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2020

Nome da obra: Perigoso Amor – Poder & Honra

Revisão: Dani Smith Books

Diagramação: AMARa Literária


Capa: AMARa Literária

Nome do autor: M.C Mari Cardoso

www.mcmaricardoso.com.br

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida

ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico

e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos


de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais

permitidos na lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,

alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da

imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou


mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera

coincidência.
O que vem primeiro?

Poder, honra ou amor?

Enzo Rafaelli só conhecia o poder. Crescendo no topo da cadeia de

comando da máfia siciliana, tornou-se um homem ambicioso capaz


de fazer qualquer coisa para garantir o seu lugar por direito:
dominando todo território na Itália e nos Estados Unidos.

Ao se tornar o temido chefe de todos os chefes, aprendeu sobre a


honra. Comandando um vasto território com um punho de ferro,

sabia que um dia precisaria encontrar uma esposa para dar


sequência a sua linhagem. Ele não esperava que o seu pai tivesse

escolhido a mulher que se tornaria a nova matriarca da família.

Juliana Valentinni cresceu em uma escola católica para meninas,


acreditando que seu pai era apenas o CEO de um dos mais
famosos vinhedos do mundo. Perdeu a mãe ainda muito jovem e

cresceu longe do seio familiar, sem saber a realidade da sua família.


Ao ser prometida em casamento a um homem que não conhecia,

tentou relutar com o casamento até que se tornou inevitável.

Ela precisou se entregar ao desconhecido e com isso, encontrar a


sua força em um mundo cruel e devastador.
ESTE LIVRO CONTÉM:

Cenas de sexo, violência e gatilhos emocionais.


Para maiores de 18 anos.
NOTAS DA AUTORA

Perigoso Amor é uma história que surgiu como fanfic em 2016 e no

ano de 2019 foi reescrita como original. Enzo apesar de ter nascido
como Edward, se tornou um personagem único e conquistou toda
minha atenção e carinho com seu jeito arrogante e calculista de ser,

ainda assim, um líder nato e respeitoso. No entanto, a Juliana foi a


personagem que mais me surpreendeu no seu processo de criação.

Juliana é uma mulher forte, que engatinhou na vida até encontrar a


sua força. Ela é um exemplo de determinação e descoberta pessoal.

É uma das minhas mocinhas favoritas, porque assim como ela


amadureceu de 2016 até 2020, eu também amadureci. Essa história
me acompanhou em anos realmente complicados e me fez crescer

como autora. Espero que seja uma leitura gostosa.

Bem-vindo ao meu universo da máfia.


Este livro pertence a série Elite de Nova Iorque e originou a série

Poder & Honra. Neste livro começa um novo universo e com isso,
há novos personagens, portanto, todos eles estão listados como

notas para identificação. Confira a ordem abaixo:

Confira a ordem abaixo:

1 –Curvas do Destino

2 –Diga Que Me Ama


3 –Perigoso Amor

(Originou a série da máfia italiana com os livros Império Perigoso,


Perigosa Tentação e Coração Perigoso)

4 –Realeza Selvagem
Em algum momento no passado...

Toscana, Itália

A porta de madeira pesada foi aberta por um homem alto,

que andava puxando a perna e tinha uma cicatriz no rosto. Não era
o mais temido do seu meio, só era o único corajoso o suficiente para
estar diante de alguém como Lorenzo Rafaelli após uma traição.

— Sempre o destemido. — O chefe de uma das maiores


famílias mafiosas retumbou no ambiente escuro e silencioso.

Rafaelli analisou o homem à sua frente e foi inevitável não sentir


certo pesar. Foi seu amigo de infância, mesmo atualmente

assumindo a posição de inimigo, havia algo em seu coração por ele.


Ambos foram criados para serem assassinos temidos e poderosos
em sua sociedade.

— É uma reunião entre antigos amigos de infância, não de


inimigos. — A voz rouca comprovava que os rumores sobre a

doença não eram infundados. A dinastia dos Valentinni estava

terminando e isso agradava Rafaelli além do saudável.


— E o que tem a dizer, meu caro? — Rafaelli bateu seu

charuto no cinzeiro, em seguida, pegou o copo de uísque.

— Quero fazer um acordo entre as nossas famílias. —

Valentinni falava baixo, sem desviar o olhar daquele com quem


dividiu muitos jogos de futebol e de quem recebeu o filho

primogênito para apadrinhar.

— Não temos acordos! Desde que seu pai traiu a nossa


família, nossa irmandade, nosso elo familiar! — Rafaelli foi

explosivo, como sempre era quando se tratava daquele assunto tão

delicado entre as duas famílias poderosas.

— Eu sei e é por isso que trago uma oferta irrecusável. —

Contrapôs Valentinni. — Estou com problemas terríveis e não sei


como resolvê-los agora. Todas as possibilidades culminam no meu

fim, devo fazer um acordo de paz o quanto antes.

— Não existe paz após tamanha traição! — Rafaelli gritou tão

alto que seus homens se agitaram.

— Tenho uma única filha que não pode herdar a minha cadeira

nos negócios e então, tudo que tenho será do meu irmão. Não

posso concordar com os planos e desejos dele, portanto, preciso

que a minha Juliana se case com o seu filho mais velho. Espero que
eles tenham a união mais forte e mais poderosa da nossa
sociedade. — Rafaelli o olhou com surpresa. Jamais imaginaria que

Valentinni renunciaria ao seu poder pela sua bambina. — Quero que

o meu afilhado seja meu herdeiro. Enzo precisa proteger Juliana

quando eu partir...

Aquela não era uma súplica de um chefe e sim... de um pai.

Um pai doente que estava com seus dias contados e se preocupava


com o futuro da sua princesa.

— Juliana é doce, mas ainda é uma bambina! — Rafaelli não

podia imaginar o seu explosivo Enzo concordando com um

casamento arranjado, porém, a proposta era tentadora. Dominar

tantos territórios? Isso o agradava muito, assim como agradaria aos


seus associados.

— Não agora. O noivado deverá acontecer quando ela

completar dezoito anos ou antes, caso eu não sobreviva ao que está

acontecendo, e o casamento aos vinte um. Quero mostrar ao mundo

que minha filha não está sozinha e muito menos desamparada.

Peço pela amizade que tivemos, acima das escolhas ruins das
nossas famílias, que a minha menina seja protegida.
Lorenzo Rafaelli amava seus três filhos, apesar de ter plena

ciência que não era um bom pai e muito menos presente. Sabia que
seus herdeiros o toleravam presencialmente e odiavam-no em

segredo, mas ele tinha em mente um plano. Tudo que fez Enzo
passar para ser um chefe, jamais seria perdoado, embora fosse
para que ele se tornasse forte e imbatível.

O menino ainda era uma besta sem controle, muito maldoso

e sem educação. Esperava que chegasse a algum lugar antes que


morresse. Casando-se com Juliana, ele teria ainda mais poder,

dominaria muitas famílias e poderia garantir que a menina fosse


protegida.

Rafaelli olhou para o homem na sua frente e sorriu.

— Considere feito.
PRÓLOGO | Enzo

Ouvi o barulho da porta de metal pesada da sala de

treinamento e mantive minha respiração presa. Já não sentia meu


rosto, anestesiado pela água gelada e a mão pesada que me

mantinha ali dentro, empurrava a minha cabeça cada vez mais


fundo. Quis lembrá-lo que aquela porra era uma diversão no parque
para mim.

— Algum problema? — Ouvi a voz do meu treinador. O

Ghost.

— Está na hora de encerrar. Tempo demais. — Dessa vez


era Alex Bennington, o meu próximo compromisso. — Alonzo

Rafaelli. — Meu treinador disse e não entendi bem porque, afinal,


meu rosto estava afundado em uma estúpida água congelante.
Minha cabeça foi erguida e evitei puxar o ar bruscamente, tateando

pela toalha para me secar. — Kyra Bennington[i]. — Uma mulher se

apresentou e ah sim, ele trouxe a sua esposa.

A famosa e perigosa Kyra.

— Sei quem você é. — Alonzo respondeu secamente.


— Não fui agraciada com o mesmo prazer. — Kyra o olhou de

cima a baixo com indiferença. Ela provavelmente não gostou dele...


Ninguém gostava.

— Sou um dos agentes enviados pela família Rafaelli. —

Alonzo inclinou a cabeça para trás, como se ela soubesse quem era

o homem atrás dele. Detestava o termo agente. Ele não era um


agente. Era o meu soldado.

— Um pouco antissocial. — Alex completou e ela olhou para

mim, diretamente nos olhos, de um jeito intenso. Seu olhar era


profundo, muito avaliador.

Alonzo saiu sem dizer nada. O casal trocou olhares e então,


Kyra concentrou a sua atenção em mim, que ainda secava o rosto

para em seguida, tirar minha camisa. Meu corpo era coberto por

músculos e tatuagens, isso agradava a maioria das senhoras. Seu

olhar desceu do meu pescoço aos pés. Sabia que era um material
excelente, tonificado, moreno e tatuado.

— Acho que a sua esposa grávida está gostando do que vê,

ragazzo — provoquei Alex. Ele me deu um olhar indiferente.

— Ela está te analisando, babaca. — Alex retrucou. — Kyra,

conheça Enzo Rafaelli. Chefeda família italiana de Nova Iorque.


— Chefe de todos os chefes. — Corrigi por puro prazer de
explicar que sim, eu era o chefe de todos os chefes. O que

significava que eu mandava em todos na máfia e nas famílias

associadas. Os Rafaelli eram maiores do que um dia a Cosa Nostra

foi, e, nosso território de dominação era vasto. Nos tornamos

conhecidos pela riqueza, crueldade e frieza. Nossa palavra

definitivamente era a lei.

— Graças ao trabalho da agência. — Alex não deixou passar.

Abri um sorriso afiado. Nem tanto, merdinha.

— Tenebroso. — Kyra murmurou, um pouco alto demais.

Sorri ainda mais.

— Diga o que você quer conosco. Foi você quem pediu esse

encontro. — Alex puxou uma cadeira para a sua esposa. Grunhi,

meio irritado e joguei a toalha que secava o cabelo longe. Lembrar


do motivo que me levou àquela reunião me deixava puto pra

caralho.

— Meu pai me arranjou um casamento. Un matrimonio! —

Balancei as mãos juntas, exasperado. — Com uma garota magricela

que mora na Itália! Nunca veio aos Estados Unidos.


— E daí, Enzo? Você vive indo lá... — Alex respondeu

impaciente.

— Meus negócios estão aqui, obrigado. Nem sei se sabe falar

inglês, coitadinha — reclamei, com o meu sotaque cada vez mais


forte e falando mais alto, mas não estava gritando. Era o meu jeito

muito italiano de estar puto.

— Um casamento arranjado em pleno século vinte e um?

Uau. — Kyra abriu um sorrisinho debochado.

— Olha quem fala! — Grunhi, encarando os dois. — Meu

papa fez um acordo com uma família napolitana. Eles são


pequenos, porém ricos e influentes. O homem não teve filhos

homens, apenas essa menina e tem um sobrinho que não sei


porque não pode assumir a chefia da família. Fica ainda pior, esse

homem me batizou na igreja quando nossas famílias eram


associadas.

— Então você se casará com a garota? Quantos anos ela

tem? — Alex puxou seu celular no bolso. — Como ela se chama?

— Juliana Valentinni.

Me estiquei para olhar o resultado da pesquisa sobre a


garota. Juliana era bonita, um pouco jovem, sempre viveu na Itália e
parecia até inocente nas suas fotografias. Era bem mais velho do

que ela. A família Valentini era mais famosa que a família Rafaelli.
Não mais ricos, definitivamente, mas muito famosos.

Eles possuíam um vinhedo e eram extremamente


tradicionais, isso atraíaa atenção da mídiaitaliana. Para melhorar, a

garota estava fazendo trabalhos como modelo e se associando a


um estilista em ascensão.

— A mídia tem um interesse muito grande neles. — Kyra


comentou, olhando na minha direção com a mesma intensidade de

antes.

— São donos de um vinhedo que usam como lavagem,

apenas para os negócios da família, o que explica a renda


surrealmente extra. Nós temos boates, cruzeiros, coisas para

divertimento. Eles são leais a nós desde que o acordo foi feito. Eu
era novo, meu pai não me falou nada. Vivem conforme nossas
regras e os chefes nunca nos desafiaram, quase pacíficos,

entediantes. — Bocejei, pensando no tédio que deveria ser fazer


parte da famíliaValentinni. — Um casamento com uma garota como

ela vai atrair atenção da mídia de forma assustadora. Já é um saco


do caralho ter que lidar com eles em Nova Iorque. Imagina me
casando com a princesinha de um vinhedo?

— Não há outra? — Kyra conferiu.

— Temos poucas mulheres solteiras e na minha família, só

nos casamos com italianas. Exceto o babaca do meu pai, mas é por
isso que ele não foi um chefememorável. — Puxei o meu cabelo. —
Preciso fazer alguma coisa. Oliver é um pau no cú, mas ele sabe

lidar com a mídia. Disse que preciso de um banho de loja.

Kyra esticou a mão até o meu rosto e puxou meus lábios para
baixo. Ergueu meu cabelo e analisou as pontas.

— Definitivamente se casar com Juliana é uma boa ideia. Vai

expandir nosso território e é isso que queremos. Então você deve


fazer e é claro, criar uma imagem positiva da família Rafaelli. A

mídia, querendo ou não, é quem controla o que o mundo pensa


sobre nós. Quanto tempo até o casamento? — Pegou o telefone de
Alex para anotar as informações.

— O pai dela não quer que ela case com menos de vinte e

um, portanto, temos dois anos... — Dei de ombros. Nós deveríamos


ter noivado quando a menina completou dezoito, mas meu pai disse

que ela parecia muito jovem e seria ruim para nossa imagem. Ele
decidiu esperar sem me consultar. Não sabia dessa porra até
semanas atrás, quando o velho resolveu abrir a boca. — Porra, me
casar. — Puxei os meus cabelos e ri, sem esperanças de fugir

daquilo.

— Casamento não é um bicho de sete cabeças. — Kyra


claramente mentiu, tentando ser legal. Alex e eu olhamos para ela
com ceticismo. — Está bem, é meio difícil, mas ela é italiana e
provavelmente sabe a vida que vocês levam e o que esperam dela

como esposa. Seja gentil, educado, fiel e cuide da felicidade de

vocês dois.

Ou seja, seja um castrado.

— Prefiro cortar a garganta de alguém — murmurei e ela riu

alto. Alex bufou, tentando segurar a risada. — Ria o quanto quiser.

— Dominic[ii] já sabe? — ele perguntou.

— Não. Só falei sobre isso na reunião dessa semana, ele não

estava. Jack[iii] disse que vocês poderiam me ajudar a pensar em

algo. — Me inclinei para frente. — Dominic está em Los Angeles de


novo, não sei o que está havendo.
Alex não falou mais nada e encerramos nossa improvisada

reunião, decidindo que eu passaria por uma transformação


completa. Como o meu rosto era conhecido, não poderíamos

circular juntos, não por enquanto. Kyra iria comandar de longe a

missão de transformaro ogro Enzo Rafaelli,em um príncipepara se


casar com a princesa Juliana Valentinni.
01 | Juliana
Olhei para a mulher refletida no espelho, ela parecia muito

assustada e com razão. Ela iria noivar com um homem que nunca
viu pessoalmente e estava desejando que seu pai estivesse vivo
para gritar coisas nada agradáveis. Um casamento arranjado? Que

loucura era aquela? Aquela mulher sabia que o pai escolheria seu
marido, ou no mínimo teria uma forte opinião sobre isso, porque

esse tipo de coisa fazia parte de ser membro de uma família


tradicional.

Resignada, respirei fundo, ainda me encarando. Tentei


entender tudo o que aconteceu nos meses que seguiram após a
morte do meu pai e o motivo pelo qual sequer recebi uma herança,

porque estava prometida a um homem chamado Enzo Rafaelli.


Precisei olhar no Google para saber quem ele era. Um empresário

italiano, que vivia na América, tinha muito dinheiro e uma fama de

ter uma ou mais mulheres na cama por noite. Por que o meu pai me
prometeu para esse homem?

Tinha certeza de que isso era ilegal, quer dizer, papai sempre
foi um empresário dono de vinhedos, cresci com uma segurança

apertada na Itália, em nossa bela casa em Nápoles. Desde que ele


morreu, tentei entender porque coisas estranhas começaram a

acontecer, como o meu — horripilante — tio Tomasso não assumir


os nossos negócios e essa família Rafaelli, de repente, tomar tudo.

Eles eram tão temidos que ninguém falava sobre.

Se eu vivesse nos livros, diria que eram mafiosos.

A vida real não era bem assim e eu não era boba. Papai

certamente não manteve nossos negócios centenários por tantos


anos sem cometer um deslize ou outro de forma ilegal, mas me

prometer em casamento a uma rica — muito rica, — famíliaitaliana

que vive nos Estados Unidos? O pior de tudo: não tinha escolha a
não ser noivar com o estranho do Enzo. Só assim teria respostas.

Minha tia organizou uma festa de noivado e uma foto seria


enviada para a imprensa e esperava poder evitar, assim ninguém

ficaria sabendo. Devia ser um mal-entendido, apenas um acordo de

negócios que poderia tentar reverter. Sempre fui boa em negócios,

papai vivia me elogiando e eu sonhava com o dia que me sentaria

em sua grande cadeira, mesmo que ele afirmasse que aquele lugar
era somente para homens.

Faça-me o favor
, eu era muito melhor que muitos homens.
Era por isso que estava fatalmente vestida para o meu noivado
com o homem que era conhecido em Nova Iorque como a criatura

com maior rotatividade de mulheres nos braços. Enzo Rafaelli era

lindo e gostoso, não podia negar. Era alto, pele morena, um sorriso

maldoso, um olhar afiado, cabelos arrepiados e a cara de um

italiano rico, não muito refinado. Tinha muitas tatuagens e andava

como se fosse dono do mundo.

Do jeito que eram ricos, realmente deveriam ser. Não me

importava com o dinheiro deles, só queria o meu vinhedo de volta,

os negócios da minha família,sustentar o vilarejo da nossa famíliae

manter a casa em ordem. Não era pedir muito. Precisava entender

porque diabos o meu pai amado achou que seria uma boa esposa

para aquela besta.

Meu vestido era azul escuro, delineava meu novo corpo com

curvas, finalmente podia dizer que parecia uma garota da minha

idade. Sempre pareci mais nova do que realmente era e minha

magreza excessiva não ajudava em nada. Estava usando um sutiã,

porque ganhei belos seios, bunda, coxas e quadris. Minha tia me

levou a um médico e ele disse que eu precisava fazer um


tratamento com vitaminas, além de uma dieta mais balanceada,
porém, quando o meu pai morreu, surtei e comecei a comer

descontroladamente.

Engordei mais de dez quilos ao longo de um ano. Procurei o

médico novamente pois estava sem controle. Um apetite que nunca


tinha fim. Ele tirou algumas das cápsulas que estava tomando e me

encaminhou a um psicólogo. Desde então, consigo controlar o meu


apetite. Parte porque estava superando o luto de perder o meu pai e

parte por estar nutrindo uma raiva sem tamanho pelas surpresas
após sua morte.

Minha maquiagem era leve, caprichei no batom vermelho e


nos cílios delineados. Estava com o cabelo escovado e muito

cheirosa. Dei mais uma conferida na minha aparência, queria estar


perfeita, sabia que era uma garota bonita e não queria parecer tão

vulnerável. Manter a perfeição me ajudava no controle das minhas


emoções.

Já podia ouvir o som da música na sala, algumas vozes e certa


agitação do lado de fora. Espiei pela janela e havia uma quantidade

nada normal de seguranças. Ele pensava que era quem? O líder de


uma nação? Ou o príncipe da Inglaterra? Sinceramente, o exagero

não me agradava. Tumultuar a minha paz me feria.


Uma batida na porta chamou minha atenção e Tia Malia

apareceu, sorridente, com os cabelos para todo lado, cheios de


laquê. Não entendia como ela poderia achar aquele penteado

bonito, mas nunca pediu minha opinião. Não éramos muito


próximas, afinal, ela me enfiou em uma escola católica para

meninas logo que fiz cinco anos e lá fiquei até os meus dezoito.
Com vinte anos, ela me controlava como se eu tivesse cinco, papai
morreu há dez meses, sem resistir ao câncer nos pulmões e desde

então, ela estava agindo ainda mais sufocante.

Seu olhar ansioso encontrou o meu e levou tudo de mim para


não revirar os olhos, mas, eu não faltaria com o respeito. Era

birrenta, mas sabia que minha tia cuidou de mim por amor. Minha
mãe faleceu quando eu era muito pequena, tanto que não lembrava
dela.

— Estão todos aqui, querida. Hora de descer! Está muito linda,

mas poderia usar algumas joias...

— Todas as joias da minha mãe estão sob domínio dessa


família — murmurei com raiva e ela recuou, pensativa.

— Deveria ter pensado nisso, desculpe. Não tem problema,


agora que ganhou peso, está linda — Sorriu empolgada e eu
apenas a encarei.

Ignorando seu comentário, a acompanhei para fora do meu

quarto, respirando fundo. No topo da escada, ajeitei minha postura e


desci com muito cuidado para não virar meu pé com o salto fino que

usava. A sala estava realmente cheia e conhecia alguns rostos ali,


mas Martina, nossa governanta, estava muito séria - o que não era
bem uma novidade, porém, havia algo mais.

Martina era quem cuidava da casa desde o primeiro dia do

casamento dos meus pais e ela nasceu em nosso vilarejo, conhecia


tudo e todos. Ela era severa e cozinhava como uma deusa. Eu

confiava nela. Se estava emburrada, eu também ficaria.

Desviei o meu olhar dela para o homem que se aproximava,

entre os convidados espalhados pela sala, ao pé da escada.

Enzo.

Ele parecia hipnotizado, me olhando intensamente e esticando


a mão, buscando me ajudar a descer aqueles degraus que se
curvavam para a esquerda, indo em direção à sala de estar lotada.

Aceitei por educação, por estar diante de muitos olhos ansiosos e


por querer tocar aquele homem bonito. Meu ex-futuro marido.
— Juliana. — Enzo disse o meu nome com reverência. Parecia
que ele esperava que eu fosse um patinho pronto para o abate.

— Sr. Rafaelli. — Dei um aceno distante, bem fria. Seu olhar


estreitou em minha direção, como se não acreditasse na minha

ousadia. — Prazer em conhecê-lo, sinta-se em casa. Posso te


oferecer uma bebida?

O recado estava dado: ele era um estranho e um visitante na

minha casa.

— Juliana! — Tia Malia riu de um jeito nervoso. Por que ela

tinha medo dele? Era só um homem. — Obrigada a todos por virem

a essa noite tão especial, para a comemoração do noivado e a


união destas famílias que por muitos anos foram unidas como uma

só. Infelizmente, acabamos passando por divergências, mas este

casamento nos fará únicos novamente. Por favor, peguem as suas


taças — pediu e quem estava sem, foi imediatamente servido. Enzo

ainda segurava minha mão, me olhando e então, tirou um anel do

bolso. Ostentoso, enorme, lindo e que certamente pagaria a dívida

de muitos pequenos países. Era digno de uma princesa. Tentei


puxar a minha mão e ele seguiu firme, separando o meu dedo e

deslizando o anel. — Que seja uma união abençoada! Para Enzo e


Juliana, um matrimônio frutífero! — gritou exageradamente

enquanto todos brindavam.

Frutífero? Soltei uma risada. O que havia acabado de

acontecer?

Olhei para a aliança e para o suposto noivo.

— Nós podemos falar em particular? — Saiu um pouco mais


entredentes do que gostaria, mas pelo menos, ainda sorrindo para

quem estivesse nos observando.

— É claro, querida. — Arrogante e satisfeito, indicou o

caminho para uma sala reservada na minha casa.

Tentei disfarçar a minha expressão irritada e pedi licença a Tia


Malia, que logo deu um jeito de gritar que os noivos queriam um

pouco de privacidade. Revirei os olhos e empurrei a porta da saleta

perto da varanda, parando no centro e girando em meus


calcanhares. Enzo fechou a porta com a sua irritante expressão

divertida e me encarou.

— Quem é você?

— Enzo Rafaelli. Seu futuro marido. — Quis dar um soco nele.

— Por que meu pai deixou tudo para esse casamento e não

para mim, que sou sua herdeira?


— Porque você é uma mulher e na nossa família não há

mulheres no comando. Na verdade, em família nenhuma. Talvez na

Rússia. — Deu de ombros e não entendi nada.

Respirei fundo e olhei para o anel.

— Não quero te ofender, mas, não quero me casar. O que


você quer para devolver meu vinhedo e me deixar no comando dos

negócios da minha família?

Enzo me deu um sorriso de lobo.

— Não existe sua família


, agora vocês são a minha família
.

Nápoles agora pertence ao meu território, ou seja, pertence a mim e


você será a minha esposa. Nossos pais planejaram isso porque

queriam a união dos nossos negócios. Conquistar e dominar, era o

que seu pai queria e claro, assegurar que você ficasse segura,
muito bem cuidada e protegida. — Deu um passo à frente, ficando

bem pertinho e nossa, ele era cheiroso, mesmo com um leve cheiro

de cigarro. — Não há como desfazer o acordo, sua famíliae os seus

negócios precisam desesperadamente de mim. Foi por isso que seu


pai nos procurou. Seu vilarejo e o vinhedo estarão seguros.

— Estamos com problemas? — Fazia sentido.


Alguns anos atrás, nosso vinhedo foi atacado, perdemos

muitos homens, metade da plantação foi incendiada e eu fiquei


meses sem poder aparecer em casa. Papai ficou muito nervoso, ele

mal me dava atenção. Ele disse que pessoas invejosas e perigosas

queriam o que era nosso. Será que estava acontecendo


novamente? Papai devia estar muito desesperado. Me manter

segura? O que isso significava?

— Não estão mais em perigo, confie em mim. Não há tempo


para esse tipo de conversa agora, Juliana. Temos que voltar para a

festa, sorria e não dê aos lobos carne para se alimentar. — Fechou

o seu terno e segurou a minha mão.

Infelizmente estava confusa demais e obedeci sem retrucar. O

que ele quis dizer com lobos? Por que papai me deixou no escuro?

Não queria me casar com um completo desconhecido, mas também


não queria colocar a segurança de todas as pessoas que

trabalhavam para nós em risco. Não era mimada a esse ponto e

podia fazer qualquer coisa para salvar o vinhedo. Éramos uma das
marcas mais antigas do meio e a nossa raiz ainda era pura.

Tia Malia me deu um olhar aliviado quando me viu de mãos

dadas com Enzo e nós passamos pela festa para conhecer alguns
dos convidados que vieram com ele. Seus pais foram os últimos.
Segundo o que ouvi de Martina falando com as mulheres da

cozinha, meu pai foi padrinho de batismo de Enzo, quando nasci, as

famílias não se falavam mais. Brigaram por negócios.

Enzo me conduziu a um grupo que estava mais reservado.

— Juliana, gostaria que conhecesse o meu pai, Lorenzo


Rafaelli. — Me apresentou ao senhor robusto que cheirava a

charuto. Ele segurou minha mão e beijou, mas algo nele me deixou

meio temerosa. — Essa é minha mãe, Amber Rafaelli. — Sorri para

a jovem senhora loura, de olhos azuis brilhantes, que não parecia


mãe de Enzo até sorrir. Ela era pequena demais para ter dado à luz

aquele homem alto. — Meu irmão Emerson e minha irmã, Carina. —

Apontou para o homem um pouco mais novo que ele e para a


menina que era uma mistura perfeita do pai com a mãe, pele

morena, grandes olhos azuis e o nariz pontudo dos Rafaelli.

Emerson parecia mais com a mãe, sem características italianas. —

Essa é a sua nova família.

Para uma garota que só tinha uma tia e um primo muito

querido com quem contar, ter uma família era uma boa coisa. Mas
não queria assim, não até entender tudo. Precisava conversar com

os meus tios, talvez eles fossem mais honestos comigo sobre a

situação da família e de todos que dependiam de nós.


A noite foi uma longa e terrível tortura, no final, não estava

disfarçando o meu desconforto. Antes do último convidado ir


embora, me recolhi em meu quarto, pensativa. Tia Malia bateu na

porta, segurando um envelope pardo nas mãos.

— Seu pai te escreveu uma carta no mesmo dia que assinou o


acordo com os Rafaelli. Ele temia não estar aqui para te explicar,

então... — Me entregou e avidamente peguei. Ela poderia ter me

dado aquilo antes do circo lá embaixo, mas eu não podia culpar Tia
Malia pelas atitudes do meu pai.

— Obrigada. — Não queria compartilhar o conteúdo, mas

sabia que ela já tinha lido. Minha tia era a criatura mais curiosa e
fofoqueira do universo.

Abri o envelope com cuidado e o papel tinha o cheiro do meu


pai. Imediatamente reconheci sua caligrafia única, muito desleixada.

Ah que saudade, papai...

Minha abelhinha,

Escrevo essa carta na incerteza do amanhã.

Hoje é seu aniversário de dezoito anos e acabamos de

chegar de um delicioso jantar no seu restaurante favorito. Hoje,


deveria lhe contar sobre o seu iminente noivado com Enzo Rafaelli,
meu afilhado e o homem que escolhi para te proteger, mas não tive

coragem. Sei que a sua natureza feroz e questionadora iria me

enfrentar...

Rafaelli foi o meu amigo de infânciae devido a decisões ruins

do seu avô, movido pela ambição, nossas famíliasromperam os


laços e os negócios. Nos últimos anos, tenho a preocupação sobre

quem cuidará de você e dos nossos negócios quando eu não estiver

mais aqui. Não serei eterno e estou velho demais para ter um filho

homem. Fui abençoado com você, um anjo em minha vida.

Espero que entenda que esse casamento é um acordo

legítimo, feito com meu amor de pai, para que você e nossa família
sobrevivam aos nossos inimigos. Perdoe seu amado pai. Estou

fazendoo que meu coração diz que é o melhor para que tenha uma
boa vida e que o nosso vilarejo sobreviva a tempos sombrios.

Com amor, papai.

De camisola, me enrolei no roupão e saí à procura de Enzo.


Ouvi vozes no andar de baixo e desci a escada. Ele estava na sala,
fumando um cigarro com cheiro doce e conversava com seu irmão
em inglês, então, não estava entendendo muito. Apesar de saber
falar inglês, não tinha prática e precisava urgente de uma.

Emerson me viu primeiro e me deu um olhar muito errado por


ser noiva do seu irmão. Cruzei os meus braços, limpando a

garganta e Enzo sequer me olhou. Apagou o cigarro e fez um sinal


para que seu irmão saísse, o que ele fez, parecendo bastante

contrariado. Me sentei no lugar que ele estava antes.

— Meu pai me disse que deveríamos ter noivado dois anos


atrás — comentei, jogando verde, porque ele não precisava saber
que foi por carta.

— Se eu soubesse, teria vindo mais cedo. — Me deu um


olhar de cima a baixo. — Só descobri esse acordo um ano atrás.
Está diferente do que vi nas fotos.

— Chama-se comida italiana — resmunguei e ele apenas


sorriu. — Meu pai deu a entender que nossos negócios estão em
risco e que você é a salvação, por quê?

— Porque sim, Juliana. — Respirou meio impaciente. —


Também eu não tenha ficado feliz quando soube do casamento,
você é muito jovem e eu não estava a fim de me casar. Mas nós
dois fomos criados para fazer o que tivermos que fazer pelo bem da
nossa família. Ou estou enganado?

Não, não estava, mas isso não significava que eu gostasse

da situação. Saber que ele, assim como eu, não queria o casamento
e não sabia do acordo, aplacou um pouco o sentimento de traição.
Não estava satisfeita, mas me casaria pelo bem da minha família.

Meu pai nunca mentiria deliberadamente e nem faria algo assim


sem um bom motivo, que eu esperava entender um dia. Tinha que
jogar com as cartas que me foram dadas.

— E quando quer se casar?

— Alguma data depois do seu aniversário de vinte e um,


basta marcar — respondeu indiferente. Se era assim que ele iria me

tratar...

— Tudo bem, eu te aviso. — Fiquei de pé e comecei a sair da


sala, quando ele me segurou pelo pulso. — O que é? Me solta!

— Você me pertence agora, Juliana. Não quero nenhum

outro homem na sua vida, a não ser eu.

— Eu sou dona de mim mesma. Saiba, Sr. Rafaelli, que é


melhor que não o veja com outra mulher ou irá descobrir como ser

um marido eunuco. — Sorri graciosamente, arrancando o meu pulso


de seu aperto e voltando para as escadas com o sangue fervendo
pela ousadia. Ele que não duvidasse de mim, porque não conhecia

o quanto o sangue Valentinni nas minhas veias era forte.

Quem ele pensava que era? Abusado! Não me conhecia,


sequer se deu ao trabalho de vir se apresentar antes desse noivado

estúpido e vinha me dizer que era meu dono? Que se danasse ele e
toda a sua arrogância. Que se danassem todos que me colocaram
nessa posição terrível de me casar com um homem que não

conhecia.
Dois | Juliana

Uma pilha de diferentes envelopes estava espalhada na minha

frente e eu tinha que escolher apenas um. Era como se estivesse


escolhendo a minha própria corda para me enforcar. Os convites
estavam prontos e só seriam enviados três meses antes do

casamento, porém, minha Tia Malia e sua organização de quartel


queriam que os envelopes fossem escolhidos imediatamente.

Ela estava tão ansiosa com esse casamento que mal me


deixava dormir.

Peguei qualquer um que achava parecido com o convite e


estiquei para ela, levantando e dando as costas, seguindo sem olhar

para trás até meu quarto, onde a minha mala estava pronta. Estaria
fora do vinhedo e dessa loucura de casamento por alguns dias,

participando da semana de moda em Milão. Desde que o noivado foi


anunciado na imprensa, pessoas passaram a me questionar porquê

nunca postava fotos com Enzo. Exceto a do noivado, nós não


tínhamos fotografias juntos e não via o meu noivo há meses.

Um dia após o noivado, ele e sua comitiva partiram e eu nem


tinha o seu número de telefone. Não que quisesse ter. Todas as
coisas do casamento estavam sendo resolvidas através da minha tia

e eu sequer estava prestando muita atenção, ainda faltava um


tempo para escolher o vestido, cardápio e decoração.

Desde que Enzo deslizou uma aliança no meu dedo, havia


novos seguranças e um motorista designado para mim. Ele também

começou uma reforma nas áreas mais importantes do vinhedo,

principalmente nos galpões e sem me consultar, decidiu criar uma


casa para visitações. Era algo que planejava e que nos colocaria na

rota dos turistas, mas ele poderia ao menos ter falado comigo.

Se Enzo não queria ter um relacionamento comigo, esse


casamento estava destinado ao fracasso. Ajeitei o meu cabelo no

espelho, analisando se a minha calça jeans de cintura alta estava


boa. Escolhi um look moderno e fashion, mocassins escuros, uma

calça jeans estilo anos noventa, uma camisa modelo renascentista

de mangas longas, enfiada dentro da calça. Separei os meus óculos

de armação gatinho branco e minha bolsa da Chanel.

Todas as minhas malas eram da Chanel.

Me sentia mal de ter gastado tanto dinheiro e ter sido tão

mimada e exigente com a moda quando papai estava me casando

com um homem rico para manter os nossos negócios. Se eu fosse


mais humilde e gastasse menos, quem sabe ele não pensaria que
precisava de um casamento para me manter. Devia honrar os

moradores do vilarejo e não deixar tudo ruir.

— Stefanio? — chamei o segurança enviado por Enzo,

certamente para manter a sua promessa de que nenhum homem

chegaria perto de mim. — Pode me ajudar com as malas?

Ele apareceu no corredor com um sorriso polido.

— É claro, senhora. — Ele era um cara muito bonito. Pele

morena, cabelos claros e olhos verdes bem atraentes. Parecia ser

do tipo que gastava muito tempo na academia e sempre estava

muito cheiroso.

Stefanio fez um trabalho rápido em colocar minhas malas

dentro do luxuoso carro 4x4 que Enzo enviou e me acomodei no

banco de trás. Os carros da propriedade realmente precisavam ser

trocados, mas me incomodava que papai deixou isso tudo para um

homem arrogante como Enzo executar e não fez ele mesmo. Fazia

parecer que meu pai era muito desleixado. Em todo caso, estava
viajando porque fui convidada para me sentar na primeira fileira dos

desfiles de algumas marcas e para um jantar com estilistas famosos

e outras influencers digitais.


Sempre gostei de ter blogs de moda e me fotografar com

minhas criações próprias de looks. Com o desenvolvimento da


internet e novos aplicativos, fiquei um tanto famosa, ainda mais com

o meu sobrenome muito conhecido pelos vinhos que minha família


produzia. Amava ser convidada para esses eventos, porque era
uma das minhas paixões, apesar de não ajudar em nada a mudar

minha imagem de princesinha fútil.

— Esse não é o caminho para o aeroporto — falei com


Stefanio.

— Estamos indo a um aeroporto particular. O chefe mandou o


avião para sua viagem, Srta. Valentinni.

Bastardo.

Cruzei os braços e não falei nada, ignorando a questão. Não

daria um ataque para ir até o aeroporto, ele já devia ter cancelado


minha passagem e nunca chegaria a tempo, atrasando o
cronograma da agência que me convidou. Stefanio estacionou

próximo a um luxuoso jato particular e me perguntei por que papai


nunca foi atento a esse tipo de investimento. Para onde nosso

dinheiro tinha ido esse tempo todo?


Stefanio abriu a porta do lado que estava sentada, desci do

carro e em seguida, ele tirou as minhas duas malas, uma pequena e


uma média. Não resistindo ao avião e podendo posar sentada nas

escadas como toda garota do meu meio, pedi que o segurança


tirasse uma foto e ficou muito boa. Uma comissária de bordo e um

piloto me cumprimentaram, devidamente uniformizados e


simpáticos.

— Gostaria de beber alguma coisa? — A comissária me


entregou um menu. Champanhe? Não. Muito cedo. Papai amava

espumantes e aprendi com ele. Olhei o menu e fiquei surpresa com


a seleção rara ali, não me contendo, escolhi um que estava louca

para experimentar e não era produzido há anos.

— Uma taça do marsala reserva dos Galattore, por favor. —

Devolvi o menu.

Não demorou muito para começarmos a voar, o meu vinho foi


servido, assim como uma garrafa de água com um monte de coisa

que só via no Pinterest. Ostentação pura... Enzo parecia ser do tipo


que gostava de compensar a sua ausência com coisas caras. Fiquei
distraídacom o meu telefone durante todo voo e quando pousamos,

esperei pacientemente dentro da aeronave até Stefanio organizar


tudo do lado de fora.
Ao sair, me deparei com uma comitiva como se eu fosse a
rainha da Inglaterra fazendo uma visita oficial. Meu noivo fantasma
era viciado em proteção. Entrei em um dos carros e espiei a linda

cidade pela janela, enviando uma mensagem à produtora que me


convidou, confirmando que estaria presente no jantar daquela noite.

Daria tempo de tirar um cochilo e estar com a pele mais descansada


para o evento.

Stefanio parou em frente ao hotel e me perguntei se estava


no local certo. Hum, tentei achar a minha agenda e não consegui a

tempo. Antes de questioná-lo, vi um grupo de mulheres soltando


risinhos e olhei para a entrada do hotel, sem acreditar que Enzo

estava saindo do lobby, fechando o terno bem cortado, usando um


relógio que valia um rim no mercado negro e parecendo tão lindo
que era de perder o fôlego.

— O que está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que saiu

da minha boca quando abriu a minha porta.

Enzo sorriu.

— Vim ficar com você. — E esticou as mãos, me convidando

a sair.
— Isso seria legal, até romântico, se nós nos falássemos com
frequência.

— Pensei em fazer uma surpresa. Não gosta? — Me deu um


olhar calmo, ignorando a minha questão. Aceitei sua mão para sair

do carro e ele não se afastou, ficando bem próximo do meu corpo.


Fui capaz de sentir a sua fragrância masculina, uma mistura de

cigarro e perfume, com cheiro de muito caro. Pena que era péssima
com perfumes masculinos, sequer poderia tentar adivinhar.

Olhei-o com indiferença.

— Não das suas. — Dei a volta por ele, entrando no hotel.

Um rapaz apressado e meio suado correu para chamar o elevador,


se apresentando como o concierge que me acompanharia até meu

quarto.

Devido às tendências exibicionistas de Enzo, não me admirei

ao ser levada para uma imensa suíte presidencial. Só tinha uma

cama de casal, então deduzi que o quarto era apenas meu, até

observar que havia malas que não eram minhas. Suspirando,


peguei um pote de morangos e joguei um pouco da cobertura de

chocolate, indo até a varanda, admirando a cidade, comendo e


respondendo alguns comentários na fotografia que postei antes de

chegar.

— Fui informado do seu cronograma na cidade, imagino que

seu próximo compromisso seja apenas no jantar. — Enzo falou atrás


de mim e me virei, ele não ia me enrolar de novo.

— Sério mesmo, o que veio fazer aqui?

— Somos noivos, precisamos ser vistos juntos e imaginei que

seria um excelente momento para conhecermos um ao outro. É uma

cidade bonita, romântica... — Chegou perto e sentou na cadeira ao


meu lado, mantendo certa distância.

— Não pensou nisso nas últimas semanas? — Não estava

comprando aquela história.

— Estive lidando com os negócios e com a repercussão do

nosso noivado em questões territoriais. Não foi como se você


quisesse contato já que nem saiu do seu quarto para se despedir. —

Esticou a mão sobre a mesa e pegou a minha, como se eu fosse me

derreter com seu toque. Bem... não tão simples. Coloquei a vasilha

em cima da mesa e me levantei bruscamente. — Aonde vai?

— Me preparar para os meus compromissos. — Saí da

varanda, entrando no quarto, trancando a porta e ainda arrastando


uma cadeira para segurar a maçaneta no lugar. Ele que se virasse

ou de preferência, que procurasse outro quarto.

Tomei um banho caprichado, preparando o meu cabelo com


um produto antes de escovar, modelar e prender com finos

grampos, procurando ter um pouco de volume feito por cachos.

Vesti uma roupa limpinha, e me deitei na cama cheirosa,


confortável, programando o meu telefone para tocar duas horas

antes do primeiro evento.

Descansada, levantei e soltei um gritinho ao me deparar com

Enzo dentro do quarto, digitando em seu notebook como se eu não

tivesse criado uma barricada para impedir a sua entrada. Sorrindo

afiado, me deu um olhar indiferente e voltou a atenção para o seu


computador. Fui ao banheiro e abri a capa do meu vestido preto,

feito sob medida e perfeito para a noite comemorativa.

— Pode me dar licença? Preciso me vestir.

— Não. Fique à vontade.

— O que você quer de mim? — gritei, perdendo a minha

paciência. — Aparece do nada, marcando a data de um noivado,

desaparece e aparece de novo. Qual é o seu problema?


— Não tenho nenhum problema, talvez você tenha um. E

acalme-se. A única com dificuldades em aceitar o noivado e minha


presença é você.

— Aceitar um noivado no qual eu mal vejo o noivo, não o


conheço e sequer tenho o número de telefone?

Enzo parou de digitar e me encarou.

— Estou aqui agora, querida. Podemos fazer tudo diferente e

como vamos nos casar, não precisamos de tantos pudores. — Me

olhou de cima a baixo com um sorrisinho.

— Não sou as mulheres que conhece, Sr. Rafaelli. Não me

confunda com as suas prostitutas — rebati, muito irada. —

Intimidade se conquista e você é o último na minha lista. —


Completei e entrei no banheiro, batendo a porta ao mesmo tempo

em que ele levantou, derrubando a cadeira. Pensei que estava em

uma saída triunfal até que ele arrebentou a porta do banheiro.

— Não há uma lista. Você quer desculpas e meu número de

telefone? Tudo bem! — Ele estava puto, como se tivesse o direito.

Me encostei na pia do banheiro, cruzando os braços. — Pare de ser


uma louca delirante.

O QUÊ?!
— Louca delirante? Não me faça parecer louca! Isso é típico

dos homens, distorcer a verdade quando eu estou certa! E sim, eu

quero desculpas! — exigi e o meu tom fez a sua veia da testa saltar.

— Desculpe — disse tão baixo que pensei não ter ouvido

direito. — Não vou repetir. Agora pare de falar na minha cabeça e se

arrume, vamos sair em uma hora e vinte minutos.

Figlio di putanna. Merda!

Empurrei-o sem nenhuma cerimônia para fora do banheiro e o


meu rosto estava vermelho de tanta raiva. Tomei um par de

respirações profundas antes de começar a minha maquiagem e em

seguida, busquei as minhas roupas íntimas, aproveitando que o


quarto estava vazio para me vestir. Me contorci um pouco para

fechar o zíper por perder a ponta da cordinha. Tomei um susto ao

sentir um par de mãos firmes nos meus ombros e encontrei o olhar

intenso do meu noivo pelo espelho. Ele fechou o meu vestido, sorriu
e, contrariada, agradeci.

— Me arrumei no quarto ao lado, mas não se acostume com


isso. — Olhei para a sua roupa e aprovei a escolha mentalmente.

— Onde irá dormir? — Questionei e ele olhou para a cama

em resposta. — Outra coisa absurda que tenho que me acostumar?


— Não é tão absurdo assim dormir com o homem no qual irá

se casar...

— Se você diz. — Dei de ombros e peguei a minha bolsa,

enfiando o celular e um batom dentro. — Estou pronta, vamos?

Enzo ofereceu o braço e aceitei, saímos do quarto juntos.

Stefanio e mais três pessoas nos aguardavam próximos ao elevador

e reparei que havia uma mulher morena entre eles. Ela me deu um
olhar avaliativo, me analisou da cabeça aos pés e fez uma

expressão meio nojenta. Deixei passar, porque não me interessava

quem ela era e na garagem, entrou em um carro diferente do

nosso.

— Está acostumado com eventos de moda? — Fiz conversa

no carro.

— Não e não sou muito fã, mas estou aqui porque soube que

viria. — Não consegui esconder o sorriso por ele estar ali por mim.

— Enviei uma mensagem para o seu telefone. — Ou seja, o idiota


tinha o meu número o tempo todo e sequer se deu ao trabalho.

Revirei os olhos e virei para a janela, olhando a paisagem da cidade

sem lhe dar confiança.


Stefanio parou o carro em frente ao restaurante badalado que
estava lotado de fotógrafos. Sabia que havia algumas celebridades

na lista, mas, eu ouvi a imprensa chamando por Enzo e a morena

do elevador nos instruiu sobre quem olhar e onde devíamos parar.


Ele segurou a minha cintura em algumas fotos e em outras, sua

mão desceu para o meu quadril.

— Juliana Valentinni! — Meu melhor amigo gritou batendo

palmas e me joguei em seus braços, dando um abraço apertado. —

Senti saudades, garota. Deixe-me ver seu look! — pediu, fazendo

sinal para uma voltinha e assobiando. — Straordinario!

— Obrigada, amigo. Eu amei esse terno colorido, você quem

fez? — Ajeitei a sua lapela enquanto ele assentiu a resposta. —


Incrível! A costura está ótima!

— Quem é o homem gostoso que não sabe se me encara

com raiva ou cobiça a sua bunda? — Roberto me deu um olhar


engraçado. Virei e olhei para Enzo. Sua expressão não era das

melhores, na verdade, parecia assustador.

— Enzo Rafaelli, meu noivo. — Segurei seu braço e apontei


para meu amigo. — Roberto Filipo, meu melhor amigo.
— Melhor amigo? Interessante. — Enzo apertou a mão de
Roberto tão forte que meu amigo estremeceu um pouco, mesmo
assim, manteve o sorriso divertido.

Roberto grudou do meu lado, falando todas as fofocas que

conseguiu reunir enquanto estive fora e Enzo manteve-se do meu


lado ou atrás de mim, cumprimentando pessoas ou apenas me

oferecendo bebidas. Fui chamada para fotografar com o estilista do


meu vestido e ele ficou atrás do fotógrafo, de braços cruzados e
analisando friamente tudo o que estava acontecendo.

O fotógrafo pediu para erguer a minha perna e mostrar a

fenda, meu noivo disse algo bem baixo que fez o fotógrafo mudar de
ideia, cancelando a pose.

Quando fomos encaminhados à mesa, sentou-se ao meu lado

e ao cruzar as minhas pernas, ele colocou a mão possessivamente


em minha coxa. Nunca tive um contato direto com um homem,
sequer beijei na boca e era tão virgem como uma santa. Ter a sua

grande mão na minha coxa me causou arrepios.

O jantar foi servido e estava uma delícia.Apesar de Enzo não


conhecer todo mundo, ele conhecia algumas modelos e elas fizeram

questão de falar com ele, dar beijinhos e manter uma conversa


cheia de risadinhas irritantes. Apertei sua coxa, para mostrar que
estava muito bem ciente do que acontecia ao meu lado, mas não
virei meu rosto ou deixei de sorrir para Roberto e as outras meninas

que conhecia.

Foi um dos eventos mais longos que já participei e mesmo


com muitos momentos de diversão, no final da noite, estava exausta

e com os pés doendo.

Stefanio nos esperava do lado de fora do hotel, com o carro


pronto e eu estava muito feliz que não precisaria aguardar mais que

um minuto para arrancar os meus sapatos.

— Gostou de reencontrar as suas amigas? — Olhei para


Enzo e ele sorriu torto, de um jeito safado e irritante. Tirei os meus

sapatos, aliviada e massageando os meus dedinhos.

— Sempre é bom reencontrar as minhas amigas. — Mordeu


o lábio e eu bufei. Imbecil. — Estava muito bonita essa noite.

— Muito obrigada. — Sorri e tirei os meus brincos.

— Acho que vai sentir falta quando sair daqui — comentou,


ganhando totalmente a minha atenção.

— Sair daqui? O que você quer dizer?


— Nós vamos morar em Nova Iorque, não há nenhum
sentido em viver na Itália agora.

A surpresa me deixou muda. Como poderia mudar para um


país que eu mal falava a língua? Eu nunca saí da Europa, na
verdade, o máximo que viajei foi para a França, que não era nada

longe da Itália. Nunca cruzei um oceano e meu inglês era tão ruim
que costumavam rir das minhas tentativas de comunicação.

Por que eu estava vivendo dentro daquele pesadelo?


Três | Enzo

Juliana Valentini era uma dor de cabeça.

Quando meu pai me disse que fez um acordo de casamento

para mim, levou muito pouco para não estourar os seus miolos.
Lembrei que apesar de tudo, ainda existia algum sentimento no que
me restava de coração por ele. Amava irrevogavelmente a minha

querida mãe, matá-lo iria partir o seu coração. Como ele ousou ser
dono do meu destino? De cabeça quente, parecia a pior coisa do
mundo.

De cabeça fria também!

Pensei com calma e fui pesquisar sobre a garota... Uma


magricela blogueira de moda, famosa na Itália. Bonita, muito magra

e muito jovem. Nada contra garotas magras, mas ela parecia uma
amiga da minha irmã Carina e eu jamais poderia me sentir bem

comigo mesmo se parecesse com um pedófilo.

Infelizmente não havia nada que me fizesse fugir desse

casamento. Além dela ser filha do meu padrinho de batismo, que


virou inimigo e depois virou um nada, não era um homem de fugir de

acordos, por mais irritantes que fossem. Meu padrinho acabou


falecendo após o acordo, no qual a família Valentini e seus

associados tornaram-se nossos aliados. Quando ele morreu,


Nápoles passou a me pertencer também.

Me tornei o chefe de todos os chefes. O primeiro a dominar um

território tão vasto e ter tantas famílias sob o meu comando.

Levei um tempo para aparecer, primeiro porque precisava

lidar com muitas questões dessa união e segundo, porque Juliana

estava de luto após a perda de seu pai. Achei que seria um péssimo
momento para marcar nosso noivado, portanto, esperei os seis

meses oficiais de luto para ligar para sua Tia Malia, tia por parte do

pai dela, uma jovem senhora viúva que atualmente cuidava da


residência onde Juliana voltou a morar após sair da escola. Prestes

a completar vinte um, era um bom momento.

Não era nenhuma surpresa que a minha noiva não sabia que

estava prometida ao casamento. Não recebeu a notícia muito bem,

porém, nada me preparou para a coisinha nervosa, de sangue

quente, debochada e irritante que ela era. E linda. Se eu disse que

ela parecia uma criança devido a sua magreza e rosto de anjo, não

diria mais. Ela ganhou curvas generosas do enterro de seu pai até o
dia do nosso noivado.
Seu rosto ainda lembrava um anjo, mas quando abria a boca
deixava até Lúcifercom medo. Espinhenta, arisca e medrosa. Ela

deveria saber que demonstrar os seus medos alimentaria a sede de

um lobo como eu. Juliana atacava quando se sentia acuada, seus

olhos revelavam a profunda raiz do seu pânico.

Dormiu ao meu lado na cama com um travesseiro entre nós.

Um travesseiro. Ela era tão inocente que me doía. Como Valentinni

conseguiu criar uma menina tão pura no meio que vivíamos? Juliana

não tinha um osso maldoso. Seus rebates e birras eram de uma


criatura assustada com um casamento e um noivo desconhecido.

Não que eu tivesse paciência.

Se eu deveria ter mandado mensagens para ela durante as

semanas que se seguiram após o nosso noivado? Sim. Mas

esqueci, portanto, me julguem. Era novo na história de


relacionamentos e para mim, ela não queria falar comigo, dada a

sua irritação durante o nosso noivado. Minha mãe me pediu para ir

com calma e paciência. Ela esqueceu que meu apelido era besta,

porque não tinha calma e muito menos paciência.

— Enzo? — Ela me chamou baixinho. — Pode apagar a luz?


— Claro. — Apontei o controle para o teto, diminuindo a luz

completamente.

Sem responder mais nada, ficou paradinha até que sua


respiração relaxou e estava finalmente dormindo. Como não era de

dormir, fiquei horas olhando para o teto, cochilando, acordando,


fazendo hora até o dia finalmente amanhecer e o despertador dela

tocar. Resmungando um pouco, saiu da cama com seu sexy


pijaminha de seda e foi ao banheiro, com o cabelo meio revoltado.

— Pode pedir o café da manhã? Preciso de três frutas nele,


por favor — pediu ao sair e me encarou, sem camisa, de cueca, em

cima da cama preguiçosamente. — E coloque uma roupa —


resmungou, indo até sua bolsa e tirando vários frascos de remédios.

— Que medicações são essas?

— Não é da sua conta. — Tirou alguns comprimidos de cada


vidro.

Levantei da cama em um salto e tentei pegar apenas um,

mas ela empurrou todos de volta para sua bolsa. Foda-se, isso não
ia me impedir de descobrir que merdas eram aquelas.
— Não vou perguntar de novo. — Meu tom foi baixo, não

queria ser ameaçador. Não queria que Juliana tivesse medo de mim
como minha mãe tinha do meu pai. — O que é?

— Vitaminas de modo geral, um inibidor de apetite e outro

para me dar energia. — Desviou o olhar e abriu as mãos, para que


eu visse os comprimidos coloridos. Fui até a mesa da sala, pegando

a jarra de água e enchi um copo, lhe entregando.

— Todos os dias?

— Só o para ansiedade que é todos os dias, parei de tomar

por conta própria. As vitaminas são apenas três e o preto é uma vez
na semana. — Bebeu os remédios. — Satisfeito? — resmungou e

mais uma vez vi a fraqueza transparecendo em seus olhos


castanhos tão lindos.

— Quero saber exatamente o que acontece com você,


portanto sim, satisfeito. Depois conversaremos sobre o uso das

medicações, agora vou pedir o seu café da manhã e você vai se


arrumar para sairmos. — Ela apenas me deu um olhar curioso, mas

não me perguntou nada, voltando para o quarto.

Pedi o nosso café da manhã e em seguida, enviei uma


mensagem para Stefanio se preparar, porque sairíamos em breve.
Antônia poderia continuar no hotel, sua presença no meu passeio
com a minha noiva não seria necessária. Carina me enviou uma
lista de coisas que poderia me ajudar a quebrar o gelo com o

iceberg que me casaria em outubro e estava tentando, antes de


perder minhas estribeiras.

— Estou pronta. — Saiu do quarto com um vestido branco,

um chapéu e botas. Ela sabia se vestir. Eu apenas usava as


combinações programadas porque não me importava com essa
merda.

— Seu café estará aqui em breve.

— Preciso que tire uma foto minha na varanda. — E foi

embora como se tivesse me dado uma ordem. Apertei a ponta do


meu nariz e de cueca mesmo, peguei seu telefone e esperei que
fizesse a pose no canto. Ela fez mais algumas, empinando a bunda,

não tinha nenhuma inibição para fotografias. Entreguei o telefone e


ela sorriu. — Obrigada, ficaram boas.

Resignado, voltei para o quarto e entrei no chuveiro, com a

porta aberta. Ela precisava se acostumar com nudez e intimidade,


porque não iria procurar outra na rua tendo uma linda mulher em

casa. A não ser que ela não me quisesse. Ao sair do banheiro, com
a toalha na cintura, notei que ela havia disposto a minha roupa em
cima da cama, deixando claro como queria que eu me vestisse.

Vesti a combinação do dia, passei perfume, penteando o


cabelo e colocando as minhas joias. Pronto, me sentei para comer e

peguei o jornal. Juliana estava apenas comendo as frutas conforme


pediu e depois comeu um pãozinho com pastrami.

— O que vamos fazer? Tenho que estar no desfile no fim da

tarde.

— Passear por Milão.

— Juntos? — Arqueou a sobrancelha, desconfiada.

— Gostaria de fazer isso com o Roberto? — retruquei e ela

me deu um olhar engraçado, não falando absolutamente nada. —

Vamos.

O passeio ia ser a porcaria de um desastre se ela quisesse

andar por aí com outro homem que tinha livre acesso ao seu corpo.

Quase soquei o rosto do idiota por abraçá-la daquele jeito.


Infelizmente, estávamos em público e não podia agir como meu

sangue mandava, mas Juliana não gostou nenhum pouco que


algumas modelos de tempos passados ficaram empolgadas em me

ver. Eu ficaria feliz em vê-las, mas era tortuoso estar nesse limbo.

Stefanio parou na Piazza Del Duomo e dali seguiríamos a pé

para diversos lugares. Juliana desceu do carro com a minha ajuda e


não soltei sua mão. Ela olhou para o alto, respirando fundo e sorriu

um pouquinho empolgada.

— Aqui é tão lindo. — Suspirou e continuou ao meu lado,


olhando ao redor. Ela gostava mesmo de tirar fotos e percebi que

estava postando na internet. Isso era muito ruim porque todos

saberiam a nossa localização em tempo real e não havia

privacidade. Era um tanto perigoso e não sabia como dizer para não
postar imediatamente sem estragar o pequeno clima bom entre nós.

— Existe alguma possibilidade de não postar imediatamente


onde estamos? — Tentei soar o mais calmo possível e seu olhar foi

feroz.

— Quer controlar as minhas redes sociais também?

— Não disse isso. É muito perigoso dar a nossa localização

gratuitamente. Qualquer pessoa no mundo pode nos localizar agora.


Seu pai e eu lidamos com negócios importantes e para te manter

segura é preciso um pouco de prudência. Não estou dizendo para


não postar, só não imediatamente — retruquei e ela me olhou por

um tempo, sua cabecinha quase saía fumaça, felizmente, fez um

beicinho e parou de gravar tudo. — Pensei em começarmos por


aqui, atravessar a Galeria Vittorio Emanuele IIaté a Piazza Scala.

Podemos parar para almoçar e então iremos ao quadrante da moda

para fazermos compras. Minha irmã me pediu umas coisas…

— Fazer compras? — Seus olhos eram duas bolas

brilhantes.

— Estamos na capital da moda. — Sim, estava comprando a


minha noiva com roupas. Enzo Rafaelli, a pessoa que tinha bucetas

a gosto, castrado por uma louca de sangue fervendo.

Animada, andou pela praça, pediu para ser fotografada,

comprei-lhe um gelatto e andamos entre as lojas, feirantes e

provamos algumas amostrinhas dos restaurantes. Tirei uma foto

dela, distraída,lendo um cardápio no meio do arco da galeria. A foto


ficou realmente muito bonita. Ela era linda, então, qualquer

fotografia dela ficaria perfeita. Guardei o meu telefone e depois de

horas andando, paramos para almoçar em um pequeno restaurante


na Piazza Scala.
Pedi risotto alla milanese, ossobuco e cassoeula. Juliana não

reclamou, mas escolheu os vinhos e a sobremesa. Beliscando os


pães com antepasto, mexendo no telefone e então, o meu vibrou no

bolso. Era Emerson, meu irmão que não estava muito feliz comigo

por perder a posição de vice para o primo mais jovem de Juliana,


Alessio.

— Sim. — Atendi friamente. Precisava dar a ele uma lição ou

um soco, ainda estava deliberando.

— Maurizio convocou uma reunião com os chefes —

comentou, em menção do meu conselheiro. Ele foi escolhido

politicamente, para manter alguns chefes e famílias quietas, mas


não significava que ouvisse os seus conselhos ou confiasse. Algo

nele me dava nos nervos. — Ele quer se casar com a Antônia. —

Minha prima de segundo ou terceiro grau, que trabalhava como


minha assistente.

— Não fale nada enquanto o assunto não chegar até mim

oficialmente.

— Tudo bem. Quando você volta para casa?

— Em breve.
Respondi as mensagens de Isla e mandei que Ângelo fizesse

uma varredura. Havia muito o que fazer nos Estados Unidos,

principalmente em Nova Iorque, mas meu noivado deixou muitas

pessoas perigosas agitadas e eu precisava colocá-las em seus


devidos lugares.

Juliana ainda não poderia se mudar comigo, o casamento

estava previsto para acontecer na Itália e eu não podia ficar tantos


meses fora. Não fazia ideia de como fazer um relacionamento

funcionar presencialmente, muito menos a distância. Não podia

decidir nada imediatamente, portanto, foquei a minha atenção nela,


nos seus traços suaves e na boca cheia, bem delineada. Seu nariz

era pequeno, arrebitado, algo que muitas pagavam para ter e nela

era natural.

Como o meu padrinho conseguiu fazer uma criatura bonita

estava longe da minha concepção. Não lembrava da mãe dela, era

muito pequeno quando ela morreu. Eles não tiveram mais filhos e ao
contrário de muitos chefes das famílias italianas, Valentinni não se

casou novamente para tentar um herdeiro para seus negócios.

Juliana, Carina e a minha prima Sandra, eram as únicas filhas de

chefes do alto escalão... Eu fui premiado três vezes. Uma se


tornaria a minha esposa, outra era minha irmã e a outra, minha

prima, casada e com filhos, mas não deixava de ser a minha prima.

— Você quer provar? — Ofereci um pouco do meu ossobuco

ao perceber que ela só se serviu com risoto. Aceitou a minha

garfada, soltando um gemido apreciativo. — Sirva em seu prato.

— Não posso, tem muita gordura e me faz mal. Eu adoro,

Martina faz sempre com menos gordura possível para que possa

comer. — Ela me deu um sorriso e voltou a comer o seu risoto. — A


comida aqui é deliciosa, nunca almocei neste lado da cidade. Mal

vejo a hora de experimentar a sobremesa.

Assim que terminamos de comer, ela pediu licença para ir ao

banheiro e paguei a conta, aguardando na entrada, olhando os

passantes do lado de fora e por um segundo me perguntei se ela


fugiria e me deixaria esperando, mas não fez. Parou do meu lado e

me deixou segurar a sua mão até o carro, aonde iríamos para meu

pior pesadelo e ao mesmo tempo minha maior aposta: fazer

compras.

Degustando um cafezinho, passeamos com calma até o

esquadrão da moda. Paramos em frente a uma grande loja que


vendia todas as marcas de alta costura e os olhos de Juliana quase
pularam para fora.

— Uma Lady Dior original. — Suspirou, colocando a mão no


peito. — Papai me deu algumas bolsas de marca, mas, todas de

segunda mão. Ele achava o preço um absurdo.

— Não deve ser tão cara assim... — Peguei a plaquinha do


preço. — Cacete, é costurada com ouro? — Gastava o que fosse

com carros e bebidas, mas bolsas? Elas não duravam, não corriam

e nem me deixavam bêbado. — Enfim, escolha o que quiser,

precisamos refazer o seu armário porque tenho uma vida social


meio agitada, como deve imaginar.

— Muito badalada? Quase não saio à noite, não tenho muitas


opções e isso será muito caro. Minha tia não me deixa sair mesmo

com Roberto, que cresceu comigo e é extremamente responsável —


comentou enquanto olhava mais bolsas e fiz uma careta com a

menção do tal do Roberto de novo.

— Sua Tia Malia era quem acompanhava o seu pai nos


jantares da família?

— Ele não me autorizava ir. — Olhou para a bolsa. — Tem


certeza?
Fiz sinal para a ansiosa vendedora se aproximar.

— Minha noiva precisa de um novo armário social e o que


mais ela quiser — expliquei e Juliana me encarou intensamente.

— Não vai comprar o meu afeto com roupas de marca —

falou timidamente.

— Não quero te comprar, você já é minha.

Juliana franziu o olhar na minha direção, ameaçadora, mas a


vendedora lhe chamando a fez abrir um sorriso frio, muito maldoso.

— Vamos ver o quanto a sua carteira é capaz de me

aguentar — disse bem baixinho e foi desfilando até a área principal


da loja.

Minha noiva queria me falir. Muito bem... Ela poderia tentar,

mas não ia conseguir.

Pelas próximas horas, Juliana estava sendo vestida com as


melhores marcas do mundo e soltou um grito de excitação ao

descobrir que havia modelos exclusivos, escolhendo alguns novos


para os seus compromissos em Milão. Me sentei em um banco,
trabalhando pelo celular, tentando ajudar a minha meia-irmã por

telefone e erguendo meus polegares sempre que aparecia para me


mostrar as suas escolhas. Com milhares de sacolas no banco de
trás do carro, seguimos a pé até a Tiffany's.

Ao meu lado, parecia inquieta.

— Você escolheu essa aliança sozinho? — Rodou o anel em


seu dedo.

— Era da minha avó. — Seu olhar surpreso me fez rir. —


Minha avó materna, ela deixou para mim quando morreu. Pedi um
anel seu para sua Tia Malia e mandei ajustar. Seus dedos são mais

finos que os dela.

— É muito bonito. — Deu atenção a uns colares. Escolhi um


e peguei. Era uma correntinha fina, com vários corações

entrelaçados com diamantes.

— Quero levar esse. — Determinou para a vendedora.

Juliana ignorou a minha escolha, sem perguntar para quem

era o presente, seguindo com as suas escolhas de joias. Depois da


conta astronômica na loja, somando com as joias que ela escolheu
para levar, significava que poderia muito bem me levar à falência,

mas não estava reclamando, esse desafio eu não iria perder.

Nunca perdia os meus desafios.


Quatro | Enzo

Minha estadia em Milão foi melhor que imaginei e ainda

protelei o meu retorno aos Estados Unidos por mais alguns dias,
voltando para a Villa Valentinni com Juliana. Ao chegarmos, Martina
me colocou no quarto mais distante e me deu uma conversa severa

sobre preservar a pureza da sua menina — e a velha senhora não


estava se importando que eu era o seu chefe.

Juliana me deu um tour pela casa no dia seguinte que


chegamos, ela parecia menos arisca, mas também não falava muito.

Nós conseguimos manter uma conversa durante as refeições e na


viagem de volta para a sua casa, no mais, ela se mantinha fazendo
as suas coisas e ocupada consigo mesma sem me dar um pingo de

atenção.

— Está vendo essas rachaduras? — Apontou para o alto. —


A casa está basicamente toda assim. Ela é muito antiga e é uma

das poucas que preservam a arquitetura antiga da região. Queria


muito reformá-la. Sei que está reformando os galpões e estavam

precisando mesmo, mas assim que puder, quero reformar aqui.


— Sim, nós faremos isso e talvez modernizar um pouco por

dentro. Trocar todo o sistema elétrico e colocar um sistema de


aquecimento e refrigeração nos quartos.

— Obrigada. — Sorriu e me olhou, mordendo o lábio. —


Como vai ser agora? Sei que vai embora amanhã, ouvi sua

conversa com o seu piloto…

— Estarei de volta em setembro e ficarei até o casamento,


basicamente teremos o verão separados, mas podemos nos falar.

Trocar mensagens. Isso é novo para mim também. — Cheguei mais

perto e ela recostou na parede.

— Acho que posso lidar com isso.

Me aproximei ainda mais e beijei a sua bochecha, bem


próximo a boca e meus lábios formigaram por mais. Ela era tão

cheirosa, pele macia, encaixou perfeitamente entre os meus braços

e aquilo era o máximo que podia avançar. Nem quando era

adolescente fui devagar com uma mulher, com trinta anos, era
obrigado a manter bases calmas.

Não a vi mais depois do encontro no corredor, ela sequer saiu

do quarto no dia seguinte para se despedir e a minha cabeça estava

explodindo com tantas coisas para fazer. Era preciso voltar aos
Estados Unidos e lidar com alguns ratos roendo minhas coisas sem
autorização.

Quando o meu pai aceitou fazer parte de um grupo de sócios

ricos para dominar alguns territórios no país, percebi que estava

maluco. Era para ser uma coisa nossa. Nosso dever. Ao conhecer

os planos da Elite e o quanto passamos a lucrar infinitamente mais

em lugares onde nem era de nosso interesse, gostei de ficar. E


obviamente, conheci pessoas mais leais que a minha própria

família.

Dominic, Alex e Kyra.

Kyra salvou a minha vida tantas vezes que nem podia contar.

A garota era pequena, com grandes olhos e tinha um sangue ruim


correndo nas veias, era muito boa com tiros de longa distância. Seu

marido, Alex, era um bastardo frio que qualquer pessoa em sã

consciência teria medo. Dominic era bom, ele tinha um bom

coração, um homem de família, querido... Até que pisassem no seu

calo. E eu era o que eles chamavam de besta.

Quando estava com raiva, o que era quase o tempo todo, não

conseguia parar. E porra, por quê parar? A Agência e a Elite

passaram por uns bocados nos últimos anos e eu sabia que era
apenas o começo. Não importava o que fosse acontecer conosco no

futuro, estávamos nos preparando. Algo iria acontecer. Uma guerra


ou um armagedon, treinamos para isso e nos cuidamos para

sobreviver.

Longe de sermos vistos como salvadores, todos eram

ambiciosos e filhos da puta, porque no fim, tudo o que fazíamos era


para salvar os nossos e enriquecer cada vez mais.

Quem não gostava de ter poder? Eu amava a porra do poder.

Cheguei em Nova Iorque e fui até a obra do meu novo


apartamento. Uma imensa cobertura no Upper East Side que

comprei para viver com Juliana. Comprei o prédio inteiro. Morava


em um loft, porque não precisava de muito espaço, mas depois do

casamento todo o espaço do mundo não seria o suficiente.


Obviamente, me sentia na obrigação de dar a ela a melhor moradia.

— Precisa estar pronto até setembro, sem atrasos — ordenei


ao arquiteto depois do longo tour pela reforma. — Está tudo dentro

dos conformes, só não atrase a entrega das chaves. — Dei as


costas, saindo do lugar e com o meu telefone no ouvido. — Estou

chegando, Emerson.
— Estamos nos divertindo tanto... — Emerson soou sombrio.

Encerrei a chamada e entrei no meu carro.

Normalmente andava com dois homens ou com meu irmão o


tempo todo, mas naquele dia não estava com saco para ter alguém

me seguindo. Estava me sentindo impaciente, irritado e ansioso.


Dirigi em alta velocidade com meu Aston Martin Vulcan cinza
escuro. Parei em frente a um complexo abandonado na parte mais

desabitada do Brooklyn e entrei na garagem.

Meus homens estavam no canto, dois fumando e dois em


alerta. A porta de ferro estava aberta e podia ouvir os gemidos de

dor dentro do quartinho que usávamos para conversar com alguns


dos nossos amigos... Ou quase isso. Peguei uma cadeira de ferro e
fui arrastando pelo chão de cimento batido e o homem sentado na

cadeira, com sangue escorrendo por todo lado tremeu de medo,


sabendo que o pior estava por vir se ele não me desse as respostas

necessárias.

— Parece que temos aqui alguém que pegou algo que me


pertence... — Tirei o meu canivete do bolso, abrindo e cravando na
coxa dele. Seu grito ecoou no espaço vazio. — Cadê a porra da

minha coca, seu ladrão de merda?


— Não roubei a sua coca, eu juro. Já disse isso — gemeu, se
contorcendo na cadeira. Sua pele normalmente pálida estava roxa.
Seth Shaw era um atravessador, sua traição custaria muito caro.

Olhei para o meu irmão e ele sinalizou para ir em frente, então,


empurrei a faca em sua coxa um pouco mais. — O seu homem

mandou enviar tudo para um armazém em Maryland.

— Nomes. Eu quero nomes. — Comecei a rasgar sua pele

lentamente em direção ao joelho.

— Maurizio me procurou, ele disse que você queria mudar as


coisas. Mandei tudo para lá, do jeito que chegou do carregamento.

— Ganiu em agonia e parei o meu movimento com o canivete.

— Se a minha coca não estiver lá, considere-se morto —

ameacei baixinho e ouvi o endereço recitado entre ofegos. Emerson


digitou em seu telefone, provavelmente enviando para Angelo,

nosso primo e o T.I da nossa família.

A família Bianchi iria cuidar do restante.

O aceno simples de Emerson meio que confirmou que era

verdade, porém, precisaríamos entrar lá então, enviei uma


mensagem para Nicola Bianchi, um dos meus homens de D.C e só

faltava aguardar. Observando o homem sangrar no que


provavelmente levaria a sua morte, minha mente viajou para Juliana
e o que poderia estar fazendo. Fotografando? Postando fotos na
internet? Era difícil saber quando não a conhecia. Stefanio me dava

um relatório apenas se algo acontecesse...

Talvez deva mudar para relatórios diários.

Seth começou a tremer, frio e fraqueza pela intensa perda de


sangue. Acendi um cigarro, soprando a fumaça e mais uma vez, me

perguntei que diabos Juliana estaria fazendo. Ela sequer me enviou


uma mensagem... E dessa vez, deixei todos os meus contatos, não

havia uma desculpa plausível para me ignorar. Talvez devesse

enviar uma mensagem... Eu não fazia ideia de como agir ao redor

dela.

Recebi a ligação que aguardava.

— Tudo encontrado, Sr. Rafaelli. — Nicola me informou.

Me levantei, fechei o meu terno, ajeitei o meu cabelo, estiquei

a mão e Emerson colocou uma pistola automática com um


silenciador na minha mão. Mirei bem na cabeça. A explosão era

sempre... uma surpresa.

— Desapareça com as evidências, ainda não queremos dar a

pista que chegamos perto do traidor. — Olhei para o meu irmão e


ele assentiu. Abracei-o e dei um beijo. — Amo você.

Emerson apenas grunhiu e saiu de perto, sorri para a sua

vergonha e voltei para o meu carro. Precisava estar na empresa,

entender um pouco sobre a vinícola.Fiquei focado nisso, porque era


a porra de um negócio real, não apenas lavagem de dinheiro como

as minhas boates. Dominic e eu estávamos abrindo mais algumas,

para expandir e manter os nossos nomes reais limpos.

Não que essa porra importasse. Estávamos dentro da polícia,

da política e onde mais nos interessava.

Uma semana após o meu retorno da Itália, ainda não havia

nenhum sinal de Juliana. Eu não sabia o que ela queria, que eu

mandasse mais uma mensagem e iria dizer o que? “Oi, me

responda”? Os dias que passamos juntos foram bons, ela era bonita
e eu espiei bastante as suas trocas de roupas para descobrir o quão

linda ela era. Ainda acompanhei alguns dos seus trabalhos e ela era

muito boa no que fazia.

Estava no escritório com Antônia relatando os gastos da tia

de Juliana com o casamento, quando recebi um e-mail. Era o

fotógrafo que fez um ensaio de Juliana pela cidade usando as


roupas da marca que a convidou para a viagem e eu disse a ele que
deveria me enviar para serem aprovadas ou ele nunca mais

fotografaria nada.

Sem os dedos, como poderia trabalhar?

Cliquei na primeira foto e meu pau ficou imediatamente duro.

Eram as fotos de roupas íntimas, que não fiquei dentro do estúdio


porque ela não quis, obviamente, estava muito puto e entediado do

lado de fora e me concentrei no trabalho. Se eu soubesse que ela

estava usando aquelas roupas íntimas,aquele fotógrafo estaria sem


os olhos. A voz de Antônia estava me irritando.

— Saia.

Puta que pariu... Ele não ia publicar aquelas fotografias. Não

as de roupas íntimas. Juliana era tão sexy que não fazia ideia que já

comandava o meu pau. As demais, ela estava bem vestida, aprovei


praticamente todas e voltei a olhar seu mamilo brincando de pique

esconde com a renda escura. Juliana gostava de moda, de ser

fotografada e seu corpo era muito perfeito. Curvas, cintura fina,

seios... Uma bela bunda e o rosto assimetricamente perfeito.

Salvei as fotos no meu HD privado e respondi com as

aprovações. Foi difícil tirar o meu pensamento da bela curva dos


seios de Juliana enquanto trabalhava na recuperação da vinícola.
Apesar do vinho ser bem quisto pelo mundo, Valentinni deixou um

negócio cheio de dívidas, mas que poderia ter prosperado,


rendendo pouco. Transformaria a marca em uma bela potência

mundial e se eu tinha que estar casado com sua filha, faria desse

casamento um negócio financeiro muito agradável.

Pela primeira vez em anos estava trabalhando em algo

perfeitamente legal. Após o meu expediente no trabalho, fui para

casa, louco para beber e não pensar em caralho nenhum.

— Fala sério. — Dominic disse, rindo. Levantou-se do meu

sofá e foi até a minha geladeira, pegando duas cervejas e voltando.


Peguei a que me ofereceu. — Está gostando de um negócio limpo?

— É diferente, porém, não tão limpo. Só que o dinheiro da

família Valentinni no vinhedo nunca foi lavado. Os vinhos eram o


dinheiro... É por isso que eles não eram muito bons — retruquei e

ele riu, divertido.

— E a sua noiva?

— O que tem ela?

— Como está todo processo... Cortejar, conversar e flertar?

— Você precisa parar de conversar com a Kyra. Em que


mundo vivem? — Fiquei meio puto. O que eles queriam que eu
fizesse?

— A menina não te conhece, homem. Manda uma

mensagem, puxe assunto, faça uma chamada de vídeo…

— Saí daqui até a Itália, fiquei com ela, até achei que nos

divertimos... Mas Juliana é mais difícil do que imaginei. — Dei de


ombros, bebendo a minha cerveja. — Estou fazendo a minha parte,

cuidando dela financeiramente, reformando um imenso apartamento

para morarmos após o casamento e pagando a festa que ela quer.

Dominic me deu um olhar engraçado e o retorno do jogo o

impediu de falar mais. Juliana poderia ter me ligado ou enviado uma

maldita mensagem. Em dois meses estaria lá na Itália, para passar


um mês antes do casamento e em seguida, retornaríamos para

casa. Fiquei com a mente fervendo, quase quebrando a porcaria do

meu telefone, pensando que se enviasse uma mensagem e ela não

me respondesse, iria surtar. Quando Dominic foi embora para sua


casa, do outro lado da rua, pensei em enviar algo, dizendo boa

noite, mas lá já era o meio da madrugada e não havia nada mais

que pudesse dizer.

Passei a noite malhando e bebendo, não sentia tanto sono

como qualquer pessoa normal. Fui habituado a nunca relaxar


completamente enquanto dormia e um homem como eu, não podia

cair na besteira de simplesmente baixar a guarda.

Emerson chegou na minha casa ao amanhecer e parecia que

não havia dormido muito também.

— Como foi a noite? — Olhei-o enquanto fazia um café forte.

— Longa. Dei uma volta por aí, verificando se estava tudo


bem. — Brincou com o seu telefone. Analisei seu rosto e ele não

parecia ter usado drogas, apenas bebido um pouco. — Maurizio fez

uma festinha com muitas garotas ontem, fora isso, nada relevante.

Meu telefone vibrou em cima da mesa e li a mensagem.

— Giovanni me enviou uma mensagem dizendo que Alessio


está pronto para nós — informei ao meu irmão. — Em menos de um

ano.

— Ele ainda vai precisar de mais, de ser mais... refinado.


Parece você, desembestado. — Encheu uma caneca. — Papai me

pediu para ir à Sicília, ficar com o vovô enquanto Ilaria e Marcus

estão fora.

— Não tem problema, posso lidar com Alessio junto com

Ângelo até a sua volta. E por que precisa ir até lá?


— A mamãe quer garantir que ele está fazendo todos os
exames corretamente e visitar a sua noiva, para que se sinta da

família e falar dos planos do casamento. Papai me pediu para ser a

babá — gemeu meio consternado. Emerson não era meu irmão


biológico, mas isso não fazia diferença para mim. Éramos ligados

pelo sangue através da minha mãe, já que ele era seu sobrinho.

— Faça uma boa viagem e se cuide.

— Voltarei o mais rápido que precisar de mim, por favor,

precise de mim — implorou resignado e saiu. Fiquei olhando para o


dia lá fora, fazendo hora para sair quando meu telefone vibrou mais

uma vez. Era Stefanio.

“A Srta. Valentinni recebeu visitas masculinas que ficarão

pelo verão. Informei a ela sobre a restrição e disse que te ligaria”.

Visitas masculinas? Que porra Juliana pensava que estava

fazendo?

Mais uma vez o meu telefone vibrou e era Kyra.

— Olá, querida.

— Olá, imbecil. Seu rato está causando problemas. — Sabia

de quem estava falando. — Ele está se encontrando com o pai da


sua ex-namoradinha, que por sua vez, está perguntando demais
dentro do senado.

— Não posso dar um jeito nele agora, não antes de trazer a


família Valentinni totalmente para dentro. Já estão com dificuldade

de aceitar os novos membros, um vice que veio do outro lado e


claro, uma esposa, a qual foi vista como a princesinha do inimigo. —

Kyra grunhiu na linha.

— Vou dar meu jeito, mas não estou felize você sabe muito
bem o que acontece quando fico puta da vida — Resmungou toda
irritadinha. — Os Vaughn podem lidar com isso no momento.

— Seu marido não está dando jeito em você, amor? —


provoquei, sabendo que Alex certamente estava ouvindo.

— Ele deu tanto jeito que estou mancando, idiota — rebateu

ainda mais irritada.

— Ela está para matar, Enzo. — Ouvi a voz de Alex e então


um gritinho infantil. — Bom dia, meu amor! — Ele disse, animado e

amoroso.

— Falamos depois, Enzo. — Sua voz estava nitidamente


mais suave.

— Um beijo na pequena — disse e encerrei a chamada.


Era hora de lidar com as visitas masculinas da minha noiva.
Cinco | Juliana.

Estar noiva era surreal. Logo que o mundo descobriu que Enzo

Rafaelli estava noivo de Juliana Valentinni, o novo rosto queridinho


das redes sociais, a minha vida ficou um pouco... infernal. Com isso,
o meu número de seguidores americanos aumentou bastante. Enzo

era conhecido pela mídia e parecia ser uma figura repetida pelas
revistas de fofoca.

Stefanio me disse que precisava da autorização do meu


noivo para receber os meus dois amigos muito bem casados... um

com o outro. Não podia acreditar que estava vivendo algo assim. A
casa era minha, que inferno. Stefanio estava suando desde o
momento que disse que precisava da autorização do Sr. Rafaelli

para permitir a estadia dos meus amigos na casa principal.

A casa de hóspedes estava caindo aos pedaços, muitos anos


sem uso, sem os devidos cuidados e nem havia água quente ou

banheira nos quartos. Jamais colocaria os meus melhores amigos


ali dentro. Me recusei a ligar para ele, não ia pedir, era um absurdo.

— Sr. Rafaelli ligou duas vezes para o seu telefone, Srta.


Valentinni. — Stefanio disse baixo, respeitoso como sempre e
tremendo no lugar.

— Irei atender no quarto, obrigada. — Desviei o meu olhar de

Roberto caminhando com o Max, seu marido americano, pela trilha

principal que dava para a vinícola.Era uma linda visão naquela hora
do dia.

Resignada, subi as escadarias de pedra até a varanda do

meu quarto e então, peguei o meu telefone vibrando em cima da


cama. Me sentei na pontinha, deslizei a tela pensando que estava

na hora de trocar meu telefone, já era ultrapassado e as fotografias

que Enzo tirou no moderno aparelho dele ficaram muito boas. Talvez
ele devesse me dar um de presente, já que me enchia tanto o saco.

— Juliana. — Foi a saudação fria do meu digníssimo noivo.

— Enzo — rebati, puta, com o meu sangue fervendo. — Por

que nesse mundo preciso da sua autorização para receber os meus

amigos na minha casa?

— Sou o seu noivo e a sua casa é minha agora. — A audácia


do idiota me deixava com desejo de sangue. — Quem está aí?

— Roberto e seu marido. — Me joguei na cama, olhando

para o teto.

— Aquele seu amigo explosivo de Milão?


— Ele mesmo e seu marido vieram para passar o verão e me
ajudar com os preparativos do casamento. Estou há anos

convidando-os para ficar uma temporada comigo. Será como uma

lua-de-mel para eles também, que nunca ficaram aqui depois que

Roberto assumiu que era gay. A avó dele, a Martina, não aceitou

muito que seu único neto gostava de homens... — Tagarelei e me

odiei que estivesse me explicando para ele.

— Vai ficar feliz?— Sua pergunta me pegou desprevenida.

— Sim... Roberto é o meu amigo de maior confiança.

Enzo ficou em silêncio por um tempo.

— Por que você não me liga?

— Por que você não me liga? Por que tenho que ser a única

a te procurar?

— Não vejo dessa forma, mas se te incomoda, não

precisamos nos falar.

Claro que não via, o rei na barriga dele impedia de enxergar

corretamente o mundo ao seu redor.

— Não sei se temos assunto — murmurei mais para mim

mesma do que para ele, mas servia de reflexão para nós dois.
— Não vai saber se não me ligar. Ou se não responder as

minhas mensagens — disse e então, ouvi um barulho suave ao


fundo. — Minha mãe estará aí em algum momento para ajudá-la

com os preparativos, será bom para se conhecerem melhor.

Não queria soar grosseira em dizer que a companhia da mãe

dele não me interessava muito, então não falei nada. Apenas segui
com minha curiosidade seguinte.

— E você?

— Estarei aí no dia do seu aniversário e ficarei até o nosso


casamento.

— Tudo bem, te vejo em alguns meses — respondi com uma

sensação esquisita no peito que iríamos casar e não nos


conhecíamos. Não foi assim que imaginei o meu casamento.

Quando menina, sonhava que encontraria um homem bom, justo e


leal. Ele seria romântico na medida certa, bonito e cuidaria de mim.
A melhor parte, o meu pai aprovaria.

— Até breve, Juliana.

— Tchau, Enzo. — Suspirei e encerrei a chamada.

A realidade da vida adulta era que me casaria com um


homem muito bonito, charmoso, e pelo que li, o sonho de consumo
da maior parte das mulheres. Suas ex-namoradas eram todas

modelos, lindas, altas, magras e saíam nas capas das revistas em


completo estado de perfeição.

Me levantei e me olhei no espelho, segurei os meus peitos...

Me sentia bonita depois que ganhei algum peso, mas era muito
chato precisar me controlar todo o maldito tempo. Quando minha
ansiedade atacava, queria comer a casa inteira e isso não me fazia

bem, me levando a vomitar tudo que ingeri. Estava tomando


medicações para controlar e fazendo um tratamento psicológico

que, felizmente, estava me ajudando muito.

A morte do meu pai me tirou do eixo. Depois de ser criada


sem uma mãe, com a memória de uma mulher que só via bonita e
intocada em quadros na parede, perder o meu pai me fez sentir

totalmente sozinha na vida. Se a minha tia e o meu primo


morressem, o que aconteceria comigo?

Ignorei os pensamentos que me davam ansiedade e prendi

meu cabelo, saindo do meu quarto. Max e Roberto estavam na


cozinha, bebendo limonata bem batizada e conversando com a avó
dele, a Martina. Tia Malia estava olhando-os criticamente,

emburrada. Não aceitava gays, porque era machista. Não precisava


da opinião dela e apenas para irritar, abri um sorriso doce.
— Enzo lamenta não poder estar aqui, mas está feliz que
estou com meus dois melhores amigos. — Abracei ambos. — Ele
chega a tempo do meu aniversário, acho que devemos planejar uma

festinha para a família.

— Amo planejamentos. — Roberto beijou a minha bochecha


e sorriu. — Trouxe uma pasta com os modelos exclusivos de
vestidos de noiva. Uma Valentinni precisa se casar com algo que irá

abalar as estruturas das revistas de moda por anos... Vão até


esquecer do icônico vestido da Kate Middleton.

Ouvindo sobre vestidos e preparativos, minha tia deixou de

ser rabugenta e nos seguiu até o escritório, arrulhando com as


fotografias dos modelos. Eram todos muito bonitos e os desenhos
que Roberto conseguiu com as marcas eram exclusivos para mim.

Entre mais de cem croquis, o meu olho bateu em um desenho


simples que ainda não estava colorido.

Peguei e o analisei com calma, pensando nas alterações,

porque o vestido não podia ser tão simples, mas eu não queria nada
absurdamente ostentoso.

— Esse é de um amigo, está começando agora. — Roberto


explicou, puxando o modelo. — É simples, porém, imaginei que
ficaria divino no seu corpo e podemos abusar nas joias e flores.
Como seu casamento será na antiga igreja aqui do vinhedo,
podemos investir em detalhes que irão destacar a sua beleza.

— Vai ficar tão linda, minha querida. — Tia Malia pegou o

croqui e suspirou, me analisando. — Joias delicadas nas orelhas e


pescoço... Pulseiras mais chamativas e talvez adornar com umas

pedrarias na cintura? — Sugeriu e sorri, caramba, ela escondeu a


sua criatividade todos esses anos.

— Não sabia que havia uma veia tão criativa para moda em

você, titia. Será esse... Quando precisamos agendar para tirar as

medidas?

— O quanto antes, para não termos nenhum problema ou

surpresinha. — Roberto respondeu e imediatamente ligou para o

seu amigo, marcando uma data para nos encontrarmos. Em


seguida, Tia Malia aproveitou para escolhermos as flores, os tons

dos guardanapos e as cores principais. Estava muito indecisa,

precisei olhar inspirações para me sentir conectada com o

momento.

No final do dia, ganhei uma agenda personalizada do Max e

era para anotar tudo sobre o casamento, incluindo o que estava


sentindo. Quando me refugiei no meu quarto, antes do jantar,

escrevi um pouco, anexei o croqui do vestido e tudo que decidimos.


Acabei me empolgando e decorando com adesivos, canetas

coloridas e desenhos.

Desci para jantar apenas com a tia Malia e os meus amigos.

Martina comeu na cozinha, como sempre, ela só ficava comigo

quando estávamos sozinhas. Tia Malia gostava de manter as

tradições — funcionários na cozinha e família na grande mesa.

Tio Tomasso não estava em casa, ele desaparecia de tempos

em tempos e tia Malia dizia que ele não aguentava muito o campo.
Meu tio foi um padre, mas ele era muito esquisito. Deixou a igreja

quando o marido da tia Malia sofreu um acidente e meu primo

Alessio precisava de mais homens da família presentes em sua

vida, já que papai vivia para os negócios.

Quando a minha tia se despediu para dormir, convidei os

meus amigos para apreciarmos a deliciosa sobremesa na varanda


dos fundos. A casa principal ficava no topo da colina, com uma

belíssima visão para os nossos campos de uva. Max respirou o ar

puro, segurando uma garrafa de vinho e eu as sobremesas. Roberto


aproximou uma mesinha e nos acomodamos.
Aproveitei o olhar sereno da noite para beber um pouco mais

de vinho do que costumava ser autorizada. Tia Malia era muito

controladora, irritante. Roberto me fotografou distraída, com a perna


dobrada, o queixo apoiado no joelho e segurando uma taça de

vinho. Meu cabelo estava meio bagunçado e o meu rosto sem

maquiagem, porém a foto ficou bonita. Por impulso, enviei para

Enzo.

Só podia ser efeito do vinho.

— Vocês já ouviram falar de Enzo antes? — perguntei aos

meus amigos.

— Enzo Rafaelli é meio famoso nos Estados Unidos e na


Inglaterra, acredito. Pelo menos a mídia nova-iorquina o adora há

alguns anos... Afinal, ele é um playboy, rico, muito rico, charmoso,

deu uma repaginada no visual e passou a ser visto com outro


homem também rico: Dominic King. — Max me respondeu.

— E quem é Dominic?

— Um jogador de futebol muito famoso. — Me respondeu

rindo e corei, não acompanhava esportes. — Eles são queridinhos

das modelos, antes de você, é claro. — Emendou rápido e sorri.


Max não sabia que era um casamento arranjado, Roberto sim

e pelo visto não entrou em detalhes com o seu marido. Roberto era
italiano, cresceu nesse vilarejo e entendia as tradições das famílias

mais antigas, apesar de não aceitar como eu. Max era do mundo

moderno, não cresceu nesses campos com gente de mente fechada


como a minha família.

— A família Rafaelli é muito poderosa, muito antiga... E dizem

as más línguas que são ferozes, perigosos. Possuem negócios


variados... — Max disse e Roberto soltou uma risada nervosa, me

deixando meio confusa.

— Isso parece meio fanfic, amor. — Brincou e o meu telefone

vibrou, era uma mensagem de Enzo. Uma simples palavra que tinha

muito significado. “Linda”. Em seguida, ele digitou outra, que me

deixou com um gostinho doce na boca... “Gostaria de estar com


você nessa linda paisagem e provaria o vinho diretamente dos seus

lábios”.

Uau... ele era criativo.

Roberto e Max engataram em uma conversa e não se

importaram muito que estava distraída no celular. Enzo me marcou


em uma publicação no Instagram, ele passou a me seguir semanas
antes do noivado oficial e eu também. Sua conta era corporativa,

falava sobre as boates, os cruzeiros e as casas para entretenimento

adulto.

“O vinho tem um gosto frutado...”.

Respondi a sua mensagem e me senti idiota, não sabia como


responder essas coisas. Nunca beijei na boca, como saberia?

“Imagino que fique delicioso nesses lábios carnudos”.

Se Enzo soubesse que nunca beijei e só essas mensagens

estavam me fazendo formigar, ele iria me transformar em massinha

de modelar em suas mãos. Suspirei e meio que sorri, voltando a


digitar.

“Está muito delicioso”.

Tirei uma foto, com meus lábios na taça e Enzo respondeu

uma única palavra.

“Porra”.

Rindo, voltei a minha atenção para a foto que postou. Era

uma das muitas que tiramos em Milão e ele estava particularmente


bonito, na moda e eu estava usando um Alexander McQueen divino

que ele me deu de presente. A produtora que me convidou à Milão

contratou um fotógrafo para algumas sessões de fotos e Enzo o


contratou para ensaios externos. As fotos ficaram lindas. Exceto as

de lingerie, que o fotógrafo disse que só algumas foram aprovadas


pelo contratante.

Max e Roberto foram dormir e me recolhi em meu quarto,

trocando de roupa e usando uma camisola gostosinha de dormir,


sem calcinha ou sutiã.

Meu telefone vibrou mais uma vez e era uma foto dele,
deitado, cabelo despenteado, barba por fazer, um sorrisinho safado

e o peito definido tomado por tatuagens em plena exibição. Esse

homem era simplesmente lindo e um pecado sobre pernas. Como

seria a minha vida casada com uma criatura daquelas?

Aproveitando que o vinho me deixou um pouco desinibida,

tirei uma selfie de camisola de seda vermelha, com um decote fundo


e os meus mamilos apareciam em relevo. Meu cabelo estava solto,

espalhado no travesseiro e a foto em si ficou muito bonita. Ao invés

de me responder, ele ligou em vídeoe entrei em pânico por um total


de cinco segundos, ficando com a garganta seca. Respirei fundo,

aceitando a chamada.

— Precisava ver com meus próprios olhos se era real. — Sua


voz estava rouca, com seu italiano arrastado, sexy. Ele tinha um
timbre profundo que imediatamente fazia qualquer santa pensar em
sexo. — Você é tão linda, Juliana.

— Obrigada... Você é, hum, nada mal. — Sorri tímida, estava


quase me sufocando de vergonha.

— Nada se compara a você... — Mordeu o lábio e respirei


fundo, tentando me acalmar. — Posso te assistir dormir?

Ajeitei o telefone em uma posição que pudesse me visualizar.

Me sentei um pouco, passei o meu hidratante noturno, sabendo que


estava sendo observada e tentei agir com naturalidade. Passei nas

minhas pernas e o olhar dele estava atento, finalizei com o creme do

rosto e o protetor labial, porque naquela época do ano os meus


lábios rachavam bastante. Me deitei de lado e ele seguia me

olhando, em silêncio. Deixei o abajur aceso, para que continuasse


me assistindo.

— Boa noite, Juliana. — Senti uma pontada inédita entre


minhas pernas. Por que só a voz dele me deixava excitada?

— Boa noite, Enzo. — Me ajeitei um pouquinho e então, o

meu mamilo quase escapou da camisola, ouvi a sua respiração


pesar e não me atrevi a olhar para o celular, sem coragem de seguir
adiante com alguma provocação por ter zero experiência no
assunto. Desde que meu pai morreu, foi a primeira vez que
adormeci me sentindo segura dentro de casa.

Quando acordei, Enzo ainda estava com a chamada


conectada, mas ele parecia dirigir. Não acreditava que passamos a

noite inteira, com toda a diferença de fuso horário e tudo mais,


conectados em uma chamada de vídeo. Me espreguicei na cama e

isso atraiu sua atenção, que me deu um sorriso de derreter


calcinhas — se estivesse usando uma.

— Buongiorno — falei meio rouca, a voz sem uso pelo tempo


que andei dormindo.

— Olá, linda. — gemi, esticando os meus músculos. Alguém


bateu na porta do meu quarto, provavelmente para me acordar, já
estava mais que na hora, considerando que tinha visitas e prometi

fazer um tour guiado pela propriedade. — Como está a visita dos


seus amigos?

— Está divertido até agora. — Não entrei nos detalhes que

escolhi do casamento, não me sentia à vontade para isso. — E em


falar neles, preciso me arrumar para passear. Vamos nos falando...

Enzo trocou a marcha e seu carro fazia um barulho rouco,

intenso. Ele fez um beicinho e da posição que seu telefone estava,


eu tinha a visão privilegiada de seu queixo quadrado, o pomo de
adão proeminente e o terno perfeito, alinhado com uma camisa azul
clara sem gravata.

— Não vou poder te assistir se arrumando?

— Não, espertinho. — Revirei os olhos e sorri.

— Seu sorriso é lindo.

Senti meu rosto quente, de vergonha e por estar muito

lisonjeada. Era uma idiota. Uma boba que se derretia facilmente.

— Te ver acordando é a visão mais linda do mundo. — Mordi


o meu lábio. — Quero tanto morder essa boca...

— Tchau, Enzo. — Desliguei rindo ou nunca sairíamos


daquele assunto, ele sempre parecia ter muito o que dizer em
relação a mim.

Me joguei na cama, pensando que na manhã anterior eu

queria matá-lo por me impedir de receber os meus amigos e agora


estava suspirando como uma boba. Minha vida era cheia de

reviravoltas.
Seis | Juliana.

Uma comitiva de carros vindo pela estrada do vinhedo chamou

atenção da minha família durante o café da manhã. Nós nos


aproximamos da varanda e como os seguranças de Enzo estavam
tranquilos, não me senti alarmada, mas um pouco chateada que

eles foram avisados dos visitantes e eu, dona da casa, não. Era
irritante que provavelmente Enzo sabia e autorizou, mas sequer me
informou.

Isso iria mudar, eu não ia permitir que ele me atropelasse

dentro da minha própria casa. Embora estivéssemos muito mais


amigáveis com o outro, ainda me sentia resistente em ceder.

— Quem são essas pessoas maravilhosas e ricas? — Max


perguntou ao ver a família Rafaelli descer dos carros de luxo.

— A família do Enzo. — Admirei o quanto Amber e Carina

eram lindas. Elas se pareciam, apesar de Carina ter todas as


características italianas da família. — Vieram para me ajudar com

alguns preparativos do casamento, então, arrumem algo que elas

possam fazer — sussurrei e abri um sorriso, descendo os degraus.


— Olá! Sejam bem-vindos.
— Juliana, querida. — Amber me abraçou e não foi falso, senti

algo bom no seu abraço. — Cada dia mais linda. — Sorriu,


afagando a minha bochecha. — Acho que lembra da minha filha,

Carina.

— Oi, futura cunhada. — Brinquei com a menina, que de perto,

era ainda mais bonita. Carina me deu um abraço apertado. —

Sejam bem-vindas.

— Nós que agradecemos, estamos tão ansiosas para seu

casamento e sua Tia Malia me falou dos preparativos do seu

aniversário, como um jantar de boas-vindas para as festividades do


matrimônio. — Sorriu e a apresentei aos meus amigos, que estavam

encantados com a fineza, beleza e simpatia da minha futura sogra.

Tia Malia apareceu, esfuziante e puxando um saco que me fez

olhar para Roberto completamente confusa. Não entendia porquê

todos pareciam temer e adorar o chão que os membros da família

Rafaelli pisavam. Cumprimentei Emerson, irmão de Enzo, e convidei

que entrassem em casa, onde Martina nos aguardava com bebidas


geladas.

Faltavam apenas duas semanas para Enzo desembarcar e o

verão passou muito rápido, considerando que não fiz nada além de
malhar para ficar incrívelno meu vestido, praticar natação e passear
por Nápoles com os meus amigos. Sabia que Amber estava na

Sicíliacuidando da saúde do avô de Enzo junto com seus dois filhos

caçulas.

Conversei com Enzo praticamente todos os dias e algumas

noites ele me assistiu dormir, ou enviava doces mensagens de bom

dia. Ele fazia algumas promessas picantes e eu podia adivinhar que


a criatura era safada e estava se contendo. Nós não avançamos

muito, estávamos em um meio termo tranquilo, onde conseguíamos

ser civilizados um com o outro e conhecer alguns dos nossos

gostos, porque falamos de comida, bebidas, sobre as reformas do

vinhedo e ele me encheu de presentes muito caros.

Amber e Carina ficaram animadas com tudo que escolhi para o

casamento e fizemos uma viagem até Milão para comprarmos seus

vestidos. Depois, partimos para Florença, onde Amber encomendou

as louças mais incríveis e lindas para o meu casamento. Os gastos

estavam altos, mas eu não me importava. Todo o evento já estava

custando mais de um milhão de euros. A nossa lista não tinha

muitos convidados... Enzo fez uma com pessoas famosas e


influentes que vetei na hora.
Não iria me casar com o meu noivo, que vi duas vezes

pessoalmente, na frente de um monte de gente famosa. Ele


diminuiu apenas para os seus amigos e familiares, assim como eu

e, então, chegamos ao número de cento e cinquenta pessoas de


ambas as famílias. Contratei dois fotógrafos para as fotos pessoais
e um fotógrafo para a imprensa, além de uma equipe de vídeo.

— Aqui é tão lindo. — Carina suspirou ao meu lado, deitada na

grama e olhando para o céu. — É muito silencioso, é bom, estou


acostumada com muito barulho em Nova Iorque. — Vi o seu olhar

parar em Stefanio, que conversava com outro segurança, e ela


desviou rapidamente. Eram muitos seguranças, não entendia a
necessidade de Enzo com proteção, era tudo sobre estar no

controle.

— Nova Iorque é muito barulhenta? — Fiz conversa.

— Moramos em uma cobertura, mesmo assim, dá para ouvir


os sons da cidade. — Carina encolheu os ombros. — A gente não
sabe o quanto é barulhento até chegar aqui. Já se acostumou com

os seguranças? — Apontou para os homens reunidos.

— Não muito. É bem estranho... — Dei de ombros. Apenas


Stefanio falava comigo, com muito respeito, os demais nem me
olhavam nos olhos.

— Vai se acostumar. Empolgada? Meu irmão está chegando a

qualquer momento. — Carina era uma menina muito espoleta,


falava pelos cotovelos e pelo visto, tinha uma enorme queda pelo

meu guarda costas.

— Assim como toda a família. A casa vai ficar lotada e sei que

Martina está surtando com a disposição dos quartos. — Desviei o


foco da sua curiosidade sobre o seu irmão e eu. Meu estômago

estava torcido de tanta ansiedade.

— Posso dividir meu quarto com alguém, vai vir alguma amiga
sua?

— Não... — Eu não tinha amigas. — A não ser que Alessio


divida o quarto com Emerson, estamos com problemas. Meu quarto

é o principal, foi o primeiro a ser reformado depois que meu pai


morreu e minha tia achou melhor que eu ficasse com ele, já que

tenho muita alergia e o meu antigo era muito úmido...

Sons de carros na entrada principal cortaram o meu tagarelar.

Me levantei apressada da grama, olhei ansiosa para Roberto e Max


na varanda e eles acenaram positivamente.

Enzo chegou.
Nós conversamos tanto nos últimos dias e ele fez tanta
promessa aos meus lábios, que estava tremendo da cabeça aos
pés. Caminhei sem pressa até a frente da casa, parte porque estava

com as pernas bambas e parte porque não queria parecer


desesperada.

Carina saiu correndo e pulou no irmão, abraçando apertado e


pude observar que havia um grande grupo com ele. Sem saber o

que fazer, fiquei parada, olhando o quanto estava muito bonito, de


jeans, tênis e uma camisa branca de gola. Simples e lindo. Ele

desviou da irmã com cuidado e se aproximou de mim com um olhar


afiado, pegando a minha cintura bem firme e puxando-me para si,

me fazendo ofegar. Aquilo era rápido demais e ao mesmo tempo, eu


queria muito descobrir como era beijar.

— Oi, baby — falou bem pertinho da minha boca e suspirei,


me aconchegando em seus braços. Enzo não perdeu tempo,

segurou o meu rosto com uma mão e seus lábios tocaram os meus,
quentes, firmes e respirei, dando espaço para que a sua língua

entrasse em contato com a minha de forma suave. Foi um beijo


rápido e doce. Foi um beijo. — Muito melhor agora...

— Oi, Enzo. — Suspirei, puxa vida, tive o meu rápido primeiro


beijo. — Seja bem-vindo.
— Estava muito ansioso para chegar. — Beijou os meus lábios
mais uma vez com um selinho tranquilo.

Ele não me deixou ir muito longe, quando me afastei para que


sua família o cumprimentasse com um respeito que parecia até que

ele era o patriarca. Logo entramos, estava quente do lado de fora e


na sala, fui apresentada à sua equipe.

Antônia, a morena antipática era sua assistente e Giana, era

a secretária financeira. Ambas trabalhavam juntas em prol do


funcionamento da vida pública de Enzo. Ele me apresentou a Mika,

marido de Giana e seu segurança. Apesar de ser interessante

conhecer a equipe dele, só conseguia pensar que com um casal a

bordo, a disposição dos quartos ficava ainda mais complicada. Até


podia dar um jeitinho se Carina dividisse o quarto com a tal Antônia,

mas, Martina não iria aceitar misturar uma funcionária com um

membro da família.

Lorenzo Rafaelli, meu futuro sogro, recebeu o filho com um

abraço e Amber também. Apresentei Max a Enzo, já que ele

conhecia Roberto e então, todos nós nos sentamos para almoçar e


podia ver tia Malia toda hora saindo para discutir com Martina, o que

fazia a minha sogra rir cada vez mais e cochichar com Roberto.
Minha casa se transformou em um hospício.

— Precisamos conversar. — Roberto me pegou pelo braço e

saiu me rebocando assim que terminamos de almoçar. Enzo lhe deu

um olhar duro, meio puto, mas a sua mãe chamou sua atenção na
mesma ansiedade que o meu melhor amigo estava.

Max me empurrou sentada em um dos sofás da varanda.

— Decidimos ajudar Martina na disposição dos quartos e

nisso... Achamos que seria ideal você e o seu noivo dividirem o

mesmo quarto.

— Não mesmo. — Me levantei na mesma hora. Max me

segurou pelos ombros, me empurrando sentada. — Nós não temos

intimidade, vai ser muito estranho e eu sou totalmente... — Virgem,


caramba!

Max e Roberto pareciam muito empolgados.

— Exatamente por isso! Dividir o mesmo espaço é vital para

que depois do casamento as coisas ocorram tudo bem. — Max me

deu um olhar cheio de insinuações, ainda balançou as


sobrancelhas.

— Não estamos falando de sexo. — Roberto disse rápido,


sabendo que era pura até o meu último fio de cabelo. Nunca nem
soube como me masturbar, apesar de ter tentado. Só vi um pênis

porque procurei na internet. Dividir o quarto com meu noivo, futuro

marido, estava me deixando em pânico. — Casamento é mais que


sexo, é intimidade de muitas formas e com a casa tão cheia, vocês

precisam mesmo de privacidade. Precisam se conhecer melhor, ter

uma conexão, um contato, um pouco de aconchego...

— É por isso que Martina está surtando. — Refleti e soltei

uma risada. Ela era extremamente católica, sexo só depois do

casamento e reclamava muito sobre as meninas que entregavam a


sua virtude antes do matrimônio.

— Sim... Tia Malia não está feliz, ainda mais que Amber

proibiu intromissões no quarto de vocês. — Max riu e sorri, sem


graça. Sim, a minha família era muito tradicional, mas parecia que a

família do meu marido não era tanto. Graças a Deus... era muito

humilhante ter que dar tantas explicações.

— Acho que estou surtando... — Suspirei, com o coração a

mil. Como dormiria ao lado de Enzo assim? Pensei que teria um

tempo para me preparar.

— Vai ser bom, confia em mim. Se não for, podemos deixar

tudo preparado para fugirmos. Conheço pessoas que têm ilhas...


Ouvi dizer que se entrarmos numa favela em algum paísda América

do Sul, ninguém nos acha. Posso costurar em qualquer lugar, Max


pode cozinhar em qualquer lugar e você pode ser linda em qualquer

lugar. — Roberto disse e o meu coração encheu de amor por ter

amigos tão incríveis.

— Tudo bem, vou tentar. — Respirei fundo, buscando por

coragem e me levantei, com ombros eretos. — Vamos seguir com a

programação do dia.

Enzo e sua equipe se instalaram no escritório principal, como

pedi à tia Malia. Não queria que entrassem no escritório do papai,


onde ainda havia algumas coisas pessoais dele que me recusei

desfazer. Meu pai gostava de usar o escritório menor, virado para a

plantação e o pôr do sol.

A casa estava agitada com os funcionários ajeitando os

quartos e acomodando os visitantes, então, entrei no meu, fechei a

porta e me escondi no banheiro por quase uma hora e meia. Tomei


banho, me depilei e vesti um biquíni pequeno que minha futura

sogra havia me dado de presente. Minha bunda estava toda de fora,

gostei de como ficou modelado. O sutiã era mais firme, de bojo,

para segurar bem os meus seios.


Abri a porta do banheiro para o quarto e Enzo estava

entrando no exato segundo, jogou o telefone na cama e me olhou

de cima a baixo. Senti meu coração disparar no peito, meu

estômago torcer e minha boca ficar seca. Eu não podia passar mal
apenas por estar de biquíni na frente dele.

— Está confortável com o arranjo? — Tirou o relógio do


pulso.

— Sim... acho que será bom. — Minha voz saiu meio

ofegante, tentei me acalmar e parecia que estava tendo um colapso.


Merda.

— Vou tomar um banho, está muito quente hoje. — Tirou a


camisa, abrindo a calça e imediatamente me enfiei dentro do meu

closet, olhando-o passar para o banheiro só de cueca. Ou ela era

justa ou o pacote era cheio. Abanei o meu rosto, rindo da minha

vontade de espiar e coloquei um vestidinho leve para a piscina.

Enquanto penteava e secava o meu cabelo, porque não iria

molhar na piscina, Enzo tomou banho e entrou em meu closet


apenas enrolado na toalha, abrindo sua mala, pegando uma cueca e

larguei um gritinho ao vê-lo deixá-la cair. Não desviei o olhar. Não

consegui. Caramba... Era bonito. Diferente, mas bonito. Me


perguntei se ele ficaria chateado se ficasse olhando, porque era

indiscreto da minha parte. Já dividimos a mesma cama, o senti tocar


em mim leve, carinhoso, enquanto dormia, nada demais. Até Alessio

já havia me abraçado enquanto estava dormindo e nós éramos

como irmãos, unha e carne.

— Vai ficar na piscina também?

— Preciso trabalhar um pouco... Seu pai havia programado o


lançamento de uma nova safra esse mês, então, ficou tudo corrido

— falou distraído e crispei os meus lábios. Era o meu direito

trabalhar com o vinhedo e aparentemente, ter uma vagina me

impedia. Não reclamei muito, porque não entendia nada e não podia
me dar o luxo de fazer besteira enquanto havia mais de duzentas

pessoas dependendo de nós.

Fiquei satisfeita que Enzo estivesse se dedicando a isso, mas

quando toda essa coisa do casamento passasse, iria me dedicar em

aprender a cuidar do vinhedo.

— Existem outros acertos na família a serem feitos. — Vestiu

uma bermuda, camiseta de malha fina e penteou o cabelo com as

mãos. Perfume, desodorante e só. Porra, homem não tinha trabalho.


— Nada que deva se preocupar, curta o dia com seus amigos. Se
precisar de mim, estarei no escritório. — Me deu um beijo na
bochecha.

— Tudo bem — murmurei meio amuada. Queria trabalhar


com ele.

Enzo saiu do quarto, com o telefone no ouvido e falando em


inglês. Entendi pouco, mas ele xingava muito. Uma boca suja.

Parecia se controlar melhor quando falava comigo, principalmente

porque conversávamos em italiano, meu inglês seguia não sendo

muito bom. Precisava praticar mais... Carina e Max me ajudaram um


pouco, porém, ainda não conseguia acompanhar quando falavam

muito rápido.

Na área da piscina, Carina estava na água brincando de bola

com Max e Roberto bebia algo colorido que provavelmente tinha


muito álcool dentro e o melhor, ele tinha um prontinho para mim.

Tirei o meu vestido e aceitei a bebida, apesar de beber vinho, era


meio fraca para destilados.

— O que seria essa bebida gostosa? — Não conseguia tirar o

canudinho da boca. Docinho, uma delícia, estava gelado, o que


ajudava ainda mais no calor insuportável que estava fazendo
naquele dia.
— Sex On The Pool. — Roberto riu e acompanhei, porque
não havia praia por perto. — Não tinha xarope, então, usei mel com
corante artificial. — Sorriu e brindamos. Ele virou um pouco mais no

meu copo.

— Prepare-se para fazer mais disso o dia inteiro. — Animada,


liguei o som da área da piscina, colocando uma playlist de músicas

pop dançantes. Carina gritou que amava aquela música e aumentei


o som, dançando de leve no meu lugar e olhando para Emerson,
que estava entrando na área da piscina com uma mulher alta, loira,

dona de um silicone turbinado e um maiô com decote cavado.

Ela era muito bonita, artificial e sofisticada. Me olhou de cima


a baixo como se eu fosse um rato. Abusada!

Emerson não se deu o trabalho de apresentar, indo até as

espreguiçadeiras do outro lado como se a casa fosse dele. Eu ia


reclamar com Enzo sobre aquilo, por que ninguém respeitava o fato
de que aquela casa era minha? Que inferno! Pensei que fosse

educado apresentar convidados para a dona da casa,


provavelmente os americanos faziam diferente. Decidida a ignorar,
continuei dançando na minha, bebendo e Roberto fez mais dois

copos.
Fiquei meio alegrinha, bebendo um pouco mais e entrei na
piscina, ficando deitada na minha boia gigante de abacaxi.

— Finalmente, Enzo! — Carina disse atraindo minha atenção

e ele apenas abriu um sorriso afiado, tirando a camisa e a bermuda.


Hum... Enzo gostava de usar sunga e não aqueles shorts de
banho... Que bela visão. Olhei para o lado e reparei que a namorada

de Emerson não conseguia tirar os olhos de Enzo. No meu estado


bêbado, soltei um estalo irritado.

Enzo mergulhou na piscina e veio nadando até onde eu

estava, emergindo bem na minha frente. Pegou o meu copo e levou


até a borda, esticando os braços para cair na água com ele. Sóbria,
jamais aceitaria seu convite, bêbada, minhas mãos com vontade

própria se apoiaram em seu ombro e ele me puxou para baixo,


segurando minha cintura. Tirei o seu cabelo molhado dos olhos e
seus braços cruzaram nas minhas costas, com as mãos

descansando levemente na minha bunda.

Eu não sabia o que sentir sobre aquilo, como estava


tateando-o nada discretamente, não podia reclamar. Olhei para

Roberto e apontei para os músculos de Enzo. Max quase pulverizou


a sua bebida e Enzo riu, atraindo a minha atenção de volta para o
seu rosto.
— Pensei que fosse trabalhar — falei baixinho.

— Fiquei distraído com você dançando — Sorriu torto.

Lembrei que a janela do escritório dava diretamente para a piscina,


enquanto a do meu quarto dava para um dos lados do vinhedo. —
Decidi aproveitar o dia, algumas coisas já foram resolvidas.

— Que bom... — Porque eu estava gostando de ter a atenção


dele.

Enzo me deu um beijo firme, apenas nos lábios, porque logo


Carina estava falando alguma coisa com Roberto que atraiu a nossa

atenção. Emerson estava com a mão dentro do biquini de sua


namorada... Apesar de manter uma toalha no colo dela, obviamente,

dava para perceber o que estavam fazendo e meu rosto ficou


quente de vergonha. Caramba... Eles não podiam fazer isso em
privado?

Meu futuro marido me conduziu para fora da piscina com

calma e Roberto me entregou um roupão enquanto Max fazia o


mesmo com Carina. A baixinha parecia enfezada, com seus cabelos

castanho claros secando com cloro e ficando meio em pé. Fiquei


preocupada que Enzo perdesse as estribeiras.
— Basta, Emerson! — Ele foi andando perigosamente até

seu irmão e a mulher parecia amedrontada. — Fora.

Ela saiu bem rápido.

— Tchau, tchau. — Acenei e Max me cutucou, pedindo que


parasse.

— Que isso, irmão. Não fique com inveja. — Emerson estava


com a voz estranha.

— Ah não... — Carina ficou triste.

— O que foi? — Estava confusa. Roberto e Max pareciam

saber o que era.

— Pó ou agulhas? — Max perguntou com pesar. Quê?

— Pó e maconha, ele adora misturar os dois. — Carina

estava desolada. — Ele nos jurou que estava limpo. Mamãe vai ficar
tão arrasada.

Enzo parecia lívido ao perceber que o irmão estava drogado.

— Inveja? Um rolo de dinheiro a mais e ela estaria na minha

cama. Ou sem dinheiro nenhum, porque não preciso pagar por


mulheres. — Quase me intrometi, querendo entrar na briga, porque
não teria mulher nenhuma na cama dele! Enzo ergueu Emerson da
cadeira com facilidade. — Trouxe uma piranha para a minha casa.
Casa da minha noiva, Emerson! Una casa di famiglia!

Emerson apenas zombou.

Enzo deu um soco no rosto dele e os dois começaram a

brigar. Stefanio e os demais não fizeram nada. Apenas olharam,


enquanto estava chocada demais para reagir, Carina gritava para
separarem. Então, Lorenzo, pai dos meninos, entrou na área da

piscina e pegou cada um pela nuca, separando com a habilidade de


quem deve ter feito isso a vida toda.

O safanão que Enzo deu no próprio pai o fez parar. Ele não

levou aquilo muito bem e olhou o pai bem fixamente, com frieza.

— Tire essa puta da minha casa. — Enzo ordenou a Emerson


sem deixar de encarar o pai. Não entendia por que Enzo era a figura

mais alta da família, não o pai, que deveria ser respeitado como o
patriarca. — Desintoxique o seu filho para o jantar — disse ao pai e
engoli seco. Lorenzo pegou Emerson e entrou em casa, onde

Amber esperava aflita, logo abraçando o filho.

Carina seguiu atrás, cabisbaixa. Roberto e Max ficaram


comigo e eu só olhava para o meu noivo, que pegou as suas roupas

e esticou a mão. Era um convite e eu aceitei, dando uma olhadinha


para os meus amigos que apenas assentiram. Eles também vieram
atrás de nós, nos separamos na escada, cada casal subindo para

um lado.

Entramos no meu quarto e eu fiquei vagamente ciente que a


sensação de estar flutuando era a mistura da bebida, com sol e o
choque da briga. Enzo estava quieto, atirou as roupas no canto,

desfilando pelo quarto e reparei que alguma funcionária havia


arrumado as coisas dele ordenadamente no meu closet.

— O que vai fazer agora? — Parou atrás de mim e me

arrepiei da cabeça aos pés.

— Acho que bebi um pouquinho além e vou precisar dormir


um pouco. — Soltei os laços do meu biquíni, sem tirar o roupão. —

Vou tomar banho rapidinho.

Entrei no banheiro e reparei que estava vermelha, não de


bronzeada, de vergonha mesmo. Eu tinha que superar isso e

aproveitar essas semanas antes do casamento para me conectar a


Enzo de alguma forma. Ele foi bem legal comigo nas mensagens e
durante o banho, me debati internamente e decidi tentar. Gostei do

beijo e não custava nada tentar outras coisas.


Nós seríamosmarido e mulher... Algo iria acontecer entre nós
cedo ou tarde, quanto menos protelasse e mais calma ficasse,

menos estaria vulnerável. Terminei o meu banho, me sequei, passei


bastante creme hidratante e abri a porta do banheiro, me deparando

com uma cena inusitada. Seria bizarro me acostumar com aquilo.

Enzo estava jogado na cama mexendo no telefone e quando


saí, imediatamente sentou-se. Ao invés de sair com o roupão, saí
enrolada na grande toalha e entrei no closet, deixando a porta

entreaberta. Não duvidava que ele tinha a cara de pau de espiar,


mas pelo barulho do chuveiro, não espiou.

Vesti uma roupinha fresca que se resumia a um macacão de

flanela bem velho, porque eu adorava. Era dos tempos que era bem
magra e estava muito justo. Liguei o ar-condicionado, fechando as
janelas e escurecendo o ambiente ao máximo. Postei umas fotos na

piscina, sentindo um sono...

Enzo saiu do banheiro só de cueca, preta, justinha e tentei


entender as suas tatuagens até o momento que se deitou do meu

lado, do mesmo jeito como foi em Milão.

— Vai dormir também? — Olhei-o pelos meus ombros.


— Apenas relaxar a mente por um tempo antes do jantar.

Tomou suas medicações hoje? — Senti algo extraordinário com a


sua preocupação. Ele lembrava.

— Tomei. — Bocejei e fechei os olhos. — Apenas de

manhã... quero ter apetite para jantar — falei baixinho e senti a mão
dele em meu cabelo.

— Dorme, linda.

Me aconcheguei na cama um pouco melhor e senti seu corpo

quente no meu, nada sexual, apenas a presença forte me


embalando, exatamente do jeito que precisava e não sabia.
Sete | Enzo.

O cheiro picante do manjericão com tomate estava flutuando

pela casa. As vozes das mulheres andando pelos corredores


também, mas elas estavam mais silenciosas, principalmente depois
que abri a porta só de cueca, chamando atenção pela barulheira

porque Juliana estava dormindo. Além do meu estado seminu e da


minha posição na família, sabia que estavam assustadas com a
briga que tive com o meu irmão.

O problema de Emerson com as drogas começou aos

dezesseis, quando descobriu que não era filho biológico dos meus
pais. Para Emerson, foi um baque. Não era um italiano legítimo
como Carina e eu. Não era um Rafaelli por nascimento como

sempre acreditou e como qualquer criança, não levou o assunto

muito bem e passou a usar os nossos produtos. Sempre disse a ele


que não consumíamos o que vendíamos, mas... não sabia como

lidar com o vício de Emerson, apenas tentava ter paciência.

Ele mal completou vinte anos, descobriu que não podia ser

meu vice porque além de não ser legítimo, não era italiano e com o

acordo, Alessio ganharia essa posição por ser um dos homens na


linha sucessória da família Valentinni. Isso não diminuía a

importância dele e a sua posição como meu irmão. Não importava a


porra do DNA, ele era meu irmão e sempre seria meu. Mesmo

sendo um tremendo cuzão de aturar.

Perdi a minha cabeça ao vê-lo masturbando uma puta bem

próximo à Juliana e Carina. Podia ignorar, como ignorei o fato de

que já havia comido aquela mulher mil vezes, porque Juliana não
sabia e havia uma vozinha irritante na minha cabeça que me dizia

que se ela descobrisse, poderia dar adeus ao meu pau. Eu era o

homem daquela família, não teria medo da minha mulher. Não de

uma que batia abaixo do meu queixo.

De cabeça fria, conversaria com Emerson mais tarde. Foi uma


provocação pura e o nosso pai ainda se achou no direito de me

repreender, como se eu fosse uma criança. Não na porra da minha

casa. Ele foi aposentado, não foi sua decisão, obriguei mesmo, uma

manobra nada bonita que pratiquei, porque meu pai estava fazendo

muita merda e colocando a nossa família em risco.

— Ai, que dor de cabeça. — Juliana gemeu ao meu lado na

cama e virou de modo que sua cabeça encostasse na minha

barriga, assustada, logo se afastou. — Desculpe.


— Está tudo bem, volte aqui. — Puxei-a pelo ombro,
acomodando sua cabeça em cima das minhas costelas e meu braço

dando apoio para que não tombasse. Tirei o cabelo de seu rosto.

Ela era bonita, mesmo acordando de ressaca. — Quer alguma

medicação?

— Sim... Não vou aguentar descer desse jeito — gemeu e

sufoquei a vontade de rir. Ela bebeu a coisa colorida que seu amigo
fez como se fosse água e não se hidratou, ficando no sol quente e

dentro da piscina. Acomodei-a de volta no travesseiro, me levantei e

fui até as minhas coisas, pegando um dos muitos frascos de

remédio para dor de cabeça que carregava comigo. Enchi um copo

de água da jarra que estava na mesa próxima à porta e lhe

entreguei.

— Não precisa descer se não estiver bem ou se não quiser. —

Avisei e ela me deu um olhar como se fosse louco. — Você será a

matriarca dessa família, pode fazer o que bem entender.

— Justamente por ser a futura Sra. Rafaelli que não posso

deixar nossas famílias sozinhas no primeiro jantar, principalmente o


de boas-vindas — Saiu da cama. — Vou me vestir.
Perdi meu olhar em seu corpo e pela forma que o macacão

justinho estava marcando bem a rachadura da sua buceta, ela


estava sem calcinha. Puta que pariu... Era um atentado à minha

sanidade. Andando até o closet espaçoso, reparei no quanto sua


bundinha era redonda, me deu uma vontade de dar um aperto, meu
pau até se animou.

Me joguei de volta na cama, me acalmando, não acostumado

a ficar tanto tempo dentro do quarto, principalmente com roupas e


sem estar fodendo.

Juliana era virgem, considerando que ficava roxa como uma


beterraba em cada investida minha, além de seus trejeitos

inocentes. Uma mulher maldosa já teria tirado a calcinha.


Obviamente, iria respeitar o seu tempo e espaço, mas até que ela

dissesse não, que não me queria, iria investir. Ela seria a minha
esposa, esperava que fossemos íntimose que tivéssemos uma vida

de casal. Ela era o meu tipo favorito, não magra demais e nem
gordinha, o que também não me importava.

Juliana tinha um rabo arrebitado, que ficaria muito lindo de


quatro na minha frente. Ajeitei o meu pau na cueca, estava

animado, não duro e ouvi o ofego da minha noiva. Sem disfarçar,


mordeu o lábio me olhando e reparei que estava usando um longo
vestido, sandálias baixas e sem maquiagem, mas seu cabelo estava

arrumado. Pela cor dos seus lábios, não estava sentindo-se bem.

— Fique na cama, Juliana. Está pálida.

— Estou bem. — Afirmou e passou perfume, me ignorando.


Teimosa da porra.

Me troquei rapidamente e segurei sua mão, a forma que ela


agarrou meu braço foi a prova de que não estava muito bem. Ela

parou no corredor e eu pensei que fosse vomitar. Definitivamente


não era do tipo que bebia muito.

— Vá descendo sem mim, preciso pegar minha agenda da


noiva no escritório para mostrar umas coisas a sua mãe. — Mesmo

desconfiado, deixei que entrasse no escritório e fui para o andar


inferior onde todos estavam animados, bebendo vinho e comendo

as entradas preparadas por Martina.

— Cadê Juliana? — Carina me perguntou, animada, com


uma revista feminina na mão e tecidos nos braços.

— Está descendo. — Me servi com vinho e Martina me trouxe


antepasto, sem desfazer a expressão emburrada. Não conseguia

aceitar que estava dividindo o mesmo quarto que Juliana. Ela e tia
Malia eram extremamente católicas e viviam com regras de três
séculos passados.

— O jantar está servido. — Martina anunciou formalmente e


todos ficaram de pé, indo até a sala de jantar espaçosa e muito bem

arejada da casa. Me sentei na cabeceira e dei um sorriso ao ver a


outra cabeceira vazia, conforme ordenei. Meu pai me desafiou e
então, lembrei a ele quem realmente mandava na porra toda.

Lasagnas borbulhantes estavam espalhadas pela grande

mesa, saladas verdes com carne, presunto de parma, pastrami,


queijos de diversos tipos e spaghetti com molhos variados. Emerson

apareceu, com o rosto vermelho e me deu um aceno meio tímido.


Sabia que fez merda e estava com a consciência pesada. Esperava
que não entrasse em crise de abstinência bem no período das

festividades.

Juliana desceu, boca pálida, bochechas vermelhas... Hum,


ela não estava bem, apesar de corada. Ocupou o seu lugar ao meu

lado, rezou baixinho e pegou os nossos pratos, servindo-me com


um pouco de salada primeiro. Eu odiava comer salada. Era tanto
verde na minha frente que quase empurrei fora, mas, ela só me

entregou um garfo.
— Faz bem à saúde — cochichou e empurrei um pedaço de
rúcula na boca. Puta merda, que coisa horrível. Rindo, jogou um
molho amarelado por cima. — É mostarda com mel — explicou e

provei, constatando que ainda não ficava bom, apenas menos ruim.

Terminada a tortura da salada, felizmente, pude me deliciar


com as iguarias que por mais que Martina fosse chata e muito

severa, cozinhava muito bem. Após a sobremesa, a família,


funcionários e quem mais estivesse naquela casa pareciam bem

animados e retornaram para a sala. Me ausentei para fazer umas


ligações... Com toda a família na Itália, precisava verificar as coisas

nos nossos territórios em solo americano.

— Está tudo dentro do planejado. Maurizio segue achando


que estamos bem e até já reservou as passagens para seu

casamento. — Angelo comentou. — Ilariae Marcus estão em Las

Vegas... Tudo certo em Los Angeles e aqui em Nova Iorque.Nossos


homens estão bem posicionados.

— Me mantenha informado. — Encerrei a chamada, com o

gosto amargo que precisaria ter esse filho da puta traidor no meu
casamento.
Se fosse uma traição simples, esse problema já teria sido

resolvido. Toda a sua família seria eliminada e pronto. Mas Maurizio


conseguiu mexer na porra de um vespeiro que podia acabar

respingando na merda da Agência e na organização, assim como

em Isla, que não tinha porra nenhuma com a nossa vida e sofreria
consequências, apenas por ter o sangue Rafaelli correndo em suas

veias.

Quando voltei para a sala, Juliana não estava mais por lá e


sua tia me informou que ela pediu licença para se deitar. Subi atrás

dela, uma boa desculpa para não socializar, porque não queria ficar

com eles jogando conversa fora e teria o dia inteiro atendendo


alguns membros de famílias que precisavam conversar comigo e

fazer as suas queixas. Com a morte do Valentinni completando um

ano, havia muita gente querendo falar comigo.

Diferente do meu pai, não atendia apenas os subchefes.

Gostava de falar com as famílias que pertenciam a nós, com

associados, funcionários e claro, com os soldados. Sabia que para


eles era prestígio ser conhecido pelo chefe e para mim, era um

recado muito simples:sei muito bem quem você é.

Abri a porta do quarto e a encontrei encolhidinha na cama,

ainda com o vestido. Seu rosto estava meio inchado, assim como a
boca e os olhos muito esquisitos. Ela não estava assim antes de

jantarmos.

— Por que está toda inchada?

— Não sei. Comecei a sentir a garganta coçar após a

sobremesa e muita coceira no corpo. Agora estou com o rosto


assim. Tomei um antialérgico, porque é claramente uma reação

alérgica. — Sentou-se e toquei seu lábio. — Não dói.

Suas pálpebras estavam vermelhas.

— Tem alergia a quê? — Acariciei sua pele sensível. — Sua

língua está inchada? Abre a boca, deixe-me ver a garganta.

Juliana me obedeceu prontamente e não gostei do que vi,

não estando confiante de um único medicamento para resolver

aquilo. Passei a mão no meu cabelo, decidindo agir por meu


instinto. Alguma coisa estava errada e podia ser apenas alarde da

minha cabeça, mas, coisas misteriosas aconteceram na família

Valentinni ao longo dos anos... Se Juliana morresse, nosso


casamento obviamente não iria acontecer e eles não precisariam

ser nossos aliados... mas poderiam ser nossos inimigos.

A ausência do seu tio Tommaso era um excelente indicativo

de que algo poderia estar acontecendo por baixo dos panos. Juliana
não estava bem, a sua dor de cabeça anterior era apenas pela

bebida, mas aquele inchaço era totalmente diferente.

— Tenho alergia a nozes — comentou calmamente com a

voz mudando para fanha e a coriza escorria pelo nariz. — Não estou
conseguindo respirar direito, chama minha tia, por favor.

— Todo mundo sabe que você tem alergia a nozes?

— Sim. — Tossiu, puxando o ar e peguei o meu telefone,

enviando uma mensagem a Stefanio.

— Onde está sua bolsa com documentos? — Olhei ao redor

do quarto, procurando rapidamente e apontou para o armário, onde

encontrei a sua carteira com identidade e outros registros

importantes. Enfiei no meu bolso, pegando a minha própria carteira


e celular. Calcei as sandálias nos seus pés e a peguei no colo.

— O que está fazendo?

— Te levando para o hospital, não vou arriscar porra

nenhuma — Expliquei e não querendo fazer alarde, desci com ela

pela escada da varanda do seu quarto, entrando no carro com


Stefanio. Ele estava visivelmente nervoso. — Agora, corre.

Ele pisou fundo na estrada escura em direção ao hospital


mais próximo, que não era perto. Não quis levar Juliana para a
clínica médica do vilarejo porque não confiava em ninguém dali. Se

todos sabiam que ela tinha alergia a nozes, como ela poderia estar

daquele jeito? Gemendo e choramingando no meu colo, começou a

suar e ficar fria.

— Porra, Stefanio. Rápido. — gritei, socando o banco. Tirei

os cabelos dela da testa suada, beijando. — Vai ficar tudo bem,


linda.

— Estamos entrando. — Stefanio respondeu, buzinando para

que saíssem da frente e mal o carro havia parado na entrada,


empurrei a porta aberta e saí com ela no colo. A emergência estava

tranquila, vazia e silenciosa, então, logo um enfermeiro trouxe uma

maca me pedindo para entregá-la.

— É uma reação alérgica a nozes e tomou um remédio antes

de sair, mas ela piorou. — expliquei nervoso pra caralho e um

médico veio, assim como duas enfermeiras e a levaram até a


estação onde não estava autorizado a acompanhar. Com os seus

documentos e dinheiro, paguei a entrada e preenchi a ficha.

Stefanio estava na porta, com os braços cruzados, olhando

fixamente para onde Juliana estava. Puxei o meu cabelo tantas

vezes que estava dolorido, andei de um lado ao outro, sentei,


levantei, fumei cinco cigarros e quando estava pronto para

arrebentar a porta, o médico saiu antes que decidisse explodir a


porra do hospital.

— Nós fizemos um exame para definir a quantidade ingerida,

mas, a paciente está acordada, não muito lúcida. Conseguimos


reverter o quadro com sucesso... Ela está bem. Preciso apenas que

fique em observação por mais duas horas antes de levá-la de

volta... E nesse meio tempo, o exame fica pronto e conversamos


novamente — explicou bem tranquilo, sem se abalar com o meu

estado de nervos, o que aplacou minha ansiedade.

— Para ficar assim... a quantidade foi muito grande? Nós


comemos a mesma coisa, não lembro de ter nozes em nada do que

comemos.

— A alergia dela pode ser grave ou moderada, iremos

descobrir. Existem casos em que apenas nozes em pó misturadas a

qualquer alimento, para dar um suave sabor, pode causar isso. Tudo
depende do quão alérgica ela é — explicou e o seu nome foi

chamado. — Nos falamos em breve. Ela está neste corredor, só

virar à esquerda, é o segundo quarto. Está meio nervosa e

assustada, precisei dar-lhe um calmante, então, fique com ela. — E


foi andando até a estação de enfermagem para o próximo paciente.
Pesquisei na internet se nozes em pó misturado a algo com
gosto forte, como um tiramisú feito com chocolate meio amargo e

bastante café, entregaria o sabor e verifiquei que provavelmente

ninguém sentiria. Nem a própria Juliana. Dei um olhar a Stefanio e


segui para o quarto indicado. Juliana estava encolhida, com soro no

braço, o rosto menos inchado, porém, ainda era assustador. Seu

olhar era de puro desalento e medo, tirei os meus sapatos e subi na


cama, me deitando atrás dela.

Essa crise alérgica não foi um mero acidente. Alguém tentou

matar Juliana naquela noite... Como mataram sua mãe e seu pai.

Duas horas depois, o médico destrinchou o exame comigo e

informou que a quantidade de nozes ingerida foi muito alta e que a


alergia dela não era consideravelmente grave, mas também não era

mínima, pelo visto, ela estaria morta sem tempo de socorro.


Liberada para casa, visivelmente melhor, porém totalmente
aleatória, voltamos para o vinhedo na calada da noite e parecia que

ninguém nos viu sair.

Se viram, não fizeram alarde.

— Quero tomar um banho, suei tanto — reclamou toda mole


ainda, na cama.
— Você não consegue ficar de pé. Posso te refrescar com um
pano úmido? Amanhã, quando estiver melhor, resolveremos a
questão do banho. — Contrapus e contrariada, me deixou tirar o seu

vestido e a ajudei a colocar o mesmo macacão de antes. Tentou tirar


o sutiã com a roupa, ficou toda atrapalhada e a ajudei, liguei o ar e
fechei todo o quarto, colocando a minha arma bem debaixo do

travesseiro.

Fui até o quarto de Carina, batendo e abrindo. Acordei a


minha irmã sem piedade. Assustada, me agarrou antes de perceber

que não havia um perigo iminente. Carina era jovem, mas já tinha
passado por muitos sustos.

— Vem comigo. Preciso de um favor — pedi e ela assentiu,

calçando os chinelos. Fechei o seu quarto e a levei para o meu. —


Aconteceu algo com Juliana, não vou entrar em detalhes. Preciso
que fique com ela aqui no quarto, está bem? Tem uma arma debaixo

do travesseiro — cochichei a última parte.

Carina bocejou, se jogou ao lado de Juliana e bateu


continência. Ensinei a minha irmã a atirar apenas por precaução.
Carina nasceu para me dar trabalho e me estressar, mas em uma

noite foi necessário, mesmo que não gostasse nenhum pouco da


ideia da minha menininha com uma arma nas mãos.
Encontrei Stefanio no primeiro andar.

— Quero todas as pessoas que pisaram na porra da cozinha


hoje, bem aqui, na minha frente. — Sentei-me na poltrona e

coloquei minha 45 apoiada na coxa.

Sorrindo como o diabo, esperei paciente enquanto Stefanio


saía à caça. Acendi um cigarro e fumei bem devagar, saboreando o

gostinho de canela.

Seis mulheres entraram alinhadas na sala, incluindo Martina.


E então, Stefanio veio com Malia, tia da minha noiva. Ela respirou

para começar a falar e ergui minha mão, silenciando.

— Eu vou dar uma oportunidade... Quem é, sabe. Apenas


sinalize e as demais irão dormir, caso contrário, essa noite será
longa e nem um pouco prazerosa — falei bem calmo, nem parecia

que por dentro estava fervendo e com vontade de quebrar a porra


da sala inteira. Nenhuma delas se mexeu.

Martina me olhou intensamente e mesmo com os seus

cabelos grisalhos soltos e uma camisola que parecia uma túnica,


franziu o olhar e se virou para as mulheres, percebendo que havia
algo grave no ar. Malia estava muda.
— Minha paciência, senhoras... não existe. Eu posso dar um
tiro em cada, no meio da testa e encerrar a conversa ou...

— Fui eu. — Uma delas disse, trêmula como uma folha verde
no vento. — Meu marido me obrigou, ele disse... — Ergui a minha
mão e reparei na parte amarelada do seu rosto, pescoço e o lábio

com uma cicatriz. — Senhor, por favor — sussurrou, tremendo tanto


que pensei que iria desmaiar.

— Martina, faça um café. Malia, vá para seu quarto. As

demais, peço desculpas pelo inconveniente.

As mulheres saíram rapidamente. Martina me deu um olhar e


balançou a cabeça, como se precisasse dizer algo e apontei para

Stefanio ir com ela, ouvir o que tinha a dizer e me repassar. A jovem


senhora à minha frente era desconhecida.

— Seu marido te obrigou a fazer o que?

— Colocar um pó, não sei de que, na sobremesa. Pensei ser

laxante ou veneno, não sei. Mas ele pegou minha filhinha e disse
que só iria devolver quando recebesse notícias...não sei quais, só
quero minha filha de volta. — Chorou descontroladamente. Odiava

mulheres chorando, mas a história era interessante.

— Do começo, por favor.


Ser gentil era a única maneira de fazer aquela mulher falar,

pelas marcas, ela não conhecia muito bem as gentilezas. Seu nome
era Paola, nasceu no vilarejo e se casou com um dos soldados dos
Valentinni. Ele sempre foi violento e seus pais disseram que não

podia ser desfeito o casamento, ela engravidou e então, o marido foi


enviado para o centro da cidade para ser um dos soldados de um
subchefe.

Ainda tremendo, pegou um velho telefone e me mostrou as


mensagens e as ordens dele. O babaca era um estúpido e
certamente não orquestrou tudo sozinho. Havia pelo menos uma

família muito descontente com o meu casamento com Juliana. Havia


provas em ligações, mensagens e até vídeos. Stefanio recuperou o
pó.

— Sim, nozes em pó. — Martina cheirou e olhou para a


mulher, dando com a colher de pau nos dedos dela. — Eu avisei as
regras — chamou severamente. — Não bagunce a minha cozinha.

— Bateu mais uma vez e bem forte. — Não faça mal à minha
menina. Juliana é a minha menina.

— Sim, sinto muito, estou com medo. Se ele descobrir, vai

matar a minha filha.


Quem precisava de soldados quando se tinha Martina
quebrando dedos com colher de pau? Muito mais eficaz que muitas
horas de tortura.

— Cuide dela, Martina. — Apontei e acendi mais um cigarro.


— Não a deixe fora do seu alcance até a minha volta. — Martina
obedeceu. Ainda rindo do jeito estranho da velha, mandei Stefanio

deixar um soldado com elas, vigiando e mandei reunir alguns


homens para sair comigo.

Terminei de fumar e acordei Emerson, porque sabia que uma

aventura noturna iria tirá-lo da ressaca.

— Temos que dar uma voltinha, te explico no carro. Se veste,


anda. — Sacudi o seu corpo gigante e ele gemeu, sem entender
nada, mas obedeceu. No caminho, sabendo o que iríamos fazer,

meu irmão estava sorrindo feito o diabo. A sua besta estava solta e
sedenta por sangue.

Ninguém mexeria com a minha mulher e sobreviveria para

colher resultados.
Oito | Enzo

O dia começou a nascer de uma forma esplêndida. Na

varanda, fumando um cigarro e olhando o horizonte do vinhedo.


Ergui as minhas mãos recém lavadas, lembrando do sangue que
havia grudado nelas. Um subchefe mandou matar Juliana da

maneira mais baixa que já tinha ouvido falar e agora ele não existia
mais.

Viúvo há poucos anos, sem filhos, queria se casar de novo e


sua noiva ficou viúva antes do casamento. Pelo que Martina me

confidenciou, a menina não queria um casamento com um homem


vinte anos mais velho. A bosta da autorização de casamento partiu
de Tomasso. Não precisava pensar muito para saber o que eles

queriam...

Paola, a mulher coagida a colocar nozes em pó na


sobremesa de Juliana, recebeu sua filhinha de volta. A bebezinha

estava com o pai, um soldado mal caráter e pela fralda suja e o


modo que a criança aparentava desespero, o bastardo nem cuidou

dela. A mãe chorou tanto quanto a filha e mandei um soldado levar


as duas para o hospital. Certamente havia algo errado com a

criança.

— Paola ligou. A menina está desidratada e precisou de

cuidados em algumas feridas, picada de bicho e outras coisas


simples. No mais, está bem. O que vai acontecer com elas? —

Martina parou do meu lado e não desviei o olhar.

— Nada. A mantenha próxima, deixe-a viver e se os pais


insistirem que se case novamente, fale comigo. Ela está autorizada

a permanecer na casinha que foi dada, com a filha e trabalhando

somente com você. — Terminei o meu cigarro. — Não fale para


ninguém sobre o que aconteceu essa noite. Mande o café da manhã

de Juliana para o quarto, vou deixá-la descansando e não quero que


seja incomodada. Ela precisa estar bem para a festa de aniversário

dela amanhã.

— É claro, senhor. — Martina assentiu e voltou para a cozinha.

Entrei no quarto pela varanda e Carina estava acordada,


mexendo no celular. Minha irmã me deu um sorriso sonolento,

espreguiçando-se.

— Ela não acordou em momento nenhum. Está tudo bem,

agora?
— Está sim, bambina. Durma, ok? Obrigada por ficar com ela.
— Beijei a sua testa e ela saiu rápido do quarto, provavelmente

doida para dormir o dia inteiro.

Entrei no banheiro, tirando a minha roupa e tomei banho com a

porta aberta, mantendo um olhar atento em Juliana adormecida na

cama. Seu rosto não estava mais tão inchado ou vermelho, apenas

os lábios estavam um pouco assustadores. Saído banho, vesti uma


cueca limpa e me deitei ao seu lado na cama.

Juliana sentiu a minha presença ou estava quase acordando,

virou na cama e deitou a cabeça em mim. Foi um ato involuntário

que por dez minutos seguidos, não alterou a sua respiração e

estava dormindo tão pesado quanto antes. Nunca dormi com uma
mulher antes, era tudo sobre foder e ir embora. Ou mandar embora.

Dividir a cama com uma mulher que nunca vi nua e já sentia

carinho era estranho. Não era de pedra, sabia que podia apreciar o

casamento. Meu pai sempre foi muito rude com todo mundo,

inclusive com a minha mãe, ele a assustava muito. Mas eles se

amavam e sobreviveram a muitas coisas. Não queria uma esposa


que tivesse medo de mim, em nenhuma hipótese. Queria uma

mulher que confiasse em mim e em quem eu pudesse confiar.


Não confiar nas pessoas era a minha natureza.

Juliana abriu os olhos lentamente e se esfregou em mim como

um gatinho, nem devia estar totalmente lúcida para fazer tal ato de

forma involuntária.

— Obrigada, Enzo — falou baixinho.

— Já está tudo resolvido, linda. Está melhor? — Acariciei seu


cabelo.

Meio incoerente devido às medicações, balançou a cabeça e

voltou a dormir. Martina entrou no quarto, me deu o seu clássico


olhar emburrado por me ver na cama com Juliana, deixou a bandeja
do café e saiu. Minha noiva nem se mexeu, com o braço e a perna

em cima de mim, continuou desmaiada. Respondi algumas


mensagens e dei ordens pelo telefone. Não queria que pensassem

que só porque estava no quarto, não precisava controlar o que


estava acontecendo do lado de fora.

Por volta da hora do almoço, ela gemeu baixinho, esticando-se


e o meu olhar foi diretamente para seus seios. Sem falar nada,

levantou-se e foi ao banheiro, fechando a porta e ficou lá dentro um


tempão, tomando banho e cuidando de si mesma. Saiu enrolada na

toalha e reparei que ainda estava instável.


— Aquele médico me deu sedativo para cavalo? Não consigo

vestir a minha roupa — reclamou, com um vestido nas mãos. Sorri,


puxei a sua toalha e mantive os meus olhos nos seus. Não queria

que pensasse que iria deixá-la desconfortável em um momento de


confiança. Ela estava totalmente nua e não olhei, estava

oficialmente me candidatando a canonização.

Passei o vestido por sua cabeça e braços, fechei os botões do

seu decote, sentindo os seus mamilos durinhos contra os nós dos


meus dedos. Juliana não desviou o olhar do meu, o tempo todo

analisando a minha expressão e quando terminei, segurou meu


rosto e me beijou. Colou o corpinho quente do banho todo em mim.

Correspondi o beijo, desci minha mão para a sua bunda e apertei.

Havia um limite de sanidade para um homem e o meu era

muito curto.

— Hora de comer um pouco — falei baixo, calmo depois de


quebrar o beijo, porque se continuasse me beijando, ela seria a

minha comida.

Fazendo um beicinho, foi até o seu café da manhã.

— Por que será que havia nozes? Martina sabe que tenho

alergia. — Sentou-se na cadeira estofada do canto e montou um


prato com um cornetto doce, torrada com queijo, ervas finas e café.

— Infelizmente, nem todos parecem estar felizes com o nosso

casamento. — A sua atenção parou em mim. — Passei a


madrugada resolvendo.

— Foi intencional? — Seu gritinho foi ouvido do outro lado da

casa.

— Não se preocupe. Martina está muito atenta à sua

alimentação agora. — Juliana continuou bem amuada, me olhou


triste. — Sei que é difícil descobrir que alguém nos fez mal

intencionalmente e estou grato por ter seguido meus instintos e


levado você ao hospital imediatamente. Ninguém sabe o que
aconteceu, porque não fiz alarde, mas quem tem que saber já

entendeu que é melhor não mexer com você.

— É impossível imaginar que alguém aqui em casa pudesse


me fazer mal intencionalmente. Essa é a minha casa, minha família

e todos que trabalham estamos aqui há anos e todos trabalham aqui


há anos...

— A mulher que colocou nozes em pó na sua sobremesa foi


coagida. Sequestraram a sua filha e não tinha muita alternativa. —

Juliana empurrou o prato, parando de comer.


— Por que tudo parece sem sentido desde que papai morreu?
Não entendo tantas coisas que estão acontecendo. — Sua
expressão confusa era muito linda.

— É o luto. Logo ficará tudo bem. — Empurrei seu prato de

volta. — Coma bem e volte para a cama, tire o dia para descansar,
amanhã você terá um dia agitado e quero que seja feliz, afinal, é

seu aniversário.

— Quando é o seu aniversário? — Bebeu o seu café.

— Já aconteceu... Foi em maio. Não gosto de comemorar.

— Não te dei presente, não sabia. — Sorriu timidamente. —


Fez trinta?

— Sim... Cheguei à terceira década da vida.

— Vou completar vinte e um, sou um bebê. — Me inclinei e

beijei os seus lábios. — Ou não.

— Você pode ser meu bebezinho. — Brinquei e mordi o seu

lábio inferior, chupando um pouco e com gostinho de café era ainda

melhor. Juliana me puxou pelo cabelo, mantendo um aperto firme


para continuar me beijando.

Foi um beijo muito gostoso.


Observei-a comer todo o seu café, escovar os dentes e voltar

para a cama. Queria ficar com ela mais um pouco, mas, tinha que
atender a família. Vesti uma calça jeans escura, uma blusa preta e

sapatos, penteando o cabelo, colocando o meu relógio. Juliana

estava distraída com o próprio telefone e não me viu pegar a arma


debaixo do travesseiro, guardando na gaveta e trancando.

No closet, peguei outra e enfiei na cintura, assim como uma

faca e um canivete no bolso. Uma batida na porta e um gritinho


anunciaram a chegada de Roberto. Sabia que ele não ficaria longe

por muito tempo.

— Seu vestido de casamento chegou! — Roberto gritou

animado com o seu marido, Max. Os dois entraram com tudo no

quarto e Juliana pulou da cama, batendo palmas e então, eles

olharam para mim. — Fora, xô. Não pode ver.

Ele não tinha amor à vida.

Me aproximei da cama, ignorando os dois.

— Vou trabalhar e volto para almoçar com você. Descanse. —

Beijei a sua boca macia, saindo do quarto e ouvindo os seus amigos


soltando risinhos bobos e então, eles gritaram que o vestido era
perfeito. Me senti tentado a espionar, mas não espiei, seria melhor

ser surpreendido.

Tommaso assumiu a posição de Alessio enquanto ele estava


em treinamento, físico e mental, para ser meu vice. Nada mais de

apertos de mãos e ameaças fúteis. A família Valentinni tinha

grandes pontos que eram todos unidos, porém, pacíficos demais.


Mantiveram Nápoles a duras penas e poderiam ter expandido

território, se tivessem sido mais espertos e cruéis.

Ouvindo tantas reclamações, percebi que Tomasso era uma

pessoa que eu devia prestar mais atenção e ter muito cuidado.

Talvez não levasse jeito para ser um homem da famiglia. Ou talvez

as minhas desconfianças estivessem certas. Ouvi casos, relatos,


mandei resolver outros e então, Malia entrou no escritório. Marcou

hora de último momento e estava curioso para saber o que queria

falar comigo.

— Em que posso te ajudar, futura titia? — Apoiei as minhas

mãos cruzadas em cima da mesa de mogno bem antiga do

escritório principal da casa.

— Juliana está bem? — Ela me enfrentou e olhei bem dentro

dos seus olhos escuros. — Martina me disse que mandou que


ninguém falasse com Juliana e com o que aconteceu de

madrugada, estou preocupada. Sei que ela será a sua esposa, mas
ela é a minha sobrinha.

— Está ótima, algo mais?

— Na verdade, sim... — Olhou para a porta e para mim,

aparentando estar insegura. — Quero a sua autorização para abrir

um restaurante. — Aquilo me pegou de surpresa. — Sempre amei


cozinhar e criei um livro de receitas, sou muito boa. Pode perguntar

à Martina, claro que ela também me ensinou muita coisa. Sempre

quis ter uma pitoresca cantina, servindo bons vinhos e comida


caseira, mas os meus irmãos não permitiam que uma mulher

trabalhasse, além de cuidar da casa. Alessio está fora e é um adulto

agora. Juliana será a matriarca e Martina nem pensa em se

aposentar...

— Um restaurante?

— Pesquisei tudo, aquele amigo de Juliana me ajudou, fez

uma planilha e montou um projeto. — Me entregou uma pastinha

pequena.

Olhei as folhas e era uma ideia muito boa, simples, mas

criativa e atraente. Seria um diferencial nas redondezas. Calhava


com os meus planos para reformular o vinhedo.

— Tudo bem, vou avisar a minha secretária para te procurar e

cuidar de tudo. — Malia soltou um gritinho, levantando o seu corpo


gordo da cadeira com uma agilidade impressionante e apertou o

meu rosto, dando beijos que só uma tia velha podia dar. Lembrou

muito a minha avó e acabei rindo.

— Obrigada, menino. — Sorriu e saiu alegre. Stefanio e Mika

não entenderam nada, rindo junto.

Terminadas as audiências, trabalhei em alguns detalhes com

Antônia e Giana até que Martina passou, com o almoço para o meu

quarto. Saí do escritório e ao entrar, me deparei com Max apoiando


Juliana enquanto Roberto marcava um vestido com alfinetes. Minha

noiva estava com o cabelo preso no alto, se olhando nos espelhos

do closet e parecia satisfeita.

— Está linda, bambina. — Martina disse, carinhosa.

— É criação do Roberto! Me deu de presente e quero usar


amanhã. — Juliana me olhou pelo espelho. — Gosta?

O vestido era preto, brilhante, com partes transparentes e

moldado ao corpo. Dava para ver sua bunda perfeitamente e estava


gostosa, mas porra, era muito sexy e o ciúme me corroeu da cabeça
aos pés. Enfiei as mãos no bolso e não disse nada. Martina saiu do

quarto com Max e observei Roberto ajudar Juliana a tirar a peça.


Fiquei incomodado pra caralho que ele a viu de calcinha e sutiã.

Era difícil lembrar que ele não gostava de mulher.

— Descanse agora, garota. Amanhã o seu vestido estará

pronto. — Roberto me deu um sorriso alegre, nem aí para o fato de

que o matava em minha mente repetidas vezes.

— O que foi? — Ela questionou, meio arisca, ainda parada no

mesmo lugar, demonstrando estar nervosa, torcendo os dedos. —

Eu sou virgem. — Soltou do nada e a olhei confuso. — Estamos


dividindo o quarto e tudo mais, porém, sou inexperiente, então, não

sei o que espera de mim ou o que iremos fazer, mas...

— Acalme-se, Juliana. — Calei o seu falatório e ela mordeu o

lábio. Aproximei-me do seu corpo todo gostoso, da cabeça aos pés

e a abracei, beijando a boca macia, carnuda, muito boa. Juliana

agarrou os meus braços primeiro e depois segurou a minha nuca. —


Sei que é virgem, nós podemos ir bem devagar, só que preciso

saber com o que está confortável...

— Não sei, nunca fiz nada, mas imagino que iremos fazer

alguma coisa em algum momento, certo?


— Casamento significa fidelidade, companheirismo e devoção.
Não vou te iludir e dizer que te amo, nos conhecemos ontem, mas

iremos nos casar e quero ser um bom marido — falei contra sua

boca e ela assentiu, tomando a iniciativa de me beijar. — Você é


muito gostosa, Juliana. Tenho fantasias incríveis. Te vejo assim e o

meu pau fica duro. Quero te pegar e chupar toda, te deixar

maluquinha de tesão, doida para dar a noite toda.

Aquela era a minha versão de ir devagar. Juliana me olhou

como uma bêbada enxergando uma garrafa de uísque. Ela ficou

arrepiada e agarrou os meus braços, querendo ficar próxima.


Abaixei o meu rosto e parei próximo ao seu ouvido, chupando o

lóbulo de sua orelha.

— Estou doido para te ter peladinha, molhada, gemendo o

meu nome enquanto meto fundo. Quero meter tanto o meu pau que
vai ficar dolorida, implorando por mais, gozando gostoso... — Seu
ofego e os mamilos arrepiados mostraram que estava gostando

muito de tudo que estava falando.

— Quero casar virgem, desculpa, sei que parece bobo. De


tudo que sempre sonhei com o meu casamento, quero manter pelo

menos isso. — Juliana era um anjo, inocente e pura no meio de


tanto mal. Como Valentinni conseguiu criar uma criatura perfeita
realmente era um enigma. — Quero fazer coisas antes... Para me
preparar, conhecer seu corpo e o meu... Tipo preliminares...

Por que ela parecia tão insegura em me propor putaria? Era


uma dádiva.

— Sei que maridos esperam que as suas esposas se deitem e


que eles façam o restante, mas eu não quero ser esse tipo de
esposa — falou baixo e sorri. Que delícia...

— Você quer fazer um monte de sacanagem até a gente


começar a foder feito coelhos? — Quis ter certeza, porque nunca
negava uma oferta de putaria.

— Basicamente isso. Diria com outras palavras, Sr. Boca Suja.


— Me repreendeu de leve. Beijei a sua boca, agarrando-a e eu
queria jogá-la naquela cama e tirar a sua roupa toda, sem mais

conversa.

— Vou te fazer xingar tanto quando estiver te comendo...


Sonho com essa boquinha gostosa soltando um “puta que pariu,

que gostoso” — sussurrei em seu ouvido e beijei seu pescoço,


apertando a bunda. — Deixa eu te fazer bem, ficar relaxada agora
de tarde...
Juliana me deu um olhar nublado de desejo e perguntou
baixinho se eu poderia tirar a minha camisa. Ela ia me matar agindo
daquele jeito, tão pura. Tínhamos algumas horas antes de ela

capotar na próxima medicação e lhe daria material o suficiente para


ter bons sonhos.

Ainda daria tempo de dar uma voltinha pelo lugar, colocando

alguns soldados em seus devidos lugares.


Nove | Juliana

Meu coração batia tão forte e tão alto no meu peito que não

conseguia ouvir os meus pensamentos, se é que podia chamar


disso, com Enzo me beijando e me levando para a cama. Suas

mãos e boca estavam por todo lugar, me deixando verdadeiramente


acesa. Parecia rápido demais estar daquele jeito com ele, mas, eu
não conseguia pensar em parar. Eu queria estar com ele.

Muita coisa havia acontecido nos últimos dias, como uma

tentativa misteriosa de assassinato e Enzo fazendo tudo por mim.

A proximidade do seu corpo na cama era gostosa, me


deixava quente e me fazia sentir vibrante. Mesmo adormecida, senti

o seu corpo junto ao meu em diversos momentos e me refugiei nele,


gostando do aconchego e do carinho. Não sabia que gostaria tanto
de ter alguém na minha cama. Eu não me sentia tão solitária

quando Enzo me abraçava no meio da noite só para sentir um

pouco do meu perfume. Ele tomava muito cuidado em não me tocar


sexualmente de maneira que pudesse me assustar e eu estava

dividida entre apreciar e desconfiar.

Conversando com Roberto e com Max sobre como me sentia,

eles me incentivaram a ser honesta com meu noivo. O que teria a


perder falando a verdade e aproveitando a gostosura sem limites do

homem com quem iria me casar?

Enzo garantiu fidelidade e companheirismo, se estava presa


a isso, podia aproveitar e tentar o meu melhor. Felizmente, não

estávamos nos iludindo sobre amor e sentimentos. Apesar de odiar

admitir, no momento, gostava da maneira que ele era capaz de


tomar conta de tudo. Sempre me senti sozinha, no escuro das

informações, tratada como uma princesinha mimada e apesar de ele

não ter entrado em detalhes sobre o que aconteceu comigo, ele


conversou, me informou, algo que a minha família não fazia,

costumavam me mandar para o quarto e aceitar o que era dito.

Com Enzo, não iria permitir ser tratada como uma idiota
burra.

— Tudo bem? — Ele parou de me beijar. Assenti, muda. —

Fale.

— Sim, estou bem. — Saiu ofegante.

Suas grandes e calejadas mãos me levaram para a cama e

me tombaram nela. Ele deitou-se por cima, sem soltar o peso, me

beijando tanto que meus lábios formigavam. Nunca havíamos nos

beijado daquele jeito, eu nunca beijei antes e ele parecia calmo,


seguindo o meu ritmo e me tocando com calma. Entre as minhas
pernas, senti um doce latejar, pulsando bem mais forte do que

quando tentava me masturbar e não conseguia chegar ao final, por

pura vergonha.

— Você é tão gostosa, porra. Minha italianinha deliciosa —

sussurrou e tremi, ansiosa com o que viria a seguir. Dando beijos de


boca aberta na minha clavícula,tirou a blusa e se levantou da cama,

fechando as cortinas, as portas duplas da varanda e trancou, assim

como a porta principal do quarto. Ligou o ar-condicionado, estava

morrendo de calor e não era pelo clima lá fora, e sim pelo quanto

estava quente ali dentro.

Sorrindo de um jeito tão safado, tirou o restante da roupa,


mostrando a cueca azul marinho justinha e reparei no seu corpo

com calma. Ele era alto, musculoso, definido e torneado nos lugares

certos, mas não grotesco e não era magro. Era gostoso mesmo, do

tipo que gostava. Mordi o meu lábio inferior, admirando a sua forma

musculosa retornando para a cama, afastando os meus joelhos e se

encaixando no meio.

Senti sua ereção dura contra a minha... uau.


— Tá sentindo meu pau contra sua buceta, amore? —

Esfregou-se e gemi, caramba, era delicioso. Senti que estava


molhada e meu rosto esquentou de vergonha. — Estou sentindo seu

cheiro, que delícia porra — grunhiu, me pressionando e soltei um


gemidinho mais alto. — Não se reprima. Sinta tudo. Entre você e eu
não precisa ter vergonha, isso é natural e é bom. Está tudo bem.

Quem diria... Enzo Rafaelli era paciente.

— Sim, isso é bom. — Ofeguei e ele me ergueu


parcialmente, soltando o meu sutiã, afrouxando o suficiente para me
provocar nos mamilos. Mexi meus ombros para que saíssem do

caminho. Estava na chuva, era melhor me molhar.

— Ah, provocante. Safadinha... Eu aqui, querendo ir


devagar e você vem liberando esses peitos gostosos. — Ele

segurou ambos e apertou, esfregando os polegares nos mamilos,


em seguida, chupou o bico, me olhando. Caramba, era sexy,
gostoso. — Posso morar aqui e te mamar para sempre?

— Enzo, nossa! — Soltei uma risada nervosa, ele era


criativo e sexy com aquela boca incrível. Segurei a sua nuca e o

beijei, meio que me esfregando cada vez mais. Minha curiosidade e


tesão estavam correndo por todo lado. Empolgada com os seus
avanços e sentindo o quanto tudo era ainda melhor do que

imaginava, engoli a minha vergonha, confiando nele.

— Posso tocar você? — Sua voz estava bem baixinha


próxima ao meu ouvido, mordeu o lóbulo molinho da minha orelha e
suspirei, sentindo sua mão deslizar por minha barriga até minha

calcinha vermelha. Balancei a cabeça que sim e grudando a boca


na minha, caiu um pouco para o lado e a sua dura ereção estava

pressionada contra a minha coxa. Contraí o abdômen, meio


nervosa. Além da minha médica, ninguém havia tocado ali. —

Relaxa, amore. É gostoso. — Enfiou a mão dentro da minha


calcinha e as minhas pernas se afastaram mais ainda... Corpo
traidor e muito ansioso. Enzo gemeu de um jeito tão delicioso no

meu ouvido que me arrepiei. — Lisinha, toda molhada e quente...


Puta que pariu, minha boca enche de água. — Lambeu o meu

pescoço, com seu indicador encontrando o meu clitóris. — Ah, geme


assim, vai.

Sua caríciasafada estava me deixando tonta, sedenta e tirei


a minha calcinha. Precisava que ele terminasse, pelo bem da minha
sanidade. Enzo xingou alto, olhando para a minha nudez, mordendo

o meu ombro e eu sabia que ele, sendo um homem experiente,


estava se controlando bastante para o meu prazer. Sem perder
tempo, voltou a me estimular, me beijando e o fogo que era apenas
uma faísca, foi aumentando, incendiando e explodindo.

Soltei um gemido e enfiei as minhas unhas no seu braço.

— Isso, goza gostoso — sussurrou e gemi alto, tremendo,

me contorcendo sob o seu domínio.Enquanto ainda me recuperava,


ele chupou os meus peitos, sem parar, como um louco tarado
sedento no deserto. Seu ataque me deixou ainda mais excitada,

doidinha. — Porra! — Se afastou e saiu da cama, fiquei confusa. Fiz


alguma coisa errada? — Preciso ir ao banheiro ou eu vou te comer.

— Vai se masturbar?

— Tocar uma punheta ou meu pau vai explodir na cueca. —

Apertou o volume na sua cueca e engoli seco, louca para ver. Mordi
o meu lábio, um hábito nervoso e já estava dolorida. — Não me olhe

assim.

— Posso assistir? — Reuni coragem.

— Você vai ser a minha morte. — Enzo gemeu


profundamente. Seus olhos brilharam para o meu corpo nu. —

Posso gozar em você?


— Sim! — Saiu como um grito e fiquei vermelha. —
Desculpa, sim. — Falei mais comedida.

— Será a minha noiva uma safada? Tá empolgada para ter


minha porra em você, amore? — Sorriu e fez sinal que me deitasse

na cama novamente. Tirou a cueca e o seu pênis saltou livre, duro,


brilhando e com as veias bem inchadas. Abri a minha boca em
completo estado de choque ao ver um homem nu pela primeira vez
e o quanto fiquei excitada, se possível, ainda mais molhada.

Caramba, pessoalmente, eles eram muito melhores. — Puta que

pariu, posso gozar só com esse olhar. Gostosa pra caralho. —

Tocou a si mesmo e os meus mamilos ficaram duros. — Jesus


Cristo, Juliana. Seu corpo reage a mim tão lindamente, amore. Tão

linda, porra.

Grunhindo, continuava tocando a si mesmo, com os


músculos retesados, o braço trabalhando na punheta e sua outra

mão, manipulando o meu mamilo ou enfiando o polegar na minha

boca. Chupei, sugando de leve e dei uma breve mordidinha. Enzo

caiu um pouco para frente, rosnando, gemendo e me beijou ao


mesmo tempo que sentia um líquido quente espalhar entre meus

seios e barriga.
— Cacete — gemeu e tombou do meu lado, perdido. A

expressão dele era maravilhada. Curiosa, esfreguei o meu dedo


indicador em seu esperma, sentindo a textura, olhando a cor e enfiei

o dedo na minha boca para provar o gosto. Enzo quase caiu da

cama do meu lado e olhei sem entender nada. — Vamos para o


chuveiro agora antes que eu faça uma merda sem tamanho.

Caralho, Juliana! Você provou minha porra! — Ele estava vermelho.

— Não podia?

— Amore! Você pode tudo, da próxima vez, vai provar direto


da fonte — murmurou me levando para o banheiro e a minha mente

estava tentando computar o que havia falado. Quando finalmente

entendi, ele riu e ligou o chuveiro.

Ah sim, um boquete. Hum, não fazia ideia como fazer tal


coisa, não parecia ruim... Debaixo da água gostosa, nos lavamos e

trocamos beijos mais calmos, mesmo que as batidas do meu

coração ainda estivessem frenéticas.

Depois do banho, me enrolei no roupão e comemos nossa


comida meio fria na cama, compartilhando o vinho delicioso da

adega especial da casa. Era um Valentinni das primeiras safras,

docinho, adorava. Enzo me deu a última dose da medicação


passada pelo médico e me acomodei na cama, ciente de que não

duraria muito tempo acordada. Observei-o se vestir, cheiroso, bonito

e aceitei seu beijo com louvor.

— Descanse, amore.

— Me acorda para o jantar, por favor. Não vou aguentar ficar

no quarto. — Fiz um beicinho.

— Se estiver consciente, te acordo. — Sorriu e eu

provavelmente ficaria em coma, não lembrava muita coisa da noite


anterior e por isso parecia tudo confuso.

Apaguei sem demoras, sem nem olhar o meu celular.

Sonhei com o meu lindo vestido de noiva, com a boca de Enzo

sobre mim e quando acordei, estava muito escuro no quarto e eu


estava sozinha.

Olhei a hora e eram dez da noite, bem tarde considerando

que o jantar seria servido mais cedo para que todos pudessem

descansar para o meu aniversário no dia seguinte. Seria um dia


muito agitado com a organização da minha festa. Sabia que a minha

sogra havia encomendado uma estrutura, um palco para música ao

vivo, buffet e vários convidados, tudo coisa dela e de Roberto.


Coloquei um vestidinho azul, do mesmo tom do meu

conjunto de calcinha e sutiã, passando pelos quartos e corredores


silenciosos com cuidado para não acordar ninguém. A luz do

segundo andar estava apagada, só as luminárias de apoio

ajudavam a enxergar. No pátio, estava tudo fechado, escuro e vazio.


A cozinha estava limpa, com cheirinho bom de manjericão e tomate

de sempre. Do lado de fora, vi alguns trabalhadores olhando as

uvas, provavelmente na última aferição do dia.

Ouvi algumas vozes na varanda lateral, enfiei a minha


cabeça para fora só para espiar e Enzo estava fumando, jogado em

uma cadeira e Stefanio, com uma garrafa de cerveja. Emerson

estava mais no fundo, bebendo água e desde a briga, não o vi mais.

Ele parou de me olhar como se fosse um pedaço de carne e percebi


que fazia aquilo para irritar o seu irmão. Uma pena que dormi

demais, porque queria contar a Roberto as minhas atividades da

tarde e trocar figurinhas.

— Senhora. — Stefanio se aprumou assim que me viu.

— Está com fome? — O tom de Enzo era morno.

— Estou sim. Vou preparar alguma coisa. — Fiquei sem

graça, sentindo que estava atrapalhando um momento entre


homens.

Sem esperar a sua resposta, dei a volta e entrei na cozinha,

abrindo a geladeira e pegando salame, maionese, mostarda, queijo

e espalhando tudo para fazer aquele super sanduíche com pão


branco. Senti um par de mãos na minha cintura e em seguida, um

corpo quente e musculoso estava encostando em mim, tirando o

meu cabelo do caminho e beijando o meu pescoço.

— Isso parece bom. Eu perdi o jantar. — Olhou por cima do


meu ombro e lhe preparei um também. — Quer vinho branco?

— Sim, por favor. — Sorri e cortei nossos pães, colocando

na mesinha da cozinha. — Por que perdeu o jantar?

— Estava andando pelo vilarejo, falando com alguns


soldados e funcionários. Dando uma olhadinha na produção e

dizendo olá. Apesar de morar em Nova Iorque, meu pai vai passar a

viver na Itália, temos uma numerosa classe de família aqui no país.


E Alessio, quando estiver pronto, vai viver aqui. — Explicou distraído

com os vinhos e o meu cérebro entrou em parafuso. Soldados?

Alessio estar pronto?

— Não entendi absolutamente nada, Enzo. Do que está


falando?
— Alessio precisa estar aqui para gerenciar os negócios.

Assim podemos manter tudo em ordem, mas não acontecerá agora.


Temos tempo. É importante mostrarmos ao mundo que somos uma

família unida.

Fiquei um pouco mais feliz que meu primo assumiria uma

boa posição no vinhedo, porque era muito ruim ver o nosso negócio
na mão de estranhos. Mesmo que esses estranhos se tornassem a

minha família no futuro.

— Entendi. Acho importante uma boa imagem para melhorar

os negócios. Papai era muito atrasado na questão de marketing e


publicidade. Você tem alguns planos quanto a isso? — Olhei-o

interessada. Meu pai era muito turrão, pelo menos Enzo estava

planejando modernizar o vinhedo.

— Acabamos de contratar uma excelente empresa para


cuidar de todo o marketing e o vinhedo estará na rota de turismo da

próxima temporada. Tenho certeza de que abriremos uma boa

margem de lucros para o local confuso que estamos agora. As


finanças não estão ruins, mas não foram bem administradas —

Retorquiu e senti paz, era isso que precisávamos, modernizar,

investir e entrar na corrida das vendas. Ser uma safra cara e antiga
não iria nos sustentar por muito tempo. Ele estava muito seguro,
parecia saber o que fazia e me acalmei, daria tempo de me

inscrever na faculdade que esperava começar no próximo ano e

assim, poderia estar à frente dos negócios da minha família. —


Amanhã será um longo dia. — Me deu um olhar tranquilo.

Ele era muito bonito, principalmente quando aparentava

estar em paz.

— Estou sem sono. — Dei de ombros e ele apenas pegou


uma garrafa fechada do mesmo vinho que saboreamos com o nosso

lanche. Peguei as duas taças que estávamos usando e fui atrás

dele, não me faria mal beber um pouco mais e aproveitar que me


sentia melhor depois de um dia inteiro meio dopada.

Dentro do meu quarto, ele tirou a roupa, ligou o som baixo e

as batidas de Tiziano Ferro começaram a tocar. Fechou a porta com


a chave e diminuiu a luz, serviu o vinho nas taças e me entregou
uma, brindamos, bebemos olhando nos olhos do outro e então, nos

beijamos. Me rendi ao sexy clima de sedução e entre vinho, beijos e


mãos, dormi em seus braços tatuados e fortes. Enquanto sentia
segurança ao seu lado, havia uma vozinha sussurrando na minha
cabeça que eu não sabia absolutamente nada sobre o que estava
acontecendo ao meu redor.

Muito menos conhecia o homem que estava felizmente me

agarrando.

Acordei sozinha na cama na manhã seguinte e estava


apenas de calcinha, espalhada no meio da cama. Me espreguicei,
ouvindo os barulhos do lado de fora e uma agitação crescendo

pelos corredores. Estranhei o fato de que era nove da manhã e


ninguém havia me acordado. A minha tia me acordava cedo, mesmo
quando eu implorava para dormir até meio dia. Ela dizia que uma

mulher não podia dormir muito ou as canelas ficariam grossas.

Tia Malia acreditava que mulher de canela grossa era


preguiçosa. Ela tinha cada ideia maluca...

Entrei no chuveiro para despertar e sair do quarto cheirosa.

De short jeans e uma camisetinha, chinelos nos pés e cabelos


soltos, encontrei no andar debaixo uma confusão de pessoas.
Mesas estavam sendo montadas, uma pista de dança em estrutura,

um palco pronto e a cozinha trabalhando intensamente.

Amber me deu um sorriso, segurando uma prancheta e

parecia dedicada. Roberto e Max estavam olhando toalhas e falando


com uma mulher de preto, que deveria ser a organizadora ou
decoradora. Martina e tia Malia andavam na cozinha com uma
equipe que não conhecia.

Os seguranças estavam por todo lado, andando meio


ariscos, provavelmente porque havia muita gente na propriedade.

— Aí está você! — Carina sorriu empolgada. — Mamãe

contratou uma equipe para nos arrumar. Estão no meu quarto...


Então, já tomou café? Tem um massagista incrível com as mãos
mágicas. — Disparou a falar e Martina se aproximou com uma

bandeja com frutas, pães, salame e queijo, colocando na mesa com


suco e café.

— Cadê seu irmão?

— Está no escritório com Emerson e papai. — Carina me

respondeu enquanto dançava uma música que estava na sua


cabeça. Ela tinha tanta energia, sorri achando graça e comi tudo,
sendo rebocada para o quarto onde me aguardavam para uma

massagem relaxante e vários procedimentos para me deixar bela.

Um enorme buquê foi entregue quando faziam meu cabelo e


sorri, empolgada pelas rosas vermelhas. Um cartão estava anexado

e logo abri, ansiosa, enquanto uma mulher simpática fazia as


minhas unhas dos pés. A letra bonita, masculina e um pouco
complicada dizia “Feliz aniversário, tesoro mio. Desejo felicidadese

que possamos ter uma vida maravilhosa juntos. Com carinho,


Enzo”.

Quem diria... Ele tinha uma veia carinhosa em algum lugar


do corpo dele. Guardei o cartão no meu roupão e pedi que levassem
as flores para os vasos do meu quarto. Enviei uma mensagem

agradecendo e guardei o meu telefone, voltando a me concentrar


nos preparativos. Maquiada e com o cabelo feito, fui para o meu
quarto esperando Roberto aparecer com o meu vestido ajustado.

Pelo cheiro, Enzo já deveria estar pronto na festa.

Foi preciso uma tarde inteira para ficar pronta.

— Preparada? — Roberto entrou empolgado e me ajudou a


vestir. Ajustado ficou ainda melhor. Era muito ousado, minha tia só

não estava reclamando porque meu noivo não reclamou.

— Enzo e eu fizemos coisas ontem. — Olhei-o através do


espelho. — Foi bom, pena que não sou mais experiente. Gostaria
de ter aproveitado mais...

— Não repita isso, Juliana. Homens como Enzo são


possessivos, eles não gostam de pensar que suas mulheres tiveram
outras experiências. — Roberto me segurou pelos ombros. Não

entendi porque ele estava sendo tão machista. — Finalmente vinte e


um, querida. Felicidades, minha princesa! — Sorriu e nos
abraçamos. — Agora vou descer e avisar que está pronta. Você tem

que descer pela sua varanda no momento que os holofotes


acenderem.

— Vocês exageram muito, meu Deus. Que vergonha! —


reclamei e ele foi embora, me ignorando.

Desci a escada com cuidado e fiquei parada onde a


organizadora sinalizou, nervosa, ensaiei um sorriso no rosto e andei
calmamente pelo caminho de pedras enquanto um coro de palmas

soava com a minha passagem e assim as luzes iam acendendo. Os


flashes das fotos me cegaram um pouco e foquei no final da trilha,

sorrindo e acenando para quem conhecia.

Estava morrendo de medo de cair. Enzo me segurou no final


e abri um sorrisinho para a mesma carranca que fez quando me viu

provando o vestido. Se o conhecesse melhor, diria que estava com


ciúmes, e considerando o beijo de nublar a minha mente que deu na
frente de todo mundo, tive certeza. Agarrei seu braço, precisando de

apoio e a sua mão desceu para minha bunda, efetivamente


marcando território. Como se a aliança enorme já não fosse o
suficiente...

— Feliz aniversário, amore — sussurrou contra os meus

lábios.

— Obrigada.

— Pare de monopolizar a aniversariante, Enzo. — Amber


bateu nele carinhosamente e me deu um abraço.

Minha futura sogra foi só a primeira de uma longa e

interminável fila de pessoas que queriam me parabenizar. Não


entendi nada, as pessoas, de modo geral, quase não falavam
comigo e o papai não me deixava ir às festas que organizava. Enzo

me fez cumprimentar um monte de velhos amigos do papai e as


suas famílias, fiquei grata que as pessoas compareceram. Lembrei
do meu velho homem e do quanto sentia falta dele.

Ah, papai. Por que partiu tão cedo?


Dez | Juliana.

Minha festa de aniversário foi indescritível, divertida e

incrível. Dancei muito com Roberto, Max, Carina e quem mais


estivesse animado na pista de dança. Comi, bebi, rodei de um lado

ao outro sendo fotografada e sabia que seria a festa mais falada nas
próximas reuniões sociais. Se aquela animação toda fosse a prévia
do casamento, seria outro dia maravilhoso.

Meu noivo fez o papel social, indo de roda em roda, sempre

sério ou estoico, quase não ficamos juntos depois que comecei a


ficar alegrinha de tanto espumante. Ele estava tomando conta e
nunca me perdia de vista. No meio da madrugada, parou na minha

frente e vi dois dele.

— Acho que é hora de irmos para o quarto — falou


calmamente e ciente que estava bêbada, não queria pagar nenhum

mico, sorri e aceitei a sua mão. Me despedi de quem ainda estava

festejando e entramos na casa.

No quarto, ele fechou a porta principal que foi trancada


quando desci e me olhou intensamente.
— Preciso tomar um banho, estou suada. — Soltei um

soluço e ri. Meu rosto devia estar uma bagunça.

— Vai na frente... — falou meio enigmático, dei de ombros


por seu jeito esquisito e entrei no banheiro, arrancando minha roupa

toda e lavando meu rosto, removendo a maquiagem. Entrei no

chuveiro molhando o cabelo que estava suado na raiz e duro de


tanto fixador. — Posso me juntar a você?

Abri um sorrisinho sem dar uma palavra e Enzo entrou na

área do chuveiro gloriosamente nu e ereto. Pegou o sabonete


líquido e a minha esponja favorita em formato de ursinho, fez

espuma o suficiente e esfregou os meus braços, ombros, descendo

entre os seios e provocando meus mamilos com a parte áspera.


Soltei um gritinho e o segurei, surpresa com a minha reação.

Ele levou a mão ensaboada entre as minhas pernas, me

lavou numa carícia provocante e beijei a sua boca, aproveitando a


distração para tocar o seu pênis ereto. A bebida me deixou

desinibida, toquei-o levemente e ele se afastou, pegando a minha

mão e envolvendo, apertando meus dedos para mostrar a pressão

certa e junto, subiu e desceu, gemendo contra a minha boca.


Entendi rapidamente o que era para fazer e como uma excelente
aprendiz, me deliciei ao vê-lo gostando muito do meu toque.

Ele gozou na minha barriga e observei tudo, admirada. Era

sujo, excitante, divertido... Completar vinte e um me deu a sensação

de estar liberada para a vida adulta. Sentindo-me nas nuvens após

uma gozada daquelas, fomos para a cama e nos deitamos juntos.


Apaguei completamente, levada pelo melhor espumante que o

nosso vinhedo produzia e os dedos mágicos do meu futuro marido.

Mais uma vez, acordei sozinha e não achei estranho, afinal,

era muito tarde. O sol estava queimando no meu braço e rolei na

cama, com o corpo meio dolorido de toda a dança. Sem querer me

levantar ainda, fiquei apenas curtindo as fotos da festa que fui


marcada. Enzo postou a sua própria galeria, com uma legenda

formal e todas as fotos haviam sido tiradas pelo fotógrafo, as

pessoais estavam no meu telefone. Gostei de todas elas.

Respondi comentários de felicitações e me deu sono de


novo, aproveitei para tirar um cochilo. Acordei assustada com um

barulho de ferros caindo, deveria ser a equipe desmontando a festa,

com preguiça, virei na cama me convencendo a levantar e então,

enfiei a mão embaixo do travesseiro de Enzo e senti algo ali.


Tirando o travesseiro de cima, cheguei a sentar ao reconhecer uma

arma preta, não era uma pistola de faroeste, mas não tinha ideia do
que era aquilo.

Por que Enzo estava com uma arma debaixo do


travesseiro? Já não bastava toda a segurança excessiva e intensa?

Quem esse homem era? Me bateu uma gigante insegurança que


estava me entregando de bandeja para alguém que chegou

assumindo a minha herança, os meus negócios de família e pouco


sabia sobre a vida dele.

Quanta estupidez, Juliana.

Me levantei da cama determinada a tirar satisfações. Entrei

em meu closet e peguei um par de sapatilhas, um macacão jeans,


prendi o meu cabelo e assim que abri a porta do quarto dei de cara

com meu primo Alessio, a mão levantada para bater. Gritei e me


joguei nele, cheia de saudades. Ele estava diferente, com o cabelo
cortado, mais magro, definido e com tatuagens, algumas bem iguais

às do Enzo.

— Feliz aniversário, bambina! — Me pegou em um abraço

apertado.
— Não deveria estar agarrando a minha mulher desse jeito,

Alessio. — A voz de Enzo soou meio fria. Alessio riu de um jeito


maldoso, mostrando os dentes para o meu noivo.

— É só a minha priminha, chefe.

Chefe? Ah sim... Enzo é o novo presidente do vinhedo,

mas... Alessio era meu primo, não precisávamos de formalidade em


família.

— Não precisa chamá-lo de chefe — Imediatamente lembrei


da arma na minha cama.

— Precisa sim. — Enzo rebateu.

— Tenho que falar com você... tipo, agora. — Apontei para o


quarto, autoritária e com o meu sangue quente falando mais alto

que qualquer coisa. Enzo ergueu a sobrancelha com o olhar frio


pairando sobre mim. — Enzo? É sério! Por que você tem uma
arma? — Coloquei as mãos na cintura e sua expressão ficou

imediatamente confusa.

— E por que nesse mundo eu não teria?

— Pessoas não tem armas assim... — Apontei para a cama.


— Na cama? Por que? Esse lugar está mais seguro que... algum
lugar super seguro que não me vem à cabeça agora!

— Acredite em mim, pessoas têm armas. — Ele ainda me

olhava como se eu fosse louca. — Qual o problema nisso?

— Não gosto delas — Afirmei. Armas me assustavam e eu

não queria dormir pensando que ele estava armado do meu lado.

— Sinto muito, amore. Não deixarei mais debaixo do

travesseiro, mas preciso que ela fique em algum lugar ao alcance


das minhas mãos. — Enzo inclinou a cabeça para o lado e cruzei os

meus braços.

— Não basta esse monte de seguranças? Quem é você?


Por que tudo isso?

— Quem sou eu? Juliana, você está bem? — Ele chegou

perto, parecendo preocupado e Alessio tossiu, falando algo


baixinho. Enzo virou na sua direção. — O quê? Não ouvi.

— Ela não sabe. — Alessio murmurou sem me encarar e

Enzo ficou olhando por uma infinidade de tempo para o meu primo.
Quando algo pareceu fazer sentido na sua cabeça, ele me fitou com

os olhos ligeiramente arregalados.

— O que eu não sei? Falem logo, o que eu não sei?


— Não é nada, prima. Coisa dos homens da família. —
Alessio disse nervosamente. Enzo seguia me olhando, em transe e
continuei batendo o pé e então, meu primo suspirou. — Já ouviu

falar em...

— Cale-se, Alessio. Saia. — Enzo o cortou bruscamente.

— Não fale assim com ele!

— Está tudo bem, Jujuba. Ele é o chefe da família agora, é

normal. — Alessio tentou me acalmar.

— É isso que não entendo! Como Enzo pode ser o chefe da

nossa família? Ele chegou aqui ontem! Nós não nos casamos ainda,

o pai dele está muito vivo. Por que papai deixou tudo para esse
casamento? — Ergui as minhas mãos, completamente exasperada

e cansada de ser enrolada. — Ele chega e todo mundo tem medo!

De repente, as pessoas ao meu redor estão ovacionando o

sobrenome Rafaelli. E ainda aconteceu o absurdo de uma mulher


ter a filha sequestrada para colocar nozes na minha comida, porque

não querem que eu me case com ele! Estou perdida, me ajudem! —

gritei, ficando rouca e chateada. — É tanto segredo que parece até


aqueles filmes do Poderoso Chefão.
O olhar do meu primo ficou apavorado e Enzo seguia como

uma estátua. Ele estava me irritando parado daquele jeito, puxei o


fôlego para falar e parei, pensando em uma enxurrada de coisas

que calculei como estranhas, somando com tudo o que sabia sobre

organizações mafiosas que tanto li nos livros e olhei para os


homens na minha frente. Tudo fazia sentido e me senti tão idiota

que o mundo estava girando rápido demais.

Meu pai era um mafioso. Ele me protegia, me excluía e me

mantinha afastada justamente para que eu não soubesse sobre os


seus negócios. Mulheres não herdam os negócios e então, ele

resolveu o problema arrumando um casamento. Enzo era o seu

herdeiro. Um homem que meu pai escolheu para me proteger como

as mocinhas dos romances.

— Não pode ser — falei baixo, me afastando e os encarei.

— Isso não existe.

— Enzo é o nosso Chefe... Os negócios da nossa família

agora fazem parte dos negócios da família Rafaelli. — Alessio


estava falando como se eu fosse um animal selvagem prestes a

atacar e desviei o olhar para o homem com quem me casaria.


— Não entendo. — Meus olhos se encheram de lágrimas e

respirei fundo, segurando o choro. Por que a minha família mentiu

esse tempo todo? Por que esconderam de mim?

— Como vocês tiveram coragem de enganá-la por toda a


vida? — Enzo falou tão baixo que quase não deu para ouvir. Era a

pergunta do dia... Senti certo conforto de que ele não estava me

enganando. Enzo não sabia que eu não sabia. — Como puderam?

— O padrinho não queria que Juliana soubesse... Queria dar


a ela uma vida normal, de princesa, sem saber que há muito sangue

nas nossas mãos. — Alessio se desculpou e eu pensei que Enzo

fosse avançar nele, sem pensar, fiquei entre os dois.

— Ela é o caralho da princesinha da máfia, porra! — Enzo


gritou e saltei para trás. Alessio me tirou da sua frente, mas Enzo

me agarrou delicadamente, segurando o meu queixo. — Entra no

quarto e senta-se na cama, porque se ninguém te contou, eu vou te


contar tudo — falou suave comigo.

— Chefe...— Alessio parecia conflituoso.

— Regra número sete, Alessio. O que ela diz?

— Sempre respeitar sua esposa. — Meu primo murmurou.


Enzo ainda estava falando com ele, mas sem desviar os

olhos do meu.

— Juliana será minha esposa e por respeito, o que vocês

nunca tiveram, vou contar a verdade, mesmo que doa. Como

pensaram que ela poderia ser minha esposa sem saber o que é a

nossa vida? — Enzo estava inconsolável e quase senti pena dele,


de mim... de nós. Precisava entender e antes de qualquer coisa, era

meu direito saber da verdade. — Nos dê licença, Alessio. Agora.

Sentei-me na pontinha da cama, tremendo e escondi as


minhas mãos debaixo das coxas. Com toda calma do mundo, Enzo

arrastou uma cadeira até a minha frente e sentou-se. A arma

ofensiva estava atrás de mim e mesmo sem olhar, sentia seu peso

na cama, próximo às minhas costas. Ele não a pegou, nem segurou,


apenas me olhou provavelmente sem ter ideia de onde começar.

— Os negócios da família foram fundados pelo meu bisavô,

há muitos anos, na Sicília e no movimento de migração, foi se

espalhando pelo mundo. Nós nos estabelecemos em Nova Iorque


quando fixamos nossos territórios em Chicago, Nova Iorque, Los

Angeles e Seattle... Também estamos na Inglaterra e na Austrália.

— Começou a explicar calmamente e obriguei o meu cérebro a


acompanhar. Balancei a cabeça. — Durante muitos anos a família

Valentinni fazia parte dos nossos negócios. Nossos avôs eram

amigos íntimos,nossos pais foram criados juntos e por isso, seu pai

foi o meu padrinho, mas seu avô nos deu um golpe e nos
separamos. Nos tornamos inimigos...

— Golpe? — Como seria dar um golpe? Como os negócios

eram divididos?

— Seu avô queria uma fatia maior do lucro, uma


participação mais poderosa na família e como não conseguiu,

tornou-se o seu próprio chefe, elegeu um vice e um conselheiro. Ele

já tinha um herdeiro, as suas ações eram legítimas e conquistou


todo o território de Nápoles. — Enzo pegou as minhas mãos que

ainda tremiam. — Durante muitos anos a família Valentinni viveu

segurando com punho de ferro os seus territórios, que se resumiam

a Las Vegas e aqui. O seu avô era um homem muito cruel e


devastou lugares...

Balancei minha cabeça, chorosa. Vovô era assustador e

sempre corri dos berros dele, nunca foi carinhoso ou próximo, talvez

decepcionado porque meu pai só teve uma menina. Ele morreu


quando ainda era pequena. Foi basicamente na mesma época que
nos mudamos para a casa grande e tia Malia me enviou para o

colégio interno. Enzo ficou mais uma hora contando tudo que vinha
a sua mente e nada parecia real, apesar de fazer sentido.

Minha cabeça estava doendo e não conseguia ouvir mais

nada.

— Isso existe mesmo? — Apertei os seus dedos.

— Sim, amore. — Confirmou e meu coração estava meio


partido. — Não sei por que ninguém te contou, sempre achei que

era apenas ignorante, inocente, que não se importava e às vezes

até meio imprudente. — Ele secou o meu rosto, acariciando as


minhas bochechas e olhei em seus olhos.

— Por isso todos os seguranças, esses homens armados e

me pedindo para desativar minha localização, não é?

Enzo assentiu e me aproximei, deitando a minha cabeça no


seu ombro. Ele me abraçou. Não entendia por que a minha família

escondeu. O que o meu pai tinha na cabeça criando uma vida

completamente falsa e em seguida me prometendo em casamento

com o líder mafioso. Enzo era um gângster.

— A segurança é necessária. Temos inimigos, além da

minha própria cota, o seu próprio sobrenome atrai inimigos. Pessoas


do submundo que sabem um pouco sobre quem somos, temem e
nos odeiam. Pessoas que querem o que temos... O que muito

conquistamos. — Ele me afastou, ainda me mantendo em seus

braços.

— A história das nozes na minha comida foi por que


realmente queriam me matar?

— Havia um subchefe, o que chamamos de chefe de região

ou líder de um grande contingente, não estava satisfeito com nosso


casamento e com medo do que a família poderia se tornar com a

união...

— Foi por isso que papai me prometeu ao casamento?

— Você é uma das mulheres mais importantes da família.Te


atingir significa me atingir, mas saiba uma coisa, irei cuidar de você,

te dar uma vida maravilhosa e te proteger. Tenho muitos defeitos,


mas não sou mentiroso, se tiver que saber algo, saberá. Se achar

pertinente esconder para te proteger, eu irei. Nossa vida pode ser


regada a muito luxo, coisas incríveis, mas também pode ter dias
difíceis e bem perigosos.

— Obrigada por me contar tudo.


— Se precisar, me chama. — Ele pegou a arma atrás de
mim e enfiou no jeans, me dando um beijo na testa e deixando o
quarto.

Me deitei na cama e abracei meu travesseiro, chorando


baixinho, me sentindo traída. Todo mundo sabia que a doce Juliana
não tinha ideia do que era a nossa vida de verdade. Lembrei dos

diários do meu pai e de fininho, fui até o seu pequeno escritório


onde só eu tinha a chave, me tranquei dentro e peguei os cadernos.
Alguns eram bem finos, outros anos havia mais de um. Parecia que

ele começava um a cada ano, mesmo que ainda houvesse folhas no


outro.

Sentei-me no chão e peguei o primeiro que achei que


haveria informações pertinentes. A letra do meu pai me fez sentir

saudades, mesmo com raiva. Engoli seco ao ler relatos


assustadores das execuções de traidores, brigas com a minha mãe
e até conselhos que ouvia do tio Tomasso e coisas que não gostava.

Estava tudo ali, uma imensa prova de vida inteira dedicada ao


crime, assassinato e pecados... Tudo ao contrário do que me
ensinou.
Ele sempre tinha um teor de arrependimento, de sentir-se
mal com a sua própria vida e que desejava viver algo
completamente diferente. Me perguntei se a minha mãe morreu em

um acidente de carro mesmo... A minha vida era uma farsa e isso


doía muito. Saber que todo mundo sempre mentiu para mim era

agoniante.

Fiquei sentada no chão, chorando e não me dei conta das


horas passando, até que a porta foi aberta e Alessio enfiou a cabeça

dentro. Ele e tia Malia entraram e sentaram-se no chão comigo, me


abraçando ao mesmo tempo. Ambos me pediram desculpas,
dizendo que não me contaram depois que papai morreu porque não

sabiam como trazer o assunto à tona. Foi mais fácil continuar


fingindo.

— Não queria partir o seu coração, Juliana. — Tia Malia


disse e secou o meu rosto. — Cresci nessa vida, menina. Nem

sempre é bonita, nem sempre vencemos, mas com uma famíliaforte


como os Rafaelli, seremos muito mais poderosos. — Assenti, mas
ainda estava assimilando tudo.

— Melhor comer alguma coisa. Está o dia inteiro aqui


dentro... Tenho certeza de que tudo vai fazer mais sentido quando
se acalmar. — Alessio me puxou de pé e com o braço no meu
ombro, foi me levando para o lado de fora.

— Acho que já disse para manter as mãos longe da minha


mulher, Alessio. — Mais uma vez, Enzo nos surpreendeu no

corredor e dessa vez, ele parecia estar meio brincando. — Acabei


de chegar com Emerson, vá ajudá-lo. — Ele ordenou para Alessio e
mordi a minha vontade de retrucar.

— E onde colocaremos? — Alessio questionou, pronto para


obedecer.

— Onde acharem conveniente, me informem depois. Estou


oficialmente fora para o dia, cuidem de tudo. — Enzo o olhou

rapidamente e o meu primo saiu, muito satisfeito. — Giana quer


falar com você sobre seu restaurante... — Apontou o corredor para
a minha tia.

Pensei que ela fosse infartar e sorri com o seu gritinho

empolgado. Fazia alguns meses que ela vinha reclamando que


depois do meu casamento não teria absolutamente nada para fazer
com Alessio e eu morando em outro país.Fiquei satisfeita que Enzo

não estava sendo tão obtuso quanto o meu pai e tio Tomasso, que
não deixavam a irmã fazer nada além de cuidar da casa depois que

voltou a morar conosco.

— Quer viajar comigo? — Enzo me perguntou e segurei a


sua mão.

— Para onde?

— Tenho que ir à Paris e pensei que seria uma boa ideia


irmos juntos.

Paris? Ah, eu amava Paris. Fiz uma sessão de fotos na


cidade uma vez e foi tão rápido que não pude aproveitar como

gostaria.

— Não fiz as malas... Quantos dias ficaremos?

— Roberto e Max fizeram as suas malas colocando tudo o


que poderia precisar. — Não consegui não sorrir, me sentindo

empolgada em viajar e sair daquela casa cheia de mistérios e


mentiras. — Serão quatro dias para realizar negócios de todos os
tipos e claro, reservei alguns momentos para passearmos sozinhos.

Mika e Giana irão conosco. Voltaremos a tempo da sua última prova


do vestido.
Olhei para o escritório do papai, pensando que deveria me
afastar de tudo aquilo e me dar a chance de colocar a mente no
lugar. Se antes já me sentia sem escolha mediante o casamento,

sabendo da gravidade dos negócios da família, não existia lugar no


mundo que não fosse encontrada. A piada de Roberto sobre entrar
em uma favela na América do Sul fazia todo sentido. Não conhecia

o mundo e nem a vida. De repente, Enzo era a única pessoa me


passando confiança, não mentindo, sem me tratar como uma idiota
e tentando me incluir.

— Sei que provavelmente está com dificuldade de assimilar


tudo e acho que um tempo fora pode te ajudar a colocar seus

pensamentos em ordem.

— Obrigada por isso. — Fiquei na ponta dos pés e lhe dei

um beijo nos lábios.


Onze | Enzo.

— Então ela não sabia de nada? — Ilaria estava falando no

telefone. — Tremenda merda. Os homens Valentinni são uns


bundões. Ainda bem que pegamos Alessio, seria um caos tê-lo

como vice.

— Meu cérebro deu um nó com tantas perguntas, agora ela


está dormindo — falei bem baixo, porque não queria que acordasse.

— Estamos em Las Vegas hoje e fizemosalgumas reuniões,

tudo certo por aqui. Parece que a banda podre dos Valentinni ainda
está na Itália,não se espalhou para o mundo moderno, mas eu não
garanto que isso vá durar. — Ilaria estava certa. Las Vegas seria

difícilde domar agora. Talvez tio Francesco pudesse fazer algo, mas
eu não estava com tempo para uma reunião antes do casamento.
Ouvi a voz de Marcus ao fundo. — Vou sair para jantar com meu

maridinho.

Encerrei a chamada e encarei a janela do avião. Ilaria era

minha prima por parte de pai e a única mulher na ativa da família.


Éramos modernos, mas nem tanto. Ela e seu irmão, Ângelo, foram

iniciados na mesma idade que eu, então, tínhamos uma ligação

muito forte. Atualmente, eram os únicos que sabiam sobre a


Agência e a parceria com a Elite. Não era de conhecimento geral,

porque eu não era um idiota. Marcus cresceu conosco e sempre foi


muito próximo, não foi uma surpresa quando ele e Ilaria se

apaixonaram e se casaram em seguida.

Chegamos em Paris duas horas depois da ligação e Juliana

deitou-se para dormir, todo o choro e dor a deixaram exausta.


Entendia o sentimento de traição, desconhecer a própria vida era

duro. Ela estava levando bem, com maturidade. Do jeito que parecia

ser explosiva, pensei que fosse gritar e quebrar coisas, mas apenas
chorou muito e me fez um milhão de perguntas.

Surtou um pouco em negação, disse que era impossível e

depois relatou os diários do pai. O babaca realmente deixou


registrado tudo o que fez na vida? Enviei uma mensagem para

Alessio e Emerson queimarem absolutamente tudo. Não

precisávamos de provas contra mim ou a família.

Juliana ficou o tempo inteiro criando argumentos contra e

me perguntei porque diabos não foi algo natural em sua vida. Carina

sabia muito bem a que família pertencia, o que fazíamos, ninguém

precisou chegar a ela e dizer. Ela simplesmente sabia. Já Juliana foi

isolada em uma escola católica rígida- que ela dizia ter odiado cada
segundo ali dentro - e superprotegida por uma tia conservadora e
controladora.

Certamente o pai dela mantinha os negócios longe de casa.

Imaginava que Juliana apenas ignorava, optava por não entrar no

assunto ou fora criada para não se meter, como muitas mulheres da

família eram. Vê-la surtando porque encontrou uma arma debaixo


do travesseiro até seria engraçado... mas era trágico. Ela iria se

casar comigo, porra. O próprio Chefe de todos os Chefes.

Joguei o meu telefone na cama e peguei o cardápio do

hotel, pulando a comida francesa que detestava e indo para o

cardápio continental. Pedi uma enorme pizza e várias latas de

refrigerante. Pensei melhor e pedi alguns doces diversos para a


sobremesa. Liguei a televisão no canal de filmes, aproveitando um

raro momento que realmente não tinha nada para fazer.

Minha noiva acordou e me deu um olhar sonolento.

— Estou com fome, não comi nada hoje. — Juliana disse da


cama.

— Pedi pizza.

— Amo pizza, espero que tenha pedido uma enorme. —

Sentou-se na cama e tirou a blusinha que usava e o jeans, ficando


de calcinha e um top que ia até o umbigo, se enfiando debaixo das

cobertas porque o quarto estava meio frio. Sempre ligava o ar,


exceto no inverno, mas também não deixava os ambientes

extremamente aquecidos. Gostava do frio, eu era muito calorento.


Aproveitei que ela estava seminua, para me enfiar debaixo do
edredom, sentindo as suas pernas se embolando com as minhas. —

Que filme é esse? — Ela estava toda dengosa.

— Não faço ideia, acabei de ligar...

Não estava acostumado a ficar sem fazer nada e muito


menos ficar deitado na cama com uma mulher sem estar fodendo.

Juliana mexia em seu telefone, editando uma fotografia que tirou


logo que pousamos. Entediado e arrepiado com sua bunda

encostada na minha coxa, minhas mãos estavam coçando para dar


um apertão cheio na carne macia. Desci um pouco mais na cama e

fiquei de lado, beijando o seu ombro, olhando atentamente o que


respondia nos comentários do seu Instagram.

A campainha do quarto tocou ao mesmo tempo que uma


mensagem no celular informava que era o serviço de quarto. Apesar

de ter dito para Mika e Stefanio descansarem um pouco, sabia que


um deles estava de guarda no corredor. Me levantei da cama, fui em
direção à porta e estava quase abrindo quando ouvi Juliana tossir

para chamar a minha atenção. Olhei-a e uma sobrancelha foi


arqueada.

— Vai atender a porta assim? — Questionou. Sorri e fiz um


show, ajeitando meu pau na cueca. Ela me deu um olhar irado e abri

a porta. — Stronzo!

Rindo da sua careta, olhei para a camareira de boca aberta

e sorri do jeito que eu sabia que ela ficaria tonta, sinalizando para
entrar com o carrinho. Ela estacionou próximo a mesa, dei-lhe uma

gorjeta, ciente do olhar da garota no meu pau. Ela aceitou a nota


engolindo seco. Fechei a porta e Juliana estava de braços cruzados,
me encarando chateada.

— Isso foi ridículo.

— O vestido do seu aniversário era transparente na bunda e


metade da festa viu a sua calcinha dourada — rebati e ela abriu a
boca, chocada, provavelmente sem imaginar que eu havia ficado

com o sangue fervendo e ameaçando qualquer um que olhasse


demais. Ela estava linda, uma visão perfeita e se divertiu muito,

mas... suas nádegas deveriam estar cobertas. Eu não precisava que


os homens vissem a bunda da minha mulher.
— Muito bem, se é assim — falou friamente e não gostei do
seu tom.

Passou por mim e pegou o vinho, analisou o rótulo enquanto


eu pegava uma fatia da pizza. Dei uma mordida, olhando-a e ela foi

diretamente até a porta, abrindo e puxei-a a tempo de Carlo não a


ver usando uma blusinha e calcinha. As suas roupas íntimas.

Bati a porta fechada.

— Juliana!

— Só quero um marsala Valentinni, é frutado, muito bom


para acompanhar a pizza. — Fez um beicinho inocente e senti
vontade de sacudi-la e beijá-la ao mesmo tempo.

— Não apareça sem roupa na frente dos meus homens! —

falei entre dentes, com tanta raiva que meu coração parecia que ia
explodir no peito.

— Não fique sem roupa na frente de outra mulher. —

rebateu bem calma, com um sorrisinho debochado. Segurei o meu


cabelo e puxei, com qualquer outra mulher, gritaria, socaria a

parede, mas com ela não podia, simplesmente não conseguia,


mesmo com o temperamento correndo por todo lado. Queria

explodir. Foda-se. Eu ia explodir.


— Não brinca comigo, você não vai querer me desafiar,
porra! — Berrei e pensei que ela fosse se encolher, se assustar,
mas seu olhar carregava a mesma chama de raiva que o meu.

Sorrindo, saiu de perto, abriu o vinho e virou na taça, bebendo, me


olhando... Pegou uma fatia, mordeu e foi para a cama como se eu

não estivesse hiperventilando por ela aparecer de calcinha na frente


do meu soldado.

— Não vai comer?

— Por que me atenta assim?

— Porque eu posso! — gritou da cama, irritada. — Acha que

pode me provocar sem levar de volta? Dá um tempo! Não quero


saber que você é o todo poderoso Enzo Rafaelli, que todos tem

medo e ovacionam... Aqui dentro você é o meu noivo e se não me

respeitar, eu não vou te respeitar! — berrou e joguei a cabeça para

trás, rindo.

Definitivamente, a italianinha seria a minha morte.

Não ia pedir desculpas porque ela não parecia chateada,

ainda rindo, fui para a cama e ela foi se encolhendo. Apoiou a taça

para fugir de mim com mais facilidade e a puxei pelo pé,


aproveitando que virou a bundinha maravilhosa para o alto e
imobilizei o seu corpo. Ela se debateu e rindo, não esperava pelo

tapa bem dado na sua nádega esquerda.

— Enzo! — grunhiu e fiz cócegas, ela sacudiu as pernas,

gritando. Bati na nádega direita, massageando ambos os lados que

ficaram vermelhos. — Babaca! Eu vou ficar marcada!

— Não, amore. Todo poderoso Enzo Rafaelli. — Dei mais


uns tapas bem dados e nos últimos, pesei mais a mão sem

machucar. — Que bundinha gostosa... — Mudei meu toque,

provocando e tirei a sua calcinha entre as bochechas, me inclinando


e mordendo. Juliana gemeu baixinho e puxei o seu quadril para o

alto.

— Ai, estou com fome. Nem vem, estou com raiva. — Se

debateu e saiu do meu aperto. — Me alimente e quem sabe... —


Sorriu como quem sabia que me tinha nas mãos e parti para cima,

beijando-a sem trégua. Juliana correspondeu com fogo, sem a

timidez dos primeiros beijos, porque já sabia o quanto me deixava

doido.

Meu telefone tocou e a campainha do quarto também.

Resignado, sem querer sair da cama, verifiquei o que era e as

sobremesas estavam no carrinho. Juliana voltou a sentar na cama,


pegou a sua taça e deu um pequeno gole, me olhando. Ela estava

me desafiando e aquele era um momento importante da minha vida,

porque vesti o caralho de um roupão, não só porque estava


excitado, mas porque não apareceria na frente da camareira mais

uma vez sem roupa ou iria regredir a punhetas sem a participação

ativa da minha adorável e geniosa noiva.

Oficialmente castrado, puta que pariu.

— Nenhuma palavra. — Ergui o meu dedo para o seu rosto


presunçoso e abri a porta, aceitando a caixa com todos os meus

pedidos, dei mais uma gorjeta e fechei a porta. Ela parecia

orgulhosa e eu sabia que se a deixasse bem relaxada e divertida


poderíamos avançar para as bases orais, que estava mais ansioso

que o sexo em si.

Espalhamos a comida na mesa, famintos e ela brigou

comigo quando me sentei na cama para comer. Juliana não gostava


de comer na cama porque poderia sujar e atrair bichos. Respeitei.

Quando nos casássemos, precisaríamos nos ajustar um ao outro.

Comi oito fatias da pizza e ela apenas duas, logo escolhendo um


pedaço de torta e se jogou na cama, procurando um filme. Com o

meu estômago cheio e meio sonolento, me deitei ao seu lado.


— Acha que meu pai está no inferno? — Ela perguntou do

nada. — Do pouco que li nos seus diários, ele foi bem... cruel.

O pai dela era um banana, mas não iria ofender a sua

memória.

— O inferno é aqui.

— Acredita nisso mesmo?

— Sei que é praticamente impossívelnão pensar que a vida


é sobre mocinhos e vilões, ainda mais que cresceu em uma escola

católica muito rígida, mas, não somos somente bons ou ruins. Todo

mundo é mocinho e vilão da sua própria história... Se tirarmos as


máscaras da hipocrisia e da religião, somos iguais, paramos

debaixo da terra do mesmo jeito. Ricos, pobres, negros, brancos e

todas as outras etnias. — Olhei para o teto e ela assentiu, mordendo


o lábio. — Pertencer a uma família como a nossa significa que já

nascemos no inferno.

— Acho que entendo. — Ela ficou quieta e eu estava

surpreendentemente calmo. Estar com sono àquela hora da noite


era novidade. Nunca senti tanta paz. Só podia ser ela.

— Tenho que te chamar de chefe ou de Don, como os

demais? — questionou e soltei uma gargalhada.


— Pode me chamar de Enzo, de amore, gostoso... deus do

sexo. O homem que te faz ver estrelas ou... — Ganhei um tapa na

cabeça.

— Já entendi, cala a boca. — Me cortou e pensei o quanto


ela era abusada. — Estou cheia, nossa. Parece que comi um boi

inteiro. — E então, pediu que colocasse a nossa comida na sala. —

Tenho pavor de formigas e baratas.

— Não conte seus medos a ninguém. — Avisei severamente


e me olhou confusa. — Não mostre as suas fraquezas.

— Nem para você? — Seus olhos estavam cheios de

inocência.

— Não deveria nem para mim, mas se te faz bem, sou ótimo
em guardar segredos. — Pisquei e minha sonolência foi para o

espaço quando ela voltou para a cama. — Vem aqui, fica no meu

colo — pedi e com as bochechas assumindo um lindo tom de


vermelho, ela aceitou e montou nas minhas coxas com

graciosidade. Segurei a sua bunda e puxei para frente, bem

pertinho. Beijei o seu pescoço, constatando o quanto estava

cheirosa e levantei seu top, querendo tirá-lo para ficar à vontade


com seus peitinhos deliciosos.
Ela tirou o top e a minha boca encheu de água. Mordi o

lóbulo de sua orelha, cheio de tesão. Gemendo baixinho, esfregou-


se em mim e desci os meus beijos até os seus peitos, chupando,

lambendo e mordiscando. Era a melhor refeição do mundo.

— Isso está bom para você?

Antes que ela pudesse responder, o meu telefone tocou


ruidosamente, em alarme direto com Angelo. Juliana tomou um

susto e cobriu os seios, sorri e a acalmei antes de pegar o aparelho

e atender.

— Diga, Angelo. — Atendi sem desviar os olhos dos seios


lindos da minha noiva.

— Temos um problema. — Imediatamente fiquei em alerta,

mas não tirei Juliana de cima de mim. — Outra tentativa de desvio

das cargas, falharam, mas levaram dois dos nossos e três de

Chicago. Damon[iv] está sem controle... ele já saiu atrás de vingança.

— Puta que pariu — grunhi e a Juliana saiu de cima,

pegando o top e vestindo. — Um minuto, Angelo — pedi e me virei

para a minha noiva. — Preciso resolver um problema, amore —

expliquei e ela sorriu tímida, ao mesmo tempo com os olhos bem


arregalados.
— Tudo bem, vou tomar banho. — Pegou a sua necessaire,
entrando no espaçoso e luxuoso banheiro. Assim que fechou a

porta, saí do quarto e voltei para minha chamada.

Ângelo contou os nomes dos homens que perdemos, eram

bons, leais e deviam ter lutado até o último suspiro para conseguir
impedir mais um desvio da nossa carga. Dessa vez, no entanto, não

foi obra da ambição desmedida do meu conselheiro, e sim dos

malditos russos filhos da puta que não cansavam de passear no


meu território.

— Quero a cabeça desses filhos da puta e envie de volta

para aquela vaca da Kátia Rostov.

— E quanto ao Damon? Ele vai entrar no território dos King.


Devemos fazer alguma coisa?

— Mataram os homens dele, não vou impedir, se alguém


reclamar, vou avisar ao meu primo. — Encerrei a chamada.

Odiava estar longe e não poder sair à caça e honrar a morte


dos meus soldados, apesar de que, como chefe, nem sempre

precisava estar presente. Fui até o bar, enchi um copo de uísque


pela metade e bebi, olhando para a cidade iluminada na janela.
Ouvi barulhos no quarto, o que significava que Juliana havia
saídodo banheiro. Terminei minha bebida, com a cabeça cheia e ao
mesmo tempo confiando em Angelo. Meu primo era tão dedicado à

família quanto eu.

Tirei a minha cueca no quarto sob o atento e curioso olhar da


minha noiva e fui para o chuveiro, com a porta aberta.

— Conseguiu resolver tudo? — Sua voz estava meio tímida.

— Quem é Angelo?

— É meu primo e ainda não, ele me ligou apenas para


informar. Quando resolver, irá me avisar.

— Algo grave?

— Não. Logo será resolvido. — Garanti e ela assentiu,


saindo do banheiro.

Terminado o meu banho relaxante, encontrei-a deitada,


escondida debaixo da coberta e me deitei ao seu lado apenas com

um short. Senti seus pés nos meus, seus olhos estavam fechando.
Estava tarde e nós levantaríamos cedo para fazer algumas visitas
sociais e em seguida, lidaria com alguns negócios que precisavam

de ajustes. Estava preparado para não abrir espaço a discussões ou


dúvidas do que era capaz.
A cidade da luz poderia ficar manchada de vermelho e seria
a primeira vez que Juliana veria alguns lados meus, finalmente
entendendo o que era esperado de uma matriarca. Esperava que

ela soubesse lidar com a pressão, caso contrário, seria fodido.


Doze | Enzo

Perdi o sono antes do dia amanhecer e me sentei na

varanda, fumando, pensativo, surpreso com o nascer do sol


esplêndido, tanto que não resisti e acordei Juliana para assistir. Ela

saiu da cama toda sonolenta, meio com frio, enrolada no roupão


escuro, os cabelos meio desgrenhados e o rosto inchado. Com o
amanhecer ao fundo, era a porra de uma visão e tanto.

Fotografei o exato segundo que virou o rosto para mim e

sorriu tímida.

— Não sei o horário do nosso primeiro compromisso —


falou baixo, sua voz rouca de sono. Bati na minha coxa e meio

relutante, sentou-se em meu colo. — Estou meio perdida na sua


agenda.

— O café da manhã está programado para daqui alguns

minutos e vou pedir que Giana repasse os horários com você. —


Beijei o seu pescoço cheiroso, o perfume misturado com cheirinho

de cama. Sonolenta, se encolheu em mim e fechou os olhos,


precisando dormir mais um pouco. Beijei a sua boca e a levantei,

erguendo-a no colo. Ela agarrou o meu pescoço e riu, entrei no


quarto e a depositei na cama, com cuidado, mas louco para tirar a

sua roupa.

A campainha tocou e suspirei, me afastando e como já


estava vestido, não pronto, abri a porta para que arrumassem a

mesa do nosso café da manhã. Stefanio me deu um aceno de bom

dia, assim como Mika e pedi que chamassem Giana, para ajudar
minha noiva com alguns detalhes.

Com fome, ergui as tampas de prata dos pratos, beliscando

um pedaço de bacon. Servi café preto na minha xícara e abri o


jornal. Dei uma lida na página principal e logo abri a parte do

mercado financeiro. Juliana sentou-se ao meu lado, comendo as

frutas primeiro e em seguida empurrou um monte de remédios na


boca. Eu vi que ela tomou o para ansiedade. Já estava sem tomar

há meses, parou por conta própria e voltou do mesmo jeito.

Aquelas medicações me incomodavam muito, precisava ter


certeza de que eram boas, legítimas e não coisa da cabeça dela.

Distraída com a sua comida, pegou a parte de fofocas e leu

perfeitamente.

— Fluente na língua?
— Aprendi inglês, espanhol e francês, mas não sou fluente
em nenhuma delas. Tenho mais facilidade com o espanhol e o

francês, porque havia meninas nativas lá, mas... inglês tenho

dificuldades — confessou e sorri. Ela precisaria de prática ao morar

em Nova Iorque.

— Podemos mudar nosso idioma e assim irá praticar,


falaremos em italiano sempre que não entender o que estiver

falando em inglês. — Ela concordou e mordeu o seu pãozinho.

Giana pediu licença ao entrar e sorriu simpática para a

minha noiva, que primeiro a olhou criticamente de cima a baixo e só

depois sorriu, limpando a boca. Fiz sinal para a minha secretária se

sentar e então, as duas falaram sobre os eventos. Algumas reuniões


eu não levaria Juliana comigo, outras eram sociais e a sua presença

ao meu lado seria muito importante. A família dela estava

incomodada que tínhamos viajado sozinhos, sem uma dama nos

acompanhando para preservar a pureza dela.

No meu ponto de vista, era uma tremenda besteira.

Entretida, minha noiva ouviu atentamente a agenda e

agradeceu, pedindo licença para começar a se arrumar. Limpei a


garganta e ela me olhou confusa por um instante. Peguei seu prato

inacabado.

Se ela tinha que tomar aquele monte de remédios, ia comer

toda a comida. Por uns segundos, o espírito rebelde veio à tona e


seu olhar assumiu um brilho de desafio, ainda mais que tínhamos

plateia. Não queria começar o nosso dia brigando, era uma dor de
cabeça sem fim. Resignada pegou o prato e foi para o quarto,

batendo a porta com um pouco mais de força. Voltei a ler meu


jornal.

Giana pediu licença para sair.

Juliana estava nua no chuveiro, com a porta entreaberta e

abusadamente, empurrei aberta, indo até a pia. Comecei a escovar


os meus dentes, olhando-a o tempo todo. Percebendo a minha

presença, me deu um olhar interrogativo, ainda emburrada comigo


sobre o prato intocado na mesa do quarto. Ela não me desafiou na
frente de Giana, mas também não comeu.

Tirei a minha cueca e entrei no espaço do chuveiro.

— Ainda não terminei meu banho — falou séria.

— Eu sei. Vim tomar banho com você. — Sorri e olhei para


os seus mamilos arrepiados.
— Não posso molhar o cabelo — tentou me impedir de me

aproximar. Peguei o sabonete líquido e uma esponja nova. Fiz


espuma e esfreguei seus ombros, provocando os seios com minha

boca. Segurei seu peito, olhando nos olhos e chupando o biquinho


rosado. — Enzo...

— Eu sei que você gosta de me desafiar — sussurrei em


seu pescoço e suguei a pele, para deixar marca. — Cada vez que

fizer isso, vou te punir de alguma forma. Dessa vez, serei bonzinho
e irei te deixar doidinha antes de sairmos.

— Nós vamos nos atrasar, você molhou meu cabelo todo —


reclamou e me beijou, gostando muito do meu ataque. Suas
bochechas estavam coradas, parte pela sua timidez, parte porque

estava excitada, com o sangue quente correndo a toda velocidade.


Virei-a de costas, apertando sua bunda redonda, afastando um

pouco as nádegas e deixando minha mão deslizar por sua carne


macia, escorregando.

Com cuidado, esfreguei o meu pau nas suas dobras, ficando


doido de tesão. Ela precisava sentir o que fazia comigo. Nenhuma

mulher nunca me deixou tão louco. Esfreguei o seu clitóris, rápido,


com desejo e segurei seu cabelo forte o suficiente para dominar e
tomar sua boca.

— Goza, amore — pedi baixinho, ela gozou e não foi nem


um pouco silenciosa. — Gostosa, porra — gemi e toquei uma rápida

punheta porque só a pressão de tê-la naquela posição me fazia


gozar como um adolescente.

Marquei sua bundinha linda com minha porra e abri os outros

chuveiros, nos lavando. Aos beijos, terminamos o nosso banho e ela


me olhou meio frustrada ao constatar que o cabelo estava

ensopado. Sorri sem culpa e arrependimentos, então,


inesperadamente, ela pegou o secador, ligou na tomada e me
entregou. Arqueando a sobrancelha, me desafiou a negar a tarefa e

aquilo até parecia simples. Liguei e fiquei virando nas direções que
pedia, modelando com uma escova grande.

Até o cabelo dela era cheiroso.

Assim que ficou seco e escovado, pegou o secador da

minha mão, ajeitou na frente e desligou. Ela saiu do banquinho e se


inclinou para frente, com isso, sua bunda encostou diretamente no

meu pau nem tão adormecido. Bagunçou o cabelo para frente e


então jogou para trás de novo, enquanto isso, minhas mãos
passeavam por suas costas e bunda. Adorei que ela não sentiu a
necessidade de se cobrir após o banho.

— Obrigada. — Suas bochechas estavam vermelhas do


calor do aparelho. — Vou começar a minha maquiagem.

Ela era linda demais.

Beijei sua bochecha e me joguei na cama, fazendo hora e

esperando-a terminar de se arrumar. Ela colocou um vestido cinza,

com uma tiara bonita de pedras, que lhe dava um arzinho inocente,
bastante virginal e a maquiagem era leve. Eu estava todo de preto,

mas de alguma forma, as nossas roupas combinavam, mesmo com

as diferenças na aparência. Minhas expressões duras, tatuagens e


pele mais escura divergiam dela com sua roupinha fashionista, a

tiara e o olhar de anjo.

Andamos no corredor lado a lado, com a sua mão

segurando o meu braço. Giana andava à nossa frente, Mika ao meu


lado e Stefanio atrás. Entramos no elevador e Stefanio impediu que

um casal entrasse conosco. No carro, ela ficou quieta, mexendo no

telefone e eu fiquei na minha com os meus pensamentos.

Chegamos ao nosso primeiro compromisso em um bistrô com


uma bela visão para a Torre Eiffel. Saí do carro primeiro, dando a
volta, fechando o botão do meu terno e abrindo a porta para ela. A

imprensa estava acampada, esperando os convidados do café da


manhã pomposo, oferecido pelo Embaixador da Itália na França.

Um dos muitos homens na minha lista de pagamentos.

Juliana segurou o meu braço e sorriu polidamente para a

imprensa, não paramos para responder nenhuma das perguntas e


entramos no salão cheio de pessoas ricas e influentes.

Olhei o ambiente, esquadrinhando os olhares e sorrisos

tensos com a minha presença e os anfitriões vieram nos

cumprimentar. Eles pertenciam à família Valentinni. Um casal que


não me passava um pingo de confiança. Ao saber do casamento,

saíram da Itália, se instalando em Paris e não perderam tempo em

puxar saco do Embaixador Mauro Marchetti, que fazia parte de uma


das famílias mais fiéis dafamiglia.

— Giacomo e Laura Coppola. — Cumprimentei e apertei a

mão gorda do homem que andava por aí como um deus.

— Don Rafaelli, é uma honra. — Giacomo quase fez uma


reverência. — Srta. Valentinni — falou com Juliana com todo o

respeito. — Minha esposa, Laura.


— É um prazer conhecê-los. — Juliana foi polida e a sua

expressão não dizia absolutamente nada. Era uma página em

branco.

— É um excelente evento, Giacomo. Mas da próxima vez,


peça permissão. — Sorri friamente e me afastei com Juliana, que

olhava ao redor discretamente.

Encontramos nossa mesa e simplesmente me sentei.

Algumas muitas pessoas vieram até nós e registrei diversos sorrisos


nervosos, mãos suadas e olhares que basicamente me imploravam

com a justificativa “sou apenas um convidado”. Mauro Marchetti, o

embaixador, sorriu do outro lado do salão. Nunca o vi pessoalmente,


nos falamos por vídeomais de uma vez e por telefone. Foi ele quem

me informou do evento com antecedência. Fui informalmente

convidado semanas atrás.

Se o Valentinni permitia que seus homens fizessem o que


bem entendessem, eles iriam aprender que as coisas não

funcionavam da mesma forma comigo. Se eles não obedecessem

ou jurassem lealdade a mim, estariam fora em um piscar de olhos.

Juliana ficou quieta a maior parte do tempo, ela falava

comigo ou com Giana, algumas mulheres falaram com ela com todo
o arrulho e respeito, como a futura matriarca da família merecia.

Algumas queriam garantir um convite para o casamento.

O evento em si foi um saco, como todos eram. Após deixar a

minha presença marcada e algumas pessoas um pouco intimidadas,

segurei a mão delicada da minha noiva e saí do evento sem

explicações. Eu não precisava me despedir de ninguém. Stefanio


nos levou para o próximo compromisso: almoçar com Dominic.

Oficialmente, todas as pessoas no mundo sabiam que

Dominic e eu éramos amigos. Não estava interessado em contar a


Juliana sobre quem o Dom realmente era, porque ela teria que

saber tantas informações perigosas que preferia mantê-la

completamente no escuro.

— Gostei do nosso banho. — Juliana comentou no carro.


Subi a divisória, pego de surpresa. — Gostei de sentir ele, sabe,

daquele jeito. — Continuou e me olhou intensamente, excitada.

— Passou a manhã inteira pensando nisso, amore? —

Passeei com meu polegar por seu queixo delicado. Com as


bochechas vermelhas e quentes, sorriu tímida, o olhar brilhando. —

Que delícia de mulher gostosa que eu tenho. — Beijei seu pescoço.

— Toda safadinha. — Chupei o lóbulo de sua orelha, provocando-a


e subi minha mão por sua coxa, enfiando-a por baixo do tecido fino

de seu vestidinho. Ela afastou os joelhos, toquei sua calcinha e

estava tão quente ali que meu pau estava quase estourando meu

zíper.

— Enzo, estamos no carro...

— Faltam alguns minutinhos para chegarmos. Não vai dar

tempo de te fazer gozar, mas vai dar tempo de te deixar tão maluca

que vai querer pular em mim quando voltarmos para o hotel. — Sorri
maldosamente, esfregando o seu clitóris.

— Deus, Enzo!

— Deus não, não blasfeme. — Suspirei, a boca cheia

d’água com toda a sua umidade. Ela estava escorregadia, prontinha,


empurrei meu dedo nas suas dobras só para vê-la tremer e ficar

arrepiada. Ela gostava daquilo.

O carro parou e tirei minha mão de entre as suas pernas,

levando à minha boca e chupando. Ofegante, meio suada e


descabelada, me olhou com a boca aberta e fechando as pernas

para ter um pouco mais de fricção. Stefanio bateu no vidro,

sinalizando que estava livre para descer e abri a porta, ajustando


meu pau e saindo. Dei a volta e abri a dela, que, se abanando,

aceitou minha mão. Sorri para sua expressão afetada.

Esfreguei os seus braços arrepiados, sorrindo tanto que meu


rosto iria rasgar ao meio. Ganhei um tapa no braço, efetivamente

pedindo que parasse de rir dela. Entramos no restaurante e logo vi

Dominic, sentado, mexendo em seu telefone e seu inseparável


amigo, Luke Knight bem ao lado, olhando ao redor.

— Domenico! — provoquei, falando seu nome errado e ele

ergueu o rosto, já rindo.

— Rafaelo. — Ficou de pé e trocamos um abraço masculino


cheio de tapas fortes, porque gostávamos de irritar um ao outro.

Dominic era muito mais novo que eu, mas já tinha a cabeça feita.

Era um homem formado. Ele olhou para Juliana e deu o sorriso que

costumava dar para as mulheres bonitas que apareciam na sua


frente. — Você é uma beleza de mulher.

Juliana ficou vermelha e sorriu lisonjeada, senti o ciúme

entalar na minha garganta. Imediatamente passei o meu braço na


cintura dela, prendendo-a a mim e Dominic apenas exibiu seu

sorriso de lobo, ciente que havia encontrado uma ferida para abrir.

Ignorei e a apresentei a Luke, que era um homem de pouquíssimas


palavras e ele beijou a mão da minha noiva com respeito. Luke
sempre era quieto e introspectivo.

Ele estava noivo da irmã de Dominic.

— Comprei um apartamento em frente ao seu. — Dominic

comentou, voltando a sentar, puxei uma cadeira para Juliana, que


me olhou curiosa.

— Somos vizinhos em Nova Iorque, mas comprei um

apartamento maior e mais confortável para vivermos — expliquei a

ela, que assentiu e olhou para o idiota. — E ele não consegue ficar
longe de mim.

— Relaxa... Luke comprou no prédio do outro lado e Alex no

de trás — contou animadamente. — Pedi que não falassem nada,


porque esperava te encontrar aqui.

Dominic estava na cidade para fazer um servicinho para a


organização e nosso encontro não era nada além de um álibi.

Aproveitei a oportunidade para apresentá-lo a Juliana, porque sabia


que ele apareceria de vez em quando e éramos sócios em diversos

clubes. Nossa amizade era real, fundamentada no fato de que


membros da minha própria família tentaram me matar mais de uma
vez e ele esteve lá, salvando minha vida. Além do fato de que o pai
dele era um merda e ter Dominic por perto era muito vantajoso.

Eles fecharam um quadrante, o nosso quarteirão seria o mais

seguro da cidade de Nova Iorque e não estava falando do


policiamento.

— E por que dessa nova compra? — Olhei bem dentro dos


seus olhos, havia algo que não estava sabendo da vida dele e não

gostava disso. Aceitei a água que o garçom me serviu e dei um


gole, esperando sua resposta.

— Vou me casar — respondeu e quase pulverizei a minha

água, engolindo com dificuldade. — Olha só, os dois solteirões mais


cobiçados se casando em pouco tempo.

— Com quem? E a...

— Vou me casar com a Kate[v], Enzo.

Não podia entrar em detalhes e fazer perguntas na frente de


Juliana. Pelo que sabia, a menina tinha dezessete anos e tudo bem

que Dominic era mais novo que eu alguns anos. O que aconteceu
no passado deixou meu amigo profundamente envolvido, de forma
emocional bem crua. Chegava a duvidar se seu interesse em Kate
era apenas pela promessa que fez a sua mãe... Talvez ele gostasse
da menina de verdade.

— Meus parabéns, que sejam felizes. — Ergui a minha taça


e todos nós brindamos. — Alguma data em mente?

— Ano que vem. Existe um processo burocrático antes.


Falando em matrimônio... Já escolhi meu terno, Juliana.

— Que doce, Dominic. Enzo irá experimentar o dele essa


semana, é tão engraçado, já tive tantas provas e vocês homens
precisam de tão pouco. — Seu inglês saiu perfeito.

— Não somos as estrelas da noite. As noivas sim. Tenho

certeza de que será uma noiva deslumbrante — disse galante e


chutei sua canela por baixo da mesa, fazendo-o rir com Luke.
Juliana soltou risadas, sem conseguir se conter com a minha reação

e apertou minha coxa, brincando comigo.

— Obrigada, é muita gentileza da sua parte. Sabe que é o


primeiro amigo que Enzo me apresenta? Quero saber como se

conheceram. — Juliana sorriu, educada e aceitou as entradas que


Dominic provavelmente havia pedido.

— Ele não tem muitos, é muito difícilaturá-lo. — Dominic foi


rápido e quase ganhou outro chute. — Nos conhecemos na noite da
cidade, pelas boates, depois ele foi a uns jogos quando ainda fazia
parte da liga e por fim acabamos morando no mesmo bairro.

Enquanto ele enchia os ouvidos da minha noiva, fiz o pedido


do almoço e olhei as mensagens de Mika, que já estava com

Giacomo no local que combinamos. Precisava acertar algumas


informações com o espertinho e mostrar que o que diziam sobre
mim não eram apenas boatos. Minha fama tinha precedentes e

alimentava os rumores com prazer, para que ninguém esquecesse o


que realmente era capaz de fazer.

Se esse homem realmente esteve apoiando o plano de


matar Juliana, aquela noite seria a última vez em que veria a beleza

de Paris.
Treze | Juliana.

O dia amanheceu meio barulhento na vinícola. A obra dos

galpões estava cada vez mais próxima da residência e era


impossível não ouvir o quebra-quebra, ainda mais que Enzo queria

que pelo menos a parte externa estivesse reformada até o


casamento. Era um prazo muito apertado no meu ponto de vista,
mas ele me garantiu que tudo estaria perfeito. Retornamos de Paris

pela madrugada, faltavam poucos dias para o nosso casamento e


tinha a minha última prova do vestido.

A viagem foi uma boa distração e ao mesmo tempo um


aprendizado. Foi chocante. O meu estado letárgico definia um

pouco, até porque, meu diabólico noivo me nocauteou com um


calmante devido à crise histérica que dei ao ver sua camisa
banhada de sangue. Ele poderia ter ido com mais calma, mas isso

não era Enzo. Honestidade cruel e a qualquer preço poderiam ser o

seu sobrenome.

Descobrir que fazia parte de uma famíliamafiosa chegava a

doer o meu estômago. Ler tudo aquilo no diário do papai e as

perguntas respondidas com frieza e naturalidade me deu uma


sensação de inocência, me senti perdida dentro do que conhecia
como vida. Toda a minha segurança e orgulho de ser uma

Valentinni, do nosso vinho e do meu próprio pai, quebrou em muitos


pedaços. Por mais estranho que fosse, estava me agarrando à

única pessoa que me falou a verdade sem medo.

Em Paris, Enzo mostrou o que era estar do seu lado.

Importância, bajulação, lindos hotéis, compras caras, sorrisos


simpáticos e ameaças veladas com o olhar. As pessoas o adoravam

e sentiam medo. Foi assim em cada evento que vesti roupas caras,

joias que ele mesmo me deu e posei ao seu lado como um troféu.
Parte de mim queria ser mais que um, outra parte estava com medo,

desesperada e ciente que era extremamente ignorante sobre o que

era ser uma mulher tão importante no meio.

Uma coisa era certa:não havia escolha em não fazer parte.

Nasci nessa família, meu rosto era conhecido e nem se quisesse me

esconder na China iria conseguir. Pessoas queriam me matar só

para não me casar com Enzo e não era por mim, era pelo dinheiro

que eles pensavam que tínhamos. Papai escondeu dos seus


subchefes - Enzo me ensinou sobre eles - que estava um pouco

quebrado.
Enzo me explicou que não era exatamente quebrado,
apenas extremamente desorganizado e que se alguém estivesse de

olho, poderia encontrar muitas falhas da lavagem de dinheiro.

Quando iria imaginar que meu papai estava lavando dinheiro?

Minha vida estava girando rápido e não fazia sentido,

parecia as músicas do Kanye West que não conseguia entender,


porque meu inglês não era lá muito bom.

Uma batida na porta me tirou dos meus devaneios.

— Bom dia, bambina. — Martina entrou no quarto com meu

café da manhã. — Está tarde, a senhorita tem compromissos do


casamento e sua sogra precisa falar com você.

— Tudo bem. — Me sentei na cama e aceitei a bandeja.

Enzo não devia ter dormido, seu lado da cama estava frio. — O

alfaiate já mandou o terno de Enzo?

— Roberto está com ele agora mesmo fazendo os últimos

ajustes.

— Bom dia, cunhada! — Carina entrou no meu quarto toda

animadinha e se jogou na cama ao meu lado. — Como foi em

Paris? Eu amo aquela cidade!


— Foi divertido, fiz uma sessão de fotos com alguns looks e

o fotógrafo ficou de me enviar ainda essa semana, antes de chegar


aqui para fazer umas fotos com Enzo e acompanhar os eventos pré-

casamento — respondi mantendo a conversa no clima leve, não


queria falar dos assuntos que me atormentavam, com uma menina
de dezessete anos.

— Ai que lindo, estou tão ansiosa. Acabei de ver Enzo de

terno, está lindo. Mas ele disse que se não pode te ver, você não
pode vê-lo, é tão birrento. — Revirou os olhos e sorri, mesmo

comendo. Martina estava desfazendo as malas, assim que terminei,


levou as roupas sujas e chamou alguém para buscar a bandeja.

Carina seguiu falando muito ao meu lado, no banheiro, no

closet enquanto eu escolhia um vestidinho de verão que era


esvoaçante e meio curto para passar o dia. Prendi o cabelo e deixei

a maquiagem de lado, com a pele bem bonita. Dei espaço para as


meninas arrumarem o quarto e meio paranoica, verifiquei se a
gaveta onde Enzo guardou uma arma estava devidamente trancada.

Estava cheia de camisinhas ali dentro. Hum, não tinha

pensado sobre o método contraceptivo, não queria ter filhos


imediatamente. Me sentia muito jovem.
— Pode avisar a sua mãe que já vou encontrá-la com

Roberto e o Max? — pedi à Carina, que foi imediatamente correndo


para as escadas. Dei a volta no corredor e dei de cara com Antônia,

a assistente muito bonita e solteira de Enzo.

— Ele está ocupado — disse baixo, sem parar de digitar.

Parei por um momento, pensando se precisava respondê-la


e percebendo que estava sendo observada, ergueu o olhar. Abri um

sorriso frio, colocando a mão na maçaneta e girando, entrando na


sala. Enzo estava de óculos, algo inédito, lendo um documento.

Giana não estava ali dentro, como normalmente, talvez fosse por
isso que a engraçadinha lá fora achou que podia me impedir de vê-
lo.

— Oi, bom dia — falei meio hesitante. Estava morrendo de

ciúme. Por que ela achava que podia me impedir de entrar? Enzo
não podia dizer que estava ocupado até para mim, não existia isso.

— Belas pernas — ele disse, tirando os óculos e jogando as

folhas de qualquer jeito na mesa. — Precisa de algo?

— Sim. Senti a sua falta na cama. — Fiz um pequeno


beicinho, encostando-me na porta e girando a chave. Agora ele
ficariaocupado. — Quero me desculpar pela minha crise de ontem.
— Continuei falando baixo e fui andando até ele, que me observava
com atenção, girando a cadeira para me receber ao seu lado. Sentei
em seu colo, efetivamente montando-o e segurei seu rosto, beijando

a boca que sabia fazer maravilhas.

Não havia um beijo que Enzo não ficasse empolgado. Me


pegando pela bunda, me colocou sentada na mesa e avançou com
tudo. Sentir seu corpo pressionado ao meu era incrívele tudo dentro

de mim implorava por ele. A conexão corpo a corpo era uma das
experiências mais intensas da minha vida.

— Estou desculpada?

— Não precisa me pedir desculpas por ficar assustada.

Estou acostumado a me limpar sozinho e deveria ter lembrado que


tudo isso é novo para você, mas se isso for um pedido de

desculpas, porra, sim. — Agarrou os meus peitos.

— Está muito ocupado? — Suspirei, prendendo-o com


minhas pernas.

Ele me deu um sorriso safado.

— Por que?
— Já disse que senti sua falta na cama e pensei em
experimentar uma coisa... diferente. Nosso casamento será em
alguns dias e quero aprender mais — falei contra os seus lábios.

— Quer voltar para o quarto? — perguntou e balancei a

cabeça que sim. — Eu posso acelerar e intensificar um pouco as


coisas... Quero tentar algo, topa?

— O que seria esse algo?

— Você disse que queria casar virgem, mas, nós podemos


brincar... Você me deixa muito dolorido — falou e a minha expressão

deve ter sido assustada. — Nós não vamos muito longe. Você

precisa de muito carinho, cuidado, uma dose generosa de lambidas,


pressões, fricção e quem sabe, sentir a cabeça do meu pau... Quero

gozar olhando para a sua bunda e te encher de porra.

— Sim... Mas e se doer?

— Hoje não vai doer, só vai relaxar e gozar — sussurrou na


minha boca. — E a sua bunda? Já pensou sobre isso?

— Parece doer.

— Depende. Você pode gostar e não gostar... Então,

podemos experimentar. Se não gostar, não faremos mais.


Sorrindo, assenti e ele me pegou de surpresa, me jogando

sobre os seus ombros. Ele bateu na minha bunda e massageou,


perdendo os dedos entre as minhas pernas, sob a calcinha, me

provocando. Ajeitou o meu vestido de modo que cobrisse a minha

bunda e abriu a porta. Enquanto eu ria de vergonha, ele foi me


sacudindo até o quarto e não resisti em olhar diretamente para a

Antônia e sorrir. Viu, querida? Não está ocupado.

A expressão dela foi impagável.

Enzo me deixou de pernas bambas e desejando dar o que


não iria dar a ele mesmo, só de pensar, era uma vontade de correr.

Não tinha certeza se na direção dele ou oposta. O que ele fez com a

língua em mim, além de usar os dedos para me provocar no meu

segundo buraco, foi muito gostoso. Por que aquilo era tão bom? Ele
estava me deixando maluca para transar logo e deixar a estupidez

de casar virgem de lado.

Quando saímos do quarto para almoçar, fiquei roxa ao

lembrar que combinei de encontrar com Amber, Roberto e Max... e


obviamente não apareci.

— Desculpe, fiquei... hum, ocupada — gaguejei, me

sentindo quente.
— Está tudo bem, querida. Sei que Enzo é bem manipulador

quando quer atenção. — Amber me deu tapinhas na mão e sequer

tive coragem de encarar o pai dele, Jesus, que vergonha. Engoli


seco e peguei a minha água.

— Dessa vez foi ela quem me atacou. — Enzo disse,

fingindo inocência, arrancando risadas de todo mundo. Bati nele,

carrancuda. Ele não precisava me expor, idiota.

— Não fique constrangida, cunhada. Essa família é


indiscreta. — Emerson disse, calmo e sorri. Por um segundo,

lembrei dele transando com a mulher que trouxe para cá antes dela

ir embora. Eles entraram no escritório do meu pai no momento que


abaixei para pegar uma caneta. Por um momento pensei ser Enzo,

mas era o irmão e foi bem rápido. Enzo durava um pouco mais, não

sabia durante o ato em si... Enfim, foi estranho ser testemunha.


Desci para comer com o rosto vermelho, mas não falei nada.

Uma briga já tinha sido o suficiente naquele dia.

Martina e tia Malia serviram o almoço. Alessio juntou-se a

nós, assim como Giana, Mika e Antônia. Enzo estava comendo e


colocou a mão na minha coxa, por baixo da mesa. Cruzei a minha

perna, chegando mais perto do seu toque e segui quieta na minha,


apenas respondendo quando falavam comigo diretamente. Roberto

e Max estavam contando piadas, superado o preconceito que eles


eram um casal, a família os acolheu muito bem.

Talvez Roberto, por ser um italiano e de família muito

tradicional, sempre soube o que a nossa família realmente era. Não

sabia como abordar o assunto sem sair dedurando, não estava


chateada que nunca me contou, mas se ele não sabia, era melhor

assim. Eu acho. Max era totalmente alheio mesmo, pelo jeito que

agia ao nosso redor. Enzo me prometeu que os meus amigos


sempre seriam protegidos.

Stefanio surgiu no batente e Enzo ficou em alerta. Ele

limpou a boca, me deu um beijo na testa e saiu junto com Mika.

Assim como o acompanhei com um ar desolado, reparei que outra


mulher também havia feito o mesmo e logo que o olhar dela voltou

para a mesa, se deparou com o meu. Parei até de comer,

encarando-a intensamente. Antônia ficou sem graça e pediu licença,


saindo em direção à escada.

— O que foi isso? — Roberto me perguntou, confuso. Max

apenas sorria, ele percebeu o meu olhar.


— Se ela suspirar mais uma vez para Enzo, vou enfiar o

garfo em seus olhos — reclamei sem esconder o meu ciúme, que

falava mais alto que a racionalidade. Giana tentou esconder o riso

no guardanapo de linho. Carina e os demais nem disfarçaram,


incluindo tia Malia. Fiz um beicinho, consternada.

Após o almoço, me reuni com a mulherada junto com a

Roberto para a prova do vestido e os últimos detalhes do

casamento. Comecei a sentir ansiedade. Estava chegando o grande


dia. Cada vez mais perto de me tornar a Sra. Rafaelli e como Enzo

gostava de dizer, a senhora da porra toda.

— As coisas entre você e Enzo parecem intensas. —


Alessio parou do meu lado, no momento que apreciava a brisa da

tarde e olhava os trabalhadores na colheita.

— Ele será meu marido e tive pouco tempo para conhecê-

lo... E ainda não conheço. Estamos nos ajustando. — Me sentei no


sofá e Alessio seguiu meu exemplo. — Senti muito a sua falta.

— Por enquanto ficarei em Nova Iorque. Emerson e eu

vamos dividir um apartamento logo abaixo de vocês. — Sorri sem

esconder a minha felicidade por ter alguém familiar por perto. — Eu


fui para Nova Iorque para ser iniciado e aprender sobre a posição de
vice. Tio Tomasso não era um bom exemplo. — Me deu um

sorrisinho.

— Pensei que estivesse passeando — comentei confusa.

— O treinamento é em vários lugares, muita coisa acontece,

mas deu para bancar o turista e conheci cidades legais. Acho que

vai gostar de viver lá.

— Deu para entender como tudo funciona? — Me interessei


no fato de que Alessio estava por dentro do funcionamento da

família. Meu primo sorriu e disse que sim. — Ótimo, quero ser

iniciada.

— Mulheres não são iniciadas, maluca. Deixa disso. — Ele

riu de mim como se eu fosse uma idiota. — Bem, tem uma e ela é

má — murmurou misteriosamente.

— Se ela pode, também posso.

— Não é um passeio de compras — rebateu e o xinguei

mentalmente. Por que homens não entendiam que mulheres podiam

fazer o que bem entendessem, usando um salto alto?

— Estou mais perdida que cego em tiroteio, por favor, me


ensina a atirar, que a coisa de ser iniciada peço a Enzo. Quero
saber como segurar uma arma, ele tem muitas e não quero ser
aquela que não entende nada. — Alessio me olhou como se eu

fosse maluca. — Por favor? Quer que a sua única prima acabe

morrendo por ignorância?

Juntei as minhas mãos e olhei para ele.

— Tudo bem, uma aula rápida. — Suspirou e me olhou

pensativo. — Coloque um short e tênis — pediu e fui correndo para

o meu quarto, me trocar e quando desci, Emerson estava com ele.

— Enzo não vai gostar disso. — Meu futuro cunhado


grunhiu.

— Entra no carro ou fica quieto. — Alessio resmungou e me

sentei no banco de trás, ansiosa. Meu primo dirigiu até a beira de


um descampado, a uns bons quilômetros da propriedade.

— O que sabe sobre facas? — Emerson me perguntou e


tirou um rolo de tecido do banco do carro. Apoiou no capô, abriu e

desenrolou com diversas facas. — Pelo seu tamanho e peso, evite


entrar em uma luta com alguém do meu tamanho. Vou te ensinar a

fazer uns movimentos de defesa e como tirar uma faca do alcance,


onde acertar para incapacitar e correr — explicou e olhei em seus
olhos. — Você não tem treinamento e nem músculos para uma luta,
se defenda, corra e grite. Grite muito alto. Como mulher, não grite
por socorro, as pessoas costumam ignorar mulheres gritando por
socorro. Grite "fogo!", chute coisas, derrube o que conseguir e não

corra em linha reta, confunda quem estiver te perseguindo mudando


de direção o tempo todo. Não dê a eles um foco.

Balancei a cabeça, com a adrenalina a mil e então, Emerson

me ensinou diversos passes, inclusive me mandou fazer força. Ele


era pesado, muito mais alto que eu e cheio de músculos, então, foi
bem difícil. Não tinha certeza se facilitou ou não, mas derrubei a

faca da sua mão diversas vezes. Quase acertei as suas bolas,


empolgada no exercício, cheia de adrenalina.

— João Bobo está pronto. — Alessio voltou para o carro. Eu


estava muito suada e ofegante. — Ele é um boneco. Alvo de

treinamento. Vou te ensinar os três tipos de armas mais comuns,


preste atenção e pergunte se tiver dúvidas.

Meu coração batia forte no peito pelo exercícioda luta, mas


prestei atenção e consegui travar, destravar, carregar e retirar balas.
Aprendi sobre cada tipo de munição e quando fiz cinco vezes sem

errar, Alessio me levou para o boneco, me posicionando. Ele


segurou os meus ombros e mandou atirar. Errei vários disparos,
nervosa, parei, respirei fundo e acalmei as batidas do meu
coração... Faria parte da vida de Enzo, precisava ser mais que uma
boneca em seus braços.

Na segunda vez, acertei bem no meio da testa, no peito, no


pescoço e depois onde seria o pênis. Sorrindo vitoriosa, olhei para

os meninos que pareciam chocados.

— O que foi? Fiz algo errado?

— Não. Foi ótimo, continue. — Emerson disse, acenando


para continuar.

Alessio carregou e me entregou outra, era mais pesada,

gatilho mais leve e fazia menos barulho. Fiquei tão distraída que não
ouvi o barulho de outro carro se aproximando.

— Que porra está acontecendo aqui? — Enzo berrou, me

assustando e virei para ele, com a arma em punho e imediatamente


Mika apontou a arma dele na minha direção. — Abaixa essa arma
agora! — Enzo gritou para o seu segurança. — Me dá isso aqui! —

Ele gritou comigo, como se eu fosse uma criança fazendo algo


errado.

— Estou só treinando — rebati, consternada com sua


atitude.
— Puta que pariu! — Ele berrou para o céu e a expressão
dele era furiosa.

— Ju, me dá. — Alessio tocou o meu pulso e irritada,


entreguei.

— Nós vamos conversar depois. — Enzo falou entredentes


para Emerson e Alessio, então me olhou. Senti um arrepio descer

na minha espinha e cruzei os braços, o desafiando. — Entra no


carro ou eu vou te arrastar.

— Eu vim com eles.

— ENTRA NO CARRO, JULIANA! — Ele perdeu as

estribeiras. Alessio me empurrou para frente e com ódio, fui batendo


o pé e bati a porta, quase fechando nos dedos dele. Furioso, abriu a
porta novamente e entrou no carro. — Para a residência — ordenou

para Marco, que por sua vez, dirigiu em alta velocidade, levantando
terra para todo lado. Ignorando-o, fiquei olhando para a janela e

então, ele me pegou um pouco bruscamente, sem me machucar,


mas me beijou com tanta fúria e intensidade que estava confusa. —
Que porra estava fazendo?

— Quero ser iniciada — falei contra sua boca.

Enzo se afastou com uma expressão de choque.


— Nem fodendo. A minha resposta é não e nem ouse me

desafiar. — Seu tom era definitivo.

Mika parou em frente à residência principal, freando meio


bruscamente e Enzo saiu do carro antes que eu pudesse discutir

sobre ele dizer não sem conversar comigo. Assim que paramos em
casa, ele foi andando pedindo que preparassem os carros porque

iriam sair.

— Vai viajar? — Andei atrás dele. Ele não me respondeu,

subiu as escadas e entrou no quarto, arrancando a roupa com


brusquidão, chegando a rasgar e foi para o banheiro. — Vai precisar
de muito mais que alguns gritos para me assustar, responde a

minha pergunta.

— Para de me atormentar, Juliana! — gritou muito puto e

algo no seu olhar era feroz, extremamente maldoso. Fiquei parada,


olhando-o bater em tudo dentro do chuveiro e dar um soco tão forte
na parede que rachou o azulejo. Tranquei a porta do quarto e

comecei a tirar a minha roupa. — O que pensa que está fazendo?


— Ele perguntou e não respondi, olhando-o o tempo todo. Entrei na
área do chuveiro sem desviar o olhar. — Juliana... Não estou no

clima para ir devagar, se está se oferecendo, vai ter que aguentar.


— Quis me impedir e dei um passo à frente. — Sempre me
desafiando. — Sorriu e segurou a minha cintura, me colocando
sentada no balcão de mármore onde ficavam os meus xampus, que

ele jogou no chão. Afastou meus joelhos e me olhou. — Reza para


que me controle ou vou te comer sem me importar com a porra do
seu sonho de casar virgem — falou e meteu o rosto entre minhas

pernas, me chupando forte. Soltei um grito, gemendo alto. Apoiei a


minha mão na parede e tentei conter os meus gemidos fazendo eco
no box. — Anda, grita. Eu quero que você grite. — Ele deu um tapa

na minha coxa molhada, doeu, foi prazeroso e me odiei por gostar.

Enzo riu maldosamente, afastando as minhas coxas e voltou

a me chupar, empurrando a língua entre as minhas dobras.

— Puta que pariu!

Mesmo com os meus xingamentos e arranhões, ele não


parou até que gozasse tão forte que me senti desfalecer. Me pondo

de pé, virou de costas e apertou a minha bunda. Mais cedo, ele


brincou bastante ali e foi gostoso. Fisicamente, Enzo me fazia sentir
tão próxima quanto possível. Emocionalmente, eu não tinha tanta

certeza.
— Quero tanto comer essa bunda... — Mordeu o meu
ombro, e, com a mente nublada, ofereci. Se fosse gostoso como

mais cedo... — É isso mesmo que estou vendo? Minha safadinha


quer me dar a bunda? Sorte a sua que eu sei que não está
pensando direito, mas ajoelha e me chupa.

Mesmo cheia de tesão, sabia exatamente porque ele queria


que ajoelhasse. Não era só porque era uma posição ideal para um
boquete, mas sim para reafirmar que ele estava acima de mim. Os

meus desafios e a petulância o levavam ao limite. Sem falar nada,


dei as costas, desliguei o chuveiro e o puxei pela mão para o quarto.

Ele estava me observando atentamente, empurrei-o para a


cama, montando em seu colo, deixando o seu pênis bem alinhado

na minha buceta, começando um movimento de vai e vem. Fechei


os meus olhos, deliciada. Estava toda arrepiada. Caramba... era
realmente gostoso.

— Existe um limite de provocação, amore. — A voz dele


estava grossa de tesão. — Tem certeza de que ainda quer esperar?

Aquilo era uma batalha, de repente, eu me senti tola em


querer manter a bobeira de entregar a minha virgindade após o
casamento como se ele fosse um doce sonho romântico, algo que
esse casamento não era.

— Não quero esperar.

Enzo não perguntou se eu tinha certeza e muito menos


recuou. Eu sabia que ele não perguntaria, não sobre isso, porque
não fazia parte da sua natureza. Ele me queria, eu era dele e ele iria

me reivindicar. O que mais me deixou assustada era que eu... queria


reivindicá-lo como meu também. Ele era meu.
Quatorze | Juliana.

Meu coração batia forte no peito, mas não era de medo. Era

antecipação. Enzo me deitou na cama e muito ao contrário dos


beijos bruscos do chuveiro e toda putaria das últimas semanas, me

beijou com todo cuidado e carinho. Me senti preciosa. Seu olhar era
calmo, com desejo, sem a intensa luxúria. Foi como se ele freasse a
besta e quisesse me idolatrar.

Fui relaxando aos pouquinhos e desejando ainda mais a

ideia de acabar logo com a barreira da virgindade, tirar o tabu


cristão e aceitar a minha sexualidade. Não sobrou um pedaço do
meu corpo que Enzo não beijou. Ele me chupou mais uma vez,

calmo, uma carícia suave, preguiçosa, que foi construindo um


orgasmo cada vez mais forte, me fazendo implorar por mais.

— Vai doer um pouco, mas juro que ficará melhor. — Ergueu

o meu quadril e colocou um travesseiro embaixo da minha bunda. —

Amo a sua boceta doce. Agora ela será toda minha... Quero tudo de
você, quer tudo de mim?

Uma carência que me pegou desprevenida.


— Eu quero. — Fui honesta, sentindo a cabeça do seu pênis

na minha entrada. Enquanto entrava, estimulava meu clitóris,


olhando em meus olhos. Meu pequeno nervo estava sensívele com

a invasão de Enzo, sentia mil emoções ao mesmo tempo. Parecia

não ser tão ruim, até que ele entrou com tudo e puta merda...
Respirei fundo, apertando o seu braço.

Ele se inclinou sobre mim, beijando a minha boca,

movimentando-se muito devagar. Seu rosto me dizia que estava

gostando, porque gemia muito mais do que em qualquer outro


momento que fomos íntimos.

— Estar dentro de você é um sonho, amore — grunhiu e

mordeu a pele fina do meu pescoço. Puxei o seu cabelo, beijando a


sua boca e mesmo com toda a queimação, ardência e a sensação

que estava sendo rasgada ao meio, queria ir até o final. — Puta

merda, não vou durar muito — gemeu e pensei “graças a Deus”,

mas não disse nada, apenas o beijei novamente e então, ele gozou

com tudo, empurrando mais forte, mais fundo e mais firme.

Entendi a expressão “ver estrelas”. Doeu... E era o fim da

minha inocência. Um adeus à garotinha inocente, que todo mundo

queria proteger a virtude. Eu a entreguei antes do esperado e para


quem eu quis. Não desejei outro homem, estava certa de que faria
sexo com Enzo mesmo se não soubesse de toda a verdade.

Ele saiu de cima de mim e me levando para o lado, ficamos

abraçados, meus olhos estavam fechados e sentia os seus lábios

distribuindo beijos doces. Aconteceu. O latejar entre as minhas

pernas não me deixava pensar que foi um sonho. As mãos dele


estavam me acariciando e olhei para o seu rosto. Olhos fechados,

um sorriso sonhador e carinhoso.

— Está tudo bem? Dolorida? — Beijou a minha testa suada,

pegou o controle do ar e ligou.

— Acho que estou bem. — Dei de ombros, pensativa. — Foi

bom, mas nem tanto.

— Vai ficar melhor quando a dor passar, vou garantir em te

deixar querendo muito nas próximas vezes — Ele não me deixaria

frustrada... Não aparentava ser um homem acomodado.

Ainda pensando no sexo, tentando reunir os meus

sentimentos e decifrá-los, senti algo escorrendo dentro de mim que

me fez sentar muito rápido. Minha testa bateu no queixo de Enzo,

que soltou um palavrão alto e me segurou preocupado.

— Nós não usamos camisinha! — gritei apavorada.


Enzo me olhou por uns segundos e respirou fundo.

— Está tudo bem, amore. Nós vamos nos casar em alguns

dias... Não iremos usar camisinha depois do casamento.

— Não quero ter filhos agora. Acabei de perder minha


virgindade e nós estamos nos casando. Podemos aproveitar um

pouco apenas a dois antes de sermos mais? — Comecei a suar frio.


— Acho que é tarde demais.

— Errei ao deduzir que você tomava anticoncepcional. Vou


comprar uma pílula do dia seguinte e vamos marcar o médico com

urgência, porque não vou usar camisinha nunca mais na minha vida.
— Sorriu e o olhei confusa. — Não... Nunca fiquei sem proteção, é

perigoso, sabia? Eu era solteiro, não vou mentir e fingir que não fodi
outras mulheres, me desculpa, não quero te chatear. Sem proteção

apenas para minha esposa.

— Você parece feliz — constatei ao perceber a sua


expressão maravilhada.

— Fiz sexo depois de dez meses, é claro que estou feliz —

rebateu e o olhei incrédula. — Pode não parecer queridinha, mas


estive ocupado desde que soube que me casaria. No segundo que
deslizei a aliança de noivado em seu dedo, você se tornou minha e
eu honrei isso. — Sentou-se e me pegou bruscamente para o seu

colo. — Nós vamos foder tanto, amore.

— Super romântico, Enzo. — Soltei uma gargalhada. Ele


sorriu e parecia um homem comum, bonito, feliz pós-coito. — Vou
tomar banho. Não quero perder o jantar. Não ia precisar sair?

— Fazer amor com você era mais importante. Mika deve ter
ido com Alessio e Emerson, para resolver o que precisava. Vá tomar

banho, vou verificar o andamento. — Me deu um beijo e fui para o


banheiro, sentindo dor no corpo em diversas partes. Tomei um

banho caprichado, lavando meu cabelo e no closet, engoli dois


relaxantes musculares enquanto me vestia.

Enzo ficou no telefone, estava falando em inglês e ele falava


muito rápido para que eu entendesse tudo, mas eu sabia que estava

falando com o irmão. Assim que terminou, piscou para mim e foi
tomar banho. Ainda estava me vestindo quando ele surgiu, meio
molhado e fazendo um trabalho rápido em ficar pronto. Homens.

Passei creme hidratante nele, só para implicar e ele riu,


prometendo que retribuiria o favor com muito prazer na próxima vez.

Qualquer desculpa era uma boa desculpa para manter as mãos em


mim. Ele tentou me ajudar a colocar minha calcinha, bati nas suas
mãos e coloquei meu vestido longo, confortável, fechando os
botões do meu decote.

Descemos de mãos dadas e como a sala estava cheia, ele


se sentou na poltrona e me puxou para o seu colo. Aceitei a taça de

vinho que Martina serviu e ignorei o seu olhar sobre estar no colo do
meu futuro marido. Se ela soubesse... Ou talvez todos eles
pensassem que Enzo já tinha estourado a minha cereja há tempos.

Felizmente, o jantar foi uma delícia e bem divertido, Antônia estava


ausente, alegou não se sentir bem. Na verdade, sabia que estava

me evitando. Não duvidava que Giana havia falado sobre a minha


ameaça de furar os olhos dela.

Se Enzo já teve algo com ela antes de mim, não era da

minha conta, queria saber apenas para ter uma noção do que
esperar e quando voltamos ao quarto, perguntei a ele.

— Não. Antônia é da família, uma prima de segundo ou

terceiro grau e a minha mãe me pediu para ajudá-la a trabalhar.

— Se as mulheres da família não são iniciadas e não


trabalham, por que ela trabalha com você? — perguntei cruzando

meus braços.
— A minha mãe é madrinha dela e me pediu. Antônia foi
para a faculdade, é uma boa assistente e lida muito bem com todos
os meus compromissos, lembre-se, eu era solteiro. Eu não como

onde ganho a carne. — Abaixou-se na minha direção e me deu um


beijo. — Preciso sair, vá dormir. Me liga se precisar de mim.

Tranquei todo o quarto logo que ele saiu, estava me


sentindo muito cansada. Foi o dia mais longo da minha vida, tanta
coisa havia acontecido que estava até bem tonta. Me deitei para

dormir, estranhando a cama vazia e não pensei muito sobre, logo

adormecendo.

Os dias anteriores ao casamento foram bem corridos, de


repente, havia muito o que fazer e fui à cidade diversas vezes. O

que eu não me estressei nos meses anteriores, a minha tia me fez

estressar em poucos dias. Ela enlouqueceu a casa inteira. O grande


dia me deixou com os nervos ainda mais sensíveis. Conforme a

decoração chegava, fiquei parada olhando o quintal transformar-se

em uma festa de casamento.

Os convidados estavam chegando a hotéis da região, assim


como a imprensa. Tudo parecia grande demais e eu me sentia

sufocada. Meu quarto era o meu principal refúgio e estar nos braços
do maluco do meu noivo também. Enzo e eu fizemos sexo duas

vezes depois da primeira vez e então, ele disse para esperarmos a


grande noite. Como se fizesse alguma diferença...

A nossa noite de núpcias não aconteceria em nossa casa na

Itália e sim, em Nova Iorque. Todas as minhas roupas foram

empacotadas e despachadas no dia anterior pela manhã, assim


como os meus itens pessoais como livros, fotografias, algumas

lembranças dos meus pais e outras coisas que separei

afetivamente. Meu quarto estava basicamente vazio, não queria


deixar muita coisa familiar para trás, esperando transformar minha

nova casa a mais aconchegante possível.

— Está nervosa, amore? — Enzo perguntou baixinho. Nós

ainda estávamos na cama. Eu adorava que ninguém ousava me


chamar quando ele ainda estava dentro do quarto.

— Com medo de virar o pé no caminho para o altar. — Sorri,

brincando e sabia que meu tempo com ele estava acabando, em

alguns minutos alguém viria me chamar para começar meu curto dia
da noiva.

— Tem certeza de que quer entrar sozinha?


— Nada contra tio Tommaso, sei que ele ficou chateado,

mas se não posso entrar com meu pai, melhor sozinha. — Ergui o

meu rosto quando ouvi uma batida na porta. — Te vejo no altar.

— Se alguém te irritar, basta me chamar.

Acenei e segui Carina para um dos quartos onde todo circo

para me transformar na noiva do ano estava montado. Amber, tia

Malia, Carina, Roberto e Max se arrumariam comigo. Roberto seria

a minha dama de honra e padrinho ao mesmo tempo. Enzo não


queria e ignorei a questão. Roberto era o meu melhor amigo. Carina

seria uma dama e entraria antes de mim. Emerson era o padrinho

de Enzo e Alessio o par de Carina.

Aqueles dois estavam trocando flertes na frente de todo


mundo, sem disfarçar a brincadeira e a óbvia atração. Carina seguia

dando longuíssimos olhares para Stefanio e eu me perguntei se não

era permitido que os dois namorassem. Ele era muito bonito,


entendia Carina, mas não queria que ela tivesse problemas ou

colocasse o meu primo em problemas.

Meu cabelo passou por uma longa sessão de hidratação, foi


escovado e ficou enrolado. Recebi a melhor massagem corporal da

minha vida, fiquei tão relaxada que quase dormi. Carina e Amber
não paravam de falar e Roberto estava atento às minhas

necessidades, fazendo Max pegar tudo o que precisava.

— Um presente para a noiva. — Roberto atendeu a porta e

pegou uma caixa imensa. Stefanio e Alessio entraram carregando

diversas flores. Foram preciso cinco homens de Enzo para carregar

tudo. — Esse primeiro presente é da sua sogra. — Me entregou a


caixa e olhei para ela imediatamente, erguendo a tampa e me

deparando com o mais belo par de sapatos que vi na vida.

— Simplesmente lindo, Amber!

— Sei que escolheu seu sapato, mas quando vi, não resisti.
Esse é o seu algo novo. — Amber explicou e era surreal pensar que

eu tinha uma sogra e fiquei tocada. Era um Louis Vuitton exclusivo.

— Agora é a minha vez. — Carina quicou no lugar, ansiosa.


— O meu é o algo azul, comprei junto com Roberto, porque queria

ter certeza de que combinaria. — Praticamente gritou e eu me

perguntei como lidar com a energia dela vivendo na mesma casa.

Roberto me entregou um buquê de rosas azuis e uma caixa de


veludo azul marinho, dentro, havia uma pulseira e um par de brincos

de diamante azuis.
Era o mais raro do mundo. Caramba, ela tinha dezessete

anos e me deu algo completamente inacreditável. O quão ricos eles

eram?

— É tão lindo, Carina — sussurrei emocionada. — É claro


que irei usar, obrigada. — Nos abraçamos apertado.

— Essas flores são do seu futuro sogro, Lorenzo, seu futuro

cunhado, Emerson e do seu primo Alessio. — Roberto apontou para

os três jarros imensos de flores, cada um com um recadinho fofo. —


E esse buquê é do noivo.

Levei minha mão à boca, satisfeita que Enzo escolheu o

meu buquê com as minhas flores favoritas. Hortênsias azuis com

pequenas rosas brancas e vermelhas, ornamentado de acordo com


a decoração do casamento. Entrelaçado no cabo estava um longo

terço de cristal. Era tão perfeito que não queria tocar.

— Seu noivo também mandou um presentinho. — Roberto


me deu uma caixinha. — Então, o que é?

Estava meio chocada para falar.

— Meu algo velho, acredito. É um fino e delicado colar de

diamantes que segundo esse cartão, pertenceu a sua avó paterna


— murmurei e todos riram, talvez de nervoso como eu. Puxa vida,
comprei apenas um relógio e mandei gravar a data do nosso

casamento. Não foi barato, mas não foi tão caro. Me dar o colar da
avó que deveria custar milhões era o presente sentimental de Enzo.

A maquiadora começou seu incrível trabalho no meu rosto,

enquanto o cabeleireiro fazia o meu penteado. Meu cabelo estava

preso, com um coque cheio, franja de lado e alguns fios soltos para
dar um ar dramático. Todos saíram para se arrumar no momento

que tia Malia entrou, pronta para me ajudar com o vestido. Ela

colocou um broche de rubis delicados no meu véu, segundo ela,

todas as mulheres Valentinni se casaram usando-o.

Quando fiquei totalmente pronta, o meu reflexo no espelho

era de tirar o fôlego. Meu vestido era meio volumoso, não quis algo

bufante, mas sim longo, o tecido era gostoso e as pedras


ornamentavam a minha cintura e o decote. Meus seios estavam

lindos como duas almofadas, sem exagero, sem muita pressão,

apenas redondos e bonitos. A cauda do vestido era média e o véu ia


até a cintura.

A fotógrafa assistente me levou por diversos lugares da casa

e então, a organizadora informou que era a minha hora. Já estava

cansada e o casamento não tinha acontecido. Meu coração estava


martelando firme no peito quando encontrei Carina, na saída da
residência, me esperando para irmos para a capela. Entramos no

carro que estava sendo conduzido por Stefanio, era uma distância

curta, mas sem necessidade de fazer a pé com os meus saltos.

— Você está tão linda que não tenho palavras. — Carina


sussurrou no carro, admirada. Ela estava me olhando como se eu

fosse uma princesa da Disney bem na sua frente. — Parece uma

princesa... A saia está volumosa, mas nem tanto. Essas joias te


fazem ficar iluminada.

Ri, agradeci e logo paramos em frente a capela. Havia

pessoas chegando ainda, então pediram que esperassem que todos


terminassem de entrar para que eu saísse. Já eram dez e quinze,

tinha certeza de que Enzo estava surtando com os trinta minutos de


atraso já que ele me fez prometer umas mil vezes que não iríamos

atrasar.

— É a minha deixa. — Carina saiu do carro e pegou o seu

pequeno buquê, as portas de madeira abriram e as minhas mãos


estavam tão suadas que apenas rezei para não cair.

Stefanio me ajudou a sair do carro e me deu um raro sorriso.


— Está muito bela, senhora — disse baixo e sorri de volta,
aceitando o seu braço para ter apoio nos primeiros degraus até a
minha posição na entrada. A organizadora ajeitou a minha saia e

avisou que abriria a porta em cinco segundos, então respirei fundo e


coloquei o sorriso que ensaiei no rosto.

A igreja estava lotada, não reparei muito ao redor, ouvi o

ritmo da música conforme ensaiamos na noite anterior e antes da


minha despedida de solteira — que foi comer brigadeiro de panela
com Carina, Roberto e Max, assistindo vídeos de striptease

masculino, enquanto Enzo bebia com o irmão e o Alessio na sala ao


lado.

Estava focada em caminhar pelo corredor, olhando


diretamente para o homem que se tornaria o meu marido.

Enzo estava lindo.

Seu terno era creme, de três peças, o cabelo estava cortado,


penteado para trás e a barba por fazer de um jeito sexy. Gostava
quando ele esfregava a barba no meu pescoço, ficava toda

arrepiada. Ou entre minhas coxas. Minhas bochechas coraram e


algo no meu olhar deve ter mudado, porque Enzo sorriu sabendo o
que estava pensando e isso me fez rir. Seria condenada por pensar
em sexo dentro da igreja.

Meu noivo desceu os degraus e me recebeu, erguendo o


meu véu e segurando minha mão, levando até o padre, o mesmo
que me batizou, com quem cresci me confessando, e então estava

me casando. Prestei atenção nas suas palavras, guardando no


coração sobre paciência, resiliência e cuidado. Não amava Enzo,
não me sentia apaixonada, mas gostava de estar com ele na cama

e fora dela, conseguíamos trocar algumas conversas sem nos


atacar. Ele era carinhoso comigo em sua maior parte.

Esperava ser uma boa esposa, poder assumir os negócios


da minha família e ter a oportunidade de me preparar para aquilo.

Se aquele casamento fosse a minha porta de sucesso, poderiam


apostar que estaria mergulhada nele de cabeça.

Aceitei Enzo como meu esposo, recitando os votos e ele fez

o mesmo, deslizamos nossas alianças e fomos declarados marido e


mulher. Ao som de aplausos, nos beijamos no altar e viramos de
mãos unidas para uma centena de pessoas. Algumas eram

conhecidas, outras não. Atravessamos o corredor e paramos na


entrada da igreja para uma foto. Enzo me curvou, no estilo beijo de
cinema e bati no seu ombro.

— Carina disse que toda noiva quer uma foto assim. Ela viu
no seu Pinterest — explicou e sorri contra seus lábios. — Atrasou

quarenta minutos.

— Estava pronta. Os seus convidados que me impediram de

entrar. Pronto para a festa?

— Você é a noiva mais linda do mundo, Juliana Rafaelli —

falou bem sério. — Sorte a minha me casar com alguém tão bela
como você.

— Realmente, é um homem muito sortudo. — Sorri, toda


derretida com seu elogio.

Entramos no carro e ele imediatamente pegou o espumante,


estourando e servindo nas taças. Nós demos uma volta inteira pelo
vinhedo, para dar tempo de os convidados chegarem até o local da

festa e se acomodarem. Paramos para fotografar em um


descampado ao sul da propriedade, dentro dos galpões e ao passar
por dentro do vilarejo, abaixei o vidro da janela do carro, acenando

para os moradores locais e as crianças que sacudiam flores e


jogavam arroz para dar sorte.
Nós quebramos a tradição de dormir separados na noite

anterior, porque Enzo não queria de jeito nenhum dormir sozinho e


até discutiu com a sua mãe. Para acalmar a gritaria, decidi que
dormir no meu próprio quarto me deixaria menos nervosa e os

deixei sozinhos. Meia noite, ele entrou e se deitou do meu lado


como se fosse um dia qualquer. Não me estressei porque me olhei
no espelho o dia inteiro.

Esperava que ignorar algumas tradições não atraísse azar.


No mais, tentamos seguir à risca. Ao chegar na festa, ele desceu

primeiro, deu a volta e me ajudou. Na entrada principal havia um


lindo arco ornamentado com as muitas flores, então, ele me ergueu
no colo bem ali e atravessou, efetivamente expulsando os espíritos

do mal.

Em um casamento italiano, muitas tradições até poderiam


ser quebradas, exceto uma:muita comida e bebida. A banda tocava
músicas animadas, a imprensa convidada circulava, os convidados

riam, brincavam, alguns pareciam tensos, apenas observadores.


Outros até aproveitaram. A comida estava rolando solta e foi tudo
preparado por Martina, tia Malia e mais vinte mulheres que

trabalhavam conosco.
— Quero te apresentar a uma parte da minha família
paterna. — Enzo me levou até uma família que estava em um lado
mais calmo da festa. Eles estavam com os seus seguranças e não

se misturaram muito com os Rafaelli. Um senhor levantou-se, se


apoiando em uma bengala lustrosa com detalhes em ouro.

— Meu pequeno! — Ele abriu os braços.

— Tio Francesco. — Enzo abraçou o homem. Fiquei tão

chocada que não lembrei em disfarçar. — Obrigado por vir.

— Estou honrado em estar no seu casamento, meu menino.

Havia afeto entre eles. Afeto que Enzo não tinha com o pai.

— Quero que conheça a minha esposa. — Enzo me

segurou. — Amore, esse é o meu Tio, Francesco Di Galattore. —


Apresentou e eu arquejei. Enzo era parente dos Galattore?

— Eu simplesmente amo a safra marsala real — murmurei e


o senhor sorriu.

— Nós não produzimos mais, nosso vinhedo secou após a


morte da minha esposa, mas eu fico muito feliz em saber que você
aprecia a reserva especial. Apenas os bons têm acesso... Sobraram
pouquíssimasgarrafas no mundo. — Ele colocou a minha mão entre
as suas.

— Enzo tem algumas... Nós provamos um 1982 outra noite.


— Sorri para o senhor que era moreno, alto.

— Sua esposa é maravilhosa, menino.

— Eu sei, tio. — Enzo sorriu. — Essa é a minha prima

Sandra e o seu marido, Frank. — Ele me apresentou ao jovem e


bonito casal. Ela era morena de cabelos pretos, lisos, com um olhar
gentil. Muito bonita. Seu marido era alto, loiro, com um ar misterioso.

— É um prazer conhecê-los.

— Se não é um homem fora do mercado! — falou um


homem alto, moreno, muito lindo e eu engoli a porra do meu
suspiro, porque ele era realmente muito gato. Seus olhos castanhos

eram intensos, o cabelo castanho claro e o sorriso sexy também


eram de matar. Senhor... Que homem. Enzo me deu um olhar e eu
ri, de nervoso.

— Esse idiota é o meu primo, Damon Di Galattore —

apresentou e sorri. — Ele está comprometido ao casamento. —


Adicionou desnecessariamente.
— É um prazer conhecê-la, priminha. — Damon me deu um
abraço. Eu pensei que a veia na testa de Enzo fosse explodir.

Quando Damon me soltou, ele e o primo fingiram uma luta, rindo um


do outro como duas crianças. Rapidamente percebi que o senso de

humor de Damon era tão irritante e sem limites quanto o de Enzo.

— Eles são assim desde pequenos. — Sandra me explicou.

Quando nos afastamos, Enzo me explicou que a irmã caçula


do seu pai se casou com Francesco Galattore. Após Enzo, eles

eram a segunda maior família mafiosa, eram extremamente ricos,


dominavam a metade dos Estados Unidos que Enzo não dominava
e toda ilha da Sicília pertencia a eles.

Meu marido andou pela festa, me levando junto,


cumprimentando, conversando e eu dancei, bebi, comi, almocei,
ouvi os discursos e me acabei de pura diversão com os meus

amigos e a minha nova família. Na hora da dança dos noivos, o sol


estava se pondo e em pouco tempo iríamos partir o bolo para ir
embora.

Era o meu último dia na Itália. Enzo me prometeu voltarmos

sempre e sentia uma melancolia sem tamanho no meu coração em


deixar o meu lar, ao mesmo tempo, estava pronta para começar

uma nova vida.

— Seremos felizes? — questionei ao meu marido bem no

meio da dança.

— Eu não sei. Farei de tudo para que seja muito feliz. —

Abaixou o rosto e o beijei. Ele me abraçou apertado, mantendo a


boca na minha, sem parar de me beijar. Me entreguei a ele, mesmo
sabendo que seu beijo era quase uma mijada no poste.

— Um viva para Sr. e Sra. Rafaelli! — Roberto gritou e todos


começaram a gritar e bater palmas. Dominic ergueu a sua taça, nos

cumprimentando com diversão.

Juliana Alessia Rafaelli.

Me tornei alguém importante.

Tia Malia empurrou junto com Martina o carrinho com o


enorme bolo. Eram cinco camadas e não sabia como estava de pé.
Era lindo, com flores comestíveis e os noivos no topo estavam

apenas abraçados. Achava desagradável piadas nos bonecos,


principalmente que a maioria envolvia o noivo infeliz com o

casamento. Enzo e eu seguramos a mesma espátula, cortamos e


virei no prato, sujando meus dedos e os lambendo.
— Está bom? — Ele perguntou e ofereci meu outro dedo
para que lambesse. — Está uma delícia. Peça para sua tia guardar
um pedaço para comermos no avião. A viagem será longa.

Cortamos o bolo tradicionalmente italiano, o que no meu


ponto de vista, estava muito mais gostoso e eu comi dois pedaços.

Tiramos mais algumas fotos e subi para trocar de roupa, usando um


conjunto de terninho creme, um body de renda escuro e calças no
mesmo tom, com sapatos scarpin nude. Guardei tudo e conferi

antes de liberar para Mika levar para o carro. Enzo tirou o terno,
ficando de colete e saiu, dando espaço para soltarem o meu cabelo.

— Sua cabeça está sangrando, acho que ele empurrou os


grampos com muita força. — Roberto estava olhando o meu couro

cabeludo.

— Deve ser por isso que a minha cabeça dói tanto e agora
que tirou, dói mais ainda. — Toquei a minha cabeça e estava

molhada de sangue. Tia Malia entrou no quarto, fazendo alarde, o


que chamou atenção de Enzo do lado de fora. — Tia, fala baixo!
Enzo vai arrancar a cabeça de um.

— Ele te machucou bastante. — Max ponderou.


— Passa alguma pomada que cicatrize até chegar em Nova
Iorque. — Dei de ombros.

Roberto conseguiu dar um jeito no meu cabelo e cuidou das


pequenas feridas. Me levantei, pronta para voltar para a festa, jogar
o meu buquê e entrar no carro até o aeroporto particular onde o

avião estava aguardando. Carina iria conosco, assim como Alessio


e Emerson. Amber e Lorenzo iriam para Sicília com o avô de Enzo,
com quem não falei muito. Apesar de velho, me assustava e não

tirou os olhos dos meus peitos.

— Agora é uma mulher casada. — Roberto me segurou


pelos ombros.

— Prometa que irá me visitar em breve — pedi, já sentindo


saudades.

— É claro que sim. Max ama Nova Iorque e vamos passear


muito juntos. Por hora, curta o seu marido, faça bastante sexo, se
ambiente e nunca, jamais, se anule. Combinado?

— Combinado.

Agarrei Max bem apertado, memorizando o seu cheiro e


soltei antes que começasse a chorar. Abracei Martina, aceitando a
sua reza para me dar sorte e depois abracei a tia Malia, desejando
boa sorte com seu restaurante. Tio Tommaso apenas me deu

tapinhas no ombro e Enzo me puxou para perto dele. Revirei os


olhos, era apenas meu tio, ele não precisava ter ciúme. Bobeira.

Ao retornar para a festa, reuni as mulheres solteiras e joguei

o buquê, que caiu diretamente em Carina. Comemoramos, mas o


idiota do irmão dela só suspirou, dizendo que ela não iria se casar
tão cedo. Entrei no carro depois de nos despedirmos dos

convidados. Me debrucei no banco, olhando para trás, dando adeus


para minha casa, mas Enzo virou meu queixo, beijou minha boca e
disse:

— Sempre olhe para frente.

E eu olhei.
Quinze | Enzo.

Se alguns anos atrás alguém me dissesse que estaria

casado, ia soltar uma gargalhada garantindo que nunca iria


acontecer. Pensava no casamento aos quarenta, depois de

aproveitar tudo, mas ainda na idade de ter filhos e aguentá-los.


Casaria com alguma mulher da família que fosse boa, que me
despertasse algo. Qualquer mínima coisinha para vivermos bem.

Mas então Juliana surgiu, melhor dizendo, o acordo surgiu e Juliana


explodiu.

Nosso casamento foi bonito, bem organizado, toda a comida


foi farta, deliciosa, cheirosa e a noiva me deixou sem palavras.

Imaginei que pelo seu bom senso de moda e o preço exorbitante do


seu vestido, estaria bonita, mas ela estava além. Parecia um anjo,
de tão perfeita. Seus peitos me atentaram dentro da igreja e tinha

certeza de que até o padre deu uma olhada. A festa foi divertida,

apesar de me manter apenas conversando com os homens,


bebendo e comendo. Queria ter dançado, aproveitado, mas não

faria isso com um monte de gente da família observando qualquer

sinal de fraqueza.
Foi memorável e me tornei um homem casado. No avião,

voando para casa, meus funcionários estavam no que poderia ser


considerado a área executiva, porém, bem mais confortável. Na

parte da frente, eu estava com Juliana dormindo ao meu lado, as

pernas jogadas em cima de mim. Carina deitou no banco ao meu


lado, apesar de eu ter dito para se deitar no quarto. Juliana se

recusou a entrar no quarto com tanta gente e como a sua cabeça

estava doendo, tomou um calmante e dormiu.

Olhei-a, admirando o seu rosto adormecido e a sua cabeça


caiu um pouco, deixando um pequeno rastro de sangue. Sem

entender nada, passei o dedo e estava molhado. Que porra?

— Juliana, acorda! — Acordei-a bruscamente e ela abriu os


olhos, assustada e então ficou puta.

— Credo, que delicadeza! — reclamou, brava como sempre.

— Você está sangrando! — Puxei-a o suficiente para ver o


filete de sangue na sua nuca. — Bateu com a cabeça? — questionei

enquanto conferia os seus ouvidos.

— O homem que fez o meu cabelo enfiou os grampos forte

demais, cortou e furou algumas partes. — Mexi no seu cabelo,


percebendo que algumas partes dele estavam grudadas e outras
bem molhadas. Ela deveria estar sentindo uma dor infernal.

— Puta que pariu! — Sinalizei para a comissária de bordo

me trazer um kit de primeiros socorros. — Coloque a cabeça aqui no

meu colo, vou limpar e passar um cicatrizante. — Pedi à Juliana e

virei para Natalie, que trabalhava comigo há anos. — Traga água e


uma toalha.

Limpei toda sua cabeça com cuidado, passando uma

pomada cicatrizante que era muito boa e logo estaria curada. A

pomada era manipulada, feita especialmente para os nossos

ferimentos. O efeito era praticamente imediato e dei-lhe um remédio,

para acalmar a dor, que ela bebeu com a água. Ela me agradeceu
com um beijo suave, doce e entramos em uma pequena turbulência,

onde ela me agarrou, praticamente se deitando em cima de mim.

Foram longas horas de voo e quando finalmente pousamos,

meu corpo estava dolorido. Era meio da madrugada em Nova


Iorque. Juliana estava totalmente confusa e acesa, porque em

Nápoles, já eram nove da manhã. Carina estava com fome,

estressada e eu não fazia ideia de como gerenciar um novo


casamento e a minha irmã adolescente, já que ela se recusou a

terminar os seus estudos na Itália.

Atravessamos a cidade em uma grande comitiva em direção

a Manhattan, chegando ao novo apartamento. Quando saí da


cidade para a Itália, fiz a minha mudança para a cobertura e

Emerson para o apartamento de baixo com Alessio. Subimos juntos


no elevador, que a partir do vigésimo, precisava de um código de

acesso. Paramos no vigésimo quarto andar para deixar os meninos,


e então, eles se despediram e saíram. As bagagens seriam

entregues por Mika e Stefanio.

— É muito alto. — Juliana falou baixinho e o seu olhar


demonstrava medo.

— Vai se acostumar... Tudo aqui é sobre prédios chiques e

altos. — Carina rebateu mal humorada.

As portas do elevador se abriram e antes do apartamento,


havia uma sala privativa com uma porta de correr que poderia ser

fechada e tornar-se uma sala de espera. Tinha duas poltronas em


tons creme, uma mesa pequena e um jarro de flores. Segurei a mão

de Juliana, mostrando o amplo espaço da sala de estar, que ia de


ponta a ponta, com diversos ambientes, um conjunto de sofás e
mesa de centro, a televisão ao fundo e outro conjunto de sofás e

mesa de centro voltado para a varanda onde víamos o parque.

A varanda tinha mesas, guarda-sol e um ofurô em uma área


reservada com vidro fumê. Do outro lado da sala de espera, era
possível ver a porta da cozinha e a passagem para a sala de jantar.

Carina estava fazendo um sanduíche, já familiarizada com o meu


apartamento porque acompanhou parte da reforma.

— Quer comer? Ou eu posso te mostrar o segundo andar...

Juliana estava muito quieta, então, mostrei o meu escritório

no primeiro andar e subimos as escadas, abrindo as portas dos


quartos de hóspedes, o de Carina e o nosso, bem reservado. Era

uma sala de televisão no projeto original, porém, não queria meu


quarto parede com parede com o de ninguém, então aumentei o

espaço, construindo o closet bem grande porque imaginava que


Juliana teria mil roupas.

— O que está pensando? Está cansada? — Ela parecia um

cervo assustado.

— Não muito.

— Se eu descer, pegar uma garrafa de vinho e algumas


coisas, vai ficar animada?
— Eu vou. — Sorriu e apontou para o closet. — Quem
arrumou minhas coisas?

— Deve ter sido Renata e a Susana, elas são as


funcionárias da casa. — Tirei meu colete, abrindo alguns botões da

minha camisa e saindo do quarto. Encontrei Carina no corredor,


comendo e indo para o seu quarto. Desejei boa noite, apesar de ser
quase bom dia. Digitei o alarme ao perceber que nossas malas

estavam na entrada.

Abri a minha adega muito especial, fui extremamente

exigente na construção dela e ali dentro tinham vinhos que


custavam mais de vinte mil dólares. Peguei um da reserva especial,
era a minha noite de núpcias, afinal de contas. Na cozinha,

encontrei uma bandeja, cortei uns pedaços de queijo, salame,


presunto de parma e torradas. Reuni tudo numa bandeja só,

tentando deixar o mais bonito possível.

Voltando ao quarto, quase deixei a bandeja cair ao ver


Juliana parada, olhando a janela que ia do teto ao chão, admirando
a cidade noturna, mas somente com um maiô de renda, que usava

por baixo do seu casaquinho e calça. Era fio dental e não tirou os
saltos.
— Quer fazer seu marido infartar no primeiro dia de
casados? — Entrei casualmente e mantendo o meu pouco controle,
abri o vinho, servi nas taças e fui até ela.

— É a nossa noite de núpcias. — Sorriu docemente, aceitou

a taça e bebeu. — Nossa... que delícia. Qual a safra?

— 1982. Parece ser o nosso ano favorito.

— Muito bom. — Bebeu mais um pouco e ao lamber os

lábios, contei até dez mentalmente.

Não sou um cachorro na frente de um osso, repeti nos meus

pensamentos várias vezes. Juliana me levava ao limite da sanidade

em um piscar de olhos, ainda mais depois que fizemos sexo pela


primeira vez. Não perguntei se ela tinha certeza, porque estava

quase explodindo de abstinência e toda a sacanagem que fazíamos

não aplacava as minhas necessidades. Fizemos sexo mais de uma

vez, bem devagar, porque ela estava dolorida e ainda seria assim
por um tempo, nem cheguei perto de foder do jeito que realmente

gostava e tinha certeza de que minha italiana safada iria amar.

Juliana amava me provocar. Sabia que ficava doido com seus

lábios, seus peitos cheios, empinados e com biquinhos rosados


apontados sempre para minha boca. Bebi o meu vinho, olhando-a e
fui até a mesa de cabeceira, conectando o meu telefone no aparelho

de som e ligando na minha lista de reprodução para foder. Dei uma


modificada depois que passei a dormir com Juliana, adicionando

algumas mais românticas e não somente batidas para sexo louco e

insaciável.

— Gosto dessa música, me dá vontade de dançar. — Eu


nem sabia que estava cantando, só que gostava da batida sensual.

Como não dancei com ela no casamento do jeito que realmente

queria, puxei-a pela cintura e balancei contra ela, no começo,


brincalhão e depois mais sério. — Dançar assim é gostoso.

Meu pau duro sabia muito bem, já que ela estava

esfregando a bunda com um body fio dental em mim. Apesar de

haver certa safadeza na sua dança, não era maldoso. Juliana era
inocente até na hora de me seduzir. Ela não precisava de muito

esforço, bastava me olhar com seus grandes olhos castanhos,

emoldurados por cílios naturalmente volumosos e morder os lábios.

Durante a festa de casamento, apesar de ter falado com


Dominic e Luke que conheceu em Paris, também foi apresentada ao

meu avô idiota, à Ilaria, Marcus e aos irmãos do meu pai sem

nenhuma maldade, sem medo, sem nada. Apenas sorrisos e


abraços. Até cumprimentou alegremente Maurizio, o traidor, e toda

sua família. Meu primo Damon foi o único de gracinha, mas ele fez

para me irritar.

Juliana foi como um pássaro, batendo asas, feliz, com seu


vestido perfeito, o sorriso lindo e a alma da festa.

— Tira a minha roupa — pedi olhando-a balançar o quadril

de um jeito que não ia demorar muito para rebolar em mim. Suas

mãos delicadas terminaram de tirar a minha camisa e cada pedaço


de pele que aparecia, dava um beijinho.

— Gosto do seu cheiro — falou baixinho e puxou minha

camisa da calça. Terminei de tirar sozinho, ela abriu meu cinto, o

botão da minha calça e os seus dedos no meu zíper me arrepiaram


da cabeça aos pés. Ainda inexperiente, não avançou em mim e nem

apertou o meu pau por cima da cueca, como qualquer uma faria.

Gostava de descobrir a sua sexualidade juntos.

Segurei a sua mão e ensinei como me tocar, beijando a sua

boca.

Levei Juliana para a cama, abrindo o fecho do seu body, que

ficava exatamente entre suas pernas e ela chutou os sapatos longe.


Tirou a peça de renda e me beijou, enquanto sem jeito, arrancava a
cueca fora. Distribui beijos por seu pescoço, entre os seios e fui

descendo, mas ela me segurou, impedindo de descer mais...

— Fizemos tanto isso... Podemos pular para a outra parte?

— pediu com o seu olhar brilhando de tesão. Sem perder tempo,

acatei seu desejo. Puta que pariu, entrar nela sem camisinha,

apertada, quente... Era começar uma canção para não gozar como
quando tinha quatorze anos. — Porra! Que delícia! — grunhi,

empurrando mais fundo.

— Ah, isso. Eu queria exatamente isso — gemeu e ergui a


sua perna, passando meu braço por trás do joelho e empurrando

mais firme, mais fundo, estocando com cuidado para fazê-la gozar.

— Enzo!

— Eu sei, amore.

Sexo com ela era meu pedaço do paraíso.

Nós transamos até o amanhecer e o meu plano inicial era ir

com calma, mas ela não queria calma e cada vez que nos

animávamos para outra rodada, me pedia para ensinar uma posição


diferente. Sendo bem sincero, mesmo com toda a minha disposição,

cheguei a sentir sono. Tinha certeza de que ficou dolorida. O meu

pau estava dolorido. Ela estava determinada a me deixar esfolado.


Apagada ao meu lado, estava em um sono tão profundo que

não ouviu enquanto eu me arrumava para voltar à minha rotina no

trabalho. Fiquei muitas semanas fora de Nova Iorque e mesmo

confiando no trabalho de Angelo, de Ilaria e de Marcus, eu era o


Chefe.Deixei Juliana dormindo e um bilhete na mesinha do seu lado

da cama.

Carina estava dormindo quando olhei para o seu quarto e

enviei uma mensagem para Mika, avisando estar pronto. Stefanio


ficaria com as meninas em casa, à disposição do que precisassem.

Minha irmã só retornaria à escola no próximo semestre, tirou a

licença para estudar em casa no período que precisamos ficar


viajando, mas ela tinha a responsabilidade de manter as suas notas

altas.

Daria um desconto por estar cansada da viagem.

No carro, pedi que Ângelo enviasse o novo telefone de


Juliana, também dei entrada na papelada para trocar os seus

documentos, com o novo sobrenome. Minha primeira parada foi no

escritório, trabalhei a manhã inteira e na hora do almoço, nenhum

sinal da minha esposa responder minhas mensagens.

Liguei para Carina.


— Cadê a Juliana?

— Da última vez que verifiquei, ela se casou com você.

— Carina...

— Um minuto — reclamou e a ouvi batendo portas pela

casa. — Ela está dormindo, peladona e abraçada com o travesseiro.

Nem sabe que está mandando mensagens para ela como um

maníaco controlador.

— Tchau, Carina.

— De nada, te amo.

— Pentelha — disse rindo e encerrei a chamada.

Sem dar satisfações, saí sozinho, pegando o carro que já


ficava na empresa a minha disposição e caí no trânsito maluco de

Nova Iorque, atravessando a cidade até a área residencial. Entrei

em uma familiar casa, estacionando na garagem de qualquer jeito,

entrando e atravessando todo o espaço vazio, fantasioso e saindo


nos fundos. Me embrenhei numa pequena mata arborizada até uma

residência do outro lado.

Passei pela cerca dos fundos, assobiando para anunciar


minha chegada e abri a porta da cozinha. A mulher na pia, lavando
a louça, me deu um sorriso.

— Olá, dona de casa. — Sorri e beijei a sua bochecha.

Antes que ela pudesse responder, ouvi os sons dos

pezinhos correndo pelo piso de madeira. Ajoelhei, esperando o seu

abraço gostoso e vi as perninhas gordinhas atravessando o tapete


em alta velocidade. Abri os meus braços e a pequena se refugiou

em mim, gritando de alegria. Beijei o seu rosto.

— Cadê meu papai? — Me perguntou com sua voz doce.

— Amélia Bennington! — Sua mãe disse severamente atrás


de mim. — Diga olá ao tio Enzo e lhe dê um beijo — ordenou e a

menina franziu o cenho, contrariada, mostrando à mãe que não

estava feliz, mas fez o que foi pedido. Ganhei o meu beijo e dei
outros.

— Tio Enzo estava com saudades!

— Trouxe presentes? — Amélia me perguntou e ri, sua mãe


limpou a garganta, ela sorriu angelical. — Tá passando meu

desenho, tchau.

Ela foi embora correndo e fiquei de pé, olhando para a


pequena mulher, que tinha a força de um furacão, encostada na pia.
Conhecendo-a como conhecia, aquela cena era inusitada, mas fazia
parte da sua vida real. A sua vida de mãe e esposa.

— Vi algumas fotos do casamento, ela estava linda.

— E eu?

— Nada mal. — sorriu, brincalhona.

— E onde está Alex? — Se ela pudesse me dizer, diria.

Caso contrário, não falaria nada e eu não me preocuparia. Alex


sabia se cuidar.

— Está com Jack. Você sabe, ele inventa umas merdas e


Alex vai junto, nada demais. Tem algo a ver com o pai do Eros, é
tudo que os idiotas me contaram. — Puxou um banco. — Como está

a vida de casado até agora? Dominic te contou?

— Me casei ontem e não sei o que esperar daquela mulher


e sim, me contou. Apesar de achar loucura, é o certo. Estamos
chegando perto de algo sobre a Michelle, pelo menos?

— Nada. Oliver mantém a boca fechada, mesmo com o


acordo firmado. O que precisa?

— Ghost. Achou? — Aquele era um assunto que jamais


poderia ser falado por telefone, seja ele criptografado ou não.
— Ensinamos aquele homem bem demais, mas não
importa, irei encontrá-lo. É uma questão de tempo até que mostre
de que lado realmente está. Se ele teve alguma coisa a ver com

meu pai ou entendemos tudo errado, iremos descobrir.

— MÃE, CHEGUEI! — O grito de um menino veio da frente.

— Eles chegam a uma certa idade que não falam mais,

apenas gritam e aumentam o som do videogame. Estarei de plantão


essa noite, se quiser, passa lá. — Revirou os olhos e o nosso
assunto terminou.

O filho mais velho de Kyra e Alex entrou na cozinha e me


deu um abraço. Brinquei com as crianças por um tempo, sentindo
um comichão no peito que me fez renunciar a todos os meus

compromissos do dia e voltar para casa... Juliana estava muito


brava comigo, por um motivo que não sabia, mas em algum
momento iria descobrir.
Dezesseis | Enzo.

Minha mulher estava furiosa, me encarando como se eu fosse

um verme nos seus sapatos caros.

— Não tenho bola de cristal, Juliana. Me diga por que está


irritada? — Suspirei depois do terceiro fora que ela me deu sem dó.

O que tinha de bonita, tinha de grossa. — Estava tudo bem...

— Quando nós nos casamos? — Colocou as mãos na


cintura. Ela usava um short jeans curto e uma camiseta que não

deixava muito para a imaginação, estava linda, mesmo com o


cabelo embolado porque não aguentou pentear.

— Você sabe quando, por que a pergunta?

— Nós não tivemos uma lua de mel! Acordei sozinha, em

um país diferente e dei de cara com uma mulher que não conheço,

logo que abri a porta. Pensei que você ficaria em casa, pelo menos

no primeiro dia — Fez um beicinho e suspirei, puxando-a


bruscamente para o meu colo.

— Fiquei muito tempo fora, precisava dar o ar da minha

graça por aí,principalmente na empresa. E eu cheguei cedo, vamos


jantar juntos...
Juliana apenas me olhou de um jeito que não entendi e não

falou nada. Saiu do meu colo e foi em direção a escada. Carina


deveria estar em seu próprio quarto, por causa da música lá dentro.

Me recusei a ir atrás dela, mas vi que o telefone novo ainda estava

na caixa em cima da mesa. Resignado, contei até mil, mantendo a


calma e fui para o quarto. Havia algumas malas abertas e caixas,

ela estava arrumando as coisas pessoais que ficaram pendentes.

— Seu telefone novo. — Sacudi a caixa. — Comprei o

último modelo que saiu. Há um aplicativo, essa bolinha azul, onde


podemos conversar... É criptografado, ninguém tem acesso —

expliquei e tirei da caixa, ligando, ela me deu atenção enquanto

mostrava algumas modificações, colocou o aparelho em cima da


mesa e voltou para suas coisas.

Se era o tratamento do silêncio que queria, tudo bem. Dei as

costas, me refugiando no meu escritório até que deu a hora do

jantar e ninguém apareceu para me chamar. A mesa estava sendo

colocada e Renata arrumava a disposição dos pratos. Pela


quantidade, Emerson e Alessio subiriam. Iria lembrar a eles que a

minha casa não era um refeitório. Que eles se virassem ou

contratassem alguém.
Resolvi que daria fim no tratamento iceberg da Juliana, subi
as escadas de dois em dois degraus e parei em frente ao quarto.

Ouvi um gemido suave, depois outro e mais um mais longo. Fiquei

arrepiado, porque reconheceria aqueles gemidos em qualquer

lugar... Abri a porta e uma mulher oriental estava em cima de um

banquinho, massageando as costas da minha esposa.

— Muito bem, Sra. Rafaelli. — Ela elogiou, descendo do

banco e Juliana enrolou-se na toalha, sentando na maca e sorriu,

relaxada. — Esse óleo é ótimo para feridas, vou dar-lhe um pouco.

Seu couro cabeludo irá relaxar e vai conseguir pentear os cabelos.

— A mulher sorriu e minha esposa aceitou o frasco. — Quando

precisar, só me chamar.

— Muito obrigada, Ryu.

A mulher passou por mim e fez uma reverência oriental,

saindo com suas coisas e se afastando da mesa que minha esposa

estava deitada nem cinco minutos atrás. Juliana foi para o banheiro
e eu segui, atraído como uma mariposa. O corpo da minha mulher

estava cheio de óleo, cheiroso, não perderia por nada.

— Precisava relaxar?
— Carina chamou o serviço de massagem do condomínio,

depois perguntou se queria e aceitei. É muito bom. Me sinto mole.


— Ela foi para a área do chuveiro. — Não vai vir tomar banho

comigo?

Tirei minha roupa devagar, querendo entender o joguinho

dela, se queria tentar me deixar maluco ou era bipolar. Alguma coisa


realmente não era muito certa na sua cabeça. Entrei debaixo da

água, lavando o meu cabelo primeiro, deixando a água com espuma


escorrer e senti as suas mãos em mim, acariciando.

— Desculpa por mais cedo, estava puta e não queria falar

com você — falou baixinho e suspirei, abraçando-a. — O que vou


fazer, Enzo?

— Como assim, querida?

— Na Itália eu tinha uma rotina, coisas para fazer... Eventos,


fotos, olhar a vinícola, me encontrar com os enólogos... O que vou
fazer aqui? — Me deu um olhar conflituoso e beijou o meu peito.

— É só o seu primeiro dia, baby. Vai ficar tudo bem.

Compromissos irão surgir e enquanto isso, conheça a cidade e se


ambiente. Temos tempo, amore. — Segurei o seu rostinho perfeito e
beijei a sua boca carnuda maravilhosa.
Esfreguei o óleo do seu corpo, nos lavando juntos, sem

tocar-lhe de forma sexual. Nos secamos, trocamos de roupa e


descemos para jantar. Alessio e Emerson estavam na sala,

assistindo televisão com Carina, que usava uma máscara verde no


rosto e foi correndo tirar quando avisei que iria servir o meu prato.

— Salmão, ai que delícia.— Juliana comemorou, montando


nossos pratos e encheu de salada. Ela colocava a minha comida

somente para encher de coisa verde. — Saudável, vida saudável...


— Cantarolou e revirei os olhos, enfiando uma folha de alface na

boca. Se eu tinha que comer verde, iria comer o dobro de batatas.


Enchi meu prato de carboidrato e carne. Renata e Susana sabiam
que eu gostava de comer carne.

— Por que duas variedades de carne? — Juliana me olhou


curiosamente.

— Elas decidem o cardápio, raramente estou em casa para


comer e quando morava sozinho, não tinha ninguém comigo. Ambas

trabalhavam com a minha mãe, então sente com elas, faça o


cardápio, lista de compras... Não sou muito exigente, mas gosto de

ter comida pronta. Carina precisa se alimentar e você


principalmente. — Ela assentiu, me deu um sorriso e virou para o
seu primo.

— E aí, o que fez hoje? — questionou a Alessio. — Eu só


desfiz minhas coisas e arrumei o meu quarto. Carina me chamou

para explorar um pouco da cidade amanhã.

Alessio sorriu para a minha irmã, os dois estavam flertando


desde a Itália descaradamente. Sabia que minha irmãzinha era

tudo, menos inocente. Ela era provocante, espevitada e tinha


absoluta certeza de que era bonita. Carina tinha a genética italiana,

corpo bonito, mas tinha alguns traços americanos da nossa mãe.


Era uma mistura perfeita. Eles pensavam que não, mas eu sabia
que o meu soldado, Stefanio, era apaixonado por ela.

Alessio e Stefanio não eram os primeiros a cair na teia de

manipulação dela. Ela só tinha dezessete anos. Aos quinze, meu pai
cometeu a besteira de “honrar” o nome da sua filhinha entre os

soldados, já que ela provocava todos eles. No meu ponto de vista,


foi mais um dos seus papéis de otário. Carina ia aprender que quem
brinca com fogo, se queima, mais cedo ou mais tarde.

— Ainda vou sair para explorar. — Alessio foi vago com os


seus compromissos.
— Quero levar Juliana no Met., Central Park e almoçar em
algum lugar legal. Fiz uma lista de lugares e coisas a fazer. —
Carina estava empolgada.

— Pesquisei algumas coisas e restaurantes, e ah, lojas.

Tenho muita vontade de conhecer os clássicos pontos turísticos da


cidade. — Juliana terminou de comer... Seu prato foi um monte de
folhas verdes, azeitonas, salmão e mais nada. — Vou buscar a
sobremesa e dispensar as meninas.

Renata era uma ótima cozinheira e fez um delicioso pudim,

nós comemos e os meninos foram assistir televisão com Carina,

fazendo companhia em um filme. Ambos fariam rondas nas boates


em algumas horas e precisavam descansar. Minha esposa quis

lavar a louça, já que dispensou as meninas e sequei, coisa que fazia

na minha própria casa quando morava sozinho.

— Quer beber um pouco mais de vinho? — Sequei as


minhas mãos.

— Estou um pouco cansada... Acho que seria bom para

relaxar. Não quer ficar na sala com eles?

— De jeito nenhum, não quero que eles fiquem aqui o tempo


todo... Eles possuem o próprio apartamento para isso — Peguei a
garrafa de vinho, as taças e passamos direto para o quarto.

Tranquei a porta, servi o vinho nas taças e tirei a minha roupa,


ficando de cueca. Ela ligou a televisão, procurou um canal que

passava um filme bobo de ação que mentia mais do que qualquer

coisa.

Juliana sumiu no closet por um tempo e me joguei no sofá,


puxando o assento para ficar mais confortável. Quis um quarto bem

grande para ser meu local de refúgio, poder ficar em paz e ter

privacidade. Minha esposa apareceu desfilando na minha frente


com uma camisola de cetim, cinza escura e devido a climatização

do quarto, estava com os mamilos arrepiados.

— O que foi? Fiz um enxoval de lua de mel, acabamos de

nos casar, vou usar tudo e depois volto para meus pijamas de
flanela. — Sentou-se ao meu lado e puxou a colcha, cobrindo as

pernas, encostando-se em mim e pegando sua taça.

— Sabe que vou tirar sua roupa independente do que

estiver usando — passei o meu braço por seu ombro, acomodando-


a. Me perguntei que diabos estava fazendo quando poderia estar na

boate, trabalhando, verificando os meus negócios e não sentado no


sofá, bebendo vinho e querendo transar com a mulher que me

casei. Beijei o seu pescoço, guardando o seu cheiro na memória.

— Carina me falou que tirou seu pai da... chefia da família?

Eu não sei o termo certo, desculpa. — Desenhou um padrão


incompreensível em cima da minha tatuagem no estômago. — Por

quê?

— O velho estava fazendo merda e ameaçando a

estabilidade da família. Minha mãe estava meio cansada da nossa


vida, então, achei que era hora de começar uma nova era na

família. — Bebi o meu vinho todo, servindo ainda mais vinho nas

taças.

— Não sou muito boa em entender as regras da família,


ainda é muito confuso, mas o seu pai parece temer você e não faz

sentido, afinal, ele é seu pai — comentou e eu sabia que era

confuso mesmo.

— Antes de ser seu filho, sou o Chefe. Foi assim conforme

crescia, antes de ele ser o meu pai, era o chefe da família. Me fez

passar por terríveis situações para o meu amadurecimento e para


que um dia pudesse assumir o seu lugar, mas o que ele não
esperava era que toda a sua criação só me desse ódio — expliquei

e ela respirou fundo.

— Com nossos filhos será assim?

— Definitivamente não, Juliana. Eu posso claramente criar

boas crianças sem acordá-las de madrugada sufocando a porra da

garganta, mas se fizer, vou deixar claro a eles que é para que
saibam sobreviver na pior das situações e não largá-los sozinhos,

no escuro, com medo e com muita raiva, pensando em mil maneiras

de me matar — retruquei com raiva e percebi que falei demais.

— Isso é bom, saber que planeja ser um bom pai. Não sei
que tipo de mãe serei, não tive mãe, ela morreu quando nasci, em

um acidente, papai me criou sozinho até que fui para a escola. —

Fiquei mortalmente confuso. A mãe de Juliana morreu em um


ataque que a família Valentinni não divulgou os detalhes,

provavelmente porque não conseguiram provar nada.

— Você é naturalmente amorosa, sei que será uma boa

mãe. — Verifiquei a hora, querendo saber se Alessio e Emerson já


tinham saído para fazer o que mandei. Olhei o meu telefone e havia

mensagens, atualizações, rondas, boates começando a abrir e os

cassinos clandestinos recebendo a primeira remessa dos políticos.


— Esse filme é chato, mentiroso. — Ela reclamou e se

esticou para pegar o controle, bocejando. Estava caindo de sono,

toda correria do casamento, a própria festa, a viagem e nossa noite

mal dormida junto com o jet-lag estavam cobrando o seu preço.

Não demorou quinze minutos para que começasse a

adormecer. Desliguei a tevê e a convenci a irmos para a cama e

dormir. Poderia tirar algumas horas de sono ao lado dela, passaria

na boate antes de fechar, para dar uma olhada nas coisas, sempre
tinha um engraçadinho fazendo merda e era bom dar uma espiada

no faturamento.

Sem conseguir nos conter, ela me beijou, uma coisa levou a


outra, um fogo sem fim e fizemos sexo, lentamente, bem calmos.

Ela apagou, deitada em cima de mim e cochilei por umas horas

antes de sair da cama de fininho, me vestindo e saindo para a noite.

Stefanio estava ciente que Carina e minha esposa estavam em


casa, dormindo. Deixei o apartamento bloqueado e o meu soldado

de confiança de prontidão, caso elas precisassem.

— Pensei que não fosse vir hoje. — Dominic estava no

segundo andar da boate que dividíamos.


— Pensei que estivesse em Los Angeles. — Servi uma dose

de uísque no meu copo. — Imaginei que fosse passar mais tempo


por lá.

— Katherine não sabe do noivado e não vai saber ainda.

Apesar do seu pai ter recebido a minha parte do acordo, o restante

darei quando ela estiver comigo, é o único jeito — retorquiu com o


olhar atento na multidão lá embaixo.

— O que está vendo? — Parei ao seu lado e imediatamente

vi. — O mal de um homem — murmurei sombriamente ao ver um

idiota, que estava em grupo, deslizando comprimidos nos copos de


um grupo de garotas bonitas. Dominic falou no seu ponto, pedindo

para o barman intervir e um grupo de seguranças ir até lá.

— Jack tropeçou em um tesouro novo... Eros queria sair,

agora não pode mais. Descobrimos um podre dele, um grande,

vamos forçar Christopher[vi] a assumir, enquanto o velho fica para


escanteio. Meu pai foi até a Grécia pessoalmente dar as boas

novas.

Essa era uma coisa sobre a nossa sociedade... Você


entrava vivo e saíamorto. Era muito pior que um clube da luta. Ryan

foi o único entre nós que apenas fez as coisas e sua família teve
zero envolvimento. Eros era um bastardo, seu filho Christopher era
outro bastardo sádico, mas não era um homem mau. Se as

mulheres que ele espancava gostavam de apanhar, era um

problema delas.

— Sempre achei os interesses dele meio estranhos. — Bebi


o meu uísque.

— Não deveria estar de lua de mel?

— Deveria, mas não estou. Vou passar no escritório e irei

para os cassinos.

— Cuide-se — falou distraído, sem desviar o olhar de uma

morena bonita no andar debaixo, conhecendo-o como conhecia, não

faria nada. Só existia uma pessoa na mente dele nos últimos anos e
essa mesma se tornaria a sua esposa em alguns meses. Dominic

era do tipo obsessivo. Ficou obcecado e já era...

Meu telefone tocou no meio do caminho e era Emerson,

avisando que estava tudo dentro dos conformes nas suas rondas.
Angelo deveria estar fodendo alguém, porque não estava online e

só sumia nesses casos. Rodei pela cidade por horas, mantendo os


meus negócios perfeitamente monitorados. Maurizio, por enquanto,
era a única fruta podre no meu meio. Ele estava querendo uma fatia
muito maior do que lhe era permitida, achando que derrubar um
homem com sangue Rafaelli correndo nas veias era fácil.

Ardiloso, agia como um rato covarde, sem realmente colocar

a cara a tapa. Odiava homens assim. Odiava traidores.

O dia estava amanhecendo quando voltei para casa, comi


uma besteira que encontrei na geladeira, entrei em meu quarto,
tirando a roupa e dormi um pouco... Juliana não acordou quando

precisei sair novamente e não quis acordá-la, estava muito pacífica.


Prometi a mim mesmo que no final de semana daria mais atenção a
ela quando fôssemos à minha casa em Hampton e teríamos algum

tempo de qualidade juntos, por hora, era preciso manter os negócios


reais em dia. A vida dupla tinha um preço alto... A recompensa valia
a pena.

— Onde está Emerson? — perguntei ao encontrar apenas


Alessio no elevador.

— Pessoas normais precisam dormir em algum momento. —


O meu vice me respondeu mal humorado e ri. Tinha apenas

dezenove anos, era uma criança, estava aprendendo, mas era muito
bom e me via muito nele.

— Eu dormi.
— Meia hora? É impossível. — Bocejou.

— Posso deixar a lady dormindo em casa. — Debochei e ele

revirou os olhos, bufando. Meu telefone tocou e atendi, sem nem


olhar a tela.

— Maurizio saiu da cidade para se reunir com alguns dos


seus homens... — Ilaria disse calmamente.

Finalmente, porra. Eu não podia acabar com ele sem saber


quem estava aderindo ao seu movimento e deixar qualquer banda
podre sobrando e contaminando os meus negócios.

— Perguntei à Antônia se ela sabia onde estava o pai dela e

sabe o que me disse? Que não fala com ele. Angelo deu uma
olhada nas coisas dela, e-mail, telefone fixo,residencial, tudo... Ela
não fala com o pai desde que começou a trabalhar com você e saiu

de casa. E encontrei algo interessante na gaveta da mesa dela


quando foi ao banheiro...

— Para de enrolar, cacete.

— Um livro com o seguinte título “Como lidar com o abuso

sexual na infância”.

A notícia caiu em mim como uma pedra.


— Explore isso e teremos uma aliada muito importante... O
meu próprio cavalo de Tróia.
Dezessete | Juliana.

Manhattan era grande e barulhenta. Sempre quis conhecer

Nova Iorque e sempre pensei que viria para uma viagem apenas,
não necessariamente morar na cidade. Ainda parecia surreal

demais pensar que deixei a segurança da minha casa em Nápoles,


me casei com um homem que conheci há quase um ano e toda
minha vida mudou. Só de pensar, não sentia vontade de sair da

cama e chorava com o rosto escondido no travesseiro.

Enzo não parecia compreender o quanto estava triste com a


mudança. Estava na cidade há alguns dias e tudo que sentia era
tristeza. Carina estudava pela manhã. Alessio raramente me dizia o

que estava fazendo e meu primo parecia estranho, agressivo,


sempre com raiva. Emerson não falava muito comigo e o idiota do
meu marido nunca ficava em casa. Ele sequer me acordava antes

de sair, por mais que eu pedisse.

Estava tentando dar tempo ao tempo, enquanto me achava


no meio de tanta confusão. Falava com Roberto e Max todos os

dias, eles voltaram para Milão após o casamento. Max seguia

tentando se encontrar e Roberto reabriu o seu ateliê depois do seu


período de férias comigo.
Determinada a ter um dia diferente, sem a melancolia da

saudade de casa, saí do quarto de manhã cedo e encontrei a mesa


do café pronta.

— Bom dia, senhora. — Stefanio me recebeu na sala e sorri.

— Bom dia, Stefanio. Pode chamar as meninas da cozinha,

por favor?

— Sim, senhora. — Prontamente saiu da sala e foi para a


cozinha.

Assim que servi o meu café na xícara, elas apareceram,

usando um uniforme cinza que era horroroso. Carina disse que


ambas eram mulheres que sabiam muito bem quem éramos, porque

suas famílias faziam parte do negócio. Elas me encaravam com

certa soberba e receio ao mesmo tempo. Cabia a mim colocar

alguns limites e impor a minha presença como dona da casa.

— Gostaria de repassar algumas coisas com vocês, podem

sentar. — Apontei para as cadeiras do outro lado da mesa. Ambas

sentaram, me encarando com hesitação. — A partir desse

momento, irei preparar os cardápios e selecionar os vinhos

conforme a necessidade.

— É claro, senhora. — Renata respondeu prontamente.


— Não precisam fazer almoço. Eu como uma salada ou um
sanduíche... O jantar pode ser preparado e em seguida, estão

liberadas para ir. — Continuei com as minhas instruções, falamos

sobre as roupas de cama, a arrumação dos quartos e demais

cômodos. — Vou entregar o cardápio da próxima semana e a carta

de vinhos daqui a pouco.

— Nós temos uma tabela nutricional a seguir. — Susana

disse, meio mal humorada. Não parecia muito satisfeita comigo.

Inclinei minha cabeça, olhando-a. Não estava disposta a viver

sozinha em outro país aguentando pequenas coisas, ia guardar

minha paciência para Enzo, sentia que precisaria de toda paciência

do mundo. — Entendi perfeitamente. — murmurou, ciente que eu


não precisava dizer nada, apenas entendeu quando a encarei.

— Obrigada, senhoras. — Sorri friamente e ambas saíram

tão rápido quanto um foguete. Meu novo telefone vibrou em cima da

mesa e era uma ligação de Enzo. Ele ligava ou mandava

mensagens o tempo inteiro. Me perguntava como conseguia

trabalhar tentando me controlar dentro de casa. — Oi marido.

— Oi, esposa. — Seu jeito estranho de ser carinhoso era

fofo. — Já tomou seu café da manhã?


— Seus espiões ou as câmeras do apartamento não te

contaram?

— O apartamento não tem câmeras internas — comentou

distraído e revirei os olhos. — Sabe por quê? — Sabia que viria


algum tipo de sacanagem, ele não se aguentava. — Planejava fazer

sexo com minha mulher em todo lugar, mas tem a pentelha da


Carina junto.

— É mesmo? Sexo no quarto não é o suficiente?

— Sexo com você nunca é o suficiente.Liguei para saber se

estava bem. Já comeu?

— Estou comendo... Meus remédios sumiram, sabe onde

estão? — Já sabia a resposta. Enzo queria que parasse de tomar a


medicação e marcou um endocrinologista.

— Eu os peguei e mandei para o médico que marquei.


Inclusive, ele quer os exames e receitas.

— Sabe que isso é uma invasão de privacidade sem


tamanho e uma falta de respeito horrível. — Fiquei muito irritada. —

Que coisa insuportável, Enzo!


— Estou zelando pela sua saúde, Juliana. Algo me diz que

esses remédios são mais sobre estética do que saúde. Um deles é


usado para emagrecer, você era muito magra, não entendo.

— Ele é um inibidor de apetite, preciso tomar junto com o da


ansiedade porque quando estou ansiosa, como demais, em seguida

passo mal. Sua intromissão é irritante. Eu vou comprar os remédios


novamente e não irei a médico algum! — reclamei falando mais alto

e encerrei a chamada, tão puta que minha cabeça doía. Eu estava


errada em tomar a medicação conforme achava e não ter voltado

para continuar um tratamento desde que fiquei noiva, mas isso era
um problema meu e não dele.

Deixei a mesa do café e o meu telefone estava vibrando

descontroladamente na minha mão, em seguida, o telefone fixo


tocou. Sabia que alguma das meninas viria atrás de mim e logo que

apareceu, informei que não queria atendê-lo e sem saber a quem


obedecer, peguei o telefone da mão dela e tirei a bateria. Estava

sendo infantil, mas Enzo só entendia essa linguagem. Revirei as


minhas coisas até achar a bendita receita e me perguntei se alguma
farmácia iria aceitar, por ser italiana.
Troquei de roupa, arrumei a minha bolsa e decidi sair por aí,
mesmo sem entender nada. Estava cansada de ficar dentro de
casa.

— Vai sair, senhora? — Stefanio perguntou e bufei.

— Sim. Gostaria de sair sozinha.

— Infelizmente terei que impedir, mas posso estar com a

senhora sem que perceba a minha presença. — Stefanio ficou de pé


e pensei seriamente em fazer uma birra, mas não queria me perder

e ainda teria que ligar para Enzo me socorrer.

— Sra. Rafaelli... O Sr. Rafaelli gostaria de falar... — Renata


veio com um aparelho na mão.

— Diga a ele que eu saí. — Sorri e dei as costas, indo para

o elevador.

Stefanio entrou logo atrás de mim e vi que digitou no seu


telefone, provavelmente informando a Enzo que estava saindo

comigo. Ignorei a garagem, saindo na calçada movimentada e virei


em qualquer direção, andando com calma, olhando as lojas, os

prédios e comprando um monte de coisas aleatórias até encontrar


uma farmácia. Stefanio não entrou comigo, tentei comprar o meu
remédio e não consegui, ainda mais que a bosta do meu sobrenome
mudou.

Irritada, saí comprando um monte de maquiagem, creme


para as mãos, fazendo a minha alma se vingar de Enzo através do

seu bolso. Eu estava distraída lendo rótulos de cremes noturnos


quando senti a presença dele atrás de mim e então o seu
inconfundível perfume. Olhei-o sobre meus ombros e ele estava
escorado, casual e parecendo uma peça decorativa da farmácia.

Crispei os meus lábios, pegando um dos cremes e então fui para a

perfumaria.

No caixa, ele ficou do meu lado, digitando no celular e


paguei a astronômica compra com o cartão de crédito que ele

deixou para o meu uso pessoal. Na saída, pegou as sacolas e

Stefanio abriu a porta do carro. Fiquei muito tentada a seguir pela


calçada como uma criança birrenta, mas entrei no carro porque a

veia da testa de Enzo parecia que ia explodir. Assim como ele, fiquei

mexendo no celular, trocando mensagens com Roberto e então, o

carro entrou na garagem de um edifício.

Segui-o para fora por instinto, mas continuava ignorando-o,

aleatoriamente olhando o meu Instagram e somente quando saímos


em um andar reparei que me levou para uma clínica médica.

Simplesmente dei a volta, mas ele entrou na minha frente, me


encarando.

— Por favor. — Era uma súplica.

— Tá bom. — Rosnei, puta.

Me sentei em um grande sofá e Enzo foi até a recepção,


pegando a ficha e preenchendo os dados que sabia, murmurei os

que ele não sabia e ignorei as perguntas difíceis. Quando o meu

nome foi chamado, não deixei que ele entrasse comigo.

— Não. Se você entrar, eu não vou. Já estou aqui, pelo


amor de Deus — grunhi e fui para o consultório sozinha.

Foi a pior consulta da minha vida, deveria ter ido ao

terapeuta quando Enzo insistiu em falar sobre o motivo de toda a

minha ansiedade. A morte do meu pai me causou uma ferida muito


grande, eu só não imaginava que depois de tudo que descobri, me

sentisse tão devastada.

Durante toda a minha vida sempre fui muito magra. Todo


mundo comentava que era pele e ossos, Martina me fazia comer

coisas horríveis para ganhar peso e estava sempre aparentando

não ter saúde. Numa fase estranha, ouvia piadas horríveis sobre o
meu cabelo, aparelho nos dentes, uma eterna crise de rinite e uma

magreza sem fim. Não tinha peitos, bunda, nada. E então, meu pai

morreu e tudo se descontrolou na minha vida.

Não conseguia parar de comer e ganhei peso rápido demais.


O meu estado depressivo contribuiu muito e a quantidade de comida

que ingeri mais ainda. Tudo causou um descontrole. Eu não estava

com problemas com a minha aparência, só não queria lidar com os

meus problemas emocionais e descontar na comida.

O médico muito simpático precisou me oferecer água,

lenços e depois de falar um pouco que a morte do meu pai mudou a

minha vida, pediu exames, solicitou que parasse com a medicação e


que nós voltaríamos a conversar depois que tivesse uma ideia do

que estava acontecendo comigo. Além de ir a nutricionista, também

pediu que voltasse para a terapia. Era oficial. Eu ia matar Enzo.


Odiava terapia.

O Dr. Ferrari me explicou que tomar uma medicação para

ansiedade sem acompanhamento médico era extremamente

perigoso e ele não podia permitir que continuasse, sem saber a


gravidade ou a profundidade das minhas crises de ansiedade.
Enzo ficou de pé logo que me viu e o meu rosto

provavelmente estava vermelho e inchado.

— O que aconteceu?

— Nada. — Peguei a minha bolsa de volta. — Podemos ir

embora? Estou com fome. Quero almoçar e tomar um remédio para

dor de cabeça. Ou isso precisa da sua autorização também?

Sem esperar pela sua resposta, chamei o elevador e ele


logo veio. Stefanio se apressou em entrar e Enzo veio com mais

calma, as lágrimas idiotas não paravam de escorrer pelo meu rosto

e meu marido apenas me puxou para os seus braços, beijando


minha testa. No carro, não me deixou longe, praticamente me

colocando em seu colo.

— Conte-me o que aconteceu. Ele é um médico associado


da família. Nós financiamos a sua clínica, diga... ele te tratou mal?

Falou algo que te deixou chateada?

— Tudo isso é por causa da morte do meu pai. Eu pensei...

— Suspirei e ele secou as minhas lágrimas. — Quando o meu pai


morreu, foi um choque. Eu sabia que ele estava doente, mas

ninguém me disse que ele estava tão doente. Hoje eu percebo que

ninguém me contou a verdade...


— Sinto muito...

— De alguma maneira, eu sabia que havia algo mais e não

tinha ideia para onde olhar corretamente para descobrir a verdade.

Depois de perder a minha mãe... crescer sem ela, eu imaginei que o


meu pai faria um esforço em não morrer. Ele sequer buscou um

tratamento. Aceitou a morte como se não tivesse ninguém na vida

que o amasse tanto quanto eu o amava. — Funguei e Enzo me

abraçou apertado.

— Não sei porque seu pai não cuidou de si mesmo, mas a

única coisa que eu sei é que me importo com você e quero que se

cuide. — Segurou o meu rosto e me beijou intensamente. — Você


tem a mim, Juliana.

Enzo tinha um pouco de razão, mas ainda iria me vingar por

marcar uma consulta médica sem o meu consentimento. Já sabia

como revidar. Sua intenção era boa, só fazia tudo errado e eu não
ajudava sendo infantil no tratamento do silêncio. Ele me deixa tão

furiosa que se eu falasse, iria gritar e não queria ser a histérica da

relação.

Meu marido me levou para almoçar em um restaurante


grego, onde compartilhamos uma deliciosa refeição, com direito a
muita carne e um tempero exótico. Não tinha certeza se tinha

gostado daquilo, mas Enzo comeu com vontade. Ele não era muito
chato com a sua alimentação.

No carro, ele fuxicou as minhas compras e riu de um batom

que tinha um formato peculiar. Revirei os olhos para a sua besteira e

peguei as minhas coisas das suas mãos.

— Tenho que voltar ao trabalho, irei em casa jantar com

você e depois precisarei estar na boate — falou, com a boca

coladinha na minha. Ele sempre me deixava acesa. — Não apronte

mais nada hoje.

— Não faço promessas. — E o beijei.

Voltei para casa e a música estava insuportavelmente alta.

Apertei o botão para desligar e Carina apareceu com tudo para

reclamar, arqueei a minha sobrancelha e a olhei. Era assim que ela


tratava as funcionárias quando ninguém estava em casa? Não ia

aceitar que elas fossem tratadas com falta de respeito. Ela foi

esperta em desaparecer para o seu quarto e me refugiei no


escritório de Enzo, usando o meu notebook e preparando o

cardápio. Segui uma tabela nutricional, a carta de vinhos e as

opções de sobremesas.
Imprimi tudo e entreguei na cozinha.

Me enfiei no meu quarto, arrumando os meus novos

produtos e então, reparei que havia umas roupas de Enzo que

pareciam antigas e eram simplesmente horríveis. Desmontei o

armário dele, arrumando boas combinações, seguindo o estilo que


ele usava e reorganizei as suas gavetas. Aquelas roupas

tenebrosas desapareceriam da minha frente, mas estavam boas,

então organizei para doar. Eram bregas, mas outras pessoas


poderiam usar, quem sabe até encontrar um estilo.

Apesar de termos closets separados, ele não disse que não

podia mexer nas suas coisas, mas sem querer, empurrei uma
gaveta e uma porta abriu revelando uma coleção imensa de armas e

facas. Era muita coisa e demorei um bom tempo apenas analisando,


não toquei em nada, receosa, mas olhei de perto. Aquilo não me

deixou assustada, porque Enzo nunca me intimidou com armas e


facas, nem me fez sentir medo. Só não queria que encostasse

nelas.

— Curiosa, amore? — Enzo perguntou atrás de mim e pulei


assustada, batendo com a testa em uma faca e ela caiu no chão. —

Puta que pariu, Juliana!


— Você me assusta e briga comigo? Puta que pariu digo eu
— reclamei e ele pressionou o pequeno corte na minha cabeça.

— Desculpa. — Ele riu. — Você parecia analisar o fio da

faca com muito afinco. — Sorriu e fomos para o banheiro. Ele me


colocou sentada no balcão e pegou o kit, limpando e colocando um
band-aid. — Da Hello Kitty. — Deu um beijo em cima. — Limpou o

meu armário? Temos funcionários para isso.

— Estava tirando umas roupas bregas e criando um armário


decente para meu marido. — Segurei-o pela camisa e o puxei para
mim. — Já está em casa para o jantar?

— Algo assim...

Hum...

— Esse algo assim inclui você sem roupa? — Me fiz de


inocente.

Ele sorriu de um jeito maldoso e me pegou, erguendo-me no

seu colo. Cruzei minhas pernas na sua cintura, empolgada. Nem


parecia a mesma mulher que queria matá-lo algumas horas atrás.
Tinha o pressentimento que entre nós sempre seria assim.
— Envolve nós dois, muito nus, fazendo movimentos bem
fortes nessa cama... — Ele me jogou nela, já puxando a minha calça
pelas pernas enquanto eu tirava a minha blusa sozinha. Enzo ficou

nu em um piscar de olhos e aos beijos, minha temperatura aqueceu


bem rápido, logo estava tão pronta que nem queria as preliminares.

Um dia deixaria de ficar tão ansiosa com o sexo? — Sei que está
doidinha para ter o meu pau, amore. Mas primeiro quero te beijar
todinha. É a única forma que te quero gritando comigo.

— Não posso gritar... Carina está em casa — murmurei,


ciente que ele não se importava que nos ouvissem transando, mas
eu sentia vergonha.

— Ah, pode sim... — Sorriu maldoso.

E ele me fez gritar, meu Deus. Sexo entre nós dois seria
sempre tão bom?
Dezoito | Juliana.

A vida de Enzo ainda parecia uma loucura para mim. Ele

mal dormia, raramente estava na nossa cama durante a noite e


quando adormecia ao meu lado, nunca amanhecia. De qualquer

jeito, em pouco mais de uma semana de casados, nós nos víamos


algumas vezes durante o dia e poucas à noite. Me fazia sentir
saudades de casa e ainda mais solitária, porém, ele prometeu um

final de semana apenas nosso...

Até que Carina disse que ia junto e convidou Alessio, então


o Enzo obrigou Emerson a ir para tomar conta dos dois
adolescentes interessados um no outro. O meu final de semana

sozinha com o meu marido não seria daquela vez. Quando ele me
disse que Carina moraria conosco enquanto não terminava os
estudos, já que seus pais se mudariam para a Itália, achei que seria

tudo bem. Até que era, porque ela me fazia companhia o tempo

todo.

Na sexta-feira pela manhã, Enzo chegou em casa e foi

direto para o banheiro. Nem me levantei da cama dividida entre

entender que sua vida era assim e sentir ciúmes. Que diabos fazia
na rua tanto tempo? Será que havia outras mulheres? Carina me
disse que ouviu Alessio dizer que estava ocupado na boate, com as

novas garotas e mal humorada, informou que os meninos


costumavam provar as novas mercadorias.

Isso não saiu da minha cabeça a noite inteira.

— Bom dia, amore. O helicóptero estará pronto para nos

levar a Hampton em uma hora. Podemos tomar café da manhã lá.


— Enzo saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e

usando a minha toalha para secar o seu cabelo, uma mania dele

que em poucos dias descobri que odiava. Quando pegava a minha


toalha para usar, estava toda molhada e tinha que pegar outra. Me

sentei na cama e prendi o meu cabelo, olhando-o, procurando

algum arranhão ou chupão... — O que foi, Juliana? Está me olhando


estranho.

— Provou alguma mercadoria nova? — Fui direto ao ponto.

— Sim, um pouco. Não gosto de fazer essa merda, mas as


vezes é necessário para saber se é pura. — Senti o sangue fugir do

meu rosto. — Não é algo comum.

— Não deveria nem ter feito! — Praticamente gritei, chocada

e sem saber como reagir sobre ele abertamente confessar que


fodeu com as novas garotas do clube. Senti vontade de vomitar. Eu
ia matá-lo antes de vomitar.

— Normalmente não faço isso. Não sou um usuário, mas

Emerson estava comigo, não queria causar nenhuma recaída. —

Fiquei momentaneamente confusa, Enzo olhou para mim,

preocupado. — Desculpa dizer isso, mas não quero que o meu


irmão chegue perto de cocaína novamente.

Cocaína? Emerson? Ah sim, ele era um viciado e estava

tentando ficar limpo. Pensei sobre isso nos últimos dias, como o

meu cunhado poderia estar conseguindo manter a sobriedade no

meio de tanta tentação.

— Espera... não estava falando de mulheres? — Engatinhei

até a ponta onde Enzo estava sentado, ainda de toalha.

— Que mulheres? Ah... Carina andou abrindo a porra da

boca, não é? Eu vi que ela ouviu Alessio falando com Emerson

sobre as meninas. — Ele estava rindo. — É uma coisa de todo


homem solteiro, provar as meninas novas. Fiz muito isso quando

mais novo, na época que estava tão tarado que tinha espinhas no

rosto. — Sorriu e não sei porque, pensar em Enzo jovem me fez

relaxar. — Não fique preocupada com isso, amore mio. Nenhuma


mulher no mundo se compara a você — falou tranquilo, com

honestidade. Não era apenas uma simples cantada para me enrolar.

Abracei-o por trás e beijei a sua nuca, ele estava cansado,

precisando de uma pausa e massageei os seus ombros cheios de


nós.

— Isso é muito gostoso... Quero ficar na cama com você o


dia inteiro. — Suspirou e soltou um grunhido delicioso. — Vamos

nos arrumar ou nunca sairemos.

Troquei de roupa e guardei as últimas coisas que deixei de

fora na mala de tamanho médio. Arrumei as nossas roupas na


mesma mala, era só um final de semana. Carina me falou que a

casa era grande e tinha piscina interna aquecida, então, estava


levando biquínis para aproveitar um pouco.

Nunca andei de helicóptero antes e estava bem nervosa, a


ventania e a empolgação de Carina em ficar fazendo stories me
deixaram meio apreensiva. O dia parecia lindo, apesar do vento e

da altura que me deu náuseas. Com a ajuda de Enzo, consegui


prender o cinto e ele colocou fones em mim. Todos se acomodaram

e o piloto informou a decolagem.


Enzo tentou me mostrar alguns lugares do alto, mas tudo

que pensava era que, diferente do avião, o helicóptero mostrava a


amplitude do céu. Fiquei quieta, olhando para as minhas mãos, que

tremiam um pouco e antes de escondê-las entre minhas coxas, ele


segurou firme entre as suas. Felizmente não foi uma longa viagem e

logo pude ver a linda residência no alto de uma montanha, com o


mar escuro batendo nas pedras abaixo do penhasco que se
encontrava. Parecia bem afastada da civilização.

A mansão era enorme e muito bonita... Descemos do

helicóptero e eu fiquei estagnada, olhando a casa.

— Meu pai comprou essa casa quando Carina nasceu e fez


a expansão para dias de festa e para hospedar o máximo de

pessoas possível. Tem quatro salas, um cinema, dez quartos,


dezesseis banheiros e um pátio imenso com três casas de

funcionários. Tem outros cômodos, te mostro com calma. — Enzo


disse atrás de mim.

— É muito bonita e de extremo bom gosto. — Aceitei sua


mão para entrarmos na casa. A sala era linda, enorme, bem arejada

e com todos os móveis em tons claros. Uma grande escada dividia o


ambiente com a sala de jantar e enormes portas duplas levavam à
cozinha, garagem e piscina aquecida, onde havia uma sala de
massagem, jacuzzi e espreguiçadeiras.

Uma mulher baixa, rechonchuda, aparentando ter mais de


quarenta anos veio toda sorridente e fiquei surpresa que Enzo a

abraçou com carinho. Atrás dela estavam quatro meninas lindas,


loirinhas e sorridentes. A mais velha ficou vermelha quando viu
Stefanio e a caçula não tirava os olhos de mim.

— Malena, conheça minha esposa... Juliana. — Enzo me


puxou para frente e a mulher me abraçou também, ela cheirava a

manjericão. — Ela basicamente me criou e hoje em dia toma conta


da casa com sua família.

— É um prazer conhecê-la, menina. É tão linda quanto


disseram. — Sorriu, afagando minha bochecha. — Essas são as

minhas filhas, estão comigo neste final de semana e moram em


Nova Iorque com o pai, para estudar.

— Olá, meninas. — Acenei e Carina perguntou se elas

queriam ficar na piscina mais tarde e aceitaram. Hum, meu banho


nudista com meu marido foi abortado...

— Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. O café da

manhã está pronto e aviso quando o almoço for servido.


Enzo mal deixou a mulher terminar de falar e me rebocou
para o quarto, mandando Emerson tomar conta das crianças, que
não ficou nada feliz. Ofereci um sorriso de desculpas e o meu

cunhado piscou para mim, sorrindo também. Meu marido me levou


para o segundo andar pela escada principal e depois para outra

escada mais estreita e abriu uma porta.

— Nosso quarto. — Apresentou e olhei o ambiente enorme.

No lado esquerdo, tinha uma mesa redonda com quatro

cadeiras na varanda, um vaso de flores vazio no meio. Dentro do

quarto, um sofá creme de três lugares, virado para a televisão, uma

mesinha de centro e tapete felpudo, dois degraus abaixo bem ao


fundo estava a cama, com um quadro retratando o mar e duas

mesas de cabeceira.

— Aquela porta ali é o banheiro e aquela dupla de correr, o

closet.

— E aquela porta?

— Dá para um dos quartos desse corredor... Tem mais dois.

Quando mandei fazer a expansão, pensei em colocar o quarto dos

nossos filhos aqui ao lado — explicou e assenti, imediatamente


pensando na pílula do dia seguinte, na injeção que tomei e no não

uso de preservativos após isso.

Segundo a ginecologista, a minha menstruação poderia não

descer naquele mês, então teria que esperar para saber se estava

grávida ou não. Faria um teste para tirar a dúvida, só de pensar,

sentia que iria desmaiar, mas não podia só culpar Enzo, porque
também não lembrei da camisinha em nenhuma vez.

Enzo tirou a roupa, entrou no closet e saiu de lá nu. Fechei a

porta do quarto, assim como o apartamento, toda a casa era


equipada com painéis sensíveis e telas de LED. Todas as

fechaduras eram manuais e Enzo me explicou que não queria que

alguém ficasse preso em um quarto se invadissem o sistema da

casa, mas nenhuma porta tinha chave. Era um botão abaixo das
maçanetas que era só pressionar para abrir.

— Por que ainda está aíassim? — Apontou para as minhas

roupas.

Hum, parecia que o incansável estava cansado. Ainda me


sentia tímida sob seu olhar, mas não me importei com as minhas

bobeiras e tirei a minha roupa, ficando só de calcinha e sutiã. Fechei

as cortinas, deixando o quarto bem escurinho e me deitei ao seu


lado, esfregando as minhas pernas nas suas, apreciando o seu

corpo contra o meu. Sem sono, fiquei quieta na cama olhando-o

dormir, ou eu pensava que ele estava dormindo.

— Se você não dormir, não vou conseguir também, então


fecha os olhos ou vou te deixar bem cansada ao ponto que durma

até amanhã. — Ameaçou severamente.

A ideia era muito tentadora, ri de nervoso com meus

pensamentos e Enzo não perdeu tempo, acreditando que a minha


risada era um incentivo para o seu ataque. Ele definitivamente me

deixou bastante cansada.

Nunca imaginei que um relacionamento a dois tivesse tantas

coisas que acontecessem ao mesmo tempo. Minha vida não parecia


minha, era como se fosse uma espectadora assistindo o desenrolar

sem interferir. Enzo não falava comigo sobre o vinhedo, agia como

se não fosse da minha conta ou que não me interessava. Não podia


dizer que perguntei, porque não o fiz, mas ele não ficou em casa.

Era muita coisa na minha cabeça e decidi aproveitar o final de

semana com ele antes de começar a agir.

Senti Enzo sair da cama três horas depois e virei de lado,

olhando-o andar nu pelo quarto com o telefone no ouvido, falando


tão baixo e tão rápido que não conseguia entender. Frustrada, decidi

tomar banho e procurar alguma coisa para comer. Estava desde o


dia anterior fazendo jejum intermitente para experimentar. Assim

que fiquei de pé, senti a ausência de comida ao precisar me apoiar

na mesa.

— O que foi isso? — Enzo perguntou com o telefone no


ouvido, me olhando assustado.

— Só uma vertigem, me levantei rápido demais. — Fui

andando para o banheiro, prestando atenção nos meus passos e


fechei a porta. Encostei nela por um tempo e o meu estômago

roncou... Estava a quase vinte quatro horas sem comer, em minha

defesa, pensei em tomar café da manhã para quebrar o jejum, mas

viemos para o quarto e acabou passando despercebido.

Enchi um copo de água da pia mesmo, dei um gole e assim

que bateu no meu estômago, senti que deu um nó e a contração me

deu ânsia. Sempre soube que ao deixar de usar o remédio passaria

por uma desintoxicação e o médico que me atendeu basicamente


me chamou de irresponsável e informou que teria reações adversas

até meu corpo voltar ao seu funcionamento normal.


— Juliana? — Enzo abriu a porta sem bater. — Está

sentindo-se mal? — Ergui o meu rosto. — Sente-se, está pálida.

Está machucada? O que sente?

Se contasse a ele que estava sem comer desde o dia


anterior, o tempo iria fechar e ele era tão insuportável quando

insistia em alguma coisa, que optei apenas por dizer que não sabia

e não estava bem. Com calma e muito desconfiado, me levou de

volta para a cama e interfonou para a cozinha, pedindo água fresca,


frutas e um remédio para enjoo que não iria tomar. Era melhor ficar

longe de qualquer medicação por um tempo.

Vesti um pijama confortável e ele colocou uma calça de


moletom e camisa, ainda me olhando como se pudesse ler os meus

pensamentos. Se ele fosse menos intrometido, isso não estaria

acontecendo.

— Soube que não está se sentindo bem. — Carina entrou


no quarto e imediatamente olhei em seus olhos, para não abrir a

boca do meu jejum intermitente. — Hum, será que foi alguma coisa

que comeu ontem? — Desconversou casualmente e sentou-se do

meu lado, segurando a minha mão. — Ei, irmão. Por que não desce
e pede para Malena subir com o almoço dela?
— Por que quer me tirar do quarto para falar com Juliana?

— Ele cruzou os braços e a Carina nem se abalou.

— Quero falar sobre coisas de meninas, pedir um conselho


de irmã mais velha.

— Ela está passando mal, então não. — Enzo era muito

chato.

— Estou melhor, pode ir. — Interferi, querendo que ele


saísse um pouco, antes que descobrisse que estava mentindo.

Ainda desconfiado, saiu do quarto e olhei para minha

cunhada.

— Se o meu irmão descobrir que não come nada desde


ontem, vai surtar. Ele é chato demais, Juliana. Não faz essas coisas,

isso é loucura, não é assim que emagrece. Começa a malhar

comigo, vamos caminhar no parque, fazia isso todos os dias antes


de ir para a Itália e a mamãe era a minha companhia. — Suspirei e

ela tinha razão. — Alessio já teve alguma namorada?

— Está falando sério? — Ela queria falar sobre o Alessio

agora? — Não sei. Ele saiu de casa tem mais de um ano e não faço
ideia, sempre foi bonitinho, porém, irritante. Nunca falamos de
meninas, ele me tratava como a irmã mais velha insuportável. — Ela
mordeu o lábio. — Isso é sério, Carina?

— Lá na Itália ele me tratou como uma princesa, sempre

dava a entender que era especial e estava interessado. Aqui ele

está distante, sempre com raiva e às vezes volta a ser quem foi lá.
Estou confusa...

— Vocês ficaram?

— Nós transamos várias vezes. — Não preparada para

ouvir, engasguei com a minha saliva e comecei a tossir, rir e chorar.


Carina me acudia e ria também.

— Você não tem filtro, garota? Parece seu irmão! —

reclamei, rindo e senti uma vertigem, voltando a me deitar com


calma. Carina me abanou, sem parar de rir. — Então, vocês estão

fazendo isso pela casa? E se Enzo descobrir?

— Ele não é meu pai. — Revirou os olhos e arqueei a

sobrancelha, nós duas sabíamos que ele mandava muito mais que o
próprio pai. Então, ela ficou preocupada. — Não vai contar para ele,

vai?

— Claro que não. — Revirei os olhos e antes que pudesse

falar mais, Enzo entrou no quarto carregando uma bandeja cheia de


comida, o cheiro me deixou ainda mais enjoada e ao mesmo tempo
faminta.

Seu olhar já era conhecido: a falsa calma. Respirei devagar

para não me delatar e ele colocou a bandeja na mesa de centro.


Sem precisar dizer nada, Carina saiu, ciente que a tempestade iria
desabar a qualquer momento. Não desviando o olhar do seu, fui até

ele. Mantive a minha expressão neutra.

— Se ficar sem comer de novo por causa de uma estúpida


dieta, vai ter um problema horrível comigo, Juliana. Que porra...
Sem necessidade, caralho. Vai ficar doente porque algum idiota

disse que ser magro é legal? — Seu tom era quase ameaçador,
fiquei arrepiada, ele ficava sexy daquele jeito. — Não me olha
assim. — Foi todo severo e sem querer, meu beicinho se formou. —

Liguei para casa e elas me falaram que não comeu nada, só bebeu
suco e água.

— Sinto muito. — Ofereci sinceramente, estava arrependida,


foi só uma experiência. Enzo olhou para o alto como se contasse
até cem e então, me olhou de volta. Passei os meus braços por seu

pescoço, ficando na ponta dos pés e beijando o seu queixo.


— Não faça novamente ou terei que agir como um chefe
com você, não como um marido.

— E o que seria agir como um chefe comigo? Sou sua


esposa, não seu soldado — beijei sua boca, aplacando a chateação
com beijos. Era minha única defesa contra a sua armadura.

— Vou bater nessa sua bunda se não comer. Coma agora.

— Mandou irritadinho e nos sentamos no sofá. Ele ligou a televisão,


todo jogado e eu comi uma salada com frango, em seguida a sopa
de tomate com sanduíches grelhados com queijo. Comi como uma

louca, muito mais do que estava acostumada e cheguei a fechar os


olhos, sentindo culpa por extrapolar. — Nada disso, pode ir parando.
— Enzo tocou a minha cabeça. — Precisa se alimentar para repor

as calorias que irei te fazer perder esse final de semana. — Sorriu


todo confiante e bufei. — É sério. Melhor não desmaiar em mim. —
Continuou me provocando.

— Deixa de bobeira — reclamei e me deitei no sofá.

— Só não te mostro que não é uma bobeira agora, porque


pode vomitar em mim. — Fez cosquinhas nos meus pés e o chutei.
— Porra, minhas costelas.

— Me deixa quieta, seu chato!


Ainda sem parar de rir, deitou-se em cima de mim e tentou
fazer cosquinhas, mas caímos no chão, derrubando a bandeja vazia

e alguns dos pratos. Ainda bem que estava tudo vazio e não sujou
nada. Sem se importar, Enzo me beijou e toda aquela brincadeira o
deixou bem excitado. Montei em seu colo, sem parar e olhei em

seus olhos... Ele era tão lindo e tomou mais partes de mim do que
realmente permiti. Era assim que ele era. Invadia, roubava e se

apossava sem ser convidado.

Definitivamente não escolhi gostar dele, mas gostava... e


muito.
Dezenove | Enzo.
Minha cabeça estava doendo, o que não era exatamente

uma novidade, ela vivia doendo. Antônia estava sentada na minha


frente, falando sobre a minha agenda, sem nem ter ideia de que eu
sabia o seu segredo. Gostaria de não saber. Angelo descobriu um

relatório escolar onde ela confessou à psicóloga que o pai abusava


sexualmente dela... por anos. Engoli seco, com nojo. Não dela...

dele. Do bastardo maldito que era capaz de tocar a própria filha.

Tudo fazia a porra de sentido.

Antônia quis fazer faculdade, pediu permissão ao meu pai e

a minha mãe o convenceu a deixar. Ela viveu em dormitórios até se


formar, então, seu pai acreditando que ela, um dia, poderia vir a ser
a matriarca da família, pediu que trabalhasse comigo. Aceitei como

minha assistente, porque era mais fácil manter pessoas da família

ao meu redor e Antônia nunca havia me incomodado.

Não percebi que ela não era próxima do pai. A maioria das

filhas do nosso meio não costumavam falar muito ou demonstrar


sentimentos. O pai dela ser um idiota não era nenhuma novidade, a

maioria dos homens da família eram insuportáveis. Na certa era por

isso que o babaca se uniu a Maurizio. Antônia deveria ameaçar


contar do abuso, o casamento que ele queria nunca aconteceu e

perdeu a sua entrada para uma posição de prestígio. Ele estava


financiando a traição do meu conselheiro e ainda queria dar a mão

da sua única filha àquele nojento.

E ela nem fazia ideia.

Antônia parou, me olhando confusa e percebi que havia

alguém do seu lado... Merda. Juliana. Estava me olhando com raiva,


como se eu estivesse olhando para minha assistente com algum

sentimento além de uma puta pena e um gosto amargo na boca. Eu

ainda não podia meter uma bala no meio da testa do seu pai,
porque era egoísta e queria saber quem mais estava me traindo.

O que Juliana estava fazendo aqui?

— Oi, Juliana — falei com a minha esposa sério e olhei para

minha assistente. — Pode ir, Antônia.

— Sinto muito, o senhor não respondeu a minha pergunta...

Maurizio quer uma reunião urgente e não deixa Giana quieta. —


Antônia gaguejou, ciente do meu olhar puto por me questionar. —

Algo importante.

Sim, um soco na cara dele.


— Agende. — Rosnei e ela saiu rápido. Falar dele fazia meu
sangue ferver.

— Atrapalhei seu momento de flerte com sua assistente? —

Juliana cruzou os braços e arqueou a sobrancelha perfeita.

— Não estava flertando, apenas me perdi na minha mente e

calhou de estar olhando na direção dela. Estou com muitos


problemas na cabeça e com dor. — Avisei logo, sem ânimo para

brigar.

— Devo colocar você e a sua assistente nos seus devidos

lugares? Precisarei lembrar a palavra fidelidade e casamento?

Juliana nunca desistia. Continuou me encarando e respirei


fundo.

— Não, amore. Jamais precisará — falei comedido, apenas

no real interesse que não começasse uma briga, ainda mais que

não estávamos em casa para brigar do jeito que fazíamosdentro do

nosso quarto.

— Ótimo. — Ironizou e abriu um sorriso doce. — Eu vim

conhecer seu local de trabalho, quer dizer, a nossa empresa. E já

que não me convidou, eu vim. Alessio está proibido de fazer minhas

vontades sem te perguntar. Que história é essa?


— Ele é meu vice.

— Meu primo, meu irmão de coração, crescemos juntos e

Enzo... Ele tem dezenove anos, não pode recrutar alguém da sua

idade?

— Não. Ele está sendo treinado. — Afastei a minha cadeira,


puxando-a na minha direção e reparei na sua roupa. Parecia uma

adolescente com jeans, camiseta branca e tênis. — Que roupa é


essa?

— Vou conhecer o Central Park hoje, ontem saímos e


Carina quis fazer compras. Não me olhe assim, não comprei nada,

só xampu porque o seu acabou. E sabonete. — Passou os braços


por meus ombros. — O que está te incomodando?

— Coisas do trabalho.

— Acho que deveríamos conversar mais. Eu nunca sei o


que está fazendo... — Ofereceu e ela só podia ser louca ao pensar

que iria falar sobre as coisas da família com ela. Não iria acontecer.

— Nós conversamos, como estamos fazendo agora, embora


sua bunda neste jeans esteja incrível. — Apertei as suas nádegas e

ela riu. — Quer dar um tour pelo local?


— Daqui a pouco. Primeiro, me dá um beijo — pediu toda

engraçadinha. Segurei o seu rosto, beijando-a do jeito que queria ter


beijado naquela manhã quando saí e não a acordei. — Por que

nunca me acorda antes de sair?

— Porque é muito cedo. — Ela ficou confusa.

— Não é sobre controlar seus horários? — Me deu um olhar

questionador e sorri. Tão inocente. Minha menina pensando que


poderia me controlar em alguma coisa. Talvez no sexo. Ao estar

mergulhado dentro dela, não pensava em nada e minha esposa era


uma aprendiz ansiosa. Tímida, nunca me negava e na noite anterior,

por exemplo, sabia que ela queria e não me falou nada.

Provoquei-a sutilmente até que não aguentei, implorando e

ela não me negou em momento algum. Parecia quase aliviada que


tomei uma atitude. Ficou relaxada, toda arrepiada e correspondendo

os meus beijos aleatórios com fogo.

— Vamos passear ou eu vou tirar seu jeans e te comer aqui.


— Beijei a sua boca mais uma vez e ela sorriu, segurando a minha
mão.

Saímos da minha sala e mostrei a ela todo o andar antes de

seguirmos para os dois inferiores. Juliana olhou tudo, fez perguntas


sobre as boates que eram negócios legais e que realmente tinham
um excelente faturamento, além das atividades extras. Apresentei
os funcionários do escritório da Hot Angel, agência de prostitutas de

luxo que abri há alguns anos. Ela fez uma careta nada agradável ao
entender do que se tratava.

— São todas maiores de idade, verificadas, não podem usar


drogas ou ter algum vício. Precisam cuidar do próprio corpo e

saúde, só aceitamos um seleto grupo de clientes e bem


verificados... — Afirmei rápido com seu olhar assustado. —

Dificilmente duram muito tempo, a maioria são estudantes


precisando de dinheiro e melhorar um pouco de vida.

— Entendo... Não são obrigadas, certo?

— Não. Elas que vêm até nós, não o contrário. É


extremamente proibido abordar alguma mulher para fazer parte e a

minha prima, Ilaria, é quem mais fica por dentro, apesar de não
concordar.

— Não sei o que sinto. É muito estranho estimular uma


profissão que coloca a mulher em posição vulnerável, como uma

mercadoria. Mas se elas possuem escolhas... — Deu de ombros,


mordendo o lábio. Seu telefone tocou e tentei olhar quem era. — Oi,
sim. Acho que sim... Tudo bem, claro... Beijos. — Juliana ficou
amuada. — Carina está de castigo. Ela chutou a canela de um
jogador de futebol e o diretor a colocou na detenção. Não vai

conseguir almoçar comigo e me levar ao parque.

A frustração estava evidente na sua voz.

— Não posso passear no parque com você, mas posso te


levar para almoçar em um excelente lugar não muito longe daqui e

tem um cardápio variado e delicioso. — Ofereci e isso pareceu


animá-la.

Stefanio me pediu desculpas por Juliana ter entrado na

minha sala sem aviso e estava tudo bem, eu não li as mensagens


dele informando que estava chegando com ela. Saímosda empresa

a pé, era um lugar bem próximo e pequeno. Estava meio lotado,

como quase tudo em Nova Iorque àquela hora do dia. Conseguimos


escolher nossa comida e encontrei um lugar apertado, no canto e

ela se espremeu por mim, agarrei-a, beijando o seu pescoço,

adorando a sua risada feliz.

Puxei um banquinho para que se sentasse e fiquei de pé,

atrás dela e impedindo que qualquer pessoa esbarrasse em seus

ombros.
— Uau! É tão cheio! A comida deve ser realmente boa! —

Juliana olhou ao redor, curiosa e cheia de expectativas. Ela sempre


encarava novidades como um novo mundo a ser explorado. Segurei

a sua mão, incapaz de não ter contato e beijei os nós dos seus

dedos ganhando um olhar carinhoso de volta. — Conte-me... Como


está o vinhedo?

— As obras serão concluídas em três meses... E então, na

próxima temporada estaremos na rota, porém, estou recrutando


uma equipe para cuidar da casa de visitação. — Peguei o meu

telefone e mostrei a planta. — Quero fechar essas estradas para

que nenhum engraçadinho tente passar para o vilarejo e para a sua


villa.

— Entendi... O que iremos oferecer na casa de visitação?

Além dos nossos vinhos, é claro.

— Um charmoso café da manhã e almoço. A sua tia me

pediu um restaurante e é a oportunidade perfeita, afinal, ela também


conhece os vinhos, tem o sobrenome... Será um chamariz atraente.

— Dei espaço para a jovem garçonete colocar o nosso pedido entre

nós. — Ficará muito bonito.


— Imagino que sim. — Distraiu-se com algo atrás de mim.

— A mulher não para de me encarar, coisa chata. — Pelo reflexo do

vidro atrás de Juliana, vi uma loira nos dar alguns olhares. — Estive
pensando e tomei uma decisão... Quero voltar a estudar, fazer

algum curso, alguma faculdade... e assumir o vinhedo. Você tem

tantos outros negócios, penso que é a oportunidade de cuidar do

que sempre pertenceu à minha família.

— Estou cuidando perfeitamente do vinhedo, que agora é

nosso, assim como tudo que tenho e que é seu. Mulheres como
você não costumam trabalhar na família, não assim, mas de outras

formas. — Comecei a comer. Juliana enfiou uma batatinha na boca,

mastigando devagar e me olhando como se quisesse ler meus

pensamentos.

— Que tipo de trabalho?

— Cuidar da casa, do marido, dos filhos... Há eventos a se

fazer, organizar e estar com a agenda disponível e compatível com

a minha sempre que for necessário. — Ofereci o meu hambúrguer,

ela negou, abrindo o pote da sua salada caesar, comendo alguns


pedaços de frango.

— Está me dizendo que não posso trabalhar?


— Não... Que não precisa. — Dei de ombros e joguei sal na

minha batata.

— Enzo... Está me dizendo que eu vou ficar como uma peça

decorativa nos seus braços? — Repousou o garfo dentro da salada.


— Meu pai nunca permitiu e agora está fazendo o mesmo. Por quê?

— Estou cuidando de você. Estar à frente do vinhedo

significa estar à frente da família. Eu estou à frente, sou seu marido


e você é a mulher mais importante da porra toda, portanto, não

precisa trabalhar. — Ela estava começando a me irritar com aquele

assunto.

— E eu vou fazer o quê? Esperar dar o ar da graça em casa

e fazer compras? Sei que amo grifes e as roupas, mas não sou

idiota. Você nem dorme em casa e passa o dia inteiro fora, o que vai
ser da minha vida?

Terminei o meu hambúrguer, limpei minhas mãos e boca.


Caralho... por que ela queria trabalhar? Eu era rico o suficiente para

sustentar tudo o que ela queria.

— Nos dê um pouco mais de tempo? — Praticamente


implorei. — Casamos há uma semana, ainda está se adaptando a

nova casa, a uma nova rotina e principalmente estamos nos


adaptando um ao outro. Passei mais de um mês fora, há muito a ser

resolvido, mas eu te prometo que estarei mais em casa, está bem?

— pedi, surpreso comigo mesmo por estar com a paciência em dia.

— Tudo bem. — Fez um pequeno beicinho e era difícil

resistir à vontade de beijá-la da cabeça aos pés. Meu telefone vibrou

e tirei do bolso, atendendo.

— Está atrasado. — Jack disse do mesmo jeito irritante de

sempre. — Sua mulher é muito linda. — Sorri e fiquei quieto, tinha

que aguentar, passei os últimos anos enchendo o saco dele sobre


Alice. Ele estava nos observando pelas câmeras do

estabelecimento.

— Eu sei, por isso me casei com ela. Estou terminando de

almoçar, chego aí daqui a pouco. — Encerrei a chamada. —

Termine de comer, mocinha. Só pegou uma salada e batatas fritas.

— Seu beicinho ainda estava nos lábios e mordi a sua boca. Ela riu
e me beijou de volta. A vontade de brigar sobre trabalhar fora foi

colocada no seu bolso. Eu sabia que ela não tinha desistido.

— Você pediu um balde de batata frita, não vou aguentar

comer tudo. Estão deliciosas, não posso negar. O que será que

colocam por cima? — Comi as suas batatas, enfiando um monte na


boca, já que ela não queria comer tudo. — Tem algum shopping

legal com lojas de decoração? Quero colocar algumas fotos nossas


pelo apartamento. — Limpou a boca ao terminar sua refeição.

— Pedirei a Stefanio para te levar ao melhor. Quer ir para a

boate comigo essa noite? Você pode dançar enquanto trabalho e


depois ficamos um pouco juntos, o que acha?

Seus olhos iluminaram e abriu um imenso sorriso, dizendo


que sim com empolgação. Não queria que a minha Juliana saísse

toda noite, a vida noturna no nosso meio tinha um preço alto e eu

mesmo esperava não ter que estar toda noite rodando por aí feito

um louco, ao invés de ficar ao lado da mulher linda com quem me


casei.

Queria aproveitar o nosso casamento, ter tanto sexo quanto


possível, viajar, nos divertir e depois ter filhos. Alex sempre me disse

que as crianças dormiam entre eles e não podia imaginar manter

uma vida sexual com filhos querendo ficar conosco.

Voltamos andando para a empresa e ela segurou minha

mão, meio timidamente no começo e depois mais firme. Paramos

em uma loja de doces para comprarmos bombons, estava friozinho


e em breve precisaria conversar com ela sobre o jantar de ação de
graças que pretendia oferecer como nosso primeiro evento. Nos
despedimos na garagem da empresa, com um beijo e uma boa

pressionada contra o carro.

— Até mais tarde, amore.

— Se cuida. — Ajeitou o meu colarinho e assisti o carro sair


da garagem do prédio.

Entrei em meu carro e segui em direção ao lado leste da

cidade, costurando pelo trânsito em alta velocidade e entrei no


complexo de prédios, estacionando e caminhando para o elevador,

assobiando e ao invés de subir, apertei outro botão.

— Olá, Sr. Moreno Italiano. — A voz de Sarah saiu com um

ruído e revirei os olhos. Jack estava no prédio.

— Oi, Sarah. — Aproximei o meu olho esquerdo do leitor de


retina e o elevador começou a descer. Muita coisa nos fez chegar

até aquele prédio, escondido em uma das cidades mais


movimentadas do mundo e principalmente, em segurança. Depois
que D.C. quase explodiu com a nossa presença, era necessário

fingir para o mundo que nós não existíamos mais.

Assim que as portas abriram, entrei no ambiente muito


refrigerado, de paredes pretas e salas de vidros. Algumas pessoas
trabalhavam, sorri para Kono, parei na sala que Spider limpava
algumas armas e ele me deu um olhar emburrado.

— Enzo. — Kyra bateu na parede de vidro da sala principal.

Atravessei o corredor e abri a porta, puxando uma cadeira.

Jackson Bernard me deu um sorriso, achando que iria reclamar do


meu novo apelido no reconhecimento da Sarah, nossa inteligência
artificial. Ela foi criada por ele há muitos anos e nós costumávamos

brincar que Sarah era uma extensão do cérebro sociopata de Jack.


Ele era um físico, mestre tecnológico, apaixonado por inovação e
um filho da puta ambicioso que não tinha limites para conseguir o

que queria.

Jackson jogava do lado que bem entendia, porque na


realidade, para ele assim como para mim, o mundo não era sobre

mocinhos ou vilões. Existiam pessoas como nós, que faziam o que


fosse preciso para conseguir os seus desejos e pessoas comuns,
com vidinhas entediantes. Alex sentou-se na minha frente, olhando

algo em seu telefone e Kyra parou atrás dele, lendo as mensagens.

— Desculpem o atraso. — Dominic entrou na sala. —


Acabei de chegar de Los Angeles. — Bateu na minha nuca,

sentando-se ao meu lado.


— Tudo certo com a boate? — Jack perguntou. Os King
estavam abrindo mais um ponto na cidade e era mais um centro de
distribuição e não de vendas.

— Temos que entrar em Vegas com urgência. — Dominic


respondeu e assenti. Vegas era minha responsabilidade, território
que pertencia ao pai de Juliana. Porém, era uma cidade infernal

com muitas famílias e diversos tipos de gangues. Lá, a porra dos


latinos dominava.

— Por que estamos aqui? — Cheguei ao ponto principal da

reunião, detestava conversa aleatória.

— Ky tem uma teoria interessante. — Jack disse e ela


sentou-se, me olhando.

— Maurizio conseguiu um forte apoio do Senador Rollins. —

Kyra disse e fiz uma careta. Aquele homem só entrou em nossas


vidas porque tive um caso com a filha dele e Jack achou que

poderíamos usá-lo para alguns favores, ficou ambicioso demais e


cortamos ambos os relacionamentos, até porque descobri que iria
me casar.

— Vamos eliminar o senador. — Dei de ombros. Eu não

gostava dele mesmo.


— Recentemente rastreei um contato do Senador Rollins
com Robert... Dominic, Kate pode estar correndo perigo, se o Ghost

estiver por trás dessas conexões, ele pode contar a Robert como
chegamos até aqui. — Kyra disse e Dominic suspirou pesadamente.

— Não posso tirá-la de lá, Kate ainda tem dezessete anos.

— Dominic explicou e o olhei. Ele tinha vinte e dois e mergulhou


nessa vida conosco de cabeça. Lembrava quando tinha a idade dele
e o meu sangue era muito mais quente que hoje. — A única coisa

que consegui é colocar meu segurança com ela e Kia está fazendo
o possível para que Robert esqueça a existência da filha.

— Não só dela, como do que ela representa. — Jack

comentou acidamente e Dominic lhe deu um olhar ruim.

— A Kate é muito mais do que a sua ambição desmedida.


— Dominic ficava puto, porque sabia que o nosso interesse na

menina era exclusivamente pelo dinheiro. Ela era a chave para


muito mais. Dominic estava interessado nela com o seu coração. —
E se Enzo eliminar a porra do senador até o natal, ela ficará segura

por mais alguns meses. Estou errado?

— Como Robert e o Senador Rollins estão em contato?


Como Maurizio poderia estar no meio? São polos diferentes... —
Alex estava confuso.

— São peões. — Kyra rebateu e me olhou. — Peões do


joguinho do seu tio. Ghost. Essa é a minha teoria. Quem mais
poderia juntar essas peças tão distintas? Quem é o único que

desaparece para mim? Essa cartada prova que ele não está
jogando do nosso lado.

— O Senador Rollins morre no natal, já sei o que fazer. —

Eles apenas me olharam, sem questionar, confiando no meu


trabalho. Ninguém se metia no espaço do outro. Não mais.

— E quanto ao Maurizio? — Jack perguntou, enquanto


brincava com as canetas.

Mesmo com o gosto amargo na boca, respirei fundo e me


virei para Jack.

— Se o meu tio é o responsável por tentar destruir o meu

comando, Maurizio é só um jogo. Ele vai ser eliminado, mas quando


começar, não posso deixar um filho da puta traidor vivo. O buraco é
mais embaixo agora, tentaram matar Juliana, ela é a minha esposa.

Eu não vou brincar, acabou a diversão. — disse e ele apenas


assentiu.
— Farei uma varredura, vamos encontrar os traidores. Por
hora, acho que o interesse de Maurizio não é na sua mulher. —
Tirou um envelope do bolso e me entregou. Abri e caíramfotografias

da minha irmã em diversos lugares, algumas com Juliana. Outras


fotos, ambas postaram juntas na internet e mais outras foram tiradas
a longa distância. — Consegui invadir o computador dele depois que

usou a internet de um café aqui perto... Enviei para Ângelo, ele pode
te dar mais detalhes.

Minha irmãzinha? Eu ia me divertir em extirpá-lo pedaço por

pedaço. Kyra segurou o meu pulso.

— Sangue frio, homem. — Ela sabia que estava em plena


ebulição. — Lembre-se que existem mais por trás dele e que podem

colocar a sua família, os meus filhos e todos os envolvidos com a


Agência em risco. — Respirei fundo, tentando ficar calmo.

— Estou calmo — Levantei, encerrando a minha parte da


reunião.

Meu pai sempre me preparou para o dia que alguém


mexesse com a minha família. Quando comecei a treinar na
agência, esse sentimento de proteção com a minha irmã se

intensificou. Carina foi a primeira pessoa no mundo que amei no


instante em que coloquei os olhos. Eu já era um adolescente, quase
saindo de casa, quando ela nasceu. Ela não foi planejada e mesmo

assim, muito amada.

Quando a segurei pela primeira vez, soube que faria o que


pudesse para fazê-la feliz. Carina era muito irritante, mimada e
autoritária, parte porque raramente teve alguém colocando limites.

Mas era boa, divertida e estava se tornando uma mulher linda.


Enquanto dirigia de volta para o centro da cidade, pensei em todas

as vezes que Maurizio esteve no mesmo lugar que Carina e os


elogios que dava a ela.

Sempre pensei que era bajulação, afinal, ela era a


princesinha da nossa família, caçula do seu chefe e a família dele

sempre foi de ratos bajuladores.

Filho da puta miserável.

Maurizio iria comer minhoca pela boca antes de encostar na

minha irmã e experimentaria o gosto do seu próprio pau por desejar


uma menina infinitamente mais jovem que ele. Pedófilo filho da puta!
Vinte| Enzo.

— Não vai me falar o que está acontecendo? — Emerson

me perguntou no carro. Já era noite, minha cabeça estava


explodindo, passei o resto do dia com tanta raiva que mal consegui

trabalhar. Perdi o controle ao visitarmos um associado que estava


fazendo merda pela cidade e acabei arrancando o dedo do homem,
quando era para arrancar apenas sua unha como castigo.

Estacionei meu Maserati no beco ao lado da boate,

percebendo que já havia uma fila do lado de fora então entramos


pela cozinha. Precisava tomar um banho e trocar de roupa antes de
encontrar a minha esposa que certamente estaria linda.

— Enzo? — Emerson insistiu, andando atrás de mim.

— Não agora. Juliana já chegou?

— Está a caminho. — Ele me olhou desconfiado e muito

curioso. — Carina veio com ela. Eu avisei que não era para ter
vindo, porque amanhã ela tem aula.

Ouvir o nome da minha irmã me deu uma intensa dor no

estômago.
— Quero cinco dos nossos homens com elas. Nada de

pista, apenas no camarote, bebidas verificadas e, porra, não importa


que seja conhecido ou um membro da famiglia... Nenhum homem

além de você, Alessio ou eu pode entrar no camarote, entendeu? —

Ordenei e ele saiu de perto, depois de concordar, me olhando como


se eu fosse maluco.

Foquei a minha atenção no funcionamento da casa, nas

drogas sendo espalhadas pelos vendedores na parte que as

pessoas normais não participavam e olhei para a pista de dança,


onde pessoas que só queriam aproveitar lotavam o espaço. O bar

estava em pleno funcionamento e Stefanio avisou o momento que

estava entrando na boate com Juliana. Flashes na porta


denunciaram a presença de fotógrafos dentro do salão e ordenei a

saída deles imediatamente.

Não consegui ver o que a minha mulher vestia, estava muito

longe, mas os seus cabelos estavam presos e para o alto. Usava

algo dourado e eu odiei a forma que ela parecia insegura, ao


mesmo tempo animada, segurando no meu soldado enquanto subia

para o camarote, que era exclusivo para minha diversão. Dei o

nome da minha esposa. Tudo era dela a partir do momento que nos

casamos.
Carina só podia entrar pelos fundos, disfarçada, para que
ninguém a visse ali dentro... menor de idade e bebendo.

Ainda de longe, vi Juliana com um curto vestido dourado,

brilhante, entrar na minha sala vip e brincar de rodopiar o poste de

pole dance que ficava em um pequeno palco. Carina tirou uma foto

dela, fazendo um monte de palhaçada e Stefanio deixou o garçom


entrar com bebidas, servir as duas e sair. Pedi que a garrafa de

espumante fosse deixada lá dentro, com taças e gelo. Mandei

hambúrguer, batatas fritas e outros petiscos para que as duas

comessem ao invés de só ficarem bebendo.

— Não vai até elas? — Alessio questionou da porta da

minha sala.

— Daqui a pouco. — Ainda estava explodindo de raiva. —

Pode ir se divertir com elas, se quiser. Maurizio está no prédio?

— Ângelo informou que ele está no cassino da quinta

avenida com o Senador Rollins. — Alessio sorriu e a minha cabeça


latejou. Senti uma intensa vontade de mandar uma bomba até lá e

explodir absolutamente tudo, com todos eles dentro.

Maurizio era tão estúpido que gastava dinheiro dentro do

meu cassino.
Alessio e Emerson atravessaram a boate, falaram com

algumas pessoas e eu vi o meu irmão beijar quatro garotas


diferentes apenas no caminho para o camarote. Revirei os olhos

para o seu comportamento e continuei olhando a casa ficar cada


vez mais cheia, de tempos em tempos admirava a minha esposa
dançando sozinha. Carina e Alessio estavam dançando juntos, não

muito próximos, mas obviamente interessados.

Juliana parou de dançar, foi até a sua bolsa e pegou o


celular.

“Cadê você, Enzo?” Sua expressão era meio irritadinha e

sorri. Ela ficava linda irritada. Seu narizinho franzia de um jeito


realmente bonito. Ela me chamou de Enzo e não de marido. Chamar

pelo nome significava problemas.

Digitei a minha resposta.

“Você está linda”. Ela ergueu o rosto, tentando me enxergar


na multidão e eu estava em uma sala que não era possívelser visto

pelo público, devido ao reflexo das luzes e o vidro ser muito escuro.
Franzindo o cenho, voltou a digitar.

“Não vai vir aqui? Estou sozinha”.

Decidi provocar a sua irritação um pouco mais.


“Daqui a pouco”. Ela pareceu não gostar. Guardou o

telefone na bolsa e foi até Carina, falando alguma coisa, apontando


para a pista de dança. Alessio saiu da sala por algum motivo, indo

para o corredor dos banheiros. Carina pediu alguma coisa a


Stefanio, que assentiu, fez sinal para os outros seguranças e saiu.

Elas estavam querendo aprontar alguma coisa...

Cheguei mais perto do vidro quando ambas saíram do

camarote. Um soldado parou na frente delas, impedindo de descer e


esticou a mão. Juliana disse algo que o fez erguer ambas as mãos

em rendição e sinalizou que saísse do caminho, o que infelizmente


o idiota fez. Claro que ele não tocaria nela, porque ficaria sem as
mãos, mas puta que pariu.

Peguei o meu telefone.

— Stefanio! Elas estão descendo para a pista, porra! —


Berrei e por um momento perdi as duas na pista de dança lotada.
Coloquei as minhas mãos no vidro, sentindo o gosto do desespero.

Quando as luzes piscaram, deu para ver o vestido de Juliana e saí


da sala de observação, voando pela escada.

Empurrei algumas pessoas do caminho e fui atravessando a


multidão. Juliana estava dançando junto a Carina, rebolando a
bunda até o chão e havia uns cinco homens ao redor, olhando,
aproximando-se para dançar junto. Stefanio pulou as escadas,
tentando encontrá-las e ergui minha mão, para me enxergar,

colocando o laser no seu rosto.

— Sai. — Agarrei o ombro de um, segurando de uma


maneira que ele sentiria dor por semanas e ele tinha sorte de só ter
feito isso por tentar encostar na minha mulher. Ele virou, pronto para

brigar e arqueei a minha sobrancelha. Estava louco para começar


uma briga. O idiota se armou para vir para cima, me preparei para

derrubá-lo com um único movimento, mas ele foi surpreendido e


perdeu o equilíbrio ao ser empurrado por Juliana. Ela me puxou
bruscamente pela gravata e me beijou. Não parava de rebolar, então

agarrei sua bunda e correspondi ao beijo.

— Oi, Enzo.

— Acho que deixei claro que não era para sair do camarote.

— Mordisquei sua orelha, ela virou de costas e ficou rebolando


contra o meu pau. Passei as mãos na lateral do seu corpo, o decote
do vestido era cavado por todo lado e estava sem sutiã. Deu uma

voltinha, tentando se afastar e a prendi em meus braços.


— Você deixou claro que iria se esforçar para passar mais
tempo comigo. — Se pendurou em mim e sorri contra sua boca.

Alessio pegou Carina pelo braço e foi discutindo até a


escada. Ela disse alguma coisa que fez com que ele a jogasse

sobre os ombros. Quem estava ao redor riu e mostrei para Juliana,


que só mordeu o lábio, pensando que foi ela quem colocou Carina
em problemas. Segurei sua mão e fui abrindo caminho com Stefanio
de volta para a escada, entrando no camarote com elas.

Juliana conseguia chamar a minha atenção e desviar o meu

foco.

— Continue dançando comigo, marido. — Juliana pediu e na


luz do camarote pude observar a sua roupa melhor. Estava tão

gostosa... O tecido balançava e as fendas davam vontade de ficar

olhando, ver o que poderia escapar entre uma rebolada e outra. Era

muito curto, ou seja, suas lindas pernas estavam totalmente de fora.

— Está linda, amore. — Puxei-a contra mim, balançando no

ritmo da música. — Muito gostosa.

— Obrigada. — Piscou e me abraçou.

Carina e Juliana dançaram bastante, depois comeram,


beberam quase tudo que oferecia no menu. A minha esposa sentou-
se no meu colo, suada, meio descabelada e a beijei, amando a sua

bunda rebolando lentamente, na batida sexy da música de Ariana


Grande. Nossos beijos ficaram mais aquecidos e me dando um

olhar excitado, aceitou o meu convite para sair da sala. Levei-a

através dos corredores internos até o banheiro masculino. Havia


uma poltrona e uma mesa na antessala.

Era um dos poucos lugares sem câmeras dentro da boate.

— O que estamos fazendo aqui? — Me deu um sorrisinho.

Ela sabia.

— Estou quase explodindo nas calças. — Peguei a sua


cintura e a coloquei sentada na mesa. — Você passou as últimas

duas horas esfregando essa bunda no meu pau. Sabe que sou

louco pela sua bunda.

— Meu maridinho não aguentou a pressão? — Subiu a saia

do seu vestido e até a calcinha era dourada. Para minha completa

surpresa, havia a letra E brilhando bem onde ela estava muito

úmida. — Gostou da surpresa? Ia mostrar só em casa...

— Ah, foda-se. — Tranquei a porta e me sentei na poltrona,

abrindo o meu cinto, botão e zíper. Juliana montou no meu colo e

tirei o seu vestido do caminho, chupando os seus mamilos rosados.


Ela achava que os seus peitos não me atraíam em nada, mas não

fazia a mínima ideia do quanto me deixava cheio de tesão.

Ela puxou meu cabelo, gemendo baixinho.

— Enzo! — Me chamou e ergui o meu rosto, sorrindo


perversamente e esfregando o seu clitóris. Ela estava tão molhada

que mal havia fricção sem ter que lhe pressionar mais forte. Cheguei

sua calcinha para o lado e puxei minha cueca para baixo. — Nunca

fizemos assim, comigo por cima... — Ela parou, me olhando


insegura.

— Vou te ajudar, vem... — Segurei-a e tímida, porém muito

excitada, me encaixou e desceu lentamente. Bati com a minha

cabeça contra parede, gemendo. Porra... Aquilo era incrível.

— Uau, Enzo — gritou e devagar foi rebolando, testando os

seus movimentos e apoiando as mãos nas paredes ao nosso lado.

Aprendeu rapidinho como cavalgar, me deixando tão maluco que


não conseguia pensar. Naquela posição era muito mais apertada e

estava me contendo, não queria deixá-la dolorida, porque tinha

esperanças de que em casa poderíamos brincar muito mais e com


toda privacidade do mundo. — Caramba, que gostoso! Ah, Enzo.
— Porra, muito gostosa! — Bati na sua bunda, segurando

ambas as bochechas e acelerei nossos movimentos, metendo


fundo, o pequeno ambiente estava preenchido com cheiro de sexo,

suor e nossos gemidos nada contidos. Juliana gozou, me apertando,

pulsando e me deixei levar, gozando dentro com o maior prazer.

— Não acredito que fizemos isso aqui no banheiro. — Ela


sussurrou, preocupada em ser ouvida. Sorri e afaguei o seu rosto,

olhando a sua beleza, pensando no quanto era sortudo. Ela era a

minha joia rara. — Foi muito gostoso, do tipo pervertido e gostoso.

— Somos casados, amore. Podemos fazer sexo onde

quisermos. — Beijei o seu queixo e depois os lábios que estavam

inchados.

Ajudei a minha esposa com sua limpeza íntima, apesar de


ter batido nas minhas mãos, tentando me impedir. Tudo que eu

queria na vida era ter intimidade. Voltamos para o camarote e

Carina estava muito irritada, de braços cruzados, olhando para a

pista de dança. Pude ver Alessio aos beijos com uma garota peituda
no bar. Carina queria ir embora.

— Por mim tudo bem, mas só vou se Enzo for embora

agora. — Juliana me olhou com expectativa. Eram apenas três da


manhã, havia muito o que fazer no escritório e era necessário

verificar as outras boates, mas eu simplesmente sorri informando

que pediria que Stefanio pegasse os carros.

Emerson nos encontrou no meio do caminho, sorridente,


provavelmente estava com alguma garota pelo clube e quis ir

embora. Carina foi embora com ele e eu coloquei a minha mulher

dentro do meu carro, deixando o ronco alto do motor espalhar pela

noite de Nova Iorque. Juliana colocou a mão na minha coxa,


acariciando, parecia feliz. Queria muito que ela fosse feliz.

Entramos em casa e mandei Carina dormir, era melhor que

não saísse do quarto e só para garantir, bloqueei o elevador e as


portas, ela só sairia se me acordasse.

— Foi uma noite divertida. Só é meio cansativo, não sei

como você aguenta estar toda noite naquela barulheira. Estou

fedendo. — Juliana tirou a roupa. Fiquei parado, olhando os seus


peitos livres e em seguida, a bunda.

Desde que ela parou de tomar remédio, seu corpo estava

ganhando outra forma e se possível,seus seios aumentaram, assim

como a sua bunda, coxas e quadris. Um corpo de violão. Ela ficava


receosa e eu amava completamente.
— Vou tomar banho, pode buscar água?

— Depois... Preciso tomar banho e pelo bem do planeta,

vamos economizar água.

— Sabe que se entrarmos juntos lá... não iremos

economizar água.

— Ah vai ser bem rápido, porque te quero na cama e sem

pressa — empurrei-a para o banheiro, precisando tirar o cheiro de


álcool e cigarro, típico de boates.

Na manhã seguinte, acordei tarde, verifiquei o andamento

dos negócios pelo telefone primeiro e não havia absolutamente


nada urgente. Virei de lado e abracei a minha esposa, beijando o

seu pescoço. Nós iríamos para Hampton em algumas horas e ela

não parecia muito inclinada em acordar. Programei o voo para o

horário do almoço, decidi aproveitar o tempo para garantir que foi


uma noite tranquila nos negócios e dar uma olhada nos passos do

verme que estava com os seus dias contados.

— Maurizio gastou muito no cassino ontem, muito mais do

que pagamos a ele. — Angelo disse e relaxei na cadeira,


procurando meu cigarro e não encontrando. Desde que me casei,
mal conseguia fumar. Juliana sumia com tudo e como evitava fumar
perto de Emerson, estava sendo obrigado a acabar com meu vício.

— O verme é tão burro, que gasta o dinheiro da propina que

está recebendo no meu cassino, caralho. Quer me enriquecer. Ou

está enchendo os bolsos do lugar que pensa que vai tomar, idiota —
reclamei batendo as gavetas, procurando meu cigarro, caralho,

queria fumar só um. Meu primo apenas riu. — E o que mais?

— Impedimos a entrada de Leela ontem, homem. Ela


insistiu, queria subir para o camarote a todo custo. Deduzo que

como saíram fotografias de Juliana chegando, a maluca foi tentar

alguma coisa. Ela respondeu um comentário no Twitter que sua


esposa era perfeita para você e ficou puta.

— Dá um cala boca nela, em semanas, será órfã de pai e se

for inteligente, vai ficar mudinha.

— Com prazer. — Ele respondeu e encerrei a chamada.

As funcionárias da cozinha preparavam o café da manhã e o


cheiro estava incrível. Voltei para o meu quarto e a minha esposa

ainda estava escondida entre as cobertas, apagada completamente.


Me deitei ao seu lado, me acomodando bem juntinho dela e penteei
os seus cabelos com meus dedos, acordando-a bem devagar, com
alguns beijinhos suaves no ombro e pescoço.

— Bom dia, amore — sussurrei com o seu espreguiçar.

— Que gostoso acordar com você... — Soltou um bocejo,

sonolenta e virou de frente, me abraçando e beijando. Desci a


minha mão para a sua bunda nua, sentindo o seu mamilo esfregar
contra o meu. Ficamos aos beijos até que precisou se levantar para

ir ao banheiro, decidi começar a me arrumar para sairmos o mais


rápido possível.

Ao abrir o closet, encontrei milhões de bolsas de uma loja de

grife e outras sacolas. Juliana foi às compras… de novo. Caralho...


Quantas mais roupas ela precisava?

— Não fala nada! — Juliana logo se defendeu. — Tem coisa


da Carina aí também e são casacos... Jamais iria imaginar que aqui

era tão frio e nem estamos no auge. — Ela ainda estava pelada. Me
senti feliz que ela não sentia mais vergonha de ficar pelada e amava
a nossa intimidade. Nunca quis ter uma esposa recatada e

encolhida dentro de si mesma. Inclinando-se para puxar uma


pequena mala, me deu uma excelente visão da sua bunda e dei um
tapa de mão cheia. — Não acredito nisso, seu idiota! — Esfregou
onde bati e bateu em mim com a bolsa, eu estava rindo, o que a
deixou ainda mais puta. — Para de rir! Vai arrumar suas coisas bem
longe de mim!

Ainda reclamando no closet, reuni as minhas roupas para o


final de semana e como sempre, Carina, Emerson e Alessio iriam

junto. Dessa vez, convidei os meninos, porque sabia que iríamos


trabalhar nos planos para o jantar de ação de graças e a noite
natalina. Juliana ficou pronta, de beicinho comigo e não ia deixar

que ficasse irritadinha, então, empurrei-a contra parede e beijei sua


boca repetidas vezes até fazê-la rir.

— Minha bunda está ardendo. — reclamou contra os meus


lábios.

— Ainda não está, vai arder mais tarde, porque estou


levando um monte de brinquedinho sacana na minha bolsa. —
Ganhei um sorrisinho cheio de expectativa. Nos beijamos mais uma

vez até ouvirmos gritinhos do lado de fora.

Segurei as nossas bolsas e descemos, vimos Carina se


pendurar nas costas de Emerson, gritando por causa de um biscoito
que eu peguei e mordi um bom pedaço. Os dois vieram para cima
de mim, rindo e enfiei todo o biscoito na boca, caindo farelo por todo
lado. Carina me deu uma mordida enquanto Emerson ria.

— Nem vem, é meu. — Juliana pegou o outro cookie


recheado e mordeu, soltando um gemidinho e então botou mais da

metade no prato. — Toma, Carina. Isso é bom demais, não deveria


ter comido. Agora só vou...

— Pode ir comendo. — Devolvi o prato e minha irmã bufou.


— Só tinha dois?

— Emerson comeu quase tudo e sobrou apenas dois, que


droga. São os meus favoritos. — Carina reclamou e nosso irmão riu,
Juliana partiu o que ela tinha no meio e deu para minha irmãzinha.

— Obrigada, irmã.

— Bom dia. — Alessio entrou no apartamento, de banho

tomado e deixou sua mochila no canto. Ele foi até Juliana e beijou
sua cabeça, sorrindo para Carina, me dando um aceno respeitoso e

batendo com o punho em Emerson. Os dois se deram bem


imediatamente e eram incrivelmente irritantes juntos.

Juliana e Carina não paravam de comer e falar, rindo alto.

Emerson mostrava algum vídeo para Alessio, os dois riam como se


fosse a piada mais engraçada do mundo. Tive a sensação de que a
minha solitária vida havia terminado e não sabia se iria sentir falta

dos dias em que ficar sozinho no meu apartamento era tudo o que
realmente almejava.

O sol refletiu na parede de vidro e uma luz pairou sobre a

cabeça da minha esposa. Fiquei tão fascinado com o modo que ela
sorria, mostrando os seus dentes perfeitos e os lábios cheios que

tirei uma fotografia e botei como plano de fundo do meu celular.


Segurei a sua mão e beijei, pensativo. Manter as duas seguras era o
meu novo plano de vida.

Uma vez, o meu pai me disse que haveria momentos em que


ser o chefeera tudo que consumiria a minha atenção, mas existiria

outros tempos que por ser um chefe outras prioridades surgiriam.


Elas eram a minha prioridade.

— Não está comendo. Está tudo bem? — Juliana me olhou


preocupada.

— Estou bem sim, amore. Apenas pensativo.

— Irmão... Quando vou poder dirigir o carro que me deu? —

Carina perguntou, já formando um beicinho.

— Não gosto que dirija por aqui, sabe disso. Se quiser dar

uma voltinha com alguns dos carros em Hampton, alguém irá te


acompanhar. Por enquanto, as coisas estão complicadas nas ruas e
não quero você circulando sozinha em hipótese alguma. — Ela
continuou com um beicinho e trocou um olhar com Juliana. — Seja

lá o que estão querendo aprontar, a resposta é não.

— Não sei do que está falando, marido. — Juliana


desconversou com um sorriso doce. Ela se virou para Carina. —

Acho que podemos dar uma voltinha nos lugares que aparecem
naquela série chata que assiste, seria melhor no verão, mas sei que

Enzo vai ter que trabalhar e quero passear. Provavelmente eu sou a


esposa mais solitária do universo...

Uma alfinetada no café da manhã.

— Eu não vou trabalhar. — Me defendi e todo mundo me

olhou. — Só um pouco.

— Então vai passear conosco, eba! Um passeio de família,

acho que não fazemos isso desde meus cinco anos de idade. —
Carina pulou no lugar, animada.

— Alguma vez fizemos passeios de família? — Emerson


perguntou confuso e tentei buscar na minha memória. — Em todo
caso, acho que vai ser legal. Podemos convidar Angelo, Ilaria e

Marcus?
— Aqueles seus primos? — Juliana quis conferir. — Ah,
será adorável. Vamos fazer um final de semana divertido em família.

Quando iremos visitar os seus tios?

— Em breve. Tio Francesco está na Itália. Quando ele voltar,


prometo te levar à Chicago. — Ela sorriu, porque se afeiçoou ao

meu tio, que de todas as pessoas da minha família, era um dos


poucos que realmente gostava. Tinha muitas memórias agradáveis
passando a infância na sua casa. — E quanto a convidar os nossos

primos, se eles aceitarem, por mim, tudo bem.

Não era muito bem o que eu queria, porque quanto mais


gente tivesse ao meu redor, menos privacidade com Juliana eu teria.
Mas a minha irmãzinha e a minha esposa queriam e era incapaz de

dizer não. Ordenei que Emerson organizasse as bebidas e as


meninas organizariam os passeios, comidas e me preparei
mentalmente para um longo final de semana.

— Obrigada, amore mio. Sei que não é sua programação


favorita, mas estou doida para ver gente, conversar e ter a casa

cheia como estou acostumada. — Juliana me segurou no corredor,


antes de subirmos para o helicóptero. — Ainda quero um final de
semana só nosso, sem interrupções...
— Tudo bem... Mesmo assim, hoje à noite você não me
escapa — prometi e ela sorriu.
Vinte e um | Juliana.

Parada na frente do espelho, me olhei de cima a baixo e

para o número da balança que ficava embaixo da pia do banheiro.


Engordei cinco quilos, eles pareciam concentrados nos meus seios,

bunda e culote. Estava tentando seguir à risca a dieta passada pelo


médico, porém a minha ansiedade venceu a batalha muitas vezes e
a minha fome por doces nem entrou na disputa. Não conseguia

resistir a uma barra de chocolate e era impossível não comê-la


inteira.

Atribuía o meu estresse à ociosidade. Ficava o dia inteiro


aleatória, escrevendo, tirando fotos, respondendo e-mails da minha

tia, de Roberto e procurando um trabalho que não me fizesse entrar


em uma briga com Enzo. Ele era tão exaustivo. Tantos nãos, tantas
regras, tantas coisas... Papai escondeu uma vida de mim, pelo o

que entendi, as coisas eram ainda mais rigorosas com os Rafaelli.

Enzo era realmente mau, temido e ao mesmo tempo adorado...


Esse misto de emoções que evocava nas pessoas que me dava

medo.

Idolatria na história do mundo nunca acabou bem.


O homem que fazia cosquinhas em mim até minhas

lágrimas caírem não parecia ser o homem que arrancou o dedo de


um soldado. Ouvi a conversa das funcionárias e fiquei intrigada.

Enzo não falava comigo sobre esses assuntos, sequer mencionava.

Me mantinha totalmente isolada do mundo que vivia e não era bem


isso que desejava. Me casei na pura intenção de salvar o vinhedo e

quem dependia dele...

O buraco era tão mais embaixo...

Não sabia absolutamente nada do que me cercava. Tentava


ter paciência, pensar que estava me adaptando ainda, ao mesmo

tempo, não conseguia segurar a coceira de saber mais, me

intrometer no que me dizia respeito. Nada parecia tão absurdo e


perigoso quanto Enzo pintava para mim. Vivia cercada de

seguranças e ainda não conseguia acreditar que alguém,

intencionalmente, tentou me matar com intoxicação alimentar. Eram

coisas que não faziam sentido.

Carina me dizia que não conseguia enxergar o mal porque

fui criada sem saber do que me cercava, em uma escola católica,

com uma tia extremamente conservadora que não me deixava sair

do quarto quando havia visitas em casa. Sempre fui obediente,


gostava de ler, pintar e ficar na minha com Alessio. Se fosse mais
ousada e curiosa, talvez meu pai não conseguisse esconder a

verdade sobre o que era a nossa família por muito tempo.

— Está tudo bem aí dentro? — Enzo bateu na porta e

empurrou um pouco, enfiando a cabeça e me olhando dos pés à

cabeça, exibindo seu clássico sorrisinho safado. — Demorando por


que está se admirando?

— Estava me pesando. — Dei de ombros, com um pequeno

beicinho.

— Gostosa. — Parou atrás de mim e apertou meus seios,


segurando-os e nos encaramos pelo espelho. — Você me deixa

doidinho. — Beijou meu ombro e pescoço.

— Enzo...

— Eles podem esperar. — Me cortou e sorri, ele sempre


achava que o mundo podia esperar se eu estivesse nua na sua

frente. Soltei suas mãos e virei de frente, o abraçando e aceitando

seu beijo. Deu um aperto firme nas minhas nádegas, me erguendo

do chão e apoiando no balcão das pias do banheiro. — Estou doido

para ficar sozinho com você. Precisamos sair em lua de mel...


Seria o meu sonho passar um tempo sozinha com ele, mas

o idiota achou que não era uma prioridade.

— Nem vem, pode ir saindo desse banheiro. Vou trocar de

roupa e encontrar com a sua família lá embaixo, estou doida para


me aproximar deles e não farei essa desfeita.

Enzo teve o desplante de projetar o lábio inferior para fora e


me dar a visão do biquinho mais fofo e sexy do mundo inteiro. Dei

um beijinho e pulei do balcão, ignorando a excitação que estava


praticamente me consumindo e o empurrei para fora, rindo. Seu pau
estava muito animado na cueca e era quase um crime negar usufruir

daquela maravilha.

Chegamos pela manhã em Hampton e ficamos um pouco na


praia. Estava frio, a areia gelada e muito vento, ainda assim foi bem

legal passear de mãos dadas com ele e conversar sem ter


seguranças, irmãos e todo o restante por perto. Ele correu atrás de
mim com uma alga maldita que parecia uma pedra de gelo e estava

gosmenta, o passeio acabou porque eu queria afogá-lo.

Voltamos para casa, ele tomou banho e foi atender uma

ligação, eu fiquei no banheiro, me lavando com calma, passando


hidratante corporal e aí a bendita da balança me tirou o foco.
Enzo ficou me olhando como se não tivesse nada mais

importante para fazer.

Me incomodava muito o quanto meu coração era aberto a


ele, ainda não o conhecia, queria muito desvendar todos os
mistérios da sua mente e coração. Casamos tão rápido e me

apaixonei por ele em um piscar de olhos. Não sabia se era amor,


mas era algo gostoso, que me dava borboletas no estômago e

adorava cada segundo que estávamos juntos. Parecia que ninguém


mais existia no mundo, apenas nós e todo o tesão, o sexo me

deixava doida por ele o tempo inteiro.

Ele se dava abertamente no quarto e teria que lutar com


todas as forças para termos intimidades fora da cama. Queria ter a

sua confiança, entender a famiglia e mostrar que podia ser muito


mais que uma garota bonita pendurada em seus braços e

organizando eventos. O primeiro passo de tudo isso era me


aproximar dos tão falados primos.

Ilaria era uma mulher e trabalhava para a família em uma


posição de respeito, queria conhecê-la e descobrir porquê ela podia

e eu não.
Troquei de roupa, deixei o meu cabelo solto e Enzo logo
agarrou a minha mão com firmeza, descemos a escada juntos.
Carina estava sentada em um dos grandes sofás conversando com

um rapaz alto, de cabelos loiros escuros, nariz proeminente e olhos


castanhos claros bem chamativos. Ele era muito bonito, de um jeito

bem exótico. Minha cunhada parecia feliz.

Alessio estava sentado no piano, sem tocar nas teclas, de

braços cruzados e olhando Carina com o rapaz. Emerson estava


jogado no sofá, abrindo e fechando um canivete, perdido em seus

pensamentos e me deu um sorriso doce. Quando ele sorria daquele


jeito, parecia um menino. Ele era muito gentil, carinhoso como um
irmão, principalmente depois que desistiu da ideia de que podia me

usar para irritar o Enzo.

— Angelo... — Meu marido apertou minha mão. Seu primo

levantou na mesma hora e achei engraçado que todo mundo


obedecia a Enzo em um piscar de olhos.

— Você estava uma noiva adorável. — Angelo disse e sorri,


nosso casamento tinha tanta gente e eu fiquei meio bêbada para dar

atenção. Queria aproveitar o dia e consegui. — Obrigado pelo


convite, estou honrado. — Uau, era como se eu fosse uma duquesa,
ou algo assim.

— Não precisa tanto, somos uma família agora. — Sorri e


quando ia perguntar sobre a irmã dele e o marido, uma mulher loira

entrou na sala. Lembrei que ela estava chamando atenção no meu


casamento com um lindo vestido azul escuro. Ela era do tipo sexy,
fatal e provocante. Usava uma blusa vermelha justa com um decote
profundo, lábios cheios como os da Angelina Jolie e um olhar ferino.

Me senti péssima usando legging, tênis e um casaco de tricô longo.

Observei o olhar de Enzo para sua prima, me perguntando

se ele poderia olhá-la de outra forma. Alessio ficou em pé, atrás de


mim, colocou a mão nos meus ombros e percebi que estava tensa.

Minha expressão não deveria estar das melhores, porque ela parou

e me encarou de volta, esperando para ver minha reação.

— Cadê seu marido, Ilaria? — Angelo estava confortável no


sofá, ela sorriu carinhosa para ele e voltou a me olhar com

indiferença.

— Olá, Ilaria. — Limpei a minha garganta e coloquei um


sorriso no rosto.
— Oi, Juliana. Obrigada pelo convite. — Sua voz era suave,

muito feminina. Trocamos um aperto de mão e logo Malena entrou


com bebidas quentinhas para todos.

Servi-me com chá, ciente que estava sendo observada por

Ilaria. Ela deveria estar farejando minha insegurança. Olhei para o

meu marido, seu cenho estava franzido e o olhar me perguntava se


estava tudo bem.

— Estava ansiosa para encontrá-los... Todos falam muito de

vocês e como foi a infância. — Entreguei a ela uma caneca de


chocolate quente.

— Nós conseguimos ter bons momentos quando crianças.

— Seu tom de voz era meio azedo e me senti totalmente perdida. —

Entre um sufocamento e outro, mas você deve saber melhor. Me


contaram que não fazia ideia de quem o seu pai era.

Endireitei a minha postura, querendo entender o que

realmente queria dizer e ao mesmo tempo sentindo certa ofensa

pelo modo que falou do meu pai. Eu não tinha culpa que eles foram
criados por psicopatas e não fazia ideia do que sofreram na infância.

Enzo nunca me falou da parte ruim em detalhes, apenas das boas e

em sua maioria, não era fácil lidar com a mentira e tudo o que
causou na minha vida. Meu pai sequer estava aqui para me dar

satisfações e ouvir os bons gritos que tinha entalados na garganta.

— Parece que sabe mais do que eu, então me ilumine. —

Bati a minha caneca na mesa. Ela sorriu ironicamente.

— Só sei que é neta de um traidor e que seu pai não foi um

dos melhores... E ainda teve a sorte de se casar com o chefe. —

Sua expressão era soberba.

— Por que isso te incomoda? Pelo que sei, você tem que
calar a sua boca e aceitar.

— Basta. — Enzo interrompeu o que sua prima iria dizer.

Ilaria não desviou o olhar do meu e muito menos me

esquivei dela.

— Não conheci o meu avô muito bem e o que eu conheci do

meu pai, como pai e não como homem ou um chefe, me fez amá-lo

incondicionalmente, mesmo com as suas mentiras. Pense muito

bem ao falar da minha família... — Inclinei-me na sua direção. —


Não tenho medo de cães que rosnam como você, que usam a

aparência para mostrar uma segurança, quando na verdade

escondem uma ferida amarga. Lide com os seus problemas e me


respeite.
Ilaria perdeu o sorriso irônico e o seu olhar de desafiador

pareceu admirado, me deu um aceno de reconhecimento e não me


respondeu. Talvez porque Enzo tenha mandado ela calar a boca.

Ainda com o queixo erguido, avisei que iria verificar o almoço e saí

da sala.

— O que foi aquilo? — Carina veio atrás de mim e fechou a


porta da cozinha. — Já vi Ilaria ser uma vaca com um monte de

gente, só não imaginava que seria com você.

Apenas fingi indiferença, não queria falar sobre aquilo.


Comecei a ajudar na montagem da salada e fiquei grata pela taça

de vinho bem cheia que Malena me serviu. Carina saiu da cozinha,

provavelmente voltando para a sala, não lhe dei atenção. Montei as

barquinhas com camarões e arrumei a mesa com um lindo jogo de


mesa em porcelana. Estava sem apetite e na segunda taça de

vinho, não mais tão sóbria, até sentia calor.

— Está corada e suada, gosto assim. — Enzo parou na

minha frente, me analisando. — Ilaria cruzou a linha, ela não fará


novamente.

— Tem algum motivo para ter algum ressentimento com o

nosso casamento?
— Ilaria gosta de apertar os botões das pessoas, como você

não recuou, ela irá parar. Está acostumada que mulheres sintam

medo dela.

Foi um teste?

— Já tiveram alguma coisa?

— Não, amore. Nunca. Sempre amizade... Não foi por

minha causa que te provocou, apenas porque é a nova matriarca da

família.— Deu um beijo na pontinha do meu nariz. — Minha gatinha


tem garras.

Ainda não estava convencida, ao voltar para a cozinha,

peguei mais vinho e o almoço foi completamente o oposto do que

imaginei. Emerson e Angelo falavam sem parar. Carina participava


em algumas conversas e Alessio manteve-se quieto, sentado ao

meu lado enquanto Enzo comia, provocando Ilaria, que por sua vez,

foi simpática comigo como se nada tivesse acontecido na sala. Servi


a sobremesa como uma dona de casa educada e a torta foi

devorada.

Comi dois pedaços e me senti à beira da explosão.

— Estava uma delícia, Juliana. Muito obrigado. — Angelo


beijou minha mão e o vinho me fez rir como uma boba.
— Não há de que, Ângelo. Sempre bem-vindo. — Sorri,

encabulada pela sua beleza.

Após o almoço, o grupo se dispersou para descansar. Eu


precisava ficar sóbria para voltar a me reunir com eles e pedi

licença, subindo a escada. Dentro do meu quarto, me joguei na

cama e abracei um travesseiro. Um telefone vibrando chamou a


minha atenção e olhei na gaveta, era o celular de Enzo. Ele

prometeu algumas horas sem ficar o tempo todo verificando as suas

mensagens, todos os negócios e funcionários.

Desbloqueei a tela e li a mensagem.

Kyra:Segunda às 19h.

Quem era Kyra?

Marquei a mensagem como não lida, coloquei o telefone no

lugar e me perguntei como poderia descobrir quem era Kyra e


porque ela estava esperando o meu marido. Não podia perguntar,

porque ele não iria responder e brigaria comigo por olhar o seu

telefone sem consentimento. Ele não mexia nas minhas coisas,

mesmo tendo a senha de acesso, assim como a minha digital


estava cadastrada no seu telefone.
Meu final de semana só não desmoronou, porque pude
realmente conhecer os primos de Enzo. Quando Marcus, marido de

Ilaria chegou, senti que o conhecia de algum lugar. Seu olhar era

extremamente familiar. Diferente da esposa, foi muito educado, meio


contido, mas percebi que era um homem de poucas palavras

mesmo.

Nós passeamos na praia, jogamos conversa fora na

fogueira, assando um monte de besteira e bebemos muito vinho. No


domingo, amanheci meio enjoada de tanto beber então Enzo decidiu

bater o martelo e encerramos o final de semana mais cedo, assim,

arrumei minhas coisas e esperei o helicóptero chegar.

Não falei muito com Enzo, ainda pensativa sobre a

mensagem que ele recebeu, quando chegamos em casa, fiquei na


cama, dormindo e acordando. Ele estava começando a sentir os

sinais do meu humor. Carina ficou quieta no seu quarto e o meu


marido entrava e saía o tempo todo, até que não aguentou e me

acordou no fim da tarde.

— Tem certeza de que está tudo bem? — Seu olhar era


como se pudesse ler a minha mente.
— Não sei. — Desviei o olhar para a parede. Enzo colocou a
mão na minha testa e axila, sem dizer mais nada.

Me embolei nas cobertas, comendo chocolate e um monte

de besteiras.

— Será que posso ficar com você aqui ou serei agredido


com seu mau humor? — Enzo se jogou do meu lado. — Tirei folga
para ficar com você. — E mais uma vez, o beicinho. Sorri e abri

espaço na coberta, deixando-o se aconchegar em mim. — Ilaria te


incomodou tanto assim?

— Não. Estou lidando com isso, só preciso de um tempo

para processar.

— Não pode carregar o peso do seu pai e avô, Juliana. Se


fizesse parte dessa vida a mais tempo, até entenderia, mas não
fazia. Está aprendendo e entendendo quem nós somos agora. E em

parte, entendo muito seu pai. Cada vez que tenho que te dizer não,
me dói o peso da responsabilidade de quebrar a sua inocência. Ele
não conseguiu lidar com esse seu olhar tão puro pedindo uma coisa

tão simples que não é seguro para alguém como você, na sua
posição como filha de um chefe e agora, esposa de um. — Suas
palavras me tocaram profundamente e o beijei na bochecha.
— O nosso casamento é uma espécie de vingança sobre a
traição do meu avô?

— Não. — Enzo segurou o meu queixo carinhosamente. —


Seu pai procurou o meu pai alguns anos atrás, você era muito jovem
e ele estava preocupado sobre quem cuidaria de você quando

partisse.

— Por que não meu tio Tommaso?

— Desconfio que o seu pai não confiava muito nele. Há


coisas que não são muito claras e as atitudes dúbias do seu tio

falam muito sobre sua confiabilidade.

Tio Tommaso era estranho, isso era um fato. Largou a igreja


supostamente sem motivo, depois do casamento, entendi que foi
relacionado às atividades da família. Deitei a minha cabeça no peito

de Enzo, em silêncio e brinquei com os meus dedos nas suas


muitas tatuagens, provocando os seus mamilos para deixá-lo
arrepiado e acariciando os gominhos da sua barriga, beijando onde

toquei.

— Você está me atiçando. — Beijou o meu pescoço. —


Estou tentando arduamente não te atacar, porque parece estar de

TPM e Carina me disse para te deixar quieta, mas... — Ele parou de


falar quando descaradamente enfiei a mão na sua calça, apertando
seu pau e desci o meu rosto, dando um beijinho em cima. — Ah,

não, não e não. Tira...

— Depende. Está com tempo?

— O quê? — Ele parecia confuso.

— Tempo para brincar.

Quando Enzo finalmente entendeu o que quis dizer, nunca o

vi andar tão rápido até o closet e voltar com o lubrificante e uma


caixa com uns brinquedinhos que compramos juntos. Só ouvir o
barulhinho da vibração me deixava excitada, era uma coisa

esquisita que não conseguia negar que gostava muito.

— Abre bem as pernas. — O jeito descarado dele me dava

vergonha, mas eu nunca negava, porque no fundo, queria ser


descarada como ele. Afastei os meus joelhos e o meu marido
simplesmente abaixou e me chupou. Saboreando lentamente, me

aquecendo. Senti algo geladinho no meu ânus, que já era bem


familiar. Ao mesmo tempo que me deixava louca com a sua boca,
empurrou o plug lentamente. Era o mesmo que estava acostumada,

porque não doeu e o movimento suave foi bem gostoso, provocante.

Até que ele se empolgou.


— Ai... devagar! — Bati na sua cabeça. Enzo ergueu o

rosto, sorridente.

— Desculpa, amor. Você me encheu de promessas sexuais


desde sexta-feira e nada. Estou empolgado. — Ele olhou para

baixo. — Que bela visão... Foda-se, preciso te comer. — Grunhiu


tirando a calça.

— Cadê meu super marido cheio de resistência física?

Ele pairou sobre mim e esfregou o pau nas minhas dobras

molhadas.

— Está cheio de tesão acumulado para conseguir aguentar.


— Devagar, foi deslizando para dentro. Fechei os meus olhos,
tomada pela deliciosa sensação de estar sendo preenchida por ele

ao mesmo tempo que o plug permanecia firme na minha bunda. —


Ah, porra. Gostosa! — Bateu fundo, ergueu a minha perna, colocou
um travesseiro abaixo do meu quadril e estocou repetidas vezes, me

fazendo gozar. — Vira. Empina a bunda.

Tudo que começou calmo ficou barulhento, rude, molhado.

Gozei mais uma vez, toda sensível, incapaz de me controlar.

— Enzo...
— Shhh, calma. Sei que está intenso. — Ele pressionou o
vibrador no meu clitóris. Soltei um gemido alto, ele gozou e não
parou de me torturar. — Se tem uma coisa que amo é ver a minha

porra escorrendo... — Olhei-o sobre os ombros, só para revirar os


olhos e sorrir. Me deitei meio cansada, com a respiração pesada.
Precisava malhar. Enzo ia acabar comigo. — Fique bem assim. —

Me impediu de virar de barriga para cima. — Espero que não esteja


planejando dormir cedo.

— Dormi o dia inteiro. O que vai fazer?

— Uma massagem especial. — Afastou um pouco minhas

coxas e senti o vibrador em mim, ele foi empurrando lentamente


para dentro. Soltei outro gemido alto, estava molhada, sensível,
arrepiada e o vibrador intensamente me aqueceu toda. Suas mãos

agarraram primeiro minhas nádegas. — Se você emagrecer, vou te


colocar de castigo. Será maldade me privar dessa beleza.

— Eu vou te bater — sussurrei fraca. — Enzo… está


vibrando muito. Eu vou gozar.

— Não tem problema, goze o quanto quiser, você vai


aguentar. — Ele ficava muito perverso quando ficava excitado.

— Vou me vingar.
— Esperarei ansiosamente. — Me deu dois tapas.

A noite seria longa e definitivamente não estava

reclamando. Ter Enzo o tempo todo, dormindo em casa,


compartilhando comigo nossos momentos favoritos de intimidade,
era incrível, mesmo que por enquanto fosse mais sexualmente do

que emocionalmente.
Vinte e dois | Juliana.

— Sim, estarei aí a noite. — Ouvi a voz do meu marido ao

meu lado na cama, falando muito baixo. — Estive de folga ontem à


noite, precisava de um tempo com a Juliana. — E ficou em silêncio.

— Não fale besteiras. Até mais tarde.

Imediatamente lembrei da mensagem que ele recebeu.


Permaneci quieta, fingindo ainda estar dormindo e ele saiu da cama,
provavelmente caminhando em direção ao banheiro para o seu

banho matinal. Assim que ouvi o barulho do chuveiro, virei na cama


e peguei o seu telefone, passando o dedo pelas últimas chamadas.

A última ligação recebida: Kyra.

O número era codificado, apenas uma sequência de zeros.


Que porcaria! Olhei para a porta do banheiro aberta, não podia vê-

lo, apenas sabia que o seu banho estava acabando. Abri o nosso

aplicativo privado de mensagens e fiz o que Carina me explicou que


fazia para descobrir onde Alessio estava em tempo real.

Compartilhei a localização de Enzo comigo por vinte e quatro horas,


apaguei o envio dele para mim e fechei o aplicativo. Coloquei o seu

telefone no mesmo lugar e voltei para minha posição na cama,

fechando os olhos.
Continuei fingindo dormir, ouvindo os passos dele pelo

closet, passando o seu perfume, colocando roupas e depois de uns


dez minutos se aproximou da cama, abaixando-se na minha direção

e me deu um beijo nos lábios, me chamando de linda. Assim que

saiu, sentei-me na cama pensativa. O que iria fazer? Iria atrás dele
com toda certeza. Uma insegurança me bateu, por não confiar nele,

por sentir ciúmes quando deveria aceitar a sua promessa de

fidelidade. Mas... Enzo era bonito, conhecido por ter muitas


mulheres. Ele tinha uma posição importante e dinheiro.

E se essa tal de Kyra fosse alguém do seu passado?

Precisava saber. Carina não ia me ajudar a seguir seu

irmão, ela o defendia muito e tentaria me convencer que era


loucura. E se ele estivesse me traindo, iria acobertá-lo. Carina era

totalmente uma puxa-saco, Team Enzo.

Precisava me livrar de Stefanio.

Talvez não devesse fazer isso. Enzo era muito enfático

sobre estar só comigo e com mais ninguém. Apesar do seu trabalho

intenso, estávamos sempre juntos e sexualmente ativos. A noite

anterior foi a prova de que não conseguíamos resistir um ao outro.

Na cama, ele dormia basicamente colado em mim e era sempre


muito carinhoso. Imaginava que, pela sua posição e a forma que se
transformava quando estava com raiva, ele seria um tipo de marido

mais bruto e até violento.

Sua brutalidade no sexo era bem gostosa ou quando

brincava comigo e não conseguia controlar a sua força, nunca era

intencional e eu batia de volta sem pena, o que o fazia rir e dizer


que não sentiu nada. Era um ciclo, no final, acabávamos transando.

Suspirei com minhas lembranças bobas, nossos momentos de

diversão eram queridos e a possibilidade de existir outra mulher me

deixava sem chão.

Me vesti para o dia, optando por deixar os cabelos presos,

uma blusa quentinha, calças jeans, um casaco separado para sair e


uma bota. Enquanto estava em casa, fiquei descalça. Tomei café

olhando o céu nublado, as funcionárias falavam baixo e andavam

pela casa arrumando as coisas. Resolvi trocar as flores de lugar,

mudando os arranjos e Susana me ajudou.

Ela era muito boa com os arranjos de mesa e me dava ótimas

ideias.

— Sempre quis ser florista ou ter minha própria cozinha,

meu pai nunca deixou porque eu tinha que ser uma boa esposa e o
meu marido nunca permitiu que trabalhasse enquanto vivo. Quando

morreu, o Sr. Rafaelli perguntou se eu queria trabalhar com o filho


dele. O menino Enzo ainda morava sozinho, isso já faz alguns anos.

— Arrumou as rosas brancas entre as amarelas.

— Não quer mais?

— Meu marido foi assassinado dentro do nosso restaurante,


é algo que pode acontecer quando inimigos querem o território,

acho melhor ficar em casa. — Deu de ombros, como se não fosse


nada demais.

— O que aconteceu com o seu restaurante?

— Meu filho gerencia agora... Sua esposa fica em casa com

os meus netos, são meninos lindos e muito levados.

— Adoro crianças, traga-os um dia para conhecer. — Sorri e

examinei o trabalho feito. — Sabe onde ficam as chaves dos carros?


Quero pedir para Stefanio me levar para praticar minha direção.

— No armário da cozinha, na gaveta, todas as chaves ficam


alinhadas ali. Exceto das SUV’s, cada soldado fica com a sua

própria chave. Os da senhora e do seu marido estão lá. Quer


alguma específica? A do carro novo está lá... Se bem que o menino
Enzo disse que o carro ainda não tem rastreador — comentou,

alheia aos meus planos internos.

— Estarei protegida com Stefanio, vou adorar testar o carro


novo. — Sorri inocente e ela retribuiu.

— Quando quiser almoçar, me avise. Fiz aquele pote

enorme de salada com carne que adora. E ah, tem salmão que a
bambina Carina pediu...

— Obrigada, Susana. Vou pesquisar cardápios para a festa


de ação de graças e depois almoço.

Me refugiei no escritório de Enzo, ele nunca me disse para


não usar e sabia que eu entrava ali sempre que queria usar o

computador. Fechei a porta e mexi em tudo. Encontrei um álbum de


fotografias dentro de uma das gavetas e soltei assim que vi que

eram fotos de homens mortos, com tiros bem no meio da testa. Só


de ver, senti náuseas... Enfiei de volta no lugar e me sentei,
acalmando minha respiração e secando o suor.

Era tão fácil esquecer quem Enzo era de verdade.

Eu não conhecia o meu marido.


Verifiquei o meu telefone e olhei a sua localização, piscava
exatamente onde sabia que era a empresa. Durante o almoço, ele
estava em uma das boates, em seguida, o seu sinal desapareceu e

apareceu de novo em outra rua, que não sabia para que lado ficava.

— Oi cunhada linda, tudo bem? — Carina dançou para


dentro de casa.

— Oi, como foi a escola?

— Insuportável como sempre. — Sorriu marota, jogando-se

no pequeno sofá à minha frente. — Preciso ir ao shopping! Aquela


sua amiguinha me ligou avisando que a nossa encomenda chegou.
Podemos jantar em algum restaurante muito legal e badalado. O

que acha?

— Uma excelente ideia, vá se arrumar!

Assim que Carina subiu a escada para o seu quarto,


procurei Stefanio e avisei que iríamos sair, que iria dirigir o carro

novo e meu tom foi meio seco, com isso, ele sequer discutiu,
apenas disse que iria verificar o combustível. Ansiosa, segui

olhando o pontinho azul de Enzo se mover pela cidade e ele


realmente não sossegava. Nós nos falamos diversas vezes por

mensagem, como todos os dias.


Nossos usuários no aplicativo eram marido e esposa, ele
mesmo colocou assim.

Marido:
Vai sair?

Stefanio ligou para avisá-lo dos meus planos.

Esposa:Sim. Quero conhecer o trânsito da cidade, buscar


encomendas e sair para jantar com a sua irmã.

Marido:
Divirta-se e tome cuidado, estarei em casa às dez.

Então ele ficaria das 19h às 22h com a tal da Kyra?

Esposa:Nos vemos mais tarde.

Marido:
Está bem?

Esposa:Estou ótima.

Carina não demorou muito para descer e fomos para a

garagem, o novo carro era simplesmente um Camaro preto, bem


lustroso, cheiroso por dentro e fazia um ronco bem assustador no

começo. Sem costume de dirigir na cidade grande e com Carina

falando no meu ouvido sobre o meu pé pesado demais no

acelerador, estava nervosa e freando bruscamente.


Stefanio parecia estar se divertindo no banco de trás, dando

algumas dicas nas marchas e nos lugares que deveria passar.


Chegamos ao shopping exatamente às quinze para as seis e tinha

apenas algum tempo antes de dar um jeito de sair.

— Olá meninas, sejam bem-vindas de volta. — Linda nos

recebeu na porta da loja, sorridente como sempre. Carina grunhiu e


passou direto, não satisfeita que sua personal shopper favorita foi

demitida e no lugar, estava a Linda.

Ela era uma garota relativamente jovem, simpática, muito


bonita e tinha um senso de humor meio cruel com Carina. Minha

cunhada estava acostumada a ser adorada por todos onde passava

e Linda não era de puxar o saco, o meu tipo favorito de pessoa. Era

por isso que ela seguia nos atendendo, porque não dava confiança
para as reclamações de Carina.

Stefanio ficou fora da área dos provadores, sentado no sofá,

evitando olhar na minha direção para não me pegar trocando de

roupa, como se eu fosse fazer algo do tipo com as portas do


provador abertas. Deixei Carina escolhendo novos vestidos e me

sentei para analisar o sinal de Enzo, ele estava em movimento e

parou em um lugar meio longe da cidade, mas não impossível de


chegar e ficou parado nele por mais de dez minutos. Tirei print da

tela. Era hora de sair.

— Vou ao banheiro, já volto. — Avisei alto o suficiente e

Linda me acompanhou até lá. — Pode fazer um favor para mim?

— É claro.

— Distraia a minha cunhada e o meu segurança? Eu vou

sair por aquela porta. — Apontei para a saída de funcionários que

dava para um corredor vazio do shopping.

— O quê?

— Vou descobrir se meu marido está me traindo, entendeu?

— Okay... Espero que não... Bem, boa sorte. Esse é meu

número se precisar de um ombro amigo e vou tentar distraí-los ao


máximo. — Me entregou um cartão e trocamos um curto abraço.

Determinada, andei até o elevador mais próximo em passos

rápidos e saíno andar da garagem, o tempo todo olhando para trás.

Joguei minha bolsa no banco do carona e saí do shopping, no sinal


do lado de fora, desativei todos os sinais de internet e localização

usando o aparelho GPS do carro para me orientar.


As casas daquele lado da cidade eram realmente bonitas e

peguei um pouco de engarrafamento antes de entrar no bairro.


Àquela altura, sabia que já tinham dado a minha falta. Carina me

ligou duas vezes, achei estranho que Stefanio não me ligou ou o

próprio Enzo, imaginei que talvez minha cunhada estivesse me


dando cobertura.

O gps informou que a casa estava a alguns metros, diminuí a

velocidade com a boca seca e o coração a mil. O que iria fazer?

Tocar a campainha?

Não reconheci nenhum carro do lado de fora. Como Enzo

chegou ali? Parei na frente, olhando ao redor, era bonita, uma

mansão como todas as outras. As janelas estavam fechadas, porém

as cortinas abertas, estava muito frio. A casa estava iluminada o


suficiente para ver que dentro era do tipo decorada para ser

luxuosa.

Saí do carro, ciente que não tinha muito tempo e não podia

ficar desprotegida por ali, porque a paranoia de Enzo havia me


contaminado. Passei pelo pequeno portão e segui um caminho de

pedras para espiar a janela quando um homem que eu muito

conhecia apareceu nela, com o telefone no ouvido e segurando uma


menina. Um bebê de dois anos ou pouco mais, de cabelos presos

em duas partes, com fitas rosas e um vestido lilás.

Parei no meio do caminho, espantada que meu marido

estivesse tão à vontade com uma criança. Uma mulher parou ao seu
lado, pegando a criança, porque ele parecia muito transtornado.

Antes que pudesse me mover, ele olhou para baixo e me viu ali. Seu

olhar furioso ficou surpreso e de repente, entendi tudo. Aquela

mulher, a criança... Nosso casamento foi uma obrigação de


negócios, um acordo que nossos pais fizeram sem nosso

consentimento.

Nada o impedia de ter alguém antes de mim...

Corri de volta para o carro, ignorando o seu grito me


pedindo para parar. Ele chegou a pular na frente do carro. Dei ré,

batendo em outro veículo, cães latiram e alarmes dispararam na

rua. Avancei, desviando dele e seguindo pela rua, olhando-o correr


atrás do carro e pegar o telefone. O meu celular começou a tocar

quando virei a esquina, sem saber para onde ir, virei na primeira

indicação de volta à cidade.

Não fazia sentido. Como ela podia aceitar? Os momentos


que ele dizia estar trabalhando, podia estar com ela. As noites que
não voltava para casa. Ninguém sabia o que Enzo fazia, apenas ele

mesmo. E o idiota ainda controlava todos os meus passos... Passei


as últimas semanas me dedicando, totalmente submissa, quase

deprimida, para o filho da puta miserável ter uma mulher e um filho.

Uma vozinha irritante me disse que poderia estar me

precipitando e nem dei a chance de ouvir o que tinha a dizer. Não


queria ouvir, queria gritar, bater em algo e só de pensar que estava

totalmente desamparada em um país que não era o meu me

deixava ainda mais puta. Como permiti isso? Me coloquei em uma

posição totalmente vulnerável. Não tinha controle nem da minha


conta bancária.

Enquanto dirigia por um lugar que não fazia ideia, vi a placa

de uma lanchonete com estacionamento, dei a seta e parei em uma


vaga na frente de qualquer jeito. Precisava pensar antes de voltar

para casa. Não podia, não iria e nem queria manter um casamento

com um homem que tinha outra família.

— Olá, moça bonita. Esse é o nosso menu e me chame


para o que precisar. — Uma senhora bem idosa me abordou na

entrada.
Escolhi uma mesa nos fundos, deixei o meu telefone
desligado bem na minha frente e a bolsa do lado. Pedi um café só

para justificar o uso da mesa, não parei de tremer e as lágrimas

começaram a escorrer pelo meu rosto, pingando na superfície que


cheirava a cloro e gordura de bacon. Não conseguia entender meus

sentimentos, apenas doía muito e não tinha ideia do que poderia

fazer.

A garçonete colocou o café na minha frente, sem falar nada e


continuei chorando feito uma idiota. Queria tanto ter alguém para

conversar, não podia ligar o meu telefone, não queria ser

encontrada e não tinha ninguém para desabafar. Alessio era vice de


Enzo, era um homem e ia mandar que voltasse para o apartamento.

— Aqui está o nosso menu...

— Não preciso, vim buscar minha mulher.

Ah, droga. Ele me encontrou.

Não demorou muito para Enzo sentar-se na minha frente,


apoiar os antebraços na mesa e cruzar as mãos. Não ergui o meu

rosto, tentando parar de chorar e pensando nas minhas opções.

— Amor. — Enzo tentou pegar as minhas mãos e recuei, ele

insistiu. — Vamos ter essa conversa em casa, por favor. Não é o


que está pensando e sei que está cheia de ideias erradas na sua
cabecinha.

— E minhas ideias estão erradas? — Minha voz saiu um lixo,

exatamente como me sentia. Limpei a garganta, tentando parecer


mais controlada.

— Kyra é apenas uma amiga, ela é casada e tem filhos.

— Conheço o Dominic, por que não a conheci?

— A história é longa e não pode ser falada em público, por

favor, vamos para casa. — Sabia que a paciência dele estava se


esgotando e continuei no lugar. — Vou levantar e vou te jogar sobre
os meus ombros, não importa o quanto grite e atraia atenção. Estou

por um fio aqui, Juliana.

— Foda-se, Enzo. — Olhei bem dentro dos seus olhos, com


toda minha raiva. — Foda-se você, a sua amiguinha e todo o

restante. Quero que vá à merda! — Estava pronta para dar a minha


saída triunfal quando ele empurrou a mesa para o lado com tanta
força que soltou os parafusos, tudo caiu no chão enquanto ele me

puxava pelo braço e me colocava sobre os ombros.

— Pegue as coisas e cuide da bagunça. — Ordenou a


alguém, que não deu para ver e nem podia me debater de tão
apertado que estava me segurando. Ouvi o barulho da porta do
carro e ele me jogou dentro, entrando desleixado em seguida.
Chutei sua canela, bati no peito e mordi seu braço. — Para com

isso, Juliana! Eu nunca te traí, mulher. Deixa de ser maluca!

— Maluca? Acabei de perceber que não te conheço e permiti

que controlasse toda a minha vida! Isso vai acabar, Enzo. Já


acabou, aliás. Eu não vou ser sua bonequinha. — Bati na sua mão,
que tentava me segurar.

— Acha que é a única que está com raiva aqui? Você saiu

sem um segurança e desativou a sua localização! Se alguém te


pegasse, eu nunca iria te encontrar! Tem noção da besteira? —
Berrou com a fúria que a última vez que presenciei, o fez quebrar os

azulejos do meu banheiro na Itália. Não que ele fosse me bater, não
era desse tipo quando estava furioso.

— Vi a mensagem que ela te mandou e eu nunca sei onde

está, o que está fazendo. Fui atrás para descobrir quem era e o que
significava para você!

— Ela significa muito, porque já salvou minha vida muitas


vezes... Mas você significa mais. Muito mais. Você é a minha
mulher, Juliana. Vou passar o resto da minha vida do seu lado e já
não posso imaginá-la sem você.

Olhei-o ainda com raiva e ao mesmo tempo tocada com suas


palavras.

— Como eu posso te provar que você é a mulher da minha


vida?
Vinte e três | Enzo.

Juliana estava parada na minha frente, em choque com

minhas palavras e para ser honesto, também estava chocado com a


verdade que escorreu da minha boca sem nenhuma dificuldade.

Não me arrependia, porque por uma hora, não sabia onde ela
estava e nunca senti tanto medo em toda minha vida. Nunca mais
queria sentir o gosto do desespero de perdê-la.

Minha engenhosa esposa conseguiu despistar seu

segurança, minha irmã e todo o restante. Tanta vigilância para porra


nenhuma.

Nunca imaginei que ela mexesse no meu telefone e lesse as

mensagens. Nunca pensei que fosse do seu feitio ser tão ciumenta,
deveria ter imaginado que a mulher que conheci estava subjugada
com uma falsa calma em uma tentativa de conexão. A Juliana que

não queria se casar, disposta a me pagar para não casar, não

demoraria muito tempo para aprontar alguma coisa que desafiasse


a minha sanidade.

Minha louca esposa.


Ainda era difícil acreditar que compartilhou a minha

localização no celular dela e saiu dirigindo feito doida pela cidade


que mal conhecia. Angelo só conseguiu encontrá-la pelas câmeras

de trânsito, usando a busca pela placa e vendo as barbeiragens

flagradas pelas lentes. As multas chegariam em breve... E se ela


sofresse um acidente? Só de pensar, ficava arrepiado.

Juliana ainda estava irritada, de braços cruzados, fungando

até entrarmos no prédio. Ângelo saiu do banco da frente nos

deixando para trás sozinhos e logo Mika parou ao lado com o


Camaro novíssimo que a Juliana havia usado mais cedo. Com a

bolsa dela e o celular, os dois foram para o elevador.

— Nunca mais me jogue sobre os ombros como se fosse


um saco de batatas. Respeite minha decisão de não sair do meu

lugar.

— Sinto muito — pedi honestamente.

— Por que ela é importante? — Inclinou-se para frente,

olhando dentro dos meus olhos. — Estamos sozinhos. Aqui também

não pode falar? Só vou entrar naquele apartamento para ficar

quando me der por satisfeita. Eu vou embora, Enzo.


Arqueei minha sobrancelha percebendo que ela estava
muito brava, muito além do que imaginava. Algo me dizia que a

ameaça de ir embora era totalmente real. Não queria viver um

casamento de fachada, principalmente, não queria viver longe dela.

Se ela fosse embora, eu iria atrás.

— Não posso te contar...

— Ah você pode! — Me cortou antes que terminasse.

— Juliana, acalme-se! Nunca te traí, pelo amor de Deus.

Kyra é casada. Ela e o seu marido são meus parceiros de negócios.

Hoje é aniversário da sua filha, que gosto muito porque estive lá em


seu nascimento e como nós ainda não podemos ser vistos em

público, não poderei estar na festa que acontecerá no sábado.

— Fazem parte da família?— Arqueou a sobrancelha ainda

desconfiada.

— São negócios que Dominic também faz parte, fora da

família.

— Por que não me contou? Por que não me disse “Estou

indo na casa de uma amiga, ver a filha dela e estarei em casa para

o jantar”. Não me fala nada... nunca. Não sei onde está, o que está

fazendo e ao mesmo tempo você controla cada maldito passo meu.


Como pode achar um absurdo o meu ciúme e a minha desconfiança

se me mantém fora da sua vida? Exatamente o que meu pai fez a


vida toda!

Fiquei em silêncio, absorvendo a mágoa das suas palavras


e me senti derrotado. Com isso, ela continuou.

— Sou tão fútil assim que não pode me dar a chance de


fazer parte da sua vida real? O que você tem medo? Me casei com

você, mesmo sabendo que é chefe da máfia. Um assassino. Entrei


na porcaria do chuveiro com você depois de praticamente quebrar
meu banheiro inteiro, durmo do seu lado toda maldita noite

confiando minha segurança... a minha vida. Por que não pode me


dar o mesmo? Você pode me matar em um piscar de olhos e ainda

assim eu confio em você.

Segurei as suas mãos que tremiam e beijei.

— Tudo que quero é te proteger. — Olhei em seus olhos. —


Você não está acostumada e não sabe a profundidade dos nossos

negócios... Não sabe o quanto posso ser realmente ruim. Quero que
tenha uma vida perfeita.

— Pare de me tratar como uma princesa. Quando vai


realmente me fazer a sua rainha? Não vou quebrar, Enzo. E se
quebrar, esteja do meu lado para me ensinar a colar meus pedaços.

Hoje foi um choque de realidade e me fez perceber o quanto fui


subjugada nas últimas semanas... Isso acabou. Ou as coisas

mudam entre nós ou nosso casamento será um fracasso.

— Juliana...

— Não gosto de fracassar.

— Nosso casamento não vai ser um fracasso. Me desculpa


por não ter dito aonde ia, quem era a Kyra e por manter distância.

Sem falar mais nada, ela saiu do carro encerrando a

conversa e controlei minha vontade de explodir. Estava pisando em


ovos. Meu braço doía do soco que Kyra me deu enquanto me

chamava de vacilão por omitir minha vida de Juliana... Ninguém


entendia meu medo. Medo de que alguém a sequestrasse pelas

informações que poderia saber, que ela sentisse nojo de mim pela
vida que eu levava, de não me amar, de perdê-la em milhares de
cenários diferentes. Juliana nasceu em uma família mafiosa e foi

criada para ser um anjo. Ela era perfeita.

Ficamos em silêncio no elevador e preferia mil vezes os


seus gritos do que ser ignorado. O apartamento estava vazio. Minha
esposa estava desgrenhada, com o rosto vermelho e inchado. Ela
entrou na cozinha pegando uma taça de vinho e depois abriu a
adega. Analisou os rótulos antes de escolher um da minha coleção
mais cara.

Indo até nosso quarto, tirou a roupa, jogou no cesto e foi

para o banheiro com a garrafa. Me sentei na cama, honestamente


perdido e muito chateado. Não gostava de não ter o controle da
situação e a bola estava com ela, não saber a sua próxima jogada

me deixava inseguro, e uma coisa que odiava era me sentir


inseguro.

— Enzo? — Sua voz ecoou no banheiro e me levantei, puto


nas calças, mordendo a língua e entrei no banheiro. Juliana estava
nua, dentro da banheira enchendo, água quente, lavanda e espuma.

Ela queria me matar. — Tire a sua roupa. Acabei de perceber que


não terminei de falar.

— O seu limite já estourou, não estou no clima para

brincadeiras.

— Não estou brincando, marido. Quero saber exatamente


que perigos posso correr ao estar sozinha na rua. Quero saber dos

seus inimigos, o que faz, aonde vai e obviamente chegar a um


acordo sobre a sua localização. Entra e senta.
— Se eu entrar aí, vou foder você.

Sorrindo, sedutora, como a porra da sereia mais linda do

mar, estalou a língua e apontou para o espaço vazio na sua frente.


Idiota como sou, com o pau duro, tirei a minha roupa e entrei na

banheira com cuidado para não a machucar. Ela mal esperou que
me acomodasse antes de subir no meu colo, envolvendo os braços
em meu pescoço e as pernas na minha cintura, a buceta aninhando
meu pau.

— Juliana, puta que pariu, isso é vingança? Sabe que não

resisto a você e ainda faz assim... — gemi, beijando seu pescoço e

agarrando seus peitos. — O que está fazendo comigo?

— Não sei. — Sua resposta honesta me deixou em alerta.

— Quero sentir que é meu. Não gostei de pensar que poderia ter

outra, ainda odeio a sensação de que não faço parte da sua vida.

Não vou aceitar mais viver assim, precisa mudar, nós precisamos
ser honestos um com o outro. Por favor, Enzo. Não me deixe de

fora... Seja realmente meu por inteiro.

— Porra, amore. Sou seu, de corpo, alma e coração. Todo


seu, baby. — Segurei seu rosto e beijei a boca. — Me desculpa,
confia em mim, vai ser diferente e isso sim é uma promessa. Te dou

a minha palavra.

— Vou te dar esta chance.

Seu olhar me dizia que realmente era a minha única chance

e eu não ia desperdiçar. Algumas horas atrás pensei que não estaria

com ela em meus braços e ela estava ali, se entregando a mim mais
uma vez, assim como eu estava me dando a ela integralmente. Nós

começamos no banheiro e terminamos na cama, embolados, nus e

molhados.

Após fazer amor, eu estava grato. Nunca mais iria perdê-la de


vista. Seu dedo indicador estava desenhando um padrão

incompreensível na minha barriga.

— Que tipos de perigos me cercam?

— Nossa organização vale muito dinheiro e dominamos


muitos territórios, o que a família conseguiu nos últimos anos nos

fez ter muitos inimigos. Nós temos informações e os mais variados

tipos de pessoas nos pagando e na nossa folha de pagamento.


Estou no topo dos italianos, baby. Você é a minha esposa, qualquer

um para me ferir poderia facilmente te pegar para tentar conseguir

algo. E infelizmente, vai conseguir, porque farei qualquer coisa por


você. — Beijei sua testa. — Nunca subestime o perigo que nos

cerca.

— Como papai conseguia fazer tudo escondido?

— A sua família ainda estava no estilo antigo de fazer


negócios... Agora as coisas mudaram, o mundo evoluiu e para estar

no topo foi necessário adaptar. — Passei minha mão por seu braço

arrepiado. — Frio?

— Apenas tentando envolver minha mente em torno de tudo


isso.

— Nunca mais fuja de mim. É sério. Venha até mim,

converse, grite, faça o que quiser, mas nunca mais me faça sentir o

desespero que é te perder.

— Fui infantil e ciumenta, desculpa. Só não consegui

suportar a ideia que tivesse outra família, filhos... Não está sendo

fácil. Estou sozinha aqui, ainda não entendo a língua ao meu redor,

qual é a minha função e o porquê de tudo isso. É um mundo que eu


não conhecia, então... Você me deixar de fora não me ajuda a lidar

com minhas inseguranças e a vencer tudo isso.

— No seu lugar teria pensado o mesmo, desculpa por


ocultar tanto de você. Só quero te dar uma vida normal e feliz, o
máximo que puder. Acho que não é possível, mas vou tentar...

— Não vai ser impossível,eu posso ser feliz com a verdade,


mas eu sempre vou odiar a mentira. Não minta para mim e

ficaremos bem.

— Eu prometo. — Beijei a sua testa.

Juliana adormeceu grudada em mim e estava tão cansado

quanto ela, sem aguentar ficar acordado como normalmente. Ignorei


o mundo do lado de fora do quarto, apenas tranquilizei Kyra que

minha mulher estava bem e ela mandou uma mensagem de volta

reafirmando que eu era um estúpido e idiota. Nenhuma novidade.

O dia amanheceu bem frio e tomei um banho quente, ainda

com os músculos tensos do dia anterior. Fiquei parado debaixo da

água pesada, relaxando meu corpo e alma para o longo dia que
precisaria enfrentar. Ouvi sons no quarto, Juliana deveria ter

acordado. Encerrei o meu banho e ela estava dentro do seu closet,

batendo as portas, procurando algo. Quando me viu, olhou

sorridente.

— Bom dia. — Sua animação me deixou desconfiado.

Estava usando roupas de ginástica e segurando um par de tênis.

— Vai malhar?
— Hoje é o começo de uma nova vida. Então vou começar

fazendo bom uso da academia do prédio. — Foi para o quarto,

sentou-se na cama, enfiando os tênis nos pés e prendendo os

cabelos. — Como está a sua agenda hoje?

— Estarei no escritório o dia inteiro e a noite em casa para

jantarmos juntos. Vou trazer os novos rótulos dos vinhos para dar

uma analisada. Uma equipe irá ao escritório hoje mostrar as novas

opções. — Era meu novo jeito de trazer concessões para o nosso


relacionamento.

— Tudo bem, nos vemos mais tarde! — Me deu um beijo e

saiu do quarto.

Me vesti bem rápido, porque queria dar uma olhada nela na


academia antes de sair e ela nem tomou café, desceu com Stefanio

e estava na esteira, ouvindo música. Pedi que preparassem um

treino leve, porque ela não estava exatamente habituada com


exercícios físicos. Acenei em despedida e a minha esposa

respondeu. Desconfiado, ainda fiquei olhando e fui embora sem

precisar dizer mais nada para Stefanio.

Ele ouviu o suficiente ontem.


Antônia e Giana me receberam na empresa com a agenda

cheia. Me reuni com diversos sócios, associados e analisei novos


contratos de construção das boates enquanto esperava Ângelo me

entregar o balanço do final de semana de todos os nossos negócios.

Estávamos vigiando os movimentos dos russos na cidade. Kátia

estava tentando ganhar espaço e isso me incomodava muito mais


que os chineses. Ela era uma inimiga de longa data que perdeu

força quando me associei aos King.

Ainda estávamos procurando por meu tio e na última

semana, Maurizio não fez nenhum movimento. A vida do Senador


Rollins estava com os dias contados e por enquanto, Robert

precisava acreditar que estava limpo para não tentar algo contra a

sua filha. Se existia uma coisa que realmente odiava, era esperar
para eliminar quem estava me atrapalhando.

Saí da minha última reunião antes do almoço com o meu

telefone cheio de mensagens.

— Sr. Rafaelli! Sua esposa está na sala de reuniões com a


equipe de marketing. — Antônia me informou com o rosto vermelho.

— Enviei mensagens, senhor. — Stefanio deu um passo à

frente e parecia muito desconfortável. — Ela estava muito


determinada, senhor.

Que inferno Juliana fez para chegar até ali...

— Quando for assim, me ligue.

Empurrei as portas da sala de reunião, dando de cara com a

equipe de marketing sentada e minha esposa em pé, usando uma


calça jeans muito apertada que delineava as suas curvas,

acentuando sua cinturinha fina, uma blusa branca de seda e

mangas longas, dobradas até os cotovelos e um colar que fazia

qualquer um olhar para o ponto brilhante entre seus seios. Seus


cabelos estavam soltos, bonitos, ela estava maquiada e com saltos

altos. Era a porra da visão mais linda do mundo, a sexy mulher de

negócios.

— Olá, marido. Que bom que desocupou, já escolhi dois

rótulos, estou em dúvida sobre os da safra especial. Sempre tiveram


meu rosto, mas acho que está na hora de amadurecer a imagem do

vinhedo. O que acha da sigla dos Valentinni e agora acrescentando


o R adornado? — Seu tom de voz despreocupado me deu diversos
alertas.

Andei até ela, olhando os desenhos e perguntei entredentes.

— O que está fazendo aqui?


— Trabalhando no meu negócio... Quer dizer, trabalhando
com o nosso vinhedo. — Sorriu toda inocente na frente daquele
monte de gente, esperando uma reação explosiva minha. — Depois

nós vamos sair para almoçar e eu irei para casa cuidar dos últimos
detalhes do jantar de ação de graças. Algum problema quanto a
isso? — Sua expressão inocente não me enganou nem um pouco,

apenas sorri e peguei uma das folhas.

Tinha que dar o braço a torcer, ninguém conhecia mais o


vinhedo que Juliana e sua paixão era real. Cresceu acreditando que

o vinho era tudo o que mantinha sua famíliae ela escolheu os novos
rótulos, ficando empolgada com o slogan e os novos comerciais.

Seus olhos chegaram a brilhar no final da reunião, aguardei que o


grupo saísse acompanhado da minha secretária e virei para minha
esposa, que me encarava, mordendo o lábio.

— Como soube o horário da reunião?

— Não vou entregar os meus meios. — Ficou de pé e parou


na minha frente. — Não te atrapalhei em nada e de quebra, fiz um
excelente trabalho. — Inclinou-se e me deu um beijo molhado e

estalado, que involuntariamente me fez rir. — Vamos almoçar?

— Juliana...
— Sei o que vai dizer e me poupe do seu discurso, Enzo.
Não me meti nos assuntos da família, apenas nos do vinhedo e
definitivamente estou representando muito bem o meu papel de

matriarca, dona da porra toda. — Seus lábios se moveram contra os


meus e agarrei a sua bunda, colocando-a sentada no meu colo. —

Será que meu marido fica excitado em me ver toda mandona?

— Fico excitado o tempo todo. — Beijei o seu pescoço. —


Tome cuidado com as suas ações, apenas isso. E da próxima vez,

me avise. Agora vamos almoçar.

Não pretendia sair para almoçar, comeria qualquer coisa no


escritório, porém, valeu a pena sair com ela para uma boa refeição.
Stefanio e Mika estavam em um carro diferente do meu, seguindo-

me pela cidade enquanto minha esposa falava pelos cotovelos no


banco ao meu lado.

Parei em um sinal, analisei ao redor e olhei para minha

mulher tagarelando sobre como o novo tom de dourado dos rótulos


ficaria incrível daqui a vinte anos, dando um ar de safra envelhecida
e que estava com vontade de comer um doce, tudo ao mesmo

tempo. Ela tinha a sorte imensa de ser linda, porque puta que pariu,
parecia que havia almoçado uma sopa de letrinhas.
— Os convites para o jantar foram confirmados. — Leu uma
mensagem no seu celular. — Comprei uma blusa nova e mandei

uma calça que nunca usou para o alfaiate. Temos que montar uma
árvore de natal, pedi ajuda a Stefanio para comprar e encomendei
as decorações.

— Mando alguém fazer.

— Nós vamos fazer! É o nosso primeiro natal na nossa nova


casa como marido e mulher... Portanto, é melhor estar lá quando
abrir a primeira caixa. — Seu olhar tinha o peso de dez sacos de

cimento e a boquinha carnuda estava crispada.

— Alguém já te disse que acordou com o chicote nas mãos

hoje?

— Não. Quer brincar com meu chicote? Te empresto! — Deu

um tapinha na minha coxa e reparei que havia uma van na mesma


rota. Coloquei o meu telefone no suporte e liguei para Mika.

— O que há com a van? Está atrás de nós há três


quarteirões.

— A placa deve ser falsa, sem visualização do motorista e


Stefanio está verificando mais detalhes. Não fez nenhum movimento

ofensivo até agora, senhor. — Foi Mika falar que a van tentou mudar
de pista e mesmo parados no sinal, meu segurança bloqueou a

tentativa. — Até agora. Consigo ver três homens usando preto,


estão se movimentando dentro do veículo e só.

— A placa é definitivamente falsa e segundo Ângelo, a van

passou três vezes em frente a empresa até o horário que saímos


com os carros. Verificou pelas câmeras de trânsito.

— Fiquem atentos. — Encerrei a chamada e Juliana estava


com as mãos cruzadas no colo, me olhando meio nervosa. — Seu

cinto está bem preso? — Coloquei a minha mão para o bloqueador


e conferi. — Apenas fique calma, está bem? Pode ser tudo ou pode
ser nada, vamos ficar bem.

Em um cruzamento, aproveitei os cinco segundos entre os


sinais da cidade e assim que os dois principais fecharam, arranquei

com o carro. Era bom estar com o novo Camaro, porque ele
respondeu muito bem a velocidade e me deu a oportunidade de
cruzar o trânsito, caindo na avenida de volta para casa em poucos

minutos.

Stefanio e Mika seguiram bloqueando a van, que


desapareceu um quarteirão antes de entrar no quadrante do meu
prédio. Entrei na garagem, subindo a rampa e estacionei próximo ao
elevador, desligando o motor. Liguei para os meus seguranças.

— Estamos seguindo a van, senhor. — Mika atendeu. —

Carlo e Giacomo estão no prédio e farão a segurança da senhora.

— Quero informações o mais rápido possível.

— Obrigada, rapazes! — Juliana nos pegou de surpresa.

— De nada, senhora. — Marco e Stefanio falaram juntos.

Encerrei a chamada.

— Agradecendo aos seguranças por fazerem seus

trabalhos? — Arqueei a minha sobrancelha.

— É educado. Tenho certeza de que sua mãe te ensinou


isso — rebateu secamente. — Me ajude a sair do carro, fiquei tão

nervosa que as minhas pernas estão bambas e toda essa correria


embrulhou meu estômago, acho que o almoço quer sair. — Sua
boca estava pálida e os olhos bem arregalados.

Esperava que passando por aquela situação ela me levasse

a sério quando pedisse para não extrapolar os limites, porque coisas


assim poderiam acontecer sem nenhuma previsão. Sabia quem
estava por trás daquilo, a única mulher que achava que fizemos algo
contra sua família anos atrás e tentava a todo custo roubar o meu
território. Era hora de ter outra conversinha com a russa maluca...

Daquela vez, ia devolver mais que alguns homens sem cabeça.


Vinte e quatro | Enzo.

Juliana estava no tatame com Emerson, aprendendo a lutar.

Ela e Carina estavam determinadas a dominar um pouco sobre


defesa pessoal e dependendo do desenvolvimento delas, poderiam

manter o treinamento. Carina era muito mais frouxa, sempre


reclamando das unhas, já minha esposa parecia sedenta. Estava
focada em derrubar Emerson a todo custo, lutando de volta com

força e dando pulinhos no lugar, tomada pela adrenalina.

Fiquei encostado na parede, rindo dos gritinhos que Juliana


dava cada vez que precisava fazer força, observei o momento que
Alessio olhou o seu telefone. Seu olhar franziu e então, ele foi

tomado por uma fúria que começou a chutar e empurrar os


aparelhos da academia, arremessando um peso no vidro. Emerson
pulou do tatame, imobilizando-o, ele se debatia mesmo, com os

gritos das meninas. Juliana parou na sua frente e puxei-a para

longe, receoso que pudesse atingi-la sem querer.

Peguei seu telefone do chão e li a mensagem aberta.

“Juliana está bem?”


— Ela está bem, Alessio. E bem aqui, acalme-se. — Segurei

minha esposa bem na frente dele. — Inteira, perfeita e segura.

— O que está acontecendo? Por que ele não para? — Minha


esposa estava longe de ficar calma. — Estou aqui, Alessio. —

Segurou o rosto dele e os dois olharam profundamente nos olhos

um do outro, então para minha completa surpresa, Alessio começou


a chorar como um bebê. Sua prima ficou tão sem reação quanto eu,

abraçando-o e ambos caíram no chão.

Carina e Emerson estavam me olhando completamente


confusos. Por que a mensagem de Tomasso foi um gatilho para

Alessio em relação à Juliana? O que ele estava escondendo de

mim? Contei a ele e a Emerson que Maurizio estava interessado em


Carina, mantendo fotos dela e planejando algo. Os dois receberam

a notícia com muita raiva e desde então, Alessio parecia estar no

limite.

Quando ele me pediu para não deixar Juliana voltar para a

Itália sozinha, não maldei, mas tinha alguma coisa por trás daquele

pedido e eu ia matá-lo por esconder algo sério que envolvia a vida

da minha mulher.
— Subam vocês dois. — Apontei em direção a meus irmãos e
eles foram rápido para os elevadores.

— O que está acontecendo com você? — Juliana balançou o

seu primo em seus braços, ninando como uma mãe ninava um

bebê.

— Ele não pode te tocar. — Alessio estava balbuciando,

agarrado aos braços da minha esposa e ajoelhei ao seu lado,

soltando seu aperto que deixou marcas vermelhas no braço fino e

muito claro de Juliana. Ela se afastou um pouco, caindo de bunda

no chão e segurei o rosto do meu vice.

— Por que Tomasso não pode tocar Juliana?

Alessio ergueu o olhar, perdido e eu sabia que estava preso

dentro de um mar de raiva e confusão. Era um episódio comum

durante o treinamento, é perfeitamente normal não saber lidar com

os sentimentos. Muitas vezes causei um verdadeiro pandemônio ou

um terrível banho de sangue. Alessio era muito jovem e parecia


muito comigo. Dentro dele havia muita raiva acumulada sobre algo

tão grave que poderia atingir a sua prima.

— Fala comigo, por favor. Põe para fora o que está sentindo...

— Juliana agarrou a mão dele, suplicando por uma explicação e o


primo apenas a encarou, com os olhos claros banhados em

lágrimas.

— Ele não pode fazer com você o que fez com a minha mãe,

assim como Maurizio não vai tocar na minha Carina. — Sua voz era
fraca, tão baixa que mal deu para ouvir.

— O que tio Tommaso fez com sua mãe, Alessio? — Minha


esposa estava perdida, mas eu entendi tudo.

— Mamãe mandou você embora para que ele não fizesse o


mesmo. Ela convenceu o seu pai a te mandar para a escola, assim

Tomasso não ficaria perto de você e quando o padrinho morreu,


dormi de guarda no corredor para impedir que algo acontecesse...

— O que acontecesse? — Juliana entendeu, mas queria que


ele falasse as palavras.

— Tommaso abusou sexualmente da sua tia Malia. — Soltei a


bomba.

Alessio ergueu o dedo, balançando a cabeça e parecia quase


delirante.

— Mamãe me contou que ele começou quando ela tinha doze


anos e foi até o momento que casou... Ela engordou
propositalmente quando o meu pai morreu, para que ele nunca mais

a tocasse e fez de tudo para que nunca tocasse em você. Toda vez
inventava uma desculpa para dormir com você. — Alessio segurou a

mão de Juliana. — Mamãe estava exultante com o seu casamento,


porque assim você finalmente ficaria segura.

— Estou segura com você, com Enzo e com todos os outros.


Obrigada por cuidar de mim... — Juliana compreendeu que Alessio

estava no meio de um surto emocional. — Vamos deitar um pouco.


Hoje sou eu quem vai cuidar de você.

Levantei Alessio do chão e fomos para o elevador. Mika


entrou comigo, olhando para o menino, perdido nos seus
pensamentos tanto quanto eu. Fui iniciado aos doze anos, não havia

ninguém lá para me levantar. Mika era mais velho que eu e


provavelmente passou pelo mesmo. A vida de um garoto iniciado

era solitária e escura. Alessio estava no auge, apesar de já fazer


parte da vida mafiosa, nunca foi treinado para tal. Ele estava sendo

moldado para ser o meu vice e faria dele o melhor.

Entramos no apartamento dos meninos e empurrei Alessio

para seu quarto. Na gaveta havia calmantes prescritos para


situações como aquela, ele tomou sem me questionar e Juliana
estava parada ao fundo, usando um short azul e um top amarelo.

Chamei Emerson para olhar o seu companheiro de casa e


levei minha esposa para o nosso apartamento. As portas do

elevador abriram e ela saiu correndo para o banheiro, ajoelhando na


frente do vaso e vomitando de pura tensão. Carina caiu ao seu lado,
segurando o cabelo e umedeci uma toalha, ajudando-a.

— Desculpa. Toda vez que fico nervosa, acabo vomitando. —


Limpou a boca e aceitou a minha ajuda para levantar. Seu olhar

encontrou o meu. — Preciso falar com a minha tia.

— Faça a ligação do quarto, amore. Eu também tenho uma

ligação para fazer.

Saindo de cabeça baixa, tirei o meu telefone do bolso e liguei

para o meu pai. Ele estava se escondendo na Itália, com medo que
algumas verdades viessem à tona se continuasse por perto e
basicamente obrigando minha mãe a viver exilada. Tentei sondar

informações sobre Tommaso, mas tudo que meu pai disse foi que
ele deveria ter morrido no lugar do irmão.

Hum... A animosidade era além da guerra entre nossas

famílias no passado.
Fiz mais uma ligação importante. Giovanni era meu homem
de confiança no vinhedo e estava de olho em Tommaso, assim
como em todos os membros da família Valentinni. Não confiava em

nenhum deles.

— Onde está Tomasso?

— Passou a noite na casa principal e foi embora para sua

própria casa. Ele pegou uma mulher do vinhedo e a levou para o


quarto essa noite.

— Ela foi por conta própria ou obrigada?

— Não pareceu obrigada, só não parecia feliz também... É

uma das senhoras que entretém os rapazes, se é que me entende,


senhor.

— E a Malia?

— É uma senhora muito tranquila, fica o dia inteiro na

cozinha, limpando a casa e se tranca cedo no quarto. Sempre está


acordada antes do sol nascer.

— Vigie e a proteja...

Quando Tommaso abusou sexualmente da irmã, ele estava

sob as regras da família Rafaelli, se os meus cálculos estavam


corretos, ele quebrou o código de honra da famiglia. Ia pagar de

todo jeito. Giovanni ouviu atentamente as minhas ordens e parecia


muito satisfeito em executá-las. Juliana sempre lamentava que os

Valentinni estavam acabando, que sua família estava morrendo e

ela acabava de perder mais um. Dessa vez, eu tinha certeza que
não iria lamentar.

Ouvi os seus passos se aproximando.

— Algo está acontecendo lá, não é? Ouvi tia Malia se trancar

no quarto enquanto conversávamos. Ela confirmou. — Juliana me


abraçou por trás e deitou a cabeça nas minhas costas. — A minha

vida inteira senti um tremendo ressentimento da minha tia por me

afastar da família e tudo o que ela fazia era para me proteger. Ela

me explicou que o meu pai não sabia... Nunca contou a ninguém,


nem para o marido. Sabia que meu avô não faria nada e depois não

fazia sentido envolver o meu pai no assunto. Contou a Alessio para

ele cuidar de mim... Meu primo é mais novo que eu, um menino
carregando nos ombros uma responsabilidade tão grande...

Segurei as suas mãos e virei, prendendo-a em meus braços.

— A vida de um homem na família começa cedo. Apesar de

nunca ter sido treinado ou guiado, Alessio sabia que precisava


cuidar do seu próprio sangue e do código de honra entre nós. Não

se preocupe, ele vai ficar bem e você sempre ficará segura. — Beijei

a sua testa.

— Vou tomar um banho... Isso acabou comigo, Enzo. Estou


sentindo uma tristeza no meu coração tão grande. Cada dia que

passa, reconheço menos a minha vida e a família que cresci. Nada

era real.

— Sinto muito por isso. — Beijei sua boca e a deixei ir,


cabisbaixa.

O que mais aconteceu na família Valentinni que ainda iria me

surpreender e me desafiar? Tommaso era um enigma que eu não

estava inclinado a desvendar, não me interessava e não passava de


um rato. Tinha problemas maiores e pessoas irritantes querendo ter

mais do que realmente mereciam.

Meu telefone vibrou com um lembrete. Era hora de sair


novamente e cuidar de alguns assuntos internos. Deixei Emerson

em casa, de olho na bomba relógio que era Alessio e levei Mika

comigo. Stefanio cuidaria das meninas, desde que Juliana


conseguiu fugir, ele estava bem mais alerta e sem ceder aos
charmes da minha irmãzinha, que parecia não ter decidido quem ela

queria no final das contas.

— Olá, Enzo. — Maurizio apareceu atrás de mim, na

escuridão. Percebi a presença dele no instante em que entrei no

galpão que usávamos como cassino clandestino.

Ignorei-o e segui adiante até o soldado amarrado na cadeira.


Mika estava caminhando próximo, Matteo um pouco mais à frente e

ambos eram de minha confiança. Cabrini, o subchefe reclamante,

estava parado com o que era seu soldado fiel, conhecia os dois
muito bem. Maurizio estava só, ele tinha os seus homens, mas a

sua arrogância o fazia andar sozinho, porque pensava que assim

não iria memorizar os rostos dos seus merdinhas.

— Cabrini pegou este homem com sua mulher. — Maurizio


explicou com raiva. Pensei que se eu pegasse um homem na cama

com a minha esposa, iria matá-lo imediatamente e não traria a

vergonha para que todos os membros da família descobrissem.

Qualquer homem com brio e orgulho faria o mesmo, isso podia ser
uma armadilha ou uma tentativa de apagar um soldado sem

desculpas.

— Tudo bem, eu resolvo daqui. Vocês podem sair... Agora.


— Gostaria de fazer as honras, senhor. — Cabrini falou,

orgulhoso. Eles pensavam que eu era um completo idiota.

Acreditavam que não desconfiava nem por um segundo que

existiam traidores entre os meus.

— Vou apurar o caso, interrogá-lo... Para dançar tango, é

preciso dois. — Sorri friamente e apenas olhei para Mika, que

imediatamente parou ao lado de Cabrini, levando-o para a sala

sozinho. Seu soldado me deu um olhar de respeito, parando ao


fundo. — Eu disse para sair.

Maurizio saiu contrariado e imediatamente enviei uma

mensagem para Ilaria, que já estava com a esposa de Cabrini e as


filhas. Angelo iria seguir Maurizio. Não importava o que aquela

cobra estivesse articulando, não iria seguir o seu joguinho. Matteo

parou do meu lado, tirando a fita da boca do soldado que

imediatamente virou para o lado e vomitou. Ele estava visivelmente


drogado.

Tudo o que ele lembrava era de beber vinho no almoço e em

seguida, acordar no banco de trás do carro do chefe.

— Te dou a vida em troca da sua lealdade. Conte o que sabe.


— Olhei bem dentro de seus olhos.
— Motorista... meninas. — Vomitou um pouco mais. —

Reuniões tarde da noite.

— Desintoxique o homem e me avise, sei que ele tem muito a


dizer. É melhor que ele fique bem e vivo, entendeu Matteo?

— Vou cuidar direitinho dele. E o Cabrini?

— Mantenha-o em rédeas curtas até sabermos sua

participação em tudo. — Não ia matar um subchefe sem provas e


causar uma guerra de insatisfação entre os meus homens.

Ajeitando o meu colarinho, verifiquei a mensagem de Angelo

informando que Maurizio havia ido embora. Irritado com toda a


enrolação, voltei para casa e fui direto para o meu quarto. Carina

estava lá dentro, deitada na minha cama e Juliana estava na frente

do espelho, pronta para o nosso próximo compromisso.

— Fico pronto em dez minutos. — Avisei sem conseguir


controlar meu tom irritado. Bati a porta do banheiro, tirei a roupa e

me enfiei debaixo do chuveiro gelado, esfriando a mente e meu

corpo ao mesmo tempo. Felizmente, Juliana não veio atrás de mim,

porque não estava com cabeça para brigarmos antes de sairmos.

Terminado o meu banho, a minha irmã não estava mais no

quarto e minha esposa colocava brincos em frente ao espelho.


Usava jeans, botas até os joelhos, uma blusa branca e o casaco
pendurado no braço. Cheirosa e muito bonita, não resisti e beijei o

seu pescoço. Mesmo molhado, me esfreguei nela.

— Estou pronta, baby.

— Já ficarei. — Suspirei e me vesti com jeans, camisa, um


casaco e sapatos de couro.

De mãos dadas, saímos sozinhos e ela sempre achava

engraçado não precisar de guarda-costas quando ficava apenas

comigo. Não sabia quantas vezes precisava lembrá-la que era


capaz de protegê-la.

— Está ansiosa? — Tirei a sua mão da boca, porque estava

roendo as unhas.

— Bastante... Ela deve pensar que sou louca. Estou com


vergonha.

— Não é a primeira vez, pode ficar tranquila. — Sorri. Juliana


agarrou a minha coxa e ficou brincando com a costura do meu

jeans, enquanto dirigia pela cidade em um carro bastante comum,


apesar de luxuoso, com vidros escurecidos.
Entrei no bairro muito conhecido e estacionei na casa vazia,
minha mulher não entendeu absolutamente nada quando saímosna
garagem e entramos na casa que parecia habitada e na verdade,

era apenas um refúgio. Segurando a sua mão, andamos pelo jardim


e precisei guiá-la na pequena floresta onde já havia uma trilha
marcada entre os pinheiros com um ar gelado.

Empurrei o portão dos fundos e olhei para minha mulher.


Seus olhos arregalados me fizeram rir. O casal que nos receberia
naquela noite apareceu na porta dos fundos. Juliana apertou meus

dedos, nervosa.

— Olá, sejam bem-vindos! — Kyra deu um passo à frente. —


Venham, entrem! Está muito frio.

— Ky... Essa é minha adorável esposa, Juliana. — Apresentei

e as duas se olharam, uma sorridente e a outra curiosa. — Amore...


Kyra e o seu marido, Alex.

— Não entendo, eles não fazem parte da família. — Juliana


estava confusa.

— Eles são como uma família,mas fazem parte de outro lado


da minha vida. Prometi que iria melhorar sobre os meus segredos e

aqui está um deles.


— É um prazer te conhecer, Juliana. — Alex beijou a mão da
minha esposa.

— Está sendo galante assim só por que a sua mulher não


pode me ver sem camisa? — Suspirei e a minha esposa me bateu.
— Estou mais ou menos brincando — murmurei e Kyra revirou os

olhos.

— A reunião será na cozinha? — Jack apareceu, segurando


um copo de água.

— Não é uma reunião, é um jantar e eu te pedi para esperar.

— Alice veio atrás dele. — Oi, sou Alice e esse é o meu marido
intrometido, Jackson Bernard.

— Uau... Eu tinha um celular da sua empresa. — Juliana


estava atordoada, beijei sua bochecha. — Como vocês se

conhecem?

— Essa é uma longa história, o que realmente importa é que


só falta Dominic chegar e é o que nós somos. Um grupo estranho

com interesses em comum que viraram amigos. — Kyra pegou uma


garrafa de vinho em cima do balcão. — É o seu favorito, não é?
Tentei criar uma culinária italiana com a ajuda de Alice, mas nós
duas juntas não damos uma boa cozinheira então Jack saiu para
encomendar o jantar.

— É o meu favorito sim, obrigada. Não precisavam ter tanto


trabalho, mas... Podemos marcar um dia e assim posso ensinar uma

coisa ou outra. Amo cozinhar.

— A comida dela é maravilhosa. — Adicionei e as mulheres

foram para as panelas. Sempre que Alice aparecia com Jack,


achava que ele era corajoso demais em envolver sua mulher no
nosso meio, mas eu podia entender. Eles eram uma parte

importante da minha vida e Juliana era mais importante que tudo.


Não havia como separar.

— Eu cheguei. E com fome. — Dominic apareceu sorridente e


carregando uma torta. — É o que a senhora mandona queria? —
Abriu a caixa para Kyra.

— Obrigada por ser tão doce, menino. — Ky apertou a sua

bochecha e guardou a torta.

Juliana me olhou do outro lado da cozinha, ao mesmo tempo


que ouvia Alice falar algo sobre a salada. Eu sabia que estava cheia

de perguntas, sem nenhuma ideia do que estava vivendo, o que


poderia falar ou não. Achei melhor que primeiro os conhecesse para
depois definir até que ponto poderia dar-lhe informação, o suficiente

para que não pensasse que eu estava traindo o omertà da famigliae


muito menos o nosso casamento.
Vinte e cinco | Juliana.

As duas mulheres à minha frente pareciam próximas e senti

uma curiosidade sem tamanho em querer saber como elas se


conheceram. Ainda não entendia exatamente quem era Kyra e

porque era tão importante para o meu marido, mas ela era
seguramente casada com um homem muito bonito que possuía um
olhar sombrio. Quando ele me olhou, parecia saber dos segredos

mais obscuros da minha alma, e Alice era casada com o


mundialmente famoso Jackson Bernard, um inventor tecnológico,
físico, playboy e bilionário.

O que no mundo essas pessoas tinham em comum? Não

fazia a mínimaideia. Eles se conheciam, se divertiam e pareciam ter


uma relação verdadeira. Podia ousar dizer que Enzo parecia muito
mais relaxado ao lado deles do que com a sua própria família — não

incluindo seus irmãos e Alessio. Dizia mais pelos seus tios. Ele

sorriu daquele jeito para o primo Damon, não conseguia lembrar de


ninguém mais.

— Você é quietinha assim ou ainda está tímida? — Alice

encheu um pouco mais a minha taça. Os homens estavam


conversando na sala, falando alto e a voz de Enzo se destacava

com o seu sotaque ainda mais proeminente entre os outros.

— Acho que estou tentando acompanhar as informações...


Encaixar as peças. — Dei um golinho do meu vinho favorito.

— Talvez possa te ajudar um pouco. — Alice ocupou a

cadeira na minha frente e Kyra colocou entre nós uma bandeja com
muitos petiscos. — Kyra me contou que seguiu Enzo até aqui e

devo te dizer, basicamente fiz a mesma coisa anos atrás. — Minhas

bochechas ficaram vermelhas. — Jack e eu nos conhecemos desde


a infância e começamos a namorar ainda adolescentes, ficamos

juntos por cinco anos, ele me abandonou no altar e semanas depois

descobri que estava grávida. Com raiva, não contei sobre a nossa
filha e nos evitamos por oito anos. Quando voltamos, ninguém

queria que o perdoasse. Jack era bastante peculiar, nós evoluímos

muito até aqui e eu sentia muita insegurança... Comecei a perceber

que havia algo mais na sua vida, saídas misteriosas, ligações

escondidas e eu atendi uma ligação do telefone dele, algo que


nunca fazia e ouvi a voz dela. Juntando as peças, a segui em um

evento e eles já tinham combinado de nos apresentar.


— Jack e eu temos um relacionamento muito próximo, hoje
em dia ouso dizer que é como pai e filha. — Kyra entrou na

conversa. — Uma vez liguei para Jack e Alice atendeu, ficou

encucada como toda mulher ao ouvir o marido conversar com outra

às escondidas. Alice, assim como você, não sabia muito sobre a

outra vida do marido e eu pedi para ser apresentada, como agora.

— Sinto muito pela cena na frente da sua casa — pedi

honestamente, mas sem arrependimentos. Estava envergonhada,

mas valeu a pena. Enzo e eu passamos a conversar muito mais

depois e eu sabia que o meu sangue jamais ficaria calado mediante

uma desconfiança.

— Você bateu no carro do meu marido... Enzo deu a ele um


carro novinho. É coisa deles. Da última vez, Alex teve que dar uma

moto ao Dominic. — Ela ergueu as mãos rindo.

— Homens e os seus brinquedinhos. — Alice revirou os

olhos.

— O que é essa outra vida? — Estava muito insegura em

falar abertamente da família. Queria entender até onde elas sabiam

e o que podiam me iluminar.

Kyra me deu um olhar avaliador.


— Sabemos que Enzo é o chefe de todos os chefes. A

história de como começamos é longa demais para uma noite e um


pouco intragável para o nosso clima de ação de graças, mas nós

temos negócios juntos. Fazemos alguns serviços para quem pagar


melhor, de acordo com os nossos interesses e objetivos finais. Jack
é quem, de alguma forma, nos reuniu.

Ou seja, apesar de não fazer parte da família, eles

possuíam uma sociedade de negócios ilegais.

— Acho que entendi de modo geral.

— Aconteceram muitas coisas entre nós ao longo dos anos


e conseguimos chegar até aqui, nessa tortuosa forma de sermos

uma família. — Kyra sorriu com um pouco de melancolia e Alice


segurou sua mão, confortando. Hum, talvez esse evento que fez

Enzo ser tão ligado a ela e aos demais?

O jantar foi bastante agradável, delicioso e divertido. Enzo


estava brincalhão e se possível, me senti ainda mais encantada em

conhecer o seu lado mais leve, que normalmente, deixava aparecer


apenas alguns pedaços quando estava sozinho comigo. Meu marido

estava cumprindo a sua promessa em se abrir mais, tentar construir


um bom relacionamento entre nós e ter um casamento sólido.
No meio da madrugada, saímos da casa segura e voltamos

para o nosso apartamento. Carina estava dormindo tranquilamente


em sua cama e até a cobri, colocando a mão na sua testa, achando

que estava com febre. Minha irritante e muito tagarela cunhada


estava com a garganta inflamada.

— Bambina, acorde para tomar o remédio. — Enzo sentou-


se na cama dela com um frasco de xarope. Ele sempre era

carinhoso com a irmã, mesmo quando era severo com as suas


notas e o comportamento na escola. Carina era impossível de lidar,

apenas Enzo a mantinha sob controle e ela morria de medo de que


ele descobrisse as suas merdas.

Carina me contou que a mãe dela vivia atrás do pai ou

tomando medicações para dormir, deixando os três à própria sorte.


Enzo assumiu os cuidados, ele já não morava mais com os pais

quando Carina era pequena, mesmo assim, ele ia se certificar que


ela estava alimentada, vestida e pronta para a escola todos os dias.

Ele cuidou de Emerson e o educou. Lorenzo era muito grosseiro


com os filhos e Carina confessou que estava aliviada em não
precisar morar com os pais. Ela não gostava da maneira que seu pai

tratava a sua mãe.


— Ela vai ficar bem, vamos nos deitar. Teremos um longo
dia amanhã. — Segurei o seu ombro e apertei, estava tenso de
novo, como se lembrasse quem ele realmente era, as suas

responsabilidades e ainda tinha todas as coisas que deviam estar


acontecendo e eu não sabia.

Enzo não me respondeu quem era Maurizio e o que ele


queria com Carina. A única coisa que sabia era que esse homem

estava na lista de convidados do jantar do dia seguinte.

Esperava não ter um banho de sangue no meio do jantar

que fomos convidados. Meu primo parecia descontrolado, estava


ríspido, com raiva e ao mesmo tempo andando ao meu redor e de
Carina como um cão protetor. Enzo me disse para compreender, o

treinamento para os iniciados era muito pesado e demorava um


tempo para conseguir conter as emoções. Sinceramente, desejava

nunca ter filhos homens e queria que se danasse quem fosse o


próximo chefe. Por mim, aquilo acabaria no Enzo.

No nosso quarto, tirei a minha roupa e vesti uma camisola


longa, mexendo no aquecimento do quarto. Enzo deixava tudo

gelado. Agitado demais para o seu corpo descansar, vivia com calor.
Me deitei na cama, olhando para o teto e ele saiu do banheiro,
reclamando que o quarto estava quente, apenas ignorei como toda
noite. Deitou-se em cima de mim, me deu um beijo e depois se
acomodou de modo que sua cabeça ficasse na minha barriga.

— Vou matar seu tio Tommaso. — Falou do nada e senti um

arrepio descer por minha espinha. — A não ser que você me peça
para não fazer, do contrário, farei com que ele pague por tudo que
sua tia passou.

Respirei fundo, era uma bomba jogada na minha cabeça e

pensei honestamente. Meu tio nunca seria preso, o próprio Enzo

impediria que isso acontecesse, porque colocaria em risco toda a

organização e era contra o código da famiglia. Nascer e morrer pelo


sangue. Meu tio feriu uma regra importante e parecia querer ter

algum tipo de contato comigo... Não que eu fosse permitir, muito

menos o meu marido.

— Não quero essa responsabilidade... De dizer que sim ou


não. Não quero sangue nas minhas mãos. — Acariciei os seus

cabelos, até arranhei de leve o couro cabeludo. — E... — Respirei

fundo. — Não quero que ele fique impune pela vida que condenou a
minha tia.
Enzo não falou nada, beijou a minha barriga e foi subindo os

beijos entre meus seios.

— Então, ele será punido. — Moveu seus lábios macios

contra a minha boca. — O sangue nunca estará nas suas mãos,

sempre nas minhas. Antes irei fazer algumas perguntinhas...

— Acha que meu tio pode saber alguma coisa? — Tirei o


cabelo dos seus olhos e cruzei as pernas na sua cintura.

— Ele foi vice em um período que eram nossos inimigos,

certamente há muito o que dizer. — Beijou o meu queixo.

— A sua vida é um quebra cabeça, Enzo. Quando penso


que montei algumas peças, você me vem com muito mais. Um dia

ainda vou montar tudo.

— Não há o que montar, amore. Minha peça principal e mais

importante sempre será você. — falou, beijando o meu pescoço


daquele jeito que me deixava excitada sem esforço, puxando o

decote da minha camisola para baixo. — Acho que agora podemos

ter outro tipo de conversa.

— Já parou para pensar que fazemos sexo todos os dias?


— Sim e essa é a minha versão favorita de paraíso. —

Sorriu descaradamente e chupou meu mamilo, encerrando qualquer

assunto naquele momento.

Após fazer amor, nós dormimos tão abraçados quanto


possível. Ele gostava de ficar próximo, eu não estava acostumada,

mas não reclamava, porque ele sempre fazia coisas que não estava

acostumado, só para me agradar.

Rolei para o lado, fugindo do sol no meu rosto e bati meu


nariz no braço tatuado do meu marido. Até tomei um susto, ele

raramente ficava na cama de manhã. Nos últimos dias até tinha

ficado em casa e tomamos café da manhã juntos, porém, antes


disso, ficava trancado no escritório com os seus homens entrando e

saindo todo o maldito tempo.

Feliz por ter sua companhia quentinha no frio ártico do

quarto, me agarrei a ele, passando a mão por sua barriga e ele virou
de lado, me prendendo em um casulo gostoso. Sempre fui muito

sozinha, além do meu pai, não recebia muito carinho. Tentava me

convencer que esse era o motivo pelo qual me apeguei tão rápido a
Enzo e a facilidade que o deixei me possuir.
Olhei para o seu rosto e ele abriu os olhos, me fitando tão

intensamente que me senti a mulher mais sortuda do mundo.


Acariciei o seu rosto, com a barba por fazer e beijei o furinho do seu

queixo, subindo para os lábios.

— Bom dia, amore. Estava sonhando com aqueles pães de

canela que fez para o jantar de ação de graças.

— Vou fazer mais para você.

Depois da minha epifania em assumir meu papel e parar de

ser conduzida por aí como uma boneca de pano, me empenhei em

produzir o melhor jantar que a sociedade nova-iorquina ouviu falar.


Era a minha apresentação como matriarca da família a um seleto

grupo do alto escalão entre os negócios de Enzo. Minha sogra foi de

muita ajuda. Amber ficou horas em chamadas de vídeo me


ajudando a montar o cardápio, a lista de convidados e a decoração.

Com a ajuda de Giana e até de Ilaria, organizei uma linda

mesa de buffet no qual até eu cozinhei. Renata e a Su, como agora

a chamava, mergulharam de cabeça e estavam orgulhosas no dia,


com os seus maridos, como minhas convidadas, já que convenci

Enzo a contratar garçons e uma equipe de suporte. Carina fez o

meu cabelo porque não deu tempo de ir ao salão e eu mesma fiz as


minhas unhas, usei um vestido branco tão apertado que parecia

embalado a vácuo, se não fosse o lascado na coxa não conseguiria

andar.

Enzo amou e odiou o vestido. Ele quase rasgou quando me


puxou para o escritório e me chupou contra a porta, em seguida,

fizemos sexo alucinado e rápido ali mesmo. Fiquei descabelada,

suada e ele menos possessivo, conseguindo parar de ficar

emburrado cada vez que um homem me elogiava. Esse tipo de


comportamento me fazia pensar que, nas profundezas da mente

dele, existia uma séria insegurança sobre mim e um dia iria

descobrir o motivo.

— O jantar foi incrível, ainda ouço elogios à sua comida e a

toda organização. As mulheres da família estão orgulhosas e agora

terá uma longa fila de puxadores de saco, porque todas te acham

linda, educada e muito divertida. — Beijou a minha bochecha.

— Não fui tão incrível assim. Sua mãe me ajudou muito e

até a sua irmã.

— Claro que foi. Minha mãe é a criatura mais antipática que

já ouviram falar, ela ama meu pai, mas odiava a nossa vida e não
fazia questão nenhuma de se abrir.
— Não posso dizer que amo o que vivemos e por isso tenho

muita dificuldade em entender, mas não gosto de fazer as coisas


pela metade e nem de me sentir sem controle sobre a minha própria

vida. Gostei de organizar o evento, só não quero que essa seja a

minha única função na vida.

Enzo rolou para cima de mim e me beijou do jeito que eu


sabia que não iríamos ficar deitados sem fazer nada por muito

tempo.

— Sabe qual é a sua função?

— Ilumine-me, porque se falar de sexo, vou chutar as suas


bolas.

O meu beicinho favorito voltou com tudo. Resisti a vontade

de beijá-lo repetidas vezes.

— Eu ia dizer que era deixar seu marido feliz, assim como


meu dever é te fazer feliz, o resto que vá para a puta que pariu.

Tudo que importa nesse mundo sou eu e você, juntos, fodendo é

melhor ainda.

— Fodendo?

— É. Amo te foder, te comer, fazer amor, transar, sexo...


— Tá bom! Entendi, tarado.

Rindo como um idiota, agarrou o decote da minha camisola

e antes de conseguir segurar seus punhos deu um puxão que a

rasgou de cima a baixo. Dei um soco no seu braço, irritada, amava

aquela camisola. Sem se importar com meu beicinho, foi descendo


com a boca inquieta, me lambendo, beijando e chupando até entre

minhas pernas.

— Meu paraíso. — Sorriu sem um pingo de vergonha de


estar literalmente ali, olhando e babando. Lambeu os lábios. —

Acho que não quero mais sair de casa hoje. Podemos foder o dia

inteiro?

— Não podemos, então, adiante-se.

— Por que não podemos?

— Tenho mais o que fazer. — Fingi desinteresse mesmo


com seu dedo entrando lentamente e seu polegar esfregando meu

clitóris bem suave. — Não posso perder meu tempo transando... —


O olhar dele era maligno.

— Veremos. — Virou-me de bruços, erguendo minha bunda


e antes que pudesse apoiar meus cotovelos, afastou minhas

nádegas e senti sua língua pressionando firme. Soltei um grito. — É


melhor você se segurar. — Foi um bom aviso que prontamente
atendi.

No final do dia, me dei o luxo de um longo banho, com

espuma e creme hidrante de sobra. Enzo estava jogado na cama,


jogando no telefone, ignorando o mundo lá fora por umas horas. O
barulho dos tiros do seu joguinho estava me tirando do sério. Ele já

havia saído, voltado, atendeu ligações, porém passamos a maior


parte do dia dentro do quarto e toda vez que eu inventava de sair,
me distraía na cama, no sofá e até no tapete.

— Nós nunca mais vamos transar no tapete. Meus joelhos

estão esfolados. — Reclamei quando ele entrou no banheiro.

— Ou podemos colocar almofadas. — Brincou e me deu um


selinho barulhento. — Estou implicando com você. Tem alguma

previsão de tempo para se arrumar?

— Apenas uma hora.

— Volto daqui a pouco. — Me deu um beijo rápido e saiu, de


calça jeans, camisa e uma jaqueta de couro preta. Parecia um bad

boy da juventude transviada.

Relaxei na banheira com a minha mente correndo a mil por


hora. Parte dela estava presa na minha arrumação para o jantar e a
outra parte totalmente levada pela forma que Enzo conseguia me
manter em suas mãos, como massinha de modelar. Por mais que
tentasse dizer para mim mesma que não tinha nada de errado em

amar o meu marido, sentia medo. Perdi a minha mãe, depois o meu
pai, meu tio era um estuprador, a minha tia estava do outro lado do

mundo, meu primo transformando-se em um assassino e o meu


marido era o chefe dos assassinos.

Talvez tivesse o direito de sentir medo do meu futuro incerto.


Vinte e seis | Juliana.

— Está linda, esposa. — Enzo distraiu a minha atenção do

grupo de mulheres à nossa frente. — São apenas esposas, relaxe.

— Estou relaxada... Por que sinto o clima tenso?

— Porque está tenso, estou aqui e eles sentem medo e

respeito. É assim que deve ser. — Beijou a minha cabeça e abriu


espaço para o grupo de mulheres que estavam ansiosas pela minha
atenção. — Deixarei as damas sozinhas. — Ele polidamente se

afastou. Emerson e Alessio foram atrás dele. Mika pairou no fundo


da sala cheia, Stefanio estava atrás de mim e achei que toda
posição deles era bem ofensiva para um jantar.

O casal anfitrião era antigo na família Rafaelli e me


receberam muito bem, mesmo com a animosidade de alguns em

relação ao fato de ser uma Valentinni. Parecia que os subchefesde

Enzo me aceitaram com muito mais facilidade do que os subchefes


do meu pai. Estava pescando as conversas e tentando entender a

tensão. Parecia que Enzo não havia ordenado a execução de um


soldado que foi drogado, para dormir com a mulher do seu chefe. O

chefe estava puto, o conselheiro recomendando a morte e o soldado

escondido.
— Seu vestido é lindo, Sra. Rafaelli. — Uma das mulheres

me disse com um sorrisão e apenas agradeci, sem lembrar do seu


nome.

— É um Valentino?

— Sou apaixonada por algumas marcas de alta costura.

A conversa foi crescendo e borbulhando ao meu redor, sem

necessariamente ter minha participação. Ilaria e Marcus estavam no


canto da sala, conversando com Angelo. Carina estava sentada com

um grupo de meninas bem próximo a eles. Pedi licença para ir ao

banheiro, olhei para Stefanio e andei pela sala. Carina se levantou

quando me viu passar e Ilaria veio atrás de nós.

Entramos no banheiro juntas.

— O que está acontecendo? — Tirei o meu batom da bolsa.

— Não sei, estou farejando algo errado no ar. Acho que vou

levar as duas para casa. — Ilaria parecia tensa.

— Por quê? — Carina arregalou os olhos.

— Enzo matou Tommaso. A famiglia não está nada feliz,


mesmo que Enzo seja o Chefe, gera uma apreensão o fato que ele

assassinou, sem divulgar o motivo, um membro tão importante.


Enzo irá colocar algumas pessoas em seus devidos lugares. —
Ilaria cochichou e olhamos para a porta, ouvindo vozes masculinas.

Ela apagou a luz do banheiro e nós três colamos o ouvido na porta.

— Ele não caiu no golpe. Eu sei, mas não caiu, porra. Agora

que Tommaso está morto, os Valentinni vão fazer algo. Enzo vai se

distrair e esse é o momento para dar o golpe. Cabrini está puto,


desconfiando que foi usado e com razão, a mulher dele confessou

que toma remédios para dormir e o soldado provou que estava

drogado. Não sei como, Enzo conseguiu as imagens da casa e

Cabrini está envergonhado, me culpando pelo golpe e por destruir

seu casamento. — Olhei para Ilaria chocada. Não sabia quem

estava falando, mas sabia que não era bom. Ilaria ergueu o vestido,
tirando a arma de entre as coxas. — A mulherzinha e a irmã estão

bem aqui. — Uma pausa bem longa. — Foda-se esse idiota, esse é

outro que está me enrolando. Enzo não é manipulável, mas quem

sabe faça o necessário se pensar que a mulher dele está em perigo.

Assustada, desencostei da porta e bati na banheira. Ilaria

digitou algo em seu telefone e esperou uma mensagem, então,


apontou para a porta do banheiro que dava para uma varanda na

lateral da casa. Stefanio apareceu silenciosamente e me ajudou a


passar pela banheira para chegar do outro lado, me erguendo no

colo na última parte.

Carina conseguiu sair sozinha, por ser menor que eu e usar

um salto não tão fino. Ilaria pulou fora com a habilidade de um gato.
O carro estava bem próximo da grama, destruindo as flores de canto

e entramos as três no banco de trás. Marcus estava no volante e


Stefanio ao lado. Eles nos tiraram da casa bem rápido, correndo

pela noite fria e meu guarda-costas entregou meu casaco e bolsa.

Não falamos nada. Estava assustada demais para falar.


Alguém pretender dar um golpe em Enzo não era necessariamente

novidade ou tão assustador. Querer me usar para isso me dava


muito medo. Assim que chegamos no apartamento, me sentei no

sofá.

— Enzo quer falar com você. — Ilaria me entregou o celular.


— Ele disse que não atendeu o seu.

— Não sei onde está a minha bolsa. — Suspirei e coloquei

no ouvido. — Oi, baby.

— Oi amor, sinto muito pelo o que ouviu, saiba que nada vai
acontecer com você.

— O que posso fazer para ajudar?


— Se a sua famíliase levantar contra as minhas ordens e

regras, será uma distração para quem quer me destruir. Não quero
que se preocupe, estou atento e tenho reforços.Chegarei em casa

tarde, está bem? Durma tranquila.

— Sabe que não irei, vou te esperar. Se cuida!

Mesmo que Enzo garantisse que não era para me


preocupar, ainda assim me preocupava bastante. Tirei os meus

sapatos e me recostei no sofá. Carina estava mexendo no telefone,


parecendo cansada. Lembrei que estava na hora do seu xarope,

procurei a minha bolsa e estava na mesa, peguei o frasco, virei o


xarope na tampa medidora e lhe dei. Ilaria estava nos avaliando.

— Não existe absolutamente nada que eu possa fazer em


relação à minha família? Ou Alessio? Tommaso recebeu uma

punição por ferir o código de honra da família. Não é possível que


isso gere uma revolta.

— É bem possível que alguns homens fiquem revoltados

porque um dos seus abusou sexualmente de uma mulher, sendo


seu próprio sangue ou não, mas no final, você tem razão. A maioria

vai fingir moralidade e religião ao saber do fato. — Ilaria saiu do


canto da sala e sentou-se na ponta do sofá. — Eles não vão te
ouvir, a partir do momento que se casou com Enzo, deixou de
pertencer a eles.

— Enzo é o Chefedeles.

— É um processo longo que eles aceitem isso em

totalidade. É normal. Foi assim quando Enzo assumiu o lugar de seu


próprio pai, que dirá de outro Chefe e por direito de casamento. —
Ela explicou e voltei a me encolher no sofá, pensando. — Enzo está

acostumado a isso, ele sabe se impor e acredite em mim, vai


conseguir resolver tudo.

— Algo me diz que é muito mais profundo. Talvez seja


porque não estou acostumada, tudo isso é muito novo, só que no

meu coração uma vozinha me diz que não é tão simples assim.

Ilaria ficou me olhando e podia jurar que ela estava quase

me chamando de idiota e sentimental, mas ela assentiu, mostrando


que compreendia.

— No meio que nós vivemos, nunca deixe de ouvir a sua


intuição.

— A intuição dela salvou as nossas vidas muitas vezes. —


Marcus veio para a sala com uma bandeja de coisas. — Assaltei a

sua cozinha, nós não comemos nada.


— Fiquem à vontade. Estou tão preocupada que não pensei
em oferecer, me desculpa.

Enquanto eles comiam, pedi licença e entrei no escritório.


Havia alguém que tecnicamente ainda fazia parte da família e

poderia me ajudar a acalmar a situação.

Antes do casamento, Enzo não tinha alguém para se

importar e por mais que ele não tenha me dito as palavras, tínhamos
sentimentos um pelo outro. Nenhum homem na sua posição tratava

uma mulher com tanto zelo quanto ele me tratava, sem que sentisse

algo extremamente profundo.

Digitei o número do telefone e esperei o toque, a ligação foi


atendida.

— Minha bambina. Está tudo bem?

— Oi Martina, sim, acalme-se, estou bem. Preciso da sua

ajuda...

Minha fiel e querida governanta ouviu atentamente e

prometeu que tudo estaria resolvido antes do pôr do sol do dia

seguinte, no horário da Itália. Sem essa preocupação no caminho,

Enzo poderia focar no que realmente importava e Tomasso não


merecia mesmo ser vingado por tudo o que fez a minha tia passar.
Uma vida inteira de medo, mágoa e dor. Só de pensar, tinha vontade

de vomitar de novo e algumas coisas ao longo da minha vida


fizeram sentido.

Tia Malia não me deixava usar shorts curtos ou saias em

casa. Ela sempre garantia que estivesse usando calcinhas firmes,

conversava comigo sobre partes do meu corpo que não poderiam


ser tocadas e tinha uma preocupação sem tamanho quando ficava

na piscina brincando. Quase todos esses momentos eram quando

tinham homens em casa ou apenas meu pai e Tommaso.

Em muitas noites ela me fazia dormir com ela em seu quarto

e lembrava de ficar muito irritada por querer dormir em meu quarto e

ter privacidade. Devia a ela tantas desculpas. Sufoquei a vontade de

chorar e decidi me recolher ao quarto. Coloquei o meu telefone para


carregar, tirei a minha roupa e me deitei na cama com um pijama de

frio.

O dia amanheceu e Enzo sequer pisou em casa. Tomei café

da manhã sozinha, troquei de roupa e utilizei o computador do


escritório para finalizar a organização da festa de natal e a

inauguração da nova boate. Estava gostando da logística de

organizar eventos, havia muito mais por trás de um evento de


sucesso do que imaginava, e como não tinha muito o que fazer, não

contratei nenhuma empresa para tal serviço. Contava com a ajuda

de Giana e as dicas modernas de Carina.

Ouvi passos pesados no corredor e me preparei para ficar


de pé quando a porta do escritório foi aberta bruscamente, batendo

na parede tão forte que a maçaneta estalou. Meu marido estava

sujo de sangue, desgrenhado, suado e com uma falsa calma que

imediatamente me deixou em alerta.

— Quem te deu autorização para interferir?

— Não sei do que está falando. — Não sabia mesmo.

— Vai me dizer que não ligou para a Itália e fez com que o

motivo da morte do seu tio se tornasse de conhecimento público?

— Ah sim, isso eu fiz. Mas não vejo como uma interferência

e sim como uma ajuda. Ilaria me disse que a fusão das famílias

ainda estava complicada e matar um antigo vice não era bem visto,

ouvimos uma conversa que um dos traidores usaria esse momento


como distração. Agi para minar qualquer confusão que poderiam

criar por Tommaso, ele não merecia ter a morte vingada, não por

tudo o que fez minha tia passar. — Apoiei minhas mãos na mesa.

— Por ordem de quem?


Sorri e olhei bem dentro dos seus olhos.

— Não preciso de ordens, sou sua esposa e não seu


soldado. — Dei a volta na mesa e parei bem na sua frente. — Como

diz, sou sua matriarca e posso fazer o que entender como

necessário para ajudar o meu marido. — Ousadamente, dei um

beijinho em seus lábios, depois outro e mais alguns até sentir que
estava relaxando contra mim.

— Não vou deixar nada acontecer com você, com ou sem

distrações. — Me abraçou apertado. — Não se meta.

— Não existe essa questão de me meter. Somos casados e


é um assunto que me envolve, Tommaso era irmão do meu pai e

feriu gravemente a minha tia, deixando traumas terríveis no meu

primo. E agora, ameaçava o comando do meu marido, é claro que


tinha que fazer algo.

— Quantas vezes terei que falar para não me desafiar,

porra?

— Esse assunto está ficando chato. — Dei de ombros.

— Chato? É irritante sair de uma noite como a que tive e

descobrir que a minha esposa andou ligando e falando o que não

devia.
— Obviamente eles recuaram. Qual o problema?

— Agiu nas minhas costas!

— Não agi contra você e nem nas suas costas, deixei bem

claro que não seria mais uma peça decorativa nos seus braços e
ponto final.

— O que vou fazer com você, Juliana?

— Não me desafie. — Provoquei baixinho e deitei minha

cabeça no seu peito. Enzo beijou minha testa e suspirou. A briga


havia acabado bem ali.

Entendi que Enzo sentiu minha interferência como falta de

confiança que ele era capaz de me manter segura. Nada era mais

frágil que o ego masculino, ainda mais de alguém como ele. Ainda
sem estar no seu estado de espírito normal, levei-o para o quarto e

preparei um banho. Queria saber o que aconteceu durante a noite,

pensei em perguntar, mas ele tirou a blusa e revelou um corte

extenso no peito, bem aberto. Estava sujo e senti a bile vir à minha
garganta.

— Isso precisa ser limpo e cuidado. — Minha voz era

apenas um sussurro apavorado.


— Pega uma garrafa de vodca e o kit de primeiros socorros,

por favor.

— Precisa de pontos, Enzo. — O pânico estava subindo ao


perceber os demais cortes pelo seu torso. — O que diabos

aconteceu essa noite?

— Nós fomos encurralados pelos russos.

— E os traidores?

— Seguem na surdina, não se preocupe, vão sair da toca

em breve. Chicago e Los Angeles estão mais firmes do nosso lado

do que nunca, seja lá o que Maurizio estiver pensando em fazer,


não terá apoio. Não da família — falou mais baixo, pensativo.

Peguei o kit e corri até o bar no andar de baixo agarrando uma

garrafa de vodca, voltando para o quarto.

Enzo estava na banheira, olhando fixamente para a parede


e a água que estava limpa, coloriu-se de vermelho. Estava nervosa

e não sabia o que fazer, era o meu momento de retribuir todas as

vezes que cuidou de mim quando precisei. Ajoelhei do seu lado,

peguei a esponja e enchi de sabonete líquido, espremi um pouco e


esfreguei suavemente em seu ombro e peitoral, evitando os

ferimentos com muito cuidado.


Meu toque o deixou arrepiado. Vi seu pênis começar a ficar
ereto sem nenhuma ajuda e seu olhar fixou no meu rosto.

Inclinando-se para frente, soltou o tampo do ralo e a água seguiu

escorrendo com rapidez. Ligou o pequeno chuveiro, lavando o


próprio corpo, observei, mordendo o lábio.

— Preciso de você. — Foi tudo o que disse, seu olhar era

selvagem e sabia que não faríamos amor. Engoli seco e olhei para

os seus lábios entreabertos. Ele agarrou o meu cabelo, me


segurando firme e trouxe o rosto até minha orelha. — Quero te foder

muito forte. — Deveria ficar puta pelas palavras, afinal, era a sua

esposa, mas aquilo me deixava excitada. Senti meus mamilos


endurecendo. — Quero te foder muito forte, porque você é minha.

Soltei um gemidinho e ele apertou o meu seio, subindo


minha blusa e abaixando o sutiã, sugando meu mamilo com força.

Fechei os olhos, entregue e ele se afastou, ficando de pé. Me


levantou junto, puxando a minha blusa e tirei, soltando os laços da

minha calça de moletom. Enzo a abaixou junto com a calcinha, que


já estava molhada e nem tinha vergonha disso. Minha lubrificação
era sempre instantânea quando pensava nas sacanagens do meu

marido.
— Porra, que mulher gostosa. Toda minha. — Virou-me de
frente para o espelho e empurrou meu ombro de maneira suave,
acomodando-me. — Sabe a sorte que tenho de chegar em casa e

me deparar com isso aqui? — Apertou minha bunda com força,


separando um pouco minhas nádegas e esfregando o pau em
minhas dobras.

— Enzo! — gemi e me apoiei na pia.

— Minha engenhosa esposa. — Lentamente me penetrou.


— Sempre apertada, porra. É uma delícia. — Me estapeou.

Enzo ficou mais bruto, batendo mais firme e tudo que ouvia

eram os meus altos gemidos, os dele, o som das nossas carnes


batendo. Gozei forte, me sentindo pegar fogo e Enzo veio em
seguida, grunhindo e caindo por cima de mim, beijando o meu

ombro. Nós estávamos suados e pegajosos, o ferimento dele


molhava minhas costas e nos abraçamos apertado.

— Fiquei rolando na cama preocupada com você — falei


contra o seu pescoço. — Estou feliz por estar de volta. Meu coração

fica mais calmo e inteiro com você.

— Estou muito mais feliz por estar aqui e com você. Você é

meu ponto de paz.


Olhei bem dentro de seus olhos, sentindo a verdade de suas
palavras. Nos beijamos mais uma vez e o ajudei a cuidar do corte,
costurando pele pela primeira vez na vida. Beijei cada um dos seus

ferimentos, rezando que ele sempre voltasse inteiro para mim,


porque já não podia imaginar a minha vida sem o meu marido

esquentadinho.
Capítulo Vinte e Sete | Enzo.

Juliana estava deitada, virada para o lado oposto, chorando

baixinho na cama pensando que eu estava dormindo. Ela deveria


saber melhor, que eu não dormia e esperar o meu suposto sono

pesado para chorar era uma tremenda burrice. Pensei ter deixado
claro que era seu marido e além de ter o direito de saber
absolutamente tudo que acontecia na sua vida, sempre me dispus a

estar ao seu lado.

Apesar de ter apresentado fragilidade e até inocência em


alguns momentos, Juliana não era do tipo que chorava à toa. Pelo
menos não na minha frente, normalmente demonstrava que havia

algo errado ficando muda ou me dando foras realmente dolorosos. A


criaturinha tinha um rosto bonito, mas era grossa como uma mula.

Virei na cama, toquei o seu quadril e subi a minha mão

lentamente até a cintura, colando o meu peito nas suas costas e

encaixando sua bunda em mim, para ficarmos tão próximos quanto


possível.

— O que está acontecendo, amore mio? — Beijei o seu

ombro nu.
— Não é nada, desculpa te acordar.

— Claro que é alguma coisa. Conte o que está acontecendo

agora mesmo para que possa resolver.

— É bobo. Não quero que fique chateado comigo, mas

estou sensível demais esses dias e estou irritada comigo mesma

por chorar. Não sei o que realmente está me afetando, apenas sinto
vontade de me encolher e chorar.

Fiz os cálculos mentais e era o seu período. Juliana ficava

insuportável no períodomenstrual e ela sentia dores, ficava inchada

e poderia cometer um assassinato sem culpa.

— Conheci sua ex-namorada. — Soltou baixinho e ergui a

minha cabeça. — Foi na loja... Não contei a Stefanio, por favor, não

brigue com ele.

— Como assim, porra? — Me sentei na cama, suando frio.

Leela chegou perto de Juliana fácil demais.

— Ele não pode entrar na área restrita para mulheres... E

ela entrou pelo outro lado, pela área de funcionários. Explicou que

tinha fotógrafos, por isso pediu a passagem por ali. Veio diretamente

se apresentar... Falou que era sua mulher antes de mim. —


Suspirou e continuou se recusando a me olhar, enquanto o meu
coração batia forte no peito. Juliana nunca mais pisaria na porra da
loja a não ser que fechasse todas as entradas. — Fiquei com raiva

da ousadia dela e disse que ela era a vadia que você fodia antes de

se casar comigo. — Olhei para o seu rosto e sorri.

Minha italianinha de sangue quente. Peguei o meu telefone,

enviando um texto para Stefanio e outro para Ângelo, era uma falha
que não podia tolerar. Stefanio não poder entrar na área feminina

era compreensível, afinal, iria matá-lo se olhasse a minha esposa

nua. Juliana teria que me avisar toda vez que fosse fazer compras

para designar uma equipe maior que cobrisse todas as bases e

Ilaria passaria a acompanhá-la.

Minha prima odiaria cada segundo, porém, quem se


importava?

— Ela é bonita. — Foda-se, não. — E muito magra. — Puta

que pariu. — Com os seios em pé... Saber que vocês foram íntimos

me deixa maluca, mesmo sabendo que nós não nos conhecíamos...


Me dá vontade de agredir alguém.

— Ela é artificial. Tirou as costelas, tem silicone na bunda,

nos peitos e metade do seu corpo foi retocado cirurgicamente —

rebati e a minha esposa apenas respirou fundo.


— E você sabe disso tudo porque comia aquela mulher, que

ódio. Sinceramente... — Bufou, cheia de raiva. — O casamento só


me deu quilos.

— E daí que aumentou o manequim, Juliana? — Olhei bem


dentro dos seus olhos. — Sou louco por você. É a única mulher que

me deixa cheio de tesão, louco para foder o dia inteiro. E puta


merda, quando te vi descendo a escada no dia do nosso noivado,

pensei que você era gostosa, mas agora, você é o meu sonho
realizado. Sou doido no seu corpo, literalmente tarado na sua bunda

e esse assunto está deixando meu pau duro.

Juliana sorriu por um momento e ficou séria.

— Então por que a namorou?

— Era uma buceta fixa, uma boca muda e tinha negócios com

o pai dela. Leela é uma mulher fácil, estava comigo por interesse e é
mimada, não aceitou perder o que nunca foi dela. Seu choro era por
isso?

Seu beicinho imediatamente apareceu.

— Senti um ciúme descontrolado, estou sensível, já disse. —


Irritada, tentou cruzar os braços e impedi. — Como você se sentiria
ao descobrir sobre um ex-namorado?
— Desconfortável. É ilógico, mas eu odiaria — falei

sinceramente. Eu ia matar o filho da puta. — Quando vai entender


que só quero você, minha italianinha irritada? — Beijei entre os seus

seios e puxei a sua camisola para baixo, expondo os peitos cheios e


arrebitados. Os bicos ficaram imediatamente durinhos e lambi o

direito, chupando, sugando de leve e repetindo o mesmo no


esquerdo. Dediquei toda a minha atenção aos seus peitos incríveis.

Levei minha mão até sua cintura, por baixo da camisola, para
descobrir que estava sem calcinha.

— Peladinha esse tempo todo? — Deu de ombros, tímida. —


Sempre que me quiser, você me tem. Te dei espaço porque senti
que não estava bem...

— Não sei como abordar... Fico com vergonha — falou baixo.

Seus avanços ainda eram meio tímidos e adoráveis.

— Vergonha de querer foder com seu marido? Não precisa. A


partir de hoje, não vou mais chegar em você, nem pedir. Vai ter que

vir até mim.

— Não sei ser sexy, Enzo. Sabe disso... — Ela estava de


charme porque estava insegura com outra mulher.
— Ah, não sei. Quando você engatinha em cima de mim,
chupa o meu pau e depois monta nele, doida e cheia de tesão, é a
criatura mais sexy do mundo. E quando está balançando esses

peitos bem na minha cara? — Desci beijos por sua barriga. —


Quando abre bem as pernas para mim, segura meu cabelo e

esfrega a boceta no meu rosto, louca de prazer, querendo tudo que


tem direito. — Afastei os seus lábios e lambi seu clitóris, ela gemeu
gostoso. — Quando geme assim… é sexy. Poderia muito bem deitar

e pedir que me seduzisse, só não seria justo, meu pau está duro e
quero você agora.

Juliana segurou o meu cabelo querendo acabar com o


assunto.

— Você me quer, amor? — questionei, apaixonado.

— Todo maldito dia. — Era a melhor frase que um marido


poderia ouvir da sua esposa.

O casamento em si tinha muitas dores de cabeça. Juliana era

uma dor na bunda. Teimosa, irritante, respondona e desconfiada,


mas a porra do sexo? O paraíso. Muitos homens na família

possuíam amantes, apesar de ser contra, não fazia nada. Não tinha
motivos para ter uma amante... A minha mulher me completava na
cama e fora dela.

Chupei sua buceta até o meu pau doer. Juliana já estava


cansada de implorar por ele, gozando duas vezes. Ela ficaria

exausta, não dolorida, mas certamente iria apagar, porque pretendia


gozar e continuar fodendo.

Sua entrada estava molhada e fui engolido, gemi alto, doido.


Estar dentro dela era meu paraíso e o meu inferno. Soquei firme,

punindo, sabia que gozava daquele jeito. Juliana amava o sexo

bruto. Ergui as suas pernas, metendo fundo. Suas unhas

arranharam meus braços, gemendo alto, chegando ao orgasmo.

Gozei dentro dela, tremendo da cabeça aos pés, incapaz de

resistir ao aperto da sua buceta depois do orgasmo. Apesar de estar

mais confortável, ela ainda era muito apertada. Puxei fora e me

sentei sobre meus joelhos, olhando-a saborear a sensação de


prazer, e, ainda meio duro, comecei a tocar uma punheta. Não

demoraria muito para estar totalmente pronto.

— Ainda não acabamos, lindinha. Tira essa camisola, quero


você pelada. — Ela sentou-se na minha frente e obedeceu ao meu
pedido. — Senta aqui no meu colo, quero que esfregue essa boceta

em mim, todinho, porque vou brincar com sua bunda.

— Enzo. — Ela ofegou, excitada e sentou-se em mim. Fechei

os olhos, sentindo seu calor e molhada, deslizou sobre meu eixo

várias vezes. Lubrificando meu dedo com a nossa mistura de

fluidos, acariciei seu outro buraquinho apertado. Gemendo alto,


empurrou as unhas na minha pele. Juliana amava provocação na

sua bunda, ficava doida de verdade, mas se falasse isso com ela

em plena luz do dia ficaria vermelha como um tomate e negaria.

Nós passamos a noite intensamente e deixei que dormisse

quando o dia amanheceu. Beijei os seus cabelos, olhando o seu

sono e tirei um cochilo suave antes de dar a hora de sair. Tomei

banho, me arrumei e saí em silêncio, ainda deixando-a dormir. A


cidade estava completamente cinza lá fora, um dia repleto de garoa

fina.

Passei na sala de segurança e Stefanio estava lá dentro.

— Estou tentando entender por qual porta essa mulher


entrou, porque deixei um homem na porta de funcionários onde a

senhora saiu da outra vez. — Stefanio estava olhando as imagens


do shopping — pedi acesso a Ângelo. Não faz sentido, porque a loja

tem a porta principal e a saída de funcionários.

— Rode o vídeo.

Apertando o enter, assistimos algumas imagens antes do


próprio Stefanio aparecer na tela, andando ao lado de uma Juliana

falando, gesticulando com ele e ela parou, tirando o celular da bolsa

e deve ter sido exatamente o momento que liguei para saber onde

estava. Já sabia, mas gostava de perturbar o juízo dela ligando a


cada cinco minutos.

Os dois entraram na loja e Stefanio sinalizou para Gianni

seguir para a outra entrada. Não conseguimos ver o interior da loja,

mas podia ver exatamente o momento que Leela aparecia no


corredor dos fundos e entrou pela porta, com a autorização de

ninguém menos que a porra do meu soldado. Ela lhe entregou algo,

que guardou no bolso e Leela saiu alguns minutos depois.

Juliana permaneceu na loja por muito mais tempo.

— Pegue esse filho da puta.

— Com todo prazer, chefe. — Stefanio saiu da sala.


— Aconteceu algo, irmão? — Emerson entrou na pequena

sala, comendo uma maçã.

— Os ratos estão cada vez mais próximos.

— E a nossa festa também. Vem ver algo na televisão... —

chamou e saí da sala, passando pelas funcionárias na cozinha e

roubando um bolinho de canela, saindo para a sala. A televisão


estava ligada e o noticiário matinal passava um escândalo na família

Rollins. Todos os podres do Senador estavam expostos, sorri

sentindo uma satisfação imensa. Esse filho da puta mexeu com a


pessoa errada, financiando traidores para tomar o que era meu e

ameaçando a vida de uma garota inocente.

Carina desceu a escada, olhou para a televisão sem

interesse e logo foi para a mesa tomar o seu café da manhã.


Juliana apareceu com um pijama de inverno, cabelo preso no alto e

parou do meu lado, prestando atenção em toda a matéria. A

cobertura era completa, expondo os vícios do filho, os gastos da

filha com dinheiro da fundação que era responsável, o amante da


esposa e as amantes dele. Desvio de dinheiro público, tudo provado

e para quem quisesse assistir.


— É realmente impressionante o quão longe um homem

pode chegar por sede de poder. É inadmissível que um homem

eleito pelo povo possa agir de maneira tão ambiciosa sem ser

punido. — Senador Vaughn discursou. — O nosso compromisso é


com os contribuintes e exigimos transparência por parte do Senador

Rollins. Ele deve a nós, senadores e principalmente à população. O

Estado de Nova Iorquenão tolera corrupção e estarei à frente desta


investigação.

— Você o conhece? — Juliana estava olhando fixamente

para a televisão. — Um sobrenome como esse não estava na lista

do jantar de ação de graças?

— Sim. Era o filho dele, não pôde vir por uma viagem de

trabalho e ele tem uma filha muito pequena — expliquei e ela

assentiu, aumentando um pouco o volume da televisão.

O Senador Rollins achou que era um macaco velho, me


tratava sempre como uma criança impulsiva com muito dinheiro.

Achou que a buceta da filha dele me deixaria domado. Ele foi útil por

um tempo. Nós não matávamos associados aleatoriamente, mesmo

quando deixavam de ter serventia. O mal dele foi ser ambicioso e


dar ouvidos a uma cobra como Maurizio.
— Não vão falar do seu relacionamento com a criatura

plastificada? — Juliana me olhou com desdém. Ciumenta.

— Não. — Sorri e beijei a sua boca. — Bom dia, meu amor.

Ela soltou um grunhido e foi para a mesa, ocupando o seu

lugar de costume e pegando um pote de salada de frutas. Me sentei

ao seu lado, na cabeceira e ela me entregou um pão. Antes de


comer, tirei meu celular do bolso.

“Excelente trabalho, docinho”.

“Docinho é a sua mãe, vai se foder” Kyra respondeu e ri,

mostrando a mensagem à Juliana. Ela soltou uma risada também e


logo ficou séria, voltei minha atenção para a tela. “Robert está em

Nova Iorque e encontrou-se com o Senador Rollins pouco antes da

matéria ir ao ar. Estamos em alerta 2”. Merda.

— O que está acontecendo? — Juliana me encarou, curiosa


e preocupada.

— Coisas sempre acontecem, não se preocupe, mas

gostaria que ficasse em casa hoje. — Segurei a sua mão e mesmo

desconfiada, concordou. Enviei uma mensagem a Ângelo, que já


estava acordado e a postos e outra mensagem para Kyra, pedindo

que me acompanhasse pela cidade, porque precisava da sua


cobertura para não ser visto pelas câmeras. — Se cuidem. — Beijei
sua boca e baguncei o cabelo da minha irmã, que mal humorada,

me bateu gritando para ficar longe. O que estava acontecendo com

as mulheres daquela casa?

— Enzo! Você nem comeu! — Juliana gritou e arremessou


uma maçã, peguei e fui mordendo até o elevador na companhia de

Emerson.

— Acorde Alessio e me encontre, não demorem — ordenei


e desci para a garagem.

Mika já estava por lá, conversando com Giovanni, que ficou

na cidade enquanto ainda tinha alguns serviços para ele. Meu pai

estava sendo vigiado e a Vila Valentinni estava bem protegida com


meus homens.

— Os dois comigo. Deixem o restante no prédio — chamei e


parei próximo ao carro. — Ninguém entra nesse condomínio hoje.

Quando comprei a cobertura, obviamente comprei todo o


prédio. A maioria dos apartamentos eram ocupados por pessoas

que trabalhavam para mim. As funcionárias da cozinha, limpeza,


meus soldados mais próximos tinham os seus apartamentos e
alguns outros serviam como depósito ou estavam vazios,
desabitados. Não podia correr o risco de obter moradia em um lugar
repleto de civis, ou com abertura para qualquer engraçadinho tentar
se meter a besta.

— Estão a fim de se divertir hoje? — Brinquei com meus


homens, na direção do carro, já andando pela cidade como um
louco. — As festas de fim de ano acabam de começar.

— Adoro seu espírito natalino, chefe. — Mika exibiu os

dentes em um sorriso predador.

A primeira parada foi o prédio que fiz algumas visitas no


passado. Nós entramos pelas portas da frente, estava ciente que

meus passos seriam deletados e entramos no elevador. O porteiro


nem se mexeu e do jeito que Mika arrancou o interfone dele da
parede, seria impossível avisar minha chegada. Paramos no sétimo

andar, era um prédio de luxo, um único apartamento por andar e


esse pertencia à Leela Rollins.

Giovanni chutou a porta, uma mulher uniformizada gritou e


foi agarrada antes de correr. Leela estava na sala, parecia chorar e

falar ao celular. Ficou muda e pálida quando me reconheceu.


Estiquei a mão para o seu telefone e lentamente me entregou,
arremessei contra a parede e Mika pisou em cima.
— Ops. — Ele riu.

Agarrei o pescoço dela, levantando-a do sofá e apertando

meus dedos.

— Quem você pensa que é para chegar perto da minha

esposa? Respirar o mesmo ar que ela? — Apertei um pouco mais.


— Você é nada. Você é um rato que eu vou esmagar. Fique fora do

meu caminho, Leela. — Aproximei o meu rosto do seu. — Avisa


para os seus amiguinhos que a caçada acabou de começar. Quem
quiser correr, que corra. Vai me divertir ainda mais.

Esperei-a ficar vermelha e soltei-a no sofá, tossindo. Dei as


costas, fechando o botão do meu terno. Giovanni largou a
empregada e na minha boca havia o gostinho delicioso de que a

caçada estava começando. No elevador, tirei meu telefone do bolso.

— Matem todos os ratos marcados — ordenei ao Angelo.

Todos os associados, subchefes e soldados que caíram na


conversinha fiada de Maurizio estavam com seus minutos de vida

contados. Quando enviei a mensagem a Ângelo cedo, era para ele


preparar as equipes de execução.

Ao sair para as ruas movimentadas de Nova Iorque, havia


mais um carro atrás do meu e no volante estava Alessio, com sua
usual expressão alterada e Emerson divertido ao lado. Seguimos
para o nosso galpão da diversão, no lado abandonado da cidade

vizinha; ao chegar lá, Gianni estava amarrado em uma cadeira com


o rosto todo machucado.

— Começou sem mim? — Olhei para Stefanio no canto.

— Ele caiu, chefe. — Sorriu sem nenhuma vergonha.

— Contra seus punhos? — Emerson cruzou os braços,


rindo.

— Engraçado, não é?

— Gianni... Sua mãe tão querida, aquela mulher


batalhadora, excelente cozinheira, vai chorar tanto... Isso se durar
muito tempo. — Nivelei o meu olhar com o dele. — E aquela sua

irmã? Deve estar com uns dezoito anos... — Ele grunhiu, tentando
se mexer na cadeira. — Alguém vai querer se divertir com ela?

— Eu quero. — Giovanni respondeu rindo.

Gianni gritou, mesmo amordaçado.

— Nós protegemos e amamos nossas mulheres. Não as


mulheres de ratos... — Agarrei o seu cabelo, puxando e virei o seu
rosto para a luz forte acima dele. — A não ser que tenha algo a me

falar.

Não ia fazer porra nenhuma com as duas, porque eu


realmente gostava da velha mãe dele e a irmã era muito amiga de

Carina, mas ambas iriam sumir do país bem rápido. Exiladas na


Sicília sob rigorosa vigilância de Damon. Muitas famílias

tradicionais, da época do meu pai, executavam mulheres, mas a não


ser que fossem filhas da puta e perigosas, eu não as machucava.

— Não sei muito, chefe. Maurizio descobriu sobre seus


associados fora da família, ele acha que isso será a nossa ruína. —
Gianni falou com dificuldade. — Ele não gosta das suas leis e sei

que tem alguém acima dele, alguém que não gostou do que fez com
seu pai. — Cuspiu sangue.

— Você tinha tudo ficando do meu lado, Gianni. Traidor...


não morre rápido, traidor sente dor. — Me afastei e olhei para
Marco.

Voltei para a escuridão deixando Mika começar seu

momento com Gianni. Apenas os soldados mais antigos sabiam


sobre a agência. Foi necessário enviar um grupo para treinamento e
aperfeiçoar nossas técnicas. Quem estava naquela sala, sabia e
conhecia. Nós paramos de enviar quando a sede de D.C. deixou de
existir, devido a um grave acontecimento do passado.

Com o meu tio desaparecido, sem sabermos a sua real

intenção na história toda, reduzimos o conhecimento sobre a


agência entre nós. E obviamente, não contei aos meus subchefes e
muito menos aos chefes das famílias das outras cidades. Não era

da porra do interesse deles o que eu fazia para aumentar o meu


dinheiro, as minhas vendas e o meu território. Todos lucravam e

ficavam felizes.

— Destrua e mate-o — falei a Giovanni. — Farei o controle

dos danos.

— Cuidado, chefe. Maurizio descobriu algo que pode deixar

muitos desconfortáveis, não sabemos de onde virá o primeiro


ataque — falou baixo.

— Vou dar um fim nisso.

Nem que isso significasse queimar a cidade inteira.


Capítulo Vinte e Oito | Enzo.

— Tudo seguindo o ritmo. Estamos monitorando a

movimentação na casa dos Rollins e Maurizio foi para a casa dos


pais, em Hampton. Estão se preparando para fugir ou para atacar.

Aposto na fuga.

— Kyra...

— Não vou perder o senador de vista, está mordendo a isca.


Você fez a porra de um estrago...

— Achei prudente eliminar todos que foram apontados,

apenas para não deixar rastros. E Robert?

— Oliver deu a ele um novo comando, isso vai desviar a


atenção dele e se desconfiava que sabemos do seu envolvimento

com o Senador Rollins, não desconfia mais. Pagou a última parte

para dar Kate em casamento a Dominic...

— Temos que tirar a garota de lá, ele é maluco. Se ele


sonhar que a Michelle... Ele vai matar a garota e Dominic nunca vai

nos perdoar.

— Não podemos agir antes do tempo, ela é forte como a


mãe dela, vai aguentar mais uns meses. Não desvie o foco de
Dominic nesse momento, Enzo. Sabe que ele vai te ouvir e agir

como um louco, não tenho tempo para dois descontrolados. Você já


está me dando muito trabalho hoje. — Ouvi o som de um alerta. —

Jackchegou aqui, nós vamos nos virar. Já passamos por isso antes

e vencemos, isso é apenas uma marola mediante ao tsunami do


passado.

Kyra tinha razão. Nós passamos por coisa pior... Só que da

outra vez, não havia um filho da puta da minha famiglia causando o

caos. Já houve traidores, muitos, inclusive na época que aposentei


meu pai, muitos esperavam uma falha minha para cair em cima.

Ainda estava aqui. Dessa vez era o meu conselheiro, a única

pessoa que poderia me questionar, que deveria ser os meus olhos e


ouvidos na porra toda, e ele estava querendo me foder.

— Ok, docinho. O que está vestindo hoje? — provoquei para

encerrar a chamada.

— Prefiro dar um tiro na minha cabeça a responder essa

insolente pergunta. — resmungou e desligou na minha cara, como

sabia que faria.

As portas do elevador se abriram na minha casa e

imediatamente soube que estava cheia. Carina estava jogada no


sofá, lixando as unhas e Ilaria levantou assim que me viu. Seu olhar
me deixou em alerta.

— Temos uma visita, amor. — A voz de Juliana me fez virar

para a sala de jantar. Ela estava sentada com uma mulher pequena,

loira e que conhecia de algum lugar. — Essa é Linda Barnes. —

Apontou sorridente e a mulher estava com os olhos arregalados,


temerosa.

— Olá. — Fui contido e fiz sinal para Ilaria me seguir. —

Qual foi a porra da parte que disse que ninguém entra nesse

condomínio hoje?

— Juliana me ligou e pediu para buscar o vestido dela para

a festa de amanhã, porque você também pediu que ela não saísse

de casa. Acontece que o vestido precisava de ajustes e eu sou tudo,

menos costureira. Trouxe o vestido e a garota para fazer os ajustes.

— Cruzou os braços. — Ela é inofensiva. Seu nome não é

verdadeiro...

— O que? Caralho!

— Relaxa, Enzo. Tem uma história por trás disso... É

realmente inofensiva. Fala muito, opinativa e solta cada palavrão...


Sua esposa parece gostar muito dela. — Olhei para Ilaria, sentindo

que minha cabeça iria explodir.

— Você colocou a vida daquela garota em risco ao permitir

que entrasse aqui hoje — falei entredentes e olhei para a minha


esposa, abrindo um sorriso e piscando. Ela sorriu de volta e me

soprou um beijo.

— Ela já está em risco desde o dia que sua esposa resolveu

ser mais que uma cliente. Sabia que as duas compartilham almoços
na loja? Conversam por horas. Juliana não fica um dia inteiro
fazendo compras, ela só arrumou um jeito de ter uma amiga sem

que você possa controlar. — Ilaria virou para as duas. — E se


alguém matá-la, quem se importa? Não sabe de nada mesmo.

E com isso, voltou para a sala de jantar, sentando-se com as

duas.

Juliana se importaria.

Irritado, entrei no meu escritório e bati a porta, conferindo


que mesmo com o caos que atualmente se instalou na cidade,

nossas entregas precisavam ser feitas e as nossas boates bem


abastecidas. Alessio e Emerson me informaram que já não havia um
traidor vivo. Nós não matávamos crianças, certificávamos que elas
crescessem sem saber o que realmente aconteceu com os pais e

não fizessem o mesmo no futuro.

Meu telefone vibrou.

— Oi, tio.

— Menino... O que está acontecendo?

— Ratos traidores.

— Devo me preocupar?

— Apenas se houver entre os seus.

— Certo. — Tio Francesco ficou em silêncio. — Você tem

uma esposa agora. Certifique-se de que ela fique segura... Não há


tempo para arrependimentos depois que elas se vão. — Completou
e me perguntei se ele ainda sofria pela maneira que foi incapaz de

amar a minha tia e por ela ter morrido tão doente, triste e solitária.
— É ele?

— Provavelmente sim.

— Se for, me avise. Eu quero estar de volta.

— Eu vou honrar e vingar a morte de Tia Maria.

— Seja abençoado, menino. — Ele encerrou a chamada.


Meu tio sabia que eu estava acima na cadeia de comando,
mas ele era o meu tio, havia muito respeito entre nós e a não ser
que fosse necessário, jamais passaria por cima dele.

A mensagem informando que a minha mãe havia voltado

para Nova Iorque e estava no apartamento dela chegou,


interrompendo o meu tormento pessoal. Carina aproveitou o
momento para bater na porta e pedir para ficar com ela, já com as

suas coisas prontas. Autorizei a sua ida com Stefanio e mais dois,
não demorariam a chegar lá. Mamãe estava na cidade para passar

o natal com os filhos e meu pai ficou na Itália, não fazia ideia se
mudaria de ideia sobre passar as festas conosco.

Algumas horas depois deixei o escritório e como era

necessário ficar em casa, procurei a minha esposa com o estômago


faminto. Não comi nada o dia inteiro. A casa estava silenciosa em

sua maior parte e o cheiro de comida era delicioso. Empurrei a porta


da cozinha querendo beliscar alguma coisa e me deparei com

Juliana mexendo uma panela com algo borbulhante no fogão, assim


como mexia o quadril.

A música estava tocando na sua cabeça e sua bunda


respondia ao ritmo, fazendo até uma reboladinha mais ousada. Ela
usava um short azul, muito curto, bem enfiado na bunda, meias nos
pés e uma blusa justa de manga.

— Oi, gostosa. — Anunciei a minha presença, ela pulou um


pouquinho e me olhou por cima dos ombros.

— Oi, gostoso.

— O que está fazendo?

— Carina foi ficar com sua mãe e me dei conta de que é a

primeira noite que estamos sozinhos desde que nos casamos.


Dispensei todo mundo, estou fazendo o jantar... Não falta muito, vá

tomar banho e volte aqui. — Sorriu e olhei para sua bunda

novamente.

Nunca tomei um banho tão rápido na vida e considerando a


pouca roupa que ela usava, fiquei só de cueca, já que toda a casa

estava com as cortinas abaixadas. Abri o painel do quarto para

bloquear a entrada pelas portas e vi que já havia sido feito... Juliana


já havia trancado a casa inteira. Minha esposa estava louca para

ficar sozinha comigo e eu entendia, antes de me casar, pensei que

não teríamos essa necessidade devido a velocidade do nosso

noivado.
Estava totalmente errado. Esperava poder ter mais noites

como aquela quando tudo acalmasse e em breve Carina estaria na


faculdade em Milão. Ela queria estudar negócios e moda, estava se

preparando para isso. Mesmo que pudesse comprar a sua

aprovação e pagar por isso, não faria tal coisa. Carina tinha tempo
de sobra para se dedicar aos estudos e ser uma boa aluna.

Desci a escada encontrando a minha esposa sentada no

chão da sala, com algumas almofadas ao seu lado. Na mesinha

estava uma garrafa de vinho, uma travessa redonda cheia de coisas


gostosas e me joguei do seu lado, enchendo nossas taças, beijando

sua boca e dando um gole do delicioso vinho.

— Achei que essa noite merecia uma safra especial.

— Posso atacar a comida? — Inclinei minha cabeça em


direção a travessa.

— É só a entrada, amore. Imaginei que não seria uma boa

ideia jantarmos agora... Talvez depois, quando a fome bater,

podemos jantar. — Deu um golinho no seu vinho, me olhando. Enfiei


um punhado de salame na boca, sem desviar o olhar. — Lembra o

que disse que faríamos quando Carina não estivesse em casa?


Sorri e bebi, sem responder. Queria que ela dissesse as

palavras.

— Não lembra? — Fez um pequeno beicinho enquanto eu

dei os ombros, sem parar de comer. Juliana bebeu todo seu vinho,
encheu mais, suspirou e tirou a blusa. Quase me engasguei com o

pedaço de queijo que estava engolindo. Seus mamilos ficaram

imediatamente arrepiados. Bebi todo meu vinho para ajudar a

engolir, observando-a ficar em pé e tirar o short. — Está começando


a lembrar agora?

Mordi a risada, fazendo uma carinha de inocente e me

inclinei contra o sofá. Minha fome então era outra.

— Você disse que iríamosfazer amor em todos os cômodos


da casa. — Colocou as mãos na cintura, arqueando a sobrancelha.

— Na verdade, disse que iríamosfoderem cada cômodo da

casa, mas podemos fazer os dois. Fique bem aqui na minha frente,
dobre os joelhos na ponta do sofá, um de cada lado... — Entendeu

exatamente como queria que se sentasse no meu rosto só para

começarmos nossa noite.

No meio da madrugada, estávamos deitados no chão do


escritório com a colcha do sofá da nossa cintura para baixo. Juliana
estava com os olhos fechados, um sorriso satisfeito e então seu

estômago roncou alto. Ela ergueu a cabeça, assustada e soltei uma


gargalhada.

— Acho que devemos jantar. — Olhei para o relógio. —

Daqui a pouco será café da manhã. — Beijei a pontinha do seu

nariz.

Achei minha cueca no corredor e reparei que ela estava

andando bem devagar, enrolada na colcha e me dando o dedo do

meio por estar muito convencido. Ao olhar a escada, estacou.


Desceu um degrau e soltei uma risada, ciente que peguei um pouco

pesado. Na hora do fogo, não reclamamos. Meu pau estava assado,

isso nunca aconteceu antes e minhas bolas doíam.

— Nós literalmente nos fodemos — reclamou.

Peguei-a no colo e desci a escada devagar, colocando-a

sentada no sofá e seguindo para a cozinha, esquentar a comida.

Juliana preparou spaghetti alla norma. Minha boca salivou, me

bateu uma saudade da minha avó. Quando era criança,


costumávamos ir à Itália passar as férias com ela, em nossa casa

na Sicília. Meu avô morava em Nova Iorque, aquela peste ruim, e


tinha várias amantes. Seu braço direito, o avô de Juliana, tomava

conta dos negócios na Itália.

Minha avó era uma mulher maravilhosa, boa da cabeça aos

pés e era como Juliana. Uma mulher que conseguia ter um coração
no meio que vivíamos. A diferença era que minha avó sempre soube

o que éramos, o que fazíamos, já Juliana ainda não conseguia

entender a dimensão.

Levei as duas taças de vinho cheias até a sala, coloquei na


frente de onde Juliana estava jogada no chão, mexendo no seu

telefone celular. Um prato com salada, bem cheio e outro maior com

o espaguete para dividirmos. Qualquer coisa era só repetir. Me


sentei ao seu lado e começamos a comer.

O apartamento estava todo ornamentado para o natal, as

luzes davam um ar melancólico à sala; fazia muito tempo que não

comemorava essa data. Juliana fazia questão e amava. Ela e minha


mãe organizaram a ceia e seria apenas para a família, nenhuma

festa com convidados. A festa que estávamos oferecendo como

casal seria na boate, um dia antes da véspera.

— Amo a sua comida. — Terminei o prato satisfeito.


— Gostei disso, de ficarmos sozinhos, e nós não brigamos.

— Deitou a sua cabeça no meu ombro.

— É porque queria transar. — Ela imediatamente bateu com


o punho bem em cima do meu estômago cheio. — Mas falando

sério... Aquela menina da loja, toma cuidado. Nossa vida não é boa

para pessoas civis.

— É só uma amiga.

— Uma amiga que pode perder a vida só por estar

associada a você.

— Existe algum livro para entender as regras? É um saco. A


vida é muito solitária...

— Roberto e Max são sempre bem-vindos, devido ao seu

relacionamento de longa data com eles, estendi a proteção da

família a eles de modo silencioso. Essa menina não vive no nosso


meio, Roberto cresceu próximo, seus pais foram discretos em retirar

o filho de perto por ser gay e seu pai deve ter aceitado assim. —

Olhei para seu rosto e algo parecia fazer sentido em sua cabeça.

— Não estou colocando-a em risco, está bem? Vou


conversar com quem? Carina vive de mal humor e Ilaria parece que

quer matar todo mundo.


— Sou todo seu para conversar.

— Aham. Entendi seu recado e garanto que não estou

fazendo nada demais, só é bom ter alguém do sexo feminino para

conversar. — Me deu um beijo. — Vamos para a cama, não posso

estar toda destruída na festa de Natal da boate.

Fomos para o quarto, tomamos um banho e ela dormiu

literalmente no segundo que sua cabeça bateu no travesseiro. Me

deitei ao seu lado, trabalhando pelo celular, lendo os relatórios de


todos os atos do dia. A polícia ficava irritada quando algo assim

acontecia. Eram muitos corpos e resolvi o problema criando meu

próprio crematório. As autoridades não costumam dar falta de


famílias que desapareciam por pertencer àfamiglia.

Consegui tirar um cochilo, levantei cedo e a deixei dormindo.

Era preciso sair.

Emerson já estava me esperando, emburrado por acordar

cedo. Alessio ficaria em casa, passou muitas noites virado, deveria


estar descansado para mais tarde. Meu irmão dormia tão pouco
quanto eu, mas ele sentia sono pela manhã. Saímos de casa,

estava frio e fomos ao galpão. Giovanni estava sentado em uma


mesa vazia, Mika bebia café e o corpo do Gianni pingava sangue.
— Ele aguentou bastante. — Me sentei ao lado de Giovanni.

— Falou um pouco mais, sabe como é, a dor entra, a


verdade sai. — Mika me olhou intensamente.

— Nós gravamos o que falou, é melhor ouvir sozinho.

Apenas acredito que é a minha hora de voltar para casa. —


Significava voltar para a Itália.

— E nós, abrir os olhos. — Mika esticou o gravador.

Curioso, peguei o gravador e enfiei no bolso.

— Levem para o crematório. Embarque a mãe e a irmã o


mais rápido possívelpara o vilarejo, quero as duas fora daqui e sem
chances de contaminação.

— A menina está muito assustada. — Giovanni andou do

meu lado.

— Case com ela se quiser, tome conta das duas e honre.


Não permita que as ações dele criem raízesno coração delas. Caso

contrário, serei obrigado a matar as duas e não gosto de matar


mulheres... Deixo para Ilaria resolver. — Encolhi os ombros e saí do
galpão sentindo o peso do gravador no meu bolso.
Emerson estava quieto, muito curioso como eu, e ao chegar
no escritório pedi para ficar sozinho. No silêncio da minha sala,
coloquei o gravador bem no centro da mesa, sem pressa nenhuma

para ouvir as longas horas de tortura. Conforme Gianni abria a boca,


meu coração esfriava e meu sangue fervia.

É como dizem... a traição vem de quem você menos espera.

Tio Cosimo... Ele teria um fim doloroso. Porra, ele era pai
dos gêmeos, apoiava a posição dos filhos, tinha um excelente
rendimento e um comando de prestígio. De todos os filhos do meu

avô, era o que mais tinha poder. Ele não precisava me apunhalar
pelas costas.

E definitivamente não precisava colocar tio Francesco no

meio.

Peguei o telefone e liguei para meu primo.

— Eles estão mirando no seu pai. Reforce a segurança.

— Porra. Do que você está falando, caralho? — Ouvi uma


voz feminina. — Sai daqui. — Ele ordenou rispidamente.

— Tio Cosimo está repassando informações para Maurizio e


toda a banda podre. Era ele por trás de algumas ordens e está com
interesse no seu pai.

— Nem fodendo que alguém daí vai passar para o lado de

cá. Estão se virando contra nós, a própria família, ninguém é


confiável.

— Não é uma guerra entre nós, caralho. — Gritei e Damon


grunhiu. — Não deixe tio Francesco saindo desacompanhado.

— Não irei. E… se cuida, filho da puta.

— Você sabe o que fazer se eu não me cuidar.

— Eu sei. — Damon encerrou a chamada.

Era um jogo de poder. Se alguém iria ficar no meu lugar, eu


escolheria, e seria o meu primo. Sangue do meu sangue.
Capítulo Vinte e Nove | Juliana.

Os dias que antecediam o Natal sempre foram os meus

favoritos. Lembrava de tomar chocolate quente e comer todas as


iguarias gostosas com o meu pai, sempre que ele tinha tempo para

ficar comigo. Era um ano totalmente diferente e estava criando uma


tradição. Com alguns meses de casada, parecia que o Papai Noel
morava conosco. Estava exagerado, sabia disso, porém, quanto

mais Enzo reclamava, mais enchia a casa de treco brilhante e


natalino.

Um dia antes da véspera, estava no meu banheiro, me


arrumando para a grande festa que estávamos oferecendo para

algumas das pessoas ricas da cidade, para membros da famiglia.


Abrimos a parte de baixo para o público na inauguração da nova
boate. Ela chamava JR. As minhas iniciais.

Organizei todo o evento. Pensei nas bebidas, no cardápio,

nos DJ’s famosos e nos convidados. Até entregaríamos uma


lembrancinha personalizada para os nossos convidados, afinal, era

o nosso primeiro evento como Sr. e Sra. Rafaelli.

Com o casamento, perdi o Valentinni, mas eu ainda tinha

domínio sobre o sobrenome devido a questões contratuais do


vinhedo e as propriedades da famigliaque achava que eram do meu

pai. Ah, como era inocente. Gostava de assinar o nome do meu


marido, era tão boba que sentia vergonha. Mesmo que ele estivesse

atualmente me irritando, ligando a cada cinco minutos. Enzo era

insuportável. Antes ligava a cada hora, reclamei que não precisava


tanto e que podíamos trocar mensagens.

O idiota não parou, apenas diminuiu o tempo entre as

ligações... No começo, ainda atendia só para ver até quando iria

continuar de palhaçada. Desisti, ele venceu. Simplesmente coloquei


o telefone no silencioso de modo permanente.

Analisei minha maquiagem no espelho e concluí que estava

bom, faltava finalizar o cabelo.

Acordei meio dolorida depois da noite intensa com meu

marido. Nossa! Que loucura! Precisávamos ficar sozinhos mais

vezes, não que a gente não fizesse sexo, só foi intenso, libertador e
não precisei me conter. Ficava preocupada que Carina nos ouvisse,

o quarto dela era meio longe, mas era no mesmo andar.

Após o meu café da manhã, relaxei bastante, contratei o

serviço de massagem e fui me arrumar. Amber não iria e não deixou

Carina ir, minha cunhada estava puta da vida por ficar em casa logo
na inauguração mais falada da mídia.Enzo passou o dia inteiro fora
de casa, quando acordei, não estava mais. Ele ficou sem dar sinal

de vida até depois do almoço e aí começou a putaria.

Enviei uma mensagem dizendo que se ele não tinha nada

para fazer, era melhor vir para casa porque tinha um monte de

legumes para descascar para a ceia do dia seguinte.

A porta do quarto foi estrondosamente aberta e pela hora,

sabia muito bem quem era. O meu marido e seu senso de humor

irritante.

— Por que não está atendendo o maldito telefone? — Enzo


gritou e revirei os olhos, ainda passando um pouco mais de rímel.

Sabia que estava fazendo cena. — Juliana, Juliana... Quando seu

marido te ligar, você tem que atender.

— Beija a minha bunda, Enzo. Está me ligando para me

irritar, dá um tempo. Desocupado. — Apareci na porta do banheiro,

dei a língua e ele riu... Mas foi uma risada maldosa.

— Beijar a sua bunda? Com prazer, amore. — Tirou a

gravata e recuei.

— Nem vem, estou quase pronta! — Tentei impedir de entrar

no banheiro.
— Minha esposa me pediu para beijar a bunda dela, porra, é

claro que vou fazer! — Puxou o nó do meu roupão de cetim,


descobrindo que estava pelada por baixo dele. — Vire-se e apoie no

balcão, ou vou te jogar na cama, vai bagunçar isso aí tudo. —


Apontou para meu rosto e ri.

— Não precisa, é sério. Foi uma expressão...

— Você não me quer? — Levou a mão ao coração. Ele era

tão idiota quando estava no modo brincalhão.

— Não é isso, é que nós nunca ficamos na base oral e estou

toda maquiada, vou ficar borrada e nós vamos sair em breve. — Dei
um beijinho na sua boca.

— Só um pouquinho... — Fez dengo, enfiando a mão entre


minhas pernas, me provocando. Minhas coxas ardiam pelo exercício

da noite anterior, porém não sentia dor na parte principal. Tudo que
ele estava fazendo ali estava bom demais. — Olha só como sei que
você quer... — Tirou os dedos molhados e levou a boca. — Deixa

provar direto da fonte?

Era inútil lutar contra meu corpo viciado nele.

Sorrindo ansioso, me virou em frente ao espelho e tirou o


meu roupão. Puxou o banquinho que estava sentada e apoiou meu
joelho esquerdo ali. Parado atrás de mim, me inclinou para frente a

fim de empinar ainda mais minha bunda. De joelhos atrás de mim,


senti sua língua nas minhas dobras e gemi. Ah, porra. Suas mãos

grandes mantinham minhas nádegas afastadas e não havia um


pedacinho ali que não estava sendo deliciosamente chupado.

Quando estava quase gozando, ele ficou de pé, ofegante,


com um olhar feroz.

— Tem razão, nós não vamos ficar só na chupada. — Abriu


a calça e logo senti seu pau na minha entrada. — Quer isso? —

Mordeu o meu pescoço, brincando comigo. — Quer que eu te coma


bem aqui? — Balancei a cabeça que sim. — Quero ouvir, amore.

— Me fode, Enzo.

— Essa é a minha italianinha safada. — E meteu com tudo.

Depois do nosso interlúdio, tomei um banho, retoquei o que


borrou da minha maquiagem e ajeitei meu cabelo. Enzo tomou um

banho longo, se barbeou do meu lado e aceitou que eu fizesse uma


máscara em seu rosto, além de ainda espremer uns cravos. Após

limpar tudo, hidratei e dei-lhe um beijinho de agradecimento. Voltei


para me arrumar e no tempo que passava hidratante no corpo, ele
ficou pronto e avisou que estava me esperando no escritório.
Coloquei a bota de veludo vermelha até acima do joelho e o
vestido muito curto, que terminava no meio das minhas coxas. Se
minha bunda fosse menor, ele terminaria no joelho. Como estava

bem justinho, não precisava usar sutiã porque foi todo ajustado para
o meu corpo. Soltei o cabelo, peguei minha bolsa de mão, com

dinheiro, documento e o batom vermelho que usava. Com o celular


na mão, desci a escada com cuidado e bati na porta do escritório
antes de abrir.

— Baby, pode tirar uma foto minha para enviar a Roberto?

Enzo ergueu o rosto e ficou congelado no lugar.

— Cadê a sua roupa?

— Estou usando. — Apontei para o vestido.

— Isso é a sua roupa de baixo. — Ele levantou e prendeu o


botão do terno. — Não sei o que vai vestir, mas não vai sair de casa
com essa roupa.

— Ah, eu vou sair sim. Fiz dieta líquida o dia inteiro para o
vestido não explodir. — Cruzei os meus braços e parando na minha

frente, tentou puxar para baixo, passando a mão na minha bunda,


tentando enfiar por baixo e comecei a rir descontroladamente. —

Para com isso, criatura.


— Você só pode estar de brincadeira comigo, não é
possível. — Enzo não estava brincando e dei de ombros.

— Estarei com você a noite toda, deixa de ser ciumento...


Estou tão linda. — Joguei os meus braços no seu ombro e o

abracei. Enzo apertou minha bunda.

— E gostosa, muito gostosa e porra...

— Vai dançar comigo?

— Vou te amarrar na minha sala — reclamou e sabia que


apesar de ainda estar odiando minha roupa, a crise foi abortada.

Na sala, Ângelo estava tão bonito quanto Enzo, tirei uma

foto de Alessio todo arrumado e mandei para tia Malia. Marcus e

Ilaria chegaram carregando uma sacola. Orelhas de renas para as


meninas, barba e gorro de Papai Noel para os meninos. Ajustei a de

Enzo, experimentando e, ao vê-lo parado ao lado de Marcus me dei

conta de quem ele me fazia pensar que conhecia, sempre que o via.
O meu próprio marido. Me senti meio idiota, afinal, eles eram primos

de terceiro grau e toda a família era parecida.

Saímos de casa após um breve jantar e Enzo escolheu o

seu lindo Maserati como o carro da noite. Envolvida em um casaco,


ao seu lado, acompanhei enquanto ele dirigia pela cidade fria,

deixando o ronco do motor anunciar nossa passagem.

A frente da boate estava lotada. Havia a imprensa, curiosos

no tapete vermelho e uma fila enorme para conseguir uma entrada.

Abri o meu casaco quando Enzo me ajudou a sair do carro para

Stefanio levar até a garagem ao lado. Paramos no tapete juntos,


sem falar com a imprensa diretamente, só tiramos fotos e entramos.

Subimos a escada para a área vip que já estava muito

cheia. Enzo colocou seu gorro e a barba, me dando um beijinho


antes de rodarmos pelo lugar falando com os convidados. Ilaria me

deu uma garrafa de água, estava quente dentro da boate. O DJ

tocava animado, muita gente dançando e muita bebida passando

nas bandejas.

Avistei a minha amiga me procurando na multidão.

— Linda! Conseguiu vir! — Abracei-a apertado.

Contrariando a opinião de Enzo, convidei a minha amiga e estava

feliz que havia aparecido. Nós nos demos muito bem e tínhamos
uma conexão muito intensa, conseguíamos completar a frase uma

da outra e ríamos feito loucas. Naquela cidade maluca, encontrei


alguém que era só minha, não pertencia à famiglia e muito menos à

família do meu marido.

— Tem tanto homem gostoso nesse lugar! — gritou

empolgada. Peguei uma taça de espumante para ela, brindamos


com meu martini. — Cadê o seu marido?

— Está em algum lugar, nos separamos falando com as

pessoas e não achei mais. — Sorri e bebi o meu espumante. —

Vamos dançar!

Dancei de me esbaldar, rebolando e cantando as músicas.

Meu marido me achou, dançou comigo um pouco, me deu um beijo

e sumiu na multidão de novo. Preparei a festa inteira para

aproveitar. O único problema era que não estava acostumada a


beber e logo fiquei enjoada, com o estômago queimando e mais

uma vez Ilaria me salvou de atravessar a multidão, pedindo água no

seu ponto eletrônico. Ela estava sempre por perto, talvez a pedido
de Enzo ou porque queria dançar e se divertir comigo.

Brincamos as três no meio da pista, ninguém se atreveu a

aproximar, não com Stefanio na borda e porque sabiam que era


casada. Linda encontrou alguém para beijar, sorri porque ela era do
tipo que pegava, mas não se apegava. Logo se livrou do homem,

voltando para ficar conosco.

Antônia estava na festa, infelizmente, tive que convidar já

que trabalhava com Enzo e era prima dele. O tal do Maurizio

também, eles estavam juntos e ela não parecia muito feliz com os

toques dele. Na verdade, a expressão dela era como se fosse


vomitar a qualquer segundo. Sabia que eles tinham ficado noivos há

algumas semanas, mas ela não estava nada feliz. Senti arrepios

quando o olhar do conselheiro do meu marido bateu em mim e fingi


que não o via para não ter que cumprimentar.

O calor da boate começou a me fazer mal, somando com a

bebida e o meu estômago irritado. Procurei por Enzo, mas não o

encontrei. Já fazia muito tempo que ele não pairava sobre mim e era
bem estranho.

— Cadê Enzo? — Gritei para Ilaria. Ela apontou com o rosto

para o homem conversando com Emerson e aquele não era meu

marido e sim o dela. Mesmo na parte mais escura da boate, sabia


que não era meu marido. — Aquele é o seu marido.

— É Enzo. — Insistiu e percebi que estava dando uma de

boba.
Enzo não estava mais na festa, mesmo com pouco tempo

de casada, conhecia a postura de cada um dos homens dele que

ficavam comigo. Stefanio estava tenso e muito atento, quando Enzo

estava por perto, ele ficava mais afastado. Dei as costas para Ilaria
e avisei a Linda que precisava de um minuto.

— Você está pálida! — Linda me apoiou no braço,

realmente, o calor me fez sentir tontura. A casa deveria estar além

da sua capacidade.

Stefanio percebeu que algo estava errado e veio na minha

direção, abrindo caminho até a escada dos fundos. Nós passamos

pelo corredor e sinalizando para outro homem parado ali, abriu a


porta da sala de Enzo. Toda a parede do escritório era de vidro, mas

ninguém conseguia ver ali dentro, mesmo com as luzes acesas.

Respirei aliviada com o ambiente climatizado e me joguei no sofá,

meu vestido estava muito apertado também. Devia ter inchado no


período que fiquei de pé, dançando.

Linda perguntou a Stefanio se podia arrumar água e algo

para comer, ou um refrigerante. Prendi o meu cabelo molhado de

suor e o meu segurança deu as ordens no seu ponto, informando


que não me sentia bem. Ilaria acabou vindo atrás de mim, me

abanando, parecia preocupada.

— Você comeu muito pouco hoje e só beliscou umas folhas


no jantar, tem que comer mais que isso. Ainda mais que bebeu. —

Ilaria secou meu rosto.

— Tente entrar nesse vestido. — Fechei os meus olhos,


apreciando o fresquinho do ar-condicionado.

— Deveria parar com essas besteiras, Juliana. Bebe um

pouco. — Abriu a lata de refrigerante, virou em um copo e me

entregou. — Vou pedir comida.

— Cadê meu marido? — Abri os olhos e a minha prima pelo

casamento simplesmente encolheu os ombros.

Linda ficou sozinha comigo e aos pouquinhos fui me

sentindo melhor. Percebi uma movimentação estranha do lado de


fora, fiquei de pé e percebi que os homens da família estavam

andando pela multidão, parecendo procurar alguém. Com as mãos

apoiadas no vidro, observei Ilaria escoltar Antônia para um corredor

que eu sabia que dava para umas salas e a cozinha.

Stefanio parecia ouvir algo em seu ouvido e olhou para

minha amiga.
— A senhorita pode me acompanhar de volta à boate?

— Acho que vou embora, está tarde. — Linda olhou a hora.

— Vai ficar bem?

— É claro que sim. Obrigada por ter vindo. — Abracei-a e

olhei para Stefanio. — Peça para alguém levá-la em casa, por favor.

Stefanio assentiu e levou a minha amiga. Bebi um pouco

mais de água e ouvi outra porta ser aberta. Enzo passou por ali,

com outra roupa, sem barba e sem gorro. Seu cabelo estava

molhado, o que significava que havia tomado banho. Andou


casualmente até a outra porta, trancou por dentro e veio até mim.

— Está bem, amore?

— Onde você estava? — Empurrei-o levemente. — Por que

está de banho tomado? Por que Ilaria tentou me enganar que


Marcus era você?

Enzo me abraçou apertado, seu coração estava acelerado e


ele beijou o meu pescoço, ignorando a minha pergunta. Na hora

pensei que a história da barba e do gorro era para que as pessoas


realmente pensassem que meu marido estava circulando pela festa
quando não estava. Puxei o seu cabelo para obrigá-lo a olhar nos

meus olhos.
— Precisei sair para resolver um probleminha, acabei
ficando sujo e aí tomei banho. — Me deu um beijo e decidi que era o
tipo de coisa que não queria detalhes. Fiquei arrepiada pensando no

que ele foi fazer. Caramba... Não queria mesmo os detalhes.

— Marcus era o seu álibi. Qualquer um pode dizer que


estava aqui a noite inteira — falei baixinho.

— É isso aí,amor. Para todos os efeitos, nunca saída festa

e você também não. Está ofegante... está melhor? — Me olhou e


achei engraçado já que era o coração dele que estava pulando no
peito. — Fiquei preocupado quando ouvi que você estava sentindo-

se mal. Será que fomos longe demais?

— Podemos ir embora? — Saber que Enzo havia usado a


festa que preparei com todo carinho e dedicação como um álibi me

deixou esgotada, muito chateada. Meus pés estavam doendo e não


conseguia respirar direito.

— Claro que sim.

Enzo me ajudou com o casaco, saímos pela porta que ele

entrou e um corredor nos levou à garagem onde ficava o carro.


Estava muito frio do lado de fora, corri para dentro do veículo e

imediatamente liguei o aquecedor. Comecei a espirrar. Não quis dar


muito assunto a ele, perdida na minha própria cabeça, que duelava
querendo saber o que tinha feito naquela noite e ao mesmo tempo
querendo fingir que nada aconteceu.

Estávamos sozinhos em casa porque Carina ainda estava


dormindo no apartamento dos pais com a mãe dela. Tirei as botas,

balançando meus dedinhos e ao tentar tirar o vestido ele


simplesmente não saía.

Aquilo não estava acontecendo.

— ENZO! — gritei dentro do closet. Ele estava usando o

banheiro, mas eu não me importava. Eu precisava sair daquele


vestido.

— O que foi, criatura? — Apareceu nu como veio ao mundo.

— Meu vestido não sai — choraminguei e tentando me

ajudar, puxou de todo jeito enquanto implorava que não rasgasse.

— Ah, foda-se. — Ele rasgou todo o tecido.

Soltei um grito, consternada pelo meu vestido rasgado e ao


mesmo tempo muito aliviada que estava respirando corretamente.

— Calcinha bonita. Quer vir tomar banho comigo?


Suada, dei de ombros e o segui para o banheiro. Apenas
tomamos banho, vesti uma camisola, bebi água e me deitei. Enzo

ainda ficou mexendo no celular, ditando ordens, fez duas ligações,


tive que brigar com ele por ficar xingando no meu ouvido e
finalmente sossegou. Com as luzes apagadas, dormimos juntinhos e

foi uma delícia acordar com ele na manhã da véspera de natal.

— Bom dia, amore. — Me encheu de beijos e sorri,

esquecendo que estava chateada com ele sobre a noite anterior.


Abraçando-o, ficamos quietos, sonolentos. — Você é tão linda. Sou
tão sortudo... — Tão juntos que não havia espaço e eu amava cada

segundo daquele momento. — Você comprou um presente de natal


para mim?

— Claro que não. Você controla o meu dinheiro.

— Eu te dou uma mesada muito generosa, além do mais, é

só comprar que eu pago.

— Aínão é presente, idiota. — Revirei os olhos e ele riu, me


mordendo. — Aí, que droga. Você é muito bruto.

— Quero um presente, lindinha.

— Sua linda está com fome. — Sorri inocente e levantamos,

fiz minha higiene matinal, vesti um pijama de pelúcia e desci atrás


dele.

A mesa do café da manhã já estava pronta, com chocolate


quente e café fresco. Enzo sentou-se na cabeceira e me servi com
chocolate, ouvindo a televisão da sala passar o noticiário matinal.

Virei a minha cabeça imediatamente ao ouvir a manchete.

“Senador Rollins e a sua esposa cometeram suicídionessa


madrugada, deixando uma carta alegando não aguentarem a
pressão das acusações e assumindo os erros da família”.

Olhei para o meu marido, que apenas me deu um sorriso


afiado e um olhar perigosamente desafiador antes de levar a xícara

de café à boca. Ele deu um gole e soltou um gemido, beijando as


pontas dos dedos, me provocando.

— Enzo Antonio Rafaelli, você tem explicações a dar.


Trinta | Juliana.

Enzo estava me olhando como se estivesse se divertindo

muito, parecia muito satisfeito consigo mesmo, até que seu telefone
vibrou e ele levantou com tanta força que a cadeira voou longe. Saiu

disparado para o escritório e eu continuei ouvindo a notíciada morte


do Senador, entendendo que seus filhos não foram encontrados
para dar entrevista e que ambos responderam o caso por meio de

assessoria de imprensa.

Se é que estavam vivos, pensei ironicamente.

Perdi totalmente meu apetite.

Bebi o meu chocolate quentinho, entrei na cozinha para

verificar as meninas e elas já estavam mergulhadas nos


preparativos da ceia de natal. Estavam adiantando o corte dos

legumes e cozinhando algumas coisas por ordem de Enzo, porque

na minha cabeça não fazia sentido que elas ficassem ali quando
tinham as suas próprias ceias para cozinhar. Elas obedeciam muito

mais a ele do que a mim, mesmo que fosse a única querendo dar
folgas.
Ouvi um barulho no escritório e fui até lá, abrindo a porta e

vendo Enzo sentado na sua cadeira, com as mãos no cabelo,


chutando repetidamente os pés da mesa.

— O que aconteceu agora, Enzo?

Ele ergueu o rosto e seu olhar me deixou em alerta.

— O filho da puta conseguiu fugir. — O ódio em sua voz me

fez endireitar a postura. Eu não o queria tão agitado na véspera de


Natal. Andei até a mesa, deixei a minha xícara no canto, dei a volta

e me sentei de frente a ele. — Maurizio conseguiu fugir.

— Como assim?

— É uma boa pergunta, porra. O filho da puta atirou contra

Marcus, estava com uma arma escondida e ele chamou reforços.

Tem realmente alguém muito preparado por trás dele, isso só


confirma todas as minhas suspeitas. — Acariciei seu couro cabeludo

e ele me olhou. — A caçada começou há alguns dias, todos os

traidores foram levados... Agora o Maurizio fugiu, é preocupante.

Segundo Ilaria, a equipe que o resgatou tinha um treinamento

avançado.

— E quem está por trás dele, amore? — Usei um tom suave


para que continuasse falando.
— A porra do meu tio. Ou os dois tios.

— Qual deles?

— Um deles você não conheceu... É o irmão caçula do meu

pai. Seu nome é Alonzo Rafaelli, seu apelido é Ghost porque tem a

incrível capacidade de se esconder e aparecer como um fantasma.


— Enzo parecia esgotado. — Aparentemente ele nos traiu no

passado. Tudo isso é a porra da confirmação.

— Sinto muito, amore. E o seu outro tio? — Beijei sua testa

e escorreguei para o seu colo. — Sei que vai conseguir resolver. E

quanto a Leela e o irmão dela?

— Talvez seja meu tio Cosimo, mas o que foi dito por um

soldado na tortura não bate com o que sabemos, então eu não

posso agir sem provas. Meu tio tem muita lealdade e eu poderia

causar uma guerra, colocando muitas pessoas em risco — explicou

e assenti. Fazia sentido. — Eu não mato mulheres, não sei o que

Ilaria fez ou se Leela tomou a dica e desapareceu. O irmão dela já


foi há muito tempo. Principalmente porque era ele quem queria te

usar como distração. — Enzo me abraçou apertado. — Quero te

levar para Hampton. Você, minha mãe e Carina. Tenho que sair à

caça...
— Não. Nós vamos passar o Natal em casa, preparei tudo

aqui e amanhã você sai. Você tem milhares de pessoas que podem
procurar por Maurizio hoje, amanhã você se junta a elas, mas hoje

você fica e eu não estou renunciando ao nosso primeiro Natal. —


Segurei seu rosto e beijei a boca. — Obedeça a sua esposa —
provoquei para fazê-lo rir e ele sorriu, prova de que seu humor ainda

estava obscuro. — Por favor, eu não quero passar a noite com


medo de perder você.

— E amanhã não vai pensar? — Arqueou a sobrancelha.

— Estou rezando para que os seus homens o encontrem

hoje mesmo e tudo isso se acabe. E quanto aos pais de Maurizio?

— O velho implorou por misericórdia, disse que não


concordava com as ações do filho e foi ele quem entregou Maurizio

ontem. Na festa, ele estava com Antônia, quando tentou sair


levando-a, ela sinalizou para Ilaria... Ele percebeu, saiu da festa e
foi até onde o pai estava aguardando, desta vez, com Marcus.

— E se o pai dele estiver envolvido? Organizou tudo isso e


estava ajudando o filho? — Brinquei com a gola da camisa dele e

olhei em seus olhos.

— Maurizio atirou contra o próprio pai, Juliana.


Ofeguei, realmente chocada.

— Uau. E a esposa dele? E a filha?

— Estão em um local seguro, escondidas... Elas fugiram


quando o homem não voltou e Ilaria encontrou com ambas de
madrugada.

A noite foi agitada para todos e eu perfeitamente dormindo

na minha cama, me senti meio egoísta e privilegiada. O telefone de


Enzo tocou, era sua prima e ele pediu que ela nos encontrasse com
Marcus. Alessio estava em um lugar que não entendi, Emerson e

Giovanni fazendo a segurança de Amber com Carina, que também


iriam retornar para o apartamento. Ele queria o helicóptero pronto,

carros em pontos estratégicos e o prédio permanentemente


fechado.

— E quanto aos vizinhos?

— Você já encontrou com algum vizinho que não fosse um

funcionário meu?

Parei para pensar e me senti idiota por não perceber que o

prédio era dele.


— Essa torre é sua, amore. — Me deu um beijo e o abracei,
mas seu telefone vibrou de novo e era o número codificado de Kyra.
— Preciso atender isso sozinho.

Fiz um beicinho por ele não estar mais disposto a

compartilhar as suas informações. Não queria forçar a barra ou ele


nunca mais me falaria nada, dei-lhe um beijo e saí do escritório,
tentando ouvir atrás da porta, mas a chegada de Ilaria me fez correr

para a escada, fui para o meu quarto trocar de roupa.

Minha mente estava rodando com tantas novas

informações. Enzo era estranho, ou não falava nada ou explodia


minha mente de coisas novas. Quem era esse tio que nunca ouvi
falar? Conheci dois tios dele no casamento, eram bem mais velhos

e ficaram o tempo todo ao redor do asqueroso avô dele. De vez em


quando o velho ligava para falar com Enzo e eu apenas mandava

lembranças, sem me aprofundar muito.

Desci a escada de novo, devagar e ouvi vozes.

— Alguma atitude suspeita do meu pai? — Ouvi Enzo


perguntar a Giovanni.

— Nada... Ele parece não saber do que está acontecendo.


— Tudo bem... Quero que eles continuem agindo
normalmente, obedecendo às ordens dele e sem falar o que está
acontecendo aqui. Pelo visto, a banda podre está nesse lado. E na

vila Valentinni?

— Tudo calmo... Desde a notícia da morte de Tommaso e o


porquê de ele ter sido punido, todos estão recolhidos. Os soldados
não estão ofensivos... Os subchefes seguindo as ordens, relatórios
de todos os comércios funcionando perfeitamente e associados com

as dívidasem dia. — Giovanni encostou na parede. — Os Valentinni

estão gostando das mudanças, mais dinheiro entrando, mais

tecnologia... Não há quem resista.

— Desde os primórdios da humanidade, homens são

comprados com dinheiro e eles não seriam diferentes. Quero que

mantenha sua equipe com os olhos bem abertos, qualquer atitude


suspeita do meu pai deve ser comunicada imediatamente. Tudo

discreto, da nova forma, lembre-se sempre que Alonzo foi um de

nós e nos treinou, participou dos treinamentos da agência e sabe

como pensamos. Quando agir de um jeito, faça sempre ao contrário


do que ele espera de nós. — Enzo ordenou e vi Giovanni sair. —

Pode sair daí, Juliana.


Desci a escada sem culpa.

— Ninguém te disse que ouvir conversas escondido é feio?

— Por que vigiar seu pai?

— Porque não sou idiota. — Ele não elaborou mais nada,

aparentemente, e era um idiota sim, porque voltou a falar em

enigmas comigo. Continuei encarando-o. — Teremos a ceia hoje,


mas amanhã você irá para Hampton.

— Você tem mesmo que ir? — Abracei-o apertado.

— Sim, mas eu prometo voltar. — A ideia de ele não voltar

me deixou apavorada. — Ei, calma. Juliana, por favor. Se você


chorar, vai ficar ainda mais difícil ir. Maurizio causou uma comoção

em Chicago, acredito que possa estar por lá, ainda mais que sua

mãe tem parentes na cidade. Tivemos uma fraca localização do seu

celular em vários lugares, estão brincando comigo...

— O que vai acontecer?

— Meu primo está em alerta, vamos resolver. O importante é

manter a família segura, porque Alonzo... Eu não sei o que ele quer

e porque ele supostamente está fazendo isso. — Seu olhar era


desolado. — Agora Maurizio é diferente. Eu não consigo conectar os
dois juntos, as ações fazem parecer que sim, mas eu não tenho

evidências. Odeio admitir que Alonzo é a pessoa mais fria e

inteligente que eu conheço. Se for ele, eu vou ter que pensar em um


plano muito bom. Ele me conhece com a palma da mão.

— Eu não acho que Maurizio tenha ido tão longe sozinho,

ele é obsessivo, Enzo. Deixando o seu tio de lado um pouco, o

motivo pelo qual Maurizio está fazendo tudo isso você sabe, só

precisa se concentrar. Tem muita coisa na sua cabeça... Dê um


tempo para colocar tudo no lugar, você o conhece há anos, se ele é

um manipulado ou está agindo pelos seus desejos... Carina está

bem aqui — sussurrei a última parte, lembrando do surto de Alessio


que só depois descobri que o gatilho havia sido Carina. Enzo abriu

bem os olhos e me encarou.

— Não vou usar minha irmã como isca.

— Jamais disse isso... Apenas saiba que um homem


ambicioso como ele, não aceita perder. Antônia está conosco e

Carina também. Qual o interesse do seu tio nelas? Não consigo ver

nenhum. Talvez ele possa ter vendido informações, mas talvez


Maurizio seja obsessivo demais para fugir sem os seus prêmios. Te

ouvi dizer mais de uma vez que ele tinha coisas dela. Que coisas?
Deve ser grave, porque Alessio ficou descontrolado e descobrimos a

história do tio Tommaso.

Enzo suspirou e apertou o nariz.

— Você ouve mais do que deveria. — Beijou a minha boca.

— Agradeço seu conselho, você tem razão, tenho que pensar mais

friamente embora seja difícil quando se trata desse imbecil. A casa


de Hampton é uma fortaleza, todos esperam que mantenha vocês

aqui, porque é centro da cidade e talvez isso iniba um ataque.

— Tem certeza, Enzo?

— Se acontecer um ataque lá, a casa tem rotas de fuga e


um túnel subterrâneo que pode levá-las até uma garagem, com

carros abastecidos e com dinheiro na mala. — Ele segurou meu

rosto. — Vá para o mais longe possível, não importa o lugar, fique


segura porque eu vou te achar.

— Enzo... — Meus olhos encheram-se de lágrimas e senti

um pânico me enforcando. Respirei fundo e segurei suas mãos no

meu rosto.

— Sei que está assustada, mas eu tenho que te preparar.

Se tivermos sorte, nada vai acontecer, mas eu seria imprudente se

não te preparasse...
Abracei-o apertado e tivemos que nos separar quando

Amber chegou, preocupada e nos abraçando. Fiquei um pouco

triste, era natal, que droga. Ninguém merecia aquele clima ruim.

Ilaria estava no banheiro cuidando do ferimento de Marcus e


a ajudei, ela me deu um sorriso muito grato por cuidar do marido

dela e foi a primeira vez que senti que a animosidade diminuiu.

Coloquei Marcus deitado em um dos quartos, foi um ferimento no

braço, não era profundo, mas ele precisava descansar.

Ao descer, Enzo estava bebendo com Alessio. Emerson

estava olhando pela janela de binóculos, Giovanni fazia o mesmo na

outra ponta do apartamento. Stefanio verificava algo no computador


com Angelo. O telefone de Enzo vibrou e era Jack, o nome dele

nunca aparecia, a tela ficava toda preta e às vezes uma voz robótica

feminina que fazia a ligação, era bizarro que Enzo conversasse com

ela ou ouvia as informações que ela passava.

Para o meu azar, ele saiu de perto.

O dia de Natal foi estranho, estavam todos tensos e muito

cansados. Quando Antônia saiu de um dos quartos que estava, o

rosto dela estava limpo de maquiagem e ela parecia abatida. Engoli


o meu ranço ao me dar conta de que o pai dela havia sido um dos
assassinados na noite anterior. Fiquei sem graça de oferecer

condolências devido à situação ao todo, mas ela parecia


relativamente bem perto de nós e até me ajudou na cozinha.

Todos se esforçaram para a noite ser agradável. Não foi

maravilhoso, mas eu podia dizer que tivemos um jantar tranquilo e

avançamos para as boas conversas. Não houve uma troca de


presentes, porque não nos programamos para tanta gente. Dei o

presente de Carina em seu quarto e o de Amber antes dela dormir.

— Oi, linda. Vem aqui. — Enzo me chamou na porta do

nosso quarto. Ainda queria verificar se todos estavam bem


acomodados, divididos entre o nosso apartamento e o de baixo. —

Deixe que eles se virem, agora preciso falar com você.

Curiosa, fui até ele e fui puxada para o quarto aos beijos.

Hum... Enzo me pegou no colo e me jogou na cama. A urgência que


ele sentia me dominou, todo pensamento do que poderia vir a

acontecer no dia seguinte me encheu de pavor e me entreguei a ele.

Deus... Como era possível estar tão apaixonada assim?

— Você é minha vida por inteiro. — Enzo estava metendo

devagarzinho, me deixando louca e olhando em meus olhos. — Não

posso mais viver sem você.


— Eu te amo, Enzo.

— Sim, porra. Eu te amo muito. — Me beijou intensamente e

fizemos amor pelo restante da noite.

De manhã cedo, ele estava acordado e eu dormi muito

pouco. Rolei na cama para grudar nele, era a primeira vez que nos
separávamos daquela forma e eu estava nervosa. Ele saiu da cama

sem falar nada e me sentei, entrou no closet, ouvi abrir o

compartimento onde as armas e facas ficavam, tentei manter a


calma porque ele estava se preparando para sair. Ao voltar para o

quarto, segurava uma caixa de veludo e uma arma preta, pequena.

Colocou os dois na cama.

— Não quero que desgrude dessa arma, fui claro? Leve-a


com você até no banheiro. Ela está carregada, mas na gaveta do

quarto lá de Hampton tem mais balas para ela... — Me entregou e


peguei. Ele me deu uma rápida explicação de como destravar, me
fazendo repetir rápido várias vezes. Não brinquei com o momento e

nem demonstrei meu medo. Se Enzo estava me entregando uma


arma livremente, era porque não estava de brincadeira. — Muito
bem. Stefanio, Mika e Ilaria ficarão com vocês. E claro, mais alguns

homens do lado de fora. O quarto do pânico tem a descida para o


túnel, qualquer sinal de problema, você entra nele e sai no maldito
túnel. Não discuta, não hesite em atirar, não dê conversa.

— Tudo bem.

— Esse é o seu presente... Mandei fazer e espero que

goste. — Me entregou a caixa de veludo. Coloquei a arma do meu


lado e abri a caixa. Era um lindo colar com relicário. Soltei o colar de
prata e abri a pequena parte com uma foto nossa, no dia do nosso

casamento, bem no momento do beijo.

— É tão perfeito. Obrigada! — Me joguei nele, abraçando


bem apertado. Seu telefone vibrou e suspirei. — Temos que ir, não

é?

— Sim, está na hora.

Me levantei da cama, escovei os dentes e não me arrumei


muito. Minha bolsa era pequena e tinha apenas umas coisas

urgentes, porque lá tinha bastante roupas minhas. Me envolvi em


um casaco, o tempo estava escuro, mas o piloto garantiu que estava
tranquilo para voar. Fui a última a embarcar no helicóptero,

acenando timidamente para Enzo e para Alessio que nos olhavam


partir. Eles eram as pessoas que mais amava no mundo e estava

morrendo de medo de perdê-los.


Engoli a vontade de chorar e embarquei, prendendo o cinto
e colocando os fones. Carina me deu um sorriso compreensivo e
segurou minha mão. Ilaria estava olhando para o prédio, certamente

preocupada com seu marido e toquei seu ombro, em um conforto


silencioso que eles ficariam bem. Antônia estava encolhida no

canto, parecendo perdida em seus pensamentos. Amber olhava


fixamente para frente, talvez acostumada.

Nós fizemos uma boa viagem e pousamos sem problemas.

Malena nos recebeu com beijos e abraços, disse que tinha café da
manhã e comemos em silêncio. A arma que Enzo me deu, estava
na minha cintura e o colar no meu pescoço. Meu telefone vibrou

com uma mensagem dele. Era o link de uma música que não
conhecia, pedi licença e procurei meu fone na bolsa, colocando e
ouvindo.

Can I Be Him do cantor britânico James Arthur. A

mensagem que chegou depois me fez chorar enquanto ouvia a


música. Enzo escreveu: “Sei que não sou o marido que você
merece, vou me esforçar a ser, porque você me tem por completo.

Quero uma vida inteira ao seu lado. Sinto muito por te fazerpassar
esse medo e preocupação, mas se você ficar forte aí, eu fico forte
aqui”.
Mesmo com os dedos tremendo, digitei de volta.

“Estou forte aqui, amor. Te espero com ansiedade!”

Nós tivemos dois dias silenciosos, o telefone não tocava,

Stefanio não falava muito e Ilaria estava começando a ficar inquieta,


muito preocupada. Passamos por muitas horas conversando e na
terceira noite, fizemos uma roda de conversa nos fundos, com a

fogueira acesa e assando besteiras.

— Estou aliviada que meu pai morreu, não estou triste por

ele, apenas triste. — Antônia confessou depois de algumas taças de


vinho. — Me sinto mal, porque queria que o padrinho tivesse feito
isso antes. Sinto muito, madrinha.

— Está tudo bem, querida. Você deveria ter me falado


antes... Quando me pediu para ir para a faculdade e morar sozinha,

eu não maldei. Sinto muito. — Amber segurou sua mão e eu estava


confusa.

— No mínimo você deveria ter me contado, eu o mataria


sem esperar ordens. — Ilaria falou do seu jeitinho ácido e
assustador de ser.

— Por quê? — Carina perguntou, o que estava doida para

fazer.
— Ele abusava de mim.

Soltei a salsicha que estava assando, de tão indignada.

— O que esses homens pensam que são? Sinceramente...


Se eu soubesse, até eu teria matado. Vou conversar com o Enzo
sobre isso... Por que ele protelou?

Antônia sorriu, meio amarga.

— Ele não sabia... Meu plano era ficar o mais próximo


possível dele, assim meu pai teria medo, e ele teve, porque me
deixou quieta. Mas inventou a bosta do noivado com o Maurizio.

Quando Enzo mandou aceitar e fingir que gostava, eu tinha vontade


de vomitar.

— Eu percebi que você queria ficar bem próxima do meu

marido, agora que seu pai morreu, pode se afastar. — Abri um


sorrisinho inocente.

— Sim, é claro. — Antônia murmurou e Amber me deu um


chute suave, que ignorei. Ilaria e Carina começaram a rir, logo todas

nós acompanhamos.

Foi bom ter uma noite leve, porque dormir sozinha e sem

notíciasclaras de Enzo estava me consumindo. Teve um dia que ele


ficou sem responder por muitas horas e eu realmente entrei em
pânico, mas Kyra me ligou e disse que estava monitorando-o por
satélite, ele estava literalmente caçando Maurizio e todas as pistas

eram falsas. Ela concordava comigo que ele não foi longe e estava
monitorando a casa.

Quando recebi a ligação dela na mesa do café da manhã,

eu soube que havia algo errado.

— Eles estão se aproximando da casa. São seis carros e a


leitura mostra que tem cinco em cada. — A voz de Kyra era sem
nenhuma emoção. — Você tem alguma arma com você?

— Sim — sussurrei em pânico. Sinalizei freneticamente para


Stefanio e Mika, que levantaram dos seus lugares no sofá tirando as

armas.

— Estão chegando em trinta segundos. Estou indo, mas

vocês precisam se defender primeiro.— Kyra encerrou a chamada.

— Eles estão vindo.

Foi o tempo de levantarmos e os vidros explodirem. Um


carro pegou fogo na entrada, nós gritamos e Ilaria nos mandou

abaixar. Tirei a minha arma da cintura no momento que tiros


começaram por todo lado. Mika virou a mesa, gritando em seu rádio
e eu vi com horror os seguranças da casa revidando, sendo
atingidos e era tanto barulho que queria me encolher e chorar.

Carina estava colada em Amber.

Eu não podia ter um ataque de pânico naquele momento.


Fechei os meus olhos, acalmando minha respiração, mentalizando

uma força que não tinha certeza que tinha e olhei para a escada.
Quarto do pânico.

Sinalizei para Ilaria que tínhamos que ir para o quarto do


pânico, ele ficava na parte alta da casa, porque descia para o túnel

abaixo da propriedade. Stefanio nos alinhou, a casa estava sendo


invadida com rapidez e quando subimos a escada, Mika estava no
segundo andar tentando impedir a entrada, mas eles realmente

eram muitos. Stefanio estava na minha frente e me segurando tão


apertado que meu peito estava colado nas suas costas.

Ele iria torcer o meu pulso se me afastasse. Nós andamos


rápido pelos corredores, abaixei e peguei uma arma, entregando à
Antônia. Ela também precisava se proteger. Seu olhar de pânico

mostrou que ela não sabia como usar uma. Droga.

Um grupo de homens veio na nossa direção e atirou no

peito de Stefanio. Ele conseguiu revidar e atirei contra a testa de


dois. Antônia acertou o restante. Ilaria estava lutando corpo a corpo
contra dois.

— Me ajude a carregá-lo! — gritei para Amber.

Nós o arrastamos para o quarto, atirei mais vezes contra


quem vinha na nossa direção e empurrei a porta do quarto do
pânico. Antônia e Amber me ajudaram a carregar Stefanio ferido,

pulsando sangue que me deixou inteiramente molhada.

— Cadê Carina? — Olhei ao redor, sem fôlego.

— Ela estava bem atrás de mim! — Amber tentou passar


por mim.

— Não, vocês ficam. Antônia, pressione a ferida dele e eu


vou buscá-la.

Não dei tempo que discutissem, trancando a porta do quarto


e me sentia vivendo uma experiência extracorpórea, porque não

sabia como meu corpo estava respondendo. Uma parte do meu


cérebro estava paralisada, em choque. Andei silenciosamente pelos

corredores, ainda ouvindo sons de disparos, pulei alguns corpos e


ao virar, me deparei com Mika.

— Volta para a porra do quarto agora! — Ele gritou comigo.


— A sua esquerda! — Ouvi o grito de Antônia e a voz dela

estava saindo do sistema de som, que ficava acoplado no alto das


paredes. Mika atirou em quem estava vindo.

— Carina sumiu. Eu a perdi na confusão...

Atirei em um idiota que tentava chegar em Mika por trás.

Nós corremos pelos corredores, ele querendo me levar de volta para


o quarto e eu empurrando as portas, procurando desesperadamente
por ela. Mika começou a lutar com um homem realmente gigante

que praticamente me esmagou contra a parede, minha arma caiu e


escorreguei em uma poça enorme de sangue. Agarrei-a firme entre

meus dedos e caí de costas em uma porta.

Rolei para o lado, com a mente confusa e vi Carina jogada


no canto com um homem em cima dela. Me joguei contra ele, me

colocando entre os dois e na minha mente confusa, reconheci


Maurizio.

— Você deveria ter fugido. — Foi tudo o que disse, atirando


contra seu peito enquanto ele avançava em mim e por fim, o atingi

bem no meio de sua testa. Ele caiu em cima de mim, pesado, quase
me derrubando.

Mika explodiu porta adentro com os olhos arregalados.


— Achei Carina.

— E o traidor. — Ele disse chegando perto. — Vamos levá-la


para o quarto do pânico agora.

Carina estava em choque, porque não se mexia e suas

roupas estavam rasgadas. Levantei-a do chão, apoiando o seu


corpo no meu e a minha roupa de dormir estava pesada de tanto
sangue. Ilaria nos achou, respirou aliviada e disse que os reforços

da Agência haviam chegado. Que agência? Ela me ajudou a


carregar o corpo desfalecido de Carina, com Mika à nossa frente. Ao
virarmos para seguir o caminho oposto, duas pessoas mascaradas

surgiram no corredor.

A mais baixa delas tirou a máscara.

— Kyra! — O alívio quase me derrubou.

O mais alto revelou seu rosto e era Alex.

— Eu o matei.

— Podem descer, os danos foram controlados. — Kyra falou


com Mika. — Já soltamos quem estava no quarto.

Ilaria me deu um olhar antes de descer com Carina.


— Você fez o certo. Enzo não sabe a força que você tem...
— Kyra parou na minha frente. — Tinha toda razão. Ele estava mais

perto do que imaginávamos.

— Eu o matei. — Olhei para minhas mãos cheias de


sangue.

Matei o traidor.
Trinta e um | Enzo.

Freei o carro bruscamente em frente a mansão e me deparei

com o cenário do caos. Um carro incendiado, a Agência e os


homens sobreviventes não feridos fazendo a limpeza dos corpos.

Alessio saltou do carro junto com Emerson. Andei até a porta, me


deparando com Carina sentada no canto com minha mãe. Antônia
estava ajudando Ilaria a cuidar dos feridos junto com o médico da

família e a nossa enfermeira.

Mika ficou de pé, mancando e andando até a mim.

— Estamos bem, senhor.

Marcus atravessou a sala e parou congelado. Estava tudo

destruído.

— Você está bem? — Virei para Carina, que estava

abraçada com Alessio. Minha mãe estava com Emerson. Elas

pareciam bem, limpas, apenas assustadas.

— Estou perfeita, irmão. — Carina me deu um sorriso calmo,

parecia drogada. O médico devia ter lhe dado um calmante.

— Preparem os carros para levá-las embora. Nós vamos


tirar os feridos daqui e desaparecer, antes que curiosos cheguem
perto demais — ordenei e olhei para Ilaria, que inclinou a cabeça

para a escada.

Subi rapidamente, correndo a última parte e ao chegar no


terceiro andar, Alex estava contra a porta. Nós trocamos um aceno

antes que eu abrisse. Kyra estava próxima à Juliana em silêncio, e o

estado da minha mulher me deixou sem chão. Juliana estava


vermelha de sangue da cabeça aos pés. Seu pijama de ursinho

favorito estava ensopado, o cabelo embolado e grudado.

Seu rosto estava vazio, como uma folha em branco e ainda


segurava a arma.

— Jack está mantendo a imprensa longe. — Kyra me


explicou.

— Como?

— Um prédio está pegando fogo em outro ponto da cidade e

ele desviou as chamadas para a polícia relatando o tiroteio, mas não

temos muito tempo. Temos que sair daqui. — Kyra falou baixinho do

meu lado. — Ela está em choque, mas foi corajosa.

— Ela realmente o matou?


— Dois tiros no peito e um na cabeça. Não demorem, vou
agilizar as coisas lá embaixo. O helicóptero chega em dez minutos.

— Kyra tocou meu ombro, apertando em conforto. — Isso foi um

massacre, todos se saíram muito bem. Tem poucos do lado de lá

vivos, vou interrogá-los. — Ela saiu do quarto.

Juliana estava congelada no lugar e ergueu o olhar na


minha direção. Sem falar nada, ergueu a mão e me entregou a

arma. Peguei e enfiei no meu bolso, ainda segurando sua mão. Ela

se jogou em mim, chorando e a abracei apertado, grato que ela

estava viva, mesmo que traumatizada pelo resto da vida. Meu

coração estava explodindo no peito, de alívio e horror. Eu nunca

fiquei tão apavorado antes, e estava acostumado com essa vida, de


sangue, morte e dor.

Mas não estava acostumado ao medo dessa vida

machucando Juliana.

— Tira esse sangue de mim — sussurrou e a levei para o


banheiro.

Tirei a sua blusa com certa dificuldade e puxei a calça para

baixo, jogando ambos no canto e ligando o chuveiro quente,

deixando a água cair pesada nela enquanto tirava minha roupa,


entrando debaixo do jato, esfregando os seus braços com

suavidade. Peguei a esponja e enchi de sabonete líquido, lavando


seu corpo, impedindo que olhasse para baixo e visse a quantidade

de sangue que escorria junto com a água para o ralo.

Assim que a crosta seca saiu, eu vi os ferimentos. Ela

estava com alguns cortes nos braços e na sua cintura, um ferimento


que parecia a bala de raspão. Ela estremeceu, provavelmente

sentindo-os doer pela primeira vez. Lavei o seu cabelo, passei o


condicionador e penteei, encerrando o banho. Me sequei primeiro e

bem rápido, vestindo um roupão e a colocando sentada no balcão,


limpando seus ferimentos com cuidado, tirando alguns cacos de
vidro e fazendo os curativos.

— Está tudo bem agora? — Juliana falou baixo.

— Por enquanto sim, mas eu não vou descansar até


encontrar o filho da puta do Alonzo. Ele está traindo seu próprio
sangue e isso não tem perdão. — Acariciei o seu rosto. — Você

lutou.

— Eu não. Ilaria sim e não sei como ela...

— Ela é treinada. Nós praticamos luta desde as fraldas... Ela


está bem.
— Atirei em um monte de gente... Ah, o Stefanio! — Seu

olhar arregalou em choque. — Ele levou um tiro no peito.

— Ele estava acordado quando eu subi, mas o médico


estava com ele e será bem cuidado. — Ouvi o som do helicóptero.
— Vamos sair daqui.

Juliana foi até o closet, vestindo-se e peguei duas grandes


malas, jogando nossas coisas dentro com rapidez. Ela me ajudou,

mesmo que tivesse pedido para se sentar. Peguei as armas, facas,


munições e as poucas roupas, empurrando tudo dentro e fechando.

Mika e Marcus apareceram na porta, provavelmente para nos


chamar e disseram que já haviam recolhido tudo do escritório.

Nós descemos de mãos dadas. Já não havia corpos pela


casa, muito menos a sala cheia como cheguei. Minha mãe estava

embarcando no helicóptero no momento que aparecemos nos


fundos. Malena estava em um dos carros, sua casa ficaria fechada.
Kyra e Alex já não estavam mais, nem Spider e muito menos a

Kono.

Conduzi minha esposa para o helicóptero e ela parou ao ver

Antônia em um dos carros com Angelo.


— Ela tem que vir conosco... Não pode ficar sozinha.
Antônia! — Tentou sair de perto de mim e a segurei.

— Antônia irá com Angelo, ele vai cuidar dela, porque eu


pedi e ficará tudo bem.

Assentindo sem mudar a expressão de pânico, embarcou,


prendi o seu cinto e coloquei os fones. Ilaria deu a ela sua bolsa, o
celular e o fone enroladinho. Nós finalmente decolamos e olhei para

a casa, sendo fechada por Giovanni e ele olhando para o alto,


dando o sinal que estava tudo feito. Ela precisaria ser reformada de

ponta a ponta. Talvez vendida. Duvidava que Juliana conseguisse


pisar ali novamente.

O tempo estava ruim, muita neblina, foi um voo cheio de


tensões até que finalmente vi o topo do meu prédio. Nós pousamos

e corremos para dentro devido ao vento forte.

— Eu preciso de um minutinho com Carina — avisei aos


demais.

Juliana me deu um olhar marejado e foi andando para a

escada. Minha mãe correu até ela e segurou sua mão. Ilaria foi logo
atrás, andando devagar, provavelmente dolorida. Emerson e Marcus
carregaram as bolsas, passando por mim em silêncio. Assim que
ficamos sozinhos, minha irmã me abraçou apertado.

— Você realmente está bem? — Beijei o seu rosto em


diversos lugares. — Te amo tanto, bambina. Sinto muito, sinto

mesmo, te amo.

— Sim. Eu não lembro de muita coisa, fiquei com tanto

pânico que me desliguei totalmente. Acho que paralisei. Eu só


lembro de Juliana chegando e se jogando nele, a partir desse

momento... O médico me examinou, além de algumas contusões,

ele não fez nada. — Carina começou a chorar. — Por quê? De

todos os garotos que brinquei, eu nunca, nunca mesmo...

— Além de ser um bastardo doente, ele era invejoso e um

pedófilo filho da puta. Eu sinto muito, baby.

— Juliana foi tão corajosa. Ela estava nitidamente em

pânico, mas foi tão... Ela enfrentou quem aparecesse na frente para
nos salvar. — Carina arregalou os olhos. — Eu nunca vou esquecer

que ela simplesmente voltou para me buscar e nós nos conhecemos

há pouco mais de um ano... Sinceramente ela é uma irmã de


verdade. Sua esposa é incrível. — Carina me deu um beijo na
bochecha. — Acho que vou dormir. Aquele remédio que o médico

me deu está me fazendo sentir a cabeça pesada.

— Tudo bem, princesa.

Carina desceu a escada para seu quarto e segui atrás,

atravessando o corredor e entrando no meu quarto.

Juliana estava no centro da cama, olhando fixamente para


frente e tremendo. Parei ao lado dela, abri a minha gaveta e tirei um

frasco de calmante. Virei um na mão e dei à minha esposa, que

enfiou na boca sem pestanejar. Escorregou na cama, deitando-se

debaixo das cobertas e me acomodei ao seu lado, nossas pernas


emboladas e tão próximos que não havia espaço entre nós.

— Vai ficar tudo bem... Eu não vou sair do seu lado.

— Você está vivo e eu estou viva, melhor que isso não pode

existir. — Beijou o meu peito. — Estou sem acreditar em tudo o que


aconteceu. Ainda ouço os sons dos tiros, os vidros quebrando, os

gritos... Eram tantos gritos. Foi tão ruim... Nunca senti tanto pânico e

eu pensei que não podia fugir sem Carina. Achei um absurdo que eu
tivesse que fugir quando eram eles que estavam errados, invadindo

a minha casa, querendo o que não pertencia a eles. Ah, Enzo. Você
passa por isso tantas vezes, agora eu tenho completamente noção

do que significa a nossa vida.

Suspirei e beijei sua testa repetidas vezes.

— Eu entendo o seu pai mais do que nunca, porque eu daria


a minha alma para não ver tanto medo em seus olhos. Eu sinto

muito, amore. Espero que um dia você supere isso... — Beijei os

seus lábios.

Juliana ficou quieta e logo caiu no sono. Fiquei o dia inteiro


deitado ao seu lado e toda a noite. Dormi e acordei diversas vezes.

De manhã, ela gemeu toda dolorida e pediu um analgésico, mas

também estava morrendo de fome. Nós saímos do quarto,

encontrando a minha mãe tomando café da manhã, olhando para


Carina rindo das cosquinhas que Alessio fazia nela.

Ouvir a minha irmã rir era música para os meus ouvidos.

Marcus estava servindo Ilaria e Emerson comia olhando para

a televisão.

— É por isso que não brigo com você por ter voltado...

— Se a gente não cuidar da nossa família, do que adianta

ficar nessa vida? — Juliana me deu um olhar leve. — Nós


precisamos um do outro. Eles são nossos e nos completam. Apesar

de tudo, eu não me arrependo de ter voltado.

Dei a ela um olhar irritado.

— Se arrependeria se tivesse morrido, porque ia até no

inferno atrás de você.

Ela parou na minha frente e abriu um sorriso lindo.

— Até no inferno? Então você me ama mesmo.

— Nunca duvide disso. — Segurei o seu queixo e beijei os

seus lábios. — Eu te amo mais do que a minha própria vida.

Observar a minha famíliaao redor da mesa após um evento

catastrófico nunca foi importante, porque eu nunca aparecia em


casa, mas era a primeira vez que apreciava a graça daquele

momento. Fiquei impressionado com a força de Juliana, porque ela

estava comendo e sorrindo. Ainda havia um medo nos seus olhos,


mas não estava abatida.

Nas semanas seguintes, ela me provou que era muito mais

forte do que um dia imaginei. Além de fazer de tudo para voltar com

nossa vida ao normal, disse que queria gerenciar a reforma da casa


de Hampton e não queria vender.
Janeiro passou em um piscar de olhos.

Nós ainda estávamos procurando Alonzo em todo lugar. As

minhas desconfianças que os irmãos Rafaelli estavam apoiando o

irmão em retaliação a tudo que fiz o meu pai passar esfriaram um


pouco, mas no fundo, eu sabia que ele tinha uma participação.

Podia ser cisma minha ou era apenas a minha intuição. Meu pai me

decepcionou tantas vezes na minha vida, que eu não me

surpreendia com nada mais que viesse dele...

Depois de ter uma amante por tantos anos, fazer o filho dela

de prisioneiro, ameaçar a vida da filha mais velha, que era minha

irmã, e literalmente colocar nossos negócios em risco se associando


com o maluco do Bryant... Eu não ficaria surpreso se tentasse me

apunhalar nas costas. Meu pai sabia que Bryant iria armar uma

situação ruim para que eu matasse Jack.

O azar deles é que eu nunca vingaria a morte do meu pai,


não sem analisar a situação friamente e foi o que fiz e percebi que

havia algo errado.

Um errado que me levou até à Agência.

Meu pai foi aposentado à força e desde então Alonzo ficou


estranho. Foi se afastando lentamente dos seus deveres na
família... Com tudo o que aconteceu em D.C. e com Kyra no

nascimento de Amy, ainda demorei a acreditar que o filho da puta


estava nos traindo. Precisava encontrá-lo. Todas as coisas que

Gianni confessou, localizações, senhas, atitudes... Tudo era o estilo

do Alonzo. Giovanni e Mika também perceberam. Para o meu

completo ódio, mais alguém da minha família estava envolvido.

Não queria que fosse o meu pai, porque a minha mãe

sofreria muito com a morte dele, mesmo depois de tudo, eles

seguiam casados e ela ainda o amava muito. Não podia perder mais

tempo, estava cansado de esperar.

— Enzo! — O gritinho agudo de Juliana me tirou dos

pensamentos e me levantei, subindo a escada bem rápido. Entrei no

quarto e ela estava nua da cintura para cima, com uma calcinha que
parecia uma cuequinha. — Ai que bom que veio rápido. — Me deu

um sorrisinho. — Sente-se aí. — Apontou para a cama e me sentei,

confuso. Ela foi até o closet e voltou, me dando uma caixa média.
Abri a tampa e havia uma pistola antiga, lustrosa e muito bonita. —

É mexicana! Feliz Dia dos Namorados!

— Uau! Como você conseguiu comprar? É original!


— Foi difícil... Mas Dominic me ajudou. Ele foi até o México
e comprou para mim!

— Andou falando com Dominic, é?

— Deixa de ser ciumento, seu bobo. Comentei com ele que

queria te dar um presente diferente quando veio jantar aqui em casa


e aí, ele se ofereceu para me ajudar se eu o ajudasse a receber

Kate aqui, quando ela se mudar.

— Estou maravilhado, amore. Obrigado! — Beijei-a e ela

parecia muito orgulhosa com seu presente. Estiquei a minha mão,


abri a gaveta e peguei a caixinha do presente dela.

— Ah, um anel? Amo! — gritou antes de abrir e ficou

confusa. — Uma chave?

— Sim... De um Porsche.

— Isso significa que estou liberada para sair novamente?

— Tudo parece tranquilo por enquanto, não posso te manter


em casa para sempre, embora seja o meu desejo. — Juliana

sentou-se no meu colo e me deu um beijo.

— Stefanio está curado... Marcus também. Ilaria já voltou ao


seu bom humor. Carina e Alessio estão fingindo que se odeiam
novamente. Sua mãe está indo embora... Tudo está voltando ao
normal. Está na hora de voltarmos ao normal também, você ficando
em casa o dia inteiro está me irritando e Antônia já voltou a

trabalhar. Acho que tem muito o que fazer. — Me deu um sorrisinho


esperto.

— Agora não tem ciúmes dela? — Cutuquei as suas

costelas, ela riu e me bateu.

— Já avisei que é melhor que fique bem longe de você.

— Agora que todo mundo sabe que você é capaz de fazer


estragos, vão te obedecer muito mais que eu. Juliana é uma bomba

— provoquei, ganhando sua risada.

— É bom mesmo... Sabe por quê? — Arqueou as


sobrancelhas perfeitas.

— Não faço ideia.

— Eu estou indo trabalhar com você.

Revirei os olhos e respirei fundo.

— Nós vamos brigar por isso de novo? — Aquele assunto


era cansativo.
Juliana saiu do meu colo, indo para o banheiro, soltando os
cabelos e se olhando no espelho com admiração.

— De volta ao normal, baby. A diferença é que agora eu sei


muito bem o que quero fazer e onde vou ficar. Ou você aceita isso,
ou... aceita. Estou disposta a brigar, porque em casa, bancando a

esposa traumatizada não será o meu papel. — Me olhou bem séria.


— Você decide, Enzo. Ou você quer uma mulher submissa ao seu
lado ou uma mulher forte. E já te adianto, não tem um osso

submisso nesse corpinho aqui.

Com um sorriso triunfante pelo meu silêncio, passou um


batom claro nos lábios e pediu que verificasse se o jantar estava
pronto, porque ela estava com fome. A vida com a Juliana sempre

seria uma surpresa.

Eu não trocava nenhum segundo desta vida. Eu a amava.


Trinta e dois | Enzo.

Da minha mesa, no escritório da empresa, observei Juliana

andar pelo corredor com uma prancheta na mão. Ao seu lado


estavam Antônia e Giana. Elas pararam diante de uma parede,

apontaram na direção onde Emerson estava sentado, em uma sala


que tinha ampla visão da minha. Era onde nos reuníamos, ela abriu
a porta, falou alguma coisa que fez o meu irmão bufar, recolheu as

suas coisas e saiu da sala em pisadas duras até a minha.

— O que ela está fazendo aqui? — Ele se jogou na poltrona,


puto nas calças. Alessio desviou o olhar do seu telefone para a
prima, ordenando coisas para Stefanio e Mika.

— Trabalhando.

Juliana se inclinou sobre uma mesa e olhei para a sua bunda.

Sorri e pelo reflexo, ela me viu e deu o dedo do meio. Abusada... Ela

ia pagar por isso mais tarde.

— O quê? — Emerson estava insistindo no assunto. — Ela

é sua esposa, tem que ficar em casa e ter filhos como a mamãe.

— Juliana não quer ter filhos agora e ela é minha esposa,


como bem lembrou, ela pode fazer o que bem entender. — Apontei
para a porta. — Vá fazer o seu trabalho... Agora. — Irritado, ele saiu

e foi direto para o elevador. Alessio me olhou e riu. — Quer sair


daqui com um pé na bunda?

— Saindo... capado. — Tossiu e arremessei um livro nas

suas costas. Juliana me deu um olhar irritado por bater no seu

“bebezinho”. Ela foi até ele, acariciou as costas e Alessio sabendo


que ela iria brigar comigo, reclamou de dor. Tive vontade de jogá-lo

do último andar. — Tchau, Chefe.

Ergui o dedo do meio e ele entrou no elevador rindo. Juliana


entrou na minha sala com a sua prancheta, outra coisa que queria

jogar pela janela, e cruzou os braços.

— Nós temos que conversar.

Puta que pariu, lá vinha mais mudanças.

— Senta aqui no meu colo... — Bati a mão na minha coxa,

ela revirou os olhos, ignorando totalmente e sentou do outro lado. —

Poxa, amore. Estou com saudades de você.

— Passe a dormir em casa que você vai matar as saudades.

— Me deu um sorrisinho.
— Eu estava em casa ontem e onde você estava? Na rua
com Kyra.

— Estava treinando. Você mesmo disse que poderia me

ensinar a lutar.

— Apenas para a sua defesa, vocês estão fazendo isso o


tempo todo e nem estava em casa para jantar. Quando chegou, eu

estava saindo.

— Parece que o jogo virou, não é? — Colocou a prancheta

na mesa.

— É uma espécie de vingança, Juliana?

Ela riu, ficou de pé, deu a volta e finalmente sentou-se no

meu colo, me beijando do jeito que estava louco desde que a vi

naquela manhã, pronta para sair comigo.

— Vamos sair mais cedo, você está com olheiras e precisa


descansar um pouco. Quero ir hoje à noite para a boate, estou

precisando me divertir e convidei Ilaria. — Beijou o meu queixo e

pescoço, me provocando do jeito que só ela conseguia. Era

impressionante o quanto Juliana sabia me provocar, meu pau ficava

imediatamente duro. — Não é uma vingança. Agora eu realmente

entendo o seu trabalho e o seu tempo, antes você optava por me


deixar no escuro, sem considerar os meus sentimentos e tudo que

passei até o nosso casamento. Era meio babaca da sua parte...

— Eu sinto muito.

— Estou feliz que superamos essa parte, não superamos?

— Ainda sinto medo de te contar tudo e te envolver tanto,


mas a cada dia você me prova que é mais forte que todos nós

juntos. O que você passou naquele dia e tudo o que fez, sem
pestanejar... — Segurei o seu rosto perfeito. — Juliana, eu nunca
fiquei com tanto medo de perder alguém na minha vida como tive

naquele dia. Quando chegou até a mim que vocês estavam sob um
ataque tão grande...

Juliana saiu do meu colo e sentou-se na mesa, bem na


minha frente.

— Kyra comentou comigo que eles, ao descobrirem que não


estávamos onde achavam, se organizaram em um grupo ainda

maior em poucos minutos. Era muito mais do que pegar Carina, ela
foi um capricho para ele, um prêmio, mas a ideia era eliminar todos

nós. Todas as pessoas ao seu redor, Enzo. Alonzo te odeia tanto


assim?
Fiquei pensativo, avaliando tudo que aconteceu naqueles

dias e ao longo dos anos.

— Eu não acho que seja a mim, o seu sobrinho, mas sim...


O Chefe. Ele odeia a nossa vida. Ele era o filho caçula, mas o meu
avô era uma peste em forma de pai e de homem. Quando eu tinha

sete anos, ele me afogou na piscina, sempre cometia umas coisas


ruins para ver “até onde podíamos aguentar”. — Acariciei suas

coxas. — Aos quinze, ele pediu que os soldados estuprassem Ilaria


para ver se ela se defenderia. Ele nunca a tratou como uma menina,

sempre jogando como os meninos.

— Ela foi estuprada?

— Não, baby. Ilaria e Angelo mataram todos eles... Quando


cheguei, ela estava com sangue da cabeça aos pés e subiu as

escadas pronta para matar nosso avô. Desde pequenos somos


influenciados a isso. Você me pergunta todos os dias de onde vem
tanto ódio... Nós tivemos mais ódio do que amor. Desde pequenos

somos incentivados a matar, a nos defender e provar do que somos


capazes. — Juliana escorregou de volta e me abraçou. — Quando

Kyra me conheceu, eu já era o chefe, mas eu sentia tanta raiva,


tanto ódio... Os treinamentos da agência me ensinaram a ter mais
frieza. Ela mexia muito comigo, na minha cabeça e ela é cheia de
joguinhos psicológicos que te deixam tonto. Foi o que me fez
entender que, para manter meu poder, eu tinha que aprender a ser o

que meu pai e meu avô nunca foram. Menos sangue quente, mais
frio e de certa forma, mais cruel e mais ambicioso. Ter dosagens

diferentes do que eles tiveram...

— Eu já percebi que Kyra gosta de brincar com o que

falamos para ver se soltamos outras coisas. — Juliana sorriu


orgulhosa. — Ela disse que minha mente é muito rápida, quer me

treinar para desenvolver melhor e eu aceitei. Quero estar do seu


lado e ser uma mente forte.

— Amore... Qualquer mulher sem a mínimaexperiência não

agiria como você agiu. Eu vi as filmagens, baby. Você estava


robótica, fria e mirava sem dificuldade. Foi como assistir outra

mulher no seu corpo. — Apertei as suas bochechas e fiz a sua boca


formar uma boca de peixinho. Beijei e soltei. — Minha mulher é uma

bombinha.

Rindo, movimentou-se sugestivamente no meu colo e olhou

em meus olhos.

— Vamos para casa?


Ela não precisava me pedir duas vezes. Juliana reuniu as
coisas e chamei Stefanio para nos levar para casa. Descemos os
três no elevador em silêncio e ao chegarmos na garagem, a

sensação de estar sendo observado me dominou em cheio. Olhei ao


redor e a garagem estava vazia. Juliana percebeu minha mudança,

ficando alerta também e Stefanio apenas estalou o pescoço.

Me sentei no banco da frente, Juliana atrás de Stefanio, com


cinto de segurança e saímos no trânsito da cidade. Uma SUV

pensava que estava sendo discreta em me seguir, mas era o carro

padrão do FBI e revirei os olhos mentalmente, relaxando, porque

aqueles bostas estavam fazendo o mesmo todos os dias. Decidi


acabar com o interesse em mim. Peguei o meu telefone e coloquei

no ouvido, percebendo a agitação no carro, eles deviam estar

pensando como diabos não conseguiam rastrear minhas ligações e


muito menos me ouvir.

Angelo atendeu no segundo toque.

— Faça os russos saírem da toca. O FBI está me seguindo

e já perdeu a graça — pedi e encerrei a chamada, me concentrando


no trânsito e nas pessoas. Juliana estava digitando em seu telefone

e rindo. Estava curioso e ela tinha razão, o jogo realmente virou,


porque antes, era ela quem morria de curiosidade sobre minhas

mensagens e ligações.

Chegamos em casa e Carina estava fazendo uma

coreografia estranha, imitando um grupo coreano na frente da

televisão, usando uma máscara facial dourada e o cabelo cheio de

laço colorido.

— Que porra é essa, garota? — Soltei uma risada. Ela

inventava cada merda.

— Máscara de ouro! Estou preparando a minha pele para

mais tarde! — Ela estava ofegante. — Dançando para me dar sono.


Não vou aguentar ficar acordada se não tirar um cochilo. Chegaram

cedo, está tudo bem?

Juliana foi até ela e desligou a televisão.

— Vá dormir ou você não vai comigo. Ficar se agitando não


vai te dar sono, você é igual o seu irmão, ligada no 220w e dorme

pouco.

— Comprei uma máscara para você também. — Carina


subiu a escada ainda dançando.

— Eu odeio essas bandas coreanas. — Juliana resmungou.


— Você a mandou dormir só para desligar a televisão?

— Sim. Ela ouve essas criaturas o dia inteiro, não há quem

aguente.

Segui a minha esposa como um cachorrinho, ela entrou em


vários cômodos da casa, passou pela cozinha para verificar o

andamento do jantar e finalmente subiu a escada na minha frente,

com sua bunda bem no alcance dos meus olhos. Deixei que

adiantasse uns degraus só para dar um belo tapa. Rindo, me puxou


para o quarto e assim que a porta fechou, eu estava sobre ela como

um maluco desesperado.

Nós passamos a tarde na cama, senti falta de estar com ela

nas últimas noites, a minha esposa tinha a sua própria agenda e


compromissos. Estava trabalhando exclusivamente para o vinhedo,

embora todas as mudanças precisassem da minha assinatura,

estava se dedicando e tinha excelentes ideias. O novo comercial


ficou muito agradável e nós estávamos com o projeto de expansão

para os próximos meses.

Deixei que Juliana dormisse por algumas horas e recebi a


atualização da nova carga. Fazia tempo que não conseguia verificar

pessoalmente, deixando Emerson a cargo e se o mau humor dele


era algum indicativo de queda, iria no lugar dele. Quando a carga

estava quase chegando no estado, acordei Juliana aos beijos.

— Quer vir comigo ou quer ir depois para a boate?

Sonolenta, se espreguiçou e me olhou curiosa.

— Vai fazer alguma coisa legal?

— Vou receber uma carga.

— Quero ir. — Sentou-se na cama.

— Você precisa sair de casa com uma roupa e levar a que

vai usar na boate. A primeira deve ser confortável.

Sem questionar, levantou da cama e foi se vestir. Nós

tomamos um necessário banho antes de dormir, então, nos


vestimos em silêncio. Ela separou as nossas roupas, deixando

alinhado na cama e eu mesmo arrumei do jeito prático que já estava

acostumado. Entreguei a ela uma arma, analisando sua reação, ela

hesitou por um instante, seu olhar ficou assustado e sabia que


lembrou do ataque, mas pegou e enfiou na cintura do jeito que

ensinei, escondendo com o casaco.

Enviei uma mensagem para Mika e para Stefanio, ambos


estavam na garagem, comendo, e ficaram de pé assim que nos
viram.

— Quer pizza, senhora?

— Eu aceito, Stefanio. Obrigada. — Juliana pegou um

pedaço com o guardanapo e entrou no carro.

Comi dois pedaços enquanto Stefanio dirigia, comendo, com


Mika na frente. Mais uma vez estávamos sendo seguidos. Stefanio

entrou em um prédio privado, o carro do FBI ficou do lado de fora,

então eles subiram para o estacionamento do outro lado da rua.


Paramos em uma vaga, saímos os quatro do carro em direção ao

elevador. Juliana andou ao meu lado, segurando minha mão

tranquilamente e a mochila com nossas coisas pendurada nas

minhas costas.

O elevador parou em outro andar da garagem.

Emerson, Alessio, Angelo, Ilaria e Marcus estavam em

carros separados. Ao todo, havia sete carros iguais e prontos para

sair. Olhei para o outro lado da rua, percebendo a movimentação e


sorri.

— O que está acontecendo? — Juliana foi muito esperta em

não olhar para o outro lado. Ela estava prestando atenção nos
reflexos e captando o que podia. A mente dela era uma surpresa.
— Eles vão despistar o FBI provocando os russos e nós

vamos receber a carga. Entra no carro. — Apontei e ela entrou


depois de assentir.

Entramos sozinhos no carro, esperando que eles saíssem e

cada um seguiria para um lado diferente da cidade. Com tantos

carros iguais descendo as rampas, eles não viram quando dirigi até
o fundo do prédio, entrando em um elevador de carga. Abri a janela

e acionei manualmente para descer.

— Espera aí, e os outros? — Juliana segurou na porta,

visivelmente nervosa.

— Não precisamos dos outros aqui embaixo.

— Embaixo? Como assim?

— Você vai ver.

Assim que o elevador parou, andei o suficiente para sair


dele, virei para a esquerda e era como uma rua, exceto que havia

trilhos para todo lado. Estacionei próximo ao elevador de carga da

nossa saída em outro prédio, na mesma rua, do outro lado. Saí do

carro e Juliana me seguiu, topando com Mika e Stefanio parados


contra a estação abandonada. Outra pessoa saiu do corredor e

Juliana sorriu abertamente.


— Oi lindinha. — Jack apareceu e abriu os braços. Fiz uma
careta. — Você agarrou minha mulher por anos e não posso abraçar

a sua?

— A diferença é que a sua mulher ama isso aqui. — Ergui

minha camisa, mostrando meu tanquinho.

— Eu também tenho, babaca. — Jack exibiu o dele.

Juliana acabou com a minha moral ao assobiar e bater

palmas. Olhei para ela sem acreditar e tudo que ganhei foi um

arquear de sobrancelhas. Antes dela, realmente infernizava a vida


de Alice e de Kyra, apenas porque os maridos delas ficavam muito

putos. Entendia totalmente o sentimento e tinha que aguentar

calado. Quem mandou provocar? Era a chance da revanche.

O som do trem chegando fez todo mundo se aproximar da

borda.

— Que porra é essa? — Juliana ofegou baixinho.

— O que você está esperando? — perguntei ao Jack.

— Lowell mandou algo. — Jack respondeu e as portas se


abriram.
Entrei primeiro, erguendo todas as tampas com a arma em
punho, verificando os vagões junto com Mika e Stefanio. Juliana e
Jack estavam do lado de fora.

— Você está armada? — Jack olhou para a cintura dela. —


Uau. Se eu der uma arma na mão de Alice, ela atira em mim.

— É meio tentador. — Juliana deu um tapinha na cintura e


me olhou, debochando.

— Tudo limpo — avisei e eles entraram. — Podem


descarregar a carga. O restante manda para o depósito e peçam
que comecem a distribuição ainda hoje.

Conferi a qualidade da cocaína sob o olhar atento de

Juliana. Jack pegou as bolsas que lhe pertenciam, que Lowell havia
enviado, parou ao nosso lado e depois saiu assobiando. Assim que
o resultado ficou pronto, sorri. Oliver não brincava em serviço. Era

pura.

— Eu não gosto disso. — Juliana murmurou.

— É só não usar. — Estava meio que brincando, mas ela


acertou um soco certeiro no meu estômago que quase me fez

vomitar. — Ai, desculpa. Sua bruta.


Ela aprendeu como bater e eu tinha que tomar muito
cuidado com o que falava. Sorri doido para encher o saco dela.

— Juliana é uma bomba. — Fiz o som de “cabum” e tudo


que ela fez foi correr atrás de mim para me chutar.
Trinta e três | Juliana.

Enzo estava vindo na minha direção com tudo, por dois

segundos eu pensei “foda-se, vou me jogar no chão e me fingir de


morta”, mas foi a ideia de me jogar no chão que me fez virar o jogo.

Assim que ele se chocou contra mim com todo seu peso, soltei um
humpf involuntário, bati com as costas no tatame e a dor explodiu
por todo meu corpo. Puxei sua blusa, girando-o e enforcando com

meu braço. Ele tentou sair, quase conseguiu, mas eu tinha que ser
covarde e bater em suas bolas com meu calcanhar.

— PUTA QUE PARIU! — Enzo berrou e se encolheu,


segurando o meio de suas pernas. Sentei-me no tatame, toda

suada, descabelada e ele ainda estava com gel no cabelo. Que


porra injusta! — Você nunca vai ter filhos assim! — Choramingou e
revirei os olhos.

— Você pega pesado comigo e eu não posso pegar pesado

com você? — Respirei um par de vezes, sentindo que o meu


coração ia sair pela boca e caramba, os treinamentos com ele eram

pesados. — Deixa de ser um bebê chorão — sussurrei a última

parte bem devagar. Enzo olhou para os outros que usavam a


academia do prédio.
— TODO MUNDO FORA AGORA! — Berrou e só ouvi os

sons dos aparelhos sendo abandonados. — Não quero que


ninguém entre. Faça guarda na porta. — Ordenou a Mika, que riu e

saiu andando.

Merda.

— O que você vai fazer comigo?

— Tá com medinho? — Sorriu e abaixou o short, olhando


para o pau. Ai que dramático. — Você me machucou.

Engatinhei até ele, sentei-me nas suas coxas e me inclinei

para frente, olhando de perto. Fiz a maior cara de inocente, de


esposa culpada, até dei um beijinho que o fez respirar fundo e me

olhar do jeito safado que eu amava.

— Quer ver como ainda está funcionando? — provoquei


com um suave sopro, apenas encostando os meus lábios bem de

leve. Sem encostar ou segurar, ele foi endurecendo rapidamente. —

Viu, amore! Está intacto...

— Agora chupa, vai. Por favor. Por favor...

Ele fazia meu dia quando começava a implorar sem esforço.


Por ter chutado as suas bolas, algo que não me arrependia porque
merecia muitas vezes no dia, dei um boquete de deixá-lo tonto e
sorri muito satisfeita. Era a minha maior insegurança no sexo e se

transformou no que mais conseguia derrubar o mal humor dele.

Podia pedir qualquer coisa que ele diria sim sem pensar.

— Estou perdoada agora, meu lindo marido?

Enzo não ergueu a cabeça do tatame.

— Estou no céu, é claro que te perdoo. — Mordi a sua coxa.

— Meu Deus, mulher! Você sempre foi agressiva, mas agora está

pior!

— Sorte a sua que tenho que me arrumar.

Deixei-o deitado no chão e ele correu atrás de mim,

apostamos corrida até o elevador, assustando Mika e no final, ele

estava rindo de nós. Entrei em casa, suada, e fui direto para o meu

quarto. Estava com fome e precisava almoçar, a história de malhar e


praticar luta estava abrindo meu apetite. Tirei a minha roupa,

colocando no cesto de roupas sujas, abri o chuveiro testando a

temperatura da água e observei o meu marido ficar nu. Nos

abraçamos debaixo do jato de água morna e beijei seu queixo, ele

acariciou o meu rosto, mordendo meu lábio, distribuindo beijos,

parando no meu ouvido e fiquei arrepiada só com a sua respiração.


— Eu te amo.

Nunca cansaria de ouvir aquelas doces palavras saindo da

sua boca.

— E eu vou te foder muito gostoso agora.

Meu marido só conseguia ser doce por uns segundos,


estava tudo bem, eu o amava mesmo assim. Virando-me contra a

parede, ele começou seu delicioso ataque de me fazer ver estrelas.


O sexo foi ficando ainda melhor ao longo dos últimos meses.
Quanto mais o tempo passava, mais estávamos nos ajustando, nos

entendendo e com uma comunicação infinitamente melhor.

Talvez porque tinha uma ocupação durante o dia, estava

compreendendo cada vez mais o que era ser matriarca da família e


quanto mais confiança ganhava, mais ousada ficava na cama,

deixando de ser conduzida e sendo uma parceira por igual. Enzo se


surpreendia com algumas das minhas atitudes e adorava, sempre
pedindo mais. Sexo era muito importante e gostoso entre nós, mas

a conversa e a companhia um do outro fora da cama ganhou um


espaço incrível no nosso dia a dia.

Éramos constantemente vistos juntos, de mãos dadas, o


que reforçava a imagem de Enzo como um bom marido e
empresário para os ignorantes, e dava o recado aos seus inimigos

de que eu não era tão indefesa quanto antes. A notícia que fui eu
quem matou Maurizio se espalhou no submundo e de provocação

ou admiração, recebi flores da líder da máfia russa por ser uma


mulher forte no meio. Eu adorei, Enzo ficou puto e quis jogar as

minhas flores fora.

Nós saímos do nosso longo banho com o horário meio

apertado.

— Ainda precisará guardar alguma coisa na mala? — Ele

parou atrás de mim, já vestido e pronto para sairmos. Guardei o que


faltava e sentei-me no banquinho da minha penteadeira, passando
creme e apontando para a bolsa liberada. Ele pegou, saiu e voltou,

mostrando o relógio.

— É realmente bizarro fazer uma festa de noivado, meu


Deus. Ela tem dezessete anos... É tão jovem. — Coloquei os meus
anéis e me encarei, decidindo não usar maquiagem. — Ela teve

opção com esse casamento?

— Sim e não. — Enzo respirou fundo. — Somos os

padrinhos, não faça a noiva fugir só porque você também foi


obrigada a casar.
Fiz uma careta indignada, pelo menos eu tinha mais de
vinte. Com dezessete ainda era muito jovem para o casamento,
mas, entendia o que Dominic estava fazendo e conhecendo um

pouco da história, era até heroico. Ele a amava. Era tão óbvio. O
jeito que ficava irritado quando Enzo ou Jack falavam sobre ela,

dizia muito sobre os sentimentos dele.

Dominic era apenas um ano mais velho que eu, muito jovem

e mil vezes mais experiente que sua noiva. Pelo menos parecia que
ela sabia sobre a vida que fazia parte e que se casaria com o futuro

líder do seu meio. Dominic tinha tudo para estar no lugar do pai e,
se continuasse dando ouvidos a Enzo, não demoraria muito.
Segundo o que eu e Alice ouvimos atrás da porta no último jantar,

Kyra desconfiava que Oliver, pai de Dominic, estava mentindo sobre


algo importante que Jack deu a ele anos atrás.

— Juliana! — Enzo estava gritando. Revirei os olhos e


continuei no meu lugar. — Eu sei que o avião é nosso, mas o

espaço aéreo não. Eu adoraria comprar a porra do céu, mas o


governo americano não me permite! Vamos nos atrasar!

Peguei minha bolsa e andei até onde ele estava todo


estressado. Paramos no quarto de Carina para avisar que
estávamos saindo e ela fez uma pequena cena de drama com o
irmão, ele deu mais dinheiro a ela e deixou que comprasse o que
bem entendesse no cartão de crédito. Por motivos óbvios, Stefanio

não ficaria com Carina e sim Mika.

— Alessio está proibido de entrar no meu apartamento,


respirar, olhar, conversar ou tocar Carina e ela está proibida de
descer. Minha casa não é motel. — Enzo resmungou para Mika, que
assentiu. — Sempre que ela for sair, me avise e direi se ela pode ir

ou não.

Se com a irmã ele era insuportável, imaginei como seria

com nossos filhos. Enzo era grudento, irritante, ciumento e não


deixava Carina quieta, mesmo quando ela finalmente dava sossego

aos nossos ouvidos. Pior de tudo era que ela fazia queixa dele para

mim e ele fazia queixa do comportamento dela. Era como estar no


meio de uma guerra nuclear. Amber vivia me dizendo que era

natural, que sempre foi assim e estava mais que acostumada.

O trajeto até o aeroporto foi tranquilo. Enzo estava no

telefone como sempre e eu fiquei trocando mensagens com


Roberto. Estava morrendo de saudades dos meus amigos, mas não

queria mais que eles viessem enquanto Alonzo estava bancando o


fantasma. Já fazia alguns meses e ainda não havia sinal dele e os

problemas que aconteceram foram tachados como comuns para


Enzo.

Os russos atacando, tentativa de roubos das cargas, mais

remessas indo e vindo de D.C., cargas chegando de Boston,

dinheiro enviado por um tal de Lowell, trens, os vinhos sendo


importados e exportados com algumas garrafas carregando

conteúdos que não eram vinhos...

De quinta-feira a domingo às boates lotavam, drogas eram


vendidas em várias partes, atrações, festas e cada segundo que

participava dos negócios, mesmo como mera espectadora ao lado

de Enzo, percebia ainda mais que era um universo. Enzo vivia uma

vida muito louca.

O que Jack transformava os negócios dos membros da

agência era ainda mais complexo. Todos eram ligados de alguma

forma, cada dinheiro que entrava, passava por uma lavagem intensa

e saia limpo como lucro dos negócios em comum. Seria


impressionante se não fosse tão perigoso.

A Agência tinha diversos tipos de ações, eles também

trabalhavam com espionagem e assim vendiam a informação para o


governo que pagasse mais –exceto se fosse algo contra o governo

americano. Interceptavam contrabando, entregavam os culpados e

ficavam com a carga. Eles davam cobertura ao negócio um do


outro, porque dividiram o território igualmente e assim foram

avançando para o resto do país. Eles entenderam que um grupo

muito forte poderia dominar muito mais.

Eu não tinha certeza se confiava em Jack, às vezes sentia

medo da sua mente... Suas ações eram sempre dúbias. Até onde
ele poderia ir por ambição? Segundo Enzo, ele já vendeu a alma de

uma criança, então...

Nós pousamos em Los Angeles e já havia um carro nos


aguardando. Ficaríamos hospedados em uma das casas de Dominic

na cidade. Ele estava com os seus pais e a sua noiva. A notíciaque

o ex-jogador de futebol americano e filho do empresário Oliver King


ficou noivo de uma menina de dezessete anos, emancipada e muito

linda, explodiu na mídia.Fazia parte do acordo emancipar Kate para

que pudesse não só se casar, como um dia, reaver o que era de sua

mãe.

Aquela jovem e linda garota era herdeira de bilhões de

dólares. Mesmo que ninguém falasse comigo sobre o assunto, eu


não tinha certeza se ela ainda tinha esse dinheiro... Com Oliver

sendo tão escorregadio e Jack sendo impossível com suas


ambições, meu faro me dizia que havia algo muito mais profundo.

Enzo me disse que não devíamos nos intrometer, não ainda. A não

ser que Dominic pedisse.

Talvez pensando no mesmo que eu, meu marido não estava


falando muito, nos arrumamos para o noivado em silêncio porque

aprendi a respeitar o seu tempo para falar comigo. Algo estava

incomodando-o. Quando ele me entregou uma arma, eu sabia que


tinha algo errado mesmo.

— Apenas precaução, não pelos King, mas pelos inimigos

deles e será a primeira vez que todos nós estaremos juntos em

público. — Seu olhar sustentou o meu. — Não sei quem pode estar
nos vigiando.

— Espero que não aconteça nada, seria uma péssima

recepção para Kate. — Virei de costas e pedi que fechasse meu

cordão. Estava usando um vestido azul escuro, até os joelhos, justo


e por isso, a pequena arma que ele me deu foi para a bolsa.

— Kate não tem referências femininas, sei que é contra este

casamento, mas se puder ajudar em alguma coisa...


— É gentil da sua parte pensar nisso. O que está te

preocupando?

— O pai dela se envolveu com Maurizio e supostamente

com meu tio Alonzo. Ele ainda pode estar envolvido em tudo e eu
estarei muito perto dele sem poder dar um tiro no meio da sua testa.

Ninguém pode matá-lo até o casamento... Ou será um escândalo

sem controle. Dominic precisa estar publicamente envolvido com

Kate para que o pai dela saia de circulação. Se ele morrer, será de
péssimo gosto ter uma festa de casamento e para a mídia, isso é

necessário — Enzo apoiou as mãos nos meus ombros. — Eu odeio

o modo que a mente do Jack funciona, mas ele tem razão. Alonzo é
um inimigo forte e pelo visto, ele não quer só se vingar da família,

ele quer destruir todos nós.

— Não vai conseguir, somos mais fortes e mais inteligentes.

Jack é irritante, mas o cérebro dele vai achar uma saída. E por
favor, não mate o pai da noiva.

Enzo não fez promessas. Sabia que ele tinha uma tolerância

muito pequena para traidores e por ser obrigado a esperar com

Maurizio, tivemos a invasão, quase perdeu a mim e a irmã. Ele não


estava mais propenso a esperar o tempo certo para dar um golpe.
Para deixá-lo calmo, decidi que poderia ficar excitado. Por não estar

usando um batom forte, assim que Stefanio começou a nos


conduzir, apertei o botão que subia a divisória e montei no colo do

meu marido.

— É um ataque? — Enzo acariciou minha coxa. — Você

deveria estar no seu lugar e com o cinto de segurança bem preso.


— Ignorei a sua fraca reprimenda, beijando seu pescoço do jeito

que ele ficava louco em segundos.

— Deveria?

Enzo gemeu baixinho e a minha distração o acalmou o


suficiente, porque ao chegarmos, não estava mais no modo besta e

sim calmo e sorridente. A mãe de Dominic nos recebeu. Donatella

King era uma mulher de mais de cinquenta, loira, bonita, do tipo

senhora conservada que fazia muitas drenagens, botox, cabelos no


salão toda semana e a perfeita dona de casa.

— Sejam bem-vindos. — Ela me deu um abraço e ficou

nitidamente nervosa com Enzo. Se ela era uma boa mãe, deveria
mesmo temer a companhia do seu filho com meu marido. —

Dominic está na sala com os outros...


Nós seguimos o corredor e encontramos Jack, Alice, Kyra,
Alex e Dominic na sala. Todos ficaram de pé, trocamos abraços e

me sentei ao lado de Kyra, de frente para Alice. Enzo e Dominic

começaram a falar baixo no canto, Alex estava olhando para o seu


celular e ele vigiava as câmeras de segurança da sua casa. Havia

duas mulheres e duas crianças nas imagens.

— Alex e eu não costumamos ficar longe das crianças. Ele

está meio ranzinza por isso... Quando viaja, eu fico ou o contrário.


— Kyra me explicou, parecendo tranquila. — As babás são da

agência, elas vão cuidar bem das crianças.

— Lily não queria alguém, ela disse que podia ficar com o
“pentelho”. Ela arrumou um novo namorado e Jack não queria que

ele fosse lá na nossa ausência, então, além de babás, Thomas ficou


de segurança. — Alice comentou e Jack fez uma careta engraçada

ao ouvir sobre o namorado de Lilian. — O primeiro namorado ele


quase infartou, aí quando começou a gostar, ela terminou, chorou,

sofreu, fez um drama e Jack queria ir lá tirar satisfações com o


menino.

— Ele foi. — Kyra murmurou e eu ri.

— Você foi, Jackson? — Alice colocou as mãos na cintura.


— Não lembro. — O sonso abriu um sorriso debochado.

— Muito maduro para um homem com quase meio século


de vida. — Alice rebateu e Jack saiu de perto, emburrado. — Ele

não gosta que lembre a idade dele.

Nós três começamos a rir e até Alex saiu de perto. Eles


estavam tão mal humorados que o noivado iria parecer um velório.

— Eles chegaram! — Donatella apareceu na sala agitada.

— Vou chamar as meninas e o seu pai. Tem certeza de que isso vai
dar certo?

— Mãe, acalme-se. Quando eles assinarem os papéis,


meus convidados irão se juntar a nós e Robert não poderá fazer

mais nada publicamente. Significa que ele a perdeu de vez. —


Dominic acalmou a mãe e ela respirou fundo, saindo da sala. —
Vocês esperem aqui, daqui a pouco vou trazê-la. — Ele estava tão

fofo nervoso. — Enzo, comporte-se. Ela não confia nos homens,


suas piadas podem ser mal interpretadas e Jack seja gentil. Alex
seja simpático.

Dominic saiu da sala e começamos a rir. Ele mal conseguia


esconder a sua paixão. Nós ficamos na sala por um tempo, falando

muito baixo para não denunciar a nossa presença. Depois de um


longo tempo, Dominic voltou, acompanhado por uma linda mulher.
Kate tinha um corpo de deixar o queixo caído,longos cabelos lisos e
negros, olhos azuis brilhantes e em seu rostinho havia tão pouca

maquiagem que era possível ver que sua beleza era natural. Usava
um vestido branco, era Chanel, com as alças de pérolas e sapatos

nudes.

— Kate... Esses são os meus amigos. — Dominic


apresentou com cuidado.

— É um prazer conhecê-los. — Kate deu um tímido aceno,

logo olhando para qualquer lugar menos para nós. Ela estava
assustada e desconfiada, lutando com todas as forças para manter
a postura.

Dei uns passos à frente e estiquei minha mão.

— Oi, eu sou Juliana Valentinni. — Enzo tossiu atrás de


mim. — Rafaelli. — Completei com um sorrisinho. — Por que não se
senta conosco? Essa aqui é Kyra Bryant e ao seu lado é Alice

Bernard. Nós somos esposas daqueles três patetas ali.

Kate olhou para os homens e depois para nós, claramente


escolhendo vir para o meu lado. Assim que ela estava seguramente

comigo, Donatella abriu a porta. Atrás dela estavam quatro meninas


que, ensaiadas, pararam atrás de nós. A mãe de Dominic ficou um
pouco mais próxima de mim e de Kate. E então, dois homens

passaram pelas portas. Oliver se posicionou atrás do filho, mas


Robert parou no corredor.

— Olá, Robert. — Enzo abriu seu clássico sorrisinho frio. —


Nós temos que conversar. O homem o encarou e meu marido
colocou a mão no seu ombro, dando um aperto nos seus tendões.

— Você pode me oferecer uma sala um pouco mais privada?

— É claro, por aqui. — Oliver respondeu educadamente.

— Katherine! — Robert a chamou em um tom de ordem. Eu


o odiei ali. Ela não era um cachorro, babaca.

— Não se mova, Kate. — Dominic falou sem desviar os


olhos do pai. — Nós já assinamos o nosso contrato de casamento,

Robert. Mas podemos continuar fazendo um acordo bastante


tolerável.

— Só depois de conversar comigo. — Enzo riu.

Os homens saíram da sala em um grupo e Kate engoliu

seco, olhando para nós. Ela escondeu as mãos que tremiam, mas
seus olhos azuis tão arregalados denunciavam todo o medo.
— O que vai acontecer agora? — Sua voz saiu tão baixinha

que mal deu para ouvir.

— Não se preocupe, você vai ficar bem. — Garanti e lhe dei


um sorriso.

— Alguém quer champanhe? — Donatella ofereceu,

subitamente empolgada.

— Hum... Isso vai ser divertido. — Kyra cruzou os braços.

— Não começa, se comporta — sussurrei para ela,


mantendo o sorriso no rosto.

— Então, vamos beber champanhe! — Alice sorriu, sempre


a mais diplomática e educada entre nós.

Esperava que Enzo não fizesse uma besteira na casa dos


outros.
Trinta e quatro | Juliana.

Enzo estava andando de um lado ao outro, parecia um bicho

enjaulado e minhas próprias unhas estavam roídas. Ah porcaria,


quando aquele telefone iria finalmente tocar? Após o noivado meio

singular de Kate, Robert foi pressionado - chantageado no estilo do


Jack - a nos contar sobre Alonzo. Ele contou o que aparentemente
sabia e as informações batiam com a da espiã que estava infiltrada

na vida dele.

Robert não sabia a localização de Alonzo. Embora eles se


comunicassem no tempo e na determinação do Ghost. A promessa
era derrubar Oliver para que Robert pudesse assumir. Quando os

demais foram mortos, ele desistiu e decidiu seguir com o acordo do


casamento para não perder a sua posição. Kate estava arrasada e
sentindo-se uma mercadoria. Havia muitas questões por trás desse

casamento que até davam nó na minha cabeça.

Participei da conversa, mas não fiz perguntas. Deixei para


Enzo me explicar e, por estar com a mente cheia, o fez por alto.

Robert sabia que estava com os dias de vida contados, ele deu as

informações, mas foi rápido em desaparecer, refugiando-se em um


cartel que declarou guerra a outro cartel que estava sob domínio de
Oliver, por direito de Kate. Achava engraçado que ela era a herdeira

e eles que estavam dominando.

Homens, como sempre, tomando o direito das mulheres.

O telefone de Enzo vibrou.

— E aí? — Pulei no meu lugar.

— Localização falsa. — Enzo suspirou e quase arremessou

o telefone longe, mas segurei seu braço antes. — Eu sabia, mas no


fundo, me deixei levar pela esperança.

— Robert não ia dizer mais do que foi obrigado, a parte boa


é que ele supostamente não sabe sobre a herança da Kate.

— Não culpo Jack... Ele fez aquilo na época para salvar a

vida da filha dele. Mas puta que pariu, pessoas morreram por causa

disso e agora estamos com essa merda para explodir em nossas


cabeças.

Me arrastei na cama e me sentei na ponta, bati do meu lado

e ele sentou, resignado. Detestava quando ele ficava tão amuado.

— Ainda bem que você não o culpa, porque espero que


mova o universo para salvar nosso filho. — Deitei a minha cabeça

no seu ombro. — Assim como Jack falhou ao fazer isso, Alonzo vai
falhar. Ninguém é tão bom ao ponto de nunca errar. Mais cedo ou
mais tarde ele vai falhar e nós o encontraremos. — Beijei seu

pescoço e me sentei no seu colo. — Te amo. Confia em mim, vai

ficar tudo bem.

Enzo me deu um sorriso amável. O sorriso que só eu

conhecia. Abracei-o apertado e o seu telefone vibrou mais uma vez,


ele tinha que sair para trabalhar. Daquela vez não iria acompanhá-

lo, porque precisava fazer o meu cabelo, as minhas unhas e me

depilar. Combinei um dia no salão com Carina e à noite nós iríamos

para a boate, atrapalhar o trabalho deles e dançar.

— Se comporte. — Enzo me deu um beijo e levantou-se.

Deitei-me na cama, com dor no corpo e morrendo de preguiça de


sair. Ainda estava me sentindo estranha. Ultimamente estava

passando mal, comia e ficava enjoada, tinha certeza que era a

minha cabeça me sabotando sobre as mudanças do meu corpo.

Desde que comecei a malhar e treinar defesa pessoal,


estava me sentindo mais torneada, meu glúteo balançando menos,

perdi a gordurinha que me irritava muito no braço e as minhas

pernas pareciam mais bonitas. Logo que a fase do corpo doer

passou, me sentia tão disposta que nem Enzo estava aguentando a


minha energia pela casa ou atrás dele durante o dia. Na última

semana, cada vez que ia a academia, voltava me sentindo mal.

— Eu cheguei! — Carina gritou e levantei-me, saindo do

quarto e ela já estava na mesa. — Estou morrendo de fome, puta


merda.

— Se calasse a boca sentiria menos fome. — Puxei o seu


cabelo de brincadeira e ocupei o lugar de Enzo na cabeceira. Passei

a me sentar ali quando ele não estava, deixando clara a minha


posição na casa. Só não colocava uma segunda cadeira ali porque
Enzo era espaçoso e parecia que multiplicava o cotovelo, sempre

me estressava quando nos sentávamos lado a lado.

Carina estava ligada no 220w e fingi que estava ouvindo a


sua conversa enquanto observava a localização de Enzo. Depois de

tudo, era ele quem compartilhava integralmente onde estava porque


aprendemos a lição. O ataque foi horrível, mas fez Enzo acordar
para a forma idiota que me tratava. Ele ainda morria de medo de

que qualquer coisa acontecesse comigo e sua paranoia era tão


grande que chegava a ser irritante.

Eu sabia que ele me amava e não queria me perder, por


isso o perdoava.
Ao chegarmos no salão, um lugarzinho sofisticado, porém

muito agradável, Carina tratou todos como uma pirralha irritante,


cochichei que se continuasse pentelhando os funcionários poderiam

deixar o cabelo dela verde e eu não faria absolutamente nada, muito


menos deixaria o irmão dela fazer. Arregalando os olhos, ficou

quieta e foi muito simpática em todas as vezes necessárias.

Voltei para o meu lugar aproveitando a deliciosa massagem

no couro cabeludo.

Nós fizemos nossos cabelos, unhas e fomos separadas na

depilação. Ao nos encontrarmos novamente, paguei a conta porque


Carina estava de castigo. Ela tentou comprar um carro com o cartão
de crédito e Enzo quase enlouqueceu achando que alguém tinha

roubado os cartões dela ou sequestrado a irmã na escola. Ela


estava contando os dias para sua formatura em algumas semanas,

finalmente estaria se formando e acertando a sua mudança para


Milão.

— Stefanio, pode parar em uma farmácia, por favor? —


Carina foi doce com ele. Revirei os olhos e limpei a garganta,

olhando-a bem severa. Ela não podia continuar nesse joguinho.


— Relaxa. Alessio e eu estamos firmes desde o ano novo,
mas ele não quer que o meu irmão saiba ainda. São quase cinco
meses juntos. — Sorriu toda apaixonada e apertei sua bochecha.

Enzo soltou que se eles assumissem um namoro, precisavam


marcar a data de um casamento e como isso era um absurdo, era

melhor que ficassem escondidos. — Eu tenho que comprar


absorventes, minha menstruação está toda estranha, mas eu não
tenho mais nenhum em casa. Você tem?

Carina ficou me olhando e me senti congelada no lugar.

— Acho que tenho demais.

Minha cunhada sorriu abertamente, me agarrando bem

apertado.

— Eu compro um teste de gravidez?

— Acho que sim... Minha menstruação ficou regular e agora


não lembro se veio mês passado... Ou se ainda vai vir. Melhor

comprar.

Carina saiu rápido do carro e fui atrás no piloto automático.

Stefanio perguntou se estava bem e me ofereceu seu braço para


segurar. Agarrei-o tão forte que só com a possibilidade de estar

grávida, as minhas pernas estavam bambas. Pedi que eles não


falassem nada com Enzo, porque queria resolver aquilo sozinha. E
se tudo desse certo, daria negativo.

— Relaxa! Vou amar ser tia! — Carina rodopiou e ficou


tonta, rindo, pulando no lugar. Eu ia desligá-la rapidinho para

sairmos a noite ou não ia aguentar, a amava de paixão, era a minha


melhor companheira, mas puta merda, não ficava quieta!

— Não é você que vai ser a mãe.

Enzo queria ser pai, mas não naquele momento, eu não


queria ser mãe imediatamente e nós concordamos em esperar mais

alguns anos. Esperava que fosse apenas uma pegadinha da minha

cabeça e um efeito do anticoncepcional. Entrei em casa e fui direto


para o quarto, escondendo a caixa no meu armário. Só para não ter

dúvidas, iria esperar a primeira urina do dia seguinte e protelar ao

máximo.

Decidi me arrumar para encontrar com Enzo na boate.


Dominic ainda estava em Los Angeles com a família, deixando o

comando das boates e de outras coisinhas a cargo de Enzo. Seu pai

não ficou nem um pouco satisfeito. Oliver não confiava em Dominic


e era algo totalmente recíproco. Além de Enzo ter sérios problemas
com uma presença paterna dominante, ele acreditava que Oliver

ignorava o Dominic.

Na minha opinião, todos mimavam Dominic por ser jovem.

Existia uma relação de confiança extrema entre Dominic e Enzo.

Eles se protegiam e encobriam as merdas que faziam mesmo

sabendo que Kyra iria descobrir. Dom ainda tinha a desculpa de ser
jovem, podia ficar com a cabeça quente e perder o controle em

certas situações, mas o Enzo era o mais velho e deveria ter um

pouco mais de maturidade.

Escolhi um curto e apertado vestido preto, decote profundo,

deixando meus seios com uma aparência maravilhosa e eu me

perguntei se eles estavam daquele tamanho devido à possível

gravidez e não à quantidade de massas que estava comendo por


dia. Deixei meu cabelo solto, brilhante com o efeito do salão e fiz

uma maquiagem bem elaborada. Sandálias de tiras e salto fino,

junto a uma bolsa da Chanel maravilhosa que o meu lindo marido


me deu de presente.

Carina entrou em meu quarto, rodopiando com seu vestido

azul marinho curtíssimo e os cabelos soltos. Tiramos algumas

fotografias juntas e pedi que fizesse umas minhas. Fiz uma selfie
mostrando a profundidade do meu decote, mordendo o lábio inferior

e enviei para Enzo, avisando que estava saindo de casa.

Stefanio e Giovanni iriam conosco. Mika estava com Enzo

na rua desde cedo.

— Oi, Giovanni! E aí, como estão os preparativos do

casamento?

— Estão indo bem, obrigado por perguntar.

— E vocês vão ficar aqui em Nova Iorque mesmo? — Fiz


assunto enquanto me acomodava no banco de trás.

— Não, senhora. Vou morar na Itália com minha esposa.

Guardei a informação e sorri como uma boa menina. Então

Giovanni iria se casar com a irmã de um soldado traidor e a levaria


para o mais longe possível.Interessante.

Marido:
Você NÃO vai sair de casa com essa roupa.

Comecei a rir e mostrei para Carina.

Marido:Merda, Juliana. Você já está no carro? Volte e

troque de roupa. Seu vestido é curto?


Tirei uma foto das minhas coxas de fora e minha calcinha

praticamente aparecendo. Enviei e guardei meu telefone, não


querendo ler suas mensagens surtadas até que Stefanio disse que

Enzo deu a ordem de voltarmos para casa. Revirei os olhos, rindo e

assim que eles subiram para a garagem, saí do carro com a ajuda
de Stefanio e andei até o painel das chaves, pegando a de um dos

carros.

Apertei aleatoriamente e o Aston Martin Vulcan piscou.

— Excelente escolha! — Carina comemorou, indo para o


lado do carona.

— Juliana... — Stefanio gemeu porque Enzo iria berrar com

ele. Sorri e entrei no carro, ligando e o ronco era maravilhoso. Só

precisei tirar os saltos para poder dirigir melhor. Deixei o meu


telefone no painel e assim que disparei na rua, ele começou a vibrar

com a foto dele sem camisa (e nu da cintura para baixo), que tirei

montada em seu colo após uma rodada de sexo.

— Não tinha uma foto menos pervertida? Sua nojenta! —


Carina começou a rir.

— Como se você não mandasse fotos nuas para Alessio...

— Ele gosta... e manda de volta.


— Eca! — Bati no volante de brincadeira. Olhei pelo

retrovisor, ciente que Stefanio estava colado na minha traseira e

enfiei a mão entre minhas pernas, tateando o banco e achando a

arma acoplada ali. Sorrindo maldosamente, acelerei pelas ruas,


costurando entre os carros e ganhando buzinadas.

Diminui a velocidade na rua da boate, estava cheia, com

uma fila enorme do lado de fora. Pisquei os faróis para o babaca

sair da minha frente, pressionando o carro até assustá-lo. Parei no


meio da rua e um idiota quis tirar sarro da minha chegada, mas a

maioria ficou quieta quando os soldados correram para me auxiliar.

Entreguei a chave para Giovanni estacionar com Carlo, segurei a


mão de Carina e entrei na boate lotada.

Passamos pela pista de dança e subimos a escada para o

camarote privado. O espaço vip da boate era aberto, tinha uma

ampla visão para toda a casa e dei uma espiadinha no local cheio, o
bar lotado e vendo que logo chegaram as bebidas. Peguei apenas

água, para evitar a bebida alcoólica até fazer o teste de gravidez.

Sabia que Enzo estava me observando da sala dele,

espumando pela boca e comecei a dançar bem provocante. Um


grupo de caras bêbados começaram a gritar do bar, me olhando na
parte de cima e ri, erguendo meu dedo com a aliança. Eles riram e

continuaram... Então, contei cinco segundos para o meu marido


empurrar a porta dupla dos fundos e aparecer.

— Puta que pariu! — Ele me segurou bem firme, me

beijando. Agarrou a minha bunda, dando um apertão de balançar,

deixando claro que eu era dele.

— Oi, marido. — Limpei o excesso de batom da sua boca.

— E esse vestido?

— Estou maravilhosa, não estou?

— Puta que pariu. — Sorrindo, me segurei nele e dancei ao

seu redor.

Passar a noite na boate atrapalhando o trabalho dos

meninos era muito divertido. Ao mesmo tempo, aproveitei com a

minha cunhada, voltamos para casa realmente podres. Tirei as


minhas sandálias ao entrar no quarto, tomei um banho e me joguei

na cama sem dar conversa para Enzo todo excitado com minhas

provocações.

Apaguei sem esforço, acordei antes da hora do almoço e


estava sozinha na cama. Me levantei com fome e cheia de dor nos
pés, minha bexiga cheia me fez lembrar do teste. Respirando fundo,
peguei o teste e me enfiei no banheiro com a porta fechada. Li as

instruções de uso me recriminando por estar com as mãos

tremendo, sentei no vaso e fiz xixi no potinho, terminando de aliviar


minha bexiga.

Lavei as mãos e enfiei o bastão dentro, sentada no sanitário,

pelada e olhando fixamente para o teste dentro do potinho. Foi

assim que Enzo me encontrou, não pensei em trancar a porta


porque ele nunca me dava privacidade. Ele ia falar algo, vestido

apenas com sua calça de pijama e com o peito tatuado de fora.

— Que porra...

— Oi amor. — Sorri sem graça e fiquei de pé, abrindo o


chuveiro e me enfiando debaixo, não precisava tomar banho, mas

estava nervosa demais e queria enrolar. Enzo parou em frente ao


teste e ficou congelado, olhando, me lavei aleatoriamente e me
enrolei na toalha. — Hum...

— Puta que pariu... — Enzo puxou o teste de qualquer jeito,


derrubando o potinho de xixi dentro da pia e me olhou apavorado. —

Positivo. Porra... Duas listras.


— Duas listras? — gritei e arranquei da mão dele.
Realmente tinha duas listras. — Enzo...

— Você está grávida!

— Eu sei que a gente não planejou agora... Não sei o que

aconteceu...

— Cala a boca! — Enzo começou a rir. — E nós sabemos


muito bem o que aconteceu. — Me pegou pela cintura e me

levantou do chão, me abraçando. — Você está grávida, amore!

Fiquei quieta, absorvendo a sua felicidade. Era o pior


momento do mundo e fiquei me perguntando se algum dia seria um
bom momento na vida maluca que vivíamos. Abracei-o de volta,

pensando que nós seríamos pais e Deus nos abençoou com uma
vida. Deitei a minha cabeça no seu peito, chorando e ele estava
muito feliz, me surpreendendo com a sua reação. Achei que seria o

primeiro a surtar completamente e sair xingando.

— Não sabia que você ficaria tão feliz ao saber que será
papai.

Enzo riu.
— Nem eu imaginava, acho que você queimou meu cérebro
quando abri a porta e vi o teste. Por que não me falou nada? —
Acariciou o meu rosto e beijei sua boca, apaixonada por sua alegria.

— Não queria te alardear...

Enzo ajoelhou na minha frente, beijando minha barriga e


deitou a cabeça ali.

— Eu não me ajoelhei quando te pedi em casamento... foi


errado. Você merecia um noivado mais apaixonado, mas espero ser
um marido e pai muito melhor que fui noivo.

— Você já é. Eu te amo, Enzo. — Sorri emocionada. —

Estou morrendo de medo. Não tenho um pingo de maturidade para


criar uma criança, mas eu vou dar o meu melhor para ser uma boa
esposa e uma excelente mãe.

— Você é perfeita, mulher. Exceto quando usa vestidos


como o de ontem à noite. — Apertou minha bunda bem firme e bati
em seu ombro. — Sabe qual a parte mais incríveldessa porra toda?

Sua bunda vai crescer... E os seus peitos? Foda.

Dei um chute nele, saindo do banheiro ouvindo sua risada


me perseguindo pelo quarto. Eu estava com um misto de
sentimentos, muito feliz por ser mãe e extremamente apavorada por
me tornar mãe.
Trinta e cinco | Enzo.

Deitei minha cabeça no travesseiro, sentindo dores fortes e

olhei para o teto por uns minutos, ouvindo o barulho da porta do


banheiro. Virei para o lado e olhei Juliana andar calmamente até a

cama, passando creme hidratante nos braços e esfregando as


mãos, passando por cima de mim e deitando-se ao meu lado.
Enfiou-se debaixo do lençol com um sorrisinho e me deu um beijo

no ombro.

— Vocês estão bem?

— Estamos ótimos. Ansiosa para ouvir o coração


novamente na próxima consulta. — Juliana me deu um longo beijo e

logo fechou os olhos, sonolenta do dia extremamente agitado que


tivemos. Ela passou o dia na empresa, se metendo onde não era
chamada e em seguida fomos jantar com os meus pais. Minha mãe

fazia questão de nos reunir, já que era a primeira vez do meu pai no

país depois de meses.

Não que eu fizesse questão de estar no mesmo ambiente


que ele, não quando desconfiava que estava agindo pelas minhas

costas junto com os seus irmãos. A proximidade que Kátia sentiu


quando Juliana matou Maurizio me fazia pensar no que aconteceu

no passado entre ela, meus tios e meu pai.

A guerra foi feia, dizimou metade da minha família, matou os


pais e os irmãos dela e destruiu metade do Brooklyn. Foi

basicamente o período que os meus primos nasceram, então era

algo delicado entre os mais velhos da família.Ninguém falava sobre


a esposa do meu tio que morreu nesse ataque e era a mãe dos

gêmeos. Eu queria que alguém me contasse a porra da história

direito, mas era pequeno demais e vivia longe, na Itália. Tio


Francesco não sabia detalhes, ele não estava envolvido.

Quando nasci, por ser um menino, minha mãe ficou longe já

que era o herdeiro do meu pai. Ela entrou em pânico que alguém
tentasse me matar por ser o primogênito.

Juliana estava dormindo ao meu lado e escorreguei minha

mão para a sua barriga. Tivemos uma ultrassonografia na segunda


consulta, confirmamos a gravidez, era muito cedo e ouvimos o

coraçãozinho bater. Foi emocionante, porque eu nunca pensei que

fosse ficar tão feliz em ouvir o coração do meu bebê.

Não acreditava ser um bom momento para sermos pais, mas

o destino quis assim e eu estava feliz. Nunca imaginei que ficaria


tão feliz. Juliana estava assustada, morrendo de medo de ser uma
péssima mãe e que alguma coisa poderia acontecer. Ela estava

certa. Coisas aconteciam na nossa vida o tempo todo e eu tinha que

me certificar que ela tivesse uma gestação segura.

Já dormia pouco e estava sem sono desde que abri a porta

do banheiro, olhando-a desesperada com um teste de gravidez. Ela


já estava com dez semanas e eu tentei lembrar a possível data da

concepção, mas nós fazíamos sexo todos os dias, então foi em

algum dia dez semanas atrás, assim como todos os outros dias.

Iríamos contar aos nossos pais no próximo jantar, porque

queríamos compartilhar com a família. Mesmo que meu pai fosse a

última pessoa com quem eu quisesse comemorar sobre o meu


bebê. Ele fez da minha infância um inferno, então eu não queria que

ficasse perto do meu filho ou filha.

A noite passou em uma piscada de olhos e de manhã, Juliana

saiu da cama correndo para fazer xixi e me pedindo um café da


manhã de rainha. Enviei uma mensagem para a cozinha porque o

que minha mulher queria era uma ordem.

— Meus peitos estão doendo muito. — Saiu do banheiro

emburrada e foi para o closet, tirando a sua roupa curtinha de dormir


e colocou a de ginástica.

— O que pensa que está fazendo?

— Eu vou treinar. — Me olhou, prendendo o cabelo. — O

médico disse que não posso fazer nada com muito impacto, não que
estava de repouso absoluto.

— Não vai treinar, não. Você vai ficar quieta, sentadinha e

descansando por todos os meses dessa gravidez. Fui claro?

— Sim e estou te ignorando. — Ela deu meia volta e saiu do


quarto.

Levantei da cama nu e peguei a minha calça de pijama no

chão, vesti às pressas e corri atrás dela, que já estava rebolando no


corredor. Agarrei a sua bunda bem apertado, ela riu e me bateu.
Nós descemos a escada para a mesa do café da manhã repleta de

comida. Juliana queria um bom e tradicional café italiano, com


variedades de queijos, pães, encheu seu sanduíche de presunto de

parma e maionese – algo que ela nunca comia e mordeu com


bastante fome.

— Isso está bom?

— Por que eu normalmente não como maionese?


— Pelo que sei, você não gosta. — Bebi um pouco do meu

espresso e joguei um pedacinho de chocolate dentro. — E você vai


acabar passando mal.

— Talvez precise de um pouco mais de mostarda e quebrar


o gosto exagerado da maionese.

— Chega disso... — Peguei o seu sanduíche e dei uma


mordida, quase cuspindo fora. — Misericórdia, você jogou o vidro

todo aqui dentro? — Engoli com dificuldade.

— Tudo bem, exagerei. — Me deu um sorrisinho e pegou

sua torrada, colocando queijo e salame. — Então, como está seu


dia?

— Vou ficar em casa hoje.

Juliana parou de morder sua torrada e me deu um olhar


desconfiado.

— O que você está aprontando?

— Por que sempre acha que estou aprontando? — Me

encolhi na cadeira, fazendo uma expressão doce. — Não vou


aprontar nada.
— Você nunca fica em casa. É por que acha que vou atrás
de você? Hoje vou ficar quieta. Estou cansada de ontem, quero
fazer um pouco de esteira e descansar.

Juliana continuava me olhando desconfiada. Ela foi para a

academia fazer esteira e eu aproveitei para pegar alguns pesos.


Malhei vigiando-a para não fazer nenhum esforço e fiquei todo
suado, me exercitando sem camisa e vendo o olhar dela mudar ao

me observar fazendo abdominais.

— Está excitada? É só vir sentar-se aqui.

— Idiota. — Desviou o olhar com um sorrisinho maroto nos


lábios. Ela foi até a parede de espelhos, se inclinou para frente,

deixando a sua bunda bem diante dos meus olhos. Sentei-me no


chão e observei seus movimentos, ela se distraiu da sua tarefa de

me seduzir ao olhar para a barriguinha de lado. — Eu consigo ver a


diferença. Tudo que ando comendo me fez ganhar uma pancinha.

— Eu também... Vem aqui, Juliana.

— Isso é uma ordem? — Arqueou a sobrancelha, como

sempre, me desafiando.

— Claro que é. Quem você pensa que manda? —

provoquei, ciente que aquilo a faria reagir imediatamente. Juliana


me deu um olhar duro, pronta para esmagar minhas bolas. — Vem
aqui, amore. Estou cheio de tesão.

— É mesmo? Não estamos sozinhos.

— Se você disser que vamos foder aqui, vou tirar todo

mundo. — Arqueei a sobrancelha.

— Você já ganhou um boquete na academia, isso aqui não

vai virar seu lugar favorito de foder. Se quiser sexo, vamos para

casa. — Ficou de pé e se esticou. Ajoelhei no meu lugar e beijei sua


barriga, ficando de pé e beijando cada um dos seus seios.

— Sexo no quarto?

— Quem disse que vou dar para você agora, maluco? Eu

vou descansar, disse que estava cansada. — Brigou comigo e lhe


dei um beijo gostoso. Ela gemeu contra os meus lábios e apertou a

minha bunda, foda-se que todos estavam assistindo. — Mas você

pode fazer uma massagem bem gostosa e relaxante em mim, não


pode?

— Com óleo ou sem óleo?

— Com óleo... E suas mãos em todo lugar.


— E a minha boca? — Beijei o seu pescoço, doido para

colocar as mãos em seus peitos. — Vamos subir, mas vá andando


na minha frente, porque o meu pau está duro.

— Tudo bem. — Começou a rir e saímos juntos da

academia.

Chamei o elevador, ela aproveitou que estávamos sozinhos


para se esfregar em mim, me deixando ainda mais doido. Entramos

no elevador, estávamos no sétimo andar e morávamos no vigésimo,

então ela digitou o código e depois apertou o botão para travar. Com
cuidado, tirou sua camisa e pendurou bem onde ficava a câmera de

vigilância.

— O que você está fazendo? — perguntei apenas por

perguntar.

— Acabei de ter um desejo grávido.

— É mesmo, amor? Qual é seu desejo?

— Chupar meu marido no elevador.

Foda-se.

Ela caiu na minha frente, puxando meu short e o meu pau


saltou livre. Segurei e esfreguei a minha cabeça nos seus lábios,
minha mulher incrível apenas espreitou a língua, me deixando

maluco e em seguida, como se em algum momento fosse obediente

na vida, abriu a boca me convidando para me deixar fodê-la do jeito


que eu quisesse.

Juliana agarrou minhas pernas, se equilibrando e agarrei

seu cabelo. Ela era um sonho, porra.

— Eu vou gozar — avisei e ela apenas ergueu os olhos, seu

olhar safado foi o suficiente. Gozei na sua boca, ela engoliu e


lambeu os lábios. Encostei na parede, sem acreditar, delirando e ela

ficou de pé com um sorriso. Mas aquele sorriso...

— O que foi?

— Você me deve. — Piscou e liberou o elevador, pegando a


blusa de volta e vestindo. Ainda estava meio desorientado para

entender o que ela queria dizer. Nós entramos em casa de mãos

dadas.

— Vamos sair para jantar hoje à noite?

— Hoje não, amore. Tenho muito o que fazer... — Juliana

arqueou a sobrancelha. Ah, sim. Eu devo. — Qual restaurante você

gostaria de ir?
— Hum... Vou escolher e te aviso. Agora, vamos para o

quarto e me faça gozar muito. — Me puxou pela camisa. — Agora.

— Mulher, você está querendo provar que manda em mim?

Juliana apenas sorriu e foi andando na frente, esqueci o que

ia dizer olhando para sua bunda. Nós tivemos um momento

interessante na cama e a deixei dormindo. A parte boa era que ela


cansada, não andava atrás de mim e não metia o narizinho bonito

nos assuntos da famiglia. Desci a escada para o meu escritório,

conectando as imagens dos restaurantes, dando uma olhada


remotamente nas boates e conferi se as remessas do dia estavam

preparadas para venda.

Jack me enviou uma mensagem, pedindo que olhasse um

arquivo que me enviou e nele continha bancos em paraísos fiscais


que Maurizio andou recebendo algum dinheiro. Era difícil de

rastrear, mas em três deles Robert também recebeu financiamento,

ou seja, era Alonzo, eles tinham algo em comum.

Jack desviou o dinheiro que encontrou nas contas de Robert


para a organização e a outra parte, para a conta bancária de Kate. A

garota não fazia ideia que estava no olho de um furacão.


— Temos recursos para invadir remotamente? — Liguei

para Kyra.

— Jack tentou, mas não. Eles jogam o sinal para vários

satélites, é difícil saber se estamos mesmo dentro do banco.

— E se quebrarmos?

— Não vale a pena. E ainda podemos mexer com pessoas

que estão agradavelmente quietas. Então, pensei em ir

pessoalmente.

— Invadir um banco na Suíça?

— Por que não?

— Você não vai sozinha.

Kyra soltou uma risada debochada com o meu tom de voz.

— Não preciso de babá. Além do mais, não sou arrogante


como você. Obviamente não vou sozinha. Kono e Spider irão

comigo — retrucou e bufei. — Sei o que estou fazendo.Eu façoisso

desde as fraldas, bebê.

— Precisará de recursos?

— Preciso do seu avião.


— É todo seu.

— Ótimo.

Encerrei a chamada me sentindo extremamente ansioso.


Precisava rastrear Alonzo. Ele só podia estar... debaixo da terra ou

em mar. Hum... Cogitei a possibilidade de estar em um submarino

sem rastreio ou em algum navio ilegal fora das áreas de cobertura.


Não era impossível, na verdade, navios ilegais eram mais comuns

que carros nas ruas. A questão era: não era barato ficar fora do

radar. Como Alonzo estava pagando por tudo aquilo?

Era ali que voltava a minha desconfiança com minha família.


Ele podia ser a mente por trás dos ataques. Mas quem era o bolso?

Meu pai tinha dinheiro, mas não muito. Não descartava a

possibilidade que em seus anos como Chefe havia feito um bom pé

de meia. Se não fez, era ainda mais burro do que imaginava porque
eu estava fazendo um desde o segundo que assumi.

Antes era sobre ter um dinheiro guardado, hoje em dia era

sobre deixar Juliana muito bem estabelecida. Pensando nisso, me


levantei e fui até o cofre. Coloquei minha digital e conferi os

documentos e passaportes ali dentro. Damon me enviou há alguns


dias e finalizou um negócio seguro para minha esposa e
futuramente, para sua noiva. Em breve, precisaria de mais um.

Tudo que conseguia pensar era que se algo acontecesse

comigo, Juliana e meu bebê precisariam de um lugar seguro para

construírem uma nova vida. Aquelas novas identidades garantiriam


isso.
Trinta e seis | Enzo.

Juliana estava se olhando no espelho, alegando que

encontrou uma espinha do tamanho do meu nariz em sua bochecha.


Soltei uma risada para o exagero. Ela estava ficando maluca com as

oscilações hormonais do seu corpo e as espinhas eram um brinde


das primeiras semanas da gestação, tivemos mais uma
ultrassonografia e o resultado da sexagem fetal nos alegrou com a

notíciade que teríamosum menino. Nós iríamosjantar com a nossa


família naquela noite.

Não podia acreditar que meu primogênito era um menino.


Enquanto amamos a notícia como amaríamos se fosse uma menina,

nós dois estávamos tensos por motivos diferentes. Juliana já sofria


com o futuro do nosso filho e eu estava preocupado com o que o
Alonzo poderia fazer, se descobrisse que minha mulher estava

esperando um menino, o meu sucessor, o futuro da família que ele

estava decidido a destruir.

Não contaríamos o sexo a ninguém, mas em poucas

semanas seria praticamente impossível esconder a gestação.

Embora Juliana tenha ganhado peso e estivesse com uma


barriguinha muito sutil, seu humor delirante iria denunciar o novo
estágio. Carina sabia, talvez desconfiasse, mas tanto Alessio quanto

Emerson me perguntaram porque a minha esposa parecia tão


assassina e histérica. Eu apenas sorri. O que poderia dizer? Em um

momento ela estava enjoada, no outro com fome, depois com raiva

e por fim, encerrava o dia com lágrimas nos olhos.

Meu telefone vibrou ao meu lado na cama e era meu primo,


Damon. Nós não nos falávamos há alguns dias

— Fala, idiota.

— Ele esteve aqui. — Damon falou e eu senti seu tom

brusco. — Meu pai está morto. Alonzo deixou um bilhete.

Fechei os meus olhos, sentindo o sangue ferver e o coração

quebrar.

— Estarei aí em algumas horas.

— Venha sozinho. Eu não sei se é seguro para a sua

mulher... Não sei se ele está longe ou perto. — Damon encerrou a

chamada.

Juliana estava me encarando, ainda parada no mesmo lugar

e ela sabia que pela minha expressão, não era nada bom.

— O que aconteceu?
— Tio Francesco morreu — falei com pesar e ela se
aproximou, com uma triste expressão em seu rosto bonito. — Eu

preciso ir até lá, mas você fica. Na verdade, nessa altura do

campeonato, eu não sei como você estará segura. Se é indo comigo

ou ficando, se ele está tentando reunir toda a família em um único

lugar como manda a tradição ou nos separar para nos atingir. —

Segurei o seu rosto. — Eu sei que preciso estar lá. Damon precisa
de mim para lidar com os eventos pós morte do pai e assumir o

lugar como chefe da metade do país e da ilha da Sicília inteira.

— Eu realmente sinto muito, amor. Sei que você tinha um

carinho muito especial pelo seu tio. — Juliana me abraçou apertado.

— Eu vou ficar bem. Talvez deva ir para um lugar não esperado.


Tipo... Uma casa segura que não seja conhecida.

— É uma boa ideia. Faça as malas e eu vou arrumar os

detalhes. — Beijei os seus lábios e me afastei, com a cabeça

doendo, pensando no quão inacreditável era sentir o luto na vida

que nós levávamos, mas alguém como tio Francesco merecia. Ele

não era bom, mas era memorável.

Deixei Juliana no quarto e entrei em meu escritório,

pensando no que deveria fazer. Em uma rápida busca encontrei


uma casa em Indiana, à beira da praia, discreta e bem próxima de

Chicago. Ela estaria fora da rota e ao mesmo tempo, poderia chegar


até ela com rapidez. Alonzo provavelmente esperaria que Juliana

me acompanhasse ou ficasse em casa, na cobertura. Talvez ele


mantivesse um plano B na manga para vigiar a casa em Hampton
em seus dias finais de reforma.

Aluguei a casa e meu primo garantiu que enviaria uma

equipe de confiança e bem discreta para arrumar o local para


Juliana. Damon estava com raiva, triste e desolado, a prova disso

era que ele não demonstrava nenhuma emoção. E ele não faria,
seria o primeiro sinal de fraqueza enquanto vários lobos famintos se
levantariam, sedentos para tomar o lugar que era dele por direito.

Não queria contar a meu pai e não contei. Cancelei o jantar


sem explicações, convoquei Ilaria, Marcus, Alessio, Emerson e

Carina para arrumarem as coisas porque iríamos sair em poucas


horas. Minha irmã não me fez perguntas, ela viu no meu rosto que
não estava com tempo, os demais sabiam melhor sobre não

questionar a minha ordem. Com o voo preparado e faltando apenas


alguns detalhes para sairmos, voltei para o quarto. Juliana estava

fechando a sua mochila bege clara quando entrei.


— Eu já arrumei as suas coisas, só se vestir. — Sentou-se

na pontinha da cama.

— Obrigado, amore. — Entrei no closet, pegando uma calça


jeans, uma camisa, jaqueta e um par de sapatos.

Minha mente estava dispersa e aquilo não era bom.

Aproveitei o meu momento no chuveiro para colocar a cabeça em


ordem e tentar não dar vazão ao meu sangue querendo explodir

metade do país, atrás do filho da puta do meu tio e isso só fodia as


coisas. Damon não aceitava os meus parceiros de negócios, ele

entendia o benefício, mas não confiava, por isso ele não permitia a
passagem dos homens de Oliver e muito menos que Jackson
usasse a sua influência para conseguir negócios.

Cada ação no lado dele do país era muito bem pensada e

arquitetada. Eu entendia a desconfiança. Damon não viveu o que eu


vivi com a Agência e era normal ele não quebrar o isolamento da
família como meu pai quebrou o da nossa. Tio Francesco sempre

agiu de maneira diplomática quanto a isso, ele me ouvia, eu não


tinha tanta certeza se Damon aceitaria manter uma parceria com

Oliver King, principalmente que ele tinha vários laboratórios de


drogas e muitos meios de transportar o seu contrabando.
Nós dois poderíamoster um grande conflito e eu não queria
ter que escolher entre ele e a Agência. Romper laços com alguém
como Jackson Bernard seria apenas com a morte. No caso, a dele.

Eu podia viver com Alice sem me perdoar por matar seu marido,
mas odiaria ter que eliminá-la por ela ser uma ameaça ao saber

demais. Todo esse joguinho estava me levando a tomar uma


decisão que traria muitas rupturas. Entre o sangue do meu sangue e
Jackson...

Eu escolheria Damon.

De todos ao meu redor, Damon seria o único a respeitar os


vilarejos da minha família. Eu poderia perder todo o meu território,
mas o juramento entre as famílias italianas o impediria de invadir o

vinhedo e tomar para si. Juliana não perderia a sua herança de


famíliae algo acontecendo comigo, se ela não optasse por começar

uma vida longe de tudo isso, a Villa Valentinni seria o seu refúgio...
Eu tinha que confiar nos meus instintos e esperava não ter que fazer

uma escolha tão cedo.

— Está tudo pronto para ir, segundo a mensagem de Ilaria.

Não vai contar ao seu pai?

— Não.
Eu não confiava em absolutamente ninguém no momento.
Não tinha garantias que meu pai realmente não estava envolvido
com Alonzo. Embora as atitudes do Ghost fossem totalmente

contrárias ao que meu pai, Tio Cosimo e meu avô acreditavam


fielmente, eu nunca duvidava da capacidade do homem em ser

ambicioso. Alonzo era uma pessoa que jurava nunca se virar contra
a família e bastou Bryant acenar umas notas de dinheiro em seu
rosto para que desse as costas.

A viagem até Indianópolis foi bastante silenciosa. Ilaria não

tinha muito contato com tio Francesco, porque tio Cosimo não

permitia que os gêmeos ficassem hospedados na casa da família e


tia Maria parecia ter certa resistência com meus primos. Ela nunca

me tratou diferente. Sempre foi carinhosa. Ela e a minha mãe eram

boas amigas e o tipo de esposas que Juliana nunca seria nessa


vida. Nem se eu quisesse. Ambas viviam desesperadas pelo amor

dos seus maridos.

— O que você acha que vai acontecer quando chegar lá? —

Juliana me perguntou baixinho. Ela estava tentando ler, mas só


olhava para o seu leitor digital sem passar nenhuma página. O livro

era para mães de primeira viagem e pegas de surpresa, como ela.


— Como Damon vai te encarar? Como primo? Como inimigo? Como

o homem que está acima dele?

— Ele vai me ver como a pessoa que permitiu que Alonzo

matasse o pai dele depois de ter matado a mãe — resmunguei e o

sentimento de falha me consumiu. — Há dez anos, tia Maria estava

em casa recebendo cuidados de um tratamento de câncer.


Começou nos ovários e se espalhou... Foi muito rápido. Ela estava

sofrendo. Tio Francesco e os filhos estavam fazendo o seu melhor,

mas na época, ela já estava estafada da vida que levava e pediu


que Alonzo a matasse. Foi um suicídio assistido, mas para Damon

foi um assassinato. Se fosse minha mãe, eu pensaria o mesmo.

— Uau. Alonzo teve coragem de matar a própria irmã. Eles

eram próximos?

— Tão próximos quanto água e óleo. Nenhum dos irmãos

cresceu com amizade e cumplicidade. Ela era menina e foi quase

como um gado, sendo leiloada por quem pagasse mais e ele era o

caçula dos homens que o meu avô nem lembrava a existência. —


Ela me deu um olhar compreensivo. — Talvez nenhum de nós

realmente tenha percebido que a frieza de Alonzo não era


treinamento. Ele é incapaz de sentir qualquer boa emoção, ele é

dominado por ódio...

— Eu sei, mas enquanto você se concentra nele, os russos

estão matando os nossos. Acha que Kátia faria algum acordo com
Alonzo?

— Só se for de morte. Tudo está acontecendo ao mesmo

tempo...

Juliana me deu um olhar preocupado.

— Talvez eu devesse ficar na Itália...

— Enquanto eu odeio a ideia de ficar longe de vocês, de

não ver a gestação a todo segundo, no momento, é o que penso

como mais seguro. — Me inclinei no banco e beijei seus lábios. —


Sinto muito, amor.

— Nós vamos passar por isso. — Retribuiu o meu beijo.

Nós pousamos em um aeroporto privado e clandestino em

Indiana, próximo a South Beach, em Michigan City. Enrico, braço


direito de Damon e filho de criação de tio Francesco estava nos

aguardando com três carros. Desci a escada, ele esticou a mão,

apertei e trocamos um abraço.


— Eu sinto muito — falei baixo e ele assentiu. Enrico era um

homem de poucas palavras. — Minha esposa, Juliana e o primo,


Alessio. Os demais você já conhece.

— Obrigado por virem. — Foi tudo que o Enrico disse e

ninguém esperava que ele dissesse mais.

Nos dividimos nos carros. Juliana ficou quieta, meu coldre


estava solto, apesar de estar em uma região amigável, todos nós

estávamos perdidos e sem saber o que esperar de um novo ataque.

Por segurança, Marcus e eu entramos na casa primeiro,


vasculhamos os cômodos, analisamos tudo e só depois permiti que

Juliana entrasse. Descarreguei as malas e fizemos um tour rápido.

Ela escolheu um quarto de frente à praia. Carina deixou as

suas coisas em um quarto próximo. Alessio ainda estava olhando ao


redor, desconfiado. Juliana fechou a porta para nos dar uns minutos

de privacidade antes de sairmos. Ela me deu o olhar que me

deixava desarmado. Era um olhar carinhoso, cheio de amor e

compreensão. Olhar de quem ia ficar naquela casa esperando pelo


meu retorno com ansiedade.

— Ilaria deve sair em alguns minutos para comprar

mantimentos. — Entreguei a ela uma nove milímetros. — Munições


na bolsa. — Apontei e ela assentiu. — Alessio deve ir comigo

porque ele é o vice em treinamento e Emerson por ser sobrinho.

Marcus e Ilaria vão ficar com vocês duas... Não vejo problema que

passeiem um pouco na praia, mas acho que seria ideal não chamar
atenção. Nada de redes sociais... e nada de ligações. Sem ligar

para a Itália, principalmente. Se minha mãe ficar ligando, bloqueie o

número dela, mas não atenda.

— Tudo bem. — Ela ficou na ponta dos pés. — Transmita os


meus sentimentos para os seus primos e espero que possa ir ao

velório.

— Eu também espero. — Beijei os seus lábios. — Te amo,


Sra. Rafaelli.

— Eu mais ainda, Sr. Rafaelli.

Alessio tinha um problema sério em ficar longe de Juliana e

de Carina quando elas podiam estar em uma situação de perigo. Ele


era muito arisco e se continuasse naquele humor, Damon iria

esmagá-lo em dois tempos. Nós viajamos até Chicago. Enrico me

ofereceu a direção, um sinal de paz, me dando um pouco de

controle no seu território. Provavelmente, ele seria elevado a Chefe


de Chicago quando Damon assumisse, mas isso levaria um tempo.
Se Damon fosse esperto, ele não causaria muitas mudanças

nos seus primeiros anos. O meu primo tinha o senso de humor


parecido com o meu, mas não tinha muita paciência e não resolvia

absolutamente nada na conversa. Ele não fazia um pingo de política

e quando fazia, odiava cada segundo. Não perdia o seu tempo com

horas de tortura, era bem cruel e intolerante. A maioria das pessoas


acreditava na fachada de menino playboy muito rico com uma

mulherada nos braços.

Há anos ele era prometido em casamento e seguia vivendo

a vida como solteiro. A sua prometida estava exilada em uma escola


católica para meninas, exatamente como Juliana foi, a diferença é

que Giovanna sabia que seria uma mulher importante um dia e

estava se preparando. Tio Francesco a escolheu como esposa de


Damon quando ela era menina e fez o acordo quando completou

quinze anos. O casamento precisaria acontecer o mais breve

possível, diferente de Nova Iorque, esse lado do país tinha muitas

tradições enraizadas e eram totalmente insuportáveis com isso.

Damon seria visto como fraco se não se submetesse ao

casamento e agisse como um homem da família deveria agir.

Enrolar para se casar como eu enrolei, seria um tiro no pé. No meu


lado do país as pessoas eram mais divertidas e menos irritantes.
Muito menos esperavam que suas noivas fossem virgens e tivessem
filhos no primeiro ano do casamento. Em Chicago, as mulheres

eram proibidas de trabalhar fora –dependendo da classe e posição

do marido, elas terminavam o ensino médio e muitas estudavam em


casa, porém, jamais poderiam ir para faculdade.

Enquanto eu não estava interessado em saber com que

idade as mulheres em Nova Iorque se casavam, em Chicago ter

mais de vinte já era considerado para titia. Era impressionante como


a mesma família podia dividir o mesmo território e mesmo assim ter

valores tão diferentes. Quando assumi a maior parte, fiquei na frente

de tio Francesco por duas cidades. Ele poderia ter tomado, mas não
o fez. Sabia que Damon não tomaria. Depois de anos, finalmente

estávamos com uma boa relação e eu não queria estragar.

Não era por puro e simples sentimentalismo. Com o avanço

da Bratva, da Yakuza, os MC’s pelas rotas e nas cidades, brigar com


o nosso próprio povo seria muita estupidez, além do mais, Damon

fazia fronteira com o território de Oliver King, se ele nos visse


brigando, iria aproveitar o momento e só nos enfraqueceria ainda
mais.
Estacionei na casa onde Damon estava com a irmã. Alguns
dos homens se aprumaram ao me ver, outros me olharam com
desconfiança. A porta estava aberta e eu não vi necessidade de ser

anunciado quando estava sendo esperado.

Frank, conselheiro do meu tio e marido de Sandra, foi o


primeiro que vi. Ele estava entregando um copo de água para a

esposa e pela sua expressão, não me queria por perto. Sandra


ergueu o rosto molhado.

— Enzo! — Ela ficou de pé e me abraçou. — Que bom que


você veio.

— Eu sinto muito, Sandra.

Ela secou o rosto.

— Eu sei. Obrigada... — Respirou fundo. — Ele não deixa


que tirem o corpo.

Merda.

— Disse que só ia permitir que levassem o papai quando


você chegasse. Isso é uma tortura, por favor, acabe logo com isso.
— Me implorou e assenti. — Estão nos fundos.
Segui para os fundos da casa e sinalizei para que Alessio
me esperasse com Emerson. Ele não confiava em Damon e não
queria me deixar sozinho, mas eu podia lidar com meu primo.

Atravessei o pátio e um pequeno jardim, pude ver o sangue antes


mesmo de vê-los. Tio Francesco estava caído na mesa, e seu café

da manhã intocado um pouco ao lado.

Damon estava de pé em frente a ele, olhando fixamente.

— Que bom que você chegou.

— Damon.

— Queria que você visse pessoalmente. Por foto, não faria

jus! Essa merda de Agência só trouxe desgraça para a nossa


família! — gritou e fiquei calado. — Você não me deixou matá-lo
quando ele matou a minha mãe e olha... Você o levou para treinar

mais e ser melhor. Deveria ter imaginado que se não se importou


com a morte da minha mãe, por que se importaria com os riscos que
se envolver com estranhos traria para todos nós?

Ele estava com raiva e queria descontar em mim.

— Tia Maria pediu para morrer. Ela estava doente e com


dor, mas isso é diferente. — Me aproximei e ele me olhou com tanto
ódio que pensei que me atacaria, mas era a dor do luto.
— Olha para ele! — ordenou. — Olha como ele morreu...

Me aproximei de Damon e, devagar, ele me esticou o papel.

Alonzo deixou sua assinatura. Ao contrário de todos os outros


ataques, naquele ele estava assumindo a autoria, nos mostrando

que foi sua escolha executar de uma maneira tão covarde um


homem da família. Tio Francesco levou um tiro na nuca. Ele sequer
deve ter ouvido o cunhado se aproximar para matá-lo.

— A minha madrasta ainda estava dormindo e a empregada


na cozinha, distraídae ouvindo música. — Damon riu secamente. —

Os soldados na parte da frente deram privacidade ao meu pai para


tomar café, enquanto um psicopata pulou da casa do vizinho para o

jardim, matou o meu pai e foi embora. Ele ainda levou um pãozinho,
segundo a empregada.

— Eu vou matá-lo.

— Não. Eu vou matá-lo, porque você continua achando que

o problema dele é com as pessoas fora da família, isso aqui é a


prova que o que aconteceu com Maurizio não tem nada a ver com
Alonzo. — Damon me encarou. — Você deu mais importância a

esse grupo de pessoas que se associou. Como um líder, falhou.

Ele ia passar por mim e agarrei a sua camisa.


— Estou ignorando muitas coisas, porque você está de luto.

Acredite em mim, eu amava o seu pai. — Ele olhou em meus olhos.


— Estão conectados. Não pode ser só coincidência.

— Se isso tudo for coisa dele, sabe o que significa? Que ele

tem muita gente poderosa alimentando seus planos, muito dinheiro,


ele sabe como agimos e pensamos. Nunca iremos encontrá-lo. —

Damon esfregou o rosto. — Sabe a sensação de enterrar o seu pai


e não poder sair por aí caçando quem fez isso?

— Não.

— Esse é o problema. — Damon saiu de perto.

Olhei para o corpo de tio Francesco e pensei que não me


importaria se fosse o meu pai no lugar dele, mas infelizmente, não

podia expressar minha opinião. Sinalizei para que uma equipe se


aproximasse e finalmente levasse o corpo para ser preparado para
o funeral. Dei as ordens necessárias para que um belo funeral fosse

preparado, porque ficou nítido que meu primo estava com muita
sede de sangue para pensar nos detalhes e a Sandra desolada

demais.

Mais tarde, ainda na casa do meu tio, Damon me entregou


uma cerveja. Eu tinha acabado de atualizar Juliana dos
acontecimentos do dia e prometi que chegaria a tempo de dormir.
Com a merda explodindo em Chicago e com as acusações de
Damon, achei melhor contar toda minha teoria, a maioria era

infundada e cheia de suposições, mas era a única coisa que eu


conseguia pensar, com os russos comendo pelas beiradas em meu
território e executando os meus.

— Acha mesmo que tio Cosimo tem algo a ver com tudo
isso?

— Cheguei ao inútil ponto que não acho mais nada. — Dei


um gole. — A única coisa que eu sei é que eles querem a minha

morte. A execução do seu pai foi um recado para mim. Sou o


próximo... Seu pai me apoiou quando derrubei o meu.

— Crescemos com os nossos pais fodendo com a nossa


infância para que ninguém nunca tome o que é nosso. — Ele riu
ironicamente. — Os nossos estão querendo nos roubar.

— Eu preciso saber se quando chegar a hora, você vai estar


pronto.

Damon ficou em silêncio, bebendo.

— Serei o próximo... Se eu assumir, serei o próximo, se eu


estiver morto, não vou poder proteger Giovanna e Juliana. — Jogou
a sua garrafa vazia bem longe e ela quebrou contra o muro. — Vou
fazer o que for necessário, mas pelo bem da sua mulher e da minha

noiva, temos que acabar com isso antes.

— Ou... — refleti. — Enfiar as duas em um avião


diretamente para o lugar seguro. — Terminei a minha cerveja.

Ele abriu mais duas.

— Ao futuro fodido e incerto. — Nós brindamos.


Trinta e sete | Juliana.

Era inevitável não ficar com o sentimento de melancolia e

tristeza após um funeral, mesmo que eu não fosse tão próxima da


pessoa falecida. Uma semana após retornarmos, meu marido ainda

estava fora do seu habitual e a sua relação com o primo


extremamente estremecida. Damon estava culpando Enzo por ser
benevolente demais com pessoas fora da família e quanto mais eu

entendia o funcionamento, mais eu me sentia protetora com os


meus e entendia Damon.

Enzo só enxergava o poder. Damon e eu víamos a família.


Obviamente, as relações externas nos beneficiavam, mas não eram

comuns e deram espaço para que uma pessoa como Alonzo


crescesse muito com o apoio de pessoas que gostariam da nossa
ruína. O jogo dele era simples: atiçar, causar o caos, se esconder,

voltar... A maneira como ele era capaz de provocar era porque

cresceu sendo um de nós.

— Uau! Olha aquela fumaça negra! — Carina gritou olhando

para a janela da sala. Enzo tirou os olhos do jornal e franziu o

cenho. Demorei um pouco para ver, precisando sair do meu lugar.


— Nossa! É um prédio próximo ao parque.
— É verdade. Deve passar algo na televisão — comentei e

procurei o controle, ligando a televisão da sala. — Será que foi o


gás?

— Deve ser. Ou uma adolescente cabeça de vento

esqueceu a chapinha ligada. — Enzo comentou acidamente. Carina

esqueceu a chapinha ligada dentro da pia e eu senti o cheiro


quando passei pela porta do seu quarto. Não sei como não pegou

fogo, porque ela tinha saído para a escola há muito tempo.

— Ferros a vapor também causam bastante incêndios. —


Carina falou e deu a língua a Enzo, que riu. — Enfim, falando de

coisa boa. Podemos sair desse clima fúnebre e finalmente

comemorarmos o fato que teremos um bebê nesta casa?

Soltei uma risada.

— Estou muito ansiosa para o chá de bebê. — Carina

estava cheia de ideias. Seu irmão apenas riu, balançou a cabeça e


voltou a ler o jornal. — Pensei em queima de fogos com a cor

escolhida para revelar o sexo.

— Não quero fazer um grande evento. — Até porque eu já

sabia que era um menino e não tinha certeza se queria esfregar isso
no rosto dos nossos inimigos em um momento tão delicado. —
Talvez algo em casa. Não precisamos ganhar presentes.

— Esnobe. — Carina me provocou e arremessei um pedaço

de pão nela.

— Olha só, a cobertura do incêndio. — Aumentei o volume na


televisão. — Nossa, é um incêndio enorme — murmurei e segurei a

mão de Enzo. Nós morávamos em uma cobertura e me perguntei

como reagiria a algo como aquilo. — Conhece ele? — Na filmagem,

estava um homem muito bonito, a repórter dizia que era dono de um

dos apartamentos atingidos pelo fogo.

— Sim... Romeo Blackburn[vii]. — Enzo comentou. — Até

onde sei, ele tem uma filha pequena.

— Faz parte?

— Não diretamente. De vez em quando acontece uma troca

de favores, ele é bem na dele, trabalha no setor bancário de


investimentos e não se mete na vida de ninguém. — explicou e nós

assistimos a matéria. Ele encontrou sua família, mas um bombeiro

impediu que a imprensa continuasse filmando.


— Espero que fique tudo bem com a família. — Terminei o

meu café da manhã reforçado e pedi licença para ir ao meu quarto


arrumar as minhas coisas, meu armário estava uma confusão de

roupas que precisavam ser organizadas.

Enzo não veio atrás de mim, ele estava mal humorado e iria

se enfiar no escritório ou sairia, como todos os dias desde o


falecimento do seu tio. Eu sabia que, politicamente, todas as

relações estavam estremecidas e emocionalmente, ele estava


ferido, assim como Damon. Aparentemente, homens da máfia não

sabiam como lidar com os seus sentimentos. Era uma situação


complicada e na minha inexperiência, não sabia como opinar.

Meu telefone vibrou e era uma ligação de Linda.

— Olá, sumida. — Atendi alegre.

— Oi amiga, como você está?

— Estou bem.

— Suas encomendas da Versace acabaram de chegar e os


sapatos da Carina. — A voz de Linda estava estranha. — Você

pode vir buscar hoje?


— Pensei que fosse demorar mais algumas semanas —

comentei casualmente, concentrada nas roupas. — Está tendo um


incêndio aqui perto e acho que vai estar um engarrafamento

enorme. Pode ser amanhã?

Linda soltou um gemidinho que parecia de dor.

— Fui demitida, amiga. — Ela parecia chorar e eu me senti


muito mal. — Se você buscar amanhã, eu não vou ganhar a

comissão e realmente preciso desse dinheiro.

— Entendo. Eu vou passar aí no final do expediente, assim

poderemos sair para jantar e eu vejo se posso te ajudar com algum


emprego.

— Ok. Até mais tarde. — Ela encerrou e devia estar muito


arrasada porque não era tão chorosa e preocupada normalmente.

Joguei o meu telefone de lado e me dediquei em terminar as


roupas, separando uma bolsa bem grande para doação. Pedi que

Stefanio carregasse, porque estava bem pesada, e levasse para a


cozinha. Renata costumava levar algumas roupas para a filha e

Susana para a nora, que regulava a minha idade e era uma das
poucas mulheres realmente legais do meio. Ela não fazia parte da
elite, as que faziam, eram esnobes e muito inconvenientes.
Carina entrou no meu quarto com os braços cheios de
roupas, me pedindo para ajudá-la a escolher um vestido para ir ao
cinema com Alessio. Eu disse que ia encontrar com Linda e buscar

as nossas coisas, se ela não tivesse marcado esse encontro


romântico com meu primo poderia ir junto. Os dois eram realmente

bonitinhos e às vezes acobertava umas descidas de Carina,


distraindo Enzo, que marcava em cima mesmo sabendo que a irmã
não tinha um osso puro em seu corpinho.

— Acho que você deveria usar o vestido longo com a

botinha, fica muito agradável. E a jaqueta de couro vermelha? —


Apontei para a peça.

Carina ficou no espelho testando as combinações e ouvi os

passos pesados de Enzo no corredor. Ele estava propositalmente


pisando duro para anunciar a chegada. Abriu a porta sem bater e

fez uma careta.

— Cristo, vocês vivem para roupas. — Colocou as mãos na


cintura. — Vaza, garota — falou com a irmã e ela bufou, saindo com
suas roupas.

— Para de pegar no pé dela — falei do meu lugar no chão.


— Não. Ela precisa ser mais responsável. — Enzo foi até o
seu closet. — Deixar a chapinha ligada poderia causar um incêndio
como aconteceu no prédio de Romeo. Pode imaginar?

— Eu sei e você também sabe. — Sorri para a sua

expressão emburrada. — Está implicando com ela por que vai sair
com Alessio?

— Se eles começarem a namorar, vou marcar o casamento.


Não vou permitir que fiquem falando de Carina. Uma coisa é as

merdas que faz escondido, outra é namorar, trocar de namorado e

depois... Alguns pais vão achar que quero influenciar as filhas para

o mal. — Ele não acreditava naquilo e estava cheio de merda.

— Machista — falei baixinho.

— Eu ouvi. — Sorriu torto e lhe soprei um beijo. — Eu vou

até Nova Jérsei conversar com o subchefe de lá, dar uma olhada

nos restaurantes e volto a tempo do jantar.

— Combinei de jantar com Linda, mas eu posso ir até um

café. — Me levantei do chão. — Ela foi demitida e está meio triste.

— Se você puder, eu adoraria jantar com você. — Me deu

um beijo.
— Tudo bem. — Eu amava Linda, mas entre jantar com ela

e ter um momento a sós com meu marido... Escolheria o meu


marido. — Não vá muito gostoso. Ilaria me contou que as garotas de

Nova Jérsei são como cavalos de corrida puro sangue. — Fiz um

pequeno beicinho.

Enzo soltou uma gargalhada que chegou a ecoar no quarto.


Bati em seu peito, rindo e muito feliz em vê-lo sorrir depois de estar

tão tenso e taciturno. Ele estava tão fora do normal que nós não

estávamos sendo íntimos.

— Agora faz todo sentido que Ilaria quase surta quando

Marcus vai fazer vistoria por lá. Não vou esquecer a referência tão

cedo. — Me abraçou apertado e apertou a minha bunda. — Hoje à

noite você é minha.

— Sou sua todo dia, bobinho. — Apertei seu nariz e beijei

sua boca.

Enquanto ele se vestia, escolhi uma roupa bonita e

confortável para sair. Não queria usar saltos, vesti jeans, tênis, uma
camisa branca social e arrumei a minha bolsa com a minha carteira

e o meu celular. Escovei o cabelo e o mantive preso. Enzo decidiu


me deixar no shopping com Stefanio e voltaria para nos buscar, já

que não iria demorar.

Antes de subir para o andar da loja, Stefanio me perguntou

se podíamos parar em uma livraria, porque ele tinha prometido


comprar uns livros para a sobrinha. Me ofereci para ajudá-lo e

acabei comprando uns livros novos sobre maternidade. Estava

consumindo tudo que podia sobre a nova fase da minha vida porque

não entendia nada. Sentia todos os efeitos de uma gestação e


estava ansiosa para ver o rostinho do meu bebê.

O som do seu coraçãozinho me deixava feliz. Enzo e eu

sempre ouvíamos à noite e compramos um pequeno aparelho de


ultrassonografia portátil para ficarmos procurando onde o bebê

estava e tentar ouvir o coração conforme tínhamos gravado no

celular das consultas.

Fora isso, eu não sabia nada sobre bebês e não lembrava


se já tinha segurado um algum dia. Ser mãe era um plano futuro,

mesmo me sentindo jovem demais, eu estava apaixonada pelo meu

menininho e ainda mais apaixonada pelo homem que o Enzo


demonstrava ser toda noite, ao beijar a minha barriga e dizer que

nos amava, prometendo nos proteger. Seu carinho e compreensão


na fase em que me sentia tão confusa, com o meu humor me

deixando louca, fome, espinhas e uma vontade de sair gritando, era


muito especial para mim.

— Eu vou esperar a senhora aqui. — Stefanio me avisou e

apontou para os sofás da área da recepção. — Se precisar, me

chame.

Assenti e esperei que Linda terminasse de atender uma

senhora montada nas joias e com um caro conjunto de roupas antes

de me aproximar. Nós trocamos um abraço e eu fiquei mais


comedida ao ver que o gerente dela ainda estava na loja.

— Eu vou fechar as portas da frente para que possa atender

a Sra. Rafaelli. — Ele passou por nós, dei-lhe um sorriso e segui

Linda até uma das salas no segundo andar. As minhas encomendas


estavam ali dentro, alinhadas, para que pudesse conferir.

— Então, ele te demitiu? — Me sentei em um sofá.

— Sim. — Linda suspirou. — Ainda agora me disse para

ficar mais duas semanas, enquanto ele procura alguém mais


qualificado. — Revirou os olhos. — Estava começando a gostar. A

comissão é boa.
— Eu posso dizer a ele que não vou comprar mais aqui e

ainda influenciar outras conhecidas a abandonar a loja se você for

demitida.

— Do que vai adiantar? Ele vai seguir me infernizando


porque não sei falar francês. — Bufou e pegou um vestido. — Quer

começar a experimentar por esse? — Ela não queria mais falar do

assunto e respeitei.

— Pode ser... Tem aquele cinto vermelho ainda? Eu o


encomendei pensando em usar com esse cinto e um par de sapatos

caramelo que tenho — comentei e ela sorriu, sentindo-se útil e

saindo da sala para buscar.

Mandei uma mensagem para Enzo, dizendo que estava bem


e já estava na loja. Verifiquei Carina no cinema com Alessio e eles

me enviaram uma foto ainda dentro do carro, no engarrafamento.

Estavam lindos. Ainda com o telefone na mão, olhei para a porta


quando Linda entrou praticamente correndo.

— O que foi, maluca? — Ela me assustou.

— Tem uns homens armados lá embaixo. Eles renderam o

seu segurança e o Gerard — sussurrou. — Dois estavam subindo a


escada.
Fiquei de pé no mesmo instante.

— O quê? — gritei e ela cobriu a minha boca.

— O que nós vamos fazer? — Ela grudou o ouvido na porta.

— Qual é a outra saída? — Eu precisava pensar rápido.

— Só aquela que você saiu daquela vez. — Linda parecia

que ia desmaiar.

— São quantos? — Peguei o meu telefone e liguei para


Enzo, ele não atendeu, mas enviei uma mensagem, ligando

repetidamente e apertando os sinais de pânico dos aplicativos que

tínhamos em comum.

— Eu vi três no primeiro piso e dois na escada.

Fechei os meus olhos, com o coração explodindo no peito e

não sabia o que fazer. Eles iam me pegar, o jeito era dar o máximo

de informações para Enzo agir. Nervosa, pedi que Linda me

relatasse tudo que viu e gravamos em áudio para Enzo. Enfiei o


meu telefone no bolso no mesmo segundo que a porta foi

arrombada. Ela saltou para longe, trombando em mim e quase caí

no chão, me apoiando na arara de roupas.


Os dois homens usavam preto, eram altos e aparentavam
ser russos.

— Juliana Rafaelli. — Um deles falou.

Fiquei quieta.

— As duas para baixo. — O outro ordenou. Eles não


estavam com as armas em punho porque não achavam necessário.

Eu não tinha certeza se podia lutar contra eles. Agarrei a mão

de Linda e passei por eles, rebocando-a. No topo da escada, podia

ver mais três. De cabeça erguida, olhei Gerard com um tiro no meio
da testa e pela maneira que Stefanio estava caído, não conseguia

ver se ele estava ferido, mas não havia sangue escorrendo de seu

corpo.

— Sentem-se. — Apontou para as cadeiras. Um enfiou a


mão no meu bolso, agarrando o meu telefone e atendendo a
chamada de Enzo enquanto o outro me amarrava na cadeira. Eles

iriam nos manter ali? Isso dava chances de o resgate chegar


rapidamente. — Olá, Rafaelli. Sua esposa é linda.

— Eu vou te matar. — Foi a sentença simples de Enzo.


— Talvez. — O idiota na minha frente riu. Eu vi Stefanio
acordar, mas não fiz alarde. Linda estava tremendo e quase
vomitando ao meu lado, olhando fixamente para a poça de sangue

de Gerard que escorria até os nossos pés. — Se isso acontecer,


você nunca mais verá a sua esposa. A não ser que você nos dê
algo em troca.

— Eu vou dar o que você quiser. Antes, quero saber se a


minha mulher está bem. — Enzo respondeu e Stefanio se moveu
muito devagar. Pelo reflexo do balcão, havia apenas dois. Eu não

sabia onde estavam os outros. — Quero falar com ela antes de


fazer qualquer acordo.

Linda estava soltando sons de que iria vomitar. Troquei um


olhar com Stefanio, ele estava tão parado que parecia morto, não

fosse os seus olhos expressivos nos meus, eu poderia jurar que era
uma alucinação.

— Diga para o seu marido entregar cinco milhões por você.

Cinco? Eles iam me matar. Aquilo era um jogo com Enzo, no

final, eles iriam me matar de todo jeito. Olhei para a expressão dura
do russo na minha frente. Ele tinha cicatrizes em todo rosto, olhos
claros que diziam que era uma pessoa ruim e um hálito horrível.
Chegando ainda mais perto, colocou o telefone próximo a minha
boca.

— FALA, MULHER! — Ele gritou.

— Enzo... — protelei e esperei o sinal sutil de Stefanio. —

Estamos no primeiro piso da loja e agora são apenas três — falei o


mais rápido possível,dando uma cabeçada no que estava na minha

frente e alcancei a sua virilha com meu pé, dando um chute. Ele
bateu no meu rosto e em seguida, deu um soco forte no meu
estômago.

Soltei um grito de dor, mordendo seu braço para arrancar


pedaço e Stefanio saltou, enfiando o canivete no pescoço do que
estava atrás de mim, pude sentir o corpo caindo em minha direção.

Linda gritou e vomitou, senti minhas mãos livres e me atraquei com


o que estava na minha frente. Ele era muito pesado e estava me
machucando muito.

Tentei proteger a minha barriga dos golpes, mas ele era

forte demais. Agarrei a sua perna, puxando, derrubando-o no chão.


Ele rolou para cima de mim, agarrando o meu pescoço. Arranhei
seus braços, me debatendo, desesperada.
Vi Linda sendo arrastada pelo terceiro. Confusa, sendo
sufocada, senti uma faca na cintura do homem, puxei e cravei na

sua lateral quantas vezes consegui até que pude empurrá-lo.


Stefanio podia se virar, eu tinha que salvar Linda. Peguei uma
pistola que estava no chão, escorregando no sangue e corri até a

sala de funcionários.

— Se você der um passo, ela morre.

Linda estava suja de sangue, vomitada e com os olhos


arregalados. Eu tinha que ganhar tempo até Enzo chegar e ter uma

vantagem antes que os dois que saíram, voltassem. Olhei bem


dentro dos olhos dela, implorando que movesse a cabeça pelo

menos um pouquinho para o lado. Ouvindo as minhas preces, ela se


inclinou e vomitou de novo e eu não perdi a oportunidade de atirar
na testa dele.

Ela correu na minha direção e soltou um grito, virei e quase


atirei em Alessio.

— Juliana! — Ele me abraçou apertado. — Eu recebi o seu


alerta de pânico.

— Stefanio! — gritei me afastando do meu primo.


— Aqui, senhora. — Ele apareceu e hesitante, olhei para o

salão principal da loja. Dois corpos. Um estava atrás de nós. — Os


outros dois saíram, provavelmente foram arrumar o transporte.
Duvido muito que iriam manter você aqui por muito tempo.

— Não importa o que é, temos que sair daqui. — Alessio


olhou o relógio. — A polícia vai chegar em poucos minutos.

Stefanio fez um trabalho rápido em recolher as minhas


coisas, para não parecer que deixei algo para trás e eu puxei Linda.

Emerson surgiu nos fundos.

— Pegamos dois russos no estacionamento, acho que eles

estavam na festinha. — Olhou para a Linda e em seguida me


encarou. — Acho melhor me dar isso. — Apontou para a pistola e
entreguei. — Você está bem?

Não. Eu não estava nada bem.

Levei a mão ao meu ventre...

Não estava bem.


Trinta e oito | Juliana.

— Eu preciso de um médico! — Enzo estava gritando,

correndo comigo em seus braços. — Eu preciso de um médico


agora! — As luzes eram só borrões, os sons ao meu redor eram

agudos e desconexos. Não lembrava em que momento ele me


encontrou, mas uma das vezes que acordei no carro, eu estava em
seu colo.

— Senhor, coloque-a aqui. — Alguém falou e fui depositada

com cuidado.

— Ela está grávida de três meses... Seu nome é Juliana


Rafaelli, tem vinte e um anos e está perdendo muito sangue. —

Ouvi Enzo gritar de nervoso e me senti em movimento, querendo


vomitar, com uma dor tão grande que eu queria berrar, me
contorcer, bater em alguém e tudo estava tão... sem controle. — Por

favor, cuidem dela.

— Enzo...

— Estou aqui, amore. Estou aqui com você. — Ele segurou


a minha mão.
Fechei os meus olhos e me entreguei à dor que me

consumia.

Acordei com o som de uma oração em italiano, eu estava


me sentindo leve, meio drogada, ergui a minha mão, zonza e toquei

a cabeça de Enzo, que estava deitada na minha barriga, e que por

sinal, doía. Abri os olhos, desorientada e a cabeça dele criou uma


sombra na claridade intensa do quarto.

— Amor... O que aconteceu? — falei baixo, lambendo os

meus lábios.

— A hemorragia parou e eles te trouxeram para o quarto. —

Enzo respondeu baixo. — O médico disse que viria te ver em breve.


— Beijou a minha bochecha. — Sinto tanto, Juliana.

— Não foi sua culpa. — Minha voz estava fraca, apenas

toquei seu rosto.

— Eu sinto muito. — Enzo me abraçou apertado.

Por que ele estava pedindo desculpas se o que aconteceu

não foi culpa dele? Empurrei-o devagar, querendo olhar em seus

olhos, mas a porta abriu e nós dois desviamos a nossa atenção para

a equipe médica que entrava no quarto. Eu conhecia aquele médico,


ele me deu um sorriso tenso, fazia parte da família e normalmente
atendia os feridos após alguns eventos perigosos.

Uma enfermeira se aproximou da cama, me deu um sorriso,

verificou a bolsa de soro e apertou um botão, o encosto da cama

começou a subir, me assustei e agarrei Enzo. Eu estava assustada,

não estava gostando nenhum pouco das expressões tensas nos


rostos da equipe médica.

— Nós vamos fazer uma ultrassonografia agora. — Ele

explicou, puxando o cobertor que estava em cima de mim e

erguendo a camisola o suficiente para expor a minha barriga. Fiquei

surpresa ao perceber que estava inchada. Minha barriga não era

daquele jeito e eu não conseguia me lembrar o que havia


acontecido desde a primeira dor aguda ainda dentro do shopping e

o momento que acordei no carro, no colo de Enzo.

Não sabia dizer o que tinha acontecido, apenas que senti

uma intensa dor.

Olhei para meu marido, seus olhos estavam vermelhos, o

cabelo desgrenhado e a roupa toda manchada de sangue. Ele me

deu um olhar confiante, mesmo quando o médico pressionou o

aparelho em mim e só apertei as minhas unhas no colchão.


— Sinto muito, Sra. Rafaelli. — Dr. Ferrari falou, com pesar.

— Não encontro batimentos cardíacos.

— Eu perdi o meu bebê? — Olhei-o, pensando não ter

ouvido direito.

— Infelizmente com a extensão dos seus ferimentos, você

está com as costelas fissuradas, contusões nos braços, pescoço e


costas... — Explicou. — Lamento. Precisamos discutir os próximos

passos devido a hemorragia.

Parei de ouvir. Eu não queria mais ouvi-lo. Enzo e o médico

conversaram bastante, discutiram todas as opções, quais exames


seriam feitos. Ele segurou a minha mão, passando conforto, fechei

os meus olhos e virei de lado, ignorando-os. Por mais que Enzo


tentasse, eu não conseguia falar e foi assim em todos os dias nos

quais fiquei internada. Ele ficou ao meu lado, me apoiando em cada


passo, nos banhos, penteando os meus cabelos e tentando me
convencer a comer.

— Coma apenas uma gelatina e nós iremos embora. —


Enzo insistiu.

— Eu estou com saudades da comida de casa, podemos ir


embora? — Olhei em seus olhos e ele sorriu, segurando meu rosto
e me dando um beijo nos lábios. — Estou ansiosa para deitar na

nossa cama.

— Tudo bem, amor. — Ele terminou de guardar todas as


minhas coisas na bolsa. — A sua amiga ainda está hospedada
conosco, ok? Ela foi atendida e medicada... Carina fez companhia a

ela.

— Obrigada por isso. Agora ela está em perigo e é minha

culpa. Mais uma vez, eu não te ouvi.

Enzo voltou a parar na minha frente, ergueu meu queixo e

eu odiava o olhar de tristeza e desolação em seu rosto.

— Não há tempo para isso agora, o importante é que você,

mais uma vez, venceu. Salvou a sua vida e a vida da sua amiga. —
Sorriu torto. — Minha mulher é um general de guerra. — Me deu um

beijinho.

A custo da vida do nosso bebezinho.

Desviei o olhar para a saia do meu vestido de poá,


brincando com o babado.

A enfermeira queria que eu saíssedo hospital na cadeira de


rodas, mas eu me recusei a sentar-me naquilo e fui andando
devagar. Stefanio estava ao meu lado e Mika atrás de nós,
carregando a minha pequena mala. Enzo andava como se eu fosse
uma criança dando os primeiros passos ao ponto de cair com o

rosto no chão e eu percebi que pela maneira lenta e dolorosa que


seguia, não seria impossível de acontecer.

Saímos pelos fundos, por uma entrada de carga, para


despistar os curiosos. Enzo me disse que eles conseguiram deletar

as imagens de segurança da loja, fizeram a limpa e o dono não


falaria absolutamente nada em troca de uma nova loja na melhor

rua fashionista de Nova Iorque. Ele divulgou que houve um pequeno


incêndio e que infelizmente, seu funcionário sofreu um acidente de
carro e faleceu.

Fiquei em silêncio no carro. Todos ficaram. Enzo segurou


minha mão e não soltou até entrarmos na cobertura e Carina

avançar em mim em um abraço apertado. Eu me segurei para não


desmoronar.

— Eu te amo, menina. — Acariciei seu rosto de boneca.

— Eu te amo mais. — Ela chorou.

— Não chora, está tudo bem. — Beijei sua bochecha.


— E aí, irmãzinha. — Emerson me deu um abraço e um
beijo na testa. — Eu sinto muito — falou baixinho.

— Eu te amo. — Alessio me apertou em um abraço.

Linda estava parada na sala, seu olhar em mim era triste e

ela estava com algumas contusões, mas parecia bem, apenas


assustada e abatida.

— Me perdoa — falei baixinho durante o nosso abraço.

— Você salvou a minha vida, Juliana. — Segurou o meu


rosto. — Sinto muito. Você deveria ter se protegido.

— Não é assim que funciona. — Sorri, apenas para não

transparecer que eles me matariam de todo jeito. Kátia estava

avançando demais, ciente de praticamente tudo o que estava


acontecendo, aproveitando a morte de tio Francesco, o momento

delicado entre Damon e Enzo, assim como as demais relações.

— Serei eternamente grata. — Continuou enquanto eu


secava suas lágrimas.

— Não chora — pedi.

Renata e Susana saíram da cozinha, eu sabia que elas

queriam falar comigo, mas estavam receosas se Enzo permitiria ou


não. Abracei ambas, me sentindo em casa e amada. O almoço

estava pronto e eu não podia enrolar Enzo sobre a comida. Coloquei


um pouco de arroz, salada e peixe, comendo um pouquinho e

disfarçando o restante. Bebi meu suco quase todo, o que deu uma

boa sensação de saciedade.

Estava cansada e queria ficar na minha cama.

— Vocês vão ficar chateados se eu for para a cama? Quero

descansar um pouco — falei durante a sobremesa.

— Claro que não, está tudo bem. — Carina foi rápida em me

apaziguar. — Linda e eu vamos nos entender.

— Eu só disse que Alessio era bonitinho. — Linda se

defendeu, soltei uma risada ao ver a expressão enciumada de

Carina e Emerson. Olhei para o Enzo e ele só parecia exasperado.

Me levantei devagar, minha barriga estava muito inchada e


dolorida. Enzo saiu do seu lugar, pegou as minhas coisas e me

seguiu. Entrei em meu quarto, parei em frente à minha cama e

queria ficar nela para sempre. Fui até o meu closet, tirei o vestido e
o reflexo do meu corpo me chamou atenção. Contusões em

diversas partes, virei de lado e toquei a minha barriga.

Meu menininho.
Não consegui mais me segurar e comecei a chorar, soltando

um grito agudo. A dor dilacerante que estava contendo, explodiu.

Enzo me segurou antes que caísse no chão, me erguendo no colo


enquanto eu escondia o rosto em seu pescoço. Agarrei-o apertado,

ficamos na cama, abraçados e eu não conseguia parar de chorar.

Não sei quanto tempo passou até que me acalmei, com soluços

doloridos e meus olhos ardendo.

— Me perguntei quanto tempo iria demorar para


desmoronar. — Ele falou baixinho. Seu rosto estava molhado.

— Você está chorando?

— Estou...

— Eu sinto muito, amor. Eu deveria ter ficado quieta e


esperar que alguém chegasse... Mas quando ele pediu cinco

milhões, só cinco milhões, eu sabia que ele iria me torturar para te

causar desespero. Só reagi. — Voltei a chorar. — Deveria ter


protegido e cuidado do nosso bebê.

— Não é sua culpa, você fez o que achou certo para

sobreviver e seguiu o seu instinto. Não me peça perdão quando eu

deveria ter cuidado de você, te protegido. Stefanio me falou que eles


já estavam dentro da loja... Pelas imagens, o gerente abrigou os três
na sala de funcionários e fechou a porta da frente. Vocês jamais

saberiam que estavam indo em uma emboscada. — Enzo explicou.


— Eu interroguei Linda e ela não sabia. Nas filmagens dá para

saber que ela não os viu porque ficou o tempo todo no salão da loja,

atendendo clientes e ela não fez hora de almoço.

— Caramba...

— Encontramos mensagens trocadas no telefone do

gerente, ele recebeu um dinheiro para manipular toda a situação. —

Me explicou e assenti, sentindo tanta tristeza que meu coração


parecia esmigalhado. — Eu amo você, Juliana. Nós teremos muitos

filhos e uma vida feliz. — Ele estava devastado. — Sinto...

— Não me peça desculpas. Só quero ficar triste... E superar

isso. Nós somos fortes.

— Você é forte. A sua força e coragem me surpreendem a

cada maldito segundo e eu me sinto muito honrado de ser o seu

marido. Eu não me importo com mais nada nesse mundo a não ser

você. — Me deu um beijo gostoso nos lábios.

Me aconcheguei em Enzo, sentindo seu cheiro e embalada

pelo seu cantarolar, calor e amor, adormeci. Estava cansada e

dolorida, precisava de um tempo, um longo momento de descanso.


Acordei ainda dolorida, o quarto estava todo escuro e senti um

pouco de frio. Levantei com muito cuidado, saí da cama em direção

ao banheiro, usando o sanitário, tomei banho e procurei uma roupa

confortável para vestir.

Enzo deixou os remédios em ordem para tomar com uma

garrafa de água. Engoli tudo, necessitando de uma pausa na dor no

corpo e saído quarto. Estava tudo silencioso. Carina estava deitada

em seu quarto, lendo um livro, dizendo que Emerson acompanhou


Linda até o apartamento dela para buscar umas coisas e que Enzo

havia ordenado que ela se mudasse para o prédio. Havia um

apartamento disponível para ficar hospedada.

Alessio estava na sala, no escuro, mexendo em seu

telefone.

— Oi, bonito.

— Oi.

— Você está emburrado por quê?

— Enzo saiu com Stefanio e os outros para fazer uma festa

e eu fiquei.
— Ficou de babá? — Sorri e me sentei ao seu lado. — Eu te

amo, sabia?

— Eu te amo também. — Ele me abraçou. — Não sei o que


te dizer, Juliana. Eu realmente sinto muito que você esteja passando

por essa dor. A minha mãe está tão devastada...

— Eu sei. Queria ter o colo dela agora, mas vou lidar com
isso. — Deitei a minha cabeça em seu ombro. — Qual a melhor

pizzaria da família?

— Quer comer? Isso é bom. Enzo disse que você não

comeu muito nos últimos dias. — Ele pegou o telefone. — Vou fazer
os pedidos.

A cozinha estava vazia e limpa, mexi na geladeira

procurando um doce, achei um pote com chocolate em gotas, abri e

fui comendo até a sala de segurança, liguei o monitor e verifiquei a


localização de Enzo. Estava piscando em um lugar da cidade que

eu não conhecia e não estava sozinho. Ilaria assim como o Marcos,

Stefanio e Mika estavam com ele.

— Ele está se vingando. — Alessio falou atrás de mim.

— A única vingança satisfatória para mim seria fazer o

mesmo com Kátia Rostov, fora isso, nada seria o suficiente. Quando
ela sentisse a dor que estou sentindo por ter perdido o meu bebê,
eu poderia parar. Até lá... Quero que todos eles queimem. — Me

abracei. — Era um menino, Enzo contou?

— Sim... Ele disse que vocês iam segurar a notícia do sexo

por um tempo.

— Ainda preciso fazer alguns exames para saber se poderei

ter filhos no futuro, qual foi a extensão dos danos desse aborto tão

violento. — Olhei para Alessio. — O que eu fiz para merecer isso?

— Você não fez nada. — Ele me abraçou apertado. — Ela


vai pagar. Nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida,

eu a farei pagar.

Ainda abraçada com ele, meus olhos já não aguentavam


mais a pressão do choro. Eu queria me vingar. Pela primeira vez em

toda a minha existência, não existia peso na consciência, medo,


humanidade ou empatia. Desejava caos e sofrimento a todas as

pessoas que contribuíram para o meu coração tão partido.


Trinta e nove | Enzo.

— Você a encontrou?

— Ela não estava lá. — Damon me respondeu. — Voltou a


fumar?

— Não enche o meu saco.

— Se ela estiver aqui, sabe que irei encontrá-la, mas acho


difícilque ela esteja no paísdepois de não ter êxito em seu plano —
comentou e ouvi uma voz feminina ao fundo. — Sandra está me
enchendo o saco sobre a data do casamento e Giovanna pretende

me falir— reclamou e sorri.

— Juliana foi uma noiva excepcionalmente cara.

— Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu e

estou ainda mais chateado que ela tenha pensado que poderia
passar da minha fronteira, mas o que vem me preocupando é a

merda dos MC’s. — Mudei a minha postura. — Estão interceptando


as cargas e são poucas que eles não conseguem roubar. Meus

homens estão muito estressados.

— Não faça nenhuma merda estrondosa. Estamos na mira


do FBI.
— Foda-se, estão me roubando.

— Vamos fazer uma emboscada em uma das rotas e segui-

los até as sedes. Se eles querem brincar com fogo, vamos fazer
queimar. — Bati o meu cigarro no cinzeiro. Juliana abriu a porta, me

olhou fumando, sua indiferença me deixou puto. Eu odiava a

maneira como ela estava sentindo-se machucada e queria esconder


isso — Falo com você depois. — Encerrei a chamada com Damon.

— O que foi?

— Você estava há meses sem fumar tanto quanto está


fumando agora.

— Por que isso é um problema?

— Se você quer se matar dessa forma, foda-se. — Ela deu

as costas e saiu, batendo a porta. Eu estava farto. Farto de sentir

fraqueza, dor, medo e a sensação de ter falhado com a mulher mais

incrível e mais importante da minha vida. Era a porra de uma


emboscada em uma simples ida ao shopping.

Eu deveria ter pensado melhor, deveria ter percebido que

não era um bom momento, mas com a minha cabeça tão cheia,

ignorei os perigos mais simples e esse meu erro custou a vida do

nosso bebezinho. A raiva ainda borbulhava no meu peito, mesmo


depois de ter causado a porra de um banho de sangue, quanto mais
fechava os olhos e lembrava dos corpos sem vida, mais sentia ódio

porque o que Juliana e eu perdemos, ninguém poderia nos dar.

Com ódio, chutei minha mesa e derrubei tudo que estava

em cima. Joguei a cadeira contra a parede e quebrei o que estava

ao meu alcance. Eu tentei me segurar, tentei extravasar a minha


raiva na vingança, mas cada vez que via os grandes olhos da minha

mulher com tanta tristeza e ela se esforçando para manter o seu

rosto inexpressivo, fodia com meu coração.

— Enzo! — Juliana abriu a porta e me empurrou. — Enzo,

não. — Se jogou em mim com tanta brutalidade que caímos no

chão. — Por favor, amor. — Sentou-se em cima de mim, me


abraçando apertado. — Não faça isso. — Seus olhos estavam

cheios de lágrimas. Ela respirou fundo e desabou a chorar. — Não

quero que você faça isso.

Juliana estava tentando ser durona, esmigalhada, tentava


colar os seus pedaços. Meu coração queimava. Beijei a sua

bochecha, o queixo, a pontinha do nariz e por fim, os seus lábios.

— Vem, vamos para o quarto. Você precisa de um tempo

fora disso tudo... — Ela olhou para o lado e peguei um envelope. —


Quem é Raymond e Isla? Eu já vi esses exames e esqueci de te

perguntar. O dele é incompatível com você, mas o dela é


compatível. Carina segue essa menina nas redes sociais...

Segurei o envelope e olhei as datas dos exames, primeiro


de Raymond e depois de Isla. Raymond era a prova de que meu pai

era um homem narcisista sem escrúpulos, capaz de manter uma


criança em cárcere privado para punir a mãe, que era uma mulher

doente e que havia sido sua amante por muitos anos. Isla era a
prova de que ele não tinha amor, respeito e consideração por minha

mãe, mantendo um relacionamento extraconjugal desde o começo


do casamento...

Isla era minha irmã. Meu pai não sabia que tinha uma filha

fora do casamento, porque Sierra nunca soube quem era o pai


biológico de sua filha, assumindo que era o seu marido, ou apenas

achou melhor que o marido assumisse a paternidade. Foi melhor


assim. Isla não pertencia ao nosso mundo. Apesar da coincidência
de ter se casado com Lowell, no qual a sua família era associada à

minha há anos. Provavelmente foi assim que meu pai conheceu


Sierra, indo até Boston encontrar com Harry Lowell, pai do marido

da minha irmã.
Callum seguia sendo um associado importante, porém,

silencioso. Ele fazia a parte dele, não falava nada e tinha na manga
um favor enorme. Ele estava certo em não querer que Isla se

tornasse conhecimento público e eu faria de tudo para que


continuasse assim. Jackson sabia muito bem que eu ia esmagar a

sua garganta se ele colocasse a vida dela em risco no meio das


suas ambições.

Contei tudo à Juliana com calma, ela prestou atenção e


ficou chocada que o meu pai tinha um filho fora do casamento. Eu

sabia que ela não gostava do meu pai, tanto que mal falava com ele
e muito menos com o meu avô; não me ofendia, porque não a
queria perto de nenhum deles. No nosso mundo, não existia

divórcio, mas se minha mãe quisesse, passaria a existir e eu faria


qualquer um engolir as suas opiniões.

— Espero que um dia possa conhecer a sua irmã.

— Quer falar com ela agora? — ofereci e ela assentiu,

arrumando a aparência. Liguei em chamada de vídeo. Isla atendeu,


descabelada, com um bebê gritando no braço. — Olá, irmãzinha.

— Faz tempo que não tenho notícias suas.


— Quero te apresentar alguém. — Virei a câmera e mostrei
Juliana. — Essa é a minha linda, incrível, adorada e magnífica
esposa. — Minha mulher sorriu derretida.

— Oi! Estou tão feliz em conhecê-la! — Isla praticamente

gritou. — Esse é meu filhoGabriel, ele acabou de cair e bater com a


boquinha no chão. — explicou e deu ao menino um picolé. — E
aquele ali riscando a parede, é Daniel. Ele é quieto, mas é arteiro.

— Mostrou um menininho loirinho com um giz de cera nas mãos. —


Eles estão se movimentando com uma rapidez impressionante. Meu

marido não está em casa, mas ele é lindo.

— Isso é você quem diz. — Me intrometi na conversa.

Juliana e Isla não pararam de falar por quase uma hora. Isla
era o tipo de pessoa que não parecia ter o DNA Rafaelli nas veias,

porque ela era feliz, esfuziante, sempre de alto astral e capaz de


deixar até as piores pessoas de bom humor. Como a minha mulher

estava amuada, ela não mostrou o seu usual humor, mas estava
rindo, o que para mim, era mais importante que tudo.

Quando encerrei a chamada, ela me olhou.

— Adorei a sua irmã. — Me deu um beijo. — E é muito legal

que você a proteja. Você diz que não, mas tem um bom coração.
— Meu coração é só seu. — Olhei a hora. — Temos que ir
para a sua consulta.

— Não sei se quero ouvir o que o médico tem a dizer.

— Não importa o que seja, vamos superar juntos. — garanti.

Se ela não pudesse conceber naturalmente, nós iríamos adotar, ter


uma barriga de aluguel, qualquer procedimento possível para

termos nossos filhos e construir nossa família.

Tranquei o meu escritório, para que ninguém entrasse ali e


mexesse nas minhas coisas, mesmo espalhadas e quebradas.

Carina estava estudando na mesa da cozinha, ela estava correndo

com os seus exames finais para a sua aplicação, mas ao contrário


de antes, devido ao seu relacionamento com Alessio, ela não queria

mais ir embora para a Itália. Avisei a ela que iríamossair e ela sabia

as regras. Eu não era o idiota enganado que ela e Alessio não

estavam sendo íntimos, mas não seria dentro da minha casa. Eu era
legal e moderno, mas não muito.

— Posso sair para jantar com ele? — Carina me pediu e a

tradução era: volto amanhã. Ela pensava que eu não sabia que ela
dormia no apartamento de baixo. Emerson ficava espumando pela

boca, mas ele era outro que dormia direto no apartamento de Linda.
Não gostava de Linda, ela era tagarela, boca suja, opinativa,

mas a sua presença nos últimos dias deixou a minha mulher feliz e
eu estava aceitando qualquer coisa que fizesse Juliana feliz. Linda

tinha um passado, seu nome não era verdadeiro, ela assumiu uma

nova identidade há alguns anos, fugindo do pai, um cafetão abusivo


que tentou vendê-la aos quinze anos.

Juliana trocou de roupa e enquanto terminava de se

arrumar, planejei um momento a sós mais tarde. Precisávamos de

um tempo sozinhos e talvez não seria tão ruim sairmos por um final
de semana. Pensando rápido, liguei para Marcus e para Ilaria, eles

precisariam segurar as pontas, porque eu ia levar a minha mulher

para sair.

Meu casamento precisava desesperadamente de uma


pausa da nossa vida.

Dirigi em silêncio, toda hora mexendo no meu telefone,

organizando uma viagem surpresa e enquanto estávamos na rua,

Carina arrumou as nossas coisas com a ajuda de Linda. Quando


chegamos à clínica médica, fiquei respondendo as mensagens e

lidando com Juliana roendo as unhas de ansiedade. Perdi as contas

de quantas vezes tirei a sua mão da boca.


Com os exames em mãos, entramos na sala do médico e

começamos a consulta com tranquilidade. Juliana relatou que não

sentia mais nada, já tinha passado mais de um mês do aborto, ela


repetiu um monte de exames e felizmente, ele nos deu a boa notícia

que estava tudo bem com todo seu aparelho reprodutivo e em

alguns meses poderíamos tentar uma nova gestação. Ele não nos

aconselhava a tentar imediatamente, então ela voltaria ao


contraceptivo.

— Estou aliviada que nada vai nos impedir de ter filhos no

futuro. — Juliana segurou a minha mão no carro. Seu sorriso me

deixou leve. — Não quero tentar imediatamente... Não até isso tudo
passar, mas se for inevitável, ficaremos felizes...

— Com toda certeza. — Beijei a sua mão, concentrado no

trânsito.

— Esse não é o caminho de casa — comentou olhando ao


redor.

— Não é. — Fui propositalmente evasivo.

— Vamos a algum lugar, espertinho? — Me deu um olhar

desafiador.

— Sim...
— Amor, sério. Eu não estou arrumada. — Fez um pequeno

beicinho.

— Está linda e é isso que importa. — Olhei-a e bati em sua

coxa.

Fiquei quieto e ela pegou o telefone, enviando mensagens

para Carina, que também foi evasiva. Tentou pegar o meu telefone e
fui rápido em jogar no chão. Rindo, enfiou as mãos entre as minhas

pernas, tentando pegar e eu quase bati com o carro, como sempre,

andando acima da velocidade permitida.

— Se você não for me dar um boquete, é melhor voltar para


o seu lugar e colocar o cinto de segurança. — Segurei sua nuca e

gritei com a mordida cruel que ela deu na minha coxa.

— Eu vou arrancar o seu pau fora. — Ameaçou me batendo,


mas voltou para o lugar. — Sério, Enzo? Nada de mistérios.

Deixá-la furiosa de curiosidade foi muito divertido. Quando

chegamos a um aeroporto clandestino privado, ela viu o nosso avião

e gritou. Carina estava sentada no capô do conversível de Alessio,


comendo um chocolate. Emerson e Alessio estavam tentando

derrubar o outro no chão. O piloto e a comissária saíram do avião e

a minha esposa me olhou com um brilho feliz no olhar.


— Eu vou te sequestrar até domingo.

— É mesmo?

— Sim... Não iremos tão longe, mas será longe o suficiente

de tudo isso, um momento só nosso. — Desliguei o motor do carro.

— Eu te amo, Enzo. — Ela me deu um beijo nos lábios e


saiu do carro com a sua bolsa, dando vários pulinhos no lugar até

Carina.

Meus irmãos e Alessio não iriam conosco, porque eu queria


privacidade com a minha mulher, mas eles sabiam a regra e

principalmente, como sobreviver com a minha ausência. Juliana deu

uma rápida olhada na bagagem, agradecendo Carina e nós

embarcamos. Como minha mulher ainda não sabia para onde


iríamos, ela não se importou nenhum pouco que era uma curta

viagem até Vermont.

Sobrevoamos por pouco mais de uma hora e tivemos um

pouso tranquilo.

Minha mãe era apaixonada pelo lugar e a nossa família

tinha uma casa na região há muitos anos. Quando meus pais ainda

moravam no país, eles costumavam vir de tempos em tempos. Só


estive ali uma única vez, aluguei um carro quando chegamos no
pequeno aeroporto de Vermont e segui o caminho, guiado pelo GPS

e pelo o que lembrava.

— Vir aqui no inverno deve ser lindo, mas uau, olha quanto
verde. — Juliana estava quase pendurada fora do carro, apreciando

o ar fresco e admirada com a paisagem.

A casa ficava em uma colina e era muito bonita. A senhora


que tomava conta do lugar apareceu timidamente no canto do jardim

e nos esperou descer. Ela pediu desculpas por não ter feito compras

e preparado o jantar para nos receber e Juliana, simpática e

amorosa como sempre, logo a tranquilizou. Nós entramos na casa


sozinhos e demos uma olhada.

— Uau. — Juliana suspirou com a visão da cidade vinda da

parede de vidro da sala. — Meu Deus, olha essa hidro! — gritou

quando viu uma parte da varanda. — É como uma piscina de borda


infinita. — Me deu um olhar. — Nós vamos quebrar o jejum bem

aqui e você que aceite isso. — Sorriu torto.

— Nós não precisamos fazer nada, amor. Não sabemos se


vai sentir dor, só queria uns dias sozinhos, sem toda aquela pressão

e problemas em Nova Iorque.

Juliana fez um beicinho.


— Eu sei que não precisamos fazer nada, mas eu quero. —
Ficou na ponta dos pés e me abraçou. — Sinto falta de estar

conectada a você dessa maneira.

Decidimos ir ao mercado depois de conhecer o restante da

casa. Era a primeira vez em quase um ano de casamento que nós


dois íamos ao mercado. Nunca fizemos algo tão doméstico.

Enquanto empurrava o carrinho, ela escolhia comidas práticas e

gostosas, comprei cervejas e vinho. Com milhares de barras de


chocolate nos braços, finalmente fomos para o caixa e voltamos

para casa.

— O que faremos para o nosso jantar? Comprei tantas


coisas aleatórias... — Sorriu guardando as compras. — Acho que

podemos fazer algumas carnes, cortar os queijos, separar as frutas


e fazer como as pessoas antigas faziam, comiam com pão e vinho.

— Parece ótimo, eu vou descobrir como aquela coisa


funciona. — Apontei para a hidro. — Volto para te ajudar.

Não tinha certeza se estava bem limpo e eu não permitiria


que ela entrasse ali com qualquer tipo de germes, encontrei

produtos de limpeza no armário e limpei todo lugar, ligando o painel


e rapidamente entendendo como funcionava. Ligou sem problemas,
começando a encher, a água batendo e ela me deu o cobertor com
algumas toalhas porque queria ficar bem ali. Criei um ninho
agradável com uma mesinha para apoiar a comida cheirosa que ela

estava preparando na cozinha.

— Acho que está tudo pronto, eu vou subir para me arrumar.

— Não precisa se vestir...

— Cale-se, Enzo — ordenou e sorri. Minha senhora

mandona estava de volta.

Com a hidromassagem aquecida, alinhei toda a bandeja de


comida, as taças, vinho e as frutas com o chocolate derretido. Tirei a
minha roupa, ficando de cueca e enquanto ela estava se arrumando,

verifiquei o andamento dos negócios em Nova Iorque e quase deixei


o meu telefone cair dentro da hidro quando ela surgiu usando um
body de renda vermelho, os cabelos presos no alto e caralho...

— Porra, que gostosa. — Larguei o meu telefone de lado


quando ela pisou próximo a mim e apoiei a sua mão para sentar-se
no meu colo. — Uau, amore. — Olhei para os seus peitos mal

cobertos e atiçados naquela renda bonita. — Acho que não vamos


tirar isso.
Sorriu lisonjeada, beijei o seu pescoço cheiroso bem acima
da sua pulsação e vi que ela pegou o meu telefone e tirou uma
fotografia nossa. Ela estava linda, iluminada e eu mais na escuridão,

com o rosto escondido. Juliana editou de modo que não aparecia a


sua roupa sexy e postou na conta do Instagram que ficava logada

no meu telefone. Ela escreveu na legenda um recado para todos os


nossos inimigos.

Nada pode nos destruir.

— Enquanto estivermos juntos, nada poderá nos destruir —

prometeu e eu sorri, sem tirar as minhas mãos da sua bunda. — Eu


te amo como nunca amei ninguém e quero te agradecer por não ter
soltado a minha mão, por ter ficado na cama ao meu lado e

aguentado todas as minhas crises de choro sem pestanejar.


Qualquer um poderia fugir disso, de expor os sentimentos e de viver
o luto, mas você, mesmo sofrendo, com raiva, foi o meu suporte. —

Segurou o meu rosto e puxei-a para frente, amassando a sua bunda


e tomando a sua boca. — Deus, como eu senti falta dos seus beijos
rudes. — Ela gemeu, arranhando o meu couro cabeludo.

Movimentou o quadril, balançando contra a minha ereção só para


me provocar.
— Não precisa me agradecer, não por isso... Seria um
péssimo marido se não estivesse ao seu lado. A sua dor é a minha

dor. — Coloquei a minha mão no seu coração. — No futuro, vamos


apenas lembrar desse momento como algo que nos fez ainda mais
fortes.

Inclinando-se para o lado, serviu o vinho nas nossas taças e


me entregou uma.

— Um brinde a nós, amore. — Batemos nossas taças


suavemente uma na outra. — Eu não queria me casar com você,

mas hoje, eu me casaria com você mil vezes.

— Só mil? — Fiz um beicinho.

— Milhares de vezes. — Ela ficou séria. — Ainda odeio a


nossa vida e não sei se um dia vou deixar de odiar, odeio o que

você faz, mas eu amo você.

Eu nunca considerei não ser quem eu era. Nunca passou

pela minha cabeça que um dia desejaria não ser. A ideia de uma
vida fora da família era absurda, até que eu a conheci e a amei. A
realidade que eu facilmente deixaria essa vida por ela me deixou

tonto. Sabia que a amava e não me preocupava em negar ou lutar


contra o sentimento, mas eu não fazia ideia da profundidade do meu

amor por ela.

Juliana era a minha vida.

Eu daria tudo que tinha e toda a minha existência por amor a


ela.

Ela era a minha fraqueza e os meus inimigos sabiam disso.


Quarenta | Enzo.

Soquei o rosto de Emerson e ele caiu no chão, porque estava

distraído olhando a bunda de Linda malhando com Juliana do outro


lado da academia do prédio. Ele riu, levantou e tentou me derrubar.

Apesar de ele ser maior que eu, era um tonto por causa de uma
bunda.

Linda era realmente bonita, alta, loira, do tipo que não levava
desaforo para casa. Ensinar-lhe defesa pessoal era um pesadelo,

sempre terminava mordido ou arranhado, mas pelo menos ela


mostrava que sabia bater.

Já Juliana estava indo muito bem nas aulas. Ela era focada,

concentrada e eu costumava brincar que exceto quando estávamos


a sós, ela parecia ser outra mulher no treinamento. Quando
treinávamos sozinhos, sempre acabava em sexo. Não importava o

quão furiosa ela ficasse comigo, passou a ser uma coisa nossa, tirar

um tempo no tatame para aprender novas técnicas e fazer sexo


gostoso, não muito proibido, na academia do nosso prédio.

Terminei de lutar com Emerson e peguei a minha toalha,

secando o suor. Estava um dia nublado e chuvoso, mas em casa

era motivo de festa. Era aniversário de Juliana, que ao contrário de


mim, amava comemorar o seu. Ela estava completando vinte e dois

anos e em alguns dias, completaríamosum ano de casados. Tudo o


que podia dizer era que o tempo passou rápido demais e mesmo

assim, muitas coisas aconteceram.

Ainda assim, ela estava de pé, sorridente, exibindo a sua

coxa torneada e inchada da malhação para a sua amiga. Soltei uma


risada para a dancinha feliz que ela fez e olhei para a sua bunda.

Nos últimos meses, ela se dedicou em malhar. No fundo, sabia que

o motivo pelo qual Juliana estava dedicando-se tão intensamente


aos treinos, comigo e com Kyra, era porque não queria sentir-se

indefesa. Eu ainda odiava que ela aprendesse a lutar com facas e a

atirar.

Surtei quando Alex a levou para um prédio alto e ensinou-

lhe a usar um rifle de longa distância. Ele era um dos melhores

snipers que eu conhecia e Juliana era muito boa. Ela me

surpreendia a cada maldito segundo e me fazia andar na ponta dos

pés por dias quando ficava furiosa. A garota que eu conheci se


tornou uma mulher feroz em um ano. Ela desabrochou, com uma

surpreendente força e tenacidade. Mesmo me deixando maluco, eu

gostava do seu jeitinho mandão.


— Ei, amor — chamei ao ver a mensagem no meu telefone.
— Volto a tempo da sua festinha.

— É melhor mesmo. — Me deu um olhar de aviso e sorri,

soprando um beijo, sendo debochado. — Estou falando sério.

— Sim, senhora. — Bati continência.

Sinalizei para Emerson me seguir, ele foi correndo dar um

beijo em Linda e ela gritou por ele estar todo suado, mesmo assim,

eu a vi sorrir como uma garotinha quando ele saiu correndo na

direção dos elevadores. Eles estavam me dando cáries. Eram piores

que Carina e Alessio.

— O que aconteceu? — Emerson tirou a camisa e secou o

suor.

— Vamos ter uma conversinha com uma pessoa intrometida.

— Não dá tempo de tomar um banho?

— Você vai ficar todo sujo de novo, qual a vantagem? — Dei

de ombros. Joguei a chave do carro na sua direção. — Dirige e

rápido. Não quero perder tempo.

Mika já estava nos esperando no nosso velho galpão, quase


na saída da cidade e eu saí do carro sem camisa, olhando para o
merdinha amarrado na cadeira.

— Ele caiu contra os seus punhos, Mika? — Arqueei a

minha sobrancelha, rindo do rosto inchado do idiota.

— Ele mijou o porta-malas do meu carro. — Mika estava


irritado.

— Que horror. — Puxei uma cadeira. — Então você é

homem o suficiente para fazer ameaças à minha mulher na internet,


mas mija de medo na primeira oportunidade? Eu não te avisei para
ficar longe, caralho?

— Quem vocês são? — Ele estava cagando de medo.

— Eu sou o pesadelo que você deveria ter deixado quieto.


Eu sou aquele que te avisou que se continuasse seguindo a minha
mulher pela cidade, iria quebrar os seus dedos. A minha paciência

esgotou e eu vou quebrar você em milhares de pedacinhos! —


Empurrei a minha faca na sua barriga. — Quem está te pagando

para soltar notícias mentirosas sobre a minha esposa?

— Não sei, cara. O cheque é colocado na minha caixa de

correio e eu público o que a pessoa manda colocar... As fotos foram


só porque ficou divertido ter todo aquele dinheiro para fotografar
uma patricinha. — Ele gemeu. — Por favor, não me mate —
implorou. — Não sabia de nada, eu não sei de nada. As

informações eram passadas, eu conheci um homem na Sbiten e ele


disse que tinha esse trabalho de ser fonte, de postar coisas na

internet sobre pessoas famosas e espalhar fake news.

— Obrigado pela sua colaboração.

Me afastei e ri do seu suspiro aliviado, como se ele fosse


ficar vivo depois de ser pago pelos russos para espalhar merda

sobre a minha mulher na internet. Eles estavam me irritando tanto


que naquela noite, eu iria foder algumas coisas para eles.

— Quero que rastreiem a informação, descubram o


recrutador e essa noite, a Sbiten vai ter as portas fechadas — falei

com o Mika. — Emerson... cuide disso e não se atrase para o jantar.


— Apontei para o homem.

Liguei para Ângelo, porque queria o nome do aliciador em


horas. Voltei para o carro, dirigindo pela cidade e passei em alguns
lugares antes de voltar para casa. Parei na joalheria e o vendedor

que me atendia saiu com a caixa, dei uma olhada conferindo o meu
presente e guardei, já estava pago e depois, passei na floricultura

pegando o enorme buquê de rosas brancas para a minha senhora


aniversariante.
Ângelo me ligou quando eu estava a caminho de buscar
Emerson.

— Eu já encontrei, o que você quer que eu faça?

— Peguem-no e amanhã faremos algo, hoje não quero

ninguém atrasado para o aniversário dela. — Encerrei a chamada.


Emerson saiu do balcão com os braços vermelhos. — Porra, o que
você fez?

— Ele soltou um monte de coisas e eu aproveitei para ouvir.

— Olhou para as flores e riu, espirrando. — Tenho alergia a essa


merda — reclamou e ignorei, foda-se. — Enfim, ele disse onde os
russos estão vendendo Ox.

— Ox? Os putos estão vendendo Ox? Certo.

— Vamos roubar? — Espirrou de novo e ri.

— É claro. Não autorizei ninguém a vender Ox na minha


cidade. — Dei de ombros e acelerei de volta para casa.

Não queria que Emerson fosse interceptar essa carga de

Ox, porque foi uma das primeiras coisas que ele começou a usar e
desde que começou a namorar a Linda, não fumava nem maconha.
Estava mais focado, menos irritante, se dedicando a sua parte do
trabalho e finalmente sem me deixar maluco procurando-o pela
cidade, pensando que estava morto em algum lugar com overdose.
Não ia ser a porra do Ox que iria tirá-lo do foco novamente.

Emerson foi direto para o seu apartamento e eu entrei de

fininho no meu. Juliana estava no quarto, Renata e Susana


terminando de preparar todas as comidas para mais tarde e Alessio
arrumava as bebidas. Guardei as flores e as joias no meu escritório,
subindo as escadas e empurrando a porta do quarto para bater

contra a parede. A maçaneta fez um estalo alto e ela enfiou a

cabeça fora do closet.

— Está com algum problema, idiota? — Cruzou os braços.

— Que palhaçada é essa de ficar me ligando para me

apressar na rua? — gritei e ela bufou, dando as costas, não antes

de erguer o dedo médio. — Eu já te falei que quem manda nessa

casa sou eu.

— Foda-se. — Cantarolou e tirou a roupa de ginástica,

soltando o cabelo e indo até o banheiro. Arranquei o meu calção,

ficando nu. — Não quero você aqui no banheiro. — ordenou e eu ri.

— Já fizemos sexo suado hoje? — questionei e ela riu,


tentando me empurrar. Pressionei-a contra parede. — Pelo que me
lembro, só foi de ladinho de manhã cedo. — Ataquei as suas

costelas, fazendo cosquinhas, ela riu e me agarrou. Abaixei o meu


rosto bem na altura do seu peito, chupando o biquinho rosado.

— Enzo... estou toda suada.

— Você não se importa quando a gente fode na academia e

vamos tomar banho logo em seguida. — Agarrei a sua bunda e a


coloquei sentada no balcão. — Quero te foder tão gostoso agora. —

Mordi o seu ombro.

— Foda de aniversário? — Ela riu e virou de costas,

empinando a bunda. Agarrei ambas as bochechas, dando um tapão


de mão cheia e ela gritou, me xingando, afastei as suas nádegas e

esfreguei a cabeça do meu pau nas dobras.

— Você vai gritar, amore? — Belisquei seu mamilo. — Vai


gemer gostoso? — provoquei o clitóris, estimulando o suficiente

para ficar lubrificada e ela fechou os olhos, jogando a cabeça para

trás. Chupei seu pescoço para deixar marca.

— Filho da mãe! — gritou e me arranhou. — Porra, Enzo!


Um chupão no dia da minha festa? — Me bateu e devagar, meti

gostoso. — Ah, eu te odeio. — gemeu.

— Não, você me ama. — Que gostosa.


— Bruto.

— Você quer bruto?

— Sim. — Me deu um olhar desafiador. — Vai aguentar?

Sorri, mordi seu ombro e agarrei o quadril, fodendo do jeito

que ela gostava e perdia totalmente a cabeça. Ela caiu um pouco


sobre a pia, escorregando e os nossos gemidos ecoavam tão alto

no banheiro que eu não duvidava que não estivessem sendo

ouvidos pelo restante da casa. Juliana gozou gostoso, me


apertando, se contorcendo e caiu mais para frente. Puxei meu pau e

ela gemeu, me encarando.

Peguei-a bruscamente, coloquei na pia, espalhando suas

pernas abertas e voltei para o meu lugarzinho favorito, dessa vez,


com a sua boca incrível ao alcance da minha. Eu conhecia pessoas

que não gostavam de beijar. Esses filhos da puta não sabiam o

quanto era incrívelfoder beijando, pelo menos, eu tinha certeza que


tudo entre nós era incrível. Gozei dentro. Cada vez que gozava

dentro dela, inevitavelmente mentalizava a vontade de termos filhos

que estava adormecida e um plano que descansava na gaveta.

— Feliz aniversário, amore mio. — Beijei-a


apaixonadamente. — Que possamos comemorar muitos anos
juntos. Mil anos ao seu lado ainda não seriam o suficiente.

— Eu te amo. — Ela falou baixinho.

Tomamos banho e me joguei na cama, observando-a se

arrumar. Ela andou pelo quarto, se hidratando, perfumando, fazendo

o cabelo, passando maquiagem e usando um conjunto de lingerie

que faria questão de tirar com os dentes mais tarde. Quando ela
vestiu o apertado e curtinho vestido preto, começando a colocar as

suas joias, quase pedi que não colocasse um colar, mas estragaria

a surpresa. Me vesti com calma, levando muito menos tempo que


ela e saímos do quarto juntos.

Segurei a sua mão, impedindo de seguir para a sala, onde já

podia ouvir vozes e provavelmente nossa família já estava lá.

— Pode vir no escritório comigo? Eu quero te mostrar um


contrato.

— Hoje? Pedi nada de trabalho hoje — reclamou e me

seguiu.

— Já disse que está muito gostosa nesse vestido? —


Estapeei a sua bunda quando passou na minha frente e abri a porta.

Ela arfou com o buquê. — Gostou?


— Eu amo os buquês extravagantes. — Pegou o cartão e

leu com calma. — Ai, amor. Que fofo. — Fofo? Revirei os olhos. —

Ah, pilantra. — Terminou de ler. — Você tinha que estragar uma

declaração fofa com uma putaria, não é? — Me bateu de leve e me


deu um beijo.

— Espero que combine com a sua roupa. — Peguei a

caixinha de veludo e abri. Ela arfou e levou as mãos para o

pescoço.

— Ai, cacete. Eu sou louca pela sua predileção por

diamantes. — Soltou um gritinho e virou de costas. — Coloca em

mim. — Pediu e rapidamente tirei o que ela usava e coloquei o que


comprei. Era um fino colar de ouro branco com três pedrinhas de

diamantes, unidas e que aparentavam ser um coração. Era delicado

e bonito. — Uau, olha que lindo. — Tocou o colar. — Você sempre

acerta com os presentes. — Me deu um olhar empolgado. —


Obrigada.

— Tudo por você.

Aparecemos na sala onde Linda estava servindo alguns

salgados para Antônia e Ilaria. Marcus e Emerson serviam as


bebidas. Carina estava mexendo no som, enquanto Alessio e
Angelo pareciam discutir, o que não era novidade. Eles viviam

discutindo. Desde que Maurizio morreu, Ângelo se tornou o meu


conselheiro. Pensei em Marcus, mas ele e Ilaria não ficavam

separados, então eu não podia contar com o meu conselheiro sem

as intromissões da minha prima.

Ângelo era calmo e sabia que era melhor não tentar colocar
ideias erradas na minha cabeça. Desde o ataque, ele e Antônia se

aproximaram. Eu sabia que era questão de tempo até que ele me

pedisse a mão dela em casamento.

Não agradou muito colocar o meu primo como conselheiro,


mas depois que Maurizio foi escolhido por política e me apunhalou

nas costas, não ia cometer o mesmo erro. Ângelo pensaria umas

trinta vezes antes de tentar me trair, porque eu conhecia toda a sua


vida.

Juliana passou a noite bebendo, sorrindo, brincando, tirando

fotos e mostrando que era uma mulher inquebrável. Ela tinha uma

força e resiliência admirável. Passamos a noite comemorando o seu


aniversário e o bolo de chocolate estava uma delícia. Quatro da

manhã, levei a minha esposa muito bêbada, querendo ficar pelada e


transar a todo custo para a cama, mas eu não era maluco e a
coloquei para dormir.

Sem sono e sóbrio, saí com Ângelo e Alessio, deixando

Emerson em casa com Stefanio fazendo a segurança da cobertura.

— Pegaram a carga? — Entrei no galpão e Mika estava


abrindo caixas de madeira. — Ox... Os laboratórios de Chicago

ainda produzem, mas essa merda é perigosa, alastra muitas

overdoses e chama atenção da polícia para os nossos pontos de


venda. Eu não quero essa merda na cidade.

— O que vamos fazer?

— Desaparecer com essa merda antes que os russos

espalhem isso nas escolas e eu tenha que pagar um dinheiro alto


para a polícia deixar os meus pontos de droga em paz. — Mika

assentiu, conferindo os frascos. — Sei que cada comprimido vale


vinte mil... Mas não vai cobrir os custos de um escândalo de uma

escola cheia de patricinhas consumindo essa merda.

— É uma pena, mas vamos triturar tudo e desaparecer. —

Angelo fechou a caixa.

Mika e outros dois pegaram as caixas e saíramcom Ângelo.


Enviei uma mensagem para Kyra pesquisar sobre isso. Tudo
que eu não precisava no momento era das autoridades me
enchendo o saco. Eu tinha que lidar com os ratos russos passando

drogas pelos bueiros do meu território.


Quarenta e um | Juliana.

Meu aniversário foi tão espetacular quanto o do ano anterior,

mesmo com poucos convidados, eu me diverti; e fazer tudo de


maneira privada deixou a comemoração ainda mais intensa. Bebi e

dancei, rebolando com as minhas músicas favoritas e comi tudo o


que a Renata e Susana prepararam com muito carinho.

Enzo me deu um lindo colar de diamantes e um buquê de


flores que decorou a nossa casa por vários dias. Depois de

semanas sem conseguir me dedicar ao vinhedo, ainda me


recuperando de todos os acontecimentos, voltei a trabalhar
normalmente e cumpria um expediente de trabalho como qualquer

pessoa, exceto nos dias que Enzo precisava de mim, quando ia


treinar ou quando acordava morrendo de cólica e me recusava a
sair da cama.

Trabalhar me fazia sentir útil e era algo que Enzo não

gostava, ele não me queria trabalhando, mas chegamos ao ponto


em que ele simplesmente aprendeu a respeitar o meu espaço e as

minhas necessidades. Eu tomava muito cuidado em não me impor

demais na frente de outras pessoas, porque não queria que vissem


meu marido como um homem fraco, concordando ou não.
Todas as minhas decisões eram exclusivas sobre o vinhedo,

principalmente na parte criativa, que era a minha favorita. Lançamos


uma safra especial para o aniversário de sessenta anos do vinhedo

e foi muito bem recebido, tivemos milhares de pedidos em todo o

mundo e um faturamento estrondoso, com uma boa margem de


lucro. Em compensação, Enzo aproveitou esse envio para

transportar o contrabando que conseguiu. O preço para a nossa

carga não ser extraviada, roubada ou apreendida era muito alto.

Felizmente, o cunhado do meu marido, Callum Lowell,


conseguia manter as nossas coisas a salvo em uma grande rota, a

família em D.C. coordenava muitas estradas e o território do meu

marido era vasto, mas ele tinha um bom controle sobre isso. O que
ia para a outra metade do país, território de Damon, era ainda mais

controlado. Eles agiam de uma maneira muito diferente, muito mais

sanguinários e rancorosos do que o lado de cá, que, com muitos

olhos sobre nós, precisávamos agir mais politicamente e,

principalmente, silenciosamente.

Em Chicago, a máfia era lei.

— Cadê o controle? — Enzo invadiu a minha sala na

empresa, procurando o controle da televisão. Entreguei a ele,


assustada com sua atitude. Ele ligou e logo colocou em um
noticiário. — Caralho.

— O que aconteceu? — Fiquei de pé e olhei para a tela,

chocada. — Meu Deus, que horror! — As imagens nem pareciam

que era algo aqui no país. Um atentado a bomba em um evento

para arrecadar fundos a uma organização que cuidava de fuzileiros.


Uma família muito importante na política e que fazia parte da nossa

sociedade foi gravemente ferida. — Não é ele que tem uma filha

pequena? — Toquei seu braço.

— Eu não sei se ela estava junto. — Enzo estava chocado.

— Era um evento familiar, eu não duvido muito.

As imagens eram tenebrosas e me deixaram muito

assustada. Alguns minutos depois, ficamos sabendo que o Senador

Vaughn estava em um outro evento com a esposa onde a segunda

bomba explodiu, mas eles não estavam feridos como o filho e a


[viii]
nora. Não havia informações se a filha de Vincent Vaughn estava

lá. Os vídeos dele gritando por sua esposa e por uma irmã, que
ninguém sabia qual era, eram horríveis.

— Devemos fazer alguma coisa?


— Kyra vai lidar com o que tivermos que fazer. — Enzo me

abraçou apertado. — É simplesmente horrível.

— Espero que eles fiquem bem — comentei olhando a tela.

— Ela é tão bonita. Vi as fotos do casamento dela e foi uma noiva


realmente impressionante. Uma família linda.

— É muito estranho, eles são muito famosos e é uma


completa estupidez fazer algo que vai atrair tanta atenção —

comentou ainda incrédulo, já assumindo que o ataque foi para


machucar especificamente os Vaughn, mas isso era meio óbvio,
considerando que as duas explosões envolviam diretamente os

membros da família.

— Não é ideal que fuxiquem demais a vida dos Vaughn. —


Cruzei meus braços e me encostei na parede. Enzo diminuiu o

volume. — Fizemos um pagamento para eles não tem uma


semana...

— Kyra é muito bem paga para isso, ela vai lidar com

quaisquer eventualidades não previstas, não se preocupe. — Ele


virou e me deu um beijo nos lábios. — Tenho que sair. Te vejo à

noite para o jantar.


Foi difícil voltar a trabalhar, não consegui me concentrar, o

tempo todo olhando a televisão e querendo saber notícias de


pessoas que eu não conhecia pessoalmente, mas sabia muito bem

da existência. Carina me ligou, pedindo que fizesse companhia no


salão e como precisava fazer as minhas unhas, arrumei as minhas

coisas e a encontrei no salão junto com Linda. As duas ainda


brigavam muito, mas eu percebi que era o estilo de relacionamento
que elas queriam construir.

— Emerson disse que vai se mudar para o meu

apartamento. — Linda comentou e me olhou. — Eu não sei se estou


preparada para essa coisa toda de morar juntos, porque é muito
recente, mas eu sinto muita falta dele quando não estamos perto um

do outro.

— Ai que fofo, eu vou vomitar. — Carina revirou os olhos. —

Se Emerson receber autorização de morar junto com a namorada,


eu também vou querer. Não vou aceitar esse machismo.

— Não me arrumem problema, é tudo que eu digo. —


Determinei e as duas assentiram, preocupadas com a minha

bronca. Eu as amava muito, mas não tolerava mais algumas coisas


que pudessem me tirar do sério.
Conviver com Linda e Carina me fazia sentir menos solitária.
Elas me acompanhavam em tudo e me incentivavam, tínhamos
muitas noites de meninas quando os nossos companheiros estavam

trabalhando e nas noites tranquilas, íamospara a JR, a nossa boate


favorita. Não negava que a vida ficou ainda melhor na companhia

delas, que se tornaram as minhas melhores amigas.

Ao chegar em casa, Carina mal colocou a bolsa no quarto e

foi para o andar inferior, ficar com Alessio já que Emerson estava no
apartamento de Linda, que passou a trabalhar como a nossa

personal stylist particular. Ela era responsável por vestir a todos,


manter as nossas roupas alinhadas e perfeitas. Enzo arrumou uma
ocupação para a sua nova cunhada, embora ele não gostasse muito

dela.

Tomei banho, troquei de roupa e fiquei fresquinha com uma

roupa confortável. Olhei o jantar e estava faminta, comi pouco o dia


inteiro. O filé parecia suculento. Abri uma garrafa de vinho e enchi a

minha taça até a boca, precisando relaxar.

— Amor? — Enzo jogou as chaves na mesa. — Cheguei,

gostosa.
— Estou na cozinha. — Bebi um pouco do meu vinho. Ele
apareceu e me deu um beijo, apertando a minha bunda, me fazendo
rir.

— Deliciosa. — Saboreou os meus lábios. — Vou tomar

banho.

— Já vou servindo os nossos pratos, porque estou faminta.

— Avisei e ele assentiu. — Alguma notícia dos Vaughn? — Chamei


antes que saísse da cozinha.

— Eles se machucaram e Kyra está lá, junto com outra

associada nossa, aquela advogada que te apresentei no churrasco

de quatro de julho do Senador Vaughn. — Ele comentou e lembrei

de Sienna Miller[ix], uma mulher baixinha que tinha o futuro subchefe


de D.C. na palma da mão.

Enzo e eu passamos muito rapidamente no churrasco, não

consegui conhecer Vince e a esposa, que foram feridos no ataque

mais cedo, porque eles estavam fora, viajando em lua de mel.

Esperei Enzo se lavar para começarmos a nossa noite

tranquila, arrumando a comida e pensando na organização do jantar

de ação de graças. O tempo era uma coisa realmente louca na vida

tortuosa do homem com que me casei. Havia semanas tranquilas,


que podíamos ficar sozinhos, namorar muito e dias que mal nos

víamos, era muito difícil manter um contato até por mensagem.

O tempo era gentil em sua passagem e diferente do ano

anterior, eu me sentia muito mais segura em relação ao nosso

casamento. Não me preocupava se ele estava com mulheres,

apenas se ele voltaria para casa inteiro e deitaria ao meu lado, me


abraçando apertado e sussurrando “Amor, cheguei. Eu te amo”.

Assim, eu voltava a dormir tranquilamente.

O natal continuava sendo a minha época favorita mesmo com


os acontecimentos do ano anterior. Dessa vez, o apartamento não

estava absurdamente decorado. Enzo aprendeu a lição. Ele não

reclamou e ainda me ajudou a montar a árvore. Era melancólico

pensar que eu estaria quase parindo nessa época do ano, mas nós
ainda não tínhamos decidido tentar novamente.

Tínhamos tempo, porque eu era jovem, com muitos anos de

fertilidade à frente. Não queria ter um bebê para substituir outro.

— Algo cheira bem aqui. — Enzo entrou em casa. —


JULIANA! — Ele gritou e eu revirei os olhos. Ele estava na semana

que seu humor ficava insuportável. Larguei as guirlandas que estava

confeccionando, saí do meu lugar no chão e peguei um pequeno


vasinho de cristal que ficava em cima da mesa. — O que eu

mandei?

— O quê, idiota?

— Você tem que ficar aqui na porra dessa porta de joelhos,


me esperando chegar e dizer “oi meu marido lindo, estou louca para

te chupar”. — Ele gritou, batendo na mesa e revirei os olhos. Eu

tinha que tirar paciência do útero para aguentar aquela criatura. — E

você não está aqui.

— Alguém já mandou você se foder hoje? — Coloquei

minha mão na cintura.

— Quer foder? Sexo natalino. — Ele tirou um gorro do

bolso. Soltei uma risada alta, era impossívelnão rir de suas merdas.
Ele colocou o gorro na cabeça e começou a tirar a roupa.

— Ei, se controla! Eu não vou dar para você agora, estou

ocupada com as minhas guirlandas e não estamos sozinhos em

casa. — Dei as costas. Ele andou atrás de mim com aquele gorro
estúpido e quase pisou nas minhas flores. Eu o empurrei para longe,

rindo, e ele sentou-se atrás de mim, me abraçando. — Feliz natal,

senhora dona da porra toda. — Ele me deu um envelope e


rapidamente abri. — Seu novo saldo bancário.
— Uau. Adoro meu marido que lava dinheiro e me faz uma

mulher rica. — Sorri e ele beijou o meu pescoço. — Ah, o cheiro


bom é pão. Assei aqueles pães de canela com açúcar e fiz cannolis.

— Eu amo a minha mulher cozinheira.

— Não vá se acostumando, essa semana eu não fui

trabalhar porque me dei o luxo por ser natal, mas eu vou voltar a
trabalhar logo que as festividades passem. — Continuamos

abraçados no chão. — Tudo certo para a festa da boate hoje?

— Sim, passei lá e está tudo pronto.

— Sem surpresinhas esse ano, Enzo?

— Se tiver, você vai saber.

— Ótimo.

Terminei as guirlandas com ele em cima de mim o tempo

todo. Arrumei-as nas cadeiras e a minha casa estava finalmente

linda e pronta para a véspera do dia seguinte. Susana se despediu


quando terminou o horário, convidei Enzo para comermos os pães

com um café.

Carina estava com Alessio fazendo compras para o natal de


última hora, Emerson estava no apartamento de Linda fazendo o
que eles faziam o tempo todo e eu aproveitei o meu raro momento

sozinha com meu marido fora do quarto para fazermos algo tão

simples quanto comermos juntos.

— Eu sou viciado nessa merda. — Ele comeu quase todos


os pães e lambeu os dedos sujos de açúcar. — Nem parece que

essa coisa é frita e enrolada no açúcar.

— É uma bomba calórica — comentei, bebendo o meu café.

— Eu posso. — Ele ergueu a camisa, mostrando os seus


gominhos, esfreguei a minha mão na sua barriga e sem querer,

deixei cair em seu colo. Ele rapidamente pegou e beijou a palma. —

Falando sério agora... Você está bem?

— Estou bem e você?

— Não consigo não pensar em tudo o que aconteceu ano

passado.

Saído meu banquinho e parei entre as suas pernas, com as

minhas mãos apoiadas nas coxas musculosas.

— É natal, estamos juntos, temos que deixar o que

aconteceu no passado e comemorar o futuro. E se você puder

evitar, eu vou agradecer que seja um natal sem surpresinhas. — Ele


me abraçou apertado e nos beijamos. Seus lábios estavam com um

gostinho delicioso de açúcar e canela. — Que tal descansarmos um


pouco para mais tarde? Precisa sair?

Ele me deu o olhar suave que eu amava de todo o meu

coração.

— Não precisamos sair, apenas tirar a roupa e cair na cama.

Eu não podia me sentir mais feliz. Enzo me deu um lindo


carro de presente de natal. Um Porsche vermelho incrível que eu

queria sair para dar umas voltinhas no mesmo instante. Fomos para

a festa juntos, nos divertimos, dançamos, bebemos...

— Eu quero você. — Beijei o pescoço suado e mordi sua

orelha.

— Juliana... — Ele gemeu, me empurrando contra a parede

de um corredor vazio. — Porra, mulher. Eu não tenho camisinha —


comentou, porque sempre que a gente fazia sexo na sala, eu optava

pela camisinha para não ficar toda bagunçada.

— O banheiro é aqui perto — cochichei, abrindo sua calça.

Ele riu e olhou ao redor, conferindo se estávamos sozinhos. Todo o


amasso e pegação na pista de dança me deixou maluca e ele bem

duro. — Vem, amor.


Enzo me pegou, erguendo-me no lugar e meteu fundo, soltei
um grito e envolvi as minhas pernas em sua cintura, usando o

suporte do extintor de incêndio para não cair. Foi o melhor sexo

louco e alucinante de natal. Ele não se importava quando a gente


transava na sala ou em algum escritório vazio, mas no corredor, foi

a primeira vez e eu sabia que ele estava excitado demais para

negar.

— Você é maluca. O que eu fiz com o meu anjinho


inocente? — Ele riu e tirou o cabelo grudado no suor da minha testa.

Fiquei de pé com as pernas bambas.

— Me perverteu, safado. — Sorri e nos beijamos. —


Preciso ir ao banheiro.

Dei uma corridinha engraçada nos meus saltos para o

banheiro feminino e estava vazio, porque aquele lado era apenas da


área vip e naquele ano, a festa contava com menos cem pessoas
que o ano anterior, a maioria usava o banheiro próximo à pista de

dança. Me limpei, ajeitando a minha calcinha no lugar e voltei para o


corredor. Enzo estava encostado na parede, parecendo perfeito e
com os cabelos que eu baguncei no lugar.
Um ano atrás, naquela mesma data, ele estava cometendo
um duplo assassinato, usando a minha festa como álibi. Naquele
ano, ele ficou ao meu lado, aproveitando e ainda pagamos de

loucos em um corredor... Ser feliz e agir como um casal normal sem


preocupação e com alvos desenhados na testa era um dos meus
momentos favoritos.

A nossa vida era muito louca e eu não trocava por nada no


mundo, muito menos pela vida inocente e cheia de mentiras que eu
tinha antes.

— Dominic e Kate acabaram de chegar. — Ele me avisou

logo que voltamos para a pista de dança e eu vi o casal se


aproximar. Dominic segurava a mão de sua noiva, que diferente da
primeira vez que nos encontramos, estava exuberante e sexy. Kate

estava com um vestido vermelho, exibindo seu corpo torneado e os


longos cabelos escuros jogados para o lado.

Eram impressionantes juntos. Dominic era muito bonito e


Kate tirava o fôlego, mesmo jovens, eles aparentavam ser pessoas
com muito dinheiro e poder. Eles não estavam sozinhos, as três

irmãs de Dominic estavam logo atrás. A mais velha, Olivia, estava


de mãos dadas com o noivo, Luke, que conheci em Paris antes do
meu casamento. Cumprimentei-os com um abraço e os levei para a
sala vip, apresentando a nossa família.

Quando Dominic se afastou e cochichou algo no ouvido de


Enzo, saindo do camarote, eu vi a expressão confusa e um pouco
irritada de Kate, mas ela não falou nada, voltando a beber sua água

com gás e limão. Eu soube que ela estava no lugar que eu estive no
passado porque daquela vez, a minha festa de natal estava servindo
de álibi para Dominic King agir no silêncio da noite fria de Nova

Iorque.

Pensei em puxar Kate e lhe dar alguns conselhos, mas eu


não podia cruzar a linha e não sabia se ela se sentiria confortável
com uma intromissão.

Esperava que ela se encontrasse e não permitisse ser


atropelada pela vida obscura em que nasceu e pela do homem com
quem estava se casando.
Quarenta e dois | Juliana.

Era a segunda vez que estava caminhando em um tapete

vermelho, daquela vez, não era em uma igreja e sim em um hotel


muito bonito. Alexandria era um dos hotéis de luxo mais bonitos da

cidade e ele parecia um palácio grego, bem no meio da cidade de


Nova Iorque. Fiquei apaixonada ao conhecer os salões principais
antes da cerimônia de casamento de Dominic e de Kate, no qual eu

e Enzo éramos um dos casais de padrinhos.

Parei no meu lugar, um degrau abaixo de Elizabeth, uma


das irmãs de Dominic, e olhei para o meu marido, tão gostoso
dentro de um smoking claro com uma gravata azul escura da

mesma cor do meu vestido. Segurei o meu buquê bem firme e voltei
a olhar para o cortejo da noiva. Dominic estava muito bonito e se
controlando para não parecer tão ansioso. Kate estava

deslumbrante, mesmo jovem, com seu rostinho de menina, o seu

vestido não a fazia parecer muito mais velha ou muito vulgar.

A cerimônia foi linda e algumas lágrimas escaparam dos

meus olhos ao lembrar que há pouco mais de um ano, eu estava

caminhando em direção a Enzo e dizendo sim para a vida mais


insana que jamais imaginei viver. Dominic e Kate foram declarados
marido e mulher; deram um beijo apaixonado de cinema que deixou

a maior parte dos convidados sem fôlego.

Encontrei com Enzo para sairmos da área da cerimônia


juntos e segurei seu braço, apertando um pouco.

— Lembrei do nosso casamento. — Ele cochichou.

— É mesmo?

— Você sempre vai ser a noiva mais bonita de todas. —


Beijou a minha bochecha.

Galante.

Os nossos deveres acabaram depois das fotos. Kate estava

visivelmente menos nervosa e pronta para aproveitar a festa. Assim

como eu, ela entrou sozinha, já que o pai desapareceu há mais de

um ano e não tínhamos certeza se ele estava com o cartel inimigo


que estava associado aos King.

As comunicações foram cortadas e Robert deveria estar

vivendo no mínimo em um local extremamente remoto para não ser

encontrado. Restava saber se ele estava seguindo em frente ou

planejando algo terrivelmente cruel contra a família King –e todos


nós. Encontramos com Alice e Jack próximo ao bar. Kyra e Alex
optaram por não aparecer, porque era um evento muito público e eu
não entendia porque se escondiam tanto, já que todos nós tínhamos

uma vida dupla.

— Foi uma cerimônia muito bonita. — Alice e eu começamos

a conversar. Enzo estava tão tenso que as suas costas eretas

poderiam ser confundidas com uma porta. Ele e Jack estavam muito
mais quietos que o normal e sem trocar as usuais implicâncias, me

perguntei se em público eles não podiam parecer amigáveis demais.

Enzo me levou para circular pela festa e cumprimentar

algumas pessoas específicas. Havia tanta gente importante, com

dinheiro e eu finalmente fui apresentada à Aurora Vaughn[x], que

estava magnífica em um vestido magenta longo, com os longos


cabelos castanhos claros escovados e uma maquiagem perfeita. Ela

e o marido combinavam, agiam de maneira sincronizada e mesmo

quando ela esteve conversando comigo, os olhos dele raramente

desviaram da nossa direção.

Perdi Enzo na festa por uns minutos, enquanto conversava


com a mãe do noivo. Ela estava muito alegre, talvez realmente

gostasse da Kate e aprovava o casamento.


— Vem dançar comigo, Juliana! — Kate me agarrou e me

arrastou para a pista de dança entre as irmãs de Dominic e não


levou dois minutos para o meu marido aparecer e ficar na beira da

pista, de braços cruzados, me vigiando. Sorri e soprei um beijinho.

Depois de dançar com as meninas, puxei-o para a pista de

dança, pedindo que ele relaxasse um pouco e lembrasse que era


um homem jovem, casado, feliz e com tempo de sobra para

vivermos momentos tão bons e divertidos como aquele. Eu o beijei,


sem me importar que muitas pessoas estavam observando o temido

Enzo Rafaelli aos beijos com a mulher. Naquele momento, eu queria


ser jovem e despreocupada.

A festa de casamento de Dominic e Kate ficaria na memória

por muito tempo. Nas semanas seguintes, Enzo e eu vivemos em pé


de guerra com a palhaçada dele sobre Carina passar muito tempo

no apartamento com Alessio, mas eu simplesmente sentia no meu


coração que a nossa vida estava muito calma e rotineira. Eu sabia
que não tínhamos essa sorte de viver um pouco de tranquilidade.

Não era um passeio em um jardim, ainda tinham noites

tensas que ele chegava ferido. Ainda me assustava e me


preocupava, mas fiquei muito boa em costurar os cortes profundos e
cuidar de feridas comuns no meio da noite. Em maio, no aniversário

dele de trinta e dois anos, viajamos para Vermont para


comemorarmos a dois, já que ele ainda se recusava a ter qualquer

comemoração com a nossa família.

— Eu estava pensando... — Ele comentou, deitado no chão

próximo à hidro, o nosso lugarzinho favorito na casa, porque tinha


uma visão espetacular para um monte de verde e o jardim bem

cuidado. — Vamos sair de lua de mel?

— Lua de mel? Vamos completar dois anos juntos, seu bobo.

— Ergui a minha cabeça, com preguiça de viver após uma noite de


sexo maravilhosa. O dia estava quase amanhecendo. Olhei para
seu rosto e ele parecia estar falando sério. — Sério mesmo? —

Fiquei empolgada.

— Talvez um lugarzinho de praia. — Ele sorriu. — Estou


ansioso para te ver com um biquíni enfiado na bunda.

— Eu adoraria, amor. — Beijei o seu peito. — Algum lugar em

mente?

— Tenho uma fraqueza pela Polinésia Francesa.

— É um sonho conhecer.
— É um lugar que você viveria? — Voltei a olhar para o seu
rosto. Ele estava maluco? Como nós poderíamos viver em um lugar
de praia para sempre? — Muita paz, tranquilidade e uma vida

segura.

— Não posso te imaginar vivendo da pesca e sem estar


envolvido no nosso negócio. Essa vida é o que te faz, eu sei que
nunca vou amar, mas já aceitei. Inimigos vão vir e vão cair, tudo o

que me importa é quando você volta para casa inteirinho para o meu
bel prazer. — Sorri e escorreguei um pouquinho para baixo. — Se

você parar com esse assunto melancólico, eu vou te chupar.

Enzo sorriu do jeito que fazia o meu coração acelerar e as


borboletas no estômago sobrevoar. O pior de tudo é que não era um

sorriso romântico, era bem safado.

Voltar para casa depois de um tempo juntos era uma


ansiedade. Eu nunca sabia que bomba estava nos esperando e

daquela vez, era Carina e Alessio aos gritos no apartamento que


Alessio estava morando sozinho, desde que Emerson se mudou
para o de Linda, alguns andares abaixo. No elevador eu podia ouvir

Carina xingar todos os palavrões conhecidos em italiano. Enquanto


senti vontade de rir, sabia que a merda ia explodir na minha casa
assim que ela soubesse que o irmão estava em casa.

— Esses dois ainda vão me matar. — Enzo suspirou.

— Não se meta, mesmo que a sua irmã venha fazer queixa.

Se ela acha que é adulta o suficiente para morar com ele, vai
precisar ter maturidade para lidar com os altos e baixos de um

relacionamento. — Joguei a minha bolsa no sofá e tirei o meu


sapato. — Você não pode ficar se metendo na vida dos seus irmãos,

eles não são mais as crianças que precisou cuidar. — Eu sorri para

a sua expressão emburrada. — Emerson e Carina cresceram.

— É uma coisa que eu não estava preparado. — Me puxou


para um abraço. — Tenho que trabalhar, mas farei isso no escritório

de casa. Você vai sair?

— Não. Vou lavar as roupas sujas da viagem e descansar.

Eu não dormi muito nas últimas noites e não sou você, que é quase
um morcego.

— Não lembro da senhora minha esposa reclamar. — Me

deu um olharzinho engraçado e um beijo. — Não apronte nada sem

mim.
Rindo, peguei a nossa mala, levei para a lavanderia e

comecei a separar as roupas. Era raro ter o apartamento tão vazio,


mas eu gostava da privacidade e o silêncio. Passei a apreciar

pequenas coisas conforme fui ficando à vontade e sentindo que

aquele apartamento era o meu lar. Enzo e eu sempre conversamos


se criaríamos os nossos filhos ali; precisaria de uma reforma para

deixar o lugar seguro, porque não era à prova de crianças.

Nós dois não tínhamos as melhores memórias da infância,

esperava poder mudar isso para que os nossos filhos tivessem a


melhor criação possível, mesmo fazendo parte desta vida.

Terminada a minha tarefa com as roupas, deixei a máquina

funcionando e subi para o nosso quarto. Eu estava guardando o que

voltou limpo quando Enzo passou como um furacão para o closet,


digitando o código e pegando uma lustrosa pistola preta com

detalhes em cinza.

Era uma das não registradas, com balas limpas. Ele


carregou e pegou duas facas e mais munições.

— O que está acontecendo? — Parei na porta.

— Luigi Biancchi acabou de me ligar. — Enzo falou, puto,

com o olhar transtornado. — Nicola foi morto.


— Ai meu Deus. — Cobri a minha boca. — Ele estava

sozinho? E a mulher dele?

— Foi um tiro na nuca exatamente como o meu tio

Francesco.

Alonzo.

— Enzo...

— Eu tenho que ir até lá, mas vou pegar o avião na

Filadélfia. Vou me reunir com alguns homens antes de irmos para


D.C. Alguma coisa precisará ser feita e é possível que tenha

imagens... — Ele falou rápido, jogando uma bolsa no chão e

enchendo de coisas necessárias. — Devo passar a noite fora, mas

eu prometo ficar te atualizando sempre que possível.

— Tudo bem. — Abracei-o. — Fique seguro, Enzo.

— Eu irei. — Segurou o meu rosto e me deu um beijo bruto.

— Eu te amo.

— Eu te amo muito mais. — Coloquei a minha mão no seu


peito, bem acima do seu coração, que batia muito forte.

Sem falar mais nada, o acompanhei até a porta, com um

aperto tão intenso no peito que meu coração parecia esmagado.


Nos beijamos com mais calma e trocamos um abraço carinhoso. Ele

me deu um olhar doce antes das portas se fecharem e eu estava


rezando e contando os segundos para o seu retorno.

Liguei para Carina, que provavelmente estava sozinha, mas

fiquei surpresa quando Alessio e Emerson apareceram na

cobertura. Eles disseram que Enzo não falou nada. Liguei para
Stefanio, que estava subindo para assumir a minha segurança e ao

mandar mensagens para Giana, descobri que Enzo saiu apenas

com Mika para encontrar um grupo de soldados e os subchefes de


Nova Jersey e os da Filadélfia, eles iriam resolver um problema com

um M.C. em comum e em seguida, voar para Washington D.C. Só

de pensar que ele estava correndo tantos riscos, minha pressão

subia.

— Ele vai ficar bem. — Carina garantiu e assenti,

preocupada. Ela pegou uma revista de decoração. — Estou

querendo mudar a decoração tenebrosa do apartamento de Alessio.


Pode me ajudar nisso?

Alessio revirou os olhos atrás dela.

Para me distrair, aceitei pesquisar sobre possíveis

decorações e soltei boas risadas com a discussão inútil que eles


tiveram sobre utensílios vermelhos na cozinha. Linda entrava na

confusão apenas para botar pilha e pela primeira vez, Emerson

estava quieto. Nós trocamos um olhar diversas vezes, mas não

falamos nada. Provavelmente ele gostaria de ter ido com Enzo,


afinal, eram irmãos e confiavam um no outro. Nada contra Mika,

mas eu me sentiria mais segura se Emerson estivesse com Enzo.

Algumas horas mais tarde, não tinha recebido nenhuma

mensagem de Enzo. Ele estava ocupado e eu ansiosa. Quando


Stefanio saiu da sala de segurança e sinalizou para Emerson, eu

soube que havia algo errado. Meu cunhado saiu de perto sem fazer

alarde e eu esperei cinco minutos para ir atrás.

Os dois estavam debruçados no computador com os

telefones ligados, podia ouvir a voz nervosa de Ângelo.

— O que aconteceu? — Empurrei a porta ainda mais aberta.

Emerson me deu um olhar de que era melhor não fazer


perguntas.

— Me fala o que aconteceu agora — ordenei.

— Enzo não chegou à Filadélfia. Ele sequer passou por

Nova Jersey. — Emerson assumiu. — Perdemos a localização do


carro. Tanto ele quanto Mika não atendem. Ângelo está tentando
rastrear e eu vou sair, fazer o caminho e ver se encontro alguma

coisa.

— Eu vou com você.

— Juliana? — Emerson quase gritou. — Claro que não vai!

Se acontecer qualquer coisa com você, Enzo vai me matar.

— Não estou pedindo a sua autorização e eu tenho meios

de conseguir encontrá-lo. Eu vou colocar um sapato — rebati e saí


da sala. Passei pela cozinha e corri escada acima, entrando no meu

quarto, vestindo um par de tênis, pegando uma faca e a minha

pistola, colocando na cintura.

Emerson e Alessio estavam me esperando no elevador.

Carina e Linda só olhavam com os olhos arregalados e não havia

tempo para explicações. Não havia tempo para mais nada, a não

ser encontrar o meu marido. No carro, enquanto Alessio dirigia em


alta velocidade pelas ruas, liguei para um número que eu nunca

havia ligado antes.

— O que aconteceu? — Foi a primeira coisa que Kyra falou

ao atender a chamada. — Você nunca me ligou antes.

— Enzo sumiu e eu preciso da sua ajuda para encontrá-lo.

— Minha voz saiu chorosa.


Kyra ficou em silêncio por três segundos.

— Estou entrando no sistema de GPS dos carros — falou e

podia ouvi-la digitar. — Ele estava com Jack?

— Não que eu saiba.

— A localização é muito fraca,é como se eles estivessem


mais de uma hora em um local abandonado em Nova Jersey. — Ela

me deu a localização exata e eu gritei para Alessio. — Vocês

chegarão lá em poucos minutos. — Sua voz estava tensa.

— Kyra... — Respirei fundo, meu coração bombeando no


peito. — Você tem a visão por satélite?

— Você vai chegar lá em poucos minutos. — Ela repetiu e

encerrou a chamada.

A sua reação me fez quase hiperventilar. Minha respiração

estava tão ofegante que parecia que estava correndo ao invés de


me segurando dentro do carro devido a velocidade e a maneira que
Alessio costurava o trânsito. Após uma ponte, caímosem umas ruas

tranquilas que passaram por mim como um borrão. Viramos em um


bairro industrial e eu vi o carro.
— Porra! — Emerson gritou, pulando fora antes que Alessio
parasse completamente. Eles saíram com armas em punho e eu
estava congelada.

O carro estava carbonizado, como se tivesse explodido.


Minhas pernas estavam tão pesadas que eu mal conseguia me
mover. Alessio foi o primeiro a chegar perto e de repente, levou as

mãos à cabeça. Emerson soltou um grito que poderia ser ouvido em


Nova Iorque e foi o que me fez ter forças.

Alessio tentou me segurar e eu bati nele, me debati em seus


braços, gritando tanto que a minha garganta começou a doer. Mordi

e arranhei seu braço, vencendo com uma cotovelada certeira e uma


joelhada nas bolas. Eu me aproximei da janela do carro, gritando
para o corpo no banco do motorista. Era o pior cenário de horror da

minha vida.

Um corpo sem cabeça, o colar de ouro com a placa escrito

JULIANA com marcas visíveis de fogo, o relógio chamativo com a


data do meu casamento... Era Enzo. Era meu marido.

Ele estava morto.


Quarenta e três | Juliana.

Linda colocou uma xícara de chá na minha frente, me deu

um sorriso triste e voltei a encarar o nada. Nada. Não havia o que


sentir, o que pensar ou o que dizer. Nada. A imagem do homem que

eu amava estava tatuada na minha lembrança. Eu estava em


choque, sem reação, sem ação. Ao meu redor, era caos. Muita
gente falando, ordens sendo dadas, choros, gritos, mas dentro de

mim... Nada.

Eu me sentia tão quebrada, que era só silêncio e calmaria.

— Alguém vai precisar assumir. — Eu ouvi Marcus falar


baixinho com Ângelo atrás de mim. — Alessio é o próximo, mas ele

é muito jovem, não sei se os homens vão aceitar. Vai abrir espaço
para briga da cadeira, vão querer tomar o poder à força e ainda tem
Damon. Se ele quiser, vai devastar Nova Iorque em minutos.

— Tenho que conversar com Juliana. É o meu papel como


conselheiro proteger e cuidar da viúva. — A voz de Ângelo estava

embargada. — Eu nunca pensei que ia passar por isso. Estou com


tanto ódio.
— Antes de qualquer um assumir, nós vamos queimar todos

os russos. — Marcus concordou.

Emerson agachou na minha frente e colocou a mão no meu


rosto, mostrando meu telefone. Era Kyra, mas eu ainda não tinha

coragem de falar com ela e rapidamente percebi que não me dariam

tempo para sentir absolutamente nada. Já estavam falando sobre


quem ficaria no lugar do meu marido, como se ele fosse tão

facilmente substituível. Eu estava vulnerável. A viúva sem filhos.

Não me dariam tempo para sentar e chorar.

— Eu preciso de uns minutos — falei com o Emerson.

Levantei rigidamente do sofá, com o meu telefone vibrando e andei


de cabeça erguida, sob o olhar atento de todos até o escritório de

Enzo. Entrei e fechei a porta, trancando e me recostei, respirando

fundo milhares de vezes.

Não podia desmoronar. Não ainda. Eu não ia permitir que


eles passassem por cima de Enzo, como se ele fosse apenas mais

um. Ele era único. Encerrei a chamada insistente de Kyra e rolei a

minha lista de contatos, parando na letra G e selecionando o contato

de Damon. Chamou duas vezes antes de ele atender.


— Fala, viado. — Atendeu alegre, pensando que Enzo
estava chamando-o através do meu telefone.

— Damon, é Juliana — expliquei.

— Caramba, desculpa. Tudo bem?

— O quão rápido você pode estar aqui? — Olhei para a

janela, pensando no dia ensolarado e bonito lá fora. — Preciso de

uma reunião com você.

— O que aconteceu? Enzo sabe dessa reunião?

— Enzo está morto — revelei e ele ficou em silêncio. Ao

fundo, ouvi sons de coisas quebrando. — Damon? Eu preciso da

sua ajuda para vingar a morte do meu marido.

— Estarei aí em algumas horas. — Ele desligou antes que

ouvisse a sua voz mudar. Fechei meus olhos, reunindo força e olhei

uma mensagem de Kyra. Ela enviou uma mensagem com uma


localização e uma numeração.

Abri o cofre do escritório e peguei a minha pistola, que

Emerson guardou ali quando chegamos e eu estava desmaiada em

seu colo. Coloquei na minha cintura, reunindo as facas, prendi o


meu cabelo e voltei para a sala. Todos eles me olharam com
expectativa, prontos para levantar como se eu fosse cair e

precisassem me erguer.

— Eu preciso da atenção de vocês — falei calma e

mantendo a minha postura. Ângelo, que estava mais afastado, se


aproximou. Antônia e Linda estavam sentadas juntas, Carina ergueu

o rosto inchado do peito de Alessio. Emerson continuou sentado, me


olhando. Ilaria e Marcus me olhavam fixamente. — Ângelo, eu

preciso que você segure a informação sobre Enzo até que eu volte.
Não conte ao seu pai, avô e principalmente, para os pais dele.

— Por quê?

— Preciso que confie em mim e me dê algumas horas. —

Ele parecia em conflito. — Apenas algumas horas. — Assentiu, com


relutância. — Ilaria e Marcus... Eu quero que vocês sigam com a

rotina. As boates irão funcionar normalmente, todas as remessas e


enfim, nada que pareça que estamos fora do nosso habitual —
ordenei e eles assentiram, sem pestanejar. — Vocês três, fiquem

aqui e não saiam por nada. — Falei com Antônia, Carina e Linda. —
Stefanio vai ficar com vocês — determinei e elas também

assentiram. — Alessio e Emerson, preciso que venham comigo.


— O que você vai fazer? — Ilaria deu um pequeno passo à

frente.

— Preciso de algumas horas para resolver umas coisas. —


Olhei para Emerson, ele ficou de pé. Alessio deu um beijo em
Carina e me seguiu para o elevador. Assim que as portas fecharam,

respirei fundo. — Trouxe vocês dois porque são os meus irmãos e


eu confio cegamente em vocês, então não falem absolutamente

nada do que vão ver e ouvir nas próximas horas. Tem que ficar entre
nós.

— O que você está planejando fazer? — Alessio perguntou


atrás de mim.

— Vocês vão saber.

Eles ficaram em silêncio e eu apreciei isso. Não discutiram

quando peguei a chave para dirigir uma das SUV’s e saí do nosso
prédio, derrapando os pneus na pista e ganhando buzinadas. Passei
em frente ao prédio de Dominic e achei muito estranho que as

portarias estivessem isoladas, com carros da polícia federal do lado


de fora. Senti vontade de ligar, mas não podia me expor em uma

conexão. Não no momento.


Segui para a localização que Kyra me enviou, a cancela
levantou sem que eu precisasse fazer qualquer coisa, segui a
numeração na parede e parei exatamente onde ela havia enviado.

Saímos do carro e fomos o elevador. As portas abriram antes de


pararmos totalmente e Alessio não tinha tocado no botão. Entramos,

as portas fecharam e eu podia ouvir um ruído.

Levou um minuto completo para o elevador começar a

mover, eu não poderia dizer se estávamos subindo ou descendo,


não aparecia nada nos painéis. As portas se abriram e levei algum

tempo para definir o que estava na minha frente. Era um escritório


de paredes escuras e salas com paredes de vidro. Um homem com
uma cicatriz no olho era familiar, apareceu e ele sinalizou como se

fosse me revistar.

— Não toque nela. — Emerson rosnou.

— Não podem entrar armados, sinto muito — disse com

calma.

— Está tudo bem, Spider. — A voz de Kyra soou atrás dele.


— Você pode levar as crianças para o apartamento? — pediu com

doçura, ele assentiu e saiu. — Juliana... — Seus olhos azuis sempre


frios e inexpressivos estavam marejados.
— Não, por favor.

— Tudo bem. — Respirou fundo. — Venham comigo.

Nós a seguimos. Alessio e Emerson estavam olhando para


todo lugar. Ali era a Agência e onde eles se reuniam. Aquele lugar

era onde Kyra conseguia controlar absolutamente tudo, para que os


nossos negócios em comum não fossem prejudicados. Havia muitas

pessoas ali dentro que eu não conhecia.

— Não se preocupem com essas pessoas. — Kyra


percebeu o meu olhar. — Eles não existem. — Foi enigmática, como

sempre. Ela empurrou a porta de uma sala que não era de vidro

como as demais, era muito reservada e eu vi Alice erguer o rosto.


Ela parecia devastada.

— O que aconteceu?

— Jack sumiu. Ele e Enzo estiveram juntos na mesma

localização. — Kyra explicou e eu apertei o ombro de Alice. Nós não


precisávamos falar nada uma para a outra. — E agora, Oliver foi

preso. O FBI levou Donatella para uma casa segura. Não encontro

Dominic e eu tenho esse vídeo... — Deu play e eu vi Kate e as irmãs

de Dominic correndo no estacionamento, pela maneira, estavam


sendo perseguidas. Elas entraram em um carro e saíram do prédio
em alta velocidade. — Em seguida, consegui rastreá-las até esse

depósito de carros. — O vídeo mostrava Kate estacionando de


qualquer jeito. Elas corriam para um carro, ela se enfiava em baixo,

pegava algo e abria o porta-malas, tirando uma mala. Elas

embarcaram e saíram do depósito em alta velocidade. — Perdi o


rastreio algumas ruas depois. Posso dizer que Kate sabia a rota de

me despistar, elas estão fugindo e em perigo, provavelmente fez o

que Dominic a ensinou.

— Estamos sendo atacados ao mesmo tempo — constatei,


muito preocupada com o que viria a seguir.

— Não tenho notícias de Alex há vinte e quatro horas, sei

que ele sabe se cuidar, mediante a situação, achei melhor pegar as

crianças e levar para um lugar seguro. — Kyra engoliu seco. Ela


estava falando como mãe e esposa. Estávamos feridas. — Somos

as únicas no controle.

— Tudo bem, eu vou procurar Dominic, porque tenho

acesso ao apartamento e às boates, posso tentar achar algo. — Eu


não tinha acesso, Enzo sim, mas eu sabia onde ele guardava todos

os códigos.
— Kono e Spider vão sair para procurar Jackson e eu

preciso achar qualquer sinal que meu marido... — Ela parou de falar

e me olhou. — Desculpa.

— Eu realmente torço para que eles estejam vivos. — Foi


tudo que eu consegui reunir, já que o meu peito parecia tão

apertado que não me sentia respirando direito.

— Tem certeza que pode fazer isso? — Kyra me olhou nos

olhos.

— Claro que sim. Enzo jamais deixaria Dominic

desamparado — rebati e pensei que talvez ele deixasse Jack, mas

não havia necessidade em ferir Alice. Acima de tudo, ele era o

homem que ela amava e o pai de seus filhos.

A porta da sala foi suavemente aberta por uma mulher alta

de aparência militar, ela parecia oriental e deu a Kyra um envelope.

O olhar que ela me deu me fez entender que sentia muito e saiu,
sem vocalizar nada. Kyra abriu o envelope e leu. Ela me entregou

sem dizer nada, abri e era um teste de DNA simples, mostrando a

compatibilidade do corpo encontrado com Carina.

— Não preciso de nada além disso.


Eu não precisava de mais nada me dizendo que Enzo

estava morto.

Kyra assentiu e eu olhei para Alice, sem saber o que dizer e

simplesmente dei as costas. Dominic precisava ser encontrado,

Kate corria perigo e Jack estava desaparecido. Eu não podia perder

tempo. Não podia ficar parada. Eu ia desmoronar de uma maneira


irreversível se eu ficasse parada.

Saí da sala com Emerson no meu encalço. Alessio estava

mais calmo e eles esperaram estarmos fora do prédio para falarem


algo.

— Vamos salvar mesmo o King? — Alessio questionou do

banco de trás.

— Sabe que eles serão os primeiros a querer tomar o nosso


território ao saber sobre Enzo, não sabe? — Emerson comentou,

meio hesitante.

— É justamente por isso que nós iremos salvá-lo. Assim que

Dominic estiver a salvo, se estiver vivo, ele vai atrás da mulher e


das irmãs. — Olhei para Emerson. — Ele não vai passar por cima

do acordo, seu pai sim, é por isso que Oliver tem que continuar

preso e Dominic precisa estar vivo. Qualquer cenário além desse,


significa que a segunda família mais rica da organização vai assumir

e nós estaremos ferrados.

— O que você está fazendo, Juliana? — Emerson estava

confuso.

— Assumindo o meu lugar por direito.

— O quê? — Alessio gritou do banco de trás. — Mulheres

não mandam no nosso meio. Os homens não vão aceitar. Damon

vai ser o primeiro a não aceitar, ele está atrás de Enzo por duas
cidades, sabe o que isso significa? Que amanhã mesmo vamos

começar a ser atacados.

— Nenhuma mulher mandou antes porque elas não se

chamavam Juliana Rafaelli. Eu não estou abrindo para discussões,


ou vocês me apoiam ou estão fora — falei firme e concentrada no

trânsito. — Já estavam falando de uma substituição. Pode parecer

comum ou uma tradição, eu sei que Enzo não teve tempo de ter
herdeiros, mas eu não vou sossegar até me sentir satisfeita com a

vingança e muito menos permitir que outra pessoa assuma,

passando por cima do meu marido.

Se eles não iam me permitir sofrer, iriam assistir a cidade


queimar, exatamente como o meu coração queimava de dor. Eu não
seria a peça vulnerável desse jogo de poder. O poder era meu e

eles iriam descobrir que não seria fácil tirá-lo de mim. Meu nome era
Juliana Rafaelli, eles nunca me esqueceriam e nunca mais me

subjugariam.

Kyra enviou para o meu telefone todas as informações

necessárias para encontrar Dominic, ela reuniu os últimos lugares


que ele esteve e eu vi que Enzo falou com ele por dois minutos

antes de ligar para Jack, que sumiu em um piscar de olhos. Eu

esperava que Mika tivesse conseguido fugir, mesmo que ferido. Já

fazia horas e nenhum dos nossos homens de confiança o


encontraram.

Paramos em um posto para abastecer. Enquanto Emerson

abastecia e Alessio comprava água e alguns chicletes para acalmar


o meu estômago retorcido, liguei para Giovanni. Eu sabia que ele

era o homem de confiança de Enzo na Itália e que vigiava todos os

passos da família Rafaelli em segredo.

— Sra. Rafaelli. — Ele atendeu com respeito. — Eu sinto


muito.

— Como você sabe?


— Eu ouvi o Sr. Rafaelli consolar a esposa. Todos estão
indo para os Estados Unidos. — Como eles sabiam? Senti um

arrepio na espinha ao pensar que Lorenzo estava envolvido na

morte de Enzo, porque se nós não divulgamos a informação, como


eles poderiam saber? — Algo que eu precise fazer, senhora?

Eu tinha que pensar rápido.

— Como posso atrasar a chegada deles? — Estava

nervosa.

Giovanni ficou quieto, não demonstrou surpresa, apenas


ficou mudo.

— Bloqueando as contas e ordenando que os pilotos

aguardem a sua ordem. Todos os funcionários recebem ordens


apenas de Enzo e vão acatar o que a senhora disser, se eu

confirmar.

— E tem como fazer isso sem alarde? — Olhei para

Emerson enchendo a bomba do carro. Ele estava encarando um


homem do outro lado que rapidamente encheu o seu tanque, pagou

e saiu. Eu podia ver Alessio sendo assustador com o atendente, que


virou a câmera para o outro lado para não nos filmar.
— Eu posso fazeracontecer. — Giovanni confirmou. Minha
cabeça estava doendo e eu precisava pensar muito rápido. Nada
podia dar errado. Eu tinha um alvo na minha testa... Não me

importava em morrer, mas eu iria odiar morrer sem me vingar. Não


ia ficar assim.

Fechei os meus olhos por um segundo e rapidamente os

abri ao lembrar da tenebrosa cena de encontrar o homem da minha


vida completamente morto.

— Faça isso, eu vou bloquear o dinheiro. — Engoli seco. —


Coloque a sua esposa e sogra em um local seguro e embarque

imediatamente. Quem eu posso deixar no seu lugar?

— Eu vou cuidar de tudo, senhora.

— Obrigada, Giovanni. — Encerrei a chamada e


imediatamente liguei para Ângelo. — Eles sabem.

— Porra. — Ângelo grunhiu. — Issosignifica que Enzo


estava certo. Nossos pais estão trabalhando com Alonzo. Eu vou
matá-los.

— Não — determinei. — Por hora, bloqueie o dinheiro e

impeça que saiam da Itália. Faça com que peguem um voo noturno,
eles vão demorar a chegar e vai me dar tempo.
— Eu posso impedi-los de sair de lá. Giovanni pode pegar
todos eles e jogar em uma vala em minutos.

— Eu quero que eles venham, mas não tão rápido.

— Tudo bem. Em algum momento vai nos contar o que está

planejando?

— Quando voltar para casa, por enquanto, faça isso.

Emerson e Alessio voltaram para o carro quase ao mesmo


tempo. Enfiei dois chicletes na boca depois de beber metade de

uma garrafa de água. A minha cabeça estava explodindo e tudo que


eu queria era me refugiar nos braços do meu marido e parecia que a

vida não me permitia desfrutar de um amor e uma vida feliz,


começou com os meus pais, o meu bebê e agora o meu marido.

Eu estava farta.
Quarenta e quatro | Juliana.

Eu estava dirigindo há horas, sentindo frio, a fome foi

saciada com um fast food meia boca que encontramos no caminho


para Rhode Island. Emerson ofereceu pegar a direção e eu aceitei,

encostando no canto da estrada escura e ouvindo meu telefone


tocar. Era Damon, avisando que seu avião iria pousar no costumeiro
aeroporto clandestino que a família usava ao amanhecer e eu

respondi que estaria lá.

Emerson dirigiu até o local que Dominic supostamente foi


levado. Era uma casa velha, após uma estrada de terra que tinha
uma SUV surrada. Havia um homem latino à espreita e eu sabia que

ele iria atirar assim que percebesse as nossas intenções. Alessio se


preparou e eu também, abaixando o meu vidro devagar.

Por dois segundos, a calmaria antes do caos, me fez

lembrar o quanto Enzo vivia naquele mundo desde as fraldas. Ele

saberia o que fazer, teria o controle e se eu quisesse sobreviver,


precisava tomar o controle. Eram horas rodando pela cidade, eu

percebi que a máfia era um mundo comandado por homens, que

não aceitavam mulheres em posição de poder. Pela história, viúvas


de chefes sempre precisavam casar-se novamente para ficarem

seguras.

Elas ficavam à própria sorte se não encontrassem um


marido.

Meus dois segundos de calmaria sem preocupações

terminaram quando o primeiro disparo foi dado. Eu disse a Emerson


que ele deveria atirar primeiro e perguntar depois. Nós entramos na

casa depois que os dois olheiros foram mortos. Não havia ninguém

dentro, a não ser Dominic, nu, caído no chão, agonizando em dor,


ferido e parecendo desorientado.

— Dom? — Ajoelhei ao seu lado. — Caramba, ele está


muito ferido. Não vai dar para movê-lo sem cuidar de alguns

ferimentos antes.

— Vou buscar a mala de socorros. — Emerson saiu

correndo.

Alessio estava atento, de guarda, não podíamos ficar muito

tempo ali.

— Dom... Sou eu, Juliana — falei baixo, tocando seu ombro

e ele gritou. — Eu sinto muito, mas vai doer. — Virei-o para poder
inspecionar todo seu corpo, sem me importar que estava nu. Não
estava me afetando. Emerson caiu ao meu lado de joelhos, me
ajudando a dar a ele uma medicação forte para aguentar a dor e

começou a limpar os ferimentos.

Fizemos um trabalho rápido e eu joguei água gelada no

rosto dele, para acordá-lo e Dom abriu os olhos, assustado, meio

desfocado. Seu olhar encontrou o meu e eu vi o reconhecimento


surgir, assim como o pânico, ele recobrou a consciência e tentou

sentar.

— Alguns latinos filhos da puta me pegaram sozinho. —

Colocou a mão na cabeça. — Cadê Kate?

— Não sei, elas conseguiram fugir e seus pais foram presos

— retruquei e Emerson o ajudou a ficar de pé, dando apoio. — Em

todo caso, temos que sair daqui agora.

Alessio assumiu a direção e eu fiquei no banco de trás com

Dominic. Ele estava mais lúcido, contou que falou com Enzo e meu

marido estava desconfiado de uns carros seguindo-o, que ele


achava que a localização dos membros da elite foram vazadas.

Imediatamente liguei para Kyra e ela tinha um caminho a seguir,

para buscar a raiz do que realmente estava acontecendo.


— Cadê Enzo? — Dominic me olhou, com a mão na testa.

— Porra, eles acertaram a minha cabeça em cheio.

— O médico da família vai atendê-lo o mais rápido possível

e te liberar, para que possa ir atrás de Kate. Até onde sabemos, seu
pai dispersou os seus homens para que ninguém mais fosse preso.

— Ignorei a pergunta sobre onde estava Enzo.

— Eu sei como encontrá-los. — Dominic murmurou. — O

que aconteceu com Enzo?

Meu silêncio foi a resposta e sua mão encontrou a minha.

Quando deixamos Dominic na clínica, fiquei calma. Ele iria receber


cuidados e encontrar com seus homens para poder sair à procura

de Kate e todos eles ficariam em um lugar seguro. Estava grata que


ele estava vivo.

— E para onde agora?

— Aeroporto — afirmei e Alessio assentiu. Eu amava que

meu primo não me fazia perguntas, eles estavam confiando em mim


e isso era tudo o que importava.

Abracei as minhas pernas, olhando para as minhas alianças


e fiquei mergulhada no olhar doce e o sorriso apaixonado que Enzo
me deu, segundos antes de sair de casa e a minha vida se
transformar em uma tragédia. Eu viveria naquele momento para

sempre. Se eu pudesse voltar no tempo, o impediria de sair de casa


e faria de tudo para que esse destino tão cruel fosse evitado. Como

poderia ser possível viver sem ele? O que eu ia fazer da minha


vida?

Alessio parou o carro e conforme o dia amanhecia, eu podia


ver o luxuoso avião de Damon descer lentamente, começando o seu

pouso. Não era um simples jatinho, era um avião de porte médio


com duas áreas diferentes, assim como era um dos aviões que

Enzo costumava usar.

— Fiquem aqui.

— Juliana... — Emerson grunhiu.

— Fiquem aqui — determinei e saí do carro.

Esperei que o avião pousasse e me aproximei. Sempre seria


impressionante ver Damon, não importava que ele era primo do meu

marido. O homem era bonito e sabia disso. Ele desceu as escadas


sozinho, mas eu sabia que não estava desacompanhado. Seria

muita estupidez estar em Nova Iorque depois da morte de um chefe,


completamente sozinho. Se aproximando, esticou a mão.
— Obrigada por vir. — Ele beijou a minha mão e encostou
no capô do carro ao meu lado, mantendo a casualidade. —
Precisamos falar sobre...

— Você quer que o seu primo assuma?

— Não.

— Você quer que eu a leve para o local seguro?

Hum?

— Não, Damon. Eu sei que você e Enzo estavam chateados

um com o outro e que ele, de alguma maneira, confiava muito em


você. Sei que é esperado que você assuma, de forma amigável ou

não, mas estou avisando que eu vou assumir. — Ele me deu um


olhar engraçado. — Posso fazer isso com o seu apoio ou podemos

brigar.

— Uau. Enzo realmente tinha razão quando dizia que você


era muito brava. — Damon comentou com melancolia e enfiou as

mãos nos bolsos. — Mulheres não assumem o comando.

— Não ainda.

— Por quê? O que você quer?


— Vingança... Tempo. Eu mal descobri que ele estava morto
e já estavam falando em quem seria o próximo. Se eu tivesse um
filho, não tenho certeza se estaria mais segura ou ainda mais em

perigo. — Me abracei, sentindo frio devido ao ventinho matinal e o


encarei. — O que você espera? Me dê um pouco de honestidade.

— Estou tentado ver no que vai dar. — Ele riu. — A cara do


meu avô quando você informar que está no controle de tudo. —
Soltou uma risada. — Vai me dar tempo de continuar caçando

Alonzo.

— Eles souberam da morte de Enzo antes que pudesse

falar qualquer coisa. Quem garante que eles não sabiam sobre o
que Alonzo faria com o seu pai e com Nicola? Ambos eram uma

peça muito importante na nossa família. Me ajude nesta vingança...

Não posso deixar que eles destruam tudo. — Gesticulei para a


cidade.

— Você precisa sentar e chorar, Juliana.

— Em algum momento sim, mas parece que não tenho esse

tempo. Eu vou ter que lutar pelo direito de sentir luto.

— Para você assumir a cadeira principal do comando, você


tem que ter controle de tudo... Eu digo de todo o dinheiro, das
operações e assim, com uma atitude bastante sangrenta, você

também terá controle dos homens. — Damon estava olhando para


frente. — Enzo deixou duas vidas preparadas para você.

— O quê? — Me virei completamente.

— Se algo acontecesse com ele, você teria uma nova

identidade e uma conta bancária recheada para viver fora do radar.


Nós pesquisamos muito e descobrimos o quão difícil é encontrar

uma pessoa em uma das muitas ilhas na Polinésia Francesa. —

Damon olhou em meus olhos. — Compramos um lugar lá. Eu vim


achando que você queria que eu te levasse lá, mas se você quer

assumir, vai ter que usar a segunda coisa que ele deixou.

— Espera aí. — Ergui a minha mão. — Enzo sabia que ia

morrer?

— Ele estava pressentindo algo. — Damon encolheu os

ombros. — Com a vida que levamos, não seria difícil acontecer.

— Enzo nunca me falou nada.

Eu queria matá-lo. Como ele ousou criar uma vida para mim,
sem ele?
— Precisamos ir a um lugar. — Damon me disse e Enrico

saiu do avião com uma mochila. Emerson saiu do carro. — Oi,

primo.

— E aí, cara.

— Tem lugar nesse carro aí? Preciso levar Juliana em um

lugar no centro e deve abrir em algumas horas. Vai dar tempo de

comermos algo antes e explicar o que Enzo deixou.

Voltei para o carro no piloto automático. Sentada entre


Enrico e Damon no banco de trás, minha mente estava dando tantos

nós que eu queria vomitar. Nós paramos em uma pequena

lanchonete para fazer hora. Eu precisava comer, assim como tomar

um bom banho, mas antes, eu precisei lidar com o fato de que o


meu marido sabia que ia morrer. Ele sabia que estavam chegando

perto demais e queria me salvar a todo custo.

Após o estranho e desconfortável café da manhã, Damon e


eu entramos em um luxuoso banco no centro de Manhattan. Eu me

senti muito deslocada com a minha roupa suja de sangue e o meu

cabelo desgrenhado, mais de vinte e quatro horas sem dormir e o


corpo dolorido, mas o gerente não pareceu se importar quando

entreguei minha identidade. Fomos levados para uma sala.


— E agora? — Olhei ao redor. — Qual é a senha desse

cofre?

— Você é a senha. — Damon colocou o meu polegar em um

leitor e o cofre abriu. Dentro dele havia pastas, fotografias,

documentos e passaportes. — Esses documentos garantem que

você controle todo o dinheiro. Você vai ser a única capaz de fazer
movimentações bancárias, de ordenar as remessas e distribuir o

lucro entre todas as cidades sob o seu comando.

Era algo muito maior do que imaginei.

— Isso te garante estar viva, porque se você morrer, o


dinheiro vai ser desintegrado em milhares de contas, e vai ser

praticamente incapaz de ser rastreado. — Ele pegou uma caneta. —

Enzo confiou em mim e eu vou confiar em você, mas se ousar fazer


qualquer gracinha ambiciosa no meu território, eu vou matar você,

porque o meu lado da família não depende do seu em nada. — Seu

olhar era firme e assustador. Assenti. — Palavras, Juliana.

— Pode confiar em mim — falei baixo, assustada.

— Seria muito mais fácil se você estivesse grávida.

— Por quê?
— Eu não tenho filhos, o seu bebê seria um príncipe e se

nos aliarmos com as pessoas certas, ele seria protegido. — Assinou

os papéis.

— Damon, não faça isso. Lute para ficar vivo. Não é justo
com Giovanna você entrar neste casamento sabendo que pode

morrer a qualquer momento. — Segurei a sua mão. — A partir do

momento que você se casar, ela vai te esperar voltar e vai rezar

todas as noites para que você volte inteiro.

— Entendi. — Ele assentiu muito devagar, assimilando o

que falei.

Peguei a caneta e assinei onde estava marcado o meu

nome. Passei o dedo em cima da assinatura bonita do meu marido.

Enzo... O que você sabia e não me contou?


Quarenta e cinco | Juliana.

No elevador do meu prédio, com Emerson e Alessio, os

papéis que eu segurava pesavam uma tonelada. Damon ainda


estava em Nova Iorque, a meu pedido e porque ele queria esperar

para ver como seria o desenrolar de toda a família aceitando minha


nova posição, porque no fundo, eles não tinham opção. As portas do
elevador se abriram e eu me deparei com Ilaria e as meninas me

esperando.

— Você pode chamar os demais? Tenho um anúncio a


fazer! — Abracei o envelope. Alessio e Emerson estavam
esgotados, imediatamente foram para as suas namoradas e eu

sabia que Enzo faria o mesmo. Carina deu um beijo em Alessio,


mas ela levantou e me abraçou apertado. Fechei os meus olhos e
fiquei no seu abraço, até que Ângelo apareceu na sala com Marcus.

Antônia estava na cozinha e apareceu timidamente.

— O que aconteceu? — Ângelo me encarou.

— Sei que vocês estavam curiosos, aceitaram o meu pedido


de esperar e o tempo, mas eu quero anunciar formalmente os meus
planos. — Entreguei a Ângelo os papéis. — Isso garante que eu

seja a nova chefe da família e não é negociável.

— Juliana... Eles não vão aceitar, não é por ser você, é por
ser mulher... — Marcus falou baixo.

— Eles terão tempo para me aceitar ou não, porque não

divulgaremos a morte de Enzo. Vamos agir como se ele estivesse


fora por um tempo, fazendo algo importante que não pode ser de

conhecimento público. — Eles me encararam. — Não vamos fazer o

que esperam que façamos. Enzo sempre me disse que Alonzo


gostava de brincar com possibilidades, em prever os próximos

passos, porque ele conhecia as tradições e como tudo tinha que ser

feito. Se foi ele ou os russos por causa dele, nós temos que agir
totalmente fora do que esperam.

— É um fato que ninguém espera que você assuma. —

Ângelo refletiu. — E não tem nenhuma opção depois disso. — Me


entregou os papéis. — Estou dentro. Se é para que os ratos saiam

do porão, estou dentro. Eu vou te apoiar e aconselhar, vamos

atravessar isso e vingar o Enzo.

— Estarei sempre com você, até no inferno! — Emerson

garantiu.
— Não preciso falar nada. — Alessio me deu um meio
sorriso.

— Somos família.— Ilaria garantiu e Marcus assentiu. Olhar

para Marcus, tão parecido com Enzo, embrulhava o meu estômago.

— Todos nós estamos muito cansados, vamos tirar algumas


horas para descansar e nos preparar para a chegada dos membros

mais velhos. Depois, passarei os novos passos. — Determinei e saí

da sala, seguindo direto para a escada e entrando em meu quarto.

Fechei a porta atrás de mim com a chave e deixei o pacote com as

folhas em cima da mesa.

O quarto cheirava a ele.

Entrei no seu closet e afundei o nariz em uma das suas

camisas, o choro começou a borbulhar pela minha garganta e eu

gritei com a dor dilacerante que me rasgava ao meio. Caí no chão,

puxando as roupas dele comigo, mantendo-as em meus braços e eu

não conseguia acreditar na realidade que nunca mais o abraçaria na


minha vida. Como iria passar dia após dia sem a sua risada bonita?

Sem o seu humor irritante? Sem o seu cheiro gostoso na cama?

Sem o seu abraço no meio da noite e a sua voz rouca dizendo que

me amava muito?
Fiquei jogada no chão, deitada no closet entre as roupas

dele, deixando a dor espalhar, ao ponto de me sentir anestesiada.


Não sabia quanto tempo fiquei ali, eu tinha que levantar e agir, mas

queria sair daquele closet e dar de frente com ele me gritando da


sua maneira idiota só para me deixar furiosa. Queria arremessar
algo na sua direção por me ligar a cada dois minutos apenas para

me irritar. Eu pensei que o casamento seria o fim da minha vida,


mas foi a melhor coisa que me aconteceu e eu não sabia o que

fazer, além de lutar para sobreviver na vida perigosa e machista que


nasci.

Eventualmente, me levantei do chão, liguei o chuveiro e ao


me sentar no sanitário, lembrei do que Damon falou sobre o fato de

que seria melhor se eu estivesse grávida. Eu não tinha certeza, na


verdade, achava que seria pior. Quem quisesse tomar o controle

ficaria ainda mais desesperado ao descobrir que Enzo deixou um


herdeiro. Antes de fazer xixi, decidi fazer um teste, apenas para tirar
a paranóia da minha cabeça.

Enzo e eu não deixávamos de nos prevenir, mas eu não fui


muito eficaz com a pílula. Não me preocupava, porque sabíamos

que seríamos felizes com um bebê e agora parecia uma


irresponsabilidade sem tamanho. Antes de fazer xixi, me levantei e
abri a gaveta, pegando um dos muitos testes que Enzo cismava de

comprar, apenas no caso de ser necessário fazer.

Fiz xixi no potinho, minha bexiga estava muito cheia e


implorando por alívio, e coloquei o bastão dentro, relaxando e
abaixando a minha cabeça, esgotada. Entrei na área do chuveiro

para tomar banho e fiquei muito tempo debaixo do jato de água


quente, desejando que o banho lavasse a realidade que eu não

queria aceitar viver. Escovei os meus dentes e lembrei de olhar o


teste, puxei o bastão e quase caí de bunda no chão ao me deparar

com uma carinha sorridente.

— Não, isso só pode ser brincadeira!

Positivo. Eu estava grávida. Era simplesmente inacreditável


que Enzo havia morrido e eu estava esperando um filho dele.

Coloquei a minha mão na barriga, sem fazer a mínima ideia de


quantas semanas, apenas incrédula. Como iria gerenciar tudo e
ainda ser mãe? Não importava o que fosse acontecer, eu protegeria

a vida desse bebê com todas as minhas forças. A partir daquele


segundo, todos os meus passos precisavam ser controlados e muito

bem pensados. Eu não podia agir por impulso ou de cabeça quente.


Era a hora de ser fria.
Joguei o potinho fora e guardei o teste, marcando
mentalmente de ir a uma clínica fazer um exame de sangue para
confirmação e marcar uma consulta o mais rápido possível. Eu não

podia anunciar a gravidez e precisaria esconder de todo mundo,


porque enquanto estivesse em uma posição vulnerável, o bebê

estava em risco, principalmente se fosse um menino.

Outro menino.

Marcus enviou uma mensagem, alegando ter impedido que


os meus sogros viessem para a cobertura, mas eles insistiam em

falar comigo e por isso foi agendado uma reunião na empresa, no


final da tarde. Até o momento, ninguém sabia sobre Enzo e eu tinha
que agir rapidamente em relação a D.C. Mandei que preparassem o

avião e informei que estaria lá no final da noite, para prestar as


minhas condolências pessoalmente. Damon precisava estar na

reunião, então avisei-o e me sentei para me maquiar.

A parte mais importante era esconder a minha devastação.


Eles não podiam ver o quanto estava destruída. Com calma e
sentindo o meu coração queimar de ódio, o gosto da vingança

salivando na minha boca, fiz uma maquiagem perfeita, escovei e


modelei o meu cabelo e no meu armário, escolhi um conjunto social
branco. Terninho, uma blusa simples, calça de alfaiataria branca e
um sapato nude de salto fino.

Me olhei no espelho e encarei a mulher que estava ali. Não


parecia eu mesma. Aquela era a minha nova versão e assim como

todos, precisaria aceitar e me acostumar. Com calma, saído quarto,


reunindo as informações que precisava na pasta e encontrei
Emerson me esperando na sala. Alessio ficaria em casa com
Carina, que precisava um pouco dele e eu simplesmente engoli a

amargura que ela tinha um consolo, um refúgio e eu não mais.

Não falei muito, não havia o que falar e, com isso, seguimos

em silêncio para a empresa. Emerson me informou que estávamos


sendo seguidos e pelo estilo, aparentava ser o FBI. Era questão de

tempo com Jack desaparecido, Oliver preso e Enzo morto, que eles

apareceriam querendo pegar alguma falha.

Amber ficou de pé assim que me viu e me abraçou. Eu não


retribui o abraço porque não podia e gentilmente, afastei-a,

passando direto até Lorenzo.

— Saia da minha cadeira. — Apontei e ele assustado, saiu,


me dando um olhar irado, porém chocado. — Obrigada. Sentem-se.
— Juliana, querida. O que está acontecendo? — Vicenzo, o

avô asqueroso e psicopata de Enzo, me perguntou com sua voz


dura. — Você não comanda ninguém.

— Sim, eu comando. Inclusive, a vocês. A partir de agora,

quem dita as regras sou eu e eu quero saber quem contou a vocês

sobre Enzo.

Cosimo soltou uma risada.

— Uma mulher achando que pode mandar na nossa

família? Essa é nova!

— Lorenzo me contou que Enzo foi encontrado... Disse que


os soldados lhe contaram. — Amber estava em frangalhos. — Conte

a ela quem te contou.

— Não importa quem me contou, tenho as minhas fontes. —

Lorenzo rebateu. — Você não ia nos contar que meu filho está
morto?

— Quando achasse necessário. — Inclinei a minha cabeça

para o lado. — É melhor você revelar as suas fontes, ou eu vou


simplesmente supor que você esteve envolvido na morte do meu

marido. E cada pessoa envolvida, eu vou matar pessoalmente.


— Como você pode dizer algo como isso? — Amber gritou

comigo. — Eu não estou te reconhecendo, somos uma família.

— Veremos. — Sinalizei para Antônia entrar e entregar as

cópias dos documentos. Meu telefone vibrou com uma mensagem


importante. — Se eu fosse vocês, começaria a olhar sobre os

ombros. — Fiquei de pé e Ângelo entrou na sala. — Meu

conselheiro vai informar a vocês as novas regras.

— O quê? Que porra é essa? — Cosimo gritou e eu saí da


sala sorrindo. Emerson me seguiu. — Como ele pode ter feito isso?

— Pai, por favor, fique calmo. — Ângelo estava sendo

cínico.

No elevador, Emerson falou baixinho.

— A minha mãe não tem nada a ver com isso.

— Chegou o momento em que ela vai precisar fazer uma

escolha.

Emerson enfiou as mãos nos bolsos.

— Acha mesmo que papai teria coragem de matar Enzo?

— Talvez não, mas ele teria coragem de fazer parte de um

plano para tirar Enzo do poder. Ele deveria saber melhor que Alonzo
tem os seus próprios planos. — Olhei meu relógio. — Precisamos

voltar naquele lugar de ontem.

— Certo.

Emerson aceitou que eu precisava ficar em silêncio. Enzo

sempre falava do quanto eu era capaz de ser uma tagarela, sem

ele, eu não me sentia com vontade de expressar os meus


sentimentos, muito menos de fazer conversa. Havia tanta coisa na

minha mente e coração, que eu sequer sabia por onde começar.

Spider não tentou me revistar, ele apenas ergueu as mãos

quando lhe dei um olhar bravo. Empurrei a porta da sala e Alex


estava ali dentro. Nós nos abraçamos apertado, parte do meu

cérebro estava apavorado com a ideia de Kyra criar os filhos sem o

pai, sendo ele um assassino profissional ou não, eles eram uma


família. Kyra podia ser habilidosa e assustadora, mas ela era uma

boa mulher e mãe.

— Estou feliz que você está bem.

— Não foi muito fácil dessa vez. — Ele ergueu a camisa e


assobiei para o ferimento a bala. — Ky já está vindo.

— Será apenas nós?


— Por enquanto, sim. Dominic encontrou Kate e as irmãs,

elas estão muito bem e foram bem corajosas. Ele está vindo, será

necessário a presença de todos e como fiquei sabendo que você é a

mulher no poder... — Apontou para uma cadeira e me sentei.


Emerson ficou de pé atrás de mim e Alex não parecia ofendido. —

Infelizmente a sua estreia entre nós é um pouco grave. Descobrimos

que as nossas informações foram vendidas e jogadas na darkweb.

— Por quem?

— Isso ainda é meio dúbio, mas as informações sobre as

nossas localizações, o que possivelmente estaríamos fazendo ou

não, foram retiradas do computador do Jack. Não sabemos a fonte


ainda... Ky está verificando enquanto ele vem para cá.

— Jack? Ele nos entregou?

Alex estava inexpressivo.

— Não sei, Juliana. A única coisa que sabemos é que Jack

sumiu e Lily também, eles foram encontrados pela polícia e Jack


ainda não nos falou o que realmente aconteceu. — Ele cruzou os

braços.

— Foi por causa dela, não foi? — Me alterei. — Tudo isso


começou por causa da Lily. Não sei a história toda, porque Enzo
nunca contou tudo e agora de novo? Dessa vez à custa da vida do

meu marido? — Fiquei de pé, explodindo de raiva. — Não importa o


quão importante ele possa ser, se ele nos traiu, ele vai pagar com a

vida.

— Eu não posso te impedir, Juliana.

Quando Jackson chegou, ele sentiu a minha fúria e eu


realmente coloquei o meu dedo no gatilho enquanto o ouvia falar.

— Quem quer que tenha invadido, não deixou uma

assinatura e era muito bom. — Jack se explicou. Ele estava com o

rosto inteiramente arrebentado, lábios cortados e o braço enfaixado.


— Eu não vi nenhuma tentativa de invasão na empresa e Sarah não

detectou nada aqui, nem os técnicos presentes, eu não vi que eles

usaram o acesso do jogo de Lilian, minha filha, com o namorado.

Ele conseguiu usar a minha rede, implantar um vírusguardião muito


bom que copiou alguns arquivos.

— E por que você tinha essas informações no seu

computador pessoal? — Kyra gritou com ele. — MEUS FILHOS,


JACKSON! — Ela se perdeu de vez, avançando por cima da mesa e

Alex a segurou. — Eu precisei fugir com os meus filhos, rastejando


no meio daquelas árvores e em seguida, Enzo morreu, Dominic foi
sequestrado e você sumiu!

— Eu... Não sei porque mantinha as informações lá, medida

de segurança, um... Arquivo de chantagem. — Jackson assumiu e

eu realmente quis matá-lo. Senti o gosto na minha boca. — Com


todos vocês e com tantos negócios, chegou um momento que eu

precisava de uma segurança.

— Chegou o momento que mais uma vez você colocaria


vidas em risco para salvar quem te interessa — rebati.

— Não fiz nada, eu juro. Não vendi as informações mesmo

quando Lily sumiu. Eu recebi a ligação de Enzo, ele me falou das

placas e eu disse a ele “vou dar uma olhada”. Eu estava indo do


meu quarto para o escritório quando Lily me ligou, histérica, gritando

que não sabia como foi parar em um galpão abandonado. — Ele


passou a mão no rosto. — Eu nem pensei, apenas saí, seguindo o
sinal dela. Quando cheguei lá, eu recebi o alerta que estava perto

de Enzo, eu sinto muito, andei entre os galpões quando fui acertado


por trás. Acordei horas depois, no chão de um galpão e Lily estava
desmaiada... E tudo isso já tinha acontecido.
Eu odiava acreditar nele porque ele parecia derrotado, não
só porque estava arrebentado.

— Não vou negar que se fosse qualquer pessoa, eu faria.

Não com vocês. — Jack olhou para Kyra. — Eu nunca colocaria


seus filhos em risco, eu amo Bryan e Amy. Não me fizeram
exigências, nem vi quem nos pegou... A Lily só lembra de estar

caminhando para o carro com uma amiga. A amiga foi parar no


Brooklyn, drogada e ela acordou lá. Enquanto isso Alice e eu
achávamos que ela estava bem.

O plano foi tão bem arquitetado que deu certo. Alonzo sabia

que cada um de nós tínhamos inimigos diferentes, embora muita


gente se beneficiaria da nossa queda. Ele queria Enzo, mas não
conseguiria se não distraísseJack, afastasse Dominic, tirasse Oliver

do jogo, cegasse Kyra e levasse Alex para Amsterdã, em uma pista


falsa de alguém que a Agência estava procurando há meses.

Por mais que Ângelo e Marcus acreditassem fielmente que


Kátia tinha tudo a ver com a morte de Enzo –e eu não descartava,
afinal, ela poderia ter comprado a localização do meu marido na

darkweb –, nada me tirava da cabeça e do coração que Alonzo


finalmente estava conseguindo o que queria. Enzo não entendia o
porquê de ele ter tanto ódio de todos, mas além da sua sociopatia e
obsessão, ele foi criado por um monstro e se tornou um.

Havia um traidor entre nós. Dessa vez não foi Jack, mas
estava na hora das suas ações dúbias e ambiciosas além do limite
terem um fim.

— Quando essa maré ruim diminuir, você está fora — falei e

ele ergueu o olhar. — Não vou viver com a eterna desconfiança de


que amanhã ou depois você vai nos entregar para salvar a sua filha
ou a sua esposa. Você pode ser uma boa pessoa, mas não tem

limites e não tem controle da sua obsessão por informação e poder.


Você é um risco que eu irei eliminar se me atrapalhar.

O silêncio de Kyra foi o indicativo de que ela concordava

comigo.
Quarenta e seis | Juliana.

A primeira vez que estive deitada em uma cadeira como

aquela, meu marido estava ao meu lado, segurando a minha mão e


extasiado com o que via à sua frente. Era irônico que três semanas

após a sua morte, eu estava ali, sozinha, ouvindo o som do coração


do nosso bebê sem ele ao meu lado para se apaixonar pelo
pequeno ser que crescia no meu ventre.

Ao contrário do ano anterior, naquela manhã fiz algo que

jamais pensei ser possível e eu estava sujando a minha alma para


que aquele bebê tivesse uma chance, mas ao ouvir o seu coração
batendo tão puro e inocente, percebi que sem Enzo, não havia

motivos para continuar. Foi ouvindo as medidas dele que eu decidi


que quando vingasse a morte de Enzo, eu iria embora.
Desapareceria. Entregaria tudo a Damon e ia sumir.

Meu filho merecia a chance de uma vida normal. Com Enzo,

eu poderia encontrar um equilíbrio, sem ele, era impossível. Eu


estava cansada, triste e magoada. Meu coração estava partido e eu,

decepcionada comigo mesma. Olhei para os cantinhos da minha

unha, ainda sujos de sangue e meu estômago revirou. Fechei os


meus olhos lembrando da terrível sensação de cortar a língua de

uma pessoa, para provar que eu não estava de brincadeira.

Cortei a língua de um soldado que não obedeceu a uma


ordem direta. Eles estavam se coçando, ainda acreditando que

Enzo estava em uma missão secreta para descobrir um traidor entre

nós e eu ainda mantinha a família Rafaelli em rédeas curtas,


praticamente em cárcere privado, sendo monitorados com câmeras

e escutas a todo maldito tempo.

Amber estava me pressionando para fazer um velório, mas


eu ainda não estava pronta para divulgar para o mundo que Enzo

estava morto.

— Seu bebê está muito bem, Sra. Rafaelli. Algum sintoma

diferente?

— Além do enjoo, nada. Me sinto bem a maior parte do

tempo, exceto quando vem a náusea. Quando poderei descobrir o


sexo por imagem?

— A partir da décima oitava semana. — Garantiu e limpou a

minha barriga.

— Obrigada. — Terminei de me limpar sozinha e abaixei a


minha blusa.
Terminada a minha consulta, encontrei com Emerson na
recepção e conversei por mensagem com Damon. Ele sabia que

estava grávida, foi preciso contar, meu primo pelo casamento era a

pessoa que estava segurando a onda de ódio e ataque com a minha

posição. De todos os nossos inimigos, ele era quem poderia me

derrubar em um piscar de olhos. A questão é que Damon segurava

o seu território com um punho de ferro e ele só avançaria se tivesse


certeza de que pudesse dominar e destruir... Com tanta gente

querendo Nova Iorque, ele estava certo em manter as suas portas

fechadas.

Emerson me levou para o escritório para continuar

trabalhando e eu me refugiei em minha sala, lidando com as


milhares de demandas que Enzo lidava por dia. Mesmo com cada

um tendo a sua função e executando muito bem, era preciso ter um

controle apertado sobre tudo. Cada mísera ação era monitorada,

todos os negócios, restaurantes, boates, pontos de drogas e eu

tinha que estar a par de tudo. Depois de ficar completamente

perdida na primeira semana, já estava decorando a rotina.

— Tem um minuto? — Ângelo entrou na minha sala. — Eu

comecei aquela pesquisa que me pediu. Giovanni acabou de me


enviar todas as informações que digitalizou na Villa Valentinni...

Inclusive da antiga clínica do vilarejo.

— Achou alguma coisa interessante?

— O nome de sua mãe era Cara Romano, certo? — Ele me


perguntou e assenti. — Sabia que você e Giovanni são primos por

parte de mãe?

— Nossa, não. — Arregalei os meus olhos. — Tenho tios e


tias?

— Sua mãe tinha um irmão mais velho que é o pai de

Giovanni, mas ele já faleceu há alguns anos. — Ângelo comentou e


assenti. Era legal saber que Giovanni era meu parente. — Um dos

arquivos me chamou atenção, Juliana.

— Algo sobre o traidor?

— Algo sobre o passado dos nossos pais que parece cada


vez mais interessante. — Me empurrou uns arquivos. — Sua mãe

deu entrada na clínica do vilarejo aos quatorze anos em trabalho de


parto.

— Ela se casou aos dezessete com o meu pai... — Peguei a


cópia do prontuário e estava muito surrado, mas era possível ver as
anotações e o nome da minha mãe. — Não tem informações sobre

a criança.

— Não encontrei nada, mas talvez a sua tia Malia saiba de


algo ou aquela senhora que cuida da sua casa, elas são muito
antigas no local.

— Obrigada, Ângelo.

— Outra pequena coisinha... — Ele recostou em sua


cadeira. — Não estou confortável em deixar Emerson no controle da
remessa vinda de Boston. Ele está emocionalmente instável...

Emerson era quem mais me preocupava, ele sempre foi


volátil; Linda conseguia ter um efeito calmante sobre ele, mas o luto

era impossível de impedir. Eu não queria perder mais ninguém...


Com a cabeça doendo e meio nauseada, olhei para o prontuário

impresso me perguntando o que estava escondido no passado. Eu


não conhecia a minha mãe e a minha família não falava sobre ela.

Tia Malia não me contaria a verdade, mas havia outra


pessoa que sim. Peguei o meu telefone e liguei para Martina. Ela

não atendeu, provavelmente ocupada na cozinha, mas assim que


visse a minha chamada não atendida iria me retornar. Parecia que a
minha ideia em descobrir quem era o traidor, investigando o
passado das nossas famílias, estava começando a desenterrar
alguns esqueletos.

Não compartilhei com a família sobre a existência de Isla,


estava tomando muito cuidado para que Ângelo não tropeçasse

nessa informação. Enzo apagou os rastros de Sierra na vida de


Lorenzo, assim ninguém poderia tentar ligar Isla ou Raymond a
qualquer Rafaelli. Me preocupava que Jack sabia disso e depois que

ficou claro o motivo pelo qual ele reuniu um dossiê sobre nós,
estava ainda mais paranoica.

Meses atrás, Jack quis chantagear um dos nossos


associados mais poderosos e que quase não davam trabalho. Os
Vaughn representavam o que eu chamava de dinastia muito rica.

Eles dominavam poder, dinheiro, faziam muita graça publicamente,


eram os queridinhos das redes sociais e há alguns anos, o patriarca

entrou para a política com o apoio direto de Enzo, que estudou com
o filho deles na faculdade.

Jack quis chantagear sobre algo muito sensível tanto para


Enzo quanto para Dominic. Normalmente, eles não se incomodavam

em perseguir e importunar pessoas, mas a política sempre foi não


mexer com as famílias.Não envolver filhos e esposas nas ameaças.
E logo Jack, que era capaz de fazer qualquer coisa pela família,
queria cutucar uma onça calada como Vince Vaughn, mexendo com
a família dele?

Dominic e Enzo não permitiram e eu não sabia o quão grave

foi o desentendimento entre eles, mas foi o suficiente para a


paranóia de Jackson achar que deveria reunir um dossiê. Foi isso
que matou o meu marido. Era proibido manter informações sobre os
negócios e a Agência fora da agência. Lá era um local protegido.

Meu telefone vibrou com a ligação de Martina.

— Oi, bambina.

— Ah que saudade. — Suspirei com uma vontade de me


esconder no vinhedo e não sair mais. — Como estão as coisas por

aí?

— No ritmo de sempre, mantenho a ordem, sabe disso.

— Eu sei. Não existe ninguém melhor para manter a ordem


do que a senhora. — Sorri com melancolia. — Você conheceu a

minha mãe ainda jovem?

— Desde menina... Por quê?


— Recentemente descobri que ela teve um filho aos

quatorze anos e não tem mais nenhuma informação. — Fiz uma


pausa. — Me conta a verdade.

— Não vou mentir. — Martina rebateu. — Sim, a sua mãe

teve um bebê e eu ajudei no parto, na clínica. Ela já estava

prometida ao seu pai, mas ela teve um namoro com o teu sogro e
esse namoro escondido resultou em uma criança.

Quase deixei o telefone cair. Martina não enrolou, era o que

eu queria, mas a informação jogada assim foi como uma tijolada na


cabeça.

— Minha mãe e Lorenzo tiveram um filho? — Esse homem

não sabia usar camisinha? Gozar fora? Nojento. Se reproduziu em

massa, o imbecil.

— Ela era muito jovem, mas ele já tinha dezoito e na minha

opinião, ele só a quis porque a sua mãe era um dos melhores

partidos da época e foi prometida ao seu pai. A famíliada sua mãe

escondeu a gravidez, o bebê nasceu prematuro, mas sobreviveu e


foi entregue a uma famíliaque vivia na Sicília. — Martina explicou e

engoli seco. — Acho que lembro o nome... — Ela ficou murmurando

por um tempo e deitei a minha cabeça no tampo frio da mesa,


querendo vomitar. Qual era o sentido de nomear de enjoo matinal se

durava até depois do almoço? — Lembrei! Foi uma senhora que não

podia ter filhos que acolheu o bebê. O sobrenome dela era Russo.
— Ergui a minha cabeça na hora e olhei para Marcus conversando

com Ilaria em uma sala de reuniões.

Os dois me encararam, ficaram sérios e eu virei para o lado,

vomitando na lixeira.

— De quantas semanas você está? — Martina foi direta ao


ponto.

— Sete semanas... Ninguém sabe, então...

— Eu vou separar uma lista de chás e receitas para acalmar

o seu enjoo — retrucou e eu agradeci, encerrando a chamada.

— Oi? Está tudo bem? — Ilaria entrou na sala e peguei um

lenço, limpando a minha boca e sinalizando para que esperasse. Ela

pegou a lixeira e entregou a alguém enquanto eu lavava a minha

boca e escovava os dentes. — Você está grávida?

— Não. Apenas com muita coisa na cabeça — menti

descaradamente.
— Certo. — Ilaria sentou-se na poltrona à minha frente. — O

que aconteceu?

— Acho que o seu marido é meu irmão e irmão de Enzo —

falei a verdade.

Contei ao Ângelo, Ilaria, Emerson e para Marcus, a pessoa

mais interessada em tudo, que poderíamos ser irmãos. Nós saímos


da empresa decididos a fazer um teste de DNA. Alessio levou

Carina até nós, porque Emerson era ligado a Amber e não a

Lorenzo, então não fazia sentido testar com ele.

— Não importa o resultado, isso vai ficar entre nós — alertei,


porque os gêmeos estavam com sede de sangue. — Isso me faz

pensar sobre a guerra com os russos no ano do nascimento de

vocês. Acho que tem algo aí que devemos buscar mais


informações, Enzo sempre disse que toda a guerra com Kátia

começou nesse ano, mas ele era um bebê e não sabia muito, só o

que Alonzo contou a ele.

— Certo... Vai ser foda. Meu pai não vai abrir a boca, nossa
mãe morreu nessa guerra e é um assunto delicado, mas eu vou

tentar. — Ângelo disse.


— Eu tenho que ir. — Sinalizei para Emerson. — Preciso

que me leve nesse endereço. — Mostrei a localização de Kyra.

Estava enjoada demais para dirigir e eu não me colocaria em risco.

Emerson assentiu e eu fiquei de olhos fechados no banco


do carona, tentando lutar com a náusea e peguei um chiclete, para

enganar o meu estômago com a mastigação. Ele dirigiu por quase

uma hora, estava começando a ficar maluca com Kyra procurando

novos lugares para a Agência. Ela conseguiu nos tirar da darkweb e


Jackson fez uma varredura com o seu sistema inteligente, mas foi

Kono quem ficou responsável em nos limpar dos aparelhos pessoais

de Jackson.

Ele sabia que Kyra poderia não ter coragem de cumprir uma

ameaça, o que eu não acreditava muito. Ela era uma assassina.

Jackson mexeu com o que ele não poderia mexer: a segurança dos

filhos dela. E eu não tinha nenhuma ligação emocional com ele, ao


contrário do meu marido, eu sequer gostava dele. Tinha carinho por

Alice, mas eu estava bem em tê-la me odiando se o marido dela nos

colocasse em risco novamente.

— Acho que é aqui. Lugarzinho difícilde achar. — Emerson


reclamou. Essa era a intenção.
Saímos do carro e eu levei mais um tempo encontrando a

porta certa entre um monte de galpões abandonados.

— Então? — Ela abriu os braços. — É tão grande quanto


D.C. foi um dia e teremos um centro de treinamento para novos

agentes.

— O jeito que você gosta de irritar o governo americano é


diferente.

— Relaxa. O presidente foi eleito por nós. — Kyra sorriu. —

Acharam facilmente?

— Claro que não. — Dei um olhar irritado.

— Ótimo. — Sorriu torto. — É claro que será preciso nos


camuflar, mas isso vai ser facilmente resolvido.

Emerson ficou nos fundos, olhando ao redor e caminhei com

Kyra até acharmos uma mesa velha onde nos sentamos.

— Meu pai começou isso tudo. — Kyra comentou meio que


do nada. Ela nunca falava sobre a família e eu queria ouvir. — Ele

era obcecado por isso... Acho que aprendi a andar em um tatame,

aos doze eu já sabia atirar e aos quinze, já tinha matado uma


pessoa mesmo sendo totalmente inocente e esperançosa. Sonhava
com uma vida boba e romântica com Alex. — Revirou os olhos.

— Você está com medo de não conseguir tirar Jack?

— Está na hora dele se aposentar... Ele precisa parar antes

que fique igual ao meu pai e eu não vou suportar passar por tudo
que passei com o meu pai, com Jack. — Ela me deu um olhar

emocionado. — Jack é um homem de vícios e ele fica obcecado

quando não consegue o que quer. É melhor sair assim, bem, do que
sair como o meu pai saiu. E eu conto com você para tomar a

decisão se ele não...

— Kyra!

— Não posso, Juliana. Eu me tornei mãe e de repente,


ganhei um coração. — Ela sorriu com os olhos marejados.

— Tudo bem, eu farei se você não puder.

— Obrigada. — Bateu com o ombro suavemente contra o


meu.

Ouvimos o ronco alto de um carro esportivo e eu suspirei,


pedir para Dominic ser discreto era o mesmo que pedir para ele
correr pelado no meio da Quinta Avenida. Sorri ao perceber que era
Kate conduzindo o carro e ela entrou em alta velocidade dentro do
galpão, parecendo se divertir horrores enquanto a expressão em
pânico de Dominic me fez soltar uma gargalhada verdadeira. Enzo

estaria morrendo com uma cena daquelas.

Deus, como sentia falta dele.

— Vocês viram o meu novo carro? — Kate gritou quando


saiu do veículo. Kyra riu. — Meu marido me deu! — Ela rodopiou.

— Eu não te dei nada, você que se recusou a sair do banco


do motorista. — Dominic resmungou. — Ela é louca.

Kate não parecia se importar e me abraçou apertado.

— Obrigada por salvar Dominic — falou baixinho.

— Madrinhas servem para isso.

Ficamos em silêncio e Dominic parecia melancólico.

— Eu adoraria dizer para Enzo que você me viu nu.

— Ele diria que o dele é maior e eu seria obrigada a


concordar, porque é verdade. — Brinquei e comecei a chorar. —

Desculpa. — Kate me abraçou. — Sinto tanta falta dele que... é


difícil respirar. — Todos eles me abraçaram. — Eu nunca imaginei
que um dia viveria sem ele. Tivemos tão pouco tempo juntos...
Mesmo assim, nenhuma medida de tempo seria o suficiente. —
Sequei o meu rosto. — Eu tenho que ir embora.

Eles não me impediram, porque sabiam que eu precisava de


um tempo. Emerson me levou para o carro e me aguentou chorando
ao seu lado até chegarmos em casa, sem me recriminar. Carina

estava no sofá, com a sua nova aparência abatida, perdendo peso,


com o cabelo sempre embolado e desarrumada. Eu me arrastei ao
seu lado e deitei a minha cabeça no seu colo, abraçando uma

almofada.

— Hoje é o casamento de Damon. — Ela fez conversa. —


Eu vi as fotos da noiva dele ontem, no jantar de ensaio e estava
muito linda.

— Ela é de tirar o fôlego, espero que Damon não seja um


idiota com ela.

— Ele é um homem, é claro que vai ser. — Carina riu e sorri.

O irmão dela era tão babaca comigo no começo e depois...

Ninguém nunca iria me amar como ele me amou. Não estava


falando de amor-próprio, porque eu me amava, tanto que estava
lutando pela minha vida e do meu bebê, não estava me afundando.

E eu não podia negar que dominar tantos homens e tanto dinheiro


era bom. Era viciante. Esse era o meu lugar, porque finalmente me
encontrei, mas se eu pudesse escolher entre fazer isso sozinha e

fazer junto com Enzo, eu escolheria estar com ele.

Pedi licença à Carina e me refugiei no meu quarto, cansada,

precisava comer alguma coisa, mas queria dormir antes. Tirei a


minha roupa, peguei uma camisa dele e vesti, me embolando na
cama. Enviei uma mensagem a Damon felicitando o casamento,

desliguei a conexão Wi-fi e de dados da internet, colocando o áudio


do coração do meu bebê batendo, abraçando o travesseiro do meu
marido. Eu não deixava que lavassem a fronha que ainda tinha o

cheiro do perfume dele. Não seria a mesma coisa se eu borrifasse.

O cheiro estava ficando cada vez mais fraco.

Já eu, me sentia cada vez mais forte no mundo externo,


ganhando espaço, notoriedade e respeito. No meu mundinho

interno, meu coração estava partido e cada dia que passava sem
Enzo, me via tentando entender como achar um equilíbrio entre
precisar seguir em frente e não querer seguir em frente sem ele.

Me tornei a viúva mais poderosa do mundo aos vinte e dois

anos quando eu só queria ser a mulher mais poderosa do mundo. A


vida, definitivamente, não era sobre querer. Era sobre o quão forte

você poderia aguentar o sofrimento que ela causava.


Quarenta e sete | Enzo.

Juliana Rafaelli é vista na companhia de Dominic King, em


almoço beneficenteno Central Park. Ela chegou acompanhada dos
seus seguranças e não respondeu às perguntas da imprensa local

sobre o marido, Enzo Rafaelli. A imprensa especula que o casal


está enfrentando uma crise. Segundo algumas fontes, ele foi visto

viajando com amigos na Itália. Será o fim desse poderoso


casamento?

— Não havia nada lá.

— De novo? — Kátia gritou, puta e eu ri. Mika começou a rir


do meu lado.

Rir fazia o meu corpo inteiro doer.

Nós estávamos trancados no escuro, amarrados e nus.

Podia sentir o ferimento na minha costela pulsar, mas estava com

uma bolsa de soro liberando medicamento, prova de que eles ainda


me queriam vivo.

— Está na hora de aceitarmos o fato de que ele nos

enganou. Deu a localização, pegou o dinheiro e sumiu, mas nada do


que disse que iria acontecer, aconteceu. — Um deles falou, com um
sotaque russo muito forte. — Odeio admitir que parecem ainda mais

fortes. A mulher assumiu, é o que estão dizendo nas ruas e ela está
comandando o território com sangue. Estão matando cada um dos

nossos e não estão recuando.

— Vamos mudar os nossos planos. — Kátia falou, bem

baixo. — Assim que conseguirmos o que queremos, vamos atrás de


Alonzo e ele vai pagar muito caro por me enganar.

Que ela entrasse na fila...

— Resista mais um pouco, Mika. Nós vamos sair daqui.

— Eles pensam que nós morremos. — Mika gemeu de dor.

— Não tenho certeza. A nossa morte não foi divulgada, eles

estão fazendo parecer que estou viajando, então nós vamos sair

daqui. — Eu tinha esperança e iria continuar me apegando a ela.

Ouvi ruídosdo lado de fora e pensei que eles fossem abrir a

porta novamente.

— Peguem a mulher e a criança. Extraiam todas as

informações dela e nos reuniremos à noite. — Kátia ordenou. —

Amanhã nós voltamos a conversar com eles. Quem sabe eles terão
um incentivo com uma nova companhia.
Deus, por favor, que eles fiquem bem longe de Juliana.

Fechei os meus olhos e rezei para que a minha mulher

continuasse segura.
Quarenta e oito | Juliana.

Me olhei no espelho de lado e com dez semanas de gestação,

não tinha barriga nenhuma, exceto por meus peitos, eu podia


esconder que estava grávida por mais algumas semanas. Eu não

fazia ideia do que iria fazer, mas estava com pouco tempo para
descobrir, no momento, lidando com as descobertas da minha
família.

Marcus era meu irmão e irmão do meu marido. Enzo e eu

tínhamos mais que um bebê em comum, tínhamos um irmão mais


velho. Enquanto fiquei feliz em ter um irmão, já que era filha única,
eu não conseguia pensar que minha mãe, aos quatorze anos, deu o

consentimento a Lorenzo. Eu não a conhecia, não podia afirmar


qual era a sua índole, mas ela era uma criança e ele já era um
homem feito.

Todos nós ficamos com o estômago embrulhado com a

possibilidade de Marcus ser fruto de um estupro. Nada me tirava da


cabeça que Lorenzo abusou sexualmente da minha mãe, apenas

para ter o que lhe foi negado. Ele fez isso com Sierra, tirou-lhe o

filho porque ela o traiu e fez com Amber, que estava noiva de outro
homem quando o conheceu e ele a quis a todo custo.
Lorenzo era um monstro.

Sentia vontade de vomitar cada vez que ele aparecia e me

pressionava para dar a Enzo um velório e divulgar sua morte. Não


importava o que ele queria, eu ainda não estava satisfeita. Ainda

não tinha eliminado russos o suficiente e ainda não tinha encontrado

Kátia. Eu a queria pessoalmente. Alonzo era uma história ainda


mais complicada, eu não admitia em voz alta, mas ele conseguiu

tanto dinheiro nos vendendo para os nossos inimigos que seria

impossível rastreá-lo até que ficasse sem dinheiro novamente.

Não tinha esperança de pegá-lo, mas Kátia sim. E eu a

transformaria em milhares de pedaços.

Abaixei a minha blusa ao ouvir sons de coisas sendo

quebradas e gritos. Peguei a minha arma e saí do quarto, Carina

gritou e Alessio estava em cima de Lorenzo enquanto Emerson

desarmava o pai.

— O que está acontecendo aqui? — gritei e ele continuava

se debatendo.

— Papai invadiu aqui, gritando, querendo falar com você. —

Carina estava com a mão no peito. — Eu deixei cair todos os pratos,


que susto. — Ela estava no meio de um monte de caco de vidro.
Ajudei-a a sair e Emerson conseguiu controlar o pai.

— O que você fez com ela, Juliana? — Lorenzo gritou.

— Eu adoraria saber quem. — Inclinei a minha cabeça para

o lado. — Pare de gritar dentro da minha casa. Fique de pé e fale


comigo direito antes que eu decida que você é inútil. — Sinalizei

para que Alessio ajudasse Emerson a erguê-lo. — O que você está

falando?

— Amber foi levada!

Carina quase caiu nos vidros antes que o pai pudesse


continuar a explicar.

— Ela foi ao mercado com a empregada e um segurança,

demorou a voltar. Eles foram mortos e ela foi levada. — Lorenzo

gritou comigo. — Deixaram essa nota, para te procurar. — Peguei o


papel e realmente dizia que, se ele quisesse a mulher de volta,

deveria me procurar.

— Enquanto eu desprezo a sua existência, eu jamais

machucaria Amber. Não fiz nada. — Joguei o papel nele de volta. —

Vão. Procurem Amber. Não importa o valor do resgate, nós vamos

pagar e reúna a família,ficaremos juntos até que isso se resolva. —


ordenei e eles saíram. — É melhor você se acalmar. Não tenho

paciência.

— Susana? Você pode me ajudar? — Carina estava

tremendo.

Susana e Renata saíramda cozinha para limpar os vidros e

eu levei Carina para fazer um curativo. Não levou dois minutos para
Linda aparecer, ela deu um olhar de desprezo ao nosso sogro e

parou do meu lado.

— É verdade?

— Parece que sim, mandei confirmar. — Cruzei os meus


braços, olhando-o. Ele não pareceu triste quando Enzo morreu, mas

parecia preocupado, suando muito e com um olhar de desespero.


Estava tentando bancar o durão. Na semana anterior, ao encontrar

com Damon, ele deu a entender que esperavam que eu estivesse


no carro com Enzo, afinal, era uma morte. Era esperado que
acompanhasse Enzo na viagem.

— Será que ele não está por trás disso?

— Vamos descobrir em algumas horas, mas o que ele


ganharia sequestrando Amber?
— Não sei. Estou apenas pensando nas possibilidades. —

Encolheu os ombros. — Emerson apareceu tão nervoso e jogou um


monte de coisa no chão enquanto pegava as suas coisas. — Ela

abriu a mão e revelou um pacotinho branco. — Juliana, eu não sei


se posso suportar isso. Não vou aguentar vê-lo...

— Nada vai acontecer. — Peguei o pacote e enfiei no meu


bolso. — Quer que eu peça para Stefanio fazer uma varredura no

apartamento?

— Acho que sim, se ele ficar bravo, eu vou dizer que fui eu.

— Assentiu e enviei um SMS para Stefanio. Ele saberia onde


procurar, porque já estava acostumado a fazer isso para Enzo
sempre que desconfiava que Emerson tinha voltado a usar. — Eu

não estou passando a mão na cabeça dele, mas tenha paciência, a


ausência de Enzo está sendo muito difícil. Se Carina emagrecer

mais um pouco, acho que terei que interná-la também. Cada um


está reagindo de uma maneira.

— Eu sei. — Linda me abraçou. — Você nem teve o direito


de quebrar.

— Eu estou quebrada, só não pude chorar por isso.

— Sinto muito. — Me deu um beijo na bochecha.


Enviei uma mensagem para Kyra pedindo reforços, ela
rapidamente começou a olhar as câmeras de trânsito para verificar a
ação. Enquanto esperava Ângelo chegar, fiquei esperando uma

informação confirmando o sequestro. Lorenzo estava suando,


mexendo no telefone celular e eu arranquei o aparelho de sua mão,

olhando para quem estava mandando a mensagem.

— De quem é esse número?

Ele só me olhou. Idiota. Tirei a minha pistola da cintura e


coloquei em seu queixo.

— De quem é a porra desse número? — Pressionei.

— É o último contato que eu tenho de Alonzo. Eu quero

saber se ele tem alguma coisa a ver com isso. — Lorenzo


confessou e eu estava ignorando Carina me implorando para parar.

— Então você sabe que ele tem tudo a ver com a morte de
Enzo?

— Não tenho certeza. — Ele olhou nos meus olhos. —


Sabia que Alonzo estava planejando algo, mas não sabia o que iria

fazer. Ele parou de nos contatar desde que matou Francesco.


Me afastei, chocada que eles sabiam que Alonzo iria matar
o pai de Damon. Lorenzo tentou me desarmar e dei uma joelhada
em suas bolas, ele caiu de joelhos, gemendo de dor.

— Se comporta. — Me afastei com o telefone dele em

mãos.

Enviei o número para Kyra, na chama de esperança que ela

pudesse rastrear, mas fazia tempo que Lorenzo não mandava


mensagens e eu duvidava que Alonzo seria burro de manter o

número. Ele não era como Jack, que ficava cego pela ambição.

Alonzo era pior que todos nós juntos, porque ele estava se movendo

por raiva. Ele tinha o intenso desejo de vingança.

Destruir a família e os seus associados, simplesmente

porque tinha ódio de si mesmo, por tudo o que foi obrigado a fazer,

por ser um Rafaelli e ainda ficar com a menor parte de todos os

rendimentos da família por ser o filho homem caçula.

Kyra me enviou o vídeoda lateral do mercado, mostrando o

exato segundo que Amber foi arrastada para um carro e o

segurança sendo morto na hora, jogado em um porta-malas. A


empregada foi arrastada para um carro, mas já sabia que estava

morta porque o corpo foi encontrado.


Nós ficamos horas esperando qualquer pedido de resgate,

quanto mais o tempo passava, menos acreditava que Lorenzo tinha


algo a ver com aquilo. Ele parecia aflito e desesperado. Marcus não

ficou perto dele e eu me perguntei como era saber que o pai era um

monstro. Segurei a mão do meu irmão e ele beijou. Nós nos


aproximamos muito depois que descobrimos o nosso laço em

comum e em meio a tantas coisas ruins, aquilo me fez muito feliz.

— Chegou isso aqui! — Stefanio me entregou uma caixa.

Tirei o canivete da bota e rasguei o objeto, abrindo. Dentro, havia


um DVD e uma foto de Amber amarrada em uma cadeira. Ela

estava desgrenhada e chorando muito.

— Coloque o DVD. — Entreguei ao Ângelo, que foi em

direção ao aparelho da sala.

Após uma tela azul, a imagem ajustou em Amber olhando

para um papel.

— Juliana. — O bilhete era endereçado a mim. — Se você

me quer de volta, entregue Cosimo no lugar. Esteja em vinte e


quatro horas no campo de pouso ao leste da cidade. — E o vídeo

encerrava.

— Merda. — Lorenzo puxou os cabelos.


— Por que eles querem o meu pai? — Ilaria saiu do canto.

— Acho que seu tio sabe muito bem o porquê. — Cruzei os

meus braços e me afundei no sofá. — Essa é a hora de falar a

verdade, principalmente se quiser a sua esposa de volta. Se não


falar, você tem dois filhos para prestar contas. — Dei de ombros.

— É melhor você falar ou eu vou arrancar a verdade. Se

você brincar com a vida da mamãe, eu vou te matar. — Emerson

puxou a sua pistola e apontou para a testa do pai. — FALA AGORA!

— A história é longa. — Lorenzo estava derrotado. — Amber

não tem nada a ver com isso, Juliana. Faça o que for preciso para

salvá-la, por favor. — Me pediu com honestidade e mordi o meu

lábio, olhando para os gêmeos. Cosimo era pai deles. — No


passado, aconteceu algo entre Cosimo e Kátia e ela finalmente

encontrou o jeito de se vingar.

— O que aconteceu? Sem enrolação. — Determinei,


cansada de tanto discursinho. Queria a verdade para poder pensar

no que fazer e como resgatar Amber. Talvez invadir o local e pegá-

la, se Kátia estivesse lá, seria melhor ainda.

Lorenzo olhou para os gêmeos e depois para mim.


— Alguns anos atrás, estávamos em uma guerra intensa por

território e tivemos um embate no Brooklyn que dizimou a vida de


muitas pessoas. — Ele voltou a falar. — Na época, Kátia era só a

filha do líder, uma bailarina que tinha acabado de dar à luz a um

casal de gêmeos. — Lorenzo olhou para Ilaria nervosamente. — Ele


roubou as crianças. Sequestrou... Criou como seus filhos. Por anos,

escondeu na Itália e manteve as crianças reclusas, treinando-as e

educando como se elas fossem sangue italiano.

Ilaria caiu sentada.

— Nós somos filhos dela? — Ângelo vocalizou com

dificuldade e Antônia segurou a sua mão, apertando. — Fomos

sequestrados?

— Eu passei os últimos anos tentando matar a minha


própria mãe? — Ilaria estava indignada. — Sinceramente... — Ela

respirou fundo. — Não consigo nem pensar.

— Uau. Vocês são ainda piores do que eu pensava. — Bati

palmas e Lorenzo me encarou. — Então, isso quer dizer, que você


está disposto a dar o seu irmão, o seu cúmplice, em troca da sua

esposa?
— Amber não tem nada a ver com isso, ela nem sabe da

história verdadeira, nós sempre dissemos a ela que os gêmeos

foram abandonados pela mãe e ela era uma amante de Cosimo. Ela

acreditava que não falávamos sobre isso porque não queríamos ferir
a memória da falecida esposa que ele nunca teve.

Olhei para Ângelo e ele estava transtornado, ergueu o dedo

me pedindo um minuto, saindo da sala com a irmã. Antônia e

Marcus seguiram atrás deles. Peguei o meu telefone e enviei uma


mensagem a Damon, ele estava na Itália, mas precisaria estar ali

conosco o mais rápido possível. Se eu iria trocar um membro da

famíliaRafaelli por outro, Damon, como sobrinho legítimo,precisaria


estar presente.

— É, isso vai ser divertido. — Olhei a hora e fui até a

cozinha, abri a geladeira e tirei algumas coisas para comer. Estava

quase terminando de montar um sanduíche cheio de queijo e


salame quando Carina entrou na cozinha com Alessio. Não levou

dois segundos para Emerson aparecer de mãos dadas com Linda.

— O que foi? Estou com fome.

— Juliana? — Carina riu. — Todo mundo já sabe. — Revirou


os olhos.
— Sabem do que?

— Do bolo no forno. — Emerson apontou para a minha

barriga.

— Você está vomitando todos os dias e o seu humor é de

uma cadela delirante. — Linda sorriu e roubou umas fatias de

salame.

— Eu ia contar depois... Quando chegasse ao segundo


trimestre. — Coloquei o meu sanduíche para baixo. — Estou

tentando envolver a minha mente ao redor do fato de que eu vou

criar um filho sozinha. — Encolhi os ombros.

— Nós estaremos com você. — Carina segurou a minha

mão.

Era bobagem pensar que eles viveriam para sempre

comigo, porque ela era jovem, tinha planos e no futuro, se casaria


com Alessio ou com qualquer outro homem que se apaixonasse.

Linda e Emerson teriam filhos e suas próprias vidas. Não viveríamos

juntos para sempre e eu sequer tinha certeza se ficaria em Nova

Iorque. Não fazia ideia do que fazer com a minha vida, porque
enquanto eu queria ficar e continuar na minha posição, estava com

medo de não conseguir dar uma vida segura ao meu bebê.


— Será que Ilaria vai nos perdoar por dar Cosimo em troca
da mamãe? — Carina perguntou baixinho.

— Espero que sim, porque ele a sequestrou e o irmão. Ele

deu a eles uma vida infernal. — Voltei a comer. — Além do mais, a

única coisa que Lorenzo tem razão é que Amber não tem que pagar
por algo que não fez. — Completei de boca cheia e a porta da

cozinha foi bruscamente aberta por Ilaria. — O que foi agora?

— Nós vamos entregá-lo por ela. Tia Amber não tem que
pagar pelo que foi feito.

— Você acredita no Lorenzo? Pode ser mentira dele para

libertar Amber a todo custo. — Limpei a minha boca. Ilaria se

aproximou.

— A família inteira se parece. O meu marido parece mais

com os meus primos do que eu mesma... — Ela tirou o celular do


bolso. — Esse é o retrato falado de Kátia e olha para mim. —

Apontou para o seu próprio rosto. — Não tem como duvidar. Além
do mais, o meu pai permitiu que vovô mandasse me estuprar
quando eu tinha quinze anos, então eu quero que ele se foda.

— Muito bem... Vão atrás dele e quando der a hora, iremos


trocá-lo.
Eu não ia discutir. Não gostava do Cosimo.
Quarenta e nove | Juliana.

Encolhi as minhas pernas e me abracei, sentada no meio da

cama usando uma camisa longa de Enzo. Enfiei o meu nariz na


manga, o idiota guardou usada, tão bem guardada que eu levei um

tempo para achar. Ele sabia que eu odiava que guardasse roupas
usadas e ele achava ridículo lavar a roupa depois de ter usado uma
única vez. Aquela camisa tinha o seu cheiro real e eu estava com

ela no corpo para me sentir um pouco com ele.

Em algumas horas precisaria trocar Cosimo por Amber e eu


não fazia ideia do que realmente esperar. Era a minha primeira vez
e a única coisa que estava disposta era a matar qualquer um que

pudesse me colocar em risco e não entrar em nenhuma luta, pois


não podia bancar a super heroína. Eu não suportaria perder o meu
bebê.

Minha cabeça doía e eu queria dormir, mas estava vivendo

horas de insônia e estresse. Pedi alguns minutos no meu quarto, em


privacidade, precisando colocar a minha cabeça no lugar.

— Ah, bebê. A sua mãe está com tantos problemas... —

Acariciei a minha barriga. — Mal vejo a hora de te sentir mexendo

aqui dentro.
Me joguei para trás, me cobrindo e fechando os olhos.

Pensei no quanto precisava tirar um cochilo, mas a minha mente


estava muito cheia para conseguir dormir. Estava cansada. Exausta,

para falar a verdade. Fiquei na cama por um longo tempo,

descansando o meu corpo. Quando o meu telefone despertou,


enviei uma mensagem para Damon porque ele estava em seu

apartamento com Giovanna, apenas aguardando a hora de sair.

Me levantei com preguiça, vesti uma calça jeans, tênis e me

preparei com facas e duas armas. Prendi o meu cabelo, saindo do


quarto com vontade de tomar um remédio para dormir e ficar na

cama por uma semana. Não queria ir, estava com medo, meu bebê

era tudo o que tinha de mais importante na minha vida e a minha


única ligação com Enzo, além de um par de alianças no meu dedo.

O meu bebê era um pedaço do meu marido.

Antes de descer a escada, parei, respirei fundo, fiz uma reza


para voltar inteira para casa e com Amber, mas se não desse, que

eu voltasse inteira. Eu estava em uma fase completamente egoísta

e não tinha vergonha daquilo. Estava cansada de lutar por todo

mundo. Eu só queria lutar por mim mesma.


— Todos prontos? — Desci as escadas. — Emerson, eu
preciso que você fique com Carina. Ela está histérica lá no quarto e

não sei que besteira vai fazer. — Apontei para a escada, ele

assentiu. Não ia levá-lo, porque a mente não estaria focada no

trabalho. — E você, de olho em Lorenzo — falei com Alessio e

apontei para a sala de jantar, onde meu sogro estava sentado. —

Assim que eu der o sinal, ele vai para o carro com Stefanio e vocês
para o helicóptero. Minha mala está pronta, não vou levar muitas

coisas. Nos vemos em Hampton em algumas horas.

Alessio me deu um abraço. Ele não estava feliz em não ir

comigo, mas eu não confiava em ninguém mais para vigiar Lorenzo.

Meu primo não hesitaria em matá-lo, porque assim como eu, não
era um parente. Emerson poderia relutar e até ajudar o pai a fugir.

Só porque estava trocando a vida de Cosimo pela de Amber não

significava que Lorenzo estava livre por saber que Alonzo estava

por trás da morte de Enzo.

O seu próprio filho.

Com essa raiva, entrei no elevador preparada para a guerra.

Kátia Rostov me enviou flores. Ela disse que estava ansiosa para

me encontrar pessoalmente e só de pensar, sentia vontade de


vomitar. Minhas emoções estavam correndo por todo o lado. Minha

raiva me impulsionava a correr na direção dela e o meu medo me


dava vontade de correr na direção oposta e me esconder.

Encontrei Ângelo no carro, ele estava sério, parecendo


irritado e eu me perguntei como tinha sido o encontro com seu pai.

Pela expressão, não queria conversar e respeitei, ficando em


silêncio enquanto dirigia até o galpão onde iríamos nos encontrar

com os demais. Ilaria e Marcus já estavam lá, encostados em um


carro, parecendo discutir.

— Acho melhor deixarmos os dois discutindo em

privacidade — falei com Ângelo. — Você está bem com isso?

— Estou com a minha cabeça fodida.

— Quer voltar atrás?

— Não. Ele nunca foi um bom pai e eu fantasiei em matá-lo


a maior parte da minha vida. Ele me espancava e abusou

psicologicamente da minha irmã até que eu fiquei maior que ele. —


Refletiu e me deu um olhar sombrio. — Eu queria matá-lo.

— Talvez ainda consiga, não sabemos o que vai acontecer


esta noite.
— É verdade — concordou enquanto saíamos do carro.

Ficamos em silêncio, cada um em um canto, sem clima para

conversa fiada e era bom, porque não queria que eles soubessem
que estava nervosa. Da última vez que tive um embate direto com a
máfia russa, o resultado foi umas costelas fissuradas e um aborto.

Definitivamente não queria o mesmo resultado. Ilaria estava


verificando a região por satélite, usando o computador de Ângelo e

do jeito que parecia furiosa, fiquei bem afastada.

Ouvi o carro de Damon antes de vê-lo. Marcus correu até o

portão do galpão e abriu um pouco mais para o carro dele passar.

— É hora do show.

Damon estacionou e saiu com confiança e autoridade. Me


afastei um pouco do veículo enquanto ele se aproximava com

calma.

— Seremos apenas nós esta noite. Emerson e Alessio

ficaram de olho em Lorenzo e fazendo a segurança de Carina. —


Antônia estava monitorando a frequência do rádio da polícia para

nos avisar se tivessem muitas chamadas para a região que


estávamos. Linda estava com Carina, tentando acalmá-la, uma
tarefa que parecia impossível mediante o estado de nervos da
minha cunhada.

— Quanto menos, melhor. Já estamos fodidos o suficiente.


Cadê ele?

Damon não estava se importando muito em quebrar o


juramento da famiglia, mas essa atitude poderia deixar muitos
chefes e subchefes desconfortáveis com a falta de lealdade. Como

se os irmãos Rafaelli fossem leais a qualquer coisa além de seu


próprio umbigo.

— No porta-malas. — Ângelo respondeu. — Quer falar com


ele? Não abriu a porra da boca para nada.

— Ele não me interessa e é melhor que Kátia cumpra a


parte dela, ou eu vou matá-la sem me importar que a Rússia inteira

vá estar aqui amanhã. — O jeito estressado de Damon me lembrava


Enzo. Eles eram parecidos em muitas coisas.

— Estarei com você. — Ilaria resmungou.

Olhei para o meu relógio e ele verificou o dele.

— Precisamos nos separar. — Damon apontou para o carro.


— Ângelo e Juliana irão com a carga preciosa. Vocês dois se
dividam... É só uma troca, mas qualquer sinal de perigo, atirem para
recuar. Algo acontecendo, voltaremos para cá para realinhar.

— É melhor todos vocês saírem de lá inteiros. — Afirmei,


nem um pouco disposta a perder qualquer um deles.

Damon voltou para o seu carro, saindo de ré em alta


velocidade e eu pulei no banco do motorista, com Ângelo escondido

no banco de trás. Ele foi me passando as armas carregadas e eu fui


dirigindo até o ponto de encontro. Eu não podia ver Damon, Ilaria e

Marcus, espalhados em pontos diferentes. Era uma escuridão tão

intensa, que nem os faróis altos do carro me permitiam ver a

distância. Estava confiando que cada um estava em sua posição.

Ângelo aproveitou o farol alto para correr para a escuridão e

assumir o seu lugar, assim eu fiquei com Cosimo chutando o porta-

malas repetidamente, com as mãos tremendo e pronta para o que

viesse. Meia hora se passou até que vi as primeiras luzes do avião


piscando no céu. Meu telefone estava vibrando e eu ignorei, não

podia lidar, ainda mais que era um número desconhecido. Kyra

começou a me ligar, mas o avião estava pousando e eu não podia


me distrair.
Assim que o avião pousou, liguei o carro novamente e me

aproximei devagar, meu coração batia tão forte que minha caixa
torácica estava doendo. Cosimo continuava chutando o banco e eu

estava quase dando um tiro para que parasse. As portas do avião

se abriram e eu esperei que ela saísse,primeiro fiquei chocada com


a sua intensa semelhança com Ilaria e segundo, o meu sexto

sentido me avisou que havia algo errado.

Abri a porta e fiquei protegida por ela, já que o carro era

blindado.

— Cadê Amber? — gritei para que pudesse ser ouvida.

Kátia estava com dois homens. Ela continuou na escada do

avião.

— Primeiro entregue o que quero, ou nada será feito —


respondeu. Dei uma olhada no avião, era muito alto para visualizar

as janelas e eu não tinha certeza se Amber estava lá dentro.

Ouvi o sinal suave de Ângelo, era a dica de que não

estávamos sozinhos e eu estava pronta para atirar, quando a


cabeça de um dos russos explodiu. Pela direção, só podia ser

Damon. Disparos começaram e eu me joguei no carro, fechando a

porta e saindo de lá o mais rápido possível. Voltei para a estrada


com o carro sendo alvejado em diversos lugares e parei para pegar

Ângelo, atirando contra, dando-lhe cobertura para que entrasse no

lado do carona.

— Que porra deu errado?

— Acho que ela não estava sozinha. — Dirigi o mais rápido

possível.

Damon parou, me dando passagem e cobertura para fugir

enquanto esperava Marcus correr na sua direção. O carro de Ilaria


estava saindo da estrada e eu simplesmente soube que ela estava

machucada, mas seguiu em frente e ainda conseguiu criar uma boa

vantagem entre nós. De repente, eu vi um farol fraco me seguindo.

O carro estava quase atingindo a minha traseira, quando o joguei


para o lado.

Eu não sabia quem era e não tinha nenhuma visão quando

ele emparelhou ao lado. Eu estava prestes a atirar contra o carro,


quando vi o motorista.

— ENZO! — Ângelo gritou ao meu lado e eu simplesmente

joguei o meu carro contra a SUV velha que um homem parecido

com o meu marido dirigia. O nosso galpão de encontro estava se


aproximando, na escuridão, eu podia ver as lanternas de freio de

Ilaria. Se ela estava ferida, não podíamos ir embora.

Criando uma vantagem contra o outro carro, entrei no

galpão e freei logo atrás. Ângelo pulou fora do carro, correndo para

a sua irmã. Ele a tirou, perdendo sangue e a colocou deitada contra

o carro, pressionando a sua ferida. A SUV velha invadiu o galpão e


eu me preparei para atirar quando realmente vi o motorista. Ele

parou o carro e saiu, correndo na minha direção e eu não podia

acreditar que aquilo era real. Ergui o meu braço e armei o meu
punho, dando um soco nele.

— Juliana! — Deus, era a sua voz. — Amore, para. — E eu

não conseguia parar de bater. Enquanto ele tentava me segurar, eu

só queria continuar batendo.

Fui arrancada dele por braços fortes e Damon me jogou

dentro do carro como um saco leve, fechou a porta e gritou com

Enzo, mas eles simplesmente se abraçaram.

Enzo.

Meu coração batia forte e o meu cérebro não acreditava no

que os meus olhos viam. Meu marido estava vivo. Muito magro,

ferido, cabeça raspada e um olhar diferente, mas era o meu marido.


Ele e Damon gritaram ordens, assumindo o controle, como se

mandassem em alguma coisa e a minha vontade era atirar em cada

um.

Enzo abriu a porta do carro para assumir a direção no


mesmo segundo que o meu estômago deu um solavanco, abri a

porta e vomitei.

— Você precisa de alguma coisa? — Damon me perguntou.

Ângelo abriu o porta-malas e deu dois tiros no pai, que


finalmente parou de gritar e chutar os bancos. Voltei para o meu

lugar, tomando um par de respirações, abrindo o porta luvas,

lavando a minha boca com água e usando enxaguante bucal,

cuspindo.

— Vamos para casa. — Damon bateu no capô.

Eu estava pronta para gritar com Enzo, quando Damon

atendeu o telefone e a expressão dele ficou em branco. Algo estava

errado. Enzo saiu do carro rapidamente, parando ao lado do primo e


eu fui mais devagar, com a minha cabeça girando e quase

vomitando novamente.

— FILHO DA PUTA! — Damon gritou e falou algo


desconexo sobre Giovanna, ele correu para o carro e eu mal tive
tempo, gritando para Ângelo levar Ilaria para o médico e se livrar do

pai dele, morto no porta-malas do meu carro.

Damon começou a dirigir como um louco, pegando o


telefone e ligando para a esposa e seja lá o que ele ouviu, o fez ficar

ainda mais desesperado e dirigir mais rápido.

— Alonzo atirou no meu soldado, Enrico e Giovanna estão


feridos. — A voz dele estava embargada. — O filho da puta!

Ele estava com medo e o seu medo me deixou ainda mais

desesperada. Encontrei um saco no banco de trás e vomitei

novamente, a náusea escolhendo um péssimo momento. Ia acabar


me matando. Eu podia sentir o olhar de Enzo em mim e ignorei.

Puxei o meu telefone do bolso, gritando que levassem reforços para

a cobertura de Damon na cidade.

Nós entramos no complexo de apartamentos e havia uma


comoção dos vizinhos, assim como dos seguranças. Eu empurrei

um homem para entrar no elevador. Enzo segurou as portas para

Damon passar, depois de dar um soco no segurança. Eu enviei a


minha localização para Kyra, ela precisava apagar as imagens e

tentar desviar as chamadas que a polícia recebesse.


Damon saiu primeiro, empurrando a porta aberta e fiquei
arrepiada ao ver o corpo caídocontra o sofá. Enrico estava no chão,

perdendo muito sangue e caído em uma posição protetora em cima

de Giovanna. Ela estava ferida, porém, acordada. Seu olhar


desfocado encontrou o do marido.

— Bella, estou aqui. — Damon falou com ela

amorosamente.

— É um ferimento atrás. Ela deve ter caído em cima dos


vidros. — Analisei o ferimento. Kyra me avisou que tínhamos dois

minutos para sair do apartamento, a polícia chegaria, mas ela

cuidaria do restante... Principalmente do corpo. — Precisamos sair


daqui, não é um lugar seguro e alguém virá para fazer a limpeza,

mas temos que sair antes que a polícia consiga entrar aqui.

Enzo e eu tiramos Enrico de cima dela com cuidado, ele


gemeu de dor e acordou, lutando contra nós.

— Ei, cara. — Damon falou com ele. — Sou eu, irmão.

— Giovanna... — Enrico gemeu.

— Ela está bem. — Damon garantiu.


Enzo conseguiu erguer Enrico do chão. Stefanio surgiu
correndo com mais dois e eles derraparam ao ver Enzo vivo, até
ficaram pálidos.

— Acordem, não temos tempo para isso agora, vamos! —


gritei com eles, que rapidamente pegaram Enrico.

Damon ergueu Giovanna do chão. Eu corri até o quarto,


recolhendo todas as coisas pessoais deles como carteira, celular,

dinheiro, e, sorte que as roupas não estavam fora da mala. Enzo


agarrou a bolsa que parecia ser de Enrico, joguei algumas coisas no
centro da cama e fiz uma trouxa, entregando para Enzo carregar.

Nós entramos no elevador de serviço, descendo rapidamente até a


garagem onde tinha outro carro que eles mantinham na cidade.

Jogamos as coisas na parte de trás e pulei no banco de trás

com Giovanna, mantendo-a imóvel em cima de mim e foi naquele


momento que vi o enorme pedaço de cerâmica cravado nas suas

costas. Acendi a luz e me perguntei como... Estava profundo e ela


precisaria estar sedada para aguentar a retirada. Ficaria um belo
corte nas costas.

— Ela está acordada? — Damon me olhou.


— Não. Está respirando e seu pulso está firme. Vamos em
frente, Damon. Ela vai aguentar — garanti e a abracei com cuidado,
mantendo seu corpo o mais imóvel possível para que não se

movesse e ferisse ainda mais.

De longe, podíamos ouvir as sirenes da políciae eu enviei a

mensagem para Alessio embarcar com Carina e Emerson, enviando


o pai deles para a casa segura no qual ficaria até que soubesse
onde estava Amber. Avisei a Damon que havia um helicóptero nos

aguardando em um dos nossos prédios e com a políciatão próxima,


precisávamos sair da cidade o mais rápido possível. Uma coisa era
deixar rastros que poderiam ser varridos para debaixo do tapete.

Outra coisa era sermos pegos.

Enzo virou no banco da frente e me encarou. Ele estava


vivo.

Não podia ser real.


Cinquenta | Enzo.

Mais uma porrada. Mais um soco. Eles poderiam diversificar.

Já sentia tanta dor, que mais um soco não fazia a menor diferença.
Olhei para o corpo caído de Mika e me forcei a aguentar calado

mais um pouco. Eu não fazia ideia de quanto tempo estava ali, perdi
a noção, mas já estava esgotado.

Eles não pareciam inclinados a me matar até que eu desse o


que queriam: as senhas de acesso, rotas secretas das drogas, os

carregamentos e eu realmente não disse nada.

As poucas pistas que dei, eles não conseguiram nada, porque


a partir do momento que fizeram parecer que eu morri, tudo mudou.

Não fazia ideia quem estava no comando da minha família, não


acreditava no rumor que era Juliana, a minha morte não foi
divulgada e eu ainda estava vivo, cansado de apanhar e querendo

matar todos eles.

— Já chega por hoje. — Uma voz feminina ordenou. O meu

rosto seria a última coisa que ela veria antes de morrer.

Eles me levaram de volta para o chão e eu contei até

sessenta três vezes até a mulher baixa entrar. Ela sempre parecia
muito assustada quando me via, mas fazia o seu trabalho. Seu rosto

estava cheio de contusões e eu não fazia ideia do que os russos


queriam com ela, mas toda vez que a via, significava que a dor iria

diminuir um pouco. Ela colocou a bolsa de soro e a medicação, que

amenizou, mas não passou.

Fechei os meus olhos e me levei para o meu lugarzinho


favorito. As minhas doces lembranças com minha linda mulher.

Pensar em Juliana me dava forças, me mantinha vivo. Cada vez que

mentalizava a sua risada, o seu cheiro, seus gritinhos histéricos,


parte do meu corpo e mente ficavam fortes para aguentar sessões

intermináveis de tortura, os afogamentos, os socos no estômago e

os cortes em cima das tatuagens que representavam a minha


família. Eles abriram um corte em cima do nome dela e eu ia matá-

los por isso.

Uma água fria no meu rosto me despertou à força. O idiota

que jogou água em mim estava rindo. Levaram o corpo de Mika em

algum momento no meio da noite. Ele me ergueu do chão e me


jogou contra a parede repetidas vezes, enquanto me levava para a

sala de tortura. Eles iam começar muito cedo daquela vez. Para

minha surpresa, a minha cadeira já estava ocupada.


Minha mãe.

Se eles queriam uma reação, iriam se decepcionar.

Eu imaginava que eles trariam alguém para me fazer falar.

Eu amava a minha mãe, mas entre ela e Juliana, escolheria Juliana.

Era simples. Não existia a chance de entregar qualquer mísera


situação que colocasse a vida da minha mulher em risco já que,

pelo visto, ela não estava na porra do lugar seguro. Iria matar

Damon por não a ter colocado à força dentro do avião, como havia

me prometido.

— Agora a nossa brincadeira ficou mais divertida, não acha?


— Kátia me jogou ao lado da minha mãe, que amarrada, só chorava

e parecia ter levado umas boas bofetadas no rosto. Na minha

mente, estava matando um a um. Eu tinha que poupar forças. Eles

não iam devolver a minha mãe com vida, então nós tínhamos que

fugir.

Dei oportunidades o suficiente para acabarem com a minha


vida e eles não fizeram. Fiquei quieto no chão, eles gritavam,

perguntavam, me batiam, mas eu simplesmente não reagia,

poupando o que eu tinha de energia para atacar na primeira

oportunidade. Não consegui entender o que eles diziam em russo,


porém, eu sabia que era questão de horas até exigirem um resgate

que eles não iriam cumprir.

Fui levado para o quarto escuro, fedia a mofo e suor. Eu não

tomava banho desde que saíde casa, estava nojento e intragável. A


mulher entrou e colocou o soro em mim. Eu não fazia ideia de como

ela ainda encontrava veias. Meu braço estava dolorido. Ela me deu
pão e queijo, duas garrafas de água. Seu olhar amedrontado

mostrava que era uma prisioneira como eu.

— Qual o seu nome? — Pela primeira vez, falei com ela.

— Susie. E o seu? — respondeu baixinho, pressionando


gelo no meu rosto.

— Enzo.

— Você os roubou também?

— Não. E você?

— Meu pai roubou umas drogas deles e eles me pegaram


como pagamento da dívida. — Me ofereceu um sorriso triste. —
Desde então, estou aqui.

— Há quanto tempo?
— Eu não sei, perdi a noção do tempo, algumas semanas...

ou meses. — Encolheu os ombros. — Minha filha e eu estamos


aqui.

Porra.

— Ela tem dois anos.

— Onde ela fica?

— No meu quarto, é aqui perto. — Jogou a gaze no chão. —


Terminei. Tchau.

Susie saiu e eu fiquei olhando para o buraco da porta. Eles


não estavam me amarrando mais, porque eu não estava reagindo,

principalmente depois que mataram Mika. Otários. Só precisava de


uma arma. Nada além. Enquanto pensava, as horas passavam, eu

vi o dia nascer e quase escurecer quando eles voltaram, me


arrastando e fazendo a minha mãe assistir uma dolorosa e muito
longa sessão de porrada. Eu estava louco para dar um murro no

rosto daquele imbecil, mas se eu quisesse sair, não podia reagir.


Eles tinham que pensar que estavam me vencendo.

Na força? Talvez.

Na mente? Não.
Enquanto ele me batia, pensei na minha mulher. Ela era a
minha força de continuar com a mente sã, tão sã quanto seria
possível naquele fodido lugar. Minha mãe estava chorando e

implorando que ele parasse. Quanto mais ela chorava, mais ele
tinha gás e eu estava quase mandando-a calar a boca.

— Você quer sair daqui? — falei baixo quando ela apareceu


para cuidar dos meus ferimentos.

— Não é possível, eu já tentei — cochichou.

— É mesmo? — Olhei para o seu rosto com dificuldade.

— Tem uma saída ao sul, outro prisioneiro me contou, é


onde eles jogam os corpos e eu fui até lá, quando levaram o seu

ami... desculpa. — Limpou a garganta. — Mas eles me pegaram no


caminho. Disseram que se eu tentasse de novo, eles levariam a

minha filha daqui. Estou separada dela há dias, eu não posso fazer
isso.

— Essa saída é longe daqui?

— Dois lances de escada abaixo, para a esquerda.

O estúpido russo, seu apelido era Vlad, gritou que ela


estava demorando demais e ela saiu correndo, mal terminando os
seus curativos. Olhei para o chão e sorri. Deixou uma tesoura.
Peguei e escondi, ficando em cima do objeto. Ele olhou, cuspiu em
mim e bateu à porta fechada. Eu ia cortar a língua dele com aquela

tesoura.

Fiquei olhando fixamente para a janela, esperando o silêncio


do lado de fora. Logo no começo, percebi que eles eram noturnos.
Faziam tudo à noite e ficavam em completo silêncio durante o dia,
provavelmente fora do lugar ou dormindo. Me levantei rigidamente,

espiando pela porta pesada de ferro e só havia um idiota do lado de

fora. Era aquele momento ou nunca.

Saí devagar, em passos leves e em um golpe rápido,


empurrei a tesoura na jugular, cobrindo a boca dele para abafar o

grito. Peguei a sua pistola carregada e duas facas que carregava na

cintura. Andei pelo corredor, uma janela mostrou o sol e parecia


quente, como se fosse meio-dia. Passei por vários quartos vazios

até encontrar o quarto de minha mãe. Ela soltou um arquejo quando

me viu e logo cobri a sua boca.

— Quieta. Vamos sair daqui.

— Eles estão lá embaixo — sussurrou. — Acabei de subir,

eles me colocam para fazer a refeição em um lugar lá embaixo,


como um refeitório.

— Consegue lembrar quantos deles?

— Uns cinco ou seis homens e uma mulher pequena. —

Soltei as cordas dos braços e pernas de minha mãe.

— A mulher, a líder, ela está aqui?

— Eu não a vi mais depois do vídeo — sussurrou.

— Qual a exigência que fizeram por você?

— Querem Cosimo por mim, mas na verdade, pretendem

pegar Juliana. Eles vão me levar em algumas horas. O que nós

vamos fazer?

— Sair daqui. Você vai fazer o que eu mandar e ponto. —


Silenciei seu protesto de medo. Ela foi andando atrás de mim, em

silêncio, mas ao virar em um corredor, nos deparamos com dois

homens. Eles correram e atiraram, atirei de volta, começando uma


intensa troca de tiros. Eu tinha poucas balas e ainda precisava

proteger a minha mãe.

Ela se encolheu no canto, no chão, cobrindo os ouvidos e

me joguei contra um deles, empurrando a faca na sua barriga. Meu


corpo inteiro parecia que ia desmoronar em milhares de pedaços.
Desci a escada, colhendo o que consegui pegar de munição e vi

Susie caída, ela estava ferida.

— Eles foram chamar os líderes — gemeu, cuspindo

sangue. — Leve a minha filha — pediu.

— Nós vamos te levar também.

— Não. Eles vão entrar por aquela porta, o prédio principal

está há alguns metros daqui, pega a minha filha e vai. Me dá uma

dessas, eu vou atrasar eles. — Entreguei a ela uma das pistolas,


coloquei-a sentada e corri escada acima com a minha mãe. Eu

podia ouvi-los se aproximando.

— Enzo, olha. — Minha mãe apontou para a cozinha. — Um

incêndio vai atrasá-los.

— Abra todas as bocas e só risque o fósforo quando eu

voltar — falei rápido, empurrando a porta da última sala e no

banheiro, ouvi um choro. Chutei a porta e ela chorou ainda mais

forte. Era um bebê, uma menininha. — Shhh, bambina. Vamos sair


daqui — falei baixo, pegando-a e voltei para minha mãe, entregando

a menina.

Mandei-a correr porque o cheiro do gás estava ficando


insuportável. Encontrei a saída dos fundos que Susie havia
mencionado e minha mãe fez sons de vômito ao ver os corpos

caídos ali. Era o crematório deles.

— Para a van, mãe. Sem vomitar. — Ela correu e eu puxei

todas as chaves e dinheiro que encontrei em uma gaveta, próxima à

saída. Corri até a van quando ouvi o primeiro disparo. Assim que

eles atirassem na cozinha, tudo iria explodir.

Encontrei as chaves da van velha, ela fedia a morte e

formol, de embrulhar o estômago. Arranquei no mesmo segundo

que ouvi a primeira explosão. A garotinha estava me encarando com


os seus enormes olhos castanhos, assustada demais para gritar e a

minha mãe parecia em choque. Percebi que não estávamos

sozinhos. A van estava com duas pessoas mortas.

Parei a van na estrada, sem saber onde estávamos, era


melhor seguir a pé do que sermos pegos com pessoas mortas e

eles, provavelmente, tinham rastreadores na van. Seguimos a pé

por um longo caminho de mata fechada. Avistei um posto, parecia

um daqueles postos assustadores de beira de estrada.

— Fique aqui, grite se necessário — avisei a minha mãe.

Ela segurava a menina e escondeu o rostinho dela.


Eu tinha que roubar um carro velho. A probabilidade de ter

um rastreador era mínima e eu ia me livrar dele o mais rápido

possível. Encontrei um modelo da Fiat que já tinha visto dias

melhores e o vidro sequer era eletrônico. Quebrei o vidro, abrindo,


procurei a chave reserva, mas não achei e fiz uma ligação direta.

Fazia anos que eu não roubava um carro e sempre fiz aquilo por

diversão.

O carro ligou, enchi o tanque e o velho que estava atrás do


balcão não fez nada quando joguei umas notas na sua frente. Minha

mãe entrou com a menina e arranquei, seguindo em alta velocidade

pela estrada até que uma placa quase me fez bater. Estávamos
longe de Nova Iorque. Eu tinha só algumas horas, precisando

chegar na cidade antes que minha mulher caísse em uma

emboscada.

— Precisamos parar em algum lugar, pegar um carro melhor


e ir para Nova Iorque. Eu vou te deixar em um lugar seguro e vou

voltar, não tenho certeza do que vou encontrar lá — falei. A

garotinha seguia me olhando, agarrada na blusa da minha mãe. —


Você vai precisar ficar com ela.

— O que você vai fazer, meu filho?


— Eu não sei.

Encontramos um motel barato com uma loja de

conveniência. Comprei roupas e comida, ali não era seguro para


ficar, mas conseguimos nos limpar e eu finalmente saí das roupas

insuportáveis que estava desde que fui levado. Minha mãe deu um

jeito na menina e ela comeu todo o macarrão que compramos. O


motel estava vazio e eu pedi que esperasse no estacionamento

enquanto rendia o recepcionista, pegando o seu carro.

— Não chame a polícia, porque eu vou voltar e te matar.

Mas se você esperar, uma Ferrari vai estar aqui para você amanhã.
Seja esperto. — Pisquei e saí com as chaves. Peguei o telefone

dele e dinheiro como souvenir.

Era um utilitário fodido, mas respondia bem à velocidade.

Estávamos há algumas horas da cidade e eu tinha pouco tempo.


Liguei para todas as pessoas que eu tinha o número. Ninguém me

atendeu. Eu precisava chamar a atenção de alguém, então liguei

para a polícia de Nova Iorque relatando violência doméstica no


endereço de Kyra. Se ela ainda morava lá, o sistema inteligente da

Agência iria interceptar e alguém iria avisá-la.


A estrada estava escura e eu estava perto da Filadélfia. O
telefone tocou.

— Kyra?

— Enzo? — Ela quase gritou.

— Não dá tempo de explicar tudo agora, o que importa é


que Juliana está indo para uma emboscada e eu preciso impedir.

— Juliana vai fazera troca do seu tio pela sua mãe. Ela não

vai atender o telefone. — Kyra estava falando comigo como se eu

fosse uma assombração. — Enzo, se eu não conhecesse a sua


voz...

— A minha mãe está comigo, nós conseguimos fugir e eu

sinceramente não sei por quanto tempo — gritei e parei para pensar.

— Fala a verdade, você sempre me quis, sei porque está chocada.


— Soltei a brincadeira que eu normalmente faria.

— Agora eu tenho certeza de que é você. Você está há uns


trinta minutos do local, é um campo de pouso forada cidade e o seu

primo Damon está com ela — explicou e eu podia ouvi-la digitando


freneticamente.

— Preciso de um lugar seguro para deixar a minha mãe.


— Tem um hotel três quilômetros e meio da sua posição na
estrada e é a única coisa que consigo visualizar daqui.

— Vai servir.

Acelerei pela estrada, parando bruscamente na frente do

hotel e entreguei o rolo de dinheiro que roubei anteriormente. Ela


precisava alugar um quarto e me esperar, eu viria buscá-la, não
importasse o tempo, voltaria para buscá-la ou mandaria alguém de

confiança. Ela assentiu e saiu correndo.

Voltei para a estrada, determinado a impedir que Juliana


tivesse o mesmo destino que o meu, meses atrás. Daria a minha

vida no seu lugar.


Cinquenta e um | Enzo.

O helicóptero estava sobrevoando a cidade. Damon estava

com sua esposa apagada em cima dele e o médico ao lado,


segurando a bolsa de soro enquanto Juliana segurava a bolsa de

sangue de Enrico. Ela não estava me encarando, sequer olhava na


minha direção e enquanto eu sabia que era coisa demais para
assimilar em um único dia, estava ferido com a sua rejeição.

As possibilidades eram muitas. Ela não me queria mais?

Estava com outra pessoa? Eu sabia que Juliana me amava tanto


quanto eu a amava, mas um soco não era bem o que esperava ao
estar de volta.

O piloto informou que meus irmãos e Alessio pousaram em


segurança e eu estava surpreso com o esquema tático e muito
organizado. Havia helicópteros, carros, médicos e dinheiro

espalhados em lugares estratégicos da cidade, além de um controle

apertado nas câmeras de trânsito.

Juliana pensou em todos os ângulos e detalhes. Ela era a


chefe agora. Todos os homens estavam obedecendo seus

comandos sem pestanejar e ela tinha um controle sobre tudo o que

estava acontecendo, mesmo com os olhos arregalados, pálida e


tremendo. Ela estava assustada e com medo, mas não estava

recuando.

Estava louco de saudades, louco para sentir o seu cheiro e


beijá-la.

Do jeito que ela me ignorava, isso não parecia ser possível.

Nós pousamos em Hampton e os médicos que aguardavam,

imediatamente correram em direção ao nosso helicóptero. Damon


entrou com Giovanna desmaiada e Enrico tombado de morfina.

Juliana parou ao meu lado e eu estava prestes a falar

quando um grito feminino cortou a noite e eu fui jogado no chão por


um peso. Minhas costelas doeram. Carina me abraçou apertado,

chorando, gritando e de repente, Emerson estava em mim. Abracei

os meus irmãos tão apertado quanto possível. Eu estava morrendo

de saudade deles...

— Eu não posso acreditar. — Carina chorou segurando o

meu rosto.

— Eu sei, eu também não. A história é muito longa... —

Gentilmente, desviei de Carina e olhei para Stefanio, que ainda me

encarava como um fantasma. Ele estava protetoramente na frente


de Juliana. — Eu preciso saber se já buscaram a minha mãe no
endereço que eu dei.

— Ela já embarcou no helicóptero e estará aqui em pouco

tempo. — Stefanio me respondeu.

— Eu preciso que todos vocês entrem agora mesmo. —


Juliana falou e eles simplesmente saíram, sem olhar para trás.

— Legal, minha senhora. — Inclinei a minha cabeça para o

lado.

— O que aconteceu com você? — gritou. — Eu te vi morto!

Eu recebi um teste de DNA dizendo que era você naquele carro! —


Então, ela me bateu de novo. — Chorei tanto, desejei tanto que

estivesse vivo e onde você estava?

— Fui encurralado pelos russos, Juliana. Fui sequestrado,

não estava viajando de férias. — Segurei os seus punhos. — Fui


torturado e espancado todos os dias nos últimos meses. O Mika...

morreu bem na minha frente.

Pensei que ela fosse me bater de novo, mas tudo que fez foi

gritar e cair no chão, chorando, ajoelhei ao seu lado e a puxei para

os meus braços. Seus soluços eram tão fortes que o corpo pulava.
Beijei a sua testa, fechando os meus olhos e ela enfiou as unhas no

meu braço, se agarrando a mim com força. Soltei um gemido de dor.

— Você precisa de um médico? — Ela afastou o rosto.

— Acho que sim. — Minhas costelas estavam me matando.

Ela me ajudou a levantar do chão e ao entrarmos em casa,


Ângelo me deu um abraço assim como Marcus. Ilaria estava

capotada em um dos quartos e Juliana me puxou até o nosso. Ter a


sua mão quente na minha era a realização dos meus maiores
sonhos nas últimas semanas.

Nós não ficamos sozinhos, o médico pediu que tirasse a


roupa e eu a olhei.

— Talvez você não devesse...

— Tire a roupa, Enzo. — Juliana determinou.

Respirei fundo e comecei a tirar a minha roupa. Eu não

sabia quem era aquele homem, mas ele parecia saber que a minha
mulher mandava e não discutia. Juliana estava atenta em mim, seus
olhos marejados a cada ferimento que foi suturado, limpo, alguns

colados e a medicação para dor. Eu estava tão cansado de sentir


dor que aceitei tomar apenas metade, não queria ficar nocauteado.
Assim que o médico saiu, ela sentou-se ao meu lado.

— Eu deveria ter te procurado — falou baixinho. —

Simplesmente aceitei a sua morte, enquanto você estava vivendo


esse horror.

— Não foi sua culpa, foi um plano bem arquitetado e eles

sabiam o que estavam fazendo. Por que você continuou aqui? —


Olhei para o seu rosto.

— Como você ousou criar uma vida para mim sem você?
Por que não me falou que sabia que isso iria acontecer? Por que me

traiu dessa maneira, Enzo? — Ela ficou de pé e apontou o dedo


para mim. — Sabe como doeu saber disso? Como eu viveria sem

você?

— Não sabia, como iria saber? — gritei de volta. — Eu

pressenti que algo ia acontecer, mas não fazia ideia. Eu nem sabia
como eles conseguiram me pegar e armar aquilo tudo, mas há
tempos eu simplesmente pensei que não seria justo com você, que

não sabia que fazia parte dessa vida, ser deixada desamparada
com a minha morte.

— Estar sem você já seria o meu fim.


— Não foi, olha só para você. Dominou os meus homens e
assumiu o meu lugar.

— Não me deram tempo! — Ela gritou mais ainda, com


grossas lágrimas escorrendo do seu lindo rosto. — Eu mal estava

conseguindo respirar! Não me deram a chance de sentir luto e sofrer


por você! Eu vi que eu estava em risco... Tive que fazer coisas que
eu... — Começou a soluçar e não aguentei manter a distância.

Puxei-a para os meus braços. — De repente, eu tive que arquitetar


um plano para me sustentar no seu lugar e ficar segura. Foi quando

Damon me deu as duas opções que você deixou. Eu escolhi ficar e


me vingar. Não ia embora sem vingar a sua morte.

— Você não faz ideia o quanto lembrar de você me deu

forças para sobreviver. — Segurei seu rosto delicado. — Todos os


dias, o que me deixava vivo era você.

— Deus, Enzo. — Ela agarrou o meu rosto e me beijou. —

Eu te amo tanto, estou com tanta raiva, tão confusa e ao mesmo


tempo tão grata. — Beijei-a novamente e ela levou a minha mão até
seu ventre. — Estou grávida.

— O quê? — Me afastei e ela ergueu a sua blusa. Sua


barriga era sutil, mas definitivamente mostrava a gravidez.
— Descobri apenas alguns dias depois que você... foi levado.

Estava chocado demais para reagir, caí de joelhos na sua

frente e beijei seu ventre. Era um milagre poder ver o meu bebê
crescer em sua barriga. Agarrei a cintura de minha esposa e

encostei a minha testa no montinho que se formava, totalmente


apaixonado.

— Eu te amo tanto, Juliana.

— Ah, Enzo... — Ela se jogou em mim.

Nós nos beijamos mais uma vez, quando ouvimos uma

batida suave na porta. Vesti uma roupa limpa e era muito bom estar

dentro das minhas roupas. Eu queria tomar um banho de verdade,


mas não seria possível no momento. A escova de dentes que usei

naquele motel não parecia ter tirado o gosto ruim e o médico disse

que era devido à baixa alimentação e o uso excessivo de

medicamentos e soro nas últimas semanas.

Linda estava no corredor e ela me deu um abraço tão

apertado que gemi de dor, mas ela não falou nada.

— Sua mãe e a criança chegaram — avisou e assenti.


— Criança? — Juliana ficou confusa.

— Eu preciso sentar e contar tudo, mas definitivamente


preciso fazer isso sentado e de preferência, comendo alguma coisa.

Descemos e minha mãe estava abraçada com Carina. A

menina estava quieta, com o dedo na boca e eu a peguei. Ela

segurou a minha blusa e olhou curiosamente para Juliana, voltando


a me encarar.

— Cadê seu pai? — Minha mãe perguntou a Emerson.

— Aquele homem não pisa na minha casa, eu sei que você

passou por uma situação traumática, se quiser ficar, é bem-vinda,


mas se quiser ficar com o seu marido, alguém vai te levar lá. —

Juliana apontou para a porta. Carina e Emerson ficaram quietos.

— Sinto que eu não sei da história toda — comentei,

observando as expressões.

— A sensação é agradável? — Juliana rebateu. — Estou

familiarizada com ela.

Ela não ia me perdoar por algo que eu não tinha culpa.

— Você está com fome? — Perguntei à menina. — Será que


você sabe o seu nome? — Ela assentiu. — Me conta.
— Malia.

— Malia? Eu sou o Enzo e essa é Juliana.

— Deixe-me cuidar dela, para que você possa comer. —

Linda esticou os braços e a menina só a encarou. — Está tudo bem,


lindinha. Ele vai estar por perto. — Com isso, ela aceitou trocar de

colo.

Juliana tocou o meu braço e andamos até a cozinha. Malena

me pegou em um abraço apertado, cheio de gritos e eu ri. Pelo


menos alguém não me bateu. Puxei uma cadeira e Juliana colocou

um prato enorme de comida que eu simplesmente devorei, meu

estômago chegou a doer e me senti zonzo, talvez da medicação,

mas estava há tanto tempo sem comer, que não podia parar. Bebi
duas taças de vinho e me recostei na cadeira, reparando que havia

uma plateia me esperando falar.

Emerson chegou a sentar, conforme contava como foi a


minha aventura do lado inimigo. Eu não fazia ideia do porquê de

eles não terem me matado, apenas sabia que foi um período

infernal que eu esperava nunca mais ter o desprazer de viver.

— Juliana estava certa o tempo todo. — Ângelo esfregou o


rosto, incrédulo. — Ela disse que se fizéssemos o esperado, que se
a gente seguisse a tradição, seria óbvio e foi isso que te manteve

vivo. Nós apertamos a segurança, mudamos a rota e sempre que


íamos fazer algo, ela nos dizia para fazer o contrário.

Olhei admirado para a minha mulher. Ela era foda.

— Eu só queria me vingar, eu jamais imaginei que ele

pudesse estar vivo. O DNA foi o suficiente. — Juliana falou amuada


e segurei a sua mão. — Resta saber de quem era o corpo.

Juliana e Ângelo se revezaram para me contar tudo que eles

sabiam, o ataque aos King, a traição de Jack, o surto de Kyra, tudo

foi relatado com calma. Havia muito a ser esclarecido e a minha


cabeça estava doendo, mas eu tinha em mente que precisava sair à

caça de Kátia. Ela ia pagar muito caro e eu não queria brincar, como

normalmente gostava. Era o fim da história entre as nossas famílias.

— Ela dormiu. — Linda apareceu na cozinha.

— A mãe dela foi sequestrada pelos russos e precisamos

encontrar a sua identidade, saber o seu nome e pensar o que

faremos com ela. Por enquanto, vamos cuidar da menina. A mãe


dela salvou a minha vida.

Juliana soltou um resmungo meio ciumento e logo disfarçou

com uma tosse.


— Hora de descansar, pessoal. — Ela determinou olhando

em seu relógio. — Não sabemos o que o dia irá nos trazer e com

isso, vamos poupar energias.

Pouco a pouco, casal por casal, eles saíram da cozinha. O


médico informou que precisou dar um calmante para Amber e eles

fariam um plantão devido aos ferimentos de Ilaria, Enrico e

Giovanna. Ele deu boa noite e me deixou sozinho com a minha

mulher. Damon apareceu na cozinha e parecia esgotado.

— Ela está bem? — Juliana perguntou. A familiaridade entre

eles me deixou com ciúmes. — Seu primo nos contou uma história e

tanto.

— Se eu soubesse, se tivesse imaginado, você não passaria


meia hora lá. — Damon apertou o meu ombro. — Eu sinto muito.

— Não me peçam desculpa, não por isso.

— Giovanna vai ficar bem, ela foi nocauteada porque estava

com muita dor e vai acordar bem. Eu simplesmente preciso matar


esse homem. — Damon se jogou em uma cadeira. — Acho que tem

uma fila.

— Em algum momento precisaremos conversar sobre a


nossa família.
— Outro momento.

— Eu não sei vocês, rapazes. — Juliana ficou de pé. — Mas

eu preciso descansar.

— Vai lá, mamãe. — Damon sorriu e ela bateu na cabeça

dele, seguindo para a sala. Meu primo voltou a me olhar. — A sua

mulher é forte como uma rocha. Se mostrou inquebrável. Vai atrás


dela, idiota. Eu sei me virar.

Apenas sorri.

— Até daqui a pouco, primo.

Subi a escada correndo e parei ao vê-la olhar a menina

dormindo no quarto ao lado do nosso. Linda estava na cama ao lado


e meu irmão na poltrona. Juliana encostou a porta e entrou no

nosso quarto. Me sentei na cama, esperando que tomasse banho.

Ela saiu enrolada no roupão e seu cheiro me atingiu em cheio, como


uma tijolada. Sorri como um louco, parecendo bêbado, porque

aquele perfume era tão vivo na minha memória que havia noites que

eu podia senti-lo naquele lugar escuro.

— Você está bem? — Parou na minha frente com um olhar


questionador.
— Apenas tendo certeza de que você é real — retruquei
suave.

Ela tocou o meu rosto.

— Eu ainda acho que vou acordar e descobrir que tudo isso

não passou de um sonho. — Esfregou o nariz no meu. — É tão


estranho ver a sua cabeça raspada.

— Aqueles filhos da puta acabaram comigo, mas eu vou me

recuperar.

— Por que você pediu ao médico para tirar sangue? — Seu


olhar era doce.

— Não tenho certeza da higiene das agulhas usadas em

mim. Eles podem ter me contaminado com alguma coisa,

propositalmente ou não.

— Não importa, vamos cuidar disso. — Apertou os lábios


nos meus.

Com dificuldade, tomei o banho mais longo de toda história

e esfreguei cada parte do meu corpo com precisão. Devo ter


demorado muito, porque ela apareceu para me verificar e saiu, me
dando privacidade. Fiz a minha barba que estava grande, falhada e
torta, a mulher que cuidava dos meus ferimentos tirava os pelos a
mando do tal do Vlad, mas eu estava grato que ela não talhou o
meu rosto inteiro.

Vesti uma cueca e me olhei no espelho. Perdi peso e havia


contusões por todo lado. Era uma visão horrível, principalmente
para uma pessoa tão vaidosa como sempre fui, mas depois de todo

aquele tempo, de ficar tão longe da pessoa que eu mais amava no


mundo e da minha família, aquilo não importava. Seria curado.

— Você está bem? — Juliana entrou no banheiro. Ela me


olhou. — Isso vai passar. — Passou o braço por minha cintura. —

Você estar aqui é o que importa.

Levei a minha mão para a sua barriga.

— Obrigado por lutar por você e pelo nosso bebê. Eu


sempre vou lutar por vocês.

Juliana deitou a cabeça no meu peito.

— Eu sei e eu também vou lutar por nós. Finalmente


encontrei o meu lugar, parece esquisito, porque precisei te perder,
mas eu me encontrei e não me arrependo. — Beijou acima do meu

coração. — Hoje eu conheço a minha força.


Segurei o seu queixo.

— Estou surpreso pela sua força e muito orgulhoso disso.


Cinquenta e dois | Juliana.

Estava sentada na cama, olhando fixamente para Enzo

adormecido ao meu lado. Não parecia real. Toquei a sua testa,


passando a minha mão e ele não estava mais com febre. Pouco

mais de uma hora depois que pegou no sono, ele começou a se


debater, acordei assustada e ele estava todo suado, gemendo. Corri
para chamar o médico e ele conseguiu acalmar Enzo, dar-lhe uma

medicação e me explicou que o corpo dele precisava de um


descanso.

Dei ordens diretas a todos, eles precisavam encontrar Kátia,


era uma questão de vida ou morte. Eu estava esgotada e com medo

da sutil cólica que comecei a sentir no dia anterior. Ângelo me


implorou para dar um tempo e ficar com Enzo; ele tinha razão, não
adiantava nada sair por aísem um plano tático, eu tinha que pensar,

colocar a minha mente no lugar e eu queria cuidar do meu marido.

Ele estava comigo e isso era surreal demais.

Não conseguia definir o que estava sentindo. Era rancor por,

amor e muita gratidão por ele estar vivo. Sentia raiva dele, de Kátia,

de Alonzo e de todo mundo. Parecia inútil toda a dor. Me sentia mal


por estar com raiva dele por estar vivo, mas se ele tivesse me
preparado, compartilhado o seu medo e apreensão, talvez não me

sentisse tão traída.O idiota queria me salvar. Ele não pensou em se


salvar?

— Você está me olhando há muito tempo — falou de olhos

fechados.

— Está se sentindo melhor?

— Um pouco. Sabe se Giovanna está melhor?

— Ainda está no mundo dos sonhos. Damon está agoniado

que ela não acorda, mas Enrico já saiu da cama e está

perambulando pela casa. Foi um tiro limpo, o que ajuda bastante.


Ilaria está dando trabalho, não quer ficar de repouso. — Sorri

timidamente para o seu olhar avaliador. — Por que está me olhando

assim?

— Sonhei muito com você.

Por algum motivo inexplicável, minhas bochechas ficaram

vermelhas.

— É mesmo?

— Você foi o meu talismã. — Ele sorriu e se moveu, o lençol

caindo um pouco. Ele estava nu e foi impossível não reparar. Meu


marido estava tão magro e ferido, queria poder curar todo seu
corpo, ainda assim, ele mexia comigo e eu não podia deixar de olhar

com atenção. — Não me dê esse olhar.

— Desculpa, lide com isso. Você parece estar gostando do

meu olhar. — Apontei para o seu pênis que estava saindo do estado

adormecido para em alerta.

— Não estou morto, apesar de não lembrar da sensação. —

Fez um pequeno beicinho. Seu olhar brilhou em diversão e eu sabia

que ele ia falar uma merda bem grande. — Você gozou depois de

Vermont?

— Enzo? — Bati em sua perna. — Claro que não, sossega.

Eu nem tive cabeça para isso...

— Faz um longo tempo. — Mordeu o lábio e sorri, ele era

impossível. Senti tanta falta desse humor sem controle. — Você

poderia ficar por cima...

— Não. O médico não te liberou para fazer esforço.

— Se você ficar por cima, não vou fazer tanto. — Sorriu

torto e ri. — Deixa eu ver os seus peitos, vai.


— Enzo! — Bati em sua mão. Ele estava de cama e queria

ver os meus peitos? Eu queria mostrá-los. — Ai meu Deus. —


Comecei a rir de nervoso e ergui a minha blusa. Eu estava só com

uma calcinha por baixo da enorme camiseta dele, que peguei para
usar e dormir com o cheiro dele.

— Senhor, que belo par de peitos. Eles ficariam incríveisna


minha boca...

— Para de graça. — Me inclinei sobre ele e beijei a sua


boca. Uma mão tocou o meu rosto e a outra a minha bunda, dando
um bom aperto que eu quase soltei um gemido. — Você precisa

melhorar. Temos a vida toda para fazer isso...

— Não temos não. Eu passei muitas noites pensando que


não transamos o suficiente. Memorizei cada momento que

poderíamos ter passado fodendo e não fodemos. Na minha nova


vida, vamos foder o tempo todo. — Deitei-me ao seu lado, tomando
cuidado com o corte extenso que ele tinha bem nas costelas. Foi o

que mais levou pontos. Estava insegura sobre tocá-lo, sobre como
agir, mas eu não conseguia ficar longe dele. — Faremos a festa do

sexo. É melhor você tomar pílulas, ou teremos trinta filhos.

Soltei uma risada.


— Você continua tão imbecil quanto antes.

— É um dom.

— Senti falta disso, por muitas noites que eu me preparava


para dormir, quando deitava, sempre pensava que ia te encontrar na
cama pronto para falar alguma merda. — Suspirei e segurei sua

mão. — Sua aliança ficou destruída,assim como o colar e o relógio,


eu mandei limpar e guardei mesmo assim.

— Vamos mandar fazer outros iguais — garantiu. — Carina


está doente?

— Carina? Não. Ela só enlouqueceu. Foram tempos


sombrios, tanta coisa acontecendo, verdades florescendo e ela ficou

tão decepcionada. — De repente, ergui a minha cabeça. — Eu


preciso ligar para uma pessoa. Ela vai morrer ao te ver. — Peguei o

meu telefone e rapidamente fiz uma chamada de vídeo,fui atendida


no segundo toque. Enzo puxou a coberta, mas ficou com o peito de
fora. — Oi, cunhada.

— Deus, eu odeio que você some e volta do nada. Eu

estava muito preocupada. — Isla gemeu e sentou-se na cama. Eu vi


o braço de Callum ajudando-a com um travesseiro. — Os gêmeos
ainda estão dormindo e eu passei a noite acordada com esse enjoo
que está durando mais que na primeira gravidez. E você, melhorou?
Se precisar, eu vou até Nova Iorquete acompanhar em algumas
consultas.

— Você está preparada? Eu tenho uma surpresa, mas

precisa ficar calma. Callum está do seu lado?

— Sim. — Isla ficou confusa e mostrou o marido, ele me deu


um meio sorriso, como sempre, taciturno. Callum quase não falava,

mesmo quando era sobre trabalho. O homem era teimoso feito uma
mula e ele tinha uma memória preocupante, além de um controle

intenso sobre os seus negócios. Eu não sei como a mente dele não
entrava em pane, porque Isla não calava a boca. — Juliana? O que
foi?

Enzo pegou o telefone e ela gritou. Eu ri que ela jogou o

telefone longe e começou a chorar, falando um monte de coisa


incompreensível. Até Callum estava muito chocado, sem reação.

— O que aconteceu com você? — Isla estava vermelha de

tanto chorar.

— Uns idiotas me mantiveram em cativeiro durante esse


tempo. — Enzo retrucou e levou um tempo para Isla parar de chorar.

Ela mostrou a barriguinha e nós trocamos algumas figurinhas sobre


os nossos sintomas. Isla estava com algumas semanas à frente e
ainda não sabia o sexo. — Espero que dessa vez seja uma menina
e parecida com você, porque não vai ser legal outro bebê com a

cara do seu marido.

— O meu marido é lindo, seu tosco. — Isla rebateu e


comecei a rir. Ela ainda caía na pilha de Enzo. Callum revirou os
olhos atrás dela.

Conversamos por mais um tempo e uma batida na porta nos

fez encerrar a chamada. Levantei da cama devagar e era Linda,

com a menina que Enzo resgatou. Eu a olhei com calma pela

primeira vez. Estava muito agitada na noite anterior para prestar


atenção nela e ao olhar em seus olhos, senti algo tão intenso no

meu peito. Ela era linda, um rostinho de anjo, redondinho,

bochechudo, cabelinho loiro escuro e a boquinha rosada.

Estiquei os meus braços automaticamente. Ela aceitou vir,


me olhando, sem esboçar nenhuma expressão. Linda disse que

Emerson saiu para comprar fraldas e roupas, logo estaria de volta e

me entregou um envelope.

— Chegou para vocês — avisou e olhou para a menina. —

Está todo mundo dormindo. Stefanio comandou as trocas de turno e


parece estar tudo bem... Eu venho avisar se mudar algo, ou Antônia,

ela está lidando com as questões da cobertura do Damon.

— Obrigada, Linda. — Soprei-lhe um beijo, ela piscou e

fechei a porta. Enzo não estava na cama, ele foi até o closet, vestiu

uma calça e voltou.

Me sentei na cama com a menina, liguei a televisão e


procurei um canal de desenhos. O cabelinho dela estava todo

embolado e ela precisava de um pouco de cuidado, com um tanto

de mimo. Enzo pegou o envelope e eu enviei para Emerson uma


lista de coisas necessárias para uma criança e por um tempo, ele

ficou enviando fotos e nós pesquisamos algumas coisas. Eu não

entendia nada, mas ela precisava de roupas, fraldas, brinquedos e

carinho.

— O que tem aí?

— Kyra não encontrou parentes vivos. — Ele passou as

folhas. — O avô era vendedor de um dos pontos de drogas há anos.

A mãe dela era filha única. — Ele continuou lendo. — A ficha é


extensa, são associados aos russos apenas há dois anos, antes,

parecia que eram traficantes por conta própria.

— Não temos a quem entregar a menina?


— Não. Como se eu fosse me relacionar com qualquer

russo. — Ele bufou.

— O que nós vamos fazer?

— Cuidar dela. — Ele me encarou. — A mãe dela sequer


quis fugir, para nos dar a chance de sair com a filha dela. Eu não

vou jogá-la em qualquer lugar. — Seu olhar era suave e eu encarei

a menina. Não podíamos jogá-la em qualquer família. — Você

concorda?

— Ainda não sei o que sentir com tudo isso, estou tão

confusa, é muita coisa para assimilar, mas você tem toda razão. —

Brinquei com o pezinho dela, ganhando um sorriso tímido.— Vamos

cuidar dela. — Decidi. Ela já estava no meu coração de uma


maneira surpreendente. — Tem informação do nome dela?

— Amália.

— Oi, Amália. Eu sou a Juliana. — Ela riu suavemente e

olhou para Enzo, sorriu tímida e voltou para a televisão. — Você


gosta?

— Urso. — Ela apontou e tinha uma garotinha irritante

falando. Precisei olhar a programação para entender que ela


conhecia o desenho e se chamava Marsha e o Urso.
— Você pode ficar aqui? — Enzo apontou para o seu colo e

me arrastei para entre as suas pernas. Amália continuou no seu


lugarzinho, olhando para a televisão e ele me abraçou. Enzo me deu

um beijo na cabeça, me mantendo em seus braços e ficamos horas

na cama, descansando, conversando com Amália, que falava muito


pouco.

Emerson chegou com um mundo de sacolas de lojas infantis

e farmácias. Levei um tempo para me achar, mandei algumas

roupas para lavar e esterilizei os brinquedos, arrumando no quarto


ao lado, porque não era justo ocupar Linda com uma criança que

Enzo e eu decidimos cuidar. Nós dois ainda tínhamos muito para

conversar, o nosso casamento precisava de ajustes, mas eu não era

tão mimada ao ponto de não perceber que outras questões


precisavam de nós dois como casal, antes de nos resolvermos

como um casal.

Ànoite, depois que Amália jantou e dormiu, Enzo estava tão


bem quanto ele sempre foi, se não fossem as contusões e a

magreza, ele parecia ele mesmo. Um dia cuidando de si mesmo,

alimentando-se bem e descansando, era outro homem. Estava

irritante, brincalhão, rolou no chão com o irmão e deixou Carina


gritando de raiva. Não conseguíamos ficar realmente chateados, a

vida dele era um milagre.

Ànoite, Amber se arrumou para voltar para Lorenzo. Ela me

abraçou apertado, agradecendo por ser forte, por lutar pelo bebê,
por Enzo e eu estava meio magoada que mesmo sabendo de tudo,

até de Marcus, ela escolheu voltar para o marido. Os filhos estavam

incrédulos e eu pensei que ainda bem que Enzo era o norte dos

irmãos mais novos, porque se dependessem da mãe, estavam


perdidos.

Enzo, Damon e Enrico se reuniram no pátio. Enrico não era

um filho legítimo do tio Francesco, mas era um filho de criação e


recebeu parte da herança, assim como a ordem de se tornar o

Chefe de Chicago, enquanto Damon comandava ainda mais

territórios como o pai. Eles estavam com Ângelo em uma reunião

tática sobre sair para caçar Kátia Rostov. Kyra estava recebendo
uma nota para procurá-la, não importando em que país ela poderia

estar escondida.

Tentei acompanhar o que eles estavam falando e entre os

três, percebi que era café-com-leite. Estava nauseada, cansada e


precisando dormir uma noite inteira de sono. Damon passou por

nós, olhando a hora e subiu a escada correndo.

— Desculpa, eu preciso falar. — Linda cochichou. — Que


homem lindo. — Sorriu e ri. — Ele e o outro... Estão de parabéns. —

Bateu palminhas.

— Eles são lindos. — Carina riu. — Damon é meu primo,


não tem graça, mas o Enrico... Fui ajudar o médico a fazer um

curativo nele e nossa, é um pacote de corpo torneado com

gominhos.

— Alessio vai te matar se ouvir isso. — Antônia brincou.


Alessio era muito ciumento, chegava a ser insuportável. — Eles são

lindos sim, mas são assustadores.

— Isso eu não discordo. — Linda sorriu e me encarou. —

Como você está se sentindo com Enzo de volta?

Eu olhei para as minhas amigas.

— Vocês conseguem acreditar nisso? É surreal e eu não sei

definir os meus sentimentos. — Me recostei no sofá. — É

simplesmente surreal — falei e ouvi um barulho na escada.


Giovanna estava descendo, sendo amparada por Damon e ela
ainda parecia completamente atordoada. — Oi, Giovanna. Você está
se sentindo melhor? — Me levantei ao lado de Linda.

— Um pouco confusa. Minha cabeça dói. — Senti pena de

seu estado.

— É assim mesmo, você precisa comer algo e descansar,


vai ficar melhor. — Toquei o seu ombro e apresentei as meninas na

sala. Todas elas sorriram e acenaram, mas Giovanna parecia aérea.

Damon deu apoio a ela quando oscilou. Era melhor que ela

comesse logo. Acompanhei os dois até a cozinha. Enzo estava


mexendo na panela, provavelmente, na sua quinta vez ali porque

estava comendo sem parar. Era um pesadelo pensar que ele

passou tanto tempo sem comer. Giovanna deu um olhar muito


engraçado para Enzo, ela não o conhecia, mas sabia quem era e

que estava morto.

— É, ele está vivo — resmunguei.

— Olá, Giovanna. — Enzo se aproximou. — Espero que


esteja melhor. Você deixou o meu priminho bastante preocupado.

Bem no tipo chorão.

Damon soltou uma risada debochada.


— Vá se foder, Sr. “DAMON, SALVE A MINHA MULHER”. —
Ele imitou uma vozinha muito fina, Giovanna riu e parecia que ia
desmaiar. Revirei os olhos e ela sentou-se com cuidado, fazendo

uma careta de dor. Sentei-me ao lado, para ajudar a apoiá-la,


enquanto Damon servia sopa para ela em uma vasilha.

Nós ficamos na cozinha por um tempo, ajudando Giovanna

e conversando. Damon voltou com ela para o quarto e Enrico


continuou na dele, quieto; ele fazia o tipo muito mal humorado,
sempre no canto, pronto para atacar. Assim que eles subiram

novamente, Enzo sentou-se ao meu lado e enfiou um pedaço de


pão na sopa, devorando como se ele não tivesse comido nada o dia

todo.

— O que foi? — Me encarou. — Está muito gostoso. Tem

certeza que não quer comer de novo?

— Não, estou bem. — Segurei a sua mão. — Pode comer.

Era bom vê-lo comendo, se recuperando, porque o meu


coração estava tomado pela culpa de não ter procurado por ele e tê-

lo tirado do pesadelo que viveu. Eu não podia ter aceitado a sua


morte tão fácil. Se eu fiquei para me vingar, era minha culpa que eu
não me atentei o suficiente para salvá-lo de tantas semanas de
tortura.
Cinquenta e três | Juliana.

Dormir depois de tanto tempo me fez sentir que estava

caindo e toda hora pulava na cama, nervosa, procurando a minha


pistola na mesinha ao lado. Enzo acordava toda vez que eu pulava,

querendo saber se eu estava bem e a sua presença na cama meio


que me deixou desconfortável. Não me acostumei a ficar sozinha,
mas tê-lo de volta era como pensar que eu estava sonhando. Não

queria acordar para a realidade que ele não existia e isso me


impedia de descansar totalmente.

— Você está enjoada?

— Estou esgotada — murmurei com muito sono e sentindo

dores no corpo como se estivesse doente. — Não consigo relaxar


para dormir. — Parte do meu cérebro estava em pane de
esgotamento, parte estava com medo de acordar e ele não estar ao

meu lado. Segurei a sua mão e ele beijou a minha nuca.

— Vem aqui. — Me puxou para os seus braços. — Sei que

tudo está estranho e que nós temos muito para conversar, foram
muitas semanas separados e com situações ruins, mas eu te amo e

vou ficar com você para sempre. — Cochichou e suspirei. — Só de

pensar em você eu fiquei vivo. Você é a minha força.


Enzo ficou falando baixinho, me balançando e me ninando.

Voltei a dormir, mergulhando em um sono gostoso nos braços dele e


acordei me sentindo renovada, me deparei com um corpinho

pequeno e quentinho aninhado no meu. Amália estava me

abraçando, com a mãozinha no meu pescoço, dormindo pesado e


Enzo estava acordado, com uma calça de pijama e mexendo em

seu telefone.

Virei um pouco, relaxando contra ele, me sentindo tão bem

em estar na cama com eles como um ninho de paz. Ele deveria


estar vigiando as pistas que recebemos. Kyra nos deu acesso por

satélite. Quando descobri que ela era agente da CIA oficialmente e

operava ilegalmente no país, eu me perguntei como tudo isso


aconteceu, mas ela não falava sobre isso e eu respeitava, mas

sabia que tinha tudo a ver com o atual líder da nação e o Senador

Vaughn.

— Merda. — Enzo sentou-se e ficou atento. — Deu certo,

Juliana. — Me olhou com os olhos arregalados. — Encontramos


onde eles se reúnem. Alonzo parece estar lá.

— E agora?
— Eu vou sair com Damon e os homens. — Me deu um
beijo e foi para o closet, limpei a minha garganta. — O que foi?

— Você não vai sair por aí ditando ordens. — Abri um

sorriso. — Este lugar também é meu. Nós vamos descer, faremos

um plano organizado e assim, determinaremos quem vai e quem

não vai. — Me sentei na cama e saí com muito cuidado. Liguei a


babá eletrônica pela primeira vez, com a sensação esquisita que

tinha um serzinho muito pequeno na nossa cama e dependendo de

nós. Vesti uma calça jeans e ele ainda estava me olhando. — O que

foi?

— Não quero que você vá. — Ele confessou. Apesar do seu

tom ter sido humilde, fiquei irritada que ele simplesmente disse que
não, como se tudo fosse como antes. — Juliana, por favor.

— Você não tem direito de voltar e me dizer o que fazer. Nós

vamos descer e decidir. — Dei as costas e ele me segurou.

— A última vez que você lutou corpo a corpo, perdemos o


bebê e doeu muito — falou baixo e fechei os meus olhos.

— Conversamos lá embaixo. — Soltei o meu braço e desci

com a babá eletrônica.


Não queria ir e não iria. Eu não colocaria a vida do meu

bebê em risco, mas a decisão era minha e no máximo, tomaria em


conjunto com ele, mas ele não tomaria decisões sobre mim. Não

mais. Eu o amava muito, mas aquela era a minha vida, o meu


espaço de ser uma pessoa independente dele.

Encontrei os homens na sala de jantar, uma improvisada


sala de reunião e eu me sentei na cabeceira, cruzando as minhas

pernas. Enrico franziu o cenho, achando estranho, mas Damon


sorriu. Ângelo e Marcus já estavam acostumados, assim como

Emerson e Alessio. Stefanio entrou pronto para receber ordens com


o seu contingente de homens, que ao contrário dele, ainda pareciam
reticentes comigo.

Aqueles homens precisavam lidar com o fato de que as suas


vidas estavam nas minhas mãos.

Enzo apareceu mais devagar, me olhando desconfiado e


todo arisco. Dei a ele um sorrisinho debochado e ele sinalizou para

que Ângelo começasse a falar. Ele rapidamente baixou a planta e os


homens começaram a discutir, falando ao mesmo tempo, revirei os

olhos porque eles sempre faziam aquilo.


Enzo inclinou a cabeça, esperando alguma atitude minha e

fiquei na dúvida de que joguinho estava planejando jogar. Ele não ia


reclamar sobre estar mandando nos seus homens? Bati na mesa e

ergui a minha mão. Eles me encararam e ficaram quietos.

— Ângelo, por favor, repasse a planta do lugar. Em seguida,

Marcus vai dar a sua sugestão sobre todos os equipamentos


necessários e Stefanio vai definir quantos homens serão

necessários — falei com calma. — Comecem.

Enzo me deu um sorrisinho, eu sabia que ele havia mordido

alguma piada muito desagradável, parou atrás de mim e colocou a


mão no meu ombro. Ângelo começou a falar, assim como Marcus e
rapidamente um plano tático foi organizado com as ideias homicidas

de Damon. Definitivamente, ele agia de uma maneira muito mais


tenebrosa.

Assim que eles saírampara se organizar, Enzo sentou-se ao


meu lado.

— É estranho ver você em uma posição que sempre foi


minha e sempre será minha. Eu não tenho a masculinidade tão frágil

ao ponto de não aceitar o que você conquistou. — Segurou a minha


mão. — Mas você está esperando o nosso bebê. Eu sempre vou
ficar preocupado e tentando fazer de tudo para que fique segura. A
ideia de perdê-lo, de perder vocês, me deixa completamente
maluco. Não posso sair tão disperso e com essa emoção me

dominando.

— Você não tem problema com o meu comando? — Olhei


em seus olhos.

— Não sei o que pensar quanto a isso e acho que

precisamos viver para entender, mas o fato de você exercer domínio


nos meus homens não anula tudo o que eu vivi nos últimos anos. Eu

sei quem eu sou e agora você sabe quem você é.

— Tem razão, precisamos nos ajustar. — Me inclinei para

frente. — Eu não vou. Amália e o bebê precisam de mim. — Ele me


abraçou. Amava que ele não parava de me tocar, porque eu não

sabia ainda o que fazer, queria me pendurar nele e não soltar mais.
— Para ser honesta, não tenho certeza se meu corpo é capaz de

aguentar qualquer aventura. — Enfiei a minha cabeça no vão de seu


pescoço e cheirei, passando a mão nas suas costas, odiando sentir
os ossos. Iria dedicar o meu tempo para engordá-lo novamente. —

Por favor, volte para mim.

— Nada vai me separar de você. Nunca mais. — Prometeu.


Assisti à saída dos homens e decidi ficar no quarto com
Amália. Carina bateu suavemente na porta, pedindo para dormir
comigo já que Alessio havia saído com os demais e nós ficamos

agarradas com a menina. Sua mãe deu a vida por ela e era tão
intenso vê-la a salvo. Amália não tinha culpa das escolhas ruins do

avô e a mãe pagou um preço que não devia. A mulher era uma
enfermeira que teve o marido morto na guerra do tráfico por culpa
do pai, e mesmo lutando para mudar de vida, não conseguiu. Amália

merecia uma vida normal, diferente, mas eu não sabia se era capaz

de deixá-la ir embora.

— Vocês vão adotá-la? — Carina me encarou com


expectativa.

— Não sei. Confesso que eu nunca pensei em adoção e

com um bebê a caminho, é uma decisão que preciso tomar em


conjunto com o seu irmão. — Acariciei a bochechinha dela. —

Independente da nossa decisão, essa menina terá a melhor vida

possível. Eu vou me dedicar a isso.

— Você será uma mãe incrível.

— Acredita que seu irmão me mandou ficar em casa? —

Coloquei as mãos na cintura e Carina sorriu. — Ele é inacreditável.


Falou com jeitinho, mas os meus hormônios gritaram e eu fiquei

irritada.

Linda me enviou uma mensagem, avisando que Giovanna

estava acordada. Como ela não sabia que Damon havia saído,

desci para lhe fazer companhia. Encontrei-a tomando um chá,

aparentando estar melhor e ela me deu um sorriso gentil. Ainda


estava meio emburrada ao refletir sobre a audácia de Enzo, ainda

bem que ele se redimiu, caso contrário, teríamos um problema. Na

verdade, sentia que nós ainda iríamos enfrentar muitos problemas


com a minha nova posição na família.

— Aquele figliodi una putana voltou hoje e me mandou ficar

em casa! — Puxei um banquinho e me sentei. — Olha, Giovanna.


Corta as asinhas do seu marido, porque até depois de morto eles

ficam impossíveis.

— Não está feliz que ele está vivo? — Ela olhou em meus

olhos.

— Estou confusa. Quando o vi, sei lá, senti raiva, ódio, amor
e uma felicidade quase impossível, mas ainda é difícil, com tudo o

que lidei e senti com a sua morte. Saber que ele planejou isso... É

muito difícil de perdoar. — Peguei a sua caneca de chá e dei um


gole. — Eu sei que eu deveria simplesmente ficar feliz, mas eu... Fiz

coisas que sempre condenei, para vingar a morte dele.

— Ele fez de propósito? — Me perguntou, confusa e


interessada.

— Não exatamente. Ele me disse que estava planejando


fazer algo comigo, que me incluíssee eu não sei até onde você está

inserida nas informações dessa parte. — Não queria falar demais

sobre o lugar seguro e toda a conta bancária que os nossos maridos


prepararam. Não queria causar problemas no casamento alheio.

Além do mais, eu não tinha entrado em detalhes sobre o que Enzo

deixou para mim com ninguém e Linda estava conosco.

— Tente perdoá-lo, a nossa vida já é muito violenta para

vivermos em guerra com quem amamos. Tente entender os seus

motivos, o que realmente aconteceu e tire isso do seu casamento,


afinal de contas, vocês têm um futuro chegando...

Giovanna era muito gentil, sorri e ela bebeu um pouco do

seu chá. Linda parecia confusa e com sono, não exatamente


entendendo o que estávamos falando.

— Você é muito jovem para ser tão sábia.

— Na verdade, eu só repeti o que minha mãe diria.


Soltei uma risada.

— E o que você faria?

— Castração química, talvez. — Brincou e rimos juntas.

Ouvi uma risadinha masculina e olhamos para trás. Enzo

estava encostado na porta, sua arma bem visível e ele tinha um

sorriso cínico nos lábios. Damon estava ao seu lado, com a


sobrancelha arqueada e o meu coração explodiu de alívio ao vê-los

tão bem, inteiros e divertidos.

— Você está fodido, primo. — Enzo brincou e se aproximou

de mim com cautela. Girei o banquinho e o encarei. — A senhora

gostaria de um relatório agora?

— Está muito cedo para começarmos essa merda, Enzo. O

que aconteceu? — Explodi, sem saco para o seu humor irritante.

— Os seus amigos conseguiram encontrar as contas, os

associados e quem estava ajudando o tio Alonzo nessa bagunça.

Nós achamos três esconderijos em terra e dois navios, as equipes

estão lidando com isso com a ajuda dos homens dos King. —
Damon se aproximou de Giovanna e a abraçou. — Ele está sem

dinheiro, sem apoio e sem meios para agir tão cedo.


— Ky colocou o rosto dele como um dos mais procurados e

será difícil se esconder, ou ter associados, já que as agências

federais também o terão como alvo. — Enzo falou comigo e assenti.

Não era exatamente o que eu esperava.

— Sem recursos e apoio, ele não deve ir longe, certo?

Estava com medo e não conseguia nem disfarçar.

— Enzo fodeu com os planos ao conseguir fugir e explodir o

local que os homens dele estavam se preparando para atacar. —


Damon explicou que eles descobriram que Alonzo esperava que

Kátia enviasse homens para algo que estava planejando, como eles

entraram em desacordo e Enzo fugiu, explodindo o local, não


sabiam ao certo onde Alonzo estava.

— E Kátia? O que faremos com ela? Sabe que ela virá atrás

de mim e eu... — Mordi o lábio, cansada daquela mulher e da sua


perseguição. Deveria estar furiosa por não ter Cosimo e sua

vingança. Enzo passou o braço por meu ombro.

— Esse é um assunto que já encerrei essa noite, em breve

eles irão levantar outro líder, mas até lá, nós estaremos mais fortes.

Por hora, nosso foco é Alonzo. — Ele me deu um beijo na testa e

aceitei com amor.


Damon e sua comitiva foram embora no dia seguinte bem

cedo. Enzo e eu voltamos para a cobertura com Amália e


precisávamos tomar uma decisão. Carina ficou com Alessio,

provavelmente dando privacidade a nós dois. Linda e Emerson

tinham o seu próprio lugar e depois de semanas com a casa tão

cheia e ao mesmo tempo me sentindo tão solitária, estava com uma


criança tímida de dois anos de idade e com Enzo, alguém que

acreditava ter perdido para sempre.

Sem as funcionárias na casa, preparei o almoço, arrumando

a mesa e parei ao ver Enzo sentado no chão, brincando com um

monte de bonecas e sorrindo para Amália. Aquilo era tão inédito que
quase deixei o copo cair. Eu imaginava que ele seria um bom pai,

porque mesmo na nossa vida tão obscura, ele queria ser um pai

diferente do dele. Eu nunca imaginei que seria capaz de brincar de

bonecas. Era um paradoxo complicado de assimilar: de noite


assassino e de dia um bom pai.

Amália ergueu o rostinho e sorriu para mim. Seu sorriso


tocou o meu coração e eu soube que ela se tornou a minha filha

naquele segundo. Nós não a entregaríamos para nenhuma família

do nosso meio, porque ela chegou para nos transformar em uma.

Enzo fez uma voz engraçada, falando com ela e fazendo uma
careta, nós duas rimos. A minha risada atraiu a atenção dele para
mim.

— Tudo bem, amore? — Estava rindo.

— Brincando de boneca? — Arqueei a sobrancelha.

— Ah... Ela queria companhia. — Encolheu os ombros,


ainda rindo.

— Vem almoçar, estou faminta e fiz macarrão com


almôndegas.

Enzo levantou e deixou as bonecas de lado, esticando a

mão para Amália. Ela veio com ele, com as perninhas ágeis
tentando acompanhar os passos de Enzo e nós teríamos que

aprender a andar com uma criança. Não tínhamos uma cadeira alta

o suficiente para ela e meu marido achou melhor colocá-la em seu


colo.

Foi uma bagunça tão grande, que nós três ficamos sujos de

molho e macarrão. Ela comeu melhor com a própria mão e achamos


que poderia ficar à vontade. Amália não perguntou muito pela mãe e
chegamos à conclusão de que ela já estava afastada desde que

foram pegas. Era uma boa menina, muito quieta, dei um banho após
o almoço e ela adormeceu no quarto de hóspedes.
— Ela é linda.

— Ela é, sim... como você. — Enzo me abraçou. — Estou


sujo de macarrão. Acho que não fico sujo de comida desde que
Carina nasceu.

— Eu nunca alimentei uma criança antes, precisaremos de


prática.

— Isso quer dizer que vamos ficar com ela?

— Você consegue imaginar não ficar com ela? — Olhei para

o seu rosto.

— Não, não consigo. — Ele me deu um beijo com gostinho


de molho de tomate.

— Vem comigo. — Segurei a sua mão e o puxei para o


nosso quarto. Deixei a babá eletrônica em cima da pia do banheiro e
parei próximo ao chuveiro. Tirei a minha blusa, joguei no chão, abri

o meu sutiã e ele foi parar no mesmo lugar.

Enzo não desviou o olhar do meu corpo, conforme me


despia na sua frente. Abri a torneira quente do chuveiro, ergui o meu

indicador e o chamei. Ele tirou a camisa, abriu a calça e


rapidamente tirou a cueca, entrando na área do box e me
encurralando contra a parede, me beijando do jeito que eu gostava,
bem bruto, pegando forte e apertando a minha bunda. Soltei um
gemido em sua boca, toda arrepiada de saudade e com uma
excitação crescente me dominando.

— Quero tanto você. — Choraminguei.

— Faltam poucos dias... — Ele prometeu e eu grunhi,


ansiosa, com saudades e muito necessitada. — Eu vou te fazer

sentir muito bem.

Enzo me fez sentir tão bem, tão mulher e tão satisfeita que
foi a primeira vez desde que ele partiu que eu finalmente dormi uma

noite inteira. Segundo ele, não acordei para nada, deixando-o à


própria sorte com Amália e acordei bem e feliz, que me sentia outra
mulher. Ele estava na mesa do café da manhã quando soltou a

piadinha que eu estava desmaiada.

Amália estava com o rosto tomado de banana e aveia,


comendo um pedaço de pão enquanto Enzo tentava comer alguma

coisa. Eu estava terminando a minha salada de frutas quando


Renata avisou que o Stefanio estava solicitando autorização para
entrar na cobertura. Como estava vestida, mandei liberar e ele

apareceu, parando entre a sala e a área de jantar.


— Senhor. — Ele deu um aceno respeitoso a Enzo. —
Senhora. — Me encarou com firmeza. — Acredito que devam ligar a

televisão e sintonizar no canal da CNN.

Curiosa, peguei o controle e liguei a televisão da sala.

No canal transmitia uma coletiva de imprensa do Prefeito da

cidade de Nova Iorque e no título da matéria bem em vermelho


dizia:“Corpo de contraventora russa é encontrado no meio da Times
Square”. Segundo o prefeito, uma gangue do lado sul da cidade

assumiu a autoria e as autoridades já estavam trabalhando em


impedir tamanha violência na cidade. Olhei para o meu marido e
sorri.

Enzo estava de volta.


Cinquenta e quatro | Enzo.

Alex estava ao meu lado, olhando fixamente para Jack do

outro lado da mesa. Kyra e Juliana estavam conversando na sala ao


lado, junto com Kate. Dominic estava de pé ao fundo, chateado,

sem querer se aproximar. O que Jack fez, colocou a vida das


nossas famílias em risco e não tinha perdão.

Oliver ainda estava preso e Donatella liberada para viver com


as filhas. O escândalo sobre os King parecia não ter fim e o que nos

restava era jogar os Vaughn em evidência para abafar um pouco do


falatório.

— Eu não sou seu associado e não me importo com você,

mas serei benevolente e deixarei que os seus associados decidam o


seu futuro. — Alex ficou de pé e fechou o terno.

Dominic sentou-se ao meu lado, encarando-o.

— Jack, não tem nenhuma solução além de você estar fora.


— Dominic estava puto. — Esse é o meu voto.

— Não preciso falar o meu, mas você não vai sair tão

simples assim. Eu quero a B-TECH e todas as suas empresas de


tecnologia. — Bati meus dedos na mesa.
— Você está me aposentando? — Jack reagiu com raiva.

Ele forçou a aposentadoria do meu pai e tirou Oliver do jogo. Agora,


estava sendo tirado. Era a lei da vida, você faz e em algum

momento, o universo devolve. — Não.

Eu sorri.

— Ah, sim. — Empurrei uma pasta. — Lilian está grávida e


sua esposa, cansada dessa vida. Eu vou te dar a oportunidade de

sair de maneira amigável e ter uma vida ao lado da sua mulher,

aproveitar seus filhos e netos.

Jackson sabia o que iria acontecer se ele negasse.

A reunião acabou e Juliana me deu um olhar firme. Ela não

era mais a mulher que me olhava ansiosa, perdida, me fazendo

sentir o seu porto seguro. Ela era o porto seguro e eu não sabia o

que sentir quanto a isso. Talvez sentisse falta, talvez precisasse me

acostumar com o seu novo jeito de lidar com as situações da nossa


vida. Uma coisa nunca mudaria:eu a amava muito. Era estranho tê-

la ao meu lado em tudo e ao mesmo tempo, era bom. Ter alguém

para dividir essa vida tão insana era muito bom.

Saímos da agência e provavelmente era a última vez ali.

Decidimos dar um passo para trás em nossos envolvimentos.


Continuaríamos juntos, trabalhando e protegendo os nossos
negócios, mas precisávamos nos afastar por um tempo. A saída de

Jackson deixaria as coisas estranhas, principalmente para Kyra,

devido ao intenso envolvimento com ele. Era a coisa certa. Jackson

precisava conhecer o sabor de uma vida normal e ficar na dele,

antes de provocar uma tragédia sem conserto.

Juliana não o perdoou. Eu não estava sentindo nada, mas

não iria contra os sentimentos dela.

— Pronto para descobrir o sexo do bebê? — Minha mulher

me perguntou no carro e sorri. Ela estava uma pilha de nervos.

— Estou ansioso, mas tanto faz. Vou ficar muito feliz de todo

jeito. Estou tão aliviado que chegamos ao segundo trimestre. —

Segurei sua mão e beijei.

— E eu... — Colocou a mão na barriguinha. — A nossa vida

é tão louca. Você morreu, eu descobri que estava grávida, assumi o

seu lugar, você voltou da morte e aí, temos uma filha de dois anos
de idade que me chama de Juxianae você de Zenzo.

— Qual seria a diversão, se fosse tudo tão pacato? — Sorri

e estacionei o carro próximo ao elevador. Andar sem Mika era

estranho. Ele deixou um vazio que ninguém iria preencher. Mesmo


que Stefanio fosse um homem leal a mim e principalmente, à minha

esposa, Mika sempre esteve comigo.

Giana estava devastada. Ter a confirmação da morte do

marido foi um baque que ela ainda não havia recuperado. Prometi
que sempre estaria segura, física e financeiramente, cuidaria dela

pelo resto da minha vida, porque Mika resistiu bravamente a cada


tortura e ele poderia ter entregado o que eles queriam em troca da

nossa vida, mas assim como eu, sabia que as nossas esposas
estariam em risco e deu a vida por isso.

Stefanio seguiu perto. Ele era protetor com Juliana e eu não

sentia ciúme, mesmo ciente de que ele tinha a mesma idade que ela
e era solteiro. A lealdade ali era uma irmandade. Stefanio admirava

a força da minha mulher e ele não era o único. Em milhares de


reuniões ao longo das últimas semanas, pude ver o quanto Juliana

ganhou o respeito e apenas Marcus e Ângelo me contaram em


detalhes.

Minha esposa precisou vender a sua alma pura, no desejo


de se vingar por mim. Se eu pudesse escolher, ainda preferia que

ela tivesse saído do país e ficasse segura em algum lugar. Ela fez o
que achou melhor e não podia julgar.
De mãos dadas, andamos até o consultório e não

precisamos esperar para sermos atendidos. Juliana foi pesada,


aferida, conversamos um pouco sobre os sintomas e logo pudemos

fazer o exame. Estava ansioso, porque daquela vez, o bebê


precisaria colaborar. A barriga dela ainda estava bem sutil, mas

dava para ver que passava por uma gravidez. Ela escondia com
roupas largas e naquela manhã, me surpreendeu com a sua decisão
de passar a gestação na Itália, junto com sua tia e Martina.

Não me opus, mesmo sendo complicado gerenciar tantas

idas e vindas, ela queria uma gestação calma e segura. Merecíamos


isso.

— É uma menininha.

— Meu Deus! — Juliana riu. — Mais uma menina! — Me

olhou e ri. Nós pensávamos que era outro menino. — É a nossa


Anna.

Anna era o único nome que nós não discutimos. Foi o último

que ela sugeriu e eu já estava cansado de brigar então, concordei.


Era um nome bonito, clássico e ficava perfeito com a sua

composição. Amália estava ganhando um novo registro, não


precisamos nos estressar com o processo de adoção, porque falei
com as pessoas certas e as nossas duas filhas receberiam o
segundo nome da mãe e o nosso sobrenome.

Saímos da consulta muito felizes e fomos direto para a


cobertura. Carina e Alessio estavam terminando de arrumar as

malas, porque queriam ficar com Juliana e eu não discuti. Ela


precisaria de Alessio quando eu não pudesse estar por perto.
Marcus e Emerson iriam revezar nas idas. Ângelo ficaria

permanentemente, mas viajaria após o casamento com Antônia.

— Zenzo! — Amália sorriu e eu ri da sua maneira fofa de me

chamar. Eu nunca usaria a palavra fofa, mas isso mudou a partir do


momento que ela entrou na minha vida. — Lalessio deu bala! —
Peguei-a no colo e a sua boquinha cheirava a morangos.

— Lalessio vai ficar a noite inteira acordado, se você não

dormir. — Beijei a pontinha do seu nariz e limpei a parte dos lábios


que estava melada do doce.

— Eu vou terminar de arrumar as nossas roupas. Faz tanto

tempo que não vamos à Itália, que as roupas que ficaram lá não
devem passar das minhas coxas. — Juliana passou por mim, pegou

Amália e foi embora, conversando com a menina sobre escolher


quais bonecas levar.
O projeto do quarto de Amália na cobertura não estava
pronto e nós ainda não sabíamos se ficaríamos ali por muito tempo.
Não era bem uma casa para crianças. De tanto pesquisar na

internet, levei quase uma semana cobrindo todas as tomadas e


protegendo as quinas das mesas para evitar acidentes. Não sabia

que tínhamos tantos objetos perigosos ao alcance das mãos ágeis


de Amália.

Nossos irmãos ainda não entendiam o quão rápido Juliana e

eu nos apegamos à menina e era impossível explicar a conexão.

Nós dois não sentimos algo tão forte um com o outro, mas sentimos

por Amália e isso é que importava. Juliana estava feliz, podia ver em
seus olhos, eles brilhavam e o seu sorriso era o mesmo pelo qual eu

me apaixonei. Ela não era a mesma mulher, a minha ausência a

transformou em alguém muito forte, determinada, sagaz. Sua mente


era poderosa.

Juliana era capaz de organizar os melhores planos táticos e

deixaria muitos homens treinados pelas melhores agências do país

de queixo caído. Era firme sem soar grosseira e eu queria ter visto o
que ela fez para que uma arqueada de sobrancelha fizesse tantos

marmanjos correrem dela. Eu não queria que a minha mulher fosse

envolvida com os negócios, mas ela podia lidar com a demanda. Se


existia uma pessoa que podia lidar com a vida de ser um

contraventor da máfia italiana, essa pessoa era Juliana.

A minha senhora dona da porra toda.

A viagem para a Itália foi uma surpresa. Era a primeira vez

que viajávamos com uma criança e não estávamos preparados.

Todo brinquedo, brincadeira, atenção, carinho e comida não era o


suficiente para Amália, uma coisinha pequena e muito exigente. Ela

chorou tantas e tantas vezes que meu coração partia com os seus

beicinhos. Juliana era mais firme e não cedia com tanta facilidade.

— Essa criança vai ser insuportável e mimada, se você fizer


o que ela quer o tempo todo. — Juliana foi severa comigo.

— O beicinho dela é lindo.

— Você é um bobo. — Ela sorriu e sentou-se no meu colo.

— No segundo que essa garotinha descobrir que te tem nas mãos,


você está ferrado.

— Ainda bem que temos você para ser o nosso ponto de

equilíbrio. — Beijei a sua bochecha. Eu estava louco para o


resultado de todos os exames saírem logo para foder a minha

mulher que estava me deixando louco.


Não queria correr nenhum risco e a espera estava me

deixando nervoso. Enquanto isso, estávamos evitando dividir

talheres, copos e os beijos eram muito contidos.

Voltar para a Itália quase dois anos depois fazia parecer que
estávamos fora há dez. A casa estava totalmente reformada,

conservando a arquitetura antiga e por dentro, moderna e funcional.

Tia Malia preparou um quarto para Amália bem próximo ao nosso,

com uma cama infantil e papel de parede colorido, já que ela não
sabia o que tínhamos escolhido.

Ainda não havia brinquedos ou muitas roupas, eu estava

com uma série de reuniões agendadas e Juliana saiu com Alessio


para o shopping mais próximo. Amália ficou brincando com Carina

no quarto enquanto recebia os subchefes locais, me reunindo e

colocando o que precisava estar no lugar depois de tanto tempo.


Pela primeira vez entendi o pai de Juliana, receber tantos homens

dentro de casa podendo ouvir Amália gritando de alegria no

segundo andar me deixou desconfortável.

— Eu quero que arrumem o escritório na casa de visitantes


— pedi a Giovanni. — Quero deixar a casa ainda mais reservada.
— Farei com que seja feito. — Ele assentiu e ouvimos uma

risada gostosa de Amália. De repente, ela correu pelada no corredor


em frente ao escritório. Levantei correndo e fui atrás dela, pegando-

a e a minha irmã apareceu de cabelos literalmente em pé. Soltei

uma risada ao ver a sua roupa molhada.

Giovanni desapareceu no meio do caos de Amália. Levei a


menina para o seu quarto e a minha irmã conseguiu dar um banho

nela. O humor de Amália era muito alegre, principalmente quando

perdia a timidez. Quando Juliana chegou com muitas coisas, além


do que foi comprar, ela ficou horas com a minha irmã pelo quarto,

arrumando os armários e me reuni com os homens para uma

bebida. Ela me deu um olhar muito engraçado, toda irritadinha, que

indicava que era melhor eu não me reunir sobre algo sério sem a
presença dela.

Era só uma bebida amigável e ouvir uma coisa ou outra bem

importante. A presença de Damon na Itália era muito forte, ele tinha


uma dominância sem esforço e aquilo me interessava, porque

depois do que aconteceu comigo, aprendi a minha lição sobre não

ser onipresente e não estava disposto a perder. Ainda queria mais e

tinha a mesma sede por poder que antes. Se possível, voltei ainda
mais ambicioso.
— Enzo? — Juliana me chamou na cozinha. Levantei-me,

deixando Giovanni e Alessio conversando com os demais e entrei.

— Você não vai ficar bebendo até tarde — determinou e eu ri. —

Estou falando sério. Meia noite. — Piscou e saiu.

Ela pensava que mandava em mim.

Fiquei sentado, sozinho, porque Alessio e Giovanni não

tiveram coragem de irritar as esposas. Irritar Juliana era meu

passatempo favorito. Meia noite e quarenta, subi a escada. Amália


já dormia e Juliana estava na cama, lendo. Me deu um olhar

emburrado e sorri, indo para o banheiro e tomando um banho.

— Se divertiu? — Ela arqueou a sobrancelha quando voltei

enrolado na toalha. — Espero que sim, porque... — Se descobriu e


estava usando um conjunto de lingerie muito sexy. — O médico

enviou o resultado dos seus exames.

— É mesmo?

— Você não tem nada além de uma anemia que vai ser
facilmente curada com a comida de Martina e a companhia da sua

esposa, mas você optou por ficar bebendo até tarde. — Passou o

dedo pela alça do sutiã. — Me arrumei tanto...

— Não vai ser em vão. — Me aproximei e ela me parou.


— Eu disse que era para você subir meia noite. — Arqueou

a sobrancelha e soltei uma risada, jogando a minha toalha no chão


e a segurando bruscamente. — ENZO! — Riu e tentou me chutar,

pairei sobre ela, beijando a sua boca. — Eu te quero e esse é o

único motivo pelo qual eu vou deixar passar a sua gracinha.

— Gracinha? Foda-se. — Eu ri e a beijei. — Eu sou seu


marido e não o seu soldado — repeti a frase que havia falado no

começo do nosso casamento.

— Eu te amo, Sr. Idiota Boca Suja.

— Também te amo, Sra. Autoritária.

Voltei a beijá-la, a sua língua maravilhosa contra a minha e

as mãos delicadas. Desci beijos por seu pescoço, beliscando os

seus mamilos, puxando a renda do sutiã do meu caminho, vendo

que seus peitos estavam maiores e com as veias salientes. Chupei


o mamilo, arrancando um gemidinho gostoso e fazia tanto tempo,

que eu não sabia se iria durar muito. Ela agarrou o meu cabelo,

empurrando o peito na minha boca, querendo mais e eu estava


sedento.

Agarrei a sua bunda, puxando a sua calcinha, parei na sua

barriga e dei um beijinho, descendo o meu rosto mais para baixo,


dando uma boa lambida e apreciando o seu clitóris inchado, ela
estava molhada e desejosa. Olhei seus olhos, apertando seu peito,

provocando um muito necessário orgasmo.

— Dio, Enzo! — gritou e arranhou os meus ombros, se

contorcendo. — Quero você. Eu preciso de você agora.

Fizemos amor deliciosamente, era tão intenso estar

conectado a ela daquela maneira, me senti vivo, inteiro e

apaixonado. Sexo não era a parte mais importante do nosso


relacionamento. Todo tempo que ficamos separados, eu ansiava por

mais um segundinho ao seu lado, sentir o cheiro, tocá-la e ouvir a

sua voz. Era a realização de um sonho. Eu achei que nunca mais


teria a oportunidade de estar na cama com a minha esposa e eu iria

aproveitar cada maldito segundo pelo resto da minha vida.

— Caramba... Isso foi bom. — Ela suspirou, me abraçando


apertado. — Eu precisava disso desesperadamente.

— Eu te disse, vamos foder em cada maldito segundo


disponível. — Sorri contra o seu pescoço. Ela cheirava a perfume e
sexo. O melhor cheiro de todos, talvez devesse engarrafar.

— Você vai me deixar assada. Lembre-se que temos uma


criança que acorda às seis da manhã com muito prazer.
— Um prazer sardônico — murmurei e voltei a beijá-la. —
Vamos praticar o próximo bebê.

— Primeiro eu preciso parir esse, engraçadinho. — Ela riu e

me beijou, apertando a minha bunda. Ergui o rosto surpreso. — Eu


senti falta de apertar essa bunda firme. — Deu um tapa e soltei uma
risada.

Nós não dormimos naquela noite, o que foi uma péssima

ideia, já que Amália acordou às cinco da manhã, pedindo café da


manhã e deitando entre nós, ocupando o maior espaço da cama
que já era enorme. Juliana tomou um banho, olhou para mim,

sorrindo e deitou, se cobrindo, um sinal claro de que eu deveria me


virar com a criança ligada no 220w e com muita vontade de brincar
de boneca com o Zenzo.

Aquela era a minha nova vida. E eu não trocaria por nada.


Cinquenta e cinco | Enzo.

Em toda minha vida, nunca gostei de ser pressionado e eu

era o Enzo Rafaelli. Eu era o poder. Não deveria ser pressionado,


mas quando Damon me deu duas opções, eu sabia que tinha que

escolher uma, odiando ou não. Escolher Damon significava escolher


Juliana e quanto a isso, não havia dúvidas. Me arrumei com calma,
me olhando no espelho e amarrei a minha gravata. Ela ficou torta e

tirei com raiva.

— Ei, amor. Eu faço isso. — Juliana me parou e ajeitou. —


Não posso definir o que você está sentindo. — Tocou o meu peito.
— Se você não quiser, eu vou entender.

— Ele sabia que a minha vida estava em risco, que você


estava em risco e agora nós somos pais... A escolha sempre será
vocês. — Beijei a sua boca.

— Nós amamos você. — Ela ficou na ponta dos pés.

Peguei um dos sedãs de luxo com os vidros mais escuros e

dirigi em alta velocidade até a casa dos meus pais, acompanhado


de Giovanni. Mais de duas horas depois, entrei na Villa Rafaelli

onde meu avô ainda vivia e meu pai residia em uma das casas com
a minha mãe. Os soldados que estavam ali me olharam com

respeito.

— Enzo? — Minha mãe abriu a porta. — O que está


fazendo aqui?

— Carina está te esperando na Sicília para passarem um

tempo de mãe e filha. Faça as malas e vá agora. — Pelo meu tom,


ela arregalou os olhos e ficou parada. — Me dá o seu telefone. —

Estiquei a mão e ela me entregou.

— Por favor, não faça isso.

— Obedeça. — Eu não estava falando como filho e sim


como o chefe da família. Ela se submetia a mim, sendo minha mãe

ou não.

Com os olhos arregalados, ela subiu a escada. Tirei os


telefones residenciais da parede e esperei, meia hora depois, que

ela descesse a escada aos prantos. Eu sabia que me odiaria e

nunca me perdoaria, mas eu também nunca perdoaria suas

escolhas. Precisaríamos lidar com isso. Apontei para a porta e já

havia um carro preparado para levá-la até o aeroporto. Ela ficaria na

Sicília por alguns dias.

Não seria preciso muito tempo para preparar um velório.


Entrei no escritório do meu pai e peguei uma fotografia
muito antiga da nossa família. Carina deveria estar com nove anos

na imagem e ela já vivia comigo a maior parte do tempo. Emerson

estava na fase que era grande demais e com o rosto muito jovem,

de maneira desengonçada. Foi uma das últimas vezes que

estivemos juntos em família, até o meu casamento.

Olhando aquela foto na sua mesa fazia pensar que era um

pai que se importava, mas não era. Ele era um homem sem

escrúpulos, que não se importava com o próprio sangue. Servi uma

dose de uísque em um copo, sem gelo e acendi um cigarro com um

pouco de peso na consciência. Desde que voltei, era difícil não

fumar, mas todos os dias Juliana me lembrava dos motivos para


seguir não fumando. Além do pai dela ter morrido de câncer nos

pulmões, nós tínhamos uma filha, outra a caminho e uma vida

inteira juntos.

Naquele momento, beber e fumar um cigarro era tudo o que

podia fazer para acalmar os meus nervos. Estava me sentindo como

o Enzo de doze anos de idade que matou um homem na sua


cerimônia de iniciação. A porta do escritório se abriu lentamente e

meu pai surgiu, ele cheirava a homem que saiu do quarto de uma

puta barata.
— Chegar em casa cheirando a sexo e cigarro reafirma a

sua masculinidade? — questionei, terminando o meu cigarro. —


Faltar com o respeito à sua esposa te faz sentir homem? — Joguei

a ponta dentro do cinzeiro. O olhar do meu pai era cauteloso. Ele


sabia o que o aguardava a partir do segundo que Giovanni o
desarmou. — Sabe o que é mais engraçado? — O encarei,

pensando que aquele homem nunca havia sido o meu herói. — Ela
pediu por sua vida, mesmo sabendo que você estava na rua traindo-

a com uma piranha barata.

Ele puxou o fôlego para falar e ergui a minha mão.

— Não quero ouvir a sua voz.

Eu não podia ouvir as suas desculpas, ele deveria saber


melhor sobre as consequências de tentar me foder.

— Sente-se na sua cadeira — ordenei e ele sabia que se


não fosse por conta própria, iria fazê-lo sentar. Ele me ensinou
aquilo. Servi uma dose do uísque envelhecido muito gostoso em

outro copo e coloquei na sua frente, oferecendo meu copo para


brindar. — Esse é muito bom. — Dei um bom gole. — Você fez

escolhas muito ruins, pai. Por ser o meu pai, eu vou te dar uma
escolha. — Coloquei o revólver que ele me deu quando eu
completei doze anos em cima da mesa. — Essa é a pistola que

você deu o primeiro tiro e a que eu dei... E vai ser a última que você
usará.

Empurrei o revólver na sua direção.

— Se você não o fizer, eu farei. Vou te dar uns minutos para

apreciar a sua última dose. — Seu rosto era uma máscara dura e
orgulhosa. Eu estava dando a ele a chance de ainda ter um pouco

de controle. — Adeus, pai.

Caminhei até a sala de estar e afundei no sofá. Na

escuridão, bebi o meu uísque com calma e fechei os meus olhos ao


ouvir o som do disparo no cômodo ao lado. Giovanni passou por

mim com cautela e foi até lá, conferindo, me deu um olhar


confirmando e virei tudo de uma vez só, batendo o meu copo na

mesinha.

— Cuide de tudo.

Dei as costas e voltei para o carro, dirigindo o mais rápido


possívelde volta para minha casa. Sentia um aperto no peito e uma

agonia na boca do estômago e não conseguia parar. Eu só podia


parar quando chegasse na Villa Valentinni. Passei pelas estradas do
vinhedo levantando poeira na escuridão da noite e estacionei de
qualquer jeito antes da garagem, saindo do carro e entrando na
cozinha.

Juliana estava com a mão na cintura, usando uma blusinha


justa que evidenciava a sua barriguinha e mexia um molho em uma

panela. Amália comia frutas, presa em sua cadeirinha alta e me deu


um sorriso todo sujo de morango e mamão. Minha mulher largou a
colher de pau que segurava e me olhou preocupada, pude ver a

tensão saindo de seu corpo e simplesmente a abracei, escondendo


o meu rosto em seu pescoço.

— Sinto muito.

— Não precisa sentir. Tudo o que eu preciso está bem aqui.

— Segurei seu rosto e a beijei. Encostei a minha testa na sua e


fechei os meus olhos.

— Zenzo, beija Mália também. — Amália falou da sua


cadeira e eu sorri.

Lavei as minhas mãos e sequei em um pano de prato,


pegando-a no colo. Ela me deu um beijo com a boca suja e aquele

beijinho era o melhor do mundo.

— Eu te amo, filha. — Beijei a sua testa, ela agarrou um

morango, mordendo, deixando escorrer suco na minha gravata


muito cara.

...

Enterrar o meu pai não me causou nenhuma emoção, nem


mesmo o rancor da minha mãe. Meus irmãos me entenderam e eles

aceitaram a minha atitude. Damon estava ao meu lado, ouvindo a


cerimônia e tanto Juliana quanto Giovanna não estavam presentes.

Giovanna não conhecia meu pai e Juliana desprezava a existência


dele, não queria se despedir.

Eu não queria me despedir.

Não fazia sentido me despedir e fingir o luto por um homem

que sabia dos planos de me matar. Eu poderia ter matado meu pai
há muitos anos e nunca o fiz, mesmo com todos os motivos. Não

estava de luto e não ficaria.

Carina me deu um olhar entediado. Para nós, ele não existia

mais. Nunca foi um bom pai e nenhum dos filhos estava se


lamentando. Contei à Isla antes de sair de casa e ela apenas

assentiu, sem dizer nada. Seu pai era o homem que a criou. Marcus

sequer estava por perto e eu ainda não conseguia acreditar que ele

era meu irmão, mas um exame de DNA explicava a fodida


semelhança.
A cerimônia fúnebre acabou e eu olhei para Damon quando

o nosso avô foi embora. De todos os seus filhos, faltava um e que


Deus me conservasse em ódio e saúde para acabar logo com a vida

de Alonzo.

— Esse é com você. — Dei um tapinha no ombro. — Vamos

embora.

Não estava com saco para participar da recepção como se

eu precisasse receber tapinhas nos ombros por causa dele. Poderia

causar um banho de sangue. Damon havia me pedido meu pai em


vingança da morte do dele e eu dei. Tio Francesco foi um homem

importante na minha vida e eu sabia que era a escolha certa.

Damon protegeu Juliana quando eu não pude e nós poderíamos

chegar a um entendimento sobre isso.

Ser pai mudou a minha visão de ser o chefe.

Eu nunca fui de sentir medo, normalmente, o medo

alimentava a minha adrenalina. Quando Juliana e eu decidimos

adotar Amália, já me sentia o pai dela. Foi natural e rápido. Com


Anna a caminho, eu entendi o que era ter medo. Minhas duas

princesas mereciam a chance de uma vida segura e para que eu

pudesse dar a elas esta vida, eu não iria governar sozinho.


— Como foi? — Juliana estava no nosso quarto quando

cheguei e logo tirei a minha roupa, colocando para lavar e tomando

um rápido banho, já que estava um dia insuportavelmente quente.

— Chato.

Ela esfregou as mãos com um creme hidratante e passou na

barriga.

— Tem certeza de que é apenas isso que está sentindo

sobre o seu pai?

Encolhi os ombros.

— Quando tio Francesco morreu, doeu mais e eu nem pude

demonstrar os meus sentimentos, ainda precisei ser duro com meu

primo para que ninguém visse a fraqueza que era sentir o luto. —
Sentei-me na pontinha da cama. — Meu pai só abriu a boca porque

a minha mãe foi sequestrada e ele nem foi homem o suficiente de te

enfrentar para estar lá na espera dela. Sabe o que eu faria se você

fosse sequestrada? Não teria homem suficiente nesse mundo para


me segurar.

— Eu sei e é por isso que eu te amo. — Ela segurou o meu

rosto.
— Amália está melhor?

— Dio, não. — Suspirou e parecia cansada. — Ela chorou


por quase duas horas sem parar e estava muito irritada que você

saiu. Ela é geniosa.

— Ela é. — Encostei a minha testa na barriga de Juliana. —

Oi, filha. Você está bem aí?Sua irmã deu piti. Será que você vai dar
também?

— Claro que vai. — Juliana bufou. — Ela é nossa filha, essa

garota é uma combinação explosiva com pernas.

— Ela vai ser perfeita. — Beijei o ventre redondo da minha


mulher. Agarrei o seu quadril, colocando a minha bochecha contra a

barriga. — Ela vai ser uma princesa com o mundo inteiro aos seus

pés.

— Você está certo sobre convidar Damon e Giovanna para


serem os padrinhos das meninas? — Juliana acariciou o meu

cabelo.

— Eu preciso que outra pessoa dê a vida pelas meninas e


esse alguém vai ser Damon porque... nós seremos um só.
Juliana normalmente tinha um humor meio intolerante para

as minhas brincadeiras, grávida, ela ficava além de furiosa e

impaciente. Ela não me aguentava e eu não conseguia parar. Na

manhã seguinte, nós acordamos cedo porque Amália não dormiu


muito e chorou a maior parte do tempo, exigente e querendo colo.

Nós descemos para tomar café da manhã.

— Que vontade de comer pão... — Juliana agarrou uma

baguete enorme e eu ri. — O que foi, Enzo?

— Nada. — Sorri e ela continuou segurando o pão como se

fosse a coisa mais preciosa do seu mundo. Arqueando a

sobrancelha, me deu um olhar irado. — É o jeito que você agarrou


isso aí... Tão faminta. Você poderia agarrar o meu... — Ela

arremessou o pão em mim e desviei, rindo. — Sério, amor. Eu vou

amar esse olhar guloso... — Corri dela e dei a volta na mesa,

conseguindo pegá-la por trás e beijando sua bochecha.

— Eu nunca mais vou chupar o seu pau — reclamou e

Martina bateu firme na panela. — Desculpa, Martina — murmurou

timidamente.

Soltei uma risada e ocupei um lugar. Juliana estava puta e


deu graças a Deus quando Giovanna passou pela porta, rebocando
Damon, ambos pareciam felizes demais. Eu tinha que começar a

encher o saco de alguém e deixar a mulher do meu primo muito


desconfortável com as minhas piadas de cunho sexual me pareceu

uma ótima ideia para melhorar o meu dia.

Mais tarde, Damon e eu estávamos sentados na sala de um

tatuador. A dele estava pronta e a minha estava quase. Ele


analisava o brasão no seu antebraço com um sorriso divertido. Era o

começo de uma nova era. O novo brasão das nossas famílias

desenhado por nós com o dizer em cima: “Queimarei no inferno se

trair esse juramento de sangue” e na parte debaixo “famíliaem


primeiro lugar”.

Damon tatuou o novo nome da minha filha, como os seus

documentos ainda não estavam prontos, Juliana e eu decidimos por


uma alteração como era tradição entre padrinhos. Eu tinha o

segundo nome do pai de Juliana e demos o segundo nome de

Giovanna para nossa filha. Meu primo aproveitou a oportunidade e


tatuou Maria Amália no peito, prova de que se comprometia em

salvar a vida da minha filha, independente do que acontecesse no

futuro.
À noite, depois que as nossas esposas e Amália estavam
dormindo, meu primo e eu dividimos uma garrafa de vinho muito

antiga.

— Ainda faltam dois.

— Sim. — Bebi um gole. — Um, você pode resolver em


breve... Dar algumas semanas aceitáveis entre um velório e outro

pode ser de bom gosto.

— Não vamos descansar até pegar o segundo. Só vou parar

quando as minhas mãos estiverem sujas com o sangue dele.

Brindamos e olhei para o horizonte do vinhedo.

— Essa história ainda não acabou.

Damon sorriu.

— Não, definitivamente não acabou.


Epílogo | Juliana.

— Olha, mamãe! — Amália gritou, segurando uma

conchinha.

— Essa é muito linda, amor. Coloque no baldinho. —


Apontei para o seu baldinho vermelho e ela correu até ele. Anna

estava sugando o meu peito avidamente, faminta, sem se importar


com o mundo, porque estava fazendo o que mais amava fazer na
vida: deixar os meus mamilos arrebentados.

Enzo nos surpreendeu com uma viagem de família para a


nossa nova casa de praia na região de Pisa. Era bonita, no estilo
pitoresco italiano, com uma piscina agradável, mas nós amávamos

a tranquilidade da praia, que apesar de não ter uma bandeira azul,


era muito tranquila para ficar com as meninas.

Era fim de tarde e eu estava deixando Amália se cansar na

praia para dormir a noite inteira. Eu não tinha esperanças quanto a


Anna dormir, porque ela fazia aquilo quando bem entendia, pelo

menos era uma só para gerenciar. Enzo dizia que as suas duas
filhas eram pequenas corujas e não podia negar.
Anna me fez ter um longo e muito doloroso trabalho de

parto. Ela nasceu meia noite e dez, depois de horas sofrendo e


empurrando. Valeu a pena todo o esforço quando vi seu rostinho

perfeito e o meu coração explodiu de amor quando Amália a

conheceu e disse “ai que fofinha”. Ela amava a sua irmã mais nova,
mas não ficava perto quando o choro começava. Era a primeira a

correr na direção oposta. Mesmo ainda pequena, Amália tinha um

coração de ouro e uma personalidade muito forte.

— Olha, papai!

— Oi, caçadora. — Enzo andou devagar na areia e ajoelhou

ao lado dela. — Uau, você vai deixar algumas conchas no oceano?

— Claro que sim, bobinho. — Ela riu com prazer.

— Essa bezerrinha nunca mais vai parar de mamar? — Ele

apontou para Anna agarrada em meu peito e sorri. — Saudades dos

meus peitos. — Fez um beicinho.

Movi os meus lábios chamando-o de idiota. Não dava para

continuar chamando-o de todos os nomes que as meninas não

podiam chamá-lo, então eu tinha que improvisar. Enzo parecia o

mesmo homem com quem me casei no quesito físico, estava mais

uma vez gostoso e bronzeado para o meu prazer pessoal, mas ele
era um homem infinitamente melhor, um parceiro sem igual em
todos os papéis da nossa vida. Eu pensei que ele teria dificuldades

de me aceitar ao seu lado e julguei o seu amor por mim de maneira

errônea.

Tive muito mais dificuldades do que ele. Claro que batemos

de frente, brigamos, discutimos, eu gritei e fiquei exasperada com o


seu humor maluco, mas ele nunca me fez sentir inferior ou menos

dona de mim mesma e dos nossos negócios. Ele tinha razão ao

dizer que não se sentia menos homem por me ter ao seu lado,

porque eu o ensinei o quão forte e homem ele poderia ser. Ele dizia

todos os dias que me amava e se inspirava em mim.

Ainda tínhamos um longo caminho pela frente, algumas


tradições me irritavam ao extremo e eu era péssima em fazer

política, mas era excelente em articular melhor os nossos planos.

Os negócios iam muito bem, principalmente depois da união e ainda

existia um capítulo a ser encerrado definitivamente na nossa vida, o

que era uma preocupação constante.

Alonzo não foi encontrado e quanto mais o tempo passava,

mais eu tinha certeza que ele tinha algo grande em mente e

precisávamos impedir antes que fosse tarde demais.


— Ei, mamãe. Férias. — Enzo falou suavemente e passou o

polegar na minha sobrancelha franzida. — Relaxa, amore. — Me


deu um beijo.

Anna soltou o meu peito com um resmungo e ajeitei o meu


biquini, colocando-a na posição certa para arrotar. Amália deu

tapinhas fofos nas costas da irmã. Sorri para a cena à minha frente
e abracei as minhas duas filhas. Elas eram o meu mundo. Enzo

deitou-se e nos olhou com amor.

Lá fora, éramos temidos, admirados, odiados, idolatrados e


até copiados. Dentro de casa, tudo entre nós era sobre amor. Eu

não me importava mais com o que éramos, o que fazíamos ou o


peso do nosso sobrenome na vida de meninas tão inocentes quanto

as nossas. Aceitei quem nós éramos e aprendi a encontrar a


felicidade em momentos tão doces quanto aquele fim de tarde em

uma bela praia, na companhia da minha família.

Enzo mudou muito, mas eu sabia que entre nós dois, eu fui

a pessoa que se transformou totalmente. Estava bem com a mulher


que me tornei. Era confiante e firme. Em toda a minha vida, nunca

me senti tão completa e decidida. Ninguém decidia a minha vida,


não havia mais mentiras e muito menos uma super proteção.
Meu nome era Juliana Rafaelli e pessoas temiam este

nome, mas os nomes mais importantes da minha vida eram amore e


mamãe. Esse era o meu papel principal e eu amava cada

segundinho dele. No passado, eu era a mulher assustada no


espelho, sem saber o que esperar do futuro.

No futuro...

Eu me tornei uma mulher poderosa.

FIM

Continua em Império Perigoso.


SOBRE A AUTORA

Mari Cardoso, é como se chama a autora nascida no litoral

fluminense, no início dos anos 90. Com a mãe professora Mari


sempre teve aguçado o amor pelos livros. Em 2019 iniciou sua
carreira como autora profissional, hoje possui duas séries em

destaque; Elite de Nova Iorque e Poder e Honra.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance


Perigoso Amor.

Ela possui algumas histórias publicadas na Amazon.

Suas redes sociais:

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www.twitter.com/mcmaricardoso

www.mcmaricardoso.com.br
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda

profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da


Augusta Pacheco e Paula Guizi. Agradeço imensamente o apoio
destas mulheres no período de construção dessa história assim

como a força e incentivo da minha amiga Gabrielly Moretti. Não


poderia deixar de fora a torcida das minhas leitoras em nossos
grupos de contato e o carinho excepcional (e paciência) da minha

amada mãe nos dias de muito trabalho.

Gratidão eterna.
[i]
Kyra é filha do Comandante Bryant, que aparece em Curvas do Destino. Ela
terá seu próprio livro com o Alex.
[ii]
Dominic terá seu próprio livro, fazendo parte da série Elite de Nova Iorque
[iii]
Personagem de Curvas do Destino, livro 1 série Elite de Nova Iorque
[iv]
Primo do Enzo e futuro chefe da máfia em Chicago (e em outros territórios).
Personagem de Império Perigoso, primeiro livro da série Poder & Honra e
sequência de Perigoso Amor.
[v]
Katherine Hudson é a noiva de Dominic King, que ainda terá livro na série Elite
de Nova Iorque.
[vi]
Christopher Eros, personagem recorrente da série Elite de Nova Iorque e
outros livros.
[vii]
Personagem do livro Bem Me Quer.
[viii]
Personagem de Realeza Selvagem, livro 4 da série Elite de Nova Iorque.
[ix]
Sienna é personagem fundamental na série e terá seu próprio livro.
[x]
Personagem de Realeza Selvagem, livro 4 da série Elite de Nova Iorque.

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