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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS

GERAIS/CEFET-MG

Departamento de Linguagem e Tecnologia ─ DELTEC


Curso de Letras - Tecnologias de Edição

ANA PAULA DA COSTA

EDITORA SCRIPTUM: um estudo de caso de uma livraria-editora


especializada em poesia e suas contribuições para a Literatura
Contemporânea Brasileira

BELO HORIZONTE
2017/1
ANA PAULA DA COSTA

EDITORA SCRIPTUM: um estudo de caso de uma livraria-editora


especializada em poesia e suas contribuições para a Literatura
Contemporânea Brasileira

Monografia apresentada ao Departamento de Lin-


guagem e Tecnologia ─ DELTEC, do Curso de Le-
tras - Tecnologias de Edição, do Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais, como Tra-
balho de Conclusão de Curso para obtenção do título
de Bacharel em Letras - Tecnologias de Edição.

Orientador: Prof. Dr. Rogério Barbosa da Silva, do


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais / CEFET-MG

BELO HORIZONTE
2017/1
Este Trabalho de Conclusão de Curso, de autoria de Ana Paula da Costa foi julgado adequado
como parte dos requisitos para obtenção do título acadêmico de Bacharelado em Letras –
Tecnologias de Edição, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais/CEFET-MG
e aprovado pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

______________________________________________________
Prof. Dr. Rogério Barbosa da Silva (Orientador)
CEFET-MG

______________________________________________________
Profa. Dra. Ana Elisa Ferreira Ribeiro – CEFET-MG

______________________________________________________
Prof. Ms. Pablo Guimarães de Araújo

Belo Horizonte, _____ de _____ de 2017.

3
Dedico este trabalho a todos os que estão ligados
aos livros: professores, alunos, escritores,
editores, livreiros e leitores em geral. Aos meus
queridos e amados pais que, desde cedo, me
instruíram no gosto pela leitura, meus tios e tias,
em especial ao tio Luiz Tarcísio que me deu livros
de presente antes mesmo que eu aprendesse a ler
– e que, assim, o fez ao longo de toda a minha
vida.

4
AGRADECIMENTOS

Entrei neste curso Ana Paula Oliveira da Costa Sant’Ana e saio Ana Paula da Costa. Perdi
nomes ao longo do caminho, mas ganhei a realização de muitos sonhos. Então, agradeço
primeiramente a mim mesma por ter tido coragem de cursar Letras e corrigir minha rota.
Grata a Rogério Barbosa da Silva por me guiar na transformação de uma escrita à deriva
em algo digno, em um curto espaço de tempo. Um fator decisivo para esse TCC foi a leitura de
um artigo intitulado: Sobre a editora Scriptum: a difícil conciliação entre o negócio e os prazeres
dos livros1 que foi escrito por esse referido professor. Essa leitura feita em 2015, quando eu já
estava na Scriptum, me fisgou de vez.
À Welbert Belfort, o Betinho, “meu malvado favorito”, com quem trabalhei lado a lado,
agradeço imensamente pelo aprendizado e pelas broncas. E pela entrevista que ele me concedeu
porque ela foi essencial para a minha pesquisa.
À Silvano Moreira Lucena, Wagner Moreira, Mário Alex Rosa, Pedro Castilho, Ana
Martins Marques e Simone de Andrade Neves, agradeço pela paciência e tempo para
responderem aos questionários que fizeram parte do corpus de pesquisa. Em especial, agradeço
ao Mário Alex Rosa, que leu o trabalho e fez as honras de apontar melhorias ao texto.
À turma que ingressou comigo em 2012, em especial à Stephania Amaral, com quem
compartilho várias paixões, cuja amizade nasceu de várias afinidades; Fernando Mapa, amigo
para todas as horas; Luiz Carlos (Lula), que muito me auxiliou.
Agradeço também à turma cujo ingresso foi em 2013 (correndo o risco de esquecer o
nome de alguém, antecipo minhas desculpas): à Sabrina Gomes, pela amizade dentro e fora do
Cefet; à Raquel Basílio, companheira em diversos momentos e que fez a revisão deste trabalho; à
Jéssica Tolentino, Breno Fonseca, Isis Fonseca, Rayan Braga, Fernanda Nogueira, Bruna
Cristina, Wanda Vidigal, Marcílio Oliveira, Taynara Irias, Luiza Terrinha, Samara Coutinho,
Gabrielli Ambrozio, Rogério Porto, Aldria Melo, Ana Carolina Lopes pelo convívio com vocês,
pois ele foi muito estimulante! Obrigada!

1
SILVA, Rogério Barbosa da. Sobre a editora Scriptum: a difícil conciliação entre o negócio e os prazeres dos
livros. In: Escrever, editar, publicar e ler: Colóquio Internacional de Literatura Ibero-americana. CHIPARRA,
Juan Pablo et al. (Org.). Viçosa: CILIBAM, 2015.
5
À Bárbara Moreira, companheira de trabalhos e farras, que me deu um suporte danado nas
dificuldades. Gratidão por tudo!
À Jaqueline Gomes, que igualmente se tornou amiga e companheira nos bons e maus
momentos. Um presente ter te conhecido!
À Ana Elisa Ribeiro: um privilégio ter sido sua aluna, total admiração; João Batista
Santiago Sobrinho: Literatura na veia, nas cordas do violão; Roniere Menezes: professor-artista,
Literatura no palco, grata por me acolher no seu grupo ATLAS.
Agradeço também: Jerônimo Coura Sobrinho pela oportunidade que me concedeu de me
ingressar no PLE e no PLAc; Pablo Guimarães por me ensinar a fazer livros; Ana Nápoles e
Maria do Rosário, que me fizeram debruçar sobre a língua; Vicente Parreiras, pelo apoio ao
projeto de ensinar inglês para meus colegas; Wagner Moreira: literatura, poesia e edição.
Agradeço ao poeta e professor Mário Alex Rosa que me ensinou a fazer revista e capa de
CD; Olga Valeska: poesia, vídeos-poemas; James e Mìriam, fotografia, uma das cerejas do bolo;
Miriam, novamente, com a optativa de cinema, um arraso; Giani David-Silva e Cláudio Lessa:
Análise do Discurso, em sala e na vida; Patrícia Tanuri, Luiz Lopes, Renato Caixeta, Luiz
Henrique Oliveira, Natália Tosatti, Alcione Gonçalves, Lilian Arão, Renata Moreira, Cláudia
Maia, Sérgio Gomide, Sérgio Gartner, Danilo Cristófaro, Valéria Valente, Raquel Bambirra... A
todos esses professores do curso de Letras: muito obrigada!
Aos servidores do CEFET: todos do administrativo, às pessoas que fazem a limpeza, que
trabalham no restaurante, que trabalham na portaria, no setor de saúde, na biblioteca etc.:
obrigada!
À Rosângela Godoy, minha psicóloga, cujos conselhos foram essenciais para que eu
mantivesse o foco.
À Expedito Geraldo da Costa e Lúcia Maria Oliveira da Costa, meus pais, pelo amor e
suporte.
Ao meu irmão Rodrigo Luciano da Costa.
Ao meu companheiro e sobretudo amigo Agnaldo Pinho.
E a Deus!

6
LISTA DE SIGLAS

ABEU - Associação Brasileira de Editoras Universitárias


ABRELIVROS – Associação Brasileira de Editores de Livros
ANL – Associação Nacional de Livrarias
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel
CBL - Câmara Brasileira do Livro
CML – Câmara Mineira do Livro
CEFET- MG - Centro Federal e Tecnológico de Minas Gerais
CTP - Científicos, Técnicos e Profissionais
DID - Didáticos
FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo
INL – Instituto Nacional do Livro
ISBN - International Standard Book Number
OG – Obras Gerais
PNBE - Plano Nacional Biblioteca da Escola
PNLD - Programa Nacional do Livro Didático
PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura
REL - Religiosos
SEEC – Serviço de Estatística da Educação e Cultura
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
USP – Universidade de São Paulo

7
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Comportamento do Setor Editorial Brasileiro 2014/2015........................ 19

Quadro 2 – Títulos Editados e Exemplares Produzidos por subsetor ......................... 20

Quadro 3 – Distribuição Percentual do Preço de Capa de um livro no Brasil............. 34

Quadro 4 – Títulos editados na área de Literatura – Gênero: Poesia ......................... 45

Quadro 5 – Títulos editados na área de Literatura – Gêneros: Romance, Crônicas e


Ficção............................................................................................................................ 49

Quadro 6 – Títulos editados na área de Teoria e Crítica Literária .............................. 50

Quadro 7 – Títulos editados nas áreas de Filosofia, Pedagogia e História ................. 50

Quadro 8 – Títulos editados na área de Artes e Ensaios .............................................. 51

Quadro 9 – Títulos editados na área de Literatura Infantil........................................... 51

Quadro 10 – Títulos e revistas editados na área de Psicanálise ................................... 53

Quadro 11 – Número de títulos por área e percentuais em relação ao total publicado


de 2001 a 2016 ........................................................................……….......................... 54

8
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cadeia de Suprimento do livro ................................................................... 30

Figura 2 – Principais funções do publisher ................................................................. 32

Figura 3 – Organograma da Scriptum ......................................................................... 39

Figura 4 – Gráfico de títulos publicados por área de 2001 a 2017 em percentuais .... 54

Figura 5 – Gráfico de títulos lançados pela Scriptum de 2001 a 2017....................... 56

9
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 11
Por que escrever sobre a Scriptum? ............................................................................................11
Metodologia e pessoas envolvidas ............................................................................................ 12
Revisão bibliográfica ................................................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 - O MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO ..................................................... 16


1.1. O cenário atual .................................................................................................................... 16
1.2 O contexto editorial no final do séc. XX e início do séc. XXI ........................................... 21
1.3 O processo de produção editorial e a cadeia de comercialização do livro .......................... 28

CAPÍTULO 2 - ESTUDO DE CASO DA EDITORA SCRIPTUM ............................................ 36


2.1 Análise das entrevistas ......................................................................................................... 36
2.2. A estrutura da Scriptum ..................................................................................................... 38
2.3 O catálogo da Scriptum ..................................................................................................... 42
2.4 Os originais: da recepção à produção do livro .................................................................... 56
2.5 O lançamento de Simone de Andrade Neves...................................................................... 66
2.6 O lançamento de Ana Martins Marques ............................................................................ 71

CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 77
ANEXO 1 ..................................................................................................................................... 84
APÊNDICES ................................................................................................................................ 91

10
INTRODUÇÃO

Por que escrever sobre a Scriptum?

A escolha da Scriptum como objeto de investigação deste trabalho ocorreu quando a


pesquisadora teve a oportunidade de estagiar na editora por um ano. Assim, foi possível verificar
que se faz necessário levantar hipóteses sobre o campo de atuação das pequenas editoras, pois
esse ainda carece de maiores pesquisas. Em meio a tantas reviravoltas na economia, nos hábitos
de leitura e nas inovações no mundo digital — como a autopublicação, as plataformas de
financiamento de livros através de crowdfunding, os suportes e alternativas de edição — o que
faz com que pequenas editoras como a Scriptum continuem existindo? E qual é a sua
importância?
As fusões de grandes conglomerados e aquisições de empresas de médio porte por
empresas maiores, a cada dia, impõe novos desafios para adicionarmos ao rol de dificuldades
enfrentadas pelas pequenas editoras-livrarias. Podemos buscar respostas em Schiffrin, que afirma
que 80% dos livros que chegam ao grande público são controlados por apenas cinco grandes
companhias internacionais.

Existe um padrão de concentração em toda a mídia, que tem se tornado mais e mais
severo nos EUA e na Europa. Na maioria das vezes, o governo não se opõe, em parte por
que é muito próximo a esses conglomerados, que possuem não só editoras, mas também
televisões e jornais. Deveria ter havido ações antitruste para impedir que isso
acontecesse, mas não. Na França, inclusive, o governo exortou os dois maiores grupos a
se juntarem, mas uma comissão da União Européia impediu. Essas duas firmas
controlam dois terços de tudo que é editado no país. O que está havendo é que as
editoras médias são incorporadas a grandes grupos e sobram apenas editoras enormes, ou
muito pequenas.2

O processo de incorporação das médias editoras por grandes conglomerados é uma


realidade no mundo e em expansão no Brasil, o que tende a ameaçar a bibliodiversidade, como
afirma Carrenho da Publishnews:
2
SCHIFFRIN, André. O negócio dos livros e as grandes corporações. Entrevista concedida ao Jornal Globo e
publicada em 1º.12.2006 no blog do caderno Prosa e Verso. Disponível em:
<http://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/o-negocio-dos-livros-as-grandes-corporacoes15671.html?login Pian o=
true>. Acesso em: 02 jun 2017.
11
A união entre Companhia e Objetiva é mais um passo em um longo processo de
consolidação do mercado, que reflete uma tendência mundial. E quanto maior a
concentração, menor o espaço das editoras médias e pequenas, que garantem a
diversidade do mercado editorial. O risco então para o leitor está na diminuição das
chances de sobrevivência de editoras de menor porte.3

Ao levantar hipóteses em relação ao trabalho das pequenas editoras, este trabalho serve
também ao propósito de documentar a trajetória da Editora Scriptum, que nasceu a partir da
Livraria de mesmo nome. Apresentaremos como funciona a sua estrutura empresarial e como ela
cumpre a função de lançar novos autores dentro do mercado editorial brasileiro, contribuindo
para o fortalecimento da Literatura Contemporânea, principalmente no âmbito da poesia, que é
uma das suas especialidades. Analisaremos dois casos bem-sucedidos de poetas que foram
lançadas pela editora e obtiveram reconhecimento nacional.
Nossa análise mostrará como as mudanças político-econômicas que culminaram no
ambiente recessivo que foi imposto aos empresários nos últimos anos e a competição com
empresas virtuais e os grandes conglomerados editoriais que têm determinado o fechamento tanto
de pequenas editoras quanto de pequenas livrarias — as chamadas “livrarias de rua” —
impactaram a Editora Scriptum, que é uma livraria-editora e sofre todos os percalços que atingem
tanto as pequenas livrarias como as pequenas editoras.
Dividimos a pesquisa em cinco capítulos. Na Introdução, apresentamos a escolha do tema,
os objetivos, a revisão bibliográfica e a metologia utilizada. No Capítulo 1, discorremos sobre o
mercado editorial brasileiro de meados do séc. XX ao início do séc. XXI e como a Livraria e
Editora Scriptum se insere neste contexto. No Capítulo 2, apresentaremos o estudo de caso
propriamente dito e, no Capítulo 3, mostramos os dados e as conclusões desta pesquisa.

Metodologia e pessoas envolvidas

Este é um trabalho acadêmico do tipo descritivo, qualitativo e dedutivo. O método utilizado


na investigação foi o de Estudo de Caso. Foram utilizados questionários abertos, o que permite
captar a perspectiva dos participantes através de respostas dissertativas. A pesquisa bibliográfica

3
CARRENHO, Carlo. Mercado em processo de consolidação. Blog da Publishnews, 21 de março de 2014.
Disponível em: https://publishnews.wordpress.com/tag/mercado-editorial/. Acesso em: 03 mar 2017.
12
também foi utilizada, além de observações in loco da pesquisadora, que estagiou no período de
março de 2015 a maio de 2016 na Livraria e Editora Scriptum.
É importante frisar que a escolha do tema e das autoras que integram esse estudo já haviam
sido feitas desde 2016. A pesquisadora já havia contactado a poeta Ana Martins Marques, dizendo
que faria seu TCC sobre a Editora Scriptum, e que ela seria uma das autoras a serem analisadas.
Naquele mesmo ano, procurou estabelecer quem seria o seu orientador, e a escolha foi Rogério
Barbosa da Silva, por sua larga experiência no assunto e por ele fazer parte do Conselho Editoral
da Scriptum. Simone de Andrade Neves também foi consultada sobre a possibilidade de inseri-la
na pesquisa. Desde o período do estágio, a intenção era essa: transformar a Editora Scriptum em
objeto de estudo para o trabalho final de conclusão de curso da pesquisadora.
A pesquisadora elaborou os questionários com perguntas orientadas para discorrer sobre
os assuntos que pretendia abordar e Barbosa a orientou em relação à elaboração das perguntas.
Alguns ajustes foram feitos e, após isso, em abril de 2017, as quetões foram enviadas, por e-mail,
para todas as pessoas envolvidas. A saber: Welbert Belfort – Editor-chefe e Proprietário; Mário
Alex Rosa – Editor; Wagner Moreira – Editor; Pedro Castilho – Editor; Júlio Abreu – Editor;
Lino de Albergaria – Editor; Silvano Moreira Lucena – Produtor gráfico; Ana Martins Marques –
Poeta e Simone de Andrade Neves – Poeta.
Dos nove questionários, sete foram respondidos em tempo hábil para compor o corpus da
pesquisa. Júlio Abreu e Lino de Albergaria não retornaram as respostas. Os demais entrevistados
enviaram as respostas ao longo dos meses de abril, maio e, finalmente, na primeira semana de
junho de 2017.
A dificuldade encontrada pela pesquisadora em relação aos questionários foi a coleta
referente à Welbert Belfort que não enviou as respostas por escrito, via e-mail, como havia sido
inicialmente combinado, preferindo gravar uma entrevista. A transcrição do áudio consumiu
vários dias de trabalho. Depois de transcrita, a entrevista foi novamente encaminhada para Belfort
para que o mesmo fizesse a validação. Ele revisou e devolveu à pesquisadora para a realização
das correções. Ao fazer as correções solicitadas, ela percebeu algumas “gotas” de fala, e, assim, a
transcrição passou por uma segunda revisão, sendo enviada por e-mail para que ela fosse validada
novamente, recebendo, então, a anuência do entrevistado para ser utilizada na pesquisa. Belfort
fez uma terceira correção de algumas respostas e as enviou por e-mail. Em tempo hábil. Os
outros responderam e enviaram suas respostas prontamente.
13
Os materiais utilizados foram os questionários aplicados, gravações de áudio
(transcrições), livros emprestados pelo orientador, adquiridos pela autora e consultados na
biblioteca pública municipal. Além dessas fontes, foram consultadas também pesquisas na
internet e livros digitais. Somados a tudo isso, foram utilizados vários arquivos cedidos pela
Editora Scriptum, como o seu catálogo, planilhas descritivas, releases e um canal de informações
aberto para consultas a qualquer momento.
Os questionários aplicados com as respectivas respostas encontram-se na seção
Apêndices. Os dados das coletas das respostas foram distribuídas ao longo da pesquisa, como
dito anteriormente. Este método apresentou-se adequado por oferecer a oportunidade de observar
as variáveis humanas envolvidas no processo e as variáveis das fontes consultadas.
O passo seguinte foi proceder a análise das respostas. À medida que ia recebendo os
questionários, o corpus foi tomando forma, enquanto a pesquisadora foi escrevendo
paralelamente o texto, partindo do abrangente para o focalizado: mercado nacional, mercado
mineiro, mercado belo-horizontino, realizando pesquisas bibliográficas. As respostas dos
participantes foram agrupadas de acordo com o referencial teórico pertinente e as tipologias
referentes aos assuntos abordados, encaixando-se com o material colhido das pesquisas
bibliográficas.

Revisão bibliográfica

Na consulta aos livros acadêmicos podemos encontrar referências genéricas ao


funcionamento das pequenas editoras e à descrição dos processos. Em relação às editoras-
livrarias, a bibliografia disponível é muito pequena, por isso este campo carece de mais estudos e
publicações.
Buscamos em Ribeiro e Guimarães (2014) informações históricas sobre a edição no Brasil
e em Minas Gerais, por nos parecer uma fonte confiável, visto que ambos possuem uma larga
experiência no campo da edição, especialmente Guimarães que realizou seu estudo de mestrado
na área de pequenas editoras. Através de um artigo escrito em conjunto pelos dois — Livrarias-
editoras em Belo Horizonte-MG: Breve história, cenário contemporâneo e perspectivas — para o

14
Intercom (2014), encontramos várias referências que atenderam ao nosso objetivo. A partir daí,
entramos em contato com as obras de Hallewell (2005) O livro no Brasil: sua história; Machado
(2003) A etiqueta de livros no Brasil: subsídios para uma história das livrarias brasileiras e
(2008) Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras, dentre outros. Eles forneceram
embasamento necessário para tratar da história da edição no Brasil e o mapeamento das editoras
em Belo Horizonte.
A obra de Thompson (2013) Mercadores de Cultura: o mercado editorial no século XXI, é
um guia imprescindível para os estudantes de edição e fornece uma leitura que amplia o
entendimento do mercado livreiro e de edição, ainda que seja específico do mercado editorial
americano, oferece uma perspectiva da conjuntura internacional, das mudanças digitais e dos
desafios que este mercado enfrenta. Oferece também análises muito interessantes para efetuarmos
aproximações e leituras críticas a respeito do funcionamento de pequenas editoras do mercado
brasileiro.
Os livros de Bragança (2005) Sobre o editor. notas para a sua história e (2002) Uma
introdução à história editorial brasileira, também forneceram norteadores fundamentais para o
embasamento teórico, assim como as entrevistas de Schiffin (2014) O revide das pequenas
editoras e (2006) O negócio dos livros e as grandes corporações, sobre as grandes corporações
do mercado editorial.
Matarelli e Queiroz (2009) Editoras mineiras panorama histórico, traz informações
interessantes para esta pesquisa e serve para introduzir e conduzir outras pessoas que também
desejem tratar do mesmo tema.
Earp e Kornis (2005) A economia da cadeia produtiva do livro oferecem um manancial de
informações a respeito do funcionamento do mercado editorial brasileiro com um foco mais
administrativo-financeiro. Eles mesmos sugerem uma pesquisa maior em relação às empresas
distribuidoras de livros, assunto que carece um levantamento de informações.
E, finalmente, as reflexões de Geir Campos (2002) A profissão do poeta: 13 pequenos
ensaios & depoimentos em homenagem a Geir Campos & Carta aos livreiros do Brasil, poemas
e outros textos inéditos, escrito em 1960, mas com um frescor que complementou com suas
observações perspicazes os outros teóricos e, em alguns momentos, ofereceu o movimento
retórico necessário à pesquisa.

15
CAPÍTULO 1 - O MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

Analisaremos o Mercado Editorial Brasileiro sob a ótica de alguns dados recentes, de


2014, publicados em 2015 sobre o contexto econômico. Posteriormente, faremos uma breve
explanação sobre o contexto de meados do séc. XIX e início do séc. XIX, situando a presença da
Livraria e Editora Scriptum. Analisaremos também a cadeia de produção do livro para então
adentramos no estudo de caso propriamente enunciado e seus casos de melhor recepção no
mercado editorial.

1.1. O cenário atual

Segundo dados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (FIPE/USP),


ano-base 2015, houve um crescimento negativo nominal de 3,27%, o que representa um
decréscimo real de 12,63% com base na variação do IPCA de 2014. Ainda assim, houve um
faturamento na casa dos 5 bilhões de reais, o que mostra o tamanho do mercado editorial
brasileiro. Mesmo diante das dificuldades, as editoras, sobretudo as pequenas, têm buscado
alternativas para manter-se ativas. A série histórica da Fipe, que analisa o desempenho do
mercado livreiro de 2006-2015 e publicada em 2016, afirma que:

Ao longo desses 10 anos há uma queda expressiva no preço médio do livro vendido ao
mercado. Ao se comparar os valores de 2006 com os verificados em 2015, observa-se
uma redução 36% no setor como um todo, sendo que a queda mais expressiva se
encontra no subsetor de Obras Gerais, onde alcança cerca de 44%. Isso significa que, de
um modo geral, as editoras têm tentado oferecer ao público obras menos custosas e mais
acessíveis.

Essa busca por oferecer “obras menos custosas e mais acessíveis” é uma das premissas
para ampliar o mercado, ainda mais em um país que teve um desenvolvimento educacional tardio
e ainda muito deficiente. Superar essa defasagem através do incremento de políticas educacionais

16
é uma tarefa que envolve a esfera governamental. Existem políticas públicas que têm se voltado
para o setor através de planos, desde 2006, sendo o mais significativo o Plano Nacional do Livro
e Leitura (PNLL), conforme pode ser verificado no trecho a seguir:
Os últimos dez anos foram marcados por grandes movimentos em prol da formação de
leitores em nosso país. Mas há um destaque que abraçou todos os elos do livro e da
leitura. Contando com análises e convicções ditadas pela história da militância pela
leitura no Brasil, o PNLL foi criado por muitas mãos da sociedade civil e do Estado,
introduzido pelo MinC e pelo Ministério da Educação em dezembro de 2006, ratificado
por decreto em 2011, e agora aspira a ser uma lei federal perpetuando-se como política
de Estado. Trata-se de verdadeiro pacto social, amplamente debatido e avaliado, que se
desdobra em planos estaduais e municipais de livro e leitura. Seus quatro eixos são uma
senha para o futuro do livro e da leitura no Brasil: democratização do acesso à leitura;
fomento à leitura e à formação de mediadores; valorização institucional da leitura e
incremento de seu valor simbólico e desenvolvimento da economia do livro. Estamos no
exato momento para executá-lo totalmente e incorporá-lo à estratégia de
desenvolvimento da nação.4

Infelizmente, em nosso país a instabilidade política e econômica não garantem a


continuidade de muitos programas e investimentos na ampliação da educação e da leitura, e,
consequentemente, da ampliação do mercado consumidor de livros. Somando-se a isso, temos
uma crise financeira instalada desde meados de 2014, o que provocou retração do consumo,
afetando a venda de livros, como é demonstrado no estudo da Fipe. O segmento de Obras Gerais
(livros de ficção e não-ficção) foi o mais afetado, sofrendo uma queda brusca, principalmente do
ano de 2014 para 2015, quando encolheu 19,74% em lançamentos de novos títulos e 21,70% em
reimpressões. Em termos de números de exemplares vendidos, o segmento de Obras Gerais caiu
em torno de 30,14% de 2014 para 2015.

O mercado editorial sofre com a crise brasileira. Se em 2014 havia uma esperança de
que os números do setor se alinhassem com um possível crescimento do PIB, hoje, sabe-
se que isso não vai acontecer. Pesquisa da Fipe demonstrou que o preço real do livro caiu
em 36% em 2015 e o faturamento passou de R$ 1,6 bilhão para 1,4 bilhão.

4
ASSIS, José Carlos. Livro e leitura. Le Monde Diplomatique Brasil. 02 de outubro de 2014. Disponível em:
<http://diplomatique.org.br/livro-e-leitura/>. Acesso em: 15 jun 2017.
17
Quadro 1 - Comportamento do setor sditorial brasileiro 2014/2015 – Fonte: Pesquisa Fipe 2015.

Analisar os dados sobre o consumo do livro e dos hábitos de leitura auxiliam na reflexão
sobre o desenvolvimento sócio-econômico de um país. De acordo com uma pesquisa de 2014 da
Associação Nacional de Livrarias (ANL), o Brasil tinha 3.095 livrarias. Isso representava uma
média de uma livraria para cada 64.954 habitantes. O índice da UNESCO recomenda 10.000
habitantes por livraria. Então, em sua próxima pesquisa, poderemos esperar que este índice piore
ainda mais, pois quando os dados desses dois últimos anos forem atualizados, veremos que
muitas livrarias fecharam suas portas com a forte recessão econômica enfrentada pelo setor.

18
Quadro 2 – Títulos editados e exemplares produzidos por subsetor – Fonte: Pesquisa Fipe 2015.

Ainda de acordo com essa pesquisa de 2014, a cidade de Belo Horizonte-MG, era a que
mais se aproximava dos índices da UNESCO, com uma livraria para 13.848 habitantes. O Rio de
Janeiro tinha uma para cada 24.865 habitantes e São Paulo uma para cada 35.664 habitantes. Esse
levantamento também mostra a alta concentração das livrarias no Sudeste que concentra mais de
55% das lojas, seguida do Sul com 19%, Nordeste com 16%, Centro-Sul com 6% e Norte com
4%.
Uma possível explicação para o baixo número de livrarias por pessoas em centros urbanos
representativos como São Paulo e Rio de Janeiro, talvez, seja a presença acentuada das
megastores nestas cidades. Data da década de 1990 a entrada das megalivrarias no mercado
brasileiro, cuja pressão sobre o pequeno e médio comércio levou ao fechamento de várias
pequenas livrarias, obrigando outras a diversificar as atividades, processo que se acentua desde a
década anterior. Machado (2003) é categórico ao comentar que “numa espécie de regressão ao
19
comércio não especializado de suas longínquas ascendentes do século XIX, muitas livrarias
passam a vender objetos de papelaria, de tabacaria, CDs, presentes, o diabo a quatro”
(MACHADO, 2003, p. 54).
Esses estabelecimentos expandiram-se principalmente nos Shoppings Centers, onde
encontraram o terreno ideal para abarcar seus imensos espaços varejistas que apostam no cross
marketing que — além de oferecerem livros, revistas, CD’s, DVD’s, games, eletrônicos, artigos
de papelaria, brinquedos, cafeterias, locais para leitura com sofás confortáveis — apostam na
premissa de que na busca por um produto o consumidor acaba comprando outros. No entanto, a
crise atual também atingiu as megastores e o fechamento de várias delas acenou positivamente
para a situação das pequenas livrarias.
Houve rumores de que a FNAC fecharia as portas em 2017, conforme escreveu Borges 5
em seu blog no site do “O Globo” e de que a Livraria Cultura passou por dificuldades financeiras
em 2016.

Apesar dos rumores não confirmados, a crise pegou em cheio as megalivrarias. A rede
Livrarias Curitiba, que vinha crescendo de 10% a 15% ao ano até 2015, teve uma
retração de 4,2% em seu faturamento de 2016, se comparado ao do ano anterior. A queda
foi maior para a Livraria Cultura: 8%. 6

A política de Belfort sempre foi a de oferecer apenas livros na Livraria Scriptum. As


pessoas, muitas vezes, entram na loja à procura de diversas coisas: artigos de papelaria, xerox,
cartões para estacionamento (Faixa Azul), dentre outros, e ouvem sempre a mesma resposta:
“aqui não tem, só vendemos livros”. Alguns artistas locais costumam deixar em regime de
consignação CD’s e DVD’s autorais, mas a venda desses produtos não são representativas. Outra
exceção à regra são os imãs de geladeira que ficam à venda no balcão.

5
BORGES, Affonso. O fechamento da FNAC e as livrarias de rua. O Globo, 01/03/2017. Disponível em:
<http://blogs.oglobo.globo.com/afonso-borges/post/o-fechamento-da-fnac-e-o-renascimento-das-livrarias-de-porta-
de-rua.html>. Acesso em: 03 jun 2017.
6
LUCHESE, Alexandre. Grandes livrarias apostam em diversificação de produtos e e-commerce para driblar
retração. ZH Livros, 11/04/2017. Disponível em:
<http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/livros/noticia/2017/04/grandes-livrarias-apostam-em-diversificacao-de-
produtos-e-e-commerce-para-driblar-retracao-9769631.html>. Acesso em: 3 jun 2017.
20
A crise fez com que o sócio-proprietário da Scriptum buscasse recentemente, em 2016, a
diversificação e se voltasse para o mercado de artes plásticas. Ele começou a usar os espaços da
livraria para expor quadros e comercializá-los. Ele aproveita os momentos de eventos e de
lançamentos para montar uma pequena exposição em seu espaço externo e também criou uma
galeria virtual em uma rede social, chamada Scriptum Galeria de Arte7. Essa nova atividade
comprova a busca de um incremento em seu mix de produtos e serviços, no entanto, não foge da
filosofia de trabalho e da criação de seu idealizador, conforme veremos no estudo de caso, pois a
criação do nome Scriptum, do latim, foi concebido, justamente, na premissa de se trabalhar com
todos os tipos de arte.

1.2 O contexto editorial no final do séc. Xx e início do séc. Xxi

A educação é um ponto importante para o desenvolvimento do mercado editorial,


conforme citamos, mas historicamente esse é um ponto estrutural que ecoa como um dos
problemas a serem superados até nos dias atuais.
Outro desafio é a distribuição desigual dos pontos de venda. Dos quase 1.500, poucos se
localizam fora das capitais (à exceção de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Paraná e Santa Catarina). “Três quartos dos municípios brasileiros não dispõem de nenhum
local para a venda de livros” (MACHADO, 2003, p. 45). Uma estimativa feita pelo SNEL, em
1972, sobre o número de livrarias aponta para a existência de cerca de 600 livrarias e mais 1.200
outras lojas, como papelarias que também vendem livros.

Se a fonte primária e os critérios utilizados para se chegar ao total de 400 livrarias, em


1980, mencionados pela revista Istoé e pelo Publishers Weekly, são os mesmos, observa-
se um declínio de 1/3 em apenas oito anos. O Guia das Livrarias e Pontos-de-Venda de
Livros no Brasil publicado pelo SNEL em 1981 apresenta um total de apenas 1.147
pontos-de-venda de todos os tipos, indicando que essa diminuição estende-se até mesmo
aos pontos-de-venda secundários. (HALLEWELL, 2005, p. 612).

E a década de 1980 foi também um período que as livrarias buscaram diversificar seus
produtos e serviços. Os livros de literatura encontram um mercado ainda mais estreito de

7
O endereço eletrônico da Scriptum Galeria de Arte é: <https://www.facebook.com/scriptumgaleriadearte/>.
21
consumo, pois o aumento do número de escolas e alunos, infelizmente, não foi acompanhado por
uma ampliação das bibliotecas públicas.
O sucesso dos autores depende, muito mais, de uma certa dinâmica intelectual que da
indústria editorial enquanto os autores de livros escolares, por sua vez, produzem para um
mercado cada vez mais bem definido onde a capacidade de comercialização dos editores e o
esforço de divulgação, tendência que permanece até o final do século XX, era o que determinava
o êxito das vendas.
Conforme dito anteriormente, a educação ecoa como um dos problemas enfrentados pelo
mercado editorial porque ela é um entrave ao desenvolvimento econômico não só do mercado
editorial, mas do país como um todo. Além dela, há outros que devem ser considerados: número
insuficiente de bibliotecas e, consequentemente, problemas de formação de um público
consumidor, que Campos8(2002) agrupa como sendo problemas relacionados ao “Leitor”; os
problemas de distribuição (pontos de venda) ele analisa dentro do assunto por ele denominado de
“comércio” que abrange também os problemas de logística, publicidade e crédito; os problemas
relacionados com o “autor” estão ligados à remuneração e divulgação; “indústria” engloba
problemas com o parque gráfico e mão de obra e, finalmente, os problemas relacionados ao
“Estado”: tributação, orientação cultural e política — estes atuam direta ou indiretamente sobre
todos os problemas.
Somando-se a esses problemas temos, ainda, outros que Campos (2002) não vislumbrou:
a revolução digital, que trouxe um novo ambiente para publicação, com novas plataformas e
tecnologias que impactaram sobremaneira o mercado editorial. O surgimento dos e-books
suscitou discussões e estudos sobre seus impactos na cadeia de produção do livro e sua co-
existência com os suportes em papel. Hoje em dia, as expectativas negativas já estão de certa
forma superadas com a estabilização e até mesmo retração dos índices de crescimento do
mercado dos livros digitais.

A indústria brasileira de impressão de livros já não teme que a leitura digital leve grande
parte de seus consumidores, como ocorreu no mercado de música. Um dos motivos são
os sinais de estagnação que a venda de livros digitais já dá nos Estados Unidos e na
Europa. (...) No Brasil, não há dados oficiais sobre vendas de livros digitais, segundo o

8
CAMPOS, Geir. Carta aos livreiros do Brasil. In: BRAGANÇA, Aníbal; SANTOS, Maria Lisete dos (Org.). A
profissão do poeta: 13 pequenos ensaios & depoimentos emhomenagem a Geir Campos & Carta aos livreiros do
Brasil, poemas e outros textos inéditos. Niterói: Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2002. p. 83-120.
22
presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), Marcos da Veiga
Pereira. Ele afirma, no entanto, que pelas estimativas de mercado, nunca houve um
"crescimento exponencial nem consistente" por aqui. As vendas eletrônicas ainda
crescem, mas perdem fôlego. O Brasil tem um crescimento que já alcançou 30% há
alguns anos, depois ficou em 20%, caiu para 12%.9

Em relação aos e-books, e como a Editora Scriptum lida com esse produto, podemos
afirmar que ela ainda não adentrou neste mercado e o enxerga com bastante cautela, conforme
encontramos em Matarelli e Queiroz (2009):

Embora cientes da crescente presença dos meios eletrônicos no meio editorial, Betinho 10
e Mário Alex comentam ainda não ser a hora certa para a Scriptum se inserir neste nicho:
a editora ainda é pequena e não tem um corpo técnico especializado para se colocar no
meio virtual. Além disso, o foco da editora, no momento, continua sendo editar livros
impressos de qualidade, tendo sempre em vista, conforme Betinho, “o tempo do
possível”. (MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p. 63, nota de rodapé nossa).

Adentrando mais especificamente no mercado mineiro, que possui um histórico de


desenvolvimento tardio, podemos destacar a Livraria Itatiaia Editora, criada na década de 1950,
como a primeira editora belo-horizontina. Segundo Matarelli e Queiroz (2009), ela produzia em
torno de 70 títulos anualmente. A editora Itatiaia “destaca-se pela preocupação com o aspecto
estético da produção de livros”11. Ela permanece em atividade até hoje, em sua sede no bairro
Floresta.
A década de 1960 foi marcada pela criação do Suplemento Literário pelo então
governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro, cujo editor-chefe foi o escritor Murilo Rubião que
comandou, auxiliado por outras pessoas, as publicações. Ele é distribuído até hoje em vários
pontos da cidade, gratuitamente, sendo que a Scriptum é um dos locais onde se pode encontrar
essa publicação.

O Suplemento Literário do Diário Oficial de Minas Gerais foi criado em1966, num
estado que ainda não tinha expressão no que diz respeito à divulgação de seus escritores.
Quase todos os escritores nascidos em Minas trabalhavam no Rio ou em São Paulo –
polos culturais desde àquela época. As tentativas de implementar uma revista ou um

9
CUNHA, Joana. Mercado de livros digitais não decola no Brasil e estagna nos EUA e Europa. Folha de São Paulo,
09/04/2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/04/1759174-mercado-de-livros-digitais-
nao-decola-no-brasil-e-estagna-nos-eua-e-europa.shtml>. Acesso em: 03 jun 2017.
10
Betinho é o apelido de Welbert Belfort, sócio-proprietário e editor-chefe da Editora Scriptum. Ele é conhecido no
meio literário por esta alcunha e muitas pessoas até chegam a desconhecer o seu nome verdadeiro.
11
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T.A. Queiroz/USP, 1985.
23
suplemento literário não passavam da quinta edição. (MATARELLI; QUEIROZ, 2009,
p.30 passim)

Na década de 1990 o Suplemento Literário se desvinculou do Diário Oficial de Minas


Gerais e passou a ser uma publicação independente. Vários autores da Scriptum já foram
publicados no Suplemento Literário, inclusive vários artigos de crítica literária de autoria de
Mário Alex Rosa, um dos editores da Scriptum também.

O Suplemento Literário, a partir de 1994, tornou-se um periódico autônomo, tendo sido


desligado do Diário Oficial e passando a ser editado pela Secretaria de Estado de
Cultura de Minas Gerais, por intermédio da Superintendência de Publicações, e impresso
pela Imprensa Oficial do Estado. Passou a contar com a figura de um único editor (até
então o editor era o Secretário de Redação ou o Secretário da Comissão Editorial). O
primeiro editor dessa nova fase foi o poeta Carlos Ávila, que permaneceu à frente do
Suplemento por mais de três anos, de 1995 a 1998. Ao seu lado, atuou o Conselho
Editorial formado por Ângela Lago, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Ione Medeiros,
Márcio Sampaio e Wander Melo Miranda. (MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p.31
passim).

Ao final da década de 1960, em 1969, surgiu a Editora Lê, com o objetivo de publicar
livros didáticos. Mas a editora mudou o seu foco começando a publicar, a partir de 1975,
reedições de clássicos da literatura infantil, conforme explicam Matarelli e Queiroz (2009):

A partir de então, a editora apresentou considerável crescimento, chegando, em 2003, a


cerca de 500 títulos em catálogo, quando decidiu dedicar-se exclusivamente à publicação
de literatura infantil e juvenil e à distribuição, em conjunto com a Editora Compor, de
livros de sete editoras de outros estados, cuja linha editorial é semelhante.
(MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p. 57 passim).

A década de 1970 é marcada pelos conturbados tempos da ditadura militar no Brasil, que
também afetou as atividades editoriais em Minas Gerais e em Belo Horizonte.

Outro tema rico e carente de pesquisa e divulgação são as muitas publicações


independentes que surgiram em Belo Horizonte e em outras cidades do estado mineiro,
principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Livros, revistas, fanzines e outras formas de
publicação serviram de suporte para a efervescência criativa dos artistas dessa época. Os
festivais de Inverno – itinerantes – promovidos anualmente pela UFMG reuniam
estudantes, escritores, artistas e intelectuais que, muitas vezes, saíam da cidade na qual
era realizado o festival para investimentos coletivos em suas cidades, como criação de
ateliês, pontos de encontro que, muitas vezes, resultavam em interessantíssimas
publicações. (MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p.21 passim).

24
Essa situação nos permite amparar a afirmação que neste período houve um amplo
desenvolvimento da literatura marginal fomentando publicações independentes. Não eram
incomuns as perseguições e fechamentos de casas editoriais. A Vega, idealizada e criada por
Maria Mazzarelo, em Belo Horizonte, ansiava por difundir a literatura negra, e lutou para
sobreviver entre os anos de 1968 a 1978. Sempre envolvida com as questões políticas e sociais,
por pressões da ditadura militar, Mazza resolveu passar a Vega para pessoas que estavam
iniciando o PT na época, em 1978. Ela conseguiu uma bolsa de estudos e fez Mestrado em Paris.
Ela retornou em 1981 e criou a Mazza Edições, que vem atendendo aos seus anseios.

O desejo de divulgar a produção intelectual dos negros despertou em Maria Mazzarrello,


numa época em que ela se encontrava fora do Brasil, na Europa. Ela conta que nos anos
60 começou a trabalhar na área de edição de livros, através da experiência de pequenas,
mas importantes, editoras que existiram em Belo Horizonte. “Nesta época, quando
ajudava na Livraria e Editora do Estudante, recordo-me que Chico Buarque lançou o
‘Pedro Pedreiro’. Ficava na rua Tupis, nº 85, e foi fechada pela ditadura. Tempos duros”,
relata Maria Mazzarello. Após o fechamento da Livraria e Editora do Estudante, Mazza,
como é chamada normalmente por todos, se juntou a um grupo de pessoas ligadas à
Universidade Federal (de Minas Gerais), sendo que muitos tinham sofrido com os
rigores da ditadura. A nova proposta era abrir uma editora que veiculasse idéias novas,
trabalhasse com material didático, principalmente na área universitária. Assim surgiu a
editora Vega. “Vega é uma estrela em direção à qual o sistema solar caminha”, explica.
“Quem criou a logomarca da Veja foi um cidadão que na época a gente chamava de
Henriquinho, que tinha 18 anos, e que depois, Brasil afora, ficou conhecido como
Henfil. O primeiro livro dele, Hiroxima, meu humor, quem publicou foi a gente.”
Segundo Mazza, a Vega lutou para sobreviver por cerca de dez anos, até 1978: “sempre
inovando, contestando, com problemas com os militares, e por isso muito visada. Um
dos mentores da editora foi Edgar da Mata Machado (advogado, jurista e deputado), que
era pai de José Carlos da Mata Machado, morto pela ditadura militar. A gente tinha um
material muito bom, mas não conseguia vender, pois nossos livros se encontravam no
índex da censura do governo”, relembra Mazza.12

A Editora Miguilim começou como uma livraria no final da década de 1970, pelas mãos
de Maria Antoniete Antunes Cunha e Ana Maria Clark Peres, ambas ligadas ao exercício do
ensino de Literatura pela UFMG.

Idealizada por Maria Antonieta Antunes Cunha, atual presidente da Fundação Municipal
de Cultura de BH e antiga professora de Literatura da UFMG, e Ana Maria Clark Peres,
Doutora em Estudos Literários e atual professora de Literatura da UFMG, a Editora
Miguilim começou como uma livraria no fim da década de 1970, com o nome de

12
MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p. 20 - Disponível em: <
http://150.164.100.248/vivavoz/data1/arquivos/editorasmineirasv1-site.pdf >. Acesso em: 3 jun 2017.

25
Livraria da Criança. Surgia assim a primeira livraria exclusivamente infantil, cuja
proposta visava, mais do que o lucro com os livros, ser um espaço cultural para crianças.
Nesse espaço projetado, eram desenvolvidas atividades como clubinhos de leitura,
cursos de fotografia e cursos de artes plásticas. A Livraria da Criança durou um ano e
somente depois se tornou, de fato, a Editora Miguilim. Sugestão de Maria Antonieta e,
segundo Ana Clark, em entrevista aos alunos dos Estudos Temáticos de Edição, “era
muito interessante o nome, porque além de ser extraído de uma personagem do Rosa, era
um nome sonoro”. As responsáveis pela transformação da livraria em editora foram as
sócias Maria Antonieta, Ana Clark e Terezinha Alvarenga, sendo que a última é escritora
e atual editora da Miguilim, transformação que teve como intuito oferecer uma produção
literária de qualidade para as crianças. (MATARELLI; QUEIROZ, 2009, p. 48 passim)

Sebastião Nunes, criador da Editora Dubolso e posteriormente da Editora Dubolsinho,


atuando na cidade de Sabará, próxima a Belo Horizonte, é merecedor de destaque por Matarelli e
Queiroz (2009):

Nas décadas de 1970 e 1980, o então publicitário e escritor Sebastião Nunes foi uma
figura importante no meio editorial mineiro, com a criação do selo Dubolso. Os autores
confiavam ao escritor seus textos e pagavam pelas edições. Sebastião Nunes elaborou
várias edições de autores mineiros importantes no cenário literário. Atualmente, Tião
Nunes, Sebunes Nião ou Tião Nuvens – alguns dos heterônimos do editor – é
proprietário de uma editora que realiza publicações direcionadas ao público infantil e
juvenil:a Editora Dubolsinho, com sede na cidade de Sabará – MG. (MATARELLI;
QUEIROZ, 2009, p.22 passim)

A Editora Dubolsinho tem buscado fazer frente as dificuldades econômicas,


principalmente porque um de seus maiores compradores, o governo, restringiu suas compras
desde 2013.

A Dubolsinho vinha decolando como um avião. Mas, de repente, ela precisou parar”,
relata Nunes. Se em 2012 ela chegou vender mais de 100 mil exemplares para programas
do governo federal e de outros Estados brasileiros, além da Prefeitura de Belo Horizonte,
de 2013 em diante, conta Nunes, as remessas paralisaram. O que sustentou a gente
sempre foram as compras do governo, via programas, como o Plano Nacional Biblioteca
de Escolas, mas até o momento isso está suspenso. Nós temos um livro que foi
contemplado num edital de 2013, mas ainda não se avançou para outras etapas além da
divulgação do resultado”, conta o editor.13

13
SIQUARA, Carlos Andrei. Os passos da Dubolsinho. Disponível em:
<http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/os-passos-da-dubolsinho-1.1085470>. Acesso em: 21 maio
2017.
26
Durante a década de 1980 podemos citar a criação da Editora UFMG, mais
especificamente em 1985, com o objetivo de colocar em prática seu projeto: a difusão do
conhecimento científico desenvolvido nas mais diversas áreas de pesquisa da instituição e editar
obras de autores nacionais ou estrangeiros que tenham relevância para o meio acadêmico da
UFMG. 14
A editora já publicou em torno de 800 títulos e o seu catálogo contém 400 títulos. A
afirmação da excelência do trabalho se traduz na orgulhosa fala de sua diretora, Silvana Coser:
“Era voz corrente que hoje a Editora UFMG é, senão a melhor, uma das mais qualificadas
editoras universitárias do Brasil”15.
A década de 1990 e 2000 é o berço das livrarias-editoras: Scriptum, Crisálida e Quixote.
Todas nasceram a partir de livrarias de mesmo nome. Existe, paralelamente, o nascimento da
pequena casa editoral C/Arte, a partir de uma galeria de arte, com o objetivo de editar livros sobre
artistas plásticos e, claro, sobre arte, o que se concretiza a partir de 1997 16. A Scriptum iniciou
suas atividades em abril desse mesmo ano como livraria e começa a atuar como editora em
200317; a Crisálida, localizada no edifício Maleta, iniciou suas atividades de livraria e editora em
199918 e a Quixote, a mais recente delas, começa a atividade livreira em 2003, vindo a se tornar
editora em 201219. Essas livrarias têm em comum algumas características:

O desaparecimento das pequenas livrarias, em que o dono atua como funcionário ou


muito próximo dos clientes, à maneira de Oscar Nicolai, nos anos 1940, é tratado como
certo, já que esses comércios “parecem estar com os dias contados. Como a cordialidade
humana”20 No entanto, é esse o perfil da Scriptum, de “Betinho”, da Quixote, de
“Alencar” e da Crisálida, de “Oséias”. As três atuam também como editoras e, em menor
ou maior grau, como espaços de encontro, lançamentos de livros e outros eventos.
(RIBEIRO; GUIMARÃES, 2014, p. 8-9, nota de rodapé nossa)

14
MATARELLI; QUEIROZ (2009, p. 65 passim).
15
MATARELLI; QUEIROZ (2009, p. 67 passim).
16
MATARELLI; QUEIROZ (2009, p. 81 passim).
17
MATARELLI; QUEIROZ (2009, p. 81 passim).
18
RIBEIRO; GUIMARÃES (2014, p. 7).
19
RIBEIRO; GUIMARÃES (2014, p. 7).
20
(MACHADO, 2008, p. 20 apud RIBEIRO; GUIMARÃES, 2014, p. 8-9).
27
A respeito da data de criação da Editora Scriptum: a informação fornecida por Ribeiro e
Guimarães (2014, p. 7) não procede, talvez por uma coleta errônea de dados. Nosso estudo
detalhado e aprofundado sobre a Scriptum, que será apresentado no Capítulo 3, mostrará qual foi
a data correta do início de suas atividades editoriais.
A seguir veremos como é o funcionamento da cadeia do livro e como as pequenas
livrarias-editoras estão inseridas no contexto da produção, comercialização e distribuição do
produto como livro ou do livro como produto.

1.3 O processo de produção editorial e a cadeia de comercialização do livro

Na Carta aos Livreiros do Brasil21 — 1960 — Campos (2002) destacava os problemas do


processo de produção editorial em nosso país. Tais problemas parecem ter sido descritos na data
de ontem, por tratar-se de uma escrita e uma análise que, guardada as devidas proporções quando
comparamos a tecnologia antes e atualmente, aborda, sem meias palavras, e, também, com um
certo lirismo, todos os gargalos na cadeia da criação, produção e distribuição do livro, conforme
já citamos, com exceção dos que se relacionam com o redesenho do mercado diante das novas
tecnologias e do mundo digital. Em seu texto, ele afirma que:

A impressão geral é de que o livro, com todos os seus mágicos poderes, prima por ser
uma fonte de problemas para todos aqueles que a ele se devotam e por isso mesmo
precisam todos praticar esse devotamento ao livro como uma espécie de sacerdócio –
tanto o comerciante quanto o industrial, e aquele que escreve o livro, e aquele que o
compra e lê, e o próprio Estado a quem não pode passar em tangente um assunto de tanta
relevância na civilização moderna. (CAMPOS, 2002, p. 83).

Segue-se, então, uma análise sobre todos esses problemas e possíveis soluções que fazem
parte dessa intricada rede do processo produtivo. Simplificando, temos o autor, autores ou
organizadores que criam a matéria-prima, o original. O livro, tal como conhecemos nas
prateleiras, tal como o consumimos, sendo o produto da criação do autor, é produzido ou

21
BRAGANÇ; SANTOS, 2002, p. 83 – Publicado originalmente na Revista “Estudos Sociais” (C.D.U. 335.5 (05), v.
III, n. 9, outubro de 1960, p. 12-40.

28
coproduzido pela editora. Esta tem a missão de vender e repassar o estoque para as livrarias e
outros pontos de leitura. Para chegar a estes pontos, a livraria necessita de uma distribuidora que,
por sua vez, os entregue. Finalmente, em outros pontos de leitura e na livraria, o livro chegará às
mãos do leitor, que é a quem se destina todo esse trabalho.
Em Mercadores de Cultura — embora descreva um processo maior, onde, por exemplo,
aparece o elo do agente, o que ainda é um tanto quanto distante da realidade brasileira no que se
refere à realidade das pequenas editoras, por exemplo — o modelo americano lança luzes a
respeito de um contexto maior, que serve para descrever a nossa cadeia, no que concerne às
grandes editoras, e/ou serve como exemplo de como é o funcionamento pelas vias normalmente
conhecidas. Sobre isso, Thompson (2013) diz que

a cadeia editorial é tanto uma cadeia de suprimento quanto uma cadeia de valor. É uma
cadeia de suprimentos, pois fornece uma série de elos organizacionais por meio dos
quais um produto específico – o livro – é gradativamente produzido e transferido via
distribuidoras e livrarias para um usuário final que o adquire. (THOMPSON, 2013, p.
20)

Figura 1: Cadeia de suprimento do livro. Fonte: Thompson, John B. Mercadores de Cultura. Ed. UNESP, 2013, p.21

O autor cria o conteúdo e o fornece à editora; no campo de publicações comerciais, esse


processo é tipicamente mediado pelo agente, que atua como um filtro, selecionando
material e direcionando-o para as editoras adequadas. A editora adquire um pacote de
direitos do agente, e, em seguida, realiza uma série de funções – leitura, edição etc. –
antes de entregar o texto final ou o arquivo à gráfica, que imprime e encaderna os livros
e os entrega à distribuidora, cujo proprietário pode ser a própria editora ou terceiros. A
distribuidora armazena o estoque e atende a encomendas tanto de varejistas quanto de

29
atacadistas, que, por sua vez, vendem livros ou atendem encomendas de outros –
consumidores individuais, no caso de varejistas e outras instituições (como bibliotecas),
no caso de atacadistas. Os clientes da editora não são consumidores individuais nem
bibliotecas, mas instituições intermediárias na cadeia de suprimento – ou seja,
atacadistas e varejistas. Para a maioria dos leitores, o único ponto de contato que eles
têm com a cadeia de suprimento de livros é quando entram em uma livraria para folhear
ou comprar um livro, quando folheiam trechos de um livro on-line, ou quando retiram
um livro de uma biblioteca. Normalmente, eles não têm contato direto com as editoras e
sabem muito pouco sobre elas; seu interesse maior é no livro e no autor, não na editora.
(THOMPSON, 2013, p. 21 passim)

Campos (2002) inicia as análises das dificuldades de produção e distribuição do livro no


Brasil a partir da indústria, ou seja, aponta o sucateamento do parque gráfico e industrial
brasileiros naquela época. Agora, na era digital, nossos problemas em relação à tecnologia são
outros. Iniciaremos a respeito dos problemas do autor, citando-o da seguinte forma:

Data de poucos anos, certamente nem meio século, a tomada em conta dos interesses
econômicos do autor de livros, em nosso País, e até hoje restam remanescentes de uma
fase em que o intelectual brasileiro escrevia e publicava coisas para seu próprio deleite,
numa espécie de societé cerebral. Foi o desenvolvimento do Brasil, com sua lenta
marcha, que despertou a consciência dos homens das letras e chamou a atenção dos
autores para o caráter de profissão liberal a que tendia a sua atividade. (CAMPOS, 2002,
p. 83 passim)

A flexibilização das novas ferramentas de publicação e do novo ambiente editorial gerado


pelos avanços da internet nos permitem questionar qual será o papel dos editores no futuro.
“Considerando que a cadeia editorial não é rígida e que tarefas ou funções específicas podem ser
ofuscadas por mudanças econômicas e tecnológicas, que razão há para acreditarmos que o papel
do próprio publisher não possa se tornar redundante?” (THOMPSON, 2013, p. 24 passim) –
indagação esta que nos leva ao quadro abaixo que ilustra as principais funções de um editor, o
que, para Thompson (2013), representam atividades que agregam valor à editora.

30
Figura 2: Principais funções do publisher. Fonte: THOMPSON, John B. Mercadores de Cultura: o mercado
editorial no século XXI. São Paulo: Editora Unesp, 2013. p. 21

De acordo com Thompson (2013), a primeira criação de valor está na aquisição do


conteúdo e da construção do catálogo de uma editora:

a primeira função é a aquisição de conteúdo e a construção de um catálogo. Essa é, de


muitas maneiras, a função básica do publisher: adquirir e, de fato, ajudar a criar o
conteúdo que se transformará nos livros que compõem a carteira da editora. O publisher
atua não apenas como um filtro ou ‘fiscal’, mas, em muitos casos, desempenha papel
ativo ao criar ou idealizar um projeto, ou em perceber o potencial de algo e ajudar o
autor a levar isso à fruição. Alguns dos melhores publishers são aqueles que conseguem
ter boas ideias para livros e encontrar os autores certos para escrevê-los, ou que
conseguem transformar o que poderia ser ser uma ideia bastante incipiente na mente de
um autor em algo especial, ou que sejam simplesmente capazes de ver potencial onde
outros vêem apenas disparate. Há, aqui uma habilidade real, que envolve uma
combinação de criatividade intelectual e bom senso em marketing, e isso diferencia
editores e publishers notáveis dos comuns (THOMPSON, 2013, p. 25 passim)

Na sequência, temos a segunda função, relativa ao investimento financeiro e avaliação de


riscos. Esse é, sem dúvida, um dos maiores gargalos no elo de produção do livro no Brasil,
especialmente pelas pequenas editoras:

Além do mais, há o caráter eminentemente aleatório do sucesso ou fracasso de cada livro


editado, pois nem tem faltado exemplos de verdadeiros best-sellers estrangeiros, que,
traduzidos e editados no Brasil, ficaram mofando nas livrarias, nem, ao contrário, têm
sido poucos os livros lançados em tiragens ultracautelosas e que de repente se tornaram
inesperados estouros de venda avulsa (CAMPOS, 2002, p. 83)

Quanto à terceira e quarta funções que são desenvolvimento de conteúdo e controle de


qualidade, diz respeito ao trabalho de revisão e possíveis interferências a serem feitas no texto.
“Em alguns casos, o conteúdo fornecido por um autor está em excelentes condições e precisa de
muito pouco insumo do publisher, mas em muitas áreas do mundo editorial essa é a exceção mais
do que a regra.” (THOMPSON, 2013, p. 26 passim).
O gerenciamento e coordenação engloba as atividades da quinta função do editor, que se
desdobram em várias sub-atividades, tais como: orientar o trabalho de cada um dos envolvidos
em relação a prazos e determinações, desde a revisão, diagramação, design, impressão, pois cada
etapa recebe uma remuneração e cada etapa deve obedecer às especificações pré-determinadas,
31
tais como tamanho da tiragem, custo e preço dos exemplares. Sobre a sexta e última função, que
se refere a vendas e marketing, Thompson (2013) nos conta:

Juntei essas atividades em uma única função, embora elas sejam, na verdade, bastante
distintas. O marketing consiste de uma série de atividades visando informar e encorajar
clientes potenciais a comprar um livro que foi lançado. Tais atividades incluem a
elaboração de um catálogo, a remessa postal, a divulgação, a mala direta, o envio de
exemplares para a imprensa e, mais recententemente, vários tipos de marketing digital.”
(THOMPSON, 2013, p. 27 passim)

Ainda de acordo com esse autor essas funções, no Brasil, possuem outras denominações:

a maioria das editoras comerciais também tem um gerente de publicidade” e que “no
Brasil, em muitas editoras, no lugar de um ‘gerente de publicidade’ pode haver um
‘gerente de comunicação’ ou ‘assessor de imprensa’, que trabalham com a chamada
mídia espontânea, além de ações de marketing e outras no campo da comunicação
visando à promoção do livro. 22

A tarefa dos encarregados de vendas, seja gerente e/ou equipe de vendas é fazer com que
o livro chegue ao mercado, seja consumido. Para que isso se concretize é necessário realizar
várias atividades, tais como:

A tarefa (...) é visitar os principais clientes – que incluem redes de vendas de livros,
livrarias independentes, livrarias on-line, atacadistas e uma multiplicidade de varejistas
em geral, desde supermercados a grandes lojas varejistas – e informá-los dos livros que
serão lançados em breve, induzir encomendas de compras e administrar as relações entre
as editoras e seus principais clientes, com o objetivo de garantir que as livrarias
mantenham os livros em estoque, à disposição dos clientes (...).(THOMPSON, 2013, p.
27 passim)

Os preços de capa dos livros seguirão regras econômicas clássicas. Em um mercado onde
existe diferenciação entre os produtos, estes são chamados de “substitutos imperfeitos”, tendo
portanto, preços que podem diferenciá-los, pois os consumidores notam a diferença entre eles, em
termos de valor, ao contrário dos produtos “substitutos perfeitos”, onde nenhuma ou pouca
diferença é notada. Assim, na indústria do livro, são as editoras quem fixam os preços, pois elas
são capazes de oferecer produtos diferenciados e, assim, praticar diferentes faixas de preços, em
virtude do design, do acabamento, dos tipos de capas, número de páginas e até mesmo a área, o

22
Nota de rodapé da editora. p. 27.
32
que lhes confere um campo de manobra bem flexível, de acordo com cada projeto de edição ou
coleção de seu catálogo.
A respeito da composição do preço do livro no Brasil, Earp e Kornis (2005, p. 24)
apresentam o seguinte quadro sobre a divisão percentual do preço de capa:

Quadro 3 – Distribuição Percentual do Preço de Capa de um livro no Brasil. Fonte: EARP; KORNIS, 2005. A
economia da cadeia produtiva do livro. BNDES, Rio de Janeiro, 2005, p. 24.

Cada editor, protegido pela compra dos direitos autorais, desfruta de barreiras às
entradas intransponíveis que o transformam num monopolista capaz de fixar o preço
sobre cada um de seus títulos. E esse é o princípio básico da precificação: o editor fixa o
preço de capa e o revende com desconto para distribuidores e livrarias. Na média o preço
de capa de um livro divide-se percentualmente conforme os dados apresentados na
Tabela 2. (EARP; KORNIS, 2005, p. 24 passim)

Ainda de acordo com esses autores, há uma fórmula para se definir o preço de venda de
um livro. Deve-se somar os

custos de papel, gráfica, diagramação, composição, revisão, tradução e capa, dividi-los


pelo número de exemplares da tiragem pretendida e assim obter o custo do livro sem os
direitos autorais. Esse valor é multiplicado por cinco ou seis para se chegar ao preço de
capa. Sempre que aplicada essa fórmula, basta vender 40% da edição para pagar os
custos da editora. (EARP; KORNIS, 2005, p. 24)
A lógica da distribuição do percentual do preço de capa do livro é bastante cruel em
relação à remuneração do trabalho do autor no Brasil. Enquanto ele recebe, geralmente, apenas
10%, a título dos pagamentos dos direitos autorais, a editora e o distribuidor acabam recebendo
percentuais muito maiores. A questão da distribuição no Brasil, inclusive, carece de maiores
pesquisas, pois necessita de mais dados para que seja possível analisar essa composição de preço,

33
uma das principais razões de reclamações por parte dos leitores que pertencem às camadas menos
privilegiadas da nossa sociedade.

Um dos maiores editores do Brasil costuma dizer que ninguém deixa de comprar livro
por ser caro, quando gosta. Não deixa de esta uma verdade, pois, até certo ponto, o gosto
da leitura e amor aos livros sempre foram apanágio da elite social e econômica do País;
se é certo que aumentaram as tiragens dos livros brasileiros também é certo que não
aumentaram a ponto de ultrapassar de muito as possibilidades de consumo dessa minoria
privilegiada, a qual também cresceu em número. (CAMPOS, 2002, p. 104-105 passim)

Campos (2002) analisa a questão dos preços praticados no Brasil como um entrave ao
aumento do mercado consumidor, reconhecendo que, no entanto, vale aceitar a premissa de que,
“quem é afeito aos livros raras vezes deixará de comprá-los por questão de preço; mas também
acrescentaremos que melhores condições de preço permitiriam a aproximação de compradores e
apreciadores até agora afastados ou infensos” (p. 105 passim). Inclusive, ele chama a mercadoria
livro de “perigosa”. Sobre as diferenças, as vantagens e desvantagens entre as pequenas e as
grandes editoras, Thompson (2013) afirma que

enquanto as grandes editoras se beneficiam de uma economia de escala, as pequenas se


beneficiam do que poderíamos chamar de “economia de favores”, a qual opera de diferentes
maneiras. Uma delas é que pequenas editoras normalmente compartilham competências,
conhecimento e contatos. Elas se vêem como parte de uma vocação comum e uma missão
compartilhada. (THOMPSON, 2013, p. 171).

Geralmente, essa “economia de favores” resulta em uma cooperação entre pequenas


editoras ou mesmo na aquisição de serviços de freelancers. Esses serviços, muitas vezes, se
referem aos trabalhos gráficos, de design ou de revisão, que as pequenas editoras necessitam e
estão dispostas a pagar bem menos do que uma grande editora. Porém, daí, surge a oportunidade
de vários profissionais apresentarem seu talento e iniciarem a construção de sua carreira
tornando-se conhecidos. Sobre aceitar pagamentos irrisórios ou mesmo fazer serviços
gratuitamente, o que, a princípio, é visto como benéfico apenas para as pequenas editoras, é
explicado a seguir:

Por que os freelancers estão dispostos a aceitar muito menos das pequenas editoras
independentes? Alguns deles estão dispostos a trabalhar por menos (ou até mesmo de
graça) porque precisam do trabalho e da experiência e ainda não têm as relações
necessárias para conseguir serviços de freelancer com as grandes corporações.
(THOMPSON, 2013, p. 171).

34
As pequenas editoras, definitivamente, orbitam em uma estratosfera diferenciada, onde a
maioria remunera mal ou mesmo sobrevive da “economia de favores”. A situação da Editora
Scriptum não foge a esta constatação.

A maioria das pequenas editoras sobrevive remunerando mal sua equipe — todos os
empregados da Agone recebem o Smic (salário-mínimo) — ou deixando de pagar o
editor ou chefe de redação — é o caso da editora dos meus primeiros livros traduzidos
na França, La Fabrique. Essa situação evidentemente não é a ideal e não poder durar
para sempre. Mas isso significa também que o auxílio de que uma editora independente
necessita pode ser relativamente modesto.23

No Capítulo 2, apresentaremos o estudo de caso e analisaremos mais pormenores do


funcionamento da Scriptum.

23
SCHIFFRIN, André. O revide das pequenas editoras. In: LE MONDE DIPLOMATIQUE / BRASIL. Disponível em:
<http://diplomatique.org.br/o-revide-das-pequenas-editoras/>. Acesso em: 5 jun 2017.
35
CAPÍTULO 2 - ESTUDO DE CASO DA EDITORA SCRIPTUM

2.1 Análise das entrevistas

Os dados coletados nas entrevistas convergem para vários pontos em comum, sobretudo,
dos editores. Pelas respostas dadas foi possível perceber que há um grande alinhamento
ideológico, social e político entre os componentes do conselho editorial da Scriptum. O editor-
chefe, em alguns momentos (sobretudo nas respostas iniciais), reflete sobre a própria atividade
ao avaliar criticamente o comportamento dos mineiros, dizendo que existe um “estilo mineiro de
ser”. Embora seja uma observação subjetiva, é possível reconhecer que nesses poucos anos da
editora houve um avanço considerável tanto mercadológico quanto na publicação de autores cuja
qualidade literária vem se confirmando.24
Não se pretendeu fazer aqui um estudo aprofundado das obras das autoras lançadas pela
Scriptum, embora este seja um campo que mereça ser mais explorado por estudiosos de
Literatura. Pretendeu-se agregá-las ao estudo como peças de comprovação de que a atividade de
edição da Scriptum tem contribuído para a ampliação e inserção de novos autores na Literatura
Brasileira e para tentar traçar um perfil dos que são atendidos pela editora.
Queremos ressaltar que essa pesquisa não se vale de análises literárias sobre as autoras
aqui comentadas. O objetivo maior foi procurar reconhecer e agregá-las ao estudo como peças de
comprovação de que a atividade de edição da Scriptum tem contribuído para a ampliação e
inserção de novos autores na literatura brasileira.
Embora a nossa pesquisa se restrinja apenas em estudo de caso, as variáveis podem ser
revistas a qualquer momento, afinal, é uma editora ainda em atividade. Portanto, documentar a
existência e a importância da Editora Scriptum nos parece essencial para se pensar o mercado
editorial em Belo Horizonte, sobretudo, considerando que é uma editora que sempre apostou na

24
Existem diversos registros na mídia impressa e digital a respeito da recepção positiva de diversos livros da Editora
Scriptum.
36
publicação de poesia, gênero, muitas vezes, relegado ao segundo plano de muitas editoras, ou
mesmo que não faz parte do catálogo delas.
Hoje, é possível reconhecer que a Scriptum tem um pequeno catálogo, mas que tem
influenciado toda uma geração de escritores e poetas da cidade de Belo Horizonte, indo até
mesmo além das fronteiras da cidade.
A livraria-editora também segue a sua vocação de servir aos propósitos de outras áreas,
como a psicanálise, cujas publicações vêm contribuindo para o debate sobre a relação entre arte e
teorias psicanalíticas, sejam freudianas e lacanianas, por exemplo. Assim, pode-se afirmar que a
Scriptum vem colaborando culturalmente como difusora de arte, incentivando a leitura e a
circulação de novos autores.
Se comparado a outros estudos, podemos dizer que este foi um estudo de caso bastante
pontual, com resultados similares a outros que estudam pequenas editoras. Retifica algumas
informações, como por exemplo, a data de início das atividades da Scriptum que é de 2001 e não
2003, como alguns estudos anteriores apresentavam. Uma descoberta interessante é sobre uma
publicação, até então, desconhecida trazida à baila na entrevista de Lucena, que afirmou ter
produzido um livro artesanal chamado Decálogo, o último trabalho publicado em vida pelo poeta
Camilo Lara, falecido recentemente.
Outros resultados importantes são as informações dos editores a respeito dos critérios
utilizados para avaliação dos originais, pois não havia ainda registros a respeito disso. O estudo
do catálogo da Scriptum também é inédito.
As análises sobre os lançamentos das duas poetas escolhidas para representar os casos de
sucesso na área de poesia, demonstram a capacidade e a competência do processo de seleção de
novos talentos, sendo que os prêmios e o reconhecimento que estes recebem, trazem como
consequência a valorização do catálogo da editora. Acreditamos que este fato é passível de
suscitar o interesse e pesquisas posteriores mais aprofundadas na área de Literatura a respeito dos
autores lançados pela Scriptum.

37
2.2. A estrutura da Scriptum

A estrutura da Livraria e Editora Scriptum é composta por Welbert Belfort, editor-chefe e


proprietário fundador, mais conhecido como Betinho; um gerente geral, que até o presente é
representado por Silvano Moreira Lucena; uma pessoa que ocupa o lugar de controle de estoque,
que também realiza tarefas da expedição; os vendedores, geralmente três, pois dois trabalham na
loja da Fernandes Tourinho e um fica mais devotado a um ponto de venda que funciona na Escola
Brasileira de Psicanálise (EBP) e um auxiliar de serviços gerais, que cuida, além da limpeza e
organização, de atividades de suporte ao administrativo, ao estoque, à livraria e à editora. É
importante destacar que é esta estrutura que executa atividades tanto da livraria quanto da editora.

Figura 3 – Organograma da Livraria e Editora Scriptum. Fonte: Livraria e Editora Scriptum (autoria da
pesquisadora).

O conselho editorial é uma estrutura “fora da estrutura” do organograma, apenas ligado ao


Betinho, mas essencial ao processo. É composto por Mário Alex Rosa, Wagner Moreira, Rogério
Barbosa da Silva que analisam os originais da área de Literatura e Crítica Literária, além de
serem uma espécie de conselho consultivo para projetos editoriais; Lino de Albergaria e Júlio
Abreu analisam os originais infanto-juvenis e, finalmente, Júlio Castilho: responsável por analisar
os originais referentes à área da Psicanálise.
38
Os freelancers, que ocasionalmente estão ligados ao Betinho e/ou ao gerente geral, são
contratados conforme a demanda. Geralmente, são designers, tradutores, revisores, fotógrafos,
ilustradores e até vendedores, que, ocasionalmente, são chamados para auxiliar em caso de
necessidade ou sazonalidade, como é comum na época de Natal.
No caso da pesquisadora, esta ocupou um lugar que não existe no organograma da
empresa, o de estagiária. Este cargo não existia antes de sua chegada e nem foi preenchido depois
de sua saída. Pode-se classificá-la mais próxima de um freelancer, visto que prestou serviços
temporariamente.
Sobre o início da Scriptum, cabe citar a descrição de Thompson (2013) a respeito do
mercado das pequenas editoras:

Em geral, no início, elas dependem de uma injeção de caixa do(s) proprietário(s)-


fundador(es), em alguns casos suplementada com recursos da família e/ou amigos, o que
garante o capital de giro necessário. É comum a companhia ser subsidiada pelo trabalho
não remunerado – ou apenas parcialmente remunerado – do(s) proprietário(s)-
fundador(es). (THOMPSON, 2013, p. 172).

Betinho, neste ponto, conta com o apoio de Lu Aroeira, sua esposa e sócia, artista plástica
e incentivadora de seus projetos.
Podemos afirmar que o sócio-proprietário Betinho executa o trabalho de, pelo menos, três
a quatro funcionários, pois além da função de editor-chefe, na prática, ele realiza o trabalho de
marketing e vendas, algumas atividades de estoque, administrativo e financeiro. Seguindo essa
lógica, o gerente geral também exerce funções intrínsecas ao processo administrativo, financeiro,
de produção editorial, gerenciando também vendas, estoque e outros funcionários de vendas e/ou
os freelancers, quando estes são convocados.
Thompson (2013), assim como Schiffrin (2007), citado anteriormente, trata do árido
ambiente financeiro que rege a atmosfera das pequenas editoras:

Em geral, os custos são mantidos a um mínimo (...). Se há empregados, eles geralmente


trabalham muitas horas por salários modestos, e boa parte dos serviços de rotina é feito
por estagiários não remunerados. ‘Há um processo diário de economia’, comentou um
editor proprietário. ‘Em toda reunião que envolva dinheiro, fico à caça de cortar custos,

39
porque não há reserva e nem espaço suficientes para manobras’. 25 (THOMPSON, 2013,
p. 172)

A pesquisadora, no caso, teve a sorte de obter um contrato de estágio remunerado durante


o período de sua atuação, que foi de um ano, de março de 2015 a abril de 2016. O contrato
celebrado entre a Scriptum e o CEFET-MG poderia ser renovado por mais seis meses, mas
devido à política de contenção de custos, a dispensa se fez necessária. Porém, ao longo de todo o
ano de 2016 e até a presente data, a pesquisadora continuou atuando eventualmente na prestação
de serviços à editora e à livraria como freelancer, de acordo com a demanda.
Uma forte característica da Scriptum, tanto como livraria quanto editora, é a sua atuação
no nicho de mercado da poesia, desde o seu início.

A maioria das pequenas editoras tende a se voltar fortemente para o aspecto editorial e a
publicar livros pelos quais o(s) proprietário (s) – fundador (es) é (são) apaixonado (s).
Esse é um mundo no qual a paixão, compromisso e crenças exercem uma função crucial
– seja compromisso político, crenças contraculturais ou paixão por certos tipos de texto e
de literatura. (THOMPSON, 2013, p. 176 passim).

Se antes do período de consolidação de suas atividades, havia uma preocupação em


desvincular a Livraria Scriptum da Editora, agora, o trabalho parece ter amadurecido a tal ponto
que não há mais esse tipo de preocupação, pelo contrário, essa percepção pelo público até
colabora para os negócios, firmando a marca, com uma atividade sendo o desdobramento da
outra. Sobre o surgimento da Editora, Betinho nos conta que:

A Editora surge quando a Livraria já tinha quase 10 anos. A minha primeira intenção era
firmar a marca da Livraria, e, como trabalhei muitos anos com produção cultural, eu já
não achava que eu trazia nenhum componente significativo apoiando eventos, teatro,
música. E acontece que a Livraria já começa com uma revista chamada Orobó, do
Anelito de Oliveira, que na época era estudante e me propôs fazer o primeiro lançamento
da Livraria com a Orobó tendo o apoio da Scriptum.26

Realizar eventos é uma das características marcantes da Scriptum, desde o seu início,
perdurando até os dias atuais. Preferencialmente, aos sábados pela manhã. De vez em quando,

25
Este editor-proprietário é alguém citado por Thompson. Poderia ser uma fala idêntica às muitas falas de Betinho,
mas não é.
26
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa em 18/04/2017.
40
ocorre um ou outro evento de lançamento de livros à noite, durante a semana. Os eventos
adentram na parte da tarde, movimentando a cena cultural da Rua Fernandes Tourinho, na região
da Savassi. A filosofia de trabalho de Betinho se traduz em seu pensamento a respeito de seu
ofício:
A função da editora é viabilizar esse produto chamado livro ou esse livro chamado
produto. Precisava criar uma editora que fizesse o livro circular e mostrasse o que era
produzido aqui, em vez de ficar só reclamando que Belo Horizonte não estava no eixo
Rio-São Paulo. Pra mim essa questão é quase ideológica.

A respeito da criação do nome e da marca Scriptum, Betinho nos revelou em entrevista o


seguinte:
O nome da Editora e da Livraria não é mérito só de uma pessoa. Então, eu, particularmente,
tive sorte – mas também trabalho. Eu acho que eu tenho a qualidade de conseguir agregar.
Trabalhei com vários escritores, antes de vir morar em Belo Horizonte; trabalhei e comecei
a ter uma relação pessoal, afetiva, de amizade, com pessoas que percebiam a minha vontade
de aprender. O nome Scriptum, quando eu decido pelo latim, tem uma questão muito
particular. Quando eu tinha 14, 15 anos, meu primeiro trabalho, era a diplomacia da igreja,
eu servia café e tudo, mas aprendi a ler manuscrito do século XVIII, com 16 anos. E muitas
coisas que eram do processo de canonização do Dom Viçoso, eram em latim. Eu lia e esse
cônego datilografava na IBM elétrica, era o máximo de tecnologia, e comecei a aprender –
muitas vezes em forma de papagaio, de falar determinadas palavras em latim. E isso me
marcou, com 15, 16 anos, a sonoridade, e lógico que aí eu fui procurar alguns termos em
latim, sempre gostei de provérbios. Mas aí eu resolvi que o nome da livraria seria em latim,
mas daí não fui só eu quem resolvi. Eu tenho um amigo professor de latim, que era lá do
ICHS, onde eu estudei. O Ronald Polito, que já era ligado à literatura – ele também teve a
sua contribuição no nome – substantivo. Então fui para Ouro Preto, visitar a minha mãe e
passei uma tarde com um professor, Aldo, de latim, testando, estudando nomes em latim.
Até que chegamos à palavra, à sua concepção, de duas coisas, por ser de livraria e editora,
que é a escrita, mas tem outra concepção que é a obra de arte. Aí ela casa com um punhado
de outras coisas: a obra de arte; a obra de arte na sua função de criatividade; obra de arte na
sua função de pintura, coisa que eu trabalhei; a obra de arte na música, na música clássica.
Então, completava não só a literatura, mas completava outras funções que eu desenvolvi,
que eu aprendi, que eu trabalhei em outros momentos. Então eu achei a concepção muito
boa. 27

Quanto às linhas editoriais da Scriptum, Betinho as descreve como: coleção “Homenagem


à Poesia” e “Passeio Público”, compondo a linha referente à literatura. A Psicanálise é abrangida
por “Estudos Clínicos” e ele revela que tem um selo que está sendo montado nesta área também
que irá se chamar “Sala de Espera”; o infanto-juvenil, é representado pelo selo “Scriptum
Jovem”. E ele está trabalhando acompanhado de seu conselho editorial para o lançamento de
mais um selo de literatura que irá se chamar: “Alma de Gato”.
27
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa em 18/04/2017.
41
2.3 O catálogo da Scriptum

O catálogo é um dos ativos mais importantes de uma editora, conforme já citamos, faz
parte da cadeia de criação de valor essa aquisição de conteúdo. A tarefa de construção de um
catálogo é uma das tarefas do editor. No caso da editora Scriptum, essa tarefa é dividida com o
conselho editorial. A editora possui 133 títulos publicados. O catálogo iniciou-se com a
publicação de um livro de poesia, Trívio, de Ricardo Aleixo. “Trívio era o nome usado na Idade
Média para designar a confluência, nas artes liberais, de gramática, retórica e dialética. Foi
também o nome escolhido pelo mineiro Ricardo Aleixo para sua volta ao suporte livro, que marca
a estreia da editora Scriptum”28. Sobre esse início, cheio de incertezas e, ao mesmo tempo, tendo
feito uma aposta tão acertada, Betinho revela-nos:

(...) então chegou um momento em que uma pessoa quis editar, que eu já conhecia e falou
assim: “Olha, por que você não investe na sua marca? Por que que você não edita um
livro?” E achei interessante, morri de medo, tive insônias, muita insônia sobre isso, sobre o
que eu ia fazer, depois pensei: “Estou em Belo Horizonte e não posso me comportar como
as pessoas que eu critico, pelo receio, pelo medo. Se é pra aprender, arriscar, é melhor
arriscar e perder, e poder pelo menos dizer: eu tentei. Se eu tiver que fechar e tudo, eu fiz, eu
pelo menos dei a minha contribuição”. Eu sempre pensei: ‘Em que o homem pode contribuir
com o seu tempo?’ Isso está em todas as esferas. O comodismo, de passar a
responsabilidade para o outro, é uma coisa que eu não consigo, então eu resolvi: poesia! Aí
tem o Ronald, o Armando de Freitas...Foi com o Ricardo Aleixo, que eu entrei,
naturalmente, na poesia. Eu lembro de uma entrevista, da primeira entrevista (que eu não
queria dar), que era sobre o Ricardo Aleixo. O Regis perguntou: “O que você espera? Você
acha que cabe uma editora mais voltada para a poesia?” Foi lá no Palácio das Artes. Eu
falei: “Eu tenho que fazer pra ver se vale”. Eu já tinha percebido que haviam muitas pessoas
que produziam, que tinham leitura, que tinham bagagem. Por isso que eu comecei com a
poesia. E a poesia é o nosso carro-chefe até hoje – é ela que nos leva e levou a Scriptum a
cruzar as fronteiras de Belo Horizonte e de Minas.29

É justamente pelos registros que encontramos a respeito do lançamento do primeiro


livro que fazemos o questionamento em relação às datas, até então, informadas – não só em
entrevistas, quando Betinho as concede – mas às que a bibliografia consultada nos permite saber.

28
Fonte: MOURA, Rodrigo. Geração da poesia brasileira da década de 90 colhe novos frutos. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0506200114.htm>. Acesso em: 31 maio 2017.
29
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa em 18/04/2017.
42
A Ilustrada, da Folha de São Paulo, faz menção ao lançamento do livro de Ricardo Aleixo no dia
05 de junho de 2001; o livro de Fabrício Marques, Meu pequeno fim, data de 2002, ou seja, a
informação de que a Scriptum tenha iniciado suas atividades editoriais em 2003, é, no mínimo,
equivocada.
O catálogo de 133 títulos lançados nas mais diversas áreas, ou coleções, embora não seja
um número grande, é um número muito sólido em termos de qualidade e rigor. Uma boa parte
dos autores que passaram pelo crivo do conselho editorial da Scriptum, fez com que os mesmos
e, por conseguinte, a editora colecionasse prêmios, participações finalísticas em disputados
concursos e alcançasse destaque nacional e até internacional.
Iremos então analisar as características do catálogo da Scriptum. Na área de Literatura que
abrange os gêneros: poesia, conto, romance, crônica e ficção, foram publicados um total de 65
títulos, sendo assim distribuídos: 49 títulos de poesia, 05 de contos, 05 de ficção, 04 romances e
02 de crônicas, conforme é mostrado no quadro a seguir:

TITULO AUTOR ANO ASSUNTO

1 TRIVIO ALEIXO, RICARDO 2001 POESIA

2 DESAFINS ALVARENGA, EBER 2002 POESIA

3 MEU PEQUENO FIM MARQUES, FABRICIO 2002 POESIA

4 FUNDO BRANCO SOBRE FUNDO BRANCO MATTOS, SERGIO 2003 POESIA

5 MAQUINA ZERO ALEIXO, RICARDO 2003 POESIA

6 SOLO DE KALIMBA FERREIRA, KIKO 2003 POESIA

7 TRANSVERSOS MOREIRA, WAGNER 2003 POESIA

8 DIAS, OS MENEZES, ADRIANO 2004 POESIA

9 MULHERES ANJOS, CARLOS V 2005 POESIA

10 TRANSPLANTE E UM BAIAO DE DOIS, O CANCADO, JOSE M 2005 POESIA

11 PLAQUETE - AFFONSO AVILA AVILA, AFFONSO 2005 POESIA

12 PLAQUETE - ANDRE DICK DICK, ANDRE 2005 POESIA

13 PLAQUETE - ARMANDO FREITAS FILHO FILHO, ARMANDO 2005 POESIA

14 PLAQUETE - CARLITO AZEVEDO AZEVEDO, CARLIT 2005 POESIA

15 PLAQUETE - CARLOS AVILA AVILA, CARLOS 2005 POESIA

16 PLAQUETE - CLAUDIO NUNES NUNES, CLAUDIO 2005 POESIA

17 PLAQUETE - DUDA MACHADO MACHADO, DUDA 2005 POESIA

43
18 PLAQUETE - FABIANO CALIXTO CALIXTO, FABIAN 2005 POESIA

19 PLAQUETE - JULIO CASTANON GUIMARAES, JULI 2005 POESIA

20 PLAQUETE - MARIO ALEX ROSA ROSA, MARIO ALE 2005 POESIA

21 PLAQUETE - RONALD POLITO POLITO, RONALD 2005 POESIA

22 PLAQUETE - TARSO DE MELO MELO, TARSO DE 2005 POESIA

23 MOINHO BALBINO, EVALDO 2006 POESIA

24 MINIMA MEMORIA CUNHA, ALECIO 2007 POESIA

25 STET FERREIRA, KIKO 2007 POESIA

26 VIA EXPRESSA MENEZES, ADRIAN 2007 POESIA

CAMINHOS DA VIDA NA POESIA BRASILEIRA MIRANDA, JOSE AMÉRICO


27 - ORG. 2008 POESIA

28 ASSIM CANTARAM COM AMOR E RAIVA FROTA, JOSE A. 2009 POESIA

29 JANELA PRESA NO ANDAIME SANTOS, BOAVENT 2009 POESIA

30 MUSIKALIGRAFIA FERREIRA, KIKO 2009 POESIA

31 NO TAPA ARAUJO, LEONARD 2010 POESIA

32 PELADA POETICA II VARIOS 2010 POESIA

33 OCO DA PORCELANA, O CAMPOS, MICHELL 2012 POESIA

34 OURO PRETO ROSA, MARIO ALEX 2012 POESIA

35 QUARENTA POEMAS E DEZ PENNA, ALICIA D 2012 POESIA

36 COMPENDIOS DE AMOR KAIO CARMONA 2013 POESIA

37 PELADA POETICA - ANTOLOGIA VARIOS 2013 POESIA

38 SILENCIO ANTERIOR, O BEDRAN, JOSE NARCISO 2013 POESIA

39 SOANTE MACEDO, LUCIOLA 2013 POESIA

PELADA POETICA 2014: COPA DO MUNDO BELFORT, WELBER


40 NO BRASIL 2014 POESIA

41 VIDA SUBMARINA, A MARQUES, ANA MARTINS 2014 POESIA

42 AO ABRIGO POLITO, RONALD 2015 POESIA

NEVES, SIMONE DE
43 CORPOS EM MARCHA ANDRADE 2015 POESIA

44 JOGO DAS HORAS ABREU, JULIO 2015 POESIA

45 SOLOS MOREIRA, WAGNER 2015 POESIA

46 VAGA-LUMES DESAPARECEM, OS BEDRAN, JOSE NARCISO 2015 POESIA

47 XADREZ RIBEIRO, ANA ELISA 2015 POESIA

48 TEATRO DAS SOMBRAS CAMPOS, ÂNGELA VIEIRA 2016 POESIA

44
49 BRECHAS TEIXEIRA, MARIA BEATRIZ 2016 POESIA
Quadro 4 – Títulos editados na área de Literatura – Gênero: Poesia - Fonte: Scriptum.

No ano de 2008, Welbert Belfort e Mário Alex Rosa, concederam uma entrevista para os
alunos da disciplina “Estudos Temáticos de Edição: o Impresso e os Meios Eletrônicos”,
ministrada pela professora Sônia Queiroz, na Faculdade de Letras da UFMG. Essa entrevista
serviu de subsídio para um curto capítulo intitulado: “Editora Scriptum: a poesia em posição de
destaque”, do livro Editoras Mineiras – Panorama Histórico. O artigo se inicia com a seguinte
frase:

Uma coisa é você editar Machado de Assis, outra coisa é você editar [os poetas
contemporâneos] Adriano Menezes, Kiko Ferreira, Carlos Brito... A Scriptum acredita
que vale a pena editar autores vivos: poetas, escritores...Arriscar em alguns nomes pode
dar certo.” Esta proposta resume a política editorial da Scriptum. 30

Esse trabalho de publicar novos talentos, apostar em autores “vivos”, estreantes, além de
ser apontado como uma das características editoriais da Scriptum, também é um dos motes do
nosso estudo. Essas empreitadas bem-sucedidas só foram possíveis porque existe um conselho
editorial que se dedica muito, junto ao Betinho, em relação à descoberta e investimento em textos
que apresentem uma qualidade literária que atenda aos altos parâmetros dos pareceristas.
Consequentemente, segue-se todo um cuidado no trabalho de lançamento e de fazer os livros
chegarem aos críticos literários e veículos formadores de opinião. Ana Martins Marques, uma das
autoras que analisaremos como representante dos casos bem-sucedidos da Scriptum, afirma:

Quando você edita um livro por uma pequena editora, acaba tendo que fazer o processo
de distribuição um pouco por conta própria. O pessoal da Scriptum compensa as
dificuldades de distribuição, que todas as pequenas editoras enfrentam, com uma rede
grande de amigos e pessoas interessadas em literatura. Dessa maneira, segundo ouvi
dizer pelas mãos do crítico Davi Arrigucci Jr., meu livro acabou chegando a uma editora
da Companhia das Letras, que me convidou para integrar a coleção de poesia
contemporânea da editora.31

30
MATARELLI; QUEIROZ (2009, p. 61)
31
PEIXOTO, Mariana. Editora Scriptum, de BH, se destaca pelo lançamento de jovens autores. Portal UAI, 2013.
Disponível em: <http://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2013/12/06/noticia-e-mais,149248/editora-scriptum-de-
bh-se-destaca-pelo-lancamento-de-jovens-autores.shtml>. Acesso 5 jun 2017.
45
Quando analisamos o catálogo podemos verificar que este possui vários nomes
representativos da Literatura e outros que já não estão mais tão “vivos”. Assim, poetas como
Alécio Cunha e José Maria Cançado, por exemplo, já faleceram, mas deixaram seu legado junto
à Scriptum e outras editoras. É interessante pensar na questão de que todos nós um dia iremos
também morrer, mas Fabrício Marques, Kiko Ferreira, Ricardo Aleixo, Adriano Menezes, Carlos
Avila, Armando Freitas Filho, Ronald Polito, Kaio Carmona, Ana Elisa Ribeiro, Mário Alex Rosa
— apenas para citar alguns dos poetas do catálogo — são representantes ainda vivos que gozam
em vida do reconhecimento pela sua obra trazendo, com isso, repercussão e publicidade para a
Scriptum.
Os membros do conselho editorial também fazem parte do catálogo da Scriptum. O
primeiro parceiro em edição de Betinho, foi Ricardo Aleixo, que é apontado como o primeiro que
ocupou a cadeira do conselho editorial da Scriptum, por pouco tempo, e, como já dissemos, com
Trívio, em 2011, marcou a entrada da Scriptum no mercado editorial. Em seguida, Aleixo
publicou Máquina Zero, de 2003, ano em que se despediu da Scriptum. Wagner Moreira começou
seu trabalho como parecerista da Scriptum logo após a saída de Aleixo e editou Transversos, em
2003, e, recentemente, Solos, em 2015 pelo selo da editora. Mário Alex Rosa passou a integrar o
conselho a partir de 2005. Ele também figura no catálogo da Scriptum com Ouro Preto, de 2012.
Rogério Barbosa, o terceiro parecerista que também é autor, organizou e lançou em conjunto com
Mário Alex Rosa e Wagner Moreira o livro Escritos sobre poesia, de teoria e Crítica Literária, em
2011. Além disso, eles participaram das coletâneas de poesia da Scriptum, as Peladas Poéticas.
Podemos citar que Rosa foi semifinalista do prêmio Portugal Telecom 2013, com o livro Ouro
Preto.
Lino de Albergaria e Júlio Abreu, que fazem parte do conselho editorial, também possuem
títulos pela Scriptum. Sobre essa questão de que seus editores também publicaram pelo seu selo,
Betinho sente-se tranquilo em relação a isso.

A Scriptum não é uma editora para atender ‘amigos’, nós não editamos para ‘amigos’.
Pode até se tornar um amigo depois, pode ser até amigo antes, mas não é assim. Eu não
consigo ter a concepção de montar uma editora para atender o desejo dos amigos. E nem
o meu próprio desejo. Ela tem que ser uma construção em conjunto com as pessoas que
estão ao meu lado, que eu confio, que têm capacidade. Essas pessoas por acaso, além de
serem teóricos, são pessoas que estão na parte da criação. Então é lógico que é forte essa
parte da poesia, aí é claro que temos outras áreas, a psicanálise, um corpo teórico e um

46
corpo que está na invenção, na produção editorial, eles estão escrevendo, eles estão
produzindo. E isso facilita muito. 32

Quando foram questionados se eles prestam serviços de pareceristas para outras editoras,
tanto Mário Alex Rosa quanto Wagner Moreira disseram que não, embora Rosa admita ser
parecerista de revistas acadêmicas e Moreira afirme que ele sempre recebe textos para serem
avaliados de outras pessoas. Eles também se sentem bem confortáveis para falarem de sua relação
editor-autor. Ao responder como é esse processo, Moreira nos relata que:

O primeiro livro que publiquei pela Scriptum foi com a editoria do Betinho e do Aleixo.
Como eu já havia publicado dois livros de forma autoral independente, ganhei a
oportunidade de interferir bastante no projeto gráfico, o que resultou em um livro que me
agradou e pelo qual tenho muito carinho. Anos mais tarde, vim a publicar um segundo
livro pela Editora. Este, sim, já como editor atuante. Quanto a isso, gostaria de esclarecer
que os editores com os quais trabalho são, também, escritores que o próprio Betinho
reconhece como pertencentes ao imaginário de publicação da Editora. Para além disso,
acredito que nenhum de nós proporia um livro que não obedecesse aos critérios
editoriais praticados pela Scriptum. E, qualquer um de nós poderia opinar contra a
publicação de um colega editor. Geralmente, ficamos sabendo dos projetos dos colegas e
fazemos as leituras respectivas, como sempre. No geral, nos abstemos de produzir um
parecer se a compreensão for a de se publicar o original. Caso contrário, seguem-se as
normas produzidas por nós mesmos. Como recebi o apoio, pessoalmente, do Betinho, do
Rogério e do Mário para concretizar a publicação, dei continuidade ao processo. Creio
que as conversas in loco substituíram o parecer, o que neste caso, seria algo burocrático
e redundante. A não ser que se julgasse a não procedência da publicação. Isso ocorreu
quatro vezes, pelo que me lembro, na Scriptum, com o Aleixo, com o Mário e comigo
em livros de poesia e em um livro de teoria, com o Rogério e eu como organizadores. 33

Mario Alex Rosa conta que a sua publicação pela Scriptum partiu de um convite da
própria editora. Em suas palavras: “Sou autor da casa quase por acaso, pois não apresentei
nenhum livro para a editora Scriptum, como também para outras. Todas partiram de convite dos
editores.”34
Apesar do pouco tempo de existência da Editora Scriptum e da dificuldade ainda
presente de se consolidar o nome independentemente da livraria, Betinho e Mário Alex
alegram-se com os frutos que vêm colhendo desde o início desta empreitada: embora
tenham lançado somente 20 títulos até a presente data, vários poetas, tanto de Minas
Gerais quanto de outros estados, já vêm procurando a editora para publicar seus livros.
Digno de nota é o caso do poeta e crítico literário mineiro José Maria Cançado (1952 –
2006), que já tendo obras de sua autoria publicadas por grandes editoras, como a Globo e
a Editora UFMG, escolheu a Scriptum para a publicação de seu livro O transplante é um

32
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa em 18/04/2017.
33
MOREIRA, Wagner – Informações coletadas no questionário aplicado para esta pesquisa.
34
ROSA, Mário Alex – Informações coletadas no questionário aplicado para esta pesquisa.
47
baião de dois, em 2004. Outra feliz surpresa para os editores foi a indicação de três de
suas publicações para o prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira. 35

TITULO AUTOR EDITORA ANO ASSUNTO

CADAVER RI DOS SEUS MELLO, CARLOS D


1 DESPOJOS, O SCRIPTUM 2007 CONTOS

APESAR DO TEMPO... MENDES, NANCY


2 MARIA SCRIPTUM 2008 ROMANCE

MINHAS CONDOLENCIAS A MURTA, EDUARDO


3 SENHORA VERA SCRIPTUM 2010 CONTOS

4 DEVENIR, O TREVISAN, CIRO SCRIPTUM 2011 FICÇÃO

5 EM NOME DO FILHO ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 2012 FICÇÃO

6 ESTACAO DAS CHUVAS, A ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 2012 FICÇÃO

7 CAO, O KOTILEVSKY, VLA SCRIPTUM 2013 FICÇÃO

8 LAMPEJOS FREITAS, NAIDER SCRIPTUM 2013 CONTOS

9 ANTITERAPIAS FUX, JACQUES SCRIPTUM 2014 FICÇÃO

MACIEL, MARIA
10 VIDA AO REDOR, A ESTHER SCRIPTUM 2014 CRÔNICAS

11 VIDA SUSPENSA, A CAMARGO, FABIO SCRIPTUM 2014 CONTOS

12 31 DIAS, OS ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 2015 ROMANCE

13 BAILARINO HOLANDES, UM ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 2015 ROMANCE

14 BORBOLETAS EROTICAS MACHADO, ANGELO SCRIPTUM 2015 CRÔNICAS

15 CANTO DOS AIMORÉS, O SIMÕES, SIMONE SCRIPTUM 2016 ROMANCE

SOBRE VOO OU A LITERATURA


NASCE COM A MORTE DE UM LOUBACK, LÉO
16 PÁSSARO KILDARE SCRIPTUM 2016 CONTOS
Quadro 5 – Títulos editados na área de Literatura – Gêneros: Romance, Crônicas e Ficção - Fonte: Scriptum.

Não só as apostas em poesia deram certo, mas também os autores de contos, ficção e
crônicas levaram a Scriptum ao reconhecimento nacional ao catapultar as carreiras dos, até então,
autores desconhecidos Jacques Fux e Carlos de Brito e Mello. A autora Maria Ester Maciel

35
MATARELLI e QUEIROZ (2009, p. 62)
48
também foi semi-finalista do Prêmio Portugal Telecom, que se transformou no Prêmio Oceanos,
em 2015, com o seu A vida ao redor.

Outro nome hoje editado pela Cia. das Letras, Carlos de Brito e Mello (vencedor do prêmio
Jovem Escritor Mineiro e finalista do São Paulo de Literatura, Portugal Telecom e Jabuti) fez
sua estreia na Scriptum. Depois da resposta de uma grande editora que apontou a dificuldade de
lançar um livro de contos de autor estreante, ele teve retorno positivo da Scriptum para a
publicação de O cadáver ri dos seus despojos (2007). Ana e Carlos, antes de estrear na
literatura, eram frequentadores (hoje ainda são) da livraria. Caso semelhante ao de Jacques Fux,
vencedor, na última semana, na categoria autor estreante do Prêmio São Paulo de Literatura
com menos de 40 anos, com Antiterapias.36

TITULO AUTOR EDITORA ANO ASSUNTO

ORG. BARBOSA,
ROGÉRIO;
TEORIA E CRÍTICA
1 ESCRITOS SOBRE POESIA ROSA,MARIO SCRIPTUM 2011
LITERÁRIA
ALEX; MOREIRA,
WAGNER

MARQUES, TEORIA E CRÍTICA


2 CIDADE SE INVENTA, UMA FABRICIO SCRIPTUM 2015 LITERÁRIA

BELUZIO, TEORIA E CRÍTICA


3 LIRA DE DUAS CORDAS, UMA RAFAEL FAVA SCRIPTUM 2015 LITERÁRIA
Quadro 6 – Títulos editados na área de Teoria e Crítica Literária – Fonte Scriptum

Rafael Fava Belúzio teve o seu Uma lira de duas cordas incluído este ano no processo
seletivo de Mestrado e Doutorado da Faculdade da UFRJ. Ano passado, ele também foi adotado
como bibliografia na UFPB, pelo crítico e professor Amador Ribeiro Neto. Belúzio37 também nos
informou que seu livro tem sido usado em várias outras faculdades, como o CEFET, UEMG e
UFRJ. Outros livros de literatura do catálogo também já foram ou têm sido, recorrentemente,
adotados em escolas e faculdades, como A Vida Submarina, de Ana Martins Marques. O livro
Uma Cidade se Inventa – Belo Horizonte na Visão de seus Escritores, de Fabrício Marques foi
finalista do Prêmio Jabuti, no ano de 2016, categoria Reportagem e Documentário, e foi finalista
no Prêmio Rio de Literatura no mesmo ano.

TITULO AUTOR EDITORA ANO ASSUNTO

36
PEIXOTO, Mariana. Editora Scriptum, de BH, se destaca pelo lançamento de jovens autores. Portal UAI, 2013.
Disponível em: <http://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2013/12/06/noticia-e-mais,149248/editora-scriptum-de-
bh-se-destaca-pelo-lancamento-de-jovens-autores.shtml >. Acesso em: 5 jun 2017.
37
Rafael Belúzio Fava forneceu estas informações via Facebook.
49
1 SOBRE EROS KANGUSSU, IMACU SCRIPTUM 2007 FILOSOFIA

2 INCLUSAO E SINGULARIDADE - UM CONVITE AOS PROFESSO SENRA, ANA HELO SCRIPTUM 2008 PEDAGOGIA

3 QUEDA, A NAHAS JR., SCRIPTUM 2015 HISTÓRIA


ANTONIO

Quadro 7 – Títulos editados nas áreas de Filosofia, Pedagogia e História – Fonte: Scriptum.
A Scriptum não possui muitos títulos publicados na área de Ciências Humanas e Sociais,
como Filosofia, Pedagogia e História, mas como Betinho nos disse na entrevista, este é um nicho
no qual ele pretende ainda aumentar as publicações da Scriptum. Moreira também afirma que esta
coleção anda um pouco “parada” no momento.

TITULO AUTOR ANO ASSUNTO

1 CORPO EM CONTEXTO FORNACIARI, CHR 2014 ARTES

VOLÚPIA E SENSIBILIDADE: ESCRITOS SOBRE OBRAS DE


2 ARTE CAVALCANTI, JARDEL DIAS 2017 ARTES; ENSAIOS

3 AUTOCIOGRAFIAS ASSUNCAO, TEODORO 2006 ENSAIOS

4 ESPERANCA CRITICA, A GUIMARAES, JUAREZ 2007 ENSAIOS

OLHO CLINICO - ENSAIOS E ESTUDOS SOBRE ARTE E PSIC ROCHA, GUILHERM


5 2008 ENSAIOS

6 TEXTUALIDADE LLANSOL MAIA, ELISA ARR 2012 ENSAIOS


Quadro 8 – Títulos editados na área de Artes e Ensaios – Fonte: Scriptum.

A área de Artes e Ensaios se mostra um tanto quanto promissora, visto que, em 2016,
Betinho se voltou para o mercado de arte, buscando diversificar, aproveitando o espaço da
livraria para expor e vender pinturas. Talvez, a Scriptum Galeria de Arte38 possa impulsionar
publicações também.

TITULO AUTOR EDITORA ANO ASSUNTO

1 INDO AO FUTURO PARA ENTENDER AS MAES MUNIZ, BARBARA SCRIPTUM 2013 LITERATURA INFANTIL

PONTES,
2 7 CONCHAS SETE CORES SCRIPTUM 2014 LITERATURA INFANTIL
HILDEBRANDO

Quadro 9 – Títulos editados na área de Literatura Infantil – Fonte: Scriptum.

38
O endereço eletrônico da Scriptum Galeria de Arte é: <https://www.facebook.com/scriptumgaleriadearte/>.

50
Embora os títulos editados na área de Literatura Infantil tenham um design primoroso e
qualidade impecável, a Scriptum Jovem é um selo que não decolou. Talvez porque já existam
outras editoras especializadas e que explorem este nicho na capital, verifica-se que não houve um
investimento substancial. A recepção de originais nesta área é muito pouca ou quase nenhuma.
TITULO AUTOR ANO ASSUNTO

1 EFEITOS TERAPEUTICOS RAPIDOS EM PSICANALISE - CONV MILLER, JACQUES 2008 PSICANÁLISE

2 ESTUDOS LACANIANOS VOL1 N1 - ALL STAR NA CIVILIZAC MILNER, JEAN-CL 2008 PSICANÁLISE

3 ESTUDOS LACANIANOS VOL1 N2 CLERAMBAULT; LA 2008 PSICANÁLISE

4 CURINGA 28 - SINTOMA E LACO SOCIAL VARIOS 2009 PSICANÁLISE

5 CURINGA 29 - DEPRESSAO E BIPOLARIDADE VARIOS 2009 PSICANÁLISE

6 ESTUDOS LACANIANOS VOL2 N3 - BIBLIOFILIA CONTRA BI VARIOS 2009 PSICANÁLISE

7 ESTUDOS LACANIANOS VOL2 N4 - DO SIGNO AO TRACO VARIOS 2009 PSICANÁLISE

8 CURINGA 30 - DOR DE EXISTIR E ALEGRIA DE VIVER VARIOS 2010 PSICANÁLISE

9 CURINGA 31 - O ANALISTA ANALISANTE VARIOS 2010 PSICANÁLISE

10 ENSAIOS DE PSICANALISE E SAUDE MENTAL BARRETO, FRANCI 2010 PSICANÁLISE

11 ESTUDOS LACANIANOS VOL.3 N6 & VOL.4 N/7 - PSICANAL VARIOS 2010 PSICANÁLISE

12 ESTUDOS LACANIANOS VOL3 N5 - DO TRACO AO CONTINGEN VARIOS 2010 PSICANÁLISE

13 MATRIARCADO, ANTROPOFAGIA & PSICANALISE CASTRO, SERGIO 2010 PSICANÁLISE

14 METODOLOGIA EM ATO TEIXEIRA, ANTON 2010 PSICANÁLISE

15 TODO MUNDO DELIRA LAIA, SERGIO & 2010 PSICANÁLISE

16 LOUCURAS DISCRETAS: UM SEMINARIO SOBRE AS CHAMADAS BRODSKY, GRACIE 2010 PSICANÁLISE

17 MANUAL DE CARTEIS ROCHA, ALESSAND 2010 PSICANÁLISE

18 CURINGA 32 - CONFINS DO SIMBOLICO VARIOS 2011 PSICANÁLISE

19 CURINGA 33 - COMO SE ANALISA HOJE LAIA, SERGIO 2011 PSICANÁLISE

20 FERNANDO PESSOA E JACQUES LACAN: CONSTELACOES, LET ROSA, MARCIA 2011 PSICANÁLISE

21 HOMEM DOS LOBOS... COM LACAN, O FIGUEIRO, ANA M 2011 PSICANÁLISE

22 LOUCURAS, SINTOMAS E FANTASIAS NA VIDA COTIDIANA LAURENT, ERIC 2011 PSICANÁLISE

23 PATU: UMA MULHER ABISMADA HOLCK, ANA LUCIA 2011 PSICANÁLISE

24 PSICANALISE CASO ACASO LIMA, CELSO REN 2011 PSICANÁLISE

25 SCILICET - A ORDEM SIMBOLICA NO SECULO XXI VARIOS 2011 PSICANÁLISE

51
26 AUTISMO(S) E ATUALIDADE: UMA LEITURA LACANIANA MURTA, ALBERTO; 2012 PSICANÁLISE

27 CURINGA 34 - INSISTENCIA DA PULSAO VARIOS 2012 PSICANÁLISE

28 CURINGA 35 - PSICANALISE, POLITICA E GOZO VARIOS 2012 PSICANÁLISE

29 FEMININO QUE ACONTECE NO CORPO, O - A PRATICA DA P ORG. CALDAS, HE 2012 PSICANÁLISE

30 FEMININO UM CONJUNTO ABERTO AO INFINITO BESSA, GRACIELA 2012 PSICANÁLISE

31 FRACASSO ESCOLAR E A FAMILIA, O MARGARET PIRES 2012 PSICANÁLISE

32 MULHERES E SEUS NOMES, AS - LACAN E O FEMININO FUENTES, MARIA 2012 PSICANÁLISE

33 NOVAS CONFERENCIAS VIGANO, CARLO 2012 PSICANÁLISE

34 PSICOSE ORDINARIA, A - A CONVENCAO DE ANTIBES JACQUES-ALAIN M 2012 PSICANÁLISE

35 TODO O PAO DO MUNDO CLERQ, FABIOLA 2012 PSICANÁLISE

36 PSICANALISE E A ESCOLHA DAS MULHERES, A LAURENT, ERIC 2012 PSICANÁLISE

37 AUTISMO HOJE E SEUS MAL-ENTENDIDOS, O MACHADO, ONDINA 2013 PSICANÁLISE

38 COMPREENDER FREUD - GUIA ILUSTRADO CASTANET, HERVE 2013 PSICANÁLISE

39 CRIANCAS FALAM! E TEM O QUE DIZER - EXPERIENCIAS D MILLER, JUDITH; 2013 PSICANÁLISE

40 CURINGA 36 - CIENCIA, CORPO & REAL VARIOS 2013 PSICANÁLISE

41 CURINGA 37 - PSICANALISE E CIENCIA VARIOS 2013 PSICANÁLISE

42 VIOLENCIA: SINTOMA SOCIAL DA EPOCA MACHADO, ONDINA 2013 PSICANÁLISE

43 PSICANALISE DO HIPERATIVO E DO DESATENTO, A.. COM SANTIAGO, ANA L 2013 PSICANÁLISE

44 CURINGA 38 - DESTINOS DO TRAUMA VILELA, YOLANDA 2014 PSICANÁLISE

45 DOR MORAL DA MELANCOLIA, A FERREIRA, MARIA 2014 PSICANÁLISE

46 JANELA DA ESCUTA, A - RELATO CUNHA, CRISTIAN 2014 PSICANÁLISE

47 PASSEMA - TESTEMUNHOS DE UM FINAL DE ANALISE CAMPOS, SERGIO 2014 PSICANÁLISE

48 PSICOSES NA INFANCIA, AS: O CORPO SEM A AJUDA DE BARROSO, SUZANA 2014 PSICANÁLISE

49 REAL PARA O SECULO XXI, UM MACHADO, ONDINA 2014 PSICANÁLISE

50 TRATAMENTO POSSIVEL DAS TOXICOMANIAS... COM LACAN MEZENCIO, MARCI 2014 PSICANÁLISE

51 ASSISTENCIA SOCIAL PUBLICA NA INTERFACE ENTRE.., A CUNHA, CRISTIANE 2015 PSICANÁLISE

52 QUESTAO DO PAI E O ATO INFRACIONAL, A NOGUEIRA, CRSTINA 2015 PSICANÁLISE

53 VIOLENCIA, TERRITORIO, FAMILIA E ADOLESCENCIA: CON GUERRA, ANDREA; 2015 PSICANÁLISE

54 PSICANÁLISE E LINGUÍSTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS VIANNA, MARIA DA GLÓRIA 2016 PSICANÁLISE


Quadro 10 – Títulos e revistas editados na área de Psicanálise – Fonte: Scriptum.

52
Se a Scriptum tem a Literatura como seu carro-chefe, a Psicanálise representa sua segunda
grande área de especialidade. Podemos destacar duas publicações que deram destaque à Scriptum
em 2012: A psicose ordinária, de Jacques-Alain Miller, e A psicanálise e a escolha das mulheres,
de Éric Laurent. A editora tornou-se referência não só em Belo Horizonte, mas também no Brasil,
tanto pelos títulos que publica, quanto pelos títulos que importa e disponibiliza em seu acervo. É
uma área a que Betinho dedica-se com muito zelo, possuindo até um espaço para venda na EBP
em Belo Horizonte. Por algum tempo, ele editou em parceria com a EBP a Revista Curinga. Ele
sempre está presente nos principais eventos desta área e recebe pedidos para remeter exemplares
para clientes e eventos fora de Minas Gerais, atendendo demandas de outros estados.
No quadro a seguir, é possível verificar o número de Títulos por área e seus percentuais em
relação ao total publicado de 2001 a 2016.

Áreas Nº Títulos (%)

Literatura 65 49%

Psicanálise 54 41%

Infantil 2 2%

Artes e ensaios 6 5%

Teoria e Crítica Literária 3 2%

Filosofia, Pedagogia e História 3 2%

Total 133 100%


Quadro 11 – Número de títulos por área e percentuais em relação ao total publicado de 2001 a 2016. Fonte:
Scriptum.

Gráfico de Títulos Publicados por Área em percentuais de 2001 a 2017

53
Figura 4 – Gráfico de títulos publicados por área de 2001 a 2017 em percentuais. Fonte: Scriptum.

Os percentuais de títulos publicados por área falam por si. O foco do trabalho de edição
têm sido as áreas de Literatura e Psicanálise, nas quais a editora têm criado e construído uma
tradição e uma competência que a diferencia das demais.
Quanto aos aspectos mercadológicos, as vendas da Scriptum poderiam ser ainda maiores
caso não tivessem perdido os dados de seu portal, que vinha funcionando a todo vapor desde
meados de 2014. Em setembro de 2015, aconteceu um problema nos servidores da empresa que
hospedava o banco de dados e todo o trabalho foi perdido. Foram diversas as tentativas de se
refazer o portal de vendas que hospedava todo um sistema de compras on-line, um canal próprio
de vídeos, clipping de notícias, informações sobre como enviar um original. Havia informações
sobre a livraria e a editora, além de bibliografias resumidas dos autores que fazem parte do
catálogo. Foi um transtorno enorme. As vendas on-line vinham crescendo a Scriptum sentiu o
baque, em meio a uma crise econômica que se aprofundava cada vez mais. Mas Betinho ainda
espera retornar ao espaço de vendas virtual. Sobre as medidas que ele tomou para fazer frentes às
dificuldades ele comenta:

Em um primeiro momento, eu já tinha adotado iniciativas em 2012, 2013, só que a crise


veio muito mais forte do que eu esperava. Eu tive o baque de perder um site que estava
consolidado. Isso me atingiu muito fortemente porque não foi só perder o site que já estava
funcionando. Foi o investimento perdido, pagamos e tivemos prejuízo. Isso foi muito difícil.
Tivemos uma diminuição de publicação, dos dois lados. Uma porque eu não poderia ficar
arriscando. Caiu muito, uma grande quantidade de livrarias fechando, editoras fechando, os
autores também foram afetados financeiramente. Em um determinado ano nós editamos 13,
14 livros, para uma editora desse tamanho, é muita coisa, é quase um livro por mês. Mas
tive que mudar. Preciso voltar a ter um site. Isso é o que mais me incomoda. Eu tenho
54
pesquisado, mas perdemos uma loja virtual, que tinha sua despesa, mas eu não desisti ainda.
Perdi distribuidores que fecharam, que não me pagaram, livrarias que fecharam também e
não me pagaram, ou seja, tive muitos contratempos. Perdi dinheiro, a empresa perdeu
dinheiro. Mas estou tentando diversificar, passar para outros distribuidores. (...) Mas
continuamos vendendo uma parte pelas redes sociais, se eu não tivesse também o público de
fora de Belo Horizonte, eu já tinha fechado. Eu tenho um público fora de Belo Horizonte e
fiquei anos fazendo eventos. Fazer eventos também é uma das estratégias de sobrevivência
da Scriptum. E muitos funcionários não entendem, já fiz jornadas, eventos em São Paulo, no
Rio, Tiradentes, Ouro Preto, Sete Lagoas, são várias cidades. Diminuíram bastante porque o
pessoal tem que se mobilizar, trazer pessoas, e agora não está acontecendo. Evento ainda é
uma marca da Scriptum. (BELFORT, Welbert).39

É importante ressaltar que os eventos que a Scriptum realiza em suas dependências


não contemplam apenas os lançamentos de autores que entram para o seu catálogo, mas ela aloca
seu espaço e serviços para autores e outras editoras também. O desaquecimento da economia fez
com que o número de lançamentos caísse em geral. Na Scriptum, do ano de 2015 para 2016,
houve uma queda abrupta. Analisando o catálogo da Scriptum e as datas de lançamento podemos
perceber esse impacto.

Figura 5 – Gráfico de títulos lançados pela Scriptum de 2001 a 2017 – Fonte: Scriptum40

39
BELFORT, Welbert – Informações obtidas pelo questionário respondido para esta pesquisa.
40
Dados atualizados até o mês de junho de 2017.
55
2.4 Os originais: da recepção à produção do livro

A pesquisadora acompanhou todas as etapas de edição desde a recepção de originais até a


assessoria de imprensa e pós-produção. Ela foi responsável por elaborar uma planilha de controle
de originais na editora, que permitisse localizar em qual fase o original se encontrava para dar
maiores informações aos autores ou mesmo para acompanhamento internamente. De acordo com
Betinho, o processo funciona basicamente assim:

O original é recebido e encaminhado para uma pessoa da área. Eu tenho a parte de


psicanálise, então eu encaminho para uma pessoa da área, que lê – então é assim, hoje
ele está na UFMG, é professor lá, fez psicologia, mestrado, doutorado, pós-doutorado,
trabalha com clínica, era uma pessoa que eu já conhecia, já vi trabalhos dele e é uma
pessoa que vai ler um texto de psicanálise isento. Isento, ou seja, não está preso a
nenhum grupo político da psicanálise. Ele frequenta todos, mas a questão é bem
diferente, ele vai se concentrar no texto bem escrito, nos suportes teóricos bem
amarrados, é isso o que importa. Ele é teórico, mas também tem clínica, e isso é uma
coisa super importante que também levo muito em consideração.41

Pedro Castilho é o editor na área de livros relacionados à Psicanálise citado por Betinho.
Ele é psicanalista e professor de Psicanálise da UFMG. Ele foi convidado para ingressar como
parecerista no grupo editorial da Scriptum em 2016. Ele afirma não trabalhar como parecerista de
outras editoras, mas diz ser parecerista de várias revistas especializadas em Psicanálise.
Quanto ao volume de originais que Castilho lê, ele afirma que varia bastante; às vezes, lê
dois por mês, às vezes, pode ficar sem ler durante outro mês, mas em média ele lê seis
exemplares por ano.

A minha referência é a minha experiência, eu sou professor universitário, tenho


mestrado, doutorado, pós-doutorado em Psicanálise, sou psicanalista, então eu estou
sempre antenado com relação às publicações que estão sendo feitas em âmbito nacional
e internacional, principalmente Argentina e França, que são os países que mais
produzem uma literatura psicanalítica, então as minhas referências são estas, como
parecerista de uma editora, a gente tem que estar atento a todas as publicações que estão
sendo feitas em âmbito nacional e internacional.(CASTILHO, Pedro)42

41
BELFORT, Welbert. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
42
CASTILHO, Pedro. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
56
Wagner Moreira dedica-se exclusivamente à Scriptum como parecerista. Ele afirma que
não seria possível atender a duas editoras ao mesmo tempo, diz que, talvez, seja porque nunca
tenha se apresentado tal desafio e que seria algo extremamente delicado, pelo menos, até se
estabelecerem os limites das ações entre ambas as funções desenvolvidas.

Acredito que teria que pensar qual seria o perfil das editoras, se elas exerceriam papel de
rivalidade mercadológica ou não, se as coleções e selos concorreriam uns com os outros.
Quais seriam as funções específicas atribuídas a mim em cada uma delas e, se isso não
configuraria um conflito moral ou ético, por exemplo. Enfim, é algo que só uma pessoa
que vivencia isso pode responder com precisão sobre esse fato hipotético. 43

Quanto aos princípios que guiam o parecer em relação aos originais que avalia, Moreira
diz que o número de leituras de originais inicialmente era bem baixo.

Houve ano em que não chegou a um livro por mês, se a memória não está me
enganando. Com o passar dos anos e a visibilidade da Editora crescendo, isso chegou, no
meu caso, a um original por semana. Isso ocorreu em apenas um ano. E, parece-me, por
necessidade de se responder o mais agilmente possível aos autores. No geral, a média é
de cerca de dois originais por mês, quando muito.44

Mário Alex Rosa afirma que

ser parecerista requer muita leitura, mas muita leitura, pois é só com ela que você pode
ariscar opiniões sobre o que deve ou não ser publicado. E isso não quer dizer que
cometeremos erros publicando ou não uma obra. Creio que o início foi bastante
promissor, pois recebemos alguns originais que eram de alto nível literário. Felizmente
tive a felicidade de ler alguns originais altamente qualificados.45

Ele ressalta que nunca fez questão de saber quem são os autores, de onde eles vêm, o que
fazem, pois teme que isso possa atrapalhar o processo. “Mas já houve casos – não poucos, que já
conhecia o autor, mas isso nunca me impediu de colocar a minha opinião sobre o original,
inclusive renegando”, afirma o parecerista. De acordo com ele, a função de um parecerista/editor
não é fácil, pois, antes de qualquer coisa, por trás do texto, tem uma pessoa que acredita que deu
o melhor de si, que seu texto já foi elogiado por alguém. “O risco dessa pessoa não olhar mais na
sua cara é grande”, completa.

43
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
44
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
45
ROSA, Mário Alex. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
57
Rosa afirma, categoricamente, que nunca trabalhou para outra editora. Mas que costuma
receber originais para opinar sobre. “Já trabalhei e trabalho para Revistas Acadêmicas. Nelas,
recebemos textos acadêmicos para avaliação, se deve ou não publicar. Mas não só os critérios são
diferentes como também os textos recebidos”, reitera. Quanto aos critérios que guiam o seu
parecer ele diz que depende do material.

Já li até cinco livros em um mês, embora o regulamento da editora é de no mínimo de


três meses para avaliar o material recebido. Os critérios são diversos, mas alguns são
necessários: domínio técnico do gênero, domínio da língua, “originalidade”. Claro que
aqui estou procurando uma dicção própria, sobretudo na poesia, gênero que me sinto
mais a vontade para avaliar. Agora tudo isso só é possível com muita, mas muita leitura.
Entendo a profissão de editor aquele que ler muito, mas sempre com os olhos críticos,
não importa quem seja o autor lido.46

Moreira também discorre sobre a tarefa de ser parecerista. Segundo ele, avaliar os
originais é uma questão que pede um trabalho diferenciado, pois, em parte, cabe ao bom sucesso
dos trabalhos anteriores chamar a atenção para a Editora. Ele afirma que isso inclui não apenas as
premiações recebidas por livros ou as indicações como semifinalistas ou finalistas em concursos.
Tudo isso ajuda e muito no conhecimento, no amadurecimento e na divulgação da marca
Scriptum.

Somado a isso, há a divulgação dos próprios autores. Sua experiência com a Editora, a
relação de bom sucesso entre as expectativas e a realização da publicação, como um
processo que envolve decisões editoriais conjuntamente com o autor. Também há os
leitores que passaram a frequentar a Livraria e a esperar pelos lançamentos das peças da
instituição e sua satisfação com o objeto. Como se pode notar, o processo de recepção de
originais anuncia um universo mais amplo que apenas a leitura em si. E, claro, toda a
equipe da Scriptum que exercita suas atividades ampliando os contatos tanto da Livraria
quanto da Editora. Há toda uma correlação entre as ações editoriais que apontam para
um processo que implica a existência de diversas forças que atuam para se configurar a
recepção e a leitura dos originais.47

Discorrendo sobre os critérios, Moreira afirma que estes eram discutidos entre os editores.
Com o crescimento do número dos originais enviados para a Scriptum, eles decidiram que seria
mais produtivo que cada editor ficasse responsável por um original e, caso sentisse necessidade,

46
ROSA, Mário Alex – Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
47
MOREIRA, Wagner - Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
58
ou se houvesse alguma questão que o Betinho trouxesse que pudesse interferir na recepção do
trabalho, consultar-se-ia os outros colegas.

Independentemente da coleção, porque hoje se pode apontar a de poesia, a de ficção, a


passeio público (que trata de variedades de interesse contemporâneo, em uma linguagem
mais acessível ao público) e a de teoria, o meu princípio norteador é o de verificar se o
trabalho do autor se apresenta como um projeto amadurecido. Isso varia se o original
será a primeira publicação do autor ou não, se ele já tem uma experiência de escritura
publicada. Definitivamente, esse projeto é pessoal e intransferível. Isto faz com que cada
original exija de mim a compreensão do entendimento de escritura que ali se apresenta.
E se o autor consegue em seu exercício criativo manter, do início ao fim de seu trabalho
uma coerência e uma coesão com aquilo que ele se propõe a fazer. É a partir dessa
categoria que começo a pensar a relação dessa escritura com a língua de poder e seus
desvios. No caso da coleção de teoria e da passeio público (que está um pouco parada),
até este momento, tem se tratado de adequar o trabalho acadêmico aos moldes de um
livro mercadológico que possa ampliar o número de leitores para aquela escrita que nos
interessa divulgar. 48

Assim que os editores emitem o parecer positivo à publicação, entra em cena o trabalho
do produtor gráfico. Silvano Moreira Lucena ingressou na Scriptum em 2003, pouco tempo
depois da Editora ter publicado o primeiro livro – Trívio, de Ricardo Aleixo. A oportunidade de
produzir as edições da Scriptum surgiu em 2007, com o livro O cadáver ri dos seus despojos, de
Carlos de Brito e Mello.
Além de exercer outras funções na livraria, na editora ele é o produtor gráfico. No
ambiente editorial este é o profissional responsável, entre outras funções, pelos recebimentos de
originais; formulação e envio de propostas; fechamento de contratos; registrar e solicitar junto a
Biblioteca Nacional o ISBN da obra; avaliar a viabilidade de impressão, aproveitamento de
papéis, formatos, tipos de impressão e acabamento; liberação de provas, negociações e prazos.
Ele é responsável por coordenar e distribuir os trabalhos em suas diferentes etapas.

O produtor participa desde o início do processo recebendo o ‘original’ das mãos do autor
à finalização do projeto, até que o livro fique pronto, impresso e entregue pela gráfica.
Resumindo, o trabalho de um produtor é extenso e ele participa de todas as etapas do
processo de edição.49

48
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
49
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
59
Em relação às etapas do processo de produção relativas ao trabalho de revisão,
diagramação, finalização, design e impressão, Lucena explica que todo o trabalho é terceirizado e
funciona da seguinte forma: após o recebimento do original, ele é encaminhado para o conselho
editorial avaliar se a obra se encaixa no perfil editorial da casa. Ao término da análise, o editor
emite um parecer que pode ser favorável ou não à publicação. O autor é comunicado do parecer
por e-mail ou pelo meio de contato por ele deixado; “se for aprovado, fazemos o levantamento de
todos os custos da edição, por exemplo: são colhidos orçamentos com revisores, designers,
gráficas, e com outros profissionais (se assim for necessário, por exemplo, um ilustrador);
depende do tipo de projeto em andamento”, afirma Lucena.
É grande o volume de originais recebidos, principalmente na área de poesia. A Scriptum
possui a política de não devolver os originais recebidos, mesmo nos casos de pareceres negativos.
No processo de avaliação dos originais, Moreira afirma que para a coleção de poesia e a de prosa,
há uma variação de trabalho para trabalho que depende do exercício de embate do autor com a
língua. De acordo com ele

verificado esse aspecto, também costumo observar a qualidade das imagens que a
escritura cria ao se efetivar, pois, essa categoria, em geral, apresenta uma face de
empatia que pode ser despertada no futuro leitor, o que é um dos princípios de prazer
para a leitura e, portanto, um aspecto relevante para a publicação de um texto.50

Outro ponto que Moreira, na condição de parecerista costuma observar, é se o original faz
aparecer claramente a tradição que evoca em seu exercício artístico. Isso também determina se o
texto cumpre o perfil da Editora ou não.

Concluído que há uma correspondência entre essa tradição e o perfil editorial, passo a
verificar se a modulação da escritura potencializa positivamente os diálogos anunciados
ou se há alguma coisa que vale a pena ser modificado ou mesmo acrescentado ao
original. Nesses casos, condiciona-se a publicação à concordância do autor às sugestões.
Também costumo levar em consideração se o original traz à baila alguma temática que já
esteja sendo discutida por outras publicações presentes no mercado. Isso deve ser
medido para que evitemos, por um lado, a questão do plágio e dos constrangimentos
gerados por esse fenômeno. Mas, também, para verificar se o original agrega um valor
diferenciado ao que já está em circulação. Se for dessa forma, a sua avaliação será
positiva para ser publicado. 51

50
Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
51
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
60
Moreira enfatiza que os princípios acadêmicos de recepção dos estudos literários servem
nesta avaliação (“quando servem” – ele frisa) apenas como um dos nortes possíveis, pois, a
aprovação e a publicação de um original não está vinculada aos princípios canônicos da
academia.
Elas podem e devem, sempre que possível, ampliar o cânone ou até mesmo negá-lo,
como uma maneira de se afirmar uma época ou um procedimento sociocultural.
Pensando por essa via, a leitura de um original é um exercício político e, portanto,
apresenta uma face histórica do exercício de poder de qualquer editor. 52

Uma outra política da Editora Scriptum é só receber originais impressos para serem
analisados. Todos os editores consultados foram unânimes em revelar a preferência deles e o
alinhamento com essa diretriz.

Ainda de acordo com Moreira:

Tudo que se faz em qualquer trabalho é modificado pela experiência acumulada. Ela nos
dá uma perspectiva única das ações e para os processos editoriais isso também vale.
Devido a alguns mal entendidos e para segurança dos autores e nossa, aqueles que
desenvolvem atividades na Scriptum, resolvemos por esse formato, isto é, receber os
originais impressos para efetuarmos nossas leituras. Por outra via, a leitura no impresso
ainda se mostra muito mais confortável ao olho humano do que a digital. Pensando em
um trabalho que requer muita atenção aos detalhes e que deve ser realizado com o maior
grau de confiabilidade, produzindo o menor grau de estresse possível, pareceu-nos,
durante esse tempo que essa seria a melhor fórmula. 53

Outro fator de salvaguarda apontado por Moreira da leitura no papel é que

deve-se chamar a atenção para o fato de alguns autores quererem antecipar a leitura de
seus originais, enviando-os diretamente para os editores e não para a Editora. Esse fato
gerava sério constrangimento na organicidade da empresa, na relação desta com os
demais candidatos a publicação e mesmo entre os editores, uma vez que produzia uma
instabilidade nos procedimentos internos dirigidos para a publicação.54

Rosa justifica sua preferência:

Não gosto de ler na tela do computador, pois me sinto distante do texto, ainda que eu
possa fazer interferências digitando. Gosto de ler no papel, anotando nas margens,

52
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
53
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
54
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
61
levando o original para qualquer canto da casa. Gosto de sentir o lápis marcando o
papel.55

Castilho afirma preferir ler em papel impresso porque a sua visão fica muito ofuscada se
ele ficar lendo durante muito tempo na tela. Há outra justificativa também:

Eu gosto de usar caneta para fazer algumas observações, e eu acho que essa política da
Editora Scriptum é a política correta porque o editor vai ter mais conforto em fazer o seu
parecer, utilizando o texto impresso.56

Embora essa política agrade a todos os pareceristas, por outro lado existe uma pressão por
parte dos autores e do próprio mercado para se adotar o envio dos originais em formato digital. A
respeito dessa possibilidade, Moreira deixa uma porta entreaberta dizendo que:

Muito recentemente, com as novas demandas de autores de outros estados e os recentes


lançamentos de leitores digitais de melhor qualidade, a Editora Scriptum tem testado
dirigir para seus editores algum original no formato digital. Ainda teremos que conversar
a esse respeito para verificarmos a eficiência desse método tanto para o exercício do
julgamento quanto para a manutenção da organicidade cronológica dos procedimentos
de leitura de originais. Se acordarmos que este cronograma seja respeitado, assim como
a direção do original seja feita diretamente para a Editora, poderemos, sim, passar a
aceitar o original nesse formato. Da minha maneira de entender, é preciso que todos os
editores informem aos autores que somente por meio da submissão do original à Editora
Scriptum é que ele será avaliado.57

E, finalmente,

para concluir essa questão, já tivemos casos em que um autor teve a sua análise realizada e,
se beneficiando dos resultados desse trabalho, achou por bem realizar as melhorias
sugeridas e publicar por outra editora o seu livro. Como se pode ver, a leitura dos originais
impressos trazem uma série de garantias ao processo editorial. Pelo menos, até que
possamos implementar outros procedimentos que garantam uma recepção e análise de
acordo com os padrões que a Editora exige. (MOREIRA, Wagner) 58

Sobre as principais dificuldades enfrentadas no dia a dia em relação à edição, Lucena


afirma que as mais frequentes são as que antecedem a fase em que o livro fica pronto, na etapa
entre o parecer do editor e a publicação. Segundo ele, muitos desses autores acabam não

55
ROSA, Mário Alex. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
56
CASTILHO, Pedro. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
57
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
58
MOREIRA, Wagner. Informações obtidas em questionário aplicado para esta pesquisa.
62
assinando o contrato de edição: “é comum outras editoras entrarem no páreo com alguma
proposta; ou ocorrer a desistência do autor, por não conseguir chegar a um acordo satisfatório que
o permita publicar sem ter que investir financeiramente na edição”. Percebe-se, então, que os
motivos são os mais variados possíveis, completa Lucena.
A respeito dos contratos, ele esclarece que, atualmente, a Scriptum faz uso de três formas
diferentes de contrato de edição. A primeira e mais utilizada delas, é quando o autor banca a
edição integralmente; a segunda, é quando o livro é editado em regime de co-edição entre autor e
editora e ambos dividem os custos e a terceira opção, é quando a editora banca a edição
integralmente. Ele relata que problemas com designers, revisores e com gráficas durante a
impressão acontecem, mas são casos raros.
Segundo Belfort, não existe um modelo de custeio pronto. Cada caso é um caso. Ele
prefere não dar detalhes, diz que já se utilizou de todas as formas de publicação e que tudo vai
depender do parecer que o original receber e o momento financeiro em que a empresa estiver.
Tendo os valores em mãos, Lucena elabora uma proposta e envia para o autor. Se este
assinar o contrato, a editora monta um cronograma da edição e o texto é encaminhado para o
revisor. Existem várias particularidades a partir daí. Por exemplo, se for uma obra extensa, com
muitos capítulos e número de páginas elevado, o revisor, à medida em que desenvolve seu
trabalho, envia os capítulos para o autor avaliar as alterações propostas. O texto revisado é
enviado na sequência para o design desenvolver seu trabalho.
O design, por sua vez, irá desenvolver e apresentar três modelos de capas (em média)
diferentes para o projeto, às vezes, é ele mesmo quem irá diagramar e finalizar os arquivos para
envio à gráfica. “Vale frisar que o autor participa em todas as fases do processo de edição, seja
dialogando com o revisor, com o design, ilustrador e até mesmo, se assim desejar,
acompanhando as impressões iniciais do projeto na gráfica.”59
Além de atuar como produtor gráfico da Scriptum, Lucena também se dedica a um projeto
pessoal, onde desenvolve um trabalho paralelo de edição artesanal. Ele produz plaquetes com
tiragens limitadas de 30 exemplares, numeradas e assinadas pelos autores. Todo o trabalho é
manual e passa por processos semelhantes aos que ocorrem dentro de uma editora:

a) Recebimento do texto;

59
LUCENA, Silvano - Informações obtidas em questionário respondido para esta pesquisa.
63
b) Diagramação do miolo e confecção da capa;

c) Disponibilização de prova impressa;

d) Aprovação do autor;

e) Impressão e finalização.

Sobre esta produção artesanal, Lucena afirma que:

É um trabalho que exige um pouco de tempo, paciência e amor pelo que se faz. O tempo
total para finalizar uma plaquete – após a impressão, é de cerca de 30 minutos. E a maior
parte desse tempo é consumido com a costura, executada com uma agulha de costura
simples, manualmente. Até o momento foram publicadas três: “Deus me livre” do poeta,
crítico e professor universitário Mário Alex Rosa; “Um mineiro em Brasília – à maneira
de Nicolas Behr”, do poeta, jornalista, músico e professor universitário Marcelo
Dolabela e “Decálogo do Bosque”, do também poeta e professor universitário Camilo
Lara. Decálogo foi o último trabalho publicado em vida pelo Camilo. Ele faleceu cerca
de dois meses após a edição ficar pronta.60

Ainda que não se considere escritor, Lucena possui um poema chamado [no drible do
poeta], que foi selecionado para compor a antologia “Pelada Poética: Copa do Mundo no Brasil”,
editado pela Scriptum, em 2014. Fora isso, ele afirma ter poemas publicados no número três da
revista ATO.
Depois do livro ser impresso na gráfica, entra em cena a parte de assessoria de imprensa,
geralmente realizada pelo Betinho e/ou Silvano. No ano de 2015, a pesquisadora também exerceu
esta atividade, tendo a oportunidade de aprender muito. Esse trabalho consiste, basicamente, em
enviar com a antecedência necessária, as informações a serem publicadas para todos os veículos
de comunicação importantes locais e também de fora do estado — jornais impressos, mídia
digital e televisão. Sobre esse trabalho de fazer os livros da Scriptum chegar às mãos dos
formadores de opinião, Betinho avalia assim:

Eu avalio da seguinte forma: eu vou te dar uma resposta de uma pessoa que eu não vou
falar o nome, mas que foi a primeira pessoa que escreveu sobre um livro da Scriptum.
Eu estava na FLIP, em Paraty, com um autor meu, e, por acaso, eu tinha mandado o livro
dele para esse jornalista. Como saem matérias que só rodam em São Paulo, aí eu
apresentei, esse é o meu autor, esse é o jornalista, crítico literário, etc. Aí esse jornalista

60
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
64
disse: “Mas espera aí, Betinho, você me mandou um livro dele, eu escrevi sobre o livro”.
E o autor não sabia! E o jornalista disse: “O seu livro é o tal..., eu escrevi sobre ele!”.
Então esse jornalista disse para esse autor: “Tem algumas editoras, que quando chega um
pacotinho do livro, escrito Scriptum, eu tenho que abrir e prestar muita atenção, porque
geralmente tem coisa boa que sai dessas editoras”. Ou seja, veja o caso da Ana Martins
Marques. Ana Martins tinha ganhado dois prêmios, autora nova, e eu passei os livros
para a minha equipe. Nem era o “Vida Submarina” ainda. Na realidade foram dois livros
que se transformou em um. Mas isso foi tudo construído, lido, conversado, foram horas e
horas de café com os editores etc. Aí eu mandei esse livro para o Murilo Marcondes, ele
escreveu sobre o livro, porque gostou. Eu mandei para várias pessoas. Uma delas,
quando eu estava na FLIP, tinha assistido a um debate sobre poesia, era o Augusto
Márcio, estava entregando o livro para ele, quando chegou o David Arriguti, pegou o
livro e disse: “Nossa, que livro bonito”. Depois disso ele ligou para uma pessoa, e
comentou com um amigo meu, o Murilo Marcondes, que a Ana Martins escrevia super
bem. E ele era amigo do Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, ou seja, foi ele quem
direcionou a Ana Martins para a Companhia das Letras. Eles entraram em contato com
ela e a convidou. E também temos o caso do Carlos Britto, o Jacques Fux etc. Eles estão
nestas outras editoras e todos tiveram o mesmo tratamento. Todos os livros que nós
editamos na Scriptum, nós fazemos chegar ao jornalistas e fazemos chegar até as pessoas
que são capacitadas, que são professores, que são formadores de opinião. 61

Depois do lançamento existe um investimento que, muitas vezes, não é levado em


consideração: inscrever os livros em concursos literários. Os livros saem do estoque da editora e
o custo de envio é por conta da Scriptum. Somente quando um concurso cobra alguma taxa de
inscrição, como é o caso do Prêmio Jabuti e outros, Betinho repassa ou divide isso com o autor,
pois, às vezes, não tem como a editora arcar com essa despesa, visto que pode aontecer de muitos
autores serem lançados em um determinado ano.
Em seguida, analisaremos dois casos bem-sucedidos de autoras que foram lançadas pela
Scriptum e que veem se destacando no cenário nacional de poesia, um gênero que, se por um lado
possui uma natureza muito intelectualizada, tanto na etapa da criação quanto de consumo, por
outro, vem se popularizando com o advento da internet, das redes sociais e das novas plataformas
de publicação e também com as mudanças nos hábitos de leitura.

61
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
65
2.5 O lançamento de Simone de Andrade Neves

A escolha da autora Simone de Andrade Neves para integrar este estudo é justificada pelo
fato da pesquisadora ter tido contato com a referida autora em todas as fases de seu processo de
lançamento pela Editora Scriptum - com exceção apenas da fase de recepção de seu original, pois
este já tinha sido submetido à editora no ano anterior, em 2014 – e ter tido a oportunidade, por
assim dizer, de acompanhar seu “nascimento” pela Scriptum.
Simone de Andrade Neves é uma pessoa reservada quando se trata de falar de si.
Geralmente, ela se esconde atrás do largo sorriso, suas pálpebras se esgueiram olhando para o
chão, e ela enrubesce de timidez. Mas quando é convidada a falar de poesia e de literatura, seus
olhos fixam-se no interlocutor e até brilham, iluminando-a. As informações biográficas em seu
livro de lançamento pela editora, Corpos em Marcha apenas dizem que ela é: “poeta, nasceu em
Belo Horizonte, 1974. Infância e adolescência na cidade de Dionísio, MG. Em 1994 publicou, O
coração como engrenagem. Este é seu segundo livro”.

É importante ressaltar que são 20 anos de distância entre o lançamento do primeiro livro,
uma edição independente, e o segundo, por uma editora. Apesar desse “gap” em relação ao
espaço-tempo entre um e outro, publicações em diversos periódicos, mostram que a autora se
manteve ativamente escrevendo. Podemos citar entre eles, Suplemento Literário de Minas
Gerais, Revista Poesia Sempre – Fundação Biblioteca Nacional (2011). Participou, como
convidada, do projeto “Arte no Ônibus”, em 2006, e da Pelada Poética, edições 2010 e 2014,
também da Editora Scriptum. Em um release escrito pela Editora Scriptum, tem-se o seguinte
sobre o livro Corpos em Marcha:

O livro é composto por 40 poemas, quase todos inéditos, sendo temas evidentes a
dessagração dos animais para o consumo humano, as necessidades de consumo e pactos
de poder. A sede de mar na vida distante do litoral e o lirismo que há no trágico também
são temas reiterados em diversos poemas.62

62
Informações do release escrito pela Editora Scriptum.
66
Mário Alex Rosa, que assina os paratextos de apresentação da segunda e terceira capas
desse livro, informa ao leitor que

este livro curiosamente se distancia de alguns temas recorrentes na poesia lírica de modo
geral, como amor, erotismo, centralização no sujeito lírico, o corpo e suas dimensões
sensitivas etc., ainda que de forma muito velada se possam descobrir certas insinuações.
O livro marcha pausadamente, como quem solicita do leitor outras atenções corriqueiras,
menos afeitas a uma experiência centrada no sujeito, mas que procura trazer a cada
poema uma visão de fora, - não importa se são lembranças -, o que de fato revelam,
pois estão ali para serem observadas por quem sabe guardar o que olha. Portanto, não é
de se estranhar que à medida que a leitura do livro avança, assistimos, ou mesmo
participamos da composição de cenas delicadas, trágicas e até mesmo grotescas, mas
todas elas traçam uma verdade íntima, em que as palavras sugerem meditações
recolhidas no silêncio.63

Rosa também acredita que o livro de Simone de Andrade Neves anuncia uma voz
diferente e marcante na “poesia feminina” contemporânea brasileira.

“Corpos em Marcha, de Simone Andrade Neves, é quase a estreia da poeta mineira. Mas um
começo muito promissor, pois traz uma poesia que, muito trabalhada na sua linguagem,
consegue se esquivar da suposta delicadeza feminina. A sua delicadeza é conquista diária,
por isso seus corpos (linguagem) se impõem numa perícia demorada na escolha de cada
palavra, cada verso, e tudo isso sem perda do lirismo que, camuflado, se abre sutilmente
para a descoberta do prazer, como no admirável poema “Ovo”. Simone de Andrade, sem
dúvida, é uma das ótimas revelações na cena da nossa jovem poesia contemporânea.”64

Ovo

O menino,
ao quebrá-lo
e reter o amarelo nas mãos
não imaginava que um líquido
fosse pelos dedos
alcançar o tempo dos suspiros.65

63
NEVES, Simone de Andrade. Corpos em Marcha. Belo Horizonte: Scriptum, 2015.
64
ROSA, Mário Alex – 7 poetas hoje – Estado de Minas, Caderno Pensar, 08/01/2016 e Publicado na<
http://www.mallarmargens.com/2016/06/7-poetas-hoje-por-mario-alex-rosa.html Revista Mallamargens. Disponível
em: >. Acesso em: 03 jun 2017.
65
NEVES, Simone de Andrade. Corpos em Marcha. Belo Horizonte: Scriptum, 2015, p. 50.
67
A parte gráfica foi elaborada pela Jiló Design, parceria de Júlio Abreu e Leonora
Weissmann e a capa recebeu pintura inédita desenvolvida por Leonora a partir dos poemas do
livro. O evento de lançamento de Corpos em Marcha aconteceu no dia 11 de julho de 2015. Em
agosto do mesmo ano, ele foi adotado pelo CEFET-MG na disciplina de “Textualidades
Contemporâneas”, ministrada pelo professor Wagner Moreira, que conforme dissemos
anteriormente, também integra o conselho editorial da Scriptum.
A pesquisadora teve a oportunidade de cursar essa disciplina optativa e a última aula
contou com a presença de Simone de Andrade Neves, que foi convidada e compareceu à
instituição, tanto para palestrar sobre seu livro, que neste dia foi analisado à luz da obra de Martin
Heidegger, quanto para falar de seu trabalho como poeta.66
O ensaio de Heidegger intitulado “A origem da obra de arte” questiona a obra de arte, sua
origem, seu processo e sua essência, apresenta vários pilares filosóficos para analisar a obra de
Neves. Para o filósofo, se a Poesia é essência da arte, a essência da poesia é a instauração da
verdade. E para ela instaurar deve possuir três sentidos: doar, fundar e começar. Dependendo do
sentido a que instaurar teremos um modo diferenciado de contemplar. Não só a criação é poética,
mas também a contemplação é poética. A arte é instauração no terceiro sentido, isto é, de
provocação da luta da verdade, instauração como começo. Nesta parte do ensaio, Heidegger67
afirma que a arte é historicamente situada, assim com a verdade, e isso ocorre pois a arte em sua
essência é uma origem e não uma coisa, ou seja, ela é uma maneira de chegar a ser verdade e
fazer-se histórica. E a verdade é que a crítica especializada acolheu muito bem o recém-lançado
Corpos em Marcha, com críticas muito favoráveis ao longo de todo o segundo semestre de 2016.
Podemos citar que logo no mês de agosto de 2016, Amador Ribeiro Neto escreveu uma
crítica em seu blog a respeito do livro de Simone Andrade Neves dizendo que:

Simone de Andrade Neves traz nova dicção para a cena de nossa poesia contemporânea.
Ela poderia seguir as facilidades da nova geração: escrever bobagens palatáveis e
digestivas. Apostar na superficialidade, tão bem apadrinhada por teorias e teóricos da
moda. Mas prefere ir na contramão. Diz não ao fácil e líquido. Sabe que vale a pena
apostar na linguagem e suas estruturas. Faz isto com desempenho admirável.
Corpos em Marcha exige mais de uma leitura. Talvez várias. E, como tais leituras são
instigantes e reveladoras, são feitas com todo prazer. A poesia de Simone Andrade Neves
é seca, dura, tesa. E, ao mesmo tempo, recoberta por alegrias. Alegrias da descoberta de

66
Os registros fotográficos dessa aula-palestra podem ser acessados no sítio da Scriptum na página do Facebook da
autora.
67
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.
68
uma poesia que se faz nos interstícios do que é. E do que pode vir a ser. De algo que não
se diz de imediato. E entrega-se, por fim, aos que buscam mais que passatempo e fricote
na literatura. Ler Simone de Andrade Neves é nos depararmos com o que a poesia pode
nos dar de melhor: taxa de informação que se renova a cada contato. Pound, em algum
lugar, disse que “literatura é novidade que permanece novidade; é linguagem carregada
de significado em alto grau”. Pois bem, não há como não nos lembrarmos do grande
poeta e crítico norte-americano quando lemos Corpos em Marcha. O livro todo, do
primeiro ao último poema, é atenta e severa observação sobre o cotidiano mais imediato.
Aquilo que é visto e vivido o tempo todo. No entanto, pouco conhecido. Com toda
convicção podemos afirmar que não há um único poema que pudesse estar fora deste
livro, tal o amálgama que os imanta na teia da mais metálica estrutura poética. Tudo
numa polifonia que soa em uníssono. Tudo múltiplo e uno. 68

Adriane Garcia, poeta, em seu blog enalteceu a escrita de Corpos em Marcha:

Corpos em Marcha é um livro profundo, extremamente bem escrito, sem desperdício algum
e também sem nenhuma falta ao que se pretende. Podemos chamar isso de exatidão. Fala de
nossa condição de seres finitos, de nossas transformações inevitáveis, da nossa crueldade e
sofrimentos tão naturais, do papel da memória e da imaginação na recriação do que já
perdemos. O talento de Simone de Andrade Neves é que sua poesia jamais é óbvia, lida
com o modo mais difícil de fazer e consegue não cair num hermetismo que retiraria nossa
chance de comunicação. Entre violências de uma condição predadora, num mundo predador,
a complexidade de amar, apesar de e como parte de.”69

Dando continuidade às boas notícias, em 2017 Simone Andrade Neves foi uma dos 41
poetas selecionados por Adriana Calcanhoto para compor a antologia É agora como nunca –
Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira, lançada recentemente pela
Companhia das Letras.

Latente foi o poema selecionado de Simone de Andrade Neves. Para ela, a escolha de
Adriana pode ter sido pelas referências ao mar e ao litoral utilizadas em seu poema como
metáforas, recorrentes nas canções da compositora. ‘Escrevo desde a infância. Ler
diariamente poemas dos mais variados poetas faz parte do meu cotidiano. Convivo com a
definição de que os poetas vivem no mundo da lua ou são sensíveis em demasia. Desde
cedo, tive que lidar com esse desconcerto. É comum na minha profissão, a advocacia,
deparar com alguém surpreso por ‘estar diante de um poeta’ – lembrando o verso do
Fabrício Corsaletti que está na antologia. Por isso, participar do livro representa muito para
mim’, diz.70

68
NETO, Amador Ribeiro. Disponível em:<https://augustapoesia.wordpress.com/2015/08/21/corpos-em-marcha/>.
Acesso em: 5 jun 2017.
69
GARCIA, Adriane. Disponível em: <http://adrianegarcialiteratura.blogspot.com.br/2015/08/corpos-em-marcha-de-
simone-de-andrade.html>. Acesso em: 5 jun 2017.
70
BRANT, Ana Clara. Adriana Calcanhotto lança coletânea de poemas 'É agora como nunca', em BH. Disponível
em: <http://www.uai.com.br/app/noticia/artes-e-livros/2017/03/18/noticias-artes-e-livros,203624/adriana-
calcanhotto-lanca-coletania-de-poemas-e-agora-como-nunca-em.shtml>. Acesso em: 5 jun 2017.
69
Latente

Borda do prato
Praia da ilha

Há devir
na ínsula
à deriva.71

Depois de analisar o caso do lançamento do livro de Neves, reiterando que todas as boas
notícias sobre o livro e a autora recaem também sobre o trabalho da Scriptum, revertendo-se em
publicidade e propaganda para a editora, nosso estudo também tentou realizar um levantamento
das características da autora, para traçar um perfil dos que estabelecem seus contratos com a casa
editorial. Esses dados podem servir como indícios para traçar o perfil dos autores atendidos pela
editora.
Sobre a relação com a leitura e a escrita, Neves responde da mesma forma com que
escreve seus poemas: concisamente. “É uma relação sinalagmática: uma depende da outra. E
dependo delas.” A respeito da origem de sua escrita, em que idade ela aconteceu, Neves diz que
escreveu seus primeiros poemas aos nove ou dez anos e que aos 18 se assumiu escritora. Os
autores que mais a influenciaram foram Manuel Bandeira, Carlos Drummond Andrade, Cecília
Meireles, Machado de Assis, Victor Hugo, Kafka, Marcel Proust, Fiama Hasse Pais Brandão,
Elizabeth Bishop, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Duda Machado, E. M. de Melo e
Castro, Joan Brossa, Francis Ponge, T. S. Eliot, João Guimarães Rosa, Octavio Paz, Clarice
Lispector, Caio Fernando Abreu, Miguel de Cervantes, Hermann Hasse – “por um tempo – a lista
não tem fim: vou lembrar de um ou outro que não estão aqui depois”, comenta Neves.
Andrade publicou O Coração como engrenagem aos 19 anos e afirma que a relação com
a Editora Scriptum começou quando ela conheceu Welbert Belfort na Temporada de Poesia de
1994 – um evento da Prefeitura de Belo Horizonte: “tornei-me cliente da livraria na ‘abertura das
portas’ e sempre ia e ainda vou até lá, comprar livros, dialogar”. Na sua opinião, o diferencial da
Editora Scriptum em relação às outras editoras é o tratamento personalizado e ênfase no trabalho
de edição e divulgação do livro.

71
NEVES, Simone de Andrade. Corpos em Marcha. Belo Horizonte: Scriptum, 2015, p. 33.
70
Ela disse que nunca recebeu originais de aspirantes a autores para analisar e que já tinha
submetido originais a outras editoras, mas já havia um tempo. Ao avaliar a presença de autores
lançados pela Scriptum em antologias famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, a
poeta afirma que a edição não depende mais da chancela de uma grande editora para chegar nas
mãos dos admiradores de poesia. “As pequenas editoras, em especial a Scriptum, conseguem
expor os seus autores no mercado, estimular o interesse dos leitores para conhecer o trabalho dos
seus autores e poetas”, afirma.
A respeito do papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito para
que ela não desapareça do mapa, Neves diz que

a Scriptum fomenta a divulgação de poesia na cidade de Belo Horizonte, promove


encontros muito importantes e se tornou referência no mercado de poesia nacional. Seus
editores são compromissados com a edição. Não sei te responder o que tem que ser feito
para que ela não desapareça do mapa mas sei que se isso um dia acontecer – não quero nem
pensar nisso: será uma perda irreparável.72

2.6 O lançamento de Ana Martins Marques

A razão pela qual Ana Martins Marques foi escolhida para integrar este estudo não reside
apenas no fato dela ter sido uma das revelações da Scriptum para o cenário literário
contemporâneo, pois muitos outros autores também o foram.
Lançada pela Editora Scriptum com o livro A Vida Submarina, em 2009, como poeta
estreante, depois que ela foi contratada pela Companhia das Letras, ela retornou à Scriptum,
escolhendo-a como o palco de lançamento do seu terceiro livro de poemas, O livro das
semelhanças, em 2015, referendando-a como um excelente lugar para eventos desta natureza Ana

72
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
71
Martins comprou o próprio exemplar, que tinha acabado de chegar na livraria Scriptum, pois não
aguentou esperar a remessa que vinha para ela de São Paulo.
A pesquisadora teve a oportunidade de atendê-la neste dia e esse episódio foi muito
marcante. O lançamento de O livro das semelhanças foi um sucesso, com fila quilométrica
durante o dia inteiro na Rua Fernandes Tourinho. A pesquisadora cobriu este evento realizando os
registros fotográficos para a editora e para a autora, e acompanhou também o rápido esgotamento
do estoque desse livro ao longo dos meses posteriores.
Marques é mineira de Belo Horizonte, graduada em Letras, tem mestrado em Literatura
Brasileira e doutorado em Literatura Comparada pela UFMG. Recebeu por duas vezes o Prêmio
Cidade de Belo Horizonte de Literatura, em 2007 e 2008. É autora de A vida
submarina (Scriptum, 2009) e Da arte das armadilhas (Companhia das Letras, 2011), vencedor
do Prêmio Biblioteca Nacional de 2012.
Com dissemos anteriormente, lançou seu terceiro livro em 29 de agosto de 2015, na
Livraria Scriptum, O livro das semelhanças, editado pela Companhia das Letras. Murilo
Marcondes Mendes é o autor das frases-convite dos paratextos da segunda e terceira capas de A
vida submarina. Ele abre as portas da edição de Marques assim:

Não seria difícil identificar marcas de leitura de grandes poetas, nacionais e internacionais
na poesia de Ana Martins Marques, mas isso talvez fosse secundário em um projeto que
parece ser antes existencial do que culturalista. Que não haja nenhum equívoco, porém: essa
adesão às vivências mais concretas e imediatas nunca se dá em detrimento da construção
dos poemas, sempre depurados. Essa disciplina estética, por sua vez, pode desautorizar
abordagens demasiado vitalistas; no caso de “A vida submarina”, o risco de sobrevalorizar a
sensibilidade feminina, que se encontra aqui, de fato, muito pronunciada.73

O projeto gráfico e a capa foram feitos por Beatriz Goulart e a revisão do livro foi
realizada pela própria autora. Várias são as críticas em blogs especializados sobre A vida
submarina. Destacamos a resenha de Cavalcanti, que escreveu para o “Digestivo Cultural”

Uma das principais características notáveis no livro de Ana Marques é que a sua poesia é o
resultado de uma dupla reflexão entre o sentido do processo poético e o sentido do existir.
No cerne destas duas questões nota-se a ideia da impossibilidade de redenção de um pelo
outro. A poesia não salva a vida e a vida não salva a poesia. No entanto, a consciência
dessa impossibilidade é o que gera o caráter dessa poesia e define a voz própria desta
poetisa. Poesia sem ancoradouro, a sua leitura parece deixar para nós mais os resquícios de
uma ferrugem na âncora que a possibilidade do estabelecimento de um terreno seguro

73
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
72
onde nós possamos vir a nos fixar. O livro divide-se em sete partes, cada qual com um
título e propósitos bem claros sobre a temática estabelecida para elas, embora quase todos
os poemas pensem a si mesmos e à vida como uma impossibilidade. Da desilusão dos
"navios que não têm mais porque partir", até o amor, pensado como uma "batata quente"
que não pode ser suportável por muito tempo na nossa mão, os poemas se fazem como
pequenos desastres que a existência insiste em revelar e a constituição da poesia enquanto
linguagem não consegue sanar. Eis a riqueza desse livro, enunciar na própria linguagem
que a constitui a ideia de que expressar a experiência é algo fadado ao fracasso, como a
própria experiência o é. A ideia da vida como algo estéril contaminando a poesia se
constitui como um traço moderno, desde A terra desolada de T. S Eliot, passando pela
desfiguração do eu em Pirandello e chegando a inanição de Beckett. A poesia apostou em
si mesma, como problema da linguagem, para deixar à existência apenas o enunciado de
seu fiasco.um e da literatura contemporânea.74

Ela participou da 11ª edição da FLIP em 2013 em uma mesa redonda chamada “O dia-a-
dia debaixo d’água”, com outras duas poetas. O mar é sempre uma das fontes de inspiração
recorrentes na obra dela. Neves também possui poemas com essa referência.
O sucesso da inserção de Marques na história recente da Literatura Contemporânea, assim
como outros autores da Scriptum, é comprovado na inclusão em antologias. Ela já tinha sido
incluída na antologia Once poetas brasileiros, de 201375. Este ano ela se destaca por ter sido uma
das poetas escolhidas por Adriana Calcanhoto para fazer parte da antologia É agora como nunca
– Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira, onde também figura Simone de
Andrade Neves, como dissemos. Marques teve dois poemas incluídos na seleção, sendo que ela
abre a coletânea com “Poemas reunidos”:

Poemas reunidos

Sempre gostei dos livros


chamados poemas reunidos
pela ideia de festa ou de quermesse
como se os poemas se encontrassem
como parentes distantes
um pouco entediados
em volta de uma mesa

74
CAVALCANTI, Jardel Dias. Poesia sem ancoradouro. Digestivo Cultural. Disponível em:
<http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2915&titulo=Poesia_sem_ancoradouro:_Ana_Mar
tins_Marques> Acesso em: 5 jun 2017.
75
Once poetas brasileiros. Selección y prólogo Sergio Cohn; traducción John Galán Casanova. Edición bilíngue.
Bogotá: Alcaldía Mayor de Bogotá, Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deport, Instituto Distrital de las
Artes, 2013, 125 p.
73
como ex-colegas de colégio
como amigas antigas para jogar cartas
como combatentes
numa arena
galos de briga
cavalos de corrida ou
boxeadores num ringue
como ministros de estado
numa cúpula
ou escolares em excursão
como amantes secretos
num quarto de hotel
às seis da tarde
enquanto sem alegria apagam-se as flores do papel de parede.76

Novamente, tal qual Simone de Andrade Neves, o sucesso de repercussão na antologia de


Calcanhoto respinga totalmente no nome da Editora Scriptum. Passemos agora, à análise de
alguns componentes biográficos de Ana Martins Marques. Verificamos que em relação ao seu
despertar para literatura, há similaridade na idade com Neves, pois ela também começou a
escrever poemas ainda criança, em torno dos 9 ou 10 anos, mas diz que demorou bastante para
publicar. Só lançou seu primeiro livro com mais de trinta anos.

Não sei dizer em que momento passei a me considerar escritora, na verdade nem sei se
me considero escritora. Prefiro pensar que sou alguém que escreve, alguém para quem a
leitura e a escrita têm um papel cotidiano e importante. Mas escrever é um ofício
estranho, instável; depois de escrever um poema, nunca sei se serei capaz de escrever
novamente.77

Sobre os autores que influenciaram sua escrita:

Nos meus três livros há poemas dedicados ou escritos a partir de textos de outros autores
(Drummond, Manuel Bandeira, Ana Cristina César, e. e. cummings, Joseph Brodsky...),
que estão, claro, entre os meus preferidos. Gosto da ideia de uma escrita que deixa ver os
rastros da leitura. Mas há também autores que estão entre os meus preferidos, como
Kafka e Borges, e que não entram diretamente no que escrevo. 78

76
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. Companhia das Letras, 2015, p. 28.
77
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
78
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
74
Ela considera que o encontro com alguns poetas foi decisivo para a sua escrita, seja
porque a leitura desses autores mobilizou o seu desejo de escrever, seja porque alterou ou
ampliou sua compreensão do que a poesia poderia ser.

Foi o caso, em diferentes épocas, do encontro com a poesia do Bandeira, do Drummond,


da Ana Cristina Cesar, da Adília Lopes, do Joan Brossa, da Wislawa Szymborska...Mas a
ideia de “influência” é complicada; é preciso considerar, sempre, como diz a ensaísta
portuguesa Silvina Rodrigues Lopes, que a herança supõe sempre amor e infidelidade ao
que se recebe. A ‘influência’ pode incluir também a resistência, a diferença, o desvio...79

Sobre o primeiro livro, em 2009, pela Scriptum:

Em 2007, ganhei o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na categoria “Poesia – autor


estreante”, e no ano seguinte recebi novamente o mesmo prêmio, dessa vez na categoria
‘Poesia’. A vida submarina reúne os poemas premiados nesses concursos, que eu agrupei
e reorganizei no momento de preparação do livro. Olho pra esse livro como se olha para
uma espécie de terreno com camadas geológicas de épocas distintas: são poemas escritos
ao longo de muitos anos, que em alguns casos ficaram muito tempo engavetados, que
foram muitas vezes reescritos...80

A relação de Marques com a Editora Scriptum começou quando ela ainda frequentava a
livraria como cliente, tal qual Neves.

Passava por lá quase toda semana, admirava o cuidado na seleção dos livros e o fato de a
livraria manter uma estante considerável de poesia e em especial de poesia
contemporânea, algo bastante raro em livrarias. Também conhecia algumas publicações
da editora, por exemplo o livro O cadáver ri de seus despojos, do Carlos de Britto e
Mello. Em 2009, eu considerava que tinha um livro pronto, mas não sabia bem o que
fazer para publicá-lo: não conhecia muita gente no meio editorial, e as duas ou três
tentativas que fiz, enviando os originais para editoras, não deram certo... Procurei então
o Betinho, e perguntei se eles teriam interesse na publicação; o Betinho submeteu o livro
ao seu corpo editorial e fez uma proposta de edição. Sou muito grata por essa acolhida,
pelo modo afetuoso como trataram o livro de uma estreante completamente
desconhecida.81

Quanto aos diferenciais da Scriptum, Marques acha que são a disposição para a
publicação de autores inéditos, ainda sem a chancela da crítica e a atenção para a poesia, um
gênero que tende a ter pouca recepção nas grandes editoras, que fazem a diferença.

79
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
80
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
81
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
75
Sobre ser procurada para avaliar algum original, ela afirma que além de escrever, possui
um trabalho regular (redatora/revisora na Assembleia Legislativa de Minas Gerais); “infelizmente
não me sobra muito tempo livre para ler originais. Já li alguns originais de amigos, mas não tenho
condições de fazer isso regularmente”, explica Marques.
As dificuldades de se conseguir um aval por parte de editoras também fizeram parte da
história de Marques:

Antes de publicar meu primeiro livro pela Scriptum, enviei os originais para duas ou três
editoras. De uma delas nunca recebi resposta; uma outra deu uma resposta em que
elogiava o livro, mas ressaltava que não estava publicando poesia por uma questão
mercadológica. Depois de publicar meu primeiro livro, recebi um convite da Companhia
das Letras para lançar um livro na coleção de poesia contemporânea da editora, e desde
então tenho publicado meus livros lá. 82

Em relação à ser incluída em antologias:


Acho que vale como um reconhecimento do trabalho da editora, não apenas do trabalho
de ‘garimpagem’ de novos autores, mas também de divulgação de suas publicações.
Tenho a impressão de que a Scriptum compensa as dificuldades de distribuição dos
livros, comum a todas as pequenas editoras, com uma rede muito consistente de
contatos, o que faz com que os livros acabem chegando a várias pessoas envolvidas com
literatura, críticos, jornalistas, leitores. 83

Quanto ao papel cultural desempenhado pela Scriptum, ela afirma que

a Scriptum tem um papel muito importante na vida literária da cidade, não apenas como
editora e livraria (uma livraria, aliás, onde se pode encontrar várias publicações que não
se encontram em outras livrarias da cidade, notadamente publicações de poesia). É
também um local de encontro e de conversa, um espaço onde acontecem lançamentos,
eventos, leituras de poesia. Não sei dizer o que precisa ser feito para que o espaço se
mantenha... Acho que é fundamental manter as atividades que fazem da livraria um
espaço de encontro e de convívio. Talvez fosse importante um investimento mais
sistemático na divulgação e uma presença mais incisiva nas redes sociais, mas o
fundamental, me parece, é que o espaço continue a ser frequentado por aqueles que se
interessam por literatura.84

Sobre o perfil dos autores lançados pela Editora Scriptum, podemos dizer, no caso das
autoras apresentadas, que seria, basicamente: pessoas que frequentam a livraria e estabelecem
laços de convivência, de relacionamento com a Scriptum, antes de adentrar a editora; são

82
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
83
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
84
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
76
autores(as) estreantes, que podem ou não ter buscado outras editoras antes da Scriptum, mas que
percebem a facilidade de se lançar no mercado pela porta de entrada de uma pequena editora,
com reputação sólida; são pessoas que apresentam uma escrita madura, em geral são maduras
também, lançando o primeiro livro por uma editora após os 30 anos ou mais; possuem uma outra
profissão além de ser poeta.
As demais perguntas a respeito da edição complementam dados sobre as atividades
editoriais ou refletem suas opiniões pessoais sobre a importância e as perspectivas sobre a Editora
Scriptum.

CONCLUSÃO

Esse trabalho se tornou viável porque a pesquisadora teve acesso total aos dados da
pequena casa editorial analisada, vivenciou seus processos diários e acompanhou toda a rotina
desde a recepção dos originais até a publicação e lançamento dos livros. Além disso, pôde
acompanhar o pós-lançamento. Teve acesso aos autores, editores, absorveu e executou todas as
atividades inerentes ao correto funcionamento tanto da editora quanto da livraria. Outra questão
que viabilizou o desenvolvimento do trabalho é que os dados sobre o mercado editorial brasileiro
são de fácil acesso através de entidades como o Sindicado Nacional dos Editores de Livros
(SNEL), Câmara Brasileira do Livro (CBL), periódicos, livros, sites, etc.
Às vezes, um pouco de poesia pode aliviar o fardo da existência de uma pessoa, seja
produzindo e/ou consumindo. E esse papel tão bem desempenhado pela Scriptum, pode um dia
acabar. A Scriptum já enfrentou várias crises econômicas, mas nenhuma como esta última que já
vem perdurando por mais de dois anos. A persistência do sócio-proprietário, em se manter no
negócio, como vimos, está intimamente ligada à sua paixão pela Literatura, em especial pela

77
Poesia e também pela Psicanálise. Quando perguntado sobre a importância da Scriptum para o
lançamento de novos talentos, Belfort respondeu-nos:

A importância é uma confluência de vários fatores. Temos que falar dos autores que nos
procuram, eles sabem que terão uma leitura do texto isenta, o melhor para aquilo virar
um livro. O autor, é lógico, tem que confiar. Ele não vai chegar aqui com o livro pronto.
Ele tem que saber que as pessoas envolvidas não vão mudar o livro todo dele, não é
isso; elas irão contribuir para aquilo que é transformado em um livro, ter uma identidade
da Scriptum. Acho que a Scriptum poderia contribuir até mais, se nós tivéssemos apoio
de instituições. Pra gente é muito complicado. Geralmente as grandes editoras estão ou
com capital estrangeiro, ou com dinheiro do BNDES, ou um grande banco que aplicou
dinheiro nelas. Então é lógico, elas podem arriscar muito mais, elas têm um suporte
financeiro, que a Scriptum e outras editoras não podem arriscar. Cinco livros errados,
apostas erradas, quebra uma livraria e quebra a Scriptum. Errado da seguinte forma,
errado de investir. Não que o livro seja ruim, o livro pode até ser bom, mas ser bom não
quer dizer que vai ser multiplicado em dinheiro. Então a gente está sempre arriscando
com cuidado, tentando medir aquilo certinho, pra não comprometer a livraria e a editora,
sendo que outras grandes editoras têm mais fôlego, tem mais possibilidades, podem ser
socorridas. Agora, dizer se eu contribuí com a editora, com a minha existência, e quando
eu falo eu, estou falando de mim e de toda a minha equipe de trabalho, eu acho que eu
contribuí sim.85

Essa noção de estar trabalhando e contribuindo para a construção de algo maior parece
nortear todos os envolvidos. É uma jornada transcendental, estar realizando este trabalho de
edição de livros transcenderá a existência. E realmente, como dissemos no capítulo que analisa o
catálogo, muitos autores faleceram mas deixaram suas obras, o que os torna imortais. A arte tem
exatamente esse poder: imortalizar. Mas só quando se tornam conhecidos. Pois como afirma
Belfort, não basta produzir, tem que fazer o livro circular e ser lido pelas pessoas.
Em termos de contribuição, este trabalho contribui com as informações presentes sobre o
estudo de caso, que alcançou os resultados pretendidos, mostrando a importância do trabalho da
Scriptum e levantou várias lacunas que futuramente outros estudiosos poderão se debruçar, tais
como: estudos sobre a rede de distribuição de livros no Brasil e como seus custos impactam na
cadeia de valor e precificação do livro e estudos literários sobre os diversos autores lançados pela
Scriptum, que se destacam na cena contemporânea; o comportamento das livrarias-editoras
originadas de uma estrutura familiar.
O depoimento de Moreira sobre a importância da Scriptum também respalda nossas
conclusões e lança algumas luzes sobre estudos futuros a serem feitos nesta área:

85
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
78
Primeiro, considero necessário localizar a Scriptum, ela é uma empresa de família, com
o Betinho à frente do negócio. Isso se faz importante para se dimensionar o grau e a
extensão de cada decisão tomada no âmbito da Editora. Como toda empresa de família,
qualquer decisão envolve mais que a própria empresa, movendo todo o ambiente
familiar consigo. É preciso, então, para esse perfil de empresa, ter-se o cuidado para se
compreender as ações e seus tempos de execução. Esse tipo de empresa cola a sua
imagem ao seu proprietário que, por sua vez, responde, mesmo fora do expediente de
trabalho, aos seus procedimentos. Em outras palavras, se o Betinho tira férias e se
encontra com alguém do meio, ele passa, imediatamente, ao tempo do negócio,
interrompendo o seu ócio. Também significa dizer que mesmo em seu ócio, suas ações
serão diretamente vinculadas à marca de sua Editora. Só isso deveria gerar um estudo
que pensasse a diferença entre as editoras familiares e aquelas que se desvincularam ou
nunca passaram por essa fase em sua consolidação no mercado.
Dito isso, acredito que a Scriptum tenha alcançado um lugar de destaque no seguimento
em que atua entre as editoras, a das pequenas. O fato de seu catálogo ter se diversificado,
chegando à literatura infanto-juvenil e à psicanálise, somado à recente necessidade de se
abrir um novo selo, Alma de Gato, já seriam indícios fortes de sua relevante presença.
Para mais, é preciso considerar que a Editora, já a alguns anos, recebeu o
reconhecimento das distribuidoras de livros, o que também confirma o bom sucesso
dessa empresa. Sabe-se que um dos pontos frágeis das pequenas empresas que trabalham
com o livro é exatamente conseguirem que as distribuidoras se interessem em enviar
para as lojas os seus produtos. Outro fator que chama a atenção, nesse sentido, é o fato
de alguns dos autores de seu catálogo passarem a publicar por grandes editoras do país.
Isso mostra uma consolidação dos trabalhos da Scriptum como uma marca de interesse
social, cultural e mercadológico. Isso sem abrir mão de seus princípios norteadores: zelo,
cuidado e clareza no trato com os autores e seus respectivos trabalhos. 86

Iniciativas necessárias por parte do governo ensejando incentivos para manter a Scriptum
em funcionamento, assim como outras livrarias e editoras são apontadas por Rosa:

Mais do que um grande problema que todas as livrarias estão passando com a crise
econômica e política do país, precisamos urgentemente criar uma política cultural que faça,
ou melhor, que ajude a combater o analfabetismo cultural que reina no Brasil. É preciso
investir em cultura para sempre e não apenas um show na praça que acaba ali (nada contra
shows). A nossa Virada Cultural não vira nada, pois não cria identidade, apenas uma festa
passageira. A programação praticamente não tem nada de leitura. Por outro lado, a
concorrência desleal da internet com os livreiros é enorme. O mundo mudou muito rápido
com a internet e num país, cuja o índice é baixíssimo de leitores, de pessoas que frequentam
livrarias não apenas para comprar, mas como for de passeio também, acaba desparecendo
ainda mais rápido. A queda de público em livrarias nunca foi muito grande, mas atualmente
vem caindo de forma vertiginosa. O que salva são os lançamentos. Mas nem todos. A minha
sugestão é que o governo de Minas, (Estado e Prefeitura) fechem todos ou quase todos os
sábados aquele quarteirão onde se concentra as principais livrarias de Belo Horizonte. É
preciso que o poder público e as pessoas de um modo geral entendam que um país sem
leitores é um país que continuará a dar passos de bicho preguiça. 87

86
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
87
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
79
Schiffrin (2007) aponta o modelo seguido por ele como uma das saídas para manter-
se no ramo editorial sem viver as pressões exercidas pelo modelo tradicional de negócios que
sufoca a bibliodiversidade e as publicações de qualidade em detrimento do alcance de resultados
lucrativos.

Um último modelo possível é o que seguimos quando deixei a Pantheon Books, editora
que dirigi por aproximadamente trinta anos, em Nova York. Diante das crescentes
exigências de rentabilidade por parte do novo grupo proprietário, decidi que uma editora
sem fins lucrativos seria a única maneira de continuar sem comprometer a qualidade
intelectual. Na realidade, criamos o equivalente a uma editora universitária sem
universidade, o que nos permitiu visar um público mais amplo. Este ano, a The New
Press comemora seu décimo quinto aniversário, com cerca de oitenta títulos publicados
por ano. Muitos foram os que, no meio editorial nova-iorquino, previram um fracasso…
Mas contamos com o excepcional apoio da maioria dos autores da casa e com uma ajuda
substancial de um grande número de fundações norte-americanas mais esclarecidas.
Estas há muito tempo compreenderam que, nos Estados Unidos, a atividade cultural, a
música, a dança, o teatro e até mesmo a televisão inteligente não poderiam sobreviver
num contexto capitalista, e quiseram estender essa lógica ao mundo editorial. 88

E para concluir ficamos com a resposta de Belfort, a respeito do que precisaria ser feito
para que a Scriptum não sucumbisse e fechasse suas portas. É uma fala contundente de um
livreiro-editor que merece um “microfone”, como ele diz:

Primeiro, eu diria para todos os políticos: parem de falar mentiras! Para o prefeito, o
governador, a presidência, todos os órgãos. Parem de falar que livro não tem imposto. Isso é
uma mentira. Toda a cadeia tem imposto, a gráfica, o distribuidor e a livraria. Tudo paga
imposto. IPTU. Se é uma casa de ferragens ou uma livraria, pouco importa, é o mesmo
valor. Quando você manda um livro de 500g e uma caixa de ferradura de 500g pelo correio,
o preço é o mesmo. Em um país continental, isso é muito simples. Se você tem 500 tênis
cobrando o mesmo valor do frete de um livro, e tem um estoque de 500 livros, o que você
acha que vai vender mais, o tênis ou o livro? Então olha aí o mercado consumidor. Tem um
assessor do Clinton que disse assim: “É a economia, seu burro!” Eu diria assim pra eles:
“Não é só economia, seus burros, é educação!”.
Enquanto não estiver conjugado educação com economia você não vai ampliar o mercado
consumidor. Eu acho o mercado uma questão crônica. O problema mercado consumidor e
livro enquanto produto cultural não se separam, mas no Brasil se separa de acordo com as
conveniências. Então assim: se fosse nos EUA, porque lá o mercado é grande? Porque lá
eles investiram em educação e tiveram o crescimento de renda, lá a classe média é grande.
Lá o livro é tratado como mercadoria. O agente ganha, o autor ganha e ganha muito; a
editora ganha, a livraria ganha, todo mundo ganha. Vamos para a Europa. Na Europa tem
preço único, certo? Aí, quando eu ouço alguém dizendo: “Ah, mas livro é muito caro”, “É
por isso que a Amazon...eu só tô comprando na Amazon porque lá eles dão não sei quanto
de desconto...”, se essa pessoa for um jornalista, eu falo que também sou a favor. Por que

88
SCHIFFRIN, André. O revide das pequenas editoras. In: Le Monde Diplomatique/ Brasil. Disponível em:
<http://diplomatique.org.br/o-revide-das-pequenas-editoras/>. Acesso em: 5 jun 2017.

80
não entram as outras televisões internacionais, de fora, aqui no mercado? Outros jornais,
com dinheiro de fora? Eu também sou a favor! Mas aí, esse que está criticando, o jornalista,
ele não reconhece, ele quer comprar o livro mais barato. Só que na Europa, ele não
consegue, a Europa não deixou, porque o preço do livro é o preço tabelado, a Amazon não
vai fazer isso lá. Na França ela não faz. Agora por que aqui se faz? Se a França tem um
mercado consumidor de leitores enorme e eles não deixam. Quem está certo? A França com
a produção dela ou nós no Brasil por aceitarmos? A livraria de rua vende um livro por
R$50,00, preço de capa. Na Amazon, é R$25,00. É normal. Você vai comprar por R$25,00.
Mas quantas livrarias, e não só livrarias, mas editoras também, vão aguentar? Pouquíssimas!
Quem vai ditar o que vai ser editado são as grandes redes. Aí o que ela determina? Ela
determina volume! Entra pilha, colocou vendeu, entra pilha - aí não importa – você mata
todo o segmento onde você trabalha com o maior cuidado, não é coisa de grande circulação,
ou então você tem que ouvir uma agente literária falando que o Brasil não vende muito
porque os escritores são muito intelectualizados e teria que abaixar o nível. Ou seja: teria
que abaixar o nível para gente conseguir vender e traduzir lá pra fora.
As pessoas têm que ser sinceras, dizer o que elas querem. E aqui a culpa não é só de um, a
culpa é de todo mundo. A culpa é do livreiro, é do editor, é do autor, ainda mais dos autores
que têm voz, e do governo. Quanto ao governo, se alguns autores que têm voz, microfone,
dissessem que isso é um absurdo, porque a Amazon faz isso no Brasil e não faz em alguns
países da Europa, isso teria uma repercussão. Mas vocês acham justo isso? Uma editora,
uma empresa determinar o que vai ser editado ou não no Brasil? É justo? Não é justo! Então
falta realmente a gente ser honesto com a gente mesmo, juntar os escritores – ainda mais os
escritores que estão escrevendo para jornais, porque quando é de interesse deles – “Ah, tá
legal, o meu livro é R$50,00 o preço de capa, mas tá vendendo muito na Amazon por
R$25,00” Aí toda ação é muito egoísta, eles só pensam na parte deles. Ele acha que o livro
dele está vendendo uma quantidade na Amazon, só que ele está se esquecendo que pode ser
o último livro dele editado. E se o livro dele não tiver um próximo, talvez ele não tenha
mais sucesso. Então eu acho que falta isso. E fazer o governo ouvir, nós precisamos decidir
o que nós queremos. Parar com essa esquizofrenia. Eu acho que a gente precisava pegar a
terceira via. Nós não precisamos ter mercado, nem uma proteção total igual à França.
Porque nós nunca vamos ser franceses e nós nunca vamos ser americanos. Nós temos um
componente que é brasileiro. E nós temos que arrumar essa terceira via, porque se não tiver
vai continuar fechando livraria, vai continuar fechando editora, infelizmente. E os alunos
vão continuar se formando na universidade sem ir em uma biblioteca, sem nunca ter entrado
em uma livraria, nunca ter entrado em um sebo, e é esse o nosso perfil. A maior parte dos
alunos não passa por uma biblioteca. Passa no xerox, agora tem muita coisa em PDF, mas
nem sabem o que é e como está a disposição dos livros em uma biblioteca. Não estou
dizendo que são todos, mas uma boa parte é. 89

89
Informações obtidas em entrevista respondida para esta pesquisa.
81
REFERÊNCIAS

ASSIS, José Carlos. Livro e leitura. Le Monde Diplomatique Brasil. 02 de outubro de 2014.
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_________________. Uma introdução à história editorial brasileira. Cultura,


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CAMPOS, Geir. Carta aos livreiros do Brasil. In: BRAGANÇA, Aníbal; SANTOS, Maria Lisete
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Campos & Carta aos livreiros do Brasil, poemas e outros textos inéditos. Niterói: Imprensa
Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2002. p. 83-120.

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LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. 3. ed.
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MACHADO, Ubiratan. Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras. São Paulo:
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MACHADO, Ubiratan. A etiqueta de livros no Brasil: subsídios para uma história das livrarias
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82
MATARELLI, Juliane; QUEIROZ, Sonia. (Org.). Editoras mineiras panorama histórico, v.1.
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MOURA, Rodrigo. Geração da poesia brasileira da década de 90 colhe novos


frutos. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0506200114.htm>. Acesso
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NEVES, Simone de Andrade. Corpos em Marcha. Belo Horizonte: Scriptum, 2015.

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________________. 7 poetas hoje. Revista Mallamargens. Disponível em: <
http://www.mallarmargens.com/2016/06/7-poetas-hoje-por-mario-alex-rosa.html>. Acesso em:
Acesso em: 03 jun 2017.

SILVA, Rogério Barbosa da. Sobre a editora Scriptum: a difícil conciliação entre o negócio e os
prazeres dos livros. In. CHIPARRA, Juan Pablo et al (Org.).Escrever, editar, publicar e ler:
Colóquio Internacional de Literatura Ibero-americana. Viçosa: CILIBAM, 2015. p. 50

SCHIFFRIN, André. O revide das pequenas editoras. In: Le Monde Diplomatique/ Brasil.
Disponível em: <http://diplomatique.org.br/o-revide-das-pequenas-editoras/>. Acesso em: 11 jun
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________________. O negócio dos livros e as grandes corporações. Entrevista concedida ao


Jornal O Globo e publicada em 1º.12.2006 no blog do caderno Prosa e Verso. Disponível em:
<http://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/o-negocio-dos-livros-as-grandes-corporacoes-
15671.html?loginPiano=true>. Acesso em: 11 jun 2017.

SIQUARA, Carlos Andrei. Os passos da Dubolsinho. Disponível em:


<http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/os-passos-da-dubolsinho-1.1085470>.
Acesso em: 21 maio 2017.

THOMPSON, John B. Mercadores de Cultura: o mercado editorial no século XXI. São Paulo:
Editora Unesp, 2013.

83
ANEXO 1

O Catálogo da Scriptum - Excel


PESO COMPRIMENT Nº DE
TITULO AUTOR EDITORA ISBN/ISSN VALOR EDIÇÃO ANO ASSUNTO
(GR) O PÁG.

1 TRIVIO ALEIXO, RICARDO SCRIPTUM FORA DE 1ª 2001 POESIA


CATÁLOGO

2 DESAFINS ALVARENGA, EBER SCRIPTUM 9788589044035 FORA DE 0,116 14x19cm 64 1ª 2002 POESIA
CATÁLOGO GR

3 MEU PEQUENO FIM MARQUES, FABRIC SCRIPTUM FORA DE 1ª 2002 POESIA


CATÁLOGO

4 FUNDO BRANCO MATTOS, SERGIO SCRIPTUM 978858904405X 25,00 0,092 12x18 CM 56 1ª 2003 POESIA
SOBRE FUNDO GR
BRANCO

5 MAQUINA ZERO ALEIXO, RICARDO SCRIPTUM FORA DE 1ª 2003 POESIA


CATÁLOGO

6 SOLO DE KALIMBA FERREIRA, KIKO SCRIPTUM 9788580044041 28,00 0,098 15x15 CM 69 2ª 2003 POESIA
GR

7 TRANSVERSOS MOREIRA, WAGNER SCRIPTUM 9788589044092 28,00 0,097 12x18 CM 56 1ª 2003 POESIA
GR

8 DIAS, OS MENEZES, ADRIANO SCRIPTUM 9788589044076 26,00 0,087 12x21cm 48 1ª 2004 POESIA
GR

9 MULHERES ANJOS, CARLOS V SCRIPTUM 9788589044106 30,00 0,110 13x21 CM 72 1ª 2005 POESIA
GR

10 TRANSPLANTE E UM CANCADO, JOSE M SCRIPTUM 9788589044080 28,00 0,087 12x21 CM 44 1ª 2005 POESIA
BAIAO DE DOIS, O GR

11 PLAQUETE - AVILA, AFFONSO SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


AFFONSO AVILA CATÁLOGO

12 PLAQUETE - ANDRE DICK, ANDRE SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


DICK CATÁLOGO

13 PLAQUETE - FILHO, ARMANDO SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


ARMANDO FREITAS CATÁLOGO
FILHO

14 PLAQUETE - AZEVEDO, CARLIT SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


CARLITO AZEVEDO CATÁLOGO

15 PLAQUETE - AVILA, CARLOS SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


CARLOS AVILA CATÁLOGO

16 PLAQUETE - NUNES, CLAUDIO SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


CLAUDIO NUNES CATÁLOGO

17 PLAQUETE - DUDA MACHADO, DUDA SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


MACHADO CATÁLOGO

18 PLAQUETE - CALIXTO, FABIAN SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


FABIANO CALIXTO CATÁLOGO

19 PLAQUETE - JULIO GUIMARAES, JULI SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


CASTANON CATÁLOGO

20 PLAQUETE - MARIO ROSA, MARIO ALE SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


ALEX ROSA CATÁLOGO

21 PLAQUETE - POLITO, RONALD SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


RONALD POLITO CATÁLOGO

22 PLAQUETE - TARSO MELO, TARSO DE SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 POESIA


DE MELO CATÁLOGO

84
23 LOUCURAS BRODSKY, GRACIE SCRIPTUM 9788589044370 FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI
DISCRETAS: UM CATÁLOGO SE
SEMINARIO SOBRE
AS CHAMADAS

24 MANUAL DE ROCHA, ALESSAND SCRIPTUM FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI


CARTEIS CATÁLOGO SE

25 PSICANALISE DO SANTIAGO, ANA L SCRIPTUM 9788589044615 FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI


HIPERATIVO E DO CATÁLOGO SE
DESATENTO, A..
COM

26 PSICANALISE E A LAURENT, ERIC SCRIPTUM 9788589044592 FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI


ESCOLHA DAS CATÁLOGO SE
MULHERES, A

27 SCILICET - A ORDEM VARIOS SCRIPTUM 9788589044431 FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI


SIMBOLICA NO CATÁLOGO SE
SECULO XXI

28 TRATAMENTO MEZENCIO, MARCI SCRIPTUM 9788589044745 FORA DE 1ª 2005 PSICANÁLI


POSSIVEL DAS CATÁLOGO SE
TOXICOMANIAS...
COM LACAN

29 AUTOCIOGRAFIAS ASSUNCAO, SCRIPTUM 9788589044110 38,00 0,233 14X21CM 152 1ª 2006 ENSAIOS
TEODORO GR

30 MOINHO BALBINO, EVALDO SCRIPTUM 9788589044127 30,00 0,139 15x21 CM 104 1ª 2006 POESIA
GR

31 CADAVER RI DOS MELLO, CARLOS D SCRIPTUM 9788589044134 FORA DE 0,213 15X21CM 120 1ª 2007 CONTOS
SEUS DESPOJOS, O CATÁLOGO GR

32 ESPERANCA GUIMARAES, JUAREZ SCRIPTUM 9788589044158 38,00 0,225 14,5X20,5CM 144 1ª 2007 ENSAIOS
CRITICA, A GR'

33 MINIMA MEMORIA CUNHA, ALECIO SCRIPTUM 9788589044189 35,00 0,138 21x15 CM 64 1ª 2007 POESIA
GR

34 SOBRE EROS KANGUSSU, IMACU SCRIPTUM 9788589044141 38,00 0,225 14x21 CM 71 1ª 2007 FILOSOFIA
GR

35 STET FERREIRA, KIKO SCRIPTUM 9788589044172 30,00 0,115 16x19CM 48 1ª 2007 POESIA
GR

36 VIA EXPRESSA MENEZES, ADRIAN SCRIPTUM 9788589044165 23,00 0,066 08x21 CM 84 1ª 2007 POESIA
GR

37 APESAR DO TEMPO... MENDES, NANCY SCRIPTUM 9788589044219 36,00 0,243 15X21CM 176 1ª 2008 ROMANCE
MARIA GR

38 EFEITOS MILLER, JACQUES SCRIPTUM 9788589044226 35,00 0,330 15x21cm 160 1ª 2008 PSICANÁLI
TERAPEUTICOS GR SE
RAPIDOS EM
PSICANALISE -
CONV

39 ESTUDOS MILNER, JEAN-CL SCRIPTUM 9771983076009 40,00 0,250 17x24 CM 203 1ª 2008 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL1 GR SE
N1 - ALL STAR NA
CIVILIZAC

40 ESTUDOS CLERAMBAULT; LA SCRIPTUM 977198307600902 40,00 0,250 17x24 CM 405 1ª 2008 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL1 GR SE
N2

41 CAMINHOS DA VIDA MIRANDA, JOSE SCRIPTUM 9788589044196 40,00 0,531 15X30CM 192 1ª 2008 POESIA
NA POESIA AMÉRICO - ORG. GR
BRASILEIRA

42 INCLUSAO E SENRA, ANA HELO SCRIPTUM 9788589044202 30,00 0,248 14x21 CM 136 1ª 2008 PEDAGOGI
SINGULARIDADE - GR A
UM CONVITE AOS
PROFESSO

43 OLHO CLINICO - ROCHA, GUILHERM SCRIPTUM 9788589044233 40,00 0,369 15X21 CM 268 1ª 2008 ENSAIOS
ENSAIOS E ESTUDOS GR
SOBRE ARTE E PSIC

85
44 ASSIM CANTARAM FROTA, JOSE A. SCRIPTUM 9788589044271 33,00 0,161 14X17CM 150 1ª 2009 POESIA
COM AMOR E RAIVA GR

45 CURINGA 28 - VARIOS SCRIPTUM 16762495 25,00 0,253 17X23CM 144 1ª 2009 PSICANÁLI
SINTOMA E LACO GR SE
SOCIAL

46 CURINGA 29 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,270 17X23CM 156 1ª 2009 PSICANÁLI
DEPRESSAO E GR SE
BIPOLARIDADE

47 ESTUDOS VARIOS SCRIPTUM 9771983076009 40,00 0,331 17x24 CM 160 1ª 2009 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL2 GR SE
N3 - BIBLIOFILIA
CONTRA BI

48 ESTUDOS VARIOS SCRIPTUM 9771983076009 40,00 0,359 17x24 CM 164 1ª 2009 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL2 GR SE
N4 - DO SIGNO AO
TRACO

49 JANELA PRESA NO SANTOS, BOAVENT SCRIPTUM 9788589044264 38,00 0,175 14x20 CM 132 1ª 2009 POESIA
ANDAIME GR

50 MUSIKALIGRAFIA FERREIRA, KIKO SCRIPTUM 9788589044288 33,00 0,184 15x21 CM 88 1ª 2009 POESIA
GR

51 MINHAS MURTA, EDUARDO SCRIPTUM 9788589044363 38,00 0,231 15x21 CM 160 1ª 2010 CONTOS
CONDOLENCIAS A GR
SENHORA VERA

52 CURINGA 30 - DOR VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,270 17X23CM 144 1ª 2010 PSICANÁLI
DE EXISTIR E GR SE
ALEGRIA DE VIVER

53 CURINGA 31 - O VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,270 17X23CM 160 1ª 2010 PSICANÁLI
ANALISTA GR SE
ANALISANTE

54 ENSAIOS DE BARRETO, FRANCI SCRIPTUM 9788589044301 62,00 0,462 15x21 CM 336 1ª 2010 PSICANÁLI
PSICANALISE E GR SE
SAUDE MENTAL

55 ESTUDOS VARIOS SCRIPTUM 9771983076009 52,00 0,250 17x24 CM 209 1ª 2010 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL.3 GR SE
N6 & VOL.4 N/7 -
PSICANAL

56 ESTUDOS VARIOS SCRIPTUM 977198307600905 40,00 0,250 17x24 CM 135 1ª 2010 PSICANÁLI
LACANIANOS VOL3 GR SE
N5 - DO TRACO AO
CONTINGEN

57 MATRIARCADO, CASTRO, SERGIO SCRIPTUM 9788589044349 35,00 0,133 15x21 CM 86 1ª 2010 PSICANÁLI
ANTROPOFAGIA & GR SE
PSICANALISE

58 METODOLOGIA EM TEIXEIRA, ANTON SCRIPTUM 9788589044325 40,00 0,220 15,5 X 21 CM 168 1ª 2010 PSICANÁLI
ATO GR SE

59 TODO MUNDO LAIA, SERGIO & SCRIPTUM 9788589044356 55,00 0,362 15X21CM 264 1ª 2010 PSICANÁLI
DELIRA GR SE

60 NO TAPA ARAUJO, LEONARD SCRIPTUM 9788589044318 43,00 0,152 14x21 CM 88 1ª 2010 POESIA
GR

61 PELADA POETICA II VARIOS SCRIPTUM 25,00 0,106 19x28 CM 32 1ª 2010 POESIA


GR

62 DEVENIR, O TREVISAN, CIRO SCRIPTUM 9788589044332 45,00 0,287 15x21cm 215 1ª 2011 FICÇÃO
GR

63 CURINGA 32 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,329 17X23CM 161 1ª 2011 PSICANÁLI
CONFINS DO GR SE
SIMBOLICO

64 CURINGA 33 - COMO LAIA, SERGIO SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,336 17X23CM 168 1ª 2011 PSICANÁLI
SE ANALISA HOJE GR SE

86
65 FERNANDO PESSOA ROSA, MARCIA SCRIPTUM 9788589044417 55,00 0,395 15x21 CM 304 1ª 2011 PSICANÁLI
E JACQUES LACAN: GR SE
CONSTELACOES,
LET

66 HOMEM DOS FIGUEIRO, ANA M SCRIPTUM 9788589044240 45,00 0, 281 15x21 CM 204 1ª 2011 PSICANÁLI
LOBOS... COM GR SE
LACAN, O

67 ESCRITOS SOBRE ORG. ROGERIO BA SCRIPTUM 9788589044448 45,00 0,304 15x21 CM 224 1ª 2011 TEORIA E
POESIA GR CRÍTICA
LITERÁRI
A

68 LOUCURAS, LAURENT, ERIC SCRIPTUM 9788589044387 40,00 0,164 15x21 CM 108 1ª 2011 PSICANÁLI
SINTOMAS E GR SE
FANTASIAS NA VIDA
COTIDIANA

69 PATU: UMA MULHER HOLCK, ANA LUCIA SCRIPTUM 9788589044394 36,00 0,204 15X21CM 160 1ª 2011 PSICANÁLI
ABISMADA GR SE

70 PSICANALISE CASO LIMA, CELSO REN SCRIPTUM 9788589044400 45,00 0,239 15X21CM 176 1ª 2011 PSICANÁLI
ACASO GR SE

71 EM NOME DO FILHO ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 9788589044561 38,00 0,175 14X21CM 112 4ª 2012 FICÇÃO
GR

72 ESTACAO DAS ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 9788589044554 38,00 0,225 14X21CM 149 4ª 2012 FICÇÃO
CHUVAS, A GR

73 AUTISMO(S) E MURTA, ALBERTO; SCRIPTUM 9788589044462 43,00 0,293 14X21CM 216 1ª 2012 PSICANÁLI
ATUALIDADE: UMA GR SE
LEITURA
LACANIANA

74 CURINGA 34 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 35,00 0,330 17X23CM 192 1ª 2012 PSICANÁLI
INSISTENCIA DA GR SE
PULSAO

75 CURINGA 35 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 35,00 0,260 17X23CM 143 1ª 2012 PSICANÁLI
PSICANALISE, GR SE
POLITICA E GOZO

76 FEMININO QUE ORG. CALDAS, HE SCRIPTUM 9771983076009 60,00 0,398 15x21 CM 292 1ª 2012 PSICANÁLI
ACONTECE NO GR SE
CORPO, O - A
PRATICA DA P

77 FEMININO UM BESSA, GRACIELA SCRIPTUM 9788589044578 44,00 0,235 15X21 CM 160 1ª 2012 PSICANÁLI
CONJUNTO ABERTO GR SE
AO INFINITO

78 FRACASSO MARGARET PIRES SCRIPTUM 9788589044608 55,00 0,390 15X21 CM 432 1ª 2012 PSICANÁLI
ESCOLAR E A GR SE
FAMILIA, O

79 MULHERES E SEUS FUENTES, MARIA SCRIPTUM 9788589044479 60,00 0,427 15x21 CM 312 2ª 2012 PSICANÁLI
NOMES, AS - LACAN GR SE
E O FEMININO

80 NOVAS VIGANO, CARLO SCRIPTUM 9788589044295 55,00 0,365 15X21 CM 259 2ª 2012 PSICANÁLI
CONFERENCIAS GR SE

81 PSICOSE JACQUES-ALAIN M SCRIPTUM 9788589044486 80,00 0,580 15X21CM 432 1ª 2012 PSICANÁLI
ORDINARIA, A - A GR SE
CONVENCAO DE
ANTIBES

82 TODO O PAO DO CLERQ, FABIOLA SCRIPTUM 9788589044523 40,00 0,190 15X21CM 126 1ª 2012 PSICANÁLI
MUNDO GR SE

83 OCO DA CAMPOS, MICHELL SCRIPTUM 9788589044493 35,00 0,126 15X21 CM 72 1ª 2012 POESIA
PORCELANA, O GR

84 OURO PRETO ROSA, MARIO ALEX SCRIPTUM 9788589044509 37,00 0,108 15X21CM 64 1ª 2012 POESIA
GR

85 QUARENTA POEMAS PENNA, ALICIA D SCRIPTUM 9788589044455 38,00 0,173 22x15 CM 88 1ª 2012 POESIA
E DEZ GR

86 TEXTUALIDADE MAIA, ELISA ARR SCRIPTUM 9788589044547 55,00 0,380 14X21CM 304 1ª 2012 ENSAIOS
LLANSOL GR

87
87 CAO, O KOTILEVSKY, VLA SCRIPTUM 9788589044738 48,00 0,341 14X21CM 265 1ª 2013 FICÇÃO
GR

88 COMPENDIOS DE KAIO CARMONA SCRIPTUM 9788589044707 37,00 0,138 15X21CM 73 1ª 2013 POESIA
AMOR GR

89 LAMPEJOS FREITAS, NAIDER SCRIPTUM 9788589044721 35,00 0,178 15X21 CM 108 1ª 2013 CONTOS
GR

90 INDO AO FUTURO MUNIZ, BARBARA SCRIPTUM 9788589044639 36,00 0,143 20x26 CM 28 1ª 2013 LITERATU
PARA ENTENDER AS GR RA
MAES INFANTIL

91 AUTISMO HOJE E MACHADO, ONDINA SCRIPTUM 9788589044660 30,00 0,120 15X21CM 72 1ª 2013 PSICANÁLI
SEUS MAL- GR SE
ENTENDIDOS, O

92 COMPREENDER CASTANET, HERVE SCRIPTUM 9788589044585 38,00 0,142 13X20CM 111 1ª 2013 PSICANÁLI
FREUD - GUIA GR SE
ILUSTRADO

93 CRIANCAS FALAM! E MILLER, JUDITH; SCRIPTUM 9788589044714 48,00 0,270 14X21CM 206 1ª 2013 PSICANÁLI
TEM O QUE DIZER - GR SE
EXPERIENCIAS D

94 CURINGA 36 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,310 17X23CM 180 1ª 2013 PSICANÁLI
CIENCIA, CORPO & GR SE
REAL

95 CURINGA 37 - VARIOS SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,336 17X23CM 198 1ª 2013 PSICANÁLI
PSICANALISE E GR SE
CIENCIA

96 VIOLENCIA: MACHADO, ONDINA SCRIPTUM 9788589044622 68,00 0,435 15X21CM 284 1ª 2013 PSICANÁLI
SINTOMA SOCIAL GR SE
DA EPOCA

97 PELADA POETICA - VARIOS SCRIPTUM 9788589044691 35,00 0,175 14X21CM 120 1ª 2013 POESIA
ANTOLOGIA GR

98 SILENCIO BEDRAN, JOSE SCRIPTUM 9788589044646 35,00 0,147 14X21CM 100 1ª 2013 POESIA
ANTERIOR, O NARCISO GR

99 SOANTE MACEDO, LUCIOLA SCRIPTUM 9788589044684 37,00 0,154 13x20 CM 97 1ª 2013 POESIA
GR

100 7 CONCHAS SETE PONTES, SCRIPTUM 9788589044783 40,00 0,130 16X19CM 52 1ª 2014 LITERATU
CORES HILDEBRANDO GR RA
INFANTIL

101 CORPO EM FORNACIARI, CHR SCRIPTUM 9788589044851 40,00 0,233 14X21CM 172 1ª 2014 ARTES
CONTEXTO GR

102 ANTITERAPIAS FUX, JACQUES SCRIPTUM 9788589044530 45,00 0,225 14X21CM 168 2ª 2014 FICÇÃO
GR

103 VIDA AO REDOR, A MACIEL, MARIA SCRIPTUM 9788589044844 40,00 0,600 14X21CM 277 1ª 2014 CRÔNICAS
ESTHER GR

104 VIDA SUSPENSA, A CAMARGO, FABIO SCRIPTUM 9788589044776 37,00 0,263 15X21CM 88 1ª 2014 CONTOS
GR

105 CURINGA 38 - VILELA, YOLANDA SCRIPTUM 1676-2495 40,00 0,232 17X23CM 123 1ª 2014 PSICANÁLI
DESTINOS DO GR SE
TRAUMA

106 DOR MORAL DA FERREIRA, MARIA SCRIPTUM 9788589044653 50,00 0,355 15x21cm 221 1ª 2014 PSICANÁLI
MELANCOLIA, A GR SE

107 PELADA POETICA BELFORT, WELBER SCRIPTUM 9788589044790 35,00 0,135 14X21CM 76 1ª 2014 POESIA
2014: COPA DO GR
MUNDO NO BRASIL

108 JANELA DA ESCUTA, CUNHA, CRISTIAN SCRIPTUM 9788589044806 40,00 0,391 14x21 CM 182 1ª 2014 PSICANÁLI
A - RELATO GR SE

109 PASSEMA - CAMPOS, SERGIO SCRIPTUM 9788589044820 40,00 0,300 15X21CM 183 1ª 2014 PSICANÁLI
TESTEMUNHOS DE GR SE
UM FINAL DE
ANALISE

88
110 PSICOSES NA BARROSO, SUZANA SCRIPTUM 9788589044837 70,00 0, 600 15X21CM 419 1ª 2014 PSICANÁLI
INFANCIA, AS: O GR SE
CORPO SEM A AJUDA
DE

111 REAL PARA O MACHADO, ONDINA SCRIPTUM 9788589044769 70,00 0,700 15X21CM 464 1ª 2014 PSICANÁLI
SECULO XXI, UM GR SE

112 VIDA SUBMARINA, A MARQUES, ANA SCRIPTUM 9788589044257 45,00 0,600 14X21CM 277 1ª 2014 POESIA
MARTINS GR

113 AO ABRIGO POLITO, RONALD SCRIPTUM 9788589044950 35,00 0,124 14X21CM 54 1ª 2015 POESIA
GR

114 CIDADE SE MARQUES, FABRICIO SCRIPTUM 9788589044943 75,00 0,980 21X27CM 350 1ª 2015 TEORIA E
INVENTA, UMA GR CRÍTICA
LITERÁRI
A

115 CORPOS EM NEVES, SIMONE DE SCRIPTUM 9788589044899 35,00 0,120 14X21CM 61 1ª 2015 POESIA
MARCHA ANDRADE GR

116 JOGO DAS HORAS ABREU, JULIO SCRIPTUM 9788589044981 35,00 0,115 14X21CM 71 1ª 2015 POESIA
GR

117 LIRA DE DUAS BELUZIO, RAFAEL SCRIPTUM 9788589044882 40,00 0,290 15X21CM 204 1ª 2015 TEORIA E
CORDAS, UMA FAVA GR CRÍTICA
LITERÁRI
A

118 31 DIAS, OS ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 9788589044905 40,00 0,275 14X21CM 207 1ª 2015 ROMANCE
GR

119 ASSISTENCIA CUNHA, CRISTIANE SCRIPTUM 9788589044868 NÃO 0,350 16X23CM 174 1ª 2015 PSICANÁLI
SOCIAL PUBLICA NA COMERCIALIZADO GR SE
INTERFACE ENTRE..,
A

120 QUEDA, A NAHAS JR., ANTONIO SCRIPTUM 9788589044813 60,00 0,508 14X21CM 403 1ª 2015 HISTÓRIA
GR

121 QUESTAO DO PAI E O NOGUEIRA, CRSTINA SCRIPTUM 9788589044950 55,00 0,390 15X21CM 280 1ª 2015 PSICANÁLI
ATO INFRACIONAL, GR SE
A

122 VIOLENCIA, GUERRA, ANDREA; SCRIPTUM NÃO 0,350 16x23 CM 212 1ª 2015 PSICANÁLI
TERRITORIO, COMERCIALIZADO GR SE
FAMILIA E
ADOLESCENCIA:
CON

123 SOLOS MOREIRA, WAGNER SCRIPTUM 9788589044974 35,00 0,174 19X27CM 174 1ª 2015 POESIA
GR

124 VAGA-LUMES BEDRAN, JOSE SCRIPTUM 9788589044967 40,00 0,190 14X21CM 130 1ª 2015 POESIA
DESAPARECEM, OS NARCISO GR

125 BAILARINO ALBERGARIA, LINO SCRIPTUM 9788589044912 35,00 0,201 14X21CM 143 1ª 2015 ROMANCE
HOLANDES, UM GR

126 BORBOLETAS MACHADO, ANGELO SCRIPTUM 9788589044936 35,00 0,198 14X21CM 110 1ª 2015 CRÔNICAS
EROTICAS GR

127 XADREZ RIBEIRO, ANA ELISA SCRIPTUM 9788589044929 35,00 0,116 13X20CM 71 1ª 2015 POESIA
GR

128 PSICANÁLISE E VIANNA, MARIA DA SCRIPTUM 9788594940001 40,00 0,145 14X21CM 152 1ª 2016 PSICANÁLI
LINGUÍSTICA: GLÓRIA GR SE
ENCONTROS E
DESENCONTROS

129 CANTO DOS SIMÕES, SIMONE SCRIPTUM 9788589044998 65,00 0,485 14X21CM 463 1ª 2016 ROMANCE
AIMORÉS, O GR

130 SOBRE VOO OU A LOUBACK, LÉO SCRIPTUM 9788589044677 40,00 0,75 GR 14X21CM 86 1ª 2016 CONTOS
LITERATURA NASCE KILDARE
COM A MORTE DE
UM PÁSSARO

131 TEATRO DAS CAMPOS, ÂNGELA SCRIPTUM 9788594940025 35,00 0,75 GR 14X21CM 83 1ª 2016 POESIA
SOMBRAS VIEIRA

89
132 BRECHAS TEIXEIRA, MARIA SCRIPTUM 9788569781004 35,00 0,75 GR 14X21CM 83 1ª 2016 POESIA
BEATRIZ

133 VOLÚPIA E CAVALCANTI, JARDEL SCRIPTUM 9788594940032 45,00 0,178 14X21CM 180 1ª 2017 ARTES;
SENSIBILIDADE: DIAS GR ENSAIOS
ESCRITOS SOBRE
OBRAS DE ARTE

90
APÊNDICES

Apêndice 1

Transcrição – Entrevista Welbert Belfort (Betinho)


1) Sobre a história, como surgiu a Editora Scriptum?

A Editora surge quando a Livraria já tinha quase 10 anos. A minha primeira intenção
era firmar a marca da Livraria, e, como trabalhei muitos anos com produção cultural, eu já não
achava que eu trazia nenhum componente significativo apoiando eventos, teatro, música e
acontece que a Livraria já começa com uma revista chamada Orobó, do Anelito de Oliveira, que
na época era estudante e me propôs fazer o primeiro lançamento da Livraria com a Orobó, tendo
o apoio da Scriptum.
A própria livraria já começa ali, associando a questão das Letras, sem nenhum
bairrismo, mas dando ênfase à produção local. E com essa ideia, eu queria mais, não por questão
de vaidade, mas por uma outra concepção, pois eu me deparei que em Belo Horizonte - que era
uma cidade onde eu não morava, pois eu já morei no Rio, vivi em São Paulo, trabalhei com
muitas pessoas de fora, do mundo inteiro em Ouro Preto - eu achava que Belo Horizonte estava
em uma condição muito cômoda, estava e talvez ainda está, de passar, não seus fracassos, mas de
não estar em pé de igualdade com Rio e São Paulo simplesmente transferindo a responsabilidade
para lá. Ou seja: era fácil ser vítima. Então quando você perguntava sobre um livro eu ouvia: –
“Ah, meu livro não sai na Folha, não sai no Globo, não sai no Estadão...”, Aí você pergunta:
“Mas você mandou? A sua editora mandou? Você enviou?” Boa parte responde: “Não”. Então, eu
comecei a perceber que existia uma mentalidade pré-capitalista. Pra você fazer a roda girar, você
tem que mandar, você tem que colocar no correio, você tem que ter outros investimentos. Então
não adianta você só reclamar que não sai no Rio e em São Paulo, se você não mandou. Então cai
numa parte quase existencial, parecia que tinham medo de receber um “Não”, ou ficarem em
silêncio. As pessoas às vezes se esquecem que se você faz o seu trabalho, de divulgar, de passar
para o jornalista, entregar em mãos, mandar, você está cumprindo uma função que é da editora. A
função da editora é viabilizar que esse produto chamado livro ou esse livro chamado produto e
91
isso foi a primeira coisa que eu identifiquei em Belo Horizonte. Precisava criar uma editora que
fizesse o livro circular e mostrasse o que era produzido aqui, em vez de ficar só reclamando que
Belo Horizonte não estava no eixo Rio-São Paulo. Pra mim essa questão é quase ideológica. Você
tem que mostrar aquilo que você tem. E eu percebi que eu nunca fui muito afeito à “mineiridade”
- ah mineiro quase não mostra, mineiro fica escondido – nessa parte não, eu acho que é o
seguinte: ou será que é o medo de expor o seu trabalho e de uma crítica destruí-lo? Eu vi essa
tensão entre a vítima e o medo de se expor e falar assim: “Não é tão interessante assim o seu
trabalho”, ou seja, dar a oportunidade das pessoas lerem e escreverem. Havia uma ambiguidade,
uma dualidade que via em quem escrevia e eu não concordava muito com isso. Eu nunca tive
isso, eu sempre coloquei: “Mostre!”, tem que mostrar. E a editora faz essa parte, mesmo sendo
uma pequena editora.

2) Já houve tentativas de copiar e/ou plagiar a marca “Scriptum”? Conte-nos sobre como surgiu
esse nome.

O nome da Editora e da Livraria não é mérito só de uma pessoa. Então eu, particularmente,
tive sorte – mas também trabalho. Eu acho que eu tenho a qualidade de conseguir agregar. Trabalhei com
vários escritores, antes de vir morar em Belo Horizonte; trabalhei e comecei a ter uma relação pessoal,
afetiva, de amizade, com pessoas que percebiam a minha vontade de aprender. O nome Scriptum,
quando eu decido pelo latim, tem uma questão muito particular. Quando eu tinha 14, 15 anos, meu
primeiro trabalho, era a diplomacia da igreja, eu servia café e tudo, mas aprendi a ler manuscrito do
século XVIII, com 16 anos. E muitas coisas que eram do processo de canonização do Dom Viçoso, eram
em latim. Eu lia e esse cônego datilografava na IBM elétrica, era o máximo de tecnologia, e comecei a
aprender – muitas vezes em forma de papagaio, de falar determinadas palavras em latim. E isso me
marcou, com 15, 16 anos, a sonoridade, e lógico que aí eu fui procurar alguns termos em latim, sempre
gostei de provérbios. Mas aí eu resolvi que o nome da livraria seria em latim, mas daí não fui só eu quem
resolvi. Eu tenho um amigo professor de latim, que era lá do ICHS, onde eu estudei. O Ronald Polito, que
já era ligado à literatura – ele também teve a sua contribuição no nome – substantivo. Então fui para
Ouro Preto, visitar a minha mãe e passei uma tarde com um professor, Aldo, de latim, testando,
estudando nomes em latim. Até que chegamos à palavra, à sua concepção, de duas coisas, por ser de
livraria e editora, que é a escrita, mas tem outra concepção que é a obra de arte. Aí ela casa com um
punhado de outras coisas: a obra de arte; a obra de arte na sua função de criatividade; obra de arte na
92
sua função de pintura, coisa que eu trabalhei; a obra de arte na música, na música clássica. Então,
completava não só a literatura, mas completava outras funções que eu desenvolvi, que eu aprendi, que
eu trabalhei em outros momentos. Então eu achei a concepção muito boa.
Copiar? Sim! Desde que eu montei um escritório, gasta-se muito dinheiro para registrar uma
marca, muito tempo, muita burocracia. Leva 10 anos pra você ser dono da sua marca, e mesmo assim
não acaba de pagar, ou seja, todo mundo ganha com essa burocracia. Uma pessoa lá do Rio Grande do
Sul usou a nossa marca, eu tive que acionar o escritório, porque a marca está registrada entre livros,
literatura, tudo está registrado no meu nome. Ele tentou fazer uns três livros, mas daí eu não sei, foi
acionado, ou ele não conseguiu dar sequência. Mas teve uma e teve agora, de copiar e fazer variações do
nome Scriptum. Depois que eu montei a editora, teve muitas. Até universidades usaram:
Scriptorium...Eles diziam que já tinham esse projeto há muito tempo, falam que já tinham esse projeto há
50 anos e daí resolveram colocar há 10 anos atrás.
3) Quais são as linhas editoriais da Editora Scriptum?

Volto às minhas relações com os poetas e com os escritores que sempre foram muito
fortes...Até quando eu fazia poesia, meus professores achavam que a poesia estava um passo à frente das
concepções filosóficas. Há sempre uma percepção, um olhar de síntese, muitas vezes diante da filosofia e
dos conceitos. Aí de novo, amigos que me influenciaram, pessoas que frequentavam a livraria,
perceberam que a livraria era pequena, mas em um primeiro momento, a poesia já ocupava mais de 20%
da livraria. E nisso muitos escritores começaram a frequentar. Então foi um movimento natural, a poesia
já não estava lá no chão, a poesia ocupava duas prateleiras, porque naquela época era bem menor do
que agora. As pessoas iam e os poetas que chegavam, escritores, diziam: “Ah! Quero ler poesia!”, então
isso é um movimento natural. Mas ele começa de novo, com a Orobó, revista de literatura e poesia.
Chegou um momento em que uma pessoa quis editar, e que eu já o conhecia e falou assim: “Olha, por
que você não investe na sua marca? Por que que você não edita um livro?” E achei interessante, morri de
medo, tive insônias, muita insônia sobre isso, sobre o que eu ia fazer, depois pensei: “Estou em Belo
Horizonte e não posso me comportar como as pessoas que eu critico, pelo receio, pelo medo. Se é pra
aprender, arriscar, é melhor arriscar e perder, e poder pelo menos dizer: eu tentei. Se eu tiver que fechar
e tudo, eu fiz, eu pelo menos dei a minha contribuição”. Eu sempre pensei: “Em que o homem pode
contribuir com o seu tempo?” Isso está em todas as esferas. O comodismo, de passar a responsabilidade
para o outro, é uma coisa que eu não consigo, então eu resolvi: poesia! Aí tem o Ronald, o Armando de
Freitas...Foi com o Ricardo Aleixo, que eu entrei, naturalmente, na poesia. Eu lembro de uma entrevista,

93
da primeira entrevista (que eu não queria darta), que era sobre o Ricardo Aleixo. O Regis perguntou: “O
que você espera? Você acha que cabe uma editora mais voltada para a poesia?” Foi lá no Palácio das
Artes. Eu falei: “Eu tenho que fazer pra ver se vale”. Eu já tinha percebido que haviam muitas pessoas que
produziam, que tinham leitura, que tinham bagagem. Por isso que eu comecei com a poesia. E a poesia é
o nosso carro-chefe até hoje – é ela que nos leva e levou a Scriptum a cruzar as fronteiras de Belo
Horizonte e de Minas.

A Scriptum não é uma editora para atender “amigos”, nós não editamos para “amigos”.
Pode até se tornar um amigo depois, pode ser até amigo antes, mas não é assim. Eu não consigo ter a
concepção de montar uma editora para atender o desejo dos amigos. E nem o meu próprio desejo. Ela
tem que ser uma construção em conjunto com as pessoas que estão ao meu lado, que eu confio, que têm
capacidade. Essas pessoas por acaso, além de serem teóricos, são pessoas que estão na parte da criação.
Então é lógico que é forte essa parte da poesia, aí é claro que temos outras áreas, a psicanálise, um
corpo teórico e um corpo que está na invenção, na produção editorial, eles estão escrevendo, eles estão
produzindo. E isso facilita muito. Temos a coleção “Homenagem à Poesia”, “Passeio Público”, que está na
parte da literatura. A parte da Psicanálise, que tem um selo que eu estou montando que é a “Sala de
Espera”; infanto-juvenil, que é a “Scriptum Jovem”, e o outro é “Estudos Clínicos” de psicanálise. Esse
novo selo, que nós estamos criando – que já está registrado, se chama “Alma de Gato”. Nós queremos
com a “Alma de Gato”, abrir a possibilidade para contemplar outras áreas, quase todas as áreas das
ciências humanas e sociais. Há alguns anos atrás nós lançamos um menino, o Ciro Trevisan, que na época
tinha 15 ou 16 anos, e ele foi para a Scriptum. Se tivesse a “Alma de Gato”, ele provalvelmente também
iria para a Scriptum, mas tem pessoas novas que estão escrevendo, e escrevem bem – mas precisam
ainda de uma bagagem, aliás, muitos que aparecem precisam de leitura, essa que é a verdade. Tem
muitos escritores que aparecem que não tem um componente sociológico da história da literatura. Então
não é abaixar o rigor, mas também ter uma compreensão de que há potencial ali, não naquele primeiro
livro, mas há potencial da pessoa ser editada e que ela possa amadurecer na linguagem, que não estaria
suficientemente maduro, principalmente na literatura e na poesia, para entrar para o selo Scriptum.

4) Qual é o diferencial da Editora Scriptum em relação às outras editoras?

Nós somos uma pequena editora, ou uma editora pequena, mas nós não somos soberbos,
de forma nenhuma, a equipe, o negócio. A nossa mentalidade é: não editamos “amigos”. A editora não é
para editar amigos! Ou seja, esse grupo, eles irão fazer a análise, eles são independentes, se eu entregar

94
um livro do meu amigo e eles falarem assim: “Olha, não cabe esse texto” – não é o autor! Nós temos que
diferenciar o texto que chega pra gente da pessoa, daquele que em pouco tempo pode fazer um livro
maravilhoso. Como existem autores de um livro só. Ganhou, foi muito bom, mas o seguinte: é igual
Olimpíadas, você ganhou medalha de ouro. Isso não quer dizer que na próxima olimpíada você vai ganhar
novamente. Talvez você nem vai se classificar. Porque você tem altos e baixos. Então, o que vai
diferenciar é que eu não faço tudo! Primeiro é muita pretensão, segundo que é impossível ler uma
quantidade de textos e outra: uma boa parte eu não sou capacitado. Novamente: se tem uma coisa que
podem me dar crédito é saber reconhecer pessoas que são boas e que vão agregar valor. Porque há
editoras em que o editor é quem decide tudo: decide se o texto é bom, ele fala que faz o design, ele faz a
revisão, parece que é o Eu, eu, eu..Um egocentrismo, parece que é só ele que faz tudo! Aqui tem uma
diferença. Aqui tem pessoas da produção que farão a parte da imprensa, enfim, aqui a gente trabalha em
equipe com a concepção de que o texto vem em primeiro lugar. E ele vai ser lido como todos os outros.
Aquele que, por acaso, já aconteceu, pessoas que tem livros na Companhia das Letras, não sei o
que...chegou e eu passei para o conselho editorial. Eles vão ler e vão me dizer se é bom, se vale a pena.
Esse é um diferencial fundamental.

5) Como é processo de custeio dos exemplares editados pela Scriptum?

No primeiro livro eu estava em outro momento. O autor entrou com a metade da seguinte
forma: um amigo dele fez o design e eu banquei as outras coisas. Então foi a bem dizer, meio a meio. Já o
segundo livro, também foi meio a meio. As pessoas tem que ter a concepção do seguinte: não é um
investimento a longo prazo. Eu não estou mensurando só a quantidade de livros que foram vendidos.
Esse livro que eu lancei – o primeiro livro – saiu em todos os jornais. Foi uma tiragem de 500 exemplares.
Fui convidado para lançar em São Paulo, com Tião Nunes e dois escritores super conhecidos de São
Paulo. Cheguei em São Paulo, eu e o autor – só isso, de poder lançar em São Paulo, com essa quantidade
de escritores – só isso aí, pelo primeiro livro, poxa, eu, só com a livraria, não conseguiria fazer este
movimento. Mas em determinados momentos não tinha condições. Porquê? Fez 500 e deu tanto. Só que
desses 500 livros eu posso vender 150, e posso ficar três anos olhando esses outros 350 livros. Eles olham
pra mim e eu olho pra eles. Isso tudo tem um custo: aluguel, funcionários, luz...Então não é um
investimento barato fazer um livro, não tem um tempo determinado de quando esse estoque vai
acabar...Ah, mas ali você vai vender 10, e ali mais 10...Não, não tem...Pode ser que depois do lançamento
venda bem, mas teve livro que depois do lançamento não vendeu mais nada...Então eu gosto de deixar
sempre bem claro, para aquela pessoa que está encaminhando o livro: “A Scriptum não tem um modelo
95
pronto”, assim eu não entro com nada, você paga tudo, o contrato só tem uma forma...Não. O que é que
eu sempre tento fazer: qual é o momento em que a editora, em que momento a empresa está vivendo?
Eu posso arriscar? Ah, eu posso. Então eu vou entrar com um pouquinho mais, vamos dividir...Já editei
autores que só eu banquei. Teve um ano que eu banquei alguns livros e eu fiz a conta. Sabe quanto que
deu isso? R$60.000,00. Eu não consegui ter o retorno de R$25.000,00. Ou seja: nenhuma empresa pode
ter um prejuízo desse, quebra, é arriscado. Então eu já aviso que eu não entro com tudo. Eles perguntam:
“Ah, mas como que é?” E eu respondo que é de acordo com o parecer: se foi aprovado ou não. De vez em
quando eu não tenho condições de entrar com nada mesmo! E eu vou falar, olha, infelizmente não tenho
condições...Seu livro é muito bom, eu vou dar opção, eu vou tentar conjugar, o livro todo vai ser meu, por
exemplo, mas isso também não é garantia de que vai ser vendido. Não existe um modelo pronto. Sempre
é negociado, caso a caso.

6) Como funciona o processo de seleção de originais que são publicados pela Scriptum?

O original é recebido e encaminhado para uma pessoa da área. Eu tenho a parte de


psicanálise, então eu encaminho para uma pessoa da área, que lê – então é assim, hoje ele está na
UFMG, é professor lá, fez psicologia, mestrado, doutorado, pós-doutorado, trabalha com clínica, era uma
pessoa que eu já conhecia, já vi trabalhos dele e é uma pessoa que vai ler um texto de psicanálise isento.
Isento, ou seja, não está preso a nenhum grupo político da psicanálise. Ele frequenta todos, mas a
questão é bem diferente, ele vai se concentrar no texto bem escrito, nos suportes teóricos bem
amarrados, é isso o que importa. Ele é teórico, mas também tem clínica, e isso é uma coisa super
importante que também levo muito em consideração. No infanto-juvenil, são duas pessoas: Lino de
Albergaria e Júlio Abreu. E na literatura, Wagner Moreira, Mário Alex Rosa e Rogério Barbosa.

1) Qual a importância de uma editora como a Scriptum para a descoberta e lançamento de novos
autores?

A importância é uma confluência de vários fatores. Temos que falar dos autores que nos
procuram, eles sabem que terão uma leitura do texto isenta, o melhor para aquilo virar um livro. O autor,
é lógico, tem que confiar. Ele não vai chegar aqui com o livro pronto. Ele tem que saber que as pessoas
envolvidas não vão mudar o livro todo dele, não é isso; elas irão contribuir para aquilo que é
transformado em um livro, ter uma identidade da Scriptum. Acho que a Scriptum poderia contribuir até
mais, se nós tivéssemos apoio de instituições. Pra gente é muito complicado. Geralmente as grandes
editoras estão ou com capital estrangeiro, ou com dinheiro do BNDES, ou um grande banco que aplicou
96
dinheiro nelas. Então é lógico, elas podem arriscar muito mais, elas têm um suporte financeiro, que a
Scriptum e outras editoras não podem arriscar. Cinco livros errados, apostas erradas, quebra uma livraria
e quebra a Scriptum. Errado da seguinte forma, errado de investir. Não que o livro seja ruim, o livro pode
até ser bom, mas ser bom não quer dizer que vai ser multiplicado em dinheiro. Então a gente está
sempre arriscando com cuidado, tentando medir aquilo certinho, pra não comprometer a livraria e a
editora, sendo que outras grandes editoras têm mais fôlego, tem mais possibilidades, podem ser
socorridas. Agora, dizer se eu contribuí com a editora, com a minha existência, e quando eu falo eu, estou
falando de mim e de toda a minha equipe de trabalho, eu acho que eu contribuí sim.

7) Quais são as estratégias que a Livraria e Editora Scriptum tem adotado para enfrentar os desafios
que afetam sua sobrevivência em meio ao cenário de retração econômica em que temos
observado o fechamento de várias livrarias de rua?

Em um primeiro momento, eu já tinha adotado iniciativas em 2012, 2013, só que a crise veio
muito mais forte do que eu esperava. Eu tive o baque de perder um site que estava consolidado. Isso me
atingiu muito fortememente porque não foi só perder o site que já estava funcionando. Foi o
investimento perdido, pagamos e tivemos prejuízo. Isso foi muito difícil. Tivemos uma diminuição de
publicação, dos dois lados. Uma porque eu não poderia ficar arriscando. Caiu muito, uma grande
quantidade de livrarias fechando, editoras fechando, os autores também foram afetados
financeiramente. Em um determinado ano nós editamos 13, 14 livros, para uma editora desse tamanho,
é muita coisa, é quase um livro por mês. Mas tive que mudar. Preciso voltar a ter um site. Isso é o que
mais me incomoda. Eu tenho pesquisado, mas perdemos uma loja virtual, que tinha sua despesa, mas eu
não desisti ainda. Perdi distribuidores que fecharam, que não me pagaram, livrarias que fecharam
também e não me pagaram, ou seja, tive muitos contratempos. Perdi dinheiro, a empresa perdeu
dinheiro. Mas estou tentando diversificar, passar para outros distribuidores. As livrarias também têm
passado por esse aperto, não têm acertado, e então você tem que mandar ir lá buscar e tal...e daí se você
tira, você perde mais um outro ponto, ou seja, você tem que ficar medindo muito. De vez em quando
você tem que tirar pra ver se eu tenho alguma coisa pra receber. São os acertos. Mas continuamos
vendendo uma parte pelas redes sociais, se eu não tivesse também o público de fora de Belo Horizonte,
eu já tinha fechado. Eu tenho um público fora de Belo Horizonte e fiquei anos fazendo eventos. Fazer
eventos também é uma das estratégias de sobrevivência da Scriptum. E muitos funcionários não
entendem, já fiz jornadas, eventos em São Paulo, no Rio, Tiradentes, Ouro Preto, Sete Lagoas, são várias

97
cidades. Diminuíram bastante porque o pessoal tem que se mobilizar, trazer pessoas, e agora não está
acontecendo. Evento ainda é uma marca da Scriptum.

1) Considerando sua longa experiência como livreiro e posteriormente como editor, como você
enxerga o mercado livreiro atual, onde existem vários outros suportes digitais e um mercado virtual
altamente competitivo?

Diante das entrevistas e da polêmica da antologia da Adriana Calcanhoto, de que nós temos
duas autoras que começaram na Scriptum na antologia dela, muitas pessoas criticaram, não sei se é
porque o Brasil é um país continental, em território, aí alguns reclamam que não tem nordestinos, outros
reclamam que tem poucas mulheres, outros reclamam que tem poucos negros, e assim vai a cultura da
reclamação. Tem um livro que se chama “A Cultura da reclamação”. Ela tenta responder educadamente,
porque no Rio tem mais poetas do que outras regiões. Ela cita duas pessoas. Um que é até um grande
amigo meu, o Eucanaã Ferraz e outro que é o Paulo Henrique Britos, que são professores da
universidade. É natural ter dois poetas desse quilate dando aulas na Letras. Você imagina, você vai para
aula e tem aula com esses dois grandes escritores, isso motiva as pessoas a escreverem. Eu faria um
complemento, que eu ainda não falei com ninguém. Se alguns desses mesmos poetas, fizessem o inverso,
fossem assistir aulas com um amigo meu que se chama Murilo Marcondes, que foi professor em Ouro
Preto, e agora está na USP, então se eles tivessem aula com Davi Arrigut, ou então com Alfredo Bosi,
talvez muitos desses alunos que vão para o Rio assistir o Eucanaã e fossem assistir aula de literatura
sobre poesia, com esses professores, com Antônio Cândido, muitos desses autores, eles desistiriam.
Porque essas pessoas que eu estou citando são grandes leitores de poetas. E se você leva a sério uma
aula, que eu já assisti, pra falar sobre Manuel Bandeira, sobre Drummond ou sobre Murilo Mendes, há
tanta coisa em um poema, cifrada, dissimulada, que pra você realmente ler esse poema, pra você
compreender e interpretar, você necessita de muita leitura. Leitura do próprio poeta. E há uma grande
preguiça dos próprios poetas em lerem literatura. Se eu colocar crítica literária - eu não estou
confrontando Rio e São Paulo – as pessoas falam assim, eu teria vergonha de me apresentar como
escritor e como poeta. Porque falta muita coisa...Há uma ingenuidade, ela é vergonhosa, você entendeu?
É uma vergonha alheia.

8) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias
famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos no
mercado editorial brasileiro?

98
Eu avalio da seguinte forma: eu vou te dar uma resposta de uma pessoa que eu não vou
falar o nome, mas que foi a primeira pessoa que escreveu sobre um livro da Scriptum. Eu estava na FLIP,
em Paraty, com um autor meu, e, por acaso, eu tinha mandado o livro dele para esse jornalista. Como
saem matérias que só rodam em São Paulo, aí eu apresentei, esse é o meu autor, esse é o jornalista,
crítico literário, etc. Aí esse jornalista disse: “Mas espera aí, Betinho, você me mandou um livro dele, eu
escrevi sobre o livro”. E o autor não sabia! E o jornalista disse: “O seu livro é o tal..., eu escrevi sobre ele!”.
Então esse jornalista disse para esse autor: “Tem algumas editoras, que quando chega um pacotinho do
livro, escrito Scriptum, eu tenho que abrir e prestar muita atenção, porque geralmente tem coisa boa que
sai dessas editoras”. Ou seja, veja o caso da Ana Martins Marques. Ana Martins tinha ganhado dois
prêmios, autora nova, e eu passei os livros para a minha equipe. Nem era o “Vida Submarina” ainda. Na
realidade foram dois livros que se transformou em um. Mas isso foi tudo construído, lido, conversado,
foram horas e horas de café com os editores etc. Aí eu mandei esse livro para o Murilo Marcondes, ele
escreveu sobre o livro, porque gostou. Eu mandei para várias pessoas. Uma delas, quando eu estava na
FLIP, tinha assistido a um debate sobre poesia, era o Augusto Márcio, estava entregando o livro para ele,
quando chegou o David Arriguti, pegou o livro e disse: “Nossa, que livro bonito”. Depois disso ele ligou
para uma pessoa, e comentou com um amigo meu, o Murilo Marcondes, que a Ana Martins escrevia
super bem. E ele era amigo do Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, ou seja, foi ele quem direcionou
a Ana Martins para a Companhia das Letras. Eles entraram em contato com ela e a convidou. E também
temos o caso do Carlos Britto, o Jaques Fux etc. Eles estão nestas outras editoras e todos tiveram o
mesmo tratamento. Todos os livros que nós editamos na Scriptum, nós fazemos chegar ao jornalistas e
fazemos chegar até as pessoas que são capacitadas, que são professores, que são formadores de opinião.
Lógico que, escolher determinados autores, cuja crítica sai na Folha, sai em um Globo, fica muito mais
fácil para uma grande editora, e ir atrás, porque ele recebeu um pacotinho com um original e que nunca
foi avaliado. Ou seja, nós fazemos esse garimpo, esse filtro, e eu acho que as grandes editoras deveriam
até nos pagar por esse trabalho, pois assim a gente remuneraria o conselho editorial por esse trabalho
que eles fazem por elas. Uma coisa é uma grande editora exibir 20 nomes de editores, só com nomes
fantásticos. É mentira! Essas pessoas não vão ler. Essas pessoas estão ali para comprar uma cena de que
essa editora é séria. Você tem outras editoras em que tudo é direcionado, você tem gerentes em áreas.
Ou então você tem isso aqui agora: a pessoa tem não sei quantos seguidores no Youtube. E essa é a
diferença que eu e outras editoras pequenas tem feito, eé ler, é ter o cuidado de receber e avaliar se vale
a pena. Eu não sei se estamos no caminho certo. É claro, que uma parte, para a Adriana Calcanhoto, por
exemplo, o livro da Simone foi para um punhado de pessoas. Eu passei para o Eucanaã Ferraz, para o
99
irmão da Marina Lima, Antônio Cícero, então se você pensar que ele é amigo da Adriana, uma pessoa vai
indicando para a outra. A Ana já tem uma história na Companhia das Letras, e os autores tem a
consciência que se fizer 500 livros, se ele não perceber que é necessário que as pessoas, os leitores vão
ter a oportunidade de ler esse livro, conhecer a obra, são muitos livros hoje de autopublicação. Se você
não souber como fazer esse trabalho de imprensa, você enviar, se o livro não circular, ele não vai vender.

7) Em sua avaliação, como os governos poderiam apoiar o editor e o livreiro?

Primeiro, eu diria para todos os políticos: parem de falar mentiras! Para o prefeito, o
governador, a presidência, todos os órgãos. Parem de falar que livro não tem imposto. Isso é uma
mentira. Toda a cadeia tem imposto, a gráfica, o distribuidor e a livraria. Tudo paga imposto. IPTU. Se é
uma casa de ferragens ou uma livraria, pouco importa, é o mesmo valor. Quando você manda um livro de
500g e uma caixa de ferradura de 500g pelo correio, o preço é o mesmo. Em um país continental, isso é
muito simples. Se você tem 500 tênis cobrando o mesmo valor do frete de um livro, e tem um estoque de
500 livros, o que você acha que vai vender mais, o tênis ou o livro? Então olha aí o mercado consumidor.
Tem um assessor do Clinton que disse assim: “É a economia, seu burro!” Eu diria assim pra eles: “Não é
só economia, seus burros, é educação!”.

Enquanto não estiver conjugado educação com economia você não vai ampliar o mercado
consumidor. Eu acho o mercado uma questão crônica. O problema mercado consumidor e livro enquanto
produto cultural não se separam, mas no Brasil se separa de acordo com as conveniências. Então assim:
se fosse nos EUA, porque lá o mercado é grande? Porque lá eles investiram em educação e tiveram o
crescimento de renda, lá a classe média é grande. Lá o livro é tratado como mercadoria. O agente ganha,
o autor ganha e ganha muito; a editora ganha, a livraria ganha, todo mundo ganha. Vamos para a Europa.
Na Europa tem preço único, certo? Aí, quando eu ouço alguém dizendo: “Ah, mas livro é muito caro”, “É
por isso que a Amazon...eu só tô comprando na Amazon porque lá eles dão não sei quanto de
desconto...”, se essa pessoa for um jornalista, eu falo que também sou a favor. Por que não entram as
outras televisões internacionais, de fora, aqui no mercado? Outros jornais, com dinheiro de fora? Eu
também sou a favor! Mas aí, esse que está criticando, o jornalista, ele não reconhece, ele quer comprar o
livro mais barato. Só que na Europa, ele não consegue, a Europa não deixou, porque o preço do livro é o

100
preço tabelado, a Amazon não vai fazer isso lá. Na França ela não faz. Agora por que aqui se faz? Se a
França tem um mercado consumidor de leitores enorme e eles não deixam. Quem está certo? A França
com a produção dela ou nós no Brasil por aceitarmos? A livraria de rua vende um livro por R$50,00,
preço de capa. Na Amazon, é R$25,00. É normal. Você vai comprar por R$25,00. Mas quantas livrarias, e
não só livrarias, mas editoras também, vão aguentar? Pouquíssimas! Quem vai ditar o que vai ser editado
são as grandes redes. Aí o que ela determina? Ela determina volume! Entra pilha, colocou vendeu, entra
pilha - aí não importa – você mata todo o segmento onde você trabalha com o maior cuidado, não é coisa
de grande circulação, ou então você tem que ouvir uma agente literária falando que o Brasil não vende
muito porque os escritores são muito intelectualizados e teria que abaixar o nível. Ou seja: teria que
abaixar o nível para gente conseguir vender e traduzir lá pra fora.

As pessoas têm que ser sinceras, dizer o que elas querem. E aqui a culpa não é só de um, a
culpa é de todo mundo. A culpa é do livreiro, é do editor, é do autor, ainda mais dos autores que têm voz,
e do governo. Quanto ao governo, se alguns autores que têm voz, microfone, dissessem que isso é um
absurdo, porque a Amazon faz isso no Brasil e não faz em alguns países da Europa, isso teria uma
repercussão. Mas vocês acham justo isso? Uma editora, uma empresa determinar o que vai ser editado
ou não no Brasil? É justo? Não é justo! Então falta realmente a gente ser honesto com a gente mesmo,
juntar os escritores – ainda mais os escritores que estão escrevendo para jornais, porque quando é de
interesse deles – “Ah, tá legal, o meu livro é R$50,00 o preço de capa, mas tá vendendo muito na Amazon
por R$25,00” Aí toda ação é muito egoísta, eles só pensam na parte deles. Ele acha que o livro dele está
vendendo uma quantidade na Amazon, só que ele está se esquecendo que pode ser o último livro dele
editado. E se o livro dele não tiver um próximo, talvez ele não tenha mais sucesso. Então eu acho que
falta isso. E fazer o governo ouvir, nós precisamos decidir o que nós queremos. Parar com essa
esquizofrenia. Eu acho que a gente precisava pegar a terceira via. Nós não precisamos ter mercado, nem
uma proteção total igual à França. Porque nós nunca vamos ser franceses e nós nunca vamos ser
americanos. Nós temos um componente que é brasileiro. E nós temos que arrumar essa terceira via,
porque se não tiver vai continuar fechando livraria, vai continuar fechando editora, infelizmente. E os
alunos vão continuar se formando na universidade sem ir em uma biblioteca, sem nunca ter entrado em
uma livraria, nunca ter entrado em um sebo, e é esse o nosso perfil. A maior parte dos alunos não passa
por uma biblioteca. Passa no xerox, agora tem muita coisa em PDF, mas nem sabem o que é e como está
a disposição dos livros em uma biblioteca. Não estou dizendo que são todos, mas uma boa parte é.

Apêndice 2
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Este questionário integra o estudo
EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas contribuições para
a formação da literatura contemporânea brasileira

QUESTIONÁRIO PARA OS EDITORES

Wagner Moreira

1) Há quanto tempo você atua como editor da Editora Scriptum? Fale sobre o início do seu
trabalho junto à editora.

Desde os anos de 1990, conheci a Livraria Scriptum, quando ainda não havia uma
Editora, e claro, o Betinho (Welbert Belfort). Devo ter sido uma daquelas pessoas com as quais o
Betinho dividiu a sua vontade em ampliar a Livraria com uma face de Editora. Conversamos
bastante sobre se eu publicaria o meu primeiro livro pela sua Editora. Mas, acabei optando por
realizar uma produção independente. Naquela época, ele tinha como princípio norteador publicar
poesia, o que iria satisfazer as suas aspirações pessoais que são atravessadas por aspectos sociais,
culturais e históricos. Isto, sem perder de vista, a esperança de com este trabalho conseguir um
retorno financeiro de bom sucesso, uma vez que ele é uma dessas pessoas que tem uma clareza
crítica sobre o contexto mercadológico no qual vivemos e trabalhamos. Com o surgimento da
Editora, o Conselho Editorial foi composto pelo Betinho e o Ricardo Aleixo. O que acredito ter
sido uma ótima parceria, com significativos resultados para ambos. Após a saída do Ricardo
Aleixo da Comissão Editorial da Scriptum, já no início dos anos 2000, como eu já vinha
conversando sobre diversos assuntos relativos à produção de livros com o Betinho, tais como
aquele que eu havia feito em 1998, como autor independente, este me convidou para participar
como editor na Scriptum. Após alguns encontros, concordamos que o melhor formato para o
Conselho seria que ele tivesse três nomes, além do dele Betinho, quem presidiria as decisões.
Dessa maneira, ficamos Rogério (Rogério Barbosa da Silva), Mário (Mário Alex Rosa), Betinho
e eu. Todos muito alegres e felizes de poderem trabalhar em prol de algo que nos uniu, a poesia.

102
Realizamos um sem número de reuniões para estabelecermos os parâmetros editoriais
para a Scriptum. Contamos com a experiência poética, acadêmica e editorial de todos e, baseados
na experiência da Scriptum, a qual já havia publicado alguns trabalhos, começamos as nossas
ações conjuntas. Nessa fase inicial, sentimos a necessidade de nos encontrarmos regularmente,
quase que todas as semanas. Quando pouco, realizávamos um encontro mensal. A nossa
finalidade era discutir sobre as ações de leitura, quais critérios adotar, como valorizar cada
proposta, qual tipo de recepção faríamos dos originais, quais categorias privilegiaríamos, etc.
Desde o início, a parte financeira ficou com o Betinho. Isto é mais do que pertinente,
pois, ele é o proprietário da Livraria e Editora Scriptum, e seu administrador principal. Quando
muito, em nossas reuniões, discutimos estratégias para que a Editora pudesse realizar melhor o
seu papel mercadológico, fosse construindo um produto de boa qualidade, fosse buscando
parcerias com gráficas de bom desempenho na execução dos trabalhos, ou mesmo na distribuição
e divulgação das publicações feitas pela Scriptum. Também discutíamos sobre a formação da
equipe que trabalharia na Editora, uma vez que era necessária uma especialização nas ações
editoriais para buscarmos um melhor desempenho nos trabalhos.

2) Você trabalha como parecerista de outras editoras?

Não sei como seria possível atender a duas editoras ao mesmo tempo. Talvez porque
nunca tenha se apresentado a mim tal desafio. Mas, por princípio, acredito que seria algo
extremamente delicado, pelo menos, até se estabelecerem os limites das ações entre ambas as
funções desenvolvidas. Acredito que teria que pensar qual seria o perfil das editoras, se elas
exerceriam papel de rivalidade mercadológica ou não, se as coleções e selos concorreriam uns
com os outros. Quais seriam as funções específicas atribuídas a mim em cada uma delas e, se isso
não configuraria um conflito moral ou ético, por exemplo. Enfim, é algo que só uma pessoa que
vivencia isso pode responder com precisão sobre esse fato hipotético.

3) Quanto ao processo de seleção dos originais da Editora Scriptum, você lê em média quantos
por mês? Quais são os critérios que guiam o seu parecer?
103
Logo no princípio, o número de leituras de originais era bem baixo. Houve ano em
que não chegou a um livro por mês, se a memória não está me enganando. Com o passar dos anos
e a visibilidade da Editora crescendo, isso chegou, no meu caso, a um original por semana. Isso
ocorreu em apenas um ano. E, parece-me, por necessidade de se responder o mais agilmente
possível aos autores. No geral, a média é de cerca de dois originais por mês, quando muito.
Essa é uma questão que pede um trabalho diferenciado, pois, em parte, cabe ao bom
sucesso dos trabalhos anteriores chamar a atenção para a Editora. Isso inclui não apenas as
premiações recebidas por livros ou as indicações como semifinalistas ou finalistas em concursos.
Tudo isso ajuda e muito no conhecimento, no amadurecimento e na divulgação da marca
Scriptum. Somado a isso, há a divulgação dos próprios autores. Sua experiência com a Editora, a
relação de bom sucesso entre as expectativas e a realização da publicação, como um processo que
envolve decisões editoriais conjuntamente com o autor. Também há os leitores que passaram a
frequentar a Livraria e a esperar pelos lançamentos das peças da instituição e sua satisfação com
o objeto. Como se pode notar, o processo de recepção de originais anuncia um universo mais
amplo que apenas a leitura em si. E, claro, toda a equipe da Scriptum que exercita suas atividades
ampliando os contatos tanto da Livraria quanto da Editora. Há toda uma correlação entre as ações
editoriais que apontam para um processo que implica a existência de diversas forças que atuam
para se configurar a recepção e a leitura dos originais.
Como dito anteriormente, a princípio, os critérios eram discutidos entre os editores.
Com o crescimento do número dos originais enviados para a Scriptum, decidimos que seria mais
produtivo que cada editor ficasse responsável por um original e, caso sentisse necessidade, ou se
houvesse alguma questão que o Betinho trouxesse que pudesse interferir na recepção do trabalho,
consultarse-ia os outros colegas.
Independentemente da coleção, porque hoje se pode apontar a de poesia, a de ficção,
a passeio público (que trata de variedades de interesse contemporâneo, em uma linguagem mais
acessível ao público) e a de teoria, o meu princípio norteador é o de verificar se o trabalho do
autor se apresenta como um projeto amadurecido. Isso varia se o original será a primeira
publicação do autor ou não, se ele já tem uma experiência de escritura publicada.
Definitivamente, esse projeto é pessoal e intransferível. Isto faz com que cada original exija de
mim a compreensão do entendimento de escritura que ali se apresenta. E se o autor consegue em
seu exercício criativo manter, do início ao fim de seu trabalho uma coerência e uma coesão com
104
aquilo que ele se propõe a fazer. É a partir dessa categoria que começo a pensar a relação dessa
escritura com a língua de poder e seus desvios. No caso da coleção de teoria e da passeio público
(que está um pouco parada), até este momento, tem se tratado de adequar o trabalho acadêmico
aos moldes de um livro mercadológico que possa ampliar o número de leitores para aquela escrita
que nos interessa divulgar.
Diferentemente, para a coleção de poesia e a de prosa, há uma variação de trabalho
para trabalho que depende do exercício de embate do autor com a língua. Verificado esse aspecto,
também costumo observar a qualidade das imagens que a escritura cria ao se efetivar, pois, essa
categoria, em geral, apresenta uma face de empatia que pode ser despertada no futuro leitor, o
que é um dos princípios de prazer para a leitura e, portanto, um aspecto relevante para a
publicação de um texto.
Ainda, observo se o original faz aparecer claramente a tradição que evoca em seu
exercício artístico. Por um lado, isso também determina se o texto cumpre o perfil da Editora ou
não. Por outro, concluído que há uma correspondência entre essa tradição e o perfil editorial,
passo a verificar se a modulação da escritura potencializa positivamente os diálogos anunciados
ou se há alguma coisa que vale a pena ser modificado ou mesmo acrescentado ao original. Nesses
casos, condiciona-se a publicação à concordância do autor às sugestões.
Também costumo levar em consideração se o original traz à baila alguma temática
que já esteja sendo discutida por outras publicações presentes no mercado. Isso deve ser medido
para que evitemos, por um lado, a questão do plágio e dos constrangimentos gerados por esse
fenômeno. Mas, também, para verificar se o original agrega um valor diferenciado ao que já está
em circulação. Se for dessa forma, a sua avaliação será positiva para ser publicado.
Em geral, creio que é isso, se não me falha a memória. Gostaria de enfatizar que os
princípios acadêmicos de recepção dos estudos literários se me servem, nessa avaliação, servem
apenas como um dos nortes possíveis, pois, a aprovação e a publicação de um original não está
vinculada aos princípios canônicos da academia. Elas podem e devem, sempre que possível,
ampliar o cânone ou até mesmo negá-lo, como uma maneira de se afirmar uma época ou um
procedimento sociocultural. Pensando por essa via, a leitura de um original é um exercício
político e, portanto, apresenta uma face histórica do exercício de poder de qualquer editor.
Só então o original passa para a equipe de produção que fará a proposta financeira ao
autor. Dessa parte eu não participo.
105
É preciso destacar que tudo isso implica a forma de revisão que cada original solicita.
Esse também é um trabalho que a Editora exige do autor. Ela mesma não oferece tal serviço, mas
costuma indicar profissionais que o fazem. E aceita a revisão realizada por profissionais
contatados pelo autor.

4) A Editora Scriptum recebe apenas originais impressos para serem analisados. Um dos motivos
é a preferência dos editores em ler no impresso e não no ecrã. Qual é a diferença entre ler no
papel e ler na tela? Por que existe esta preferência que às vezes é tão criticada pelos aspirantes a
autores que submetem seus trabalhos a esta casa editorial?
Tudo que se faz em qualquer trabalho é modificado pela experiência acumulada. Ela
nos dá uma perspectiva única das ações e para os processos editoriais isso também vale. Devido a
alguns mal entendidos e para segurança dos autores e nossa, aqueles que desenvolvem atividades
na Scriptum, resolvemos por esse formato, isto é, receber os originais impressos para efetuarmos
nossas leituras. Por outra via, a leitura no impresso ainda se mostra muito mais confortável ao
olho humano do que a digital. Pensando em um trabalho que requer muita atenção aos detalhes e
que deve ser realizado com o maior grau de confiabilidade, produzindo o menor grau de estresse
possível, pareceu-nos, durante esse tempo que essa seria a melhor fórmula.
Ainda, deve-se chamar a atenção para o fato de alguns autores quererem antecipar a
leitura de seus originais, enviando-os diretamente para os editores e não para a Editora. Esse fato
gerava sério constrangimento na organicidade da empresa, na relação desta com os demais
candidatos a publicação e mesmo entre os editores, uma vez que produzia uma instabilidade nos
procedimentos internos dirigidos para a publicação.
Muito recentemente, com as novas demandas de autores de outros estados e os
recentes lançamentos de leitores digitais de melhor qualidade, a Editora Scriptum tem testado
dirigir para seus editores algum original no formato digital. Ainda teremos que conversar a esse
respeito para verificarmos a eficiência desse método tanto para o exercício do julgamento quanto
para a manutenção da organicidade cronológica dos procedimentos de leitura de originais. Se
acordarmos que este cronograma seja respeitado, assim como a direção do original seja feita
diretamente para a Editora, poderemos, sim, passar a aceitar o original nesse formato. Da minha

106
maneira de entender, é preciso que todos os editores informem aos autores que somente por meio
da submissão do original à Editora Scriptum é que ele será avaliado.
Para concluir essa questão, já tivemos casos em que um autor teve a sua análise
realizada e, se beneficiando dos resultados desse trabalho, achou por bem realizar as melhorias
sugeridas e publicar por outra editora o seu livro. Como se pode ver, a leitura dos originais
impressos trazem uma série de garantias ao processo editorial. Pelo menos, até que possamos
implementar outros procedimentos que garantam uma recepção e análise de acordo com os
padrões que a Editora exige.

5) Além de atuar como editor, você também é autor e figura no catálogo da Scriptum. Quando há
essa inversão de papéis, quem é o seu primeiro leitor e parecerista do seu livro?

Anteriormente, já antecipei que conheci a Livraria Scriptum em seus anos iniciais,


como leitor interessado em tudo que estivesse impresso. E a Scriptum sempre foi um dos lugares
mais interessantes e aconchegantes que frequentei. Desde a rua dos Inconfidentes, esquina com a
Pernambuco, até a rua Fernandes Tourinho, onde se situa hoje, venho frequentando a Livraria
Scriptum. Isso diz que conheço o Betinho desde o seu início como proprietário de um negócio,
pequeno e, como se pode ver, persistente. É nesse cenário que agreguei ao nosso relacionamento
a simpatia e a amizade. Com elas, nasceu a confiança de ambas as partes para podermos
trabalharmos juntos na Editora.
Entretanto, o primeiro livro que publiquei pela Scriptum foi com a editoria do
Betinho e do Aleixo. Como eu já havia publicado dois livros de forma autoral independente,
ganhei a oportunidade de interferir bastante no projeto gráfico, o que resultou em um livro que
me agradou e pelo qual tenho muito carinho.
Anos mais tarde, vim a publicar um segundo livro pela Editora. Este, sim, já como
editor atuante. Quanto a isso, gostaria de esclarecer que os editores com os quais trabalho são,
também, escritores que o próprio Betinho reconhece como pertencentes ao imaginário de
publicação da Editora. Para além disso, acredito que nenhum de nós proporia um livro que não
obedecesse aos critérios editoriais praticados pela Scriptum. E, qualquer um de nós poderia
opinar contra a publicação de um colega editor. Geralmente, ficamos sabendo dos projetos dos
colegas e fazemos as leituras respectivas, como sempre. No geral, nos abstemos de produzir um
107
parecer se a compreensão for a de se publicar o original. Caso contrário, seguem-se as normas
produzidas por nós mesmos. Como recebi o apoio, pessoalmente, do Betinho, do Rogério e do
Mário para concretizar a publicação, dei continuidade ao processo. Creio que as conversas in loco
substituíram o parecer, o que neste caso, seria algo burocrático e redundante. A não ser que se
julgasse a não procedência da publicação. Isso ocorreu quatro vezes, pelo que me lembro, na
Scriptum, com o Aleixo, com o Mário e comigo em livros de poesia e em um livro de teoria, com
o Rogério e eu como organizadores.
Para mim, o primeiro leitor de qualquer autor é ele mesmo. Ao fim e ao cabo, é o
autor quem decide como, onde e quando publicar seu original. Aqui no Brasil, parece que ainda
não é um procedimento corrente o autor escrever sob encomenda para uma publicação. Isso tem
mudado um pouco nos últimos anos, com a troca de informações entre procedimentos editoriais
de diversos países, o que torna mais interessante o mercado editorial quanto as suas
possibilidades. Mas, também, revela um risco da produção se submeter a movimentos políticos
centralizadores, o que deve causar, no mínimo, uma reflexão a respeito desse fato.

6) Como você enxerga o papel da editora Scriptum no processo de formação da literatura


contemporânea?

Primeiro, considero necessário localizar a Scriptum, ela é uma empresa de família,


com o Betinho à frente do negócio. Isso se faz importante para se dimensionar o grau e a
extensão de cada decisão tomada no âmbito da Editora. Como toda empresa de família, qualquer
decisão envolve mais que a própria empresa, movendo todo o ambiente familiar consigo. É
preciso, então, para esse perfil de empresa, ter-se o cuidado para se compreender as ações e seus
tempos de execução. Esse tipo de empresa cola a sua imagem ao seu proprietário que, por sua
vez, responde, mesmo fora do expediente de trabalho, aos seus procedimentos. Em outras
palavras, se o Betinho tira férias e se encontra com alguém do meio, ele passa, imediatamente, ao
tempo do negócio, interrompendo o seu ócio. Também significa dizer que mesmo em seu ócio,
suas ações serão diretamente vinculadas à marca de sua Editora. Só isso deveria gerar um estudo
que pensasse a diferença entre as editoras familiares e aquelas que se desvincularam ou nunca
passaram por essa fase em sua consolidação no mercado.

108
Dito isso, acredito que a Scriptum tenha alcançado um lugar de destaque no
seguimento em que atua entre as editoras, a das pequenas. O fato de seu catálogo ter se
diversificado, chegando à literatura infanto-juvenil e à psicanálise, somado à recente necessidade
de se abrir um novo selo, Alma de Gato, já seriam indícios fortes de sua relevante presença. Para
mais, é preciso considerar que a Editora, já a alguns anos, recebeu o reconhecimento das
distribuidoras de livros, o que também confirma o bom sucesso dessa empresa. Sabe-se que um
dos pontos frágeis das pequenas empresas que trabalham com o livro é exatamente conseguirem
que as distribuidoras se interessem em enviar para as lojas os seus produtos. Outro fator que
chama a atenção, nesse sentido, é o fato de alguns dos autores de seu catálogo passarem a
publicar por grandes editoras do país. Isso mostra uma consolidação dos trabalhos da Scriptum
como uma marca de interesse social, cultural e mercadológico. Isso sem abrir mão de seus
princípios norteadores: zelo, cuidado e clareza no trato com os autores e seus respectivos
trabalhos.
Dessa maneira, pode-se pensar que a Scriptum, assim como diversas outras pequenas
editoras, vem apresentando e confirmando a participação no mercado e na literatura brasileira de
uma diversidade de autores de diferentes projetos literários. Isso é fato. Todos aqueles que
pertencem ao seu catálogo estão disponíveis e compõem o que genericamente se chama de
literatura. Em nossa época, essa tem se revelado uma lógica poderosa para autores de menor
prestígio mercadológico e acadêmico para serem reconhecidos, pelo menos culturalmente, como
atuantes nessa grande massa pluriforme que é a literatura. Também autores de renome que
deixaram de interessar às grande editoras tem recorrido a essa estratégia de publicar pelas
pequenas editoras e, assim, permanecerem em circulação. Esse é um fenômeno cultural.
A Scriptum, com o seu trabalho, está presente nesse cenário. Ela traz uma série de
autores que, no mínimo, colocam em xeque diversas concepções do que venha a ser o literário,
ora afirmando, ora provocando o tão propalado cânone que, por sua vez, responde ao mercado e à
academia como lugares de poder que elegem os seus prediletos modelos literários. Em outras
palavras, fazer circular a produção artística e intelectual é uma tarefa de suma importância, e a
Scriptum desenvolve suas atividades com esse fim.

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7) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias
famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos no
mercado editorial brasileiro?

Esse é um dos fatos que dizem respeito aos meios de comunicação de massa, seja em
sua versão impressa, seja em sua versão digital. Isso só confirma o que já disse anteriormente
sobre a Scriptum com a sua política e com o seu papel histórico. Há e sempre houve a
compreensão de que os autores de seu catálogo devam buscar ampliar as suas relações de maneira
que melhor compreenderem isso. Claro está que a Editora sempre cuida muito bem daqueles que
retornam a ela para produzirem um segundo livro. Mas, jamais como uma obrigação ou mesmo
como uma relação de fidelidade. Se há uma relação de lealdade, esta passa pelo reconhecimento
do trabalho realizado pela Editora e, também, quando o autor está disposto, pelo convívio da
amizade. Com esse espírito, a Scriptum incentiva essas participações. Não apenas em antologias,
mas em eventos diversos que procuram apresentar os autores e seus respectivos trabalhos. Isso só
agrega um valor positivo para a Editora, ampliando a divulgação de seus trabalhos.

8) Como você enxerga a produção literária contemporânea?

A produção literária da atualidade é algo que não dá para se enxergar se se for pensá-
la como um sistema completo, pois ela é, simplesmente, enorme, disforme, espalhada por todo o
território nacional, se estamos pensando em Brasil, e diversificada ao extremo. Para além dos
números registrados pelos mecanismos oficiais que regem a produção, a divulgação e a
circulação de livros, hoje temos uma série muito maior que escapa a essas pesquisas. Daquilo que
consigo ler ou ter notícia com a ajuda dos meios de comunicação de massa, ou por aqueles que
apreciam o universo do livro, posso afirmar que ela é forte o bastante para fomentar o mercado
editorial e para alimentar o imaginário do público, seja confirmando suas expectativas, seja
abrindo-lhes novos espaços no exercício da imaginação.
Há uma série de discursos que tem por finalidade reunir essa produção sob
perspectivas analíticas e de estratégias de venda. Prefiro pensar a literatura como um lugar de
expressão da experiência do autor que, muitas vezes, pode corresponder a certos agrupamentos
sociais. Isso se dá em ações individuais ou por meio de coletivos que tem em comum apenas o
110
desejo de criar um uso da língua de maneira artística. Para pensar mais sobre esse aspecto, teria
que ter em mãos algum exemplo.
Ainda se deve destacar o fato de a literatura, em sua expressão de conjunto
heterogêneo, responder às forças sincrônicas e diacrônicas. Isso significa dizer que para o
primeiro modo, ela dialoga com todas as formas de produção, de divulgação e de circulação do
presente, oferecendo a quem queira perceber uma perspectiva da atualidade, inclusive
tecnológica, na qual existe. Já no segundo modo, a percepção histórica faz aparecer nas mesmas
categorias da produção, da divulgação e da circulação, modos diferentes do literário que, a partir
de seu ponto de instauração, sua origem, agregam esse valor até o momento atual. Isto implica
dizer que no presente a literatura se deixa apreender por uma série tecnológica, temática e técnica
heterogênea, constituindo um panorama diversificado em sua caracterização. Também, se deve
atentar para o fato de que no futuro a literatura deverá agregar valores diferentes àqueles que
apresenta hoje, fazendo girar a sua percepção de acordo com os bens sociais, culturais, históricos,
políticos e tecnológicos de sua época. A percepção dessa mobilidade é fundamental para o editor.
Sem ela, o fenômeno com o qual trabalha perde em amplitude e em qualidade, podendo se
descaracterizar valorativamente diante de discursos oportunistas e fugazes.

9) Em sua avaliação, como os governos poderiam apoiar o editor e o livreiro?

Há cerca de quinze anos, o governo federal fez um esforço em duas direções muito
importantes para o universo do livro: o investimento na educação e o investimento no livro. A
primeira, por si só, cria condições para a formação de um cidadão crítico, o que implica dizer que
crianças, jovens e adultos em processo de alfabetização passaram a fazer parte do grupo de
leitores potenciais. O IBGE traz a notícia de um aumento do número de leitores e, é evidente, este
fato está diretamente relacionado à política educacional que se pratica. A segunda, diz respeito ao
programa do livro que fomentou a circulação, a divulgação e, por essa via, a produção literária.
Houve investimento em programas de compra de livros nos níveis federal, estadual e municipal;
incentivou-se a abertura de, pelo menos, uma biblioteca por cidade em todo o país, o que não
cumpriu o número planejado, por princípio. Mas, aumentou a oferta literária significativamente.
Promoveu-se ainda uma série de debates a respeito do livro entendido como um processo
mercadológico e de criação. Era preciso que esses programas e esse debate continuassem em
111
pauta para que todos os envolvidos no universo do livro pudessem dar a sua contribuição e
pudessem compreender melhor a circunstância histórica na qual trabalhamos. Creio que os
governos municipais, estaduais e federal deveriam estudar uma linha de crédito para fomentar a
produção livresca em seus respectivos âmbitos. Isso significaria que o livro agregaria a sua face
de produto mercantil um valor sociocultural de base para a formação continuada do social.
Também implicaria o reconhecimento do escritor como um profissional que precisa viver e se
dedicar exclusivamente a sua função, o que hoje ainda é para pouquíssimos autores. Enfim, é
preciso que se discuta o que é o livro, qual a sua relação e a sua importância para a formação de
um povo.

10) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito
para que ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com o
fechamento de outros espaços similares?

No momento em que a Scriptum promove a circulação do livro, a produção do livro


em sua sede e em outros espaços pelo país, além do universo digital, além da divulgação de seus
autores e de autores de outras editoras, fica evidente a sua ação cultural. Isto é da própria natureza
desse trabalho e é muito bem realizado pela Scriptum.
Como todo empreendimento empresarial, a Scriptum está sujeita às variações do
mercado no qual atua. Por ser uma empresa de família, como já disse anteriormente, de pequeno
porte, parece-me que há três alternativas mais fortes para o seu futuro: a primeira é o seu
proprietário achar, por exemplo, que deseja aposentar-se e liquidar a empresa. O que seria uma
perda em diversos níveis sociopolíticos, mas um direito do dono; a segunda, seria deixar como
herança familiar a empresa e, assim sendo, ela continuaria a existir nos moldes combinados por
esse processo de modificação em sua presidência; e a terceira, a venda da empresa para outra do
setor, ou de outro setor mercadológico que se interesse pela marca construída. Não há mágica no
mundo dos negócios. Ele é frio, duro, por vezes perverso. Em qualquer uma dessas hipóteses,
penso, haverá uma perda significativa no afeto daqueles que conviveram e convivem com a
Scriptum. Isso vale para qualquer outra empresa com o perfil parecido com o da livraria e editora
em questão.

112
Quanto a ação de riscar a Editora do mapa, ela só pode ser realizada, por exemplo,
como ato de se contar uma história do livro da cidade de Belo Horizonte ou de Minas Gerais.
Quem conta a história elege os fatos que lhe interessam. Mas, não elimina o que não foi
referenciado pelo discurso de poder escolhido. Apenas oculta e, desse modo, revaloriza o que
ficou à sombra.

11) Além de editor, você também é professor no curso de Letras do CEFET, especializado em
Tecnologias de Edição. Não existe um grande abismo entre a academia e a realidade? Você
realmente acredita que esse curso prepara as pessoas para o mercado editorial? Você não
concorda que a maior parte das pessoas irá se formar de uma forma completamente alienada por
faltar oportunidades de entrar em contato com o mundo das publicações em geral, talvez por Belo
Horizonte ser um mercado ainda incipiente e carente de editoras? Ou você acha que o mundo
virtual, outros suportes e canais da era digital irão absorver essas pessoas que têm se formado?
Compreendo a realidade como uma construção. Dessa maneira, não há abismo entre a
academia e a realidade, pois, aquela faz parte da construção desta. Essa é uma imagem
perpetuada, muitas vezes, para marcar a diferença de percepção de mundo entre aqueles que
frequentam a academia e aqueles que não tiveram essa oportunidade na vida, ou mesmo
escolheram não fazê-lo. Mas, é preciso dizer que há, entre esses dois grupos de pessoas, uma
troca permanente de vivências que ora se aproximam, ora se distanciam, e formam o meio social
no qual existimos. E mais, a academia absorve, em sua face de escola, o que Bakhtin diz sobre as
relações sociais: há um movimento de refração e de reflexo promovido em todas as instâncias
sociais e a escola também participa desse movimento. O que precisa ser pensado é como a
academia opera essas diferenças e essas semelhanças em relação ao mercado de trabalho, por
exemplo. Por essa via, a imagem do tal abismo parece querer cristalizar uma diferença para impor
ao cidadão um Status Quo imutável. Eu não acredito nisso e não trabalho com essa finalidade.
Quanto ao Curso de Letras, com ênfase em Tecnologias de Edição, ofertado pelo
CEFET-MG, é preciso dizer que tanto o Letras quanto o CEFET-MG são independentes do
mercado de trabalho. Trabalhamos em um regime próprio com a prerrogativa de podermos dar a
ver uma perspectiva nossa sobre o mundo do trabalho. Em minha concepção não formamos
ninguém para o mercado. É preciso compreender que mesmo no nível técnico-tecnológico, o
CEFET-MG não prepara nenhuma pessoa para o mercado de trabalho. O que a Instituição faz é
113
oferecer a oportunidade para que o cidadão se forme na área escolhida por ele e se prepare para
os desafios profissionais que são ofertados. Isso está diretamente relacionado com as forças
dialéticas que mencionei anteriormente. O que fazemos no CEFET-MG, nos cursos de nível
técnico-tecnológico, é criar a possibilidade de diálogo entre o que é esperado pela empresa e o
que é ofertado pela Instituição de ensino. E esse processo tem como protagonista o formando que
durante alguns anos trabalhou conosco.
A graduação tem como finalidade verticalizar uma série de saberes do cidadão na área
que este escolheu. No caso do Letras, criamos condições para que o discente se forme como um
intelectual que, sim, está apto a participar das atividades do mercado editorial, da forma dialética
já explicitada: ora afirmando as posturas do mercado, ora marcando uma diferença para com o
mercado e, portanto, ajudando a construir uma realidade diferente, no mínimo, problematizando o
que já está em funcionamento maquinal. Destaco o fato de o agente desse percurso ser o discente.
É ele quem decidirá sobre a sua formação. É ele quem decidirá sobre a qual área da edição se
dedicará. É ele quem decidirá como será a sua formação, a partir dos elementos apresentados pelo
Letras. Dessa maneira, se alguém quiser ser formado para o mercado editorial, sugiro os cursos
técnicos ofertados na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Há vários de ótimo
nível e, inclusive, há aqueles que formarão o cidadão para o trabalho imediato. Mas, o CEFET-
MG não será, então, a escola para esse tipo de escolha. É preciso saber o que se quer da vida e
procurar com cuidado os caminhos que levem ao desejo próprio.

Quanto às oportunidades de trabalho, em investigação iniciada no ano de 2013 e


estendida até o ano de 2016, pude verificar que há, na RMBH, pelo menos, quatrocentas e
cinquenta empresas pertencentes ao que se chama mercado editorial. Como entender que faltam
oportunidades? Como entender que Belo Horizonte tem um mercado incipiente? Que tipo de
empresa se espera para trabalhar? Qual campo específico está se pensando quando se fala em
mercado editorial? Se o que a sua questão coloca é verdadeiro, só posso concluir que falta
empenho por parte daqueles que desejam planejar o próprio futuro como trabalhador. Isso não é o
papel de nenhuma graduação. Das características que o Letras trabalha com seus discentes que
são necessárias para qualquer editor se pode enumerar a independência pessoal, o poder de
crítica, a capacidade de trabalhar em equipe e a vontade de atuar, aprender e transformar o meio

114
editorial, todas reunidas garantem uma base sólida para qualquer indivíduo poder se inserir no
universo do trabalho, seja ele físico ou digital. Belo Horizonte,

22 de abril de 2017. Wagner Moreira.

Apêndice 3

Este questionário integra o estudo

EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas contribuições para
a formação da literatura contemporânea brasileira
QUESTIONÁRIO PARA OS EDITORES

Mário Alex Rosa

1) Há quanto tempo você atua como editor da Editora Scriptum? Fale sobre o início do seu trabalho
junto à editora.

A Editora Scriptum começou com outro editor, portanto quando entrei já tinham publicado e
criado uma linha de edições de poesia. Acompanhei sempre de perto, inclusive indo aos lançamentos. A
minha entrada partiu de um convite do proprietário da Livraia Scriptum em 2005, que aceitei
prontamente, mas com uma condição: que seria importante convidar outros, pois, na minha visão, não
acredito muito em editor que trabalha sozinho. A outra questão, que é também bastante importante e
verdadeira é que não tinha experiência nenhuma, a não ser leitor, sobretudo de poesia e crítica literária.
Embora, já tinha editado jornal no perído de graduação e me envolvido com projetos culturais fora e
dentro da universidade. A soma disso tudo, talvez tenha me ajudado um pouco de experiência. Agora ser
parecerista requer muita leitura, mas muita leitura, pois é só com ela que você pode ariscar opiniões
sobre o que deve ou não ser publicado. E isso não quer dizer que cometeremos erros publicando ou não
uma obra. Creio que o início foi bastante promissor, pois recebemos alguns originais que eram de alto
nível literário. Felizmente tive a felicidade de ler alguns originais altamente qualificados. Quero ressaltar
que nunca fiz questão de saber quem são os autores, de onde eles vêm, oque fazem, pois temo que isso
possa atrapalhar o processo. Mas já houve casos – não poucos, que já conhecia o autor, mas isso nunca
me impediu de colocar a minha opinião sobre o original, inclusive renegando. A função de um
parecerista/editor não é fácil, pois, antes de qualquer coisa, por traz do texto, tem uma pessoa que
acredita que deu o melhor de si, que seu texto já foi elogiado por alguém. O risco dessa pessoa não olhar
mais na sua cara é grande.

2) Você trabalha como parecerista de outras editoras?


115
Não. Nunca trabalhei para outra editora. Mas costumo receber originais para opinar sobre.
Já trabalhei e trabalho para Revistas Acadêmicas. Nelas, recebemos textos acadêmicos para avaliação se
deve ou não publicar. Mas não só os critérios são diferentes como também os textos recebidos.

3) Quanto ao processo de seleção dos originais da Editora Scriptum, você lê em média quantos por mês?
Quais são os critérios que guiam o seu parecer?

Depende do material. Já li até cinco livros em um mês, embora o regulamento da editora é


de no mínimo de três meses para avaliar o material recebido. Os critérios são diversos, mas alguns são
necessários: domínio técnico do gênero, domínio da língua, “originalidade”. Claro que aqui estou
procurando uma dicção própria, sobretudo na poesia, gênero que me sinto mais a vontade para avaliar.
Agora tudo isso só é possível com muita, mas muita leitura. Entendo a profissão de editor aquele que ler
muito, mas sempre com os olhos críticos, não importa quem seja o autor lido.

4) A Editora Scriptum recebe apenas originais impressos para serem analisados. Um dos motivos é a
preferência dos editores em ler no impresso e não no ecrã. Qual é a diferença entre ler no papel e ler na
tela? Por que existe esta preferência que às vezes é tão criticada pelos aspirantes a autores que
submetem seus trabalhos a esta casa editorial?

Não gosto de ler na tela do computador, pois me sinto distante do texto, ainda que eu possa
fazer interferências digitando. Gosto de ler no papel, anotando nas margens, levando o original para
qualquer canto da casa. Gosto de sentir o lápis marcando o papel.

5) Além de atuar como editor, você também é autor e figura no catálogo da Scriptum. Quando há essa
inversão de papéis, quem é o seu primeiro leitor e parecerista do seu livro?

Sou autor da casa quase por acaso, pois não apresentei nenhum livro para a editora
Scriptum, como também para outras. Todas partiram de convite dos editores. No caso da Scriptum, partiu
de um poeta de fora de Minas e com total aval dos outros editores da casa que leram e disseram sim. Se
não fosse isso, certamente não apresentaria nenhum original para editora onde presto serviço.

6) Como você enxerga o papel da editora Scriptum no processo de formação da literatura


contemporânea?

É difícil saber qual o papel da editora no cenário atual. Quando leio um original não penso
muito no que vai acontecer, apenas procuro desenvolver o melhor trabalho para o autor ficar satisfeito
com a editora, o que nem sempre é possível atingir tal meta.

116
7) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias famosas,
como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos no mercado editorial
brasileiro?

Simplesmente me sinto realizado, pois de alguma maneira contribuímos para o crescimento


deles, mas sempre com o mérito da qualidade literária dos autores.

8) Como você enxerga a produção literária contemporânea?

É sempre difícil avaliar o que está muito perto de nós, digo do ponto de vista histórico e
como historiador que sou. Agora, acho que há um excesso de produção e pouca avaliação crítica. Hoje
ficou fácil editar um livro, mas para o que acontecerá com ele é quase impossível saber. As chamadas
editoras independentes não são tão independentes como dizem. Independem de quê? De quem? Por
que são independentes?

9) Em sua avaliação, como os governos poderiam apoiar o editor e o livreiro?

Os governos não querem saber de cultura, apenas repassam o mínimo do mínimo para
cultura, e para o livro ou livrarias, ou livreiros, nada. Você precisa entrar em lei de incentivo para tentar
algo, o que é muito arriscado. O público e o privado no Brasil sempre foram problemáticos. A leitura
começa em casa, vai pra escola e consequentemente chegaria às livrarias. Não adianta resolver o
problema do livreiro, se não resolve o problema do gosto pela leitura.

10) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito para que
ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com o fechamento de
outros espaços similares?

Mais que um grande problema que todas as livrarias estão passando com a crise econômica
e política do país, precisamos urgentmente criar uma política cultural que faça, ou melhor, que ajude a
combater o analfabetismo cultural que reina no Brasil. É preciso investir em cultura para sempre e não
apenas um show na praça que acaba ali (nada contra shows). A nossa Virada Cultural não vira nada, pois
não cria identidade, apenas uma festa passageira. A programação praticamente não tem nada de leitura.
Por outro lado, a concorrência desleal da internet com os livreiros é enorme. O mundo mudou muito
rápido com a internet e num país, cuja o índice é baixíssimo de leitores, de pessoas que frequentam
livrarias não apenas para comprar, mas como for de passeio também, acaba desparecendo ainda mais
rápido. A queda de público em livrarias nunca foi muito grande, mas atualmente vem caindo de forma
vertiginosa. O que salva são os lançamentos. Mas nem todos. A minha sugestão é que o governo de
Minas, (Estado e Prefeitura) fechem todos ou quase todos os sábados aquele quarteirão onde se

117
concentra as principais livrarias de Belo Horizonte. É preciso que o poder público e as pessoas de um
modo geral entendam que um país sem leitores é um país que continuará a dar passos de bicho preguiça.

11) Além de editor, você também é professor no curso de Letras do CEFET, especializado em Tecnologias
de Edição. Não existe um grande abismo entre a academia e a realidade? Você realmente acredita que
esse curso prepara as pessoas para o mercado editorial? Você não concorda que a maior parte das
pessoas irá se formar de uma forma completamente alienada por faltar oportunidades de entrar em
contato com o mundo das publicações em geral, talvez por Belo Horizonte ser um mercado ainda
incipiente e carente de editoras? Ou você acha que o mundo virtual, outros suportes e canais da era
digital irão absorver essas pessoas que têm se formado?

Não sou professor efetivo do CEFET, portanto não me sinto competente para avaliar a sua
pergunta, que é importante.

Mário Alex Rosa

Apêndice 4

Este questionário integra o estudo

EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas contribuições para a
formação da literatura contemporânea brasileira

QUESTIONÁRIO PARA OS EDITORES

Pedro Castilho

1) Há quanto tempo você atua como editor da Editora Scriptum? Fale sobre o início do seu trabalho
junto à editora.

Eu sou editor na área de livros relacionados à psicanálise. Minha formação: sou psicanalista,
professor de Psicanálise da UFMG, e o Betinho me convidou para participar do seu grupo editorial há um
ano e essa parceria está sendo feita.

2) Você trabalha como parecerista de outras editoras?

De outras editoras não; trabalho como parecerista de várias revistas especializadas em


Psicanálise.

118
3) Quanto ao processo de seleção dos originais da Editora Scriptum, você lê em média quantos por mês?
Quais são os critérios que guiam o seu parecer?

Varia bastante; às vezes eu posso ler dois por mês, às vezes posso ficar um mês sem ler, mas
em média eu leio 6 por ano. A minha referência é a minha experiência, eu sou professor universitário,
tenho mestrado, doutorado, pós-doutorado em Psicanálise, sou psicanalista, então eu estou sempre
antenado com relação às publicações que estão sendo feitas em âmbito nacional e internacional,
principalmente Argentina e França, que são os países que mais produzem uma literatura psicanalítica,
então as minhas referências são estas, como parecerista de uma editora, a gente tem que estar atento a
todas as publicações que estão sendo feitas em âmbito nacional e internacional.

4) A Editora Scriptum recebe apenas originais impressos para serem analisados. Um dos motivos é a
preferência dos editores em ler no impresso e não no ecrã. Qual é a diferença entre ler no papel e ler na
tela? Por que existe esta preferência que às vezes é tão criticada pelos aspirantes a autores que
submetem seus trabalhos a esta casa editorial?

Eu realmente prefiro ler em papel impresso porque a minha visão fica muito ofuscada se eu
fico lendo muito na tela, eu gosto de usar caneta para fazer algumas observações, e eu acho que essa
política da Editora Scriptum é a política correta porque o editor vai ter mais conforto em fazer o seu
parecer, utilizando o texto impresso.

5) Como você enxerga o papel da editora Scriptum no processo de formação da literatura


contemporânea?

É importantíssimo esse lugar, essa proposta que o Betinho vem ocupando, tanto no
parâmetro da cidade de Belo Horizonte, quanto no parâmetro nacional, ele vem lançando autores
importantes entre eles Ana Martins Marques, que uma das poetisas mais premiadas do Brasil, além de
também a Editora Scriptum ter bastante livros especializados em psicanálise, assim, é uma das poucas
editoras que tem livros especializados em psicanálise de argentinos e franceses, então, hoje eu poderia
dizer que essa editora, essa livraria é uma referência pra psicanálise, não só apresentando livros nacionais
mas também internacionais de peso, então é uma iniciativa importantíssima para a cultura brasileira.

6) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias famosas,
como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos no mercado editorial
brasileiro?

É isso o que eu falei, é decisivo, tem pouco apoio público, pouco apoio da inicativa privada,
deveria ter um apoio maior, e o Betinho é um editor que acaba bancando tudo isso sozinho, juntamente
com o trabalho dos escritores.

7) Como você enxerga a produção literária contemporânea?

Ainda muito tímida, eu acho que na verdade deveria ter mais, uma produção maior...

8) Em sua avaliação, como os governos poderiam apoiar o editor e o livreiro?


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Dessa maneira que eu falei, os editores são muito autônomos, eles acabam bancando os
autores, então o governo, a iniciativa pública e privada também deveriam bancar mais essa inicativa
porque esses trabalhos são decisivos para a construção da identidade brasileira.

9) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito para que
ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com o fechamento de
outros espaços similares?

Eu acho que deveriam ser essas parcerias, com o público e o privado, para não ser engolido
por estas grandes livrarias. Também acho que deveria entrar mais no mercado virtual.

Apêndice 5

Este questionário integra o estudo

EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas contribuições para a
formação da literatura contemporânea brasileira

QUESTIONÁRIO – Produtor gráfico

Silvano Moreira Lucena

1) Há quanto tempo você trabalha na Livraria e Editora Scriptum e há quanto tempo você
desempenha o trabalho de produtor gráfico?

Eu entrei para a Scriptum em 2003; pouco tempo após a Editora ter publicado o seu
primeiro livro -Trívio, de Ricardo Aleixo. A oportunidade de produzir as edições da Scriptum surgiu em
2007 e o primeiro livro produzido, se não me falha a memória, foi o “O cadáver ri dos seus despojos”, de
Carlos de Brito e Mello.

2) Em que consiste o trabalho de um produtor gráfico?

No ambiente editorial, o produtor é o profissional responsável, entre outras funções, pelos


recebimentos de originais; formulação e envio de propostas; fechamento de contratos; é também a
pessoa responsável por registrar e solicitar junto a Biblioteca Nacional o ISBN da obra; por avaliar a
viabilidade de impressão, aproveitamento de papéis, formatos, tipos de impressão e acabamento;
liberação de provas, negociações e prazos. É o responsável por coordenar e distribuir os trabalhos em
suas diferentes etapas. O produtor participa desde o início do processo recebendo o “original” das mãos
do autor à finalização do projeto, com o livro pronto, impresso e entregue pela gráfica. Resumindo, o
trabalho de um produtor é extenso e ele participa de todas as etapas do processo de edição.

120
3) Quais são as principais dificuldades que você enfrenta no seu dia-a-dia em relação aos livros
que são publicados pela Scriptum?

As dificuldades que encontro com frequência antecedem a fase em que o livro fica pronto.
Entre o parecer do editor e a publicação. Muitos desses autores acabam não assinando o contrato de
edição. E os motivos são os mais variados possíveis. É comum outras editoras entrarem no páreo com
alguma proposta; ou a desistência do autor, por não conseguir chegar a um acordo satisfatório, que o
permita publicar, sem ter que investir financeiramente na edição. Atualmente fazemos uso de três formas
diferentes de contrato de edição. Na primeira e mais utilizada delas, o autor banca a edição
integralmente; na segunda, o livro é editado em regime de coedição entre autor e editora e ambos
dividem os custos e na terceira opção, a ediora banca a edição integralmente. Problemas com designers,
revisores e com gráficas, durante a impressão acontecem. Mas são casos raros.

4) Como é realizado o trabalho de revisão, diagramação, finalização, design e impressão na


Editora Scriptum?

Todo o trabalho é terceirizado e funciona da seguinte forma: após o recebimento do original,


ele é encaminhado para o conselho editorial avaliar se a obra se encaixa no perfil editorial da casa. Ao
término da análise, o editor emite um parecer que pode ser favorável ou não à publicação. O autor é
comunicado do parecer por e-mail ou pelo meio de contato por ele deixado. Se aprovado, fazemos o
levantamento de todos os custos da edição, exemplo: são colhidos orçamentos com revisores, designers,
gráficas, e com outros profissionais (se assim for necessário, ex. um ilustrador); depende do tipo de
projeto em andamento. Com os valores em mãos, uma proposta é formulada e enviada para o autor.
Assinando contrato, a Editora monta o cronograma da edição e o texto é encaminhado para o(a)
revisor(a). Se for uma obra extensa, com muitos capítulos e número de páginas elevado, este, a medida
em que desenvolve o seu trabalho, envia os capítulos para o autor avaliar as alterações propostas. O
texto revisado é enviado na sequencia para o design desenvolver seu trabalho. O profissional irá
desenvolver e apresentar três modelos de capas (em média) diferentes para o projeto; diagramar e
finalizar os arquivos para envio à gráfica. Vale frisar que o autor participa em todas as fases do processo
de edição. Seja dialogando com o revisor, com o design, ilustrador e até mesmo -se assim o desejar,
acompanhar as impressões iniciais do projeto na gráfica.

5) Além de produtor gráfico você também desenvolve um trabalho paralelo de edição artesanal.
Conte-nos um pouco sobre esse trabalho, no qual você desenvolve o papel de um pequeno
editor. Como é feito e o que já foi publicado? São plaquetes com tiragem limitada de 30
exemplares, numeradas e assinadas pelos autores. Todo o trabalho é manual e passa por
processos semelhantes aos que ocorrem dentro de uma editora:

f) recebimento do texto;

f) diagramação do miolo e confecção da capa;

f) disponibilização de prova impressa;

121
g) aprovação do autor;

h) impressão e finalização

É um trabalho que exige um pouco de tempo, paciência e amor pelo que se faz. O tempo
total para finalizar uma plaquete – após a impressão, é de cerca de 30 minutos. E a maior parte desse
tempo é consumido com a costura, executada com uma agulha de costura simples, manualmente. Até o
momento foram publicadas três: “Deus me livre” do poeta, crítico e professor universitário Mário Alex
Rosa; “Um mineiro em Brasília – à maneira de Nicolas Behr”, do poeta, jornalista, músico e professor
universitário Marcelo Dolabela e “Decálogo do Bosque”, do também poeta e professor universitário
Camilo Lara. Decálogo foi o último trabalho publicado em vida pelo Camilo. Ele faleceu cerca de dois
meses após a edição ficar pronta.

6) Você também é escritor e figura em algumas coletâneas de poesias publicadas pela Scriptum.
Você já submeteu originais a outras editoras?

Não me considero escritor. O poema [no drible do poeta] foi selecionado para compor a
antologia “Pelada Poética: Copa do Mundo no Brasil”, editado pela Scriptum, em 2014. Fora isso, tenho
poemas publicados no número três da revista ATO.

6) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias
famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos
no mercado editorial brasileiro?

Tudo começa com os editores. Com o trabalho deles. Isso, deixando de lado, a figura do
autor(a) - do texto propriamente dito -, para analisar o caminho que o livro irá percorrer até que o autor -
ou determinado trecho do seu livro -, seja objeto de desejo de outras editoras ou de organizadores
solicitando autorização para reprodução em antologias. Agora mesmo, enquanto respondo a tua
pergunta, recebi um e-mail de uma gigante dos livros didáticos solicitando autorização para usar um dos
poemas da nossa autora Michelle Campos em uma publicação deles. Dito isso, o livro editado, segue para
divulgação na imprensa local; o lançamento acontece e posteriormente segue sendo divulgado em feiras
e bienais, onde são apresentados a jornalistas e formadores de opinião. Esse trabalho de garimpar e
lapidar pedras é mérito dos nossos editores. São eles que vão apontar se “X” livro se adequa ou não ao
perfil editorial traçado pela Casa. Confiamos no trabalho deles e eles sabem o que estão fazendo. Inicia
com eles e prossegue com a divulgação entre jornalistas e formadores de opinião. Isso possibilita o livro
chegar às mãos de outras editoras, autores, críticos, etc. Quando se faz algo sério, alvo de boas críticas,
como vem acontecendo com os livros publicados pela editora Scriptum, desperta o interesse do outro.
“Olha que trabalho interessante a Scriptum vem fazendo em Belo Horizonte”; “Vamos ficar atentos”,
penso que deve rolar muito disso; Alguns dos nossos autores hoje têm seus livros editados por editoras
consagradas. São os casos de Ana Martins Marques (Companhia das Letras), Jacques Fux (Rocco e José
Olympio), Carlos de Brito e Melo (Companhia das Letras), Mário Alex Rosa (Cosac Naify). Para a Scriptum
é o reconhecimento de um trabalho de equipe.

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6) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito
para que ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com
o fechamento de outros espaços similares?

A Scriptum se estabeleceu ao longo dos últimos anos como importante espaço de divulgação
e produção cultural na cidade. Esse trabalho vem sendo realizado através de eventos de lançamento de
livros, eventos comemorativos como a Pelada Poética, que reune de quatro em quatro anos escritores,
poetas, jornalistas que são convocados a apresentar um poema, crônica, conto ou ensaio, para ser
publicado numa antologia comemorativa que irá homenagear dois grandes craques do esporte bretão.

Apêndice 6

Este questionário integra o estudo

EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas


contribuições para a formação da literatura contemporânea brasileira

QUESTIONÁRIO AUTORAS
Ana Martins Marques

1) Qual a sua relação com a leitura e a escrita?


2) Qual é a origem de sua escrita, em que idade ela aconteceu? Quando você se assumiu
uma escritora?
Comecei a escrever poemas ainda criança, em torno dos 9 ou 10 anos, mas demorei
bastante para publicar: só fui lançar meu primeiro livro com mais de trinta anos. Não sei dizer em
que momento passei a me considerar escritora, na verdade nem sei se me considero escritora.
Prefiro pensar que sou alguém que escreve, alguém para quem a leitura e a escrita têm um papel
cotidiano e importante. Mas escrever é um ofício estranho, instável; depois de escrever um
poema, nunca sei se serei capaz de escrever novamente.

3) Quais foram os autores que mais te influenciaram?


Nos meus três livros há poemas dedicados ou escritos a partir de textos de outros autores
(Drummond, Manuel Bandeira, Ana Cristina César, e. e. cummings, Joseph Brodsky...), que estão, claro,
entre os meus preferidos. Gosto da ideia de uma escrita que deixa ver os rastros da leitura. Mas há
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também autores que estão entre os meus preferidos, como Kafka e Borges, e que não entram
diretamente no que escrevo.
Considero que o encontro com alguns poetas foi decisivo para a minha escrita, seja porque a
leitura desses autores mobilizou o meu desejo de escrever, seja porque alterou ou ampliou a minha
compreensão do que a poesia poderia ser... Foi o caso, em diferentes épocas, do encontro com a poesia
do Bandeira, do Drummond, da Ana Cristina Cesar, da Adília Lopes, do Joan Brossa, da Wislawa
Szymborska... Mas a ideia de “influência” é complicada; é preciso considerar, sempre, como diz a ensaísta
portuguesa Silvina Rodrigues Lopes, que a herança supõe sempre amor e infidelidade ao que se recebe. A
“influência” pode incluir também a resistência, a diferença, o desvio...

4) Quando você publicou o seu primeiro livro?


Publiquei meu primeiro livro em 2009, pela Scriptum. Em 2007, ganhei o Prêmio Cidade de Belo
Horizonte, na categoria “Poesia – autor estreante”, e no ano seguinte recebi novamente o mesmo
prêmio, dessa vez na categoria “Poesia”. A vida submarina reúne os poemas premiados nesses concursos,
que eu agrupei e reorganizei no momento de preparação do livro. Olho pra esse livro como se olha para
uma espécie de terreno com camadas geológicas de épocas distintas: são poemas escritos ao longo de
muitos anos, que em alguns casos ficaram muito tempo engavetados, que foram muitas vezes
reescritos...

5) Como surgiu a sua relação com a Editora Scriptum?


Eu frequentava a livraria como cliente. Passava por lá quase toda semana, admirava o cuidado na
seleção dos livros e o fato de a livraria manter uma estante considerável de poesia e em especial de
poesia contemporânea, algo bastante raro em livrarias. Também conhecia algumas publicações da
editora, por exemplo o livro O cadáver ri de seus despojos, do Carlos de Britto e Mello.
Em 2009, eu considerava que tinha um livro pronto, mas não sabia bem o que fazer para publicá-
lo: não conhecia muita gente no meio editorial, e as duas ou três tentativas que fiz, enviando os originais
para editoras, não deram certo... Procurei então o Betinho, da Scriptum, e perguntei se eles teriam
interesse na publicação; o Betinho submeteu o livro ao seu corpo editorial e fez uma proposta de edição.
Sou muito grata por essa acolhida, pelo modo afetuoso como trataram o livro de uma estreante
completamente desconhecida.

6) Na sua opinião qual é o diferencial da Editora Scriptum em relação às outras editoras?


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Acho que os principais diferenciais são a disposição para a publicação de autores inéditos, ainda
sem a chancela da crítica, e a atenção para a poesia, um gênero que tende a ter pouca recepção nas
grandes editoras.

7) Além de autora, você já recebeu originais de aspirantes a autores para analisar, ou seja, já
aconteceu esse momento de você bancar o trabalho de editor também?
Além de escrever, eu tenho um trabalho regular (sou redatora/revisora na Assembleia Legislativa
de Minas Gerais); infelizmente não me sobra muito tempo livre para ler originais. Já li alguns originais de
amigos, mas não tenho condições de fazer isso regularmente.

8) Você já submeteu originais a outras editoras?


Antes de publicar meu primeiro livro pela Scriptum, enviei os originais para duas ou três editoras.
De uma delas nunca recebi resposta; uma outra deu uma resposta em que elogiava o livro, mas ressaltava
que não estava publicando poesia por uma questão mercadológica. Depois de publicar meu primeiro
livro, recebi um convite da Companhia das Letras para lançar um livro na coleção de poesia
contemporânea da editora, e desde então tenho publicado meus livros lá.

9) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em


antologias famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores
significativos no mercado editorial brasileiro?
Acho que vale como um reconhecimento do trabalho da editora, não apenas do trabalho de
“garimpagem” de novos autores, mas também de divulgação de suas publicações. Tenho a impressão de
que a Scriptum compensa as dificuldades de distribuição dos livros, comum a todas as pequenas editoras,
com uma rede muito consistente de contatos, o que faz com que os livros acabem chegando a várias
pessoas envolvidas com literatura, críticos, jornalistas, leitores.

10) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito
para que ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com o
fechamento de outros espaços similares?
Acho que a Scriptum tem um papel muito importante na vida literária da cidade, não apenas
como editora e livraria (uma livraria, aliás, onde se pode encontrar várias publicações que não se

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encontram em outras livrarias da cidade, notadamente publicações de poesia). A Scriptum é também um
local de encontro e de conversa, um espaço onde acontecem lançamentos, eventos, leituras de poesia.
Não sei dizer o que precisa ser feito para que o espaço se mantenha... Acho que é fundamental
manter as atividades que fazem da livraria um espaço de encontro e de convívio. Talvez fosse importante
um investimento mais sistemático na divulgação e uma presença mais incisiva nas redes sociais, mas o
fundamental, me parece, é que o espaço continue a ser frequentado por aqueles que se interessam por
literatura.

Apêndice 7

Este questionário integra o estudo

EDITORA SCRIPTUM: Um estudo de caso sobre uma pequena editora e suas contribuições para
a formação da literatura contemporânea brasileira

QUESTIONÁRIO AUTORAS

Simone de Andrade Neves

1) Qual a sua relação com a leitura e a escrita? É uma relação sinalagmática: uma depende da
outra. E dependo delas.

2) Qual é a origem de sua escrita, em que idade ela aconteceu? Quando você se assumiu uma
escritora? Escrevi os primeiros poemas aos nove ou dez anos. Aos 18 assumi.

3) Quais foram os autores que mais te influenciaram? Manuel Bandeira, Carlos Drummond
Andrade, Cecília Meireles, Machado de Assis, Victor Hugo, Kafka, Marcel Proust, Fiama Hasse
Pais Brandão, Elizabeth Bishop, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Duda Machado, E. M
de Melo e Castro, Joan Brossa, Francis Ponge, T. S Eliot, João Guimarães Rosa, Octavio Paz, Clarice
Lispector, Caio Fernando Abreu, Miguel de Cervantes, Hermann Hasse – por um tempo- a lista
não tem fim: vou lembrar de um ou outro que não estão aqui depois.

4) Quando você publicou o seu primeiro livro? Aos 19 anos.

5) Como surgiu a sua relação com a Editora Scriptum? Conheci o Welbert Belfort na Temporada de
Poesia de 1994 – evento da Prefeitura de Belo Horizonte. Tornei-me cliente da livraria na
“abertura das portas” e sempre ia e ainda vou até lá, comprar livros, dialogar.

6) Na sua opinião qual é o diferencial da Editora Scriptum em relação às outras editoras? O


tratamento personalizado e ênfase no trabalho de edição e divulgação do livro.

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7) Além de autora, você já recebeu originais de aspirantes a autores para analisar, ou seja, já
aconteceu esse momento de você bancar o trabalho de editor também? Não.

8) Você já submeteu originais a outras editoras? Sim; mas já tem um tempo.

9) Como você avalia a presença de autores lançados inicialmente pela Scriptum em antologias
famosas, como a recém-lançada por Adriana Calcanhoto, ou no rol de autores significativos no
mercado editorial brasileiro? A edição não depende mais da chancela de uma grande editora
para chegar nas mãos dos admiradores de poesia. As pequenas editoras, em especial a Scriptum,
conseguem expor os seus autores no mercado, estimular o interesse dos leitores para conhecer o
trabalho dos seus autores e poetas.

10) Como você enxerga o papel cultural da Livraria e Editora Scriptum e o que precisa ser feito para
que ela não desapareça do mapa, a exemplo do que vem ocorrendo recentemente com o
fechamento de outros espaços similares? A Scriptum fomenta a divulgação de poesia na cidade
de Belo Horizonte, promove encontros muito importantes e se tornou referência no mercado de
poesia nacional. Seus editores são compromissados com a edição. Não sei te responder o que
tem que ser feito para que ela não desapareça do mapa mas sei que se isso um dia acontecer –
não quero nem pensar nisso: será uma perda irreparável.

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