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Joane Silva

Sinopse
Marina sempre viveu uma vida perfeita, cercada de luxos e mimos.
Até que, aos seus 17 anos, uma tragédia muda o rumo de sua vida: a perda de
seu pai, único parente vivo e pessoa que ela mais ama, deixando-a
desamparada e sozinha no mundo. E, para completar o pesadelo em que passa
a viver, a garota se vê obrigada a viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor
amigo de seu pai, de quem guarda antigas e profundas mágoas.
Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com a chegada da filha de
seu falecido melhor amigo aos seus cuidados. Tendo sua vida inteira
planejada, a adição inesperada não seria um problema, se não fosse o doentio
desejo que sente pela garota que viu crescer.
Marina é agora uma linda e proibida mulher, que assombra seus
pensamentos e desperta sentimentos que o homem tanto luta para suprimir.
Na batalha entre obrigação e desejo, será a razão capaz de definir o
que é certo e errado?
Copyright © 2018 Joane Silva
1ª Edição

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer
meio ou forma sem a prévia autorização da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Agradecimentos
Palavras nunca serão suficientes para expressar a alegria de ver um
projeto como esse tomar as proporções que tomou e chegar até aqui.
Na árdua caminhada, é necessário saber que existem pessoas que
acreditam e torcem pelo meu êxito e realização de um sonho e foram essas
pessoas que me fizeram crer que seria possível. Para esses seres humanos
deixo aqui o meu agradecimento e minha eterna gratidão.
Ao autor e consumador da minha fé, pois, sem a sua presença nada
disso seria possível.
Minhas irmãs, Ana Paula e Polliana, que sempre me deram forças e
acreditam nos meus sonhos.
Meus sobrinhos, Victor e Artur, razões dos meus melhores sorrisos.
Meus queridos pais, Ana e Paulo, por tudo. Aqui não cabe citar a
importância de vocês na minha vida e na luta pelos meus objetivos, faltariam
linhas.
Com carinho, Joane Silva.
Sumário
Prólogo
Meu
Responsabilidade
Presente
Pego de surpresa
Sangrando
Perdas
O Tutor
Mudanças
Papai
Seus braços
Entrega
Intrusos
Acertos
No lugar do outro
Pratos limpos
Castigo
Um só
Cuidado
Fogo
Implicância
Bônus – Ângela
Academia
Rapidinha
A recepção
Leoa
Burburinho
Surpresa
Tudo que preciso
Compromisso
Chantagem
Tic-Tac
Distante
Sem saída
Sozinha
Saída
Água fria
Pazes
Descoberta
Plano
Cena
Por telefone
Por trás
Futuro
Pesadelo
Confidências
Trunfo
Fúria
Oficial
Noivos
Não durma
Resista
Por você
De volta
Matando a saudade
Relembrando
Caindo a ficha
Passado
Frustrado
O grande dia
Fugidinha
Eu e você
Para sempre
Epílogo
Prólogo
— Era isso que você queria, não era? – digo, ao imprensá-la contra a
porta da nossa casa. — Você vai me pagar muito caro por ter deixado aquele
merdinha te tocar, porra... – falo, cada vez mais irritado e excitado ao sentir o
calor de sua boceta pressionando meu pau dolorido de tesão.
— Era isso sim, tio – sussurra no meu ouvido, aproveitando para
chupar o lóbulo da minha orelha. — Queria te ver provando do mesmo
veneno que eu. Eu nunca suportei te ver rodeado de putas. A vontade que eu
tenho é de arrancar os cabelos delas com minhas próprias mãos, para que
saibam que você é meu, só meu – assevera, com convicção, enquanto eu
chupo seu pescoço avidamente. Meu Deus, o que essa menina tem para me
tirar tanto dos eixos? Perto dela, me sinto como um garoto de vinte anos e
não como um de homem de quase quarenta.
— Quero deixar uma coisa bem clara aqui, menina: nunca mais, tá
entendendo? Nunca mais repita coisas como essa. Se eu sonhar que deixou
algum desses moleques te tocar, eu acabo com ele e com você também –
digo, ao dar um tapa na banda esquerda de sua bunda, fazendo com que ela
dê um gritinho de susto. — Você é minha e só eu posso beijar essa boquinha
safada. Só eu posso comer essa bocetinha quente – encerro, completamente
dominado pelo tesão.
— Sim, sim – grita, ao me sentir bombear o pau no seu sexo, que de
tão molhado, melou meu jeans escuro.
— O que quer que eu faça primeiro, hum? – pergunto, ao levar minha
mão para baixo do seu vestido e afastar sua pequena calcinha para o lado,
dando-me acesso à sua intimidade pulsante. — Me diz o que você prefere,
meu amor. Quer meu pau aqui – coloco apenas a ponta do meu dedo
indicador dentro da sua bocetinha. — Ou você prefere começar por aqui? –
levo minha mão à sua bunda, acariciando de maneira cadenciada seu
buraquinho apertado.
Meu
Marina

— Amiga! — pulo de alegria e saio puxando Ângela pelo braço,


tirando-a do jardim da mansão que, no momento, encontra-se rodeada de
adolescentes bêbados e felizes. Hoje estamos comemorando meu aniversário
de 16 anos, e igualmente aos anos anteriores, meu pai permitiu que eu
oferecesse uma festa para meus colegas do colégio. E aqui estamos nós. Para
onde quer que se olhe é possível vislumbrar pessoas comendo, bebendo e se
divertindo. Tudo sendo bancado por mim; a menina mais rica e popular do
colégio. Longe de mim querer ser convencida, mas sei o poder que tenho,
seja por minha beleza, seja por minha personalidade carismática e dominante,
coisa que nem sempre traz bons frutos. Não foram poucas as ocasiões em que
fui alvo de meninos maliciosos e garotas invejosas que se sentiam ameaçadas
por minha mera presença em uma conversa. Mas não se engane com tudo
isso, apesar do que possa parecer e de às vezes eu mesma demonstrar isso, eu
não sou essa menina fútil e vazia que todos pensam. Não dou a mínima para a
opinião desse povo ao meu respeito, aliás, tem somente uma pessoa que me
importa e é justamente ela quem, inesperadamente, acabou de chegar para
deixar minha festa mais interessante. — Não estou acreditando! Olha só
quem acaba de chegar. O gostoso do Erick — digo, empolgada ao avistar seu
carro adentrar a garagem.
— Marina, por favor! Qual o seu problema? Eu sei que ele é um cara
lindo, sexy, gostoso e que basta um único olhar pra notar isso. Mas você já
está me assustando com essa sua fixação por esse cara. Caia na real, amiga —
percebo que ela já está brava. Sei que tenho enchido sua cabeça de tanto falar
da minha paixão, mas, o que posso fazer se o Erick é meu sonho molhado
desde que soube diferenciar o que é um pau de uma perereca? Além disso,
para quem iria contar, senão para minha melhor amiga? Não é como se eu
fosse sair por aí falando para qualquer um que tenho uma tara por um cara
que tem idade pra ser meu pai e que, além disso, é o melhor amigo do
próprio. — Sei que te falei milhões de vezes os motivos pelos quais isso
nunca dará certo, mas vamos lá de novo, porque parece que minha linda
melhor amiga é surda — reviro os olhos ao ouvi-la recomeçar a ladainha de
sempre. Eu já ouvi tanto os seus argumentos que até decorei.
— Pra começar, ele é tão mais velho que tem idade pra ser seu pai.
— O fato de ele ser mais velho não importa, não tenho qualquer
preconceito quanto a isso. Olha só pra ele, me diz se não é um tesão —
argumento, o observando sair do carro.
— Não me interrompa — brinca ela. — Continuando: Ele é o melhor
amigo do seu pai, pelo menos isso tem que ter alguma importância pra você.
E, pelo que me falou, ele frequenta essa casa desde que a senhorita ainda
usava fraldas — nisso ela tem razão. Mas procuro jogar esse pensamento para
o fundo da minha mente. Não quero lembrar o tempo em que ele me
enxergava e me tratava como sua bonequinha. — O que me lembra o mais
importante disso tudo: VOCÊ NÃO TEM CHANCE COM ELE, MARINA
— jogou os fatos na minha cara. Nada que me abale, até porque isso nunca
me impediu antes. — Quando não está te ignorando, está te tratando
friamente, e eu sei que isso te machuca. Será que não é melhor parar com
essa loucura? Temo que um dia isso possa te machucar de verdade.
Por um momento, sinto o peso de suas últimas palavras. Não sei o que
será de mim se ele realmente não me quiser. Não sei o que fazer sem sua
presença em minha vida. Temo o dia em que ele vai se aquietar e querer
formar uma família, e, se for para levar em conta a sua idade, o temido
momento não está longe de chegar. É uma pena eu não permitir que isso
aconteça.
— Obrigada pelos conselhos, querida, mas estou careca de ouvir
motivos. Nada me importa além dele. O Erick vai ser meu e não vou deixar
ninguém atravessar o caminho até ele. Sei que pensa que é loucura, mas sinto
que ele tem sentimentos por mim, eu sinto como seu corpo reage à minha
presença, apesar de ele negar.
— Marina só não quero...
— Chega disso, Ângela — interrompo o reinício do discurso. — Olha,
lá vem ele — olho em sua direção, sentindo um frio na barriga.
Se prepare, Erick, hoje você não me escapa. Vai ser meu.
Sinto minhas mãos suadas e meu corpo trêmulo ao vê-lo parar a minha
frente.
Responsabilidade
Erick

— Minha princesa, feliz aniversário — abraço a linda garota que vi


crescer. Parece que foi ontem que vi ela vindo com seus passos cambaleantes
em minha direção a cada vez que eu aparecia na porta de sua casa.
— Você sabe que não gosto de festas, né? Só vim hoje porque seu pai
me intimou, diz ele que tem um assunto urgente a ser tratado comigo —
justifico, observando sua reação decepcionada ao notar que não foi o motivo
do meu comparecimento no dia do seu aniversário. — Ei! Não fica assim,
amanhã você terá o seu presente, é nosso dia especial, lembra? — tento tirar a
expressão triste do seu rostinho de boneca, minha boneca.
— Que alívio Erick, achei que você tinha esquecido disso — ela me
abraça de supetão, e sinto meu corpo retesar quando ela beija a canto da
minha boca.
— Quantas vezes eu falei pra você parar com isso, menina? — seguro
seus braços, afastando-a de imediato. Não gosto nada da inédita reação do
meu corpo ao seu toque malicioso. Um ano atrás, quando senti que os
sentimentos de Marina por mim estavam se transformando, decidi não dar
muita importância, até porque uma menina de quinze anos e com os
hormônios em ebulição, não ofereceria nenhum perigo para um homem
vivido e experiente como eu. No entanto, já fazem alguns meses que essa
crescente fixação da menina vem me causado preocupações, o que é uma
pena, já que a cada dia que passa sinto como se estivesse pisando em ovos ao
estar do seu lado. O medo de que qualquer ato meu possa parecer um sinal
positivo aos seus avanços tem me posto mais irritado e sendo muitas das
vezes estúpido com a bonequinha.
A pior parte nisso tudo é o fato de eu não ser totalmente imune à sua
presença. Sinto nojo de mim mesmo ao me pegar olhando-a enquanto toma
sol à beira da piscina, ou quando reajo tão grosseiramente às suas investidas.
Que tipo de homem eu sou? Sinto-me mal apenas em desconfiar que possa
sentir tesão por uma menina de dezesseis anos, que praticamente vi crescer.
Sem esquecer-se de acrescentar o mais grave dessa história toda: ela é filha
do meu sócio e melhor amigo, ou seja, isso tem que acabar!
Tenho que destruir essa ilusão da minha menina, ela não pode pensar
que está apaixonada por mim ou ter a esperança de que algum dia essa
estranha relação entre nós se transforme em um caso amoroso. Preciso me
afastar dela. É isso, vou falar com João o que anda se passando entre a gente
e pedir que ele de alguma forma nos afaste, sem que eu tenha que lhe magoar
– isso eu não suportaria.
— Isso o quê? — diz, fazendo um biquinho inocente com sua boquinha
rosada. — Nem um abraço de parabéns eu posso te dar? Qual o seu
problema? — faz cara de ofendida em sua indagação, como seu eu não
conhecesse sua tática de sedução, tão sutil quanto uma manada de elefantes
em uma loja de cristais. Não que sua imaturidade para o flerte ajude em algo
na minha situação, pelo contrário, sua inexperiência apenas me deixa mais
possessivo com ela. Não consigo imaginar qualquer um desses moleques
cheios de hormônios com as patas em cima dela.
— O problema, boneca, é que nós dois sabemos que isso não foi
apenas um abraço, pelo contrário, de inocente ele não teve nada — digo,
dando uma batidinha com o dedo indicador em seu narizinho arrebitado.
— Onde vamos amanhã, Tio? — faz a pergunta provocante. Nada que
já não tenha feito antes; ela primeiro provoca e depois me ataca lembrando
nossa diferença de idade ao me chamar de tio. — Nada de restaurante caro.
Quero que seja algo especial de verdade, um lugar só nosso — pede,
enquanto passa a mão em meu peito por cima da camisa social.
— Não se preocupe com isso, meu anjo, apenas fique bem linda que eu
cuido do resto — nisso estou sendo sincero, pretendo ter um dia agradável ao
lado dela, afinal, não sei como serão as coisas entre nós daqui para frente.
Preciso me manter firme e fazê-la entender que esse lance nosso, seja lá o que
isso for, não pode continuar.
— Tá bom — diz, com uma animação contagiante. — Não vejo a hora
de ser logo amanhã.
— Ok, princesa, agora deixa eu falar com aquele velho ranzinza —
brinco, referindo-me ao seu pai, meu sócio e amigo mais próximo. O que me
leva a perguntar a razão de ele me chamar na sua casa em pleno domingo à
tarde.
Ao entrar, encontro João sentado em volta de uma pilha de papéis. Essa
é a vida dele desde que sua esposa o abandonou quando Marina ainda era um
bebê. Argumentando ser ainda muito nova pra ficar presa dentro de casa, a
megera foi embora sem nem olhar pra trás, e desde então nunca mais se ouviu
falar na criatura. Espero que assim continue; eu e João fizemos nossa
princesa acreditar que a mãe morreu quando ela era recém-nascida, e nisso
ela acreditou até completar idade suficiente para querer saber o motivo da
morte da mãe. Sem saída, meu amigo acabou por confessar o abandono.
Como era ainda muito nova, Marina não sentiu tanto a perda quanto sofreria
se fosse mais velha, ela simplesmente aceitou e nunca mais tocou no assunto.
— Será que nem no aniversário de sua filha você deixa os negócios de
lado, cara? — pergunto, sem, no entanto, esperar pela resposta. — Acho que
nosso escritório traz lucros mais que suficientes para permitir que você
desfrute um domingo com Marina.
— Acho comovente essa sua preocupação com minha filha, Erick, sei
que você gosta muito dela, mas acho que não preciso te lembrar que eu sou o
pai, né? — se ele soubesse a realidade da minha relação com sua filha, não
estaria enciumado com a ideia de que queira tomar seu lugar de pai.
— Eu sei, meu amigo, até porque não tenho idade para ser pai dela —
brinco, descontraindo o ambiente. É claro que tenho idade pra isso, tenho
trinta e quatro anos, seis a menos que ele.
— Sem gracinhas, Erick, o assunto aqui é sério — olho em seus olhos
e começo a me preocupar com o que vejo neles.
— O que seria tão sério que fez você me tirar de casa em pleno fim de
semana? — indago, já aguardando a bomba.
— Você sabe que desde que a Cristina nos abandonou, a única pessoa
que eu e minha filha temos é você.
Isso é verdade; João não confia em muitas pessoas, não depois do que
sua esposa fez. Eu, no entanto, sou o mais próximo de família que eles têm e
sei que ele confia em mim.
— Sei, sim, meu amigo. Mas diga logo o porquê disso aqui.
— Não é nada demais — diz ele. — Eu apenas estive pensando em
algo, e percebi que minha filha não pode ficar desamparada, caso algo me
aconteça antes dos seus vinte e um anos.
— Nunca pensou porque você tem a saúde de ferro e vai viver por mais
uns sessenta anos.
— Pode ser, Erick, mas eu não posso arriscar assim com a vida dela,
entende? — compreendo sua preocupação, sei que apesar de viver
trabalhando, meu amigo ama muito sua filha.
— Claro que te entendo, e onde eu entro nisso tudo? — tenho medo da
resposta.
— Eu quero que você me prometa que irá cuidar dela, no caso de algo
me acontecer e por um acaso eu vier a lhe faltar. Preciso saber que minha
menina não estará sozinha, faz isso por mim, Erick? — olho para ele, sem
acreditar no que acabei de ouvir.
— Pare de falar besteiras, homem, nada vai te acontecer. Você mesmo
cuidará dela, até que se torne independente.
— Quero que me prometa só isso, do resto eu cuido — vejo seu olhar
suplicante. O que está acontecendo com ele?
— Eu prometo, João, cuidarei dela com a minha própria vida, se um
dia ela precisar. E vamos mudar essa conversa, porque não tem nenhum
sentido, você tem saúde pra dar e vender. Vá, saia daí. Vamos nos divertir um
pouco com aqueles garotos lá fora.
Inferno, subi disposto a contar-lhe como andam as coisas entre eu e sua
filha e acabei com uma promessa de cuidar da própria. Espero que isso nunca
aconteça.
Pelo visto, eu mesmo terei que tomar minhas providências.
Presente

Marina

— É hoje, Brasil! — pulo da cama logo cedo. É hoje que Erick vai
conhecer a verdadeira Marina. Não que eu espere que ele vá beijar minha
boca e declarar amor eterno. Posso ter acabado de completar dezesseis anos,
mas a falta de noção característica da maioria dos adolescentes não faz parte
da minha personalidade. Tenho consciência da minha idade e do fato de ele
ser um homem maduro, de trinta e quatro anos.
Preciso fazê-lo entender que os sinais mandados durante esses meses
não são uma ilusão ou apenas joguinhos de uma adolescente deslumbrada
pela ideia de se relacionar com um homem mais velho. Quero apenas deixá-
lo consciente da veracidade do que sinto, que me dê a esperança de um dia,
quando a barreira da diferença de idade não tiver um peso tão grande,
possamos nos relacionar da forma que sonho desde meus quinze anos. Não
quero que ele me veja como uma menina boba, a filha do seu melhor amigo,
e sim como a mulher que será a mãe dos seus filhos, um dia.
Já que madruguei, dedico as primeiras horas da manhã para ficar linda
para o encontro. E como necessito ser notada por ele, visto-me com roupas
mais ousadas e pouco recomendadas para uma adolescente. No rosto, a
maquiagem escolhida em nada lembra o rosto da criança que ele insiste em
enxergar. Tenho certeza de que seria facilmente confundida com uma mulher
de, no mínimo, vinte anos.
Que bom! É isso que eu quero.
Preciso que ele vislumbre minha imagem aos dezoito; que entenda que
não serei para sempre uma adolescente.

— Erick — algum tempo depois, desço as escadas, correndo ao seu


encontro. — Estava em cólicas te esperando — digo, ao lhe tascar um beijo
no pescoço.
— Oi, princesa, eu prometi que vinha, não foi? — isso é verdade. Esse
tem sido nosso ritual desde que me entendo por gente.
Como não é lá muito chegado à festas como as minhas, ele deixa para
comemorarmos meu aniversário no dia seguinte.
Sempre atencioso, prepara uma surpresa diferente todos os anos; além
dos presentes especiais, que guardo como um tesouro em meu quarto.
— Espero que esteja preparada para o passeio, minha linda. Tenho
certeza de que será inesquecível — fala num tom presunçoso. O que não
deixa de ser verdade, já que, provavelmente, seja ele a segunda pessoa que
mais me conhece. A primeira é papai.

Depois de uma longa viagem, chegamos a uma linda reserva florestal.


Há árvores enormes por todos os lados; a grama verde e bem aparada dá uma
aparência cuidada ao local e, ao ficarmos em silêncio, é possível ouvir o
barulho da cachoeira ao fundo.
— Que lugar lindo, Erick — lhe abraço, emocionada. — Isso aqui é o
paraíso, muito obrigada por me apresentar.
— Por nada, princesa, você já deveria saber que te conheço o suficiente
pra saber que prefere vir aqui a ter que ir a um restaurante sofisticado.
— Tem razão — abro os braços e inspiro o ar puro do local. — É disso
que eu gosto. A simplicidade da natureza; a grama úmida sob meus pés, o
barulho da cascata — fecho os olhos, sentindo o vento balançar meus
cabelos.
— Então venha, meu amor — me puxa. — Olha aquilo ali — aponta
para um local um pouco mais adiante.
Quando avisto a surpresa, entendo o porquê de amá-lo tanto. Ali, sobre
a grama fresca, repousa uma toalha xadrez em tons de azul e branco. Sobre
ela, estão diversos tipos de alimentos, que vão desde pequenos pedaços de
bolos acompanhados de jarras de sucos, até diversos tipos de doces. Ali tinha
comida para um batalhão. No entanto, o que mais chama a minha atenção no
cenário são os vasinhos de girassóis que enfeitam o local. Até nisso ele
prestou atenção.
— Você não existe. De todas as surpresas que já fez, essa está sendo a
mais linda. Obrigada — digo, deslumbrada com sua iniciativa, pois sei que
não gastaria seu precioso tempo preparando isso para alguém que não fosse
importante em sua vida.
— Espero que goste do nosso café da manhã. Como não sei do que
gosta, trouxe um pouco de tudo — justifica-se.
— Está perfeito, vamos? — seguro sua mão, indo em direção ao nosso
piquenique. Hoje, sinto-me mais feliz do que me lembro de ter estado um dia.
E assim continuo durante as várias horas que se seguem. Depois de
comermos, vamos explorar o paraíso. Sentamos em cima de uma pedra e
passamos um tempo conversando sobre nossas vidas. Descubro com um
imenso alívio que ele está solteiro. Não que eu acredite que isso seja uma
verdade absoluta. Sei que tem seus casinhos sem compromisso. Erick é um
homem viril e que provavelmente não vive sem sexo. Também lhe conto que
pretendo ser fotógrafa e que provavelmente iniciarei um curso
profissionalizante em alguns dias. Coisa que tanto ele quanto papai
entenderam muito bem. Afinal de contas, é difícil imaginar-me trancada
durante horas em um escritório de advocacia, assim como eles fazem. Eu
respeito muito a profissão e o império que construíram, apenas não quero o
mesmo para mim.
Durante todo esse tempo, o sinto relaxar como nunca antes. Nesses
momentos, sinto como se nossas diferenças não existissem, como se
falássemos de igual para igual e não como um homem e uma adolescente.
Já no final do dia, por volta das 18h, voltamos de mãos dadas para
onde fizemos nosso piquenique.
— Nossa, estou exausta — digo, sentando com as pernas cruzadas em
cima da toalha xadrez. — Mais uma vez, obrigada, Erick. Esse com certeza
será lembrado como um dos melhores dias da minha vida.
— Isso não foi nada perto do que eu seria capaz de fazer por você,
princesa. E tenha calma que a verdadeira surpresa ainda não acabou — diz,
discando em seu celular.
— Pode trazer, Jorge — pede misteriosamente para o motorista.
— Trazer? O que você está aprontando?
— Calma, menina. Deixa de ser curiosa. Olha lá, seu presente está
vindo — olha na direção de Jorge, que se aproxima com uma caixa pequena
nas mãos.
— Aqui está, chefe — entrega a caixa.
— Obrigado, Jorge, já pode ir. Deixa que conduzo o carro agora na
volta.
O homem entrega as chaves e sai na direção oposta.
— Espero que goste — entrega-me a caixa, que não pesa quase nada.
— Que coisa fofa, Erick! — digo, ao tirá-lo da caixa apertada. — Meu
Deus, que amor — beijo a cabecinha do filhote de gatinho. O animalzinho é
pequeno e tem a pelagem branquinha como a neve. Os olhos são azuis como
o céu em dia limpo.
— Gostou? Quis te presentear com algo que ainda não tinha e que
tivesse um valor especial para nós dois, minha linda — olha intensamente em
meus olhos ao acariciar a cabecinha do nosso filho.
— Tá, mas não pense que serei mãe solteira, não. Você também terá
responsabilidades com ele, já que será o pai.
— Pai? — diz, surpreso
— Sim. Pai — digo, divertida. — Tá vendo, Floquinho de Neve? Sou a
mamãe e esse homem com cara de mau é seu papai.
Levanto o olhar e ele retribui de forma intensa. O clima que se instalou
entre nós é quase palpável. Não conseguindo conter os sentimentos
sufocantes, aproximo-me mais um pouco e falo sem pensar:
— Eu te amo, Erick...
Pego de surpresa

Erick
— Eu te amo, Erick — diz ela, bem próxima, olhando em meus olhos.
Fico momentaneamente lhe encarando, sem saber como reagir. Apesar de
saber desde o início das ilusões que ela vem tendo sobre nós dois, ouvi-la
dizer assim, tão diretamente, me assusta como o diabo.
— Eu também te amo, princesa — digo, passando a mão em seu
rostinho de menina. — Você é como se fosse minha família. Seu pai é um
irmão e você é praticamente minha sobrinha – minto.
— Não sou sua parenta, tá me entendendo? — diz, enfurecida, tirando
bruscamente minhas mãos do seu rosto. — Não sou uma criança e muito
menos sua sobrinha. Sou mulher formada, será que você não percebe isso? —
fala, emotiva, em mais uma rápida mudança de humor – característica
marcante de uma imaturidade nada incomum em meninas da sua idade.
— Pra mim, você sempre vai ser aquela garotinha que vi crescer —
reforço. Mas já não a vejo assim há um bom tempo. Até mais tempo do que
seria o recomendado. Para ser bem sincero, Marina tem deixando meu sangue
quente apenas por respirar ao meu lado, fato que não tem me deixado dormir
à noite. Sinto-me sujo a cada pensamento impuro que tenho a seu respeito.
— Garotinha? Então que tal isso? — pergunta, ao abrir os botões de
sua camisa, que outrora ostentava um decote pouco indiscreto. — Isso te
parece adulto o suficiente? — termina de abrir os botões e abre as duas partes
da blusa. No mesmo instante, sinto o fôlego me faltar. Diante dos meus olhos
está a constatação final de que ela realmente cresceu. Escondido sob o sutiã
de renda preta, estão seus lindos seios, que têm o tamanho ideal para segurá-
los em minhas mãos. Eles ostentam algumas pequenas sardas que fazem
minha boca salivar por vontade de beijar e lamber cada sinal ali exposto.
Foco, Erick! Foco!
— Qual é o seu problema? Ficou louca? É assim que você age nas
festinhas, com seus amiguinhos? Mostrando o corpo como uma vadia? —
digo, e sinto o forte tapa da sua pequena mão no meu rosto.
Ao ver seus olhos marejados me encarando, percebo que exagerei em
minhas palavras.
A única justificativa que tenho para essa atitude exagerada é o fato de o
ciúme me corroer por dentro, somente por imaginá-la fazendo isso com
outros. Não quero que ninguém ponha os olhos compridos nela. Sei que isso
não é certo, uma vez que não tenho a intenção de reivindicá-la. Porém, essa é
uma coisa que não consigo controlar.
— Nunca mais me ofenda dessa maneira. Você não tem ideia do que
está falando. Não entende que eu te amo? Me magoa muito ouvi-lo falar
assim. Eu sou uma mulher e quero ser a sua mulher — coloca as duas
mãozinhas em meu peito, indo direto ao ponto.
— Não, Marina, você não me ama. Isso aí é apenas coisa da idade,
daqui a algumas semanas estará apaixonada por um garotão e nem lembrará
desse velho aqui — sinto uma dor apenas em imaginar isso acontecendo, não
quero pensar nela com outro.
— Isso nunca, pra mim só existe você. O que sinto não vai passar. Sei
que não podemos ter nada agora, mas queria que prometesse me esperar. Que
quando eu for maior, nós poderemos ficar juntos como um casal — pede,
com os olhos em expectativa.
— Já disse que não. Para com isso, menina. A idade é o de menos, até
porque você vai envelhecer. O que eu não quero é trair a confiança do meu
amigo. Jamais me perdoaria se perdesse a confiança do seu pai — digo,
tirando suas mãos do meu peito.
— Esquece isso, Erick, ninguém precisa saber, só a gente — diz, com o
rosto tão próximo que sinto seu hálito doce em meu rosto.
— Marina, eu... — seguro seus ombros, na tentativa de afastar seu
calor sedutor.
— Não pense, Erick, apenas sinta — segura minha cabeça e cola sua
boca na minha.
É nesse momento que sinto minha vida sair de foco. De repente, sem
ao menos esperar, vejo-me com os lábios colocados na garota que vi crescer,
minha menina. E que Deus me perdoe, mas que boquinha gostosa.
Se a sensação de ter seus doces lábios juntos aos meus é
indescritível, imagina como seria tê-la por inteiro sobre meu corpo. Sinto ela
meio insegura ao movimentar a boca desajeitadamente, o que faz meu pau
subir a meio mastro, somente pela certeza de que nem ao menos sua boca
pertenceu a outro homem. Sou o primeiro, e que Deus me ajude, mas quero
ser o primeiro em tudo. Ensiná-la a me dar e receber prazer.
Já ao ponto de perder completamente o controle, em vias de arrastá-la
rumo ao local mais reservado do parque, decido tomar as rédeas da situação.
Separo sutilmente nossas bocas e, olhando em seus olhos anuviados de
desejo, digo:
— É assim que se faz, bebê — colo novamente nossas bocas e vou
entreabrindo seus lábios macios com a ponta da minha língua, até tê-la
completamente dentro, e assim, com movimentos lentos e calculados,
consigo-a totalmente entregue. Timidamente, Marina começa a imitar meus
movimentos, passando a sugar minha língua para dentro de sua boca.
E nisso, não sei se passaram-se segundos, minutos ou horas. Quando
dou por mim, nós dois estamos nos agarrando no meio do parque como dois
loucos, em uma confusão de dentes e línguas que seria descrito como
atentado violento ao pudor por uma pessoa mais conservadora que nos visse
assim. O filhote? Não sei onde foi parar. Só sei que nos braços dela não está,
já que tem suas mãos ocupadas, tentando arranhar minhas costas com suas
unhas afiadas. A parte mais alegre na minha anatomia encontra-se sufocada
entre nossos corpos, tão juntos quanto é humanamente possível.
Minha nossa, preciso entrar nela, preciso marcá-la como minha,
penso, ao soltar sua boca e dar pequenos beijos e lambidas em seu pescoço
perfumado.
— Vamos sair daqui, Erick, preciso de você — diz, rouca de tesão. —
Me faça sua, sei que você quer isso.
Quero, quero muito isso. É tudo o que eu mais quero nesse momento.
Espera um pouco, eu estou mesmo caindo na armadilha de uma
adolescente? Ela está claramente tentando me seduzir; e eu, fraco com sou,
quase me deixei sucumbir ao desejo, esquecendo todas as razões para isso ser
errado.
— Não, Marina, para com isso. Não podemos continuar. Me perdoe se
dei essa impressão — digo, virando-me de costas. Ela não pode perceber o
quanto está sendo difícil falar isso.
— Para de mentir pra mim e pra você mesmo. Eu sei o que senti nesse
beijo e em seu corpo, Erick. Vi que me deseja tanto quanto eu te quero.
— Não, foi apenas um momento de fraqueza que não vai mais se
repetir.
— Mentira, você está mentindo — abraça-me por trás, deitando sua
cabeça em minhas costas. Tremo, com medo de ela sentir as batidas
frenéticas do meu coração, entregando meus verdadeiros sentimentos.
— Para com isso, menina, não quero te magoar — solto suas mãos da
minha cintura e viro-me para encarar seu rosto. — Você precisa de um rapaz
da sua idade e não de um homem que não pode te dar o que você procura —
Deus! Como me dói dizer isso. Meu coração parte ao ver seus olhos
marejados.
— Não acredito em você, seu corpo não mente — fala,
maliciosamente, olhando minha ereção. — Me leva daqui, sim? Quero que
seja meu primeiro e último homem — agarra-me novamente e tenta me beijar
outra vez.
— Já chega — seguro seus pulsos firmemente. — Eu quis fazer isso da
melhor forma, mas você não me dá outra escolha — sofro com o que virá a
seguir. — Eu não te quero, tá me ouvindo? Acha mesmo que eu me prenderia
a uma pirralha mimada como você? Eu posso ter a mulher que eu quiser e
não me contentaria com a filha do meu amigo, que ainda fede a leite — jorro,
cruelmente. — E sabe do que mais? Eu nunca gostei realmente de você.
Sempre tive pena da pobre menininha rejeitada pela mãe, você me cansa —
despejo, até ser interrompido por um novo tapa no rosto.
Em seus olhos, vejo uma dor que não sei se um dia conseguirei
esquecer. Eles se esvaem em lágrimas, quando pouco a pouco vão mudando
para uma frieza que me assusta.
— Entendi — diz, pausadamente, ao limpar o rosto. — Finalmente me
fez enxergar. E não se preocupe, nunca mais será obrigado a olhar pra uma
pessoa que tanto detesta.
— Como assim, nunca mais? — vira-se de costas, indo em direção à
entrada do parque, mas não sem antes pegar o filhote na grama.
— Marina, volte já aqui, porra! — grito, mas sem sucesso.
— Jorge, vá atrás dela, por favor — ligo imediatamente. — Não a
perca de vista.
Meu Deus, o que foi que eu fiz?
Sangrando
Marina

"Eu não te quero, tá me ouvindo? Acha mesmo que eu me prenderia a


uma pirralha mimada como você? Eu posso ter a mulher que eu quiser e não
me contentaria com a filha do meu amigo, que ainda fede a leite...".
"Eu nunca gostei realmente de você. Sempre tive pena da pobre
menininha rejeitada pela mãe, você me cansa...".
Coloco as mãos nos meus ouvidos, na fracassada tentativa de calar a
voz cruel de Erick ao me falar todas essas coisas. Meu Deus, como pude ser
tão burra? Me iludi ao ponto de não notar que, além de não me querer como
mulher, ele nunca gostou de mim. Sempre me viu como a pobre menina sem
mãe.
Corro, e continuo correndo até sentir uma mão me segurar pelo ombro.
Olho para trás, com a tola esperança de ele ter vindo atrás de mim.
— Senhorita Marina, o chefe pediu pra levá-la pra casa. Entra no carro,
por favor – pede, com um olhar suplicante, e eu vejo Floquinho nos seus
braços.
— Não, eu não vou entrar nessa porcaria. E faça um favor pra mim?
Manda ele ir se foder. Que nunca mais me procure. Acabou! – sentencio
duramente, antes de ver um táxi se aproximando. Dou sinal ao taxista, pego
meu filhote e embarco, deixando para trás esse capítulo da minha vida.
— Que filho da puta – esbraveja Ângela, depois de ouvir tudo o que
Erick me falou.
— A culpa é minha, amiga. Eu que não devia ter me iludido dessa
forma. Burra, burra, burra – é assim que me sinto. Meu coração está
sangrando com as coisas duras que ouvi dele. Esse homem não é o mesmo
que conheço e aprendi a amar quando nem mesmo sabia andar. Lembro-me
das tardes de domingo, quando, no auge da minha inocência, saía correndo ao
seu encontro. Quando ele amorosamente me dava toda a atenção possível.
Tinha uma paciência invejável com a criança pegajosa que devo ter sido.
E tudo isso para quê? Para depois de tantos anos descobrir, da forma
mais cruel, que nada disso foi me dado espontaneamente, que cada carinho
dado a mim foi fruto de um sentimento de pena. Choro ainda mais ao
relembrar.
— Para já com isso, Marina. Sei que deve estar doendo muito, mas
você não pode ficar chorando por esse homem escroto. Homem não,
moleque! Como ele pôde lhe dizer tanta crueldade?
— Não fala assim, Ângela, ele simplesmente teve a coragem de abrir o
coração e falar o que pensa. Imagina o quão difícil deve ter sido aguentar
uma pessoa como eu durante todos esses anos – deprecio-me como só uma
pessoa que acabou de ser rejeitada é capaz de fazer.
— Cala essa boca, Marina – levanta furiosa da minha cama, onde
estávamos deitadas desde que lhe liguei chorando e pedi para ela vir me ver.
– Para de se colocar pra baixo. Você é linda, amiga. Será que não percebe
isso? Olha como ficam os caras do colégio quando estão na sua frente. Se ele
não consegue ver a mulher maravilhosa que está perdendo, o problema é
dele, tá me ouvindo? – ouvir minha amiga é sempre um conforto. Dona de
uma beleza natural, Ângela tem a seu favor o fascínio que me acusa exercer
sobre os garotos do colégio. E se tem uma pessoa que merece ter o melhor
dessa vida, essa pessoa é a Ângela.
— Obrigada, querida – sento-me, na tentativa de secar as lágrimas que
insistem em continuar descendo. – Não sei o que faria sem você. Muito
obrigada, te amo – dou-lhe um abraço emocionado.
— Para de ser boba – afasta nossos corpos a fim de secar meu rosto. –
Bora, vamos sair desse quarto e curtir uma balada. É disso que você precisa.
Vamos ficar bem gostosas e pegar uns gatinhos, quem sabe não é hoje que
você tira a teia de aranha dessa periquita – solto um risinho ao ouvi-la. Só
Ângela mesmo para me fazer sorrir em um momento como esse.
— Tá bom, sua doida, me deixa escolher um look aqui – estou
dirigindo-me ao closet quando ouço alguém bater na porta do meu quarto.
— Pode entrar – grito, distraída.
— Sou eu, senhorita – escuto a voz de Márcia, minha antiga babá e
agora governanta da casa.
— Oi, Bá, aconteceu alguma coisa com papai? Ele tá bem? – pergunto,
preocupada.
— Não, minha menina, seu pai tá bem – diz, apreensiva.
— Então o que houve, Bá?
— O senhor Erick está lá embaixo pedindo pra falar com a senhorita.
Agora entendi sua apreensão. Márcia certamente deve ter visto meu
desespero ao chegar.
— E agora, Ângela, o que eu faço? – pergunto, incerta do que quero.
— Não, não se atreva a descer aquelas escadas, Marina – se apressa em
dizer. Afinal, acabei de encher sua cabeça com minha desilusão.
Eu queria ser forte como ela, pena que não sou. A verdade é que,
enquanto estou aqui lhe questionando sobre como devo agir, meu tolo
coração tomou a dianteira e decidiu por mim. E mais uma vez meu lado
racional levou a pior nessa disputa.
— Desculpa, amiga, mas eu tenho que descer e falar com ele – digo,
culpada, pois sei que ela não aprova minha atitude, não depois de ter dito
tudo que aconteceu entre nós dois. – Essa é a última vez, prometo!
— Vai logo, Marina, sei que não vai adiantar eu falar pra não ir.
— Volto num instante e a gente sai – dou um beijinho no seu rosto.
Saio correndo pelo corredor que dá acesso a escada, diminuindo o
ritmo ao alcançar os primeiros lances. Não quero que ele pense que estou
ansiosa pra vê-lo.
— O que quer aqui, Erick? Acho que já falamos tudo o que tinha pra
falar, não? – digo, assim que alcanço o último degrau. Assustado, Erick vira
de frente e me encara firmemente.
— Vim saber se você está bem. Me desculpa, Marina, não foi minha
intenção magoar você – ele só pode ser bipolar, não é possível que depois de
tudo que falou ele ainda tenha a cara de pau de vir pedir desculpas, como se
fosse fácil esquecer o que ouvi.
— Se era só isso, já pode ir embora – aponto o dedo na direção da
porta.
— Não! Antes você precisa me ouvir – assevera, em tom de desespero
e agarrando meus braços com uma força desnecessária. – Você precisa
entender...
— Larga meu braço, Erick, você tá me machucando – peço.
— Desculpa, linda, nem sei o que tá acontecendo – pede, com um olhar
meio perdido, e apesar de ter ficado muito magoada com suas palavras, seu
estado faz com que eu me questione se eu não peguei muito pesado na forma
como revelei meus sentimentos. Talvez ele ainda não estivesse preparado,
assim como eu também não estava pronta para sua rejeição.
— Acho melhor você ir pra casa, você não está bem, cara. É melhor
deixarmos tudo como está – digo, sem conseguir olhar nos seus olhos.
— Não. Você precisa entender – diz, tentando novamente me tocar. –
Me perdoa, nada daquilo é verdade. Eu te amo, minha princesa. Você nunca
foi um peso pra mim. A sua presença na minha vida foi um presente, trouxe a
luz que faltava ao meu dia a dia tão corrido e muitas vezes solitário – olha-
me, magoado ao ver eu me afastar de seu toque.
Nunca imaginei que um dia o veria tão vulnerável como o vejo agora.
— Você me magoou muito, Erick. Abri meus sentimentos e você
zombou deles.
— Eu sei. Me envergonho da forma como agi, precisava fazer você
entender.
— Entender? – interrompo, confusa.
— Sim, entender que uma relação amorosa entre nós dois nunca irá
acontecer. Entender que isso que você sente não é algum tipo de amor ou
paixão. Creio que apenas confundiu o afeto que sempre nos uniu com uma
atração física – diz, sem conseguir olhar dentro dos meus olhos.
— Chega! – falo mais alto do que deveria. – Sei que você acha que
minha idade governa meus sentimentos e pensamentos, mas está
completamente enganado. Eu sei o que sinto, você não vai me convencer do
contrário.
— Marina, por favor! Seja um pouco mais razoável – passa a mão
rudemente pelos cabelos, numa clara demonstração de nervosismo. Ele
sempre faz isso em situações extremas.
— Seja razoável você – perco de vez o controle. – E já que não
estamos nos entendendo quanto a isso, acho que é melhor nos mantermos
afastados por um tempo.
— Marina, por Deus, não faz isso... – dá um passo à frente ao mesmo
tempo em que dou um para trás.
— Preciso disso, Erick, juro que não estou com raiva de você. Já
entendi tudo que você falou. Mas no momento, quero que entenda meu lado –
uma lágrima solitária cai do meu olho. Finalmente entendi que estava
vivendo uma ilusão.
— Marina...
— Saia, por favor – indico a porta.
— Tudo bem, mas não vou me afastar. Estarei por perto, como sempre
estive – fala com convicção, e sei que essa não é uma promessa vã, pois
mesmo que não seja da forma que eu quero, ele sempre estará presente.
— Tudo bem, faça o que quiser – viro-lhe as costas para não vê-lo ir
embora. Não posso fraquejar e implorar por seu amor mais uma vez.
— Adeus, meu anjo – ouço seus passos cada vez mais distantes.
Após ouvir o bater da porta, jogo-me no enorme sofá da sala, deixando
as lágrimas presas rolarem. Lágrimas amargas da perda de um amor
impossível, da perda de uma amizade.
Permito-me chorar e sofrer por ele pela última vez. Porque depois que
elas secarem, seguirei em frente, esquecendo que um dia nutri um sentimento
além de amizade por Erick Estevan.
Perdas
Marina

Um ano e seis meses depois...

— Ah, papai, quanta saudade – digo, enquanto toco a foto emoldurada


no seu túmulo. — O que será de mim sem o senhor? – choro copiosamente.
Passaram-se trinta dias e a dor que sinto hoje é a mesma que senti no dia em
que papai deu seu último suspiro. Depois de ter vivido todos esses anos sem a
presença de uma mãe, tranquei em minha cabeça a possibilidade de um dia
também ficar sem meu querido paizinho. E aqui estou eu, de joelhos perante
um túmulo frio e chorando sua perda.
Em seus quarenta e um anos de vida, papai sempre teve uma saúde de
ferro, não dando em nenhum momento sinais de que poderia um dia sofrer de
alguma doença mais grave, até o dia que em que foi parar na emergência por
causa de um súbito desmaio, e de lá nunca mais saiu.
Diagnosticado com câncer no pâncreas, meu pai passou quase um ano
lutando contra a morte, perdendo a luta no momento em que suas forças se
esgotaram e seu corpo, já cansado demais pra lutar, decidiu descansar.
— Te amo, papai – deixo uma única flor azul em cima da bela lápide.
— Virei sempre lhe visitar, tá? – passo a mão carinhosamente sobre sua foto
ao levantar-me.
— Ele estará olhando por você, tenha certeza – essa voz... — Agora
vamos para casa, anjo, você não está bem. Precisa descansar um pouco – diz
com a voz embargada.
— Erick? – viro-me, surpresa em vê-lo aqui. Sei que ele também está
sofrendo muito pela morte do amigo. A ligação que um tinham com o outro
era como a de irmãos de sangue ou até maior. Talvez a minha surpresa se
deva ao fato de não ter conseguido evitar esse encontro, assim como tenho
conseguido fazer durante todos os meses que se passaram desde a nossa
última conversa.
Em todas as ocasiões em que esteve em minha casa, seja em reuniões
de negócios ou nas visitas informais que costumava fazer a papai, evitei o
máximo estar presente. E nas vezes em que isso não foi possível, nos
portávamos como dois estranhos, eu principalmente. Não foram raras as
ocasiões em que ele tentou se reaproximar, seja com mais pedidos de
desculpas, seja tentando reaver a amizade e cumplicidade que um dia
tivemos. Um dia ele finalmente se cansou e passou a retribuir o mesmo
tratamento com o qual vinha sendo tratado. E assim tem sido nossa relação
desde então; ele olhando-me distante, quando achava que eu não estava
percebendo, e eu tratando-o apenas com a educação que a boa etiqueta pede.
Vendo-o aqui, nesse momento tão sofrido das nossas vidas, é que tenho
a real dimensão do quanto nosso afastamento me faz mal, do quanto a sua
perda ainda me corrói as entranhas. Deve ser esse o motivo de eu ter evitado
tanto sua tentativa de aproximação, não posso e não quero mais passar pela
dor que foi perdê-lo. Meu pai me deixou recentemente, mas o Erick, a
segunda pessoa que mais amei na vida, essa eu perdi há um bom tempo. E
espero que assim as coisas continuem. Sofri demais para sufocar esse amor
dentro do peito e não permitirei que ele reabra essa velha ferida.
E pensando bem, a única coisa que ainda me traz algum alento nessa
vida é o fato de não precisar mais ter que conviver com Erick, uma vez que a
única ligação que tínhamos era o papai. Pra mim, já foi o suficiente ter que
vê-lo durante todo esse mês desde a morte dele. Mas acho que isso acabou.
Hoje será lido o testamento e ele se livrará da responsabilidade de ter que
cuidar dos bens do amigo e de mim também.
Esse capítulo da minha vida se encerra aqui.
— Eu mesmo, vamos, meu anjo – com a mão estendida, chama-me
pelo apelido carinhoso, como nos velhos tempos.
Tem alguma coisa muito estranha nessa história. Não era para ele estar
curtindo sua liberdade depois de ter feito seu dever de sócio e melhor amigo?
O que ele ainda faz aqui, me chamando para sair com ele? Só pode ser louco!
— Como assim vamos? Você ficou louco? – perco a paciência de vez.
— Eu vou pra minha casa e você vai pro seu apartamento.
— Não, Marina, acho que você está enganada. Eu e você vamos para
nossa casa – diz, ironicamente.
— O que foi que você disse?

Erick
Quando João me chamou em seu escritório e me fez prometer cuidar de
Marina, caso um dia algo lhe acontecesse, eu aceitei sem muito relutar.
Afinal, além de não conseguir negar um pedido dele, também não pensei que
um dia teria de cumprir essa promessa. Seria absurdo pensar que um homem
tão jovem e bem desposto nos deixaria tão precocemente, antes mesmo de
sua filha completar a maior idade e ter total autonomia para responder por
todos os seus atos.
No entanto, aqui estamos nós. Uma menina de dezessete anos, órfã de
pai e mãe e tendo eu, que mal sei cuidar de um cachorro, como seu
responsável pelos próximos meses O testamento do meu amigo ainda não foi
lido, mas não preciso ser um gênio para saber que, com a promessa feita por
mim, ele deve ter se achado no direito de garantir que eu a cumpra em uma
das cláusulas do testamento. Não que eu já não tivesse esperando por isso, eu
e ele sempre tivemos relação de irmãos, e como não tinha mais em quem
confiar, resolveu deixar sob meus cuidados o seu bem mais precioso. Aliás,
nosso bem mais precioso.
Depois de ter magoado tanto a minha menina, ela simplesmente não
deixou que eu me aproximasse mais dela, e olha que não foi por falta de
tentativa. Eu, com todo o meu orgulho, passei meses tentando me desculpar e
quem sabe resgatar o carinho e a proximidade que sempre tivemos um com o
outro. Tentei e tentei mais um pouco, até o dia em que cansei de ser esnobado
e deixei que as coisas ficassem como estavam. Agora que nos olhamos como
dois estranhos, seremos obrigados a manter uma convivência forçada, pelo
menos para ela, que não quer me ver em sua frente nem pintado de ouro. Eu,
apesar de apavorado com a ideia e devastado por ter conseguido isso às
custas da morte do meu amigo, agradeço aos céus por ter essa chance. Chega
desse distanciamento, preciso recuperar sua amizade e tê-la de volta em
minha vida, nem que para isso tenha que obrigá-la a me ouvir.
— Não disse nada. Vamos, o testamenteiro já deve estar a caminho e
nós precisamos saber da última vontade do seu pai – dou-lhe a mão na
intenção de levá-la em meu carro.
— Esquece, não vou a lugar nenhum com você – faz birra. Pelo visto
não amadureceu nada, continua a mesma impetuosa e emburrada de sempre.
Mas para seu azar, eu sou tão teimoso quanto ela é imatura.
— Tem duas opções: ou você entra naquele carro com as próprias
pernas, ou te levo carregada – não sairei daqui sem ela. – Então, qual é sua
resposta? – indago.
– A resposta é: – se aproxima até estar bem perto do meu rosto – vai se
foder! – diz, dando-me as costas.
Garota louca.
— Eu avisei – seguro suas pernas, jogando-a bruscamente em meus
ombros. No mesmo instante me arrependo ao perceber onde minha mão
direita está apoiada.
Céus, que bundinha macia. Espalmo minha mão com gosto em seu belo
traseiro. Não conseguindo resistir à tentação, dou uma palmada de força
mediana na bunda macia e em seguida passo a mão carinhosamente no local
que certamente deve estar ardido. Que delícia deve ser surrar essa bundinha
redonda e empinada enquanto meto por trás em sua bocetinha.
Acho que não foi uma boa ideia tocá-la dessa forma. Agora, a imagem
dela de quatro sobre uma cama enorme, tomando meu pau até o talo em seu
rabinho, não sai da minha mente suja.
Caralho! Todo esse tempo de afastamento por opção dela, mas que
acabei me acostumando depois, em nada adiantou para me fazer tirar essa
fixação da cabeça. Achei que já estaria preparado para estar junto dela sem
sentir nenhum tipo de atração física ou constrangimento com alguma de suas
investidas. No entanto, aqui estou, com o pau duro feito pedra e a cabeça
cheia de pensamentos luxuriosos com a garota. Que tipo de doente sou? Meu
amigo e pai dela acaba de falecer e eu aqui, quase diante de sua lápide,
desejando sua filha, que por sinal ficará sob minha tutela.
— Me solte agora, seu brutamonte – grita, balançando as pernas
freneticamente ao dar murros de mão fechada nas minhas costas. – Me solta,
porra!
Continuo andando em direção ao carro e ignorando suas ordens e sua
boca suja. Ao chegar ao lado da porta do carona, solto-a com cuidado,
descendo-a lentamente pela parte da frente do meu corpo.
Outra má ideia.
Ao encostar seu corpo no meu de forma tão apertada, noto o quanto ela
mudou nesse pouco tempo: pernas mais grossas e bem torneadas, cinturinha
mais fina, e finalmente minha parte preferida, os belos e avantajados seios,
que deixam minhas mãos coçando para tocá-los. O rosto eu não preciso nem
falar, o que sempre foi belo se tornou deslumbrante. Com o cabelo mais
moderno e curto, seu rosto ganhou um destaque especial pela maquiagem
mais pesada e escura que provavelmente usava, antes de borrá-la com as
lágrimas derramadas diante do túmulo do pai. De menina passou a ser uma
mulher em poucos meses. Nem parece que passou tão pouco tempo, e que
apesar de parecer mais velha, ela ainda não tem dezoito anos.
— Seu idiota! – acerta a mão em meu rosto. Chego a arregalar os olhos
com a surpresa do seu ato. – Nunca mais me toque dessa forma e sem minha
permissão.
Sinto a fúria subir rapidamente por minhas veias, e quando dou por
mim, já perdi completamente o controle da situação.
— Escuta aqui, garota – encaro seu rosto de perto, quase tocando
nossos narizes. – Atreva-se a me agredir mais uma vez e eu acabo com você,
tá entendendo? – ameaço, furioso. – Acho que sua ficha anda não caiu, mas
as coisas mudaram por aqui e logo você vai aprender que não deve me
desafiar.
— Você só pode estar louco, do que você está falando? – questiona,
vermelha de raiva.
— Entra no carro e vai descobrir.
Percebendo que a coisa é mais séria do que imagina, Marina entra no
carro sem questionar e começo a dirigir rumo à reunião que mudará nossas
vidas para sempre.
O Tutor
Marina

— Isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto, não é mesmo? –


pergunto, estarrecida com o que acabei de escutar. Papai não pode ter feito
isso comigo.
— Não, senhorita, aqui está o documento que comprova o desejo do
seu pai – o senhor Nonato, advogado de confiança e responsável pelas
questões burocráticas e gestão dos escritórios de advocacia pertencentes a
papai e Erick, me entrega uma única folha, na qual mesmo sem ter muita
noção do ramo jurídico, consigo perceber a gravidade do que tem escrito ali.
Seu João fez Erick assinar esse documento em que se compromete a
cuidar de mim e de todos os meus bens até os meus dezoito anos de idade.
Até aí não teria nenhum problema, já que em poucos meses completo a
maioridade. O problema está na condição imposta para que isso aconteça.
Não posso crer no que estou vendo.
— Você sabia disso? – indago a Erick, que está estatelado a minha
frente, sem abrir a boca para nada.
— Sabia em partes, lembro de ter prometido e assinado essa
procuração na qual me comprometia a ser seu tutor até que completasse a
maioridade – diz, desconfortável ao notar meu olhar furioso em sua direção.
— O que foi? Acha mesmo que eu negaria um pedido desses vindo do meu
melhor amigo, ainda mais quando não havia nenhum indício de que um dia
seria obrigado a cumprir essa promessa? – apesar de tudo, sinto uma dor no
peito ao ouvi-lo se referir a mim como uma obrigação.
— Pois sinta-se livre desse fardo, não preciso de você pra nada. Tem
alguma forma de mudar isso, Doutor? – diga que sim. Diga que sim, peço
mentalmente por esse milagre. Eu não tenho estruturas para lidar com Erick,
não depois de tudo.
— Não, vocês não podem passar por cima do desejo do João, além
disso, Marina é menor e não tem autonomia para agir por si só.
— Eu não quero fugir da minha promessa e nem da minha palavra dada
através desse documento, Doutor. Marina vai ter que aceitar a vontade do seu
pai e se virar pra achar um marido até os vinte e um anos, senão, terá que se
conformar com minha presença até lá – diz, sarcástico ao mencionar a
condição imposta por papai. Erick será legalmente meu tutor até eu completar
meus dezoito anos. No entanto, existe a condição de eu só poder desfrutar da
herança depois dos vinte e um, a menos que eu consiga essa autonomia antes
do tempo, mas isso só será possível através do casamento. Ou seja, preciso
me casar o quanto antes.

Erick
— Pois se depender de mim, sua responsabilidade não durará mais que
alguns meses, não vou aceitar sua interferência na minha vida – ela estava
furiosa com toda essa loucura. Eu entendo sua fúria, afinal, ela não teve o
tempo que eu tive para me acostumar com as mudanças que acontecerão em
nossa rotina. – Se for preciso, eu me caso com o primeiro mendigo que
aparecer na minha frente, mas você não vai ficar no lugar do meu pai. Não
vai! – pai? Ela acha mesmo que é isso que eu pretendo ser para ela. Será que
ela não percebeu que sinto tudo menos amor fraterno? As batidas frenéticas
do meu coração e as reações do meu pau em sua presença se rebelam
imediatamente contra sua afirmação equivocada.
— Você não se atreveria, menina, eu já falei e vou repetir: teste meus
limites e eu acabo com você – encaro seu rosto, que de furioso mudou para
uma expressão de desafio. Ficamos numa batalha visual até que o pigarro do
advogado desperta novamente nossa atenção.
— Desculpa interromper essa... conversa de vocês, mas precisamos
concluir a reunião – diz, olhando-nos com curiosidade.
— Desculpa, Doutor, pode continuar.
— Acho que já ficou tudo esclarecido. A senhorita ficará sob sua
tutoria até os dezoito anos. No que tange a todas as propriedades e sua parte
do escritório – aponta para Marina – será gerenciada por Erick até que
complete vinte e um, ao menos que se case antes disso, nesse caso, seus bens
serão de sua inteira responsabilidade.
— Isso não será um problema, Doutor, já tenho um namorado e estou
esperando apenas completar a maioridade pra casar com ele.
Como é que é? Namorado? Casar?
Não, isso não pode ser verdade, minha princesa não pode estar falando
sério. Sei que é hipocrisia de minha parte exigir alguma coisa dela, quando eu
mesmo tive minha cota de casos e transas durante todo esse período, não é
razoável pensar ou até mesmo exigir que ela, sendo tão jovem, tenha ficado
me esperando quando eu mesmo lhe afastei para longe. Meu lado racional
pensa assim, o lado que sabe os motivos de não podermos ficar juntos, mas
meu lado ciumento e possessivo, o lado que é louco por ela, que sente tesão
só em sentir seu cheiro, não aceita outro cara tocando sua pele, beijando seu
corpo macio.
Não, eu não aceito isso! Ela é minha, só minha, diz meu lado
apaixonado, irresponsável e inconsequente, que a cada minuto que passa
toma conta do meu corpo e pensamentos.
— Isso é tudo, espero que as coisas deem certo pra vocês – aproxima-
se, estendendo a mão em despedida. Aperto sua mão e despeço-me com um
breve aceno.
— Adeus, senhorita – aperta a mão dela e sai da sala, deixando-nos a
sós.
Ainda atordoada, Marina deixa o documento que mudou nossas vidas
em cima da mesa e fixa o olhar em meu rosto.
Passam-se mais alguns minutos, nos quais nos encaramos em mais uma
batalha de vontades, até que ela decide acabar com o silêncio hostil.
— Se era só isso, já pode se retirar. Preciso descansar um pouco, estou
exausta – acho que a minha boneca ainda não entendeu como as coisas vão
funcionar por aqui.
— Tudo bem, descanse. Tenho muitas coisas pra arrumar, ver o que
trazer e onde me instalar – revelo, e vejo o choque em seu rosto.
— Instalar? Você enlouqueceu? – agora ela perdeu o controle.
— Marina, qual a parte de sou o seu tutor você não entendeu? –
indago. — Nós vamos morar juntos e isso não entra em discussão. Você
escolhe onde, se aqui na mansão ou no meu apartamento.
Mudanças
Marina

— Eu não vou morar com você – falo, pausadamente, ainda que queira
gritar. Preciso me controlar, mesmo que minha vontade seja sair quebrando
tudo que está a minha volta. Era só o que me faltava, o Erick começar a agir
como se fosse meu pai. – Aceito que você seja meu tutor legal, mesmo que
por pouco tempo. Mas daí a morarmos juntos é um pouco de exagero. Acho
que sou grandinha o suficiente pra não precisar de babá – dou meu ponto, na
esperança de fazê-lo compreender.
— Marina, por favor, seja razoável – pede, aparentando um cansaço
não só físico como também psicológico. Será que ele não vê que isso será o
melhor para nós dois? Não quero ser um fardo para ele, isso me magoaria
além do que talvez eu possa suportar.
— Seja razoável você, Erick, você não tem a obrigação de virar,
literalmente, minha babá. Posso muito bem viver aqui com os empregados,
não vou estar sozinha. Além disso, sua namorada não vai gostar de saber que
está vivendo com outra mulher – jogo um verde para descobrir se tem alguém
em sua vida. Não sou tão ingênua para achar que ele não teve ou tem outras
mulheres em sua cama. Mesmo que me doa pensar nisso, sei que ele é um
homem lindo, bem sucedido, e deve ter uma longa lista de conquistas. A
única coisa que me consola é o fato de ele nunca ter aparecido com nenhuma
namorada, seja aqui em casa ou em público. Acho que não aguentaria vê-lo
dar para outra o que sempre se recusou a me dar.
— Eu não vou deixar você com os empregados, Marina, isso seria um
absurdo. Seu pai pediu pra eu cuidar de você, não os empregados – nisso eu
tenho que concordar. Por mais que esteja irritada com ele, não posso negar
sua lealdade ao meu pai. – E com relação a namoradas, você pode ficar
despreocupada, eu não tenho uma, e mesmo que tivesse, não seria um
problema, minha prioridade é você – diz, e sinto meu coração bater acelerado
com sua afirmação. Ainda não decidi se fiquei mais feliz com a confirmação
de que ele não tem nenhuma namorada ou com o fato de eu ser sua
prioridade.
— Acha mesmo necessário vivermos juntos? – pergunto, decidida a
conversarmos civilizadamente, como dois adultos. – Não quero atrapalhar sua
vida desse jeito – desabafo meu maior medo.
— Vem, sente-se aqui, Marina – acomoda-se na ponta do sofá e bate
no assento ao seu lado. Sento com o corpo inclinado em sua direção e sinto
todos os pelos do meu corpo se arrepiarem com a proximidade que há tanto
tempo deixou de ser natural e costumeira. – Por favor, me deixa fazer o que
precisa ser feito, princesa. Jamais me perdoarei se decepcionar seu pai.
Preciso fazer a coisa certa, por você e por ele – suplica, ao erguer a mão e
acariciar de forma terna o lado esquerdo do meu rosto. Como é bom sentir
seu toque; ver seu olhar preso de forma tão intensa ao meu. Simplesmente
não posso lhe negar nada, não quando ele me pede dessa forma. Acho que
sou capaz de fazer qualquer coisa quando ele me pede tão ternamente.
— Tu-tudo bem – gaguejo, desconcertada, inclinando o rosto para
sentir melhor seu carinho. Quem vê a cena de fora poderia nos comparar com
um cachorrinho recebendo carinho do seu dono. Mas isso não me importa.
Tudo que eu queria, ainda que inconscientemente, era essa conexão e
cumplicidade que estamos tendo agora. E pela intensidade com que está me
olhando, posso notar que ele também almeja isso. – Podemos morar juntos,
mas se você não se incomodar, eu prefiro que fiquemos aqui mesmo, na
mansão. A casa é grande, tem os empregados e todas as lembranças de papai,
prefiro manter isso, pode ser? – digo, ao afastar o resto, quebrando a tensão
que paira entre nós dois. Se quero que as coisas deem certo, preciso me
controlar para não parecer uma boba a sua volta.
— Claro, princesa. Preciso apenas fazer minhas malas, fechar meu
apartamento e venho pra cá o mais rápido possível – sinto um frio na barriga
só em imaginar como serão os próximos meses.
— Que dia você vem? – pergunto, na esperança de ter pelo menos mais
um fim de semana sozinha, antes de ter que lidar com ele e com toda essa
confusão de sentimentos.
— Hoje à noite. Não vou pro escritório, portanto, tenho o dia todo pra
organizar as coisas – diz, levantando-se do sofá.
Mas que porra! Pelo visto o fim de semana não vai rolar.
— Não precisa ter pressa, Erick. Resolva suas coisas com calma, eu
vou ficar bem – tento falar num tom que aparenta gentileza e não uma
tentativa de postergar sua vinda. Preciso de um tempo para levantar minhas
defesas, que estão praticamente inexistentes com apenas algumas horas de
reencontro. Preciso me policiar, senão ainda hoje estarei lhe atacando. Nada
diferente do que costumava fazer há alguns meses.
Isso não pode acontecer, minha cota de humilhação por ele já foi o
suficiente.
— Não se preocupe, minha linda, sei que está preocupada, mas tá tudo
sob controle. Ainda hoje dormiremos sob o mesmo teto – pisca, no caminho
da porta de saída. Ele está me provocando?
— E outra coisa, Marina: peça pra governanta preparar o quarto de
hóspedes que eu costumava usar, é nele que vou ficar – diz, antes de sair.
Puta que pariu, ele só pode estar de brincadeira. O quarto que ele se refere é
localizado exatamente em frente ao meu.
— É, Floquinho, parece que vai ser mais difícil do que eu imaginei.
Seu pai está disposto a infernizar a minha vida – me jogo no sofá, segurando
minha gatinha, que acabou de entrar. – Mas deixa estar, esse é um jogo que
dois podem jogar.

Erick
Depois de empacotar a última caixa com meus pertences, faço uma
inspeção visual pela ampla sala do meu duplex; aqui, onde vivi desde o dia
em que conquistei minha independência ao sair da casa dos meus pais. Onde
passaram tantos amigos leais ou mulheres que nem ao menos consigo lembrar
os nomes ou rostos. Um local que apesar de tudo, não me traz nenhum tipo de
sentimento mais profundo de apego ou nostalgia. Aqui, tudo é distante e
impessoal, apesar de ser o lugar onde eu deitava meu corpo cansando depois
de um dia de trabalho.
Sei que deveria estar apreensivo com tamanha mudança, que a
responsabilidade contraída me fizesse adiar o máximo possível a minha ida
para a mansão. No entanto, o único sentimento que me cerca é o de
ansiedade. Ansiedade por saber que irei viver na casa onde sempre senti
como sendo meu verdadeiro lar. O local onde tenho minhas melhores
lembranças, onde viveram e vivem as pessoas que eu mais amo na vida.
Longe de mim querer colocar em xeque o sentimento entre meus pais e
João e Marina, até porque não tem como comparar. Entenda, eu amo minha
família; um amor que somente um filho amado e compreendido poderia
dedicar a seus pais. Mas o amor, a ligação que eu tinha com João e depois
passei a ter com Marina, vai além do que a compreensão possa explicar, e
talvez seja esse e motivo da minha alegria e ansiedade. Sinto-me como se
estivesse indo para o meu verdadeiro lar, o lugar ao qual eu sempre pertenci,
junto da minha menina bonita.
Continuo divagando por mais alguns minutos, até ter meus
pensamentos interrompidos pelo toque da campainha, e provavelmente deve
ser pessoal da transportadora, que veio me auxiliar com a mudança.
— Oi, senhor Erick, beleza? – cumprimenta-me o rapaz, assim que
abro a porta. — O caminhão já está estacionado ali embaixo.
— Que bom – digo, ao apertar sua mão. — As caixas são aquelas ali.
Vou na frente com meu carro e vocês me seguem, tudo bem? – indago, ao
sair rumo à garagem.

Já passa da meia-noite quando termino de arrumar meus pertences em


um dos quartos de hóspedes. Contando com uma cama de casal king size, no
enorme quarto havia apenas um guarda-roupa, onde já se encontram todas as
minhas roupas e sapatos, bem como uma mesinha de centro onde empilhei
alguns dos meus livros de trabalho. Para ser sincero, o ambiente está quase
impessoal, precisa ainda de muitas coisas para que fique do jeito que eu
gosto. Mas, nada que com o tempo não possa ser resolvido. O importante é
que eu estou aqui.
Sorrio para mim mesmo por ter escolhido a suíte que fica em frente ao
quarto de Marina em detrimento das outras espalhadas por toda a mansão.
Aliás, até hoje não entendo o porquê de o meu amigo preferir morar numa
casa tão grande, quando aqui só viviam ele e a filha. Mas pensando bem, não
seria preciso ser nenhum gênio para imaginar o motivo de ele ter feito essa
escolha. No mínimo, isso deve ter sido coisa daquela vadia do caralho. Ela
sempre foi fútil, e sentia prazer em ostentar a riqueza do marido. Marido esse
que nunca olhou com olhar de superioridade para a mais humilde das
criaturas – qualidade essa adquirida por sua filha, que não tem um pingo do
sangue ruim da mãe correndo nas veias. Mas chega de perder tempo
pensando nessa mulher que desapareceu há tanto tempo, e espero, pelo bem
dela, que não volte nunca mais.
— E aí, garotão, feliz com seu novo lar? – acaricio a cabeça peluda do
meu Golden Retriever, que acabou de adentrar o quarto. Com seus cinco anos
de vida, Thor tem sido meu amigo e fiel companheiro de todas as horas. Com
uma pelagem marrom escura e redondo como uma rolha, meu amigão tem a
personalidade de um gatinho manso, não sendo capaz de fazer mal nem a
uma mosca. E por falar em gatinho, o que será que foi feito do filhote que dei
de presente a Marina?
Marina. Onde essa garota se meteu? Ainda não a vi depois que
cheguei. Das duas uma: ou ela saiu, ou está trancada dentro do maldito
quarto, fingindo que não notou minha presença. Para falar a verdade, eu até
prefiro a segunda hipótese. Sinto-me melhor com a ideia de ela estar
trancafiada na porra do quarto do que ela estando em algum lugar
desconhecido por mim e em companhias mais desconhecidas ainda.
— Ah, Marina, acho bom você não brincar com o fogo, porque vai
acabar se queimando – digo em voz alta, ainda fazendo carinho em Thor, que
abana o rabo peludo a cada passada de mão em suas grandes orelhas. Esse
preguiçoso adora ser mimado.
— Pela sua respiração, já vi que gostou daqui, não é garoto? – a língua
de fora e a respiração denunciam o fato de ele provavelmente ter passado
todo esse tempo correndo pelos corredores.
Porra! Isso vai dar problema.
— Só toma cuidado que a nossa menina é um pouco brava. E nós não
queremos deixá-la nervosa já no primeiro dia – termino de adverti-lo e sorrio
ao imaginar que devo estar parecendo um louco por tentar adverti-lo, como se
ele realmente entendesse o que eu quero dizer.
— Isso só pode ser fome, Thor – levanto da cama que até então estava
sentado, rumando em direção à porta. – Vamos lá na cozinha ver se tem
alguma coisa para a gente comer – termino de falar e ele logo vem atrás de
mim.
Abro a porta e quase caio para trás com a cena que acabo de ver. Sinto
de imediato todo sangue que corre pelas minhas veias ir para uma parte
específica da minha anatomia.
Não haveria nada demais na coincidência de presenciar Marina sair do
quarto no mesmo instante em que eu saio do meu, afinal, isso acontece o
tempo todo com pessoas que moram juntas. O problema aqui está na maldita
roupa que ela veste, se é que isso pode ser chamada de roupa. Com os cabelos
castanhos soltos emoldurando seu lindo rosto, isento de qualquer maquiagem,
Marina usa uma camisola preta de seda que mal cobre metade de suas coxas.
Com alças finas e levemente soltas, a peça deixa pouco a imaginação, e daqui
posso ver todos os contornos deliciosos do seu corpinho jovem e bem
cuidado. Corpo esse feito para ser amado e adorado pelo sortudo que tiver o
privilégio de receber esse presente. E pronto, se era um balde de água fria que
eu queria, acabei de consegui-lo apenas com esse pensamento.
Não! Ainda não nasceu o homem que merece tamanho presente. Nem
mesmo eu. Ela é um anjo.
— Erick – diz, com as bochechas coradas de constrangimento, só não
sei se é pela roupa ou por ter notado meu olhar cobiçoso percorrer seu corpo.
Preciso me controlar, porra! – Eu não... – interrompe o que ia dizer, no
mesmo instante em que vejo seu semblante mudar de constrangido para
furioso. — O que esse monstro tá fazendo aqui? – pergunta, olhando do meu
cachorro para a gatinha branca que até então eu não tinha percebido
encostada em sua perna.
É... parece que começamos com o pé esquerdo.
Papai
Marina

— Responde, Erick – peço, indignada ao ver o enorme Golden


Retriever encarar Floquinho com olhar curioso. Ele é muito sem noção por
ter a brilhante ideia de trazer um cachorro desse porte para dentro de casa. Já
até imagino a guerrilha que vai ser instaurada aqui dentro. Imaginem só: um
cão e um gato ocupando os mesmos metros quadrados. — Não sei se você
lembra, mas uns meses eu ganhei esse filhote de você, e como pode ver, ele
ainda está comigo.
— Claro que lembro – se atém em confirmar.
— Também suponho que saiba que cães e gatos não são considerados
os melhores amigos do mundo – explico, assim como faria com uma criança.
— Erick, ele vai matar minha filha, por favor, arrume um lugar pra ele ficar –
imploro, sem conseguir desviar o olhar dos dois bichinhos, que no momento
se encaram com extrema hostilidade.
— Nossa – afirma ele, e eu não consigo entender do que ele está
falando.
— Nossa? – pergunto, confusa.
— Nossa filha, pelo menos foi isso que você disse quando o ganhou –
não acredito que Erick se lembra disso. Como eu era infantil.
— Disse mesmo, mas isso foi antes de abandoná-la por todos esses
meses – é, pelo visto a maturidade continua não sendo meu forte. —
Floquinho é só minha. E como tenho a responsabilidade de zelar por seu
bem-estar, quero ele fora. Agora! – olho mais uma vez para eles e já percebo
uma mudança no clima. O olhar de hostilidade rapidamente transformou-se
em curiosidade.
— O nome dele é Thor – agacha e começa a acariciar a cabecinha do
cachorro. – E não se preocupe, ele não vai judiar dela. Você vai cuidar da
irmãzinha, não é, amigão? – como é linda a forma que ele trata o bichinho.
Que inferno!
O cara acabou de chegar e eu já estou toda derretida por ele.
Assim fica difícil.
— Agora vai brincar por aí, sei que você tá doido pra conhecer a casa
nova – dá um tapinha de leve nas costas de Thor, que como quem tivesse
entendido a permissão, sai correndo rumo à área de serviço. E para minha
surpresa, vejo a vendida da Floquinho correr atrás do Thor. A traidora está
simplesmente se juntando ao inimigo.
— Tá vendo, não precisa se preocupar com nada, eles se tornarão
amigos. Espero poder dizer o mesmo de nós dois – diz, ao percorrer
descaradamente o olhar por todo o meu corpo, que neste momento veste nada
menos que uma minúscula camisola de seda. — Acha isso possível, princesa?
– aproxima-se subitamente, encurralando-me contra a porta recém-fechada.
Está ficando difícil respirar!
— N-Não sei – gaguejo, nervosa com sua abordagem. Seu olhar quente
e sua respiração em meu rosto rouba-me a capacidade de falar, quem dirá de
ter pensamentos coerentes. Quando o sinto assim, tão perto e ao alcance de
minhas mãos, tudo o que eu mais quero é me jogar em seus braços, provar do
seus beijos e deixar que possua cada pedaço do meu corpo. Dar a ele tudo o
que não tive coragem e nem vontade de entregar a outro.
Eu tentei de tudo para esquecer essa obsessão que tenho nutrido a tanto
tempo e, no entanto, nada foi o suficiente para apagar essa chama que queima
dentro de mim.
— Não sabe? – indaga, com o corpo a um palmo de distância do meu e
no rosto um olhar quente que não sai da minha boca. — Pois eu tenho pra
mim que nos daremos muito bem. Melhor do que você imagina... – eu não
acredito que ele está novamente me provocando e eu, como sempre, caindo.
Acho de uma crueldade sem tamanho fazer esse tipo de jogo se ele não
pretende ir até o fim.
Ah, mas se é guerra que ele quer, é guerra que ele vai ter.
— Será? – pergunto, sedutora, aproximando perigosamente minha boca
da sua.
Mais um centímetro e o beijo sai. Vamos ver se ele sabe lidar com isso.
— Se eu fosse você, não teria tanta certeza, papai – dou o tiro de
misericórdia e saio andando rumo à cozinha, como se nada tivesse
acontecido, e como era de se esperar, Erick vem atrás como um touro
enfurecido.

Erick
Papai?
Dessa vez ela foi longe demais!
Me irrito e saio disparado atrás dela. Tudo bem que merecia isso,
afinal, fui eu quem começou com essas provocações idiotas. Mas chamar de
pai foi além dos limites.
— Marina, volta aqui agora, sua peste – grito, sem controle, ao
alcança-la e segura-la pelo braço. — Do que foi que me chamou? Acho que
não ouvi direito – rosno, e da maneira mais provocante possível, ela
aproxima o rosto do meu e repete:
— Papai.
— Acho que você tá um pouco confusa, meu bem – digo, sem afastar-
me um centímetro sequer da nossa perigosa proximidade. — Eu não sou seu
pai, seu tio e nem nada que seja pelo menos próximo a algum tipo de
parentesco – esclareço, para que não fiquem dúvidas. — Entenda uma coisa:
apesar de ser bons anos mais velho, sou um homem maduro e ativo
sexualmente. Ativo até demais – falo, e vejo seu semblante mudar. Seu rosto
assume uma máscara de frieza que só pode ser interpretada como ciúmes.
Isso, meu amor, é isso que eu quero de você. Porque da minha parte não tem
um único fio de sentimento paternal por você. — Estou falando isso pra que
fique tudo bem claro entre a gente. Não fique achando que sua maneira de se
vestir – olho seu corpo de maneira maliciosa — e suas provocações vão
passar batidas, porque te garanto que não vão. Saiba que eu posso e vou
revidar, e que talvez você não esteja preparada para as minhas reações —
digo, olhando em seus olhos, para que fique claro que em pé estamos.
— Entendi, agora dá pra me soltar, por favor? – puxa o braço e vai para
a cozinha. — Vou preparar algo pra comer, quer alguma coisa? – pergunta,
mudando drasticamente de assunto. É, parece que deixei minha gatinha
chateada. Mas é bom que fique mesmo, prefiro deixar tudo esclarecido.
— Quero, sim. Na verdade, estava justamente indo procurar algo pra
comer, estou faminto – digo, e ela vira para trás, me olhando desconcertada
por ter notado o duplo sentido da frase.
Rio internamente com esse fato. Se prepara, bebê, isso é só o começo.
Já na ampla e mobiliada cozinha, Marina prepara sanduíches naturais e,
andando de um canto a outro, ela faz nosso lanche, sem deixar de me ignorar
como se estivesse sozinha no ambiente. Mas isso não significa que tenha
deixado passar a oportunidade de atazanar meu juízo e meu pau a cada vez
que propositalmente se abaixa para pegar algo na geladeira. A safada faz
questão de pegar um ingrediente por vez, e a cada abaixada, eu consigo
visualizar suas coxas torneadas e uma minúscula calcinha, que está
deliciosamente enfiada dentro da sua bunda. Como não sou bobo nem nada
parecido, aproveito para dar uma boa conferida, até porque o fato de não
poder tocar não me impede de apreciar o banquete.
— Erick? – saio do transe com ela chamado meu nome. – Te chamei
três vezes e você não escutou. Onde você estava? – pergunta, divertida.
Ah, gatinha, é melhor você nem imaginar por onde andavam meus
pensamentos.
— Desculpa, estava pensando em trabalho – minto.
— Fiz um suco de morango pra acompanhar, espero que goste – diz,
colocando a jarra e o prato com os sanduíches em cima da bancada de
mármore estilo cozinha americana, e depois de pegar os copos, ela senta ao
meu lado.
— Obrigada, meu amor – agradeço, sincero, ao dar a primeira mordida.
— Tá uma delícia. Cuidado, senão eu fico mal acostumado – brinco.
— Fica nada. Sei que deve comer comidas muito melhores que isso –
dá de ombros de maneira charmosa.
Eu estou tão vendido por essa menina que até os mais simples gesto me
encanta. Não que exista algum dia em que eu não tenha estado vendido por
ela. A única diferença é que agora, depois de tanto tempo separados, parece
que está tudo mais intenso; o que já era grande tomou proporções
inexplicáveis. Estou ficando cansado de negar, de reprimir o que não pode
mais ser reprimido, de negar o que nós dois queremos há tanto tempo. Por
mais que minha consciência diga que é errado por todos os motivos que estou
cansado de repetir a mim mesmo, meu coração e meu corpo clamam por ela,
por seu toque, seus beijos e seus abraços. Uma palavra dela e eu jogo tudo
para o alto, me permitindo viver esse amor.
— Pode ser, mas essa é especial, porque foi você quem fez – digo.
— Para, Erick, assim você me deixa sem jeito – diz, encabulada com o
elogio.
— Apenas a verdade.
— Mas diz aí, tô pronta pra casar? – tenta brincar, e consegue me
deixar furioso.
Casar? Essa mulher só pode ser louca. Ela acha mesmo que aquela
baboseira de casamento vai adiante? Vai acontecer no dia em que eu estiver
morto.
— Não, você não tá pronta e nem vai casar, Marina – afirmo, curto e
grosso. — E essa história de casamento é real, ou está falando isso pra me
irritar? — pergunto, vendo-a abocanhar o último pedaço do pão. E com uma
estranha calma, ela termina de tomar seu suco e responde:
— O casamento é real, Erick, só te resta aceitar. E tem mais, eu sou
uma mulher livre e faço da minha vida o que eu quiser. Pelo menos nessa
parte sou eu quem decide. Então, por favor, não se meta – ouço, e minha
vontade é de esganar o moleque que se atreveu a tocar nela. Mas isso não vai
ficar assim. Ninguém vai atravessar meu caminho. Está decidido, não sei
quando e como, mas vou fazê-la minha, e tenho pena de quem se atrever a
entrar no meu caminho. É isso, chegou o fim da fase de negação. Vou à luta
reconquistar a amor da minha mulher.
— Não, princesa – toco sua bochecha com o dedo indicador. — Você
não vai casar, pelo menos não com ele – digo, e saio da cozinha.
Vou deixar que pense sobre o que acabei de dizer.
— O nosso momento finalmente chegou, meu amor – afirmo para mim
mesmo.
Seus braços
Marina

Não, princesa. Você não vai se casar, pelo menos não com ele.
Marina, como você pode ser tão trouxa, menina?
Já são quase 03h da madrugada e eu aqui, rolando de um lado para o
outro na aconchegante cama, que agora não parece tão aconchegante assim.
A frase dita por ele não parou de martelar na minha cabeça desde que saiu da
sua maldita boca.
Não vou ser hipócrita em afirmar que nunca vi um olhar seu de desejo
em minha direção, e apesar de negar e de eu saber que nunca faria nada a
respeito, eu sempre tive a nítida sensação de que, no fundo, ele tenta reprimir
um sentimento além do fraternal. Talvez seja justamente esse o motivo do
meu sofrimento e a causa do meu afastamento. Acho que saber que ele
sempre sentiu algo, mas que nunca faria nada a respeito, machuca mais do
que se ele não retribuir esse amor.
Agora, eu me sinto completamente perdida, vendo o muro de proteção
construído a minha volta desmoronar em apenas um dia de convívio. As
dúvidas e questionamentos de outrora voltaram com força total. A prova
disso é o fato de eu estar acordada até agora.
O que ele quis dizer com não vou casar? Será que ele ficou com
ciúmes?
Que infantilidade a minha, inventar um namorado imaginário apenas
para provocá-lo. Não quero nem pensar nele descobrindo essa mentira tão
deslavada. Posso até ter dado uns beijos por aí durante esse tempo, mas nada
que chegue perto de um namorado, quem dirá de um noivo.
Chega! Não aguento mais pensar nisso! Vou enlouquecer.
Maldito, Erick, por que teve que vir bagunçar quando estava tudo sob
controle? Mas ele está muito enganado se acha que vou passar por esse
tormento sozinha. Aqui vai ser olho por olho e dente por dente. Vou usar de
todas as armas disponíveis, afinal, no amor e na guerra vale tudo. Só espero
que no nosso caso seja amor.
Ai, Erick... Erick... Erick... minha mente dá voltas e voltas até cair em
um sono raso e perturbado.

Erick
No auge da madrugada, dormindo um sono sereno e tranquilo, logo
após tomar a decisão que tirou um enorme peso das minhas costas, desperto
bruscamente ao ver a claridade vinda do corredor. Em seguida, a porta do
meu quarto é aberta de maneira cuidadosa, e acho que não preciso pensar
para deduzir quem entrou aqui.
Mas o que ela faz acordada à essa hora da madrugada? O dia deve estar
quase amanhecendo.
Fico quietinho, esperando seu próximo passo e tudo o que ouço são
seus soluços incontidos.
Meu Deus! O que aconteceu com minha garota para fazê-la chorar
assim?
Vem, meu bem, vem para os meus braços que eles estão abertos para te
proteger. Para defendê-la de tudo e de todos, até de mim mesmo. Porque uma
coisa eu posso garantir: nada e ninguém lhe fará mal enquanto eu estiver
aqui. E se você quiser, eu sempre estarei.
Quando ela finalmente deita atrás de mim, sinto todo o meu corpo
retesar pelo calor tão bem-vindo quanto inesperado. Marina é tão silenciosa
em suas ações, que se eu realmente estivesse dormindo, não teria percebido
sua presença na minha cama. Aliás, tenho certeza de que era justamente essa
a intenção: dormir aqui e sair pela manhã, sem que eu soubesse de nada. Mas
para minha sorte, eu estou acordado, muito bem acordado, diga-se de
passagem.
— O que você faz aqui, bebê? – pergunto, ao sentir as mãozinhas da
minha boneca circulado minha cintura ao me abraçar por trás.
— Desculpa, Erick, tive um pesadelo com papai e não consigo ficar no
quarto. Deixa eu dormir aqui essa noite, por favor? — arrepiei-me ao sentir o
calor de sua respiração em meu pescoço, enquanto ela se aconchega ainda
mais em mim.
— Tudo bem, princesa, só não chore mais. Estou aqui e vou te proteger
– falo, ao virar de frente para ela e, com o dedo, secar as suas lágrimas. —
Vem, deita aqui – peço, ao abrir os braços e abraçá-la de costas. Logo que
tenho a ideia, percebo o quanto ela é péssima. Aqui estou eu, deitado de
conchinha com a minha maior tentação. A menina que me foi entregue como
uma sobrinha, mas que só me traz pensamentos impuros. Pensamentos esses
que envolvem nos dois nus, suados em cima de uma superfície plana, seja
uma cama, mesa, dentro de um carro... que seja, a única coisa que consigo
pensar ultimamente é em transar com essa garota.
Já aceitei que não tem mais nada que eu possa fazer a respeito, a minha
decisão foi tomada. Nunca passou pela minha cabeça trair de alguma forma a
memória de João, e espero de todo o meu coração que, de onde estiver, ele
entenda o que estou prestes a fazer.
— Sinto tanto a falta dele, Erick. Sonhei com nós dois em um parque,
andando de bicicleta, do jeito que costumávamos fazer quando eu era
pequena, lembra? – pergunta, ainda chorando copiosamente, e eu não sei o
que fazer para fazê-la se sentir melhor.
— Lembro, sim, meu anjo – e como poderia esquecer dela aos sete
anos, com o olhar mais doce que uma criança pode ter? Não tinha uma única
vez em que eu não pensava nela como sendo a coisa mais bela do mundo. É
assim até hoje. Marina certamente é a definição do que há de mais lindo
sobre a face da terra.
— Nós dois estávamos nos divertindo, quando de repente, ele
desaparece. Olho pro lado, olho pro outro e não o encontro em lugar nenhum.
E sabe a qual a pior parte? – pergunta, desvencilhando-se dos meus braços e
deitando de lado. Agora, estamos frente a frente, com os corpos a menos de
um palmo de distância. Mas acho que não é hora de pensar nisso. A
prioridade agora é outra.
— O pior é acordar e ver que não foi só um pesadelo, ele realmente me
deixou, Erick, a única pessoa que eu tinha – cola o corpo junto ao meu e
desaba, com o rosto encostado no meu peito desnudo. — Eu nunca me senti
tão sozinha como agora. Eu sei que estou sozinha – uma porra que ela está só.
E eu? Será que não sou nada?
— Ei, olha pra mim, Marina – peço, levantando seu rosto para que olhe
dentro dos meus olhos. Preciso dela bem atenta para ouvir o que tenho a lhe
dizer. — Nunca mais, você tá me ouvindo? Nunca mais repita isso. Você tem
a mim, o seu Erick, lembra? Eu nunca te deixei e nunca vou deixar. Enquanto
você me quiser, eu estarei aqui, do seu lado – afirmo enfaticamente, ao secar
suas lágrimas que insistem em cair.
— É diferente, Erick, as coisas mudaram tanto entre nós. E tem a
história da tutoria...
— Não, Marina, nada mudou. Esquece essa porra de tutoria. Será que
você não percebe que se isso não existisse, eu ainda estaria aqui? Nessa
cama, te consolando? – não resisto a enxurrada de sentimentos e circulo seu
corpo em um abraço ainda mais apertado. Acho humanamente impossível
ficarmos mais colados que isso. — Nós temos que permanecer unidos, meu
anjo, era isso que seu pai queria quando nos deixou nesta situação – digo,
realmente começando a acreditar nisso.
— Promete, Erick – pergunta, já menos chorosa. Acho que minha
princesa está um pouco carente.
— Eu prometo, linda – digo, olhando firmemente em seus olhos, assim
como ela olha nos meus.
Fixamos os olhares e, sem qualquer aviso, a atmosfera muda de
melancolia para tensão sexual. Nossos rostos, que já não estavam tão
distantes, diminuem mais ainda o espaço entre eles. Quando dou por mim,
nossas bocas estão coladas e imóveis uma na outra. Sua respiração misturada
com a minha e a minha misturada com a dela.
— Erick – fala, de maneira ofegante.
— Marina – sussurro, quase inaudível.
Entrega
Erick

— Marina – sussurro, quase inaudível. É isso! Não dá mais para adiar,


nosso momento finalmente chegou. — Você sabe que isso aqui não tem mais
volta, não é? Depois de hoje, tudo vai mudar.
— Eu sei, Erick. Sei também que estar aqui com você, neste momento,
é tudo que eu sempre quis desde os meus quinze anos – confessa, sem afastar
o rosto do meu. A cena que se desenvolve neste quarto não poderia ser mais
íntima. Marina e eu, deitados frente a frente; braços e pernas entrelaçados e
rostos tão próximos, que ao conversar, respiramos o mesmo ar.
Tudo perfeito.
— Quinze anos, Marina? Sério mesmo? Será que a mocinha não era
nova demais para pensar nestas coisas? – pergunto, não sabendo explicar o
incômodo que sinto ao ouvi-la dizer isso. A verdade é que eu não gosto de
pensar que minha Marina tenha tido esse tipo de pensamento tão cedo assim.
— Não sei se quinze é idade para pensar nisso. Você deveria estar pensando
somente em estudos e não em rapazes – termino de falar, e não consigo
acreditar que tamanha baboseira saiu da minha boca. Preciso controlar o que
digo. Não quero que ela, em um momento de lucidez, caia em si e chegue à
conclusão de que seria muito melhor estar com um garoto de sua idade do
que com um homem de trinta e cinco como eu.
— Rapazes? – indaga, ofendida. — Você ouviu bem o que eu acabei de
falar, Erick? Eu disse você, não qualquer outro rapaz. Apenas você – enfatiza,
deixando-me mais aliviado. Eu sempre me orgulhei de ser um homem prático
e racional. Mas quando se trata desta menina, toda a praticidade e
racionalidade vão pelos ares, restando apenas o homem possessivo e
passional. — Você está com ciúmes de mim, é isso? – pergunta, e cai na
gargalhada. Ela joga a cabeça para trás e sinto todo o seu corpo sacudir
com sua risada ruidosa.
— Isso não tem graça, garota – puxo novamente seu corpo para perto
do meu. — Queria ver se fosse o contrário – comento, e tenho de imediato
sua atenção.
— Você não se atreva – fala, enquanto segura firmemente minha
mandíbula. — Acha mesmo que eu gostei de te ver desfilar com todas
aquelas mulheres? A vontade que eu tinha era de ir até você e te arrancar dos
braços de cada uma delas – rio com sua confissão. Minha gatinha é selvagem.
— Depois eu é que sou o ciumento aqui – falo, jogando minha perna
pesada sobre seu quadril.
— E você é mesmo, o que não significa que eu também não possa ser.
– admite, fazendo minha alegria. Minha alma se regozija em saber que sou
correspondido em todos os meus sentimentos. Até mesmo nos que podem nos
trazer problemas futuros.
— Amor, nós precisamos conversar – peço, decidido a deixar toda a
nossa situação esclarecida.
— Conversar? – indaga, apreensiva. — Por favor, não diga que já vai
voltar atrás? – diz, e sinto todo seu corpo tenso com a expectativa da minha
resposta. Coitadinha da minha boneca, não deve ter sido nada agradável ter
seus sentimentos rechaçados tão bruscamente.
— Não, minha linda, isso nunca mais vai acontecer. Nós vamos viver
esse amor e as consequências dele – termino, e vejo no seu semblante a
leveza que o alívio proporciona. — Eu quero mesmo é me desculpar.
— Erick, não precisa...
— Shhh! – coloco o dedo sobre seus lábios, impedindo-a de
interromper minha tentativa de redenção. Preciso me redimir. Não por ter
tomado as decisões que tomei, afinal, não poderia jamais alimentar
expectativas de uma menina de dezesseis anos. Aquele não era o momento
propício. O único arrependimento que tenho é sobre a forma com que eu a
afastei de mim. Dos vários meses em que passamos distantes. Do fato de eu
não estar do seu lado nos momentos em que mais precisou de mim. — Eu
preciso disso, meu amor. Entende?
— Tudo bem – fala, deixando transparecer sua vontade de ouvir o que
tenho a lhe dizer.
— Primeiramente, eu preciso que me perdoe por ter te chamado de
estorvo – acho que de tudo dito no fatídico dia, essa deve ter sido a maior
mentira de todas. — Por tentar te ofender usando o abandono de sua mãe.
— Acho que isso foi o que mais me doeu. Não o que disse sobre aquela
mulher, até porque não é mentira. A pior parte mesmo foi te ouvir dizer que
nunca gostou de mim, que tinha pena e que por isso me dava atenção – diz, e
a vontade que tenho é de tapar os ouvidos com as mãos para não ouvir
tamanha crueldade.
— Isso nunca foi verdade, anjo, eu só queria te afastar – queria e
escolhi a forma mais idiota do mundo. — Saiba que a verdade não poderia
ser mais diferente do que foi dito naquele dia.
— Que verdade, Erick? – indaga, confusa. Querendo que veja e sinta a
sinceridade de tudo que vou dizer, afasto nossos rostos alguns centímetros,
para que assim possamos enxergar um ao outro sem nenhum artifício.
— A verdade sobre você ser a luz da minha vida. Quero que você me
entenda, Marina. Que compreenda que meu amor por você não é de agora.
— Não?
— Não. Ele apenas se transformou, e talvez tenha sido isso o que mais
me assustou. Foi ter visto um sentimento fraternal se transformar em amor de
homem e mulher, foi ver que já não te via da mesma forma de antes. Um
amor diferente, mas ainda assim, amor.
— Ahhh, Erick – abraça-me, emocionada com o relato.
— Tenho algumas lembranças de uma eu pirralha correndo atrás de
você. Por isso eu acreditei quando me disse aquelas coisas. Eu realmente
vivia no seu pé. Como pôde, você sendo tão jovem, aguentar uma pestinha
como sombra? – pergunta, incrédula.
— Aí é que tá. Eu não via isso como sacrifício, Marina. Ter você a
minha volta era como um bálsamo pra minha alma solitária. Você e seu pai
substituíram a falta que minha família me faz. As horas em que eu passava
com você sempre foram as melhores horas dos meus dias cansativos. Era
onde eu me encontrava, meu porto seguro – desnudo de vez a minha alma.
— Te entendo. Eu sentia o mesmo. Lembro-me de sua presença
constante em minha vida – fala, com olhar saudoso. — Eu te via como um
super-herói, aquele com quem eu sempre podia contar.
— E podia mesmo. Você sabe disso, não sabe?
— Claro que sei, se eu não estivesse tão cega por sua rejeição, jamais
teria acreditado nas merdas que você me falou – diz, tentando amenizar
minha culpa.
— Não, meu anjo, você não tem culpa de nada. Eu é quem deveria ter
sido mais cuidadoso – falo, enquanto acaricio sua cintura por cima da
camisola. — Parando pra pensar, as coisas nem sempre foram tão difíceis
entre nós dois, não é mesmo? – indago.
— Não. Tudo ia muito bem até a chegada da maldita adolescência –
brinca com o fato.
— Verdade. Você não tem ideia do choque que foi perceber que eu
poderia estar nutrindo certa atração por você. No início, eu tive tanto nojo de
mim mesmo. Não conseguia nem me olhar no espelho.
— Pobrezinho – faz um biquinho com a boca, num gesto de lamento.
— Hoje em dia eu compreendo a barra que deve ter sido pra você.
— Demais. Um dia eu olho pra uma criança e sinto como se fosse um
tio ou um segundo pai, e no outro eu te vejo adolescente e começo a reparar
nas curvas do seu corpo. No quanto você estava ficando cada dia mais linda.
Lembro-me de quase ter ido à loucura na época – sinto-me leve em confessar
isso a ela.
— Oh, Erick, perdão, eu não queria...
— Ei, ei! – interrompo seja lá o que fosse dizer. — Para com isso.
Você não tem culpa de nada. Foram apenas sentimentos que eu não pude
controlar.
— E quando foi que isso começou? – indaga.
— Acho que foi quando você completou quinze anos. Lembra da festa
na piscina? – pergunto, e ela confirma com a cabeça. — Foi ali, no momento
em que te vi saindo da piscina com aquele biquíni indecente. Naquela hora eu
percebi que você não era mais a minha garotinha, que estava se
transformando em uma linda mulher.
— Então foi na mesma época em que eu comecei a te ver com outros
olhos?
— Provavelmente sim, apesar de que no início era um pouco mais
fácil. Era apenas uma atração e eu levava numa boa. As coisas ficaram
difíceis de verdade quando percebi que você também se sentia atraída por
mim e quando começou a demonstrar isso – isso sim era uma provação.
— Eu era muito chata, né? Não perdia a chance de me jogar.
— Não, amor, sua abordagem era tudo, menos chata. Chato era o
esforço que eu tinha que fazer para não sucumbir – admito, para que entenda
a provação que impus a mim mesmo.
— A gota d'água foi aquele passeio em comemoração do meu
aniversário – garota esperta. — O que desencadeou tudo aquilo, Erick?
— Não sei bem, anjo, acho que foi um misto de coisas. O fato de você
estar se aproximando da vida adulta, misturado com sua abordagem mais
aberta, me trouxeram o medo de não resistir, de fazer o que meu coração e
meu corpo queriam. Um querer que contrariava meu lado racional. Era uma
batalha travada entre o coração e a razão.
— E a razão acabou vencendo – constata, conformada.
— Sim, meu bem. Naquele momento, eu preferi não arriscar perder a
amizade do seu pai. O medo de desapontá-lo foi maior do que qualquer coisa
– confesso, de forma sincera. — E pra ser sincero, eu não me arrependo da
decisão que tomei. Meu único arrependimento é a maneira como te tratei, por
minha culpa passamos tanto tempo longe um do outro. Não pude te abraçar
nos momentos em que mais precisou de mim.
— Não precisa mais se culpar, deixa o passado pra lá. Hoje eu entendo
que você tinha razão em não querer nada comigo naquela época. Que talvez
eu não tivesse maturidade pra te dar o que precisava. Além disso, o que
importa é que estamos aqui agora. Só nos dois!
— Sim, Marina. Somente eu e você – digo, colando nossos corpos e
rostos o máximo que a física permite.
Olhando-me com seu olhar de adoração, rodeio meu braço em sua
cintura fina. Acaricio seu rosto e o afasto, encarando-o.
O clima mudou; eu fito sua boca, assim como ela mira a minha, e
percebendo o que está prestes a acontecer, Marina abre mais os olhos e ofega
de um jeito que torna quase impossível a minha respiração.
— Erick, me beija – pede, numa mistura de expectativa e desejo,
enquanto eu colo novamente nossos lábios. De repente, sinto todo o meu
corpo se arrepiar em antecipação.
— Sim, minha linda, isso é tudo o que eu mais quero nessa vida –
afirmo contra sua boca.
A princípio, ficamos com os lábios colados, sem qualquer movimento,
apenas sentindo nossas respirações se misturarem. O aroma doce do resquício
de batom que ela outrora usou invade minhas narinas, entorpecendo meus
sentidos. Devagar, passo a sugar seu lábio inferior, apreciando o doce sabor
de morango, e completamente tomada pelo desejo, Marina solta um pequeno
gemido e eu começo a chupar sua língua lentamente, num misto de euforia e
tesão.
Todo o sangue das minhas veias correm lentamente para o meu pau, e
sem que possa evitar ou controlar o que estou fazendo, deito-me por cima do
seu corpo, sentindo assim cada pedacinho do que me pertence, do foi e do
que sempre será meu. Sem desgrudar nossas bocas nem por um segundo,
desço minha mão até sua coxa roliça, envolvo-a sobre meu quadril e quase
vou à loucura quando sinto o perigoso contato dos nossos sexos sedentos por
alívio.
Tomado pelo tesão e sem conseguir pensar com clareza, começo a
fazer movimento circulares com o quadril. Simulo sem o menor pudor
movimento sexuais, como se estivesse penetrando sua boceta. Minha garota
não fica atrás, pois a cada investida que dou, ela vem me encontrar no meio
do caminho. É como se fôssemos feitos um para o outro. Já deu para notar
que entre nós dois não existirá tabus e restrições, existirá apenas nossa
corrida em busca do prazer sem limites. O nosso prazer.
O beijo também se torna mais carnal, nossas bocas estão numa dança
sincronizada de lábios e línguas; eu peço e ela dá, eu tiro e ela procura. Já
sem fôlego e a um passo de perder o controle, solto nossas bocas em buscar
de ar. Marina, sem querer dar qualquer trégua, ataca meu pescoço com várias
mordidinhas, e eu não faço outra coisa além de gemer, enlouquecido.
— Marina... Peça-me para parar, eu não aguento mais – suplico,
enquanto pressiono minha ereção no seu centro pulsante. — Não é para ser
assim – gemo, insano com as mordidas que agora recebo na ponta da orelha.
Ai, porra, se essa diabinha não parar, eu vou gozar, penso, mandando tudo
para o espaço ao começar a subir a ponta de sua camisolinha sexy...
— Puta que pariu! – urro de dor, ao sentir uma fisgada inesperada no
alto do meu tornozelo.
Intrusos
Marina

— O que foi, Erick, você tá bem? – pergunto, ao senti-lo abandonar


meu corpo de maneira súbita. Assustado, ele leva a mão ao tornozelo para só
então olhar direto para sua agressora.
Sentada na ponta da cama, Floquinho o encara tão séria quanto é
possível para um felino. Seus imensos e redondos olhos azuis o avaliam
como quem se pergunta o porquê de ter um homem em cima de sua dona.
— Ela me mordeu, Marina – diz, apontado o dedo acusador. O cenário
aqui não poderia ser mais cômico; Erick encarando Floquinho fixamente,
enquanto ela devolve na mesma moeda. Minha pequena defensora estaria
prestes a rosnar como só um cachorro faria, se Thor já não estivesse fazendo
seu trabalho. Sentado ao pé da cama, o enorme cão comporta-se como se
fosse o segurança da Floquinho. Atento, ele avalia o ambiente e cada
movimento meu e do seu dono.
É, parece que esses dois acabaram se tornando amigos, contra todas as
probabilidades, eles conseguiram essa proeza.
— Isso no seu rosto é um sorriso, garota? Tá achando engraçado o que
essa pequena ferinha fez comigo? – reclama, birrento, ainda segurando o
tornozelo como se o mesmo estivesse prestes a cair.
— Eita, deixa de drama, homem. Tira a mão daí de cima – peço, ao
arrastar-me de joelhos até o local em que minha gata está e pegá-la
carinhosamente nos braços. — Tá vendo, foi só um leve arranhão – volto a
me recostar na cabeceira da cama, acariciando a cabecinha peluda do meu
bebê.
— Verdade, foi apenas um arranhão – confessa, mansamente, enquanto
me encara com um olhar safado.
O que foi que eu perdi aqui? O homem estava até agora a pouco se
queixando de dor.
— Que cara é essa, meu amor? Pensei que estivesse prestes a perder
seu precioso tornozelo – indago, irônica, e sou presenteada com seu olhar
enigmático.
— E estava mesmo, mas aí você me presenteou com uma imagem que
faria até morto volta à vida – diz, e vejo em seus olhos a vontade que tem de
avançar. Não o fazendo apenas pelo temor que tem dos dentinhos afiados da
gata.
— Imagem? – questiono, vendo-o bater no colchão, chamando assim, o
último convidado que faltava para a festa estar completa. Comportado e
vendo Floquinho ressonar tranquilamente nos meus braços, Thor pula sobre a
cama e ajeitando-se o mais distante possível, fecha os olhos, como quem
ignorasse tudo que não fosse sua vontade de dormir.
Que interessante, os dois interrompem nosso primeiro beijo, primeiro
amasso, primeiro tudo, para depois se aconchegarem e dormirem
tranquilamente.
— Sim, minha princesa. A imagem da sua bundinha arrebitada quando
se arrastou até a gata – confessa por fim, e eu não acredito que era isso o
tempo todo. Virgem Santíssima, que vergonha! Eu, com essa lingerie
curtíssima, não parei para pensar que deixaria toda a minha bunda de fora
quando tive a brilhante ideia de virá-la em sua direção.
Pelo menos a calcinha que estou usando é descente, mesmo que esteja
completamente arruinada, desde a hora em que o vi sair do seu quarto.
— Não precisa se envergonhar – assevera, ao tirar as mãos que
encobriam meu rosto em claro sinal de timidez. — Foi uma bela visão, amor.
Ver seu rabinho empinado, com esse pedaço de pano que você chama de
calcinha todo socado na bunda, me faz ter ideias nada puras.
— Ideias, é? Que tipo de ideias, meu bem? – decido entrar no jogo de
sedução. Já que os bichinhos nos interromperam, talvez seja um bom plano
saciarmos nossos desejos de outra forma.
Para mim, não importa como isso vai ser, se é falando e ouvindo
sacanagens, ou se é se esfregando um no outro como estávamos fazendo
antes. Tudo o que me importa no momento é continuar vivenciando a alegria
e o prazer de finalmente tê-lo feito aceitar o que existe entre nós dois, fazê-lo
entender que não existe tempo ou distância capaz de eliminar ou ao menos
diminuir o amor; a paixão, o desejo e o tesão que nos consome.
Sentir seus braços me abraçarem intimamente, tão diferente das outras
milhares de vezes em que o fez, trouxe-me a sensação de finalmente ter
encontrado meu lugar. Desta vez ele não quis sair correndo, longe disso, hoje
ele me permitiu sentir o tamanho do seu desejo por mim. Meu amor colou
nossos corpos de uma forma tão íntima, que eu pude sentir sua poderosa
ereção cutucar minha barriga; se antes eu desconfiava do seu desejo, agora eu
tenho certeza dele.
Quando seus lábios finalmente me beijaram, me senti escaldar como
um vulcão prestes a entrar em erupção. O prazer foi tanto, que teve um
momento em que realmente acreditei ser capaz de gozar sem qualquer
estímulo. E apesar de toda a intensidade, o abraço íntimo e os beijos
arrebatadores foram fichinhas perto do momento em que ele partiu para cima
de mim. Eu sonhei tanto que seus beijos que talvez tenha estado mais
preparada quando ele finalmente aconteceu, só não contava mesmo era com o
turbilhão de sentimentos que me abateram quando senti seu peso sobre meu
corpo, com a forma como nos encaixamos um no outro.
Veio tudo misturado – o amor e o tesão, juntos numa briga para ver
quem domina mais espaço, se é a vontade de dormir a noite inteira nos seus
braços, ou se é a vontade de passá-la acordada, sendo preenchida de todas as
formas e intensidades que ele quiser e que aplaque pelo menos um pouco da
dor que sinto no meio das pernas, que me recompense por todas as vezes em
que acordei subitamente, logo após um sonho erótico. Sonhos que me fazem
acordar molhada de tesão. Ocasiões onde não me resta outra saída, a não ser
enfiar meus próprios dedos dentro da calcinha, e numa masturbação
superficial, conseguir o mínimo de alívio. Esse prazer fugaz por mim mesma
proporcionado nunca é o suficiente, uma vez que minha mente insiste em
permanecer com a imagem de Erick. Sua presença sempre foi sentida, tanto
nestes momentos íntimos quantos nos beijos desajeitados dados em garotos
que nunca fizeram um por cento do que somente sua imagem faz em meu
corpo, alma e coração.
Agora estou aqui, sentada no aconchego de uma cama de casal ao lado
do homem que amo, e a vida está aí para provar que a realidade é muito
melhor do que os sonhos.
— Quer mesmo que eu te diga? – questiona, sem conseguir esconder
seu olhar arruinador de calcinhas. Em resposta, eu apenas afirmo
positivamente, com um leve balançar de cabeça. — Tudo bem, mas antes,
vamos tirar as crianças do quarto, eles são inocentes demais pra ouvir ou ver
nossas putarias – avisa, e eu acho graça de ele verdadeiramente achar que eles
são crianças e não animais. Não que eu não concorde que eles são dois bebês
inocentes. O mais divertido disso é ver um marmanjo como ele falar dessa
forma.
— Concordo plenamente – digo, e já estou me preparando para
levantar, quando sou interrompida por ele.
— Pode deixar que os levo, meu amor – pega Floquinho
carinhosamente dos meus braços, que sem esboçar nenhuma reação negativa,
continua dormindo. Aquela cena toda dela foi apenas motivada pelo ciúme,
afinal de contas, ela nunca tinha convivido com muitas pessoas além das de
costume. Sempre foram apenas eu, papai e minha amiga, Ângela. Seu extinto
de proteger a dona deve ter aflorado ao avistar aquele homem enorme em
cima de sua mãe.
Não esperava outra atitude da minha menina.
— Vou levar Thor pra área de serviço. Eu acabei arrumando um
cantinho para colocar a casinha dele. — Vem, garotão – chama o animal com
uma leve palmadinha nas suas costas.
— Isso, campeão – elogia, ao vê-lo descer e sair sozinho do recinto.
Esperto como é, Thor deve ter ido direto pra caminha. — E ela, meu bem?
Onde quer que eu a deixe? – indaga, já parado ao lado da porta.
— Coloca no meu quarto mesmo. O cestinho dela está ao lado da cama
– explico.
— Só um segundo – manda um beijo bobo e sai do quarto.
Ouço o bater da porta e imediatamente me viro na direção do espelho
que enfeita a porta do seu closet. Aproveitando-me dos poucos segundos que
tenho, arrumo meu cabelo, analiso se meu rosto está nos conformes e ajeito-
me na cama de uma maneira que me faça parecer mais segura e sexy. Se é
que existe uma posição para isso.
Será que vamos transar hoje à noite? Não sei se estou preparada para
dar esse passo tão definitivo, apesar de querer muito. Mas sabe de uma coisa?
Eu não vou ficar pensando nisso agora, se tiver que ser hoje, que seja. Na
hora, eu vejo se estou ou não confortável com isso. E se não tiver, com
certeza terei a coragem de falar não. Meu amor me entenderá, disso eu não
tenho dúvidas.
— Pronto. Crianças dormindo e os pais fazendo a festa – brinca, ao se
deitar no mesmo lugar que anteriormente estava.
— E então, Erick, você enrolou tanto que acabou não me falando das
tais ideias – jogo na cara e logo fico sem graça, daqui a pouco ele vai pensar
que eu estou no cio.
— Você quer transar, Marina? – sabia que tinha passado essa
impressão. Que mico da porra.
— E-eu não... Quer dizer... – pensa, Marina. Pensa, caralho!
— Não precisa ficar assim, amor, eu estou louco de vontade também –
confessa, ao pegar minha mão. — Sinta como ele fica animado por sentir seu
cheiro tão de perto, minha gostosa – demonstra, colocando minha mão em
cima da sua coxa, a apenas uns poucos centímetros de sua visível ereção.
Agora, além de não conseguir desviar os olhos do seu pau, também não me
sinto capaz de conter minha mão, mais um pouco e eu o pego de jeito. —
Sabe o que eu imaginei quando vi seu rabinho todo de fora e ainda por cima
com a porra da calcinha socada na bunda? – pergunta, num tom de voz
gutural, ao se chegar mais para perto do meu corpo.
— Não – respondo num fio de voz, ao sentir o calor de sua mão quente
subir sedutoramente por minha coxa, que neste momento está junta da outra.
É como se mantê-las unidas pudesse de algum modo conter um pouco do
fogo que ameaça me consumir.
— Imaginei nós dois aqui, ou em qualquer outra superfície. Você
estaria de quatro, igual fez ao pegar Floquinho – começa, aproximando a
boca do meu ouvido, ao passo que a mão parou no começo da minha coxa,
tendo o dedo indicador perigosamente perto da minha boceta.
Sua ação tem o instantâneo poder de fazer com que eu afaste minhas
pernas, deixando entre elas espaço suficiente pra que ele faça o que quiser
com a mão que ali descansa. — Eu viria por trás, afastaria sua maldita
calcinha para o lado e socaria meu pau em sua boceta até que implorasse por
clemência; eu bateria tanto nessa bocetinha apertada que você me sentiria
dentro dela por dias a fio. Sentiria a dor de ter sido bem comida. Iria saber
que quem esteve aí dentro foi seu homem, o único que teve e que vai ter esse
privilégio – despeja todas as suas taras. É como se estivesse liberando o que
por tanto tempo foi reprimido. — E você gostaria disso, não é, minha safada?
Adoraria tomar ele até o fundo – fala, mordendo meu pescoço fortemente,
fazendo-me me sentir uma fisgada de dor, que logo é substituída por prazer
quando a sua mão entra na minha calcinha.
— Oh... sim – confesso, ensandecida de tesão.
Não mais aguentando manter minhas mãos paradas e querendo lhe
proporcionar o mesmo prazer que sinto, agarro seu pau ainda dentro do
moletom. Sem saber muito bem o que fazer, decido colocar em prática todo o
meu conhecimento adquirido dos vídeos pornôs que tanto assisti. Com os
dedos juntos, seguro seu membro pulsante, e num ritmo cadenciado, passo a
fazer movimentos de vai e vem; vou da base até a ponta, apartando somente o
que acho necessário. E pelo visto estou indo pelo caminho certo, já que tenho
seu olhar cheio de surpresa e desejo fixos no meu rosto.
— Isso, minha safada – solta um urro gutural, trazendo seu corpo
parcialmente para cima no meu. Sem se fazer de rogado e deixando-se levar
pelo desejo, Erick começa a fazer movimentos circulares e ritmados no meu
sexo gotejante. Seus dedos passam a estimular meu clitóris inchado, e eu, já
prestes a gozar, começo a estimular e apertar a ponta do seu pau, que acabou
de molhar o moletom cinza com seu líquido pré-gozo.
— Mais rápido, minha linda. Isso, porra – elogia, e completamente fora
de controle, começa a dar fortes tapas na minha boceta, que dói pela vontade
de ser preenchida e queima de excitação pelos tapas.
Nunca imaginei que sentiria tanto prazer com a dor, mas o fato de estar
a ponto de gozar por tapas grosseiros, mostra que talvez eu seja uma puta
masoquista.
— Oh, Erick... Acho que vou... – não consigo terminar a frase, quando
sinto meu corpo convulsionar num orgasmo que quase me faz perder os
sentidos. Só não o fiz porque os planos do Erick eram outros. Perdido de
desejo, ele coloca umas das mãos em cima da minha e começa a ditar o ritmo
do meu aperto. Após alguns segundos, ele solta minha mão e volta a se
dedicar apenas ao meu prazer. Com dois dedos dentro do meu sexo, ele
começa a estocar vigorosamente. E assim ficamos; os dois loucos de paixão e
tesão, buscando o prazer do outro.
— Isso, caralho, mais rápido. Mais rápido, minha gostosa – pede, e
também aumenta os movimentos de suas estocadas. — Eu vou gozar, porra...
– diz, ao expelir um jato de sêmen que molha toda a frente de sua calça, no
mesmo instante em que eu quebro no meu segundo orgasmo.
Puta que partiu! Meus sonhos parecem borrões pálidos e sem graça
ante à realidade do que aconteceu agora.
Ainda trêmulos, porém saciados e felizes, Erick e eu nos fitamos em
cumplicidade.
— Você está bem, minha linda? – indaga, quando tombamos deitados
de barrigas para cima e com os rostos virados um para o outro. — Foi bom
pra você? Não acha que fomos rápidos demais?
— Foi mais do que bom, meu bem, nem meus melhores sonhos me
prepararam pra grandiosidade do que fizemos e do que senti – confesso,
sincera. — Espero que tenha sido bom pra você também, amor.
— Bom nunca será o suficiente pra descrever a alegria de finalmente te
ter dessa forma, Marina. Eu finalmente tenho minha mulher no lugar que
sempre pertenceu – debruça-se, beijando carinhosamente minha boca. — E se
prepara que isso é só o início, minha delícia – afirma, dando beijos no meu
pescoço.
— Agora vamos limpar essa bagunça? – diz, fazendo-me olhar
instintivamente para sua calça, que ostenta uma enorme mancha, e quase
desfalecendo de vergonha ao me dar conta do seu olhar sobre minha calcinha
igualmente molhada. A pobre da camisola está toda embolada na altura da
cintura.
— Ei, não tem necessidade de ficar constrangida. Essa aqui é a nossa
bagunça. Só nossa, é a prova do amor que fizemos aqui – termina de dizer, e
eu fico impressionada com sua habilidade em me acalmar, em sempre me
trazer a sensação de que tudo sempre dará certo, desde que estejamos juntos.
— Fica quietinha aí, vou pegar uma roupa pra você – levanta-se num
pulo.
Em frente ao closet, ele tira o moletom e a cueca de uma só vez,
deixando-me vislumbrar sua bunda firme e musculosa. Devo confessar que
essa sim é a visão do paraíso.
— Apreciando a vista, pequena? – questiona, ao abaixar-se para vestir
sua boxer preta da Calvin Klein, logo depois, ele retira uma camiseta cor
creme de umas de suas inúmeras gavetas. Olho em volta e fico admirando a
organização do ambiente, não tem nada fora do lugar. É realmente de se
impressionar, tendo em vista o fato de ele ter acabado de mudar.
— Não nego nem confirmo – brinco, e ele sorri da minha resposta
vaga.
— Toma, anjo, vista isso – se aproxima e me entrega a vestimenta, mas
não sem antes me dar um selinho. — Posso me virar de costas se você quiser
um pouco de privacidade pra se trocar – fala, todo cavalheiro.
— Não há necessidade, já temos intimidades o suficiente pra que exista
esse tipo de pudor – afirmo, e tiro a camisola pela cabeça; logo depois, retiro
a calcinha empapada, ficando nua sob o olhar guloso do meu amor.
— Apreciando a vista, grandão? – uso sua frase.
— Demais, minha gata, mais um pouco desse show de beleza e você
me terá babando nos seus peitos.
— Seu safado – visto sua camiseta, que mais parece um vestido no
meu corpo, e volto a me deitar na sua aconchegante cama. Erick, por sua vez,
sai desligando as luzes do ambiente, deixando apenas o abajur do seu lado da
cama aceso.
Deitada de lado e pronta para dormir, sinto o outro lado da cama
afundar com peso do seu corpo. Sem fazer muito barulho, se deita atrás de
mim e abraça possessivamente a minha cintura, deixando-nos assim numa
perfeita e confortável conchinha.
— Dia cansativo? – pergunta, ao beijar meu rosto ternamente, e penso
que talvez esse seja um dos motivos de eu amá-lo tanto. O homem que me
acalenta em seus braços fortes nem de longe se parece com o selvagem que
agora há pouco me pegou com firmeza e falou tantas obscenidades. Essa sua
capacidade de me fazer feliz em todas as suas personalidades apenas
confirma a fato de ter escolhido a pessoa certa para entregar meu amor.
— Eu não diria cansativo, mas sim intenso – divago. — Intenso e feliz.
Talvez o dia mais feliz da minha vida, até agora – confesso, prestes a me
entregar ao sono.
— Da minha também, pequena – diz, também sonolento. — Agora
durma.
— Eu te amo, Erick – ainda consigo dizer.
— Eu também te amo, Marina – ouço, antes de cair num sono
profundo.
Acertos
Erick

— Meu amor, está na hora de acordar – digo, preguiçosamente, ao


despertar do que considero a melhor noite que tive em muitos anos.
Posso parecer um piegas ao atribuir a ela e à nossa relação tudo de bom
que vem acontecendo nas últimas horas. Se ser sincero com ela e com meus
sentimentos é ser piegas, então eu sou o maior piegas que o mundo já viu.
Não sei se culpo meu amor incontestável ou a falta de entusiasmo que sempre
tive com as outras mulheres, mas a verdade é que todas as primeiras vezes
com ela foram as melhores da minha vida adulta. Seja o primeiro abraço nada
inocente, onde deixei que sentisse o tamanho do meu desejo por ela, seja
nosso primeiro beijo em que a óbvia falta de experiência foi compensada por
seu entusiasmo, ou seja por nossa primeira masturbação mútua. Podem se
passar mil anos e eu nunca serei capaz de esquecer a cena vivida aqui nessa
cama. Lembrarei do seu rosto contorcido de prazer quando enfim gozou em
meus dedos, da surpresa que senti ao vê-la tão corajosamente manusear meu
pau, mesmo que teoricamente não soubesse como fazer.
Perfeita, essa noite foi pura perfeição!
Se houvesse um ranking em que fossem eleitos os melhores dias da
minha vida, esses momentos com certeza estariam no topo. Sendo o segundo
lugar preenchido pela delícia de segurá-la nos braços, depois de cair num
sono pesado, graças às nossas brincadeirinhas. Vê-la dormir com nada além
da minha camiseta me faz tão possessivo que a vontade que tenho é de bater
com os punhos no peito, tal qual um homem das cavernas. Despertar e ter seu
rabinho colado na minha ereção matinal é como ter seu prato favorito ali na
sua frente, e que você está louco para comer até se lambuzar, mas sabe que se
exagerar pode trazer sérios riscos à saúde. É assim que me sinto agora ao ter a
plena noção de que minha mulher não usa nem mesmo a porra de uma
calcinha, que é só descer minha boxer, levantar um pouco sua perna e meter
com ela assim, deitada de ladinho, com as costas apoiadas no meu peito. Eu
meteria até o talo, tiraria e meteria de novo, isso até nós dois cairmos mortos,
porém prontos para um novo dia...
— Vamos, minha linda, deixa de ser preguiçosa – lhe mimo, colando
nossos corpos mais um pouco. Incapaz de resistir, enfio minha mão por
dentro da camiseta e vou subindo até alcançar seus seios, que me deixam
pronto todas as vezes que percebo que estão duros de excitação. Essas
delícias são tão sensíveis que é até jogo baixo com minha garota, uma vez
que eles sempre vão denuncia-la. Eles são tão sensíveis, que nunca haverá o
dia em que ela conseguirá mentir sobre suas vontades. Se eu quiser saber sua
disposição em me dar, é só olhar para os gêmeos; se eles estiverem piscando,
é porque também querem entrar na festa.
Que chance Mari tem contra esse trio de peso? Agora, por exemplo,
estão durinhos feito pedra, denunciando assim, o fato de ela não estar tão
inconsciente assim. — A senhorita não tem aula hoje? – pergunto, como
quem atira no escuro. Durante o período em que ficamos afastados, sempre
me mantive atento sobre tudo que lhe diz respeito, por isso sei que já
terminou o colegial e que agora faz um curso de fotografia. Segundo fui
informado pelo próprio pai dela, Marina pretende ser fotógrafa profissional,
dessas que fotografam modelos e atores famosos para ensaios e capas de
revistas.
— Não, amor. O curso é só mais tarde, umas 09h30 – diz,
preguiçosamente, ao empinar a bundinha contra meu pau, que está mais do
que disposto. O bastardo ganancioso está pronto para outra festa como a de
ontem. — Que horas são? – pergunta, sem mover um único músculo. Já
percebi que ela não é uma pessoa matutina, mas nada que um namorado
cheio de amor para dar não resolva. Nessa parte, nossa diferença é bem-
vinda. Porque se Marina acorda como um bebê emburrado, eu por outro lado,
acordo pronto para distribuir carinho.
— 06h30, Mari. Despertei e fiquei preocupado que você estivesse
perdendo aula – belisco o bico do seu seio e ouço-a ofegar bem baixinho. —
Eu também tenho que ir pro escritório – explico, mordendo a carne do seu
pescoço.
Mesmo sendo um dos donos, nunca tive o hábito de chegar tarde ao
trabalho, muito contrário, geralmente sou um dos primeiros a chegar. Assim
que nos formamos e pegamos nossa carteira da OAB, João e eu não medimos
esforços para tornar o J&E Advogados e Associados um dos mais renomados
escritórios do país. Ele especializado nas áreas civis e trabalhistas, e eu nas
áreas criminais e tributárias; assim trabalhamos durante muitos anos. E entre
chegar no horário certo e cumprir prazos, nós dois chegamos juntos ao topo
que sempre almejamos. Agora, farei de tudo para continuar do jeito que João
sempre gostou.
— Não. Fica mais um pouco, só um pouquinho. Ainda está tão cedo –
resmunga, como um bebê manhoso.
— Oh, meu Deus, que mulher preguiçosa essa minha – brinco, ao jogar
minha pesada perna em cima do seu quadril, fazendo-a perceber o quão
animado acordei. A mão que apertava o seio direito agora acaricia sua barriga
em movimentos circulares.
— Ele não dorme nunca? – indaga, maliciosa ao apertar o rabinho
contra meu cacete.
— Quando está na sua presença, não. Seu cheiro o deixa babando de
vontade de entrar na festa.
— E por que não entra? – provoca, rebolando de maneira quase
imperceptível. Outra pessoa vendo a cena não perceberia o que a safada está
fazendo.
— Você é mesmo uma putinha safada, não é, minha gostosa? – deito-a
de barriga para cima e rolo para cima do seu corpo. — Fica me atiçando
assim, tão descaradamente. Faz isso apenas porque sabe que não irei fazer
nada – digo, mesmo sabendo não ser esse o motivo das suas investidas que
tanto amo. Marina me atiça até o limite da razão, no entanto, eu tenho plena
certeza de que ela não faz joguinhos. Tudo é genuíno e espontâneo. É apenas
a demonstração pura e genuína das suas vontades mais íntimas.
— Como assim não vamos fazer nada, Erick? – indaga, com uma
expressão temerosa em seu rosto.
— Amor, você ainda não completou dezoito anos, não acha melhor
esperarmos até que complete a maioridade? – retiro minha perna de cima do
seu quadril e agarro seu bumbum, na tentativa de fazê-la parar de me atiçar.
Se já é difícil resistir com ela parada, imagina meu sofrimento quando decide
me provocar. — Só mais alguns meses.
— Seis meses é tempo demais, Erick. Não vejo motivos para não
darmos esse passo. Eu te desejo tanto – confessa, despindo-se de qualquer
pudor ao me dizer o que quer. Esse seu jeito aberto muito me encanta,
demonstra sem precisar ficar reafirmando com palavras a sua confiança em
mim. Confiança essa que por muitas vezes não fiz por merecer. — Além
disso, falta tão pouco, que se transarmos agora ou daqui a uns meses não fará
muita diferença – argumenta.
— Esse sim é um bom argumento, minha gatinha curiosa – elogio, ao
apertar sua nádega de mão cheia. — Aqui em casa, estando só nós dois,
talvez não tenha nenhum problema em agirmos como um casal de
namorados, pois é isso que somos. Já lá fora...
— Lá fora?
— Sim, pequena. Acho que não é o momento de aparecermos em
público como um casal – afirmo, torcendo para que ela entenda o que irei
propor.
— Não aparecermos como um casal? O que isso significa, Erick? – tira
minha mão e senta na cama num supetão. Com um ponto de interrogação
estampado do rosto, ela vira em minha direção, apenas aguardando a resposta
que em nada vai lhe agradar. — Não vou poder contar pra ninguém? –
indaga, chateada, e eu acabo levantando também. Agora, sentados frente a
frente e de pernas cruzadas, nos olhamos com olhares sérios e
compenetrados.
— Não é isso, meu amor. Pensa comigo: você é menor de idade, seu
pai, que era meu sócio e melhor amigo, acabou de morrer. Você acha mesmo
que as pessoas vão entender nossa relação neste momento? – questiono,
fazendo-a entender que as coisas não são tão simples como gostaríamos que
fosse.
Infelizmente.
— Eu não tinha parado pra pensar nisso – diz, pensativa.
— Você é muito nova, Marina, não sabe até onde vai a crueldade das
pessoas – previno, pois apesar de ser de família rica e de ter participado de
alguns eventos da alta sociedade de São Paulo, ela ainda não teve o desprazer
de conviver mais de perto, de conversar ou presenciar a crueldade desse tipo
de gente. Os mais abastados sentem-se no direito de julgar sem conhecer, e
de apontar sem saber o que há por trás de uma história. — Você não tem
ideia do que pessoas como as que sempre rodearam eu e seu pai são capazes
de fazer, do que seriam capazes de inventar a respeito da nossa relação.
— Até quando, Erick? Seremos reféns dessa gente, é isso? – questiona,
indignada e com razão. Marina é boa demais para suportar qualquer tipo de
discriminação e maldade. Sua bondade me orgulha na mesma proporção com
que sua ingenuidade me preocupa. Preciso e vou garantir que nenhum abutre
se aproxime dela. Não sei o que seria capaz de fazer se lhe magoassem por
minha causa.
— Não, carinho, não será para sempre. Eu proponho esperarmos pelo
menos até que fique maior e que a morte do seu pai não esteja tão recente.
— Você tá certo, amor, vamos manter em segredo, por enquanto. Mas
será que tem algum problema eu contar apenas para minha amiga Ângela?
Você a conhece, não é mesmo? – pede, fazendo beicinho. A safada sabe que
eu não resisto a um pedido seu quando faz isso.
— Lembro-me vagamente da garota, e se você confia nela, eu não vejo
problema nenhum em você falar sobre a gente.
— Confio, sim. Só pra você saber, Ângela é minha maior confidente.
Foi ela quem me suportou falando de você, chorando por você e tendo
ataques de ciúmes por sua causa. Nada mais justo do que ser a primeira a
saber do nosso... – dá uma pausa e me analisa atentamente. — Nosso o que
mesmo, Erick?
— Não sei, gatinha, namoro eu acho que não pode ser, até porque a
senhorita tem um noivo, não é mesmo? – lembro de suas palavras e a vejo
juntar as duas mãos fechadas sobre o rosto, que queima de constrangimento.
— Eu não posso namorar uma pessoa comprometida.
— Para de palhaçada, Erick, você sabe muito bem que não existe noivo
nenhum. Eu inventei um por sua culpa – fala, ao dar um tapa no meu braço.
— Agora a culpa é minha? E eu não sabia que era invenção sua.
Acreditei de verdade e quase tive um infarto no meio da sala.
— Acho é pouco, quem manda me irritar? Sorte a sua ser mentira –
diz, ao dar de ombros.
— Não, Mari, o único a ter sorte aqui foi seu noivo imaginário. Não
pense nem por um minuto que eu permitiria que te tirassem de mim. Isso
entre nós dois, mais dias ou menos dias ia acontecer, amor. Eu sou seu
namorado e você é minha namorada, é isso que sua amiga precisa saber.
— Tudo bem, namorado – aproxima-se, na intenção de dar um selinho,
e quando tento aprofundar o beijo com a ponta da língua, ela levanta-se da
cama num pulo.
— Que foi? Você está bem? – indago, tentando abraçá-la.
— Não – afasta-se dos meus braços e sai em disparada rumo à porta.
— Apenas lembrei que acabei de acordar. Além disso, não podemos nos
atrasar, faça suas coisas e me encontre lá em baixo para tomarmos café –
finaliza, e sai do quarto, deixando-me sem entender nada.

— Oi, pequena, em dez minutos eu chego aí – falo ao telefone com


minha namorada. Já são quase 06h tarde, e como o combinado, irei passar
num barzinho perto do curso para pegá-la. Mais cedo minha garota me ligou
avisando que depois do curso iria encontrar a amiga Ângela.
— Ok, querido – responde, com a voz manhosa. — Espero
ansiosamente – sussurra essa parte, e eu olho irritado para o painel do
elevador. A porra parece descer mais devagar que o normal; 7, 6, 5, 4, 3, 2,
1... e finalmente ele chega ao térreo do tribunal onde eu normalmente
participo das audiências. Chegando na garagem, entro no carro e saio em
disparada para os braços da minha garota.
O dia hoje não poderia ter sido mais feliz. Depois de acertamos os
pontos do nosso namoro, Marina e eu tomamos o café da manhã cheio de
carinho e intimidades. Entre beijinhos e dar comida na boca um do outro, nós
dois não fizemos questão de esconder dos empregados nossa relação, já basta
ter que fingir fora de casa. Aqui não, essas paredes serão as maiores
testemunhas do nosso amor, só espero que elas sejam resistentes. A única
coisa ruim da nossa primeira manhã como casal foi o fato de ela ter acabado.
Às 07h30 tive que me despedir da boneca e ir ao trabalho, meu lento e
enfadonho trabalho. Pelo menos é assim que venho pensando durante todo o
dia de hoje. Eu e ela, como duas pessoas que acabaram de assumir uma
relação, só queremos ficar juntos o tempo todo.
Quando finalmente chego, avisto Marina e sua amiga sentadas numa
mesa de madeira do lado de fora do bar. Passo alguns segundos observando
sua beleza jovem, quando um rapaz de mais ou menos uns vinte anos se
aproxima e senta ao lado da minha mulher. Ele apenas cumprimenta Ângela e
logo passa a conversar com Marina, ignorando completamente a presença da
outra.
Quem esse filho da puta pensa que é para estar tocando minha mulher
desse jeito, porra? Saio do carro, furioso ao ver o cara acariciar seu braço que
descansa sobre a mesa.
— Marina? – chamo, e tanto ela quanto o moleque viram as cabeças
para trás com olhares assustados. A amiga apenas me fita, paralisada e de
boca aberta, já que estava sentada de frente e foi a primeira a perceber minha
chegada. — Atrapalho?
No lugar do outro
Marina

— Erick? – digo, surpresa, ainda que estivesse lhe esperando. Olho


dele para a mão de Mateus em meu braço e o puxo como se estivesse sido
pega cometendo um delito. — Chegou rápido – seu olhar furioso em mim
denuncia que acabei de falar a coisa errada na hora errada. Puta que pariu!
Por que Mateus tinha que aparecer logo agora? Ainda mais sem ser
convidado. A menos, é claro, que sua priminha o tenha chamado e esquecido
de me avisar desse detalhe importante. Não é que eu ache o Erick um cara
ciumento ou que faria algum tipo de escândalo, para falar a verdade, eu não
sei o que pensar a respeito disso, afinal de contas, estamos namorando há
apenas um dia – ou uma noite, para ser mais exata. Não tenho ideia de como
ele reagiria vendo cenas como essa. A cena em si não teria nada demais se eu
não soubesse qual é a do Mateus.
— Pois é. Mas como você pode ver, eu já estou aqui, vamos? – fala,
sarcástico e mal-educado, pelo visto. Ele está me constrangendo na frente dos
meus amigos.
— Erick, você lembra da Ângela? – indago, tentando quebrar o gelo e,
quem sabe, trazer de volta o seu bom humor que provavelmente deixou
dentro do carro. Se bem que ele fica tão sexy com essa cara de mau, com esse
olhar gelado e testa franzida, que tenho vontade de deixá-lo mais irritado
ainda, apenas para ter mais desse olhar, para ter um pouco do seu modo
bruto. — Minha amiga que sempre estava lá em casa – dou-lhe um olhar
suplicante. Erick não pode tratá-la com hostilidade, não quando eu passei a
tarde inteira falando do quanto ele é gentil, do quanto me fez feliz quando me
beijou e tocou intimamente. Ângela no mínimo acharia que sou uma
mentirosa e eu não quero nenhum tipo de atrito com ela. Ângela tem sido
minha amiga desde que me entendo por gente, não quero gerar mais
desconfiança num relacionamento que ela já não vê com bons olhos. Para ela,
eu sou nova demais para assumir uma relação com um homem maduro feito o
Erick.
— Lembro, sim – desvia o olhar de mim para ela. — Desculpa minha
indelicadeza. Como tem passado, Ângela? Marina fala muito de você –
revela, ao pegar sua mão e beijá-la gentilmente. No mesmo instante, sinto o
bichinho do ciúme me picar, o que é patético da minha parte. Erick está
apenas tentando ser gentil e ela é minha amiga. Amiga essa que agora tem um
sorriso tímido no rosto e as bochechas coradas num tom de vermelho vivo;
nem de longe parece a mesma garota que contesta tanto nossa relação.
— Estou bem, senhor... – responde, insegura, e eu percebo sua
indecisão sobre como deve chamá-lo, porque afinal de contas, se fôssemos
avaliarmos nossa idade e a dele, seria aceitável usar esse tipo de tratamento.
Só que neste caso a situação é deferente, uma vez o "senhor Erick" também é
meu namorado. — E espero que ela fale apenas coisas boas ao meu respeito.
— Pode ter certeza que sim. Marina é muito leal – diz, olhando-a com
seriedade, e eu quase tenho a sensação de que ele não confia nela.
— E você, rapaz, quem é? – desvia o olhar para um Mateus, que até
então apenas observava a cena com atenção. Eu já tinha até esquecido da sua
presença desnecessária. Ainda não entendi a necessidade que Ângela tem em
tentar enfiar esse garoto em todos os programas que fazemos, seja como o de
hoje, quando era para estarmos só nós duas e de repente ele aparece, ou nas
reuniões que fazemos mensalmente, reunindo toda a galera do colégio.
Mateus é primo de Ângela por parte de mãe, e segundo minha amiga,
ele veio passar uma temporada com a família dela porque estaria dando
muitos problemas na cidade do interior em que vivia com os pais e uma irmã
pequena. Com vinte anos, o cara já reprovou vezes o suficiente para ter que
fazer o último ano do ensino médio junto com a prima de dezoito anos. Ele
chegou e desde então Ângela tem feito de tudo pra encaixá-lo no nosso grupo
de amizade. Eu nunca fui do tipo de pessoa que julga os outro, que entra em
panelinhas e não deixa ninguém de fora se aproximar, pelo contrário, sempre
fiz questão de me aproximar de quem quisesse minha amizade, não excluindo
por condições financeiras ou qualquer outra babaquice do tipo. Mas com
Mateus não deu para segurar, o cara chegou ao colégio todo cheio de marra,
se achando o suprassumo da virilidade, apenas por ser um cara mais velho no
meio da pirralhada. Ele saiu dando em cima de todas as garotas, quer dizer,
não todas, apenas as que, na sua visão, tivesse uma melhor condição
financeira ou um sobrenome influente na alta sociedade. O pior disso não é
nem a inconveniência de suas ações, e sim sua maldade, já que sua única
intenção em paquerá-las era de massagear seu ego.
O babaca iludia as pobres coitadas, chegando inclusive a levar algumas
para a cama, segundo ele mesmo se gabava, para depois meter o pé na bunda.
Isso tudo porque, além de idiota, esse garoto também é pretencioso. Besta é
quem ainda cai no papo dele, afinal, não é segredo para ninguém que sua
mira sempre esteve virada para mim.
Infelizmente.
Com a ajuda da prima, Mateus passou o ano inteiro no meu pé, sendo
inconveniente por mais vezes do que sou capaz de aguentar. Sempre dando
um jeito de aparecer nos mesmos locais em que eu estaria e com a mania
irritante de querer sempre me tocar. Não é como se eu nunca tivesse lhe dado
um fora. Eu já dei e não foram poucos, mas o cara simplesmente não se toca.
Fica querendo forçar uma eterna barra. Acho que se ele forçar mais, coloca
um ovo.
O pior disso tudo é que o interesse nunca foi genuíno, o que mais
chamou sua atenção em mim foi classe social e status, mas, pra seu azar, isso
nunca me importou.
Eu estou com tanta raiva desse moleque, que eu nem sei o que sou
capaz de fazer se ele tiver estragado meu namoro já no primeiro dia.
— Tudo bem, senhor? Prazer, Mateus – oferece a mão em
cumprimento e Erick não aceita. Ele continua com as duas mãos dentro do
bolso, e confesso que fico com um pouco de pena do cara. — Sou primo da
Ângela e amigo da Mari – dá ênfase no amigo, me chama pelo apelido e
minha pena some imediatamente, já que esse idiota está claramente tentando
provocar o meu namorado.
— O prazer é meu – diz, mordaz, e não consegue disfarçar o
sentimento contrário. Seu rosto demostra um verdadeiro desprazer. —
Vamos? – me chama, e quando vou me levantar, Mateus ataca novamente.
— Não, Mari, fica mais um pouco – fala, na cara dura, ignorando a
presença do Erick. — Acho que seu pai não vai se importar – olho para Erick
e ele está quase cuspindo fogo pelas ventas.
— Eu não sou o pai dela – responde de má vontade, e eu quase caio
para trás quando sinto o braço de Mateus abraçar meus ombros por cima do
encosto da cadeira. Olho para Erick e ele agora está encarando a mão do
folgado como quem lançasse facas pelos olhos.
— Desculpa pelo vacilo – levo meu tronco mais para frente, afastando
seus braços de polvo de perto de mim. — Deve ser o tio, então. Por que você
nunca me falou que tem um tio tão maneiro, gata? – pergunta, como se eu e
ele tivéssemos alguma intimidade para eu que lhe desse esse tipo de
informação. Quem dirá para que me chamasse de gata. Cara mais detestável.
Eu vou matar a Ângela, ela vai me pagar muito caro por me fazer passar por
esse constrangimento.
Pela cara com que meu amor me encara, eu estou muito na merda.
— Ele também não é tio dela – a bonita resolve abrir a boca pela
primeira vez desde que essa cena patética começou. — Será que dá pra calar
a boca só um pouquinho? – pede, já sem paciência para as inconveniências
do primo.
— Não tem problema, Angel, já estamos de saída – ignoro a pergunta
anterior de Mateus, levanto-me da cadeira e vou de encontro a Erick, que está
parado a poucos passos da mesa.
— Até logo, amiga – mando um beijo de longe. — Foi um prazer,
Mateus – digo, seca, esperando não ter o desprazer de vê-lo tão cedo.
Erick e eu damos apenas um passo em direção à calçada, quando
somos interpelados por uma pessoa.
— Erick, que surpresa te encontrar aqui – a mulher loira e elegante o
abraça numa intimidade que muito me incomoda. — Acho que se tivéssemos
combinado esse encontro, ele não teria dado tão certo – fala, com as unhas
grandes fincadas no seu braço escondido por baixo da manga do terno. Ainda
bem, senão essa vaca seria capaz de furar o braço do meu Erick com essas
garras.
— Tudo bem, Patrícia? – pergunta, sem fazer um único movimento
para tirar as garras do seu braço. Nem parece o mesmo cara que até uns
instantes atrás estava se roendo de ciúmes, um ciúme bobo e infundado. Ao
contrário dele, que está todo risonho para o lado da Pamela Anderson. — É
uma coincidência mesmo, já não basta isso ocorrer todos os dias pelos
corredores do escritório? – insinua algo, mesmo que de forma educada, e eu
percebo duas coisas: a primeira é que ela provavelmente deve trabalhar no
escritório e a segunda que é os corredores da J&E Advogados e Associados
devem ser muito estreitos para a pobre mulher ter o desprazer de esbarrar o
com chefe a todo momento.
Deixando o ciúme de lado, fixo o olhar na mulher e começo a analisar
a "concorrência". Aparentando ter seus trinta e poucos anos, Patrícia tem no
rosto a expressão fria de uma mulher vivida e que sabe encobrir bem suas
intenções e sentimentos, ela é tão boa nisso, e está inclusive fingindo não
notar minha presença. Não que isso seja possível, uma vez que estou
praticamente colada nele, mas ela bem que tenta.
— Verdade, Erick, estamos sempre nos esbarrando – inclina o tronco
um pouco mais para frente, pensando que talvez assim seu decote fique mais
visível aos olhos do meu homem, que corre o sério risco de se tornar "ex",
caso ele tenha a audácia de olhar para essa biscate. — E eu não chamaria de
consciência, e sim de destino – dessa vez ela foi longe demais.
— Erick, podemos ir, por favor? Eu estou ficando cansada desse
ambiente, tá meio sufocante – digo, ao abanar o rosto teatralmente com as
mãos. Só espero que a biscate se toque.
— Oh, nem tinha te visto aí, menina – coloca a mão na boca, numa
perfeita encenação de surpresa. É, parece que temos uma atriz melhor do que
eu aqui, está quase merecendo o Oscar. — Você não me disse que tinha uma
sobrinha, Erick? – indaga, querendo parecer simpática. Ai, que ranço dessa
mulher.
— Já é a segunda vez que respondo isso hoje – fala, num mau humor
que dessa vez muito me agrada. — Ela não é minha sobrinha.
— Não? – não, vaca. Fala para ela, Erick, diz que somos namorados.
— Essa é a Marina, filha do João Junqueira, lembra? – ela me fita,
surpresa, e eu lhe retribuo com um sorrisinho amarelo.
— Meu Deus, há quanto tempo não te vejo, menina – aperta minha
bochecha como se eu fosse uma criança. — Nossa, como você cresceu, a
última vez que te vi você tinha uns quatorze anos de idade.
— Pois é, parei um pouco de ir nesses eventos do escritório. Lá só tem
gente chata – falo, e ela continua plena, age como se eu não tivesse acabado
de chamá-la de chata.
— Não fale assim, Marina – o babaca resolve abrir a boca quando eu
não pedi sua opinião. Se fosse para falar, ele teria ficado calado.
— Deixa ela, Erick, Marina tá apenas brincando. Além disso, ela é
apenas uma menina – diz, e ele permanece calado. — Como poderia esquecer
ela, se todas as vezes em que te avistava ela estava junto? Às vezes eu tinha
até pena. A pobrezinha só queria um pouco de atenção, não é mesmo? Eu me
colocava em seu lugar, criança, não deve ser fácil ser desprezada pela mãe –
fala, com falsa solidariedade, e eu sinto meus olhos se inundarem de
lágrimas. – olho para Erick e ele me fita, estático, sem saber como agir, sem
dizer uma palavra.
— Chega, eu não consigo mais – olho para ele com os olhos magoados
e ele me devolve com um cheio de dor, eu só não fico tempo o suficiente para
decifrar o seu significado.
— Marina... – começa a dizer algo, e eu não tenho vontade de ouvir o
resto. Ajeito a alça da bolsa que carrega minha câmera fotográfica e saio
correndo pela avenida movimentada. Ao me ver livre do ambiente hostil e
daquela víbora, cesso a corrida e continuo com meu andar apressado.
— Marina – ouço sua voz distante e preocupada me chamando... "A
pobrezinha só queria um pouco de atenção, não é mesmo? Eu me colocava
em seu lugar, criança, não deve ser fácil ser desprezada pela mãe". Ando
desnorteada por entre os carros, as buzinas se misturam às malditas palavras e
a última coisa que eu ouço é a voz do Erick me chamando.
Pratos limpos
Erick

— Marina – grito, desesperado, quando vejo um carro vindo


rapidamente em sua direção. Sem pensar em mais nada, corro desesperado e a
empurro contra o meio fio da calçada, milésimos de segundos antes de ela ser
atingida pelo veículo em movimento. Querendo lhe proteger de todos os
lados, jogo meu corpo sobre o seu, e não penso nem por um segundo em mim
mesmo, no fato de que talvez eu não possa me proteger.
— Olha por onde anda, porra! – o motorista, que já está a metros de
distância, não deixa de expressar sua indignação e eu não o culpo, Marina
realmente atravessou uma avenida movimentada, em pleno horário de pico.
Ela agiu como se não se importasse com nada, nem comigo e muito menos
com a própria vida, que correu um sério risco.
Deixando a adrenalina baixar um pouco, sinto um alívio tomar meu
corpo quando me dou conta de que poderia tê-la perdido para sempre. Solto
um pouco do peso do meu corpo contra suas costas e só então percebo que
ela não diz nada e muito menos se mexe.
É nesse momento que sinto um frio gélido atravessar todos os ossos do
meu corpo.
— Marina – levanto meu tranco de cima do seu corpo o mais delicado
possível, e o medo de constatar seu estado me corrói a alma.
Caída de costas, Marina tem o rosto encoberto por seus cabelos. Com
as mãos trêmulas, tiro os fios do seu rosto e só então tenho coragem para
olhá-la. Sinto a cor fugir do meu rosto quando fito seu rosto pálido e sem
vida.
Meu Deus, ela não pode...
— Marina – chamo, suplicante, sem, no entanto, tocar no seu corpo,
pois não quero correr o risco de mexer e piorar seu estado que ainda não sei
dimensionar a gravidade. — Acorda, amor – sinto meu olho arder e um nó se
formar na minha garganta.
— Senhor? – ouço uma voz, e só agora percebo o grande número de
pessoas à nossa volta. — Eu vi o que aconteceu com a moça, sinto muito –
diz o homem que aparenta ter seus quarenta e poucos anos.
— Eu também sinto – digo, com pesar. Minha menina está nessa
situação por minha culpa. Eu não devia ter deixado aquela víbora lhe atacar
daquela forma. — Você não tem ideia do quanto – digo, sem tirar os olhos
dela. É como se ela fosse me deixar caso eu desvie minha atenção. É
irracional, eu sei, mas não consigo sentir de outra maneira.
— Eu sou enfermeiro, se quiser, eu posso ajudar. Mas o senhor precisa
se afastar – diz, condescendente, e eu percebo o que ele está fazendo. O
homem deve ter notado meu estado e com toda sua provável experiência,
decidiu fazer a melhor abordagem possível.
Com suas palavras, eu o olho e decido confiar nele. É apenas uma
pessoa querendo nos ajudar. Só acho demais pedir para que eu me afaste, isso
eu não vou fazer.
Nunca!
— Obrigado – agradeço de antemão. — Só, por favor, não me peça
para sair do lado dela. Isso não – deixo claro.
— Tudo bem. Pode ficar ao lado dela, apenas me deixa chegar mais
perto, preciso checar seus sinais vitais para ver se está tudo bem – diz, e tem
que afastar alguns curiosos de sua frente. Postando-se do outro lado de onde
Marina está, o homem se agacha, analisa atentamente seu corpo e eu suponho
que seja para verificar se não há nenhuma fratura aparente, ocasionada pelo
impacto da queda. Tenho consciência do peso do meu corpo e do seu
também, mas na hora do desespero, eu só quis tirá-la da situação de perigo.
Após inspecionar seu corpo, ele checa seu pulso e finalmente diz:
— Ela está bem, os batimentos estão estáveis – afirma, para o meu
alívio. — Ela provavelmente deve ter desfalecido pelo susto e pelo impacto
da queda.
— Graça a Deus – agradeço, apesar de não ser muito ligado à fé.
— Ela só precisa respirar – olha ao redor e eu o acompanho, ficando
surpreso pelo tanto que a multidão cresceu desde a última vez que olhei. —
Pessoal, se afastem um pouco, por favor. A moça precisa de ar – pede, e a
multidão aos poucos começa a dispersar.
Distraio-me por alguns instantes quando de repente escuto Marina
resmungar, olho seu rosto ainda virado de lado e ela tenta se mexer.
— Calma, meu amor, fica quietinha, por favor – ela abre os olhos
vagarosamente, tentando recobrar a consciência. — Não se mexa.
— Erick, o que aconteceu? – pergunta, num fio de voz.
— Nada, querida, você apenas caiu – limito-me a dizer. Prefiro não lhe
estressar relembrando a cena de agora há pouco.
— Você está bem, moça? – o gentil desconhecido lhe pergunta. —
Sente dor em alguma parte do corpo?
— N-não. Estou apenas um pouco confusa – responde, já com a
consciência totalmente recobrada.
— Isso é normal, a senhorita ficou desfalecida por alguns minutos.
Logo isso passa – explica docemente, e eu fico feliz por perceber que, apesar
de tudo, ainda existem pessoas boas no mundo, pessoas que como ele,
ajudam sem olhar a quem.
— Eu quero ir pra casa, Erick – senta-se vagarosamente, e eu ajeito
seus cabelos, que até então estavam espalhados pelo seu rosto e ombros.
Olho novamente para o homem e só então percebo que não perguntei
seu nome. Entendendo o que eu quero, ele responde.
— Se o senhor quiser, pode levá-la para casa – diz, ao levantar-se. —
A moça está bem.
— Não sei nem como te agradecer – estendo a mão e ele aceita de bom
grado. — E desculpa minha indelicadeza por não me apresentar antes. Prazer,
Erick Estevan. Muito obrigado por ter me ajudado com minha namorada –
revelo, esquecendo o meu próprio acordo de não abrir a nossa relação.
— Que nada, não precisa agradecer. Fiz apenas minha obrigação –
responde, modesto, e minha admiração por ele aumenta ainda mais. Se fosse
outra pessoa talvez não tivesse essa iniciativa, mesmo sendo esse o seu
trabalho. — O prazer foi todo meu em conhecê-los, mesmo que numa
situação tão inusitada. Meu nome é Lucas.
— Lucas, essa moça aqui é Marina Junqueira, minha namorada
teimosa.
— Teimosa eu não sei, mas descuidada com certeza você é. Da
próxima vez, seja mais cuidadosa, menina. Você teve muita sorte de ter seu
namorado por perto – diz, carinhoso, enquanto eu ajudo ela a ficar em pé.
— Pode deixar, chefe – bate na têmpora como quem bate continência.
— E não se preocupe, porque não vai ter próxima vez.
— Não vai mesmo – afirmo, lhe encarando, e ela, com a vista ainda
desfocada, olha de imediato para o chão.
— Tenho que levar ela pra casa, Lucas – digo, ao segurá-la firmemente
pela cintura. — Mais uma vez, obrigado. Aqui está meu cartão – tiro o papel
pequeno do bolso do meu terno. — Aí tem todos os meus contatos, qualquer
coisa que precisar, não hesite em me procurar. Será um prazer te ajudar – ele
pega o papel, agradece e se afasta, saindo na direção oposta à nossa.
— Está confortável para andar? – indago, e ela responde apenas com
um balançar de cabeça.
Caminhando devagar, eu e ela chegamos até o carro, que estava
estacionado próximo ao bar. Ao entrarmos no veículo, minha namorada
coloca o cinto de segurança, encosta a cabeça no vidro e fica completamente
em silêncio. Não me dirige a palavra e muito menos me lança um olhar.
— Marina... – começo, mas desisto quando vejo que ela nem ao menos
se mexe.
Sem querer forçar a barra, respeito seu momento e passo a dirigir todo
o caminho até nossa casa no mais completo silêncio, fazendo-me questionar
se ela está acordada ou dormindo.
Ao entrarmos em casa, depois de um tortuoso e longo caminho, Marina
se desvencilha do meu abraço, segue rumo ao sofá e lá mesmo se joga. Com
os olhos fechados e cabeça apoiada no encosto do estofado, ela respira
silenciosamente. Sem paciência, decido que é hora de quebrar o silêncio e
nos acertamos de uma vez.
— Marina, precisamos conversar – digo, ao sentar do seu lado, e ela
continua me ignorando. — Será que dá pra você parar de ser infantil e
conversar como uma adulta? – digo, e isso é o suficiente para chamar sua
atenção. De imediato, ela levanta a cabeça, vira-se em minha direção e
começa a me encarar, furiosa.
— Infantil. Você está me chamando de infantil? – fala, com o rosto
vermelho, só que dessa vez é de raiva. — Será que você ainda não percebeu o
quanto eu odeio ouvir você me dizer isso?
Eu imagino o incômodo que deve ser para ela me ter falando isso,
ainda mais quando temos uma diferença de idade tão grande e personalidades
tão divergentes.
— Não tenho como falar de outra forma quando você tem esse tipo de
atitude, meu amor. Admita que isso que você está fazendo não é a atitude
mais madura do mundo – provoco, tentando deixar o clima mais leve.
— E como você quer que eu aja, Erick? – indaga, deixando claro que
não deu muito certo minha tentativa de descontração. — Quer beijos e
abraços depois do que você fez lá no bar? – fala, ironicamente, e eu tenho
vontade de beijar sua boca. Ela não tem ideia do quanto está linda com essa
carinha amarrada.
— Confesso que queira, sim – respondo. — Deixa de ser brava. Vem
aqui, amor – estendo os braços e ela o recusa solenemente.
— Eu não estou brincando, Erick. Você viu o jeito que aquela mulher
estava falando comigo e ficou calado. Não teve a decência de me defender –
diz de uma vez tudo que estava guardando.
— Me desculpa, pequena, fiz aquilo pra te proteger. Apenas me deixa
explicar, por favor? – junto as mãos em frente ao rosto em sinal de prece.
— O pior de tudo foi ver ela com as garras em cima de você –
continua, como se eu não tivesse dito nada. — E ainda por cima fingindo que
não estava me vendo ali do seu lado.
— Disso eu não tenho culpa – me defendo.
— Tem, sim – se aproxima de joelhos e dá um forte tapa no meu braço.
Ela só é pequena, mas bate feito um homem. — Devia ter tirado as garras
dela de cima, e não ficado parado igual a um imbecil.
— Se você realmente tivesse amor à sua vida, não deveria nem estar
aqui querendo conversar – ameaça, sentando-se na outra ponta do sofá.
— Vem cá, amor. Para com isso – tento acalmá-la. — Não se esqueça
que eu também vi aquele merdinha com as mãos em cima de você, gata – dou
ênfase no gata, para que ela perceba que eu não esqueci aquela cena.
— Não vem querer comparar, são situações completamente diferentes
– contrapõe, ainda mais irritada.
Já estou vendo que essa conversa não vai acabar bem. Não estamos
conseguindo nos entender.
— Não, Marina, não são diferentes. Se você não fosse tão imatura,
perceberia que as situações foram parecidas.
— Um caralho que foram iguais – xinga, furiosa. — E não me chame
de imatura novamente. Eu não tenho culpa se você é um tiozinho que não
entende nada – diz, levantando-se do sofá.
Movendo-se rapidamente, Marina vira-me as costas e dirige-se para o
que suponho ser seu quarto. Pelo menos isso é o que ela pensa.
— Volta aqui agora, Marina! – caminho rapidamente atrás dela. — Nós
ainda não terminamos. Você volta ou eu...
— Ou você o quê? – diz, ao dar meia-volta e me encarar, petulante. —
Vai me colocar de castigo? Ou vai me colocar sobre suas pernas e surrar
minha bunda? – indaga, provocativa, e eu começo a perder a paciência que eu
tanto estava lutando para manter. Já vi que é impossível lutar contra seu lado
teimoso quando ela está brava.
— Cala essa boca – chego junto e encosto meu rosto ao seu. — Você
não vai gostar nada das consequências de não me obedecer – aviso, sentindo
tanto a sua quanto a minha respiração ofegante.
— E se eu quiser as consequências? – pergunta, me deixando perceber
sua mudança de atitude. A safada resolveu que é melhor me provocar do que
me enfurecer. — Responde, tio – pede, me fazendo lembrar as palavras da
porra daquele garoto. Se eu já fiquei furioso ouvindo isso da boca dele,
imagina meu estado por ouvir isso da boca da minha mulher. A vontade que
eu tenho é de fazer exatamente o que ela propôs: colocá-la sobre meus
joelhos e surrar sua bunda até que fique vermelha pelas marcas da minha
mão, para logo depois fodê-la duro, até que peça por clemência. Mas eu não
vou fazer isso, não quando é exatamente o que ela quer.
Sou eu quem está no controle aqui. Preciso me controlar, senão sempre
voltaremos para a mesma cena.
— Marina... – dou o último aviso. — Por favor, não me provoque. Nós
ainda precisamos conversar sobre o que aconteceu lá no bar – seguro seu
braço para apoiá-la ainda mais contra meu corpo.
— Ou o que, tio? – diz, e eu abandono de vez minha racionalidade.
— Isso foi você quem pediu, gata – chamo novamente pelo apelido do
moleque petulante. — Não tente me provocar quando não dará conta das
consequências – avanço em sua direção e ela vai andando para trás.
— Para, Erick, eu estou brava com você – diz, quando vê que não tem
mais por onde escapar.
— Eu disse que vamos conversar, Marina? – paro quando a tenho
apoiada contra a porta da nossa casa, e só então eu me dou conta do lugar em
que estamos parados.
— Você realmente precisar parar com essa impulsividade, meu amor,
não pode sair correndo todas as vezes que as coisas saírem do controle.
— Eu não ia... – começa, sem saber o que dizer, deixando claro tanto
para mim quanto para ela que era exatamente isso que ia fazer. Fugir, outra
vez, fugir.
— Claro que ia, você sabe que ia – encosto meu corpo ao seu e ela
ofega, ainda que tente disfarçar seu desejo, ela sabe que precisamos
conversar. Que está chateada comigo, mas ainda assim não consegue negar o
chamado do corpo. Eu estou sentindo o mesmo aqui.
— O que foi? Não gostou de ver outro me tocando? – debocha,
tentando tirar uma reação, e eu sei exatamente qual. — Isso tudo porque ele
só tocou meu braço, imagina se fosse um beijo? – ela diz, tirando-me o fio
racional que me sobrava.
— Era isso que você queria, não era? – digo, ao imprensá-la contra a
porta da nossa casa. — Você vai me pagar muito caro por ter deixado aquele
merdinha te tocar, porra... – falo, cada vez mais irritado e excitado ao sentir o
calor de sua boceta pressionando meu pau dolorido de tesão.
— Era isso sim, tio – sussurra no meu ouvido, aproveitando para
chupar o lóbulo da minha orelha. — Queria te ver provando do mesmo
veneno que eu. Eu nunca suportei te ver rodeado de putas. A vontade que eu
tenho é de arrancar os cabelos delas com minhas próprias mãos, para que
saibam que você é meu, só meu – assevera, com convicção, enquanto eu
chupo seu pescoço avidamente. Meu Deus, o que essa menina tem para me
tirar tanto dos eixos? Perto dela, me sinto como um garoto de vinte anos e
não como um de homem de quase quarenta.
— Quero deixar uma coisa bem clara aqui, menina: nunca mais, tá
entendendo? Nunca mais repita coisas como essa. Se eu sonhar que deixou
algum desses moleques te tocar, eu acabo com ele e com você também –
digo, ao dar um tapa na banda esquerda de sua bunda, fazendo com que ela
dê um gritinho de susto. — Você é minha e só eu posso beijar essa boquinha
safada. Só eu posso comer essa bocetinha quente – encerro, completamente
dominado pelo tesão.
— Sim, sim – grita, ao me sentir bombear o pau no seu sexo, que de
tão molhado, melou meu jeans escuro.
— O que quer que eu faça primeiro, hum? – pergunto, ao levar minha
mão para baixo do seu vestido e afastar sua pequena calcinha para o lado,
dando-me acesso à sua intimidade pulsante. — Me diz o que você prefere,
meu amor. Quer meu pau aqui – coloco apenas a ponta do meu dedo
indicador dentro da sua bocetinha. — Ou você prefere começar por aqui? –
levo minha mão à sua bunda, acariciando de maneira cadenciada seu
buraquinho apertado.
— Tudo, com você eu quero tudo – confessa, ao tentar aprofundar
minhas investidas contra seu sexo.
— Eu vou dar esse tudo, meu amor. Não tenha dúvidas disso. Só não
vai ser agora – falo, ao afastar-me e ajeitar sua roupa no devido lugar.
— Desistiu do castigo? – ela me lembra das ameaças feitas há poucos
minutos.
— Esse é seu castigo, meu anjo – caminho de volta para o sofá que
estávamos sentados anteriormente. — Nós precisamos conversar. Vem, senta
aqui – bato no assento e ela, a contragosto, faz o que eu peço.
— Pronto – digo, quando a vejo aproximar-se e sentar-se ao meu lado.
— Agora já pode falar.
— Falar? – pergunta, ainda atordoada.
— Sim, vamos falar sobre o que aconteceu lá no bar – seus olhos
brilham em entendimento.
— Tá legal, se você quer falar, nós vamos falar – ajeita a postura e eu
acho graça de sua posição de combate. — Quer que eu comece?
— Sim – digo, simplesmente.
— Pra começar, eu quero falar sobre o Mateus.
— O moleque – sinto meu maxilar enrijecer ao lembrar de suas
ousadias para cima da minha mulher.
— Sim. Ele é primo da Ângela – só podia ser. — E sempre foi aquilo
ali que você viu, tenta forçar uma intimidade que não temos em todas as
oportunidades em que nos encontramos.
— Espero que isso não aconteça muito – não sei se teria muita
paciência para aguentar um merdinha querendo cantar de galo para cima de
mim.
— Graças a Deus eu não sofro de tamanho azar.
— Me fala, meu amor, ele já tentou forçar a barra com você? – indago,
com medo da sua resposta.
— Algumas vezes ele tentou, sim, avançar o sinal – fecho minhas mãos
em punhos. — Mas não precisa se preocupar com ele, querido. Ele nunca se
excedeu sexualmente, o máximo que ele tenta é aquilo que você presenciou
no bar. É sempre uma tentativa de aproximação, que é prontamente cortada
por sua namorada.
— Tem certeza, linda? – pego sua mão e começo a fazer carinho na
palma. — Eu não gostei nem um pouco dele – afirmo, sério.
— Ah, meu Deus, como esse meu homem é ciumento – diz,
maravilhada por não entender minha real preocupação. Pode parecer paranoia
minha, mas minha questão com o garoto vai além do ciúme.
— Não é apenas ciúmes – explico, e espero ser claro. — Eu só preciso
que você fique com os olhos bastante abertos com ele. Tô falando sério.
— Ok, meu homem preocupado, eu também não confio nada nele, só
aturo por causa da Ângela, que insiste em forçar essa barra – termina de falar
e me olha, preocupada. Pelo jeito ela não queria que eu soubesse dessa parte.
— O que você está dizendo, Marina? – tenho que tirar essa história a
limpo.
— Não é nada demais, lindo, vamos esquecer isso.
— Não, Marina, nós não vamos esquecer nada – digo, com veemência.
— Quero que me conte tudo. O que essa sua amiga tem a ver com a
insistência dele?
— Ela tem o estranho hábito de sempre tentar enfiar o cara em tudo o
que fazemos, sempre foi assim, tanto na escola quanto fora dela. A Ângela
percebia meu incômodo com ele e ainda assim insistia em mantê-lo perto de
mim e do resto na galera.
— Eu não confio nessa sua amiga, Marina, por favor, toma cuidado
com ela – digo o que tenho entalado na garganta desde que percebi seu olhar
para mim mais cedo.
— Eu sabia que não devia ter te falado essas coisas. Amor, você não
precisa desconfiar da Ângela, eu conheço ela há muito tempo. É um pouco
sem noção às vezes, mas eu confio nela – defende veementemente.
— Só toma cuidado com a dupla dinâmica. Me promete? – peço, na
esperança de colocar uma pulga atrás de sua orelha.
— Tá bom, eu prometo – beija os dedos cruzados sobre a boca. —
Agora quero falar da sua amiga – diz, e a palavra amiga pinga sarcasmo.
— Patrícia Maldonado não é minha amiga, amor – defendo-me com a
verdade. Eu nunca tive qualquer tipo de envolvimento com a mulher, mesmo
ela tendo insistido tanto.
— Sabe que não foi isso que pareceu – pensando pelo lado dela,
realmente não pareceu. Eu não consigo entender o que deu nela para me tocar
com tamanha intimidade. Ao longo desses três anos em que ela foi contratada
por João, nós nunca tivemos intimidade além dos educados cumprimentos
nos corredores do escritório. Eu conheço muito bem a fama dela para me
permitir cometer tamanho erro.
— Mas é a verdade, linda. Só quero que confie no que estou dizendo –
encaro firmemente dentro dos seus olhos.
— Você nunca foi pra cama com ela? – questiona, apreensiva pela
resposta. Minha gatinha ciumenta. Que bela dupla nós somos, dois ciumentos
e possessivos.
— Não, graças a Deus não cometi tamanha burrice – digo isso porque
sei de colegas que caíram na sua teia e se arrependem amargamente.
Eu felizmente tenho a sorte de ser o chefe, o que me permitiu mantê-la
numa distância confortável. Fora, é claro, os estranhos esbarrões nada
casuais. A mulher parece ter um radar, todas as vezes em que saio da sala ela
está passando pelo corredor. Eu entro no elevador, ela também entra. Se eu
fosse uma pessoa paranoica, poderia dizer que ela está me perseguindo. Tudo
bem que ela já fez isso outras vezes, mas eu acho que não seria tão ousada em
tentar algo com o chefe.
— Pelo menos isso, né, Erick? – fala, aliviada. — Não devia nem ter
contratado essa mulher.
— Não foi eu – admito. Não queria jogar meu amigo no fogo, mas
também não quero ver seu olhar de desconfiança voltado para mim. — Foi
seu pai.
— Meu pai? – pergunta, surpresa com a revelação. — Amor, você acha
que...
— Não tenho ideia, há três anos ele simplesmente apareceu com ela no
escritório e a apresentou como a nova advogada contratada.
— Ele falava com você sobre ela? Pelo amor de Deus, vocês eram
melhores amigos.
— Não, amor, seu pai nunca deu abertura pra falar sobre Patrícia. No
início, eu quis questionar a contratação, mas ele logo cortou o assunto e eu
não insisti.
— Eu não estou gostando nada disso – fala, e tem em seu rosto o
indispensável olhar de preocupação.
— Ei, amor, não precisa quebrar a cabeça com isso. Deixa que dela eu
cuido – logo que termino, percebo que não me expressei bem.
— Cuida mesmo, né, Erick? Mas cuida tanto que ficou mudo enquanto
eu ouvia todas aquelas crueldade vindas de uma pessoa que não me conhece,
que não sabe nada da minha vida, ou pelo menos não deveria saber –
desabafa, e a última parte fica na minha cabeça. Preciso ficar mais atento.
— Me perdoa, meu amor, eu sei que não agi bem com você. Eu tentei
de alguma forma te proteger, e talvez tenha feito as coisas da pior maneira
possível – admito meu erro de julgamento.
— Como me proteger, Erick? Sua ideia de proteção é muito destorcida
se acha que ficar calado poderia ajudar em algo.
— Eu não queria chamar mais a atenção dela sobre você, sobre nós
dois como casal.
— Não entendo o que você tá querendo dizer, seja mais claro, por
favor – pede, determinada, e eu percebo o quanto amo sua personalidade, sua
força interior de não baixar a cabeça para quem quer que seja, sua firmeza em
querer correr atrás de suas respostas e de lutar pelo que deseja. Eu amo tudo
nela, tudo, até mesmo sua imaturidade característica da idade.
— Estou querendo dizer que na hora eu preferi ficar calado a deixá-la
ciente do nosso tipo de relacionamento.
— E esse medo todo, Erick? O que tem demais em justamente ela
saber do nosso namoro? Eu sei do nosso combinado, só não entendo qual a
relevância dessa mulher no assunto.
— A Patrícia não tem escrúpulos, pequena – resolvo contar tudo o que
se ouve a respeito dela no escritório. — Como te falei antes, eu só não tive
nada com ela porque não quis.
— Ela dá em cima de você? O chefe dela?
— Não diretamente. A abordagem dela é aquela que você presenciou
hoje. E tem também os constantes encontros pelos corredores do escritório.
— Com você eu não achei nada sútil. Quer dizer que é pior com os
outros?
— Pra ser sincero, eu não presenciei muita coisa, até porque minha sala
fica em outro andar. Tudo o que eu sei são os papos que rolam entre os outros
associados.
— O que de tão grave dizem, Erick? – indaga, curiosa.
— Vamos esquecer isso, meu bem, eu não vou deixar que ela chegue
perto de mim e muito menos de você.
— Começou, agora termina. Você vai me explicar o que aconteceu lá
no bar.
— Eu não quis aguçar o espírito competitivo dela. É isso. Os
advogados empregados e associados propagam a fama de cruel que Patrícia
tem. Os que já tiverem a oportunidade de trabalhar com ela dizem que a
mulher não tem escrúpulos na hora de defender uma causa. Ela usa da
fraqueza das pessoas sem nem por um momento pensar nos sentimentos
dos envolvidos.
— Meu Deus, tão grave assim? – surpreende-se, sem no entanto ter a
real dimensão do que estou falando. E eu prefiro que não saiba.
— É sim, amor, e isso não é só na área profissional. Um dos associados
fez a burrice de se envolver com ela, pra logo depois ver seu casamento ir pro
ralo.
— Que bom, o safado merecia se foder mesmo. Quem mandou trair a
esposa – declara minha fada, solidária com a esposa traída.
— O que pesa não é nem isso. Júlio é um safado acostumado a esse
tipo de situação. O que pegou aí foi a perseguição da Patrícia, ela fez de tudo
para infernizar a vida dele e da família, até que conseguiu separar ele da
esposa. No fim das contas, ele pediu demissão do escritório e ela ficou.
— Alguém precisa parar essa mulher, amor. Você já devia ter
dispensado. Eu não quero essa víbora perto de você.
— Eu sei, só não fiz isso antes pelo seu pai, ele a contratou, não cabia a
mim passar por cima da decisão dele.
— Entendo. Só arruma um jeito de fazer isso agora – pede,
preocupada.
— Vou dar um jeito nela – prometo. — Agora você entende o motivo
do meu silêncio? – analiso no seu rosto a disposição em me perdoar. — Sei
que não justifica a deixar falar aquelas coisas para você, mas foi o que
consegui pensar no momento.
— Entendo, querido – diz.
— Fiquei com receio de dizer algo que aguçasse seu lado competitivo
quando descobrisse nosso namoro – revelo. — Se algum dia você se
encontrar com ela, fique longe, é só isso que eu te peço.
— Não se preocupe, meu amor, eu vou ficar. Não precisa nem pedir,
tem alguma coisa nela que me dá arrepios.
— Que bom, linda – trago-a para meu colo, lhe abraçando apertado. —
Eu te amo.
— Também te amo – retribui meu abraço. — Agora, me deixa ir – sai
do meu colo, indo direto para as escadas.
— Vai subir tão cedo? Ainda está tão cedo. Não quer comer alguma
coisa?
— Não estou com fome, fiz um lanche no bar e agora tô afim de
colocar minhas séries em dia.
— Tudo bem, vou só comer alguma coisa e tomar um banho – digo, ao
sair do sofá.
— Não precisa se incomodar, hoje você dorme no seu quarto.
— Como é que é?
Castigo
Erick

— Isso mesmo que você ouviu. Hoje é cada um pro seu canto –
assevera, com o narizinho arrebitado ainda mais em pé. Essa menina sabe
exatamente onde puxar as cordas. É impressionante.
— Mas eu pensei que você tivesse me perdoado e que a gente tivesse
numa boa – tento fazer cara de cachorro que caiu da mudança, para ver se
amoleço seu coração de pedra.
— Eu entendi o que você quis fazer, Erick, e até perdoei – não para de
subir os degraus enquanto conversa comigo, e eu estou claramente vendo
minha oportunidade escorrer pelos dedos. — Só que isso não significa que
você não mereça um castigo.
— Como você é má, garota – constato um fato. — Tudo bem. Eu sei
que esse castigo também será seu – olho maliciosamente para meu pau, e
seus olhos seguem o mesmo caminho.
Com o rosto rubro, vejo que titubeia um pouco em sua decisão e eu me
parabenizo por ter pensado certinho na melhor maneira de provocá-la. Como
diria minha avó, seu desejo de conhecer os prazeres da carne é grande demais
para que possa recusar quando eu me ofereço tão prontamente.
Nunca imaginei que chegaria esse dia; o dia em que eu usaria de
artifícios para conseguir dormir com alguém. Nunca estive tão feliz por estar
tão enganado quanto a isso, sei que minha vida com ela não vai ser
monótona, que cada dia será uma experiência e aventura diferente.
Que venham mais dias como os de hoje, porque apesar de tudo que
aconteceu, tivemos a oportunidade de estar juntos.
— Não venha querer me provocar, Erick, sei muito bem o que está
tentando fazer aqui – é, pelo visto minha ideia não deu tão certo assim, se
tivesse dado, eu a teria correndo para os meus braços e não na direção
contrária. — Além disso, eu não preciso tanto assim de você – para o
caminhar no primeiro degrau da escada. — Eu tenho o Maneco – diz, e eu
fico surpreso mais uma vez. Só para variar.
— Maneco? Quem é Maneco? – pergunto, enciumado, e ela dá de
ombros, zombando da minha cara.
— Isso você vai ter que descobrir – se limita a dizer, antes de sumir
pelo corredor onde fica a ala dos quartos.
Ao todo, a mansão contém oito quartos, o meu e o da Marina ficam na
ala esquerda, onde as amplas janelas fazem vista para os jardins bem
cuidados que enfeitam o local lá fora. Quem ocupa os quartos da ala direita
tem o privilégio de ter a vista da piscina, onde por tantos anos Marina fez
festas em comemoração ao seu aniversário. Todos já estão tão acostumados
com esses eventos, que viraram uma tradição.
— Marina, volta aqui, caralho – grito em vão, porque já não vejo mais
seu rastro.
Resignado, decido que é melhor dar um tempo e aceitar o castigo que
me foi imposto, pelo menos por hora. Ela realmente precisa descansar depois
do susto de agora há pouco, e eu tenho que encontrar algo para comer.
Na cozinha, me deparo com Márcia, a senhora que por muitos anos tem
administrado tão bem a residência.
— Boa noite, Márcia – cumprimento, e ela para o que está fazendo.
— Boa noite, Doutor, deseja alguma coisa? – pergunta, formal.
— Se tiver alguma coisa pra comer, eu agradeço.
— Tem, sim, a cozinheira preparou um filé ao molho madeira – afirma,
logo após confirmar nas travessas o conteúdo do alimento. — O senhor vai
jantar aqui ou prefere que eu prepare um prato e leve no seu quarto?
— Se não for dar muito trabalho, eu gostaria de jantar lá em cima –
preciso urgentemente tomar uma ducha fria, talvez assim o cansaço e a tensão
do dia atribulado deixem meu corpo. — Vou tomar uma ducha, tudo bem? É
o tempo de ficar tudo pronto.
Ela assente e subo para o quarto, mas não sem antes conferir Marina.
Aproximo meu ouvido da porta do seu quarto e escuto som de vozes
conversando. Ela certamente cumpriu a palavra e está assistindo séries. Sem
conseguir frear os impulsos, pego a maçaneta, giro-a calmamente para que
ela não perceba que eu estou tentando descumprir o castigo, mas logo sou
surpreendido pela porta trancada.
É inacreditável que Marina tenha mesmo me deixado do lado de fora. E
esse tal de Maneco? Será que é mesmo o que estou imaginando?
O melhor mesmo é eu tomar meu banho frio, hoje não é um bom dia
para se ter certas ideias e pensamentos, não quando meu corpo cansado clama
por uma cama. É claro que não vai ser a mesma sensação que teria se ela
estivesse dormindo do meu lado. Mas fazer o que, se é isso o que a minha
garota quer?
Depois de um demorado banho e de um bom prato de refeição,
finalmente deito minha cabeça sobre o travesseiro e tenho meu merecido
descanso. Antes de dormir, não deixo de me recordar que amanhã é sábado, e
que eu terei dois dias inteiros só para mim e minha mulher. Vamos ter mais
tempo para curtir um ao outro, sem nos preocuparmos com horários ou com
interrupções impertinentes.
— Puta que pariu! – xingo, por ser acordado com um barulho
estrondoso agredindo os ouvidos de quem acabou de acordar.
Sento-me tão rápido que acabo ficando meio tonto, pego meu celular e
me surpreendo ao ver que já são 09h30 da manhã. É, eu realmente estava
precisando dessa noite de sono, fazem anos que eu não durmo tão bem assim,
o sono de quem sabe que pela manhã terá coisas boas à sua espera.
Ainda desnorteado pelo despertar abrupto, levanto, faço minha higiene
matinal e saio para ver o que Marina está aprontando logo cedo, quer dizer,
não tão cedo assim, já são quase dez da manhã.
Desço para a sala, me aproximo da ampla janela de vidro e não me
surpreendo com o que vejo. Minha jovem namorada montou todo o
equipamento iPod ao lado da churrasqueira, assim como faz em suas festas de
aniversário, e está tranquilamente deitada sobre uma das muitas
espreguiçadeira que ficam em volta da piscina. De longe, não consigo ver
bem o que veste, só sei que não é nada comportado, porque além de querer
me provocar, como é seu costume, ela também é muito segura de si e
aparentemente não tem qualquer complexo com o corpo. Marina sempre foi
assim, segura de que é e do que quer para si.
— Bom dia, senhor – uma moça uniformizada entra na sala,
carregando uma bandeja de café da manhã e tirando-me do meu torpor.
— Bom dia.
— Estou levando o desjejum da senhorita Marina, o senhor vai querer
também? – indaga, atenciosa, e eu reparo no quanto os funcionários dessa
casa são competentes; todos os que já tive o prazer de conhecer foram
prestativos e educados.
É impressionante como a mudança de situação também tem o poder de
mudar a visão que se tem sobre determinadas coisas. Esse caso dos
funcionários é um ótimo exemplo disso. Há quantos anos eu frequento a
mansão, sem no entanto reparar em coisas como essas. Talvez esses
empregados sempre tenham estado aqui e só agora eu tenha começado a me
permitir reparar em cada um deles, em como me tratam com a mesma
devoção que provavelmente tratavam o antigo patrão, que acabou de falecer.
Não me admira que Marina tenha dito não precisar de mim porque tinha os
empregados. Talvez seja por isso.
Aqui, dentro dessas quatro paredes que foram o único lar que ela
conheceu, Marina tem o conforto e a proteção de pessoas que nem parentes
são, mas que cuidam dela com toda a dedicação que merece. E tenho certeza
de que isso é mais que a prestação de um bom trabalho, certamente é a
retribuição do mesmo carinho e respeito que Marina lhes dedica.
— Quero, sim. Qual o nome da senhorita? – indago a moça negra, que
aparenta ter seus vinte e poucos anos. Se não estiver enganado, ela deve ser a
filha da Márcia. Lembro bem do dia em que João comentou a respeito do
assunto; com sua autorização, a governanta trouxe a filha mais velha para
trabalhar como ajudante da cozinheira, para conseguir cobrir os gastos que
tem com a faculdade. E se não me falha a memória, ela conquistou uma bolsa
de estudos para o curso de chefe de cozinha.
— Me chamo Maya, senhor – responde prontamente.
— Tudo bem, senhorita Maya. Pode preparar outra igual a essa e levar
lá na piscina, por favor – digo, ao reparar tudo o que tem ali. — Deixa que eu
mesmo levo isso aqui – pego gentilmente a bandeja de suas mãos.
Com a bandeja em mãos, paro em frente à sua espreguiçadeira, fazendo
sombra ao sol que lhe esquentava. Com um susto, minha namorada tira os
óculos de sol que cobria seus olhos e abre o sorriso quando vê que sou eu.
— Bom dia, meu amor – abaixo o tronco e dou um beijo leve nos seus
lábios, que têm um sabor doce de chiclete, proveniente de uma dessas coisas
que as mulheres gostam de usar. — Como foi sua noite? – pergunto, ao
colocar seu desjejum em cima da mesinha de madeira que fica ao lado da sua
espreguiçadeira. Existem mais delas espalhadas em vários locais da área
externa da mansão, e é claro que foi ideia da minha namorada. Segundo
Marina, as mesinhas são necessárias para que os convidados tenham onde
colocar seus pertences quando vêm para as festas que costumam ser aqui
fora, não só as dela, mas também as confraternizações que eu e
João precisávamos fazer para a galera dos escritórios e também para alguns
clientes mais importantes.
— Foi muito boa. E a sua? – a danada ajeita a parte de cima do
pequeno biquíni azul turquesa, que deixa pouco à imaginação. Eu quero
muito pensar que ela está usando ele apenas para mim. Não quero bancar o
machista com ela, tenho idade o suficiente para saber que isso não é nada
legal e muito menos saudável. Eu só acho difícil refrear meu lado possessivo
quando o ciúme ataca. Meu sangue ferve nas veias só de imaginá-la exposta
aos olhos dos moleques que costumavam frequentar essa casa na época de
colégio. Vez ou outra eu dava meus pulos por aqui e me deparava com a
galera em volta da piscina, incluindo entre eles, garotos com hormônios em
ebulição.
Com esse biquíni, não, quero essa visão só para mim.
— Foi muito proveitosa – me agacho ao seu lado, para logo em seguida
colocar uma mecha de cabelo que voou para seu rosto, atrás da orelha. —
Pena que minha cama estava tão vazia.
— Oh, pobrezinho, meu Deus – zomba da minha afirmativa. — Não
deve estar acostumado a dormir sozinho, não é mesmo? – diz, sarcástica.
— Do que você está falando? – estranho a agressividade em sua voz
quando não tem motivos para estar assim.
— Você já não teve tantas mulheres? Deveria ter chamado uma delas
pra te fazer companhia – sentencia, ao recolocar os óculos sobre os olhos.
— Você tem certeza disso que você está falando, Marina? – tiro sem
avisar os óculos de sol, obrigando-a a olhar nos meus olhos. Vendo que fiquei
chateado com o que disse, ela senta ereta e me estende os braços, pedindo um
abraço.
— Desculpa, amor – pede, quando eu me curvo para receber seu
abraço. — Eu não consigo me conter.
— Nós já conversamos sobre seus impulsos, não foi? – pego suas
pernas, coloco-as de lado, dando assim espaço para que eu sente na sua
frente. — Você precisa conversar comigo antes de tirar conclusões
precipitadas e ter esse tipo de reação.
— Eu sei – diz, amuada.
— E para que você saiba, não tem motivos pra ter ciúmes – acaricio
sua coxa lisinha. — Você foi a primeira. Eu nunca dormi com outra além de
você, nunca senti essa necessidade. Depois que o sexo terminava, elas já
sabiam que tinham que sair.
— Tá bom, eu não quero saber desses detalhes – corta.
— Desculpa interromper – Maya traz meu desjejum. — Aqui está —
coloca a bandeja ao lado da de Marina. — Bom apetite.
— Obrigado – eu e Marina falamos juntos, e ela tem seu sorriso
voltado para a minha namorada, que a retribui com um piscar de olho.
Espero Maya sumir de nossas vistas para questionar:
— Vocês são amigas?
— Mais ou menos. Mas eu quero muito voltar a me aproximar dela –
diz, me enchendo de orgulho; para ela não tem isso de classe social, trata
todos de igual maneira.
— Como é isso de mais ou menos amigas?
— Ela é filha da minha babá, Márcia, lembra? – pergunta, e eu balanço
a cabeça em confirmação. — Então, é que quando éramos crianças, Márcia
trazia Maya pra brincar comigo, mas, por algum motivo que desconheço, um
dia ela parou de vir e perdi a amiga. Agora que está de volta, quero me
reaproximar dela.
— Que bom, é interessante reaver amizades antigas – afirmo,
lembrando da Ângela. Talvez seja cisma minha contra ela, mas ainda assim
não é bom tê-la tão dependente dessa garota. — Agora vamos comer antes
que isso tudo aqui esfrie.
Passamos os próximos minutos conversando; enquanto nos
alimentamos, falamos de assuntos corriqueiros e trocamos experiências de
como foram nossas vidas durante todo o período em que ficamos separados.
Quando terminamos, Marina decide que é uma boa ideia darmos um
mergulho na piscina, e eu não penso duas vezes ao aceitar a sugestão. Não
com o dia tão quente como o de hoje.
Depois de trocar a bermuda por uma sunga de banho, pego Marina de
surpresa ao nos jogar com tudo dentro da piscina.
— Que susto, seu idiota – emerge com os cabelos molhado e todo
grudado ao rosto. — Eu poderia ter me afogado, sabia?
— Não sabe nadar, princesa? – tiro os cabelos de seu rosto.
— Sei, sim – percebe que ficou brava em vão. — Poderia ter me
matado de um susto – ela tem razão, eu realmente fui sorrateiro ao me
aproximar.
— Vem, minha menina bravinha – lhe abraço mais apertado e ela
enrola as longas pernas na minha cintura. — Deixa de conversa e me dá um
beijo – seguro sua cabeça e abocanho sua boca apetitosa. Num piscar de
olhos o beijo vai de casto a intenso, e de intenso para impróprio para
menores. Não sei em que momento isso aconteceu, só sei que agora eu tenho
ela presa entre meu corpo e a parede da piscina. Entre beijos e mordidas,
esfrego meu pau duro contra sua boceta sedenta, ela se contorce nos braços e
eu não tenho outra alternativa senão calar seus gemidos com beijos e mais
beijos, sem nunca desgrudar nossas bocas. Não que eu esteja achando ruim,
até porque tenho um verdadeiro vício por sua boca e acho que seria capaz de
passar horas e horas beijando-a sem nunca me cansar. O problema aqui são
seus peitos, que estão tão apetitosos com os biquinhos salientes querendo
perfurar a porra do pedaço de pano que ela chama de biquíni. Minha vontade
é rasgar ele com os dentes, só para ter acesso a esses montículos
intumescidos que me pertencem.
— Amor – paro o corpo e solto sua boca, quando pelo canto dos olhos
vejo um movimento no canto mais afastado do jardim. — É melhor pararmos
por aqui ou então seremos flagrados pelo jardineiro – digo, e ela cora quando
também repara que ele estava ali o tempo todo.
— Mas eu queria...
— Eu também quero – interrompo sua fala, ao colocar o dedo
indicador sobre seus lábios inchados por meus beijos duros. — Você quer
subir lá pro meu quarto? – convido, esperando que ela entenda o que significa
esse convite. Que entenda que, se depender de mim, essa decisão já está
tomada, o próximo passo dependerá apenas de sua decisão.
— Quero – responde, com a firmeza de quem sabe o que
realmente quer. — Agora – exige.
— Então vamos – entrelaço nossos dedos.
Um só
Marina

Quando Erick olha-me nos olhos e pergunta se eu quero ir para o seu


quarto, eu entendo que finalmente ele tomou a decisão. Aceitou o
inevitável, o que venho esperando durante toda a minha vida adulta. Não que
faça tanto tempo assim...
Diferente das outras meninas que tinham em seus ídolos da
adolescência as suas maiores fantasias, a minha era ele, o homem que,
segundo a minha opinião, sempre foi mais fascinante do que um astro teen
qualquer. Desde que entendi a diferença entre o amor fraternal e o amor entre
um homem e uma mulher, eu soube que ele não se encaixava no primeiro
grupo. Não quando era seu rosto que aparecia nos meus sonhos de um
príncipe ideal. Pode parecer doentio ou até mesmo promíscuo da minha parte
alimentar tal desejo pelo melhor amigo do meu pai, mas, se assim o for, eu
sou uma doente sem cura.
No meu aniversário de dezesseis anos, quando no alto da minha
impulsividade eu decidi que era hora de lutar pelo que eu queria, entendi que
não era apenas um capricho, uma ilusão da garota solitária que de alguma
forma pudesse ter confundido a dependência que tinha do seu afeto com
paixão. Aceitei que assim como agora, depois de tudo o que passamos e com
eu prestes a completar dezoito anos, o amor, paixão e devoção não mudaram.
Pelo contrário, tudo ficou mais intenso.
Se é errado, eu não me importo, se vão julgar, eu não vou ouvir. Se vão
tentar nos separar ou atingir com uma moral pregada falsamente, irei lutar.
Não importa o que se interponha no caminho, enquanto ele me quiser,
eu ficarei do seu lado. O nosso momento finalmente chegou. O amor que um
dia eu sonhei para mim, ainda que sobre a lente cor-de-rosa de uma
adolescente, está aqui, dizendo-me com seu convite que venci; finalmente
conseguimos nos encontrar.
— Então vamos – diz ele, dando-me a mão e entrelaçando nossos
dedos ao me puxar para as escadas da piscina.
Do lado de fora, solto nossas mãos e começo a pegar todos os meus
pertences rapidamente. A minha felicidade é tanta, que tenho medo de ele
mudar de ideia, talvez por isso a minha pressa.
— Vamos? – chamo, quando tenho meu chapéu de praia, canga e
toalha penduradas no braço. Ele, no entanto, não move um passo, fica apenas
parado e observando descaradamente meu corpo.
— Qual o problema, amor? – questiono, apreensiva com sua inércia.
— Não é nada – se recusa a me dizer qualquer coisa. Ele apenas chega
do meu lado, pega minha canga e a amarra na minha cintura. – Pronto – diz,
ao olhar seu serviço.
— Vai me dizer o motivo disso?
Ele me fita como se a resposta fosse óbvia e eu tivesse o dever de
saber.
— Acha que mesmo que vou deixar você sair assim, com esse biquíni
que mais mostra do que esconde? – diz, e eu custo a acreditar nas suas
palavras.
— Você não tem que permitir nada, homem das cavernas. Não tem o
direito de opinar no que eu uso ou deixo de usar – digo, e ele fica mudo,
apenas com a expressão fechada no rosto. — Muito me admira um homem da
sua idade, com o seu conhecimento, ter esse tipo de atitude.
— Não precisa ficar assim, garota, eu só não quero outros homens de
olho no que é meu – justifica, olhando por sobre os ombros para o jardineiro,
que agora conversa com outros dois indivíduos, que eu suponho serem seus
assistentes. — Se quiser, é só tirar, faça o que tiver vontade! Eu que não vou
me meter no que você usa.
Termina de dizer, e eu tenho vontade de chutar meu próprio traseiro.
Não era necessário fazer a cena que fiz. Não é como se ele tivesse feito eu ir
trocar de roupa por tê-la achado curta demais.
Está apenas com ciúmes por ver que tem outros caras por perto, ele já
me viu assim antes e nunca falou nada. Também sei que não é do seu feitio
ser controlador e machista.
— Me perdoa, meu amor – dou um beijo discreto no canto da sua boca.
— Eu também não quero que eles me vejam assim – confesso, ao olhar
abertamente para sua sunga azul, que sustenta uma potente ereção.
— Que foi? – sorri, vitorioso. — Pimenta nos olhos dos outros é
refresco, não é, pequena? – diz, sarcástico, quando sou pega na armadilha que
eu mesma criei. Eu e minha boca grande.
— Você não vai entrar nessa casa cheia de mulheres exibindo isso –
aponto o recheio de sua sunga e ele dá uma gostosa gargalhada.
— E quem vai me cobrir? – pergunta o safado, encarando minha bunda
sem o menor pudor. — Ao contrário de você, meu amor, eu não tenho nada
aqui – mostra as mãos vazias.
— Daqui você não sai – bato o pé e ele não disfarça o quanto está
gostando de me fazer provar do próprio veneno.
— Vem – pega meu braço e me coloca com as costas coladas em seu
peito, o bumbum, esse está mais do que feliz por sentir a alegria do seu
equipamento. — Tá vendo? Agora não temos mais problema – tira as mechas
de cabelo que encobrem meu pescoço e taca uma lambida na minha veia
pulsante. — Nós vamos chegar naquele quarto de qualquer jeito, não vamos,
gostosa? – firma a pesada mão morena em minha barriga, fazendo com que
seu pau se acomode ainda melhor entre as bandas da minha bunda.
— Vamos, sim – confirmo, dando uma leve rebolada, e ele, tão
excitado quanto é possível, abraça minha cintura mais apertado.
Assim posicionados, comigo na frente e ele às minhas costas, me
abraçando pela cintura, entramos dentro de casa sem nos importar em sermos
vistos aos amassos em plana manhã de sábado.
Ao entrar em seu quarto, Erick passa a chave na porta, vira-me de
costas contra ela, e com a cara mais sexy do mundo, diz:
— Tá vendo que dupla do caralho nós somos, princesa? Sempre
arrumamos um jeito de solucionar os problemas – faz aspas com os dedos ao
dizer a palavra “problemas”. A solução que achamos acabou se tornando uma
preliminar do nosso sexo já que a cada passo que dávamos, o sacana
arrumava um jeito de cavar o pau ainda mais fundo contra minha bunda;
provavelmente estaríamos fazendo sexo anal no meio da escada se não fosse
sua sunga e a parte de baixo do biquíni que uso. Isso sem levar em conta sua
mão livre, que decidiu que era uma boa apertar meus seios, logo eles, o meu e
seu ponto fraco. Durante essa tortuosa jornada, eu só curtia e torcia para não
ser pega no flagra. Até porque, o fato de termos achado por bem deixar os
empregados cientes do nosso namoro, não quer dizer que vamos transar no
meio da escada e ter eles de plateia.
— A melhor – aceito com prazer a mordida que recebo na ponta da
orelha esquerda. Primeiro morde e depois assopra, enviando a resposta para a
parte mais necessitada do meu corpo.
— Pequena, olha pra mim – pede, quando afasta a cabeça e me encara
com seriedade. — Você tem certeza que está pronta? Depois de hoje, não tem
mais volta – garante. — Se quiser desistir, ainda está em tempo.
Ele dá a opção por ser do seu caráter fazer com que eu pense nas
opções e até mesmo por ainda ter dúvidas da veracidade do que sinto por ele.
Seus olhos, no entanto, revelam toda a apreensão por minha resposta,
demostra que apesar de não ter certeza dos meus, ele tem certeza dos seus
sentimentos.
— Eu estou pronta, amor. Há mais tempo do que você imagina – digo,
convicta, ainda que o medo do desconhecido faça meu estômago se retorcer
de nervosismo. — Quero ser sua -– seguro sua cabeça e mordo a parte
inferior dos seus lábios, puxando a parte suculenta para dentro da minha
boca.
— Você já é minha – afirma, com a respiração entrecortada quando
separamos nossas bocas. — Aqui será apenas nosso rito de passagem,
principalmente para você. É como dizem vulgarmente: hoje você se torna
mulher, a minha mulher.
Ele, ainda com o corpo colado ao meu, abraça-me com os dois braços e
me leva para junto de sua cama. Chegando lá, já com a parte de trás do joelho
encostada no colchão, ele me deita delicadamente sobre a cama e eu me ajeito
da melhor maneira que posso.
— Linda – elogia, ao dar um beijo em cima do meu umbigo, enquanto
suas mãos passeiam do meu tornozelo até a parte alta das minhas coxas e
perto da junção onde meu sexo é abrigado. — Linda e gostosa – vai subindo
os beijos de boca aberta, beijos que estão mais para chupadas. — Eu vou te
devorar inteira, Chapeuzinho – faz alusão ao conto de fadas, e eu acredito
piamente no que diz. Se os olhos são mesmo os espelhos da alma, os dele
entregam o desejo incontido há mais tempo do que talvez eu possa imaginar.
— Eu não vejo a hora, meu lobo mau – me arrepio quando sua mão
entra em contato com a pele clarinha do meu peito.
Sem demostrar a menor pressa, ele desamarra o nó lateral do biquíni,
fazendo com que eu levante minimamente a cabeça para assim terminar de
tirá-lo.
Quando me vejo seminua aos seus olhos, instintivamente cubro meus
seios e meu rosto pega fogo de vergonha.
— Não faça isso – abaixa minhas mãos e os mira em aberta admiração.
— São meus – os agarra, possessivo, deixando com que os dedos polegares
apertem os mamilos já duros de excitação. — De agora em diante, não os
esconda mais, não dos meus olhos ou das minhas mãos – pede, ao abaixar a
cabeça e beijar o vão que fica entre eles.
— Erick – chamo, como uma súplica.
— Diga, pequena – paira o corpo sobre o meu, fazendo um esforço
para que seu peso não me esmague. — É isso que você quer? – ele abocanha
meu seio esquerdo, passando a chupar avidamente entre um e outro. Ele
primeiro os aperta para depois aliviar com deliciosas chupadas por todas as
partes. Amanhã com certeza as marcas irão aparecer. — É assim que vai ser a
partir de agora. Quando eu quiser, você vai me oferecer eles, vai me deixar
chupar, foder, lambuzar com a minha porra, tudo o que eu quiser; e você sabe
porquê? – indaga, quando sua respiração alterada pede um momento de
descanso.
— Sou sua – afirmo, ao segurar a parte de trás da cabeça dele, me
segurando para não machucá-lo com minhas unhas afiadas.
— É, sim – confirma.
Ele separa minhas pernas amplamente, liberando espaço para que seu
pau acomode contra minha boceta molhada, e a umidade com certeza não é a
proveniente dos minutos passados dentro da piscina. — Essa boca foi feita
pra receber meus beijos – passa a língua entre meus lábios. — Esses
peitinhos – dá uma mordida dolorosa, descendo em seguida beijos por meu
abdômen plano. – Amo saber que um dia ela vai abrigar meu bebê – diz,
fazendo com que meus olhos se encham de lágrimas. Saber que ele vê um
futuro em que tenhamos nossa família traz sensações que nem mesmo sou
capaz de explicar — E essa boceta...
— Erick... – gemo, quando sua cabeça alcança minha virilha e ele beija
o local.
— Essa bocetinha apertada vai tomar meu pau tantas e tantas vezes,
que quando eu não estiver aqui – acaricia com o dedo indicador meus lábios
vaginais por cima do pano úmido — entre suas pernas, você vai estar
desejando que eu esteja. Sempre querendo mais e mais, e então eu estarei por
perto, pra satisfazer nosso tesão acumulado de tanto tempo.

Erick
— Aí, caralho – contorce o corpo, louca de desejo, e eu tão ou mais
necessitado que ela, desmancho o laço do pedaço de pano que cobre meu
paraíso tão desejado.
Inebriado com o cheiro da sua excitação, encosto meu nariz na sua
boceta, me embebedando com o mais doce aroma, o cheiro da minha mulher.
Sem mais conseguir me segurar, coloco a boca no seu centro e começo a
comê-la como um louco que há muito não prova da sua comida preferida.
Alternando entre chupar seus grandes lábios para dentro da minha boca e
enfiar a língua dentro da sua vagina, eu a levo cada vez mais perto do
orgasmo.
— Erick, eu não aguento mais. Eu vou... – implora por alívio, e eu
desacelero o sexo oral. Dessa vez, eu a quero gozando no meu pau, com ele
todo socado dentro da sua boceta.
Sob o protesto de Marina, afasto-me do meio das suas pernas, e sob sua
intensa supervisão, tiro a sunga, deixando minha dolorida ereção livre aos
seus olhos e ela o fita abertamente, com o rosto encantadoramente esbaforido.
— Erick, será que ele – para a frase no meio do caminho e eu
completo.
— Sim, linda – me toco, querendo prolongar seu olhar de admiração.
— Você vai conseguir comportá-lo aí dentro – olho malicioso para sua
boceta depilada.
Sem demora, vou até a cômoda do criado-mudo, que fica do lado
esquerdo da minha cama, e de lá pego três pacotes de preservativo e os jogo
em cima da cama. Depois disso, deito novamente entre as pernas da minha
garota e, sem querer perder nem mais um segundo sequer, pergunto:
— Está pronta, meu amor? – desço minha mão até seu sexo, testando
sua umidade. Não quero machucá-la mais do que o necessário. Enfio
primeiramente um e depois dois dedos, fazendo movimentos de vai e vem
dentro do seu sexo.
Quando a tenho completamente encharcada e prestes a gozar, retiro
minha mão, pego a camisinha, visto meu pau e coloco a ponta na entrada da
sua abertura. Com os olhos arregalados, ela me olha como se só agora se
desse conta do que vai acontecer aqui.
— Marina, se você quiser... – ofego, me segurando para não socar até o
talo em seu interior.
— Não, querido. Eu confio em você – tenta mexer os quadris. — Só
me faça sua, por favor.
— Me desculpa por isso – começo a entrar lentamente, parando ao
sentir a barreira da sua virgindade. — Prometo nunca mais te machucar dessa
forma – soco até o fundo e vejo uma lágrima escorrendo por seu rosto quando
seus olhos refletem a dor da penetração.
— Caralho – grita o xingamento, e eu imagino que até os funcionários
que trabalham do lado de fora da casa devem ter ouvido sua voz, — Não
pensei que fosse doer tanto – tenta se movimentar e eu seguro novamente seu
quadril.
— Calma, meu amor – peço docemente. — Isso – elogio quando a
sinto relaxar. — Deixe seu corpo se acostumar – acomodo melhor seu corpo,
tendo cuidado para que não lhe machuque. Depois de um tempo, vendo que
está mais relaxada pergunto:
— Tá doendo menos? – ela me olha com adoração e eu tenho vontade
de sentar, colocá-la sobre meu colo e lhe abraçar por horas a fio, apenas
abraçar. Até que ela entenda que é todo o meu mundo.
— Sim, eu só preciso que você se mexa – ela responde.
Tendo cuidado para não mais lhe causar dor, eu começo a me
movimentar, retiro meu pau lentamente para depois o enfiar até a base.
— Assim? – continuo, e ela acena com a cabeça, soltando o primeiro
gemido de prazer.
— Isso, amor, mais rápido – afobada, tenta encontrar minhas estocadas
no meio do caminho. — É uma gostosa mistura de dor e prazer.
— Logo a dor sumirá e você vai sentir apenas o prazer – beijo seu
pescoço úmido de suor. — Eu só preciso que facilite as coisas aqui. Fique
quietinha, menina gulosa – aumento um pouco da velocidade das
arremetidas. — Essa primeira vez, vamos apenas fazer amor – chupo seus
mamilos rígidos. — Na próxima, a gente vai foder, trepar, fazer sexo ou seja
lá como queira chamar – agarro sua coxa, me permitindo um maior contato.
— Vamos fazer do jeito que eu acho que você gosta, sua safada.
— Que delícia – apoia o corpo nos cotovelos para poder ver o
movimento do meu pau entrando e saindo. Percebendo sua curiosidade,
levanto o tronco e ela tem uma melhor visão. — Tá vendo, princesa? Como
somos bons juntos – tiro e coloco até a base dentro da sua boceta. — Isso
aqui é apenas o começo – seus olhos escuros de tesão acompanham minha
mão, que começa a massagear seu clitóris. Com seus olhos fixos na cena, eu
trabalho com meu cacete dentro da sua boceta e com os dedos em cima do
clitóris.
— Goza pra mim, pequena – soco cada vez mais rápido. — Molha meu
pau com seu creme, quero ele todo meladinho. Vai, meu amor, isso – enrolo
suas pernas na minha cintura ao penetrar, ensandecido.
— Erick... Ahhh – grita a plenos pulmões quando é atingida por um
potente orgasmo.
Em busca do meu próprio alívio, abaixo meu tronco, encosto meu peito
contra o seu e com seus pés fincados às minhas costas, dou mais cinco
estocadas até encher a caminha de porra, o sêmen jorra numa quantidade e
intensidade que me tiram as forças, e tenho que me esforçar para sustentar o
peso do meu corpo e não deixar meus cotovelos cederem.
Fazendo esforço para respirar, levanto a cabeça do seu pescoço, vejo
seu corpo úmido de suor tanto quanto o meu, que pinga nos seus seios, e
pergunto:
— Tá tudo bem, minha linda? – inspeciono-a da cabeça aos pés e já
sinto o bastardo ficar alegre. Se os homens precisam de um tempo para se
recuperarem, talvez meu pau não concorde quando se trata dessa boceta. —
Não está machucada?
— Não – se mexe, e eu vejo o sinal de desconforto passar por sua
expressão. — Tá, talvez um pouco ardida lá em baixo. Mas nada demais,
nada que apague o prazer que você me deu.
— Valeu a pena, não é? – deito do seu lado e entrelaço nossos dedos.
— Valeu a pena esperarmos.
— Demais – levanta nossos braços e beija minha mão. — Pra ter nós
dois juntos, como estamos nesse momento, eu esperaria quantos anos fossem
necessários.
— Eu também, meu amor – agora sou eu que beijo sua mão, que de tão
delicada, quase some quando em contato com a minha. — Mesmo você tendo
demorado um pouco mais que o recomendado, acredito que nascemos
destinados a viver isso aqui – passo os olhos por nossos corpos nus e
saciados.
— Erick – ela deita de lado, com o corpo deleitoso virado em minha
direção.
— O que foi, pequena? – reparo no seu rosto pensativo.
— Será que já podemos fazer de novo?
Cuidado
Erick

— Não só podemos, como vamos fazer de novo – desço meus olhos


por seu delicioso e usado corpo.
Gostosa!
— Agora? – indaga uma entusiasmada Marina, que nem parece ter
acabado de ter sua primeira relação sexual.
— Não. Antes, vamos cuidar da mocinha e só depois saciaremos todo
esse fogo – digo, ao retirar a camisinha cheia, dar um nó na ponta e descartá-
la no chão ao lado da cama. Espero não esquecer dela aí mesmo, imagino
qual seria o susto de quem viesse arrumar o quarto mais tarde. Não seria nada
lisonjeiro encontrar um preservativo usado e cheio de porra descartado no
chão. Não é como se eu fosse um adolescente, mesmo que esteja me sentindo
um.
— Tem certeza que está bem? – olho para sua boceta ainda úmida dos
nossos fluidos, constatando que aparentemente ela não está machucada, pelo
menos não mais do que o normal.
Sei que devia ter sido mais cuidadoso. Ela é tão pequena para o meu
pênis um pouco acima da média, que uma pegada mais brusca seria de
machucá-la.
— Tá só ardendo um pouco – confessa, sem jeito, e eu tenho vontade
de recomeçar tudo de novo. Mas, antes de fazermos o tipo de sexo que gosto,
preciso prepará-la.
— Vem, pequena – levanto da cama, pegando-a nos braços e levando-a
para o banheiro. — Vou cuidar de você, quanto mais rápido minha bocetinha
ficar boa, mais feliz a fera vai ficar – pisco o olho, malicioso, e ela esconde o
rosto tímido no meu peito suado.
— Você fala cada coisa – tem coragem de dizer, quando entramos no
banheiro.
— E você gosta, não é? – beijo a parte de trás da sua orelha pequenina,
que ainda contém resquícios do seu perfume doce. — Não tente negar o
óbvio. Eu conheço tudo sobre você, Marina. Sei que sua calcinha fica úmida
quando falo putarias no seu ouvido. Sinto o cheiro da sua excitação, o cheiro
de quem quer ser pegada com força – digo, ao sentá-la em cima do balcão
que comporta a pia do banheiro.
Abro suas pernas, me interponho entre elas e continuo:
— Agora, por exemplo, eu tô sentido seu cheiro – toco seu sexo, que
brilha numa mistura de sangue e de fluídos do seu recente orgasmo, fazendo
com que ela rebole contra minha mão. — Você já tá toda molhadinha pra
mim, não está? Mesmo dolorida e sabendo que não me aguenta agora, você
me quer, minha safada – enfio um dedo lentamente dentro do seu calor. Faço
pequenos movimentos de entra e sai e minha namorada, como a boa gulosa
que é, levanta o quadril, indo ao encontro do meu dedo.
— Olha pra mim, amor – peço, querendo ter todas as nuances do seu
prazer, inclusive o que não pode ser contido pelo olhar. Não que algum dia
ela tenha escondido isso e eu só tenho que agradecer, não abro mão de ver
seus olhos, olhos que contam histórias de paixão e desejo, olhos que refletem
todo o caminho percorrido até que chegássemos aqui. No nosso mundo, onde
as acusações, convenções sociais e preconceitos não nos atinjam. Onde só
exista eu, ela e o nosso amor. — Isso, não feche os olhos nem por um
segundo, quero que me entregue tudo.
— Erick... – puta que pariu, ela está muito molhada, como é possível
que esteja tão receptiva depois de ter tido sua dolorosa primeira vez?
Juízo, Erick. Juízo!
Repreendo-me por tecer desejos tão desenfreados, quando tudo o que
ela precisa é de cuidado. Teremos todo o tempo do mundo e eu garanto que
cada um deles será muito bem aproveitado.
Em nossa situação, falar em recuperar o tempo perdido não seria
apropriado, mas com certeza é de se falar em liberar o tesão reprimido, jatos e
mais jatos de porra que eu de forma doentia liberei em minhas próprias mãos.
— Quer gozar, minha gostosa? – aumento gradativamente meus
movimentos e ela apenas balança a cabeça de maneira ensandecida. — Então
goza — masturbo sua boceta, ainda exigindo com o meu olhar para que não
desvie o seu. Sinto as paredes do seu sexo apertar meu dedo e eu me dou
conta de que ela está chegando lá
— Eu vou... Ahh – molha meu dedo e chega ao ápice do prazer ao
sentir o leve belisco em seu clitóris inchado. — Eu preciso... – tenta dizer,
com o corpo ainda ondulante.
— Precisa de descanso – ela me fita, decepcionada, e eu tenho que me
forçar a sair do meio de suas pernas. — Quietinha aí, já volto – beijo seu
rosto e abro o armário em busca daqueles sais de banhos que as mulheres
parecem gostar.
Sob o olhar curioso da minha pequena, ligo as torneiras da banheira e a
deixo enchendo por alguns minutos. Depois de testar a temperatura da água e
de colocar uns líquidos cheirosos e espumantes que ela disse gostar, eu a
pego novamente nos braços e lhe carrego para o seu banho de recuperação.
— Erick, eu ainda consigo andar – diz, maliciosa, somente para me
provocar, já que enquanto diz isso seus braços circulam meu pescoço e sua
cabeça deita em meu ombro.
— Eu sei, baby, mas um homem tem o direito de cuidar da sua
namorada – entro na banheira, que agora transborda espuma, coloco-a em pé
lá dentro, viro seu corpo de costas e abraço sua cintura. — Vem, senta aqui
comigo. Quero você recuperada e bem disposta – sou malicioso ao seu
ouvido.
Ela senta do meio das minhas pernas, com as costas apoiadas no meu
peito, e tenho a certeza de que não queria estar em outro lugar que não esse
aqui.
— Pronto – tenho nossos corpos bem acomodados na banheira
transbordante de espuma. — Agora deixa eu cuidar de você – massageio seus
seios com carinho e ela geme baixinho, reprimindo o som ruidoso que ela
costuma fazer.
— Marina? – ela fica muda. — O que te incomoda?
— Não quero que você pense que sou uma sem vergonha – confessa,
receosa. — Eu acabei de...você sabe.
— Mas você é sem vergonha, baby, a minha sem vergonha – aperto os
mamilos dos seus seios e ela retorce o corpo. — Não precisa se envergonhar
de nada. O que você sente é o mesmo que eu. Meu desejo é tão ou mais voraz
que o seu – mordo o lóbulo da sua orelhinha. — Eu só não estou te fodendo
neste exato momento porque você precisa se recuperar, sua bocetinha precisa
de outro tipo de atenção – desço uma mão até lá e ela retesa o corpo num
visível incomodo. — Tá ardendo?
— Sim – admite meu ponto de vista, ainda que meu pau duro
cutucando sua bunda tente anular o meu discurso.
— Isso não quer dizer que não vamos poder namorar – continuo a
massagear tanto seu seio quanto seu sexo castigado. — Podemos nos dar
outro tipo de prazer.
— Podemos? – aperta o bumbum contra o meu pau, que já está pronto
para outra.
— Vamos terminar isso aqui, que eu quero te mostrar exatamente de
que tipo de prazer estou falando – ofego contra seu pescoço.
Depois de quase uma hora cuidando de suas necessidades, ainda que
envoltos numa aura puramente sexual, eu lhe tiro de dentro da água, fazendo
questão de secar seus cabelos e seu corpo. Ela, por outro lado, recebe meu
carinho de bom grado, apenas ronronando como um gatinho preguiçoso.
— Assim vou ficar mal acostumada, Erick – diz, ao se ver deitada na
cama, que nem de longe lembra a bagunça de lençóis emaranhados e com
algumas gotículas de sangue que há pouco lhe forravam. Me divirto ao
lembrar do seu rosto envergonhado quando eu fui trocar os lençóis. Ela ficou
tão vermelha que por pouco não vi sair fumaça da sua cabeça.
— É sempre um prazer para ter as mãos em cima desse corpinho
delicioso – pairo sobre ela ao lhe dar um beijinho no osso do quadril.
— E eu adoro ter suas mãos em cima e dentro dele – diz, encabulada
por deixar claro o quanto gosta de ser estimulada por minhas mãos, e tenho
certeza de que pela língua também.
A cada nuance descoberta, eu fico mais encantado por sua
personalidade. Encanta-me o fato de ela ser ousada nas ações e tímida nas
palavras, pelo menos quando se trata de sexo. Não que isso vá se prolongar
por muito tempo, não demora muito e minha garota estará falando pau,
boceta, trepar e muitas outras coisas sem o menor constrangimento. A
convivência e a prática com certeza farão isso por ela.
— Que bom, querida, porque a partir de hoje é aí que eles vão estar
com bastante frequência – beijo o vale entre seus seios, perguntando-me o
porquê de ter achado uma boa ideia sugerir que ficássemos pelados.
— Nenhuma objeção por aqui – ondula o corpo contra o meu, que não
consegue deixá-la de lado. O desgraçado que agora ameaça furar o colchão
da cama nem parece o mesmo que há pouco tempo murchou de tanto tomar
banho de água morna.
Banheiras e seus efeitos desconhecidos.
— Acho que criei um monstro aqui – estou prestes a beijar sua boca,
quando ouço baterem na porta.
— A comida, meu bem – levanto, enrolo uma toalha em volta da
cintura e pego nosso almoço que pedi, depois de ouvir seu estômago protestar
ruidosamente.
— Estou faminta – diz, quando sento ao seu lado, e eu não consigo
evitar meus pensamentos de duplo sentido.
— Então vamos saciar essa fome – propositalmente dou ênfase quando
me refiro ao tipo de fome que ela vai saciar.
Adoro fazer esse tipo de jogo. As provocações e insinuações são uma
espécie de preliminares para mim, quanto mais disposta e desejosa a mulher
estiver, mais desinibida e receptiva ela estará na hora da real trepada.
Marina e eu fizemos amor nessa primeira vez, agora chegou a hora do
sexo. O duro, o intenso e violento do jeito que eu gosto e vou ensiná-la a
gostar. Vou ensiná-la que entre nós não haverá tabus, que podemos ir do sexo
mais romântico ao mais sujo e ela vai gostar dos dois na mesma medida.
— Não vai comer? – ela devora seu almoço com entusiasmo e eu me
obrigo a fazer o mesmo, deixando os pensamentos "impuros" para depois.
Para quando o outro tipo de fome for saciada.
Envoltos em conversas e trocas quentes de olhares, nós dois
terminamos nossas refeições, deitamos completamente nus e abraçados na
cama.
Depois de muitos beijos provocativos e apalpadas nada inocentes,
acabamos sucumbindo à preguiça, caindo num cochilo de meio da tarde.
Coisa que eu não me lembro de ter feito algum dia.
— Uhumm – gemo em sonho, quando sinto pequenas mãos fazerem
movimentos circulares de sobe e desce no meu pau dolorido de tesão. – Isso,
amor. Que delícia, pequena.... Não para – de repente, abro os olhos,
sobressaltado, e não acredito no que estou vendo.
Fogo
Marina

Desperto, atordoada, precisando de um momento para me situar. Sabe


aquela sensação de não saber onde se está, que dia ou que horas são? Então,
eu agora estou vivendo um momento peculiar como esse. O que posso dizer é
que sinto um enorme peso sobre meu quadril, fazendo impossível qualquer
movimento meu, e que vejo uma morena e enorme mão segurar meu seio
possessivamente, envolvendo meu corpo em um abraço de braços e pernas.
Subo lentamente o olhar pelo corpo longo e musculoso, que por sorte
eu tenho agarrado ao meu, e isso é incentivo suficiente para me ter totalmente
desperta.
Olho para o seu rosto sereno, mesmo que ainda sustente o vinco sexy
entre as suas sobrancelhas, fazendo com que viva com a constante cara de
homem mal, e logo termino por despertar para minha maravilhosa realidade.
Viro a cabeça, e pela fresta da cortina, percebo que já está escurecendo,
que surpreendentemente passamos boa parte da tarde apagados, quer dizer,
não tão surpreendente assim se levarmos em conta as atividades praticadas
desde cedo da manhã. A leve ardência entre minhas pernas certamente é uma
testemunha do quanto meu dia foi proveitoso.
Proveitoso não, perfeito!
A realidade de tudo que aconteceu aqui é muito melhor do que tudo
que minha mente fértil fantasiou. Apesar de querer e criar muitas expectativas
de como seria perder a virgindade, eu sempre acreditei nas histórias de
amigas que pregavam uma primeira vez dolorosa e desprovida de prazer, que
afirmam não ser possível chegar ao orgasmo...
Eu não sei que tipo de cara elas tiveram suas primeiras relações, só sei
que não poderia discordar mais dos seus diagnósticos. Tirando a parte da dor,
que realmente foi sentida, todo o resto foi prazeroso. Com seu cuidado e
carinho, Erick não só conseguiu me levar ao ápice do prazer por duas vezes,
como também fez a proeza de me fazer parecer uma ninfomaníaca que não
quer nada na vida além de fazer sexo. Não que essa impressão estivesse
totalmente errada, pelo contrário, tudo o que eu queria era repetir e repetir
novamente. Acho que se não fosse o freio dele, agora eu estaria com mais do
que uma leve ardência.
Como quem não quer nada, meio que me esforçando para não
desenvolver a ninfomania, passo os olhos pelo seu pênis, que mesmo não
estando ereto, ostenta um comprimento fora do comum. Se um pau pudesse
ser classificado como belo, o dele com certeza seria considerado o
suprassumo da beleza, ostentando veias ressaltadas quando duro, seu
instrumento seria capaz de enlouquecer a mais pudica das religiosas. Pena
que agora ele está aposentado.
— Agora esse lobo mau vai comer apenas minha Chapeuzinho – rio do
pensamento bobo que me ocorre, e sem conseguir me conter, desço a mão até
ele, pego com cuidado e já não me seguro. Começo a fazer movimentos
circulares e de vai e vem no seu mastro, que de maneira inconsciente começa
a endurecer dentro da minha mão.
— Uhumm – Erick geme baixinho, ainda inconsciente, e eu acredito
que devo estar fazendo tudo direitinho, até o momento.
— Isso, amor. Que delícia, pequena... Não para – movimenta o quadril
e eu decido ousar; passando a massagear com a ponta do polegar a cabeça
rosada do seu pau. Meu ato finalmente o desperta.
Ele vira o olhar confuso e me olha, surpreso.
— Que foi? Fiz mal em te acordar dessa forma? – dissimulo um olhar
ofendido.
— Não, gata, fez bem até demais – coloca a mão morena sobre a
minha, me auxiliando nos movimentos. Já percebi que ele gosta disso, de ter
o controle na hora do sexo, de me guiar.
— Erick, eu quero... – caralho! Qual é a dificuldade de falar "quero
chupar seu pau”, se é exatamente isso o que eu quero pedir?
— Quer colocar a boca? – olha para nossas mãos unidas e eu apenas
balanço a cabeça em confirmação ao meu desejo. — Linda, se isso é pra me
agradar, você sabe que não precisa.
— Eu quero – para falar a verdade, minha boca está cheia d'água e
minha boceta úmida, então eu acho que é mais do que querer, é necessitar.
Só espero que as horas perdidas vendo atrizes pornôs fazendo as mais
diversas peripécias com a boca me ajudem em algo.
— E eu quero mais ainda. Só de pensar nessa boquinha me mamando...
Só que antes tenho uma condição – retira nossas mãos do seu sexo.
— Condição? – certeza que é alguma sacanagem. Erick adora provocar
essa minha veia tímida.
— Vamos lá – sobe o tronco para que possa ver melhor minha
expressão. — Repita comigo: eu quero chupar seu pau – fala, compassado e
divertido. Eu tenho vontade de matá-lo.
— Eu... que-quero chuparseupau – falo de uma vez e ele cai na risada.
— Não ficou cem por cento, mas vou relevar por ser sua primeira
tentativa e também porque eu quero muito sua boquinha aí – baixa o olhar
para o seu pau em riste.
Cheia de desejo e a fim de lhe agradar, saio dos seus braços e desço o
corpo pelo seu. Mais a baixo, eu me ajeito entre suas pernas torneadas,
ficando frente a frente com sua soberba ereção. A dor do desejo entre minhas
pernas aumenta em níveis altíssimos por saber que sou quem o está deixando
assim.
Sendo observada por seu intenso olhar de desejo, fecho meus lábios
sobre a cabeça redonda do seu pau. Lentamente, circulo a língua em torno e
ele começa a perder o controle.
— Isso, amor – segura a parte de trás da minha cabeça. — Aí,
caralho... Puta que pariu – urra, quando passo da primeira base e vou
lentamente tomando ele dentro da minha boca. Começo levando da cabeça
até a metade, tomando cuidado para não fazer nada de errado, para depois
chegar até a base. Com muita dificuldade, entre babas e engasgos, eu consigo
chupá-lo quase por inteiro.
— Isso, gostosa – começa ele mesmo a socar na minha boca.
Em um entra e sai lento, e sendo observada por seu olhar guloso, eu
enfio dois dedos dentro do meu próprio sexo e tento aplacar a minha própria
dor.
— Que boquinha gostosa – no seu rosto já se percebe o suor querendo
escorrer. — Vai, minha safada – soca freneticamente, fazendo-me engasgar,
mas nem assim deixo de lhe chupar.
— Uhumm – gemo, ruidosa, quando sinto o orgasmo se aproximando,
tanto o meu quanto o dele.
— Mais devagar, Marina – controla os movimentos da minha cabeça.
— Eu não quero gozar dentro da sua boca. Não dessa vez. Vem.
Puxa meu braço, devorando minha boca com um beijo ousado, sua
língua a invadindo sem pedir permissão e eu respondendo com a mesma
empolgação.
Com o corpo parcialmente sobre o meu, Erick abruptamente
interrompe o beijo e me surpreende:
— Quero que te comer por trás – diz, e eu olho surpresa para sua boca
úmida do nosso beijo delirante.
— Por trás? – será que não gostou da minha bocetinha?
— Quero te pegar por trás, amor, e não comer seu cuzinho – fala, com
naturalidade. — É claro que isso faz parte dos meus planos futuros, mas
agora, o que eu quero é comer sua boceta e ter como visão essa sua bunda
gostosa – aperta forte uma banda do meu traseiro, para em seguida nos mudar
de posição.
Posicionada de joelhos no meio da cama, sinto ele também sobre os
joelhos me abraçar por trás, com a mão enrolada na minha cintura.
Sinto não só seu peito poderoso pressionar minhas costas, como
também seu pau cutucar minha bunda.
— Tem certeza de que pode me levar dessa forma? – belisca meu
mamilo, e eu tenho certeza de que meus seios são sua parte favorita do meu
corpo.
— Sim – rebolo em demonstração. – Posso provar – desço sua mão que
me abraçava até meu sexo e ele ofega quando seu dedo entre em contato com
a prova da minha excitação.
— Tão molhadinha – acaricia meu clitóris com o dedo indicador. —
Você é tão receptiva ao meu toque, isso só me faz ter a certeza de que vamos
nos divertir – desce meu tronco, fazendo com que eu fique na posição
perfeita para o seu intento. – Muito!
Exposta aos seus olhos e equilibrada sobre joelhos e cotovelos, não sei
sentir outra coisa além de poder e ansiedade. Poder por saber que seus olhos
de cobiça queimam por me ter da forma que desejou, e ansiedade para saber
do que ele é capaz.
— Tão deliciosa – olho-o por sobre os ombros a presenciar a cena sexy
que nunca irá me cansar. Ele se masturbando, acariciando o próprio pau
enquanto passeia a mão sobre minha bunda, é algo para nunca esquecer, pelo
contrário, quero doses e mais doses de cenas como essa. — Tão minha –
corta a embalagem da camisinha, colocando-a em seguida.
— Só sua e você é só meu – sinto a agonia da espera quando ele
pincela o cacete entre as dobras da minha bunda.
— Só seu – segura as bochechas da minha bunda, passando a ponta do
pênis sobre meu buraco enrugado e intocado. — Não vejo a hora de comer
seu cuzinho, minha safada – diz, e eu me arrepio só por imaginar a dor.
Apesar de ter visto cenas de sexo anal, a possibilidade da anaconda conseguir
entrar no buraco sem me arrombar parece um pouco remota. — Mas até lá,
vou comer muito essa bocetinha – desce o corpo contra o meu, possibilitando
que sua mão alcance meu sexo. – Tão pronta – umedece o dedo e o leva
novamente para meu orifício anal. Erick massageia o local agora úmido e eu
sinto uma fisgada de dor. A dor de sua ausência me preenchendo, me
deixando cheia dele.
— Erick, por favor – imploro.
— É isso que você quer, minha putinha – ajeita a ponta do pau na
entrada da minha boceta encharcada. — Quer tomar meu pau, não é? Diz.
— Quero – avanço o quadril em sua direção e ele o segura firmemente.
— Não assim, fala exatamente o que você deseja – continua a me
provocar, sem me penetrar.
— Quero que me coma, merda – grito, ao sentir meter até às bolas
dentro da minha boceta necessitada. — Ahhh...
— Deliciosa dos infernos – penetra duro e fora de controle, em um
entra e sai frenético, fazendo com que meu corpo todo sacuda e que meus
joelhos percam as forças.
Uma, duas, três... doze vezes ele penetra até que meus joelhos percam
as forças e eu desabe sobre o colchão. Líquidos escorrem por entre minhas
pernas, eu gemo, grito, me descabelo, tudo o que é necessário fazer quando se
deseja ser ouvida pelos vizinhos do outro lado da rua.
— Tudo bem, linda? – tem o peito suado colado às minhas costas e os
movimentos mais lentos. — Se estiver demais, eu posso parar.
— Você não se atreva – levo as mãos para trás e finco as unhas em sua
bunda, obrigando-o a continuar os movimentos. — Não para...
— Seu pedido é ordem, gostosa – com os joelhos, ele separa ainda
mais minhas pernas, deixando espaço para uma penetração mais profunda. —
Eu – mete com força — não vou – mete de novo ao enfiar a mão entre a cama
e meu peito — parar – desce a mão livre até meu montículo inchado – nunca
— soca até o talo até que eu sinta a ponta do seu sexo cutucar meu útero.
Me estimulando por todos os lados, ele de repente solta meu peito, tira
a mão e o pênis da minha boceta e diz:
— Vem – senta na ponta da cama e eu entendo que me quer em seu
colo.
— Agora o controle será seu, minha gostosa – acomoda-me em cima
de suas pernas, voltando a entrar novamente.
Se já o senti fundo quando pega por trás, nem sei o que dizer dessa
posição. Assim parece que estou cheia dele, deliciosamente cheia.
— Quero que me cavalgue como uma deliciosa Amazona, a minha
Amazona – segura minha cintura e ajuda-me nos primeiros movimentos de
subir e descer. Noto que ele evita descer até o final, talvez com receio de me
machucar. Sua gentil preocupação só faz com que eu o ame mais um
pouquinho, se é que isso é possível.
Sentindo-me mais segura, começo a me movimentar cautelosamente,
Erick apenas segura minha cintura e me fita de maneira intensa. Desço cada
vez mais fundo, até que o tenho totalmente dentro, agora suas bolas estão em
contato com a minha bunda.
— Você ainda vai me matar de tanto tesão, menina – belisca meu peito
com uma das mãos, enquanto a outra chupa o gêmeo com igual vontade. Ele
o morde e a dor fina vai direto para o meu sexo.
Na intenção de levá-lo ao limite, assim como faz comigo, paro e
permaneço sentada no seu pau, fazendo apenas pequenos movimentos
circulares. Seu pênis me massageia internamente e ele sorri quando me vê ser
atingida pelo meu próprio plano.
— O que foi, meu amorzinho? – tira o cabelo grudado de suor do meu
rosto.
— Nada – nego, e começo novamente a me movimentar. Vou deixá-lo
louco, da mesma forma que faz comigo.
— Isso, gostosa – cavalgo seu pau em um sobe e desce ritmado e
profundo, saio lento e entro com tudo, chocando nossos corpos suados num
ruidoso som de peles se batendo. — Ai, caralho – não aguenta ficar parado e
investe contra meu quadril. Tirando a bunda da cama e suspendendo nosso
peso apenas pelos braços fortes, Erick passa a me comer da maneira mais
profunda possível, encontra meu entra e sai com vigorosas arremetidas. Meus
seios pulam livres contra seu rosto e ele tenta abocanhá-los.
— Erick – grito, a ponto de gozar.
— Grita, porra, eu quero que grite pra toda cidade ouvir – mete com
força quando volta a sentar e abocanhar minha boca. Sua língua me invade,
assim como seu pau, e eu chupo a sua tal qual minha boceta engole seu
cacete. — Quero que todos saibam – larga minha boca e ataca meu pescoço,
chupando-o fortemente, tudo sem parar de meter — quem é o homem que te
come, quem é seu dono – seu pau engrossa no mesmo instante em que minha
vagina lhe aperta. — A quem você pertence – mete uma última vez antes de
gozarmos juntos.
— Amor – gemo, sem força.
Ele abraça minha cintura possessivamente com os dois braços ao dar
lentas e curtas estocadas, enchendo o preservativo com os últimos jatos do
seu sêmen.
— Marina – tira o rosto do meu pescoço e me fita com um olhar
perdido. — Eu te amo – beija todo o meu rosto.
— Eu te amo mais – afirmo, e ele me beija. Seu beijo é lento e ao
mesmo tempo faminto, sua língua me varre como se quisesse reafirmar com
ações as suas palavras.
Sem parar o beijo e ainda conectados, ele inverte nossas posições e nos
deita outra vez em sua cama macia. Beijamo-nos por mais uns instantes, até
que ele sai cuidadosamente de dentro de mim.
— Uau – não contenho o sorriso bobo que se abre quando passo os
olhos por nossos corpos suados deitados lado a lado.
— É só o começo, amor, um mundo de prazer sem limites nos espera –
promete, enquanto tira o preservativo, o amarra e joga no chão. — Pena que
responsabilidades nos esperam, senão acho que seria capaz de viver a vida a
base de água e sexo com você.
— Eu também – o surpreendo ao admitir.
— Essa é minha garota – traz meu corpo para mais perto do seu. —
Mari, você toma anticoncepcional? – pergunta.
— Não tomo – ao contrário de algumas mulheres que recorrem a esse
método por outros motivos além da prevenção, eu nunca precisei recorrer a
eles. Era virgem até hoje e também nunca tive problemas com meu ciclo
menstrual.
— Vou marcar uma consulta com o ginecologista, tudo bem? –
massageia meu corro cabeludo quando deito a cabeça em seu peito. — Não
quero mais transar com camisinha, preciso senti-la por inteiro. Mas só se
estiver de acordo.
— Pode marcar a consulta – levanto a cabeça para olhar seu belo rosto
moreno. — Se você quer, eu também quero.
— Linda – dá um selinho. — Percebeu que passamos o dia trancados
nesse quarto? – ri contra minha boca. — Se não fossem seus gritos, os
funcionários já teriam vindo verificar se estamos vivos – agora sou eu quem
não segura a risada.
— Só eu gritei, não é mesmo? – enrosco preguiçosamente minha perna
nas suas.
— Você quem está dizendo. Pensando bem, um dia não é nada pra
quem deseja viver de água e sexo – diz, e nós dois passamos a rir como dois
bobos.
Felizes! Finalmente felizes.
Implicância
Marina

— Merda – desperto, e como sempre, demoro uns instantes para me


situar. Estico os braços e pernas e encontro o outro lado da cama frio e vazio.
Isso significa que já tem um tempo que Erick saiu. Faz mais de um mês que
vivemos nessa rotina, desde o fim de semana em que eu perdi minha
virgindade e resolvi que era uma boa passar dois dias transando, não como
uma recém-desvirginada, e sim como a mais experiente das mulheres.
Reclamar? Jamais! O fato de não estar conseguindo fechar as pernas na
segunda-feira e de Erick ter ficado dividido entre rir de mim e ficar louco
com os cuidados, não muda em nada a delícia que foram aqueles
maravilhosos dois dias. Como era nosso desejo, ficamos em nosso mundo
particular – o quarto do Erick – a base de sexo, água e da comida que
recebíamos na porta. Ficamos trancados literalmente, fazendo nada além de
namorar. Pouco a pouco fomos nos descobrindo como casal, e com toda
paciência, meu namorado me ensinou como lhe dar prazer, assim como me
ajudou a conhecer meu corpo e as partes mais sensíveis e receptíveis ao seu
toque.
Hoje, depois de um mês juntos e de ter me mudado em definitivo para
o seu quarto, ainda me pego sem acreditar que isso seja realmente verdade,
que todas as fantasias que tive se tornaram realidade, uma vida em que os
finais feliz existem, bem parecido com as histórias de contos de fadas que
papai lia para eu dormir quando pequena.
Não vou dizer que é uma relação perfeita porque seria mentira e
relações perfeitas não existem. Nossa diferença de idade e principalmente de
personalidade já foram motivos para leves desentendimentos. Já discutimos
por bobagens algumas vezes, mas nada que fizesse com que dormíssemos
brigados. E como ele diz: o bom das brigas é fazer as pazes. E olha que Erick
é especialista no assunto.
— Merda, mil vezes merda – olho para o criado mudo ao lado da cama
e constato minha suspeita: eu perdi a hora.
A Ângela vai me matar. Como se não bastasse o fato de ter que ouvir
suas reclamações, eu ainda dou um mole desse. Segundo ela, sou daquelas
amigas que abandonam as outras quando arranja um namorado, e por mais
que eu proteste dizendo que as coisas não são bem assim, ela simplesmente
não aceita. Não entende que esse é um momento importante na minha vida,
que embora eu não tenha lhe abandonado, como gosta de dizer, a realidade
agora é outra.
Diferente de antes, hoje em dia eu tenho que me dividir entre meu
namorado, o curso de fotografia e os amigos, principalmente ela. Só queria
que Ângela entendesse que essa fase nova requer boa parte do meu tempo e
atenção. Entre a Marina estudante, amiga e namorada, a escolha do momento
é a Marina namorada. Esse não o pensamento de uma adolescente
deslumbrada pelo primeiro namorado. É por essa pessoa ser o Erick, o
homem que por toda vida foi amigo meu e de papai, o homem com quem
tanto sonhei e que enfim realizei. Essa não é uma relação qualquer que eu
poderei descartar quando quiser, na primeira briguinha. O que está em jogo
aqui é muito maior que a birra da Ângela. Um escândalo envolvendo os
nossos nomes respingaria em coisas que vão muito além da nossa relação.
Ela tem que parar com isso, não vou deixar que seus chiliques acabem
com minha felicidade.
Agora eu entendo os motivos do Erick querer manter nosso namoro em
segredo. Ele explicou, eu não quis entender, e agora eu consigo compreender.
— Eu não acredito que você furou comigo outra vez, Marina – como
quem soubesse dos meus pensamentos, uma Ângela furiosa adentra meu
quarto, quase me matando de susto. Ela nem para bater antes de entrar...
— Perdão, amiga – sento de imediato, imaginando o estado em que
meu rosto e cabelo devem estar
Ontem, a noite foi agitada. Como tem acontecido todos os dias, Erick
chega do serviço faminto, e quando eu digo faminto, eu não estou me
referindo à comida. Seja na ducha que toma quando chega ou em cima de um
dos aparelhos da academia, Erick parecer sempre estar querendo transar. Seu
desejo por mim, assim como o meu por ele, está mais ardente do que nunca.
Bem diferente do que eu imaginava, os primeiros dias de novidade da
relação passaram e o tesão não diminuiu. Pelo contrário, quanto mais
descobertas e posições novas tentamos, mais insaciáveis um do outro
ficamos.
Está aí o motivo do ciúme da minha amiga – pelo menos eu imagino
que seja isso – é de eu acordar sempre fora do horário e com cara de quem foi
atropelada. Eu realmente fui, por um moreno lindo, gostoso e também viril.
Haja fôlego e disposição.
— Eca. Esse quarto só tem cheiro de sexo – ela escancara a janela e a
brisa da manhã de sexta entra em contato com o meu rosto. — Qual o seu
problema, Marina? – senta no sofá de dois lugares posto ao lado da janela. Se
ela soubesse o que fizemos nele, teria sentado na cama mesmo. — Nunca tem
tempo e quando diz que tem, não comparece.
— Já pedi desculpa, Ângela – me incomodo com sua teimosia. Ela
sempre foi assim e eu não percebia? Ou é sua predisposição em não aceitar
meu namoro que está deixando essa característica mais evidente? — Esqueci
de colocar o celular pra despertar e perdi a hora.
Ela não precisa saber que o despertador não foi um problema quando
às 06h30 eu acordei com um Erick mais do que disposto em cima de mim,
pronto para o sexo de bom dia de trabalho, como diz ele.
— Tá bom, então levanta a bunda daí e vamos almoçar fora – faço o
que ela diz, mesmo tendo vontade de passar o dia na cama, curtindo a
preguiça, já que a aula de hoje foi cancelada. Com o lençol enrolado em volta
do corpo, saio e ela revira os olhos quando percebe que estou nua.
Depois de um gelado e revigorante banho, me arrumo rapidamente sob
o comando irritante de Ângela – que se não estivesse em dívida, já teria
mandado ir para a puta que pariu – pego minha inseparável câmera
fotográfica e saímos para o bendito almoço.
Quando chegamos ao MamaMia, o restante especializado em comida
italiana que frequentamos desde criança com meu pai, eu respiro aliviada por
pelo menos dessa vez não ter tido a desagradável surpresa de me deparar com
o Mateus, já basta o que aconteceu da última vez. Não quero mais ter
problemas com o Erick por causa desse menino que eu nem ao menos tolero.
Depois naquele fatídico encontro, chamei a atenção dela, que por sua
vez, me garantiu que não fez mal, que ele estar ali não passou de uma grande
coincidência – na hora eu só pensei na frequência com que essas
coincidências acontecem. É como se ele adivinhasse onde estou – e prometeu
controlar mais a língua do abusado, que faz de tudo para forçar uma situação
a cada uma dessas coincidências.
— Me conta, amiga – começa, quando estamos acomodadas em nossa
costumeira mesa de canto. — E esse namoro, já subiu no telhado?
Eu levanto os olhos do cardápio, surpresa com o que acabei de ouvir, e
ela emenda dizendo:
— Ei, eu tô brincando, garota – ela dá uma risada.
Ela sempre teve esse humor negro?
— É só olhar seu estado mais cedo pra saber que o relacionamento de
vocês anda de vento em polpa – afirma, num tom de descrença. — Quem
diria.
— Você nunca levou fé que eu conseguiria conquistar ele, não é
mesmo? – digo, e tenho minha atenção desviada pelo garçom que chega para
anotar nossos pedidos.
— Não é questão de levar ou não fé em você, Marina. Pra ser sincera,
eu não esperava que ele fosse olhar pra uma menina como você.
— Menina como eu? – o que ela quer dizer com isso?
— É tão jovem e inexperiente... – revela o que pensa. — Quem
imaginaria que um cara tão... — tão?
— Tão lindo e maduro, que é acostumado a ser fotografado com as
mais belas mulheres do país, iria olhar pra uma menina virgem e tão jovem.
— Com amigas como você, quem precisa de inimigas – brinco,
tentando encobrir minha chateação com seu comentário.
Tudo bem que são assuntos que eu me questionei e que ainda rondam
minha cabeça, raramente, mas rondam. Só que ouvir isso da boca de outra
pessoa, ainda mais sendo uma que me conhece tão bem, não ajuda em nada a
acobertar a insegurança que eu tanto quero esconder.
Durante todas essas semanas de namoro, Erick tem tido um
comportamento irrepreensível, não dando nenhum motivo para me fazer
duvidar dos seus sentimentos ou até mesmo para me questionar se não sente
falta da vida que levava antes, das mulheres tão diferentes de mim que
sempre estavam agarradas ao seu braço. Pensando bem, não tenho por que
me preocupar com isso, se ele sentisse falta de alguma dessas mulheres, ele
estaria com elas e não comigo. Meu amor nem ao menos merece que eu tenha
esses pensamentos.
— Não me leve a mal, amiga – segura minha mão.
— Não levo, querida – falo, agora com sinceridade, depois de ter
refletido. — Eu sei que Erick me ama e é isso que me importa. O resto se
ajeita.
— Que bom, minha amiga – solta minha mão, para que nosso almoço
seja servido. — Se está feliz, eu também fico. Mas...
— Sabia que tinha um "mas" vindo por aí.
— Não acha que tá ficando muito dependente dele? – estava
demorando a chegar nesse assunto. – Não sai mais com os amigos, sempre
tem um compromisso com o Erick. Não faz mais nada que não seja com ele.
Ela parece uma criança birrenta com essa disputa por atenção.
— Já falamos sobre isso, Ângela – ela come seu risoto sem deixar de
me ouvir com atenção. — As coisas agora são diferentes. Quando for sua
vez, vai me entender – torço para que isso aconteça logo, talvez assim ela
fique menos ciumenta. Para falar a verdade, eu não imaginava que ela fosse
tão dependente dessa amizade, apesar de ser minha melhor amiga e de nos
conhecermos desde pequenas. Pelo contrário, eu que sempre fui muito mais
dependente dela.
— Os amigos eu com certeza não irei abandonar – insiste em fazer
drama.
— Tanto abandonei que estou aqui, almoçando com você.
— Tem razão. Chega! Cansei desse assunto – finalmente. – Vamos, me
diga, como anda seu curso de fotografia?
Enquanto almoçamos, conto sobre o bem que o curso de fotografia me
faz, mostro as fotos que fiz no parque em que Erick me levou como presente
de aniversário de dezesseis anos, além, é claro, de babar nas fotos que fiz dos
meus filhos, Floquinho e Thor.
Sim. Agora são dois, porque além de ter adotado o preguiçoso Thor,
também convenci Erick de que ele é o pai de ambos.
— Você tá muito louca, Mari – não contém o riso ao ouvir minhas
histórias.
— Fazê-lo assumir a paternidade não é loucura, Ângela, é um ato de
lucidez – brinco, e dessa vez ela não ri, pelo contrário, fecha a cara, olhando
para a porta de entrada.
— Que foi, Ângela, ficou séria de repente? – ela não consegue nem
piscar.
— Amiga, não olha agora, o Erick acabou em entrar com uma mulher –
as batidas do meu coração aceleram drasticamente.
— Não me peça isso – desobedeço, e vejo quando ele puxa a cadeira
para a loira se sentar.
Não. Não pode ser! É a mesma mulher que me humilhou na sua frente
e ele não disse nada. Agora ele está num almoço romântico com ela.
Por que você está fazendo isso comigo, Erick?
— Eu tenho que ir embora, Ângela – guardo minha câmera na bolsa. –
Não quero que ele me veja aqui - levanto-me discretamente. – Você vem? –
agradeço mil vezes aos céus por ter vindo com o motorista.
— A conta, querida - me lembra que ainda nem tínhamos pedido para
fechá-la.
— Eu tenho mesmo que ir – não consigo olhar para a mesa a frente.
Pior ainda com o Erick podendo me ver a qualquer momento.
— Tá legal. Deixa que eu acerto aqui. Vai, mais tarde eu te ligo.
— Sinto muito – beijo seu rosto e saio para fora do restaurante.
— Para casa, senhorita? – Jorge pergunta, assim que bato a porta do
carona.
— E-Eu... Não sei – meus olhos turvam em lágrimas, me fazendo
perceber que realmente não sei o que fazer.
Não sei como interpretar a cena que eu vi – apesar da decepção por ver
ele ali com ela – não sei o que dizer quando estiver cara a cara com Erick.
Ele tem uma explicação, eu sei que tem! Preciso confiar nele! Preciso
confiar!
Repito como um mantra.
— Me leve pra casa, por favor, Jorge.
Bônus – Ângela
Ângela Albuquerque

— A conta, por favor – o garçom se aproxima e eu entrego em suas


mãos a comanda e o dinheiro que acabei de tirar da carteira.
Quando me vejo sozinha, sinto-me mais à vontade para fiscalizar os
acontecimentos da mesa mais à frente. Levanto os olhos e me deparo com
Erick me encarando com uma expressão vazia. Para ele, é como se a loira
cheia de garras – que não para de tocar seu braço – nem estivesse ali.
Não consigo evitar que as batidas do meu coração fiquem mais
frenéticas quando estou no mesmo recinto que esse homem. Não nos
encontramos tantas vezes assim para que eu tenha me acostumado com a
visão.
E que visão.
Erick é um dos homens mais bonitos que eu já vi na vida, não perdendo
em nada para os galãs das novelas e filmes que eu gostava de ver na
adolescência. É muita virilidade para uma jovem de apenas dezoito anos.
Ai, meu Deus, ele está vindo.
Será que chegou a ver Marina aqui? Eu espero que não!
Não quero que sua saída dramática tenha sido em vão.
— Pra onde ela foi? – pergunta, grosseiro, quando se vê parado na
minha frente. A loira, por outro lado, continua sentada com o olhar cheio de
frustração.
— Eu não estou de brincadeira, garota – parece que ele fica ainda mais
bonito quando está bravo desse jeito. Marina, sua sortuda. – Cadê a minha
namorada?
— Aqui ela não está, como pode perceber – sou sarcástica e ele está
cada vez mais furioso.
— Eu não gosto de você, garota. E nem daquele seu primo – isso eu já
tinha percebido.
— Então estamos empatados, porque eu também não vou com a sua
cara – digo, mas isso não significa que ele não seja um gato. — Cuida bem da
minha amiga ou então vai se ver comigo. E você não tem ideia do que sou
capaz – ameaço.
— Você é louca? – pergunta, impaciente.
— Sou, sim – confirmo. – Volta pro seu almoço, ela não está nada
contente – aponto para a oxigenada.
— Que se foda, eu tenho que ir atrás de Marina – vira-me as costas,
rumando para a mesma porta que minha amiga acabou de passar.
— Tem mesmo. Bye-bye – despeço-me e ele nem ouve.
Quando estou sozinha, olho para a oxigenada e pisco de maneira
irônica, sendo retribuída com um olhar fumegante de ódio.
Sorrio, satisfeita comigo mesma, quando ouço meu celular vibrar em
cima da mesa. De imediato, pego o aparelho e vejo que é uma mensagem da
Marina.

Não se preocupe, estou bem <3

Graças a Deus. Ele nos viu, amiga.

Ok :)

Encerro as mensagens, aliviada por saber que tudo correu bem. A


lembrança do quase acidente que Marina sofreu gela meu sangue e desde esse
dia minha preocupação com ela triplicou de tamanho.
Eu sei que estou sendo chata com ela, principalmente depois desse
namoro que eu nunca achei que fosse acontecer. Na minha cabeça, Marina
sofria de um amor platônico e unilateral que jamais iria se concretizar. Até
porque, coisas como essa acontecem apenas em novela. Na vida real,
meninas como eu não têm direito a um final feliz.
Acho que não estava preparada para dividir a atenção dela com outra
pessoa e por isso impliquei com esse namoro desde o início. Marina sempre
foi meu porto seguro, apesar de não ter ideia disso. É a lufada de ar fresco
que dá vigor ao mar de frustração que minha vida se tornou.
Apesar de a minha amiga pensar o contrário, sou eu quem sempre fui
dependente de sua amizade, quem invejou o amor que seu pai sempre lhe
deu. Até o fato de ela ser órfã de mãe eu invejei, é melhor não ter uma do que
ter a mãe que tenho.
Sempre quis ter tudo que Marina teve; uma família feliz, apesar de
incompleta, a popularidade de ser aceita onde quer que estivéssemos, e agora
o amor, minha amiga tem o amor.
E eu, o que eu tenho?
Meus olhos começam a arder, mas parece que nem para ter pena de
mim mesma eu tenho paz.
— Onde você está? – ouço a voz odiosa do Mateus do outro lado da
linha.
— Já estou indo – desligo na sua cara. Até quando vou ter que fugir
para não ser obrigada a carregar essa cruz onde quer que eu vá?
Com o pensamento longe, frustrada por ter que voltar para o inferno,
esbarro sem querer numa torre de músculos e gravata que acaba de adentrar
no recinto.
— Você é cego, por acaso? – o homem que vem para tirar o posto de
Erick de mais gato, apesar de não conseguir ver seus olhos, anda
compassadamente sem dizer uma palavra ou ao menos olhar na minha
direção. Mas também não faria diferença, ele estava de óculos escuros
mesmo.
Óculos escuros dentro de um restaurante.
Me leve, Deus!
Academia
"Que meu amor, não será passageiro. Te amarei de janeiro a janeiro.
Até o mundo acabar".

Erick

— Você pode segurar as pontas aqui, Patrícia? – olho meu pulso pela
décima vez em cinco minutos. — Os detalhes você já sabe, é só repassar com
o Bruno quando ele chegar – digo, desconfortável. Tenho a sensação de que o
nó da minha gravata está ficando cada vez mais apertado em volta do meu
corpo.
Eu vou matar o incompetente do Bruno. Como pode se atrasar e me
deixar aqui com essa mulher, ele não disse que estava a caminho? Se ao
menos eu sonhasse que ele ainda não estava aqui, eu teria enrolado um pouco
mais no escritório.
— Não, querido – me aborreço com o fato de ela me tratar com uma
intimidade que não temos, e meu semblante deve ter demonstrado exatamente
isso, já que ela rapidamente se corrige. — Quer diz, Erick, você sabe como o
João era minucioso com esses eventos. Agora que ele se foi, passou a ser sua
responsabilidade – eu gostaria de esquecer esse fato.
Nosso escritório é conhecido pelas grandes recepções que oferece a
cada causa grande ganha ou quando somos contratados para atuar em causas
milionárias. Isso nunca foi problema para mim, eu até que gostava, é nesses
eventos que toda a equipe ronda os convidados atrás de novas causas e,
consequentemente, mais ganho e prestígio para o escritório. O problema é
que, diferente das outras vezes em que eu me preocupava apenas em
comparecer, hoje tenho não só que tomar a frente, como também ouvir e
concordar com todos os detalhes irritantes.
É disso que se trata esse almoço. Não sei por qual razão, mas Bruno e
Patrícia – que não foi demitida ainda porque tenho desconfianças a seu
respeito que preciso averiguar mais de perto – são as pessoas que, junto com
João, organizam esses eventos, e segundo eles, uma recepção para Ulisses
Casagrande, dono da conceituada rede de cosméticos SempreBella, é
extremamente necessária, e como eu confio no discernimento de Bruno, tive
que vir a esse almoço.
— Tem razão – digo a contragosto, olhando novamente o relógio. —
Mais cinco minutos, se ele não aparecer, eu vou me retirar e deixar por conta
de vocês. Tenho outro compromisso – na verdade, não tenho, só preciso fazer
a costumeira ligação para Marina. Todos os dias eu ou ela nos ligamos para
saber como o outro está.
Estou a ponto de pegar meu celular dentro do bolso interno do paletó,
quando na mesa de canto vejo uma movimentação, olho mais atento e me
surpreendo por ver que é minha Marina quem está neste momento
levantando-se para ir embora.
— Licença – saio da mesa sem esperar pela resposta que a mulher com
certeza daria.
Paro em frente à amiga estranha e pergunto, sem rodeios:
— Pra onde ela foi? – ela permanece calada, me olhando.
— Eu não estou de brincadeira, garota. Cadê a minha namorada?
— Aqui ela não está, como pode perceber – debocha, e eu tenho
vontade de matá-la
— Eu não gosto de você, garota. E nem daquele seu primo – declaro.
Essa menina tem alguma coisa que não se encaixa.
— Então estamos empatados, porque eu também não vou com a sua
cara. Cuida bem da minha amiga ou então vai se ver comigo. E você não tem
ideia do que sou capaz – ameaça.
— Você é louca? – indago, sem paciência. Mas pelo menos deu para
perceber que ela gosta mesmo da Marina.
— Sou, sim – assevera. — Volta pro seu almoço, ela não está nada
contente.
— Que se foda, eu tenho que ir atrás de Marina – saio apressado.
Depois de muito quebrar a cabeça tentando imaginar para onde Marina
poderia ter ido, decido confiar no seu bom senso e ir direto para casa.
Quando entro com o carro na garagem, reparo que o veículo que o
motorista usa quando sai com ela está aqui, então provavelmente Marina veio
para casa.
Entro e encontro a sala em total silêncio. Se minha namorada não fosse
tão apegada emocionalmente a esse lugar, eu com certeza já teria lhe
convencido a irmos morar no meu apartamento, que tem o espaço adequado
para duas pessoas. Essa mansão não, ela é tão grande que se Marina quiser
me dar um castigo, é só se esconder e depois me fazer procurá-la.
Tendo em mente a certeza de que ela está aqui em algum desses
milhares de cômodos, decido deixá-la um pouco sozinha, dar um tempo para
que se acalme e tire suas conclusões, para só depois conversarmos.
Depois de almoçar – coisa que não deu tempo de fazer no restaurante –
tomar banho e revisar alguns processos no antigo escritório de João, que
agora estou utilizando, saio para procurar minha garota.
Chega de se esconder, princesa.
Primeiro procuro nos quartos, na sala de cinema e até mesmo no banco
que fica entre as roseiras bem cuidadas do jardim, e não a encontro em
nenhum deles.
Por fim, dirijo-me ao último lugar onde ela poderia estar: a academia.
Se tem um espaço que minha garota não frequenta nesse lugar, é a
academia, não que ela precise, pelo contrário, seu corpo é naturalmente
gostoso e sem uma única gordurinha fora de lugar. Segundo ela, somente as
pessoas sadomasoquistas praticam esse tipo de tortura quando não é
estritamente necessário.
Por outro lado, ela adora ficar me olhando treinar. Todas as noites
depois que chego do trabalho, malho sob seu olhar faminto. Marina me
admira abertamente, sem conter a excitação de ver meu corpo suado pelos
exercícios intensos, e como não gosto de deixar minha mulher passar
vontade, eu a como ali mesmo, seja contra a parede espelhada, seja sentados
em cima de um dos aparelhos de musculação ou mesmo no chão, nós sempre
acabamos suados e ofegantes, depois de uma foda de boas-vindas.
Minha pequena parece ter sido feita na medida certa para mim, é
impressionante o quanto temos nos dado bem em pouco mais de um mês de
namoro. O nosso ainda tem um diferencial que é o fato de morarmos juntos.
O que poderia ser um ônus para quem acabou de iniciar uma relação, para
nós se tornou um bônus, pois foi essa necessidade de morarmos juntos quem
me ajudou a perceber que a grande diferença de idade que nos separa não é
um empecilho para o nosso entendimento. Ela me fez perceber que muitas
das nossas diferenças vêm em decorrência das personalidades distintas do
que propriamente das mentalidades, que têm bons anos de distância uma da
outra.
Entro no amplo espaço, que é todo revestido em vidro, e também
encontro o recinto em completo silêncio. Passo os olhos rapidamente pelo
ambiente e quando não a vejo, aceito que não só não está aqui, como também
não veio para casa.
Porra! Onde você se meteu, meu amor?
"Que meu amor, não será passageiro, te amarei de janeiro a janeiro"...
Estou quase fechando a porta da academia quando ouço sua voz
cantando bem baixinho.
Porra! Ela está aqui!
Escancaro a porta outra vez e dessa voz olho com mais atenção. Avisto
Marina deitada num cantinho entre a parede e uma esteira. Ela veste um short
preto bem curtinho e um top cinza que cobre seus seios, deixando sua barriga
lisa à mostra. Tem nos ouvidos um fone branco, e por ele sai uma música
melosa que ela vez ou outra cantarola.
Fico um tempo apenas olhando minha pequena, imaginando o que se
passa pela sua cabeça depois do que presenciou lá no restaurante ou o que
imagina ter visto. Não a culpo se tiver interpretado de forma errada. Se
tivesse lhe encontrado almoçando com outro, também ficaria chateado, pelo
menos na hora.
Silenciosamente, caminho até onde está deitada, sento em cima da
esteira e sacudo seu corpo de leve.
— Amor – chamo-a, e ela tira os fones-de-ouvido. Com cuidado, lhe
ajudo a sentar sobre o tapete emborrachado que usamos para fazer exercícios
de aquecimento. — O que você está fazendo aqui? – indago, notando que
aparentemente não andou chorando.
— Achei que seria um lugar ideal para pensar – diz, com aparente
tranquilidade.
— E pensou? – sondo.
— Acho que sim. Só estava ouvindo música mesmo – mostra seu iPod.
— E você, por que chegou tão cedo? – pelo visto ela não vai tocar no
assunto.
— Eu vi você no restaurante, Marina – decido ser direto. Sei que o
assunto está lhe incomodando e ela aparentemente não quer tocar nele. — Foi
embora sem falar comigo – acuso, e ela me olha, incrédula.
— Não queria atrapalhar o almoço com sua amiga – diz, sarcástica,
mostrando finalmente a Marina que eu conheço.
— Ela não é minha amiga e você não atrapalharia nada que não fosse
um almoço de negócios – justifico-me. — E se você tivesse esperado mais
um pouco, teria visto que estávamos esperando um outro advogado que
infelizmente se atrasou – se Bruno fosse pontual, eu não teria que passar por
essa situação desagradável. Não é só por Marina que digo isso, é por mim
mesmo, que tive que aguentar aquela mulher se jogando. Ela fez os poucos
minutos parecerem horas.
— Entendi – fala, com sinceridade. — Mas não vou me desculpar –
deixa claro sua posição.
— E nem eu quero que se desculpe, meu amor – coloco uma mecha
que escapou do seu coque frouxo atrás da orelha. — Na verdade, eu estou
muito orgulhoso.
— Orgulhoso? – pergunta, surpresa.
— Sim, orgulhoso – levanto-a do tapete, para em seguida sentá-la no
meu colo. Será que algum dia vou ser capaz de estar no mesmo recinto que
ela e não ter essa necessidade de sempre estar lhe tocando? — Agiu muito
bem numa situação como a que presenciou – beijo seu pescoço cheiroso e sou
retribuído com mãos macias massageando meu coro cabeludo. — Veio para
casa e me esperou para conversarmos – distribuo beijos por todos os lados do
seu rosto. — Minha garota madura – finalmente capturo sua boca, sendo
recebido com o mesmo entusiasmo da primeira vez.
Ficamos nos beijando preguiçosamente por alguns minutos, apenas
curtindo nosso tempo juntos.
O fato de estarmos morando juntos, de dormirmos e acordarmos todos
os dias lado a lado, não é o suficiente para tirar a sensação ruim que por vezes
sufoca o meu peito.
Eu, que sempre fui um homem mais prático do que religioso, tenho me
visto preocupado com os sonhos que têm atormentado minhas noites nesses
últimos dias. Acordo suado e ofegante com a imagem de Marina desfalecida
nos meus braços, ela tem o rosto pálido, e por mais que eu chame e balance,
seu corpo permanece inerte. Não consigo ver seus bonitos olhos porque ela
não os abre.
Toda manhã eu acordo procurando seu corpo. Nas vezes em que não
sinto seu calor junto ao meu, simplesmente lhe puxo para os meus braços
enquanto deixo o alívio me tomar. Depois de ter certeza de que tudo não
passou de um pesadelo, vem a fome; o desespero de tomar seu corpo, como
se não tivéssemos mais tempo, como se o depois nunca fosse chegar. Então
eu lhe abraço, declaro meus sentimentos e vou para o escritório. Vou, mas
fico ansioso pela volta, onde todo o ciclo se repete.
— Já disse que te que amo hoje? – pergunto, ao interromper o beijo
quando nós dois precisamos de ar e eu deixo de lado os maus pensamentos.
Nada de ruim vai lhe acontecer. Ninguém se atreveria a tirá-la de mim.
— Não nas últimas horas – brinca, deixando transparecer que já
superou o incidente de mais cedo.
— Que cabeça essa minha – devolvo, com bom humor. — Querida,
sobre o almoço...
— Eu entendi que era um almoço de negócios, amor. Já passou.
— Não é isso – nem sei como abordar o assunto. — Lembra daqueles
eventos que seu pai costumava fazer aqui no jardim para o pessoal lá do
escritório?
— E como eu poderia esquecer? – sinto a mudança no seu humor
quando seu corpo contrai em cima do meu. — Ficava muito irritada quando
papai me fazia comparecer. Por mim, ficava trancada dentro do quarto até
que aquela gente chata fosse embora – confessa, e eu não deixo de concordar.
Só compareço porque é necessário.
— Mas você entende que eles são necessários?
— Eu entendo, Erick – afirma. — Mas isso não quer dizer que goste.
— O almoço era pra discutir esse assunto. Nós fomos escolhidos para
defender Ulisses Casagrande, então Patrícia e Bruno, que eram responsáveis
por essa parte junto com seu pai, vão dar uma recepção em homenagem a ele.
— Eu não quero essa mulher dando ordem na minha casa, Erick – ela
levanta-se num rompante. — Não quero.
— Não vai, meu amor – levanto-me em seguida, lhe abraçando pela
cintura. — Vou falar com ela amanhã mesmo.
Marina tem razão, não tem por que se submeter a isso. Sei que talvez
esteja comprando uma perigosa briga e que isso pode se voltar contra nós
dois. Mas também não posso deixar Patrícia tão próxima de Marina.
Tenho que averiguar se essa mulher esconde algo que possa prejudicar
Marina de alguma forma e só então afastá-la de nossas vidas.
Rapidinha
Marina

Duas semanas se passaram desde o desagradável encontro no


restaurante, e finalmente chegou o dia da bendita recepção. Tudo foi
planejado por Bruno e Carla, a secretária de Erick, que nem de longe é tão
desagradável quanto a tal Patrícia, que não me causa outro sentimento além
de arrepios.
Segundo Erick, ela não gostou nada de ter sido dispensada desse
trabalho, disse que ela argumentou de tudo quanto foi forma, chegando
inclusive a usar o nome de papai como chantagem emocional. Meu
namorado, no entanto, se manteve firme na decisão, asseverou que eu, como
dona da casa, não me sentiria confortável com a presença dela lá.
Eu fiquei muito contente com sua atitude, e Erick logo achou um jeito
de me fazer agradecer – e quando digo agradecer, me refiro a atender ao
pedido descarado para que desse uma atenção especial ao seu amiguinho, que
pelas suas palavras já estava sentindo saudades da minha boca gulosa. Eu,
sem muito pensar, fiz novamente esse enorme sacrifício, pelo menos foi essa
a resposta irônica que saiu da minha boca.
Como antes, estamos conseguindo levar o relacionamento numa boa,
sem maiores problemas. A parte sexual com certeza ainda é a mais agitada.
Erick e eu não temos limites, não há nada que um propõe que o outro não
esteja disposto a tentar, e no final, nossa sede pelo novo é recompensada por
um maravilhoso orgasmo e a promessa de novas aventuras.
Como esquecer do dia em que fui ao escritório?
Lembro que numa segunda-feira decidi ir do curso direto para a J&E
Advogados e Associados e lá fiquei até o fim do expediente. Meu plano era
ficar sentada quietinha no sofá de canto, enquanto, sentado à mesa, Erick
fazia seu trabalho. Mas é óbvio que não foi nada disso que aconteceu.
No começo, ele até tentou trabalhar, só que a cada duas teclas apertadas
no computador em que redigia um processo, seus olhos levantavam e iam de
encontro a mim e a partes específicas do meu corpo. Seu olhar era tão
faminto e abrasador, que eu já não estava mais tão inocente quanto no início,
quando só queria continuar lendo meu livro enquanto dava seu horário.
Ao ver que de alguma forma a cena lhe excitava, passei a lhe provocar
de maneira consciente, o que antes acontecia pelo simples fato de estar ali no
seu local de trabalho. Ajeitando minha postura, deixei que visse quando abri
os primeiros dois botões da minha blusa social branca, assim como também
deixei à vista minha vermelha e pequena calcinha. Quando vi sua reação,
pensei que não poderia ter escolhido roupa mais apropriada ao momento.
Justamente nesse dia, resolvi me vestir como uma colegial sexy. Minha
saia preta de pregas fazendo conjunto com a blusa social branca, fez um
estrago maior do que provavelmente qualquer outra fantasia faria.
Erick até tentou se manter firme, mesmo deixando a tensão
transparecer por meio de suas batidas agressivas no pobre teclado. A gota
d'água foi a hora em que eu, com a cara mais descarada do mundo, me virei
frente à sua mesa e sem qualquer pudor escancarei minhas pernas, deixando
que visse a prova do meu desejo em uma calcinha completamente
encharcada. Eu sabia que de onde estava dava para ver nitidamente a mancha
escura na minha peça íntima, tanto dava que depois disso ele veio para cima
de mim como um leão faminto.
Sem nada dizer, Erick me colocou de joelhos com o peito apoiado no
encosto do sofá, e por sobre os ombros, vi quando ele abriu o botão e o zíper
da sua calça, abaixando apenas o suficiente para que deixasse seu pau livre.
Depois, levantou minha saia curta, afastou minha calcinha para o lado,
testando com o dedo meu nível de excitação e, sem qualquer aviso, me
penetrou por trás, meteu até o fim e por lá ficou.
Parcialmente ajoelhado e com o peito colado às minhas costas, ele
apenas se certificou se eu estava bem e começou a se movimentar. Suas
arremetidas não foram suaves, pelo contrário, tornaram o sexo intenso e
bruto, ele agiu como se estivéssemos um mês separado e não apenas algumas
horas do dia. Enquanto me fodia, ele tinha uma das mãos segurando meu
peito possessivamente, ao passo que a outra apertava minha boca com
firmeza. Até porque, nenhum de nós dois queria que todo o pessoal do
escritório descobrisse a filha do sócio falecido trepando com o seu melhor
amigo e outra parte da sociedade.
Posso dizer que essa foi nossa primeira rapidinha, já que depois de
alguns minutos e poucas arremetidas, estávamos os dois dentro do banheiro
tentando limpar a bagunça que nós mesmos fizemos um no outro. E como eu
gosto de comentar, com a delícia que é transar sem camisinha vem junto
consigo o dever de limpar toda a lambança depois. Minha sorte é que tenho
um homem muito atencioso, que toma para si a tarefa de cuidar da sujeira que
em sua maior proporção é feita por ele mesmo quando insistiu em transarmos
sem preservativo.
Eu só tenho a agradecer por esse seu lado atencioso, porque muitas das
vezes tudo que eu quero depois de um sexo intenso é cair no sono.
Principalmente quando fazemos em horários propícios a isso.
Meu rosto queima de vergonha quando lembro da nossa saída no fim
do expediente de Erick. Com ele andando tranquilamente ao meu lado, eu
senti como se todas as pessoas que encontramos no caminho soubessem de
alguma forma o que fizemos na sala dele.
Depois desse episódio, fiquei por dias com isso na cabeça, até que
entre provocações e convites para uma nova visita, Erick me convenceu de
que era coisa da minha cabeça. Que ninguém sabe ainda o tipo de relação que
temos, imagina pensar que estávamos trepando no seu local de trabalho e no
meio do expediente.
— Tô entrando – Ângela entra no quarto, me tirando das minhas nada
puras lembranças. — Tá linda, garota – ela elogia, ao se postar atrás de mim,
que estou parada em frente ao espelho do banheiro, me maquiando.
— Olha só quem fala – interrompo minha atividade por um momento e
reparo melhor no seu visual, que é basicamente composto por um vestido
justo azul royal, um scarpin nude e os cabelos soltos, enfeitados com leves
ondas. — Você está linda, Ângela – elogio. Ângela sempre foi bonita, apenas
nunca se importou o suficiente para reparar na atenção que chama por onde
passa. Ela me acusa pelos olhares e piadinhas de pedreiros que escutamos,
mas eu tenho convicção que metade dessa atenção indesejada é dedicada a
ela.
— Não mais do que você – devolve o elogio quando termino minha
maquiagem, e viro de frente na intenção de lhe mostrar o resultado. — Seu
namorado vai ter um ataque quando te ver. Imagina ter que conter toda a
atenção que você vai despertar? Isso vai ser divertido – diz, maliciosa. Se tem
uma coisa que não mudou nesses últimos dias, foi a implicância dela com
Erick. Não com o namoro em si, isso ela está aprendendo a aceitar, ainda
mais depois que eu me toquei que ela estava tendo comportamentos estranhos
– mais que o normal – e decidi que precisava lhe dar mais atenção.
Ângela agora não perde a chance de alfinetar o Erick e ele não fica
atrás, sempre que se refere à ela é como "aquela sua amiga estranha. Não sei
o que conversaram no restaurante, mas depois daquele dia, passaram a ter
uma estranha relação de cordialidade, como se vivessem uma guerra fria onde
ambos se aturam apenas por minha causa.
— Chegou a ver ele? – olho o visor do celular ao lado das maquiagens
e vejo que já está quase na hora da bendita recepção começar. Sorte ter
convencido minha amiga a vir, ela vai me ajudar a passar por essa gente sem
ter vontade de me trancar dentro do quarto, exatamente como fiz nas outras
vezes. Espero que hoje seu humor esteja ácido o suficiente.
— Estava no jardim quando entrei – no mínimo está vistoriando os
últimos detalhes, literalmente. Ao contrário do que era esperado e planejado,
Erick mal se envolveu na organização da recepção. Ele deixou Bruno e Carla
tomar a frente, quer dizer, mais Carla do que Bruno. Ela eu vi e até troquei
algumas palavras quando as mesas e cadeiras estavam chegando, Bruno, por
outro lado, não pisou o pé aqui em casa. Quando questionei, Erick me
revelou que o trabalho dele se limita a fisgar os convidados com potencial,
porque é nessas horas onde tudo acontece, onde rolam novas e milionárias
causas. Ou seja, nunca vi a cara do sujeito que meu namorado tanto confia.
— Estou pronta – digo, ao terminar de borrifar algumas gotas de
perfume no meu pulso e estrategicamente no espaço entre o ombro e pescoço.
— Quer descer? – pergunto, supondo que os convidados de Erick já devem
estar chegando, se for levar em conta o horário e a música ambiente que
começou a tocar.
— Vamos logo, deixa de ser cagona – pega meu braço e me arrasta
escada abaixo.
Na sala não tem nada fora do lugar, tirando a movimentação do povo
do buffet, que de vez em quando passa por aqui para chegar até a cozinha. É
lá fora que a mágica acontece, isso já aconteceu tantas outras vezes e ainda
não me acostumei com a visão de ver tudo tão diferente.
Como todos os outros anos, o local está parcialmente ocupado por uma
mesa cumprida que contém vinte e cinco cadeiras de cada lado, além das duas
que ficam na ponta, essas sempre foram ocupadas por papai e Erick. Coberta
por uma toalha branca de seda, a mesa está meticulosamente arrumada com a
mais fina louça e entre os diversos tipos de taças, pratos e talheres, estão
finos jarrinhos de vidro que poderiam se passar por cristais. Dentro de cada
um deles foi posta uma flor copo de leite. Tudo à altura dos convidados, que
da porta avisto chegarem.
— Como está lindo – como eu, Ângela admira como se fosse a
primeira vez, sendo que eu sempre imploro por sua companhia e ela vem. —
Nem parece com a mesma bagaceira que fazemos todos os anos nas suas
festas de aniversário – ela desvia a atenção para o bar improvisado onde um
homem alto e aparentemente forte conversa com o bartender.
— Quem é ele? – indaga, sem tirar os olhos do homem que está virado
de costas para nós. Quando ele vira um pouco de perfil, eu ainda não consigo
identificar.
— Acho que não conheço, amiga, depois me lembra de perguntar ao
Erick. Que foi, tá interessada? – ela me olha com a sobrancelha arqueada.
— Não começa, Marina, o fato de você ter um namorado não lhe
obriga a me arranjar um também, viu?
Estamos as duas na porta, viradas frente a outra e ponto de iniciar a
mesma discussão pela trigésima vez, quando somos surpreendidas pela
chegada repentina de Erick, que para a alguns passos de onde estamos. As
emoções que vejo passarem por seu olhar me assustam, deixando minhas
pernas trêmulas.
A recepção
Erick

Linda, gostosa, estonteante – são os primeiros pensamentos que vêm à


minha cabeça quando me aproximo de onde está minha Marina e a chatinha.
O vestido preto sem mangas e que deixa uma generosa porção dos seus
seios à mostra, não é nada menos do que sexy. A vestimenta se molda em
suas curvas como uma segunda pele, trazendo à tona meu instinto animal. E
tal qual um leão feroz, só quero devorar minha bela e amada presa.
Por estar num papo animado com a chatinha, ela não percebe de
imediato minha presença, e quando percebe, seu rosto preocupado denuncia a
mensagem errada que minha expressão deve estar transmitindo. Talvez pense
que minha cara de bravo signifique outra coisa além do esforço por não
carregá-la para o nosso quarto e comê-la até não aguentarmos ficar sobre as
próprias pernas.
Essa menina vai ser a minha morte!
— Amor, você está... – as palavras fogem da minha cabeça, tudo que
poderia falar parece pouco diante dessa visão. — Perfeita! – concluo, ao
entrelaçar nossos dedos.
— E você está lindo – diz, e pelo seu olhar de aberta admiração, noto
que aprovou meu visual composto por uma calça jeans escura e blusa social
cinza.
— Eca. Que nojo. Dá licença que não sou obrigada a aturar isso – a
chatinha, que eu nem lembrava mais da presença, revira os olhos quando
disfarçadamente deixo um beijinho no ombro desnudo da minha mulher.
Ela sai e eu a vejo se dirigir ao bar no momento em que, andando
compassadamente, Bruno deixa o local.
Quando estamos sozinhos, não me seguro e acabo com uma das mãos
na sua bundinha cheia. Os olhos? Esses não conseguem desviar do decote que
deixa o vão entre seus seios à mostra.
— Erick! Para com isso – apoia a mão no meu ombro. — Você quer
que as pessoas descubram? – diz, lembrando-me que o nosso namoro ainda é
um segredo.
— Foda-se. Não vou me importar se as pessoas ficarem sabendo da
nossa relação – me dou conta de que não faz mais sentido guardar só para a
gente. Mais cedo ou mais tarde isso vai acabar acontecendo. No caso, eu
escolho a opção mais cedo. — Eu não vou deixar que pensem que você está
livre quando a verdade não poderia ser mais diferente. Você é comprometida
– aperto sua cintura fina. — Comigo.
— Com você – dou-lhe um outro beijo, só que dessa vez entre o vale
sexy dos seus seios. Ela fica parada, apenas olhando minhas mãos bobas e
minha boca percorrerem seu corpo, e eu me divirto com o esforço que faz ao
disfarçar o que aqui acontece.
— Eu ainda tô na dúvida se gostei ou odiei esse vestidinho sexy –
olho-a da cabeça aos pés. — Gostosa você está demais, disso eu não tenho
dúvidas, e talvez seja esse o problema: os outros também vão achar.
— Deixa que achem, o importante é que eu sou sua – beija o canto da
minha boca, me obrigando a ajeitar a ereção por sob a calça, que agora parece
ter um número a menos.
— Assim como eu sou seu – ela fica feliz como todas as vezes que me
ouve falar essa frase. Para agradá-la, não vejo problema em repetir quantas
vezes forem necessárias. Sempre reafirmando, caso ela ainda tenha
dificuldade para entender que não estou indo para nenhum lugar longe dela.
Envoltos numa íntima esfera de carinho e sedução, Marina e eu
passamos os próximos minutos.
Quando os convidados começam a chegar, ela prefere se juntar à
chatinha e eu passo a cumprir com o meu dever.
Durante as horas que se seguem, faço o de sempre; mantenho
conversas cordiais com empresários importantes, dou atenção ao
homenageado da noite e ainda mantenho minha atenção em Marina. Por mais
empenho que as conversas exijam da minha parte, eu nunca lhe perco de
vista. Nem dela, que não saiu do lado de Ângela um minuto sequer, e nem
dos olhares cobiçosos que boa parte do público masculino lança na direção
em que as garotas estão.
Agora, já cansado e não vendo Marina em parte alguma, decido que é
hora me livrar desses caras e dar um pouco de atenção à minha garota.
— Com licença, pessoal, preciso de uma bebida – toco no braço de
Bruno, que está do meu lado, e ele entende nosso sinal. Temos esse estranho
acordo quando um quer que o outro continue e segure as pontas. Afinal, não é
fácil aguentar horas de papos fúteis que vão de mulheres a futebol, quando
tudo o que queremos é descobrir seus podres e convencê-los de que somos os
melhores em "limpar a sujeira".
— Só não esquece de trazer a gostosinha na volta – já seguia meu
caminho, mas a voz do Casagrande chama minha atenção e eu me volto em
sua direção.
— Gostosinha? – repito o termo falado de maneira pejorativa.
— É. A filha do João Junqueira, seu falecido sócio – minha raiva
cresce por ver seu olhar de malícia ao se referir a ela. — Onde é que eu
estava, que não vi aquela garotinha se tornar essa delícia toda? – tirando ele,
toda a roda de conversa está em silêncio, até porque todos perceberam minha
irritação.
— Eu sugiro que tome mais cuidado com suas palavras, Casagrande. A
gostosinha a quem se refere é minha namorada – revelo, e não fico para ouvir
sua resposta ou a reação de todos eles ao se tornarem cientes de que Marina e
eu somos um casal.
Depois de percorrer todo o jardim com os olhos e não avistar Marina
em lugar algum, percebo Ângela num canto mais afastado, digitando
freneticamente ao celular. Ao me ver chegar perto, ela levanta o rosto,
chateada. Seja quem for do outro lado, ela não parece nem um pouco
satisfeita com a conversa.
— Onde está a Marina? – indago, sem rodeios. A ideia de deixá-la
sozinha tem me preocupado sem nenhum motivo aparente. Apenas sei que
preciso ficar de olho, ainda mais tendo Patrícia, que a tratou com tamanha
hostilidade, andando por aí.
— Eu não sei – diz, preocupada, como se soubesse que ela precisa de
proteção.
Apesar de continuar achando ela uma chatinha, passei a admirar muito
a devoção e parceria que uma tem com a outra, mesmo tendo personalidades
tão diferentes. Enquanto Marina é ousada, alegre e jovial, sua amiga é séria e
contida. Olhar pra ela é ter a sensação de que carrega o peso do mundo nas
costas. Marina tanto percebeu seu comportamento estranho, que decidiu lhe
dedicar mais atenção.
Olhá-las é como ver eu e João durante todos os nossos anos de
amizade. Um pelo outro, sempre!
— Meu celular tocou e ela disse que ia subir pra retocar a maquiagem.
— Tudo bem. Fique de olho, vou procurá-la lá dentro – digo, saindo
apressado.
Ao entrar na casa, reparo em alguns rostos sentados sobre o sofá e eu
pergunto se eles não foram avisados de que a recepção seria no jardim.
— Oi, Maya – cumprimento, ao passar rapidamente pela cozinha. —
Sabe se a Marina desceu? – questiono, já que elas parecem ter desenvolvido
uma amizade nessas últimas semanas. Não como a que Marina tem com a
chatinha, mas ainda assim uma amizade.
— Ela subiu tem alguns minutos, senhor, disse que precisava usar o
banheiro – continua o que estava fazendo, e eu digo antes de sair:
— Seu expediente já acabou. Se quiser trocar de roupa e curtir um
pouco... Vá fazer companhia a Ângela, que eu vou conferir como Marina está
– pelo que minha pequena contou, elas estão tentando estreitar os laços.

Alguns minutos antes

Marina

— Que droga – Ângela se irrita ao ouvir seu celular vibrar em chamada


pela quinta vez. — É o Mateus – eu não sei o que se passa entre esses dois,
mas minha amiga claramente não está gostando da insistência. Eu mesma
estou admirada por ele ainda não ter dado as caras por aqui. Se antes eu
achava que era minha amiga quem o convidava para os mesmos programas
que a gente, hoje estou começando a desconfiar que é ele mesmo quem se
convida. Antigamente, ela parecia não se incomodar, tanto que eu
desconfiava de sua participação nisso tudo. Agora, é como se estar perto dele
sugasse suas energias, Ângela muda da água para o vinho todas as vezes em
que o primo aparece.
Será que o escroto está lhe seguindo? Não, a Ângela que eu conheço
não permitiria uma coisa dessas.
Ao vê-la começar a digitar uma mensagem, eu sou obrigada a enfrentar
meus próprios demônios.
Desde a hora que chegou, a tal Patrícia não para de me encarar. Ela
sempre está nos mesmos lugares que eu. Seu olhar tem me incomodado tanto,
que mal tenho conseguido passar por essa recepção. O que já era difícil se
tornou cem vezes pior. A mulher me encara como quem me acusasse de
alguma coisa, com se eu tivesse uma dívida que ela quer paga.
— Ângela – chamo, e ela tira a atenção do celular por um instante.
— Vou ao quarto retocar minha maquiagem – invento a primeira desculpa
que me vem à cabeça. Só tenho que ficar longe dessa mulher.
— Tá bom. Vou ficar ali – aponta o canto mais afastado do jardim,
onde tem um banco de madeira para três pessoas.
Ao entrar no meu quarto, sinto o alívio percorrer lentamente meu
corpo. Sento na beirada da cama, tiro os saltos altíssimos por alguns instantes
e deixo meu corpo finalmente relaxar.
Permaneço um tempinho apenas sentindo a brisa da noite fresca
adentrar pela janela, e de olhos fechados, ouço o barulho da maçaneta
girando. Ainda sem abrir os olhos, digo:
— Vem aqui, amor, vem sentir esse ventinho maravilhoso.
— Então é aqui que a pirralha se esconde – dou um pulo da cama
quando ouço a voz ácida da Patrícia.
— O que você está fazendo aqui? – me afasto instintivamente para o
outro lado da cama.
— Tenho que admitir que você foi bem esperta, menina. Conseguiu
fisgar Erick Estevam – começa a me encurralar contra a parede e não vejo
mais para onde correr. — O que você fez além de abrir as pernas? Foi
choramingar como uma menininha chorona?
— Não sei do que você está falando – digo baixinho, ao ter a mulher
muito mais alta e forte quase encostada em mim.
— É claro que sabe. Essa era a chance que eu tinha para mostrar
serviço e ganhar a confiança do Erick e você foi lá e estragou tudo, sua
vagabundinha – agarra meu braço direito com toda a força que seu corpo
possui.
— Me solta, você tá me machucando – as lágrimas começam a cair
quando tento sair do seu agarre e ela me aperta ainda mais forte. Não sei o
que é pior, a agressão física ou as verbais.
— É pra machucar mesmo, garota irritante. Será que você veio ao
mundo apenas pra atrapalhar minha vida? – não tenho tempo de processar a
última frase, já que um Erick furioso adentra o quarto e ordena:
— Solta minha mulher agora!
Leoa
Erick

A cena que vejo não poderia ser mais grotesca. Tendo Marina acuada
entre ela e a parede, Patrícia segura fortemente o seu braço – enquanto fala
barbaridades que só pude ouvir o final – e lhe sacode bruscamente. Minhas
entranhas se contorcem ao ver no rosto da minha pequena as lágrimas que ela
tenta não derramar e que ainda assim escorrem.
— Você enlouqueceu, caralho? – grito, furioso, fazendo-a se assustar,
largar o braço de Marina e se afastar alguns passos para trás.
De imediato, vou ao encontro de Marina, que não faz nada além de
tremer incontrolavelmente. Nesse momento, tenho que me segurar para não
fazer uma besteira.
Como essa vadia ousou tocar na minha mulher dessa forma?
— Erick – Patrícia está na nossa frente, totalmente desconcertada, não
pelo que estava fazendo e sim por eu ter visto. — Marina e eu estávamos
apenas conversado. Fala pra ele, menina – pede. Quando olho em seu rosto,
vejo a pequena encarar a loira com incredulidade.
— Você acha que eu sou idiota, não é mesmo? – lhe surpreendo. Para o
seu azar, eu sei exatamente com quem estou lidando. — Você estava
agredindo minha namorada, não vem com essa de que estavam apenas
conversando.
— Aquilo não foi nada – faz pouco caso da própria agressividade. —
Marina que é sensível demais, não é, querida?
Quando ela diz isso, sinto todo o corpo de Marina se enrijecer. Ela tira
minha mão da sua cintura, dá alguns passos até onde está Patrícia e
surpreendentemente estapeia seu rosto. Não sei se pela surpresa do ato ou
pelo tapa em si, mas a mulher fica cambaleante quando instintivamente leva a
mão ao rosto.
— Está vendo, querido? – não sei se algum dia serei capaz de ouvir
essa palavra novamente. — Essa menina não está bem, precisa de uma ajuda
profissional urgente. Tá totalmente descompensada.
Meu Deus! Essa mulher não tem limites. Ela chegou ao ponto de
colocar em dúvida a sanidade da Marina.
— Fora da minha casa – minha garota aponta o dedo na direção da
porta.
Sua atitude me enche de orgulho. Essa é a Marina que eu conheço, a
mulher que, apesar de ser sensível e aparentar fragilidade, não deixa de se
defender quando é atacada. É como ver uma gatinha se transformar numa
leoa.
— Eu não te conheço e nem sei qual é o seu problema comigo – diz, ao
encarar a loira de perto. — Se for pelo Erick, você pode se conformar. Nós
estamos juntos e nem você nem ninguém pode dizer o contrário – ela diz,
vindo novamente para os meus braços, e eu circulo sua cintura, tendo que
segurar as evidências do tesão que sua atitude está me causando. — Saia
daqui, esquece da minha existência e do meu namorado também.
— Sua... – ainda tenta insultar Marina, mesmo depois de tudo que
ouviu e de carregar no rosto a marca da minha ferinha furiosa.
— Cuidado com suas palavras – corto, antes que a situação piore. — E
diante de tudo que presenciei aqui, nós não temos condições de continuar
trabalhando juntos. Passe amanhã no escritório para acertarmos tudo. Seus
serviços estão dispensados – faço o que já devia ter feito.
Tenho que arrumar outra forma de neutralizar as ações dela. Deixando-
a perto de Marina é que não vai ser.
— Você não pode estar falando sério – diz, furiosa. — Não pode
simplesmente me dispensar por causa dessa mimada.
— Não só posso, como vou. Se retire, por favor – sinalizo para a porta,
assim como Marina fez.
— Eu vou – sai, mas não sem antes dizer: — Vocês ainda vão ouvir
falar de mim. Isso não vai ficar assim – ameaça, e logo depois bate à porta
num barulho estrondoso.
Quando ela sai, Marina solta meus braços da sua cintura e vai
caminhando lentamente até a cama. Chegando lá, ela se senta na beirada e
solta as lágrimas que até então estavam contidas. Seu corpo treme tanto que
começo realmente a me preocupar.
— O que foi, meu amor? – seco seu rosto ao me agachar a sua frente.
— Fala comigo, estou ficando preocupado – toco seu braço, fazendo reagir
com um sobressalto.
— Eu vou matar aquela desgraçada – tento me levantar, mas sou
impedido quando seu braço toca meu ombro. — Ela não devia ter feito isso –
sinto um nó na garganta por ver a pele branquinha do seu braço ostentando
um enorme hematoma, que começa a ficar roxo. Nele está o exato formato da
mão daquela vadia dos infernos.
Maldita a hora em que João a colocou nas nossas vidas. O que foi que
você fez, meu amigo?
— Fica, amor – me abraça pelo pescoço. — Tô chorando, mas é de
raiva – com cuidado para não me afastar do seu abraço, levanto
cuidadosamente, para em seguida sentar em nossa cama com ela em cima do
meu colo.
— O que foi que ela te disse? – indago. Tenho que tentar descobrir
qual é a motivação da Patrícia para ter toda essa raiva por uma pessoa que ela
nem ao menos conhece. Pelo menos até onde eu sei.
— Basicamente me acusou por ter sido afastada desse evento – porra!
Isso é tudo culpa minha. Não devia ter mencionado o nome da Marina
quando lhe dispensei.
— Só isso? – pressiono, depois de perceber que já está mais calma.
— Não. Ela mencionou alguma coisa sobre eu ter nascido apenas para
trazer problemas – um alarme toca dentro da minha cabeça. — Não acha isso
estranho? Falar algo tão cruel, a mulher não sabe nada da minha vida – suas
palavras deixam claro que ela não desconfiou de nada. Talvez seja melhor
assim, quanto mais distante eu conseguir manter Patrícia, melhor será para
Marina.
— Vamos esquecer essa mulher, pequena – beijo seu rosto ainda
úmido. — O importante é que está fora das nossas vidas.
— Tem razão, não vamos deixar que estraguem nossa noite – seca o
rosto com altivez.
— Assim que se fala. Agora vamos olhar esse braço – levanto com ela
nos meus braços, e lhe carrego para dentro do banheiro. Chegando lá, coloco-
a no chão e ela fala, assustada ao se ver no espelho:
— Meu Deus! Tô parecendo um monstro – começa a limpar a mínima
mancha preta que escorreu dos seus olhos. — Não posso sair assim – ajeita-
se rapidamente e com uma assustadora habilidade.
— Será que uma bolsa de gelo dá jeito nisso? – toco de leve o local
arroxeado.
Enquanto minha prioridade é o braço, a sua é a bendita maquiagem
borrada.
Mulheres!
— Tá tudo bem, Erick. Na hora doeu, mas já tá melhor – se vira para
mim, dá um beijinho em minha boca e continua: — Parece pior do que
realmente é.
— Não te incomoda sair assim? – aponto. — As pessoas vão comentar.
— Deixe que comentem, se for difícil pra você, eu posso colocar um
casaco – oferece.
— Não, linda, só tô preocupado com seu bem-estar. O que estiver bom
pra você também vai estar pra mim.
Contente com minhas palavras e já com o rosto tão perfeito como
antes, ela vira de frente para mim, enlaça meu pescoço num novo e delicioso
abraço apertado.
Encostados na bancada que sustenta o espelho, permanecemos por um
momento, apenas sentindo o calor do outro, até que minha gatinha quebra o
silêncio:
— Erick, isso que eu estou sentindo é... – chego mais perto do seu
corpo para que não fique nenhuma dúvida.
— O que eu posso fazer se te ver toda dona se si, se defendendo tão
brevemente, me deixou com tesão? Não que já não estivesse antes. Esse tem
sido meu estado desde a hora em que te vi tão gostosa com esse vestido,
presenciar sua força somente potencializou meu desejo que já não era
pequeno.
— Tesão, é? – leva a mão até minha ereção, e sobre o tecido da calça,
aperta meu pau com a força necessária, dizendo baixinho no meu ouvido: —
Agora imagina como anda a situação aqui em baixo. Talvez ela tenha ficado
feliz e queira agradecer por você ter me chamado de sua mulher – movimenta
a mão lentamente por todo o cumprimento. Mesmo que por cima da calça,
ainda sou capaz de sentir o calor do seu toque.
— Minha mulher – curvo parcialmente seu corpo contra a bancada,
para depois lamber o vão desnudo entre seus seios. — Minha mulher.
— De novo – pede, tirando a mão do meu pau, levando as duas para o
meu cabelo. Enquanto ela busca apoio, aproveito para esfregar minha ereção
na sua boceta.
— Você é a minha mulher – ela ofega, desejosa. — Minha namorada,
meu tudo – afasto o tecido para o lado e abocanho seu seio esquerdo.
— Ai. Isso! Não para – pede, insinuando o quadril para frente.
— Não vou parar – ajeito seu corpo e como sua boca num beijo duro.
— Diz que quer me dar essa boceta, diz.
— Eu quero que você coma, agora – ouvir isso, tendo seus olhos sobre
os meus, leva o fio de sanidade que eu tentava manter.
Seu modo cadela safada me tira a capacidade de raciocínio. Não me
importo de ter pessoas lá embaixo me esperando ou com o risco de sermos
ouvidos por quem estiver na sala. Marina e eu não podemos ser classificados
como um casal discreto. Quando o sexo fica intenso além do normal, tenho
que tapar sua boca com a mão. Se não o fizer, no dia seguinte ela estará se
escondendo com vergonha dos funcionários.
Não é como se eles fossem achar que seus gritos são ocasionados por
uma surra, quer dizer, é uma surra, só que uma surra de pau. E essa surra eu
garanto que ela gosta de levar.
— Eu vou, minha gostosa – mordo a ponta da sua orelha para depois
aliviar com uma lambida. — Vou meter tão profundo dentro dessa bocetinha
apertada, que quando nós voltarmos para a festa, todos vão notar o que
estávamos fazendo aqui em cima – troco nossas posições. Agora ela está
virada de frente para o espelho e eu estou abraçando-a por trás, fitando seu
rosto através dele. O cenário não poderia ser mais excitante, tudo tem um ar
de proibido e transgressor. — Você vai ficar envergonhada, é claro. Mas, por
outro lado, vai gostar, sabe por quê? Todas aquelas pessoas saberão quem é
seu macho, quem é o homem que tem estado entre suas pernas por horas a
fio, em todas as oportunidades que nos aparecem, assim como também
saberão que Erick Estevam não está mais disponível, que meu pau domado
está mais que satisfeito por socar apenas em uma boceta, a sua boceta.
— Caralho – amo como sua boca fica suja quando está louca de tesão.
— Você vai gostar disso, não vai? – começo a subir seu vestido,
deixando a parte de baixo toda enrolada na altura da cintura. — Me diz.
— Sim – baixo a vista para sua bunda e sinto todo o sangue que circula
meu corpo correr até o pau.
A safada tem uma pequena calcinha de renda preta toda socada dentro
da bunda. A imagem é tão excitante que nesse momento tenho meu pau
babando dentro da cueca. Mais um pouco e estarei passando vergonha aqui.
— Gostosa – levo minha mão até a parte da frente, encontrando a peça
deliciosamente molhada. Com os dedos, passo a massagear seu montículo por
sobre a calcinha. Ensandecida, minha putinha safada profere todos os tipos de
insultos, sem nunca deixar de esfregar a bunda redonda no meu pau.
Estamos quase fodendo a seco dentro do banheiro e de portas abertas,
quando uma voz feminina chama por Marina.
— Marina? – Maya chama, ainda do lado de fora do quarto.
Puta que pariu!
Burburinho
Marina

— Marina, você está aí? – a voz abafada e distante de Maya enche o


ambiente.
— Para com isso, Erick. Ela vai entrar – seguro sua mão para que pare,
e ele não só continua, como decide enfiá-la por dentro da minha calcinha.
— Quietinha. Se ficarmos em silêncio, ela não vai ouvir – enfia dois
dedos dentro do meu sexo, e como a maníaca que estou me tornando, coloco
a mão para trás, masturbando seu pau por cima do tecido da calça.
— Está tudo bem, Marina? – ouço o clique da maçaneta sendo girada.
A eminência de ser descoberta num momento tão íntimo traz uma
mistura de medo e excitação, o que torna a experiência ainda mais prazerosa.
Quando seus dedos beliscam meu clitóris, não me contenho e dou um
gritinho alto o suficiente para que Maya decida entrar. No mesmo instante,
Erick coloca a mão na minha boca, aumentando ainda mais o vai e vem com
a outra.
— Estranho – sua voz ecoa mais nítida. — Jurava ter ouvido alguma
coisa.
Ela termina de falar e eu sou abrigada a segurar a bancada de mármore
com força. Erick acaba de me levar a um orgasmo quase insano.
Com as pernas fracas, fico dividida entre vigiar pelo espelho Maya
parada perto da porta, ou olhar para a cena tão sexy quanto excitante do meu
homem levando os dedos, que até então estavam me masturbando, para
dentro da sua boca. Ele prende meu olhar no seu através do espelho e já não
me importo com o que se passa ao redor.
— Você tá é ficando louca, Maya – ela diz, e sai do quarto.
Ufa! Essa foi por pouco. Nunca imaginei me tornar o tipo de mulher
que transa dentro do banheiro, com a porta aberta e com medo de ser pega no
flagra. Tudo bem que é meu namorado, mas também não posso dizer que
seria uma boa experiência ser pega por uma amiga enquanto tenho a bunda de
fora e meu Erick com os dedos dentro de mim.
Tirando os dedos da boca, ele me vira de frente e diz:
— Preciso te comer agora, ou então vou acabar gozando na cueca.
Sem pensar, abro seu cinto, desço o zíper da calça e abaixo a cueca
apenas o suficiente para ter seu mastro em minha mão. Ver a cabeça do seu
pau começando a babar é motivo suficiente para ter minha calcinha ainda
mais úmida.
Prevendo minha intenção, Erick coloca a mão em cima da minha,
impedindo que os movimentos continuem, e diz:
— Agora, meu amor. Vem – Erick iça meu corpo para cima, sentando-
me em cima da bancada de mármore que faz minha pele quente se arrepiar
com seu toque gelado. — Abre – após separar minhas pernas, engancha os
dedos indicadores nas tiras finas da minha calcinha, fazendo com que eu
levante minha bunda do mármore apenas o suficiente para que a peça possa
ser tirada.
Quando termina de tirá-la, ele aperta o pedaço de pano entre os dedos
para em seguida levar a peça ao nariz. A cena me faz ter vontade de
agradecer de joelhos por ter esse homem na minha vida, quer dizer, por ter
ele como namorado, já que na minha vida ele sempre esteve. Felizmente!
— Amo seu cheiro, minha gatinha – confidencia, ao guardar a calcinha
dentro do bolso de calça. — Cheiro de mulher, a minha mulher. Estava com
tanta saudade – sua voz fica abafada ao se interpor entre minhas pernas,
pincelando a ponta grossa do seu sexo na minha boceta molhada, no mesmo
momento em que abaixa sua cabeça para a curva do meu pescoço. — Tão
cheirosa – passa a língua pelo local quando mais abaixo começa a me
penetrar.
— Baby... – gemo, ao senti-lo enfiar vagarosamente, tendo cuidado
para que eu me acostume com seu tamanho e espessura. — Como é bom te
sentir – ele termina, entrando até o fim e parando por alguns segundos. É
sempre assim entre nós, quando estamos transando, nossa conexão se estende
para muito além da parte física. É quase como um encontro de almas. São
esses os momentos em que nos encaramos, dizendo com o olhar o que
simples palavras não podem expressar.
São momentos como estes que me fazem amá-lo além do que a razão
pode explicar, e me faz ter a plena convicção de que sou retribuída na mesma
medida. É reafirmar que meu amor nunca foi uma carência ou um capricho.
Foi e sempre será um sentimento genuíno, primeiro o de uma criança que o
via como um super-herói capaz de defendê-la de tudo, depois como uma
adolescente e agora como uma mulher.
— O mesmo aqui, princesa – começa um entra e sai lento. — Me
perdoa se isso for rápido demais – avisa, deixando-me ciente do estado em
que se encontra. Nada diferente do meu. Minha vontade por ele subiu a níveis
estratosféricos ao vê-lo no modo chefão. Quando está trabalhando, o vinco
entre suas sobrancelhas, que o deixa com cara de mau, fica ainda mais
proeminente. Nessas horas, eu só tenho vontade de tirar as roupas; as minhas
e as dele.
— Também estou quase lá – aviso, não querendo que se segure por
minha causa. Com seu olhar denunciando o que vem pela frente, finco
minhas unhas nos seus ombros, que felizmente estão cobertos pela camisa, e
enrolo minhas pernas firmemente na nas suas costas, cravando de maneira
desajeitada os saltos finos do meu sapato na sua bunda.
O que começou lento torna-se intenso quando, entre sacanagens faladas
ao pé do ouvido e chupões doloridos no bico do meu peito, Erick passa a
estocar com brutalidade, fazendo com que meu corpo seja içado para cima,
pela força das arremetidas.
— Mais forte, amor – levo a mão para seu cabelo, puxando-o com
força, e ele faz o que eu digo. — Isso...
— Deliciosa... – está ofegante com os olhos cravados nos meus, que
lutam para manter o foco.
De modo sincronizado, ele encontra a veia pulsante do meu pescoço e
passa a chupar o local com extrema maestria. Enquanto estoca, sua boca
trabalha de uma forma que me faz sentir como se o sangue ali acumulado
tivesse uma ligação direta com o meu sexo, o que torna as coisas ainda mais
excitantes.
— Me dá sua boca – pede, ao colar nossos corpos. – Quero beber do
som do seu prazer – abocanha meu lábio inferior, o puxando levemente para
frente de um jeito sexy que só ele sabe fazer. — Se segura, meu amor – diz, e
então empurra; uma, duas, três... oito vezes até que eu balbucio dentro da sua
boca o que deveria ser um grito capaz de alardear toda a recepção.
— Isso, minha putinha gostosa, goza, vai... – ainda penetra, amparando
meu corpo trêmulo e lânguido de satisfação. — Me dê tudo – soca
profundamente mais algumas vezes, até alcançar seu próprio pico.
— Foda! Porra – esporra dentro do meu sexo seu líquido viscoso. —
Isso tá ficando cada vez melhor.
— Se isso fosse uma doença, nossas vidas estariam condenadas – digo,
com as pernas ainda envoltas na sua cintura e os braços lhe abraçando pelo
pescoço.
— Uma ótima maneira de morrer – afirma, sem quebrar nossa conexão
física. — Já pensou? "Casal falece por transar demais". Isso é o que eu chamo
de morte honrada.
— Para de ser babaca, Erick – puxo os cabelos curtos de sua nuca. Meu
namorado apenas dá seu típico sorriso abaixador de calcinha, dá uma última e
deliciosa metida, para logo em seguida sair cuidadosamente de dentro de
mim.
— Tudo bem? – afasta alguns passos para observar minha boceta, que
neste momento deve estar uma bagunça.
— Se melhorar estraga – respondo, satisfeita.
— Linda – dá um selinho e diz em seguida: — Espera só um instante.
Observo quando pega uma toalhinha amarela, umedece com água da
torneira e volta, dizendo:
— Isso deve servir por enquanto – separa novamente minhas pernas,
passando a limpar as evidências do amor que acabamos de fazer.
— Temos que descer logo. Os convidados devem estar chamando a
polícia – digo, vendo-o tirar do bolso a minha calcinha e me entregar.
— Eu não vou usar isso de novo – meu rosto queima quando sobre seu
olhar cai a compreensão do porquê.
— Vou procurar outra, então – sai, rumo ao closet que passamos a
dividir.
Enquanto ele não vem, aproveito para arrumar meu cabelo. Mas antes,
dou um jeito de melhorar a merda que meu rosto ficou, não só pelo choro de
agora há pouco, mas também pelo suor produzido durante o sexo. Estou a
ponto de passar para o ninho de ratos que está meu cabelo quando ele volta
com uma lingerie muito parecida com a outra.
— Obrigada, amor – vou pegar a peça, mas Erick é mais rápido e
gentilmente ajoelhado, ele passa a peça em cada uma das pernas, vestindo-me
com a mesma perícia que teve na hora de tirá-la. Em seguida, ele abaixa meu
vestido, que até então estava embolado na cintura.
— Vamos? – chama, fazendo eu me surpreender por não ter percebido
a hora que ele cuidou de si mesmo. Erick está tão alinhado quanto na hora em
que entrou no quarto.
Homens e suas praticidades.
— Ainda não – me aproximo do espelho e pego a escova na tentativa
de ajeitar os fios rebeldes. Através do espelho, vejo-o de braços cruzados,
apenas me observando e esperando.
— Eu não acredito que você fez isso, Erick – não acredito quando, em
um olhar mais atento, vejo a mancha roxa e arredondada bem no centro do
meu pescoço. — Como vou sair daqui assim? O que seus convidados vão
pensar?
— Eles não têm que pensar nada, e se pensarem, vão saber que
provavelmente você estava dando uns amassos por aí com seu namorado –
faz aspas com os dedos quando diz a palavra amassos, até porque fizemos
muito mais do que dar uns amassos. — Namorados fazem isso.
— Oi? – me dou conta das implicações da sua afirmação.
— Isso mesmo, pequena – vem me abraçar. — A essa altura todos que
estão lá fora já sabem o tipo de relação que temos, além de eu ser seu tutor, é
claro.
— O que aconteceu com o “vamos manter segredo”?
— Foi pra puta que pariu no momento em que ouvi te chamarem de
gostosinha. E também já não via mais sentido em esconder. Estamos juntos
há tempo suficiente para saber que isso entre nós é real e duradouro.
— É pra eu ter medo? – indago. Realmente não sei qual será a reação
dos figurões pomposos que lá fora estão. De maneira nenhuma quero que
Erick saia prejudicado e com a imagem manchada.
— Não, amor, vai dar tudo certo. O máximo que pode acontecer é nos
olharem com estranheza – explica, e eu ouço com atenção, tentando com uma
base corretiva, amenizar a evidência do chupão que Erick deixou no meu
pescoço.
— Então tá tranquilo – termino meu trabalho, que não ajudou muito, e
lhe estendo a mão, dizendo:
— Agora podemos ir – ele entrelaça nossos dedos. — Tô bem? – sendo
uns bons trinta centímetros mais baixa que ele, levanto a cabeça para cima a
fim de que veja meu rosto com clareza.
— Linda – puxa meu corpo para si, dando-me um selinho.
Ao chegar, avistamos pessoas mais descontraídas, com taças de vinhos
ou champanhe nas mãos. Para onde se olhe é possível encontrar rodas de
conversas. Seja ainda sobre negócios, seja futebol ou até mesmo alguns
passos arriscados ao som da música ambiente; o importante é que cada um ali
parece estar confortável em sua própria pele. Talvez até contentes em
aproveitar uma boa música e bebidas. Esse comportamento certamente é um
indício de que a parte chata em que falam de negócios passou.
Se for levar em conta a mudança nas posturas, presumo que seja essa a
palavra correta.
— Hora do show – Erick sussurra no meu ouvido quando, de mãos
dadas, alcançamos o jardim.
E por falar em mudanças de postura... De repente o ambiente fica mais
silencioso, cabeças começam a se virar em nossa direção, pessoas
discretamente passam a cochichar; e tudo isso por ver o grande advogado
Erick Estevam de mãos dadas, assumindo publicamente o namoro comigo,
filha do seu falecido melhor amigo, e que tem quase vinte anos a menos que a
sua idade.
O burburinho continua até o fim da recepção. Entre olhares que vão de
surpresa a desagrado, na nossa frente todo mundo chega perto para nos
parabenizar.
A alta sociedade e sua hipocrisia. Até aqui, não há nada novo sob o sol.
A única reação que me é importante em tudo isso é a de Erick, que a
certa altura abraça-me pela cintura e sussurra no meu ouvido:
— Será que eles não vão embora nunca? – diz, colando o corpo ao
meu. — Não vejo a hora de estar a sós com você.
— Tô sentindo sua ansiedade – rebato, quando discretamente, rimos da
nossa própria piada.
Surpresa
Erick

O tempo foi passando. Os dias viraram semanas, as semanas viraram


meses e aqui estou eu, no meio de um dia de trabalho, escolhendo
um presente para a minha namorada, que amanhã completa seus dezoito anos.
Os meses que se seguiram desde o dia em que assumi minha relação
com ela foram tanto calmos quanto atribulados. Calmos porque Marina e eu
passamos a ter mais liberdade, já não precisávamos mais nos policiar na hora
de sair juntos, pelo contrário, sempre que tinha algum evento de negócios, ela
ia como minha acompanhante, assim como eu passei a ser convidado a sair
com seus colegas, convites que eu neguei em sua maioria, é claro.
Os momentos atribulados vieram quando a mídia – que nunca foi de
dar muita importância para o que eu faço ou deixo de fazer – achou que nossa
história era interessante demais para passar em branco. Desde então, as
pessoas se sentem no direito de opinar em nosso namoro. Há quem nos veja
com olhos de crítica e há os mais românticos, esses torcem por nós e
enxergam tudo pela lente cor-de-rosa, como se vivêssemos em um conto de
fadas.
Entre nós, as coisas não poderiam estar melhores; sempre que estamos
juntos em casa, aproveitamos para curtir um ao outro. Quando não estamos
fazendo sexo, porque isso é uma coisa que a convivência e o costume não
diminuíram, estamos apenas curtindo a oportunidade de estarmos perto. Não
são poucas as vezes em que preguiçosamente ficamos deitados na nossa
cama, assistindo filmes e séries, ou ficamos cada um do seu lado da king size
- ela lendo um romance qualquer e eu trabalhando no computador.
Nossa felicidade tem sido tanta, que junto com ela vem o medo. Medo
de ver tudo isso acabar. Infelizmente, não tem sido poucas as noites em que
acordo suado e desesperado por conta de um novo pesadelo.
Diferente de antes, agora eles tem sido mais frequentes e mais
agressivos também, e todos eles terminam com eu perdendo minha mulher.
As formas também mudaram, às vezes minha mente recria imagens do seu
quase atropelamento, só que no sonho ele se concretiza e ela não sobrevive.
Outras vezes, a encontro desacordada com um tiro perto do peito, esses são
os piores e mais recorrentes, são esses que me fazem acordar chorando e lhe
pedido para me abraçar apertado.
Sendo esse o único aspecto ruim da nossa rotina, me ofereci algumas
vezes para trocar de quarto, e em todas recebi sua recusa, ao afirmar que tudo
está bem, que nada de ruim irá lhe acontecer.
Ela sempre diz isso, com as mesmas palavras, desde a primeira vez.
São elas o bálsamo que alivia meus medos. Suas palavras e seu corpo.
Seu corpo é a minha cura.
Tocá-la é ter a prova de que tudo não passa de uma ilusão, que a
realidade é essa, onde plenamente nos amamos.
Tanto quanto os pesadelos, transar de madrugada vem se tornando uma
rotina. Segundo minha pequena, essa é a sua forma de demonstrar que está
tudo certo, que da mesma maneira que fomos deitar, vamos nos levantar.
Lado a lado, como tem que ser.
Para sempre!
— Vai ficar só olhando pela vitrine? – a voz feminina me tira dos meus
devaneios de uma maneira não tão delicada.
— Que susto, caralho – a peste sorri com o mesmo deboche de sempre.
— Demorou assim por quê? Acha que tenho o dia todo? – ela se irrita com
minha pergunta.
— Para de ser folgado – de prontidão, Ângela rebate minha crítica. —
Se estou aqui é por Marina e não por você – confidencia, ainda que não
precisasse. Eu e essa peste temos uma estranha relação. Nem amigos íntimos
nem inimigos declarados. É mais como colegas que se toleram por um ponto
em comum que se chama Marina. Nós dois a amamos e sabemos que ela tem
tanto nela quanto em mim o seu porto seguro. Em níveis e formas diferentes,
é assim que as coisas são.
Apesar de ser meio chatinha e querer sempre manter a pose de durona,
durante esse tempo acabei me acostumando com ela, que a meu pedido está
aqui, em uma joalheria, ajudando-me a escolher um presente para a minha
garota.
— Vem, vamos entrar – chamo-a, e entramos na sofisticada joalheria.
— Tem algo em mente? – me pergunta, assim que paramos em frente à
vitrine recheada de joias.
— Tenho, sim – começo a explicar o que pensei e em como pretendo
entregar o presente. Quero fazer de um jeito especial, para que Marina possa
se recordar desse dia sempre que olhá-lo.
Com o auxílio da chatinha e também de uma vendedora que acabou
nos dando uns toques, uma hora depois saímos da loja, ela ansiosa para ver a
reação da Marina com a surpresa, mesmo eu tendo deixado claro que ela não
vai presenciar, ao menos não essa, e eu contente por ter nas mãos algo que
vai lhe deixar feliz. Assim eu espero.
Depois de deixar Ângela na porta de casa, volto para o escritório,
resolvo algumas pendências que não podem ficar para segunda-feira e volto
para casa.
Com sorte, Marina ainda não terá chegado e eu poderei checar os
últimos detalhes da nossa noite especial. Na sua cabeça, como hoje é sexta-
feira, dia em que eu e ela temos obrigações a cumprir, nós comemoraremos o
seu aniversário apenas amanhã, na costumeira festa de todos os anos. Sempre
em volta da piscina.
— Oi, garotão – afago as orelhas de Thor quando, assim que passo pela
porta de entrada, ele vem correndo em minha direção. Atrás dele, Floquinho
também se aproxima, só que mais discreta. O animal começa a passar o
corpinho e o rabinho esticado por entre minhas pernas, só parando quando lhe
pego nos braços.
— Ei, você – acaricio sua cabeça pequena, que preguiçosamente
empurra contra minha mão. — Vocês não vão contar pra mamãe o que eu
estou aprontando, não é? – vou para o sofá e sento com a gata nas minhas
pernas e com Thor deitado em cima dos meus pés.
As horas que se seguem são usadas para garantir que nada dê errado
mais tarde.
Já está anoitecendo, quando pela janela do quarto vejo Jorge entrar
com o carro. Essa tem sido a rotina de Marina nas últimas semanas. Depois
de terminar o curso de fotografia e de conhecer Lua, – a namorada de Bruno
– em um dos eventos em que fomos, minha namorada foi convidada por ela,
que é fotógrafa, para ser sua assistente em um ensaio editorial.
Animada com a ideia de iniciar a carreira com o pé direito, ela me
consultou – mesmo não precisando, já que eu lhe apoiaria de qualquer forma
– e acabou aceitando o convite. Todos os dias às 10h da manhã Marina sai
com o motorista, carregando sua câmera e todo o resto do equipamento para
o estúdio da Lua, que a essa altura já nem é mais namorada de Bruno.
Sendo ela tão gente boa, segundo elogios da própria Marina, eu só
consigo pensar na sorte que teve em se livrar tão rápido do Bruno. Ou foi o
Bruno quem se livrou dela? Bom, isso realmente não importa. A verdade é
que mesmo sendo meu amigo, Bruno não é nem de longe um bom material
para relacionamentos. Apesar de tudo, ele faz muito sucesso com as mulheres
e eu até acho saudável que ele saia um pouco da concha. Só não aconselho
que isso passe de algumas noites, aí já não seria bom para nenhuma das
partes envolvidas.
Às 06h da tarde, quando sai do estúdio, ela costuma me enviar
mensagens dizendo que já está indo para casa e que correu tudo bem, hábito
adquirido como consequência dos pesadelos. Hoje não foi diferente; alguns
minutos atrás, recebi sua mensagem e também lhe informei que já estou em
casa.
— Amor, que surpresa maravilhosa – diz, ao entrar no quarto e pular
nos meus braços, enrolando as pernas na minha cintura. — Melhor presente
de aniversário não poderia ter.
— Pensei que o melhor presente você tinha recebido hoje de manhã –
faço referência ao sexo matinal que minha pequena nomeou como o melhor
presente de aniversário já recebido.
— Recebi e quero de novo, meu tutor – lembra o vínculo que acabou
nos unindo novamente. Não que isso algum dia não fosse acontecer. Mas, se
não fosse a promessa e o testamento de João, talvez isso não estaria tão cedo
acontecendo.
— Ex-tutor, e agora, apenas namorado. E o repeteco do seu presente
fica para mais tarde, sua safada – ela solta as pernas e eu vou lhe descendo
pelo meu corpo até que seus pés toquem chão. Ela, como não perde a
oportunidade de me provocar, aproveita a situação para se esfregar contra
uma rígida e específica parte da minha anatomia. — Vá se arrumar que nós
vamos sair.
— Pra onde? – pergunta, desconfiada.
— Deixa de ser curiosa, meu amor, apenas fique bem linda. Eu tenho
uma surpresa para você.
— Surpresa, é? – me olha com malícia. Eu amo que ela seja tão fogosa,
o par perfeito para mim. Se não fosse minha tentativa de ser romântico,
certamente estaríamos embolados contra o lençol, fodendo como dois
coelhos. Com a gente não tem tempo ruim, basta ter tempo e vontade para as
coisas acontecerem.
— É, linda, surpresa. Não essa que sua mente suja está pensando. É
uma de outro tipo. Apenas fique linda para mim. Mais do que você já é.
— Devo vestir algo sofisticado ou mais básico?
— Nada sofisticado. Lá estará apenas eu e você. Então, não há
necessidade disso.
Quando a tenho pronta, lhe levo vendada para o carro e, querendo estar
sempre ao seu lado, peço para que Jorge nos leve e assim ele o faz.
Com uma Marina dividida entre estar tensa e ansiosa, depois de um
tempo trafegando pela cidade já escura, finalmente chegamos ao local
escolhido.
Cuidadosamente, pego a mão de Marina, tiro-a de dentro do carro e a
levo pelo curto caminho.
— Você vai me matar, Erick – reclama a gatinha apressada.
— Pronto, aqui estamos – digo, quando a tenho parada onde pretendia.
— Que ventinho gostoso – fala, sentindo a brisa fresca da noite e o
vento das árvores beijarem de leve as nossas peles. — Já sei que estamos ao
ar livre.
— Garota esperta – elogio, ao levar as mãos para a parte de trás da sua
cabeça e desatar o lenço preto que cobre seus olhos. — Feliz aniversário, meu
amor. Hoje será a nossa noite de criar novas memórias, espero ter acertado —
digo, terminando de tirar a venda.
— Erick... – emocionada, meu nome é tudo o que Marina consegue
dizer quando percebe onde estamos.
Tudo o que preciso
Marina

Sei que pode parecer bobo e que outras pessoas poderiam pensar em
mil maneiras de se passar o aniversário, mas para mim, é diferente. Acordar e
ver a vida que eu tenho é o melhor presente que poderia ter no dia de hoje. O
dia em que, perante à sociedade, eu me torno uma adulta, responsável por
tudo que possa fazer daqui para frente.
Com exceção aos momentos de tristeza pela falta do papai, meu dia
não poderia ser mais feliz. Aqui, onde eu vivi durante toda a minha vida,
tenho tudo o que julgo necessário para me sentir agradecida. Além de um
amigo e namorado, que me faz mais feliz do que qualquer devaneio
adolescente meu poderia fantasiar, tenho meus dois bebês Floquinho e Thor,
minha irmã Ângela e por fim, mas não menos importantes, colegas do
colégio que mesmo depois do natural afastamento pós-formatura, não
deixaram que a amizade morresse.
Então, sim! Eu posso dizer que esse é meu melhor aniversário, que eu
sou feliz, como nunca antes estive.
Hoje pela manhã, quando a luz fraca do sol adentrou pela fresta da
cortina, me deparei com um Erick ainda dormindo, o que foi uma surpresa, já
que ele ou sai antes de eu acordar ou me acorda para um suado sexo de bom
dia.
Hoje ele não fez nem um nem outro. Foi só depois de alguns minutos,
quando já estava cem por cento desperta, que me dei conta do que estava
acontecendo. Esse homem lindo, gostoso e que fode como um deus do sexo,
decidiu ficar e acordar comigo no dia do meu aniversário. Se meu tesão já
não estivesse alto o suficiente – é assim que eu acordo desde que ele me
acostumou a trepar logo cedo – ele foi às alturas com essa percepção, e foi o
estopim para me fazer pular em cima dele. Dessa vez foi eu quem o acordou
acessa e não o contrário.
E se, como diz ele, a nossa transa de bom dia foi meu primeiro presente
de aniversário, nem reclamaria de não receber outro.
Depois de tomarmos nosso café da manhã e combinarmos por alto a
festa de amanhã, saímos cada um para um lado, ele para o seu escritório e eu
para o estúdio em que trabalho há algumas semanas.
Ter a oportunidade de trabalhar com o que eu gosto e com uma pessoa
tão adorável quanto Lua tem sido uma ótima experiência de primeiro
emprego. Com seu bom humor, eu até agora não entendi como é que ela pôde
se envolver com o taciturno Bruno, que de adorável só tem o azul intenso dos
olhos. Ela infelizmente teve um caso com ele, se apaixonou, para logo em
seguida levar um pé na bunda. Quando questionei Erick qual era o problema
dele – além do óbvio – meu namorado apenas deu de ombros, como quem já
está acostumado com o jeito do amigo, e disse que era para minha amiga ficar
feliz com o rompimento. Que mulher nenhuma merece o peso que Bruno
carrega nas costas. É disso que estou tentando convencer minha chefe nos
últimos dias.
Graças a Deus ela fechou contrato com uma grande campanha editorial
e nós não temos tido tempo para que ela pense em Bruno e sua falta de tato
com as mulheres.
Quero nem imaginar uma realidade em que uma amiga minha esteja
envolvida com um babaca desse. Minha sorte é que Ângela não chegou a
conhecê-lo, porque ele parece ter tudo o que ela gosta e não precisa ter em
sua vida, que já me parece atribulada o suficiente.
Ao terminar um cansativo, porém produtivo dia de trabalho, mando a
costumeira mensagem para Erick, obtendo como resposta a ótima notícia de
que já chegou em casa.
Cheia de saudades, entro no quarto, pulo nos seus braços, mas ele trata
de jogar o balde de água fria quando interrompe minhas más intenções ao
dizer que vamos sair. Como não sou boba, trato logo de me aprontar para o
passeio.
Agora, parada diante da visão que enquanto eu viver jamais sairá da
minha memória e do meu coração, as palavras simplesmente somem, tudo o
que consigo fazer é rir e chorar na mesma medida.
— Fala alguma coisa, meu amor – ele pede.
— Erick eu... – me jogo nos seus braços. — Te amo tanto, mas tanto,
que chega a doer – as palavras saem abafadas porque tenho cabeça enterrada
no seu pescoço.
— Ei, não fiz isso para te ver chorar, princesa – me afasta gentilmente,
secando meu rosto no processo. — Não gostou?
— Eu amei, Erick, você não poderia ter preparado um presente melhor
que esse – digo, ao olhar maravilhada para todos os lados.
No mesmo parque e perto da mesma árvore que me trouxe no meu
aniversário de dezesseis anos, o último e fatídico em que passamos juntos;
Erick preparou um ambiente intimista e agradável.
Ao ar livre, e sendo iluminados apenas pela luz da lua, por alguns
pequenos refletores e por singelos pontinhos de luz que foram colocados nos
galhos da bela árvore, ele forrou a grama com uma grossa toalha branca e em
cima dela foram deixadas algumas almofadas coloridas e pétalas de rosas
vermelhas. Ao canto, se vê uma pequena mesa para dois, sortida de bebidas e
pelo que pude ver, alguns tipos de massas, meu prato favorito. Tudo está tão
lindo e tão delicado que é difícil crer que todos os detalhes tenham saído da
cabeça de um homem.
Eu daria meu braço esquerdo em apostar como tem o dedo da Ângela
nisso. Ela tem andado muito misteriosa – mais que o normal – nos últimos
dias. Sempre me fazendo perguntas estranhas e inusitadas. Saber disso me
deixa ainda mais feliz, ver meus dois amores se acertando é um alívio.
— Eu imaginei que seria um pouco arriscado, considerando as
lembranças do nosso último passeio que foi exatamente aqui. Mas, como
disse, quero que construa novas memórias. Dessa vez, felizes.
— Nem me fale, são cenas que minha mente deletou com o passar do
tempo – vejo que disse a coisa errada quando seu semblante cai um pouco e
logo trato de concertar. — Mas até que aquele piquenique não foi de todo
ruim – enfio a mão dentro de sua camisa, passando a alisar preguiçosamente
suas costas.
— Não foi? – aconchega-me melhor em seus braços.
— Esqueceu que foi aqui que você me deu Floquinho, meu presente
inesquecível? – indago, e ele me fita, surpreso.
— Confesso que tinha esquecido. A aquele dia eu só consigo associar o
nosso rompimento que durou quase dois anos – admite, pesaroso.
— Esquece isso, querido – falo, lembrando de como foi difícil fazê-lo
parar de resistir a esse tratamento. Segundo ele, a palavra "querido" só o faz
lembrar da Patrícia, que a usava todas as vezes em que queria forçar uma
intimidade inexistente.
E por falar em Patrícia, depois de o acontecido na recepção e de ter
sido dispensada por Erick, nunca mais se ouviu falar na mulher. A sensação
que tenho é de que ela está por aí, sempre à espreita, querendo uma chance
para se vingar, para destruir a felicidade que dia após dia fomos construindo.
É claro que isso também pode ser paranoia da minha cabeça, por causa da
última ameaça que ela fez. E é justamente por isso que não compartilho dos
meus medos com Erick, já bastam as noites em que ele acorda amedrontado
com os pesadelos que tanto vêm lhe atormentado.
— O importante é que hoje estamos aqui – olho em volta. — Juntos e
bem.
— Vamos jantar? – desfaz nosso abraço, entrelaça nossas mãos e me
leva para perto da mesa. Em cima dela, existe um único girassol, que ele logo
pega, quebra o galho e coloca atrás da minha orelha.
— Você ainda lembra disso? – fico surpresa por ele se recordar de um
detalhe como esse, depois de tanto tempo longe um do outro.
E como costumava ser no passado, hoje o girassol voltou a ser minha
flor preferida.
— Lembro de tudo relacionado a você, linda. Vem – educado, puxa a
cadeira para que eu me sente e logo em seguida senta no seu lugar.
Depois de um agradável jantar, Erick me convida para que sentemos
entre as almofadas que ele tão atenciosamente pediu para que para que
fossem colocas em cima da grama.
Comigo sentada entre suas pernas e com a cabeça encostada no seu
peito, Erick e eu ficamos num confortável silêncio, momento em que apenas
nos permitimos ouvir o barulho da cachoeira que ali perto jorrava cascatas
d'água.
— Tá feliz? – ele quebra o silêncio ao me abraçar e deixar um delicado
beijo em cima do meu ombro.
— Muito. Esse é o melhor aniversário da minha vida – confesso. —
Para estar perfeito, só falta o papai comigo – um pouco de nostalgia me abate
quando volto a lembrar dele. Por ser o primeiro ano passado sem ele,
especialmente hoje sua ausência é mais sentida.
— Eu também sinto a falta do João, meu amor – fica pensativo por uns
instantes, mas logo diz: — Vamos deixar os pensamentos tristes do lado de
fora, hoje é seu dia e só quero te ver sorrir.
— Tristeza? Já passou – saio de dentro dos seus braços e sento com as
pernas cruzadas uma na outra, de frente para ele. — Não acha que está na
hora de esquentar as coisas?
— Tá com frio? – faz-se de desentendido apenas para me provocar.
— Não, querido. Pra falar a verdade, eu tô é com calor – o dia foi
quente e a noite realmente está entre fresca e abafada, mas eu tenho certeza
de que ele sabe que o calor ao qual me refiro em nada tem a ver com o clima.
— Com muito calor. Só acho que você poderia me esquentar um pouco mais
– digo, ao ficar de joelhos e abrir o primeiro botão da minha saia jeans curta.
— Eu não só posso como vou, minha garota insaciável – segura minha
mão e eu entendo que ele tem algo a dizer. — Mas antes, tenho outro
presente para te dar.
— Erick, você não precisava – ele me cala ao também se ajoelhar, me
puxa mais para perto do seu corpo e diz:
— Eu fiz todo esse cenário, mas seu presente na realidade é outro –
diz, colocando a mão dentro do bolso da calça. — Só, por favor, não entra em
pânico.
Ele volta com a mão fechada e quando a abre, o que tem dentro me tira
completamente a capacidade de respirar.
Compromisso
Erick

Olhando para a pequena caixa azul de veludo, Marina não faz nenhum
movimento, além de fitar hora a caixa aberta, hora meu rosto, que espera por
sua resposta.
Só espero não ter exagerado. Em minha defesa, só tenho a dizer que fiz
exatamente o que meu coração pediu.
— O que isso significa? – pergunta, depois de um tempo, ao pegar a
caixinha da minha mão e analisar de perto.
Dentro do pequeno compartimento quadrado, tem um anel de prata,
com as bordas delicadamente salpicadas de pequenas pedras de diamante.
Quando pensei na escolha, o que me veio à cabeça foi algo simples – assim
como a minha garota – mas que também fosse elegante. Com a ajuda da
Ângela e da vendedora, que deram alguns toques, cheguei no anel que julgo
ser o ideal para ela. Simples como a sua essência e valioso como ela é para
mim.
— Significa o compromisso que há muito tempo selamos. Esse anel é
apenas a prova material, meu amor – acaricio seu rosto, que tem os olhos
brilhando pelas lágrimas não derramadas.
— Ele é tão lindo – diz, ao passar o dedo em cima da joia delicada. —
Tenho até medo de tocar e estragar ele.
Acho graça das suas palavras, pois sei que não diz isso deslumbrada
pelo valor econômico que a peça possui, mas sim pelo valor sentimental a ela
atribuída.
— Assim como você – elogio.
Minha ligação com Marina é tão forte, que não consigo lembrar de um
dia em que não tenha estado apaixonado por ela. É como se toda a minha
vida antes de ter me entregado a esse amor não tivesse existido. A Marina
criança que eu via como da família e a adolescente que até os quinze não
levava a sério, nem de longe me faz lembrar da mulher que ela tem se
tornado. A Marina que eu tenho aqui, durante os dias e nas noites passadas na
intimidade do nosso quarto, é a mulher que mesmo sendo tão jovem, tem
tudo o que eu preciso.
Com ela, me sinto completo como nenhuma outra mulher mais
"adequada" seria capaz de me fazer sentir.
E como eu sei disso? Sei pela experiência. Tive vinte anos da minha
vida, anos em que Marina nem bem existia, para comprovar esse fato. Foram
anos e anos procurando me encontrar, sem nunca achar. Até que um dia eu
cansei de desejar a suposta vida tranquila do meu amigo, que tão jovem tinha
encontrado o amor e a calmaria de uma vida tranquila. Foi isso o que eu
almejei até que Cristina abandonou João e a filha ainda tão pequena.
Quando parei de imaginar a vida em que uma mulher seria capaz de
aplacar a solidão que a distância da minha família deixou, comecei a
acumular diversos namoros rápidos e casos sem importância, até que, sem
pedir licença, ela veio e me mostrou que às vezes, mesmo sem planejar, a
vida pode nos surpreender.
— Vem, deixa que eu faço isso – pego a caixinha da sua mão, tiro o
anel e o coloco no seu dedo.
— Perfeito – contente, ela olha para a mão esticada, que agora ostenta
um lindo anel brilhante.
— Agora é a minha vez – pego o meu, que deixei separado no bolso da
minha calça, e lhe entrego para que também o veja.
Ela o pega e deixa transparecer sua surpresa por eu ter comprado um
para mim. Talvez tenha pensado que somente ela usaria.
— Estar com você é não ter um segundo de monotonia – assevera,
enquanto coloca o anel no meu dedo. — Sempre arranja um jeito de me
surpreender e eu te amo por isso.
— Tudo por você, que me faz tão feliz – digo, quando ela vem para o
meu colo e começamos um beijo que se estende até o momento em que nosso
jantar é discretamente posto sobre a mesa.
As horas que se seguem são divididas entre beijos apaixonados contra a
árvore que batizamos como nossa, um jantar composto com os seus pratos
favoritos, terminando com nós dois nadando pelados e fazendo amor dentro
da cachoeira; que por horas embala a nossa noite com o som de suas águas
revoltas que descem como cascatas.
À meia-noite, meu feliz aniversário é dito com eu e ela tão unidos
quanto duas pessoas podem estar, e com a lua sendo a testemunha silenciosa
de que, enquanto eu estiver aqui e ela me quiser, do seu lado eu sempre
estarei.
Em casa, uma Marina radiante de alegria dorme nos meus braços
enquanto, empolgada, me ouve contar como toda a surpresa foi planejada.

— Amor...
Na manhã de sábado, acordo tendo uma sensação de Déjà vu. Estou
sozinho na cama e da janela se ouve o barulho estrondoso de batidas que
imagino serem músicas de funk.
Quando me levanto e aproximo da janela para olhar, vislumbro a cena
que por vários anos tenho presenciado: o jardim está abarrotado de jovens
alegres e falantes. Uns dançam, outros nadam e alguns estão comendo
petiscos que o garçom contratado por Marina serve. Mais afastadas da galera
e perto da churrasqueira, vejo minha namorada conversando com Ângela e
com outras garotas. Ela está tão animada mostrando o anel que eu dei, que é
praticamente impossível não ter vontade de descer e me juntar à galera.
— Deixa de ser bobo, Erick – digo a mim mesmo, ao pensar alto. — O
que de ruim pode acontecer? Você só vai passar um tempo com a galera da
sua mulher – digo, tentando me convencer.
Ainda estou na janela, decidindo se desço ou não, quando Marina nota
minha presença ali, manda um beijo e de maneira nada discreta me chama
para se juntar a ela. Dando-me por vencido, faço minha higiene matinal, tomo
meu café e em seguida desço para lhe fazer companhia.
Conforme o dia vai seguindo, começo a me sentir mais à vontade e a
interagir com seus amigos – até mesmo com os que ficam secando seu corpo
com olhos famintos – até que me dou conta de que tudo dará certo. Nada está
fora do lugar.
Percebo que minha apreensão de me juntar com os garotos era derivada
apenas do medo de não me ajustar. De perceber o quão diferente o meu
mundo e o de Marina são.
Felizmente, tudo tem corrido bem.
Tirando uns engraçadinhos que me chamam de tio, as reações são
polarizadas entre respeito e admiração por parte dos rapazes e de suspiros e
cobiça por partes das meninas. Quem não gostou muito dessa parte foi a
minha mulher ciumenta, que não perdeu uma chance de mostrar que sou dela
e que o homão da porra – expressão entranha que elas me atribuíram e da
qual eu nunca tinha ouvido falar – está fora da pista.
— Amor, vou subir para trabalhar um pouco, tudo bem? – falo no seu
ouvido, assim que o dia começa a virar noite. — Quando eles forem embora,
me avisa que eu paro pra te dar a atenção que você merece — discretamente,
passo a língua por seu lábio inferior.
— Não vejo a hora de expulsar esse povo daqui de uma vez – confessa,
ao levantar da espreguiçadeira e sair do meio das minhas pernas, lugar em
que discretamente estava sentada e onde nós dois aproveitamos o clima
descontraído dos seus amigos para namorar. Não o tipo de namoro
apropriado para um lugar cheio de gente, e sim do tipo que meu pau estava
duro contra sua bunda e onde nossas bocas não se abstiveram de dar beijos
nada inocentes, daqueles em que nossas línguas fazem o que a parte de baixo
do corpo não pode fazer no momento.
— Eu também não – levanto-me em seguida, rezando para que o short
seja capaz de esconder o meu estado – parando com o corpo colocado junto
ao de Marina, que não veste nada além de um biquíni indecentemente
pequeno. — Te aguardo, meu amor – dou um beijo casto, porém repleto de
promessas, ao mesmo tempo em que aperto as bochechas da sua deliciosa
bunda, que eu ainda não tive o prazer de conquistar.
Depois de uma revigorante ducha fria, entro na minha sala, sento à
mesa; ligo meu notebook e enfim começo a trabalhar.
Não é como se eu fosse um viciado que não pode ficar sem trabalho
mesmo aos fins de semana, o único ponto aqui é que o dia hoje foi agitado
demais para uma alma mansa como a minha. O trabalho talvez me faça sentir
mais como eu mesmo e menos como um garoto apaixonado pela primeira
namoradinha e que só quer ficar grudado e demarcando seu território. Foi
isso que eu fiz na frente dos seus colegas? Foi exatamente o que fiz.
Estou tão concentrado no processo em que ando trabalhando, que nem
me dou conta do momento em que o barulho de música e som de vozes
diminuem. Mais um pouco e terei minha linda entrando por essa porta, alegre
e cheia das más intenções. Ou seria boas?
Por alguns segundos, paro o que estou fazendo quando percebo que o
trinco da porta está sendo girado. Imaginando quem seja, volto ao que estava
fazendo e, satisfeito, digo:
— Até que enfim, pequena – falo, sem levantar os olhos, finalizando a
petição que estava redigindo. — Finalmente veio dar atenção para o seu
pobre e abandonado namorado – brinco.
Silenciosa, minha pequena entra e fecha a porta atrás de si.
— Olá, Erick Estevan, sentiu a minha falta? – ouço as palavras e essa
voz com certeza não é da Marina.
Na minha frente, está uma mulher de cabelos pretos e longos, vestida
com um sobretudo preto, e no rosto tem um grande par óculos escuros que
esconde seus olhos e parte do seu rosto.
— Quem é você e o que fez com a minha namorada?
Marina é a única pessoa que me vem à cabeça, na hora em que uma
sensação estranha toma conta do meu corpo.
Chantagem
Erick

— Não está me reconhecendo, querido?


Essa palavra... Não, não pode ser!
— Patrícia? – indago, somente para confirmar, não tem como ser outra
além dela. Quem mais teria a audácia de invadir meu escritório dessa forma?
— Vejo que continua inteligente, Erick – fala, e tira primeiro os óculos
e depois a peruca negra, deixando evidente o cabelo tingido. — Ou talvez,
nem tão inteligente assim.
— Cadê a Marina, o que você fez com ela? – pergunto e, desesperado,
corro para a janela que faz vista para o jardim. O alívio logo preenche meu
sangue – que estava congelado – quando a vejo numa roda conversando com
Ângela e outros amigos, inclusive o idiota chamado Mateus. O que esse cara
está fazendo aqui sem nem ao menos ter sido convidado?
— Como pôde ver, sua boneca está intacta. Ao menos por enquanto.
Parada atrás de mim, Patrícia toca o meu ombro e é prontamente
repelida quando pego sua mão e tiro bruscamente de perto do meu corpo.
— Não me toca, porra! – digo, entredentes, ao me afastar da janela e
dela, indo para perto da porta. — Saia imediatamente daqui ou eu mesmo te
tiro – indico a saída com a mão.
— Se eu fosse você, fecharia essa porta e ficaria bem calminho – fala,
em tom de ameaça.
Fria como eu nunca vi uma pessoa ser, a víbora coloca a bolsa, óculos
e peruca em cima da mesa e senta-se como se não estivesse impondo sua
presença na minha casa.
Eu não devia ter subestimado tanto essa mulher, deveria ter
desconfiado que o silêncio e o conformismo com a sua dispensa era sinal de
que estava tramando alguma coisa. Agora, depois de meses, ela aparece e seja
lá qual for a sua intenção, coisa boa não é.
— Fala logo o que tem a dizer e dê o fora daqui – sento atrás da mesa,
já que não posso exercer a minha vontade de lhe escorraçar daqui, não sem
antes saber o que pretende.
— Vamos com calma, querido – fala, sem fazer questão de esconder o
quanto é cínica.
— Se eu fosse você, não brincaria com fogo – sei que não devia, mas
não consigo me segurar.
— Você ainda não percebeu que não está em condições de fazer
ameaças? Mas já que você quer, vamos direto ao ponto – diz, ao pegar a
bolsa, abri-la e tirar de lá um pedaço de papel envelhecido, que eu imagino
ser uma foto antiga.
— O que é isso? – indago, quando ela me entrega a fotografia antiga.
— Esses três aí são João, Cristina e eu, na época em que ele namorava
comigo.
Analiso bem a foto e nela reconheço todos que dela participam, apesar
de serem tão novos e aparentemente não terem mais do que dezoito anos.
— João namorou você e sua amiga – falo, confuso e sem ter ideia de
onde essa história vai chegar. — Que, por acaso, é a mãe da minha namorada
que a abandonou quando era praticamente um bebê?
— Cristina não é minha amiga. É minha prima, que depois de ter sido
apresentada por mim, fez de tudo até conseguir seduzir e ficar com João.
— E você já pensou que talvez eles estivessem apaixonados?
— Não, eu não pensei. O João podia até estar, mas ela não. Cristina,
assim como eu, que fui burra o suficiente em fazer propaganda, só estava
interessada no dinheiro dele.
— Que dinheiro? Vocês não sabiam que ele vivia uma vida de classe
média antes de abrirmos o escritório?
Tanto eu e quanto meu amigo crescemos em um bairro classe média,
estudamos nos melhores colégios e fizemos o curso numa faculdade com
mensalidades relativamente caras, ou seja, nunca passamos por necessidades,
mas também não tínhamos pais ricos o suficiente para atrair garotas
interesseiras.
Então, como foi que João conseguiu atrair logo duas?
— Para duas caipiras mortas de fome vindas do interior com a intenção de se
dar bem, ser de classe média já era o suficiente. Além disso, eu sabia e contei
para ela que meu namorado fazia faculdade e que provavelmente ganharia
muito dinheiro quando se formasse. E parece que nisso eu acertei.
— Aí você pensou em dar o golpe – digo. — Só não contava que ela
fosse ser mais esperta que você, não é? Tanto foi que casou e teve uma filha
ele.
— Foi mesmo, mas não tanto quanto você pensa, meu caro.
— O que é que você está querendo dizer?
— Que você é tão burro quanto a Cristina – diz, entre risos. O tipo de
risada que dá medo, pelas intenções escusas por trás dela. — No fim das
contas, a tonta acabou se apaixonando de verdade por ele e esse foi seu
grande erro.
— Erro? – pergunto, querendo entender o porquê de ela ter me
comparado com a mãe da pequena.
— Sim, um erro – afirma com a veemência de quem sabe sobre o que
está falando. — Vamos lá, você é esperto: você, que conheceu João durante
toda a vida, acha mesmo que um cara que trocou a namorada tão rapidamente
pela própria prima, se manteria fiel a alguém?
— Você não está querendo dizer que depois de tudo...
— Isso mesmo. Apesar do que aconteceu, eu sempre soube como trazer
o idiota de volta. A tonta da Cristina achou que eu tinha me conformado em
perder um homem para uma garota idiota como ela e quando viu, eu já estava
de novo com o cara em minhas mãos.
— Sabe que essa história não bate? – lembro da Cristina que vi poucas
vezes e ainda assim não me causou boa impressão. — A Cristina que eu
conheci e que me foi apresentada por João não me parecia essa pessoa
ingênua que você quer pintar.
— E ela não era mesmo. Como eu disse, Cristina sonhava em mudar de
vida ao se casar com um homem rico. O fato de ela ter se afeiçoado ao
marido não lhe tirou essas qualidades. Tanto é que depois que conseguiu me
tirar o João, ela não perdeu a chance de se exibir, de mostrar que conseguiu e
eu não – enquanto fala, não consegue disfarçar a amargura na expressão e
muito menos no tom de voz.
— Duas sórdidas e ordinárias.
— Assim como seu amigo, que era um fraco por mulher, não
conseguiu ser fiel nem à mãe da sua filha.
Eu sempre soube que João não era nenhum santo quando o assunto era
mulher, mas essa história está bizarra demais – para dizer o mínimo – até
para ele.
— Está me dizendo que vocês dois foram amantes durante todo esse
tempo?
— Não só amantes. Fomos cúmplices em tudo!
— Tudo o quê? Fala logo, caralho – soco o tampo da mesa, já em vias
de perder completamente a razão.
— Simples, quando já o tinha totalmente sob meu domínio, o convenci
de que ela tinha um amante e ele, como um fraco que acreditava em tudo o
que eu dizia, inclusive em imagens forjadas, não parou um segundo sequer
para questionar minha história. A partir daí, não foi difícil fazer a cabeça dele
para que lhe mandasse para longe de nós.
— E posso saber como foi que fizeram isso? – ainda tenho forças para
perguntar. Estou tão enojado com toda essa história, que nem sei como reagir.
— Chantagearam ela?
— Isso mesmo – fala, num riso sarcástico, como se tivesse se
lembrando e deliciando com a memória. — Com as fotos em mãos e achando
que estava fazendo a coisa certa em afastar uma mulher tão promíscua de
perto da filha, seu amigo lhe ofereceu uma grande soma de dinheiro para que
sumisse do país e nunca mais se aproximasse da pirralha. Bom, eu imagino
que ela deve ter gostado da ideia, já que mesmo depois de tantos anos nunca
mais apareceu ou procurou por notícias da menina.
— E o escritório? Que ligação você tem com ele?
— Essa foi a parte mais chata que tive que passar – diz, com
tranquilidade. — Com não queria perder o controle sobre João e nem do seu
dinheiro, decidi fazer o curso de direito, passei no exame da ordem e há
pouco mais de três anos, quando senti João mais distante, o convenci a me
contratar. O idiota não só fez o que eu pedi, como também adorou a ideia de
ter a amante por perto, podendo transar sempre que tivesse vontade.
— Eu tenho nojo de vocês – tenho minhas mãos em punho, me
segurando para não destruir tudo o que vejo pela frente.
— Calma, querido – a infeliz tem a audácia de me pedir isso. — Não
fique chateado com o seu amigo, ele era apenas burro, mas pode ter certeza
de que o amor dele por você e por aquela fedelha que está ali no jardim era
verdadeiro. Você acha que eu a detesto tanto por quê? A infeliz além de ser
filha de mulher que tentou me passar pra trás, ainda teve a coragem de me
tirar você.
— Você só pode estar louca.
— Louca, não, meu amor, apenas prática. Já que eu perdi o homem que
sustentava meus luxos, pensei que seria uma boa ideia arrumar um modelo
mais novo e muito mais interessante. Tenho certeza de que conseguiria se não
fosse a filha da Cristina, sempre a infeliz da Cristina.
— Me teria somente nos seus sonhos, querida – ponho sarcasmo na
última palavra. — Agora que você me contou o quão sórdida é, faça o favor
de dar o fora da minha casa e de não voltar a se aproximar de mim e da
minha mulher.
— Você acha mesmo que eu viria aqui só para fazer o favor de te
contar o quão linda é a história de vida dos pais da sua pirralha? – indaga, e
como não é o tipo de pergunta que se espera uma resposta, ela continua. —
Você tem uma semana para terminar seja lá o que tiver com a garota. Inventa
a desculpa que quiser, isso não me importa, apenas termine com ela.
Tic-Tac
Erick

— Vai embora daqui agora - levanto da cadeira, e no susto, ela levanta


também. – Isso nunca vai acontecer. Tá me entendendo? Nunca!
— Tem certeza? – indaga, já pegando suas tralhas, inclusive a foto que
ali tinha deixado. – Se eu fosse você, não arriscaria, será que a garotinha
ficaria feliz de saber que belo bosta seu pai era? E a mãe, que além de ser
uma vadia, foi tão interesseira que lhe deixou em troca de alguns trocados?
— Você sabe que não foi bem assim que aconteceu – falo, friamente.
— Para ela, vai ser exatamente assim que tudo aconteceu. Até porque,
eu não tô vendo a mamãe dela aqui. Por que será que ela não voltou durante
todos esses anos? Se você for racional, vai perceber que de qualquer jeito,
Cristina acabou abandonando a filha.
— Ela não acreditaria em você – é nisso que eu mesmo tento me
apegar. Mas, não posso arriscar. — Uma mulher que ela não suporta.
— Quer pagar pra ver? Não se esqueça de que tenho as fotos da
Cristina com o suposto amante, além, é claro, dos documentos que
comprovam que o querido papaizinho me sustentou e me manteve por perto
durante todos esses anos.
Puta que pariu! O que eu vou fazer? Essa mulher está mostrando que é
capaz de tudo.
— Só não entendo uma coisa: por qual motivo você está fazendo essa
chantagem?
— Vamos ver... vingança, talvez? Por culpa da filha da Cristina que fez
a sua cabeça, meus planos deram errados. Se não fosse por ela, você ia me
olhar, eu sei que ia – fala, e no rosto tem uma expressão sonhadora, como se
realmente acreditasse no que diz. Isso só prova que a mulher é louca. Nesses
anos em que esbarro com ela pelos corredores, eu nunca a olhei por mais
tempo que o necessário, pelo contrário, sempre preferi trocar somente os
cumprimentos necessários que uma boa educação pede.
— Você sabe que isso jamais aconteceria. Eu tenho nojo de você.
Ainda que consiga me separar dela, eu jamais terei nenhum tipo de relação
com você – assevero, mesmo duvidando que sua mente perturbada entenda.
Ela distorce tudo a seu favor.
— Isso é o que você diz, se seu amigo não resistiu e foi capaz de
destruir a própria família por minha causa, com você não seria diferente. Os
homens não são capazes de resistir a mim.
— Não os homens como o João, que gostam de mulheres superficiais e
plastificadas como você – nesse momento, a louca coloca a mão no rosto,
como se estivesse ultrajada com as minhas palavras. — Eu prefiro as
naturais, que não usam de artifícios para tentar chamar a atenção de um
homem, porque se dependessem da personalidade vazia e alma podre,
morreriam solitárias. Essa é você.
— Eu ainda vou acabar com essa sua pose, Erick Estevan – esbraveja,
furiosa, enquanto da bolsa tira um cartão pequeno. — Aqui está – o coloca
em cima da mesa. — Uma semana, você tem uma semana pra se despedir da
sua namoradinha. Nem tente se fazer de esperto, você não tem ideia do que
eu sou capaz. Contar a história podre dos pais dela é só um aperitivo do que
eu posso fazer com vocês, caso você tente me enganar.
— Sua vagabunda – avanço em sua direção, mas ela já está perto da
porta, prestes a se retirar.
— Passar bem, querido – sai, me deixando completamente sem chão.
Em um acesso de fúria, varro todos os objetos de cima da mesa,
deixando com que todos caiam e se quebrem no chão, assim como o meu
coração está quebrado. Desesperado e sem saber o que fazer, deixo meu
corpo arrastar-se para o chão, e é sentado, com as pernas dobradas até a altura
dos ombros, que caio num choro incontido. Dou vazão ao desespero de não
saber como agir, o que fazer daqui para frente.
— Eu não posso perder a minha pequena, meu Deus! Eu não posso.
Ainda soluçando, com a cabeça apoiada contra os joelhos e sem ter
ideia se passaram horas, segundos ou minutos, ouço a porta novamente ser
aberta, e dessa vez me falta coragem para levantar a cabeça e ver quem é. Da
última vez, entrou meu pior pesadelo.
— Nossa, pensei que nunca mais fossem... abruptamente, ela para de
falar ao ver a situação em que eu e o escritório estamos. — Meu Deus! O que
foi que aconteceu aqui, meu amor? – ela se agacha a minha frente e eu
permaneço com o rosto abaixado, sem ter coragem de olhar nos seus olhos.
— Erick, olha pra mim. Por favor, querido – de joelhos a minha frente,
ela coloca a mão no meu queixo, o levantando.
Quando tenho seus olhos sobre os meus, vejo que nos seus a dor de
perceber que alguma coisa muito séria aconteceu aqui para que eu esteja
dessa forma.
Desde a época em que me via como algum tipo de super-herói, minha
pequena nunca teve a chance de me ver assim, talvez por isso seu olhar esteja
oscilando entre sentir a minha dor – mesmo sem entender o que se passou – e
a curiosidade que ela logo trata de tentar dissipar.
— Você estava chorando? – passa o dedo por meu rosto, que ainda está
úmido. – Foi alguma coisa que eu fiz? Eu...
— Não! – seguro firmemente seu rosto. — Você não fez nada de
errado, meu amor, nunca faz. Só me faz feliz, como eu nunca antes fui. Eu
não posso perder você, Marina – seguro seus braços e lhe trago para o meu
colo.
Eu preciso senti-la.
Com suas pernas enroladas na minha cintura, lhe abraço forte e por um
bom tempo fico apenas assim, sentindo as batidas do seu coração, o ritmo
calmo da sua respiração e o cheiro doce do seu cabelo macio que impregna o
meu nariz.
Como eu amo essa mulher.
— Não vai mesmo me contar o que aconteceu aqui? – questiona, ao
afastar o rosto do meu pescoço.
— Vai ficar chateada se eu disser que não? – ela me analisa,
desconfiada, e finalmente diz:
— Não vou negar que queria saber o que houve e que seu estado me
deixou preocupada e curiosa, mas se você preferir não me falar nada, eu
respeito, pelo menos por enquanto – afirma, deixando claro que não vai se
contentar em me ter escondendo coisas.
— Tudo bem, meu amor. Eu só preciso de um tempo – beijo seus
lábios e depois continuo: — A festa já acabou? – não resisto a colocar a mão
por dentro do camisão que ela vestiu por cima do biquíni.
O baque que tive há pouco só me fez ter mais vontade dela. Meu corpo,
meu coração e mente; tudo em mim tem a necessidade de relembrar
incontáveis vezes da sensação de estar dentro dela. De fazê-la minha de todas
as formas possíveis.
— Todos já foram embora, por quê? – maliciosa, minha pequena tenta
deixar o nosso corpo ainda mais colado. No mínimo, deve estar sob o efeito
do tesão que nos queimou em fogo brando, enquanto estávamos sentados
naquela espreguiçadeira.
— Eu quero você, agora – digo, com veemência. — Vamos para o
quarto – levanto-me, desajeitado, e com meu amor agarrado ao meu corpo.
— Não, Erick, eu tô suja de um dia inteiro no sol, meu corpo deve estar
impregnado de cloro e cheiro de churrasco – ela protesta e tenta sair dos
meus braços. — Me deixa tomar um banho primeiro.
— Não. Eu disse que quero agora – seguro mais firme as suas coxas
em volta da minha cintura. — Foda-se o cheiro, eu só... preciso de você.
— Tudo bem, amor – concorda, talvez por ver no meu rosto a
necessidade de reivindicá-la. — Depois você mesmo pode me dar um banho
– ela já se esqueceu do seu protesto e entrou no modo fogoso e insaciável que
me excita.
— O banho que você jamais irá esquecer – assevero, ao caminhar
apressado para o nosso quarto. — Limparei cada canto do seu corpo – entro
no quarto, indo diretamente para a cama de casal — com a língua – prometo.
Com pressa, como se o mundo estivesse prestes a acabar, deixo-a em
pé perto da cama, tiro seu camisão e em seguida seu biquíni.
— Muito gostosa – digo, ao tê-la nua e linda como uma pintura. Meu
pau certamente fica feliz, já que a visão da sua bocetinha depilada o deixa
duro instantaneamente.
Depois de também tirar toda a minha roupa, peço em seguida:
— Quero que deite com a bunda na beirada da cama e deixe as pernas
livres – peço, e ela faz do jeito que eu disse. — Isso, minha linda. Agora eu
vou te comer do jeito que venho imaginando desde a hora em que estivemos
naquela maldita espreguiçadeira.
Louco por sentir seu cheiro e gosto, ajoelho-me aos pés da cama,
separo suas pernas amplamente e abocanho o seu sexo.
Com maestria e vontade, chupo sua boceta, e entre lambidas e assopros
que a deixam subindo pelas paredes, finalmente tenho em minha língua o
sabor do seu desejo. Ela goza com a minha língua, entre gemidos e
xingamentos, eu bebo até a última gota do seu desejo por mim, como se isso
fosse se tornar inesquecível em minha mente.
O gosto de mulher, da minha mulher.
O dia, que começou feliz e que no meio de tornou um desastre, termina
comigo lhe levando à exaustão. Depois de comer sua boceta com a boca, lhe
coloco de quatro ainda na ponta da cama e invisto contra seu corpo com uma
intensidade que leva a cabeceira da cama a bater fortemente contra a parede e
também a gritos que dessa vez lhe fará ter motivos para se envergonhar dos
funcionários.
Na segunda vez, com suas pernas em volta da minha cintura, nós
fizemos um amor lento e gostoso embaixo do chuveiro, mas não sem antes eu
ter de cumprir minha promessa de lavar seu corpo com a língua.
Seja na foda sem sentido ou no amor embaixo do chuveiro, o dia
termina com minha mulher alinhada e satisfeita nos meus braços, e eu com
uma angústia no peito, perdido e sem saber como agir; como se um relógio
estivesse em cima da minha cabeça, bradando o som de Tic-tac.
Tic-tac...
Distante
Marina

— Alô, terra chamando Marina – estalando os dedos em frente ao meu


rosto, Ângela tenta me trazer de volta ao presente.
— Desculpa, amiga. Eu não estou sendo uma boa companhia – digo.
É óbvio que não estou sendo, porque simplesmente não consigo me
concentrar na conversa e nem na companhia. Tudo o que minha mente
confusa quer é ficar pensando no Erick, mais especificamente no seu
comportamento dos últimos cinco dias, e criando teorias da conspiração
mirabolantes para, quem sabe, encontrar uma justificativa para o fato de ele
estar agindo de maneira tão estranha.
— Não está mesmo. Ainda bem que você admite – diz, com sua falta
de tato e sinceridade nata. — O que está acontecendo, amiga? – segura minha
mão, para ver se consegue finalmente ter minha atenção. — Sabe que pode se
abrir comigo, não é?
Eu sei que posso, se tem uma pessoa a quem eu possa confiar os meus
segredos, essa pessoa é a Ângela. É assim que tem sido desde sempre, ainda
que ela, com suas duras e sinceras opiniões, mais atrapalhe do que ajude.
— É o Erick – decido me abrir, quem sabe ela não me dê uma luz.
É até bom ouvir uma pessoa que não tem no Erick o santo da sua
devoção.
Seria diferente se eu pedisse a opinião da Maya, por exemplo. Aquela
ali gosta e admira Erick de uma forma que certamente sua opinião estaria
comprometida.
— O que foi que aquele imbecil andou aprontando, Marina? Me diz e
agora mesmo eu vou lá ter uma conversinha com ele – ameaça, e me tira o
primeiro sorriso sincero do dia.
— Não precisa disso, Ângela. Fica quieta aí – aviso, antes que ela
cumpra a ameaça a vá caçar meu namorado.
— Tem certeza do que está dizendo? – acho que o sonho da Ângela é
quebrar o pau com Erick. Ela simplesmente não consegue aceitar numa boa o
nosso namoro.
Muitas vezes eu me pergunto o porquê de ela agir dessa forma, já
pensei de tudo, não chegando à nenhuma conclusão. Às vezes, eu tenho a
sensação de que ela se ressente por não ter esse tipo de afeto. Quando
imagino isso, não a culpo nem por um segundo, não quando eu sei a relação
difícil que ela tem com os pais, principalmente depois de terem trazido
Mateus para morar com eles. Ângela não consegue se abrir comigo, mesmo
que eu tente de todas as formas fazê-la falar. Ainda não sei como e nem
quando, mas eu vou conseguir descobrir o que se passa naquela casa e vou
livrar minha amiga das amarras que a prendem, sejam elas quais forem.
Antes, eu tenho que resolver os meus próprios problemas, se é que eles
existem.
— Tenho, sim – ela volta a encostar as costas no sofá que fica em
frente à cama do meu antigo quarto. Depois que cheguei do estúdio, com a
cabeça cheia e precisando me distrair, liguei para ela e lhe chamei para
assistirmos um filme.
Quando chegou, Ângela logo percebeu que tinha topado um programa
de índio. Além de não assistirmos filme algum, eu a deixei falando sozinha,
enquanto minha mente viajava.
— Tá bem! Agora me diga, por onde seus pensamentos andam pra me
deixar falando sozinha?
— Não sei... ele anda meio distante desde o dia da festa. E isso tem o
que, cinco dias? O que pode ter mudado em tão pouco tempo?
— Você tem certeza do que está falando, amiga?
Estou vendo que nem ela é capaz de crer nisso, cinco dias não é tempo
suficiente para que alguma coisa mude, não depois da surpresa que ele me fez
e não depois de ter me tomado tão intensamente depois da festa na piscina.
— Quando você diz distante, quer dizer...
— Não – sei que ela vai fazer a pergunta constrangedora. — Nessa
parte as coisas não poderiam estar melhores – sinto meu rosto esquentar
apenas pela lembrança.
Nestes últimos dias, Erick tem me procurado com o dobro da
frequência de antes, e olha que antes já não era pouca a procura. Ele não só se
tornou mais insaciável, como também mudou a forma de fazer sexo. Se antes
ele tinha seus momentos de sexo intenso e mais feroz, agora esse parece ser o
único tipo que ele sabe fazer. É como se Erick quisesse me marcar como sua,
como se nunca tivesse o suficiente de mim.
Se eu estou reclamando? É claro não estou, é graças a isso que eu estou
conhecendo o seu melhor lado. Por mais que das outras vezes em que
transamos ele já estivesse me dando uma amostra do que é capaz, no fundo
ainda existia o medo de me machucar, como se eu fosse um cristal frágil.
Hoje não, tem exatos cinco dias que ele entrou no seu modo devasso e
nunca mais voltou. Como uma boa devassa, poderia muito bem estar radiante
de felicidade, mas, infelizmente, não estou. Junto com os arroubos de paixão,
vem o afastamento. Não é como se ele me tratasse mal, longe disso. Acho
que é mais como um distanciamento emocional.
A cada vez que terminamos uma rodada de sexo, Erick me abraça por
vários minutos, sem dizer uma palavra sequer, e assim permanece. Quando
não estamos em um momento de intimidade, ele até tenta ser atencioso ao
iniciar algum assunto, o problema é que o assunto logo morre e entre nós fica
um silêncio perturbador. Não o silêncio confortável que ficava sempre que
não tínhamos nada para dizer um ao outro, mas também não importava, tudo
o que precisávamos saber era que estávamos bem e juntos.
A verdade é que Erick tem se fechado dentro de uma concha e eu
infelizmente fiquei trancada do lado de fora.
Disso tudo, só sei que uma coisa muito grave está acontecendo com
Erick, e ele, talvez por não confiar em mim, não quer me contar.
Seu silêncio e distanciamento têm me machucado tanto, que se ele se
importa pelo menos um pouco comigo, já deve ter percebido. E se percebeu e
não mudou de atitude ou deu pelo menos uma explicação que seja, é porque
talvez esse amor sempre tenha sido unilateral e eu não tenha passado de uma
novidade em sua vida. Até porque, que homem iria dispensar uma garota que
por tanto tempo andou se oferecendo?
A pior parte disso tudo é o fato de o meu corpo ir contra a minha
cabeça. Todas as vezes em que ele vem querendo sexo, eu nunca consigo
dizer não. Eu entrego não só o meu corpo, como também o meu amor e a
esperança de ter meu amoroso Erick novamente. No fim, ao ver que nada
mudou, me resta apenas me sentir suja e usada. Apenas um corpo disponível
para o alívio de um momento de frustração.
É isso, eu perdi o Erick. Se é que algum dia o tive de verdade.
— Minha Nossa Senhora – ouço a voz da Ângela chamando a minha
atenção. — Estava perdida em pensamentos novamente, Marina?
— Perdão, Ângela – tento ser forte e não chorar.
Isso não vai acontecer, o babaca dos últimos dias, que não é o meu
Erick, não merece uma gota sequer derramada.
— Minha cabeça está tão cheia – coloco os dedos indicadores na minha
têmpora e faço movimentos circulares.
— Desabafa, minha querida, quem sabe isso não alivie seu estresse?
— É isso que você ouviu, Ângela – decido colocar tudo para fora. —
Tirando a parte sexual, o Erick tem se afastado a cada dia mais. Nós não
conversamos como antigamente, é como se a conexão que tínhamos tivesse
sido quebrada.
— Mas é um grande imbecil mesmo. E tem um motivo para isso?
— Eu não sei, ele se fechou completamente.
— Chegou a perguntar? – ela faz a pergunta de um bilhão de dólares.
— Não. Até por que, ele não me dá espaço para isso.
— Vocês têm que conversar, Marina, quem sabe uma boa conversa não
resolve essa situação? – ela sai da cadeira, senta ao meu lado, segura
carinhosamente a minha mão e diz: — Longe de mim querer defender aquele
imbecil, mas você já parou pra pensar que ele pode estar passando por uma
barra muito pesada e não tá sabendo lidar com isso, ou que talvez te
mantendo de fora Erick esteja apenas querendo te proteger?
— Confesso que pensei na hipótese de ele estar me escondendo algo,
mas o pensamento parou por aí mesmo. Minha mente fértil não chegou ao
ponto de cogitar que talvez ele esteja querendo me proteger, seja lá do que
for.
— Pois devia ter imaginado – agora Ângela fala em tom de bronca. —
Não faço ideia do que se passa com aquele homem, Marina. A única certeza
que eu tenho é a de que ele te ama. Não se esqueça que eu estava junto no dia
em que ele foi escolher isso aqui para você – levanta minha mão e me faz
lembrar do anel lindo que ele me comprou. A verdade é que em meio ao mar
de desilusão, vê-lo ainda com o meu anel no dedo me traz um pouco de
alento.
— O Erick que tão pacientemente escolheu o anel perfeito para você
não mudaria de ideia assim, do dia para a noite – afirma. — E se você quer o
meu conselho, eu vou dar: vá conversar com seu namorado, amiga, não deixa
que essa história de vocês acabe assim. Não deixe de lutar pela felicidade que
com custo vocês conquistaram.
Como sempre, ela está coberta de razão.
O Erick vai ter que me ouvir. Ele não vai escapar sem me dizer com
detalhes o que está acontecendo.
— Eu te amo – abraço minha amiga. — Você sabe disso, não?
— Sei, sim – responde, convencida, logo se soltando. Ângela não é do
tipo que gosta de toques.
— Espero que saiba que pode contar comigo para tudo – segurando em
suas mãos e olhando em seus olhos, repito: — Para tudo mesmo.
— Eu sei, quando precisar de ajuda para pintar as unhas dos pés, te
chamo – brinca, tentando fazer a linha durona.
— Pode chamar, sua boba – caímos na risada por relembrar os tempos
em que fazíamos exatamente isso.
— Agora chega, vamos ver o filme ou não?
— Claro, pode escolher – ela sai apressada para pegar o controle da TV
e olhar o catálogo.
Mais tranquila e com tudo planejado, deixo-me distrair com o filme.
Quando meu namorado chegar, ele não vai nem sentir o trem desgovernado
vindo em sua direção.
Se prepare, Erick Estevan. De hoje você não escapa.
Sem saída
Erick

— Caralho – pego a folha recém-saída da impressora e pela décima vez


a mesma é amassada e arremessada para a lixeira, sendo que nem dez por
cento desses arremessos alcançaram o alvo pretendido. Ou seja, minha sala
está uma zona de bolas de papéis espalhadas por todos os lados, assim como
tem estado nos últimos dias.
— Ainda tendo problemas no paraíso? – silenciosamente, andando de
maneira cadenciada, Bruno mais uma vez invade minha sala sem pedir
licença. Esse é o Bruno, o cara que se acha o dono do mundo, e se não fosse o
pequeno abalo que o torna mais humano, ele certamente seria mais
inatingível do que já é. — Não sei por que ainda pergunto – ele percebe o
estado da minha sala quando a cada passo que dá na direção da cadeira, pisa
numa bola de papel diferente.
— Eu também não sei. Veio fazer o que aqui? – vou direto ao ponto,
hoje eu não estou a fim de aturar o humor negro do Bruno. — Se não for
nada relacionado a trabalho, pode se retirar.
— Calma aí, Romeu – acomoda-se melhor sobre a cadeira giratória e lá
fica, girando em curtos movimentos de um lado para o outro. — Ainda é o
problema com a Patrícia?
Na segunda, quando eu já não conseguia agir com naturalidade ante à
bomba relógio que está em cima da minha cabeça e prestes a explodir, acabei
abrindo para Bruno sobre as ameaças que aquela mulher me fez, e também do
envolvimento de João em toda a sujeira. Para ele, não foi bem uma surpresa.
Segundo Bruno – que é mais observador que a maioria – Patrícia nunca
teve competência para se enquadrar no quadro de advogados de um escritório
de renome como o nosso. Para ele, o fato de João mantê-la e ainda lhe
conceder benefícios e responsabilidades que outra pessoa estaria mais apta a
receber, apenas demonstrava que ele tinha alguma estranha ligação com ela,
que ia além do trabalho.
Bruno comentou ainda que pelos corredores sempre rolou o cochicho
de que eles eram amantes, o que por ele sempre foi visto com naturalidade, já
que João era um homem solteiro. Para meu amigo, a única surpresa foi ouvir
da minha boca as tramoias feitas no passado e a chantagem de agora.
— Não tem como ser outro – afirmo, pesaroso. — Estou num beco sem
saída, meu caro.
— Fez o que te falei? – indaga. Bruno é o típico cara que na hora do
aperto aparece para dar os melhores conselhos, mesmo que não sejam da
maneira mais correta do mundo.
— Sim, tentei de tudo e não encontrei nenhuma brecha que me faça
virar esse jogo.
Como ele sugeriu, fui em busca de algum podre que me ajudasse a
neutralizar a chantagem e ameaças feitas por Patrícia. Fui de detetive
particular à sondagem entre os colegas daqui, principalmente os que ela
conseguiu seduzir, e nada deu resultados, pelo menos nada sério o suficiente
que a fizesse temer. Das duas uma: ou essa mulher é uma santa – isso eu
tenho provas de que não é – ou muitos aqui tem o rabo preso com ela.
Quanto ao detetive, seu parecer final foi o mesmo que nada. Disse
coisas que a própria me revelou, como, por exemplo, o fato de ter sido
amante de João por todos esses anos.
— Eu sinto muito, cara – diz, e seu tom de voz demonstra que dessa
vez ele realmente sente. — E agora? O que você pretende fazer?
Ele faz a pergunta que eu tenho tentado fugir desde a hora em que a
vagabunda deixou minha sala. Talvez esse temor venha do fato de não ter
muitas opções, e a que tenho me faz ter vontade de destruir o mundo, apenas
para precisar executá-la.
— Ela quer que eu deixe a minha garota, cara. Você tem noção do que
isso significa?
— Que você tem que deixar a sua garota – responde, e eu tenho
vontade de matar o idiota. Como ele ousa brincar num momento como esse?
— Deixa de ser otário, Bruno. É por isso que ninguém te leva a sério –
digo, e sua expressão não sofre um abalo, até porque é ele quem não leva
ninguém a sério.
— Foi mal, Erick. E você, está disposto a fazer o que ela pediu?
— Eu não tenho outra opção, Bruno – finalmente tenho coragem de
dizer em voz alta.
Conforme os dias foram passando, minha certeza de que não tem mais
o que possa ser feito foi aumentando. Se eu nunca disse isso em voz alta, foi
por saber que isso só serviria para fazer com que tudo parecesse mais
definitivo.
— Acha que seria tão ruim assim ela saber a verdade sobre os pais? –
indaga, pensativo. — Ruim eu sei que vai ser, mas se vocês se amam tanto
quanto parece, o seu apoio certamente daria forças para lidar com isso, não
acha?
— Acho que sim. Esse é o menor dos problemas, meu amigo.
— Se fosse só essa a ameaça, eu mesmo lhe contaria tudo e a ajudaria a
superar o baque – afirmo, convicto. Estar do seu lado não seria nenhum
sacrifício para mim, longe disso, ficar com ela sempre significou poder apoiá-
la em tudo, compartilhar não só da sua cama, mas também da sua dor.
— Se você estivesse lá na hora, vendo o que eu vi ou escutando o que
ela disse, iria entender os meus temores. Fazer revelações apenas para
magoar Marina é o mínimo que Patrícia é capaz. Ela mesma disse isso.
— Meu amigo, eu não gostaria de estar na sua pele – confessa, e eu
penso que ninguém gostaria. — Também não queria dizer isso, mas, se você
sente que ela de alguma forma pode tentar algo mais sério contra a Marina, o
melhor a se fazer é terminar com ela. Se for te ajudar em alguma coisa, pense
que com isso você tá protegendo sua garota.
— Não ajuda – digo, expondo o sentimento que oprime o meu peito.
Como vou viver sabendo que para protegê-la tive que lhe deixar, e
talvez até magoar? De alguma forma, eu sei que isso não vai acabar bem.
Marina não vai simplesmente aceitar o fim, não sem antes questionar e tentar
entender os meus motivos.
— Sinto muito. Pense nisso como algo provisório. Nesse tempo, tente
com mais afinco encontrar algo para parar as ações dessa louca. Algum podre
ela deve ter – ele aconselha e prossegue: — Pode deixar que nisso eu faço
questão de te ajudar. Se ela tem algo a esconder, eu vou descobrir.
— Valeu, cara – unimos as mãos em uma batida seca, um toque
puramente masculino. — Agora deixa eu ir porque o trabalho me espera –
assim como entrou, Bruno sai sem fazer muito alarde; ele marcha até a porta
e lá tateia a fechadura até encontrá-la.
Sozinho novamente, deixo meus pensamentos voarem. Desde a visita
da Patrícia, tem sido impossível para mim agir diferente do que venho
fazendo. Por mais que eu esteja relutante em fazer algo que magoe minha
menina, no fundo eu sei que é inevitável, tanto que isso já está acontecendo.
Quando estou do seu lado, meu humor fica dividido entre o que meu corpo e
coração pedem e a minha cabeça, que sabe exatamente o que deve ser feito.
Como a garota esperta que sempre foi, minha Marina tem percebido a
diferença no meu comportamento e se ressentindo disso, ela nunca disse
nada, mas eu percebo o jeito que seus olhos magoados me fitam sempre que
minha mente viaja em direção aos problemas que me aguardam. Sinto minhas
mãos atadas por não poder jogar tudo para o alto, lhe abraçar e dizer que tudo
vai ficar bem. Como eu poderia fazer tal coisa se sei que nada vai ficar bem,
se minuto a minuto o nosso tempo juntos vai escorrendo pelo ralo?
Meu corpo, por outro lado, luta contra o iminente corte. Indo na
contramão das outras ações, ele busca por ela, o desejo de antes triplicou de
tamanho. Não tenho agido com racionalidade, e quando começamos a fazer
amor, minha mente perturbada toma o comando e tudo o que eu faço é fodê-
la até os miolos. O nosso sexo dos últimos dias pode ser chamado de
qualquer coisa, menos de fazer amor.
Minha mulher me entrega tudo o que tem, sem fazer uma única
objeção, e como se soubesse exatamente do que estou precisando, ela me
recebe e se dá como só uma mulher que ama o seu homem poderia fazer. Se
isso fosse possível, nesses momentos eu seria capaz de amá-la mais do que já
amo.
Quando tudo termina, o que sobra são as marcas do nosso sexo duro.
Sua bunda tem as marcas dos meus dedos, que a apertam sempre que como
uma Amazona, ela cavalga em cima do meu colo, e nas costas, ficam os
sinais dos arranhões que suas unhas deixam. A ardência que sinto e que me
impede de encostar as costas na cadeira, lembram de feridas não cicatrizadas,
marcas que carregaria com orgulho, caso elas fossem permanentes. São elas
as lembranças vivas da paixão que compartilho com o amor da minha vida.
Do prazo dado, faltam apenas dois dias, é esse o curto espaço de tempo
que terei para convencer Marina de que não fomos feitos para ficar juntos.
Sem querer magoá-la mais do que o inevitável, arranjarei um jeito de
fazê-la pensar que a relação entre nós nunca dará certo, que com o tempo
nossas diferenças irão ser maiores que o desejo de ficarmos juntos.
Vou fazê-la acreditar na maior mentira já saída da minha boca, e que
Deus me ajude a não fraquejar e cair aos seus pés, pedindo para que me
perdoe por ter dito tamanha asneira.
— Sinto muito, meu amor – pego o porta-retratos que contém a
imagem de uma Marina sorridente, enquanto faz carinhos nos nossos
bichinhos de estimação – eles, por outro lado, a fitam com olhos sinceros de
amor e devoção. A simples e espontânea imagem é tão perfeita, que nem se
tivesse sido combinada sairia tão linda quanto saiu. — Um dia você vai
entender – beijo o porta-retratos e o guardo dentro da minha gaveta, assim
como faço todos os dias ao final do expediente.
Sozinha
Marina

— Desculpa, querida, agora não. Estou com uma terrível dor de


cabeça – essa foi a resposta que ouvi da boca do Erick, dada de modo distante
e sem ter conseguido olhar nos meus olhos.
Dito isso, ele subiu direto para o quarto, que, diga-se de passagem, não
é o mesmo que a gente ocupa, e desde então estou aqui, andado de um lado
para o outro, sem saber o que fazer. Toda a coragem obtida com os conselhos
da Ângela termina indo para o ralo quando sua frase – que certamente é uma
mentira – alcança meus ouvidos.
Como sei disso? Simples: mesmo sendo esse homem durão e
autossuficiente, Erick fica como um bebê chorão e manhoso quando está com
alguma doença. Ele não tem esse tipo de atitude que teve agora, é mais do
tipo que fica choramingando no meu colo. Sempre que acontece, faço questão
de cuidar dele, de mimá-lo e lhe dar os remédios necessários para que fique
bem novamente.
Comigo ele não faz diferente, em meus piores momentos,
principalmente nos períodos menstruais, meu namorado sempre faz questão
de fazer todas as minhas vontades. Entre tentar me acalmar nos momentos
críticos de TPM, a comprar os chocolates que eu sinto vontade de comer nas
horas mais inusitadas, ele sempre faz de tudo para que eu volte a me sentir
bem.
Agora, tudo está diferente. Eu não mudei, nada mudou, para ser
sincera.
Então, o que foi que eu fiz que de uma hora para outra ele começou a
me tratar com tamanha indiferença?
— Calma, Marina – digo, enquanto de um lado para o outro meus pés
estão a ponto de furar o tapete. — Se você não for lá e perguntar, nunca irá
saber. Pense na conversa que você teve com a com Ângela...
Decidida e tendo a certeza de que Erick não foi para o nosso quarto,
saio verificando em todos os outros seis quartos vazios. Quando o encontro, o
fato de vê-lo no último quarto do corredor só serve para aumentar ainda mais
o buraco dentro do meu peito.
Ao sentir minha presença, ele que está de costas e pelo que suponho,
abrindo os últimos botões da sua camisa social, se vira, me encara exasperado
e começa a dizer:
— Querida, eu não estou num bom momento – afirma, e seu olhar
perdido me tira a certeza de que sua dor de cabeça seja apenas uma mentira
para não ter que estar na minha presença.
— Por que você não foi para o nosso quarto? Se o problema é só a sua
dor de cabeça, poderia ter ficado lá mesmo. Eu não iria incomodar.
— Esse aqui é melhor, por causa da vista para o jardim. Ele é mais
arejado – do mesmo modo que o nosso, tenho vontade de dizer. Eu conheço
essa mansão como a palma da minha mão para saber esse tipo de informação.
— Erick, por que você não conversa comigo? Eu sei que tem alguma
coisa acontecendo aqui e você está me deixando de fora – deixo os temores
de lado, e sem medo do que vou ouvir, vou direto ao assunto.
— Não tem nada acontecendo – fala, de maneira calma e seca. — Eu
só preciso ficar sozinho por um tempo. Dá pra entender isso ou do alto do seu
egoísmo é impossível ter mais empatia pela dor do próximo?
— Você está mesmo me chamando de egoísta? – sinto vontade de
chorar, mas não vou dar esse gostinho a ele. — Erick?
— Marina, eu... – dá um passo à frente, mas, como se alguma coisa
estalasse na sua cabeça, ele estaca e não diz ou faz nada para consertar o que
disse, pelo contrário, torna as coisas ainda piores.
— Por favor, me deixa sozinho. Eu não te quero aqui – afirma, sem
conseguir olhar para o meu rosto.
— Por que você não olha para mim? – chego perto e seguro seu rosto
com as duas mãos, o obrigando a me encarar. — Quero que diga isso olhando
nos meus olhos. Fala, Erick.
Sem acreditar que ele teria coragem de fazer, Erick segura as minhas
mãos, tira do seu rosto e repete, olhando bem dentro dos meus olhos, assim
como eu pedi:
— Eu não te quero aqui, entendeu?
Nesse momento, as lágrimas que com muito custo tentei engolir
escorrem sem freio, mas não foram só as lágrimas que decidiram ir embora
aqui. A minha paciência também resolveu que era a hora de dizer adeus. Sem
controle, e talvez sem maturidade, lhe ataco com os punhos fechados, dando
socos ligeiros e certeiros por todas as partes que consigo alcançar do seu
peito. Junto com as agressões e lágrimas, vem uma torrente de palavras que
não podiam ser reprimidas.
Não dessa vez.
— Eu te odeio, Erick – digo, desesperada, ao mesmo tempo em que ele
tenta conter meus braços e mãos, que nada querem além de lhe machucar
tanto quanto suas palavras me magoaram. — Era isso que você queria, não
era? – com a voz embargada, tento inutilmente soltar meus pulsos que ele
tenta conter. — Então você conseguiu, senhor Erick Estevan. Parabéns! Fique
aqui com o seu silêncio e com a sua dor de cabeça – mais uma vez, tento me
afastar do seu toque e mais uma vez eu não só não consigo como também sou
surpreendida por um inesperado abraço.
Muito magoada, meus braços permanecem pendurados, ao passo que
ele me aperta tanto que tenho a sensação que a qualquer momento meus ossos
irão ser quebrados.
— Me solta, Erick – subo os braços para empurrar seu peito e tirar sua
cabeça da curva do meu pescoço. — Quem não quer mais ouvir sou eu.
Derrotado, e como quem se dá conta de que acabou de fazer uma coisa
muito errada, Erick caminha para longe, e quando acha que já nos impôs
distância o suficiente, ele vira-se de costas, dizendo:
— Perdão, eu realmente não sou uma boa companhia. Talvez seja
melhor assim – ele fala, com dificuldade. — Se ficar aqui, eu posso falar
coisas que você não gostaria de ouvir e que talvez mais tarde eu mesmo me
arrependa de tê-las dito.
— Acho difícil você me dizer coisas mais cruéis do que já me disse –
resoluta, termino de secar meu rosto, e como se esse gesto me deixasse mais
forte, levanto o rosto, mesmo sabendo que ele não pode ver, e digo: — Eu
tentei, Erick. Eu juro que tentei, mas pelo visto, foi você quem desistiu.
De cabeça erguida, levo-me até a porta e, ao fechá-la do lado de fora,
não penso duas vezes antes de sair correndo pelo comprido corredor, só
parando para respirar quando me vejo em frente ao meu antigo quarto.
Assim como Erick fez, só que por motivos completamente diferentes,
eu não consegui entrar no nosso quarto e ver a cama em que por tantos meses
dormimos e também fizemos amor. Fazer isso seria como me impor uma
tortura que eu não suportaria vivenciar, não hoje e talvez nunca mais.
Na intimidade do meu quarto, passo a chave na porta, para depois me
jogar em cima da cama. Tendo o travesseiro como meu principal ouvinte,
solto o grito de desespero que há tanto precisava soltar. Depois do grito de
desabafo, ele agora recebe a umidade de todas as lágrimas que tentei não
derramar na frente do babaca.
— Ai, papai, por que o senhor se foi e me deixou sozinha? – agora
choro não só por Erick, mas pela saudade que parece aumentar a cada dia. —
Lembra do que o senhor prometeu? – pego sua foto de cima da minha
cabeceira e acaricio o seu rosto. — Lembra quando disse que seríamos eu e
você contra o mundo? Então, agora sou só eu contra o mundo, papai – abraço
sua foto como se seus braços estivessem me acalentando. Como sempre fez,
até o dia do seu último suspiro.
Num mundo em que uma mãe abandona a própria filha quando esta
ainda é praticante um bebê, ter um pai que ao invés de chorar as mágoas não
faz nada além de dar amor para essa criança, é um privilégio para poucos. Na
fase do colégio, onde as crianças podem ser cruéis quando assim o querem,
seu João não me permitiu passar por isso, fosse qual fosse a data
comemorativa, ele sempre estava lá, na primeira fila, batendo palmas e tendo
orgulho de mim.
— O Erick quer me abandonar, assim como a minha mãe me
abandonou, e assim como o senhor me deixou – soluço, ainda abraçada ao
porta-retratos. — Eu não sei, pai, eu não sei o que fazer para evitar isso.
Como eu poderia se nem ao menos sei onde errei?
Deitando-me de bruços, um filme dos últimos meses começa a passar
pela minha cabeça. Com um sorriso no rosto, lembro-me do dia em que,
revoltada, recebi a notícia que de papai tinha incumbido Erick de ser meu
tutor, do dia em que ele se declarou, do dia em que fizemos sexo pela
primeira vez e, mais recente – com meu rosto não mais ostentado o sorriso
triste de antes – lembro-me de suas declarações ao me dar o deslumbrante
anel de compromisso, ocasião em que vivemos nossas últimas horas felizes.
Desde então, há cinco dias, para ser mais específica, esses momentos
felizes que aquecem o coração e não só o corpo, se tornaram apenas
lembranças. Talvez apenas memórias felizes que no futuro servirão de
consolo, que me remeterão à uma época em que eu, de maneira ingênua,
nutria a ilusão de ter encontrado o meu final feliz.
Depois de secar todas as lágrimas e deixar que todos os pensamentos
bons e ruins se vão, ajeito-me melhor sobre a cama e ainda com a foto do
papai na mão, caio em um sono tranquilo e sereno, onde sonho o mundo
ideal, um mundo em que papai não me deixou tão cedo e onde Erick, o único
amor que conheci, não esteja na iminência de me deixar.
Saída
Erick

— O Erick quer me abandonar, assim como a minha mãe me


abandonou, e assim como o senhor me deixou. Eu não sei, pai, eu não sei o
que fazer para evitar isso. Como eu poderia se nem ao menos sei onde errei?
Do lado de fora, lutando para não entrar e acabar com tudo, ouço a
última e dolorosa parte do seu desabafo.
Ouvi-la dizer que está sozinha, e que não sabe onde foi que errou para
que eu esteja agindo dessa forma, traz uma dolorosa sensação, como se mil
agulhas estivessem espetando o meu coração.
Como conviver com o fato de que, para protegê-la, estarei destruindo
não só o nosso amor, como também o seu psicológico? Como ela mesma
disse, Marina já sofreu perdas demais com tão pouca idade, eu só não quero
ser mais um na lista. Sei que jamais serei mais um na lista. Ela só não sabe
disso, mas precisa saber.
Se Marina não é capaz de viver bem com a separação, tão pouco eu
sou.
A cena que fiz no quarto foi de uma crueldade sem tamanho. Ter que
rechaçá-la quando provavelmente só chegou a esse ponto de vir me
confrontar porque já não aguentava mais a minha indiferença, me doeu mais
do que as palavras podem expressar. Ao mesmo tempo que mandava ela
embora, minha vontade era de pedi-la para que ficasse, que me perdoasse por
ter falado tantas mentiras e que me deixasse amá-la até que entendesse que
nada no mundo me é mais precioso do que ela. Que numa realidade em que
os problemas não estejam batendo à nossa porta, eu jamais lhe viraria as
costas.
Preocupado por perceber que os soluços pararam e tudo está em
silêncio, decido – sem pensar nas consequências – entrar e falar com ela. Que
se dane tudo, eu não vou deixar minha mulher dormir longe de mim e ainda
pensando as piores coisas. Não importa que tenha sido eu a fazer isso.
Decidido, giro o trinco e logo me deparo com a porta trancada.
— Inferno! – xingo pela frustração de ter meus planos refreados por
uma maldita porta trancada.
E se aconteceu alguma coisa com minha pequena? E se ela tiver
passado mal dentro do banheiro?
Esses são os pensamentos trágicos que rodam minha cabeça enquanto
desço apressadamente as escadas, indo atrás da chave reserva. A minha sorte
é que todos os quartos possuem essas chaves, elas existem justamente para
ocasiões como essa, em que uma porta trancada não é uma opção a ser aceita.
— Seu José, o senhor sabe onde posso encontrar a chave reserva do
quarto da Marina? – indago ao caseiro da mansão, depois de bater na porta de
sua casa.
Essa é uma informação que eu deveria saber e estranhamente não sei.
Quer dizer, não tão estranho assim, nunca imaginei que precisaria utilizar-me
dessa informação e, como o homem prático que julgo ser, só vou atrás de
assuntos que num futuro próximo serão de alguma serventia.
— Está no quadro de metal que fica na pilastra central da cozinha –
diz, com um incontido olhar julgador. — E, perdão por falar, senhor, mas é lá
que ela tem estado a vida toda – ele tem razão, devo ter passado por ela uma
centena de vezes, sem nunca ter percebido.
Parece que alguém aqui precisa prestar mais atenção no mundo a sua
volta.
— Boa noite, seu José, e desculpa o incômodo – digo, e saio apressado.
Quando chego ao bendito quadro de metal, pego a chave que pela
numeração suponho ser a do antigo quarto da pequena.
De dois em dois degraus, subo as escadas e, ao parar novamente em
frente à porta, o medo começa a me consumir.
Não sei o que vou encontrar, e muito menos o que falar. Só espero que
esteja tudo bem.
Eu jamais vou me perdoar se de alguma forma minhas palavras e ações
de hoje e dos últimos dias resultarem em um dano mais severo para a Marina.
— Vamos lá, Erick, você tem que consertar a merda que fez – digo, em
voz alta.
Eu achei mesmo que conseguiria colocar esse plano em prática? Como
seria possível se poucos minutos depois estou voltando atrás?
Quando a porta finalmente se abre, a cena a minha frente faz minha
garganta se fechar quase ao ponto de não conseguir respirar. Deitada de
maneira atravessada na cama, meu amor dorme agarrada a um porta-retratos,
que cuidadosamente tiro de suas mãos.
Ao aproximar a foto para perto dos meus olhos, vejo que se trata de
uma foto dela, feliz, enquanto andava de bicicleta com o auxílio do seu pai.
Como dizer para ela, que tem tanta devoção por João, que ele não era esse
homem perfeito que ela imagina?
Por outro lado, as revelações feitas por Patrícia, que me fizeram abrir
os olhos para várias coisas em relação ao meu melhor amigo, não mudaram
em nada a certeza que eu tinha do seu amor e devoção pela filha. Se ele foi
fraco e tantas outras coisas, isso em nada atingiu a relação dos dois. É nisso
que eu continuo acreditando, e espero que Marina pense da mesma forma
quando descobrir a verdade, principalmente no que diz respeito ao motivo de
sua mãe ter lhe deixado.
— Meu amor – aproveito-me do seu sono para fazer o que por tantos
dias não faço. Carinhosamente, tiro as mechas de cabelo que cobrem o seu
rosto e passo delicadamente o dedo indicador na sua bochecha corada pelas
lágrimas. — Me perdoa – sento na cama, abaixo o tronco na altura do seu
rosto e sussurro perto do seu ouvido: — Era tudo mentira, tudo o que se
passou nos últimos dias foi uma grande mentira – beijo primeiramente sua
bochecha e depois do canto da sua boca. — Eu te amo. Tá me ouvindo? Eu te
amo, Marina.
— Erick – ela se mexe, incomodada, sem abrir os olhos. — Eu te amo,
não faça isso, por favor – afasto-me, assustado, ao passo que, debatendo-se
com mais vigor, ela continua a falar, só que agora entre lágrimas. — Não,
papai, o senhor prometeu... volta, prometo ser uma boa menina – no
pesadelo, ela mistura todos os seus temores. — Você também, Ângela – em
agonia, balança a cabeça de um lado para o outro. — Cadê todos vocês – a
voz dela vai morrendo, sobrando apenas o choro desesperado.
Quando não suporto mais, saio do torpor que meu corpo e mente
haviam entrado por presenciar o estrago que os meus atos e palavras foram
capazes de fazer na sua cabeça. A cena de mais cedo foi apenas a gota d'água.
Quantos dias ela não deve estar guardando isso para si, se sentindo rejeitada?
E para piorar, eu ainda fui burro de não saber controlar meus medos e
sentimentos e mesmo em meio à crise, não deixei de transar com ela, pelo
contrário, sexo foi o que mais fizemos até agora.
Minha mulher, além de tudo, deve estar achando que eu só queria usá-
la para o sexo, para satisfazer a minha lasciva.
Eu achei que conseguiria, mas não vou. Não posso fazer isso com meu
amor. Tem que ter outra saída. Vou até o inferno se for preciso, mas a minha
Marina eu não vou deixar, jamais!
— Ei, acorda, meu amor – lhe sacudo delicadamente pelo ombro. — Já
passou, foi apenas um pesadelo. Tá vendo? – depois de uns segundos, Marina
vai se acalmando, as palavras cessam, restando apenas os soluços. Pouco a
pouco, ela vai voltando a consciência e, confusa, ainda consegue dizer:
— Erick... – fala, de maneira quase inaudível. — O que você está... —
tenta se sentar, mas eu impeço ao apoiar os braços um de cada lado do seu
corpo.
— Calma, linda – ainda sonolenta, ela me olha, confusa, e desiste de
fazer perguntas. — Você estava no meio de um pesadelo, agora vai ficar tudo
bem – como quem acredita no que eu digo, ela apenas balança a cabeça.
A fé que Marina deposita e sempre depositou em mim jamais deixará
de me surpreender e alegrar. É por isso que não posso desistir, não sem antes
lutar.
— Que horas são? Mais cedo você disse que... – se interrompe, não
querendo repetir o que ouviu.
— Amanhã nós conversaremos, tudo bem? – bastante desnorteada, ela
concorda com movimentos de cabeça. — Agora volte a dormir, eu sei que
você quer e precisa disso – o dia de hoje não deve ter sido fácil para ela.
Sem nada mais a dizer, minha namorada permanece com os olhos
vidrados em meu rosto, que está bem próximo ao seu. Ela age como se o
calor da minha respiração fosse o remédio que necessita para ficar tranquila e
assim permanece até que caia em um sono, que dessa vez parece ser mais
tranquilo.
Com cuidado, tiro as sapatilhas pretas que ainda calçam os seus pés,
tiro suas calças jeans desfiadas, e por fim abro o fecho frontal do seu sutiã
rosa, deixando-a confortável e vestindo apenas regata branca e uma calcinha
rosa.
— Chega disso! – pego-a delicadamente nos meus braços e me dirijo
para a porta. — Vamos para o nosso quarto – falo no seu ouvido.
Ao chegar, lhe deito do lado da cama que ela dorme todas as noites.
Depois de cobri-la com a coberta, rumo para o banheiro; tomo um banho,
faço a minha higiene básica e volto para perto dela.
Deitando com cuidado para não acordá-la, trago o seu corpo para junto
do meu e, abraçando sua fina cintura numa bem encaixada conchinha, deixo
os problemas e preocupações irem para o fundo da minha mente.
Quando o sono vem, a única certeza que tenho é a de que não tem
Patrícia com suas chantagens e ameaças que me façam abrir mão do meu
amor, a relação que construímos não será desfeita assim, tão facilmente.
Eu vou encontrar um jeito de neutralizar as ameaças dessa mulher. Ela
vai deixar Marina viver em paz, eu mesmo irei garantir isso, nem que seja a
última coisa que eu faça na vida.
Sobre o término do prazo que está prestes a findar, talvez eu tenha
encontrado uma saída.
Água fria
Marina

De manhã cedo, acordo com a claridade vinda da janela, que teve as


cortinas arregaçadas. Ao prestar mais atenção, me dou conta de que não estou
no mesmo quarto em que fui dormir ontem à noite, ao invés disso, estou no
quarto em que há meses venho dividindo com Erick.
Erick... Será que foi ele quem me trouxe?
Aos poucos, as lembranças da noite anterior invadem minha mente e a
ferida aberta de dias volta a sangrar. Todo o distanciamento de Erick foi
fichinha perto da forma que me tratou ontem naquele quarto de hóspede. Ele
me mandava embora, sem se importar com os meus sentimentos. O cara que
disse isso nem de longe lembra o homem gentil e apaixonado que sempre
demonstrou ser.
O estranho é que entre o Erick do quarto de hóspedes e o fato de eu
estar de volta ao nosso quarto, existe um lapso perturbador. Na minha cabeça,
os acontecimentos se misturam, e não tenho capacidade de discernir a
realidade do sonho.
Sei que depois de ter caído no sono, exausta de tanto chorar, comecei a
ter um pesadelo que envolvia todas as pessoas que amo. Nele, todas me
abandonaram e eu me via caminhando sem rumo, chorando e sem ter para
onde ir, eu gritava por eles e ninguém me ouvia, até que apareceu Erick no
meu caminho e eu finalmente voltei a respirar. No sonho, que já não era mais
um pesadelo, ele me fazia carinho e dizia que tudo ia ficar bem, que era
apenas um pesadelo. Eu devo ter acreditado porque depois disso, senti meu
coração voltar a bater feliz e o medo de ficar sozinha ir embora.
Será que foi tudo fruto de um sonho ou aconteceu de verdade? E se não
foi um sonho, por que Erick faria uma coisa dessas, logo depois de ter me
escorraçado para longe dele?
Como se ouvisse os meus pensamentos, o homem que já não sei definir
qual a sua posição na minha vida, entra no quarto, sorridente e com uma
bandeja contendo pelo que suponho ser o meu café de manhã. Ele se
aproxima, senta próximo a mim e eu, imaginando que é o que se espera,
também me sento, só que encostada na cabeceira da cama.
— Bom dia – cumprimenta, com tranquilidade.
Esse homem só pode ter algum probleminha na cabeça. Cadê o macho
escroto do quarto de hóspedes e de toda a semana que se passou?
Morreu ou foi substituído?
Aproveitando que ele está ocupado em colocar a bandeja de madeira
em cima das minhas pernas, aproveito para passar rapidamente as mãos pelo
cabelo, limpar as remelas dos olhos e a baba que pode ter escorrido enquanto
eu dormia. Quanto a cara inchada pelo sono e mais ainda pelo choro, não
posso fazer nada a respeito.
Talvez seja até bom que ele me veja dessa forma, quem sabe assim
aprenda como se deve tratar uma mulher. Isso se ele estiver arrependido de
alguma coisa.
— Bom dia – olho pela primeira vez para a bandeja de comida e vejo
que ele teve o cuidado de colocar um copo de suco de laranja natural, um
pedaço generoso do meu bolo preferido e também pedaços de manga e
mamão.
Apesar de toda a comida, o que me chama mais atenção é o jarrinho
com dois girassóis dentro. Depois que termino de analisar tudo, levanto o
olhar e o encontro me avaliando cheio de expectativas, talvez esperando para
ver se eu gostei do seu gesto.
Será que Erick pensa que um simples café da manhã – que eu amei,
diga-se de passagem – vai apagar e me fazer esquecer tudo o que houve entre
nós na última semana?
Calma lá, Marina, o cara ainda nem abriu a boca. Talvez ele só esteja
se sentindo culpado e por isso teve esse gesto.
— Espero que goste, tentei colocar aí tudo o que você gosta de comer –
afirma, parecendo sem jeito.
— Acho que precisamos conversar, Erick – de novo, não aguento a
expectativa e lanço a famosa e temida frase, que muitas das vezes significa o
término de uma relação.
— Sim, nós precisamos – esse Erick de algum modo me lembra mais o
meu namorado do que o estranho de ontem. — Mas primeiro eu quero que
você tome o seu café da manhã. Depois conversaremos, tudo bem?
— Não vai para o escritório? – pelo sol que adentra pela janela,
suponho que já era pra ele ter ido para o escritório. Eu, por mais que goste de
trabalhar no estúdio, fiquei feliz quando Lua me disse que se não quisesse
não precisaria ir hoje, já que as coisas estão mais tranquilas por lá.
— Talvez na parte da tarde, tenho alguns assuntos para resolver por
aqui – o modo que ele fala deixa claro que a nossa relação é um desses
assuntos a serem resolvidos.
Enquanto tomo café igual a uma condenada que está há dias sem ver
um prato de comida, Erick continua sentado na minha frente – vestindo nada
mais que sua calça moletom, que o deixa mais sexy do que minha saúde
aguenta – olhando sem parar para minha boca, que não para de mastigar.
Como de tudo um pouco, porque se tem uma coisa que não vai embora nem
nos momentos de maior crise, é meu apetite. O mundo pode estar prestes a
desabar, mas sem comer eu não fico.
Se não estou acima do peso, tenho que agradecer aos bons genes dos
meus pais e também à academia que passei a visitar com mais frequência, não
por ter uma maior preocupação com o corpo ou algo do tipo. O fenômeno
tem mais a ver com a descoberta do quanto meu namorado fica sexy quando
está pingando suor, trajando somente o seu short revelador que é usado
especialmente para malhar. A minha sorte e da minha saúde, é que temos
academia em casa. Não sei se saberia lidar com toda a sua gostosura sendo
exposta para outros olhos famintos além dos meus.
A melhor parte de acompanhar o tour da malhação é quando ele, já
eriçado com a minha aberta admiração, me chama para cima de um dos
aparelhos qualquer e lá mesmo mata a minha frustração. Se eu for parar para
pensar, não sei se ainda tem algum aparelho ali que não tenha sido batizado
por nós. Ainda bem que somos só eu e ele a utilizar essa academia.
Céus! Se controla, Marina, o cara pode estar prestes a te dar um pé na
bunda e você está delirando com as proezas sexuais dele?
Por outro lado, é melhor pensar em sexo do que começar a fantasiar o
teor da conversa que ele pretende ter comigo. Talvez eu até já saiba, então
não há nada demais em pensar nos nossos bons momentos, afinal, esse
provavelmente será o meu futuro próximo.
Ainda em silêncio e sem mover um músculo, nem mesmo do rosto, ele
continua a acompanhar os movimentos da minha boca. A dúvida aqui é se ele
está sentindo vergonha alheia pela minha voracidade ou se é outra coisa. A
julgar pela almofada que ele acabou de pegar e colocar em cima do colo, tudo
leva a crer que esteja ficando...
Não, esse homem não ficaria excitado apenas por me ver comendo, ou
será que ficaria?
— Terminei – a fim de acabar com a expectativa que me corrói a alma,
fico de joelhos em cima do colchão, aproximo-me do criado mudo, afasto os
diversos objetos que estão espalhados e em cima coloco a bandeja
praticamente vazia.
No momento em que vou voltar para o meu lugar, noto que estou
apenas de regata e calcinha, meu rosto arde na hora e eu só consigo olhar
para Erick, que no momento fita o mesmo lugar que eu. Envergonhada, subo
a coberta até a cintura e pergunto:
— Foi você quem... – como uma boba, fico sem jeito de continuar a
frase. Não é como se ele já não tivesse feito isso antes. Depois de meses
morando juntos, meio que não existe mais espaço para pudores entre nós.
Assim como eu o conheço, ele conhece o meu corpo como a palma da sua
mão. Menos, é claro, o terreno proibido, mais conhecido como a minha
bunda, que ele sonha em conquistar. Para deixá-lo ainda mais ansioso, eu
sempre frustro suas intenções ao dizer que minha bunda ele vai ter que fazer
por merecer, que não vai ser tão fácil quanto a boceta.
Em resposta, Erick apenas dá um sorriso de canto, como quem
soubesse estar no controle. E ele está mesmo, pois tenho a plena convicção de
que ele sabe exatamente como me fazer ceder, só não o fazendo porque
prefere me ver pedindo com todas as letras. Eu até tenho vontade de fazer
sexo anal e fico excitada quando o sinto me tocando lá, mas, e o medo de ter
a coisa gigante que ele carrega no meio das pernas tentando entrar em um
buraco tão apertado?
— Foi. Quando vi dormindo de jeans, imaginei que poderia estar
desconfortável e decidi tirá-la. Fiz mal?
— Não, você sabe que não – digo. Entre nós, não é novidade que se
tiver alguma coisa me incomodando, meu sono não é tão tranquilo.
Para nossa sorte, ele não tem o hábito de se mexer durante o sono.
— Podemos conversar agora? – insisto novamente, mas o frio na
minha espinha ameaça se transformar em uma dor de barriga.
Mas é melhor que seja agora do que ficar adiando o inevitável, de
qualquer forma essa conversa tem que acontecer.
— Claro – confirma, agora mais sério. É como se ele não soubesse a
melhor maneira de abordar o assunto.
Ai, meu Deus, isso não é um bom sinal.
— Em primeiro lugar, eu preciso que você me desculpe pelo que fiz
ontem e por todos os outros dias. Eu sei que te deixei de lado, Marina – o
começo já não é muito animador. — Me perdoa?
— Claro – digo da boca para fora, o perdão dependerá de suas
próximas palavras, porque suas atitudes têm de ter um motivo. — Eu só
preciso entender.
— Tudo bem, princesa, mais tarde você vai entender as minhas razões
– diz, e depois do "princesa", deletei o resto das palavras.
Seja lá o que estiver acontecendo, sim, está mais que claro que tem
alguma coisa acontecendo, o tratamento carinhoso já aumenta as minhas boas
expectativas.
— Antes de mais nada, você tem que saber que eu...
— Que você?
— Preciso terminar com você.
É neste momento que vem o balde de água fria, a desilusão e a frase
que eu mais temia ouvir da sua boca.
O que por dias ele veio adiantando, finalmente foi concretizado.
Pazes
Erick

Ao revelar o que por quase uma semana escondi, de imediato sua


disposição em aceitar me ouvir se esvai como uma gota de água no deserto.
Ao decidir mimá-la com um café na manhã na cama e com as coisas
que eu sei que ela gosta, não imaginei que seria tão burro com a tamanha falta
de sutileza com que eu dei a notícia.
Quando acordou e se viu de volta ao nosso quarto, Marina, com o seu
coração bom de sempre, não fez o que muita gente faria, e se fizesse, eu
saberia que fiz por merecer. Ao invés de me expulsar – assim como eu fiz –
em todo esse tempo, minha menina pareceu querer me escutar. Esteve
disposta a dar a chance que eu não mereço e essa falta de tato serviu apenas
para reafirmar o quanto sou idiota.
Vamos lá, rapaz. Se acalme, você está nervoso e falando bobagem,
quer mesmo perder a sua mulher?
— Você precisa ou você quer terminar comigo? – como a menina forte
que sempre foi, ou ao menos luta para ser, Marina logo troca a expressão de
decepção pela de resignação. É como se tivesse desistido de nós, de tentar me
entender.
De tudo.
— Eu não quero e não vou me separar de você – digo, ao mesmo
tempo em que chego perto do seu corpo e seguro seu rosto, para que me olhe
dentro dos olhos. — É mais fácil o inferno congelar do que existir Erick sem
Marina.
Emocionada e ainda confusa, ela tira minhas mãos do seu rosto, abaixa
até que estejam em cima do seu colo e, ainda me fitando nos olhos, indaga:
— O que está acontecendo, Erick? – pergunta, e analisa todo o meu
rosto, quem sabe em busca da verdade. — Esses dias você não parecia o
mesmo...
— Perdão, meu amor – sem conseguir me conter, mesmo em meio a
uma conversa tão séria, aproximo nossos corpos ainda mais. Tendo ela quase
sentada em cima de mim, beijo carinhosamente cada canto do seu rosto e por
último deixo a boca. Ao abocanhar seus lábios carnudos, faço o que há muito
tempo venho me abstendo de fazer, não que eu não tenha lhe beijado desde
que essa crise começou, eu beijei, só não era a mesma coisa.
Como aproveitar o doce e inebriante sabor da sua mulher quando se
tem uma bomba relógio prestes a explodir bem na sua cara?
Dessa vez não, agora eu a beijo e me deixo ser beijado com todo o
amor e devoção que tenho por ela. Com a língua, varro todos os cantos da sua
boca e de maneira erótica e com a experiência que com muito orgulho
proporcionei, minha deliciosa namorada me presenteia com movimentos
sensuais de me oferecer e depois esconder a sua própria língua. No percurso,
ela me dá pequenas e excitantes mordidas e eu, como um homem sedento por
sua mulher, tenho que me segurar para não mandar a conversa e todo o resto
para a puta que pariu.
Tudo o que eu quero agora é fazer amor com minha garota e a julgar
pela voracidade do nosso beijo, que mais parece uma simulação de sexo, ela
também quer isso na mesma medida que eu.
Fraco como tudo o que diz respeito a Marina, não tenho forças para
interromper seja lá o que estamos fazendo com as nossas bocas. Só depois de
um tempo, quando a falta de ar já não nós permite continuar, é que, sem
fôlego, terminamos o delicioso, faminto e erótico beijo.
— Perdão – desnorteado, não consigo tirar os olhos da sua boca úmida,
vermelha e até um pouco inchada do nosso beijo duro. Aliás, duro é uma
palavra que eu não deveria pensar, porque pensar nela me levaria a pensar em
outra parte da minha anatomia, e se ainda não posso fazer nada a respeito, o
melhor é manter meus pensamentos longe. — Quer dizer, isso eu já disse –
por que de repente eu me sinto como um moleque que não sabe se comportar
na frente da namoradinha? — Agora só falta todo o resto.
— Foco, Erick, pelo jeito que você anda agindo, nem imagino o quanto
tem sido duro para você.
Puta que pariu! Essa palavra não!
Sem poder fugir, termino por responder:
— Muito duro, duro demais – afirmo, e ela olha para o meu moletom
que não deixa de entregar o tamanho da dureza.
— Se precisar, você sabe que pode contar comigo, não é, meu amor? –
oferece, e já nem sei o que me surpreende mais: se é ela ter me chamado de
amor ou se é o rumo que essa conversa tomou.
Quando foi que o desejo de explanar as ameaças da Patrícia se tornou
preliminares para o sexo, isso quando nós nem fizemos as pazes ainda? Quer
dizer, ela fazer as pazes, já que para mim que sei de tudo, nós nunca
estivemos realmente brigados.
Apenas fui idiota ao ponto de pensar que conseguiria ir até o fim.
Tenho convicção de que é um plano arriscado, mas eu vou proteger a
princesa e garantir que Patrícia nunca chegue perto dela. O que não posso é
deixar que continue pensando mal de mim e nem que duvide do meu amor
por ela. Com isso eu não conseguiria conviver.
— Amor, como pode querer transar num momento como esse? Não
tem curiosidade? – indago, mesmo estando tão ou mais a fim que ela.
Sei que não é uma coisa da qual possa me orgulhar, mas nosso desejo
pelo outro é tão grande, que mesmo estando mal a ponto de enlouquecer com
o iminente fim da nossa relação, eu não consegui me manter longe. Mesmo
tendo noção do mal que poderia estar causando, meu corpo sempre arrumava
um jeito de trazer de volta a proximidade que meus atos foram capazes de
eliminar.
— Tenho, sim, mas só o fato de te ouvir me chamar novamente de
amor, me faz ter a esperança de que seja o que for esse assunto, nós vamos
ficar bem. Nós vamos ficar, não é? – fala, querendo ter uma dose de
segurança.
— Ainda não sei ao certo, princesa, no que depender de mim, tudo vai
ficar bem. Do jeito que era antes.
— Eu acredito – afirma, ao levar os olhos novamente para o meu colo.
Eu não a julgo pela falta de concentração no assunto, até porque seria
difícil ignorar o fato do meu maldito moletom marcar a minha ereção em toda
a sua glória. Assim como me é impossível ignorar o fato de saber que por
baixo das cobertas ela não usa nada mais do que uma pequena calcinha rosa,
que faz par com o sutiã tirado por mim ontem à noite.
— Só acho que poderíamos cuidar de assuntos mais urgentes primeiro
– ela fala, com malícia.
Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei Marina assim, tão boca
suja, receptiva e do tipo que não tem medo de pedir pelo que quer. Ela não
tem o menor pudor de me procurar ou de se insinuar quando sente vontade de
transar. Cheio de tesão pela atitude, faço tudo e mais um pouco das suas
vontades. Devo confessar que um dos locais mais incríveis onde fazemos
sexo é na nossa academia.
Não sei se posso atribuir ao ambiente ou o fato de ela ficar uma delícia
com seus shortinhos de malha e tops que deixam a barriguinha de fora, só
posso afirmar que se os aparelhos e chão falassem, com certeza seriam
história para maiores de dezoito anos.
— Você é uma safada, sabia? – desço cuidadosamente seu corpo para a
cama, tendo-a deitada novamente. – Muito safada. A minha gostosa – tiro a
coberta que antes encobria meus olhos da visão do paraíso.
— Meu Erick... – Marina ofega ao me ver deitar em cima do seu corpo,
enrolar a regata até perto do seu colo, deixando assim, os deliciosos peitos
livres para meus olhos e boca.
— Como você quer, minha linda? – fecho os lábios em torno do seu
mamilo duro e lá, sem deixar de olhar em seu rosto, brinco com seu
montículo, fazendo movimentos de vai e vem com a língua. — Um amor
gostosinho ou uma trepada nível hard? – passo para o outro seio, fazendo o
mesmo que fiz no anterior.
— Quero do jeito que fez todos esses dias, não quero que volte a ficar
cheio de dedos. Prefiro o verdadeiro Erick, macho que come a sua fêmea com
voracidade – revela toda a sua devassidão ao mesmo tempo em que enlaça as
pernas na minha cintura.
Sem protestar – até porque não seria louco de fazer uma coisa dessas –
deixo que o meu quadril se encaixe entre as suas pernas e permito que meu
pau se acomode bem em cima do seu sexo. Era desse tipo de contato que eu
sentia falta.
De ter não só nossos corpos conectados, mas também mente e coração.
Para mim, não importa o nome que se dá; se é trepar ou fazer amor, quando
estamos bem um com o outro, o fim será sempre o mesmo: dois corpos em
uma crua demonstração de amor, onde corpos se reconhecem, mentes e
corações se conectam. São os nossos momentos; Erick e Marina, ligados
como tem que ser.
Sentindo através da sua calcinha a quentura que ameaça me consumir,
início uma deliciosa fricção. São movimentos cadenciados de sobe e desce
que nos servem como preliminares, uma vez que o faço somente para
aumentar ainda mais o nosso tesão.
— Pronta para fazer as pazes? – de olhos fechados, Marina apenas
murmura sons de súplica.
Adiando por alguns minutos ou até horas a conversa que precisamos
ter, deixamos que nossos corpos escolham o que virá primeiro na lista de
prioridades.
Por fim, acho que foi uma decisão acertada. Antes de palavras e
promessas, precisamos primeiro nos certificar que nosso elo não foi perdido,
que nossos corpos ainda são capazes de reconhecer os sentimentos que vão
além de qualquer compreensão. Não o tipo de sexo que estávamos fazendo, e
sim o amor transmitido através de movimentos, sons inteligíveis e palavras
que não precisam ser ditas. A conexão que através do olhar iremos buscar.
Esse será o nosso primeiro passo, não sei se o mais acertado, mas com
certeza o que precisamos.
Descoberta
Erick

— Calma, meu amor – com a mão na sua boca e o suor escorrendo ao


ponto de pingar na altura dos seus peitos vermelhos pelas minhas chupadas,
continuo socando na sua bocetinha, que me recebe de maneira tão gulosa
quanto o meu pau, que a penetra com reverência. — Você não quer que todo
o condomínio saiba que estamos trepando, não é? – desgrudo os cabelos
úmidos da sua testa suada.
— Não... – responde, sem fôlego, ao cavar o calcanhar ainda mais
firme na minha bunda, querendo auxiliar os movimentos e nos deixar mais
grudados. Minha ferinha gananciosa. — Se isso acontecer, eu mato você –
ameaça, mesmo quando não está em condições de fazer nada. A mulher nem
ao menos tem fôlego para falar frases inteiras sem que tenha que puxar uma
longa lufada de ar.
Eu não estou diferente, com o corpo pingando suor, sinto como se
tivesse acabado de correr uma maratona, mas nada que me impeça de comer a
minha namorada cheia de disposição e com bons dezoito anos a menos que
eu. A minha sorte é ser adepto da malhação, só assim para aguentar esse
furacão deliciosamente sexy chamado Marina, mais conhecida como o amor
da minha existência.
— Me matar por que, sua gostosa? – provoco, ao puxar os cabelos que
ficam na parte de trás da sua nuca, enquanto com a outra mão levanto suas
costas, fazendo com que se acomode sobre as minhas pernas. — Não sou eu
quem está dando um espetáculo digno de um filme pornô – na verdade, estou,
sim, só não sinto a mesma vergonha que ela. Que se danem as pessoas
saberem que estou transando.
É minha mulher, porra!
Trocando a posição papai e mamãe para uma em que possa senti-la
ainda mais profundo, enlaço suas pernas na minha cintura e sussurro no seu
ouvido:
— Vem, minha gostosa, dê o seu melhor – toda descabelada e com a
pele deslizante de suor, minha garota, que não foge de um desafio, inicia uma
lenta e torturante cavalgada em cima do meu pau. Me provocando, Marina
intercala os movimentos entre reboladas sensuais e um sobe e desce lento e
cadenciado.
— Que foi, meu machão não aguenta uma menininha cheia de fôlego?
– ela insiste em testar os meus limites.
— Você sabe que isso não é verdade, sua cadela – torturo o bico já
sensível dos seus seios, que há algum tempo vêm sofrendo com minha boca
possessiva. — Não foi eu quem gozou três vezes e já tá quase lá novamente –
para falar a verdade, eu só gozei uma, mas a vontade era de ter feito isso
umas cinco vezes. Mas, como eu não quero deixar minha gata na mão, tenho
me segurado até que ela esteja satisfeita, e depois eu mesmo vou cuidar para
que meu alívio venha à altura.
Todas as vezes em que chegou ao ápice, eu logo tratei de acendê-la de
novo e de novo, quero que ela sinta como somos bons juntos, para que nunca
se arrependa de me amar, de me dar tudo o que já não tinha esperanças de
encontrar.
— É, você tem seu ponto – acelera subitamente o entra e sai e me pede,
louca de desejo, para que a faça gozar. Eu conheço o corpo da minha mulher
e sei que está quase lá. — Eu quero que me faça gozar, meu homem, daquele
jeito que só você sabe – ela nem precisa repetir para que tenha o seu desejo
cumprido.
Sedento, tomo sua boca no beijo que de tão desejado envolve línguas e
dentes se batendo na mesma medida. Mais abaixo, coloco as mãos na parte de
fora das suas coxas, e sustentando o seu peso, controlo o entra e sai, o subir e
o descer do seu delicioso e usado corpo. Com as estocadas violentas, sou
obrigado a soltar sua boca para não machucá-la e, em contrapartida tenho
seus deliciosos peitos pulando bem diante dos meus olhos.
— Era assim que queria, minha cadela safada? – com os dedos
indicador e médio, manipulo seu clitóris inchado. — Então goza pra mim,
vai, goza para o seu macho.
— Ahhh, puta merda – convulsiona nos meus braços ao atingir o seu
buscado orgasmo. — Meus Deus! Que delícia – segurando-a firme pelas
costas, espero que seu corpo se acalme, para só depois ir em busca da minha
própria satisfação, além da que sinto por satisfazer minha gatinha deliciosa.
Com estocadas calculadas e profundas, não resisto quando Marina
crava os dentes no meu pescoço, sendo esse gesto o estopim para me fazer
liberar dentro dela todo o tesão que por duas vezes tive que reprimir em favor
do seu próprio alívio, e fazendo uma sujeira maior do que sou capaz de
calcular, encho o seu sexo da minha porra.
Se isso parece possessivo eu não sei, mas para mim, nada é tão
excitante de que fazer isso com ela. Tê-la cheia de mim, em todos os níveis
possíveis.
Depois de algum tempo apenas abraçados e recuperando o nosso
fôlego, levo uma Marina exausta para o banheiro e primeiro lhe dou um
banho quente e relaxante, para depois colocá-la confortavelmente sobre a
cama, vestindo nada mais que um roupão felpudo. Tão brega quanto o seu,
tem também o meu, que visto assim que termino meu próprio banho.
Ao chegar perto, Marina me abre o seu já conhecido, porém não menos
encantador sorriso. E como eu senti falta dessa intimidade, da preguiça que
curtimos juntos todas as vezes em que terminamos de fazer amor...
— Tudo bem, princesa? – sento na sua frente, que está com o corpo
encostado de maneira confortável contra a cabeceira da cama, e trago suas
pernas para o meu colo.
— Ótimo, querido – como dizer a ela que o trauma por esse nome
voltou? Acho que precisarei de outra dose do seu convencimento.
Como nunca fomos o tipo de casal que faz amorzinho calmo em frente
à uma lareira, nunca deixei de me certificar que não passei dos limites, mas
agora, depois de perceber que ela tanto quanto eu curte um sexo mais duro,
minha preocupação é ainda maior.
Essa descoberta certamente foi a única coisa boa que essa situação
trouxe. Se antes nós éramos bons, hoje somos ótimos. Entre palavrões e
tratamentos chulos, Marina e eu não temos mais limites na busca pelo prazer.
As minhas costas rasgadas de um lado a outro e seu modo estranho de andar e
bumbum marcado, são as provas da nossa falta de controle.
Se essa bobagem de alma gêmea existe, eu com toda certeza encontrei
a minha.
— Que bom, meu amor – de maneira despreocupada, fico passando a
mão do peito do seu pé esquerdo até a altura da panturrilha, um gesto de
carinho que nada tem de sexual; é apenas uma maneira que encontrei para
continuar lhe tocando. — Quer conversar agora?
— Acho que sim – titubeia, deixando claro que ainda teme pelo que
tenho a falar.
Isso só me faz ter noção do tamanho do estrago que estive prestes a
fazer.
— Tem alguma coisa que você queira me perguntar? – antes de soltar a
bomba no seu colo, dou-lhe a oportunidade de revelar o que se passa por sua
cabeça.
— Tenho – afirma, ainda que pareça incerta sobre o que tem a dizer.
— Pode perguntar, meu anjo, fala comigo – peço, pensando na ironia
disso tudo. Logo eu pedindo isso, depois de ter lhe virado as costas por quase
uma semana.
— Você ainda me ama? – olhando em meus olhos, Marina faz a
pergunta que eu não estava esperando, mesmo que talvez mereça esse tipo de
dúvida vindo dela.
— Se eu te amo? – ela confirma com a cabeça. — Mais que a própria
vida, meu amor. Por você eu seria capaz de tudo, eu mato e morro –
exemplifico para que a faça entender a dimensão do que estou afirmando.
Ao me ouvir, uma única e solitária lágrima escorre pelo canto do seu
olho direito, e ela logo trata de enxugar.
— Nada do que se passou aqui durante essa semana tem a ver com o
que sinto por você, Marina, nada foi real.
Eu e ela nos encaramos sem conseguir desviar os olhares, e espero
estar transmitindo todos os sinais certos, que tudo o que eu diga aqui consiga
levar o resquício da tristeza que carrega no rosto, desde o dia em que me
tornei uma pessoa da qual não me orgulho.
Se tudo o que eu disse ontem foi premeditado, como o último golpe
dado antes do fim, o meu afastamento dos outros dias não foi. Não me
envergonho por confessar que não soube lidar com a situação, que se tivesse
sido mais racional e pensado melhor, teria aberto toda a história para ela,
esperando que juntos encontrássemos uma saída.
No alto da minha falta de controle, preferi me fechar e somente lhe
procurar para usar seu corpo, assim como se faz com uma prostituta barata.
— Meu erro foi não ter sabido lidar com a situação, só não duvide do
que eu sinto por você – volto a reafirmar o meu amor, temendo que, ao fazer
a mesma pergunta, a sua resposta seja diferente da minha.
— E você, ainda deixou vivo pelo menos um pouco do amor que sentia
por mim?
Nunca fui um homem de sentir insegurança, mas dessa vez ela me
pegou de jeito. Que ela sente tesão por mim já está mais que claro. É só que
isso não é o suficiente. Assim como eu não me entregaria pela metade, não
acho que sou capaz de aceitá-la de outra forma que não seja por completo.
— Nada mudou, Erick. Tudo o que eu senti esses dias foi medo. Medo
por pensar que você já não me amasse mais – outra lágrima escorre pelo
canto do seu rosto, mas minha princesa logo a seca, fazendo força para que
outras não caiam. Se tem uma coisa que ela não se permite é fraquejar.
Mesmo ainda sendo tão jovem e tendo esse direito, Marina não se
permite demostrar fraqueza, ainda que às vezes seja impossível de controlar.
— Quando você me expulsou, eu só pensei...
— Não, linda. Deixa isso pra lá, já passou – chego perto e lhe abraço
apertado. — Estou aqui e estarei até quando você quiser que eu fique –
afasto-me, mas não sem antes deixar um beijo em cada um dos seus olhos.
— Erick, quem é a pessoa que está nos ameaçando? Você disse que
precisa terminar comigo, só me diga o nome.
— Patrícia – seus ombros caem em desânimo, mas seu rosto está longe
demostrar a surpresa que eu achei que teria.
Plano
Marina

— Como, quando? – meu choque não é nem pela surpresa de ter o


dedo dela metido nisso, já que a mulher deu provas o suficiente de ser uma
víbora. O que me surpreende mesmo é ela ter ido não longe quando o
máximo que imaginei foi a cena que fez em meu quarto, no dia da recepção.
— Ela esteve aqui em casa?
— Sim, pequena, no dia do seu aniversário. Você lá fora, se divertindo,
e eu no escritório, trabalhando. Quando ela entrou, eu achei que fosse você,
mas foi só levantar os olhos para perceber que não era.
— Como ela conseguiu entrar aqui?
— Isso eu não sei, quando fui questionar o jardineiro que ficou aquela
noite, ele disse que uma mulher de óculos escuros e cabelos pretos chegou
dizendo que tinha vindo buscar a filha – isso é bem a cara dela.
— E o que ela disse? – indago, mesmo tendo medo de pensar na
resposta.
— Ela fez ameaças veladas contra você, mas o principal foi exigir que
eu termine com você – diz, e vejo seu semblante mudar ao proferir as
palavras.
— Ela não pode fazer isso, foi o que, um tipo de chantagem?
É óbvio que foi uma chantagem, e das serias, Erick não é do tipo que
aceita que lhe digam o que fazer.
— O que Patrícia sabe sobre você para que tenha cogitado ceder à
chantagem, querido? – seu rosto faz uma leve careta por ouvir a palavra
"querido". Parece que a vaca traumatizou meu amor mais uma vez, mas nada
que eu não consiga reverter.
— Não é sobre mim, pequena. Ela sabe coisas a respeito do passado
dos seus pais, que eu não queria que você ficasse sabendo – explica, e isso
sim é uma surpresa.
— O que Patrícia tem a ver com o passado dos meus pais? Se ela sabe
de alguma coisa, significa que esteve nele? – deduzo, e ele confirma com um
movimento de cabeça.
— Ela é prima da sua mãe – fala, e eu percebo que ele continua não
querendo falar o teor da chantagem. — Escuta, amor, você tem certeza de que
quer saber de tudo? Infelizmente, não é uma história muito bonita.
Quando ele diz isso, eu me pergunto se realmente vale a pena ficar
sabendo de algo que pode de alguma forma mudar a visão que tenho do meu
querido pai, que ponha em cheque até mesmo o amor que ele demonstrava
sentir por mim. Quanto a Cristina, não acho que haja alguma coisa sobre ela
que vá me surpreender tanto, afinal, o que se pode esperar de uma mulher que
deixa uma filha ainda tão pequena, assim como ela fez comigo?
— Me fala, Erick, eu prefiro saber a verdade a ficar a vida toda no
escuro, à mercê dessa mulher.
Não sei o quão grave são as revelações que ele tem a fazer ou o quanto
elas vão me afetar, mas acho que estou tomando a decisão certa. Antes de
tudo, preciso saber com quem estou lidando.
— Tudo bem, Marina, só preciso que saiba que estou aqui, do seu lado
– segura a minha mão e eu apenas balanço a cabeça, pois, apesar da
turbulência pela qual estamos passando, confio nele e no seu amor por mim.
Durante alguns minutos que eu não sei calcular quantos foram, Erick
me conta, de maneira detalhada, toda a conversa que teve com Patrícia. Quer
dizer, conversar não parece ser a palavra adequada, não quando pelo que ele
me diz, ela preferiu impor sua presença em um constante tom de ameaça.
Quando ele termina, simplesmente não consigo me mexer ou dizer
qualquer coisa. É bizarro e cruel demais para que eu reaja de outra forma. De
tudo o que ele me revelou, eu não sei dizer qual foi a pior parte.
Meu pai, como ele teve coragem de trair a minha mãe e manter Patrícia
por todos esses anos?
E nem é o pior, ele foi tão fraco, que não só acreditou na mentira da
megera, como chantageou e deu dinheiro para que Cristina sumisse e me
deixasse.
Será que uma traição da esposa é motivo suficiente para que justifique
que um pai obrigue uma mãe a deixar a filha?
Por outro lado, talvez Cristina não me amasse tanto assim, não quando
depois de tantos anos e também da morte do papai ela não teve a decência de
me procurar para, quem sabe, me falar a sua versão da história. No fim das
contas, nada mudou, minha mãe realmente me abandonou. O motivo? Acho
que viverei bem sem saber qual foi. Não é muito agradável saber que fui
trocada por algumas notas de papel.
Deus! Minha cabeça vai explodir.
Forte, Marina, você é forte. Não chora, eles não merecem suas
lágrimas.
Fico repetindo a frase como um mantra.
— Ei, olha pra mim, minha linda. Você está bem? – toca meu rosto
com as duas mãos, me fazendo focar no seu rosto, que transmite uma genuína
preocupação. — Sabe que não tem mal nenhum em chorar, não é? – ele me
traz para os seus braços e isso é o estopim para que eu libere toda a carga que
venho carregando nesses últimos dias.
Com sua mão fazendo cafuné na parte de trás da minha cabeça, tenho
meu rosto enterrado no seu peito, enquanto, silenciosamente, molho sua
camisa com as lágrimas que por muitos dias não me permiti derramar, à
exceção de ontem, que foi o pior dia desse período de turbulência.
Depois de um tempo, eu finalmente paro de chorar, restando apenas os
soluços, que meu amor tenta aplacar com o seu carinho na cabeça e beijinhos
no meu ombro. Quando levanto a cabeça do seu peito e olho para o seu rosto,
percebo que ele também deixou que alguns dos seus sentimentos guardados
viessem à tona.
Silenciosamente e bem menos que eu, toco o seu rosto e percebo que
ele está úmido. Nos seus olhos, tenho a resposta sem que seja preciso fazer a
pergunta. Ele chorou por mim. Por me amar, compartilha junto a dor do meu
sofrimento.
— Sinto muito, meu amor, eu não queria – coloco a mão na sua boca,
impedindo que diga a bobagem que está pensando.
— Você não tem culpa de nada – beijo cada um dos olhos azuis que eu
tanto amo. — Foi eu quem quis saber, lembra?
— Por isso não queria falar, me dói te ver assim, tão triste e
decepcionada – estende a mão, e como tantas outras vezes, sei o que ele quer.
— Estou tão confusa, Erick, acho que preciso de um tempo pra digerir
tudo isso – aconchego-me em cima das suas pernas, me sentindo protegida
apenas por ter seus braços em torno da minha cintura. — Sobre a Cristina,
nada mudou. Ela ainda é a estranha que me abandonou.
— Ela foi levada a isso, Marina – defende.
— Se fosse só por isso, ela já teria me procurado – dou meu ponto. —
Também não acho que devo ficar remoendo isso, se nem sei onde ela está ou
se ainda tá viva – me dói pensar nessa última opção, afinal, é a minha mãe.
— Tem razão, se um dia achar conveniente e quiser saber como a filha
está, ela nos procura – diz, com praticidade, ao mesmo tempo em que,
distraidamente, brinca com a corda do meu roupão.
— O que dói mesmo é perceber que papai não era exatamente a pessoa
que eu achei que fosse – mal termino de falar e Erick vem em defesa do
amigo.
— Mari, sei que João não foi nenhum santo, que foi fraco por se deixar
enganar por Patrícia, mas, por favor, não ponha em dúvida o amor que ele
sentia. Seu pai tinha verdadeira adoração por você, Marina. Não havia nada
que ele não fizesse pra te ver feliz. Sabe disso?
— Claro que sei – admito, dando o braço a torcer.
Apesar de todos os defeitos, papai foi o melhor pai que uma garota sem
mãe poderia ter, diante dessa sujeira toda que foi a vida dos três, a única
certeza que tenho é a de que ele me amava. Do seu jeito torto, acredito que
até o fato de ele ter dado dinheiro para a Cristina ir embora foi na intenção de
me proteger.
Não digo que não ficou uma mágoa e até mesmo uma rachadura, mas
eu sei que vou superar. Só preciso ir visitar o seu túmulo, como sempre fiz e
relembrar tudo o que vivemos quando ele era tudo o que eu tinha.
— Você vai passar por cima disso tudo, meu amor, os erros deles não
têm nada a ver com você. A Patrícia pode até tentar, mas ela não vai trazer
esses erros para perto da gente.
— Só de te ter ao meu lado, me sinto capaz de enfrentar qualquer
obstáculo que se ponha no meu caminho – declaro, dando um beijo em seu
pescoço como agradecimento.
— Sinto o mesmo, minha pequena – ele diz, ao passar as mãos por
minhas coxas, que ficaram mais expostas depois que sentei no seu colo. —
Sobre o nosso namoro.

— Já tá tudo certo, não é mesmo? Se ela te ameaçava com isso, e você


já me contou tudo, não tem mais por que ela te chatear – digo, como se fosse
a coisa mais simples do mundo. E é mesmo, ou será que não é?
— Não é tão simples assim – responde, como se tivesse lido meus
pensamentos. — Não podemos subestimar essa mulher, lembra? Além disso,
ela não ameaçou só abrir a boca. Patrícia disse com todas as letras que é
capaz de fazer muito pior.
— Só não entendi uma coisa: o que ela ganha com tudo isso? O que eu
fiz pra ela?
— Patrícia achava que teria chance de me conquistar, antes de
assumirmos nosso namoro. Agora ela só quer se vingar, nos mantendo
separados – diz, mas eu não acredito que seja só por vingança seu desejo de
me separar do Erick.
— Essa mulher é no mínimo louca. E agora, vamos ficar nas mãos
dela, à mercê das suas vontades?
— No momento, temos que ser cautelosos, até que eu encontre uma
maneira de neutralizá-la. E isso só será possível se fizermos o que ela quer.
— E fazer o que ela quer, significa...
— Que nós vamos seguir seus planos, vamos terminar o nosso namoro.
Pelo menos é isso que Patrícia vai pensar.
Ele fala com uma assustadora tranquilidade e eu já não entendo mais
nada.
Cena
Erick

Atento e observando tudo à minha volta, torço para que tudo saia como
o esperado. Hoje, no último dia do prazo estabelecido pela louca, faço
exatamente o que ela exigiu.
Em frente ao escritório, onde o fim do dia deixa a rua ainda mais
movimentada de pessoas que apressadamente se dirigem para as suas casas,
fico me perguntando onde Patrícia está escondida. Doente do jeito que é, ela
certamente não iria deixar de ver com os próprios olhos a cena que eu fiz
questão que fosse aqui, em frente ao meu local de trabalho, onde curiosos
verão e ajudarão a espalhar a notícia.
Isso sim será um prato cheio para a mídia e línguas maliciosas. Não
ficarão dúvidas da veracidade dos nossos atos.
Alguns minutos depois, uma Marina arrasada e com uma expressão
assassina, vem como um furacão em minha direção. No ato, pessoas que até
então andavam apressadas e descontraídas, param para observar com
curiosidade a iminente briga de um casal. Para eles, não um casal qualquer, e
sim Marina e Erick, o casal que de repente passou a ser interessante para a
mídia.
— Erick, me escuta – ela segura as lapelas do meu terno, como quem
tenta me impedir de lhe virar as costas.
— O que você está fazendo aqui, Marina? – seguro suas mãos,
afastando-as para longe do meu corpo. — Eu não te pedi para esperar em
casa?
— Não pude esperar, você precisa me ouvir, querido – diz, tentando
me provocar com esse tratamento.
— Aqui não. Vá para casa, por favor – peço, dando sinal para que o
show comece.
— Não vou, me ouve, Erick – lágrimas começam a escorrer dos seus
olhos e ela volta a colocar as mãos em cima do meu peito. A ideia aqui é que
eu saia como o vilão de toda a cena.
— Tá vendo? Foi esse tipo de comportamento que me abriu os olhos
para o erro que estava cometendo em me envolver com uma garota como
você – mantenho o tom de voz alto o suficiente para que os curiosos e
Patrícia – que está em algum lugar por aqui – escutem.
— Uma garota como eu? O que quer dizer com isso? – ela parece estar
descontrolada e eu tenho que me esforçar para não cair na risada.
— Não me faça dizer o que eu não quero aqui meio da calçada,
Marina. Em casa nós conversaremos melhor – finjo virar-lhe as costas, só que
ela me impede ao segurar meu braço.
— Não, agora você vai falar – é insistentemente irritante. — Que tipo
de garota eu sou, Erick Estevan? – indaga, fazendo aspas com os dedos
quando diz a palavra “garota”. — Anda, que tipo de garota eu sou?
— O tipo irritante e infantil, que não tem maturidade nem pra entender
um pedido simples quanto esse – solto meu braço do seu agarre e continuo de
maneira dura. – É por isso que não temos mais como continuar.
— Você não pode estar fazendo isso comigo – começa a chorar. —
Não faz isso com a gente, meu amor.
— Acabou, Marina. Queria que fosse de outra forma – ela tenta se
aproximar e eu dou dois passos para trás, como se não quisesse o seu toque.
— Só que você não me deu alternativa.
— Você só queria me usar, cara, agora que se cansou está me
descartando como um pedaço de lixo – dramatiza ainda mais a situação.
— Você sabe que não é isso, respeito muito a memória do seu pai. Eu
só não te amo mais – dou o golpe final, ao mesmo tempo em que avisto
Patrícia se esgueirando por trás de uma coluna que fica do outro lado da rua.
Aparentemente satisfeita, ela observa tudo com atenção e sem notar
que eu lhe vi ali. Eu poderia muito bem ter feito isso de outra forma, só não
fiz porque quanto maior a nossa cena, maior será o seu convencimento de que
o término é real.
Não sei se sua mente doente cogita a ideia de que eu realmente não
quero mais Marina, ou a de que estou falando isso da boca para fora, apenas
porque fui obrigado. O que importa é que ela realmente acredite no que vê,
que estou fazendo exatamente o que me chantageou a fazer.
Fazendo isso aqui, em frente ao escritório e onde não só meus colegas
de trabalho, como qualquer outra pessoa possa nos ver, lhe deixará segura de
que não estou tramando nada por trás.
— Já amou algum dia? – seus olhos estão tão magoados, que meu
coração aperta dentro do peito.
Mais tarde preciso compensar minha linda por fazê-la ouvir esse tanto
de bobagem.
— Provavelmente não – digo, friamente. — Desculpa se te fiz pensar
de outra forma. Adeus, Marina – viro as costas, deixando-a sozinha e
chorando.
Os curiosos que desde o início acompanham todo esse circo, agora lhe
fitam, com pena.
Ao entrar no meu carro, vejo Patrícia sorrir satisfeita com o que viu e
virar as costas, indo – pelo que presumo – para o seu próprio carro. De
imediato, mando uma mensagem para minha gata, que ainda está parada no
mesmo lugar, recebendo palavras de carinho de algumas senhoras que
presenciaram o suposto término do seu relacionamento.
Ao longe, vejo-a abrir a bolsa, pegar o celular e abrir seu lindo sorriso
ao ler meu curto, porém sincero texto, que diz:

Parabéns, minha gata, você foi perfeita em tudo. Agora, limpe essas
lágrimas de crocodilo que nós só temos motivos para comemorar.

Instintivamente, Marina leva as mãos ao rosto, terminando de secar as


lágrimas que certamente não são de tristeza. Depois disso, ela se despede das
senhoras com carinhosos abraços, para em seguida entrar no carro, que
durante todo esse tempo teve Jorge como principal espectador, pois, seguindo
minhas ordens, ele esteve de olho para que nada saísse do controle.
Depois do que ouvi da Patrícia, proteger Marina tem sido minha
principal missão. Tenho ciência de que não posso passar a perna numa pessoa
como ela, sem pensar em todas as possíveis consequências.
A partir de hoje, Marina só sairá de casa acompanhada, seja na
companhia de Jorge com o carro ou de Ângela com sua moto. O importante é
nunca deixar ela sozinha.
Depois de um tempo, meu celular vibra, e pelo visor percebo que é
uma mensagem de Marina em resposta à minha anterior.

Te espero lá em casa, meu homem mau. Não vejo a hora de ser


recompensada. Não se preocupe com nada, Jorge é esperto e se tiver alguém
nos seguindo, ele vai dar um jeito de despistar.
Um beijo, onde você quiser que seja <3

Quando expliquei tudo o que estava acontecendo para minha namorada


e contei meu plano, ela logo se animou, afinal, é melhor ficarmos juntos e
escondidos por um tempo, do que separados e presos a uma chantagem.
Para que isso dê certo, basta que eu e ela tenhamos cuidado, pois não
imagino o que Patrícia é capaz de fazer se descobrir que estamos lhe
enganando, que ao contrário do que fizemos parecer, nosso namoro está mais
firme do que nunca.

— Finalmente, Erick – ela pula nos meus braços assim que abro a porta
usando a chave reserva. A outra eu lhe devolvi.
Quando pensamos em uma saída para o nosso impasse, decidimos que
para que o rompimento ficasse mais verossímil, seria melhor se eu deixasse a
mansão e voltasse para o meu apartamento, e foi exatamente isso que
fizemos.
— Eu não via a hora de chegar, minha linda – beijo seu pescoço
cheiroso e lhe carrego nos braços para o meu quarto, que agora eu chamo de
nosso.
Chegando lá, sento na ponta da cama, com ela sobre as minhas pernas e
digo, cheio de empolgação:
— E o Oscar de melhor atriz vai para...
— Marina! – ela bate palmas, exultante de alegria. — E das lágrimas,
gostou?
— Você foi perfeita, minha gata – elogio. — Tenho certeza que agora
ela deve estar se regozijando com a vitória.
— Será que Patrícia de alguma forma vai tentar se aproximar de você?
– indaga, preocupada.
— Se aproximar em que sentido? – ela não pode estar com ciúme da
louca.
— Dessa mesmo que passa pela sua cabeça – quando fala, toda rígida,
eu tento e não consigo segurar o riso.
— Amo quando sente ciúmes, minha menina possessiva – aperto sua
cintura, deixando-a melhor acomodada contra o meu sexo. — Tenho vontade
sabe de quê?
— De se comportar?
— Não. De te comer todinha, até que não consiga se mexer ou até que
entenda que só tenho olhos para você, minha gata – passo as mãos por baixo
da sua blusa. — Meu pau e meu coração pulsam por você – agora é sua vez
de rir.
— Mas, falando sério, toma cuidado com ela. Se na mente perturbada
já achou que poderia te conquistar, nada a impede de fazer alguma coisa para
te ter. Ainda mais agora que pensa ter eliminado uma concorrente.
— Pode deixar, princesa. Eu também não acredito que Patrícia esteja
fazendo isso apenas por vingança. Ela tem outros interesses além desse.
— É claro que tem, amor. Será que não percebe? Ela está de olho em
você – acusa, com convicção. — Acha mesmo que ela irá se contentar em
perder a mordomia que teve ao lado de papai durante todos esses anos?
Patrícia quer você e não vai medir esforços até conseguir isso – seus ombros
caem pelo desânimo.
— É por isso mesmo que devemos ser cautelosos a partir de agora.
Tenho medo de pensar no que ela pode fazer com você – confesso, ao tirar as
mãos de dentro da sua blusa e abraçá-la apertado. — Eu não sei o que seria
de mim se te perdesse, pequena.
Revelo o medo que me consome lentamente. Resolver essa situação e
garantir que estejamos bem e mais unidos do que nunca, em nada serviu para
abrandar o meu temor, pelo contrário, ele a cada dia cresce mais. Agora, além
dos pesadelos, tem o medo de sermos descobertos e das consequências que
isso pode causar.
— Vai dar tudo certo, Erick – Marina assevera, ao beijar minha boca
com carinho. — Quando ela descobrir tudo, nós já estaremos um passo à
frente. Eu confio em você.
— Chega de falar em coisas ruins – pego a barra da sua blusa e ela
levanta os braços para que eu possa tirá-la. — Que tal comemorarmos? Não
esqueça que agora nosso tempo é contado.
A pior parte disso tudo é não poder dormir a acordar do lado da minha
mulher. Ter que nos encontrar às escondidas.
— Nem me lembre disso – começa a desabotoar os botões minha
camisa, já que o terno eu deixei dentro do carro. — Nem sei como vou
dormir sem você – faz um biquinho, que eu logo desfaço com uma mordida
leve.
— Não se preocupe com isso, todas as noites eu vou te ligar e garantir
que tenha uma noite bem relaxada – pisco com malícia e ela entende o tipo de
conversa que teremos.
— Eita! – se anima. — E agora, o que pretende fazer, meu homem?
— Isso – sem aviso, levanto com ela nos meus braços, lhe jogo em
cima da cama, para em seguida cair por cima do seu corpo. — Se prepara
para a nossa foda de comemoração, porque ela está prestes a começar, minha
garota fogosa.
Por telefone
Marina

Depois de duas semanas, ainda não me acostumei a não ter Erick


dormindo e acordando do meu lado.
Tudo aqui em casa me faz lembrar e consequentemente sentir a falta
dele. Mas é de noite que os sentimentos ficam mais aflorados. É durante a
noite que fico me virando de um lado para o outro até tarde, sem conseguir
pregar os olhos, e quando finalmente consigo dormir, é porque meu corpo
sucumbiu à exaustão.
Mesmo ele me ligando todos os dias e ficando comigo ao telefone
durante várias horas, nem assim eu consigo deixar de lamentar a sua
ausência.
Seguindo o combinado, tentamos ser discretos, nos vendo apenas
quando a saudade já está apertada e quando julgamos ser menos arriscado.
A verdade é que não podemos botar tudo a perder, não quando Erick
está na iminência de descobrir algum podre na vida da chantagista, que me
nego a pensar que tenha meu sangue correndo nas veias.
Durante os dias, segui minha rotina, só que sempre acompanhada de
alguém. Quando tenho que estar no estúdio, Jorge me leva e me busca, ao
estar em casa, sempre tenho Ângela ou Maya como companhia. Minhas
amigas sempre estão presentes para me consolar pelo termino do meu
namoro. Nestas horas, eu me lamento por não poder contar a verdade para
elas, mas é preferível fazer isso a deixar que mais alguém se envolva e corra
algum tipo de risco. Já basta o Bruno estar envolvido até o pescoço. O
diferencial é que esse sabe se cuidar, segundo palavras do próprio e do Erick.
Diferente do que queríamos, Erick e eu não podemos passar todas as
noites juntos. Teve umas em que eu sorrateiramente passei no seu
apartamento e outras em que ele, disfarçado de jardineiro, entrou pela
garagem e veio para o meu quarto.
Não importa como, Erick e eu sempre damos um jeito de estarmos
juntos. Seja na mesma cama ou por telefone, sozinha eu sei que não estou.
Tem horas que a saudade da rotina aperta, mas no coração tem a alegria de
saber que apesar de tudo, estamos bem e felizes. Há também a esperança de
saber que um dia isso vai acabar, que como antes, poderemos nos amar sem
ameaças ou barreiras de tempo e linhas telefônicas.
Hoje, a barreira da linha telefônica até que não seria tão mal. Ruim
com ele... pior sem.
Pela centésima vez, olho para o visor do celular e nada. Já são 10h15
da noite e Erick não me ligou.
Sua falta de notícias me traz dois tipos de sensações. A mais egoísta,
que é meu lado que não se aguenta de ansiedade por ouvir sua voz, e o lado
mais responsável, que não deixa de se preocupar e perguntar se algo de ruim
lhe aconteceu.
Cinco minutos depois, quando o telefone toca, eu nem me dou ao
trabalho de olhar o visor e já atendo, dizendo:
— Amor, tudo bem? – preocupada, pergunto sem respirar.
— Ei, calma, pequena. Tá tudo bem, respira – como se suas palavras
fossem um calmante, faço exatamente o que me pede e puxo uma longa
respiração. — Isso, faça de novo – espera, e quando faço, ele continua: —
Está melhor?
— Sim... Hoje você demorou e eu fiquei preocupada – admito.
— Perdão, linda – pede, com sua voz grossa e sempre segura que traz
sentimentos diversos. Quando estamos num momento de intimidade, ouvi-lo
só aumenta o meu tesão, e quando o assunto é sério, sua voz me traz sensação
de paz e segurança. — Estive tão concentrado com as descobertas que eu e
Bruno estamos fazendo, acabei perdendo a hora.
— É sobre a Patrícia? – indago, na esperança de essa situação estar
próxima do fim.
— É, sim, linda. Ainda não são fatos concretos, mas estamos chegando
lá – afirma, e sua animação termina por me contagiar.
— Ótima notícia, querido. Eu não suporto mais dormir longe de você –
choramingo, quem sabe ele não venha até aqui.
— Eu também não, princesa – confessa. — Eu sinto falta do seu
pequeno corpo colado ao meu, das manhãs em que fazíamos um amor
gostoso antes de ir para o escritório; sinto falta até do cheiro do nosso quarto.
Esse aqui, apesar de ter usado por muitos anos, parece o quarto de um
estranho. Só melhora depois que você passa a noite aqui, é quando seu cheiro
fica impregnado nos lençóis.
— O mesmo aqui, querido – digo, e já não ouço seu resmungar. Mais
uma vez ele se curou do trauma que a palavra lhe causou.
— Queria estar aí.
— Então vem – chamo no ato, mesmo sabendo que as coisas não são
tão simples. Mas não custa nada tentar.
— Sabe que não podemos, amor – dá a resposta esperada. — Se quiser,
podemos improvisar.
— Improvisar? – indago, mesmo desconfiando das suas intensões.
— Sim, minha linda. Improvisar – através da linha, ouço a sua risada
maliciosa, e começo a imaginar a cara sacana que faz nesse momento. – Me
diga, o que minha garota safada está vestindo?
— Quer a verdade ou que eu invente? – brinco com a situação. É típico
dessas situações a invenção de uma realidade mais instigante.
— A verdade, sempre a verdade, meu bem. Até porque, você não
precisa de muito pra me fazer sentir desejo.
— Vamos ver... Sabe aquela sua camiseta verde? – pergunto, ao olhar
para o corpo preguiçosamente sentado e escorado na cabeceira aconchegante
da nossa cama. — Então, não visto nada além dela. Sabe como são as coisas,
não é, meu amor? Nesse dia abafado, eu prefiro não ter nada me prendendo,
principalmente uma calcinha.
— Deve estar uma delícia, minha gata. Se eu estivesse aí, você estaria
vestida com bem menos que isso – um arrepio sobe por minha pele, só por
imaginar em que eu estaria vestida.
— E você, meu homem carente? Deixa eu adivinhar... está pelado?
— Quase isso, se você quiser e pedir com jeitinho, eu posso ficar pra
você – diz, e eu rio com a sua falta de limites.
A melhor parte de namorar um homem mais velho e experiente é o fato
de ele saber me introduzir nas mais devassas situações e depois dele, eu não
imagino negando algo que deseje, ainda mais quando sei que não faria nada
que eu não fosse gostar. Erick é o sonho de consumo de muitas mulheres.
Homens do tipo que só se encontra nos livros de romance.
— Visto somente aquele moletom cinza. Lembra dele?
— Você sabe que sim – como não lembrar? O bendito moletom que o
deixa mais gostoso do que já é, que marca as partes mais interessantes e
deliciosas do seu corpo.
— Marina, eu já disse o quanto os seus seios são lindos? – suas
perguntas nada inocentes estão começando a me deixar quente.
— Não tão especificamente. Mas, acho que as marcas que eles
carregam deixam isso bem claro.
— Eu amo o fato de eles serem tão alvos e firmes. Do tamanho que
cabem perfeitamente em minhas mãos. Minha boca saliva todas as vezes em
que eu coloco os olhos neles. Fico com vontade de fodê-los com o meu pau e
chupá-los com a minha boca.
— Não faz isso, Erick, não quando não pode vim me satisfazer – me
lamento.
— Imagine que eu estou – o tom da sua voz já mudou e amo saber que
as suas provocações não atingem somente a mim. — Quero que toque seus
seios imaginando que sãos as minhas mãos que os tocam – obedecendo ao
seu comando, toco meu seio direito, ficando verdadeiramente excitada. Mais
abaixo, minhas coxas se juntam, na tentativa de aliviar o desejo que começa a
se acumular no meio das minhas pernas.
— Amor, eu preciso tanto de você – não posso deixar de pedir. —
Preciso que preencha esse vazio que estou sentindo.
— Estar com você é tudo o que eu mais quero. Eu e meu pau estamos
doidos de vontade de você, de querer aplacar essa dor que somente nós dois
podemos curar.
— Sim... – ofego baixinho, e por um segundo pensando que jamais
imaginei ser o tipo insaciável de mulher, das que sobem pelas paredes quando
sentem falta do seu homem.
— O quão molhada você está neste momento, querida? –
instintivamente, desço a mão para o meu sexo depilado. — Me fala, o quão
precisada a minha mulher está?
— Molhada, muito molhada... – toco-me, ao gemer no seu ouvido.
— Você ainda vai me matar, Marina – fala, ofegante, e eu o imagino na
mesma situação que eu.
— Eu quero gozar... – jogo o celular na cama quando, assustada, vejo
meu quarto ser invadido.
— E você vai, gostosa – um Erick esbaforido, vestindo a mesma calça
moletom que disse usar e uma camiseta preta, para na minha frente, e com os
olhos famintos na minha boceta visivelmente à mostra.
— Meu Deus! Você é louco – ainda não sei definir qual o sentimento
predominante, se é a surpresa ou alegria por tê-lo aqui.
— Louco por você, minha safada – tira a camisa e se deita em cima de
mim. De imediato, desço as pernas, que até então estavam dobradas, e as abro
amplamente para melhor acomodá-lo.
— Melhor? – duro feito uma pedra, meu namorado se ajeita entre
minhas pernas e confessa. — Porque eu estou, só de sentir o seu cheiro... –
beija a minha boca com desejo.
— Sim... Como você veio...? – tento perguntar, mas sua boca
gananciosa não deixa a minha.
— Depois eu te falo. Agora, eu só quero te amar – abaixa a parte da
frente do moletom e eu termino de tirar quando o arrasto com os pés até o seu
tornozelo.
— Então vem!
Quando dou sinal verde, Erick sai de cima de mim, estende a mão, faz
com que eu enrole as pernas na sua cintura e me leva para junto da pilastra
que fica meio do quarto.
Quando me tem com as costas apoiadas no concreto, ele chega com o
rosto perigosamente perto do meu e assevera:
— Dessa vez eu quero te comer assim, de pé, sustentando todo o peso
do seu delicioso corpo e depois você vai me agradecer por tão prontamente
ter vindo atender os seus desejos, madame.
— Posso saber que tipo de agradecimento meu homem tem em mente?
– provoco ao seu pé de ouvido.
Com os olhos soltando faíscas, Erick chega bem perto da minha orelha,
e o que ele me pede tem o poder de me deixar sem voz e mais vermelha do
que uma pimenta malagueta.
Por trás
Erick

— Safada – invisto dentro da sua boceta apertada, que molha o meu


pau com as evidências do seu desejo.
Enquanto eu meto do jeito que minha gostosa aprendeu a gostar, suas
costas, que estão apoiadas contra a parede, recebem solavancos que a
impulsionam para cima, para em seguida descer lentamente ao encontro do
meu cacete. Com as pernas firmemente enroladas em volta da minha cintura e
as unhas fincadas no meu ombro, minha gata deliciosa tem o quadril e a
bunda agarrados por minhas mãos, enquanto eu meto sem sentido, ardente de
desejo e de um tesão que nunca se esvai. Quanto mais eu fodo Marina, mais
eu tenho vontade de fodê-la.
— Gostoso. Tão gostoso, Erick – com as costas na parede e os quadris
cada vez mais longe dela, meu amor me proporciona a excitante e bela visão
do meu pau entrando e saindo do seu sexo apertado e todo depilado, do jeito
que eu gosto.
— Tá vendo? Isso aqui somos nós. E eu e meu pau possuindo o que
nos pertence. A boceta que ninguém nunca vai ter ou tocar – falo, ofegante,
sem parar de meter lentamente e vendo seu centro guloso me engolir com
ganância. — Diz pra mim. Fala que é minha e que ninguém jamais te tocará
além de mim – paro os movimentos quando estou profundamente dentro dela
e olhando dentro dos olhos perdidos em sentimentos, imploro:
— Fala isso, por favor, amor. Eu preciso – uma agonia inexplicável
toma o meu peito.
Pode parecer exagero pedir que me fale algo tão radical e definitivo,
mas são sentimentos que não posso controlar. Depois de quase ter feito a
besteira de perdê-la, toda a possessividade que mantenho sobre um duro
controle rompeu as barreiras e agora corre solta. Em total sintonia e sabendo
exatamente do que preciso, minha menina segura minha cabeça e contra a
minha boca, respirando o mesmo ar que eu, diz:
— Só sua. Hoje, amanhã e para sempre – afirma, com convicção e
emoção.
— Sim, sempre – digo, voltando a me mover de dentro para fora.
Sentindo que está perto de gozar, forço um pouco mais sua bunda e
com as nossas pélvis grudadas uma na outra, sussurro no seu ouvido:
— Já tem a sua resposta, meu amor? – sopro, e o bate e volta continua.
Não quero que isso pareça uma tentativa de pressioná-la a fazer o que
eu quero. Só insisto porque nesses últimos dias em que nosso sexo atingiu um
patamar de maior intensidade e intimidade, ela demonstrou querer isso tanto
quanto eu, sempre que ousava acariciar o seu lugar proibido e intocado.
Quando a transa fica mais intensa, meto pouco a pouco o dedo
indicador na sua bunda e, tirando a primeira vez e que ficou tensa com a
inesperada invasão, nas outras ela não só apreciou o carinho mais ousado,
como também me auxiliou nas ações. Como esquecer da sua deliciosa bunda
se abaixando contra o meu dedo, que depois de melados com o nosso próprio
gozo, passaram a ser dois.
Então sim, depois dessas ousadias, eu não consigo pensar em nada que
não seja comer a sua bunda que eu tanto amo. Se ela quer e eu também quero,
só preciso fazer o certo para convencê-la de que não tem nada a temer, que
depois da dor vem o prazer e que depois do prazer, vem o vício. Marina vai
perceber que tanto quanto ama me dar a sua boceta, vai se deliciar em me
deixar comer a sua bunda.
— Resposta de quê? – indaga, perdida, já que está mais concentrada
nas socadas que meu cacete dá dentro na sua abertura flamejante. — Me faça
gozar, amor... – leva a mão à boceta e começa a se acariciar.
— Vai me deixar comer a sua bunda? – pergunto, e de propósito,
diminuo a velocidade das estocadas. A intenção aqui é retardar o máximo
possível do nosso orgasmo. A experiência me ensinou que quanto mais
intensos vierem, mais gostosos e proveitosos serão.
— Anal? – finalmente se acha na realidade, quando uma gota de suor
escorre de sua têmpora para entre os seios, que se mostram deliciosamente
vermelhos, em consequência das minhas mordidas e chupadas.
— É, amor. Anal, do tipo que eu meto o pau dentro do seu cuzinho e
você geme de prazer e me xinga dos nomes mais obscenos a cada socada que
eu der dentro dele – Marina fica vermelha e sei que é tanto de tesão quanto de
vergonha da minha boca suja, coisa que ela já devia ter se acostumado, se não
fosse um pouco tímida na hora do sexo.
— Vai fazer com jeitinho? – o biquinho que me mata se faz presente e
eu mordo os seus lábios, os puxando para dentro da minha boca e com a
língua aliviando a mordida. Já fizemos isso tantas vezes, que ela o faz de
propósito, sabendo qual será a minha reação. — Ele é tão grande e grosso...
— Do tamanho exato para o seu prazer, minha gostosa, nada pra te
machucar. Lembra-se dos meus dedos, de como você apreciou ser acariciada
por eles? Então, você está mais que preparada, linda – digo, sabendo que ela
esperava ser convencida. Porque vontade de me dar sei que tem de sobra.
— Como você anda merecendo – diz, próxima ao meu ouvido, num
tom safado, assim como ela é — conquistou o passe livre para a sua tão
desejada bunda.
— Bundinha essa que você também quer me dar – ela não nega, apenas
sorri, enigmática. — Por que você é uma puta safada. Eu te fiz assim, seu
homem.
— Meu garanhão gostoso – volta a movimentar o quadril em cima do
meu pau e eu decido que chegou a nossa hora.
— Você quer gozar, não é, safada? Então goza, porque estou junto de
você – dou mais uma, duas... seis arremetidas duras e são elas o suficiente
para que alcancemos o nosso pico de prazer.
Na medida em que sua boceta mela o meu cacete, alago seu sexo com a
minha porra e não há nada que me deixe mais possessivo do que enchê-la
com o meu esperma. Ver por suas pernas escorrerem a minha marca.
Acho que sensação melhor sentirei apenas quando esse esperma
encontrar o caminho certo e eu preencher o seu ventre com a minha semente,
e mesmo que com sua prevenção isso seja improvável no momento, esse
pensamento me vem à mente, sempre que gozo dentro da sua boceta.
— Gostosa, muito gostosa... – ela convulsiona por todas as partes do
meu corpo. São pernas enroladas na minha cintura, braços em volta do meu
pescoço, e eu tenho todo o meu mundo nos braços.
— Nossa... Erick, isso foi... Uau – eu e ela respiramos aos tropeções e
com pernas bambas pelo sexo e orgasmo intenso, me dirijo novamente para a
nossa cama e ao chegar, lhe coloco carinhosamente sentada e vou até à
cabeceira pegar três travesseiros.
Sob seu olhar ainda lânguido, posiciono os três no centro da cama, um
em cima do outro, e quando acho que estão numa altura correta, peço:
— Amor, agora eu preciso que você deite de bruços e com o quadril
em cima deles – aponto para os travesseiros bem posicionados. — Se estiver
desconfortável, me avisa. Quietinha, que eu já volto – peço.

Em seguida, vou para o banheiro, pego o tubo de lubrificante e quando


saio, a cena que me espera faz meu pau acordar como se não tivesse acabado
de se esbaldar nessa delícia de corpo pecaminoso.
No meio da cama e do jeito que eu pedi, meu amor tem abdômen e
quadril apoiados na pequena montanha de travesseiros e a bunda bem
arrebitada, especialmente para os meus olhos.
Cheio de desejo, chego perto dela, pairo o corpo sobre o seu e depois
de tirar os cabelos do seu pescoço, digo, bem perto da sua boquinha
vermelha:
— Espero que aproveite, meu amor – distribuo beijos por seu pescoço,
enquanto mais abaixo o meu pau cutuca as bandas da sua bunda.
— Sei que vou – assegura, toda ansiosa pelo desconhecido, quando
pouco a pouco vou descendo beijos e chupões por suas costas. Ao chegar ao
meu local desejado e já ouvindo sua respiração mais curta, dou mordidas em
cada banda da sua bunda, para depois abri-la com as duas mãos.
Com os olhos queimando de tesão e a fim de deixá-la preparada,
primeiro desço minha boca, passado a língua ao redor do seu ofício, para
depois umedecê-lo o com os fluidos do nosso recente orgasmo.
— Tudo bem, amor? – enfio o dedo indicador e quando ela confirma
com a cabeça, coloco o segundo dedo.
Com movimentos de entra e sai, fico estimulando a sua boceta e ela
corresponde ao oferecer a sua bunda com entusiasmo. — Você é uma delícia,
Marina, agora eu vou te comer do jeito que nós dois queremos, tudo bem?
— Agora – pede, mesmo sabendo a dor inicial que vai sofrer.
Tendo-a pronta e na mesma frequência que eu, volto a lambuzar seu
orifício com os líquidos da sua boceta e o meu pau com boa quantidade de
lubrificante.
— Perdão, amor, vai ficar tudo bem. Tão bem que você vai querer
repetir, eu prometo – cuidadoso e segurando sua bunda bem aberta, começo a
enfiar a cabeça robusta do meu pau, até que ela começa a se retrair.
— Calma, linda – firmo seu quadril no lugar. — Para que dê certo,
você tem que fazer movimentos de empurrar, tudo bem? – ela diz que sim e
eu continuo. — Isso, fique bem relaxada – confiando e fazendo o que instruí,
meu pau pouco a pouco vai entrando em sua bundinha e quando já está na
metade, ela protesta em agonia:
— Ai, porra – olha para trás e em seus olhos vejo o brilho de lágrimas
querendo se formar. — Sai, você vai me partir ao meio, caralho – protesta,
me fazendo pausar a invasão e reacender o seu tesão com movimentos em seu
clitóris inchado e hipersensível.
— Tudo bem, amor – agora ela geme e me xinga entre lágrimas. —
Isso, tô quase lá – continuo enfiando até que esteja todo dentro do seu
cuzinho apertado.
— Ai, meu Deus! – reclama, com a respiração entrecortada. — Pode se
mexer, por favor? – depois de um tempo esperando que se acostume, ouço a
sua pergunta.
— Tem certeza? Nós podemos...
— Faz isso logo, filho da puta – tenho vontade de rir do seu
destempero.
Sem deixar de estimular sua boceta com os dedos, saio vagarosamente,
até deixar apenas a cabeça. Depois de uma respiração e tendo a passagem
facilitada pelo lubrificante, meto com tudo até a base e nesse momento, o
grito que ela dá é capaz de ser ouvido em outro continente.
— Desgraçado – deixa seus braços, que estavam apoiados no cotovelo,
caírem e somente a bunda continua firme, aberta e empinada para a minha
invasão. — Você vai me partir ao meio – reclama, mas não deixa de trazer a
bunda de encontro às minhas arremetidas.
— Quer que eu pare? – indago, para ter certeza, mesmo que seus
gemidos – que não são de dor – digam a resposta.
— Não... Mais rápido – entro com um pouco mais de pressão em seu
buraquinho, que de tão apertado, está a ponto de esfolar meu pau. — Isso,
mais... mais – entro e saio, todo suado e em cima do seu corpo bem menor
que o meu.
— Tá gostando de me dar esse cuzinho, não é, sua puta?
— Muito – suas costas brilham de umidade e eu, com cuidado para não
machucá-la, puxo um punhado do seu cabelo, trazendo seu corpo para junto
do meu.
Agora, com suas costas coladas no meu peito e com nós dois de joelhos
no centro da cama, continuo as arremetidas do jeito que ela gosta, enquanto
com uma mão aperto os bicos do seus seios e com a outra, meto dois dedos
dentro da sua boceta alagada.
— Tá gostoso, não é? – cravo os dentes no seu pescoço alvo. — Me
diga o que sente.
— Gostoso, muito gostoso – olha para trás e eu puxo sua língua macia
para dentro da minha boca, sem nunca deixar de meter com o pau e lhe
acariciar com as mãos.
— Olha só como somos bons juntos, minha gostosa, eu estou todo em
você. Meu pau comendo o seu cuzinho como nós dois queríamos. Esses seios
firmes que tenho verdadeira adoração – belisco com a força necessária e ela
geme ruidosamente. — E essa boceta quente que é meu paraíso particular –
com força e na mesma velocidade que o meu sexo, meto os dedos na sua
boceta. — Goza pra mim, sua puta, quero que me mostre o quanto gosta de
me dar essa boceta e esse cuzinho apertado.

— Desgraçado! Filho da puta! – leva a mão para trás da minha cabeça,


puxando meu cabelo com força, quando aumento as socadas tanto na sua
bunda quando na boceta.
Com a cabeça virada para trás e nossas línguas duelando, gozamos
intensamente. Eu esporrando dentro do seu cuzinho e ela umedecendo a
minha mão com a prova do seu desejo.
Suados, ofegantes e sem forças, sinto quando os seus joelhos perdem as
forças e de bruços e me levando junto, minha mulher tomba sobre a cama.
Por cima e ainda dentro dela, confesso, com o fôlego curto:
— Você ainda será a minha morte, menina – tiro o pau já meio
amolecido do seu ânus, para depois sair das suas costas e me jogar do seu
lado. Com um rosto que não esconde a exaustão de duas rodadas de sexo, ela
sorri preguiçosamente e diz:
— Eu sei que você aguenta, tio – pisca, e eu acho graça da provocação
que antes me irritava. — Meu traseiro tá tão dolorido, uma dor estranha e
também gostosa – fico feliz com suas palavras. — Será que conseguirei andar
amanhã?
— Se não conseguir, eu te carrego, Mari. Não se preocupe – brinco,
tentado esconder a tristeza por não poder fazer isso, já que estamos vivendo
como criminosos.
— E eu vou dizer o quê? “Oi, gente, não posso caminhar porque dei o
cu”?
— Se preferir – ela mete um tapa seco no meu braço e eu não seguro o
riso.
— Que bom que veio, querido – diz, bocejando. — Estava sentindo sua
falta.
— Eu também, princesa. Não poderia dormir sem te ter – confesso. —
Quando te liguei, já estava igual um louco, dando voltas de carro aqui por
perto.
— Te amo por isso – declara, e eu recebo como se fosse música para os
meus ouvidos.
— Só por isso? – sorrindo, ela confirma com a cabeça. — Vem, vou te
dar um banho de banheira e cuidar desse seu rabinho delicioso.
— Agradeço – se aproxima e beija meu peito suado.
— E aí, gostou de fazer sexo anal?
— Apesar de estar meio doída, foi uma experiência maravilhosa. Uma
coisa tão transgressora, e pecaminosa... Eu quero fazer de novo – pede,
animada.
— Nós vamos, sua deliciosa – tiro os fios de cabelos suados da sua
testa. — Muitas e muitas vezes – garanto. — Agora, deixa de ser preguiçosa
e vem para o banho.
Pego minha pequena nos braços, e feliz, a carrego para dentro do
banheiro.
Futuro
Marina

Deitada e com a cabeça descansando no peito forte do Erick, aceito o


seu carinho feito com a ponta dos dedos no meu couro cabeludo. Mesmo
caindo de sono, não me permito fechar os olhos; não posso e não quero
perder o tempo que temos para ficarmos juntos. Depois de tudo o que
aconteceu e de estarmos sendo obrigados a namorar escondidos, o nosso
tempo juntos, que já era valorizado, passou a ser mais ainda.
Não quero pensar que daqui a pouco Erick vai levantar e ir para o seu
apartamento, onde tanto eu quanto ele estaremos em camas separadas,
sofrendo a ausência do outro.
Depois de experimentar o seu tão desejado sexo anal e de me ouvir
dizer que tinha adorado a pecaminosa experiência, meu namorado com todo o
cuidado me levou para o banho e depois de cuidar das minhas áreas
doloridas, lavou-me por completo, para enfim tomar o seu banho e nos deitar
sobre a convidativa cama de casal.
— Posso saber por onde andam os pensamentos da minha mulher? –
indaga, e eu levanto a cabeça para fitar o seu belo rosto.
Acho que nunca vou me acostumar com a beleza desse homem. Não é
uma beleza comum, longe disso. Erick tem um rosto forte, passando até
mesmo arrogância, com seus frios olhos azuis e sua costumeira cara de mau.
O que fascina não só a mim como também ao resto das suas admiradoras, é
toda essa virilidade e a pose de macho alfa que fazem qualquer uma desejar
ser protegida por ele.
— Nada demais, apenas pensando no quanto você é lindo, sexy, viril e
gostoso.
— Gostosa e linda é você, mulher – segura minha mandíbula, e quando
estou com o bico igual à boca de um peixe, ele dá um beijo nela e depois uma
mordida no lábio inferior.
— Eu amo quando você me chama de minha mulher – admito.
— Você é minha mulher e eu sou o seu homem – afirma.
— Sim, meu homem perverso – lembro-me da forma pervertida como
fodeu a minha bunda, das palavras sujas que nem eu sabia gostar tanto de
ouvir. Não só ouvir, já que a cada dia eu fico mais desinibida e tão boca suja
quanto ele.
— Seu homem perverso ainda vai foder muito esse seu cuzinho
apertado, minha safada – chega meu corpo mais para perto e aperta minha
bunda com gosto.
— E eu não irei reclamar – apesar da dor inicial que me deu a sensação
de que seria partida em duas e de não saber se conseguirei caminhar amanhã,
achei a experiência muito prazerosa e certamente terei vontade de fazer de
novo.
É indescritível a sensação de pertencer a ele de todas as formas.
— Sei que não, até porque a sua bunda é o segundo lugar preferido do
meu pau, só perde mesmo para sua boceta que é a nossa pequena amiguinha –
ele fala e ri das próprias palavras.
— Você é um cachorro, safado – digo, olhando para o seu sorriso
sacana.
— E você é minha putinha mais safada ainda – traz minha perna para
cima do seu quadril.
Ainda bem que estou vestida com um pijama que consiste em uma
blusa fina de alcinha e um shortinho curto de malha e ele com sua boxer
branca, porque pelo rumo que esse papo está indo, se a passagem estivesse
livre, já estaríamos indo para o terceiro round da noite.
— Achei que era a sua mulherzinha – com minha perna na sua cintura,
o provoco, quando colo nossos sexos protegidos.
— E você é – diz, ainda com a mão na minha bunda. — Agora é minha
mulherzinha, depois minha esposa e depois a mamãe dos meus bebês – a
cada etapa dos seus planos, ele deixa um beijo em uma parte do meu rosto.
Com os olhos arregalados, não sei se acho engraçado o fato de ele ter
falado tudo no diminuitivo ou se pela descoberta desses planos. A única
certeza que tenho é de que estou muito feliz. Viver todas essas fases da minha
vida é tudo o que eu quero para o futuro, desde que seja com ele.
— Erick, você quer tudo isso, de verdade? – tenho que confirmar que
não estou delirando aqui.
— É o que eu mais desejo, meu anjo – revela, sem titubear. — Quero
casar com você, ter você oficialmente minha. Poder te dar uma aliança e
chamar de minha esposa.
— Isso por acaso é um pedido? – minha boca grande tenta nos
constranger.
— Ainda não, princesa. Mas muito em breve será – tenho vontade de
pular de alegria. — É só que...
— Que foi, Erick? – vi que de repente ficou apreensivo.
— Você ainda é tão nova – analisa meu rosto com cuidado. — Tem
apenas dezoito anos. Eu só não quero roubar a sua juventude...
— Não começa com isso, por favor – peço, por não suportar o rumo
que os seus pensamentos estão querendo tomar. — Sou eu quem deve
escolher isso. Tire essa ideia da cabeça, amor. Não percebe que não está
roubando coisa alguma? Que mesmo estando praticamente casada, eu ainda
assim continuo com meus amigos, tendo minha independência e trabalhando
com o que gosto?
— Eu sei, mas...
— Não tem mas nem meio mas, Erick – interrompo. — Quando você
achar que é o momento, vai me fazer o pedido, e cabe a mim dar a resposta
certa e julgar o que é melhor para nós dois – ao fim, beijo a sua boca.
— Quanto aos bebês? – desce os olhos para a minha barriga lisa.
— Você os quer?
— Muito, fico duro só de imaginar meu bebê aqui dentro – passa a mão
por meu ventre. — Te ver com a barriga enorme, exibindo para o mundo o
fruto do nosso amor.
— Pensamento mais besta esse seu – lhe repreendo.
— Você me faz muito possessivo, amor, e eu te garanto que antes de
você, essa não era minha principal característica. Vai aguentar esse velho
turrão no seu encalço? – debocha da nossa diferença de idade.
— Você sabe que não tem uma única veia velha, não sabe? – Erick,
com o seu sorriso quente, apenas dá de ombros e continua passando a mão
por minha perna, que descansa no seu quadril. — É mais fácil eu criar
cabelos brancos por tentar espantar as suas fãs loucas – meu sorriso morre um
pouco por lembrar que Patrícia é uma delas. Só Erick ainda não se deu conta
disso. Essa suposta vingança é só uma desculpa por não ter ele.
— Admita, nós somos dois ciumentos e possessivos – morde meu
pescoço, antes de lamber dele até o ombro.
— Somos mesmo. Mas em minha defesa, eu digo que somente cuido
bem do meu homem.
— E eu da minha mulherzinha gostosa, que não sabe o quanto chama
atenção.
— Só quero chamar a sua – revelo, mesmo que não precise. — Quanto
aos bebês...
— Não os quer? – volta o rosto, que já estava perto dos meus peitos,
para o meu rosto.
— Claro que sim, no momento certo. Antes, tenho alguns objetivos a
cumprir.
— Nisso eu tenho que concordar, antes dos filhos eu vou ser um pouco
egoísta. Quero você só para mim, por um bom tempo – a mão esquerda
continua acariciando a minha barriga. — Ainda vamos transar muito, antes de
sermos interrompidos por choros de bebês.
— Esse é o plano – pisco.
— E como andam as coisas lá no estúdio, linda? – pergunta, e eu amo o
fato de ele ser tão atencioso com tudo o que se refere a mim, nunca deixa de
me perguntar sobre o meu trabalho. Quando morávamos juntos, tínhamos o
costume de contar um para o outro como foi o dia de trabalho.
— Tá tudo ótimo, a Lua a cada dia me dá mais autonomia nas
campanhas que fotografamos, e isso me deixa segura do trabalho que estou
fazendo.
— Fico feliz por você, querida. Já pensou em montar o seu próprio
estúdio?
— Você acha que devo? – indago, animada. Já tinha pensado na ideia,
mas ouvi-lo propor significa demais para mim. Isso deixa claro que confia no
meu potencial.
— Muito, amor, eu já vi seu trabalho e é muito bom – a mão que estava
no meio já está na parte final da minha barriga e os dedos ultrapassaram o
elástico do short. — Quando quiser, pode contar com minha ajuda.
— Eu sei – abraço a sua cintura, voltando a encostar nossos sexos, e
prendendo sua mão no meio deles. — Vou ficar mais um pouco, conseguir
mostrar melhor o meu trabalho e então me arriscar.
— Esse sim é um excelente plano, minha garota esperta – elogia e
ameaça enfiar a mão dentro do meu pijama.
— Dorme aqui hoje? – faço o biquinho que sempre o desmonta. Vendo
que ele não diz nada, continuo. — Eu não aguento mais isso, estou cansada
de ficarmos nos esgueirando como dois criminosos.
— Tá acabando, eu prometo.
— Tem certeza?
— Tenho. Bruno e eu temos evidências de que ela anda envolvida com
um escândalo de desvio de dinheiro em uma grande empresa. Antes,
precisamos reunir todas as evidências e só então cercar Patrícia.
— Que bom, não vejo a hora de ter tudo como era antes – reclamo, e
no meio do papo, o safado já tem a mão totalmente dentro do meu short.
Como estou sem calcinha, ele tem total acesso, mas prefere ficar com a mão
parada, como se nada estivesse acontecendo.
— O mesmo aqui – afirma, me fazendo olhar para onde sua mão se
perde.
— Que foi? – na maior cara dura, pergunta. — Estou apenas deixando
ela aquecida, aqui dentro está tão quentinho – abaixa a cabeça e morde a
pontinha da minha orelha.
— Cachorro – digo, ao perceber que sua boca suja me pegou de vez.
— Cadela – devolve, insinuando o dedo médio entre os lábios da
minha boceta.
— Não me diga que você está querendo transar de novo, Erick? –
pergunto, e o sacana dá um sorriso de canto.
— Tudo bem, eu não digo. Mas eu tô querendo trepar, sim – meus
olhos arregalam. Como pode ser tão insaciável assim? Já transamos duas
vezes e nem faz uma hora que terminamos a última.
Quem estou querendo enganar, se eu também não negarei fogo, caso
ele realmente queira fazer sexo pela terceira vez?
— Não tem que ir embora? – fico torcendo para que diga que não.
— Tenho, sim, mas não tô a fim de ir, assim como nós não vamos
transar.
— Não vamos? – entrego que também queria.
— Não, Marina. Hoje eu judiei demais de você, capaz de acordar
assada pela manhã – seu dedo já está num entra e sai cadenciado na minha
boceta, que começa a ficar muito molhada.
— E essa mão? – espero que não entenda como uma reclamação, até
porque meu quadril já está a todo vapor, se insinuando de encontro a seu
dedo.
— Não transar não significa que não posso te fazer gozar – desce
minha perna da sua cintura, olha para o seu pau que ostenta uma evidente
ereção e eu entendo o que ele pretende.
— Tem razão – digo, ao receber a língua dentro da minha boca.
Mais abaixo, temos o meu pijama descido até o meio das pernas, e a
sua cueca boxer abaixada o suficiente, enquanto nossas mãos trabalham, se
masturbando mutuamente.
Nossa noite termina com nossos corpos exaustos, porém satisfeitos e
com um sorriso no rosto, eu adormeço com a esperança de que tudo vai ficar
bem e de que em breve terei o meu amor de volta em casa.
Pesadelo
Erick

— Amor – desperto, com a cabeça quase explodindo de dor, e como de


costume, olho para a janela e vejo que o dia começa a amanhecer. Pela fresta
da janela, percebo que amanheceu e está estranhamente nublado,
considerando o clima quente do dia anterior.
— Cadê você? – ainda desnorteado e meio dormindo, estico a mão até
o lado em que Marina costuma dormir e o encontro frio e vazio.
— Vamos lá, atrás da garota fujona – trajando um moletom escuro,
uma das peças que deixei no nosso closet antes de me mudar, levanto, calço
meu chinelo de dedo e rapidamente desço as escadas.
— Marina? – chamo, depois de chegar à sala, que está em completo
silêncio. Não lhe encontrando, parto para a cozinha e ainda não a vendo lá,
volto e pela primeira vez noto que a porta de entrada está aberta. Lá de fora,
entra um forte e sinistro vento, mais estranho ainda: é a chuva fina que cai e
molha o gramado bem cuidado.
Sendo levado por uma estranha curiosidade, me dirijo até a porta e de
lá meus olhos varrem todo o jardim que é castigado pela chuva, quando eles
chegam à piscina, percebo que tem alguma coisa boiando dentro da água.
Sem me importar com a chuva me molhando, chego perto, vejo a água
azul banhando-se de vermelho, e lá no meio existe um corpo flutuando, não
um corpo desconhecido, parece ser a minha...
— Marina – meu estômago embrulha e meus olhos ardem, antes que eu
pule dentro da água tingida de vermelho.
Com medo, viro seu corpo para cima e quando a vejo de olhos abertos
e vidrados e com a boca num tom de roxo, meu coração se parte em mil
pedaços e eu só consigo pensar:
Morta. A minha Marina está morta!
Abraço o seu corpo frio e em um choro barulhento e desesperado,
começo a lhe sacudir, enquanto inutilmente imploro:
— Não faz isso comigo, Marina, acorda – balanço o seu corpo inerte.
— Marina...
— Marina – meu grito cada vez mais alto se mistura com uma voz que
ao longe chama o meu nome sem parar.
— Erick.
— Não. Volta, amor – meu choro vem cada vem mais sofrido e
desesperado. — Marina... – levanto a cabeça, deixando que a água que cai do
céu molhe meu rosto, tanto quanto as lágrimas que escorrem.
— Erick – a voz doce, porém preocupada me chama cada vez mais
alto. — Amor, vamos, abra os olhos – em meio ao sofrimento, sinto algo
aquecer o meu rosto em meio ao frio. Não só o rosto, mas também o coração.
— Marina... – sussurro, entre soluços, ainda sem conseguir sair do
pesadelo.
— Aqui – ouço uma voz falar baixinho ao meu ouvido e um pequeno e
conhecido corpo em cima do meu. — Abra seus lindos olhos e olhe para
mim. Eu estou aqui – com o corpo todo colado ao meu, sua cabeça se deita na
curva do meu pescoço.
Chorando tão copiosamente quanto estava no pesadelo, abro os olhos
e com alívio, vejo da janela o sol brilhar do lado de fora, levando para dentro
do ambiente o calor que apagará as lembranças frias.
É também com alívio que eu aperto entre os meus braços o corpo
quente e pulsante da minha namorada, não o frio e sem vida que vem me
perseguindo há várias semanas nos meus piores pesadelos.
Por um tempo, fico apenas agarrado ao seu corpo, ouvido as ritmadas
batidas do seu coração. Esse som que tem sido música para os meus ouvidos.
Se pudesse, eu passava horas a fio, somente ouvindo o som da sua respiração
e seu corpo todo em mim.
Quando os soluços já estão mais baixos e o choro quase parando, a
minha pequena começa a fazer o que sempre tem feito e eu mais uma vez
tento lhe dissuadir da ideia.
— Marina, não. Não quero que se sinta obrigada a...
— Eu quero, na verdade, eu desejo – começa pela minha boca e vai
descendo beijos pelo meu peito. — Quero te fazer se sentir bem – revela.
— Acordar com o seu corpo sobre o meu já me fez bem, amor.
— Quero que se sinta melhor do que bem – sua língua deliciosa lambe
o meu abdômen. — Que esqueça esses pesadelos horrorosos e pense apenas
em mim.
— É tudo o que eu faço, Marina – trinco os dentes quando sua boca
fica cada vez mais perto no meu sexo, que começa a ficar rijo. — Os
pesadelos... são frutos... – me esforço para terminar a frase quando sua
mãozinha abaixa o elástico da calça e começa a manipular o meu pau, que
termina de endurecer entre os seus dedos. — Dos pesadelos...
— Esquece os pesadelos – faz movimentos de sobe e desce. — Estou
aqui, com você. Está sentindo? – quando faz a pergunta, ela não espera a
resposta antes da abocanhar a cabeça do meu pau. Esquecendo-me do terror
vivido por meus pensamentos, levanto o tronco e encontro os seus olhos me
encarando cheios de malícia.
— Sinto... – minha voz sai ofegante quando pouco a pouco ela vai me
engolindo.
Até onde consegue, Marina me engole, compensado o que falta com
sua mão, que intercala movimento circulares e apertos na medida certa do
meu prazer. — E como sinto...
Fora de mim, como só sua boquinha gulosa é capaz de deixar, passo a
foder sua boca com movimentos de quadril. Aos engasgos e banhando o meu
cumprimento com a sua saliva, Marina aceita as minhas investidas do jeitinho
que lhe ensinei a fazer.
— Marina, chega, por favor... Eu vou gozar – ao me ouvir, ela aumenta
a força das chupadas e eu acabo gozando dentro da sua boca, onde a gostosa
prontamente engole a minha porra e sem nenhuma demonstração de
incomodo, pelo contrário, me fitando com a cara mais safada do mundo, ela
passa o dedo pelos lábios e queixo e como quem limpasse os resquícios de
sêmen, coloca o dedo dentro da boca, chupando-o, sem desviar os olhos de
mim.
Meu pau, que até agora estava morto pelo recém-orgasmo, já começa a
se animar pela arte da minha garota safada.
— Você sabe mesmo como cuidar do seu homem, não é? – puxo seu
corpo para cima, deito-a do meu lado e em seguida deito meio corpo em cima
do seu. — Minha gostosa – beijo sua boca e com a língua, sinto o meu gosto
através da sua.
— Gosto bom – brinco, quando solto seus lábios que estão totalmente
vermelhos, depois de minutos correspondendo ao meu beijo faminto. — Me
responde uma coisa?
— Claro – me encara, curiosa.
— Quando foi que a garotinha virgem que veio para minha cama como
uma coelhinha assustada, se transformou nessa mulher safada? Amor, você é
muito boa nisso, age como uma puta sem pudor. E sabe o melhor disso tudo?
A nossa doce garota que se transforma na hora do sexo, é só minha. Foi eu
quem fiz isso com você, não foi? – volto a deitar as costas no colchão e trago
a sua perna para cima de mim.
— Não tinha como ser diferente, tendo um homem como você. E
também, já fizemos tanto sexo que seria impossível não aprender algumas
coisas. Mas que bom que eu te agrado.
— É mais que agradar, pequena – digo, apertando a sua bunda coberta
com um shortinho curto. — Você me enlouquece de todas as formas.
— A ideia é essa – a safada se insinua, ao se aconchegar melhor.
— Está tudo bem por aí? – olho para baixo e ela cora por entender ao
que me refiro.
— Tudo bem – responde, sem jeito, mas eu sei que não está.
— Meu amor não vai se importar se eu for comprovar? – tenho seu
rosto vermelho como um pimentão, quando lentamente, apenas para provocá-
la, vou descendo as mãos até o elástico do seu shortinho pijama.
Ao encontrar a sua boceta completamente encharcada e quente,
descanso a minha mão em cima, e louco para mimá-la, pergunto com carinho,
depois de sentir seu sobressalto:
— É aqui que dói, gostosa? – compassadamente, meto dois dedos,
fazendo em seguida movimento de entra e sai, enquanto com o dedo polegar
acaricio seu clitóris saliente. — Tá melhor? – beijo seu biquinho manhoso e
excitado.
— Uhum – geme em resposta, entre os beijos famintos que iniciamos.
— O que mais posso fazer para aplacar essa dor, safada? – tiro meus
dedos de dentro do seu sexo e os chupo, sob o seu olhar de desejo incontido.
Depois, coloco o minha língua para fora, e fazendo exatamente o que eu
esperava, Marina a chupa e sem tocar os nossos lábios, ela repete o
movimento até que eu, prestes a explodir de tesão, capturo a sua boca e dou o
beijo que nós dois gostamos de dar, do tipo que não pode ser feito em
público.
— Sentiu como é gostoso? – desejosa e estando deitados de lado, ela
circula a perna no meu quadril e passa a esfregar a boceta contra minha
perna, que está coberta pela calça.
— Ei, princesa. Calma – com a força necessária, seguro a sua coxa,
parando assim os seus movimentos que estão me deixando num estado tão
crítico quanto o dela. — Eu vou fazer você se sentir bem – afirmo, e ela beija
meu peito.
Cheio de pressa, desço o seu short pelas pernas, libero a minha ereção
e, deitados frente a frente, com a sua perna em cima da minha cintura,
penetro-a até o fim, quando de sua boca escapam palavras que mais parecem
gemidos.
— Ai, que delícia... – ofega e não fica parada. Seu quadril auxilia
minha mão, que firmemente empurra o meu pau para dentro da sua boceta.
— Se sente melhor, amor? Era isso que você queria?
— Uhum – puxa meu cabelo para baixo e deixa nossas cabeças
próximas uma da outra. Enquanto meto profundo, sua boca morde a minha
orelha, sua mão esquerda puxa o meu cabelo e a outra livre passa as unhas
por minhas costas, arranhando por cima das marcas antigas e ainda não
cicatrizadas.
— Isso, porra. Mais forte, Erick – implora, e o som das nossas pélvis se
batendo ressoa pelo quarto.
— Como você quiser, gostosa – atendo ao seu pedido e penetro-a
profundamente.
— Ai... Acho que vou...
— Tão boa. Tão minha – soco com força, e estando prestes a me
perder, peço:
— Vem comigo – sua boceta esfola o meu pau e ela murmura:
— Sempre... – Marina goza e eu vou logo em seguida, me derramando
dentro do seu corpo exausto, porém bem comido.
— Uau – diz, meio grogue e sem forças.
— Cada dia melhor – completo, analisando a delícia que é essa mulher.
Depois do nosso costumeiro momento de recuperação, onde, suados de
satisfação e com um sorriso no rosto, aguardamos a nossa respiração voltar
ao normal, caímos cada um para um lado e com nossos rostos fitando o teto,
digo:
— Bom dia, pequena – entrelaço nossos dedos e levo sua mão para a
minha boca, nela deixando um beijo. — Perdão mais uma vez.
— Não tem o que perdoar, a única coisa que lamento é não poder estar
do seu lado em todas as vezes que esses pesadelos aparecem – revela, com
tristeza.
— Essas são as noites mais difíceis. Sabe o que é acordar desesperado
e não te ter do meu lado para comprovar que foi apenas um sonho?
— Quando for assim, você pode me ligar, querido – viramos os rostos
e, de mãos dadas, ficamos nos encarando.
— Não vai precisar, isso está acabando. Quando eu parar a Patrícia,
esses pesadelos também passarão.
— Torço por isso, não suporto te ver sofrer.
— E eu amo a sua forma de me confortar – ela vira os olhos para cima
em sinal de deboche.
— Será que você só pensa nisso?
— Com você, minha mulher gostosinha que sabe fazer o melhor
boquete? – provoco, pois, apesar de estar mais safada do que nunca, seu rosto
ainda cora como o de uma virgem. — Sim!
— Você não tem jeito – diz, entre risos. — Agora deixa eu tomar
banho, porque hoje ainda tem trabalho – senta na cama e continua. — Você
vai depois, se formos juntos, vamos nos atrasar.
— Eu vou – teimo.
— Não vai, não – ela nega, já na porta do banheiro.
— Vou, sim, e ainda lavarei todo o seu corpo, principalmente a
bocetinha, e será com a língua.
Essas são minhas últimas palavras antes de sair correndo atrás dela.
Confidências
Marina

— Não acredito que teve coragem de fazer isso, Marina – uma Ângela
abismada, em seu biquíni azul que combina com os seus olhos e seus cabelos
negros, me questiona.
— Fiz – afirmo, sem jeito.
Depois de esconder por vários dias, não consegui levar adiante a
mentira, não para Ângela, que me conhece mais do que qualquer um –
tirando o Erick – e já estava começando a desconfiar desse término.
Se Erick me deu o Oscar pela atuação na cena do término do nosso
namoro, pela atuação com minha amiga certamente me entregaria o troféu
framboesa.
Depois de ter me visto tão triste pelas atitudes do meu namorado e de
posteriormente ter recebido de mim a notícia de que Erick tinha acabado a
nossa relação e saído de casa, Ângela se sentiu na obrigação de me consolar e
passou a me visitar todos os dias.
Nas ocasiões, eu não sabia se ficava feliz pela sua lealdade ou se
irritada por ter que mentir todos os dias para ela, que não merece isso de
mim.
Depois dos primeiros dias em que eu realmente estava mais sentida por
não ter Erick tão perto, passei a ficar cada dia mais à vontade e Ângela cada
vez mais desconfiada das minhas reações. Não que ela tenha me perguntado
isso diretamente, era mais como um olhar mais avaliativo. Ângela ficava me
encarando com olhos de rapina e eu como uma mosca atraída pela luz, ficava
doida para abrir toda a verdade.
Como deixar minha maior confidente de fora desse capítulo da minha
história?
O fato de ter conseguido esconder por duas semanas não foi o
suficiente para assegurar que o segredo continuaria.
Não depois da noite que tivemos na quinta e de ontem pela manhã.
Como explicar as marcas de chupadas em várias partes das minhas
costas, as bochechas da minha bunda marcadas dos seus dedos, que me
segurou com possessividade e, para piorar, o fato de eu estranhamente estar
andando com as pernas meio abertas?
Dessa vez, ela não só perguntou de maneira direta o que já
desconfiava, como também me deu bronca por ter mentido por tantos dias. A
sua chateação só diminuiu quando eu revelei que fizemos isso apenas para
não envolvê-la ou colocá-la em perigo.
— Meu Deus! Nunca pensei – vejo que tenta procurar palavras. — E
foi bom?
— Muito bom, tanto que não vejo a hora de fazer de novo – confesso,
relembrando tanto a delícia quanto a intensidade do ato.
— Esse seu namorado te transformou numa safada, Marina – diz, com
os olhos fechados e a cabeça erguida para o sol.
Como é sábado e o dia amanheceu quente, convidei Ângela para
tomarmos sol e dar uns mergulhos na piscina. Só não lembrei que pelo meu
corpo ainda teriam as marcas da noite agitada que Erick nos proporcionou.
— Juro que não consigo imaginar uma coisa dessas. Um pau cutucando
um buraco tão pequeno e fechado – fala, sem rodeios e com sua boca suja de
sempre. — Mas, confesso que tenho certa curiosidade – confidencia,
ignorando o fato de eu estar sem jeito pelo assunto.
— E o Diego? Nunca mais falou dele – mudo de assunto do jeito que
posso.
— Nem me fale o nome daquele idiota – pede, e de repente seu humor
muda.
O idiota a quem ela se refere é um playboy, filho de amigos esnobes
dos seus pais. Com vinte e três anos, o cara que eu vi poucas vezes teve um
breve relacionamento com minha amiga. Foi com ele que Ângela perdeu a
sua virgindade e a capacidade de acreditar no romantismo.
Pressionada por pai e mãe ambiciosos, que não sei até que ponto
controlam as suas vontades, Ângela se relacionou por alguns meses com
Diego, até que felizmente se livrou dele e em circunstâncias que ela não me
fala qual foi.
Só sei que, de tanto tentar, ela conseguiu se livrar do namoro insosso e
hoje é mais cínica do que uma pessoa da nossa idade deveria ser.
— Acabou mesmo? – tento tirar alguma coisa da pessoa que, quando
quer, se fecha como uma ostra.
— Acabou e dessa vez em definitivo – deve ser mesmo, porque tem
meses que não ouço falar o nome dele. — Graças a Deus – levanta a mão
para o céu.
— Por que namorava ele? – sei que tem o dedo dos pais dela nisso,
mas desconfio que tem algo a mais e que Ângela não quer me falar.
— Prefiro não falar disso, até porque não tem mais importância – pega
o protetor e começa e lambuzar a pele branca novamente.
— Tudo bem – ajeito meus óculos de sol que estavam escorregando
pelo nariz.
— Amiga, quem é que vem ali? – nós ficamos de olho quando de longe
o portão automático da garagem começa a subir. — Quando eu cheguei, o
Jorge estava aqui. Tá esperando alguém?
— Não estou. Que estranho – utilizando o carro que tem os vidros
escuros, não consigo ver quem é a pessoa que Jorge carrega dentro do
automóvel. Se é que tem alguém lá dentro, talvez ele tenha apenas levado o
carro para fazer manutenção.
Quando as portas do motorista e carona se abrem, meu sorriso cresce
por ver quem é a minha visita.
— Erick – sorrio de canto a canto.
— Que gato, meu Deus – Ângela exclama, mas eu estou tão
concentrada no fato de tê-lo aqui, que nem presto atenção às suas palavras.
— Muito gostoso – minha boca fica seca por vê-lo vestido de maneira
casual.
— Eu quero esse homem – Ângela enfatiza, e de olhos arregalados,
olho para ela, que tem o rosto vidrado em meu namorado.
— Ângela? – chamo sua atenção e sou solenemente ignorada.
Devo ter um enorme ponto de interrogação na minha testa ou ela disse
que quer o meu namorado?
Será que foi o sol?
— Não importa o que eu tenha que fazer, quem eu tenha que tirar do
meu caminho, vou ter ele na minha cama ou eu não me chamo Ângela
Albuquerque – finalmente me olha, e de mim seu olhar retorna para a
garagem.
Fazendo o mesmo que minha amiga, olho na mesma direção é só então
percebo que Erick não está sozinho. Do seu lado, caminha um alto e sério
Bruno, vestindo um jeans escuro e camisa gola polo vermelha. Na sua mão,
tem o que suponho ser um bastão de ferro que ele não ousa abrir, ao contrário
disso, Bruno caminha compassadamente ao lado do meu namorado, que de
modo tranquilo acompanha os seus passos.
— Ei, amor – levanto da espreguiçadeira e dou um selinho, assim que
chegam do nosso lado. — Não estava te esperando.
— Eu percebi isso – responde, quando seus olhos varrem meu corpo de
cima a baixo, se demorando na parte de baixo do meu biquíni vermelho,
estilo fio dental. — Dormiu bem? – abaixa a cabeça e cheira o meu pescoço.
— Poderia ter dormido melhor – digo, com malícia, até que um pigarro
chama a nossa atenção.
— Não sei se o casal apaixonado percebeu, mas tem mais pessoas aqui
– Bruno, com seus óculos escuros estilo aviador, assevera com a voz grossa.
— Então você notou a minha presença? – com a voz sarcástica, Ângela
também se levanta e chega bem perto de um Bruno que segue sério.
— Essa voz...
— O que tem a minha voz, não gostou? – se insinua Ângela, que nem
de longe lembra a que eu conheço. Ousada, a safada encosta nele e como
quem tenta testar as reações, toca de leve no braço do cara.
Olho para os dois lado a lado, e de longe sinto o cheiro de desastre.
Isso simplesmente não tem como dar certo, de todos os homens no
mundo, Bruno seria o último em uma lista de preferência a ser recomendo
para Ângela. Seria como ver trens desgovernados se chocando em um terrível
acidente. Onde somente restariam escombros para contar a história.
— Não tinha como não notar – não entendo sua afirmação e acho que
ela também não. Em seguida, meus olhos veem ela afastar tanto a mão quanto
o corpo de perto dele.
— O que quis dizer com isso? – indaga, sem jeito, de uma forma que
ela raramente fica. Atrás de mim, Erick fica em silêncio, com os braços em
volta da minha cintura e apenas observando tudo.
— Não importa, garota – responde, grosseiro.
— Devia pelo menos ser educado e falar isso olhando nos meus olhos.
Puta que pariu! Ângela não devia ter dito isso. Na hora em que ele
ouve suas palavras, o rosto que já estava sério, fica mais sério ainda.
De modo brusco, ele se agiganta em cima dela, encosta os seus corpos
de maneira firme e, um tanto grosseiro, avisa:
— Fica longe de mim, menina. Para o seu bem e para o meu, apenas se
mantenha distante – vira-lhe as costas e sai em direção à casa, andando com
seus costumeiros passos curtos. — Você vem, Erick? Não tenho o dia todo.
— Vou lá para o escritório, amor – beija os meus lábios, sem se
importar com a presença de uma mortificada Ângela. — Vamos discutir a
melhor maneira de resolver aquele assunto – diz, e parece não se importar
com o fato da minha amiga já estar sabendo de tudo.
Esse fato me deixa esperançosa que tudo está chegando ao fim, se não
estivesse, ele teria ficado incomodado por eu ter metido mais uma pessoa no
assunto.
— Tudo bem – mando beijo e ele apressa os passos para alcançar o
amigo.
— Porra! O que foi que aconteceu aqui? – dramática, ela se joga na
espreguiçadeira e continua. — Esse homem é lindo e tenho a sensação de já
tê-lo visto antes.
— Ângela...
— Pena não ter visto os olhos, qual será a cor deles? – eu sento de
frente para ela e fico sem saber o que dizer. O melhor seria não alimentar as
suas loucuras.
— Escuta o que ele disse, fica longe – suplico pelo olhar. — Vai ser
melhor pra vocês.
— Ele tem namorada? – lembro-me de Lua, que não é mais, mas tem
esperança de voltar a ser.
— Tem, é a minha chefe, Lua – minto, e me sinto culpada por estar
fazendo isso, mas, depois ter visto o estado em que Lua ficou depois do fora e
de saber da história do Bruno através do Erick, não acho que minha amiga
precise dele em sua vida. E também não acho que ele queira isso.
Ângela merece ser feliz, assim como eu estou sendo e Bruno não será o
cara a fazer isso por ela.
— Que pena – diz, e no seu rosto não tem nada que acuse a sua real
desistência. — Pra ela.
Quando eu penso que a paz está perto de chegar, Ângela vem com mais
essa.
Trunfo
Erick

Dentro do escritório, que já não lembra a bagunça que eu mesmo fiz no


dia em que a víbora veio me ameaçar, um Bruno mais sério do que o seu
normal entra atrás de mim.
— Algum problema, Bruno? – indago, ao sentar atrás da mesa e ele a
minha frente. — Parece tenso.
— Aquela voz, quem é aquela garota? – pergunta, agora com uma
expressão enigmática no rosto.
Era só o que faltava. O Bruno começar algum tipo de fixação na
chatinha. Seria uma receita infalível para o desastre e sendo ela a melhor
amiga da minha mulher, me sinto no dever de tentar apagar essa fagulha.
Tenho certeza de que não é isso que Marina quer para a sua Ângela.
— Bruno, essa moça... – procuro a melhor maneira de dizer, para não
atiçar ainda mais a curiosidade dele. — Fique longe, ela não é para você.
— E quem disse que eu quero alguma coisa com a garota? – nega com
veemência. — Só me diz quem é ela.
— Ângela Albuquerque, dezenove anos, e melhor amiga da Marina,
isso é tudo que você precisa saber.
— Albuquerque? – pergunta, de forma estranha.
— Isso, conhece a família dela?
— Não – nega. — A voz dela... – tira os óculos escuros, coloca sobre a
mesa e continua: — Tenho a impressão de já ter ouvido antes, é como ouvir a
voz de um anjo...
— Anjo? A menina é um demônio. Você só pode estar louco – interfiro
na sua ilusão.
— Se você diz. Mas não precisa se preocupar, eu não quero nada com a
menina – assegura, e eu espero que esteja sendo sincero. Bruno e Ângela
seria problema demais para alguém conseguir suportar.
— Tudo bem – encerro o assunto. — Conseguiu aquela informação? –
estou ansioso por um resultado.
— Claro que sim, até parece que você não me conhece – responde,
todo cheio de si.
Bruno é o tipo de homem que, sem que seja preciso fazer qualquer tipo
de ameaça, convence as pessoas a fazerem, e principalmente, dizerem tudo o
que ele precisa ouvir ou descobrir. Isso é um dom e não é à toa que ele está
entre os melhores criminalistas do país.
— O que conseguiu?
— Ela está envolvida em um crime de apropriação indébita. Descobri
que ela andava pegando casos por fora do escritório e em um desses casos,
Patrícia se apropriou de uma grande soma de dinheiro do cliente.
— Como foi isso?
Nos próximos minutos, Bruno não só me dá todos os detalhes do delito
cometido por Patrícia, como também entrega a ótima notícia de que
convenceu a vítima a denunciá-la.
— Que ótima notícia, cara, finalmente temos um trunfo contra ela.
— Temos, sim. Já sabe o que vai fazer?
— O mesmo que ela: chantagem.
— Isso é perigoso, Erick. Você sabe do que a mulher é capaz – ele
avisa.
— Eu sei que ela é perigosa, meu amigo, mas eu também posso ser –
assevero. — Pra proteger a minha menina, sou capaz de qualquer coisa, até
de ir contra a lei.
— Você sabe que um crime de apropriação indébita não seria o
suficiente, não é? – Bruno questiona.
— Sei que não. Uma condenação, além de demorar, só vai deixá-la
ainda mais sedenta por me ferrar. Eu vou ameaçar ela com essa informação, é
isso.
— E será o suficiente?
— Creio que sim, agora que a mídia está do meu lado, ela não vai
gostar nada de ter seu nome jogado na lama. Com pessoas do tipo dela, um
escândalo em nível nacional seria muito pior do que uma condenação.
— Você tem razão. Vamos guardar as provas como trunfo, tudo o que
Patrícia não quer é ter o nome jogado na lama.
— É claro que não. Como vai conseguir dar os seus golpes sem o nome
de grande advogada que usa para se meter com os figurões?
— Bingo, meu amigo – digo, satisfeito.
— Vai procurá-la? É bom que faça isso, antes de ela descubrir que
vocês nunca estiveram separados. Eu sinceramente não sei qual seria a sua
reação.
— Em breve entrarei em contato. Não vejo a hora de voltar para casa.
De dormir e acordar todos os dias ao lado da minha mulher.
— Eita, nojo – Bruno zomba. — Pra quando é o casamento?
— Ainda não sei, a verdade é que sonho com o dia em que vou colocar
uma aliança no dedo dela.
— E o que está esperando para fazer exatamente isso?
— Não acha ela muito nova para esse tipo de compromisso?
— Não acho. Não sei se você percebeu, mas até a louca aparecer,
vocês estavam vivendo uma vida de casados, e se estava dando certo, não vai
ser um papel que irá dizer o contrário.
— Tem razão, confesso que não tinha pensado por esse ângulo.
Eu e Marina já estamos casados, só falta um papel para oficializar. A
ideia de noivado e casamento me anima e eu tenho mais vontade de resolver
a situação com a chantagista e depois tornar tudo oficial.
— Eu sei que não, você só pensa em estar dentro da sua branquinha.
— Olha lá como fala, filho da puta – reclamo. — Não chama de
branquinha, pra você é Marina.
— Não está mais aqui quem falou, Tarzan.
— Agora que a parte chata acabou, vamos tomar uma cerveja? –
chamo, um pouco mais aliviado e acreditando que enfim eu e minha garota
teremos um pouco de paz.
— Por que você não admite que já está louco de saudade da sua
mulher, porra? – diz, entre risos. Zombar da minha cara se tornou o esporte
preferido do Bruno, o fato de eu ser seu chefe ele não leva em conta.
— É claro que estou, ficar muito tempo na sua companhia faz isso
comigo – retruco.
— Tudo bem, só uma cerveja. Deus me livre ficar muito tempo perto
da voz de anjo e personalidade do demônio.
— Não seja cínico, cara.
— Me diga, ela é tão bonita quanto a voz? Os cabelos são escuros ou
claros?
— Ela é bonita, sim – me limito a essa informação. — Quanto ao resto,
você vai ter que usar a sua imaginação.
— Você sabe que eu posso descobrir isso, não é mesmo?
Ele indaga, enigmático. Em todos os anos em que Bruno trabalha no
escritório, ele com todo o seu mistério, não deixou claro o quanto consegue
enxergar. Se às vezes tenho a impressão de que vive na total escuridão, em
outras suspeito do contrário, que bem ou mal, meu amigo ainda é capaz de
enxergar alguma coisa.
— Isso significa que...
— Nada, Erick. Não significa nada – como sempre acontece quando
tento desvendá-lo, Bruno corta o assunto.
— Se me permite, antes de descer, eu preciso usar o banheiro – se
levanta e vai na direção da porta.
— Tudo bem se eu ir na frente? – indago, e seguindo o som da minha
voz, ele se volta e responde.
— Eu conheço o caminho – fala, irritado, antes de sumir pela porta.
— Filho da puta! – o som da minha voz ecoa pelo ambiente, antes de
eu imitar meu amigo e sair do escritório.

— Posso saber por onde andam os pensamentos dessa princesa?


Sussurro no ouvido da minha gatinha, ao me agachar do lado da
espreguiçadeira em que está tomando sol e analisar o seu delicioso corpo, que
está quente pelo sol e veste um biquíni nada comportado.
A garota é o pecado em forma de mulher.
— Espero que esteja pensado em mim – deixo um beijo no seu ombro
aquecido pelo sol das 10h.
— Pode apostar que estava – reponde, ao se sentar, tirar os óculos do
rosto e colocá-los em cima da cabeça.
— Boas notícias – fico em pé, sento do seu lado e puxo suas pernas
para cima do meu colo.
— Sério? – minha menina se anima e abre um sorriso capaz de levar
qualquer um a nocaute.
— Sim, eu e Bruno temos um trunfo contra Patrícia – revelo, com
entusiasmo. – Então, pode ir esquentando o meu lado da nossa cama, porque
em breve estarei de volta.
— Em breve quando? – quer saber, e eu imagino o quanto essa
situação deve estar sendo difícil para ela. Se é para mim, que fui embora,
imagine para minha gatinha, que tem que ficar sozinha e com as lembranças
de nós dois preenchendo todos os cômodos da mansão.
— Vou marcar um encontro com ela para segunda-feira. Isso quer
dizer que provavelmente amanhã será nossa última noite separados.
— Toma cuidado, meu amor – pede, preocupada.
— Pode deixar, por você, terei todo o cuidado do mundo – beijo sua
boca, tentando desfazer sua expressão preocupada.
— Que trunfo é esse que vocês têm contra ela?
— Amor, prefiro que não saiba nada sobre isso, está bem? – a
contragosto, ela balança a cabeça. — Quanto menos você souber, mais
protegida estará. Eu prometo te contar depois que acabar, tudo bem?
— Eu confio em você – me abraça pelo pescoço e, toda manhosa,
esconde o rosto no espaço entre meu pescoço e ombro.
— Linda – lhe ajeito melhor sobre as minhas pernas, lamentando o fato
de não estarmos sozinhos, apesar de que...
— Amor, a Ângela foi embora? – somente agora me dou conta de que
Marina está sozinha na beira da piscina.
— Ela foi ao toalete.
— Aqui de fora? – indago, quando uma ideia se forma na minha
cabeça.
— Não, o lá de dentro. E o Bruno, cadê? – me devolve a pergunta.
— No banheiro, o lá de dentro também – revelo, e ela me olha em
surpresa.
— Puta que pariu – falamos juntos.
— Você acha que eles... – questiono.
— Seria uma péssima ideia – diz.
— Um desastre – reafirmo.
— A sorte é que Bruno não parece ter retribuído o interesse da Ângela.
— Verdade – não consigo dizer outra coisa. Não tenho ideia do
motivo, mas Marina se preocupa demais com a amiga e eu prefiro não ser a
pessoa a colocar coisas na sua cabeça, que já está cheia dos nossos próprios
problemas.
Por enquanto, é melhor que não saiba que Bruno está mais interessado
do que deixou transparecer. Só espero não ter dado tempo de dos dois
perturbados se encontrarem no caminho do banheiro.
— Deixa eles pra lá – começo a beijar do seu ombro até a chegar ao
canto da boca. — Vamos aproveitar, pois eu passei a noite sentindo a sua
falta.
— Eu também, querido – mete a mãozinha por dentro da minha
camiseta, começa a alisar as minhas costas de maneira provocativa e bem no
meu pé do ouvido, propõe: — Sabe que essa história de banheiro me deu uma
ideia: que tal se nós dois formos lá um pouquinho?
— Você não está pensando...
— Estou, sim, eu quero você e também quero privacidade. O banheiro
daqui de fora seria perfeito.
— Muito pervertida – brinco, mas levanto com ela nos meus braços,
e aproveitando que estamos sozinhos, enrolo suas pernas na minha cintura e
os braços abraçam o meu pescoço.
— Tive um ótimo professor – pisca, com malícia, e eu me seguro para
não apertar a sua bunda que já está marcada das nossas últimas transas.
— Teve, sim – abro a porta do banheiro que fica no canto direito do
jardim e lhe coloco em cima da bancada de mármore branco.
— Lá vamos nós batizar mais um cômodo – digo. — Mais um pouco e
teremos transado em todos os cantos dessa mansão, não é, minha delícia? –
abro suas pernas e me interponho entre elas.
— Sim – ela responde, no momento em que puxo o laço que prende a
parte de baixo do seu biquíni.
Fúria
Patrícia

— Aqui está – o moleque que se acha um homem adulto joga um


envelope pardo em cima da cama de um quarto de hotel que mais parece uma
espelunca.
— São as fotos? – indago, e Mateus balança a cabeça antes de sentar
do meu lado.
Cheio de expectativas, o menino patético espera que eu abra o
conteúdo do envelope e seja eternamente agradecida pela informação que me
traz. Assim como todos os outros, esse garoto é apenas mais um idiota
disposto a fazer de tudo para me agradar.
Depois de ver minha primeira interação com a idiota da Marina, ele
veio atrás de mim como um cachorrinho assustado, mas não assustado o
suficiente para frear a sua curiosidade. Dali e imaginando que de alguma
forma poderia me ser útil – já que estava na companhia da garota – levei o
moleque para minha casa e depois de um boquete bem feito, já o tinha em
minhas mãos, disposto a fazer tudo o que eu pedi.
Agora que o conheço um pouco melhor, já entendi que seu alvo nunca
foi a vadiazinha da Marina, pela sua forma de falar – que não é muito, devo
confessar – seu alvo em toda essa história é a tal Ângela, melhor amiga e
quase um cão de guarda da Marina. Sem que precisasse revelar muito,
entendi que Mateus tem uma estranha fixação pela prima e quer de alguma
forma se beneficiar dos meus planos.
— Posso saber o que você ganha com isso? – balanço o envelope
diante dos seus olhos.
— Além do óbvio? – seus olhos medem meu corpo de cima a baixo e
sua mão começa a alisar minha perna, que a abertura da camisola de seda
deixou desnuda.
— Sim, além do óbvio – coloco minha mão em cima da sua, parando
seus planos. Ele não pode estar achando que vou fazer o sacrifício de transar
com ele, quando tenho coisas mais importantes para fazer. Se o sexo fosse
pelo menos bom...
— Acho que isso é assunto meu, apenas saiba que a amizade daquelas
duas não me interessa em nada. Prefiro que a Marina use seu tempo para
solucionar seus próprios problemas do que o tenha de sobra para se preocupar
com Ângela.
— Entendi, mas isso também não me importa – corto o discurso
cansativo. — Vamos ver o que temos aqui – sob o seu olhar cheio de
expectativas, abro o lacre do envelope e pela textura do papel que meus
dedos tocam, suponho que o conteúdo tirado lá de dentro seja fotos.
Tendo-as em mãos, eu custo a acreditar no que meus olhos veem.
Foto atrás de foto, vejo imagens de Erick rondando a mansão da vadia
tarde da noite, o carro dele saindo de madrugada pelo portão da garagem e até
o carro do filho da puta do Bruno aparece nas malditas fotos.
Não fazendo questão de conter a minha fúria, destruo todas as fotos,
rasgando uma a uma até que fiquem em pedacinhos, viro para o moleque e
pergunto:
— Como você conseguiu isso? – aponto para os pedaços de papel
espalhados pelo quarto. — Essas imagens são recentes?
— Todas dessa semana – confirma o quanto fui idiota.
— Você acha que eles estão...
— Não está óbvio?
— Desgraçados! – viro o corpo para trás, pego uma almofada. — Eu
vou acabar com aqueles dois – soco furiosamente o pedaço de pano recheado
com penas, como se estivesse socando os dois ordinários metidos a espertos.
— Você precisa se acalmar – ouvir a voz do moleque me dizer o que
fazer aumenta ainda mais a minha raiva.
— Cala a boca – grito em sua direção. — Quer saber, dá o fora daqui –
vou até a porta e a deixo escancarada, mas o idiota só sabe ficar me olhando
com cara de assustado. — Fora – grito mais alto e ele finalmente se mexe.
— Me liga quando estiver mais calma – Mateus sai e eu bato a porta
com força.
— Vocês não têm ideia da besteira que fizeram – falo sozinha, andando
de um lado para o outro. — Vão pagar muito caro por ter tentado me passar
para trás.
— Principalmente você, sua vadiazinha dos infernos – falo para o
travesseiro, imaginando que seja o rosto odioso da garota. — O Erick vai ser
meu, só meu.
Eu devia ter imaginado que isso iria acontecer.
Como eu fui burra!
Tudo por culpa da filha da Cristina, eu estava tão perto, sei que estava.
O Erick estava sozinho, sofrendo a morte do amigo, precisando de um ombro
amigo que o consolasse pela perda. Eu ia ajudar, juro que ia. Estava tudo
planejado na minha mente.
Se não fosse a vagabunda mirim, à essa hora o Erick já teria até me
pedindo em casamento, tenho certeza. Estaríamos os dois tocando o escritório
e felizes, muito felizes.
Mas também, como eu iria imaginar que ele iria se interessar por uma
garota tão sem graça como a filha da Cristina? Uma mocinha sem sal, com
sua eterna cara de cachorro sem dono. No mínimo usa da fragilidade para
prender o meu homem, e como ele é um idiota de coração mole, deve estar do
lado dela por pena.
— É, Erick, você não está me dando outra opção – digo, não
conseguindo ficar parada. — Se você não consegue fazer isso, eu vou ter que
me livrar dela pra nós.
Sorrio, satisfeita por pensar que nem tudo está perdido. Se nesse
momento ela está com Erick, rindo da minha cara, é bom que aproveite
bastante, porque essa alegria está perto de acabar.
Não importa como ou onde eu tenha que chegar, esses dois não vão
ficar juntos, isso eu garanto.
— É isso, Patrícia, você vai se livrar da garota. Você não queria fazer
isso, foram eles que pediram. Eu juro que foi.
— E você, meu caro – pego um recorte de revista que contém a sua
foto, beijo o pedaço de papel e afirmo: — Vai ser meu ou não vai ser de mais
ninguém.
Depois do que os dois aprontaram, guardo a foto dentro de uma gaveta,
troco de roupa rapidamente e de dentro da gaveta pego o que preciso, antes
de sair do quarto.
Oficial
Marina

— Bom dia – minha voz soa abafada, talvez por minha boca estar
contra os travesseiros. — Vejo que alguém acordou animado – digo, ao sentir
seu corpo quente pairar sobre o meu e quando sua boca começa a descer
beijos desde o meu pescoço e ir deslizando pelas costas. No processo, Erick
vai abaixando pouco a pouco o pano fino que cobre a minha nudez.
— Do seu lado eu sempre acordo animado e você sabe disso, minha
garota safada – afirma, ao dar uma mordida bem perto de onde ficam as
minhas costelas, depois, ele continua descendo o pano, até que consiga
desnudar a minha bunda. Ao fazer isso, Erick fica em silêncio, apenas me
observando com atenção.
— Algum problema, querido? – indago, preocupada.
— Amor, não acha que tá na hora de nós pegarmos um pouco mais
leve? – seu dedo alisa alguns pontos da minha pele, e pelo que parece, seus
olhos só agora repararam nas costas que acabou de beijar.
— Onde você está querendo chegar com essa conversa, Erick? – viro
meu rosto para trás, na intenção de enxergar melhor o seu rosto, pois o corpo
morto de preguiça e ainda lânguido pelas atividades da noite anterior,
permanece deitado de bruços.
— Se você estivesse vendo o que eu vejo, iria entender, querida. Suas
costas e bunda... – ele começa e já sei o fim da frase.
— Não vem com esse papo de novo – repreendo. — E daí que no meu
corpo tem algumas marcas? Suas costas também têm marcas das minhas
unhas, mas e daí? Isso é o que nós somos, meu amor, e você não pode refrear.
— É que... – fica por um momento apreensivo. — Eu fico doente só de
pensar que de alguma forma possa estar te machucando. Sei que você sente
prazer, quer dizer, que nós dois sentimos prazer com o tipo de sexo que
estamos fazendo, mas...
Quando ele vai começar a dissertar os seus temores, viro com a barriga
para cima, oportunidade em que seus olhos vão direto para as duas marcas
que sua boca deixou nela, e já não tenho certeza se deveria ter feito isso.
Como não quero dar tempo para que pense demais, coloco a mão na sua boca
e digo:
— Não tem um "mas", Erick, já disse que não sou uma boneca, que a
qualquer momento vai se quebrar. Elas parecem piores do que são, mas é por
que sou branca demais e esse é o único problema aqui.
— Tem ideia do que as pessoas pensarão ao verem isso aqui? –
pensativo, alisa as marcas na minha barriga.
— Ninguém vai ver, assim como não vão ver os arranhões nas suas
costas – digo, ao acariciar a sua barba por fazer, que ele aprendeu a deixar,
depois de eu ter confessado gostar dela assim. — E se ver, vou falar que meu
namorado faz o sexo mais delicioso do mundo, que as mesmas marcas que eu
tenho, ele também carrega na pele.
— Você tem mesmo dezoito anos? – paira o corpo sobre o meu e sua
boca beija o meu pescoço. — É muito madura sabia?
— São dezoito anos, mas a mentalidade tenta acompanhar a seriedade
do meu homem.
— Não fala assim – pede, e a mão fica despreocupadamente em cima
do meu peito.
— O que foi que eu falei? – indago, sem entender onde foi que me
perdi.
— Meu homem – responde, e já sei que a neura passou e o modo
safado foi ativado. — Quando diz isso, fico com vontade de te comer
todinha. Minha mulher!
— E eu fico com vontade de me dar para você, quando me chama de
sua mulher.
— Você quer, ou acha que ainda é muito cedo para isso? – pergunta, e
percebo certa insegurança na sua voz.
Eu já não sou a mulher dele? Pelo menos foi isso que acabou de
afirmar.
— Isso o quê? Você está bem? – pergunto. — Desde a hora em que
abriu esses lindos olhos azuis está agindo e falando coisas estranhas.
Ele não responde, mas vira o corpo para a beira da cama, estende o
braço, abre a primeira gaveta do criado mudo branco e de lá tira alguma coisa
que eu não tenho ideia do que seja.
— Tô bem, só um pouco nervoso – revela, deixando claro que tem algo
importante para dizer.
Nesse momento, meu coração dispara e eu não sei se estou preparada.
Depois da turbulência pela qual a nossa relação passou, ando meio cabreira
sempre que ele tem alguma coisa séria para dizer.
— Posso só ir ao banheiro antes? – peço.
Além de a minha bexiga estar cheia, não quero ter outra conversa –
além da que os nossos corpos costumam ter na maioria das manhãs – com os
olhos cheios de remela e com mau hálito matinal.
— Claro, querida – afirma, ao dar um selinho na minha boca e ainda
com o objeto na mão esquerda, levantar-se e dizer: — Também preciso usar o
banheiro. E também quero que tenha privacidade – afirma, e veste sua calça
jeans que estava jogada no chão, já que a cueca provavelmente ficou pelo
meio do caminho até aqui.
— Tá bom – digo, e ele dá uma piscadela antes de tentar passar pela
porta fechada.
— Meu amor? Tudo bem? – chego do seu lado, me esforçando para
segurar o riso e checando a sua testa, que acabou de dar um beijo na porta.
— Sim – diz, todo sem jeito e desconcertado, uma característica que
ele nunca demonstrou ter, porque de fato não tem. — Até mais, linda. Nos
encontramos aqui?
— Sim – confirmo. – Vai poder passar o dia aqui comigo?
Hoje é domingo e tudo que eu quero é passá-lo ao lado do meu
namorado. Sem preocupação e nada para fazer. Apenas curtindo a preguiça e
namorando.
Não sei nem descrever o susto e a alegria sentida quando, lá pelas 03h
da manhã, Erick se deitou do seu lado da cama. Segundo ele, esse é o melhor
horário de aparecer por aqui, já que é a hora de menor movimentação e
consequentemente levanta menos suspeita.
Sei que ele tem muito medo do que possa acontecer caso a víbora nos
descubra e talvez por isso não o pressiono – tanto – quando quero que ele
passe a noite em casa, coisa que acontece todos os dias.
— É claro, amor, mas nós vamos ter que ficar trancados aqui e só
poderei sair de madrugada, assim como cheguei hoje.
— Amei esse castigo – digo, ele abre um sorriso, me dá outro beijinho
e sai do quarto.
Com pressa, entro no banheiro e faço o que tenho que fazer.
— Meu Deus! Você está pavorosa, Marina – digo a mim mesma, em
frente ao espelho.

Erick
— Como você é burro, Erick – repreendo a mim mesmo na frente do
espelho, depois de ter feito minha higiene básica matinal. — Passando
vergonha na frente da sua garota – digo em voz alta, ao pegar o objeto
brilhante de dentro do bolso traseiro das calças.
Depois da conversa em que o Bruno abriu os meus olhos para a
situação em que Marina e eu já vivemos, não me aguentei, e horas depois,
estava na mesma loja em que comprei o anel de compromisso, comprando
outro anel, só que dessa vez, um anel de noivado.
Com o brilhante bem na frente das minhas vistas, fico me perguntando
se vou fazer a coisa certa. Se não estarei sendo precipitado demais.
Bem, a resposta eu só vou saber se for lá e perguntar a ela.
Bruno tem razão em tudo que disse. Marina e eu vivemos como marido
e mulher desde o início do namoro.
A fase em que cada um mora para um lado, dormindo juntos por
algumas vezes, só veio agora e foi somente porque fomos induzidos a isso. Se
não fosse por Patrícia nos ameaçando, eu e ela não teríamos tido e sensação
de um namoro convencional.
Meu amigo também teve razão quando me alertou que o medo de fazer
a proposta é ilegítimo. Minha garota, apesar da idade, tem plenas condições
de entender exatamente o que um noivado e um casamento implicam. E
também, não é como se fôssemos casar amanhã mesmo. Na minha cabeça, o
noivado é apenas o primeiro passo de uma caminhada rumo ao destino final,
resumido em tê-la oficialmente minha.
A aliança no seu dedo é como tornar ainda mais definitivo o nosso
relacionamento, é deixar que todos saibam que ela tem dono, assim como eu
também tenho, sim, pois, da mesma forma que fiz com o anel de
compromisso, estou disposto a usar a minha aliança. Não tenho a intenção
nenhuma de tentar passar a ideia de que estou livre, quando a realidade não
poderia ser mais diferente.
— Vamos lá, cara – digo em voz alta, tendo decidido que o tempo de
ser cagão acabou. — Ela já deve estar preocupada com a demora.
Depois de me convencer que estou tomando a decisão certa, saio do
quarto e rezo para que Marina me dê a resposta que eu espero obter.
Ao entrar novamente dentro do nosso quarto, encontro Marina sentada
no sofá de dois assentos, que fica na lateral direita do quarto e com seu
vestidinho florido e de alças, ela abaixa o celular que até então encarava com
total concentração e me fita, esperando eu falar alguma coisa.
— Atrapalho? – aponto para o celular.
— Não, só estava lendo meu livro enquanto você não vinha – afirma,
me fazendo lembrar do quanto ela gosta de ler. Os romances são sua paixão e
minha garota é adepta aos livros digitais, pois, segundo seu entendimento,
são práticos e mais leves.
— Marina... – me ajoelho na sua frente, apoiando as mãos em cima do
seu colo. — Eu não sei como fazer isso sem parecer um completo idiota –
estou tão nervoso que minha voz sai enguiçada.
— Estou ficando preocupada, amor. Você está tremendo? –
preocupada, meu anjo passa a mão pelo meu rosto.
Estou, sim!
— Se a situação fosse outra, faria tudo do jeito que você merece –
começo a me justificar. — É só que... Não posso mais esperar e não posso
fazer do jeito grandioso que gostaria e que você merece – confesso a verdade.
Eu sei que poderia esperar e aguentar mais uns dias até fazer isso da
maneira que ela merece. Mas, a empolgação de saber que estamos prestes a
ter a nossa liberdade de volta foi tanta, que não aguentei, quando dei por mim
já estava na joalheria, assim como estou aqui, de joelhos e sem saber ao certo
o que dizer.
— Erick, você não vai... – começa e se emocionar e coloca a mão na
boca para disfarçar o fato.
É, meu amor, é exatamente isso que passa pela sua cabeça.
— Vou, sim – abaixo a sua mão esquerda e abro a direita, que até então
estava fechada em cima do seu colo. — Eu amo você mais que tudo nessa
vida, por isso queria saber... — Sim! — ... casa comigo?
Falamos ao mesmo tempo, e com os olhos marejados, Marina olha para
o anel que ostenta uma brilhante pedra de diamante, pedra essa que tem
dentro dela o formato de dois corações entrelaçados, assim como eu quero
que seja a nossa vida daqui em diante.
Noivos
Marina

— Desculpa – peço, entre risos e lágrimas.


Sim, pareço uma doida ao fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas,
como me segurar quando tenho o homem da minha vida de joelhos e me
pedindo para ser sua esposa?
Acho que estou até me comportando bem; poderia ser pior, eu poderia
estar agindo como a maluca que finjo não ser e sair correndo pela casa,
contando para todos os funcionários que eu, Marina Junqueira, fui pedida em
casamento.
— Pelo quê? – pergunta meu noivo – que delícia falar essa palavra – ao
me tirar do meu devaneio e me fitar com um olhar curioso.
Ele deve estar me achando uma maluca. Não julgo se estiver, eu
também acharia estranho ver alguém rir e chorar ao mesmo tempo.
— Não pareço uma doida?
— Parece, sim, mas é a minha doidinha – diz, sendo fofo. — Posso?
— Deve – estico a mão e ele coloca a aliança, beijando meu dedo em
seguida.
— Por essas lágrimas, posso supor que gostou dela? – indaga, olhando
para o anel de diamante enfeitando o meu dedo.
— Eu amei, de verdade, querido – fico babando e pensando em como
Erick me conhece bem, escolheu uma aliança que é a minha cara, nem menos
nem mais e sim a que eu provavelmente escolheria se tivesse ido junto.
— Que bom, porque dessa vez eu não tive a ajuda da chatinha – revela,
ao se levantar, correr até o criado e da gaveta tirar alguma coisa.
— Agora sim – volta, ostentando uma aliança de prata no dedo. —
Noivos.
Parado na minha frente, meu amor me estende a mão e a eu pego, sem
pensar em mais nada que não seja esse momento especial.
Vendo de perto o rosto tão amado por mim, entendo que tudo valeu a
pena. Se para chegarmos até aqui foi preciso andarmos por caminhos
tortuosos, garanto que viveria tudo outra vez. Tudo o que me trouxe para esse
dia, nesse quarto e com ele, que em breve vai ser oficialmente meu.
Meu esposo, o amor para toda a vida.
— Noivos – enlaço o seu pescoço, e ao circular a minha cintura em um
abraço possessivo, Erick me beija – um beijo calmo e cheio de significado,
onde tenta transmitir sentimentos que no momento a boca não pode falar.
— Amo você – depois de um tempo, ele finalmente diz: — Amo –
beija meu pescoço — você – viaja por todo o meu rosto e finaliza: — minha
vida.
Essa última parte Erick diz olhando dentro dos meus olhos, e eu não
consigo fazer ou dizer nada além de beijá-lo novamente.
Dessa vez é diferente do seu, meu beijo foi mais faminto, daqueles que
fazem a gente perder o rumo de casa. O tipo que faz a calcinha molhar, caso
você esteja vestindo uma, e que traz uma repentina vontade de ficar e de
deixar alguém nu.
O bom dele é que afeta o meu homem na mesma medida em que me
afeta, pois quando dou por mim, Erick já tirou o meu vestido e calcinha e em
segundos me vejo de volta à cama e com meu noivinho mandando ver.
Da primeira vez, optamos pelo amor gostoso, em homenagem ao nosso
noivado e da segunda, fodemos do jeito que eu e o diabo gosta, o tipo de
transa em que se ouve palavrões ao invés de declarações, e tapas e arranhões
ao invés de beijos e afagos.
Tanto no amor lento e cheio de sentimentos, quanto no sexo cru e
frenético, o prazer que eu e Erick sentimos é o mesmo, a diferença é que eu
amo e aceito ele, ao passo que meu preocupado noivo, apesar de amar, tenta
se abster de fazê-lo, por medo de julgamentos errôneos.
Apesar de não concordar, tento entender o seu temor pelas
interpretações erradas que as marcas do nosso sexo podem resultar, mas, por
outro lado, eu entendo e tento colocar na sua cabeça que não tem nada de
errado conosco, que o que acontece no nosso quarto não é e nem nunca será
pauta para julgamentos, até porque a nossa diferença de idade já é assunto
suficiente para que algumas mentes preconceituosas nos virem a cara.
O que eu quero é o Erick de agora, que se dá e me dá prazer do jeito
que apreciamos, sem se preocupar se pode ou não me machucar quando as
coisas ficam quentes demais, afinal, ele sabe que confio nele o suficiente para
fazê-lo parar quando achar que está me dando mais do que eu posso aguentar.
— Mais, Erick. Mais forte – minhas mãos se agarram ao pano fino da
cama como um bote salva vidas, enquanto meus joelhos lutam para sustentar
o peso de todo o meu corpo e as investidas bruscas do meu noivo. Em pé e
segurando o meu quadril com possessividade, ele faz como eu peço, e
espalma a mão na minha bunda com maior intensidade do que tinha dado do
outro lado.
— É assim que você gosta, não é? – investe, agora alisando as
bochechas ardidas e marcadas da minha bunda. — Muito safada, essa minha
mulher.
— Erick, acho que eu vou... – interrompo o que estava prestes a dizer,
pois, me conhecendo como conhece, ele sabe exatamente o que eu quero e
leva a mão até o meu clitóris e o estimula em sincronia com suas estocadas
que estão cada vez mais profundas e cadenciadas.
— Você vai, sim... – diz, com a respiração curta. — Goza pra mim,
minha gostosa – pede, ainda metendo, e como se seu comando de voz
também comandasse o meu corpo, gozo, chamando por seu nome como quem
reza um mantra.
Me sentido exausta, meu corpo desaba sobre o colchão, e sustentando o
peso do seu corpo pelos braços, Erick ainda me penetra algumas vezes, até
que se libera dentro de mim.
Com os corpos inutilizáveis e com dificuldade para respirar, tombamos
sobre a cama e assim ficamos, até sentirmos a adrenalina pós-foda baixar.
Depois de um tempo, ouço a cama se balançar e já sei que Erick está
pronto para outra.
— Amor – chama, ao beijar a parte alta das minhas costas.
— Humm – ainda me sentindo languida, isso é tudo que consigo
murmurar.
— Não foi assim que imaginei esse momento – sorrindo, ele sussurra
no meu pé do ouvido, enquanto dá leves mordidas pelo meu pescoço suado.
— Mas confesso que está sendo mais delicioso do que se tivéssemos
planejado uma festa
— Eu não mudaria nada. Foi perfeito do nosso jeito, além disso, tudo o
que precisamos para que torne o momento perfeito é estarmos felizes e
convictos do que queremos e somos para o outro – afirmo, e sua boca insiste
em distribuir beijos, que do meu ombro passam novamente pelo pescoço até
chegar ao lóbulo da minha orelha.
— Muito sensata a minha garota – Erick me elogia, sem deixar por um
segundo de me tocar.
É assim que somos nos momentos em que estamos juntos. Se antes
éramos carinhosos um com o outro, nas últimas semanas e
inconscientemente, estamos agindo como se nunca tivéssemos o suficiente,
como se precisássemos reafirmar e relembrar o porquê de não conseguirmos
ficar separados.
Seja nos toques sexuais, seja nos mais inocentes, o que nos importa é
estarmos sentindo um ao outro. Então, para mim não importa a forma como o
pedido foi feito, pelo contrário, ele representou com perfeição o que somos.
— Eu não poderia ter planejado melhor essa manhã. Prefiro transar a
ser obrigada a dividir o nosso momento em uma festa em que parte das
pessoas viriam para nos julgar e sair falando mal – confesso. — Só
acrescentaria um passeio, o nosso primeiro como futuros Senhor e Senhora
Estevan – minha boca grande não se abstém de completar o raciocínio com o
infeliz comentário.
Percebendo que falei o que não devia, viro-me e deito de barriga para
cima, quem sabe assim eu não o distraio do rumo que os seus pensamentos
podem tomar.
— E posso saber onde a senhorita minha noiva gostaria de ir para
comemorar? – Erick questiona, com a cabeça apoiada em uma mão e o rosto
pairando sobre o meu enquanto a outra mão faz movimentos circulares em
volta do meu umbigo.
É, pelo jeito meu plano não deu muito certo.
— No nosso lugar – digo, e ele sabe que me refiro ao parque onde foi o
nosso fim e recomeço.
Por tudo o que aconteceu lá, o lugar acabou se tornando o nosso
refúgio, onde podemos estar conectados com a natureza. Se de dia ele é
movimentado, à noite e no cantinho onde somente nós dois temos acesso,
podemos ter nossa privacidade e a paz que buscamos, longe da realidade de
uma cidade movimentada.
— Bom, talvez eu possa dar um jeito de irmos para lá. Nós
só precisamos ser discretos – diz.
— Não é muito arriscado? – indago, preocupada.
— É, sim, mas se tivermos cuidado, vai dar tudo certo – explica. —
Vamos sair com o motorista pela rua de trás do condomínio, só por
precaução.
— Tudo bem. Estou tão animada – levanto da cama num pulo e saio
perguntando: — Vamos tomar banho?
— Nesse banho vai rolar um agradecimento especial? – ele pisca com
malicia, ao descer os olhos por todo o meu corpo nu, o olhando como se
estivesse me vendo pela primeira vez.
— Isso você só vai saber se vier descobrir – devolvo a piscada e entro
no banheiro, mas não sem antes escutar sua reposta:
— Não precisa chamar duas vezes, gostosa.

Erick

A fim de sermos discretos, Marina e eu saímos com Jorge de motorista


e por um caminho diferente, mas nenhum desses cuidados me tira a sensação
de estar sendo observado. Paranoico, fico todo o caminho olhando para trás e
pela janela verificando se não estamos sendo seguidos.
É claro que não estamos, temos sido discretos, então não tem como
Patrícia ter descoberto alguma coisa, e se tudo der certo, amanhã mesmo ela
terá uma surpresinha.
Finalmente vamos nos livrar da chantagista e viveremos em paz, assim
como vivíamos antes.
— Eu estou tão feliz – Marina interrompe meu devaneio, ao deitar a
cabeça no meu ombro.
— Eu também, pequena – olho para os nossos dedos entrelaçados e
continuo: — Hoje nada vai estragar o nosso dia, e em breve não precisaremos
mais ficar namorando em segredo, como dois criminosos que se escondem da
polícia.
— Eu sei, confio em você – afirma.
Quando chegamos, já perto da hora do almoço, preparamos um
cantinho perto da árvore que ela batizou como nossa, arrumamos a toalha e lá
colocamos a comida que Maya ajudou a preparar. Depois de almoçarmos e
descansarmos um pouco, minha noiva e eu dividimos a tarde entre banhos de
cachoeira e caminhadas de mãos dadas pelo parque, que não está tão
movimentado, talvez por ser um dia de domingo.
Com orgulho, Marina sustenta o seu brilhante, assim como eu uso a
aliança que faz par com ele.
No fim do dia, quando já está escurecendo e o lugar está praticamente
vazio, chamo Jorge e ele logo chega com o carro.
— Está feliz? – indago, enquanto com o braço em volta da sua cintura,
nos dirigimos para perto do veículo.
— Exausta, mas feliz – sorri entre um bocejo.
— É pra isso que eu vivo, amor – afirmo, beijando a sua testa. — Pra te
ver feliz – assevero, e já estamos próximos ao carro quando de repente nossa
conversa descontraída é interrompida por uma odiosa voz:
— Ora, se não é o casalzinho feliz – nós dois nos voltamos para trás, e
entre a escuridão que começa a cair sobre o parque, vejo a conhecida peruca
negra e os enormes óculos que cobrem o seu rosto.
— Patrícia? – digo, e ao meu lado sinto minha garota se encolher.
— Eu mesma, vocês acharam mesmo que iriam me enganar?
Não durma
Erick

"Vocês acharam mesmo que iriam me enganar?"

O tom sombrio da sua voz gela meus ossos e eu passo a observar com
atenção todos os seus movimentos. Pelo meu canto de visão, reparo poucas
pessoas transitando tranquilamente, ao se dirigirem para suas casas, e mais à
frente, Jorge se encontra dentro do carro de vidros escuros. Esperto como é,
eu espero que ele perceba a movimentação estranha a nossa volta e que não
faça nada ou que tenha o bom senso de agir apenas se necessário.
— Aqui não, Patrícia. Vá embora, por favor, amanhã eu te procuro.
Nós precisamos conversar – tento falar com tranquilidade, ao passo que do
meu lado, Marina permanece quieta, com sua mão agora unida à minha.
— Não vou, o tempo de me fazer de idiota acabou, Erick Estevan –
afirma. — Não sei o que disse para essa idiota, mas isso não vai ficar assim,
você e todo aquele escritório serão meus – diz, ao começar a caminhar na
nossa direção. — E essa vadia mirim que vá para o inferno.
— Pare aí mesmo, Patrícia. Não chega perto dela – empurro o corpo da
minha pequena para trás do meu e prossigo: — Acabou pra você. Eu sei do
seu envolvimento no crime de apropriação indébita no caso dos Ferraz, então
é o seguinte: ou você se afasta de nós ou eu mesmo vou à imprensa e a
polícia para contar do seu pequeno deslize – ameaço, e seu rosto começa a se
contorcer em fúria. — Acho que você não gostaria de se ver envolvida num
escândalo desse tamanho, não é mesmo? – termino.
Essa conversa era para ter sido de outra forma, longe o suficiente para
que essa mulher não tivesse a oportunidade de colocar os olhos em cima da
Marina.
— Isso não vai ficar assim, não vai. Nada está saindo como eu planejei,
querido. Eu ia me livrar dela e nós dois seríamos felizes, mas você teve que
estragar tudo. Se deixou sujar pela mediocridade dessa menina e agora está
aí, me ameaçando – desnorteada, ela começa a dar passos para trás, ficando
cada vez mais distante de nós – quando viro de costas para checar se minha
noiva está bem, ainda sou capaz de ouvi-la repetir por incontáveis vezes:

Não vai ficar assim.

Não vai.

Um pouco à frente, Jorge abaixa os vidros negros do carro e eu vejo


seu rosto mais tranquilo por tudo ter acabado bem.
— Acabou, meu amor – limpo suas lágrimas que agora escorrem. —
Pobrezinha – beijo seus olhos. — Está tudo bem, agora poderemos ter paz.
— Eu te amo, Erick – seus olhos me fitam com pesar, coisa que não
consigo entender. Era para ela estar feliz, nós finalmente estamos livres. —
Jamais se esqueça disso – fica na ponta dos pés e deixa um beijo no canto da
minha boca, e eu sinto o gosto salgado de uma grossa lágrima que escorre do
seu olho até os meus lábios.
De uma hora para outra, como um filme em câmera lenta sendo rodado
na minha frente, meus olhos avistam Jorge abrir a porta, sair de dentro
do carro e Marina se afastar e desviar os olhos para algo que acontece atrás
de mim.
Quando vou me virar para entender o que aconteceu para ter chamado
a atenção tanto de Marina quanto de Jorge, minha mulher abre os abraços e
joga o corpo na frente do meu.
— Erick, não – são suas últimas palavras, antes que seu corpo dê um
impacto para trás. No impulso, lhe seguro e só então consigo entender o que
aconteceu.
— Meu Deus, não. Não faz isso comigo – suplico. — Marina, meu
anjo, o que foi que você fez? – amparando-a pelos braços, vou me abaixando
até que meus joelhos estejam sobre a grama verde e que tenha a sua cabeça e
parte do tronco apoiados nas minhas pernas.
Rapidamente um alvoroço se instaura a nossa volta, as poucas pessoas
que ainda transitam se dividem entre correr assustadas pelo tiro e ajudar Jorge
a conter a miserável que, querendo me atingir, acabou acertando meu amor,
que na tentativa de me proteger acabou sendo ferida.
Dentro da minha cabeça, uma batalha está travada; um lado quer ir até
a infeliz – que já está sendo contida por dois homens, enquanto Jorge faz uma
ligação que eu suponho ser para a polícia – e torcer seu pescoço com as
minhas próprias mãos, e o outro que não consegue se mover, por medo do
que pode acontecer caso se afaste um centímetro sequer para longe da minha
mulher.
Levando segundos para entender tudo o que acontece a minha volta,
abaixo a cabeça e ver seu rosto, seu corpo e ouvir suas palavras, me faz
perceber que nunca houve outra escolha, que minha prioridade sempre foi e
sempre será ela.
— Erick... – sussurra, e sua voz sai tão fraca que não deixa dúvidas do
quanto se esforça para se manter consciente.
Não durma, princesa.
Resista, mantenha esses lindos olhos abertos.
— Não faça esforço, meu amor – suplico, quando tenho coragem para
descer olhos mais para baixo e vejo uma enorme mancha de sangue começar
a se acumular bem próximo do seu peito. No ato, minha garganta ameaça se
fechar e meus olhos se enchem de lágrimas.
O nó na garganta, o embrulho no estômago e as lágrimas que não
hesitam em cair são sinais claros do meu desespero.
Desespero por entender a gravidade do seu estado e por medo do
futuro, um futuro que nem sequer ouso pensar.
— Vai ficar tudo bem, temos uma vida inteira para conversar – digo
para ela e para mim mesmo.
Com as mãos trêmulas e tentando não fazer movimentos bruscos, grito
para alguns curiosos que começam a se acumular a nossa volta.
— A ambulância, porra! Alguém, por favor, chama uma ambulância...
– falo mais baixo e não consigo segurar a emoção quando ouço minha
preciosa gemer em agonia e seu rosto ficar cada vez mais sem vida. — A
minha mulher, ela...
Não tenho coragem de terminar a frase, porque o pensamento que
passou por minha cabeça é cruel demais para ser externado.
— ... aqui mesmo, tem uma moça, ela foi baleada e parece ser grave.
Depressa.
Sem tirar os olhos da Marina, que apesar de me fitar, parece não estar
conseguindo focar em mim, ouço o barulho da sirene de polícia.
Provavelmente vieram prender a ordinária.
— Cadê a porra dessa ambulância, caralho? – olho em volta, irritado
pela polícia ter chegado antes do socorro. — Aguenta firme, meu amor –
peço, ao fazer carinho no seu rosto pálido. — Vai ficar tudo bem, prometo –
ela ainda tenta abrir um sorriso, mas falha miseravelmente. — E você sabe
que costumo cumprir com as minhas promessas.
— Erick, o meu tempo está acabando... – diz, num fio de voz, e tenho
vontade de tapar os ouvidos com as mãos apenas para não ouvir a frase tão
definitiva saindo da sua boca, já ressecada e sem vida. — Você precisa
prometer...
— Não fala nada, amor – imploro, com a voz embargada pelas
lágrimas.
— Promete que vai ser feliz, que quando eu partir você vai refazer a
sua vida? – faz força para formar as frases.
— Prometo que nós vamos ser felizes – respondo, enfático. — Você
vai ficar boa e nós vamos nos casar e um dia ter nossos bebês, lembra? Você
prometeu, linda – tento sorrir para ela.
— Eu fui muito feliz com você, do jeito que um dia sonhei e achei que
não seria possível realizar – afirma, com a voz quase sumindo e os olhos mais
baixos. — Eu sempre vou te amar, de onde estiver, estarei olhando você. Te
amo...
Essas são suas últimas palavras antes de perder a consciência.
— Não, Marina – imploro, desesperado. — Não faz isso, olha pra mim.
Eu não vou deixar você ir, nunca!
Cuidadosamente, desço meu corpo sobre o seu, até sentir minha
camiseta ensopar com o sangue pegajoso e quente, e selo os nossos lábios
pela última vez.
Quando ao longe finalmente consigo ouvir o som da sirene, ainda
tenho forças para rezar. Para pedir a quem quer esteja nós olhando, que faça
um milagre, que não me tire o que me é mais precioso nesta vida. Não a
minha Marina, tão jovem e cheia de vida, ela não merece ter sua vida
interrompida tão cedo e de maneira tão covarde.
Enquanto os paramédicos fazem o trabalho, caminho de um lado para o
outro, ouvindo-os cochichar palavras tão desanimadoras sobre seu estado,
que nessa hora eu me pergunto se não seria melhor se eu fosse surdo. Nada
de animador sai de suas bocas. Segundo eles, os sinais vitais da minha
menina estão fracos e o fato de estar perdendo muito sangue agrava ainda
mais a situação.
— Alguém me diz alguma coisa, por favor – me aproximo quando a
colocam dentro da ambulância.
— O senhor é o noivo?
— Eu mesmo – digo para a paramédica, e seu olhar não consegue
esconder a pena que sente, tanto da Marina quanto de mim, que não escondo
meu desespero e agonia.
Ao vê-la se dirigir para dentro da ambulância, que já tem Marina em
uma maca, com uma máscara de oxigênio no rosto e expressão tão serena,
que mais parece estar dormindo do que gravemente ferida, lhe sigo na
intensão de acompanhá-la até o hospital, mas sou prontamente barrado pela
mesma.
— O senhor não pode vir conosco – avisa.
— Não me peça isso – suplico.
— É para o bem dela – explica com paciência e eu concordo, resignado
e sabendo que precisarei do Jorge. Ele está entrando novamente dentro do
carro, isso depois de ter despachado a desgraçada para a polícia.
— Ela vai ficar bem? – pergunto para a paramédica sentada na frente
da Marina e preparando algum tipo de aparelho que eu não sei e nem quero
imaginar o que significa.
Com pesar e sabendo exatamente o estado da minha noiva, ela se limita
a dizer:
— Eu não posso te dar essa informação...
Continua falando os motivos de não poder me dar um diagnóstico, mas
eu já não lhe ouço. A minha mente se fecha novamente, me levando de
encontro a fé que há tanto tempo foi esquecida. Fé num Deus que por tanto
tempo ignorei, mas lembro de ser misericordioso, um Deus que não vai levar
minha menina, cheia de saúde, vitalidade, com tantas coisas a viver e tantos
sonhos para realizar.
Resista
Erick

Vejo o mundo girar lentamente ao meu redor, e sinto como se minha


cabeça estivesse prestes a explodir pela dor insuportável e a náusea que me
embrulha o estômago desde a hora em que pisei meus pés nesse ambiente frio
e insípido. Às pressas, Marina foi levada para a sala de cirurgia, onde os
médicos estão fazendo de tudo para salvar a sua vida.
Depois de ter sido impedido de vir junto com ela na ambulância, fiquei
sabendo o motivo e agradeci aos céus por não ter feito cena, já que, assim que
cheguei ao hospital, fui informado de que precisariam de espaço para
tentarem reanimá-la e eu certamente não teria estômago para presenciar essa
cena.
Com um Jorge tão preocupado quanto eu, não foi necessário pedir para
que pisasse o pé no acelerador, e felizmente chegamos segundos antes da
ambulância, tempo suficiente para que eu assinasse todos os papéis que
autorizavam a cirurgia da minha garota. Situação que não precisaria estar
passando, se ela não tivesse feito o que fez. Sim, a minha mulher levou um
tiro no peito e foi por mim. Ela entrou na frente de uma bala para me
proteger, quando o certo seria eu ter feito isso por ela.
E mais uma vez eu falhei.
Falhei na promessa que fiz ao meu amigo, quando prometi cuidar e
protegê-la, falhei com comigo mesmo e principalmente com ela, que não
questionou, apenas decidiu confiar quando da minha boca saiu a promessa de
que iria resolver a situação da melhor maneira possível.
No fim das contas, eu não só subestimei a capacidade da Patrícia em
fazer maldade, como coloquei a minha mulher em cima de uma cama de
hospital, e se alguma coisa der errado e o pior acontecer, eu não só terei de
conviver com a dor pelo resto dos meus dias, como também com a culpa,
uma culpa que mereço carregar, simplesmente por não merecer a fé
depositada em mim.
Foi por mim, foi por amor Marina que levou um tiro tão próximo ao
coração.
Meu amor, por que você fez isso? Não era para ser assim. Era eu
quem devia estar no seu lugar... Eu não posso perder você. Por favor, se
realmente existe um Deus aí em cima olhando por nós, não a tire de mim. Eu
não vou suportar.
Isso não pode acontecer, rogo, chorando em silêncio, enquanto Bruno
numa rara demonstração de carinho, tenta com gestos tímidos e palavras de
apoio me consolar da forma que pode. Do outro lado, só que mais distante, do
jeito que ela é, Ângela tem os olhos vermelhos e a expressão abatida, pelo
tanto que se desesperou depois de eu ter lhe avisado o que aconteceu. Pela
minha dor, imagino o que ela deve estar sentindo em ver a sua melhor amiga
nessa situação. Eu diria que são mais que isso, elas são como irmãs, uma
relação bonita de se ver, apesar de serem tão diferentes.
Olhando em volta, vejo Maya, Lua e alguns dos empregados da casa,
que a respeitam e tratam com tanto carinho e cuidado. Em suas expressões,
posso ver o pesar, a tristeza e até a raiva de quem foi capaz de feri-la tão
gravemente.
— Vocês são os amigos da senhorita Marina Junqueira? – uma voz
grave e preocupada pergunta, depois de olhar o nome na prancheta que
suponho ter os dados da Marina e informações referentes ao seu estado de
saúde. Ao ouvir a sua voz, levanto a cabeça que até então estava baixa e
encarando o piso, enquanto minha mente não deixou de trabalhar e implorar
por um milagre. O estado em que minha noiva ficou e a expressão que agora
vejo no rosto e na voz do médico que primeiro a atendeu, não deixa dúvida
da gravidade do seu estado.
Quando balanço a cabeça em reação à sua pergunta e todos param para
ouvi-lo com atenção, ele continua:
— Estamos fazendo o possível para que... – se interrompe no meio da
frase. — Mas receio ser melhor irem se preparando, caso...
— Cala a boca – grito, ao levantar-me do banco e dar um soco com
todas as minhas forças na parece mais próxima. — Não, isso não pode estar
acontecendo, você não sabe o que diz – a adrenalina corre por minhas veias, e
eu sinto Bruno do meu lado, tentando conter a minha fúria.
Isso não está acontecendo com a minha Marina. Ela não pode estar me
deixando dessa forma. Nós temos tantos planos.
— Não! Ela não vai fazer isso, Bruno - em estado de negação, seguro o
rosto do meu amigo. Ele tem que acreditar em mim. — Marina me ama, você
sabe disso. Não vai me deixar sozinho, é ele quem está mentindo, não é? –
ele me abraça, penalizado, e eu não contenho o choro que já estava
controlado.
— É claro que sim – Bruno me consola, ao interromper o nosso abraço
e segurar o meu rosto com as duas mãos. — Acredite na força da sua mulher,
ela vai resistir e voltar para você.
— Vai resistir. Vai resistir – saio de perto de todo mundo, caminhando
de um lado para o outro, ao passo que na minha cabeça um mantra se repete:
Resista, Marina.
Resista.
Resista.
Sem que eu esteja esperando, Ângela para ao meu lado, e quando me
viro em sua direção, me dou conta do quanto estou sendo egoísta. Ela está
sofrendo tanto quanto eu. A garota só precisa do apoio da pessoa que sabe
exatamente o que ela está sentindo.
Quando já não consigo conviver com os sentimentos que vejo nos seus
olhos, estendo os braços, e chorando, ela me abraça apertado.
— Ela tem que ficar bem, Erick – funga contra a minha camisa.
— Marina vai sobreviver. Eu sei que vai – tento dar forças para ela
quando nem eu mesmo tenho.
Por uns instantes, continuamos abraçados, até que uma movimentação
estranha se inicia e do meu campo de visão vejo uma enfermeira sussurrar
algo no ouvido do doutor e seu semblante mudar da água para o vinho. Se
antes era pesar, o que vejo agora é um total espanto. No ato, desvencilho-me
do abraço de Ângela, aponto para o médico que eu nem tinha percebido que
ainda estava aqui e juntos nos aproximamos dele. Ao me ver na sua frente,
tenho coragem de fazer a pergunta:
— Doutor – chamo, e tenho a sua atenção. — A minha noiva, ela...
— Sua noiva é uma lutadora, ela está voltando – se limita a dizer, antes
de sair às pressas para a sala de cirurgia.
Ela está voltando, a minha Marina está voltando para mim. Minha
pequena guerreira sabe que ainda não é a sua hora.
— Ouviram isso, pessoal? – pela primeira vez eu consigo falar e
enxergar de verdade todas as pessoas que estão aqui, seja orando, chorando
ou apenas prestando solidariedade, o importante é que todos que antes
choravam agora têm em seus rostos a inconfundível expressão de esperança.
Todos nós agarrados a esse pequeno fio de esperança, de saber que ela ainda
tem uma chance. — Minha menina bonita é uma guerreira – digo, cheio de
orgulho.
Quieta em um canto, Ângela, que agora chora de alegria, se vira para
buscar água no bebedouro e ao acompanhar os seus passos, vejo Bruno ir
atrás dela. Um gesto estranho que não tenho tempo para pensar agora.
Nas horas que se seguem, os amigos do colégio que vieram dar apoio,
os funcionários da mansão que agiram como só alguém da família agiria e
Lua, que também sentiu muito o que aconteceu com a amiga e funcionária,
essas pessoas vão pouco a pouco indo embora, sob o pedido de que sejam
avisados, caso haja alguma mudança no quadro de saúde da Marina.
Aqui no hospital continua apenas os mais próximos, os que não
conseguem arredar o pé lugar. Ângela e Maya não me surpreendem, já que as
três são tão unidas. Bruno, por outro lado, apesar da nossa recente
proximidade e de ser agora o meu melhor amigo, teve atitudes que eu não
esperava.
O Bruno que eu julgo conhecer jamais demonstraria tamanha
preocupação, solidariedade e afeto. Com ele, tive uma boa surpresa e me
serviu como um tapa na cara, me mostrando que não importam os defeitos,
são nessas horas que os verdadeiros amigos mostram as caras e depois do que
presenciei, já não consigo olhá-lo com olhos de crítica. Se ele é quem é e age
da forma que age, é porque certamente tem seus motivos.
Nesse período de tempo em que o médico responsável apareceu uma
única vez para avisar que as próximas horas pós-cirurgia seriam cruciais para
a recuperação da Marina, ainda recebi a ligação dos meus pais, que mesmo
não sendo tão próximos – já que moram em outro estado – conhecem Marina
quase há tanto tempo quanto eu e sabem da sua importância na minha vida,
ainda mais agora que estamos juntos e noivos. Informação que mamãe não
gostou nada de saber, pois para ela é o fim do mundo não ter lhe incluído nos
meus planos. Minha senhora só se acalmou quando expliquei que não foi
nada planejado com maior antecedência e que somente hoje, ou
ontem, considerando o fato de estarmos em plena madrugada, que eu fiz o
pedido oficial.
— Erick Estevan – me levanto de imediato da cadeira em que estava
sentado, ao ouvir a voz do médico de Marina me chamar. — O senhor tem
alguns minutos para visitar a sua noiva. Milagrosamente, a cirurgia foi um
sucesso e ela já foi encaminhada para o centro de terapia semi-intensiva.
— Antes você precisa saber de uma coisa – diz, apreensivo.
— Fala, Doutor, o que aconteceu? – começo a me desesperar
novamente.
— A moça entrou em coma – sinto meus ombros caírem e meu coração
parar de bater quando ele termina de falar.
— Caralho, isso só pode ser uma brincadeira – Bruno e Ângela já estão
ao meu lado, e quando olho para seus rostos, vejo olhares de tristeza e pesar.
— O senhor precisar se acalmar, na gravidade do caso dela, com a
cirurgia e os remédios que tomou, isso é comum. A mente e o corpo dela só
precisam de descanso.
— Tem ideia do quanto isso pode demorar, Doutor?
— Infelizmente não, pode levar um dia, semanas ou até meses. Cada
organismo reage de uma forma, e como a sua noiva é jovem e demonstrou
uma garra fora do comum, nós da equipe médica acreditamos e torcemos para
que ela volte a si o mais rápido possível.
— Tudo bem... – digo, porque sei que apesar de tudo, ele não sabe por
quanto tempo ela vai ter que ficar aqui e nem o quanto terei que viver sem a
sua presença. — Eu só... preciso ver a minha mulher.
Viro as costas e vou ao encontro do meu amor.
Por você
Erick

— É por aqui, Erick – Ângela me acompanha ao centro de terapia


intensiva onde minha Marina se recupera, e eu sei que apesar de tudo indicar
que correu tudo certo, seu estado ainda inspira muitos cuidados, uma vez que
a cirurgia para a retirada da bala que se alojou próxima ao coração, foi
bastante delicada. Um tiro que levou por mim, uma trágica e definitiva prova
de amor, que se pudesse eu teria evitado.
— Tudo vai terminar bem, não é? – indaga uma Ângela menos abatida,
como se precisasse que fiquem afirmando o tempo todo, para que só assim
consiga acreditar que é real, que a amiga dela em breve vai voltar para nós.
— Vai, sim, querida. Tenha certeza disso – afirmo, e ela assente com
um balançar de cabeça.
— Você pode entrar primeiro, tenho certeza de que ela vai ficar feliz
em te ver. De ouvir a sua voz – afirma, e suas palavras me deixam exultante
de alegria, talvez por saber que a minha presença possa de alguma forma
ajudá-la a se recuperar mais rápido.
Quando entro no quarto, primeiro lavo as minhas mãos com álcool em
gel e depois de fazer os procedimentos de praxe, finalmente meus olhos a
procuram. Tão pequeno e deitado em cima de uma cama está o corpo inerte
do meu amor. Ela tem a expressão serena e tão quieta, que quase dá a
impressão de não estar respirando. O alivio vem quando, de maneira quase
imperceptível, vejo seu peito em movimentos de subir e descer e o bipe dos
aparelhos que estão ligados ao seu corpo.
— Oi, meu amor – me aproximo e dou um beijo no seu rosto pálido e
ainda ligado a alguns fios. — Estou aqui e não vou sair do seu lado até te ver
em pé, e quando juntos, iremos embora desse lugar que eu tenho certeza que
você não gosta.
Falo, mas a minhas vistas já estão turvas e a minha garganta fechada.
Me parte o coração vê-la aqui, imóvel e debilitada. Logo ela, tão cheia de
vida.
Quando uma única lágrima começa a escorrer pelo meu rosto, eu juro a
mim mesmo que custe o que custar, Patrícia vai pagar muito caro. Ela não vai
sair impune dessa, isso eu mesmo vou garantir.
— Sabe que eu não vejo a hora de ter esses seus lindos olhos me
encarando? – volto a conversar com ela, deixando a raiva para depois, para
quando estiver recuperada o suficiente e eu possa pensar em outra coisa. —
Eu preciso que você faça isso, por mim. Sei que gosta muito de dormir – um
sorriso triste paira nos meus lábios quando me lembro dessa sua
característica. — Mas seus amigos estão ansiosos para ver e falar com você.
Meu amor, você tem que abrir os olhos para mim, ficar mais linda do que já
é, e ir mostrar para eles o quanto é forte – olho para uma cadeira encostada na
parede, vou até ela e a trago para junto da cama.
— Pronto, princesa. Assim está melhor – seguro na sua mão imóvel,
que ainda tem o meu anel enfeitando o seu dedo anelar, assim como alguns
fios que a monitoram. — Se você quer descansar mais um pouco, eu não vou
insistir. Desde que não demore muito e desde volte para mim, o mais rápido
que puder.
Ela não voltou.
Passaram-se duas semanas, tempo em que eu, dia após dia, acordava
com a esperança renovada de que ela finalmente abriria os olhos e me
encararia com todo o amor e paixão, e os terminava com a frustração de não
ver nada disso acontecer. Os aparelhos já não estão mais ligados e seu rosto
tem a mesma aparência linda de sempre. É como se ela estivesse em algum
lugar muito melhor e sem vontade ou forças para voltar para mim.
— Por onde você anda, meu amor? – numa manhã de sábado, assim
como tem acontecido todos os dias e desde que eu deixei o escritório aos
cuidados de Bruno, estou sentado na cadeira ao lado da sua cama e
sussurrando ao seu pé de ouvido. — Sei que prometi esperar, mas você não
acha que já descansou o suficiente? – seguro a sua mão e, emocionado, faço o
que desde o dia da sua cirurgia não tenho me permitido fazer. Hoje, no
décimo quinto dia sem ela, eu me permito desabar e choro.
Choro de frustração e medo. O temor de não tê-la de volta, de não mais
poder ouvir o som da sua voz e nem a beleza do seu sorriso. Como ter fé, se
nem os médicos sabem explicar ao certo os motivos de ela ainda não ter
voltado a si?
— Meu amor, você não pode fazer isso comigo – imploro, ao deitar a
minha cabeça em cima da sua barriga e deixar que as lágrimas caiam. —
Você não pode me deixar, eu não sei viver sem você, Marina. Vem pra mim,
meu amor...
Peço mais uma vez, quando de repente, como se de algum lugar
estivesse me ouvindo, Marina aperta levemente a minha mão, me fazendo
ouvir um som que me faz levantar a cabeça de imediato.
— Amor? – vejo seus cílios se mexerem e a percebo se esforçar para
abrir os olhos.

Marina

Deitada sobre a grama verde de um campo cheio de lindos girassóis,


tenho meu rosto levantado para o céu, enquanto um lindo sol de outono beija
a minha pele.
— Deus! Eu estou no paraíso e não quero sair daqui nunca mais. E se
isso for um sonho, só peço que não me acordem jamais.
— Marina? – ouço uma voz me chamar, e me sento rapidamente,
quando reconheço a quem ela pertence.
Tão doce e tão amada.
— Papai? Eu não acredito, papai – vou lhe encontrar pelo caminho de
girassóis, lhe dando um saudoso abraço assim que o alcanço.
— Como eu senti saudades, não me deixe nunca mais – peço, não
conseguindo me desvencilhar dos seus braços.
— Amor, você tem que voltar, as coisas não podem ser assim – ele diz,
soltando os meus braços da sua cintura.
— Não fala isso, papai – peço.
Como me pedir uma coisa dessas, logo agora que o encontrei e estamos
nesse paraíso?
O que mais eu poderia querer?
— Tem certeza de que não está esquecendo-se de nada ou de alguém?
– como se lesse os meus pensamentos, papai pergunta.
Confusa e parando para pensar com mais calma, me dou conta de que
falta alguém. O essencial, a minha pessoa preferida nessa e em qualquer outra
vida.
Erick!
— O Erick, onde está o meu namorado, papai? – de repente, já não me
sinto tão plenamente feliz, o sol que brilha já não é capaz de aquecer o frio
que gelou o meu coração. — Por que ele não está aqui?
— Por isso, minha criança – termina de dizer, e diante dos meus olhos,
uma imagem nítida começa a se apresentar.
Pelo que parece ser um quarto de hospital, vejo meu corpo deitado e
imóvel em cima de uma cama, enquanto um mais magro e abatido Erick
chora, com a cabeça deitada sobre a minha barriga.
— Ele precisa de mim – o entendimento cai sobre a minha cabeça e me
dou conta do que papai estava falando.
É esse o motivo pelo qual eu não posso ficar no campo de girassóis.
Ficar com papai aqui é o mesmo que abandonar Erick sozinho e
sofrendo, assim como faz agora, nesse quarto de hospital.
Não, de jeito nenhum, meu Erick precisa que eu retorne.
Mas, e o meu pai?
— Precisa, minha filha, um erro meu não pode castigar um amor como
o de vocês dessa forma – afirma, quando segura as minhas duas mãos, e me
olhando nos olhos, pede:
— Me perdoa, princesa. Foi pelos meus erros que você acabou em
cima dessa cama – ele olha com pesar a cena que se desenvolve a nossa
frente.
— Não há o que perdoar. O senhor é meu pai e eu te amo. Nada nunca
vai mudar isso – lhe abraço novamente, lembrando-me do quanto sinto
saudade do seu carinho.
— Você tem muito que viver. Vai ser muito feliz e eu estarei aqui,
olhando por vocês, pois sei que um dia nos encontraremos novamente – meus
olhos ficam marejados com as suas palavras.
— Eu amo você, lembre-se disso sempre que a saudade apertar –
declara, fazendo – pela última vez – um carinho no meu rosto e em seguida,
deixando um beijo na minha testa. — Agora, volte – diz, e assim como veio,
seu João desaparece, restando apenas eu e uma voz que não para de me
chamar, como se estivesse aos poucos me puxando desse lugar bonito e
tranquilo.
— Isso, meu amor. Abra os olhos, eu estou aqui, te esperando.
Mesmo sentindo náuseas e uma tremenda dor de cabeça pelo esforço
em abrir os olhos, a voz e o calor da sua mão sobre a minha é um alento. É
ela quem me faz lutar contra a escuridão que tomou o lugar do paraíso.
— Erick... – estranhando a minha própria voz, consigo balbuciar o seu
nome, ainda que tenha falhando em despertar por completo.
— Estou aqui, pequena, e não vou a lugar algum – fala baixinho no
meu ouvido, e eu sinto todo o meu corpo voltar à vida. Agora, o que mais
quero é abrir os olhos e ver o seu tão amado rosto. — Só preciso que tenha
calma e, quando estiver pronta, abra os olhos bonitos para mim, você pode
fazer isso? – indaga, e em resposta, aperto levemente a sua mão.
Sem saber ao certo quanto tempo se passou, eu finalmente consigo
voltar a mim, e quando desperto, um incomodo clarão invade o meu campo
de visão, fazendo a terrível dor de cabeça e a incomoda dor no peito ficarem
mais intensas.
De repente, depois de mexer de leve a cabeça para o lado, sinto
qualquer dor ou incomodo sumirem pouco a pouco, quando encaro o rosto do
meu amor, que está banhado pelas lágrimas e enfeitado com um imenso
sorriso.
— Minha princesa – como uma criança, Erick volta a deitar a cabeça
em cima do meu abdômen e chora, o que imagino ser um choro de alívio e de
alegria e eu, ainda debilitada, consigo com custo levantar o braço e deixar
que meus dedos acariciem sua cabeça, num gesto de carinho e consolo que
sei estar precisando. — Eu te amo tanto – levanta a cabeça, distribuindo
beijos por todo o meu rosto, pescoço e todos os lugares onde consegue
alcançar.
— E-eu também... – me esforço para dizer em palavras os sentimentos
que transbordam do meu coração. Um coração que está batendo por ele e que
não se arrepende nem por um segundo da atitude que teve, quando a intenção
era não deixar que nada de ruim lhe acontecesse.
Como se só agora se desse conta de algo, Erick dá um pulo da cadeira,
seca as lágrimas e vai correndo até a porta. Após colocar a cabeça para fora
do quarto, meu amor grita a plenos pulmões:
— Enfermeira! Uma enfermeira! A minha noiva acordou!
De volta
Erick

— Com calma, amor – digo, quando sete dias depois de sair do coma,
Marina finalmente recebe alta e agora eu a tenho em meus braços, lhe
levando para o nosso quarto.
— Não seja exagerado – diz, irritada. Talvez o meu excesso de cuidado
esteja fazendo isso com o seu humor. — Não é como se eu fosse me
desintegrar apenas por mexer meus dedos dos pés – afirma, não perdendo o
tom de ironia nem mesmo numa situação como essa.
Se fosse diferente, não seria a Marina que eu conheço e amo.
— Me deixa cuidar de você, por favor – peço, e ela olha nos meus
olhos, entendendo que é uma coisa que eu preciso fazer.
De alguma forma, tenho que lhe compensar por tudo o que fez por
mim, preciso tirar pelo menos um pouco do peso que me abate os ombros.
Não uma carga de culpa que ela ou alguém esteja colocando, longe disso, é
um peso que eu mesmo me imponho.
— Erick, você tem que entender que nada do que aconteceu foi culpa
sua – inicia a mesma conversa que tem tido comigo desde o dia em que abriu
os olhos. — Eu fiz o que fiz e não me arrependo de nada. Não poderia
simplesmente ver uma bala vindo em sua direção e não fazer nada. Aquilo foi
o instinto do momento e eu tenho certeza de que você faria o mesmo que eu,
se estivesse na mesma situação.
— Não há nada que eu não faria por você – afirmo, colocando-a
sentada com o corpo apoiado na cabeceira estofada da cama de casal.
— Então esse assunto está encerrado. De uma vez por todas – assevera.
— E a Patrícia?
— Está presa, o Bruno está cuidando do caso e me garantiu que vai
fazer de tudo para que ela passe uns bons anos vendo o sol nascer quadrado –
aviso.
Durante essa última semana em que Marina permaneceu no hospital,
pois, segundo ordens médicas, teria que ficar em observação, eu finalmente
pude acertar as minhas contas com a ordinária que teve a infeliz ideia de
atravessar o meu caminho.
Escondendo o fato de Marina, dois dias depois de ela ter finalmente
despertado do coma, eu fui ao presídio ver a cara da mulher que fez isso
conosco. Como o coração cheio de ódio, tinha a intensão de cuspir na cara
dela o tamanho do meu desprezo e falar sobre o meu desejo de vê-la
apodrecer dentro de uma cela.
Mas, quando me vi frente a frente com ela, percebi que não valia a
pena gastar saliva desejando nada de ruim em sua vida, simplesmente porque
ela mesma se encarregou disso. Na minha frente, totalmente despida da
vaidade exagerada que sempre teve, eu vi uma mulher completamente
descompensada, que não parava de repetir o quanto seria poderosa e feliz
quando eu e ela nos casássemos.
Nos poucos minutos em que me obriguei a permanecer na sua
presença, quase cheguei a sentir pena de uma mulher que tinha tudo para
seguir bem na vida, mas preferiu não só acabar com a sua vida, como
também a minha e da minha mulher. A compaixão que comecei a sentir se
esvaiu no exato momento em que Patrícia abriu a boca para desejar a morte
da rival – sim, é dessa forma que ela se refere a Marina.
Na hora, foi preciso que Bruno e os guardas que estavam do lado de
fora da sala a invadissem, antes que eu mesmo fosse preso por esganá-la. No
fim, saí com o aviso para que ela se esqueça da nossa existência, ou a prisão
será o menor dos seus castigos.
Desde então, não dediquei um pensamento sequer para a infeliz. O caso
eu deixei nas mãos de Bruno – o mais competente advogado criminalista do
país – que me garantiu que os crimes cometidos não ficarão impunes e que
ela passará muitos anos presa.
— Que alívio, não quero mais ouvir falar dessa mulher – afirma, e no
seu rosto não vejo o ódio que outra pessoa demonstraria, caso estivesse
vivendo a mesma situação. Diferente da maioria, minha linda é agradecida
demais para perder tempo com quem não merece um segundo dos seus
pensamentos.
— E não vai, querida – sento ao seu lado e digo: — Acabou. Somos só
eu e você e que ninguém se atreva a tentar nos separar novamente.
— Até porque não vai conseguir, não é mesmo? – Marina faz graça
com a situação, que é até engraçada, se formos parar para pensar que nem em
situações extremas, como foi a da chantagem, nós conseguimos ficar
separados.
— Nem se tentarem com muito afinco.
— Não quer chegar mais perto? – indaga, ao me encarar abertamente.
— Marina, nós já conversamos sobre isso – lembro, sabendo que
vamos iniciar mais uma vez o dilema dos últimos dias.
— Já mesmo, inclusive, eu acabei de te falar que não sou de vidro –
rebate, num misto de irritação e frustração.
Se ela soubesse o quanto eu também estou sofrendo.
Nos últimos três dias, eu posso dizer que a situação entre Marina e eu
está tensa. A frustração sexual já alcançou níveis insuportáveis e não sei o
que fazer para conter o seu e muito menos o meu desejo de fazer amor. Não
sei se foi pelo risco que corremos de nunca mais estarmos juntos ou se foi o
tédio de ficar dias a fio em um quarto de hospital, quando claramente ela já
estava bem o suficiente para receber alta, mas a verdade é que o tesão vem
nos consumindo em fogo brando, hora após hora.
Tirando os horários em que a chatinha, a Maya, o Bruno e os outros
colegas da Marina estavam no quarto de visitas, o restante do tempo em que
estivemos a sós foi uma verdadeira tortura.
Marina, depois de uma primeira investida em que foi repelida por mim
– que estava preocupado demais com o seu ferimento para arriscar uma
rapidinha em cima do colchão do hospital – não deu mais nenhum indício de
que queria transar. Pelo menos não abertamente, ela fez coisa muito pior ao
me tentar, até conseguir derrubar a minha convicção de só voltar a comê-la
depois que estivesse cem por cento recuperada.
Safada com só ela sabe ser, minha gostosinha passou a me torturar da
maneira mais cruel que existe. Quando não ficava me encarando com um
olhar esfomeado e cheio de luxúria, daqueles que pedem sem palavras para
que eu a pegue com força, do jeito que nos faça delirar de prazer, ela
arrumava um jeito de deixar partes bem particulares do seu corpo delicioso à
mostra. Quando isso acontecia, eu tinha que pedir licença e ir ao banheiro
fazer o serviço com as próprias mãos. Ou era isso ou ter um severo caso de
bolas azuis.
A pior situação aconteceu no nosso último dia no hospital, que
terminou com o constrangedor flagrante da enfermeira que entrou no quarto
sem aviso prévio e bem na hora em que Marina – depois de finalmente
conseguir me seduzir – estava com a língua dentro da minha boca e com a
mão dentro da minha calça, isso enquanto dividíamos a mesma cama, que
claramente não foi feita para duas pessoas deitarem. A pobre coitada ficou
tão vermelha que na mesma hora virou de costas e se dirigiu para a porta,
saindo sem dar uma única palavra.

Se no início ficou mais sem graça do que a pobre da enfermeira, a


safada da minha noiva logo se recuperou e arrumou um jeito de continuarmos
com a tortura.
Ela quer me dar a boceta de qualquer jeito e eu quero comer a sua
boceta, boca e bunda, mais do que quero o ar para respirar, o problema é que
entre as nossas vontades existem o meu senso e cuidado, que nesse momento
gostaria que não fossem tão exacerbados, beirando a paranoia.
— Eu sei o que falou e entendi em todas elas – afirmo, de olho em sua
perna que o vestido vermelho de alça deixou à mostra. Mais acima, seus
mamilos estão pontudos, doidos para receber atenção. É impressionante
como, mesmo tendo perdido bons cinco quilos, a minha mulher continua
linda e altamente desejável aos meus olhos, a prova disso é o zíper da minha
calça querendo estourar só pela visão do seu decote, um pedaço de perna
desnuda e essa sua insistência por fazermos sexo. — Eu sei que você também
quer – desvia os olhos direto para o meu colo.
— Tô querendo a partir do momento que você voltou a querer também
– explico, ainda mantendo uma distância segura do seu corpo e os dedos
quase furando a palma da minha mão de tanto que eu os aperto. É isso ou
pegar minha gata de jeito, antes de termos essa conversa, que no meu ponto
de vista é mais que necessária.
Diferente do dia em que fizemos a pazes, dessa vez o sexo não vai vir
antes da conversa. Até porque, depois que começar...
— Então... por que ainda estamos vestidos? Não sei no que você me
transformou, Erick. Mas eu sinto tanta saudade de você – diz, abrindo os
sentimentos. — É um sentimento estranho, como se essa conexão fosse vital
para mim, entende? Ficar longe de você e do seu corpo é como faltar algo
essencial.
— Eu sinto exatamente o mesmo que você, amor – pego a sua mão e
coloco em cima do meu coração, que bate frenético. — Tá ouvindo esse som?
Questiono, e ela balança a cabeça em afirmação.
— Tem ideia do medo que tive de não ouvir o seu coração fazendo o
mesmo? De nunca mais ouvir o meu bater tão forte como bate agora por
você?
— Erick, eu...
— É por isso o meu cuidado, que às vezes pode até passar dos limites –
desço nossas mãos, com os dedos ainda entrelaçados aos dela. — Eu também
sinto muita saudade de estar em você, de sentir o cheiro do seu corpo, de me
perder e me encontrar dentro de você, meu amor. É só que a minha vontade
de ter ver bem é maior que a de satisfazer os meus desejos sexuais.
— Sei da culpa que carrega por eu ter tomado o tiro no seu lugar, mas
eu já disse que não precisa se sentir assim. Já acabou, querido. Aquela mulher
não vai mais nos incomodar.
— Eu sei, o problema é...
— Olha para mim – pede, ao afastar o corpo da cabeceira da cama e se
aproximar de mim. Do meu lado e fazendo o mesmo que eu, Marina pega a
minha mão, coloca em cima do seu peito, do mesmo lado em que foi atingida
e diz: — Tá vendo? Continua a bater. Eu estou aqui, meu amor. Voltei por
você, pelo nosso amor.
Quando ela termina, as barreiras do medo e preocupação que foram
erguidas dia após dia, a cada hora passada dentro daquele quarto, caíram de
uma única vez. Agora, com o olhar intenso sobre o seu, a me fitar cheia de
expectativas, deixo que meu corpo e meu coração façam o que nós dois
queremos.
Com a mão em seu peito, levo-a para o outro lado, e quando pouco a
pouco enfio os dedos por dentro do seu decote, a outra puxa sua cabeça para
perto da minha, e sussurrando no seu ouvido, peço:
— Tira a roupa – mordo o lóbulo e ordeno: — Fique nua para mim.
Agora!
Matando a saudade
Marina

— Tira a roupa, fique nua para mim. Agora!


As palavras, finalmente ditas ao meu pé do ouvido e de um modo tão
intenso, me fazem arrepiar até a ponta do dedo. O inferno da abstinência
chegará ao fim e já vai tarde.
Às vezes, chego a me perguntar se tem alguma coisa de errado comigo,
talvez eu seja uma ninfomaníaca que ainda não foi diagnosticada. Porque não
é possível esse tesão que vem me consumindo, quando eu ainda estava no
hospital e me recuperando de uma quase morte; sim, porque segundo as
palavras dos médicos, foi exatamente isso o que aconteceu comigo. Para eles,
o fato de eu ter sobrevivido à cirurgia tão crítica e ter despertado sem sequela
de um coma de tantos dias foi um milagre.
Mal sabe eles que esse milagre está aqui, na minha frente, em toda a
sua glória e gostosura, me pedindo para tirar a roupa como quem pede para
alguém ir comprar pão na padaria.
Mas a minha preocupação não é essa...
— Eu vou, sim, mas... – inicio, sem saber bem o que dizer, só que a
vergonha vai ser passada no débito.
— O que foi, amor, não quer mais transar? Se for isso, tudo bem. Eu
acho mesmo que você precisa se recuperar mais um pouco, antes de
voltarmos à programação normal, se é que você me entende – diz, e com um
olhar saliente, me joga uma piscadela com esses olhos azuis que me deixam
subindo pelas paredes toda vez que...
Foco, Marina! Foco na missão, porra!
— Não é isso, eu quero muito transar e é justamente esse o problema.
Não acha que tem algo estranho com a gente?
— Você está me deixando confuso, amor, que problema nós dois
poderíamos ter? – indaga, e seu rosto transparece toda a confusão dos seus
pensamentos.
— Não é estranho essa vontade louca de trepar, tipo, três dias depois de
sair de um coma? Pelo amor de Deus, estávamos em um quarto de hospital e
tudo o que eu conseguia pensar era no quanto seria gostoso se você pulasse
em cima daquela cama e me comesse até que fossemos pego por algum
desavisado que entrasse sem bater.
— Nossa, parece um filme pornô, fiquei ainda mais duro com a
revelação dessa sua fantasia – diz, e eu olho para suas calças jeans e ali tem a
evidência de que não está mentindo em suas palavras. — Vamos, conte-me
mais das suas fantasias, minha gata insaciável. Depois que eu gozar, te conto
as minhas, que são dez vezes mais indecentes, e aí você goza também –
propõe, não levando a sério o meu papo.
Erick pensa que eu não sei que ele está fazendo isso apenas para evitar
me tocar mais intimamente. De alguma forma, ele não consegue se livrar da
culpa pelo que me aconteceu. E se o seu cuidado já era exagerado, agora está
mais sufocante, mas nada que eu não consiga dar um jeito.
— É sério, Erick. E se for uma doença ou algo do tipo?
— Você tem vontade de dar para outro além de mim? – questiona, e
penso nunca ter ouvido coisa mais absurda em toda a minha vida.
— Que pergunta idiota é essa? – agora eu estou indignada. — É óbvio
que não e você deveria saber disso.
— Ei, não precisa ficar irritadinha, só perguntei para que você perceba
que não tem nada de errado com você e nem comigo, se esse seu tesão é
voltado apenas para mim.
— Não?
— De maneira nenhuma, pessoas que têm compulsão sexual
geralmente não se atêm a um só parceiro, e quem dita quem ou quando vai
acontecer é o corpo, que guia a mente – ele me dá uma breve explicação.
— Então, se não tem nenhum problema comigo, quer dizer que eu
sou...
— Uma safada – sim, era essa a palavra. — A minha deliciosa noiva
apenas sente saudades do corpo do seu homem – ele diz, e me traz para cima
das suas pernas e eu aproveito para enlaçar a sua cintura.
— Não mais que você, não é? – deixo meu tronco mais ereto e parece
que atingi o meu intento, já que os seus olhos esfomeados vão direto para o
meu decote. — Sua pobre noiva deitada naquela cama de hospital e o senhor
tendo ereções que, se brincar, até as enfermeiras notaram – brinco, pois gosto
de levá-lo ao limite.
Não é como se eu estivesse mal de verdade. Meus últimos dias no
hospital foram apenas por precaução, e como disse o próprio médico, dias
antes de a minha mente resolver cooperar, o meu corpo já estava curado. O
procedimento de cicatrização do ferimento foi um sucesso, sendo o coma a
única razão de eu ter sido obrigada a permanecer tanto tempo de molho
naquele quarto de visitas.
— Coitada da minha bebê – ele zomba e faz um biquinho com a boca,
claramente me imitando. — Tão inocente, não é mesmo? Inocente quando
com os olhos praticamente implorava para ser comida por mim, inocente
quando dispensou a enfermeira e me pediu para lhe dar banho, só porque
queria estar mais próxima de mim. E, principalmente, inocente quando no
auge de uma madrugada começou a falar...
— Eu, falando? Mas eu não sou de falar durante o sono, ou falo? –
pergunto a ele, que agora tem o rosto bem próximo ao meu, me fitando como
se quisesse ler a minha alma.
Esse seu olhar me chama atenção para coisas que não podem ser
ignoradas, como o fato de o seu pau duro estar cutucando meu sexo enquanto
estou sentada exatamente em cima dele, e muito menos o fato de a minha
calcinha estar pingando e a boceta latejando de tesão. Essa conversa toda tá
me deixando louca de desejo.
— Não fala, a menos, é claro, que você esteja no meio de um sonho
erótico.
— Como é? Eu não tive nenhum sonho erótico – pelo menos não que
eu me lembre.
— Isso foi no mesmo dia em que a enfermeira quase nos pegou em
flagrante – ele se refere ao dia do quase e não ao que realmente fomos pegos
com a mão naquilo e aquilo na mão. — E se me deixei seduzir, foi porque já
estava no meu limite depois de ouvir tantas sacanagens saindo dessa
boquinha linda.
— Que vergonha – tento levar as mãos ao rosto, mas ele me impede, ao
colocá-las novamente em volta do seu pescoço. — O que foi que eu disse?
— Não prefere que eu te mostre, minha deliciosa? – pergunta, e sua
boca passa a beijar o meu pescoço enquanto suas mãos começam a subir o
meu vestido.
— Você me pediu pra ficar nua para você – ofego quando a sua boca
começa a me castigar com lambidas e mordidas deliciosas, que me trazem
umas sensações, como se esses carinhos fossem feitos na minha boceta.
— E você demorou demais pra fazer, então deixa que eu mesmo faço
isso. Pra tirar a sua roupa levo meio segundo, é uma atividade que eu gosto
muito de fazer – ele afirma, quando levanto os braços e ele tira meu vestido
pela cabeça.
— Meu Deus! – murmura, ao ver a minha lingerie de renda branca,
composta por uma calcinha fio dental e um sutiã meia taça, usado para deixar
meus peitos mais desejáveis aos seus olhos, um ótimo truque, já que ele tem
verdadeira adoração por eles.
— Gostou do presente? – questiono, e assim como ele fez, tiro a sua
camisa e a jogo em um canto qualquer. — Coloquei especialmente para você
– não vou revelar que tive a coragem de pedir para que Ângela passasse aqui
casa e colocasse o conjunto dentro da minha bolsa.
— Do presente e principalmente do que vem dentro da embalagem.
Hoje eu vou te comer todinha, meu amor – com a voz rouca de tanto tesão,
abre o fecho frontal do meu sutiã e depois me joga com cuidado em cima da
cama. Em seguida e cheio de pressa, Erick tira a minha calcinha e me deixa
do jeito que queria.
A fim de me matar do coração, meu amor leva o pedaço de pano até o
nariz, e antes de jogá-la longe, diz:
— Gostosa! Você é tão deliciosa e cheirosa, que eu tenho de me
segurar para não te dar o tipo de sexo que nós dois precisamos – fala, no
mesmo instante em que tira sua calça e cueca. — Senti tanta saudade...
Com os olhos em brasa, se joga de joelhos aos pés da cama e de lá
puxa as minhas pernas para o seu ombro. Com pressa e sem fazer cerimônia,
ele abocanha o meu sexo carente da sua atenção.
— Nossa... Como eu senti falta disso – sensível pela espera, levanto
um pouco o tronco e seguro a parte de trás da sua cabeça a ponto de gozar,
não só por sentir uma boca me chupando com avidez, enquanto a sua língua
me invade com a perícia de um homem que sabe o que está fazendo, como
também pela falta que o seu toque me fez durante esse período de
abstinência.
— Não mais do que eu senti de comer a sua boceta com a minha boca
– me olha quando levanta o rosto por um momento e tenho que me segurar
para não gozar, ao ver a sua boca e nariz úmidos dos meus fluidos. — A
iguaria mais saborosa que eu já provei – volta com o ataque, só que dessa vez
mais frenético. Ele me come com uma fome que me deixa além de
envaidecida por despertar tamanho desejo em um homem como ele, também
me torna incapaz de segurar o orgasmo que se aproxima.
— Eu preciso, eu vou... – começo, apenas para me frustrar, já que
abruptamente sua boca deixa o meu sexo e de imediato ele volta a ajeitar meu
corpo sobre a cama.
— Não vai, não, minha gostosa – se deita em cima do meu corpo, e se
acomoda entre as minhas pernas, abertas amplamente para lhe receber. —
Você vai gozar com o meu pau te comendo gostoso – avisa, ao pincelar a
ponta grossa e robusta em cima do meu centro pulsante.
— Está esperando o que, um pedido formal para meter? – decido levá-
lo além do limite, para que nem pense em me tratar como uma boneca prestes
a se quebrar por causa de um movimento mais brusco.
— Você não devia ter dito isso, menina.
— Por quê? O Senhor Tenho Medo de Meter Com Força vai fazer o
quê, vai passar a transar com as luzes apagadas?
Relembrando
Erick

— Não diga que eu não te avisei, sua safada – uma adrenalina começa
a fluir pelo meu corpo, me fazendo mandar para o inferno todo o lance do
cuidado. Marina obviamente está mais que sarada, para não ter medo do
perigo e estar me provocando dessa forma.
Mal sabe ela que está provocando uma fera adormecida e faminta. E
um homem que quase viu a sua razão de respirar lhe deixar de maneira tão
repentina não pode ser considerado como o mais paciente e nem o mais
controlado.
— Dê o seu melhor, meu garanhão, ou seria o seu pior? – provoca, se
esfregando contra o meu pau.
— Aí é você quem escolhe, minha gata – digo, e sem aviso, meto o pau
até o fim, fazendo-a ofegar pelo prazer de finalmente se ver cheia de mim.
— Satisfeita? Não era você quem queria meu pau nessa bocetinha
quente? Então toma, minha gostosa – faço um bate e volta gostoso, indo até o
fim para depois tirar lentamente e voltar a socar de uma vez só.
— Isso, mais rápido, mais forte. Caralho! – xinga, com dificuldade
quando, mudando de posição, fico de joelho sobre a cama e seguro as suas
pernas em volta da minha cintura. — Isso, amor – nessa posição, a
penetração é ainda mais profunda e eu estou me segurando para não gozar
antes dela.
— Ainda não, gata selvagem – recolho as suas mãos, que estavam
prestes a ir até as minhas costas e arranhá-las até que a sua marca fique
gravada nelas. — Só quando disser que pode – aviso, tão ou mais
ensandecido que ela, metendo com força, levando nossos corpos a se baterem
e os pés da cama a rangerem contra o chão. — Agora é a sua vez, vem –
seguro a sua cintura e a coloco em cima das minhas pernas. — Dê seu pior,
garota sacana.

Marina

Com os olhos escuros pela intensidade do desejo, Erick me pede e eu


começo a minha busca frenética para o alívio e saciedade que me aguarda.
Como sei que ele ama os meus peitos, seguro um deles, que está carente dos
seus beijos, e o levo até a sua boca que o abocanha cheia de gula e passa a
chupá-lo de maneira dolorosa, assim como faz com a minha boceta.
Quando o sinto todo dentro de mim, começo a cavalgá-lo com força,
entrando e saindo, sem que ele nunca deixe de chupar os bicos intumescidos
dos meus seios.
— Isso, minha putinha, senta em cima da cacete do seu homem, do
jeitinho que você estava sonhando – fala, quando puxa meu lábio inferior,
para depois chupar a minha língua, assim como o seu pau suga a minha
boceta. — Hoje você não vai dormir, gostosa da porra. Vai me pagar muito
caro pelas provocações feitas da porra do hospital, por todas as vezes em que,
depois de ter me atiçado, foi dormir um sono tranquilo, enquanto eu tive que
me virar com os dedos dentro de um ínfimo banheiro, assim como fazem os
moleques.
— Promessas, promessas... – ofego, e já suada e com o fôlego curto,
mudo o ritmo das penetrações, indo a um ritmo lento e cadenciado apenas
para deixá-lo ainda mais louco.
— Promessa você vai ver quando pela manhã estiver com a boceta
assada e andando de perna aberta – indecente, ele diz isso aos sussurros, me
fazendo pular mais alto, quando sinto seu dedo indicador sondando a minha
porta de saída.
Deus! Só de lembrar o dia em que finalmente permiti que ele me
pegasse por trás, já sinto uma vontade insana de fazer de novo. Me parece
uma coisa tão vil e degradante, mas ao mesmo tempo tão íntimo e delicioso.
— O que foi, meu amor? – eu paro de me mover ao sentir seu dedo
começar a me invadir centímetro por centímetro. Agora me sinto cheia de
todas as formas possíveis. — Não posso tocar aqui? – apesar de perguntar, já
tem meio dedo dentro do meu ânus. — Hoje eu quero comer a sua bunda
novamente. Vai me deixar fazer isso?
— Vou – admito, porque é exatamente o que eu quero que ele faça. —
Quero muito – confesso.
— Mas isso vai ficar para depois, agora eu preciso que você se mova –
eu começo a sentar devagar, tanto em cima do seu pau quanto em cima do
seu dedo. — Já imaginou ser comida na frente e atrás ao mesmo tempo? – faz
a pergunta estranha, sem parar de auxiliar no bate e volta.
— Eu não quero...
— Nada disso, minha linda. Nenhum outro homem vai tocar no que é
meu. Nunca! – avisa, todo possessivo. — Isso não quer dizer que não
podemos usar alguns brinquedinhos – pisca o olho azul que enfeita o seu belo
rosto suado. — Vamos deixar isso pra depois, agora eu quero que goze.
— Humm – murmuro em concordância, pois já estou no meu limite.
— Mais um pouco e meu pau vai sair daqui esfolado de tanto meter –
chupa o meu pescoço com avidez. — E como eu disse, temos uma noite
inteira pela frente. Se segura, minha Amazona – segura minha cintura com
maior firmeza e começa ele mesmo a me levantar, com força e rapidez. Logo,
sinto seu pau inchar e me trazer para a borda junto com ele.
— Isso, vai... – ele goza antes de mim e sentir seu esperma me
preenchendo e ver o rosto contorcido de prazer é o suficiente para que eu
chegue ao orgasmo logo em seguida. Dessa vez, foi tão intenso que não foi
preciso nenhum tipo de estímulo para que eu chegasse lá.
Com Erick me segurando em seus braços, sou apenas uma massa mole
e sem utilidade que o agarra, trêmula, como um bote salva-vidas. Tendo
nossos corpos ainda unidos, ele me deita novamente de costas na cama e de
maneira preguiçosa, ainda fica mais um tempo entrando e saindo, enquanto
me beija em igual medida. No beijo em que usa a língua com maestria, meu
homem transmite todo o amor e desejo que nos une.
— Nossa! – ainda com a respiração tão ofegante quanto a minha, Erick
se deita ao meu lado e completa: — Finalmente!
Ele fala, e fica imóvel do meu lado, calado e apenas encarando o teto.
Eu, como não sei o que se passa na sua cabeça, também fico na minha e
deixo que tenha o seu momento. Sei que assim como eu, que tirando o susto
do tiro, não estava acordada para sentir ou fazer alguma coisa, ele passou por
maus bocados, estando acordado e tendo que me ver entre a vida e a morte.
Eu me coloco no seu lugar, pois não sei o que faria se a situação fosse
inversa, se eu estivesse com a pessoa que é tudo na minha prestes a me deixar
sozinha.
Incapaz de me segurar, arrasto a minha mão para o seu lado e lá
entrelaço os nossos dedos. Quero que ele saiba que, seja onde estiverem os
seus pensamentos, perceba que está tudo bem, que sou eu quem está aqui do
seu lado; a sua mulher.
Surpreso com o meu gesto, meu amor vira o rosto em minha direção e
o que vejo são olhos angustiados, brilhantes pelas lágrimas que ele está
lutando para não deixar cair.
— Amor, por que você está... – no ato, ele vem para perto de mim e
deita a cabeça um pouco abaixo do meu seio.
— Eu tive tanto medo, por um momento eu pensei, pensei... – nessa
hora ele não suporta a pressão e deixa que as lágrimas rolem. Em silêncio, eu
o consolo, fazendo um leve cafuné no seu couro cabeludo.
— Nunca mais faça uma coisa dessas comigo, Marina – exige, depois
de um tempo, ao levantar a cabeça e me fitar de perto. — Eu não posso mais
viver sem você e espero sinceramente que saiba conviver com isso. Você é o
amor que eu quero para a vida inteira.
— Foi por você que eu voltei – de repente me vem à memória o
encontro com papai.
— Foi?
— Foi, sim, eu estava em um lugar tão bonito, Erick. Um campo
florido de girassóis, e aí o papai apareceu – começo a contar e ele me ouve
com atenção. — Quando o vi, fiquei tão feliz que só queira abraçá-lo e nunca
mais soltar. Eu estava em paz, até que ele me mostrou você sofrendo ao lado
da minha cama, e estava tão abatido. Na hora não pensei em nada a não ser
em voltar para você e curar a sua tristeza. Pra dizer que não irei a lugar
algum, não sem você, meu amor.
— E eu vou te recompensar pelo resto das nossas vidas, princesa –
afirma, não demonstrando estranheza pelo que acabei de contar. — Te
fazendo feliz e te dando muitas alegrias – diz, e seus olhos fitam pela
primeira vez tão de perto a pequena cicatriz vermelha que o projétil deixou.
No ato, ele abaixa a cabeça e deixa um beijo carinhoso.
— Tenho vontade de ir até a cadeia e torcer o pescoço daquela
vagabunda – revela, enquanto passa o dedo indicador na pequena marca
avermelhada.
— Esquece essa mulher, Erick. Ela vai ser condenada e pegar por seus
crimes. Não cabe a nós fazermos justiça com as próprias mãos. O que nos
cabe de agora em diante é sermos felizes, como se essa mancha nunca tivesse
existido.
— É claro que você tem razão – afirma, para depois pegar uma perna
minha e a colocar sobre o seu quadril. — Como sempre.
— Sim, como sempre – eu brinco, e ele sorri, descontraído, deixando
as lágrimas e angústias de fora da equação.
— Sim, como sempre – se atém em concordar, enquanto gira o anel de
noivado que está mais folgado pelo pouco peso que perdi. — Marina, se
importa se deixarmos o banho para mais tarde? Eu quero sentir meu cheiro, o
seu cheiro e o nosso, impregnado no seu corpo por mais um tempo.
— De maneira alguma, é até bom, já que vamos nos sujar de novo em
breve.
— Safada! – dá um apertão na minha bunda. — Minha noiva, além de
ser linda, é uma devassa.
— Tudo para agradar o meu noivinho – provoco.
— Por falar em noivado, nós temos muito que acertar, como, por
exemplo, o que você acha de fazermos uma festa para oficializar o nosso
compromisso, agora que não temos mais o que esconder?
Ele pergunta, e eu fico surpresa com a proposta. Confesso não ter
parado para pensar nisso. Noivado, morar juntos, casamento... Marina
delirando, assim como fez quando ganhou Floquinho e já saiu atribuindo a
paternidade ao Erick...
— Amor, está viajando?
— Não, estava aqui pensando nos nossos filhos.
— Mas já?
— Os filhos que já temos, Floquinho e Thor.
Termino de falar, olho para Erick, ele me olha de volta e caímos na
gargalhada pela lembrança de coisas que parecem tão distantes, cenas que nos
remetem ao início de tudo, o começo de uma longa, porém gratificante e feliz
jornada.
Caindo a ficha
Erick

Conhecendo a minha gata do jeito que conheço, fiz a proposta de


oficializarmos nosso noivado perante toda a sociedade e ela entendeu que
seria bom se fizéssemos uma recepção mais simples e íntima. Com a
imprensa interessada nos nossos passos e em tudo o que acontece na nossa
vida como casal, o anúncio do noivado foi visto com estranheza, já que o
nosso término, além de ter caído na boca do povo, gerou muitos comentários.
O que não poderia ser de outra forma, uma vez que a cena do termino foi
propositalmente presenciada por várias pessoas.
Como justificativa e a fim de preservar ao máximo a nossa intimidade,
deixamos de fora a chantagem feita por Patrícia e atribuímos o nosso término
a uma briga boba e que depois de conversarmos decidimos dar mais uma
chance ao nosso amor. Quanto ao tiro que meu amor levou, dei um jeito de
fazer parecer que foi uma fatalidade, que Marina estava no lugar errado, no
momento errado.
Duas semanas depois da sua volta, minha menina me disse sim em
frente a dezenas de pessoas, no jardim da mansão, onde ela, com a ajuda de
Ângela, organizou detalhe por detalhe. Visto como um conto de fadas pelo
mais cético dos homens, o nosso amor deu mais um passo em direção ao para
sempre, quando, apoiado sobre um dos joelhos, voltei a pedi-la que fosse a
minha esposa.
A noite, que estava bonita – mas não tão bonita quanto a minha
princesa, que vestiu um longo vermelho com uma fenda sexy, onde deixava
boa parte da sua perna esquerda à mostra a cada passo que ela deva – teve
como ponto alto a estranha animosidade entre Bruno e Ângela, que até onde
eu sei nunca se falaram mais do que os cumprimentos necessários para uma
boa educação e ainda assim pareciam não suportar estar no mesmo ambiente
que o outro. Quando perguntados por mim e por Marina qual era o problema
deles, ambos tiveram a mesma reação de sair emburrados da festa, dizendo
que não tinha nada de errado acontecendo, que o clima pesado entre eles era
apenas impressão nossa.
— Por onde essa mente brilhante tem andado? – minha garota esfrega
as pernas macias nas minhas, se espreguiçando como uma gata manhosa e eu,
como não sou santo, puxo o lençol fino que a cobre, deixando seu corpo nu
para a alegria dos meus olhos.
— Tava lembrando da noite do nosso noivado, em como tudo saiu
perfeito, menos, é claro, o clima estranho entre a sua melhor amiga e o meu.
— Eu tô louca de curiosidade para saber o que aconteceu entre aqueles
dois – ela confessa, aconchegando a cabeça no meu ombro, uma das coisas
que eu mais senti falta e mais tenho gostado de fazer desde que, dois dias
depois da sua saída do hospital – tempo suficiente para trancar o meu
apartamento – voltei para a mansão e para o nosso quarto, lugar de onde não
devia ter saído. — Amor, você acha que eles...
— Não acho que eles estejam transando, parece mais um caso de
antipatia mútua – falo para tranquilizá-la. A mim, parece mesmo é tesão
reprimido por ambas as partes, apesar de o Bruno jamais admitir isso.
— Eu acho bom ser só isso mesmo. Ângela tem problemas demais e o
Bruno viria só pra acabar de foder com tudo.
— Qual é o mistério que ronda a vida dessa chatinha? – pergunto,
fazendo os olhos da minha menina me lançarem adagas de reprovação. Mas
fazer o que, se o apelido pegou?
— No mínimo, tem pais controladores. O resto ela não diz a ninguém.
Ângela nega, mas eu sei que esconde alguma coisa e eu vou descobrir o que
é.
— Acredito em você – digo, porque sei que ela é muito obstinada,
ainda mais se a intenção for ajudar a amiga problemática. — E não se
preocupe com uma possível aproximação entre eles, o Bruno sairá do país.
Acho que só vai esperar o nosso casamento acontecer.
— Nossa, bom saber que Bruno Pires ainda tem um coração e vai
esperar o casamento do amigo antes de fugir para as colinas – fala, com um
sorriso no rosto, deixando claro o tom de brincadeira.
É claro que ela acha, e com razão, que ele é sério e duro demais com as
coisas e pessoas que o rodeiam. Mas ela também não tem dúvidas da lealdade
que tem para com os poucos amigos que cultiva. Deixei claro para Marina o
carinho que todos lhe dedicaram quando ainda estava desacordada.
— Não fugiria nem se quisesse – digo, fazendo carinho na sua barriga
lisa. — Já que foi convidado para ser o meu padrinho – revelo, não querendo
imaginar o climão que isso vai gerar.
— Espero que eles não se matem – minha gata completa o meu
pensamento.
— Ou se matam ou se comem de uma vez.
— Ainda bem que o cara vai sair do país. Imagina a sinuca de bico se
acontecesse alguma coisa entre eles? Minha melhor amiga e a Lua brigando
pelo mesmo homem.
— Eu teria pena dos seus ouvidos – sorrio, porque não tenho outra
coisa a fazer. Só posso imaginar que seria uma boa briga, mas se pudesse
apostar, diria que Ângela levaria a melhor nessa. Bruno nega, mas não
esconde o quanto ficou impressionado com a garota, isso tudo sem vê-la
fisicamente.
— Tem algum motivo para ele sair do Brasil assim, tão de repente?
— Vai fazer uma especialização na Itália. Só não soube me dizer
quanto tempo vai durar ou quando pretende voltar – explico, deixando de
revelar minha suspeita de que ele vai fazer mais do que uma especialização.
— Quem não vai ficar feliz com a notícia é a Lua.
— Difícil acreditar que ela ainda esteja a fim de um cara que se
relacionou por pouco tempo e lhe deu um pé na bunda sem a menor pena.
— Cala a boquinha, você não entende nada da cabeça feminina.
Também me deu um pé na bunda e, no entanto, aqui estamos nós, prestes a
nos casarmos.
— Nosso caso foi diferente e você sabe disso – me defendo. — E
quanto ao pé na sua bunda, quero deixar claro que só tem uma coisa que eu
meto nela, e não é exatamente um pé. Ou será que já se esqueceu de ontem à
noite?
Gosto de lhe provocar com isso, porque não entendo qual a sua
vergonha por nós dois gostarmos de sexo anal.
Com o rosto vermelho, Marina o esconde no meu peito e torna a dizer:
— Quando foi que começamos a falar de sexo mesmo? – belisca a
minha barriga, e não me causa nada além de cócegas.
— Sabe como é, né? Não posso deixar uma oportunidade passar.
— Tô vendo, mas dessa vez o senhor vai deixar passar – afirma, ao
pegar um pequeno despertador em cima do criado e ver as horas. — Nós já
passamos tempo demais em cima dessa cama e eu ainda tenho que passar no
estúdio.
— Ah, pelo amor de Deus, em plena tarde de sábado? – como um bebê,
me agarro com braços e pernas em seu pequeno corpo, não deixando que se
mova. — Vai, amor... Só mais uma transadinha? – ela nega. — No chuveiro,
enquanto lavo seu corpo com as mãos e embaixo te como com o pau? –
insisto, e ela pensa por uns segundos e logo me dá a resposta:
— Tá bom, você ven... – ela nem termina de falar e eu já lhe tenho em
meus braços e carregando para debaixo do chuveiro.

— Pequena, e sobre o assunto do estúdio? – já estou vestido e satisfeito


– não poderia estar de outra forma, depois da rapidinha vespertina embaixo
da água – lhe observando terminar a maquiagem. — Você tem certeza de que
quer fazer isso? Se quiser, posso ir dando entrada na papelada.
O assunto ao qual eu me refiro é a proposta que Lua fez para a minha
noiva. Segundo suas palavras, Marina se mostrou essencial para o estúdio,
inclusive na captação de clientela, e por isso achou mais do que justo
convidá-la para ser sua sócia na empresa que está ficando cada dia mais
renomada e conhecida. Para ela, a proposta também é vantajosa, já que com o
capital que iremos investir, a expansão e quiçá a abertura de uma nova filial
será mais viável.
— Claro, amor. Como eu te disse, o fato de eu ser tão jovem e nova no
mercado talvez fosse um empecilho para eu crescer nesse meio, e já que eu e
Lua nos entendemos tão bem...
— Linda – faço o elogio à sua beleza quando a vejo pronta. — E
inteligente – agora elogio a sua mente brilhante e preparada para os desafios
que a vida lhe impuser. — Pode deixar que o seu super advogado cuidará da
parte chata.
— E modesto também – ela vem até onde estou e me dá um beijo leve.
— Agora, vamos descer, querido. Hoje o dia vai ser corrido, de lá eu vou
pedir para o Jorge me levar até a Maison Buffet, eu e a Ângela vamos ver o
cardápio da festa do nosso casamento – avisa. — Você também vai, não é? –
indaga, ao pegar a sua bolsa em cima do sofá lateral.
Sim, vamos nos casar em breve.
Diferente da intenção inicial, que era ter um longo noivado e só depois
pensar em casamento, Marina e eu conversamos e decidimos que não tem por
que esperar tanto tempo se temos certeza do que queremos.
Se o nosso amor já não fosse motivo suficiente para tomarmos tal
decisão, a experiência pela qual passamos certamente é. O medo de perdê-la
me fez entender que há razão para temores, que o nosso amor está aí para ser
vivido e que seja de maneira plena.
— Eu vou, sim, e já que não terei a sua companhia, vou malhar um
pouco e assim que estiver a caminho você me avisa, tudo bem?
— Tá ok.
Nós descemos as escadas de mãos dadas e quando a levo até a porta,
Marina vem na intenção de me dar outro selinho, mas para o seu azar, sou
mais rápido e abocanho sua boca em um beijo de língua, longe desse sem
graça que ela gosta de dar em momentos de pressa.
— Agora sim eu terei uma ótima tarde – ela me olha, atordoada, e
ainda dá um tropeço no batente da porta, tanto pelo beijo quanto pelo tapa
que acerto na sua bundinha redonda — Gostosa.
Dando uma de esnobe, a minha gata não diz nada, segue o seu
caminho, mas não sem antes voltar a cabeça para trás, medir o meu corpo –
que não veste nada além de uma calça moletom – e me mandar um beijinho
por cima do ombro. Depois ela se dirige para a garagem com um balançar de
quadril mais acentuado, me deixando com o pau mais duro do que uma rocha.
E agora, como vou puxar peso nesse estado? Meu cacete é capaz de
furar o chão antes que eu comece o aquecimento. Não é como se eu não
pudesse dar um jeito nesse grande – sim, grande, até porque aqui embaixo
não tem nada de pequeno – problema.
Me recuso a me aliviar no chuveiro, assim como fazia dentro do
banheiro do hospital, não quando tenho uma mulher tão gostosa e tão
insaciável quanto eu. A mulher que dentro de poucos meses se tornará a
minha esposa.
Esposa...
— Caralho! – olhando-me no espelho que cobre toda a parede da
academia, é que finalmente a minha ficha cai, como se agora estivesse ciente
do importante passo que estou prestes a dar. — Eu vou me casar. Erick
Estevan vai casar!
Passado
Marina

Deus, eu vou casar e é com o Erick, o meu Erick. O amor de toda uma
vida.
Não deixo de me emocionar, quando dias depois de fazer a escolha do
cardápio que será servido na recepção, me vejo refletida no enorme espelho
do ateliê, refletindo o belíssimo vestido de noiva feito por Honória Braga, a
estilista das estrelas, e feito exclusivamente para mim.
— Como você está linda, minha amiga – uma Ângela emocionada e
com olhos brilhantes me fita. — Parece uma princesa. Tenho certeza que tio
Erick vai enfartar antes do sim.
— Mais algumas provas e ele estará pronto, minha querida. Você vai
ser a noiva mais bela que essa cidade vai ver esse ano – elogia a mulher de
meia-idade e talentosa com as suas agulhas e linhas.
Com a mente viajando para o tão esperado dia, que rapidamente se
aproxima, fico por um bom tempo me olhando e alisando o tecido do vestido
que molda meu corpo, até que algo chama a minha atenção.
Do lado de fora da porta de vidro, uma mulher de cabelos escuros e
aparentando seus quarenta anos me observa e tem os olhos cheios de
lágrimas. Do seu lado, tem dois menininhos de cabelos lisos e castanhos e
que parecem ignorar o estado em que a mãe se encontra, já que discutem de
maneira ferrenha por alguma bobeira qualquer, que só na mente das crianças
é uma coisa grande.
Incomodada com as crianças brigando e a mãe dura como uma pedra
me olhando e sem ao menos piscar os olhos, não penso antes de descer do
caixote que Honória me colocou, e sob os olhos especulativos da costureira e
minha amiga – que param de falar quando presenciam o meu movimento –
vou até a porta e confronto a senhora que tanto me encara, como se quisesse
me falar alguma coisa.
— Algum problema, senhora? – indago, e quando lhe encaro mais de
perto, penso que teria sido melhor se não tivesse vindo até aqui.
— Cristina? – é claro que é ela, apesar de mais velha, a mulher
continua a mesma das poucas fotos antigas que até alguns anos atrás
enfeitavam a sala da mansão, e mesmo sem elas eu seria capaz de reconhecer
a pessoa que tem vários traços parecidos com os meus.
— Minha filha? – com a mão trêmula, ela a sobe até a altura do meu
rosto, voltando a abaixá-la quando me esquivo.
— Não me chame de filha – peço, e assim como ela, eu tremo da
cabeça aos pés, tendo que me segurar na porta antes que as minhas pernas me
deixem na mão.
— Desculpa – pede com a voz embargada, mas o que me chama a
atenção é fato de os dois garotinhos terem parado de discutir e agora me
olharem com curiosidade. — Eu soube do que aconteceu, você está bem?
— Estou ótima, mas não graças à sua prima – acuso. — Eu posso saber
o que a senhora está fazendo aqui, depois de tantos anos de abandono? –
limpo uma lágrima solitária que insiste em cair.
— Nós precisamos conversar, minha filha – pede.
— Não temos nada para conversar, senhora. Teve tantos anos para
fazer isso, e agora, no momento mais importante da minha vida, você resolve
dar as caras? – desabafo, não conseguindo conter minhas palavras.
Mas como poderia, se não posso nem ao menos olhar para os rostos das
crianças que tiveram tudo o que eu nunca tive: o amor de uma mãe?
— Não faz isso, Marina. Eu sei que minhas ações não têm perdão. Eu
fui fraca por não lutar pra ficar com você e também ambiciosa, quando decidi
aceitar o dinheiro que o João me deu para sair do país...
— Aí, deixa eu adivinhar: em um mundo maravilhoso, onde não existia
uma criança para abandonar, você acabou encontrando um príncipe
encantado e até teve dois filhinhos – aponto para eles, e me dou conta do
quanto estou sendo cruel, eles são apenas crianças que não têm culpa dos
erros da mãe, assim como eu não tive culpa dos erros dos meus pais.
— Se pode me ouvir, será que pode me perdoar? – pede, e eu não
consigo acreditar no que estou ouvindo.
— Não, eu não posso fazer isso, pelo menos não agora e talvez nunca –
com os olhos marejados, me volto para dentro da loja, mas antes faço uma
única pergunta:
— Cristina – a mulher que permanece parada no mesmo lugar, levanta
a cabeça e, esperançosa, espera pelo que tenho a dizer. — Como eles se
chamam?
— Victor e Artur, seus irmãos.
— Tudo bem – entro de vez, deixando meu corpo cair em cima da
primeira cadeira que vejo pela frente.
— O que foi, Marina? – preocupada, Ângela se agacha à minha frente.
— Suas mãos estão geladas e você está tremendo.
— A Cristina, aquela mulher... era a minha mãe – ela me olha com
olhos de surpresa. — Mas não quero falar sobre isso agora, eu só preciso ir
pra casa – levanto-me novamente e peço: — Me ajuda a tirar ele.
De imediato, ela se levanta e me ajuda a abrir os milhares de botões
perolados que tem na parte de trás da vestimenta.
— Tem certeza que está tudo bem, querida? – sem saber de nada,
senhora Honória indaga, certamente por perceber a mudança no meu estado
de espírito.
— Sim, obrigada por perguntar – agradeço, com as mãos ainda
trêmulas, coisa que não passa batido por Ângela, que pergunta:
— Não é melhor que eu ligue para o Erick vir te buscar? Você não tá
legal – afirma, quando finalmente consegue me livrar do vestido.
— Não – digo, categórica. — Ele ainda está no escritório e eu não
quero atrapalhá-lo – falo, sabendo que não posso sair correndo para ele a
cada acontecimento fora da rota, que venha atrapalhar o meu dia.
Mesmo que seja essa a minha vontade.
— Vamos com o motorista. Quando chegar em casa eu aviso a ele.
Tudo o que preciso no momento é ficar sozinha.
Sozinha para pensar em tudo o que aconteceu agora há pouco e quem
sabe liberar a frustração e a dor que comprime o meu peito.

Erick

— E aí, amigão, você sabe por onde anda a mamãe de vocês? – me


sinto tão ridículo por dizer uma coisa dessas, mas fazer o que se a
conveniência faz isso com as pessoas? E quando digo que ela trata os
animaizinhos como seus filhos, é porque ela realmente os vê dessa forma.
Para Marina, Floco e Thor não passam de duas crianças que não precisam de
nada além do amor e cuidado da mãe e, como ela é a mãe, eu fui intitulado
como pai.
Meu Deus! Eu, pai de dois animais.
— Ele não viu e pelo visto nem você, não é? – solto as orelhas do meu
amigo e dedico um pouco de atenção à peludinha, que agora passa a pequena
cabeça na minha perna. — Então tá legal, cuidem da casa, que papa... quer
dizer, o grande Erick, vai encontrar a fujona.
Deixando-os para trás, subo as escadas, me perguntando se devo me
preocupar. Já são quase 07h da noite, e ela nem voltou da prova do vestido e
nem atende o celular. Jorge não está na garagem com o carro, então eu
imagino que ele ainda não a trouxe para casa.
Então, por que não consigo falar com ela?
— Calma, Erick – digo a mim mesmo, enquanto subo, tirando o terno e
afrouxando o nó da gravata. — Sua mulher deve estar entretida com o vestido
e não teve tempo de atender – digo para me tranquilizar, talvez eu esteja
paranoico demais, depois de quase perdê-la.
Ao abrir a porta do nosso quarto, me deparo com a penumbra e um
soluçar baixinho ecoar pelo ambiente.
Marina! Mas o quê...
Quando me aproximo, ligando apenas a luz do abajur para não assustá-
la, o que vejo deixa o meu coração apertado e com uma vontade de matar a
pessoa que fez isso com meu amor. Ela acordou tão feliz em ter tantos
compromissos do nosso casamento a cumprir.
— Ei, o que houve, princesa? – tirando o sapato, me deito atrás dela e
abraço a sua cintura, enquanto ela, sem se mexer, continua chorando bem
baixinho.
— Só me abraça, por favor – pede, ao levar a sua mão até a minha e
entrelaçar os nossos dedos. Respeitando a sua vontade – mesmo estando
preocupado por vê-la chorando assim – faço o que me pede e apenas lhe
abraço.
— A Cristina apareceu lá no ateliê – depois de um tempo e já sem
chorar, ela finalmente fala e o motivo me deixa bastante surpreso.
— Cristina, a sua mãe?
— Ela mesma – se limita a dizer, ao se virar de frente para mim.
— E o que essa mulher queria depois de tantos anos sem dar notícias?
– indago, chateado, pois, apesar de não gostar de injustiças e ser contra
julgamentos precipitados, na minha cabeça o que ela fez não tem justificativa.
— Foi isso que eu questionei. Ela disse estar arrependida e me pediu
perdão, mas eu a tratei tão mal que agora estou me sentindo confusa, sem
saber se fiz a coisa certa. O que eu faço, amor?
— Acho que você precisa de um tempo, pequena. Se agiu da maneira
como agiu, foi porque teve os seus motivos, e se ela realmente quer o seu
perdão ou qualquer outra coisa, vai ter que respeitar o seu tempo. Afinal, ela
não devia esperar outra reação sua, não depois de tudo que soube – deixo
minha opinião e espero estar fazendo a coisa certa.
Não serei eu a incentivar algum tipo de perdão ou aproximação
forçada, se nem mesmo concordo com o que ela fez.
Não ouvi a sua versão dos fatos, mas parece que a Patrícia não mentiu
quando o assunto foi a motivação para o abandono da Marina.
— Sabia que tenho dois irmãos e que eles são gêmeos? – agora ela abre
um sorriso e seus olhos brilham apenas por mencioná-los. — Eles são
gêmeos e se chamam Artur e Victor, tão lindos.
— Assim como a irmã mais velha – beijo o canto da sua boca e
continuo. — Amor, se puder, esquece esse assunto por enquanto. Dê tempo
ao tempo e quando estiver pronta, se um dia estiver, você a procura e tenta
uma outra conversa.
— É por isso que eu te amo, sabia? – se aconchega ainda mais nos
meus braços. — E desculpa por não ter ligado e avisado. Eu só precisava
ficar sozinha e pensar um pouco, você me entende?
— Claro, amor. Eu só fiquei preocupado com a falta de notícia, mas já
que está tudo bem, vamos deixar esse assunto de lado, futura senhora
Estevan.
— Esse nome me soa bem – afirma, e começa a abrir os botões da
minha camisa social. — Só mais três meses e você será tão meu quanto é
humanamente possível – ela abre as bandas da minha blusa e deixa um beijo
no meu peito.
— Três meses... – digo, sentindo que as coisas estão começando a ficar
duras, e digo isso no sentido literal da palavra.
— Por falar em três meses, a Ângela teve uma ideia para os nossos
últimos quinze dias de solteiros e eu acho que você não vai gostar.
— Tinha que ser a porra da Chatinha. Vamos, me fala que ideia é essa
que eu vou odiar. Sim, odiar, pois sei que quando você diz que não vou
gostar de algo, o meu sentimento vai muito além de um simples "não gostar".
Frustrado
Erick

— Mas que porra! – erro pela terceira vez a mesma frase que estou
digitando no computador.
Uma semana.
Sete dias.
Faltam apenas sete dias para que esse inferno chegue ao fim.
— Que mau humor é esse, meu caro? – sem bater na porta, como
sempre, e pisando tão leve que cada entrada sem avisar é um susto diferente,
Bruno invade a sala e presencia mais uma vez a minha frustração. — Ainda
sem transar?
— Sim, e toda vez que me lembro disso tenho vontade de torcer o
pescoço da intrometida da Ângela.
Há pouco mais de dois meses, quando Marina me falou da ideia
absurda de passar os últimos quinze dias que antecedem o casamento na casa
da Ângela, porque segundo a própria, isso tornaria tanto a nossa experiência
como marido e mulher quanto a nossa noite de núpcias ainda mais prazerosa
e especial, eu fiquei tão puto que preferi nem tocar mais no assunto. Pelo
contrário, eu e Marina começamos a trepar como dois coelhos, o negócio
ficou tão intenso que eu até esqueci do plano idiota. Até achei que ela
também tivesse esquecido, mas a safada estava tão insaciável, justamente por
não ter esquecido, estava apenas aproveitando antes da separação.
Há sete dias quase tive um infarto, ao chegar em casa e encontrar suas
malas prontas no meio da sala. Nesse dia, nós dois discutimos e ela bateu o
pé, me dizendo que depois eu iria agradecer.
Eu não tive outra saída a não ser deixá-la ir, mas não sem antes – em
cima do sofá, já que estava com tanta pressa de se livrar de mim – lhe mostrar
o que ela estaria perdendo e meus motivos de acreditar que não conseguiria
aguentar por muito tempo.
Mas, o tempo mostrou que quem estava enganado era eu. Ela não só
aguentou, como tem um cão de guarda a sua volta e toda vez que eu apareço
na residência dos Albuquerque para ver a minha noiva, sempre estamos sobre
os olhos atentos do filhote de megera, que parece adivinhar todas as vezes em
que o clima está esquentando.
A garota sempre aparece para interromper.
De toda essa situação insuportável, pelo menos não tive o desprazer de
esbarrar com o primo, que depois da prisão da Patrícia e de ela ter entregado
que foi ele quem disse do namoro falso, o covarde fugiu de casa e ainda não
teve coragem de aparecer para arcar com as consequências dos seus atos.
— Quer dizer que o grande Erick Estevan está comendo poeira por
causa de uma garotinha? – ele tateia a cadeira e se senta, mais uma vez sem
convite.
— Garotinha? Bem se vê que você não conhece a Ângela, aquela ali é
o próprio demônio.
— Isso eu já percebi, tão quente, quer dizer, tão insuportável... – diz
isso com um sorriso enigmático que não me passa batido.
— Que cara é essa, Bruno...?
— Nem começa com os seus delírios. O assunto aqui é você com a sua
bunda mole. Pelo menos tentou furar a defesa da general empata foda?
— O que você acha? Não foi por falta de tentativa, meu caro. No
entanto, hoje tem sete dias que eu não transo com ninguém além da minha
mão. Ângela é a minha definição perfeita para demônio de saia.
— Poxa, mais uma semana na seca? Boa sorte – diz, ao levantar e ir na
direção da porta.
— Queria alguma coisa?
— Não, só te provocar mesmo, já que ontem à noite bati uma boceta
bem gostosa.
— Vai se danar, porra – atiro um grampeador em sua direção, mas ele
é rápido o suficiente e o mesmo se quebra contra a porta fechada.
Chatinha dos infernos, será que não faz nada além de empatar os meus
planos?
Pensando bem e sendo justo, até que ela não é de todo mal. É Ângela,
com a sua força e companhia, que tem ajudado Marina a esquecer do
desconcertante encontro que teve com a mãe há pouco mais de dois meses.
Depois do encontro entre elas, eu como noivo e maior interessado no
bem-estar da minha garota, fui atrás de saber mais da vida da Cristina e
descobri coisas bem interessantes.
Para começar, não existe nada de romântico na história do abandono e
tal qual a louca falou, Cristina, apesar de ameaçada por João, trocou a
companhia da filha por dinheiro.
Jovem e ambiciosa, a mulher partiu para Portugal e pouco tempo
depois se casou com um português. Um empresário bem sucedido e que foi
capaz de satisfazer suas ambições. Depois de tentar vários tratamentos e não
conseguir realizar o desejo de ser mãe novamente, Cristina desistiu da ideia,
até que oito anos atrás conseguiu engravidar e dar à luz os gêmeos que hoje
têm sete anos de idade.
Apesar de ser feliz e realizada, não conseguiu esquecer a filha, tanto
que, com a ajuda do marido, acompanhou a vida da Marina pelos últimos seis
anos, o que não apaga o erro de nunca ter tentado entrar em contato e só
fazendo isso depois da merda que a prima fez.
E como eu sei disso tudo?
A própria me contou, quando – desconfiado das suas intenções –
busquei seu contato e marquei um almoço em um restaurante perto do
escritório. Na ocasião, lhe aconselhei a dar um tempo para a filha e para não
forçar a barra. Expliquei que quando estiver preparada, a própria Marina vai
entrar em contato, nem que seja por causa dos dois irmãos que tanto lhe
chamaram a atenção.
No mesmo dia, contei para a minha noiva a respeito do tal almoço e
fora a chateação por eu ter feito sem avisá-la, Marina levou numa boa e até
concordou com o meu conselho para que a mãe se mantenha longe.
Desde então, Marina, com a sua fiel escudeira, não tem outra
preocupação além de ajeitar os detalhes do nosso casamento. É por isso que
digo que Ângela é noventa e nove por cento demônio e um por cento anjo. Eu
até poderia me apegar nesse um por cento, mas a saudade da minha mulher é
quem está no comando e como não sou de passar vontade e muito menos de
desistir do que quero, levanto-me da cadeira e, dando o expediente por
encerrado um pouco antes do normal, saio do escritório e vou diretamente
para a casa da megera.
Às 06h da tarde, dentro do carro e parado em frente ao portão do
inimigo, vejo as duas chegarem com as mãos cheias de sacola. Sem perda de
tempo, saio do veículo e quando a linda me vê, ela entrega as suas sacolas
para Ângela e se joga nos meus braços, enlaçando os braços no meu pescoço
e as pernas na minha cintura.
— Você veio, amor, pensei que dormiria sem te ver.
— Nunca – vou beijar a sua boca, mas já no início abro os olhos e vejo
o cão de guarda nos observando com a mão na cintura.
Eu tenho que presenciar o dia em que ela for casar, porque se Marina
não fizer a mesma sacanagem que ela está fazendo com a gente, eu juro que
eu mesmo faço.
— Eu não vou conseguir fazer isso tendo a Chatinha nos vigiando com
esses olhos de rapina. Faça alguma coisa, por favor – peço, ela solta braços e
pernas, vai até a general e conversa alguma coisa – baixo o suficiente para
que eu não possa ouvir – e logo em seguida e de cara amarrada, vejo Ângela
atravessar o portão, nos deixando sozinhos.
Finalmente.
— Enfim, sós – enlaço sua cintura, e quando vou beijá-la, Marina
coloca a mão sobre a minha boca e declara:
— Não pense que o fato da Ângela ter nos deixado sozinhos é um
indício de que você vai conseguir entrar na minha calcinha, pois não é.
— Sério? – indago, já sentindo a minha empolgação cair pela metade.
— Não mesmo. Eu prometi isso pra ela – avisa. — Pense em como vai
ser gostoso, meu amor. Nós dois, depois de tantos dias de tesão acumulado,
matando toda a vontade na noite de núpcias.
— Diz isso para o meu pau – pego a sua mão e a coloco em cima da
minha ereção, que aumentou de tamanho no exato momento em que entrou
em contato com o seu corpo. — É ele quem não entende – como se o local
estivesse pegando fogo – e está mesmo – Marina tira a mão, não a deixando
nem tempo o suficiente para fazer um agrado.
— Se comporta – a aprendiz de megera bate o pé, cheia de convicção.
— Vou me comportar, só que dentro do carro – digo, e antes que ela
perceba, já estamos na parte de trás e com seu corpo bem acomodado em
cima do meu colo.
— Você não tem jeito, não é? – reclama, agora sem muita firmeza,
quando levanto a barra do seu vestido longo, até tê-lo enrolado até a altura da
cintura.
Marina não tem ideia do quanto me fascina vê-la usar vestidos e acho
que seria capaz de comprar dezenas deles só para ter mais da bela visão.
— Não tem mal algum em dar uns amassos dentro do carro, coisa que
não faço desde a adolescência – revelo. — Aí vai mais uma experiência nova,
minha gata.
Segurando na parte de trás da sua cabeça, saqueio a boca gostosa num
beijo faminto que há muito estava a fim de fazer, e do beijo a coisa toda saiu
do controle. Do beijo eu desci as alças do seu vestido e chupei os seus seios
que claramente estão carentes por atenção. Dos seios, decidi fazê-la gozar
com os dedos e assim como eu lhe dei prazer, minha safada também me deu,
quando desceu a minha calça e me chupou até engolir, literalmente, cada gota
da minha sanidade.
Longe de me sentir saciado e com os vidros do carro já embaçados,
estou a ponto de tirar a sua calcinha, mas sou impedido por ela, que diz:
— O foi que conversamos? – sai do meu colo, se ajeitando e
arrumando o vestido. — Sem sexo.
— O que fizemos aqui não deixa de ser sexo – afirmo, me referindo ao
fato de nós dois termos gozado com masturbação e sexo oral.
— Não fizemos, não, isso aqui foi apenas um aperitivo do que nos
espera daqui a uma semana.
Quando diz isso, é como se tivemos um insight simultâneo e no mesmo
instante, paramos o que estamos fazendo, nós olhamos com intensidade e é
Marina quem primeiro fala:
— Sete dias para o passo mais importante da minha vida até aqui.
— Sete dias para a decisão mais acertada que tomei – completo,
trazendo na memória a minha melhor escolha, o dia em que joguei para o alto
todos os receios, preconceitos com idade e medo de julgamentos, o dia em
que sem saber, disse sim para o seu amor e para a felicidade que nos foi
guardada
O grande dia
Erick

— Puta que pariu – com força, arranco a gravata do meu pescoço. Será
que esqueci como se faz um simples nó de gravata, coisa que faço há anos?
— Calma, meu filho. Me dá isso aqui, deixa que eu te ajudo – meu pai
vem em meu socorro ao pegar o pedaço de tecido e fazer em segundos o que
tenho tentado há alguns minutos. — Você está nervoso e eu sei exatamente
como é sentir isso.
— Sabe?
— Como você acha que eu fiquei no dia do meu casamento com a sua
mãe? – antes que termine de falar, já tenho a minha gravata no lugar certo,
fazendo conjunto com o meu terno.
Finalmente chegou o grande dia e não poderia estar mais feliz, além de
estar prestes a me casar com a minha pequena, ainda tenho o prazer de ter a
minha família do meu lado. Eles chegaram há dois dias e se instalaram aqui
na mansão, que tem quartos de sobra. A melhor parte de tê-los por perto,
além de matar a saudade, é poder me distrair da saudade que tenho da
Marina, que cumprindo com a sua palavra, não me deu mais que um beijinho.
Ainda bem que o casamento acontece só uma vez, pois não sei se
aguentaria passar por isso novamente, principalmente essa última semana que
ela andou tão atarefada na preparação dos meus últimos detalhes.
Mas enfim, hoje acaba a tortura e eu terei a minha mulher de volta e
com um novo status: o de minha esposa.
— Me admira o senhor ainda lembrar disso – brinco com o senhor de
sessenta e oito anos, mas que a idade em nada combina com a sua lucidez e
vivacidade.
— Me respeita, garoto – diz, e eu sorrio por pensar que só mesmo o
meu pai para me chamar de garoto. — Agora, falando sério, filho.
— Sou todo ouvidos – sabendo não ter como estar mais preparado do
que já estou, dou uma última olhada para o espelho e me viro para o meu
velho, pois sei que seja lá o que tenha para dizer, será algo que eu preciso e
devo ouvir.
— Faça o possível e o impossível para fazer a sua mulher feliz, Erick –
aconselha, olhando nos meus olhos e com a mão meu ombro. — Marina é
uma menina muito especial, e se Deus lhe concedeu a graça de tê-la como sua
companheira, faça de tudo para preservar esse amor.
— Farei, papai. Aquela garota é toda a minha vida e a partir de hoje,
viverei para fazê-la a mulher mais feliz, assim como ela me faz, a cada
sorriso que me presenteia.
— Eu não esperaria nada menos de você, meu filho – me abraça, dá
batidinhas nas minhas costas e quando se afasta, segura meu rosto com ambas
as mãos e fala: — Seja feliz.
— Eu vou ser, seu Lauro. Na verdade, já sou e serei mais ainda,
quando ver a minha Marina andando em minha direção, tendo Deus, amigos
e quem quiser ver como testemunhas da nossa união.
— Assim que se fala. Agora deixa de papo, já está pronto? Lembre-se
que quem costuma chegar atrasada é a noiva.

Marina

— Que aflição – reclamo mais uma vez, dentro da tenda que fica a
alguns metros do local da cerimônia.
Comigo estão a minha sogra, Carmem, e Ângela, a minha madrinha e
melhor amiga, que não estão nem um pouco contentes com o meu
nervosismo e ansiedade.
— Você lembra que o noivo entra primeiro, não é?
— Claro que lembro – afirmo, estalando os dedos em sinal óbvio de
nervosismo.
Eu planejei e sonhei tanto com esse dia que agora que chegou, temo
estar sonhando ou que algo dê errado.
— Então, só fique calma que já está quase na hora – ela diz ao abrir
uma fresta no tecido da tenda e espiar a movimentação dos convidados
chegando.
Como não tinha nenhum sonho particular ou preferência por alguma
igreja em especial, Erick e eu decidimos que a cerimônia de casamento seria
na praia e por volta das 05h da tarde.
Hoje vejo que não poderíamos ter feito melhor escolha, já que o sol
laranja do fim de tarde dá um clima mágico ao local. Simples, porém
elegante, a decoração escolhida é basicamente constituída por médios vasos
de flores, que acompanham o tapete branco até a pequena tenda onde o padre
irá realizar a cerimônia e que tem o mar de águas verdes e límpidas como
pano de fundo. Nas laterais do corredor de flores, foram colocadas cento e
cinquenta cadeiras para os convidados, que acabaram sendo em maior
quantidade do que imaginávamos. O importante é que deu tudo certo e eu não
poderia estar mais feliz com o resultado, apesar do nervosismo.
— Como você está linda minha, querida – minha sogra se vira para
mim e, toda emocionada, finaliza: — Meu filho tem muita sorte em ter
conquistado uma moça como você, tão linda e que o ama na mesma
intensidade com que ele te ama.
Ouvir suas palavras é um alívio para mim, pois, de todos os
preconceitos e falta de aceitação que o nosso relacionamento poderia ter, os
seus pais, ainda que à distância, era uma preocupação que vez ou outra
passava por minha cabeça. Se quando souberam, disseram apoiar o nosso
namoro, eu não sabia como seria quando nos vissem pessoalmente, o que é
uma realidade bem diferente de quando só se sabe, mas não presencia. Com a
graça de Deus, ao nos ver pela primeira vez há alguns dias, quando chegaram
para o casamento, meus sogros deixaram mais do que claro não só não serem
contra, como também o fato de estarem satisfeitos por estarmos dando esse
passo importante.
— Obrigada, por tudo – digo, e ela me presenteia com um abraço.
— O que é isso, querida. Vamos parar que eu não quero borrar as
nossas maquiagens e nem amassar o seu vestido – avisa, ao olhá-lo com
olhos de encanto, o mesmo encanto com o que eu mesma o olho, desde o dia
em que Honória me mostrou o desenho com o modelo que tinha imaginado
para mim.
De alças e no modelo princesa, que começa acinturado e vai abrindo na
parte da saia, o vestido liso é todo trabalhado em renda francesa e finalizado
com uma pequena calda. Num estilo mais simples e delicado, assim como a
minha maquiagem de tons claros, preferi deixar os meus cabelos soltos e
enfeitados por leves ondas, onde uma tiara de flores dá o toque final, em uma
noiva que se casa ao fim de um dia de verão, tendo o verde límpido do mar
como pano de fundo e o som das águas se quebrando contra as pedras, como
trilha sonora.
— Tem razão, nada de choro, e obrigada por estarem aqui – abraço e
elas me retribuem com sorrisos sinceros, os melhores que eu poderia querer
ao meu lado neste momento.
Em outra situação, quem deveria estar presente aqui comigo era a
minha mãe, mas, na situação em que nos encontramos, não seria apropriado
forçar uma aproximação, já que as poucas vezes em que aceitei me encontrar
com ela não foram suficientes para tamanha intimidade. Por outro lado, esse
laço que se estreitou com os gêmeos me trouxe a sensação de ter uma família
além do Erick.
O triste disso tudo, tanto para mim quanto para eles, é saber que em
breve terão de voltar para Portugal, mas a Cristina prometeu trazê-los para
me visitar sempre que for possível.
— Tá quase na hora – dessa vez, é minha sogra quem espia a
movimentação. — Eu já vou, pois seu noivo está prestes a entrar.
Dito isso, ela sai e ficamos eu e a Ângela, que com seu longo vestido
lilás, é certamente a madrinha mais linda que uma noiva poderia ter, uma
madrinha nada satisfeita com o padrinho escolhido. Mas, que eu posso fazer
se Erick escolheu o Bruno como o seu padrinho?
— Tudo bem? – ela chega perto de mim e segura as minhas mãos. —
Suas mãos estão trêmulas e geladas – se preocupa.
— Isso sem contar o frio na barriga, mas eu tenho certeza que quando
ver o Erick no altar, me esperando, todo o nervosismo vai passar.
— Tô muito feliz por você, sabe disso, não é?
— Sei, sim, obrigada por tudo – vou abraçá-la e sou impedida.
— Nada de lágrimas e abraços. Vamos guardar eles para depois.
Agora, você tem que estar linda – afirma, ao ajeitar as mechas onduladas do
meu cabelo.
Alguns minutos depois, vejo Ângela entrando pelo corredor de braços
dados com Bruno, e respirando fundo, saio da tenda, caminho os poucos
metros e quando o instrumental começa a tocar a marcha nupcial, eu, sozinha
e com um buquê de girassóis nas mãos, começo a caminhada na direção do
meu noivo.
Como imaginava, no momento em que o vejo, tão lindo no seu terno
escuro e me esperando, todo o nervosismo e apreensão caem por terra,
restando somente a plenitude do amor e a vontade de chegar até ele e vê-lo
segurar a minha mão.
Depois de percorrer o que pareceu ser um longo caminho, finalmente
me vejo frente a frente com o meu amor, e por alguns instantes ficamos nos
encarando com olhares de amor e encantamento, até que ele, ainda de mãos
dadas comigo, se aproxima do meu ouvido e sussurrando, diz:
— Você está linda neste vestido, meu amor, e eu não vejo a hora de
tirá-lo do seu corpo – elogia e emenda com uma sacanagem.
Se não fosse assim, não seria o Erick.
Sob os olhares curiosos dos convidados e do padre, ainda estamos no
nosso momento, até que com um pigarro o ele nos interrompe:
— Senhores, podemos começar?
— Sim – dizemos juntos e entre risadas discretas, somos presenteados
com um olhar impaciente pelo religioso.
Como um borrão, todo o sermão passa, onde eu só tenho consciência
da minha mão unida a do meu amor e na minha cabeça passando um filme de
tudo o que passamos para chegarmos até aqui, dos percalços no meio do
caminho, da luta diária para construirmos uma relação sólida, mas
principalmente, da fé que depositamos no nosso amor. Isso tudo foi o que nos
trouxe ao dia de hoje, o dia em que, perante Deus, concretizarmos a nossa
união.
— Senhorita – a voz do padre me traz para o presente, onde ele e Erick
me fitam. — É de livre e espontânea...
— Sim! – mal termino de dizer e me jogo nos braços do meu marido,
que ao me envolver com braços e lábios famintos, apaga quase por completo
a noção do que acontece a nossa volta, sendo possível ainda ouvir o som de
palmas e um pouco mais baixa e demostrando cansaço, a voz do padre dizer:
— Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher.
Na frente de todos e sem o menor pudor, meu marido devora a minha
boca, o que não inibe o sacerdote de terminar o protocolo.
— O noivo pode... é.... Ah, deixa pra lá.
— Beijar a esposa – completa Erick, ao pegar a minha mão esquerda e
beijar a aliança de ouro que acabou de colocar. — E esse marido não vê a
hora de estar a sós com a mulherzinha dele – sussurra, discreto, antes de me
beijar novamente, sob o som de aplausos, assobios e pétalas de flores jogadas
nas nossas cabeças.
Fugidinha
Marina

— Será que ainda vai demorar muito, esposa? – Erick pergunta, ao me


abraça por trás.
Estamos no jardim da nossa casa, que foi totalmente transformado para
a recepção do nosso casamento e em nada lembra o seu visual original. No
início, pensamos em alugar um espaço próprio para festas de casamento, mas
aí pensamos melhor e decidimos que o nosso jardim, que é tão amplo, não
poderia ser desperdiçado dessa forma. No fim, o lugar ficou tão lindo quanto
ou mais do que ficaria se tivéssemos alugado outro espaço.
Para mim, a maior felicidade é ver como os decoradores conseguiram
trazer para cá a mesma ideia da cerimônia, imprimindo a noite de verão um
clima descontraído e informal, enfeitado pela pista espelhada que foi montada
e pelas flores naturais que arrematam a decoração. Já para o meu maridinho,
os sentimentos são um pouco menos ortodoxos. Para ele, fazer a recepção
aqui é sinônimo de poder fugir no meio da festa, e é isso que ele tem tentado
desde a hora que chegamos. E olha que nem tem tanto tempo assim.
— Calma, marido. A noite está apenas começando – no meio da pista,
me viro para ficar de frente para ele, e quando uma batida começa a tocar,
começo e me mexer e peço: — Vamos, dança comigo, ou será que não sabe?
— Não me provoca, meu amor – enlaça a minha cintura com mais
firmeza. — Vou te mostrar que sou um exímio dançarino e será você a pedir
arrego.
Sussurra no meu ouvido, fazendo todos os pelos do meu corpo se
arrepiarem de prazer, o que me faz perceber que estou tão ansiosa quanto ele
para escapar dos convidados e ter nosso momento a sós.
— Então me mostra, meu esposo gostoso – com as mãos na sua nuca,
começo a passar as unhas curtas por toda ela.
De repente, me dá uma pesada vontade de testar os seus limites.
— Foi você quem pediu – diz, ao começar a se mexer ao som da balada
sensual.
Sem desviarmos os olhares que trocam promessas e falam de paixão
incontida, ficamos no nosso mundo e sendo observados pelos convidados,
que ainda não tiveram a iniciativa de entrar na pista.
— Eu já disse que você é linda e que está ainda mais linda com essa
roupa? – ele volta a me virar de costas e assim fica, com as mãos em volta da
minha cintura, me presenteando com o calor do seu corpo. — Fico com
vontade de lamber a sua barriga até chegar aos seus seios, que estão
lindos nesse pedaço de pano brilhoso.
O pedaço de pano brilhoso é um cropped cor champanhe, que deixa
parte da minha barriga de fora e fazendo conjunto com uma esvoaçante saia
longa. A saia que tem uma fenda do lado direito e que vem aberta até a altura
da coxa, é toda transparente, deixando totalmente amostra o shortinho branco
que uso por baixo.
E se eu achava que tinha feito a escolha certa, o olhar de desejo do meu
marido ao me ver somente confirmou o acerto.
— Também tô com vontade de lamber – digo, e espero não acabar com
a festa que mal começou. — E não é a sua barriga.
— Safada – me puxa mais para perto, me deixando com a bunda quase
na altura do seu pau, isso graças aos saltos altíssimos que uso. — Olha o
sorriso dessas pessoas, tão inocentes. Mal sabe eles das sacanagens que os
pombinhos estão falando, principalmente a noivinha – fala baixinho, ao
propositalmente rebolar a parte baixa do seu corpo contra o meu. Se antes eu
já estava subindo pelas paredes, agora que o sinto endurecer por baixo do seu
short branco, estou quase em combustão.
— Faz isso de novo – peço, sem pensar, e no mesmo momento em que
outra música começa. — Quero sentir.
Para nossa sorte ou tortura, a balada agitada parece ter animado a
galera e rapidamente a pista lota de corpos saltitantes, o que transforma eu e
meu homem em apenas mais um casal no meio dela.
— Providencial – sussurra, para que eu possa ouvir, já que o DJ
aumentou o som de maneira considerável. — Só não goza, meu amor –
assopra e eu tenho vontade de chorar.
Isso tudo deve ser consequência dos planos da Ângela. Tanta frustração
e desejo reprimido finalmente cobra seu preço, e se ela tem razão, a
recompensa por tamanho sacrifício já começou. Porque se o fogo que
sentimos no meio dessa pista for um indício de como vai ser a nossa noite de
núpcias, eu garanto que ela vai ser muito quente.
— Só se você prometer que também não vai – provoco, e mesmo de
saltos altíssimos, fico na ponta dos dedos e na altura da sua ereção, me
esfrego contra a sua dureza. Só espero estar disfarçando ou que todos estejam
distraídos o suficiente para que não possam presenciar o nosso sexo a seco.
— Te garanto que não, minha mulher – me viro novamente, e olhando
nos meus olhos, aproxima a boca na minha e quase a tocando, diz: — Isso eu
vou fazer dentro da sua boceta.
Depois de me deixar ofegante com sua afirmação, Erick começa a
dançar, quer dizer, não dançar de verdade. O que ele faz é me castigar pela
abstinência que nos impus.
No ritmo, meu marido executa passos que nos deixam com os sexos
colados e quando isso acontece, ele faz questão de se apertar ainda mais
contra mim, me deixando mais molhada do que tenho coragem de admitir.
— Eu não aguento mais – digo, sem fôlego, quando a quinta música
acaba, e quando termino a minha terceira taça de champanhe. — Eu preciso
transar – confesso, sem vergonha nenhuma de admitir a minha frustração.
— Você está bêbada? – pega minha taça vazia e coloca em uma
bandeja, assim que o garçom passa por nós. — Não beba mais, quero você
sóbria para mais tarde – avisa, sem deixar de lamber uma gota da bebida que
começa a escorrer pelo canto da minha boca.
— Bêbada não, é só tesão mesmo – digo. — O que está acontecendo
comigo?
— Frustração, a mesma que eu senti nestas duas semanas por sua culpa
e da diaba – revela, me fazendo rir do apelido.
— Pensa que hoje vai acabar, e se for como ela diz, nós vamos botar
pra foder.
— Literalmente – ele sorri, e segurando a minha mão, me leva para
fora da pista. — Precisamos respirar um pouco.
— Acho que devíamos ter dispensando os funcionários – assevero. —
Já bastou no dia que você... Você...
— Comi sua bundinha – a boca suja completa, sem o menor
constrangimento. — E não se preocupe em passar vergonha com os seus
gritos, pois o seu marido já pensou em tudo.
— Sério?
— Seríssimo – ele me leva até o banquinho mais afastado do jardim,
senta e depois me ajeita em cima do seu colo. — Depois da festa, todos
estarão dispensados para irem para suas casinhas e nós dois começaremos a
nossa própria festa.
— Será que vai demorar muito pra eles cansarem e irem embora? – nos
voltamos para a pista e vemos a galera, principalmente os meus amigos,
pularem sem demonstrar nenhum cansaço ou vontade de encerrar a noite.
Se brincar, vão amanhecer o dia dançando.
— Não tá parecendo – fala, e sua mão começa e subir por minha coxa
nua. — Deixa eles para lá. Quer namorar um pouco?
— Mais que um pouco, eu quero você em mim – confesso, tendo
certeza de que a bebida ingerida me deixou com a língua solta.
— E eu respiro por estar em você, meu amor. Em todas as partes de
você – confessa, ao beijar o meu colo e subir para o meu pescoço. — Eu te
amo, minha esposa.
— Eu te amo, marido – devolvo, quando sua boca encontra a minha em
um beijo cheio de sentimentos.
No início, usamos apenas os lábios em um beijo cheio de ternura e
amor, depois, ele captura a minha língua e com uma dança cadenciada e
sensual, o beijo fala de paixão e erotismo, a promessa da vida que nos
aguarda a partir de hoje.
— Humm – gemo dentro da sua boca.
— Será que irão perceber se dermos uma fugidinha de leve? –
questiona, quando sem fôlego e totalmente excitados, ele separa os nossos
lábios. — A gente dá uma rapidinha e volta.
— Acho que não – aproveito que foi ele quem propôs e lhe estendo a
mão.
— Vamos – estamos decididos e a ponto de fugir para o nosso quarto,
até que somos interrompidos por vozes inesperadas:
— Aí estão vocês – Ângela vem de braços dados com a minha sogra.
— Eu não disse que eles tinham fugido?! Sorte a nossa não estarem trepando.
— Ângela! – repreendo, roxa de vergonha.
Desse jeito a sogrinha vai ficar pensando que somos tarados.
— Vem, querida, tá na hora do buquê e depois tem o bolo – minha
sogra vai falando o cronograma, me fazendo ter vontade de chorar de
frustração.
— Vai, amor, faz essas porras e volta para mim – dá um selinho na
minha boca e fala. — Foda-se festa e convidados, logo estaremos fugindo, só
eu e você.
— Combinado – beijo sua boca, antes de ser puxada pelas mulheres.
Infelizmente, o rapidinho demora duas longas e torturantes horas.
Primeiro é o buquê, que cai mãos de Ângela quando a coitada nem está na
fila para pegar, e acho que se pudesse, o jogaria no lixo. Depois vem o corte
do bolo e fotos, onde tenho que sorrir o tempo todo. Fico tanto tempo com os
dentes à mostra que agora a minha mandíbula dói.
Nesse tempo, Erick se reveza entre sorrir para fotos sempre que é
solicitado e conversar com os amigos, principalmente com Bruno, o padrinho
que à essa altura já se arrependeu de ter aceitado o convite. Acho que ele não
imaginava que teria de ficar tão próximo da madrinha, que parece lhe
retribuir o mesmo ranço.
De toda a minha insistência, a única coisa que Ângela me disse foi que
tiveram um encontro nada agradável dentro do banheiro. Isso no dia em que
eles apareceram de surpresa e nos encontraram à beira da piscina.
Agora, morta de frustração e vendo que a festa está longe de acabar,
saio em busca do meu amor, que provavelmente fugiu para um lugar mais
calmo e me espera com ansiedade.
— Voltei, marido – o encontro sentado do mesmo banquinho de horas
atrás.
— Já não era sem tempo – me puxa para as suas pernas e me tasca um
beijo de tirar o fôlego.
— Me tira daqui... – murmuro, me deliciando com a sua mão em cima
do meu peito.
— Agora – meu amor entrelaça os nossos dedos e saímos correndo
para a porta dos fundos da mansão.
Começo feliz
Marina

— É para dar sorte – ao alcançarmos a porta do nosso quarto, Erick me


pega em seus braços e a abre com um leve chute.
— Isso é bobagem... – com medo de cair de bunda no chão, começo a
explicar, mas logo tenho a minha atenção atraída pela visão do nosso canto.
Com a luz baixa, o ambiente não poderia ser mais romântico e propício
para uma noite de núpcias. Numa mesinha de centro, colocaram um balde de
gelo e de champanhe e ao lado, algumas frutas, como uvas e pedaços de
morango.
Está tudo tão lindo, mas o que me chama atenção é a nossa cama, que
foi forrada com um lençol de seda todo branco e sobre ela foram depositadas
pétalas de rosas vermelhas, que perfumam todo o quarto. O clima criado aqui
é tão sensual, que se eu já não estivesse nele, teria ficado agora.
— Quem foi o responsável por isso, amor? – quando ele me coloca no
chão, me aproximo da cama, passo os dedos em algumas pétalas macias e só
então vejo a camisola sexy, quase da mesma cor do lençol e que até então eu
não tinha notado aqui em cima.
— Não sei, e seja quem for, eu só tenho a agradecer – diz, e seus olhos
acompanham quando pego a camisola curtíssima e toda trabalhada em seda e
renda. Se a minha bunda não ficar de fora e meus peitos pulando para fora,
será um milagre. Mas talvez a ideia seja essa, levando-se em conta o jeito que
meu marido olha para ela.
— Não vai ler o bilhete? – olha para a cama, e antes que eu me poupe
da vergonha, ele passa na minha frente e pega o papel.
— Ei, isso é para mim – com a mão na cintura, faço a minha
reclamação.
— Acho que é para nós, minha linda – afirma, e com sorriso
estampado, começa a ler em voz alta:

Esperamos que curtam a noite e transem bastante. Não esperamos


mais do que isso do casal mais apaixonado do planeta.
Com carinho, Ângela e Maya.

— Eu adoro essas duas – balança o bilhete enquanto fala. — Se um dia


critiquei, não me lembro – diz, na maior cara dura.
— Ângela que o diga – devolvo, ao finalmente descer dos saltos altos e
dar um descanso para os meus pobres e sofridos pés.
— Quer um tempo? – olha para minha mão que segura a lingerie com
firmeza.
— Quero, sim – preciso mesmo escovar os dentes, arrumar o cabelo e
vestir essa indecência que Erick parece ter aprovado. — Só me diz que não
pretende fugir para a festa enquanto eu estiver no banheiro – brinco.
É claro que não vai fazer isso, não o homem que quis tanto quanto eu
que a festa terminasse. A festa acabou para nós dois, os outros, inclusive as
responsáveis por tudo isso aqui, certamente ficarão por mais algumas horas e
eu não tenho dúvidas de que faremos amor ao som de uma música eletrônica
qualquer.
— Nem morto, amor. Desse quarto eu só saio para o aeroporto, para
dar continuidade à nossa lua de mel – avisa, e eu não tenho tempo de
perguntar mais uma vez para onde iremos, afinal, já fiz e ele disse que o
destino da nossa viagem é uma surpresa.
Erick

— Tenho certeza de que você vai ser a minha morte, mulher – digo, de
boca seca, ao ver a gostosa parar bem na minha frente, que assim como ela,
decidi me preparar. Preparo que consiste em fazer uma rápida higiene pessoal
no meu antigo quarto, voltar para o nosso, tirar a blusa e o short branco e
deitar, vestindo somente a minha boxer da mesma cor.
— Você também não está nada mal – a safada, que veste uma
indecente camisola branca e que deixa pouco à imaginação, manja o meu pau
sem o menor pudor.
De igual modo, eu bebo da sua beleza, que mais me lembra um anjo do
pecado com essa seda branca, onde as rendas cobrem partes estratégicas, mas
não cobrem por inteiro a sua pequena calcinha. Nesse momento, eu estou tão
excitado que será um milagre se eu não gozar na primeira arremetida.
— Vem cá, vem – chamo, e me sento com as pernas abertas na beirada
da cama. – Quero você.
Trazendo o seu perfume e o corpo exuberante, minha mulher para entre
as minhas pernas e eu penso que finalmente a tortura acabou, que hoje não
tem quem me impeça de amar a minha gostosa.
— Quero tanto, que você vai ter que me perdoar por fazer isso – seguro
a parte de cima da sua camisola e a rasgo de fora a fora, deixando somente
com a calcinha fio dental clara, que em nada ajuda a esconder a evidência do
seu desejo.
— Não poderia ter me pedido pra tirar, seu homem das cavernas? –
pergunta, sem estar brava realmente.
— Poderia, mas tenho certeza que as meninas vão me perdoar por isso,
afinal, ela era um empecilho entre mim e eles – abocanho seu seio esquerdo,
enquanto com a mão belisco o outro mamilo excitado. — E muito menos isso
– solto seu seio e desço a mão até levá-la para dentro da sua calcinha.
— Tão molhadinha, meu amor quer gozar? – meto dois dedos dentro
do seu sexo pulsante, fazendo movimentos de entra a sai, enquanto o meu
está tão duro que beira a dor. — Quer que eu acabe com esse vazio de dias
que deve estar sentindo?
— Sim, eu já não suporto mais – abre mais as pernas, permitindo que
meus dedos a penetrem com maior profundidade. — Nunca mais quero ficar
tanto tempo sem isso – confessa entre gemidos, ao tomar a iniciativa de um
dos beijos quentes que já demos, e enquanto ela me fode com a língua, eu a
fodo com os dedos.
— Goza pra mim... – peço, com a boca na sua. — Isso, minha putinha,
rebola, vai – incentivo e sem largar a minha boca, minha mulher senta sob o
meu dedo, até que entre gemidos abafados pelos meus lábios, ela goza em
cima deles e nesse momento eu não resisto a levá-los à sua boca, induzindo-a
a chupá-los e sentir o seu próprio gosto.
— Tá sentindo o quanto você é gostosa? – ela me encara com
intensidade, chupando os meus dedos como quem chupa o mais doce pirulito.
— Vem, quero experimentar – exijo, ao segurar os cabelos da sua nuca e
trazer a boca deliciosa para dentro da minha.
Enquanto eu como a boca da minha delícia com sofreguidão, ela desce
a mãozinha pelo meu abdômen e, assim como eu fiz, começa a me masturbar
por dentro da cueca.
— Fica em pé, querido – pede, e eu obedeço de prontidão. Quando o
faço, ela se ajoelha na minha frente, desce a Calvin Klein por minhas pernas e
quando tem meu pau duro e pulsante bem na frente do seu rosto, a gostosa o
segura com as duas mãos macias e o chupa do jeito que gosta de fazer.
Primeiro passa a língua na cabeça e depois o engole até onde consegue. E o
que sua boca não dá conta, ela compensa com a mão, que faz delirantes
movimentos e se reveza entre leves apertos e um vai e vem cadenciado.
Se no início eu a deixo comandar os movimentos, depois que o meu
último resquício de controle se esvai, pego a sua cabeça, parando os seus
movimentos e eu mesmo começo a meter.
— Isso, porra – tiro e vou até que seus olhos estejam cheios de
lágrimas. — Engole, sua safada – meto, e quando sinto que estou prestes a
esporrar dentro da sua boca, saio e lhe estendo a mão. — Vem aqui, eu quero
fazer isso dentro da minha bocetinha.
— Me come – pede, linda além do limite, com uma enorme mancha na
frente da calcinha e a boca avermelhada dos meus beijos e de me levar quase
até o talo.
— Agora – deito-a de costas no centro da cama, e sem deixar de lhe
encarar, tiro a última peça que me impede de vê-la por inteira. — Como eu
senti falta da minha bocetinha – abaixo até seu sexo, assopro, fazendo com
que os pelinhos claros dos seus braços se arrepiem e deixo um beijo na parte
de cima da sua pélvis. — E desse cheiro.
— Nem me lembre... – fala, com a voz rouca pelo tesão.
— Abre bem as pernas – Marina faz o que peço e me enfio entre elas,
tomando cuidado para não sufocá-la com o meu peso. — Ainda está tomando
o anticoncepcional?
— Sim – fico feliz por poder senti-la mais uma vez, sem nada entre
nós.
— Minha esposa – observando todas as emoções que passam por seu
rosto, começo a meter até que fique completamente dentro dela.
— Meu marido... – ofega, ao me sentir sair, para depois penetrá-la com
rapidez. — Dessa vez eu quero com força.
— Assim? – soco com brutalidade, fazendo com que nossos quadris se
batam e ela solte um gritinho de contentamento.
— Mais fundo – pede, seguro a sua coxa e ela entende o meu pedido ao
enlaçar as pernas na minha cintura. Dessa forma e fazendo do jeito que minha
gata gosta, a penetração fica mais profunda.
Não sei quanto tempo se passa, só sei que nos minutos seguintes,
Marina e eu colocamos para fora toda a frustração de duas semanas sem fazer
sexo. Fazemos o sexo no sentido mais puro da palavra, uma transa que nada
tem a ver com amor, é puro tesão em forma de uma foda épica.
Depois de comê-la na tradicional papai e mamãe e ainda sem permitir
que nenhum de nós dois encontre alivio, ainda experimentamos novas e
loucas posições. No fim, depois de gozar e de me fazer pensar que não
aguenta mais nada antes de algum descanso; a minha esposa, cheia de fogo,
ainda me atiça para o sexo anal, e como eu não sou de deixar oportunidades
passarem, dou a ela o que nós dois gostamos.
Quando paramos no meio da madrugada e com o som bem menos
barulhento, estamos em frangalhos e com corpos e cabelos pingando de suor,
que não temos forças nem para um banho.
É só depois de um cochilo e um banho revigorante que temos a chance
de nos amar.
Dessa vez, com calma e olhando nos olhos um do outro, Marina e eu
fazemos o nosso primeiro amor como marido e mulher.
— Eu te amo – de mãos dadas e lânguidos, declaro as palavras que são
poucas para descrever a grandeza do que eu realmente sinto. — Muito! E isso
é definitivo.
— Pra sempre, Marina e Erick – com um sorriso no rosto, meu amor
cai novamente no sono e eu lhe trago para os meus braços, lugar onde sempre
quero tê-la.
Com o sol alto batendo no meu rosto, desperto e encontro o lado da
Marina vazio, e no momento em vou me levantar para procurá-la, ouço a sua
voz encher o ambiente.
— Tô aqui na varanda, querido – vou até lá e a encontro observando o
nosso jardim, que apesar de vazio, ainda ostenta a decoração da festa.
— Tudo bem? – abraço-a por trás e encosto a cabeça no seu ombro.
— Não poderia estar mais feliz. Só estava pensando na nossa história.
— Você sempre soube, não é?
— Acho que sim. Mesmo na época que parecia errado amar você, eu
tinha a esperança de que o tempo se encarregaria de eliminar todas as
barreiras, até que te fizesse enxergar que o meu amor era real e não é errado
amar como nos amamos. Nunca foi.
— E conseguiu, amor. No dia em que eu decidi assumir os meus
verdadeiros sentimentos, eu não quis outra coisa além de te fazer feliz, assim
como você me faz pelo simples fato de existir. Obrigado!
— Pra sempre – afirma, emocionada, ao entrelaçar os nossos dedos.
— Pra sempre – confirmo, tendo a brisa suave que acaricia os nossos
rostos e o sol da manhã que beija nossa pele, como testemunha de um amor
que vai além da compreensão.
Um amor que tinha tudo para dar errado, mas que enfrentou e venceu
todos os obstáculos que se interpuseram no meio do caminho, isso porque
decidimos lutar por ele e abraçar o tão aguardado final feliz.
Quer dizer, começo feliz, pois o nosso caminho rumo ao para sempre
está apenas começando.
— E então, minha esposa, não quer descer e tomar o primeiro café
como a senhora Estevan? – pergunto, ao dar uma leve mordida no seu
pescoço, para depois lamber o local que prontamente ficou avermelhado.
— Só se for agora – fala, e se encolhe entre os meus braços, quando o
balançar das árvores traz um vento mais forte. — Pra falar a verdade, eu
estou tão varada de fome, que seria capaz de comer um bolo inteiro.
— Imagino que seria mesmo – viro-a de frente para mim. — Depois
das atividades intensas e suadas dessa madrugada.
— Não vem me dizer que você não está faminto.
— Estou, com certeza – afirmo, alisando a sua cintura, que está coberta
pelo robe de cetim lilás e tendo por baixo somente um conjunto de calcinha e
sutiã. — Mas eu garanto que tem outra fome bem mais intensa e urgente –
encosto minha ereção matinal na altura da sua barriga.
— Avisa pra sua outra fome que ela vai ter de esperar um pouquinho,
pois a sua mulher aqui, apesar de querer matar a outra fome, precisa
recuperar as energias e comer antes de ser comida.
— Então vamos logo – chamo, para depois soltar a sua cintura e
entrelaçar os nossos dedos. — Estou doido para receber a minha sobremesa –
pisco para os seus seios, querendo provocá-la. — Espera aqui, só um
minutinho — peço, e me mando para dentro do banheiro.
Depois de rapidamente lavar o rosto e escovar os dentes, saio do
banheiro e encontro a minha mulher sentada na ponta da cama, apenas me
esperando para descermos juntos.
— Vamos? – estendo a mão e Marina a segura.
— Espera um pouco – ela dá uma leve puxada no meu braço, assim
que dou o primeiro passo para fora do quarto. — Você vai descer assim? –
aponta para o meu corpo e só então percebo que não visto nada além da cueca
boxer preta.
Para sempre
Marina

— Para com isso – aos risos, descemos as escadas, com ele me


abraçando por trás e atacando o meu pescoço com dentes afiados. — Daqui a
pouco arranca um pedaço – brinco com a sua mania de estar sempre com a
boca em algum canto do meu pescoço.
— Poxa, achei que a minha mulherzinha gostasse das minhas mordidas
de amor – ele encena uma voz dramática, enquanto passamos pela sala e nos
direcionamos para a cozinha.
Com um caminhar desastrado pela forma com estamos atracados, não
consigo dar dois passos sem tropeçar nos seus pés.
— Você sabe muito bem o quanto eu gosto do seu lado vampiro.
Deve ser por isso que ele também gosta, já que não consigo esconder o
quanto ter sua boca em mim me excita além do limite.
— Só acho que os nossos funcionários não pensam da mesma maneira.
Já pensou proporcionar um filme pornô ao vivo?
— Tá exagerando, amor – parando no meio do caminho entre a sala e a
cozinha, Erick me encosta na parede e se posiciona a minha frente, com o
corpo tão colado quanto pode ao meu.
— Não tô não – seguro a sua cintura e, me apertando ainda mais contra
ele, continuo: – Olha só para o seu estado, todo duro só por encostar na
minha bunda por alguns minutos.
— Não é apenas uma bunda – falando com a boca em próxima a
minha, meu marido leva as mãos até o meu bumbum e o aperta com gosto. —
É a da minha gostosa e que eu sinto um tesão enorme por comer ela.
— Continuando – encerro o assunto, pois o papo já está ficando quente
demais para uma manhã de domingo e para uma barriga vazia. — Se não
controlarmos os nossos carinhos, expulsaremos todos dessa casa e você sabe
que de um beijo para estarmos trepando em cima do sofá, não leva nem cinco
minutos.
— Pensando por esse lado – concorda, mas não deixa de apertar com
gosto o seu mais novo paraíso particular. Foi assim que ele intitulou, depois
de ter conseguido o que queria e de ter se assegurado que eu gostei o
suficiente para querer repetir. — O problema é que eu não tenho culpa de ter
a esposa mais gostosa do mundo e de não me controlar quando estou lado
dela – faz cara de inocente e beija o canto da minha boca.
— Por isso mesmo precisamos pegar mais leve na demonstração de
afeto em público.
Enquanto digo isso, eu – de forma patética – estou na ponta dos pés,
tentando me esfregar na sua ereção.
Misericórdia! Parece que a ideia da Ângela de nos separarmos por duas
semanas, saiu melhor do que o esperado. É isso ou eu estou no cio.
— Já basta eu ter que fazer a caminhada da vergonha, toda vez que
solto uns berros – revelo, e ele não deixa de sorrir da minha reação.
Como um homem experimente e que deve ter vivido as mais loucas
experiências – que eu prefiro nem imaginar – Erick se diverte e não entende o
porquê de eu ficar tão envergonhada pela possibilidade de as pessoas da casa
nos ouvirem. Isso depois de eu explicar que, para mim, eles não são simples
funcionários; são amigos que me viram crescer e me tornar a mulher que sou
hoje.
Como meu maridinho é um devasso e descarado, toda vez que ouve
minha explicação, apenas sorri e diz que eles sabem que a menina deles
cresceu, se tornou adulta e que ao invés de se divertir com bonecas, agora
passa as horas livres transando.
— Eles já ouviram o suficiente para saber que você faz sexo, amor, e
nós já falamos sobre isso – diz, enquanto sua mão traça um caminho que sai
do bumbum e vai até a altura do meu seio. — Mas já que não podemos
transar amordaçados, o que acha de mantermos o meu apartamento?
— Me parece um ótimo plano – digo, animada e surpresa por não ter
pensado nessa ideia.
— Não é como se fôssemos sair de casa todas as vezes que quisermos
transar, até porque isso acontece com bastante frequência.
Talvez por perceber que estamos a alguns minutos tendo essa conversa
em pé e que ela pode ir longe, Erick se afasta do meu corpo, segura a minha
mão e me puxa para o sofá. Chegando lá, senta-se no canto esquerdo, para
depois me ajeitar em cima de suas pernas. Agora mais confortáveis e sem
deixar de trocar o carinho dos recém-casados, meu amor continua o que
estava dizendo:
— O que podemos fazer é fugir para lá quando as coisas esquentarem
demais – revela o seu plano.
— Mas sempre esquenta demais – faço a minha objeção, pois, entre
nós, não existe isso de sexo morno.
Em uma realidade em que o fogo fica mais brando e o sexo menos
intenso depois que a novidade de início de namoro passa, Erick e eu fomos na
contramão, já que diferente do que acontece normalmente, o nosso tesão pelo
outro só aumentou.
Parece que quanto mais o tempo passa, nos sentimos mais à vontade
com os nossos desejos e desinibidos com o tipo de sexo e prazer que
queremos proporcionar ao outro.
— Não tenha dúvidas disso, amor – fala, ao desatar o nó do meu robe e
começar a alisar a minha barriga de um canto a outro, enquanto conversamos.
— Mas tem uma ocasião em que você uiva como uma loba, e acho que
nessas horas nem dez mordaças seriam capazes de abafar os seus sons.
— Eita, fiquei curiosa – revelo, e me arrependo assim que ele sussurra
no meu ouvido o que me assanha a ponto de perder o controle.
Sem jeito e sem saber o motivo para isso, concordo com o que diz,
porque se tem uma coisa que me deixa ensandecida, é quando nós dois
fazemos sexo anal. O meu homem faz o negócio de uma forma tão deliciosa,
que eu morro de vergonha de admitir em voz alta o quanto eu gosto da
prática.
— Tem ideia do quanto fica linda assim, toda sem jeito por me ouvir te
falar o quanto sente prazer ao dar a bunda?
— Cala a boca – enfio a cabeça entre o seu ombro e pescoço, tendo a
certeza de que do meu rosto está subindo vapores de fumaça, pelo tanto que
está quente.
— Calo, sim, mas que é verdade, isso é – vai subindo a mão macia pela
minha costela e eu já estou toda arrepiada com todo esse papo de sexo que
estamos tendo.
— Tem algo planejado para o dia de hoje?
Pergunto, pois, além de ser o nosso primeiro como marido e mulher,
também é o último antes da nossa viagem de Lua de mel. Viagem essa que
tem destino incerto para mim e até as malas foi ele quem fez. Só não sei se
fez isso sozinho ou se tem dedo de duas traidoras, que parecem ter virado
suas cúmplices em tudo que apronta.
— O que acha de batizarmos o meu apartamento mais tarde? – indaga.
— Sabe aquele plano de fugirmos para ele quando tudo ficar intenso demais?
– balanço a cabeça em confirmação. — Pois, é. Acho que esse momento
chegou mais rápido do que imaginávamos.
— Mas a casa não vai estar vazia hoje? – lembro de ele ter dito que
dispensou todos os funcionários e que teríamos a mansão só para a gente.
— Está, sim, mas é melhor prevenir. Ou quer correr o risco de sermos
ouvidos? – o safado usa o meu constrangimento contra mim.
— De jeito nenhum, vamos para o nosso refúgio do pecado – brinco, e
ele cai na risada.
— E sobre os planos, quero tentar uma coisa que vai te deixar tão ou
mais tímida do que o sexo anal, mas que vai amar fazer, assim como gostou
de dar... – termina a frase no meu ouvido.
— E estamos esperando o quê para irmos? – pergunto, não tendo
vergonha de deixar evidente a minha ansiedade em experimentar isso que ele
tem em mente. Pois de uma coisa eu tenho certeza: vindo do Erick, a
novidade não vai ser nada menos do que deliciosa e quente como o fogo do
inferno.
— O café da manhã. Já que a senhorita fugiu do quarto, alegando estar
faminta e não era pelo meu corpo.
Como se quisesse atestar as minhas palavras, assim que Erick termina
de falar, meu estômago faz um barulho terrível, o que é motivo o suficiente
para ele me tirar das suas pernas e me chamar para a cozinha.
— Vem, vamos primeiro matar essa fome e depois pensamos na outra
– meu amor segura a minha mão e me leva para a cozinha.
— Oi, Maya – surpresa, cumprimento-a assim que entramos no amplo
e moderno cômodo. — Achei que estaria em casa descansando – ela com
certeza ficou a noite toda dançando.
— Vou agorinha – avisa. — Vim só preparar algo para os pombinhos.
— Pronto – termina de despejar o suco dentro de uma bonita jarra que
está em cima do balcão e onde tem uma infinidade de delícias para o nosso
café da manhã.
— Obrigada, amiga – agradeço, e sinto orgulho por ter conseguido
construir uma amizade tão bacana com ela.
— Nada mais que o meu trabalho. E como estão os pombinhos nesse
primeiro dia de casados?
— Com fome – Erick se mete, e eu dou uma cotovelada na sua barriga.
— Imagino que sim – rebate, com malícia. — Bom, deixa eu ir que
estou exausta. Tenha uma boa viagem, Mari. Te vejo na volta – manda beijo
e se manda pela porta dos fundos.
— Aposto que ela sabe para onde irei viajar – jogo verde, ao me sentar
em cima da banqueta e pagar o copo com suco que Erick serviu para mim.
— Isso é você quem está dizendo – responde, enigmático. — No
momento, a única coisa que posso revelar é que a senhora minha esposa terá
um memorável primeiro dia de casada.
De repente, depois que ele faz essa promessa, começo a ter pressa e
devorar tudo o que vejo pela frente, somente para chegar na parte em que ele
vai cumpri-la.

— Você é muito bobo, meu amor – em seus braços novamente,


balanço as pernas de um lado para o outro.
— Bem-vinda ao seu segundo lar, princesa – Erick termina de dizer e
me coloca em pé no centro da sala.
Isso, duas horas depois de termos levantado, tomado um café delicioso
e um banho tanto revigorante quanto quente.
Por um tempo, eu fico analisando o apartamento que aprendi a ver
como especial, a partir do momento em que ele se tornou o nosso esconderijo
contra a Patrícia. Foi aqui que muitas vezes nos escondemos para nos amar e
continuará sendo aqui o refúgio para os dias ou noites mais intensas.
— Sabe o que eu estava pensando? – meu amor vem e me abraça por
trás, não deixando de cheirar o meu pescoço, que tem o perfume doce que ele
tanto adora.
— Não, me diz o que passa por essa sua mente mirabolante.
— Nada demais, tô só imaginando nós dois daqui a alguns anos,
fugindo para esse apartamento para podermos transar. Pois, em casa não será
possível sem sermos interrompidos pelas pestinhas dos nossos filhos – o que
ele diz me surpreende tanto, que acabo me desvencilhando do seu agarre e
me virando para poder olhar o seu rosto.
— Sério que você teve esse pensamento? – pergunto, toda derretida.
— Muito sério, por quê? Foi bobo demais? – indaga, inseguro, e eu não
entendo o motivo, uma vez que já deixei bem claro o meu desejo de um dia
ser a mãe dos seus filhos.
— Não foi bobo, querido – seguro o seu rosto e deixo um beijo leve na
sua boca. — Foi muito fofo, por isso o motivo da minha surpresa e também
porque depois que você falou, eu consegui visualizar perfeitamente a cena.
— Quero que saiba que no tempo certo – se interrompe, ao colocar a
mão sobre a minha barriga — eu vou ser o homem mais feliz dessa terra, por
ter o fruto do nosso amor crescendo dentro da sua barriga.
— E eu vou ser a mulher mais feliz, por te dar esse presente.
Neste momento, meu Erick me abraça bem apertado e quando se
afasta, segura o meu rosto e, olhando dentro dos meus olhos, diz:
— Eu amo você – me pega nos braços e me leva para o seu quarto.
— E eu te adoro e preciso de você, mais do que preciso do ar para
respirar – com o peito tão cheio de amor, que às vezes eu tenho a impressão
que vai explodir pela enormidade dos meus sentimentos, beijo todos os lados
do seu pescoço, enquanto ele, de maneira apressada, me leva para a cama.
— Até que chegue a hora, nós vamos treinar muito, não é, meu amor?
– me deixa sentada no fim da cama king size. — O que acha de começarmos
agora?
Erick se agacha na altura do meu rosto e sem esperar pela resposta
óbvia, me beija com carinho e ao terminar, afaga o meu rosto e diz. — Só um
minuto que eu vou à sala buscar uma coisa.
Incapaz de falar, o vejo virar as costas e passar pela porta.

Erick

— Aqui está, o nosso kit foda do século – volto e deixo a bolsa


pequena e quadrada em cima do seu colo.
— Tenho até medo de perguntar o que você anda aprontando e o que
tem aqui dentro, meu amor – minha mulher pega a bolsinha com receio e eu
acho graça da sua reação.
— Deixa que eu te mostro, minha linda – pego a bolsinha da sua mão,
abro o zíper e primeiro tiro o tubo de lubrificante.
No ato, ela tem reações distintas e que me deixa ainda mais excitado.
Primeiro vem a expressão envergonhada de sempre e junto dela a excitação
que os seus pelos arrepiados não conseguem esconder.
— É, amor. Não podíamos deixar o seu tipo de sexo prefiro de fora da
nossa comemoração de um dia de casados.
— O meu? E quanto ao seu tipo de sexo preferido?
— O que eu mais quero é estar em todas as partes de vocês. Ter tudo
da minha mulher, até tê-la cheia de mim, cheia a ponto de não restar nada em
seu corpo que eu não esteja tocando.
— Isso eu acho que não... – Marina já tem a voz ofegante, quando eu
retiro segundo objeto de dentro da bolsa.
De imediato, os olhos da minha esposa crescem e ela fica toda tímida,
do jeito que eu imaginava.

Marina

Um vibrador.
Meu marido saca de dentro da bolsa um vibrador de tamanho médio e
que imita perfeitamente um pau de verdade.
Sob o seu olhar especulativo, eu não sei se fico surpresa por não ter
visto um pessoalmente – apesar de uma vez ter insinuado o contrário – ou se
pelo fato de ele estar pretendendo usar a coisa comigo.
— Amor, eu ... – vou dizer alguma idiotice qualquer, mas felizmente
sou impedida quando ele coloca a mão em cima dos meus lábios e fala:
— Só relaxa, linda – coloca os objetos sobre a cama e começa a abrir o
botão da minha camisa. — Lembra quando eu disse que ia gostar de me dar a
sua bunda? – confirmo com a cabeça. — Pois é. Dessa vez não vai ser
diferente e eu te garanto que vai ser umas das experiências mais prazerosas
que você vai ter na vida sexual. Tanto que vai querer fazer de novo e de
novo... – fala ao meu ouvido, ao mesmo tempo em que tira a minha blusa e
eu já nem lembro mais da apreensão inicial.
— Eu quero...
— Eu sei que quer, esposa – pega a minha mão, me levanta da cama e
em seguida tira restante da minha roupa. Quando me tem nua, Erick continua:
— Você é como eu, gosta de sexo, de experimentar o novo. De dar e receber
prazer.
— É você quem me encoraja – como ele fez antes, desço as mãos até o
cós do seu jeans e desajeitadamente abro o botão e desço o zíper.
— Tão linda – elogia, ao passar a mão pelo meu corpo desnudo. — Eu
quero você, Marina.
Mal termina de falar e então não leva mais do que alguns segundos
para terminar de tirar a própria roupa e me deitar em cima da cama.
As horas que se seguem realmente são as mais intensas da minha vida
sexual. Famintos um do outro, como só duas semanas separadas podem estar,
Erick e eu nos empenhamos em compensar todo o distanciamento que nos foi
imposto.
Como o prometido, Erick me apresenta o tipo de sexo mais depravado
e quente que uma pessoa como eu poderia experimentar, e posso garantir que
não só vale a pena, como também já estou ansiosa para repetir.
Com toda a sua perícia sexual e a safadeza que lhe é característica, meu
amor me prepara da melhor maneira que pode, até conseguir me comer com o
pênis e o vibrador ao mesmo tempo. Enquanto está deitado e me tem por
cima, Erick pouco a pouco penetra o meu ânus com o pênis de borracha e na
frente faz o mesmo, ao foder a minha boceta com o seu pau. Ao fazer isso,
me sinto estranhamente mais próxima dele, como se não existisse mais nada
que não o pertencesse em meu corpo e alma.
Meu marido passa vários minutos me comendo pela frente e por trás, e
quando já pingando de suor eu acho que me deixará gozar, ele faz questão de
desacelerar as metidas frenéticas tanto do pênis quanto do vibrador. Isso
quando não está me levando à loucura, ao inverter as coisas e comer a minha
bunda e na boceta enfiando o cacete de plástico.
No fim do dia, estamos exaustos e precisamos de um bom banho e
depois de fazermos exatamente isso, caímos em um necessário e delicioso
sono.
Sono do qual eu só agora consigo despertar, depois de sentir a barba
por fazer do meu esposo fazer cócegas nas minhas costas.
— Ei, acorda, preguiçosa – continua a descer os beijos, até chegar aos
furinhos gêmeos que enfeitam o início da minha bunda. — Já está
escurecendo, sabia?
Ao ouvi-lo, me viro de frente e vejo pelo relógio que já são 18h30 da
tarde.
— Céus! Como o dia passou rápido – volto a jogar a cabeça contra o
colchão.
— Passou mesmo. Só não sei se passamos a maior parte dele dormindo
ou trepando.
— Acho que meu corpo dolorido tem a resposta, meu amor.
— Oh, meu Deus! – paira a parte superior do corpo contra o meu e
continua: — Eu judiei do meu bebê, foi? – fala com a voz mais mansa,
beijando em cima dos meus olhos, depois e ponta do meu nariz e por fim o
canto da minha boca.
— Nada que eu não tenha gostado, muito – pisco, cheia de ousadia.
— Que bom saber que eu proporcionei um dia à altura da minha gata.
Mas pode ir se acostumando, porque hoje foi só o primeiro de longos vinte
dias.
— Estou tão ansiosa para saber o nosso destino.
— Amanhã você vai saber, linda – senta e começa a recolher as nossas
roupas. — Só posso te garantir que seremos muito felizes lá.
— Só eu e você – me levanto e me sento às suas costas, para depois
encostar a cabeça no seu ombro. — Juntos.
— Para sempre – completa, ao segurar a minha mão e beijar a minha
bonita aliança de ouro.
Epílogo
Marina

Dois anos depois...

— Chegaram – cheia de empolgação, pulo do sofá onde eu e Erick


estamos sentados e vou abrir a porta para a minhas amigas. Elas vierem para
uma pequena comemoração pelo aniversário de dois anos de casamento.
Dois anos em que permaneceram o amor, a paixão e o companheirismo
que sempre foram a nossa base. Anos em que tivemos a confirmação do quão
verdadeiro e permanente é o nosso amor.
— Como você está linda – Ângela me abraça apertado, e eu fico
emocionada por tê-la de volta à cidade, depois de longos meses afastada. —
Nunca mais faça isso.
— Não, querida, dessa vez eu vim pra ficar – sinto-me aliviada por
ouvi-la e por saber que terei a minha fiel escudeira de volta.
— E você, anda tão sumida – abraço uma Maya, que nem de longe
lembra a mesma de dois anos atrás. — Você acredita que essa traidora me
trocou pelo MamaMia? – falo, divertida. Elas sabem o quanto eu fiquei feliz
quando minha amiga conseguiu uma vaga no restaurante mais badalado da
cidade e hoje é considerada uma das chefes mais renomadas do local.
— Para de drama. Sempre que posso venho te visitar – elas terminam
de entrar e concluo que não falta mais ninguém.
Aqui tem os poucos e necessários amigos para um simples jantar
comemorativo, além, é claro, dos meus pequenos Floquinho de Neve e Thor,
que sapecas como sempre, correm pela casa, derrubando tudo o que veem
pela frente.
— Esqueceu com quem está falando, Ângela? Se não fizesse drama,
nem seria a Marina que conhecemos.
O comentário de Maya arranca risada de todos, inclusive do meu
marido, que até então estava entretido com o seu celular.
— Olá, meninas – Erick se levanta e cumprimenta cada uma com um
beijo no rosto. — Ainda bem que chegaram, a amiga de vocês já estava se
corroendo de ansiedade.
— Claro, não queria viajar sem antes vê-las – lhe lanço uma piscadela
e as duas entendem que precisamos ter o nosso típico papo de mulherzinha,
onde se fala de coisas que os ouvidos masculinos não teriam paciência para
ouvir.
— Itália de novo? – é Ângela quem pergunta.
— Fazer o que, se a minha mulher gostou tanto da nossa Lua de mel e
quer repeti-la todos os anos? – Erick vem por trás e enlaça a minha cintura,
enquanto entrega o meu fascínio pelo país.
Está aí uma coisa que nem o decorrer dos anos consegue mudar. Não
muito deferente da fase de namoro, Erick e eu ainda vivemos em uma eterna
Lua de mel, inclusive na parte de não conseguirmos estar no mesmo ambiente
e sem a necessidade de nos tocar.
— Não vou negar, pois todo mundo aqui sabe que é verdade – encosto
minha cabeça no seu peito, enquanto as meninas sentam-se no sofá.
Pela terceira vez e daqui a dois dias, Erick e eu estaremos partindo para
a Itália, mais precisamente para Veneza, um dos lugares mais lindos que eu já
tive o prazer de conhecer. Gostei tanto da nossa primeira Lua de mel, que
decidimos repeti-la todos os anos seguintes. A cada novo aniversário de
casamento, lá estamos nós dentro de uma balsa e atravessando a ponte dos
suspiros, visitando os principais pontos turísticos e experimentando as
melhores comidas. Em cada uma dessas viagens, eu e meu amor dividimos os
nossos dias em duas partes, e se durante manhã e tarde usamos as horas para
turistar, as noites e madrugadas nós utilizamos para fazer amor e qualquer
outra coisa que envolva nós dois nus e atracados um ao outro.
De toda forma, as viagens para a Itália se transformaram em uma coisa
só nossa como casal e creio que não tem época do ano em que eu fique mais
animada do que os dias que antecedem a viagem para o nosso paraíso
particular.
— E a Lua, não vem? – sento-me na poltrona posicionada em frente ao
sofá, enquanto meu marido serve bebidas para as meninas.
— Talvez só mais tarde, para curtir a piscina com a gente – respondo a
pergunta de Maya, que apesar de nenhuma das duas terem criado um laço
mais forte com a minha sócia, estranham quando não aparece, já que estão
acostumadas a vê-la por aqui na maioria dos eventos que eu e Erick
oferecemos. — O estúdio está bombando, meninas, e justamente hoje ela
tinha uma reunião para fechar uma nova campanha.
— E a senhorita aqui, dando uma festinha? – Maya brinca.
— Lua sabe que esse período é muito importante para mim – explico.
— Então nem foi surpresa o meu aviso de que estaria de férias.
— Que compreensiva, não é? – Ângela comenta, sem fazer questão de
esconder o tom de ironia na voz.
A verdade é que existe certa animosidade entre as duas desde a
primeira vez em que se viram e eu não quero nem imaginar os motivos para
isso. Os da Ângela eu até suspeito – apesar de não querer – mas a resistência
da Lua para com a minha amiga é uma coisa que não consigo entender,
porque simplesmente ela não tem motivos para isso.
— Vamos deixar esse assunto para depois – mudo a conversa e logo
fico em pé. — Vem, meninas, vamos lá pra cima que o almoço ainda vai
demorar um pouquinho.
As duas pegam as suas bolsas e antes de sair, me viro para o meu amor,
que está digitando novamente no celular, e pergunto:
— Algum problema, querido? – minha voz tira a sua atenção do que
estava fazendo e ele se limita a dizer:
— Não. É só uma visita surpresa vindo por aí.
— Visita surpresa? Mas que tipo de surpresa?
— Do tipo que tem muito tempo que não vemos essa pessoa. Mas acho
que você vai gostar.
— Espero que sim – digo somente, pois mesmo estando me corroendo
de curiosidade, não vou perguntar, porque sei que Erick não vai me contar.
— Vou lá para cima com as meninas. Vai ficar tudo bem?
— Claro, minha linda, quando o almoço estiver pronto eu mando
alguém chamar vocês – fala, e quando vou lhe dar um selinho de despedida,
ele abocanha a minha boca em um longo e delicioso beijo, só terminando
quando as garotas protestam, sem paciência.
Como eu disse, por aqui nada mudou.
— E aí, comprou as peças que te eu falei? – Maya indaga, assim que
nós entramos no meu quarto e elas vão logo mexendo na infinidade de peças
que mais cedo joguei sobre a cama e não tive tempo de terminar de separar as
que vão para a Itália.
— Comprei, mas será que é realmente preciso isso tudo? – digo, e as
duas me lançam olhares exasperados.
— É óbvio que é preciso, Marina. Pelo amor de Deus, tem vinte anos e
não quarenta – Ângela fala, no momento em que começa a revirar as roupas
em cima da cama. – Tem que apimentar essa relação, se é que isso é possível.
— Ah, amiga. Se você soubesse...
— Até parece que não conhecemos vocês dois – Maya se junta a
Ângela na busca pelas peças indecentes. — Mas com um homem como o seu
marido, não custa nada deixar a chama tão acesa o quanto for possível.
Minha amiga, que é um pouco mais velha do que eu e Ângela, fala e
apesar de estar me fazendo de difícil, eu sei que elas têm razão. Além de ser
mais velho, meu marido é um homem que chama atenção e vive cheio de
belas mulheres à sua volta, então, apesar de saber que não tenho motivos para
me preocupar e de saber que nossa paixão anda tão acesa quanto no início do
namoro, concordo que devo usar meus truques para mantê-lo da forma como
está e se para isso for preciso me encher de mais lingeries do que posso usar,
então eu vou fazer.
Me vendo assim, fazendo charme para mostrar simples peças de
roupas, elas nem imaginam o antro de devassidão em que eu e meu marido
transformarmos o apartamento dele. Como o planejado no nosso primeiro dia
de casados, o apartamento ficou e nós o usamos com mais frequência do que
imaginávamos no início. Se o vibrador fez meu rosto arder de vergonha, os
vários que vieram depois já não foram capazes de me tirar esse tipo de
reação. O que restou foi apenas a excitação e a curiosidade de experimentar
cada coisa vinda do sexshop que ele deve ter se tornado cliente.
Quanto às lingeries que deixam pouco à imaginação, não vou dizer
para elas que as peças são o que de mais leve vou tentar, Erick já me fez
perder a timidez há muito tempo.
Sim, ele fez isso, o que não significa não ter a mesma timidez em
relação a outras pessoas.
— Podem parar que elas não estão aí – aviso, vou até um cantinho
escondido do nosso closet e de lá tiro uma sacola preta e a jogo próximo de
onde elas estão.
— O que é isso? – Maya pendura uma peça no dedo e as duas ficam de
risadinha sacana. — Esse pedacinho de renda é mesmo uma calcinha?
— Pergunte a Ângela, foi ela quem trouxe a revista.
— Foi mesmo, e você deveria me agradecer – fala, convencida. —
Tenho certeza que essa terceira Lua de mel vai ser bem divertida.
— Isso e se o Erick sobreviver a ela.
Ao dizer a última frase, olhamos de uma para a outra e caímos em uma
risada sem motivos aparentes, rimos apenas por estarmos felizes.
Ao olhar para tudo o que me aconteceu nesses últimos anos, percebo
que realmente tenho motivos para sorrir, me alegrar porque a vida sorriu para
mim. Aos vinte anos, eu consegui me estabelecer na minha carreira de
fotógrafa, casei com o homem que amo e tenho as melhores amigas que uma
garota poderia querer.
Então, sim, hoje eu tenho motivos para me sentir a mulher mais feliz
do mundo.
— Olha isso, Maya – agora é Ângela quem pega outra peça. —
Imagina os peitões dela dentro disso? Eu aposto que o Erick não volta vivo e
você?
— Já chega, acabou a palhaçada – vou tentar tomar, mas ela é mais
rápida e pula por cima da cama e vai parar do outro lado do cômodo. — Vem
aqui, sua peste.
Tendo como trilha a risada gostosa de Maya, Ângela e eu corremos
como duas crianças.
— Me dá isso aqui, Ângela – peço, entre risos. — Ficou tantos meses
fora da cidade e voltou para me atormentar, foi?
Digo da boca para fora, pois só eu sei o quanto essa maluca que tanto
me irrita quanto me faz rir, fez falta. Tudo o que sei é que estava em busca de
um sonho, uma paixão que, segundo as suas palavras, eu só vou descobrir
quando ele se concretizar por completo. A mim, só resta esperar e torcer para
que a minha irmã de alma encontre a paz e a felicidade que tanto busca.
— Fala isso, mas sabe que me ama, senhora Marina Estevan – tenta
mais uma vez escapar, mas sou mais rápida e agarro o sutiã que está na sua
mão.
— Amo, sim, agora me devolve isso aqui. As duas já se divertiram
demais às minhas custas. – Solta, peste.
— Para de ser chata, casou ontem e já perdeu o senso de humor? – ela
puxa uma alça para um lado e eu puxo para o outro.
A palhaça da Maya não faz nada além de se divertir e nosso embate
continua, até que uma coisa muito estranha acontece. De repente, o quarto
começa a girar e até as forças para me mexer eu perco.
— Marina, o que foi? – vejo Ângela jogar a peça no chão e de maneira
preocupada, abraçar a minha cintura. — Você está pálida.
— Traz ela pra cama, Angel – com a visão turva, vejo Maya empurrar
todas as roupas para o canto, e quando me dou conta, já estou sem os meus
sapatos e deitada contra o colchão.
— Chama o Erick – é Ângela quem dá a sugestão.
— Não, por favor. Estou bem, foi só uma tontura – afirmo. — Não
quero preocupá-lo à toa.
Tenho certeza de que o meu marido iria pirar caso soubesse desse mal-
estar repentino. É assim que ele tem agido desde o dia em que tomei um tiro e
fiquei entre a vida e a morte. Para ele, não importa o que seja, se uma simples
dor de cabeça ou algo mais sério, a preocupação vai ser sempre a mesma.
— Tudo bem – Ângela levanta e vai para a janela. — Vamos abrir isso
aqui para você respirar melhor.
— Amor – ouço uma batida na porta e uma voz ressoar pelo quarto. —
Tô entrando.
Puta que pariu!
Erick

— Tudo bem por aqui? – adentro o meu quarto e as meninas me olham


assustadas e com uma expressão estranha no rosto. Mas a adiante, vejo minha
mulher deitada e uma sensação nada boa começa a comprimir o meu peito.
— Linda, o que houve? – sento ao seu lado e vejo seu rosto mais pálido
do que uma folha de papel em branco.
— Não foi nada, só um leve mal-estar – Marina tenta amenizar a
situação, mas eu já estou doente de preocupação.
Ela não tem ideia do quanto a iminência de perdê-la me afeta, ou talvez
até tenha, já que tenta esconder coisas como essa. Isso tudo para não me
preocupar, mas mal sabe ela que tudo me assusta, até mesmo uma respiração
mais alterada.
E quem pode me culpar? Como julgar uma pessoa que alcançou a
felicidade plena, pelo medo de um dia perde-la de forma tão repentina, assim
como já quase aconteceu?
Viver esse amor e o meu casamento com Marina é como ter a certeza
de que a vida entrou nos trilhos e que aconteça o que acontecer, eu nunca
deixarei de agradecer pela benção de ter encontrado a minha pessoa. A minha
doce e amada Marina.
— Não diga isso, você não está bem – afirmo, enquanto acaricio o seu
rosto. — Vamos ver um médico, faça isso. Por mim?
— Tudo bem, querido – diz, a contragosto. — Mas tenho certeza de
que não é nada demais.
— Isso é o médico quem vai dizer, princesa – deixo um beijinho nos
seus lábios. — Ângela, liga para o Doutor Roger, por favor – peço. — O
contato está naquela mesinha ali.
— Tudo bem.
— Ainda sente alguma coisa? – analiso seu corpo, enquanto as amigas
dela tentam falar com o médico.
— Foi só uma tontura mesmo. Vai ser essa a resposta do Doutor Roger.
— Mari...
— O almoço vai ser aqui mesmo? – da porta, a voz que não ouço há
quase dois anos interrompe a minha fala.
— Bruno, redescobriu o caminho de casa?
Do seu jeito que não muda, vejo Bruno dar alguns passos e parar
próximo de onde eu e minha esposa estamos.
— Não precisa chorar, meu amigo. Eu sei que você estava com
saudades, mas eu estou de volta e vim em definitivo.
Apesar de estar zombando da minha cara, ele sabe que o seu mau
humor e entrada repentina fizeram falta.
— Que bom, porque aquele escritório não é o mesmo sem você –
revelo, e me volto para a minha linda. — Tudo bem? – ela confirma com um
aceno de cabeça.
— Tudo bem com você, Marina? – indaga, pois só agora se deu conta
da situação.
— Claro que sim, Bruno. Foi só uma tontura – responde. — E seja
bem-vindo de volta.
— Obrigado.
— Ele já está a caminho, Erick – Ângela se limita a dizer, e depois fica
muda e tensa, assim como o meu amigo ficou.
O que há de errado com esses dois? Passaram-se dois anos, porra.
Ainda é como se não pudessem ficar no mesmo ambiente que o outro. Eu só
não sei se querem se matar ou transar.
— Tudo bem, Ângela? – ele cumprimenta.
— Ótimo – a chatinha responde, mordaz. — Fica bem, amiga, Doutor
Roger chega em cinco minutos e eu tenho certeza que estará tudo bem com
você.
Eu espero muito que ela esteja certa.

— Calma, cara – a voz do Bruno está me irritando e ainda assim eu não


paro de gastar o chão da sala, ao andar de um lado para o outro.
Já passou da 01h da tarde, e o que era pra ser um almoço
comemorativo, passou a ser uma verdadeira tortura, pois, ao invés de estar
comemorando alguma coisa, estou ouvindo Bruno me pedir para ficar calmo.
Mas como ficar calmo, enquanto a minha mulher, que me expulsou do quarto
e preferiu ficar com as amigas, está lá há vários minutos sendo examinada?
— Não me peça pra ficar calmo – aviso. — Quando for a sua mulher, a
gente volta a ter essa conversa.
— Presta atenção, acho que estão descendo. Os passos denunciam e
Bruno aponta na direção da escada, ainda que não esteja olhando para o
mesmo local. Descem três pessoas e nenhuma delas é a minha mulher.

— Me falem, cadê a minha mulher? Por que ela não está com você?
— Calma, meu rapaz – o homem mais velho repete a frase odiosa.
Volto meu olhar para Ângela e ela me tranquiliza.
— Está tudo ótimo com Marina – a chatinha afirma, com um sorriso no
rosto, o mesmo sorriso que Maya tem. — Ela só pediu que você suba por um
instante.
Ângela mal termina de falar e eu já estou subindo as escadas de dois
em dois degraus.
Ao entrar no quarto, minha menina está sentada e chorando como um
bebê.
— Meu Deus! – corro para perto e pergunto, preocupado: — O que
está acontecendo com você, princesa? Me fala o que eu posso fazer para... –
paro de falar quando ela coloca as mãozinhas em cima da minha boca.
— É um choro de alegria, meu amor. Só de alegria.
— Alegria? Desculpa, mas eu não...
— Nós vamos ter um filho, Erick. Eu estou grávida.
— Como? – no ato, me levanto da cama e viro-lhe as costas.
Um filho.
Eu e o meu amor vamos ter um bebê.
Pai, vou ser pai. Porra!
— Eu pensei que você quisesse, já tínhamos até parado de fazer sexo
protegido – me viro em sua direção e a voz e expressão triste me fazem
entender que passei a impressão errada.
Você é um burro, Erick!
— Eu quero, princesa – sento ao seu lado e lhe abraço bem apertado.
— Perdão se a surpresa me faz passar os sinais errados – seguro seu rosto e o
beijo por todos os lados. — Hoje você me fez o homem mais feliz do mundo.
— De verdade? – limpa as lágrimas e me abre o mais lindo dos
sorrisos.
— É claro, princesa, nós já estávamos tentando, não é?
— Sim, só não pensei que seria tão rápido.
— Pra você ver como sou bom no que faço – lhe provoco. — Só mirei
e acertei em cheio. O importante é que o garotão do papai já está aqui dentro
– toco em sua barriga, que ainda não dá nenhum sinal da recente gestação.
— Não se esqueça que pode ser uma garotinha.
— Não me importa, meu amor – com cuidado, empurro seu tronco e
ela termina deitada como estava antes. — O que vale é que o nosso filho já
está aqui dentro – levanto a sua blusa e começo a distribuir beijos por todos
os lados da sua barriga.
— A nossa sementinha, ele deve ser tão pequeno ainda, querido.
— Sim, mas o papai já ama muito, não é, meu amor? – converso com o
bebê, que há poucos minutos não sabia da existência e que já tenho um amor
incondicional.
— Eu tenho certeza de que vai ser um excelente pai – diz, emocionada.
Ao ouvir sua declaração, subo o meu corpo e quando tenho meu rosto
bem próximo do seu, declaro:
— E você vai ser uma excelente mãe, assim como é uma excelente
esposa – digo. — Eu te amo, hoje ainda mais por me dar esse presente e
tornar a nossa felicidade completa.
— Pra sempre – afirma.
— Eu, você, nosso amor e a família que construiremos.
O dia em que era para comemorarmos o aniversário do nosso segundo
ano de casamento, fica marcado como um dos dias mais especiais, não só
para mim e minha mulher, mas também para os nossos amigos que ficam
felizes por estarem presentes na dupla comemoração.
E como o planejado, dois dias depois estamos viajando para a Itália e lá
curtimos a nossa novidade, mas não tão intensamente como das outras vezes,
pois, devido ao estado da Marina, preferimos deixar as nossas aventuras
sexuais para depois do nascimento do bebê. Quer dizer, eu decido; Marina
passa toda a gravidez me testando e tentando me induzir a fazer o sexo
selvagem que costumávamos fazer. Como não sou de pedra, acabo
sucumbindo por algumas vezes, mas não o suficiente para que possa de
alguma forma prejudicar o nosso filho.
Oito meses depois, e com bem menos trabalho e sexo selvagem, nasce
o nosso pequeno e saudável João Guilherme.
Em um ambiente rodeado pelos amigos mais próximos, inclusive pela
mãe e irmãos da minha pequena, o nosso menino vem para coroar a nossa
felicidade e para ser a prova viva de que quando o amor bate à porta e é de
verdade, como o meu e o da sua mãe, não adianta fugir, como eu tentei, ele
sempre voltará para uma segunda chance. A oportunidade de reparar os erros
e agarrar o que a vida tem para oferecer.
A recompensa? Essa eu tenho aqui, dentro dos meus braços e perto do
meu coração.
— Papai te ama muito, pequeno – minha linda nos olha da porta do
nosso quarto e tem o sorriso mais lindo do mundo. Sorriso que me deixa um
pouco mais apaixonado a cada vez que o lança em minha direção.

Fim
A quem chegou aqui, obrigado. Espero que tenha gostado e se gostou,
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