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PRODUÇÃO REALIZAÇÃO

S516

72º Salão de Abril./Curadoria de Ana Cecília Soares (CE), Luise


Malmaceda (SP/NY) e Luciara Ribeiro (BA/SP). - Fortaleza: Secretaria Municipal
da Cultura de Fortaleza/Instituto Cultural Iracema, 2021. - (Fortaleza Grande).
93 p.: il. color.

Homenagem ao artista Raimundo Cela.


Inclui o Seminário intitulado “Do corpo que produz ao corpo que
exibe: arte, trabalho e políticas de vida”.

1. Artes Visuais Cearenses 2. Arte Moderna I. Secretaria Municipal


da Cultura de Fortaleza II. Instituto Cultural Iracema.

CDD 709.81

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José
Sarto
Prefeito de Fortaleza

Com trajetória marcada pela resistência Cultural Iracema, a mostra é realizada homenagem ao artista expressa nosso
e expressão de valores socioculturais com todas as adequações necessárias, agradecimento e reconhecimento por
do nosso Estado, o Salão de Abril, de acordo com as recomendações toda a sua contribuição às artes visuais
mais uma vez, afirma relevância ao dos decretos municipal e estadual. A do Ceará.
chegar a sua 72ª edição. É uma grande programação foi adaptada para um
alegria para a Prefeitura de Fortaleza formato híbrido e inclui o Seminário Neste catálogo, é possível apreciar
celebrar o talento e a força de nossos intitulado “Do corpo que produz ao as obras selecionadas e passear por
artistas nessa mostra que é uma das corpo que exibe: arte, trabalho e essa edição da mostra, composta
mais antigas do País, datada de 1943. políticas de vida”. por fotografias, pinturas, instalações,
Especialmente neste ano, em que ainda videoartes, desenhos, colagens,
atravessamos dificuldades impostas Em 2021, o Salão de Abril tem, pela esculturas e performances. Além
pela pandemia do novo coronavírus, primeira vez, o sobralense Raimundo de incentivar todas e todos os
o Salão de Abril confirma o nosso Cela como principal homenageado. fortalezenses a visitarem a Casa do
compromisso com a valorização da Artista célebre, retratou em suas Barão de Camocim, por meio desta
cultura e evidencia a resiliência de quem obras a mais pura essência do povo publicação, que ficará acessível a esta
manifesta a existência por meio da arte. trabalhador cearense, do pescador geração e também às futuras, enalteço
ao vaqueiro, do jangadeiro à rendeira, e parabenizo cada um dos artistas
Com caráter inovador e criticidade, esta envolvendo de forma muito sensível em participantes, que já integram a história
edição reúne 35 obras que ocupam suas telas as questões sociais de seu do nosso valoroso Salão de Abril.
o Centro Cultural Casa do Barão de tempo. O artista representa um grande
Camocim. Por meio do empenho da marco para a arte regional, destacando- Boa leitura!
Secretaria Municipal da Cultura de se como parte importante do patrimônio
Fortaleza, em parceria com o Instituto artístico cearense e brasileiro. A justa

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Elpídio
Nogueira
Secretário da Cultura de Fortaleza

O Salão de Abril se consolida, em mais Barão de Camocim, equipamento que Outro destaque nesta edição é
um ano, como uma política cultural sediou a exposição em 2021, adotou pela curadoria ser essencialmente
vitoriosa e continuada. Em meio à crise normas sanitárias para garantir a feminina, composta pelas talentosas
sanitária, provocada pela pandemia da segurança dos visitantes, com aferição profissionais Ana Cecília Soares (CE),
Covid-19, a mostra de arte visual mais de temperatura, disponibilização de Luise Malmaceda (SP/NY) e Luciara
antiga e importante do Estado do Ceará álcool em gel e controle da capacidade Ribeiro (BA/SP). A partir do olhar crítico
se mantém firme diante dos desafios máxima dos espaços. Pensando no e apurado da equipe curatorial, foi
atuais impostos, acumulando feitos atual cenário, foi elaborada ainda a possível contemplar no 72º Salão de
importantes para a história do projeto. inédita exposição virtual do 72º Salão Abril muitos trabalhos de jovens artistas,
de Abril. O recurso é composto por com qualidade técnica e que abordam
Com origem em 1943, o Salão de Abril imagens em 360º que permitem que temas sensíveis e importantes para a
nasceu no movimento estudantil e, logo o visitante faça um tour pelas salas nossa sociedade.
em seguida, passou a ser realizado do casarão e que interaja com as
por artistas que atuavam na Sociedade obras, sem sair de casa, por meio de Diante dos percalços e das adversidades
Cearense de Artes Plásticas (SCAP). Em plataforma virtual. que a humanidade enfrenta, a arte é um
1964, a administração municipal assumiu alento e uma manifestação de resistência.
a mostra, sendo realizada, atualmente, Em 2021, é destaque o maior número Por isso, a execução do 72º Salão de
pela Secretaria Municipal da Cultura de de obras contempladas. Foram Abril, composto exclusivamente por
Fortaleza (Secultfor), em parceria com o selecionados 35 artistas, cinco a mais obras de artistas do nosso Ceará, se faz
Instituto Cultural Iracema (ICI). do que em outras edições. A premiação necessária, de maneira única e especial,
se tornou igualitária para todos os sendo um retrato vivo da nossa sociedade
A 72ª edição do Salão de Abril se participantes, uma maneira de alcançar e dos tempos em que vivemos.
torna histórica por ocorrer em meio às e beneficiar mais proponentes nesse
restrições impostas pela pandemia, momento delicado em que a classe
sendo adaptada para essa nova artística foi severamente atingida.
realidade. O Centro Cultural Casa do

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Paola Braga
Diretora-Presidenta do
Instituto Cultural Iracema

O 72º Salão de Abril acontece num Apesar da complexidade política do protagonismo feminino em várias áreas.
momento delicado, mas muito momento, de uma polarização nociva São elas: Ana Cecília Soares, Luise
importante de superação e retomada à civilidade, dos ataques sistemáticos Malmaceda e Luciara Ribeiro.
gradativa do convívio social com à nossa diversidade cultural e Tivemos 35 trabalhos artísticos
a celebração coletiva do que mais comportamental, perpetrados em âmbito contemplados, número maior do que os
importa, a vida, por meio da promoção nacional, diante do qual Fortaleza não 30 selecionados nas mostras anteriores.
das artes visuais. A pandemia nos está imune, o Instituto Cultural Iracema São trabalhos potentes e transgressores
trouxe vários desafios e o maior deles, (ICI), em parceria com a Secretaria nos campos da fotografia, pintura,
certamente, tem sido o de repensar Municipal da Cultura de Fortaleza performance, videoarte, bordado,
novos rumos e comportamentos que (Secultfor), compreende o significado escultura e instalação, que nos revelam
irão impactar positivamente nosso e a relevância do Salão de Abril. Por de que forma a arte mexe com a vida
planeta. Estamos diante da urgente isso, uniu esforços para executar essa das pessoas trazendo à tona o que
missão de refletir sobre o papel da relevante política pública que mantém há de melhor na criação humana: a
humanidade e, por consequência, viva e pulsante uma das mais antigas e criatividade. Estamos diante de obras que
também ressignificar o papel da arte e importantes experiências de expressão nos apresentam e traduzem lugares de
da cultura na nossa cidade, no nosso da criatividade do nosso povo, onde gênero, raça, urbanidade e a necessária
estado, no Brasil e no mundo. Como questionamentos, argumentos críticos, defesa dos direitos humanos. O Salão
humanidade, estamos inevitavelmente reflexões cotidianas e co-criação dos de Abril é esse lugar fértil da resistência,
conectados por inúmeros desafios, mas artistas cearenses são e serão sempre do diálogo entre o poder público e a
também por um otimismo necessário. acolhidas com o devido respeito que a classe artística, onde conteúdos que
O Salão de Abril, sendo um dos mais arte merece. rompem com a lógica do normal nos
relevantes acontecimentos artísticos proporcionam o entendimento da arte
do país, reafirma-se a cada edição Ao todo, a equipe curatorial da mostra como força motriz transformadora de
como espaço de fruição e incontestável avaliou 221 obras de artistas inscritos. costumes e pensamentos.
contribuição para o desenvolvimento Nesta edição, a curadoria foi formada
da arte e da cultura em nosso estado, na íntegra por mulheres profissionais Este ano, o Salão de Abril presta uma
pois possibilita conexões potentes com da arte, o que muito nos honra como justa homenagem ao artista sobralense
outros territórios imagéticos, estabelece expressão dos novos ventos que Raimundo Cela. Um artista de relevância
diálogos diversos e se firma como pilar sopram no Século XXI, e que trazem nacional, muitas vezes obscurecido
democrático das artes visuais. consigo o reconhecimento do talento e até mesmo nas relevantes escolas de

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artes do país. Um homem inventivo, um conhecimentos, destacamos os artistas
artista completo, que na sua inquietude Virgínia Pinho, Ana Mundin e Diego de
e sensibilidade, contou a poesia da vida Santos e das curadoras Ana Cecília Soares,
cotidiana em aquarelas, mas não só, e Luciara Ribeiro e Luise Malmaceda, os
explorou com maestria a força e beleza pesquisadores Delano Pessoa, Bruno
do trabalhador do mar. Um reparo ao belo Pinheiro, Maria Angélica Melendi e Rafael
legado desse homem que, discreto na sua Domingues, que nos brindam com um
vida familiar, foi gigante no legado artístico debate rico de possibilidades para a
que nos deixou. economia da cultura.

Nesta temporada do 72º Salão de Abril, Em nome de todos os profissionais do


contamos com uma programação plural e Instituto Cultural Iracema, agradecemos
híbrida, presencial e virtual, que envolve a efusivamente a confiança da Prefeitura
exposição a ser visitada no Centro Cultural Municipal de Fortaleza, por meio da
Casa do Barão de Camocim, seguindo Secultfor, bem como a todos os demais
todos os protocolos de saúde que o profissionais que se dedicaram na
momento exige, um salão paralelo com execução desta 72ª edição do Salão de
passeios virtuais através das plataformas Abril, um templo de criatividade, afetos e
digitais, leituras de portfólios com as possibilidades artísticas.
curadoras e três seminários com temáticas
sedutoras a partir do legado do artista Viva a arte brasileira!
homenageado, Raimundo Cela, e de seus Viva Raimundo Cela!
interesses estéticos. Nesta perspectiva, Viva o Salão de Abril!
desejamos instigar o debate sobre a
importância de entendermos a arte e as Boa leitura!
práticas artísticas, como experiências de
trabalho. Por meio de encontros on-line,
discutimos o labor como tema e o artista
enquanto trabalhador, da arte moderna
à contemporânea. Nesta roda viva de

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Ana Cecília Soares
Luciara Ribeiro
Luise Malmaceda
Curadoras do 72º Salão de Abril

Ao longo de sua trajetória, o Salão de Em seu 72º ano, o Salão de Abril trabalhos apresentados. Quando nossos
Abril vem atuando como um importante cumpre seu papel de fomentar computadores se tornam o nosso ateliê
espaço de projeção e legitimação da o sistema de artes do Ceará e, e a nossa casa se torna o lugar que
produção artística cearense, não só no consequentemente, do país, sendo condensa todas as funções do cotidiano
contexto local, mas também, em âmbito mais uma vez palco para discussão dos - temos trabalhos de cunho reflexivo
nacional, revelando nomes de peso sentidos que os artistas propõem hoje que miram as distopias correntes
como o homenageado desta edição, o ao campo da cultura. Como cicatriz utilizando sobretudo materialidades
artista Raimundo Cela (1890-1954). Um do presente, esta é a segunda vez em como a fotografia e o vídeo.
dos eventos culturais mais antigos do que a experiência do prêmio ocorre em
país, o Salão se constitui como lugar de meio à crise sanitária da Covid-19, que Como curadoras, nossas análises
exibição da força de produções jovens aglutinou uma série de experiências que mantiveram como horizonte a
que, em sentido prospectivo, são hoje compartilhamos à distância. As marcas representação de um agora tão
índices de uma historiografia futura, indeléveis de um longo período de singular, sem com isso desconsiderar
estando atento às principais questões isolamento, solidão, exaustão, trabalho o caráter formal das propostas, assim
político-sociais que regem as gerações remoto, precariedade, perpassam as como as pesquisas e processos que
pelas quais ele têm acompanhado. produções selecionadas, tanto como dão corpo aos trabalhos inscritos. Ao
tema, quanto como formato dos total, foram 221 obras analisadas com

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afinco para chegarmos aos 35 artistas A 72ª edição é a prova viva de que a da importância de entendermos a arte
desta exposição, os quais ajudam a cultura segue resistindo às adversidades como local de trabalho, majoritariamente
constituir e renovar os debates da arte de um Brasil não tão generoso com os feita por trabalhadores da cultura. Afinal,
contemporânea. Os embates e disputas trabalhadores da arte. Principalmente nos quaisquer que sejam as especificidades
políticas da atualidade aparecem aqui dias atuais, onde temos de conviver com das práticas artísticas, elas não constituem
em sua pluralidade e não nos dão a total extinção do Ministério da Cultura, uma exceção ao mundo laboral.
margem para eufemismos: falam das com o desmonte das políticas públicas
lutas por reparação histórica, passam para pasta e com a censura em prol da
pela construção de novos e possíveis batalha ideológica desenvolvida pelo
lugares de enunciação na esfera pública governo brasileiro. Deste modo, nada mais
e chegam a 2021 colocando em xeque o oportuno do que celebrarmos a obra do
papel do Poder público na manutenção e pintor e gravador Raimundo Cela (1890-
gerenciamento da vida. Mostram como os 1954) que, dentre outros fatores, se
artistas são entes políticos que pensam dedicou a pintar as paisagens e o cotidiano
desde seus lugares de pertencimento e do trabalhador, simbolizado, na maioria
cujas produções nos ajudam na atribuição das vezes, nas figuras dos pescadores,
de sentidos do que vivemos enquanto jangadeiros e vaqueiros do Ceará. Não sem
comunidade. razão, a nossa seleção lembra também

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Sumário

ARTISTAS SELECIONADOS 12 Eliézer


Menu do dia ou um prato que se come frio 35
Ana Mundim
Chá de cadeira 15 Felipe Camilo
Álbum Preto 37
Anie Barreto
Sob muitos sóis 17 Fernanda Siebra
Oxigênio 39
Bruna Bortolotti
Gabrielle Tavares Fernando Jorge
Invenção do meu avô 19 Árvore-Lágrima 41

Célio Celestino Flávia Almeida


Série Tecituras 21 Hailla Krulicoski
Caio Erick
Charles Lessa Eu-Não 43
Macho quer macho 23
George Ulysses Rodrigues de Sousa
Coletivoponto XAXARÁ 45
Tanto Mar 25
Iago Barreto Soares
David Felício Dias Holanda Potyguara
Jorge Silvestre A margem de um rio que correm meus ancestrais 47
Armar uma rede 27
Jared Domício
Diego de Santos Indicador social para jardim 49
Fantasma Hereditário - Trilogia Fantasma 29
Jefferson Santos
Diego Landin Corpografias em Contexto 51
Yuri Marrocos
Revista Capricha 31 João Paulo Duarte de Sousa
Cena de Assassinato 53
Eliana Amorim
Assentamento 33

10
Juliana Saavedra Mendoza Núbia Agustinha
Gaiola - Paisagem Interior 55 Cartossangrias 75

Karl William Samuel Tomé


Jogo da Memória - Para não esquecer 57 Nada pode ser feito até o tempo moderar 77

Lívio Thaís de Campos


A história se repete, a primeira vez como tragédia As finas tramas que nos unem 79
e a segunda como farsa. [1500-1822-1871-1888
-1889-1932-1960-1964-2016-2018 e contando] 59 Victor Cavalcante
PERMITIR O AFETO - VIVER O DESEJO
M Dias Preto - ESQUECER O TEMPO 81
Campo de Passagem’ 61
Virginia Pinho
Marcelina Máquina de Costurar 83
Natalia Coehl
Ame as Deusas 63 SEMINÁRIO DO 72º SALÃO DE ABRIL
Do corpo que produz ao corpo que exibe:
Maria Macêdo arte, trabalho e políticas de vida 84
Dança para um futuro cego 65
A desaparição - Reflexões sobre a
Mario Sanders representação do corpo do trabalhador
Corpo_Santo 67 na arte latino-americana
Maria Angélica Melendi 85
Naiana Magalhães
Ecologia é poesia 69 A virada, a pandemia e o trabalho
Rafael Domingos Oliveira 86
Nataly Rocha
Árido Brejo 71 RAIMUNDO CELA
Max Perlingeiro 88
No Barraco da Constância Tem!
Protótipo de inserção da experiência EXPEDIENTE 92
jangadeira no Brasil 73

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ARTISTAS
SELECIONADOS
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Ana
Mundim
Fotografia
Chá de cadeira
9 x 9 x 6 cm [cada]
2020

A obra é parte do trabalho Corpo Público


e nasce da vivência da autora com a
síndrome de burnout provocada pelo
excesso de trabalho na pandemia. As
mais de catorze horas diárias sentadas
em uma cadeira, associadas às receitas
de chá que recebia dos amigos visando à
cura, a fizeram construir essas imagens,
que podem ser tomadas, diluindo e
invisibilizando seu corpo.

Ana Mundim é multiartista. Docente


dos cursos de Dança da UFC. Publicou
os fotolivros Safety Distance e Cifuno –
pulsação África. Exposições individuais: Na
Pele; Perpétua; Ventanas; Cartas Abertas
ao Desejo. Exposições coletivas nos
festivais Solar e Qxas, no Tempo Suspenso
e no Maré Foto Festival. Com o projeto
Corpo Público, realizou leituras de portfólio
com Rosely Nakagawa e Luciara Ribeiro.

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Anie
Barreto
Pintura
Sob muitos sóis
39,7 x 30 cm. 40 x 40 cm. 24 x 30 cm
Bordado s/ tela
Pintura acrílica s/ tela
2020

A obra trata-se de um refazer de passos


pelos caminhos de Ibicuitinga. Objetos-
memórias de territórios físicos e mentais
sobre a existência em zonas rurais. Um
lembrete singelo sobre coisas que tocaram
na infância e que ainda tocam. Com eles,
rememorar o estar longe e ainda fazer
sentir que pertence, mesmo que se perca
a linha cartográfica.

Anie Barreto mescla a linha, a palavra


e a imagem na busca do entendimento
sobre a própria língua. Tem se dedicado
à investigação sobre as diferentes
linguagens e as possibilidades híbridas
na feitura da imagem. Revista e remonta
memórias-registros na vontade de
transmutar a fragilidade de um corpo para
se fazer forte; existente.

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Bruna
Bortolotti
Gabrielle
Tavares
Instalação
Invenção do meu avô
2021

Meu avô, ourives e inventor autodidata


de Redenção (CE), além de máquinas e
jóias, inventou uma casa, sua oficina. Esta
invenção reconstrói-se nesta instalação
através da subversão dos modelos de
representação tradicionais em arquitetura:
plantas-baixas, cortes, vistas. Entende-
se, portanto, a casa enquanto construção
subjetiva, íntima e pessoal.

Bruna Bortolotti é ourives e designer,


além de arquiteta e urbanista pela
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Aprendeu o ofício de joalheira com o
avô, o Sr. Bomfim, um ourives e inventor
autodidata de Redenção (CE). Os anos de
convivência e aprendizado na casa-oficina
do avô conduziram-na a pesquisar sobre
as relações entre os objetos e o espaço.

Gabrielle Tavares é artista visual e


arquiteta e urbanista pela Universidade
de Fortaleza (UNIFOR). Tem no universo
da criação de imagens um local de
experimentação e simulação de realidades.
Pratica colagens digitais desde 2017
através do projeto Colagi.

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Célio
Celestino
Fotografia
Série Tecituras
17 x 25 cm [cada]
Fotografias de enciclopédias, recortadas
e entrelaçadas manualmente
2021

A Série Tecituras é uma obra que gera


o reencontro de fragmentos fotográficos
impressos no século passado rearranjados
por meio de recortes e entrelaçamentos
manuais, ativando memórias e expandindo
a diversidade de relações empregadas no
processo de interpretação da mesma.

Célio Celestino nasceu em Fortaleza


(1983 - CE), cidade em que mora e
trabalha. Tem formação livre na área de
Artes Visuais. Dentre seus interesses,
estão: a colagem e seus possíveis
desdobramentos; acervos fotográficos e o
comportamento humano. Suas pesquisas
sempre confluem para questões que
abordam identidade, memória e o universo
onírico.

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Charles
Lessa
Pintura
Macho quer macho
50 x 65 cm
Acrílica s/ papel canson
2021

A obra especula sobre a prática da


brotheragem a partir da apropriação de
imagens da internet e a criação de um
conjunto de símbolos que determinam o
que seria o corpo do homem sexualmente
desejado e objetificado. O tecido fino
que reveste o corpo do lutador, a lycra, o
músculo proeminente, o volume. Macho
que quer macho e não curte afeminados.

Charles Lessa vive em Crato, CE,


onde trabalha e tem licenciatura em
Artes Visuais. Cria ficções com a pintura
figurativa, investiga a estética popular
em diálogo com a arte contemporânea,
reivindicando para si uma outra infância na
fase adulta, compreende o fazer artístico
como o lugar no qual brinca.

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Coletivoponto
@coletivo_ponto
Videoarte
Tanto Mar
8’40’’
2020

A obra fala sobre a solidão de bichas


pretes, questionando a visão binária
sobre o gênero a partir de memórias e
sentimentos. Onde três corpas pretes
encontram na dança uma forma de
celebração, transmissão de conhecimentos
e gestos ancestrais das suas corpas
afeminadas sobrepostas ao mar, espaço
afetivo ancestral. Quantos de nós ficaram
ao mar?

O Coletivo Ponto existe há 5 anos e é


composto por Carlota, Júnior Meireles,
Juan Monteiro e Matheus Dias, artistes
pretes LGBTQIA+ que pesquisam sobre
dança, gênero e ações de uma corpa
dissidente afeminada. O grupo foi
premiado no Dragão Fashion Brasil com
o filme Ponto e lançou o filme O vazio, o
vestido, o veado contemplado pela lei Aldir
Blanc.

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David
Felício
Jorge
Silvestre
Escultura
Armar uma rede
2021

Armamos uma rede para suspender o


espaço-tempo que é fluido e se move sem
muito esforço. Deitamos numa rede para
anunciar um outro corpo, flexível e expandido.
Balançamos uma rede para lembrar que
estabilidade é um ponto de vista efêmero,
mas seguimos por ter o corpo abraçado
aos nossos. Sonhamos uma rede que seja
proteção contra o arquivo colonial.

David Felício é educador e artista visual.


Formado em História pela Universidade
Federal do Ceará. Desenvolve pesquisas
em torno da história, memória e explora
as interseções desses campos com as
práticas educativas e artísticas. Participou do
Laboratório de Artes Visuais da Escola Porto
Iracema das Artes junto de Jorge Oliveira.

Jorge Silvestre é artista visual e diretor de


fotografia, integra a 5a turma de realização
da Vila das Artes e o 7º Laboratório de Artes
Visuais do Porto Iracema das Artes, onde
desenvolve pesquisa coletiva com David
Felício. Esmiúça noções de arquivo, memória
e controle em relação à história. Tem interesse
por indisciplinas e viagens no tempo.

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Diego de
Santos
Desenho
Fantasma Hereditário - Trilogia Fantasma
Caneta esferográfica sobre carteira de trabalho
da minha mãe
13 x 18 cm [cada]
2020

A carteira de trabalho da minha mãe,


assim como a minha, existia apenas
como papel. A ausência de uma escrita
empregatícia dá espaço a uma série
de desenhos de conchas, elementos
marítimos cujas simbologias expressam
a ancestralidade no trabalho. Além disso,
comentam a tradução livre “empresa
fantasma / de fachada”, do termo inglês
“shell company”.

Diego de Santos é formado em artes


plásticas pelo IFCE, mora em Caucaia,
cidade natal, e trabalha em Fortaleza.
Utiliza elementos do cotidiano, reinserindo-
os em suas problematizações relacionadas
às noções de morada, pertencimento e
trabalho.

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Diego
Landin
Yuri
Marrocos
Colagem
Revista Capricha
29x36x2cm [cada]
Colagem e tratamento digitais s/ papel
2021

Capricha propõe novos olhares sobre


as capas de revistas homoeróticas no
Brasil do final dos anos 90, mediados
por emergências do contemporâneo. Do
projeto gráfico paródico ao mundo kitsch
dos sonhos de consumo: um exercício
político de metaficção sobre a produção da
fantasia e do abjeto no imaginário coletivo.

Diego Landin é ator, diretor, artista visual


e escritor. Licenciado em Teatro pela
Universidade Federal do Ceará. Co-criador
do projeto cadaFalso. Atuou em Rãmlet
Soul, As Três Irmãs e Um Lugar Para Ficar
Em Pé. Dirige Peça Para Dias de Chuva,
E.L.A e Gato Preto. Curador do projeto
Cena Leitura. Desenvolve intensa produção
gráfica através de sua marca ERRATICA
design.

Yuri Marrocos nasceu no Jóquei Clube,


em Fortaleza. Graduando em Psicologia
pela UFC. Autor das peças Um Artista da
Luz Vermelha e Muros Agudos Iguais à
Fome, sendo essa última selecionada pelo
Edital de Montagem Teatral da Funarj, em
2019. Participou de exposições coletivas
como a Mostra Sistema Aberto (2019) e
72° Salão de Abril (2021).
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Eliana
Amorim
Instalação
Assentamento
Suporte técnico:
Alex Melo
Rawan Carvalho
Cleiton Araújo
Aline Albuquerque
David Felicio
Cleiton Macêdo
Maria Macêdo
2021

Assentamento é um encontro com


memórias, é um ritual para o encontro com
entidades femininas de cura, que usam/
usaram vassouras na limpeza de espaços
e corpos. A instalação é um meio artístico
para performar a vida que atravessa a
artista através dos seus saberes e fazeres
que entrecruzam arte, magia e cura.

Eliana Amorim é mãe, retirante, artista/


professora/pesquisadora. Licenciada em
Artes Visuais pela URCA. Suas pesquisas
e produções no âmbito das Artes Visuais
abordam questões de gênero e raça no
Brasil, e investiga intersecções entre arte,
magia, saberes tradicionais de cuidados e
curas através da natureza compartilhados
entre mulheres sertanejas curandeiras.

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Eliézer
Colagem
Menu do dia ou um prato que se come frio
16 cm de diâmetro x 2 cm de altura
Porcelana portuguesa policromada com
decoração inglaze
2021

Produzido pelo artista na Real Fábrica de


Porcelanas da Vista Alegre, em Portugal, o
tríptico desmonta o estereótipo da figura
tradicional e patriarcal de opressão colonial
e a oferece como parte de um banquete
que incita nosso apetite antropofágico em
devorar quem nos devora e que persevera
nossa crença de que a vingança é um
prato que se come frio.

Eliézer é artista, designer e pesquisador.


Doutor em Design pela Escola Superior
de Desenho Industrial, ESDI/UERJ. Mestre
em Design pela Universidade de Aveiro,
Portugal. Bacharel em Comunicação
Social pela UFC. Atua nos campos das
artes visuais, da performance, do design
gráfico e da cerâmica. Já expôs trabalhos
em Hong Kong, Barcelona, Lisboa, Porto,
Aveiro, Rio de Janeiro e Fortaleza.

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Felipe
Camilo
Instalação/Livro de Artista
Álbum Preto
2021

O livro de artista é um álbum coletivo que


relaciona à trajetória de vida do autor,
retratos em folhas [fitotipias] e saudosas
notas obituárias de pessoas negras vítimas
de violência racial. Homem negro de 36
anos, Felipe C. traz na obra uma prece e
memórias suas em sequência cronológica
relativas à idade de morte daqueles
honrados no álbum.

Felipe Camilo é artista negro com


enfoque em fotografia e cinema. Dedica-
se ao documental e à experimentação.
É membro do Ifoto/Ce. Pesquisador
pela UFC/CAPES, escreveu tese sobre
antropologia, imagem, memória e
negritude. É autor do fotolivro Perecível.
Dirigiu os docs. Oestemar e Aluá. É
co-idealizador do Efêmero Festival de
Fotografia Experimental.

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Fernanda
Siebra
Fotografia
Oxigênio
Álcool 70º s/ papel de cupons fiscais
2021

Oxigênio é uma série de imagens térmicas


produzidas a partir do contato do álcool
70º com o papel de cupons fiscais. Como
um exercício respiratório, Oxigênio propõe
pensar sobre o direito à vida que vem nos
sendo negado e denunciar a crise sanitária
e econômica que atravessa o país. Bustos,
covas, cruzes e pulmões. Imagens de um
universo pandêmico.

Fernanda Siebra é fotógrafa e jornalista.


Graduada em Jornalismo pela Unifor
(2014), atuou como fotojornalista e
realizadora de conteúdos audiovisuais no
Sistema Verdes Mares, onde ocupou o
cargo de editora do Núcleo de Audiovisual
do SVM. Colabora eventualmente com
o El País. Atualmente tem encontrado
na colagem analógica uma maneira de
fotografar.

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Fernando
Jorge
Fotografia
Árvore-Lágrima
32x32 cm [5]. 32x26 cm [3]. 20x30 cm [9]
Impressão fotográfica digital
2020

No início do século, a cidade de


Jaguaribara (CE) foi inundada para a
construção do açude Castanhão. Nos
últimos anos, por conta da maior seca que
atingiu o Ceará em décadas, o nível da
água baixou consideravelmente, fazendo
ressurgir as ruínas da cidade antiga. Com
elas, questões sobre memória, espaço e
clima, representados pela árvore dita.

Fernando Jorge é fotógrafo e professor


de fotografia. Já expôs em mostras
coletivas, como a exposição Terra em
Transe - festival Solar, o Festival de
Fotografia de Tiradentes 2016 e 2017, os
Encontros de Agosto 2011, 2012, 2014
e 2016, 69o Salão de Abril, Solar Foto
Festival, deVERcidade 2007, a XIV Unifor
Plástica e a exposição Postais do Ceará.

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Flávia
Almeida
Hailla
Krulicoski
Caio
Erick
Videoarte
Eu-Não
5”17’
2021

A Performance “Eu-não” é construída a Hailla Krulicoski é artista visual


partir da reflexão acerca do apagamento paraense, graduanda em Ciências Sociais
histórico da existência das pessoas negras apaixonada por música percussiva e
no Ceará e dos reflexos da pressão social expressões artísticas, como bordado e
existente sobre corpos negros, quando artesanato. Atualmente, integra o Maracatu
esses são vistos, uma vez que são Solar - SOLAR e o Grupo Percussivo
subjugados e cobrados partindo de uma Acadêmicos da Casa Caiada (UFC),
equidade social inexistente. além de atuar em projetos culturais de
diferentes linguagens.
Flávia Almeida é artista visual periférica,
nascida em Fortaleza-CE. Trabalha com Caio Erick é artista visual, nascido em
fotografia, audiovisual, produção cultural Fortaleza, Ceará. Trabalha com design,
e arte-educação. Graduanda em Ciências fotografia e produção audiovisual. É
Sociais pela UECE, atualmente compõe o integrante do Maracatu Solar e do Grupo
Coletivo Motim e a Produtora Princesinha de Música Percussiva Acadêmicos da Casa
de Favela. Caiada. Possui trabalhos nas temáticas do
maracatu cearense e com comunidades
pesqueiras no litoral do Ceará, além de
outros projetos artísticos.

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George
Ulysses
Rodrigues
de Sousa
Video-performance
XAXARÁ
2021

XAXARÁ é uma videoinstalação oriunda


de performance homônima. Ancorada
nas tradições dos candomblés, a obra
é um processo de cura. Ao resgatar os
eguns que vagam ao longo da beira-mar e
levá-los aos espaços de poder da cidade
de Fortaleza, o artista guia as almas aos
lugares onde não puderam embarcar ou
pertencer: a quartinha com água do mar os
presentifica.

George Ulysses é yawo de Obaluayê,


mestre em comunicação e pesquisa a
prática artística da pessoa preta no Brasil.
É performer, artista visual e percussionista.
O espaço da vida é o espaço da criação.

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Iago
Barreto
Soares
Dias
Holanda
Potyguara
Videoarte
A margem de um rio que correm meus ancestrais
13’
2021

À margem de um rio, Dias Potyguara vê seus ancestrais


passando, de um passado cheio de força a um futuro
nebuloso, que ele divide com seu filho. Através do rio
passam todos os sonhos do povo potiguara, um rio que
transborda e sobrevive no sertão, o rio que é escutado por
aqueles que são seus descendentes.

Iago Barreto é arte-educador, artista e comunicador


comunitário. Colaborador do Museu Indígena Tremembé
desde 2014, curador da exposição “Nas aldeias: o
cotidiano sob o olhar da juventude indígena do Ceará”.
Desde 2018, trabalha junto aos Anacé da Japuara
fotografando o projeto Memórias da Retomada de São
Sebastião.

Dias Holanda é indígena Potyguara, artesão de uma


diversidade de arte e cultura. Como por exemplo
artesanatos com madeira, sementes, linhas, barros
e pinturas Faz esculturas de bichos, talhamentos em
madeiras e uma diversidade de armamentos primitivos
indígenas como caça e pesca, além de criar painéis com
pinturas indígenas. Reside hoje com os povos indígenas
da Aldeia Cajueiro dos povos Tabajara.

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Jared
Domício
Intervenção
Indicador social para jardim
120 x 56 cm
Acrílica s/ tela e madeira
2021

Inspirado nas placas decorativas de jardim,


as quais, em geral, trazem mensagens de
positividade e apresentam o jardim como
espaço de fuga do real. Em seu aspecto de
indicador social, faz exatamente o oposto
ao apontar para uma realidade iminente de
conflito. A estética também é tomada (com
ironia) dos acessórios decorativos com
cores suaves e desenhos com ar infantil.

Jared Domício desenvolve pesquisa que


busca observar as relações entre meio
urbano x arte x natureza. Construindo
paralelos entre a maneira como nos
organizamos como cidade (um campo
racional e estruturado pela mente humana)
e os lugares/situações que designamos
como naturais, supostamente avessos a
essa racionalidade.

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Jefferson
Santos
Videoarte
Corpografias em Contexto
13’05
2021

É COR-PO-LÍTICO, são experiências


múltiplas de co-existir, são escrevivências
de nossas existências, é a fecundação
de “Novos Possíveis”, permeada de arte
poética, cuja abordagem se detém a partir
da performance arte, bem como pela arte
desobediente refletida nas corpografias em
contexto.

Jefferson Santos é do Ser-Tão de


Madalena, Bixa-Preta que transita o after
do fim-do-mundo. Como MultiArtiVista,
minhas poéticas de encruzilhadas se
atravessam y geram vários bugs na
sociedade, atiçando instabilidade no corpo,
tempo y espaço a cada performação
que realizo, como uma autossabotagem
que oferece novos desafios, fracassos y
reflexões a todes nós.

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João
Paulo
Duarte
de Sousa
Performance
Cena de Assassinato
2021

Um corpo. Um lençol de linho branco.


Um corpo travesti. Um lençol de linho
branco coberto de sangue.
Um corpo travesti coberto de sangue
encoberto por um lençol de linho branco.
[constitui-se uma cena de assassinato]

Colocando o corpo travesti em perspectiva


através de diferentes contextos e
temporalidades, a artista descostura uma
linha temporal no tecido social em busca
de suturas e atenta ao alastramento de
sangue travesti através do mesmo.

1993. Brasil, Ceará.


João Paulo Duarte de Sousa é travesti
e gênero não-conformista. Andarilha,
artista visual, cineasta, escritora,
pesquisadora, produtora e restauradora.
Pesquisa a hibridação/ hibridez/
hibridismo/ hibridização entre a
autobiografia e a autoficcionalização.

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Juliana
Saavedra
Mendoza
Videoarte
Gaiola - Paisagem Interior
8’05’’
2021

“O vídeo aborda uma pesquisa sobre a


paisagem urbana, guiada pelo professor
Rafael Carvalho, e apresenta a percepção
do espaço habitável como local de
confinamento que condiciona nosso ponto
de vista da realidade. Nele, combino a
contemplação do tempo e da luz junto
aos sons e as imagens da minha própria
gaiola, uma janela na beira do infinito, nos
dias do isolamento social.”

Juliana Saavedra Mendoza vive na


cidade de Fortaleza desde janeiro de 2018.
Ela é estudante de Licenciatura em Artes
Visuais no IFCE, por meio do programa
convênio PEC-G da embaixada do Brasil
na Colômbia. Atualmente, investiga
sobre os espaços e ações corporais no
seu processo criativo, como também no
ensino das Artes, explorando com médios
audiovisuais e a imagem digital.

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Karl
William
Instalação
Jogo da Memória - Para não esquecer
Cartas: 6 x 10cm [cada]. Instrucional: 19 x
21cm. Caixa de madeira: 8 x 12 x 5cm
2021

Cada partida: um discurso. Cada discurso:


um ângulo de visão. De que lado da
mesa você está? O que é memorável na
Pátria Amada? Um jogo da memória. Uma
performance. Meu corpo. Com esses três
elementos eu apresento um Brasil desde
a altura dos meus olhos. Um Brasil que
semearam lá no pé da Amazônia. O Brasil
em que habitamos e que o negamos.
O Brasil que curtimos e bronzeamos.
O Brasil. Essa história; nossa história;
a história tão repetida. Jogar esse jogo
propõe um olhar para o futuro, com as
´´armas´´ do presente para não viver o mal-
passado.

Karl William tem 19 anos, é preto e


filho de várias mães. Integra o Grupo
de Pesquisa Federal em Match de
improvisação na Ciudad de Buenos Aires.
É nascido em Fortaleza e feito pro Mundo.
É o sorriso largo de um favelado que come
sem pausa, sem corre, com as mãos.
Karl é fruto da escola pública e um artista
internacional do seu mundo, no meio do
mundo do mundo de todos.

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Lívio
Instalação
A história se repete, a primeira vez como
tragédia e a segunda como farsa. [1500-
1822-1871-1888-1889-1932-1960-
1964-2016-2018 e contando]
2020

Criada a partir dos acontecimentos


brasileiros de 2020. Coloca em diálogo
significantes como morte, destruição,
limite, nojo, resto. Ensaio poético sobre
o que nós aguentamos sem dar uma
resposta. Distopia da realidade brasileira
(ou realismo fantástico?). Diálogo com
o ‘Diário de um Cucaracha’ do Henfil.
Denúncia ensaística de para onde
caminhamos.

Lívio é agrônomo, mudou para poesia que


o levou às artes visuais. Fez uma pesquisa
entre palavra, objeto e intervenção,
que rendeu sua primeira individual, A
ereção da palavra, no Dragão do Mar.
Faz experimentos palavra, vídeo, foto e
performance. Hoje pesquisa: o que pode o
corpo branco de um homem cis?

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M Dias
Preto
Instalação
Campo de Passagem’
2021

De criança viada à adolescência vivida em


escola militar. A imagem que os outros
construíram para mim, a caixa que me
deram para ocupar, o assédio sofrido na
adolescência e as marcas e dores de um
corpo dissidente que só encontra no seu
imaginário um espaço/universo confortável
para existir. É a reelaboração e a posse
sobre a narrativa do meu corpo.

M Dias Preto é artista visual que trabalha


com colagem, fotografia e audiovisual,
buscando tencionar questões LGBTQI+, de
gênero e raça. Lançou o livro de colagens
“Insular”, é artista integrante no Painel
da Fotografia Cearense 2021 e foi artista
expositor no Festival Hercule Florence,
Festival Internacional de Fotografia BH e
FotoFestival Solar.

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Marcelina
Natalia
Coehl
Registro da Intervenção Urbana
Ame as Deusas
2021

AME AS DEUSAS é uma intervenção


herética realizada por duas bruxas
urbanas, que veem a palavra como
feitiço simbólico. Partindo da frase AME A
DEUS, encontrada no viaduto que divide o
caminho entre o Castelão e o Aeroporto de
Fortaleza - CE, a proposta deste trabalho
é realizar uma intervenção alquímica
que transforme esta escrita em AME AS
DEUSAS.

Marcelina é Sertaneja on the city.


Formanda em Licenciatura em Teatro pelo
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – IFCE. Autora do
fotolivro Densa Presença (2021) e do livro
De Vento em Poesia (2020). Investiga as
relações de gênero e a sexualidade da
mulher, utilizando o corpo e a escrita como
dispositivos.

Natália Coehl é bruxa urbana,


performer, escritora, bailarina, jardineira
e radiestesista. É mestranda pela Pós-
Graduação em Artes da UFC. Nesta
pesquisa, usa o movimento como criador
de energia de pequenos feitiços, que
buscam alterar a percepção concreta das
rígidas estruturas urbanas.

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Maria
Macêdo
Videoperformance
Dança para um futuro cego
6’16’
2021

Fertilizar imagens é antes de tudo observar


as mortes e renascenças diárias. Vivenciar
a desertificação da terra junto do corpo,
ouvir de perto a forrageira gigante da
urbanização moendo vidas, observar os
corpos tombados e guardar as sementes
que vão nos vingar. Como amaldiçoar os
projetos falidos de modernidade, e dançar
vida sobre a terra que pisamos?

Maria Macêdo é artista Multidisciplinar e


Educadora. Licenciada em Artes Visuais/
URCA. Integra ajuntamentos artísticos, e
é integrada pela mata fechada. Evocando
a força ancestral e ficcional da vida no
campo, encontra nas vivências na terra
o caminho que guia o seu fazer artístico
enquanto artista agricultora retirante
fertilizadora de imagens.

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Mario
Sanders
Instalação
Corpo Santo
Bordado: 57 x 36 cm. Oratório: 90 x 48 x 20 cm
Bordado s/ tecido instalado em oratório de
madeira
2020

O trabalho resgata o misticismo religioso


na época em que vivi novenas e missas
na minha infância em Aquiraz. Os ritos de
maio, novenas e procissões entre santos
e anjos, questionava a sexualidade dos
santos através de suas imagens na igreja
e nos oratórios, imaginando o corpo nu.
CorpoSanto é a imagem híbrida do que
pode ser puro, e não profano.

Mário Sanders é artista visual, trabalha


com pintura, desenho, objetos e bordados.
Participou de diversas exposições coletivas
e individuais, em museus públicos e
privados e galerias de arte locais e
nacionais. Destacando a participação
no grupo Fratura Exposta, a Exposição
Internacional de Esculturas Efêmeras e o
Prêmio Pirelle de Pintura Jovem no MASP-
SP e premiações em Salões Nacionais de
arte contemporânea em Recife, Curitiba
e Fortaleza. Hoje produz seus trabalhos
na Kraft Atelier Coletivo, onde acompanha
artistas iniciantes na produção da arte,
com visão contemporânea.

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Naiana
Magalhães
Escultura
Ecologia é poesia
27 x 62 cm
2021

O título foi uma frase proferida por um


engenheiro da prefeitura de Fortaleza,
responsável pela obra de uma pista que
corta um parque de dunas da Sabiaguaba.
A consultora ambiental pediu para que
a obra não ocorresse, porém ouviu que
ecologia não passa de poesia. O trabalho
condensa esta frase em referências da
cultura popular e burguesa.

Naiana Magalhães é artista visual,


nascida em Fortaleza-CE (1986).
Naiana trata ao longo de sua produção
problemáticas do tempo, da luz e da
paisagem. Diante de suas obras, somos
convidados a realizar calmamente a
ação do observador, conectando eventos,
sobrepondo camadas históricas, deixando
as ruínas do presente envolver nosso
pensamento para vislumbrar futuros.

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Nataly
Rocha
Videoarte
Árido Brejo
2021

Temática da desilusão amorosa sapatão,


o término de um relacionamento, a
vulnerabilidade e intimidade da atriz,
performer e diretora Nataly Rocha, que
revisita seu material pessoal de vídeo de
2013 à 2021 e o reinventa tendo como
principal referência o flerte com o patético
e o popular presentes no melodrama e nos
trabalhos da mexicana Ximena Cuevas.

Nataly Rocha é atriz, performer, diretora


e preparadora de elenco, possui vasta
experiência nas artes cênicas-teatro,
cinema, tv; com mais de 40 filmes e 10
espetáculos na sua trajetória. Trabalhou
com vários diretores: Karim Ainouz, Joana
Jabace, Felipe Hirsch, René Guerra,
Coletivo Alumbramento, Gabriel Mascaro,
etc. Pesquisa a fusão das linguagens na
cena contemporânea.

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No Barraco
da Constância
Tem!
Instalação
Protótipo de inserção da experiência jangadeira no Brasil
40 x 40 cm [cada - 12 peças]
175 x 25 cm [1 peça]
Impressão s/ papel algodão fine art
2021

Um branding publicitário que apresenta


um projeto de instalação para os mais
importantes museus e galerias brasileiros:
um stand comercial onde serão vendidos
pacotes para uma viagem de jangada no
sentido Sudeste-Nordeste, tendo como
referência a viagem de 4 jangadeiros
cearenses em 1941.

No barraco da Constância tem! é um


coletivo movido pela vontade de exercitar a
invenção, a coletividade, a colaboração e a
transversalidade entre as linguagens e os
gêneros num exercício político diário que
envolve investigação, porosidade, intuição
e desejo. Atuando ininterruptamente
desde 2012 na cidade de Fortaleza, o
grupo trabalha com artes visuais, cênicas,
performáticas e audiovisuais.

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Núbia
Agustinha
Instalação
Cartossangrias
23 x 23 cm [cada]
Bordado com cabelo e pintura com sangue menstrual
2020

A gestação da obra foi atravessada


pela fase de despedida do meu ciclo
reprodutivo. A composição, com manchas
de sangue e frases bordadas com os meus
cabelos em forma de linhas orgânicas,
potencializa a minha poética. Cabelos,
parte de nosso corpo que resiste à morte.
Envelheço e rejuvenesço no processo de
criação que me permite engravidar e parir
sem limites.

Núbia Agustinha tem formação em


Artes Visuais (IFCE) e Pedagogia (UFC).
Participou da Temporada Formativa (2019),
da Escola Porto Iracema das Artes. É
integrante do Grupo Meio Fio de Pesquisa
e Ação (IFCE). Atua como professora/
artista visual/pesquisadora. Sua produção
poética é atravessada pela escrita,
gravura, instalação, performance e vídeo
performance.

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Samuel
Tomé
Objeto
Você pode sentir que está passando por mim
60 x 30 cm [cada]
Adesivo de vinil sobre espelhos
2020

Através de uma pesquisa sobre bandeiras,


tomo emprestado o Código Internacional
de Sinais, um tipo de comunicação náutica
composta por bandeiras gráficas, nas
quais cada uma possui uma mensagem.
Proponho algumas alterações nos
textos das mensagens e chego a novos
enunciados.

Samuel Tomé (Itapipoca, 1986) é


artista cearense que recorre ao desenho,
fotografia, vídeo, objetos, ações e
atividades coletivas para investigar
situações sociais, políticas e cotidianas da
vida contemporânea e do sistema de arte.
Sua prática artística tenciona questões
sobre público, circulação e coletividade,
através de trabalhos que promovem ações
em grupo, jogos e encontros.

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Thaís de
Campos
Fotografia
As finas tramas que nos unem
0,64 x 1m [cada]
Fragmentos de insetos, folhas e
elementos naturais em decomposição
2021

As imagens têm linhas como princípio


comum, se desfazem em uma, se
refazem na outra: a vida segue seu
fluxo. Os fragmentos sobrepostos,
ampliados revelam detalhes da natureza
em desintegração: texturas, padrões. A
fotografia é a tentativa de parar a ação
do tempo possibilitando que as imagens
sejam contempladas no tempo individual
da contemplação.

Thaís de Campos é realizadora / artista


audiovisual e musicista experimental,
diretora de arte e figurinista de diversos
projetos no Ceará e no Brasil. Realiza
performances audiovisuais pesquisando
articulações entre imagens e sons,
utilizando diferentes suportes de projeção
e captação, máquinas obsoletas, slides
preparados, elementos da natureza e
materiais coletados.

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Victor
Cavalcante
Instalação
PERMITIR O AFETO - VIVER O DESEJO - ESQUECER O TEMPO
Bandeiras: 120 x 80 cm [cada]
Mastros: 4 m [cada]
2021

Quais bandeiras queremos erguer? Quais


mensagens queremos passar? PERMITIR
O AFETO - VIVER O DESEJO - ESQUECER
O TEMPO é um convite para um ritmo de
vida desacelerado e de permissão para
novas vivências e transformações. Um
aprofundamento do que sentimos, do que
nos afeta e desejamos. A busca por uma
vida plena e aberta ao encontro.

Victor Cavalcante é artista, produtor


e faz-tudo. Estudante do curso de
Licenciatura em Artes Visuais do IFCE.
Idealizador e produtor do Ateliê Migratório
e integrante do Ponto Coletivo. Gosta
de desmontar objetos, trabalha com
performance, pintura, desenho, arte
urbana, fotografia, audiovisual e o
que mais aparecer. Pesquisa afetos e
afetações. Entende a coletividade e as
relações interpessoais como motivadores
do processo criativo, além de expressar
seu descontentamento político e críticas às
instituições de poder.

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Virginia
Pinho
Fotografia
Máquina de Costurar
60 x 90 cm [cada]
Pigmento mineral s/ papel algodão
2021

Janete é minha mãe, ela trabalhou como


costureira dos 15 aos 58 anos. Antes
disso, desde os 10 anos, já costurava
as roupas dos seus seis irmãos. A
envergadura de sua coluna foi moldada ao
longo da vida, trabalhando “na posição da
máquina”.

Virgínia Pinho é Artista Visual, Fotógrafa,


Professora e Pesquisadora. Mestra em
Comunicação pela Universidade Federal
do Ceará – UFC. Desenvolve pesquisas
sobre cinema e as representações dos
mundos do trabalho, produção e circulação
de imagens e as relações entre memória
e construção do espaço urbano. Vive e
trabalha em Maracanaú.

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Seminário do 72º Salão de Abril

Do corpo que
produz ao corpo
que exibe:
arte, trabalho e
políticas de vida
Na 72ª edição do Salão de Abril, homenageamos a obra do Por isso, neste seminário, o tema do trabalho orienta as três
pintor e gravador Raimundo Cela (1890-1954), que por décadas mesas que serão realizadas ao longo da exposição, entre agosto
se dedicou a pintar as paisagens e o cotidiano do trabalhador, e setembro de 2021. Em diálogo com alguns dos artistas desta
simbolizado nas figuras dos pescadores, jangadeiros e vaqueiros edição, discutiremos o labor como tema e o artista enquanto
do Ceará. Tomando como mote o legado do artista e de trabalhador, da arte moderna à contemporânea. Integram as
seus interesses estéticos, as curadoras do Salão lembram a mesas, além dos artistas Virgínia Pinho, Ana Mundin e Diego
importância de entendermos a arte como local de trabalho e que, de Santos, e das curadoras Ana Cecília Soares, Luciara Ribeiro
independentemente das especificidades das práticas artísticas, e Luise Malmaceda, os pesquisadores Delano Pessoa, Bruno
elas não constituem uma exceção ao mundo laboral. Pinheiro, Maria Angélica Melendi e Rafael Domingues.

Mesa 1 Mesa 2 Mesa 3


O corpo do trabalhador na obra Do trabalho como tema ao artista Trabalho e pandemia: da exaustão à
de artistas latino-americanos como trabalhador nas modernidades precariedade do trabalhador das artes
Data: 18 de agosto de 202 de Raimundo Cela, Miguel Bakun Data: 08 de setembro de 2021
Horário: 18h e Heitor dos Prazeres Horário: 19h
Ana Cecília Soares, Maria Angélica Data: 25 de agosto de 2021 Luciara Ribeiro, Ana Mundin, Diego
Melendi e Virgínia Pinho. Horário: 19h de Santos e Rafael Domingues.
Luise Malmaceda, Bruno Pinheiro
e Delano Pessoa

Leitura de portfólios dos artistas contemplados no 72º Salão de Abril

Atividades Presenciais
Leitura com Luise Malmaceda e Luciara Ribeiro: 28 e 30/07
Leitura com Ana Cecília Soares: 02, 03, 04 e 08/08

Atividades on-line
Leitura com Luciara Ribeiro: 16 e 23/08
Leitura com Luise Malmaceda: 19/08

84
Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida

A desaparição
Reflexões sobre a representação do corpo
do trabalhador na arte latino-americana
Maria Angélica Melendi
EBA, UFMG

Me matan si no trabajo
Y si trabajo me matan
Nicolás Guillén

Silviano Santiago, em Aula Inaugural Quero ressaltar que este breve ensaio No que vai ser o século XXI,
de Clarice, opõe o labor, associado deixa fora muitas obras; a gente aparentemente, o corpo do trabalhador
aos processos biológicos do corpo sempre tem suas obras preferidas, desaparece das obras, do mesmo
humano, ao conceito masculino e aquelas que nos emocionaram, as modo em que vinha desaparecendo a
econômico de trabalho como modo que nos surpreenderam, as que nos representação naturalista dos corpos.
de produção capitalista. Pensar sobre assombram até hoje. Os trabalhadores No vazio dos corpos encontramos
a representação do trabalho e do e as trabalhadoras (as quais sempre ferramentas, roupas, marcas de mãos
trabalhador, na América Latina, hoje, em existiram), foram, ao longo dos anos, ou de pés, fluidos corporais, restos,
que mais uma vez o continente arde em mitayos, yanaconas, escravos, meeiros, resíduos, fotos apagadas, folhas de
conflitos, é penoso e desafiador. lavradores, serventes, operários... Sua registros de presença, folhetos, boletins.
representação nas artes visuais nunca Do Rio Grande à Terra do Fogo, o mito
Necessitamos encarar o passado para foi homogênea, e às vezes nem foi. do trabalhador parece ter se esgarçado,
fazer um recorte apropriado e insistir em No século XX, alternou entre décadas junto com as utopias de Nuestra
que somos o resultado de uma longa e países: arcádica, realista, heroica, América e a fantasia de uma origem
jornada de avanços e retrocessos. cínica, partidária, idealizada, cruel. comum que irmanasse os excluídos, os
miseráveis da terra.

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Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida

A virada,
a pandemia
e o trabalho
Rafael Domingos Oliveira

Na pintura A virada – um óleo sobre dos movimentos quase involuntários diante Albuquerque e até mesmo no filme de
madeira de 1943 -, Raimundo Cela do inesperado. A cena do primeiro plano, Orson Welles gravado em Fortaleza e nunca
registra o exato instante em que uma no entanto, contrasta com o horizonte lançado. A imagem do jangadeiro tornou-se,
jangada é atingida pela força arrebatadora calmo ao fundo, em que a paisagem assim, um topos no imaginário em torno da
do mar. Parte da tripulação é jogada marítima se apresenta de forma quase paisagem local. No entanto, o que pretendo
na água, enquanto outros três homens monótona em relação à cena principal. destacar em A virada é menos o tipo regional
tentam, a todo custo, retomar o controle A recorrência das cores claras, frias, e mais um outro topos, o do trabalho. A
da embarcação. A cena toma quase toda quase pastéis da paisagem também é vida no trabalho, o trabalhador, o espaço de
a composição, com a própria jangada, ao um contraste com as cores mais vivas, trabalho são também temas recorrentes na
centro, dividindo transversalmente a tela. intensas, com as quais são retratadas as obra de Cela. A representação do operário,
As figuras humanas estabelecem uma figuras humanas. do pescador, do jangadeiro, bem como a
relação tensa com a natureza e tentam, a composição humana, isto é, a forte presença
todo custo, domar a embarcação em meio O tema – jangadas, mar, jangadeiros – é de trabalhadores negros, é elaborada
às ondas que parecem não dar trégua. Os constante na obra do pintor e gravador – sobretudo em termos formais – com
rostos expressam a tensão do momento, e sobralense Raimundo Cela. É também ênfase na situação do trabalho, na tensão
complementam a representação do esforço recorrente na cultura visual cearense, promovida pela alteração do mundo material.
físico encerrado nas articulações dos ou sobre o Ceará, nos anos 1940,
braços e pernas, dos troncos projetados e como vemos nas fotografias de Chico

86
Seminário • Do corpo que produz ao corpo que exibe: arte, trabalho e políticas de vida

Nascido apenas dois anos após a abolição vida das trabalhadoras e trabalhadores artista isolado em relação ao modernismo,
formal da escravidão e no ano seguinte à brasileiros que, diante da tragédia sanitária ou que teria passado à margem dos
proclamação da República, Cela formou- e política, tiveram sua vida virada de movimentos de vanguarda, é quase
se em um mundo de viradas: a transição cabeça pra baixo. O aumento abismal da irônico que sua obra – seus temas, sua
para o chamado trabalho livre, a transição desigualdade social e racial, a fome e, representação - seja tão contemporânea,
para a República, a transição para a sobretudo, a impotência dos sujeitos frente podemos dizer tão moderna. Ao preparar
industrialização. Ao morrer em Niterói, às decisões do Poder e das circunstâncias o conjunto de reflexões que apresentei na
em 1954, Cela já havia atravessado da conjuntura parecem eternizar na vida mesa “Trabalho e pandemia: da exaustão
momentos-chaves da história política individual e coletiva a cena retratada, em à precariedade do trabalhador das artes”,
brasileira. Nasceu em um Brasil e morreu 1943, por Cela. no seminário virtual organizado como
em outro. Um Brasil que, naquela altura, parte da programação desta edição do
em quase tudo se parecia com a jangada Além disso, vale destacar que, prestes a Salão de Abril, não foi outra a imagem
que saiu pro mar e enfrentou a fúria assistirmos à reencenação do mito em que colaborou na organização das ideias:
incontrolável da natureza-tempo. Por tudo torno da Semana de Arte Moderna, que em a jangada de Cela, em A virada, é a vida
isso, a homenagem deste 72º Salão de 2022 completa cem anos, é relevante que do trabalhador brasileiro, inclusive o da
Abril é em tudo acertada. Vista desde um artista da envergadura de Cela – sobre arte. Estamos há um bom tempo tentando
estes tempos pandêmicos, a obra de Cela quem recaiu a pecha de anacrônico – seja aprumar a embarcação e retomar,
se atualiza e repõe um tema central da relembrado. Para muitos, considerado um exaustos, o controle.

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Raimundo
Cela
Max Perlingeiro
Agosto de 2021

Tive contato pela primeira vez com a obra de Raimundo Cela e atualmente, tenho grande amizade com seus netos. E, desde
(1890-1954) em 1980, quando colaborarei na organização de 1988, fiz quatro grandes exposições, sempre no intuito de
uma exposição Raimundo Cela e Vicente Leite (1900-1941) resgatar e trazer de volta para o Ceará as obras de sua autoria
na Galeria Ignez Fiúza, em Fortaleza. Ao procurar referências vi que ainda restavam no Rio de Janeiro. A primeira exposição foi
que havia pouca bibliografia disponível e muito restrita ao meio em 1988, a segunda, em 1997, apresentando a coleção do Dr.
acadêmico: Péricles da Silveira, a terceira em 2000, com a coleção Francisco
Studart. Assim, mais de cinquenta pinturas, desenhos e gravuras
ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da retornaram para o Ceará como um resgate da memória deste
pintura no ‘Brasil. 2.ed. [Rio de Janeiro]: [s.n.], 1942. v. 1. notável artista cearense.
ARTE BRASILEIRA século XX: Galeria Eliseu Visconti: pinturas e Em 2004, com o apoio da Fundação Edson Queiroz, fizemos
esculturas. Rio de Janeiro: MNBA, 1984.
uma grande retrospectiva do artista no Espaço Cultural Unifor
BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São
Paulo Editora, 1942. com obras dos maiores museus brasileiros e coleções privadas,
e publicamos o livro Raimundo Cela (1890-1954) com textos de
CAMPOFIORITO, Quirino. A República e a decadência da Nilo de Brito Firmeza - o Estrigas, Adir Botelho, Fábio Magalhães,
disciplina neoclássica: 1890-1918. Rio de Janeiro: Pinakotheke, Cláudio Valério Teixeira, uma completa biografia do artista e um
1983. (História da pintura brasileira no século XIX, 5). Catálogo Raisonné da sua obra. Hoje, com a edição esgotada,
constitui fonte bibliográfica única sobre o artista.
DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Exposições coletivas relevantes: participou da exposição Tradição
Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, e Ruptura na Fundação Bienal de São Paulo em 1984-85. Da
1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). exposição Arte e Sociedade: uma relação polêmica, realizada em
2003, no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, com curadoria de
LEITE, José Roberto Teixeira. A gravura brasileira contemporânea.
Rio de Janeiro: Rio, 1965. Aracy Amaral. Na atualidade, participará de exposição Moderno
onde? Moderno quando? O evento conta com as curadorias de
A partir daí, passados quase quarenta anos, dedico-me a Aracy do Amaral e Regina Teixeira de Barros, que vai antecipar
estudar e promover o artista. Tive o privilégio de conhecer toda a celebração dos 100 anos da Semana de 22 no Museu de Arte
a sua família, Eunice sua mulher, Paulo e Dolores seus filhos, Moderna de São Paulo.

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Raimundo Brandão Cela nasceu em Sobral Paula Barros (?-1919), pintor, fotógrafo e dimensões que causou admiração dos
em 1890, cidade próspera, distante 230 arquiteto, Antônio Rodrigues (1867-1915), mestres que a julgaram.
km de Fortaleza. Sua mãe, Maria Carolina retratista a crayon, os precursores.
Brandão Cela, sobralense, professora, A França foi seu destino pelo prêmio de
era uma garantia quanto aos primeiros Depois, seguiu para o Rio de Janeiro para viagem, uma tendência dos artistas em
estudos do filho; e o pai, José Maria a Escola Politécnica da Universidade do busca de aprimorar as suas técnicas e
Cela Mosquera, espanhol, mecânico Brasil: foi cursar engenharia por influência ter contato com as vanguardas europeias.
de profissão, naturalmente alimentava do pai. Desde sua infância, tinha um Frequentou as academias e, na ocasião,
conhecimento que sua profissão e vivência grande interesse pelo desenho. No Rio teve contato com Sir Frane Brangwyn
permitiam. Cela passou a sua infância em de Janeiro, incentivado por sua mãe, (1867-1956), pintor e gravador inglês.
Sobral e a sua adolescência em Camocim, matricula-se na Escola Nacional de Belas Seu aprendizado foi fundamental para,
cidade litorânea, uma vila de pescadores a Artes, instituição centenária criada por no futuro, tornar-se professor da Escola
370 km de Fortaleza. dom João VI. A Academia Imperial de Nacional de Belas Artes da Universidade
Belas Artes foi uma escola superior de Federal do Rio de Janeiro. Foi considerado
Seus estudos foram realizados em formação de artistas. Passou por inúmeras introdutor do ensino da gravura em metal
Fortaleza, aonde chegou em 1906 com dificuldades na sua implantação. Em no Brasil, lecionando durante nove anos.
dezesseis anos e uma adolescência 1816, teve a sua criação e o Imperador
bem preparada. Cela ingressa no Liceu Dom Pedro II o grande patrono das artes, Volta ao Brasil para recuperar-se de
do Ceará, conceituado estabelecimento na segunda metade do século XIX. Com o fadiga física e mental e pelo agravamento
de ensino público, onde tirou o curso advento da República passa a chamar-se da doença do pai. Na ocasião, trouxe da
preparatório, o que lhe daria o direito de Escola Nacional de Belas Artes, um centro Europa uma lendária prensa de gravura
concorrer a um de nível superior, no Rio de formação de artistas e os desígnios construída com suas habilidades de
de Janeiro. Como aluno do Liceu teve da arte durante toda a primeira metade engenharia, que durou até os anos
um relacionamento com os diversos do século XX. Na Escola, tem contato 1990 num centro de ensino de gravuras
segmentos do seu novo meio no começo com os mais expressivos professores no Museu do Ingá, em Niterói, no
do século. Quando chegou a Fortaleza, como Zeferino da Costa (1840-1915), curso ministrado pela gravadora Anna
Cela já encontrou a capital com boas Eliseu Visconti (1866-1944) e Batista Letycia Quadros (1929-2018). Persegui
construções, oficiais e particulares, da Costa (1865-1926). Eliseu Visconti, esta prensa até bem pouco tempo, quando
a catedral original, o mercado, a um artista moderno e que gozava de soube de sua ida para Brasília - até que
inauguração do Teatro José de Alencar, e grande prestígio no meio artístico, foi um em 2002, tive a notícia de sua destruição.
um meio intelectual pujante: o Instituto do dos seus maiores incentivadores. Cela
Ceará e suas grandes figuras, escritores conclui o curso de engenharia, leva o Ao retornar ao país, vai viver em Camocim
renomados da Padaria Espiritual, tipos diploma, um compromisso com o pai, e, onde trabalhou por quase dez anos
populares como Manezinho do Bispo, simultaneamente, ganha o mais cobiçado como engenheiro em uma usina elétrica.
artistas como Raimundo Ramos Filho prêmio da Escola de Belas Artes, o “Prêmio Camocim não foi só um local calmo para a
(1871-1916), o popular Ramos Cotoco, de Viagem a Europa”, com a tela O último recuperação total da saúde e um emprego
pintor músico e poeta lírico, José de diálogo de Sócrates, pintura de grandes para garantir as finanças ou conviver com
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a família. Ao contrário do que se pensou tempo suficiente para um número razoável O suíço Jean Pierre Chabloz (1910-
e se disse, Cela não interrompeu sua de trabalhos realizados, cuja qualidade 1984), pintor, músico e animador cultural,
atividade artística. Como ele houvesse, causou grande impacto na sensibilidade um grande descobridor de talentos,
na volta ao Brasil, com o isolamento em do jovem Otacílio que, em Fortaleza, não responsável pelo reconhecimento de Chico
Camocim, cortado o contato com o meio via nada de nível tão elevado quanto lhe da Silva (1910-1985) e Antonio Bandeira
artístico da capital do país, sua ausência e fora permitido apreciar naquele momento. (1922-1967) comenta elogiosamente sua
falta de notícias foram consideradas sinal Ao retornar a Fortaleza, deve ter sido um exposição em Fortaleza, em longo texto
de que havia morrido e, assim, foi tido ótimo divulgador do pintor Raimundo Cela, publicado no jornal O Estado, de 27 de
como morto. Cela continuou a desenhar, pois, como pintor e poeta, Otacílio de agosto de 1944, data de fundação da
gravar e pintar. Se não bastassem, para Azevedo convivia no melhor meio literário e Sociedade Cearense de Artes Plásticas
provar isso, os trabalhos datados, há o artístico da capital cearense. (SCAP), que se formara, também com o
testemunho do pintor e poeta Otacílio de apoio de Cela. Em 1943, por solicitação
Azevedo, que revela sua visita a Cela, em Após dez anos de Camocim, Cela de Mário Baratta (1915-1983), os dois
Camocim, e o que seus olhos viram: possivelmente já pensava em expandir a concorrem ao Salão Paulista de Belas
sua presença novamente para mais longe, Artes, no qual Cela obtém a pequena
“Uma das mais extraordinárias e Fortaleza, como no passado, seria o medalha de ouro, e Baratta, a de prata.
surpresas da minha vida foi quando, ponto de apoio inicial. Em 1938, diz adeus
como fotógrafo, em 1933, fui, por à usina elétrica, ao mar, a quem ficou, à Raimundo Cela, já com valor reconhecido,
intermédio de Péricles Serpa, visitar em
cidade e, mais uma vez, é um viajante não se recusava a compartilhar com os
Camocim, o ateliê de Raimundo Cela.
Ao penetrar no recinto, parecia-me a caminho de Fortaleza, agora muito jovens o mesmo espaço de exposição. Este
tudo aquilo uma estranha aventura, diferente do tempo em que estudou no foi um período em que trabalhou, expôs e
arrancada às páginas das ´Mil e Liceu do Ceará. praticou constantemente.
uma noites`, tal a riqueza de quadros
deslumbrantes que me ofuscavam a Pela segunda vez, para demorar e morar, Fato curioso contou-me Quirino
vista.” Cela está em Fortaleza. Desta vez sua Campofiorito, numa longa entrevista que
família o acompanha. Quando chegara me concedeu nos anos 1980. Narrou que
Isso comprova que Cela, em Camocim, não ao Rio, de volta da França, seu pai, que os artistas não tiveram por muitos anos
parou. Ao contrário, seu trabalho artístico lá o fora esperar, veio a falecer, o que notícias e sem tomar conhecimento do seu
prosseguiu, desenvolvendo-se, agora, sob contribuiu para sua ida para Camocim a retorno ao Brasil, publicou-se um obituário
orientação de uma pessoa só, ele mesmo, fim de proporcionar uma certa assistência mencionando a morte de Raimundo Cela
Raimundo Brandão Cela. Agora ele era seu à mãe, no início de 1923. Após a morte da ocorrida no Ceará. Este fato, mais tarde,
próprio professor, e a vida, a musa que lhe mãe, em 1927, e dois noivados desfeitos, foi motivo de divertidas conversas na sua
oferecia uma temática rica, que o artista casa-se em Camocim, em 1934, com a residência em Niterói.
colhia à vontade o que queria e dava-lhe amazonense Eunice Medeiros, ele com 44
força e beleza artística. Quando Otacílio de anos e ela com 21. Em 1938, muda-se Raimundo Cela tem dois filhos com Eunice
Azevedo esteve em Camocim, em 1933, para Fortaleza, trazendo a família. Medeiros: Paulo e Dolores.
Cela já lá estava de volta há dez anos,
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Em 1938, recebe uma encomenda do “Ao estudar a pintura de Cela, retratou de forma extraordinária o homem
Governo do Estado do Ceará para a percebi que ela não pode ser do povo cearense e seus afazeres.
execução de um painel sobre a libertação analisada circunscrita às ideias
dos escravos no Ceará, quando retoma, e aos valores acadêmicos. Cela possuía um olhar conciso, rigoroso
Muito embora os fundamentos
oficialmente, o ofício de pintor, ainda que diante do real e, ao mesmo tempo,
de sua linguagem obedeçam aos
no período em que esteve no Camocim ensinamentos aprendidos na Escola
permitiu que sua sensibilidade carregada
tenha pintado as suas mais belas Nacional de Belas Artes, o significado de expressão poética se manifestasse.
paisagens litorâneas. O mar, as dunas, os de sua obra ultrapassa os limites Com isso, acrescentou dramaticidade
pescadores e todo o povo de quem sentia estabelecidos pela academia.” às cenas do cotidiano e dignificou as
muito orgulho. pessoas que compunham seus temas.
Podemos classificá-lo como um artista Em algumas telas, ao captar jangadeiros
Em 1956, logo após a sua morte, os isolado, marginal, alheio às mudanças ou vaqueiros, seus tipos favoritos,
amigos Chrysanto Moreira da Rocha, artísticas, mas nunca como alienado, percebemos a inclusão de um sentimento
Ernesto Xavier do Prado, Moises Nogueira pois, se é verdade que teve pouco épico, construído principalmente através
de Silva e o escultor Almir Pinto, promovem interesse pelo que se passava no mundo do desenho e da composição. A canoa é
uma exposição póstuma no Museu da pintura moderna, também é verdade outro tema recorrente em sua pintura. É
Nacional de Belas Artes. Nesta ocasião, o que o conjunto de sua obra retrata suas bom lembrar que em Camocim, sua cidade
Museu adquire obras para o seu acervo. profundas inquietações com os problemas natal, não havia jangada, os pescadores
de seu tempo e apresenta uma visão partiam e regressavam com suas canoas
Na mostra inaugural do Museu de Arte da aguda da sociedade. de velas brancas enfunadas. As jangadas
Universidade Federal do Ceará (MAUC), devem ter encantado o artista quando ele
em 1961, não faltaram trabalhos do Cela Ao examinarmos suas pinturas e a foi estudar em Fortaleza.
e, ainda no mesmo ano, foi apresentada maneira como ele trata certos aspectos
uma exposição composta de desenhos da vida nordestina, vamos perceber que A paisagem e os tipos populares de seu
e gravuras do artista. Nesta ocasião, a há uma modernidade nesta interpretação. estado natal sempre estiveram presentes
Universidade Federal do Ceará adquire da Raimundo Cela possui uma visão em sua memória. Sempre comoveram
viúva do artista uma coleção de pinturas, sociológica da realidade. Na escolha e o artista. A expressão desses temas é
constituindo um núcleo importante de no tratamento de seus temas pictóricos, construída de forma dramática e vigorosa.
obras de Cela, como fez com outros nota-se um pendor nacionalista e um forte Ao mesmo tempo, substantiva, contida.
artistas, entre eles Antonio Bandeira e comprometimento com o mundo em que O artista não utiliza os artifícios da
Aldemir Martins e, em 1979, instala e vivia. A partir do ponto de vista temático, teatralidade, da grandiloquência, captar a
inaugura a Sala Especial Raimundo Cela. podemos concluir que Cela produziu uma força da própria realidade é suficiente.”
expressão plástica integrada com o seu
Raimundo Cela está circunscrito entre os tempo. Poucos artistas representaram Atualmente organizo uma nova exposição
modernos antes do modernismo, na visão com tanta riqueza a paisagem e os individual do artista a ser apresentada em
do Professor Fábio Magalhães: personagens do Ceará como Raimundo Fortaleza ainda em 2021.
Cela. Mais tarde, Aldemir Martins também
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Expediente
PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA

José Sarto Nogueira Moreira


Prefeito

José Élcio Batista


Vice-Prefeito

SECRETARIA MUNICIPAL DA CULTURA DE FORTALEZA

Elpídio Nogueira Moreira Gilberto Rodrigues


Secretário Coordenador de Ação Cultural

Francisco Evaldo Ferreira Lima Diego Zaranza


Secretário Executivo Coordenador de Patrimônio Histórico-Cultural

Ponce Júnior Cássia Cardoso


Chefe de Gabinete Coordenadora de Criação e Fomento

Thiala Cavalcante Karla Karenina


Assessora Jurídica Diretora do Teatro São José

Fernanda Cavalli Eduardo Pereira


Assessora de Comunicação Diretor da Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira

Eliane Luz Sofia Dantas


Assessora de Planejamento Diretora da Biblioteca Pública Infantil Herbênia Gurgel

Ana Cláudia Mourão


Coordenadora Administrativo Financeira

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INSTITUTO IRACEMA Alderley Rocha Virgínia Pitta
Coordenador do Centro Cultural Projeto Expográfico
Paola Braga Casa do Barão de Camocim
Diretora-presidenta Katu Soluções Criativas
Beatriz Gurgel Produção
Fernando Mota Gerente de Serviços Culturais
Diretor de Gestão Financeira do Centro Cultural Casa do Fernanda Wilza Montenegro Veras
e de Negócios Barão de Camocim Coordenação de Produção

Davys Veloso 72º SALÃO DE ABRIL Albert Agni


Diretor de Ação e www.salaodeabril.com.br Fábio Montenegro
Produção Cultural Paulo Sampaio
Ana Cecília Soares Assistentes de Produção
Dayse Cristina Luciara Ribeiro
Assessora Especial Luise Malmaceda Alana Silva – Intérprete de Libras
da Presidência Equipe Curatorial Maria Victória Soares Pereira
Paulo Belim – Audiodescritor
Mário Alves Alexis Vaz Educativo
Coordenador de Ação e André Veipes
Produção Cultural Beatriz Gurgel Trapiche Serviços
Mário Alves Montagem
Creelmida Andrade Produção Executiva
Coordenadora Financeira Léo Carrero
Gilberto Rodrigues Coordenação de montagem
Jorge Frota Edilberto Oliveira
Coordenador Administrativo Gracielly Lúcio Alexandre Saúde
Bruna Maira Bruno Ursulino
Rosana Rodrigues Equipe de Produção Montadores
Coordenadora de Projetos
Fernanda Cavalli Allysson Pesa
Washington Feitosa Gabriela Farias Edvaldo Jácome
Coordenador de Comunicação Washington Feitosa Jardson Vital
Thiago Andrade Assistentes de montagem
COMPLEXO CULTURAL Estela Félix
VILA DAS ARTES Isabela Gomes Maria Angélica Melendi
Assessoria de Comunicação Bruno Pinheiro
Mileide Flores Delano Pessoa
Diretora Leandro Ferreiras Rafael Domingues
Design Gráfico Max Perlingeiro
Isabel Almeida Agradecimentos
Assistente de Direção Thiago Matine
Fotografia Max Roger Franco
Revisão de Textos
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REALIZAÇÃO

PRODUÇÃO

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