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Copyright © 2019 por Tamires Barcellos

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Capa: Dri K. K.

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas


terá sido mera coincidência.
Sinopse
Gosto de pensar que sou um homem livre, um verdadeiro solteirão e nada nunca abalou essa minha
convicção. Veja bem, aos trinta anos, bem-sucedido, com tempo livre para sair, curtir e transar, a
palavra “relacionamento” pode ser tão fria quanto um iceberg ou tão ruim quanto a própria morte.
Sem contar que, sabemos, romance, amor e paixão, são verdadeiras baboseiras. Um casamento é
muito lindo na hora do sim, mas, depois do sim? A palavra “divórcio” brilha tão forte quanto o sol
no verão do Rio de Janeiro. Sem contar as traições, que, convenhamos, não existiriam se as pessoas
não se escondessem atrás de um amor falso.
É por isso que sou totalmente contra a qualquer tipo de relacionamento sério. Sexo é muito bom,
mas fica melhor ainda quando se pode ir embora na manhã seguinte sem ressentimentos ou cobranças.
Foi para isso que nasci — sim, nasci, pois se falar que fui criado para isso, mamma me corta a
cabeça — e estava muito bem com a minha vidinha do jeito que era, até Alice Carvalho aparecer em
meu caminho e me desestabilizar completamente. Nem se eu pudesse, conseguiria explicar o que
senti quando a vi pela primeira vez e quando, inesperadamente, ela reapareceu em minha vida.
Por isso, soube que precisava tê-la em minha cama, mas ela disse “não”. E persistiu no “não”.
Mas eu estava louco para ouvir um “sim” e, em meio ao desespero, fiz algo impensável: prometi a
ela que, se aceitasse ficar comigo, poderíamos passar um tempo tendo sexo casual, sem nos
envolvermos com outra pessoa. “Ficantes fixos”, nomeei.
Não, não era um relacionamento. Não tinha nada de romantismo. Era apenas dois adultos se
encontrando algumas vezes por semana para fazerem sexo.
Mesmo assim, nunca pensei que essa inocente proposta poderia promover uma morte... A minha
morte.
A morte de um solteirão.
Prefácio ou Prólogo
(ainda não sei exatamente qual dos dois é o certo)

Por mim mesmo, Romeo Benvenuto


Corajoso aventureiro que vai embarcar nessa loucura comigo, primeiramente, preciso deixar claro
que estou escrevendo isso em tempo real. Não sei se você vai entender o que quero dizer, mas vou te
explicar. Estou, neste exato momento, sentado no sofá da minha sala, com o meu notebook no meu
colo. Eu sei que o ideal seria eu estar no escritório, sentado na cadeira cara e extremamente
confortável que a minha esposa comprou quando decoramos a casa, com uma xícara de café ao meu
lado, mas eu odeio café. E também odeio ambientes formais. Por isso, estou sentado no meu sofá,
muito confortável, usando apenas um short e com o cabelo despenteado...
— Não precisa descrever como você está.
Minha mulher acabou de me dizer isso. E, sim, estou escrevendo aqui o que ela disse, porque,
como eu falei lá em cima, estou escrevendo tudo em tempo real.
— Leu isso? Estou escrevendo em tempo real — acabei de falar isso para a minha mulher e, sim,
eu coloquei uma entonação grave na palavra “real”.
— Você é maluco — ela riu.
Devo ser sincero com vocês, demorei exatamente dois minutos para voltar a digitar, porque fiquei
olhando para o sorriso dela como se eu fosse um idiota.
— Você é fofo. — Ela acabou de ler o que escrevi e me respondeu isso. — Vou parar de falar para
você poder escrever em paz. — Ela disse isso também e eu assenti.
— Obrigado, bella.
Voltando...
Não sou um escritor. Sei que você deve estar em choque, até porque, acabou de comprar esse livro
— espero mesmo que você tenha comprado, se está apenas folheando na livraria ou lendo uma
amostra do e-book, por favor, compre, porque serei pai daqui a alguns meses e preciso terminar de
pagar o berço e comprar fralda —, mas não sou um escritor. Talvez eu seja um aspirante a escritor ou
apenas um cara corajoso, mas eu precisei escrever esse livro, porque eu sei que a minha história
daria um puta best-seller.
Até porque, não é todo dia que um solteirão convicto se apaixona...
— Na verdade, isso acontece muito. É o clichê mais clichê de todos os tempos — minha mulher
acabou de dizer isso. Sim, estou olhando para ela com os olhos arregalados e a boca aberta.
— Está dizendo que a nossa história é um clichê?
— Sim, a nossa história é um clichê.
— Nada disso! Assim você me ofende!
— Amor, o cara avesso a relacionamentos, que acaba se apaixonando... Essa é a fórmula exata
para um clichê — ela riu.
Vamos fingir que ela nunca disse isso. Vamos fingir que ela acabou de falar que a nossa história é
incrível, inédita e que você, caro leitor, nunca, jamais, leu algo parecido na vida.
— Então você vai enganar os seus leitores? — Ela acabou de me perguntar isso.
— Bella, você não está me ajudando. Você não disse que ia ficar quieta para que eu pudesse
escrever?
— Está bem, não falo mais nada, juro. Só avisa a eles que eu também vou escrever alguns
capítulos desse best-seller.
Vocês leram, não é? Sim, ela vai escrever algumas partes, mas as melhores, são as minhas.
— Como você é idiota — ela acabou de falar isso, rindo de mim.
Voltando...
Essa história é diferente. Não, eu juro, é diferente mesmo. Eu sei que não tenho mais credibilidade
alguma depois do que a minha esposa falou, mas você precisa me dar um voto de confiança. Aliás,
foi exatamente por isso que decidi escrever esse prefácio/prólogo, para que você já comece a leitura
sabendo que vai entrar de cabeça em uma história incrível, com um protagonista gostoso — eu
mesmo —, uma protagonista gostosa — a minha esposa — e um amor que matou o solteirão que eu
era.
Passei a minha vida prometendo a mim mesmo que nunca, jamais, iria me apaixonar. Você entendeu
isso quando leu a sinopse, mas, é sério, eu tinha esse pacto comigo mesmo, até essa mulher linda que
está sentada ao meu lado, aparecer em minha vida e virar tudo de cabeça para baixo.
Então, eu decidi que tinha que compartilhar essa história. Eu era um solteirão, um pegador, um...
— As pessoas já entenderam, Romeo!
Minha esposa acabou de cruzar os braços, arqueando uma sobrancelha. Estou sorrindo feito um
idiota.
— Está com ciúmes, bella?
— Claro que não.
— Amor, não fica assim... Quando eu terminar aqui, vou colocar você sentadinha na minha cara e
te lamber até você gozar.
— Pelo amor de Deus, Romeo! Apaga isso!
Desculpa, mas acabei de gargalhar, porque ela sempre fica um pouco chocada com a minha boca
suja. Você também vai ficar, aliás — mas não desista da leitura por causa disso!
Enfim, acho que isso aqui já está ficando longo demais e eu tenho um orgasmo para dar a minha
esposa. Agora que já te convenci a comprar esse livro incrível que eu estou prestes a escrever, não
esqueça de comprar também uma caixa de chocolate, porque, segundo a minha esposa, Romeo e
chocolate é uma combinação irresistível.
— Meu Deus, Romeo... — Ela acabou de balançar a cabeça, mas está sorrindo.
Ela sabe que é verdade.
E você também saberá, porque sei que está indo agora mesmo em direção ao caixa para comprar
esse livro — ou clicando em “comprar” no seu site de e-book favorito. Sim, aquele que começa com
a letra A e termina com Mazon.
Te vejo nas próximas páginas. Se prepare para dar boas gargalhadas, sentir um tesão da porra e,
quem sabe, soltar algumas lágrimas.
Não diga que eu não avisei.
Capítulo 1
Acho que eu estava sonhando.
Conseguia ver o céu azul e sem nuvens, enquanto sentia o vento no rosto. A única coisa que
passava pela minha cabeça, era que a minha vida era boa e eu era o cara mais feliz do mundo. Ao
longe, vi Bob, meu cachorro, correndo e tentando pegar uma borboleta. O filho da mãe não podia ver
nada voando que já achava que era um brinquedinho particular. O chamei e ele me olhou com a
língua para fora e a respiração ofegante, correndo em minha direção segundos depois.
Arrependi-me imediatamente de ter o chamado. Bob era um Golden Retriever enorme, que pesava
mais de 30kg e não tinha a menor ideia de como ser delicado. Correndo em disparada em minha
direção, eu já podia sentir o impacto do seu corpo peludo de encontro ao meu abdome e me preparei,
fechando os olhos, mas o seu impacto foi mínimo. Senti seus pelos macios, um cheiro doce bem
esquisito e um beijo no V pronunciado no meu quadril.
Quando senti uma lambida na cabeça do meu pau, abri os olhos e me sobressaltei. Eu sabia que
Bob era um cão que adorava espalhar beijos por aí, mas, no meu pau?
Que porra é essa, Bob?
Sobressaltado, sentei-me e precisei piscar com força, enquanto levava a mão entre as minhas
pernas. Quando meus dedos seguraram uma massa de cabelos ruivos, franzi o cenho e levei dois
segundos para me situar. Ok, tinha sido um sonho mesmo — grazie a Dio! Eu estava no meu quarto,
com o ar condicionado ligado na potência máxima, as cortinas fechadas, os lençóis desgrenhados e
tinha uma bela ruiva lambendo o meu pau como se fosse um sorvete.
Puta merda, que visão!
— Bom dia — ela ronronou como uma onça no cio, antes de abocanhar o meu pênis que tinha uma
puta ereção matinal.
— Muito bom dia... — respondi, recostando-me contra a cabeceira da cama enquanto olhava e
sentia o trabalho bem feito daquela boquinha.
Pelo menos meu sonho tinha tido alguma coisa de real.
A vida era boa mesmo.
Não, a vida era maravilhosa!

A ruiva — que depois do sexo matinal eu descobri que se chamava Larissa — deixou a minha casa
depois de termos tomado café da manhã. Sim, eu sabia muito bem qual era a fama de um pegador,
parecia que não tínhamos sentimentos e que éramos uma pedra de gelo, mas isso não era verdade. Eu,
por exemplo, tinha um lema: alimentar antes de comer. Ok, às vezes eu invertia um pouco a ordem,
como foi o caso dessa manhã, mas sabia que comida era indispensável.
Como filho de uma italiana nata, cresci no meio de muita fartura e me incomodava um pouco
quando não alimentava quem estivesse comigo. Não era um chef de cozinha ou algo do tipo, mas
garantia que tivesse algo com sustância para dar às mulheres que passavam a noite em minha casa.
Arrumei a cozinha e guardei na geladeira os frios que havia usado para fazer alguns sanduíches.
Estava terminando de lavar a louça, quando ouvi as patas de Bob batendo contra o piso de madeira
da cozinha. Ele me olhou com aquela língua enorme para fora e uma expressão de quem sabia muito
bem o que eu tinha feito na noite passada.
— Sonhei que você estava lambendo o meu pau — falei para ele, enquanto guardava a xícara no
armário em cima da pia. — Eu sei que você tem mania de lamber as suas bolas, mas fique longe das
minhas, certo? Foi só um sonho, Bob!
Ele resmungou com desdém, como se deixasse claro que o meu pau não o interessava em nada e eu
sorri, coçando as suas orelhas.
— Quer passear? — perguntei. Podia jurar o que o filho da mãe me deu um sorriso enquanto seu
rabo balançava para lá e para cá. — Vou só tomar uma ducha e vamos correr.
Fui para o meu quarto e, antes de seguir para o banheiro, dei uma olhada no celular. O grupo da
minha famiglia no WhatsApp já tinha mais de 50 notificações, o que deixava claro que eles já
estavam planejando o almoço do dia seguinte. A Famiglia Benvenuto tinha uma tradição: almoço de
domingo. Era o dia que todo mundo se reunia em volta da mesa para comer uma boa refeição italiana.
Normalmente, o almoço era feito na casa de mamma. Ela acordava bem cedo e, junto com as
minhas tias, preparava um verdadeiro banquete — o que não era um exagero da minha parte. Para
alimentar mais de trinta pessoas, era preciso mesmo um banquete e comida de sobra.
Coloquei uma figurinha de bom dia e minha mamma logo respondeu com um coração, enquanto
meus primos me zoavam. Era sempre assim. Mamma era carinhosa ao extremo, o que fazia com que
meus primos tivessem um prato cheio contra mim. Eu nem ligava, pois amava minha mamma acima
de qualquer coisa.
Larguei o celular e tomei uma ducha rápida, tentando me lembrar de como consegui chegar em
casa na noite anterior, com uma ruiva à tira colo. Pablo, um dos meus amigos, havia feito uma festa
em seu apartamento e o lugar estava cheio do que eu mais amava na vida: mulheres. E bebidas. Mas
as mulheres, com toda a certeza, vinham acima das bebidas. Conseguia me lembrar que beijei mais
de uma boca na noite anterior e dei uns amassos no corredor perto do banheiro, mas, depois disso, só
me lembrava do boquete espetacular que recebi essa manhã, o que era péssimo. Odiava não ter
recordações do que eu havia feito com uma mulher entre os lençóis. O que me confortava, era a
expressão de prazer no rosto da ruiva, prova de que eu havia trabalhado direitinho entre as suas
pernas.
E o fato de ela ter ido embora logo após o café da manhã, sem reclamar e sem dar um jeitinho de
deixar o seu número de telefone, também provava que, mesmo bêbado, eu havia deixado claro que
seria apenas uma noite e pronto. A melhor parte de ser sincero é que, mesmo embriagado, a gente não
se esquece de esclarecer alguns pontos antes de levar uma mulher para a cama.
A fama de cafajeste me perseguia, mas eu sinceramente não entendia o porquê. Cafajeste, na minha
opinião, era um homem que enganava e enrolava mulheres para poder levá-las para cama. Eu era
exatamente o oposto, deixava tudo bem claro antes de transar. Não mentia, nunca. Nem fazia
promessas que eu jamais iria cumprir. Se queria ficar com uma mulher, chegava, conversava, beijava
e, antes de darmos o próximo passo, deixava bem claro que seria apenas naquela noite, sem
trocarmos telefone, sem nos encontrarmos novamente.
Claro que, às vezes, o sexo era tão bom que eu queria repetir e acabava pedindo o número de
algumas delas no dia seguinte, mas, quando mandava mensagem, deixava claro que iríamos apenas
transar. Até levava para jantar — pois, como eu disse, meu lema era alimentar antes de comer —,
mas, depois, passávamos mais uma noite juntos e pronto. Óbvio que, querendo ou não, algumas
acabavam nutrindo esperança de algo mais e era daí que surgia a minha fama de cafajeste.
Porque a culpa era minha, se eram elas que nutriam esperança quando eu deixava bem claro que
não iríamos ter nada mais do que sexo? Por que eu que tinha que levar a fama de ser o safado da
história?
Eu era apenas um homem solteiro, livre, que não queria ter um relacionamento sério. Não queria
nada dessa baboseira de amor, paixão e etc., mesmo assim, eu acabava sendo o vilão da história.
Era um pouco injusto, tinha que admitir, mas não deixava que isso me abalasse, muito pelo
contrário. Às vezes, ser o “cafajeste” tinha o seu lado bom, por exemplo, quando uma mulher está à
procura de um relacionamento e sabe da minha fama, acaba fugindo, o que me livra de uma baita dor
de cabeça. Como dizia minha mãe, há males que vem para o bem.
Assim que fiquei pronto, peguei a guia de Bob, as chaves do carro e saí com ele em meu 4x4 cinza
chumbo. Meu cão, que adorava andar de carro, se acomodou no banco traseiro e colocou o rosto para
fora, deixando o vento bagunçar seus pelos claros. Eu quase conseguia ver a sua cabeça balançar ao
ritmo da música que tocava na rádio. Minha casa ficava em um condomínio residencial na Gávea,
mas Bob e eu adorávamos correr no calçadão de Copacabana, por isso, dirigi até lá pelas ruas
calmas naquele sábado de manhã.
Assim que encontrei uma vaga, estacionei e saí do carro com Bob, que olhava para tudo
avidamente. O calçadão estava cheio, o dia estava bonito e sem nuvens e Bob e eu começamos a
correr. Ele era um bom cão, educado, apesar de ser afobado e a corrida que fazíamos algumas vezes
por semana o ajudava a gastar um pouco da energia que ele acumulava. Não pude deixar de notar os
turistas, que, em sua maioria, falavam inglês e também em uma família que passou por mim com um
carrinho duplo que acomodava um casal de gêmeos.
Ver as crianças fez o meu coração se apertar. Estava com saudades dos meus Pestinhas — apelido
carinhoso que dei aos meus sobrinhos gêmeos de cinco anos. Eles eram bagunceiros ao extremo,
falavam pelos cotovelos, já haviam quebrado alguns vasos da minha mãe jogando bola na sala, mas,
mesmo assim, eram crianças maravilhosas, que eu amava muito. Tinha certeza de que não seria pai,
por isso, me doava completamente aos meus sobrinhos e a Giulia, minha sobrinha de 17 anos, que era
irmã deles. Também amava os filhos dos meus primos. Como havia dito, minha família era enorme e
o que não faltava eram crianças.
Depois de percorrermos uma boa parte do calçadão, paramos em nosso quiosque favorito. Ao
fundo, Seu Emanuel nos viu e veio correndo falar conosco.
— Quem é vivo sempre aparece! Nem me lembro mais qual foi a última vez que vocês vieram
aqui, rapazes — Seu Emanuel disse, rindo e afagando a orelha de Bob, que se sentou com a língua
para fora ao meu lado.
— Viemos aqui no último sábado, Seu Emanuel.
— Ou seja, há muito tempo. Duas águas de coco?
— Por favor.
Ele se afastou e eu me sentei em uma das cadeiras livres, com Bob ao meu lado. Como estava
acostumado a fazer aquele passeio com ele, deixei sua guia ao lado do pé da mesa e olhei para o mar
azul escuro de Copacabana. O visual era exuberante, parecia uma pintura de tão perfeito.
— Aqui, uma água de coco para você — Seu Emanuel se aproximou, colocando um coco sobre a
mesa. — E uma para você, Bob.
Bob se inclinou e deu uma lambida no rosto de Emanuel, antes de se abaixar e começar a beber a
sua própria água de coco. Meu cão era muito abusado. O coco dele estava aberto na metade e ele
bebia a água gelada como se fosse um chope que deveria ser apreciado. Nessas horas, ele
simplesmente fingia que eu nem estava ali, completamente concentrado em beber o líquido todo e
refrescar a garganta. Eu aproveitava esses minutinhos de paz para me refrescar também e olhar em
volta, apreciando à vista e as mulheres. Não me julguem, era mais forte do que eu.
Uma mulher linda entrou no quiosque e eu a reparei sob os meus óculos de sol. Usava uma canga
amarrada na cintura e a parte de cima do biquíni mostrava que seus seios eram lindos. Fiz de tudo
para não os encarar por mais tempo do que o necessário e subi para o seu rosto, os lábios eram finos,
as sobrancelhas muito arqueadas, mas, no geral, era bonita. Fiquei me perguntando se valeria a pena
me levantar e perguntar o seu nome, talvez usar o Bob para fazer um charme a mais, mas foi só
pensar no meu cachorro que ele despertou e simplesmente saiu correndo.
Eu ainda fiquei alguns segundos sentado, sem reação, mas quando o vi ir para o meio do calçadão,
despertei do susto e saí correndo atrás dele e gritando seu nome. Por ser um cachorro grande, o
pessoal simplesmente abriu espaço ao invés de tentar segurá-lo e eu, mesmo tendo um ótimo
condicionamento físico, quase morri para alcançá-lo. Estava quase perdendo a voz quando vi, a
poucos metros a minha frente, uma mulher parar de correr e tentar cercá-lo. Meu cão, que não era
bobo nem nada, foi de encontro a ela e eu pressenti, antes mesmo de ver, o estrago que ele estava
prestes a causar.
Ele deu um impulso com as patas traseiras e pulou em cima da mulher, jogando-a no chão. Eu
ainda pensei em fechar os olhos e fingir que eu não era dono daquele monstrinho, mas logo desisti da
ideia ao ver a cara de dor que a mulher estava fazendo. Como que para tentar recompensá-la, Bob
começou a lamber o seu rosto com entusiasmo. Senti um misto de raiva e vergonha daquele cachorro
cara de pau.
— Bob! Meu Deus do céu!
Cheguei perto dele e o puxei pela guia, tirando-o de cima da moça que estava meio sentada, meio
deitada no asfalto quente. Bob sentou-se ao lado das minhas pernas com a língua para fora, todo
ofegante e eu deixei para dar esporro nele em casa. Com sua guia bem segura em uma mão, estendi a
outra para moça e foi só naquele momento que percebi o monumento que estava na minha frente.
Dio mio!
Ela me deu um sorrisinho com cara de dor e agarrou a minha mão para se levantar. Precisei engolir
em seco para conseguir voltar a respirar. Nossa, eu já tinha visto mulheres lindas, mas nada no
mundo se comparava àquela mulher. Deus do céu!
“Bob, muito obrigado!”
— Você está bem? — perguntei, aproveitando a minha preocupação para olhar para ela da cabeça
aos pés. Que corpo, puta merda.
— Sim, estou. Só o meu cóccix que está doendo, mas não é nada demais. — Ela sorriu e, caralho,
que sorriso! Eu parecia um cachorro babão que nem o Bob. — Valeu a pena sentir essa dor para
segurar esse garotão aqui — falou, acariciando a orelha do meu cão.
Sortudo filho da mãe!
— Eu sinto muito, de verdade, não sei o que deu nele. Bob é um cão muito educado na maioria das
vezes.
— Acontece, os cães ficam mais agitados quando veem tanta movimentação — ela disse, voltando
a me olhar. — Ele é um cachorro muito bonito.
— É sim, mas vai levar um esporro quando chegar em casa — falei, dando um olhar mais duro
para o meu cachorro, que estava simplesmente cagando para mim. Só queria saber de olhar para
aquela mulher e eu ao menos poderia julgá-lo. — Qual é o seu nome?
— Alice e o seu?
— Romeo — falei, aproveitando a oportunidade para apertar a sua mão mais uma vez. — Muito
obrigado, de verdade, Alice. E sinto muito pela queda. Tem certeza que não torceu nada? Talvez seja
melhor irmos a um hospital.
“Ou, quem sabe, possamos ir para a minha casa e eu te faço uma massagem...”, pensei, olhando
novamente para o seu corpo, torcendo para ser o mais discreto possível.
Mas não tinha como não olhar. Alice era toda linda. Tinha os cabelos pretos, olhos castanhos,
lábios bem desenhados, sendo o inferior um pouco mais grosso do que o superior. Usava uma roupa
de ginástica, um top preto que deixava claro que, apesar de pequenos, seus seios com certeza
caberiam bem em minhas mãos e uma calça justa no corpo, que desenhava suas pernas grossas.
Linda demais.
— Não, eu juro, está tudo bem. Não foi nada demais — falou com um sorriso, olhando
rapidamente para o relógio. — Sinto muito, eu preciso ir, mas foi ótimo conhecer vocês.
— Talvez possamos trocar nossos números de celular. Tenho certeza de que Bob quer te oferecer
um jantar como forma de desculpas.
Ela riu da minha cantada boba e eu fiquei que nem um idiota observando seus dentes brancos e
certinhos.
— Eu agradeço o convite, mas acho melhor não.
O quê? Como assim ela achava que era melhor “não”?
— Você não vai se arrepender, eu juro. Ele será mais educado da próxima vez — insisti, dando um
sorrisinho de lado que eu sabia que era irresistível.
— Tenho certeza que será, mas, ainda assim, acho melhor não — negou ela mais uma vez,
acariciando rapidamente a orelha de Bob. — Eu preciso mesmo ir. Quem sabe a gente não se esbarra
por aí de novo?
Eu achava muito difícil e ela também, por isso que estava falando aquilo. A probabilidade de
encontrá-la correndo novamente em um calçadão tão movimentado quanto o de Copacabana, era
praticamente nula. Fiquei pensando se insistia mais um pouco, se falava que queria a conhecer
melhor, mas eu não era um mentiroso. Queria, sim, a conhecer melhor, mas na horizontal e tinha quase
certeza de que, se eu pedisse para que fosse para cama comigo naquele dia, ouviria muito mais do
que um “não”. Um homem inteligente deveria saber quando era melhor parar.
— Vamos torcer para que isso aconteça, não é, Bob? — perguntei e ele balançou o rabo em
resposta.
Com um sorriso, ela o acariciou mais uma vez e acenou antes de ir. Ainda fiquei parado no meio
do calçadão, a observando sumir entre as pessoas, gravando a forma como a sua bunda ficou
desenhadinha sob a lycra preta.
“Na próxima encarnação, quero vir como um cachorro”, pensei, pois só assim eu seria
acariciado vezes sem conta por aquela mulher.
— Vamos embora, seu espertinho — falei para Bob, começando a andar com ele. — E o pior é
que eu nem posso brigar com você. Olha a mulher que você colocou no meu caminho! Agora, a sua
obrigação é trazê-la de volta, Bob. Se a vir novamente aqui no calçadão, corra para alcançá-la.
Como se tivesse me entendido perfeitamente, Bob latiu uma única vez e me olhou de forma
compenetrada, como se deixasse claro que tinha uma missão para concluir em breve.
— Bom garoto — sorri, acariciando rapidamente a sua cabeça.
Capítulo 2
Passei a noite de sábado em um bar na Lapa com os meus amigos, mas resolvi não beber muito,
pois tinha que almoçar com a minha família no dia seguinte — e só eu sabia como minha mamma
ficava revoltada quando eu aparecia de ressaca. Mesmo assim, curti muito a noite, dancei com
algumas garotas, beijei outras, mas, acabei voltando para casa sozinho, o que foi uma surpresa tanto
para mim, quanto para Bob, que já ficava à espreita perto da porta, só esperando para cheirar e
lamber a minha acompanhante da madrugada.
Ao deitar-me na cama, morto de cansaço às quatro da manhã, encarei o teto e, ao invés de sentir o
sono chegar, foi a imagem daquela mulher que veio a minha mente. Alice. Certo, ela não era a
primeira mulher bonita que eu já vi na vida — e nem seria a última —, mas, de alguma forma, ela
ficou marcada — pelo menos nesse final de semana, não poderia dizer que ela continuaria na minha
memória daqui a alguns dias. Talvez, pela forma atípica como nos conhecemos, com Bob dando uma
de louco e correndo pelo calçadão, ou, talvez, por causa do seu sorriso e do modo como disse “não”
para mim sem pensar duas vezes.
Sendo sincero comigo mesmo, acho que tinha sido uma mistura de todos esses fatores. Eu não me
lembrava da última vez que Bob havia se esquecido de ser educado, muito menos da última vez em
que eu havia levado um “não” com tanto entusiasmo. Não que eu me ache a última Coca-Cola do
deserto, mas sei que tenho um charme, sei conversar, fazer rir, uso as horas de academia a meu favor,
gosto de estar sempre cheiroso e bem-arrumado e isso acaba encantando as mulheres de alguma
forma. Com Alice, não funcionou.
Será que é porque eu estava suado da corrida? Eu não estava fedendo ou algo assim, mas talvez eu
não estivesse tão atraente, o que era péssimo. Ela não havia me conhecido no meu melhor momento e
nem iria me dar a chance de mostrar todo o meu potencial. Seu “não” ainda estava gritando no meu
cérebro e senti um gosto estranho na boca ao pensar que, provavelmente, eu nunca mais a veria e nem
teria a chance de conhecer o gosto da sua boca.
— Uma pena, Alice — pensei em voz alta, virando-me no colchão.
Aos pés da cama, Bob me olhou com uma orelha arqueada, como se dissesse: “ou, talvez, ela
simplesmente não tenha se interessado por você”.
Era possível, lógico que sim, eu não era um babaca ao ponto de pensar que era irresistível para
todas as mulheres, mas ninguém gosta de admitir uma coisa dessas, sabe? Que a pessoa simplesmente
não tenha se interessado. Resolvi continuar com as minhas próprias conclusões e olhei de novo para
Bob, que ainda me olhava daquele jeito como se soubesse de tudo.
— Vai dormir, seu fofoqueiro.
Abanando o rabo, ele murmurou alguma coisa em sua língua de cachorro e se acomodou melhor em
sua caminha, fechando os olhos. Eu fiz o mesmo e logo senti o sono me dominar.
Acordei um pouco antes das nove da manhã e resolvi tomar café da manhã com a minha mãe.
Arrumado, coloquei Bob dentro do carro e o levei comigo, pois sabia como ele se esbaldava com os
Pestinhas e os meus primos menores no quintal enorme da minha mãe. Assim que estacionei o carro,
Bob desceu e, antes mesmo de entrar em casa, pude ouvir as vozes altas de mamma e minhas tias.
Uma coisa que precisava ficar clara para qualquer pessoa que entrava em nossa famiglia, era que
todo mundo falava alto. Todo. Mundo. Sem exceção.
— Buongiorno — saudei, entrando na cozinha e vendo minha tia Graziella cortando cebola, minha
tia Beatrice fazendo molho de tomate — sua marca registrada —, tia Eugênia mexendo em algo na
panela e mamma começando a fazer uma massa para macarrão.
— Figlio! — Mamma saiu de trás do balcão e veio me dar um abraço apertado, ficando nas
pontas dos pés para me dar dois beijos no rosto. — Como está lindo, Dio!
— Você fala tanto que ele está bonito, é por isso que ele se acha desse jeito — tia Beatrice
reclamou com uma sobrancelha arqueada.
— Mas como é chata! Não ligue para ela, mio caro, sabe como sua tia é — tia Graziella saiu a
minha defesa.
— Ela está precisando é de um uomo[1] gostoso pra pegar ela de jeito! — tia Eugênia falou, me
fazendo rir. Tia Beatrice fez o sinal da cruz.
— Dio mio! Me respeite, Eugênia! Eu sou uma mulher direita, não gosto desse tipo de palhaçada e
você sabe!
Prendi a risada e caminhei até tia Beatrice, puxando-a para um abraço. Relutante, ela passou os
braços pela minha cintura.
— É só uma brincadeira, zia[2]. Não fique brava.
— Ela adora falar essas poucas vergonhas para mim. Acha que sou uma desfrutável que nem ela.
— Desfrutável? Eu sou muito bem casada! — Tia Eugênia se defendeu.
— Mas tem um fogo que não cabe dentro dessas calçolas velhas — tia Graziella a zoou.
— Pois saiba que estou vestindo uma calcinha de renda vermelha, que meu marito me deu, sim?
— Vá bene, muito detalhe para essa hora da manhã — falei, soltando uma risada e estremecendo
um pouco com a visão da minha tia de calcinha de renda vermelha.
— Está vendo, figlio? Eu fico louca com essas três, louca! — Mamma reclamou, mas vi um
sorrisinho em seus lábios.
Dei um beijo em cada uma das minhas tias e me sentei em um dos banquinhos, apoiando meus
cotovelos no balcão de madeira da cozinha de minha mãe. As quatro continuaram a falar como se a
pilha não acabasse nunca e eu só ouvi por alto, olhando para cada uma delas. Mesmo sendo tão
diferentes na personalidade, eram muito parecidas fisicamente.
Loiras, com no máximo 1,65m de altura, olhos verdes e quadris largos, era inegável que eram
irmãs, mas as semelhanças acabavam por aí. Tia Graziella era a mais velha e foi a primeira a vir
para o Brasil com meu tio Leonel e os filhos Filipo e Matteo. Ela era uma mulher alegre, carinhosa,
talvez a mais parecida com a minha mãe em sua personalidade. Tia Beatrice era viúva e veio para o
Brasil assim que seu marido faleceu na Itália, com Nina e Paolo, seus filhos. Não se casou
novamente, era um tanto ranzinza, reclamava de tudo, católica devota, mas sabia que amava a
famiglia e morreria pela gente.
Tia Eugênia era a mais louca. Não tinha papas na língua, sempre soltava uma brincadeira sacana
no meio do almoço da famiglia e fazia todo mundo rir. Era casada com o tio Guido e tinha três filhos,
Fabrízio, Luigi e Enzo. E, por fim, mas não menos importante, vinha a minha mãe, a caçula das irmãs
e a que eu amava mais.
Francesca, minha mamma, era a mulher com o maior coração que já conheci. Passou por muita
dificuldade com o meu pai na Itália e acabou seguindo o caminho das irmãs e vindo para o Brasil
para tentar uma vida melhor. Foi aqui que meu pai conseguiu se restabelecer financeiramente e
quando ficou com dinheiro suficiente, abandonou a famiglia e deixou minha mamma. Claro, nunca
deixou de nos dar dinheiro, a casa que construiu ficou para minha mãe, mas eu sabia como ela ficou
arrasada ao descobrir que estava sendo traída e que ele iria deixá-la para ficar com outra mulher.
Meus irmãos e eu que ficamos ao seu lado e a apoiamos em tudo. Hoje, Dante, meu irmão mais
velho, era casado e pai de Giulia e dos meus Pestinhas, Alexandre, meu irmão do meio, tinha uma
carreira de sucesso em uma multinacional e eu tinha feito minha vida na área de Tecnologia da
Informação.
Éramos uma família enorme, mas feliz e eu amava ver o sorriso no rosto de mamma ao nos ver
reunidos ao redor da sua mesa. Ela ficava feliz com pouca coisa e eu fazia questão de manter viva
essa tradição, justamente porque sabia que era o seu momento favorito da semana.
— E então, figlio, já está namorando? — Mamma perguntou como quem não queria nada,
colocando uma xícara de chocolate quente na minha frente, enquanto eu pegava um brioche na cesta
de pães.
— Mamma, a senhora sabe que não pretendo namorar tão cedo — falei, tomando um gole do
chocolate.
— Ora, mas eu quero netos!
— A senhora já tem netos — ri.
— Sim, eu amo meus tesori[3], mas quero mais netos.
— Alexandre tem esse sonho de se casar, com certeza a senhora terá netos daqui a alguns anos.
— Daqui a alguns anos eu estarei morta e enterrada! — Falou com o seu drama de sempre.
— Não diga besteira — reclamei.
— Deixe de ser boba, Francesca! O menino é jovem, tem que aproveitar mesmo até se amarrar
com alguém. Está certo, mio caro, tem que curtir a vida. — Tia Eugênia partiu em minha defesa.
— Vai ficar perdido na vida, isso sim. Nunca vi um uomo ser feliz de verdade sem uma donna[4]
ao seu lado — tia Beatrice resmungou.
— Perdido nada! Meu figlio só não encontrou a mulher certa ainda.
— Não existe essa história de mulher certa, mamma. Já disse para a senhora perder as esperanças,
vou morrer livre e desimpedido.
— Matteo falava a mesma coisa, até conhecer a Camila. Agora está casado e tem dois filhos — tia
Graziella citou seu filho mais novo.
De brincadeira, comecei a me coçar.
— Estão vendo? Esse papo de casamento, filhos, começa a me dar coceira. Sou alérgico.
Mamma revirou os olhos enquanto colocava a massa para descansar e puxava uma cabeça de alho
que estava ali por perto. Com uma sobrancelha arqueada, apontou a faca para mim.
— Quero uma nora e quero netos! E quero logo! Não vou falar de novo, Romeo.
Romeo.
Mamma quase nunca chamava os filhos pelo nome. Era sempre “figlio”, “tesori”, “amore mio”,
mas quando chamava pelo nome, era porque estava falando muito sério. Resolvi não insisti no
assunto e enfiei um pedaço de brioche na boca, ouvindo tia Eugênia perguntar algo a mamma e
desviar sua atenção de mim. Olhei para ela lhe dei um sorriso, que ela me respondeu discretamente
com uma piscadela.
Amava minha mãe, mas às vezes ela me sufocava com essa história de filhos e casamento. Eu
entendia que ela queria que seus filhos fossem felizes em todas as áreas da vida, mas eu não tinha a
mínima pretensão de colocar uma algema dourada no dedo e trocar fraldas. Estava satisfeito com a
minha vida e com os meus sobrinhos.
Depois de tomar café da manhã, coloquei a mão na massa e as ajudei um pouco com o almoço.
Elas não gostavam quando a gente se metia na cozinha, mas acho que estavam acostumadas à minha
companhia, pois eu sempre era o primeiro a chegar e odiava ficar parado. Ajudei a montar a lasanha
de quatro queijos e a fazer as famosas bruschettas, enquanto aproveitava e beliscava uma coisa aqui
e outra ali das panelas. Com alguns integrantes da famiglia chegando, acabei sendo expulso da
cozinha e me reuni com meus primos no quintal para tomar uma cerveja.
Alexandre, meu irmão do meio, chegou meia hora depois trazendo duas garrafas de vinho tinto.
Cumprimentou-nos, em seguida, sumiu na cozinha e voltou minutos depois com uma bruschetta em
cada mão.
— Como assim você ainda está com as duas mãos intactas? Elas não ameaçaram cortá-las fora ao
pegar a comida antes da hora? — Enzo, meu primo, filho caçula da tia Eugênia, perguntou.
— Ameaçaram, mas corri antes — meu irmão riu, terminando de comer. — Porra, está muito bom.
— Claro, eu ajudei a fazer — falei antes de tomar mais um gole da cerveja gelada.
— Para de ser convencido, seu idiota — ralhou ele, me dando um soquinho no ombro. — Como
você está?
— Muito bem e você?
— Ah, cara... Você não vai acreditar.
— Pronto, já vi tudo. Tem mulher na parada! Fala aí — Paolo, filho mais velho da tia Beatrice,
falou.
— Tem mulher mesmo e, porra... Que donna!
— Sabia! Quando você não atendeu a minha ligação ontem à noite, imaginei que estivesse com
alguém — falei. — De onde ela é?
— A conheci há uns três meses. Nos esbarramos nos corredores da empresa. Ela trabalha na parte
jurídica e eu trabalho na contabilidade, então, isso explica porque nunca a vi antes, mas, meu irmão,
quando ela esbarrou em mim, eu soube que não poderia deixar passar.
— Está com ela há três meses? Então, já é um namoro! Quando sai o casamento? — Filipo, filho
mais velho da tia Graziella, perguntou.
— Vamos com calma, ainda estamos nos conhecendo. Quer dizer, começamos a sair juntos há
pouco mais de um mês e agora a coisa está ficando mais séria...
— Porra, mamma vai pirar. O sonho dela é casar mais um filho — eu ri, sabendo que, quando
Alexandre se casasse, eu ia sofrer ainda mais com as cobranças. — Pelo visto, serei o único solteiro
da famiglia mesmo.
— Ei, eu ainda estou aqui, cugino[5] — Enzo falou, erguendo a cerveja para mim. — Aos únicos
Benvenutos solteiros.
— Aos únicos Benvenutos solteiros — ri, encostando a minha garrafa na dele.
Ao fundo, ouvimos gritos estrondosos e eu me virei com o coração pulando forte, sabendo muito
bem quem eram os donos daquelas vozinhas finas. Com perninhas curtas, mas rápidas, Pietro e Luca,
os gêmeos de cinco anos do meu irmão mais velho, vieram correndo em minha direção. Abaixei-me a
tempo de pegar os dois em meus braços e apertei forte, pegando-os no colo.
— Tio! Tio, olha o meu carro!
— Não, olha o meu, tio! Olha, é vermelho!
— O meu é azul, é mais bonito.
— O meu é mais rápido.
— Não é nada!
— É sim!
— Ei, ei, tudo bem, carinhas. Sem briga — falei, silenciando os dois. — Primeiro, cadê o meu
beijo? Não me lembro de vocês terem me beijado.
Ri quando cada um me deu um beijo rápido na bochecha.
— Muito bem, agora, antes de me mostrarem os carros, quero saber como vocês estão na escola.
— O Pietro foi pra secretaria ontem — Luca contou.
— Ih, nem foi ontem, foi na sexta-feila, ontem foi sábado — Pietro resmungou.
— Por que você foi pra secretaria?
— Ele puxou o cabelo da Carol — Luca dedurou.
— Pietro! Já não disse que é feio puxar o cabelo da amiguinha?
— Ela disse que eu era bobo e que meu desenho estava feio! — Falou com um bico, cruzando os
braços. — E ela não é minha amiga!
— Ele quer namorar com ela — Luca disse, começando a rir. Pietro fechou ainda mais a cara.
— Não quero nada!
— Quer sim!
— Não quero! Não quero nada, tio!
— Sem brigar, meninos, já falei. Pietro, mesmo se você quisesse, ainda é criança e criança não
pode namorar, certo? — Os dois assentiram. — E você não pode mais fazer isso, Pietro, é feio. Não
pode bater nos coleguinhas, principalmente se for uma menina. O homem nunca deve bater na mulher.
— Eu sei, o papai falou ontem. Eu vou pedir desculpas, tio.
— Muito bem.
— Ele vai dar um chocolate pra ela, tio — Luca contou. — Ontem a gente foi comprar com a
mamãe.
— Está certo. Agora, vão brincar. Bob já está brincando com os primos de vocês lá no jardim.
Os dois gritaram de entusiasmo e se mexeram para sair do meu colo. Assim que os coloquei no
chão, eles foram correndo e eu sorri, vendo Giulia, a irmã mais velha deles, vir em minha direção
com um inseparável livro de romance em mãos. Toda vez que eu a olhava, me sentia um pouco mais
velho. Parecia que eu a tinha pegado em meus braços no dia anterior e agora ela estava prestes a
completar dezoito anos. Era surreal.
— Giulia! Meu Deus, menina, quando você vai parar de crescer?
Ela me deu um sorriso adorável e eu abracei, dando um beijo em sua testa.
— Nem estou tão alta assim. Acho que puxei a minha nonna[6].
— Verdade, mas, mesmo assim, já está quase adulta. Como está no colégio?
— Estou bem, tio. Minhas notas estão boas.
— É assim que tem que ser. E sem namorados, combinado?
Suas bochechas ficaram vermelhas e eu ri, terminando a minha cerveja.
— Não estou namorando, tio.
— Essa é a melhor frase que um tio gosta de ouvir.
— E um pai também — Dante, meu irmão, falou atrás de mim. Nos abraçamos bem forte e ele
bagunçou meu cabelo. Ser o caçula era um saco às vezes. — Como você está, maninho?
— Estou bem e para de me chamar de maninho, seu chato.
— Mas é o que você é, meu maninho!
Ele e Giulia riram da minha cara e eu me fingi de bravo, mas era tudo brincadeira e eles sabiam.
No fundo, eu nem ligava para o apelido e amava aquela camaradagem que tinha com o meu irmão.
Alguns minutos depois, mamma e minhas tias anunciaram que o almoço estava pronto e fomos todos
para a mesa.
A refeição, como sempre, foi feita em meio a muito barulho, muitas risadas e piadas dos meus tios
e primos. Enquanto eu comia, olhava para cada um deles e me sentia muito sortudo por fazer parte
daquela famiglia, que não era perfeita, lógico, mas era única, maravilhosa e muito unida.
Depois do almoço, fui sentar perto de Alexandre, que estava digitando alguma coisa no celular.
Olhei por alto e vi a foto de uma mulher sorridente na conversa do WhatsApp.
— Hum, então é essa a tal donna magnífica?
— Sim. O nome dela é Paula. Estou contando um pouco sobre a nossa família.
— E quando iremos conhecê-la?
— Então, eu estava pensando que você poderia a conhecer primeiro, sabe?
— Eu?
— É.
— Por quê?
— Talvez, porque você seja meu irmão? — Ele riu, como se fosse óbvio. — Nossa família é
enorme, acho que ela se sentirá mais confortável em conhecer alguém primeiro e, depois, ser
apresentada a todo mundo e a mamma, principalmente. Você sabe como a Dona Francesca pode ser
com esse negócio de relacionamento sério.
— Sim, eu sei — ri. — Quando irei conhecê-la?
— Estava pensando em irmos ao Karaokê do Jô na sexta-feira à noite, o que acha? Ela tem uma
melhor amiga e disse que quer me apresentar a ela, então...
— Agora você falou a minha língua — falei com certo entusiasmo, rindo um pouco. — Está
marcado. Mal posso esperar para que a sexta-feira chegue.
— Para conhecer a minha garota, suponho?
— Com certeza.
Alexandre riu, como se soubesse que meus pensamentos estavam indo bem além. Já estava
imaginando como seria a melhor amiga da namorada dele, se ela seria gata e se a noite de sexta-feira
terminaria com ela na minha cama.
Capítulo 3
Consegui cumprir com todos os meus compromissos de trabalho durante a semana. Ser dono de
uma empresa que desenvolvia aplicativos para celulares e computadores exigia atenção, competência
e um cuidado redobrado com os avanços das empresas concorrentes. O mundo digital mudava de
minuto a minuto, sempre tentando estar um passo à frente das necessidades que as pessoas nem
sabiam que tinham. Então, cabia a mim, aos meus sócios e empregados, ficarmos atentos a cada
pequena mudança.
Na sexta-feira de manhã, recebi uma mensagem de Alexandre perguntando se o encontro de mais
tarde estava de pé e respondi que sim. Perguntei se ele poderia me adiantar alguma coisa sobre a
melhor amiga da sua namorada, mas ele disse que ainda não sabia de muita coisa, que tentaria
descobrir até o anoitecer. O dia passou rapidamente, tive duas reuniões, uma com a minha equipe e
outra com uma nova empresa de software que queria investir na minha empresa e cheguei em casa um
pouco depois das seis.
Tomei um banho demorado, fiz a barba, aparei os pelos debaixo — pois odiava quando eles
ficavam grandes demais — e Bob me olhou como se questionasse o porquê de tudo aquilo. Ele era
bem inconveniente e tinha o seu espaço favorito no banheiro, onde se deitava e ficava me observando
tomar banho. Depois de espirrar um pouco de perfume em meu pescoço, olhei para ele pelo espelho.
— O que foi? Um homem precisa se arrumar bem se quiser voltar com uma mulher bonita para
casa, Bob — falei, colocando o perfume sobre a bancada. — Sei que você não precisa se esforçar
tanto, mas com os humanos a coisa é mais difícil.
Ele jogou a cabeça para o lado e me olhou como se tivesse tentando entender o que eu estava
dizendo. Por fim, acho que desistiu, pois bocejou e me acompanhou quando eu saí e desliguei a luz
do banheiro. Em frente ao closet, escolhi uma calça jeans de lavagem escura, minhas botas de couro
preta e uma blusa branca. Como a noite estava pouco fria, peguei minha inseparável jaqueta de couro
e passei a mão pelo cabelo para que os fios ficassem despojados, mas um pouco arrumados.
— Cuide da casa, amigão. Volto mais tarde. Nada de mijar nos móveis — falei para Bob, coçando
a sua orelha antes de sair.
O Karaokê do Jô ficava em Ipanema e era o point dos jovens cariocas. Fundado em 1995, ele
ainda mantinha o seu ar dos roqueiros dos anos 90, com poltronas de couro preta, pôsteres de bandas
nas paredes de tijolinhos e o palco de madeira ao fundo, iluminado por muitas luzes. Assim que
encontrei uma vaga, estacionei e encontrei a entrada bem cheia, com uma galera bem jovem bebendo
e fumando enquanto esperava para entrar. Como Alexandre e eu éramos clientes assíduos e amigos
do gerente — que era filho do dono —, tínhamos uma mesa reservada e só precisei dar o meu nome
para a recepcionista.
Do lado de dentro, o espaço amplo já estava tomado. O ar condicionado mantinha o lugar fresco,
mas eu sabia que em breve teria que tirar a minha jaqueta, pois o local iria encher ainda mais. No
palco, uma mulher estava de costas, conversando com o DJ responsável por colocar as músicas. As
luzes me atrapalharam um pouco e não consegui enxergá-la direito, por isso, desviei a minha atenção
para o caminho entre as mesas e logo achei o meu irmão. Ele estava sentado ao lado de uma mulher
muito bonita, negra e sorridente, que logo reconheci com a sua namorada. Busquei o nome dela na
minha memória para que não passasse vergonha ao conhecê-la.
— Fratello[7], que bom que chegou! — Alexandre me cumprimentou, levantando-se e me dando
um abraço. Sussurrou em meu ouvido: — Descobri algumas coisas sobre a amiga da Paula. Já, já eu
te conto.
— Está bem — respondi, me afastando. Ao seu lado, Paula se levantou. — É um prazer conhecê-
la, Paula. Alexandre já me falou muito sobre você.
— Ele também me falou muito sobre você. Disse que são inseparáveis — ela disse com um
sorriso aberto, apertando a minha mão.
— Somos mesmo. Ele não vive sem mim — brinquei.
— Idiota, é o contrário, meu amor. Ele que não vive sem mim.
Paula riu e balançou a cabeça.
— Imagino que, na verdade, um não vive sem o outro — disse ela, olhando rapidamente para o
celular. — Amor, minha mãe está me ligando. Vou atender rapidinho e já volto.
— Está bem, baby — meu irmão respondeu, todo meloso dando um beijo na namorada antes de
vê-la ir em direção ao banheiro. — Fala sério, tenho sorte, não é? Olha que mulher, puta que pariu!
— Tá completamente de quatro por ela.
— Ah, estou mesmo — ele riu.
— Agora me conta, o que descobriu sobre a amiga dela?
— Ah, então, descobri algumas coisas, umas eu sei que você vai amar, outras eu acho que vai
odiar — falou, dando um gole na cerveja. Senti minha garganta ficar seca, tanto pela vontade de
tomar uma gelada, quanto pela ansiedade. — Por onde quer que eu comece?
— Pelas coisas que eu vou amar, lógico.
— Ela é linda. Eu diria “gostosa”, mas como não estou solteiro, vou me limitar ao “linda” mesmo.
E está solteira. Totalmente livre e desimpedida.
— Porra, música para o meu ouvido. E a parte ruim?
— Ela é escritora, cara — falou, me olhando com uma careta. Não entendi a parte ruim, até ele
voltar a falar. — Escritora de romance. A mulher é famosa nesse ramo, tem livros traduzidos para
cinco idiomas, seu último lançamento ficou durante semanas na lista do The New York Times.
— Escritora de romance?
— Isso mesmo.
Puta que pariu. Era só o que me faltava.
— Então esquece — falei, chamando um garçom com o dedo.
— Mas, cara, é sério, a mulher é linda.
— Mas é escritora de romance. Sabe o que isso quer dizer?
— Sim, eu sei, mas, sei lá... Talvez ela não seja tão romântica assim — deu de ombros.
— Uma escritora de romance que não é romântica? Se você me dissesse que ela era uma jogadora
de futebol que odeia o esporte, faria mais sentido. — Revirei os olhos e pedi uma cerveja para o
garçom. — Tenho certeza de que a mulher está à procura do homem perfeito, o príncipe no cavalo
branco, o herói de armadura brilhante e eu estou bem longe de ser esse cara.
— Está longe de ser esse cara, porque ainda não encontrou alguém que te faça querer ser esse
cara.
Olhei para ele com incredulidade.
— Sério? Você vai mesmo se transformar nisso?
— Nisso o quê?
— No cara chato que fica falando sobre como as pessoas são vazias sem amor e blá, blá, blá?
— Mas essa é a verdade. Agora eu vejo como estive vazio durante todo esse tempo — disse ele
com ar sonhador. Senti um pouco de vontade de vomitar. — Torço para que um dia você descubra
esse sentimento, fratello. Sua vida nunca mais será a mesma.
— Ah, tenho certeza que sim — murmurei com sarcasmo, pegando a cerveja da bandeja do
garçom.
Alexandre ia falar mais alguma coisa, mas a música ambiente foi substituída pelas notas de um
violino e as luzes no salão ficaram mais baixas para que a nossa atenção fosse levada ao palco.
Tomando um gole da minha cerveja, ajeitei-me melhor na cadeira e olhei em direção ao palco para
assistir à performance.
Foi quando eu quase cuspi a porra da cerveja.
Bem ali, a apenas alguns metros, estava ela, a mulher linda que Bob derrubou no calçadão de
Copacabana e que recusou o meu convite para jantar. Com o coração batendo forte no peito, quase
me levantei para chegar mais perto e garantir que eu não estava alucinando, mas era impossível que
eu estivesse. Nem nos meus sonhos mais realísticos eu conseguiria projetar tamanha perfeição.
Porra!

Hoje eu tô sozinha
E não aceito conselho
Vou pintar minhas unhas e meu cabelo de vermelho
Hoje eu tô sozinha
Não sei se me levo ou se me acompanho
Mas é que se eu perder, eu perco sozinha
Mas é que se eu ganhar
Aí é só eu que ganho

Hoje eu não vou falar mal nem bem de ninguém


Hoje eu não vou falar bem nem mal de ninguém

Ela começou a cantar de repente, sem aviso prévio, os cabelos pretos caindo nos ombros, a boca
vermelha se mexendo perto do microfone, o corpo balançando conforme o ritmo da música e eu
fiquei lá, como que hipnotizado, sem poder piscar ou ouvir qualquer outra coisa a minha volta. Alice
cantava com precisão, como se sentisse na pele cada palavra. Era como um hino de libertação.

Logo agora que eu parei


Parei de te esperar
De enfeitar nosso barraco
De pendurar meus enfeites
De fazer o café fraco
Parei de pegar o carro correndo
De ligar só pra você
De entender sua família e te compreender
Hoje eu tô sozinha e tudo parece maior
Mas é melhor ficar sozinha que é pra não ficar pior

— Dio mio... — murmurei quando a música cresceu e observei como ela crescia junto, jogando o
cabelo, olhando para frente como se estivesse encarando alguém. Mesmo de longe, conseguia sentir
um pouco da raiva que ela imprimia na música e a forma como se sentia livre.
Por fim, quando acabou, todo mundo se levantou e bateu palmas. Alice pareceu sair do transe e
abaixou o microfone, dando um sorriso tímido antes de sair do palco quando o DJ colocou uma outra
música para tocar. Ainda tomado por ela, a acompanhei com os olhos e senti uma espécie de euforia
quando percebi que ela estava vindo em minha direção.
Será que ela tinha me visto? Será que tinha me reconhecido? Será que estava vindo falar comigo?
Uma parte dentro de mim sorriu satisfeita e eu passei a mão pela minha camisa, alisando o tecido
como se, de repente, ele estivesse amassado e pudesse me fazer causar uma má impressão. Quase
sem piscar, observei que ela estava mais perto e cheguei a olhar em volta para ver se não tinha mais
alguém esperando por ela. Não tinha. Ela estava realmente vindo para mim. Coloquei um sorrisão no
rosto, pronto para falar aquela frase de efeito de molhar calcinhas, quando, de repente, ela passou
por mim e caiu nos braços da Paula.
Nos braços da Paula? Mas que porra é essa?
Foi com uma dor horrível no peito que eu ouvi a Paula dizer:
— Amiga, você arrasou, meu Deus do céu!
Amiga.
Uma única palavra. Cinco letras. E uma destruição no meu cérebro. Puta que pariu, ela era a
melhor amiga da Paula! Boquiaberto, completamente sem palavras, observei Alice sair dos braços
da namorada do meu irmão e sorrir timidamente, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Quando me olhou, demorou um segundo ou dois para me reconhecer.
— Espera aí... Eu conheço você — falou, olhando-me de cima a baixo.
— Conhece? De onde? — Paula perguntou.
— A gente se esbarrou um dia desses... Quer dizer, o cachorro dele esbarrou em mim no calçadão
de Copacabana — ela riu. — Como está o Bob, aliás?
Escritora. Ela é uma escritora de romances. Uma escritora de romances famosa.
— Romeo? Romeo, está tudo bem? — Ouvi meu irmão perguntar.
— Eu... Eu preciso de um minuto. Já volto.
Não gosto de pensar que eu fugi. Não, eu não fugi, eu só... Cara, eu nem sei. Saí de lá a passos
rápidos e só parei quando cheguei do lado de fora e senti a brisa gelada do mar de Ipanema no meu
rosto. Muito perturbado, apoiei minhas mãos em meus joelhos e respirei. Quem olhasse de fora,
pensaria que eu estava passando mal ou algo assim, mas a verdade é que eu poderia mesmo estar
bem perto de passar mal. Tudo isso porque a mulher mais linda que eu tinha visto na vida e que, de
repente, apareceu novamente no meu caminho, era uma escritora de romances.
Porra!
— Romeo! O que você tem, cara? Fala comigo.
Meu irmão apareceu em meu campo de visão e eu me obriguei a respirar fundo e manter a calma.
Não era nada demais. Havia muitas mulheres bonitas por aí. Tudo bem se eu não pudesse me arriscar
com a escritora. Eu superaria.
— Romeo...
— Eu estou bem. Sério, estou bem — falei, levantando-me e ajeitando a minha postura. Minha
cabeça parecia lotada de algodão. Eu não conseguia pensar direito, por isso, repeti. — Estou ótimo.
— Claro que você não está bem. O que aconteceu?
— Nada.
— Porra, Romeo! Sono tuo fratello![8] Eu te conheço muito bem — falou com a expressão séria,
apoiando a mão no meu ombro. — Me diga o que aconteceu. Quero te ajudar.
— Você só vai me ajudar se me disser que aquela mulher que cantou no palco não é a melhor
amiga da Paula.
Eu ainda esperei com um pouquinho de esperança, tinha de admitir. Mas Alexandre logo acabou
com tudo.
— Sim, ela é a melhor amiga da Paula. Alice Carvalho o nome dela. Vocês realmente se
conhecem?
— Sim. Sim, a gente se conhece. Bob saiu correndo pelo calçadão no sábado passado e ela tentou
o segurar, mas ele acabou a derrubando no chão. Porra, tem noção de como essa mulher é linda?
Fiquei louco nela, lógico, a chamei para jantar, fiz um charme, mas ela negou o meu convite. Doeu,
mas eu sei quando é melhor não insistir. Então, agora, ela aparece de novo no meu caminho e quando
acho que finalmente vou conseguir sair com ela, descubro que ela é uma escritora de romances. Puta
que pariu, por que tanto azar? Não acredito nisso!
Acabei falando tudo de uma vez e só percebi que estava andando de um lado para o outro quando
Alexandre, novamente, me segurou pelo ombro. Com um sorriso de canto de lábio, ele me olhou.
— Não acredito nisso.
— O quê?
— Está caidinho por ela!
— O quê? Claro que não! — Neguei, balançando a cabeça. — Quer dizer, sim, estou, mas não
nesse sentido. Quero levá-la para minha cama.
— E por que não está lá dentro agora, passando as suas cantadas infalíveis para ela?
— Porque é óbvio que ela não vai aceitar! A mulher escreve romances, Alexandre, ela com
certeza quer um relacionamento e não um caso de uma única noite.
— Será mesmo? Eu sei que você é um cara insistente e que sempre consegue o que quer. Está no
sangue Benvenuto, fratello. — Ele riu, apertando meu ombro. — Não desista assim tão fácil. A
mulher é linda e se você está a fim... Não custa nada tentar.
Realmente, não custava nada tentar. Talvez, Alice não levasse o romance ao pé da letra. Não é
porque você trabalha com chocolate, que só vai comer chocolate pelo resto da vida, não é mesmo?
Mais calmo, centrado, olhei para o meu irmão e assenti. Ele sabia exatamente o que eu quis dizer, por
isso, sorriu e me acompanhou silenciosamente para dentro do Karaokê.
Um cara cantava uma música do Legião Urbana e alguns casais se beijavam perto do bar. Tudo
isso ficou para trás quando a Alice entrou em meu campo de visão. Vi quando colocou o canudo entre
os lábios e senti uma fisgada dentro da minha cueca. Puta merda, como eu queria aquela boquinha em
outro lugar. Ou melhor, em outros lugares. Assim que nos viu, Paula perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim. Tive que atender uma ligação importante. — Inventei uma desculpa qualquer, virando-me
para Alice. — Alice, me desculpe, fui mal-educado com você. É muito bom te ver de novo.
— É muito bom te ver também, Romeo. Que coincidência maluca!
— Verdade. Nunca imaginei que iríamos nos reencontrar, apesar de ter torcido muito para isso.
— Alice estava me contando como vocês se conheceram. Sério, o destino é muito louco às vezes
— Paula comentou.
— Sim, mas é um louco sábio. Eu tinha certeza que Bob não tinha pulado em você por acaso. Ele
já sabia que a gente tinha que se conhecer de alguma forma — falei e ela riu um pouco tímida.
Mesmo no ambiente escuro, eu podia enxergar um certo brilho em seus olhos.
— Agora eu quero conhecer esse Bob — Paula falou.
— Bob é mais do que um cachorro, ele é um membro da famiglia. Quase como uma das crianças
— Alexandre disse.
— É um Golden lindo e enorme. Mande um beijo para ele, por favor — Alice me pediu.
— Não, eu faço questão de que você dê esse beijo pessoalmente. Tenho certeza que Bob vai ficar
todo bobo ao te ver de novo. Ele ficou triste quando você recusou o nosso convite para jantar.
— Ah, tenho certeza que sim — ela riu um pouco, terminando de beber o drinque. — Vou no bar
pedir mais um desse.
— Vou te acompanhar.
Fomos juntos e Alexandre me deu um sorriso sacana quando pousei minhas mãos nas costas dela.
Senti como estremeceu de leve e vi quando me olhou com um sorrisinho nascendo no canto dos
lábios. Realmente, talvez não estivesse tudo perdido. Minha esperança renasceu.
Paramos em frente ao bar e Alice pediu mais uma caipirinha de abacaxi com hortelã. Eu preferi
continuar na cerveja, pois estava dirigindo e não queria exagerar, principalmente porque a minha
expectativa para essa noite estava mais alta agora que Alice estava ao meu lado. Enquanto
esperávamos pela bebida, me virei para ela peguei seus olhos em mim. Corada, ela o desviou
rapidamente, encarando o palco às minhas costas e eu demorei alguns segundos admirando a mulher a
minha frente.
Cara, não era exagero, ela era linda de verdade. Os cabelos soltos caíam em cascatas sobre os
seus ombros, a boca pintada de vermelho e o corpo delicioso escondido em um vestido que batia na
altura das coxas e que tinha um decote comportado nos seios. Eu adorava aquele jogo de “mostra-
não-mostra” que algumas mulheres faziam. Era bem melhor do que revelar tudo de mão beijada para
o primeiro que olhasse — não que isso me incomodasse, mas a surpresa era a melhor parte da
sedução. Estava quase babando em cima dela, quando percebi que o silêncio não me ajudaria a
conquistá-la.
— Então, você é uma escritora famosa — iniciei, chamando a sua atenção.
— Pode-se dizer que sim — sorriu. — Paula falou de mim? Ela não me contou nada sobre você,
infelizmente.
— Meu irmão que falou sobre você. Disse que a melhor amiga da Paula era uma escritora de
romances bem famosa, que tinha ficado na lista do The New York Times e tudo... Estou me sentindo
um privilegiado por estar sentado ao seu lado. Pode me dar um autógrafo?
Ela gargalhou de forma graciosa e eu observei a coluna da sua garganta escondida pela sua pele
que parecia ser suave demais ao toque. Quis escorregar meus lábios por ali.
— Que bobagem. Eu sou uma pessoa comum.
— Uma pessoa comum não entra para a lista dos mais vendidos do The New York Times.
— Entra sim, eu sou a prova viva disso. — O barman a interrompeu quando entregou as nossas
bebidas. Ela tomou um gole e eu também, sem pressa alguma de sair dali. — De verdade, eu ainda
não acredito muito que realmente entrei nessa lista tão famosa. Quando vi meu nome lá, quase
infartei.
— Eu posso imaginar. Mas tenho certeza de que você é muito talentosa.
— Obrigada. Tem o costume de ler?
— Sim, mas não ficção. Trabalho com criação de aplicativos, então, tenho que ler muitos artigos
sobre tecnologia da informação, avanços digitais... É a parte chata do meu trabalho.
— Criação de aplicativos? Como aplicativos de celular?
— Isso.
— Nossa! Isso parece tão difícil, mas é fascinante. Quais aplicativos você já criou?
— Conhece o MatchLove?
— Claro que sim! Quem não conhece?
— Eu que criei — falei com uma pontinha de orgulho. Ela me olhou com a boca aberta.
— Como assim você criou o aplicativo de relacionamentos mais eficiente de todos os tempos?
Não pude deixar de rir.
— Então, você já usou.
— Quem ainda não usou? Meu Deus, agora sim eu estou me sentindo privilegiada. Você é um
gênio.
— Que isso — ri um pouco, balançando a cabeça. — Não sou um gênio nem nada disso. Só reuni
tudo o que as pessoas precisam para encontrar alguém e coloquei em um programa no computador.
— Não seja tão simplista com o seu trabalho! Você é um visionário. Obrigada por isso, aliás.
— Pelo o quê?
— Por ter criado esse aplicativo. Quer dizer, eu não me dei muito bem com o cara que conheci por
lá, mas isso não é culpa sua. O aplicativo é muito eficiente, só poderia dizer quando o cara é babaca.
— Infelizmente, isso ainda não está ao meu alcance, mas vou ver se consigo fazer esse tipo de
filtro — sorri, dando um gole na minha cerveja. — Foi tão ruim assim?
— O quê?
— Seu relacionamento com o cara que conheceu no aplicativo?
— Não vou ser injusta e falar que foi tudo ruim, mas o modo como acabou, foi péssimo — falou,
desviando o olhar. — O ser humano precisa aprender a ser sincero com o outro. Honesto, sabe? É
isso que falta hoje em dia.
— Concordo plenamente. Sinceridade é tudo, em todos os âmbitos da vida.
Alice me olhou com um sentimento diferente, admiração, eu acho e me senti bem com aquilo. Era
bom impressionar uma mulher com algo além de cantadas baratas e uma roupa bonita.
Logo mudei de assunto e começamos a conversar sobre a nossa vida. Contei um pouco sobre a
minha famiglia, como era grande e o porquê de termos vindo para o Brasil. A família dela era o
oposto, seu pai morreu quando ela era muito pequena, sua mãe a criou sozinha, mas agora morava na
Austrália com o atual marido. Ela não disse nada mais do que isso e me peguei pensando que, talvez,
não se desse muito bem com a mãe. Não me senti à vontade para perguntar.
Só voltamos para a mesa do meu irmão depois dela ter tomado duas caipirinhas e eu mais uma
cerveja. Sentia como estava um pouco mais alegre e sorridente, mas não estava bêbada. Assim que
nos sentamos, vi que Paula cochichou algo em seu ouvido e ela deu um sorriso tímido. Normalmente,
eu não me interessava muito sobre esses cochichos femininos, mas, dessa vez, senti vontade de ser
uma mosquinha para ouvir tudo.
A noite se estendeu por mais algumas horas, Alice bebeu menos e intercalou com água. Rimos de
algumas apresentações bizarras, feitas realmente para nos entreter e gostamos de outras. Enquanto
isso, conversamos muito, sobre tudo e sobre nada e me vi surpreso por gostar tanto da sua
companhia. Paula também era muito agradável e divertida e fiquei feliz pelo meu irmão. Apesar de
implicar com esse lance de relacionamento, eu ficava feliz quando meus amigos, irmãos e primos
encontravam alguém legal. Torcia pela felicidade deles, acima de qualquer coisa.
Na hora de irmos embora, meu irmão e eu insistimos para pagarmos a conta e depois de certa
relutância, elas aceitaram. Enquanto encarávamos a fila, elas foram nos esperar lá fora. Minutos
depois, as encontramos e vi Alice digitar algo no telefone enquanto falava com a Paula.
— Já estou chamando o Uber... — A ouvi falar e logo me adiantei.
— Não precisa pedir um Uber, eu estou de carro e posso te levar para casa.
Ela me olhou um pouco surpresa com o convite.
— Ah, não precisa se incomodar, Romeo...
— Não é incomodo algum, faço questão.
— Acho melhor ir com ele mesmo, amiga. É perigoso pegar carro de aplicativo a essa hora, ainda
mais estando sozinha.
— Exatamente — concordei. Obrigado, Paula!
— Jura que não vai te atrapalhar? — Alice perguntou.
— Claro que não.
— Tudo bem, então.
Despedimos-nos do meu irmão e da Paula e logo fomos para o meu carro. Agradeci mentalmente
por eu ter o colocado para lavar na tarde passada, pois Bob adorava deixar os seus pelos por todo o
lugar. Como o cavalheiro que a minha mãe havia me ensinado a ser, abri a porta do carona para ela e,
novamente, vi a sua surpresa antes de sorrir e subir no degrau do 4X4 para se sentar na poltrona de
couro. Fechei a porta e logo me acomodei no lugar do motorista, dando partida.
— Onde você mora?
— No Leblon.
— Eu moro na Gávea. Não estamos tão longe assim.
— E, mesmo assim, nos esbarramos em Copacabana e em Ipanema. Vai entender — ela riu.
Sorri com ela e pensei em como poderia convidá-la para passar a noite comigo. Isso nunca foi um
problema para mim, gostava de ser direto, mas não queria assustá-la.
— Então, você está solteira... — Comecei, olhando rapidamente para ela.
— Sim. Há quase quatro meses.
— É loucura uma mulher tão bonita estar sozinha — falei e ela sorriu. — Mas isso pode mudar
hoje. — Ela me olhou e eu resolvi parar rapidamente em frente a um condomínio. Vi como respirou
mais forte e me virei para ela com cuidado. — Desde aquele dia no calçadão eu não consigo tirar
você da minha cabeça. Fiquei mal por saber que, provavelmente, nunca mais te veria de novo, mas,
sem que eu esperasse, você reapareceu. Não posso deixar passar essa oportunidade, Alice. —
Toquei em seu rosto e senti minha garganta ficar seca quando meu polegar tocou em seu lábio
carnudo. — Passe a noite comigo?
Ela ficou em silêncio e vi quando engoliu em seco, seus olhos castanhos descendo até a minha
boca. Senti muita vontade de beijá-la, quase fui pra cima dela, mas resolvi deixar claro todas as
minhas condições.
— Lembra quando disse que sinceridade é o primordial? Pois então, preciso ser sincero com
você. Não sou um homem romântico e que não quero um relacionamento. Você é linda, maravilhosa e
me encantou no momento em que te vi pela primeira vez e preciso muito descobrir qual é o sabor
dessa boca, como deve ser ter você entre os meus braços na minha cama, pele com pele, seu cheiro
junto ao meu. Quero isso, Alice e acho que você quer também.
— Romeo...
— Só uma noite. Só essa noite e nada mais.
Ela tocou em minha mão e foi com relutância que deixei com que ela a abaixasse. Olhando-me nos
olhos, ela disse:
— Romeo, eu admiro muito que tenha sido sincero comigo, por isso, serei o mesmo com você. Eu
não consigo ter casos de apenas uma noite. Sem contar que você é cunhado da minha melhor amiga, a
gente vai se ver o tempo todo, vai ficar uma situação muito constrangedora... Eu não saberei como
agir.
— Somos adultos, vamos saber como nos comportar.
— Você pode saber como se comportar, mas eu, não. Nunca passei por isso e não quero começar
agora — falou com ar de decidida. — Minha resposta continua sendo não.
— Você não se interessou por mim? Nem um pouco?
Eu precisava saber. Se ela respondesse que não — com sinceridade — eu pararia de insistir. Mas
se dissesse sim... Dio, eu acho que não saberia me segurar.
— É claro que me interessei. Você é lindo, inteligente, divertido, me fez rir e me encantou a noite
toda, mas é completamente diferente de mim.
— Você está procurando um relacionamento?
— Não.
— Eu também não. Sendo assim, não há diferença alguma — concluí e ela riu um pouco.
— Não é porque não estou à procura de um relacionamento, que vou me aventurar em casos de
uma noite só.
— Então, quer dizer que você está há quatro meses sem sexo?
— Quase quatro meses.
— Dio! — Fiquei chocado. Como aquilo era possível? — Precisamos mudar isso, Alice.
— Precisamos?
— Sim — murmurei, aproveitando sua mão na minha para acariciar sua pele com o meu polegar.
— Eu prometo que você não vai se arrepender em ficar comigo. Vamos nos divertir muito juntos. Me
dê uma chance, por favor?
Cara... Eu estava mesmo implorando e nem estava ligando para isso. Queria muito aquela mulher!
Alice me olhou com um sorriso de canto de lábio e eu me preparei para o seu sim. Eu quase podia
ouvir a palavrinha mágica no meu ouvido, então, eu beijaria sua boca ali mesmo, porque não poderia
esperar mais! Depois eu ligaria o carro, dirigiria correndo para a minha casa, a levaria para o meu
quarto e...
— Não.
Foi como levar um balde de água fria bem na minha cabeça — tanto na de cima, quanto na
debaixo. Perplexo, olhei para ela e fiquei esperando que dissesse que era uma pegadinha. Mas não
era.
— Essa é sua última palavra?
— Sim.
Ah, merda. Olha a porra do sim vindo na hora errada. Suspirando, apertei a sua mão e a levei na
minha boca, dando um beijo carinhoso.
— Tudo bem. Vou te levar para casa.
O clima ficou estranho e coloquei uma música para tocar enquanto dirigia até o Leblon. Alice foi
me guiando até pararmos em frente à um condomínio de frente para praia. Fiquei imaginando a vista
que ela tinha do seu apartamento. Uma vista que, se dependesse dela, eu nunca teria o privilégio de
ver.
— Obrigada por essa noite, Romeo. Eu amei te reencontrar. E obrigada pela carona, também.
— Não precisa agradecer — falei. Então, em um ato de coragem, tirei meu celular do bolso. —
Anota o número do seu telefone aqui. Talvez, a gente possa conversar depois.
Esperei que ela dissesse não de novo, mas logo pegou o meu celular e anotou seu número,
devolvendo-me segundos depois. Coloquei-o novamente no meu bolso e saí do carro, dando a volta
para abrir a porta do carona para que ela pudesse descer.
— Mande um beijo para o Bob — falou assim que parou ao meu lado.
— E eu? Não ganho um beijo? Estou achando que meu cachorro é mais importante nessa equação
toda.
Ela riu baixinho e ficou nas pontas dos pés para me dar um beijo na bochecha. Senti meu coração
dar uma acelerada louca e fiquei um pouco aturdido, voltando à realidade quando ela me deu um
sorriso e acenou.
— Até qualquer dia, Romeo.
Fiquei que nem um idiota parado na calçada, a observando entrar no condomínio. Quando ela
sumiu das minhas vistas, dei a volta, entrei no meu carro e segurei o volante, sabendo que eu deveria
acelerar e ir embora.
Foi o que fiz, mas, antes disso, tomei uma decisão.
Eu não desistiria de Alice Carvalho. Não mesmo.
Capítulo 4
Cheguei em casa minutos depois e assim que abri a porta, Bob veio correndo para me beijar.
Abaixei-me para falar com ele, mas logo vi a sua atenção voltando para a porta, seus olhos alertas, a
língua de fora e o rabo abanando para lá e para cá. Era como se ele esperasse por mais alguém e eu
não pude deixar de rir, apesar de um lado meu estar se sentindo péssimo.
— É, amigão, hoje eu voltei sozinho — falei, acariciando a sua cabeça. Ele recolheu a língua e
pareceu me dar um olhar solidário. — Eu sei, é difícil de acreditar, mas é verdade.
Levantei-me, troquei a sua água e coloquei mais um pouco de ração em seu pote. Ele ignorou tudo
e veio atrás de mim quando fui para o quarto. Tirei a roupa, tomei um banho rápido, escovei os
dentes e fui para cama. Era cedo ainda — pelo menos para mim em uma noite de sexta-feira —,
passava das três da manhã e estava sem sono, por isso, usei uma tática que eu raramente recorria:
stalkear as redes sociais de alguém.
Pesquisei sobre Alice Carvalho no Instagram e ela foi a primeira aparecer. Tinha mais de
trezentos mil seguidores e mil fotos postadas. Alice parecia usar mesmo aquela rede social e logo
entendi o porquê. Tinha muitas fotos dela, algumas fora do Brasil, mas seu feed era lotado mesmo de
fotos dos seus livros. Pelo o que pude contar, ela tinha mais de dez obras publicadas e seu romance
mais recente se chamava “Inflamável Coração”. As leitoras pareciam estar ensandecidas sobre um
tal de James Slater, que logo entendi que era o personagem principal do livro.
Ela fazia sucesso de verdade e me peguei sorrindo ao ler alguns comentários, leitoras falando que
estavam apaixonadas — tanto pelo livro, quanto por ela —, algumas cobrando a continuação da
história, outras falando que não viam a hora de ver o livro sendo adaptado para o cinema. Era algo
muito bonito de se ver e Alice interagia muito com as leitoras, respondia quase todos os comentários
— que eram muitos — e fazia alguns stories, que corri para ver.
Ela postou o link de uma entrevista que deu para um jornal, fez um boomerang da tela de um
computador e escreveu “trabalhando para pagar os boletos” e eu não pude deixar de rir. Ela não tinha
brincado quando disse que era uma pessoa comum. Por último, fez um vídeo e aumentei o som para
poder ouvir. Sua voz soou alta e clara:
“Olá, amores! Vim aqui para avisar que temos um encontro marcado amanhã, na livraria Gomes
e Rocha, às dezesseis horas, para a tarde de autógrafos do meu novo livro, ‘Inflamável Coração’.
Espero todos vocês lá! Vai ser um evento incrível, teremos brindes, bate-papo e vamos tirar muitas
fotos. As senhas serão distribuídas às quatorze horas. Beijos!”
Senhas? Ficava tão cheio assim? Assustado, sentei-me na cama e comecei a bolar um plano. Era
isso! Eu tinha que ir nesse lançamento! Seria um ótimo jeito de me aproximar dela. Sorrindo, peguei
novamente meu celular e entrei no WhatsApp, sabendo muito bem quem poderia me acompanhar
naquela empreitada.

“Giulia, quer ir à uma sessão de autógrafos de um livro de romances comigo?”

Sabendo que minha sobrinha só iria responder amanhã, saí do WhatsApp, cliquei em “seguir” no
perfil da Alice e me ajeitei para dormir. O plano era perfeito. Apaguei com um sorriso no rosto.
Acordei pouco antes das dez e a primeira coisa que fiz foi abrir o WhatsApp. Giulia tinha
respondido uma hora atrás:
“Tio, você está bêbado?”
Não pude deixar de rir da pestinha.
“Claro que não, me respeita! Kkkkkk.”
O ícone de “digitando” apareceu segundos depois.
“O senhor tem certeza? Releu o que me escreveu?”
“Tenho certeza. E aí, topa ir comigo?”
“Por que quer ir em um lançamento de livro de romance?”
“Porque tem algo lá que muito me interessa.”
“O livro?”
“A autora.”
“Ah, agora eu entendi! Kkkkkkk. E quem é a vítima?”
“Vítima? Que horror! O nome dela é Alice Carvalho, conhece?”
“O QUÊ? COMO ASSIM? EU AMO A ALICE, ELA É A MINHA AUTORA
FAVORITAAAAAAAA!”

Ela começou a enviar umas figurinhas malucas, uma de uma mulher gritando, outra de uma mulher
passando mal e eu comecei a rir. Geralmente, Giulia era contida e reservada, mas, pelo visto, ela era
mais uma na legião de fãs da Alice.

“Devo considerar tudo isso como um “sim”?”


“Claro! Ai, meu Deus! Eu queria tanto ir nesse lançamento, mas não tinha ninguém pra ir
comigo! Nem acreditooooooo.”
“Então, esteja pronta às 12h. A livraria fica em um shopping, a gente almoça e depois
vamos lá para pegar as senhas.”
“Tá bom. Te amo, tio!”
“Kkkkkkk. Eu também te amo muito.”

Depois de me enviar um coração, Giulia saiu falando que iria se arrumar. Ao olhar no relógio, vi
que passava um pouco das 10h, mas podia imaginar como ela estava ansiosa. Como não daria para ir
até o calçadão, dei uma corrida com Bob pelo condomínio. Para ele, tudo era festa e andar pelo
condomínio era uma oportunidade que ele tinha de socializar com os cachorros dos vizinhos. Acabei
encontrando o Seu Osvaldo no caminho, um senhor de 60 anos que morava com a esposa, a Dona
Rosa. Conversamos um pouco e, como sempre, acabei dando boas risadas com ele.
— E você, meu rapaz, quando vai arranjar uma esposa e sossegar?
Ele sempre me fazia essa pergunta, mesmo estando cansado de saber a resposta.
— Nunca, Seu Osvaldo, nunca — ri.
— Rapaz, meu filho era igualzinho a você. Falava que nunca ia se casar, que ia morrer solteiro...
Hoje está casado há quase seis anos e é pai de dois filhos. O ser humano não foi feito pra viver
sozinho, Romeo.
— Quem disse que vivo sozinho? Sou apenas solteiro, não sozinho.
— Dormir com uma mulher a cada noite não é sinônimo de companheirismo, rapaz. Ter uma
companhia durante algumas horas é uma coisa, criar um companheirismo com alguém, é outra
totalmente diferente.
— Companheirismo?
— Sim. Esses jovens da sua geração enxergam o casamento como uma rotina. Você sabe, sou
professor em uma universidade, então, o tanto de baboseira que escuto já está me dando urticária,
mas essa semana eu ouvi um rapaz de vinte e dois anos falar assim: “pô, professor, você acha mesmo
que eu vou perder a chance de foder com várias, pra foder com uma só durante a vida toda? Claro
que não!”.
— Ele está certíssimo — falei. Seu Osvaldo me olhou com uma sobrancelha arqueada.
— Não, ele está errado. Sexo é uma das melhores coisas da vida, mas quando é feito com alguém
que a gente ama e respeita, se torna a melhor coisa da vida. Nós, homens, achamos que somos os
melhores conhecedores dos corpos femininos, mas não há nada melhor do que conhecer cada
centímetro do corpo da mulher que a gente ama. Proporcionar prazer, mesmo depois de anos de
casados, quando a maioria acha que o casal nem transa mais... O segredo do casamento é manter a
chama acesa, rapaz. Quando você ama, respeita e admira, você consegue manter essa chama acesa.
— Eu admiro quem acredita nisso, Seu Osvaldo, de verdade, mas eu não consigo acreditar. Não
foi com esse tipo de exemplo que eu convivi e cresci, então, desde muito cedo, coloquei na minha
cabeça que eu não perderia tempo com esse ideal romântico que as pessoas nutrem. Gosto de ter os
meus pés no chão.
— Rapaz, o amor não é uma escolha. Se você acredita nisso, está sendo ingênuo.
— Acho que o amor é um sentimento superestimado, porque é muito fácil mentir sobre ele.
Quantos homens juram amor eterno e, no minuto seguinte, estão com o telefone na mão, mandando
mensagem para a amante ou marcando um encontro em algum aplicativo de relacionamento? Eu
estudei sobre isso quando comecei a criar o MatchLove. As pessoas mentem, fingem e enganam
usando o amor. Não há nada de bonito nisso.
— Realmente, não há, mas isso não é culpa do amor, é culpa do caráter. Eu sou casado há mais de
trinta anos e nunca pensei em trair a minha esposa, porque eu sou um homem correto e a amo de
verdade.
— Fico muito feliz por vocês — falei com sinceridade e, mesmo sem querer, pensei na minha mãe.
Era um homem assim que ela merecia e não o babaca do meu pai.
— Diferente do amor, a traição é uma escolha, Romeo. Se desde cedo você já sabe o preço de uma
traição, então, tenho certeza que, quando se apaixonar, não será do tipo de homem que jura amor e, no
minuto seguinte, está mandando mensagem pra amante.
Acabei sorrindo e vi que tínhamos dado uma grande volta, pois estávamos em frente à minha casa.
Bob sentou-se, cansado e com a língua para fora e eu me virei para o Seu Osvaldo.
— Não vou me apaixonar, Seu Osvaldo. Nunca.
Seu Osvaldo riu e balançou a cabeça, já se distanciando com Salsicha, seu cachorro.
— Nunca diga nunca, Romeo.
Às 12 horas em ponto, parei em frente à casa do meu irmão e Giulia saiu carregando duas ecobags
enormes. Assustado, perguntei quando ela entrou no carro:
— O que é isso?
— São os livros da Alice, ora essa. Li no post dela que ela vai autografar não só o lançamento,
mas também todos os livros que os leitores levarem. Ai, estou tão ansiosa!
— Quantos livros tem nessas bolsas?
— Doze. Tenho todos os livros lançados por ela.
— E são bons mesmo? — perguntei, colocando o carro em movimento.
— São maravilhosos! O meu favorito é o último que ela lançou, “Inflamável Coração”. Sou tão
apaixonada pelo James Slater! Melhor mocinho da vida.
Giulia quase pulava no banco do carro e eu ri baixinho. Adolescente era uma graça mesmo, ficava
empolgado por tudo. Fiquei imaginando como deveria ser a narrativa da Alice. Será que era algo
parecido com Thalita Rebouças? Uma coisa mais adolescente? Talvez sim, esse tipo de literatura
estava em alta no mundo inteiro.
Continuamos a conversar e logo chegamos ao shopping. Carreguei as duas bolsas com os livros,
enquanto Giulia me contava sobre um trabalho de ciências na escola. Ela não gostava de exatas e
pretendia cursar Literatura, algo que não me surpreendia, pois ela realmente amava ler, desde
pequena. Inclusive, eu fui o primeiro a dar um livro para ela, Harry Potter, o melhor da literatura
fantástica. Tinha orgulho disso.
Paramos para almoçar em um restaurante famoso de massas — nossa comida favorita — e eu pude
notar como alguns meninos olhavam encantados para ela. Giulia nem parecia perceber, focada
demais em comer e falar. Um lado meu, aquele de tio chato e protetor, adorava o fato de ela nem
notar, mas o outro lado já estava se preparando para o momento em que ela apareceria com um
namoradinho. Minha menininha havia crescido.
Terminamos de comer e pensei em comprar um sorvete ou algo assim, mas já era quase duas horas
e eu não queria correr o risco de chegar na livraria e não ter mais senhas, por isso, fomos direto para
lá. Foi com surpresa que notei a fila enorme dando volta na porta da livraria.
— Espera, tudo isso é para a sessão de autógrafos dela?
— Sim, tio — Giulia respondeu animada.
Olhei com mais cuidado e fiquei surpreso de novo.
— Cadê os adolescentes?
— Adolescentes?
— Sim. Onde eles estão? Ela não escreve para o público da sua idade?
Giulia me olhou com uma cara engraçada e soltou uma risada.
— Para a minha idade? Não, claro que não, tio. A Alice escreve romances eróticos.
O quê?
Fiquei de boca aberta e precisei piscar umas duas vezes para pode voltar à realidade. Giulia já
tinha se encaminhado para o final da fila e eu fui atrás, franzindo o cenho.
— Se ela escreve romances eróticos, por que você tem doze livros dela, mocinha?
Giulia ficou com as bochechas vermelhas, mas logo respondeu:
— Porque eu já tenho quase dezoito anos, tio.
— Quase tem, mas ainda não tem.
— Tio, nós dois sabemos que, na minha cabeça, eu tenho muito mais de dezoito anos. Não sou uma
criança e nem me pareço com o pessoal da minha idade — disse ela. — Sem contar que a minha mãe
sabe sobre o que eu leio, não estou fazendo nada escondido.
Merda. A garota sabia argumentar como ninguém. Sem ter o que responder, olhei para frente e
enxerguei a fila de mulheres, todas entre vinte e cinquenta anos, conversando alto e excitadas.
Algumas até usavam uma camisa escrito “Clube da Alice: Alicetes Oficiais” e não demorei meio
segundo para perceber que só havia eu de homem por ali. Giulia começou a rir baixinho do meu lado.
— O que foi? — perguntei.
— Aquele grupo de mulheres ali na frente, tio. Elas estão cochichando e olhando para você. Acho
que estão apaixonadas.
Giulia apontou discretamente para um grupo de cinco ou seis mulheres perto da porta da livraria e,
quando olhei, elas se reuniram para cochichar e me olharam de forma ávida. Claro que senti o meu
ego amaciado — quem não sentiria? —, mas também fiquei um pouco desconfortável, pois a minha
sobrinha estava ali, ela sabia que eu tinha vindo à essa sessão por causa da Alice e não queria que
ela pensasse que eu era um cafajeste — apesar de já ter ouvido esse elogio dirigido a mim saindo da
boca da tia Beatrice.
— Deixa elas — dei de ombro, virando-me para encará-la.
— Tudo bem, eu entendo. Não é todo dia que um homem encara uma fila de autógrafos de um livro
erótico.
— Isso não é um pouco machista? — perguntei, pois Giulia entendia sobre esse tipo de assunto
como ninguém.
— É, sim. Você sabia que têm homens que leem romance erótico, mas não admitem? Falam que é
literatura de “mulherzinha” — ela fez uma careta. — Uma idiotice tremenda.
— Olha a boca.
— Desculpa — pediu, me dando um sorriso. — Mas, agora, com você aqui, talvez as coisas
comecem a mudar.
— Como assim? Está achando que vou levantar alguma bandeira de “homens, libertem-se, leiam
eróticos”? Não vou, não. E não porque sou machista, mas porque nem leio livros eróticos.
— Sei disso, mas, talvez, as mulheres agora consigam trazer os maridos para as sessões de
autógrafos — disse ela, dando de ombros. — Ah, e você vai ler, sim, o livro da Alice. É o mínimo,
já que vai ter que comprá-lo para autografar.
Pensei no assunto e logo tive uma ideia sobre o que fazer com o livro. Ri baixinho para mim
mesmo, pensando que, sim, eu iria ler. Além de curioso, queria saber o que rondava a cabeça da
Alice quando ela escrevia. Uma mulher vestida com um uniforme da livraria começou a distribuir as
senhas, enquanto outras duas mulheres ajudavam as pessoas a irem para o segundo andar e se
acomodarem na sala ampla e espaçosa onde aconteceria a sessão de autógrafos. A minha senha era a
de número 102 e da Giulia era a de número 101. Olhando para trás, pude ver que tinha, no mínimo,
mais umas cinquenta mulheres na fila. Senti pena da mão da Alice, mas também imaginei como
deveria ser emocionante ter toda aquela gente ali, apenas porque gostavam e admiravam o trabalho
dela.
Giulia e eu nos acomodamos e o lugar que pegamos era bom. Não estávamos muito na frente, o que
era maravilhoso, pois eu não queria que a Alice me visse ainda, nem muito atrás, o que era melhor
ainda, pois tínhamos uma boa visão da mesa dela. Como ainda faltava uma hora e meia para o
começo da sessão, pedi para que Giulia guardasse o meu lugar e voltei ao primeiro andar para poder
comprar o livro.
Um rapaz estava colocando uma nova remessa na prateleira de destaque, pois disse que os livros
que tinham colocado ali naquela manhã, já haviam esgotado. Alice era um sucesso de vendas e
aproveitei que ainda tinha um tempinho para poder ler a sinopse do romance. O livro falava sobre um
cantor de rock de uma banda famosa, que tinha problemas com álcool e má comportamento. Para
poder limpar a sua “má reputação”, foi obrigado a entrar para reabilitação e passar sete meses fora
da banda. É quando, depois de ter passado três meses na clínica, conhece Ella Baker, uma confeiteira
da cidade de Nova York, que nunca nem pensou em escutar bandas de rock — ela era fã de R&B.
Uma amizade sensual nasce entre dois, mas muitos obstáculos ficam entre o casal.
A premissa do livro era muito boa, de verdade, mesmo para mim, que nunca pensei em comprar
um romance erótico na vida. O mais perto que cheguei desses livros foi quando assisti Cinquenta
Tons de Cinza com uma mulher que conheci há alguns anos — ela só falava do tal do Christian Grey
e eu acabei a levando para o cinema antes de levá-la para jantar. Mesmo assim, só vi o primeiro
filme, pois não foi algo que me cativou. Christian Grey era um homem muito fora da casinha — ele
simplesmente não existia em lugar algum do mundo — e, por mais que eu soubesse que a fantasia
estava em realmente ler algo que não existia, eu gostava de coisas mais reais. Um astro do rock
viciado em álcool era real o suficiente para mim.
Acabei pegando mais três livros dela, “O Plano Perfeito”, “Por acaso, o amor” e “O que restou de
mim” — esse último prometia uma pegada mais dramática. Ao passar no caixa, fiquei me
perguntando em que momento da minha vida eu cheguei a imaginar que, um dia, estaria comprando
um livro com o nome “Por acaso, o amor”. Bem, nunca. Nunquinha mesmo. E aqui estava eu.
“Nunca diga nunca, Romeo.”
A voz de Seu Osvaldo soou alta e clara na minha mente e eu senti um calafrio na espinha. Minha
mãe costumava dizer que conversar com pessoas mais velhas implicava em duas questões, a
primeira, era que a gente sempre saía mais sábio e, a segunda, era que a pessoa mais velha sempre
dizia algo sobre o nosso futuro, mesmo quando a gente não queria acreditar.
Nunca torci tanto para que minha mãe estivesse errada.
Capítulo 5
Alice entrou na sala de autógrafos às dezesseis horas em ponto e as leitoras foram à loucura.
Houve muita gritaria, palmas e celulares estendidos gravando tudo. Por sorte, eu era alto e consegui
observá-la por cima dos celulares e acabei sorrindo ao ver como estava linda. Com o cabelo preso
em um rabo de cavalo elegante e vestida em uma calça jeans e uma blusa que marcavam as suas
curvas, Alice acenou para todo mundo e mandou beijos, sentando-se em seguida.
Uma mulher que segurava um microfone pediu para que as leitoras ficassem calmas e se
sentassem. Quando as mulheres finalmente se acalmaram, ela se apresentou.
— Boa tarde, pessoal, eu sou a Camila, dona do blog Amores Literários e vou mediar o bate-papo
com a nossa escritora maravilhosa, Alice Carvalho! — Novamente, mais palmas e a Camila levou
mais um minuto inteiro para voltar a falar. — Primeiramente, quero agradecer a editora por ter me
convidado, quase não acreditei quando abri o e-mail, porque, assim como vocês, sou muito fã da
Alice e dos mocinhos maravilhosos que só ela consegue escrever. Eu não sei vocês, mas, a cada
livro que ela lança, eu me apaixono e ganho um novo mocinho favorito.
— Ai, é assim mesmo! — Giulia murmurou ao meu lado. — Pensei que ninguém poderia superar o
Rodrigo Alencar, mas o James Slater superou todas as minhas expectativas!
Eu queria saber mais sobre os personagens que ela estava mencionando, mas, como não os
conhecia e não entendia nada sobre aquele universo fictício, fiquei quieto e apenas sorri — não que
Giulia estivesse interessada na minha resposta, pois ela estava ocupada demais olhando para a Alice
como se ela fosse uma divindade. Eu sequer poderia julgá-la, pois a Alice era uma coisa linda de se
observar — tudo bem que eu a olhava com outros olhos e que, dentro de mim, eu sentisse todo o tipo
de sentimento, menos o amor de fã.
Camila entregou um outro microfone para Alice e a sua voz ecoando pela sala me chamou a
atenção. Ela tinha um sorriso lindo e olhava para as leitoras com emoção.
— Nossa, vocês não podem imaginar como estou feliz por estar aqui! De verdade, meus amores,
antes de tudo, eu preciso agradecer. Se não fosse por vocês, nada disso estaria acontecendo agora.
As leitoras murmuram vários elogios e Alice ficou com as bochechas vermelhas. Eu ao menos
conseguia desviar os olhos dela e me perguntei se estava com cara de bobo, assim como as suas
leitoras.
— Alice, nós que agradecemos por você ser essa pessoa tão especial e amorosa. Sabemos que
você prioriza muito as suas leitoras e que tem um contato assíduo com elas através das suas redes
sociais. Para você, é importante manter esse diálogo? — Camila perguntou.
— Com certeza! É através das minhas leitoras que eu consigo descobrir como o livro foi recebido,
se os personagens as cativaram... Sem contar que as opiniões de todas elas são o mais importante
para mim! — Alice respondeu, virando-se para as leitoras. — Não imagina como é gratificante abri
o Instagram, o Facebook, meu e-mail e ler o feedback de cada uma de vocês. Amo saber o que
acharam do livro, como se sentiram tocada pelos dramas dos personagens, como amaram as cenas
mais quentes... — Todo mundo riu junto com ela. — E o mais importante, como são carinhosas
comigo. Eu recebo tanto amor que não me aguento, quero abraçar cada uma!
— A gente se sente abraçada por você, principalmente quando escreve sobre mocinhos sensuais e
maravilhosos — Camila falou, fazendo as meninas rirem. Fiquei me perguntando o que eu não
encontraria nas páginas daqueles livros que havia comprado mais cedo. A curiosidade estava quase
me matando. — Recentemente, você entrou para a lista dos mais vendidos do The New York Times
com nosso amado Rodrigo Alencar de “O Plano Perfeito”, que foi traduzido para mais de cinco
idiomas. Como você recebeu essa notícia, Alice? Surtou como a gente? Deu uma desmaiada básica?
— Eu fiquei em choque! Juro, quando a minha agente me ligou e me pediu para abrir o e-mail que
ela havia me enviado, eu me sentei na cama e fiquei por quase vinte minutos olhando para a tela do
computador, sem entender direito o que estava acontecendo. Foi surreal! Nunca, em toda a minha
vida, eu imaginei que isso realmente aconteceria. A gente sonha, é claro, mas nunca pensei que esse
sonho louco iria se tornar realidade. Depois que o choque passou, eu comecei a gritar e pular na
cama como uma criança e corri para gravar aqueles stories loucos que postei no Instagram. Ainda
bem que vocês não ligaram para o manicômio para me internar, porque eu estava surtada.
Ela gargalhou e me peguei rindo como um idiota, porque eu estava me apaixonando pelo som da
sua risada. Parei de rir assim que me dei conta dos meus pensamentos.
“Me apaixonado? Não, apaixonando não! Me encantando... Ok, encantando também não era um
termo apropriado. Estava gostando. Isso, gostando da sua risada.”
Fiquei satisfeito ao perceber que não estava me apaixonando por nada e continuei a prestar
atenção no bate-papo. Ri em alguns momentos, porque a menina que estava mediando a conversa era
divertida e Alice embarcava nas suas brincadeiras com entusiasmo. Ela também ficava vermelha com
os elogios e me lembrei de como ficou corada ao meu lado na noite anterior e do modo como me
olhou ao falar que tinha ficado interessada em mim. Queria aquilo novamente, queria ser o
responsável por deixá-la vermelha, não só nas bochechas, mas por todo o corpo. Precisei frear meus
pensamentos, pois certas partes lá embaixo estavam começando a querer dar sinal de vida, o que não
era viável sendo o único homem naquele mar de mulheres.
Isso me fez questionar se Alice já tinha me visto ou não. Talvez sim, mas isso não queria dizer que
tinha me reconhecido. Não estávamos tão próximos e ela estava entretida o suficiente com o bate-
papo, que, por mais incrível que pudesse parecer, eu estava gostando de ouvir — por mais que elas
falassem muito sobre paixão, romance e como os personagens masculinos eram gostosos e
maravilhosos. Era um universo totalmente novo, do qual eu não estava nem um pouco acostumado,
mas era divertido.
Quando o bate-papo acabou e a mediadora abriu espaço para que as leitoras fizessem perguntas,
comecei a bolar um plano. Talvez essa fosse a oportunidade perfeita para que eu fosse notado!
Animado, esperei que a Alice terminasse responder uma leitora e, por fim, levantei a mão. Todo
mundo olhou para mim, inclusive ela.
— Tio? O que está fazendo? — Giulia perguntou baixinho ao meu lado. Acho que estava com
medo de que eu pudesse envergonhá-la.
— Fique tranquila — murmurei, dando-lhe uma piscadela.
Lá na frente, Alice finalmente pareceu me reconhecer e vi como abriu os lábios, ligeiramente
chocada. Dei-lhe um sorriso e segurei o microfone que a Camila pediu que fosse passado para mim.
Percebi que, além do olhar chocado da Alice, muitas leitoras pareciam me enxergar com uma espécie
de admiração e curiosidade.
— Boa tarde, pessoal. Meu nome é Romeo e gostaria de fazer uma pergunta — falei, olhando
diretamente para Alice. — Estava conversando com a Giulia, minha sobrinha — apontei para Giulia
ao meu lado, que estava com as bochechas levemente coradas —, enquanto estávamos na fila para
pegarmos as senhas para a sessão de autógrafos, e ela estava me falando que não é comum que
homens leiam livros eróticos, que muitos acham que essa é uma literatura de “mulherzinha”. Gostaria
de saber a sua opinião sobre isso. Você acha que o machismo atrapalha a divulgação e as vendas dos
seus livros de alguma forma?
Pude ver como ela ficou surpresa com a minha pergunta e algumas mulheres começaram a
cochichar, enquanto outras me olhavam como se eu fosse a personificação de algum personagem da
Alice na frente delas. Não entendi muito bem o porquê de estarem me olhando daquela forma, mas
não deixei que aquilo me incomodasse. Aproximando o microfone da boca, Alice começou a me
responder.
— Eu acho que o machismo atrapalha tudo, de inúmeras maneiras. Infelizmente, o que a Giulia
disse é verdade, poucos homens leem livros eróticos, dos que leem, poucos são os que têm coragem
de admitir, justamente porque a cultura nomeia os romances, principalmente aqueles que são escritos
por mulheres, como literatura de “mulherzinha”, o que é uma forma de não só denegrir os livros,
como também as mulheres. Então, sim, eu acho que o machismo atrapalha os livros, mas acho que são
os livros que estão sendo responsáveis por diminuir o machismo, de certa forma, pois nós, mulheres,
não nos intimidamos mais. Somos livres para fazermos o que quisermos, para escrevermos sobre o
que quisermos, para lermos o que quisermos e só resta aos homens aceitarem isso. E se eles desistem
de ler um livro por este ser de romance ou por ser um livro erótico escrito por uma mulher, eu só
posso dizer que sinto pena deles, pois estão deixando de embarcar em uma boa história por causa de
um preconceito que já está mais do que ultrapassado.
Meu sorriso se ampliou quando Alice foi ovacionada ao terminar de responder a minha pergunta.
As mulheres se levantaram para bater palmas e eu me levantei também, pois ela estava certa. Como
homem, eu me sentia até envergonhado por saber que, de certa forma, era estereotipado como
machista, pois era o que muitos homens eram. Grazie a Dio eu tinha uma mente aberta e estava
sempre disposto a desconstruir os preconceitos que ainda viviam na nossa sociedade e que, querendo
ou não, eram introduzidos em nossa mente desde criança. Quando as leitoras voltaram a se sentar,
Alice sorriu para mim com admiração e eu retribuí, piscando discretamente para ela.
— Tio, eu te amo tanto! Sério, obrigada por isso, foi o melhor momento dessa sessão de
autógrafos! — Giulia disse, abraçando-me pela cintura. Não pude deixar de rir.
— Viu? Estou aprendendo com você.
— Eu sei, você é o meu orgulho — ela sorriu e eu me segurei para não bagunçar o seu cabelo, pois
sabia como ela era vaidosa.
— Você que é o meu orgulho e eu também te amo — murmurei, dando um beijo em sua testa.
Quando voltei a me virar para frente, peguei Alice olhando para mim e para Giulia com um
semblante amoroso no rosto. Nos próximos vinte minutos, ela continuou a responder perguntas de
algumas leitoras, mas sempre acabava olhando em minha direção, como se não acreditasse que eu
realmente estivesse ali. Por fim, quando chegou a hora dos autógrafos, a organizadora do evento foi
chamando as pessoas pelo número das senhas e pouco mais de uma hora depois, chegou a minha vez
e a de Giulia.
— Estou tão nervosa! — Giulia murmurou ao meu lado, apertando meu braço enquanto íamos em
direção à mesa da Alice. — Meu batom está borrado?
— Não, você está linda e a Alice vai amar você.
— Ai, tomara!
Assim como fez com as outras leitoras, Alice se levantou quando nos aproximamos e deu um
abraço apertado em Giulia, que falou um monte de coisa em seu ouvido, a fazendo sorrir. Quando se
afastaram, foi a minha vez e vi o sorrisinho sacana nos lábios dela.
— Não acredito que você está aqui — ela disse em meu ouvido e eu respirei fundo. Porra, como
era cheirosa!
— Eu precisava ver de perto o fenômeno que você é.
— Seu bobo — ela riu em meu ouvido antes de se afastar e voltar para a mesa.
Giulia colocou todos os seus doze livros em cima da mesa da Alice e olhou para ela com um
brilho nos olhos.
— Alice, eu sei que são muitos livros, me desculpe, mas eu não podia perder a oportunidade de
ter meus bebês autografados por você!
— Não se preocupe com isso, eu vou amar autografar cada um deles — ela disse, pegando o
primeiro da fila. — Qual é o seu favorito?
— Antes era “O Plano Perfeito”, mas agora é “Inflamável Coração”. Nossa, como amo o James! E
aquela música incrível que ele compôs para a Ella? Eu estou tão apaixonada!
Alice riu um pouco antes de passar para o próximo livro.
— A música é linda, não é? Eu também sou apaixonada e não só pela música — confidenciou,
dando um olhar cúmplice para a minha sobrinha.
Elas continuaram a conversar enquanto Alice autografava e percebi que ela não colocava apenas o
seu nome ou algo do tipo, ela fazia uma dedicatória de verdade. Fiquei ansioso para saber o que ela
escreveria para mim. Quando terminou de autografar os livros da Giulia e de tirar foto com ela,
coloquei meus três livros na mesa. Vi como ficou surpresa.
— Esses são seus?
— Isso mesmo.
— Então você não veio apenas acompanhar a sua sobrinha? — Ela perguntou com um sorrisinho.
— Não, eu vim porque queria conhecer a Alice escritora. Quero uma dedicatória bem bonita.
Ela deu uma risadinha e começou a autografar. Eu me segurei para não ler conforme ela ia
escrevendo e esperei até ela terminar de autografar o terceiro. Havia um fotógrafo profissional
tirando foto de tudo e posei ao lado dela, mas, quando ele terminou, a puxei com delicadeza pela
cintura e tirei meu celular do bolso.
— Uma selfie com esse novo fã, por favor?
— Novo fã? Só quero ver se vai ler mesmo os livros.
— Eu vou, juro pra você. Se prepare para ser bombardeada com muitas mensagens sobre os livros
— falei, inclinando-me um pouco para sussurrar em seu ouvido: — Tenho o seu número, lembra?
— Como eu poderia esquecer?
A forma como ela sorriu para mim fez com que meu coração desse uma acelerada no peito. Um
pouco nervoso com aquela festa toda dentro da minha caixa torácica, apontei o celular para o nosso
rosto e tirei duas fotos, só para garantir. Por fim, tive que sair do seu lado, porque a fila precisava
andar e ela tinha muitas leitoras pela frente.
Com um sorriso, me afastei e fui com Giulia em direção às escadas para sair da sala, mas parei no
meio do caminho quando tive uma ideia.
— Giulia, vai fazer alguma coisa nesta noite?
— Não, tio. Por quê?
— Porque acabei de ter uma ideia sobre o que podemos fazer mais tarde — falei, lhe dando um
sorrisinho.
Giulia e eu fomos tomar um sorvete para matar o tempo. Apesar de muito insistir para contar sobre
o meu “plano”, fiquei quieto e deixei que minha sobrinha ficasse curiosa e na expectativa, pois sabia
que, se contasse, ela poderia surtar. Pouco mais de uma hora depois, voltamos para a livraria e
Giulia me olhou com o cenho franzido.
— O que viemos fazer aqui? Esqueceu alguma coisa lá em cima?
— Confia em mim?
— Claro que sim, tio — ela deu uma risada como se fosse óbvio.
— Então, vem comigo.
Subimos as escadas que nos levaria à sala onde havia ocorrido a sessão de autógrafos, mas, antes
que pudéssemos atravessar a porta, um homem alto e usando um terno parou na nossa frente.
— Perdão, mas a entrada para a sessão de autógrafos já foi encerrada.
— Ah, eu sei disso, nós saímos da sala há pouco mais de uma hora. Eu só preciso entrar para falar
rapidinho com a autora.
— Sinto muito, mas não posso permitir a entrada de mais ninguém.
Olhei para o homem de cima a baixo e o fato de ele ser alguns centímetros mais alto do que eu não,
me intimidou. Dando-lhe um sorriso amigável, perguntei:
— Qual é o seu nome?
— Carlos, senhor.
— Então, Carlos, eu sou amigo pessoal da Alice, tenho certeza que ela não vai ficar chateada se
você me deixar entrar.
— Eu sinto muito, mas...
— Carlos, por favor! Meu tio e a Alice são mesmo amigos e ele só quer falar com ela rapidinho
— Giulia disse ao meu lado, colocando um olhar pidão no rosto. — Será que você não pode
perguntar a alguém lá dentro se a gente pode entrar? O nome do meu tio é Romeo Benvenuto.
Carlos olhou para minha sobrinha, depois olhou para mim e pensei em colocar um olhar pidão em
meu rosto também, mas recuei ao constatar que seria ridículo. Em uma adolescente de dezessete anos
era fofo, mas em um homem com trinta anos na cara seria uma coisa bizarra. Por fim, ele assentiu e
pediu licença, entrando na sala e fechando a porta em seguida.
— Tio, o que está pensando em fazer? — Giulia questionou, cruzando os braços. — E desde
quando você e a Alice são amigos? Percebi que se conheciam, mas não sabia que era ao ponto de
terem uma amizade.
— É uma longa história. — Uma que, com certeza, eu não lhe diria os detalhes. — Depois eu
explico melhor.
Ela me deu um olhar desconfiado, mas se deu por satisfeita naquele momento e esperamos alguns
minutos até Carlos voltar. Ele nos olhou rapidamente e nos deu passagem para entrarmos na sala.
— Podem ir, a autora deixou que vocês entrassem.
— Obrigado, Carlos.
Entramos e esperamos em um canto, pois Alice ainda estava falando com duas leitoras. Depois de
tirarem fotos, as mulheres saíram e Alice se virou para nós dois, se aproximando com um sorriso.
— O que os trazem de volta?
— Viemos te convidar para jantar — falei de uma vez só, vendo Giulia abrir a boca ao meu lado.
Assustada, ela me olhou com os olhos arregalados, antes de limpar a garganta e se recompor.
— Sim, isso, viemos te convidar para jantar! — Falou um pouco entusiasmada demais. — Você
aceita?
Alice pareceu surpresa com o convite e eu torci para que, pelo menos para aquele pedido, ela me
desse um “sim” como resposta.
“Por favor, Alice, não aguento mais ouvir não vindo de você.”
— Bem, eu tinha marcado um drinque com o pessoal da editora... — Começou ela e eu senti algo
murchar por dentro. Dio, que mulher difícil! — Mas, como a gente sempre toma alguns drinques
depois de uma sessão de autógrafos, acho que eles não vão ficar chateados se eu desmarcar para
jantar com vocês.
Porra! Porra!
Giulia abriu um sorrisão e quase pulou ao meu lado. Quis fazer o mesmo que ela, mas, novamente,
ela tinha dezessete anos e eu, trinta, então, me segurei e só abri um sorriso, comemorando por dentro.
Até que enfim ganhei um sim dessa mulher, meu pai!
Alice pediu licença para falar com o pessoal da editora e Giulia se virou para mim toda
entusiasmada.
— Ai, meu Deus! Ai. Meu. Deus! Não acredito que vamos jantar com a Alice! — Vibrou ela com
um sorriso de orelha a orelha. — Sério, esse está sendo um dos melhores dias da minha vida!
Obrigada, tio! Já disse que te amo hoje?
— Eu acho que essa é a milésima vez que você fala isso pra mim — zombei dela e rimos juntos.
A verdade era que Giulia também estava me ajudando muito, pois sabia que Alice havia gostado
dela e que sua presença em nosso jantar deixaria o clima neutro. Eu sabia como me controlar quando
estava perto dos meus sobrinhos, jamais falaria alguma gracinha de cunho sexual com eles presentes.
Alice voltou minutos depois, com uma bolsa enorme a tira colo.
— Eu não vim de carro, então, seria muito incômodo se eu fosse com vocês?
— Claro que não! — falei, passando uma das ecobags da Giulia para uma mão e deixando a outra
livre. — Deixa que eu carrego essa bolsa para você, parece pesada.
— Está um pouco mesmo, mas não quero incomodar você...
— Não será incomodo algum — insisti e Alice me deu a bolsa.
— São os presentes que as meninas me deram. Elas são tão carinhosas — disse ela, começando a
caminhar ao nosso lado.
— Ah, Alice, sinto muito! Não comprei nada para você — Giulia murmurou ao nosso lado. — O
meu tio me convidou hoje de manhã, aí não tive tempo de comprar um presente.
— Não ligue para isso, Giulia. A presença de vocês dois já foi um presente incrível — Alice
disse, passando o braço pelo da minha sobrinha. — Adorei te conhecer!
Giulia me olhou com a boca meio aberta, como se não acreditasse que a sua escritora favorita
estivesse de braços dados com ela. Ri para mim mesmo e pisquei para minha sobrinha, pensando no
quanto ela era sortuda. Queria eu segurar o braço da Alice...
Na verdade, eu queria muito mais do que segurar o seu braço. Eu queria tudo que fosse possível
com aquela mulher.
Capítulo 6
Depois de perguntar a Alice se ela gostava de comida oriental, resolvi levá-las a um restaurante
japonês que eu adorava e que ficava bem perto do shopping onde havia sido a sessão de autógrafos.
Por sorte, a fila de espera não estava tão grande e conseguimos uma mesa em menos de quinze
minutos. Assim que nos acomodamos e fizemos os nossos pedidos, Giulia perguntou:
— Então, como vocês se conheceram? Ainda é difícil acreditar que meu tio é amigo da minha
autora preferida!
— É difícil acreditar que eu possa ter amigos influentes e cultos?
— Tio, convenhamos, seus amigos não são exatamente pessoas influentes, muito menos cultas.
Alice riu e eu fiquei chocado com a audácia daquela pestinha.
— O que a Alice vai pensar de mim, Giulia? Demonstre um pouco mais de respeito, por favor! —
Fingi que estava bravo, mas as duas sabiam que era mentira, tanto que continuaram a rir da minha
cara.
— Cheguei para salvar o círculo de amizade do seu tio — Alice disse, bebendo um gole do vinho
que o garçom havia nos servido minutos antes. — Bem, nós nos conhecemos no calçadão de
Copacabana. Bob ficou de saco cheio dele e resolveu fugir, mas quando me viu correndo no
calçadão, se apaixonou por mim e pulou no meu colo, me derrubando no chão...
— Espera, não foi bem assim. — A interrompi. — Que história é essa de que o meu cachorro ficou
de saco cheio de mim? Isso jamais aconteceria! Ele é louco por mim.
— Não foi o que eu percebi quando ele pulou no meu colo como se estivesse pedindo socorro —
Alice riu e Giulia olhou para ela com uma cara de besta, meio encantada.
— Bob é um cachorro extremamente simpático, não é, Giulia? Ele faz esse tipo de coisa com todo
mundo, não se engane.
— Verdade, Bob é o cachorro mais doce que já conheci na vida, mas de bobo, não tem nada. Não
acredito que ele te derrubou no chão, Alice — Giulia riu. — E o que aconteceu depois disso? Meu
tio chato insistiu para pegar seu número de telefone?
Arqueei uma sobrancelha para Giulia e ela riu um pouco mais. Pelo visto, ela acreditava
ferrenhamente na minha fama de mulherengo e o pior, era que eu nem podia contestá-la. Era mesmo
um mulherengo e jamais deixaria passar a oportunidade de ficar com uma mulher bonita. E a Alice
não era apenas uma mulher bonita, ela era muito mais do que isso.
Linda, gostosa, com uma bunda grande e desenhadinha, pernas grossas, seios empinados, lábios
cheios que me imploravam por um beijo...
— Bob quis me oferecer um jantar, mas eu recusei — Alice disse, tirando-me dos meus
pensamentos. Foi melhor acordar mesmo, porque havia uma parte do meu corpo que estava querendo
se intrometer onde não era chamada.
Acomodei-me melhor na cadeira para tentar disfarçar o início da minha ereção.
— Bob te ofereceu um jantar? — Giulia perguntou sem entender.
— É lógico. Meu cachorro é educado e quis compensar a forma bruta com a qual abordou a Alice.
Mas, infelizmente, a Alice é muito boa em dizer não a convites e isso deixou o Bob meio para baixo.
— Eu tinha um compromisso naquele dia, não podia aceitar, mas agradeci pelo convite — Alice
disse, olhando para mim por cima da taça de vinho. Pelo sorrisinho no canto dos seus lábios, ela
também estava se lembrando do convite que eu havia feito a ela na noite passada. Convite que ela
recusou.
Senti que Giulia queria saber mais sobre aquela história, mas o garçom chegou com os nossos
pedidos bem a tempo de ela perguntar mais alguma coisa. Eu amava a minha sobrinha, isso era algo
incontestável, mas ela era muito inteligente e tinha sacado desde o começo que o meu interesse na
Alice não tinha nada a ver com os romances que ela escrevia — até porque, eu deixei isso bem claro
quando a convidei para ir à sessão de autógrafos comigo. O problema era que eu não queria que ela
ficasse fantasiando demais. Alice era sua autora favorita e eu, o seu tio. Eu já podia imaginar no que
ela estaria pensando, colocando-nos como um casal, sonhando com o casamento e com os primos que
poderíamos dar a ela.
Esse era o mal do romantismo. Pegava o tesão e o transformava em uma “linda” história de amor.
Isso não aconteceria e, agora, estava me sentindo meio mal por ter colocado minha sobrinha no meio
de tudo isso. Iria acabar a desapontando e odiava a sensação de estar lhe dando falsas esperanças.
Começamos a comer e a conversa, graças a Deus, seguiu por um caminho mais ameno. Giulia,
como a boa fã que era, começou a perguntar para Alice como foi passar uma temporada nos Estados
Unidos no ano passado, tanto para lançar seu romance que entrou para a lista dos mais vendidos do
The New York Times, tanto para pesquisar para escrever o seu novo livro.
— Foi maravilhoso! A cultura deles é tão diferente, mas, ao mesmo tempo, tão familiar. A gente
acaba aprendendo muito com os filmes e os livros que lemos, mas nada supera a realidade, a
convivência. Eu amei o tempo que passei lá.
— Eu fui para a Disney nos meus quinze anos e foi um sonho sendo realizado! Nossa, eu amei
muito, principalmente porque pude ir aos estúdios do Harry Potter. Matei meu tio de inveja — Giulia
riu de mim.
— Não me diga que é um fã de Harry Potter? — Alice me olhou com expectativa.
— Mas é claro que sou um fã de Harry Potter! E fiz questão de passar esse legado para a minha
sobrinha. Foi o primeiro livro que ela leu na vida — falei e estendi a mão para bater na de Giulia,
que sorriu toda boba para mim.
— Que coisa linda! Eu nunca ia imaginar que estou sentada diante de dois fãs de Harry Potter.
— Está vendo? Eu posso te surpreender ainda mais — falei, dando uma piscadinha para ela, sem
pensar muito se Giulia estaria observando tudo ou não. Alice sorriu com as bochechas vermelhas e
eu resolvi mudar um pouco de assunto. — Dante, meu irmão e pai de Giulia, quis me matar quando
passei a frente dele e a iniciei na cultura dos bruxos. O que posso fazer se fui mais rápido e mais
inteligente? Aliás, dos irmãos, eu sou o mais inteligente e o mais bonito, óbvio.
— Como você se acha, tio! — Giulia me deu um tapinha no braço, mas parou de repente quando
viu alguém atrás de mim. Sem entender nada, me virei na cadeira para poder vem quem ela estava
olhando, mas não encontrei nenhum rosto conhecido.
— O que foi? — perguntei a ela.
— É que... Um colega meu acabou de chegar. Sentou em uma mesa ali na frente com os pais —
Giulia disse bem baixinho, como se estivesse com medo de que o menino ouvisse.
— E por que você não vai lá dar um oi a ele? — Alice perguntou. Meu cérebro de tio demorou
meio milésimo de segundo para entender o que estava acontecendo ali.
— Ela não vai dar oi a ninguém. Que bobagem! — falei com certo ciúme, bebendo um gole do meu
vinho. As bochechas da Giulia ficaram vermelhas e ela desviou os olhos, focando no prato. Me senti
mal e limpei a garganta, vendo que Alice me olhava com uma expressão desgostosa. — Quer dizer...
De onde vocês se conhecem?
— Da escola, ele entrou no meio do ano — ela disse ainda cabisbaixa, mexendo no macarrão do
yakissoba.
— Ah! Olha, Giulia, acho que ele te reconheceu! — Alice disse baixinho, cutucando o braço dela.
Giulia levantou rápido a cabeça e a forma como seus olhos brilharam ao olhar para o garoto fez o
meu coração dar uma guinada no peito. Ah, não... Puta merda! Curioso, olhei para trás e vi um
menino, que deveria ter no máximo dezoito anos, olhando para ela e acenando ao mesmo tempo,
dando um sorriso. O filho da putinha era bem ousado e eu precisei segurar meu instinto protetor de
tio para não falar algo que acabasse magoando a minha sobrinha.
— Tio, posso ir lá falar com ele? — Giulia me perguntou com esperança e certo medo no olhar e
me senti péssimo por saber que ela estava temendo a mim. Justo a mim, o tio mais legal do mundo,
que sempre a apoiou em tudo e que, por diversas vezes, fui aquele com quem ela se abriu quando não
tinha mais ninguém para conversar.
— Claro, pode sim — falei, vendo-a soltar a respiração. Antes que se levantasse, porém, segurei a
sua mão. — Me perdoe por ter sido grosseiro antes. Eu só não estou preparado para ver a minha
menininha namorando por aí.
Giulia soltou uma risadinha, mas suas bochechas continuaram vermelhas.
— Tio, ele é só um amigo.
— Ainda — falei com certo desespero e até Alice riu de mim. — Vai lá.
Giulia saiu da mesa e eu a acompanhei com o olhar, vendo o menino se levantar para abraçá-la.
Tive que dar créditos a ele, pois o filho da mãe arrastou a cadeira desocupada ao seu lado para que
ela pudesse se sentar, em seguida, a apresentou para os pais, que foram simpáticos. Quando percebi
que meu interesse estava passando dos limites da curiosidade, virei-me para Alice, que me olhava
com um enorme sorriso no rosto.
— O que foi?
— Não acredito que você é do tipo ciumento — ela disse, balançando a cabeça.
— Sou do tipo tio ciumento, não sou ciumento no geral — falei. — Só quero zelar pela minha
sobrinha.
— Giulia tem o quê? Dezessete? Dezoito anos?
— Dezessete.
— Pois então, tenho certeza de que, na idade dela, você estava passando o rodo na escola — ela
riu.
— Mas é diferente.
— Por ela ser mulher? — perguntou com uma sobrancelha arqueada.
— Por ela ser a minha sobrinha. Sei muito bem como os meninos são nessa idade.
— Claro que sabe, você foi um deles — ela disse, ainda rindo um pouquinho. Por fim, me deu um
olhar solidário. — Giulia me pareceu ser uma menina muito responsável e inteligente, tenho certeza
de que ela não vai cair no papo de qualquer um. E o menino está jantando com os pais em uma noite
de sábado, isso quer dizer alguma coisa, não acha?
— Pode ser aniversário de um dos pais — falei, não querendo dar o braço a torcer.
— Ou pode ser que não. Talvez, ele seja só um menino que não gosta muito de ir pra farra — deu
de ombros e eu ri.
— E isso existe?
— Claro que existe. Nem só de safadeza se vive um homem, Senhor Benvenuto — disse ela, me
dando uma piscadinha que eu senti direto no meu pau. — Agora, me diga uma coisa... Você se chama
Romeo, seu irmão mais velho se chama Dante... Por algum acaso a sua mãe se inspirou nos clássicos
da literatura europeia?
— Acho que só uma escritora perceberia algo desse tipo — eu ri, assentindo. — Sim, minha mãe é
apaixonada pelos clássicos, então, o nome do meu irmão foi inspirando em Dante Alighieri e o meu
foi inspirando em Romeu e Julieta. Como pode ver, eu combino muito com o personagem de
Shakespeare — falei com ironia.
— Combina, sim. Um Romeo que não acredita no amor, nem em romances... Sua mãe acertou em
cheio — ela riu. — E Alexandre? Foi inspirado em quem?
— Meu pai se intrometeu na escolha dos nomes dos filhos e decidiu que meu irmão do meio se
chamaria Alexandre, inspirando em Alexandre, o Grande. Ele queria que um dos filhos tivesse nome
de rei. — Revirei os olhos. Meu pai me cansava muito na maioria das vezes.
— Isso é lindo, Romeo. Eu acho incrível quando há uma história por trás da escolha do nome de
um filho. Gostaria de dizer que meu nome foi inspirando em Alice no País das Maravilhas, mas, não.
Minha mãe só escolheu o primeiro nome que veio a sua mente e meu pai aceitou — ela sorriu um
pouco, mas vi certa tristeza em seu olhar.
— Por mais que não haja uma história por trás do seu nome, preciso dizer que o seu nome vai
fazer história, na verdade, já está fazendo. Você é uma das maiores escritoras brasileiras da
atualidade, inspira milhares de pessoas, minha sobrinha é a prova real disso. Quer um feito maior do
que esse?
Quando seus olhos brilharam para mim e a emoção tomou conta do seu rosto, senti uma onda
quente de satisfação se apoderar do meu peito. Nunca, em toda a minha vida, havia sentido um prazer
tão grande em dizer palavras bonitas para uma mulher. Talvez porque, na maioria das vezes, elas não
eram verdadeiras em tudo, pois vinham de um discurso pronto e usado por vários homens ao redor
do mundo. Daquela vez, no entanto, eu quis dizer tudo aquilo, foram palavras genuínas e que vieram
do fundo do meu peito. E também não tinham nada a ver com sexo.
— Não acredito que você vai me fazer chorar — ela riu e apertou o canto dos olhos com a ponta
do dedo para dispersar as lágrimas. — Obrigada, Romeo, de verdade.
— Eu só falei a verdade e as mulheres que foram à sua sessão de autógrafos são a prova disso.
— Eu ainda não acredito que você realmente foi à minha sessão de autógrafos e que ficou até o
fim.
— E ainda te fiz uma pergunta.
— E comprou três livros meus. Três! Para um homem que não acredita em romances, esse é um
feito e tanto — ela riu e eu a acompanhei.
— Quero conhecer o seu trabalho, principalmente porque, agora, eu sei exatamente sobre o que
você escreve.
Ela arqueou uma sobrancelha e me olhou com um ar divertido e sensual ao mesmo tempo. Dio, a
mulher queria me matar.
— Sobre amor?
— Sobre sexo. — Inclinei-me um pouco sobre a mesa e olhei direto nos seus os olhos. — Quero
descobrir o que se passa dentro dessa cabecinha quando a cena se passa entre quatro paredes.
— Nem sempre essas cenas se passam entre quatro paredes — confidenciou, me dando um
sorrisinho de lado.
— É mesmo?
— Sim.
— Então, você, ou melhor dizendo, os seus personagens, são adeptos a sexo em público?
— O perigo torna tudo mais excitante, segundo eles.
— Claro, segundo eles — falei, sentindo meu sangue correr quente nas veias. O que eu mais queria
naquele momento era correr perigo ao lado daquela mulher. — E segundo você?
Ela me olhou e pousou o hashi sobre o prato vazio.
— Eu gostaria de ter metade da coragem que eles têm.
— E por que não tem?
— Não sei — falou com sinceridade.
— Vou te dizer o porquê — falei com ar de especialista. — Porque você nunca encontrou alguém
que te impulsionasse a ter a mesma coragem que eles.
— E será que um dia eu vou encontrar esse alguém?
— Se você olhar com atenção, vai ver que já encontrou — sorri, apontando para mim mesmo. Ela
riu de mim, mas eu nem liguei. — É preciso ter coragem para deixar o romantismo de lado e encarar
uma vida sem amarras. Eu posso te dar isso.
— Eu aposto que sim.
— Então, passe essa noite comigo. Deixe-me te mostrar como é bom ter coragem, pelo menos por
uma noite — sussurrei, usando o meu melhor tom de voz para persuadi-la. Com cuidado, toquei em
sua mão e deixei que as pontas dos meus dedos deslizassem até o seu pulso. Ela estremeceu. — Eu
tenho certeza de que vamos nos divertir muito juntos, Alice. De uma forma que você nunca mais vai
esquecer.
— Romeo...
— Eu sei que você pensa muito sobre o futuro, que vamos nos encontrar bastante daqui pra frente,
pois meu irmão é namorado da sua melhor amiga, mas nós somos adultos, Alice. Não vamos
confundir as coisas.
— Você não pode falar por mim — ela disse, entrelaçando os dedos nos meus. — Eu gostei de
você assim que nos esbarramos no calçadão em Copacabana. Senti que você era um cara legal e isso
só se confirmou nas vezes em que nos vimos, mas hoje foi além. Acabei de presenciar um lado seu
que eu nem imaginava que existia. Você é um tio maravilhoso e posso imaginar que deve ser ainda
mais incrível com a sua família, por isso, quero manter a nossa relação do jeito que ela está. Quero
ser sua amiga.
— Amiga?
— Isso.
— Está falando sério?
Eu não podia acreditar. Dio, que maré de azar era aquela? Eu tinha a mulher mais linda do mundo
sentada a minha frente, estava louco para ir para cama com ela e ela queria ser minha amiga. Eu
deveria ter feito algo muito ruim na minha vida passada para merecer um castigo como esse.
— Sim. — Ela acariciou a minha pele com o polegar. — Estou.
Porra!
— Tudo bem, nós podemos ser amigos, mas isso não quer dizer que vou desistir — a alertei e vi
como ficou surpresa. — Quero você, Alice. Quero na minha cama e não vou desistir tão fácil assim.
— Mas, Romeo...
— Ontem, você me disse que ficou interessada em mim, lembra?
— Claro que sim.
— Eu não vou deixar esse interesse morrer, Alice. Vou intensificá-lo até que você não tenha outra
escolha que não seja ficar comigo. — Pisquei para ela e levei sua mão aos meus lábios, dando um
beijo demorado. — Só vou parar quando tiver certeza que o seu interesse por mim, morreu
completamente. Enquanto existir uma chama, eu não vou desistir.
Ela mordeu o lábio e assentiu de leve, quase que imperceptivelmente, mas eu vi e sorri para mim
mesmo. Aquela mulher ainda seria minha, ou eu não me chamava Romeo Benvenuto.
Capítulo 7
Infelizmente, o condomínio onde Alice morava ficava no meio do caminho entre o restaurante em
que jantamos e o condomínio de Giulia, por isso, tive que deixá-la em casa primeiro. Ela abraçou a
Giulia e sussurrou algo em seu ouvido que deixou a minha sobrinha toda boba, em seguida, eu saí do
carro e abri a porta para que ela descesse. Pegando a bolsa com os presentes de suas leitoras da
minha mão, ela se virou para mim com um sorriso enorme.
— Obrigada por tudo, Romeo, de verdade! Eu adorei a presença de vocês dois na sessão de
autógrafos e amei o nosso jantar.
Pelo vidro fumê do carro, vi que a tela do celular de Giulia estava acesa e torci para que ela
estivesse entretida em alguma rede social, pois, assim, não veria o que eu faria a seguir. Sendo
ousado, aproximei-me de Alice e pousei uma mão em sua cintura, quase colando os nossos corpos.
Pude sentir como ela estremeceu e o modo como mordeu o lábio inferior me deixou louco. Se Giulia
não estivesse no carro, eu atacaria aquela boquinha até ouvir seu gemido vindo do fundo da garganta.
— Jante comigo amanhã — pedi baixinho, olhando para os seus lábios. O inferior ficou vermelho
quando saiu do cativeiro dos seus dentes.
— Romeo...
— Só um jantar. Como amigos.
Amigos. Estava começando a odiar essa palavra.
— Está bem. Como amigos — ela ressaltou. Não pude deixar de sorrir ao finalmente ouvir o seu
sim.
— Ótimo. Venho te buscar às oito, tudo bem?
— Vou esperar por você.
Sem conseguir me segurar, beijei o canto dos seus lábios demoradamente e respirei fundo para
guardar o seu cheiro comigo. Adorava que ela não usava um perfume muito doce, o que, de certo
modo, se tornava a antítese dela. O estereótipo de uma escritora de romances era diferente em minha
cabeça.
— Até amanhã.
— Até amanhã.
Como na noite anterior, esperei que ela sumisse das minhas vistas antes de voltar para o carro.
Assim que coloquei o veículo em movimento, Giulia pulou para o banco do carona e me olhou com
um sorriso que poderia muito bem dividir a sua face ao meio.
— Não acredito que você quer namorar com a Alice! Ai, meu Deus do ceeeeeeéu! — Ela
prolongou a palavra até quase perder o fôlego e ficou pulando sentada em cima do banco. Eu ri do
seu histerismo e balancei a cabeça.
— Não é nada disso.
— É isso, sim!
— Não é, não!
— Eu vi muito bem o seu olhar para cima dela e o olhar dela para cima de você. E você me disse
por mensagem que estava interessado nela — disse com um olhar petulante para cima de mim.
— Você viu o olhar dela para cima de mim, é? — Perguntei, ficando mais interessado naquela
conversa. — Que tipo de olhar?
— Ah, tio, você sabe... Ela está interessada.
— Está?
— Claro que está!
— Porra! Isso, caralho! — Comemorei baixinho, dando um soquinho no volante. Giulia riu de
mim.
— Vai namorar com ela, não vai? Diz que sim, por favor!
Olhei para a minha sobrinha e soltei um suspiro, pensando em como poderia destruir o seu sonho
sem deixá-la tão desapontada comigo.
— Giulia, você sabe que eu não namoro.
— Mas a Alice é diferente, tio.
— Diferente?
— Sim. Você viu como ela é maravilhosa, gentil e educada. Ela é diferente.
— Você acha que eu fico com quais tipos de mulheres, Giulia? Não saio pegando a primeira vejo
que por aí.
Minha sobrinha cruzou os braços e me olhou com olhos semicerrados. Soltei outro suspiro.
— Tudo bem, talvez eu não tenha uma lista de preferência tão extensa assim, mas isso não quer
dizer que eu saia passando o rodo em tudo quanto é tipo de mulher.
— Tio — ela arqueou uma sobrancelha.
— Está bem, eu pego todo tipo de mulher, mas e daí? Eu sou solteiro — ergui uma mão para tentar
me defender do seu ataque silencioso.
— Eu sei que você é solteiro e está tudo bem com isso, mas, você sabe... A Alice é diferente —
disse ela com um ar sonhador. — Seria tão incrível se vocês namorassem e ela entrasse para a
famiglia! Nossa, nonna iria adorá-la!
Dio! Era por isso que já estava arrependido por ter levado Giulia comigo nessa loucura. A menina
já estava cheia de caraminholas na cabeça.
— Giulia, vou te explicar uma coisa — falei, olhando rapidamente para ver se ela estava
prestando atenção. — Eu sou um homem livre e gosto de ser assim. Sei que você é fã da Alice e que
eu posso ter passado a imagem errada, mas não quero namorar com ela.
Ela murchou sobre o banco do carro.
— Ah... Só quer transar com ela?
Olha o tipo de conversa que eu estava tendo com a minha sobrinha de dezessete anos. Se Dante
sonhasse, iria me matar. Resolvi ser sincero.
— Bem, sim.
Depois disso, Giulia ficou quieta ao meu lado, olhando pela janela. Novamente, me senti mal por
tê-la envolvido nessa história toda. No começo, o plano parecia genial, mas, agora, via que fui
imprudente. Giulia era uma menina ainda, inocente, devorava romances e tinha sonhos, como
qualquer garota da sua idade. Saber que existia homens como eu deveria ser a pior coisa do mundo
para meninas como ela.
Depois de ter me identificado na porta do seu condomínio, entrei e dirigi até parar em frente à sua
casa. Sabia que deveria falar alguma coisa, mas não sabia ao certo o que dizer. Como iria me
desculpar por ser quem eu era?
— Giulia, não queria magoar você — falei, tocando em sua mão. Ela me olhou com uma expressão
desanimada.
— Está tudo bem, tio, eu que fui boba e comecei a imaginar um monte de coisas... — Deu de
ombros.
— Não, eu que errei. Acho que dei a entender que queria algo sério com a Alice... Enfim, a vida
adulta é complicada.
Ela balançou a cabeça.
— Não, vocês, adultos, que complicam a vida. Parece que vocês sentem medo de tudo. Você, por
exemplo, sente medo de se apaixonar.
— O quê?
— É isso. — Ela me olhou como se soubesse de tudo. — Você sente medo de se apaixonar, por
isso vive com uma mulher nova a cada fim de semana. Agora, está tentando fazer com que a Alice
ocupe aquele lugar vago na sua cama por uma noite, mas está desapontado porque ela não é assim.
Olhei para minha sobrinha de boca aberta, sem saber ao certo o que dizer. Mas que porra era
aquela?
— Giulia, nem tudo é tão preto no branco assim.
— É, sim. É tudo bem simples para mim, mas vocês, adultos, complicam tudo. Tio, você é um
homem maravilhoso, divertido, inteligente, bonito e faz sucesso com as mulheres. Eu sei que a Alice
não vai resistir por muito tempo, por isso, posso te pedir uma coisa?
— O quê?
— Cuidado para não a magoar. Ou melhor, cuidado para não magoar vocês dois. Eu posso ser
apenas uma menina de dezessete anos, virgem e que não sabe nada sobre a vida dos adultos, mas já li
romances suficientes e sei como isso termina. — Inclinando-se, Giulia me deu um beijo no rosto e
pegou as ecobags com os seus livros. — Eu te amo, obrigada pelo dia de hoje, eu amei.
Sem me dar tempo para dizer ao menos um tchau, ela saiu do carro e fechou a porta, sumindo das
minhas vistas ao entrar em casa. Como um idiota, fiquei por quase cinco minutos parado como uma
estátua dentro do carro, olhando para o nada, com a cabeça lotada de algodão, ainda ouvindo a sua
voz decidida soar em meus ouvidos.
Você sente medo de se apaixonar, por isso vive com uma mulher nova a cada fim de semana.
Como uma menina de dezessete anos tinha a audácia de falar aquelas coisas para mim? Coisas que
nem eram verdades, para começo de conversa. Eu, com medo de me apaixonar? Quis rir, mas não
senti muita graça. Claro que eu não sentia medo algum, porque nem acreditava nessas coisas. Giulia
era apenas aquilo, uma menina de dezessete anos que não sabia nada sobre a vida dos adultos,
como ela mesma havia dito. Sendo assim, eu não deveria levar as suas palavras em consideração.
Mesmo assim, enquanto saía do condomínio aonde ela morava e dirigia para minha casa, deixei
que suas palavras me impactassem mais uma vez.
Cuidado para não a magoar. Ou melhor, cuidado para não magoar vocês dois.

Alice
Joguei-me na cama e fiquei encarando o teto com o olhar perdido, a cabeça cheia e o corpo
tomado por inúmeras sensações. Nem precisava fechar os olhos ou esforçar a memória para sentir o
toque dos lábios de Romeo no canto dos meus ou a pressão de seus dedos ao redor da minha cintura;
parecia que o homem havia queimado esses lugares com ferro em brasa.
A primeira vez em o que o vi, me senti impactada. O homem parecia ter saído de dentro de um dos
meus livros e se materializado na minha frente, como mágica. Só isso poderia explicar a sua beleza.
Sabe quando lemos a descrição do mocinho em um livro e pensamos “ok, o homem é lindo, mas
nunca vai aparecer um assim na minha frente”? Pois então, era como eu costumava pensar, até ver a
sua mão estendida para mim enquanto minha bunda doía por conta do empurrão que seu cachorro
havia me dado. Eu fiquei sem palavras, mas acho que me saí bem e nem fiquei babando — coisa que
era muito possível de acontecer.
E ele sabia que era bonito. Não só sabia, como usava isso como uma arma, disparando sem dó em
cada uma das mulheres que corria pelo calçadão. Com aquele sorriso irresistível, o cabelo
levemente despenteado, o rosto livre de barba e um corpo que, mesmo escondido pela camiseta sem
mangas e o short de corrida, podia causar uma parada cardíaca em qualquer pessoa que se sentisse
sexualmente atraída por homens, o cara era um espetáculo.
Eu nem sei como consegui aparentar normalidade na frente dele e, quando me pediu, tão
criativamente, para jantar em sua casa, sabia que precisava recusar. Eu me sentia frágil depois de ter
terminado com Caio — mesmo que o nosso rompimento tivesse acontecido há quase quatro meses —
e não estava pronta para começar nenhum relacionamento. Obviamente, sabia que o que Romeo
procurava não era um relacionamento propriamente dito, mas eu também não conseguia ir para cama
sem sentir nada pelo cara.
Às vezes, ser tão sentimental era um saco e um atraso de vida. Nesses momentos, queria ser um
pouco mais parecida com a minha mãe.
O toque do meu celular me despertou. Por um momento, pensei que poderia ser o Romeo e até
torci por isso internamente, mas logo vi que era Paula. Ela estava fazendo uma chamada de vídeo e
eu atendi.
— Caramba, difícil falar com você mulher! Como foi a sessão de autógrafos?
Pude ver ao fundo que Paula parecia estar dentro de um banheiro. Desconfiada, perguntei:
— Aonde você está?
— No hotel, dentro da banheira. — Ela sacudiu a mão e pegou o celular do suporte aonde estava,
filmando rapidamente o banheiro e a banheira cheia de espuma. Felizmente, seus seios estavam
escondidos. — Depois de uma reunião estressante em pleno sábado, eu mereço!
Paula trabalhava como advogada em uma multinacional e, às vezes, precisava acompanhar o grupo
de diretores em algumas reuniões. Hoje, ela precisou voar para Brasília na primeira hora da manhã.
Foi chamada de última hora para substituir um advogado que passou mal e não poderia ir.
— Então, como foi a sessão de autógrafos?
— Foi maravilhosa, como sempre! Você não vai acreditar quem apareceu por lá.
— Quem? — Antes mesmo que eu pudesse responder, ela fez uma careta. — Ah, não! Não me diga
que o imbecil do Caio apareceu lá. Nossa, se eu esbarro nesse filho da puta no meio da rua, arranco
as bolas dele com as minhas unhas!
Não pude segurar a risada, porque sabia que ela era capaz de fazer isso mesmo.
— Não, não o vejo há mais de um mês, graças a Deus. Foi outra pessoa.
— Outra pessoa? Quem?
— O seu cunhado.
Paula demorou meio segundo para fazer a ligação e sua boca caiu aberta. Ela estava sem palavras.
— Como assim? Me conta isso direito!
— Foi isso que você ouviu. Eu não o vi lá até a hora das perguntas das leitoras. A sala estava
lotada, então, só percebi que era ele, quando ele se levantou e me fez uma pergunta.
— Ele te fez uma pergunta no meio daquele bando de mulheres?
— Sim — ri ao me lembrar. — E foi uma pergunta bem interessante, viu? Sobre machismo.
— Deus do céu, eu estou chocada!
— Ah, e ele não foi sozinho. Levou a sobrinha com ele, Giulia o nome dela. Que menina fofa!
Estou apaixonada por ela.
— Hum... Só por ela? — Ela sorriu e eu revirei os olhos, rindo baixinho.
— Deixa de ser boba, amiga.
— Não, você que precisa deixar de ser boba! Eu vi muito bem o modo como ele estava te olhando
ontem à noite. O homem estava quase babando e ainda quis te levar para casa... Não sei como não te
levou para o apartamento dele.
— Ele tentou, mas eu disse não.
Paula me olhou através da câmera com os olhos arregalados.
— Como assim você disse não? Está louca?
— Não, eu não estou louca, eu só...
— Olha, o Alexandre é um pedaço de mau caminho, é o homem da minha vida, eu o amo com todo
o meu coração, mas o Romeo... Fala sério, que homem é aquele? Ele parece aqueles modelos que
você usa para as capas dos seus livros! Não acredito que você disse não para ele!
— Paula, seria apenas uma noite e você sabe que eu não consigo sair transando assim. É difícil
para mim.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— É, Alexandre me disse que o irmão caçula é avesso a relacionamentos, que ama a vida de
solteiro e blá, blá, blá. Mas ele é lindo, amiga. E gostoso! É meu cunhado, mas não sou cega.
— Eu também não sou cega, mas tenho medo. Sem contar que ele vai muito além da beleza. Fomos
jantar hoje e, Paula, ele é um homem muito legal. O tipo de homem por quem eu certamente me
apaixonaria.
— Ih... Então, deixa! Chega de ter esse coração partido — disse ela, olhando-me através da
câmera.
— Ele me chamou para jantar amanhã e eu aceitei.
— Aceitou?
— Sim, mas ele disse que seria um jantar como amigos. Ele me chamou para passar a noite com
ele hoje, mas neguei mais uma vez e disse que queria ser apenas amiga dele. Ele aceitou, mas disse
não vai desistir tão fácil assim.
— Bem, então, você sabe que esse jantar não tem nada de amigável, não é? O homem está
investindo, amiga.
— Está, não é?
— Sim e, aceitando, você está dando esperança para ele. Se realmente não quer parar na cama
dele, é melhor mandar uma mensagem recusando o convite.
Fiquei alguns segundos em silêncio, ponderando as suas palavras. Eu queria muito ir ao jantar,
pois adorei ficar na presença de Romeo. Ele era um homem muito simpático, divertido, me fazia rir e
me deixava excitada na mesma proporção. Era como se ele estivesse me tirando da inércia em que
vivi nos últimos meses, depois da separação com Caio. E era isso que me dava mais medo, ser
despertada por um homem que não queria nada mais do que sexo.
— É, você tem razão. É melhor eu recusar o convite.
— Sim, é melhor. Não vai ser como se você nunca mais fosse vê-lo, eu namoro o irmão dele,
vocês vão se encontrar sempre. Terá oportunidade de babar naquela beldade em silêncio.
— Paula! — Comecei a rir e ela me acompanhou, balançando a cabeça. — Obrigada, amiga. Não
sei o que faria sem os seus conselhos.
— Faria uma burrada bem grande — ela disse. — Sabe de uma coisa, amiga? Se você não fosse
tão sentimental, insistiria para que fosse para cama com Romeo. Você é linda, gostosa e merece ir pra
cama com um cara que, se puxar ao irmão, meu amor... Vai te foder muito bem.
— Paula! Pelo amor de Deus, não quero olhar para o Alexandre e ficar imaginando essas coisas!
— Mas é verdade. O homem tem uma pegada que me deixa louca, mas, enfim... Sei exatamente
como você é e não quero que se magoe, já não basta o que o babaca do Caio fez você sentir. Você
merece encontrar um homem que te ame e te valorize, não alguém que quer passar apenas uma noite
ao seu lado.
Senti meu coração se apertar ao ouvir as suas palavras. Paula era minha amiga desde a
adolescência e havia me amparado todas as vezes em que tive o meu coração partido. Infelizmente, o
mesmo talento que eu tinha para escrever romances de tirar fôlego, se equivalia ao talento que eu
tinha para escolher homens que não prestavam. Meu dedo era mais do que podre.
Ficamos conversando por mais algum tempo, até a água da banheira ficar fria e Paula ter que sair
para se secar. Quando desligamos, pensei em mandar logo uma mensagem para Romeo e cancelar o
jantar, mas enrolei um pouco, tomei banho para criar coragem, em seguida, guardei os presentes que
ganhei das minhas leitoras e, só quando estava pronta para dormir, foi que respirei fundo e digitei
uma mensagem para ele. No fundo, estava me sentindo uma covarde, mas quem não era covarde
quando o assunto dizia respeito ao coração? Eu não tinha o menor talento para ser masoquista e sabia
que iria confundir as coisas com Romeo que, por consequência, acabaria me magoando.
Me magoando por culpa minha, diga-se de passagem, pois ele sempre deixou bem claro que seria
apenas sexo. Cliquei em enviar e reli a mensagem assim que foi entregue para ele.

“Romeo, aconteceu um imprevisto e vou ter que cancelar o nosso jantar de amanhã. Sinto
muito, espero que não fique chateado comigo. Beijos.”

Uma mensagem horrível, que deixava bem claro que eu estava dando uma desculpa esfarrapada
para não ir. Mas era o melhor que eu poderia fazer no momento. Desligando o celular para não ter
que ler a sua resposta, virei pro lado e tentei dormir.
Capítulo 8
“Romeo, aconteceu um imprevisto e vou ter que cancelar o nosso jantar de amanhã. Sinto
muito, espero que não fique chateado comigo. Beijos.”

Fiquei como um idiota lendo e relendo a sua mensagem, sentado na cama com a toalha amarrada
em minha cintura e meu cabelo molhado escorrendo gotas de água pelas minhas costas. Depois das
palavras de Giulia, lutei com todas as forças para não sentir a minha esperança esmagada, mas,
agora, eu via que não tinha realmente uma batalha para lutar, pois a minha esperança havia acabado
de morrer.
Era sério aquilo? Alice estava me dispensando com aquela desculpinha genérica? Pelo o que me
lembrava, ela havia dito que prezava pela honestidade, então, por que não estava sendo honesta
comigo? Preferia mil vezes que dissesse na minha cara que simplesmente não queria ir ao jantar, do
que inventar que tinha “acontecido um imprevisto”.
Sabia que era um tanto irracional, mas fiquei puto e taquei o celular na cama antes que ligasse para
ela e falasse alguma besteira. Porra, havia passado o dia inteiro na sua sessão de autógrafos, havia a
levado para jantar, tínhamos nos divertido e era isso que eu merecia no final? Uma mentira idiota e
uma dispensa fria? Me senti um idiota completo. O que eu esperava, afinal? Só queria transar com
ela, se ela não queria, bem, havia uma fila de mulheres que, com toda a certeza, jamais me
dispensaria.
Abrindo o meu closet, me arrumei o mais rápido que consegui e enfiei meus pés em um par de
tênis, em seguida, fui para o banheiro e penteei o cabelo com as mãos mesmo, espirrando um perfume
no final. Pelo reflexo do espelho, vi que Bob me olhava com interesse — talvez por causa da
carranca que não queria sair da minha cara.
— Bob, aqui vai uma lição de vida — falei, virando-me para ele. — Quando você é dispensado,
não pode ficar se lamentando, entendeu? Não existe apenas uma mulher na face da Terra, pelo
contrário, há milhares de mulheres por aí e a maioria está esperando que o cara certo chegue com a
conversa certa para levá-la para cama. Jamais se deixe abater por conta de um não!
Bob continuou a me olhar com aquela cara de quem não estava nem aí para a minha lição de vida
e, ao invés de sentir graça como normalmente acontecia, só me senti mais frustrado. Até o meu
cachorro estava cagando para mim, Dio! Bufando, peguei as chaves do meu carro e meu celular,
mandando uma mensagem para os meus amigos enquanto saía de casa. Estava disposto a esquecer a
dispensa fria da Alice nos braços quentes de uma mulher gostosa.

A boate em que meus amigos estavam em Botafogo, estava lotada. Em pleno sábado, a La Noche
fervia com corpos dançantes e o ritmo latino, que era a especialidade da casa. Apesar de já estar ali
há quase quarenta minutos, ainda não me sentia no clima para a “caça”, como meus amigos falavam.
Preferi ficar um tempo na área VIP, bebendo um gole da minha cerveja, enquanto observava a pista
de dança.
— Qual foi, brother? Que cara amarrada é essa? — Tomas perguntou ao meu lado. Senti vontade
de bufar, mas resolvi tomar mais um gole da cerveja.
— Só estou dando um tempo.
— Você está dando um tempo desde a hora em que chegou — Hugo falou. — O que aconteceu?
— Deixe que eu adivinho — Ramon falou, chamando a minha atenção. — Mulher!
— Romeo com problema com mulheres? Só se for com elas correndo atrás dele — Tomas riu alto.
— Fala aí, cara, quantas estão te perturbando agora? É aquela ruiva com quem você saiu da casa
do Pablo? — Tomas perguntou.
Eu tinha uma fama entre os meus amigos, era conhecido como o maior pegador do nosso grupo,
aquele que não saía de uma festa desacompanhado e que não passava mais de duas noites com a
mesma mulher. Também tinha fama de nunca, jamais, ser recusado e o meu ego amava a porra
daquela fama. Como iria explicar a eles que eu não só vinha levando vários nãos na cara, como havia
sido dispensado daquela forma tão ridícula? Demorei meio segundo para entender que encontrá-los
naquela boate havia sido uma péssima ideia.
— Não é nada disso. Só estou com alguns problemas na empresa — menti. Odiava colocar a
minha empresa na roda assim, mas era melhor do que expor a minha situação com a Alice. Ou
melhor, a minha não situação com ela.
— E desde quando você deixa que os problemas da empresa atrapalhem a sua noite? — Hugo
perguntou.
— Eu acabei de chegar, caramba! Só estou bebendo um pouco antes de ir lá embaixo e escolher
quem vai pra minha cama esta noite — falei mais carrancudo do que pretendia.
Vi que eles se entreolharam, certamente estranhando o meu jeito. Eu era tranquilo, conhecido pelo
meu bom humor e as brincadeiras que levantavam o astral de todo mundo, mas me sentia estranho
naquela noite. Meu dia foi incrível, divertido, cheguei em casa cheio de esperança de dar mais um
passo com a Alice e agora meu humor estava uma merda. Tudo por causa da sua mensagem. Porra, eu
me sentia ridículo.
“Você precisa desapegar, cara. Se ela não te quer, tem quem queira!”, uma voz soou dentro da
minha cabeça. Era por isso que eu havia ido até aquela boate, não? Para provar para Alice — mesmo
que ela não pudesse ver — e para mim mesmo, que a sua dispensa não significava nada para mim.
Terminando a cerveja, coloquei a garrafa vazia em cima da mesa e ativei o modo “caça” dentro do
meu cérebro.
— Já volto — falei para os caras, mas parei antes de ir em direção a pista de dança, lançando um
sorriso sacana para eles. — Ou melhor, com certeza eu não voltarei.
Eles entenderam o que eu quis dizer e levantaram as long necks em minha direção.
— É isso aí, cara! Você é foda!
Deixei a área VIP e desci até a pista dança lotada. Antes de circular por ali, fui até o bar e pedi
mais uma cerveja, tomando um gole ali mesmo, enquanto observada lentamente. Um grupo de
mulheres, que estava em volta de uma mesa pequena próxima ao bar, me chamou a atenção. Olhei
sem disfarçar e logo chamei a atenção delas.
Uma em especial fez o meu corpo ficar arrepiado e eu sorri de leve, olhando-a de cima a baixo.
Um vestido curto e apertado cobria o seu corpo, deixando claro que ela gastava algum tempo na
academia para ficar em forma. Seus seios quase pulavam do decote e os cabelos escuros estavam
soltos. Uma parte de mim ficou um tanto reticente em se aproximar, pois os seus cabelos, os lábios
pintados de vermelho, me lembravam de Alice na noite passada, no Karaokê do Jô. Talvez fosse
melhor procurar uma loira ou uma ruiva, mas logo tirei essa bobagem da cabeça e me aproximei. Ela
me saudou com um sorriso.
— Oi, gato. — A mulher falou em meu ouvido assim que cheguei perto dela. Pude sentir a sua mão
em meus braços enquanto ela ficava na ponta dos pés. — Não tinha te visto ainda. Chegou agora?
— Estava ali em cima. — Apontei para a área VIP e os olhos dela quase brilharam. — Quer
dançar?
— Com você? Gato... Com você eu topo tudo.
Ela mordeu o lábio em uma tentativa de ser sensual e eu me questionei se levava adiante o convite
ou não. Como eu não era do tipo que dispensava uma mulher por qualquer coisa, a tomei pela cintura
e fui com ela para a pista de dança. Seu corpo era voluptuoso e ela sabia dançar bem, mas o seu
perfume doce estava fazendo o meu nariz coçar. Normalmente, isso não me incomodava, mas depois
de ter guardado o cheiro delicioso e característico de Alice em minha mente, aquele perfume
enjoativo só fazia com que eu voltasse a me lembrar dela.
“Pelo amor de Deus, esqueça essa mulher!”
Eu sabia que aquela voz em minha cabeça estava certa, mas como eu poderia arrancar alguém de
dentro do meu subconsciente? Era inacreditável que eu estivesse tão viciado em Alice, ao ponto de
ter uma mulher linda em meus braços e só pensar nela.
— Qual é o seu nome? — Perguntei em seu ouvido.
— Carla. E o seu?
Graças a Deus não se parecia com Alice!
— Romeo — falei, colocando uma mecha do seu cabelo para trás. Pude ver como estava bem
maquiada, mas não era nada exagerado. No ambiente escuro, não conseguia discernir a cor dos seus
olhos, mas preferi pensar que era qualquer cor, menos castanho claro como o dela. — Acho que essa
boca está implorando por um beijo.
— Então você precisa fazer com que ela pare de implorar.
Eu gostava daquilo. Atitude, uma mulher que sabia exatamente o que queria e pegava para si.
Puxando Carla para mais perto, enrolei meus dedos no cabelo da sua nuca e ataquei a sua boca com
fome, sentindo o seu gemido no fundo da garganta. Sua língua dançou com a minha e seu corpo se
esfregou no meu, me acendendo, fazendo meu sangue correr mais rápido nas veias.
Finalmente, Dio!
Mordi o seu lábio antes de deixá-lo escapar e virei seu corpo, encostando suas costas em mim, sua
bunda roçando o início da minha ereção. Ela rebolou ao ritmo da música e inclinou a cabeça para me
olhar, oferecendo sua boca de novo, que beijei de bom grado enquanto descia minhas mãos pelas
laterais do seu corpo. Enquanto a beijava e sentia o tesão crescer, lembrei-me novamente de Alice,
mas não me senti mal, pelo contrário; me senti muito bem por saber que ela não me afetava tanto
quanto eu havia pensado anteriormente.
Meia hora depois, saí com a Carla e resolvi ir para um motel ao invés de ir para minha casa.
Nossa noite foi enlouquecedora e, antes de pegar no sono com o sol já despontando no horizonte,
sorri para mim mesmo e constatei que eu ainda era o mesmo Romeo e não tinha pretensão alguma de
mudar.
Eu sempre era o primeiro a chegar para o almoço da famiglia, mas depois de ter ido dormir de
manhã, acordei tarde e fiz questão de tomar um café da manhã com Carla, antes de nos despedirmos.
Senti que ela queria me ver de novo, até deixou o número do seu celular anotado em um papel em
cima da cama do quarto em que ficamos, mas eu deixei claro que era apenas uma noite e ela pareceu
entender. Depois de chegar em casa e ouvir os resmungos de Bob por ter passado a noite sozinho,
tomei banho e o coloquei no carro para irmos para a casa da minha mãe.
O quintal já estava cheio e os Pestinhas vieram correndo assim que me viram. Fiquei por pelo
menos vinte minutos com eles no colo, ouvindo como tinham passado a semana e fiquei orgulhoso
por saber que Pietro havia se desculpando com a coleguinha e que, agora, eles eram amigos e até
sentavam juntos na hora do recreio. No fundo, sentia um pouco de inveja dos meus sobrinhos, pois
ser criança era fácil demais e a melhor maravilha do mundo.
“Vocês, adultos, que complicam a vida”, a voz de Giulia soou bem no fundo da minha mente e eu
estremeci de leve, colocando meus sobrinhos no chão e, finalmente, falando com todo mundo que
estava no quintal.
O almoço, como sempre, foi uma algazarra, com todo mundo falando alto e rindo, enquanto
passavam as travessas de comida. Mamma sempre ficava exultante e olhava para todo mundo com
um sorriso de orelha a orelha. Como se fosse possível, ela ficou ainda mais feliz quando Alexandre
pediu para que todo mundo ficasse em silêncio, pois ele tinha um comunicado a fazer.
— Famiglia, peço para que prestem atenção, pois o que vou falar agora é algo muito, muito sério
— ele disse, mas estava com um sorriso bobo na cara. Eu só esperei, sabendo exatamente o que ele
iria dizer. — Estou namorando!
— Ah, Dio! Tesori! — Mamma levantou da cadeira e puxou meu irmão para dar um beijo em seu
rosto.
— Não acredito! É sério? — Paolo, meu primo, perguntou.
— Até que enfim, pensei que ia morrer solteiro — Tia Beatrice resmungou.
— Menos um solteiro na famiglia! — Tia Graziella comemorou.
— E eu achando que esses meninos iam aproveitar mais um pouco antes de se amarrar — Tia
Eugênia riu.
— Ora, mas meus filhos não têm mais idade para aproveitar a vida. Eu quero que eles se casem,
sejam felizes e me deem netos! — Mamma disse, pegando o rosto do meu irmão entre as mãos. —
Tesori, estou tão feliz! Como ela é? Quando vai trazê-la aqui em casa? Como a conheceu? Dio,
preciso pensar em um cardápio especial! Vou fazer um banquete para recebê-la!
— Mamma, fique calma, vai acabar passando mal — Alexandre pediu, massageando o ombro
dela. — O nome dela é Paula, ela é advogada e trabalha lá na empresa.
— Dio mio, ouviram isso? Advogada! Ah, que orgulho, figlio! — Mamma o beijou de novo e eu ri
da sua empolgação. — Quero conhecê-la logo, entendeu? Por que não a trouxe com você?
— Ela precisou viajar a trabalho, volta hoje à tarde.
— Hum, viajou a trabalho, é? Isso não é uma coisa boa. Como ela vai cuidar de você se vive
viajando assim? E quando tiverem filhos? — Tia Beatrice perguntou, balançando a cabeça.
— Beatrice, as mulheres são livres hoje em dia, elas trabalham e são felizes assim — Tia Eugênia
falou.
— Isso mesmo. E não é porque ela trabalha, que será má esposa ou uma mãe ruim para os meus
netos — Mamma sorriu. — Preciso conhecê-la!
— Mamma, a senhora já disse isso umas cem vezes — falei, rindo dela. Seus olhos se
encresparam para mim.
— Viu isso, Romeo? Seu irmão já está namorando. Sabe o que isso significa, não é?
— Que ele deixou de ser livre para se amarrar por aí?
— Não! Que agora, só falta você!
Soltei um suspiro e só não revirei os olhos, porque não queria desrespeitá-la.
— Mamma, já falamos sobre isso.
— Esse aí vai morrer solteiro, Francesca. Por que não desiste? — Tia Beatrice resmungou.
— Nunca! Eu só vou ficar em paz quando meus três filhos estiverem casados e felizes!
— Bom, eu já estou casado, Mamma. E sou muito feliz — Dante disse do outro lado da mesa,
beijando Mariana, sua esposa.
— Eu sei disso, mio tesori. Você é o meu orgulho — Mamma disse, soprando um beijo para ele.
— Agora, vocês dois, precisam seguir os passos do seu irmão mais velho!
— Eu já estou quase lá — Alexandre disse, tirando o dele da reta.
Tive que engolir em seco, pois sabia que agora eu estava ferrado. Mamma viria com tudo para
cima de mim, sendo seu único filho solteiro — e que não tinha a mínima pretensão de mudar isso.
Felizmente, Alexandre começou a falar de Paula e mamma focou nele, ouvindo tudo atentamente
soltando suspiros de alegria. Aproveitei aquele momento para sair da mesa, já que já tinha terminado
de almoçar e sentei-me na varanda, olhando para as crianças, que voltaram a brincar com Bob no
jardim.
Minha mente voou para Alice e, sem conseguir me conter, peguei meu celular e li novamente a sua
mensagem. Não havia respondido, mas ela sabia que eu tinha lido por conta dos dois tracinhos azuis.
Na hora da raiva, nem fiz questão de responder, agora, no entanto, estava pensando no que eu poderia
dizer.
“Ok”, escrevi e enviei.

Três minutos depois, ela apareceu online e visualizou a mensagem. Pensei que não diria nada, mas
logo me respondeu.

“Está chateado?”
“Não.”

Ela visualizou e um tempo se passou até eu entender que ela não iria escrever mais nada. Saí do
WhatsApp e passei a mão pelo cabelo, sentindo-me frustrado. Eu estava chateado? Agora que a raiva
havia passado, parei para analisar e, sim, estava chateado. E meio puto. Mesmo depois de passar a
noite me divertindo com outra mulher e provando para mim mesmo que eu não estava afetado, eu
ainda não conseguia tirar Alice da minha cabeça, o que provava que eu não tinha superado o que
havia acontecido, apenas havia me distraído o suficiente para não pensar.
— Ei, o que você tem? — Dante perguntou, sentando-se ao meu lado.
— Nada.
— Nada? Com essa cara aí? Duvido. — Ele riu um pouco e não consegui me forçar a acompanhá-
lo. — O que houve, fratello?
Como eu poderia contar sem soar ridículo? Meu irmão tinha o casamento perfeito, havia
conhecido Mariana no final do Ensino Médio, a engravidou quando entraram na faculdade e se
casaram para viverem os seus felizes para sempre. Para ele, era tudo bem simples e o amor era um
mundo cor de rosa.
— Romeo, sabe que pode me falar o que quiser, não sabe? — Ele perguntou, apertando o meu
ombro. — Não vou te julgar.
— Estou mal por ter sido dispensado por uma mulher — falei baixinho, com um pouco de
vergonha. Cara, que situação!
Esperei que meu irmão risse e me zoasse, que falasse que era inacreditável que eu, Romeo
Benvenuto, o homem que nunca levava um não, tinha sido dispensado. Mas isso não aconteceu,
porque aquele era Dante, meu irmão certinho e não meus amigos idiotas.
— E por que você foi dispensado?
— Não sei. Acho que entendi tudo errado e ela não quer nada comigo — falei, coçando a testa. —
Ela vem me falando não a cada convite, mas também me disse que tinha ficado interessada, sabe? E,
levando em consideração que os meus convites sempre envolviam sexo, até entendi o seu não, mas,
poxa, ontem eu a convidei para jantar, Dante. Falei que seria como amigos e nada mais, ela tinha
aceitado, mas depois me mandou uma mensagem, falando que tinha acontecido um imprevisto e que
não poderia ir.
— Talvez possa ter havido um imprevisto mesmo.
— Ah, claro! Se você me dissesse que o céu é verde e não azul, eu duvidaria menos — bufei,
frustrado. — Ela inventou uma desculpa para não ir, mesmo depois de termos conversado e deixado
claro que a sinceridade era o mais importante em qualquer âmbito da vida. Custava ela ter sido
sincera?
— E se ela fosse sincera? Se dissesse que simplesmente não está interessada? Você se sentiria
menos afetado?
Fiquei alguns segundos pensando em sua pergunta, mesmo já sabendo a resposta.
— Não.
— Então, o problema não está nela, Romeo, está em você — disse ele com seriedade. — Você
está gostando dela.
— O quê? Claro que não! A conheci ontem, praticamente.
— E o que isso tem a ver? Tempo é relativo, Romeo.
— Não estou gostando dela, só estava interessado em ir pra cama com ela. Só isso.
— E desde quando você convida uma mulher para jantar, deixando claro que será um jantar de
amigos, apenas para levá-la para cama?
— Era só um meio para um fim.
Dante soltou um muxoxo, olhando-me com os olhos semicerrados.
— Olha, então essa mulher é muito gostosa, para você estar se dando a esse trabalho todo apenas
para transar com ela — disse e eu desviei o olhar, sem querer saber daquela conversa. Ele
continuou: — Ouça, não há problema algum em gostar de alguém, Romeo. Nem se apaixonar. Você
precisa deixar de lado essa bobagem de que é inatingível e encarar a realidade de que, assim como
qualquer ser humano, você também corre o risco de se encantar por alguém.
— Dante, eu não estou gostando dela, nem me apaixonando. Que coisa chata! — Falei, quase me
levantando da poltrona, mas ele me segurou no lugar pelo ombro.
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou — disse ele. — Mas, só me escute sobre isso, se ela
disse que está interessada, então, pode ser verdade. Agora, só resta a você descobrir o porquê de ela
não querer se envolver.
— Ela disse que não é boa em casos de uma noite só — falei. — E também é melhor amiga da
Paula, namorada do Alexandre.
— Puta merda.
— É.
— Isso quer dizer que vocês vão se ver sempre — concluiu ele.
— Sim, o que dificulta ainda mais as coisas. Ela disse que não vai saber como se comportar na
minha frente depois de... Bem, você sabe, depois que a gente transar.
— Bom, pelo menos ela foi sincera com você.
— É, sobre isso, ela foi sincera.
— Agora resta a você descobrir porque ela não foi sincera sobre a mensagem que te enviou. Ela
deve ter algum motivo para ter recusado o jantar e creio que não querer ficar com você, não seja um
deles.
— Será?
— Claro. Tenta descobrir o porquê de ela ter te dito não mais uma vez, fratello. Se é ela que você
quer, não desista — disse ele, apertando meu ombro antes de se levantar e me deixar sozinho para
pensar.
Não me prendi ao fato de ele ter deixado a entender que eu a queria de verdade, como para um
relacionamento. Resolvi levar o seu conselho do meu jeito. Se eu a queria — na minha cama — e
sabia que ela também me queria, então, não ia desistir tão fácil assim. Alice era a mulher mais difícil
que já havia aparecido em meu caminho, mas nunca tive medo de enfrentar obstáculos para conseguir
o que queria.
Obstinado, decidi que iria enfrentar Alice, ou não me chamava Romeo Benvenuto!
Capítulo 9
Passei o resto da tarde ao lado da minha famiglia, me divertindo com meus primos e meus
sobrinhos, torcendo para que o tempo passasse mais rápido. Quando o sol se pôs e alguns familiares
começaram a ir embora, senti que não poderia aguardar mais e fui atrás de Alexandre. O encontrei na
cozinha, terminando de comer o mousse de limão que estava na travessa.
— Você e essa boca nervosa — falei, lhe dando um susto. Ele pulou e quase deixou a travessa de
mamma cair.
— Porra, Romeo, quer me matar do coração? Cara, se essa travessa caísse no chão, mamma
comeria o meu fígado!
Só meu irmão para me fazer rir naquele momento. Gargalhei enquanto ele colocava a travessa
dentro da pia e se virava para mim.
— O que você quer?
— Preciso do número do celular da sua namorada.
— O quê? — Ele me olhou com estranheza. — Por quê?
— Não vou fazer nenhuma besteira, juro. Só preciso falar com ela sobre a Alice.
— Ah, sabia! Tinha certeza que essa sua cara amarrada tinha alguma coisa a ver com a escritora.
O que houve?
Suspirei antes de me sentar no banco em frente ao balcão da cozinha de mamma e contar tudo para
o meu irmão. Alexandre me escutava atentamente e não me interrompeu em momento algum, pelo
contrário, continuou em silêncio mesmo depois de eu ter terminado de falar tudo.
— Fratello, você sabe o que isso significa, não sabe?
— Isso o quê?
— Isso tudo. — Ele fez um gesto com um dedo, como se englobasse um monte de coisas
imaginárias. — Você está de quatro por essa mulher.
Não pude evitar e revirei os olhos exageradamente. O que havia com os homens apaixonados, que
começavam a confundir tesão com amor? Per l’amor di Dio![9]
— Estou cansado de dizer que é apenas tesão, Alexandre. E um pouco de ego machucado, confesso
— falei.
— Imagino que seu ego esteja mesmo machucado, até porque, como é a sua fama entre os seus
amigos mesmo? Ah, sim, o homem que nunca leva “não”. Sempre te falei que ter essa pose de macho
alfa que não precisa se esforçar para ficar com alguém, um dia iria te derrubar do cavalo.
— Vai me dar o número da Paula ou não? — perguntei, deixando seu sermão de lado.
— Por que você precisa do número dela?
— Porque preciso saber algumas coisas sobre a Alice — falei. — Pode ficar tranquilo, não vou
dar em cima da sua garota ou algo do tipo.
— Mas é claro que não vai. Você é safado, não mau caráter — disse ele, sacando o celular do
bolso. — Te enviei o número dela por mensagem. Ela acabou de chegar de viagem, então, pode ser
que demore um pouco para atender.
— Obrigado, fratello!
Peguei meu celular e disquei o número que Alexandre havia me enviado. Naquele momento, a
cozinha era o lugar mais calmo da casa, por isso, fiquei por ali mesmo e Alexandre me fez
companhia, pegando duas cervejas na geladeira. O telefone chamou até cair na caixa de mensagens.
Sem desanimar, esperei alguns minutos e liguei mais uma vez. No quinto toque, Paula atendeu.
— Alô?
— Oi, Paula, tudo bem? É o Romeo, irmão do Alexandre...
— Ah, meu Deus! O que aconteceu com ele? Foi algum acidente? Em que hospital ele está?
— O quê? Não, não foi nada disso, Alexandre está bem — falei e ri um pouco da sua histeria.
Alexandre me olhou com o cenho franzido e eu balancei a cabeça, ouvindo o suspiro dela do outro
lado da linha.
— Nossa, que susto! Normalmente, quando alguém da família do namorado liga para você, é para
dar alguma notícia ruim.
— Pode ficar tranquila, Alexandre está ótimo, bem aqui na minha frente, tomando uma cerveja na
casa de mamma.
— Hum, mamma é mãe, certo? Ainda estou aprendendo.
— Isso mesmo — assenti como se ela pudesse me ver e respirei fundo para tomar coragem. —
Bom, eu te liguei porque preciso te fazer uma pergunta.
— Uma pergunta?
— Na verdade, são duas. Duas perguntas.
— Sobre o quê?
— Sobre Alice — respondi e ela ficou em silêncio do outro lado da linha. — Paula?
— Estou aqui. Pode perguntar, mas fique ciente de que não sou obrigada a responder nada. Não
quero ser grosseira com você, Romeo, mas Alice é minha amiga. Sabe como é.
— Sim, eu sei. — Mamma costumava dizer que não havia nada tão poderoso quanto a união
feminina. — Você sabe se a Alice tem algum compromisso marcado hoje à noite?
Eu não era bobo. Elas eram melhores amigas e, pelo pouco que eu entendia sobre esse tipo de
relação, uma deveria contar tudo para a outra, então, tinha quase certeza de que Alice havia contado
a Paula sobre o que estava acontecendo entre nós dois. Talvez ela soubesse até mesmo sobre o meu
convite para o jantar e sobre a desculpa esfarrapada que Alice tinha me enviado para desmarcar.
Mesmo assim, resolvi arriscar, porque a Paula era a única pessoa — além da Alice — que tinha
respostas para as minhas perguntas.
— Não que eu saiba.
— Então, você acha que ela deve estar em casa?
— Por que está tão interessado?
— Ah, hum... Bom, porque eu...
— Olha, Romeo, vou ser sincera com você — ela me interrompeu. — Eu sei o que você quer com
a Alice, Alexandre já me contou da sua fama e, infelizmente, conheço muitos homens do seu tipo.
— Do meu tipo?
— Sim. — Ela respondeu e eu olhei para Alexandre, que havia se aproximado. Paula falava alto e
a cozinha estava permeada pelo silêncio, então, tinha certeza de que Alexandre estava a ouvindo. Sua
expressão meio culpada denunciava isso. — Sei que quer só sexo com a minha amiga e eu não me
oponho a isso, você é solteiro e livre, mas a Alice não consegue ter casos de uma noite só, entende?
— Sim.
— Que bom, fico feliz que entenda, então, acho que a nossa conversa pode terminar por aqui.
— Não, espere, Paula, por favor — pedi e Alexandre me olhou com os olhos arregalados e cara
de espanto. — E se eu não quiser apenas sexo com a Alice?
Alexandre quase cuspiu a cerveja e Paula ficou calada por alguns segundos.
— Como assim?
— Nós jantamos ontem à noite e eu gostei muito do tempo que passamos juntos. Acho que
podemos ser amigos, mas eu acabei fodendo tudo insistindo em, bem... Você sabe.
— Sexo — ela foi direta.
— Sim, isso. Em sexo. — Suspirei passando a mão na testa, sem saber ao certo o que eu estava
fazendo. Resolvi seguir o meu instinto. — Ontem eu a chamei para jantar e ela aceitou, mas depois
me enviou uma mensagem cancelando tudo. Não vou mentir e dizer que sua recusa não me afetou,
porque afetou, sim, mas pensei melhor e acho que preciso falar com ela pessoalmente, entende?
Desfazer qualquer mal-entendido que tenha ficado entre nós, por isso decidi ligar para você. Preciso
saber se ela está em casa, pois tenho medo de perguntar a ela diretamente e ouvir uma desculpa para
que eu não vá até lá.
— Hum... — ela murmurou e eu esperei com expectativa. Pude sentir que Alexandre sentia o
mesmo que eu, ele quase não piscava enquanto olhava para mim. — Olha, eu não deveria me meter
nisso, sabe? Você é meu cunhado, mas Alice é minha melhor amiga e devo minha lealdade a ela,
então, não vou falar nada para você.
— Paula, por favor...
— Porém, se por um acaso eu fosse me meter nesse assunto, eu diria que ela está em casa sim,
provavelmente sentada no sofá, assistindo a algum filme repetido na Netflix — ela disse e eu senti
meu coração acelerar no peito. — Mas, como eu não vou me meter nesse assunto, eu não vou te dizer
nada, tudo bem?
— Sim — sorri enquanto respondia, pensando que a namorada do meu irmão era a mulher mais
doida que eu já havia conhecido. — Você não me disse nada.
— Isso, você é esperto, deve ter puxado a inteligência do seu irmão — ela disse e Alexandre
sorriu que nem um idiota. — Agora, escute bem o que eu vou te dizer, Romeo Benvenuto, eu sou
muito boazinha, sou simpática e defensora da paz, mas se você machucar a minha amiga, nem que
seja um pouquinho, eu vou arrancar as suas bolas com as minhas unhas e dar para o cachorro da
minha vizinha comer, entendeu bem?
Cara, meu sorriso morreu na hora. A mulher era brava de verdade. Engolindo em seco, assenti e só
faltei bater continência.
— Sim, entendi.
— Ótimo. Agora preciso desligar.
— Obrigado, Paula, de verdade.
— De nada, cunhado. Boa noite.
Ela desligou e eu soltei um suspiro de alívio ao colocar o celular de volta no bolso. Com um
sorriso enorme, Alexandre apontou a cerveja para mim.
— Sentiu, né?
— O quê?
— A fúria da minha gata.
— A fúria da sua gata? — Perguntei com uma careta. — Dio, como você é esquisito.
— Cara, ela é assim mesmo e não quero estar na sua pele se você ferir os sentimentos da Alice.
Então, tome cuidado — falou ele, jogando a garrafa vazia no lixo. — Agora, é sério que o sexo se
tornou uma carta fora do baralho?
Terminei a minha cerveja e olhei para o meu irmão com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho
no canto dos lábios.
— Só se eu não me chamasse Romeo Benvenuto, fratello.
Precisei passar em casa para deixar um Bob morto de cansaço e aproveitei para tomar banho e
colocar uma roupa melhor. Não pretendia levar Alice para jantar ou algo do tipo, mas não podia
bater na sua porta vestindo qualquer coisa. Sem saber ao certo o que eu poderia levar para comermos
ou bebermos, peguei um vinho rosé que havia comprado no início daquela semana e passei em um
restaurante no caminho. Ela havia me dito que gostava de comida italiana, por isso, peguei um risoto
de limão siciliano e salmão para a viagem. Com tudo em mãos, dirigi até o seu condomínio e torci
para que ela permitisse a minha entrada.
Apertei o interfone e a voz de um homem soou do outro lado.
— Boa noite, eu sou Romeo Benvenuto e vim fazer uma visita a Alice Carvalho.
— Ah, boa noite, Senhor Benvenuto. A Senhorita Almeida me ligou há alguns minutos para falar
sobre a sua visita, pediu para que eu o liberasse, pois fará uma surpresa para a Senhorita Carvalho.
Vou abrir os portões.
Fiquei sem palavras enquanto via os portões automáticos se abrirem como mágica para mim.
Entrei e estacionei em uma vaga rapidamente, pegando meu celular e enviando uma mensagem para
Paula.
“Senhorita Almeida é você?”
“Quem mais seria? Hahaha.”
“Muito obrigado, você está salvando a minha vida!”
Ela me enviou uma figurinha com o polegar estendido e eu saí do carro com as bolsas em mãos. Só
naquele momento que me lembrei de um detalhe importante: não sabia em que bloco e nem em que
andar Alice morava. Equilibrando tudo em uma mão, peguei novamente o meu celular.
“Qual é o andar dela, Paula?”
“Bloco A, apartamento 402.”
“Valeu.”
Que Deus me ajudasse, era agora ou nunca. Por sorte, estacionei em frente ao Bloco A, que ficava
de frente para a praia e entrei no elevador, descendo no quarto andar. O corredor era longo, com um
total de cinco portas e eu parei em frente a de número 402. Respirando fundo, apertei a campainha e
esperei pelo o que pareceram anos — apesar de eu ter consciência de que a minha espera não tinha
chegado nem a um minuto. Ouvi a chave sendo virada na fechadura e meu coração pareceu falhar uma
batida quando a porta se abriu e Alice apareceu na minha frente.
Demorei um segundo ou dois olhando para ela toda, seu cabelo levemente despenteado, o rosto
livre de maquiagem, uma blusa fininha que, apesar de não ser transparente, revelava que ela estava
sem sutiã e um short jeans desfiado, que deixava suas pernas livres para os meus olhos. Dio, era
demais para mim.
— Romeo?
— Sei que decidiu não ir jantar comigo, por isso, resolvi trazer o jantar até você — falei,
levantando as bolsas com a comida e a garrafa de vinho na outra mão. — Risoto de limão siciliano e
salmão e vinho rosé. Aceita?
Alice me olhou com espanto e abriu e fechou a boca duas vezes, como se não soubesse o que
pensar ou falar. Dei a ela o tempo que precisava para perceber que eu não era uma alucinação e,
segundos depois, ela deu um passo para o lado e me deixou entrar.
Seu apartamento era amplo e tinha um conceito aberto. A sala era grande e confortável, portas de
vidro dava acesso a sacada e a brisa do mar entrava, sacudindo levemente as cortinas. Não quis ser
indelicado e ficar olhando detalhe por detalhe do seu apartamento, mas algo me chamou a atenção. A
TV estava ligada na Netflix. Tive que reprimir um sorriso ao lembrar do que Paula não havia dito
para mim.
— Onde eu posso deixar tudo isso? — perguntei, apontando para a comida e o vinho.
— Desculpa, meu Deus, estou sendo muito indelicada, eu só... Eu estou surpresa — ela disse, sem
saber ao certo como se comportar dentro da sua própria casa. Pude senti que estava desconfortável,
mas não sabia se era por minha causa ou por, agora, eu ter certeza de que ela havia mentido para
mim. — Quer comer agora?
— Só se você quiser.
— Acho que podemos abrir o vinho e conversar antes.
— Ótima ideia.
Ela pegou as sacolas com a comida das minhas mãos e pediu licença para ir até a cozinha. Sem
saber muito o que fazer, sentei-me no sofá e esperei. Em volta da TV, havia várias prateleiras com
muitos e muitos livros, fotos e bonequinhos de personagens — havia esquecido o nome correto,
apesar de Giulia ser uma colecionadora. Minutos depois, Alice voltou com duas taças de vinho e o
saca-rolhas.
— Eu abro — ofereci, pegando o saca-rolhas de sua mão e abrindo o vinho. Servi nossas taças e
deixei a garrafa sobre a mesa, dando a ela a sua taça. — Um brinde ao nosso jantar improvisado.
Alice estava tensa, mas deu um sorrisinho encostou a taça na minha, tomando um gole generoso e
desviando o olhar. Ficamos alguns segundos em silêncio, até ela fazer uma careta e me olhar de
esguelha.
— Sinto muito.
— Pelo quê?
— Você sabe pelo quê.
— Não, eu não sei. — Eu sabia, mas queria que ela falasse.
— Sinto muito por ter desmarcado o nosso jantar daquele jeito. Foi... Foi imaturo da minha parte.
— Foi sim. — Acho que ela não esperava a minha sinceridade e vi a surpresa em seus olhos. Eu
não queria ser desagradável, nem tinha ido ali para arrumar briga ou algo do tipo, mas precisava ser
sincero com ela. — Se não queria jantar comigo, era só ter falado. Não precisava ter inventado que
tinha acontecido um imprevisto.
— Esse é o problema, eu queria jantar com você.
— Então, por que mentiu? Por que decidiu não ir?
Ela ficou em silêncio e olhou para todo o apartamento, menos para mim. Parecendo precisar reunir
coragem, bebeu todo o vinho de uma vez só e soltou um suspiro doloroso antes de começar a falar:
— Meu último relacionamento acabou muito mal, Romeo. Lembra que falei que conheci um cara
através do seu aplicativo?
— Sim.
— Então, nós namoramos por quase sete meses. No começo, era tudo maravilhoso, mas depois ele
foi se distanciando, inventando desculpas para não nos vermos, foi ficando frio e parecia não ter
mais paciência para conversarmos, mal respondia às minhas mensagens... Por fim, descobri que ele
estava com outra há quase três meses. Eu gostava muito dele, de verdade e descobrir a sua traição me
dilacerou. Imagina, eu sou uma escritora de romances, então, meio que sonho em ter um amor como
os que escrevo e leio, mas a vida real só me dá tapas na cara — ela riu um pouco, passando o dedo
na borda da taça. — Mesmo assim, eu gosto do meu jeito, sabe? Gosto de ainda ter esperanças de
encontrar um cara legal, que me ame de verdade e que eu o ame também, gosto de sonhar com o meu
futuro, com uma família e ser feliz. Não espero viver um conto de fadas, mas um relacionamento
sólido, entende?
— Sim — me limitei a responder, sentindo-me um pouco desconfortável.
— E você quer o contrário. Você só quer sexo e diversão e, por mais que seja tentadora a ideia de
ir pra cama com você, eu estou à procura de mais.
Mais. Uma única palavrinha que parecia destruir todas as minhas convicções. Tentando ser
racional, falei:
— Eu não quero te impedir de realizar os seus sonhos, nem de encontrar essa pessoa, Alice. E
acho que, se por um acaso a gente se envolvesse, eu não iria te atrapalhar em nada. Seria uma vez só
— falei, aproximando-me dela no sofá. — Você me deseja?
Ela me olhou de forma intensa e passou a língua levemente pelos lábios. Eu observei aquele gesto
com fome, com sede, como se aquela língua fosse a responsável por aplacar toda a necessidade que
inflamava dentro de mim. Com cuidado, sem querer assustá-la ou pressioná-la, peguei uma mecha do
seu cabelo e coloquei atrás da orelha, descendo a ponta dos meus dedos pelo seu pescoço delicado.
Ela estremeceu e os seus pelinhos ficaram arrepiados enquanto meu dedo descia lentamente.
— Você me deseja, Alice? — perguntei de novo, baixinho dessa vez, olhando em seus olhos.
— Seria impossível não desejar — ela respondeu no mesmo tom que eu e senti uma fisgada no
meu pau.
Suas palavras soaram como música para os meus ouvidos e eu não consegui me controlar mais.
Ainda tentando ter um resquício de delicadeza, embrenhei meus dedos em seu cabelo, bem próximo a
nuca, e a puxei para mim, atacando a sua boca com toda fome que eu vinha nutrindo desde o dia em
que coloquei meus olhos nela pela primeira vez. Alice gemeu baixinho e eu enfiei minha língua em
sua boca, sentindo o sabor do vinho misturado a sua saliva, que se espalhou pela minha corrente
sanguínea, me fazendo pegar fogo.
Pude ouvir ao longe o barulho de um vidro se espatifando no chão e tive um resquício de
consciência ao pensar que deveria ser a minha taça, já que larguei o que quer que eu estivesse
segurando para agarrar a cintura de Alice puxá-la para o meu colo. Ela veio de bom grado e quando
sentou em cima da minha ereção, eu gemi, prendendo seu lábio inferior em minha boca, sentindo suas
mãos subindo pelos meus braços, enquanto descia minha mão até a sua bunda, e, porra, que bunda!
Dio, queria apertá-la e a bater nela ao mesmo tempo, extravasar todo o tesão reprimido que habitava
dentro de mim.
— Alice... — gemi como um aviso, descendo meus lábios pelo seu pescoço. Precisava provar o
sabor da sua pele em minha língua e lambi bem em cima da veia grossa que pulsava. Ela gemeu em
meu ouvido e eu esfreguei meu pau duro coberto pela calça bem no centro da sua boceta. — Porra,
preciso de você!
— Romeo...
— Preciso de você, bella[10]... Per favori[11] — Implorei em um gemido rouco, do fundo da
garganta, enquanto voltava a atacar a sua boca.
Senti suas unhas arranharem minha nuca e seus quadris se movimentarem sobre o meu colo. Dio,
sentia que poderia gozar nas calças, como a porra de um adolescente, mas nem ligava. Só queria
saber de Alice. Segurando seu cabelo próximo a nuca, separei minha boca da dela e olhei em seus
olhos, antes de virá-la e colocá-la deitada sobre o sofá. Isso pareceu despertá-la e antes que eu
pudesse me acomodar entre as suas pernas, ela falou aquela palavrinha que eu havia aprendido a
odiar.
— Não.
Olhei para ela, para os seus lábios inchados pelos meus beijos, os olhos pesados de desejo, o
pescoço vermelho pelos meus chupões e sua bocetinha bem ali, tão perto e ao mesmo tempo tão
longe do meu pau e senti vontade de esconder meu rosto entre o seu pescoço e gemer de frustração.
— Tem certeza?
Ela hesitou.
— Vai ser melhor assim, sabe... Se não misturarmos as coisas — murmurou ofegante.
— Essa não foi a minha pergunta — falei, tirando alguns fios de cabelo da sua testa suada. — Você
tem certeza de que não quer continuar?
— Sim.
Ainda fiquei um tempinho em cima dela, olhando bem fundo naqueles olhos castanhos, fitando
aquela boca que, talvez, eu nunca mais fosse beijar e soube que não poderia simplesmente sair de
cima dela assim, sem sentir aqueles lábios contra os meus pela última vez. Sem deixar que a fome me
possuísse, resvalei meus lábios sobre os dela e a beijei delicadamente, ao ponto do meu pau pulsar
na calça para que eu agisse mais rápido e desse atenção a ele também.
“Não vai ser dessa vez, amigão. Pelo menos, não com essa mulher maravilhosa que a gente
tanto quer”, falei para ele em pensamento, antes de me afastar completamente de Alice e me sentar
no sofá. Ela fez o mesmo segundos depois, ajeitando o cabelo e short jeans que havia enrolando no
alto das suas coxas. Sentia que ela estava evitando me olhar, principalmente por causa da barraca
que a minha ereção havia formado em minha calça, mas eu não era tão educado assim e observei com
atenção enquanto ela desenrolava o short e voltava a ficar apresentável. Porra, o que eu não daria
para arrancar aquele short dali junto com a calcinha e me ajoelhar entra as suas pernas para poder
chupar a sua boce...
— Eu vou entender se você quiser ir embora e levar a comida.
Espera... O quê?
— Como? — perguntei sem entender, voltando meu olhar para o seu rosto.
— Juro, não vou ficar chateada.
— Chateada com o quê?
— Não vou ficar chateada se você quiser ir embora, já que eu neguei mais uma vez o que você
tanto queria — ela falou e desviou os olhos de mim. Podia sentir que ela já estava chateada e eu nem
havia saído do sofá. Puxando seu rosto em minha direção com a ponta dos dedos, olhei bem fundo
nos seus olhos para que ela me entendesse.
— Sei que tenho fama de cafajeste, safado e tudo mais, mas não sou um babaca e nem comprei
aquela comida ou trouxe esse vinho apenas porque tinha a esperança de ter você como sobremesa —
falei, vendo certa surpresa em seus olhos. — Não vou a lugar algum, bella. Entende isso? Vou ficar
aqui e jantar com você, ver filme com você, conversar com você... Vou fazer o que você quiser e só
saio por aquela porta nos próximos minutos, se você me expulsar. Então, está nas suas mãos. Quer
que eu vá embora?
— Não. Quero que você fique — ela disse com um sorrisinho lindo no canto dos lábios.
— Então, eu vou ficar — falei, colocando novamente uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
Esse gesto me fez lembrar de como enrolei minhas mãos em seus cabelos e puxei sua boca para a
minha, fazendo a minha ereção pulsar. Eu precisava cuidar daquilo, antes que tivesse um caso
terrível de bolas roxas. — Eu só preciso ir ao banheiro antes de jantarmos, para, hum... Acalmar o
gigante aqui embaixo.
— Acalmar o gigante? — Ela gargalhou e eu arqueei uma sobrancelha.
— Isso mesmo. Vai dizer que não foi isso que pensou quando rebolou em cima dele?
— Romeo, pelo amor de Deus! — Ela riu mais, mas percebi como ficou corada ao olhar para o
meu pau duro coberto pela calça. — O banheiro fica naquele corredor, segunda porta à esquerda.
Assenti e deixei um beijo em sua bochecha antes de pular os cacos de vidro no chão e ir em
direção ao banheiro. Assim que me tranquei lá dentro, abri a bica e joguei água gelada em minha
nuca, ainda conseguindo sentir a sensação dos lábios dela pressionados aos meus. Que Dio me desse
força para manter a minha palavra e não ultrapassar nenhum limite com aquela mulher.
Capítulo 10
Demorei mais do que pretendia no banheiro, tentando tirar da cabeça tudo o que havia acontecido
naquele sofá para apaziguar a ereção monstruosa que Alice havia me dado. Depois de alguns
minutos, saí e a vi juntando os cacos de vidro e colocando-os em cima de um jornal.
— Me deixe te ajudar.
Aproximei-me dela e comecei a varrer os cacos menores, enquanto ela segurava uma pá. O
silêncio só era interrompido por uma música calma que, apenas naquele momento, percebi que saía
por algum alto-falante na sala. Depois que terminamos, a segui até a cozinha e me esforcei para não
olhar para a sua bunda quando se abaixou para colocar os jornais dentro do lixo. Um vulto do meu
lado direito me assustou.
— Merda! — xinguei quando um gato preto surgiu de não sei onde e subiu na bancada da cozinha.
Alice se virou e riu ao me ver de olhos arregalados. — De onde ele surgiu?
— É ela — disse, aproximando-se. — O nome dela é Gata. Ela ronda todos os apartamentos do
condomínio.
— Gata? Não tinha outro nome mais criativo?
— Eu acho que é o nome com que ela mais se identificou. Uma senhorinha do 303 a chama de
Poliana, mas ela não atende. Acho que ela prefere Gata mesmo — disse ela, acariciando o pelo
brilhoso do animal. — Pode se aproximar, ela é um doce.
Geralmente, eu preferia cachorros a gatos. Veja bem, nada conta os gatos, sei que eles são
carinhosos — quando querem —, atenciosos — quando querem — e simpáticos — quando querem
—, mas também são independentes e, às vezes, desapegados, mas guardei tudo isso para mim e me
aproximei da Gata, que ronronou e se enroscou em minha mão, pulando para o meu colo. Certo,
talvez eu estivesse errado sobre os gatos em geral; essa aqui era carinhosa, atenciosa e simpática
demais.
— Viu, ela gostou de você — Alice disse, afastando-se para mexer nas sacolas de comida. —
Acabei esquecendo de te perguntar. Como foi que você conseguiu subir sem ser anunciado?
— Tenho os meus truques — falei, lhe dando um sorriso misterioso. Ela me olhou com uma
sobrancelha arqueada.
— Seduziu o porteiro?
— Eu faria isso se me sentisse atraído por homens, mas, não.
— Então, como?
— Não vou contar.
— Como assim? Eu preciso saber.
— Um homem nunca deve revelar os seus truques — pisquei para ela e vi quando um flash de
intensidade passou pelo seu olhar.
— Preciso alertar ao síndico de que a segurança desse condomínio anda muito falha. Deixam
qualquer um entrar, é um perigo.
— Eu não diria que sou tão perigoso assim, a não ser quando se trata de gatinhas indefesas —
falei, acariciando o pelo da Gata, mas olhando diretamente para Alice. — Essas costumam se atirar
no meu colo com muita facilidade.
— Parece que essas gatinhas não têm uma lista de pré-requisitos, acabam se atirando em cima do
primeiro homem que veem — ela rebateu, me dando um sorrisinho antes de colocar as comidas no
micro-ondas. — Agora, senhor perigoso, será que pode me ajudar a pegar os pratos e talheres para
que possamos jantar?
— Sim, senhora.
Coloquei a Gata no chão, que saiu saltitando em direção a sala e ajudei Alice a pegar tudo o que
precisávamos para jantar — inclusive duas taças novas, já que a dela também tinha caído no chão na
hora do nosso amasso delicioso no sofá. Com tudo pronto na mesinha de centro, pegamos a comida e
começamos a nos servir.
— Meu Deus, que delícia — ela murmurou com um gemido de satisfação e eu precisei respirar
fundo para não deixar que o som se espalhasse pela minha corrente sanguínea e fosse em direção ao
meu pau. — De onde é? Não olhei o nome na sacola.
— É do meu restaurante favorito, Cantina Italiana.
— Um filho de italianos que tem como favorita a comida italiana? Quanta novidade — ela riu.
— Mamma me arrancaria as bolas se eu tivesse outra comida favorita — falei.
— Você fala bastante da sua mãe. Como ela é?
— Bem, é difícil definir mamma em uma única palavra, então, vou tentar resumi-la. Dona
Francesca é a melhor mãe do mundo. Amorosa, expansiva, carinhosa, com um coração enorme, onde
sempre cabe mais um. Ela também é muito dedicada a famiglia, é a chefe da cozinha, aquela que
comanda tudo e que está sempre à frente do banquete que temos nos almoços de domingo. Também é
a louca dos casamentos e o maior sonho da sua vida é ver os três filhos casados e felizes com suas
famílias.
— Ah, meu Deus, ela parece ser uma senhora incrível! — Alice disse com um sorriso encantado.
— E imagino que deve ficar de cabelo em pé com você.
— Comigo? Por quê? Eu sou um anjo.
— Um anjo? Só você acredita nisso — rimos juntos. — Como ela lida com o fato de você fugir de
todo e qualquer relacionamento?
— Fica louca, é claro. Eu acho que, se pudesse, mamma me amarraria ao pé da cama e sairia por
aí a procura da esposa perfeita para mim.
— Esposa perfeita? Como assim?
— Ela não tem uma lista de pré-requisitos definida, sabe? Mas também não é de aceitar qualquer
coisa. Para ela, o mais importante, é que haja amor e honestidade. E que seus filhos estejam felizes, é
claro.
— Então, ela é uma sogra amorosa?
— Sim, com certeza. Ela trata Mariana, mãe de Giulia, como uma filha.
— Que maravilha! Então, Paula tirou a sorte grande, vai ter uma sogra maravilhosa — disse ela,
tomando um gole do vinho. — Ela e seu irmão estão tão apaixonados. É lindo de ver.
— E engraçado, também. Meu irmão nunca procurou por um relacionamento, e agora está de
quatro pela sua amiga. Vai entender — dei de ombros, voltando a comer.
— O amor é assim, Romeo. Surge do nada, sem aviso prévio. Quando você vê, já está amando.
— Seria estranho se você, uma escritora de romances, não acreditasse nesse tipo de coisa.
— Mas é a verdade. Você realmente não acredita no amor?
Olhei para ela e fiquei alguns segundos em silêncio. Ela não era a primeira pessoa a me perguntar
isso, mas era a primeira que me fez ter vontade de parar para pensar e não dizer um “sim, eu não
acredito no amor” logo de cara.
— Para ser sincero, eu não sei se acredito ou não. Normalmente, falo logo que não acredito, mas
sei que o mundo não gira em torno das minhas perspectivas, então, para ser honesto, prefiro falar que
não tenho uma opinião formada sobre isso.
— Você tem, sim. Pode falar, eu não vou sair correndo e chorando para as montanhas — ela riu um
pouco para aliviar o clima.
— Eu não sou idiota, sei que as pessoas se amam. Meu irmão Dante e sua esposa, Mariana, são um
exemplo disso. Estão juntos desde o ensino médio, têm três filhos e vivem um conto de fadas, mas, no
final, eles são a exceção, sabe? A maioria diz que ama, mas, na verdade, não ama e usa esse
sentimento para ferir o outro.
— Quem te feriu?
— Como?
— Quem feriu você? Para pensar assim, com certeza alguém te machucou no passado e essa ferida
ainda não cicatrizou.
Não estava gostando do rumo daquela conversa.
— Ninguém me feriu.
— Romeo, não estou aqui para te julgar, só quero te entender.
— Não há nada para entender, essa é a minha opinião e ponto final. Tenho certeza que muitos
homens pensam como eu, é só vê a quantidade de cafajeste que existe por aí.
— Então, você se considera um cafajeste?
— Não é como a maioria me enxerga?
— Você se enxerga assim?
Porra, não queria mais falar sobre aquilo.
— Ei, em que momento essa deixou de ser uma conversa saudável e divertida e se transformou em
uma sessão de terapia? — Perguntei com um sorriso para tentar sair daquele assunto. — Chega de
vinho para você, acho que o álcool te deixa muito curiosa — falei, puxando sua taça para perto de
mim. Ela riu e a puxou de volta, tomando mais um gole.
— Eu já disse, só queria te entender.
— Por quê? Está me usando como um estudo de caso para poder criar um personagem inspirado
em mim, escritora?
— Hum... Quem sabe? Eu posso pensar em uma história ou duas com você.
— Ah, é? E como eu serei? Um pegador nato que fode com talento? Um astro do cinema bem sexy
que trepa com as fãs?
Alice riu de mim e eu fiquei como um bobo olhando para os seus lábios, morrendo de vontade de
passar a minha língua por eles e sentir o gosto do vinho em sua boca de novo.
— Não, eu estava pensando em um solteirão que morde a língua e cai de amores por uma mulher.
— E essa mulher é o quê? Uma escritora de romances? — Arqueei uma sobrancelha.
— Nunca subestime uma escritora de romances, Senhor Benvenuto, pois quando você menos
espera, ela já está fazendo parte da sua vida, comendo a comida que você comprou e fazendo você
falar sobre amor sentado no chão, tomando uma taça de vinho — disse ela com um sorrisinho safado
no canto dos lábios.
Puta merda, o pior é que ela tinha razão. A filha da mãe já estava mesmo fazendo parte da minha
vida, ocupando meus pensamentos, mexendo comigo de uma forma que eu nunca havia sentido até
então. Depois de jantarmos e lavarmos a louça, nos sentamos no sofá e a Gata pulou novamente para
o meu colo, acomodando-se em cima das minhas pernas, enquanto Alice procurava por algo para
assistirmos na Netflix. Deixei que ela escolhesse o filme e fiquei acariciando o pelo da Gata
enquanto pensava na conversa estranha que havíamos acabado de ter. Acabei me lembrando que,
novamente, eu havia falado muito sobre a minha família e ela não me disse nada sobre a dela.
— A sua mãe mora na Austrália, não é? — Sondei, olhando atentamente para o seu perfil. Vi como
ficou com os ombros mais tensos enquanto assentia com a cabeça.
— Isso mesmo. Ela se casou com um australiano e mora lá há pouco mais de cinco anos.
— Deve ser difícil viver tão longe da sua mãe.
— Sim, mas, quando morava aqui no Brasil, a gente quase não se via. Minha mãe não é muito
carinhosa e nem apegada a mim.
— Como assim?
Alice se recostou no sofá e olhou para o controle remoto em sua mão, parecendo escolher as
palavras antes de falar.
— Eu te falei que meu pai morreu quando eu era pequena, lembra?
— Sim.
— Ele não nos deixou desprevenidas, tínhamos nossa casa própria e uma poupança bem gorda no
banco, mas minha mãe parecia não achar que aquilo era suficiente, sabe? Por muitos anos, sempre
reclamava de tudo, que não podia ter as roupas e sapatos que queria, nem que podia viajar o mundo,
que tinha que cuidar de mim e dos meus estudos... Sempre me senti como um fardo para ela, por mais
que, às vezes, ela dissesse que me amava e não sabia o que seria da sua vida se não me tivesse ao
seu lado — ela disse, passando os dedos pelos botões do controle. — Enfim, eu cresci e quando fiz
dezoito anos, ela se viu livre para correr atrás do que sempre quis.
— Dinheiro?
— Um marido rico é um termo mais apropriado — ela disse com uma careta de desgosto. —
Minha mãe sempre teve um círculo de amizade bem grande, manteve contato com pessoas influentes,
mulheres que atingiram o mesmo objetivo que ela queria atingir e foi assim que ela conheceu o seu
primeiro namorado depois da morte do meu pai. Devo dizer que fiquei feliz por ela ter esperado que
eu crescesse para fazer isso, porque a nossa vida se tornou uma bagunça depois que completei
dezoito anos. Fui apresentada a diversos “padrastos” até ela conhecer o Donovan, seu atual marido.
Eu nem sabia o que dizer. Estava horrorizado com tudo o que ela estava me contando. Pegando a
sua mão na minha, a apertei e ela finalmente encontrou o meu olhar. Alice não chorava, mas a
expressão de tristeza em seu rosto estava acabando comigo. Fiquei péssimo por saber que eu estava a
fazendo reviver tudo aquilo.
— Sinto muito, Alice.
— Está tudo bem — ela disse, mas eu sabia que não estava. — Então, minha mãe conheceu o
Donovan quando eu tinha vinte e um anos. Na época, eu estava me formando na faculdade e
escrevendo o meu primeiro livro. Ela nunca acreditou que eu pudesse ganhar a vida como escritora,
sempre disse que era um sonho maluco, que nunca daria certo e quando aceitou se casar com
Donovan, fez de tudo para que eu me mudasse para a Austrália, mas não aceitei. No fundo, tinha
esperança de que ela acabaria desistindo daquela loucura, pois ela não o amava de verdade, só
estava de olho na grana dele, mas sua ambição foi maior e ela foi embora sem olhar para trás. Hoje,
nos vemos algumas vezes no ano e nos falamos algumas vezes por mês pelo telefone. Ela nunca mais
voltou ao Brasil.
— Nunca?
— Nunca. Eu que sempre vou lá visitá-la.
— Espera, ela nunca foi a um lançamento do seu livro? Nem mesmo quando você atingiu o
sucesso?
— Não. Imagina, acha mesmo que minha mãe deixaria a Austrália para vir até aqui? Nunca — ela
riu um pouco, sem humor. — Apesar de tudo, ela diz que tem orgulho de mim e do que me tornei.
Como aquilo era possível? Dio, que espécie de mãe era aquela? Senti vontade de puxar Alice para
os meus braços, confortá-la de alguma forma, mas não sabia exatamente o que fazer ou o que dizer.
Nunca estive na posição de confortar uma mulher, a não ser minha sobrinha quando tirava alguma
nota baixa na escola. Mesmo assim, colocando a Gata de lado, passei meu braço pelos ombros de
Alice a puxei para mim. Fiquei surpreso quando ela veio sem resistência e deitou a cabeça em meu
peito.
— Não sei exatamente o que te dizer, Alice. — Fui sincero e me senti péssimo por isso. Eu tinha
que saber o que dizer em uma hora como essa.
— Não precisa dizer nada, Romeo. Minha relação com a minha mãe é complicada, mas, apesar de
tudo, eu sou feliz.
— Você tem alguma família aqui no Brasil?
— Não, tanto o meu pai quanto a minha mãe eram filhos únicos e eu não cheguei a conhecer os
meus avós.
Merda. Sozinha e sem família. Enquanto isso, eu tinha uma famiglia tão grande, que a gente
precisava se reunir no quintal de mamma, porque a sua mesa de jantar não cabia todo mundo. Mesmo
sabendo que era irracional, me senti péssimo por saber que, enquanto minha família era enorme,
Alice nem sabia o que era ter a sua mãe por perto.
— Sei que, talvez, isso não mude nada para você, mas, se quiser aumentar a sua lista de amigos, eu
estou disponível — falei em tom de brincadeira para tentar aliviar o clima. Alice riu e se distanciou
um pouco para me olhar.
— Quer mesmo ser meu amigo, Romeo Benvenuto?
— Sim. E, dessa vez, sem segundas ou terceiras intensões.
Cara, a que ponto eu havia chegado, não era mesmo? Apenas amigo daquela mulher fantástica,
gostosa e que tinha o melhor beijo do mundo.
As voltas que o mundo dá, Romeo Benvenuto.
— Eu aceito — ela disse, estendendo a mão para mim. A forma como me olhava, como mexia
comigo, me fez duvidar da minha sanidade mental. Em que mundo eu achava que conseguiria ser
apenas amigo daquela mulher?
— Amigos — falei, apertando a sua mão.
— Amigos.
Ela sorriu e voltou a deitar a cabeça em meu peito, enquanto escolhia um filme para assistirmos.
Ao meu lado, a Gata ronronou e me olhou com uma cara de quem sabia que eu estava fodido e um
pouco arrependido de ter falado que não tinha segundas intensões com a Alice.
Parece que eu teria que aprender a ser apenas amigo e não conquistador. Que Dio me ajudasse,
pois não seria nada fácil.
Capítulo 11
Cheguei em casa perto da meia-noite e encontrei um Bob sonolento em cima do meu sofá. No auge
da sua preguiça, ele bocejou e pensou em se levantar para vir em minha direção, mas mudou de ideia
quando percebeu que eu já estava indo até ele. Sentando-me ao seu lado, coloquei sua cabeça em
minha coxa e acariciei atrás da sua orelha, sem conseguir tirar o sorriso idiota que esticava os meus
lábios.
— A vida não é tão ruim, sabia disso, Bob? — perguntei como se ele pudesse me responder. Ele
apenas olhou para a minha cara. — Sabe de quem eu sou amigo agora? Da Alice, aquela gostosona
que você derrubou no calçadão em Copacabana. Quem diria que o destino a colocaria novamente em
meu caminho, não é mesmo?
Ele continuou a me olhar com atenção por alguns segundos, em seguida, bocejou e farejou com
interesse a minha coxa.
— Ah, você deve estar sentindo o cheiro da Gata. Não fique com ciúmes, ela até que é legal.
Quem sabe um dia vocês não se tornem amigos também? — Acariciei sua cabeça e me levantei,
ouvindo os seus passos atrás de mim. — Sim, eu sei que você não está acostumado a ouvir que eu
sou amigo de uma mulher, mas ela é dura na queda e só me disse não. Apesar disso, ela é uma mulher
maravilhosa e eu sinto que tenho que agarrar qualquer oportunidade para ficar perto dela. Louco, não
é?
Não deixei de notar que não era apenas o destino ou a vida que eram loucos, eu também era, até
porque, estava conversando com o meu cachorro e fazendo perguntas a ele. Apesar de essa ser uma
constante em nossas vidas — Bob já estava acostumado a fazer parte dos meus diálogos —, o fato de
estar compartilhando com ele o início de uma amizade com uma mulher era algo inédito e sentia que
Bob estava um pouco surpreso com isso.
Ao virar-me para olhá-lo, no entanto, constatei que a surpresa já havia passado, pois ele se
esparramou no tapete aos pés da minha cama e voltou a dormir como se eu não tivesse lhe contado o
acontecimento do século.
— Obrigado pela sua atenção, Bob — murmurei e tive como resposta o seu ronco. — Cachorro
ingrato.

Deixei a sala de reuniões depois de ter decidido com a minha equipe a próxima campanha de
marketing que faríamos para a divulgação da nossa nova plataforma digital de jogos. Seji, meu
japonês gênio da computação gráfica, era o dono por trás de todo o software moderno e que ocupava
pouco espaço nos celulares. Antes que eu entrasse em minha sala, o parei no meio do corredor.
— Seji, só queria te agradecer mais uma vez. Você é foda, cara!
— Foda? — Ele repetiu com o cenho um pouco franzido, fazendo com que sua franja lisa e
escorrida encostasse em seus óculos de grau. Ao meu lado, Marta, minha diretora de marketing, riu.
— Ele quis dizer que você é incrível no que faz, Seji.
— Ah, sí. Incrível. Incrível é bon, né? — Ele perguntou com aquele sotaque carregado de quem
estava aprendendo uma nova língua.
— Isso mesmo, Seji. Incrível é bom. Bom demais, na verdade.
Quase fazendo uma reverência, ele ficou vermelho e agradeceu, escapando da nossa frente a
passos rápidos para voltar a sua mesa. Marta balançou a cabeça.
— Ele é incrível mesmo.
— Sim, foi o que eu disse. Ele é foda.
— Você sabe que como presidente desta empresa, deveria ter um linguajar mais rebuscado, não é?
— Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha ao me olhar.
— Não, nada disso. Meus funcionários sabem que eu estou bem longe de ser aquele chefe
rabugento e que olha todo mundo por cima.
— Sabemos disso, mas tenho medo de que essa “camaradagem” toda acabe dando abertura para
falta de respeito.
Marta era uma mulher inteligente e muito correta. Com quase quarenta anos, casada e mãe de dois
filhos, ela estava acostumada a agir com profissionalismo e sobriedade no ambiente de trabalho e eu
achava aquilo fantástico. Eu também era profissional e sóbrio, mas estava longe de me transformar
em um chefe chato e mal-humorado.
— Marta, não é a minha “camaradagem” que vai fazer com que um funcionário falte ou não com o
respeito comigo, será o caráter dele. Eu não vou mudar para me adequar aos padrões impostos pelos
CEOs do mundo a fora. Eu sou eu e ponto final. Até agora, o meu jeito de gerir essa empresa tem
dado bastante certo, não?
— Sim, é verdade. Às vezes eu me esqueço que você é só um garoto de trinta anos, que brinca
atrás de um computador — ela zoou e eu não pude deixar de rir.
— Esse é o tipo de coisa que eu tenho que ouvir da minha diretora de marketing só porque eu fico
falando que meus funcionários são fodas? Porra, acho que preciso mesmo mudar!
— Não, não mude. Você é bom no que faz justamente por ser tão autêntico — disse ela, olhando
para o relógio de pulso. — Preciso ir, tenho aquela reunião na escola dos meninos. Lembra que te
avisei na sexta-feira?
— Sim, claro que lembro. Dê um beijo nos garotos por mim.
— Pode deixar.
Com um aceno, ela entrou em sua sala e eu entrei na minha, sentindo meu estômago roncar. Havia
acordado atrasado e comi apenas uma maçã no caminho do trabalho, o que significava que eu
precisava fazer uma pausa para almoçar. Geralmente, eu pedia para que Sabrina, minha secretária,
pedisse alguma coisa para que eu comesse no escritório, mas, hoje, decidi fazer algo diferente.
Sacando meu celular do bolso, mandei uma mensagem para Alice.
“Está ocupada?”
Sua resposta chegou minutos depois, enquanto eu fechava os arquivos no meu computador.
“Na verdade, não. Acabei de sair de uma reunião com a minha editora. Por quê?”
“Quer almoçar comigo?”
Tinha que confessar que fiquei olhando para o celular com uma veia de ansiedade pulsando em
meu pescoço, com medo de que ela dissesse um não bem grande. Foi só quando ela enviou a sua
resposta que eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
“Adoraria. Estou de carro, aonde posso te encontrar?”
Sorri de orelha a orelha enquanto enviava para ela o endereço de um restaurante à beira mar em
Ipanema. Enquanto saía do escritório e entrava em meu carro, só conseguia pensar que ser amigo
dela era uma das melhores coisas na face da Terra.
Cheguei ao restaurante vinte minutos depois e pedi uma mesa para dois. Assim que me acomodei,
recebi a sua mensagem falando que havia chegado e acenei discretamente quando a vi entrar no
restaurante. Nem preciso dizer que ela estava linda — eu realmente quase perdi o fôlego ao olhar
para ela. Usando um vestido típico de verão e sandálias de salto baixo, eu vi Alice chegar perto da
minha mesa como se estivesse andando em câmera lenta. Se o restaurante não estivesse com todas as
janelas de vidro fechadas, eu poderia jurar que a brisa do mar estava sacudindo os seus cabelos.
Saindo do torpor, me levantei e dei um beijo demorado em sua bochecha, arrastando a cadeira para
que pudesse se sentar.
— Você está maravilhosa — elogiei. Queria dizer gostosa, mas, como amigo, eu sabia que não
podia exagerar demais.
— Obrigada. Você também está incrível nessa roupa de executivo — disse ela, olhando para mim
sem disfarçar. Nem preciso dizer que meu ego foi nas alturas.
— Depois de ter ouvido da minha diretora de marketing que eu preciso ter um dialeto mais culto
para falar com os meus funcionários, saber que pelo menos a minha roupa está no padrão correto é
um alívio — falei, agradecendo ao garçom por ter nos dado o cardápio.
— Como assim? Você usa gírias ou algo do tipo?
— Não, mas, às vezes, eu falo alguns palavrões... É mais forte do que eu — dei de ombros. — E
também tenho o costume de tratar todo mundo por igual. Sabe, eu não gosto muito de sustentar a fama
de chefe inalcançável. Lá na empresa, todo mundo me chama pelo meu nome.
— Então, nada de Senhor Benvenuto ao se dirigir a você? — Ela perguntou com um sorrisinho
sardônico.
— Eu posso pensar em alguns momentos apropriados para ser chamado de Senhor Benvenuto —
falei, aproximando-me um pouco dela e tocando em sua mão por cima da mesa. — Mas, como seu
amigo, creio que não seja de bom tom descrever que momentos são esses.
Vi sua boca se abrindo, como se ela quisesse falar algo, mas não tivesse palavras. Quando seu
pescoço começou a ficar vermelho, ela soltou uma risadinha e puxou o cardápio, começando a ler. Eu
fiz o mesmo, mas o meu sorriso era maior, bem escancarado. O que eu podia fazer? Estava mesmo
tentando ser seu amigo, mas isso não queria dizer que eu viraria um santo. Era louco pela Alice e ela
sabia disso; fingir que meu interesse sexual por ela havia acabado, só faria de mim um mentiroso e eu
não era adepto a mentiras.
Optamos pela sugestão do chef para aquele dia, que era bacalhau com creme de natas, junto com
um vinho branco. A comida estava deliciosa, mas a companhia de Alice tornava qualquer experiência
mais vívida, incrível. Enquanto me contava sobre a reunião com a sua editora e me explicava qual
era exatamente a importância do papel dessa mulher na sua vida profissional, eu olhava para ela
como um bobo, seguindo o movimento dos seus lábios cheios e me acomodando melhor na cadeira
quando ela passava a língua sobre eles e acordava o gigante lá embaixo que não entendia que ele
não estava sendo chamado na conversa.
— É ela quem me ajuda na construção da história, que me incentiva ou me dá alguns puxões de
orelha quando eu exagero em alguma cena. Sem a ajuda da Mônica, eu não seria nada.
— Bobagem, tenho certeza que ela tem que ajustar pouquíssimas coisas.
— Você ficaria assustado com o tanto de coisa que eu preciso corrigir quando ela me reenvia o
arquivo — disse ela, rindo com uma expressão de desespero. — Acho que ela não entende que eu
tenho direito de ter a minha liberdade artística.
— Ela e o Seji devem ser parentes.
— Seji?
— Sim, meu funcionário. Ele é japonês e trabalha comigo há quase dois anos, eu o chamo de gênio
da computação gráfica. Às vezes eu chego para ele e peço algo mirabolante e ele fala “non, non, Seji
acha que isso non vá ficá bon”.
Alice soltou uma gargalhada estridente quando terminei de imitar o sotaque de Seji. Um casal de
idosos que estava sentado ao nosso lado e nos olharam com espanto, mas a senhorinha logo riu para
mim, certamente achando que eu havia contado a piada do século para encantar aquela mulher bonita.
— Ai, meu Deus... Desculpa — Alice pediu ainda gargalhando, abanando o rosto com o
guardanapo de pano. — Ele fala assim?
— Exatamente assim. E ainda fica me olhando como se eu estivesse com duas cabeças no lugar do
pescoço. Ou seja, ele também não respeita a minha liberdade artística.
— Sua liberdade artística, é? — Ela secou as lágrimas que quase escorreram dos seus olhos.
— Exato. No fundo, acho que sou um pouco artista também.
— É, sim, você tem um grande talento em imitar sotaques.
— Eu sei que eu tenho — falei, terminando de comer. Ela também terminou e eu pedi o cardápio
de sobremesas, que o garçom logo trouxe. — Qual é o seu doce favorito?
— Nossa, que difícil. Preciso pensar. — Ela ficou quieta por alguns segundos. — Vou levar em
consideração um doce que eu não dispenso de jeito algum. Chocolate. E o seu?
“Sua língua”, pensei em falar, olhando rapidamente para sua boca. “Sua língua na minha é o
melhor doce que já provei”.
— O cannoli siciliani de mamma. Dio, se deixar, eu como uns quinze de uma vez só — falei e
Alice mordeu o lábio, olhando-me com uma intensidade diferente. — O que foi?
— Quando você fala em italiano... Nunca vi nada mais sexy.
Foi a minha vez de abrir a boca e não ter o que dizer. Suas palavras fizeram uma conexão direta
com a minha virilha e senti meu pau despertar na calça. Engolindo em seco, pensei se investia ou se
recuava, mas eu era Romeo Benvenuto e Romeo Benvenuto quase nunca recuava.
— Então você gostou quando falei em italiano no seu ouvido ontem, bella? — perguntei, passando
as pontas dos meus dedos pelo dorso da sua mão. Alice ofegou baixinho.
— Bella é...
— Linda — interrompi. — Sei la donna più bella che abbia mai visto.
Ela se remexeu na cadeira, como se estivesse tão excitada quanto eu e senti uma vontade insana de
mandar aquela história de amigos para o outro lado do mundo e atacar a sua boca ali mesmo, mas me
controlei.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi — repeti baixinho em português e virei a sua palma
para cima, correndo meus dedos pelo seu pulso. A pele delicada estava pegando fogo e imaginei se
ela também estaria quente em outros lugares.
— Os senhores já decidiram a sobremesa?
Che cazzo![12] O olhar que dirigi ao garçom foi tão mortal, que me surpreendi com o fato de ele
não ter caído como um peso morto no chão. Ele percebeu a merda que havia feito e chegou a dar um
passo para trás, mas Alice foi mais rápida e tirou a mão debaixo dos meus dedos, pegando
rapidamente o cardápio de sobremesas.
— Hum... Um sorvete, por favor — pediu ela, sem olhar para mim.
— Qual sabor, senhorita? — O garçom perguntou com a voz baixa.
— Ah, é... Frutas vermelhas. Isso, frutas vermelhas.
Alice estava nervosa e deu um sorriso amarelo ao entregar o cardápio ao garçom. Eu não era
chegado a frutas vermelhas, mas pedi o mesmo que ela, porque nenhum doce no mundo iria suprir a
necessidade que eu tinha naquele momento. Meu maior desejo tinha nome e sobrenome: Alice
Carvalho.
Resolvi levar o assunto para um lugar mais neutro enquanto o garçom não trazia o nosso pedido.
— Tem planos para esse final de semana? Estava pensando que poderíamos ir novamente ao
Karaokê do Jô — falei, terminando de beber o vinho. Alice pegou a taça com água e deu um gole
generoso.
— Vou para São Paulo no final de semana, no sábado eu tenho uma sessão de autógrafos lá.
— Uau! Por um momento eu havia me esquecido que você é uma autora superfamosa.
Ela me deu um sorriso e fiquei aliviado por não estar brava comigo.
— Uma pena que um certo leitor não vai poder aparecer de surpresa com a sua sobrinha e me fazer
uma pergunta.
— Não subestime esse leitor, porque quando ele quer alguma coisa, não desiste com facilidade.
Pude ver a surpresa em seus olhos e também a intensidade que já lhe era característica. Alice
sabia muito bem sobre o que eu estava falando e não tinha nada a ver com livros. O garçom voltou e
comemos o sorvete enquanto ela me contava como funcionava o planejamento para a sua turnê de
lançamento. Ela já tinha ido para Salvador, Recife, Curitiba e Espírito Santo e iria encerrar a turnê
agora em São Paulo.
Depois de pagar a conta — apesar da insistência dela em dividir comigo — a acompanhei até o
estacionamento. Seu carro estava parado a duas vagas do meu e fiz questão de ir com ela até o
veículo.
— Obrigada pelo convite, Romeo, amei almoçar com você.
— Vamos fazer isso mais vezes.
— Com certeza.
Ela me deu um sorriso e se aproximou para se despedir. Assim que passei meus braços pela sua
cintura e senti o cheiro delicioso da sua pele, meu corpo pareceu se acender para vida. Senti um
arrepio e meu pau — que esteve a meia marcha durante todo o almoço — se levantou para saudá-la.
Por sorte, nosso contato não era tão direto e ela não sentiu nada, a não ser a minha respiração forte
em seu pescoço e o meu sussurro em seu ouvido.
— Até mais, bella.
Capítulo 12
A semana passou depressa e, infelizmente, Alice e eu não conseguimos nos encontrar de novo.
Com os preparativos para o lançamento da nova plataforma digital de jogos, o trabalho na empresa
havia dobrado de tamanho e estava saindo mais tarde a cada dia. Mesmo assim, trocávamos
mensagem o tempo todo, o que era uma novidade para mim. Geralmente, só entrava no WhatsApp
para falar com a famiglia no grupo, ou para responder meus irmãos e amigos; ter realmente com
quem conversar e gostar de passar horas no celular por causa dessa pessoa — uma mulher — era
algo definitivamente novo em minha rotina.
Depois de um dia cansativo, cheguei em casa e Bob me olhou com aquela cara de cachorro que
havia caído do caminhão da mudança. Ele sempre fazia isso quando ficava preso dentro de casa e,
sabendo que estava em falta com ele, me esforcei e troquei a roupa de trabalho por um short e blusa
de academia e um par de tênis. Assim que viu como eu estava vestido, ele se alegrou, colocando a
língua para fora e abanando o rabo como se estivesse vendo um buffet cheio de petiscos a sua
espera.
— Vamos liberar essa energia acumulada, garotão, antes que você saia correndo pela casa e
quebre os meus móveis.
Peguei a sua guia e o vesti, mas, antes de sair, tirei uma foto sua e enviei para Alice com a seguinte
mensagem:
“Papai está trabalhando muito, então, hoje, a corrida vai ser no nosso condomínio
mesmo. #PartiuVerAsCachorrasDasVizinhas.”
Alice ficou online no mesmo instante e podia imaginar a sua risada enquanto via a foto de Bob
com a língua para fora e a mensagem que eu havia escrito. Sua resposta chegou segundos depois.
“Isso aí, Bob, coloca seu pai pra correr atrás de você. E fique de olho nele para mim, tudo
bem? Não o deixa ficar de olho nas vizinhas.”
Opa, será que ela sentia ciúme ao me imaginar olhando as vizinhas? Não pude deixar de sorrir
enquanto digitava uma resposta.
“Meu pai disse que só tem olhos para uma escritora, mas ela o colocou na friendzone ☹”
Alice enviou uma figurinha de uma mulher apertando o peito, como se estivesse com dor e
escreveu:
“Golpe baixo, Senhor Benvenuto. Esse não é um jogo limpo.”
“Nunca disse que seria, bella.”
Com um sorriso, coloquei o celular no bolso e saí com Bob, antes que ele ficasse puto de vez
comigo e resolvesse não olhar mais na minha cara. Corremos por quinze minutos debaixo do céu
estrelado e da lua cheia, que estava impressionante naquela noite. Olhei rapidamente no relógio e vi
que passava das nove; se fosse um pouco mais cedo, chamaria Alice para passear na orla de
Ipanema, com a desculpa de vermos a lua cheia.
“Jura, cara? Que merda é essa, caralho?”, meu subconsciente me julgou e eu quase me encolhi
enquanto corria com Bob. Certo, aquele estava muito longe de ser o meu estilo, mas eu sentia uma
espécie de necessidade de estar ao lado de Alice em todo momento que podia. Ninguém podia me
julgar, certo? Eu estava apenas sendo guiado pelo tesão e pela amizade que estávamos construindo.
“Eu posso te julgar”, meu subconsciente praticamente gritou. “A gente não é assim, entendeu? A
gente não leva ninguém pra ver a lua cheia na orla da praia! O máximo que a gente faz é oferecer
um jantar e uma noite fantástica de sexo. Apenas isso. Desapega dessa mulher, Romeo. Desapega!”
Eu sentia que meu subconsciente estava certo. Realmente, eu não era aquele tipo de homem e nunca
seria. Comecei perceber que, ao lado de Alice, eu estava andando em uma corda bamba, fazendo e
pensando em fazer coisas que eu jamais faria por mulher alguma. Qual era a porra do meu problema?
A mulher vivia me dizendo não, a única brecha que abriu foi para uma amizade e, mesmo assim, ali
estava eu, imaginando coisas e criando fantasias na minha mente. De verdade, eu precisava
desapegar.
Quando Alice havia dito que iria viajar no final de semana, uma parte de mim ficou para baixo ao
constatar que eu não a veria, mas, agora, estava começando a enxergar o lado bom naquilo. Precisava
mesmo impor uma distância entre nós dois e a viagem veio no momento perfeito para isso.
Aproveitaria aqueles dias para voltar a ser o Romeo de sempre, aquele que aproveitava a vida e que
não se apegava a mulher alguma.
Enquanto voltava com Bob para casa, quase vi meu subconsciente levantando o polegar para mim,
satisfeito por eu ter acordado com o seu tapa na minha cara.

No sábado, tive uma reunião na parte da manhã e passei a tarde trabalhando em casa. Geralmente,
fazia de tudo para não ter que trabalhar no final de semana, mas em época de lançamento, era quase
impossível dar conta de tudo nos dias úteis. Só consegui parar depois das quatro da tarde, que foi
quando realmente encerrei minhas atividades daquele dia. Só voltaria a ficar de frente para um
computador na segunda-feira.
Minha mão coçou para pegar o celular e enviar uma mensagem para Alice, mas me segurei. A essa
hora, ela deveria estar na sessão de autógrafos em São Paulo, mas não foi por isso que me impedi de
mandar a mensagem e, sim, porque resolvi levar a sério a decisão que havia tomado dois dias antes.
Precisava mesmo colocar certa distância entre nós dois.
Como estava muito cansado, deitei no sofá para ver um filme e acabei pegando no sono. Acordei
com o toque estridente do meu celular e demorei alguns segundos para ler o nome do Pablo na tela.
— Fala aí — murmurei com voz de sono, coçando os olhos e contendo um bocejo.
— Que isso, cara. Tá morrendo?
— Não, mas poderia. Estou morto de cansaço.
— Que isso, esse não é o Romeo Benvenuto que eu conheço! Levanta logo dessa cama e vem
encontrar com a gente aqui na Lapa. Tem um monte de gostosa te esperando.
Franzi o cenho ao ouvi-lo e olhei para o meu relógio de pulso, pensando que ele estava louco em
me chamar para ir para Lapa tão cedo. Fiquei assustado quando vi que passava das nove da noite.
Porra, eu tinha mesmo apagado no sofá. Por um momento, pensei em não ir, estava cansado e
desanimado para cair na farra. No fundo, estava morrendo de saudade de Alice e preferia comprar
alguma comida para jantar com ela no seu apartamento, vendo um filme velho da Netflix, do que sair
para farra com os meus amigos, mas logo caí na real.
Primeiro, eu não era do tipo que recusava um convite de amigos. Segundo, eu jamais trocaria uma
noite ao lado de uma mulher para ficar vendo filmes na Netflix e, terceiro, Alice estava em São
Paulo, a quilômetros de distância. E, mesmo se estivesse aqui, do lado da minha casa, eu não poderia
simplesmente deixar de ser quem eu era para passar algumas horinhas ao seu lado.
Eu era Romeo Benvenuto, o cara que não se apegava. Levantando do sofá, falei para Pablo antes
de desligar:
— Chego aí em meia hora.
Tomei um banho demorado para relaxar os músculos tensos depois de dormir no sofá, me arrumei
e parei em frente ao espelho, vendo Bob deitado em seu lugar favorito no meu banheiro. Eu quase
podia sentir o julgamento em seu olhar, era como se ele me falasse, silenciosamente, que eu preferia
passar o resto da noite ao seu lado do que ir para Lapa encher a cara. Ignorei seu aviso silencioso e
saí do banheiro, ouvindo seus passos atrás de mim. Antes de sair de casa, coloquei mais um pouco de
água e comida em seu pote e me virei para ele.
— Cuida de tudo por aqui e, já sabe, nada de mijar nos móveis, garotão.
Cheguei na Lapa e logo entrei no bar em que meus amigos estavam. O pagode ao vivo tornava o
ambiente quase ensurdecedor e, ao invés de me sentir acolhido — como eu geralmente me sentia —,
tive vontade de ir embora. Lógico que não fui e logo encontrei Pablo, Tomas e Hugo em uma mesa
rodeada de mulheres. Assim que me viu, Tomas me abraçou pelo ombro e me apresentou às meninas.
— Garotas, esse aqui é Romeo Benvenuto, o cara que arranca calcinhas só com o olhar — disse
ele e as meninas soltaram risadinhas excitadas. — Romeo, essas são...
— Carine. — A loira se apresentou, chegando perto de mim. — E essas são minhas amigas Nívea,
Carol e Ellen, mas elas já estão caidinhas pelos seus amigos — ela confidenciou em meu ouvido.
Sorri e falei com as meninas, vendo o olhar de Carine bem em cima de mim. Ela estava
interessada e eu, que não era cego, também fiquei de olho nela enquanto pegava uma cerveja do
balde em cima da mesa. Carine era alta e os saltos a deixavam quase do meu tamanho, o cabelo loiro
caía até a cintura e o vestido curto deixava pouco espaço para a imaginação.
— Quer uma bebida? — perguntei ao ver que ela tinha terminado o drinque que bebia.
— Com certeza.
Fomos juntos até o bar e ela escolheu uma caipirinha. Como tinha dado apenas alguns goles na
minha cerveja, não pedi nada, mas me sentei ao lado dela no bar e resolvi puxar assunto, fazendo de
tudo para desviar os olhos do seu decote generoso.
— Então, Carine. O que você faz da vida?
— Ah, eu sou operadora de telemarketing e faço alguns bicos como modelo.
— Modelo?
— Sim! Semana passada eu participei de um evento de cosméticos na minha cidade, em Nova
Iguaçu. Não foi nada grandioso, mas já foi um começo. Tenho certeza de que um dia eu serei a cara
de várias campanhas famosas!
— Se é o que você realmente quer, não desista — falei, observando ela colocar o canudo da
caipirinha entre os lábios grossos e pintados de rosa. Estranhamente, não senti desejo de ter os seus
lábios em outro lugar.
— Eu quero muito isso, mas também quero outra coisa — disse ela, me dando um olhar fatal.
Finalmente, me senti afetado o suficiente para dar um sorriso de lado e me aproximar um pouco.
— Mesmo? O que você quer?
— No momento, quero um beijo seu.
Que tipo de homem eu seria se me recusasse a satisfazer um desejo como esse? Estava longe de
ser um cara grosseiro, mamma havia me dado bastante educação. Com um sorriso, a puxei para mim
pela cintura e Carine se levantou de bom grado, ajeitando-se entre as minhas pernas abertas e me
dando um beijo quente. Sua língua pareceu dançar comigo ao ritmo do pagode e eu gostei, mas não
me acendeu com o beijo dela. Quase surtando, fiz questão de esquecer de Alice e apertei Carine
contra o meu corpo, sentindo-me péssimo por, mesmo sem querer, comparar as duas. Não era justo.
Quando nos afastamos, Carine passou os dedos ao redor dos lábios para tirar qualquer resquício
de batom, em seguida, passou os braços pelo meu pescoço e disse baixinho em meu ouvido.
— Sabia que eu me inscrevi para o BBB?
— O quê? — Pensei não ter ouvido direito. Ela se afastou e me olhou com uma cara engraçada,
como se não acreditasse que eu não soubesse sobre o que ela estava falando.
— O BBB. Big Brother Brasil.
— Ah... Nossa, que legal — falei com falso entusiasmo, sem entender aonde ela queria chegar.
Será que não estávamos na mesma página? Nosso beijo tinha sido um delírio mental da minha parte?
— É mais do que legal! Eu tenho certeza que serei selecionada e, agora, acabei de descobrir que a
minha existência na casa mais vigiada do Brasil vai ser um pouco mais difícil.
— É? Por quê?
Cara, eu não estava entendendo nada do que aquela garota estava falando.
— Porque eu vou ficar comparando o beijo de todos os caras com o seu. Vai ser difícil encontrar
alguém que supere você.
Ah, sim... Agora estávamos exatamente na mesma página. Não pude deixar de rir depois de ouvir
o que ela falou e a puxei novamente para um beijo. A menina era maluca, mas pelo menos beijava
bem e tinha certeza que conseguiria levantar o meu astral naquela noite. Depois de mais alguns
beijos, ela se afastou e voltou a se sentar no banco a minha frente.
— Qual é o seu maior sonho, Romeo?
E lá vamos nós para os seus assuntos aleatórios.
— Meu maior sonho? Acho que nunca parei para pensar nisso... Na verdade, acho que já o
realizei. Meu maior sonho era trabalhar com algo que me desse alegria e alcancei o meu objetivo. E
o seu?
— Entrar para o BBB, é lógico! — Ela quase pulou em cima do banco. — E o seu maior medo?
— Perder a minha mamma.
— Mamma? O que é isso?
— É mãe em italiano.
— Ah, que bonitinho! Você é bilingue — ela disse com certa animação. Resolvi deixar que
pensasse assim, era melhor do que ter que explicar que eu era filho de italianos.
— E o seu maior medo, qual é?
— Com certeza é participar de uma edição flopada do BBB!
Novamente, fiquei sem entender nada.
— Edição flopada? O que é isso?
— Uma edição ruim, ué! Você viu como foi a edição desse ano? Não teve um barraco, nem uma
briguinha sequer! Foi horrível, aqueles participantes não souberam aproveitar a chance que tinham.
Espero que ano que vem seja diferente — disse ela, jogando os cabelos para trás. — Quer dizer,
tenho certeza que será diferente, pois eu estarei lá! Eu vou colocar fogo naquela casa, você vai ver
só. Vai torcer por mim, não é?
— Eu... Vou, é claro que vou — falei me sentindo um pouco sufocado. — Me espera aqui? Preciso
ir ao banheiro.
— Claro, gato, vai lá. Não vou sair daqui.
Fugi. Não tinha um termo mais apropriado do que esse, eu literalmente fugi. Passei por entre as
pessoas até chegar ao corredor que levaria ao banheiro. Não entrei, porque não estava a fim de sentir
o cheiro de mijo, por isso, encostei-me na parede e peguei meu celular sem nem pensar uma segunda
vez. Havia uma mensagem de Alice, de algumas horas atrás, falando que a sessão de autógrafos havia
sido incrível e perguntando como eu estava.
“Você não vai acreditar. Vim para um bar com meus amigos aqui na Lapa e conheci uma
garota. O nome dela é Carine e o maior medo da vida dela é entrar em uma edição flopada do
BBB.
Você sabe o que significa a palavra flopada?”
Esperei alguns minutos e torci para que Alice me respondesse logo, se não, eu teria que guardar o
celular e voltar a me sentar de frente para Carine. Já estava pensando em como poderia dispensá-la,
quando meu celular vibrou em minha mão.
“Uma edição flopada do BBB? O que seria isso? Kkkkkk.”
“Segundo ela, é uma edição ruim. A menina disse do nada que havia se inscrito no
programa. Foi literalmente do nada, eu juro! E agora ela só fala de BBB. Nada contra o
programa, eu até assisto quando não tenho nada pra fazer, mas estou com medo dela. De
verdade.”
Alice mandou uma figurinha rindo e eu acabei a acompanhando, porque a situação era meio
surreal. Eu já havia conhecido diversas mulheres na minha vida, mas nenhuma delas falava com tanto
afinco sobre entrar em um programa de televisão.
“Que figura! Só você mesmo para conhecer alguém assim, hahaha.”
“O que quer dizer com isso?”
“Bem, Giulia havia dito que seu círculo de amizade era meio incomum. Lembro que ela disse
que eles não eram influentes, mas com isso eu tenho que discordar. Se não fossem influentes,
você não conheceria a futura participante do BBB.”
“Você e a Giulia não me enxergam como o cara sério e responsável que eu sou. Ficam
pensando pouco de mim.”
“Ah, tadinho de você, Romeo Benvenuto, kkkkk.”
“O que está fazendo agora?”
“Estou jantando com o irmão da minha editora.”
Eu não esperava pelo corrente fria que passou pelas minhas veias assim que li a sua resposta. Ela
estava jantando com outro cara. Que porra era aquela?
“E você estava beijando outra mulher há menos de dez minutos, seu hipócrita”, meu
subconsciente, que estava bem ativo naquela semana, fez o favor de me lembrar.
“O jantar deve estar ótimo, para você estar conversando comigo por mensagem,
hahaha”.
Enviei fingindo que estava rindo, mas, na verdade, eu estava bem puto. Ela havia se recusado a
jantar comigo e agora estava jantando com outro? Dio, eu me sentia meio estúpido naquele momento.
“Marcelo foi ao banheiro, deve voltar em alguns minutos.”
Ah, então o jantar não estava um porre. Ótimo!
“E o que o Marcelo faz da vida?”
Espero que não trabalhe. Espero que seja um vagabundo sem perspectiva na vida.
“Ele é neurocirurgião.”
E as coisas só melhoravam para mim.
“Uau. Um ótimo partido.”, escrevi sem pensar muito.
“Um ótimo partido?”
“Sim. Tenho certeza que ele está afim de você. Nenhum homem chama uma mulher para
jantar se não tem o objetivo de comer ela depois.”
Eu meio que me arrependi de ter escrito aquela merda assim que enviei a mensagem. Droga!
“Então foi por isso que você me chamou para jantar naquele dia?”
Merda!
“Eu disse que seria um jantar de amigos.”
“E o que te leva a pensar que esse também não é um jantar de amigos?”
“Porque você é linda, inteligente, gostosa pra caralho, e tem um sorriso de tirar o fôlego.
A não ser que ele seja gay, ele está interessado e está investindo em você.”
Eu já não tinha mais papas na língua. Se ela queria saber o que eu achava, teria que lidar com isso.
E eu teria que lidar com aquela sensação estranha no peito, com a vontade de pegar o primeiro voo
para São Paulo e falar para o almofadinha que ele não tinha o direito de querer investir na Alice,
porque ela já era minha!
Minha.
Che cazzo! Ela não era minha! Eu estava enlouquecendo, essa era a única explicação.
“O Marcelo acabou de voltar, a gente se fala depois.”
“Ok, bom jantar!”
Estava puto. Sério, estava muito puto e nem tinha motivo para isso. Quer dizer, tinha motivo sim!
Por que ela decidiu que poderia jantar com ele, quando tinha recusado a jantar comigo? Eu sei que já
deveria ter virado essa página, mas, no momento, me sentia preso justamente nesse maldito
parágrafo.
Decidi encerrar a minha noite por ali. Encontrei Carine no mesmo lugar e falei que precisava ir
embora, que havia recebido o telefona de um amigo e que precisava ajudá-lo. Ela tentou me passar o
número de telefone, mas me esquivei e me despedi dos meus amigos, deixando claro em minha
expressão que não era para eles desmentirem a história que inventei pra garota. Saí do bar com um
péssimo humor e cheguei em casa pior ainda, sem entender o que era aquele sentimento que estava
me sufocando, me fazendo enxergar vermelho.
Senti vontade ligar para Alexandre ou para Dante e desabafar, mas logo descartei a ideia. Não
queria que eles começassem a falar que eu estava gostando mais da Alice do que deveria e não
estava com saco para repetir que eu não estava gostando dela desse jeito. Porque era verdade, eu não
estava gostando dela.
— Não estou gostando dela — repeti em voz alta e Bob me olhou com uma orelha arqueada. —
Ouviu, Bob? Não estou gostando da Alice!
O que eu queria, de fato? Eu era amigo dela, ela era tão solteira e livre quanto eu. Se quisesse ir
para cama com o neurocirurgião, estava no direito dela, assim como eu estava beijando a doida do
BBB naquele bar. Eu não tinha direito algum de ficar puto, mas era quase irracional. Só conseguia
pensar no porquê de ela aceitar trepar com ele e comigo, não. Isso se ela fosse para cama com ele,
coisa que eu achava difícil, pois ela disse que não lidava muito bem com casos de uma noite só.
“Mas, e se não for um caso de uma noite só? E se ele der a ela o tal do “mais” que ela tanto
quer?”
Porra, eu iria enlouquecer! Precisando de álcool, fui até o bar na minha sala e peguei o uísque
importado que Dante havia me dado em meu aniversário de vinte e oito anos. Geralmente, só o
tomava em ocasiões especiais, mas sentia que essa era uma ocasião especialíssima! Precisava de
estímulo para clarear as ideias. Tomei um gole direto da garrafa e me sentei em meu sofá, olhando
para o nada, mas vendo tudo na minha cabeça.
Alice queria mais. Esse mais, com certeza, englobava namoro, noivado, casamento e filhos. Eu
daria isso a ela? Logicamente, não, mas sentia que eu precisava ter mais daquela mulher. Precisava
de Alice de uma forma que nunca precisei de mulher alguma. O que eu poderia fazer para dar a ela,
pelo menos um pouco, do que ela queria?
Tomei mais um gole do uísque e foi então que a ideia surgiu. No começo, achei uma loucura e
quase a descartei, no entanto, comecei a enxergá-la como uma luz no fim do túnel.
Quase sem acreditar no gênio que eu era, me levantei do sofá e coloquei a garrafa em cima da
mesinha de centro, olhando para Bob com um sorriso que parecia quase dividir a minha face ao
meio.
— É isso, Bob! É isso! Porra! Vamos virar “ficantes fixos”! Exclusividade sem sentimentos.
Caralho, eu sou um gênio, porra!
Pegando meu celular, enviei uma mensagem de texto para Alice no meio da minha euforia.
“Quando você chegar ao Rio, me liga. Precisamos ter uma conversa muito séria.”
Capítulo 13
“Acabei de chegar em casa. Se quiser, pode vir aqui pra gente conversar.”
Meu celular vibrou com a mensagem de Alice às quatro da tarde, enquanto estava reunido com os
meus primos no quintal de mamma. Ansioso, aproveitei o momento para me despedir deles e depois
falei com minhas tias e minha mãe, encontrando com Alexandre enquanto ia em direção ao meu carro.
Ele estava no celular e, pelo sorriso idiota, com certeza estava falando com a Paula. Acenei um tchau
e ele pediu para que eu esperasse. Apesar de impaciente, esperei enquanto via Bob se ajeitar no
banco traseiro do meu carro.
— Ei, fratello. Já vai embora? — Alexandre perguntou ao se aproximar.
— Vou deixar o Bob em casa e depois vou no apartamento da Alice.
Pude ver como meu irmão ficou surpreso.
— Vai ao apartamento da Alice de novo? Por quê?
— A gente precisa conversar sobre algumas coisas — falei. — Vou fazer uma proposta para ela.
— Vai pedi-la em namoro?
— Sonha! — Ri, balançando a cabeça. — Nada que me faça perder o status de solteiro nas redes
sociais.
— Então, que proposta é essa?
— Prefiro contar depois que ela me disser “sim”.
— Como você é presunçoso! — Ele riu de mim, me dando um soquinho no braço. — Te desejo
sorte. Já sabe aonde vai levá-la?
— Aonde irei levá-la?
— Sim! — Ele me olhou como se fosse óbvio, em seguida, revirou os olhos. — Ora, Romeo, não
me diga que está pensando em aparecer na casa dela com um vinho e uma comida embalada para
viagem para fazer a tal proposta?
— Bem, sim.
Qual era o problema em comermos na casa dela?
— Pelo amor de Deus, receber um monte de “sins” em um piscar de olhos não te ensinou nada
sobre a verdadeira arte da conquista — disse ele como se fosse um especialista. — Você precisa
investir na Alice, entendeu? A chame para jantar, leve-a em um restaurante legal, então, faça a
proposta.
— Nós saímos para almoçar nessa semana. Eu não sou tão idiota quanto pareço.
— Um almoço não tem nada a ver com um jantar, principalmente um jantar romântico.
— Romântico? Alexandre, pelo amor de Dio! Já disse que não irei pedi-la em namoro nem nada
do tipo.
— Mas a sua proposta envolve beijo na boca e sexo, não? — Perguntou e eu olhei para ele como
se fosse óbvio. — Então, pronto. Precisa investir muito mais nesse jantar do que imagina. Vou te
mandar o nome de um restaurante muito bom na Lagoa, discreto, charmoso e romântico. Não vai ter
erro, Romeo!
Ele sacou o celular do bolso antes que eu tivesse a chance de negar os seus conselhos. Enquanto
digitava, comecei a me perguntar se ele não estava certo. Queria conquistar a Alice, queria que ela
me dissesse sim e um jantar parecia uma ótima opção para colocar o meu plano em ação. Além do
mais, o babaquinha do neurocirurgião a havia levado para jantar na noite anterior. E se por um acaso
ele tivesse feito a ela uma proposta parecida com a minha? Eu estaria em extrema desvantagem
levando comida pronta e uma garrafa de vinho para o seu apartamento.
— Pronto, te enviei o endereço e já mandei uma mensagem para o gerente do restaurante. Ele é
meu amigo e vai reservar a mesa perfeita para você.
— Nunca pensei que diria isso, mas, obrigado, fratello — falei, puxando-o rapidamente para um
abraço.
— Não agradeça, idiota. Irmão mais velho é para essas coisas — disse ele, bagunçando meu
cabelo. — Eu te amo, você sabe disso, não é?
— Sim, eu sei. Só não estou entendendo o motivo da declaração. Nem é meu aniversário — zoei.
— Estou falando isso porque eu quero o seu bem. Quero que seja feliz, Romeo, feliz de verdade.
Curtir a vida é muito bom, aproveitar a chances enquanto ainda é solteiro e livre, conhecer novos
lugares, novas pessoas, se aventurar na cama com uma garota nova a cada final de semana, mas, no
final, resta apenas o vazio. E eu não quero que você se sinta assim para sempre.
— Não me sinto vazio.
— Acredite, eu também pensava assim, até entender que o meu interesse pela Paula ia muito além
de sexo casual. Uma hora você vai entender exatamente sobre o que estou falando — disse ele,
apertando o meu ombro. — Boa sorte com a Alice.
Ele saiu e me deixou sozinho ao lado do meu carro, pensando sobre as suas palavras. Eu sabia que
meu irmão estava apaixonado e que seus pensamentos haviam mudado, mas não acreditava que
aquilo aconteceria comigo. Há muito tempo eu tomei a decisão de que me blindaria contra esse tipo
de coisa. Vi de perto como o amor poderia machucar e não queria ter que passar por algo semelhante.
Se meu irmão achava que viver sem amor era estar vazio, então, era assim que eu passaria o resto da
minha vida. Completamente vazio e livre da dor que o amor poderia causar.

Assim que cheguei em casa, mandei uma mensagem para Alice a convidando para jantar comigo.
Ela aceitou e marquei de buscá-la em seu apartamento às sete e meia. Passei as próximas horas
zapeando os canais de esporte, em seguida, me arrumei e, com esperança, coloquei mais duas
camisinhas na carteira. Antes de sair de casa, deixei avisado para Bob que, talvez, tivéssemos visita
mais tarde e ele meio que cagou para mim, cansado por ter passado o dia correndo com as crianças.
Cheguei ao condomínio de Alice na hora marcada e ela pediu para que eu esperasse, pois já estava
descendo. Quando a vi caminhar em minha direção, senti um baque por dentro, uma espécie de frio
na boca do estômago e taquicardia, mas consegui disfarçar. Ela estava linda em um vestido azul-
claro, saltos finos e o cabelo preso em uma trança que descia pelo seu ombro. Só conseguia pensar
em como queria desfazer aquela trança com ela nua em minha cama.
— Dio mio... — murmurei quando ela fechou a nossa distância. Sem conseguir me conter, a peguei
pela mão e fiz com que desse uma voltinha. Rapaz, eu não tinha o que dizer. Era oficial, apenas Alice
era capaz de me deixar completamente sem palavras. — Você está maravilhosa, bella.
— Grazie[13] — ela disse e eu não pude conter um sorriso de surpresa. — Andei estudando.
— Não sei se meu coração é forte o suficiente para te ouvir falando italiano, bella.
— Como você é bobo. — Ela sorriu e, cazzo, meu coração voltou a acelerar. — Você também está
lindo, mas isso não é bem uma novidade.
— Isso quer dizer que você me acha um homem bonito? — perguntei, abrindo a porta do carro
para que ela pudesse entrar.
— Eu seria cega se não achasse — disse ela, sentando-se.
Em nenhum momento ela tirou os olhos dos meus e isso alimentou um pouquinho a chama de
esperança que ardia em meu peito. Era como se ela não pudesse desviar o olhar enquanto eu estava
por perto, exatamente da mesma forma que eu me sentia por ela.
— Um único elogio seu vale mais do que o mundo para mim — falei com sinceridade.
Algo mudou em seu olhar. O ar de divertimento pareceu ser substituído por uma intensidade que eu
desconhecia, mas que me deixava fascinado. Nunca quis tanto beijar a sua boca como naquele
momento, mas me controlei e fechei a porta do carro, dando a volta para assumir o lado do motorista.
Por sorte, consegui engatar uma conversa casual enquanto dirigia, pois senti que o clima mudou um
pouco entre nós depois das minhas palavras.
Chegamos ao restaurante e, como Alexandre havia dito, o gerente reservou para gente uma mesa
sensacional. Perto de uma parede de vidro, tínhamos uma visão bonita da Lagoa e do restaurante em
si, que era mesmo charmoso e romântico. A luz baixa destacava os lustres pequenos no teto e a
decoração sofisticada dava um ar especial a coisa toda. Um monte de baboseira que deixava tudo
mais... Encantador. Sim, eu precisava mesmo dar o braço a torcer. O lugar era perfeito para a
proposta que eu faria para Alice.
Escolhemos a comida e optamos por um espumante especial da casa, que o garçom prontamente
nos vendeu ao nos dar a carta de bebidas. Resolvi não olhar o preço de nada naquela noite, pois
sentia que todo o investimento valeria a pena. Quando o garçom se afastou, peguei a mão de Alice em
cima da mesa.
— Quero me desculpar por ontem. Fui um idiota completo com você.
— Sim, você foi idiota. Não um idiota completo, mas um idiota — ela concordou, me fazendo rir
um pouco. Só aquela mulher tinha o poder de me insultar e me fazer rir ao mesmo tempo.
— Tenho que ser sincero, saber que você estava jantando com outro, me incomodou.
— Por quê?
— Eu não sei explicar. — E eu não sabia mesmo. — Só comecei a me perguntar porque você
aceitou jantar com ele, quando recusou jantar comigo na semana passada. Sei que é passado e que
não era justo me agarrar a isso, mas foi irracional, eu acho.
— Aceitei jantar com ele porque somos amigos, Romeo — disse ela, dando um gole no espumante.
— E também porque ele não me afeta como você faz.
Cara... Ouvir aquilo fez a minha noite. Eu a afetava! Tive que segurar o sorrisinho idiota que
surgiu no canto dos meus lábios e bebi um pouco para acalmar os meus ânimos.
— Como foi a sua noite com a futura participante do BBB? — Ela perguntou, mudando
completamente de assunto.
— O que te leva a pensar que passei a noite com ela?
— Não sei. Ela parecia ser bem divertida — ela disse com um sorrisinho sardônico, claramente
debochando de mim.
— Pois saiba que eu não passei a noite com ela. Nem com ninguém, na verdade.
Finalmente consegui tirar aquele sorriso dos seus lábios e substituir pela surpresa.
— Passou a noite de sábado sozinho?
— Sim.
— Acredito muito — falou com um olhar de quem não acreditava em nada.
— Estou falando a verdade. Quer dizer, passei a noite ouvindo o ronco do Bob. Ele foi a minha
companhia ontem, enquanto eu rolava na cama e pensava em você.
Por sorte, ela não estava bebendo nada, pois o modo como arregalou os olhos me dizia que, se
estivesse bebendo, certamente teria engasgado. Respirando fundo, ela balançou levemente a cabeça.
— Romeo...
— Não, não fala nada — pedi, acariciando a sua mão. — Vamos só curtir o nosso jantar.
Ela assentiu e, com o timing perfeito, o garçom chegou com o nosso pedido. A comida era
deliciosa e entre uma garfada e outra, Alice me contou como foi a sessão de autógrafos em São Paulo
e a entrevista que havia dado para um jornal local naquela manhã, antes de voltar para o Rio.
— Você já recebeu alguma proposta para vender os direitos autorais do seu livro para adaptação
de filme ou série?
— Na verdade, sim, mas ainda estou estudando as possibilidades, vendo qual proposta é melhor.
— Então, recebeu mais de uma?
— Sim! — disse com um sorriso enorme, que parecia iluminar tudo ao meu redor. — Ainda é
surreal. Sabe quando parece que você está tão feliz, tão realizado, que é meio difícil de acreditar que
aquilo está acontecendo mesmo? Que aquela é a sua vida?
— Sei exatamente sobre o que você está falando. Eu me sinto assim com o meu trabalho, com as
minhas conquistas. Minha equipe e eu trabalhamos muito e é recompensador colher os frutos, mas, ao
mesmo tempo, parece que ainda é um sonho.
— Eu fico tão feliz por saber que você faz o que ama, Romeo. Há tanta gente nesse mundo que
trabalha sem prazer, enquanto deixa seus sonhos de lado. É inspirador conhecer pessoas como você.
— Pessoas como eu? É inspirador conhecer pessoas como você — falei. — Imagino como deve
ter sido difícil chegar aonde você está hoje.
— Não foi fácil mesmo, recebi muito “não” até alguém me dar uma oportunidade, mas acho que
isso faz parte do caminho, sabe? Não temos que encarar o “não” como um desmotivador, mas, sim,
como o elemento principal para nos fazer continuar.
Eu não poderia deixar de concordar. Comecei a pensar em nós dois e em como as suas recusas
haviam nos levado até ali. Se Alice tivesse me dito sim na noite do karaokê, teríamos passado uma
noite incrível juntos, mas seria apenas isso. Cada um seguiria para o seu lado, nos veríamos de vez
em quando por causa do relacionamento do meu irmão com a sua amiga, mas a nossa relação
acabaria aí e eu passaria o resto da minha vida sem conhecer a fundo a mulher sensacional que ela
era.
Terminamos o prato principal e, depois de escolhermos a sobremesa, repassei as suas palavras em
minha mente e soube que o momento havia chegado. Era agora ou nunca.
— Engraçado você ter falado sobre não enxergamos o “não” como um motivo para nos fazer
desistir de algo. Acho que você estava lendo a minha mente.
— Jura? Por quê?
— Porque foram os seus “nãos” que nos trouxeram até aqui — falei, voltando a pegar a sua mão.
— Estava pensando que, se tivéssemos transado na noite do karaokê, nós não teríamos construído a
amizade que temos agora. De certo modo, o seu “não” me instigou a lutar um pouco mais e, no meio
dessa “luta”, acabei encontrando uma mulher incrível, talentosa, linda e inteligente, que me deixa
louco de inúmeras maneiras e que me faz ficar incomodado quando está jantando com outro, ao ponto
de eu me tornar um idiota completo.
— Apenas idiota — ela corrigiu, sorrindo.
— Ok, apenas idiota — ri baixinho, mas logo voltei a ficar sério e a encarei com intensidade. —
Mas eu não quero mais ficar incomodado com você jantando com outro homem, Alice. Quase fiquei
maluco ontem, pensando em como o jantar iria terminar.
— Eu não iria para cama com ele, Romeo.
— Sim, uma parte minha sabia disso. Uma outra parte também tinha plena consciência de que, se
você quisesse transar com ele, não tinha problema algum, pois você é uma mulher livre e pode fazer
o que quiser, mas havia uma parte maior em mim, Alice. Uma parte que gritava que você não tinha
que ir para cama com ele, porque eu queria que você fosse para cama comigo. Eu queria entrar
naquele restaurante, colar o seu corpo ao meu e beijar a sua boca até o mundo deixar de existir.
Ela ofegou baixinho e mordeu o lábio, quase sem piscar. Eu sentia o mesmo, era como se eu não
pudesse piscar, como se eu não pudesse nem respirar.
— Eu não posso mais viver apenas com esse desejo, Alice. Eu preciso fazer com que ele se torne
realidade.
— Quer que eu transe com você hoje à noite? — ela perguntou baixinho e eu fiquei arrepiado só
de ouvir o som da sua voz.
— Quero, mas não só hoje.
— Como? — Ela perguntou sem entender.
“É agora, Romeo. Não desista!”
— Você me disse, inúmeras vezes, que não sabe lidar com casos de uma noite só. E agora eu tenho
consciência de que também não quero apenas uma noite com você. Eu não conseguiria te sentir
apenas uma vez, provar o seu sabor apenas uma vez, conhecer cada detalhe do seu corpo apenas uma
vez e virar as costas sem olhar para trás. Por isso que pensei em algo que pode beneficiar nós dois.
Alice me olhava com atenção, os dedos entrelaçados aos meus, as bochechas levemente coradas
depois do que eu havia dito. Percebi que ela estava curiosa para me ouvir até o fim e eu acabei com
o resquício de insegurança que, infelizmente, eu sentia e disse de uma vez só:
— Que tal nos tornamos ficantes fixos?
— Ficantes fixos?
Merda, ela falando em voz alta parecia algo bem ruim. Limpando a garganta, resgatei em mim o
homem seguro que eu era e expliquei:
— Se você aceitar ficar comigo, nós podemos passar um tempo tendo sexo casual apenas um com
o outro. Total exclusividade, bella.
— Ah... — Ela parecia estar sem palavras. — Por isso “ficantes fixos” — concluiu.
— Isso.
— Você é bastante criativo. — Ela soltou uma risadinha, mas eu estava tenso e não consegui
acompanhar. Parecia que milhares de formigas estavam zanzando pelas minhas pernas, deixando-me
inquieto, nervoso, ansioso por sua resposta.
— É preciso ser criativo para conseguir o que se quer. E determinado, também — falei,
acariciando sua pele com o meu polegar. — Pense bem, Alice. Nós dois vamos sair ganhando com
esse acordo. Você não terá que se preocupar com um caso de uma noite só e eu não terei que me
preocupar com toda a responsabilidade que um relacionamento traz. Aliás, é bom deixar claro que
todo e qualquer sentimento que envolva paixão e amor estarão de fora dessa nossa relação. Nós
somos amigos, desejamos um ao outro e faremos sexo. É bem simples.
— Colocando assim, parece ser bem simples mesmo.
— E é. Eu sei que você quer encontrar um cara para se casar e ter filhos e, acredite, eu vou ser o
primeiro a te apoiar quando quiser encontrar esse cara, mas, no momento, você está solteira e eu
também. Eu te desejo como nunca desejei mulher alguma e sinto que não posso mais respirar direito
enquanto não puder te beijar, ou enquanto não puder te colocar sentada na minha cara pra provar o
sabor da sua boceta.
— Romeo, pelo amor de Deus! — Uma expressão de desespero tomou conta do seu rosto ao
mesmo tempo em que um sorriso nasceu em seus lábios, enquanto ela olhava discretamente a nossa
volta, como que para se certificar de que ninguém havia ouvido a minha putaria.
— Aceite, bella — pedi, levando sua mão aos meus lábios e beijando o dorso enquanto olhava em
seus olhos. — Per favori.
Ela mordeu levemente os lábios e senti quando estremeceu. Se falar em italiano continuasse a fazer
aquilo com ela, eu aposentaria o português para sempre.
— Você sabe que parece que está me pedindo em namoro fazendo isso, não? Tem um casal de
idosos nos olhando ali no canto e a senhorinha está sorrindo de orelha a orelha — ela disse baixinho,
olhando rapidamente para algo as minhas costas.
— Acho que a senhorinha nem imagina que estou louco para te colocar de quatro e te comer bem
gostoso enquanto puxo o seu cabelo e ataco a sua boca — sussurrei, voltando a arrastar meus lábios
pela sua mão. Vi os pelinhos do braço de Alice se eriçarem e o meu pau começou a ganhar vida
dentro da calça.
— Meu Deus, Romeo — ela ofegou, tirando a mão da minha e tomando um gole do espumante.
— Então, você aceita?
— Eu preciso de um tempo para pensar — disse ela e eu impedi que a frustração fizesse o seu
caminho para o meu peito. — Eu não quero te enrolar, nem estou fazendo doce ou algo do tipo, é só
que... É muita coisa para processar e, se vamos fazer isso mesmo, eu sinto que preciso de um tempo
para colocar na minha cabeça que eu não posso me envolver.
— Não pode se envolver?
— Sim. Não posso me apaixonar por você, Romeo — falou com uma seriedade que me afetou. —
Quando Caio e eu terminamos, ele me disse algo que me marcou profundamente.
— O que o babaca disse?
Ela deu um sorrisinho ante o meu tom de voz.
— Gosto do fato você já ter aversão a ele mesmo sem o conhecer.
— Ele te enganou, te traiu e te fez sofrer. Ele é mais do que babaca, na verdade, e tenho vontade de
dar alguns socos da cara dele.
— Não conhecia esse seu lado violento, Senhor Benvenuto.
— Ele só aflora com homens do tipo dele — falei, espantando o gosto amargo que surgiu em
minha boca. — O que ele disse?
— Ele disse que eu sou extremamente dependente de afeto e que isso acabaria afastando qualquer
homem da minha vida. Falou que me traiu porque eu o sufocava, que não aguentava mais viver ao
meu lado e que eu acabaria completamente sozinha, já que até mesmo a minha mãe havia ido embora
sem olhar para trás.
Che cazzo! O ódio que senti por aquele verme foi tão grande, que quase pedi para que Alice me
desse o seu endereço para que eu fosse lá quebrar a cara de filho da puta. Rangendo os dentes,
balancei a cabeça e olhei para ela.
— Você não acreditou nessa babaquice, acreditou?
Ela encolheu os ombros e a vulnerabilidade que vi em seu olhar me matou um pouco por dentro.
— Eu não sei. Até hoje me pergunto o que fiz de errado em nosso relacionamento. Eu tinha certeza
de que eu era uma namorada boa, carinhosa e sempre tive consciência de que ele precisava ter um
tempo para si mesmo, para sair com os amigos de vez em quando, para passar um tempo sozinho com
os pais. Eu nunca impus a minha presença, pelo menos eu achava isso, mas depois do que ele me
disse... De alguma forma, ele mexeu em uma ferida que eu nem sabia que existia.
— Que ferida?
— A falta de afeto. Eu já disse, minha mãe não foi a figura materna mais carinhosa que já existiu,
mas eu aprendi a respeitar o modo como ela agia. Nunca pensei que isso tivesse me afetado, até ele
me falar tudo aquilo. Comecei a me questionar sobre ele estar certo. Talvez eu fosse mesmo uma
namorada pegajosa e irritante, ao invés de ser carinhosa e dedicada, talvez eu tenha o sufocado,
mesmo sem querer.
Não gostei nem um pouco de ouvir aquilo. Para mim, Alice era uma mulher foda, independente,
inteligente e dedicada. Ela tinha uma legião de fãs que amavam o que ela fazia, que amavam a pessoa
que ela era. A forma como se entregava para essas pessoas, o carinho em seu olhar ao falar com cada
uma delas, a dedicação em responder os comentários na internet, tudo isso mostrava quem ela era.
Saber que um homem havia tirado parte da sua confiança me deixava completamente dividido entre a
tristeza e a raiva.
— Não, eu não acredito em nada disso — falei. — Sabe no que eu acredito, bella? Acredito que
esse babaca é um covarde, que se aproveitou do seu passado, da sua história com a sua mãe, para te
magoar e jogar a culpa do que ele fez em cima de você. Ele te traiu, quebrou o seu coração e a culpa
disso é toda dele, entende? Nada justifica o que ele fez, mas, mesmo assim, ele se achou no direito de
limpar a própria barra jogando a merda em cima de você. Só um covarde filho da puta faz isso!
Só percebi que meu tom de voz havia aumentado em alguns decibéis quando me calei e respirei
fundo, quase sem fôlego. Alice me olhava um tanto espantada, mas um brilho surgiu em seus olhos
quando ela alcançou a minha mão em cima da mesa e entrelaçou os dedos aos meus.
— Acho que você e a Paula podem andar juntos na hora do recreio. Ela sempre fala isso para
mim, mas, às vezes, é difícil enxergar essa história por outro ângulo.
— É difícil porque você gostava dele e o filho da puta te magoou. É por isso que falo que o amor
machuca, Alice. As pessoas são cruéis, elas usam o amor da forma que querem, manipulam, em
seguida, pisam em cima, deixando os restos para trás sem pensar nas consequências.
— Mas há pessoas que não fazem isso. Há casais que são felizes.
— Com certeza, mas essas pessoas são raras e eu não estou disposto a passar uma vida inteira
tentando encontrar ao menos uma pessoa que não seja cruel pra caralho usando o amor — falei,
passando o meu polegar pelo seu pulso. — Eu sinto muito que esse idiota tenha feito tudo isso com
você.
— Eu também. Mas, pensando pelo lado bom, se ele fosse perfeito em tudo, eu não estaria aqui
agora, sentada com um brasileiro-italiano lindo, sensual e que odeia o meu ex tanto quanto eu.
— Acho que você tem razão — ri. — Leve o tempo que precisar para pensar na minha proposta,
bella, mas não demore muito, tudo bem? Sinto que posso perder a sanidade a qualquer momento se
não tiver você quicando no meu pau em breve.
— Romeo! — Ela gargalhou e eu fiquei que nem um bobo olhando para ela, feliz por saber que as
minhas sacanagens eram capazes de mudar o seu humor e de fazê-la sorrir.
Terminamos o nosso jantar em um clima leve e, depois de eu ter pagado a conta, fomos lado a lado
até o estacionamento. Era difícil ver o balanço dos seus quadris naquele vestido de tecido fino e não
poder desenhar a curva do seu corpo com as minhas mãos até chegar na sua bunda, mas me segurei.
Algo me dizia que, muito em breve, eu poderia fazer tudo isso e muito mais.
Assim que chegamos ao seu condomínio, estacionei em frente ao bloco de apartamentos onde ela
morava e olhei bem para a sua boca. Já passava das dez da noite não tinha ninguém caminhando por
ali, além disso, os vidros do meu carro eram escuros o suficiente para nos dar privacidade. Por isso,
tirei o meu cinto de segurança e fiz o mesmo com o de Alice, subindo meus dedos para tocar em seu
maxilar delicado.
— Sei que você ainda não me deu a sua resposta, mas será que eu posso ganhar um beijo de
despedida?
Finalmente, Alice me deu o olhar que eu tanto queria. Era como se suas órbitas castanhas, de
repente, estivessem pegando fogo. Inclinando-se para frente, ela roçou o seu nariz no meu e, porra,
senti uma fisgada bem no meu pau. Dio, seria difícil não ir com tudo para cima daquela mulher.
— Claro que pode — disse ela baixinho, em seguida, me deu um beijo na bochecha. — Está bom
assim?
Ah... A safada queria brincar!
— Um pouquinho mais para a direita.
Seus lábios roçaram em minha pele e recebi um beijo bem no canto dos lábios.
— Assim?
— Só um pouquinho mais para o centro.
Ela sorriu e eu respirei fundo para me controlar. Queria enfiar meus dedos entre os seus cabelos e
desmanchar aquela trança, enquanto enfiava minha língua na sua boca, mas, ao mesmo tempo, queria
que ela fizesse tudo aquilo comigo. Queria que ela tomasse a iniciativa e conduzisse aquele beijo.
Naquele momento, o controle estava inteiramente em suas mãos.
— Beije-me, bella — pedi em um sussurro e os seus lábios cobriram os meus.
Alice soltou um gemidinho delicioso quando sua língua encontrou a minha. Seus dedos se
agarraram em meus cabelos próximo a nuca e seu corpo veio com tudo de encontro ao meu, seus
seios amassando meu peitoral, seu cheiro me envolvendo, me excitando, me deixando louco de
vontade. Ela chupou a minha língua e eu soltei um gemido do fundo da garganta, puxando-a para mim
pela cintura, descendo minha mão pela sua perna torneada, cheio de vontade de chegar bem no meio
das suas coxas e sentir se ela estava molhada para mim.
Foi uma loucura. Era para ser um beijo de despedida, mas foi muito mais do que isso, foi quase
como uma promessa de como seríamos bons juntos quando ela finalmente me dissesse sim. Senti que
eu poderia perder a cabeça se ficasse mais alguns segundos com a sua boca colada à minha, por isso,
tomei as rédeas da situação e comecei a acalmar a velocidade das nossas línguas, até deixar o seu
lábio inferior escapar por entre os meus dentes.
Alice me olhou com a respiração ofegante, as bochechas vermelhas, os lábios inchados e os
mamilos duros apontando no tecido do vestido. Dio mio, eu certamente ganharia o prêmio do homem
mais controlado do mundo por não ter simplesmente abaixado aquele vestido e caído de boca em
seus seios.
— Acho... Acho que eu vou subir agora — ela disse como ar entrecortado, olhando diretamente
para os meus lábios.
— Se não quiser que eu te coma aqui nesse carro, acho melhor ir mesmo — falei em tom de
brincadeira, mas ela sabia que tinha um fundo de verdade. Porra, como queria aquela mulher!
Alice sorriu e se inclinou novamente, passando os lábios pelos meus.
— Bella, eu sou resistente, mas até certo ponto — murmurei sentindo sua língua desenhar
lentamente os meus lábios. — Cazzo! Parece que posso sentir a sua língua no meu pau.
— Cazzo? — perguntou, afastando-se minimamente para me olhar.
— Entenda como porra — falei, puxando seu rosto para perto do meu. — Só mais um beijo e eu
vou embora. A não ser que você me peça para ficar.
Peça, bella, por favor!
— Só mais um beijo.
Certo, um homem não podia ter tudo assim, de mão beijada. Nos beijamos de novo, com menos
intensidade dessa vez — porque se fosse como o primeiro beijo, eu perderia a lucidez — e, quando
nos afastamos, senti meu peito ficar comprimido. Não queria ficar mais tempo com ela apenas porque
estava tendo um caso sério de bolas azuis por conta do tesão; era também por causa exclusivamente
dela.
— Pense com carinho na minha proposta.
— Já estou pensando.
— E está mais inclinada para o sim ou para o não?
Alice me deu um sorriso enigmático e abriu a porta do carro. Só naquele momento me lembrei de
que eu havia sido criado para ser um cavalheiro — apesar de ser um safado — e que deveria ter ido
abrir a porta, mas achei melhor me manter dentro do carro. Se eu saísse, não sabia se teria forças
para entrar novamente e partir para longe dela.
— Vai ter que esperar um pouquinho para saber, Senhor Benvenuto. Eu amei o jantar.
— Prometo que ainda teremos muitos jantares pela frente, bella, mesmo que a sua resposta seja
não. Mas espero que ela seja sim.
Inclinando-se, ela me deu um selinho e, por fim, saiu do carro e me deixou sozinho. Seu cheiro
estava por todo o lugar, seu gosto ainda estava em minha boca e eu quase podia sentir os seus seios
pressionados contra o meu peito. Mas eu queria mais. Eu queria muito mais com aquela mulher.
Capítulo 14
O Natal estava chegando e agora eu sabia que era oficial, pois acordei na segunda-feira com a
lista de comida sendo passada no grupo da famiglia. Como éramos uma família muito grande, as
mulheres levavam dois pratos, um doce e um salgado e os homens ficavam responsáveis pela bebida
e o sistema de som. Meu primo Enzo sempre ficava com essa última parte. No ano passado, ele havia
levado um DJ que era seu amigo e a festa ficou bem animada, para esse ano, tinha certeza que ele
arranjaria uma forma de inovar.
A festa, como sempre, acontecia na casa de mamma e ela já estava pedindo ajuda para arrumar a
decoração. Sua árvore estava montada desde novembro, mas do lado de fora, ela deixava para
arrumar dias antes, pois tinha medo de que chovesse ou ventasse demais e a decoração fosse por
água abaixo. Giulia logo se prontificou em ajudá-la e eu acompanhei tudo na surdina, enquanto fazia
um misto-quente e olhava minha agenda para aquele dia.
Enquanto lia a minha lista interminável de tarefas, comecei a pensar em Alice e em como ela
passaria o Natal. Sabia que sua mãe não vinha ao Brasil, então, será que ela iria para a Austrália? Ou
viajar para o outro lado do mundo não estava nos seus planos? Pensei em mandar uma mensagem
perguntando, mas sabia como o relacionamento com a sua mãe era complicado, por isso, fiz uma nota
mental de perguntar quando nos víssemos pessoalmente.
Por fim, acabei lhe desejando bom dia e ela me respondeu quando eu estava indo para uma
reunião, mandando uma foto de um computador — provavelmente o dela — com o Word aberto. Não
pude deixar de perguntar:
“Qual é o nome do seu novo personagem? Romeo?”
“Por que acha que eu nomearia o meu personagem como Romeo?”
“Porque você conheceu um homem incrível, gostoso, sexy e sensual que se chama Romeo.
Eu sei que esse cara deve ter lhe enchido de inspiração.”
“Eu conheci um tal de Romeo, sim, mas ele é muito presunçoso, na verdade.”
“Presunçoso, não. Sincero e você sabe disso. Vai dizer que não foi o que pensou quando
sua língua estava enroscada na minha na noite passada?”
— Romeo? Podemos começar? — Ricardo, meu diretor financeiro, perguntou, tirando meu foco do
celular. Por um momento, havia me esquecido completamente da reunião.
— Claro. Só me dê dois minutos.
“Eu pensei em muitas coisas na noite passada.”
“Jura? Quero saber detalhes sobre o que pensou, mas pessoalmente. Infelizmente, estou
saindo muito tarde da empresa nesses últimos dias, então, que tal almoçar comigo aqui? Sei
que não é um convite muito tradicional, mas eu quero te ver e também quero que você
conheça o lugar onde fazemos a mágica dos aplicativos acontecer.”
“Será um prazer conhecer a sua empresa,
CEO Romeo Benvenuto.”
“Porra! A gente pode brincar de chefe e secretária na minha sala, enquanto eu te como
na minha mesa?”
“Romeo! Hahahaha. Você não tem uma empresa para gerir? Estou te achando com bastante
tempo livre.”
“Na verdade, eu estou na sala de reuniões nesse momento, com cerca de sete homens
engravatados ao meu redor, esperando que eu largue o telefone para começarmos, mas não
quero parar de falar com você.”
“Romeo, isso é muito fofo, mas não quero ser a responsável pela falência da sua empresa.
Por favor, comece a reunião.”
“Sim, senhora. Te vejo aqui às duas?”
“Combinado, só me passe o endereço por mensagem.”
“Mal posso esperar para te ver.”
“Eu também.”

Nem sei como consegui me sair bem na reunião e ser participativo, pois só conseguia pensar em
Alice e na nossa troca de mensagens. Sentia que poderia ficar ali o dia inteiro, com cara enfiada no
WhatsApp, conversando sobre tudo e sobre nada com ela. Algo dentro de mim me dizia que sentir
tudo isso era extremamente perigoso, mas eu estava tão feliz e entusiasmado com a minha relação
com ela, que nem ligava. Só queria mais e mais de Alice.
Depois da reunião, passei um tempo ao lado de Seji vendo a plataforma de jogos e só voltei para a
minha sala quando estava perto da hora de Alice chegar. Pedi para que minha secretária pedisse o
nosso almoço no meu restaurante italiano favorito — não queria errar na comida naquele dia — e
falei que era para mandar Alice direto para a minha sala quando ela chegasse, em seguida, dei um
jeitinho na minha mesa, querendo que ela visse que eu era organizado. Bem, eu realmente era
organizado, mas isso não queria dizer que não havia uma baguncinha aqui e outra ali. Por fim,
sentei-me em minha cadeira e fiquei encarando a tela do meu computador, sentindo uma espécie de
euforia misturada com nervosismo por dentro.
Eu estava nervoso? Bem, era uma situação completamente atípica. Nunca levei mulher alguma a
minha empresa e aquela era uma primeira vez para mim, então, talvez essa fosse uma explicação
plausível para o meu nervosismo. Mas também estava ansioso para saber o que Alice iria pensar ao
ver o meu lado profissional. Eu não era só um safado e sem vergonha o tempo todo, também era um
homem responsável de vez em quando. O toque do telefone na minha mesa me tirou dos meus
pensamentos.
— Romeo, a Senhorita Carvalho acabou de chegar — Sabrina, minha secretária, anunciou.
— Obrigado, Sabrina. Irei recebê-la.
Levantei-me e fui até a porta da minha sala. Assim que a abri, encarei Alice do outro lado, tão
linda que quase perdi o fôlego. Era oficial, a mulher conseguia ficar ainda mais maravilhosa a cada
vez que nos encontrávamos.
— Entra — pedi.
Alice entrou e olhou para a minha sala, parecendo reparar em cada pequeno detalhe. Um sorriso se
abriu em seu rosto e eu me perdi naquele mundo de curvas que era o seu corpo. A blusa colada e a
saia que moldava seus quadris estavam me enlouquecendo.
— Engraçado, em filmes e séries a gente sempre vê escritórios frios e impessoais, mas o seu não é
assim.
— Não?
— Não — disse ela, virando-se para mim. — O seu escritório é a sua cara.
— Lindo como o dono?
— Também. — Ela riu. — Mas tem o seu toque em tudo.
Tentei enxergar o que ela enxergava e comecei a entender o que estava querendo dizer. Minha sala
não era enorme, mas aconchegante e tinha mesmo o meu toque em tudo, na mesa de madeira, nas fotos
da minha famiglia em porta-retratos, na estante com alguns prêmios que havíamos ganhado ao longo
dos anos, o sofá de couro marrom em um canto e uma estátua de um Golden Retriever com uma
coleira com um pingente escrito “Bob” no pescoço, em uma mesinha ao lado do sofá. Não tinha
percebido como aquele escritório era a minha cara até aquele momento.
— Meu Deus, o Bob! — Alice quase gritou quando viu a estátua em miniatura e foi até lá. Ela se
inclinou para olhar mais de perto e sua bunda ficou empinhadinha para mim, me deixando doido.
Obriguei-me a me controlar. — Aonde conseguiu isso? É linda!
— Fiz uma viagem com Bob no início do ano passado. Fomos de carro até São Paulo e lá tinha
uma loja que vendia estátuas de tudo o que você possa imaginar. Quando vi essa, soube que
precisava trazê-la comigo — falei, aproximando-me dela. — É uma forma de ter o Bob ao meu lado
quando estou trabalhando.
— Você é tão doce às vezes — ela disse, olhando-me com uma expressão encantada. — Há quanto
tempo você tem o Bob?
— Cerca de quatro anos. Um amigo tem um casal de Golden e quando sua cadela deu à luz, ele me
deu o Bob de presente. Eu nem sabia que precisava daquele garotão ao meu lado até ele aparecer em
minha vida.
— É linda a relação de vocês dois. Como você sabe, eu tenho a Gata, mas ela não é exatamente
minha, sabe... Ela é de todo mundo lá no condomínio.
— Mas ela parece gostar de você.
— Ela gosta de todo mundo.
— Tenho certeza de que se ela precisasse escolher uma casa para ficar em definitivo, escolheria a
sua.
— Jura? Por que acha isso?
— Porque você é uma mulher carinhosa, com um coração lindo e está cheia de amor para dar.
Quem recusaria algo assim?
Alice me olhou com surpresa e um brilho no olhar que me deixou sem fôlego por alguns segundos,
enquanto as minhas próprias palavras se repetiam em minha mente. Eu não sabia como era possível,
mas Alice despertava em mim uma parte que me era desconhecida até então. Uma parte que queria
falar sobre sentimentos, mesmo quando, conscientemente, eu os repudiasse. Por um momento, fiquei
um pouco sem graça por ter lhe dito tudo aquilo e fiquei com medo de como ela poderia interpretar
as minhas palavras, por isso, resolvi logo mudar de assunto.
— Que tal um tour pela empresa?
— Estou curiosa para conhecer tudo.
Nós ocupávamos um andar inteiro de um prédio comercial na Avenida Presidente Vargas. O
espaço era amplo e muito bem dividido e Alice ficou encantada ao conhecer tudo, principalmente a
área de criação, com megacomputadores aonde a minha equipe desenvolvia os aplicativos. A
apresentei aos meus funcionários e diretores e pude ver a surpresa no olhar de cada um deles, pois
nunca, em todo o nosso tempo juntos, eu havia levado uma mulher ali. Sem contar que a minha fama
de “solteirão” corria solta pelos corredores, mesmo eu fazendo de tudo para não misturar minha vida
profissional com a pessoal.
Depois do tour, voltamos para a minha sala e encontramos Sabrina arrumando a mesa aonde eu
fazia pequenas reuniões, com o nosso almoço. O cheiro de molho de tomate e manjericão preenchia o
ar e, assim que fomos deixados sozinhos, arrastei a cadeira para que Alice se sentasse.
— Então, o que achou da empresa?
— Eu estou encantada, eu não podia imaginar que a criação de aplicativos requeria tantas coisas
— disse ela, servindo-se da comida. — E adorei o fato de todo mundo te chamar de Romeo e não de
senhor.
— Eu disse a você que eu não sou um chefe rabugento.
— Realmente, você está muito longe de ser um rabugento. Na verdade, deve ser um dos
empresários mais jovens do mundo. Sabe disso, não é?
— Bem, no mundo real, sim. No fictício, as autoras de romances criam bilionários aos trinta anos.
Alice riu, certamente sem esperar que eu fosse falar sobre os livros de romances que estavam em
alta.
— Verdade. Os CEOs estão cada vez mais jovens desde a criação do Christian Grey.
— Eu estou longe de ser um CEO como ele.
— Por quê? Não é adepto ao BDSM?
Olhei para ela um pouco surpreso.
— Bom, eu ia falar que estou longe de ser um bilionário, mas já que você quer ir por esse
caminho... Não sou adepto ao BDSM, mas posso te dar umas palmadas na bunda quando você quiser,
é só me pedir.
Ela sorriu e suas bochechas ficaram levemente vermelhas. Fiquei me perguntando se era de
vergonha, ou se era porque ela estava imaginando o impacto da minha mão na sua bunda. Dio, só de
pensar, eu já sentia meu sangue fervendo nas veias. Começamos a comer e emendamos em outros
assuntos. Quando terminamos, a peguei pela mão e fomos até o sofá com as nossas taças de vinho.
Sabia que não era ético beber no trabalho, mas aquela era uma ocasião especial.
— Aonde você vai passar o Natal, Alice? — perguntei, vendo o sol que banhava a sala pelas
janelas de vidro fechadas, iluminar os seus olhos castanhos.
— Ainda não sei. Normalmente, passo o Natal com a Paula, mas esse ano ela disse que vai ficar
dividida entre a casa dos pais dela e a casa da sua mãe, pois Alexandre a convidou para passar o
Natal com ele. A Mônica, minha editora, me convidou para cear com ela, estou pensando em aceitar
o convite.
Alice disse tudo aquilo de forma desanimada, como se ir para qualquer um daqueles lugares não
despertasse nela o que o Natal realmente deveria despertar. Para mim, aquela era uma das datas mais
importantes do ano. Vindo de uma família enorme e tradicionalmente italiana, o Natal era sempre um
momento onde nos conectávamos ainda mais, onde o amor se fortalecia. Queria que Alice sentisse
aquilo ao meu lado, não que fosse comer na casa de uma amiga e, depois, fosse para casa com o
peito vazio.
— Não aceite — pedi, tomando a sua mão na minha.
— Por que não devo aceitar?
— Porque quero que passe o Natal comigo, com a minha famiglia.
Alice arregalou os olhos e abriu e fechou a boca algumas vezes, como se quisesse falar algo, mas
não soubesse o quê. Sabendo que deveria explicar melhor o porquê do meu convite repentino,
entrelacei os nossos dedos e falei:
— De certa forma eu sabia que você não iria passar o Natal ao lado de quem realmente deveria
estar, que é a sua mãe. Para mim, o Natal é uma data em que devemos estar ao lado da família, é um
momento especial para estreitarmos os laços e fico muito triste por saber que você e sua mãe não
estarão juntas, por isso, quero que venha cear conosco. Minha famiglia é grande, um pouco doida,
confesso, mas todos ali têm um coração enorme e você será muito bem-vinda.
Os olhos de Alice ficaram completamente marejados de repente e senti um aperto ridículo no
peito. Merda, será que eu havia falado alguma coisa de errado? Cazzo, não deveria ter citado a sua
mãe! Tinha certeza de que eu havia a magoado.
— Alice, não chore... Merda, sinto muito — murmurei, enxugando uma lágrima que escorreu pela
sua bochecha. — Não queria magoar você.
— Não, eu não estou magoada, eu estou emocionada. E também não sei o que dizer, Romeo... Eu
não esperava que você me fizesse um convite assim — disse ela, ficando com a ponta do nariz
vermelha. Começou a enxugar as lágrimas. — Droga, eu não sou uma chorona, mas você me pegou de
jeito — riu baixinho.
— Bom, esse não era o jeito exato como eu queria te pegar, mas fico feliz que eu tenha te
surpreendido.
Contra todas as possibilidades, ela riu de mim e eu senti o aperto em meu peito abrandar. Não
sabia se era possível amar o som da risada de alguém, mas eu amava o som da risada de Alice.
— Me surpreendeu mesmo — disse ela, voltando a me fitar com os olhos molhados, mas já sem
lágrimas.
— Então, você aceita?
Precisava ser sincero, eu estava me cagando de medo de que ela dissesse não. Acho que ficaria
decepcionado demais, principalmente porque aquela era, com certeza, uma primeira vez para mim.
Nunca havia levado mulher alguma nos encontros de famiglia, ainda mais no Natal.
— Tem certeza que a sua famiglia — ela imitou o meu modo de falar e eu sorri feito um idiota. —
Não vai ficar incomodada por me receber? É Natal, Romeo, acha que não vai ser esquisito você
levar uma desconhecida?
Queria dizer a ela que seria esquisito de qualquer forma, pois nunca havia levado mulher alguma
em evento algum da famiglia, mas resolvi esconder esse fato, pois não queria que ela ficasse nervosa
ou desconfortável.
— Claro que não, eles vão te receber de braços abertos, pode confiar em mim.
— Bom, então, tudo bem, eu aceito! — Ela sorriu e eu vibrei por dentro. — Depois me mande o
nome de todos eles, quero comprar um presente para cada um.
— Hum, bem, acho que não é uma boa ideia.
— Por quê?
— Há mais de trinta pessoas na minha família — falei, vendo seus olhos se arregalarem. — Não
quero que você vá à falência.
— Mais de trinta pessoas? Como isso é possível?
— Pergunte para as minhas tias e meus primos, que adoram procriar — falei, lhe arrancando uma
risada.
— Bem, então, me fale pelo menos o nome da sua mãe e como é o gosto dela.
— Minha mãe se chama Francesca e ela é uma mulher muito fácil de presentear, qualquer coisa
que você der para ela, ela vai amar.
— Vou pensar em algo muito especial, pode deixar — Alice disse, olhando para nossas mãos
unidas. — Muito obrigada pelo convite, Romeo. Não sabe como significa para mim.
— Ninguém merece passar o Natal sozinho. Jamais deixaria que isso acontecesse com você —
falei, aproximando-me dela. — Sem contar que eu não deixaria você passar o Natal ao lado daquele
neurocirurgião que te levou para jantar em São Paulo. Não sou bobo, bella.
Alice riu baixinho e balançou a cabeça.
— Não sei se ele estaria lá ou não.
— Tenho certeza de que assim que soubesse que você estaria lá, ele iria correndo.
— Tem certeza, é?
— Sim, porque era isso que eu faria, se estivesse no lugar dele — falei, colocando uma mecha do
seu cabelo atrás da orelha. — Não iria deixar você escapar de mim.
— Você tem me provado isso com bastante insistência desde o dia em que nos conhecemos.
Dei um sorriso safado e passei meu nariz pelo seu maxilar, sentindo o cheiro delicioso do seu
perfume, me segurando para não passar a língua em seu pescoço.
— Isso é porque eu sabia, desde o primeiro momento, que você seria minha, bella — falei
baixinho em seu ouvido, puxando seu rosto para beijar a sua boca.
Era incrível como, a cada beijo, eu me sentia diferente e mais ligado naquela mulher. Eu já
conhecia de cor a textura macia dos seus lábios, a sensação da sua língua na minha, o sabor doce da
sua saliva e, mesmo assim, era como se a cada vez a sensação ficasse mais intensa. Senti meu corpo
pegar fogo e Alice gemeu entre os meus lábios, arranhando a minha nuca e me puxando para cima de
si, que fui de bom grado. De alguma forma, ela acabou deitada em meu sofá e eu fiquei bem em cima
dela, no meio das suas pernas. Quando pressionei minha ereção em sua bocetinha, ela estremeceu.
— Sou tão louco por você — murmurei, descendo minha boca pelo seu pescoço e me esfregando
lá embaixo, enquanto passava as mãos pelas suas pernas e levantava sua saia até a cintura.
— Romeo... — ela gemeu em meu ouvido e jogou a cabeça para trás, deixando o pescoço livre
para mim. Ataquei sem dó, puxando a pele delicada entre os meus lábios e metendo nela por cima da
roupa. Porra, nosso atrito era delicioso e eu daria qualquer coisa naquele momento para poder me
enterrar dentro dela.
— Diz para mim, bella, diz que também é louca por mim e que está ansiosa para descobrir o que
podemos fazer juntos — pedi, levando meus lábios a sua boca, enquanto arrastava meus dedos pela
sua virilha. Podia sentir a borda da sua calcinha e aquilo estava me deixando doido.
— Eu... Ah, meu Deus — ela apertou os olhos com força quando a toquei por cima da renda
delicada, bem no clitóris. Ela estava molhada, conseguia sentir mesmo através do tecido.
— Diz, bella — pedi, arrastando meu dedo lentamente, doido para enfiá-lo dentro dela.
Seus olhos se abriram e ela passou a língua pelos lábios, prestes a falar o que eu tanto queria
ouvir, quando duas batidas na porta estragaram tudo.
— Romeo? Sua próxima reunião é daqui a cinco minutos — Sabrina disse do outro.
Pude sentir Alice ficar tensa embaixo de mim e balancei a cabeça quando ela tentou me empurrar
para que pudesse se levantar.
— Sabrina, vou me atrasar um pouco — falei alto para que ela pudesse ouvir.
— O quê? Não, Romeo, você não pode se atrasar para a sua reunião! — Alice falou baixinho, com
as sobrancelhas franzidas. — Vá, as pessoas não podem ficar esperando!
— Bem, elas vão esperar, porque não vou deixar você sair desta sala antes de te dar um orgasmo
— falei baixinho, mas decidido. — Sabrina, ouviu o que eu disse?
— Sim. Vou avisar que você vai atrasar alguns minutos.
O silêncio dentro da minha sala era quase sepulcral, por isso, pude ouvir o barulho dos saltos de
Sabrina quando ela se distanciou da minha porta. Quando me virei para Alice, ela estava
boquiaberta.
— Você sabe o que a sua secretária está pensando nesse momento, não é?
— Sim. Ela está pensando que eu estou fodendo você com o meu pau, mas está errada — sorri,
levando meus lábios até os dela. Os arrastei para cima e para baixo, enquanto colocava a sua
calcinha de lado e, finalmente, conhecia a sua textura com os meus dedos. — Eu estou te fodendo
sim, ou melhor, estou prestes a te foder, mas com o meu dedo. E você vai amar, bella.
Só consegui ouvir um suspiro vindo de Alice antes de atacar sua boca com a minha língua e enfiar
meu dedo bem fundo em seu canal estreito. Porra, ela estava tão molhada, que quase desisti daquela
ideia de continuar vestido e enfiei meu pau em sua boceta. Pude ouvir o seu gemido saindo do fundo
da garganta e comecei a penetrá-la lentamente, tirando e colocando o dedo até a metade, enquanto
meu polegar tocava o seu clitóris e cuidava dele direitinho.
Ela começou a pulsar ao meu redor e eu mordi seu lábio, descendo beijos pelo seu pescoço,
sentindo os tremores do seu corpo e os mamilos pontudos pressionando meu peito. Precisava prová-
los, não dava para segurar mais.
— Abaixe a sua blusa e o sutiã — pedi, arqueando meu corpo para lhe dar espaço. Alice sequer
piscou, logo levou as mãos trêmulas à blusa, abaixando as alças e revelando o sutiã tomara que caia
rendado, que me deixou louco. Gemi baixinho quando seus seios ficaram livres. — Dio, como você é
linda, bella. Acho que morri e estou no céu.
— Isso não é nenhum pouco cristão — ela sorriu em meio a um gemido.
— Que Jesus possa me perdoar, então, porque vou pecar muito e vai ser delicioso.
Caí de boca naqueles seios. Só isso poderia definir com exatidão a forma como os ataquei, com
fome, sede, um desejo quase insaciável que vinha sendo alimentado desde o momento em que vi
aquela mulher no calçadão em Copacabana. Tomei um peito em minha mão e caí de boca no outro,
puxando o mamilo entre os meus lábios, contornando-o com a língua, enquanto aumentava o ritmo dos
meus dedos lá embaixo, enfiando dois de uma vez só. Alice mordeu o lábio e fez de tudo para gemer
baixo, enquanto acompanhava os movimentos dos meus dedos com os quadris.
Eu sentia que poderia gozar na calça naquele momento, mas nem ligava, pois estava focado
naquela mulher. Ela me arranhou, enfiou os dedos entre os meus cabelos e seu corpo estremeceu com
força quando alcancei um nervo específico bem no fundo da sua bocetinha, enquanto esfregava seu
clitóris com o dedão.
— Romeo, eu vou gozar — ela avisou, puxando meu rosto para cima e olhando em meus olhos. —
Vou gozar agora.
— Então vem — falei, apertando seu mamilo entre os dedos e enfiando os outros até o fundo em
sua boceta, bem rápido. — Goza, bella. Goza olhando nos meus olhos e chamando meu nome.
— Romeo — ela chamou mais alto e tinha certeza que qualquer pessoa do outro lado da porta
poderia ouvir. Eu claramente estava dando a mínima para isso. — Ai, Romeo...
Ela jogou a cabeça para trás e gozou gostoso no meu dedo, rebolando os quadris, seus seios
quicando levemente, a bocetinha se contraindo, os lábios abertos e o pescoço vermelho. Foi uma
visão que eu sabia que guardaria pelo resto da minha vida. Nada no mundo era mais erótico do que
aquilo para mim.
— Que delícia, bella — sussurrei em seu ouvido, enquanto enfiava e tirava meu dedo em sua
boceta, ouvindo o barulho de coisa melada lá embaixo. Alice estremeceu e fechou as pernas em volta
da minha cintura.
— Pare, por favor — pediu com o ar entrecortado. Olhei para ela e sorri.
— Está sensível?
— Sim — ela sorriu.
— Quer que eu dê um beijinho pra sarar?
— Pelo amor de Deus, Romeo! — Ela exclamou daquele jeito exagerado e eu ri, tirando
lentamente o dedo de dentro dela. Não pude me conter e o enfiei em minha boca, sentindo seu gosto.
Meu pau pulsou tanto que babou na ponta.
— Dio, você é melhor do que qualquer vinho que já experimentei na vida — falei, vendo suas
bochechas enrubescerem. — Estou louco pra ficar bêbado com você sentada na minha cara.
— Ai, Romeo — foi meio gemido, meio reclamação e eu amei aquilo, dando um beijo em cada
mamilo antes de levantar o seu sutiã e ajeitar a sua blusa. Antes que eu pudesse me levantar de cima
dela, senti suas mãos em minha cintura. — Espera, ainda não terminamos.
— Não?
— Não. Tem um gigante bem necessitado aqui embaixo — ela disse com um sorrisinho de lado e
foi a minha vez de estremecer quando tocou meu pau por cima da calça.
— Cazzo! — gemi, forçando meus quadris em sua mão. Como queria aquilo, Dio sabia que sim,
mas se deixasse Alice continuar, não sairíamos daquela sala e eu ainda tinha um dia inteiro pela
frente. — Você terá outra oportunidade de cuidar da gente, bella — falei, tirando a sua mão. O rosto
de Alice desmoronou.
— Não. Não é justo você ficar assim depois de me fazer gozar daquele jeito.
Tinha de confessar, eu não esperava que ela fosse tão direta, não depois de me mostrar como
ficava vermelha com facilidade. Adorei conhecer aquele seu lado.
— Eu prometo que não colocarei objeção alguma na próxima vez em que ficarmos juntos — falei,
saindo de cima dela. Foi com muito custo que a vi ajeitar a calcinha em cima daquela bocetinha que,
mesmo tendo apenas um vislumbre, eu já sabia que era linda.
— E como você vai para a reunião assim? — perguntou, apontando para a barraca armada em
minha calça.
— Vou dar um jeito de acalmar o gigante — falei, me levantando.
— Posso fazer isso por você — disse ela, levantando-se e parando na minha frente. Sua saia ainda
estava enrolada na cintura e eu precisei me segurar muito e lutar contra o desejo insano que corria em
minhas veias.
— Bella, sabe o que vai acontecer se você me tocar do jeito que nós dois estamos pensando? —
perguntei, passando o polegar em sua boca. — Eu vou perder a cabeça, vou jogar no chão tudo o que
está na minha mesa para poder te colocar deitada em cima dela e te foder bem gostoso. Infelizmente,
nós dois sabemos que isso não é possível no momento.
Ela piscou duas vezes, olhando rapidamente para minha mesa e depois para mim. Por um
momento, pensei que ela iria falar para eu fazer exatamente o que descrevi — e Dio sabia que eu era
capaz de cancelar minha agenda e expulsar todo mundo daquele andar apenas para comer aquela
mulher, se ela me pedisse —, mas logo deu um passo para trás e desceu a saia, ficando comportada
novamente.
— Está bem, você tem razão — disse, me dando um sorrisinho. — Acho melhor eu ir, então.
Infelizmente, eu tinha que concordar. Alice pediu licença para usar o meu banheiro e eu usei
aquele tempo sozinho para acomodar melhor o meu pau duro feito pedra dentro da calça. Obriguei-
me a parar de reviver os últimos minutos em minha mente para poder acalmar a ereção e respirei
fundo, lutando para conseguir. Assim que Alice saiu do banheiro, soube que aquela era uma batalha
perdida — em sua presença, eu só conseguiria diminuir aquela ereção monstruosa depois que
gozasse bem fundo em sua boceta.
Saímos da minha sala e não encontramos com ninguém no caminho até o elevador. Depois de
apertar o botão, puxei Alice para os meus braços e beijei sua boca com carinho, sentindo aquele
aperto no peito por saber que precisava deixá-la ir.
— Tenho saído muito tarde ultimamente, mas, se por um milagre eu sair mais cedo hoje, posso ir
na sua casa?
— Claro que sim — disse ela, passando o nariz pelo meu maxilar. — Vou sentir saudade.
— Eu também, bella — murmurei, vendo o elevador chegar. Como poderia soltá-la, quando tudo o
que eu queria era tê-la bem ali, em meus braços? A vida era bem cruel às vezes.
— Preciso ir — disse, me dando mais um beijo antes de se afastar. — Até mais tarde, se tudo der
certo, Senhor Benvenuto.
— Até mais tarde, bella.
Capítulo 15
Infelizmente, não consegui sair cedo naquele dia e nem nos próximos. Com o tempo corrido, ao
menos tive chance de chamar Alice para almoçar comigo novamente — por incrível que pareça, até
mesmo em meus horários de almoço eu tinha coisa para fazer. Sabia que todo o esforço valeria a
pena, afinal, estávamos prestes a lançar um aplicativo que iria revolucionar o mundo dos jogos
online, mas sentia falta de Alice, principalmente agora, que tínhamos dado um passo gigantesco na
direção em que eu queria — que era ela na minha cama.
Ela ainda não havia me dado a sua resposta oficial à proposta que eu havia lhe feito em nosso
último jantar, porém, o que havia acontecido entre nós dois no nosso escritório havia inflamado a
chama da esperança em meu peito. Esperava que Alice me dissesse sim em breve.
Na noite que antecedia à véspera de Natal, mamma gostava de reunir a famiglia para um jantar
“oficial”, onde acertávamos os detalhes da ceia para o dia seguinte e a ajudávamos com os últimos
preparativos e a decoração. Pensei em levar Alice naquele jantar, porém, vi ali uma oportunidade de
comunicar a todos que eu a levaria comigo na noite seguinte. Sentia que se eu simplesmente
aparecesse com ela ao meu lado sem avisar, mamma iria enlouquecer.
Como era o último dia de trabalho antes de entrarmos em recesso e retornarmos em janeiro, saí
ainda mais tarde da empresa e nem tive tempo de passar em casa. Já estava atrasado para o jantar e
mamma havia enviado uma dúzia de mensagens perguntando por mim, se eu demorasse mais um
pouco, ela me cortaria a cabeça. Fui direto para sua casa e encontrei todo mundo reunido, faltando
apenas alguns primos que disseram que não daria para ir. A sala de mamma estava cheia e como a
noite estava quente, resolvemos jantar no quintal mesmo.
Com todos reunidos à mesa e falando alto, respirei fundo para tomar coragem e elevei o meu tom
de voz:
— Famiglia, tenho algo a dizer.
— Ah, Dio! Não me diga que você esqueceu de levar o Bob para tomar banho e que ele não
poderá vir vestido de Cão Noel? — Mamma perguntou, colocando a mão no coração.
— Não, mamma, não se preocupe. Bob já está limpinho e a fantasia dele está pronta para ser
usada.
— Grazie. — Ela levantou a mão para o céu. — Então, o que precisa dizer, tesori?
Ok. Era agora ou nunca.
— Eu vou trazer uma amiga comigo amanhã.
Até os meus primos, que estavam conversando entre si, calaram-se depois do que eu falei. Senti
todos os olhos em cima de mim, o silêncio sepulcral era ensurdecedor e foi interrompido por minha
mãe, que se levantou de repente com um sorriso que poderia iluminar o mundo todo.
— Dio mio! Não posso acreditar! Meu figlio está namorando!
O quê?
— Não, mamma...
— Você ouviu isso, Graziella? Romeo vai trazer uma mulher para o Natal!
— Até que enfim, meu sobrinho! A zia está tão orgulhosa de você! — Tia Graziella disse,
esticando a mão para tocar a minha sobre a mesa.
— Não, zia, não é nada disso...
— Qual é o nome dela, figlio? Como ela é? Dio, deve ser uma donna de ouro para ter roubado
esse coraçãozinho!
— Não acredito nisso, primo... Primeiro o Alexandre, agora você também? E o lema de solteirão?
— Enzo perguntou do outro lado da mesa.
— Deixe o seu primo, Enzo! Se você não arrumou ninguém ainda, não o julgue — Tia Beatrice
resmungou. — Nunca pensei que esse momento chegaria, Romeo. Achei que morreria solteiro e
libertino.
— Meu figlio nunca foi um libertino! — Mamma saiu em minha defesa.
— Ele só aproveitava a vida, como qualquer pessoa solteira e jovem. Você que é uma velha chata,
Beatrice — Tia Eugênia ralhou.
— Não, eu não sou chata. Só preso pela famiglia, como Dio nos ensinou em Sua palavra!
— Mal posso esperar para conhecer essa mulher — Dante, meu irmão, riu de mim.
— Tio, é quem eu estou pensando? Diz que sim, por favor! — Giulia implorou, juntando as mãos
na frente do rosto.
— Você a conhece, Giulia? Dio, me conte mais sobre ela! — Mamma pediu.
Porra, eu sentia que poderia enlouquecer. Todo mundo falava ao mesmo tempo e eu nem conseguia
ouvir os meus próprios pensamentos. Precisando dar um basta, levantei-me da mesa e falei mais alto
do que todos eles:
— Por favor, me escutem! — Pedi, mas não adiantou de nada. Falando mais alto ainda, xinguei: —
Che cazzo, famiglia, me escute! — Enfim, fez-se silêncio em volta da mesa. — Não é nada disso que
estão pensando. Alice é apenas minha amiga, não minha namorada. Entenderam? Amiga!
Novamente, todos me olharam e Giulia soltou um gritinho.
— Ah, meu Deus, é a Alice mesmo! Não acreditoooo! — Ela quase pulou na cadeira e mamma a
olhou entusiasmada.
— Essa Alice é a namorada do seu tio?
— Mamma...
— Você disse que é amiga, eu já ouvi, tesori, mas se você vai trazê-la aqui, é porque pensa em
transformá-la em sua namorada! — Mamma disse, quase pulando de felicidade. — O que ela mais
gosta de comer? Eu vou fazer, é só me falar! Temos que recebê-la com tudo o que há de melhor, para
que ela queira ficar na famiglia! Alexandre já me disse que a sobremesa favorita da Paula é mousse
de chocolate, qual é a sobremesa favorita da Alice?
Como eu iria saber?
— Mamma, eu não sei, e eu não quero transformá-la em minha namor...
— Ora, trate de descobrir, figlio! Que namorado será você, se não souber o básico sobre a sua
donna? Eu te criei melhor do que isso!
— Mamma, nós não iremos namorar.
— Hum, bobagem, você só diz bobagens, Romeo!
— Safado do jeito que é, duvido que namore mesmo — Tia Beatrice resmungou.
— Nenhum dos meus figlios são safados! — Mamma ralhou. — Não vê que Romeo está se
endireitando? Dio ouviu as minhas preces, enfim o meu Alexandre e o meu Romeo vão seguir os
passos do irmão mais velho!
— Mamma...
— Desista, fratello — Alexandre murmurou ao meu lado. — Mamma não vai tirar da cabeça que
Alice se tornará a sua namorada.
— Cazzo! Alice e eu somos apenas amigos. Não posso chegar com ela aqui com mamma
planejando o nosso casamento!
— Você deveria saber que era assim que mamma iria reagir quando você trouxesse alguém aqui. O
sonho dela é ver nós dois casados.
— Bem, eu não queria ser o responsável por destruir os sonhos de mamma, mas eu não irei me
casar. Nunca.
— Você também dizia que jamais traria uma mulher nas reuniões de famiglia e está trazendo uma
justamente no Natal.
Engoli em seco, mas não dei braço a torcer.
— Alice é diferente.
— Lógico que é, ou você jamais a traria para passar o Natal conosco amanhã — disse ele,
apertando o meu ombro.
De alguma forma, conseguimos voltar a jantar em paz, mesmo com mamma enchendo Giulia
perguntas sobre a Alice. Minha sobrinha, que sorria de orelha a orelha, respondia a ela com
intensidade, falando detalhes sobre a vida de Alice e explicando o seu sucesso como escritora. Os
olhos de mamma pareciam brilhar mais do que o céu cheio de estrelas. Antes de eu ir embora, ela me
puxou para o lado e me abraçou.
— Figlio, estou tão feliz! Nossa, o coração de sua mamma está quase explodindo! Ainda não
conheço essa donna, mas sinto que ela é muito especial.
— Mamma, eu sei que está cheia de planos nessa cabecinha, mas Alice é realmente minha amiga,
apenas isso.
“Uma amiga que eu quero na minha cama, mas apenas amiga”, pensei.
— Tesori, coração de mamma não se engana. Eu sei que essa moça é muito mais do que uma
simples amiga — disse ela acariciando o meu rosto, como se soubesse de algo que eu não sabia. —
Descubra qual é a sobremesa favorita dela e me mande por mensagem. Preciso receber essa donna
com todo o meu carinho, afinal, ela é o futuro do meu figlio.
Desisti de contestá-la e apenas assenti. Despedindo-me, saí da casa de mamma sentindo que eu
havia arrumado sarna para me coçar. Ao chegar em casa, tomei um banho e caí na cama com Bob aos
meus pés. Fiquei olhando para o teto com a cabeça cheia, pensando em como seria a noite seguinte e
como Alice iria se sentir ao ouvir minha mãe a enchendo sobre o nosso “futuro” juntos. Por fim, lhe
mandei uma mensagem.
“Qual é a sua sobremesa favorita?”
Ela me respondeu minuto depois:
“Torta de morango. Por quê?”
“Mamma me intimou a te perguntar. Contei para a famiglia que você irá comigo
amanhã.”
“Ai, meu Deus! Eles não reclamaram sobre você levar uma desconhecida para cear no
Natal?”
“Não, pelo contrário, ficaram entusiasmados, principalmente a minha mãe. Aliás, preciso
te preparar para conhecê-la.”
“Me preparar? Por quê?”
“Você sabe, o sonho de mamma é ver os filhos casados e felizes, então, quando disse que
a levaria comigo, ela começou a imaginar um monte de coisas... Ela acha que vou te pedir em
namoro em breve.”
“Ai, Deus, kkkkk. Se ela soubesse o tipo de pedido que o filho dela fez para mim, acho que
ficaria desapontada.”
“Ora, foi um pedido romântico, eu até te levei para jantar!”
“Sim, verdade. Você foi bem atencioso antes de falar que queria me comer por tempo
indeterminado.”
“Isso mesmo, fui atencioso e criativo. O que mais uma mulher pode querer?”
“Você é tão presunçoso, hahahaha.”
“Mas eu sei que você gosta. Sabe para o que eu estou olhando agora?”
“O quê? O Bob?”
“Não. Bob está roncando como se não houvesse amanhã. Esse cachorro abusado não tem
modos algum ao dormir.”
“Dizem que os filhos puxam aos pais...”
“Eu não ronco. Acho que você precisa vir aqui para tirar a prova.”
“Claro que você não vai roncar ao meu lado, simplesmente porque você não nos deixará
dormir.”
“Eu amo a sua inteligência, bella, hahaha. Enfim, estou olhando para os seus livros.
Meus dias têm sido corridos e não tive tempo de ler, mas acho que vou fazer isso agora.
Ansioso pelo o que irei encontrar...”
“Bem, espero que você goste e que se apaixone pelos meus mocinhos.”
“Pelos mocinhos? Não, acho que vou ficar de quatro é pela autora mesmo. Apesar de algo
me dizer que é ela que vai ficar de quatro para mim em breve...”
“Meu Deus, Romeo! Kkkkkkkk. Vai ler, estou ansiosa para saber a sua opinião.”
“Ok, tenho três livros aqui. Por qual eu começo? Pelo rockeiro?”
“Sim, acho que você vai se identificar com ele.”
“Olha, eu li que ele é viciado em álcool. Eu sou viciado em boceta, que é algo bem
diferente.”
“Romeo! Kkkkkkk. Você tem a boca mais suja do que a dos meus personagens.”
“Isso quer dizer que você precisa de um pouco mais de inspiração. Se quiser, posso
gravar um áudio de uma hora falando putaria pra você.”
“Eu não ficaria apenas inspirada para escrever. Seria uma tortura.”
“Eu faria questão de ir até a sua casa pra cuidar de você.”
“Eu tenho certeza que sim. Você é muito solicito.”
“Só estou aqui para ajudar, bella. Agora, se me der licença, tenho um livro de romance
para ler.”
“Livro de romance, né. Quem diria que Romeo Benvenuto, o homem mais anti-romance que
já conheci, se renderia a esse tipo de literatura.”
“Pra você ver que o mundo não gira, bella, ele capota.”
“Idiota kkkkkkk.”

Por mais incrível que pudesse parecer, o livro me prendeu. Alice tinha uma escrita limpa e fluida e
os personagens eram cativantes. Fiquei muito surpreso ao descobrir que a história era contada pelos
pontos de vista dos dois personagens e a forma como Alice narrava a parte do rockeiro era
sensacional. James Slater era um personagem problemático, meio egocêntrico — o que fazia total
sentido, já que era um rockstar e, ainda por cima, viciado em álcool — e um tanto estúpido, que
metia os pés pelas mãos nos bastidores de seus shows. A história começava por ele e seus problemas
e Alice tinha uma forma peculiar de despertar a curiosidade no leitor. Vi-me ansioso para saber
como ele sairia daquele rodamoinho de problemas que era a sua vida e li avidamente.
Uma cena em especial chamou a minha atenção. Como todo rockstar, James vivia em meio ao
glamour, drogas, álcool e sexo. E foi justamente esse último que despertou ainda mais o meu
interesse. Uma das inúmeras fãs do rockeiro conseguiu passe livre ao camarim e James sequer
perguntou o seu nome antes de ir com tudo para cima dela. A personagem, que estava ali obviamente
para transar com o seu ídolo, se entregou facilmente e Alice descreveu a cena com detalhes que me
pegaram completamente de surpresa. Giulia havia me falado que ela escrevia romance erótico, mas
eu nunca havia parado para ler algo desse tipo e a qualidade da cena estava me deixando excitado.
Era melhor do que pornô ao vivo.
Sem conseguir me conter, tirei uma foto do parágrafo que estava lendo e mandei para Alice. Ela
demorou um pouco para visualizar e isso me deu tempo para reler de novo aquela parte que estava
deixando o meu pau a meio mastro.
“A coloquei sentada de pernas abertas em cima da mesa de maquiagem e me enfiei entre as suas
coxas, empurrando meu pau duro escondido pela calça jeans em cima da sua calcinha. A garota
gemeu e arranhou minha nuca, passando as pernas pela minha cintura e me puxando ainda mais
de encontro ao seu corpo. Pude ouvir o barulho dos produtos caindo no chão, mas não me
importei — naquele momento, só queria saber de entrar naquela mulher. Deixei a minha mão
descer livre pelo seu corpo e só parei para colocar a sua calcinha de lado, soltando um gemido
rouco ao sentir como ela estava molhadinha. Em um golpe só, enfiei dois dedos dentro dela e senti
os seus espasmos, as paredes vaginais me sugando, sua bocetinha implorando para ser fodida por
mim.”

“Eu não esperava por isso.”


Enviei para ela quando os dois tracinhos ficaram azuis no WhatsApp. Alice logo me respondeu:
“Pensou que leria um romance água com açúcar? Hahahaha”
“Não, Giulia havia me falado que você escrevia romances eróticos, mas devo confessar
que eu não sabia muito bem o que isso queria dizer. Nunca li nada parecido. É melhor do que
pornografia.”
“É melhor porque, no pornô, você apenas vê o ato até ficar muito excitado. Ao ler a cena,
você acaba sentindo exatamente o que o personagem está sentindo.”
“Estou sentindo mesmo e isso é muito estranho. Ao mesmo tempo, é delicioso,
principalmente porque ele está fazendo com ela a mesma coisa que eu fiz com você em meu
escritório. Como dizem, a ficção imita a realidade.”
“Nesse caso, eu posso falar com propriedade que você é melhor que o James.”

Caralho!
Acho que foi o melhor elogio que já ganhei na vida. Fiquei que nem um idiota olhando para tela do
celular, com um sorriso no rosto e o pau pulsando que nem doido dentro da cueca.

“Sabe o que isso faz ao ego de um homem? No meu caso, deixou meu pau mais duro do
que uma barra de ferro. Mesmo assim, obrigado.”
“Tenho que ficar quieta, então. Presunçoso do jeito que você é, um elogio desses pode fazer o
seu ego explodir, hahaha.”
“Não, por favor, não pare. Continue me elogiando e falando umas putarias, enquanto eu
bato uma até gozar pensando em você.”
“Romeo Benvenuto, você quer fazer sexo por mensagem?”
“Bem, sim. Acho que sexo por telefonema já está ultrapassado, estamos na era moderna.
Que tal a gente fazer uma chamada de vídeo?”
“Eu poderia fazer uma chamada de vídeo para te mostrar o presente de Natal que comprei
pra você, mas acho que isso vai estragar a surpresa.”
“Você comprou um presente pra mim?”

Merda, eu não havia comprado nada para ela! Em meio a correria, havia me esquecido
completamente. Porra, eu era um babaca mesmo!

“Comprei, sim. Espero que você goste.”


“Tenho certeza que vou adorar. Mas, que tal me dar uma dica do que é?”
“Que tal você parar de ser curioso? Hahaha. Espere até amanhã. Vou dormir, Sr. Benvenuto.
Saiba que sonharei com você e os seus dedos mágicos.”
“Dedos mágicos, é? Não imagina como eles querem fazer mágica de novo nessa
bocetinha.”
“Romeo Benvenuto! Kkkkk. TCHAU!”
“Tchau, bella. Até amanhã.”

Acabei lendo mais algumas páginas do livro antes de colocá-lo na minha mesinha de cabeceira
e me preparar para dormir. Ouvindo o ronco alto do Bob, com o pau ainda meio duro depois da
conversa com a Alice, sorri e fechei os olhos, ansiando pela noite seguinte e pelo presente de Natal
que ela me daria.
Capítulo 16
Alice
Eu era péssima na cozinha. Tudo bem, eu já sabia disso, era um talento que eu simplesmente não
tinha, mas hoje eu estava conseguindo me superar. Frustrada, tirei do forno o brownie que eu havia
me proposto a fazer para levar para ceia de Natal da família do Romeo e grunhi com um pouco de
raiva ao ver como estava feio. Não era possível, qual era o meu problema em fazer um simples bolo
de chocolate? Até uma criança conseguiria fazer aquilo com mais eficiência do que eu!
Tentei puxar na memória algum doce que eu já havia feito e que tinha dado certo. Até tinha
pensado em comprar um peru ou algo assim para levar, algo simples que era só colocar no forno e
deixar o timer do fogão avisar que estava pronto, mas eu queria levar algo que eu mesma tivesse
feito. Acho que esse era o meu erro. Se eu era um horror na cozinha, por que diabos queria levar algo
que eu mesma havia feito? Óbvio que daria errado! Quase desisti da ideia, mas balancei a cabeça e
respirei fundo negando-me a desistir sem tentar mais uma vez.
Foi então que me lembrei do pavê de pêssego e coco que a mãe da Paula sempre fazia nas festas
de final de ano. Era a sobremesa favorita dela e uma das poucas coisas que consegui fazer quando me
arrisquei na cozinha, anos atrás. Pegando o celular, mandei uma mensagem correndo para Paula,
pedindo a receita. Ela me respondeu minutos depois.

“Não me diga que está cozinhando? Amiga, sabe que no quarteirão onde você mora tem uma
padaria maravilhosa, não é? Compra alguma coisa lá. Não quero morrer por intoxicação
alimentar!”
“Nossa, Paula, era pra você me estimular e não me fazer desistir!”
“É que eu quero passar o Natal em paz, sem ter que parar no hospital, sabe, kkkkk.”
“Sua idiota! Me passa logo a receita, kkkk.”
“Está bem. Ai, estou nervosa! E se a mamma Benvenuto não gostar de mim?”
“Mamma Benvenuto?”
“Foi como eu a apelidei. Alexandre disse que ela é um amor e que está louca pra me
conhecer, mas tenho medo de causar uma má impressão. Já pensou se ela não gosta de mim?
Não quero ter uma sogra como inimiga, Deus me livre!”
“Amiga, é impossível alguém não gostar de você. Tenho certeza que a mamma Benvenuto
vai te adorar. Romeo me disse que o sonho dela é ver os filhos casados, ou seja, ela vai te
enxergar como a Senhora Alexandre Benvenuto.”
“Não sei se isso é bom ou ruim. Estamos namorando há menos de dois meses.”
“Mas vocês se amam, ou seja, é algo muito bom. O pior sou eu, que sou apenas amiga do
Romeo e a mamma já está me enxergando como uma namorada. Nem sei como me safar dessa
situação.”
“Se transformando em namorada, ora! Você vai ser quase isso mesmo. Essa história de
ficantes fixos é quase um namoro para mim.”
“Fala isso para o Romeo e ele infarta, kkkkk.”
“Amiga, assim que ele perceber a mulher maravilhosa que ele está comendo, ele vai mudar
de ideia rapidinho.”
“Não vou ficar pensando nisso. E ele não está me comendo.”
“Ainda.”

No final, Paula me passou a receita do pavê e eu fiz tudo com calma, pois queria que saísse
perfeito. Com a sobremesa pronta, coloquei na geladeira e dediquei o resto do dia para mim.
Geralmente, gostava de ir ao salão para me arrumar, mas não queria chegar na ceia de Natal com
cara de perua ou algo do tipo, por isso, resolvi colocar meus dotes estéticos para fora. Pelo menos
para isso eu tinha talento.
Já perto da hora de Romeo me buscar, encarei o presente que eu havia comprado para ele e senti
um frio na barriga. Ali estava a resposta para a proposta que ele havia me feito dias atrás. Estava
ansiosa, excitada e com um pouco de medo, tinha que confessar, mas, ao mesmo tempo, estava
decidida. Nada me faria mudar de ideia.

Romeo
Passei duas vezes as mãos pelos cabelos enquanto esperava Alice aparecer em meu campo de
visão. Com a cabeça do lado de fora do carro estava Bob, usando sua roupinha de Cão Noel e um
gorro na cabeça. Ele adorava ser o centro das atenções e parecia estar tão ansioso quanto eu para ver
a Alice e encher o rosto dela de lambidas. No meu caso, as lambidas que eu queria dar eram mais
embaixo.
— Comporte-se, ok? — falei para ele, ajeitando o gorro em sua cabeça. — Sei que está doido pra
ver a Alice, mas nada de ser um menino mal-educado. Papai te deu educação, use-a!
Bob olhou para mim, então, ficou em pé no banco e abanou o rabo feito louco, começando a latir.
O condomínio era chique e silencioso demais, então, logo os seus latidos criaram eco e eu arregalei
os olhos, tentando fazê-lo parar.
— Bob, por favor!
— Meu Deus, Bob! Não acredito que você veio!
A voz de Alice fez algo esquisito acontecer dentro do meu peito. Eu não saberia explicar, pois foi
um misto de pressão com taquicardia que me deixou ligeiramente tonto e sem ar. Aturdido, virei-me
para ela e foi então que pensei que eu iria realmente desfalecer. A mulher estava tão linda, que eu
quase coloquei a língua para fora e babei. Sem que eu esperasse, ela entregou uma travessa para mim
e correu em direção ao Bob, que quase saiu pela janela para poder enchê-la de beijos.
— Como você está lindo de Papai Noel, Bob! Ah, e está tão cheiroso! Eu sei, eu também senti
saudades de você, garotão. Não está derrubando nenhuma mulher indefesa pelo calçadão, não é? Não
quero que use essa tática com mais ninguém!
Bob pareceu respondê-la ao murmurar algo em sua língua de cachorro e esfregar o focinho em seu
pescoço. Ele estava tão eufórico, que não sabia se a lambia, latia ou saltitava pelo banco do carro.
— Parece que o Bob é realmente mais importante do que eu — murmurei em um tom contrariado,
mas estava brincando. A verdade era que eu meio que gostava de ver a interação dos dois.
Alice se virou para mim com um sorriso enorme e caminhou em minha direção em cima daqueles
saltos fatais. Dio mio, eu sentia que poderia morrer naquele momento, só de olhar para aquela
mulher.
— Não fique magoado, mas é o que o Bob tem um charme a mais, sabe? — disse ela, passando os
braços pelo meu pescoço e me dando um beijo no canto dos lábios.
— É mesmo? Talvez eu tenha que ficar mais peludo para chegar aos pés dele?
— Não. Acho que você precisa lamber tão bem quanto ele. Aí, sim, a gente pode começar a
conversar — ela sorriu e eu precisei me controlar para não jogar a travessa no chão e partir com
tudo para cima dela.
— Vou te colocar sentadinha na minha cara para você poder provar a intensidade da minha
lambida, bella — sussurrei em seu ouvido antes de morder o lóbulo da sua orelha e me afastar. —
Você está maravilhosa. Não, sinto que “maravilhosa” ainda não é um adjetivo justo para descrevê-la.
— Seu bobo! Você também está lindo, Sr. Benvenuto.
— Vou ficar ainda melhor quando estiver peladão na sua frente — pisquei, segurando a travessa
com uma mão e abrindo a porta do carro com a outra, enquanto ouvia a sua risada.
— Alguém já disse que você não tem um pingo de vergonha na cara?
— Minha tia Beatrice adora falar isso de vez em quando e eu nem posso discordar — sorri,
passando a travessa para que ela segurasse. Assim que entrei no carro do lado do motorista,
perguntei: — O que você cozinhou?
— Ah, não é nada demais. É um pavê de pêssego com coco, receita da mãe da Paula.
— Tenho certeza que estará maravilhoso, mas você não precisava se incomodar.
— Não, imagina, seria terrível chegar na casa da mamma Benvenuto com as mãos vazias.
— Mamma Benvenuto? — Ri. Alice abriu a fechou a boca, como se tivesse falado sem pensar.
— Desculpa, foi o apelido que a Paula criou para sua mãe.
— Eu amei! E tenho certeza que ela vai amar também — falei, tocando em sua perna rapidamente.
— Minha mãe vai adorar você, tenho certeza.
— Espero que sim. E espero que ela goste do pavê também, porque sou péssima na cozinha e essa
é uma das pouquíssimas receitas que sei fazer.
— Tenho certeza que mamma vai amar te ensinar uma coisinha ou outra. Ela é uma deusa na
cozinha.
— Jura? Espero que eu consiga aprender.
— Se eu consegui aprender, então, pode ter certeza que você vai aprender também — falei, lhe
dando um sorriso.
Continuamos a conversar até chegarmos ao condomínio onde a minha mãe morava. Do lado de fora
da sua casa, uma fileira de carros já havia se formado, o que deixava claro que a famiglia já estava
quase toda reunida. Bob, que já sabia o caminho de cor, saiu na frente e eu ajudei Alice a sair do
carro, segurando a travessa para que ela pudesse ajeitar o vestido vermelho que havia subido um
pouco pelas suas coxas. Nem preciso dizer que praticamente sequei o seu corpo com o meu olhar.
Entramos juntos e eu me senti como um famoso que tinha sido flagrado pelos paparazzis. Todo
mundo parou o que estava fazendo para me ver entrando ao lado de Alice e eu estremeci de leve,
sabendo exatamente o que todos estavam pensando. Apesar de eu ter deixado claro que Alice era
apenas uma amiga, minha famiglia adorava tirar as suas próprias conclusões.
— Tesori, você chegou! — Mamma gritou ao longe, saindo de perto da mesa da ceia e vindo em
nossa direção. O sorriso dela era tão grande, que fiquei com medo de que seus lábios começassem a
rachar. Seus olhos brilharam profundamente ao ver a Alice. — Dio mio, você é ainda mais linda do
que nas fotos que a Giulia me mostrou! Filgio, che bella principessa![14]
Minha mãe pegou o rosto da Alice nas mãos e o acariciou, como se ela fosse sua própria filha.
Pude ver como Alice ficou vermelha e sutilmente emocionada, abraçando minha mãe rapidamente.
— É um prazer conhecê-la, Senhora Benvenuto. E a senhora também é muito linda.
— Não, nada de senhora, figlia. Chame-me apenas de Francesca, ou de mamma, se preferir —
mamma disse, virando-se para mim. — Tesori, estou tão feliz por você finalmente ter trazido uma
namorada!
— Mamma, eu já disse que Alice e eu não somos namorados.
— Bobagem — disse ela, balançando a cabeça e pegando a mão da Alice. — Romeo fala muitas
bobagens às vezes, figlia. Não ligue para ele.
— Pode deixar — Alice e riu e pegou a travessa das minhas mãos. — Eu trouxe essa sobremesa, é
um pavê de pêssego e coco, espero muito que todos gostem.
— Ora, não precisava se incomodar com isso, querida! Ouça, Romeo me disse que a sua
sobremesa favorita é torta de morango e ela está bem ali em cima da mesa. Quero que você seja a
primeira comer.
— Foi muito atencioso da sua parte perguntar qual era a minha sobremesa preferida, Francesca.
Não precisava se incomodar comigo.
— Imagina, você é a namorada do meu tesori, tem que ser muito bem tratada. Romeo é um cabeça
dura, se ele fizer besteira, o tratamento da famiglia tem que pesar para que você continue ao lado
dele.
— Mamma! — Exclamei. Era incrível a capacidade que mamma tinha de falar tudo aquilo como
se eu nem estivesse ali. Vi Alice rindo baixinho enquanto mamma me olhava com os olhos
semicerrados.
— Você demorou muito para trazer alguém aqui, figlio. Não posso simplesmente desperdiçar um
milagre como esse — disse ela, pegando travessa das mãos de Alice. — Principessa, fique à
vontade, agora essa é a sua famiglia também.
— Obrigada, Francesca.
Mamma se afastou e eu finalmente consegui respirar mais aliviado. Como se sentisse a minha
tensão, Alice acariciou o meu peitoral e sorriu com carinho.
— Sua mãe é maravilhosa, eu adorei conhecê-la.
— Ela é, sim, mas sabe me deixar constrangido como ninguém.
— Não precisa ficar assim, ela apenas se preocupa com você. É nítido o quanto ela te ama.
— Eu também a amo muito, por isso que ela é a única que pode falar o que quiser sobre mim. —
Acabei rindo e peguei a sua mão na minha. — Vamos lá, preciso te apresentar à famiglia Benvenuto.
Eu tinha certeza de que Alice não se lembraria da metade dos nomes que falei para ela, mesmo
assim, a apresentei a todo mundo que havia chegado. Minhas tias a adoraram e até mesmo a Tia
Beatrice foi simpática e não soltou nenhum “elogio” a mim. Meus primos foram educados e puxaram
assunto por alguns minutos, até Alexandre e Paula chegarem.
Mamma fez com Paula o mesmo que fez com a Alice, a encheu de carinho, abraçou, beijou,
elogiou e, por pouco, não deixou que Alexandre levasse a namorada para circular pela famiglia. Ao
fundo, uma banda tocava um pagode ao vivo e alguns casais se formavam na pista de dança
improvisada em frente ao pequeno palco onde a banda estava.
— Querem beber alguma coisa? — perguntei assim que Paula e Alexandre se aproximaram de nós
dois.
— Sim — elas responderam praticamente juntas.
— Vou com você, fratello — meu irmão disse, dando um beijo rápido na boca da Paula. — Já
volto, amor.
Acho que foi a primeira vez na vida que senti inveja de um casal, simplesmente porque eu queria
fazer o mesmo com Alice, mas não me sentia à vontade, já que havia a apresentado como uma amiga
para a famiglia. Nunca liguei para o que as pessoas poderiam pensar de mim, mas aquele era um
caso diferente. Mamma já achava que Alice era a minha namorada, se me visse beijá-la na boca, iria
logo querer marcar a data do nosso casamento. Chateado, apertei a mão da Alice rapidamente e fui
com meu irmão até o pequeno bar que um dos meus primos havia montado.
— Cara, mamma está louca pela Paula! Quase quebrou as costelas dela de tanto que a abraçou —
Alexandre riu ao meu lado. — O que ela achou da Alice?
— Ela amou a Alice — falei, fazendo duas caipirinhas, enquanto meu irmão pegava duas cervejas.
— Deixou claro que acredita que ela é minha namorada.
— Mamma não vai tirar isso da cabeça, você sabe.
— Sim, eu sei — suspirei. — Acho que já desisti de fazê-la pensar o contrário.
— É o melhor que você faz.
Com as caipirinhas prontas, voltamos para perto das meninas e encontramos Dante, Marina, sua
esposa, Giulia e os Pestinhas conversando com elas. Giulia era a mais entusiasmada, quase saltitando
na frente da Alice, que a olhava com um carinho imenso.
— Ai, Alice, nem acredito que você está mesmo aqui! — Consegui ouvir Giulia falar assim que
me aproximei.
— Estou muito feliz por estar aqui também, Giulia. Não podia recusar o convite do seu tio.
— Não podia mesmo — falei parando ao seu lado, dando para ela a caipirinha. — Pode segurar a
cerveja para mim?
— Claro.
Assim que ela pegou a cerveja da minha mão, passei os braços pela cintura da Giulia e a abracei
com carinho, dando um beijo em seu rosto antes de falar com os meus Pestinhas favoritos. Pegando-
os no colo, virei-me para Alice.
— Bella, esses são os meus Pestinhas, Pietro e Luca — falei, vendo os gêmeos rirem com um
dente faltando.
— Como vocês são lindos! — Alice disse, aproximando-se.
— Você também é linda, tia — Luca disse.
— Nonna disse que o tio Romeo tem uma namorada. É você? — Pietro perguntou.
— Não, eu sou uma amiga do tio Romeo.
— Então cadê a sua namorada, tio? — Pietro perguntou.
— Eu não tenho namorada, meninão. Nonna quer muito que o tio Romeo namore, por isso que ela
disse que Alice era minha namorada.
— Você é só amigo dela, tio? — Luca perguntou.
— Isso mesmo.
— Então, tia Alice, quando eu crescer, você pode namorar comigo? Eu queria que namorasse
agora, mas minha mãe, meu pai e o tio Romeo falaram que eu só vou poder namorar quando tiver
mais maior.
Ficamos alguns segundos em silêncio depois do que Luca disse, até Dante rir ao meu lado e o
puxar do meu colo.
— Filho, você não pode pedir as meninas em namoro assim.
— Deus do céu, Luca — Mariana o repreendeu, mas acabou rindo também, enquanto pegava
Pietro. — Desculpa, Alice. Esse menino é muito avançado para a própria idade. E, querido, não se
fala “mais maior”, é apenas “maior”, tudo bem?
— Tá bom, mamãe — Luca disse, mas virou-se para Alice com um olhar esperançoso. — Mas
você vai namorar comigo, tia Alice? Quando eu estiver maior?
— Eu posso te dar a minha resposta quando você estiver grandão? — Alice perguntou com um
sorriso doce, que quase derreteu o meu coração.
— Pode — Luca disse com um sorrisão. — Eu sei que será “sim” mesmo!
— Luca! — Giulia brigou com ele em meio a uma risada antes de pedir licença ao se afastar com
os pais e as crianças para poder falar com o resto da famiglia.
Alexandre e Paula foram falar com alguns dos meus primos e eu aproveitei aquele momento a sós
para puxar Alice para os meus braços. Ela me devolveu a minha cerveja e falou:
— Parece que você tem concorrência, Senhor Benvenuto.
— Uma concorrência desleal. Nem eu seria capaz de dizer não para aquele Pestinha.
— Parece que ele teve a quem puxar. Todos os homens da famiglia Benvenuto são sedutores
assim?
Porra, eu amava quando ela falava com sotaque italiano. Quase podia sentir o meu sangue ferver
nas veias.
— Não sei se todos, mas pode ter certeza que vou passar a arte da sedução e da conquista para os
meus sobrinhos — sorri, olhando rapidamente para os seus lábios. — Estou louco para te beijar.
— Não pode ser aqui, ou vou acabar magoando o coração do meu futuro pretendente — ela
brincou. — E a mamma Benvenuto vai acreditar que somos mesmo namorados.
— Ela já acredita — sussurrei, descendo minhas mãos pelas suas costas. — Quer dar uma
escapadinha para que eu possa enfiar a minha língua na sua boca?
Antes que Alice pudesse responder, senti uma mão apertando firmemente o meu ombro. Ao me
virar, encontrei Enzo atrás de mim com um sorriso alegre no rosto.
— Então essa é a sua amiga, cugino? — Enzo perguntou e, sem me dar chance de responder, deu
um passo à frente e tomou a mão de Alice na sua, dando um beijo no dorso. — É um prazer conhecê-
la. Sou Enzo, o primo mais bonito — piscou.
Ele piscou para ela. Bem na minha cara! Alice deu um sorriso simpático.
— É um prazer conhecê-lo também, Enzo. Meu nome é Alice.
— Quando Romeo disse que traria uma amiga para passar o Natal conosco, fiquei entusiasmado
para conhecê-la, só não podia imaginar que era tão bonita.
Enzo era mesmo um filho da mãe! Estava dando em cima da Alice bem na minha cara, se
aproveitando do fato de eu tê-la apresentado para todo mundo como uma amiga — mesmo
entendendo muito bem qual era o tipo de relação que eu tinha com ela. Puto, mas sabendo que não
podia partir para cima dele, tomei a cintura da Alice em minha mão e a puxei para mais perto de
mim.
— Alice é mais do que bonita, ela é extremamente inteligente, por isso que é minha amiga e não
sua — falei com um sorriso, mas com o tom de voz firme. — Bella, você não tinha esquecido algo no
meu carro? Vamos lá pegar antes que dê a hora da ceia.
— Vamos sim — Alice assentiu e acenou para Enzo antes de nos afastarmos.
— Cazzo! Enzo pode ser um babaca às vezes — reclamei quando saímos da casa de mamma.
— Ele só estava sendo gentil.
Parei com Alice perto do meu carro e olhei bem em seus olhos. Por sorte, a rua estava vazia e o
meu carro estava estacionado debaixo de uma árvore frondosa, o que nos dava um pouco de
privacidade. Sentindo meu olhar intenso, Alice mordeu o lábio.
— Você sabe que ele estava sendo mais do que gentil — falei, apoiando minhas mãos no carro e a
encurralando entre os meus braços.
— Estava?
— Sim.
— Eu nem percebi — disse ela, tocando no colarinho da minha camisa. — Estava muito ocupada
pensando no único Benvenuto que preenche cada espaço dentro da minha mente.
— É mesmo? E como é esse Benvenuto?
— Ah, ele é um safado! — Ela sussurrou de forma sexy e meio dramática.
— Não, tenho certeza de que ele não é nada disso.
— É sim. É um solteirão safado e sem vergonha — falou, aproximando os lábios do meu rosto.
Precisei conter um gemido ao sentir o caminho que eles estavam fazendo até a minha boca. — E que
me deixa louca.
Não permiti que ela falasse mais nada, pois a vontade de beijá-la me consumiu no instante que
senti o toque dos seus lábios nos meus. Pressionando meu corpo contra o dela, a beijei com todo o
meu desejo, com toda a vontade que vinha me consumindo. Era como se nada mais existisse naquele
momento, pois beijar Alice, sentir Alice, me deixava cego e surdo para tudo ao meu redor. Só existia
ela, a sua boca, o seu corpo colado ao meu e a sensação de que eu poderia perder todo o meu
controle a qualquer momento.
Sentia seus dedos puxarem meu cabelo próximo a nuca e precisei sentir mais dela, descendo
minhas mãos pelo seu corpo, apalpando sua bunda, esfregando meu pau semiereto bem na junção das
suas coxas. Alice gemeu tão gostoso entre os meus lábios que eu precisei me afastar um pouco, se
não, abriria a porta do meu carro e iria a comer ali mesmo, sem pensar nas consequências e no fato
de ela ainda não ter me dado a resposta para a proposta que eu havia lhe feito.
— Meu Deus — ela sussurrou baixinho, como se pedisse socorro, enquanto eu beijava o seu
pescoço com delicadeza.
Queria continuar ali. O fato de ser Natal e de ter a famiglia tão pertinho, era essencial para mim,
mas nada no mundo parecia melhor do que estar ali naquele momento, com Alice em meus braços,
sentindo seu corpo moldado ao meu e tendo acesso livre aquela boca pela qual eu estava viciado.
Subi com beijos pelo seu queixo e suguei seu lábio inferior para dentro dos meus, ouvindo seu
suspiro e sentindo o tremor do seu corpo.
— Se você não me fizer parar agora, eu vou te colocar dentro do meu carro e te levar para minha
casa — falei entre os seus lábios. Alice riu baixinho.
— Seria uma desfeita com a sua mãe se saíssemos assim — ela disse, pegando meu rosto entre as
mãos e limpando meus lábios com o polegar. — Está todo manchado de batom.
— Estamos — falei, limpando seus lábios também. — Acha que alguém vai perceber que você me
atacou?
— Que eu te ataquei? Acho que você inverteu um pouco a ordem das coisas.
— Tudo começou porque você arrastou essa boquinha pelo meu rosto.
— Mas foi você que me trouxe para cá com a desculpa esfarrapada de que eu tinha esquecido algo
no seu carro.
— E você esqueceu mesmo.
— Esqueci? O quê?
— Esqueceu de me dar um beijo. Por isso tivemos que voltar aqui — pisquei para ela, puxando-a
pela mão para voltarmos para casa de mamma. — Agora está tudo resolvido, bella.
Alice riu ao meu lado e eu senti meu coração perder o compasso por um milésimo de segundo.
Para a minha sorte, eu sabia me recuperar como ninguém.

A ceia foi, como sempre, uma loucura. Todo mundo falando alto, um atropelando e zoando o outro,
enquanto atacávamos a comida depois de termos desejado feliz Natal a todos. Alice ria enquanto
ouvia histórias e era mimada pela minha mãe, que não sabia mais o que fazer para agradar a ela e a
Paula. Parecia que mamma estava andando sobre as nuvens.
— O primeiro pedaço é para você, Alice! — Mamma disse enquanto cortava a torta de morango.
— Estou ansiosa para saber o que você vai achar.
Alice pegou o prato das mãos da minha mãe e comeu o primeiro pedaço. Como eu estava bem ao
seu lado, pude ouvir o seu gemidinho de satisfação que veio do fundo da garganta e fez uma conexão
direta com o meu pau. Precisei reforçar em minha mente que aquele gemido não era para mim.
— Meu Deus, que delícia! A melhor torta que já provei na vida.
— Dio, que felicidade saber disso! Eu fiz com tanto carinho! — Mamma disse sorrindo de orelha
a orelha, passando, então, para a mousse de chocolate, sobremesa favorita da Paula. — Sua vez,
Paula. Espero muito você goste, figlia.
Paula provou a sobremesa e também encheu a minha mãe de elogios. Dona Francesca sorria tanto
que seu rosto chegava a brilhar. Depois que as convidadas especiais provaram as sobremesas,
mamma passou a servir todo mundo. Claro que poderíamos nos levantar para ir pegar, mas minha
mãe sentia satisfação em alimentar cada integrante da famiglia — e os meninos da banda também,
que ela obrigou que parassem de tocar para poder cear conosco.
Eu já estava mais do que satisfeito, mas peguei a sobremesa de Alice. Pude sentir seu olhar em
cima de mim, cheio de expectativa, ao me ver provar o que ela havia feito.
— Então, o que achou? Ficou muito doce? O creme pegou consistência? — perguntou ela, cheia de
insegurança.
— Está perfeito, bella. Uma delícia, assim como a dona — sussurrei em seu ouvido, vendo suas
bochechas ficarem coradas com o elogio.
Depois que comemos, a banda voltou a tocar e os integrantes da famiglia começaram a deixar a
mesa de refeição e foram se jogar na pista. Eu me encarreguei de pegar mais bebidas e deixei Alice
conversando com Paula, mas, assim que voltei, a puxei para pista comigo. Os meninos já haviam
tocado de tudo um pouco, mas o pagode era realmente o forte deles e eu me deliciei ao ver Alice
sambando bem na minha frente, toda linda. Cara, eu podia literalmente babar em cima dela.
Para me conter, a puxei para mim e dancei coladinho com ela, esfregando meu corpo, aproveitando
os movimentos para deixar um beijo discreto em seu pescoço. Ao fundo, podia ver as crianças
empolgadas com os presentes que o “Papai Noel” havia deixado embaixo da árvore de mamma,
minhas tias tirando fotos e meus primos conversando. Não liguei para nenhum deles, focado
completamente em Alice e na música que estava tocando. Acabei sorrindo ao identificar qual era e
esperei que o refrão chegasse para cantar baixinho no ouvido da minha bella.
— Cola teu rosto no meu, chega mais perto de mim, faça de conta que eu sou seu namorado —
cantei baixinho no ouvido dela, encostando meu peito em suas costas e deixando que ela sentisse o
início da minha ereção. — Amar você é bom demais, é tudo o que eu posso querer, se tudo você tem
melhor, pior é te perder, amor...[15]
A virei para mim e repeti o refrão bem baixinho, olhando em seus olhos, sentindo seus seios
colados em meu peito, sua pele levemente suada de encontro com a minha.
— Faça de conta que eu sou seu namorado — repeti no ritmo da música e encostei minha testa
dela. — Aceite a minha proposta, bella. Fique comigo.
— Sim — ela respondeu meio ofegante e, por um momento, pensei que eu estivesse delirando.
Confuso, afastei um pouco a minha cabeça.
— Você disse sim?
— Sim — ela sorriu. — Eu disse sim, Sr. Benvenuto.
— Dio mio! — Exclamei um pouco mais alto do que eu pretendia. Por sorte, a música alta não
deixou que mais ninguém me ouvisse. — Vamos.
— O quê? Para onde?
— Para o meu apartamento — falei, pegando em sua mão para podermos fugir dali. — Não posso
esperar nem mais um segundo para ter você.
— Mas, Romeo, a sua família...
— Eles nem vão perceber.
Ela veio atrás de mim e pude ouvir a sua risadinha em minhas costas, antes de me segurar pela
mão para me fazer parar de andar.
— Calma, vamos pelo menos nos despedir da sua mãe.
— Bella, acredite, mamma vai entender o porquê de termos ido embora no meio da festa.
Eu já tinha visto as bochechas de Alice ficarem coradas, mas não com aquela intensidade.
Envergonhada, ela escondeu o rosto em uma mão.
— Meu Deus, Romeo! Ok, vamos logo, antes que eu desista.
— Não, você me deu a sua palavra, não tem como voltar atrás — falei, dando um beijo no canto
dos seus lábios antes de voltarmos a andar.
Saímos à francesa da casa de mamma, sem que ninguém notasse e quase corri para chegarmos ao
carro. Assim que Alice se acomodou, dei a volta para ocupar o banco do motorista e enviei uma
mensagem apressada para Alexandre.
“Tome conta do Bob para mim, por favor. Alice e eu vamos curtir o Natal A SÓS. Grazie a
Dio!”
Capítulo 17
Coloquei o carro em movimento assim que ocupei o banco do motorista. Estava tão ansioso, que
me sentia como um adolescente prestes a ter a sua primeira vez com a garota mais gata da escola. No
meu caso, a única diferença era que aquela não era a minha primeira vez, pois Alice era sim a mulher
mais gata, gostosa e maravilhosa que eu já tinha colocado os meus olhos.
Obrigando-me a ficar mais calmo, olhei rapidamente para ela e encontrei o seu olhar intenso sobre
mim. Dei-lhe o meu melhor sorriso de cafajeste — só para fazer jus ao título que eu, sem querer,
carregava — e estiquei a mão para ligar o rádio, pois sentia que o meu tesão acumulado quase podia
arrancar o oxigênio de dentro do carro. Antes que eu pudesse ligar o som, no entanto, Alice segurou a
minha mão.
— Sabe no que estou pensando? — perguntou ela.
— Na minha piroca bem enterrada na sua boceta?
A risadinha de Alice me fez estremecer. Dio, parecia que até o respirar dela me afetava.
— Bem, devo confessar que esse pensamento ronda a minha mente há bastante tempo, mas não, não
é nisso que estou pensando — disse ela, inclinando-se um pouco sobre o banco e ficando de frente
para mim. Engoli em seco quando senti suas mãos pousarem em minhas coxas. — Estou pensando no
que você fez comigo em seu escritório.
— Bella, hoje eu vou fazer tudo aquilo e muito mais com você. Só precisamos chegar em casa —
falei um pouco impaciente, enquanto parava em um sinal vermelho. O momento veio bem a calhar,
pois pude olhar para Alice sem interrupção e vi o momento exato em que ela olhou para minha
ereção bem marcada sob a calça jeans.
— Eu quero retribuir — disse baixinho, levantando os olhos para me fitar.
— Você vai retribuir, pode ter certeza.
— Quero retribuir agora.
Puta merda. Sabe quando um arrepio delicioso desce por toda a sua coluna e te faz estremecer?
Aconteceu comigo naquele exato momento. Precisei segurar o volante com força e gemi baixinho
quando Alice escorregou os dedos e os pousou em meu pau.
— Posso?
Era loucura, eu sabia. Estávamos no meio de uma estrada, carros vinham e iam a todo instante,
poderíamos passar por uma viatura da polícia e sermos presos por atentado ao pudor, mas quem
disse que eu ligava? Eu só queria saber daquela mulher, faria qualquer coisa que ela me pedisse —
e não só naquele momento.
— Você pode fazer o que quiser — respondi com a voz rouca de tesão.
Alice me deu um sorrisinho sacana e desabotoou a minha calça, descendo o zíper com um pouco
de dificuldade. Eu estava tão duro, que sentia que poderia quebrar um bloco de concreto e levantei
um pouco o quadril para ajudá-la. Um carro atrás do meu começou a buzinar e eu acelerei com
cuidado, tendo que olhar para frente, quando tudo o que eu queria era olhar para baixo e ver os dedos
de Alice envolta do meu pau. Um gemido rouco escapou do fundo da minha garganta quando ela
colocou a minha ereção para fora e começou a me tocar.
— Dio — olhei rapidamente para baixo e depois para ela. Alice olhava para o meu pau de uma
forma tão ávida, que minhas bolas sofreram um espasmo.
— Você gosta assim? — ela perguntou, subindo e descendo a mão com delicadeza, me deixando
doido. Quando seus lábios tocaram o meu pescoço, eu lutei com força para não fechar os olhos e
aproveitar. — Ou assim?
Ela acelerou de uma forma tão deliciosa que eu comecei a tremer. Segurei o volante com uma
força excruciante e pisei um pouco mais fundo no acelerador. Precisava chegar em casa. Cazzo,
precisava chegar em casa agora!
— Dio mio, bella — gemi alto, tendo que pousar uma mão sobre a dela. — Assim eu vou gozar.
— Mas é isso que eu quero — disse ela bem em meu ouvido, mordendo o lóbulo devagarinho. —
Não vou deixar você sair deste carro sem te dar um orgasmo.
Foi como um déjà vu. Fui levado àquele dia em meu escritório, com ela embaixo de mim, minha
mão bem na sua bocetinha e eu falando que não a deixaria sair da minha sala sem lhe dar um orgasmo
antes. A diabinha estava me dando o troco! Porra, e que troco delicioso!
Aproveitei outro sinal vermelho e tirei a mão de cima da dela para poder pegar em seu rosto e
beijar a sua boca. Alice gemeu entre os meus lábios, acelerando o ritmo da sua mão em meu pau e me
fazendo revirar os olhos enquanto sentia a sua língua. Então, ela fez algo que, por mais que eu viesse
fantasiando desde o dia em que a vi no calçadão, jamais pensei que faria naquele momento.
Ela deixou os meus lábios, se acomodou melhor no banco e desceu com a boca no meu pau.
Aquela visão... Dio, aquela visão me acompanharia até a hora da minha morte, eu tinha certeza. Seus
lábios grossos moldaram a cabeça da minha piroca e eu soltei um gemido alto, sem me importar com
o fato de estarmos dentro do carro, parados em um sinal vermelho, com o risco de que alguém com
olho biônico conseguisse enxergar através do vidro fumê.
— Cazzo, Alice! — gemi rouco, tocando em sua nuca e sentindo sua língua me lamber que nem um
picolé. Aquele era o melhor presente de Natal que eu já havia recebido na vida.
Alice sabia exatamente o que estava fazendo, era perfeita naquilo. Com uma mão ela segurava a
base, com a outra ela acariciava minhas bolas de leve e com a boca... Porra, com a boca ela me
enlouquecia. Precisei respirar fundo antes de colocar o carro em movimento, troquei a marcha com
dificuldade enquanto ela descia a boca pelo meu pau e sugava até suas bochechas ficarem ocas. Eu já
podia sentir o orgasmo chegando, mas lutei para me segurar até chegar em casa. Faltava pouco,
apenas duas ruas e estaríamos lá. Quando a língua dela contornou a pele fina bem embaixo da glande,
eu quase desfaleci.
— Porra, que boquinha gostosa, bella. Caralho! — gemi, virando o volante de qualquer jeito para
a esquerda e parando em frente ao meu condomínio.
Normalmente, eu falava com Jorge, o porteiro que já reconhecia meu carro de longe e abria os
portões para mim, mas daquela vez eu não consegui — e nem podia. Se eu abrisse a janela, ele veria
o boquete espetacular que eu estava ganhando e Alice era só minha, jamais compartilharia aquela
visão e nem qualquer pedaço da minha mulher.
Acelerei e entrei no condomínio, já apertando no controle em meu carro o botão que abria o meu
portão de garagem. Precisei respirar fundo para conter meus espasmos e nunca estacionei tão rápido
em toda a minha vida. Assim que desliguei o carro, peguei nos cabelos de Alice e a puxei com
delicadeza para cima, só para poder assaltar a sua boca com a minha língua.
Porra, eu podia sentir meu gosto bem ali, em seus lábios, em sua saliva, em sua língua, em tudo e
aquilo me deixou doido. Meu pau pulsou tanto que fiquei com medo de gozar só com aquele beijo e
Alice estremeceu no banco do carro, parecendo estar tão excitada quanto eu. Escapando dos meus
lábios, ela me deu um sorrisinho e voltou a me chupar com uma destreza que me abalou, indo até o
fundo dessa vez. Pude sentir minha glande tocar a sua garganta e lutei muito para não segurar a sua
nuca e meter até enfiar tudo.
— Isso, Alice, porra... Chupa tudinho, bella — mandei em um tom rouco, descendo minha mão
pela lateral do seu corpo até chegar em sua bunda, onde levantei o vestido. Ela sabia muito bem o
que eu queria fazer e me ajudou, se empinando, deixando aquele rabo delicioso para cima e me
dando o acesso que eu queria. Em um movimento só, eu afastei a sua calcinha e enfiei o dedo bem
fundo na sua boceta. — Caralho, você está ensopada, puta que pariu.
Ela rebolou. A filha da mão rebolou no meu dedo e eu senti que não podia suportar mais. Tinha
que dar a ela o que ela queria e, então, eu a tomaria toda para mim. Segurando seu cabelo com a mão
livre, virei um pouco o seu rosto para mim e olhei em seus olhos. Cara, que visão era aquela! Suas
bochechas vermelhas, os olhos cheios de tesão e a boca cheia pelo meu pau. Nem no meu sonho mais
realista eu poderia imaginar uma cena tão sensual quanto aquela.
— Vou gozar bem gostoso, bella — falei com a voz rouca, levantando os quadris para meter
devagarinho na sua boca, sem chegar à garganta. Ela gemeu e sua bocetinha prendeu e soltou o meu
dedo lá dentro, pulsando rapidamente. — Vou encher essa boquinha linda com a minha porra. Vai
engolir tudo?
Ela assentiu e, caralho, o líquido do pré-gozo desceu com força, me fazendo cerrar os dentes. Che
donna, Dio mio![16] Esforçando-se para olhar em meus olhos, Alice deixou só minha cabeça dentro
da boca e passou a língua em volta uma, duas, três vezes, antes de chupar com uma maestria que me
pegou de jeito. Não consegui segurar e gemi alto quando os jatos de sêmen começaram a escapar
pela abertura do meu pau. Foi o orgasmo mais intenso que um boquete já me proporcionou. Fiquei
cego por alguns segundos, com as pernas trêmulas, as mãos suadas, as bolas sofrendo espasmos
violentos, enquanto Alice engolia e tudo o que eu tinha para dar.
Não sei quanto tempo se passou depois que a última gota escapou do meu pau. Meu coração batia
tão forte que eu me sentia como um corredor de uma maratona e meu corpo estava sensível.
Obrigando-me a abrir os olhos, encontrei Alice tirando meu pau da boca e ajeitando o vestido de
volta no lugar. Nem me lembrava do momento em que meu dedo deixou a sua boceta; na verdade, não
me lembrava nem do meu nome naquele momento.
— Foi bom? — ela perguntou com um sorrisinho de quem sabia muito bem qual seria a resposta.
Com as mãos levemente trêmulas, ergui meu polegar e limpei o canto da sua boca sujo com a
minha porra. Meu pau estava semiereto, mas eu sabia que ele voltaria a ativa rapidamente,
principalmente porque Alice era o nosso sonho de consumo e o dia de tê-la todinha só pra gente
havia chegado. Quando Alice colocou a língua para fora e lambeu a gota de sêmen que eu havia
limpado do canto dos seus lábios, senti meu sangue voltar a ferver com força total.
— Foi o melhor boquete que já recebi na minha vida — falei, pegando seus lábios entre os meus.
— Não sei como vivi até agora sem sentir essa boquinha no meu pau.
Alice riu e me beijou com intensidade antes de eu me afastar e guardar meu pau a meio mastro
dentro da calça. Saí do carro, dei a volta e abri a porta para ela, vendo naquele momento a bagunça
que eu havia feito em seu cabelo. Ela nunca esteve tão sexy para mim. Tomei a sua mão na minha e
entramos juntos na minha casa. Pude ver o seu olhar curioso, mas não quis perder tempo lhe
mostrando qualquer cômodo quando, naquele momento, apenas um era realmente interessante: o meu
quarto.
Subimos as escadas e eu ataquei a boca dela assim que passamos pela porta do meu quarto. Alice
me agarrou, passou a mão pelo meu pescoço, pelo meu cabelo, pelos meus ombros, até chegar aos
botões da minha camisa, desabotoando-os com rapidez. Eu estava adorando aquele seu jeitinho, a
Alice tímida e que ficava corada com facilidade parecia ter ficado do lado de fora e dado lugar a
uma Alice ansiosa, excitada e sexy pra cacete.
Minha blusa caiu no chão e eu tirei os sapatos aos chutes, desgrudando a boca da dela rapidamente
para poder arrancar as meias. Alice me olhava com fome e quando voltei para perto dela, doido para
tirá-la de dentro daquele vestido e jogá-la na cama, ela se afastou.
— O que foi?
— Lembra que eu disse que eu tinha comprado um presente para você?
— Sim, lembro. — Franzi um pouco o cenho. Ela queria parar para me dar aquele presente agora?
— Mas ele pode esperar, eu não estou com pressa para receber o presente. Estou com pressa para
outra coisa...
Sorri e voltei a me aproximar, mas Alice deu mais um passou para trás.
— Eu queria te dar esse presente junto com a resposta para a sua proposta, mas você acabou me
persuadindo a te dar a minha resposta antes.
— Te persuadi, é?
— Sim. Seria difícil não te responder com você cantando baixinho no meu ouvido — ela mordeu
um pouco o lábio e eu senti uma fisgada no meu pau, que já estava de pé de novo, pronto pra outra.
— Mas isso não me impede de te dar o meu presente agora. Sente-se, por favor.
Decidi não a contestar e me sentei na beirada da cama, sentindo o fecho do jeans incomodar um
pouco o meu pau. Pensei em tirar a calça rapidinho, mas parei quando vi Alice descer o zíper lateral
do vestido vermelho que cobria aquele corpinho delicioso. Fiquei com a boca seca quando o tecido
começou a deslizar pelo seu corpo e a lingerie vermelha, de renda, foi revelada aos poucos para
mim. O sutiã meia taça, sem bojo, mais mostrava do que escondia os mamilos durinhos e o pedaço de
pano quase transparente que Alice certamente chamava de calcinha, me deixou doido de tesão.
Precisei segurar com força a beirada do colchão para não agir feito um homem das cavernas e partir
com tudo para cima dela.
O vestido finalmente caiu no chão e Alice deu um passo para fora dele. Os saltos finos e
compridos, mais aquela lingerie, eram uma combinação fatal. Senti-me como um soldado abatido,
olhando para a sua única fonte de salvação. No meu caso, minha fonte de salvação, de tesão, de
paixão, era Alice.
— Eu pensei em te dizer sim em alto estilo, te dando um presentinho — ela disse, aproximando-se
lentamente. Aquele seu lado mulher fatal estava tirando o meu juízo. Quando ficou a centímetros de
me tocar, ela sussurrou: — Eu mesma.
Levantei-me da cama e, mesmo com ela de salto, fiquei alguns centímetros mais alto. Faltava
menos de um milímetro para que minha pele entrasse em contato com a dela e me segurei muito para
tocá-la.
— Eu pensei que aquele boquete fenomenal era o melhor presente de Natal que eu já havia
ganhado, mas me enganei. Você é o melhor presente que já ganhei, bella. Não só no Natal, mas na
vida. — Os olhos dela brilharam e um sorriso meio encabulado se abriu em seus lábios. Ali eu
entendi que amava todas as faces de Alice, a tímida, a envergonhada, a safada e a dona de si. — Dê
uma voltinha para mim, quero ver cada detalhe do meu presente.
Alice se afastou um pouco e tirou os cabelos dos ombros, virando lentamente para mim. Quase
infartei quando vi que a calcinha era fio dental. Ela simplesmente sumia entre as bandas daquela
bunda deliciosa, durinha, que fazia meu pau vibrar dentro da calça.
— Cazzo! — Corri até ela, encostando meu peito em suas costas e descendo rapidamente a calça e
a cueca box, apenas para enfiar meu pau entre as suas nádegas. Alice gemeu baixinho e rocei bem
gostoso ali, sentindo a renda e a quentura da sua pele. Colocando o seu cabelo de lado, suguei sua
nuca e subi com uma mão para o seu seio, tocando o mamilo por cima do sutiã. — Sabe o que está
fazendo comigo, bella? Tem noção de como está me deixando louco por você?
— Eu também estou ficando cada vez mais louca por você — ela disse, rebolando devagarinho,
acariciando meu pau com aquele rabo gostoso, que eu estava louco para foder. Pegando minha mão
que estava em seu peito, ela a desceu pela barriga até chegar à calcinha. Não contive o gemido rouco
que escapou da minha garganta quando meu dedo médio acariciou seu clitóris por cima da renda
encharcada. — Sinta.
E eu senti. Colocando a calcinha de lado, enfiei meu dedo entre os lábios melados da sua boceta e
toquei o clitóris em movimentos circulares, enquanto puxava sua boca para a minha. A beijei daquele
jeito, com meu pau bem no meio da sua bunda e meu dedo em sua bocetinha, roçando nela até ficar
cego pelo tesão. Alice tremia de leve em meus braços, gemendo em meus lábios, pressionando minha
mão no meio das suas pernas e rebolando com gosto, praticamente masturbando o meu pau com as
nádegas. Porra, era tão bom, que eu sentia que poderia gozar daquele jeito, mas jamais desperdiçaria
a nossa noite. Ainda tínhamos muita coisa a fazer pela frente.
Chutei minha calça e minha cueca, ficando completamente nu e me afastei, tirando meu pau daquele
casulo maravilhoso, enquanto deixava os lábios de Alice e beijava o seu pescoço. Não queria parar
de tocá-la, mas sabia que precisava se eu quisesse dar prosseguimento a tudo o que tinha em mente.
Devagar, enfiei meu dedo em sua abertura e sussurrei em seu ouvido:
— Quero sentir o seu gosto. Vem cá.
Tirei meu dedo de dentro dela e caí na cama, deitando-me em cima dos meus travesseiros, sem me
preocupar em tirar a colcha. Alice me olhou ainda de pé e eu sorri, chamando-a com o indicador.
— Vem, bella. Sente-se aqui. — Apontei para a minha boca e Alice abriu os lábios, como se
estivesse um pouco chocada. Eu sorri. — Eu disse que queria você bem sentadinha na minha cara.
Vem.
Com as faces coradas, Alice tirou os sapatos de salto e subiu na cama. A safada veio engatinhando
até mim, os seios enchendo aquele sutiã, a barriga lisinha se contraindo e os lábios inchados depois
de ter mamado gostoso no meu pau. Devagar, ela passou as coxas grossas pela minha cintura e foi
subindo até chegar perto do meu rosto. Ela parecia um tanto indecisa, talvez por causa da posição e
eu a incentivei puxando-a pela cintura até tê-la onde eu realmente queria, bem em cima da minha
boca.
— Não quero desperdiçar meu presente, por isso, coloque a calcinha de lado para mim — pedi e
ela fez, revelando a boceta. Dio mio, como era linda! Estava livre de pelos, os lábios eram gordinhos
e escondiam o clitóris, deixando um rastro brilhante da sua lubrificação. Alice estava tão molhada
que eu estava surpreso pelo fato de o líquido ainda não ter escorrido para a junção das suas coxas. A
calcinha, mesmo de renda, estava fazendo um ótimo trabalho em conter aquilo tudo. — Cazzo, que
bocetinha linda, bella. Estou com a boca cheia d’água. Sabe como ansiei por esse momento?
Passei meus lábios pela sua virilha e Alice riu baixinho, estremecendo com o meu toque.
— Tomara que a espera esteja valendo a pena.
— Tenha certeza, está — falei, rouco, cheio de sede dela.
Não consegui me segurar mais. Com uma mão em sua cintura, a abaixei para que ficasse bem na
altura da minha boca e com a outra, separei os lábios com os dedos e passei minha língua bem no
meio daquela boceta deliciosa, bem devagar. Alice tremeu com o golpe certeiro da minha língua em
seu clitóris e se segurou na cabeceira da minha cama, mantendo a calcinha afastada para que eu
pudesse saciar o meu desejo. E, porra, aquele era o elixir dos deuses! Seu gosto era picante, meio
salgado, delicioso e eu estava ficando viciado.
Apertei sua cintura com força e mandei a delicadeza dar um passeio, pois sentia que o meu
controle estava cedendo, enquanto pegava seu clitóris durinho entre os meus lábios para sugá-lo.
Alice gritou o meu nome e eu larguei os lábios vaginais para enfiar dois dedos em sua abertura. Ela
pulsava descontroladamente, as pernas começaram a tremer e eu passei a língua bem no clitóris, para
cima e para baixo sem pausa, sentindo o peso do seu corpo começar a ceder.
— Largue a calcinha e se apoie com as duas mãos na cabeceira — consegui falar antes de chupar
de leve os seus pequenos lábios. Alice fez o que pedi e a calcinha quase tampou sua boceta.
— Rasgue — ela pediu quase sem voz.
— O quê?
— A calcinha.
— Nunca. — Eu não tinha apego com lingeries, mas aquela era diferente. Era o meu presente,
Alice a comprou para dizer sim para mim e eu não iria estragá-la de forma alguma. — Segure firme
na cabeceira.
Alice assentiu e eu tirei a mão da sua cintura para poder manter a calcinha fora do meu caminho.
Senti ela estremecer quando voltei a dar atenção ao seu clitóris e voltei a meter meus dedos em sua
boceta, achando aquele nervo que ficava bem atrás do clitóris na parte de dentro. Alice chamou pelo
meu nome e rebolou na minha cara, me melando todo. Caralho, que delícia.
— Isso, rebola bem gostoso para mim, bella — pedi, olhando rapidamente para cima e
encontrando o seu olhar. — Quero que goze na minha língua.
Ela jogou a cabeça para trás, minhas palavras causando o efeito que eu queria. A putaria na hora
do sexo servia não apenas para colocar as emoções para fora, mas, também para estimular a
imaginação e aflorar todos os sentidos. Alice estava completamente alerta naquele momento,
envolvida, tão dentro daquele sexo oral que eu precisei me dedicar só mais um pouco no seu clitóris
e pressionar aquele nervo lá no fundo para que ela começasse a gozar e, cazzo, que orgasmo!
Ela parecia uma deusa. Essa era a única definição para descrevê-la naquele momento. Seu corpo
tremeu, sua voz se propagou pelo meu quarto, sua barriga se contraiu e a bocetinha sofreu espasmos
deliciosos, apertando os meus dedos e fazendo meu pau babar levemente contra a minha barriga. Foi
uma delícia assisti-la e saber que eu era o causador daquilo.
Dei uma última lambidinha antes de sentir que Alice não conseguiria mais sustentar o próprio
peso. Com cuidado, a segurei pela cintura com as duas mãos e a coloquei deitada ao meu lado na
cama, observando sua respiração ofegante e a expressão de quem tinha acabado de ter o melhor
orgasmo do mundo. Alguns minutos se passaram até ela abrir os olhos e me encarar, abrindo um
sorrisinho.
— Oi — murmurou.
— Bem-vinda de volta — sorri, pousando a mão em sua barriga. Ela estremeceu. — Sensível?
— Só um pouquinho — riu, virando-se para mim. Meu pau estava implorando por atenção, mas eu
sabia que ela precisava de alguns minutos para se recuperar. — Foi o melhor sexo oral que já recebi
na vida.
Porra, meu ego foi nas alturas.
— Hum, então você gostou de sentar nessa carinha linda? — Brinquei, colando meu corpo ao dela.
Meu pau tocou em sua barriga e eu rocei devagarinho, sentindo o calor da sua pele.
— Muito. Foi uma posição nova para mim. Já tinha escrito, mas nunca tinha feito.
— Bom saber, vou deixar isso em mente.
— O quê?
— Realizar todas as posições sexuais que você já escreveu nos seus livros.
Alice riu e passou a perna pela minha cintura, fazendo meu pau parar bem em cima da sua
bocetinha ainda coberta pela calcinha. Porra, quase enlouqueci, mas me segurei.
— Então temos muito sexo para fazer, pois já escrevi diversas posições e a maioria eu nem
conhecia. O Google me ajudou.
— Bella, nós temos realmente muito sexo para fazer. Você não tem ideia do tanto de sexo que nós
iremos fazer — falei, virando-me para ficar em cima dela, bem encaixado entre as suas pernas. —
Vamos fazer todas as posições do Kama Sutra.
— Você sabe que eu não sou a mulher elástica, certo? Tem umas que são impossíveis — ela disse,
roçando a bocetinha na minha piroca como se eu fosse de ferro.
— Vamos fazer dar certo e se não der, nós sempre teremos isso aqui — falei, simulando o
movimento de penetração e roçando a glande em seu clitóris. — O velho e gostoso papai e mamãe.
A beijei na boca no meio do seu sorriso e acho que foi o beijo mais íntimo que já tínhamos trocado
até ali. Foi delicioso, calmo, mas intenso, reacendeu o fogo que nem tinha começado a apagar entre
nós dois e me deixou doidinho para continuar de onde havíamos parado. Foi o que fiz. Desci meus
lábios pelo seu pescoço e abaixei a taça do sutiã, passando a língua pelo seu mamilo intumescido
antes de o sugar para dentro da minha boca. Os seios de Alice eram lindos, cabiam perfeitamente em
minhas mãos e tendo aquele sutiã rendado para enfeitá-los os deixava mais excepcionais ainda.
Ouvi seu gemidinho, senti o movimento do seu quadril de encontro ao meu e desci minha mão entre
os nossos corpos para poder afastar a sua calcinha e tocar em seu clitóris. Ela estava sensível e
gemeu mais alto, enquanto eu roçava meu pau em sua virilha e enlouquecia. Não podia mais aguentar,
precisava dela e precisava agora.
Beijando a sua boca, me estiquei e abri a gaveta da mesinha de cabeceira, pegando uma camisinha
da caixa que havia colocado ali na semana passada. Com o preservativo em mãos, me ajoelhei entre
as pernas dela e Alice se sentou comigo, tocando meu pau enquanto eu abria a embalagem com o
dente. Foi sexy pra cacete observá-la descendo a camisinha pela minha piroca enquanto eu segurava
a ponta. Devidamente protegido, fiz com que Alice voltasse se deitar e coloquei sua calcinha de
lado, enfiando um dedo lentamente só para sentir como ela estava molhadinha.
— Não vai mesmo tirar a minha calcinha? — ela perguntou entre um gemido.
— Não. Primeiro, quero comer você embaladinha com o meu presente — falei, deitando-me sobre
ela. Nós dois gememos quando a cabeça do meu pau acariciou a sua entrada. — Depois, eu vou
desembrulhar você, te colocar de quatro e te comer peladinha.
— Ai, Deus. — Não sei se ela gemeu pelas minhas palavras ou pela penetração. Acho que foi
pelos dois.
Gememos juntos enquanto eu entrava devagar. Sabia que eu era maior do que a maioria dos caras e
Alice havia me dito que estava sem sexo há meses, por isso, fiz de tudo para ser o mais cuidadoso
possível, o que foi difícil, pois ela era apertada e pulsava de um jeito delicioso, quase ordenhando
meu pau. Quando cheguei ao fundo, olhei bem dentro dos seus olhos, beijei a sua boca e comecei a
meter de leve, quase sem sair do lugar, roçando meu púbis em seu clitóris e ouvindo seus gemidinhos
em meu ouvido.
— Ai, Romeo... — Ela arranhou minhas costas e desceu as mãos até a minha cintura. — Quero
mais.
— Estava tentando ser gentil — falei, rindo do seu desespero. Ela sorriu também e apertou a
minha cintura, abrindo bem as pernas.
— Obrigada. Agora já pode meter com força.
— Cazzo! Se você continuar a falar assim, eu vou perder a cabeça, bella, literalmente.
— Então perca — pediu ela, passando a língua rapidamente pelo meu lábio inferior. — Perca a
cabeça e meta bem gostoso em mim, Romeo Benvenuto.
Perdi a cabeça, de verdade. Saí e voltei com tanta força, que o corpo de Alice foi empurrado para
cima na cama e os travesseiros começaram a cair no chão. Ela adorou, pois gemeu e me arranhou
enquanto eu ia bem fundo naquela bocetinha gostosa, apertadinha e molhada, quente como o inferno.
Foi tão gostoso, que eu não sabia se metia, se tirava, se ficava lá dentro ou se só deixava a cabecinha
por alguns segundos, apenas para vê-la enlouquecida e a ouvir pedir por mais.
E Alice pedia. Ela pedia com gosto e parecia não ter qualquer tipo de inibição na cama, o que era
delicioso. Tinha acabado de descobrir que não havia afrodisíaco melhor do que ter a consciência de
que a sua mulher podia corar na frente da sociedade, mas ser uma loba na cama. Era como Alice era,
um pouco tímida fora do quarto, mas uma amazona entre quatro paredes.
Quando comecei a rebolar dentro dela, roçando seu clitóris com o meu polegar ao mesmo tempo e
ela começou a estremecer de verdade e a pulsar com força. Foi com muita luta que não cedi ao
orgasmo naquele instante.
— Romeo... Romeo...
— Eu sei, bella — respondi, metendo rapidinho, em um ritmo constante e sem pausa, tocando
todos os seus nervos lá dentro. — Goza pra mim, vai. Bem gostoso... Isso...
Alice gozou com o meu nome nos lábios. Acho que não havia melhor sensação do que aquela,
sentir seus espasmos lá embaixo, o tremor do seu corpo, ver os seus olhos se revirarem de prazer e o
meu nome sendo pronunciado bem no fundo da sua garganta. Deixei que ela tivesse um orgasmo
longo e só parei de meter quando senti que eu mesmo poderia gozar e ainda não queria chegar lá.
Saindo de dentro dela, puxei a calcinha pelas suas pernas e, mesmo um tanto letárgica, Alice se virou
e me deixou tirar o seu sutiã.
Não aguentei ao ver aquela bunda empinadinha e a coloquei de quatro, arrumando os travesseiros
para que ela ficasse o mais confortável possível. Então, abri as suas nádegas e caí de boca,
lambendo desde o seu cuzinho até a boceta. Alice gemeu abafado nos travesseiros e eu senti o gosto
do seu orgasmo de novo na minha língua, enquanto lambia mais um pouco antes de me erguer e voltar
a posicionar o meu pau em sua entrada. Pincelei devagar, vendo que a bocetinha piscava para mim,
provando que, mesmo depois de dois orgasmos, Alice ainda podia ter mais um.
— Quer que eu entre devagar ou que eu meta rápido e forte? — perguntei, acariciando sua bunda
com uma mão e pincelando meu pau em sua entrada com a outra.
Alice apoiou os cotovelos no travesseiro e virou para me olhar.
— Rápido e forte.
Não pude conter o meu sorriso e dei uma palmada com a mão aberta naquela bunda deliciosa. Ela
gemeu de surpresa e pela dorzinha e prendeu a respiração quando entrei de uma só vez, deixando só
as bolas para fora porque elas não podiam entrar. O choque do meu quadril com aquela bunda me fez
ofegar e eu dei mais um tapa nela, dois, três, até ver a pele vermelha e sentir Alice choramingar.
— Rebola — mandei, dando um tapinha na lateral da sua bunda. Alice me olhou, prendeu o lábio
inferior entre os dentes e rebolou. — Porra, que safadinha. Caralho, Alice...
Ela rebolou e eu meti com gosto, sentindo meu orgasmo se aproximar e sabendo que nada mais
poderia detê-lo. Segurei a cintura de Alice com uma mão e encontrei seu clitóris com dedo médio.
Ela estremeceu, prontinha pra gozar para mim e eu penetrei sem pena, empurrando e tirando,
rebolando fundo na sua boceta, até sentir minhas bolas encolherem e pulsarem e um arrepio atingir a
minha coluna.
— Ai, caralho, Alice... Porra, bella...
Ela gozou junto comigo, senti quando começou a pulsar desesperadamente, enquanto eu enchia a
camisinha de porra e gozava com o pau bem enterrado em sua boceta. Foi transcendental. Incrível.
Pra. Caralho. Nada no mundo tinha sido igual ou tão intenso para mim. E eu sabia, poderia transar
com mais mil mulheres, mas nenhuma chegaria aos pés de Alice, o que deixou claro que eu estava
bem ferrado.
“Não pense nisso agora, porra!”, meu subconsciente agiu em meu socorro e eu acatei a sua
ordem. Minha mente ficou vazia e o corpo lotado de sensações, enquanto sentia Alice desmoronar na
cama e me levar junto, com a piroca ainda dentro dela. Devagar, retirei-me, tirei a camisinha cheia e
dei um nó antes de jogá-la no chão e puxar Alice para os meus braços. Ela me fitou com os olhos
sonolentos, mas brilhantes e um sorrisinho de satisfação que fez o meu mundo ficar abalado.
— Obrigada por isso. Foi a melhor noite da minha vida — murmurou antes de fechar os olhos e
pegar no sono.
Ainda fiquei alguns segundos olhando para ela, gravando as suas feições em minha memória, até
sentir os meus olhos pesarem. Meu último pensamento antes de apagar foi que aquela também havia
sido a melhor noite da minha vida.
Capítulo 18
Acordei com o sol na minha cara e a minha ereção bem enterrada em uma carne macia. Ainda de
olhos fechados, meio sonolento, senti o mundo voltar a girar e me lembrei de tudo o que havia
acontecido na noite anterior. Cada detalhe preencheu a minha mente e eu abri os olhos de uma vez só,
pouco me fodendo para o sol que quase queimou as minhas córneas e encarei as costas de Alice
encostadas contra o meu peito. Um suspiro de alívio escapou da minha boca. Não tinha sido um
sonho, foi real. Foi real pra caralho!
Enterrei meu rosto nos cabelos dela, tendo consciência, agora, de onde o meu pau estava
enterrado. O filho da mãe havia arranjado um jeito de se acomodar entre as nádegas de Alice e eu
nem poderia julgá-lo. Mesmo comigo dormindo, ele ainda tinha as suas vontades. Fiquei alguns
minutos ali, sentindo o corpo dela contra o meu e ponderando se eu a acordava com beijos para
podermos fazer aquele sexo matinal delicioso, ou se me levantava e preparava um café da manhã.
Decidi, por fim, que seria melhor surpreendê-la com comida do que com sexo — que era algo que eu
pretendia fazer com ela pelo resto do dia.
Levantei-me devagar para não a acordar e fui ao banheiro jogar uma água no rosto e escovar os
dentes. Mijar foi difícil pra caralho. Já tentou mijar com uma ereção? Era uma das maiores
dificuldades encontradas pelo homem. Com muita força de vontade, consegui abaixar o meu
companheiro para poder me aliviar e vesti uma cueca antes de sair do quarto.
Foi estranho caminhar pela casa sem ouvir o barulho das patas de Bob atrás de mim e foi ainda
pior começar a preparar o café sem ter aquele garotão para conversar. Em momentos como aquele —
que eram raros, pois quase nunca passava uma noite longe do Bob — eu entendia a importância
daquele cachorrão na minha vida. Bob era o meu melhor amigo, aquele que sabia todos os meus
segredos e que os guardava a sete chaves — até porque, ele não tinha mesmo como contar para
ninguém. Ele me entendia, me apoiava e, apesar de me julgar muito com seu olhar expressivo e seus
múrmuros em língua de cão, sempre estava ao meu lado, na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença.
Separei tudo o que eu precisava para começar a montar o café da manhã e comecei a fazer os ovos
mexidos na manteiga — receita de mamma —, enquanto esquentava o leite em uma leiteira e ouvia a
minha máquina de café, que quase nunca era utilizada, trabalhar. Estava concentrado, pensando se
Alice iria se importar se eu colocasse um pouco de queijo nos ovos, quando senti dois braços me
agarrarem por trás. Meu coração deu um salto, mas não foi de susto; foi de alegria.
— Buongiorno.
Ah, cara, aquela mulher falando em italiano era tudo para mim — e, sim, acabei de pegar uma
gíria da minha sobrinha de dezessete anos, pois só aquilo poderia traduzir o que eu estava sentindo
naquele momento. Virei-me e encontrei o sorriso de Alice iluminando toda a cozinha. Não me contive
ao puxar o seu rosto em minhas mãos e beijar aquela boca deliciosa.
— Buongiorno, bella — sussurrei entre os seus lábios, afastando-me rapidamente para olhá-la de
cima a baixo. Alice estava vestida com o blusão que eu havia usado na noite anterior e o seu visual
estava duelando fortemente com a lingerie que ela havia usado na noite passada. A mulher estava
sexy pra cacete. — Dá uma voltinha para mim, por favor?
Rindo baixinho, Alice fez o que pedi e quase babei quando as bandas da sua bunda apareceram
por debaixo da camisa quando ela levantou os braços.
— Sabia que um homem pode sofrer um infarto com uma visão dessas logo pela manhã? —
perguntei, pousando a mão sobre o coração.
— Nossa, que coisa horrível! Acho melhor eu tirar a camisa então — ela disse com um sorriso
sorrateiro, começando a desabotoar a blusa.
— Faça isso e você será o meu café da manhã.
— Bom, pelo menos alguém vai comer alguma coisa, porque eu acho que não vai dar para comer
ovos mexidos queimados.
Como se meu cérebro tivesse sofrido um estalo e voltado para a vida real, comecei a sentir o
cheiro de queimado na cozinha e me virei rapidamente para tirar a frigideira do fogo.
— Merda! — Tentei salvar os ovos que estavam por cima e que não tinham queimado, colocando-
os em um prato. — Juro que sou um bom cozinheiro, mas você me desestabiliza.
— Eu? Mas eu não fiz nada — disse com ela com a voz inocente, parando ao meu lado e pegando
com ovo com a ponta dos dedos. — Hum, nossa... Que delícia.
— Você está me provocando, Alice... Quando eu te pegar, vai querer fugir e eu não vou deixar.
— Fugir? Não, eu vou ficar bem aqui — falou, sentando-se na bancada perto da pia. Suas coxas
ficaram só um pouquinho afastadas e me peguei olhando para elas, perguntando-me se a danada havia
colocado a calcinha ou não. O barulho do timer do fogão me fez despertar e corri para tirar o
tabuleiro do forno. — Uau, você fez croissant?
— Croissant é coisa de francês. Na Itália nós chamamos de cornetto — falei, cortando um
pedacinho e levando até ela. Assoprei antes de levar a sua boca. — Prove.
Alice pegou o pedaço entre os meus dedos e senti um arrepio passar pelo meu corpo quando seus
lábios tocaram a minha pele. Ela mastigou e soltou gemidinhos ao fechar os olhos.
— Meu Deus, que coisa deliciosa. Nunca comi nada igual! Foi você mesmo que fez?
— Sim. É uma receita da minha mãe. Com a massa pronta, a gente pré-assa e depois congela. Dura
em média sete dias no congelador, então, é só colocar de volta ao forno para assar completamente.
— É muito bom, derrete na boca — ela disse, olhando para mim e depois para o tabuleiro. — Se
você tivesse me dito que cozinhava tão bem assim, eu tinha aceitado a sua proposta bem antes.
— Você está aqui por causa desse corpinho lindo e dessa pica grande ou por causa dos meus dotes
culinários?
— Bem, antes desse cornetto era por causa da primeira opção, agora, eu acho que é mais por
causa da segunda.
Não pude conter a minha risada e me aproximei dela, parando no meio das suas coxas. Alice
cruzou as pernas em minha cintura e eu pousei minhas mãos nas laterais da sua bunda, porque não
podia perder nenhuma oportunidade de tocar naquela divindade.
— Parece que eu e o gigante precisamos nos esforçar mais, então. Sei que a primeira impressão é
a que fica, mas, por favor, nos dê uma segunda chance.
— Eu posso pensar no caso de vocês, mas, antes, eu preciso de mais daquilo ali — ela apontou
para os cornettos — e de uma xícara de café bem forte.
Com um suspiro dramático, olhei para o meu pau dentro da cueca e falei:
— É, amigão, fomos trocados por alguns cornettos e uma xícara de café. Justamente de café. A
que ponto chegamos.
— Justamente café? Como assim?
— Odeio café.
Alice me olhou boquiaberta.
— Como isso é possível? Café é a melhor bebida do mundo!
— O quê? Já provou chocolate quente? Essa sim é a melhor bebida do mundo.
Alice fez uma carinha fofa de desgosto e balançou a cabeça.
— Sinceramente, não sei como vamos dar prosseguimento a essa relação. Estou extremamente
desapontada com você.
— Dê-me a sua mão. — Segurando a risada, Alice estendeu a mão e eu a coloquei em cima do
meu pau. — Está sentindo esse material? Como você pensa em dispensar tudo isso só porque eu não
gosto de café?
— Não sei se posso confiar em uma pessoa que não gosta de café — falou, passando o polegar
bem em cima da minha glande. A safada adorava me provocar.
— Se faz você se sentir melhor, já existe no mercado a camisinha com sabor de café. Eu posso
fazer esse sacrifício e vestir o gigante com essa camisinha pra você chupar a gente bem gostoso —
falei, aproximando-me até estar entre as suas pernas de novo. Alice riu e enfiou a mão dentro da
minha cueca, despertando o meu pau que já estava semiereto desde o momento em que a vi com a
minha camisa.
— Por que eu acho que você sempre dá um jeito de sair ganhando em qualquer situação?
— Porque você é uma mulher extremamente inteligente — falei com um sorriso, gemendo baixinho
antes de beijar a sua boca.
Alice me masturbou lentamente e eu acariciei as suas coxas, sentindo uma vontade imensa de abrir
aquelas pernas e meter meu pau em sua bocetinha, mas me controlei e consegui me afastar. Ela fez
biquinho, mas voltou a guardar o gigante dentro da cueca e desceu da bancada para me acompanhar.
Enquanto ela colocava o café na xícara, eu preparei o meu chocolate e comecei a colocar o que
iríamos comer na ilha central da minha cozinha. Com tudo preparado, sentamo-nos lado a lado e
começamos a atacar a comida. Toda atividade que fizemos na noite anterior nos deixou famintos.
— Só tomo esse tipo de café da manhã em hotel. Nossa, que delícia — Alice disse com a boca
cheia, devorando um cornetto com queijo e presunto.
— O que você come normalmente?
— Já disse, sou péssima na cozinha, então, gosto de coisas práticas. Geralmente, tomo um café
preto e depois como uma salada de frutas. Sei picar frutas como ninguém — falou, tomando um gole
daquele café horroroso. — E você? Come tudo isso todos os dias?
— Quem dera. Normalmente, faço só os ovos cozidos e como com torradas.
— Hum, então tudo isso é só por minha causa?
— Na verdade, sim.
— Estou me sentindo especial — falou, lambendo o polegar. — Nossa, vou comer mais um desse,
é muito bom.
Ela se esticou para pegar mais um cornetto no tabuleiro e eu sorri ao vê-la colocar o queijo.
— Sabia que os italianos têm o costume de comer o cornetto com algo doce?
— Algo doce?
— Sim. Geleias, doce de leite, Nutella.
— Por que você não me disse isso antes? Estou praticamente fazendo um sanduíche com isso.
— Porque vai do gosto de cada um — falei, pegando um cornetto para mim e passando geleia de
morango. — Prove.
Alice mordeu e eu precisei respirar fundo ao ouvir o seu gemido satisfeito.
— Nossa, fica muito bom também. Estou viciada em cornetto. Só não peço para você me passar a
receita, porque tenho certeza de que não vou fazer direito.
— Faço questão de te ensinar pessoalmente, qualquer dia desses.
— Estou adorando o seu lado chef, Sr. Benvenuto.
— Isso é para você ver que aqui eu não só como, bella, eu também dou de comer — sorri e
pisquei para ela, arrancando-lhe uma risada.
Alice colocou o cornetto de lado e, ainda olhando para mim, enfiou o dedo na minha geleia de
morango. Pensei que ela iria lamber o próprio dedo e me fazer ficar com o pau duro em milésimos de
segundos, mas ela fez melhor, passou o dedo sujo em meu peitoral, descendo em linha reta até quase
chegar em minha cueca e passou a língua pelos lábios, olhando-me como se eu fosse algo suculento e
comestível.
— Bem, já que você também dar de comer, acho que chegou a minha vez de saciar a minha fome
de Romeo Benvenuto.
Descendo da banqueta, Alice parou na minha frente e beijou delicadamente o meu queixo, desceu
pelo meu pescoço, onde deu uma mordidinha que me fez estremecer e sugou rapidamente cada um
dos meus mamilos antes de chegar na geleia e descer lentamente com a língua pela trilha até o
paraíso. Meu pau ficou duro feito pedra quando ela abaixou um pouco a minha cueca, o suficiente
para que a ereção pulasse para fora, e sujou o dedo de novo na geleia, passando o doce frio na minha
glande.
Caralho.
— Sei que você prometeu que eu iria te chupar com gosto de café, mas acho que não se importa se
o morango furar a fila, não é? — perguntou ela, apoiando as mãos em minhas coxas.
— Nem um pouco, pode ficar à vontade — falei com a voz rouca pelo tesão.
Alice não se ajoelhou, porque a banqueta era alta e ela não iria ter altura suficiente para me
chupar, por isso, ela fez algo melhor. Apoiando-se em minhas coxas, ela se inclinou até cair de boca
no meu pau. A coluna reta e as pernas bem esticadas me deixaram ter uma visão espetacular da sua
bunda empinada, que refletia na minha geladeira de inox. Nunca mais veria aquela geladeira do
mesmo jeito.
Cheio de tesão, peguei seu cabelo em um rabo de cavalo em uma mão e enfiei a outra no decote da
sua blusa, tomando seu seio esquerdo entre os meus dedos. Seu gemido reverberou pelo meu pau
quando apertei levemente o seu mamilo.
— Porra — xinguei, porque só um palavrão bem falado poderia expressar o que eu estava
sentindo naquele momento. Quase pulei da banqueta quando Alice seguiu com a língua a veia grossa
que levava a minha glande, antes de fechar a boca só na cabecinha para chupar com força. —
Caralho, Alice, que boquinha é essa, Dio!
Ela desceu tudo de uma vez e quase me enfiou na garganta, mas parou antes e voltou a chupar. Eu
já conseguia sentir as minhas bolas se contraírem e aquele arrepio gostoso que precedia o orgasmo,
mas não queria gozar agora, por mais que a ideia de ver a sua boca cheia da minha porra me deixasse
alucinado. Com muita força de vontade, a puxei para mim pelo cabelo e saí da banqueta,
pressionando seu corpo contra a ilha da cozinha para poder beijar a sua boca. Alice retribuiu com
fome, passando uma coxa pela minha cintura para poder se esfregar em mim e aproveitei aquele
momento para puxá-la pela bunda e pegá-la no colo.
Caminhei com ela até a sala e só parei quando chegamos perto do sofá, onde me sentei com ela
sobre as minhas coxas. Ainda com a sua boca na minha, puxei com força a minha camisa, fazendo os
botões voarem para todos os lados.
— Espero que essa camisa não tenha sido cara — Alice sussurrou, descendo a boca pelo meu
pescoço. Meu pau babou na ponta quando ela sugou a minha pele.
— Faço questão de comprar mais cem iguais a essa, só para ter o prazer de tirá-la assim de você
— falei, jogando a camisa no chão e revelando seu corpo nu. Deus do céu, como podia ser tão linda?
— Sem calcinha?
— Já desci preparada.
— E molhadinha — constatei, tocando em seu clitóris durinho e inchado, enquanto descia minha
boca para os seus seios.
Alice gemeu e se esfregou contra os meus dedos, arranhando a pele dos meus ombros e me
deixando louco de tesão. Ela era fogosa, gostosa pra cacete e sentia que teria a mesma disposição
que eu para transar. A melhor ideia que já tive na minha vida foi a de nos tornamos ficantes fixos.
Sentia que não precisava de mais nada na vida, só de Alice.
Mamei gostoso nos seios dela, me deliciei com o gosto da sua pele, a textura dos mamilos,
enquanto dedilhava sua bocetinha até ouvir os seus gemidos ensandecidos. Quando senti que meu pau
não aguentaria mais ser negligenciado, me estiquei e peguei uma camisinha dentro da gaveta do
criado-mudo ao lado do meu sofá. Alice me olhou com a respiração ofegante enquanto eu abria o
preservativo.
— Você tem camisinha em cada canto da casa?
— Sou um homem prevenido — respondi ao vestir o meu pau.
— É um homem safado e sem vergonha, isso sim — disse ela, tomando meu pau pela base e o
encostando em sua entrada.
— Mas você adora, pode falar a verdade.
Ela mordeu os lábios enquanto descia pela minha ereção. Tive que apertar a sua cintura com força,
porque, naquela posição, ela parecia ficar ainda mais apertada, o que era uma tortura deliciosa.
— O pior é que eu adoro mesmo — ela disse com a respiração entrecortada, enquanto começava a
se mexer sobre mim. — E isso é preocupante.
— É? Por quê?
— Porque não posso ficar viciada em você, Romeo Benvenuto.
Sorri e apertei a sua bunda, desencostando-me do sofá para poder passar meus lábios pelos dela.
— Eu já estou viciado em você, bella e sinto que os efeitos colaterais são irreversíveis.
Um sorrisinho se abriu em seus lábios antes de ela apoiar os joelhos no sofá e começar a quicar no
meu pau. Puta merda, que coisa magnífica. Sentir a pressão das suas paredes vaginais subindo e
descendo ao longo da minha piroca era sensacional e precisei me segurar muito para não gozar
rápido feito um adolescente. Alice gemia e se apoiava em mim, beijando minha boca, meu pescoço,
enquanto eu tocava em sua bunda e lambia os seus seios. Quando ela começou a rebolar, eu senti que
poderia morrer facilmente — e seria a melhor morte do mundo.
— Isso, rebola bem gostoso — pedi em seu ouvido, apertando seu mamilo entre os meus dedos. —
Amo essa bocetinha gostosa comendo o meu pau, bella.
Ela gemeu e escondeu o rosto em meu pescoço, indo para frente e para trás bem rápido. Senti seu
clitóris roçando o início da minha barriga e comecei a falar mais putaria em seu ouvido.
— Você é deliciosa, apertadinha... Caralho, faz assim mesmo, se esfrega em mim, Alice. — Dei
um tapinha em sua bunda e ela estremeceu, sugando a pele do meu pescoço e pulsando com força ao
redor do meu pau. Sentia que ela estava quase lá. — Rebola até gozar no meu pau, vai.
Ela rebolou, passando o clitóris melado em meu púbis e em minha barriga. Senti a pressão lá
embaixo, subindo pelas minhas bolas até a coluna do meu pau e quando Alice gozou, eu fui junto,
entregando-me à delícia que era transar com aquela mulher, sentindo seu corpo, seus tremores, seu
cheiro, seu gosto, tudo o que ela tinha para me dar.
— Meu Deus — ela sussurrou em meu ouvido quando parou de se mexer e eu beijei o seu ombro
suado, passando as mãos pelas suas costas. — Acho que não posso mais me mexer pelos próximos
dias.
— Isso é ótimo. Não vou me importar em ter você exatamente aqui, em cima de mim, com o meu
pau bem enterrado nessa bocetinha pelos próximos dias.
Alice riu e deu um tapinha em meu ombro ao se afastar para me olhar.
— Como você é devasso, Romeo Benvenuto.
— Que elogio sofisticado. Normalmente, só ouço cafajeste e sem vergonha.
— Quis dar uma diferenciada — disse ela, tentando se levantar. Não deixei. — O que foi? Vai
mesmo me deixar aqui pelos próximos dias?
— Eu achei uma ótima ideia.
— Sim, uma ótima ideia para me deixar toda assada.
— Hum, eu vou adorar cuidar dessa bocetinha. Vou ficar lambendo até ela sarar.
— Meu Deus, Romeo! — Ela gargalhou e eu deixei que se erguesse para que meu pau saísse de
dentro dela. Tirei a camisinha rapidamente e dei um nó, antes de me levantar com ela em meu colo,
pegando-a de surpresa. — Com isso eu posso me acostumar, sabe. Ser carregada por aí como se eu
não pesasse nada.
— Vamos fazer um pacto — falei, enquanto subia as escadas para o meu quarto. — Você passa o
dia quicando no meu pau e eu fico atravessando os cômodos da minha casa com você no meu colo. O
que acha?
— Acho que, novamente, você está dando um jeito de sair ganhando — falou, pressionando os
seios contra o meu peitoral.
— Você vai gozar gostoso todas as vezes e, quando ficar cansada, eu enfio a cara no meio das suas
pernas e te dou vários golpes de língua até você gozar de novo. O que acha?
— Acho que agora, sim, você está propondo algo justo para ambos os lados.
— Meu nome do meio é justiça, bella — falei, abrindo o chuveiro e molhando a nós dois. — Pode
confiar em mim.
Ela sorriu e eu a beijei bem gostoso, preparado para ensaboar cada parte daquele corpo que me
enlouquecia.
Capítulo 19
Meus planos para o dia 25 consistiam em voltar para a casa da minha mãe e comer o que havia
sobrado da ceia da noite anterior. Neste ano, no entanto, uma certa escritora mudou todos os meus
planos. Alice até tentou me persuadir a ir para casa de mamma, já que saímos de lá às escondidas e
sem nos despedirmos de ninguém, mas eu não queria me desgrudar dela. Podem me julgar à vontade,
mas a única coisa que eu queria naquele momento, era passar o máximo de horas possíveis ao lado
dela.
A única coisa que fiz foi pedir para que Alexandre deixasse Bob na minha casa quando estivesse
saindo da casa de mamma, o que ele fez no finalzinho da tarde. Alice e eu estávamos jogados no meu
sofá depois de termos transado mais uma vez — eu simplesmente não conseguia tirar as mãos de
cima dela —, quando Alexandre me mandou uma mensagem falando que estava em meu portão.
Sabiamente, ele me pediu para ir lá fora, pois não queria entrar em casa e estragar o meu clima com a
Alice.
— Consigo sentir o cheiro de sexo daqui. — Foi a primeira coisa que ele disse quando me viu.
— Que bom, isso significa que todo o esforço que Alice e eu estamos fazendo desde ontem, está
valendo a pena — falei, vendo Bob dar um pulo para fora do carro de Alexandre e vir em minha
direção. A fantasia de Cão Noel devia ter ficado na casa de mamma, pois ele estava apenas com a
sua coleira de couro. Abaixei-me para abraçá-lo e o garotão só faltou falar enquanto murmurava e me
lambia balançando o rabo. — Eu sei, amigão, também senti a sua falta hoje.
— Sentiu né, sei — Alexandre desdenhou me olhando com uma sobrancelha arqueada e um sorriso
sorrateiro.
— Para de ser idiota — ralhei, levantando-me. — Obrigado por ter trazido o Bob.
— De nada, aliás, você esqueceu isso sob a árvore de Natal — disse ele, me dando um embrulho.
— Está escrito Alice atrás.
— Cazzo! Não acredito que esqueci o presente dela.
— É o que acontece quando a cabeça de baixo fala mais alto do que a de cima — ele riu da minha
cara e eu dei um soco de leve em seu braço.
— Cai fora daqui, anda. Tenho uma mulher linda para presentear.
— Fala sério, fratello, quando você pensou que, um dia, teria uma mulher para presentear no
Natal?
— Nunca — falei com sinceridade e isso me trouxe um aperto esquisito no peito.
— Como dizem por aí, a vida é uma caixinha de surpresas — Alexandre disse, apertando meu
ombro rapidamente antes de ir em direção ao carro.
Ainda fiquei alguns segundos parado em frente ao meu portão, com Bob sentado ao meu lado,
olhando o carro de Alexandre desaparecer. Suas palavras ficaram se repetindo em minha mente e
aquele aperto estranho em meu peito pareceu aumentar um pouco mais. Não queria desperdiçar
qualquer minuto da minha vida pensando em sentimentos, em destino ou qualquer uma dessas
baboseiras, mas me vi ali, parado, refletindo sobre o fato de eu nunca ter me imaginado passando o
Natal ao lado de outra pessoa que não fosse a minha famiglia.
Nunca me imaginei comprando um presente de Natal para uma mulher. Para uma mulher que era
especial. Engoli em seco e olhei o embrulho pequeno em minha mão, pensando seriamente em jogar o
presente no lixo para ver se aquele aperto também ia embora, mas logo resolvi ser racional. Comprei
aquele presente unicamente porque a Alice disse que havia comprado algo para mim. E o fato de ela
ser “especial” era apenas porque eu havia aberto mão de ter uma mulher diferente em minha cama a
cada noite, para passar algum tempo transando apenas com ela. Isso não queria dizer nada demais.
Não era como se, de repente, eu fosse me apaixonar.
Só de pensar em paixão eu senti vontade de rir. Não, eu era blindado contra aquilo,
completamente. Há muitos anos eu decidi que jamais iria me apaixonar, até porque, não acreditava
muito no poder desse “sentimento”, sendo assim, eu não tinha o que temer. Era bobagem ficar me
apegando às palavras de Alexandre. Ele estava apaixonado e isso influenciava completamente o
modo como ele enxergava as coisas. Eu precisava pensar apenas com a minha cabeça e parar de dar
ouvidos às besteiras que meu irmão falava.
Com o embrulho em mãos, entrei com Bob e tranquei o portão. Ele saiu correndo para dentro de
casa e assim que coloquei os pés na sala, pude ouvir o grito de felicidade de Alice. Parei a alguns
passos de distância, olhando com admiração a festa que Bob estava fazendo para ela em cima do
sofá.
— Bob! Ai, meu Deus, quanto beijo — Alice falava, sendo lambida até nas orelhas. — Sim, eu
sei, também estava com saudades. Sabia que essa casa fica vazia sem você? Pois é, só o seu pai não
é o bastante.
— Muito bom saber disso — falei ao me aproximar com as mãos para trás. — Eu ainda acho que
o Bob pode tomar o meu lugar a qualquer momento.
— Eu não posso negar. Ele é bem mais fofo que você.
— Fofo? Ele te jogou no chão no calçadão de Copacabana, se você não se lembra.
— Sim, eu sei, mas foi porque ele ficou muito empolgado ao me ver, o que o torna ainda mais fofo
— ela disse, coçando as orelhas dele e me olhando com uma sobrancelha arqueada. — O que você
tem aí atrás?
— Aqui atrás? Ah, não é nada importante. Agora que o Bob chegou e eu fui jogado para escanteio,
acho que vou recolher a minha insignificância e deixar vocês dois sozinhos — falei com falsa
tristeza, segurando uma risada. Alice balançou a cabeça e olhou para Bob.
— Viu, Bob? Seu pai está com ciúmes da gente — sussurrou ela alto o suficiente para que eu
pudesse ouvir. — Por que você não vai beber uma água enquanto eu explico para ele que o nosso
amor é diferente?
Foi com espanto que vi Bob dar mais uma lambida em Alice antes de descer do sofá e ir em
direção a sua tigela de água. Completamente boquiaberto, ainda me aproximei para ver se eu não
estava alucinando, mas não, eu não estava. O filho da mãe estava realmente bebendo água.
— O quê? Como você fez isso?
— Isso o quê?
— Isso! — Apontei para o Bob. — Ele nunca me obedeceu assim! O que você fez?
— Eu só falei para ele ir beber água — disse ela, me dando um sorriso convencido. — O que
posso fazer se tenho mais influência sobre o seu cachorro do que você?
— Francamente, Bob, é assim que você quer que eu seja respeitado? Obedecendo facilmente a
Alice, enquanto a mim, você ignora? Seu cachorro abusado!
Desdenhando de mim, Bob me olhou e virou as costas, indo se deitar perto da cozinha. Alice
gargalhou e eu soltei um suspiro de resignação.
— Não fica triste, ele te ama muito, mas, talvez, me ame só um pouquinho mais — ela zoou com a
minha cara, se levantando e passando os braços pelo meu pescoço. — Agora, me diga, o que está
escondendo aí atrás? É algum brinquedinho sexual?
— Como você é safadinha! Só o meu pau não está dando conta desse fogo?
— Está, sim, inclusive, você não entra mais aqui hoje.
— Como?
— É isso mesmo. Estou quase assada, Romeo!
— Quase. Até ficar assada, ainda temos um caminho para percorrer — falei, segurando o
embrulho com uma mão e enroscando em seu cabelo com a outra. — E nós vamos percorrê-lo.
— Você vai ter que me persuadir muito.
— E eu vou. — Mordisquei seu lábio com meus dentes e me afastei um pouco. — Antes disso, no
entanto, preciso te dar uma coisa.
— O quê?
— Isso. — Mostrei o embrulho em minha mão e entreguei a ela, que me olhou com a boca meio
aberta, surpresa. — Espero que você goste.
Ela se sentou no sofá e vi que suas mãos ficaram ligeiramente trêmulas.
— Romeo, não precisava se incomodar comigo.
— Não foi incomodo nenhum, foi um prazer, aliás.
Ela estava desamarrando o laço, mas parou para me fitar.
— Um prazer? É um brinquedo sexual, não é? É bem a sua cara comprar algo assim! — Riu
baixinho.
— Bem, você vai ter que abrir para saber se é ou não.
Fiquei nervoso enquanto ela desamarrava o laço e tirava o papel o papel de seda que envolvia a
caixa pequena, pensando se ela iria gostar do presente ou não. No momento, achei que era perfeito,
mas, e se ela achasse que era bobo? Alice era uma mulher linda, já devia ter ganhado milhares de
presentes de outros homens, e se o meu não tivesse tanta importância? Respirei fundo
disfarçadamente para espantar a insegurança e vi a surpresa em seus olhos quando abriu a caixa.
— Meu Deus — ela murmurou, tocando a correntinha antes de me olhar. — Romeo... Deus do céu,
que coisa mais linda!
Sentei-me ao seu lado e olhei rapidamente para o cordão, antes de voltar a encará-la.
— Eu pensei muito no que comprar para você, pois queria algo que tivesse um significado. Sei que
já deve ter ganhado milhares de joias, mas quero que saiba que essa é especial, porque tem um
significado por trás. A orquídea é conhecida por ser a flor da feminilidade, delicadeza e
sensualidade. Quando soube disso, pensei logo em você, mas não queria te dar apenas uma flor,
porque, infelizmente, elas morrem depois de alguns dias, então, pensei em um modo diferente de te
dar uma orquídea. Rodei o Rio de Janeiro quase todo até achar uma joalheria que tivesse um pingente
dessa flor — falei, olhando rapidamente para o pingente com a orquídea rosa. — Sei que é algo
simples, mas...
— Não, não é — ela disse baixinho. Parecia estar com um nó na garganta. — Não há de simples
nesse presente, muito pelo contrário. Acho que ninguém, além das minhas leitoras, já pensou em me
dar um presente que tivesse um significado específico, que combinasse comigo. Mas você acabou de
fazer isso. Romeo... Eu nem sei o que dizer.
— Só me diga se gostou ou não — pedi um pouco ansioso.
— O que você acha? Eu amei! — Ela sorriu, mas seus olhos se encheram de lágrimas. — É tão
especial. Ai, droga, vou chorar...
— Não, não chore — pedi, passando o polegar abaixo dos seus olhos, secando as lágrimas que
caíram. — Você é especial, Alice. Idiota foram as pessoas que nunca pensaram com carinho antes de
comprar algo para te presentear.
Ela chorou um pouco mais e eu a abracei, sentindo seus ombros começarem a tremer. Foi naquele
segundo que percebi que seu choro não era apenas pela emoção do presente. Havia algo mais.
— Ei, o que foi? Por que está assim?
— Eu tentei falar com a minha mãe ontem à noite, antes de você me buscar. Ela não atendeu. Então,
tentei falar hoje quando acordei... E agora quando você foi buscar o Bob no portão... Ela não me
atendeu em nenhum momento — ela fungou baixinho de encontro ao meu peito. — Eu sei que não
deve ser de propósito, ela disse que iria viajar com o Donovan, mas, mesmo assim... É Natal e ela
nem me ligou. Nem respondeu às minhas mensagens...
Merda. Eu sentia que Alice estava tentando se enganar ao falar que a mãe não havia atendido de
proposito às suas ligações e me senti muito mal. Já era ruim o suficiente saber que a sua mãe não
fazia questão de vir visitá-la em uma data tão importante, mas, saber que ela não atendia nem mesmo
às suas ligações? Sequer responde às suas mensagens? Dio, que tipo de mãe era aquela?
— Bella, sinto muito. Por que não me falou isso antes?
— Não queria estragar o nosso clima com um assunto triste — falou ela, se afastando um pouco
para me olhar. — E você também não precisa se preocupar comigo.
— Eu me preocupo com você, Alice — falei bem sério, limpando as suas lágrimas. — Sei que o
nosso... Relacionamento, não é tradicional, mas isso não quer dizer que eu não me importo com você.
Eu me importo muito, na verdade. Esqueceu que antes de eu te fazer aquela proposta doida, nós
éramos amigos? Não é porque estamos transando, que vamos deixar de ser o que éramos antes. —
Ela me olhou de modo diferente, com uma intensidade que mexeu com algo dentro de mim.
Terminando de limpar as suas lágrimas, perguntei: — Quer tentar ligar para sua mãe de novo?
— Não, já tentei mais de cinco vezes, enviei mensagens... Quando ela quiser falar comigo, vai
responder — falou, respirando fundo. A pontinha do seu nariz estava vermelha. Mesmo chorando, ela
continuava linda. Como aquilo era possível era algo que eu não sabia. — Obrigada por tudo, Romeo.
Por esse Natal incrível, pela noite e pelo dia que passamos juntos, pelo presente, por suas palavras.
De verdade, eu acho até que “obrigada” é uma palavra que não chega perto de tudo o que estou
sentindo, da forma como estou grata.
— Não precisa agradecer por nada disso — falei, tirando o colar de dentro da caixa. — Posso
colocar em você?
— Por favor.
Ela se virou de costas para mim e colocou o cabelo sobre o ombro, me dando livre acesso para
fechar o colar em sua nuca. Não consegui resistir e beijei toda a lateral do seu pescoço, sentindo a
sua pele ficar arrepiada e o tremor leve do seu corpo.
— Vire-se — pedi e ela se virou de frente para mim. O colar delicado parecia ter sido feito
especialmente para ela. — Ficou lindo em você, bella.
— Ele não vai sair daqui nunca mais — ela disse, tocando o pingente.
— Assim como a lingerie que você comprou. Ela não vai sair da minha casa nunca mais.
Foi incrível ouvir novamente o som da sua risada.
— Não acredito que você vai guardar a lingerie.
— Mas é óbvio! Achou mesmo que eu deixaria você levar aquelas pecinhas sem vergonhas para
longe de mim?
— Hum, acho que você gostou mais delas do que de mim.
— Não — falei, puxando-a pela cintura até ela sentar atravessada em meu colo. — Elas só se
tornaram especiais porque vestiram você. Se não fosse por isso, seriam uma lingerie qualquer.
— Você sabe exatamente quais as palavras que precisa usar para deixar uma mulher caidinha por
você, Sr. Benvenuto.
— Sei é? Parece que esse é mais um item para a minha lista interminável de talentos — murmurei,
a deitando no sofá e caindo por cima dela. Alice abriu as pernas para que eu me ajeitasse entre elas e
agarrou o meu cabelo na nuca.
— Eu até imagino quem te ajudou a criar essa lista.
— Jura? Quem? — perguntei, descendo meus lábios pelo seu pescoço.
— Todas as mulheres que estiveram no mesmo lugar que eu.
— Preciso te falar que nenhuma esteve exatamente no seu lugar — murmurei, afastando minha
camisa da frente dos seus seios. — Você é a minha primeira ficante fixa.
— Mesmo? Não houve nenhuma outra antes de mim?
— Nenhuma.
— Nem uma namorada? — Fui obrigado a olhar para ela com uma cara de quem perguntava se ela
realmente achava que eu já tinha tido alguma namorada na vida. Ela me olhou meio incrédula. —
Nem na adolescência?
— E algum adolescente com meio por cento de neurônio quer saber de namorar ao invés de foder?
— Meu Deus, Romeo! — Ela riu, me dando um tapinha no ombro. — Só não te chamo de
cachorro, porque o Bob não merece ser xingado.
— Hum, você o defende, mas ele já passou o rodo em duas cachorras no condomínio.
— Ainda está sendo menos galinha do que você — ela disse em meio a um gemido quando lambi
seu mamilo, que deveria estar sensível de tanto que mamei horas atrás. — Fico feliz que eu esteja
sendo a sua primeira ficante fixa.
— Eu também — sussurrei antes de tomar a sua boca na minha.

Alice acabou cedendo e dormiu novamente em minha casa, depois de eu prometer que a levaria
embora pela manhã. Foi difícil deixar que ela saísse da minha cama no dia seguinte e, depois de
deixá-la em seu apartamento, tentei fazer com que aquele sentimento estranho de saudade saísse do
meu peito. Não era como se eu nunca mais fosse vê-la, pelo amor de Deus! Mesmo assim, aquela
sensação incômoda estava ali. Precisei admitir para mim mesmo que eu já estava sentindo a sua falta.
Voltei para casa e resolvi caminhar um pouco com Bob pelo condomínio. Por mais estranho que
fosse, ele também parecia estar meio para baixo desde que voltei para casa sem a Alice. Vi a sua
expectativa quando passei pela porta e ao constatar que eu estava sozinho, me olhou como uma cara
de interrogação, como se perguntasse aonde Alice estava e porque ela não tinha voltado. Pensei que
a caminhada poderia animar nós dois e até o momento estava dando certo. Bob adorava socializar
com os vizinhos.
Ao longe, vi Dona Rosa, esposa do Seu Osvaldo, regando as flores que ficava em sua calçada. Ela
me viu e acenou com um sorriso, pedindo para que eu me aproximasse. Bob foi o primeiro a falar
com ela e o filho da mãe parecia saber que ela era apenas uma senhora, pois não pulou como de
costume, apenas sentou e deixou que ela coçasse as suas orelhas.
— Olá, Bob! Como você está bonito — ela o saudou, virando-se logo para mim. — Romeo, sinto
muito, eu nem tive tempo de ir à sua casa lhe dar feliz Natal.
— Não se preocupe com isso, Dona Rosa — falei, a abraçando rapidamente. — Um feliz Natal
para a senhora e para o Seu Osvaldo.
— Obrigada, querido. Osvaldo está lá dentro preparando um peixe para o almoço, por que não se
junta a gente?
— Eu adoraria, mas tenho trabalho a fazer. Mesmo a empresa estando em recesso, não posso me
dar ao luxo de ficar parado, ou o trabalho se acumula.
— Entendo. Pensei que você estaria ocupado com outra coisa — ela me deu um sorrisinho.
— Outra coisa?
— Sim. Osvaldo e eu fomos jantar em um restaurante na semana passada e vimos você com uma
moça muito bonita. Não quero ser indelicada, mas a vi com você hoje de novo, pela manhã. Ah,
Romeo, estou tão feliz por saber que você encontrou alguém!
Aquilo me pegou completamente de surpresa e acabei de me lembrando do que Alice me disse à
mesa de jantar naquela noite.
“— Você sabe que parece que está me pedindo em namoro fazendo isso, não? Tem um casal de
idosos nos olhando ali no canto e a senhorinha está sorrindo de orelha a orelha — ela disse
baixinho, olhando rapidamente para algo as minhas costas.
— Acho que a senhorinha nem imagina que estou louco para te colocar de quatro e te comer
bem gostoso enquanto puxo o seu cabelo e ataco a sua boca.”
A senhorinha... Porra, a senhorinha era a Dona Rosa! Puta que pariu! Foi a primeira vez em muito,
muito tempo, que senti as minhas bochechas ficarem completamente vermelhas de vergonha. Dio mio,
que situação!
— Ah, querido, não precisa se envergonhar. Já tive a sua idade, sei como se sente.
Não, ela realmente não sabia.
— Eu... Eu não vi vocês dois no restaurante — murmurei, sem saber o que dizer.
— É compreensível, você só tinha olhos para aquela moça e, devo lhe dizer, como ela é linda! Por
favor, da próxima vez que ela vier te visitar, me avise e vou preparar um almoço para os dois. Quero
conhecer a mulher que finalmente conquistou o seu coração.
Olhei para Dona Rosa sem saber como contestá-la. O que eu poderia dizer? Que havia levado
Alice naquele jantar para propor que começássemos a foder com exclusividade, mas sem
sentimentos? E que ela só viria para minha casa para que trepássemos como dois loucos cheios de
tesão? Eu sentia que poderia chocar a senhora ao ponto de ela nunca mais olhar na minha cara.
Limpando a garganta, tentei arranjar uma forma de deixar claro que Alice não era minha namorada e
que eu não estava apaixonado por ela.
— Ela é só uma amiga, Dona Rosa — falei depois de alguns segundos em silêncio. Dona Rosa riu
como se soubesse de algo que eu não sabia.
— Sei que hoje em dia vocês, jovens, acabam pulando certas etapas do relacionamento e, acredite,
eu não os julgo. Sexo é muito bom mesmo e, se eu soubesse disso antes de me casar, não teria ido
virgem para a minha noite de núpcias — disse ela e eu arregalei os olhos. Dio, eu estava ali, todo
cuidadoso para não chocar a senhora e ela me soltava uma dessas? Senti meu cérebro entrar em
curto-circuito. — Mas não se engane, quando o sexo é bem-feito e você não consegue mais pensar em
outra coisa a não ser encontrar novamente aquela pessoa, é porque há muito mais envolvido.
Dona Rosa me olhou como se estivesse vendo alguma coisa além do que eu poderia enxergar, em
seguida, acariciou novamente a cabeça de Bob e foi em direção ao portão da sua casa. Antes de
entrar, no entanto, ela disse:
— Não se esqueça de me apresentar à menina bonita quando ela voltar à sua casa.
E, simples assim, ela entrou e me deixou ali parado com a boca entreaberta, os olhos arregalados e
a mente dando voltas. Em que momento da minha vida eu imaginei que, um dia, Dona Rosa estaria
falando abertamente sobre sexo comigo? Bem, nunca. Parecia que todo mundo que via a Alice
comigo, estava perdendo a cabeça e enxergando coisas aonde não existia nada.
— Acho que sou o único que ainda está sã, Bob — falei, voltando a caminhar com o meu
cachorro. — Até você está esquisito. Acha que não estou percebendo? Pode tratando de voltar ao
normal, porque não vou conseguir conviver com alguém louco ao meu lado durante vinte e quatro
horas.
Enquanto voltava para a minha casa, coloquei em minha cabeça que aquilo era só uma fase. As
pessoas não estavam acostumadas a me verem com uma única mulher por mais de uma vez, então,
isso deveria estar mexendo com as suas cabeças. Quando o meu tesão e o de Alice chegasse ao fim, a
gente rompesse o nosso “relacionamento” e eu voltasse ao meu modus operandi, tudo voltaria ao
normal. Eu tinha certeza.
Capítulo 20
Tive um sonho tão real com a Alice, que me espantei por acordar apenas duro e não gozado. Sim,
eu sabia que acordar cheio de sêmen não era algo a se orgulhar, mas realmente me espantei por não
ter acontecido. O sonho tinha sido tão incrível, que parecia que eu ainda podia sentir o cheiro da
Alice, seu gosto em minha boca e a textura da sua pele em minhas mãos. Excitado, a primeira coisa
que fiz ao abrir os olhos foi enviar uma mensagem para ela. Passava das nove da manhã e eu estava
torcendo para que ela estivesse acordada.
“Você não tem ideia do que acabou de acontecer!”
Fiquei esperando a sua resposta, enquanto sentia meu pau pulsar dentro da cueca, exigindo uma
atenção que nós não teríamos naquele momento. Eu poderia bater uma punheta, lógico, mas não era
isso que a gente queria. Alice respondeu três minutos depois (não que eu estivesse contando).

“O que foi? Está passando mal?”


“Não, mas estaremos em breve.”
“Estaremos? O que houve? Está me assustando.”
“Tive um puta sonho com você. Sabe o que você fazia? Me prendia na cama com umas
algemas, passava chocolate pelo meu corpo e me lambia todo até chegar no meu pau. Foi tão
real, que agora estou largado na cama, com o coração batendo forte e o gigante erguido,
precisando de atenção. MAS VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI PARA NOS AJUDAR!”
“Kkkkkkkk. Eu não acredito! Pensei que fosse algo sério, Romeo!”
“Mas é sério! Você está desmerecendo a minha dor, Alice? Parece que vou ter que te
enviar uma prova para você acreditar.”

Descendo a cueca, segurei meu pau pela base com uma mão e, com a outra, tirei uma foto dele em
seu melhor ângulo, bem erguido, com a cabeça molhada, mostrando como ele estava duro. Minhas
bolas pulsaram só em pensar na bocetinha da Alice se encharcando ao ver o nude. Cliquei em enviar
e esperei.

“Meu Deus, Romeo, isso não se faz! Sabe aonde eu estou?”


“Na cama com uma mão dentro da calcinha?”
“No salão fazendo a minha unha. Quase deixei o celular cair no chão!”

Não pude deixar de rir ao imaginar a cena.

“Será que mais alguém viu a minha piroca? Se sim, pega o extintor para apagar o
incêndio que vai começar.”
“Ai, como você se acha! Kkkkkkk. Até parece que eu ia deixar que alguém visse o gigante.
Ele é só meu por tempo indeterminado, esqueceu?”
“Uau, não sabia que a minha garota era tão possessiva.”
“Com o que é meu eu sou mesmo!”
“Que tal me mostrar toda essa possessividade hoje à noite?”
“Topo. Na minha casa ou na sua?”
Cara, esse era um tipo de resposta que todo homem queria receber na vida! Depois de tanta luta
para ficar com essa mulher, o gosto da vitória era como um vinho raro e muito caro. Naquele
momento, entendi o real significado do ditado “os humilhados serão exaltados”. Meu momento de
glória havia chegado!

“Sinceramente? Eu pouco me importo com o lugar, o importante é ficar com você.”


“Ai, Romeo, você é tão fofo às vezes! Hahaha. Na minha casa, então. Leve o vinho.”
“Vou levar o vinho e depois te dar uma surra de pica.”
“CHEGA! Acabei de retirar o elogio sobre você ser fofo. Você não vale nada, Romeo
Benvenuto!”
“Quero ouvir você repetir isso em meu ouvido enquanto eu te como gostoso, bella.”

Passar a noite com a Alice foi sensacional. Eu não sabia como era possível, mas parecia que a
cada vez que nos beijávamos, que nos tocávamos, o prazer se tornava maior. Agora que eu conhecia
cada detalhe do seu corpo, que sabia o lugar certo onde tocar para deixá-la arrepiada e excitada, que
havia decorado cada parte sensível como se fosse um mapa em minha mente, eu me sentia ainda mais
seguro sobre o modo como tratá-la, tanto dentro quanto fora da cama.
Alice tinha nuances suaves. Ela era expansiva na cama, havia topado de tudo até o momento e se
sentia segura para tomar a inciativa. Ao mesmo tempo, ela corava como uma menina quando me
ouvia falar alguma putaria fora de hora, não tinha medo de esfregar na minha cara o quanto eu era
sem vergonha e se empolgava quando conversávamos sobre qualquer assunto. Passar tantas horas ao
seu lado me deu a oportunidade de conhecê-la profundamente, de uma forma que nunca conheci
qualquer outra mulher e isso me instigava a descobrir ainda mais, pois percebi que cada pequeno
detalhe a cerca dela, me encantava.
Ainda quando estava em seu apartamento, resolvemos passar o Réveillon juntos. Normalmente, eu
rompia o ano com meus amigos em alguma festa louca e cheia de bebidas e mulheres, mas queria
seguir o ritmo do Natal daquele ano e ficar ao lado de Alice. Como mamma sempre viajava com as
minhas tias para Angra dos Reis e não fazia nenhuma ceia em casa, decidi perguntar a Alexandre qual
era os planos dele e descobri que ele iria comemorar no Karaokê do Jô junto com a Paula. Na mesma
hora Alice e eu decidimos que iríamos para lá também.
Uma parte de mim ficou assustada com aquela mudança tão brusca em minha “rotina”,
principalmente quando comuniquei aos meus amigos que não iria festejar com eles. Como era de se
esperar, eles me fizeram uma chuva de perguntas e eu respondi a todas sem esconder nada. Quando
descobriram que eu viraria o ano ao lado de uma mulher, as perguntas se transformaram em uma
tempestade de zoação.
“Pronto, já vi tudo. Mais um amigo foi abatido.”
“Fodeu, gente! O maior pegador do grupo perdeu as bolas!”
“Caralho, Romeo, não acredito que li uma merda dessas.”
“Quem é ela? Alguém que a gente te apresentou?”
“Duvido, se fosse, a gente saberia.”
“A mulher deve ter boceta de ouro mesmo.”
“Ou deve ter feito vudu. Coitado de você, cara.”
“Essa daí veio com artilharia pesada, para derrubar o cara mais mulherengo que eu conheço.”
Decidi parar de tentar responder quando percebi que eu não tinha muito mais o que falar. Era
aquilo e pronto, eu passaria o Ano Novo com a Alice e meus amigos que superassem isso e tirassem
as suas próprias conclusões. Até pensei em explicar a eles sobre o tipo de relacionamento que eu
tinha com a ela, mas decidi que era melhor deixar aquilo guardado por um tempo. Levando em
consideração o fato de todo mundo estar achando que eu havia me apaixonado pela Alice, logo
cheguei à conclusão de que eles pensariam o mesmo e, naquele momento, eu estava totalmente
disposto a evitar a fadiga de ter que explicar pela enésima vez que não era nada daquilo que eles
estavam pensando.
Na noite do dia 31, deixei o Bob bem abastecido de água e comida e fechei toda a casa, para que
ele não se assustasse muito com o barulho dos fogos. Em seguida, mandei uma mensagem para
Alexandre perguntando se ele já havia chegado ao Karaokê. Ele confirmou que sim e que a nossa
mesa tinha uma visão privilegiada para a praia de Ipanema, o que me animou ainda mais e me deixou
ansioso para tudo o que aconteceria naquela noite.
No condomínio de Alice, desci do carro para esperá-la e fiquei mexendo no celular, rolando pelo
feed do Instagram. Estava totalmente distraído e quase dei um pulo quando algo se enroscou no meio
das pernas. Com o coração disparado, olhei para baixo e vi a Gata me encarando inocentemente,
como se não tivesse acabado de me causar um ataque cardíaco.
— Sua danada, quase me matou de susto! — falei, abaixando-me para acariciá-la. A Gata
ronronou e se esfregou em minha mão. — Como você está? Vim aqui há alguns dias e você nem
apareceu para me dar um oi. Fiquei decepcionado! — Ela ronronou mais alto. — Jura que tendo a
oportunidade de morar na casa da Alice, você prefere ficar zanzando pelo condomínio? Olha, se eu
tivesse a oportunidade de viver grudado naquela mulher, eu aceitaria sem nem pensar duas vezes. E
você, sortuda pra caramba, fica desperdiçando essa chance. Não dá para te defender assim, Gata.
Como se estivesse me respondendo, ela ronronou, em seguida, miou e saiu das minhas mãos,
correndo para algum lugar atrás de mim. Curioso para saber aonde ela estava indo, me levantei e a
encontrei enroscada entre as pernas de Alice, que me olhava com um brilho incomum nos olhos. No
mesmo instante eu entendi que ela havia ouvido tudo o que eu tinha acabado de falar e senti um frio
em meu estômago. Sem saber muito o que dizer, me aproximei dela e tentei agir normalmente,
beijando os seus lábios bem devagar.
— Oi — sussurrei, respirando fundo para sentir o cheiro do seu perfume.
— Oi — respondeu, abaixando-se rapidamente para acariciar a Gata. — Fofinha, tem água e
comida para você lá em casa, viu? A janela da cozinha está aberta.
Como se tivesse entendido o que Alice havia falado, a Gata se esfregou mais uma vez em suas
pernas e saiu saltitando em direção ao bloco onde Alice morava. Aproveitei aquele momento em que
Alice olhava com curiosidade para a gatinha e a olhei por inteiro, apreciando o seu corpo no vestido
branco que parecia abraçá-lo. Ao ser flagrado olhando descaradamente para ela, falei:
— Estou pensando no porquê do seu vestido ter mais sorte do que eu.
— Como assim?
— Bem, ele está envolvendo cada pedacinho do seu corpo e eu estou aqui, quase a um palmo de
distância — murmurei, puxando-a para mim pela mão. — E ainda dizem que há justiça na Terra.
— Como você é bobo — ela riu de encontro aos meus lábios, me beijando rapidamente antes de se
afastar. — Vamos, se não vamos chegar ao Karaokê só em 2020.
O caminho até o Karaokê do Jô foi feito em meio a uma conversa tipicamente nossa, onde falamos
sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Uma parte minha estava insegura sobre Alice mencionar
algo sobre o que eu estava dizendo à Gata. Não me leve a mal, mas, vocês ouviram as minhas
palavras? Elas tinham inúmeros significados e na hora eu sequer pensei nisso, só falei o que estava
dentro de mim. Agora, sendo racional, eu entendia como aquilo poderia soar. As chances de Alice de
interpretar tudo aquilo de forma errônea era bem maior do que as chances de ela interpretar as
minhas palavras de modo correto.
“E qual é o modo correto, cara?”, meu subconsciente me perguntou e eu segurei o volante com
mais força. Eu poderia pensar em mil motivos corretos para tudo o que eu havia falado. Viver
grudado a Alice poderia ser interpretado como, um: querer estar sempre dentro dela. Dois: querer
estar sempre beijando a sua boca. Três: querer estar sempre a abraçando. Quatro: querer estar
sempre tocando o seu corpo. Cinco: querer estar...
— Romeo? Romeo, está me ouvindo?
Precisei piscar duas vezes para voltar à realidade. Ao meu lado, Alice apertava a minha coxa e
chamava o meu nome para chamar a minha atenção. Pigarreando, tentei disfarçar.
— Desculpa, acho que viajei um pouco.
— Também acho. O que houve?
— Nada. — Toquei a sua mão em minha coxa e olhei rapidamente para ela, antes de voltar os
olhos para a estrada. — Estava só pensando em algumas coisas. Você conseguiu falar com a sua mãe
hoje?
Por mais que tivesse me dito que não iria mais ligar para a mãe naquele dia em minha casa, Alice
acabou dando o braço a torcer e telefonando para ela no dia seguinte. Magicamente, a mulher pareceu
se lembrar de que tinha uma filha e resolveu atender o telefone. Pelo o que me contou, sua mãe disse
que o lugar para onde tinham viajado não tinha sinal de celular e a conexão com a internet era muito
ruim. Parece que pediu desculpas, mas Alice não pareceu ficar muito convencida e eu também não.
Para mim, suas palavras soaram como uma desculpa esfarrapada.
— Consegui. Parece até um milagre, mas ela me atendeu. Disse que estava em um hotel
maravilhoso em Bali e que, quando voltar para a Austrália, quer que eu vá lá lhe fazer uma visita.
Cara, eu precisei morder a língua, ou ia falar algo que poderia estragar completamente a nossa
noite. Como uma pessoa poderia ser tão sem noção? Cazzo, era a mãe dela! Como essa mulher não
sentia falta da filha? Dio mio, aquilo era algo que eu nunca iria entender. Engolindo o que eu
realmente queria dizer, entrelacei meus dedos aos de Alice e beijei a sua mão, olhando rapidamente
em seus olhos.
— Fico feliz que vocês tenham se falado, bella.
— Eu também — ela murmurou.
Só soltei a mão dela quando precisei trocar a marcha do carro e estacionar. A entrada do Karaokê
estava lotada, mas entramos sem precisar encarar a fila. Todo ano, rolava o tradicional Réveillon do
Jô, uma festa bastante conhecida e frequentada pelos cariocas que procuravam diversão fora da
aglomeração de Copacabana. No palco, uma banda tocava música ao vivo para animar a noite e
corpos dançantes já se empolgavam no meio da pequena pista de dança.
— Eles estão ali — Alice falou em meu ouvido e apontou para a mesa onde meu irmão e Paula
estavam.
Aproximamo-nos e Alexandre me olhou com um sorriso sacana nos lábios quando viu minha mão
entrelaçada a de Alice. Por dentro, já sabia que ia ter que aturar o seu olhar sarcástico a noite toda,
mas nem isso havia me feito desistir de romper o ano ao seu lado e ao lado de Alice.
— Nossa, com vocês estão lindos! — Paula disse assim que chegamos perto o suficiente para
poder ouvir a sua voz. A namorada do meu irmão também estava linda em um macacão branco com
detalhes dourados. — Ah, é tão bonitinho ver vocês dois juntos! Quem diria que iríamos nos
reencontrar aqui no Karaokê em um programa típico de casais.
Senti um nó no estômago e Alice deu um sorriso meio sem graça ao meu lado. Quando vi o olhar
cúmplice que Paula deu a Alexandre, entendi tudo. Parecia que não seria apenas eu que iria sofrer
por ali; Alice também teria a sua cota com a amiga.
Assim que nos sentamos, um garçom se aproximou e eu pedi uma cerveja, enquanto Alice pediu um
mojito. A casa estava agitada, mas não lotada ao extremo, o que era bom, pois tínhamos uma visão
privilegiada do palco e da praia de Ipanema pelo janelão de vidro ao lado da nossa mesa. Quando o
garçom se afastou para pegar as nossas bebidas, Paula pediu para que Alice a acompanhasse até o
banheiro e eu só deixei a minha garota ir depois de dar um beijo em sua boca, sem me importar muito
com os olhares do meu irmão e da minha cunhada. Não nos beijarmos na frente deles não faria com
que parassem de nos olhar como se fôssemos o casal mais apaixonado do século.
— Ainda não acredito que eu vivi para ver isso — Alexandre falou assim que as meninas
deixaram a mesa.
— Isso o quê?
— Você passando o Natal e o Ano Novo ao lado da mesma mulher, com esse olhar de quem está
com os quatro pneus arriados e sem step para trocá-los.
— Não seja idiota — murmurei meio azedo, desviando os olhos para o palco. Isso, é claro, não
impediu que meu querido irmão continuasse a me perturbar.
— Fratello, admita, você está caidinho pela Alice.
— Estou caidinho pela boceta dela — falei com a cara meio fechada, mas logo me arrependi.
Merda, Alice não era uma mulher qualquer e falar aquilo apenas para me safar das provocações do
meu irmão não era certo. — Quer dizer, eu gosto dela, tá legal? Mas não desse jeito que você está
pensando.
— Então você gosta dela de que jeito?
— Como um amigo. — Alexandre começou a rir da minha cara assim que fechei a boca. — Estou
falando sério!
— Sim, claro que é como um amigo. Então, se por um acaso algum cara aqui da festa se
aproximasse de Alice e começasse a passar um papinho no ouvido dela, você não ia ficar puto?
Cara, eu fiquei puto só de imaginar. Foi tão instintivo que cheguei a cerrar os dentes quando a
imagem invadiu a minha mente. Sem querer dar o braço a torcer, falei:
— Claro que eu ficaria puto. Nós temos um acordo!
— Que acordo?
— Vamos transar por algum tempo, com exclusividade. Apenas sexo, entendeu? Sem sentimentos,
sem cobranças e sem rótulos — contei logo, vendo Alexandre arregalar um pouco os olhos. — Então,
sim, eu ficaria puto, mas só porque concordamos que não ficaremos com outras pessoas enquanto
estamos transando.
Acho foi a primeira vez em muito tempo, que consegui deixar o meu irmão completamente sem
palavras. Por pelo menos meio segundo, Alexandre ficou só me olhando com a boca meio aberta e os
olhos esbugalhados. Quando o garçom chegou com a minha bebida e a de Alice, meu irmão pareceu
voltar à realidade e apertou meu ombro quando voltamos a ficar a sós.
— Fratello, tenho algo a lhe dizer — disse com seriedade, olhando em meus olhos. — Quando a
gente muda alguma regra em nossa vida por uma mulher, é porque há muito mais do que desejo em
jogo. Espero que você enxergue isso logo, antes que a vida dê um jeito nada sútil de te mostrar.
Foi a minha vez de não saber o que dizer e acho que Alexandre percebeu isso, pois parou de me
perturbar com aquele assunto e deu um gole em sua cerveja, sorrindo para algo além de mim. Logo vi
que eram as meninas e Alice sentou-se ao meu lado, pegando seu drinque. Ela franziu o cenho ao me
observar.
— O que houve? — perguntou, passando o dedo levemente sobre a minha sobrancelha franzida. —
Está tão sério.
As palavras de Alexandre ainda estavam martelando em minha cabeça, mas decidi deixar aquilo
de lado, pelo menos por aquela noite. Relaxando as minhas feições, esforcei-me para dar o meu
melhor sorriso para Alice e me aproximei com carinho para deixar um beijo no cantinho dos seus
lábios.
— Não aconteceu nada. Só vamos curtir a nossa noite, tudo bem?
Ela assentiu com um sorrisinho e se aproximou para me beijar na boca. Era incrível como o beijo
daquela mulher tinha o poder de acalmar qualquer furacão dentro do meu peito.
Capítulo 21
Os fogos explodiam no céu enquanto as pessoas se abraçavam e desejavam feliz Ano Novo umas
às outras. Ao meu lado, Paula e Alice estavam se abraçando há quase dois minutos e meu irmão e eu
já não sabíamos mais o que fazer para esperar as duas se afastarem. Foi engraçado o modo como
Alexandre quase esmagou a Paula ao agarrá-la e beijá-la, mas eu não fiquei muito para trás no
quesito empolgação. Assim que tive acesso a Alice, a puxei com entusiasmo para os meus braços e
enrosquei a minha língua na dela.
— Feliz Ano Novo, bella — desejei entre os seus lábios, sentindo seu corpo se moldar
perfeitamente contra o meu. Alice acariciou a minha nuca e deu uma mordidinha em meu lábio
inferior que me deixou todo arrepiado.
— Feliz Ano Novo, Sr. Benvenuto. — Ela se afastou só um pouquinho para me olhar. — Quem
diria que estaríamos aqui, rompendo o ano juntos? A vida é bem louca às vezes.
— Ela sabia que, se colocasse você em meu caminho, eu não te deixaria escapar — falei,
apertando a sua cintura em minhas mãos. — E não deixei.
— Está para nascer um homem mais insistente do que você.
— Mas você gostou da minha insistência, pode falar — ri, beijando o seu pescoço. Sua voz soou
em um sussurro bem no meu ouvido.
— Eu amei. Obrigada por não ter desistido de mim.
— Bella, isso jamais aconteceria.
Voltei a beijá-la e só parei quando ouvi a voz do meu irmão soar alto demais ao meu lado. Ao
encarar o palco, entendi que ele não estava gritando ao meu lado e, sim, lá em cima, com o microfone
em uma mão e a garrafa de cerveja na outra. Dando um último gole, ele deixou a bebida de lado e se
virou para a “plateia” que se formava em frente ao palco, procurando pela Paula, que acenou
chamando a sua atenção.
— Por favor, por favor, pode jogar um foco de luz naquela mulher linda ali? Obrigado — meu
irmão pediu quando um refletor parou em cima de Paula. Ao meu lado, Alice apertou a minha mão.
— Meu Deus, o que ele vai fazer? — Perguntou em meio a uma risada.
— Passar vergonha, é claro.
— Ai, Romeo, para! Tenho certeza de que ele vai fazer algo romântico — falou em um suspiro.
Abracei Alice pelo ombro e esperei pelo romantismo do meu irmão, que estava meio bêbado,
assim como a Paula. Com o microfone em mãos, ele começou:
— Dois mil e dezenove foi, de longe, o ano mais especial da minha vida. Ele me trouxe uma
mulher linda, inteligente, gostosa, amorosa e apaixonada, que me deixou completamente louco assim
que cruzou o meu caminho. Paula, minha gatinha feroz, te conhecer foi a parte mais especial do ano
que passou, mas ter você ao meu lado foi o maior presente que eu poderia receber. Quero que saiba
que eu te amo muito, que pretendo te fazer feliz e ficar ao seu lado para sempre.
Ao fundo, o som de um pagode antigo começou a tocar e quando identifiquei a música, fiz uma
careta de desgosto. Fala sério, Alexandre deveria estar um pouco mais do que quase bêbado para
cantar aquilo. O refrão foi a pior parte.

Minha namorada é nota dez


Simplesmente linda da cabeça aos pés
Em forma de canção
Eu canto o nosso amor
Seu sorriso meigo e sensual
Basta eu ver pra levantar o meu astral
Estando ao lado dela
Tudo fica legal

Ele desceu do quando repetiu a primeira estrofe da música e as pessoas abriram uma rodinha para
que ele e Paula ficassem no meio. Puxando a minha cunhada pela cintura, eles começaram a dançar e
eu precisei tirar meu celular do bolso para filmar aquilo. Seria uma ótima arma para zoar meu irmão
no futuro. Ao chegar no final, ele se afastou um pouco segurando a mão da Paula e quase gritou no
microfone, puxando, por mais incrível que pareça, um couro da plateia formada ao seu redor.

Só sei que eu te amo pra valer[17]

Ao meu lado, Alice levantou os braços e começou a cantar junto com o meu irmão. Rindo, a filmei
também e ela se virou para mim, cantando para câmera e sambando devagarinho. Uma onda quente de
ternura invadiu meu coração ao vê-la daquele jeito tão alegre e espontânea, curtindo o momento
brega do meu irmão com a sua namorada. Quando a música acabou, todo mundo bateu palmas e
Alexandre deitou Paula em seu braço, dando nela um beijo digno de cinema — e eu, claro, registrei
tudo com o meu celular. Assim que eles se aproximaram, eu falei:
— Essa foi a coisa mais brega que eu já vi em toda a minha vida!
— Mentira! Foi a coisa mais fofa que eu já vi — Alice quase suspirou ao meu lado.
— Foi tão romântico, amor! — Paula disse, grudada no pescoço do meu irmão. — Te amo muito,
meu italianinho.
— Italianinho? — Perguntei ao meu irmão com uma sobrancelha arqueada. Ele deu de ombros com
um sorrisão no rosto, como se aquele fosse o apelido mais foda que já tivesse ouvido.
— Eu também te amo muito, gatinha.
Eles começaram a se beijar de um modo quase obsceno e aproveitei aquele momento para puxar
Alice para os meus braços e a levá-la para o meio dos corpos dançantes perto do palco. A banda ao
vivo, que tinha aberto um espaço para que Alexandre pudesse se declarar, voltou a tocar e animar o
pessoal. Eu sentia Alice molinha entre os meus braços, esfregando o corpo contra o meu, ficando na
ponta dos pés para beijar a minha boca e o meu pescoço, inflamando ainda mais o fogo dentro de
mim.
— Vamos embora? — ela perguntou em meu ouvido, levando as mãos até a minha bunda e
apertando com força. Eu ri em seu ouvido e senti o sangue correr velozmente pelas minhas veias. —
Eu quero você.
— Quer?
— Sim.
— Como você me quer?
Ela se afastou só um pouquinho para me olhar e passou a língua pelos lábios.
— Quero você na minha cama.
Cazzo, eu amava a forma como aquela mulher era decidida! Sem falar mais nada, dei um beijo
apaixonado em sua boca antes de puxá-la pela mão e sair do Karaokê. Alexandre entenderia muito
bem para onde tínhamos ido quando fosse nos procurar — isso se ele já não tivesse saído de lá antes
da gente. Em meu carro, dirigi no limite da velocidade até o condomínio de Alice, intercalando meus
olhos entre ela e a estrada, doido para pegá-la de vez e sentir o seu corpo no meu. Assim que
chegamos, fomos correndo até o elevador e a coloquei contra a parede espelhada, beijando a sua
boca e, provavelmente, dando um show para a equipe de segurança que acompanhava tudo pelas
câmeras.
Foi o barulho das portas se abrindo que nos fez voltar à realidade e praticamente corremos até o
apartamento dela. Alice estava com as mãos trêmulas ao pegar as chaves na bolsa e eu não ajudava
ao me esfregar em seu corpo por trás, beijando o seu pescoço e deixando que sentisse a minha ereção
em sua bunda. Ela soltou um gemidinho e puxou meu cabelo próximo a nuca com uma mão, enquanto
a outra girava a chave fechadura.
— Se algum vizinho sair agora, vai nos processar por atentado ao pudor.
— Esse vizinho tem que estar sem sexo há um bom tempo para ser tão recalcado assim.
Alice riu e nós entramos, deixando a porta se fechar em um baque atrás de nós dois. Nem dei
tempo para que ela falasse mais nada, largando a sua bolsa em cima do sofá, a peguei em meu colo e
fui com ela em direção ao seu quarto, a colocando de volta no chão quando já estávamos perto da sua
cama. Alice chutou as sandálias para longe e eu fiz o mesmo com os meus sapatos, abaixando-me
rapidamente para tirar as meias. Assim que voltei a me erguer, ela tirou a minha camisa e eu desci o
zíper do seu vestido, deixando as alças finas caírem dos seus ombros. Quando a peça foi ao chão, eu
senti minha boca ficar seca.
— Você estava sem calcinha esse tempo todo?
— Falam que dá sorte romper o ano sem calcinha — falou com uma expressão provocante.
— É mesmo? — Perguntei, tocando em sua cintura até fazer com que ela se sentasse na cama.
Ajoelhando-me, parei entre as suas coxas e as abri, expondo a bocetinha pra mim. — Por que você
não me falou nada? A gente podia ter dado uma rapidinha no banheiro.
— Preferi que você descobrisse assim, tirando a minha roupa — disse com o ar entrecortado ao
sentir meus lábios em sua virilha.
— Amei a surpresa. Não sei se realmente dá sorte romper o ano sem calcinha, mas de uma coisa
eu sei, bella. — Olhei em seus olhos com a boca bem perto da sua boceta. — Receber uma chupada
no dia primeiro de janeiro é a melhor forma de começar o ano novo.
Alice até começou a rir da minha piadinha, mas parou quando a lambi desde a entrada até o
clitóris durinho. Dio, a cada vez que sentia o seu gosto, ele parecia ficar melhor, mais intenso,
viciante. Ajoelhado entre as suas pernas afastadas, comecei a chupar Alice com gosto, sentindo meu
pau pressionar o fecho do meu jeans e implorar por uma atenção que ele só receberia depois que eu
fizesse Alice gozar em minha língua.
Ela gemeu e enfiou a mão em meu cabelo, apoiando-se no colchão com um cotovelo e jogando a
cabeça para trás. Seus seios ficaram empinadinhos e eu estiquei um braço sobre a sua barriga para
poder pressionar um mamilo entre os meus dedos. Meu nome saiu do fundo da sua garganta e Alice
apoiou os calcanhares no colchão para rebolar na minha boca. Porra, que delícia! Deixei que ela
praticamente comesse a minha língua e esfregasse a bocetinha na minha cara, até tomar novamente o
controle da situação e a segurar firme pela cintura para penetrá-la com a língua. Seu gemido ecoou
pelo quarto e eu pressionei o clitóris com o polegar, sentindo seus espasmos e tremores, a forma
como suas paredes vaginais pressionavam e soltavam a minha língua.
— Ai, Romeo... Assim, não para... Meu Deus!
Subi com a língua para o seu clitóris e lambi rapidamente antes de chupar com delicadeza para
dentro dos meus lábios, aplicando a pressão que eu sabia que fazia Alice desabar. Com os
calcanhares fincados no colchão, ela se contorceu e chamou pelo meu nome em meio ao orgasmo,
arranhando meu couro cabeludo e estremecendo com força. Recolhi seu gozo em minha língua,
sentindo o gostinho meio salgado, com um toque ácido que fez o meu pau babar com força na ponta.
Quando ela parou de gemer e fechou as pernas para me impedir de continuar com as lambidinhas, me
levantei e curvei meu tronco sobre o dela na cama, arrastando meus lábios pelo seu pescoço.
— Ainda está viva? — perguntei baixinho e ela riu de olhos fechados.
— Ressuscitando — sussurrou com a voz rouca, abrindo as pernas para que eu me acomodasse
entre elas.
— Hum, gostei dessa posição. Quero meter assim mesmo — falei, já levando minhas mãos à frente
da minha calça. Alice abriu os olhos de repente.
— Não, tenho uma surpresa para você antes.
— Surpresa? O quê?
Ela pousou as mãos em meus ombros e me empurrou levemente até eu me levantar. Precisei
segurar o meu tesão ao vê-la de pé, nua em toda a sua glória, arqueando-se sobre a cama para tirar o
edredom. Sua bunda durinha ficou empinada e eu quase fiquei louco. Com um sorriso, Alice se
aproximou de mim e desabotoou a minha calça, descendo o jeans junto com a cueca pelas minhas
pernas.
— Deite-se e feche os olhos — pediu, indo até a cômoda no canto do quarto. — E não espie, se
não, vou vendar você!
— Sim, senhora — ri enquanto fazia o que me pediu.
Foi com muito esforço que permaneci deitado e com os olhos fechados. Como não queria estragar
a surpresa, não espiei em nenhum momento e senti meu coração bater mais forte quando o colchão
afundou um pouco ao meu lado direito. Sem dizer uma palavra, Alice pegou o meu pulso e senti algo
gelado em torno dele, logo em seguida, um clique soou bem próximo ao meu ouvido. Parecia o
barulho de um metal contra a cabeceira da cama. Ao tentar abaixar o meu braço direito, entendi
exatamente o que aquela danada havia acabado de fazer.
— Estou algemado? — Foi uma pergunta retórica, eu sabia. Ouvi a risada baixinha de Alice ao
meu lado, enquanto ela prendia o meu outro pulso.
— Sim, por tempo indeterminado.
— Isso não é justo. Como vou sobreviver pelos próximos minutos se eu não puder te tocar? —
perguntei ainda de olhos fechados.
— Você vai conseguir, eu acredito no seu potencial — a safada falou, me dando um selinho antes
de deixar a cama. — Já volto.
Ouvi os seus passos se distanciarem e abri os olhos rapidinho só para ver o seu trabalho em meus
pulsos. Porra, ser algemado pela Alice estava me matando de tesão e senti um frio de expectativa na
barriga ao pensar no que ela estava tramando. Assim que ouvi os seus passos se aproximando, voltei
a fechar os olhos e esperei com expectativa pelo momento em que o colchão afundaria de leve ao
meu lado, mas não foi o que aconteceu. Senti o colchão afundar, sim, mas foi aos meus pés. Alice
veio engatinhando com as pernas do lado de fora do meu corpo e não aguentei ficar de olhos
fechados. Eu precisava ver aquilo, ou iria morrer. Ela parou no meio do caminho e se ajoelhou,
colocando as mãos para trás.
— Quem mandou você abrir os olhos?
— Desculpa. — Eu ergueria as mãos, mas elas estavam algemadas. Mas valeu a pena abrir os
olhos. Porra, Alice estava parada bem em cima do meu pau, que se erguia sobre a minha barriga.
Com a visão que tive, ele pulsou e deu uma levantada, quase como se pudesse penetrá-la apenas pela
força do meu pensamento. Alice viu e ficou boquiaberta.
— Você e o gigante não valem nada, Romeo Benvenuto.
Um sorriso presunçoso se abriu em meus lábios.
— O que eu posso fazer se ele é tão viciado na sua bocetinha quanto eu? Ele tem vontade própria.
— Tinha que haver um modo de algemá-lo também — falou com um sorrisinho sacana.
— E tem.
— Tem?
— Sim. É só enfiá-lo na sua boceta. Prometo que ele vai ficar quietinho enquanto você o algema
com ela e quica para cima e para baixo.
Alice gargalhou e seus seios vibraram de leve, fazendo a minha boca se encher de água. Poxa, nem
tinha conseguido dar uma chupadinha neles. Se soubesse que ia ser algemado, teria aproveitado mais
do seu corpo enquanto tive livre acesso.
— Você é um safado, Sr. Benvenuto! Estou até pensando se merece ou não o que planejei fazer
com você.
— Tenho certeza que eu mereço — falei com certo desespero, excitado pra caramba. — O que
você está escondendo aí atrás?
— Feche os olhos e você saberá.
— Preciso sentir medo?
— Não sei. Parece que você vai ter que confiar em mim para descobrir.
— A sua sorte, é que eu confio em você até de olhos fechados, bella.
A última coisa que vi antes de fechar os olhos foi o seu sorriso. Senti Alice voltar a se mover
sobre mim na cama, então, passou alguns segundos imóveis até encostar o nariz no meu. Sua voz soou
baixinha ao pedir:
— Beije-me.
Óbvio que ela não precisou pedir duas vezes. Ergui um pouco a cabeça e encontrei a sua boca no
meio do caminho. Assim que enfiei minha língua em seus lábios, eu senti algo diferente, um sabor
delicioso, que me fez beijá-la mais. Cazzo, era chocolate! Como se ele fosse uma catapulta, fui
levado direto ao sonho que havia tido com ela dias atrás, onde eu estava algemado e ela passava
chocolate por todo meu corpo, até... Porra, até chupar o meu pau. Sorri em meio aos seus lábios e
fiquei tão duro que chegou a doer.
— Sua safada! — Falei quando ela se afastou e abri os olhos. — Não sabia que você também
realizava sonhos.
Alice colocou um pouco da calda de chocolate meio amargo no dedo e o levou aos lábios,
chupando de maneira sugestiva. Meu pau babou com tanta força na ponta, que chegou a molhar um
pouco a minha barriga.
— Fiquei pensando muito no que você me contou e cheguei à conclusão de que eu precisava
provar chocolate e Romeo Benvenuto juntos — falou ela, apontando o frasco da calda em direção a
minha boca.
Um fio começou a descer e me melou nos lábios, no queixo e pescoço e foi descendo até chegar
em meu umbigo. Sem encostar em meu corpo, Alice se abaixou sobre mim e pousou a língua em meus
lábios, lambendo devagarinho, me deixando louco. Tudo o que eu queria naquele momento era tocar
em seu cabelo, seu pescoço, seu corpo, enfiar o dedo em sua boceta, ter qualquer acesso a ela para
poder sentir o seu toque com menos intensidade. Estava tão excitado, que parecia que eu poderia
gozar bem ali, com a sua língua a milhões de quilômetros do meu pau.
Chupei a sua língua antes que ela se afastasse e gemi quando ela desceu pelo meu queixo,
lambendo e mordendo de leve, sugando minha pele até chegar no pescoço. Ali, Alice se esbaldou,
levou o seu tempo passando a língua de uma ponta a outra, indo atrás da minha orelha e voltando. A
danada já conhecia todos os pontos que me faziam estremecer e estava se aproveitando daquele
momento para me torturar. Sem conseguir controlar meus espasmos, meus quadris subiram e meu pau
tocou em sua boceta molhadinha. Cazzo, eu deveria ter ganhado um prêmio por não ter gozado
naquele exato momento. Alice ergueu a cabeça me olhou com os lábios melados pelo chocolate.
— Quieto!
— Não consigo — respondi meio ofegante. — Você está me torturando, bella!
— Mas não foi assim no seu sonho? Estou só seguindo o script.
— Não, no meu sonho você foi um pouquinho mais rápida. A essa hora, sua boca já estava no meu
pau.
— É por isso que esse foi o seu sonho. A realidade é bem diferente e quem manda sou eu — falou
como uma dominatrix e, porra, quase fiquei louco. — Fica quietinho e deixa eu me aproveitar de
você.
Ela voltou a se abaixar e seus dedos levaram o chocolate até os meus mamilos, onde ela lambeu e
sugou de leve até me ouvir puxar as algemas. Estava louco para me soltar e pegá-la de jeito e a
safada sabia disso, por isso estava me provocando naquela tortura lenta e deliciosa. Quando
começou a descer em direção ao meu pau, eu me vi mais ansioso, quase não respirava mais, nem sei
como eu vivia, só queria que ela colocasse o meu pau em sua boca e me chupasse até eu esquecer
meu nome. Quando, enfim, achei que isso aconteceria depois de ela ter lambido em volta do meu
umbigo e me deixado quase cego de tesão, a filha da mãe voltou a erguer o tronco. Não me contive.
— Ah, não! Alice, per favori!
— O quê? — Ela prendeu o sorriso.
— Chupa o meu pau! — Saiu meio ríspido, por isso, repeti em um tom mais amável. — Chupa o
meu pau, bella, per favori.
Pegando novamente o frasco com a calda de chocolate, Alice abriu a tampa e deixou que o fio
melasse o meu pau, desde a cabeça até as bolas. Só aquele contato leve já me deixou doido e puxei
as algemas de novo, sem me importar se elas incomodavam os meus pulsos ou não. Deixando o
frasco de lado, Alice se abaixou e ficou de quatro com a bunda bem empinada, o cabelo de lado, me
dando livre acesso para poder olhar o que ela estava fazendo. Porra, que visual do caralho!
Então, ela fez algo que jamais sairia da minha memória. Com a pontinha da língua, ela percorreu
bem devagar o caminho de chocolate, desde as bolas, passando pela base, contornando a veia que
pulsava levemente, até chegar à cabeça do meu pau e lamber como se fosse um sorvete. Eu estremeci
e cerrei os dentes, sentindo o formigamento do pré-gozo quase me dominar.
— Hum... Romeo e chocolate, uma combinação irresistível — Alice falou em um gemido, antes de
começar a mamar no meu pau.
Puta. Que. Pariu. Que visão, que mulher, que sensação, Dio mio! Eu queria olhar para o que ela
estava fazendo, mas, ao mesmo tempo, queria jogar a cabeça para trás e fechar os olhos apenas para
que a sensação da sua boca no meu pau tomasse conta de mim completamente. Foi delicioso sentir a
sua língua percorrendo cada centímetro da minha piroca, os lábios se fechando bem na cabecinha,
seus dedos tocando as minhas bolas e o arrepio que tomava conta de todo o meu corpo. Era como se
o mundo tivesse parado de girar apenas para que eu sentisse todo aquele prazer.
Alice me masturbou com a mão direita e fechou os lábios sobre a glande, chupando com pressão.
Eu sentia que estava perto de gozar, mas não queria. Daquela vez, queria gozar bem enterrado dentro
dela. Tirando forças de não sei onde, levantei a minha cabeça e a encontrei com os olhos vidrados
em mim. Ela aproveitou aquele momento para descer a boca pelo meu pau, fazendo a cabeça bater
em sua garganta.
— Ai, cazzo, bella! — Quase rugi como um animal, tamanho o prazer. Cerrando os dentes, pedi:
— Não quero gozar agora, vem aqui, me solta pra eu poder te comer bem gostoso, vem. — Ela me
ignorou e continuou a subir e descer com a boca pelo meu pau. Cara, eu já podia sentir a porra bem
ali, prontinha pra sair em disparada. Sabia que, se fosse meter nela agora, iria gozar em dois
segundos, por isso, falei com um pouco de rispidez: — Alice! Coloca um pouco de chocolate nessa
boceta e vem aqui sentar na minha cara, anda!
Surtiu algum efeito, pois Alice parou o que estava fazendo e me olhou com aqueles lábios
inchados entreabertos e os olhos esbugalhados. Dei-lhe o meu melhor sorriso sensual e murmurei:
— Vem cá, bella. Quero chupar essa bocetinha com gosto de chocolate. Não seja cruel, por favor.
— Não sei. — Ela me masturbou com delicadeza, sabendo que eu estava por um fio. Safada sem
vergonha!
— Alice, vou te pegar com tanta força quando você me soltar daqui, que você vai gritar pedindo
por misericórdia.
— Bom saber. Acho que não vou te soltar nunca mais, vai ficar à minha mercê nessa cama pelo
resto do ano.
— Sempre soube que você me achava um gigolô.
Ela começou a rir e deixou o meu pau duro feito pedra descansar sobre a minha barriga. Estava tão
sensível que até o contato com a minha própria pele me fez estremecer.
— Você é um gigolô bem abusado, que fica espalhando ordens mesmo estando algemado e
recebendo um boquete sensacional.
— Estava sensacional mesmo, bella. Eu bateria palmas se as minhas mãos estivessem livres.
— Eu sei muito bem aonde você bateria se as suas mãos estivessem livres, Romeo — disse ela,
abrindo a tampa da calda de chocolate.
— É mesmo? Aonde? — perguntei com um sorrisinho.
— Na minha bunda.
— Cazzo, Alice. Era tudo o que eu queria agora, bater nessa bunda até você implorar pelo meu
pau na sua boceta. — Parei de falar quando ela sujou o dedo com a calda e passou em cima da
bocetinha, bem no começo da rachinha, deixando o doce escorrer. Minha boca se encheu d’água. —
Bella, vem aqui, vem.
Ela veio e, Dio mio, eu me esbaldei. Com as pernas abertas entre o meu rosto, Alice abaixou o
suficiente para que a minha boca fosse de encontro com sua bocetinha e eu lambi tudo, sentindo o
gosto dela misturado ao chocolate. Pensei que, naquele momento, meu pau conseguiria se acalmar e
não ficaria de novo ao ponto de gozar, mas me enganei. Ele pulsou tão forte que me assustei pelo jato
de porra não ter saído.
Alice rebolou na minha cara, gemendo meu nome e se segurando na cabeceira, enquanto eu lambia
o clitóris durinho e descia até a sua entrada. Infelizmente, não conseguia penetrá-la com o dedo, mas
fiz todo o serviço com a língua, até ela ficar a ponto de gozar.
— Me solta daqui pra eu te comer, bella — pedi, deixando alguns beijos em sua virilha.
— Ainda não.
Alice saiu da cama e pegou uma camisinha na mesinha de cabeceira. Foi incrível ver a safadinha
abrindo o pacote com o dente e vindo vestir o meu pau. Devidamente protegido, ela se sentou de
costas para mim, virou um pouquinho o rosto para me encarar e se sentou sobre o meu pau
lentamente, até eu não saber mais onde ela começava e eu terminava. Naquela posição, eu tinha uma
visão privilegiada da sua bunda e quando ela se inclinou sobre as minhas pernas, pude ver sua
bocetinha engolindo minha piroca com fome e sede.
— Caralho, Alice! Você não imagina a visão que eu estou tendo... Isso, sobe e desce no meu pau,
bella.
Alice gostou do meu comando, pois aumentou a velocidade dos seus movimentos, gemendo como
uma gatinha cheia de tesão. Eu conseguia ouvir o barulho melado da sua boceta contra meu pau e a
pressão a sua bunda no começo da minha barriga só me deu mais vontade de dar uns tapas nela. Dio,
uma tortura nunca foi tão difícil e deliciosa de ser enfrentada. Quando Alice rebolou, eu senti que
poderia morrer.
— Alice, me solta — pedi, tentando mover meus quadris. — Preciso tocar em você, bella.
Finalmente, Alice me ouviu. Com delicadeza, tirou meu pau de dentro dela e se virou, pegando a
chave em cima da mesinha de cabeceira. Mal consegui me conter quando soltou meu pulso direito,
pois agarrei seu cabelo e trouxe sua boca a minha, enfiando a minha língua e arrancando um gemido
do fundo da sua garganta ao beijá-la com todo o meu desejo. Tateando, ela conseguiu soltar o meu
outro pulso e eu inverti as nossas posições, colocando os seus calcanhares ao lado do meu pescoço e
a penetrando com força, até o fundo.
— Ah, Romeo! — Ela gritou, arregalando os olhos. Parei no mesmo momento.
— Te machuquei?
— Não, mas parece que eu estou sentindo você no meu útero.
Um sorriso satisfeito se abriu em meus lábios.
— Não imagina como é bom saber disso, bella. — Me inclinei um pouco para frente, a penetrando
até o fundo e voltando devagar, mas intensamente. Alice pulsou ao meu redor e arranhou de leve a
minha cintura. — Bom?
— É mais do que bom. Não para.
Nem um tsunami me faria parar naquele momento. Voltando a ficar de joelhos, dei uma mordidinha
em seu calcanhar e comecei a meter mais forte e bem rápido, saindo e entrando em um ritmo que
começou a enlouquecer nós dois. Alice agarrou a cabeceira quando aumentei os movimentos e eu
fechei os olhos, sabendo que não conseguiria esperar mais. Meu corpo estava tenso, minhas bolas
pesavam e meu pau implorava para gozar. Abaixei as pernas da Alice e me inclinei sobre o seu
corpo. Eu amava todas as posições, mas nada se comparava a um papai e mamãe gostosinho daquele
jeito.
— Vem comigo, bella — sussurrei, tocando seus lábios com os meus. — Goza bem gostoso junto
comigo.
Alice me puxou para um beijo e cruzou as pernas em minha cintura, me ajudando a meter rápido e
forte. Senti o momento exato em que ela começou a gozar, pois seu gemido foi mais longo, sua
respiração ficou entrecortada, seu corpo ficou tenso e suas paredes vaginais me apertaram como
ferro. Foi o meu fim. Gozei como nunca bem enterrado nela, ao ponto de perder a visão por alguns
segundos, tamanho o prazer que me assolou.
Só consegui abrir os olhos quando os espasmos diminuíram e encarei uma Alice vermelha,
ofegante, mas com aquele sorrisinho de quem havia acabado de ter uma das melhores noites da sua
vida.
— O que foi melhor, o sonho ou a realidade? — ela perguntou, tirando alguns fios de cabelo da
minha testa molhada de suor.
— Nada vai superar o que acabou de acontecer entre nós nessa noite, bella — falei, tocando em
seu rosto, preparando-me para beijá-la. — Nem se eu sonhar mais mil vezes.
Capítulo 22
Acordei no dia seguinte com beijos no pescoço e um cheiro inconfundível de chocolate quente. Era
a primeira vez que eu era acordado assim, com tanto carinho ao ponto de transformar a minha ereção
matinal em uma ereção cheia de tesão. Abrindo um olho, encontrei Alice e senti seus dedos em meu
peitoral, acariciando-me lentamente de cima a baixo.
— Bom dia — saudou ela.
— Hum, bom dia... — falei com um pouco de preguiça, olhando rapidamente em volta. Na mesa
que ficava perto da sacada do seu quarto, havia um café da manhã completo. — De onde surgiu esse
café da manhã de hotel?
— Gostaria de falar que eu acordei às cinco da manhã para preparar tudo isso, mas, a verdade, foi
que liguei para padaria e pedi para que entregassem tudo. Por sorte, eles trabalham mesmo no dia
primeiro de janeiro.
— Não precisava fazer isso, era só me acordar e eu faria o nosso café.
— O problema seria encontrar algo adequado dentro da minha despensa — disse ela, se
levantando e estendendo a mão para mim. — Venha. Não sei você, mas eu estou faminta.
— Também estou, mas preciso mijar antes.
— Está bem, aquela escova de dentes que você usou na última vez que dormiu aqui, está dentro da
gaveta.
Não me passou despercebido o fato de eu já ter uma escova de dentes na sua casa, mas não quis
pirar por causa disso. Bem, aquilo deveria ser comum entre duas pessoas que passavam a noite na
casa da outra, não é? Imagina se eu tivesse que carregar uma escova de dentes toda vez que fosse
dormir na casa dela? Era apenas mais... Cômodo. Mijei, escovei os dentes e lavei o rosto, voltando
para o quarto em seguida. Encontrei Alice comendo um pão francês e rindo de algo no celular.
— Olha isso! Paula e Alexandre foram para praia de Ipanema pular as sete ondas, mas estavam tão
bêbados, que a filmagem saiu toda esquisita — Alice me mostrou assim que me sentei ao seu lado.
Na tela, Paula filmava meu irmão, que tentava pular a marola com as calças enroladas até a canela e
a blusa toda aberta. Em sua mão, havia um champanhe pela metade. Paula ria de se escangalhar e o
chamava de “italianinho” enquanto tentava equilibrar o celular na mão.
— Dio! Será que eles conseguiram chegar bem em casa?
— Ah, com certeza. Devem estar dormindo até agora e tenho certeza de que, assim que acordar,
Paula vai apagar esses stories — Alice disse, colocando o celular de lado. — É tão bonitinho ver a
Paula apaixonada desse jeito. Ela sempre foi meio durona em relação ao amor, era bem desapegada e
nunca teve esse sonho de realmente se apaixonar. Vê-la dessa forma é surpreendente. Estou muito
feliz por ela ter encontrado o seu irmão, ele é um cara incrível e parece gostar dela de verdade.
— Alexandre é um cara maravilhoso mesmo e não digo isso apenas porque ele é meu irmão. Mas
devo confessar que ainda é difícil acreditar nessa nova realidade dele. Não me leve a mal, mas é
que, às vezes, meu irmão me acompanhava na gandaia, saía comigo, curtia a vida. Ele nunca foi como
eu, já teve sua cota de namoradas e tudo mais, mas nunca esteve tão apaixonado como agora e isso
me assusta um pouco.
— Assusta? Por quê?
— Porque eu sinto que estou prestes a perder o meu irmão para o matrimônio — falei um tanto
dramático e Alice riu. — Sério, eu não achei que isso aconteceria tão cedo.
— As pessoas se apaixonam, Romeo, isso é comum. E a maioria delas acabam percebendo que
essa paixão virou amor. Sei que isso está totalmente fora da sua realidade, mas é algo que acontece
com bastante frequência.
— Quando você sabe que está apaixonado? — perguntei com uma dúvida sincera e Alice me
olhou um pouco surpresa. — Eu não saberia identificar.
— Essa é uma pergunta um tanto complexa.
— Até para uma escritora de romances?
— Principalmente para uma escritora de romances — ela riu. — Não existe uma fórmula exata
para se apaixonar, por isso, nós que somos escritores, exploramos esse sentimento o máximo
possível. Cada personagem é diferente do outro, cada história é diferente da outra, então, o que
funcionou para que um personagem acabasse se apaixonando, nem sempre vai funcionar para um
outro personagem. Entende o que eu quis dizer?
— Sim. Por exemplo, o James Slater, que é um personagem meio rebelde, cheio de vícios e um
tanto egocêntrico, não se apaixonaria com a mesma facilidade que um homem como o meu irmão —
refleti.
— Exatamente! Então, o James só vai perceber que está apaixonado, quando esse sentimento o
tocar profundamente, ao ponto de ele perceber que há coisas em sua vida que estão erradas e que ele
precisa mudar.
— Acha mesmo que isso aconteceria na vida real? Um homem mudar por causa da paixão ou do
amor?
— Acho que sim, de verdade. Mas, é claro, estou falando de mudança de hábitos, de consertar os
erros e se ajustar, não de mudança de caráter. Quem é mal caráter sempre será mal caráter e não vai
ser o amor que vai mudar isso.
Sem saber, Alice tocou em uma ferida antiga dentro de mim. Suas palavras me fizeram lembrar do
meu pai. Ele sempre jurou amor a minha mãe e, mesmo assim, a traiu cruelmente e a deixou para trás
como se ela não fosse nada. Que amor era esse que ele dizia sentir? Minha mãe sempre me disse que
o amor não machucava, que ele trazia alegria, que “aquecia” o coração, mesmo assim, ela foi
terrivelmente machucada por causa do amor. Como queriam que eu acreditasse em um sentimento tão
cruel quanto esse?
— Romeo? — Alice tocou em minha mão por cima da mesa. — Está tudo bem?
— Sim — pigarreei, tomando um gole do chocolate. — Sim, está tudo bem.
— Tem certeza? Você está estranho desde ontem.
— Estranho?
— Sim. Fica calado de repente, sério, com a cabeça longe daqui. Aconteceu alguma coisa? Sei
que nós estamos transando, mas você disse que ainda éramos amigos, então, pode desabafar comigo.
Vou tentar te ajudar no que eu puder.
Fiquei realmente tentado a me abrir com a Alice, mas logo rechacei a ideia, pois ela era o
principal motivo por eu estar “estranho”. Envolver-me com ela dessa forma estava sendo delicioso,
mas, ao mesmo tempo, estava fazendo com que sentimentos esquisitos surgissem dentro de mim. Sem
contar a necessidade de passar mais alguns minutos ao seu lado, de ver o seu sorriso, ouvir o som da
sua voz ou sentir o seu toque. Achei melhor deixar tudo aquilo bem enterrado dentro de mim, pois
tinha certeza de que, uma hora ou outra, todos esses sentimentos deixariam de existir e contar sobre
eles para Alice poderia lhe dar falsas esperanças. Entrelaçando meus dedos nos dela, falei:
— Não é nada demais, eu só estou ansioso com o lançamento da nova plataforma de jogos. Aliás,
a festa é agora no sábado e quero que você vá comigo.
— Jura? Aonde será a festa?
— Vai ser no salão de um hotel em Copacabana. Estou nervoso, tenho que confessar. Estamos
trabalhando nesse projeto há mais de dois anos, eu tenho certeza de que está perfeito, mas, ainda
assim, sinto aquele frio enorme na barriga.
— Eu sei como é, sinto isso a cada lançamento de um livro. É quase como um filho nosso, que
estamos deixando voar por esse mundo.
— Exatamente. Dio, você é tão poética, bella. — Alice riu e eu a puxei para se sentar em meu
colo. Colocando uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, falei: — Acho que não vou ficar tão
nervoso com você ao meu lado.
— Por quê? Já está pensando em dar uma rapidinha a caminho do evento, pra chegar lá mais
relaxado?
— Olha, eu não tinha pensado nisso, mas é uma ótima ideia! — Falei com entusiasmo, passando o
polegar de leve pelo seu rosto. — Estava falando apenas sobre você e não sobre sexo, dessa vez.
Eu... Eu confio em você, Alice e quero que esteja ao meu lado porque você é importante para mim.
Aquelas palavras vieram do fundo do meu peito e, assim que saíram pela minha boca, eu senti meu
coração disparar. Não me arrependi por ter as dito, pelo contrário, fiquei nervoso porque nunca fui
tão sincero em toda a minha vida. Acho que Alice sentiu o impacto de cada uma delas, pois seu
sorriso diminuiu e seus olhos brilharam com intensidade. Tocando em meu maxilar, ela disse:
— Você também é importante para mim, Romeo. Não imagina o quanto. Tenha certeza de que eu
sempre estarei ao seu lado, até o momento em que você disser que eu devo partir.
Fiquei louco só de imaginar em não a ter mais ao meu lado.
— Eu não vou querer que você parta, bella, nunca! Mesmo quando pararmos de transar, ainda
seremos amigos e estaremos juntos. Quero que você permaneça na minha vida, Alice.
Ela assentiu com um semblante um tanto entristecido, mas forçou um sorriso.
— Está bem.
— Eu estou falando sério. Não acredita em mim?
— Acredito. — Senti verdade em sua palavra, mas o brilho de tristeza em seu olhar estava me
incomodando. Como se notasse o meu incomodo, Alice abriu um sorriso mais alegre. — Mas não
vamos pensar nisso agora, Sr. Benvenuto. Ainda quero me aproveitar muito desse corpinho sarado.
Eu sabia que ela estava tentando escapar usando piadinhas de cunho sexual e, por um momento,
pensei em insistir no assunto para tentar descobrir o que a estava entristecendo, mas decidi que era
melhor deixar aquilo quieto por enquanto. Se Alice sentisse vontade de compartilhar comigo, ela o
faria, eu sabia disso. Sorrindo, a apertei pela cintura e me inclinei para tocar os nossos lábios.
— Você pode se aproveitar desse corpinho a hora que quiser, bella. Sou todo seu — sussurrei e a
beijei.

Eu odiava usar terno. Sinceramente, havia roupa mais inapropriada para uma cidade como o Rio
de Janeiro? Mesmo de noite, debaixo da camiseta, da blusa social branca e do paletó, ainda ficava
um calor infernal, sem contar a gravata, que eu simplesmente não sabia como fazer um nó decente. Ao
meu lado, Bob me olhava com interesse, como se não tivesse certeza de que era mesmo eu que estava
na sua frente.
— Ainda sou eu, Bob, isso é só uma roupa — falei, tentando dar um nó na porcaria da gravata. —
Uma roupa horrível, mas apenas uma roupa.
Desisti de dar o nó na gravata. Olhando em meu relógio, vi precisava estar na casa da Alice em
menos de vinte minutos, ou então, chegaria atrasado para o meu próprio lançamento. Depois de tanto
trabalho, não poderia cometer uma gafe como essa. Despedi-me de Bob prometendo que dormiria em
casa naquela noite — eu estava em falta com ele desde que comecei a sair com a Alice — e entrei
em meu carro dando uma olhada no grupo da famiglia, que iria em peso ao evento. Que Dio me
ajudasse com aquela turma inteira no lançamento mais importante do ano da minha empresa.
Entrei no condomínio de Alice com três minutos de antecedência do nosso horário combinado.
Mandei uma mensagem avisando que já tinha chegado e respondi às mensagens do pessoal da
empresa. Segundo eles, estava tudo perfeito, a imprensa já havia chegado, os convidados especiais
também, bem como os investidores que haviam nos ajudado a criar a nova plataforma. Respirei fundo
para espantar o nervosismo e fechei os olhos, pedindo a Dio para que tudo ocorresse bem e que
tivéssemos sucesso. Pulei no banco quando ouvi duas batidinhas na janela do carro e vi Alice ao
lado da porta do carona. Merda, estava mesmo nervoso, pois havia me esquecido de a esperar do
lado de fora. Assim que saí do carro, me arrependi por ter sido tão relapso. Minha bella estava tão
incrível, que não merecia nada menos do que um cortejo.
— Dio mio! — A peguei pela mão e a fiz dar uma voltinha. Alice estava usando um vestindo
longo, verde bem claro, com um decote discreto na frente e uma fenda que ia até o meio da coxa.
Como a saia era fluida, só dava para ver a sua perna maravilhosa quando ela andava. Nunca a vi
mais bonita, a não ser quando estava pelada. — Você está estonteante, bella.
— Obrigada. — Ela me olhou de cima a baixo quando voltou a ficar de frente para mim e alisou
meu terno. — Você também está maravilhoso. Fica muito sexy de terno, Sr. Benvenuto.
— Há dez segundos eu odiava ternos, agora, eu acho que vou comprar mais um ou dois e deixar
em meu armário para que você o tire de mim em alguma noite dessas antes da gente transar.
— Vai ser como desembrulhar um presente. Só está faltando a gravata, não?
Fiz uma careta de desgosto.
— Não sei dar um nó direito naquela porcaria.
— Está aí no carro? Posso dar o nó, se você quiser.
— Por incrível que pareça, eu a trouxe. Espere só um segundo.
Abri o carro e vasculhei o banco de trás até achar a bendita da gravata azul-escura. A entreguei
para Alice e ela a ajeitou em meu pescoço, começando a fazer um nó bem trabalhado. Não sei
porque, mas, naquele momento, me senti ainda mais próximo e íntimo dela. Era como se eu pudesse
visualizar essa mesma cena daqui a vinte anos, conosco mais velhos e ainda juntos. Logo descartei
essa imagem idiota, eu ao menos usava terno, pelo amor de Dio!
— Prontinho — disse ela, alinhando a gravata e voltando a abotoar o meu paletó. — Você está
um gato, Romeo.
— Eu me esforço — brinquei, arrancando uma risada dela. Com carinho, a puxei para o meu braço
e beijei os seus lábios. — Obrigado.
Ela sorriu e me beijou mais uma vez antes de eu abrir a porta do carona para que ela entrasse.
Dentro do carro, uma rádio tocava MPB e Alice começou a me explicar como a música era capaz de
a inspirar na criação de um livro. Jamais imaginaria uma coisa desse tipo e foi interessante saber um
pouco mais do seu universo enquanto eu dirigia. Não sei se foi proposital ou não, mas ouvir a sua
voz e conversar sobre algo que não tinha nada a ver com o meu trabalho, ajudou-me a ficar mais
calmo. Assim que chegamos, minha equipe se ocupou em estacionar meu carro e Sabrina, minha
secretária, nos guiou até o salão de eventos.
Antes de entrarmos, paramos para tirar fotos e fiz questão de que Alice ficasse ao meu lado em
todas elas. Nunca havia levado uma mulher comigo em qualquer evento, então, aquela era mais uma
primeira vez. Minha lista de “primeiras vezes” estava ficando cada vez mais extensa. Ao entrarmos
no salão, fomos parados por conhecidos meus até que eu pudesse chegar na mesa da minha famiglia.
Mamma foi a primeira a me ver e se levantou com um sorriso emocionado.
— Tesori, está tudo tão lindo! Dio, meu coração vai transbordar de orgulho — ela disse, me dando
um abraço. Ao se afastar, olhou para Alice com admiração. — E você, figlia, está tão linda nesse
vestido!
— Obrigada, Francesca. A senhora também está linda.
— Ah, meu tesori comprou roupa nova para mim e mandou que uma equipe fosse lá em casa para
fazer meu cabelo e minha maquiagem, acredita? É um figlio de ouro mesmo!
Alice me olhou com tanta admiração, que cheguei a ficar um pouco envergonhado. Para disfarçar,
dei um beijo na testa de mamma e falei:
— A senhora merece tudo isso e muito mais.
— Isso inclui a Alice como nora? — Como sempre, Francesca Benvenuto não perdia uma
oportunidade. Acabei rindo dela.
— Mamma, per favori.
— Vá bene, vou parar só porque hoje é a sua noite, figlio. Venha, Alice, sente-se comigo.
Havia uma cadeira reservada para Alice ao lado de mamma e a minha cadeira — que eu pouco
usaria essa noite, pois teria que circular pelo salão — ficava ao lado da minha bella. Deixei que ela
se sentasse e me inclinei para falar baixinho em seu ouvido:
— Vou fazer a parte chata da noite e ir cumprimentar os sócios e convidados especiais. Me espera
aqui?
— Não irei a lugar algum — ela respondeu de volta.
Senti tanta vontade de beijar aquela boca que nem me importei que estávamos em frente à
famiglia, simplesmente me inclinei e a beijei, sentindo meu coração bater forte no peito. Quando nos
afastamos, senti o olhar de todo mundo sobre nós dois, mas não me intimidei e a beijei mais uma vez
antes de ir circular pelo salão.

Alice
Assim que Romeo deixou a mesa, senti olhar de toda a sua família pousar sobre mim. Foi um tanto
constrangedor, pois ele havia me apresentado a todo mundo como sua amiga e tinha certeza de que
ninguém ali sabia sobre a nossa relação peculiar. Pensei em dar uma desculpa e escapar para o
banheiro, mas Francesca soltou um suspiro encantado ao meu lado e pousou a mão sobre a minha.
— É tão lindo ver o meu figlio apaixonado.
Apaixonado? Realmente, a mamma Benvenuto não gostava mesmo de encarar a realidade. Uma
das tias de Romeo, que estava sentada a nossa frente, disse:
— Tenho que concordar. Querida, Romeo está de quatro por você.
— De quatro? Dio, que jeito horrível de falar, Eugênia.
— Ora, é como os jovens falam hoje em dia, Beatrice.
— Os jovens. Olha para você, já é uma velha caída.
— Caída é você! Já se olhou no espelho, sorella?[18]
— Chega, vocês estão espantando a Alice! — Francesca disse ao meu lado. — Não se assuste,
figlia, elas são assim mesmo, vivem implicando uma com a outra.
— Sabe como é, cara mia[19], irmãos sempre vão implicar um com o outro. Se isso não acontecer,
é porque há alguma coisa errada — disse uma outra tia de Romeo.
— Graziella está certa — a outra tia, que se chamava Eugênia, disse. — E você, querida, tem
quantos irmãos?
— Nenhum, sou filha única.
— Ah, que lástima! Irmão é a melhor herança que podemos deixar para um figlio — Beatrice
disse.
— Figlia, sinto muito que você tenha crescido sem irmãos. Mas tem primos, não? — Francesca
perguntou.
— Também não. Minha mãe também era filha única, assim como o meu pai.
— Ora, então está explicado o porquê de você ter conhecido o meu Romeo. Dio sabia que você
precisava ser abraçada por uma grande famiglia — Francesca disse, abraçando-me pelo ombro.
Fiquei tão emocionada com as suas palavras, que até ignorei o fato de que, na verdade, eu não
faria parte da sua família, pois Romeo e eu não tínhamos um relacionamento convencional. Por
alguns minutos, quis me aproveitar daquela fantasia. Francesca começou a me contar um pouco mais
sobre os filhos e trouxe à tona histórias da infância de Romeo. Disse que ele sempre foi um menino
muito arteiro, o mais agitado dos três irmãos e o que deu mais trabalho também. Quando chegou na
adolescência, era quase impossível segurá-lo em casa, vivia em festinhas com os amigos e nunca
havia levado uma mulher para que ela conhecesse.
— Essa acabou se tornando a minha maior preocupação, sabe? Os anos foram se passando, Romeo
começou a se acalmar e estudar quando ficou adulto, mas nunca trazia uma namorada para casa. Dio
sabe que eu não me importaria se meu figlio fosse gay, mas eu sabia que não era, porque via quando
ele trocava mensagens com meninas pelo celular. Então, por que ele não trazia nenhuma delas para
casa?
— Porque sempre foi um cafajeste — Beatrice disse.
— Meu figlio nunca foi um cafajeste!
— Francesca, sei que você não gosta de acreditar, mas essa é a verdade — Beatrice disse,
virando-se para mim. — Romeo sempre disse que iria morrer solteiro, porque não iria se amarrar a
uma donna só, quando poderia ter várias.
Eu engoli em seco e sorri amarelo, sentindo-me um pouco mal com aquela conversa. Eu sabia que
Romeo pensava exatamente assim, mas ouvir era pior.
— Pare com isso, Beatrice, o que a Alice vai pensar do meu figlio?
— Alice, não ligue para ela. Beatrice é uma velha ranzinza — Graziella disse.
— Mas eu só estou falando a verdade. Eu amo o meu sobrinho, mas ele era um devasso. Isso não
quer dizer, é claro, que eu não acredite que ele possa mudar — disse Beatrice. — E acho que ele já
está mudando. Vi o modo como Romeo te olhou antes de sair daqui, Alice. Foi o olhar de um uomo
apaixonado.
— Foi mesmo — Eugênia confirmou.
— Eu não disse? Dio ouviu as minhas preces! Ele nunca ensurdece os seus ouvidos para uma
mamma aflita!
Olhei para elas sem saber ao certo o que dizer e fui salva por um anjo chamado Giulia. Ela chegou
naquele exato momento com o seus pais e chamou a atenção de sua avó e suas tias. À mesa ainda
estavam os primos de Romeo, mas eles não se aventuraram na conversa que as mulheres Benvenuto
estavam tendo comigo, o que era bom. Acho que eu iria enlouquecer se mais alguém me disse que
Romeo estava se apaixonando por mim.
Giulia falou com todo mundo e quando me viu, me abraçou com força. Encontrei ali o momento
perfeito para ir ao toilet e a chamei para ir comigo. Assim que entramos no banheiro vazio, Giulia
soltou uma risadinha.
— Nonna está te enlouquecendo, não? Vi a sua expressão de quem estava pedindo socorro.
— Estava tão explícito assim? — perguntei com uma careta e ela afirmou, rindo de mim. — Ai,
Giulia, a sua avó e as suas tias são maravilhosas, mas, ao mesmo tempo, elas ficaram falando
algumas coisas que mexeram comigo.
— O que elas falaram? — perguntou ela, ficando séria de repente.
Eu sabia que Giulia era só uma menina de dezessete anos, mas, ao mesmo tempo, enxergava nela
uma maturidade que existia em mim quando eu tinha a sua idade. Foi por isso que me senti segura
para desabafar.
— Elas acham que o seu tio está apaixonado por mim.
Giulia ficou alguns segundos em silêncio, como se refletisse sobre o que eu havia acabado de
falar. Segundos depois, disse:
— Alice, o meu tio sempre foi avesso a relacionamentos. Ele nunca quis namorar, nunca levou uma
mulher para que minha nonna conhecesse e sempre deixou bem claro que iria morrer solteiro. E,
agora, ele não só te apresentou para a famiglia, como te levou para passar o Natal conosco e rompeu
o ano ao seu lado. Também te trouxe para um evento da empresa, coisa que ele nunca fez antes com
mulher alguma. É por isso que todo mundo está achando que ele está apaixonado por você.
— Todo mundo? Todo mundo quem?
— A famiglia toda — ela disse, ficando um pouco encabulada. — Inclusive eu.
Acho que meu coração falhou uma batida ou duas. Deus do céu, eu não queria acreditar em nada
daquilo, mas... E se fosse verdade? E se Romeo realmente estivesse apaixonado por mim? Um pouco
desorientada, apoiei-me na bancada do banheiro e olhei para o chão, sentindo meu coração agora
começar a acelerar. Uma coisa era certa, Romeo poderia não estar apaixonado por mim, mas eu... Eu
estava me apaixonando perdidamente por ele.
— Alice? Alice, você está bem? — Giulia perguntou, tocando em minha mão. Quando viu que eu
não respondi, afastou-se. — Ai, meu Deus, vou chamar o meu tio e...
— Não! — Quase gritei, agarrando a sua mão. — Não precisa chamar o Romeo, eu só... Eu só
preciso de alguns segundos para me acalmar.
Giulia me olhou com atenção e tocou o meu rosto com delicadeza.
— Você está se apaixonando por ele, não é? — Pensei em não responder, mas, logo me vi
assentindo com uma careta. Merda, eu estava muito ferrada. — Ah, Alice... Isso me deixa feliz, mas
também me deixa assustada.
— Assustada? Por quê?
— O meu tio é complicado. Eu não sei o porquê, mas ele morre de medo de se apaixonar e quando
descobrir que você está apaixonada por ele e que ele também está apaixonado por você, vai querer
se afastar.
Giulia tinha razão. Esse tipo de coisa não acontecia apenas em livros, mas também na vida real.
Respirando fundo, apertei a sua mão na minha e disse:
— Não vamos sofrer por antecipação, tudo bem? Seu tio e eu, nós... Bem, nós estamos nos
envolvendo...
— Sei como estão se envolvendo — ela disse com um sorrisinho e as bochechas vermelhas. Até
eu fiquei um pouco constrangida, mas tentei disfarçar, afinal, eu era a adulta ali.
— Sim, estamos nos envolvendo dessa forma que você está pensando. Os sentimentos são
complicados para todo mundo, não só para ele, como também para mim, então, vamos deixar para
pensar sobre eles quando chegar o momento.
— E quando esse momento vai chegar? — Perguntou ela, lembrando-me de que, por mais madura
que fosse, Giulia ainda era uma adolescente.
— Não sei, mas uma hora ele vai chegar, Giulia. Vamos torcer para que dê tudo certo.
— Eu torço por isso desde o nosso jantar — ela riu e eu não pude deixar de a acompanhar.
Saímos do banheiro minutos depois e antes de chegarmos à mesa, fomos abordadas por Romeo.
Depois de abraçar e beijar o tio, Giulia pediu licença e foi se sentar ao lado dos pais.
— Aconteceu alguma coisa? Mamma e minhas tias assustaram você? — Romeo perguntou com
preocupação, abraçando-me pela cintura.
Bem, sim.
— Não — menti, mas foi por uma boa causa. — Está tudo bem. Giulia e eu demoramos um pouco,
porque estávamos conversando sobre os meus livros.
Ele pareceu respirar aliviado.
— Giulia é realmente sua fã. Mas eu sou mais — falou com aquela cara de safado que eu estava
aprendendo a amar.
“Alice, se controle, pelo amor de Deus! Nada de criar esperanças, você entrou nessa relação
sabendo muito bem o que deveria esperar!”
Pelo menos o meu subconsciente ainda estava são e salvo.
— A Giulia leu todos os meus livros. Não tem como se comparar a isso.
— Hum, mas eu já li o seu todo o seu corpo e sei te fazer gozar como ninguém. Não há nada que se
compare a isso.
Era impressionante a capacidade que Romeo tinha de falar safadeza em qualquer situação. Não
pude deixar de rir, porque ele me surpreendia, me encantava e mexia com partes do meu corpo que
eram impróprias para serem despertadas em público. Dando-me um beijo, ele se afastou.
— Daqui a alguns minutos eu vou subir ao palco para falar um pouco sobre a plataforma de jogos.
Me deseje sorte para que eu me saia bem?
— Você não precisa de sorte, porque é o homem por trás de tudo isso. Vai estar perfeito lá em
cima.
Ele soltou um suspiro e me olhou com uma intensidade completamente diferente.
— Não sei como vivi até agora sem ter você ao meu lado, bella.
Esse era o tipo de coisa que ele falava e que mexia diretamente com o meu coração. Como Romeo
queria que eu não me apaixonasse por ele, quando falava aquilo para mim? Era praticamente
impossível, chegava a ser cruel, mas eu não dizia nada, porque a maior parte de mim adorava saber
que era isso que ele sentia e pensava. Dando-me mais um beijo, ele se afastou e pediu para que eu
fosse me sentar, pois iria para o palco. Fiz como me pediu e encontrei Paula na mesa com Alexandre.
Sentei-me ao lado da minha amiga e aplaudi quando Romeo apareceu sob o foco de luz e começou a
falar.
Meu coração disparou ao olhar para aquele homem imponente, inteligente, simpático e com a boca
mais suja que eu já havia conhecido. Não tinha mais como negar. Eu estava me apaixonando por
Romeo Benvenuto.
Capítulo 23
Falar em público era sempre um desafio. Eu não era tímido ou introspectivo, mas, mesmo assim,
encarar uma multidão não era a coisa mais fácil do mundo para mim, por isso, acabava usando o
humor para disfarçar o nervosismo. Enquanto falava sobre a plataforma de jogos e explicava de onde
ela havia surgido, porque havia sido criada e as expectativas que pretendíamos suprir, eu fazia uma
piadinha ou outra para arrancar alguma risada do meu “público”.
Bem à frente do palco, estava Alice e ela me olhava com intensidade, me passando coragem
silenciosamente. Quando terminei, todos se levantaram para bater palmas e pude ver as expressões
satisfeitas nos rostos dos investidores. Aquele era um momento crucial para a nossa empresa e o
lançamento dessa nova plataforma de jogos seria um divisor de águas em minha carreira.
Assim que desci do palco, Alice veio ao meu encontro e me abraçou com entusiasmo. Naquele
momento, soltei toda tensão que ainda estava em meu corpo.
— Você foi maravilhoso! Meu Deus, até eu estou empolgada para virar uma gamer agora!
— Eu vou ensinar tudo o que você precisa saber.
— Eu tenho certeza que sim, CEO Romeo Benvenuto.
A puxei para um beijo e senti meu corpo acender de tesão. Queria fugir da minha própria festa
para só para poder ficar sozinho com aquela mulher. Alice mordeu devagarinho o meu lábio e eu
pensei em uma putaria ou duas para falar naquele momento, mas fui interrompido por pigarros atrás
de mim. Um pouco puto por ter sido atrapalhado, virei-me e encontrei Pablo, Tomas e Hugo, meus
amigos, olhando de mim para Alice com os olhos meio arregalados.
— Cara, você foi sensacional lá em cima! — Pablo disse, apertando a minha mão, em seguida,
virou-se para Alice. — Não vai nos apresentar a essa moça bonita?
— Claro. Alice, esses são Pablo, Tomas e Hugo. Meninos, essa é Alice.
— É um prazer — Alice disse, apertando a mão de cada um deles. Pude ver o olhar interessado
dos três e a puxei para mim pela cintura. Eles ficaram mais espantados.
— Então, é por isso que você desapareceu, cara? — Hugo perguntou. — Eu não te julgo. Também
sumiria se uma beldade dessa atravessasse o meu caminho.
— Ah, eu também — Tomas disse, olhando para Alice de cima a baixo. — Vocês poderiam me
ligar, mandar mensagem, bater na porta da minha casa e eu simplesmente fingiria que vocês não
existiam.
— Ei, vamos ter um pouquinho de respeito? — pedi, ficando puto de verdade. — Alice não está
aqui para ouvir as piadinhas sem graças de vocês.
Pablo me olhou com interesse por alguns segundos, logo depois, balançou a cabeça.
— Vamos pegar uma bebida, gente. Depois falamos com o Romeo.
— Melhor mesmo — confirmei. Eles se entreolharam, em seguida, foram em direção ao bar onde
era servido as bebidas mais fortes. Virando-me para Alice, pedi: — Desculpa por isso, bella, eles
sabem serem idiotas quando querem.
— Eles pareciam surpresos por te ver acompanhado.
— Eu nunca fiz isso antes, então, eles estão estranhando, mas isso não dá a eles o direito de serem
babacas com você e ficarem falando aquele tipo de merda.
— Está tudo bem, não me senti ofendida. E gostei que você tomou o meu partido, apesar de eu não
precisar que me defendam.
— Hum, você é autossuficiente, não é?
— Isso mesmo — ela sorriu, tocando meu colarinho. — Mas foi muito gentil da sua parte.
Obrigada.
— Não sou herói nem nada do tipo, mas vou estar sempre do seu lado, bella. A não ser quando
você estiver muito errada.
— Pois saiba que isso acontece pouquíssimas vezes. Geralmente, estou sempre certa — ela
brincou e eu ri.
— Dio, estou me envolvendo com uma mulher egocêntrica e não sabia. Estou me sentindo
enganado!
— Não se sinta. Se você estiver sempre ao meu lado, então, sempre terá razão.
— Olha só, mais um motivo para ficar agarrado em você.
Tomei os seus lábios nos meus antes de a levar comigo para circular um pouco pelo salão. Eu
sabia que quem realmente me conhecia, estava curioso para saber quem era a Alice, se ela era minha
namorada ou algo mais sério, mas não dei abertura para que ninguém questionasse sobre a minha
vida pessoal. Pouco depois das onze, os convidados começaram a ir embora e eu finalmente consegui
me sentar com a minha famiglia e comer alguma coisa. Infelizmente, só consegui beliscar uns
canapés e fiz uma careta pela fome.
— Que tal a gente passar em um McDonald’s e comprar o maior hambúrguer que eles tiverem
disponível antes de irmos para minha casa? — perguntei a Alice e ela assentiu.
— Acho ótimo, também estou com fome — ela disse, alisando a minha gravata. — Agora, pare de
me olhar assim, pois parece que você está falando alguma coisa muito pornográfica.
— Não estou falando, mas estou pensando ao ver esse seu decote — sussurrei e ela riu. — Só
quero chegar em casa, comer o hambúrguer e, depois, comer você.
— Romeo, você sabe que a sua mãe está sentada bem ao nosso lado, não?
— Sim, é claro. Respeito muito minha mamma, por isso que estou falando tão baixinho, que você
está tendo que fazer leitura labial.
— Na verdade, eu estou te ouvindo perfeitamente bem.
— Isso é porque você já sabe o tipo de putaria que eu falo.
Alice gargalhou e mamma olhou para nós dois com um sorriso gigante.
— Acredite, o seu arsenal é gigante e você sempre surge com algo novo. Não sei o que esperar de
você, Romeo Benvenuto.
— Isso é melhor ainda! Significa que nunca vamos cair na rotina, bella.

Alice e eu passamos o final de semana juntos e tanto eu quanto Bob sentimos a sua falta durante a
semana, que foi corrida ao ponto de eu não ter conseguido tirar um tempinho para vê-la. Nos
falávamos todos os dias por mensagens e chegamos a fazer uma chamada de vídeo na quarta-feira
quando cheguei da empresa. Ela também estava com o tempo corrido, pois tinha que enviar a
primeira parte do seu novo livro na semana seguinte para a sua editora.
Na sexta-feira, no meio do meu horário de almoço, meu celular começou a tocar. Pensei que
poderia ser Alice, mas vi o nome de Tomas brilhando na tela. Engolindo a comida, atendi:
— Fala aí.
— Cara, enfim consegui falar com você! Acho que só no horário de expediente mesmo pra
conseguir falar contigo — disse ele, parecendo meio incerto. — Romeo, queria te pedir desculpas
pelo o que aconteceu lá na festa, cara. Eu e o Hugo fomos idiotas com você e a Alice... Sabe como é,
eu não pensei que ela fosse importante para você... Enfim, nada justifica.
— Sim, nada justifica, mas tudo bem, eu sou bonzinho e te perdoo.
— Idiota — ele riu e eu acabei rindo também. Apesar de tudo, Tomas era meu amigo há anos e eu
também já havia sido babaca com ele. — Olha, vou fazer uma festa lá em casa hoje, uma coisa mais
íntima, sabe? Quero que você vá e leve a Alice para que eu possa me desculpar e mostrar que eu não
sou tão babaca assim.
— Festa íntima? E você sabe o que significa isso?
— Claro que sei! Juro que a festa vai ser legal, sua garota não vai se assustar.
Minha garota. Eu vinha pensando em Alice dessa forma ultimamente, mas saber que outra pessoa
a via como minha me deu uma sensação de confiança no peito. Era como se todo mundo visse que
ela, de certa forma, era importante para mim.
— Eu vou falar com ela e te mando a resposta mais tarde.
— Está bem. O que ela gosta de beber?
— Caipirinha.
— Opa, essa é das minhas — ele riu, mas logo parou. — Quer dizer, hum... Você sabe, não no
sentido sexual nem nada...
Eu comecei a rir. Tomas estava pisando em ovos para falar comigo e isso era inédito.
— Eu entendi, cara. Está tudo bem. Eu ainda sou o mesmo Romeo, sabe.
Tomas soltou um suspiro meio desolado do outro lado da linha.
— Não é não, cara. Não é não.
Despedimo-nos e as palavras de Tomas ficaram martelando em minha mente. Eu havia mudado?
Como? Eu não ia mais para a farra com ele e os meninos, nem vinha sentindo necessidade de ficar
com outra mulher que não fosse a Alice, mas isso não queria dizer que eu havia mudado. Eu ainda
era o mesmo Romeo e não pretendia mudar.
Depois do almoço, tive uma reunião rápida com a equipe e consegui ligar para Alice perto das
cinco horas. Em minha sala, fiquei rodando na cadeira até ouvir a sua voz do outro lado da linha.
Assim que ela disse “oi” eu soube que havia algo errado.
— Bella? O que aconteceu?
— Como sabe que aconteceu alguma coisa? — ela deu uma risadinha desanimada.
— Eu te conheço até pelo som da sua voz. O que houve?
— Estou naquela época do mês em que só quero morrer — disse ela. Fiquei alguns segundos em
silêncio, sem entender nada. Até que uma luz surgiu no fim do túnel da minha mente.
— Ah... Está menstruada?
— Isso. E morrendo de cólica — ela falou em um miado. — O primeiro dia é sempre o pior.
— Ai, bella, sinto muito.
— Acredite, eu também. Como você está?
— Estou bem. Liguei porque o Tomas, meu amigo, me ligou mais cedo para pedir desculpas por
ter sido escroto com você no sábado e nos chamou para ir a uma festa na casa dele hoje.
— Agradeça a ele por mim, mas realmente não vai dar para ir. Hoje eu só saio do sofá para ir
direto para cama.
— Vou falar com ele que você não está se sentindo bem.
— Isso. Divirta-se por mim.
Fiquei alguns segundos em silêncio. Ela presumia que eu iria sem ela?
“Bom, ela está passando mal, não você. E você está em falta com os seus amigos, Romeo”, uma
voz soou bem no fundo da minha mente. Engolindo em seco, falei:
— Está bem. Quando a gente vai poder se ver?
— Hum... Quando a maré vermelha for embora, eu acho. Antes disso, não serei muito útil para
você sabe o quê.
Cara... Senti um aperto esquisito no peito ao ouvir as suas palavras e encarei minha mesa por
alguns segundos.
— Ok.
Ok? Ok, Romeo? Não sei porque, mas eu estava me sentindo um babaca naquele momento.
— Eu... Vou desligar. Um beijo, Romeo.
— Beijo, bella.
Eu fiquei meio aéreo depois que encerramos a ligação. Por sorte, não tive mais nenhuma reunião,
pois, se tivesse, eu não teria rendido como era o esperado. Consegui cumprir com o resto da minha
agenda e, ao entrar em meu carro, encarei o volante e deixei que a minha conversa com Alice
retornasse à minha mente, para poder entender o porquê de eu estar me sentindo tão mal.
Então, puta merda... Eu entendi! Comecei a cagar com tudo quando perguntei quando a gente ia
poder se ver, dando a entender que só porque ela estava menstruada, eu não me daria ao trabalho de
ir lá. Cazzo, mesmo para um homem como eu, que odiava romantismo e todas essas baboseiras,
aquilo havia sido cruel. E ela tinha entendido exatamente isso, pois disse que só poderíamos nos ver
quando a menstruação fosse embora e ela voltasse a ser útil para “você sabe o quê”. Para sexo.
— Porra, Romeo! Está pra nascer um homem mais babaca e sem noção do que você!
Para começo de conversa, eu nem queria ir à festa de Tomas. Reconhecia o seu esforço em nos
convidar, mas sabia muito bem como a sua festa “íntima” se tornava íntima demais depois que os
convidados ficavam bêbados e tinha certeza de que aquela não era a praia da Alice. Eu preferia
simplesmente ficar ao lado dela. Ao lado dela e isso não queria dizer que era transando ou apenas
depois do sexo. Eu... Eu gostava da companhia dela, gostava de ouvir o som da sua voz, a sua risada,
o seu cheiro, o seu abraço... E isso eu poderia fazer com ela menstruada ou não!
Decidido, peguei o meu celular e enviei uma mensagem para única pessoa que eu sabia que
poderia me ajudar naquele momento.

“Giulia, Alice está com cólica menstrual. O que eu posso fazer para ajudá-la?”

Desci do meu carro com uma sacola em cada mão e entrei no elevador contando os minutos
para poder chegar ao andar de Alice. Em frente à sua porta, apertei a campainha e esperei com
paciência para que ela viesse me receber. Como já havia feito amizade com o porteiro do seu
condomínio, pedi para que eu não fosse anunciado, então, sabia que a minha presença ali seria
uma surpresa e tanto. Meu coração deu uma leve acelerada quando ouvi o barulho da chave na
fechadura e a maçaneta girando para fazer a porta se abrir. A expressão perplexa de Alice
ficaria gravada para sempre em minha memória.
— Oi — saudei, dando um passo à frente. Aturdida, Alice me olhou de cima a baixo.
— Oi... O que está fazendo aqui?
— Percebi que não havia outro lugar do mundo aonde eu queria estar que não fosse bem
aqui, ao seu lado. Por isso, trouxe o que, segundo a Giulia, é um remédio para essa época do
mês. Nessa bolsa tem todo tipo de doce que achei no mercado e nessa tem Coca-Cola, pizza
congelada, sorvete, babata frita do McDonald’s e uma bolsa térmica para colocar no pé barriga.
Esse último provavelmente você tem, mas resolvi arriscar e comprar mesmo assim — falei com
as duas sacolas erguidas. Alice estava boquiaberta. — Faltou comprar alguma coisa? Posso
descer e voltar ao mercado agora mesmo.
Alguns segundos se passaram e continuamos ali, comigo do lado de fora e ela do lado de
dentro do seu apartamento. Comecei a pensar que, talvez, fosse Alice que não me quisesse ali e
me senti péssimo. Será que eu havia tomado a decisão errada? Estava quase arrependido,
quando Alice se jogou em meus braços, sem me dar tempo de colocar as bolsas no chão. Por
reflexo, a agarrei e fechei os olhos quando seus lábios se encontraram com os meus.
— Romeo, eu nem sei o que dizer... Essa foi a coisa mais linda e gentil que alguém já fez
por mim — ela disse entre os meus lábios e vi como estava emocionada quando se afastou. —
Entre, por favor. Você veio direto do trabalho? — perguntou assim que fechou a porta atrás de
mim.
— Sim, não quis perder tempo indo em casa.
— E o Bob? Ele vai ficar sozinho?
— Ele está passando a noite na casa de um vizinho. Ele tem uma cadela da mesma raça do
Bob e ela está no cio... O safado vai passar a noite fazendo sexo.
— Diferente de você, que trocou uma festa para poder cuidar de uma mulher com cólica —
ela disse, voltando a se sentar no sofá e fazendo uma careta.
— Sinceramente? Eu não queria ir àquela festa. Preferia muito mais ficar aqui com você.
— Preferia ficar fazendo sexo comigo, não é? É um sem vergonha mesmo — ela riu
baixinho.
Deixando as sacolas no chão, me aproximei de Alice e me ajoelhei até ficar com o rosto na
direção do dela.
— Não vou ser hipócrita e dizer que eu não queria estar transando com você. Eu sempre
quero transar com você, bella. Só que não era disso que eu estava falando. — Coloquei uma
mecha do seu cabelo atrás da orelha e a olhei com suavidade. – Eu queria estar com você,
simples assim.
— Simples assim?
— Isso.
— Não há nada de simples nesse seu gesto, Romeo, pelo contrário. Ele significa muito para
mim — ela disse com uma intensidade que me tocou profundamente. Senti que ela queria falar
mais alguma coisa, mas piscou e se afastou um pouco de mim. — Quer tomar um banho? Tem
toalha no banheiro.
— Sim. Por incrível que pareça, eu tinha um short de academia dentro do carro.
Infelizmente, você não vai me ver peladão hoje.
Alice gargalhou e ouvir o som da sua risada fez com que eu me sentisse o Super-Homem.
Dando-lhe um beijo, me afastei e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e, ao sair, não
encontrei Alice na sala. Ao ver que as sacolas não estavam no lugar que eu deixei, fui em
direção a cozinha e a encontrei curvada sobre o forno. Ela fazia uma careta de quem sentia dor.
— Ei, deixe isso aí, não vim aqui para que você fosse para cozinha — falei, tirando a forma
com a pizza das suas mãos.
— Só quis colocar a pizza no forno. Você deve estar com fome.
— Estou, sim, mas isso não é o importante agora. Já tomou o seu remédio?
— Sim, Senhor Benvenuto — ela sorriu e colocou a mão no pé da barriga. — Sério, essa é
uma das piores dores do mundo.
— Ai, bella, queria tirar isso de você e passar para mim — falei, a pegando em meus
braços. Alice colocou a cabeça no vão do meu pescoço e suspirou.
— Acredite, eu ia adorar que vocês, homens, também sofressem um pouquinho. É muito
injusto que só a gente sangre todo mês.
Não pude deixar de ri da sua reclamação e a coloquei deitada no sofá.
— Já viu como homem é frouxo? A gente ia chorar todo mês.
— Calma aí, você acabou de chamar os homens de frouxos?
— Sim. É o que somos.
— Romeo Benvenuto, você fere a classe masculina desse jeito — ela riu e tomou meu rosto
em suas mãos. — Mas fique seguro, vou guardar o seu segredo comigo.
— Eu sei disso. Confio em você, bella.
A deixei deitada no sofá e fui para cozinha colocar a pizza no forno e tirar todos os doces de
dentro da sacola. Coloquei o sorvete no congelador e abri o aplicativo de mensagens para ver o
que Giulia havia acabado de me enviar. Ela perguntou como Alice estava e eu expliquei que
estava bem, na medida do possível. Acabei me lembrando da bolsa térmica que ia direto no
micro-ondas e esquentei para levar até ela. Alice estava assistindo a alguma na televisão.
— Isso aqui ajuda mesmo ou é propaganda enganosa? — perguntei, mostrando a bolsa
térmica.
— Ajuda, sim. Inclusive, a minha estava tão velhinha que eu tive que me desfazer dela há
uns dois meses. Você está salvando a minha vida.
Ela estendeu a mão para que eu lhe passasse a bolsa, mas decidi eu mesmo colocá-la sobre
a sua barriga. Levantei a blusa larga que ela estava vestindo e abaixei um pouco o cós do short
quase sem elástico. Alice gemeu quando posicionei a bolsa térmica.
— Isso é muito bom... Obrigada, Romeo.
— Não precisa agradecer — falei, ouvindo o barulho do fogão. — A pizza ficou pronta.
Arrumei tudo na cozinha e levei para sala, junto com a Coca-Cola e os copos. Apesar da
dor, Alice estava com fome e atacamos a pizza e a batata frita sem dó alguma, enquanto um filme
de comédia passava na TV. Enquanto comíamos, começamos a conversar e eu nem vi o tempo
passar, aproveitando a sua companhia e me dando conta de que, mesmo descabelada e usando
roupas largas, Alice ainda era a mulher mais linda que eu já havia visto na vida.
Depois da pizza, voltei com os doces e o pote de sorvete com duas colheres. Comemos
direto no pote mesmo, com ela entre as minhas pernas, a bolsa quente em sua barriga e um monte
de chocolate a nossa volta.
— Acho que eu nunca comi tanto na vida. Deu até pra esquecer da dor por um momento.
— Esse era o objetivo — falei, beijando a sua têmpora.
Ela se virou um pouco e me olhou.
— Está mesmo contente por estar aqui e não na festa com os seus amigos? Eu vou entender
se você tiver feito tudo isso por, sei lá... Achar que tinha algum tipo de obrigação, apesar de não
ter nenhuma.
— Eu falei, bella. Não havia nenhum outro lugar onde eu queria estar.
Alice me deu um sorrisinho tímido e voltou a se virar para TV. Fiquei acariciando seu
cabelo, sentindo o peso do seu corpo contra o meu, o seu cheiro delicioso, até sentir a sua
cabeça cair contra o meu peito. Tirei a bolsa da sua barriga e, com cuidado, a peguei em meu
colo e a coloquei na cama, em seguida, lavei toda louça suja, joguei o lixo fora e apaguei as
luzes da casa, indo me deitar ao seu lado. Alice dormia com o semblante tranquilo e eu a puxei
para os meus braços, perguntando-me se em algum momento em minha vida, pensei que um dia
eu recusaria uma festa para ficar simplesmente ao lado de uma mulher, cuidando dela enquanto
sentia cólicas menstruais.
Bem, nunca. E, mesmo assim, eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo.
Capítulo 24
Acordei antes de Alice e invadi a sua cozinha para preparar o café da manhã. Ela não havia
brincado ao dizer que não sabia cozinhar; a quantidade de comida congelada em seu freezer daria
para alimentar minha família inteira. Desbravando o que ela tinha por ali, achei um pacote de pão de
queijo, que coloquei no forno e poupa de melancia para fazer suco. Enquanto o pão assava e o suco
batia no liquidificador, fiz café e piquei umas frutas em um potinho. Também achei torradas e
presunto de Parma e arrumei tudo em uma bandeja que achei dentro do seu armário. Pra quem nunca
tinha preparado café da manhã daquele jeito, até que ficou bonitinho.
Coloquei a bandeja na beirada da cama e me aproximei de Alice, beijando a sua bochecha até
chegar em sua orelha.
— Acorde, dorminhoca.
Alice sorriu ainda de olhos fechados e se virou em minha direção, fazendo uma careta.
— Ainda está com dor? — Ela assentiu. — Aonde está o seu remédio?
— Em cima da mesinha de centro na sala.
— Vou buscar.
Deixei um beijinho em seus lábios e fui em busca do seu remédio e um copo com água. Quando
voltei, a encontrei indo para o banheiro.
— O que houve? Vai vomitar?
— Não — ela deu uma risadinha. — Só vou trocar o absorvente.
Pelo visto, eu realmente não sabia nada sobre cólicas. Deixei o remédio e a água em cima da
mesinha de cabeceira e trouxe a bandeja com café para o centro da cama. Alice voltou minutos
depois, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e o rosto livre de sono. Ela parou no meio do
caminho ao ver a bandeja.
— Romeo! Não precisava ter se dado ao trabalho de trazer café na cama para mim.
— Eu quis e consegui fazer um café da manhã completo com o que você tinha na cozinha.
Ela foi até a mesinha e tomou o remédio com a água antes de se sentar ao meu lado e tomar meu
rosto em suas mãos.
— Você conseguiu porque sabe o que fazer na cozinha. Eu só sei usar o micro-ondas e a cafeteira
— falou, me dando um beijo carinhoso. — Isso foi tão doce da sua parte. Obrigada.
— De nada. Olha, fiz até suco de melancia. Sei que me superei nesse café da manhã — falei com
orgulho, lhe dando um copo de suco.
Alice tomou um gole e soltou um gemidinho de quem havia gostado. Começamos a comer e,
quando terminamos, coloquei a bandeja no chão e a puxei para o meu colo. Eu sabia que transar
estava fora de cogitação e nem era isso que eu queria naquele momento. Só queria beijá-la, sentir o
calor do seu corpo, a suavidade da sua pele. Nos beijamos com calma, com carinho e Alice suspirou
baixinho.
— Te ajudei de alguma forma ontem e hoje? Se não ajudei, pode falar — pedi, beijando seu
queixo antes de olhar em seus olhos.
— É claro que você ajudou, olha tudo o que fez por mim. Acho que ninguém nunca me tratou com
tanto carinho e preocupação.
— Eu me preocupo com você. Ontem, fiquei me sentindo péssimo depois da nossa ligação e não
entendi o porquê, até que repassei a nossa conversa em minha mente e notei que eu tinha deixado a
entender que só viria aqui quando você pudesse transar comigo. Sei que o nosso relacionamento só
envolve sexo, mas não quero que pense que você só serve para mim quando eu quero transar. É muito
mais do que isso, Alice. Eu gosto de você, me importo e me preocupo. Sei que sou babaca de vez em
quando, mas não esse tipo de babaca.
Alice me olhou de forma diferente, com uma intensidade que fez com que meu coração acelerasse
um pouco no peito.
— Ah, Romeo... Vai ser difícil...
Fiquei esperando que ela completasse a frase, mas ela simplesmente se calou. Curioso, peguei-a
delicadamente pela nuca e olhei em seus olhos.
— O que vai ser difícil?
— Não me apaixonar por você — disse de uma vez só.
Eu não estava preparado para ouvir aquilo, muito menos para o baque que sentiria com as suas
palavras. Durantes alguns segundos, sequer consegui pensar, apenas fiquei ali, estático, olhando para
ela sem esboçar nenhuma reação, mas sentindo tudo por dentro. Conforme o tempo foi passando, fui
caindo em mim e tendo a exata noção do que ela quis dizer. O frio que desceu pela minha espinha foi
glacial.
— Alice, eu disse que os sentimentos estariam de fora da nossa relação.
— Eu sei disso.
— Se sabe, por que acabou de me falar aquela besteira? — perguntei, tirando minhas mãos de sua
cintura.
— Desculpa, eu falei sem pensar.
— Bem, isso só piora as coisas, ao meu ver — falei, colocando-a de volta na cama para me
levantar. Ela se levantou logo atrás de mim.
— Romeo, não precisa ficar assim, me escuta...
— Não, me escute você, por favor — pedi, olhando nos olhos dela. — Isso que há entre nós dois
não é um romance. Não é namoro, não é paixão, entendeu? Eu pensei que tivesse deixado isso bem
claro no restaurante.
— Você deixou e eu entendi, Romeo — ela disse um pouco mais alto. — Não sou idiota, sei que,
por mais que nos importemos um com o outro, isso aqui — ela apontou para nós dois. — é só sexo.
Não estou te pedindo nada mais do que isso, nem te cobrando nada.
— Então por que disse aquilo?
— Porque você me surpreende cada vez mais. Quando te reencontrei no karaokê, a primeira coisa
que pensei quando você me chamou para passarmos a noite juntos, foi que você era um cafajeste que
só queria saber de sexo sem compromisso. Você continua sendo um cara que só quer sexo sem
compromisso, mas você não é um cafajeste. Você é um homem que se importa de verdade, Romeo. E
você não precisa de palavras para demonstrar isso, você mostra esse seu lado em pequenas coisas,
como quando sai do carro para abrir a porta para eu entrar, quando levou comida para jantar comigo
depois de eu ter recusado o seu convite, quando apareceu em minha sessão de autógrafos, quando me
chamou para conhecer a sua empresa, quando me convidou para passar o Natal com você, porque
sabia que eu passaria sem a única família que eu tenho, que é a minha mãe... Com esse presente lindo
que você pensou, procurou e comprou com tanto carinho. — Ela tocou no colar. — Com o que você
por mim ontem à noite e agora, com esse café da manhã. Isso mostra quem você é por dentro e você é
encantador, Romeo. Foi por isso que disse aquilo. Vai ser difícil não me apaixonar por um homem
como você.
Dei dos passos para trás, sentindo o impacto das suas palavras. Eu não podia imaginar que os
meus gestos fossem tão significativos e que podiam despertar algum tipo de sentimento. Eu não
queria aquilo. Não queria nada daquilo.
— Não quero que se apaixone por mim. Nunca.
— Por quê? — perguntou ela, aproximando-se de mim.
— Porque eu não quero magoar você e é isso que vai acontecer se você se apaixonar por mim.
Ela ficou calada, parecendo digerir a minha resposta. Eu não sabia o que estava se passando pela
sua mente naquele momento, mas, pela minha, só havia uma coisa: eu precisava ir embora dali.
— Por que você sente tanto medo de se apaixonar? — Ela perguntou, pegando-me de surpresa.
— Eu não sinto medo, simplesmente sei que não vou me apaixonar porque eu não quero me
apaixonar.
Alice riu de mim e balançou a cabeça.
— Você é realmente muito ingênuo se acha que pode mandar nos seus sentimentos desse jeito.
— Por quê? Você acha que é tão incrível ao ponto de fazer com que eu me apaixone por você
mesmo sem eu querer? — perguntei com sarcasmo, sem me importar se eu estava sendo cruel ou não.
A risada de Alice desapareceu.
— Não estou falando sobre mim, Romeo. Estou falando sobre você.
— Eu deixei bem claro o que eu queria com você, Alice. Não tenho culpa se você só encontrou
babacas na sua vida, ao ponto de se encantar por um safado como eu — falei, aproximando-me dela.
— É até estranho você pensar que pode se apaixonar por mim, tendo em vista que nunca te enganei e
sempre mostrei o que eu era. Parece que você realmente não sabe escolher o tipo de homem pelo
qual deve se apaixonar.
Ela ficou branca e engoliu em seco. Por um momento, pensei que iria chorar e comecei a me sentir
mal, mas ela fez o contrário. Alice não fugiu ou chorou, ela levantou o rosto e me olhou nos olhos
antes de dizer:
— É, acho que você tem razão.
Ainda fiquei ali, esperando que ela falasse mais alguma coisa, mas Alice se calou e desviou o
olhar, dando dois passos para trás. Percebi que estava se afastando de mim e não era apenas
fisicamente. Senti um aperto no peito, um gosto ruim tomar a minha boca ao pensar que aquele era o
nosso fim, mas comecei a olhar tudo aquilo pelo lado bom. Talvez, fosse melhor mesmo que
terminássemos com tudo, antes que o lado romântico dentro dela se aflorasse ainda mais.
— Acho melhor eu ir embora — falei, cortando o silêncio.
— Eu também.
Assentindo, passei por ela e entrei no banheiro, colocando a roupa que havia usado no dia
anterior. A cada botão que eu fechava em minha camisa social, mas distante de mim eu ficava. Era
como se uma parte da minha alma estivesse se recusando a ir embora, o que era ridículo. Não era
como se eu tivesse começado tudo aquilo. Estávamos muito bem até Alice falar que poderia se
apaixonar por mim. Completamente vestido, calcei meus sapatos e coloquei meu relógio. Ao sair do
banheiro, encontrei Alice sentada na cama, olhando para praia pela janela.
— Já vou — anunciei, colocando meu celular no bolso.
Alice se levantou e, por um momento, pensei que pediria para que eu ficasse. Quase implorei para
que ela me pedisse para ficar e isso me assustou profundamente. Que porra estava acontecendo
comigo?
— Obrigada pelo o que você fez por mim, Romeo. Eu nunca vou esquecer.
Aquilo parecia... Uma despedida. Era como se Alice estivesse se despedindo totalmente de mim.
Colocando uma expressão séria no rosto, assenti.
— De nada.
Eu não sabia o que fazer. Queria tirar toda aquela roupa e ficar ao lado dela, mas, ao mesmo
tempo, queria fugir de tudo o que havia acontecido ali nos últimos minutos. Queria voltar ao que
éramos antes, queria a leveza, a alegria, as risadas, os toques e os beijos... Queria o sexo, mas
também queria muito mais. Fiquei com medo de que Alice conseguisse ler os meus pensamentos
confusos e me afastei, saindo do seu quarto. Ela veio atrás de mim e parou quando abri a porta do seu
apartamento.
Diga que não está se apaixonando por mim e me peça para ficar, Alice.
— Tchau — murmurei.
Me peça para ficar, por favor, bella.
Mas ela não pediu.
— Tchau.
Saí e fechei a porta atrás de mim. A cada passo que eu dava em direção ao elevador, a esperança
de que ela abriria a sua porta e me pediria para voltar, ia diminuindo. Quando entendi que ela
simplesmente não abriria a sua porta, senti algo dentro de mim se desfazer e desmoronar. Eu não
sabia o que era, nunca havia sentindo aquilo, mas doía.
Dio... Doía muito.

Passei o sábado trancado dentro de casa, levantando do sofá só para ir à cozinha ou ao banheiro.
Na televisão, passava um jogo de basquete e, aos meus pés, estava Bob, deitado e olhando para mim.
Depois de ter passado a noite feito um garanhão na casa do meu vizinho, o filho da mãe estava
cansado, mas todo bobo. Ele só parou de demonstrar alegria quando sentiu que eu não estava alegre.
— Vem aqui, Bob — bati no lugar vago ao meu lado no sofá. Ele veio e se deitou, apoiando a
cabeça em minha barriga. — Por que os adultos são tão complicados? Mesmo quando a gente é
sincero e esclarece todos os pontos, não deixa uma vírgula faltando, tudo se complica no final. Na
próxima encarnação, quero vir como um cachorrinho de madame e ter uma vida fácil, Bob. Chega de
vir como ser humano, a gente só se fode.
Ele continuou a me olhar como se compreendesse e senti que eu poderia colocar tudo para fora
naquele momento. Bob sempre era o meu confidente.
— Alice deu a entender que poderia se apaixonar por mim. Por mim, Bob, veja que absurdo! Você
sabe quem eu sou, minha cama tem mais rotatividade de mulheres do que provador feminino em lojas
de roupas, não gosto de compromisso, não quero me apaixonar, vou morrer solteiro... Como Alice
pode pensar em se apaixonar por mim? — Balancei a cabeça me sentindo péssimo. — Deixei bem
claro que não quero nada disso e acho que chegamos ao fim do nosso “relacionamento”. Eu pensei
que esse momento demoraria a chegar e, quando chegasse, achei que eu me sairia bem, que voltaria
para a minha vida normal e seguiria o fluxo, mas não está sendo assim, Bob. Está doendo. Está
doendo pra caralho e eu nem sei o porquê.
Bob balançou o rabo e se aproximou um pouco mais, enfiando a cabeça em meu pescoço. Acho
que aquele era o seu modo de me dar apoio e senti minha garganta ficar apertada. Merda, eu amava
muito aquele cachorro. Não sabia como era possível, mas Bob me entendia mais do que todos os
meus amigos juntos
— Eu te amo, amigão. Obrigado por ficar ao meu lado em todos os momentos.
No domingo, obriguei-me a fingir que estava tudo bem e tomei coragem para ir ao almoço na casa
de mamma. Geralmente, eu chegava de manhã e arrumava um jeito de ajudar na cozinha, mas
desanimado do jeito que estava, preferi enrolar em casa até dar a hora do almoço. Antes de ir, fiquei
mexendo no celular e abrindo a conversa com a Alice a cada cinco minutos. Meus dedos coçavam
para lhe escrever alguma coisa, mas eu nem sabia o que ou se ela iria me responder. Talvez, fosse
melhor não falar mais nada e cada um seguir com a sua vida, mas, só de pensar nisso, sentia como se
duas mãos de ferro estivessem apertando o meu pescoço e me impedindo de respirar.
Desistindo de lhe enviar a mensagem, saí de casa com Bob e dirigi até a casa de mamma,
encontrando seu quintal cheio de gente. Ao fundo, vi Alexandre com a Paula e mamma segurava a
mão dela enquanto falava alguma coisa, fazendo os dois rirem. Foi automático a cena que veio em
minha mente, eu no lugar de Alexandre e Alice no lugar de Paula, enquanto minha mãe falava sobre
como queria que nós dois namorássemos. Por um momento, só fiquei ali, olhando para aquilo e
sentindo meu coração ser preenchido por um espaço vazio, como se eu estivesse perdendo algo muito
importante.
— Tio? — Giulia entrou em meu campo de visão. — Está tudo bem?
— Sim — respondi, desviando os olhos da cena a minha frente. — Sim, estou bem.
— E a Alice? Ela melhorou? Pensei que ela viria com você.
O que eu poderia dizer? Merda, deveria ter me preparado para isso. Com certeza mamma também
perguntaria sobre Alice.
— Ela melhorou, mas não estava se sentindo bem ainda para poder vir.
— Ah, que pena! Mas você foi muito gentil em ir até lá para ficar com ela — Giulia disse com um
ar sonhador.
Me senti mal pela enésima vez naquele dia, mas fui salvo com a aproximação dos Pestinhas. Os
peguei no colo me sentei com eles na poltrona da varanda, ouvindo tudo o que tinham para me dizer.
Eles me animaram um pouco e quando saíram correndo para brincar com Bob, Alexandre se
aproximou com Paula. Por um momento, pensei que ela tiraria a expressão alegre do rosto e me daria
um chute no saco pela minha situação com Alice, mas ela continuou a sorrir para mim. Talvez Alice
ainda não tivesse contado a ela o que havia acontecido entre nós dois.
— Fratello, está tudo bem? — Foi a primeira coisa que Alexandre perguntou e, naquele exato
momento, me arrependi de ter ido ao almoço. Pelo visto, eu não estava conseguindo disfarçar a
minha cara.
— Sim, está. Paula, fico feliz que tenha vindo almoçar conosco, mamma estava louca para te
receber aqui.
— A mamma Benvenuto é maravilhosa, a melhor sogra que eu poderia ter. Acho que estou mais
apaixonada por ela do que pelo seu irmão.
— O pior é que eu nem consigo ficar com ciúmes ao ouvir isso — Alexandre riu e Giulia se
aproximou para chamar Paula. As duas foram conversar com Mariana, minha cunhada e meu irmão
sentou-se na poltrona ao meu lado. — Estamos sozinhos agora, pode me falar o que aconteceu.
— Não foi nada. — Foi tudo, na verdade.
— Romeo, você pode repetir isso por mais mil vezes e eu não vou acreditar. Foi alguma coisa
com a Alice?
— Por que pensou justamente nela?
— Porque vocês estão juntos e o fato de ela não estar aqui, já diz muita coisa. Vocês brigaram?
Olhei para o chão e remoí as palavras dentro de mim. Não queria dizer em voz alta, pois se
tornaria real demais para suportar.
— Fratello?
— Acho que acabou — murmurei.
— Acabou? O que acabou?
— O que havia entre mim e a Alice... Acho que chegou ao fim.
Alexandre ficou tanto tempo em silêncio, que me vi obrigado a olhar para ele. Sua expressão
incrédula já dizia tudo.
— Impossível.
— Também achei que seria impossível. Pensei que duraria por, sei lá... Mais algumas semanas. Ou
meses.
— Ou anos — Alexandre disse. — Fala sério, Romeo, o que você aprontou?
— Eu? Por que acha que a culpa é minha?
— Porque o cafajeste aqui é você, não ela.
— Pois saiba que eu não tive culpa — falei com convicção, mas logo abaixei o tom de voz. —
Quer dizer, eu acho que não.
— Com certeza a culpa foi sua.
— Você não está ajudando, Alexandre.
— A única coisa que posso fazer para te ajudar, é mandar você entrar no seu carro, ir até a casa da
Alice e pedir desculpas pelo o que quer que você tenha feito.
— Mas eu não fiz nada, pelo contrário! Foi ela quem fez.
— O que ela fez?
— Deu a entender que está se apaixonando por mim.
Alexandre franziu o cenho.
— E qual é o problema nisso? Achei que estivesse bem óbvio que um está se apaixonando pelo
outro.
— O quê? Eu não estou me apaixonando por ela!
— Eu sabia que você era idiota, mas não que era cego. É óbvio que você está se apaixonando pela
Alice — Alexandre disse com o semblante sério. — Na verdade, eu acho que você já está
apaixonado por ela. Só resta admitir.
— Não, eu não estou — falei com convicção, me levantando. — E nem pretendo estar.
Eu ia me afastar, Alexandre se levantou e me segurou pelo ombro. Eu sentia até medo do que ele
poderia falar, mas não era covarde e esperei para ouvir o que ele tinha a dizer.
— Romeo, eu sei porque você é assim, sei porque tem medo de se apaixonar, de amar e entregar o
seu coração para outra pessoa, mas me escute, fratello, você é uma pessoa diferente e a Alice é uma
mulher extraordinária. Não jogue fora a chance de ser feliz com ela por causa do que aconteceu.
— Não quero ouvir nada sobre isso — falei, me afastando. — E tem mais, eu sou feliz do jeito
que sou. Não preciso de Alice para nada. O que havia entre nós dois era só sexo e acabou. O que eu
tive com ela, eu posso ter com qualquer outra mulher.
— Não, não pode. Mas isso é algo que você vai ter que aprender na marra, fratello. Infelizmente.
Capítulo 25
Estava tendo uma semana de merda. Na empresa, tudo corria bem, mas não por minha causa e sim
porque eu tinha uma equipe excepcional, que estava suportando tudo, inclusive o meu mau humor. Eu
não era do tipo de descontar o que eu sentia nas pessoas, guardava muita coisa para mim, mas o meu
pessoal me conhecia muito bem e sabia que eu não estava em meu melhor momento. Estava sendo
difícil me concentrar, não conseguia render nas reuniões, tinha uma papelada atrasada na minha mesa
e muito e-mails para responder. Ao invés de focar no trabalho, tudo o que eu conseguia fazer era
pensar em Alice.
O que estava acontecendo comigo? Eu não conseguia entender que merda era aquela. Eu parecia
um viciado em estado de abstinência sem a sua droga. Nunca havia passado por nada parecido!
Cansado, desliguei o meu computador e, ao sair da minha sala, falei para Sabrina:
— Vou sair mais cedo, estou morrendo de dor de cabeça.
— Quer que eu reagende as suas reuniões de amanhã, Romeo? Nenhuma delas é importante.
— Não. — Eu me recusava a ser mais relapso do que já estava sendo. — Deixe tudo como está.
— Pode deixar.
Saí sem me despedir do pessoal e dirigi até em casa, pensando em Alice — como sempre. Será
que ela estava sentindo o mesmo que eu? Será que também estava com o trabalho atrasado, com um
humor horroroso e pensando em mim o dia todo? Interiormente, eu esperava que sim. Eu não poderia
ser o único a estar sofrendo naquela equação! Ao chegar em casa, tirei a roupa e caí embaixo do
chuveiro frio para ver se acalmava um pouco os ânimos.
Dentro de mim, dois lados batalhavam. Um queria que eu seguisse em frente e lutasse contra
aquela merda que estava acontecendo, o outro queria que eu parasse de ser orgulhoso e mandasse
uma mensagem para Alice. Eu sentia que o lado da “paz” tinha um pouco mais de razão. Aquela
nossa conversa não poderia ser o fim de tudo, não era? Parecia que tinha sido definitivo, mas talvez
não fosse. Em nenhum momento qualquer um de nós dois disse que não queria mais se envolver com
o outro.
Mas, então, eu começava a pensar que, talvez, tivesse realmente sido definitivo. Se Alice ainda
quisesse alguma coisa comigo, já teria mandado uma mensagem, não era? Talvez ela tivesse caído na
real e percebido que estava perdendo tempo comigo, enquanto poderia estar à procura de um homem
que pudesse dar tudo o que ela quisesse. Cazzo, pensar nela com outro homem terminou de estragar o
meu humor. Com raiva, terminei meu banho e saí do chuveiro, ouvindo meu celular tocar em cima da
cama. Não estava com vontade de falar com ninguém e deixei tocar até cair, no entanto, a pessoa do
outro lado da linha não entendeu que eu não queria atender e insistiu, ligando novamente.
“E se for a Alice?”, meu subconsciente me alertou. Com o coração acelerado, saí do banheiro
enrolado na toalha e cheguei na minha cama em tempo recorde. Foi com frustração que vi o nome de
Dante brilhando na tela.
— Diga, fratello.
— Romeo, mamma passou mal. Estou a levando para o hospital.
Meu coração quase parou dentro do peito.
— O quê? Como assim? O que aconteceu?
— Eu não sei explicar. Ela estava passando o dia lá em casa e começou a se sentir mal, com muito
enjoo e dor de cabeça. A medicamos, mas ela piorou e desmaiou — Dante disse com nervosismo. Na
mesma hora eu arranquei a minha toalha e fui vestir uma roupa. — Estou a caminho do hospital.
— Vou encontrá-los agora mesmo. Me mantenha informado.
— Pode deixar, fratello.
Nunca me vesti tão rápido em toda a minha vida. Despenteado, calcei apenas um chinelo, peguei
meu celular e as chaves do carro e saí de casa às pressas. No carro, comecei a pensar em um monte
de coisa. E se fosse grave? E se mamma não resistisse? Um nó se formou em minha garganta e
agarrei o volante com uma mão, pegando meu celular com a outra. Naquele momento, eu só pensava
em uma pessoa além da minha mãe.
— Romeo?
— Alice, minha mamma... — Eu não conseguia falar. O nó em minha garganta se tornou tão
intenso, que lágrimas escaparam dos meus olhos. — Ela... Ela...
— Romeo, fique calmo, respire fundo.
— Não consigo...
Precisei jogar o carro para o acostamento, pois meus olhos estavam tão marejados que eu já não
conseguia enxergar nada direito. Do outro lado da linha, Alice falava alguma coisa, mas eu não
conseguia entender nada direito. Lutando contra o aperto no peito, respirei fundo devagar e voltei a
escutá-la.
— Estou ouvindo a sua respiração, você está indo muito bem. Continue assim, Romeo, inspire e
expire...
Fui me acalmando aos poucos e quando consegui respirar com um pouco mais de facilidade, falei:
— Alice, minha mamma está no hospital... Eu não sei o que houve, o Dante disse que ela passou
mal e desmaiou... Estou indo para lá agora.
— Meu Deus, Romeo!
— Estou com medo — confidenciei baixinho. — Não posso perder a minha mãe, bella...
— Não pense assim, vai dar tudo certo, Romeo. Aonde você está?
— Estou a caminho do hospital.
— Tudo bem. Está conseguindo dirigir?
— Agora, sim.
— Então vá com calma, certo? Me passe o endereço do hospital, vou te encontrar lá — ela pediu e
eu assenti como se ela pudesse me ver. — Vamos ter fé, a mamma Benvenuto é forte.
— Sim... Sim, ela é — falei com convicção. — Você vai mesmo?
— Claro, estou indo agora, é só você me passar o endereço.
— Vou passar. Obrigado, bella.
— Você pode contar comigo, Romeo. Sempre.
Acho que Alice não fazia ideia de como tinha sido importante para mim ter ouvido aquilo. Enviei
o endereço do hospital assim que desligamos e dirigi um pouco mais calmo até lá. Informei-me na
recepção e fui para a sala de espera no terceiro andar. No elevador, passei as instruções para Alice e
encontrei com Alexandre, Dante, Mariana e Giulia na sala de espera. Minha sobrinha estava
desolada e correu para os meus braços.
— Tio, minha nonna... — Ela chorou contra o meu peito e eu precisei engolir o meu próprio
choro, acariciando as suas costas.
— Fique calma, querida. Vai ficar tudo bem. Por que você não ficou em casa com os seus irmãos?
A gente ia te manter informada.
— Ela não quis, se enfiou no carro e não saiu mais — Mariana disse, levantando-se para ampará-
la. — Filha, vamos na lanchonete tomar um suco. Você precisa se acalmar, meu amor.
— Não, quero ficar aqui até recebermos notícias da minha nonna.
— Filha, eu prometo ligar para sua mãe assim que o médico vier falar conosco — meu irmão
disse, secando as lágrimas dela. — Vai lá.
Por fim, Giulia assentiu e saiu com Mariana. Sozinho com os meus irmãos, pude finalmente
colocar todo meu receio para fora.
— Não tem nenhuma notícia ainda?
— Não, mas fiz amizade com uma senhora que é enfermeira da emergência, ela disse que vai nos
manter informados sobre tudo até o médico vir falar conosco — Alexandre disse, passando a mão
pelo cabelo. — Cazzo, mamma estava tão bem ontem!
— Ela estava bem quando liguei para ela hoje de manhã. Não posso imaginar o que aconteceu —
falei.
— Ela começou a se sentir mal depois do almoço, mas não comeu nada demais. O que me
preocupou foi a dor no peito. Mamma nunca teve problema no coração — Dante disse.
Comecei a ficar nervoso de novo. E se ela tivesse infartado? E se não resistisse? Ao sentir as
minhas pernas trêmulas, sentei-me e puxei meu cabelo perto da nuca, olhando para porta da sala de
espera. Como se fosse mágica, ela se abriu e eu fiquei de pé ao ver Alice entrando e arrastando uma
mala atrás de si. Não consegui me segurar, corri até ela e a peguei em meus braços, sentindo um
monte de coisa ao mesmo tempo, saudade, alívio e temor eram os principais. Alice me abraçou de
volta, apertando-me com força pelos ombros e beijando meu rosto.
— Já tem alguma notícia?
— Ainda não, ela está sendo atendida na emergência — afastei-me um pouco. — Por que trouxe
uma mala?
— Estava no aeroporto. Ia para São Paulo, pois tinha reunião amanhã de manhã, mas desmarquei
tudo e vim para cá.
Fiquei completamente sem palavras. Olhei para Alice, em seguida, encarei a sua mala e senti
minha mente entrar em colapso. Foi Alexandre que conseguiu falar por mim:
— Nossa, obrigado, Alice. Não sabe como o seu gesto significa pra gente.
— Não precisa agradecer. Sei que conheço vocês há pouco tempo, mas a Francesca sempre me
tratou muito bem e se tornou muito especial para mim. Me preocupo com ela e com você também,
Romeo. Jamais te deixaria sozinho em um momento como esse.
Eu não sabia o que falar. Aquele nó em minha garganta se tornou mais intenso, meu coração batia
forte, minha mente girava e até as palmas das minhas mãos estavam molhadas de suor. Nunca
imaginei que alguém que não fosse da minha família, poderia fazer algo tão singelo e significativo
por mim ou por minha mãe.
— Obrigado — agradeci em um murmuro rouco, puxando Alice novamente para os meus braços.
— Obrigado, bella.
Alice me abraçou de volta e eu fechei os olhos deixando que algumas lágrimas escapassem. Não
me importava de estar chorando na frente dela ou na frente dos meus irmãos. Naquele momento, um
filme se passou pela minha cabeça, desde o dia em que vi Alice pela primeira vez e agora, nesse
momento tão crucial. Uma parte minha se sentiu infinitamente agradecida por tê-la ao meu lado, mas
uma outra parte se sentiu cruel. Palavras ditas no calor do momento voltaram a minha mente e as que
mais me chocaram foram essas.
“O que eu tive com ela, eu posso ter com qualquer outra mulher.”
Não, eu não podia. Nada do que existiu entre mim e Alice poderia acontecer entre mim e outra
mulher, simplesmente porque ela era única. Alice não era qualquer mulher e nunca seria. Ela era
aquela que, mesmo brigada comigo, havia largado tudo para ficar ao meu lado no momento em que eu
mais precisava.
— Vai ficar tudo bem, Romeo. Não perca a fé — ela disse baixinho em meu ouvido, acariciando
as minhas costas.
— Você está aqui, bella. Não tem como algo dar errado agora.

O médico apareceu quarenta minutos mais tarde. Àquela altura, minhas tias, alguns primos e até
mesmo a Paula havia chegado. Vi que ele se assustou ao ver tanta gente, mas meus irmãos e eu não
deixamos que ele perdesse o foco.
— Doutor, como está a nossa mamma? — perguntei, tomando a frente e apertando a mão de Alice
na minha.
— Vim aqui para tranquilizar vocês. A Senhora Benvenuto está lúcida e bem. Ela teve um pico de
pressão, provavelmente por conta da troca de remédios que usa no tratamento da artrite, mas agora já
está medicada e em observação.
Os agradecimentos a Dio foram altos. Quem passasse em frente à sala de espera certamente
acharia que estava passando em frente à uma igreja.
— Então, o certo agora é suspender essa medicação, doutor? — Dante perguntou.
— Sim, é o ideal. Cheguei à essa conclusão pois os resultados dos exames da sua mãe estão bons
e, ao recobrar os sentidos, ela me disse sobre a troca dos remédios e me passou o nome dos
medicamentos. Os efeitos colaterais são enjoos, falta de ar, aumento da pressão arterial e desmaios.
— Tudo o que ela teve — Alexandre concluiu.
— Exatamente. Quero que ela fique em observação até amanhã e que, assim que possível, seja
levada ao médico com quem tem o costume de se consultar, para que ele faça a troca dos remédios.
— Será a primeira coisa que iremos fazer, doutor — falei. — Podemos vê-la agora?
— Sim, ela não para de falar nos filhos e na família. Pelas normas do hospital, só pode entrar três
visitantes por vez, mas como família é bem grande, vou liberar cinco — disse o médico de bom
humor.
— Acredite, doutor, aqui não está nem a metade da nossa famiglia — Dante disse.
Só fiquei tranquilo quando entrei no quarto de mamma ao lado de Alice, Giulia e meus irmãos. Ela
estava deitada na cama e conversava animadamente com a enfermeira. Nem parecia que estava em
um leito de hospital e que havia nos dado um baita susto.
— Mamma! — Quase corri para abraçá-la e ouvi a sua risada. — Nunca mais faça isso conosco,
per favori!
— Figlio, não foi a minha intenção assustar vocês. Sinto muito.
— Nonna, quase morri do coração — Giulia beijou o rosto dela.
— Amore mio, perdoa sua nonna.
— Claro que perdoo, só não faça mais esse tipo de coisa.
— A senhora já vinha sentindo algum desses sintomas há algum tempo? — Alexandre perguntou,
pegando em sua mão.
— Eu vinha sentindo enjoo de vez em quando, mas não era nada demais.
— Mamma, a senhora tinha que ter nos avisado! — Dante disse.
— Tesori, não pensei que fosse nada grave — ela disse, então, virou-se para Alice. — Figlia, não
acredito que perturbaram você! Romeo, a Alice é uma donna ocupada, não tinha que ter ligado para
ela.
— Francesca, eu vim porque me preocupo muito com a senhora e com o Romeo. Estou muito feliz
por ver que está bem e por saber que foi só um susto.
— Ah, figlia, eu não pretendo morrer tão cedo! Ainda tenho que ver os meus tesoris se casando e
me dando netos — mamma sorriu. — Ou seja, você e Romeo precisam engatar logo nesse namoro e
partir para o casamento. Alexandre já está quase lá.
As bochechas de Alice ficaram vermelhas e Alexandre riu baixinho.
— Estou mesmo. Inclusive, mamma, vou chamar a Paula. Ela está louca para ver a senhora.
— Chame todo mundo, querido.
— Mamma, o médico só liberou cinco pessoas por vez — falei.
— Figlio, está para nascer alguém que vai me impedir de ver a minha famiglia reunida. Mande
todos entrarem!
Isso provava que a Dona Francesca estava muito bem. Nada a separava da sua famiglia.
Alexandre saiu e, segundos depois, todo mundo entrou. O quarto do hospital ficou pequeno para tanta
gente e, sabendo que todos queriam se aproximar de mamma, afastei-me e fui para perto da janela,
onde Alice estava. Eu não sabia ao certo como me aproximar dela, se poderia tocá-la como
antigamente, por isso, enfiei minhas mãos nos bolsos da calça e lhe dei um sorriso.
— Agora você está tranquilo — ela disse quando me aproximei.
— Você não imagina o quanto. Mamma sempre foi uma mulher muito forte, posso contar nos dedos
de uma mão as vezes em que ela foi parar em um hospital e saber que havia sentido dor no peito e
desmaiado... Dio, quase enlouqueci.
— Se eu morri de preocupação, imagina você — Alice disse, olhando para minha mãe, que estava
cercada de gente. — Estou muito feliz em vê-la bem desse jeito.
— Eu também — concordei, pensando no que mais eu poderia falar. Lembrei da sua mala, que
estava agora no canto do quarto. — Você disse que iria para São Paulo, não era?
— Sim, eu tinha uma reunião marcada para amanhã. Mônica, minha editora, agendou tudo na
segunda-feira.
— Deveria ser uma reunião importante, então.
— Eu ia me encontrar com representantes da Universal. Eles estão interessados em comprar os
direitos autorais de Inflamável Coração.
— Universal Studios? — Perguntei um pouco chocado.
— Isso.
— Dio mio, bella! Então, era uma reunião muito importante!
— Era, mas não mais importante do que estar ao seu lado nesse momento — ela disse e meu
coração quase explodiu no peito. — Não ficaria tranquila em embarcar naquele avião sabendo que
sua mãe estava no hospital e que você estaria aqui, nervoso e com medo de que algo mais grave
pudesse acontecer.
Cara... Eu nem merecia aquilo. De verdade, eu simplesmente não merecia aquele tipo de
consideração, ainda mais vindo dela e depois de tudo o que aconteceu entre nós, das bobagens que
falei... Pois sabia que, de certa forma, eu a havia magoado. Poderia ter lidado melhor com o que ela
havia me dito naquela manhã, não precisava ter surtado daquele jeito e nem ter agido como um
canalha... Poderia ter a procurado antes. Poderia ter me desculpado. Poderia ter feito um monte de
coisas que o meu orgulho não permitiu.
— Me perdoe — pedi, me aproximando dela e tomando seu rosto em minhas mãos. — Me perdoe
pelas besteiras que falei naquela manhã, pelo modo como fui embora, por não ter telefonado depois...
Por favor, bella, me perdoe.
— Romeo, eu acho que aqui não é o melhor lugar para conversarmos sobre isso.
— Vamos lá para fora, então, eu não me importo. Só quero que saiba que estou arrependido pelo
modo como lidei com tudo o que aconteceu. E não falo isso apenas porque você largou tudo para
ficar ao meu lado hoje e, sim, porque me arrependi no momento em que fui embora da sua casa, mas
meu orgulho não me permitiu enxergar.
— Você estava certo, Romeo. Desde o início você deixou bem claro como seria a nossa relação e,
mesmo assim, acabei falando aquela besteira... Eu sinto muito, de verdade. Em nenhum momento eu
misturei as coisas ou esperei mais de você do que você disse que poderia me dar. Preciso que saiba
disso — falou baixinho para que ninguém nos ouvisse.
— Eu comecei a errar no momento em que agi com grosseria e decidi ir embora daquele jeito.
— Eu deixei você ir.
— Bem, eu também me deixaria ir se fosse você. Na verdade, você foi delicada. Eu teria chutado
a minha bunda e tacado as minhas roupas pela janela.
Por incrível que pareça, Alice começou a rir e ouvir aquele som mudou completamente o meu dia.
Qualquer mau humor ou receio ficou para trás ao observar seu semblante divertido e seus olhos
brilhantes.
— Vou fazer isso da próxima vez.
— Não terá próxima vez — falei e a vi ficar séria novamente. Merda, não tinha soado como eu
esperava. — Não vai ter próxima vez porque não pretendo ser um babaca idiota e egocêntrico de
novo. Se me der mais uma oportunidade, prometo ser o cara perfeito.
— Perfeito, é? — ela arqueou uma sobrancelha.
— Prometo tentar, pelo menos.
Alice tocou em minha mão sobre o seu rosto e deu um beijo em minha palma.
— Não precisa ser perfeito, Romeo. Só quero que seja você.
— Simples assim?
— Simples assim.
— Mas eu sou meio idiota às vezes. Ia deixar essa parte de fora e focar apenas na putaria.
— Romeo! — Ela exclamou em uma risada e olhou rapidamente a nossa volta. Eu nem me
preocupei em fazer o mesmo, pois, pelo falatório alto e as palavras em italiano, sabia que a minha
famiglia estava bem entretida. — Ok, pode deixar a parte do idiota de fora.
Sorrindo, a puxei pela cintura e cheirei seu pescoço, tentando ser o mais discreto possível nos
fundos do quarto.
— Você é uma safadinha mesmo. A parte da putaria você não dispensou, né.
— É porque você me acostumou muito mal, Sr. Benvenuto.
Sr. Benvenuto. Cara... Nunca fiquei tão feliz em ouvir aquelas duas palavrinhas novamente.
Capítulo 26
Alice
Depois do susto, a mamma Benvenuto finalmente ganhou alta e foi para casa de Dante. Como
Mariana, sua esposa, trabalhava em casa, poderia cuidar da sogra naquele momento delicado. Romeo
me manteve atualizada sobre tudo por mensagens e disse que a mamma achava um absurdo ter que
“incomodar” a nora e o filho por conta de uma besteira. Acho que ela realmente não tinha ideia de
como os meninos ficaram preocupados com o susto que ela havia dado em todos nós.
Por conta da sua saúde, Romeo e eu passamos os próximos dias sem nos encontrarmos, o que foi
muito bom. Depois da nossa conversa no hospital, voltamos relativamente à normalidade, mas eu
ainda precisava de um tempo para pensar e colocar os meus sentimentos alinhados com a minha
cabeça. Conscientemente, quando repassava a nossa discussão em minha mente, eu sabia que Romeo,
de certa forma, tinha razão. Ele sempre deixou bem claro que não queria se envolver
emocionalmente, que não tinha a menor vontade de firmar um relacionamento sério e que não queria
se apaixonar.
Por outro lado, quando repassava essa mesma discussão dominada pelos meus sentimentos, eu
acabava me sentindo uma idiota, porque, no fundo, eu não estava me apaixonando por Romeo. A
verdade, é que eu já estava completamente apaixonada por ele. Se na festa eu tinha alguma dúvida,
esta foi embora quando ele apareceu na minha casa com aquelas duas sacolas de mercado e
dispensou uma festa com os amigos para simplesmente ficar ao meu lado e cuidar de mim. Com
sinceridade, como ele queria que eu não me apaixonasse por algo assim? Romeo parecia não fazer a
mínima ideia de como ele era o homem dos sonhos de inúmeras mulheres... Como ele era o homem
dos meus sonhos.
Ele havia sido um tanto cruel na escolha das palavras e a forma como foi embora, deixando em
aberto a nossa relação, só serviu para provar que o que havia entre nós tinha acabado. Agora, no
entanto, depois de ele ter me pedido perdão e de ter implorado por mais uma chance, eu estava
extremamente confusa. Sabia dos meus sentimentos por ele e tinha certeza de que para aquela paixão
se transformar em amor, faltava muito pouco. Será mesmo que eu deveria arriscar o meu coração
assim e embarcar novamente naquele “relacionamento”? A família Benvenuto e Paula, minha amiga,
tinham certeza de que Romeo estava apaixonado por mim, mas eu não podia me agarrar ao que eles
pensavam e nem poderia me encher de esperanças para, no fim, acabar com o coração partido.
Estava extremamente confusa e louca para desabafar. Não havia contado nada para Paula, porque
Romeo era seu cunhado e não queria que ficasse um clima ruim entre eles — eu sabia como minha
amiga era e conhecia a sua forma radical de tomar as minhas dores — mas, agora que havíamos nos
“acertado”, talvez fosse uma boa hora para usar a sua orelha e receber os seus conselhos.
Era quinta-feira à noite, sabia que, talvez, ela pudesse estar com Alexandre, mas tinha certeza de
que ela não hesitaria em me escutar. Sentada em meu sofá, deixei meu notebook de lado e peguei meu
celular, discando para ela. No segundo toque, Paula me atendeu.
— Oi, amiga. Está ocupada? — perguntei.
— Pra você? Nunca, sabe disso. O que houve?
— É melhor você se sentar, a história é meio longa.
— Tenho certeza de que conheço o protagonista dessa história. Preciso afiar as minhas unhas para
poder arrancar as bolas de um certo brasileiro-italiano depois que terminarmos?
Só a Paula mesmo para me fazer rir naquele momento.
— Não, o momento de arrancar as bolas dele já passou.
— Como assim? O que você anda escondendo de mim, Alice?
— Foi para isso que liguei. Não quero esconder mais nada de você.
Contei tudo, começando pela festa da empresa de Romeo, a conversa que sua mãe e suas tias
tiveram comigo, o fato de ele ter dispensado a festa com os amigos para cuidar de mim e, por fim,
nossa discussão pela manhã. Enquanto relatava os acontecimentos, me dei conta de que, querendo ou
não, as palavras da mamma Benvenuto e a conversa que tive com Giulia no banheiro, haviam, de
certa forma, acendido uma centelha de esperança em meu coração. Será que foi por isso que,
inconscientemente, acabei falando para ele que seria difícil eu não me apaixonar?
Talvez, em algum lugar dentro de mim, eu achava que ao falar aquelas palavras Romeo iria, como
em um passe de mágica, admitir que já estava apaixonado por mim, me pediria em namoro e
viveríamos felizes para sempre. Doce ilusão.
— Caralho, como ele foi babaca! — Foram as primeiras palavras de Paula depois de eu ter
narrado os últimos acontecimentos.
— Sim, mas eu acabei tocando no assunto proibido, eu acho.
— Não importa, ele não tinha que ter agido como um menino birrento, poderia muito bem ter
conversado com você como um homem adulto de trinta anos de idade que, veja só, é o que ele é. —
Nossa, Paula estava puta mesmo. — Só te perdoo por ter voltado, por causa da mamma Benvenuto.
Eu também largaria tudo para ir para o hospital ficar ao lado dela e de Alexandre.
— Eu não conseguiria embarcar naquele avião sabendo do estado dela. E Romeo estava muito
nervoso, ele nem conseguia falar direito ao telefone, demorou vários minutos para se acalmar. Tive
até medo de que batesse com o carro. Como poderia ser indiferente a isso?
— Sim, seria impossível, mas, de resto, por que não deu um chute nas bolas dele? O filho da mãe
merecia.
— Merecia mesmo — acabei rindo. — Mas não é com isso que estou preocupada, amiga. Claro
que fiquei magoada com a nossa discussão, mas, depois da conversa que tivemos no hospital, a
mágoa passou. Não posso ser hipócrita e jogar a culpa em cima dele, quando ele sempre deixou claro
o que queria e o que não queria de mim. Eu não deveria ter falado nada sobre paixão.
— Sim, ele sempre foi sincero, mas isso não dá a ele o direito de ser babaca com você.
Principalmente porque eu sei que ele está apaixonado por você também.
— Paula, não quero me apegar a essa ilusão...
— Não é ilusão, amiga, é a realidade. Até um cego é capaz de enxergar que aquele homem está
louco por você, só que ele é um cabeça dura e não quer admitir.
— A única certeza que eu tenho, é que eu estou apaixonada por ele. Mesmo tendo prometido para
mim mesma que eu não deixaria meus sentimentos aflorarem, acabei falhando. Ninguém pode me
julgar, porque Romeo é um homem maravilhoso. É até difícil de acreditar que ele realmente existe.
— Ah, existe sim. Ele acabou de provar que pode ser um babaca como qualquer outro homem —
Paula disse — O que você vai fazer agora?
— Não faço a mínima ideia. Liguei para pedir os seus conselhos.
— Você sabe que eu não sou a melhor pessoa para dar conselhos sobre o coração. Sou muito
prática quanto a isso.
— Sim, eu sei, mas agora que você está toda apaixonadinha, pode ser mais sensível e pensar em
um ótimo conselho — falei, ouvindo a sua risada. — Eu confio no seu potencial.
— Ok, antes de tudo, preciso saber o que você quer.
— Eu quero o Romeo — falei com convicção. — Não sei se vou conseguir ficar longe dele.
— Mas você sabe que, para ele, os termos não mudaram, certo? Ele continua querendo sexo
exclusivo, mas sem compromisso. Acha que vai poder lidar com isso?
Eu poderia lidar com isso? Essa era a minha maior dúvida.
— Eu acho que, se ficarmos mais um tempo juntos, talvez ele possa descobrir que sente algo por
mim — falei baixinho, com medo de receber uma retaliação da parte de Paula.
— Eu acho que ele só não vai descobrir se for extremamente babaca, cego e idiota. Até agora ele
só vem sendo babaca, cego e idiota, mas não ao extremo — Paula concluiu, me fazendo rir de novo.
— Então, acha que devo dar a nós dois mais uma chance?
— Acho que sim. Se por um acaso ele te magoar, pode contar comigo para acabar com aquela
carinha bonita e cuidar do seu coração partido.
— Já disse que você é a melhor amiga de todas?
— Hoje não, mas se você me enviar uma caixa de bombons, eu vou começar a acreditar.
— Boba!
Rimos e conversamos por mais um tempo, até Alexandre chegar ao apartamento de Paula e ela ter
que desligar. Fiquei um tempinho apenas encarando o celular, pensando se colocava em prática ou
não a ideia que surgiu em minha mente naquela tarde. No começo, estava em dúvida, mas agora que
já havia decidido que daria uma segunda chance a mim e a Romeo, decidi colocar a ideia em prática.
Abrindo o WhatsApp, enviei uma mensagem para ele.

“Minha viagem para São Paulo foi remarcada para sábado de manhã. Quer ir comigo?”

Romeo

Eu tinha uma reunião marcada para sábado de manhã, mas a primeira coisa que fiz ao receber o
convite de Alice, foi ligar para minha secretária e mandar que ela remarcasse a reunião para outro
dia. Nada no mundo me faria perder qualquer oportunidade de estar ao lado de Alice de novo.
Combinamos de nos encontrar no aeroporto às seis e meia da manhã, pois o voo estava marcado para
às oito. Assim que a vi no saguão, senti meu coração disparar. Parecia que eu não colocava meus
olhos sobre ela há anos e a vontade de a puxar para os meus braços e beijar a sua boca dominou
todos os meus sentidos.
Eu sabia que, talvez, eu devesse segurar meus instintos. Nossa conversa no hospital me deu um
pouco de esperança de que voltaríamos a ser como éramos antes e o convite para viajar ao seu lado
naquele final de semana era a confirmação de que estávamos juntos novamente, mas, mesmo assim,
não sabia se Alice reagiria bem se eu a agarrasse no meio do aeroporto e beijasse a sua boca. Decidi
que iria pagar para ver. Assim que cheguei perto o suficiente, larguei a minha mala e a puxei para
mim pela cintura, atacando a sua boca em um beijo que dizia muito mais do que qualquer palavra no
mundo.
Sentir o seu gosto novamente foi como entrar no paraíso. Nada no mundo se comparava ao beijo
de Alice, à textura macia dos seus lábios, à sua língua delicada, ao seu sabor tão único. Meu sangue
pareceu ferver em minhas veias e precisei lembrar ao meu pau de que estávamos em público e que
não dava para transar ali. Alice me agarrou também, tocou em minha nuca, em meus cabelos e gemeu
baixinho quando prendi seu lábio inferior entre os meus dentes. Quando nos afastamos, percebi que
algumas pessoas estavam olhando para o show que protagonizávamos.
— Oi — murmurei com a testa encostada na dela, sem conseguir parar de sorrir.
— Olá, Sr. Benvenuto. Sabia que temos plateia?
— Temos? Não percebi, só tenho olhos para você.
— Como você é falso, Romeo! — Ela riu e se afastou com as bochechas vermelhas.
Fomos direto para a sala de embarque e ficamos conversando até a hora de embarcamos. No
avião, Alice mandou uma mensagem para sua editora falando que chegaríamos em no máximo uma
hora. Sua reunião seria no horário de almoço e, depois, iríamos curtir a noite paulistana.
O voo foi tranquilo e fomos direto para o hotel depois de pegarmos as malas. O quarto era amplo e
sofisticado e, assim que entramos, havia dois buquês de flores esperando pela Alice no quarto, além
de bombons e uma garrafa de champanhe, cortesia do hotel.
— Uau, até parece que estou viajando ao lado de uma autora internacionalmente famosa — falei, a
agarrando pela cintura e lhe dando um beijo. — Ah, esqueci, eu estou mesmo viajando ao lado de
uma escritora internacionalmente famosa.
— Seu bobo!
Ela riu e se afastou, pegando o celular para fazer alguns stories no Instagram, agradecendo ao
hotel pela receptividade e fazendo mistério sobre os buquês de flores. Depois de postar, ela pegou o
cartãozinho no buquê menor de flores brancas e eu comecei a tirar os sapatos enquanto ela lia.
— Olha, os representantes da Universal que me enviaram esse buquê! Que delicadeza — disse ela,
mostrando-me o cartão. — Uma pena eu não poder postar um agradecimento. Não posso divulgar
nada antes da hora.
— Você vai poder agradecer depois, quando estiver no tapete vermelho da pré-estreia do filme —
falei, lhe dando uma piscadinha.
Ela sorriu toda animada e pegou o cartão no buquê maior, de rosas vermelhas e laranjas.
Primeiramente, ela leu em silêncio e seu rosto ficou apreensivo. Fiquei em alerta no exato momento.
— O que foi?
— É um buquê do Marcelo.
Marcelo, o neurocirurgião almofadinha. Uma onda de ciúmes me tomou, mas consegui controlar
o sentimento e me aproximei para ler o cartão por cima do seu ombro. Meus olhos não acreditaram
no que viram.
— Ele está te convidando para jantar?
— Sim.
— Que babaca.
— Ei, não precisa falar assim. Ele não tinha como saber que eu viria acompanhada — ela disse,
virando-se para mim e me abraçando pelo pescoço. — Vou enviar uma mensagem agradecendo pelas
flores e recusando o convite para jantar.
— Não precisa enviar mensagem nenhuma, é só fingir que não viu — falei meio azedo. Alice me
olhou com um sorriso incrédulo.
— Está com ciúmes?
— Estou — admiti sem pestanejar e perguntei: — Esse idiota vem investindo em você toda vez
que você vem para São Paulo?
— Ele é só um amigo, Romeo.
— Não foi isso que perguntei, bella. Vocês saem para jantar sempre que vem aqui?
— Às vezes, sim. Marcelo é um homem ocupado, nem sempre está disponível. Mas ele compensa
quando vai ao Rio e me faz uma visita.
— E você ainda tem a coragem de falar que ele é só um amigo? É lógico que ele quer algo a mais
com você, Alice! — Tentei me afastar, mas Alice não me soltou.
— Para mim ele é só um amigo e nunca dei abertura para que ele pensasse o contrário.
— Mas ele está louco para arranjar essa abertura e te levar para cama dele — falei com um pouco
de raiva. Eu sabia que era irracional, mas era mais forte que eu.
— Ele não me conquistou antes e não é agora que vai conseguir. Eu estou aqui com você, não
estou? Não precisa se sentir inseguro.
— Inseguro? Eu não estou inseguro. Eu me garanto pra caralho!
“É mesmo? Então por que está dando esse chilique?”, meu subconsciente me confrontou. Fiz
questão de calar a boca dele com um soco mental.
— Eu também garanto que, enquanto estivermos juntos, não deixarei que Marcelo pense que eu
estou disponível para ser conquistada — ela disse me dando um selinho antes de se afastar e pegar o
celular.
Enquanto estivermos juntos. Isso queria dizer que, quando nos separássemos, ela ficaria com ele?
Deixaria que ele a conquistasse? Dio, o ciúme que senti foi tão grande, que enxerguei tudo vermelho
e, com medo de falar alguma besteira, falei que ia tomar banho e me fechei no banheiro. De frente
para o espelho, tentei entender o que estava acontecendo comigo. A simples hipótese de ver Alice
com outro me dilacerava. Eu não queria que isso acontecesse, nunca! Mas, então, me lembrei que o
nosso relacionamento não ia durar para sempre. Uma hora ela ia querer encontrar o tal cara para se
casar e formar uma família. E, bem, em algum momento, o meu tesão por ela também iria diminuir,
até desaparecer por completo. Isso era o que o meu lado racional falava. Por que diabos o meu
coração cismava em dizer o contrário?
— Romeo, você nunca foi um homem emocional. Per l’amor di Dio, não caia nessa! — Falei para
mim mesmo em frente ao espelho, antes de me afastar e ir tomar um banho para refrescar as ideias.
Estava debaixo do chuveiro quando senti um corpo macio atrás do meu e duas mãos passando por
cima do meu peitoral, uma delas tinha uma camisinha entre os dedos. Comecei a ficar duro na hora,
só de sentir o calor da Alice contra mim e os seus mamilos roçando as minhas costas.
— Aceita companhia para um banho?
Virei-me e a encostei contra a parede, descendo minhas mãos pela lateral do seu corpo.
— Bella, eu aceito qualquer coisa com você — murmurei, deixando beijinhos em seu pescoço.
Quando suguei a pele, ela gemeu e me deu um tapinha.
— Não me deixe marcada. Não esqueça que tenho uma reunião daqui a algumas horas.
— Pode deixar, minha business woman[20] — sussurrei, parando só para lhe fazer uma pergunta.
— Recusou o convite do almofadinha?
— Almofadinha? — Ela riu, colocando meu cabelo para trás. — Você é muito criativo, Sr.
Benvenuto.
— Eu posso ser mais comum e o chamar de filho da put...
— Almofadinha está ótimo. A mãe dele é uma senhora muito gentil e não merece ser xingada —
ela disse, pousando o dedo sobre os meus lábios. — Agora, pode me fazer um favor? — Eu apenas
assenti. — Cala a boca e me come!
— Hum... — Sorri e mordi a pontinha do seu dedo, antes de arrancar o preservativo da sua mão.
— Sim, senhora.
Capítulo 27
Alice saiu para a reunião e eu fiquei no hotel, pesquisando o que tinha de interessante para
fazermos à noite. Pensei em, primeiramente, levá-la para jantar para comemorarmos o acordo que ela
fecharia com a Universal — tinha certeza de que eles firmariam contrato — e, em seguida, ir com ela
para alguma casa noturna antes de fecharmos a noite com chave de ouro na cama.
— O final de semana perfeito — pensei em voz alta enquanto lia sobre uma boate que havia sido
inaugurada há pouco mais de dois meses e que estava fazendo um enorme sucesso na noite paulistana.
Depois de fechar o nosso roteiro, fiquei um tempo no notebook e adiantando o trabalho que havia
ficado atrasado por conta dos últimos acontecimentos em minha vida pessoal e só parei de trabalhar
quando ouvi a porta do quarto sendo aberta por uma Alice eufórica, às quatro horas da tarde.
Levantei-me da cama e Alice largou a bolsa no chão, vindo correndo para os meus braços.
— Meu livro vai virar filme! — Ela gritou em meus ouvidos e eu a peguei em meu colo,
rodopiando com ela pelo quarto.
— Parabéns, bella! Você merece essa conquista.
— Ai, eu nem acredito — disse com a voz emocionada e eu a coloquei no chão, vendo seus olhos
cheios de lágrimas.
— Não, não chora, meu amor... — Beijei os seus lábios e ela suspirou pela emoção. — É uma
vitória.
— Eu sei, por isso estou tão emocionada. Eu sonhei tanto com isso, você não pode imaginar.
— Sei que sonhou muito com esse momento. Você merece tudo isso e muito mais, bella — falei,
tomando seu rosto em minhas mãos. — Que tal abrirmos aquele champanhe para comemorarmos?
— Sim, por favor!
Beijando seus lábios mais uma vez, me afastei e fui em direção ao champanhe que ainda estava no
balde gelo. O abri e enchi as duas taças, indo até ela para brindarmos. Alice estava com um sorriso
enorme no rosto e bebeu sem tirar os olhos de mim. Sua alegria era contagiante.
— Mônica reservou uma mesa em um restaurante para jantarmos em comemoração! Ela é uma
mulher maravilhosa, você vai adorar conhecê-la — ela disse muito animada, quase pulando na minha
frente.
Eu lutei para manter o sorriso em meu rosto e não demonstrar a pequena frustração que senti. Já
havia feito planos para nossa noite, queria surpreendê-la com um jantar e ter a nossa comemoração,
mas não deixei que Alice percebesse isso. Não estava tudo perdido, ainda poderíamos sair depois do
jantar.
— Tenho certeza que sim — respondi, a puxando para mim pela cintura. — Estou muito orgulhoso
de você, bella.
— Obrigada — sussurrou, recebendo meus beijinhos no rosto. — E obrigada por ter aceitado vir
comigo.
— Bella, eu vou com você para qualquer lugar, entenda isso.
O sorriso que Alice me deu foi diferente, emocionado, apaixonado. A pressão que senti em meu
peito ao pensar nessa palavra foi diferente das outras vezes. Não me senti preso, foi o contrário, me
senti completamente livre para aproveitar aquele momento com ela e todas as emoções que viriam.
Observei enquanto Alice se arrumava bem na minha frente. Ela fez uma maquiagem básica, mas
caprichou no batom vermelho e deixou que o cabelo caísse livre pelas costas, enquanto decidia entre
dois vestidos. Em dúvida, virou-se para mim.
— Qual você acha mais bonito?
Olhei para o vestido preto com um decote arrasador na frente e o vestido azul-claro que tinha um
decote discreto nas costas. Eu sabia qual era o meu favorito, mas estava me cagando de medo de
escolher o que ela havia gostado menos.
— Os dois ficarão lindos em você, bella. Você poderia ir enrolada em um jornal e, ainda assim,
seria a mulher mais linda da noite.
— Você sabe mesmo como conquistar uma mulher, Romeo Benvenuto — disse com o olhar
semicerrado e voltou a levantar os dois vestidos nos cabides. — Qual você gostou mais? Seja
sincero.
— Do preto — falei, me levantando da poltrona e indo até ela. — Olha esse decote! Dio, vou ficar
com o pau duro a noite toda.
Uma expressão safadinha tomou conta do seu rosto.
— Então é com esse que eu vou.
— Por que eu acho que você o escolheu unicamente pelo fato de eu ter dito que vou ter um caso
sério de bolas roxas?
— Porque você é inteligente — ela disse, deixando os vestidos em cima da cama e tirando o
roupão. Puta merda, Alice não tinha mesmo pena de mim.
Ela colocou vestido e eu me aproximei para subir o zíper em suas costas.
— Você é sádica, sabia?
— Que absurdo falar algo assim de um anjo como eu — disse, me arrancando uma risada. Dei um
tapa em sua bunda e me afastei.
— Continue assim e a nossa comemoração será dentro deste quarto.
— Não me oponho em comemorarmos muito dentro do quarto — disse ela e acho que viu o olhar
de esperança em meu rosto, pois acrescentou. — Depois do jantar.
— O seu problema é essa crueldade que existe aí dentro — murmurei, apontando para o seu peito.
Alice gargalhou e foi terminar de se arrumar. O vestido era lindo, valorizava cada uma das suas
curvas e o decote na altura dos seios era elegante e mostrava o formato daquelas belezinhas que
cabiam perfeitamente em minhas mãos. Dez minutos depois, saímos do hotel e pegamos um Uber até
o restaurante elegante que ficava na Avenida Paulista. Fomos recepcionados por uma moça
simpática, que nos levou até a mesa reservada. Enquanto caminhávamos até lá, senti Alice ficar tensa
ao meu lado.
— O que foi?
— O Marcelo está aqui — ela sussurrou ao meu lado e me olhou com certo nervosismo. — Juro
que eu não sabia que ele viria, Romeo. Mônica dever ter o convidado.
Era só o que me faltava, ter que ficar olhando para a cara do idiota durante todo o jantar.
— Não tem problema.
— Mesmo?
— Claro — confirmei. Bem, Alice estava comigo, não era mesmo? Então, eu não teria com o que
me preocupar. Só esperava que o babaca fosse feio.
Lógico que ele não era, o destino tinha que estar totalmente ao meu lado para eu ter uma sorte
como essa. Assim que nos aproximamos da mesa, uma mulher sorridente e um homem que era apenas
alguns centímetros mais baixo do que eu, se levantaram. Meu foco, é claro, ficou em cima do tal do
Marcelo e o dele em mim. Não vi nenhuma expressão de surpresa em seu rosto e constatei que a
editora da Alice deve ter dito a ele que ela não iria desacompanhada para o jantar. Mesmo assim, o
almofadinha me olhou de cima a baixo e eu fiz o mesmo com ele.
O tal do Marcelo tinha cabelos escuros, barba cheia, olhos verdes e vestia um terno impecável.
Sua postura já demonstrava que ele era médico, mas não me senti rebaixado por causa disso. Eu
conhecia o meu potencial, sabia que eu era um homem foda e não seria aquele babaquinha que me
faria pensar o contrário. Alice cumprimentou Mônica com dois beijos no rosto, em seguida, virou-se
para Marcelo, que quase fez uma reverência ao vê-la. Ele teve a coragem de beijar a mão dela bem
na minha frente. Imbecil. Um pouco sem graça, Alice voltou para o meu lado e eu pousei minha mão
em sua cintura, deixando bem claro qual era a minha posição ali.
— Mônica, Marcelo, esse é Romeo — Alice disse. Gostei do fato de ela não ter me chamado de
amigo.
— É um prazer, Romeo. A Alice me falou muito bem de você — Mônica disse, apertando a minha
mão.
— Ela também me falou muito bem de você. Disse que adora puxar a orelha dela de vez em
quando.
— Nem sempre é preciso. Alice é muito boa no que faz.
— Sei disso. Minha bella é uma mulher excepcional.
— Bela? Não sabia que você tinha um apelido, Alice — Marcelo disse.
— Esse é especial, eu que dei a ela. Significa linda em italiano — falei, olhando bem nos olhos
dele. — Prazer em conhecê-lo, aliás.
“Prazer nenhum, babaca e você sabe disso”, pensei enquanto apertava a mão.
— É um prazer te conhecer também — ele disse de volta.
Arrastei a cadeira para que Alice se sentasse e nos acomodamos à mesa. Adorei o lugar escolhido,
pois estávamos em um canto mais discreto do restaurante, onde as mesas ganhavam mais espaço entre
uma e outra. Um garçom se aproximou e escolhemos um espumante para comemorar, enquanto
olhávamos o cardápio.
— Então, como vocês se conheceram? — Mônica perguntou.
— Na verdade, eu conheci primeiro o cachorro dele, o Bob. Ele meio que nos apresentou — Alice
disse.
— Como assim? — Marcelo perguntou.
— Bob se apaixonou por Alice assim que a viu correndo no calçadão de Copacabana. Ele é um
Golden enorme e a derrubou no chão quando quis pular em seu colo. Acho que foi só um pretexto que
ele arrumou para poder colocá-la na minha vida.
Alice sorriu toda boba para mim e vi, pelo canto do olho, Marcelo fazer uma leve careta de
desgosto. Acho que estava percebendo que a chance que ele nem mesmo tinha, havia acabado de
desaparecer por completo.
— Em seguida, descobrimos que a Paula, minha amiga, namora o irmão dele — Alice completou.
— Olha, parece que o destino quis mesmo unir vocês dois — Mônica disse, mas se calou ao ver a
cara fechada do irmão. — Hum, quer dizer, é uma história interessante. Daria um ótimo livro.
— Eu também acho — falei, unindo a minha mão a de Alice sobre o seu colo. — Quem sabe eu
não escreva a nossa história um dia, bella?
— Você? — Alice perguntou.
— Sim, acho que eu daria um bom escritor. Nada comparado a você, é lógico, mas a nossa história
é inspiradora. Acho que eu faria um trabalho bonitinho.
— Eu também acho. Eu te ajudo no que precisar.
Beijei sua mão em agradecimento e o garçom se aproximou para pegar os nossos pedidos.
Enquanto ele anotava os pratos dos irmãos, eu soltei a mão de Alice e passei meus dedos
discretamente pela sua coxa. Ela levou a carícia como algo gentil, mas não havia nada de gentileza
em minha mente. Quando meus dedos entraram debaixo do seu vestido, ela me olhou um pouco
assustada.
— O que está fazendo? — sussurrou, colocando a mão por cima da minha.
— Nada. Só estou te fazendo um carinho. Não posso?
Ela cerrou um pouco as pálpebras, como se se não acreditasse em nenhuma das minhas palavras.
— Romeo Benvenuto, comporte-se.
Eu apenas sorri e me dirigi ao garçom para fazer o meu pedido. Assim que ele se afastou, Mônica
começou a falar sobre a reunião que elas haviam tido com os representantes da Universal e
embarcamos em uma conversa mais amena e profissional. Em momento algum eu deixei de acariciar
a Alice por debaixo do vestido e parei um pouco ao me aproximar da sua calcinha. Esperei que ela
me olhasse e me pedisse para parar, mas a danadinha fez o contrário. Olhando diretamente para
Mônica e falando com ela, Alice abriu as pernas, o suficiente para que meus dedos fizessem contato
com a sua calcinha. Fiquei cheio de tesão ao sentir a sua bocetinha por cima da renda delicada.
— E qual é o processo a partir de agora? — Marcelo perguntou.
— Primeiro, serão escolhidos o diretor e o roteirista — Alice falou.
— Três diretores já se mostraram muito interessados no filme — Mônica completou.
— Você tem algum ator que gostaria que interpretasse o James Slater? — perguntei, colocando a
sua calcinha de lado. Senti Alice estremecer levemente ao me olhar.
— Tenho alguns em mente e confesso que estou ansiosa para a escolha do elenco.
— Vai ser maravilhoso! Eu já posso imaginar como as leitoras vão surtar com a notícia.
— Ah... Sim — Alice respondeu com o ar meio entrecortado, justamente no momento em que lhe
penetrei com um dedo. Tomando um gole do espumante, ela respondeu com mais firmeza. — Sim,
elas vão amar. O sonho delas é que um dos meus livros se torne filme.
— Estou muito feliz por você, Alice — Marcelo disse, esticando a mão sobre a mesa para pegar a
de Alice. Parei o movimento do meu dedo na hora. Que porra era aquela? — Você sabe, em todos
os nossos encontros, eu sempre deixei bem claro o quanto torcia pelo seu sucesso.
Encontros? Encontros?!
— Obrigada, Marcelo — Alice disse, tirando a mão de dentro da dele. — Realmente, você
sempre torceu muito por mim. É um dos meus amigos mais queridos.
Cara... Eu só não ri porque não queria ser mal-educado. Contente, tirei o dedo de dentro de Alice
e toquei em seu clitóris durinho, espalhando a sua lubrificação, enquanto via a postura de galanteador
do almofadinha despencar bem a minha frente. Que sensação de triunfo maravilhosa!
O garçom chegou com os nossos pedidos e eu precisei tirar minha mão do meio das pernas dela
para poder comer. Vi de canto de olho o seu sorrisinho ao apertar as coxas uma na outra, certamente
para tentar aplacar o tesão e eu respirei fundo, sentindo meu pau pulsar dentro da calça.
Discretamente, lambi a ponta do meu dedo médio e Alice me olhou com a boca entreaberta, chocada
por eu estar sentindo o seu gosto bem ali, na frente de todo mundo. Suas bochechas ficaram
vermelhas, mas ela logo tratou de disfarçar.
Embarcamos em outro assunto enquanto comíamos e, apesar de não ter soltado mas nenhum
galanteio, Marcelo não conseguia parar de olhar para Alice como se ela fosse a dona de todos os
seus pensamentos. Aquilo estava me incomodando pra caralho. Será que ele não tinha percebido que
ela estava comigo? Ou achava que estávamos tendo apenas um casinho qualquer?
“Mas não é isso que vocês estão tendo? Um caso? No fundo, ele tem razão em não perder as
esperanças de ficar com a Alice um dia. Quando vocês pararem de transar, ele vai ter a
oportunidade perfeita para atacar.”
Meu subconsciente me fez perder a fome.
— O que foi? — Alice perguntou baixinho quando o garçom tirou os nossos pratos e nos entregou
o cardápio da sobremesa.
— Nada.
— Tem certeza? Você ficou calado de repente.
— É porque estou pensando em como preciso entrar em você nos próximos dois minutos — falei.
Não dava para esperar mais. Precisava de Alice para tirar aquela sensação ruim de dentro do meu
peito.
— O quê?
— Vá para o banheiro — pedi. Seus olhos se arregalaram. — Per favori, bella.
Ainda um pouco chocada, Alice pediu licença para ir ao toilet e eu esperei que um minuto inteiro
se passasse até colocar a mão no meu bolso e puxar o meu celular.
— Desculpem-me, preciso atender essa ligação.
Levantei da mesa e fingi que iria em direção à área aberta do restaurante, mudando meu caminho
quando estava longe o suficiente para que eles me vissem. No corredor dos banheiros, encontrei
Alice em frente à porta do toilet feminino e a puxei pela mão até o banheiro privado para
cadeirantes. Por sorte, estava vazio e tranquei a porta atrás de mim.
— Meu Deus, Romeo, você é louco! — Ela riu de nervoso, mas soltou um gemidinho quando a
pressionei contra a bancada da pia e afundei meu rosto em seu pescoço.
— Não consegui me segurar mais. Preciso de você, bella. Prometo que vai ser só uma rapidinha.
Nem dei tempo para que ela respondesse e ataquei a sua boca, levantando o seu vestido até a
cintura. Alice respondeu de pronto, tirando a minha camisa de dentro da calça e levando os dedos ao
meu cinto. Tive que controlar a minha vontade de gemer alto quando coloquei sua calcinha de lado e
senti como estava mais molhada do que antes, o clitóris pulsando de encontro ao meu dedo.
Com o pau já fora da cueca, tirei a minha carteira do bolso e peguei uma camisinha, vestindo-me
rapidamente, antes de virar Alice de costas para mim e penetrá-la rapidamente até o fundo. Ela
mordeu o lábio com força para não gemer muito alto e fez uma carinha de dor. Merda, tinha sido um
cavalo.
— Desculpa, desculpa, bella... — pedi a olhando pelo espelho e beijando o seu rosto. — Te
machuquei?
— Foi só uma dorzinha, já passou — ela sussurrou, rebolando devagarinho. — Continue.
Seu pedido era uma ordem. Tentando ser um pouco mais delicado, saí e entrei lentamente umas três
vezes, antes de aumentar o rimo das estocadas. O barulho do meu quadril de encontro a sua bunda
começou a soar um pouco mais alto do que deveria, mas nada me faria parar naquele momento, a não
ser Alice e ela não parecia nem um pouco incomodada, muito pelo contrário. Lutando para não gemer
alto demais, ela se apoiava na bancada com uma mão e puxava meu cabelo perto da nuca com a
outra, enquanto olhava nos meus olhos.
— Você é minha, bella... — murmurei no auge do tesão, quase gozando. Com uma mão em sua
cintura, usei a outra para puxar seu rosto em minha direção pelo queixo. — Entendeu isso? Não
quero que aquele babaca fique te olhando como se estivesse esperando a primeira oportunidade pra
te conquistar.
Alice se apoiou com as duas mãos na bancada e gemeu baixinho entre os meus lábios.
— Ele nunca teve chance...
— E nem vai ter — afirmei, beijando a sua boca rapidamente antes de tirar a mão do seu rosto e
enfiar entre as suas pernas. — Eu não vou deixar.
Acelerei os movimentos e precisei esconder meu rosto no pescoço de Alice para gemer enquanto
sentia o orgasmo se aproximar. Ela chamou pelo nome e eu acariciei o seu clitóris, sentindo sua
bocetinha apertar meu pau com destreza, envolvendo-me, me levando ao limite. Olhando em seus
olhos pelo espelho, enfiei minha mão em seu decote e apertei o mamilo durinho, sentindo seu corpo
tremer entre os meus braços.
— Ai, Romeo...
Alice fechou os olhos com força e gozou, esfregando a bunda em meu quadril para aumentar a
fricção do meu pau em sua boceta e do meu dedo em seu clitóris. Eu não consegui segurar mais e
gozei bem gostoso, chamando seu nome, enterrando meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro e
me entregando ao ápice do momento.
Não sei quanto tempo se passou até eu reunir coragem para sair devagar de dentro dela e tirar a
camisinha. Alice se virou e me deu um sorriso lânguido de quem havia acabado de ter um orgasmo
excepcional.
— Não acredito que fizemos isso — sussurrou enquanto eu jogava a camisinha no lixo.
— Lembra quando eu disse que te impulsionaria a ter a mesma coragem que os seus personagens?
— perguntei, colocando a sua calcinha no lugar e abaixando o seu vestido. Alice assentiu. — Acabei
de fazer exatamente isso. Foi gostoso, não foi?
— Muito. E arriscado também.
— Não foi você que disse que o perigo torna tudo mais excitante? — Ela riu e assentiu, me
ajudando a fechar a calça e o cinto. — Vou fazer questão de descrever essa cena com detalhes
quando eu estiver escrevendo o livro sobre a nossa história.
— Nem pensar! — Ela exclamou, ficando vermelha.
— Ah, então os seus personagens podem transar nos seus livros, mas a gente não pode transar no
nosso?
— Não é isso, é que eles vão descobrir o que nós fizemos — ela disse em um sussurro, quase
como se a Mônica e o almofadinha pudessem nos escutar lá da mesa.
— Bella, essa é a intenção — pisquei para ela e beijei os seus lábios. — Vou voltar para mesa,
falei que precisava atender uma ligação.
— Tudo bem, eu só vou me ajeitar e já vou.
Dei-lhe mais um beijo antes de sair do banheiro. Ao sentar-me na mesa, não consegui tirar o
sorriso satisfeito do meu rosto e vi que Marcelo me olhou com uma cara esquisita, mas não me
importei. Nada poderia arruinar o meu humor naquele momento. Alice voltou minutos depois e pediu
desculpas pela demora, disse que o banheiro estava cheio e que encontrou uma fã quando estava
saindo. Isso serviu para deixar Mônica entusiasmada e quase bati palmas para a inteligência da
minha bella em inventar uma desculpa.
Encerramos o jantar meia hora depois e nos despedimos na porta do restaurante. O fato de Alice
ter deixado bem claro que via Marcelo apenas como um amigo pareceu ter surtido algum efeito ao
final do jantar, pois, na hora de se despedir, ele se conteve um pouco mais e apenas a abraçou.
Depois que eles saíram, virei-me para Alice e peguei seu rosto em minhas mãos.
— Que tal sairmos para dançar agora?
— É tudo o que eu preciso.
Chamei o Uber e enquanto o carro não vinha, sussurrei em seu ouvido:
— Depois eu vou te comer toda suadinha encostada na porta do nosso quarto, antes de te comer de
novo no chuveiro.
— Você viu a banheira enorme que tem naquela suíte? Eu quero sexo na banheira, Sr. Benvenuto!
— Está bem, primeiro round na porta e segundo round na banheira. Melhor assim?
— Perfeito.
— Faço tudo para te satisfazer, bella,
Capítulo 28
As próximas semanas foram tão maravilhosas, que eu poderia muito bem pensar que estava
vivendo o paraíso na Terra. A nova plataforma de jogos foi recebida com sucesso pela crítica e pelos
usuários, mamma trocou os remédios e não teve mais nenhum problema de saúde e a minha relação
com a Alice estava melhor do que nunca. Nos víamos quase todos os dias, passávamos os finais de
semana juntos, havíamos feito uma viagem curta para Angra dos Reis junto com a minha famiglia
para comemorar o aniversário da tia Graziella e aproveitado muito o hotel que reservei para nos
hospedarmos.
Foi nessa viagem que Alexandre surgiu com a ideia de fazer uma surpresa para Paula. O
aniversário dela estava chegando e ela disse que queria sair para jantar com todo mundo, mas meu
irmão queria algo maior e inesquecível. Ele e Alice se juntaram e começaram a colocar o plano em
prática e eu fiquei nos bastidores, ajudando quando era solicitado.
No final, o que seria uma festinha, se transformou em um final de semana em um resort em Angra
dos Reis. O aniversário de Paula caía em um sábado e meu irmão disse a ela que tinha fechado um
final de semana para nós quatro no resort. Ela ficou toda animada, mas mal podia imaginar que, no
sábado, ia ter uma festa gigante com toda a família — tanto a nossa quanto a dela — reunida. Eu nem
queria pensar no tanto de dinheiro que Alexandre havia gastado para fazer tudo aquilo acontecer.
Consegui arrumar a minha agenda para ter a sexta-feira livre e saímos de manhã em direção à
Angra. Minha famiglia e a família de Paula chegariam no dia seguinte e Alexandre havia fechado
com o SPA do resort um dia de beleza para a namorada, para que ela não visse ninguém antes da
hora. O lugar era maravilhoso, com uma arquitetura requintada e a praia reservada só para os
hóspedes. Alice e eu pegamos um bangalô, que ficava um pouco afastado da sede principal e que nos
dava uma vista incrível para o oceano.
— Meu Deus, que coisa mais linda — Alice disse ao sair para a varanda do nosso quarto. Eu fui
até ela e a abracei por trás, respirando fundo. Era incrível como eu nunca me enjoava do seu cheiro
ou de qualquer parte dela.
— Quer dar um mergulho? — perguntei em seu ouvido. — Ou prefere trepar gostosinho naquela
cama gigante?
— A gente trepou gostosinho antes de virmos para cá, seu safado — ela disse, virando-se para
mim. — Esqueceu que você me acordou meia hora mais cedo para podermos transar?
— Vamos pensar, eu te acordei às cinco e meia da manhã, saímos de casa às sete e chegamos aqui
às dez. Levando em consideração que já são quase onze da manhã, estamos a exatas cinco horas e
meia sem transar. Eu preciso de mais um pouco da minha dose diária de Alice Carvalho.
— É impressionante como o sexo é capaz de fazer o cérebro de um homem trabalhar. Já posso te
chamar de Romeo Einstein?
— Pode me chamar do que você quiser, bella, principalmente enquanto a minha piroca e estiver
dentro dessa bocetinha.
— Pelo amor de Deus, Romeo! — Ela deu um tapinha no meu ombro e riu de mim. — Quero dar
um mergulho.
— Eu estou sendo trocado por água salgada? — Me fingi de ofendido. — Sinceramente, eu já fui
mais importante para você, Alice.
Ela passou por mim e entrou no quarto, tirando a blusa e descendo o short pelas pernas longas e
definidas. Dio, eu já conhecia cada detalhe do seu corpo, mas sempre que ela ficava nua na minha
frente, eu me sentia como se estivesse vendo tudo aquilo pela primeira vez. Virando-se para mim,
Alice disse:
— Se você der um mergulho comigo, prometo que a gente pode dar uns amassos no mar.
— Cazzo, bella! Você sabe como comprar um homem.

Passamos o resto da tarde aproveitando a praia e o sol e logo Paula e Alexandre se juntaram a nós
dois. Foi divertido passar aquele tempo com eles e me dei conta de que estávamos fazendo muitos
programas à quatro. Geralmente, nos encontrávamos às sextas no Karaokê do Jô e já tínhamos saído
para boates juntos e até mesmo para jantar. “Programas típicos de casais”, como Paula gostava de
falar. No começo, Alice e eu ficávamos sem graça quando ela falava aquilo e o meu irmão reforçava,
no entanto, com o passar das semanas, começamos a nos acostumar.
— Ei, fratello, quer dar um pulo no bar comigo? — Meu irmão perguntou e percebi que estava
meio apreensivo.
— Claro.
Levantei-me da espreguiçadeira e acenei para Alice e Paula, que estavam na água, apontando para
o bar a alguns metros de distância. Alice ergueu o polegar e eu saí da areia com o meu irmão.
Quando vi que ele começou a fazer o caminho até os bangalôs, ao invés de ir ao bar, estranhei.
— Alexandre, o bar fica para lá — apontei.
— Eu sei, foi só uma desculpa, fiquei com medo de te chamar para ir ao meu quarto e Paula
acabasse escutando — disse ele, caminhando a passos rápidos. — Quero te mostrar uma coisa.
Chegamos em frente ao bangalô onde ele e Paula estavam hospedados e notei que era basicamente
igual ao meu. Nervoso, meu irmão foi até a mala e vasculhou com empenho, até achar algo bem no
fundo. Senti um frio no estômago ao ver a caixinha em sua mão.
— Não...
— Sim — ele assentiu com um sorriso.
— Não!
— Sim!
Quando ele abriu a caixinha e o anel quase me cegou, senti que o teto poderia estar prestes a
desabar sobre a minha cabeça.
— O que acha? Alice que me ajudou a escolher. Ela disse que Paula gosta de algo mais simples,
por isso, optei por um solitário.
— Um solitário enorme, né. Se você dividir essa pedra, da para fazer no mínimo mais uns dois
anéis — falei, pegando a caixinha da sua mão. — Quer mesmo fazer isso?
— Me casar com a Paula? É o que eu mais quero no mundo — ele disse, apoiando a mão no
ombro. — Sabe quando você olha para uma pessoa e começa a se perguntar sobre como conseguiu
viver até ali sem tê-la ao seu lado? E então, você começa a imaginar o seu futuro, a fazer planos e
percebe que aquela pessoa está incluída em cada pequeno detalhe. É como se você não conseguisse
mais respirar se não visse o sorriso dela, se não sentisse o seu cheiro, o calor do seu corpo, seu
abraço, o som da sua voz e da sua risada, o gosto do seu beijo, a forma como ela se encaixa
perfeitamente nos seus braços na hora de fazer amor... Eu sinto tudo isso, fratello. E muito mais.
Engoli em seco, enxergando muito de mim naquelas palavras. Era exatamente assim que eu me
sentia com a Alice. Dio mio, por favor, não...
— Sente mais? — perguntei, já sentindo medo de ouvir a resposta.
— Eu amo a Paula. Eu amo aquela gata furiosa com cada batida do meu coração e não posso viver
mais nem um segundo longe dela. Quero que ela seja minha esposa, a mãe dos meus filhos e a avó de
todos os meus netos. Quero uma vida com ela, Romeo.
— Uau! Eu estou feliz por você, fratello — falei, sentindo meu coração bater mais forte. — De
verdade. Quero que você seja feliz.
— Eu serei, fratello — ele disse, aproximando-se de mim. O puxei para os meus braços e o
abracei com força.
— Inacreditável... Meu irmão vai se casar!
— Eu vou! Quer dizer, tudo vai depender da Paula. Espero que ela me diga sim.
— Você ainda tem alguma dúvida? Ela é louca por você, é óbvio que vai aceitar
— Que Dio te ouça! — disse ele, tomando a caixinha das minhas mãos.
Ele se afastou com um sorrisão e eu fiquei parado no meio do quarto, olhando para a minha mão
vazia. Suas palavras voltaram com força total na minha mente e o final martelou em minha cabeça.
“Eu sinto tudo isso, fratello.” Ele sentia tudo o que eu sentia por Alice. Exatamente tudo. Comecei
a sentir falta de ar.
— Eu... Eu vou no meu quarto rapidinho. Pode avisar a Alice quando você voltar à praia? —
perguntei, já indo em direção à porta. Ouvi a risada de Alexandre atrás de mim.
— Dio mio, Romeo, já quer arrastar a mulher para cama? Não são nem seis horas ainda!
— Não, não é isso. Eu estou com um pouco de dor cabeça, vou tomar um remédio e depois volto
pra praia.
— Está bem, pode deixar que eu falo com ela.
Assenti e saí do seu bangalô em disparada, correndo até o meu usando e a chave para abrir a
porta. Lá dentro, arranquei o short e a sunga de praia e entrei debaixo do chuveiro frio, respirando
fundo. Precisava pensar com calma. Tudo bem, Alexandre havia descrito tudo o que eu sentia por
Alice, mas isso não queria dizer que eu também estava apaixonado, não era? Eu gostava dela. Eu
gostava muito dela, mas, apaixonado já era um outro patamar...
“E se não for só paixão? Alexandre dizia que sentia muito mais... E se você sentir muito mais
também?”
— Merda! — xinguei em voz alta, encostando a cabeça no azulejo frio.
“E se você amar a Alice?”
— Cazzo, cérebro, cale a boca!
Desliguei o chuveiro e saí do box, encarando-me no espelho de corpo inteiro. Há muitos anos eu
prometi para mim mesmo que nunca iria me apaixonar! Como podia, agora, depois de ter vivido
trinta anos completamente intacto, estar com essa dúvida idiota na cabeça? Como pude me deixar
envolver assim?
— Romeo? — Ouvi a voz de Alice no quarto e me apoiei na bancada da pia, abaixando a cabeça e
respirando fundo para me acalmar. Ela bateu duas vezes na porta do banheiro. — Romeo, você está
bem? Alexandre me disse que está com dor de cabeça.
— Estou bem, estou me secando e já vou sair.
— Ok.
Sequei-me rapidamente e amarrei a toalha na minha cintura, tomando coragem para sair do
banheiro e encarar Alice. Não sabia o que fazer e nem como agir. Minha mente rodava com um monte
de pensamentos desconexos e meu coração pesava no peito. Respirando fundo, girei a maçaneta e a
encontrei sentada na cadeira de madeira, mexendo no celular. Rapidamente ela se levantou e veio em
minha direção.
— Está sentindo mais alguma coisa?
— Não, acho que a dor de cabeça é de sono. Dormi muito pouco essa noite.
Ela sorriu, provavelmente se lembrando do porquê de eu ter dormido tão pouco.
— Estou cansada também, vou tomar banho e a gente pode dormir um pouco, que tal? Vai ter
música vivo no bar da piscina mais tarde, melhor descansarmos agora para curtimos à noite.
Uma parte de mim queria ficar sozinha para pensar, mas a outra parte não queria ficar longe dela
de jeito algum. Essa parte, é lógico, acabou vencendo.
— Está bem.
Ficando nas pontas dos pés, Alice me deu um beijo e se trancou no banheiro. Eu coloquei uma
cueca, sequei melhor o cabelo e caí na cama, fechando os olhos e querendo parar de pensar. Ao invés
disso, as palavras do meu irmão me invadiram de novo.
“Eu sinto tudo isso, fratello. E muito mais.”
Não querer ficar longe de Alice mesmo sabendo que eu precisava, pois tinha que pensar melhor
em tudo aquilo, se encaixava no “muito mais”? Puta merda, se a resposta fosse sim, eu estava fodido.
Estava muito fodido. Da cama, ouvi o barulho do chuveiro cessar e do secador sendo ligado. Meu
coração ficou mais acelerado e quase explodiu quando Alice saiu do banheiro vestida com uma
camisa minha, que ela havia começado a usar como pijama.
“Não, Dio, por favor... Não me deixe estar apaixonado por ela, eu imploro.”
Apagando as luzes, Alice se acomodou ao meu lado na cama e perguntou baixinho em meu ouvido:
— Tomou o remédio?
— Sim — menti, pois, na verdade, não estava sentindo dor nenhuma. Pelo menos não na cabeça.
— Quer comer alguma coisa antes de dormir?
— Não.
— Se sentir que a dor piorou, você me acorda, tá bom? Eu posso pedir um chá pelo serviço de
quarto.
— Tá bom.
Ela se esticou e me deu um beijo na boca antes de deitar a cabeça sobre o meu peito, passar o
braço pela minha cintura e enroscar as pernas na minha. Alice gostava de mim, cuidava de mim, se
importava comigo... Ela havia dito que poderia se apaixonar por mim. Acariciei o seu cabelo até
sentir que ela havia pegado no sono e beijei a sua testa, sentindo-me completamente dividido. Estar
ali, com ela em meus braços, era a melhor sensação do mundo... Como uma parte de mim queria tanto
que eu fosse embora e não olhasse para trás? Como poderia fugir de tudo o que sentia por Alice,
quando os sentimentos pareciam agarrar o meu coração com mãos de ferro?
Confuso, fechei os olhos e respirei fundo, tentando me acalmar. Não precisava decidir nada
naquele final de semana. Era aniversário da Paula e um momento muito importante para o meu irmão.
Meus problemas emocionais poderiam esperar.
Capítulo 29
Consegui relaxar um pouco mais durante a noite e curti o show ao vivo no bar da piscina ao lado
do meu irmão, da Paula e da Alice. A banda era boa e tocava de tudo, desde o rock clássico dos anos
80 até as músicas mais atuais. Alice estava animada, cantava e sorria ao lado de Paula e ver o seu
entusiasmo me contagiou. Eu poderia passar por aquele final de semana sem enlouquecer, tinha
certeza.
Depois de dançar muito com a minha bella, fomos para o bangalô e viramos a madrugada
transando em cada cantinho do quarto. Pensei que, com o tempo, a necessidade que eu sentia por
aquela mulher iria arrefecer até acabar por completo, mas nunca estive tão enganado. Quanto mais
tinha Alice, mais a queria. Meu desejo só aumentava e ela me correspondia com a mesma
intensidade, deixando bem claro que sentia o mesmo que eu.
Acordamos tarde no dia seguinte e quase perdemos o horário do café da manhã. O dia estava
bonito e com poucas nuvens, apesar da meteorologia afirmar que o tempo poderia mudar no final da
noite. Encontramos com Alexandre e Paula terminando de tomar café e ouvimos a minha cunhada
afirmar que estava ansiosa para passar o dia sendo cuidada no SPA. Ela já estava tão feliz, que acho
que poderia explodir quando chegasse a hora da festa e encontrasse todo mundo esperando por ela.
Dava para ver em seus olhos que ela não desconfiava de nada, o que era melhor ainda, pois meu
irmão havia cuidado de tudo nos mínimos detalhes para surpreendê-la. Eles saíram da mesa minutos
depois e nos deixaram sozinhos.
— Estou tão ansiosa para mais tarde! Paula é dura na queda, mas tenho certeza de que vai toda
emocionada.
— Até eu ficaria — falei, terminando de beber um suco de laranja. — Ontem o meu irmão me
mostrou a aliança.
— Não é a coisa mais linda? Eu que ajudei a escolher! — falou com orgulho.
— É linda mesmo, mas ainda estou em choque. Meu irmão vai se casar.
— Eu também estou assim, meio que sem acreditar. Paula nunca teve o sonho de se casar, mas ama
tanto o seu irmão... Tenho certeza de que ela vai aceitar.
Assenti, observando Alice com atenção. Ela estava mesmo muito feliz pela amiga, mas fiquei me
perguntando se estava se imaginando no lugar dela. Alice tinha o sonho de se casar e formar uma
família. E se ela percebesse que o momento de achar o homem certo para isso havia chegado, agora
que sua melhor amiga estava a um passo de se tornar noiva? E se ela quisesse terminar tudo comigo
para procurar a porra do homem ideal? Eu não iria suportar.
— Romeo? Romeo, está tudo bem? — Alice perguntou, pousando a mão sobre a minha. Para
disfarçar, comecei a comer um cacho de uvas.
— Sim, está. Eu só estava pensando no meu irmão. Quero que ele seja muito feliz ao lado da
Paula.
— Eu também quero muito que eles sejam felizes.
Forcei aqueles pensamentos de Alice me deixando por outro para fora do meu cérebro e terminei o
café da manhã ao seu lado. Encontramos com Alexandre no caminho de volta para o bangalô,
conversando com uma funcionária do resort que ficaria responsável pela festa. Ela estava repassando
com ele os últimos detalhes e deixou claro que ele era bem-vindo para observar os funcionários
montando a decoração. Quando ela saiu, ele se virou para nós dois:
— Estou tão ansioso, que a minha barriga está doendo!
— Não precisa ficar assim, a Paula vai amar tudo o que você está preparando para ela — Alice o
tranquilizou.
— E se ela disser não? — Ele perguntou quase em um sussurro, como se tivesse com medo de que
o universo ouvisse. — Acho que vou desmaiar se ela disser não.
— É óbvio que ela vai aceitar o seu pedido, fratello. Essa tem que ser a última das suas
preocupações — falei, sentindo meu celular vibrar no bolso da bermuda. O peguei e chequei as
mensagens no grupo da famiglia. — Mamma disse que já estão perto daqui, devem chegar em meia
hora.
— Ótimo, tenho certeza que mamma vai conseguir me acalmar!
Cara, Alexandre estava nervoso mesmo, como nunca vi antes. Conseguimos arrastá-lo para o bar e
pedi uma cerveja para nós dois, para ver se um pouco de álcool acalmava os seus ânimos. Estávamos
terminando a cerveja quando mamma chegou com Dante, Mariana, Giulia e as crianças. Logo depois
chegaram minhas tias e meus primos, assim como os pais e alguns familiares de Paula. Era o
primeiro encontro das duas famílias e, durante o almoço, ficou bem claro que os Benvenutos e os
Almeidas seriam grandes amigos. A família de Paula era divertida e simpática e seu pai era uma
figura. Ele e Alexandre já haviam se conhecido, logicamente, e já eram grandes amigos. Sorte do meu
irmão ter um sogro amigável e gente boa, ele merecia.
Depois do almoço, o pessoal foi aproveitar a praia e Alice e eu decidimos ficar na piscina. Foi
impossível não notar os olhares masculinos que ela recebia e senti o ciúme deixar um gosto amargo
na minha boca. Ela era uma mulher lindíssima e não me incomodava nem um pouco com o fato de
usar biquínis que valorizavam o seu corpo, mas me incomodava demais com o fato dos homens
simplesmente não a respeitar. Até eu, que sempre fui um safado, tinha limites rígidos para olhar para
uma mulher.
Com um pouco de raiva, abracei Alice e a beijei na boca, tendo a consciência de que,
infelizmente, alguns homens só respeitavam uma mulher quando ela estava acompanhada. Alice, que
parecia um tanto alheia, me beijou de volta e sorriu entre os meus lábios ao sentir meus braços
apertando seu corpo contra o meu.
— Nem adianta pedir sexo agora, pois ainda não me recuperei do que aconteceu ontem de
madrugada — ela disse entre os meus lábios e eu não pude deixar de rir.
— Está dolorida?
— Um pouco e pretendo descansar pelo menos até a hora de acabar a festa.
— Poxa, não vamos poder dar nem uma rapidinha antes de sairmos do quarto?
— Nem pensar! Eu quero ficar plena hoje à noite e não assada.
Eu ri de novo, aproveitando que finalmente o meu humor estava melhorando e beijei novamente a
sua boca, olhando rapidinho em volta e vendo que o babaca que a estava secando descaradamente,
havia saído dali. Fiquei satisfeito pelo meu recado silencioso ter dado certo e desci meus beijos pelo
pescoço de Alice, cheio de tesão, mas sabendo que ela tinha razão em querer descansar para mais
tarde. Isso não me impediria de ficar sussurrando putaria em seu ouvido em público, no entanto.
Estava preparando uma frase inédita para falar para ela, quando senti meu coração quase parar no
peito ao ver quem havia acabado de chegar na área da piscina. A água ao meu redor ficou gelada de
repente e senti cada nervo no meu corpo congelar.
— Romeo? Romeo, o que acont...
Não esperei que Alice terminasse a frase. A deixando no meio da água, saí da piscina e caminhei à
passos largos em direção ao homem que estava colocando um celular em cima de uma mesa
protegida por um guarda-sol. Ele não me viu e usei isso como vantagem para parar bem na sua frente
e o pegar de surpresa.
— O que você pensa que está fazendo aqui? — perguntei com raiva.
Meu pai ficou branco e me olhou rapidamente de cima a baixo, colocando a mão sobre o peito.
— Romeo, quer me matar do coração?
— Acredite, eu já quis muito te matar, mas vi que não valeria a pena me sujar com um merda como
você!
— Romeo! — Alice parou ao meu lado e segurou a minha mão. — O que houve?
Não poderia dar atenção a ela agora, precisava tirar aquele verme dali antes que ele estragasse
tudo.
— Não sei quem foi que te contou sobre a festa, mas saiba que você não é bem-vindo! Vá embora,
papà[21]!
Senti Alice ficar assustada ao meu lado. Acho que ela nunca tinha me visto com uma raiva tão
intensa quanto a que eu estava sentindo agora, mas daria um jeito de explicar tudo depois.
Tranquilamente, meu pai tirou os óculos de sol e os pousou sobre a mesa, me dando um sorriso frio e
olhando rapidamente acima dos meus ombros.
— Venha aqui, querida, não fique acanhada — ele disse e eu me virei para ver com quem estava
falando. Uma garota loira, que não devia ter mais do que dezenove anos, passou por mim e foi em
direção ao meu pai, abraçando-o pela cintura. — Leila, esse é meu filho mais novo, Romeo.
A garota me olhou de cima a baixo como se eu fosse a peça de um filé mignon e tentou dar um
sorriso sensual. Meu estômago ficou embrulhado.
— Como você tem coragem de aparecer aqui com uma garota que tem idade para ser sua neta?
Você não tem vergonha? Não tem o mínimo respeito por mamma?
— Francesca e eu somos separados há mais de vinte anos, Romeo e ela sabe muito bem que eu sou
livre para me envolver com outras mulheres — meu pai disse. — E não me olhe como se eu fosse um
pervertido! Leila é maior de idade.
— Eu não me importo! Só quero que você saia daqui, porra!
— Romeo, fique calmo — Alice pediu, tocando em meu ombro. — Vamos beber alguma coisa,
depois você conversa melhor com o seu pai.
Olhei para Alice para dizer a ela que não haveria um depois, que meu pai iria embora naquele
instante, mas meu sangue gelou quando ouvi a voz dele.
— Figlio, você tem um ótimo gosto. Che bella donna![22] — Ele riu, puxando Leila pela cintura e
olhando para Alice. — Romeo não nega o sangue que carrega nas veias, cara mia. Ele ama uma
mulher bonita, tanto que segue o exemplo do papà e está sempre com uma diferente a cada final de
semana. Quando vocês se conheceram?
Quis arrancar aquele sorriso da sua cara com um soco bem dado. Quis tanto, que cheguei a fechar
minha mão em punho e dar um passo para frente, mas parei ao sentir a mão de Alice no meu braço e
um resquício de consciência que me lembrava que, infelizmente, aquele verme ainda era o meu pai.
— Vá embora daqui! — Ordenei baixo e pela última vez, cerrando os dentes ao me lembrar que
ele havia nos comparado. Nós dois. Ele devia estar completamente louco!
— Ao contrário do que você pensa, eu não estou aqui como penetra, Romeo. Alexandre me
convidou. E a não ser que ele apareça aqui e me peça para ir embora, eu vou ficar, goste você ou
não.
Senti vontade de rir ao ouvir tanta besteira.
— Alexandre nunca convidaria você!
Soltando um suspiro, meu pai pegou o celular de cima da mesa e mexeu no aparelho por alguns
segundos, antes de o virar para mim.
— Leia. Essa é a conversa que eu tive com o seu irmão na semana passada.
Minha mão tremia um pouco ao pegar o celular, mas não deixei que aquilo me fizesse recuar. Li
rapidamente as mensagens e senti meus nervos ficarem à flor da pele ao ver que ele não mentia.
Alexandre havia mesmo o convidado, estava tudo ali naquela conversa curta e objetiva. Com raiva,
coloquei o celular em cima da mesa e falei olhando diretamente nos olhos do meu pai:
— Se você cruzar o meu caminho ou o caminho de mamma, teremos sérios problemas!
Sem lhe dar chance de resposta, saí da área da piscina a passos largos, ouvindo Alice correr para
me alcançar. Ela me chamava, mas eu não estava com cabeça para ouvir nada, muito menos para
conversar. A única coisa que precisava fazer naquele momento era achar o meu irmão.
— Romeo, espere! Caramba, para de ser cabeça duro e espere por mim! — Ela gritou, parando na
minha frente de repente e pousando as mãos no meu peito. Só parei porque não queria a empurrar e a
machucar.
— Alice, saia da minha frente.
— Não! Você precisa parar e se acalmar!
— Cazzo, eu não quero que me acalmar! Quero encontrar com Alexandre e falar para ele mandar
aquele verme embora!
— Romeo, por favor, hoje é um dia importante para o seu irmão, não estrague tudo!
Senti-me ficar gelado por dentro ao ouvir aquilo. Alice estava contra mim e ao lado do meu pai?
Era aquilo mesmo que eu estava ouvindo?
— Acredite, não serei eu que vou estragar tudo, cara mia — repeti de forma gelada o modo como
eu pai falou com ela, tirando suas mãos do meu peito. — Meu pai vai e quero impedir que isso
aconteça. Agora saia da minha frente e me deixe em paz para falar com o meu irmão!
Vi o modo como ficou pálida e deixou as mãos caírem ao lado do corpo antes que eu passasse por
ela como um flash. Uma parte de mim tinha consciência de que Alice estava tentando apaziguar a
situação, mas essa parte era bem pequena perto da raiva que eu estava sentindo naquele momento.
Caminhei por uma grande extensão do resort, olhando cada canto com atenção para ver se achava
Alexandre, mas o filho da mãe deveria estar pressentindo que eu estava atrás dele, pois não o achava
em lugar algum.
Já estava quase na área dos bangalôs quando ouvi a risada dele e olhei em volta, o procurando, até
ele entrar em meu campo de visão. A alguns metros à frente, vinha ele e Paulo, pai da Paula, em
minha direção. Alexandre parou no meio do caminho, certamente ao ver a minha cara de poucos
amigos e franziu o cenho quando me aproximei. Vi que abriu a boca para questionar alguma coisa,
mas eu perguntei antes:
— Por que você convidou o Giovanni, porra?!
Paulo arregalou os olhos e Alexandre soltou um suspiro, como se já imaginasse que essa seria a
minha reação. Virando-se para o sogro, ele disse:
— Paulo, se importa se eu conversar um pouco com o meu irmão antes de tomarmos aquela
cerveja?
— Claro que não, Alexandre. Me mande uma mensagem quando estiver indo para o bar.
Acenando, Paulo passou por nós dois e Alexandre começou a caminhar em direção ao seu bangalô,
em um gesto silencioso para que eu fosse atrás. O segui e quando estávamos na varanda, ele se virou
para mim.
— Sei que você não gosta de ficar na presença de papà, mas...
— Eu odeio! — O interrompi. — E, até ontem, você também odiava, pelo que me lembro.
— Romeo, me escute, por favor — pediu. — Hoje é um dia muito especial para mim, fratello e
Giovanni é nosso papà. Sei que não temos o melhor relacionamento do mundo, mas senti que seria
importante tê-lo aqui esta noite.
— Por quê? Giovanni nunca se importou conosco! Ficou maluco, Alexandre?
— Não, Romeo, não fiquei maluco, pelo contrário. Giovanni não foi o melhor pai do mundo, eu sei
disso, mas é o único papà que eu tenho! Quero, pelo menos na vida adulta, ter alguma lembrança boa
ao lado dele e resolvi começar assim, o convidando para o dia em que vou pedir a mulher da minha
vida em casamento. É algum crime?
Cazzo! Senti minha raiva abrandar um pouco, mas não queria dar o braço a torcer.
— Por que não me contou? Eu tinha o direito de ter sabido antes!
— Não contei porque sabia que você me faria desistir da ideia. E, no fundo, fiquei com medo de
que me mandasse escolher entre ele e você — disse, aproximando-se. — E aí, eu não teria escolha,
fratello. Eu escolheria você acima de qualquer coisa.
Porra, aquele não era o melhor momento para ficar emocionado. Cerrando os dentes para conter a
emoção, falei:
— Ele veio com uma adolescente à tira colo, Alexandre. Imagina quando mamma descobrir que
ele está aqui e ainda o ver ao lado daquela garota que mal saiu das fraldas?
— Ela sabe, Romeo.
Arregalei os olhos.
— Mamma sabe?
— Óbvio que sim. Eu jamais convidaria o Giovanni para qualquer coisa sem falar com ela antes.
Inclusive, foi ela quem me deu coragem para convidá-lo. Sabe como mamma é, ela acha importante
que criemos laços com ele, pois Giovanni é nosso pai.
Balancei a cabeça de desgosto, mas suspirei em derrota no final. Era incrível como eu não poderia
fazer nada para expulsar aquele homem dali.
— Espero que você não se arrependa de ter o convidado, fratello — falei por fim. Alexandre me
puxou para um abraço e, mesmo estando um pouco puto ainda, o abracei.
— Vai dar tudo certo, Romeo, acredite em mim. Esse resort é enorme, você não vai mais esbarrar
com ele.
— Espero que sim.
— Vou falar com papà para ficar longe do seu caminho. Ele sabe que é um dia muito importante
para mim, não vai querer fazer nada para estragar esse momento.
— Se você confia nele a esse ponto — dei de ombros e Alexandre suspirou.
— Não confio, mas contarei com o resquício de bom senso que ele ainda tem — disse, dando um
passo para longe de mim. — Vou encontrar com o sogrão para tomar uma cerveja. Quer ir comigo?
— Não. Vou para o meu quarto tomar um banho e tirar essa sunga.
— Não se isole, está bem? Vai curtir o dia ao lado da Alice e esqueça que Giovanni está aqui.
Era bem mais fácil falar do que fazer. Assenti para que ele soubesse que eu o havia escutado e fui
em direção ao meu bangalô. Meu humor já não estava dos melhores e saber que Giovanni estava
aqui, no mesmo lugar que eu, e que poderíamos nos esbarrar a qualquer momento, havia terminado de
o estragar. Deixei o banho para depois e me sentei na poltrona larga que ficava na varanda do quarto.
A vista para o mar era belíssima, mas nada tirava da minha cabeça a cara de pau do meu pai de ter
aceitado o convite de Alexandre e ter trazido uma garota como acompanhante. E Alexandre ainda
achava que ele tinha algum tipo de “bom senso”.
Estava tão distraído, que só percebi a presença de Alice na varanda quando ela se sentou ao meu
lado. Deixei meus olhos correrem por seu corpo coberto por uma saída de praia rendada e foquei no
esmalte cor de rosa nas suas unhas dos pés. Não sabia o que falar e também não sabia se queria ouvir
alguma coisa. Naquele momento, eu só queria sumir.
— Encontrei com o seu irmão no meio do caminho e ele me disse que você tinha vindo para cá —
ela disse, pousando as mãos nas minhas coxas. — Me desculpe, Romeo. Eu não deveria ter falado
que você estragaria o dia do seu irmão. Foi errado da minha parte.
— Está tudo bem.
— Não, não está. Eu já imaginava que você e seu pai não se davam bem, porque você nunca me
falou sobre ele, mas não pensei que fosse algo tão grave. Quer conversar sobre isso?
Olhei para o mar alguns metros a minha frente e me perguntei se queria falar sobre aquilo com ela.
Meu pai era como uma ferida incurável dentro de mim, que quanto mais era cutucada, mais sangrava,
por isso, preferia fingir que ele não existia. Naquele momento, no entanto, era praticamente
impossível ignorá-lo. Mesmo não estando em sua presença, o simples fato de saber que ele estava no
mesmo recinto que, já mudava completamente o meu humor.
— Se não quiser, não precisa falar. Só pensei que isso te ajudaria de alguma forma — ela disse
depois de eu ter passado minutos em silêncio.
Respirando fundo, decidi compartilhar com ela um pedaço da minha alma que eu preferia que não
existisse.
— Mamma e eu pegamos o meu pai na cama com outra mulher quando eu tinha oito anos de idade.
Senti Alice ficar tensa ao meu lado e desviei meus olhos para as suas mãos em minha coxa. Ela
continuou em silêncio e eu continuei:
— Meu pai e minha mãe vieram para o Brasil para tentarem se reerguer financeiramente. Na época
em que mamma e eu o flagramos, ele já estava muito bem de vida, a casa onde minha mãe mora
atualmente estava sendo construída e nós morávamos em uma casa menor em Botafogo. Meus irmãos
estavam na escola, mas eu tinha faltado naquele dia porque estava com febre e mamma me levou ao
hospital. Quando voltamos, encontramos Giovanni trepando com a nossa vizinha na cama onde ele
dormia com a minha mãe — falei, voltando a olhar para Alice. — Lembro que eu fiquei em choque
ao ver aquilo e mamma rapidamente me levou para o meu quarto e trancou a porta por fora. Eu não vi
mais nada, mas ouvi tudo e cada uma das palavras dele ficou gravada na minha memória. Ele
começou a pedir perdão, disse que amava muito minha mamma, mas que tinha sido seduzido pela
nossa vizinha — ri sem humor ao me lembrar. — Ela tinha vinte anos, Alice. Era uma garota,
praticamente. Como ele podia ser tão canalha e sem escrúpulos?
— Ah, Romeo... — Alice lamentou baixinho e uniu as nossas mãos, esperando que eu continuasse.
— Lembro de ouvir os vasos se quebrando e mamma gritando com ele, enquanto ele implorava
por perdão. Ele dizia que a amava com tanta verdade que, por dentro, eu implorava para que mamma
acreditasse. Ele não era o pai mais amoroso e atencioso do mundo, mas ainda era meu papà e, na
minha cabeça de criança, eu achava que eles tinham que ficar juntos. Como mamma sempre priorizou
a famiglia, eu achei que o perdoaria, mas ela o colocou para fora de casa minutos depois de ter
descoberto tudo. Depois, entrou no meu quarto e me abraçou com força. Ela não disse nada, mas
chorou muito e foi naquele momento que eu entendi que meu pai havia a destruído. Mamma sempre
foi uma fortaleza e vê-la daquele jeito acabou comigo. Eu esqueci completamente da minha dor, do
choque de ter visto o meu pai com outra, do fato de que a nossa famiglia estava se desintegrando...
Eu só pensei em minha mãe e jurei que estaria ao seu lado em cada momento que ela precisasse, que
ela nunca mais estaria sozinha.
— Isso foi incrível da sua parte, Romeo — Alice disse com lágrimas nos olhos. — O seu amor
pela sua mãe é a coisa mais bonita que eu já vi na minha vida.
— Foi o meu amor por mamma que me impediu de quebrar a cara de Giovanni quando fiquei
maior — falei, limpando a garganta ao sentir o nó começar a se instalar. — Depois que ele foi
embora, mamma conversou comigo e com os meus irmãos e explicou que eles iriam se separar, mas
que meu pai sempre estaria ao nosso lado, que o amor dele pela gente nunca iria mudar. Não sei se
mamma realmente acreditava nisso ou se só falou para nos confortar, pois tudo mudou a partir dali.
Meu pai se tornou cada vez mais ausente, esquecia os nossos aniversários e as datas importantes,
sempre arrumava uma desculpa para que não passássemos uns dias na casa dele, esquecia de vir nos
visitar nos finais de semana. Estaria mentindo se dissesse que, no começo, isso não me incomodou ou
magoou. Eu o odiava muito pelo o que havia feito a minha mãe, mas ele ainda era o meu pai e, de
certo modo, sentia a sua falta. Com o tempo, eu parei de me importar com a sua ausência e meus
irmãos também. No entanto, quando me tornei adolescente, ele se sentiu na obrigação de se sentar
comigo para conversarmos sobre garotas.
Alice fez uma careta, como se soubesse que alguma merda maior estava por vir e eu continuei:
— Ele disse que, na minha idade, era normal que eu gostasse mais de uma do que de outras, mas
que isso não significava que eu tinha que ficar com uma só. Falou que, quando conheceu a minha mãe
na adolescência, se apaixonou por ela à primeira vista, mas que isso nunca o impediu de ficar com
outras garotas.
— Espera, ele disse na sua cara que traía a sua mãe desde sempre? — Alice me perguntou,
chocada.
— Isso. Lembro de ficar assustado com o que ele estava me contando, pois nunca esperei ouvir
aquilo do meu próprio pai, mas, ao ver a minha cara, ele disse que eu era homem e que, se ainda não
o entendia, um dia, eu iria entender. Em seguida, começou a falar um monte de merda. Disse que
sempre amou a minha mãe, que ela seria a única mulher em seu coração, mas que ele tinha outras
necessidades e por isso tinha algumas “mulheres reservas”.
Alice riu de espanto, certamente pensando em como meu pai era um filho da puta machista e sem
caráter.
— Pois é, amante para ele tinha outro nome, bella. Ele disse que seria assim comigo e com meus
irmãos, que eu não deveria me assustar. Eu senti tanta raiva dele naquele momento, que não consegui
segurar o meu temperamento e me levantei com ódio, derrubando a mesa do restaurante em que
estávamos. Giovanni me olhou com espanto, o gerente e alguns seguranças vieram correndo em minha
direção e só não soquei a cara dele, porque sabia que mamma ficaria extremamente desapontada
comigo. Eu tinha apenas quinze anos, Alice, era uma criança e meu pai estava me falando que traição
era algo comum. Comum. E, sabe o que é pior? É que ele tem razão. Traição é mais comum do que
nós queremos admitir, o problema é que as pessoas gostam de brincar com as outras, sabe? Parece
que o prazer se torna maior quando você tem um compromisso com uma pessoa, mas transa com
outra.
“Foi praticamente isso que meu pai me disse e, naquela hora, um filme se passou em minha cabeça.
Lembrei-me de como mamma sofreu com a traição e a separação, das vezes em que a peguei
chorando enquanto cozinhava, dos momentos em que ficava tão triste, que era difícil para ela se
levantar da cama. Uma vez, ela me disse que só continuou a viver por causa de mim e dos meus
irmãos. Ela amava muito o meu pai, o apoiou em todos os momentos, veio para o Brasil sem dinheiro
nenhum, com Dante no colo, mas cheia de esperança de que ela e o marido conseguiriam mudar de
vida aqui. E então, o meu pai pisa nos sentimentos dela daquele jeito, sem um resquício de
arrependimento. Que amor era esse que ele dizia sentir por ela? Como ele tinha coragem de olhar na
minha cara e falar tudo aquilo? Foi naquele momento que perdi completamente o pouquinho do
respeito que ainda tinha por ele e, olhando em sua cara, falei que jamais seria como ele, que preferia
morrer a repetir os seus atos.
Alice me olhou de forma diferente, como se tivesse encontrado a resposta para uma questão muito
importante em sua cabeça. Apertando a minha mão, ela disse olhando em meus olhos.
— Você não tem nada a ver com o seu pai, Romeo. Falo isso com muita certeza.
— É bom ouvir isso, principalmente depois de ele ter nos comparado na piscina — falei. — Eu
nunca enganei ninguém, Alice. Sempre deixei bem claro para todas as mulheres com quem já me
envolvi, que seria apenas uma noite e que eu não daria nada mais do que isso. Ele não é assim, ele
mente e engana. Depois da minha mãe, ele já teve milhares de relacionamentos e todos eles acabaram
do mesmo jeito, com ele traindo a mulher que estava com outra. Eu não sou assim.
— Não, você não é. Você tem caráter, Romeo, diferente do seu pai. Ele é um homem sem
escrúpulos, que não se importa com ninguém além de si mesmo. Você está bem longe de ser assim —
ela disse, acariciando o meu rosto. — Se você se preocupa com o fato de serem iguais em alguma
coisa, pode ter certeza de que são completamente diferentes, como água e vinho.
Ouvir aquilo vindo dela fez o nó em meu peito abrandar. Puxand0-a pela mão, a coloquei sentada
em meu colo, de frente para mim e toquei em seu rosto, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da
orelha.
— Fui um idiota com você agora pouco, bella. Me perdoe.
— Eu também fui idiota com você. Mas te perdoo se você me perdoar.
— Só te perdoo se você me der um beijo.
Alice sorriu e roçou os lábios nos meus antes de me dar um beijo delicioso de língua.
Impressionante a calma e o tesão que se espalharam pelo meu corpo, trazendo uma sensação boa
depois da miríade de sentimentos que havia me atacado na última hora.
— Obrigada por ter confiado em mim e contado sobre o que aconteceu entre vocês e o seu pai —
ela disse baixinho, encostando a testa na minha.
— Eu confio totalmente em você, bella. De uma forma que só confio em mamma e em meus
irmãos.
— Eu também confio completamente em você, Sr. Benvenuto. Você nem imagina o quanto.
Ela me beijou com mais intensidade daquela vez, como se quisesse me contar algo através daquele
beijo. Eu recebi tudo de bom grado, aproveitando cada segundo, pois sabia que cada momento ao
lado de Alice era precioso e que, mesmo se durasse pela eternidade, ainda não seria o suficiente.
Capítulo 30
Não encontramos com o meu pai durante todo o dia e, depois de passar algumas horinhas na praia
com a famiglia, fomos nos arrumar. Do quarto eu podia ouvir Alice cantando no chuveiro — era um
hábito dela que eu adorava, mesmo que ela não tivesse a voz mais bonita de todas — e me peguei
sorrindo ao pensar em como pequenas coisas tornavam tudo precioso. A primeira vez que ouvi Alice
cantando no chuveiro, eu entrei no banheiro e a surpreendi dentro do box, pedindo para que ela
fizesse aquele show só para mim e não para o seu público imaginário e ela fez. Cantou só para mim,
dando reboladinhas e rindo com o frasco de shampoo imitando um microfone. Depois disso, a
encostei na parede e a beijei até ela me implorar para levá-la para cama. Assim que terminamos de
transar, ela se virou para mim e disse que, se eu havia a escutado cantar no chuveiro, era porque ela
já estava cem por cento à vontade em minha presença e que não sentia mais vergonha de nada quando
estava comigo.
Saber daquilo foi como um divisor de águas. Naquele momento eu entendi que coisas minúsculas
como aquela, como ela se sentindo à vontade comigo, tornava tudo melhor, mais precioso. A partir
dali, comecei a surpreendê-la mais vezes no chuveiro, apenas para ouvir o som da sua voz. Nem
sempre a gente transava depois do banho, mas isso não tornava o momento menos especial.
Minutos depois, Alice saiu do banheiro usando uma blusa curtinha e uma calcinha de renda branca.
A danada disse que não daríamos uma rapidinha antes da festa, mas isso não queria dizer que ela não
iria me provocar. Quando colocou o pé em cima da cama e se inclinou para passar o hidratante pelas
pernas, eu não aguentei e me levantei, sentindo meu pau ficar duro em milésimos de segundos.
— Não acha que é crueldade demais fazer isso comigo, bella? — perguntei em seu ouvido,
encostando meu corpo atrás do seu. Ela começou a passar mão pela coxa esquerda bem devagar.
— Isso o quê?
— Me obrigar a te ver passando hidratante nessas pernas lindas, enquanto empina essa bunda
gostosa pra mim. Meu pau está babando só em ver isso.
Ela riu e se dedicou a outra perna.
— Você e o seu pau babam em qualquer coisa que eu faça, Romeo Benvenuto.
— Claro, a gente te ama — falei e senti meu coração disparar ao ver as mãos de Alice pararem
sobre a perna ao me ouvir. Limpando a garganta, enfiei meu rosto em seu pescoço e disfarcei. — A
gente ama a sua bocetinha, ama a sua bundinha e essa sua boca...
Senti Alice soltar o ar e passei a mão pela lateral do seu corpo, aproveitando que ela não podia
me ver e fechando os olhos com força. Que merda, Romeo! Controle-se!
— Vocês só pensam em sexo — ela disse em tom de brincadeira, virando-se de frente para mim.
— Mas pode fazer o gigante descansar um pouco mais, pois ele só entrará em serviço mais tarde.
— Mais tarde tipo daqui a um minuto? — Perguntei com um pouco de esperança.
— Tipo daqui a cinco ou seis horas — ela piscou e voltou para o banheiro para pentear o cabelo.
— Você é má, Alice Carvalho! Não sei se alguém já te falou isso, mas estou contando agora.
Pude ouvir a sua risada e me joguei na poltrona, querendo esquecer o que havia acontecido há
alguns minutos. “Claro, a gente te ama”. Minha cabeça estava uma zona e soltar aquele tipo de frase
sem pensar antes, não ajudava em nada. Para me distrair, fiquei mexendo no celular enquanto
esperava Alice e conversei com o meu vizinho para saber como Bob estava. Mandei até uma
mensagem de áudio para que o meu amigão ouvisse e não ficasse com tantas saudades. Infelizmente,
Carlos, meu vizinho, não conseguiu gravar o Bob latindo de volta para mim.
— Estou pronta — Alice disse, entrando no quarto.
Fiquei boquiaberto ao olhar para ela. Alice usava uma saia longa com uma fenda enorme, que
começava no alto da sua coxa esquerda e combinava com a blusa curtinha, que deixava um pedaço da
sua barriga de fora. As sandálias baixas e elegantes combinavam perfeitamente e o cabelo preso em
uma trança que descia pelo ombro me deixou com vontade de pular a festa e partir logo para a nossa
comemoração particular. Acho que ela nunca esteve tão linda.
— Por que está me olhando assim? — Ela perguntou depois de eu ter passado os últimos segundos
em silêncio. — Estou feia ou exagerada? Pode ser sincero.
— Não, estou pensando justamente o contrário — falei me levantando e indo até ela. — Você está
maravilhosa, bella. Estonteante.
— Estonteante? — ela perguntou com um sorrisinho.
— Sim. Achei que “maravilhosa” não chegava aos pés de descrever como você está linda.
Vi a surpresa em seus olhos com o meu elogio.
— Você é tão doce às vezes, Romeo. Nem parece que é um safado durante as vinte e quatro horas
do dia.
— Então eu sou um safado até quando estou dormindo?
— Levando em consideração que você já acorda pronto para transar, sim, você é.
Minha gargalhada ecoou pelo quarto e eu a puxei para os meus braços, beijando aquela boca que
me deixava louco.
— Vamos logo, antes que eu faça jus à minha fama e não te deixe sair desse quarto antes de te
comer rapidinho.
O salão de festas ficava em uma parte reservada do resort e era enorme, bem arejado, com uma
parte descoberta que levava direto para praia. A decoração tropical misturava muitas flores com
cores rosa, laranja e vermelha e folhas verdes. Eu não entendia nada daquilo, mas estava lindo e era
a cara da Paula, que amava cores vibrantes e alegres. Todos os convidados estavam ali, inclusive
Giovanni, mas o ignorei completamente e me juntei à mesa de mamma. Ela e Alice já eram melhores
amigas e embarcaram em uma conversa enquanto eu falava rapidamente com os meus primos.
Minutos depois, a funcionária que estava à frente da festa, pediu para que fizéssemos silêncio, pois
Alexandre e Paula já estavam a caminho, e apagou as luzes.
— Espero que meu irmão esteja se controlando e não deixe muito na cara que está escondendo
algo — sussurrei no ouvido da Alice.
— Ele planejou cada detalhe do que vai acontecer, tenho certeza que está disfarçando muito bem.
Era melhor que estivesse mesmo, pois minha cunhada era uma mulher muito inteligente e pescava
as coisas no ar. Ele havia inventado para ela que iriam jantar em uma área reservada do resort, para
que ela não desconfiasse de nada e eu estava torcendo para que desse tudo certo. Ouvimos as vozes
deles antes mesmo de vê-los e, assim que Alexandre abriu a porta larga do salão para que ela
pudesse entrar, as luzes foram acesas.
— Surpresa! — Gritamos e uma chuva de papel picado caiu sobre os dois.
Paula soltou um grito de susto e nos olhou atônita. A gente aplaudiu e acho que isso a tirou do
choque, pois ela sorriu e começou a chorar.
— Ai, eu não acredito... Ah, meu Deus...
Meu irmão a abraçou e seus pais foram em sua direção para falar com ela. Depois disso, uma fila
se formou para lhe dar os parabéns e quando foi a nossa vez, ela ficou histérica.
— Vocês sabiam esse tempo todo! Como puderam fazer isso comigo? Alice, você é minha melhor
amiga!
— Por isso mesmo que eu não contei nada — Alice disse, a abraçando. — Você merece tudo isso,
amiga.
— Eu sei que sim, mas eu não esperava, sabe... — Ela brincou e eu a abracei.
— Tenho certeza que foi a sua modéstia que fez com que meu irmão se apaixonasse por você.
— Não, primeiro foi a minha beleza, depois foi a modéstia.
Eu adorava a minha cunhada e o fato de ela ter um senso de humor tão maravilhoso e peculiar. Os
convidados começaram a se dispersar, o DJ contratado colocou uma música animada e Alice e eu
nos sentamos para comer alguma coisa. O risoto de camarão estava delicioso e a cerveja estava
geladinha. Paula não cabia em si de tanta felicidade e meu irmão olhava para ela como se fosse um
cachorro babão. Era legal e engraçado de se observar.
Pouco mais de duas horas depois, quando todo mundo já tinha caído na pista de dança, meu irmão
pediu o microfone emprestado ao DJ e a iluminação do salão diminuiu. Paula, que estava tentando
aprender um tal de “quadradinho” com a Giulia e a Alice — que, meu Deus, sabia rebolar aquela
bunda como ninguém e me deixar louco —, ficou estática no lugar, sem entender nada. Os convidados
se dispersaram e fizeram um círculo meio bagunçado e Alice empurrou a Paula para o meio da pista
de dança, antes de vir correndo para o meu lado. Fiquei nervoso pelo irmão e torci para que ele se
saísse bem.
— Eu venho ensaiando para esse momento há mais de três semanas, mas me esqueci
completamente de tudo o que tinha gravado aqui dentro — ele disse, apontando para a cabeça e nos
fazendo rir. — Por isso, vou simplesmente falar tudo o que está aqui. — Apontou para o coração
Alice suspirou ao meu lado, derretida com as palavras e o gesto do meu irmão. Safado, tinha
certeza de que ele não tinha esquecido nada e só estava fazendo aquilo pra deixar a Paula — e todas
as outras mulheres no salão — encantada. Os Benvenutos eram mais espertos do que a maioria.
— Gatinha, quando esbarramos pela primeira vez no corredor da empresa, muitos meses atrás, eu
fui marcado. Soube disso naquele exato momento, porque senti algo diferente dentro de mim. Eu não
fazia ideia do que era, só sabia que eu precisava te ver de novo, precisava conversar com você,
descobrir o seu nome, saber se tinha namorado ou não... — Ele riu e nós também. — Eu precisava ter
a certeza de que o caminho estava livre para te tornar minha, porque, de alguma forma, mesmo
inconscientemente, eu já sabia que eu era seu e isso vem se provando ao longo do tempo que
passamos juntos. Nunca me senti tão à vontade ao lado de ninguém, nunca me senti tão seguro e
confiante, nunca senti o meu coração ser preenchido dessa forma. O amor que eu sinto por você vem
do fundo da minha alma, Paula e estar aqui, nesse momento, falando tudo isso na frente de todo
mundo, é só um pouquinho do que posso fazer para te mostrar isso. Sei que o amor é um sentimento
intenso e real e quero viver esse amor com você por toda a eternidade, minha gatinha furiosa.
À essa altura, Paula já chorava de emoção e Alice fungava baixinho contra o meu peito. Quando
meu irmão tirou a caixinha do bolso e se ajoelhou, Paula colocou as mãos na frente da boca,
completamente chocada. Até eu fiquei emocionando, mesmo não gostando de admitir.
— Aceita viver esse amor comigo sendo a minha esposa, gatinha?
— Sim! — Paula quase pulou, balançando as mãos em agitação e euforia. — Sim, eu aceito! Ai,
meu Deus, é claro que eu aceito, meu italianinho!
O sorriso de Alexandre poderia iluminar todo o salão enquanto ele colocava a aliança no dedo de
Paula. Nós batemos palmas quando ele a pegou no colo e começou a girar em meio a uma chuva de
papéis picados e uma música melosa ao fundo. Foi lindo e emocionante e eu estava muito feliz pelo
meu irmão.
— Foi tão incrível! Droga, estou borrada? — Alice perguntou, virando-se para mim. Com carinho,
limpei as suas lágrimas.
— Você está linda, não se preocupe com isso. A maquiagem está intacta.
— Que bom, porque a gente não paga uma fortuna com maquiagem à prova d’água à toa — ela riu.
— Até você ficou emocionado, pode admitir.
— Fiquei nada.
— Ficou sim. — Ela me abraçou pelo pescoço. — Eu vi duas lágrimas escorrendo pelo cantinho
do seu olho.
— Foi uma só, não duas — admiti e me abaixei para beijá-la. — E você não precisa contar para
ninguém. Tenho que manter a minha fama de ser contra o romantismo.
— Pode deixar, seu segredo estará bem guardado comigo.
— Dizem que quando contamos um segredo para um escritor, ele deixa de ser um segredo e ganha
asas em algum livro.
— Talvez a gente se inspire um pouco em certos segredos — ela admitiu com um sorrisinho
misterioso. — Agora você vai ter que ler os meus próximos livros para saber se eu me inspirei no
seu segredo ou não.
— Eu faço esse sacrifício, pode deixar.
A beijei de novo, realmente comovido com tudo o que estava acontecendo ao nosso redor.
Estranhamente, participar daquele momento romântico na vida do meu irmão não me deixou
contrariado como normalmente acontecia. Já tinha ido a muitos noivados e casamentos — até porque,
praticamente todos os meus primos eram casados — e, geralmente, me sentia estafado por estar em
meio à tanta demonstração de amor. Daquela vez foi diferente, eu me senti bem, era como se eu
fizesse parte daquilo, não como irmão do noivo, mas como alguém que entendia profundamente o
significado de tudo o que estava acontecendo.
Enquanto beijava Alice, me perguntei se tudo aquilo que eu estava sentindo tinha alguma coisa a
ver com ela. A resposta veio bem clara em minha mente e me assustou muito. Tinha tudo a ver com
ela. Afastei-me de repente e olhei em seus olhos, sentindo necessidade de falar alguma coisa, mas as
palavras simplesmente não vinham. O que estava acontecendo comigo, caralho?
— Romeo, o que houve? — ela perguntou baixinho.
— Eu... Eu não sei — murmurei, sentindo meu coração pular feito com um cavalo em meu peito.
— Eu só... Eu...
— Parece que irei casar mais um figlio em breve! Dio, o que está acontecendo com os meus
meninos?
Poderia ter sido mamma a falar a primeira parte daquela frase e, se fosse ela, eu ficaria bem. Mas
não foi ela, foi ele. Só de ouvir o som da voz de Giovanni eu senti um arrepio e toda e qualquer boa
emoção que me tomava naquele momento, caiu por terra como se fosse chumbo. Alice percebeu a
minha mudança e me segurou pelo rosto.
— Ignore — pediu, mas era impossível.
Virando-me para o meu pai, o encontrei com o projeto de mulher adulta à tira colo e um sorriso
enorme no rosto, enquanto segurava um copo cheio de uísque.
— Qual foi a parte de não atravessar o meu caminho você não entendeu? — perguntei sem gritar,
pois, um resquício de consciência ainda me alertava sobre o lugar aonde estávamos.
— Ora, Romeo, estamos em uma festa! Achou mesmo que não nos esbarraríamos?
— Se não percebeu, eu estava fazendo de tudo para ignorar a sua presença. Faça o mesmo e ignore
a minha!
— Figlio, se continuar nervosinho desse jeito, vai ter um ataque do coração antes dos quarenta
anos — ele riu. — Eu só estava constatando o fato de que, pelo o andar da carruagem, você e essa
moça vão trocar alianças em breve. Há algum mal nisso? — Abri a boca para responder, mas ele foi
mais rápido. — Claro que não há. Principalmente porque o fato de estar casado não o impedirá de
continuar a curtir a vida, só que de forma mais discreta. — Ele olhou para Alice atrás de mim e
levantou o copo de uísque, como se estivesse brindando. — Não se espante, cara mia, eu só estou
falando a verdade, mas torço muito pela felicidade de vocês.
Parando ao meu lado, Alice tomou a minha mão e disse:
— Romeo é o um homem muito diferente do que o senhor presume.
— É mesmo? — Meu pai perguntou com sarcasmo e aquele sorrisinho que eu odiava.
— Sim. Ele jamais mentiria ou enganaria uma mulher. Graças a Deus nem sempre os filhos são
iguais aos pais.
Giovanni parou de sorrir na hora e ficou sério.
— Você é muito petulante, garota.
Cara... Meu sangue virou lava nas veias. Dando um passo a frente, falei entredentes na frente do
seu rosto:
— Cale a sua boca e saia da minha frente. Agora!
— Romeo, venha aqui, está tudo bem — Alice disse, puxando-me pela mão até eu dar um passo
para trás. — Senhor Giovanni, acredite, a sinceridade geralmente é confundida com petulância
quando é dirigida a pessoas sem caráter como o senhor. Isso não quer dizer que eu seja atrevida ou
desaforada e, sim, que eu sou honesta o suficiente para dizer na sua cara o que penso a seu respeito.
Agora, se puder nos dar licença, eu agradeceria. Temos uma festa para curtir e não podemos perder o
nosso tempo lidando com alguém tão desagradável como senhor.
Meu pai ficou pálido e completamente imóvel. Nunca o vi tão sem reação como naquele momento
e confesso que quis ficar mais um segundo ou dois parado na sua frente, só para apreciar um
pouquinho mais o show que ele estava nos proporcionando, no entanto, Alice me puxou pela mão e
me tirou da sua presença. A raiva que eu estava sentindo foi substituída por um sentimento de
plenitude enquanto eu olhava para a mulher decidida e afrontosa à minha frente. Porra, como se fosse
possível, eu a admirei ainda mais. Parando no meio do caminho, puxei Alice para os meus braços e
tomei seu rosto em minhas mãos, olhando bem em seus olhos.
— Você é foda pra caralho! — Falei, pois não tinha outra definição para ela naquele momento.
Alice riu e segurou minha blusa na altura da minha cintura.
— Fui apenas sincera.
— Você deixou o velho sem reação! Sabe como isso é difícil?
— Eu imagino que poucas pessoas tenham coragem de esfregar na cara dele o que ele realmente é.
Me senti muito bem em falar tudo aquilo, foi como se eu me vingasse um pouquinho por você, seus
irmãos e sua mãe.
— Bella, me lembre de nunca despertar a sua ira. Tenho até medo do que você vai falar para mim
se isso acontecer um dia.
Alice riu e se aproximou um pouco mais, colando completamente os nossos corpos.
— Infelizmente, eu não terei tanta munição assim para disparar contra você. Até o momento, você
está sendo um homem quase perfeito, Sr. Benvenuto.
— Quase? O que eu preciso fazer para me tornar totalmente perfeito?
— Precisa me beijar.
Claro que não deixei que ela me pedisse uma segunda vez. Com o seu rosto ainda em minhas mãos,
a puxei para mim e a beijei com vontade, enfiando minha língua em sua boca, colando seu corpo ao
meu, praticamente dando um show pornográfico para quem estivesse nos observando. Senti Alice
ficar molinha de desejo contra os meus braços e rocei o início da minha ereção em sua barriga.
Quando nos afastamos, ela me olhou com a respiração ofegante.
— Eu soube que está tendo um luau no bar da praia... O que acha de a gente ir lá beber alguma
coisa e depois ir para o nosso quarto? — ela perguntou contra os meus lábios.
Parecia que ela havia lido a minha mente. Depois daquele dia estressante e do meu último
confronto com meu pai, eu precisava mesmo de uma bebida mais forte.
— Acho que foi a melhor ideia que você já teve em muito tempo.
Ela riu de mim e saímos à francesa da festa. Quase corremos pela areia da praia e, a muitos
metros, vimos o brilho de uma fogueira e pessoas dançando. Chegamos ao luau um tanto suados e
ofegantes, mas isso só nos deu mais gás para curtirmos a noite. Um homem enorme e vestido com
roupas mexicanas chegou perto da gente com uma bandeja com uma garrafa de tequila, copinhos com
sal na borda e fatias de limão.
— Para entrar no nosso luau mexicano, é obrigatório tomar um shot de tequila, hermanos[23] —
ele disse em um sotaque falso, nos arrancando uma risada.
— Que obrigação horrorosa! — Alice disse com falso horror. — Parece que vamos ter que nos
submeter a isso.
— Infelizmente, bella.
O homem nos serviu e fizemos um brinde antes de virarmos a bebida. Alice fez uma careta e
chupou o limão com gosto. Nem preciso dizer que senti uma fisgada no meu pau ao observar seus
lábios em volta do limão.
— Bienvenido! Bebam como se não houvesse amanhã, mas lembrem-se de ter moderação — o
homem disse e nós rimos do seu bom-humor.
O luau estava cheio e muitas pessoas já estavam bêbadas e dançando ao redor da fogueira — que
tinha uma proteção em volta para que ninguém fosse de encontro ao fogo sem querer. Uma música
sensual tocava ao fundo e eu puxei Alice para os meus braços, começando a dançar agarradinho com
ela. O calor da fogueira nos fazia suar um pouco, mas isso não era nada comparado à intensidade do
tesão que sentíamos um pelo outro. Alice ficou de costas para mim e esfregou a bunda durinha contra
o meu pau, que ficou um pouco desesperado para sair da calça e entrar em ação. Como não queria
encerrar a nossa noite ainda, a virei para mim e a beijei na boca antes de irmos em direção ao bar
lotado.
— O que você vai querer beber? — perguntei em seu ouvido.
— Eu gostei daquela tequila.
— Hum, está ousada hoje — falei com um sorrisinho, apertando a sua cintura.
— Acho que a gente merece algo mais forte depois do dia de hoje, não?
— Tem toda razão, bella.
Não sei quantos shots de tequila nós bebemos, mas foram muitos. Virávamos um copinho,
chupávamos o limão e voltávamos a dançar agarradinhos, beijando na boca e alimentando o nosso
tesão, criando expectativa para tudo o que faríamos no nosso quarto. Alice estava soltinha e rindo à
toa, não muito bêbada, mas um tanto embriagada, assim como eu. O barman ria quando voltávamos e
pedíamos por mais shots e teve uma vez que precisou limpar a garganta para que eu tirasse a minha
língua da boca da minha bella e pegasse a bebida sobre o balcão do bar.
— Acho que o barman... Está pensando que no-nós somos trados — Alice disse com a língua meio
enrolada e se corrigiu ao rir. — Tarados.
— E não está errado — falei, a encostando no balcão. — Eu sou mesmo completamente tarado por
você, bella.
Deixei que ela sentisse como eu estava duro enquanto tomava a sua boca e ouvia o seu gemidinho
vindo do fundo da garganta. Nos beijamos por um longo tempo, até começarmos a ouvir palmas. Por
um momento, pensei que estavam nos aplaudindo, mas quando me afastei, vi que o pessoal estava
tentando seguir os passos de dança do homem que nos serviu o primeiro shot de tequila na entrada do
luau. Rindo, Alice tomou minha mão nos levou para o meio da galera e, meio bêbados, tentamos
seguir os passos, tropeçando e errando mais do que acertando. Foi divertido e ri muito enquanto
chutávamos areia e batíamos palmas, até que senti o primeiro pingo cair em minha testa. Não entendi
de onde aquilo havia vindo, até a chuva torrencial cair com força, sem aviso prévio.
— Meu Deus! — Alice riu e colocou a mão na cabeça para se proteger. Foi inútil, logicamente,
pois em poucos segundos estávamos encharcados. — Vamos pro quarto!
Começamos a correr — assim como todo mundo — e Alice quase tropeçou no meio da saia que
havia grudado em suas pernas. Eu não estava muito melhor do que ela, minha coordenação motora
estava uma merda, mas, me achando o Super-Homem, a peguei no meu colo e saí da praia no meio da
multidão. Alice soltou um gritinho e riu, me agarrando com força e eu quase escorreguei quando pisei
fora da areia, mas consegui me segurar a tempo. A sua risada era estrondosa.
— Se a gente cair eu vou te bater, Romeo Benvenuto!
— Jamais te deixaria cair, bella.
E não deixei. Correndo em meio à chuva, cheguei ofegante na área dos bangalôs e a só a coloquei
no chão quando paramos sob a marquise da nossa varanda. A chave estava em algum lugar do meu
bolso encharcado, mas demorei mais do que o normal para a encontrar, pois Alice me puxou pelo
pescoço e me deu um beijo de tirar o fôlego. Ali mesmo eu a encostei contra a porta e enfiei minha
mão livre sobre a sua blusa curtinha, tomando seu mamilo entre os meus dedos e descendo a boca
pelo seu pescoço. O seu gemido só me deixou com mais tesão ainda.
— Preciso de você, Romeo... Por favor — ela sussurrou contra o meu ouvido.
Agarrei a chave e a enfiei pelo tato na fechadura, enquanto voltava a atacar a sua boca. Entramos
aos tropeços e comecei a tirar as suas roupas assim que a porta bateu com força atrás de nós dois.
Não sei quem ficou nu primeiro, nem como os objetos de decoração foram parar no chão quando
coloquei Alice em cima da mesa de madeira perto da cama. Ela se inclinou para trás e eu desci
minha boca pelo seu corpo úmido, abocanhando seu seio enquanto tocava a sua boceta molhadinha.
Um gemido escapou dos seus lábios quando a penetrei de leve, indo até o fundo e voltando.
— Meu Deus, Romeo... Não para — pediu, arranhando meus ombros com força. A dor me deixou
mais doido ainda e desci minha boca pela sua barriga, parando apenas quando a minha língua foi de
encontro ao seu clitóris durinho. Alice abriu bem as pernas e deitou completamente sobre o tampo da
mesa, contorcendo-se e gemendo o meu nome. — Assim... Ah, Romeo...
A chupei com gosto, esfregando minha língua delicadamente em seu clitóris antes de o sugar entre
os meus lábios e aumentar as investidas dos meus dedos em seu canal. Alice estremecia, gemia e
arranhava meu couro cabeludo em meio ao tesão e eu sentia meu pau tão duro, que chegava a doer.
Substituí meus dedos pela minha língua e ela arrumou um jeito de rebolar na minha cara ao apoiar os
calcanhares na beirada da mesa, me deixando doido.
— Romeo, eu vou gozar — ela avisou. — Não para, não para...
Queria falar umas putarias, mas nada no mundo me faria parar naquele momento. Subi minha língua
pela sua bocetinha e lambi o grelinho durinho enquanto a penetrava com dois dedos e pressionava o
ponto sensível atrás do clitóris. Alice se contorceu e tremeu com força em cima da mesa quando
começou a gozar. Foi tão intenso que senti que eu mesmo poderia ter um orgasmo enquanto a assistia
e sentia seu gosto ligeiramente salgado em minha língua. Estiquei seu orgasmo o máximo possível
antes de sentir suas pernas se fecharem ao redor da minha cabeça e suas mãos me empurrarem pelos
ombros. Sabia como ela estava sensível, por isso, a peguei em meu colo e a deitei na cama, subindo
lentamente pelo seu corpo e espalhando beijinhos pela sua pele.
— Sou completamente louco por você... — Sussurrei enquanto subia, ouvindo a sua respiração
descompassada e vendo seu olhar lânguido sobre mim. — Não sei o fez comigo, bella, mas parece
que não conseguirei mais respirar se não estiver ao seu lado... — Cheguei em seu pescoço e lambi
sua pele levemente salgada pelo suor até chegar a sua boca. — É mais do que tesão, Alice... Juro que
é.
Eu poderia colocar a culpa na bebida, mas não era um covarde. Eu estava falando tudo o aquilo
porque eu queria, o álcool só havia me dado uma dose de coragem e feito a minha mente trabalhar
para colocar para fora tudo o que eu sentia. Alice abriu as pernas e eu me acomodei entre elas,
sentindo meu pau raspar em sua bocetinha. Tirando o cabelo suado do seu rosto, ouvi a sua voz
ligeiramente rouca.
— Também sinto muito mais do que tesão por você, Romeo... Sempre senti, desde o começo — ela
disse baixinho e eu senti meu coração ficar acelerado.
— E o que a gente faz agora? — perguntei meio perdido. Alice sorriu e acariciou o meu rosto.
— Não faço ideia, mas sei de uma coisa que eu quero muito fazer agora.
— O quê?
— Amor — ela sussurrou e eu ofeguei baixinho. — Quero fazer amor com você, Romeo.
Será que eu sabia fazer aquilo? Amor. Nunca pensei que sentiria meu coração implorar para que eu
fizesse amor, mas era isso que estava acontecendo naquele momento. Queria fazer amor com a Alice,
queria sentir aquela emoção me preenchendo de uma vez por todas.
— Você vai precisar me ensinar — falei baixinho, um pouco constrangido.
— Acho que vamos ter que aprender juntos — ela disse e seus olhos brilharam de emoção
enquanto um sorriso nascia em seus lábios.
— Nunca fez amor antes?
— Não assim, como tanto sentimento no meu peito — sussurrou, passando a mão pelo meu cabelo.
— Nunca senti por ninguém o que eu sinto por você, Romeo.
Aquelas palavras... Eu sabia que aquelas palavras, aquele momento, ficaria gravado para sempre
em minha memória.
— Também nunca senti por ninguém o que eu sinto por você, bella — falei com toda a sinceridade
que havia dentro de mim.
Alice ficou com os olhos cheios de lágrimas e me puxou para um beijo que mudou tudo. A partir
dali eu senti que nada mais seria o mesmo entre nós dois. Foi como se nossos corações se fundissem,
como se tivessem se transformado em um só, enquanto eu a penetrava e sentia meu corpo ser tomado
por um prazer que eu nunca havia sentido até então. Foi tão intenso que meus olhos se encheram de
lágrimas e a minha alma pareceu pulsar no ritmo dos meus batimentos cardíacos. Tudo ficou
sincronizado e até o mundo parou de girar para nos assistir.
Devagar, comecei a me movimentar, sentindo suas paredes vaginais me acolherem, seus braços me
apertarem e a sua língua dançar com a minha. Alice se entregava de uma forma sem igual, passando
as mãos pelo meu rosto, meu cabelo, meu pescoço e ombros, como se me de desvendasse. Era isso
que eu sentia, como se eu estivesse abrindo caminho dentro do meu ser para que Alice descobrisse
cada um dos meus segredos. Senti medo daquilo, daquela intensidade toda, da forma como fiquei
vulnerável, mas também amei descobrir que Alice fazia o mesmo por mim. Ela estava se doando na
mesma proporção em que eu estava me dando a ela.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo quando estoquei com mais com força dentro dela, sentindo
suas pernas cruzadas em minha cintura e ouvindo o barulho da nossa respiração, dos nossos gemidos
e dos nossos sexos unidos. Alice parecia me engolir, tanto com a bocetinha quanto com a boca e
quando me afastei para fitar o seu rosto, ela me engoliu com o olhar.
— Não para — implorou em um sussurro e eu apoiei uma mão na cama para poder descer com a
outra entre os nossos corpos. Quando toquei seu mamilo e o apertei de leve entre o indicador e o
polegar, ela estremeceu.
— Está gostoso? — Eu sabia que estava, mas queria ouvir da sua boca.
— Muito. Nada é tão maravilhoso quanto estar com você, Romeo.
Porra... Minha alma pareceu voar. Sem palavras, tomei a sua boca e meti com mais força, entrando
nela com tanta intensidade, que os travesseiros caíram da cama e um trovão clareou o céu e
estremeceu as paredes do quarto. Alice me agarrou, apoiou os calcanhares na cama e se mexeu junto
comigo, me fazendo sentir aquele arrepio delicioso que denunciava o orgasmo. Eu sentia que ela
também estava perto e, apesar de uma parte minha querer prolongar aquele momento, a outra queria
sentir como seria gozar fazendo amor.
Nada no mundo poderia explicar o que senti quando a vi chegar ao clímax e o primeiro jato de
sêmen escapou pela cabeça do meu pau. Foi surreal. A magnitude daquele momento me envolveu, me
deixou sem palavras, sem fôlego, com a alma repleta de sentimentos e o corpo estremecendo em
meio ao êxtase. Nada nunca foi tão intenso, nem mesmo a nossa primeira vez, quando achei que havia
alcançado o Nirvana. Isso era o Nirvana. Não queria mais nada da vida, só queria fazer amor com
Alice pelo resto da eternidade.
Fiquei alguns minutos a mais dentro dela, me movimentando devagarinho enquanto sentia a sua
respiração se mesclar com a minha e esfregava meus lábios de leve sobre os seus. Quando senti o
meu coração desacelerar um pouco, me afastei o suficiente para poder olhar em seus olhos. Vi tantos
sentimentos ali, que senti um baque em meu peito. Não quis falar nada, pois acho que palavra alguma
conseguiria traduzir o que eu sentia no momento, por isso, devagar, saí de dentro dela e beijei a sua
boca com carinho antes de me deitar ao seu lado e a puxar para se deitar contra o meu peito.
Do lado de fora, a chuva ainda caía torrencialmente, fazendo um barulho estrondoso. Do lado de
dentro, os sentimentos nos envolviam com tanta intensidade, que o silêncio havia até mesmo se
retirado. Não precisávamos de palavras. Nossos corações já haviam falado o suficiente.
Capítulo 31
Despertei de repente, a mente meio zonza com uma ressaca leve e um sentimento esquisito no
peito, enquanto cenas da noite anterior se misturavam em minha mente. Por um momento, achei que eu
estava sonhando, mas, então, cada um dos sentimentos que me tomou na noite anterior, voltou com
força, como um tiro de canhão. Assustado, abri os olhos um tanto ofegante e senti o corpo de Alice
emaranhado no meu. Afastei-me um pouco e olhei em seu rosto sereno e os lábios levemente
afastados. Ela dormia como um anjo, sem nem imaginar o furacão que passava pelo meu coração
naquele momento.
O medo que senti na noite anterior voltou com uma força redobrada e consegui tirar seu corpo de
cima do meu para me sentar na cama. Havíamos feito amor. Eu, Romeo Benvenuto, havia feito amor.
Senti falta de ar. Agarrando a beirada do colchão com os dedos, fechei os olhos e me obriguei a
acalmar as batidas frenéticas do meu coração, enquanto tentava normalizar a minha respiração.
Certo, eu não iria enlouquecer. Eu não iria enlouquecer...
“Essa é a Alice, cara. Ela não vai te machucar. O que aconteceu com a sua mãe não vai se
repetir com você”, meu subconsciente me alertava, mas o pavor que comecei a sentir foi irracional.
“Vai tomar um banho pra esfriar essa cabeça.”
Resolvi seguir aquele conselho e me levantei, vendo a bagunça que havíamos feito no quarto.
Nossas roupas estavam espalhadas, um vaso estava em pedaços aos pés da mesa, junto com o
castiçal de velas que fazia parte da decoração. Ignorando tudo aquilo, olhei para a beirada da cama
em busca da camisinha usada para jogar no lixo e senti meu coração falhar duas batidas no meu peito.
Tentei buscar em minha memória o momento em que eu havia colocado o preservativo na porra do
meu pau antes de entrar na Alice e não encontrei nada no fundo do meu cérebro.
— Não... — murmurei baixinho. Com certeza eu estava sofrendo de perda de memória recente.
Dei duas voltas seguidas em torno da cama, ajoelhei-me para olhar debaixo, tirei o tapete no lugar e
cheguei a arrastar um pouco a mesinha de cabeceira, mas não encontrei nada. Nada! — Dio mio, per
favori...
Não havíamos usado camisinha.
Não. Havíamos. Usado. Camisinha!
— Alice! Alice, acorde! — Mandei em desespero, a balançando pelo ombro. — Alice! Acorde,
caramba!
Alice abriu os olhos e deu um pulo na cama de susto.
— O quê? O que aconteceu?
— Não usamos camisinha! Nós não usamos camisinha! — Falei um pouco mais alto do que
gostaria, começando a andar de um lado para o outro e repassar em meu cérebro o que eu precisava
fazer naquele momento. Pílula do dia seguinte. Era isso!
— O quê? — Alice perguntou um tanto confusa e eu parei de andar para olhar para ela.
— Camisinha, Alice! Nós não usamos camisinha — falei mais devagar, mas ainda muito nervoso.
Sentia minha mente dar um nó, vários sentimentos se misturando dentro de mim. — Tem uma farmácia
no resort, vou ligar para pedir uma pílula do dia seguinte — avisei, já andando até o telefone.
— Não, não. — Ela se levantou com a ponta dos dedos na testa, fazendo uma careta. — Não posso
tomar pílula do dia seguinte.
Parei no meio do caminho, ficando puto.
— Como é que é?
— Não posso tomar pílula do dia seguinte, me faz mal — repetiu, pegando o roupão em cima da
cadeira. Eu comecei a rir de nervoso.
— Que porra é essa? Nunca ouvi uma desculpa tão esfarrapada — falei, tirando o telefone do
gancho. — É óbvio que você vai tomar a merda da pílula.
— Como assim “é óbvio que você vai tomar a merda da pílula”? Quem você pensa que é pra falar
o que eu devo fazer ou não? — ela perguntou cruzando os braços.
— Eu sou aquele que teve a infelicidade de foder sem camisinha e não quero ser pai! Infelizmente,
quem engravida é você, então, pela lógica, é você quem deve tomar o caralho da pílula!
Alice deu dois passos para trás, como se as minhas palavras tivessem a atingindo feito um tiro. Um
lado meu me dizia que eu precisava tomar cuidado com as minhas palavras, pois estava prestes a
cometer uma cagada enorme, mas eu estava tão nervoso, com tanto medo, que não conseguia me
controlar.
— Qual é o seu problema? — Ela perguntou.
A ignorei e liguei para a recepção, pedindo para que transferissem a minha ligação para a
farmácia. Alice me observou em silêncio enquanto eu pedia para que entregassem a pílula e um
remédio para dor de cabeça. Quando desliguei, ela falou:
— Não vou tomar a pílula, Romeo. Eu avisei.
— Você vai tomar!
— Não, eu não vou! Que porra está acontecendo com você, caramba?!
O que estava acontecendo comigo? Eu nem sabia direito, mas queria descontar em alguém o que eu
estava sentindo. Para não falar mais nenhuma besteira, me afastei.
— Vou tomar um banho, se o entregador chegar, você pega os remédios.
— É por causa do que aconteceu ontem? É por isso que está assim? — ela perguntou e eu parei no
meio do caminho. — Sei que está assustado, acredite, eu também estou, mas não precisa ficar desse
jeito, Romeo.
— Não estou assustado! — menti ainda de costas, mas senti seu corpo atrás de mim. Alice me
abraçou por trás e fiquei dividido entre ficar tenso e me sentir em casa.
— Eu não quero brigar, Romeo, por favor. Vamos sentar e conversar, você sabe que pode me falar
qualquer coisa.
O que eu iria dizer a ela? Que estava sentindo medo como um covarde? Que estava tão assustado
que queria me esconder? Estava com raiva de mim mesmo, por estar com os sentimentos tão
descontrolados, pela minha cabeça estar confusa. Nunca me senti daquele jeito.
— Não quero conversar, Alice, só quero que você tome a pílula. Só isso.
— Eu tomo anticoncepcional, Romeo. Não vou engravidar.
Virei-me para ela e a afastei pelos ombros, sentindo que precisava colocar alguma distância entre
nós dois.
— Anticoncepcional é falho.
— Camisinha também é — disse. — Estou em dia com o meu remédio, nunca furei a cartela. Vai
ficar tudo bem.
Eu sempre soube que poderia confiar em Alice de olhos fechados, mas, naquele momento, todas as
minhas certezas estavam abaladas. Eu não confiava nem mesmo em mim. Balançando a cabeça, me
afastei.
— Não quero saber, você vai tomar a pílula do dia seguinte, só por precaução.
— Não vou. Já disse que a pílula me faz mal — ela disse com uma calma que me deixou ainda
mais nervoso.
— Caralho, qual é o seu problema? Está tão desesperada para me amarrar em você que vai tentar
me prender com um filho, porra?! — gritei furioso e Alice deu um passo para trás, assustada.
— O quê?
— É isso que você ouviu! Acha que vou cair nessa historinha de que você passa mal com o
remédio?
— Romeo, para — ela pediu em tom de aviso, mas eu já estava cego pela raiva.
— Não é porque eu não te fodi com força ontem, que eu vou me tornar um babaca, Alice!
— Romeo, pare agora mesmo!
— Falei um monte de besteira por causa da bebida, se você acreditou, eu não tenho culpa! Achou
o que, que eu fosse me apaixonar por você?
— Você está apaixonado por mim, assim como eu estou apaixonada por você! Sei que isso te
assusta, mas...
— Você quer mesmo acreditar nisso? — Perguntei soltando uma risada sem humor. — Quer
acreditar que estou apaixonado por você?
— Eu sei que você está.
Balancei a cabeça, me sentindo cego e surdo para tudo, com raiva e medo se misturando dentro de
mim. Olhei bem fundo nos olhos dela, falei:
— Parece que o seu ex namorado tinha razão, afinal. Você é mesmo tão dependente de afeto, que
acredita que um cara como eu, que nunca quis compromisso com ninguém, iria mudar completamente
para ficar com você. Sinceramente, pensei que você fosse mais inteligente do que isso.
A mudança em Alice foi nítida e eu observei tudo como se estivesse levando mil chicotadas na
alma. Todo sentimento que havia em seu olhar se transformou em uma mágoa dura, sólida como gelo,
enquanto ela ficava branca como papel. Doeu tanto em mim, que senti meu peito ficar comprimido.
Dio... O que eu havia acabado de fazer?
— Alice... — murmurei sem fôlego dando um passo para frente, querendo alcançá-la, querendo
abraçá-la, querendo tudo, mas ela deu dois passos para trás.
— Não ouse chegar perto de mim — disse com uma seriedade que nunca ouvi em seu tom de voz.
Sem me olhar, Alice começou a pegar suas roupas no chão. Eu olhei para tudo aquilo atônito,
completamente sem reação, sem saber o que fazer, sem saber o que falar. Repassei minhas palavras
em minha mente e me senti o pior dos homens. Fui baixo com ela. Nada no mundo poderia justificar o
que eu havia acabado de fazer.
— Alice... Bella, por favor... — pedi quando ela abriu a mala com raiva e jogou as roupas da
noite anterior lá dentro, pegando outras. — Bella...
— Pare de me chamar assim! — Gritou com raiva, virando-se para mim com o dedo em riste. —
Cale a boca!
— Me deixe explicar, eu não quis falar aquilo, eu...
— Você quis sim! — Falou com os lábios tremendo e os olhos se enchendo de lágrimas. — Você
quis dizer cada uma daquelas palavras! Se ousar mentir agora, eu vou perder o resquício de respeito
que ainda tenho por você!
Foi a minha vez de dar um passo para trás, totalmente golpeado pelas suas palavras. Alice voltou a
se virar para mala e pegou uma muda de roupa lá de dentro. Ali mesmo ela tirou o roupão e vestiu
uma calcinha, antes de colocar uma calça jeans, um sutiã e uma blusa. Eu observei tudo sem dizer
nada, ouvindo a sua respiração entrecortada, que denunciava o seu choro silencioso. Duas batidas na
porta soaram dentro do quarto.
— Deve ser os remédios — ela disse, indo em direção ao banheiro. — Vá pegar.
Eu fui. No automático, só coloquei uma cueca e abri a porta, pegando a bolsa da mão do
entregador. Quando me virei, Alice veio com um copo d’água na mão e pegou a bolsa com raiva,
tirando a pílula lá de dentro.
— Não... Não precisa tomar, bella, você disse que te faz mal — falei voltando a ser um homem
racional depois de ter feito uma merda atrás da outra.
— Acredite, prefiro passar mal a ser chamada de desesperada de novo — falou, engolindo a
pílula com um pouco de água, antes de jogar o pacote com a segunda pílula dentro da mala.
— Alice, por favor, me escute...
— Já escutei o suficiente, Romeo. Não quero ouvir mais nada de você.
— Mas eu...
— Sabe o que é pior nisso tudo que aconteceu agora? — ela perguntou depois de fechar a mala,
olhando para mim. — É que eu já sabia que sairia machucada dessa relação. Eu me preparei para
isso, porque tinha certeza que não conseguiria me impedir de me apaixonar por você. Acontece que,
depois de ontem, eu fiquei com tanta esperança de que você percebesse que sentia o mesmo por
mim... Eu me iludi com meia dúzia de palavras ditas depois de algumas doses de tequila — ela riu
em meio às lágrimas, como se não acreditasse que havia sido tão idiota. — Só que você não se
apaixonou por mim, Romeo. Você me provou isso da forma mais cruel, usando contra mim palavras
que sabia que iriam me destroçar por dentro. Eu lembro quando você chamou o Caio de covarde por
ter me falado tudo aquilo, mas agora eu acho que você pensa que ele tinha razão. Ou é isso, ou você é
tão covarde quanto ele.
Eu era mais covarde do que ele. Tive noção daquilo naquele exato momento, enquanto a via
levantar a alça da mala e a arrastar até a porta. Quando entendi o que ela estava fazendo, senti um
desespero completamente diferente tomar conta de mim.
— Aonde você vai? — perguntei indo atrás dela. Ela abriu a porta e um vento gelado nos atingiu.
— Vou embora.
— Não, Alice, por favor... Você veio comigo, vamos embora juntos...
— Acha mesmo que vou ficar mais um segundo na sua presença? — Ela perguntou de forma ácida,
lançando-me um olhar que me cortou por dentro. — Pelo amor de Deus, Romeo!
Ela saiu do quarto e eu demorei meio segundo para perceber que não poderia deixá-la ir embora
daquele jeito. Precisávamos conversar, eu precisava me explicar, precisava pedir perdão pela merda
que havia feito. Tinha que ter um jeito de consertar as coisas! Fui atrás dela do jeito que estava, sem
me importar se estava descalço e usando só uma cueca. O vento estava gelado por conta da frente fria
que havia chegado na noite anterior, mas eu não me importei.
— Alice! — Gritei correndo para alcançá-la. Vi quando ela chamou um carro pelo aplicativo. —
Pelo amor de Deus, não vou deixar você ir embora de Uber, bella!
— Acho que você ainda não entendeu que não tem que deixar nada! Eu não sou um cachorrinho
para seguir às suas ordens!
Cazzo, ela estava furiosa, mas eu preferia que ela gritasse comigo, que me batesse, me chutasse, a
ir embora daquela forma.
— Por favor, bella, é perigoso! Como vai de Angra até o Rio com uma pessoa que você nem
conhece? Seja sensata!
— Estou sendo sensata ao ficar longe de você.
Porra, aquilo doeu.
— Alice, me escuta — pedi, parando na sua frente. — Não precisa ficar ao meu lado, não precisa
nem olhar na minha cara, mas não faça isso, bella. Não se coloque em risco dessa forma!
De longe, vi alguns hóspedes olhando em nossa direção, mas ignorei todo mundo e esperei que
Alice tomasse a decisão certa e não fosse embora de Uber.
— Sai da minha frente, Romeo — ela pediu baixinho, impaciente e muito magoada. A pressão que
senti em meu peito foi horrível.
— Bella, por favor...
— Vou falar com a Paula e pedir o carro do Alexandre emprestado. Você dá uma carona para eles
quando estiver indo embora — decidiu tudo, dando um passo para a esquerda. Eu a acompanhei e a
impedi novamente de passar.
— Você está muito nervosa para dirigir.
— Estou nervosa porque você não sai da minha frente! — Gritou com os olhos arregalados. —
Acabou tudo, Romeo. Entendeu? Acabou tudo o que havia entre nós dois. A partir deste momento,
você segue com a sua vida e eu sigo com a minha. Ponto final!
Ao meu lado esquerdo, a porta de um bangalô se abriu e meu irmão e Paula saíram apressados. Eu
nem tinha me dado conta de que estávamos em frente ao quarto dos dois. Assustada, Paula correu em
direção a Alice.
— Amiga, o que houve?
— Eu conto tudo para você depois — Alice disse, virando-se para o meu irmão. —Alexandre,
você pode me emprestar o seu carro? O Romeo vai levar vocês embora mais tarde.
— Emprestar o meu carro? Pra quê?
— Pra eu ir embora — ela disse e tanto Alexandre quanto Paula ficaram assustados.
— Bella, não faz isso — implorei novamente, sentindo um nó intenso se formar em minha garganta.
— Por favor — sussurrei.
Alice me olhou em silêncio e vi um mundo de coisas em seu olhar. Era a primeira vez que algum
sentimento além da mágoa aparecia ali desde a merda que havia saído da minha boca. Era como se
ela me contasse em silêncio sobre como estava perdida e triste, dividida entre me amar e se afastar
de mim.
Dio, por que eu fiz aquilo? Por quê?
Virando-se para o meu irmão, Alice perguntou de novo:
— Pode me emprestar o seu carro? Juro que serei cuidadosa.
— Ele vai emprestar — Paula decidiu por meu irmão e eu balancei a cabeça.
— Não vai, não.
— Vai sim! — Paula falou mais alto, me dando um olhar como se me desafiasse a contrariá-la.
— Eu te empresto, Alice. Vou pegar a chave.
Meu irmão saiu e eu fiquei de boca aberta enquanto o observava entrar no bangalô. Traidor de
merda! Como podia fazer aquilo comigo? Segundos depois ele voltou com a chave na mão e Paula a
pegou, colocando o braço sobre o ombro de Alice.
— Vamos, amiga, eu te levo até o carro.
— Bella... — Eu ainda tentei mais uma vez, mas ela começou a andar sem olhar para trás.
Completamente perdido, a observei se distanciar cada vez mais de mim. Cada passo que Alice
dava, era como um chute que eu recebia no estômago. Sentia como se ela estivesse saindo para
sempre da minha vida e eu não podia suportar aquilo. Não podia a deixar ir! Per l’amor di Dio, eu
tinha que fazer alguma coisa! Com o coração batendo forte no peito, comecei a andar atrás dela, mas
senti a mão de Alexandre me segurar pelo pulso.
— Me solta!
— Não.
— Alexandre, me solta, porra!
— Não! — Ele disse mais alto, parando na minha frente e me segurando pelos ombros. — Não sei
qual foi a merda que você fez, mas se foi grande o suficiente para que Alice decidisse ir embora,
então, você tem que a deixar ir.
— Como é que é? Se eu a deixar ir, ela vai desistir de mim!
— Acredite, fratello, se você for até lá agora, ela vai mesmo desistir de você — disse como se
soubesse de tudo. — Agora, que tal a gente ir para o seu quarto para você vestir uma roupa e me
contar o que aconteceu? Esse showzinho que você está dando só de cueca está atraindo olhares
curiosos.
Olhei além dele, sem me importar com nada daquilo, mas não vi mais a Alice. Ela havia sumido.
Havia me deixado e a culpa era toda minha. As lágrimas vieram com tanta força aos meus olhos,
que não consegui contê-las.
— O que foi que eu fiz? — perguntei baixinho olhando para Alexandre. — O que foi que eu fiz,
fratello?
Alexandre me olhou um tanto assustado e passou o braço pelo meu ombro, começando a andar
comigo em direção ao bangalô.
— Eu não sei, mas você vai me contar tudo agora mesmo.

Alexandre me fez um tomar um banho enquanto ligava para a recepção e pedia para que a
camareira arrumasse a bagunça que Alice e eu havíamos feito na madrugada anterior. Foi difícil sair
do chuveiro e encarar a realidade. Sob o jato d’água, deixei que os últimos acontecimentos
voltassem a minha mente e me senti pior do que antes de tomar banho. Nunca havia me sentido tão
impotente e tão baixo em toda a minha vida. Saí do banheiro e encontrei Alexandre e Paula
conversando baixinho no canto do meu quarto, que já estava arrumado. Assim que me viu, Paula veio
em minha direção.
— Sabe o que eu deveria fazer com você, Romeo? Deveria dar um soco no meio da sua cara! —
Disse com raiva, empurrando-me pelo peito. — A única coisa que eu te pedi foi pra não magoar a
minha amiga! E você fez o contrário, droga! Nunca vi Alice daquele jeito, nem quando o babaca do
Caio fez aquela merda com ela!
Por incrível que pareça, consegui me sentir pior do que quando estava no chuveiro.
— Paula, meu amor, fique calma.
— Ficar calma? Eu quero é acabar com a raça do seu “fratello” — disse com ódio e desdém.
— Eu mereço.
— Merece mesmo! Ainda não sei ao certo que você fez, mas sei que foi uma merda muito grande!
Engoli em seco e assenti, perguntando baixinho:
— O que acontece quando a Alice toma pílula do dia seguinte?
— Por que quer saber sobre isso?
Alexandre me olhou com olhos arregalados e limpou a garganta.
— Gatinha, acho que você sabe porque as mulheres tomam pílula do dia seguinte.
Paula me olhou como se tivesse entendido tudo e ficou boquiaberta.
— Você fez a Alice tomar pílula do dia seguinte? — Acho que a minha cara já denunciava a minha
resposta, pois Paula nem me esperou falar nada. Como se fosse possível, ela ficou mais furiosa. —
Seu imbecil! A Alice passa muito mal quando toma pílula do dia seguinte!
— Eu pedi para que ela não tomasse, mas eu já tinha falado tanta merda antes, que não adiantou
nada — falei com um pouco de desespero. — O que acontece quando ela toma a pílula?
— Ela sente náuseas, dor de cabeça e no corpo, fica arriada como se tivesse com uma gripe muito
forte — ela disse muito preocupada, me deixando ainda pior. Olhando no relógio, ela falou. — Por
sorte, os efeitos começam a aparecer algumas horas depois que ela ingere. Vai dar tempo de ela
chegar em casa sem passar mal. Se eu soubesse que isso tinha acontecido, não teria deixado ela ir!
Aquilo não me tranquilizou, pelo contrário. Alice havia dito mais de uma vez que o remédio a
fazia mal e mesmo assim eu insisti. Fui um egoísta do caralho, só pensei em mim desde o momento
que abri os meus malditos olhos! Nunca me odiei tanto na vida.
— Gatinha, por que você não tomar banho e comer alguma coisa? Vou conversar um pouco com o
meu irmão — Alexandre pediu. Paula me olhou com toda raiva que estava sentindo.
— Eu vou. Mas saiba que a nossa conversa ainda não acabou, Romeo. Assim que eu descobrir
exatamente o que você fez com a Alice, eu vou voltar aqui e fazer picadinho de você!
Eu só consegui assenti em concordância antes de Paula se virar e sair do quarto, batendo a porta
com força atrás de mim. Alexandre soltou um assobio, como se estivesse com medo do furacão que
era a sua noiva, mesmo não tendo culpa no cartório.
— Cara, minha gatinha é feroz mesmo — disse, antes de se virar para mim. — Que tal me contar
agora sobre o que aconteceu?
Sentei-me no sofá e Alexandre se sentou na poltrona a minha frente. Respirando fundo, abri a boca
e contei tudo o que havia acontecido desde a noite anterior até o que havia acontecido hoje de manhã.
Meu irmão ouviu tudo atentamente, não me interrompeu em nenhum momento e quando finalmente
calei a boca, disse:
— Você ama a Alice.
Sua constatação caiu sobre mim como o peso de um prédio de cinquenta andares e eu percebi que
não tinha mais para onde fugir. Precisava encarar a realidade que estava me dando soco na cara há
muito, muito tempo.
— Sim, eu amo — concordei e falar aquilo em voz alta fez com que um peso enorme saísse do
meu peito. — Eu amo muito a Alice, fratello.
— Mas tem medo de se magoar ao se entregar ao que sente por ela, por isso surtou hoje.
— Sim, mas tenho plena consciência de que isso não justifica o que falei, o modo como usei as
palavras do ex dela apenas para sair por cima na discussão e negar o que eu sentia.
— Realmente, nada justifica o que você fez. Você foi estúpido, Romeo. Se estava com raiva e
confuso, era melhor ter saído do quarto e só voltado quando estivesse com a cabeça fria.
— Eu sei disso. Teve um momento que tentei me afastar, porque sabia que eu estava prestes a
cometer um erro horrível, mas não escutei o meu bom senso e fodi com tudo — falei, esfregando o
rosto, muito puto comigo mesmo. — O que eu vou fazer agora? Alice não vai me perdoar, eu a
magoei demais.
— Primeiro você precisa decidir o que quer, Romeo. Se for para pedir perdão e continuar com
essa historinha de “ficantes fixos”, é melhor nem começar a corre atrás dela.
Eu sabia que ele tinha razão.
— Eu quero a Alice, fratello — falei com convicção. — Quero a minha bella para mim. —
Alexandre sorriu para mim, como se estivesse orgulhoso e eu vi que aquele era o momento de abrir o
meu coração. — Eu me dei conta de que amava a Alice quando você descreveu tudo o que sentia
pela Paula. Eu sinto exatamente a mesma coisa há muito tempo, eu só não queria admitir. Fiquei
durante tantos anos repetindo para mim mesmo que eu não iria me apaixonar, que não iria entregar o
meu coração para sofrer o mesmo que mamma havia sofrido com o nosso papà, que não percebi que
eu havia encontrado uma mulher que jamais iria machucar daquele jeito. Alice nunca faria comigo o
que Giovanni fez com a nossa mãe.
— Grazie a Dio você percebeu isso! Pensei que teria que abrir a sua cabeça e enfiar isso aí dentro
à força! — Meu irmão disse. — Impressionante como é preciso que uma cagada aconteça para que
uma pessoa abra os olhos e enxergue o que está bem na sua frente! Há quanto tempo eu venho falando
que você está apaixonado pela Alice e você nunca acreditou? Se tivesse me ouvido antes, nada disso
teria acontecido.
— Vai mesmo vir com o discurso do “eu te avisei”?
— É lógico! Só estava esperando o momento certo para falar isso! Eu te avisei, maninho. Avisei
varias vezes — ele disse rindo da minha cara, ficando sério minutos depois. — Agora você precisa
repetir para Alice tudo o que me disse.
— Como se ela nem quer olhar na minha cara?
— Eu também não olharia na sua cara por pelo menos dez anos, não tiro a razão dela.
— Você não está me ajudando, Alexandre!
— Só estou sendo sincero. Você foi um cuzão, por falta de adjetivo melhor.
— Você poderia ter falado babaca.
— Mas isso você já é, geralmente — falou, abanando a mão como se não tivesse acabado de me
xingar. — Você vai ter que correr atrás, fratello. Não há outro jeito, vai ter que ganhar a Alice pelo
cansaço, até ela parar pra te ouvir.
— Alice vai ficar de saco cheio rapidinho, porque eu não vou desistir. Vou correr tanto atrás dessa
mulher, que vai ser como se eu estivesse percorrendo uma maratona.
— É assim que se fala, maninho. Você é um Benvenuto...
— E um Benvenuto nunca desiste — completei a nossa frase de criança, levantando-me do sofá.
Alexandre me abraçou com força.
— Vai dar tudo certo, fratello. Estarei na torcida por vocês dois.
— Obrigado, fratello. Por tudo.
Ele bagunçou meu cabelo e riu baixinho.
— De nada.
Capítulo 32
Depois que meu irmão deixou o meu quarto, arrumei a minha mala com todos os meus pertences e
os hidratantes, shampoo e condicionador que Alice havia esquecido no banheiro. Mesmo sabendo
que ela não queria falar comigo tão cedo, mandei uma mensagem praticamente implorando para que
me dissesse se havia chegado em casa em segurança. Tinha quase certeza de que ela não iria me
responder, mas não custava nada tentar.
Sairíamos do resort depois do almoço, mas não quis me juntar a todo mundo para comer.
Permaneci no meu quarto, sentado na poltrona da varanda e olhando o oceano. Não conseguia fazer
com que a minha mente parasse de repetir o que havia acontecido naquela manhã; era como se o meu
subconsciente estivesse me castigando ao me fazer reviver a merda que eu tinha feito. Uma
autopunição bem justa, que eu estava recebendo de bom grado, pois sabia que merecia. Duas batidas
na porta me fizeram despertar. Não queria falar com ninguém, mas logo pensei que poderia ser
Alexandre para avisar que o almoço havia terminado e me chamar para ir embora. Foi com surpresa
que vi mamma do outro lado da porta.
— Vim aqui para saber o que aconteceu — ela disse já entrando e olhando rapidamente em volta
do quarto. — Então é verdade que Alice foi embora. Ah, tesori, o que você fez com ela?
— Estraguei tudo, mamma — falei baixinho, sentando-me na cama. Minha mãe se sentou ao meu
lado e tocou em minha mão.
— Por que eu acho que isso tem alguma coisa a ver com o seu papà? Você ficou diferente depois
que descobriu que ele tinha vindo para festa.
— A culpa foi minha mesmo, mamma. Eu que fui um idiota, falei coisas que magoaram a Alice
profundamente.
— Você sabia que as suas palavras iriam magoá-la?
Com muita vergonha e um nó na garganta, assenti, desviando o olhar da minha mãe.
— Sim, eu sabia.
— Então por que as disse, figlio?
— Porque eu estava com raiva e com medo — admiti. — Mamma, estava com medo de admitir
para mim e para ela que estou completamente apaixonado. Eu amo a Alice.
— Eu sei disso, tesori. Soube no momento em que você a levou para passar o Natal conosco. Você
não levaria alguém para um momento tão importante em famiglia, se ela não fosse especial — ela
disse. — Só que eu sabia que você demoraria para enxergar a verdade. Sempre soube que você teria
problemas quando encontrasse o amor da sua vida.
— Por quê?
— Por conta de tudo o que aconteceu entre seu papà e eu, por conta do que você viu quando era
apenas um bambino[24]. Desde muito cedo você falava que não iria se casar, que viveria como um
solteirão até morrer e, se nunca percebeu, sempre insisti mais para que você encontrasse alguém do
que Alexandre, porque não queria que você deixasse de viver um grande amor por conta da minha
história com Giovanni. Eu sei que, depois de mim, você foi o que mais sofreu, justamente porque viu
o que aconteceu, mas eu não queria que acreditasse que o houve comigo, aconteceria com você.
Quando conheci a Alice e vi o modo como você olhava para ela, senti dentro de mim que ela era a
mulher da sua vida. Não sabe como torci para que tudo desse entre vocês.
— Imagino que sim. E agora eu fodi com tudo. Me desculpe por isso, mamma.
— Não é a mim que você tem que pedir desculpas, Romeo, é a Alice. Não sei o que disse a ela e,
sinceramente, prefiro não saber, mas quero que coloque uma coisa na sua cabeça. O amor não
machuca, figlio. O amor é o sentimento mais bonito e importante que existe. O que machuca é a
pessoa que não sabe amar. Alice é completamente louca por você, é só olhar o modo como ela te
olha, como ela te toca e te beija, a forma como sempre se preocupou com você. Ela deixou de ir para
uma viagem importante para estar ao seu lado no momento em que você mais precisou. Isso é amor.
Ela jamais faria com você o que o seu pai fez comigo. Não tenha medo de entregar o seu coração nas
mãos dela e cuide do coração dela quando ela fizer o mesmo com você.
Eu assenti com lágrimas nos olhos, sabendo que mamma estava coberta de razão. Alice me amava
há muito tempo e tinha um jeito muito particular de mostrar isso. Ela não falava, talvez por medo de
como eu iria reagir depois de ter dito que poderia se apaixonar por mim, mas demonstrava seus
sentimentos de outras formas, como quando largou tudo e foi ficar ao meu lado no hospital, quando
me convidou para ir com ela à São Paulo e deixou bem claro que o médico almofadinha não tinha
chance alguma com ela, quando me contou que ficava completamente à vontade em minha presença,
quando partiu para cima do meu pai e o colocou em seu devido lugar... Quando fez amor comigo na
noite passada. Ela havia se entregado completamente e eu fui um idiota. Dio, jamais iria me perdoar
pelo o que havia acontecido.
— Eu vou atrás dela, mamma. Não vou desistir de ganhar o perdão de Alice e tê-la ao meu lado
novamente. Vou fazer tudo certo dessa vez.
— Confio em você, tesori. Alice já é como uma figlia para mim e quero que ela se torne uma
Benvenuto oficialmente.
— Ela vai se tornar, mamma. Se Dio quiser.
— Ele quer, eu tenho certeza.

Não estava com cabeça para dirigir, por isso, deixei que Alexandre assumisse o volante e fui no
banco traseiro do carro. Paula nem olhava na minha cara, era como se eu não estivesse no mesmo
espaço que ela. Mesmo assim, quando Alexandre colocou o carro em movimento, eu perguntei:
— Paula, sabe se Alice chegou bem ao Rio?
— Agora você está preocupado? Engraçado, na hora de magoá-la você estava bem tranquilo!
— Gatinha, ele só fez uma pergunta, não custa nada responder.
— Vai ficar defendendo o babaca do seu irmão, Alexandre?
— Ele é babaca mesmo, mas está arrependido e preocupado com a Alice. Dá um desconto, vai.
Paula cruzou os braços contrariada e me olhou pelo retrovisor.
— Ela chegou em segurança e já está em casa.
Aquilo me deixou mais tranquilo.
— Ela disse se estava passando mal?
— Disse que estava enjoada.
Fiquei péssimo ao saber daquilo e me calei completamente durante o resto da viagem. A culpa e o
arrependimento me corriam por dentro, como se formigas pequenas e traiçoeiras estivessem comendo
o coração. Doía e deixava um gosto amargo na boca. Tudo o que eu queria era voltar atrás e fazer
tudo diferente. Alice havia me pedido para sentar com ela e conversar, por que diabos eu não segui o
seu conselho? Por que tive que ser um babaca cruel e estúpido?
Eu sabia que não conseguiria mudar o que havia acontecido, por isso, tentei traçar um plano em
minha mente. Não sabia por onde começar para me desculpar com a Alice, mas de uma coisa eu tinha
certeza: eu faria qualquer coisa e não desistiria.
Chegamos no Rio três horas depois em meio a uma chuva chata que não passava por nada.
Alexandre parou o carro no estacionamento do prédio onde Paula morava e a minha cunhada saiu
como se o veículo estivesse pegando fogo, indo logo tirar as malas da parte de trás. Eu ajudei os dois
e fechei a porta da caçamba do meu 4x4 quando terminaram de tirar as bagagens. Sem me dar tchau,
Paula foi em direção ao elevador e Alexandre se virou para mim.
— Ela está com raiva, mas daqui a pouco volta a falar com você.
— Eu também estou com raiva de mim, então, pode ter certeza de que não estou julgando as
atitudes dela.
Puxando-me para um abraço, meu disse:
— Vai atrás da sua garota, fratello.
Foi isso que fiz. Saí do prédio de Paula e dirigi até o condomínio de Alice. Por um momento,
pensei que seria barrado na porta, mas o porteiro me deixou entrar sem ser anunciado, o que
significava que Alice ainda não havia proibido a minha entrada. Estava nervoso pra caramba
enquanto entrava no elevador e tentei pensar no que dizer a ela. Nada veio à minha mente a não ser as
palavras “me perdoe”.
— Cazzo, Romeo! Seja mais original — falei para o meu reflexo no espelho do elevador.
As portas se abriram e eu saí com o coração disparado e as palmas das mãos suando. Fiquei por
pelo menos dois minutos em frente à porta do seu apartamento, dando passos curtos de um lado para
o outro e tentando reunir coragem para anunciar que eu estava ali. Respirando fundo, parei e me
obriguei a ficar calmo, enquanto apertava a campainha. Nada aconteceu pelos próximos segundos e,
nervoso, apertei mais duas vezes, ouvindo os passos se aproximarem da porta. Enfiei minhas mãos
no bolso e olhei fixamente para o olho mágico, tendo a certeza de que Alice estava me observando
por ali.
— Bella, vim aqui para saber como você está — falei, aproximando-me um pouco mais da porta,
querendo que aquela porra sumisse para que eu pudesse tomar Alice em meus braços. — Está
passando mal? Talvez seja melhor ir ao médico, eu posso ir com você.
— Vá embora, Romeo — ela disse do outro lado e senti pelo tom da sua voz que ela não estava
bem.
— Meu amor, eu sinto muito. — Era só o que eu poderia dizer naquele momento. — Eu sinto
muito, bella, por tudo. Por todas as besteiras que falei, por ter te magoado tanto, por ter insistido
para que você tomasse a pílula... Fui tão idiota, tão egoísta. Por favor, me deixe entrar e vamos
conversar. É só que eu peço.
— Só quero que você vá embora. Quando eu estiver melhor, vou colocar todas as suas coisas em
uma bolsa e pedir para que entreguem em sua casa. Por favor, faça o mesmo com as minhas coisas
e mande alguém entregar aqui.
— Não! Não, Alice, não vamos terminar assim. Vamos conversar, bella, por favor.
— Romeo... — Ela pareceu respirar fundo e eu olhei cheio de tensão para porta, como se pudesse
vê-la passando mal na minha frente. Saber que ela estava daquele jeito por minha culpa e não poder
fazer nada para ajudar estava me matando por dentro. — Não temos nada para conversar. Eu disse
para você que acabou, nada do que disser vai me fazer mudar de ideia.
— Eu amo você — falei, encostando as duas mãos abertas na porta de madeira e olhando
fixamente para o olho mágico. Alice ficou em completo silêncio e eu continuei: — Eu amo você,
bella, como nunca amei ninguém em toda a minha vida. Sei que deve estar pensando que estou
falando isso para que abra a porta, mas não, estou falando isso porque é o que sinto. Eu te amo há
muito tempo, só não tinha coragem de admitir, pois morria de medo de me machucar. No final, acabei
machucando você. Sei que não merecia nada daquilo que falei, fui cruel e mesquinho, usei o que
aconteceu no seu passado para tentar sair por cima na nossa discussão, mas quero que saiba que me
arrependi no momento em que aquelas palavras saíram da minha boca. Nada justifica o que fiz, sei
disso e estou aqui para admitir o meu erro e para falar que não acredito que você é uma mulher
dependente de afeto, muito menos que o babaca do seu ex-namorado estava certo. Você é a mulher
mais forte que conheço, Alice, e não precisa mendigar o amor de ninguém, porque amar você é um
presente. Me apaixonar por você foi o melhor presente que já ganhei na vida e não vou desperdiçar o
que me foi dado. Vou provar a você, meu amor, que eu mereço te ter ao meu lado até ficarmos tão
velhinhos, que meu coração vai parar de bater. Porque é isso que eu quero, bella. Quero ficar ao seu
lado pelo resto da minha vida.
Terminei de falar com a respiração ofegante e os olhos cheios de lágrimas. Fui tão brutalmente
sincero, que sentia que a minha alma estava ali, totalmente exposta para que qualquer um visse. O
silêncio se propagou e, por um momento, pensei que Alice tivesse me deixado falando sozinho, mas
logo ouvi o seu soluço. Ela chorava e eu nem podia abraçá-la.
— Preciso que você vá embora, Romeo.
Senti uma pontada de decepção em meu peito, mas não desanimei. Eu sabia que não seria fácil.
— Está bem, eu vou, mas quero que saiba que não vou desistir de você, bella. Vou lutar pelo seu
perdão e por mais uma chance de viver ao seu lado. Dessa vez eu prometo que não vou estragar tudo
— falei, ainda ouvindo o seu choro baixinho. — Promete que vai me avisar se você piorar?
— Não — disse em meio ao choro e, por incrível que pareça, eu ri um pouquinho.
— Então avisa a Paula, aí ela avisa ao meu irmão e ele me liga para contar, melhor assim?
— Tá bom — ela fungou. — Agora vá embora, antes que eu chame os seguranças.
— Estou indo — falei, afastando-me da porta. — Eu te amo, bella. Não esqueça disso, per favori.
Entrei no elevador com um chumbo nas costas, mas com o coração mais leve por ter deixado claro
que eu a amava. Queria ter dito tudo aquilo olhando nos seus olhos para que ela visse que era
verdade, mas esperava que ela tivesse sentido através do som da minha voz.
Assim que cheguei em casa, tirei minha mala do carro e fui até a casa de Carlos para pegar o Bob,
ele fez uma festa assim que me viu e correu em disparada quando abri o portão. Fui atrás dele e
observei o modo como percorreu cada cômodo, farejando e resmungando. Quando não encontrou o
que queria, virou-se para mim e latiu com intensidade.
— Alice não está aqui, amigão — falei, sentando-me no sofá. Ele se sentou no chão na minha
frente e me olhou como se esperasse por uma explicação. — Fiz uma besteira enorme hoje de manhã,
Bob, você nem pode imaginar. Magoei muito a nossa bella. — Ele virou o rosto de lado e levantou
uma orelha. — Mas eu prometo a você que vou reconquistá-la e que nunca mais irei perdê-la, Bob.
Dessa vez vai ser pra valer.
Acariciei o seu pescoço e Bob latiu, se afastando e indo se deitar no canto da sala. Olhei para ele
um tanto atônito. Ele estava mesmo com raiva de mim? Só para testar, me levantei e fui em sua
direção, mas ele virou a cara para o lado e me ignorou completamente. Certo, meu cachorro também
havia parado de falar comigo.
— Ok, Bob, não vou forçar nada, sei que estou errado até o pescoço hoje — falei, mas ele nem se
esforçou para me olhar. — Só esperava que você pelo menos me desse algum apoio.
Ele me olhou por um milésimo de segundo, antes de virar novamente a cara e fechar os olhos. Ele
havia fechado os olhos! Às vezes eu me perguntava se Bob era apenas um cachorro mesmo, porque
tinha momentos em que eu jurava que ele era gente. Desistindo de manter um diálogo, fui para o meu
quarto e tomei um banho rápido, sentindo uma pontada no peito ao ver os produtos que Alice usava
dentro do box do meu banheiro. Passávamos tanto tempo na casa um do outro, que não fazia sentido
carregar uma mala toda hora, por isso, passei a comprar os produtos que ela usava e ela fez o mesmo
em sua casa. Estava tão acostumado a estar sempre ao seu lado, que não sabia como iria viver sem
ela até que tivesse o seu perdão.
Joguei-me na cama depois do banho e mandei uma mensagem para Alexandre, pedindo para que
ele me avisasse se Alice ligasse para Paula. Ele disse que elas estavam trocando mensagens, mas que
Alice não havia relatado se havia piorado da náusea. Parecia que estava apenas desabafando com a
amiga e fiquei pensando em que tipo de raiva assassina Paula estaria nutrindo por mim naquele exato
momento. Não sabia se deveria me entregar ou resistir quando ela viesse me atacar, mas decidi pela
segunda opção. Iria resistir para poder ganhar a confiança da minha bella novamente.
Senti algo pular na minha cama e desviei os olhos do celular para encarar um Bob abusado, que se
arrastou até deitar com a cabeça no travesseiro que Alice usava para dormir. Ele respirou com força,
como se sentisse o cheiro dela e se deitou de costas para mim.
— Você vai mesmo deitar na minha cama sem olhar na minha cara? — Perguntei, mas ele me
ignorou. — Tá certo, Bob. Me implora para te levar para correr amanhã e eu vou fazer a mesma
coisa com você!
Minha chantagem não adiantou de nada, pois o filho da mãe cheio de personalidade continuou a
cagar para mim. Desistindo, apaguei as luzes do quarto e me virei de costas para ele, fechando os
olhos e tentando pegar no sono.

Acordei cedo no dia seguinte e enviei uma mensagem para Alice, perguntando se ela havia
melhorado. Sabia que ela não iria responder, mas a minha esperança ia além da minha consciência e
fiquei olhando para o celular de minuto a minuto enquanto me arrumava para trabalhar. Logicamente,
não recebi mensagem alguma da sua parte e me senti meio derrotado ao ir para cozinha procurar
alguma coisa para comer. Bob, que parecia disposto a me ignorar um pouco menos do que no dia
anterior, veio atrás de mim e sentou-se aos meus pés quando comecei a comer um sanduíche
encostado ao balcão.
Estava terminando o café da manhã quando o interfone tocou. Senti meu coração ficar louco no
meu peito e aquela esperança brilhar dentro de mim ao pensar que poderia ser Alice e corri em
dispara para atender. Do outro lado da linha, o porteiro me disse que Paula Almeida queria entrar.
Puta merda, Paula estava na minha casa. Engolindo em seco, permiti que ela entrasse e senti que a
minha morte estava muito próxima. Tenso, lavei as mãos e fui até a porta quando ouvi o barulho da
campainha. Paula passou por mim feito um furacão, usando óculos escuros, uma roupa social e
segurando uma bolsa grande. Ela largou a bolsa no chão como se fosse um saco de lixo.
— Suas coisas que estavam na casa da Alice. Vim buscar tudo o que ela deixou aqui, por onde
posso começar?
— Bom dia para você também — saudei, fechando a porta atrás de mim.
— Só dou bom dia para pessoas que não magoam a minha melhor amiga.
— Paula, sei que está com raiva de mim, mas...
— Romeo, você tem sorte por eu ser uma pessoa sensata e não arrancar o órgão que você carrega
no meio das pernas — ela disse, tirando os óculos. Era melhor ter ficado com eles, pois o olhar que
me lançou era capaz de jogar raios lasers. — Fui na casa da Alice hoje, minha amiga está arrasada!
Ela me contou o que você fez e confesso que fiquei surpresa. Foi muito pior do que eu havia
imaginado. Pensei que você tinha sido um babaca e até aí eu não errei, só não imaginei que havia
sido idiota, estúpido e cruel com ela.
— Fui tudo isso e, acredite, eu não me orgulho, Paula. Estou muito arrependido.
— Eu cometeria um assassinato se você não estivesse!
— Eu deixaria que você me matasse, juro que sim, mas isso não poderá acontecer, porque quero a
Alice de volta.
— Quer? Para quê? Pra continuar transando com ela com essa história de namoro que não é
namoro? Porque essa baboseira de ficantes fixos é isso pra mim.
— Quero a Alice de volta para que possamos ficar juntos de verdade. Eu amo a minha bella,
Paula. Disse isso a ela ontem e vou repetir pelo resto dos meus dias, todas as vezes que eu tiver
oportunidade. Precisei errar feio para entender que Alice é a mulher da minha vida e que não posso
viver sem ela.
Paula me olhou fixamente, como se estivesse pensando se acreditava em mim ou não.
— Ama mesmo a Alice?
— Mais do que você possa imaginar.
Ela soltou um suspiro e balançou a cabeça, se desarmando um pouquinho.
— Deus do céu, até que enfim você percebeu! Seus sentimentos por ela estavam escritos com um
letreiro em neon na sua testa durante esse tempo todo, só você não enxergava.
— Agora eu sei disso.
— Queria dizer que é antes tarde do que nunca, mas não sei como as coisas vão se desenrolar.
Alice está muito magoada com você, Romeo.
— Sei disso, mas não vou desistir dela, Paula. Eu juro.
— É bom mesmo. — Ela disse, olhando rapidamente em volta. — Bem, não estou vendo nada da
Alice por aqui. Vou dizer que você me impediu de pegar as coisas dela e que vai levar tudo
pessoalmente.
— Sério? — Perguntei cheio de esperança e Paula assentiu com um pouco de desdém.
— Sim, mas eu juro, Romeo, se você fizer uma besteira como essa de novo, eu vou perder toda a
minha compostura e vou gastar o meu réu primário ao dar uma surra em você! — Falou tão arisca
como uma gata. Agora eu entendia de verdade de onde Alexandre havia tirado o seu apelido.
— Não se preocupe, não vai ser necessário sujar as suas mãos comigo, eu vou fazer tudo
direitinho dessa vez.
— Se você tem amor pela sua vida, é melhor que faça mesmo — disse voltando a colocar os
óculos. — Preciso ir, já estou atrasada e tenho uma reunião importantíssima.
— Está bem. Obrigado, Paula.
— Só estou te ajudando porque sei que Alice te ama muito e que, mesmo você sendo um babaca, a
ama também. Espero que dê tudo certo, porque estava adorando os programas à quatro que
estávamos fazendo juntos.
— Vai dar tudo certo, confie em mim.
Ela assentiu e saiu da minha casa, me deixando com a esperança redobrada. Tinha agora mais uma
oportunidade de ficar cara a cara com a Alice e não iria desperdiçar essa chance tão preciosa.
Capítulo 33
Saí de casa quase flutuando e dirigi até o condomínio da Alice. No banco traseiro, estava uma
bolsa com metade das suas coisas — era esperto, não coloquei tudo porque usaria a segunda
“entrega” como uma nova chance para poder vê-la — e, dentro do meu peito, meu coração estava
acelerado. Estava ansioso para poder olhar em seus olhos e usar aquele momento para conversar
com ela. Havia até mesmo deixado uma mensagem para minha secretária, avisando para cancelar a
minha agenda da parte da manhã, pois queria falar com Alice com calma e sem a pressão de ter que
chegar logo na empresa. Daria tudo certo, eu tinha certeza!
Parei em frente aos portões do seu condomínio e apertei o interfone, me identificando. Senti como
se os segundos estivessem se arrastando, enquanto eu esperava que os portões se abrissem para que
eu pudesse entrar. No entanto, eles não se abriram. Alguns minutos se passaram até o porteiro sair e
vir falar comigo. Sem entender nada, abri a janela do carro e João me fitou com uma careta de
desapontamento.
— Bom dia, Seu Romeo.
— Bom dia, João. Por que não abriu os portões para mim? Sei que sou especial, mas não
precisava vir aqui fora falar comigo — brinquei e ele deu uma risadinha sem graça.
— Justamente pelo senhor ser especial, que vim aqui fora. Não queria dar a notícia pelo interfone.
Senti meu estômago gelar.
— Que notícia?
— A Senhorita Carvalho pediu para que eu não permitisse a sua entrada. Eu sinto muito.
Cara... Meu rosto desmoronou e João pareceu se sentir pior ainda por mim.
— Quando ela pediu isso?
— Hoje de manhã. Ela disse que se o senhor tiver algo para entregar a ela, é para deixar comigo.
A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi não entregar a merda da bolsa. Se Alice
quisesse as suas coisas, que me permitisse entregar pessoalmente! Mas, então, percebi que isso não
adiantaria de nada. Impor a minha presença só faria com que ela ficasse com mais raiva e se
distanciasse ainda mais de mim. Dio, como doeu saber que eu estava proibido de entrar naquele
condomínio que havia se tornado a minha segunda casa nas últimas semanas. Saber daquilo minou
quase que completamente as minhas esperanças. Esticando-me, peguei a bolsa no banco traseiro e
entreguei para João.
— Avise que se estiver faltando alguma coisa, ela pode me ligar e eu procuro os itens na minha
casa
— Sim, senhor — ele disse, pegando a bolsa das minhas mãos. — Espero que tudo se resolva
entre vocês, Seu Romeo. Você e a Senhorita Carvalho formam um casal muito bonito.
— Acredite, João, o que eu mais quero é que a gente se resolva e que voltemos a ficar juntos.
— Não desista não, a vitória não teria o mesmo valor se não precisássemos lutar para conquistá-la
— ele disse antes de acenar e se afastar.
Eu ainda fiquei alguns segundos dentro do carro, olhando para os portões e pensando nas palavras
de João. Ele até poderia ter razão, mas fiquei com medo de não sair vitorioso daquela batalha que eu
mesmo havia criado.
Cheguei à empresa arrasado. Sabrina até se assustou ao me ver e não sei se foi pela minha cara de
desânimo ou pelo fato de eu ter cancelado a minha agenda da manhã e, mesmo assim, ter aparecido
na empresa antes das nove horas. Pedi para que eu não fosse incomodado até o meio-dia e nem liguei
o computador ao entrar na minha sala; fui direto para o sofá, onde me deitei e fiquei encarando o teto,
como se ele pudesse me dar todas as respostas e um mapa detalhado para trazer Alice de volta para
mim.
Em nenhum momento eu achei que seria fácil. De verdade, eu estava preparado para lutar com tudo
de mim, mas agora que nem poderia entrar no condomínio dela, me vi completamente sem armas para
batalhar. Como chegaria perto de Alice? Ela trabalhava em casa, geralmente saía para correr, mas
não tinha dia certo para isso e usava a academia do condomínio. Conhecia a sua rotina de frente para
trás e tinha dias que ela só saía do seu apartamento para ir para minha casa. Dio, o que eu iria fazer?
Sacando meu telefone do bolso, abri a nossa conversa no WhatsApp e comecei a reler as
mensagens que enviávamos um para o outro. Conversávamos muito, eu levaria dias para ler aquilo
tudo, por isso, li as últimas mensagens enviadas. Era impressionante o modo como nos
relacionávamos. Contávamos praticamente tudo um para o outro, enviávamos músicas e fotos que nos
fazia lembrar de algo relacionado a nós dois e ríamos bastante. Também falávamos muitas
sacanagens — eu mais do que ela, porque era um descarado e não negava — e até enviávamos alguns
nudes. Senti a saudade apertar quando vi a foto de lingerie que ela me mandou na semana passada,
mas o que fez o meu coração doer de verdade foi a foto que tiramos juntos no Réveillon e que era
plano de fundo do meu WhatsApp.
Em que momento eu achei que chegar ao ponto de colocar uma foto nossa como papel de parede
não denunciava o quanto eu estava apaixonado? Realmente, quando as mulheres falavam que o
homem era o ser mais burro e idiota do Planeta Terra, elas tinham total razão. Eu era burro mesmo,
idiota, cego e tolo. E, agora, estava perdendo a mulher da minha vida. Sem conseguir me controlar,
enviei uma mensagem para Alice.
“Não imagina como sinto a sua falta, bella. Por favor, aceite almoçar comigo para que
possamos conversar.”
Enviei. Mas sentia que precisava insistir um pouquinho mais.
“Nem precisa ser um almoço, pode ser um lanche.”
Minutos se passaram quando enviei outra mensagem.
“A gente nem precisa comer, só conversar mesmo.”
“Você nem precisa falar nada, juro. Só me ouvir um pouquinho.”
“Tudo bem, se quiser, nem precisa me ouvir. Eu levo tudo por escrito e você lê. Sei que
deve estar odiando até o som da minha voz nesse momento.”
Minhas mensagens não tinham nem dois minutos de intervalo entre uma e outra e isso deixava bem
claro o tamanho do meu desespero. Eu só queria que ela lesse e me respondesse. Nem que fosse para
falar que me odiaria para sempre e que nunca mais olharia na minha cara. Qualquer coisa era melhor
do que o seu silêncio.
​“Eu te amo, bella. Tudo o que eu queria nesse momento era poder voltar atrás e te dizer
essas três palavras no momento em que fizemos amor. Então, eu despertaria no dia seguinte e
ao invés de sentir medo e desespero, eu te acordaria com beijos e te amaria de novo para que
você sentisse que eu havia falado a verdade na noite anterior e que as tequilas não tinham
nada a ver com a minha declaração. Eu faria tudo diferente, se pudesse. Eu faria tudo
diferente desde o começo, te pediria em namoro ao invés de propor que nos tornássemos
ficantes, faria com que você soubesse, todos os dias, a intensidade dos meus sentimentos e
deixaria claro que o nosso relacionamento duraria para sempre. Sei que não dei a você o
valor que realmente merecia, sei o quanto errei e como meti os pés pelas mãos, mas, se me
der mais uma chance, só mais uma chance, eu vou fazer tudo diferente, bella. Por favor,
acredite em mim.”
Precisei fechar o aplicativo de mensagens, se não, ficaria escrevendo até a próxima semana.
Deixei o celular ao meu lado e fechei os olhos. Por um momento, fiquei apenas em silêncio, com
imagens da Alice passando em minha mente, até que me peguei pedindo baixinho a Dio para que Ele
me ajudasse a ganhar mais uma chance com a minha bella. Pelo menos Ele, que me conhecia de trás
para frente, de dentro para fora, deveria saber que eu estava sendo sincero e que valorizaria a Alice
a partir de agora.
“Per favori, Dio, não me abandone agora. Ajude-me a reconquistar a minha garota, é só o que
peço.”

Cheguei em casa pior do que quando havia saído e foi assim pelos próximos dias. Primeiro, ousei
ter esperança de que Alice entraria em contato comigo para pegar o resto das suas coisas que deixei
de propósito em minha casa, mas ela parecia não estar sentindo falta da lingerie de renda azul, do
hidrante caro que deixava um cheiro espetacular na sua pele e das peças de roupas que eu não havia
colocado na bolsa. Com isso, fui perdendo a esperança de conseguir falar com ela de novo. Não
estava sendo fácil suportar aquela distância e, mesmo enviando mensagens, eu sentia que, ao invés de
me aproximar, eu ficava cada vez mais longe.
Por Bob, me esforcei a dar uma volta no condomínio no sábado de manhã. Eu sabia que ele estava
sofrendo tanto quanto eu e, por mais que tivesse aquela personalidade forte, havia deixado a raiva de
lado para poder me apoiar, de certa forma. Ele ficava mais tempo ao meu lado e parecia ouvir
atentamente às minhas lamúrias, o que, eu sabia, não era nada fácil. Eu estava me tornando um mestre
em sofrer em voz alta.
— Se Alice estivesse aqui, nós iríamos ao calçadão de Copacabana, Bob — falei, vendo-o com a
língua para fora e a respiração meio ofegante depois de ter corrido. — Se ela estivesse aqui, nós
faríamos tantas coisas, garotão... Tantas coisas...
— Falando sozinho, Romeo?
Seu Osvaldo começou a caminhar ao meu lado com o seu cachorro, o Salsicha, o que tirou a
atenção de Bob de mim. Todo ouriçado, ele foi cheirar a bunda do cachorrinho do Seu Osvaldo, me
matando de vergonha.
— Bob, pelo amor de Dio, comporte-se! — Ordenei, puxando-o pela guia. — Desculpa, Seu
Osvaldo. Bob não tem muita noção às vezes, mas juro que é um bom cão.
— Tenho certeza que sim, já fica escutando você chorar às pitangas enquanto só quer correr e se
divertir. — O senhor riu de mim e eu fiquei mais envergonhado ainda. Limpando a garganta, falei:
— Estou passando por um momento difícil e Bob está sendo meu ombro amigo.
— Sei que Bob é excepcional, mas, se quiser desabafar com algum humano, eu estou aqui.
Olhei para Seu Osvaldo e decidi que poderia dar mais uma volta com Bob enquanto desabafava.
— Lembra quando eu disse ao senhor que nunca iria me apaixonar?
— Claro que sim, você falava isso toda as vezes em que conversávamos.
— Pois então... Me apaixonei — falei simplesmente.
— Eu sei disso. Foi por aquela moça bonita que vivia na sua casa, não foi?
— Sim, a Alice.
— Lembro de ter visto vocês dois em um restaurante, meses atrás. Estava com a Rosa e ela disse
“esse menino está louco por essa mulher”. Na época, achei que ela estivesse vendo coisas.
Conhecendo você, eu podia jurar que aquela era só mais uma das suas conquistas, mas, quando ela
passou a frequentar a sua casa, a passar dias aqui, eu soube que Rosa tinha razão.
— Ela tinha toda razão. Sou completamente louco pela Alice, Seu Osvaldo.
— Se sabe disso, por que está aqui com essa cara amarrada, chorando no ombro do Bob, ao invés
de estar com ela?
— Fiz uma merda gigantesca e estraguei tudo.
— Típico.
— Como?
— Típico. Você viveu em negação a vida inteira, Romeo. Sempre disse que iria morrer solteiro,
que nunca ia se apaixonar, que nunca ia namorar... Seria incrível se você não fizesse alguma besteira
antes de admitir que está apaixonado.
— Foi uma besteira muito grande.
— Você matou alguém?
— Não.
— Maltratou algum animal?
— O quê? Não.
— Traiu?
— Também não.
— Então, tem conserto — disse ele, olhando-me com uma sobrancelha arqueada. — Você só
precisa se dedicar e não parar de lutar.
— Acredite, estou tentando, mas ela não quer nem olhar na minha cara. O único contato que
consigo com ela é por mensagem, mas ela não me responde.
— Então, continue a enviar as mensagens. Não deixe de falar com ela nem por um dia, demonstre o
seu amor pelo único meio disponível.
— Pensei em enviar flores, mas estou com medo de ela achar apelativo demais.
— Apelativo? Claro que não, isso vai demonstrar que você está tentando — disse ele. — Não sei
o que realmente aconteceu entre vocês, nem qual foi a besteira que você fez, mas, em um
relacionamento, no meio de uma briga, a gente sempre acaba se exaltando e falando o que não
deveria. Quem disser que nunca errou com o companheiro ou companheira, estará mentindo. Nós,
seres humanos, somos assim. Somos falhos, intensos e adoramos sair por cima em qualquer situação.
Falar coisas que magoam é um meio para isso, mas reconhecer que errou e correr atrás, admitir e
pedir perdão, é um ato de amor, Romeo. E também é um modo de aprendermos a controlar os nossos
impulsos, porque, como dizia a minha mãe, errar uma vez é humano, repetir o erro é uma burrice
tremenda, então, aprenda com o que aconteceu, conquiste aquela menina de novo e não cometa mais
nenhuma besteira que pode por um fim ao que vocês construíram juntos.
As palavras de Seu Osvaldo me tocaram profundamente. Sempre que nos encontrávamos em
nossas caminhas pelo condomínio, conversávamos sobre tudo e eu saía mais sábio a cada vez que
voltava para casa, mas, dessa vez, foi diferente. Ali, eu vi a minha esperança ser renovada, pois Seu
Osvaldo era casado há mais de quarenta anos e tinha muita experiência em relacionamentos.
— Acredita mesmo que eu posso ganhar o perdão da Alice e tê-la de volta em minha vida, Seu
Osvaldo?
— Eu acredito no amor, Romeo e ele sempre vence no final.
Voltei para casa com as minhas expectativas lá no alto. Se antes eu já nem pensava em desistir,
agora eu só via mais motivos para continuar a lutar. Eu havia errado muito com a Alice, mas iria
mostrar a ela que, se me desse mais uma chance, eu não ia mais cometer nenhuma idiotice. Provaria à
minha bella que eu era digno do seu amor e da sua confiança.

Mais três semanas se passaram.


Vinte e um dias.
Quinhentas e quatro horas.
Eu só não faria a conta dos minutos, porque não queria sofrer mais do que já estava sofrendo.
Alice continuava tão silenciosa quanto antes, mesmo eu a enchendo de mensagens, tendo ido mil
vezes até o seu condomínio e feito João implorar para que ela me deixasse entrar, ligado para ela
algumas vezes por dia, enviado flores e chocolates, praticamente ter me rastejado de joelhos. Eu
simplesmente não sabia mais o que fazer. Sentia-me perdido e a esperança que eu obrigava renascer
a cada dia, vinha ficando cada vez mais fraca e apática, como se até ela estivesse desistindo de mim.
Meu humor estava uma merda, meu trabalho na empresa estava péssimo, havia cancelado inúmeras
reuniões e almoços de negócio, me arrastava para sair da cama, ignorava as mensagens dos meus
irmãos e até mesmo com mamma eu estava evitando conversar. Ela gostava de me ligar todos os dias
e sempre perguntava se eu estava mais perto de reconquistar a Alice. Doía muito ter que dizer a ela
que eu estava cada mais longe de reconquistá-la, por isso, decidi que era melhor responder apenas
às suas mensagens, pois por ali eu conseguia contornar melhor a nossa conversa.
Nesse meio tempo, eu tentava não desanimar. A cada dia eu pensava em uma maneira de abordar
Alice pessoalmente, mas não tinha muito sucesso. Tentei contar com a ajuda da Paula, mas ela
também não estava muito a fim de me fornecer informações e disse que Alice estava passando os
dias em casa mesmo e que, quando saía, era para fazer alguma coisa rápida na rua, sempre de dia.
Cheguei a pensar em ficar plantado em frente ao seu condomínio durante um dia inteiro, mas senti que
aquilo seria demais até mesmo para mim. Eu queria reconquistá-la, não a perseguir e precisava tomar
cuidado, pois a linha entre um homem insistente e um perseguidor era muito tênue e eu não poderia
ultrapassá-la.
Com isso, eu ficava praticamente de mãos atadas, contando apenas com a esperança de que ela
respondesse às minhas mensagens ou atendesse os meus telefonemas. Eu sabia que ela lia o que eu
enviava, pois as mensagens ficavam com os dois risquinhos azuis, mas a danada não falava nada. Eu
torcia muito para que as minhas palavras estivessem surtindo algum efeito em seu coração, mas,
diante do seu silêncio, eu acabava o dia com um desânimo que quase me incapacitava e ia dormir
torcendo para que o dia seguinte fosse diferente.
Naquele domingo, não consegui sequer sair da cama. Nem no almoço da famiglia eu fui, pois
estava muito para baixo, com 0,1% da esperança que eu tinha três semanas atrás. Bob não se
desgrudou de mim e, quando a noite caiu, senti que precisava fazer alguma coisa para me distrair, ou
acabaria enlouquecendo dentro do meu próprio quarto, olhando para as fotos de Alice no meu
celular. Arrastei-me para o banheiro e tomei um banho, coloquei uma roupa qualquer e saí de casa
sem rumo. Parte mim queria ir novamente para o condomínio de Alice e implorar para que ela me
deixasse entrar, mas eu sabia que ela não mudaria de ideia e que seria uma perda de tempo insistir.
Só percebi que estava em Ipanema quando parei em frente a um bar, que estava parcialmente vazio
pois ainda era oito da noite. Estacionei ali mesmo e caminhei de cabeça baixa até parar em frente ao
balcão. As garrafas de bebidas brilhavam na minha frente, com uma promessa de que me fariam
esquecer da fossa em que eu estava. Ali eu decidi como acabaria com aquela merda de dia que eu
estava tendo.
— O que vai querer, amigão? — O atendente atrás do balcão perguntou.
— Uísque, por favor. O mais caro que você tiver.
O homem assentiu e pegou uma garrafa de uísque importado, colocando uma dose em um copo com
gelo. Balancei a cabeça.
— Dose tripla, por favor. E pode deixar a garrafa.
— Você sabe que essa belezinha custa mais de quinhentos reais, não é?
— Acredite, eu preferia gastar esse dinheiro levando a mulher da minha vida para jantar, passear,
ou qualquer merda dessas, mas eu fodi com tudo e agora ela não quer saber de mim. Então, vou torrar
essa grana com algo que me faça esquecer da dor que está me matando aqui. — Apontei para o meu
peito.
O atendente me olhou com um pouco de espanto e riu baixinho, enchendo o copo quase até a boca
e deixando a garrafa ao meu lado.
— Meu nome é Henrique. Qualquer coisa, é só me chamar — disse antes de afastar.
O primeiro gole desceu me rasgando por dentro. Queimou até a minha alma, mas eu fui forte e
continuei a beber até sentir o ardor se tornar suportável. Ao fundo, tocava uma música qualquer que
eu não prestava atenção e, na minha mente, eu só via Alice. A porra do uísque de quinhentos reais
estava me fazendo sofrer o efeito reverso; ao invés de me fazer esquecer, só estava me lembrando
ainda mais da minha bella, ao ponto de eu sentir meu coração se apertar em desespero. Virei tudo de
uma vez e, quando fui pegar a garrafa, Henrique apareceu e foi mais rápido do que eu.
— Eu faço isso — falou, me servindo. — Está mal mesmo, né?
— Você nem imagina — murmurei, olhando para o copo cheio e finalmente ouvindo a música que
tocava no som ambiente do bar.

Como é que uma coisa assim machuca tanto?


Toma conta de todo o meu ser
É uma saudade imensa que partiu meu coração
É a dor mais funda que a pessoa pode ter

— Ah, não... Que merda de música é essa? — perguntei, ficando desesperado de verdade.
Henrique riu e colocou o pano de prato no ombro, enquanto servia uma dose de tequila em um copo.
Tequila. Realmente, era só o que me faltava.
— Carioca sofre ouvindo pagode, amigo — ele disse. — Aproveite.

Aí eu me afogo num copo de cerveja


Que nela esteja minha solução
Então, eu chego em casa todo dia embriagado
Vou enfrentar o quarto e dormir com a solidão

Meu Deus, não!


Eu não posso enfrentar essa dor
Que se chama amor
Tomou conta do meu ser
Dia a dia, pouco a pouco
Já estou ficando louco
Só por causa de você[25]

Era realmente uma ironia do destino que uma música do Alexandre Pires tivesse me ajudado a
ficar a minha bella e, agora, uma outra música dele estivesse me ajudando a afundar na lama em que
eu mesmo havia me enfiado. Realmente, eu não sabia que merda era aquela, mas bebi rapidamente
enquanto ouvia a música e ficava pior do que quando havia entrado no bar. Henrique me serviu
novamente quando sequei o copo e percebi que já estava enxergando tudo turvo, mas não parei.
Ainda havia meia garrafa de uísque para beber.

Se o amor bater, deixa entrar


A porta abrir seu coração
Desenvolver, se entregar, descontrair, sorrir, se dar
Erro meu, foi não ter pensado e agido assim
Não acreditar que ela gostava de mim, insensível
Erro meu, foi não ter lutado quanto te perdi
E deixar de lado tudo, tudo o que vivi, impossível
Tô sofrendo demais

— Dio, perché? Perché?[26] — lamentei em voz alta, quase chorando. — Henri-rique... Ô, Hen-
Henrique! — Tentei chamar o atendente, mas sentia a minha língua pesada. Ele veio rapidamente e vi
dois dele na minha frente. — Cara... Na-não dá ma... Mais — Solucei. — Muda essa mú-música,
caralho!
— Sinto muito, amigão, mas não sou eu que controlo a música da casa.
— Ai, merda...

Não dá, só de imaginar o meu peito dispara


Será que me esqueceu e curtiu outro cara?[27]

Ah, não... Não! Será? Será que Alice havia me esquecido e curtido outro cara? A imagem do
médico almofadinha veio à minha mente e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. Virando o
uísque de uma só vez, tirei a carteira do bolso e peguei meu cartão de débito.
— Henr-rique! Ô, Henrique, traz a ma-maquinha de cartão — falei, batendo no balcão. Queria que
desse um efeito estrondoso, mas fez só um sonzinho mixuruca. Henrique apareceu na minha frente.
— Quer que eu chame um táxi para você, amigão?
— Na-não... Eu vim de caro — falei.
— Carro, você quer dizer.
— Foi o que falei.
— Acho que você não deveria dirigir assim, está completamente bêbado, pode se meter em um
acidente — ele disse enquanto mexia na maquininha.
— É até melhó, sa-abe? Aí eu morro lo-ogo e acabo com essa dor de merda que eu tô sentindo.
— Um pouco dramático, não acha?
Coloquei a senha e errei, mas acertei da segunda vez. Tirei o cartão da maquininha e peguei minha
garrafa que ainda tinha um restinho de uísque.
— Não é dra-ama. É a realidadí. Vou nessa. Va-aleu, Henrique.
Saí do bar trocando as pernas. Sentia que o chão estava um lado mais fundo e o outro mais raso,
mas consegui chegar ao carro sem cair de cara no asfalto. Demorei para conseguir enfiar a porra da
chave na ignição e olhei para frente tentando me localizar. Não sabia direito aonde estava, mas tinha
certeza que conseguiria chegar na casa da Alice. Antes de dar partida, conectei meu celular com o
som do carro e coloquei Alexandre Pires pra tocar.
— Ninguém mandô me per-erturbar no bar. Agora vai cantar pra mim.
Dei partida no carro e não sei como consegui dirigir. Não enxergava nada direito, meu senso de
direção estava uma merda e eu precisei me inclinar no banco para poder enxergar os semáforos.
Algumas buzinas soaram mais alto do que o som do meu carro, mas caguei pra todo mundo e apertei
o volante com força. No meio do caminho, comecei a prestar atenção na música que estava tocando e
entendi o porquê de Dio ter colocado o Alexandre Pires no meu caminho. Que cantor abençoado!
Aquele, sim, sabia fazer música.
— Não po-posso esquecer dessa canção — falei pra mim mesmo. — Alice tem que ouví isso,
caralho!
De alguma forma, consegui estacionar em frente ao condomínio dela. Nunca vou saber como fiz o
milagre de chegar ali sem causar um acidente, mas o importante foi que consegui. Agarrei a garrafa,
meu celular e desci do carro, indo apertar o interfone da entrada social. Ninguém me atendeu e eu
apertei de novo e de novo, até o porteiro da noite vir falar comigo. Aquele eu não sabia o nome e
nem tinha intimidade, mas isso não me deteve.
— Oi. Que-ero falá com a Alice. Fala pra ela me deixá entrá — falei com a melhor dicção que eu
tinha disponível no momento, me segurando na grade do portão.
— Qual é o número do apartamento, senhor?
— Quatrucentus e doiz, bloco A.
Ele olhou tudo pelo tablet e, segundos depois, me fitou.
— A Senhorita Carvalho não está, senhor. Sinto muito.
Balancei a cabeça sem acreditar nele.
— Não! Vo-você tá falando issu porque eu tô proibido de entrá. Mas fala pra Alice que eu nem
vou falá nada, o Alexandre Pires que vai falá com ela.
— Como, senhor?
Revirei os olhos, sem paciência para aquela enrolação.
— Liga pra ela. Eu vou falá com ela, anda!
— Senhor, a Senhorita Carvalho não está, já falei. Se continuar a insistir, vou ter que chamar os
seguranças.
— Vai me tirá da calçada? Se fizer isso, vo-vou plocessar vocês! — Falei com raiva, mas algo
me dizia que eu não estava demonstrando de maneira correta as minhas emoções. Sem me aguentar de
pé, falei. — Vou sentá ali e só saio daqui quando a minha be-bella chegar!
Fui cambaleando até o meio-fio e me sentei todo largado, abrindo a garrafa e tomando mais um
gole do meu uísque, que desceu como se fosse água pela minha garganta. Não conseguia focar quase
nada na minha frente, minha cabeça parecia cheia de algodão enquanto eu pensava em Alice. Percebi
que estava de olhos fechados quando, com muito custo, abri as minhas pálpebras e olhei para a Gata
em cima da minha coxa.
— Ei, Gata, que sauda-dade de você — falei, tocando em seu pelo brilhoso e macio. — Você tem
cuida-ado da nossa Alice? Como ela está? Ela saiu mesmo ou o porte-teiro tá mentindo pra mim?
A Gata ronronou e se deitou no meu colo, aconchegando-se e recebendo meu carinho. Pelo menos
alguém queria algo de mim que não fosse distância.
— Tá muito difícil, sabia? Eu tô sofrendo muito, Gata. A Ali-lice não quer mais saber de mim...
O-olha, eu sei que fui um babaca, mas eu só queria uma chancí pra pedir per-perdão — solucei e
lágrimas encheram os meus olhos. — Era só issu que eu queria, Gata... É pedi-ir demais?
— Romeo?
Achei que estava delirando ou que o álcool havia comido uma parte do meu cérebro, pois consegui
ouvir nitidamente a voz de Alice atrás de mim. Por um momento cheguei até a parar de respirar, mas
percebi que eu não podia ignorar aquilo. Se fosse ela, tinha que aproveitar aquela chance. Sem
coordenação motora nenhuma, consegui me levantar com a Gata em uma mão e a garrafa de uísque na
outra. Na minha frente, estava Alice, vestida em um short jeans, blusa branca e carregando duas
bolsas de mercado. Ela me olhou espantada e eu cambaleei ao dar um passo para frente.
— Be-ella, até que enfim, pen-pensei que não chegaria nunca.
— Meu Deus, Romeo, o que houve com você?
Não entendi a pergunta e olhei para mim mesmo. Eu estava vestido e sem nenhum machucado,
sobre o que ela estava falando?
— Na-nada.
— Nada? Você está completamente bêbado!
— Hum, eu bebi um pôquinhu.
— Você bebeu uma garrafa de uísque?
— Arran. É.
Ela olhou para o meu carro.
— E veio até aqui dirigindo?
— Sim.
— Qual é o seu problema? Meu Deus do céu!
— Eu precisava ver você, be-bella. — Merda, eu estava gaguejando pra caralho e aquilo não iria
me ajudar em nada. A Gata se mexeu incomodada em meu colo e eu a coloquei no chão, lutando um
pouco para voltar a me erguer. — Se quiser eu po-posso ir embora, mas me escute antes, per fa-
favori.
— Não vou deixar você ir embora, vai acabar se metendo em um acidente ou sendo parado pela
polícia — falou, passando as bolsas para uma mão só. — Vou deixar você entrar, mas só para ligar
para o Alexandre e pedir para ele vir te buscar.
Dio, ela me deixaria entrar! Ela me deixaria entrar! Tentando não parecer eufórico demais, eu
assenti e tentei andar em linha reta ao lado dela, mas quase caí. Ouvi o seu suspiro ao meu lado,
antes de sentir a sua mão em minha cintura, me ajudando a caminhar. Caralho, que momento! Afundei
meu rosto em seu cabelo e respirei fundo, sentindo seu cheiro delicioso me preencher por dentro.
— Que saudade, bella...
Alice ficou tensa ao meu lado, mas não disse nada. Com um pouco de dificuldade, fomos juntos até
o elevador e eu precisei me policiar para não cometer uma loucura e beijá-la até sentir seu amor por
mim de novo. Não lembro muito do percurso até o seu apartamento, mas quase chorei de emoção
quando Alice me ajudou a sentar no sofá.
— Espere aqui.
Eu não tinha condições alguma de ir atrás dela, por isso, esperei. Encostei a cabeça no sofá e olhei
para o teto, pensando que eu estava ali, dentro do apartamento dela. Finalmente, Dio, finalmente!
Não sei quanto tempo se passou, mas senti Alice tocar em meu ombro e abri os olhos para fitá-la.
— Fiz um café forte pra você — ela disse, me estendendo a mão para me ajudar a sentar direito no
sofá. A sala rodou bem rápido e eu precisei fechar os olhos com força para poder voltar a enxergar
com normalidade. — Está se sentindo bem?
— Só preciso que a sala pare de rodar.
— Romeo, por que você fez isso? Pra que encher a cara desse jeito?
— Queria esquecer um pouco da dor que eu tô sentindo — solucei e tomei a xícara da sua mão,
dando um gole na bebida. Quase vomitei. — Isso é ca-café? Dio, não vou tomar isso!
— Vai, sim. Café é ótimo pra ajudar a passar a bebedeira.
— Café é horrível.
— Romeo, não seja teimoso! Tome só mais um gole, por favor.
Cara, o que eu não fazia por aquela mulher? Quase colocando tudo para fora, tomei mais um pouco
daquele negócio horrível, amargo e quente como o inferno.
— Chega! — Dei a xícara para ela e senti ânsia de vômito. — Que nojo!
— Você tomou uma garrafa de uísque e está falando que café é ruim? Pelo amor de Deus! — Ela
deixou a xícara na mesinha de centro e colocou as mãos na cintura. — Vou ligar para o seu irmão,
está bem?
— Naaaão — prolonguei a palavra, tentando me levantar, mas caí novamente no sofá. — Por
favor, bella, me deixe ficar mais um pou-pouquinho. Eu juro, eu nem vou falá nada, mas é que tem
uma música que eu queria que você ouvisse... É tudo o que eu sinto, bella. Per favori, só me dê
alguns minutinhos.
Eu juntei as mãos na frente do rosto, implorando literalmente. Alice me olhou por alguns
segundos, como se ponderasse acatar o meu pedido ou não, até que, por fim, sentou-se ao meu lado.
— Está bem.
Isso! Caralho!
Peguei o celular no meu bolso e procurei pela música. Merda, qual era o nome? Tinha alguma
coisa com perdão e chaves, mas eu não conseguia encontrar.
— Espera aí, eu vou achar — falei para ela, descendo a lista de músicas no celular. — Achei!
Coloquei para tocar e fiquei olhando para Alice com esperança de que ela entendesse que ali
estava tudo o que eu sentia.

Que desculpa eu dou agora?


Pra justificar mais uma vez
Que mentira eu falo agora?
Pra falar a verdade, eu não sei, eu não sei
Entendo eu sei que você tem tantos motivos
De não querer me ver e nem ficar comigo
Eu estou correndo o risco de perder seu coração, coração
Achei que o nosso lance era de momento
Mas foi engano tá rolando sentimento
Me dê a chance de corresponder ao seu perdão, seu perdão, seu perdão

Vem, eu quero ser capaz de te fazer feliz


Vem, eu quero apagar o mal que eu te fiz
Vem, devolva a melodia da nossa canção
Vamos abrir a porta da nossa paixão
A chave é o seu perdão[28]

Acho que a minha expectativa brilhava nos meus olhos enquanto eu encarava a Alice. Alexandre
Pires interpretava a música com paixão e eu esperava que a canção estivesse a tocando da mesma
forma que havia me tocado. Eu poderia estar bêbado como um gambá, mas ainda tinha consciência
suficiente para demonstrar a ela que eu não estava ali de brincadeira, que meus sentimentos não eram
de mentira e que, mesmo tendo sido um idiota, eu queria muito me redimir.
— Eu passei o dia trancado em casa, sem vontade nem de levantar da cama, bella — falei um
pouco menos enrolado do que antes, provavelmente por causa do café. — Eu senti que poderia
enlouquecer, por isso, peguei o carro e saí sem rumo, até parar em um bar. Lá, pedi o uísque e
comecei a beber para te-tentar esquecer a dor que estava quase me matando, mas sofri o efeito
reverso. Ao invés de esquecer, só conseguia pensar em você. Ao fundo, Alexandre Pires começou a
tocar e ouvi um monte de música terrível, que só me machucava mais, mas que também me despertou
para um monte de coisa. Uma delas falava algo sobre a mulher o esquecer e ficar com outro cara e
aquilo me encheu de desespero. E se você tivesse me esquecido tam-também? Eu não iria suportar.
Acho que ia mo-morrer.
— Romeo...
— Espere — pedi, tocando em sua mão. — Sei que estou bêbado, mas estou aqui com o meu
coração aberto, be-ella. Não aguento mais viver sem você, não aguento mais respirar sabendo que
você está me odiando e que não quer mais olhar na minha cara.
— Não odeio você — ela disse baixinho.
— Não?
— Não. Nem se eu quisesse muito, conseguiria te odiar, Romeo. — Eu suspirei de alívio, sentindo
meu coração finalmente bater com um pouco mais de esperança. — Isso não quer dizer que a minha
mágoa tenha passado, no entanto.
— Eu sei. Sei quanto te machuquei, meu amor e acho que você não consegue imaginar como eu me
arrependo. Quando ouvi essa música, soube que ela conseguia demonstrar o que eu não conseguia
dizer para vo-você — solucei e senti a bile na garganta de repente. — Merda, acho que vou vomitar.
Alice pareceu nem pensar duas vezes. Apoiando-me pela cintura, praticamente me arrastou até o
banheiro e me segurou pelos ombros enquanto eu me ajoelhava e colocava tudo para fora em seu
vaso sanitário. Não foi uma cena bonita, pelo contrário, foi nojenta e não tinha nada a ver com o que
eu havia planejado. Vomitei muito, até colocar tudo para fora e, quando terminei, me senti péssimo,
tanto física quanto emocionalmente. Senti algo úmido contra o meu rosto e me esforcei para abrir os
olhos e encarar a Alice.
— Acho melhor você tomar um banho e dormir um pouco.
Ela me ajudou em tudo. Tirou as minhas roupas, me ajudou a levantar e me apoiou embaixo do
chuveiro. Eu nem reclamei da água fria, pois sabia que não estava em condições de exigir nada
naquele momento. Quando terminamos, me senti um pouco melhor, mas ainda não tinha coordenação
motora suficiente para me secar e ficar de pé ao mesmo tempo, por isso, sentei-me na tampa do vaso
e me sequei devagar, sentindo o teto rodar a cada vez que eu levantava a cabeça.
Nu, Alice me ajudou a deitar em sua cama e passou a mão de leve pelo meu cabelo, olhando-me
com um carinho que aqueceu o meu coração.
— Descanse, a gente conversa melhor amanhã.
Foi a primeira vez em três semanas que eu consegui fechar os olhos e dormir de verdade e isso
não tinha nada a ver com a bebida e, sim, com a promessa que Alice havia sussurrado em meu
ouvido.
Capítulo 34
Alice
Passei a noite quase toda acordada, ainda sem acreditar que Romeo estava no meu apartamento,
deitado ao meu lado. Eu vinha sendo forte e lutando contra a vontade de lhe dar uma chance para
podermos conversar, mas estava se tornando cada vez mais difícil não ceder. Suas mensagens
apaixonadas, as flores que me enviava com cartões escritos à mão, as inúmeras ligações que eu não
atendia, o fato de ele não desistir de vir ao condomínio mesmo sabendo que não poderia entrar,
estavam minando as minhas forças e fazendo um caminho direto para o meu coração magoado.
Depois que a raiva e o choque passaram, eu repassei tudo o que aconteceu em minha mente e parte
de mim entendeu, de certa forma, o que havia acontecido. De primeira, eu realmente acreditei nas
palavras de Romeo e pensei que havia me enganado, que ele não estava apaixonado, mas, depois que
me acalmei e que ouvi a sua declaração do outro lado da porta do meu apartamento, eu percebi que
seus gestos, sua dedicação para comigo, o modo como me tocava, me beijava e me olhava, não tinha
como ser apenas desejo, tinha sentimento. O problema era que ele havia me machucado de verdade
ao usar as palavras de Caio contra mim e isso era difícil de perdoar.
Saber que ele estava sofrendo tanto — ou até mais, devido ao seu estado — quanto eu, não me
dava prazer ou fazia com que eu me sentisse “vingada” de certa forma. O modo como o vi hoje,
completamente bêbado, quase chorando, sentado no meio-fio com a Gata em seu colo e uma garrafa
quase vazia de uísque em sua mão, fez o meu coração apertar. Ali eu vi que ele não estava
exagerando quando dizia, por mensagem, que estava sofrendo e que não sabia como viver sem mim.
Romeo sempre foi um homem alegre, responsável e autossuficiente. Nunca, em toda a minha vida,
eu poderia imaginar que o encontraria em um estado tão deplorável. Ele não parecia com o homem
que eu havia conhecido e aprendido a amar, mas quando me olhou daquele jeito cheio de amor e,
mesmo soluçando, implorou para me mostrar a música, eu entendi que ele ainda era o mesmo homem.
Ainda era o meu Romeo, só que estava tão culpado e machucado, que não sabia muito bem como
lidar com a própria bagunça.
Cochilei um pouco ao seu lado e despertei com o sol batendo no meu rosto. Ainda demorei alguns
segundos para me situar, mas quando senti o cheiro de café, levantei assustada e olhei para o seu lado
na cama. Ele não estava no quarto, mas aquele cheiro denunciava que ainda estava em meu
apartamento. Fiquei alguns segundos sentada, sem saber ao certo que fazer. Deveria expulsá-lo?
Ouvi-lo? Fingir que tinha um compromisso e fugir? Com o coração agitado, respirei fundo e me
obriguei a me acalmar. Eu era uma mulher adulta, centrada, poderia dar a ele a chance de falar mais
alguma coisa, se quisesse.
Decidida, levantei da cama e fui ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes antes de ir
para a cozinha. A mesma música que Romeo havia me pedido para ouvir na noite anterior saía pelo
alto-falante do seu celular, enquanto, só de cueca, ele fazia um ovo mexido em meu fogão. Foi difícil
olhar para o seu corpo e não sentir o calor tomar conta de mim. Deus do céu, o homem não poderia
ter pelo menos colocado uma calça? Ele estava jogando muito sujo ficando só de cueca boxer na
minha cozinha.
— Bom dia — saudei e ele se virou em um pulo. Sua expressão um tanto cansada denunciava a
noite de bebedeira, mas isso era porque eu o conhecia muito bem. Quem não tinha ideia da
verdadeira faceta de Romeo Benvenuto jamais iria imaginar que ele havia bebido uma garrafa de
uísque na noite anterior.
— Bom dia, bella — falou um pouco ofegante, olhando-me de cima a baixo. — Ia levar o café na
cama, mas já que se levantou antes, sente-se e me permita servi-la.
— Não precisa, Romeo. Você já fez tudo, eu posso me servir.
— Não, eu faço questão — disse, desligando o fogo. — Por favor.
Assentindo, sentei-me no banquinho em frente à ilha central da cozinha e observei em silêncio
enquanto ele arrumava tudo à minha frente, cantarolando baixinho. Além dos ovos mexidos, ele havia
feito café, suco de melão, pão de queijo, torradas com o pão integral que eu havia comprado na noite
anterior no mercado e também tinha enrolado o queijo e o peito de peru um no outro. Um café da
manhã de hotel.
— Acordou inspirado — comentei quando ele colocou a xícara de café na minha frente.
— Era o mínimo que eu podia fazer, depois do trabalho que te dei ontem — disse um pouco
constrangido. — Me desculpe por ter aparecido aqui daquele jeito, bella. Juro para você que não era
a minha intenção.
— Tudo bem. Quem nunca se refugiou na bebida que atire a primeira pedra.
— Eu poderia ter me refugiado com o uísque na minha casa e não ter vindo atrás de você estando
bêbado daquele jeito. Eu ainda vomitei e você teve que me dar banho, por Dio! — Não sabia ao
certo se ele estava com vergonha ou com raiva. Acho que era um pouco dos dois. — Enfim, só queria
me desculpar, de verdade. Parece que a minha lista de pedidos de desculpas só aumenta, ao invés de
diminuir.
— Pode riscar isso da sua lista, está desculpado — falei, pegando um pão de queijo na cestinha.
— Não vai comer?
— Ainda estou sentindo o efeito da cachaça, vou ficar só no suco — falou, enquanto se servia.
Com ele de frente para mim do outro lado da bancada, comecei a comer em silêncio, ouvindo a
música que tocava em seu celular. Sentia seus olhos sobre mim, como se ainda não acreditasse que
eu estivesse mesmo na sua frente e eu sentia algo semelhante. Depois do que aconteceu, pensei que
cenas como essa jamais se repetiria. Infelizmente, eu sentia como se estivesse caminhando sob gelo
fino, não me sentia totalmente segura ao lado de Romeo e tinha medo de que qualquer passo em falso,
fizesse o gelo rachar até eu cair. E ele não ajudava em nada ao me olhar daquela forma,
completamente em silêncio.
— Já está em condições de dirigir? — perguntei ao terminar de comer. Aquele era o meu jeito
sutil de o mandar embora e acho que ele percebeu, pois pareceu sair da letargia ao piscar duas vezes
e se recompor.
— Sim, mas, antes, queria muito conversar com você. Conversar de verdade, bella.
Parte de mim estava morrendo de medo daquela conversa. Ler as suas mensagens e saber que ele
estava do lado de fora do condomínio mexiam comigo, mas estar frente a frente com ele e ouvir o que
ele tinha a dizer era completamente diferente. No entanto, sentia que não seria justo continuar a fingir
que ele não estava se esforçando para tentar, de certa forma, se explicar e pedir perdão. Assentindo,
saí do banquinho e fui pra sala, ouvindo seus passos atrás de mim. Sentei-me no sofá e ele se sentou
ao meu lado, respirando fundo antes de começar:
— Eu não lembro em detalhes das coisas que te disse ontem antes de te dar todo aquele trabalho,
mas lembro de ter te mostrado a música. Você prestou atenção na letra?
— Sim, prestei. A música é linda.
— Aquela música é tudo o que eu sinto. No começo, eu realmente pensei que o que havia entre nós
dois era só tesão e que, depois que ele acabasse, eu seguiria com a minha vida e você com a sua.
Achei que, no máximo, continuaríamos com a amizade que construímos, mas fui muito ingênuo, Alice.
Fui ingênuo em acreditar que conseguiria ficar ao seu lado, beijar a sua boca, tocar o seu corpo, sem
me apaixonar. Por muito tempo eu achei que eu era inatingível, pois me policiei para ser assim.
Conhecia uma forma de amor que machucava e não queria correr o risco de passar por aquilo,
mesmo sabendo que existiam casais que eram felizes. Então, quando comecei a entender que o que eu
sentia por você não era apenas desejo, me assustei. Me dei conta dos meus sentimentos quando
Alexandre me disse o que sentia pela Paula. Eu sentia a mesma coisa por você, mas não quis pensar
naquilo, então, me esforcei para deixar tudo de lado, mas depois da nossa última noite juntos...
Depois de termos feito amor, eu acordei no dia seguinte com a realidade dando um soco na minha
cara. Percebi que eu te amava e não soube lidar com isso.
Ouvir tudo aquilo fez o meu coração ficar apertado no peito. Romeo parecia estar abrindo
completamente o seu coração, expondo a sua alma de verdade. Permaneci em silêncio e esperei que
ele continuasse.
— O medo que eu sentia de me machucar gritou bem forte dentro de mim, mesmo, racionalmente,
sabendo que você jamais faria comigo o que o meu pai fez com a minha mãe. Fui idiota, surtei com o
negócio da camisinha, falei um monte de merda e usei o que o filho da puta do seu ex disse para te
machucar. Foi como uma forma de defesa, pois uma parte de mim queria te afastar, mas foi também
porque eu fui egoísta e só pensei em mim mesmo. Só me dei conta da crueldade que eu havia
cometido quando calei a boca e ali mesmo eu me arrependi. Você não merecia ter ouvido aquilo, nem
ter sido machucada do jeito que te machuquei. Eu fui baixo e mesquinho, bella e não me orgulho nem
um pouco disso.
— Sim, você foi. Eu não te contei sobre isso apenas para justificar o porquê de eu precisar de um
tempo para pensar na sua proposta e, sim, porque eu confiava em você. Sei que nos conhecíamos há
pouco tempo, mas, desde o começo, criamos um laço, uma relação única e pensei que aquele era o
momento certo de me abrir. Nunca passou pela minha cabeça que, um dia, você usaria aquelas
palavras contra mim. De tudo o que aconteceu naquela manhã isso foi o que mais me machucou.
— Eu sei — ele disse com uma tristeza que me tocou. — Sei que quebrei a sua confiança e que te
machuquei profundamente, bella. Não estou aqui para me defender, muito menos para tirar a minha
culpa. Você me disse que não sabia se eu pensava como o seu ex ou se eu era covarde como ele e eu
te respondo, eu fui mais covarde do que ele, porque não penso nada daquilo sobre você, mas, mesmo
assim, repeti aquelas palavras apenas porque sabia que elas seriam o suficiente para te afastar. Só
me dei conta de como tinha sido baixo, quando calei a porra da minha boca.
Sua sinceridade e consciência me surpreenderam. Saber que ele estava arrependido era uma coisa,
ouvir que ele sabia como havia errado e que não se eximia da culpa, era outra completamente
diferente. Pegando em minhas mãos, Romeo continuou:
— Durante todo esse tempo, venho tentando te mostrar não só o meu arrependimento, mas também
a intensidade do sentimento que nutro por você. Sei que eu deveria ter me dado conta antes, que eu
deveria ter olhado para dentro de mim e enxergado o quanto te amo, mas, infelizmente, não posso
voltar no tempo e fazer tudo diferente. Mas posso agir da maneira certa agora, bella, eu só preciso de
mais uma chance, apenas isso. Não vou errar dessa vez. Vou te amar do jeito que você merece e
valorizar cada minuto ao seu lado. Por favor, acredite em mim, meu amor e me perdoe. Me perdoe
por ter sido covarde e cruel, por ter demorado para admitir que te amava, por ter errado tanto... Por
favor, me perdoe.
Senti o amor se espalhar pelo meu coração, mas também senti receio. E se ele se arrependesse? Se
olhasse para trás e sentisse falta da vida que levava antes? Romeo sempre foi um homem livre, ele
nunca pensou em amar alguém ou se relacionar de verdade. E se ele acabasse me magoando no final?
Como eu poderia confiar depois de tudo o que havia acontecido?
— Eu quase posso ouvir as engrenagens do seu cérebro, bella. Fale comigo, eu serei
completamente sincero, juro.
— Tenho medo de você se arrepender — admiti baixinho.
— Me arrepender de quê?
— De ficar comigo — falei. — Eu te amo, Romeo. Eu te amo há tanto tempo, que não conseguiria
explicar como esse sentimento começou a surgir dentro do meu peito. Mesmo assim, eu lutei para
silenciá-lo, pois sabia que não era isso que você queria de mim. Agora, no entanto, você está aqui me
falando tudo isso logo depois de ter me magoado daquele jeito... Fico com medo de confiar em você
e acabar me machucando de novo.
— Isso não vai acontecer, bella. Eu não vou me arrepender e não vou te machucar.
— Como pode ter tanta certeza? Até ontem você não queria saber de compromisso, fugia de
qualquer relacionamento e não queria se apaixonar. Você sempre foi livre, vivia a sua vida como
queria, não tinha regras e amava transar com uma mulher diferente a cada noite. E se você acabar se
dando conta de que essa é a vida que realmente queria? E se você se arrepender?
— Até ontem eu era um homem com a mente, o corpo e o coração fechados para o amor. Eu
adorava o meu status de solteirão, me vangloriava da minha fama, mas, depois de te conhecer, eu
descobri que a minha vida era vazia e sem sentido. Você, bella, me mostrou o que é ser feliz de
verdade. A felicidade não está em viver uma vida sem regras, transando com uma mulher diferente a
cada noite. A felicidade está em amar e ser amado na mesma proporção. No momento em que eu te vi
pela primeira vez, o solteirão em mim adoeceu. Eu até lutei para o manter são e salvo, mas você foi
implacável, bella. Seu sorriso, seu olhar, seu jeito de ser, seu cuidado e carinho, seu corpo
maravilhoso... Tudo isso foi responsável por colocar o solteirão em mim na UTI e depois em um
caixão.
— Romeo, que horror! — Eu acabei rindo mesmo sem querer e ele me acompanhou.
— Estou falando a verdade. A prova disso foi que reneguei o meu estilo de vida para ter ao menos
um pouco de você. Não percebi de imediato, mas, no momento em que decidi que queria ficar apenas
com você, eu assinei o meu próprio atestado de óbito. Ali eu me entreguei completamente e nunca,
em momento algum, me arrependi da minha decisão ou senti vontade de voltar à minha antiga vida.
Por que acha que isso vai acontecer justamente agora, que admiti para mim mesmo e para o mundo
que você é a mulher que eu amo e com quem quero viver até os meus pulmões pararem de funcionar?
Deus do céu, acho que foram os meus pulmões que pararam de funcionar naquele instante. Ofeguei
baixinho, dando-me conta de que Romeo estava certo. Ainda assim, obriguei-me a ser racional e não
pensar apenas com o coração, o problema era que o meu lado racional também estava de quatro por
aquele homem. Sempre fui uma mulher romântica e sonhadora, sempre soube que, quando eu amasse
alguém, seria para valer, mas nunca pensei que esse sentimento seria tão intenso, tão avassalador.
Mesmo magoada, eu continuei a amar o Romeo. Agora, depois de ouvir tudo aquilo, de ter visto a
sinceridade em seus olhos e a intensidade em seu toque, eu percebi que o amava ainda mais.
— É a última chance que darei a você, Romeo.
Vi a surpresa em seus olhos. Romeo ficou tão assustado, que chegou a ficar branco.
— O quê?
— Eu disse que essa será a última chance que darei a você.
Ele abriu e fechou a boca duas vezes, levantando-se do sofá.
— Espera, você... Calma aí. — Ele colocou a mão no peito, como se tivesse tendo uma
taquicardia. — Você me perdoou?
— Sim — respondi segurando uma risada ao ver a sua reação.
— Está me dando mais uma chance?
— Sim. A última.
— Ai, Dio, estou passando mal.
Por um momento, pensei que ele estivesse brincando, mas quando vi o peso das suas pernas
cederem e ele literalmente cair na poltrona a minha frente, comecei a ficar preocupada e vi que era
verdade. Assustada, levantei-me e fui até ele, percebendo que estava mais pálido do que antes e que
suava frio.
— Romeo, pelo amor de Deus, o que você está sentindo?
— Acho que vou morrer — falou com falta de ar e seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu lutei
tanto pelo seu perdão... Dio, não posso morrer agora, era brincadeira, mata só o solteirão em mim,
não eu de verdade...
— Jesus Cristo, Romeo!
Corri até a minha cozinha e peguei um copo d’água para ele, enquanto ligava a minha chaleira
elétrica para fazer um chá de camomila. Voltei para sala com a xícara em uma mão e o copo d’água
em outra e vi Romeo falando com alguém no celular. Ele chorava.
— Sim, mamma, Alice me perdoou, mas acho que vou morrer... Meu coração está acelerado, estou
vendo tudo turvo...
Eu podia ouvir a voz desesperada da mamma Benvenuto do outro lado da linha.
— Romeo, não acredito que ligou para sua mãe, ela vai ficar preocupada! Tome esse chá enquanto
eu falo com ela — pedi, colocando a xícara na sua mão e tomando seu celular.
— Figlio, fala com a sua mamma! Eu vou morrer aqui, tesori...
— Francesca? Sou eu, Alice.
— Alice, figlia mia, grazie a Dio! O que está acontecendo? O que o Romeo tem?
Vi Romeo tomar o chá em um gole enorme e acariciei o seu ombro, sentindo-o ficar mais calmo.
— Acho que ele ficou muito emocionado, Francesca, mas eu dei um chá de camomila para ele e já
está se acalmando.
— Ah, figlia, você é tão boa para o meu bambino! Você o perdoou mesmo?
Acho que Romeo conseguiu ouvir a pergunta de sua mãe, pois levantou a cabeça e me olhou com
uma expectativa tão grande que pareceu roubar todo o oxigênio do meu apartamento.
— Sim, perdoei — respondi olhando em seus olhos.
— Ah, grazie, Dio, grazie! Figlia, como sonhei com esse momento! Sei que meu tesori errou
muito com você, mas ele tem um bom coração e te ama muito, mesmo sendo tão cabeça dura às vezes.
Tenho certeza que ele nunca mais vai te machucar, mas, se ele fizer alguma besteira de novo, nem que
seja mínima, eu mesma vou arrancar o couro dele com o galho da goiabeira aqui de casa!
— Mamma! — Romeo exclamou um pouco assustado.
— É isso mesmo, Romeo! Eu te criei para ser um principe! Se errar de novo, vai sofrer as
consequências. — Mamma Benvenuto estava mesmo muito brava e eu acabei rindo enquanto via os
olhos arregalados de Romeo. Soltando um suspiro, Francesca voltou a falar em um tom mais amável.
— Figlia, vou fazer um banquete essa semana para comemorarmos a volta de vocês! Ah, como estou
felice![29] Mal posso esperar para te dar um abraço, nunca mais vou deixar você sair da nossa
famiglia. Te amo como uma figlia, Alice.
Fiquei muito emocionada e Romeo percebeu, pois me puxou pela mão até me colocar sentada
sobre o seu colo.
— A senhora também é como uma mamma para mim. Muito obrigada por todo o seu carinho.
— Pois é assim que você vai me chamar a partir de agora, ouviu? Mamma! Se me chamar de
Francesca, vou ficar magoada.
— Pode deixar, mamma Benvenuto — ri.
— Agora vou deixar vocês dois a sós, sei que ainda têm muito o que conversar. Preciso contar à
famiglia que meus tesoris estão juntos novamente! Dio, che felicitá![30]
Francesca desligou e eu continuei com o sorriso bobo em meus lábios enquanto devolvia o celular
para Romeo.
— Acho que não existe alguém mais feliz do que a sua mãe nesse momento.
— Existe sim, eu! — Romeo disse, colocando meu cabelo atrás da orelha. — Isso está
acontecendo mesmo, bella? Eu não estou sonhando?
— Não, você não está sonhando, Sr. Benvenuto.
Um sorriso enorme se abriu no rosto de Romeo.
— Dio, não imagina como ansiei para ser chamado de Sr. Benvenuto de novo.
— Se não fosse um chefe liberal, seria chamado assim todos os dias.
— Espera, me deixe reformular a frase. Não imagina como ansiei para ser chamado de Sr.
Benvenuto por você de novo — falou, tocando de leve em meu rosto. — Obrigado por mais essa
chance, bella. Eu prometo que você não vai se arrepender. Vou fazer tudo certo dessa vez.
— Assim espero, pois não quero mais tomar um susto com você passando mal ao ganhar o meu
perdão.
Não imaginei que fosse possível, mas Romeo ficou com as bochechas vermelhas de vergonha. Ah,
meu Deus do céu!
— Fiquei emocionado, bella. Sonhei tanto com esse momento, mas não preparei meu corpo para
as reações fortes que eu iria sentir — ele murmurou envergonhado e eu achei aquilo adorável.
— Foi fofo.
— Foi?
— Sim. Foi muito fofo.
— Ai! — Ele colocou a mão no coração de novo e fez cara de dor. — Ai, ai, ai, estou passando
mal, socorroooo.
A gargalhada que soltei foi estrondosa e preencheu todo o meu apartamento, parecendo trazer a
vida de volta ao lugar onde eu morava, enquanto meu peito se enchia de alegria.
— Você é um idiota, Romeo Benvenuto! — brinquei, dando um tapinha em seu ombro.
— Um idiota que te ama muito e que nunca mais vai te perder. Vai ter que me aturar para sempre,
bella.
— Para sempre, é?
— Isso mesmo.
— Acho que eu posso fazer esse esforço — sorri, acariciando o seu rosto. Romeo respirou fundo e
seu olhar mudou, se tornou mais intenso, completamente apaixonado.
— Posso te beijar?
O fato de ele ter pedido, mesmo já tendo recebido o meu perdão e a chance que me pediu, fez o
meu coração explodir de amor.
— Sim — respondi em um sussurro.
Já escrevi inúmeras cenas de beijo. Em algumas, os personagens só sentiam tesão, em outras,
sentiam paixão. Então, tinha aquele beijo. Aquele em que a conexão realmente acontecia, em que a
alma se expandia e o coração se preenchia de amor. Eu nunca havia sentido algo assim até aquele
momento. Aquele foi o beijo, o momento em que tive certeza de que perdoar o Romeo não havia sido
em vão, pois o amor que eu sentia por ele e que ele sentia por mim não era passageiro. Ali, nos
conectamos, compartilhamos algo único e tão intenso, que lágrimas vieram aos meus olhos e a
felicidade preencheu cada cantinho da minha alma.
— Eu te amo, bella — ele sussurrou contra os meus lábios. — Vou te amar para sempre.
— Eu também vou te amar para sempre.
Capítulo 35
Eu estava vivendo a glória na Terra.
Era oficial, não havia no mundo um homem mais feliz do que eu. Não, no mundo não, na galáxia.
Eu sabia que voltar com a Alice faria com que eu voltasse a ser o Romeo centrado e com bom-humor
que sempre fui, mas não imaginava que eu me tornaria um homem diferente, mais intenso, que dava
valor a pequenas coisas. Poder simplesmente olhar para ela era algo que eu havia passado a
valorizar muito. Depois de quase um mês distante, ter a oportunidade ouvir a sua voz, sentir o seu
cheiro, tocar em seu corpo, me trazia uma emoção diferente, como se eu fosse o homem mais sortudo
do Planeta Terra.
Acho que Alice sentia como eu estava diferente, não porque eu queria que ela notasse, mas porque,
sem querer, eu acabava demonstrando. Ainda era o mesmo idiota com a boca suja com que ela estava
acostumada, mas também era mais romântico e suave, valorizava mais o tempo que passávamos
juntos, demonstrava os meus sentimentos sem um pingo de vergonha e admitia para qualquer um que
ela era a mulher da minha vida.
Conforme os meses foram passando, o nosso relacionamento se tornou mais sólido e senti que
havia reconquistado não só o seu amor, mas a sua confiança. No começo, Alice ainda agia como se
estivesse pisando em ovos e reconhecendo o terreno onde estava entrando. Era como se ela tivesse
medo de que eu tivesse alguma recaída e cometesse algum erro, mas fui lhe mostrando que eu havia
sido sincero quando prometi que não iria a decepcionar novamente. Com o tempo, a sua confiança em
mim foi se reestabelecendo até se tornar total e isso levou o nosso relacionamento a outro patamar.
Finalmente comecei a entender a necessidade que meu irmão nutriu de viver literalmente ao lado
da Paula. Não sei exatamente quando começou a acontecer, se foi assim que Alice voltou para mim
ou se foi com os meses que se passaram, mas comecei a perceber que eu não queria mais ir embora
do seu apartamento ou que ela fosse embora da minha casa depois de passar alguns dias comigo. Não
queria ter que me despedir ou ficar conversando apenas por mensagem, quando, na realidade, queria
que ela estivesse ao meu lado todos os dias. Foi então que aquela palavrinha surgiu na minha mente.
Aquela que eu tanto odiava antigamente, da qual eu fugia como o diabo corria da Cruz e que me
coçava só em ouvi-la ser mencionada em uma roda de conversa.
Casamento.
Foi a primeira vez na minha vida que essa palavra soou como um coral de anjos ao pé do meu
ouvido. Foi em um domingo de manhã, quando despertei e olhei Alice dormindo ao meu lado.
Naquele momento eu soube que queria que aquela cena se repetisse todos os dias da minha vida e
não algumas vezes por semana. Queria que Alice permanecesse ao meu lado. Queria que ela se
tornasse a minha esposa.
“Vou pedir Alice em casamento. Vocês podem me ajudar?”
Essa foi a primeira mensagem que enviei no grupo em que criei com meu irmão e minha cunhada
— que havia me perdoado quando Alice me perdoou. Depois disso, o nosso grupo ficou tão lotado
de mensagens que seria impossível reproduzi-las aqui. Passei para eles o plano que eu havia
arquitetado em minha mente e foi incrível ver o modo como ambos mergulharam de cabeça para me
ajudar a colocá-lo em prática. Não seria fácil, mas eu estava cheio de esperança para que desse tudo
certo.
Alice não desconfiou de nada. Eu tomava um cuidado redobrado ao conversar com Alexandre e
Paula pelo WhatsApp para que Alice não acabasse lendo alguma notificação sem querer e agia
normalmente ao lado dela, como se eu não estivesse prestes a ter um ataque cardíaco de tanta
ansiedade e nervosismo. Queria que o pedido fosse marcante e diferente, que combinasse com a
minha personalidade e também com a dela. Ou seja, precisava ser autêntico e romântico.
Corri atrás para que tudo saísse perfeito. Algumas partes foram mais difíceis do que outras, mas,
no final consegui deixar tudo do jeito que queria. A primeira parte do plano era fazer com que Alice
fosse ao Karaokê do Jô, pois era lá que tudo iria acontecer. Achei que ali seria o lugar perfeito, pois
foi onde nos reencontramos e para onde fomos tantas outras vezes, em diferentes momentos do nosso
relacionamento. Lucas, que era filho do Jô e gerente do lugar, aceitou o meu pedido na hora e deixou
o Karaokê à minha disposição. Optei por reservar todo o espaço em uma quinta-feira à noite, um dia
ideal para que o lugar ficasse fechado só para gente.
Para que minha bella não suspeitasse de nada, Paula inventou que havia ganhado uma promoção no
trabalho e que queria comemorar no Karaokê. Também disse que havia tirado o dia de folga e foi
com Alice para um SPA, onde passaram o dia todo e deixaram a mim e a Alexandre livres para que
pudéssemos arrumar tudo. Eu estava nervoso pra caramba, me cagando de medo de que ela recusasse
o meu pedido e ainda tinha que ouvir o meu irmão zoar com a minha cara, falando que aquela era a
sua vingança por eu não ter levado a sério o seu nervosismo quando pediu Paula em casamento no
resort. O filho da mãe me perturbava, mas estava se dedicando tanto quanto eu para que desse tudo
certo.
Convidei o Seu Osvaldo e a Dona Rosa, meus amigos — que ainda estavam choque com a notícia
de que eu realmente iria pedir Alice em casamento — o pessoal da empresa e toda a minha famiglia,
é claro, que ficou animadíssima em guardar aquele segredo e chegaram na hora combinada, ocupando
boa parte do lugar, que estava com uma decoração especial e cheias de fotos minha e de Alice
espalhadas em pontos estratégicos. Faltava apenas alguns minutos para que minha bella chegasse e eu
respirei fundo, tentando manter os meus nervos sob controle.
— Vai dar tudo certo, fratello — Alexandre disse ao meu lado, finalmente me tranquilizando.
— Será mesmo? Não exagerei muito na produção? — perguntei olhando através da cortina que
havíamos colocado no palco. Eu estava até mesmo usando um terno. Um terno!
— Claro que não, está tudo perfeito! Até eu quero me casar com você — o idiota disse, me
fazendo rir em meio a tensão. — Quem poderia imaginar que Romeo Benvenuto iria fazer isso tudo
para pedir uma mulher em casamento... O mundo não gira, ele capota mesmo.
— Não é qualquer mulher, é a minha bella — falei, sentindo meu celular vibrar no bolso. Era
Paula avisando que já estavam estacionando em frente ao Karaokê. — Elas chegaram, cara. Dio mio,
espero que eu não enfarte.
Depois de ter passado mal ao ouvir o perdão da Alice, eu achava que tudo era possível e morria
de medo de bater as botas cedo demais.
— Vai se preparar e eu cuido de tudo a partir daqui — Alexandre disse, me dando um abraço
rápido. — Arrasa, fratello. Você ensaiou pra caralho, não tem como nada sair errado.
Eu esperava que sim.
Alexandre saiu e ouvi minha famiglia ficar em silêncio enquanto via as luzes se apagarem até o
breu tomar conta de todo o lugar. Meu coração batia tão rápido que eu estava com medo de que ele
pulasse para fora da minha caixa torácica e meu sangue fazia pressão em meus ouvidos. Ao longe,
ouvi a voz da Alice e me posicionei em meu lugar no centro do palco.
— Paula, não estou conseguindo enxergar nada. O que está acontecendo? — Ouvi Alice questionar
e dei um “ok” para o operador de som atrás de mim.
Era agora.
A batida da música começou a soar e exatamente na hora em que comecei a cantar, as luzes se
acenderam e as cortinas se afastaram. Bem na minha frente estava uma Alice boquiaberta, com a mão
pressionada contra o peito.

Do I look lonely?
(Eu pareço solitário?)
I see the shadows of my face
(Eu vejo as sombras em meu rosto)
People have told me
(Pessoas me disseram)
I don’t look the same
(Que eu não pareço o mesmo)
Maybe I lost weight
(Talvez eu tenha perdido peso)
I’m playing hooky
(Estou deixando meus deveres de lado)
With the best of the best
(Para ficar com a melhor de todas)
Pull my heart out my chest
(Arranquei o meu coração do meu peito)
So that you can see it too
(Para que você consiga vê-lo também)

I’m walking the long road


(Estou trilhando o caminho mais longo)
Watching the sky fall
(Vendo o céu desabar)
The lace in your dress
(A renda em seu vestido)
Tangles my neck
(Entrelaça-se em meu pescoço)
How do I live?
(Como eu estou vivo?)

The death of a bachelor, oh, oh, oh


(A morte de um solteirão)
Letting the water fall
(Faz com que lágrimas caiam)
The death of a bachelor, oh, oh, oh
(A morte de um solteirão)
Seems so fitting for
(Parece bem apropriada)
Happily ever after, whooo
(Para um “felizes para sempre”)
How could I ask for more?
(O que mais eu poderia querer?)
Lifetime of laughter
(Uma vida de risos)
At the expense of the death of a bachelor
(Às custas da morte de um solteirão)

Desci do palco e puxei Alice pela mão para que colasse o corpo contra o meu. Seus olhos
brilhavam com lágrimas e eu também estava muito emocionado, mas não podia chorar naquele
momento. Dançando devagarinho com ela, continuei a cantar.

I’m cutting my mind off


(Parei de ficar pensando)
It feels like my heart is going to burst
(É como se meu coração fosse explodir)
Alone at a table for two
(Estou sozinho em uma mesa para dois)
And I just wanna be served
(E só quero ser servido)
And when you think of me
(E quando você pensa em mim)
Am I the best you’ve ever had?
(Eu sou melhor que você já teve?)
Share one more drink with me
(Beba mais um drinque comigo)
Smile even though you’re sad
(Sorria se estiver triste)[31]

Voltei ao refrão olhando em seus olhos, sabendo que ela estava entendendo tudo o que eu estava
cantando e não porque a tradução da música passava nos telões ou porque ela era fluente em inglês e,
sim, porque ela estava sentindo exatamente o que eu queria passar. Eu via em seus olhos o amor
transbordando, a alegria, a emoção e a surpresa. Era exatamente tudo o que eu queria que ela sentisse
ao ouvir a minha declaração tão autêntica de amor.
A rodopiei em meus braços e dancei agarradinho com ela, sussurrando a última parte ao pé do seu
ouvido enquanto a música acabava. Todo mundo bateu palmas, mas eu não consegui olhar para
qualquer outra pessoa que não fosse ela. Quando o silêncio voltou a reinar, eu me afastei um
pouquinho e, ainda olhando em seus olhos, comecei a falar.
— Bella, quando ouvi essa música pela primeira vez há algumas semanas, eu pensei: “cara, essa
canção foi escrita pra mim, não é possível”. Logicamente, ela não foi, mas o modo como ela fala
sobre mim e sobre nós dois dá a entender que inspirada na nossa história. Lembra que há alguns
meses eu disse que você havia matado o solteirão dentro de mim? — Ela assentiu toda emocionada e
com a ponta do nariz vermelha. — Cantei essa música para provar isso e o refrão se encaixa
perfeitamente no que eu penso. Após a morte de um solteirão, vem um “felizes para sempre” e eu
quero viver esse felizes para sempre ao seu lado, meu amor. Não há nada no mundo que me fará mais
feliz do que acordar todos os dias e ver você ao meu lado, do que saber que vou poder te encher o
saco com o meu amor e que, um dia, você vai carregar os nossos filhos no seu ventre. Quero tudo
isso com você, bella. Quero uma vida inteira ao seu lado.
Eu me ajoelhei. Cara, eu realmente me ajoelhei e tirei aquela caixinha de veludo de dentro do meu
bolso, que continha aquele tipo de anel. Alice chegou a dar um passo para trás ao ver o solitário de
diamante, muito chocada, como se só naquele momento, a ficha do que estava acontecendo estivesse
começando a cair. Limpando a garganta para expulsar o embargo de emoção, perguntei:
— Bella, aceita se casar comigo e passar o resto da sua vida ao lado desse ex-solteirão que é
completamente louco de amores por você?
— Ai, meu Deus — ela murmurou com os olhos arregalados, tão espantada que eu fiquei com
medo de que desmaiasse. — De verdade? Quer se casar de verdade comigo?
— Não há nada que eu queira mais.
— Ai, Jesus... É óbvio que eu aceito! Eu aceito mil vezes, aonde eu assino para deixar registrado?
Todo mundo começou a gritar, literalmente. Palavras em português e em italiano se misturavam
enquanto eu colocava o anel no dedo de Alice e a puxava para os meus braços para lhe dar um beijo
de tirar o fôlego. Minha noiva. Alice era minha noiva. Dio mio, nunca imaginei que tamanha
felicidade pudesse estar à minha espera. Se eu soubesse, teria corrido o mundo para conhecer essa
mulher antes.
— Eu não sei o que dizer, eu acho que estou em choque, eu não acredito que isso está acontecendo!
— Alice disse em meio às lágrimas e eu ri baixinho ao secar o seu rosto.
— Está acontecendo, bella. Você gostou?
— Se eu gostei? Meu Deus, nem mesmo nos meus livros já houve um pedido de casamento tão
lindo quanto esse! Eu te amo tanto, Romeo Benvenuto. Obrigada por isso.
— Eu te amo muito mais, bella — sussurrei antes de beijá-la mais uma vez. — Mas ainda tenho
uma outra surpresa para você. Olhe para trás.
Com o cenho franzido, Alice se virou e senti o exato momento em que ela ficou estática ao ver
quem estava na sua frente. Sua mãe se aproximou a passos lentos, com os olhos cheios de lágrimas
não derramadas. Não foi fácil conseguir o contato de Maria Cecília sem que Alice desconfiasse.
Precisei pegar seu celular escondido por alguns minutos para achar o contato da sua mãe e, depois
disso, lutei um pouco mais para que a sua mãe respondesse às minhas mensagens. Quando finalmente
consegui algum contato, expliquei a ela que eu era o namorado da sua filha, que estava prestes a
pedi-la em casamento e que Alice ficaria muito feliz se ela estivesse aqui nesse momento tão
importante.
De primeira ela disse que não poderia vir, pois tinha um cruzeiro marcado para a data em que eu
faria o pedido, no entanto, ao ler aquilo, senti o meu sangue subir à cabeça e, talvez, eu tenha me
esquecido de como ser cortês. Mandei a real para ela, disse que Alice sentia muito a sua falta, que
era uma mulher feliz, mas não completamente porque não tinha a mãe ao seu lado. Expliquei que,
apesar da distância, ela podia se esforçar um pouquinho mais para se fazer presente na vida da filha
e que não era tarde demais para tentar estreitar os laços entre as duas. Acho que a mulher ficou um
pouco chocada, pois só respondeu à minha mensagem dois dias depois, falando que havia cancelado
o cruzeiro e que chegaria ao Brasil um dia antes do pedido de noivado.
Fiquei com os dois pés atrás, não acreditei muito, até ela aparecer no Karaokê do Jô na hora
marcada. Maria Cecília era mais alta que Alice, seu cabelo tinha mechas claras e seu nariz um tanto
em pé me fez questionar se eu havia tomado a decisão certa em convidá-la. Agora, no entanto, ela
estava diferente. Emocionada, aproximou-se completamente de Alice e pegou as suas duas mãos.
— Minha filha... — Ela parecia não saber o que falar.
Apertando os ombros de Alice, perguntei baixinho em ouvido:
— Quer conversar com ela em particular, bella?
Alice só assentiu, como se também não tivesse palavras. Eu sentia que minha famiglia queria se
aproximar para nos abraçar e parabenizar, mas fiz um gesto para que esperassem e levei Alice e sua
mãe até o escritório que ficava nos fundos do Karaokê.
— Qualquer coisa é só me chamar, estarei aqui fora — falei e dei um beijo em Alice antes de me
afastar.
Fiquei com medo de que aquela conversa acabasse estragando o clima da nossa festa ou que Alice
saísse triste daquele escritório, mas me agarrei a esperança de que as duas poderiam se acertar.

Alice
Tantas emoções se acumulavam dentro de mim naquele momento, que fiquei olhando para minha
mãe durante minutos sem saber o que dizer. Ela também ficou me encarando como se estivesse
buscando palavras dentro do seu cérebro. Por fim, pigarreou meio sem jeito.
— Seu noivo, Romeo, me chamou para vir hoje — explicou e eu apenas assenti. — Ele... Ele me
falou algumas coisas que, no começo, me deixaram com raiva, mas, depois, me fizeram enxergar
como eu vinha sendo relapsa e cruel com você.
— O que ele disse?
— Disse o suficiente para me fazer perceber que eu venho uma mulher egoísta e uma mãe terrível.
E você não merecia isso de mim, Alice, pelo contrário. Você sempre foi uma boa filha, sempre
demonstrou o seu amor por mim e eu ignorei tudo isso por causa de dinheiro. — Sua sinceridade foi
brutal e eu precisei me sentar, se não, iria acabar caindo. Ela fez o mesmo se sentou ao meu lado. —
Quando me casei com Donovan, eu implorei para que você se mudasse comigo para a Austrália,
lembra?
— Sim.
— Eu sei que não fui a mãe mais amorosa do mundo, mas queria ter você ao meu lado naquela
nova fase da minha vida. Quando você negou, eu me fechei, eu acho. Entendi a sua recusa como se
você quisesse cortar os laços comigo e me tornei mais dura, ao ponto de perder momentos
importantes da sua vida por conta do meu egoísmo. Errei muito, Alice, de verdade, mas foi porque eu
olhei apenas o meu lado e nunca enxerguei o seu. Não imaginava o quanto você sofria com a minha
ausência, até o Romeo ter me dito tudo aquilo por mensagem. As palavras dele serviram como um
tapa na minha cara e demorei alguns dias para me recuperar e encarar a realidade de que eu era a
culpada por você não estar cem por cento feliz. Foi por isso vim aqui, filha, não só para participar
desse momento tão importante da sua vida, mas para pedir perdão por toda dor que lhe causei.
Foi a primeira vez em muitos anos que enxerguei a minha mãe de verdade na minha frente. Não a
pessoa que ela havia se tornado depois do casamento, mas a minha mãe, aquela mulher que, mesmo
sendo um tanto dura, me criou com dedicação e me deu carinho da forma que sabia. Ela não era
perfeita, mas era a minha mãe e tê-la ali na minha frente, me pedindo perdão, era muito mais do que
eu havia sonhado um dia. Não tinha a pretensão de um dia ouvir aquelas palavras saindo da sua boca,
mas o fato de ela tê-las dito me provava que era daquilo que eu precisava. Eu precisava apagar
aquela mágoa do meu peito e perdoar a minha mãe para ser feliz de verdade naquela nova fase da
minha vida.
— Eu perdoo você, mãe. De coração.
— Mesmo? — O queixo dela tremeu e algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto, me fazendo ficar
emocionada também.
— Sim. Eu amo você, mãe. Não neguei o seu convite para morar na Austrália porque queria cortar
os nossos laços e, sim, porque eu precisava seguir com a minha vida aqui no Brasil e ir atrás dos
meus sonhos. Sei que você nunca apoiou a minha profissão, mas...
— Eu morro de orgulho de você. Sei que já disse isso antes, mas não da forma que deveria. No
começo eu não te apoiei, porque você escolheu algo muito difícil, Alice, mas quando vi o seu
sucesso, entendi o porquê de você ter batido o pé e seguido com o seu sonho. Eu deveria ter
arrancado esse orgulho horrível do meu peito e ter vindo ao Brasil para acompanhar o seu sucesso,
os seus lançamentos, mas fui muito idiota, filha. A partir de agora, isso não vai mais acontecer.
Estarei presente em todos os momentos, e a distância e o meu egoísmo não vão mais nos separar.
— Promete?
— Eu prometo, filha — disse, me puxando para um abraço. — Eu te amo muito, querida, muito
mesmo e estou muito feliz por você ter se tornado essa mulher forte e independente e que tenha
encontrado o amor da sua vida, que, de verdade, é um homem lindo de morrer e que tem um caráter
ímpar. — Rimos um pouco em meio às lágrimas e nos afastamos. — Ele te ama de verdade.
— Eu também o amo muito, mãe.
— Espero que você sejam muito, muito felizes.
— Nós seremos.
Saímos do escritório minutos depois, abraçadas e sorrindo, tão relaxadas como nunca imaginei ser
possível. No final do corredor, encontrei aquele que tinha sido o responsável por esse encontro tão
especial, que eu nem sabia que precisava tanto para poder seguir de verdade com a minha vida.
Romeo viu em nossas expressões que tínhamos nos acertado e sorriu, aproximando-se. Eu estava tão
tocada pelos sentimentos que me envolviam, que nem entendi o que minha mãe disse a ele antes de se
afastar e nos deixar sozinhos. Ao ver o meu estado, ele se aproximou e tocou o meu rosto com
carinho.
— Como você está se sentindo?
— Quer mesmo saber?
— Com certeza.
— Estou sentindo que Deus fez questão de separar alguns minutinhos do seu tempo precioso para
poder colocar um homem tão especial em meu caminho. E eu só posso agradecer a Ele por isso, pois
nada do que eu diga ou faça, vai chegar perto do tamanho da gratidão que sinto por Ele ter colocado
você em minha vida.
Os olhos de Romeo se encheram de lágrimas enquanto ele tomava meu rosto em suas mãos.
— Ah, bella, eu não fiz nada demais...
— Fez sim. Você planejou tudo isso, pensou em cada detalhe, cantou para mim, dançou comigo,
convidou a minha mãe e ainda disse umas verdades para que ela caísse na real... — Acabei rindo e
ele riu também. — Você me pediu em casamento, Romeo. Em casamento. Tem noção do que é isso?
Quando te conheci e quando percebi que te amava, não conseguia visualizar esse momento, porque
você era como uma tela em branco na minha frente, ganhando cor a cada gesto inocente que fazia e
que me enchia com a sua intensidade. Ainda assim, esse momento, o momento do pedido de
casamento, era algo que eu não imaginava acontecendo, porque, mesmo dizendo que me amava e que
queria viver comigo para sempre, você ainda era Romeo Benvenuto, o homem que não queria
compromisso com ninguém.
— Você disse uma coisa certa, eu realmente não queria compromisso com ninguém, bella. Eu
queria um compromisso com você. Eu quero viver para sempre ao seu lado, como seu amigo, seu
namorado, seu esposo, seu amante — ele deu aquele sorriso safado que eu tanto amava. — Como o
homem que vai te ajudar a realizar todos os seus sonhos, que vai estar ao seu lado em todos os
momentos, que vai ser o pai dos seus filhos e o avô dos seus netos. Não prometo ser perfeito, mas
prometo fazer de tudo para ser o homem que você espera que eu seja.
— Você já é — falei com toda a emoção que me envolvia naquele momento. Colando meu corpo
ao de Romeo, fiquei na ponta dos pés e toquei seus lábios com os meus. — Eu te amo muito, Sr.
Benvenuto.
— Eu te amo mais, futura Sra. Benvenuto.
Capítulo 36
Oito meses depois...
— Acho que eu vou desmaiar... — falei para os meus irmãos. Dante riu e apertou o meu ombro.
— Eu lembro quando você riu de mim quando eu falei isso há muitos anos.
— Engraçado, também lembro quando ele fez a mesma coisa comigo há dois meses — Alexandre
completou.
— Calem a boca. É melhor zoar do que ser zoado — falei, querendo tirar a gravata.
— Eu acho o mesmo. Concorda, Dante?
— Com certeza. — Os dois riram.
— Dante, como irmão mais velho, você deveria estar dando o exemplo ao Alexandre para me
tranquilizar!
— Não, fratello, como o mais velho, eu tenho que liderar a vingança contra você — ele disse. —
Esse é o nosso momento, não podemos perder essa chance.
— Ih, tadinho, como está pálido! Está vendo, Dante?
— Sim, ele está mesmo. Será que a pressão abaixou?
Dio mio, como estava odiando meus irmãos naquele momento! Sim, eu tinha zoado os dois no dia
do casamento de ambos, mas nunca pensei que era assim que eles se sentiam. Parecia que o meu
coração ia sair pela boca e eu não parava de suar frio.
— E se ela desistir? — perguntei baixinho, arregalando os olhos. — E se ela perceber que eu sou
um idiota?
— Você é um idiota, mas ela te ama, fratello. Não vai desistir — Alexandre disse.
— Se a Paula não desistiu do Alexandre, não vai ser a Alice que vai desistir de você — Dante
completou.
— Pois é — Alexandre concordou, mas logo franziu o cenho. — Ei, como assim? Seu babaca! E
eu concordando com essa merda!
Só os meus irmãos para me fazerem rir naquele momento em que eu sentia como se duas mãos
apertassem as minhas bolas e outras duas estivessem prestes a arrancar o meu coração. Só para
deixar claro, estávamos tendo aquela conversa no altar, enquanto os convidados se acomodavam em
seus lugares para poderem assistir à cerimônia. Faltava exatamente cinco minutos para Alice
caminhar em minha direção e se tornar minha esposa. Eu esperava que ela não se atrasasse, pois eu
não aguentaria mais esperar.
— Ah, figlio, estou tão emocionada! Finalmente meu tesori vai se casar... Como sonhei com esse
momento — mamma disse ao me abraçar.
— A senhora pediu tanto à Dio, que Ele ouviu as suas preces.
— Pedi mesmo. Agora estou pedindo para que você e Alice sejam muito felizes.
— Nós seremos, mamma. Tenho certeza disso.
A cerimonialista se aproximou e pediu para que nos acomodássemos em nossos lugares e eu
entendi o que aquilo queria dizer. Alice tinha chegado. Ela não havia desistido. O momento em que
ela apareceu e veio caminhando em minha direção me fez questionar sobre o meu passado. Como
pude ser tão idiota ao ponto de, um dia, ter desejado não me casar? Por Dio, só em vê-la daquela
forma, vestida de noiva, segurando um buquê e caminhando para os meus braços já me dava vontade
de nascer de novo só para passar por esse momento novamente. Nada no mundo foi tão lindo ou
intenso antes.
Eu praticamente bebi a minha bella e quando ela chegou perto o suficiente para que eu descesse do
altar e fosse em sua direção sem parecer um desesperado, eu deixei que as lágrimas em meus olhos
começassem a descer. Caralho, era surreal aquela sensação! Eu queria gritar para o mundo que
aquela era a minha futura esposa e, ao mesmo tempo, queria fugir com ela em meus braços para que
eu pudesse manter aquela felicidade apenas entre nós dois.
— Dio, bella... Eu nem sei o que dizer. Você está maravilhosa.
Os raios do sol iluminavam a renda do seu vestido e faziam com que seus olhos brilhassem. Ela
nunca esteve tão linda.
— Você também está maravilhoso nesse terno, Sr. Benvenuto.
— Me chame assim de novo e eu serei obrigado a te beijar antes da hora.
Alice riu e eu a levei em direção ao altar. A cerimônia foi rápida e bonita, do jeito que pedimos e,
na hora dos votos, fiz questão de olhar nos olhos dela e dizer exatamente tudo o que ela já sabia e
mais pouco. Dizer que amava a Alice era algo que já fazia parte de mim. Eu dizia isso em seu ouvido
quando fazíamos amor, por mensagem, por telefonema, quando eu estava na cozinha fazendo algo
para comermos e ela se encarregava de secar a garrafa de vinho, quando víamos algum filme juntos...
Mas dizer ali, no altar, com ela se tornando a minha esposa, foi diferente. Foi mais especial, único,
um momento que eu levaria para sempre dentro do meu coração.
Ela também se declarou e eu confesso que chorei. Sempre ria quando o noivo chorava, mas ali
estava eu, tendo que secar as minhas lágrimas para poder enxergar melhor e aproveitando para secar
as lágrimas de Alice para que sua maquiagem não borrasse.
— Pode vir as alianças.
Lá do começo do tapete vermelho, veio ele. O meu melhor amigo, meu companheiro de todas as
horas, aquele me ouviu falar mais sobre Alice do que qualquer outra pessoa e que ficou com raiva de
mim quando a magoei. Vestido em um terninho e carregando a cestinha com as alianças na boca, Bob
praticamente desfilou até chegar na gente e eu me abaixei para poder falar com ele. Nem preciso
dizer que estava com os olhos cheios de lágrimas de novo.
— Conseguimos, garotão. Alice é todinha nossa agora — falei e todo mundo riu, enquanto Bob
latia, como se estivesse concordando. — Obrigado por tudo, principalmente por ter derrubado a
Alice no calçadão. Não foi a forma mais sútil de colocá-la na minha vida, mas, com certeza, foi a
mais especial de todas. Eu amo você.
Na hora de trocar as alianças, nossas mãos estavam trêmulas e isso demonstrava como estávamos
em sincronia, emocionados, nervosos e cheios de tanto amor que, cara, eu juro, eu podia sentir o meu
coração prestes a explodir dentro do peito.
— Pode beijar a noiva.
Esse foi o melhor momento. Beijar Alice era como ser preenchido por amor, mas aquele beijo foi
diferente. Eu estava beijando a minha esposa. Sinceramente? Nada no mundo parecia ser melhor do
que isso para mim. Como pude acreditar que a vida que eu levava antes era perfeita? Essa vida era
perfeita.
— Eu amo você, Sr. Benvenuto.
— Eu te amo mais, Sra. Benvenuto. Vou te amar para sempre.
— Para sempre.
Epílogo
Dois anos depois...
Não havia no mundo uma mulher mais linda do que a minha esposa e eu podia provar. Sentado na
minha cama, eu a observava em silêncio enquanto ela tirava os grampos do cabelo e os brincos das
orelhas. Suas pernas estavam longas por causa da sandália de salto alto e eu subi meu olhar
lentamente pela fenda da sua coxa, sentindo um tesão estrondoso, até chegar em sua barriga
redondinha e os seios cheios de leite sob o decote do vestido. A gravidez só fazia com que ela
resplandecesse ainda mais em sua beleza extraordinária.
— Amor, pode me ajudar com o zíper do vestido? — ela pediu, já ficando de costas para mim.
Claro que foi um prazer me levantar da cama para poder despi-la. Eu ainda estava emocionado
com a noite de hoje, mais orgulhoso da minha esposa do que nunca, pois o filme de “Inflamável
Coração” havia acabado de ser lançado e estava sensacional. A pré-estreia havia acontecido naquela
noite e o evento foi incrível junto com os atores, o diretor, toda a equipe, nossa famiglia e muitos fãs.
Alice parecia estar nas nuvens e não era para ser diferente, ela merecia todo aquele sucesso e os
outros que estavam por vir.
— Quer ajuda com a calcinha também? E o sutiã? — perguntei já desabotoando-o nas suas costas.
Pude sentir a pele de Alice ficar arrepiada enquanto descia meus lábios pelo seu pescoço. — Fiquei
de pau duro a noite toda enquanto te via desfilar nesse vestido com essa fenda maravilhosa.
— Meu Deus, Romeo! — Ela riu e se virou para mim, começando a desabotoar a minha calça. Eu
já havia me livrado das roupas de cima há muito tempo. — Você não tem pena de ficar falando isso
para uma mulher grávida? Meus hormônios estão à flor da pele!
— Eu estou aqui para aflorá-los e depois acalmá-los, bella — falei, tocando em seu mamilo
durinho. — Dio mio, seus peitos estão fantásticos! Por que não te engravidamos antes?
— Porque tudo tem um tempo certo para acontecer. Por exemplo, agora é o momento perfeito para
que você me leve para cama e faça amor comigo.
— Seu desejo é uma ordem, Sra. Benvenuto.
A tomando em meus braços, deitei seu corpo sobre a cama e gastei as próximas horas amando cada
pedacinho do corpo da minha bella moglie.[32]

No dia seguinte, estávamos de preguiça no sofá, assistindo à um filme agarradinhos. A história era
engraçada, uma comédia romântica — gênero favorito da Alice — entre um adolescente aspirante a
escritor e uma jovem que quer ser pianista. Eles se apaixonam à primeira vista e o protagonista usa a
menina como inspiração para criar a heroína do seu livro. O filme era ótimo, eu não podia negar,
porém, parei de prestar atenção quando uma memória veio à minha mente e uma ideia surgiu.
— Bella, lembra daquele jantar que tivemos com a sua editora e o almofadinha?
Alice riu e olhou para mim.
— Como eu poderia esquecer? Você me seduziu até me arrastar para o banheiro, seu safado!
— Nossa, foi a melhor parte daquele jantar, sem dúvida — ri, acariciando a sua barriga. — Mas
não é sobre isso que quero falar, se não vou querer repetir o que fizemos e vou esquecer a ideia que
acabei de ter.
— Ok, então, me explique porque está trazendo esse jantar à tona.
— Eu lembro que a Mônica disse que a forma como nos conhecemos daria um livro. Na época eu
até brinquei que queria escrever, mas esqueci o assunto. Agora, assistindo a esse filme, eu me
lembrei e pensei, “por que não?”.
— Por que não o quê?
— Por que não escrever o livro sobre a nossa história? Fala sério, seria perfeito!
Talvez eu estivesse um pouquinho animado demais e Alice percebeu, pois pareceu se entusiasmar
comigo.
— Você vai escrever?
— Sim! Sei que não sou escritor e que deve ser difícil pra caramba escrever um livro, mas, para a
minha sorte, eu sou casado com a melhor escritora do mundo — falei, me inclinando para beijar os
seus lábios. — Você me ajuda?
— Mas é óbvio que sim!
— De verdade?
— Claro! Quando começamos?
— Pode ser agora?
Alice assentiu quase pulando no sofá e eu corri até o escritório para poder pegar o notebook.
Quando voltei, Bob já havia tomado o meu lugar e eu o empurrei com a bunda até ele ir para o outro
lado e deitar com a cabeça no colo da Alice.
— Espera, antes de mais nada — Alice disse ao me ver abrir o Word. — Já pensou em um título?
— Lógico!
— E qual será?
— “A Morte de um Solteirão”.
— Ai, meu Deus — Alice riu e colocou a mão na barriga. — Bem apropriado.
Um tanto nervoso, estalei os dedos e respirei fundo antes começar a escrever a nossa história que,
eu sabia, seria um tremendo sucesso.

“Prefácio ou prólogo
(ainda não sei exatamente qual dos dois é o certo)
Por mim mesmo, Romeo Benvenuto

Corajoso aventureiro que vai embarcar nessa loucura comigo, primeiramente, preciso deixar
claro que estou escrevendo isso em tempo real...”
Cena Bônus
Trecho de Inflamável Coração
James Slater
Eu sabia que não deveria estar naquele lugar. Depois de tudo o que eu havia passado, dos meses
trancado naquela clínica para me recuperar, como poderia estar ali, em uma balada, onde a bebida
rolava solta e me deixava louco para tomar uma dose?
Uma dose.
Apenas uma dose e vou embora.
Caminhei até o bar enfiando um pouco mais o boné em minha cabeça. Sabia que seria difícil que
alguém me reconhecesse com o cabelo bem maior do que eu costumava usar, as roupas largas e a
barba crescida, mas todo cuidado era pouco. Olhei para o bar iluminado com luzes de led e senti
minha boca se encher d’água ao ver vitrine de bebidas. Vodca. Era exatamente daquilo que eu
precisava.
— Ai, droga!
Uma mulher se esbarrou em mim com tanta força, que eu quase caí para trás. Atrás dela, um cara
foi empurrado e as costas dele bateram nas costas dela, fazendo com que ela caísse em meus braços.
Por conta da escuridão, quase não consegui olhar os seus traços, mas isso não me impediu de tirá-la
rapidamente dali antes que a briga começasse.
— Você está bem? — Gritei em seu ouvido, vendo as luzes coloridas iluminarem o seu rosto
assustado. Ela olhava para briga completamente chocada, como se aquele tipo de situação não fosse
comum em boates, mesmo as mais caras de Nova York. Ao perceber que não havia me ouvido,
perguntei de novo: — Ei, você está bem? O babaca te machucou?
Ela piscou duas vezes e me olhou, franzindo o cenho. Droga, ela havia me reconhecido, tinha
certeza.
— Acho que eu vou vomitar. — Foi o que ela disse antes de se abaixar e vomitar em cima dos
meus tênis de setecentos dólares.
Eu olhei para aquilo atônito por alguns segundos, antes de dar um pulo para trás e afastar o cabelo
do seu rosto. Infelizmente, eu sabia muito bem o que era aquilo, vomitar depois de ter enchido a cara.
A mulher se apoiou em uma mesa pequena e alta que estava perto de nós dois e respirou fundo,
passando as costas da mão pela boca.
— Está melhor? — perguntei e ela me olhou com lágrimas escorrendo pelas bochechas. Merda. —
Se você não me falar o que está sentindo, eu não vou poder te ajudar.
— Eu quero ir para minha casa. Eu nem queria ter vindo pra essa merda de lugar! Eu odeio música
eletrônica-ca — ela soluçou no final e eu fiquei sem saber o que fazer.
— Você veio com alguém?
— Sim, com a minha funcionária, mas ela beijou um cara e foi embora com ele. Não acredito que
ela me deixou aqui sozinha e bêbada! — Disse, limpando as bochechas. — Eu só bebi dois drinques,
dois! Como uma pessoa ficar bêbada com dois drinques?
Era algo que eu também queria saber. A menção de bebida alcoólica fez as palmas das minhas
mãos suarem, mas me controlei e respirei fundo.
“Pense, James. Você sabia que não era para estar aqui e essa mulher entrou em seu caminho
justamente para te impedir de cometer uma loucura! Leve-a embora e vá para a sua casa. Chega
de loucura por hoje!”, uma voz soou com severidade em minha mente.
— Venha comigo, vou te levar para casa.
— O quê? Não, eu estou bêbada, mas não ao ponto de ir embora com um homem que eu não
conheço.
Olhei para ela um pouco surpreso. Ali estava uma atitude que eu não esperava. Normalmente, as
mulheres se jogavam completamente aos meus pés. Mas, então, me lembrei de que ela não havia me
reconhecido.
— Vou te colocar em um Uber então, melhor assim?
Meio desconfiada, a moça assentiu e passamos por entre os corpos suados e o cheiro forte de
cigarro. Do lado de fora, o vento frio finalmente refrescou os meus pulmões e a mulher fechou os
olhos, parecendo apreciar a temperatura mais baixa. Ao longe, vi Paul, meu segurança, se
aproximando. Ele era discreto em meio a multidão, mas um armário quando estávamos na rua. Por
sorte, àquela hora da madrugada quem estava caminhando por ali estava bêbado demais para me
reconhecer. Finalmente, a mulher abriu os olhos e me encarou.
— Pode deixar que eu chamo o Uber — falou, já pegando o celular da bolsa. Fiquei olhando para
ela e esperando pelo escândalo que faria quando seu cérebro inebriado pelo álcool me reconhecesse,
mas os minutos se passaram e nada aconteceu. Depois de digitar o endereço, ela disse: — Está a dois
minutos daqui.
Ela voltou a me encarar e foi a minha vez de gravar cada detalhe do seu rosto em minha mente. Sua
pele em tom oliva e os olhos castanho-escuros faziam contraste com o vestido branco que ela usava.
O tecido parecia abraçar completamente o seu corpo bem desenhado e, por um momento, eu esqueci
de tudo. Esqueci o meu nome, aonde estava e até mesmo a necessidade que estava sentindo quando
resolvi entrar nessa boate. Caralho, que mulher linda!
— Olha, está chegando! — Ela disse, apontando para o celular e cambaleando um pouco. Precisei
segurar em seu cotovelo para firmá-la.
— Qual é o seu nome?
— Ella — disse, focando aqueles olhos intensos e escuros em mim. — E o seu?
— Não está me reconhecendo? — perguntei só para ter certeza. Seus olhos desceram e subiram
pelo meu corpo.
— Não. Deveria?
Inacreditável.
— James. — Ela me olhou sem entender e eu sorri. — O meu nome é James.
Ela assentiu e um carro azul-escuro parou rente ao meio-fio.
— Meu Uber chegou! Obrigada, James, você foi muito gentil.
Gentil. Aí estava um elogio que eu nunca havia recebido antes, muito menos de uma mulher.
— De nada. Tenha uma boa noite, Ella.
— Você também.
Ela entrou no carro e eu olhei para Paul.
— Vamos segui-los, quero ter certeza de que ela vai chegar em segurança.
— Sim, garoto.
Entramos em meu sedan preto e Paul dirigiu com calma, seguindo disfarçadamente o carro azul.
Cerca de dez minutos depois, o Uber parou em frente à uma confeitaria chamada Ella’s Bakery e Ella
saiu, indo em direção a porta que levava ao prédio residencial de tijolinhos que ficava em cima da
confeitaria. Precisei de apenas um segundo para juntar dois mais dois na minha mente e entender que
aquela era sua confeitaria.
Sorri.
Já sabia como iria encontrar com Ella Baker novamente.
Agradecimentos
Deus do céu, chegamos até aqui! E quando falo “chegamos” é porque estou incluindo não só o
Romeo, meu parceiro nessa longa jornada, como todos vocês!
Primeiramente, não posso deixar de agradecer a Deus. Se não fosse por Ele, nada disso estaria
acontecendo. Obrigada por todas as inspirações, por ter estado ao meu lado sempre, por ter me
mostrado que esse é o caminho que devo seguir.
Meus pais e minha família, obrigada por todo o apoio, por estarem ao meu lado não só nas
vitórias, mas em todos os momentos. Amo vocês!
Luana, nem preciso dizer nada. Você sempre está aqui, não só porque é minha melhor amiga, mas
porque é aquela que me cobra capítulos, que me perturba quando o livro acaba e que me apoia em
todos os sentidos. Te amo!
Aos meus leitores, o que seria de mim sem vocês? Romeo e eu estamos tão felizes por termos
vocês ao nosso lado! Obrigada por todos os comentários, os incentivos, por todas as emoções que
transbordaram em cada capítulo. Vocês são maravilhosos e tudo isso é para vocês!
Meninas do WhatsApp, só tenho algo a dizer: obrigada, obrigada, obrigada!
E para você que chegou até aqui, muito obrigada! Espero que tenha rido e se emocionado com esse
ex-solteirão maravilhoso.
Um beijo enorme e até a próxima!
[1]1 Homem
[2] Tia
[3] Tesouros
[4] Mulher
[5] Primo
[6] Avó
[7] Irmão
[8] Sou seu irmão
[9] Pelo amor de Deus
[10] Linda
[11] Por favor
[12] Que porra!
[13] Obrigada
[14] Filho, que princesa linda!
[15] Domingo, Alexandre Pires
[16] Que mulher, meu Deus!
[17] Namorada nota 10, Bokaloka
[18] Irmã
[19] Minha querida
[20] Mulher de negócios
[21] Pai
[22] Que mulher linda!
[23] Irmãos em Espanhol
[24] Criança
[25] Que se chama amor, Só pra Contrariar
[26] Deus, por quê? Por quê?
[27] Erro meu, Alexandre Pires
[28] A chave é o seu perdão, Alexandre Pires
[29] Feliz
[30] Deus, que felicidade!
[31] Death of a Bachelor, Panic! at the Disco
[32] Linda esposa

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