezes me deixam sufocada

com questionamentos e cuidados excessivos.

Meus pais e meu irmão sempre foram muito protetores e

eles não perceberam ainda que não sou mais uma criança de cinco

anos. Sou uma mulher de vinte e que já tem uma filha. Não que a

Camila tenha me feito parecer mais madura, porque seu nascimento

foi um erro de percurso e deixou minha família dividida entre a


decepção e a felicidade por ter uma criança em casa novamente.

Eu os entendo, porque nenhum pai e mãe gostaria que

sua filha de dezoito anos engravidasse, dissesse que aconteceu por

causa de um descuido em uma festa entre amigos e em seguida se


recusasse a contar o nome do pai, porque o garoto supostamente

se eximiu da responsabilidade.

  Essa foi a mentira que inventei. Como eu poderia dizer

que estava namorando o nosso vizinho famoso e estava


escondendo a notícia de todos?

Como eu poderia dizer que o homem por quem estava


apaixonada, e provavelmente me engravidou em um vestiário, se

esqueceu da nossa relação?

Em um momento de desespero, quando Calebe

despertou do coma e agiu como se eu fosse apenas uma amiga, eu


poderia ter contado a verdade para todos. Mas não fiz, pois não

queria sentir que estava impondo um relacionamento e uma filha


que ele não queria. Como poderia querer, se me olhou da mesma

forma que olhava antes, com uma mistura de carinho e amor


fraternal?

No fundo, também fui compelida pela lealdade, porque

nosso relacionamento era um segredo que decidimos guardar juntos


e estávamos esperando o momento certo para revelarmos. Mesmo

que a situação estivesse pedindo, eu teria me sentido desleal se


tivesse contado.
Então minhas escolhas me levaram a carregar sozinha

um fardo sobre os ombros. Mas talvez seja melhor assim, porque


pelo menos posso fazer minhas próprias escolhas e tomar decisões

sem interferências.

Depois do que aconteceu, comecei a me sentir um pouco

desconfortável na cidade onde nasci e cresci. Não teve um único


final de semana em que eu não tenha sentido receio de encontrar o

Calebe. O primeiro receio sempre passava depois do primeiro dia,


quando eu descobria que ele estava vivendo sua vida no

apartamento que possui em São Paulo.

Hoje, pela primeira vez em um ano, percebi que o medo


estava ficando mais brando. Calebe já havia aparecido de surpresa

no apartamento que alugo e com certeza não viria para casa dias
depois. Me apeguei ao fato de sua carreira estar uma loucura no

momento, com todos os compromissos que tinham sido adiados.

  Então cheguei a casa dos meus pais sedenta para dar

um beijo na minha bebê e fui informada que sua madrinha tinha a


levado para um passeio. Quando minha mãe contou que Flávia

tinha saído há poucos minutos, imaginei que ainda pudesse estar


em casa, então caminhei alguns metros e entrei na residência dos
seus pais.

Eu senti a alma sair do corpo e o sangue congelar nas


minhas veias quando entrei na sala e dei de cara com Calebe

encarando a nossa filha com curiosidade.

Ele não deveria estar aqui!

A frase está rodando minha mente sem parar há uns dois


minutos, enquanto o encaro.

Está sendo um choque tão grande que não consigo dizer


uma única palavra durante todos os segundos que parecem uma
eternidade. Vejo a pergunta que não sei se estou preparada para

responder rondando sua mente.

É claro que não seria muito difícil para o jogador


descobrir que tive uma filha, mas, em comum acordo, todos nós
decidimos que manteríamos o segredo dele por um tempo. Calebe

tinha acabado de acordar de um longo período em coma e não


queríamos que ficasse estressado, por qualquer motivo que fosse.

Ele certamente ficaria irritado com a versão da verdade


que ouviria. O homem nunca fez questão de disfarçar seus cuidados
e proteção exagerada comigo, mas todos sempre acharam tudo
muito fofo, porque viam nele um irmão mais velho sendo cuidadoso.

Eu realmente acredito que Calebe passou parte da vida


me enxergando dessa forma, mas em algum momento tudo mudou

entre nós. Aconteceu o que eu queria desde que me apaixonei aos


quatorze anos de idade, mas voltamos a estaca zero e o choque de
descobrir que engravidei de alguém que não quis assumir minha
filha aos dezoito anos de idade seria terrível e poderia prejudicar

sua saúde, que ainda estava fragilizada naquele momento.

Se todos eles soubessem…

— De quem é essa menina, Lara? — Ele finalmente


pergunta, e agora seu olhar é acusatório. Ainda não disse nada

nesse sentido, mas sei que está estarrecido e provavelmente muito

decepcionado comigo.

  Foi por essa razão que eu fugi e agi com frieza nos
poucos momentos em que estivemos juntos nos últimos meses.

Estava doendo em mim ter que me afastar, mas sabia que estava

fazendo pelo bem de todos nós e, sobretudo, para preservar meu


coração.

— Eu te fiz uma pergunta, porra!


— Ei, cara! Segure a sua onda e não fale desse jeito com

a minha irmã — Lúcio se mete, Calebe olha em sua direção cheio


de ódio.

— Ela teve uma filha enquanto estive em coma e nenhum

de vocês pensou que era importante para mim saber disso? Vocês

enlouqueceram, caralho! — Pragueja, trocando olhares que soltam


adagas entre a irmã e o melhor amigo.

No momento, Calebe está agindo como se eu não

estivesse aqui.

Era dessa forma que ele falava antes de começarmos a


conversar como se não houvesse uma diferença de idade

significativa entre nós.

— Todos nós fizemos escolhas pensando no seu bem-


estar, então não aja como se tivesse sido traído — Lúcio fala.

— Meu bem-estar? — Calebe solta uma gargalhada

irônica. — O que vocês pensaram que eu faria quando descobrisse

que a minha garota engravidou de um idiota qualquer?

Sua garota?

Meu coração dispara.


Antes do acidente, eu definitivamente era a sua garota.

— Sua garota? — Meu irmão indaga. — Calebe, acho o

máximo o fato de você, que é meu melhor amigo, sempre ter tratado

minha irmã como se também fosse sua irmã, mas você está
passando dos limites. Não sei se te informaram, mas sua irmã se

chama Flávia. A Lara não é a sua garota.

Realmente não sou. Não mais.

— Você não terá crise de ciúme agora, terá? — Calebe


questiona, dando pouca importância ao sermão que o amigo acabou

de fazer.

 Ele nunca se importou com o que as pessoas diziam ou

pensavam a seu respeito. Era por isso que estava tão confiante de
que ficaríamos bem depois que disséssemos para todos que

estávamos juntos.

Eu jamais pensei que meu irmão aceitaria numa boa no

início, mas a fé e a coragem do meu namorado sempre me


contagiavam.

— Tudo bem, Lara teve uma filha, mas isso não é o fim

do mundo. Na verdade, essa princesinha é uma benção nas nossas


vidas e você pensará da mesma forma daqui a no máximo dez
minutos. — Apesar da tentativa do meu irmão de acalmar os

ânimos, porque ele sempre soube como lidar de maneira correta


com o jogador, desta vez não obtém muito sucesso.

Também não deixo de perceber que Calebe mal

consegue olhar para a minha filha. Ele está ressentido com uma

bebê que não tem nada a ver com as expectativas que tinha a meu
respeito.

Sempre que conversávamos, Calebe dizia que eu

estudaria e me tornaria grande. Deve ser uma decepção descobrir


que aos vinte já tenho uma filha de um ano de idade.

— Eu quero que vocês dois saiam e me deixem a sós

com a Lara por um momento — pede.

— Calebe — meu irmão até tenta argumentar, mas ele


não deixa.

— Depois de tudo que você fez, deixar-me conversar a

sós com sua irmã é o mínimo que pode fazer por mim. Por favor,

Flávia. — Se minha melhor amiga tivesse olhado para mim, ela teria
visto o receio no meu rosto e não teria deixado a sala com minha

filha nos braços sem pensar duas vezes.


Lúcio faz diferente e tenta saber se ficarei bem, então

aceno positivamente com a cabeça e ele se convence, antes de

também se afastar e deixar-nos a sós.

— Sente-se aqui — pede, ao apontar para o sofá


pequeno de dois lugares.

— Eu…

— Pedi para você sentar, pequena — fala com o tom de

voz frio e aparentemente cansado.

Sem saber o que estou sentindo com o segredo revelado

e com o fato de ele estar na cidade, obrigo minhas pernas a me

obedecerem e me sento no canto esquerdo do sofá da casa dos

seus pais. Em seguida, Calebe se senta ao meu lado, perto demais


para a minha sanidade mental e paz de espírito.

Se eu tivesse tido a ideia de ligar para a minha mãe antes

de chegar, teria descoberto sobre a vinda dele e não estaria

passando por isso agora. Mas talvez seja o momento de parar de


fugir e mentir, não é mesmo?

— Por favor, não olhe para mim como se me odiasse, ou

como se não me conhecesse — são as primeiras palavras que


deixam minha boca diretamente para ele.
Embora eu seja a mais errada em toda essa história por

estar mentindo, porque mesmo que não se lembre de nós ele


merece saber a verdade, não suporto que me olhe como se não me

conhecesse mais.

Antes mesmo de entregar minha virgindade em um dos

momentos mais lindos da minha vida, Calebe já era a pessoa que


mais me conhecia e me entendia neste mundo. A conexão que

tínhamos um com outro era especial. Mesmo quando estava fora,

ele ligava quase todos os dias para perguntar como eu estava.

Quando voltava para casa entre um campeonato e outro,


eu me enfiava no seu quarto para assistirmos partidas de futebol

juntos.

— Eu realmente te conheço, Lara? — Questiona com

frieza e faz meu coração partir. E eu que acreditava que havia um


limite do que esse órgão poderia aguentar. — Antes do acidente

você ainda era virgem e agora estou descobrindo que tem uma

filha…

  Calebe nem se lembra que minha primeira vez foi com

ele, mas, ainda assim, as palavras me fazem corar. Sinto meu rosto

pegando fogo de constrangimento.


— Foram dois anos. — Tento me defender.

— Quem é ele?

Esse é o momento em que finjo um desmaio?

— Um garoto qualquer, em uma festa da turma no

colegial. Ele não quis assumir a responsabilidade e decidi criar


minha filha sozinha.

É uma mentira por cima da outra.

Mas o que eu poderia fazer? Abrir a boca agora e dizer

que estávamos namorando e que a filha é sua?

 Seria o certo, mas nem ao menos tenho certeza se esse

homem está pronto para sofrer grandes golpes depois do acidente.

— Eu quero nome e sobrenome — exige.

Porra!

— Não direi.

 — Em algum momento você falará, pequena.

— Você deveria respeitar as minhas escolhas.

— É claro, Lara. Porque você é muito boa em fazer


escolhas, não é? É tão boa que escolheu criar uma criança sozinha,
tão boa que embarcou na ideia de esconder de mim o que estava
acontecendo com a sua vida. Por isso estava tão estranha nos
últimos meses? Você estava fugindo de mim e agindo com frieza

para esconder que teve um bebê?

— Eu sinto muito.

Estou me desculpando por motivos diferentes agora. Não


estava distante e fria apenas para esconder a minha filha, que ele

saberia da existência em algum momento. Só estava tentando juntar


meus cacos de alguma forma e fazer com que as lágrimas
secassem no meu rosto.

  Estava tentando me curar de um coração partido para


que estivesse forte quando uma situação como essa surgisse.

Mas não estava forte o suficiente. Eu definitivamente não


havia me recuperado do baque de perceber que sua mente foi

capaz de se lembrar de coisas triviais, mas apagou justamente os


momentos mais felizes que vivemos durante um curto período.

Sua mente simplesmente me apagou, e embora meu lado

racional saiba que não tem culpa da perda de memória, não consigo
não me sentir decepcionada com ele. É como se o fato de ter se
esquecido de nós estivesse dizendo que o que tivemos não foi algo
importante.

— Senti muito a sua falta, pequena. Você tem ideia das


coisas que passaram pela minha cabeça?

— Não, eu não tenho.

— Senti muito medo de ter te magoado de alguma forma

— diz, então se aproxima um pouco mais e me puxa para um


abraço. Um abraço que dura muito tempo e que faz meu coração e
meu corpo despertarem de uma forma que só ele conseguiu até

hoje.

Não me lembro de ter me sentido atraída por outro


homem ou garoto na adolescência. Sempre foi Calebe de Matos.
Provavelmente, sempre será ele. Mesmo que não fiquemos juntos

novamente.

— Está tudo bem — digo, o homem abre o sorriso mais


lindo que já vi na vida.

Não é porque sempre fui apaixonada por ele, mas Calebe

é um dos homens mais belos do país. Ele foi eleito por uma revista
de moda como o terceiro jogador mais bonito do ano, então não sou
a única.
Com um metro e noventa de altura e a pele morena, que
sempre parece lindamente bronzeada pelo sol, ele é forte e

perfeitamente esculpido. Então há a sua boca larga, que sempre


tem um sorriso para mostrar e que faz com que calcinhas sejam
abaixadas sem precisar fazer esforços.

Os seus olhos são grandes e azuis. Sempre que olha


para alguém, tenho certeza de que Calebe faz com que essa

pessoa se sinta especial. Os homens sentem que podem ser seus


amigos e as mulheres acreditam que podem ir para a sua cama,
mas é apenas sua forma intensa de olhar para o mundo e para as

pessoas.

Os seus cabelos castanhos, que antes eram bem curtos


no estilo militar, agora são longos, cujas pontas onduladas flertam
com seu pescoço e fazem com que pareça um homem

extremamente sexy e mal. Foi o estilo badboy que fez o meu eu


adolescente ficar obcecado. O mesmo estilo e atitude que me
fizeram crescer e ainda assim continuar obcecada e extremamente

apaixonada.

  Tê-lo para mim parecia um sonho distante, até que um


dia, quando estávamos conversando no seu quarto, e ninguém
achava estranha a liberdade que tínhamos, acabamos nos beijando.

Por um momento, vi a culpa no seu olhar, mas também vi que não


poderia resistir durante muito tempo.

Calebe não resistiu. Com culpa e tudo, ele me beijou

várias vezes naquele dia e duas semanas depois fizemos sexo pela
primeira vez. Foi na mesma tarde em que declaramos que

estávamos apaixonados um pelo outro. Pode parecer que foi muito


rápido, mas não é rápido quando uma pessoa conhece a outra
profundamente durante a vida inteira.

 A verdade é que o primeiro beijo nos fez perceber o que


estava oculto. Minha paixão não era platônica ou impossível. Ele

não me via apenas como uma garotinha, sua melhor amiga.

— O que acha de saírmos para conversarmos amanhã?

Não pense que não estou bravo com você por ter dado o mole de
engravidar tão jovem, mas quero ficar com você enquanto
estivermos na cidade.

Quanto tempo ele pretende ficar?

— Não sairá correndo? Minha mãe disse que você


sempre sai correndo quando vem visitar seus pais. Se tornou
ocupado demais para nós?
— Não irei embora. Eu não estava me sentindo
psicologicamente bem nos últimos meses, então decidi tirar férias
para me recuperar. Durará alguns meses, isso significa que teremos

tempo para ficarmos juntos, como nos velhos tempos — afirma, meu
coração dispara. — Você ficará na cidade durante os dois meses de
férias da faculdade?

Merda!

Eu simplesmente não posso conviver com Calebe


durante todo esse tempo. Se isso acontecer, enlouquecerei e não
suportarei não o ter da forma como meu corpo e meu coração

desejam.

Como sobreviverei com migalhas quando já tive tudo?

— Eu não sei, Calebe…

— Saia para jantar comigo amanhã e talvez eu te

convença.

— Perdoe-me, mas não posso — digo, então saio


correndo da sua casa.

  Não consigo mais segurar as minhas lágrimas e elas já

estão correndo livremente pelas minhas bochechas quando paro de


correr pela rua como uma doida.

Eu simplesmente não posso ficar perto dele!


 

CALEBE
Ainda surpreso com sua atitude de fugir, e sobretudo com

a descoberta de que teve uma filha enquanto estive em coma, fico

parado e sem reação durante um tempo. Pode ser que tenha sido
um minuto, vários minutos ou uma hora inteira. Não estou contando.

 Estou estarrecido e completamente sem chão. Antes do


acidente, Lara e eu éramos íntimos o suficiente para que eu
soubesse que ela não havia beijado ou permitido que qualquer

garoto cheio de espinhas na cara a tocasse.

Lara sempre foi linda, mas o fato de ela também sempre


ter sido comportada e tímida me mantinha calmo e convicto de que

não cairia nas mãos de um moleque irresponsável que só a usaria

para o sexo e depois descartaria como se fosse um objeto


danificado.

Então passei dois anos longe dela e tudo mudou. A

pequena beijou na boca, fez sexo com um idiota qualquer e teve


uma filha. Ela viveu uma vida inteira em dois anos e eu não estava

ao seu lado.

Eu estou confuso e tão consumido por sentimentos que

chego a perder o fôlego, e mesmo que tente sufocar a sensação

que se sobrepõe as demais, não posso fugir. Não posso fugir do

sentimento de decepção, das emoções que me levam a acreditar


que garoto nenhum era digno de tocar na sua pele, muito menos de

meter o pau na sua boceta virgem.

Sinto como se para mim fosse impossível lidar com o fato

de a Lara ter permitido o toque de um homem. Devo ter

enlouquecido e o sonho erótico me deu a ideia de que só eu posso


ter esse privilégio, mas provavelmente sou mais indigno do que
todos os idiotas que a desejam.

Mais uma vez estou assustado com meus pensamentos e

sentimentos a respeito da minha jovem melhor amiga e, mais uma

vez, não consigo evitar.

O que está acontecendo comigo?

No momento, gostaria de poder pegar meu carro e fugir

para um lugar onde ninguém me conhecesse. Talvez quando

voltasse seria eu mesmo novamente e não estaria desejando a

garota que cresceu debaixo das minhas asas.

É isso que está acontecendo, não é? Primeiro eu tive um

sonho erótico, agora estou surtando com a ideia de que Lara fez

sexo e teve uma bebê com um filho da puta, que provavelmente não

teve e não tem qualquer importância na sua vida.

Em vez de fugir, e correr o risco de continuar tão longe

dela quanto estive nos últimos meses, procuro minha irmã e

encontro-a no seu quarto, brincando na cama com a bebê loirinha.

Ela é a cara da mãe, então mesmo que eu quisesse

descobrir a identidade do pai pela aparência, porque talvez ele seja

um dos moleques do bairro, seria impossível.


A bebê está prestando atenção em tudo a sua volta e

nota a minha presença antes da Flávia. Ela mostra um sorriso todo


babado para mim e não consigo resistir, porque o gelo em volta do

meu coração começa a derreter por sua causa.

Eu nunca tive tanta proximidade com bebês, mas apenas

o fato de essa ser filha da minha pequena é o suficiente para que se


torne especial para mim. Ela é a coisinha mais linda que vi de perto

e, de repente, mesmo sabendo que nunca fiz isso, sinto vontade de


pegá-la em meus braços.

— Você está aí, irmão?

— Aparentemente estou — digo, ao entrar no quarto e

sentar-me perto delas.

Como se esse não fosse o nosso primeiro contato, a

bebê, que antes estava brincando, escapa dos braços da minha


irmã e vem engatinhando para perto de mim. Sinto um nó se
formando na minha garganta e o nervosismo ameaça meu

equilíbrio.

Sem saber ao certo o que fazer, olho para a Flavia e ela


apenas sorrir. Entendo como um aval, como se estivesse me
autorizando a segurar a loirinha, porque acredita que ela estará

segura comigo.

Não sei explicar o que acontece quando seguro a menina


contra o meu peito, mas definitivamente algo acontece. Meu
coração transborda com algo bom, que se parece muito com carinho

e sentimento de proteção.

Acredito que qualquer pessoa com um coração dentro do

peito adoraria uma bebê fofa como a Camila, mas não tento me
enganar, porque sei que o fato de ela ser filha da Lara multiplica os

meus sentimentos.

— Eu estava ouvindo a conversa de vocês aqui do

quarto.

  Suas palavras não me incomodam, porque as paredes

são finas e privacidade é algo que nunca tivemos aqui na casa dos
nossos pais. A vida de cada membro da família sempre foi um livro
aberto para o outro, a gente gostando disso ou não.

— Conte-me uma novidade — brinco, sem deixar de

olhar com curiosidade para a garota que está nos meus braços.
Agora Camila está brincando com a corrente que não tiro do
pescoço.
— As nossas famílias sabiam que você não lidaria bem
com a situação da Lara, e você tem que admitir que estávamos
certos em pensar assim, porque sempre foi muito protetor com ela.

— É tudo verdade. — Eu imaginei que não seria fácil, mas confesso


que sua reação me surpreendeu.

— E como eu deveria ter reagido ao despertar de um


coma e descobrir que a minha amiga teve uma filha com um cara

que ninguém conhece? Eu poderia esperar por qualquer coisa, mas


lidar com tudo isso está sendo demais para mim. Porra, nós

estamos falando da Lara, irmã. A mesma garota que sempre foi


tímida e uma tola romântica. A mesma garota que estava guardando
a virgindade para o amor da sua vida. Onde foi parar aquela garota?

 Eu não queria parecer completamente desesperado, mas


é assim que estou me sentindo. Sempre fui a pessoa que não lidava

bem com grandes mudanças, mas essa realmente está me pegando


de jeito.

 Ainda assim, sei que a presença da Camila nas nossas


vidas é uma benção. Crianças são anjos e nunca devem ser

culpadas por algo.


— Você passou muito tempo em coma e estava
esperando encontrar tudo como era antes, porque para você o
tempo parou. Mas o tempo passou, meu irmão. As coisas mudaram

um pouco por aqui. As pessoas mudaram, até mesmo a sua


irmãzinha

 — Flávia, você está escondendo alguma coisa de mim?

Era só o que estava faltando.

— É claro que não. Eu estava me referindo a Lara.

— Ela não é minha irmã! — falo com o tom de voz duro e

firme.

As pessoas sempre acreditaram que o que eu sentia por

ela era o mesmo que sinto pela Flávia. Todos falavam abertamente
sobre isso e nunca me incomodei, afinal, houve um tempo em que

eu não sabia diferenciar o amor que sentia pelas duas.

Mas agora tudo é diferente. De repente, estou notando


que Lara cresceu, que não é mais aquela menina que se enfiava na

minha cama e ficava assistindo futebol comigo, de forma

completamente platônica. Ela não é mais a criança fofa que eu

tratava do mesmo jeito que tratava minha irmã.


Porra, agora percebo que os sentimentos são

completamente diferentes. A forma como amo a Lara é


completamente diferente da forma como amo a minha irmã de

sangue.

Só o fato de ouvir que a garota é minha irmã me irrita

profundamente. Isso nunca aconteceu.

— Você nunca se importou com isso, Calebe. Pensei que

você gostava dela como gosta de mim. Se abre comigo e me conte

o que está acontecendo com sua cabeça.

— Estou muito confuso — confesso.

— Confuso a respeito de quê?

— De tudo, minha irmã. Tudo parecia estar em seu

devido lugar quando me recuperei, mas continuei sentindo que

havia algo estranho acontecendo comigo e não conseguia entender


do que se tratava. Ainda não consigo entender, mas a única

mudança que realmente posso identificar tem relação com os meus

sentimentos pela Lara. Eu não estou enxergando-a como antes.

— Calebe… O que você está querendo dizer com isso?

Você não… É apenas a Lara, nossa vizinha de uma vida inteira.

Minha melhor amiga, a sua melhor amiga.


— Eu preciso de um tempo — assevero, então entrego a

bebê em seus braços e deixo seu quarto, antes de ver o olhar de

julgamento no seu rosto.

Sem me dar ao trabalho de calçar o tênis, começo a


correr sem olhar para os lados, como se estivesse fugindo do diabo,

mas a verdade é que estou fugindo de mim mesmo. Queria que ela

deixasse meu corpo e a minha mente, mas aparentemente nem isso

posso ter.

Menos de um minuto depois do início da corrida, avisto

minha pequena. Lara está sentada sozinha no banco da praça da

cidade, tem a cabeça abaixada e não deixo de perceber que está


chorando.

  Meu coração fica bem pequeno dentro do peito e a

minha primeira vontade é de ir até lá para a consolar, mas viro as

costas e volto a correr.

Realmente corro sem destino durante pelo menos uma

hora, mas toda a confusão de sentimentos ainda está aqui quando

volto para casa perto da hora do almoço.

Ainda estou me sentindo confuso, ainda me negando a


aceitar que meus sentimentos pela pequena mudaram
completamente. Sei que estou metido em uma grande enrascada,

porque não existe a menor possibilidade de eu fazer qualquer coisa


a respeito disso.

Sobretudo, não existe a menor chance de ela me

enxergar como homem.

Mesmo que eu não me sinta da mesma forma, Lara com


certeza me vê como um irmão.

Ainda tenho esperança de que tudo isso seja apenas uma

loucura da minha mente e que amanhã acordarei me sentindo

diferente e rindo do que hoje parece ser o fim do mundo. Minha


mente precisa voltar para o lugar, porque todos me odiariam se

soubessem o que estou sentindo.

Lara me odiaria e não sei como viveria sem o seu afeto.


Sem o afeto da pessoa que mais me conhece nesta vida.
 

CALEBE

 ALGUNS DIAS DEPOIS


A ideia de vir para casa parecia boa quando pensei que
conseguiria descansar e colocar a minha vida em ordem. Mas, na

prática, o que está acontecendo vai na direção contrária. Estou


conseguindo fazer tudo, menos descansar. Se a minha cabeça
estava fodida antes, não sei como classificar essa porra de bagunça

agora.

— O que foi, cara? Resolveu assumir a vagina que


nasceu entre as suas pernas? — Essa é a voz do Lúcio, que nem

sei por que ainda considero como meu melhor amigo e preparador

físico.

Desde que éramos moleques, o prazer da sua vida era

me provocar e tentar colocar-me em roubadas. Eu costumava me

divertir com as suas bobagens, mas nós dois crescemos e só esse


idiota ainda não percebeu.

Lúcio pensa que minha vida é um mar de rosas, porque


tenho fama e dinheiro e não passa pela sua cabeça que sou um ser

humano como qualquer outro, talvez mais problemático do que os

outros. A vida não é só de festas, quer dizer, ultimamente não há

motivos para festas.

Embora eu tenha vindo para uma casa de shows a

convite desse idiota, e que esteja dando o meu máximo para tentar

me divertir, estou falhando miseravelmente.

Lúcio me convidou com a intenção de procurarmos

bocetas disponíveis para uma noite de sexo, mas, por mais belas e
gostosas que as mulheres que frequentam este lugar sejam,
nenhuma delas conseguiu atrair meu interesse até agora. Isso quer

dizer muita coisa, considerando que chegamos há uma hora.

— Pode me dizer qual a razão da sua obsessão pelo meu

pau? Cuidado, porque posso começar a acreditar que você está

interessado nele — faço a provocação, ao erguer a mão e tomar um


grande gole de cerveja.

Quando estou no meio de um campeonato, procuro não

abusar das bebidas alcoólicas, mas essas férias forçadas me

colocaram para fora dos campos, então posso beber tanto quanto

quiser.

  Só que hoje não estou bebendo por prazer, mas para

esquecer daquilo que não deveria nem mesmo lembrar de ter

desejado. Pois é, passou-se uma semana e ainda estou com a

cabeça fodida.

— Mesmo se eu gostasse de homens, não me


interessaria por essa cobrinha que você cria — comenta aos risos.

— Falando sério agora, realmente não estou te reconhecendo, meu

amigo. Em outros tempos, você não estaria há uma hora parado


aqui no bar. Já teria encontrado alguém para se divertir e estaria

quase transando na pista de dança.

Sim, esse era eu antes do acidente. Eu gostava de me

exibir com minhas conquistas de uma noite e me divertia como se


não houvesse amanhã. Não me preocupava com os celulares que

filmavam minha forma de diversão.

Logo pela manhã pipocavam notícias e imagens vendidas

para site sensacionalista e, novamente, eu não me importava.


Gostava de ser comentado pela minha vida badalada, mesmo que
soubesse que meu bom futebol deveria ser mais noticiado e chamar

mais atenção do que meu lado badboy.

Agora sinto que a vida de antes era vazia e não desejo


mais me divertir do mesmo jeito. Talvez chegue a entender a razão

de tudo isso em algum momento, ou talvez eu tenha mudado pra


valer.

— Talvez eu tenha mudado — digo o que passava pelos

meus pensamentos. — E sinto muito se você não gosta da nova


versão do seu melhor amigo.

— Estou gostando. Só fico me questionando se devo me


preocupar.
— Não perca o seu tempo, Lúcio. Está tudo bem comigo.

Todo homem em algum momento precisa crescer, e talvez eu tenha


crescido depois de quase dois anos em coma.

— Estou feliz que você esteja aqui — declara. São


poucos os momentos em que meu melhor amigo não está brincando

ou provocando alguém, mas quando fala sério, merece ser ouvido


com atenção.

Os seus sentimentos transbordam através das palavras e


na forma como olha para mim.

Meu melhor amigo e todas as pessoas que me amam


sofreram muito quando me viram naquela cama de hospital. Eu

estava inconsciente e não posso sequer imaginar como me sentiria


se fosse um deles no meu lugar. Todos sempre me olham como se

eu fosse um milagre, então devolvo com um sorriso de conforto e


me sinto agradecido por ter pessoas que me amam tanto e que
fariam tudo por mim.

A recíproca é verdadeira.

  — Também estou feliz por estar aqui. Agora quero que


você vá se divertir e me deixe com a minha bebida. Hoje, minha
ideia de diversão é tomar todas até que seja preciso que me
carregue para a casa dos meus pais, como fazíamos quando
éramos mais jovens.

— Não conte com isso. Depois que eu encontrar a


conquista da noite, esquecerei que você existe, babaca. — Ele sorri

com ironia, pisca para mim e depois vai embora.

Ao mesmo tempo em que me sinto cansado só de pensar


que antes do acidente eu era exatamente igual ao meu amigo, sinto

um pouco de saudade de quando não havia preocupações na minha


mente.

Sinto muita falta de quando a irmãzinha do meu melhor


amigo era apenas a irmãzinha do meu melhor amigo.

Sinto falta de quando Lara Molina era apenas a garota


que vi crescer e que se tornou importante para mim de tal forma que

ela foi a única pessoa de quem senti falta da presença quando voltei
do coma.

Eu sinto falta de quando não pensava nela como uma


mulher desejável. Sinto falta de quando acreditava que poderia a

proteger de tudo e de todos, de quando brincava dizendo que só


namoraria quando eu aprovasse o cara.
Sobretudo, sinto falta da nossa proximidade, que era leve
e despreocupada.

 Sinto que poderia tolerar perfeitamente uma convivência


atormentada, cheia de tensão e desconfortável, desde que estivesse

perto de mim.

Passou-se uma semana desde a última vez em que a vi

na casa dos meus pais, foi quando descobri que agora Lara tem um
filho. Sete dias sem a ver pessoalmente, embora os nossos pais

sejam vizinhos de portão. Sete dias sentindo sua falta e sem

entender por que está fugindo de mim.

É óbvio que é isso que está fazendo. Antes de ela ficar


estranha comigo, não conseguia andar pela rua sem a encontrar em

algum momento: primeiro porque Lara me procurava, segundo

porque a cidade é pequena e sempre moramos lado a lado.

Não é como se eu não estivesse tentando. Tenho saído


com frequência e sem fingir que não estou procurando-a para pegá-

la de surpresa, de uma forma que não consiga se safar, mas não

encontrei a garota uma única vez. Isso me leva a acreditar que está
trancada dentro de casa todo esse tempo.
Eu poderia ter feito algo, mas decidi dar um tempo.

Poupei nós dois de uma conversa séria, pois não estava


entendendo nem mesmo a minha própria mente e não tentaria

desvendar a de outra pessoa.

Mas, depois de todos esses dias, cheguei ao meu limite.

Amanhã mesmo, quando me recuperar da ressaca que com certeza


terei, irei atrás da pequena para termos uma conversa.

Tudo bem que eu não fiz nada para me aproximar nos

últimos dias, mas tenho um motivo. Compelido pela repentina


atração, tentei manter certo distanciamento até conseguir me

recompor, mas que razões Lara teria para não querer estar perto de

mim quando fazia o oposto antes?

  Ela escondeu sua filha de mim junto com as nossas


famílias, mas não fiquei bravo, não de verdade, sobretudo, não com

a Lara.

Acredito que ela esteja envergonhada e com medo de ter

me decepcionado, mas não é apenas isso e tentarei desvendar o


que tem me atormentado: Lara.

É um misto de tormento com saudade.


— Posso sentar-me aqui? — Ouço uma voz e viro a

cabeça para o lado. Aceno positivamente e a loira, que

provavelmente sabe quem sou, sorri para mim.

Ela é bonita e está usando um vestido curto e justo, que


deixa pouco para a imaginação. Em outro momento, não me daria

ao trabalho de perguntar seu nome antes de levá-la para um quarto

de motel. Hoje, meu pau não está dando sinal de vida.

O bastardo está de greve, mas talvez eu precise o forçar


a entrar em ação para que se lembre que aquela boceta

inexperiente é totalmente proibida para mim.

É insano.

É imoral.

É doentio.

Ainda assim, não sai da minha mente. Não deixo de

desejar em nenhum momento.

— O que uma mulher bonita como você está fazendo


desacompanhada?

Parece bobo e broxante, mas essa é a forma de puxar

assunto com uma possível foda. É o que dá certo e sempre me


garantiu momentos de diversão.

— Também não sei, mas prefiro acreditar que o destino


tenha nos juntado esta noite. O que você acha?

— Não sei se acredito em destino. Talvez você me

convença de que ele existe — flerto descaradamente.

Embora tenhamos acabado de começar, estou

interessado, mesmo que meu olhar se perca o tempo todo. De


forma quase inconsciente, busco outra pessoa, que provavelmente

nem cogitou vir a esse lugar.

Não sei se Lara tem idade para uma casa de shows. Na


última vez em que estive realmente perto, ela mal tinha idade para

beber.

Porra! Como é difícil perceber que a garota cresceu e eu

não estava aqui para presenciar a transição da fase da adolescência


para a adulta

— Posso te convencer de qualquer coisa — a mulher

fala. Não deixo passar despercebido o fato de ela ser loira como a
minha pequena.

— Gosto da sua confiança.


Na verdade, pouco me importo com o fato de parecer

mais arrogante do que confiante. Estou interessado em outra coisa,

ou pelo menos tentando me interessar de uma forma que não seja

tão rasa.

 Se tentar colocar minha cabeça no lugar de outra forma

não deu certo, farei me perdendo na boceta de uma estranha.

Espero que me sinta mais como eu mesmo novamente quando

acabar. Não espero que seja igual, porque o tempo passou, mas, no
que importa, preciso saber que estou pisando em um terreno

seguro.

— Posso fazer você gostar de muitas coisas ao meu


respeito — fala, levanta-se da cadeira próxima ao balcão do bar e

se aproxima de mim. Sentindo que dei abertura, a mulher sem

nome, porque talvez nomes não sejam necessários essa noite,

embora tenha certeza de que sabe quem sou, se coloca entre as


minhas pernas e envolve os braços nos meus ombros.

Seu rosto fica bem próximo do meu, a fisgada de atração

que sinto é tão leve que preciso me esforçar muito para ter certeza

de que sinto alguma coisa. Meu pau ainda não deu sinal de vida.
A falta de reação é a prova contundente de que

realmente estou diferente do que era antes. Se fosse antes, essa


mulher já teria me deixado de pau duro.

 Talvez ela só precise trabalhar um pouco mais para me

deixar no ponto, caso não queira terminar a noite frustrada.

— Conte-me o que você faz de melhor além de jogar


futebol, é claro.

— Uma fã? — Brinco.

— Existe alguém no Estado que não seja?

Ela está certa. Apesar de eu ter alcançado fama nacional

e até mesmo internacional, Minas Gerais me venera, talvez porque


sou a pessoa mais conhecida que o Estado criou nas últimas

décadas.

Tive a oportunidade de sair para jogar fora do país alguns


meses antes do acidente. A proposta milionária era muito tentadora,

mas tomei a decisão de continuar jogando no time que me revelou e

meus empresários e agentes apoiaram a decisão.

Não fechei as portas totalmente e não descartei a ideia


de jogar em um grande time fora do país em algum momento, mas
por agora quero ficar aqui. Sobretudo, agora.

— Sem querer parecer presunçoso, mas devo concordar

com você — brinco.

Ainda desinteressado em saber seu nome, ou qualquer

coisa pessoal, não me afasto quando toma a iniciativa e me beija.

  Fazia tempo que eu não experimentava nada parecido

com isso, e agora que está acontecendo, percebo o quanto estava

sentindo falta de ficar fisicamente próximo de uma mulher. Mesmo

que não seja a mulher que desejo, essa está valendo.

Tão cheia de atitude quanto as suas palavras, a loira me

devora com a língua, como se sua vida dependesse do beijo.

Depois de longos minutos, finalmente meu corpo começa a reagir à


presença feminina. Ainda não é como antes, mas estou mais

animado pela hipótese de transar hoje e esquecer-me do espiral de


loucura no qual entrei nos últimos dias.

Pela primeira vez, sinto que tudo pode ficar bem


novamente.

Tirarei a garota proibida da minha mente, e será com


essa mulher. Sei que estou a usando, mas duvido muito que se

importe, considerando que também está me usando.


Não sou cego a ponto de não enxergar que tenho um
corpo e um rosto que atraem as mulheres, mas posso apostar que o
fato de eu ser um jogador famoso atraiu essa mulher acima das

minhas outras qualidades físicas. No final, estaremos empatados e


cada um seguirá seu caminho sem dramas.

Quando desço minha mão pela sua coxa, cujo vestido

curto a deixa livre para os meus dedos, a mulher termina o beijo e


me encara. Vejo a excitação no seu olhar e antecipo os momentos
de prazer que viverei daqui a pouco.

Realmente estou excitado, ou apenas tentando ficar?

Isso importa?

— Estou indo rápido demais? — Questiono.

— Na verdade, só parei para perguntar se você não quer


ir para um lugar mais reservado.

Porra! É exatamente disso que estou precisando agora.

Estou desesperado, mesmo que seja pelas razões erradas.

— É o que mais quero.

Como estamos na mesma página, envolvo sua cintura e a


levo em direção à saída do estabelecimento. Olho em volta, vejo
meu amigo atracado com uma bela negra e percebo que não tenho
com o que me preocupar.

Antes que eu chegue à porta de saída, uma


movimentação a esquerda chama minha atenção. Há um grupo de
jovens fazendo algazarra em duas mesas, que foram colocadas

juntas, e não demoro meio segundo para identificar um dos


membros da galera.

São mais ou menos seis pessoas entre homens e


mulheres. Todos estão bebendo, uns sentados enquanto conversam

e outros dançando perto da mesa. A pequena está dançando.

Pela forma como está me olhando agora, concluo que me


viu antes que eu pudesse notar sua presença. Lara não para de se

mover, mas vejo no seu olhar que não está feliz. Pelos movimentos
lânguidos, presumo que está levemente bêbada.

Pois é, a garota agora bebe, a ponto de se colocar em


risco em um lugar onde alguém poderia se aproveitar da sua

Inocência.

Merda!

Ficarei louco, e será por causa de Lara Molina.


— Por que você parou de caminhar? — Minha
acompanhante pergunta, agora olhando para o mesmo lugar.

— Perdoe-me, vi uma amiga e preciso falar com ela —


percebendo que estou tenso, a mulher se afasta um pouco, mas não

vai embora.

Se eu estava começando a ficar excitado, acabei de

voltar para a estaca zero.

Caminho em direção a mesa dos amigos da Lara e sou

seguido de perto pela mulher com quem pretendia transar hoje à


noite. Provavelmente, não acontecerá mais e não sei se o que sinto
é alívio ou decepção.

— Podem me dar licença, pessoal? — Falo com um


sorriso simpático no rosto quando chego até eles.

Quem estava dançando para de dançar e olhos se


arregalam quando imediatamente reconhecem quem sou. Sempre

gostei desse lugar por ser frequentado por pessoas discretas e


menos deslumbradas do que a maioria. Sinto-me tão à vontade que
renuncio a disfarces.

Era aqui que vinha quando não queria ser assediado.

Pouco me importava com minha falta de discrição na balada, mas


houve momentos em que quis me divertir sem ser fotografado e

esse foi o lugar perfeito.

Agora, tenho que lembrar de que estou lidando com


pessoas mais jovens, quase adolescentes. Elas ainda não são tão

boas em esconderem suas emoções, é por isso que demoro pelo


menos dez minutos até conseguir deixar de responder perguntas,

tirar fotos e dar autógrafos. Dez minutos de ansiedade, porque não


posso simplesmente virar as costas para os amigos da garota.

Quando finalmente fico livre, busco seu olhar e vejo que


está muito brava, além de obviamente bêbada. Por outro lado, a
mulher que acabei de conhecer parece entediada.

— O que você está fazendo aqui, Calebe?

— Não acha que está na hora de termos uma conversa?


— Pergunto.
 

LARA
Se não fosse pela minha filha e a saudade que sentiria

dela, teria fugido no momento em que cheguei a casa dos Matos e

dei de cara com Calebe encarando com curiosidade a bebê que


fizemos juntos.

A cena foi quase demais para mim, mas tive que


aguentar, porque não havia outra saída. Naquele dia sofri pelo final
feliz que um dia quase consegui segurar com as minhas duas mãos

e depois perdi de uma hora para outra.

  Senti como se estivesse em uma montanha-russa de


emoções e sentimentos desencontrados. Ao mesmo tempo em que

queria correr para bem longe das suas vistas, senti vontade de me

jogar em seus braços e o beijar para lembrá-lo de que éramos bons


juntos e que estávamos apaixonados.

Foram dias presa dentro de casa, em uma tentativa de

preservar minha mente e coração, mas também como uma fuga do


confronto que mais cedo ou mais tarde viria.

Corro atrás desse cara desde que eu era uma criança e


era nítido que ele perceberia que eu estava longe demais, mas o

medo de sofrer ainda mais pelo que não podia ter de volta me fez

recuar e deixar para lidar com a situação depois.

  Fiquei os últimos dias sem praticamente sair de casa.


Quando fiz, agi como um bandido fugindo da polícia, olhando para

todos os lados para ter certeza de que ele não estava por perto.

Dediquei-me totalmente a minha bebê e matei a saudade

de um ano inteiro recebendo e dando apenas migalhas de finais de


semana que sempre passaram rápido demais. Tenho tanto amor
guardado para a minha filha que chega a ser doloroso.

  Camila é o amor da minha vida, é apenas por ela que

tenho que viver no momento. Quase sempre é fácil esquecer-me de

que existe um mundo e que não somos as únicas, mas há os

momentos de fraqueza, momentos em que entro em desespero e


faço escolhas erradas.

Eu fiz a escolha errada quando aceitei o convite de uma

amiga do colegial para me divertir nessa casa de shows. Uma amiga

de quem Flávia nunca gostou. Ela achava a garota metida e

arrogante. Flávia não estava errada, mas minha necessidade de

tentar me reerguer me trouxe até aqui com ela.

Como o universo parece estar contra mim, eu deveria ter

imaginado que não seria tão fácil. Minha tentativa de distrair meus

pensamentos e me divertir como uma jovem da minha idade foi

frustrada minutos depois, quando olhei em direção ao bar e avistei o


homem por quem sou apaixonada flertando com outra mulher.

Não é razoável que me sinta dessa forma, porque ele

nem ao menos se lembra que tivemos um relacionamento sério,


mesmo que tenha durado tão pouco, mas não posso evitar o

sentimento de traição.

 Sinto-me traída e mal posso me conter para não chorar

na frente das pessoas que estão me acompanhando. Não conheço


ninguém além da Bárbara, mas confesso que são legais e me

fizeram dar algumas risadas sinceras desde que chegamos.

Mesmo tentando me divertir, não consegui deixar de olhar

para o bar. Prestei atenção em cada movimento do Calebe e da


mulher com quem pretendia transar.

Eu não tenho a menor dúvida de que teria ido embora


com ela, que teria a levado para um quarto de hotel e teria se

divertido durante a noite inteira, sem fazer a menor ideia de que


havia deixado um coração partido para trás. Quanto mais

observava, mais sentia meu coração afundando no peito. Quanto


mais observava, mais se tornava difícil o ato de conter o choro.

  Quando eles se beijaram, senti que poderia sufocar de

tanta dor, mas ainda estou aqui, porque nunca fiquei sabendo de
alguém que morreu por causa de um coração partido. Sabia que

passaria a noite inteira acordada, recriando cenas e sofrendo por


pensar no homem por quem sou apaixonada tocando em outra

mulher.

A sensação de impotência me acompanha todos os dias


há meses e não sei mais como é viver sem me sentir dessa forma.

 Senti que finalmente poderia respirar quando o casal se

levantou para ir embora, mas antes que eu pudesse comemorar o


fim da tortura, Calebe me viu e não se deu ao trabalho de ignorar

minha presença.

Agora ele está na minha frente, olhando-me de um jeito

que não consigo entender se está bravo, decepcionado ou surpreso.


Talvez seja uma mistura dos três sentimentos.

Mas realmente não importa o que ele sente ou deixa de


sentir quando sou a única que tem o coração pisado todos os dias.

Calebe disse que precisamos conversar, mas não acho


que seria uma boa ideia, não agora.

Estamos dando um show para as pessoas que nos


cercam e assistem como se fôssemos atores de uma peça de

teatro.
— Siga o seu caminho com sua namorada. Depois te
procuro para que possamos falar sobre o que você quiser. — Tento
ser pacífica e demonstrar uma calma que contraria a verdade do

meu coração.

Minhas palavras fazem seus olhos azuis escurecerem a


ponto de se tornarem negros. Ou talvez seja a luz do ambiente. Em
que momento deixei de entender esse homem? Não tenho mais

certeza se reconheço suas reações básicas.

Em vez de responder-me, Calebe olha para sua

acompanhante e sorri. Talvez ainda o conheça de alguma forma,


pois o jogador não precisa abrir a boca para que eu entenda que
está pedindo desculpas.

— Não precisa dizer nada, entendi que você tem que lidar

com essa situação.

Essa situação?

Não sou uma situação, porra!

Sou a mãe da filha dele, sua idiota!

— Sinto muito se te fiz perder tempo. — Apesar das


palavras, ele não parece com uma pessoa que está arrependida.
— Está tudo certo, tenho irmãos e entendo que sua irmã
precisa de você no momento.

  — Pois é! Minha irmã precisa de mim — fala, de uma


forma que faz parecer que o fato de ela ter pensado que somos

irmãos é uma ofensa.

  Eu sempre odiei como as pessoas acreditavam que

Calebe me via como uma irmã, mas ele nunca se importou com
isso.

Talvez continue não se importando e eu esteja

entendendo tudo errado.

— A gente se vê por aí? — Ela fala, Calebe joga uma


piscadinha.

— Não faltarão oportunidades. — Essa parte é dita

enquanto tem seu olhar preso no meu. Calebe está tentando me

provocar?

Que vontade de cometer um crime de ódio!

Quando a mulher nos deixa, o jogador se aproxima ainda

mais e envolve o braço na minha cintura. O mesmo braço que até


alguns minutos estava tocando em uma vadia qualquer, que ele nem

ao menos conhecia.

Tudo o que menos quero é dar um show para essa

galera, mas não posso me segurar e acabo me afastando do seu

agarre.

Os colegas que estão em volta tentam fingir que não


estão interessados na nossa interação, mas todos são péssimos em

disfarçar.

— Venha comigo, Lara.

  — Não irei com você a lugar algum. Perdeu seu tempo


dispensando a foda fácil por minha causa.

— Está errada. Se era uma foda fácil, posso encontrar

outra a qualquer momento, mas agora estou interessado em você.

Nós precisamos sair daqui — depois de falar em tom de sermão,


como se fosse meu pai, o jogador novamente se aproxima, mas

desta vez segura-me pelo pulso.

— Você não é meu irmão, não é meu pai e nem nada que
seja próximo de alguém com autoridade suficiente para dizer o que

tenho que fazer. Não irei embora com você, Calebe de Matos. Estou
me divertindo com os meus amigos e irei embora na hora que eu

quiser. Estamos entendidos?

É claro que estou bêbada o suficiente.

Se estivesse cem por cento sóbria, não estaria falando


com o pai da minha filha dessa forma. Sou uma pessoa pacífica e

nunca falei assim com ninguém. Mas, já que tudo mudou, talvez eu

também tenha mudado de personalidade.

— Você está bêbada, porra! Espera que eu te deixe aqui


para que qualquer um possa se aproveitar da sua fragilidade?

— Foda-se!

Calebe está conseguindo me irritar de verdade com seu

jeito mandão e possessivo.

— Realmente foi um prazer conhecer vocês. Não levem

em consideração o que farei a seguir e não pensem mal de mim,

tudo bem? Lara e eu nos conhecemos desde que ela era um bebê,

mas hoje está se comportando muito mal e preciso fazer alguma


coisa. — Depois de manipular meus amigos com algumas palavras,

ele me abraça com mais firmeza pela cintura e sai praticamente me

arrastando para a porta de saída da maldita casa de shows.


Como bando de idiotas que se deixam cair facilmente,

meus colegas não fazem nada para me ajudar.

Do lado de fora do estabelecimento, Calebe segue com a

mesma atitude e só me solta depois de me jogar de qualquer

maneira no banco do carona do seu carro. Antes que eu tente

escapar, o homem trava as portas, senta na cadeira do motorista e


coloca o carro em movimento.

Tenho tantas coisas para dizer a respeito da cena que fez

agora há pouco e tantos xingamentos terríveis que no final não


consigo dizer uma única palavra até que o carro pare alguns

minutos depois.

Eu estava perdida demais na minha própria indignação

para prestar atenção na estrada, mas tenho certeza de que não


estamos na nossa rua. Na verdade, ele me trouxe para um terreno

baldio e pouco iluminado. Reconheço o local, é a antiga quadra de

tênis que a prefeitura não se importou em reformar.

Se estivesse com qualquer outro homem, eu estaria


morrendo de medo, mas esse aqui, apesar de ter me irritado muito

agora há pouco, é o meu Calebe. Ele jamais faria algum mal para
mim. Pelo menos, não fisicamente. Não de propósito, de qualquer

forma.

— Por que você me trouxe aqui? Leve-me para casa,

Calebe — peço. Apesar da pouca iluminação, consigo ver


perfeitamente seu belo rosto.

— Levarei, bebê. Mas só farei depois que conversarmos,

porque chegou a hora de você tirar a máscara e me contar por que

continua fugindo de mim.


 

CALEBE
Depois de vários dias de tortura, finalmente chegamos a

esse momento e não permitirei que fuja desta vez.

A garota e eu tínhamos um relacionamento muito

próximo, então não posso simplesmente aceitar que continuemos

agindo como se fôssemos dois desconhecidos. Esses não somos


nós.
— Talvez você esteja usando uma máscara — ela

responde meu último comentário.

Eu realmente devo estar desesperado, porque é bastante


evidente que Lara bebeu mais do que está acostumada. Não que eu

tenha a visto bebendo alguma vez antes do acidente.

— Fiz alguma coisa que te chateou? — Vou direto ao


ponto. — Você Mudou depois do acidente e não consigo entender o

que fiz de errado. Se conversar comigo, talvez a gente possa

consertar.

— O que você quer de mim, Calebe?

— Quero que as coisas voltem a ser como antes. Antes

você era minha amiga e não fugia de mim. Antes nós

conversávamos e não nos sentíamos desconfortáveis perto um do

outro.

Estou abrindo meu coração de uma forma que nunca fiz,

mas é pouco perto do que eu faria para voltar a sentir que estou

pisando em um terreno seguro novamente. Há poucas coisas que

eu não faria para voltar a ver o seu sorriso sincero para mim.

Eu sei que os meus próprios sentimentos estão confusos


e que não consigo compreender a maioria deles, mas posso
conviver com toda essa merda, desde que tenha a sua amizade
novamente.

— Não sou mais a mesma. Não sou mais aquela garota

boba que ficava correndo atrás de você o tempo inteiro. Eu tenho

uma filha agora e ela é minha prioridade.

— Então sua filha é a desculpa que encontrou para poder

fugir de mim?

As últimas palavras que saem da minha boca fazem com

que Lara vire a cabeça em direção à janela, em uma tentativa de

fugir do meu olhar.

Antes que eu tenha a chance de a confrontar, ou de fazer

mais questionamentos, ela ergue a mão e limpa o rosto molhado

pelas lágrimas.

Merda! Fiz a garota chorar e não faço ideia de onde estou


errando. Tudo parecia igual depois de quase dois anos fora da

realidade, mas algo mudou muito e foi justamente o que deveria ter

permanecido igual.

Eu poderia consertar qualquer situação, ou seguir em

frente sem dramas, caso fracassasse, mas não com ela. Não posso

seguir em frente e deixar as coisas como elas estão.


As suas lágrimas deixam claro que se sente da mesma

forma. Mesmo não fazendo ideia do que fiz para a magoar, e agora
não tenho a menor dúvida que não é apenas pela filha que todos

esconderam de mim, farei com que as coisas voltem a ser como


antes.

— Pequena, olhe para mim — peço, ao segurar seu


queixo com carinho e virar sua cabeça em minha direção. — A sua

filha…

— Não fale sobre a Camila. Não agora — o tom da sua


voz é duro e, para variar, mais uma vez me sinto no escuro.

— Ela não é um problema entre nós. Você não precisa

sentir vergonha, eu a amarei como amo você, querida. Apenas não


a use como desculpa, porque sei que existe uma razão muito forte

para as suas recentes reações — declaro. — Estou tentando ser


paciente, mas quero que me prometa que, em algum momento, me
contará o que tem te atormentado, o que está fazendo com que se

afaste de mim de tal forma que a saudade está me sufocando.

— Preciso tanto de você, Calebe. Se você ao menos

imaginasse o quanto. Eu não aguento mais…


A última palavra mal é dita por inteiro, porque a puxo para

perto de mim sem me importar com o quanto a posição em que


estamos parece inapropriada e perigosa diante da situação em que

me encontro: total e completamente fodido por essa garota quase


inocente demais, semi-bêbada e linda.

Coloco-a em cima das minhas pernas no espaço


apertado do meu carro e neste momento Lara não está tentando

fugir. Na verdade, a pequena loira parece tão confortável que me


abraça pelo pescoço.

Embora eu saiba que não é verdade, esse parece ser o


seu lugar. Nos meus braços. Tão próxima que eu poderia
simplesmente a beijar até o dia amanhecer e não me sentir nem um

pouco culpado no dia seguinte.

Com medo de as palavras erradas escaparem, abraço-a


por um tempo e enterro o rosto no seu pescoço cheiroso.

A essa altura da minha repentina atração, já estou

deixando fluir sem qualquer pudor, sem tentar fingir que não sinto
algo do qual não posso fugir nem em sonho.

Claro que é totalmente inapropriado e até mesmo


doentio, se for para considerar que, apesar de não ter chegado a
tanto, quase a enxerguei como uma irmã. Com certeza a tratei como
tal a vida inteira.

Certamente, as nossas famílias não entenderiam se um


dia eu ousasse ficar com Lara ou tivesse a chance de ser

correspondido nessa atração que, de maneira que não posso


compreender, parece estar aqui há um tempo.

Às vezes, tenho a sensação de que estou deixando algo

passar, algo que seria a explicação óbvia para tudo, mas minha
mente sempre bloqueia antes de vir a tona.

Há o bloqueio, mas não é o suficiente para frear minhas


reações a essa loirinha.

Agora nós estamos próximos, de uma forma que eu não


deveria desejar tanto, e tudo parece fazer sentido novamente.

Embora sinta que não será nem de longe o suficiente, aceitarei a


amizade e a conexão que sempre tivemos.

— Olhe para mim, pequena — peço em algum momento,


porque não faço ideia de quanto tempo ficamos abraçados em

silêncio. — Você está bem?

— Vou ficar — diz.


— Promete que tentará conversar comigo e que não me
manterá longe da sua vida a partir de agora?

— Prometo. Eu não conseguiria ficar longe de você por


muito tempo, nem mesmo se tentasse muito — sua declaração é

música para os meus ouvidos.

— Senti a sua falta, bebê.

— Também senti a sua — declara.

Sem pensar muito no que estou fazendo e nas


consequências dos meus atos, enterro o nariz no seu pescoço para

sentir seu cheiro mais uma vez e depois olho dentro dos seus olhos.

Sem conseguir me conter, sentindo que poderia explodir se não


fizesse, beijo o seu rosto por inteiro com carinho.

Primeiro sua testa em sinal de respeito, depois distribuo

beijos nos dois lados das suas bochechas e termino no canto da sua

boca.

São toques que poderiam confundi-la da mesma forma

que me confundem e me fazem desejar muito mais, mas não posso

resistir.
Resistir seria o certo, mas faz muito tempo que não sei

definir o que é certo e errado em algo que diz respeito a essa


garota.

Caralho! Como a irmãzinha do meu melhor amigo se

tornou a mulher dos meus sonhos de uma hora para outra?

A minha única saída é aceitar, ou enlouquecer.

Talvez eu tenha que vê-la nos braços de um homem

qualquer. Talvez eu tenha que sofrer de frustração por não poder a

tocar da forma que meu corpo e meu coração desejam, mas as

coisas têm que ser assim.

Não é apenas sobre o que quero, há também os seus

sentimentos e sei que Lara não me enxerga como homem. Para ela,

sou apenas seu melhor amigo.

Eu estava sofrendo por não a ter comigo. Agora que


acredito que estamos nos resolvendo, me contentarei com o fato de

tê-la perto de mim. Ter a sua amizade é melhor do que a perder por

causa de sentimentos que não deveriam existir.

Se Lara soubesse sobre os sonhos que tenho com ela

durante as minhas noites atormentadas, sairia correndo para bem

longe e nunca mais olharia na minha cara.


Como ter o seu desprezo não é uma possibilidade, os

sentimentos e desejos que me atormentam terão que ser sufocados,

porque o plano sempre foi esse. Agora mais do que nunca, tentarei
esquecer que me sinto atraído pela única mulher que não pode ser

minha.

— Eu sinto muito por ter estragado sua noite. Ela era

muito bonita e combinava com você. — Apesar das palavras, ela

não parece arrependida e sinto até um pouco de chateação por trás


do pedido de desculpas.

— Não era importante — digo com sinceridade.

A verdade é que não houve uma única mulher com quem

transei desde a primeira vez que tenha sido algo além de sexo. Se
acontecesse algo entre Lara e eu, seria a primeira vez em que eu

teria uma conexão tanto física quanto emocional com uma mulher.

— Não era importante, mas você transaria com ela.

A forma como ela é ingênua chega a ser fofa, embora


essa ingenuidade e inexperiência possa a colocar em problemas se

cair na conversa das pessoas erradas. Felizmente, estou aqui e não

permitirei que aconteça.


— Você não entende como funciona a cabeça dos

homens, loirinha. A maioria de nós não precisa estar


emocionalmente envolvida com a mulher para a levar para a cama.

É tudo sobre sexo e satisfação carnal.

— Não sei se conseguiria fazer isso.

  Suas palavras me fazem pensar em algo que traz um


gosto amargo para a minha boca e não consigo evitar de fazer a

pergunta desnecessária.

— Você estava apaixonada pelo pai da sua filha quando

transou com ele?

As suas bochechas ficam vermelha e ela demora para

dizer alguma coisa. Sinto-me desconfortável só de pensar na Lara

apaixonada por alguém.

Ela esteve apaixonada uma única vez e foi por mim.


Como era uma adolescente que não sabia o que estava dizendo e

não entendia nada sobre sentimentos, não levei os seus a sério.

Duvido que hoje se sinta da mesma forma.

— Eu estava muito apaixonada por ele — a declaração é


um soco no meu estômago e, por um momento, fico sem saber o
que dizer. Na verdade, fico sem reação. — Está tudo bem, Calebe?

— Tudo bem — minto. — Não está mais apaixonada? O

que aconteceu entre vocês?

— O destino nos levou para caminhos diferentes, e por


mais que eu tenha sofrido com a separação, fiz o meu melhor para

seguir em frente pela minha filha.

Odeio ouvi-la falando assim de outro cara, sobretudo,

sinto-me incomodado por perceber que tem sentimentos por alguém


que não foi capaz de assumir a própria filha. Até onde sei, o cara

fugiu da responsabilidade e permitiu que a pequena lidasse sozinha

com a gravidez e a criação da Camila.

Mas não falarei o que penso agora. Lara é muito jovem e


um dia entenderá que foi melhor assim. É melhor que esteja sozinha

do que ao lado de um homem que só traria problemas para a sua

vida.

Além do mais, ele já está fora da jogada e fico feliz de


não precisar interferir para a proteger da pessoa errada.

Obviamente, sou o mais errado de todos para a Lara, mas não

passou pela minha cabeça me tornar um erro do qual essa garota


se arrependeria profundamente.
— Eu tenho orgulho de você — declaro sem planejar. —

Não estava aqui para te dar apoio, mas, pelo pouco que vi, percebi
que tem se esforçado para ser a melhor mãe possível. Camila tem

sorte de ter você.

— Quer me fazer chorar novamente? — Ela brinca e eu

sorrio.

— Não quero que você chore nunca mais.

— Não posso prometer, mas tentarei. — Quando ela dá

uma piscadinha, o gelo em volta do meu coração começa a derreter.

Eu sorrio com sinceridade pela primeira vez em muito


tempo. Também é a primeira vez em muito tempo que me sinto leve.

O peso que sentia sobre os meus ombros desapareceu dentro deste

carro.

Confortáveis com a presença um do outro, e agindo como


se não fosse estranho que ela esteja em cima das minhas pernas,

como uma amante ficaria, conversamos durante alguns minutos e

só a levo para casa quando começa a ficar tarde.

Ao estacionar na frente da sua residência, Lara tira o


cinto de segurança e abre a porta. Depois de termos passado um
tempo conversando, pensei que ela simplesmente sairia, mas sou
surpreendido.

A garota que pensei que fosse inatingível se aproxima

repentinamente e deixa seu rosto muito perto do meu. Sua boca

está quase encostada na minha e posso sentir o doce calor da sua


respiração contra os meus lábios.

É impossível não sentir a reação imediata do meu corpo.

Não consigo negar a expectativa e a vontade de agarrá-la aqui


mesmo, sem me importar se seríamos vistos pelas nossas famílias.

— Algum problema?

Em vez de responder, Lara segura os dois lados do meu

rosto e me beija. Não um beijo de verdade, mais um selinho


demorado, que é o suficiente para desbloquear uma memória.

Vejo nós dois no vestiário do estádio de futebol depois de


uma partida. Ela está com as costas apoiadas contra o azulejo e eu

estou na sua frente, segurando suas coxas macias envolvidas nos


meus quadris e metendo o pau na sua boceta com força e vigor.

Enquanto a como sem cuidado e cheio de tesão, ela me


beija com selvageria e morde minha boca ao mesmo tempo de

maneira bem sexy.


  Meu corpo esquenta e meu pau começa a ficar duro,
enquanto olho em seus olhos e tento entender o que acabou de
acontecer.

Eu estava lidando sozinho com a mudança dos meus


sentimentos por essa garota, mas sempre sabendo que era algo
completamente unilateral e impossível.

De repente, Lara me beija e me faz questionar todas as

minhas certezas. Será que eu estava completamente equivocado?

Será que não estou sozinho nessa loucura?

— Por que você fez isso? — Questiono, fazendo de tudo


para não olhar para a frente da minha calça e torcendo ainda mais

para que ela não faça isso.

Se olhasse para baixo, Lara veria uma ereção


monstruosa e não entenderia nada.

Tudo por causa das lembranças, certamente de um dos

muitos sonhos que tenho tido desde que cheguei a cidade. Pareceu
absurdamente real, mas sei com toda a certeza que Lara e eu
nunca transamos.
Na verdade, esse é o primeiro toque que extrapola a
amizade que ela se permitiu. Também esteve no meu colo no antigo
campo de tênis, mas até então tentei fingir que havia sido algo

natural e sem malícia, pelo menos para ela.

— Só estava te agradecendo por hoje. Não gostou?

Agora, Lara aparece sem jeito e culpada por causa de um

impulso.

— Eu teria que ser louco para não gostar. — Na tentativa


de fazer com que se sentisse melhor, fui sincero demais e agora nós

dois estamos sem graça.

— É melhor eu ir agora — Lara fala, e em seguida deixa


meu carro.

A garota segue em frente sem olhar para trás e eu fico

grato por isso. Eu poderia ter um momento de fraqueza e puxá-la


para um beijo de verdade.

Quando entro no meu antigo quarto na casa dos meus


pais, tiro a roupa e vou direto para o banheiro. Agarro o pau duro

entre os meus dedos e me masturbo até gozar, sussurrando o nome


da Lara uma vez após a outra.
  Gozei com as lembranças imaginárias de nós dois
fodendo no vestiário do estádio e tenho certeza de que se tornará

uma dessas fantasias impossíveis que todas as pessoas têm.

O que fica na minha mente, além da esperança de que

depois de hoje a nossa relação volte a ser como antes, ou pelo


menos parecida, é a sensação de que a Lara não é indiferente a
mim, que seu interesse não está na base da amizade, como supus

que estivesse.

Se eu não estiver interpretando tudo errado, a pequena

também se sente atraída por mim, mesmo que talvez seu coração
pertença a outra pessoa.

Se a suspeita for comprovada, duvido que tenha forças


para resistir, mesmo que signifique comprar uma briga grande com
as nossas famílias.
 

LARA
Primeiro me senti chateada e completamente apavorada

quando vi o Calebe naquela casa de shows há três semanas. Isso

sem contar com a decepção de presenciar de perto sua saída para


fazer sexo com uma loira qualquer.

Então ele me viu e agiu como um homem das cavernas,


depois nós dois tivemos a chance de conversarmos como adultos

na antiga quadra de tênis. Era uma conversa necessária, embora eu


estivesse fugindo e tentando preservar o que havia restado do meu

coração partido.

A forma como Calebe me olhou e falou comigo me fez


entender algumas coisas que devolveram um pouco da paz que

perdi quando ele acordou e me deixou saber que não se lembrava

de nada do que estávamos vivendo antes do acidente.

Naquela noite percebi que o ter como amigo era melhor

do que não ter nada. Concluí que ficar perto dele talvez possa fazer

com que lembre de nós dois em algum momento.

Quando comecei a me contentar com o mínimo em vez

do nada, o homem me puxou para cima das suas pernas da mesma


forma que fazia quando estávamos namorando e tal gesto fez as

esperanças renascerem.

Ele me olhou como me olhava quando estava com tesão.

Ele me tocou como um homem tocaria a amante que conhece do


avesso: cheio de posse e de intimidade.

Não planejei beijar sua boca, apenas fiz o que estava

com vontade de fazer e não pensei na sua reação.

Para a minha alegria, o pai da minha filha ficou apenas


surpreso, mas não apavorado. Na verdade, ele estava excitado,
porque não deixei de notar seu pau duro quando meu olhar desceu
rapidamente para o seu colo.

Era por mim.

Não faço ideia do que havia nos seus pensamentos

antes, mas duvido muito que só um selinho tenha sido capaz de


despertar seu membro da forma como ficou desperto.

Não me arrependi da impulsividade, não depois que

conversamos com sinceridade. Não depois que prometi que não iria

mais o manter afastado de mim.

Eu simplesmente não conseguiria aguentar durante muito


tempo, afinal, é do amor da minha vida que estou falando.

Depois que Calebe me deixou em casa, tomei um banho

e me deitei ao lado da minha bebê na cama que pertence a mim

desde que eu era uma criança.

  Tentei dormir para não tomar decisões no calor do

momento, mas meus pensamentos, que corriam desesperadamente

em direções opostas, levaram meu sono embora.

Antes que pudesse impedir, comecei a pensar em um


plano louco demais e com grandes chances de dar errado.
O plano nada mais é do que uma tentativa desesperada

de trazer o meu homem de volta para os meus braços.

Depois da forma como ele pareceu desesperado pela

minha companhia novamente, entendi que mesmo correndo o risco


de me machucar ainda mais, não poderia continuar fugindo.

Tive que vê-lo com outras mulheres nos últimos meses.


Tive que o ver me olhando como se ainda fôssemos os mesmos de

antes, mas agora nós dois estamos em casa pelas próximas


semanas e sinto que preciso ser corajosa para lutar pela minha
felicidade.

Calebe me deu um sinal naquela noite. A forma como me

tocou e me olhou deu esperanças de que, em algum momento, ele


se recordará do quanto estávamos apaixonados. Então poderei

dizer que a Camila é nossa filha, porque nunca existiu outro além
dele na minha vida. Nunca estive apaixonada por outra pessoa.

 O plano não é tão simples quanto parece. Por acreditar

que Calebe poderia nunca se lembrar do que vivemos, ainda penso


que há uma possibilidade de isso acontecer, havia desistido da

minha felicidade.
Mas, depois de pensar um pouco, entendi que mesmo

que não se lembre do que vivemos no passado, talvez possa fazer


com que se apaixone por mim pela segunda vez. Calebe não

resistiu antes e não poderá resistir a paixão durante muito tempo na


segunda vez.

Talvez ele tenha que viver os mesmos conflitos de


sentimentos por acreditar que me amar é errado, como aconteceu

na primeira vez, mas, assim como não foi capaz de recuar antes,
talvez eu torne impossível novamente.

Com um plano em mente, o levarei a passar pelas


mesmas experiências sem me permitir sentir pena um segundo
sequer, porque eu, sim, lembro de tudo e sei que no final a

recompensa virá com momentos de felicidade, de prazer e de


entrega total nos braços um do outro.

É claro que o meu coração está em conflito e ainda


quebrado demais para não sentir medo e mágoa dele por ter se

esquecido de nós dois, mas o meu coração também anseia pelo que
tivemos, meu coração está sedento pela batalha que terminará com

a vitória de nós dois e da nossa bebê.


Então, quando estivermos no ponto em que estávamos
antes do acidente, contarei a verdade, direi que estávamos
namorando e que tivemos uma filha juntos.

Se o seu amor for realmente sincero, ele me perdoará e

entenderá o porquê de eu não ter dito a verdade desde o início.

Mas a parte do perdão será só no final de uma guerra


que ainda nem começou.

Conscientemente tímida, nunca fui de tomar a iniciativa. A

palavra ousadia quase nunca esteve no meu dicionário, mas terei


que me transformar em tudo o que nunca fui para ter o meu homem
de volta.

Terei que usar de artifícios para me tornar irresistível aos


olhos do jogador que pode ter qualquer mulher que desejar e sinto

que será uma mistura de tensão com diversão pelo tempo que o
jogo durar.

Embora tenha cumprido com a minha palavra e deixado


de fugir do Calebe como disse que faria nas últimas semanas,

nossos encontros ainda foram um pouco menos naturais do que


deveriam.
Depois que me convidou para jantarmos e saí correndo,
Calebe parece ter perdido a coragem de tentar novamente e só
esteve comigo em encontros que aconteceram de forma não

planejada.

Nos vimos na casa dos seus pais quando levei Camila


para os visitar na semana passada. Nos vimos quando meu irmão
marcou uma corrida com o melhor amigo e me convidou para ir
junto. Nos vimos quando eu estava na praça com minha bebê e ele

surgiu de repente.

Conseguimos conversar em todos os encontros, sempre

tentando nos reconectar. Sei que Calebe não entende o porquê de


estar passando por esse processo, mas, ainda assim, parece

disposto para estar comigo.

As suas atitudes mostram todos os dias que eu teria sido

uma burra se tivesse me afogado na minha tristeza e desistido de


nós dois por causa de um percalço no meio do caminho.

O acidente foi uma fatalidade, mas nosso amor merece

uma segunda chance e estou tentando dar uma para nós dois. É
isso que estou fazendo nesse exato momento: tentando.
Ontem à noite Calebe mandou um convite através de

mensagem de texto. Ele me chamou para assistir a um dos seus


treinos nas arquibancadas do estádio.

Mesmo estando de férias, ele não pode ficar parado e

precisa se exercitar o tempo todo para não perder suas habilidades.

Não pensei duas vezes antes de aceitar o convite.

Talvez ele não estivesse esperando que eu fosse trazer a

Camila, mas tive as minhas razões para agir dessa forma. Além de

acreditar que será bom que ela veja o pai jogando, mesmo que
ainda não entenda nada, também a trouxe para que Calebe entenda

que nada será exatamente como antes e que não penso mais

apenas em mim. Agora tenho um pequeno ser humano que precisa

ser considerado em todas as decisões que tomarei daqui por diante.

O jogador precisa se lembrar sempre de que sou mãe

acima de todo o resto.

 Aparentemente, ele não se importa com a presença dela.

Muito pelo contrário, o homem abriu o sorriso quando viu a minha


princesa e veio até nós para a cumprimentar com um beijo na

bochecha.
Não, foi mais do que isso. Os olhos do jogador se

iluminaram e ele pareceu se desligar de tudo a sua volta, até

mesmo de mim, mas não se desligou da sua filha. Eu quase


perguntei se não queria segurá-la nos braços, mas meu irmão se

aproximou e o chamou para se aquecer.

Antes de sair, Calebe olhou para mim e jogou uma

piscadinha. Suspirei como uma adolescente e me senti grata por

não precisar sentir ciúme da atenção que deu para a minha própria
filha.

  Calebe se aqueceu com alguns minutos de corrida no

gramado do estádio e agora está tocando a bola com os


adolescentes do time de base.

Agitada em meus braços, Camila não consegue tirar

atenção do que está acontecendo no campo. Ela é muito curiosa

para uma menina de um ano de idade, não duvido que tenha


herdado o amor do pai pelo futebol. Só isso explica tamanho

fascínio quando vê um jogo de futebol acontecendo, seja pela TV,

ou ao vivo como agora.

— Está vendo seu pai, meu amor? Um dia ele fará um gol

para você e fará isso sabendo que é seu pai. Depois sairemos
juntos para comemorarmos como uma família.

Minha bebê presta atenção na minha voz e sorri com


seus quatro dentinhos fofos. Sei que não está entendendo nada,

mas sempre tive o costume de conversar com ela.

— Gol!

Ouço a voz de alguém ao meu lado, depois os gritos dos

familiares dos garotos do time de base chamam minha atenção para


o que está acontecendo no campo.

Calebe marcou um gol e agora está correndo em nossa

direção, todo suado e gostoso, mais lindo do que nunca com um


belo sorriso no rosto. Meu coração dispara, minha boceta se contrai

e até as minhas pernas ficam bambas.

Eu não poderia resistir a esse homem, nem mesmo se a

minha vida estivesse em jogo.

Eu sei que preciso ser discreta, porque meu irmão está

aqui e talvez possa desconfiar se exagerarmos na interação, mas

momentos como esse me deixam um pouco cega e fora de controle.

Momentos como esse levam minha mente para o


passado e me fazem lembrar de como eu era empolgada na
adolescência. Lembro-me de como torcia e vibrava pelo homem por

quem sempre estive apaixonada, mesmo antes de entender o que

era estar apaixonada.

— Você viu o gol que fiz para você, meu amor? — É claro
que Calebe está falando com a filha. Camila sorri para ele, como fez

todas as vezes em que o viu nas últimas semanas.

  A pequena não sabe que ele é o seu pai, mas o

chamado do sangue fala mais alto sempre que o segue com o olhar,
a cada sorriso e em todas as vezes em que estende os braços para

que a segure.

Para a minha felicidade, Calebe retribui o carinho na

mesma medida.

— E eu aqui… pensando que todos os seus gols eram

dedicados a mim. — Embora esteja brincando, é verdade que a

maioria dos gols que Calebe fazia eram para mim.

Desde a época em que eu não passava de uma


adolescente e ele começou a jogar profissionalmente, Calebe

olhava para as arquibancadas e jogava uma piscadinha para onde

eu estava com nossas famílias e amigos.


Eu sempre acreditei que ele estava piscando para mim,

mas tinha medo de perguntar e descobrir que estava apenas sendo


uma tola iludida. Mas depois que começamos a namorar, ele me

confessou que realmente eram para mim e que as piscadelas

depois dos gols foram sua maneira de me homenagear.

Lindo!

Perfeito!

Calebe e eu sempre fomos importantes um para o outro,

mesmo antes de percebermos que os nossos sentimentos iam além

da amizade. Eu descobri aos treze anos. Ele se deu conta depois


que fiz dezoito.

— Eu sinto muito, loirinha, mas você perdeu o seu posto

de musa para essa bebê fofa aqui — declara, mas se aproxima e

beija o meu rosto.

Por falar em rosto… o cheiro de suor, misturado aos

resquícios do seu perfume, está fazendo coisas com partes

específicas do meu corpo. Talvez eu devesse fugir agora.

— Para ela, aceito perder. Mas apenas para a minha


filha, você está entendendo?
— Você não tem com o que se preocupar, pequena. Não
sabe que sempre foi você? — Questiona e, por um momento, tira a

atenção da nossa filha para me encarar.

Meu coração dispara, porque ele disse essa frase

algumas vezes, e nenhuma foi antes de namorarmos. Teoricamente,


ele não deveria se lembrar dessas palavras, não é?

— Está tudo bem? — Questiono.

— Sim… — O jogador balança a cabeça de um lado para

o outro e depois me encara novamente. — Por um momento, tive a


sensação de já ter dito essas palavras para você. Eu disse?

 
 

CALEBE
Depois de um mês da minha volta para casa, finalmente

sinto que as coisas estão melhorando para mim. O que parecia

errado depois que acordei não é mais tão estranho e finalmente


estou começando a ser eu mesmo.

Não vou fingir que as mudanças não têm nome e


sobrenome, muito menos que não suspeitava que ela era a causa

principal do meu desnorteamento e estresse.


Eu queria que tudo fosse como antes, porque dois anos

para as outras pessoas foram como um dia para mim. Quando


despertei e vi que uma das pessoas mais importantes da minha vida

não estava agindo de acordo com a relação que tínhamos, acabei

pirando e me perdendo ainda mais da pessoa que eu era.

Mas a gente conversou e nas últimas semanas tudo tem


sido mais fácil e leve nas nossas interações.

Estou sendo seu amigo, mesmo que a atração, que

aumenta a cada dia que passa, me faça desejar bem mais do que
os seus sorrisos perfeitos.

Depois que a Lara foi assistir a um dos meus treinos, e


me surpreendeu positivamente ao levar junto a bebê mais linda do

mundo, usei palavras para ressaltar sua importância na minha vida

e naquele momento comecei a sentir com mais intensidade que

havia algo importante na nossa relação que eu estava deixando


passar.

 Sempre foi você.

Essa frase. Não sei em que contexto ou em que momento

foi dita no passado, mas olhei dentro dos seus olhos e soube que

não era a primeira vez.


Eu não tive dúvidas, mas a forma como Lara fugiu do
estádio depois da minha pergunta deixou-me ainda mais certo.

Antes que ela pudesse me responder, seu irmão apareceu e me

chamou para que eu me despedisse dos adolescentes com quem

havia acabado de jogar.

Eu quis o ignorar para confrontar a garota, mas meu lado


profissional e responsável falou mais alto naquele momento. Antes

de ir falar com os garotos, pedi que me esperasse, pois depois que

os atendesse pretendia a levar até em casa.

Lara concordou com meu plano, mas não estava

esperando quando voltei para a procurar. Mais uma vez, ela fugiu de

mim.

Nos dias seguintes, ela agiu como se não tivesse feito

nada de errado e me tratou com carinho e o máximo de proximidade

permitida entre amigos que não estão fazendo sexo.

Ontem a convidei para um passeio e fiquei surpreso


quando aceitou sem argumentar. Quando perguntou para onde

iríamos, eu disse que preferia guardar segredo até o momento certo.

Para convencer-me, desde que acordei repeti várias

vezes que é só a Lara e que não tenho razões para ficar nervoso,
mas é simplesmente impossível conter a mistura de nervosismo

com ansiedade, que provavelmente me consumirá o dia inteiro.

— Está tudo bem, filho? — Minha mãe pergunta.

Estamos todos sentados à mesa para tomarmos o café


da manhã em família, algo com a qual éramos acostumados na

infância e adolescência, mas que se tornou raro quando minha irmã


e eu crescemos e deixamos a cidade.

Assim como a família Molina, nós sempre nos reunimos


no período de férias e ficamos juntos da forma que não podemos

durante o resto do ano.

— Tudo bem, mamãe. Não pareço bem? — Dona Vera

sempre foi observadora, mas ela se torna uma águia quando o


assunto são seus filhos.

É claro que ela não deixaria de notar que estou tenso e


com os pensamentos distantes, não tão distantes assim, porque a

pessoa em quem estou pensando mora ao lado.

— Você parece ótimo para alguém que se recuperou de

um acidente tão grave, mas ao mesmo tempo não parece aquele


garoto que sempre estava leve e relaxado, mesmo quando a
ocasião pedia um pouco de tensão e preocupação.
Ocasião: partidas importantes de futebol.

Ela realmente está certa sobre mim, e foi justamente o

fato de eu sempre ter mantido a calma que me levou tão longe.


Meus resultados seriam inferiores se eu me permitisse ficar tenso e
preocupado demais.

— Está tudo certo, mamãe. Agora é a senhora que está


se preocupando demais. — Observando nossa conversa enquanto

se preocupam em tomarem o café da manhã, minha irmã e meu pai


não escondem as expressões faciais de que não confiam no que a

outra pessoa está falando. A pessoa, no caso, sou eu.

Estou em uma espécie de julgamento?

— Se você está dizendo… tentarei acreditar. Agora me


conte como está sua relação com a Lara.

Eu sabia que ela estava se preparando para chegar a


esse ponto.

— Qual a razão da pergunta agora? Pelo que me lembro,


Lara e eu sempre fomos amigos e ninguém jamais fez alarde sobre

isso.
— Só estou curiosa. Imaginei que talvez a relação de
vocês fosse ficar estremecida por termos escondido que ela teve
uma bebê. Minha netinha linda.

Netinha?

Bem que eu gostaria… embora nunca tenha passado


pela minha cabeça a ideia de ser pai.

Se fosse para ter um filho, gostaria que a mãe fosse a


Lara. Não tenho dúvida sobre isso. Não estou preparado para

admitir minha atração, mas seria ela.

— Nossa relação realmente ficou estremecida e não sei


se perdoei todos vocês por completo por terem agido pelas minhas

costas. Mas Lara é importante para mim e não conseguiria seguir


em frente sem ela na minha vida. Nós estamos tentando recuperar a

amizade de antes.

  Sinto que a perda da nossa conexão não tem relação

somente com o fato de eu ter descoberto sobre a Camila depois de


todo mundo, mas prefiro que minha família e meu melhor amigo

acreditem que é apenas por isso que estamos tentando nos


entender. Nenhum deles precisa saber que suspeito de que tenha

acontecido algo a mais e Lara está escondendo de mim.


  Sobretudo, eles não podem sequer suspeitar de que
neste momento estou me corroendo de ansiedade e expectativa
pelo nosso encontro de hoje à noite. Todos pensam que somos

apenas amigos, e realmente somos, mas poderíamos ser muito


mais se apenas os meus desejos fossem levados em consideração.

— Eu espero que dê tudo certo. Apesar de eu sempre ter


sentido ciúme da forma como roubou a minha melhor amiga de mim,
gosto de ver o quanto a Lara sempre fica feliz quando está perto de

você. — Flávia contribui para a conversa. — Acredita que algumas

amigas me provocam sobre vocês dois?

— Perdão?

— Elas acham que vocês formam um belo casal. Mas eu

sempre digo que estão completamente loucas, porque Lara e você

são muito diferentes e jamais enxergariam um ao outro com

interesse além da amizade. Nossa! Seria tão estranho se rolasse

Essa é a razão para eu ter ficado tão desnorteado

quando me peguei desejando a garota que vi crescer. Seria

estranho para todos e eu não poderia julgá-los quando nem eu


mesmo aceito totalmente a forma como meus sentimentos por Lara

Molina estão mudando.


— Realmente, suas amigas são loucas — digo. Sinto-me

um pouco mal, porque a sinceridade sempre foi o mais importante


nos diálogos da nossa família, mas faço por saber que deixar todos

no escuro é o melhor.

Além do mais, porque eu falaria de algo que pode jamais

acontecer? Não estou dizendo que posso resistir a Lara para


sempre, mas não tenho certeza de que ela realmente sente algo

além de amizade.

Ela agiu como se estivesse dando em cima de mim


quando a deixei em casa naquela noite, mas não posso afirmar que

não interpretei sua atitude de forma equivocada.

— Lara me contou que vocês sairão hoje à noite — minha

irmã comenta com sua boca grande e agora tenho a atenção dos
meus pais em mim.

Desde quando sair com a minha melhor amiga deixou de

ser natural não só para mim, mas para todos que me cercam?

Será que o maldito acidente levou embora a sanidade do


mundo?

— Levarei a Lara e a Camila para jantarem fora.

Finalmente estou tendo a chance de estar com elas do jeito que


desejo.

— Não exagere na superproteção, irmão. Lara

amadureceu muito e não é mais aquela garota que vivia atrás de

você.

— Lembro-me como se fosse hoje de quando ela entrava

correndo aqui em casa aos cinco anos de idade. Lara corria e

gritava que se casaria com você quando crescesse. Você, embora

fosse um adolescente com interesses bem diferentes, a tratava com


carinho e não a contrariava. Falava com todas as letras que

realmente se casaria com a garota quando ela fosse adulta.

Sim, Lara fazia esse tipo de coisa e todo mundo achava

fofo. Quero saber se acharão fofo agora.

Não que ela queira casar comigo, mas eu provavelmente

comeria sua boceta sem pensar duas vezes se tivesse uma

oportunidade.

Não sou mais um adolescente na puberdade e ela não é


mais a garotinha de cinco anos que eu sentia necessidade de tratar

com carinho e respeito por ser a irmãzinha do meu melhor amigo.

Lara é uma mulher em todos os sentidos da palavra e a desejo


sexualmente.
— Não se trata de superproteção, irmã. Se fosse o caso,

eu teria ouvido a própria Lara reclamando.

Dei dicas do meu interesse na Lara quando descobri

sobre a existência da Camila, mas parece que minha irmã apagou

da mente, ou está tentando fingir que não se lembra.

— Tudo bem, também não precisa ficar bravo. Você a


levará para conhecer o lugar?

— Provavelmente, sim — falo. Os meus pais sabem do

que estamos falando e estão felizes pela ideia que coloquei em

prática.

A ideia se tornou um plano e o plano foi botado em

prática em tempo recorde.

— Lara ficará muito feliz com a surpresa que você

preparou. Eu queria ser uma mosquinha na parede para ver a


reação da minha amiga.

Flávia e Lara têm praticamente a mesma idade, mas

minha irmã trata a outra como se ela fosse mais jovem, como se
fosse sua obrigação preocupar-se e protegê-la.
Acredito que age dessa forma por causa da

personalidade da Lara. Tímida e aparentemente frágil, embora

tenha dado alguns indícios de que pode ser extremamente forte

quando necessário, Lara desperta o instinto protetor em todos que a


cercam.

Se fosse outra pessoa, talvez ela se aproveitasse disso,

mas, sempre que pode, minha garota luta com afinco pelo que quer.

Nunca cruzou os braços ou esperou que fizessem algo por ela.

— Talvez eu te mande uma foto da cara dela — brinco.

— Você bem que poderia mudar de ideia e me levar

junto. Até a Camila irá.

— Camila é uma bebê, é a filha da Lara. É claro que ela


irá, mas você ficará em casa e esperará até que sua amiga te conte

alguma coisa. Contenha sua curiosidade, irmãzinha.

— Eu preferia quando você e minha melhor amiga não

eram próximos e não se juntavam contra mim.

— Por que você não se junta com Lúcio para se vingar de

nós dois? Quem sabe ele não deixa de pegar no meu pé com essa

porra de treino o tempo todo? Estamos de férias, porra!


— Lúcio é um chato que só pensa em trabalho e em

vadias no tempo livre. Deus me livre de ficar perto daquele babaca.

— Você não era apaixonada por ele quando tinha doze


anos de idade? Lembro-me perfeitamente de você e da Lara

planejando um casamento duplo.

Minhas palavras fazem os meus pais gargalharem e as


bochechas da minha irmã ficarem rosadas. Só não sei se é de

vergonha ou de raiva.

— Ainda me vingarei de você, Calebe de Matos. No dia

em que precisar de mim para algo, lembrarei que é um irmão


malvado. — Apesar das palavras, ela está sorrindo.

E apesar de não poder sequer imaginar sua melhor

amiga e eu juntos como um casal, tenho a sensação de que, no final

das contas, ela seria a primeira a superar a surpresa.


Provavelmente a primeira a entender se Lara e eu quiséssemos ser

um casal.

Ela pode até não estar preparada para pensar na

hipótese com seriedade, mas seria a nossa aliada.

Mas estou sonhando e divagando, porque nem ao menos

consigo fazer com que Lara pare de fugir de mim como um cervo
assustado.

Espero que ela goste da nossa saída e da surpresa que

virá depois. Dependendo da sua reação, saberei o que fazer a

seguir.

Talvez seja necessário que eu esqueça de uma vez por


todas dos sentimentos que ela despertou em mim. Talvez seja

necessário que eu seja corajoso o suficiente para fazer alguma

coisa, caso também me queira da mesma forma.

A minha ansiedade está diretamente ligada a toda essa


expectativa, mas algo me diz que de hoje não passará. Daremos

dois passos para frente, ou ficaremos no mesmo lugar em que

sempre estivemos: mantendo uma amizade segura e cem por cento


platônica.

Embora tenha a sensação de que o dia hoje passou


arrastando, finalmente chega a hora. Depois de me arrumar de uma

forma que sempre agradou outras mulheres, pego as chaves do


carro e vou até a casa ao lado.

Para minha surpresa, as belas garotas já estão me


esperando no portão. Mas Camila e Lara não estão sozinhas e não
tenho a menor dúvida de que terei mais uma pequena batalha para
enfrentar, antes de conseguir levá-la comigo.

— Sempre pontual e sempre na companhia do seu

segurança — digo, olhando diretamente para a minha garota. É


difícil desviar o olhar dela. — Aparentemente, as coisas não
mudaram depois de dois anos, não é, Lúcio? — O meu comentário

faz Lara rolar os olhos para cima e Lúcio cerrar os punhos.

Não que ele tenha a intenção de me bater, mas está


tentando se conter, porque sempre foi babaca.

Apesar de nunca ter interferido diretamente, sempre

soube que Lúcio não confiava em mim perto da sua irmã. Ele estava
um passo atrás de nós quando saíamos juntos, sempre vigiando e
sempre atento para que eu não tentasse seduzir a pobre e inocente

garota.

Ele não sabe que não teria conseguido me impedir?

— Vocês não começarão uma disputa de mijos agora —


Lara fala, nós dois a ignoramos.

— Para onde você levará minha irmã?


— Posso te mandar a localização quando chegarmos —
provoco.

— Esqueceu que a Lara não é como uma das


vagabundas com quem você costuma transar e depois dispensar?

O que está acontecendo com ele? Tudo bem que sempre


foi um pé no saco no que se referia aos cuidados com a irmã mais

nova, mas está passando dos limites hoje.

Porra! Sou seu melhor amigo.

Não deveria saber que eu jamais machucaria a garota?

Não deveria saber que eu jamais a trataria da mesma

forma que trato as outras mulheres que levo para a cama?

Uma vida inteira não foi o suficiente para o fazer perceber

o quanto me importo com Lara.

Será que aconteceu algo que o levou a agir dessa forma?

— Irmão, estou aqui e sei perfeitamente como me


defender. Não que eu precise me preocupar com Calebe. Ele é o

seu melhor amigo, lembra? Jamais me trataria como você trata suas
vadias.

 — Eu não tenho vadias — defende-se.


— Sim, você tem. Vocês dois têm — as palavras dela me
deixam desconfortável e não sei por quê.

Mas também é a mais pura verdade. Pode não ter sido no


último mês, porém… se eu for considerar antes do acidente e minha

tentativa de voltar para a pista depois que acordei…

Inferno!

Sinto que estive traindo minha garota, que não é de fato


minha garota.

Bizarro.

— Vamos? — Lara fala diretamente comigo, sem dar ao


irmão a chance de dizer mais alguma besteira. — Depois vocês
terminam de agir como um par de idiotas.

— Cuide-se, princesa — Lúcio beija sua testa com


carinho e depois entra em casa.

— O que foi que acabou de acontecer? — Questiono e,


desta vez, ela não poderá fugir sem dar-me uma resposta.
 

LARA
Meu irmão convive com Calebe e acompanha muito de

perto a forma como leva sua vida sendo o jogador de futebol famoso

e sempre falado pela imprensa.

Por conhecer o melhor amigo, talvez ele não tenha

gostado muito da forma como me viu roendo as unhas de ansiedade


durante o dia inteiro.
Lúcio não gostou das minhas reações e suspeitou dos

meus sentimentos pelo jogador. Ele chegou a me abordar e


perguntar diretamente o que estava acontecendo agora há pouco.

Desviei do assunto e disse que ele estava sendo

intrometido e enxergando coisas que não existem. Eu menti, mas

apenas por acreditar que no momento é melhor que ele não saiba o
que realmente aconteceu entre Calebe e eu há alguns anos.

Se ele sequer imaginar que Camila é filha do seu melhor

amigo… Lúcio vai querer matar o Calebe e não sei como a amizade
dos dois sobreviverá ao impacto.

Principalmente por causa do meu irmão, nós dois


estávamos apreensivos sobre o momento certo em que contaríamos

que estávamos namorando. Agora que Calebe não se lembra de

nada, não lidarei com o Lúcio sozinha.

Calebe fez uma pergunta, mas preferi não responder no


portão da minha casa. Ele colocou o carro em movimento há alguns

minutos, mas a forma como está apertando o volante entre os dedos

deixa claro que não esqueceu que lhe devo uma resposta.

Inocente e alheia as complicações dos adultos, minha

filha está sentada quietinha no meu colo, enquanto se distrai com


meu colar prateado. Ela se entretém com facilidade, o que a torna
uma criança mais calma.

Agora há pouco, Calebe disse que comprará uma cadeira

de bebê para a Camila. Como uma boba, fiquei emocionada. O

gesto significa que ele espera que a gente entre no seu carro com

frequência.

— Lara…

Tudo bem, eu preferia não ter que entrar nesse assunto

com ele, mas já que quer a verdade, direi a verdade.

Ele que lide com o constrangimento.

— Você me chamou para sair ontem e hoje passei o dia

ansiosa. Estava literalmente roendo as unhas, de uma forma que

meu irmão ainda não tinha visto. Fiz com que suspeitasse das

minhas intenções com você. Provavelmente, começou a acreditar


que estou a fim de você e está remoendo tudo isso agora mesmo.

— E você está?

— Estou o quê? — Ajo como se não tivesse entendido,

mas estou apenas ganhando tempo, porque não sei como


responder a essa pergunta.
Na verdade, sei, mas estou em dúvida se quero colocar

esse poder nas suas mãos e correr o risco de ser rejeitada. Eu não
suportaria uma rejeição vinda do homem que amo, não depois de

tudo.

— Você está a fim de mim? — Ele pergunta, sem fazer

rodeios desta vez.

— Não sei. Me diga você. — O que está havendo

comigo? — Eu estou?

Não sou assim!

Mas tenho que ser, não é? Tenho um plano em mente e


não conseguirei o colocar em prática se mantiver a mesma atitude

de antes. Preciso ser mais em tudo: mais agressiva, mais ousada e


com certeza mais direta.

Estou indo para o tudo ou nada sem capacete de


proteção, e seja o que Deus quiser.

— Pequena, pare com isso, você não é assim. — Eu


simplesmente odeio quando usa o tom de voz condescendente

comigo. Me faz lembrar de quando eu tinha sete anos de idade e ele


mentia ao dizer que se casaria comigo quando fôssemos adultos,
mas eu sabia que estava beijando outra garota na escola.
Esse homem partiu tantas vezes meu inocente coração

de criança e adolescente. Ainda bem que com o tempo ele


aprendeu a como ser mais forte. Não forte o suficiente para evitar a

dor de ser partido, mas o suficiente para que eu consiga seguir em


frente com o que tenho.

— Talvez eu tenha mudado e só você não percebeu.

— Acredite, eu percebi que você mudou. — O comentário

me surpreende, mas o que realmente mexe comigo é a forma como


olha intensamente para o meu corpo. Do pescoço até as coxas, que

o vestido florido curto deixou de fora. — Agora você tem seios.

Eu não queria agir como uma adolescente virgem, mas

não é como se eu pudesse evitar as minhas bochechas de ficarem


vermelhas, queimando de constrangimento.

Não que eu não goste de ser elogiada por esse homem


maravilhoso, mas a timidez fala mais alto em momentos como esse.
Nunca soube receber elogios e nunca soube como responder a

eles.

— Você gosta dos meus peitos? Há algo mais em mim


que te agrada?
Essa sou eu. Mesmo morrendo de vergonha, estou
tentando ser sedutora de alguma forma.

— Tenho certeza de que você sabe que é linda. Mas já


que quer saber… além dos seus peitos, gosto da sua bunda e dos

seus olhos, que parecem enxergar até mesmo a alma da outra


pessoa.

— Eles estão cheios de leite.

De onde saiu a porra desse comentário?

— Doem quando estão cheios?

Por que essa pergunta me excita?

Ele está apenas sendo curioso, como quase todo mundo


ficaria nessa situação, mas não consigo evitar de imaginá-lo

sugando meu leite com a boca para aliviar minhas dores. Ao mesmo
tempo em que sentiria a dor indo embora, gozaria na calcinha, que
certamente estaria encharcada de tanto desejo reprimido.

A realidade é completamente diferente da fantasia.

Durante a semana, quando não tenho minha filha para amamentar,


tiro leite com a bombinha e faço doações para o banco de leite
materno do hospital universitário. Apesar do trabalho e de sentir um
pouco de dor, gosto da ideia de meu leite alimentar outras crianças.

— Em que está pensando? Suas bochechas estão


rosadas novamente.

Merda! O que devo dizer?

Confessar que estava imaginando sua boca nos meus

seios?

— Mamãe — Camila choraminga, e não sei se agradeço


o fato de ela ter me livrado de responder a última pergunta do

Calebe, ou se fico apavorada, porque minha filha só choraminga

quando está com fome.

Com seus olhos famintos em mim, todas as dúvidas


sobre o motivo do seu choro vão embora, então tiro o seio esquerdo

de dentro do vestido e coloco na boca da minha filha. Ela começa a

sugar com avidez e sem perceber que tem uma platéia.

— Ela é linda como você — elogia.

— Obrigada. Vindo de um dos homens mais bonitos do

país, é um grande elogio — declaro, e rapidamente me acostumo


com o fato de ele desviar a atenção do trânsito a todo instante para

me assistir amamentando nossa filha.

— Respondendo sua pergunta, eles doem quando estão

cheios. Mesmo que eu tire leite com a bombinha para doar para o

hospital, passo cinco dias da semana longe dela, e quando estou

aqui tem dias que Camila não mama o suficiente para evitar que
fiquem cheios.

— Se eu puder fazer alguma coisa para ajudar… não

gosto da ideia de você sentindo dor.

Calebe fica tenso quando percebe o que está sugerindo.


Minha calcinha fica molhada, não que já não estivesse antes.

— Qualquer coisa, peço socorro — brinco para

descontrair.

— Não pense que esqueci que você ainda me deve


algumas respostas.

— Quem sabe você as tenha antes de a noite terminar?

Eu nem precisei beber para agir como uma mulher

acostumada a dar em cima do homem no qual está interessada.

— Se eu tiver sorte…
Para o bem da nossa integridade física, Calebe e eu não

falamos mais até que ele chegue ao restaurante. Está começando a

chover de leve quando estaciona na frente do estabelecimento, mas


não tenho a menor dúvida de que cairá uma tempestade mais tarde.

Suspeito de que essa não é a única parada que faremos

e espero que a chuva não atrapalhe seus planos. Não faço ideia do

que planejou para depois do jantar, mas estou curiosa.

Atencioso, o jogador me ajuda a tirar o carrinho da nossa


filha do porta-malas do seu carro e eu a deito com cuidado para que

não acorde.

  Fazemos nossa refeição em uma mesa discreta e

comemos despidos de toda a tensão sexual que estávamos


experimentando durante a viagem até aqui.

Felizmente, Calebe ainda não foi descoberto pelos fãs e

espero que não seja.

Não hoje.

Conversamos como nos velhos tempos, comemos da

melhor comida e experimentamos as melhores bebidas, mas sem

exagerarmos, porque Calebe veio dirigindo. Até parece que


voltamos para o passado, quando ainda não tínhamos percebido
que estávamos atraídos um pelo outro, mas já trocávamos olhares

demorados.

Minha filha não acorda em nenhum momento durante o

jantar, então conseguimos quase esquecer que não estamos

sozinhos.

Calebe faz perguntas sobre o tempo que perdeu e eu


conto com detalhe sobre minha experiência na universidade. Não

deixo de perceber que ele evita falar sobre a minha gravidez e

suspeito que é somente para não pensar no suposto pai da Camila,


o homem que me enganou. Ele não suporta pensar que ainda estou

apaixonada, mesmo depois de tudo.

Calebe não faz ideia…

Não vejo a hora de me sentir segura para contar que ele


é o pai da Camila, porque essas mentiras que estou tendo o que

contar estão se tornando um peso em cima dos meus ombros. Não

gosto de mentir, principalmente para o Calebe.

Sempre fomos sinceros um com outro, menos quando ele


mentia que se casaria comigo. Menos quando eu fingia que

acreditava.
Quando terminamos de jantar e de degustar a

sobremesa, ainda ficamos conversando durante meia hora. Falamos

sobre os últimos dois anos e lamentamos o tempo perdido. Ao

mesmo tempo, sinto que ele é muito grato pela oportunidade que a
vida lhe deu.

Quando saímos do restaurante e entramos no carro,

pergunto qual será a nossa próxima parada, mas o jogador se limita

a dizer que saberei no momento certo.

A viagem dura quinze minutos e não deixo de notar que o

lugar para o qual me trouxe fica muito perto do bairro onde moram

os nossos pais.

O jogador estaciona na frente de um prédio luxuoso e


pega a nossa filha dos meus braços para que eu possa ver melhor

onde estamos.

Como se fôssemos um casal, ele envolve minha cintura


com o braço e me leva para dentro do condomínio.

  Calebe cumprimenta o porteiro, mas não pede as

chaves, o que me faz acreditar que o lugar para onde estamos indo

pertence a ele.
Saímos do elevador no décimo segundo andar e paramos

na frente da porta de número seis.

  Quando entramos, fico deslumbrada com a beleza e


sofisticação dos móveis e da decoração, mas continuo sem

entender o porquê de ter me trazido, ainda que suspeite que o

apartamento seja seu.

Deve ter o adquirido agora, porque Calebe teria me

falado sobre os seus planos.

— É seu? — Questiono, tentando não ficar emocionada

com a forma como segura nossa filha nos braços. Faz com tanto
cuidado que nem parece ser inexperiente.

— Acabei de comprar.

— Por que nos trouxe?

— Você ainda não entendeu?

Claramente há algo acontecendo, mas ainda não entendi


o que está passando pela cabeça desse homem. Será que estou

cega?

— Não entendi o quê?


— Você é a minha melhor amiga e quero que se sinta à
vontade no meu apartamento quando eu estiver na cidade e te

convidar para jantar, ou para assistirmos filmes como nos velhos

tempos.

— Foi um gesto muito atencioso da sua parte — declaro


emocionada.

Não gosto de ficar demonstrando emoções, mas esse

homem sabe como me pegar de jeito.

— Venha comigo, porque a surpresa ainda não acabou.

Calebe segura a minha mão e me puxa em direção ao

corredor. Há três portas, e imagino que sejam os quartos.

Quando o jogador abre a última porta e dá espaço para

que eu entre, lembro-me o porquê de sempre ter o amado. Como


poderia não amar o homem que tem uma atitude tão amável e
atenciosa como essa?
 

LARA
Alternando o olhar entre o cômodo e o homem

maravilhoso que segura a filha como se já soubesse da paternidade,

perco a batalha para o choro.

As lágrimas descem e não tento mais impedi-las, porque

não me envergonho, são lágrimas de felicidade.


Calebe teve a atitude de montar um quartinho para a

minha filha no seu novo apartamento. O cômodo é lindo com tons


de rosa, cujo tema é uma mistura de nuvens e ursinhos. Nem

mesmo na casa dos meus pais a Camila tem um quarto como esse,

que foi planejado especialmente para ela.

— Você… Obrigada por ter pensado na nossa… na


minha filha — corrijo-me rapidamente, antes que o homem possa

entender o mau uso das palavras.

Ele sorri para mim com carinho, então deita a pequena no


seu berço.

Seu berço na casa do papai.

— À princípio, pensei em comprar uma cama, mas a

Camila ainda é muito pequenininha, não acha? — Incapaz de falar,

balanço a cabeça positivamente para cima e para baixo.

Depois de cuidar da nossa filha, o jogador vem para perto

de mim e me abraça. Eu sinto o seu calor e o seu cheiro, embriago-

me e aproveito a sensação de poder o tocar novamente.

De repente, é como se nada tivesse mudado, como se o

tempo não tivesse passado. Como se ele não tivesse se esquecido


de nós dois.
Ainda parece que somos aqueles que haviam acabado de
se descobrir apaixonados nos braços um do outro, que estavam

animados pelo futuro e pela vida que teriam juntos.

— Quer conhecer o resto do apartamento? — Pergunta,

ao se afastar e secar meu rosto com carinho.

A imprensa e o mundo futebolístico conhecem uma

versão do Calebe. Eles conhecem o belo jogador que um dia foi

mulherengo e às vezes agia como um badboy que discutia com

fotógrafos e paparazzis quando não estava tendo um bom dia.

Mas eu conheço a sua verdadeira essência, conheço


porque sou uma das únicas pessoas que merecem sua melhor

versão. Foi por essa versão que me apaixonei, foi pelo verdadeiro

Calebe de Matos que sofri quando percebi que uma fatalidade havia

o tirado de mim da pior forma possível.

  Estou aqui agora, lutando para recuperar o meu amor,

para mostrar o quanto éramos bons juntos. Então poderei contar


que o nosso amor gerou um fruto enquanto estava lutando pela

vida.

Algo me diz que, por mais que se decepcione e se magoe

por causa das minhas omissões, ele não reagirá mal a notícia de
que tem uma filha. Muito pelo contrário, acredito que Calebe ficará

exultante de alegria. Eu vejo a forma como é carinhoso com a bebê


que acabou de conhecer.

O presente que deu para ela é a prova contundente dos


seus sentimentos, porque tenho certeza de que não fez o quarto

dela apenas para me agradar.

— Estou curiosa para saber quem te ajudou a montar um

ambiente tão bonito e ao mesmo tempo aconchegante — digo,


quando seguro sua mão e deixo que me leve para fora do quarto da
nossa filha.

— Sozinho eu não teria sido tão bom e não teria pensado

nos pequenos detalhes que tornaram o lugar habitável e


aconchegante.

Nós passamos novamente pela sala e eu fico encantada


com os tons de marrom e bege dos móveis. Móveis com aparências
caras e altamente duráveis.

Há dois sofás retráteis. Uma televisão gigante, que me

faz sentir vontade de me aconchegar em seus braços e passar a


noite assistindo filmes. Então vejo o tapete felpudo de cor branca,
onde Camila poderia passar várias horas brincando, e uma mesinha

de centro.

A sala, apesar de espaçosa, é separada da cozinha por


uma bancada americana de pedra de mármore preto. Quando
passamos pelo cômodo, noto que ele foi bem equipado com todos

os utensílios necessários para o preparo das refeições.

Claro que o jogador não estava pensando em si, porque

não posso imaginá-lo sendo íntimo de uma cozinha. O máximo que


Calebe faz é colocar a própria comida.

Não que ele seja mimado, porque sei que poderia


sobreviver se um dia tivesse que morar sozinho e sem ajuda, mas

Calebe nunca precisou de fato colocar a mão na massa, não


quando toda a sua vida foi voltada para o esporte e todos os

esforços para que chegasse onde queria.

— Quem vai cozinhar? — Pergunto para o provocar.

— Você cozinhará quando nos casarmos. — Mesmo


sabendo que está apenas me provocando, não posso conter as

batidas desenfreadas do meu coração.

— Pensei que você estivesse me enganando esse tempo


todo.
— Sou um homem de palavra, loira. Eu não passei a vida
inteira dizendo que iria me casar com você?

— É, você realmente passou.

— Então espere, porque o nosso dia chegará — ele fala

com um sorriso sacana no rosto, envolve minha cintura com o braço


e me leva em direção aos quartos novamente.

Primeiro abre a porta do quarto de hóspedes, que


claramente foi decorado para ser habitado por uma mulher. Não é

neutro como pensei que seria e Calebe logo se apressa para


esclarecer seu ponto.

— Esse foi planejado pensando em você.

— Está falando sério?

— Para quem mais seria? Não tenho o costume de trazer


as mulheres com quem saio para dentro de casa.

— Por quê?

— Por que eu faria, se isso deixaria minha futura esposa

chateada?

Não é possível. Com certeza Calebe está me

provocando.
— Fale Sério — peço, um pouco nervosa.

Esse homem não pode brincar assim com o meu

coração.

— Estou falando sério, pequena. Por mais que eu tenha

dito a mim mesmo que não deveria levar sua paixonite de


adolescente a sério, sempre tive medo de magoar seu frágil coração

e optei por ser discreto. Você já me viu com alguma garota perto de
casa? Já me viu apresentar alguma namorada para os meus pais?

Ele realmente levou meus sentimentos em consideração

esse tempo todo?

Não pode ser…

— Você gosta mesmo de mim, Calebe.

Desta vez nem é uma pergunta. Estou afirmando.

Há uma chama de amor, paixão e esperança ardendo no

meu coração.

— Muito mais do que você poderia imaginar — declara, e


deixa dúvidas no ar.

Será que está falando sobre gostar apenas como amiga?

Ou está se referindo a algo a mais, mesmo que não se recorde de


que já havia sucumbido a paixão que nos unia?

Calebe está tentando se declarar?

Eu sabia que ele gostava muito de mim, mas o que está

fazendo agora para demonstrar leva tudo a um nível superior.

Eu estou a ponto de explodir de emoção, enquanto me

seguro para não me jogar em seus braços. É o que desejo, mas


estou me contendo, porque ainda estamos em um mar revolto,

enquanto tentamos chegar juntos a terra firme.

— O quarto ficou lindo. Na verdade, tudo está

maravilhoso, e você terá que me contar quem foi a pessoa que te


ajudou e que sabia o suficiente sobre mim para fazer tudo do jeito

que eu gostaria.

— Você terá uma chance para adivinhar, linda.

— Tudo bem, essa não é difícil. Aposto que foi a Flávia,


aquela traidora não me disse nada.

— Não poderia ter sido outra pessoa — o jogador

confirma.

— Posso saber por que o meu quarto tem uma cama de


casal?
  Ele nem ao menos se dá ao trabalho de fingir que está

constrangido. Não sei em que momento passamos da suposta

amizade, considerando que apenas eu lembro que éramos um


casal, para as provocações que sugerem mais do que amizade.

É natural, talvez porque havíamos passado por isso

antes, mas Calebe ainda não percebeu.

De qualquer forma, amo cada troca de provocações como

se fosse a primeira vez.

— Para que possamos ter duas camas como opção

depois que nos casarmos — faz o comentário, depois joga uma

piscadinha.

Como eu poderia ficar chateada por ter esquecido de nós


dois? É impossível quando ele é tão maravilhoso comigo.

— Não pensou nas visitas? Talvez alguém queira passar

a noite no seu apartamento algum dia e não terá nenhum quarto

para ficar, considerando que esse aqui é meu.

— Quarto esse que você cederá quando não precisar

mais dele, porque estará dormindo na minha cama. Não é o plano

perfeito?
— Todos os seus planos são perfeitos — digo, ao ficar

nas pontas dos dedos para beijar sua bochecha.

Quando voltamos para a sala, o pai da minha bebê me

convida para tomarmos vinho. Aceito a oferta sem pensar duas

vezes, porque está chovendo muito e não iremos embora tão cedo.

Sento-me no sofá e Calebe vai buscar as nossas taças.


Quando ele volta, não deixo de notar que se senta muito perto de

mim. Se eu tinha dúvidas, elas não existem mais. Ele realmente

está interessado em mim pela segunda vez.

É a primeira vez que sinto que não terei tanta dificuldade


para o reconquistar. Assim como antes, nossa química está gritando

e não podemos nem ao menos fingir que não estamos percebendo.

— Não é melhor você ligar para os seus pais para avisar


que provavelmente não dormirá em casa hoje?

— Não dormirei? — Questiono com o cenho franzido.

— Pode ser que chova pelo resto da noite.

— Acho que você está certo.

Enquanto procuro meu celular na bolsa grande, que


carrego para todos os lados, porque cabe fraldas extras e mantas
para a minha menina, Calebe começa a mexer no próprio

smartphone.

Faço uma ligação rápida para a minha mãe e ela entende

por que não posso voltar para casa hoje. Ela deseja boa noite sem
desconfiar do clima quente entre sua filha e o homem que sempre

tratou como um filho.

É uma troca justa: meus pais tratam Calebe e a Flávia

como se fossem seus filhos, e os pais do jogador tratam meu irmão


e a mim da mesma forma.

Quando termino a ligação, percebo que Calebe colocou

uma música para tocar no ambiente. Era por isso que ele estava

mexendo no celular enquanto eu conversava com a minha mãe?

Não é uma música romântica ou algo parecido, mas

gosto que seja atencioso até nas pequenas coisas.

Eu estava pronta para a guerra que seria tentar

conquistar meu namorado pela segunda vez, mas, da maneira mais


patética e fácil do mundo, sou eu que estou sendo reconquistada.

Não que seja preciso, porque não existe nenhuma

maneira de eu ficar mais louca por esse homem do que já sou.


Quando Calebe coloca a taça de vinho que estava sobre

a mesa de centro na minha mão, sinto que é impossível desviar meu


olhar do seu.

— Ainda é estranho te ver bebendo, porque na minha

última lembrança você quase não tinha idade para consumir bebidas

alcoólicas.

— O fato de eu estar fazendo isso agora é a prova de que

o tempo passou, mesmo que você não tenha sentido naquela cama

de hospital — um nó se forma na minha garganta quando tenho que

falar sobre o assunto, porque só eu sei o quanto sofri durante os


quase dois anos em que ficou desacordado e não tinha certeza de

que voltaria a ver seus olhos azuis.

As pessoas à minha volta entendiam minha reação, mas

elas não faziam ideia de que minha dor era muito maior do que
deixava transparecer.

Eu havia acabado de descobrir que estava grávida e

estava lidando com a iminente perda do homem que era tudo para
mim.

  Descobri que estava grávida e fui obrigada enfrentar a

pressão da minha família para que contasse quem era o pai da


minha filha. Resisti a pressão e inventei uma história que foi
convincente o suficiente para que nunca mais voltassem a tocar no

assunto.

Foi pesado e pela primeira vez começo a sentir que

talvez eu tenha mais uma chance para uma vida feliz pela frente.

A leveza que estou sentindo agora deixa claro que eu

teria me arrependido profundamente se tivesse me entregado a

tristeza e ao sentimento de autopiedade.

— Como se sentiu? — Questiona. — Perdoe-me por


estar tocando nesse assunto novamente, mas você se afastou há

alguns meses e ainda não tivemos essa conversa.

— Sofri muito e não consegui deixar a cabeceira da sua


cama. Eu ia te visitar todos os dias e conversava com você na

esperança de que a minha voz te fizesse acordar. O dia em que


abriu os olhos e me encarou foi um dos mais felizes da minha vida,

só perdeu para o nascimento da Camila.

Deixo de dizer que sofri minha maior frustração minutos

depois, quando percebi que não lembrava de que estávamos


namorando. Meu mundo desabou quando minha ficha caiu e entendi
que não poderia simplesmente dizer que estava esperando um filho
seu.

— Eu sinto muito por ter te feito sofrer.

— Você sabe que não foi culpa sua, não sabe?

— Eu sei. Embora entenda que há certas coisas que não


podem ser mudadas, sinto muita frustração por não ter estado aqui
quando viveu experiências importantes que mudaram sua vida. Eu

queria ter presenciado coisas simples, como a primeira vez em que


você experimentou uma bebida alcoólica. E muitas outras
experiências que teriam me deixado puto e tentado impedir.

— Do que exatamente você está falando?

Embora seja um pouco de maldade da minha parte, gosto


de sentir que tem ciúme dele mesmo. Calebe não pode
simplesmente conter sua possessividade.

— Da primeira vez em que beijou um rapaz, e com

certeza teria me dito. Da primeira vez em que fez sexo e, mais uma
vez, teria me dito e eu teria tentado te aconselhar para que não
engravidasse de um idiota. A Camila é uma princesa linda e eu a

amo, principalmente por ser sua filha, mas não queria que tivesse
sido dessa forma.
Eu também gostaria que tivesse sido diferente. Queria
que ele tivesse estado ao meu lado, que pudesse ter visto o
nascimento da nossa bebê, mas a vida tem seus próprios planos e

ela não pediu a minha opinião antes de virar nosso mundo de


cabeça para baixo.

— Tudo o que eu mais queria era que você estivesse


aqui. Não tive a oportunidade de dizer com todas as letras depois
que voltou para mim, mas saiba que senti sua falta, Calebe de

Matos. Eu te amo.

— Não tanto quanto eu te amo, pequena, mas sinto que


você terá motivos para correr para bem longe de mim em alguns
minutos.

— Do que você está falando?

Em vez de responder de imediato, Calebe me deixa cheia


de expectativa quando se levanta para encher nossas taças com
mais vinho.

Quando retorna a sala, o belo homem se senta ainda


mais perto de mim.

— Embora tenha parecido que eu estava apenas te


provocando em tudo o que falei agora há pouco, não eram apenas
brincadeiras. Houve um tempo em que eu te enxerguei como algo
muito parecido com o sentimento de um irmão por uma irmã.

— Eu sei, e te odiava um pouquinho sempre que me


tratava da mesma forma que trata a Flávia. No auge da minha

adolescência, ainda acreditava que você seria meu marido, logo


depois que eu me formasse na faculdade.

— Na época, eu realmente não tinha a menor intenção de


me casar com você. Não passava pela minha cabeça que você
poderia ser mais do que a irmãzinha do meu melhor amigo e

posteriormente minha amiga mais próxima, que era jovem demais


para ficar perto de um homem como eu. Mas eu não tinha a opção

de me afastar, tinha?

  Calebe está me provocando, porque eu realmente não


saía do seu pé.

— Você não queria que eu me afastasse, confesse.

— Eu preferia perder um membro do meu corpo a ficar


longe de você e não faço ideia de quando sua presença na minha
vida se tornou tão primordial. Foi por essa razão que senti tanto o

baque de ter você fugindo de mim depois que acordei do coma.

— Sinto muito.
— Agora está tudo bem, linda. Finalmente consigo

respirar sem sentir que está faltando um pedaço do meu coração.


Há uma massa cinzenta em cima de um período curto da minha vida
e não consigo lembrar se tudo começou nessa época, ou se foi

agora.

— Tudo o quê? — Indago.

— Desde que me recuperei, não consigo mais olhar para


você e te enxergar como antes. Antes você era a amiga que eu

queria proteger de tudo de todos, antes você era a pessoa que mais
me conhecia e por quem eu poderia dar a minha vida, mas o que
sinto agora é uma mistura de todos esses sentimentos com algo

muito mais básico e perigoso.

— Calebe…

Eu não sei se estou preparada para o que está prestes a


dizer. Não existe a menor possibilidade de eu estar enganada,

existe?

— Eu não consigo parar de pensar em você, pequena.

Não consigo parar de te desejar, e acredite quando digo que tentei


muito frear esses sentimentos e voltar ao que era antes. Mas
simplesmente não consigo, e está aumentando a cada dia e
tornando impossível de eu ter uma noite completa de sono sem
sonhar com você. Eu…

Deus! A forma como esse homem parece nervoso ao

declarar seus sentimentos é fofa.

— Há alguns dias suspeitei que você estivesse dando em


cima de mim, mas talvez eu tenha entendido tudo errado e agora
você está pensando que sou nojento por cogitar que possamos…

— Calebe! — Interrompo-o, antes que surte de


preocupação e estresse. — Eu também te quero como homem.
Tanto que chega a doer. Desejo você.
 

CALEBE
Eu precisei de uma dose grande de coragem e de alguns

dias de ponderação para chegar até esse momento e, ainda assim,

não tinha certeza se era a hora certa para falar sobre o que estou
sentindo com a Lara.

Realmente senti medo de me declarar e depois perceber


que havia cometido um erro grande o suficiente para arruinar a

amizade que estávamos tentando consertar.


Já tinha me convencido de que poderia me contentar com

a sua amizade e nunca tocar no assunto acerca do meu desejo de


que ficássemos juntos de outra forma.

Também coloquei na balança as nossas famílias, porque

não tenho dúvidas de que eles ficarão chocados e talvez não

entendam o que estou fazendo, mas decidi pensar no que eu queria


em primeiro lugar e acabei de ser feliz por ouvir da sua boca que eu

não estava nutrindo uma paixão platônica e sem esperanças.

Posso lidar com as consequências depois, porque agora


só quero saborear a alegria e o prazer de saber que essa garota

pensa em mim da mesma forma que penso nela.

 Essa realidade é tão perfeita que parece um sonho, um

sonho bom demais para ser verdade, mas sei que é verdade,

porque seu sorriso não poderia ser uma ilusão da minha mente

fodida.

Ela está aqui.

Nós estamos aqui juntos, é isso que importa.

Agora que a tenho tão perto de mim quanto ansiei desde

o primeiro minuto em que abri meus olhos depois de quase dois


anos, parece que tudo voltou ao seu devido lugar, como se não
tivesse passado um segundo sequer de distanciamento entre o
agora e a última vez em que nos vimos na minha última visita a

cidade.

— Você não falará nada? Pensei que era isso que queria

ouvir — Lara diz, então se arrasta para as minhas pernas e se senta

no meu colo. Ela está de frente para mim e tem uma perna de cada
lado da minha cintura.

Sou envolvido e afetado como um soco no estômago pelo

seu cheiro, que é uma mistura de doçura com sedução. Vejo-me

sendo obrigado a me conter para não rasgar seu vestidinho curto

aqui e agora para comer sua boceta até deixá-la em carne viva.

Eu sei que estamos falando sobre sentimentos e que a

conversa até agora era séria e necessária, mas o fato de estar em

cima de mim deixa claro que o clima mudou e que estou autorizado

a tocá-la da forma como venho desejando há um tempo.

Pensei que fosse me sentir mais culpado, que fosse


travar uma batalha interna muito grande comigo mesmo para me

fazer aceitar o que estava sentindo por essa garota proibida para

mim, mas minha mente está dando tapinhas nas minhas costas e

me convencendo a todo instante de que era para ser assim.


Eu digo a mim mesmo que, mais cedo ou mais tarde, nós

iríamos ficar juntos como um casal, porque tinha que ser assim.

Porque não poderíamos ter passado tantos anos

brincando com destino, quando falávamos sobre nos casarmos, sem


que ele retribuísse transformando a brincadeira em um desejo

verdadeiro.

— Você não acha estranho que estejamos fazendo isso?

— Pergunto, mas antes que abra a boca para responder, passeio


minha mão pelas suas coxas e vou subindo lentamente até tocar as
tiras laterais da sua calcinha.

— Não acho. Talvez seja assim porque tenha passado a

desejar que nossas brincadeiras de nos casarmos se tornassem


verdade aos treze anos de idade. Sei que você passou muito tempo

pensando que eu não sabia o que estava dizendo ou sentindo, mas


comecei a gostar de você como um homem há muitos anos.

— Nunca pensou em me dizer? — Sinto-a indecisa

quanto ao que responder por um momento, mas não a pressiono.

Por que esperou até agora?

Lara tem vinte anos. Poderíamos estar juntos há pelo


menos dois anos. Talvez um pouco antes do acidente, porque ela já
tinha dezoito anos.

— Senti medo e pensei que você não fosse me levar a

sério. Senti medo de ser rejeitada e de perder a sua amizade.

— Se tivesse vindo falar comigo quando ainda era menor


de idade, eu teria pedido para que você esperasse, porque ainda

não era a hora certa. Se tivesse se declarado depois dos dezoito e


eu por acaso ainda não estivesse preparado para a sua paixão,

ainda assim não teria zombado dos seus sentimentos. Você sempre
foi importante demais para que eu arriscasse te perder por falta de

comunicação.

— Eu sei, e me sinto da mesma forma — afirma, e vem

uma vontade louca de morder sua boca bonita. — Já pedi desculpas


por ter sido malvada com você quando despertou do coma?

— Isso ficou no passado, querida. Apesar de preferir que


tivesse sido sincera e conversado comigo, entendo que tinha seus
motivos.

Minhas palavras a levam a fazer uma careta que não

consigo compreender, então me pergunto se ela ainda não


entendeu que estou me referindo a sua necessidade de esconder
que havia engravidado e tido uma filha.
Foi apenas isso, não foi?

Não posso pensar em mais nada para justificar toda

aquela frieza e a maneira como estava fugindo de mim.

— Vamos esquecer o passado? O que importa é o

presente. É tão maravilhoso que ainda não acredito que você me


quer da mesma forma que te quero. — Lara tem um sorriso doce e
perfeito no rosto ao abraçar-me pelo pescoço.

Aproveito para sentir mais de perto seu cheiro bom.

Aproveito para sentir a forma como o calor do seu corpo faz a minha
alma e o meu coração relaxarem, enquanto uma parte específica da
minha anatomia fica tensa e carente.

  Nós ainda estamos nos entendendo e nem ao menos


demos o primeiro beijo, embora eu esteja morrendo por uma prova,

mas o bastardo do meu pau já está implorando para entrar na festa.

Estou morrendo de vontade de transar com minha loirinha

até o dia amanhecer, mas sei que as coisas nem sempre podem ser
do jeito que quero.

Ela realmente é muito importante para mim e não


atropelarei as experiências que viveremos.
— Não estava aguentando mais me masturbar pensando
em você — confessa.

Porra!

 O que essa garota está falando agora?

Ela quer me matar?

Ela não era tímida?

Tudo bem que temos intimidade para falarmos sobre

qualquer coisa, mas a sua sinceridade pode causar um caso sério


de bolas azuis.

— O que você acabou de dizer?

Para o bem da minha sanidade e da manutenção das

decisões que tomei, eu não deveria ter feito essa pergunta, mas

simplesmente não pude me segurar.

Caralho, estou curioso!

De repente, a garota que me fez sentir culpado por a

desejar, justamente porque parecia inocente demais, está se

mostrando uma deliciosa surpresa.

Ela vai me matar.


É isso!

E será a morte mais memorável da história.

— Eu disse que desde os dezesseis anos comecei a

sentir coisas estranhas por você. Sentia calor quando assistia seus

treinos no campo de futebol, um calor para o qual não existia

explicação, mais que fazia os meus mamilos ficarem duros e minha


boceta latejar.

— Lara… — falo entredentes, e com os punhos cerrados

ao lado da sua cintura. Estou me segurando para não a tocar de

uma forma errada e que traria arrependimentos amanhã.

Ainda não é a hora, porra!

Não está nem perto de ser a hora certa.

— Você quer que eu pare?

Pois é, eu quero que ela pare?

Estou sendo torturado até ter uma morte lenta, estou

agonizando de tesão por meras palavras, mas quero que ela pare?

— Conte-me mais, loira.

Não, não quero que pare agora. Mesmo que eu exploda.


— Então começou a acontecer com frequência e foi

nessa época que meus sentimentos de fato mudaram. Eu via

minhas amigas se apaixonando por garotos da nossa escola e


fazendo planos para perderem a virgindade em festas aleatórias.

Mas eu só conseguia pensar em você.

— Um homem de vinte e três anos que era mais

experiente do que todas as suas amigas e professoras juntas? Qual

era o seu problema? — Brinco, embora possa apostar que está


sentindo meu pau duro contra sua calcinha, que provavelmente está

molhada.

— Meu problema sempre foi você. Você sempre esteve


na minha frente e no meu caminho. Enquanto minhas amigas

estavam agindo como garotas normais, eu estava pensando em

você. Quando comecei a suspeitar de que os calores e as calcinhas


molhadas significavam que eu estava vergonhosamente desejando

o melhor amigo do meu irmão, que já era um jogador de futebol

famoso e que poderia ter qualquer mulher na cama, não consegui

mais parar de desejar.

— Desejava o que acreditava que não poderia ter?


— Era basicamente isso. Eu me trancava no meu quarto

e colocava músicas para que os meus pais não pudessem me ouvir.


Então deitava de costas na cama, dobrava as pernas e enfiava a

mão na minha calcinha, que sempre estava molhada. Eu me tocava,

enfiava os dedos profundamente e gozava gostoso, imaginando que


era seu pau me fodendo duro.

— Você precisa parar...

— Quer mesmo que eu pare? — Pergunta pela segunda

vez.

Novamente, minha resposta não muda.

— Siga em frente. — Eu ergo a mão e passo o dedo

pelos seus lábios cheios e macios.

Safada de uma forma que me deixa puto por um

momento, por imaginar quem a ensinou isso, a loirinha suga meu


dedo indicador e o médio para dentro da sua boca quente e macia.

Ela chupa meus dedos sem tirar o olhar safado do meu.

Ela faz como se fosse uma vadia experiente, como se já tivesse


experimentado dar prazer para todos os paus da cidade. Mas sei

que não é assim, porque essa é a minha Lara.


Ela é sexy por natureza, embora eu não tenha enxergado

isso até pouco tempo. Ela é gostosa a ponto de ser pecado para

uma garota tão jovem.

Ela é minha.

Eu a arruinarei para qualquer outro homem que não seja

eu.

  Explorarei todo o seu potencial. A moldarei para que

saiba o quanto é perfeita.

  Quando tira lentamente os dedos da minha boca, ela

desce a umidade pela minha bochecha e termina na lateral do meu

pescoço. São toques leves que me fazem sentir arrepios de prazer,

que me levam a quase sucumbir ao desejo de abrir suas pernas e


lamber sua boceta até levá-la ao orgasmo.

Mas rezo o mantra de que não é o momento. Não ainda.

— Fale, amor. Quero ouvir sua voz.

— Eu gostava de olhar para você quando entrava no seu


quarto para assistirmos filmes, lembra?

— Aqueles encontros eram inocentes e platônicos. Você

era uma criança de dezesseis anos.


— Eram inocentes para você, não para mim.

— O que está querendo dizer com isso, Lara Molina?

— Lembra que eu insistia para assistirmos um filme após


o outro?

— Como eu poderia esquecer? Sua pilha nunca acabava

e você nunca enjoava de ver aquelas comédias românticas água

com açúcar. Eu preferia quando nos reuníamos para assistirmos


minhas partidas de futebol.

— As partidas de futebol não te faziam cansar e pegar no

sono no meio delas.

— Lara… — Agora as suas bochechas estão vermelhas,


e o rosado na sua pele diz que logo ficarei chocado.

— Quando você dormia, eu deixava o filme rolando e

começava a admirar seu corpo. Não cansava de te olhar e poderia


passar horas e horas sem fazer nada que não fosse te olhar e te

desejar.

— Não há problema algum em olhar — declaro, sabendo

de antemão que em breve me arrependerei dessas palavras.


— Nas primeiras vezes realmente apenas olhei. Mas
houve um dia em que levantei sua camisa e toquei na sua barriga.

Seu corpo ficou tenso em reação, mas você não acordou. Teve

outro dia em que fui mais ousada e coloquei a mão em cima do


seu…

— Você tocou no meu pau?

As revelações não param, e eu não poderia ficar mais

surpreso do que estou.

Talvez devesse ficar assustado, mas na verdade estou


excitado.

  — Toquei. Eu toquei de leve e você ficou duro. Mesmo

dormindo, ficou de pau duro por causa do meu toque.

  — Você é maluca, não é? O que mais fez enquanto eu


dormia?

— Não fiz muita coisa, porque, como acabei de dizer…


não, quer dizer… — hesita.

— Corte o suspense e fale de uma vez, amor.

— Eu gosto que me chame de amor — declara.


— Que bom, porque só te chamarei assim a partir de
hoje. Agora termine o relato sobre as suas safadezas.

— Talvez eu tenha me masturbado ao seu lado e gozado

nos meus próprios dedos. — Ela está vermelha como um tomate,


mas não gaguejou uma única vez.

Eu não imagino onde essa garota pode chegar se for


ensinada por um bom professor. Felizmente, sou um bom professor.

Para ela? Serei o melhor de todos!

— Não sentia vergonha de fazer tudo isso ao lado de um


homem inconsciente? Sabia que você é uma safada?

— Senti arrependimento todas as vezes, mas não foi o

suficiente para me impedir de repetir. Se quer saber, era a única


maneira que eu tinha para não explodir de frustração. Também fazia
para sentir que você era meu de certa forma — declara.

Se o irmão dela soubesse… esse mundo viraria pó.

E desta vez não seria por minha culpa.

 Mas não posso dizer o mesmo sobre o que acontecerá a


partir de hoje.
Será totalmente minha culpa e não terei nenhum
arrependimento.

— Dá para acreditar que estamos aqui agora? Você não


precisa mais esperar até que eu durma para se masturbar. Pode
fazer na minha frente enquanto observo — provoco-a um pouco

mais.

— Tenho a sensação de que estou sonhando.

— É real, meu amor. Tão real quanto o pau duro que está
cutucando sua boceta neste exato momento.

— É tão gostoso… — Ela fala, então se esfrega em mim

para sentir-se melhor. — Eu quero que você me coma hoje à noite.

— Não vai acontecer, pequena.

— Está me rejeitando?

— Eu não poderia fazer isso nem se minha vida estivesse

em jogo, o que não está muito longe da verdade, considerando a


forma que as nossas famílias podem reagir a tudo isso, mas somos
mais do que sexo e quero dar tudo que você merece do jeito certo.

— Vamos esperar até o casamento? — Lara brinca. Não

sei se você percebeu, mas não sou mais virgem. Camila está
dormindo ao lado para provar.

— Infelizmente, não esqueci — digo com um gosto

amargo na boca.

Sei que pode parecer primitivo, mas eu queria ter sido o


primeiro homem da sua vida. Gostaria de ter tirado sua virgindade e
a tornado mulher da forma que ela desejou quando ainda era uma

menina.

Mas está tudo bem, porque não importa o passado se

sou eu que estou ao seu lado agora. Mãe e filha são minhas para
cuidar e proteger.

— Eu não me importo se for do jeito errado — insiste.

— Sempre pensei que você fosse tímida.

— Ainda sou, mas meu desejo por você me torna uma


sem-vergonha.

— Embora eu saiba que isso será usado contra mim,


confesso que gosto que seja totalmente sem vergonha para mim,

minha linda.

Então seguro os cabelos da sua nuca com firmeza,

aproximo minha boca e olho dentro dos seus olhos, antes de fazer o
que vinha desejando há semanas de forma quase obsessiva.

— Eu estava morrendo para te beijar — declaro.

— Eu estava louca para que fizesse isso.

 Quando as nossas bocas se encontram, sinto como se a


minha vida estivesse voltando aos eixos. Finalmente em casa.

O gosto, o cheiro e o calor. Tudo nesse beijo me faz

acreditar que estamos fazendo o que é certo.

Certos um para o outro.

Nossa paixão e a atração que não pode ser ignorada é


certa.

As sensações que meu corpo vivencia enquanto suas


unhas arranham meu couro cabeludo me transportam para um
mundo de prazer, de calor de tesão.

A sua língua macia fazendo uma dança sensual junto

com a minha me faz ficar dolorosamente excitado e me leva a


duvidar da decisão de não transarmos ainda.

— Amor… — Essa palavra escapando dos seus lábios

faz meu corpo arrepiar e meu coração encher-se de calor.


É uma bela melodia para os meus ouvidos.

— Eu quero…

Embora tudo em mim continue gritando para que eu dê


exatamente o que nós dois queremos agora mesmo, decido ignorar

a urgência e continuo beijando-a.

Nossos beijos ficam mais quentes a cada minuto que


passa, quando minha loirinha começa a se esfregar no meu cacete,

que está babando na ponta.

Ficamos muito perto de sucumbir em vários momentos,


mas penso na recompensa, que será três vezes maior se eu
retardar a nossa entrega total, e resisto bravamente.

Quer dizer, resisto parcialmente, porque depois de tanto


calor, tantos beijos, línguas se buscando e gemidos que escapam,
nós dois gozamos.

Gozamos aos beijos e totalmente vestidos, como se

fôssemos adolescentes experimentando a paixão pela primeira vez.

Quando os tremores de prazer dos nossos corpos nos


deixam respirar, ela deita a cabeça no meu ombro e fica tão quieta
que chego a acreditar que dormiu. Mas Lara está apenas
aproveitando o momento pós-orgasmo, assim como eu.

— Você está bem? — Questiono.

— Nunca estive tão bem em toda a minha vida — fala,


agora olhando dentro dos meus olhos.

Então não resistimos e começamos a nos beijar

lentamente.

Desta vez são beijos mais calmos e sentimentais. Beijos


que tentam de alguma forma falar sobre sentimentos que nem todas
as palavras do mundo poderiam explicar.

Tarde da noite, Lara me convida para tomarmos banho e


eu me sinto tentado a aceitar. Mas tomei uma decisão que pretendo

respeitar e acabo recusando.


Ela parece ficar decepcionada, mas tenta mais uma vez
quando me pergunta se pode dormir na minha cama depois que

terminar o banho no quarto de hóspedes. Eu cedo, porque não


poderia pensar em uma forma melhor de passar a noite se não

segurando em meus braços a garota que me tem na palma das


suas mãos.

Depois de tomar um banho rápido para acalmar meu


corpo, que continua agitado, mesmo depois de ter gozado, visto a

calça moletom sem cueca e dispenso a camisa. Penso em ir direto


para a cama, mas meus pés me levam para outro lugar.

Na verdade, é meu coração que me leva.

Entro no quarto da Camila e a tiro do berço. Ela está

choramingando, provavelmente porque sente fome, mas se acalma


quando a balanço com cuidado em meus braços.

Quando a pequena entra no quarto enrolada em uma


toalha, é necessário certo esforço para que eu desvie a atenção das
suas pernas, cuja maciez e perfeição senti na palma das minhas

mãos.

— Obrigada por ter vindo — agradece.

— A bebê está com fome? — Questiono.

— Com certeza está — diz, então olha em direção ao

guarda-roupa vazio. — Se incomoda se eu pegar uma das suas


camisas emprestada?

— Fique a vontade — digo, mal conseguindo desviar a


atenção da bebê que está nos meus braços.

Ela é linda e, por um segundo, lamento que não seja


minha.

Lara vai até o meu quarto e o sentimento forte de


possessividade me toma quando a vejo retornando com uma das

minhas camisas, que no seu corpo parece um vestido que alcança


seus joelhos.

  Ela penteia os cabelos com os dedos e depois se


aproxima para pegar a Camila dos meus braços.

 A garota se senta na cadeira de amamentação que fica


ao lado do berço e eu fico parado em pé por um tempo, apenas
observando com fascinação a cena de uma mãe alimentando sua
filha. Não apenas uma mãe, mas a minha garota perfeita.

A forma como ela age e olha para a filha deixa claro que

tem o dom da maternidade, se é que isso existe. Camila com


certeza é uma criança de sorte.

Meus agentes e empresários me aconselharam a mudar-


me para São Paulo quando minha carreira deslanchou e assinei

vários contratos a longo prazo. Acabei seguindo os conselhos, mas


nunca me senti realmente em casa e feliz na grande metrópole.

Eu sentia saudade de casa. Sentia falta dos meus


amigos, da minha família. Principalmente, sentia falta da minha
Lara.

Não sei o que mudou na minha mente e na forma de


enxergar as coisas depois do acidente, mas só agora criei coragem

para fazer algo.

Eu ficava na casa dos meus pais quando vinha fazer

visitas rápidas ou passar férias entre um campeonato e outro. Eu


gostava de ficar com a minha família, mas sentia que faltava um
pouco de privacidade.
Então, tomei a decisão de comprar este apartamento há
alguns dias e, com a ajuda da minha irmã, o deixei pronto em tempo

recorde. Eu não percebi por que estava com tanta pressa, mas
tenho a resposta bem aqui, na minha frente.

Não me importei com as perguntas indiscretas da Flávia,

que quis saber por que eu estava me esforçando tanto para que o
meu lar também se tornasse aconchegante para a sua melhor
amiga e a bebê. Não sei se ela acreditou, mas disse que qualquer

pessoa no meu lugar teria feito o mesmo por uma amiga tão
próxima e especial.

 No fundo, eu sabia que não era toda a verdade.

Tive pressa em ter um lugar para chamar de meu porque


queria não precisar me esconder em lugares estranhos para ficar
com a minha garota, como se o fato de a desejar fosse um crime.

Eu não tinha certezas quanto aos seus sentimentos, mas havia a


esperança.

Também planejei o cômodo para o berço da pequena,


pois a amo como se fosse minha, embora só tenha começado a
pensar em mim mesmo sendo um pai agora que Lara é mãe.
Fiz tudo por mim e por elas. Porque essa garota de

cabelos loiros e enormes olhos verdes é a alegria da minha vida


desde que veio ao mundo. Eu não lembro de quem eu era antes da
existência de Lara Molina.

Obsessão? Talvez.

Mas não estou com medo, porque jamais a machucaria


de propósito.

Depois que termina de amamentar a filha, Lara a deita no

berço, envolve seu corpo em uma manta quente e então beija sua
testa com carinho.

Ao pegar a babá eletrônica que a Flávia me aconselhou a


comprar, minha garota ajeita a camisa para guardar o seio, segura

minha mão e me leva para o meu próprio quarto.

Ela joga a babá eletrônica em cima da mesa de


cabeceira, para ao lado da maior cama de casal que vi na loja e me

chama para si com o dedo. Safada!

Então vou para os seus braços sem pensar duas vezes.

Quando se deita de costas e afasta as pernas, eu me


aproximo, cubro seu corpo com o meu e a beijo novamente.
Ficamos nos beijando como se tivéssemos passado a vida inteira

fazendo isso. Só paramos quando o sono vence e não conseguimos


mais manter nossos olhos abertos.

Então minha garota deita-se de lado e eu abraço-a por


trás.

Eu a tenho em meus braços e sinto que voltei a me


encontrar, que tudo que estava fora do lugar foi arrumado.

Sei que surgirão grandes obstáculos pela frente, mas


estou preparado, porque nenhuma luta pode ser mais difícil do que
estar sem essa mulher.
 

LARA
Mais cedo cheguei em casa me sentindo nas nuvens. Fui

tão feliz ontem à noite que ainda sinto dificuldade para acreditar que

tudo não foi um sonho bom.

Mas a forma como Calebe me acordou aos beijos

mostrou que era a pura realidade.


Ainda sentindo-me um pouco mortificada por ter sido

corajosa de falar sobre as minhas maluquices de quando era


adolescente e ia para a sua cama, acordei pela manhã e fui mimada

com um delicioso café da manhã, que com certeza o jogador

comprou e pediu para que entregassem no apartamento.

Com Camila animada e brincando com um pedaço de


bolo, nos alimentamos e trocamos olhares. Não apenas olhares,

mas beijos rápidos, agindo como se fôssemos velhos amantes.

Enquanto ainda estávamos no apartamento, não falamos


sobre o que acontecerá a partir de agora entre a gente.

Quando me trouxe para casa, Calebe estacionou na rua


que fica antes da nossa e me beijou longamente, como se nunca

mais fosse ter uma oportunidade. Enquanto nos beijávamos, a bebê

aproveitou para puxar meus cabelos, porque ela adora fazer isso.

Então o jogador olhou dentro dos meus olhos e pediu


para que eu confiasse nele. Fiquei em dúvida se entendi ao que

estava se referindo, mas balancei a cabeça positivamente, porque

confio no Calebe com a minha própria vida.

Sempre confiei.
Eu não queria me despedir dele, mas foi inevitável. Então
passei o dia inteiro ajudando minha mãe nas tarefas de casa e

mantive um sorriso frouxo nos lábios.

Na parte da tarde levei minha filha para passear no

parque que fica nas proximidades e o sorriso continuou no meu

rosto.

Vinte minutos depois da nossa chegada, estou dando

uma volta com Camila pelo gramado bem cuidado do parque e vejo

minha melhor amiga se aproximando.

Por um momento, sou atingida pela culpa de estar


escondendo tantas coisas sobre mim. Flávia sempre foi minha

confidente para tudo, menos quando o assunto é o seu irmão.

Nossas mães dizem que brincávamos juntas no berço e

nada mudou vinte anos depois. Temos uma conexão de irmãs, mas

Calebe sempre esteve entre nós, não de um jeito ruim, e acabou

nos distanciando de certa forma.

 Conforme os anos foram passando, o garoto que fazia os

meus olhos brilharem tomou o espaço da irmã na minha vida, então

comecei a passar mais tempo com ele do que com ela.


Ainda assim, Flávia é importante o bastante para merecer

tomar conhecimento dos dilemas da minha vida, assim como sei


tudo sobre a sua.

Por exemplo, sinto que rola algo entre ela e meu irmão,
mas nenhum dos dois está disposto a admitir. Mesmo depois de

adultos, eles continuam fingindo que não se gostam.

Acredito que a única pessoa que cai nessa é o Calebe,

então suponho que a cegueira faça parte da personalidade dos


homens, porque meu irmão também nunca reparou em mim e no
melhor amigo.

Às vezes sinto que é tão óbvio que não faço ideia de

como as nossas famílias se mantêm cegas.

— Que surpresa te encontrar aqui — digo para morena

de olhos azuis, muito parecida com o irmão e tão bonita quanto ele.
Ela me abraça rapidamente e depois pega a Camila do carrinho.

— Eu passei na sua casa e sua mãe disse que você tinha


vindo passear no parque com essa princesa — explica, ao encher a

bochecha da minha filha de beijos. — Só vindo atrás de você para


conseguir te encontrar, não é mesmo?
— Não seja dramática, Flávia. Temos nos visto todos os

dias.

— Tudo bem, mas não te encontro justamente quando


quero conversar com você.

— Quer conversar comigo? Aconteceu alguma coisa com

você ou sua família?

Meu coração sobe para a garganta, porque lembro


nitidamente do que senti quando Flávia me ligou para dizer que seu
irmão havia sofrido um acidente de carro.

Naquele momento, o chão sumiu debaixo dos meus pés e


senti como se estivessem arrancando o coração do meu peito.

— Você pode perguntar pelo Calebe, amiga — seu

comentário acende um alarme na minha cabeça, mas deixo passar


por um momento, porque meu amor é prioridade.

— Ele está bem?

— Graças a Deus, Calebe está vendendo saúde. Mas, de

certa forma, vim aqui por ele.

— Não estou entendendo...


— Vem, Lara. Vamos nos sentar naquele banquinho com
a nossa princesa. — Aponta.

Ela sai na frente e eu sigo atrás caminhando devagar,


enquanto empurro o carrinho da minha filha.

  Quando nos sentamos, Flávia me olha por um tempo,


antes de abrir a boca para dizer o que tem passado pela sua cabeça
que está deixando sua expressão facial confusa.

— Como foi o seu encontro com o Calebe ontem à noite?

— Não foi um encontro — minto.

Foi mais do que um mero encontro. Foi tudo!

— Eu disse que foi?

— Onde você está querendo chegar, amiga? — Pergunto


de uma vez.

— Preciso saber o que está rolando entre você e o

Calebe, porque para mim está começando a ficar bastante claro que
rola algo entre vocês. Também preciso saber se começou agora ou

há alguns meses, quando voltou do coma completamente diferente


da pessoa que era antes.

— Diferente?
— Ele estava perdido. Mas agora, coincidentemente
depois que você veio para a cidade e voltaram a se aproximar,
Calebe está bem novamente. Não digo que é apenas fisicamente,

porque meu irmão estava com psicológico completamente fodido e


quero saber se você é a razão dessa mudança drástica.

— Amiga…

— Não minta para mim, Lara. Você sabe que pode me


contar tudo, não sabe? — Questiona. Flávia realmente me faz sentir

que posso contar tudo para ela. — Além do mais, se a ideia era

manter o segredo, meu irmão não fez questão nenhuma de

disfarçar.

— Disfarçar?

— Ele comprou e decorou o novo apartamento inteiro

pensando em você e na Camila. Acredita que preciso de uma prova

maior do que essa?

— Eu não sei por onde começar.…

A verdade é que estou cansada de mentir para ela.

Cansada de sentir sozinha o peso de tudo que estou escondendo

das pessoas que amo.


— Comece pelo básico. Primeiro responda se está

acontecendo alguma coisa entre vocês.

— Está.

— Desde quando?

— Meses antes do acidente.

— Meu irmão perdeu as lembranças de alguns meses


anteriores ao acidente, embora os médicos não tenham conseguido

dimensionar o período exato. Isso quer dizer que…

— Sofri muito e fiquei desesperada quando você me

contou sobre o acidente. Lembra de como eu não conseguia


abandonar a cabeceira da cama dele no hospital? Foram quase dois

anos me obrigando o deixar todos os dias.

— Como eu poderia esquecer? Todos nós estávamos

sofrendo, mas a forma como você ficou era de partir o coração. Eu


atribuí sua reação a amizade que vocês construíram no decorrer

dos anos, mas agora tudo faz sentido.

— Nós estávamos juntos há alguns meses.

— Vocês não fizeram nada inapropriado quando você


ainda era…
— Não! Claro que não, seu irmão não me tocou quando

eu era menor de idade. Ele nem me olhou de forma inapropriada!

Mas não por falta de vontade da minha parte, porque fantasio com
Calebe desde os meus dezesseis anos de idade.

— Sem mencionar sua certeza de que se casariam

quando você se tornasse adulta. Bom, agora vejo que não estava

tão equivocada. — Pelo menos ela está sorrindo e não parece brava

comigo. — Vai me contar como tudo começou?

— Foi tão natural que eu não sei exatamente o momento

em que Calebe percebeu que não me via mais como aquela menina

que ele queria amar e proteger como se fosse uma irmã mais nova.

— Ele não teria seguido em frente se acreditasse que era


apenas uma atração boba e que poderia resistir a você. Conheço

meu irmão — Flávia comenta e eu confirmo com a cabeça.

— Calebe e eu tínhamos o hábito de nos encontrarmos


no quarto dele para assistirmos suas partidas de futebol. Um dia, no

meio de uma conversa, cujo tema não me recordo, rolou um clima e

eu acabei roubando um beijo.

— Você não era tímida? — Ela brinca.

— Calebe tem feito a mesma pergunta.


  — Sua tímida de araque! Vamos, continue a história,

porque me odeio o bastante para ouvir sobre um amasso entre


minha melhor amiga e meu irmão.

— Foi um beijo roubado, não um amasso. Calebe fugiu e

passou vários dias sem olhar na minha cara.

— Deve ter sido difícil para ele perceber que a relação


com a melhor amiga da irmã, que havia acabado de completar

dezoito anos, não era tão platônica quanto parecia.

— No auge da minha imaturidade, não entendi a reação

que ele teve e insisti para que conversássemos. Também continuei


dando em cima dele durante algumas semanas. Marquei em cima

até que seu irmão cedeu a mais um beijo e depois do segundo

nunca mais paramos. Os sentimentos que descobrimos eram tão


especiais que não conseguíamos mais ficar longe um do outro, mas

também não sabíamos como contar para as nossas famílias. Por

isso decidimos esperar um pouco, antes de jogarmos a bomba.

  — Realmente, todos ficariam chocados. Estou chocada


neste exato momento. Embora não devesse, porque estava na cara

e eu me fingia de cega.

— Fomos discretos.
Quando Camila puxa uma mecha do cabelo da tia e ela

olha a bebê com atenção, sua ficha finalmente cai. Ela ainda não

tinha parado para pensar no assunto.

— Camila é filha do meu irmão?

— Sem a menor sombra de dúvida, porque perdi a

virgindade com ele e não estive com nenhum outro depois.

— Meu Deus! Eu não sei o que dizer, porra!

Percebe-se pela palidez no seu rosto.

Agora minha amiga está começando a entender o


calvário pelo qual estou passando.

— Você é minha sobrinha, pequenina. Eu deveria saber

que havia uma boa explicação para esse amor que sinto por você.
— Seus olhos estão marejados.

— Alem do fato de ser filha da sua melhor amiga? —

Brinco.

— É claro! — Diz com um sorriso no rosto, enquanto


abraça a sobrinha mais uma vez.

Flávia chora e sorri ao mesmo tempo. Ela parece

surpresa e assustada, mas também feliz com as notícias boas que


minha história com seu irmão trouxe.

— Suponho que ele ainda não saiba?

— Não sabe. Meu mundo caiu quando Calebe acordou e


percebi que ele não lembrava do período em que estivemos juntos.

Eu estava assustada, mas animada com a notícia que estava

prestes a dar. Sonhei tanto com o momento que até cheguei a


imaginar a alegria dele, mas deu tudo errado.

— Eu sinto muito, Lara — Flávia fala, ao afagar minha

palma com a mão livre.

— Você entende que eu não podia simplesmente dar uma


notícia tão grande para um homem que não se lembrava de que

tínhamos um relacionamento? Além do mais, ele ainda estava se

recuperando.

— É claro que entendo você, Lara. No seu lugar, não sei


se teria sido tão forte.

— Não sei se fui forte, apenas nutri a esperança de que

ele fosse se lembrar de nós nas primeiras semanas. Quando

percebi que não iria acontecer, também percebi que não podia mais
ficar perto. Então seu irmão voltou para a velha vida e eu sofri como

nunca pensei que fosse possível quando o vi desfilando ao lado de


belas mulheres e saindo para baladas sem fazer a menor ideia de
que a namorada estava grávida e sentindo o gosto amargo da

traição. Tive que lidar com a gravidez sem ele. Menti a respeito da

paternidade para as nossas famílias por medo e vergonha.

“Só tive um pouco de paz depois que a minha filha


nasceu e eu pude voltar para a universidade. Eu morro mil mortes

todos os dias por ter que ficar longe da minha filha durante a

semana. Morro mil mortes por ter que ver notícias sobre a vida
badalada do Calebe o tempo todo, mas um lado covarde meu

sempre gostou de ter uma escapatória. Eu não quis ficar na cidade,

sentindo-me culpada por mentir para vocês e correndo o risco de


encontrar com seu irmão sempre que ele aparecia para fazer uma

visita.

No momento estou chorando copiosamente e a cena não

deve ser bonita, porque estou falando ao mesmo tempo.

— Estou com raiva do idiota. Como Calebe pôde te

esquecer e depois sair por aí comendo vadias?

— Acredite, no começo também senti raiva, mas agora

entendo que ele não tem culpa de o seu cérebro ter me deletado.
Foi um processo longo e doloroso.
— Sei que nada do que eu disser será o suficiente para
demonstrar o quanto sinto pelo que você teve que passar. Tanto
sofrimento e sem ninguém ao lado para te abraçar.

— Foi difícil, mas sobrevivi e amadureci.

— Então você veio passar as férias na cidade ao mesmo


tempo em que meu irmão decidiu fazer uma pausa na carreira para
cuidar de si mesmo? — Balanço a cabeça positivamente. — Será

que o tal destino tentou unir vocês novamente?

— Ou foi apenas coincidência — digo.

— Não sei se coincidências existem — fala. — Quero


deixar claro que ele não estava bem sem você. Talvez não tenha

percebido no início, enquanto tentava retomar a vida, ou o que


parecia ter sido uma vida feliz antes do acidente, mas Calebe sentiu
sua falta. Ele estava inquieto, dizia que se sentia vazio e sempre, eu

quero dizer sempre mesmo, perguntava por você.

— Onde está querendo chegar? — Indago.

— Eu quero dizer que, embora ele não se lembre, o


subconsciente não se esqueceu de você. A luta interna pela qual

estava passando e a forma como não estava conseguindo se sentir


feliz depois que despertou do coma, foi a maneira que o corpo e a
mente encontraram para externar que sentiam sua falta. Você não
pensou nisso?

— Não até agora. Mas faz sentido. Calebe foi atrás de


mim, e desde que chegamos à cidade ele não parou de me procurar
e de perguntar por que eu estava distante.

— Ele te ama — diz.

Será?

Não tínhamos falado a palavra que começa com A ainda.

Nem a que começa com P.

— Depois de uns dias tentando fugir, tive uma ideia que a

princípio pareceu idiota — revelo.

— Vindo de você? Aposto que foi uma ideia brilhante.

— Decidi que havia chegado a hora de deixar a


autopiedade de lado para tentar lutar pelo meu amor. Meu plano era

tentar seduzir o seu irmão e fazer com que gostasse de mim como
mulher novamente. Então, depois que ficássemos juntos, contaria a
verdade, diria que tivemos um relacionamento e que Camila é nossa

filha.

— Realmente, um bom plano.


— É nesse ponto que sua teoria faz sentido. Eu imaginei
que teria que lutar muito mais para que seu irmão não resistisse a

mim, porque foi o que ele fez na primeira vez. Ele resistiu, porque
pensou que não era certo. Claro que também houve um pouco de
resistência agora, mas não foi metade do que eu estava esperando.

É como se ele já estivesse preparado para nós dois.

— O subconsciente sabe que vocês passaram por essa

fase antes — ela completa e nós duas sorrimos emocionadas. —


Então, sem saber de nada, e provavelmente cheio de esperança,
mas também com medo de não ser correspondido, Calebe comprou

aquele apartamento e fez tudo pensando em você e na minha


sobrinha.

— Fiquei muito emocionada quando ele me levou para


conhecer o lugar ontem a noite, Flávia. Foi naquele momento que

percebi que tomei a melhor decisão quando decidi lutar. Mesmo sem
lembrar de nós dois, Calebe está disposto a lutar para ficar comigo.
Ele está sendo corajoso e está se apaixonando pela segunda vez.

Calebe ama a filha sem saber que é pai.

— Essa é a mais linda história de amor que ouvi na


minha vida. Depois de tudo que me contou, estou torcendo mais
ainda pela felicidade de vocês.

— Não será fácil — falo.

— As coisas que mais valem a pena nesta vida não são


fáceis, Lara. Mas, depois de tudo, vocês dois conseguirão ser
felizes. Só tome cuidado para que os segredos guardados por

tempo demais não acabem atrapalhando — aconselha. — Quando


sentir que chegou a hora, não titubeie para falar com Calebe.

— Direi tudo, amiga. E não demorará, porque não

aguento mais mentir para o meu amor.

— Ouça bem, senhorita Lara, só te perdoarei por ter


escondido tudo isso de mim porque me deu essa sobrinha linda.
Mas saiba que não serei tão boazinha se ousar mentir para mim

novamente.

— Eu não seria capaz — digo. — Mas a confiança é uma

via de mão dupla, e agora está na hora de você me dizer a verdade.


Confesse que está a fim do Lúcio.

— Você enlouqueceu?

Quando o assunto muda, ficamos mais leves e sorrimos

juntas, como fazíamos quando éramos adolescentes.


É claro que ainda há esqueletos no meu armário, mas o
fato de eu ter me aberto com a minha melhor amiga tirou um peso
enorme dos meus ombros. Além de não estar mais mentindo para

ela, fico feliz porque agora terei alguém com quem desabafar.
Alguém para me abraçar quando precisar.

Há algumas semanas, minha vida parecia uma tristeza

sem fim e eu me sentia sem esperança. Agora, tudo o que eu tenho


é esperança e a convicção de que ficaremos bem.

Eu, minha filha e meu amor ficaremos bem no final.


 

CALEBE
Eu sei que em algum momento minha garota e eu

teremos que tomar algumas decisões sobre nós dois, e mesmo que

eu não queira ficar pensando nisso agora ou me preocupando por


antecipação, não posso esquecer-me de que temos vidas

diferentes.

Dentro de algumas semanas Lara voltará para a

universidade e na mesma época voltarei para os estádios. Então


teremos quilômetros de distância entre a gente, mas não quero que

seja um problema para o nosso relacionamento.

Embora não tenhamos falado seriamente sobre o status


da nossa relação, eu não teria dado o primeiro passo se não tivesse

a intenção de levar o que estamos fazendo a sério.

Minha garota é linda e gostosa de uma forma que deixa


homens de bocas abertas por onde quer que passe, mas não estou

apenas atraído e em busca de sexo com uma bela mulher.

 Gosto da Lara em todos os sentidos da palavra, aprecio

o seu corpo, mas também aprecio seu coração e o quero para mim.

Eu quero muito mais do que um caso que durará apenas

dois meses, por isso não transei com ela no meu apartamento há

alguns dias. Se fosse apenas por sexo, não estaria mais me

sentindo tão frustrado sexualmente.

  Temos nos visto todos os dias desde a noite em que

dormiu com a bebê no meu novo apartamento. Nos encontramos

nas casas dos nossos pais e somos levados a fingir que somos

apenas amigos, menos para minha irmã, porque minha garota

contou que estamos juntos para a melhor amiga e não me importei

com o fato.
Ela é mulher e sei que as mulheres têm a necessidade de
se abrirem umas com as outras. Além do mais, seria injusto esperar

que continuasse escondendo algo assim da Flávia. Minha irmã me

provocou um pouco, mas percebi que ela está bem e até mesmo

feliz com a ideia de ter o irmão e a amiga juntos.

Do jeito que ela é, não duvido que já esteja planejando o


casamento.

Os encontros na presença das nossas famílias são meras

torturas. Então nós escapamos enquanto não tem ninguém olhando

e damos alguns amassos.

Quando não estou treinando com Lúcio, encontro-a no

parque com a pequena e passo um tempo com as duas. A

separação não seria fácil se eu estivesse apaixonado apenas pela

Lara, mas também estou encantado pela Camila e não sei como

será ficar longe da minha menina fofa.

Camila é linda e esperta. Eu a adoro e não consigo


passar um dia sem vê-la.

Estou tão fodido!

Dias correram e sinto que passei no teste do quanto

poderia aguentar sem comer a loirinha. Então cheguei no meu


limite, deixei qualquer receio de lado e a convidei para jantarmos no

apartamento.

Pedi que deixasse sua filha com os avós, pois embora eu

ame a menina, hoje a noite é apenas para adultos. Aparentemente


tão ansiosa quanto eu por alguns momentos a sós, a pequena

aceitou sem pensar duas vezes.

  Então cheguei mais cedo para receber a diarista, pois

queria que tudo estivesse limpo e aconchegante para a minha


garota. Não que uma faxina demorada tenha sido necessária, pois
embora eu tenha adquirido o imóvel para ter mais privacidade e não

incomodar os meus velhos, acabei mudando de ideia sobre a


mudança para ficar mais perto da Lara.

Ansioso, também aproveitei para pedir nosso jantar em

um restaurante, porque não confio minimamente em mim mesmo na


cozinha.

Passa das oito da noite quando me sinto pronto e já estou

arrependido de não ter ido a buscar. Fiz a sugestão, mas Lara


preferiu vir por conta própria para não levantar suspeitas no seu

irmão e nos nossos pais. Concordamos que ainda não está na hora
de falarmos sobre nós
Sendo sincero, sinto-me mais do que preparado para

enfrentar os julgamentos e o soco na cara que levarei do meu amigo


por estar comendo sua irmã, ele certamente nos resumirá a sexo,

mas a loirinha tem o seu próprio tempo e estou disposto a respeitar.

Apesar de o sexo não ser tudo na relação que estamos

começando, confesso que estou mais do que ansioso para transar


com ela. É mais do que um querer, é uma necessidade latente que

causa arrepios de expectativas na minha alma.

O desejo foi alimentado com sonhos eróticos e com

banhos gelados, que foram desculpas perfeitas para que eu me


masturbasse pensando nos amassos que demos neste sofá na
primeira noite em que a trouxe.

Os beijos que estamos trocando desde então não são

suficientes para aplacar a necessidade que temos um do outro.

Eu estava acostumado a trepar com tudo que usava saia


e vivia intensamente os benefícios que a fama trouxe, mas desde

que comecei a desejar minha melhor amiga como mulher, nunca


mais pensei em sexo com outra pessoa.

  Significa que estou há mais de um mês sem entrar em


uma boceta e posso dizer que estou subindo pelas paredes. Apesar
da seca pela qual estou passando, sei que outra mulher que não
fosse a Lara não serviria. Tem que ser ela.

Apenas a minha deliciosa loirinha, que sempre deixa a


timidez de lado quando está comigo.

Quando a campainha finalmente toca, porque avisei ao


porteiro que estaria esperando a visita de uma garota, apresso-me
em direção à porta com o coração um pouco acelerado.

É como se eu fosse um adolescente indo ao primeiro

encontro.

 A sentença não está totalmente errada, pois apesar de


não ser mais um adolescente, esse certamente é o meu primeiro

encontro, ou pelo menos sinto como se fosse.

O primeiro encontro em que nós dois sabemos


exatamente como a noite terminará.

Abrir a porta do meu apartamento é como abrir as portas

do céu e deparar-me com um anjo.

O anjo do pecado, pois apenas o seu rosto, agraciado por


belos e enormes olhos verdes, lembra algo parecido com inocência.
Lara Molina veio vestida para seduzir, e ela certamente
tem sucesso na sua intenção quando meu pau sente uma fisgada
de expectativa e minha boca saliva com vontade de lamber seus

peitos.

— Não vai me convidar para entrar?

Em vez de responder com palavras, dou três passos em

sua direção e a pego em meus braços, abraçando-a pela cintura e


enfiando o nariz no seu pescoço sempre cheiroso.

— Alguém aqui estava com saudade? — Ela provoca.

— Morrendo de saudade, como se eu não tivesse visto

esse rosto perfeito ontem.

  Ao desfazer o nosso abraço, permito que meu olhar


passeie lentamente pelo seu belo corpo. Para a noite, minha garota

optou por cabelos presos em um rabo de cavalo e batom vermelho

nos lábios. Essa é a única maquiagem que consigo identificar.

Para o corpo gostoso, Lara escolheu um vestido

vermelho muito curto e justo. O vestido é tão decotado que sou

agraciado pela visão dos seus peitos lindos quase pulando para fora

da vestimenta.
Esses peitos serão o meu fim. Tão lindos e tão meus,

porra!

— O meu rosto fica um pouco mais para cima — ela

brinca.

— Você pode me culpar? Seus seios não eram assim

antes da bebê.

Eu não deveria saber disso, deveria? Saber significa que

passei um tempo olhando.

— Eram menores, bem menos tentadores. Hoje em dia

os homens descartam o que fica acima do meu pescoço.

— Eles não podem olhar para os seus peitos. São meus,

porra!

OK. Agora estou sendo ciumento.

— Ciúme?

É claro que ela não deixaria de perceber e comentar.

— Sempre, porque nós já concordamos sobre o quanto

você é minha.
— E você? É meu? — Pergunta, séria. Lara até mesmo

para de caminhar em direção ao centro da sala. — Não sou eu que

vivo rodeado de Marias-chuteiras. Não sou eu que toda semana


aparece com uma mulher diferente nos tabloides de fofocas.

Consigo ver a dor passando rapidamente pelo seu olhar.

Por não levar sua paixonite de infância tão a sério como

agora percebo que deveria ter feito, não sentia a necessidade de ser

cuidadoso com as minhas ações e na forma como me mostrava


para o mundo. Sempre achei que era o suficiente respeitá-la na

casa dos nossos pais e não levar mulheres para perto dela. Não

passou pela minha cabeça que Lara me acompanhava através da


mídia e que sofria.

Agora que entendi que não era apenas uma brincadeira

de menina, sinto-me um idiota por ter a feito sofrer por causa de

mulheres que nunca significaram nada para mim. As ações que tive
antes dela não significaram nada. Não para mim.

Embora fizesse parecer o contrário para as câmeras, não

era feliz antes. Não como sou agora.

Certamente não fui feliz nos últimos meses, enquanto


sentia sua falta.
 — Olhe para mim, Lara — peço, ao tocar sua bochecha

com carinho. — Eu trocaria todas as Marias-chuteiras e todas as


mulheres do mundo por você. Me perdoe se minhas atitudes idiotas

te machucaram, mas preciso que saiba que estou com você e

apenas com você. Sou apenas seu, amor — declaro, ao me


aproximar e beijar de leve seus lábios.

— Também sou só sua.

— E o pai da Camila? — Questiono, e o sorriso morre na

sua boca.

— Ele foi uma pessoa que não teve a menor importância


na minha vida. Menti quando te fiz pensar que estava apaixonada.

Apesar de não gostar de pensar que esteve com outro

antes de mim, é importante falarmos sobre o cara para tirarmos


essa possível pedra do nosso caminho.

No que depender de mim, ele não voltará a ser

mencionado. Se Camila precisa de um pai, eu serei seu pai com

todo o orgulho do mundo.

Sua entrada na minha vida não foi planejada, mas as

melhores coisas da vida nunca são.


— Não minta mais para mim, amor — peço, Lara abaixa

a cabeça.

É impossível não sentir a mudança na sua postura.

Parece entristecida agora e me preocupa.

— O que você tem? — Pergunto.

— Não é nada — diz, mas não sinto firmeza.

Sinto que Lara ainda tem segredos, e embora queira que

se abra completamente e em todos os sentidos da palavra, confio


que falará no seu tempo.

Só preciso ter um pouco mais de paciência.

Em vez de puxá-la para o sofá, levo-a para varanda do

apartamento e apoio suas costas na parede lateral.

Quando anoitece, a vista da cidade é maravilhosa e


quero desesperadamente a beijar aqui.

— Quero a sua boca — falo.

  Fico impressionado com a forma como é natural para

nós dois. Pensei que no início seria um pouco estranho,


considerando a forma como nos tratamos a vida inteira.
Mas nada está sendo como eu imaginava. É natural,

como se fosse destinado a acontecer.

— Eu te quero… Não estou conseguindo dormir direito,


porque anseio pelo seu toque. Estou louca para me entregar a você,

Calebe de Matos.

  A ideia era ir devagar e tratar essa garota com todo o


romantismo que ela merece, mas jogo todos os planos para o alto

em questão de segundos. Como resistir a uma mulher tão linda e

perfeita como essa?

Como resistir a garota dos meus sonhos?

— Quer devorar a sobremesa antes do jantar? — Brinco,

ao descer a cabeça e mordiscar seu pescoço. Em seguida, incapaz

de resistir, mordo seu lábio inferior.

Afoitas, minhas mãos descem da sua cintura para a


bundinha redonda e empinada. Aperto os lados com possessividade

e fantasio o momento em que enfiarei meu pau no seu cuzinho e a

ouvirei gemendo meu nome sem parar.

— Não me importo com o jantar — fala com tom de


malícia, fica nas pontas dos dedos pés, me abraça pelo pescoço e

toma a iniciativa do beijo.


A princípio, Lara controla o beijo e experimenta as
sensações das nossas línguas enrolando-se uma na outra e se

buscando.

 Seu gosto me faz sentir muito calor, é por isso que meu

pau endurece instantaneamente quando, ainda segurando sua


bunda com firmeza, puxo seu corpo para o meu. Ficamos colados

de cima abaixo e é uma delícia sentir meu pau contra o seu

estômago.

Como preciso de muito mais, abaixo-me o suficiente para

esfregar nosso sexo por cima das roupas. Apressado, e sem deixar

de chupar sua língua um segundo sequer, enrolo suas pernas nos


meus quadris e esfrego meu pau na sua boceta por cima do tecido

da calcinha até fazê-la gemer dentro da minha boca e puxar os


cabelos da minha nuca com força.

A dor de ter os fios puxados me deixa com mais tesão,


então levanto seu vestido até que fique enrolado na sua cintura e

enfio a mão inteira dentro da calcinha pequena e completamente


encharcada pelos resquícios do seu desejo.

— Você está molhadinha para mim, não é?


— Eu estou. Esse é o meu estado desde que começamos
a ficar juntos. É incômodo, mas também é gostoso e estimulante
sentir-me ardendo de desejo por você.

— No que depender de mim, princesa, você estará


sempre ardendo de desejo. O seu tesão não te fará sofrer, pelo
menos, não muito, porque sempre estarei aqui para te satisfazer.

  — Então me satisfaça agora — implora, eu dou a ela

exatamente o que quer.

Ao voltar a beijar sua boca, enfio dois dedos na sua


boceta e faço movimentos de entrar e sair. Uso a mão livre para

apertar um dos seus seios e desejo que tivesse mais de duas mãos
para a tocar em todos os lugares de uma única vez.

Quando sinto que está perto de gozar na minha mão,


afasto os dedos da sua boceta e os levo para a minha boca. Bebo

do seu sabor sem tirar o meu olhar do seu, que não consegue
esconder o quanto está a fim de sentar no meu pau agora mesmo.

  Felizmente, nós estamos na mesma página: cheios de

paixão e de urgência.

— Gostosa… Você tem o melhor sabor do mundo e eu


não me cansarei de experimentar, meu amor.
— Por favor, eu preciso de você — implora, e eu sou um
filho da puta sortudo por poder aplacar o desejo sexual dessa
mulher perfeita.

Minha mulher.

Incapaz de esperar ou de agir com mais decência para


dar tudo o que Lara merece com calma e cuidado, afasto sua

calcinha para o lado com uma mão e livro meu pau da cueca e da
calça com a outra.

— Você tem camisinha? — Ela pergunta. Dou uma

piscadinha e pego a única que eu havia pegado mais cedo e


guardado no meu bolso.

— Estava preparado?

 — Um homem pode ter esperanças, não pode?

 — Com certeza. Eu também estava cheia de esperança

e trouxe uma tira de preservativos na minha bolsa.

— Você me excita, sabia? A forma como se transforma


na minha frente me deixa louco. É como se a garota por quem estou

louco fosse duas versões: uma que mostra para o resto do mundo e
outra que só surge quando está nos meus braços — declaro, ao
colocar a proteção no meu pau sem deixar de olhá-la.

Jamais me cansarei de olhá-la.

— Qual versão você prefere?

— Com certeza a que criou somente para mim — eu falo,

então envolvo sua cintura com o braço, seguro meu pau com a mão
livre e o posiciono na entrada quente, apertada e encharcada da sua
boceta. — Está preparada, amor?

— Como nunca estive para qualquer outra coisa na


minha vida… — diz, então ofega profundamente quando meto meu

cacete por inteiro no seu calor,

Porra! Estou no paraíso?


 

LARA
Perdida nas sensações, que são tantas que eu não

consigo compreendê-las, sinto que tudo pelo que passei na minha

vida foi um teste para que eu chegasse até este momento.

Não apenas pelo sexo em si, mas pela sensação de estar

nos braços da pessoa que amo.


Sinto que cheguei em casa quando sou intensamente

abraçada e possuída pelo homem da minha vida. Intensamente


devorada pela pessoa que tem sido o meu principal ideal de

felicidade desde que eu era criança e não entendia nada sobre a

dinâmica entre um homem e uma mulher.

Meu coração inocente sempre quis Calebe, e meu eu


adulto finalmente está no lugar ao qual pertence.

A urgência para a entrega foi tamanha que nós mal

tivemos tempo de afastarmos as peças íntimas.

Nós nem ao menos esperamos para chegarmos à sua

cama e eu não poderia me importar menos com o local onde


estamos. Tudo que queria era isso aqui: estar nos braços do meu

amor

Mesmo enquanto estava sofrendo insuportavelmente por

tudo o que havia perdido depois do acidente, o meu coração


quebrado ainda encontrava espaço para os anseios. Quando

deitava minha cabeça no travesseiro, sonhava com momentos como

esse, porque Calebe e eu sempre fomos viciados um no outro.

  Começamos a fazer sexo poucos meses antes do

acidente, então considero que ainda estávamos em lua de mel do


namoro. Fazíamos sexo com tanta frequência que não faço ideia de
onde saía tanta energia e tesão

 Depois que a vida nos afastou, senti falta de tudo sobre o

meu namorado, mas o sexo estava no top3 das maiores saudades.

— Está tudo bem?

 Se estou bem? Estou no paraíso.

Meu namorado me penetrou com uma única estocada

agora há pouco e ainda não se moveu. Calebe é grande e eu sou

justa. Sempre é necessário um pouco de tempo para que o meu

corpo se adapte a sua invasão. O que vem depois não pode ser
descrito em palavras.

— Eu estou bem — digo, Calebe entende a mensagem e

começa a me penetrar lentamente, entrando e saindo.

Deixo escapar gemidos de prazer sempre que seu pau


grande e robusto me invade e depois sai lentamente, até que fique

apenas a cabeça dentro. Quando volta com força e rapidez, grito

seu nome e aperto minhas unhas nos seus ombros em retribuição.

— Mais rápido, amor. Eu quero que você me coma com


força — peço, porque depois de tanto medo e da certeza de que
havia o perdido, quero senti-lo intensa e profundamente.

Obedecendo ao meu comando, meu namorado soca com

mais força e o meu corpo solavanca para cima, depois desliza na

parede.

— Assim, querida?

Embora não se lembre de nós dois, Calebe está me

comendo como se as lembranças estivessem frescas na sua mente.


Lembranças de quando pedia para que me fodesse com força e que
não me tratasse como se eu fosse um vaso de cristal. Lembranças

de quando eu implorava, então ele me colocava de quatro e batia na


minha bunda até os lados ficarem com tom de vermelho sangue.

— Assim… — minha voz quase não sai e o meu corpo


começa a suar. Meu coração está prestes a sair pela boca e o

prazer é tamanho que minha carne fica trêmula.

Minha boceta parece ter vontade própria quando manda

mensagens para o meu cérebro, dizendo que não importa a forma


como ela estará machucada amanhã, desde que esse pau enorme e

experiente continue me rasgando.

Deus! Como senti falta desse pau gostoso me


alargando… desse corpo quente deixando o meu em chamas.
Como senti falta desses abraços possessivos, que poderiam me

sufocar, mas que só me acalentam e consolam como um cobertor


quente.

— A sua boceta é gostosa. Diga para mim de quem é


essa bocetinha viciante. Fale, Lara. — Completamente insano de

tesão, o jogador aperta um dos lados da minha bunda com a mão


livre e me beija de língua, não deixando de socar um segundo

sequer.

Ele é incansável e fica vários minutos batendo na minha

pelve sem parar, enquanto o suor escorre pelos nossos corpos. Eu


adoro o calor dos nossos corpos se misturando e a forma como as
nossas respirações ficam erráticas juntas. Posso sentir meu coração

acelerado, mas também posso sentir o seu.

O seu corpo está latejando por mim. O coração e o corpo


estão ligados e conectados a mim.

Porra! Como pude pensar que aguentaria viver sem isso?

Seria o mesmo que viver uma vida vazia e incompleta.

Não é só pelo sexo. De repente, não lembro de algum


momento que a minha vida tenha feito algum sentido sem a
presença desse homem nela. Deve ser porque Calebe nunca esteve
de fora.

Ele sempre esteve aqui, mesmo antes de estar.

Em algum momento, depois de ficar tão perdida em

desejo que minha mente se torna limpa de tudo que não seja sentir
e sentir um pouco mais, tenho a sensação de perda quando seu pau
para de se mover apertado dentro da minha boceta.

Então fixo meu olhar no seu e tento entender por que

parou. Não quero que pare de me comer, nunca.

— Não faça isso — peço.

— Não sabia que você estava tão desesperada por pau


— provoca e eu sorrio, não me sentindo nem um pouco ofendida.

Na verdade, suas palavras me deixam com mais tesão


ainda.

Era assim que meu namorado agia quando estávamos


fazendo sexo.

Ele falava sacanagens sem se preocupar com os meus


frágeis sentimentos, porque na hora do sexo, meus sentimentos não
são nada frágeis.
— Eu estou muito desesperada por pau. Pelo seu pau,
porque você não faz ideia de quanto tempo estava desejando ser
devorada por você. Então não ouse pensar em parar até que eu

diga que não aguento mais trepar. Aqui vai uma dica: não cansarei
tão cedo.

— Sua vadiazinha safada! — O tapa que recebo na


bunda é tão forte e seco que o som reverbera pelo apartamento.

— Apenas meta na minha boceta e me faça gozar

Calebe. Estou tão perto…

Quando levo minha mão para o meio das minhas pernas,

em uma tentativa falha de dar prazer a mim mesma e acelerar o


processo do orgasmo, Calebe é mais rápido e segura as minhas

duas mãos cruzadas em cima da minha cabeça.

— Seu prazer é meu. Eu serei o responsável por todos os

seus gemidos e todos os seus orgasmos, está entendendo, amor?


Não use seus dedos maliciosos quando eu não estiver presente

para assistir.

— Eu usarei — digo para o provocar. Ainda assim, o

jogador continua sem meter na minha boceta.


— Se você fizer, eu saberei. Então baterei na sua bunda

até que aprenda a ser uma boa menina.

— O papai quer que eu seja uma boa menina?

Porra!

Sei que venci a batalha quando Calebe volta a me

penetrar, desta vez estapeando minha bunda no processo.

Mas a minha felicidade dura pouco, porque menos de um

minuto depois, meu homem para de meter novamente e diz:

— Quero ver os seus peitos. Mostre as duas delícias,

amor.

Antes que eu tenha a oportunidade de agir, ele me segura

com mais firmeza e me leva da varanda para a sala. Então o

homem se senta no sofá pequeno e me ajeita sobre as suas pernas.

Agora, meus seios orgulhosamente maiores estão


praticamente se esfregando no seu rosto e, pela forma como está os

cobiçando com o olhar, isso era tudo o que meu namorado queria.

— O quanto você gosta dos meus seios? — Provoco.

— O suficiente para ter sonhado algumas vezes com os


dois levando o meu pau até me fazer gozar — declara, então ele
mesmo tira o vestido por cima e deixa a minha pele nua.

Talvez eu devesse me sentir um pouco constrangida e

temerosa pela possibilidade de vazar leite materno, mas não

consigo me preocupar o suficiente, porque esse é o pai da minha


filha. Foi ele que modificou o meu corpo com a sua semente. Foi ele

que me deu o maior presente com o qual jamais havia sonhado.

Mesmo que para ele essa seja a nossa primeira vez, está

agindo como se estivesse acostumado a estar comigo. Tanta


intimidade…

— Estou amamentando, então talvez possa acontecer um

pequeno acidente se você os pressionar demais. Talvez você leve

um jato de leite materno no rosto, fique com trauma e nunca mais se


sinta ansioso para olhar ou tocar nos meus seios.

Embora eu sinta que não é constrangedor para mim, não

posso supor que não será para ele, então o aviso foi necessário.

— Não é uma possibilidade, amor. Eu amo seu corpo, até


mesmo o leite que alimenta sua filha. — Para provar seu ponto, o

jogador, que ainda está profundamente socado na minha boceta,

segura meu seio esquerdo e chupa o mamilo com carinho.


Quando passa para o outro, ele mantém os olhos fixos no

meu quando começa a sugar da mesma forma que a minha filha faz,
mas com mais força e entusiasmo.

Quando sinto o líquido alimentício jorrando do meu corpo

para a sua língua e vejo os seus olhos azuis ficando escuros de

tesão, não preciso de mais nada para chegar no meu primeiro


orgasmo da noite.

Sinto meu corpo agitado como um mar revolto, sofro

tremores e arrepios enquanto meus seios são chupados e ele age


como se fosse o alimento mais gostoso que experimentou.

Porra! O que poderia ser nojento e degradante para outro

cara, é prazeroso para o meu homem.

Sem precisar usar palavras, Calebe faz com que eu me


sinta sexy, tão sexy quanto as modelos que pulam no seu pescoço a

cada oportunidade que surge.

A forma como está me olhando neste momento, enquanto

um dos meus seios vaza leite na sua língua, mostra de forma


inequívoca que não tenho razões para me sentir insegura quanto a

nós dois e a sua capacidade de se manter interessado em mim, a


garota mais jovem e que não parece nada com outras mulheres do

seu convívio.

— Eu não acredito que você fez isso — falo, quando meu

corpo se acalma do orgasmo intenso que acabei de ganhar.

— Espero que a Camila não se importe — brinca. Então,

segura meus dois seios nas mãos e começa a brincar com os

mamilos excitados.

— Ela não se importará — digo, dou uma rebolada lenta


no seu pau, que parece estar mais duro do que antes.

 Esse homem é uma máquina?

  Já passou vários minutos me comendo sem parar e

ainda não gozou.

Calebe provavelmente estava esperando que eu me

entregasse primeiro. Já me entreguei, então chegou a hora de dar o

meu show.

A fim de proporcionar os orgasmos mais intensos que já


teve na vida, curvo um pouco o meu tronco e começo o beijando no

pescoço. Não apenas beijos, mas chupadas longas, que farão


marcas vívidas e que o deixam tão louco que suas mãos agarram

minha cintura com mais firmeza.

— Lara… você está brincando com o fogo.

— É porque sou uma menina má e estou louca para ser

queimada pelo seu desejo. Eu quero te fazer arder, amor.

Do pescoço passo para a sua boca. Bem lentamente, e

ainda sem mover a pelve, passo a língua pelos seus lábios, mas
não cedo ao beijo pelo qual está implorando.

— Você quer gozar, Calebe?

— Tanto que eu poderia implorar — diz.

— Não será preciso.

Quando eu mesma começo a sentir que não posso

suportar mais nenhum minuto sequer sem dar e receber prazer,

seguro os meus peitos bem firmes e próximos do seu rosto, então

começo a sentar lentamente no seu pau.

Como se fosse a mulher mais experiente e sensual do

mundo, rebolo e sento no seu cacete, que está justo e rasgando

minha boceta como um punho de ferro.


— Sua vadia gostosa, eu vou gozar… — fala fora de
controle, ao agarrar minha cintura, tomar o controle em suas mãos e

começar a meter com rapidez e profundidade no meu sexo sensível.

Quando goza intensamente e me deixa sentir seu

esperma enchendo o preservativo, o jogador também me leva ao


segundo orgasmo, que me faz chamar pelo seu nome tão alto que

não duvido que os vizinhos dos outros apartamentos estejam me

ouvindo.

  No momento em que o meu corpo cansado e suado

tomba contra o seu, meu namorado me abraça apertado e eu fico

descansando a cabeça no seu ombro durante um tempo.

Enquanto sinto seu coração bater e desacelerar pouco a


pouco, um sorriso feliz e apaixonado surge no meu rosto.

Como eu poderia me sentir de outra forma?

 Os seus braços são a minha casa.

O seu coração sempre foi o meu lar.

Sempre será.

— Olhe para mim, amor — ele pede depois de um tempo


e eu faço.
Olho em seus olhos e não sei se algum dia me
acostumarei com o impacto que sua beleza causa.

Estamos ligados intimamente e eu poderia passar a vida

dessa forma.

— Você ficará assustada se eu disser que estou me


apaixonando?

A mesma frase pela segunda vez.

A mesma emoção pela segunda vez.

— Susto nenhum, porque já estou completa e


irremediavelmente apaixonada por você — declaro, agora com os
olhos marejados.

As palavras que acabamos de dizer significam muito mais

do que declarações para mim e ele não faz ideia disso.

Nossas palavras significam que muito em breve poderei


dizer a verdade e então terei esperança de que continuaremos de

onde havíamos parado, sem omissões e mentiras no nosso


caminho.

Nosso amor triunfará, eu olharei para trás e sentirei que


valeu a pena insisti pelo final feliz.
— Então nós não temos um problema — brinca.

— Não temos — digo, ao jogar a cabeça um pouco mais

para o lado para receber seus beijos macios e carinhosos.

Depois do sexo intenso e longo, Calebe e eu ainda

ficamos vários minutos namorando preguiçosamente no sofá, mas


ele me surpreende quando me pega nos braços no estilo noiva e me

leva para o banheiro do seu quarto.

Se por um momento pensei que fosse aproveitar para


transar comigo pela segunda vez debaixo da ducha, estava

completamente enganada.

Calebe costumava fazer isso, porque ele nunca foi capaz


de se cansar facilmente do meu corpo, mas hoje está agindo de
forma diferente. O pai da minha filha toma todo o tempo do mundo

para me lavar e me secar.

O homem está sendo tão carinhoso e atencioso comigo


que é necessário um esforço da minha parte para não chorar feito

uma boba.

Depois de tomar seu próprio banho, meu namorado me


leva para o quarto, pede para que eu me sente na ponta da cama e
hidrata meu corpo com sua loção corporal cheirosa. Ele faz isso
enquanto distribui beijos pela minha pele e meu corpo esquenta de
maneira involuntária.

Calebe sabe exatamente o que está fazendo e duvido


que não seja de propósito, para já me deixar pronta para a segunda

rodada da noite.

Não que eu precise de muito estímulo, pois tenho a

sensação de que sempre estarei pronta para esse homem.

Depois de vestir uma das suas camisetas e pentear meus

cabelos, aproveito que o meu jogador está se trocando para ligar em


casa e saber se a minha filha está bem.

Ao ouvir que ela se alimentou direitinho e que está


dormindo, sinto-me mais tranquila para aproveitar as horas que
passarei com meu namorado.

 
Sempre nos tocando e nos beijando, Calebe e eu

esquentamos o jantar que ele pediu e colocamos a mesa juntos.


Então nos alimentamos trocando olhares e conversando sobre o
futuro.

Também estamos decidindo como será nossa relação


depois que conversarmos com as nossas famílias, porque

precisaremos lidar com a distância, considerando que ele voltará a


jogar e cumprir seus contratos em São Paulo. Por outro lado,
voltarei para a faculdade, que fica na capital, a algumas horas daqui.

  — Você é um jogador de futebol famoso e sua agenda


fica cheia quando não está de férias. Acredita que poderemos

manter o relacionamento à distância?

 É um assunto pesado para ser discutido agora, mas não

posso me conter.

Eu sei que estamos muito felizes, mas temos questões

com as quais precisamos lidar. Quanto mais rápido falarmos sobre


elas, melhor será.

— Estou louco por você e sinto que, se quisermos, a


nossa paixão poderá superar qualquer obstáculo. Quero ficar com
você, independentemente do que tivermos que fazer para que dê
certo — declara. Ele não hesita e me enche de coragem.

Não que eu estivesse com dúvidas quanto ao que desejo.

— Eu também quero muito tentar, amor.

— Então… estamos namorando? — Pergunta. Quando


percebe que não estou mais comendo, ele me puxa para cima das
suas pernas e eu me aconchego.

Amo usar suas pernas como sofá. O encaixe é perfeito.

— Desde o primeiro amasso. O sexo apenas tornou


oficial — brinco, e Calebe gargalha.

— Você me faz feliz, sabia? — Declara, olhando dentro


dos meus olhos. — Finalmente encontrei o que estava procurando.

— Você também me faz feliz, lindo.

— Que bom, porque está na hora de te mostrar o quanto


realmente posso te fazer feliz. — Calebe beija a minha boca, me
pega em seus braços como sempre fez e me carrega para o quarto.

  Em vez de treparmos como na primeira vez, desta vez


fazemos amor gostoso, olho no olho e cheio de conexão.
— Goze no meu pau, amor… — em cima de mim, ele
pede no meu ouvido e eu gozo.

Calebe também chega ao orgasmo no mesmo momento,


então inverte nossas posições e me deita em cima do seu corpo
quente e deliciosamente suado. Ele me abraça enquanto nossos

corpos se acalmam.

Meu homem me toca com possessividade, como se


nunca mais fosse me deixar ir embora. Como se nunca mais fosse ir
embora. Eu passei pela experiência de o ver indo embora e foi o

pior momento da minha vida.

Agora o quero aqui: junto do meu corpo e do meu


coração.

Quando meus olhos pesam, as palavras escapam da

minha boca sem que eu possa impedir ou voltar atrás.

— Eu te amo…

Antes de eu cair na inconsciência, fico com a sensação


de ter ouvido a mesma frase saindo da sua boca segundos depois.

Estou em casa.

Finalmente.
 

CALEBE
UM MÊS DEPOIS

No momento, tenho meu rosto entre as pernas da garota


mais gostosa do mundo e sinto que não há lugar melhor onde eu

poderia estar. Na verdade, o mundo poderia acabar agora que não

me importaria de dar o último suspiro com o rosto na boceta da


minha namorada.
De repente, dar prazer para essa mulher é a melhor coisa

do mundo. Encontrei o meu lugar no seu corpo, no seu prazer e nos


seus gemidos. Não posso e não quero pensar em uma vida sem ter

isso todos os dias.

— Assim, amor… Estou quase lá.

Desde que Lara e eu começamos a transar, quase não


houve um dia em que tenhamos ficado sem sexo, seja como

estamos fazendo agora ou por telefone, nos dias em que não

podemos nos ver, mas sempre damos um jeito de ficarmos juntos.

Não deixamos que o distanciamento físico de horas ou

minutos seja um obstáculo, e sei que é um ótimo indicativo para o


futuro, quando precisarmos ficar longe um do outro daqui algumas

semanas.

Eu procuro não pensar nos quilômetros que nos

separarão, mas, a cada dia que passa, mais o peso do


distanciamento imposto contra as nossas vontades recai sobre os

meus ombros.

Eu não poderia estar mais apaixonado do que já estou.

Eu não poderia estar mais envolvido do que estou.


Se pudesse, a levaria comigo e nunca mais pensaria em
separação.

Experimentei durante alguns meses e foi a pior

experiência da minha vida.

Quero comer a sua boceta e sentir seu gosto na minha


língua todos os dias.

Quero mais gemidos como esse.

— Calebe… amor…

Sobretudo, quero ouvir sua voz chamando pelo meu

nome, enquanto goza e puxa os cabelos da minha cabeça. Quero

sua boceta rebolando no meu rosto todos os dias.

Quero que durma e acorde nos meus braços, que não

precise mais se preocupar por estar mentindo para os nossos pais.

Não quero ver a culpa nos seus olhos sempre que

precisa da ajuda da sua amiga para mentir. Flávia nos ajuda quando

precisamos de uma desculpa para ficarmos juntos por um tempo.

Embora eu saiba que ela não se importa, muito pelo contrário, sinto

que a minha garota se incomoda.


Eu tenho desejado muitas coisas desde que começamos

a ficar juntos, mas a única certeza que tenho é que preciso da


minha namorada, e o fato de ela estar se contorcendo de prazer na

minha cama neste exato momento me faz o homem mais feliz e


realizado do mundo.

Apesar de tudo, sei que esse é o meu maior prêmio.

Os problemas estão batendo à porta, e o nosso tempo

está esgotando, mas sempre que estamos nos braços um do outro,


todo o resto deixa de existir.

Quando ela finalmente deixa de sofrer espasmos de


prazer por causa do orgasmo, subo meu corpo pelo seu, distribuindo

beijos na sua pele, e sinto que meu pau, que acabou de receber um
boquete delicioso, está implorando para entrar na sua bocetinha

novamente.

Hoje é sexta-feira, e depois de uma corrida exaustiva com


Lúcio, passei aqui no apartamento para tomar um banho e depois fui

buscar minha namorada e nossa princesinha no pediatra.

 Depois de comprarmos nosso almoço em um restaurante


aqui perto, voltamos e almoçamos juntos na varanda.
Menos de uma hora depois, a princesinha acabou

dormindo e minha namorada e eu aproveitamos para namorarmos


na cama. Transamos duas vezes, mas sinto que poderia passar a

semana inteira vivendo de água e sexo.

— Amor, você está se superando mais a cada dia que

passa — Lara elogia, eu beijo sua boca de leve como forma de


agradecimento.

Adoro o fato de Lara não ser uma mulher como aquelas


que são cheias de frescuras. Ela não se importa de ser beijada

depois do sexo oral. Não tem nojo do gosto da própria boceta. Não
tem nojo de engolir cada gota da minha porra quando gozo na sua
boca.

De repente, no lugar menos provável, encontrei a mulher

que foi feita para mim.

Tenho vinte e sete anos e ela tem apenas vinte, mas


nada nas nossas conversas denuncia a diferença de idade. Lara é

madura de uma forma que mulheres com o dobro da sua idade não
são.

— Sempre que te como, sinto que está mais gostosa do


que no dia anterior — devolvo, ao dar um beijinho na ponta do seu
nariz.

A vida proporciona muitas coisas maravilhosas, mas me

lembro de poucas que são melhores do que ver a minha mulher


toda suada, lânguida e com um sorriso largo deitada na minha

cama.

Eu esperei que o peso na consciência viesse nos


primeiros dias, mas não veio.

Esperei que fosse me sentir culpado por estar mentindo

para o meu melhor amigo, mas não me lembro que existem outras
pessoas no mundo quando estamos juntos como agora.

Não esperei que fosse estar tão envolvido depois de um

mês de relacionamento, mas posso dizer com todas as letras que


amo essa mulher.

Caralho! Como eu amo essa mulher.

Houve um tempo em que acreditei que aproveitar minha

fama para transar com a maior quantidade de mulheres e ir às


melhores festas era o máximo de satisfação que eu poderia desejar

para a minha vida, então a conheci e descobri o verdadeiro sentido


de ser feliz.
O prazer no ato de fazer sexo? Encontro nos braços
dessa garota que, apesar de ser claramente inexperiente, é cheia de
vontade e nunca diz não para nada que proponho na cama.

Ela é o sonho molhado de qualquer homem com sangue

quente correndo nas veias e não tenho pudor na hora de aproveitar


todo o seu potencial.

Sobre os milhões que ganho por mês? Eles serão bem


aproveitados se eu puder proporcionar uma vida confortável para a

minha família, algo que já faço com muito orgulho, e para a mulher

que amo.

  Lara não permite que eu a banque de forma irrestrita,


porque é orgulhosa demais para o próprio bem, mas tenho

esperança de que o tempo a faça perceber que sinto prazer em

mimá-la.

Pelo menos não impõe resistência quando o assunto é a


Camila. Minha namorada aceita meus presentes extravagantes e o

último deles foi um berço estilo medieval, que foi caríssimo aos seus

olhos, mas não fez cócegas no meu bolso.

Camila, que outros caras poderiam enxergar como uma


responsabilidade excessiva e um peso na relação, é como a cereja
do bolo na nossa felicidade. Eu amo pensar que provavelmente

serei o único pai que ela conhecerá.

Apressado? A resposta poderia ser positiva se Lara e eu

fôssemos pessoas diferentes, mas a forma como já nos

conhecemos profundamente torna tudo mais do que natural e nada

equivocado.

Somos intensos, mas jamais equivocados.

  Depois de gozar, minha namorada fica com a cabeça

deitada no meu peito, tão quieta que quase chego a pensar que está

dormindo, mas conheço sua respiração o suficiente para saber que


está tão acordada quanto eu.

— O que você quer fazer hoje?

Geralmente deixo os nossos programas nas suas mãos,

porque para mim, estar junto com as minhas garotas bonitas é o


suficiente.

Além do mais, sei que Lara adora planejar as nossas

saídas, apesar de o segredo não nos dar tanta liberdade quanto


gostaríamos.
 Sinto que o dia de o segredo terminar está muito perto.

Eu estava dando um tempo para que Lara realmente se sentisse

segura de que nosso relacionamento não era apenas uma aventura


passageira, mas agora, um mês depois, estou pronto para abrir o

jogo com as nossas famílias. Só preciso que Lara também esteja.

— Estava pensando em levar a Camila para passear no

parque. O dia está lindo, e talvez seja a oportunidade perfeita para

que ela assista ao pôr do sol pela primeira vez — sugere.

 Tenho tantas coisas para gostar na minha mulher, mas o

fato de ela dar valor as pequenas coisas me deixa encantado.

— É um ótimo programa, mas nossa princesa ainda não

acordou — aponto com um tom de malícia na voz.

— Tenho algumas sugestões de como podemos passar o

tempo até que a pequena esteja pronta para passearmos — a

gostosa declara, ao montar na minha cintura.

Antes que a Camila acorde, minha loira e eu nos


divertimos durante quarenta minutos, e são os quarenta minutos

mais bem aproveitados da minha vida.

Com meu boné preto e os óculos escuros para disfarçar,


saio de casa pelo estacionamento dos fundos, porque essa foi uma
das maneiras que encontrei para despistar possíveis paparazzis.

Felizmente, a barra está limpa e sinto-me contente de


poder proporcionar pequenos momentos de prazer para as duas

garotas da minha vida sem o medo de ser fotografado por idiotas,

que poderiam estragar nossa felicidade.

Há muito o que temer em um relacionamento com a


loirinha, mas sinto mais medo de que a imprensa estrague a nossa

felicidade a qualquer momento do que das reações das nossas

famílias quando descobrirem que somos um casal.

 Ouvi muitas histórias e presenciei de perto o estrago que


esses idiotas podem fazer na vida de alguém.

Quero que minha mulher e nossa pequena vivam em paz,

porque elas não precisam ser atormentadas por desconhecidos por


causa da profissão que tenho.

 
— Olha que lindo, meu amor. — Sentada no banco do

parque e com os olhos brilhando como se fosse uma menina, minha

garota aponta em direção ao sol alaranjado, mostrando a beleza da

natureza para a bebê mais fofa do mundo.

Em vez de olhar para onde a mãe quer, a loirinha mirim

tem a sua cabeça voltada para mim, e sua boca toda babada mostra

um sorriso desdentado e fofo.

— O que foi, princesa? Você quer vir para os braços do


papai? — Questiono, e a menina de um ano praticamente se joga

nos meus braços.

A forma como ela me ama sempre me emociona. Jamais

passou pela minha cabeça que eu fosse amar uma criança da forma
que a amo, com o desejo de a proteger do mundo.

— Da. Da.

 A tentativa de formar uma palavra escapa da sua boca,

minha namorada e eu nos encaramos com olhos arregalados e


então sorrimos um para o outro.

  Meu coração erra batida e meus olhos lacrimejam

quando Lara balança a cabeça para cima e para baixo, confirmando


que não interpretei errado. Camila fez uma tentativa de falar a

palavra papai.

— Tente novamente, princesa. Papai — insisto, ela puxa


o meu nariz com suas unhas afiadas, mas não abre a boca.

Quando Lara e eu começamos a passar um bom tempo

juntos, embora tenhamos feito malabarismos para não


denunciarmos a nossa relação antes do tempo, automaticamente

comecei a passar mais tempo com a loirinha bebê.

Minha namorada e eu percebemos que ela gosta de um

desenho cuja figura de um pai e de uma mãe é importante, e desde


então ela tem nos surpreendido com suas tentativas de falar papai.

Na primeira vez, quase chorei de emoção.

Por um tempo, quisemos acreditar que ela falava a

palavra aleatoriamente e que não entendia o significado, não como


reconhece a figura materna em Lara. Mas agora ela olhou

diretamente para mim e mostrou que estávamos enganados.

 Agora estou percebendo que a filha da minha namorada

enxerga em mim a figura de um pai e não poderia estar mais feliz e


emocionado.

Não estamos apavorados, porque é natural.


De qualquer forma, mesmo que não fôssemos um casal,
havia uma chance de que algo assim pudesse vir a acontecer.

Sempre fomos melhores amigos e eu jamais deixaria a filha da

minha garota sentir ausência do idiota que ajudou na sua


concepção.

Muito raramente perco meu tempo sentindo curiosidade a

respeito da identidade do idiota. Deve ser assim porque ele nunca

foi real para mim.

A garota é minha.

A bebê é minha.

Tem que ser assim.

— Vamos, amorzinho. Fale papai — insisto, e sinto que

não vou parar até ouvir o que preciso.

É importante para mim, muito mais do que eu poderia


imaginar.

Como se pudesse sentir a minha ansiedade, porque

temos uma ligação forte e que eu jamais conseguiria entender, a


pequena segura as minhas bochechas com as suas mãozinhas
pequenas e olha nos meus olhos com curiosidade.
É engraçado como é a primeira vez que percebo que o
tom da cor dos nossos olhos é parecido.

— Papai.

Um sorriso rasgado se abre na minha boca quando olho

para a minha namorada, inclino meu corpo em sua direção e beijo


seus lábios de leve. Volto minha atenção novamente para a loirinha
bebê e ela começa a repetir sem parar a palavra que é música para

os meus ouvidos.

— Papai.

Neste momento sei que, independentemente do que


possa acontecer daqui cinco, dez ou cinquenta anos, essa será uma

das melhores emoções que experimentei.

Também sinto que, independentemente do que tiver que


acontecer entre a Lara e eu como homem e mulher, e espero de

verdade que fiquemos juntos, sempre serei o pai da Camila.

A minha menina.

Depois da emoção que uma criança de um ano me fez


sentir, nós três finalmente olhamos em direção ao pôr do sol e o

apreciamos como ele merece.


 

  Mesmo daqui a muitos anos, esse dia ainda será


conhecido como um dos mais importantes da minha vida, tanto pelo
lado bom de ter sido reconhecido como pai pela minha pequena

princesa, quanto por ter sido o início da minha ruína.

Chega um determinado momento em que o estado de


felicidade é tão grande que uma pessoa pode ser fraca a ponto de
acreditar que nada do que possa acontecer será o suficiente para

empalidecer ou destruir essa felicidade.

Mas o erro estar em abaixar a guarda, porque a vida

sempre pode surpreender de maneira negativa. A sorte sempre


pode virar. O sonho sempre pode se transformar em um pesadelo,
porque a vida é assim e estamos aqui para lidar com ela de peito

aberto, independentemente da dor.

Há um limite de dor com a qual uma pessoa pode lidar

antes de sucumbir?
Há um limite de dor a ser suportada antes de uma
desistência, ainda que seja a desistência da melhor coisa que

aconteceu na minha vida?

TRÊS DIAS DEPOIS


 As famílias Matos e Molina estão reunidas no Jardim da
casa dos meus pais para o típico almoço de domingo, que não
acontecia há um bom tempo. Não porque a amizade esfriou ou algo

parecido, mas a vida aconteceu e seus filhos acabaram tomando


rumos diferentes.

Os almoços em famílias se tornaram mais escassos,

então estamos aproveitando a oportunidade de nos reunirmos agora


que todos nós estamos na cidade.

Eu fui o primeiro a ir embora quando comecei a jogar


profissionalmente. Embora o time seja local, os contratos

publicitários são de São Paulo e tive que partir para ficar mais perto
dos meus agentes e empresários.

Como Lúcio havia acabado de se formar, alguns meses


depois da minha partida o contratei para ser meu principal
preparador físico e nós nunca deixamos de trabalhar juntos.
Então minha irmã foi trabalhar como na cidade vizinha e

passou a voltar para casa apenas durante as férias de final de ano.

A última a ir embora foi a Lara. Eu não estava aqui


quando ela engravidou e muito menos quando decidiu estudar na

capital, mas o importante é que estamos juntos novamente. Não só


a mulher que amo e eu, mas também as nossas famílias reunidas.

As conversas são fáceis e o clima é agradável. Ainda


assim, troco olhares com a minha namorada a todo instante, porque

nós dois sabemos que é impossível não sentirmos o peso das


nossas omissões em momentos como esse.

Quando recebemos o convite para o almoço ontem, nós


dois conversamos e minha namorada disse que estava pronta para
contarmos sobre o nosso namoro para os nossos pais e nossos

irmãos.

  Em alguns momentos nos últimos dias, senti Lara um

pouco calada e tive a impressão de que estava tentando me contar


algo, mas minha namorada não disse nada e me convenci de que

estava criando paranoias de coisas inexistentes. Talvez uma


tentativa de me sabotar.
Apesar de termos decidido contar para eles que estamos
juntos, sabemos que fazer isso em um almoço de domingo não é
uma boa ideia.

Esse não é o momento, mas parece que nem todos


pensam como eu.

Lúcio saiu da mesa há cinco minutos para atender uma


ligação e eu deveria ter me preparado para a má notícia, porque ele

nunca deixa que assuntos de fora interfiram nos momentos em


família.

Quando volta, mal o vejo o que está vindo em minha

direção quando o homem joga seu smartphone em cima da mesa na


minha frente. Meus olhos caem em cima da tela e não preciso de

mais do que um segundo para entender o que está acontecendo.

Alguém foi discreto o suficiente para me filmar no parque

com a Lara e minha princesinha sem ser percebido. Minha


namorada está sendo especulada como uma nova conquista, mas a
forma como nos beijamos em determinado momento do vídeo é o

suficiente para deixar a verdade mais do que clara para alguém que
está acostumado a lidar com notícias falsas e sensacionalistas.
— Há quanto tempo isso está acontecendo, porra?! —
Lúcio berra na minha cara e não se importa com os olhares

assustados dos nossos pais.

— Não é o que você está pensando… Não desse jeito. —


Mais forte do que eu fisicamente, ele me puxa da cadeira. Talvez por

sentir no fundo que mereço sua raiva, deixo-me ser arrastado.

— Com tantas vadias aos seus pés, você tinha que


colocar suas malditas mãos na minha irmã?

— Filho, do que ele está falando? — Minha mãe

pergunta, mas não tenho a chance de responder.

Sou jogado contra a árvore frondosa com tanta força e


agressividade que chego a ficar tonto.

Depois do primeiro soco, que faz as mulheres gritarem e

os homens mais velhos se esforçarem para segurar o Lúcio, meus


joelhos cedem e minha visão fica turva quando sinto uma fisgada de
dor na nuca.

Então, com a boca suja de sangue, ergo o olhar e procuro

os olhos da mulher que amo.


Cenas de um passado não tão distante passam diante
dos meus olhos de forma veloz.

Nós dois no meu quarto, antes de surgir um clima


diferente pela primeira vez.

O primeiro beijo.

O momento de culpa.

O momento de negação, que atormentou a minha alma

até que eu sucumbisse e aceitasse que estava apaixonado pela


primeira vez.

A nossa primeira transa.

Eu tirando sua virgindade em uma noite especial.

Nós dois transando no vestiário um pouco antes do


acidente.

Eu não posso acreditar que Lara fez isso comigo…

Não ela.

A mulher que amo não me enganaria dessa forma. Não a


mulher que amo.

Não a minha Lara.


 

LARA
Não há como saber quanto tempo durará um momento de

felicidade.

Às vezes pode durar uma vida inteira. Às vezes meses,

minutos ou apenas um segundo.

Eu estava tão feliz nas últimas semanas que não

conseguia pensar em tudo o que poderia dar errado, mesmo


estando consciente de que muitas coisas poderiam sair do controle.

 Minha felicidade foi construída em cima de um castelo de

mentiras e omissões. Apesar dos motivos para ter feito o que fiz,
ainda assim minhas escolhas não foram menos erradas.

Tudo o que começa errado termina errado e no momento

estou começando a pagar o preço pelas minhas escolhas. Escolhas


das quais não me arrependo.

Depois de meses de sofrimento, o homem que amo me

fez a mulher mais feliz do mundo durante algumas semanas. Nós

estávamos ocupados demais sendo felizes para apressarmos o

momento em que a bomba estouraria no colo das nossas famílias.

Aparentemente, adiamos demais a conversa que

deveríamos ter com eles, então a descoberta aconteceu da pior

forma possível.

 Nem mesmo tive tempo de conversar com Calebe sobre

sua perda de memória, para em seguida revelar que tínhamos nos

apaixonado antes e que a Camila é o resultado do nosso amor.

Tentei começar o assunto muitas vezes nos últimos dias, mas

sempre fui paralisada pelo medo de perder a felicidade que estava

me consumindo.
Agora a escolha foi tirada das minhas mãos, tanto a de
conversar com os nossos pais sobre o nosso relacionamento,

quanto a de contar para o meu namorado que éramos um casal

apaixonado antes do acidente.

Ele precisava saber pela minha boca que já tinha

vivenciado a maioria das emoções que experimentou nas últimas


semanas.

Eu acabei de ver melhores amigos se enfrentando como

inimigos. Vi meus pais olhando para os dois como se não os

reconhecesse e então todos voltaram suas atenções para mim,

como se não precisassem de mais do que uma frase do meu irmão

para terem certeza de que sou a culpada por tudo.

É claro que sou, mas queria ter pelo menos o benefício

da dúvida.

Minha vontade é de sair correndo agora mesmo e levar

minha filha para bem longe dessa confusão, mas nunca fui covarde
e não começarei a ser agora.

No momento, meu namorado lindo está com os joelhos

na grama e tem o olhar acusatório e cheio de dor voltado para mim.


É como se não existisse mais ninguém além de nós dois

nessa cena.

 Calebe não precisa abrir a boca para me fazer entender

que o pior aconteceu.

Como os médicos disseram que ele perdeu a memória de

um período curto e então presumiram que nenhuma lembrança


importante foi afetada, ninguém se importou se Calebe voltaria ou

não a recuperar o que havia apagado da sua mente.

Apenas eu suportei o segredo de saber que o jogador se

esqueceu do que provavelmente foi uma das coisas mais


importantes que aconteceu na sua vida.

 Talvez não seja nenhuma surpresa que um soco do meu


irmão o tenha chacoalhado a ponto de devolver as memórias que

haviam sido perdidas.

Ou talvez tenha sido apenas o confronto com a mentira. A

única coisa que sei é que agora Calebe lembra de tudo o que
aconteceu entre a gente antes do acidente.

Eu sabia que ficaria chateado se descobrisse sobre as


minhas omissões da pior forma possível, mas, se o seu olhar for um
indicativo, o que me espera pela frente é muito pior do que eu

poderia sequer imaginar.

 Mais uma vez, mesmo que o meu coração se parta além


de qualquer conserto, estou aqui para assumir as consequências do
que fiz.

— Fale alguma coisa, porra! O que foi? Brincou com a


minha irmã e agora não tem a capacidade de agir como um

homem? — Lúcio continua confrontando, então Calebe se levanta,


passa o olhar de um por um de cada membro das nossas famílias e

então termina me encarando novamente.

O jogador nunca me olhou desse jeito.

De repente, sou uma desconhecida, alguém que ele


odeia com toda a paixão da sua alma.

Embora meu corpo esteja tomado por uma tensão


insuportável, estou atenta o suficiente para saber que todos eles

estão com seus celulares nas mãos, checando o que Lúcio viu que
o deixou tão irado.

Como Calebe é uma celebridade, nenhum deles terá


dificuldade para encontrar o que imagino ser uma imagem de nós
dois juntos, em um momento de intimidade de casal.
Então todos saberão sobre o que fizemos. Talvez eles
pensem que sou apenas uma forma de distração para o jogador
entediado na sua cidade natal. Talvez pensem que sou apenas um

brinquedo que será usado e depois jogado fora.

Mas Calebe e eu sabemos que não somos apenas uma


aventura. Mesmo que esteja me odiando pelas minhas omissões e
mentiras, o jogador ainda me ama e não permitirá que eu seja

humilhada na frente das nossas famílias.

Ele pode despejar toda a sua decepção em mim quando

estivermos a sós, mas não me deixará sozinha neste momento.

Calebe me defenderá, porque ele me ama.

Eu não tenho certeza de que ouvi as palavras, mas até


esse momento ele me olhava como se eu fosse a pessoa mais

amada e preciosa do seu mundo.

 Por favor, fale alguma coisa.

Praticamente imploro com o pensamento e o olhar, mas


parece que ele não está mais me vendo.

 Calebe está enxergando através de mim.


  Enquanto as nossas famílias esperam o desenrolar da
situação com um misto de expectativa e decepção pela forma como
escondemos nosso relacionamento, Calebe deixa escapar uma

risada sinistra e amarga.

A risada maldosa é como uma pedra sendo jogada em


cima dos nossos sentimentos, que mais uma vez se mostraram
frágeis demais.

  Não estou sendo dramática de forma alguma, porque o

conheço o suficiente para saber que o que virá a seguir

desencadeará palavras e ações para as quais não haverá mais

conserto.

— O que foi pessoal? Vocês são hipócritas e ótimos em

fingir? Ou apenas burros?

As palavras ofensivas que atingem nossos pais fazem

com que Lúcio se enfureça ainda mais e dê outro soco no rosto do


melhor amigo. Calebe, que age como se não estivesse sentindo dor,

limpa o filete de sangue que escorre pelo canto do seu lábio com as

costas da mão e mais uma vez sorri sem humor.

— Passaram a vida toda fingindo que não enxergavam a


inocente Lara dando em cima de mim. Era algo de dar pena, por
isso eu sempre tentava ser gentil quando praticamente implorava

para que me casasse com ela quando fosse uma menina crescida.

Agora Calebe está transformando alguns dos momentos

mais especiais para nós dois em uma piada. Ou será que sempre se

sentiu assim?

— A fama e o dinheiro me deram a chance de ter a


mulher que eu quisesse na cama, mas vocês sabem que em uma

cidade pequena como essa as opções não são tantas, por isso

decidi aceitar a oferta da Lara. Foi divertido, mas nunca foi sério.
Era para ser um segredo que jamais seria revelado. — Ele não pode

estar fazendo isso comigo…

— Há um lado bom na cena que Lúcio acabou de fazer,

pois dessa forma não precisarei gastar saliva tendo essa conversa
com você, Lara. Além do mais, não correrei o risco de você

engravidar para me prender, como tentou com um idiota qualquer e

falhou miseravelmente.

Meu irmão o soca mais uma vez, mas não fico para saber
o que acontecerá a seguir. Não me importo com a repercussão do

que aconteceu aqui.


Segurando minha filha em meus braços, caminho

cegamente para dentro de casa. Quando chego ao meu quarto,

sento-me na cama, abraço minha loirinha e choro as lágrimas


amargas da traição.

Não serei hipócrita de dizer que não esperava que

Calebe fosse reagir de forma ruim, caso as omissões sobre nosso

passado fossem expostas da forma errada, mas não passou pela

minha cabeça que fosse me decepcionar tão completamente.

Ele ficou cego de raiva e me machucou de propósito.

Humilhou-me sem pensar duas vezes.

  Calebe não me amou o suficiente para parar e pensar

nem por um segundo no que suas palavras cruéis poderiam fazer


com o meu coração.

Na verdade, esse homem nunca me amou.

Eu deveria ter sido esperta o suficiente para perceber

quão pouco significava quando se esqueceu justamente da nossa


relação dentre tantas outras possibilidades.

Esse fato no mínimo deveria ter sido visto como um sinal,

não é?
Quando seco meu rosto, respiro fundo e coloco minha

filha sentada no centro da cama, vou direto para o guarda-roupa e


começo a puxar minha mala de rodinhas para fora.

Com a mente trabalhando intensamente e as lágrimas

que insistem em rolar, jogo peças de roupas dentro da mala sem me

preocupar em organizá-las.

Estou desesperada.

Estou envergonhada.

Estou decepcionada e magoada.

Eu só preciso deixar essa cidade.

Ensandecida, retiro meus perfumes e itens pessoais de


cima da minha penteadeira, mas mal consigo enxergar um palmo na

frente do meu nariz.

Sinto tanto ódio quando olho em direção à porta e vejo

Calebe olhando para mim com o rosto ensanguentado e os olhos


banhados pelas lágrimas que não penso duas vezes, antes de

avançar e estapear seu rosto com toda a força que possuo. Quando

não reage, minha raiva fica maior e bato mais uma vez, agora na
bochecha direita.
— Por que você fez isso comigo? — Pergunta.

Certamente, não está se referindo a forma como acabou

de ser agredido.

— Eu quero que você saia daqui — falo, então viro as


costas, porque não suporto olhar o seu rosto.

— Você precisa me dizer alguma coisa.

— Eu não tenho nada para falar! — Quando minha raiva

e decepção chegam ao extremo, volto-me novamente em sua


direção e olho dentro dos seus olhos pela última vez. — Eu não

quero mais te ver ou sequer ouvir falar sobre você. Saia da minha

vida como fez da outra vez e não volte nunca mais.

As palavras fazem meu coração sangrar, mas desta vez


não há mais volta. Desta vez, Calebe não terá a chance de acabar

comigo.

Não permitirei que me destrua pela segunda vez, porque

tenho alguém que me faz viver e ela precisa de mim.

— Você não vai me deixar desse jeito. — Completamente

perdido, o jogador nem mesmo se importa com o fato de a Camila

estar chorando na cama quando me agarra pela cintura.


Também fora de mim, arranho seu braço com tanta força

que tiro sangue, mesmo assim o homem não me solta.

Magoados e quebrados, nós choramos. Ele só me deixa


quando seu pai intervém e o afasta a força.

— Precisamos ir para casa, filho. Você não falará com ela

nesse estado.

— Você que não ouse fugir de mim. Eu te encontro, nem


que seja no inferno.

— Então se prepare para ir para o inferno, seu babaca —

grito.

Quando olho para a minha filha chorando, corro até ela e


a pego em meus braços.

Abraço-a apertado, porque ela é todo o meu mundo.

A única que me importa.

Acabou.

Para sempre.

Não existe e nunca mais existirá Lara e Calebe.

— Amiga.
— Se você veio até aqui para defender seu irmão, é
melhor dar dois passos para fora e ir embora — falo de maneira

dura.

Uma parte minha sabe que ela não tem culpa dos meus

problemas com seu irmão, mas no momento não estou conseguindo


raciocinar direito, não o suficiente para ter em mente que não posso

machucar pessoas que não têm culpa do que está acontecendo.

Ela só está no meu caminho na pior hora possível.

— Quem disse que vim para o defender? Esqueceu que


você está falando com sua melhor amiga?

Quando olho para ela e vejo seu rosto despido de

qualquer julgamento, abraço-a com minha filha entre nós e choro


ainda mais.

Minha melhor amiga me ajuda a chegar até a cama e se


senta ao meu lado. Ela não diz uma única palavra até sentir que

estou pronta para conversar.

As lágrimas secam e meu coração endurece quando


penso que não tenho tempo para ficar sentindo pena de mim
mesma.
Na verdade, preciso começar a agir o mais rápido
possível.

  Tenho que ir embora dessa cidade imediatamente e

desta vez não abandonarei minha filha. O que aconteceu não é


culpa da minha família ou dos nossos amigos, mas estou
envergonhada demais para continuar aqui.

  Realmente preciso de um tempo para colocar minha

cabeça no lugar. Depois desse tempo, talvez eu consiga voltar e


explicar minhas razões para ter feito o que fiz.

 Nunca quis magoar ninguém, mas acabei magoando.

 Nunca desejei ter o meu coração partido, mas aqui estou

eu: sentindo tanta dor que poderia sufocar se me deixasse


sucumbir.

— Não acredito que ele fez isso com você. Aquele idiota

te ama e está te perdendo por não saber controlar as próprias


emoções.

— Não está me perdendo. Calebe já me perdeu — falo


com convicção.
Minha filha só se acalma depois que a amamento e,
felizmente, ela dorme em seguida.

Assim que termino de deitar minha princesa no seu


berço, volto para a missão de arrumar minha mala, desta vez com
mais cuidado.

— Está mesmo indo embora por causa do babaca do

Calebe? Suas férias ainda não acabaram.

— Estou indo por minha causa, amiga. Eu preciso me


afastar para tentar colocar minha cabeça e meus pensamentos em

ordem. Preciso de um tempo só para mim, pois desde que seu


irmão sofreu o acidente não sei mais o que é viver em paz.

— Eu não gosto da ideia de você sozinha e com um


coração partido. — Quando ergo o olhar e a encaro, percebo a

forma como está sofrendo com tudo isso.

Por mais que esteja chateada com ele agora, Flávia sabe
que está no meio da melhor amiga e do irmão. Eu a entendo, mas

não posso fazer nada, não quando não consigo aliviar a minha
própria dor.

— Eu sobreviverei. Sobrevivi da primeira vez e farei o


mesmo novamente. Devo isso a minha filha.
— Não acho que Calebe tenha parado para pensar. Se
tivesse feito isso, teria percebido que a Camila é filha dele.

— Não quero que você diga.

— Não direi. Prometo que não me envolverei na história


de vocês, mas é uma pena que um amor tão bonito acabe dessa
forma.

— Seu irmão não me ama. Ele nunca me amou, não


como mereço — falo, ela não tem palavras para contra-argumentar.

O que mais Flávia poderia dizer?

Seu irmão me humilhou, enquanto dizia com todas as


letras que sou uma qualquer. Ele não se importou de fazer isso na
frente dos nossos pais. Não se importou se estava me

envergonhando.

Mas Calebe realmente acabou comigo quando envolveu

a nossa filha, a criança que o chamou de papai e que ele dizia amar.

  Como Calebe, que acreditei que me conhecia como

ninguém jamais conheceu, pôde sugerir que engravidei de alguém


por interesse? Foi pior, sugeriu que eu poderia tentar fazer o mesmo
com ele.
 Foram palavras de alguém que não ama e nunca amou

de verdade.

Eu fui tola e iludida por acreditar que esse homem


imaturo havia se apaixonado por mim não só uma, mas duas vezes.

Que idiota eu fui!

Em silêncio, minha melhor amiga e eu terminamos de


fazer as minhas malas, enquanto continuo chorando sem parar.

Depois que Flávia vai embora, chamo meus pais e meu


irmão para conversarmos e explico para eles que as coisas não

aconteceram da forma como Calebe fez parecer.

Conto toda a verdade, sem deixar nada para trás. Eles


ficam a par de que sempre fui apaixonada pelo Calebe, que não era
apenas uma bobagem de menina. Conto como nos envolvemos e os

surpreendo ao revelar que Camila é filha dele.


Também conto como nos envolvemos pela segunda vez e
o porquê de não ter contado sobre a paternidade da Camila quando
percebi que ele não lembrava do período em que estivemos juntos.

Apesar de decepcionados e um pouco surpresos, meus


pais conseguem entender os meus motivos de certa forma.
Qualquer um que se colocasse no meu lugar por um único segundo

poderia entender.

Meu irmão pede desculpas pela cena e eu o faço


entender que não há razões para isso. Ele me ama e só estava
tentando me proteger, mesmo que tenha sido de maneira

equivocada.

Embora fiquem chateados pela decisão de voltar para a

capital mais cedo, eles aceitam bem a ideia. Mamãe chora ao se


despedir da neta, mas eu a acalmo quando digo que encontrarei
uma babá e faço a promessa de que virei sempre que puder nos

finais de semana.

Virei, mas só quando tiver certeza de que ele não estará

aqui, penso comigo mesma.


 

Na manhã seguinte ao escândalo que meu irmão deu na


hora do almoço, estou me despedindo no portão da casa dos meus
pais quando Calebe se aproxima.

Meu coração acelera, mas não da mesma forma que

acontecia antes. Meu sangue não esquenta de paixão, ele fica


gelado nas veias por pura ansiedade

Ainda bem que meu irmão, que me levará ao ponto de

ônibus, está ao meu lado, pois eu não conseguiria lidar com esse
homem sozinha.

Eu não tenho mais forças.

— Pequena…  Fale comigo.

— Eu te odeio.

— Você me ama — diz.

— Muito presunçoso da sua parte chegar a essa


conclusão, não é? Eu estava com você por causa da sua fama e
dinheiro. Não foi você mesmo que gritou para todos ouvirem que eu
estava planejando engravidar para te prender? Era tudo verdade. É

uma pena que meu plano tenha sido descoberto.

— Você não é assim. Você escondeu coisas de mim e

estou puto, mas… por favor, não faça isso com a gente. — Ele
parece confuso, mas não consigo me importar nem um pouco.

Não mais.

— Vamos, irmão? — Falo com o Lúcio, que até então

estava escutando tudo sem se envolver.

  Quando entro no carro do meu irmão, olho para o

homem que esmagou meu coração com as próprias mãos pela


última vez e percebo seu olhar no rosto da bebê que seguro nos

meus braços.

Há uma mistura de confusão, dor e amor na forma como


olha para a Camila. Ele ainda não enxergou a verdade, não por ela

não ser óbvia, mas por no fundo saber que chegar a uma conclusão
a respeito da minha bebê tornará seu erro mil vezes mais grave e
imperdoável.

No fundo, Calebe sabe que tem uma filha, mas não está

se permitindo enxergar essa verdade. Ainda não.


  O que Calebe sente ou deixa de sentir não é da minha

conta, não quando tenho que lidar com as minhas próprias feridas.

 Feridas que ele mesmo causou.

Pela segunda vez, estou abandonando minha cidade com


lágrimas nos olhos, não com um sorriso de saudade antecipada.

Na primeira vez, escolhi juntar os cacos do meu coração


sozinha e não arriscar a ser magoada novamente. Então quis tentar

outra vez, e o homem que deveria me amar mostrou que cometi um


erro quando acreditei nos seus sentimentos por mim.

Minha história complicada com Calebe de Matos trouxe


muitas dores, mas também ganhei o maior presente de todos, e pela
minha filha seguirei em frente a partir de agora.

É pela Camila, e apenas por ela, que acordarei todas as


manhãs disposta a ser feliz com o que tenho.

Eu devo isso a pessoa que é todo o meu mundo.

O meu maior amor. Meu único amor. Pelo menos, o único


amor que vale a pena.
 

CALEBE

 TRÊS MESES DEPOIS


Três meses, doze semanas e oitenta e oito dias. Sim,
estou contando o tempo que passou desde que perdi a mulher da

minha vida.

Todos os dias conto as miseráveis horas, os minutos e os


segundos sem a mulher que é tudo para mim.
Porra! Sempre me orgulhei de coisas que de repente

parecem não ter mais o menor valor.

Do que adianta o dinheiro se não posso comprar o


perdão de alguém com ele?

  Do que adianta todas as mulheres se não posso ter a

única que desejo?

 Do que adianta a fama se ela não tem peso algum para
convencer alguém de que valho a pena?

Minha vida está uma droga. Estou muito mal e nem

mesmo a bebida quer ser minha amiga.

  Estou dando uma festa em plena terça-feira. Vejo-me

rodeado de homens que dizem ser meus amigos e de mulheres

gostosas que querem passar alguns minutos, horas ou dias


sentando no meu pau, mas nenhuma dessas pessoas realmente me

conhece ou se importa comigo.

  Não amo nenhuma delas. Elas só amam meu nome,

meu dinheiro, minha fama ou qualquer coisa que eu tenha para

oferecer.

Só que não tenho nada para oferecer. Estou vazio.


Não é como se eu não tivesse tentado. Tentei muito
esquecer que havia conhecido a felicidade nos braços da garota

perfeita, tentei trepar com mulheres aleatórias como fazia antes,

mas meu pau simplesmente se recusou a obedecer.

 Tentei beijar uma única vez em busca de conexão física

e emocional, mas não pude seguir em frente. Quando tentei aceitar


um boquete como forma de recompensa por uma bebida paga, a

garota da vez ficou com a boca dormente e não conseguiu me fazer

chegar ao orgasmo.

Quando faço festas nesta cobertura todos os finais de

semana, nem toda a bebida do mundo pode deixar-me com a mente

entorpecida o bastante para me fazer esquecer da minha mulher.

A porra da minha mulher.

Aquela trapaceira.

Aquela mentirosa e safada que amo, e que atualmente

assombra os meus sonhos todos os dias.

Porra, Lara é a minha garota. Ela sempre foi minha.

Nós não deveríamos estar separados, deveríamos?

Por que ela teve que mentir para mim?


 Por que eu tive que reagir da pior forma possível?

Por mais que parecesse terrível naquele momento, eu

devia a ela a chance de se explicar. Claro que devia, afinal, eu a

amava.

Eu amo, porra!

Se possível, muito mais do que antes.

Amor com dor: não recomendo para ninguém.

Ainda há a suspeita de que eu seja o pai da sua filha, e a

dúvida está me corroendo por dentro, embora no fundo eu tenha


certeza de que aquela garotinha que tanto amo tem o meu sangue

correndo nas suas veias.

 Dói profundamente ter tanta certeza de que sou o pai da


Camila, porque esse fato torna a merda que fiz muito mais

imperdoável.

— Você não vai dançar? Não fique parado com essa


carinha de cachorro que caiu da mudança. — Uma loira gostosa,
que não faço ideia do nome, se aproxima com um copo com cerveja

na mão.
Em outro momento, eu poderia me perder nas suas

curvas e terminar a transa gozando nos seus peitos, mas hoje ela
não me desperta nada.

Não deixo de perceber que meu agente convidou apenas


garotas loiras para essa festinha particular no apartamento. Ele

provavelmente passou a acreditar que gosto de loiras quando meu


namoro com a Lara foi exposto sem a minha autorização.

Quando aconteceu, tive que gastar uma boa grana para


calar a boca de alguns blogs de fofocas, tudo porque não queria que

ela tivesse sua privacidade ainda mais invadida.

Eu não queria que minha garota tivesse que lidar com as

merdas com as quais já estou acostumado, então o investigador tem


me garantido que está tudo bem, que não tem ninguém

atormentando as minhas garotas quando não estou por perto.

Sobre o investigador? Foi a única maneira que consegui


para ficar perto delas de alguma forma.

— Divirta-se, moça. — Ergo meu copo vazio para um

brinde à distância, mas não cogito levantar-me do sofá.

A vadia dá de ombros e vai embora. Só consigo sentir


alívio.
Essas festas idiotas são tentativas falhas de encher a
minha mente o suficiente para que eu não surte. São tentativas vãs
de me fazer pensar em algo que não seja em tudo que perdi por

causa de malditas palavras erradas.

Com a vida pessoal de cabeça para baixo, meu


desempenho em campo também foi afetado.

Quando decidi voltar ao trabalho um mês antes do

combinado, todos ficaram muito animados, mas rapidamente viram


que não havia motivos para comemorações quando não consegui

corresponder as expectativas em campo.

Depois de semanas com um desempenho baixo e

perdendo gols a torto e a direito, fui colocado no banco de reservas


e meus empresários não estão nada satisfeitos com os meus

resultados.

Jogadores de futebol vivem para os resultados e os meus


estão sendo insuficiente.

O que realmente tem deixado todos atentos é o fato de

eu nem mesmo conseguir me preocupar o suficiente para fazer


alguma coisa para melhorar.
Além de estar sofrendo por amor, também pesa o fato de
o meu melhor amigo ter pedido demissão. Trabalhávamos juntos há
muito tempo e eu simplesmente não tenho conseguido me adaptar

ao novo preparador físico. Ou talvez eu não tenha tentado adaptar-


me a ele.

Mudanças não são bem-vindas, principalmente quando


são forçadas.

Tudo começou a dar errado quando fui surpreendido pelo

meu amigo no almoço de domingo com nossas famílias.

Lara e eu estávamos nos preparando para contarmos a

verdade, então o fato de termos sido expostos daquela maneira teria


sido por si só uma grande merda.

No meio da confusão que Lúcio armou, as lembranças

que eu havia perdido vieram como uma enxurrada que trouxe uma

dor de cabeça terrível.

Enquanto olhava para a minha garota, vinham

lembranças e mais lembranças de nós dois juntos. Vi momentos

exatos de experiências que tinha acabado de viver com ela e

acreditava que era a primeira vez.

Eu havia me apaixonado antes pela mesma mulher.


Eu já tinha me sentido culpado por perceber que os meus

sentimentos por ela haviam mudado. Hoje entendo por que aceitei
tão facilmente que estava apaixonado. Meu subconsciente sabia

que eu já havia superado a parte da culpa.

Fui seu primeiro e único homem, e só depois que a perdi

pude me sentir envaidecido e possessivo com a descoberta.

Nós estávamos muito apaixonados antes do acidente.

Estávamos sofrendo o mesmo dilema sobre qual seria o momento

certo de contar para as nossas famílias.

Provavelmente a deixei grávida. Provavelmente a fiz


sofrer muito quando esqueci de nós, mas, no alto do meu egoísmo,

não consegui pensar nos seus sentimentos.

 Senti-me traído e mais nada além disso.

Admito que também fiquei fora de mim e falei todas


aquelas coisas terríveis para a garota que não merecia nada

daquilo.

Logo de mim, que havia a machucado profundamente


uma vez.
 Mesmo fodido da cabeça e chateado com a Lara, ainda

tentei conversar e impedir que me deixasse depois do que

aconteceu, mas ela simplesmente virou as costas e foi embora.

Antes de partir, a garota me olhou de uma forma que me


fez ter certeza de que havia a perdido para sempre. Vim embora

para São Paulo no mesmo dia em que ela voltou para a capital e

desde então minha vida tem sido um mar de tristeza e frustração.

Quanto mais tento nadar, mas me afogo.

Os senhores Molina não me ligaram depois do que

aconteceu e não tentei entrar em contato com eles.

Mas liguei para o Lúcio, e ele me ignorou todas as vezes.

 Meus pais não podem virar as costas, porque são meus


pais, mas tanto eles quanto minha irmã estão decepcionados

comigo.

Eles não estão decepcionados por eu ter dormido com a

garota, mas por ter dito aqueles absurdos nos quais não acredito.

Aparentemente, minha família acreditava que em algum

momento Lara e eu ficaríamos juntos e até mesmo torciam por isso.


Flávia está praticamente rompida comigo, o que é uma

grande merda, porque pensei que pudesse me aproximar da Lara


através dela.

Sei que minha irmã conversa com a melhor amiga e que

tem muitas verdades para me dizer, mas aparentemente não está

preparada para olhar na minha cara.

Estou começando a pensar que até que faça as pazes

com a pequena, continuarei sendo uma persona non grata nas duas

famílias.

Se eles soubessem que ficar bem com ela é tudo o que


eu mais quero nesta vida…

Se sequer imaginassem que Lara é tudo para mim,

estariam com pena, não chateados comigo.

Sou digno de pena por ter sido tão burro e idiota.

Eu tive a mulher da minha vida nas minhas mãos e a

perdi.

O único contato que tenho com Lara é através do detetive

que coloquei na sua cola. Ele é bom o suficiente para não se deixar
ser notado, e assim pelo menos tenho notícias.
O homem tira fotos sem que ela veja e fico com o

coração apertado quando percebo através das imagens o quanto

está triste. Então há imagens da minha loirinha bebê, imagens que

me fazem seguir em frente, porque tenho um motivo mais do que


especial para isso.

Por mais que meu coração tenha me implorado para que

fosse atrás delas nos últimos meses, minha mente confusa não me

permitiu dar um passo sequer.

Ainda existe mágoa por ela ter omitido a verdade, mesmo

depois que nos entendemos e me apaixonei pela segunda vez. Mas,

muito maior do que a mágoa, porque no fundo sei que Lara teve
motivos muito fortes para ter feito o que fez, é o medo da rejeição.

Meu ego não é tão frágil, mas sinto que não conseguiria

lidar com a rejeição da minha garota. Vindo dela me mataria, porque

é a única pessoa no mundo sem a qual não consigo viver.

Sei que Lara passou por isso duas vezes, mas agora que

estou experimentando na própria pele, percebo que é a pior coisa

que poderia acontecer comigo.

Não estou vivendo. Estou sobrevivendo.


Ao mesmo tempo em que não tenho a menor dúvida de

que faria qualquer coisa para voltar com a minha namorada, não sei
como fazer para chegar até ela e ser convincente o suficiente para

que acredite que jamais a machucarei novamente.

Como posso convencer outra pessoa se nem eu mesmo

tenho certeza de que sou capaz de cumprir com essa promessa?

Eu sou um filho da puta e nunca estive enganado quanto

a isso.

Vejo que não sou bom para Lara e que ela merece ser

feliz com alguém melhor do que eu, ou até sozinha, então, por que
não consigo a deixar ir?

Por que está doendo tanto?

Eu sempre soube que o amor era uma droga.

— Deixe a garrafa aqui. — Pego a bandeja da mão do


garçom e coloco-a ao meu lado no sofá. Não me dou nem mesmo

ao trabalho de olhar para a cara do homem.

Surpreendentemente, ele se senta ao meu lado. Quando

ergo a cabeça e abro a boca para reclamar da sua liberdade, dou de


cara com meu melhor amigo, ou ex-melhor amigo, me encarando.
Estou tão na merda que sinto vontade de chorar. Depois
de meses, é a primeira vez que vejo de perto alguém que amo e

com quem me importo.

— O que você está fazendo aqui?

— Pensei que você estivesse na fossa por causa da


minha irmã, mas essa festa mostra que eu estava enganado. Por

um momento, cheguei a acreditar que não havia a usado, mas esse

é você: irresponsável e incapaz de assumir compromissos.

— Já que quer começar assim, deixe-me te dizer uma


verdade. A minha maior verdade: Eu amo sua irmã, porra. Se não

amasse, não teria sequer tocado nela.

— É por amá-la que está dando uma festa para o seu


time de idiotas?

— Pareço com alguém que está se divertindo? Você


chegou aqui e me viu agarrado com alguma vadia?

— Então está tentando se torturar?

— Estou tentando não ficar louco sem a Lara e minha


filha. A Camila é minha, não é? — Pergunto, com esperança de que
meu amigo diga alguma coisa.
— Essa resposta só a Lara poderá dar. Mas ela me
contou a história de vocês dois quando fui visitá-la na semana
passada.

— Lara está bem?

— Ela está triste, mas tentando ser forte pela minha


sobrinha — diz. — Tem ideia do quanto a minha irmã chorou quando
você sofreu o acidente? Ela não saiu do seu lado um dia sequer e

ninguém entendia direito a reação tão forte que estava tendo. Quem
poderia imaginar que ela estava carregando sozinha o peso de um
relacionamento secreto e de uma gravidez? Você ao menos tentou

se colocar no lugar dela porra?

— Já, e a sensação foi insuportável.

— O que você esperava que Lara fizesse? Que chegasse


em você, que dissesse que estavam juntos e que haviam tido uma

filha? No mínimo você pensaria que ela estava louca. — Tudo o que
Lúcio diz faz sentido e serve como gatilho para me deixar ainda
mais miserável. — Minha irmã nunca foi uma mentirosa, então sei

que teria te contado a verdade em algum momento.

— Eu fui tão babaca, cara.


— Você foi mais do que idiota, Calebe. Você foi um
monstro com ela. Não esperou um segundo sequer antes de falar
aquele monte de merda.

Juro que ele está me puxando mais ainda para o fundo


do poço. Já estou arrependido por ter ficado contente com sua

aparição.

— Não precisa me dizer o que já sei, Lúcio. Eu errei feio


com minha mulher, a mãe da minha filha. Porra! Eu tenho mesmo
uma filha?

Minhas palavras fazem sua expressão facial suavizar. Por


mais que não dê o braço a torcer, aposto que não está triste por eu
ser o pai da Camila, não sou um idiota sem nome.

— Você merece outra surra, Calebe de Matos. Te bati

porque estava comendo a minha irmãzinha, então descobri que não


só havia a comido antes, como fez isso vezes o suficiente para a
engravidar. Como se não bastasse, sofreu um maldito acidente,

esqueceu justamente do que era mais importante e a deixou


sozinha para cuidar da sua filha e das próprias feridas. Lara estava
suportando um peso grande demais sozinha.
— Você fala como se eu tivesse escolhido esquecer que
estava em um relacionamento com a mulher da minha vida.

— Não escolheu, mas continua não a merecendo.

— Ainda assim, a quero de volta. Eu quero minha mulher


e minha filha comigo, Lúcio. Não a ter de volta não é uma
possibilidade, mas também não sei por onde começar a consertar o

estrago que fiz.

— Comece expulsando essa gente da sua casa e pare de

deixar-se ser fotografado como um badboy que cheira uma carreira


de pó todos os dias. Depois faça um grande gesto de amor.

— Gesto de amor?

— Apenas use a cabeça para pensar e aja com rapidez,

porque tem um idiota de olho nela na universidade.

— Como você sabe? — Um arrepio de desespero

atravessa meu corpo.

O maldito investigador não falou sobre isso.

— Adivinha?

— A Flávia! — Aquela traidora deveria ter me contado.


Não importa se estou com medo ou me sentindo

corajoso, esse é o momento de começar a lutar.

Minha mulher lutou sozinha por nós dois até suas forças
acabarem, mas agora é a minha vez.

Quando eu terminar, a mulher que amo nunca mais terá

motivos para duvidar do meu amor.

Eu seria capaz de tudo pela Lara e minha princesinha.


Agora chegou o momento de deixá-la saber disso.

Se prepare, Lara Molina, porque você nem mesmo verá o

que está vindo em sua direção.

Porque nós dois não acabamos.

Nós nunca acabaremos.


 

LARA
— Você tem o DNA forte, porque Camila é sua cópia. Até

a cor do cabelo é igual — Vivi, minha colega do curso, comenta. —

Será linda como você.

Ela está na sala brincando com a pequena, enquanto

preparo nosso almoço. Sempre fomos próximas na sala de aula,


mas nos tornamos mais o que colegas há alguns meses, quando

voltei das férias e trouxe Camila comigo.


 Teve um dia em que a babá não pôde vir para cuidar da

minha bebê, então a levei para a faculdade. A garotinha fez tanto


sucesso que hoje tem mais tios e tias do que poderá lembrar no

futuro.

Mas a Vivi, que passou pela experiência traumática de

um aborto espontâneo, foi a pessoa que mais se apaixonou pela


minha bonequinha. Nós percebemos que tínhamos muitas coisas

em comum e nos aproximamos bastante.

Ela passou a frequentar minha casa e eu adoro o fato de


ter alguém com quem conversar. Antes dela, sentia-me um pouco

sozinha, mas sei que agora encontrei alguém para ocupar o espaço

que a Flávia deixou.

Minha melhor amiga é insubstituível, mas ela tem sua

própria vida e não pode estar aqui para mim o tempo todo.

— Ela é linda mesmo — falo com orgulho. — Mas o pai


também é perfeito, então poderia ter ganhado dele os genes da

beleza — comento, ao pegar a travessa com arroz e levar para a

mesa.

São raros os momentos em que permito-me pensar ou

falar sobre o pai da minha filha, e quando acontece, tento agir com
naturalidade para não entrar em desespero.

Porque três meses não foi tempo o suficiente para me

fazer esquecê-lo ou sentir que está doendo menos.

Ainda estou sangrando pelo amor perdido e pela

desilusão amorosa, depois de ter acreditado que ficaríamos bem e


que seriamos felizes, mas estou sobrevivendo.

Fiz uma promessa pela minha filha e estou cumprindo.

— Você é muito má, sabia? — diz quando me aproximo e

sento-me ao lado das duas no sofá.

 Mesmo que tenha apenas um ano de idade, minha bebê

já é vaidosa e adora ter seus cachos loiros penteados, então Vivi

aproveita como se Camila fosse sua boneca para enfeitar.

— Eu não sou má! — Defendo-me.

Imagino onde o assunto chegará e já estou arrependida

de ter mencionado o Calebe. Vivi é do tipo que não desiste quando

quer algo e ela realmente está curiosa.

— Eu criei muitas teorias — diz.

Como se soubesse que a conversa se estenderá, Camila

desce das pernas da tia e vai brincar com suas bonecas no tapete.
Fico aliviada quando a vejo feliz assim, porque a

pobrezinha sentiu a falta do pai nas primeiras semanas. Também


sentiu dos avós, mas pode ver os dois através das chamadas de

vídeo.

Quando a vi mais quietinha nos primeiros dias, cheguei a

cogitar que estivesse ficando doente ou com dificuldade para se


adaptar à nova casa e cidade.

Mas Camila mostrou o que estava sentindo quando


começou a falar papai todas as noites antes de dormir. Mesmo
sabendo que ela não entende, digo que seu pai está viajando, mas

que logo virá a visitar.

Com o passar das semanas, Camila se acostumou e


esqueceu um pouco de sentir a falta do pai, que havia acabado de

entrar na sua vida. Ainda assim, ela continua perguntando sobre ele
em alguns momentos.

— Mal vejo a hora de ouvir tais teorias.

Não sei por qual razão a identidade do pai da Camila é

importante para a Vivi.

Será que é pela forma como reagi na primeira vez em


que fez menção a ele? Com certeza.
A culpa é minha.

Mas confesso que suas loucuras me divertem.

Foi um pouco por causa dessa garota que consegui


superar o que aconteceu há alguns meses de forma digna.

Não posso dizer que não choro quase todas as noites


antes de dormir, ou que não sinto falta de tudo sobre aquele maldito,

do cheiro ao toque, mas estou sobrevivendo.

Tenho esperança de que um dia Calebe de Matos deixe


de ser uma ferida na minha vida.

Imagino que ele deve ter chegado à conclusão de que é o

pai da Camila, então estou me preparando para que possamos ter


uma relação civilizada um com o outro pelo bem dela. Nossa filha, a

única inocente na história.

Ela o ama e eu jamais impediria que convivessem como


pai e filha. Ele também a ama. Não tenho dúvidas de que deseja

exercer seu papel de pai.

— Eu sei que você descartou o romance proibido com um


primo ou um irmão. Irmão de coração, não de sangue, porque você
não seria tão doente.
Rio dessa teoria, mas é de nervoso, porque chegou bem
perto. Embora sinta que Calebe e eu não tenhamos nos visto assim
em momento algum, as pessoas romantizavam muito o jogador

possessivo que só queria proteger sua irmãzinha.

Ninguém cogitava que pudéssemos nos sentir de outra


forma.

— É melhor você elevar esse repertório — brinco, ela

para e pensa um pouco.

Eu aproveito para fazer um balanço de como foi respirar,


algo que parecia difícil demais, nos últimos três meses.

  Voltei para casa completamente destruída e desiludida.

Se não fosse pela minha filha, eu teria passado vários dias deitada
na minha cama tentando dormir ou deixando o tempo passar,

porque estava me sentindo exausta.

Mas tinha a minha bebê comigo e ela foi a minha força.

Foi por ela que não chorei todas as vezes em que vi


como ele seguiu em frente através da TV ou pelos comentários na

rua e na sala de aula.


É óbvio que as pessoas fazem comentários, porque
Calebe é como o Neymar no quesito vida pessoal agitada que
interessa aos fãs e haters. As pessoas só querem falar sobre ele.

Todos falam e eu tenho que ouvir, não porque gosto de

sofrer, mas porque não tenho como fugir.

Eu vi o homem que me deu os melhores e os piores

momentos da minha vida saindo de festas ao lado de mulheres


belíssimas. Vi o homem por quem me apaixonei quando era criança

dando escândalos com paparazzis.

Eu vi o homem que partiu meu coração e depois jogou

fora caindo de bêbado e fazendo gestos obscenos. Vi Calebe


perdendo pênaltis e ficando no banco em jogos importantes.

Mesmo de longe e contra a minha vontade, acompanhei

sua vida pessoal e carreira se deteriorando, mas nada disso pôde

aplacar a dor de perceber que, mesmo depois de tudo, Calebe


optou por seguir em frente sem mim.

  O que mais dói é perceber que Calebe nem ao menos

tentou se desculpar. Sofro porque sou uma idiota, porque o homem

não se deu ao trabalho de me procurar.


Lembro-me de tudo o que eu disse na última vez em que

nos vimos, mas o fato de ter agido como agiu deixou bastante claro
que Calebe queria ficar longe de mim tanto quanto eu desejava que

ficasse a quilômetros de distância.

 Também acredito que a forma como parece destruído se

deva única e exclusivamente ao orgulho ferido. Se fosse por


qualquer outra razão, suas atitudes teriam sido diferentes.

Embora ainda seja muito difícil, digo a mim mesma todos

os dias que ficará mais fácil com o tempo. O tempo se encarregará


de fechar as feridas e acabar definitivamente com o que nunca

deveria ter começado.

Não era para ser, mas nós insistimos.

Na verdade, eu insisti, porque sinto que lutei sozinha


esse tempo todo.

— Já sei! — O grito da mulher quase me faz cair do sofá,

mas diverte minha pequena, que dá um gritinho e bate palmas.

— Eu espero que seu plano de saúde seja bom — digo,


ao levar a mão para o peito. Meu coração vai sair pela boca a

qualquer momento.
É isso que ganho quando me distraio com alguém que

não merece um único pensamento meu.

— Se fosse um qualquer, você não teria problemas para

dizer o nome, considerando que eu não saberia quem é a pessoa.

— E?

  — Tudo indica que o pai desse anjinho é uma pessoa

famosa.

  Eu deveria agir com naturalidade para dissipar sua


desconfiança. Estou tentando, mas não é como se eu pudesse

controlar a palidez do meu rosto.

Não preciso de um espelho para saber que estou branca

como um pedaço de papel, porque posso sentir o sangue fugindo da


minha face.

Dizer que Calebe é famoso é um eufemismo.

Ultimamente, ele é mais uma subcelebridade do que propriamente

um jogador de futebol com bons resultados.

Não há qualquer chance no inferno de a Vivi não saber

quem é Calebe de Matos.

O mundo inteiro sabe.


— Meu Deus! Era tão óbvio. Por que não pensei nisso

antes? — Anima-se.

Vem aí uma nova temporada da obsessão da Vivi, que se

chamará: Descubra o nome do famoso.

— Eu disse que você acertou? — Pergunto, e dou de

ombro.

— Não foi preciso. Essa palidez diz tudo. Sei que você é
chata e que não dirá o nome nem sob tortura, mas conte pelo

menos por qual motivo seu ex, que você com certeza ainda ama, é

famoso.

Está tão na cara?

Eu preciso de mais terapia urgente. Talvez faça todos os

dias da semana.

— Até parece que você se contentará com dicas.


Primeiro perguntará sobre a profissão, depois me pressionará para

dizer a primeira e a última letra do nome.

— Por favor, amiga. Não seja malvada. Ele é cantor? Pop

ou sertanejo?

— Não deve cantar nem no chuveiro — declaro.


— Apresentador de programas de televisão?

Nossa, como ela viaja…

— Ele apareceu uma ou duas vezes em programas de

televisão, mas não direi mais do que isso, porque você saberia de
quem se trata na mesma hora.

Estou dando o que Vivi quer, e espero que seja o

suficiente para que me deixe em paz durante alguns dias.

 Confio na Vivi e não tenho razões fortes para não dizer,


mas não revelo porque tenho a sensação de que ela tornaria minha

tentativa de esquecê-lo mais difícil. Viraria a fã número um e não

pararia de falar sobre o homem nunca mais.

Provavelmente, ficaria deslumbrada e me incentivaria a


tentar voltar com o cara, afinal, quem em sã consciência largaria um

jogador gostoso, famoso e rico?

Eu largaria, porque meu coração não é de aço.

— Tudo bem, não é cantor e não é apresentador. Ele é


ator?

— Também não é ator. Vamos almoçar? A comida deve

estar esfriando. — Convido para que Vivi se anime e esqueça o


assunto por um momento.

— Daqui a pouco. Antes quero que responda minha

pergunta, senhorita escorregadia.

— O pai da minha filha não é ator — digo, ao levantar-me

e caminhar em direção à mesa.

Incapaz de deixar-me em paz quanto a esse assunto, a

garota pega Camila no tapete e vem atrás de mim. Ela aproveita


para olhar o rosto da bebê com mais atenção, provavelmente é uma

tentativa de descobrir se ela é parecida com algum cara famoso.

Não foi ela que acabou de dizer que a menina é a minha


cara?

— Então... só sobrou jogador de futebol, porque não

posso pensar em outro esporte que o torne conhecido o suficiente

para ser considerado famoso.

 O nervosismo faz com que o garfo escorregue da minha

mão e não preciso dizer mais nada para que minha amiga entenda

que acertou o chute.

  — Não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre esse


assunto hoje — digo, antes que ela prossiga e me faça falar ainda
mais.

É por isso que está sendo tão difícil superar a porra do

jogador, as pessoas a minha volta, principalmente a maldita mídia,

não me deixam esquecer

Quando penso que estou seguindo em frente, acontece


alguma coisa para me fazer fraquejar. Mas continuo acreditando que

fiz a melhor escolha quando terminei com ele.

Não sei se seria capaz de voltar a me relacionar com

Calebe depois de tudo o que aconteceu. O jogador me humilhou de


tal forma que não sei o que será necessário para que eu volte a

acreditar nos sentimentos dele ou de outro homem algum dia.

 — Tudo bem, não precisa ficar nervosa. Vamos deixar a


próxima rodada de perguntas para outro dia. — Ela se diverte, mas

não faz ideia do que é estar na minha pele.

Com Camila sentada na sua cadeirinha, brincando

distraída com os pratos e talheres de brinquedo que a tia deu de


presente, minha amiga e eu almoçamos e falamos de assuntos que

não envolvem Calebe e seu pau mágico.

Até hoje me pergunto em que momento Camila foi

concebida. Talvez eu tenha escolhido acreditar que foi na transa


intensa no chuveiro do vestiário. Um pouco antes de tudo desandar.

Depois que terminamos de comer a massa que preparei,


sirvo sorvete em taças e voltamos para a sala. Sentada no tapete,

Camila pega o controle e liga a TV.

Vivi e eu deixamos de conversar quando percebemos o


que ela fez e, para a minha total e completa falta de sorte, no
momento está passando um programa de esportes no canal.

No mesmo instante fico nervosa, e antes que eu consiga


pegar o controle para mudar de canal, Calebe surge na tela com a
repórter e a criança começa a apontar o dedinho.

Porra!

Camila sempre reage ao pai e, independentemente do


que eu esteja sentindo no momento, sou grata por ela ter a chance
de vê-lo de vez em quando na TV para matar um pouco da

saudade.

Merda.

Tinha que acontecer justamente agora.

Em alguns segundos meu segredo será revelado e Vivi


nunca mais me deixará em paz.
— Como esse cara é gostoso! Não consigo pensar em
outro jogador que seja mais bonito do que ele atualmente —
comenta, meu estômago revira. — O que você acha, amiga? —

Indaga, sem se dar ao trabalho de olhar em minha direção, porque


está focada demais no belo homem que está dando uma entrevista

neste exato momento.

  É estranho, porque esse programa de entretenimento


não tem nada a ver com esportes. Geralmente é voltado para o

público feminino.

— É lindo, mas tem cara de que não vale nada —


comento com despeito.

— Ouvi dizer que, apesar de andar acompanhado por

Marias-chuteiras, ele é apaixonado por uma garota anônima há


anos.

  — De onde você tirou isso? — Meu sangue gelou e


esquentou em menos de um segundo.

Não era para ninguém saber dessa história.

Será que estou vivendo em Nárnia e não fiquei sabendo


quando a minha vida foi exposta?
— Não é algo escancarado e abertamente discutido. Só
sabe quem é fã do cara.

— E você é fã do Calebe de Matos, mulher? Desde


quando?

Juro que sinto meu sovaco ficando molhado de suor. E o


dia não está tão quente hoje.

— Sou fã de todos os caras gostosos do Brasil e do


mundo. Não posso ter nenhum deles na minha cama, mas posso

sonhar e conhecer suas histórias de vida.

— Foi assim que descobriu sobre a paixão secreta do

cara? — Minha tentativa de ser debochada soa como despeito.

— Na verdade foi. Mas também não sei se é verdade.

— Parece fantasiosa demais. — Dou de ombro como se


não me importasse, mas estou doida para ouvir mais.

Vez ou outra olho para a TV, pois mesmo que o odeie e


esteja muito magoada, ainda sinto saudade e o amo com todas as

forças do meu coração.

Odeio Calebe, porque ele me faz o odiar e amar na

mesma proporção.
Nem sei se é amor ou um tipo de doença, que me faz

dependente emocionalmente.

O amor não deveria machucar tanto, deveria?

Sempre pensei que o amor fosse algo que trouxesse paz


e leveza. Para mim o amor era tudo, menos dor.

— Não sei se algo nessa história é verdade. Há alguns


meses vazou uma foto dele com uma mulher loira e uma bebê. No
dia seguinte, todos os registros desapareceram e alguns acreditam

que foi o próprio Calebe que pagou rios de dinheiro para que as
identidades da moça e da criança fossem preservadas. O esforço

fez todos pensarem que era alguém importante e até especularam


que a bebê pudesse ser filha dele.

— No que você acredita?

— Eu sou uma romântica incurável, Lara. Você sabe

como são os homens… Se o Calebe se esforçou tanto, é porque há


um fundo de verdade nessa história. Queria que descobrissem a
identidade da moça.

Juro que os olhos da garota estão brilhando.

Será que eu também era assim?


Enquanto isso, Camila mal consegue piscar, ao prestar
atenção na voz e na imagem do pai.

De todos os motivos que o jogador deu para que eu o

odiasse, devo admitir que ele fez bem ao proteger minha identidade
como fez. Aquela foto de nós dois foi o começo do nosso fim, mas
apenas quem conhecia a mim e minha filha poderia me reconhecer

de costas. Foi o que Lúcio fez: reconheceu-me com a língua dentro


da boca do seu melhor amigo.

— É melhor que deixem a moça viver em paz — as


palavras escapam.

— Pensei que você não se importasse o suficiente com


essa história, mas está defendendo… — Vivi não termina a frase,

porque um olhar de desconfiança surge no seu rosto.

— Papai — Camila escolhe a pior hora para dizer o que

tem sido a sua palavra favorita no momento.

Para piorar, ela está apontando para a TV e já repetiu três

vezes para não deixar ninguém com dúvidas de quem é o seu pai.

— Caralho! — Minha amiga grita, e em seguida cobre a

boca quando percebe que xingou na frente de uma bebê. — Perdão.


— Está perdoada — falo divertida.

Bom, foi inevitável que ela descobrisse. Já que estou no

inferno, é bom que eu abrace o capeta de uma vez.

— Sua vadia sonsa e mentirosa! Imaginei que fosse um


famoso, mas não no nível do Calebe de Matos. Você tem ideia de
que noventa e nove por cento da população feminina quer sentar

naquele pau?

Eu juro que Vivi está histérica.

Para mim, ele é só o Calebe, o homem que conheço e


amo desde sempre.

— Você não só trepou com ele, como fez com que se


apaixonasse e te desse uma filha linda.

— Você está romantizando demais a história. Nós dois


não terminamos de um jeito bom.

 — Não tem jeito bom de terminar um relacionamento. É


ainda pior quando há sentimentos profundos.

— Desde quando você se tornou especialista em


sentimentos? Aposto que tem a ver com seu profundo conhecimento

sobre a vida do Calebe — provoco.


— Então quer dizer que a moça por quem ele está
apaixonado é você?

— Eu não sei se a parte do apaixonado é verdade, mas


com certeza era eu nas imagens que foram deletadas a mando dele.

Foi um pouco antes de terminarmos.

— Não tem mais volta? — pergunta. — Caramba, dá para

acreditar que estou discutindo a vida amorosa do Calebe de Matos?


Será que estou sonhando? Hoje parecia apenas um dia normal, mas

descobri que minha amiga foi namorada e teve uma filha com o
jogador de futebol mais gostoso do momento.

Ela simplesmente não pode se conter. Apesar do

desespero de agora há pouco, não posso deixar de achar sua


reação divertida.

— No que depender de mim, não ficaremos juntos


novamente.

— Ele te traiu? Se não quiser, não precisa responder. Só


estou perguntando por que os jogadores têm a fama de serem
mulherengos. Não todos, mas a maioria.

— Não foi esse tipo de traição, mas senti que os

sentimentos foram traídos. Quase tão ruim quanto ser chifrada,


porque ambos envolvem quebra de confiança.

É um pouco estranho falar mal do pai da minha filha


enquanto ele comenta sobre sua carreira em um programa de

variedades e entretenimento.

Parece surreal, quase como se ele estivesse aqui

ouvindo tudo.

— Não estou querendo ser a advogada do diabo, um

lindo demônio, devo acrescentar, mas o homem parece destruído


nos últimos meses. Ele não pode esconder, mesmo que os
assessores de imprensa estejam se desdobrando para fazer parecer

que está tudo bem. Essas festas que ele comparece e oferece são
cortinas de fumaça e parece óbvio.

— Não posso me preocupar com o bem-estar dele, não


quando ainda estou juntando os meus cacos — declaro.

— Como a Camila fica em tudo isso?

— Camila sente falta do pai e reage do jeito que você

está vendo sempre que ele aparece na tela.

— Calebe não entra em contato? — Questiona, eu decido

desabafar.
Talvez esteja precisando fazer isso mais uma vez.

— Ele não sabe, ou não tem certeza de que é o pai da


minha filha

— Não estou entendendo mais nada — diz.

— É complicado — afirmo, então começo a fazer um


breve resumo do que foi minha relação com o jogador.

Quando termino, ela está estarrecida e decepcionada


com seu ídolo. Não sinto prazer em manchar a imagem dele, mas

não posso mudar o fato de a nossa história ser complicada.

— Nossa! Ele é um babaca.

— Ou talvez só tenha reagido mal no momento de


surpresa.

Por que estou o defendendo?

Calebe não merece minha defesa.

— Tudo bem, é aceitável que tenha ficado perdido, mas


porque não está se rastejando por você agora? Por que não fez isso

nos últimos três meses?

Essa é a pergunta de um bilhão de dólares.


Eu não queria que se rastejasse e não sei como reagiria,
mas o fato de não ter nem mesmo tentado me machuca além do

que deveria.

O silêncio e a forma como vem se comportando me


matam aos poucos todos os dias.

Que amor poderia resistir a isso?

— Não me faça perguntas para as quais não tenho


respostas, amiga.

— Sinto muito por ter insistido tanto nesse assunto.


Consegui o que queria, mas não me sinto feliz, porque agora você

está triste.

— Não se preocupe comigo. Já estou acostumada com a


tristeza sendo minha melhor amiga. Conforta-me saber que não

estou sozinha e que tudo passará. Eu ficarei bem, mesmo que


demore.

— Você ficará bem, e então encontrará um rosto mais


bonito e um pau mais gostoso e mais grosso do que o dele. Em

algum lugar no mundo deve existir um homem com essas


características — suas palavras me fazem gargalhar.
É por isso que as intromissões impulsivas dessa garota

não me incomodam. Ela também é leve e me faz rir quando outras


pessoas não conseguem.

— Você não o amava como uma fã louca?

— Amo você muito mais. Sou totalmente time Lara

— Mamãe, é o papai. — Camila está toda feliz apontando


para a televisão.

Ela me faz sentir vontade de chorar.

Meu celular começa a tocar ao meu lado. Acho estranho

quando desbloqueio e vejo uma mensagem da minha melhor amiga.

Ligue a TV no canal Star em dez minutos.

Fico confusa, mas decido esperar, antes de ligar para ela


e perguntar o que está acontecendo. Dez minutos passam rápido,

não é?

Mentira.

Cada minuto dura uma eternidade.

— Algum problema? — Vivi pergunta, quando percebe

que estou perdida em pensamentos.


— Minha melhor amiga, que também é irmã do seu ídolo,

enviou uma mensagem. Ela me instruiu a ligar a TV no canal no


qual Calebe está dando entrevista agora.

— Uau. Falta quanto tempo?

— Cinco minutos — digo, e nós duas ficamos em silêncio

imediatamente. Olhamos com atenção para a TV e nem mesmo


piscamos.

O que ele pretende fazer?


 

LARA
— Falamos sobre a sua carreira, mas a razão que te

trouxe aqui é outra — a apresentadora fala. — É inusitado, porque é

a primeira vez que uma figura pública vem até o programa para
fazer revelações sobre a vida pessoal.

— Acredite, também estou surpreso — Calebe diz de um


jeito charmoso, a mulher dá uma risadinha e coloca uma mecha de

cabelo atrás da orelha.


Será que ele ao menos percebe que está seduzindo a

mulher?

— Podemos começar?

— Depende — brinca. — Será que ela está nos

assistindo? Porque o que direi só fará algum sentido se ela estiver

me vendo e ouvindo.

— Ela? A Entrevista está ficando mais interessante e


curiosa. Posso presumir que se trata de uma garota?

— A minha garota. A mulher da minha vida e mãe da

minha filha.

— Amiga. Era disso que eu estava falando! Calebe está

se arrastando por você neste exato momento — Vivi, que até

minutos atrás estava indignada com o jogador, está completamente


empolgada.

Camila, por outro lado, só está feliz de poder ver o pai,

mesmo que seja através de uma tela.

— Você não pode ter certeza disso — digo, ao dar de

ombro como se não me importasse, mas meu coração está agitado


no peito.
— Por quem mais ele iria até o programa? Se eu fosse
você, ficaria preparada para a maior e mais linda declaração de

amor.

Ele não fará isso.

Calebe jamais pensaria em algo assim.

Mesmo se me amasse, e ele não ama, não está tão

desesperado.

— Vamos recapitular, porque você deu muitas

informações em uma frase — a mulher fala e sorri.

Sei que esse é o seu trabalho, mas a entrevistadora

bonita fala com tanta leveza e descontração que está deixando

Calebe a vontade. É nítido.

Claro que parece nervoso, mas não a ponto de sair

correndo. É muito para alguém que prefere não ter intimidades com
as câmeras.

  Também é contraditório, considerando a forma como

vivia antes de namorarmos, ou como sempre tinha seu rosto e nome

estampados em blogs de fofoca, mas Calebe nunca gostou de


aparecer em programas de televisão espontaneamente, nem

mesmo nos de esportes.

— Há uma mulher amada na sua vida.

Não é uma pergunta.

— Há uma mulher amada, que não apareceu na minha


vida de repente. Conheço-a há muitos anos e amo-a desde então,

um amor que primeiro foi a amizade e depois se transformou em


algo vital e essencial. Ela era e ainda é minha melhor amiga.

— Está dizendo que há um fundo de verdade nos

rumores que têm surgido nos últimos meses?

— Nada tão fantasioso — ele sorri — mas realmente sou


apaixonado pela minha melhor amiga.

— Vocês dois tiveram uma bebê antes do rompimento?

Ela está presumindo que houve um rompimento, porque

Calebe não estaria na sua frente se não fosse o caso.

A mulher é direta, mas imagino que também seja uma


tática para que o jogador não fuja e seja direto nas respostas.

Ainda é difícil de acreditar que estão falando de mim na

TV. Mesmo que minha identidade não tenha sido exposta, sei que
sou eu e isso basta.

— É uma história complicada e não cabe a mim expor os

detalhes para os milhares de telespectadores do programa, mas nós


temos uma filha. Posso mandar um beijo?

— Quantos você quiser.

Por que estou tremendo?

— Loirinha bebê, um beijo. Papai está morrendo de


saudade de você.

— Não se apaixonem, meninas. Como vocês podem ver,


esse coração não tem só uma, mas duas donas — a morena fala

divertida e olhando direto para a câmera.

— Como eu disse, minha garota e eu nos apaixonamos.

Na verdade, me apaixonei duas vezes e estávamos felizes, até que


estraguei tudo com ela. Fui um idiota e nem sei se mereço uma
segunda chance.

— Só o fato de ter vindo é um indicativo de que você

merece uma segunda chance com ela

Temos uma fã aqui?


No momento, estou rolando os olhos para cima
internamente. Vivi, por sua vez, está suspirando.

— Loirinha, tenho esperança de que esteja me vendo


agora. Se não estiver, atormentarei minha irmã até que ela te faça

assistir ao programa em algum momento. Não pense que acredito


que será tão fácil, ou que o fato de falar de você paro o mundo
amolecerá o coração que quebrei de tantas maneiras diferentes,

errei tanto que me odeio um pouco mais sempre que lembro


daquele dia. Mas o amor que sinto por você me enche de

esperança, porque é apenas nela que posso me apegar.

“Estou aqui porque tenho esperança de que você possa


me ouvir, mas minha verdadeira intenção é escancarar para o

mundo que te amo e deixar claro que lutarei por nós. Farei o que for
necessário para merecer o seu amor, porque tenho a plena certeza

de que não te mereço de forma alguma. Quero merecer o seu amor


todos os dias, desejo que me ame sem medo de ser quebrada

novamente. Eu estive perdido e confuso demais nos últimos meses,


mas nunca tive dúvidas dos meus sentimentos por você e pela
nossa menina. Meus sentimentos me trouxeram até aqui e em breve

estarei aí. Deixe a porta aberta para mim, nem que seja apenas uma
pequena fresta. Será o suficiente, por enquanto.
Quando Calebe dá uma pausa, toco meu rosto e sinto
minhas bochechas molhadas pelas lágrimas. Eu prometi que não
choraria mais por esse homem, mas ele torna a promessa

impossível de ser cumprida.

— Ele te ama tanto... — Dramática, Vivi está chorando


mais do que eu.

Camila continua focada no pai e totalmente alheia a nós


duas.

— De qual lado você está?

— Do lado do amor, e não preciso ser um gênio para

saber que vocês dois se amam.

— São apenas palavras. — Tento minimizar o impacto do


que está fazendo, embora Calebe esteja certo ao sugerir que

palavras não serão o suficiente.

Ainda são apenas palavras.

Lindas palavras, mas palavras.

— Nunca houve uma declaração de amor tão linda

quanto essa.
Até a apresentadora está do lado dele. Não que não

tenha estado desde o começo de qualquer maneira.

— Eu te amo, pequena — diz pela primeira vez as

palavras que tanto desejei ouvir. — Amo tudo sobre você, mas direi

com mais detalhes quando estivermos juntos. — Joga uma

piscadinha.

Calebe olha para a câmera, mas é como se estivesse

olhando diretamente nos meus olhos.

— Acho que estou apaixonada pela ideia de vocês dois

juntos. Por favor, amiga, dê uma chance ao amor. Ele está


arrependido.

— Papai.

Eu estou perdida, completamente confusa e abalada,

depois de ele ter ido a um programa para se declarar para mim.

O que Calebe está fazendo?

Tudo bem que o jogador não estava indo bem em

nenhuma área da sua vida nos últimos meses, mas ele estava

tentando seguir em frente sem mim, não estava?

O que mudou?
Será que eu poderia mudar de ideia sobre a gente depois

de tanta mágoa?

Será que o fato de eu também ter minha parcela de erros

no nosso relacionamento me condiciona a tentar o perdoar, ou ao


menos o ouvir?

CALEBE
DUAS SEMANAS DEPOIS

Depois que decidi apelar e ir a um programa de televisão


para escancarar para o mundo por quem meu coração batia, algo

importante não só para deixar um recado para a minha mulher, mas

para todas as outras que ainda pudessem ter esperanças com esse

pau, comecei a viver um maldito dilema.

Eu quis sair daquele estúdio e ir bater na porta da

pequena, mas acabei me convencendo que deveria deixar para o

dia seguinte, porque não queria que sentisse que eu estava a

pressionando.

No dia seguinte, adiei para o próximo e fui adiando por

duas semanas. Não foi por covardia ou falta de vontade, porque a


saudade está me matando como um maldito veneno que se alastra

pelo sangue todos os dias.

  Mas mandei mensagens com pedidos de desculpas, ou

apenas dizendo que a amo, todos os malditos dias desde que me

declarei para que milhões de pessoas ouvissem.

Enviei tantos buquês de rosas vermelhas que devo ter


falido a floricultura da qual me tornei cliente. Lara não recusou as

rosas das mãos do entregador, mas tenho minhas dúvidas se não

aceitou apenas para ser gentil com ele.

Quanto as mensagens, ela lê todas e não responde


nenhuma, nem mesmo para falar da nossa bebê.

Estou morrendo de saudades da minha princesa, mas a

Lara não tem piedade de mim como pai.

Embora esteja sendo imatura por permitir que o nosso


relacionamento de homem e mulher atrapalhe minha interação com

a minha filha, não consigo ficar chateado com ela.

O que me resta é engolir a saudade e pensar positivo.


Acredito que Lara ainda não esteja preparada, mas não tenho a

menor dúvida de que, independentemente do que possa vir a


acontecer entre nós dois, inclusive nada, ela não colocará nenhuma

barreira na relação entre a Camila e eu.

Em vários momentos nas últimas semanas pensei em

agir como meu coração desesperado pedia. Pensei em ir até ela


para implorar, nem que fosse de joelhos, para que me ouvisse, mas

coloquei na minha cabeça que Lara não estava preparada para o

próximo passo, por essa razão mantive o silêncio torturante.

 Se tentasse pressioná-la, sinto que a levaria para ainda


mais longe de mim e isso é tudo o que não quero.

Enquanto espero e sofro pela ansiedade e o receio de o

momento certo nunca chegar, também tento colocar as outras áreas

da minha vida nos eixos.

O fato de ter tomado uma atitude e finalmente colocado

minha cabeça no lugar não operou um milagre e não voltei a agir

como se minha vida fosse um mar de rosas. Mas, por mim e pelas
garotas que amo, estou consertando tudo o que eu mesmo havia

estragado com minhas próprias mãos.

  Há alguns dias, voltei a minha cidade natal e tive

conversas sérias e sinceras com minha família e com a família da


minha mulher. Pedi desculpas por ter escondido que estava em um
relacionamento com a Lara, mas não pedi desculpas por ter me

apaixonado.

 Por que pediria desculpas se ela foi a melhor coisa que


aconteceu na minha vida?

Como não poderia deixar de ser, meus pais e meus

futuros sogros, se eu tiver sorte, me perdoaram e agora estão


torcendo para que minha pequena perdoe também.

Acima de tudo, todos estão felizes por eu ser o pai

biológico da Camila.

Cada membro das duas famílias tentou de alguma forma


me sondar para saber se poderia interferir ou interceder por mim

com a Lara, mas pedi gentilmente para que ficassem de fora dessa

história e deixassem que eu mesmo resolvesse os problemas com a

minha gata.

Ao voltar para São Paulo, depois de fazer as pazes com

meu melhor amigo e o recontratar como meu preparador físico,

tentei deixar minha vida pessoal um pouco de lado, mas sem nunca

me esquecer do meu principal objetivo, que é reconquistar a minha


mulher, e passei a me dedicar ao futebol.
Aos poucos, estou voltando a ser o mesmo atacante de
antes, então  o técnico está cogitando me tirar do banco de

reservas.

Proibi meus assessores de imprensa de planejarem ou

aceitarem convites para festas em meu nome. Eu tenho ciência de


que agora preciso manter minha vida pessoal fora da mídia.

É o momento em que todos se conformam com o fato de

que minha vida badalada está definitivamente chegando ao fim. E


mais uma vez estou contando que terei a sorte de ser perdoado e

aceito de volta na cama da mulher da minha vida.

Com meus pensamentos e sentimentos em ordem,

consigo entender perfeitamente onde errei. Primeiro esqueci


justamente da melhor coisa que havia acontecido na minha vida.

Então obriguei minha mulher a lidar sozinha com uma carga pesada
demais, e quando as lembranças retornaram, descontei nela raiva
pelas escolhas que teve que fazer.

Porra! Lara teve boas razões para não contar a verdade.

O fato de saber onde errei ensinou-me uma valiosa lição,


porque duvido muito que algum dia volte a cometer o erro de
explodir sem antes a ouvir.
Pensarei antes de falar palavras que não podem ser
retiradas.

Acima de tudo, passar pela dor de a perder me ensinou

que não preciso e não quero nunca mais viver algo parecido.

Hoje é um dos dias em que acordei otimista, então prefiro


acreditar que a mulher que amo me perdoará.

Pode não ser hoje, pode não ser amanhã, mas me

perdoará, porque um amor como o nosso não pode morrer dessa


forma.

  Ao entrar em casa depois de um treino exaustivo, tiro

toda a minha roupa e vou direto para o chuveiro lavar o suor do meu
corpo.

Estou tão cansado que tudo o que preciso agora é de um


bom prato de comida e depois da minha cama. Tão cansado que
não terei tempo de sentir falta das duas mulheres da minha vida.
Depois que termino o banho, visto a calça moletom e vou
até a cozinha para esquentar o jantar que a diarista deixou na
geladeira, finalmente sento-me no sofá, ligo a TV e relaxo.

Uma hora depois, quando já estou me preparando para


dormir, embora ainda seja nove horas da noite, recebo uma

mensagem de texto.

Tem alguém aqui com saudade de você.

Leio

A mensagem vem junto com uma foto da minha filha


sorrindo para a câmera.

Sem querer parecer um molenga… sinto vontade de


chorar.

Porra!

Era de um sinal como esse que eu estava precisando e

Lara acabou de enviar um.

Sinal verde, caralho!

Finalmente o maldito sinal verde.


O cansaço vai embora quando pulo da cama, visto uma
camisa, pego as chaves de casa e do carro e vou correndo até elas.

Não importa quantas horas terei que dirigir, estou indo até elas.

Finalmente! Estou indo recuperar minha filha.

Indo recuperar meu amor.

Minha melhor amiga.

Minha Lara.
 

LARA
Eu passei duas semanas resistindo por medo de que

pudesse machucar-me novamente se desse uma chance para o pai

da minha filha e amor da minha vida.

Mas a única coisa que consegui ao deixar-me levar pela

covardia e medo foram crises de ansiedade, além do sentimento de


que perdi meu tempo.
É óbvio que ainda há um pouco de insegurança e não

estou cem por cento certa do que estou fazendo, mas hoje acordei
agoniada e com saudade.

Especialmente hoje, não consegui lembrar-me com

clareza o porquê de estarmos separados, e pela primeira vez senti

que a decepção e a mágoa não são maiores do que o amor.

O que farei quando ele estiver na minha frente? Não faço

a menor ideia, mas pelo menos o jogador estará comigo para que

eu possa o olhar e escolher com o coração, não com a cabeça, que


anda pensando mais do que deveria.

Desde que tudo aconteceu, minha mente não para e


todos os dias ela contraria meu coração.

Permiti que a babá levasse Camila para passear com

seus filhos mais cedo e aproveitei para fazer uma faxina na casa.

Fiz não só porque estava precisando, mas também para causar uma
boa impressão no meu homem e aplacar minha ansiedade.

Enviei a mensagem ontem a noite, e apesar de não ter

obtido resposta, algo me diz que Calebe virá até mim.

Eu sei que ele virá.


 

Passa de uma da tarde quando, toda suada e ofegante,


termino a faxina e me sinto satisfeita com o resultado.

Este lugar nunca esteve tão brilhante.

Depois de dispensar o almoço, tomo um banho gelado

para aplacar o calor e opto por não vestir nada além da única
camiseta do Calebe que tenho no meu guarda-roupa.

Descalça e com os cabelos presos em um coque no alto

da cabeça, vou até a cozinha e preparo uma omelete rápida para

mim.

Amo os finais de semana, pois posso relaxar da correria


do trabalho e das aulas na faculdade.

Amo mais ainda quando Vivi ou a babá levam minha bebê

para passear. Adoro ser mãe e me sinto realizada, mas às vezes

também sinto necessidade de ter um momento só para mim.


Almoço largada no sofá e faço planos mentais sobre o

que usarei mais tarde quando meu amor chegar. Eu sei que ele virá.

Só de pensar sinto frio na barriga.

O que vou dizer?

O que ele dirá?

A gente vai transar?

Vou querer me entregar depois de tudo?

É claro que vou.

Será que ainda o amo?

Amo hoje mais do que amava ontem, e hoje menos do


que amarei amanhã.

Depois de almoçar, escovar os dentes e estourar uma


pipoca, conecto na Netflix e dou play em um filme de comédia

romântica.

Dez minutos mais tarde, ouço o som da campainha da

casa que aluguei quando voltei e trouxe minha menina comigo.


Estranho o fato, pois não estou esperando ninguém e a babá disse

que só traria a princesa à noite. Quando saio para o quintal e olho


para o portão, quase desfaleço por ver Calebe com um sorriso e

uma mala.

Mesmo com as pernas bambas, aperto o controle e o


portão é aberto. Fico na porta enquanto se aproxima, mas minha
vontade é de correr até o maldito gostoso.

De repente, só vejo o homem da minha vida. Vejo apenas


o pai da minha filha, o meu amor. As mágoas pegaram as malas e

saíram correndo.

Calebe para muito perto de mim. Ele me olha

intensamente da cabeça aos pés e termina com o olhar preso no


meu. Minhas pernas estão tremendo e fracas de expectativa. Minha

boca está seca e minha boceta pulsa pela primeira vez em meses.

Só o fato de tê-lo na minha frente é o suficiente para me

fazer lembrar que não sou apenas uma mãe solteira ou uma
universitária. Sou uma mulher com desejos como qualquer outra. No
momento, sou mulher acima de tudo.

Uma mulher que anseia com o corpo e com o coração.

Antes que possamos dizer qualquer coisa, ele segura


minha mão e me leva para dentro, dominando todos os espaços
como se conhecesse a casa como a palma da sua mão.
Calebe não conhece a casa, mas me conhece. É por isso
que me joga contra a porta assim que a fecha. Então para na minha
frente e me olha de um jeito que me faz sentir que é capaz de

rasgar minha roupa sem me tocar.

Como se não pudesse se conter mais um segundo


sequer, ele leva as mãos até a barra da sua camisa no meu corpo e
a descarta no chão.

O jogador é lindo, mas ainda está completamente vestido


na minha frente. Por outro lado, estou nua, e sinto que não é apenas

meu corpo. A minha alma está completamente despida para as suas


mãos e seus olhos.

Sempre foi assim.

Eu sempre estive aqui, entregue e exposta para que esse

homem pudesse me ter da forma como quisesse. Apesar de tudo,


sei que também sempre o tive da mesma maneira.

Porque nossos corpos, mentes, almas e corações se


pertencem.

— Jamais poderia esquecer. Mesmo quando minha


mente tornou nossa história uma página em branco, eu ainda me
lembrava da gente. Ainda te desejava, ainda te amava como um
louco — declara, então abaixa a cabeça e chupa o mamilo excitado.

Sua mão esquerda brinca com o outro seio, e a tensão


sexual que deixa meu mamilo duro tem ligação direta com minha

boceta.

Quando tento apertar uma coxa na outra, ele olha feio e

me faz parar. Calebe ergue o olhar e deixa de mamar meu seio por
um momento.

— Ninguém além de mim te dará prazer, nem você

mesma. — Incapaz de dizer qualquer outra coisa, balanço a cabeça

em concordância.

Enquanto o meu corpo suporta os tremores de excitação,

meu homem brinca como se tivesse todo o tempo do mundo ao

descer os beijos, as lambidas e as mordidas pelo meu abdômen.

Ele brinca com o meu umbigo e me faz gemer como uma


cadela no cio. Ele aperta os lados da minha bunda com as mãos

possessivas e me leva a ficar na ponta dos pés, em uma tentativa

de esfregar a boceta na sua boca.

Rapidamente percebo que não preciso me esforçar tanto,


pois Calebe tem tanta pressa quanto eu.
Depois de beijar o osso do meu quadril e de dar uma

mordida na minha coxa, o jogador separa minhas pernas com as


duas mãos e literalmente enfia o nariz no meu sexo.

— Você não faz ideia do que sinto por saber que ninguém

além de mim esteve aqui. Ainda sou o único, não sou?

— Hum… — gemo quando lambe minha boceta de cima


a baixo.

— Eu quero palavras, amor. Diga com todas as letras que

fui o único a estar aqui.

— Você foi o único. Ninguém nem mesmo chegou perto.

Minhas palavras fazem com que Calebe perca o controle,

então ele praticamente me devora com chupadas, mordidas e

lambidas, que me fazem contorcer como uma lagartixa contra a

parede.

Tanta paixão e tesão que estou transbordando.

Quando meu homem começa a enfiar dois dedos, chega

minha vez de perder o controle, então começo a rebolar no seu

rosto, o lambuzando inteiro com os fluidos do meu prazer.


Sempre que o orgasmo se aproxima, Calebe diminui a

intensidade do sexo oral e me impede de alcançar o prazer máximo.

— Por favor… — imploro.

— Eu poderia te fazer ver estrelas agora mesmo, minha


deliciosa, mas preciso te comer, enterrar meu pau profundamente

na sua bocetinha. Quero te encher com a minha porra e assistir.

Quero te marcar com meu esperma.

Porra! Suas palavras sujas não deveriam me excitar


tanto…

É claro que deveriam, é por isso que as diz.

Meu homem faz o caminho de volta com beijos pelo meu

corpo, até que sua língua esteja dentro da minha boca. Enquanto
me beija, Calebe se livra de todas as peças de roupas e eu fico

ávida para o tocar em todas as partes.

Senti tanta falta dos seus beijos molhados e esfomeados

que poderia gozar agora mesmo, mas Calebe me frustra mais uma
vez.

— Quero te comer sem barreiras, mas respeitarei se você

não quiser renunciar ao preservativo.


— Eu… — o assunto me faz lembrar de algo que traz um

gosto amargo a minha boca.

— Não transei com ninguém desde que estive com você

há três meses.

— Mas, aquelas mulheres…

— Eram usadas como cortinas de fumaça. Eu bem que

tentei te esquecer, mas meu pau só queria você.

— Eu também estava na merda — confesso, Calebe

envolve minha perna no seu quadril, segura o pau com uma mão e

pincela a cabeça robusta entre meus lábios vaginais.

— Posso?

— Deve… — digo, então sinto profundamente a primeira

estocada na minha boceta.

O fato de ter passado meses faz com que seja dolorido,

mas é um tipo bom de dor. É a dor de ser invadida pelo pau do meu
homem. A dor de pertencer, de me entregar de corpo e alma.

— Quanta saudade senti da sua bocetinha gostosa, amor

— fala, ao levantar minha outra perna.


Com as duas pernas em volta da sua cintura e as unhas

fincadas nos seus ombros, sou penetrada com tanto vigor que

minhas costas escorregam na porta.

Mas meu homem me segura com força enquanto me


come, ele segura como se não fosse me soltar nunca mais.

Eu não quero que me solte jamais.

CALEBE
Apesar de finalmente estar onde eu gostaria, sinto como

se ainda não fosse o suficiente. Como se ainda estivesse longe e


morrendo de saudade dessa mulher, que é perfeita demais para

mim e para o mundo.

Não a merecemos.

São todos esses sentimentos misturados que me fazem


segurá-la como se nunca mais pudesse a deixar ir. São esses

sentimentos que me fazem meter com força na sua boceta e sentir

que poderia continuar fazendo isso pelo resto da minha vida sem
nunca me cansar.

Meu corpo está suado e o meu coração doendo de tanta

paixão e tesão, que ficaram acumulados sem ter por onde escapar
durante meses, enquanto ouço sua voz sexy e doce ao mesmo

tempo, chamando pelo meu nome e implorando para que eu lhe dê


alívio.

As suas unhas afiadas estão fincadas nos meus ombros

e suas coxas envolvem meus quadris, era disso que eu precisava.

Era dessa pele cheirosa, desse calor e da boceta apertada. Eu


precisava sentir seu coração batendo contra o meu.

Assim como o ar que respiro, necessito da sua boceta

apertando o meu membro, enquanto goza como uma puta que

necessita do meu pau a torturando para viver. Então meto mais


algumas vezes e despejo minha semente dentro da sua boceta.

A nossa situação ainda está indefinida e há muito para

ser dito, mas, por um momento, desejo que essa semente encontre

o destino certo para fazermos mais uma vida. Mais uma prova que
respira do nosso amor.

Por um momento, desejo que tenhamos feito uma

irmãzinha ou um irmãozinho para a nossa princesa.

Sei que é decadente e muito errado, mas um segundo


filho amarraria sua vida ainda mais a minha. Porque amo essa

garota com tudo que há em mim e não acho que um dia acabará.
Não me vejo amando outra mulher, porque sempre foi
ela. Primeiro a amei como a doce menina que queria proteger,

depois amei como uma melhor amiga inusitada pela diferença de

idade. Por fim a amei como mulher, o tipo mais urgente e intenso de
amor.

Um amor que não tem fim.

Quando levo o seu corpo suado e completamente

esgotado para o sofá, deito-me de costas e a posiciono em cima do


meu peito.

Ficamos um tempo permitindo que os nossos corações e

respirações se acalmem. Um silêncio bom, antes da conversa

definitiva.

Ao mesmo tempo em que estou nervoso, também me

sinto confiante, porque vim disposto a reconquistar minha mulher de


uma vez por todas.

Só ficarei satisfeito quando sentir que tenho a minha


família comigo.
 

CALEBE
O minuto para o descanso depois do sexo suado contra a

porta se transformou em duas horas, porque minha mulher acabou

dormindo em cima de mim e não tive coragem e nem vontade de


afastá-la.

Ela está deitada em mim há horas, e a sensação é de


estar segurando todo o meu mundo em minhas mãos. Seu calor e

cheiro me fizeram sucumbir ao sono, mas faz mais ou menos vinte


minutos que estou acordado, apenas ouvindo o som da sua

respiração e as batidas compassadas do seu coração.

Eu estou exatamente onde deveria estar: segurando


minha melhor amiga, a mãe da minha bebê e amor da minha vida.

Sinto que não preciso de muito mais do que isso para ser

feliz.

— Hum… — ela geme e esfrega o nariz no meu peito


como se fosse uma menininha e o gesto faz com que meu coração

aqueça.

Incapaz de me conter, depois de ter passado meses


desejando proximidade, faço cafuné no seu couro cabeludo e levo-a

a se contorcer ainda mais de prazer.

— Só me diga que isso não é um sonho — pede com o


tom de voz sonolento.

— Não é um sonho. Eu estou aqui, mais especificamente,

embaixo de você.

— Que bom, porque estava morrendo de saudade.

— Tem certeza de que não é a sua mente que ainda está

entorpecida pelo sono? — Sonolenta, Lara ergue a cabeça do meu


peito e olha dentro dos meus olhos.

— Tenho. Eu… — as palavras morrem na sua boca, mas

entendo-a perfeitamente.

Há muito a ser dito, e talvez seja melhor que eu comece.

— Eu estava morrendo aos poucos sem você, e não

pense que foi a primeira vez. Por mais que minha mente tenha sido

tola de deletar justamente o nosso amor recém-descoberto,

continuei te amando, literalmente como se fosse a primeira vez.

— Você pode dizer que se apaixonou duas vezes pela

mesma mulher? — Questiona. Amo a forma como seus olhos estão


brilhando para mim.

Parece muito com o jeito que fazia quando era

adolescente e eu não imaginava que terminaríamos assim.

— Me apaixonei duas vezes. Mas sinto que te amei de


forma diferente durante a vida toda. Eu te amo, e penso em passar

a vida toda tentando me redimir pela forma como te tratei. Sinto

muito, amor.

— Cheguei a pensar que nunca mais voltaríamos a ficar


juntos — confessa.
— Senti tanto medo que tive pesadelos com essa

possibilidade, amor. O que fiz nos últimos meses foram tentativas


loucas e falhas de sobreviver sem você. Além de envergonhado, por

um momento quis me convencer de que você ficaria melhor sem


mim. Talvez seja verdade, mas simplesmente não consigo deixar
você ir. Nunca te deixarei ir — faço a promessa olhando dentro dos

seus olhos.

— Eu estava triste, decepcionada e confusa, mas sinto


que no fundo também estava te esperando. Você me magoou com

aquelas palavras, mas eu sabia que se realmente me amasse como


te amo, viria até mim.

— Eu vim.

— Você veio — fala com os olhos marejados. Seguro os

lados do seu rosto e beijo em cima dos seus olhos bonitos.

— Nunca mais chore por mim, princesa. Eu não mereço o


seu amor e muito menos suas lágrimas. Ainda assim, estou aqui e

pretendo ser a melhor versão de mim mesmo para te fazer feliz


todos os dias. Devo isso ao nosso amor. Apenas diga que me

perdoa.
— Eu te perdôo, Calebe de Matos, porque não poderia

não perdoar. Te amo.

— Também te amo, loirinha — declaro.

Meu coração está leve e minha alma em paz. De repente,


tudo parece encaixado em seu devido lugar, ou quase tudo.

Antes que eu tenha tempo para raciocinar, minha garota

beija minha boca, então o beijo terno e cheio de amor rapidamente


se transforma em fogo e paixão.

— Ainda temos que falar — digo, ao afastar por um

segundo minha língua da sua.

Meu pau já está mais do que duro em contato direto com


sua boceta quente e molhada.

— Podemos conversar depois. Agora quero transar com


você e matar essa saudade.

Uma mulher que não se envergonha do seu apetite


sexual? Não sei o que fiz para merecer esse presente.

Antes que eu tenha a oportunidade de meter meu pau


mais uma vez na mulher mais gostosa do mundo, a campainha da
casa toca e ela me olha com os olhos arregalados.
Pela reação, ela supõe quem é a pessoa que acabou de
chegar. Só agora percebo que a minha filha não está em casa, ou
em nenhum lugar onde possa a ver.

Caralho! Preciso aprender a ser um pai melhor. Primeiro

pensei com meu pau e fodi a garota contra a parede, depois não
notei a ausência da minha filhinha.

— Nossa filha?

— A própria. A babá a levou para passear com os

amiguinhos, então aproveitei para tirar o dia só para mim e me


preparar para a sua chegada.

— Você tinha certeza de que eu viria?

— Toda a certeza do mundo — provoca, morde o meu

lábio inferior e depois foge dos meus braços.

Não consigo desviar o olhar da sua bunda enquanto


procura minha camisa no piso da sala. Quando a encontra, veste

imediatamente e em seguida corre até o portão.

  Também aproveito para vestir minha calça, que estava


jogada em um canto do sofá. A verdade é que eu estava tão louco
de saudade e desejo que não lembro de quando me despi para
comer minha mulher.

Agindo como se não tivesse acabado de devorar sua


mãe, espero Camila sentado no sofá como se fosse o pai do ano.

Meu lado homem apaixonado dá lugar ao pai ansioso


quando minha mulher surge na sala segurando um pedacinho de

gente nos braços.

Quando percebe a minha presença, Camila praticamente


se joga dos braços da mãe, que sorri e a coloca no chão.

Com passinhos incertos de alguém que aprendeu a andar

agora, ressinto-me por ter perdido mais esse acontecimento


importante na sua vida, a bebê vem até mim e estende os bracinhos

para que eu a pegue.

Sinto meu coração pegando fogo de amor dentro do peito

e os meus olhos enchem-se de lágrimas quando ela toca meu rosto


com as mãos pequeninas.

Eu estava na merda por causa da pequena, mas também

estava morrendo de saudade da minha bebê. Eu já a amava e a

considerava minha antes mesmo de saber que sou seu pai, então o
que estou sentindo agora não poderia ser explicado ou

dimensionado.

Amo de paixão minha melhor amiga e Camila é o fruto do

nosso amor. Ela nasceu de nós dois e será nossa descendência.

— Papai chegou — ela bate palmas, toda animada. Fala

bem demais para uma bebê.

Minha princesa está muito linda com vestidinho rosa e os

cabelos loiros como os da mãe presos no alto da cabeça.

— Sim, o papai está aqui, meu amor. Prometo que nunca

mais te deixarei.

Emocionada, Lara se senta ao meu lado e observa a

nossa interação em silêncio durante alguns minutos.

Quando se distrai com minhas chaves, Camila começa a

se contorcer para descer para o tapete. Então dou mais alguns


beijos nas suas bochechas, abraço-a apertado e a deixo livre para

brincar.

Fico observando-a como um pai babão, e por mais que

eu tenha certeza, necessito ouvir as palavras da boca da Lara.

— É minha filha?
— Sua filha. Descobri que estava grávida algumas

semanas depois do acidente. Eu estava desesperada porque você

não despertava e os médicos não sabiam dizer quanto tempo


poderia demorar, então ela chegou e me deu esperanças. O

presente que deixou para mim me ajudou a continuar de pé. Apesar

de tudo, você não me deixou sozinha, amor.

— Não deixei e nunca deixarei. Vocês duas são a minha

vida, e a partir de agora meu maior objetivo será amar e fazer vocês
felizes.

— O que fará com suas Marias-chuteiras? Elas

enlouquecerão — provoca, mas sei que está querendo sondar a


concorrência que pensa que tem.

Lara ainda não percebeu que meu pau está de coleira e

que essa coleira tem o seu nome?

— Que se fodam todas elas. O recado já foi dado naquele


programa besta — falo.

Ir para a frente das câmeras foi uma medida desesperada

e apenas o começo do que eu poderia ter feito para reconquistar

meu amor. Foi traumático, mas o máximo que pude pensar.


Tinha que ser algo grande, então tomei uma atitude que

me faz ouvir provocações do time até hoje.

— Você se declarou para o Brasil todo ouvir — diz. Agora

suas bochechas estão encantadoramente coradas.

Como é possível que seja tão tímida e tão safada ao

mesmo tempo?

— Faria muito mais. Eu não tenho limites quando o


assunto é você, amor — afirmo, ela vem até mim e me abraça.

Ainda com saudade, sento-a nas minhas pernas.

Nossa bebê continua brincando, alheia as nossas

sacanagens.

— Eu sei. O pior é que eu sei — Lara fala, ao beijar meu

pescoço.

Estamos tão a vontade um com o outro que não parece

que houve um rompimento.

— Lúcio disse que tinha um cara a fim de você na

universidade — comento.

Tentei não pirar com isso, mas confesso que senti medo

de que outro tocasse no que sempre foi meu.


— Ramon é apenas um colega.

— Ele quer te comer?

— Eu não diria com essas palavras…

— Sim ou não, Lara.

Está sendo difícil controlar ou esconder o ciúme nesse


momento.

— Talvez ele tenha me chamado para sair, mas eu

recusei, porque estava com o coração partido e loucamente

apaixonada pelo meu ex-namorado.

— Resposta certa, loirinha — falo, ao passar a ponta do

indicador em volta do seu mamilo. — Mantenha-o longe do que é

meu e ele não terá problemas. Você também não terá que lidar com
essa bundinha gostosa vermelha.

— Vermelha? — Questiona e rebola, esfregando a boceta

despida e ainda gozada diretamente no meu pau.

O bastardo está sempre alerta perto da sua dona.

— Vermelha, pois baterei nela e depois comerei seu


cuzinho se não se comportar — falo com um tom de ameaça, que

Lara acha sexy quando digo com a voz rouca de desejo.


— Prometo não me comportar — provoca, ao abaixar a

cabeça e lamber do meu pescoço até a boca. — Você e meu irmão


fizeram as pazes?

— Fizemos, mas só depois que o convenci de que te

amo. Acredito que Lúcio está bem com a ideia de que continuarei te

comendo e me casarei com você em breve.

— E os nossos pais e a Flávia?

— Conversei com todos. Eles me perdoaram pelas

omissões e agora estão torcendo para que fiquemos juntos

novamente — aviso, ao tocar sua boceta, que está melada


novamente.

Será necessário que passe muito tempo até matarmos a

saudade acumulada.

— Às vezes acredito que todos sabiam que ficaríamos


juntos, principalmente os nossos pais.

— Até nós sabíamos — afirmo, então seguro sua nuca e

a beijo longamente.

Quando termino, nossos corpos estão pegando fogo.


— Quero ficar com você para sempre — declaro, olhando
em seus olhos. — Diga que deseja o mesmo e que daremos um

jeito.

— É tudo o que mais quero.

Sei que não será tão fácil, porque estamos vivendo fases
diferentes em nossas vidas, mas é o amor que nos une, e ele é forte

o suficiente para resistir. Ele não tem resistido desde o começo?

Basta querermos nosso amor e nossa família. Sei que

queremos.

— Você se casará comigo quando eu fizer o pedido? —

Não planejei essas palavras, mas elas saíram e não quero voltar

atrás.

— Sim — fala sem pensar duas vezes.

— Me dará mais um bebê tão lindo quanto você?

— Até três, se você quiser.

Porra! Essa é a minha mulher.

— O que acha de colocarmos nossa filha para dormir e

começarmos a treinar? — Provoco.


— Você e suas ótimas idéias.

Pela primeira vez, vivo a experiência de dar banho na


minha filha e de assistir enquanto Lara canta uma canção de ninar

para que durma tranquila.

Então a colocamos na cama juntos e velamos seu sono


até que realmente apague.

É um momento emocionante e tão único para mim que só

consigo pensar que desejo colocar meus filhos para dormir todos os
dias. Desejo isso ao lado da mulher que amo.

— Papai te ama, princesa linda — beijo sua cabeça,


antes de entrelaçar os dedos nos da pequena para sairmos do

quarto.

Segundos depois, começamos a nos beijar. Damos


amassos em todos os cantos da casa até chegarmos ao banheiro.

A ideia era apenas tomarmos banho juntos, mas

acabamos transando novamente e só depois lavamos um ao outro.

Quando chegamos a sua cama, aproveitamos para


namorarmos e conversarmos mais um pouco. Tomamos decisões
quanto a nossa relação, mas a mais importante já foi tomada: nós
ficaremos juntos.

O resto se ajeitará em seu devido tempo.

— De novo? — Ela questiona, depois de duas horas de

muita conversa e toques platônicos.

Pois é… não deveria ser nenhuma surpresa que essa

gostosa me deixa de pau duro o tempo todo.

— Cansada, amor? Pensei que estivesse com saudade.

— Nunca estive tão disposta — diz, ao esfregar a boceta


na minha perna.

— Então fique de quatro.

A paixão que está nos consumindo agora nada mais é do


que a necessidade que os nossos corpos têm para externarem
sentimentos mais profundos. Sentimentos inquebráveis e antigos.

Estamos juntos novamente e sei que voltaremos mais


fortes para os braços um do outro todas as vezes em que a vida

tentar nos afastar ou nos provar.

Esse é o nosso amor, que parece tão duradouro quanto

as nossas vidas aqui na terra.


Quando nos entregamos dessa forma, sinto que fomos
feitos para ficarmos juntos.

O destino.

 
 

CALEBE
Após alguns momentos conturbados na vida pessoal que

afetaram seu desempenho em campo, Calebe de Matos está

vivendo sua melhor fase em campo e marcou o gol da vitória.

 
 

Depois de algumas idas e vindas, o jogador galã deixou a

vida de solteiro de lado e pediu sua namorada e amiga de infância

em casamento. Estamos torcendo para que os pombinhos sejam


felizes, porque a história de amor de ambos não poderia ser mais

inspiradora.

O jogador de futebol mais cobiçado do ano acabou de se

casar. Após o longo noivado, que durou alguns anos, os pombinhos

apaixonados finalmente disseram sim.

A página faz votos de felicidade.


 

Em um discurso emocionado, Calebe de Matos dedicou o

prêmio de melhor jogador do ano a esposa, Lara Molina e suas

filhas, Camila e Fanny.

OITO ANOS DEPOIS


— Cinco minutos, filha. Papai está indo — a voz do meu

marido está ofegante.

— Tudo bem, mas não demora, pai. Estou ficando

cansada de esperar — nossa caçula fala.

Calebe espera para ouvir seus passos se afastando e

então volta a se ajeitar entre as minhas pernas e a meter na minha

boceta com o mesmo vigor que fazia há oito anos.

— Mais rápido, amor. Elas podem voltar — minhas

palavras são o suficiente.

Calebe abre ainda mais as minhas pernas e mete até

levar nós dois ao orgasmo.


Perito em rapidinhas secretas por causa de duas crianças

espertas, meu marido me beija no momento em que eu estava


prestes a gritar o seu nome.

Beija-me e continua me penetrando por um tempo.

Quando terminamos, sou acariciada com ternura até que

meu corpo se acalme. Suado e cheirando a uma mistura de perfume


e sexo, meu amor, que está ficando mais lindo com o passar dos

anos, se deita ao meu lado na nossa cama.

Viemos passar o final de semana na nossa casa de praia

e esses estão sendo os melhores dias para mim e nossas filhas.

— Parabéns, esposa. Você está ficando mais gostosa a

cada ano que passa. Não sei como meu pau ainda não está gasto.

— Ele tem muito para trabalhar — devolvo, ao me

aconchegar no seu peito.

— Posso dizer o mesmo sobre ela — fala, ao colocar a

mão entre as minhas pernas e acariciar meu sexo sensível.

Estamos no meio de uma tarde de sábado, mas essa é a

segunda vez que fugimos das meninas para transar.


É assim que funciona quando há crianças em casa, então

estamos mais do que acostumados a isso.

Depois que fizemos as pazes há mais de oito anos,


Calebe e eu não voltamos a nos separar.

No começo foi complicado por causa das nossas vidas

diferentes, mas demos o nosso jeito. Ele continuou em São Paulo


pelo trabalho, mas me visitou nos finais de semana durante alguns

anos.

Estávamos noivos há três anos quando me formei, então

naturalmente fomos morar juntos. Optamos por ficar no apartamento


que ele possui na nossa cidade natal e só nos mudamos para uma

casa maior quando fiquei grávida da Fanny.

Ficamos noivos durante quatro anos e um pouco mais de

um ano depois que nos casamos fiquei grávida novamente. Hoje


Fanny tem dois anos e tem sido o xodó dos avós e da irmã mais
velha de quase dez anos.

Eu não diria que temos a vida perfeita, mas passamos os

últimos anos dando o nosso melhor para que o nosso amor


prosperasse.
Passamos por muitos desafios e em alguns momentos
chegamos a nos questionar se realmente nascemos para ficarmos
juntos, mas todas as vezes chegamos à conclusão de que o amor

que nos une sempre valerá a pena.

Eu me formei e comecei a trabalhar como nutricionista


esportiva, mas muito rapidamente percebi que não fugiria a regra e
acabei me tornando a típica esposa de jogador de futebol: Linda,

rica e socialite.

Se eu me arrependo? Nem um pouquinho.

Por um tempo acreditei que em algum momento sentiria


falta de trabalhar fora de casa e que me sentiria inútil para o mundo,

mas o que aconteceu foi o oposto.

  Percebi que poderia fazer diferença de outra forma, e

que ajudar a organizar eventos beneficentes ao lado das esposas


dos outros jogadores também era uma forma de contribuir para a
humanidade.

 Ajudo em causas nobres. Sou mãe em tempo integral e

ainda sorrio como a esposa perfeita de um jogador consagrado


perante as câmeras.
Quando percebi que nem tudo eram flores, e aconteceu
nos primeiros meses de casamento, senti medo de me tornar a
esposa troféu, aquela que ficaria em casa enquanto o marido saía

para comer todas as outras mulheres disponíveis do planeta.

Nunca fui iludida a ponto de não saber que rolam coisas


assim e piores no mundo do futebol.

  Mas meu marido não mudou nada em oito anos de


relacionamento e nunca me deu motivos para que me sentisse

insegura.

Calebe é apaixonado e leal. Ele não vai a festinhas sem

mim. Ele não desliga o celular para que eu não possa o contatar.

Meu jogador preferido ainda tem a agenda atribulada,

mas ele passa todo o tempo livre comigo e com as filhas.

O seu amor nunca mudou, muito pelo contrário, a cada

dia que passa me sinto mais amada e devolvo esse amor na mesma
medida.

É isso! Apesar das turbulências que tivemos,

principalmente no começo da relação, nosso amor sobreviveu e está

firme e forte.
Nunca nos arrependemos das escolhas que fizemos. Não

esperamos por um felizes para sempre de braços cruzados, porque


todos os dias fazemos o nosso.

— Em que essa cabecinha linda e loira está pensando?

— Questiona, ao beijar a minha barriga com carinho.

A novidade? Estou grávida pela terceira vez.

Eu disse para o meu marido que essa será a última,

porque teríamos um time de futebol se dependesse apenas dele. Os

titulares e os reservas.

— Estava pensando no quanto te amo e no quanto estou


feliz, pois agora passaremos mais tempo juntos.

— Eu mal vejo a hora — declara, ao subir a boca para os

meus seios.

A cada dia que passa, mais Calebe ama os meus peitos.

É uma obsessão.

Sobre passarmos mais tempo juntos?

Embora seu condicionamento físico e o desempenho em

campo façam os empresários e especialistas em futebol acreditarem


que Calebe ainda teria alguns anos pela frente, meu marido
anunciou a aposentadoria há algumas semanas e só jogará até o

final do ano.

  Calebe sentiu a necessidade de passar mais tempo

comigo e com as filhas. Ele não terá mais que viajar constantemente
e eu apoiei a decisão.

  Calebe pretende tirar um ano sabático comigo e as

meninas, mas já está estudando o que fará depois desse período.

De qualquer forma, sei que terá êxito no que decidir fazer, porque é
isso que Calebe é: bom e dedicado.

— Que horas os nossos pais chegarão? — Questiona.

  Domingo será o nosso aniversário de oito anos de

relacionamento e a família toda está vindo para casa de praia.

  Calebe e eu viemos na frente para aproveitarmos,

mesmo com as meninas batendo na porta.

Flávia e Lúcio também virão. Desta vez virão juntos, mas

essa é uma história para ser contada em outra hora.

— Irei buscar todos no aeroporto amanhã cedo — Calebe

avisa.
— Então é melhor que você se aproveite de mim hoje,

porque amanhã eles monopolizarão a minha atenção — provoco.


Estamos sem tempo, mas não consigo me segurar.

— Estou aproveitando, meu amor — diz, ao enfiar dois

dedos na minha boceta e começar a chupar um dos meus mamilos

com avidez. — Quanto tempo nós temos até a Fanny voltar a bater
na porta?

— Quinze minutos?

— É o suficiente para que eu acabe com você mais uma

vez, minha esposa gostosa.

Realmente é o suficiente, mas demora mais meia hora

até que nos sintamos saciados. Então tomamos banho juntos e

descemos para ficarmos com as nossas filhas no jardim.

Elas gostam muito do mar, mas proibimos as duas de


irem sem um adulto por perto.

— Finalmente, mamãe. Eu não estava mais aguentando

esperar para irmos até a praia — Camila reclama.

Ela é tão linda e esperta quanto parecia que seria quando


tinha um ano de idade. Minha loirinha também é cuidadosa e
protege a irmã mais nova com unhas e dentes.

— Já estamos aqui, princesas. Vocês chamaram o Tom?

— Meu marido pergunta, ao se curvar e pegar nossa menininha de

dois anos nos braços.

Ao contrário da Camila, ela é a cara do pai com seus

olhos azuis e cabelos castanhos escuros.

— Vem, Tom — Camila grita e o virá-lata vem correndo

abanando o rabo.

  Ao chegarmos à beira mar, soltamos as mãos das

nossas filhas e deixamos que fiquem livres para brincarem na areia

com o cachorro da família.

Com o sol do fim de tarde sendo o principal cenário para


o momento em família, meu marido sorri para mim e entrelaça os

nossos dedos.
Caminhamos de mãos dadas na areia branca e, do fundo

do meu coração, sinto que ainda estaremos fazendo isso quando


nós dois estivermos bem velhinhos.

— Foi assim que você imaginou sua vida quando era uma

menininha cheia de sonhos e ilusões? — Meu amor está se

referindo a época em que o fazia prometer que se casaria comigo


quando eu fosse adulta.

Como eu era boba. Ao mesmo tempo, estava certa…

Calebe prometeu e realmente se casou comigo.

O amor da minha vida.

— Não, nem mesmo uma criança iludida seria capaz de

fantasiar um cenário tão perfeito. Você me faz feliz Calebe de

Matos.

— É você que me faz feliz, minha esposa. Todos os dias.

— Todos os dias — repito.

— Eu te amo, pequena — declara.

— Eu te amo, meu jogador.

No começo da nossa história, houve um momento que foi

muito difícil. Foram dois anos em que parecia que tínhamos


terminado, mas mal havíamos começado a viver nosso amor.

Então esse amor mostrou-se inabalável como as rochas

contra as quais essas ondas se quebram.

Nosso amor mostrou-se persistente e gritou nas nossas

cabeças e nos nossos corações para que lutássemos, mesmo


quando as circunstâncias diziam o contrário. Calebe e eu ouvimos

nosso amor a cada passo, é por isso que estamos aqui.

Merecemos estar aqui com as nossas filhas e com a

nossa felicidade, porque ousamos nos amar acima de tudo e de


todos.

Porque esse amor jamais poderia ser esquecido, não de

verdade. Porque quando a mente se calou, a voz do coração falou


mais alto.

FIM
É maranhense de 30 anos, mora em Brasília, Distrito

Federal. No seu apartamento, ao lado dos pais e um sobrinho,


mergulha no mundo da imaginação escrevendo livros de romances
eróticos, comédias românticas e dramas. Com quase 5 anos de

carreira, conta com 21 títulos lançados na Amazon e mais de 60

milhões de páginas lidas pelo Kindle. Títulos como O tutor, Vendida


para Gabriel e Marcada por mim tornaram-se Best-seller na

Amazon.

 
 

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