Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4: Lily
Capítulo 5: Lily
Capítulo 6: Yuri
Capítulo 7: Lily
Capítulo 8: Yuri
Capítulo 9: Lily
Capítulo 10: Lily
Capítulo 11: Lily
Capítulo 12: Yuri
Capítulo 13: Yuri
Capítulo 14: Lily
Capítulo 15: Yuri
Capítulo 16: Yuri
Capítulo 17: Lily
Capítulo 18: Yuri
Capítulo 19: Lily
Capítulo 20: Sean
Capítulo 21: Yuri
Capítulo 22: Sean
Capítulo 23: Sean
Capítulo 24: Yuri
Capítulo 25: Lily
Capítulo 26: Yuri
Capítulo 27: Lily
Capítulo 28: Yuri
Capítulo 29: Lily
Capítulo 30: Sean
Capítulo 31: Yuri
Capítulo 32: Lily
Capítulo 33: Yuri
Capítulo 34: Lily
Capítulo 35: Yuri
Capítulo 36: Lily
Capítulo 37: Yuri
Capítulo 38: Yuri
Epílogo: Lily
Recado da autora:
Prólogo
Lily,
Aqui em casa vai ter uma festinha com umas
meninas do balé, a gente tava querendo se enturmar, acho
que vai ser perfeito!
Vai ser umas 20 horas!
Não precisa trazer nada.
Portugal?
Até onde conheço Lily, ela nunca teve essas
reações intempestivas, mas, como Amanda queria um
pouco de carinho da amiga, não fiz muito caso, embora
achasse estranho, ela afirmou que tinha passado e pegado
algumas roupas, mas não sei... uma sensação incômoda
me percorre, porém não quero cerceá-la e seria bom visitar
um outro país, enquanto espera a angústia dos resultados
da Royal.
Decidi naquele final de semana chamar Moacir,
Judy e Carl para nos encontrar em casa, eu queria dizer
sobre o andamento do livro, eles disseram que se eu
tirasse a parte de Desiré ficaria incompleto, eu e Carl
discordávamos: dois contra dois, precisávamos do voto de
Minerva ali.
Sugar não estar em casa era mais que propício.
Pedi a Dolores que fizesse algum quitute, ela
preparou uma bela bacia de Paella, transferi o dinheiro
para ela fazer e comprar os ingredientes: açafrão, arroz
bem soltinho, mariscos, camarão e especiarias, só um
toque de pimenta e a boa mão de Dolores iria ficar divino,
pedi que ela congelasse uma parte, iria pedir para Lily
provar a paella da Dolores... depois de curtir algumas horas
ou descongelar o sabor ficava ainda mais marcante.
Judy ficou encarregada de levar um vinho, Moa e
Carl de levar alguma outra bebida, o que seria mais que
bem-vindo. O jornal acaba lá pelas sete e eu já me adianto,
correndo os olhos pela pauta do outro dia, Carl tenta me
relaxar, dizendo que já estávamos adiantados para a
semana e se despede para ir em casa tomar banho antes
de ir para minha casa.
Mas, eu não quero relaxar... e retomar os
compromissos acerca do livro me deixavam mais elétrico:
Tim Jones não estava muito calmo?
Mandei uma mensagem para Lily, que retornou
com um emoji, putz... aquilo me quebra... eu sinto tanto a
sua falta, Sugar, essa casa não é o mesmo sem você...
meu TOC perfeito sente a falta da sua bagunça
organizada, do seu cheiro.
Vou até o quarto dela, querendo senti-la, passando
as mãos pelos lençóis arrumados por Dolores, mas que
ainda emanavam um pouco do tutti-frutti... até a campainha
ressoar vaga e eu atender Carl, que parece meio
preocupado.
— Ela não está aí mesmo, né?
Faço que não com a cabeça e peço para que ele
entre, Carl entra afobado, carregando uma garrafa em sua
mão encoberta num papel de conveniência, tira o
sobretudo surrado e coloca na cadeira da cozinha, sem
cerimônia:
— Vai nevar, Yuri...
Concordo com a cabeça, indo até uma mesa e
pegando um pouco de gim pra mim e oferecendo a ele, que
exclama:
— Hm... A paella da Dolores...
Brindamos.
— Ao livro e ao Pulitzer que está por vir... É o
sonho de todo jornalista, Yuri... e você vai conseguir... —
ele eleva a bebida e se senta no sofá, sento ao seu lado e
afirmo:
— Quero mesmo ficar com ela... com a Lily e não
quero mencionar a mãe de Sean... — abaixo a cabeça,
colocando a bebida entre minhas mãos e repouso meus
cotovelos nas minhas coxas, olhando para o chão. — Não
quero que ela saiba das merdas que Tim Jones pode trazer
à tona...
— Lembra do ditado chinês? — parece que Carl
não ouviu nada do que eu disse.
Eu o olho intrigado, quando o vejo sorrindo para
mim, terminando a bebida, e apertando o meu ombro.
— Eu sou gay, Yuri... imagina o quanto eu não tive
que me esconder... — ele não deixa margem para uma
palavra minha, nada...
Eu nunca saberia isso dele, minha concentração
sai do meu mundo para entrar no de Carl, que parece
divagar na memória:
— Eu tive um relacionamento na China com um
cineasta o que me contou o ditado... — ele suspira,
olhando para o copo vazio, deixando na mesinha de centro
e desabotoando o primeiro botão de sua camisa social,
cogitei abaixar um pouco a calefação, porque ele estava
suando às bicas. — Foi mais ou menos em 2010 numa
amostra de curta metragem lá na China, que eu conheci
ele... Yuri, ele era muito, muito, muito talentoso... um
cineasta de mão cheia, depois de quase um ano de
relacionamento, eu aprendendo chinês, um dia ele se foi...
simplesmente se foi por quase duas semanas, achei, óbvio
que ele tinha me deixado.
Carl aponta a careca, sempre se insinuando a falta
de cabelo como um depreciativo e depois para a barriga,
Carl se autodepreciava nas conversas entre amigos,
sempre se rebaixando, aquilo me doía e várias vezes tentei
dizer pra ele parar com aquilo, mas não agora... agora ele
não precisava do meu monólogo sobre isso ou sobre Lily,
ele precisava de um ombro e de um ouvido... ele precisava
de um amigo:
— Bateram na porta da casa que a gente tinha
alugado e diziam ser do consulado inglês. — escorre uma
grossa lágrima do meu amigo, que diz ser suor, não o
interrompo. — Aqueles homens diziam ter informações de
que eu seria morto, se não fosse embora... assim como
aconteceu com meu companheiro... por “leis” — ele faz
aspas com os dedos. — Leis... extra governamentais,
dizendo que gente como eu, doente, não era bem vindo no
país deles... e que fui eu o responsável pela morte dele...
do meu namorado. — ele usa a manga da camisa e seca
outra lágrima.
Engulo em seco, ele continua:
— Eu nunca nem fiz a matéria do festival ou fui de
novo à China ou... ou... fui visitar seu túmulo... ele morreu
queimado, jogaram gasolina nele, quando ele foi visitar um
lugar pra gravações e... e... eu nunca pude nem velar...
fugi... fugi como um imbecil...
Eu fico aterrorizado, Carl nunca sequer havia
mencionado esse fato tenebroso de sua vida... o que eu
tinha que falar naquele momento?
O que eram meus problemas perto daquele fato
horrível?
O abraço.
Só isso... o envolvo num enlace e o deixo chorar, o
ar faltar de seus pulmões e dá espaço a um irresoluto
sussurro da alma... o choro de um homem que teve que
fugir ou morreria.
Embora meu relacionamento com Lily fosse
moralmente repugnante, nenhum governo ou lei impediria a
gente de ficar junto, morar junto... ser um do outro mesmo
à vistas tortas de qualquer um, mas, Carl? Que culpa ele
tinha? Que culpa o cineasta teve?
A culpa foi amar.
Engulo em seco quando ouço a campainha e, para
meu espanto, Carl veste sua persona e atende Judy e
Moacir, um sorriso no rosto, lamentando que minha
calefação fosse mais quente que o inferno e que a sua
careca gotejava.
— Paella da Dolores... — eu dou a mão para
Moacir, que me abraça, Judy faz o mesmo e depois de
prepararmos a mesa, nos sentamos, em silêncio, Carl faz
uma de suas piadas e aquece o clima entre todos nós: Os
mosqueteiros estariam de volta.