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S516
CDD 709.81
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José
Sarto
Prefeito de Fortaleza
Com trajetória marcada pela resistência Cultural Iracema, a mostra é realizada homenagem ao artista expressa nosso
e expressão de valores socioculturais com todas as adequações necessárias, agradecimento e reconhecimento por
do nosso Estado, o Salão de Abril, de acordo com as recomendações toda a sua contribuição às artes visuais
mais uma vez, afirma relevância ao dos decretos municipal e estadual. A do Ceará.
chegar a sua 72ª edição. É uma grande programação foi adaptada para um
alegria para a Prefeitura de Fortaleza formato híbrido e inclui o Seminário Neste catálogo, é possível apreciar
celebrar o talento e a força de nossos intitulado “Do corpo que produz ao as obras selecionadas e passear por
artistas nessa mostra que é uma das corpo que exibe: arte, trabalho e essa edição da mostra, composta
mais antigas do País, datada de 1943. políticas de vida”. por fotografias, pinturas, instalações,
Especialmente neste ano, em que ainda videoartes, desenhos, colagens,
atravessamos dificuldades impostas Em 2021, o Salão de Abril tem, pela esculturas e performances. Além
pela pandemia do novo coronavírus, primeira vez, o sobralense Raimundo de incentivar todas e todos os
o Salão de Abril confirma o nosso Cela como principal homenageado. fortalezenses a visitarem a Casa do
compromisso com a valorização da Artista célebre, retratou em suas Barão de Camocim, por meio desta
cultura e evidencia a resiliência de quem obras a mais pura essência do povo publicação, que ficará acessível a esta
manifesta a existência por meio da arte. trabalhador cearense, do pescador geração e também às futuras, enalteço
ao vaqueiro, do jangadeiro à rendeira, e parabenizo cada um dos artistas
Com caráter inovador e criticidade, esta envolvendo de forma muito sensível em participantes, que já integram a história
edição reúne 35 obras que ocupam suas telas as questões sociais de seu do nosso valoroso Salão de Abril.
o Centro Cultural Casa do Barão de tempo. O artista representa um grande
Camocim. Por meio do empenho da marco para a arte regional, destacando- Boa leitura!
Secretaria Municipal da Cultura de se como parte importante do patrimônio
Fortaleza, em parceria com o Instituto artístico cearense e brasileiro. A justa
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Elpídio
Nogueira
Secretário da Cultura de Fortaleza
O Salão de Abril se consolida, em mais Barão de Camocim, equipamento que Outro destaque nesta edição é
um ano, como uma política cultural sediou a exposição em 2021, adotou pela curadoria ser essencialmente
vitoriosa e continuada. Em meio à crise normas sanitárias para garantir a feminina, composta pelas talentosas
sanitária, provocada pela pandemia da segurança dos visitantes, com aferição profissionais Ana Cecília Soares (CE),
Covid-19, a mostra de arte visual mais de temperatura, disponibilização de Luise Malmaceda (SP/NY) e Luciara
antiga e importante do Estado do Ceará álcool em gel e controle da capacidade Ribeiro (BA/SP). A partir do olhar crítico
se mantém firme diante dos desafios máxima dos espaços. Pensando no e apurado da equipe curatorial, foi
atuais impostos, acumulando feitos atual cenário, foi elaborada ainda a possível contemplar no 72º Salão de
importantes para a história do projeto. inédita exposição virtual do 72º Salão Abril muitos trabalhos de jovens artistas,
de Abril. O recurso é composto por com qualidade técnica e que abordam
Com origem em 1943, o Salão de Abril imagens em 360º que permitem que temas sensíveis e importantes para a
nasceu no movimento estudantil e, logo o visitante faça um tour pelas salas nossa sociedade.
em seguida, passou a ser realizado do casarão e que interaja com as
por artistas que atuavam na Sociedade obras, sem sair de casa, por meio de Diante dos percalços e das adversidades
Cearense de Artes Plásticas (SCAP). Em plataforma virtual. que a humanidade enfrenta, a arte é um
1964, a administração municipal assumiu alento e uma manifestação de resistência.
a mostra, sendo realizada, atualmente, Em 2021, é destaque o maior número Por isso, a execução do 72º Salão de
pela Secretaria Municipal da Cultura de de obras contempladas. Foram Abril, composto exclusivamente por
Fortaleza (Secultfor), em parceria com o selecionados 35 artistas, cinco a mais obras de artistas do nosso Ceará, se faz
Instituto Cultural Iracema (ICI). do que em outras edições. A premiação necessária, de maneira única e especial,
se tornou igualitária para todos os sendo um retrato vivo da nossa sociedade
A 72ª edição do Salão de Abril se participantes, uma maneira de alcançar e dos tempos em que vivemos.
torna histórica por ocorrer em meio às e beneficiar mais proponentes nesse
restrições impostas pela pandemia, momento delicado em que a classe
sendo adaptada para essa nova artística foi severamente atingida.
realidade. O Centro Cultural Casa do
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Paola Braga
Diretora-Presidenta do
Instituto Cultural Iracema
O 72º Salão de Abril acontece num Apesar da complexidade política do protagonismo feminino em várias áreas.
momento delicado, mas muito momento, de uma polarização nociva São elas: Ana Cecília Soares, Luise
importante de superação e retomada à civilidade, dos ataques sistemáticos Malmaceda e Luciara Ribeiro.
gradativa do convívio social com à nossa diversidade cultural e Tivemos 35 trabalhos artísticos
a celebração coletiva do que mais comportamental, perpetrados em âmbito contemplados, número maior do que os
importa, a vida, por meio da promoção nacional, diante do qual Fortaleza não 30 selecionados nas mostras anteriores.
das artes visuais. A pandemia nos está imune, o Instituto Cultural Iracema São trabalhos potentes e transgressores
trouxe vários desafios e o maior deles, (ICI), em parceria com a Secretaria nos campos da fotografia, pintura,
certamente, tem sido o de repensar Municipal da Cultura de Fortaleza performance, videoarte, bordado,
novos rumos e comportamentos que (Secultfor), compreende o significado escultura e instalação, que nos revelam
irão impactar positivamente nosso e a relevância do Salão de Abril. Por de que forma a arte mexe com a vida
planeta. Estamos diante da urgente isso, uniu esforços para executar essa das pessoas trazendo à tona o que
missão de refletir sobre o papel da relevante política pública que mantém há de melhor na criação humana: a
humanidade e, por consequência, viva e pulsante uma das mais antigas e criatividade. Estamos diante de obras que
também ressignificar o papel da arte e importantes experiências de expressão nos apresentam e traduzem lugares de
da cultura na nossa cidade, no nosso da criatividade do nosso povo, onde gênero, raça, urbanidade e a necessária
estado, no Brasil e no mundo. Como questionamentos, argumentos críticos, defesa dos direitos humanos. O Salão
humanidade, estamos inevitavelmente reflexões cotidianas e co-criação dos de Abril é esse lugar fértil da resistência,
conectados por inúmeros desafios, mas artistas cearenses são e serão sempre do diálogo entre o poder público e a
também por um otimismo necessário. acolhidas com o devido respeito que a classe artística, onde conteúdos que
O Salão de Abril, sendo um dos mais arte merece. rompem com a lógica do normal nos
relevantes acontecimentos artísticos proporcionam o entendimento da arte
do país, reafirma-se a cada edição Ao todo, a equipe curatorial da mostra como força motriz transformadora de
como espaço de fruição e incontestável avaliou 221 obras de artistas inscritos. costumes e pensamentos.
contribuição para o desenvolvimento Nesta edição, a curadoria foi formada
da arte e da cultura em nosso estado, na íntegra por mulheres profissionais Este ano, o Salão de Abril presta uma
pois possibilita conexões potentes com da arte, o que muito nos honra como justa homenagem ao artista sobralense
outros territórios imagéticos, estabelece expressão dos novos ventos que Raimundo Cela. Um artista de relevância
diálogos diversos e se firma como pilar sopram no Século XXI, e que trazem nacional, muitas vezes obscurecido
democrático das artes visuais. consigo o reconhecimento do talento e até mesmo nas relevantes escolas de
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artes do país. Um homem inventivo, um conhecimentos, destacamos os artistas
artista completo, que na sua inquietude Virgínia Pinho, Ana Mundin e Diego de
e sensibilidade, contou a poesia da vida Santos e das curadoras Ana Cecília Soares,
cotidiana em aquarelas, mas não só, e Luciara Ribeiro e Luise Malmaceda, os
explorou com maestria a força e beleza pesquisadores Delano Pessoa, Bruno
do trabalhador do mar. Um reparo ao belo Pinheiro, Maria Angélica Melendi e Rafael
legado desse homem que, discreto na sua Domingues, que nos brindam com um
vida familiar, foi gigante no legado artístico debate rico de possibilidades para a
que nos deixou. economia da cultura.
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Ana Cecília Soares
Luciara Ribeiro
Luise Malmaceda
Curadoras do 72º Salão de Abril
Ao longo de sua trajetória, o Salão de Em seu 72º ano, o Salão de Abril trabalhos apresentados. Quando nossos
Abril vem atuando como um importante cumpre seu papel de fomentar computadores se tornam o nosso ateliê
espaço de projeção e legitimação da o sistema de artes do Ceará e, e a nossa casa se torna o lugar que
produção artística cearense, não só no consequentemente, do país, sendo condensa todas as funções do cotidiano
contexto local, mas também, em âmbito mais uma vez palco para discussão dos - temos trabalhos de cunho reflexivo
nacional, revelando nomes de peso sentidos que os artistas propõem hoje que miram as distopias correntes
como o homenageado desta edição, o ao campo da cultura. Como cicatriz utilizando sobretudo materialidades
artista Raimundo Cela (1890-1954). Um do presente, esta é a segunda vez em como a fotografia e o vídeo.
dos eventos culturais mais antigos do que a experiência do prêmio ocorre em
país, o Salão se constitui como lugar de meio à crise sanitária da Covid-19, que Como curadoras, nossas análises
exibição da força de produções jovens aglutinou uma série de experiências que mantiveram como horizonte a
que, em sentido prospectivo, são hoje compartilhamos à distância. As marcas representação de um agora tão
índices de uma historiografia futura, indeléveis de um longo período de singular, sem com isso desconsiderar
estando atento às principais questões isolamento, solidão, exaustão, trabalho o caráter formal das propostas, assim
político-sociais que regem as gerações remoto, precariedade, perpassam as como as pesquisas e processos que
pelas quais ele têm acompanhado. produções selecionadas, tanto como dão corpo aos trabalhos inscritos. Ao
tema, quanto como formato dos total, foram 221 obras analisadas com
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afinco para chegarmos aos 35 artistas A 72ª edição é a prova viva de que a da importância de entendermos a arte
desta exposição, os quais ajudam a cultura segue resistindo às adversidades como local de trabalho, majoritariamente
constituir e renovar os debates da arte de um Brasil não tão generoso com os feita por trabalhadores da cultura. Afinal,
contemporânea. Os embates e disputas trabalhadores da arte. Principalmente nos quaisquer que sejam as especificidades
políticas da atualidade aparecem aqui dias atuais, onde temos de conviver com das práticas artísticas, elas não constituem
em sua pluralidade e não nos dão a total extinção do Ministério da Cultura, uma exceção ao mundo laboral.
margem para eufemismos: falam das com o desmonte das políticas públicas
lutas por reparação histórica, passam para pasta e com a censura em prol da
pela construção de novos e possíveis batalha ideológica desenvolvida pelo
lugares de enunciação na esfera pública governo brasileiro. Deste modo, nada mais
e chegam a 2021 colocando em xeque o oportuno do que celebrarmos a obra do
papel do Poder público na manutenção e pintor e gravador Raimundo Cela (1890-
gerenciamento da vida. Mostram como os 1954) que, dentre outros fatores, se
artistas são entes políticos que pensam dedicou a pintar as paisagens e o cotidiano
desde seus lugares de pertencimento e do trabalhador, simbolizado, na maioria
cujas produções nos ajudam na atribuição das vezes, nas figuras dos pescadores,
de sentidos do que vivemos enquanto jangadeiros e vaqueiros do Ceará. Não sem
comunidade. razão, a nossa seleção lembra também
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Sumário
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Juliana Saavedra Mendoza Núbia Agustinha
Gaiola - Paisagem Interior 55 Cartossangrias 75
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ARTISTAS
SELECIONADOS
13
14
Ana
Mundim
Fotografia
Chá de cadeira
9 x 9 x 6 cm [cada]
2020
15
16
Anie
Barreto
Pintura
Sob muitos sóis
39,7 x 30 cm. 40 x 40 cm. 24 x 30 cm
Bordado s/ tela
Pintura acrílica s/ tela
2020
17
18
Bruna
Bortolotti
Gabrielle
Tavares
Instalação
Invenção do meu avô
2021
19
20
Célio
Celestino
Fotografia
Série Tecituras
17 x 25 cm [cada]
Fotografias de enciclopédias, recortadas
e entrelaçadas manualmente
2021
21
22
Charles
Lessa
Pintura
Macho quer macho
50 x 65 cm
Acrílica s/ papel canson
2021
23
24
Coletivoponto
@coletivo_ponto
Videoarte
Tanto Mar
8’40’’
2020
25
26
David
Felício
Jorge
Silvestre
Escultura
Armar uma rede
2021
27
28
Diego de
Santos
Desenho
Fantasma Hereditário - Trilogia Fantasma
Caneta esferográfica sobre carteira de trabalho
da minha mãe
13 x 18 cm [cada]
2020
29
30
Diego
Landin
Yuri
Marrocos
Colagem
Revista Capricha
29x36x2cm [cada]
Colagem e tratamento digitais s/ papel
2021
33
34
Eliézer
Colagem
Menu do dia ou um prato que se come frio
16 cm de diâmetro x 2 cm de altura
Porcelana portuguesa policromada com
decoração inglaze
2021
35
36
Felipe
Camilo
Instalação/Livro de Artista
Álbum Preto
2021
37
38
Fernanda
Siebra
Fotografia
Oxigênio
Álcool 70º s/ papel de cupons fiscais
2021
39
40
Fernando
Jorge
Fotografia
Árvore-Lágrima
32x32 cm [5]. 32x26 cm [3]. 20x30 cm [9]
Impressão fotográfica digital
2020
41
42
Flávia
Almeida
Hailla
Krulicoski
Caio
Erick
Videoarte
Eu-Não
5”17’
2021
43
44
George
Ulysses
Rodrigues
de Sousa
Video-performance
XAXARÁ
2021
45
46
Iago
Barreto
Soares
Dias
Holanda
Potyguara
Videoarte
A margem de um rio que correm meus ancestrais
13’
2021
47
48
Jared
Domício
Intervenção
Indicador social para jardim
120 x 56 cm
Acrílica s/ tela e madeira
2021
49
50
Jefferson
Santos
Videoarte
Corpografias em Contexto
13’05
2021
51
52
João
Paulo
Duarte
de Sousa
Performance
Cena de Assassinato
2021
53
54
Juliana
Saavedra
Mendoza
Videoarte
Gaiola - Paisagem Interior
8’05’’
2021
55
56
Karl
William
Instalação
Jogo da Memória - Para não esquecer
Cartas: 6 x 10cm [cada]. Instrucional: 19 x
21cm. Caixa de madeira: 8 x 12 x 5cm
2021
57
58
Lívio
Instalação
A história se repete, a primeira vez como
tragédia e a segunda como farsa. [1500-
1822-1871-1888-1889-1932-1960-
1964-2016-2018 e contando]
2020
59
60
M Dias
Preto
Instalação
Campo de Passagem’
2021
61
62
Marcelina
Natalia
Coehl
Registro da Intervenção Urbana
Ame as Deusas
2021
63
64
Maria
Macêdo
Videoperformance
Dança para um futuro cego
6’16’
2021
65
66
Mario
Sanders
Instalação
Corpo Santo
Bordado: 57 x 36 cm. Oratório: 90 x 48 x 20 cm
Bordado s/ tecido instalado em oratório de
madeira
2020
67
68
Naiana
Magalhães
Escultura
Ecologia é poesia
27 x 62 cm
2021
69
70
Nataly
Rocha
Videoarte
Árido Brejo
2021
71
72
No Barraco
da Constância
Tem!
Instalação
Protótipo de inserção da experiência jangadeira no Brasil
40 x 40 cm [cada - 12 peças]
175 x 25 cm [1 peça]
Impressão s/ papel algodão fine art
2021
73
74
Núbia
Agustinha
Instalação
Cartossangrias
23 x 23 cm [cada]
Bordado com cabelo e pintura com sangue menstrual
2020
75
76
Samuel
Tomé
Objeto
Você pode sentir que está passando por mim
60 x 30 cm [cada]
Adesivo de vinil sobre espelhos
2020
77
78
Thaís de
Campos
Fotografia
As finas tramas que nos unem
0,64 x 1m [cada]
Fragmentos de insetos, folhas e
elementos naturais em decomposição
2021
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80
Victor
Cavalcante
Instalação
PERMITIR O AFETO - VIVER O DESEJO - ESQUECER O TEMPO
Bandeiras: 120 x 80 cm [cada]
Mastros: 4 m [cada]
2021
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82
Virginia
Pinho
Fotografia
Máquina de Costurar
60 x 90 cm [cada]
Pigmento mineral s/ papel algodão
2021
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Seminário do 72º Salão de Abril
Do corpo que
produz ao corpo
que exibe:
arte, trabalho e
políticas de vida
Na 72ª edição do Salão de Abril, homenageamos a obra do Por isso, neste seminário, o tema do trabalho orienta as três
pintor e gravador Raimundo Cela (1890-1954), que por décadas mesas que serão realizadas ao longo da exposição, entre agosto
se dedicou a pintar as paisagens e o cotidiano do trabalhador, e setembro de 2021. Em diálogo com alguns dos artistas desta
simbolizado nas figuras dos pescadores, jangadeiros e vaqueiros edição, discutiremos o labor como tema e o artista enquanto
do Ceará. Tomando como mote o legado do artista e de trabalhador, da arte moderna à contemporânea. Integram as
seus interesses estéticos, as curadoras do Salão lembram a mesas, além dos artistas Virgínia Pinho, Ana Mundin e Diego
importância de entendermos a arte como local de trabalho e que, de Santos, e das curadoras Ana Cecília Soares, Luciara Ribeiro
independentemente das especificidades das práticas artísticas, e Luise Malmaceda, os pesquisadores Delano Pessoa, Bruno
elas não constituem uma exceção ao mundo laboral. Pinheiro, Maria Angélica Melendi e Rafael Domingues.
Atividades Presenciais
Leitura com Luise Malmaceda e Luciara Ribeiro: 28 e 30/07
Leitura com Ana Cecília Soares: 02, 03, 04 e 08/08
Atividades on-line
Leitura com Luciara Ribeiro: 16 e 23/08
Leitura com Luise Malmaceda: 19/08
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Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida
A desaparição
Reflexões sobre a representação do corpo
do trabalhador na arte latino-americana
Maria Angélica Melendi
EBA, UFMG
Me matan si no trabajo
Y si trabajo me matan
Nicolás Guillén
Silviano Santiago, em Aula Inaugural Quero ressaltar que este breve ensaio No que vai ser o século XXI,
de Clarice, opõe o labor, associado deixa fora muitas obras; a gente aparentemente, o corpo do trabalhador
aos processos biológicos do corpo sempre tem suas obras preferidas, desaparece das obras, do mesmo
humano, ao conceito masculino e aquelas que nos emocionaram, as modo em que vinha desaparecendo a
econômico de trabalho como modo que nos surpreenderam, as que nos representação naturalista dos corpos.
de produção capitalista. Pensar sobre assombram até hoje. Os trabalhadores No vazio dos corpos encontramos
a representação do trabalho e do e as trabalhadoras (as quais sempre ferramentas, roupas, marcas de mãos
trabalhador, na América Latina, hoje, em existiram), foram, ao longo dos anos, ou de pés, fluidos corporais, restos,
que mais uma vez o continente arde em mitayos, yanaconas, escravos, meeiros, resíduos, fotos apagadas, folhas de
conflitos, é penoso e desafiador. lavradores, serventes, operários... Sua registros de presença, folhetos, boletins.
representação nas artes visuais nunca Do Rio Grande à Terra do Fogo, o mito
Necessitamos encarar o passado para foi homogênea, e às vezes nem foi. do trabalhador parece ter se esgarçado,
fazer um recorte apropriado e insistir em No século XX, alternou entre décadas junto com as utopias de Nuestra
que somos o resultado de uma longa e países: arcádica, realista, heroica, América e a fantasia de uma origem
jornada de avanços e retrocessos. cínica, partidária, idealizada, cruel. comum que irmanasse os excluídos, os
miseráveis da terra.
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Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida
A virada,
a pandemia
e o trabalho
Rafael Domingos Oliveira
Na pintura A virada – um óleo sobre dos movimentos quase involuntários diante Albuquerque e até mesmo no filme de
madeira de 1943 -, Raimundo Cela do inesperado. A cena do primeiro plano, Orson Welles gravado em Fortaleza e nunca
registra o exato instante em que uma no entanto, contrasta com o horizonte lançado. A imagem do jangadeiro tornou-se,
jangada é atingida pela força arrebatadora calmo ao fundo, em que a paisagem assim, um topos no imaginário em torno da
do mar. Parte da tripulação é jogada marítima se apresenta de forma quase paisagem local. No entanto, o que pretendo
na água, enquanto outros três homens monótona em relação à cena principal. destacar em A virada é menos o tipo regional
tentam, a todo custo, retomar o controle A recorrência das cores claras, frias, e mais um outro topos, o do trabalho. A
da embarcação. A cena toma quase toda quase pastéis da paisagem também é vida no trabalho, o trabalhador, o espaço de
a composição, com a própria jangada, ao um contraste com as cores mais vivas, trabalho são também temas recorrentes na
centro, dividindo transversalmente a tela. intensas, com as quais são retratadas as obra de Cela. A representação do operário,
As figuras humanas estabelecem uma figuras humanas. do pescador, do jangadeiro, bem como a
relação tensa com a natureza e tentam, a composição humana, isto é, a forte presença
todo custo, domar a embarcação em meio O tema – jangadas, mar, jangadeiros – é de trabalhadores negros, é elaborada
às ondas que parecem não dar trégua. Os constante na obra do pintor e gravador – sobretudo em termos formais – com
rostos expressam a tensão do momento, e sobralense Raimundo Cela. É também ênfase na situação do trabalho, na tensão
complementam a representação do esforço recorrente na cultura visual cearense, promovida pela alteração do mundo material.
físico encerrado nas articulações dos ou sobre o Ceará, nos anos 1940,
braços e pernas, dos troncos projetados e como vemos nas fotografias de Chico
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Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida
Nascido apenas dois anos após a abolição vida das trabalhadoras e trabalhadores artista isolado em relação ao modernismo,
formal da escravidão e no ano seguinte à brasileiros que, diante da tragédia sanitária ou que teria passado à margem dos
proclamação da República, Cela formou- e política, tiveram sua vida virada de movimentos de vanguarda, é quase
se em um mundo de viradas: a transição cabeça pra baixo. O aumento abismal da irônico que sua obra – seus temas, sua
para o chamado trabalho livre, a transição desigualdade social e racial, a fome e, representação - seja tão contemporânea,
para a República, a transição para a sobretudo, a impotência dos sujeitos frente podemos dizer tão moderna. Ao preparar
industrialização. Ao morrer em Niterói, às decisões do Poder e das circunstâncias o conjunto de reflexões que apresentei na
em 1954, Cela já havia atravessado da conjuntura parecem eternizar na vida mesa “Trabalho e pandemia: da exaustão
momentos-chaves da história política individual e coletiva a cena retratada, em à precariedade do trabalhador das artes”,
brasileira. Nasceu em um Brasil e morreu 1943, por Cela. no seminário virtual organizado como
em outro. Um Brasil que, naquela altura, parte da programação desta edição do
em quase tudo se parecia com a jangada Além disso, vale destacar que, prestes a Salão de Abril, não foi outra a imagem
que saiu pro mar e enfrentou a fúria assistirmos à reencenação do mito em que colaborou na organização das ideias:
incontrolável da natureza-tempo. Por tudo torno da Semana de Arte Moderna, que em a jangada de Cela, em A virada, é a vida
isso, a homenagem deste 72º Salão de 2022 completa cem anos, é relevante que do trabalhador brasileiro, inclusive o da
Abril é em tudo acertada. Vista desde um artista da envergadura de Cela – sobre arte. Estamos há um bom tempo tentando
estes tempos pandêmicos, a obra de Cela quem recaiu a pecha de anacrônico – seja aprumar a embarcação e retomar,
se atualiza e repõe um tema central da relembrado. Para muitos, considerado um exaustos, o controle.
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Raimundo
Cela
Max Perlingeiro
Agosto de 2021
Tive contato pela primeira vez com a obra de Raimundo Cela e atualmente, tenho grande amizade com seus netos. E, desde
(1890-1954) em 1980, quando colaborarei na organização de 1988, fiz quatro grandes exposições, sempre no intuito de
uma exposição Raimundo Cela e Vicente Leite (1900-1941) resgatar e trazer de volta para o Ceará as obras de sua autoria
na Galeria Ignez Fiúza, em Fortaleza. Ao procurar referências vi que ainda restavam no Rio de Janeiro. A primeira exposição foi
que havia pouca bibliografia disponível e muito restrita ao meio em 1988, a segunda, em 1997, apresentando a coleção do Dr.
acadêmico: Péricles da Silveira, a terceira em 2000, com a coleção Francisco
Studart. Assim, mais de cinquenta pinturas, desenhos e gravuras
ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da retornaram para o Ceará como um resgate da memória deste
pintura no ‘Brasil. 2.ed. [Rio de Janeiro]: [s.n.], 1942. v. 1. notável artista cearense.
ARTE BRASILEIRA século XX: Galeria Eliseu Visconti: pinturas e Em 2004, com o apoio da Fundação Edson Queiroz, fizemos
esculturas. Rio de Janeiro: MNBA, 1984.
uma grande retrospectiva do artista no Espaço Cultural Unifor
BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São
Paulo Editora, 1942. com obras dos maiores museus brasileiros e coleções privadas,
e publicamos o livro Raimundo Cela (1890-1954) com textos de
CAMPOFIORITO, Quirino. A República e a decadência da Nilo de Brito Firmeza - o Estrigas, Adir Botelho, Fábio Magalhães,
disciplina neoclássica: 1890-1918. Rio de Janeiro: Pinakotheke, Cláudio Valério Teixeira, uma completa biografia do artista e um
1983. (História da pintura brasileira no século XIX, 5). Catálogo Raisonné da sua obra. Hoje, com a edição esgotada,
constitui fonte bibliográfica única sobre o artista.
DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Exposições coletivas relevantes: participou da exposição Tradição
Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, e Ruptura na Fundação Bienal de São Paulo em 1984-85. Da
1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). exposição Arte e Sociedade: uma relação polêmica, realizada em
2003, no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, com curadoria de
LEITE, José Roberto Teixeira. A gravura brasileira contemporânea.
Rio de Janeiro: Rio, 1965. Aracy Amaral. Na atualidade, participará de exposição Moderno
onde? Moderno quando? O evento conta com as curadorias de
A partir daí, passados quase quarenta anos, dedico-me a Aracy do Amaral e Regina Teixeira de Barros, que vai antecipar
estudar e promover o artista. Tive o privilégio de conhecer toda a celebração dos 100 anos da Semana de 22 no Museu de Arte
a sua família, Eunice sua mulher, Paulo e Dolores seus filhos, Moderna de São Paulo.
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Raimundo Brandão Cela nasceu em Sobral Paula Barros (?-1919), pintor, fotógrafo e dimensões que causou admiração dos
em 1890, cidade próspera, distante 230 arquiteto, Antônio Rodrigues (1867-1915), mestres que a julgaram.
km de Fortaleza. Sua mãe, Maria Carolina retratista a crayon, os precursores.
Brandão Cela, sobralense, professora, A França foi seu destino pelo prêmio de
era uma garantia quanto aos primeiros Depois, seguiu para o Rio de Janeiro para viagem, uma tendência dos artistas em
estudos do filho; e o pai, José Maria a Escola Politécnica da Universidade do busca de aprimorar as suas técnicas e
Cela Mosquera, espanhol, mecânico Brasil: foi cursar engenharia por influência ter contato com as vanguardas europeias.
de profissão, naturalmente alimentava do pai. Desde sua infância, tinha um Frequentou as academias e, na ocasião,
conhecimento que sua profissão e vivência grande interesse pelo desenho. No Rio teve contato com Sir Frane Brangwyn
permitiam. Cela passou a sua infância em de Janeiro, incentivado por sua mãe, (1867-1956), pintor e gravador inglês.
Sobral e a sua adolescência em Camocim, matricula-se na Escola Nacional de Belas Seu aprendizado foi fundamental para,
cidade litorânea, uma vila de pescadores a Artes, instituição centenária criada por no futuro, tornar-se professor da Escola
370 km de Fortaleza. dom João VI. A Academia Imperial de Nacional de Belas Artes da Universidade
Belas Artes foi uma escola superior de Federal do Rio de Janeiro. Foi considerado
Seus estudos foram realizados em formação de artistas. Passou por inúmeras introdutor do ensino da gravura em metal
Fortaleza, aonde chegou em 1906 com dificuldades na sua implantação. Em no Brasil, lecionando durante nove anos.
dezesseis anos e uma adolescência 1816, teve a sua criação e o Imperador
bem preparada. Cela ingressa no Liceu Dom Pedro II o grande patrono das artes, Volta ao Brasil para recuperar-se de
do Ceará, conceituado estabelecimento na segunda metade do século XIX. Com o fadiga física e mental e pelo agravamento
de ensino público, onde tirou o curso advento da República passa a chamar-se da doença do pai. Na ocasião, trouxe da
preparatório, o que lhe daria o direito de Escola Nacional de Belas Artes, um centro Europa uma lendária prensa de gravura
concorrer a um de nível superior, no Rio de formação de artistas e os desígnios construída com suas habilidades de
de Janeiro. Como aluno do Liceu teve da arte durante toda a primeira metade engenharia, que durou até os anos
um relacionamento com os diversos do século XX. Na Escola, tem contato 1990 num centro de ensino de gravuras
segmentos do seu novo meio no começo com os mais expressivos professores no Museu do Ingá, em Niterói, no
do século. Quando chegou a Fortaleza, como Zeferino da Costa (1840-1915), curso ministrado pela gravadora Anna
Cela já encontrou a capital com boas Eliseu Visconti (1866-1944) e Batista Letycia Quadros (1929-2018). Persegui
construções, oficiais e particulares, da Costa (1865-1926). Eliseu Visconti, esta prensa até bem pouco tempo, quando
a catedral original, o mercado, a um artista moderno e que gozava de soube de sua ida para Brasília - até que
inauguração do Teatro José de Alencar, e grande prestígio no meio artístico, foi um em 2002, tive a notícia de sua destruição.
um meio intelectual pujante: o Instituto do dos seus maiores incentivadores. Cela
Ceará e suas grandes figuras, escritores conclui o curso de engenharia, leva o Ao retornar ao país, vai viver em Camocim
renomados da Padaria Espiritual, tipos diploma, um compromisso com o pai, e, onde trabalhou por quase dez anos
populares como Manezinho do Bispo, simultaneamente, ganha o mais cobiçado como engenheiro em uma usina elétrica.
artistas como Raimundo Ramos Filho prêmio da Escola de Belas Artes, o “Prêmio Camocim não foi só um local calmo para a
(1871-1916), o popular Ramos Cotoco, de Viagem a Europa”, com a tela O último recuperação total da saúde e um emprego
pintor músico e poeta lírico, José de diálogo de Sócrates, pintura de grandes para garantir as finanças ou conviver com
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a família. Ao contrário do que se pensou tempo suficiente para um número razoável O suíço Jean Pierre Chabloz (1910-
e se disse, Cela não interrompeu sua de trabalhos realizados, cuja qualidade 1984), pintor, músico e animador cultural,
atividade artística. Como ele houvesse, causou grande impacto na sensibilidade um grande descobridor de talentos,
na volta ao Brasil, com o isolamento em do jovem Otacílio que, em Fortaleza, não responsável pelo reconhecimento de Chico
Camocim, cortado o contato com o meio via nada de nível tão elevado quanto lhe da Silva (1910-1985) e Antonio Bandeira
artístico da capital do país, sua ausência e fora permitido apreciar naquele momento. (1922-1967) comenta elogiosamente sua
falta de notícias foram consideradas sinal Ao retornar a Fortaleza, deve ter sido um exposição em Fortaleza, em longo texto
de que havia morrido e, assim, foi tido ótimo divulgador do pintor Raimundo Cela, publicado no jornal O Estado, de 27 de
como morto. Cela continuou a desenhar, pois, como pintor e poeta, Otacílio de agosto de 1944, data de fundação da
gravar e pintar. Se não bastassem, para Azevedo convivia no melhor meio literário e Sociedade Cearense de Artes Plásticas
provar isso, os trabalhos datados, há o artístico da capital cearense. (SCAP), que se formara, também com o
testemunho do pintor e poeta Otacílio de apoio de Cela. Em 1943, por solicitação
Azevedo, que revela sua visita a Cela, em Após dez anos de Camocim, Cela de Mário Baratta (1915-1983), os dois
Camocim, e o que seus olhos viram: possivelmente já pensava em expandir a concorrem ao Salão Paulista de Belas
sua presença novamente para mais longe, Artes, no qual Cela obtém a pequena
“Uma das mais extraordinárias e Fortaleza, como no passado, seria o medalha de ouro, e Baratta, a de prata.
surpresas da minha vida foi quando, ponto de apoio inicial. Em 1938, diz adeus
como fotógrafo, em 1933, fui, por à usina elétrica, ao mar, a quem ficou, à Raimundo Cela, já com valor reconhecido,
intermédio de Péricles Serpa, visitar em
cidade e, mais uma vez, é um viajante não se recusava a compartilhar com os
Camocim, o ateliê de Raimundo Cela.
Ao penetrar no recinto, parecia-me a caminho de Fortaleza, agora muito jovens o mesmo espaço de exposição. Este
tudo aquilo uma estranha aventura, diferente do tempo em que estudou no foi um período em que trabalhou, expôs e
arrancada às páginas das ´Mil e Liceu do Ceará. praticou constantemente.
uma noites`, tal a riqueza de quadros
deslumbrantes que me ofuscavam a Pela segunda vez, para demorar e morar, Fato curioso contou-me Quirino
vista.” Cela está em Fortaleza. Desta vez sua Campofiorito, numa longa entrevista que
família o acompanha. Quando chegara me concedeu nos anos 1980. Narrou que
Isso comprova que Cela, em Camocim, não ao Rio, de volta da França, seu pai, que os artistas não tiveram por muitos anos
parou. Ao contrário, seu trabalho artístico lá o fora esperar, veio a falecer, o que notícias e sem tomar conhecimento do seu
prosseguiu, desenvolvendo-se, agora, sob contribuiu para sua ida para Camocim a retorno ao Brasil, publicou-se um obituário
orientação de uma pessoa só, ele mesmo, fim de proporcionar uma certa assistência mencionando a morte de Raimundo Cela
Raimundo Brandão Cela. Agora ele era seu à mãe, no início de 1923. Após a morte da ocorrida no Ceará. Este fato, mais tarde,
próprio professor, e a vida, a musa que lhe mãe, em 1927, e dois noivados desfeitos, foi motivo de divertidas conversas na sua
oferecia uma temática rica, que o artista casa-se em Camocim, em 1934, com a residência em Niterói.
colhia à vontade o que queria e dava-lhe amazonense Eunice Medeiros, ele com 44
força e beleza artística. Quando Otacílio de anos e ela com 21. Em 1938, muda-se Raimundo Cela tem dois filhos com Eunice
Azevedo esteve em Camocim, em 1933, para Fortaleza, trazendo a família. Medeiros: Paulo e Dolores.
Cela já lá estava de volta há dez anos,
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Em 1938, recebe uma encomenda do “Ao estudar a pintura de Cela, retratou de forma extraordinária o homem
Governo do Estado do Ceará para a percebi que ela não pode ser do povo cearense e seus afazeres.
execução de um painel sobre a libertação analisada circunscrita às ideias
dos escravos no Ceará, quando retoma, e aos valores acadêmicos. Cela possuía um olhar conciso, rigoroso
Muito embora os fundamentos
oficialmente, o ofício de pintor, ainda que diante do real e, ao mesmo tempo,
de sua linguagem obedeçam aos
no período em que esteve no Camocim ensinamentos aprendidos na Escola
permitiu que sua sensibilidade carregada
tenha pintado as suas mais belas Nacional de Belas Artes, o significado de expressão poética se manifestasse.
paisagens litorâneas. O mar, as dunas, os de sua obra ultrapassa os limites Com isso, acrescentou dramaticidade
pescadores e todo o povo de quem sentia estabelecidos pela academia.” às cenas do cotidiano e dignificou as
muito orgulho. pessoas que compunham seus temas.
Podemos classificá-lo como um artista Em algumas telas, ao captar jangadeiros
Em 1956, logo após a sua morte, os isolado, marginal, alheio às mudanças ou vaqueiros, seus tipos favoritos,
amigos Chrysanto Moreira da Rocha, artísticas, mas nunca como alienado, percebemos a inclusão de um sentimento
Ernesto Xavier do Prado, Moises Nogueira pois, se é verdade que teve pouco épico, construído principalmente através
de Silva e o escultor Almir Pinto, promovem interesse pelo que se passava no mundo do desenho e da composição. A canoa é
uma exposição póstuma no Museu da pintura moderna, também é verdade outro tema recorrente em sua pintura. É
Nacional de Belas Artes. Nesta ocasião, o que o conjunto de sua obra retrata suas bom lembrar que em Camocim, sua cidade
Museu adquire obras para o seu acervo. profundas inquietações com os problemas natal, não havia jangada, os pescadores
de seu tempo e apresenta uma visão partiam e regressavam com suas canoas
Na mostra inaugural do Museu de Arte da aguda da sociedade. de velas brancas enfunadas. As jangadas
Universidade Federal do Ceará (MAUC), devem ter encantado o artista quando ele
em 1961, não faltaram trabalhos do Cela Ao examinarmos suas pinturas e a foi estudar em Fortaleza.
e, ainda no mesmo ano, foi apresentada maneira como ele trata certos aspectos
uma exposição composta de desenhos da vida nordestina, vamos perceber que A paisagem e os tipos populares de seu
e gravuras do artista. Nesta ocasião, a há uma modernidade nesta interpretação. estado natal sempre estiveram presentes
Universidade Federal do Ceará adquire da Raimundo Cela possui uma visão em sua memória. Sempre comoveram
viúva do artista uma coleção de pinturas, sociológica da realidade. Na escolha e o artista. A expressão desses temas é
constituindo um núcleo importante de no tratamento de seus temas pictóricos, construída de forma dramática e vigorosa.
obras de Cela, como fez com outros nota-se um pendor nacionalista e um forte Ao mesmo tempo, substantiva, contida.
artistas, entre eles Antonio Bandeira e comprometimento com o mundo em que O artista não utiliza os artifícios da
Aldemir Martins e, em 1979, instala e vivia. A partir do ponto de vista temático, teatralidade, da grandiloquência, captar a
inaugura a Sala Especial Raimundo Cela. podemos concluir que Cela produziu uma força da própria realidade é suficiente.”
expressão plástica integrada com o seu
Raimundo Cela está circunscrito entre os tempo. Poucos artistas representaram Atualmente organizo uma nova exposição
modernos antes do modernismo, na visão com tanta riqueza a paisagem e os individual do artista a ser apresentada em
do Professor Fábio Magalhães: personagens do Ceará como Raimundo Fortaleza ainda em 2021.
Cela. Mais tarde, Aldemir Martins também
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Expediente
PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA
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INSTITUTO IRACEMA Alderley Rocha Virgínia Pitta
Coordenador do Centro Cultural Projeto Expográfico
Paola Braga Casa do Barão de Camocim
Diretora-presidenta Katu Soluções Criativas
Beatriz Gurgel Produção
Fernando Mota Gerente de Serviços Culturais
Diretor de Gestão Financeira do Centro Cultural Casa do Fernanda Wilza Montenegro Veras
e de Negócios Barão de Camocim Coordenação de Produção
PRODUÇÃO