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UM VIÚVO PARA O NATAL

SÉRIE CORAÇÕES REJEITADOS 1.5

COPYRIGHT © AMBERLY BERTUCCI


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Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Um Viúvo Para O Natal


[Recurso Digital] / Amberly Bertucci
— 1ª Edição; 2023
1.Romance contemporâneo
2.Literatura Brasileira
3.Novo Adulto
4. Conto
SUMÁRIO
SUMÁRIO
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
MIA JONES
CAPÍTULO 1
ARTHUR CARTER
CAPÍTULO 2
SAMANTHA JONES
CAPÍTULO 3
ARTHUR CARTER
CAPÍTULO 4
SAMANTHA JONES
CAPÍTULO 5
ARTHUR CARTER
CAPÍTULO 6
SAMANTHA JONES
CAPÍTULO 7
ARTHUR CARTER
CAPÍTULO 8
SAMANTHA JONES
EPÍLOGO
MIA JONES
AVALIAÇÃO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
LEIA TAMBÉM
SINOPSE

“Um desejo pode se tornar realidade?”


É o que Mia Jones vai descobrir após enviar uma carta para o papai Noel com um
pedido especial para ela e sua mãe, tudo o que ela deseja para esse Natal é:
“Fui uma boa menina durante o ano, então por favor, o senhor pode fazer a minha
mamãe ficar feliz? Eu também quero muito um papai bom, um papai que não deixe minha
mamãe triste, nem que lhe bata, ou nos faça chorar, quero um papai que me ame muito, sr. Noel,
pode trazer um pra mim? Por favorzinho.”
Um romance fofo, sem muitas enrolações e que vai te deixar com um gostinho de quero
mais.
NOTA DA AUTORA

Caro leitor, esse livro é uma noveleta, por isso os acontecimentos podem ser um poucos
mais rápidos do que em um ebook mais longo, tudo foi feito de forma proposital.
Desejo-lhe uma boa leitura, e para surtos ou quaisquer comentário procurem o User:
@amberlybertucci nas redes sociais.
DEDICATÓRIA

Dedico este livro a você que precisa ressignificar essa data tão especial. Que
a magia do Natal inspire você a acreditar nos milagres que estão ao seu
redor todos os dias.
PRÓLOGO
MIA JONES
05 DE DEZEMBRO

Querido Papai Noel, minha mamãe não está bem, ela está no hospital de
novo, por causa do papai, ela estava muito feliz antes dele aparecer, meu
papai é um homem mal, tipo os vilões que eu vejo nos meus desenhos, e eu
não gosto mais dele, sr. Noel, toda vez que ele está perto minha mamãe fica
estranha, ela fica triste.
Minha mamãe sempre fala pra eu acreditar na magia do Natal, eu acredito
sr. Noel, e fui uma boa menina durante o ano, então por favor, o senhor pode
fazer a minha mamãe ficar feliz? Eu também quero muito um papai bom, um
papai que não deixe minha mamãe triste, nem que lhe bata, ou nos faça
chorar, quero um papai que me ame muito, sr. Noel, pode trazer um pra
mim? Por favorzinho.
Com amor, Mia Jones.
CAPÍTULO 1
ARTHUR CARTER
28 DE NOVEMBRO

Quando me perguntam por que que eu não gosto do Natal, eu tenho uma resposta bem
simples que geralmente as cala logo: A magia acabou quando minha esposa morreu.
Curto e grosso, como minha filha, Ellie, gosta de falar.
Esfrego os olhos, cansado de passar o dia todo na frente da tela do computador, e jogo
meu corpo para trás, girando a poltrona para observar a noite através dos vidros do arranha-céu
O mês de dezembro chegou, e com ele todas aquelas decorações natalinas, a qual eu sou
obrigado a conviver diariamente a cada vez que passeio pela rua, pela empresa ou por qualquer
maldito outro lugar.
Os únicos locais que pude salvar foram a minha casa e minha sala.
Dentro dele não permiti que nenhum sino, pisca-pisca, árvore ou qualquer outro tipo de
decoração natalina fosse colocado.
São os únicos locais em que posso ter paz, e que não me lembram de minha falecida
esposa e de todos os momentos que vivi ao seu lado.
Ela era completamente diferente de mim, amava o Natal com todas as suas forças e fazia
questão que todos nós participássemos de todas as etapas até a ceia de Natal.
No final de novembro saíamos, eu, ela e Ellie — que na época ainda era uma garotinha
— para escolher nossa árvore, tinha que ser a mais alta, mais cheia de galhos e a mais verde para
enfeitar o salão principal da mansão;
Apesar de termos muitas decorações em casa, todo anos comprávamos novas — mais
por causa de nossa filha que queria as novidades e doávamos as antigas;
Enfeitar a casa era a parte mais cansativa — pela mansão ser enorme, no final sempre
pedíamos ajuda para os funcionários — mas antes nos divertíamos muito pendurando laços e
sinos;
Sempre deixávamos a árvore para o final, e geralmente passávamos a madrugada toda
fazendo isso enquanto tomávamos chocolate quente, e quando a pequena Ellie estava cansada
demais eu pegava a escada e subia com ela no colo para poder colocar a estrela gigante no topo
da árvore.
Sempre fazia amor com minha esposa depois disso.
Eu era muito feliz.
Muito feliz.
Respiro fundo, a dor de perdê-la ainda irradia em meu peito mesmo após tantos anos.
Depois que ela faleceu meu mundo desabou, eu perdi completamente o chão, pense na
fossa mais funda do mundo e saiba que era lá que eu estava, durante meses eu não tive forças
para nada senão remoer a dor dentro de mim, a culpa me consumia muitas vezes, os “e se” me
atormentavam, mesmo que hoje eu tenha a certeza de que não tive culpa nenhuma pelo acidente
que a matou.
Cheguei a desejar a minha própria morte, quis trocar de lugar com ela tantas vezes que
não posso nem contar, minha filha poderia viver sem um pai, mas sem uma mãe parecia algo
impossível.
Como eu ia criar aquela adolescente sozinho? Como iria entendê-la? O que diria para
ela quando voltasse para casa chorando por um namorado? Como iria ensiná-la a fazer as coisas
básicas de mulher? Tinha tantas coisas que eu não sabia.
E tudo isso me consumia.
Fiquei cego pela dor e me fechei em uma bolha, comecei a beber de dia e de noite,
sonhava com minha esposa acordado, meus amigos tiveram pena de mim, eu via a compaixão
estampada nos olhos deles.
Meses se passaram, e então minha filha começou a desenvolver transtornos pelo trauma,
eu a vi secar diante dos meus olhos, a cada semana parecia magra e mais magra, soube pela
governanta que ela pulava as refeições, tomava só água com limão para emagrecer, saber daquilo
foi como levar um muro na cara.
Uma noite, depois de saber do que estava acontecendo, eu fui em seu quarto, pensei que
ela estivesse dormindo até que ouvi o choro baixo abafado pelos lençóis.
Perder minha esposa fez meu mundo desabar, me fez parar na fossa mais funda do
mundo, mas ver que minha filha estava indo para o mesmo caminho por contribuição minha foi o
que me tirou de lá.
Não podia trazer a mãe dela de volta.
Não podia trocar de lugar com a mãe dela, e Deus sabe como eu quis isso.
Não podia ensiná-la muitas coisas femininas, coisas que com certeza lhe fariam falta
algum dia.
Mas eu podia me esforçar para ser o melhor pai do mundo, eu podia lhe dar a minha
presença, meu amor, meu carinho, minha proteção, sabia que isso não supriria a falta de sua mãe,
mas era o melhor que eu podia fazer por ela.
Ellie se tornou minha única razão de viver daquele dia em diante e eu me ergui por ela,
parei de beber, parei de fumar, parei de choramingar pelos cantos e decidi ser forte pela minha
filha.
Voltei a trabalhar e foquei em expandir meu império e cuidar da minha filha, o trabalho
e ela foi o que manteve parte minha vivo. A outra parte estava enterrada junto minha esposa.
Cinco anos se passaram e eu ainda não consegui me envolver emocionalmente com
ninguém, até minha filha está namorando agora, reviro os olhos ao lembrar da puta dor de cabeça
que ela me deu ao se envolver com seu professor da universidade, foi impossível conter as
manchetes sobre eles, o escândalo respingou na empresa, nas ações, em tudo, foi uma loucura
que só está sendo abafada agora, meses depois do ocorrido, mas pelo menos ela está feliz, depois
de muitos anos eu consegui ver um brilho de alegria em seu rosto, e só por isso não acabei com a
raça do filho da puta do Christian Lancellotti.
Me levanto da poltrona, decidido a não me afundar em mais melancolia pelo resto da
noite, pego o casaco jogado no sofá e desligo as luzes do escritório.
O expediente acabou há duas horas, e todos, com exceção dos seguranças, já devem
estar em casa, pelo menos era isso que eu pensava até passar em frente ao setor financeiro e
enxergar uma luz acesa.
Primeiro penso que esqueceram de desligar, mas quando me aproximo para fazer isso
noto a figura pequenina de cabelos escuros esfregando os olhos com sono e resmungando algo
enquanto digita freneticamente no computador.
O que ela ainda está fazendo aqui?
Olho o relógio em meu pulso confirmando o horário antes de dar outro passo para
frente, chegando na porta de sua sala.
Apesar do sono aparente, a garota está bastante concentrada no eu quer que esteja
fazendo, sua coluna está reta, ombros tensos e apesar de todo o cansaço consigo notar o quanto é
bonita, os cabelos castanhos caem em seu rosto vez ou outra e ela sopra os fios para trás, os
olhos são verdes e graúdos e quase não há maquiagem em seu rosto o que a deixa ainda mais
bonita e jovial.
Engulo o suspiro que quase dei.
Ao lado do computador posso ver a garrafa de café e uma xicara.
Ela respira fundo, voltando a resmungar algo que consigo entender dessa vez
— Esse velho preguiçoso, custa fazer o trabalho direito? Aí quando chegar amanhã vai
todo orgulhosos entregar o MEU trabalho ao chefe, poderia estar bem com a minha filha essa
hora, mas não, estou aqui trabalhando igual uma desgraçada a poucas semanas do Natal — ela
para de digitar e deixa o corpo cair em cima das mãos — ainda preciso comprar a árvore, meu
deus, Mia vai me matar se eu não a levar junto...
Limpo a garganta querendo chamar sua atenção e interromper o momento íntimo que
não deveria ter presenciado, a jovem se assusta dando um pulo da cadeira e um grito alto, não sei
se pelo susto ou se pela dor de ter batido a cabeça na ponta da prateleira de MDF.
Provavelmente pela dor.
Bem provavelmente.
— Merda. Merda. Merda.
Corro até ela, preocupado
— Você está bem? Se machucou?
Os olhos dela estão arregalados, ela abre e fecha a boca diversas vezes.
— Sr... Sr... Sr... — Gagueja assustada, dando um passo para trás, olho o espaço entre
nós dois e me recrimino por estar tão perto dela.
Ela pode bem pensar que eu estou a assediando, quando na verdade só quero ver se está
bem.
— Não quis assustá-la, srta... — Busco seu nome no crachá pendurado na blusa —
Samantha Jones.
— Eu estava concentrada, não vi quando o Sr. se aproximou — ela olha para os lados
agoniada e leva uma mão a cabeça, de onde estou posso ver um pouco de sangue escorrer em
suas têmporas.
— Deixe-me ver sua cabeça, você está sangrando — ela pisca, suspira e então assente
— sente-se na cadeira, por favor.
Me aproximo novamente dela puxando o lenço branco do bolso para limpar sua cabeça,
ela olha a peça com atenção.
— Nossa, o senhor é o primeiro homem que eu vejo usando lenços, é tão elegante... —
seu tom é de deslumbre, estico os lábios levemente em sorriso simples.
— Obrigado, meu pai me dizia que os mínimos detalhes fazem a diferença.
— Não está doendo. — Ela diz quando fico em pé ao seu lado, pronto para limpar o
ferimento.
Passo o pano devagar, observando que um galo já começa a aparecer em sua cabeça, ela
tensiona para trás.
— Não está doendo né? — questiono rindo, quando ela solta um grunhindo de dor.
Não foi uma batida tão feia, machucou só superficialmente. Uns remédios para dor e ela
ficaria bem.
Suspiro aliviado.
— Só um pouco, estou bem, Sr. Carter.
— Posso levá-la ao hospital — me ofereço — fique segurando o lenço até que pare de
sangrar — mando, e ela leva a mão até onde estou pressionando.
Nossos dedos se esbarram por alguns milésimos de segundos, mas sinto o ar revirar em
meu estômago nesse período, afasto minha mão da sua imediatamente.
— Está tão ruim assim? — ela pergunta, abrindo uma gaveta e tirando um espelho lá de
dentro, nem parece se dar conta do que eu senti.
Me afasto dela.
— Não, é só para o caso de precisar tomar remédio para dor, foi uma batida feia. —
Faço uma careta ao apontar para a sua cabeça.
— Tenho remédios em casa, — ela dá ombros guardando o espelho de volta na gaveta
— mas muito obrigada, sr. Carter.
— Bom — dou a volta, ficando na frente de sua mesa, coloco as mãos no bolso e limpo
a garganta outra vez — então a srta. pode tirar o dia de folga amanhã.
As palavras mal deixaram os meus lábios e ela já arregala os olhos verdes, me esforço
para manter meu rosto sério.
— Sério?
Assinto.
— Sim, afinal pode ter algum mal-estar pelo baque — coço o queixo — e se bateu por
culpa minha.
— Não foi sua culpa, eu estava concentrada e... — Tenta uma desculpa esfarrapada,
ergo as sobrancelhas e a corto, concluindo com minhas próprias palavras.
— E não viu quando eu cheguei, se assustou e se bateu.
Ela estica os lábios, em um sorriso sem graça, e eu sinto vontade de rir por sua
expressão estar tão fofa.
— Sim, o sr. estava aí a muito tempo? — não consigo conter o riso dessa vez, ela sabia
que eu tinha ouvido mais do que deveria — espero que não tenha me ouvido...
— Ouvi algo do tipo “velho preguiçoso” — meu tom saiu brincalhão.
— Oh, meu deus, que vergonha. — Ela põe a mão no rosto envergonhada, as bochechas
ganhando um tom avermelhado.
— Contanto que não esteja falando de mim, — minha voz saí em alerta — está tudo
bem, sua reclamação pareceu ser... justa.
Era uma reclamação mais do que justa, na verdade.
Eu não gostava que nenhum funcionário ficasse trabalhando até depois do expediente no
final de ano, era raro alguém além de mim fazer hora extra nesse período, na verdade.
Apesar de eu não gostar mais do Natal, sabia que a maioria dos funcionários pensava de
outra forma, e eles também tem filhos — como essa jovem parece ter — crianças inocentes que
não tem nada a ver com meus traumas e que merecem ter um Natal feliz.
— Do se-senhor? Não, não estava... — ela se atrapalha nas palavras, voltando a
gaguejar — o senhor nem mesmo é velho!
Algo dentro de mim gostou que ela pensasse dessa forma, mesmo sabendo que eu era
um pouco velho em comparação a ela que não deveria ter mais do que uns 25 anos.
— Então está tudo bem, fique tranquila quanto a isso — ela assentiu — aproposito, só
vim aqui pois vi sua luz acesa — seu rosto é tomado por compreensão, — e se não me falha a
memória é proibido fazer hora extra durante as festas de fim de ano.
— Eu sei, sr. Carter, peço desculpas...
— Não precisa pedir desculpas, srta. Jones, já tive minhas dúvidas sanadas perante isso.
— Ela engole em seco, deve saber que chamarei seu chefe amanhã — qual o seu cargo?
— Sou secretária do Sr. Wilson.
Balanço a cabeça, me recordando das reclamações dele no RH sobre estar explorando os
funcionários.
— Certo, amanhã falarei com ele a respeito do ocorrido, você está liberada, e tire o dia
de amanhã de folga.
— Sim, senhor.
A vejo desligar o computador e pegar sua bolsa, poucos minutos depois estamos dentro
do elevador. Ela parece desconfortável ao meu lado, a todo tempo olha para os lados e desvia os
olhos dos meus através do espelho, isso me intriga.
— A srta. está bem? Precisa de algo?
— Na verdade, eu preciso sim — ela sussurra com pesar e finalmente ergue a cabeça
para me encarar — Sr. Carter, eu preciso muito desse emprego, muito mesmo, desconsidere o
que me ouviu falar, por favor — ela fecha os olhos rapidamente — não quero ter problemas com
o sr. Wilson.
— Não se preocupe com seu emprego, Samantha, você não vai perdê-lo, — o alívio em
seu rosto é nítido — tudo o que fez foi cumprir ordens do seu superior, quem me desobedeceu
foi ele, não você.
— Então a folga de amanhã não é uma desculpa para me mandar embora? — seu tom
parece alegre outra vez.
Nego, balançando a cabeça.
— O que? Claro que não! A folga é pela sua saúde mesmo.
E pra você ir comprar a árvore de Natal com sua filha, completo em pensamento.
— Nossa, muito obrigada, — ela põe a mão no peito, os olhos verdes brilham ao me
encarar — Sr. Carter, nem sei como lhe agradecer.
— Só vá para casa. — Digo quando chegamos na garagem.
— Certo, boa noite, senhor. — Ela aperta a bolsa contra o corpo, franze o cenho por uns
instante e então estende a mão.
Sinto vontade de sorrir por seu jeito tão espontâneo, e aperto sua mão de volta, a palma
é macia e aconchegante e faz um arrepio se instalar em meu corpo.
— Arthur, — sua expressão é confusa, então continuo — pode me chamar de Arthur já
que não estamos em horário de expediente, me sinto um velhote quando me chamam assim.
Ela abre um sorriso lindo — que parece mexer com todo o meu psicológico — e pende
a cabeça para o lado ao dizer:
— Pode me chamar de Samantha, então.
— Boa noite, Samantha. — Gosto de como o nome dela soa em minha voz, é um nome
bonito para uma mulher bonita.
— Boa noite, Arthur — ela vira as costas e dá alguns passos, observo como seu corpo é
bonito enquanto caminha, as curvas se destacam no vestido preto que desce até abaixo dos seus
joelhos, ela então para e vira para mim, que estou estagnado como um idiota a encarando, engulo
em seco constrangido por ter sido pego em flagra.
— Eu devolvo seu lenço depois de amanhã — Ela fala alto, eu somente assinto e ela
vira as costas outra vez e vai embora, sem se dar conta de como seu nome, seu sorriso, seus olhos
e seu toque mexeram comigo.
CAPÍTULO 2
SAMANTHA JONES
28 DE NOVEMBRO

Quando me perguntam por que que eu amo tanto o Natal, a resposta é bem simples: Ele
é magico, e ganhei meu melhor presente nele.
Mia Jones, nasceu no dia 25 de dezembro, nas exatas 00:00 consegui empurrar minha
doce e sapeca menina para fora do útero e acabar com aquela dor infernal justo nos últimos
segundos da virada, o acontecimento foi tão épico que virou notícia nos rádios e jornais da
cidadezinha que eu morava.
Ficamos famosas por lá, e até hoje quando vou visitar meus pais, principalmente no
período natalino, as pessoas comentam e espalham as notícias da garotinha que nasceu no
badalar das meia-noite.
A cidadezinha onde eu nasci e me criei é bem supersticiosa, do tipo que passa os
costumes dos pais para os filhos e assim sucessivamente, a mente das pessoas está enraizada nas
crenças e valores antigos e como uma boa cidadã desenvolvi esses hábitos conforme fui
crescendo, vir para a cidade grande tentar a vida foi um salto de coragem.
Um grande e enorme salto para garantir a segurança de minha filha e eu, morar em
cidade pequena tem suas vantagens, mas na situação em que me encontrava — precisando me
esconder de dia e de noite — permanecer em um lugar onde todos te conhecem é péssimo.
Precisei tomar essa decisão após viver 6 anos em um relacionamento abusivo com meu
atual ex-marido.
Suspiro, olhando para o sinal vermelho.
Pensar em tudo o que vivi, tudo o que sofri e tudo o que tive que suportar nas mãos do
homem que um dia eu amei, me dá arrepios.
Carregava as marcas das surras que recebia sempre que algo não saía como ele queria
em minha pele, as palavras desprezíveis que ele direcionava a mim ainda estavam enraizadas em
minha mente, e em meu coração eu ainda podia sentir a dor de ver que o homem que eu me casei
pensando ser o amor da minha vida, não passava de um monstro camuflado.
A buzina do carro atrás de mim me faz despertar, engato a primeira marcha, acelero e
passo a segunda marcha, batuco o indicador no volante retornando aos meus pensamentos.
Passei oito anos casada com aquele ser desprezível, os seis piores anos da minha curta
vida, exceto por Mia, fruto do meu casamento com Jonh.
Ela foi o motivo de eu ter suportado muitas humilhações durante tantos anos, Jonh, meu
ex-marido — eu amo falar essa palavra, amo por que me sinto liberta dele — é filho do prefeito
da cidade em que eu morava, então tinha todo poder e regalia sobre mim e as poucas pessoas que
tentavam me ajudar, eu não podia ir a polícia para dar queixa, não tinha onde me esconder, não
tinha quem me protegesse dele.
As pessoas sabiam do que eu passava, é claro, era muito difícil esconder um olho roxo,
uma boca estourada, um nariz quebrado, uma mão torcida, uma costela fraturada, e tantas outras
violências físicas que sofri, tanto sangue que eu derramei por aquele miserável, tantas lágrimas
desperdiçadas.
Toco no ferimento em minha têmpora e sorrio ao me lembrar da forma gentil que o
CEO da empresa onde trabalho me tratou hoje.
No instante em que eu o vi temi por meu emprego, afinal ele provavelmente tinha me
escutado reclamar do meu chefe folgado que só sabia repassar seus trabalhos para a minha mesa
e me deixar ainda mais sobrecarregada, mas eu fazia tudo calada — pelo menos na frente dele —
pois precisava muito daquele emprego, mas ele agiu ao contrário do que imaginei, chegando
inclusive a dizer que minha reclamação era justa.
Desde que comecei a trabalhar nessa empresa, há dois anos, ouvi falar muito bem sobre
a forma como ele administrava a coorporativa e de como se importava com seus funcionários, eu
pouco o vejo pelos corredores, mas gosto de acompanhar as notícias sobre ele e sua família nas
redes sociais.
Ele é um homem bonito, lindo na verdade, e confesso que a primeira vez que o vi
pessoalmente perdi o fôlego, mas tive medo de onde isso poderia me levar, afinal já havia sofrido
muito na mão de um homem assim antes, e sendo sincera quais eram as chances reais de ele se
interessar por mim? Exatamente, nenhuma.
Arthur Carter é um homem desejado por muitas mulheres e completamente impossível
para mim.
Não querendo me diminuir, pois tive que ir muitas vezes durante a semana na psicóloga
para poder voltar a me enxergar como uma mulher digna e de valor, aprendi a me valorizar,
aprendi a me amar, aprendi a me colocar como prioridade, aprendi a não abaixar minha cabeça
para que ninguém domine a minha vida outra vez, principalmente homens, mas Arthur Carter e
eu vivemos em realidades diferentes, e a chance de nossos mundos tão distantes se cruzarem é
um pouco irreal.
Vê-lo hoje em minha sala despertou sentimentos que eu pensava que estivessem mortos
dentro de mim, logo quando fui admitida como secretária do senhor Wilson eu passei a
acompanhar a rotina do CEO mais de perto, e foi impossível não ficar deslumbrada pelo homem
bom e generoso que ele demonstrava ser fora das câmeras, Arthur Carter não é um homem lindo
somente fisicamente, ele é lindo por dentro, e isso me dá borboletas no estômago.
Ele foi o primeiro e único homem que despertou sentimentos em meu coração após
Jonh, e tê-lo hoje tão acessível a mim, sendo tão gentil e cuidadoso com um machucado tão
simples — perto dos que já sofri — fez tudo o que eu sentia retornar em peso, fez a minha mente
voltar a vagar nos “e se”, fez meu coração acelerar ao senti-lo me tocar, me fez gaguejar como
uma idiota ao perceber que aquele momento não era um sonho, e sim uma realidade.
Imagino quantas mulheres deslumbrantes ele não deve ter aos seus pés para ir reparar
logo em mim, uma simples secretária com uma filha de oito anos cheia de traumas do passado
problemático.
Estaciono o carro na garagem do pequeno prédio e com a mente nas nuvens vou para
meu apartamento ver minha princesa, pago a filha da vizinha que ficou com minha garotinha até
mais tarde e agradeço a ela pela ajuda, quando ela vai embora fecho todas as oito trancas pela
parte de dentro e só depois de confirmar o ato respiro aliviada.
— Mamãe — é a primeira coisa que ouço após jogar as chaves em cima da mesa, logo
minha cintura é envolvida por braços pequenos, seguro a garotinha que não é mais tão pequena e
a carrego beijando seus cabelos.
Mia é o motivo de tudo ser mágico para mim, mesmo que o mundo esteja em ruinas.
Minha filha é a razão do meu viver.
— Mamãe estava com saudades de você, moranguinho — digo esfregando meu nariz
nos cabelos dela pra sentir o cheirinho de morango, origem do seu apelido — não cheguei mais
cedo por causa do chefe.
— Seu chefe é chato, mamãe — ela diz quando a coloco no chão, cruza os bracinhos e
faz um bico — ele deveria deixar você vir para casa brincar comigo.
— Também acho, mas tenho uma surpresa para você — ela começa a procurar algo com
os olhos — não é presente — digo quebrando seu entusiasmo e ela murcha tristinha.
— Poxa, fiquei animada.
— Pode ficar animada — bato palmas empolgada, faço um suspense e então digo com
um sorriso enorme — amanhã vamos comprar nossa árvore de Natal.
— Mentira — ela grita e começa a dar pulinhos empolgada pela sala que ainda não tem
nenhum enfeite natalino pela minha falta de tempo.
— Verdade — me junto a ela e começo a dar pulinhos também.
— Vamos escolher a mais bonita de todas, a maior, e a mais verde para o papai Noel
encher de presentes no Natal — ela faz o gesto com as mãos ainda pequeninas, sorrindo de
orelha a orelha. — Será que eu vou ganhar dois presentes esse ano de novo, mamãe? — ela
arregala os olhinhos com a possibilidade.
— Por que, filha? — me faço de desentendida e me sento no tapete, para ficar ao seu
lado.
Ela uni as mãozinhas em frente ao corpo e começa a brincar com os dedinhos de cabeça
baixa.
— Bom, desde que a gente veio morar nessa casa, eu ganho dois presentes no Natal, e
não um — ela conta nos dedos, exibindo uma expressão confusa ao erguer o rosto para mim—
será que o papai Noel lembrou do meu aniversário?
— Com certeza, filha.
— Mas quando a gente ainda morava com o papai, o papai Noel só me dava um
presente no Natal, por que ele mudou de ideia, mamãe? — sua pergunta me faz engolir em seco.
Como eu diria para a minha filha de 8 anos que o seu pai só me deixava comprar um
presente para ela de Natal e de aniversário? Como explicaria isso sem fazer com que ele fosse o
vilão da história quando essa era a verdade?
Respiro fundo, buscando uma resposta rápida.
— Eu escrevi uma cartinha para o papai Noel, dizendo que o certo era você ganhar um
presente pelo Natal e um presente pelo seu aniversário, então ele começou a trazer certinho.
— E ele respondeu a senhora? — pergunta franzindo as sobrancelhas grossas e escuras.
— Não, ele só fez o que eu pedi porque deve ter visto que você é uma boa menina e
merece — acaricio sua bochecha e me levanto do chão, minhas pernas estavam começando a
ficar adormecidas.
Estou quase chegando no quarto quando ela grita:
— Eu posso escrever uma cartinha para o papai Noel, mamãe?
Gemo internamente, o que essa garotinha ia querer pedir para extorquir mais ainda os
meus bolsos?
Olho para trás vendo ela de pé a poucos metros de mim, o vestido vermelho está todo
amassado, o penteado que a babá fez já está desmanchado, mesmo assim ela é a criança mais
linda e fofa do mundo, como se soubesse dos meus pensamentos ela abre um sorriso e de onde
estou posso ver a janelinha em sua boca, do dente que caiu a uma semana.
Balanço a cabeça, não há nada que eu não faria por essa garotinha, mesmo que meus
cartões de credito estivessem todos estourados.
— Pode filha, mas só pode pedir dois presentes.
Ela começa a fazer uma dança estranha e fofa no meio do corredor e eu só rio.
— Eba, mamãe, tenho mais uma pergunta, a senhora não tem que trabalhar amanhã? —
Ela franze a testa.
Nego.
— O chefe do chefe da mamãe deu folga para ela amanhã, e por isso vamos as compras.
Ela bate palminhas no ar.
— Pode dizer pro chefe do seu chefe — faz uma careta enquanto repete o que eu disse
— que eu gosto muito dele, mas é só dele porque o seu chefe é chatão.
— Pode deixar que eu vou dizer, moranguinho, agora vamos tomar banho, comer e
assistir Grinch.
Posso ver os olhinhos dela brilharem a ouvir o nome de um dos seus filmes preferidos.
— Só se a gente usar o pijama verde — faz uma cara pidona ciente de que eu tenho o
total de zero capacidade de lhe negar algo assim.
O pijama verde nada mais era do que a fantasia do Grinch que comprei para nós duas
ano passado.
— Tudo bem, mas só vai comer chocolate quem terminar de se arrumar primeiro. —
Digo já começando a correr até o banheiro e ouvindo os seus gritos atrás de mim.
CAPÍTULO 3
ARTHUR CARTER
30 DE NOVEMBRO

Samantha Jones.
Desço sua ficha pela tela do computador e clico na foto de seu crachá mais uma vez, ela
está linda, mais arrumada do que no dia em que a vi, mas não menos linda, com certeza.
O cabelo está amarrado em um rabo de cavalo bem alinhado, a maquiagem em seu rosto
é suave, exceto por seus lábios que estão pintados de vermelho sangue, uma cor que deveria ser
proibido para ela por tamanha tentação e perfeição.
Pisco, forçando minha mente a voltar a ouvir o discurso de um dos diretores, estávamos
discutindo os balanços do último semestre, que tiveram uma queda significativa por causa do
escândalo envolvendo o nome de minha filha.
Minutos se passam, e outro diretor assume o lugar de fala, batuco a ponta da caneta na
mesa entediado e volto a rolar meus olhos pela foto da linda mulher exposta em meu notebook.
Começo a ler as informações presentes em sua ficha, ela tem uma formação na área de
finanças — por isso seu chefe estava lhe colocando para fazer o trabalho dele — esse é o seu
segundo emprego, ela mora em um apartamento pequeno em um bairro de classe média e nasceu
em 1995.
Encosto as costas na cadeira abrindo um sorriso ao constatar que ela tem 28 anos, apesar
de ser 20 anos mais nova do que eu a idade dela é razoável a minha, que tenho 48 anos, a
imprensa não cairia com tanto peso e eu não seria preso por ela ser menor de idade.
Olho o relógio agoniado com a extensão da reunião, meu plano é descer junto ao novo
diretor de finanças para poder apresentá-la ao seu novo chefe, já que demiti o senhor Wilson por
incompetência ontem.
Quero ser o primeiro a lhe dar essa notícia, embora tenha a certeza de que os boatos já
devem ter se espalhado, mas como a reunião começou bem cedo, ela ainda não deve ter tido
certeza do ocorrido.
Amplio a imagem dela na tela do notebook e é impossível conter o sorriso em minha
boca, ela é tão linda, observo o leve esticar dos lábios carnudos pintados de vermelho e minha
mente viaja em imagens sujas e indecentes, engulo em seco.
— Presidente, o fato de termos tido uma baixa de 100 milhões de dólares em nossas
finanças por causa do escândalo em sua família não o preocupa e sim o faz sorrir?
Ergo os olhos para o infeliz que interrompeu meus pensamentos e endureço o rosto no
mesmo instante, todos sentados a mesa estão me encarando com curiosidade.
Merda, não tinha outra hora para eu resolver fantasiar com minha funcionária?
— Estou sorrindo com o fato de isso o preocupar — me ajeito na cadeira e dobro os
cotovelos, fingindo arrogância para espantar os tubarões — somos uma empresa transnacional
que fatura bilhões de dólares por ano, você acha mesmo que vamos falir por alguns trocados?
Ouço alguns homens rirem e outros assentirem.
— Mas ainda assim... — Corto sua fala antes que ele possa conclui-la.
— Ainda assim passaremos o ano com os bolsos recheados — solto uma risada e a
maioria me acompanha — não vejo o motivo de tanta preocupação, até mesmo porque eu arquei
com todos os custos já que o motivo da pequena oscilação foi por conta de minha família, seu
relatório inclusive está errado.
— O que?
— Eu arquei com os cortes, logo o assunto não deveria nem mesmo ser discutido nessa
reunião, já que a empresa, e todas as pessoas ligadas a ela, não foram prejudicadas.
A expressão em seu rosto é inapagável, ele está enfurecido por ter sido ridicularizado e
ter virado motivo de chacota entre os amigos, ser repreendido por mim não é algo bem-visto
nessa mesa.
Odeio pessoas incompetentes, em outro momento não o repreenderia desta forma, mas
dado a minha distração não poderia deixar que eles a percebessem e muito menos ser eu a ser
repreendido por um mero diretor.
— A reunião está encerrada, trataremos de outros assuntos durante o período da tarde —
me levanto dando a ordem e escuto alguns resmungos e arrastar de cadeiras, fecho as abas do
notebook e me viro para o novo diretor financeiro — Sr. Bass, pode me acompanhar? Vou levá-
lo até a sua nova sala.

...

No instante em que ponho os pés para fora do elevador, parando no andar de finanças,
observo como os funcionários estão apreensivos com a minha ida ao setor, e principalmente pelo
boato da troca de diretor que seria confirmado quando eu entrasse com Leon Bass na sala do
diretor com Samantha Jones.
Leon, é filho de um velho amigo meu, ele está aqui a pedido de seu pai, que deseja que
ele aprenda os negócios sem a mordomia que a empresa da família ofereceria, aqui ele será
apenas um funcionário que obedecerá às minhas ordens, não tinha pretensão de colocá-lo como
chefe do departamento, mas devido as últimas reclamações contra o ex-diretor decidi lhe dar uma
oportunidade em um cargo mais elevado, principalmente porque vi o potencial do rapaz nos dias
em que trabalhou diretamente para mim.
Estou passando algumas instruções para ele quando avisto a linda srta. Samantha
andando apressada até outra sala, ela carrega várias pastas nos braços e imagino o quão pesadas
elas são para seus braços tão delicados, mas me contenho de ir correndo até ela e continuo
instruindo o rapaz que me ouve atentamente.
O andar está silencioso, mas posso ouvir os cochichos entre os funcionários de acordo
com que passamos pelas mesas.
— Srta. Samantha? — chamo a secretária que parece estar atenta explicando algo a uma
moça, vejo seu corpo tensionar, ela estica a coluna e então lentamente vira para a direção da
minha voz.
Seus cabelos estão soltos e posso ver que batem até a metade de sua cintura, enquanto
ela se vira observo o movimento de suas pernas que são grossas, subo mais um pouco e sinto
uma fisgada em meu pau ao ver as curvas de sua bunda grande e redonda evidentes no vestido
mídi da cor vinho.
— Sr. Carter? — o tom dela é de surpresa, seus olhos graúdos oscilam entre mim e o
jovem que está parado ao meu lado — Bom dia, no que posso ajudá-los? — pergunta solícita
colocando as mãos em frente ao corpo.
— Bom dia, a srta. pode nos acompanhar até a sala do diretor financeiro, por gentileza?
— Claro.
Ela responde e se vira para a moça que estava conversando segundos antes, e eu como o
bom homem que sou me aproveito de cada segundo que posso admirar sua bunda redonda, sou
pego no flagra quando ela se vira rapidamente e me pega a encarando como um idiota, Leon
solta uma risada baixinha ao meu lado sacando tudo, lhe dou uma cotovelada para ele calar a
boca enquanto observo as bochechas da jovem corarem.
— Os senhores podem me acompanhar por aqui — ela diz saindo em nossa frente, solto
um grunhindo baixo quando observo que o imbecil do Leon está secando a bunda dela.
— Mantenha os olhos em cima, Leon. — Meu tom saí duro e ele ri baixo, implicante.
— Propriedade privada, chefe? — Alfineta.
Olho para a jovem que abre a porta do escritório, ela ergue os olhos para mim e sorri
minimamente antes de voltar a manter a expressão do rosto neutra.
— Sim, — confirmo marcando território, no que dependesse de mim Samantha Jones
ocuparia um lugar na minha vida em breve — completamente privada e proibida para você.
— OK, já entendi chefe.
— É o que eu espero.
Sem muita cerimônia fecho porta após nós três entrarmos na sala, puxo uma cadeira
para a srta. Jones e me sento na cadeira ao seu lado tentando a todo custo seguir o ultimato que
dei a Leon e manter meus olhos em cima, já que não queria ser processado por assédio.
— Leon, pode tomar sua cadeira — ordeno ao rapaz que parece sem jeito ao sentar em
uma posição de poder a minha frente.
— Sim, senhor.
— Srta. Jones, o sr. Wilson foi demitido ontem durante a sua ausência, imagino que
tenha ouvido os boatos pelos corredores — ela assente, um pouco constrangida, pensando que a
demissão teve a ver com ela, e teve mesmo — o sr. Leon Bass foi admitido hoje na empresa
como chefe do setor financeiro, ele tem pouca experiencia na vaga, porém muita competência,
conto também com sua ajuda para auxiliá-lo já que tem formação na área — ela arregala os olhos
levemente, provavelmente pensando como sei da informação — por isso vim apresentá-lo
pessoalmente a srta.
— Pode contar comigo, já trabalho nesse setor há quase dois anos e ficarei feliz em
poder lhe auxiliar. — Ela responde olhando para o rapaz que nos observa com atenção.
— Muito obrigado, srta. Samantha, sua ajuda será bastante solicitada, tenha certeza
disso — ele responde entre risadas.
Sinto vontade de revirar os olhos ao vê-los ali tão a vontades e minha mente viaja em
como podem ficar próximos.
— Sem abuso, Bass — digo firme para ele, me viro para a jovem que tem dominado
meus pensamentos — e qualquer reclamação saiba que o RH e minha mesa estão a sua
disposição, srta. Samantha.
— Cla-aaro, senhor — sua voz fraqueja, mas seus olhos não saem dos meus.
Me levanto da cadeira alinhando meu terno ao corpo, de soslaio observo os olhos de
Samantha vagarem por meu corpo, meu peito inflama, feliz por saber que tenho algum efeito
sobre ela, já que ela parece ter tanto sobre mim.
— Preciso roubar sua secretária por alguns instantes, Bass — informo a ele que tem os
olhos fixos em mim — pode me acompanhar?
Ela assente balançando a cabeça e se levanta.
— Ela é toda sua, senhor. — Não me passa despercebido o duplo sentido em seu
comentário, Samantha parece perceber já que suas bochechas coram ao me olhar.
Quando ela passa por mim faço uma cara feia para o rapaz que se acaba de rir assim que
fecho a porta atrás de mim.
— Sr. Carter, preciso entregar algo para o senhor.
“Seu coração?”
É a primeira coisa que ela diz assim que ponho os meus pés em sua sala, me certifico de
fechar a porta para afastar os olhares curiosos.
— Para mim? —franzo o cenho.
— Sim, o seu lenço, eu o lavei bem e o trouxe hoje — ela me estende o lenço branco
que usei para limpar o sangue de sua cabeça todo dobradinho.
Pego o tecido, que honestamente não tem nenhum tipo de valor para mim, mas paro ao
sentir o aroma suave, levo o pano ao nariz e inalo profundamente o aroma adocicado, fecho os
olhos apreciando o momento sem me importar de parecer um tarado.
— O que você usou? Que cheiro bom. — Questiono erguendo os olhos para ela que me
encara confusa.
— É... meu perfume, sr. Carter.
Ela diz com o tom de voz constrangido, seus olhos oscilam entre meu rosto, minhas
mãos e o chão.
— A srta. é uma mulher muito, muito cheirosa.
Puxo uma cadeira para me sentar em frente sua mesa, cruzo uma das pernas e levo o
lenço ao nariz outra vez.
— Hã... obrigada.
— Comprou a árvore com sua filha?
— Comprei sim — ela responde prontamente enquanto se senta, então para, franze o
cenho e me olha com certa estranheza — Pera, como sabe que eu tenho uma filha e que comprei
uma árvore? É algum tipo de detetive, sr. Carter?
Pisco, sorrindo.
— Não sou — solto uma risada e ela me acompanha, sinto meu coração palpitar com
seu tom doce — ouvi você dizendo naquela noite, foi um dos motivos de ter lhe dado folga, sei
bem como uma criança pode ficar chateada por não comprar a decoração de Natal.
— Eu... não sabia, muito obrigada, sr. Carter, minha filha ficou muito feliz.
— Só Arthur, por favor — ergo a mão acenando — estamos a sós, além do mais, gosto
de quando você o pronuncia.
Ela se encosta na cadeira, e me observa por alguns instantes.
— Verdade, ainda é um pouco estranho ter o presidente da companhia sentado na minha
sala de maneira tão informal, jamais passou pela minha cabeça que um dia poderia ao menos
olhar em minha direção. — Ela ri baixinho, balançando a cabeça no processo, quando ergue o
rosto para mim seu sorriso é de ponta a ponta, as bochechas estão avermelhadas.
— Se você desejar, isso pode se tornar mais recorrente — digo baixo e pausadamente
olhando no fundo de seus olhos.
Ela sorri mordendo o lábio, olha para o lado e então para mim novamente.
— Está flertando comigo?
Estica os braços se inclinando na mesa, de onde estou posso ver o contorno de seus
seios, minha boca saliva.
— Estou.
— Uau, me belisca para eu ter certeza de que não é um sonho, por favor. — Ela estende
o braço para mim e tapa os olhos com uma das mãos.
— Por que seria o sonho?
— Por que para um homem como você reparar em mim, só em sonho mesmo.
— Vou lhe provar que não é um sonho de uma forma mais interessante. — Olho para
seus lábios e ela os aperta em meio a um sorriso.
Me levanto da cadeira, confiante de que sairei de sua sala com a boca inchada de tanto
beijar seus lábios carnudos e gostosos, Samantha me fita, girando a cadeira para ficar de frente a
mim quando chego a centímetros de distância dela.
Apoio uma mão no braço de sua cadeira e a outro fica no topo de sua cabeça, ela parece
envergonhada, pisca repetidas vezes, mas ainda assim não desvia os olhos dos meus.
Eu gosto disso.
De onde estou posso sentir sua respiração bater em meu rosto, ela umedece os lábios e
eu sinto o resto de autocontrole se esvair de mim.
— Posso beijá-la, Samantha?
— Por favor, Arthur, me beije.
Levo minha mão a seu rosto e esfrego meu polegar em seu lábio, ela geme baixinho
fechando os olhos, e céus, é o som do paraíso, quando os abre novamente posso ver suas íris
menores, pois as pupilas estão dilatadas de desejo.
Samantha segura em meus ombros, raspando as unhas medianas em minha cabeça, um
lindo sorriso domina seu rosto quando eu a puxo pela nuca e colo nossas bocas selando nosso
destino para sempre.
CAPÍTULO 4
SAMANTHA JONES
05 DE DEZEMBRO

Toco meus lábios e sorrio como uma adolescente boba ao me lembrar dos beijos que
Arthur me deu há poucos minutos, meus lábios estão vermelhos e inchados, e confesso que nos
últimos 05 dias tenho trocado o batom por um hidratante só por saber que vou ser beijada por ele
em algum período do dia.
Ou alguns períodos, já que hoje não bastou os beijos que ele me deu pela manhã,
precisou vir a tarde em minha sala novamente só para nos beijarmos por mais alguns minutinhos.
Os comentários a nosso respeito estão a todo vapor dentro da empresa, tenho recebido
alguns olhares tortos e muitos sorrisos falsos.
Mas não tenho me deixado abater, pois sinceramente tenho me sentido boba, como se o
mundo inteiro estivesse aos meus pés, são tantos sentimentos e sensações explodindo em meu
peito que mal posso respirar.
Sei que o que temos é algo temporário, totalmente passageiro, afinal ele é um CEO
bilionário e provavelmente nunca chegarei ao seu coração, mas eu também pensava que jamais
chegaria aos seus olhos e veja só, eu cheguei.
Então, quem sabe né?
Não vou dizer que estou apaixonada por ele, pois não estou, porém os poucos momentos
que temos vivido juntos tem sido tão libertador, nunca mais tinha me dado uma oportunidade
depois de John, não por falta de pretendente, é claro, mas por não me interessar por ninguém, até
Arthur Carter.
Eu precisava quebrar essa barreira dentro de mim, e mesmo que meu casinho com o
CEO não vire algo sério eu já me sinto realizada somente por ter superado o obstáculo de não me
interessar por ninguém e mais ainda por viver a minha própria fic de ter um casinho com o CEO
viúvo e gostosão.
Arthur Carter é a definição de meu sonho de consumo na adolescência: Bonito, gostoso,
gentil, educado, protetor e etc., eu tenho observado os pequenos gestos que ele faz mesmo que
não tenhamos “nada” e sinto que preciso guardar meu coração para não acabar o entregando de
bandeja para ser quebrado novamente.
Foi muito difícil juntar meus caquinhos da última vez, sendo sincera nem sei como
consegui, minha única razão era minha filha, então sei que não posso me dar ao luxo de passar
por isso outra vez e nem quero, apesar de estar aberta ao que estou vivendo com Arthur tenho
mantido minha mente firme de que isso não passa de algo passageiro e que em breve não nos
veremos mais.
Jogo minha cabeça na mesa, imaginando onde eu fui me meter, as chances de eu me dar
mal nessa história são gigantescas, mesmo assim tenho persistido, talvez seja vontade de quebrar
a cara, vai entender.
Confiro o relógio pelo que deve ser a décima vez — faltam oito minutos para o fim do
expediente — eu estou empolgada para chegar em casa por que hoje — depois de muitos dias de
espera — finalmente vamos receber nossa árvore de Natal em casa.
Os segundos se arrastam lentamente, até que o horário de bater meu ponto chega, saio
apressada da sala indo direto para a creche da empresa. A babá de Mia, nossa vizinha, viajou
para a casa do pai e não vai poder mais ficar com ela, logo não me restou outra opção a não ser
trazê-la comigo para o trabalho.
Minha sorte é que a empresa conta com uma área específica para os filhos do
funcionários a partir de seis meses de idade e as babás são ótimas e ainda temos acesso as
câmeras para poder ver como eles estão durante o dia.
— Mamãe, mamãe — a garotinha começa a falar no instante que me vê, correndo para
ajuntar suas coisas espalhadas no chão e corre até mim assim que termina.
— Oi filha, se comportou bem? — pergunto fazendo uma vistoria geral nela, uma das
babás, Cecilia ri parando ao meu lado.
— Me comportei tão bem, acho que mereço até um bolo de morango, num é Ceci? —
ela olha para a moça ao meu lado com um sorriso sapeca.
— É verdade, Ceci? Você acha que ela merece? — pergunto arrumando os cabelos da
garotinha em um coque desajeitado, apesar de tentar eu nunca fui boa com penteados.
— Ela merece sim, Samantha, Mia foi uma boa menina hoje.
— Tá vendo mamãe, a tia Ceci acha que eu mereço bolo de morango, — seus olhinhos
são brilhantes — bora comprar.
Ela diz tentando me puxar para fora da sala, as babás riem vendo seu jeito.
— Sendo assim, acho que podemos passar na sua confeitaria favorita, hm? — digo
acenando para as meninas.
— Eba. — Ela faz um gesto com a mão que me faz explodir em uma risada — Mia vai
ganhar bolo de morango, Mia vai ganhar bolo de morango... — é o que ela repete até chegarmos
na confeitaria que fica do outro lado da rua.

...

— Eu amo morango, é tão bom — Mia diz com a boca cheia de bolo e eu faço uma cara
feia pela falta de educação.
— Não fale de boca cheia, é... — Começo a repreendê-la, mas ela logo me corta
revirando os olhos.
— Feio, eu sei mamãe — ela diz, novamente de boca cheia, balanço a cabeça achando
graça — mas tá muito bom, come um pouquinho aqui — ela corta um pedaço com o garfo, abro
a boca para ela me alimentar, mas vejo o sorriso em seu rosto morrer no mesmo instante que ela
ergue a cabeça.
Fecho a boca, pronta para olhar para trás quando ouço a voz que é a personificação do
meu maior pesadelo bem atrás de mim.
— Finalmente achei vocês, minhas meninas.
E como um estalar de dedos, todos os sentimentos ruins que tenho lutado para manter
longe, para superar tantos anos ruins, voltam para o meu peito sem a minha permissão.
A cadeira ao meu lado é arrastada e ele se senta a mesa como se fosse um convidado,
não consigo erguer meus olhos para ele, tudo o que penso é: Como ele me encontrou? Pra onde
irei fugir dessa vez? Quem vai me ajudar?
— Pensou mesmo que eu não a encontraria, Samantha? — Jonh, meu ex-marido tenta
tocar em minha mão por cima da mesa, me afasto do seu toque imediatamente.
Mia está pálida em minha frente, a mão ainda parada no ar com o garfo cheio de bolo.
— Me deixe em paz ou eu vou ligar para a polícia. — Digo com o tom de voz firme.
Você precisa ser forte, Samantha.
Ele não pode tocá-la mais.
Ele não tem mais poder sobre você.
Você é livre.
Você é livre.
Você é livre.
— Oi filha, papai estava com tanta saudade de você — ergo o rosto a tempo de vê-lo
levantar a mão para tocar nos cabelos de Mia, a garotinha se encolhe na cadeira, posso ver o
desespero em seus olhos.
Ele nunca bateu nela.
Mas ela já viu ele me bater inúmeras vezes.
Não permitiria que nada acontecesse com minha garotinha.
Nunca.
Por ela eu enfrentava o que fosse preciso.
Por ela eu vencia o medo.
Por ela eu morreria.
— Não toque na minha filha — seguro sua mão no ar, posso vê-la soltar o ar aliviada.
Jonh me olha incrédulo, parecendo não acreditar que tive coragem de enfrenta-lo após
tantos anos.
— E quem você pensa que é para me impedir? — seu tom é zombeteiro, mas eu sabia
que ele fervia de raiva — Não passa de uma put...
— Lava a sua boca para falar de mim, vamos embora, Mia — arrumo forças para
levantar da cadeira, Jonh segura meu braço e eu sinto meu estomago revirar com o nojo que sinto
dele.
O nojo que sinto de seu toque.
Flashbacks das noites em que ele me forçava a fazer sexo com ele depois de me
espancar passam em minha mente.
Quantas vezes tive que aceitar ser estuprada pelo meu próprio marido por medo?
Meu corpo paralisa por alguns instantes, o ar começando a faltar em meus pulmões.
— Ficará comigo por bem ou por mal, é melhor que seja por bem, — ele diz com o tom
baixo olhando no fundo de meus olhos — acho que se lembra de como as coisas terminam
quando fico chateado, não lembra? Posso refrescar sua memória, amor.
Sinto um arrepio em todo meu corpo.
— Mamãe — a voz da garotinha que minutos atrás estava tão alegre não passa de um
sussurro repleto de medo.
Desperto do transe, forçando-o a soltar meu braço, dou alguns passos para trás e seguro
a mão de Mia, ela está tão gelada, forço ela a caminhar para longe daquele monstro, para longe
de seu pai.
— Você nunca mais encostará em um fio de cabelo meu, Jonh, muito menos chegará
perto da minha filha. — Lhe digo antes de passar pelas portas do estabelecimento.
— Você pertence a mim, Samantha, não pode fugir disso. — Ele diz alto se levantando
e começando a nos seguir.
Não respondo mais nada.
Tudo o que quero é ficar longe do seu alcance, longe do seu toque, longe dele.
Passei anos me escondendo, longe encontrando um local seguro e distante o suficiente
para que ele nunca mais me achasse, precisei mudar de país para que isso fosse possível, pelo
menos era o que eu pensava até hoje.
Pensava que tinha escapado das garras do diabo, mas não, o infeliz me encontrou, e sei
que com isso minha paz chegou ao fim.
Os carros passam em alta velocidade em minha frente, me impossibilitando de
atravessar para o outro lado, onde meu carro está estacionado.
— Mamãe, eu tô com medo — Mia diz, agarrada a mim.
Meu coração se despedaça com sua confissão.
Eu também estou com medo filha, é o que tenho vontade de dizer, mas não posso, então
suspiro e digo:
— Não deixarei que nada lhe aconteça, moranguinho. — Prometo, abraçando seu corpo
pequenino.
— Samantha — Jonh grita meu nome, olho para os lados vendo que se eu correr bem
rápido posso conseguir atravessar a rua antes do carro preto passar.
Sem ligar para mais nada, carrego minha filha e corro o mais rápido que posso, meu
corpo está fraco, minha respiração oscilante e sinto que posso desmaiar a qualquer momento
enquanto ouço a voz desprezível do meu ex-marido gritando meu nome na rua.
Não sei dizer o quão errado foi meu cálculo, tudo o que sinto é o baque do carro contra
meus quadris, aperto meus braços em volta de Mia o máximo que posso para protegê-la da
queda.
Minha cabeça bate com força no chão e eu gemo de dor, a buzina alta faz meus ouvidos
doerem, posso sentir um líquido em minha cabeça e imagino que seja sangue, abro os olhos e
tateio o chão buscando forças para levantar, mas não consigo, não consigo me levantar, não
consigo encontrar forças quando pareço ter voltado a ser a mulher de dois anos atras que era
espancada pelo marido.
— Mamãe — ouço a voz chorosa de minha filha em cima de mim, aperto meu braço ao
redor dela.
Estou tão zonza.
— Vem com o papai, filha. — O maldito se aproxima de mim, ele estende o braço para
pegar Mia de meu colo, mas a garotinha aperta os dedos em meu casaco tremendo de medo.
— Mamãe, não me solta. — Tento lhe segurar, mas estou tão fraca que mal consigo
manter meus olhos abertos.
— Vem com o papai, amor.
Sei o que ele está tentando fazer, Jonh quer tomar minha filha de mim para me obrigar a
ficar com ele novamente.
Não posso permitir isso.
Não posso me entregar de bandeja para ele.
Não posso voltar a viver no inferno depois de ter experimentado o paraíso.
Só queria que alguém me ajudasse.
Qualquer um.
Qualquer um.
— Samantha! — meus olhos se arregalam ao ouvir a voz que poderia ser de um anjo,
mas é de Arthur Carter, o meu chefe.
Ele corre e se ajoelha ao meu lado parecendo desesperado com a cena, tão diferente do
meu ex-marido, Mia continua chorando agarrada a mim.
— Liam, me ajude a colocá-la no carro agora. — Ouço-o gritar para alguém — você
está bem, mocinha? — ele pergunta a Mia, com os olhos zonzos ainda consigo vê-la negar —
Não se preocupe, vou cuidar de vocês.
— Quem é você? E porque acha que vou permitir que coloque minha esposa e minha
filha no seu carro. — Jonh o questiona, usando um tom intimidador, posso imaginá-lo com os
braços cruzados de maneira arrogante.
— O que? — os olhos do meu chefe oscilam entre eu e meu ex-marido, tento balançar a
cabeça para dizer que não sou mais casada com ele, mas não consigo, não tenho forças — se
fosse marido dela como diz ser jamais ficaria parado a vendo sangrar!
Sinto vontade de chorar.
Porque ele me viu, me viu muitas vezes assim, sangrando, e o pior de tudo é que todas
as vezes que eu sangrei o culpado foi ele.
Reúno todas as minhas ultimas forças e ergo minha mão para segurar em seu braço,
Arthur volta a olhar para mim, então com lágrimas rolando em meu rosto sussurro:
— Nos leve para longe dele, por favor.
— Não se preocupe, vocês estão seguras comigo, Samantha — sinto sua mão tocar meu
cabelo e só então me permito fechar os olhos.
Sei que ele vai cuidar de mim e de Mia.
Sei que ele não vai nos fazer nenhum mal.
— Tire esse filho da puta da minha frente, Liam. — É tudo o que eu escuto antes de
apagar.
CAPÍTULO 5
ARTHUR CARTER
05 DE DEZEMBRO

— A minha mamãe vai ficar bem?


Olho para a garotinha encolhida no banco de espera do hospital e respiro fundo.
Os últimos minutos foram uma loucura, desde meu motorista atropelando Samantha e
sua filha, eu querer esmurrar o cara que dizia ser seu marido sendo tão mesquinho até nós enfim
darmos entrada no hospital e ficarmos plantados na sala de espera.
Me sentei no banco ao lado da garotinha, nem mesmo sabia o seu nome.
— Ela vai ficar bem sim — apoiei meus cotovelos nas coxas e encarei com um sorriso
gentil — foi só um acidente.
Ela me olhou de forma estranha quando terminei de falar.
— Meu papai sempre me dizia isso quando vínhamos ao hospital. — Balançou as
pernas no ar.
Um alerta se acionou em minha mente.
Samantha sofria violência doméstica? Não duvidaria disso após ver o comportamento
mesquinho dele enquanto ela estava estirada no chão sangrando e seu pedido para afastá-las dele.
Soube que havia algo de errado quando ela me disse aquilo e quando percebi que a filha
dela não queria ir com o que deveria ser o seu pai.
— Seu pai? — A questionei com cautela, tentando entender a situação.
— É, o moço que tava tentando me levar quando a mamãe tava no chão. — Ela falava
baixo, com o semblante caído.
— Sua mãe ia muito ao hospital? — ela assentiu com a cabeça, a raiva correu em
minhas veias com sua confirmação.
Imaginar Samantha em uma situação parecida com a que presenciei hoje por culpa de
seu marido me deixava furioso.
Saber que um homem usou de sua força física contra ela me enojava, meus pais sempre
tiveram um relacionamento saudável, e tive um com minha ex-esposa também, posso contar nos
dedos as vezes que brigamos.
Meu pai me ensinou que um relacionamento precisa mais do que amor para dar certo,
um relacionamento precisa de respeito. Se tiver isso, o restante já é meio caminho andado.
Tive a sorte de poder ter contado com o respeito e o amor durante muitos anos de minha
vida, e ficava triste por saber que existiam muitos homens como o pai dessa garotinha.
Conheço Samantha Jones a pouquíssimo tempo, mas não tenho nenhuma dúvida de que
ela é uma boa pessoa, parece ser o tipo de mulher dedicada a família, aos filhos, companheira.
Sendo sincero, ela me lembra muito minha ex-esposa em sua personalidade.
Esfrego meus olhos cansado, Samantha estava sendo avaliada por um grande amigo
meu, que é médico, ele me disse que a batida em sua cabeça foi superficial e sua preocupação
estava nas costelas, que com o baque da queda foram fraturadas, mas me afirmou que ela não
corria nenhum perigo de vida, só depois disso pude ficar calmo.
Naqueles míseros minutos que a tive com o corpo desmaiado em meus braços revivi o
pânico de cinco anos, quando sofri um acidente com minha família e minha esposa veio a
falecer.
A sala de espera do hospital não é nem de perto meu local favorito no mundo.
Olho o relógio em meu pulso vendo que já passam das 20h, viro o rosto para ver a
garotinha e ela parece cansada, talvez com fome também.
Levanto e estendo a mão para ela.
— Vamos na lanchonete comer alguma coisa, — ela abre um sorriso no momento que
falo a palavra lanchonete, quase sorrio — depois vou ligar para minha filha vir cuidar de você, tá
bem? — ela assente, penso que Samantha se sentirá mais segura sabendo que Ellie ficou com a
garotinha enquanto estava no hospital.
— Pode ser bolo de morango? — ela pergunta quando segura a minha mão, fico
encarando nossas mãos juntas e tento me lembrar a ultima vez que fiquei perto de uma criança
que não fosse minha filha.
Fazia muito tempo.
Muito tempo mesmo.
— Claro, aliás, qual o seu nome pequenina?
— Moranguinho. — Franzo o cenho e ela solta uma risada fofa, aperto os olhos
duvidando da veracidade de suas palavras, crianças adoram brincar.
— Que nome... peculiar, mas é bonito — finjo me dar por vencido.
— Meu nome é Mia, mas meus amigos me chamam de moranguinho. — Ela dá ombros,
balançando a cabeça animada enquanto andamos até o elevador.
— Então somos amigos? — Pergunto sem jeito, como era ser amigo de uma criança
mesmo?
— O senhor vai comprar bolo de morango pra mim, — seu sorriso é de ponta a ponta e
posso jurar que há certo brilho em seus olhos — então somos amigos.
— Certo, muito bom ser seu amigo moranguinho, apesar de você só estar interessada no
bolo de morango — tento entrar na sua onda, e então me apresento para ela — eu me chamo
Arthur, sem apelidos.
Ela vira para mim, colocando uma das mão na cintura, seus olhos me analisam dos pés à
cabeça.
Eu definitivamente não quero ser o chefe mau.
— O senhor é o chefe bonzinho da minha mamãe?
Não sou um chefe ruim só por atrasá-la para alguns compromissos porque quero beijá-
la, sou?
Espero que não.
— Acho que sim — ela parece desconfiada ao perceber a incerteza em meu tom, respiro
fundo e assinto com convicção — eu sou o chefe bonzinho.
Preciso tirar essa conversa a limpo urgentemente.
Quem era o chefe bonzinho e quem era o chefe ruim?
— Então somos amigos, minha mamãe só me levou para comprar nossa árvore de Natal
por sua causa.

06 DE DEZEMBRO

Samantha fraturou duas costelas.


Jackson, meu amigo, me explicou que pelos exames de imagem essas mesmas costelas
já haviam sido fraturadas antes, e por pouco não quebraram.
Minha conversa com Mia voltou em minha mente com tudo, Samantha realmente sofreu
ou sofre violência doméstica por causa daquele bastardo.
— Ela precisa ficar afastada de seu cargo, por no mínimo quatro semanas. — Ele diz
voltando a olhar os exames de imagem em sua mesa.
— Não estou preocupado quanto a isso, — coço o queixo — qual tratamento ela deve
fazer?
— O caso dela não é grave, então ela precisa fazer acompanhamento com o
fisioterapeuta, tomar os medicamentos que eu prescrevi e ter o máximo de repouso possível.
— Posso cuidar disso sem problemas, vou contratar os melhores profissionais para
cuidarem dela.
— Nessas primeiras semanas ela não pode andar, vai precisar usar a cadeira de rodas e
de auxílio para coisas básicas.
— Posso cuidar disso também, minha governanta vai cuidar dela com as necessidades
básicas, e eu irei auxiliá-la.
Observo quando um sorriso se abre em seu rosto, Jackson tira os óculos e massageia-os
em seguida.
— Não vejo você interessado em uma mulher faz muito tempo, é bom ver que está se
dando uma oportunidade, Arthur, você merece.
— Está tão óbvio assim? Estou saindo com ela há alguns dias, mas me sinto... —
Gesticulo, procurando palavras — nem sei explicar a você, ela faz eu me sentir como um jovem
apaixonado.
— Você parece um gato marcando território, está bem óbvio.
— Não é para tanto, só estou preocupado, e com motivos afinal ela sofreu um acidente
— reviro os olhos —um acidente que meu motorista provocou, preciso investigar melhor essa
situação.
— Continue mentindo assim pelo tempo que quiser, mas me convide para o casamento
depois.
Meu rosto permanece neutro, mas a pancada em meu coração é certeira quando ele diz a
palavra casamento.
Não conseguia me imaginar casando novamente até me envolver com Samantha, a ideia
me dava repulsa, mas imaginar a linda morena em um vestido branco caminhando em minha
direção até o altar me traz um sentimento bom, um sentimento aconchegante.
— E quando vamos ver o enigmático doutor se casando? Você foge de relacionamento
como o diabo foge da cruz — rio do trocadilho
— Estou focado em minha carreira, salvar vidas é uma missão em tempo integral, não
tenho tempo para desperdiçar.
— Não há sentido na vida senão estar com as pessoas que amamos, Jackson. Todos nós
precisamos de um lar, precisamos “perder tempo” com pessoas específicas para sermos felizes.
Vejo-o engolir em seco, alguns segundos se passam até que ele finge demência sobre o
assunto.
— Isso é papo de homem apaixonado— ele gesticula com as mãos e se levanta da
cadeira — vá cuidar da sua morena antes que os enfermeiros a roubem de você, vá.
— Você é terrível — me levanto da cadeira rindo e ele me acompanha até a porta.
— Não deixe ela ir embora, Carter. — Ele toca meu ombro em camaradagem — Você
passou por muita merda, mas ainda pode reconstruir a sua vida.
— Digo o mesmo pra você, meu amigo, somos velhos, mas não estamos mortos.

...

— Quem é a paciente mais linda desse hospital? — chio colocando a cabeça na porta do
quarto.
Ainda não havia tido a oportunidade de falar com Samantha acordada, vim vê-la ontem
à noite depois de deixar Mia sob a responsabilidade de Ellie, a garotinha se deu bem com minha
filha no instante em que a viu, talvez tenha algo com ela estar usando rosa e trazendo doce de
morango no colo.
— Arthur? Linda? — ela olha para baixo e faz uma careta, rindo em seguida — eu estou
horrível.
Dou um passo para o lado e então ando até a beirada de sua cama, os olhos fundos e
graúdos me acompanham com atenção, seus cabelos estão bem penteados e partidos ao meio.
— Acredite, você continua igualmente bela para mim.
— Onde está Mia?— Sua voz soa baixa e calma, creio que por conta da dor. — O
enfermeiro me passou seu recado mais cedo.
— Eu chamei minha filha, Ellie, para cuidar dela ontem à noite — puxo uma cadeira e
me sento próximo de sua cama — imaginei que fosse se sentir mais confortável dessa forma.
— Eu agradeço, você não tem nenhuma obrigação de... — ela começa o discurso,
seguro uma de suas mãos e a acaricio com meu polegar.
— Meu motorista a atropelou, você é minha funcionária e a mulher por quem eu tenho
atrasado relatórios só para roubar beijos — ela solta uma risada baixa, seguida de um chiado de
dor — se isso não for motivo o suficiente para que aceite minha ajuda não sei o que mais será.
Dou ombros relaxado.
— Não estou acostumada com alguém cuidando de mim... — ela olha para os lados
quando diz, talvez envergonhada pela situação.
— Não se preocupe, você vai se adaptar facilmente ao meu amor, — abro um sorriso
enquanto lhe falo isso — começando pelo fato de aceitar ficar na minha casa enquanto se
recupera.
Ela arregala os olhos.
— O quê? Não, não, eu tenho... — corto suas desculpas.
— Já contratei uma enfermeira e um fisioterapeuta para acompanhá-la, seu quarto está
pronto e Mia está adorando ser paparicada pela minha filha, o sonho dela era ter uma irmãzinha
pra fazer de boneca.
— Meu Deus — ela ri baixo, balançando a cabeça levemente — Mia é uma peça
mesmo.
— Elas já estão contando com sua estadia lá em casa — encosto minhas costas na
cadeira — falta só você aceitar e o resto eu resolvo.
Ficamos em silencio por alguns segundos, Samantha me estuda com atenção, parece
indecisa em sua decisão.
— Arthur, nós estamos indo rápido demais, nos conhecemos há o quê? Uma semana?
Não posso ficar hospedada em sua casa e deixar que cuide de mim como se eu fosse mais do que
sua funcionária, sua filha está cuidando da minha filha, seria a coisa mais linda do mundo se...
Interrompo sua fala:
— Você é mais do que a minha funcionária, tenha certeza disso — seu peito sobe e
desce mais rápido com minha fala — não posso permitir que fique sozinha cuidando de uma
criança nessas condições, principalmente depois do que presenciei ontem com o pai de Mia —
tento soar o mais calmo possível — você pediu para que eu as levasse para longe dele antes de
ficar inconsciente em meus braços — fecho os olhos contendo a minha vontade de sair a procura
do filha da puta e fazê-lo pagar por todos os sus pecados com minhas próprias mãos, me levanto
da cadeira e respiro fundo — se sua preocupação é de que eu esteja fazendo isso com segunda
intenção pode ficar despreocupada que... — altero algumas oitavas ficando nervoso com a
situação, merda, não é como se eu a estivesse levando para minha casa para fodê-la — vontade
não me falta, é claro, — mas na situação em que ela se encontra só precisa ser cuidada, não sou o
tipo de homem que se aproveita de uma mulher.
— Não é nada disso, Arthur — ela tenta se ajeitar na cama e faz uma careta de dor, me
aproximo pronto para ajudá-la quando ela me manda parar com a mão — nem somos um casal e
já estamos tendo nossa primeira briga.
— Me perdoe, não quero que pense que quero me aproveitar de você, Samantha, só
estou preocupado com seu bem-estar, você se tornou mais do que uma funcionária.
— Eu sei que não, só — a observo fechar os olhos com pesar — não estou acostumada
com homens como você, Arthur. — Ela lambe os lábios — eu vou com você para sua casa, não
vou conseguir cuidar de Mia sozinha e — sua voz estremece, e sei que ela vai falar sobre o pai
de sua filha — não posso me defender de Jonh nesse momento, eu aceito sua ajuda.
— Eu vou cuidar bem de você e de sua garotinha, Samantha — me sento na beira de sua
cama, nossos rostos estão a poucos centímetros de distância, posso enxergar o receio em seus
olhos, e a entendo, droga, se eu tivesse passado por metade do que ela provavelmente passou
com aquele bosta também teria receio, ergo minha mão e a passo entre seus cabelos macios.
— Eu sei que sim, você me conhece há uma semana, mas eu o observo há dois anos —
franzo o cenho com a informação nova — eu confio em você, convivi com um homem ruim por
muitos anos, aprendi a diferenciar os maus dos bonzinhos, você definitivamente é bonzinho.
Aperto os olhos, eu poderia ser considerado um homem bonzinho como ela diz,
enquanto não mexessem com minha família ou as pessoas que amo, eu realmente sou muito
bonzinho.
— Não se preocupe, aquele homem nunca mais encostará em um fio de cabelo de
nenhuma das duas.
CAPÍTULO 6
SAMANTHA JONES
— Uau, você foi bem modesto quando disse que morava em uma casa, né? — é o que
digo a Arthur quando passamos pelos portões do que parece ser um castelo.
O gramado é enorme, há varias árvores espalhadas pela propriedade, o local parece os
castelos que eu vejo nos desenhos que Mia assiste, meu coração fica bobo ao pensar em minha
filha vendo esse local que é quase magico.
Digo quase por que bem, estamos em dezembro, há poucos dias do Natal e até o
momento meus olhos não viram nenhum misero enfeite natalino.
— É uma propriedade familiar, meus avós que construíram. — Ele alonga o pescoço,
olhando pela janela junto comigo, uma de suas mãos tocam o meu ombro com cuidado, pisco
devagar, tentando controlar minhas emoções por ele estar assim tão próximo a mim.
— Você não tem enfeites natalinos? — solto a pergunta, encarando-o.
Ele se afasta alguns centímetros de mim, ficando com a expressão estagnada por um
tempo, então abre e fecha a boca duas vezes antes de suspirar.
— Não tenho enfeites natalinos, você gosta?
Um vinco se forma em minha testa, como assim ele não tem enfeites natalinos? Estamos
em dezembro, pleno natal e ele simplesmente não comprou?
— Eu amo o Natal, amo decorar, tudo — meu tom é tipo “Hã, é claro que eu amo o
Natal, você não?”
Ele aperta os olhos, faz uma leve careta e coça o queixo.
— Não comemoro mais a data — ele encara um ponto vago a sua frente —parei de
comemorar quando a minha esposa morreu, sinto muito por ter que tocar no assunto.
Pisco, sem reação.
O que eu falo agora?
— Eu sinto muito, não sabia que era um assunto delicado para você. — Sinto um
nozinho se formar em minha garganta.
— Você não tinha como saber, não é como se eu espalhasse isso por aí, sou tipo o
Grinch do Natal. — Ele faz uma careta, eu rio.
O clima se tornando leve outra vez.
Amém.
— Não fale isso perto de Mia, ou ela vai ficar obcecada por você. — Brinco, apesar de
ser verdade.
— Por quê?
— Ela é apaixonada pelo Grinch, me fez comprar pijamas idênticos para usarmos no
Natal.
— Não esperava isso da moranguinho.
— Como sabe o apelido dela? — pergunto confusa, Mia era o tipo de garota que só
confidenciava coisas pessoais a pessoas próximas, Arthur era praticamente um estranho para ela
até o momento.
— Ela que me disse — ele diz dando ombros, continuo com a expressão confusa —
ofereci bolo de morango da lanchonete do hospital para ela ontem — meneio, entendendo a
situação — depois disso ela disse que eu era seu amigo.
— Mia é apaixonada por bolo de morango, você a conquistou pelo estomago sem nem
saber.
Ele solta uma risada alta, que enche meus ouvidos, fecho os olhos apreciando o
ambiente leve, sinto sua mão segurar a minha levemente, então ele entrelaça nossos dedos, ergo
um pouco as pálpebras só para ver nossas mãos unidas.
Não sabia explicar tudo o que estava sentindo nas ultimas horas, apesar de ter tido
bastante tempo para refletir no hospital. Arthur, sem saber, foi meu salvador ontem, não quero
pensar o que poderia ter acontecido se meu ex-marido tivesse conseguido pegar Mia antes que
meu chefe chegasse.
O desespero que senti foi terrível, foi como se nada soubesse mudado, como se ele
realmente ainda tivesse controle sobre mim.
Minha mente me nocauteou, frui atropelada com minha filha nos braços, graças a Deus
ela não sofreu nenhuma lesão grave, só alguns arranhões, como fui informada, já eu saí disso
com as costelas fraturadas, por sorte elas não quebraram.
A oferta de Arthur foi como um presente de Deus em minha vida, eu não tenho parentes
na cidade, muito menos amigos íntimos, não daria conta de cuidar nem de mim nem de Mia,
fiquei receosa no início, não por medo de suas intenções — até porque se elas fossem maliciosas
eu irei ficar mais do que feliz por ter um homão desses só para mim.
O meu medo é de quão rápido estamos indo e do quanto podemos nos machucar,
estamos saindo juntos há poucos dias já me sinto viciada nele, e pra terminar cá estou eu e minha
filha, por obra do destino, vindo ficar hospedada na mansão do chefe do meu chefe.
O quão errado isso pode dar quando já me sinto tão confortável ao lado dele?
— Chegamos, senhor — ouço o motorista informar.
— Fique aqui.
Arthur saí pela porta contraria a minha, dá meia volta e então abre a minha porta, movo
meus pés devagar, o médico recomendou que eu não fizesse movimentos bruscos e nenhum tipo
de esforço, olhei para as escadas atrás do homem enorme parado a minha frente e quase gemi de
frustração, como raios eu subiria tudo isso com essa dor chata?
— Apoie seus braços em meus ombros. — Ele diz após eu tentar me mover e chiar de
dor.
— O quê? Você vai me... — Arfo surpresa, ao sentir os braços grandes e bem, hm, bem
musculosos passarem por debaixo de minhas coxas e então por trás de minhas costas.
Delicadamente ele me tira do carro e começa a caminhar, me aconchego em seu peito,
me sentindo uma verdadeira princesa.
— Vou lhe levar até seu quarto, fique quietinha.
— No colo? — arqueio uma sobrancelha — estamos pulando algumas etapas, não acha?
— Meu hobbie favorito tem sido pular etapas com você. — Mordo o lábio, esquecendo
completamente da dor que sinto com sua fala.
Com cuidado, passo um de meus braços por suas costas, posso senti-lo estremecer com
meu toque e as borboletas em meu estomago se remexem com essas trocas rasas de intimidade,
ergo minha mão livre até seu rosto, sentindo a aspereza de sua barba rala entre meus dedos.
Passo meus dedos pelo contorno de sua boca e o sinto tensionar
— Lembra que eu disse que não tinha segundas intenções com você — Ele para no topo
da escadaria, sua voz soa um pouco mais grossa — isso pode mudar facilmente se continuar me
tocando assim. — afirma, estico um sorriso e puxo levemente sua cabeça até a minha.
— Sabe, eu não reclamaria nenhum pouco.
A respiração de Arthur bate em meu rosto, entreabro os lábios mantendo meus olhos
fixos em suas pupilas antes dele terminar com o espaço entre nossas cabeças e colar nossas
bocas.
Fecho os olhos sentindo as batidas do meu coração galopear em meu peito, minha
respiração está entrecortada, as mãos de Arthur se mantem firme em meu corpo, não vacilando
em me segurar em nenhum segundo. Toco seu rosto com minhas duas mãos, aprofundando o
beijo antes calmo, o calor começa a se espalhar em meu corpo de acordo com que nossas bocas
se movem contra a outra, Arthur morde meu lábio superior, solto um chiado baixo.
Um assovio baixo seguido de palmas nos assustam, Arthur me aperta com um pouco
mais de força, provavelmente temendo minha queda e eu gemo, dessa vez de dor, pelo
movimento brusco.
— Isso que eu chamo de entrada triunfal, madrastinha. — Suponho que essa seja Ellie,
sua filha, viro meu rosto em direção a ela, e encontro minha filha com a boca aberta ligeiramente
surpresa.
— Mamãe, a senhora tá namorando o chefe do seu chefe?
Fecho os olhos, escondendo meu rosto no peito de Arthur, que ri nasalado, achando
graça da minha situação, dou um beliscão em seu braço e ele reclama de dor.
Respiro, erguendo minha cabeça novamente para eles, a loira esboça tem um sorriso
gentil, embora sua fala tenha sido, hm, no mínimo desconcertante.
Ela me analisa, parando os olhos bem onde as mãos de seu pai me seguram, abro um
sorriso mínimo, me sentindo envergonhada por estar usando um vestido tão curto.
— Ellie, pare de ser indelicada com a Samantha, por favor. — Sua voz soa em uma
briga falsa.
— Só estava elogiando minha madrastinha, não quis ser indelicada, juro — ela cruza os
indicadores, formando um x e então os beija.
Balanço a cabeça não entendendo mais nada.
— Mamãe, a senhora não me respondeu — a voz infantil de minha filha me desperta,
abro um sorriso bem grande para ela.
— É, hm... — pisco, desesperada sem saber o que dizer a minha filha, bom, eu não
estava namorando, mas estava quase, não estava? — mamãe não está namorando.
— Ainda vou fazer o pedido, moranguinho — Arthur pisca para minha filha, cheio de
cumplicidade.
Franzo o cenho ao parar para observar minha filha, ela está usando batom rosa, um
vestido muito similar ao da personagem moranguinho e os cabelos estão trançados?
— Você está usando tranças, Mia? — ela assente, batendo palminhas, do jeito que faz
quando está feliz.
— Ellie que fez em mim, ela é incrível mamãe. — Seus olhinhos são brilhantes, meu
coração se aquece.
— Você que é moranguinho — a loira diz apertando as bochechas de Mia e elas
começam uma conversa entre elas.
— Eu disse pra você que elas se deram bem.
— Não sei se minha filha tem a mentalidade de uma adulta ou se sua filha tem a
mentalidade de uma criança — falo observando a situação peculiar, Arthur ri baixo.
— Não se engane com esse rostinho angelical, Ellie me apronta poucas e boas, mas é o
que lhe disse, ela sempre quis ter uma irmã mais nova para brincar de boneca, acho que ela
finalmente encontrou uma.
— Mia sempre quis ter uma irmã mais velha também — confidencio de acordo com que
nos afastamos delas que permanecem em uma conversação animada.

10 DE DEZEMBRO

Me remexo desconfortável na cama pelo menos umas cinco vezes antes de enfim decidir
me levantar da cama, com cuidado para não acordar minha filha.
Faz quatro dias que estou na casa de Arthur, não tenho reclamações a fazer daqui, minha
recuperação está sendo incrível por todo o cuidado que ele tem comigo, já consigo até me
levantar sozinha da cama, mesmo que com alguma dificuldade já vejo uma grande melhora.
Os dias aqui têm sido tranquilos, eu acordo cedo, tomo café da manhã com Arthur,
conversamos e nos beijamos bastante antes dele sair para a empresa, algo que mudou na rotina
dele foi vir almoçar em casa.
Ele chega na hora do almoço todos os dias e se senta a mesa comigo, Mia e Ellie, já
estabeleci uma relação mais amigável com sua filha, ela veio pedir desculpas pelo comentário
besta que fez a nosso respeito no dia em que me viu e me confidenciou que estava muito feliz
por ver seu pai se dar uma oportunidade depois de muitos anos.
Eu pedi desculpas pela cena digna de cinema e depois disso posso dizer que nos
tornamos boas amigas, conheci o namorado dela — sim, o bendito cujo professor da
universidade — e eles já até saíram para passear com Mia durante a tarde.
Abro a porta com cuidado, por sorte ela não faz barulho, a passos curtos e temerosos
caminho até a porta do quarto de Arthur, tive um pesadelo terrível com Jonh, meu ex-marido, e
não consegui mais dormir depois disso com medo de sonhar com ele de novo.
Esperava o encontrar ainda acordado, no jantar ele me disse que ficaria até tarde
revisando alguns contratos, não havia se passado tantas horas assim, então estava tentando a
sorte.
Giro a maçaneta e enfio minha cabeça pela brecha meio sem jeito, minhas bochechas
coram ao ver o homem enorme parado perto da cama seminu, desço meus olhos por todo o seu
corpo, sentindo o calor subir em meu corpo quando fixo o olhar em sua cueca.
— Hm, querida? — a voz de Arthur ressoa baixa, pisco, espantando todos os
pensamentos deliciosos com ele nu na minha frente e ergo meus olhos para encará-lo — Você
está bem?
— H-ãa.
Como uma boa idiota eu gaguejo, sinto vontade de estapear minha cara, “É so um pau,
Samantha, um pau com uma marcação muito bonita, mas ainda assim, só um pau.”
— Eu... — olho para baixo, pensando em como fui besta ao vir ao quarto dele por causa
de um pesadelo — tive um sonho ruim, pensei em ficar um pouco aqui com você, mas se estiver
ocupado eu... — faço menção de ir embora e ele anda até mim quase desesperado.
— Não! — franzo as sobrancelhas — Bem, quis dizer que você pode ficar aqui sim —
ele ergue um dedo e aponta para uma porta à alguns metros dele — eu vou só vestir uma roupa e
já volto, fique aqui rapidinho — ele pega minha mão e me guia até a cama, sento na beirada
esperando-o voltar.
Meus pensamentos vão e volta oscilantes, como minha vida pode ter dado uma virada
de chave tão grande em tão poucos dias? Parecia coisa de filme, se eu fosse criança poderia dizer
até que é o clima natalino.
— Voltei, devidamente vestido agora. — Ouço-o dizer e logo ele aparece vestindo um
pijama de cetim preto.
— A visão anterior era mais interessante — alfineto, mordendo o lábio enquanto o seco
descaradamente.
Eu estava gostando muito dessa nossa fase.
— Certamente sim — sua risada rouca preenche o ambiente — venha, vamos nos deitar
e conversar.
Menos de um minuto se passa até que eu esteja devidamente alinhada ao seu corpo, com
a cabeça em seu peito e embrulhada da cintura para baixo, dedilho os botões transparentes da
camisa, parando para ouvir somente as batidas aceleradas do coração dele.
— Seu coração está batendo rápido — sussurro.
— É o efeito que você causa em mim. — Ele responde sem mais delongas.
Engulo em seco, essa era uma das coisas que eu amava em Arthur, a sua sinceridade, se
ele sentia ou queria algo ele simplesmente dizia, sem enrolação, sem papo furado, curto e direto.
— Deixei você sem palavras?
— Deixou — rio, me aninhando mais a ele — você sempre me deixa sem palavras,
Arthur.
— Fico feliz que tenha vindo me ver, pra conversarmos — ele beija o topo da minha
cabeça, inspiro fundo, sentindo seu cheiro cítrico, estava apaixonada por esse perfume.
— Precisava me sentir segura, quando estou com você sei que nada de ruim vai me
acontecer.
— E nunca mais vai se sentir de outra forma, no que depender de mim — me afasto dele
e ergo a cabeça.
— O que quer dizer?
— Os últimos dias tem sido bons, fazia anos que não voltava para casa almoçar, sabia?
— Sua filha comentou comigo.
— Eu tentei resistir e não vir, mas o pensamento de você, Mia e Ellie almoçando
sozinhas me assombrou.
— E isso não tem nada haver com fato de você ficar me beijando depois? — ergo uma
sobrancelha brincalhona.
— Bom, não posso mentir e dizer que seus beijos não são um bom incentivo. — Ele diz
rindo, toco seu peito me apoiando nele.
— Confesse que está viciado nisso tanto quanto eu. — Peço olhando dentro dos seus
olhos.
— Estou muito mais viciado que você, Samantha, a todo momento me imagino com
você, faz anos que não me sinto tão feliz assim.
Lambo os lábios, nervosa com o rumo da conversa.
— Não quero que isso acabe, eu gosto de ter você aqui. — Ele toca meu rosto com
carinho.
Posso sentir as batidas do meu coração em todo o meu corpo de tão ansiosa que estou.
— Gosto de estar com você também, e nossas filhas, apesar da diferença de idade se dão
muito bem.
— Ellie está radiante, e dessa vez bem é por aquele idiota do Christian. — Ele faz uma
careta, gargalho.
Arthur é muito ciumento, não sei como Ellie conseguiu namorar.
Me aninho ao seu lado outra vez, sentindo meu corpo cansado.
— Ellie comentou que o aniversário de Mia está chegando.
— Ela nasceu dia 25 de dezembro, acredita?
— Sério?
— Sim, por isso ela fica tão empolgada para o Natal.
— Faz sentido.
— Ela foi a realização de um sonho que aconteceu no Natal, por isso é tão mágico para
nós duas, Mia é meu presente. — Digo abrindo a boca com sono, Arthur passa o braço por meus
ombros.
— O que ela gosta de fazer no aniversário/Natal?
— Mia gosta de decorar a casa, comprar árvore, montar árvore, fazer doces temáticos,
pendurar meias perto da lareira, colocar sinos nas portas, essas coisas, ela acredita fielmente no
papai Noel então sempre fica esperando os presentes.
— Ela deve amar receber vários presentes.
— Desde que me separei ela passou a ganhar dois, um de Natal e outro de aniversário,
então fica mais animada.
— Por que ela não ganhava dois antes?
— Jonh não achava necessário por isso só me deixava comprar um.
— Lamento muito o que vocês duas passaram.
— Eu também.
CAPÍTULO 7
ARTHUR CARTER
12 DE DEZEMBRO

— Essa aqui não é tão grande, precisamos de uma bem maior — é o que a garotinha diz
ao vendedor após ele nos mostrar outra árvore de Natal, ele assente cabisbaixo e prossegue a
busca.
Depois de ter conversado com Samantha, e ter tido a dimensão de como o pai de Mia
era um bosta com a própria filha decidi vencer meus traumas e fazer uma criança feliz.
Mia é uma boa garotinha, não merece um pai como o que tem nem em um milhão de
anos, meu coração se partiu ao ouvir que ele só lhe dava um presente por pura ruindade.
Não podia apagar as memórias ruins que ela teve, mas posso lhe ajudar a ter memórias
boas desse momento, então decidi que decoraria minha casa para o Natal para que ela ficasse
feliz, não falei nada para Samantha, vou deixar com que ela tenha uma surpresa ao ver as coisas
que estou comprando chegarem na mansão.
— Senhor Arthur, senhor Arthur, eu achei a árvore perfeita — a voz infantil animada
enche meus ouvidos, guardo o celular no bolso e caminho até onde ela está.
— Uau, é uma árvore enorme mesmo.
— Sua casa é muito grande, essa vai ficar linda — ela faz uma espécie de dança na
frente da arvore, não contenho a vontade de rir com a cena.
— Certo, então agora falta o quê?
— Os enfeites e as meias, pro papai Noel poder encontrar a gente na sua casa, eu quero
ganhar os meus presentes, de Natal e de aniversário. — Ela abre um sorriso enorme ao falar dos
presentes.
A dorzinha em meu coração volta com tudo, engulo em seco.
— Você vai fazer quantos anos? — ela faz uma expressão pensativa, então ergue os 10
dedos da mão e tira um, seu rosto é tomado por um biquinho fofo.
— Nove? Vai fazer nove anos?
Anoto a idade mentalmente para poder lhe fazer uma surpresa.
— Sim, senhor, nove anos comendo muito bolo de morango. — Ela pega na barriga
gulosa.
Nunca tinha visto uma criança levar um doce preferido tão a sério quanto ela, todos os
dias eu levava bolo de morango para ela da confeitaria em frente à empresa, sempre esperava ela
dizer que estava enjoada de comer só aquilo, mas a menina sempre me surpreendia comendo
toda a faia sozinha.
— Não tenho dúvidas, vamos na outra loja comprar o que falta — olho o relógio em
meu pulso, nessa brincadeira perdi uma manhã inteira de trabalho para fazer compras — sua mãe
deve estar quase para ligar.
— Mamãe vai ter que esperar, ela sabe que as compras de Natal demoram. — Balanço a
cabeça rindo.
— Qual seria o seu presente perfeito, Mia? — paro a garotinha no meio do caminho, ela
franze a testa, então reformulo a pergunta — O que você mais gostaria de ganhar?
Ela não pensa muito, então imagino que o sonho seja antigo.
— Sempre quis ter um aniversário de princesa, um baile igual dos meus desenhos — ela
fala já abrindo um sorriso gigante, observo a janelinha em sua boca — seria incrível.
— Um baile de Natal? — sugiro como quem não quer nada, ela assente animada e
começa a dar mais detalhes.
— Sim, com vestidos grandes e um bolo de morango bem grande....
Passamos mais três horas entrando e saindo de várias lojas até que Mia comprasse tudo
o que achasse necessário para um Natal perfeito, não fazia ideia de que uma criança de oito anos
pudesse ser tão exigente, estava acostumada com Ellie e seus caprichos durante a adolescência,
não antes disso.

...

— Meu Deus, o que vocês fizeram aqui? — Samantha pergunta olhando assustada para
a quantidade de caixas espalhadas pela sala.
— Compras de Natal, mamãe — Mia logo nos entrega, coço a barba enquanto vejo a
garotinha abraçar as pernas da mãe e carrego outra caixa até a sala principal onde está a árvore
— O senhor Arthur comprou uma árvore enorme mamãe, vem ver, foi eu que escolhi, tá
vendo como é linda? Compramos muitos enfeites, ai eu tô tão animada...
— É enorme mesmo, meu deus, Arthur por que fez isso? Sei que... — a silencio colando
meus lábios nos seus, ela fica tensa por um momento, mas logo relaxa, lhe dou somente um
selinho por Mia estar junto conosco.
Os olhos graúdos estão cheios de lágrimas, limpo o canto de seus olhos com o polegar e
respondo:
— Queria deixá-las felizes, sei que o Natal é muito importante para vocês duas e...
— Você é o melhor não namorado do mundo — ela joga seus braços ao redor do meu
pescoço, rio contra o topo de sua cabeça e respiro fundo inalando o cheirinho de morango do
shampoo de Mia.
— Não namorado? Precisamos resolver isso, srta. Jones, mas creio que terá de ser em
outro momento pois temos uma casa para decorar.
— Vamos precisar de muita, muita ajuda — é o que ela diz quando se separa de mim e
olha as diversas caixas espalhadas no chão.
— Já chamei nossos reforços, querida.

...

— Docinho, você vai cair desse jeito — Ellie berra em meus ouvidos quando seu
namorado quase caí colocando o festão envolta da árvore com Liam — Papai, vá ajuda-los antes
que caiam — pede chorosa para mim.
— Se ele cair será pouco perto de toda a raiva que me fez passar — respondo entre risos
pendurando uma bola vermelha na árvore.
— Não seja rancoroso, é Natal e eu estou feliz —ela faz um biquinho que não me
comove — vou ver minha madrastinha favorita que é melhor. — Revira os olhos e vai
emburrada até a cozinha onde Samantha está contra minha vontade fazendo biscoitos com a
cozinheira.
Estico minha coluna, antes de carregar outra caixa com enfeites para pendurar na árvore,
o grande salão está 50% pronto, os funcionários estão decorando o restante da casa com a ajuda
de uma equipe especializada, afinal não daríamos conta de fazer tudo sozinhos, então pedi que
deixassem somente a sala e a lareira para nós seis.
— Senhor Arthur, olha o que eu achei — a garotinha corre até mim carregando um
enfeite que não me é muito estranho.
Abro a boca sem palavras quando confirmo que é a estrela enorme que eu montava com
Ellie, quando ela era uma menininha, ela estava perdida fazia muitos anos.
— Onde você encontrou isso?
— Dentro da lareira — ela diz como s fosse óbvio, dobro a cabeça para enxergar o
local.
— Meu Deus — rio, tateando o objeto com grande valor sentimental para mim, essa
estrela foi feita por meu bisavó e vem sendo usada de geração em geração, mas em nosso
segundo natal nessa casa eu não a encontrei mais.
— Mia, você é incrível! — seguro-a no colo e a rodopio no ar, não podendo conter a
felicidade que há dentro de mim.
Pode parecer uma coisa besta, eu sei, e talvez seja mesmo.
Não tem a ver com dinheiro e sim com todas as histórias que o objeto carrega, é como
voltar ao passado e revivê-lo. Me permito fechar os olhos por um momento e deixo que as
lembranças bombardeiem minha mente.
Meus pais montando a árvore comigo criança, os presentes, os risos, a comida, o tempo
passando, eu começando a namorar, o primeiro natal de Mary com minha família, logo depois
nosso primeiro natal como família, as incontáveis vezes que sorrimos debaixo da estrela gigante,
minha esposa grávida, Ellie nascendo e crescendo, eu a carregando para posicionar a estrela no
Topp em todos os natais, até que Mary morreu e eu me perdi no significado de tudo o que
vivemos nessa data.
As lagrimas rolam sem minha permissão.
— Senhor Arthur, o senhor está bem? — Sinto a mão miúda enxugar minhas lágrimas,
abro os olhos e sorriu para ela.
— Está tudo bem, está tudo bem, Mia.
— Então por que está chorando? Não gosto de ver o senhor chorando. — Sua voz saí
baixa e ela analisa meu rosto.
— Estou chorando porque estou feliz, eu...— abro um sorriso bem grande — estou
chorando porque a magia do Natal voltou.
A vibração de felicidade em meu peito parece que vai explodir, como pude passar tantos
anos sem me lembrar do real significado de tudo isso aqui?
Olho para Christian e Liam enrolando os últimos festões no topo da árvore engatados
em uma conversa, Samantha aparece andando em minha direção com uma bandeja cheirando a
biscoitos recém assados, Ellie carrega uma bandeja cheia de copos com uma carranca.
Minha família é a magia, sempre foi.
Os momentos mais simples são os mais importantes.
A magia não acabou em minha esposa, ela acabou em mim por ter perdido a esperança,
por não estar dando valor aos bons momentos de alegria que tenho com minha filha, com meu
genro, com Liam que é quase como da minha família, com Samantha que está a tão pouco tempo
em minha vida, mas já fez tanta diferença, e a Mia que tem sido o complemento para tudo ficar
perfeito.
— Desçam daí e venham comer biscoitos com chocolate quente — minha não namorada
diz, ando até ela com um sorriso de ponta a ponta, tiro a bandeja de suas mãos.
— O que você está fazendo...
Tomo seus lábios com um beijo, as lágrimas rolam em meu rosto, porque durante
muitos anos me senti preso, me senti infeliz, principalmente nessa época natalina, não conseguia
enxergar felicidade com tamanha tristeza em meu peio, mas Samantha era a minha luz, a luz que
me guiava para longe da escuridão.
— A magia voltou querida, eu entendi o verdadeiro significado da magia do Natal.
CAPÍTULO 8
SAMANTHA JONES
25 DE DEZEMBRO

Arthur fez um baile de Natal para Mia em homenagem ao seu aniversário.


Não consigo conter às lágrimas ao ver o grande salão cheio de pessoas, Arthur convidou
funcionários da empresa, amigos seus, eu convidei alguns conhecidos e vários amiguinhos de
Mia, já que o sentido da festa era ela...
— Estou nervosa. — Confidencio ao homem que estou apaixonada quando o sinto parar
atrás de mim.
— Por quê? — meus pelos se arrepiam quando ele cheira meus cabelos.
— Todos vão saber que estamos juntos hoje, tenho medo das...
— Não vou permitir que nenhum deles a machuque.
— Eu sei que não, minha preocupação não é essa, é só que...
O que será de nós dois depois dessa Natal? É o que sinto vontade de perguntar, mas me
calo.
Arthur e eu confessamos nossos sentimentos um ao outros alguns dias atrás, eu pensei
que após dizer a ele que estou apaixonada por ele, no mínimo ele fosse me pedir em namoro, ou
algo do tipo.
Tudo bem que ele não me renegou, pelo contrário, Arthur faltou gritar aos quatro ventos
o quanto estava apaixonado por mim.
Foi um momento único, intenso e que eu guardaria para sempre em minha memória,
mas agora que já entreguei meu coração a ele preciso saber o que iremos fazer após tudo isso
Afinal, minhas costelas já estão quase 100% curadas, já posso andar e fazer a maior
parte das coisas sozinha.
— Olhe para mim, querida — Respiro fundo pelo menos duas vezes antes de fazer o
que ele pede — Sabe o sorriso lindo que eu dou quando acordo de manhã? — assinto — você é a
única razão dele aparecer.
— Eu...
— Eu amo você — ele diz baixo, aproximando seu corpo do meu — eu sei que o que
temos é recente, você ainda não me conhece por inteiro, tenho manias que talvez a façam brigar
comigo muitas vezes, não sou o melhor homem do mundo, sei disso, mas estou disposto a buscar
o melhor em mim para dar a você.
Lágrimas e mais lágrimas caem de meus olhos.
— Também ano você, querido.
— Não posso lhe pedir em casamento, por que você ainda precisa conhecer mais
defeitos meus, — coloco a mão na boca, o riso se misturando com o choro — mas quero lhe
pedir em namoro nesse 25 de dezembro, porque você, Samantha Jones, me fez voltar a vida outra
vez, você e a pequena Mia me ensinaram a verdadeira magia do Natal.
Mia e Ellie estão paradas bem atrás dele, a mais velha fala “vai madrastinha” sem emitir
som, e a mais nova bate palmas.
— Eu aceito, é claro que aceito — passo meus braços ao redor de seu pescoço — Você,
Arthur Carter, me fez ver que o amor que ainda existem amores lindos, cheios de respeito e
companheirismo, um amor que cuida e não machuca.
Arthur me puxa para um beijo suave.
— Finalmente posso chamá-la de minha. — Ele contra meus lábios.
— Fui sua desde o instante em que cuidou de mim.

...

— Vamos abrir os presentes, vamos abrir os presentes — Mia corre animada até a
árvore de Natal.
Todos os convidados já foram embora e restamos só eu, Arthur, Christian, Ellie e Mia
no grande salão.
Arthur e Ellie prepararam mais uma surpresa incrível para a minha garotinha, me aninho
dos braços do meu novo namorado.
— Quem vai me presentear primeiro?
— Primeiro eu.
A filha de Arthur se levanta do colo do namorado, e vai até a mesa e tira quatro caixas
enormes.
— Mia, você é a irmãzinha que eu pedi de presente para o papai Noel, feliz aniversário
e feliz natal. — Ela diz e então abraça minha filha, posso ver a felicidade estampada no rosto das
duas.
Todos nós levantamos e entregamos nossos presentes a ela, sinto vontade de chorar ao
ver que pela primeira vez ela ganhou mais dois presentes, pode parecer algo bobo, mas sei o
quanto isso importa para ela que ainda é só uma menina.
— Agora é a minha vez.
Arthur se levanta e começa a pegar vários presentes e empilhar aos pés de Mia.
— Você está completando 9 anos né?
— Sim, senhor Arthur.
— Certo, meu pai tem uma tradição — ele olha para mim e ergue as sobrancelhas —
quando uma criança completa 9 anos temos que dar 9 presentes para ela, como é Natal — ele
sorri para ela — precisei lhe dar o dobro, comprei 18 presentes para você, Mia.
— Meu Deus, Meu Deus, obrigada — ela se agarra nas pernas dele e o abraça, o sorriso
em seu rosto é imenso, e no meu imagino que seja melhor ainda.
— Então, feliz natal a todos nós — Ellie grita animada, e todos nós a seguimos, no final
da noite nos abraçamos
Esse sem duvida alguma é o segundo natal da minha vida, o primeiro foi quando Mia
nasceu e o segundo é esse, onde todos os nossos sonhos parecem ter se realizado.
Afinal, a felicidade do Natal consiste em ter uma casa quentinha, uma comida gostosa
— pode até ser bolo de morango — e ter pessoas que o amam e que você ama ao seu lado.
E nesse Natal eu encontrei tudo isso.
EPÍLOGO
MIA JONES
25 DE FEVEREIRO

Querido sr. Noel, quero agradecer por ter realizado o meu pedido de Natal, minha mamãe está
muito feliz nos últimos meses, muito feliz mesmo, nós nunca mais precisamos ir ao hospital e eu
nunca mais vi o meu papai mal e isso é bom, acho que o senhor Arthur brigou com ele e ele foi
embora.
O senhor Arthur, a quem eu secretamente chamo de pai, é tudo o que eu pedi na cartinha
anterior, ganhei uma irmã de brinde também, obrigada por realizar o desejo que não estava no
papel, sr. Noel.
Pro Natal desse ano o senhor podia me trazer um irmãozinho né? Por favorzinho.
Com amor, Mia Jones
AVALIAÇÃO

Espero que sua leitura tenha sido incrivelmente agradável e maravilhosa. Entretanto se
por algum motivo isso não aconteceu eu sinto muito, e espero poder conseguir conquistar seu
coração em algum outro livro muito em breve.
Agora, é a hora que você me contar qual a sua opinião sobre este livro, ficarei muito
grata (e honrada) se você puder avaliar e dar suas estrelinhas, é muito, muito importante.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por me permitir escrever e publicar o último


lançamento de 2023 com sucesso.
Caro leitor, se você está lendo isso, meu segundo agradecimento é a você, obrigada por
dar uma chance a história de Arthur, Samantha e Mia, espero que você tenha gostado e sentindo
as várias emoções desse casal tão lindo.
E em terceiro lugar, mas não menos importante, agradeço a todos que me ajudaram de
alguma forma durante meu processo de escrita e lançamento, guardo todos vocês no meu
coração.
Até 2024, com carinho, Amberly.
SOBRE A AUTORA

Amberly Bertucci nasceu em 2003, e tem 20 anos, sonha com a faculdade de letras e
psicologia, descobriu o mundo dos livros com 12 anos de idade, começou a escrever aos 14 anos
no wattpad, seu primeiro livro foi “Querido papai” a primeira edição foi lançada em 2019, seu
segundo livro “Quando você partir” lançado em maio de 2023, seu terceiro livro “Rejeitada
Pelo Professor” lançado em outubro de 2023.
Leitora voraz, meio maluquinha e amante de Taylor Swift e Lana Del Rey, cadelinha
master do Adam Carlsen, Maxon Schereave e Rhysand.
Bem-vindos ao mundo maluco de Amberly!

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