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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO HIDRÁULICO E SANITÁRIO DO PROCESSO DE

DESIDRATAÇÃO DE LAMAS FECAIS URBANAS EM LEITOS DE SECAGEM

Leonardo Matias Manejo

Chimoio, 2019
UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE ENGENHARIA AMBIENTAL E DOS
RECURSOS NATURAIS

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO HIDRÁULICO E SANITÁRIO DO PROCESSO DE


DESIDRATAÇÃO DE LAMAS FECAIS URBANAS EM LEITOS DE SECAGEM

Leonardo Matias Manejo

Chimoio 2019
UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE ENGENHARIA AMBIENTAL E DOS
RECURSOS NATURAIS

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO HIDRÁULICO E SANITÁRIO DO PROCESSO DE


DESIDRATAÇÃO DE LAMAS FECAIS URBANAS EM LEITOS DE SECAGEM

Leonardo Matias Manejo

Orientadora: Engª. Jenita Cangola, Msc

Co- orientadores: Engª Júlia Gaspar, Msc

Monografia submetida à Faculdade de Engenharia


Ambiental e dos Recursos Naturais, Universidade
Zambeze, Chimoio, em cumprimento dos requisitos para à
obtenção do Grau de Licenciatura em Engenharia
Ambiental e dos Recursos Naturais.

Chimoio 2019
DECLARAÇÃO

Eu, Leonardo Matias Manejo, declaro que esta monografia é resultado do meu próprio
trabalho e está a ser submetida para a obtenção do grau de Licenciado na Universidade Zambeze,
Chimoio.

Ela não foi submetida antes para obtenção de nenhum grau ou para avaliação em
nenhuma outra Universidade.

______________________________________________________________

(Leonardo Matias Manejo)

__________________ dia de _________________2019


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

A todos que dedicam seu tempo e suas vidas para desenvolverem e implementarem projectos de
reciclagem e reutilização de resíduos e todos aqueles que buscam a preservação do meio
ambiente.
AGRADECIMENTOS

Agradeço:

A Deus Aquele que é a razão do meu viver, o senhor da minha existência, minha eterna
gratidão.

Aos meus pais, Matias Aleixo Manejo. Victoria Dinis Manejo. Pelo esforço que fizeram
para que eu chegasse até aqui. Sintam orgulho, não de mim, mas de sua própria vitória. Aminha
Avo, Aos meus irmãos Aleixo, Edson, Osvaldo, Nilza, Mércia, Diana, Alberto, Wilton, Manejo e
Zainabo meus verdadeiros padrões de união, família e cumplicidade.

À Universidade Zambeze concretamente Faculdade de Engenharia Ambiental e dos


Recursos Naturais da cidade de Chimoio, de forma especial ao Programa de licenciatura, pela
oportunidade de cursar o curso de engenharia ambiental e dos recursos naturais.

Ao projecto ZAMADZI NICHE 266-Invesigação Por Acção (IPA) que garantiu o


financiamento para aquisição de materiais e equipamentos necessários para o desenvolvimento
da pesquisa.

A minha orientadora Eng. Jenita Benício Cangola MSc, e aos meus Co- orientadores
Eng. Júlia Gaspar MSc,, Eng. Roberto Justino Arnaldo Chuquela MSc,, por estarem sempre de
prontidão para me ajudar, tirando dúvidas, auxiliando e corrigindo cada trecho dessa monografia
e por ceder esforço para que se torna-se possível a realização desta pesquisa. Obrigado pela
vossa dedicação enquanto orientadores.

Ao Professor doutor Luís Cristóvão pelas visitas no campo, contribuição com suas ideias
Engenhosas. Ao Eng. Professor doutor Osvaldo doutor Osvaldo Moiambo pelo apoio na
realização da pesquisa, contribuição com suas ideias Engenhosas. Ao técnico de Laboratório
Engenheiro Cristóvão pelo acompanhamento nas campanhas experimentais e pelos
conhecimentos científicos partilhados.

Há todos colegas da FEARN que contribuíram directa e indirectamente para este sucesso.
Especialmente para colegas do grupo de estudo, Manuel Francisco, Wilson Paulino, João
Manuel, Amílcar Raja, Rui Felizardo, Jamal Charles, Izac Mussama, José Simione, Augusto
Mutane entre outros.

Por último, um agradecimento especial á todo corpo docente do Curso de Engenharia


Ambiental e dos Recursos Naturais, que em muito contribuiu para a minha formação.

“Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é
realidade”.

(Raul Seixas)
RESUMO

Um dos principais subprodutos dos sistemas de tratamento de efluentes é denominado


lamas fecais, que é composto por diferentes substâncias, de acordo com a característica do
efluente, e o tratamento ao qual foi submetido. Dentre os possíveis procedimentos adoptados
para tratamento, destaca-se a remoção da água em excesso, conhecida por desidratação, que
viabiliza etapas posteriores, como o transporte e disposição final. Os processos de desidratação
podem ser realizados naturalmente, a partir do emprego de leitos de secagem, estruturas
económicas e de fácil operação. O objectivo do presente estudo é avaliar o desempenho
hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas fecais urbanas em leitos de secagem.
A metodologia adoptada para o desenvolvimento do trabalho abrangeu as seguintes etapas de:
dimensionamento dos leitos de secagem de lamas fecais, Montagem da IPSLF, determinação da
Condutividade Hidráulica Saturada e da Porosidade e medição de parâmetros físico-químico
(pH, OD, temperatura, condutividade eléctrica e teor de sólidos) e registo diário da escorrência
em ambos os leitos. Os resultados da condutividade hidráulica não apresentam variação
significante e os ensaios de porosidade tem uma percentagem média de espaços vazios abaixo de
50%. Já os parâmetros físico-químicos monitorados foram comparados com os previstos na
legislação, como, pH e temperatura e os outros parâmetros foram comparados com os valores
estabelecidos por alguns autores. Os resultados sugerem que o procedimento experimental
apresentou uma boa eficiência na redução do volume das lamas do leito de secagem 03 e 04 que
possuíam menor altura de camada de lama em relação ao leito 4 (linha), confirmando assim a
inviabilidade da aplicação de alturas maiores de camada de lama em leitos de secagem durante o
ensaio.

Palavras chaves: Tratamento de lamas fecais, leitos de secagem, avaliação do desempenho de


secagem
ABSTRACT

One of the main byproducts of wastewater treatment systems is called faecal sludge, which is
composed of different substances according to the characteristics of the effluent and the
treatment to which it has been subjected. Among the possible procedures adopted for treatment,
we highlight the removal of excess water, known as dehydration, which enables later stages,
such as transport and final disposal. Dehydration processes can be carried out naturally by
employing drying beds, economical structures and easy operation. The objective of this research
was to evaluate the hydraulic and sanitary performance of the urban faecal sludge dewatering
process in drying beds. The methodology adopted for the development of the work included the
following steps: design of faecal sludge drying beds, IPSLF assembly, determination of
Saturated Hydraulic Conductivity and Porosity and measurement of physicochemical parameters
(pH, OD, temperature, conductivity). And solids content) and daily flow record in both beds.
Hydraulic conductivity results do not show significant variation and porosity tests have an
average percentage of voids below 50%. The monitored physical-chemical parameters were
compared with those provided for in the legislation, such as pH and temperature and the other
parameters were compared with the values established by some authors. The results suggest that
the experimental procedure showed a good efficiency in reducing the volume of the drying bed
03 and 04 sludge that had lower mud layer height in relation to the bed 4 (line), thus confirming
the impossibility of applying higher heights. Of mud layer on drying beds during the test.

Keywords: Faecal sludge treatment, drying beds, drying performance evaluation


SUMARIO
LISTA DE FIGURAS

Figura 1:Esquema que mostra a cadeia de gestão de lamas fecais .............................................. 30


Figura 2:Perfil esquemático de um leito de secagem de lamas convencional ............................. 37
Figura 3: Exemplo de abordagem para evolução do tipo de serviços de saneamento em função
da densidade populacional. ........................................................................................................... 49
Figura 4: Mapa de localização Geográfica da cidade de Chimoio: a) Mapa de enquadramento
geográfico; b) Mapa de Identificação da Instalação Piloto ........................................................... 52
Figura 5: fluxograma da instalação piloto de secagem de lamas fecais ...................................... 55
Figura 6: Montagem dos leitos de secagem da instalação piloto e pormenor da torneira e
recipiente de recolha e armazenamento da água drenada: ............................................................ 56
Figura 7: Materiais constituintes das diferentes camadas do meio de enchimento: a esquerda da
camada superior areia, camada intermediaria brita fina e a direita camada inferior composta por
brita grossa. .................................................................................... Erro! Marcador não definido.
Figura 8: ensaio de porosidade do leito de secagem de lamas..................................................... 59
Figura 9: Carregamento do leito de secagem de lamas ............................................................... 60
Figura 10: Recipiente de recolha das amostras de lamas fecais (frascos de âmbar de 400ml) ... 61
Figura 11: Materiais utilizados para medição de parâmetros em campo: a) PHmetro b) Oxímetro
c) condutivimetro .......................................................................................................................... 61
Figura 12: Etapas do procedimento de análise de Teor Sólido das lamas no laboratório de Água
da FEARN ..................................................................................................................................... 63
Figura 13: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio ............................................................................................... 68
Figura 14: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio. .............................................................................................. 69
Figura 15: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio. .............................................................................................. 70
Figura 16: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio ............................................................................................... 71
Figura 17: Comportamento do pH- LS03 Figura 18: Comportamento do pH- LS04 ............ 74
Figura 19: Comportamento do pH- LS04 linha........................................................................... 74
Figura 20: Comportamento do Temp - LS03 Figura 21: Comportamento do Temp - LS04
....................................................................................................................................................... 76
Figura 22: Comportamento do Temp - LS04 linha .................................................................... 76
Figura 23: Comportamento de CE- LS03 Figura 24: Comportamento de CE- LS04 .. 77
Figura 25: Comportamento de CE- LS04 linha ........................................................................... 78
Figura 26: Comportamento de OD- LS03 Figura 27: Comportamento de OD-
LS04 .............................................................................................................................................. 79
Figura 28: Comportamento de OD- LS04 linha .......................................................................... 79
Figura 29: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo ................................................................................... 82
Figura 30: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo. .................................................................................. 82
Figura 31: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo do ciclo...................................................................... 83
Figura 32: Massa de água drenada e acumulada ao longo do ciclo. ............................................ 85
Figura 33: Torrões formados pela fissuração e retracção horizontal da camada de lamas. a)
LS03; b) LS04; c) LS04 linha ....................................................................................................... 86
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais parâmetros e respectivas características de lamas fecais. ........................... 26


Tabela 2: Comparativo dos métodos tradicionais de desidratação de lamas fecais de baixo custo.
....................................................................................................................................................... 43
Tabela 3: Vantagens e desvantagens da valorização agrícola de lamas de ETAR. ..................... 51
Tabela 4: Número de habitantes da província de Manica e da cidade de Chimoio, obtidos nos
censos de1980, 1997, 2007 e 2017. .............................................................................................. 54
Tabela 5: Dados meteorológicos de Chimoio referentes a Abril a Julho de 2019....................... 65
Tabela 6: Resultado da condutividade hidráulica saturada dos leitos. ........................................ 66
Tabela 7: Valores percentuais da Porosidade ou cedência específica. ........................................ 71
Tabela 8: Parâmetros físico-químicas em valores médios ± desvio padrão referente as colectas e
análises laboratoriais. .................................................................................................................... 80
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

% - Percentagem

A - peso do cadinho de amostra seco

A- Área de secção transversal

APHA - American Public Health Association (Associação Americana de Saúde)

B - peso do cadinho

BR- Boletim da República

LS – Leito de secagem

Temp – Temperatura

IPSLF – Instalação piloto de secagem de lamas fecais

C - Graus Celsius

C - Peso do cadinho de amostra húmida

C.E- Condutividade Eléctrica

CBO - Carência Bioquímica de Oxigénio aos cinco dias e a 20ºc

CEN- Comité Europeu de Normalização

CMCC - Concelho Municipal da Cidade de Chimoio

CO2 - Gás Carbónico

CQO – Demanda Química de Oxigénio

DNA - Direcção Nacional de Águas

EB – Efluente Bruto

ELS – Escorrência de leito de secagem


ETAR - Estação de tratamento de águas residuais

EUA- Estados Unidos da América

FEARN- Faculdade de Engenharia Ambiental e de Recursos Naturais

H - Altura de descarga

h2, h1- Cargas hidráulicas

INAM - Estação nacional de meteorologia

INE - Instituto Nacional de Estatística

K- Condutividade hidráulica

Kg/L – Quilogramas por litros

L-Distancia

m- Metros

m/s – metros por Segundo

Min - Mínimo

Max – Máximo

Med – Média

mg - Miligramas

mg/ L – Miligramas por litros

Min – Mínimos

mL –Mililitros

mm – Milímetros

mS/cm - MiliSiemens por Centímetro


N - Nível da água

NTU- Unidade nefelométrica de turbidez

OD - Oxigénio Dissolvido

ODM - Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

ODS - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

PALOP-- Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

pH – Potencial hidrogeniônico

PNSBC - Programa Nacional de Saneamento a Baixo Custo

Q- Vazão

SD - sólidos dissolvidos

SS – sólidos em suspensão

t - Tempo

T - Temperatura

TH - Teor de humidade

TS - Teor de sólidos

UNICEF - United Nations Children‟s Fund

V - volume

VMA- Valor máximo admissível

VmA- Valor mínimo admissível


WHO - World Health Organization (Organização Mundial de Saúde)

WSP - Water and Sanitation Program

μS/cm – Microsiemens por Centímetro


CAPITULO I: INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

A necessidade do saneamento é muito relevante a nível mundial, para a saúde e o bem-


estar da humanidade. Sendo assim os países em via de desenvolvimento ou subdesenvolvidos,
assim como Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) como no caso de Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tome e Príncipe e Moçambique, é na sua maioria abrangido
pelo sistema descentralizado, que é determinado por aspectos integrados como questões
económicas, técnicas e sócio culturais muito diferentes da usual abordagem dos países
desenvolvidos como Inglaterra, outros países Europeus, os Estados Unidos da América (EUA), o
Canadá, a extinta União Soviética e o Japão.

Face à essa descentralização das soluções de saneamento são adoptadas, a nível local, na
própria origem ou junto da mesma dos resíduos, por meio de uma latrinas e em fossas sépticas
individuais que muitas das vezes são efectuadas de forma insegura. O que torna indispensável a
gestão das lamas fecais, contribuindo e prevenindo o risco de doenças e a protecção do meio
ambiente.

Dentre os vários resíduos gerados, propõe-se estudar as lamas fecais, que de acordo com
HAZEL (2015), Lamas fecais é o termo genérico dado à matéria fresca, parcialmente ou
totalmente digeridas, semilíquidas ou sólidas, que resultam do armazenamento ou tratamento de
mistura de excreta e água negra, com ou sem adição de água cinzenta, proveniente de órgãos de
armazenamento de sistemas de saneamento locais.

Sendo assim a gestão de lamas fecais funciona como um conjunto de processos em ciclo;
nomeadamente, colecta, transporte, tratamento e destino final, que se iniciam com o utilizador,
zona de interface e terminam com retorno ao meio ambiente. Neste âmbito os leitos de secagem
surgem como alternativa de tratamento de lamas fecais que se ajustam a realidade específica do
local.

Segundo a Comissão Europeia (2001), os leitos de secagem afiguram-se como uma das
técnicas simples e eficaz na desidratação de lamas fecais, e esta associada a custos reduzidos e
simplicidade operacional, quando comparados a sistemas centralizados.
Experiencia de países como, Brasil, Austrália, Portugal, mostra que esta técnica depende
das condições meteorológicas, sócio culturais e característica da própria lama a desidratar
(SOARES, et al., 200).

Desta forma o estudo pretende determinar o tempo necessário para produzir lamas
desidratadas, com características sanitárias que permitem a manipulação manual, pronta para
outras formas de aproveitamento, atendendo as condições do local de estudo.

1.2. JUSTIFICATIVA

Com o tratamento de lamas fecais, possibilita-se uma redução considerável do volume de


lamas produzido, bem como a sua transformação num produto de fácil manuseamento e
transporte. Também contribui para o bem-estar da humanidade no que tange a prevenção de
doenças, e garante um ambiente saudável com ausência da poluição do solo e da água. Portanto

Portanto os leitos de secagem de lamas enquadram-se como uma alternativa tecnológica


muito coerente no tratamento de lamas fecais em Moçambicano não só pelos motivos técnicos
(requerer de pouca atenção por parte do operador), mas também económicos (baixo custo de
operação) e sócio.

Neste âmbito, a avaliação de desempenho operacional do processo de secagem reveste-se de


fundamental importância, pois, Porque todos estes autores a citar este meio texto de duas linhas?
Cite apenas um permite compreender, controlar e aperfeiçoar esta técnica de tratamento em
condições específicas (sociais e climatéricas) nas quais são aplicadas.

Avaliar o desempenho hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas fecais


urbanas em leitos de secagem, possibilita o entendimento da quantidade/volume de água
existente nas lamas fecais, o tempo necessário para produzir lamas desidratadas de acordo com a
sua proveniência (lamas de latrinas, de balneários públicos ou de fossas sépticas), teor de sólidos
contido nas lamas, assim como a eficiência na remoção de contaminantes e possíveis valorações
ou formas de disposição final das lamas desidratadas.
1.3. PROBLEMATIZAÇÃO

Na maior parte das cidades Moçambicanas, a gestão de lamas fecais é, em regra,


efectuado de forma descentralizada por meio de fossas sépticas e latrinas, esvaziamento e
transporte irregular e deposição inadequada em lixeiras, solos ou cursos de água. A rede de
saneamento centralizada, concebida no período colonial para servir uma parte muito limitada da
população das zonas de cimento das cidades encontram-se bastante envelhecidas e obsoleta.
Actualmente, com o crescimento exponencial da população, mais de 80% da população urbana
moçambicana (mais de 7 milhões de habitantes) não tem acesso a rede centralizada e a
população tende a recorrer a soluções simples e de baixo custo, que muitas das vezes não são
aplicadas de forma segura.

Assim como em outras cidades Moçambicanas, Cidade de Chimoio, dispõe de um


sistema de saneamento centralizado, apenas na zona de cimento, porém, sem uma ETAR e
também se beneficia de uma Estacão de Tratamento de Águas Residuais e lamas fecais, que se
localiza no Bairro Chinfura, antes concebida somente para o tratamento exclusivo de efluentes
do hospital provincial.

À medida que se afasta da zona de cimento, a gestão de lamas fecais é feita de forma
descentralizada, isto é, a população é autónoma em armazenar, transportar, tratar e depositar de
forma adequada no ambiente ou mesmo reaproveitar. Essa autonomia, associada a fraca
capacidade que as entidades de tutela tem em relação ao assunto, permitem que estes
procedimentos, na maior parte das vezes não seja efetuado em condições que garantam a
salubridade sócio ambiental. A exemplo disso é o armazenamento em latrinas não melhoradas ou
fecalismo ao céu aberto, o esvaziamento e transporte é feito de forma manual com auxilio de
objectos simples como baldes e pás e a deposição é feita em covachos, nos cursos de água ou em
lixeiras a céu aberto.

Desta forma faz-se necessário tratar este tipo de resíduos antes da sua deposição ao
ambiente e também para permitir o manuseamento seguro dos mesmos. Os leitos de secagem
surgem como uma possível solução para tal, mas, surge a questão:
Qual é o desempenho hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas
fecais urbanas em leitos de secagem?

1.4. Hipóteses

H1: A instalação piloto de secagem de lamas fecais instalado na Faculdade de Engenharia


Ambiental e dos Recursos Naturais, oferece um bom desempenho hidráulico e sanitário no
processo de desidratação em leitos de secagem.

1.5. Objectivos

1.5.1. Geral

 Avaliar o desempenho hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas fecais


urbanas em leitos de secagem;

1.5.2. Específicos

 Dimensionar os leitos de secagem de lamas fecais;


 Caracterizar os leitos de secagem de lamas fecais e
 Determinar a partir dos ensaios experimentais a evolução o processo de secagem de LF
CAPITULO II: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Situação geral do saneamento

Segundo a OMS (1992), saneamento é a gestão e controlo de todos os factores do meio


físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico,
mental e social. De outra forma, pode-se dizer que saneamento caracteriza o conjunto de acções
socioeconómicas que tem por objectivo alcançar salubridade ambiental.

Entende-se ainda, como salubridade ambiental o estado de higidez em que vive a


população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a
ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu
potencial de promover o aperfeiçoamento de condições mesológicas (que diz respeito ao clima
e/ou ambiente) favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-estar (GUIMARÃES, et al., 2009).

O saneamento básico tem origem na antiguidade, desde o surgimento e expansão das


cidades. A falta de água e do saneamento, chamou a atenção para a relevância do
desenvolvimento dos sectores de água e do saneamento (ALBUQUERQUE, 2012). Actualmente,
os benefícios que derivam da prática do saneamento básico resultam principalmente da sua
vertente de prevenção (OMS, 1992).

A expansão das cidades e a falta de investimento em infra-estruturas adequados para o


tratamento de águas residuais, tem gerado uma problemática no âmbito das consequências
resultantes por falta de um saneamento sustentável.

Estas problemáticas fizeram a Organização das Nações Unidas (ONU) criar em 2015 a
“Agenda 2030”, Que consiste numa declaração dos 17 Objectivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que se destina a colocar o mundo num caminho mais sustentável e resiliente.
Os ODS foram traçados a partir das conquistas dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio
(ODM), os quais produziram o mais bem-sucedido movimento de combate à pobreza da história
recente dos povos, durante o período de 2000 a 2015 (ONU).

Dos 17 ODS, definidos na Agenda 2030, no presente trabalho apenas interessa destacar o
Objectivo 6 “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”.
O Objectivo 6 vai para além da água potável, saneamento e higiene, pois ainda aborda a
qualidade e sustentabilidade dos recursos hídricos, que são cruciais para a sobrevivência das
pessoas e do planeta, expandindo a cooperação internacional, através do apoio às comunidades
locais na melhoria das condições da água e gestão do saneamento (ODS, 2016).

A Agenda 2030 reconhece a centralidade da água como recurso para o desenvolvimento


sustentável e o papel vital que a água tem. Segundo o primeiro relatório dos ODS (2016), foi
concluído que até 2015:

 Cerca de 13% da população mundial ainda vivia em extrema pobreza (800 milhões de
Pessoas passam fome);
 Cerca de 91% da população mundial ou 6,6 milhares de milhões de pessoas teve acesso a
uma fonte melhorada de água potável em comparação com os 82% do ano 2000 e 663
milhões ainda usam fontes de água não melhoradas. Até 2015 cerca de 90% da população
tinha cobertura de água em todas as regiões, com excepção da África e Oceânia, onde as
desigualdades sociais e os problemas da descentralização ainda persistem. Além disso,
nem todas as fontes de água são gerenciadas com segurança;
 Cerca de 2,4 milhares de milhões não tem acesso ao saneamento básico (do ano 2000 a
2015, a utilização mundial do saneamento melhorado aumentou de 59% para 68%), dos
quais 946 milhões de pessoas não dispõem de instalações sanitárias, ou seja, ainda
praticam defecação a céu aberto. No entanto, a falta de saneamento seguro, a ausência da
gestão de lamas fecais e o não tratamento de águas residuais, continuam a constituir um
risco importante para a saúde pública e o meio ambiente;
 Cerca de 2 milhares de milhões de pessoas são afectados pelos problemas do estrese
hídrico, com tendência para aumentar; no entanto, os Planos Integrados de Gestão dos
Recursos Hídricos estão em curso em todas as regiões do mundo (para serem
implementados no sentido de resolver o problema).

2.1.1. Evolução do saneamento em Moçambique

Segundo COLIN (2002), cerca de um bilião de habitantes no mundo não tem acesso ao
abastecimento de água potável, ao saneamento básico, a uma habitação segura, nem aos serviços
de recolha de resíduos sólidos nas zonas residenciais. O mesmo autor ainda ressalta que a falta
destes serviços, leva a graves problemas de saúde pública devido à proliferação de doenças e
também a impactos negativos no meio ambiente.

Conforme COLIN (2002), Moçambique é um país em vias de desenvolvimento ou


subdesenvolvido, com mais de 50% da sua população a viver em pobreza absoluta. Ainda o
mesmo autor afirma que esta situação agravou-se nas zonas que foram devastadas pela guerra
civil, a qual durou cerca de 16 anos (1975 até 1992), destruindo a maior parte das infra-estruturas
sociais e económicas.

Em 1979, com o apoio de ajuda externa o governo desenvolveu pesquisas sobre latrinas
no sentido de encontrar algum tipo que fosse tecnicamente resistente. Seria então possível alargar
por todo país o seu uso e tornar-se-ia acessível para a maior parte das famílias suburbanas. A
melhor alternativa escolhida foi a latrina de fossa com cobertura de laje. Assim surgiu o
programa de saneamento designado por Programa Nacional de Saneamento a Baixo Custo
(PNSBC).

Com o surgimento das novas políticas (ambientais e Direcção Nacional de Águas


(DNA)), nos finais dos anos 90 as agências (PNUD), responsáveis pela assistência começaram a
preocupar-se mais com a sustentabilidade do projecto. Assim, começaram a ser criadas
estratégias para o desenvolvimento do programa nas zonas suburbanas e rurais (COLIN, 2002).

De 1999 a 2003 foram desenvolvidos dos três principais Objectivos do desenvolvimento


do milénio i) envolver o sector privado e as Organizações não-governamentais na
implementação, ii) descentralizar as operações para um conjunto de parceiros, iii) mudar o papel
do Governo no contexto da implementação, para a criação de um ambiente facilitador. Dando-se
progresso a nível global em termos do abastecimento de água potável e acesso ao saneamento.

De 1990 a 2015 teve lugar um aumento significativo da utilização da água potável


proveniente as fontes melhoradas: passou de 76% para 91%. Dos 23 países que até 1990 não
atingiam os 50% de utilizadores de água potável, em 2015 apenas três países continuavam nestas
condições. Os níveis de cobertura mais baixos verificaram-se nos países em via de
desenvolvimento, (WHO/UNICEF, 2015).
Em termos do acesso ao saneamento básico, o objectivo era reduzir para metade a
proporção da população sem acesso ao saneamento. Durante o período de 1990 para 2015, o uso
do saneamento melhorado a nível mundial aumentou de 54% para 68%, o que mostra um
progresso limitado, apesar de ainda haver grande desigualdade, ou seja, nos países desenvolvidos
é quase universal enquanto nos países em via do desenvolvimento vária de país a país. Os países
com baixa cobertura do sistema do saneamento melhorado estão na África Subsariana
(WHO/UNICEF, 2015). Pode dizer-se que Moçambique ainda se encontra abaixo de 50%.

No que diz respeito ao tratamento de águas residuais, assim como ao tipo de saneamento
utilizado, Moçambique aplica maioritariamente tecnologias de tratamento descentralizado ou
seja, de baixo custo.

Nas zonas urbanas algumas das infra-estruturas têm acesso à ligação da rede de Águas
Residuais, mas a maior parte da população destas zonas usa fossas sépticas; porém, devido aos
elevados custos envolvidos na ligação dos sistemas de saneamento à rede pública de colectores
de águas residuais, os residentes acabam usando metodologias mais acessíveis que são
esvaziamento. Na região suburbana, alguns usam fossas e a maioria usam latrinas melhoradas.
Nas zonas rurais usam-se latrinas a seco ou não têm acesso a nenhuma latrina (defecação a céu
aberto).

2.2. Caracterização de lamas fecais

2.2.1. Definição de lamas fecais

Segundo HAZEL (2015), defini lamas fecais como matéria fresca, parcialmente ou
totalmente digeridas, semilíquidas ou sólidas, que resultam do armazenamento ou tratamento de
mistura de excreta e água negra, com ou sem adição de água cinzenta, proveniente de órgãos de
armazenamento de sistemas de saneamento locais.

2.2.2. Características das lamas fecais

Durante o tratamento de Águas Residuais em Estacão de Tratamento, são produzidas


lamas, que resultam essencialmente da acumulação dos produtos em suspensão no afluente e do
crescimento de microrganismos durante o tratamento da fase líquida.
De acordo com MELO & MARQUES, (2000), dizem que as características físicas,
químicas e biológicas das águas residuais sanitárias são bastante variadas, entretanto, sua
composição, em termos percentuais, apresenta as seguintes parcelas: 99,8% a 99,9% de água e
0,1% a 0,2% de sólidos, sendo que do total de sólidos, 70% são orgânicos e 30% inorgânicos.

Os mesmos autores ressaltam que os sólidos podem ser classificados, segundo seu
tamanho e estado, em sólidos em suspensão (SS) ou dissolvidos (SD); segundo suas propriedades
químicas, em voláteis ou fixos e, segundo suas propriedades de sedimentação, em sedimentáveis
e em não sedimentáveis.

A fracção sólida é formada por compostos orgânicos, nutrientes, metais, sólidos inertes,
sólidos inorgânicos, compostos não biodegradáveis, organismos patogénicos e, em alguns casos,
contaminantes tóxicos decorrentes de actividades industriais ou aportes acidentais às redes
colectoras (MELO & MARQUES, 2000).

Segundo MELO & MARQUES, (2000), dizem que quanto às características biológicas,
nas águas lamas fecais são encontrados diversos organismos: bactérias, fungos, vírus,
protozoários, entre outros. Estes são responsáveis por viabilizar os processos de decomposição e
a estabilização da matéria orgânica.
A componente biológica, entretanto, destaca-se não apenas por seus efeitos benéficos,
mas também por representar a característica de interesse sanitário, considerando-se os riscos
epidemiológicos pela presença de agentes patogénicos. Na Tabela 1 apresentam-se os principais
parâmetros característicos das lamas fecais.

Tabela 1:Principais parâmetros e respectivas características de lamas fecais.

Parâmetros Características dos parâmetros

pH A concentração do ião hidrogénio é um parâmetro importante de


qualidade das lamas fecais. A maioria da vida biológica apenas
sobrevive numa gama de valores de pH entre 6 e 9.
As lamas digeridas apresentam um pH mais elevado que as lamas
frescas, tornando o pH um bom indicador do grau de digestão das
lamas.
Sólidos totais Os sólidos totais representam o resíduo resultante da evaporação de
uma amostra de água residual a uma temperatura específica (103-
105ºC). O conhecimento deste parâmetro auxilia a escolha do processo
de tratamento mais adequado. Os sólidos totais subdividem-se em
sólidos dissolvidos e sólidos suspensos, assim como em sólidos
voláteis (biodegradáveis) e sólidos fixos. Os sólidos suspensos
sedimentam, resultando em lamas.
Sólidos que volatilizam quando são inflamados (500+/-50ºC). Os
Sólidos voláteis resíduos resultantes da volatilização denominam-se sólidos fixos. São
totais utilizados para estimar a quantidade de matéria orgânica existente.

A condutividade eléctrica relaciona-se com a concentração dos sólidos


Condutividade dissolvidos totais. Através da medição da condutividade eléctrica, é
eléctrica possível avaliar a salinidade. O teor de sal é um parâmetro importante
para avaliar a possibilidade de reutilização do efluente na agricultura.

O Azoto Kjedahl Total é um dos principais nutrientes para a actividade


biológica, assumindo relevância para o tratamento das águas residuais
Azoto Kjedahl por processos biológicos.
Total
O Azoto Kjedahl Total representa o conteúdo total de azoto amoníaco e
orgânico. Em casos de descarga em meios aquáticos, é importante
verificar o impacto de nutrientes no meio receptor.
A razão entre carbono e azoto é importante para processos de digestão
aeróbia e anaeróbia. O controlo da razão C/N é fundamental na
Razão C/N compostagem sendo que, por vezes, é adicionada matéria orgânica para
incrementar o conteúdo de carbono do composto.

Esta razão varia conforme o grau de estabilização das lamas. Em lamas


frescas esta razão situa-se entre 0,3 a 0,8, sendo que valores superiores
Razão CBO/CQO a 0,8 indicam grande facilidade para o tratamento biológico e valores
inferiores a 0,3 revelam a presença de componentes tóxicos ou
ausência de microrganismos aclimatizados para a estabilização das
lamas.
Organismos excretados pelo homem e animais infectados e/ou
transportadores de uma doença infecciosa. Podem ser classificados em
Microrganismos 4 categorias: bactérias, protozoárias, helmintos e vírus. Apresentam-se,
patogénicos nos Anexos 1 e 2, os principais microrganismos patogénicos e as
doenças e sintomas, e os factores ambientais que afectam o
desenvolvimento destes microrganismos.
Coliformes Fecais A detecção e identificação dos microrganismos patogénicos é difícil,
(número mais recorrendo-se a indicadores, com maior facilidade de detecção.
provável) Exemplos desses indicadores são os organismos Coliformes Fecais.

O termo Helminto é utilizado para descrever vermes em geral. Vermes


são um dos principais agentes que causam doenças, sendo um dos
Ovos de Helmintos representativos a „Ascaris Lumbricoides’. A fase de infecção por
helmintos pode variar, dependendo da espécie, podendo ocorrer na vida
adulta do organismo, larva, ou ovos. Os ovos de helmintos são
extremamente resistentes a ambientes agressivos e costumam persistir
nas lamas. Podem ser removidos através de processos como
sedimentação, filtração e lagunagem.
Usualmente encontrados em águas residuais industriais, podem
Metais Pesados condicionar o tratamento biológico. Em geral, os metais pesados não
são removidos durante os processos de tratamento biológico, sendo
necessário prevenir a contaminação de lamas fecais, realizando o
controlo na origem.

Fonte: Adaptado de METCALF & EDDY (2003)


2.2.3. Gestão de lamas fecais

Mais de um bilião de pessoas em áreas urbanas e periurbanas da África, Asia e América


Latina são servidas por tecnologias de saneamento local (Unicef). Até ao presente, a gestão de
lamas fecais tem sido preterida em relação às tecnologias de saneamento local. Porém, os
recursos financeiros são muita das vezes escassos para a sua completa implementação (Strande,
et al., 2014).

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem desempenhado um papel fundamental,


com o objectivo de reverter os problemas da degradação dos recursos naturais a nível mundial,
como consequência da explosão demográfica relacionado com o baixo nível de vida e da
pobreza. A partir dos anos 70, começou a haver interesse em estudar os sistemas de saneamento
nos países em desenvolvimento.

Os sistemas de saneamento convencionais, nem sempre eram adequados aos meios


urbanos dos países em desenvolvimento, devido aos elevados custos e necessidades de
manutenção, criando-se assim dificuldades acrescidas resultantes do baixo nível de riqueza
desses países na sua possível implementação (HAZEL, 2015).

O “Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas”, propôs em 1989 a “ Abordagem


de Saneamento Estratégico” visando reforçar a necessidade de ser considerado todo o ciclo de
Saneamento, incluindo os sistemas, o método de colecta, transporte e tratamento de lamas,
valorizando os serviços, a influência das comunidades e do governo, no sentido de encontrar as
Soluções tecnológicas adequadas.

O Concelho Colaborativo de Distribuição de Água e Saneamento em 2000, desenvolveu


um conjunto de princípios de saneamento adequados, tendo como principais critérios: i) a
dignidade humana, ii) a qualidade de vida, iii) a protecção do meio ambiente, iv) a participação
das entidades interessadas para a tomada de decisão e o seu envolvimento na gestão de lamas
fecais.
2.2.4. Etapas de Gestão de Lamas Fecais

Para garantir uma melhor gestão de lamas fecais, é necessário possuir conhecimentos
adequados sobre as técnicas, as normas, a gestão, bem como o seu manuseamento, isto é, é
necessário saber o tipo do clima predominante, o tipo do saneamento e a característica das lamas,
o que ajudará a definir a técnica de recolha e esvaziamento e transporte das lamas, possibilitando
também a escolha do tratamento adequado.

Visto que o saneamento mais utilizado em Moçambique é do tipo descentralizado, torna-


se necessário salientar a grande importância e necessidade de gestão de lamas fecais no país. No
caso da Cidade de Maputo estima-se que mais de 80% da população vive em zonas periurbanas e
depende de soluções de saneamento localizado, o que torna indispensável a gestão de lamas
fecais (ENGIDRO ET. AL., 2015). A Figura 1, mostra detalhamento o esquema que mostra a
cadeia dos serviços de gestão de lamas fecais.

Figura 1:Esquema da cadeia de gestão de lamas fecais

Fonte: BAROSO et. al., (2015)

1) Recolha e armazenamento das lamas é efetuada pela recolha de excretos provenientes da


interface, da sanita ou das latrinas; seguidamente é armazenado em fossas sépticas ou em latrinas
onde a parte líquida é descarregado usualmente no solo e o restante passa por um tratamento
inicial de digestão anaeróbia, durante o período de armazenamento (ENGIDRO at al., 2015).

Em Maputo, as soluções mais comuns de capitação e esvaziamento baseiam-se em


latrinas e fossas. Levam em média cerca de três anos a encher, sendo frequentemente encerradas
caso exista disponibilidade de espaço, ficando então reunidas as condições para a sua
substituição ou esvaziamento, dado o risco de demolição da própria latrina devido à fraqueza do
revestimento ou à dificuldade de remoção das lamas por estarem secas (ENGIDRO at al., 2015).

2) Esvaziamento e transporte das lamas. Estas etapas dependem principalmente do tipo de


infra-estruturas de saneamento e das dificuldades de locais de acesso. Estas etapas podem ser
efetuadas por meios mecânicos ou manuais, até ao local de tratamento complementar
(BARROSO at al., 2015).

Em Moçambique os serviços de esvaziamento são na sua maioria efetuado por pequenos


operadores privados, desde esvaziadores manuais a pequenas empresas que combinam o
esvaziamento e transporte de lamas; existem também camiões tanque e limpa fossas, operados
pelo concelho municipal (BARROSO at al., 2015). Ainda o mesmo autor diz que a maior parte
dos serviços é feito durante a noite de modo a abrandar os problemas com a vizinhança. Em
situações extremas, o esvaziamento manual é o único procedimento possível, dada a
característica e a localização das latrinas ou fossas a serem esvaziados.

3) Tratamento e deposição das lamas. O destino final das lamas refere-se ao método de
reintegração das lamas no meio ambiente, existindo várias alternativas, como a reutilização das
lamas na agricultura ou a deposição em aterro sanitário, conforme a necessidade e o grau de
tratamento a que foram submetidas (BARROSO at al., 2015).

Em Moçambique, a maior parte das lamas proveniente das latrinas é enterrada nos
quintais ou são depositadas em contentores públicos de lixo ou depositados nas valas de
drenagem, e somente uma pequena parte é que é direccionada para as estações de tratamento de
águas residuais (BARROSO at al., 2015).

Segundo STRANDE et al., (2014), diz que o tratamento das lamas tem como principal
objectivo garantir a protecção da saúde e do meio ambiente, bem como para obtenção do produto
com potencial de valorização. O tratamento é feito para garantir ainda a redução de
microrganismos patogénicos e da estabilização da matéria orgânica e nutrientes.

O tratamento das lamas fecais provenientes das latrinas exige um processo de digestão
mais avançado, por isso deve ser feito separado do efluente proveniente dos colectores de águas
residuais, exigindo-se assim a necessidade de instalações apropriadas para as lamas das latrinas
(ENGIDRO at al., 2015). Estas instalações devem incluir os principais processos:

2.3. Desidratação

Após os tratamentos de espessamento e digestão de lamas, estas ainda contem elevados


teores de humidade, pelo que são submetidas a um processo de desidratação. Este processo é a
ultima operação de tratamento da fase sólida e permite uma diminuição significativa do volume,
podendo atingir reduções na ordem dos 90% (OUTWATER, 1994).

De acordo com METCALF & EDDY (2003), A remoção da humidade das lamas, tem
por objectivo a redução de volume das lamas, de modo a reduzir os custos associados ao seu
encaminhamento a destino final, pois o seu transporte apresenta custos associados que estão
directamente ligados ao peso/volume de lamas.

Segundo METCALF & EDDY (2003), o tipo de processo de desidratação adoptado terá
de ter em conta factores como o tipo de lamas a serem desidratadas, o espaço disponível e o
destino final a dar-lhes.

As lamas podem ser desidratadas através de processos naturais ou através de processos


mecânicos. Os sistemas naturais baseiam-se na evaporação e na percolação na desidratação das
lamas, enquanto os sistemas mecânicos se baseiam na utilização de meios físicos com a
utilização de energia externa (METCALF & EDDY, 2003).

Segundo OUTWATER (1994), as partículas de água existentes nas lamas encontram-se


sob 4 maneiras distintas: livre, água capilar, coloidal e intracelular. A água que se encontra livre
entre as partículas constituintes das lamas pode ser facilmente separada por gravidade. No que
diz respeito à "água capilar" e coloidal, estas podem ser removidas por tratamento mecânico após
terem sofrido condicionamento químico.
A água que se encontra dentro das células, intracelular, pode ser removida através de um
tratamento térmico, de modo a destruir a sua estrutura celular. Os sistemas naturais de
desidratação são geralmente menos caros do que os sistemas de desidratação mecânica
(OUTWATER, 1994).

Centrifugação

Conforme ANDREOLI, SPERLING & FERNANDES (2001), o processo de


centrifugação está relacionado com a diferença de densidade do líquido e das partículas da lama.
Neste processo, a separação da lama é forçada, a partir da aplicação de forças externas como a
rotação, na ordem de 500 a 3000 vezes a força da gravidade. Os autores ainda afirmam que esse
processo se torna muito mais rápido que os processos naturais. Comparativamente aos leitos de
secagem, lagoas de lamas, estes ocupam uma pequena área. Esse sistema pode ser dividido em
duas etapas, sendo a primeira relacionada à centrifugação da lama, onde ocorre a liberação do
líquido contido no mesmo, denominado água livre. Na segunda etapa ocorre a compactação da
lama, processo que se dá devido à força gravitacional aplicada pela lama sobre o tambor, onde
ocorre a perda da água capilar. Após esse processo, a torta é removida da centrífuga.

A centrifugação é passível de ser usada tanto como um processo de espessamento como


um processo de desidratação. As centrífugas são utilizadas na desidratação de lamas porque são
compactas, apresentam um rendimento elevado, e são simples de operar. O processo pode
produzir um aumento na matéria seca de até 15 a 25 % e também é possível utilizar uma
centrífuga de alto rendimento, ganhando assim um aumento suplementar de 5 % em matéria
seca. No entanto, as necessidades de energia deste processo são significativas além do facto de
ser necessário adicionar um polímero às lamas (COMISSÃO EUROPEIA, 2001).

Leitos de macrófitas

Segundo SOUSA (2005), os leitos de macrófitas funcionam simultaneamente como


sistemas de desidratação de lamas e sistemas estabilizadores. São formados por uma camada de
solo e plantas onde é depositado o efluente a tratar. Este sistema é indicado para o tratamento
simultâneo da fase líquida e sólida e não requer decantação prévia, sendo o tratamento do
efluente totalmente efectuado no leito de macrófitas.
Os leitos permanecem como receptor activo do efluente durante um ano, repousando no
ano seguinte para a secagem e estabilização de lamas. O produto final sai estabilizado e
enriquecido, por acção do solo e das raízes das plantas, com elevado valor agronómico (Sousa,
2005).

Lagoas de secagem

Segundo Metcalf & Eddy (2003), as lagoas de secagem são um processo natural de
desidratação de lamas, que pode substituir os leitos convencionais, no tratamento da lama fecal
digerida. As lagoas de secagem têm finalidade e funcionamento idênticos aos leitos de secagem
convencionais, dos quais diferem fundamentalmente, no que se refere ao sistema de drenagem,
menos eficiente no caso das lagoas, e à profundidade a que são colocadas as lamas.

Nas lagoas de secagem as lamas estão a profundidades de 3 a 4 vezes superiores aos


leitos convencionais (MATHAI & TUROVSKII, 2006). A par dos leitos convencionais, também
estas só podem ser aplicadas quando existe disponibilidade de terreno. Estão dependentes de
factores climatéricos, como a chuva e as baixas temperaturas (METCALF & EDDY, 2003).

A desidratação nas lagoas ocorre de três formas diferentes, através de drenagem,


evaporação e transpiração, sendo a evaporação o principal processo de desidratação. Para que as
lamas encaminhadas para as lagoas não produzam odores desagradáveis, estas devem ser
previamente estabilizadas (MATHAI e TUROVSKII, 2006). De acordo com Metcalf & Eddy
(2003), as lagoas de secagem devem ser aplicadas nas regiões onde as taxas de evaporação são
elevadas.

Filtros Banda

Segundo METCALF & EDDY (2003), os filtros banda são sistemas de desidratação de
lamas que se baseiam nos seguintes princípios: condicionamento químico, drenagem gravítica e
aplicação de pressão mecânica.

Este processo de desidratação é constituído por quatro etapas: zona de condicionamento


com polímero, zona de drenagem por gravidade da água em excesso, zona de baixa pressão e
zona de alta pressão (UNITED NATIONS, 2003).
Antes de serem introduzidas no filtro as lamas são misturadas com o polímero, sendo
depois encaminhadas para a zona de drenagem, constituída por um plano ligeiramente inclinado,
onde por acção da gravidade a água drena. Esta acção pode ser assistida por um sistema de
vácuo, o que aumenta a eficiência da drenagem e pode ajudar a evitar odores. Em seguida as
lamas são Prensadas entre duas bandas, onde se podem distinguir duas zonas, a de baixa pressão
e a de alta pressão, sendo raspadas no final do processo (METCALF & EDDY, 2003).

O processo de desidratação por filtro banda permite atingir concentrações finais de


matéria seca de 12 a 30%, sendo que a de retenção de sólidos varia geralmente entre 85 e 98%. O
bom condicionamento químico é a chave para que o sistema de desidratação apresente um bom
desempenho e as lamas apresentem um aspecto consistente (OUTWATER, 1994).

Filtro prensa

A desidratação por filtros prensa é um processo descontínuo em que a desidratação é alcançada


forçando a água das lamas a altas pressões (TUROVSKIY E MATHAI, 2006).

De todos os sistemas de desidratação convencionais, o filtro prensa é aquele que


consegue atingir o maior grau de desidratação, chegando a alcançar lamas com um teor de
sólidos entre 30 e 45 %. Todavia, os custos de investimento são bastante elevados, especialmente
para altas capacidades. Por norma, na desidratação são utilizados filtros prensa de placas
(volume fixo) ou de membranas (COMISSÃO EUROPEIA, 2001). Os filtros prensa
convencionais consistem em blocos de placas verticais revestidos por telas filtrantes entre as
quais a lama é injectada sob pressão. O filtrado é recolhido antes de se separar as placas. Os
bolos, em seguida, caem e são recolhidos. Em alguns casos, são colocadas membranas entre as
placas, que podem ser preenchidas com água, a fim de melhorar a taxa de desidratação. Contudo,
neste caso, os custos operacionais são significativamente mais elevados. O condicionamento
preliminar é geralmente necessário, com sais ou cal (COMISSÃO EUROPEIA, 2001).
Leitos de secagem

Segundo NUNES (2008) & RICHTER (2001), os leitos de secagem consistem em um


ciclo de duas fases. A primeira corresponde à decantação e drenagem, as quais ocorrem nas
primeiras 72 horas após a disposição da lama. A drenagem da água é responsável pela maior
eliminação da água livre contida no sólido. Já na segunda fase, a evaporação superficial confere
a lama uma consistência pastosa. Esse processo pode levar de 12 a 15 dias, mas, a partir da
interferência dos factores regionais e climáticos, esse período pode variar entre 20 e 40 dias.

ANDREOLI, SPERLING & FERNANDES (2001), ressaltam que os leitos de secagem


podem atingir um teor de sólidos em torno de 30%. Quando a lama atingir esse nível de
desidratação, a mesma deve ser removida do leito de secagem, procedimento este que evita o
crescimento de vegetação, que viria a dificultar a posterior remoção da lama seca. Segundo
METCALF & EDDY (2003), sob condições meteorológicas favoráveis, em climas temperados
através da desidratação em leitos de secagem é possível atingir um valor de 40% de TS nas
lamas num período de 10 a 15 dias.

Segundo ANDREOLI, SPERLING & FERNANDES (2001), os leitos de secagem são


compostos por camadas filtrantes de areia e brita, de diferentes espessuras: 10 a 15 cm de areia e
20 a 30 cm de brita. A brita tem função de camada suporte, facilitando a percolação da água para
posterior colecta em drenos localizados no fundo do leito. É recomendado que, sobre a areia,
sejam utilizados tijolos para facilitar a remoção da lama e também, construção do fundo do leito
com inclinação na ordem de 1 a 5% (NUNES, 2008).

Segundo METCALF & EDDY (2003), “os leitos de secagem são normalmente utilizados
na desidratação de lamas estabilizadas, provenientes de estações de tratamento que utilizam
sistemas de arejamento prolongado, sem pré-espessamento”.

Estes leitos são constituídos por tanques rectangulares com uma pequena altura e são
preparados com material filtrante (areia e gravilha) que permite a percolação da água presente
nas lamas, de baixo destas camadas existe um sistema de drenagem que encaminha o efluente
para a próxima etapa do tratamento (TILLEY, et al., 2008).

Os leitos devem ser projectados de forma a serem completamente acessíveis pelos


veículos de recolha de lamas e pessoas, devem estar planeadas zonas de descarga das lamas
frescas e de carregamento de lamas secas (TILLEY., et al., 2008).

A aplicação de leitos de secagem apresenta como principais vantagens o facto de terem


um baixo custo de operação, requererem de pouca atenção por parte do operador e apresentarem
um elevado teor em sólidos. Por seu lado, as maiores desvantagens são as suas necessidades em
termos de espaço, os efeitos das mudanças climáticas, o trabalho intensivo para a sua remoção,
bem como o potencial de formação de odores e capacidade para atrair insectos e o facto de serem
morosos (METCALF & EDDY, 2003).

A Figura 2 representa, respectivamente, um perfil e uma planta esquemáticos os leitos de


secagem convencionais, indicando as espessuras e granulometrias recomendadas por
TUROVSKIY & MATHAI (2006) para as diferentes camadas do meio de enchimento.

Dimensões e características:

Figura 2:Perfil esquemático de um leito de secagem de lamas convencional

Fonte: TUROVSKIY & MATHAI (2006)

2.3.1. Critérios de dimensionamento e avaliação de desempenho de leitos de secagem

De acordo com LAMPREIA (2017), apesar de, recentemente, terem sido aplicados
esforços notáveis no sentido de melhor caracterizar o processo de desidratação de lamas em
leitos de secagem e os fenómenos e variáveis que nele inferem, os critérios de dimensionamento
definidos são ainda insuficientes. Ainda Lampreia diz que os projectos de leitos de secagem têm,
por isso, sido desenvolvidos com base em critérios e intervalos de valores referidos na literatura
como aceitáveis, mas meramente indicativos, obtidos em ensaios realizados em estações de
tratamento existentes, com localização, clima e tipo de lamas específicos

O desempenho dos leitos de secagem na desidratação de lamas, que se traduz


basicamente na duração do ciclo de secagem e Teor Sólidos obtido nas lamas desidratadas,
depende fundamentalmente do clima característico do local de implantação e das características
das lamas a desidratar, nomeadamente em termos de Teor de Sólidos e grau de estabilização.
Estes factores, que têm muitas vezes sido negligenciados, devem, por isso, ser considerados na
definição das dimensões dos leitos e da espessura de lamas a aplicar, bem como das
características do meio de enchimento e do sistema de drenagem (LAMPREIA, 2017).

Nesta secção, são apresentadas algumas considerações acerca dos factores e parâmetros
referentes ao dimensionamento e desempenho dos leitos de secagem de lamas.

a) Taxa de carregamento de sólidos

De acordo com LAMPREIA (2017), a taxa de carregamento de sólidos traduz


basicamente a massa de sólidos a aplicar nos leitos, por unidade de área, num determinado
intervalo de tempo, sendo função da concentração inicial de sólidos e do caudal de lamas a
desidratar.

O mesmo autor da conhecer que através deste parâmetro relacionam-se a área superficial
do leito de secagem e a altura da camada de lamas aplicada sobre o meio de enchimento,
permitindo a determinação de pares destes valores. Embora não exista, ainda, um método
definido para a consideração dos diferentes factores meteorológicos na definição da taxa de
carregamento de leitos de secagem, estes devem ser tidos em conta, assim como as
características das lamas a desidratar.

b) Área do leito de secagem

Segundo METCALF & EDDY (2003), os leitos apresentem cerca de 6 m de largura por 6
a 30 m de comprimento, ou um outro tamanho conveniente, de acordo com as características e
disponibilidade de área do local, para que 1 ou 2 leitos sejam cheios num ciclo normal de
carregamento, embora DAVIS (2010) refira que a prática actual nos Estados Unidos é de que os
leitos sejam construídos em células com 4 a 20 m de largura por 15 a 60 m de comprimento.
Segundo este autor, na definição da largura dos leitos deve também ser tido em conta o método
de remoção das lamas desidratadas dos leitos. Relativamente às dimensões dos leitos, DAVIS
(2010) sugere ainda que as paredes laterais devem ser verticais, com 1 a 1,5 m de altura.
MORTARA (2011) acrescenta que as paredes verticais dos leitos devem apresentar um
bordo livre, acima da altura máxima da camada de lamas aplicada, de 0,10 a 0,25 m e que, caso
tenham sido adicionados polímeros às lamas, o comprimento dos leitos não deve ser superior a
20 m, de forma a evitar uma má distribuição das lamas e manter uniforme a espessura da camada
aplicada.

ANDREOLI et al (2007) sugere uma expressão para a determinação da área de leitos


necessária em que é considerada a influência da precipitação, no caso de leitos descobertos. Essa
expressão é, no entanto, omissa relativamente a outras condições meteorológicas que
condicionam a evaporação da água presente nas lamas.

c) Espessura da camada de lamas

A espessura da camada de lamas a aplicar nos leitos de secagem interrelaciona-se com a


taxa de carregamento e a área do leito. Assim, uma vez definida a taxa de carregamento
pretendida, pode determinar-se a espessura da camada a aplicar, em função da área do leito e do
teor de sólidos das lamas a desidratar. Por outro lado, podem aplicar-se camadas com diferentes
espessuras, em diferentes ciclos, num mesmo leito, obtendo-se diferentes taxas de carregamento.
Desta forma, é possível atender às diferentes condições meteorológicas que se fazem sentir ao
longo do ano, bem como a diferentes características das lamas produzidas na estação de
tratamento De acordo com (LAMPREIA, 2017).

Segundo LAMPREIA (2017), vários estudos têm permitido concluir que, a um aumento
de 10 cm da espessura da camada de lamas aplicada pode corresponder uma duplicação do
tempo de desidratação das lamas. Face ao exposto, para uma correta definição da espessura da
camada de lamas a aplicar nos leitos devem ainda considerar-se, à semelhança do que foi
descrito relativamente aos restantes parâmetros, as características das lamas a desidratar e as
condições meteorológicas.

d) Número de leitos

Segundo LAMPREIA (2017), O número de leitos de secagem é definido em função da


quantidade de lamas a desidratar. Uma vez definidas a área e espessura necessárias para
desidratar a quantidade de lamas produzida na ETAR, o número de leitos deve ser computado em
função das dimensões pretendidas para cada leito. Adicionalmente, deve ser considerado pelo
menos um leito de secagem extraordinário, de forma a atender eventuais problemas operacionais
que impeçam o funcionamento de um dos leitos restantes, minimizando-se, assim, interrupções
ou perturbações do normal decorrer dos ciclos.

e) Meio de enchimento

De acordo com LAMPREIA (2017), Para além de funcionar como suporte da camada de
lamas a aplicar, o meio de enchimento tem um efeito filtrante das lamas, promovendo a
percolação da água entre os vazios existentes, ficando os sólidos das lamas retidos à superfície.

De forma a minimizar a colmatação do meio de enchimento, é, ainda, recomendada a


substituição periódica da camada de areia. Ainda relativamente a esta camada, embora maiores
espessuras promovam uma maior retenção de sólidos e a diminuição da frequência de
substituição e/ou reposição de areia, o processo de drenagem da água presente nas lamas torna-se
mais lento em camadas de espessura elevada (TUROVSKIY & MATHAI, 2006).

Por vezes é ainda colocada uma camada de suporte, em tijoleira ou outro material
semelhante, entre a camada de lamas e a camada superior de areia. A existência desta camada
facilita a operação de remoção das lamas, minimizando a remoção de parte da camada de areia
durante essa operação e promove uma melhor distribuição das lamas pela área do leito
(ANDREOLI et al., 2007).

f) Sistema de drenagem

Conforme LAMPREIA (2017), o sistema de drenagem dos leitos de secagem de lamas


visa essencialmente a remoção do efluente líquido, percolado através do meio de enchimento,
proveniente da água presente nas lamas e da precipitação sobre o leito e a sua condução à linha
de fase líquida da Estacão de Tratamento de Águas Residuais, para tratamento subsequente.
Assim, este sistema deve recolher uniformemente o efluente percolado ao longo de toda a
extensão do leito. Para o efeito, é habitualmente constituído por tubos transversais, que
alimentam um tubo longitudinal principal, perfurados ou abertos, em plástico ou grés vitrificado,
envolvidos pela camada inferior de brita, cujo declive mínimo de 1%, na direcção do tubo
principal, deve ser assegurado pelo fundo do leito, que deve ser correctamente nivelado mediante
a sua construção, de forma a evitar depressões ou percursos preferenciais para a o efluente
líquido.

2.3.2. Ciclos de desidratação de lamas: duração e problemas operacionais

De acordo com LAMPREIA (2017), a duração de um ciclo de desidratação de lamas em


leitos de secagem compreende os tempos necessários para preparação do leito e carregamento
das lamas a desidratar, por drenagem e evaporação da água presente nas lamas, e remoção das
lamas desidratadas.

A preparação do leito de secagem, inclui os trabalhos de limpeza e remoção de detritos


remanescentes no meio de enchimento e nivelamento da camada superior de areia. A duração
desta fase do ciclo de secagem, está dependente da quantidade de mão-de-obra disponível, uma
vez que estes trabalhos são, habitualmente, realizados manualmente (LAMPREIA, 2017).

As lamas são então bombeadas para o interior dos leitos. A velocidade de aplicação das
lamas é controlada por válvulas existentes em cada leito, e as tubagens de alimentação devem ser
construídas em ferro fundido ou plástico resistente (LAMPREIA, 2017). As tubagens devem ser
limpas periodicamente e, em climas frios, deve precaver-se a possibilidade de congelamento das
lamas no seu interior. Alternativamente, as lamas podem ser aplicadas através de canais abertos,
por gravidade, controlados por comportas à entrada dos leitos. Sob as torneiras de alimentação de
cada leito, deve ser colocada uma pequena laje de betão, que facilite o espalhamento das lamas
pelo leito e evite a erosão da camada de areia do meio de enchimento. Para um melhor controlo
da espessura da camada de lamas aplicada, a saída do sistema de drenagem deve, quando
possível, ser encerrada durante o tempo de aplicação das lamas (LAMPREIA, 2017).

Segundo IFEANYI (2008), o tempo de retenção das lamas em leitos de secagem pode
variar entre 10 dias e várias semanas, em função das condições acima referidas, podendo ser
reduzido mediante a adição de condicionantes às lamas.

De acordo com STRANDE et al. (2014), a partir de um valor de TS de 25% as lamas


podem ser facilmente removidas dos leitos. ANDREOLI et al. (2007) acrescenta que as lamas
não devem permanecer nos leitos para valores de TS superiores a 35 %, uma vez que a
permanência prolongada das lamas nos leitos promove o crescimento de vegetação que, para
além de transparecer uma planificação operacional deficiente, atrapalha, de forma considerável, a
sua remoção.

2.3.3. Síntese de estudos experimentais realizados em leitos de secagem

Em Brasília, no Brasil, SOARES et al. (2001) realizaram ensaios de campo em leitos de


secagem à escala piloto, constituídos por vasos plásticos, perfurados na base, no interior dos
quais foi colocada uma manta geotêxtil. Os leitos foram colocados ao ar livre e, no interior de
cada vaso, foram colocadas camadas de lamas provenientes de reactores UASB, com 0,17 m de
espessura. Estas lamas apresentavam um valor de TS de cerca de 5% e foram mantidas nos leitos
piloto até atingirem valores superiores a 90%, o que se verificou após um período de 15 dias. Os
autores confirmaram, assim, que a camada de lamas que se encontra directamente em contacto
com a atmosfera tende a desidratar de forma mais eficiente, formando a crosta seca e dura à
superfície, referida na secção anterior, que impede a incidência de radiação e reduz a evaporação
da água presente na camada inferior, tendo verificado, no mesmo instante, TH distintos nestas
camadas: 55% na camada superficial e 76% na camada inferiores.

No mesmo país, mas em Campina Grande, MELO (2006) realizou, entre os meses de
Março e Junho, ensaios experimentais em leitos de secagem experimentais, visando a melhor
compreensão dos fenómenos envolvidos na evaporação da água das lamas e o efeito da
precipitação neste processo.

Nestes ensaios, as lamas foram colocadas no interior de diversas caixas de madeira, umas
cobertas e outras descobertas, com paredes laterais formadas por placas de madeira removíveis,
de forma a minimizar o efeito do sombreamento da camada de lamas à medida que a sua
espessura diminui. As caixas foram também providas de uma manta geotêxtil, para percolação
das escorrências, e perfuradas na base. A massa das caixas de lamas foi medida diariamente, de
forma a avaliar a massa de água removida.

Pode observar que, nas caixas em que foram aplicadas menores espessuras, os valores de
TS das lamas estabilizaram num período mais curto e que, por isso, num mesmo período de
tempo, se podem obter valores de TS menores em camadas de lamas com menores espessuras.
Foram ainda verificados valores muito semelhantes entre o TS das lamas desidratadas em caixas
cobertas e descobertas, num mesmo período de tempo, o que leva os autores deste estudo a
concluir que a este tipo de coberturas não interfere na evaporação da água das lamas.
Relativamente à precipitação, o autor concluiu que, enquanto para valores de TH inferiores a
65% a maior parte da precipitação percola através da massa fissurada de lamas, ficando apenas
uma pequena parte retida nessa camada, para valores superiores a quantidade de água retida
aumenta substancialmente. Os valores determinados por este autor mostraram ainda que a
produtividade dos leitos foi significativamente superior nos meses mais quentes, isto é, foi na
época do ano em que se registaram maiores valores de temperatura e radiação que se atingiram
maiores valores de TS, para um mesmo intervalo de tempo.

Com o objectivo de validar um modelo matemático de previsão do valor de TS das lamas


em leitos de secagem ao longo do processo de desidratação, GHARAIBEH et al. (2007)
realizaram, em Wollongong, na Austrália, ensaios de campo em leitos de secagem experimentais.
Estes leitos foram equipados com uma válvula de fundo, ligada a um contentor para
armazenamento e medição de escorrências, e um meio de enchimento composto por uma camada
superior de areia e uma camada inferior de cascalho. Ao longo de 6 meses foram realizados
diversos ciclos de drenagem, com valores de TS inicial entre 1 e 3,5 % e espessura da camada de
lamas, entre 0,10 a 0,20 m. Foram, diariamente, retiradas amostras de lamas para medição dos
valores de TS e recolhidas as escorrências para medição do volume drenado. Na Tabela 2
apresentam-se o Comparativo dos métodos tradicionais de desidratação de lamas fecais de baixo
custo.
Tabela 2: Comparativo dos métodos tradicionais de desidratação de lamas fecais de baixo custo.

Método de Método de desidratação Desvantagens Concentração


desidratação sólidos
- Aparência limpa, capacidade - Grandes problemas de
de reter odore, capacidade de manutenção
iniciar e parar o processo - Exige a remoção do grão

Centrifuga rapidamente formado e possivelmente,


- Produção de um composto um moedor de lamas no seu
relativamente seco Sistema de alimentação 40% -65%
- Custo de investimento - Necessários operadores
Relativamente barato. especializados
- Teor em sólidos suspensos
moderadamente elevados
- Consumos energéticos Necessita de um moedor e
Filtro Banda
reduzidos lamas no seu sistema de
- Custos de investimento e de alimentação
operação relativamente baixos - Muito sensível às 20% -25%
- Processo mecânico pouco características das lamas
complexo e de fácil
- Operação automática,
manutenção
geralmente não
- Equipamentos de alta
recomendada
pressão são capazes de
produzir um composto
bastante seco
- Baixos custos de - Necessita de grandes áreas
investimento, onde existe para a sua implementação
disponibilidade de terras - Só pode receber lamas
- Não necessita de operadores estabilizadas
Leitos de especializados - O seu dimensionamento e 40% -65%
Secagem - Baixo consumo energético forma têm de ter em conta a
- Baixo consumo de reagentes zona geográfica
- Pouco sensíveis às variações - A remoção das lamas tem
das características das lamas de ser manual
- Atinge desidratações
superiores aos processos
mecânicos
- Baixos consumos - Potencial para criar odores
energéticos a atrair insectos
- Não necessita de agentes - Potencial para contaminar
químicos águas subterrâneas
Lagoas de - A matéria orgânica atinge - Aparência desagradável 30%
Secagem grandes graus de estabilização - O seu dimensionamento
- Custos de investimento tem de ter em conta os
baixos, onde há efeitos climatéricos
disponibilidade de terras
- É o sistema que necessita de
menos manutenção

Fonte: METCALF E EDDY (2003)

2.4. Estabilização

De modo a que as lamas produzidas numa ETAR sejam encaminhadas a destino final,
sem que provoquem neste ultimo efeitos nocivos, têm de ser estabilizadas de forma a se
atingirem os seguintes objectivos: reduzir o seu teor em organismos patogénicos; reduzir ou
eliminar o potencial de putrefacção da matéria orgânica; eliminar odores ofensivos
(SPELLMAN, 1999).

Existem vários processos que possibilitam a estabilização das lamas. Os principais


métodos utilizados para a estabilização das lamas são a estabilização alcalina, a compostagem,
ambas para lamas já desidratadas, a digestão anaeróbia e a digestão aeróbia, para lamas
espessadas (METCALF & EDDY, 2003).

Segundo METCALF & EDDY (2003), durante o dimensionamento dos processos de


estabilização, é necessário ter em conta o destino final a dar às lamas, de modo a escolher o
método mais indicado para a sua estabilização. Para tal é importante ter em conta a quantidade
de lamas que necessita tratamento, a integração do processo de estabilização com a restante linha
de tratamento de lamas, assim como ter em conta os regulamentos que condicionam a sua
aplicação final.
Estabilização alcalina

Segundo a COMISSÃO EUROPEIA (2001), a estabilização das lamas por cal, consiste
no aumento do pH das lamas para uma gama de 12 ou superior. Ao adicionarmos cal às lamas
destrói-se ou inibe-se a biomassa responsável pela degradação dos compostos orgânicos e
inactiva-se os vírus, as bactérias e outros microrganismos, ao tornarmos as lamas impróprias para
a sua sobrevivência

O pH elevado vai permitir que as lamas não entrem em putrefacção, não criem odores e
não constituam perigo para a saúde pública. Este tipo de tratamento vai também permitir
aumentar o teor em matéria seca das lamas, bem como ajudar à sua desinfecção (METCALF &
EDDY, 2003).

Segundo a COMISSÃO EUROPEIA (2001), “normalmente é recomendado adicionar


30% de cal relativamente à matéria seca presente de lamas, caso contrário, o tratamento não
poderia evitar a fermentação, a longo prazo”. A estabilização das lamas através da aplicação de
cal pode ser utilizada de 3 maneiras distintas: adição da cal às lamas antes do sistema de
desidratação; a adição da cal às lamas após estas serem desidratadas; e através de tecnologias
avançadas de estabilização alcalina (METCALF & EDDY, 2003).

Compostagem

Segundo SOUSA (2005), durante este processo as lamas já desidratadas, são misturados
com um agente estruturante e são arejados através da adição de ar ou por agitação mecânica,
permitindo que o material orgânico sofra degradação biológica. Durante a decomposição do
material orgânico presente nas lamas, o composto atinge temperaturas na ordem dos 50 a 70ºC, o
que permite que os organismos patogénicos sejam destruídos, e o seu teor de água seja reduzido,
podendo-se obter concentrações de matéria seca na ordem dos 60%.

Deste processo resulta um composto estável e inodoro que pode ser aplicado como
correctivo do solo por possuir nutrientes que são benéficos ao solo, podendo essa aplicação ser
restringida por eventuais constituintes das lamas (METCALF & EDDY, 2003).

Digestão anaeróbia
Segundo SOUSA (2005), a digestão anaeróbia tem por objectivo decompor a matéria
orgânica e inorgânica sem presença de oxigénio e a eliminação de organismos patogénicos,
permitindo assim a redução do seu volume.

A matéria seca que compõe as lamas que vão ser digeridas é constituída por 70% de
matéria orgânica e 30% de matéria inorgânica. Muita da água constituinte das lamas encontra-se
agregada à matéria seca, sendo a sua dissociação muito difícil (DRINAN, 2001).

Digestão aeróbia
Segundo METCALF & EDDY (2003), a digestão aeróbia das lamas consiste num
processo semelhante ao processo de lamas activadas este processo ocorre com presença de
oxigénio. As lamas são enviadas para um tanque onde são continuamente arejadas por grandes
períodos de tempo, superiores a 20 dias. O arejamento pode ser fornecido de forma natural ou
através de arejadores mecânicos ou difusores de ar (SPELLMAN, 2003).

2.5. Tecnologias de tratamento descentralizadas

Segundo SASSE (1998), diz que tecnologias de tratamentos descentralizados são


tecnologias de pequena escala, incluindo a colecta, o tratamento e descarga de águas residuais.
Permitem a gestão das águas residuais nas proximidades dos locais de produção, não sendo
necessária a existência de uma rede de colecta e transporte para estações de tratamento distantes
e são adequados para tratar caudais entre 1 e 500 m3/dia. Este tipo de tecnologias é mais
utilizado nos países em desenvolvimento.

Segundo o mesmo autor, Para a escolha de uma solução tecnológica do saneamento mais
viável, é necessário ter em atenção os seguintes factores determinantes: i) Número da população
a servir, ii) Densidade habitacional, iii) Capitação, iv) Perspectivas de crescimento da população,
v) disponibilidade financeira da população, vi) tipo do solo, vii) Profundidade do nível freático,
viii) Permeabilidade do solo e ix) Averiguar a periodicidade de cheias na zona.

Segundo a OMS e a UNICEF, as tecnologias de tratamento descentralizados incluem as


“tecnologias melhoradas” (fossas sépticas, latrinas de fossa simples, latrina de fossa ventilada e a
latrina de descarga de água), e “tecnologias não melhoradas” que inclui latrinas secas ou balde e
latrinas abertas (suspensas, directamente no solo).
Neste âmbito, é necessário levar em conta as soluções tecnológicas mais adequadas para
resolver os problemas de drenagem e saneamento. Isto é, devem ser consideradas as soluções
“on-site” ou “off-site”, conforme as características urbanas e populacionais de cada local, face à
disponibilidade e ao consumo da água per-capita (BARROSO, et al., 2015).

“On-site”, o tratamento é feito no local e envolvem menos gastos energéticos e em


termos de transportes, percorre-se menos distâncias com o efluente a tratar (soluções latrina e
fossas);

“Off-site” implica a construção de ligações a rede de drenagem da cidade e justifica-se


para locais onde a densidade populacional e a capitação são elevadas (fossa séptica e rede de
colectores).

No geral existem três tipos de sistemas de saneamento, das quais se destacam como
segue.

 Sistemas a seco: são os sistemas mais simples que necessitam de pouca ou nenhuma
água para o seu funcionamento. São na sua generalidade do tipo latrina. Na Figura 2,
adapta-se nas soluções do tipo I e II. São vulgarmente utilizados em zonas rurais, com
baixa densidade habitacional e com escassez de água (apropriados para a capitação
inferior a 30L/habitante/dia).
 Sistemas de transição: inclui os sistemas a seco e o sistema com água, são constituídos
por órgãos que necessitam de alguma água para o seu funcionamento mas não dependem
de um abastecimento de água completamente regular (apropriados para o intervalo de
capitação de 30 a 60 l/habitante/dia). O grau de evolução deste tipo de sistema adapta-se
melhor na solução do tipo III, isto é, quando a capitação aumentar mais que a sua
densidade populacional, então é mais adequado utilizar as fossas sépticas como solução
intermédia;
 Sistemas com água: necessitam de disponibilidade de volumes de água consideráveis
para o seu funcionamento; são apropriados para a capitação superior a 50 l/habitante/dia.
Este sistema é do tipo sanitas com autoclismo. O grau de evolução deste tipo de sistema
adapta-se melhor na solução IV, Isto é, nas situações em que a densidade populacional é
muito elevada e as capitações médias superiores a 30 a 50 l/habitante /dia, a solução mais
viável é o uso do sistema de esgoto com drenagem dos efluentes na Estacão de
Tratamento de Águas Residuais (ETAR), é também uma mais-valia em termos
económicos, direccionar a rede de colectores no sentido gravítico, para poupar os custos
de operação.

Figura 3: Exemplo de abordagem para evolução do tipo de serviços de saneamento em função


da densidade populacional.

Fonte: BARROSO et, al., (2015)

2.5. Destino final das lamas fecais

A principal preocupação na gestão das lamas de depuração está em encontrar o destino


final adequado para as lamas tratadas. Uma ETAR deve implementar um modo de deposição
final de lamas ou está condenada ao insucesso (SOUSA, 2005).

BERCO (2013) refere que relativamente ao destino final de lamas de depuração tratadas
adequadamente, actualmente são conhecidas e aplicadas as seguintes soluções, dispostas segundo
o grau de hierarquia na gestão de resíduos (tendo em conta que cada um dos destinos
mencionados apresenta as suas entradas, saídas e impactes ambientais associados):

i) Valorização agrícola (aplicação directa/indirecta e compostagem);


a. Solos agrícolas (recuperação/melhoramento)

b. Florestas (recuperação de solos e/ou reflorestação)

c. Estradas (recuperação/sementeira de taludes) outras áreas verdes

d. Recobrimento de aterros sanitários (recuperação paisagística)

e. Compostagem e/ou Co-compostagem com RSU

ii) Construção civil (o fabrico de tijolos ou cerâmica incorpora 20 % de lama);

iii) Combustão e co-combustão (valor calorífico para a produção de energia);

iv) Incineração e/ou co-incineração/cimento (incorporação no cimento);

v) Deposição em aterro sanitário.

Neste contexto, segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA) a valorização agrícola


de lamas apresenta as vantagens e desvantagens expostas no quadro 2.9 (AEA, 1997).
Tabela 3: Vantagens e desvantagens da valorização agrícola de lamas de ETAR.

Vantagens Desvantagens
Utilização de nutrientes contidos nas Necessidade de grandes investimentos em
lamas, como por exemplo fósforo e instalações de armazenamento uma vez que as
azoto; lamas só podem ser espalhados no solo, algumas
vezes por ano;
Utilização de substâncias orgânicas Dependência dos agricultores individuais e
contidas nas lamas para a melhoria da administração de acordos;
camada de húmus do solo (ou seja,
melhoria dos solos);
Regulamentação conhecida sobre a sua Falta de conhecimento quanto ao conteúdo de
aplicação; micropoluentes orgânicos e organismos
patogênicos nas lamas e o seu impacto sobre as
cadeias alimentares;
Via de eliminação mais económica. Legislação do controle de conformidade
minuciosa.

Fonte: adaptado de AEA, (1997).


CAPITULO III: METODOLOGIA

3.1. Descrição da área de estudo

3.1.1. Enquadramento geográfico

Chimoio é a capital da província moçambicana de Manica. Tem o estatuto de cidade e


administrativamente é um município com um governo local eleito; e é também, desde Dezembro
de 2013, um distrito, uma unidade local do governo central, dirigido por um administrador.

A estação piloto de tratamento de lamas fecais foi instalada na Faculdade de Engenharia


Ambientais e dos Recursos Naturais, da Universidade Zambeze, que localiza-se no município de
Chimoio, capital da província de Manica: nas coordenadas -19° 6' 59 latitude Sul e 33° 28' 59 de
longitude este.

Figura 4: Mapa de localização Geográfica da área de estudo: a) enquadramento geográfico do


bairro; b) enquadramento geográfico da IPSLF

Fonte: Autor, (2019)

3.1.2. Dados climatéricos

A Cidade de Chimoio possui um clima tropical húmido modificado pela altitude, que é
um tipo de clima que partilha ao nível do país apenas com algumas outras partes do interior das
províncias de Tete, Zambézia e Niassa (Merkel, 2012).
A precipitação média anual varia entre 1000 a 1200 mm, concentrada maioritariamente
na época chuvosa compreendida entres os meses de Outubro e Março (INAM, 2014). O mês
mais chuvoso é Janeiro, mas tem-se registado grandes quedas pluviométricas em todos os meses
no período chuvoso, com precipitações máximas de entre 118 a 381mm/mês.

A temperatura média anual é de 22º C, com uma época quente de Outubro a Abril e uma
época fresca de Maio a Setembro. As temperaturas nesta região podem ser consideradas amenas
em relação a outras regiões de Moçambique, com uma temperatura mínima de 10.8º C, e uma
máxima de 32,1º C. O vento dominante em todos os meses do ano é do sudoeste (INAM, 2014).
Com humidade relativa de cerca de 60%, considerada média/baixa (INAM, 2014).

3.1.3. Antecedentes Históricos e economia da cidade de Chimoio

Segundo o Boletim da República nº 101, I Série, de 18 de Dezembro de (2013), primeiro


núcleo urbano na área, fundado em 1893, foi denominado Vila Barreto, servindo de terminal à
linha férrea vinda do porto da Beira. Em 1899 o poder administrativo foi transferido para
Chimiala, uma povoação que mudou então de nome para Mandingos e se tornou o embrião da
actual cidade.

Em 1916 a povoação recebe o nome de Vila Pery, em homenagem a João Pery de Lind,
governador do território pela Companhia de Moçambique. A elevação a cidade ocorreu em 17 de
Julho de 1969, e em 12 de Junho de 1975 adoptou o nome actual, como resultado de um comício
popular orientado pelo primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel (Boletim da
República 2013).

O fraco desenvolvimento industrial é superado pelas óptimas condições que Chimoio


oferece para a prática de agricultura, o que faz com que a actividade económica mais evidente no
Município seja a agricultura de subsistência abrangindo cerca de 70% de todos os habitantes o
que espelha as características marcadamente rurais da população da Cidade, (CMCC, 2012).

Encontrar-se certa porção da população distribuída na economia informal organizada em


volta dos maiores mercados informais da Cidade, e de mercados mais pequenos em cada um dos
Bairros. Obstante também loja de produtos alimentares, vestuário e outros artigos, Bancos,
Hotéis, restaurantes e indústria ligeira, com algumas oportunidades de emprego principalmente
para os mais bem habilitados.

No que tange a população, segundo os resultados definitivos do Censo 2007, a população


recenseada na Província de Manica foi de 1,412,428 habitantes. Com um total de 1,438,386
habitantes, o Censo mostra que cerca de 25% da população de Manica reside nas áreas urbanas e
75% nas áreas rurais. De 1997 a 2007, a população da província de Manica aumentou em
398,923 habitantes, o que representa um incremento de 38.4% (INE, 2012).
De acordo com os resultados preliminares do Censo de 2017, a província de Manica tem
1 911 237 habitantes em uma área de 61 661km², e, portanto, uma densidade populacional de
31 habitantes por km². Quando ao género, 52.1% da população era do sexo feminino e 47,9% do
sexo masculino. O valor de 2017 representa um aumento de 472 851 habitantes ou 32,9% em
relação aos 1 438 386 residentes registados no censo de 2007 (INE, 2018). A tabela abaixo
mostra o número de habitantes em cada ano que fez-se levantamento estatístico.

Tabela 4: Número de habitantes da província de Manica e da cidade de Chimoio, obtidos nos


censos de1980, 1997, 2007 e 2017.

Número da População
Ano (Censo) 1980 1997 2007 2017
Província de Manica 587345 974208 1438386 1911237
Cidade de Chimoio 70851 171056 238.976 995,616

Fonte: Instituto Nacional de Estatística (2018)

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (2012), em 2007 mais de metade das


habitações não possuía retrete nem latrina, e cerca de 32% utilizava latrina do tipo melhorada,
7% utilizava latrina não melhorada e 8% das habitações possuía retrete com ligação a fossa
séptica. Na cidade de Chimoio existe três empresas de Serviços de gestão de lamas fecais, que
são responsáveis pelo esvaziamento e canalização de fossas sépticas, como por exemplo a waste
rite.
3.2. Procedimentos metodológicos

3.2.1. Dimensionamento dos leitos de secagem de lamas fecais


A instalação piloto foi definida em 4 partes diferente com funcionamento
interdependente, obedecendo uma estrutura linear e composta por unidade de desidratação de
lamas fecais que consiste na separação sólido-liquido, unidade de tratamento de águas residuais a
partir de plantas macrófitas, unidade de poço de filtração constituído por brita de diferentes
granulometrias e uma área verde (jardim), conforme a figura abaixo ilustra.

Figura 5: fluxograma da instalação piloto de secagem de lamas fecais

Fonte: autor (2019)

3.2.2. Montagem da IPSLF

A montagem da instalação piloto teve como ponto de partida a Identificação e limpeza da


área que é de aproximadamente 30m2 e de seguida procedeu-se a Construção de bases de
alvenaria, a instalação piloto de Tratamento de Lamas é composta por nove (9) leitos, sendo oito
(8) leitos de secagem e um (1) leito de evaporação, os recipientes utilizados como leitos de
secagem, são denominados polietileno de alta densidade, com uma capacidade de 1 m3, cortados
a parede superior, esvaziados e devidamente lavados, de forma a permitir uma superfície de
contacto com o ar ou ambiente com uma altura de aproximadamente Estes depósitos, foram
colocados sobre uma estrutura de madeira, ou metálica, assente em 4 pilares de tijolo, de forma a
minimizar o contacto da sua base com o solo, e as perdas de calor por condução que daí
poderiam decorrer. Com o objectivo de estabilizar as paredes plásticas dos recipientes, estes
foram envolvidos por uma estrutura metálica, conforme se observa na Figura 4.

Figura 6: Montagem dos leitos de secagem da instalação piloto e pormenor da torneira e


recipiente de recolha e armazenamento da água drenada:
Fonte: autor (2019)

No seu interior, foi colocado um meio de enchimento, constituído por 3 camadas de


diferentes espessuras e granulometrias: uma camada inferior, de 0,2 m de espessura, composta
por brita grossa, bem graduada, com diâmetros efectivo de 19 mm; uma camada intermédia de
brita fina, com uma espessura de 0,1 m e diâmetros efectivo de 10 mm; uma camada superior de
areia, com uma espessura de 0,1 m diâmetros efectivos entre 0.3 a 0.6 mm; Na Figura 5, podem
observar-se os diferentes materiais constituintes destas camadas.
Figura 7: composição do meio filtrante

Fonte: autor (2019)

Na sua base, estes depósitos incluem uma depressão longitudinal, formando um pequeno
canal, em direcção a um orifício existente numa das suas paredes laterais, cuja abertura pode ser
controlada por uma válvula do tipo torneira. A altura dos pilares em que os depósitos assentam
foi definida de forma a possibilitar a existência de um declive de cerca de 1% na sua base,
promovendo-se, assim, a drenagem de parte da água presente nas lamas que, após percolar
através do meio de enchimento, é canalizada pela referida depressão, em direcção ao orifício. A
massa de água assim removida do leito, é recolhida e armazenada em recipientes plásticos
cobertos, à saída do orifício (Figura 4). O tubo plástico central que se observa na Figura 4, foi
colocado de forma a permitir a medição da quantidade de água retida ou acumulada no fundo dos
leitos e, assim, identificar eventuais entupimentos neste sistema de drenagem no decorrer dos
ciclos.
Em seguida fez-se abertura de cova aproximadamente 3m de comprimento, 1,20m de
largura e 60cm de profundidade para colocação de tanques subterrâneos de drenados na
escorrência e colocado plantas macrófitas para o tratamento do líquido, na mesma linhagem
abriu-se um poço de filtração de água com uma profundidade de 70cm e colocando assim
camadas filtrantes de diferentes granulometria, isto é, areia de 02 a 06mm de diâmetro a uma
altura de 20cm e brita grossa de 20mm de diâmetro a uma altura de 45cm. Na mesma ordem de
ideia e aplicando o conhecimento de hidráulica fez-se a canalização para a escorrência de águas
que saia dos leitos de secagem (tratamento físico) drenando nos baldes de 60L que serviam como
sistema de drenagem, de denominado ELS e em seguida drenava na canalização feito
subterrâneo e escoava para leitos de plantas macrófitas (tratamento biológico) e de leitos de
macrófitas para o poço de filtração. As camadas filtrantes no poço de filtração, foram colocadas
com vista a reduzir níveis de microrganismos e evitar a contaminação do lençol freático na área
de implantação.

3.5. Caracterização dos leitos de secagem de lamas fecais;

3.5.1. Avaliação de Condutividade Hidráulica Saturada dos Leitos

Avaliação da Condutividade Hidráulica Saturada foi realizada entre os meses de Maio a


Junho do ano em curso através de ensaios experimentais. Para avaliar a condutividade Hidráulica
Saturada dos Leitos, primeiro ocorreu o processo de Enchimento do reservatório até nível
constante, depois Posicionou-se alturas de descarga que era 0,00m, 0.15m, 0.25m e 0.31m para
ambos leitos e de seguida Medição do caudal de descarga monitorando o tempo com cronómetro.

A equação usada para obtenção da condutividade hidráulica saturada “K

( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( )

Onde:
K= condutividade hidráulica (m/s)

A= área secção transversal ( )

H= altura de descarga (m)

V=volume ( )

t= tempo (s)

N= nível da água (m)

L=distancia entre pontos (m)

Q=Vazão ( /s)
3.5.2. Avaliação da Porosidade ou Cedência específica

Para avaliar a Cedência específica, primeiro ocorreu processo de Enchimento do


reservatório até nível constante, de seguida anotou-se o volume de água inserido que era de 400l,
depois descarregou-se o volume de água inserido, garantindo a ausência da perda de água por
evaporação, sendo assim os leitos foram cobertos com uma lona preta como ilustrado na figura a
seguir e anotação do volume descarregado, para confirmação do mesmo.

A equação usada para obtenção da porosidade efectiva ou cedência específica

(4)

Onde:

= ( )

= ( )

Porosidade efectiva ou cedência específica

Figura 7: ensaio de porosidade do leito de secagem de lamas

Fonte: autor (2019)

3.6. Caracterizacao das lamas fecais nos respectivos leitos de secagem;

3.6.1. Recolha de amostras e medição de parâmetros em campo


No decorrer do ciclo de secagem de lamas fecais, com o objectivo de avaliar desempenho
hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas fecais urbanas em leitos de secagem,
face às diferentes condições meteorológicas que se fazem sentir, em Moçambique na cidade de
Chimoio, ao longo do ano que decorreu entre os dias 04 de Julho de 2019 e 22 de Julho de 2019.
As lamas foram retiradas numa fossa séptica da Faculdade de Engenharia Ambiental e dos
Recursos Naturais com o camião da empresa waste rite limitada o mesmo que zela pela
drenagem de fossas sépticas e canalização na cidade de Chimoio as lamas foram descarregados
para o interior dos leitos, (Figura 9).

De forma a evitar a erosão da camada superficial de areia do meio de enchimento, foi


utilizada uma tampa de balde na fase inicial do carregamento dos leitos, como é também visível
nesta figura. As primeiras amostras de lamas foram também retiradas directamente do digestor.
Durante a bombagem de lamas para o interior dos leitos, as válvulas de fecho dos orifícios
inferiores dos leitos encontravam-se na posição de fecho, sendo apenas abertas, em simultâneo
nos três leitos, após o carregamento de ambos. Desta forma, considerou-se, que o período de
secagem das lamas se iniciou no momento de abertura das válvulas.

Figura 8: Carregamento do leito de secagem de lamas

Fonte: autor (2019)

No decorrer das recolhas de amostras, teve-se o cuidado retirar porções de lamas de


diferentes profundidades, na tentativa de se obterem amostras representativas das características
médias da camada de lamas. Na Figura 10 podem observar-se os diversos recipientes utilizados
para recolha das amostras de lamas.
Figura 9: Recipiente de recolha das amostras de lamas fecais (frascos de âmbar de 400ml)

As amostras de lamas foram recolhidas em frascos de âmbar de 400ml, para além disso,
numa fase mais avançada do ciclo, as lamas apresentavam já uma consistência bastante espessa,
dificultando a introdução das amostras retiradas no gargalo dos frascos de âmbar.

Em cada dia de recolha de amostras, foram também medidos a espessura da camada de


lamas e a sua temperatura, bem como o volume da massa de líquido drenado, acumulado desde a
recolha anterior, a respectiva temperatura e os valores de pH, OD e condutividade
correspondentes. Após a medição destes parâmetros, os recipientes de armazenamento foram
esvaziados. A medição de temperatura, em °C, o OD, em mg/. L, a condutividade eléctrica, em
mS.cm-1, as análises de temperatura e PH foram realizadas por um multímetro, oxigénio
dissolvido por um Oxímetro e a condutividade eléctrica por um condutivimetro.

a) b)

Figura 10: Materiais utilizados para medição de parâmetros em campo: a)


PHmetro b) condutivimetro

Fonte: autor (2019)


Análises de PH e temperatura das lamas
As análises do potencial hidrogeniônico (pH) e temperatura das lamas foram realizadas,
no Laboratório de Água da FEARN, com uso de um PHmetro digital proveniente da empresa
HANNA, Primeiramente foi realizada a calibração do pHmetro, conforme recomendações do
fabricante. Após a calibração do aparelho com soluções tampão de pH 4 e 7, foram realizadas as
medições do pH, nos primeiros dias até o término da saída de escorrência as medições foram
feitas directamente no tanque (in situ) e quando a lama apresentava uma consistência bastante
espessa a amostra era transportada para o laboratório e submetido a um agitador magnético em
que a sua determinação seguiu a Norma EN 13037 (Dezembro 1999).

3.6.3. Análises da condutividade eléctrica das lamas

As análises de condutividade eléctrica (CE) das lamas foram realizadas, no Laboratório de


Água da FEARN, com uso de um condutivimetro digital, primeiramente as medições foram
feitas directamente no tanque (in situ) e quando a lama apresentava uma consistência bastante
espessa a amostra era transportada para o laboratório e submetido a um agitador magnético de
modo para poder triturar e proceder com as análises, a condutividade eléctrica foi avaliada
segundo a Norma EN 13038 (Dezembro 1999), Os resultados foram expressos em mS cm-1.

3.6.4. Análises do oxigénio dissolvido das lamas

As análises de oxigénio dissolvido das lamas foram realizadas, no Laboratório de Água


da FEARN, com uso de um oxímetro da empresa Mahita, modelo 912/5, as amostras foram
transportadas para o laboratório, com o procedimento 5220 D indicado por RICE et al. (2012).

3.6.5. Análises de TS das lamas

As análises de Teor Sólidos (TS) das lamas foram realizadas, no Laboratório de água da
FEARN, de acordo com o procedimento 2540 G, APHA (2012), indicado por RICE et al. (2012),
em uma balança analítica de medição de massa seca do tipo KERN Ple, que possui capacidade
máxima de 4200g e sensibilidade de 0,01g programada de acordo com o mesmo procedimento.

O primeiro passo é preparação prévia do cadinho de porcelana, e a identificação pesagem


do cadinho em balança analítica sem amostra. A amostra a ser analisada, com volume conhecido,
é colocada no cadinho, e o conjunto é pesado novamente, para posterior encaminhamento à
estufa de controlo de qualidade da empresa S. P. Selecta fabricado pela Espanha, onde
permanecerá por um período de 24 horas 103 °C a 105ºC. O cadinho com a amostra seca e
pesada no final do procedimento, quando alcançada a temperatura ambiente.

O teor de sólidos foi determinado pela seguinte equação:

( )

Onde:

A= peso do cadinho de amostra seco, mg,

B= peso do cadinho, em mg

C= peso do cadinho de amostra húmida, em mg

Figura 11: Etapas do procedimento de análise de Teor Sólido das lamas no laboratório de
Água da FEARN.
Fonte: autor (2019)
CAPITULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo estão apresentados os resultados obtidos durante o período em que foi
realizado este estudo.

Ambos os leitos foram carregados, com camadas de lamas de 0,35m no leito três, 0,35m
no leito três linha, o mesmo aconteceu com outros leitos 0,43 m de espessura no leito quatro (4) e
0,43 m de espessura no leito quatro linhas respectivamente, apenas fez-se monitoramento de três
(3) leitos isso porque quando ocorria o carregamento cinco (5) leitos destruíram-se devido a
vazão de carregamento e acabaram cedendo. As espessuras da camada de lama adoptadas foram
seleccionadas de forma a comparar os valores máximos e mínimos, aproximados, sugeridos pela
maioria da bibliografia referente ao tema. As lamas não foram revolvidas, por forma a aproximar
as características operacionais em vigor na maioria dos leitos de secagem.

Dados meteorológicos

Com foi referido na secção anterior, no capítulo III, os dados meteorológicos foram
medidos pela estação nacional de meteorologia (INAM), localizado na cidade de Chimoio, Rua
do Aeroporto, Bairro Trangapasso, os dados fornecidos referem-se as mínimas, médias e
máximas mensais de Temperatura, Precipitação, Humidade, Insolação e Vento médio, dos
meses: Abril a Maio de 2019, como pode ser observado na tabela 3.

Fazendo uma relação, e sabendo que a radiação solar constitui o principal parâmetro
responsável pela variação da temperatura do ar, e que a precipitação afecta, naturalmente, a sua
humidade relativa, na tabela 3 são apresentados os valores médios mensais da temperatura do ar
e da radiação solar, ao longo do ciclo.

Como seria de esperar, o ciclo de secagem, correspondente ao período de inverno,


respectivamente, os valores de temperatura e radiação são mais baixos. É ainda de notar, neste
ciclo, uma oscilação dos valores de temperatura, vento e humidade relativa.

Os valores de radiação apresentados para o ciclo, foram estimados a partir dos dados
medidos pela estação nacional de meteorologia. Neste ciclo a estacão não registou valores
médios, máximos e mínimos de precipitação, enquanto a insolação não foi registado apenas
valores médios. Este ciclo apresenta assim, à partida, as condições mais favoráveis ao adequado
desempenho dos leitos de secagem no processo de desidratação de lamas.

Tabela 5: dados meteorológicos de Chimoio referentes a Abril a Julho de 2019

TEMPERATUR PRECIPITAÇÃ HUMIDADE INSOLAÇÃO


A oC O (mm) (%) (Horas)

Médio (m/s)
Período

Vento
Med Ma Min Med Ma Mi Me Ma Mi Med Ma Min
x x n d x n x
Abri 21.7 26.7 16.1 --- 21.8 0.4 82 92 55 --- 10. 0.0 146.3
l 9
Mai 19.1 24.7 12.6 --- 1.9 --- 79 98 50 --- 11. 7.6 131.2
o 1
Jun 17.4 23.2 10.7 --- 1.5 0.2 76 96 48 --- --- --- 179.5
ho
Julh 18.4 24.6 11.8 --- --- --- 68 94 37 --- 10. 4.3 131.9
o 6

Fonte: INAM (2019)

Antes da realização das campanhas experimentais de lamas, decorreram entre 15 a 21 de


Maio de 2019, a avaliação da condutividade hidráulica saturada e 24 de Maio a 5 de Julho de
2019, a avaliação da porosidade ou cedência específica, o procedimento experimental aplicado é
descrito na secção anterior. Os resultados obtidos na determinação de condutividade hidráulica
saturada de ambos os leitos são apresentados na Tabela 4 em m/s e os da porosidade foram
apresentados em % para facilitar a apreciação das grandezas envolvidas.

Geralmente a condutividade hidráulica saturada deve ter um comportamento uniforme ou


constante. Com os dados de condutividade hidráulica saturada obtidos nesse estudo, pode-se
observar uma variabilidade entre os resultados. Isso pode ser explicado, pelo fato de que
condutividade hidráulica saturada pode ser altamente influenciada pelas propriedades do meio,
porosidade, tamanho, distribuição, forma e arranjo das partículas, como também as
características do fluido, viscosidade e massa específica (CLEARY, 1989, e FEITOSA et al.,
2008). Quanto ao tipo de porosidade do meio filtrante do presente estudo é macroporosidade pela
capacidade de não reter água.

Segundo SILVA & KATO (1997), a macroporosidade é factor de extrema importância na


condutividade hidráulica do solo saturado e sua redução provoca diminuição nos valores
de condutividade hidráulica saturada.
Tabela 6: Resultado da condutividade hidráulica saturada dos leitos.

Leito Média Média Máximo Mínimo Desvio Desvio padrão


global (m/s) (m/s) padrão (global)
(parcial)
0.00025 0.00040 0.00020 0.00004
LS-01

0.00289 0.0004
0.00055 0.00632 0.00425 0.00060
LS-01 linha

0.00018 0.00038 0.00041 0.00009


LS-02
0.00039
0.00578
0.00024 0.00011 0.00018 0.00005
LS-02 linha

0.00020 0.00035 0.00015 0.00005


LS-03

0.000003
0.00024 0.00041 0.00019 0.00005
LS -03 0.00022

linha
0.00022 0.00036 0.00017 0.00004
LS -04
0.000009
0.00030 0.00048 0.00024 0.00006
LS -04 inha
0.00026

Há uma diversidade de opções de ensaios de campo para determinação da condutividade


hidráulica dos solos. No entanto, todo ensaio de condutividade hidráulica é baseado nos
princípios da Lei de Darcy (1856) para o movimento da água no meio filtrante.
Os valores do gráfico da (Figura 13), mostra a média parcial e global de cada leito (linhas
horizontais), com valores de 0.0003 m/s para o primeiro leito, 0.006 m/s para leito 1 (um linha)
que é a réplica, 0.0058 m/s de média global. Os valores máximos e mínimos de 0.0004 m/s e
0.0002 m/s para leito 1, 0.0063 m/s e 0.0043m/s para leito 01 (um linha) e os valores de desvio
padrão de ± 0.00004 de leito 01 (um) ±0.00060 de leito 01 (um linha), como pode ser visto na
tabela 4.

Dessa figura pode observar-se que nos ensaios do leito 01 (um) não ouve variações
significativas com um desvio padrão tendendo a zero. Diferentemente do leito 01 (um linha) que
houve uma variação significante com valor médio global se aproximando da média parcial, essa
diferença de variação pode ser explicada pelo tamanho dos poros e compactação, que
influenciam nas medidas de condutividade hidráulica saturada.
Variação da condutividade hidráulica - LS01 e LS01 linha
0.007
0.006
0.005
K (m/s)

0.004
0.002
0.001
-
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
nº ensaio

LS01 LS01- linha


média parcial LS01 (m/s) média parcial LS01 linha (m/s)
média global (m/s)

Figura 12: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio

A Figura 14 revela como o parâmetro condutividade hidráulica saturada se comportou ao


longo do ensaio. É possível observar que, de maneira geral, no gráfico do leito 2 (dois) e dois
linha, apresenta uma variação (dispersão) muito significativa que pode se justificada com desvio
padrão de ±0.00009, enquanto no gráfico do leito 2 (dois linha), com desvio padrão ±0.00005
como pode ser visto na tabela 4.
Os valores de condutividade hidráulica saturada encontrados em ambos os ensaios se
distam da média parcial e global que tendem a ser iguais, os picos desses leitos tendem a se
aproximar, como pode ser observado na figura 2. Essa diferença de comportamento pode ser
ocasionada por vários factores como, a posição dos leitos, ângulo de inclinação assim como a
compactação.
Variação da condutividade hidráulica saturada - LS02 e LS02 linha
0.0005

0.0004

0.0003
K (m/s)

0.0002

0.0001

0.0000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
nº ensaio

média parcial LS02 (m/s) média parcial LS02 linha (m/s) média global (m/s)

LS02 LS02 linha

Figura 13: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio.

A partir da Figura 15 verifica-se que os valores da condutividade hidráulica saturada dos


ensaios aproximam-se da média em ambos os leitos. Fazendo uma comparação entre os dois
gráficos, observa-se que a condutividade hidráulica saturada do leito 3 (três linha) apresenta
maior variação (dispersão) em relação a condutividade hidráulica saturada do leito 3 (três) com
uma média de 0.00024 m/s, com desvio padrão parcial 0.000051 m/s leito 3 (três linha) e com
uma média parcial de 0.00020 para leito 3 (três) e desvio padrão 0.000048 para leito 3 (três), não
havendo uma diferença muito significante, como pode ser observado na tabela 6.

Os resultados do presente estudo apresentam como valores máximos e mínimos de


0.00041 m/s e 0.00019 m/s de leito 3 (três linha) e 0.00035 m/s e 0.00015 m/s de leito 3 (três),
como pode ser visto na tabela 6. Assim como descrito anteriormente os mesmos factores podem
ter influenciado na variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos anteriores podem ter
influenciado os leitos dos gráficos representados na figura abaixo.
Variação da condutividade hidráulica saturada - LS03 e LS03 linha
0.0005

0.0004

0.0003
K (m/s)

0.0002

0.0001

0.0000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
nº ensaio
média parcial LS03 linha (m/s) média parcial LS03 (m/s) média global
LS03 linha LS03

Figura 14: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio.

Finalmente o cálculo da condutividade hidráulica saturada (k) resultou na Figura 16 que


pode ser verificada a seguir. Percebe-se que nos ensaios de estudo ocorreram variações
significantes neste parâmetro para leito 4 (quatro linha) em relação ao leito 4 (quatro), com
desvio padrão de 0.00004 para leito 4 (quatro) e 0.00006 para leito 4 (quatro linha) com valores
médios (esperados) de 0.00022 m/s para o gráfico do leito 4 (quatro) e 0.00030 m/s para o
gráfico do leito 4 (quatro linha) como pode ser observado na tabela 6.

É possível identificar pela Figura 16 picos elevados de condutividade hidráulica,


principalmente nos últimos quatro ensaios com 0.0004 m/s para leito 4 (quatro) e com 0.0005
m/s para leito 4 (quatro linha), como pode ser observado na tabela 6, sendo estes os maiores
valores encontrados para a condutividade hidráulica saturada.

Essa dispersão provavelmente foi ocasionada por posição dos leitos, tamanho dos poros
visto que no presente estudo existia diferentes camadas filtrantes, também a compactação
influenciou na variação ou dispersão deste parâmetro pela inexistência de um instrumento que
permite-se com que os leitos tivessem o mesmo nível, assim como a inexistência de um medidor
de vazão pode ter influenciado na dispersão da condutividade hidráulica saturada de ambos os
leitos.

Condutividade hidraulica - LS04 e LS04 linha


0.0006

0.0005

0.0004
K (m/s)

0.0002

0.0001

0.0000
1 4 7 10 13 16 19 22
nº ensaio
média parcial LS04 (m/s) média parcial LS04 (m/s) média global (m/s)

LS04 LS04- linha

Figura 15: Variação da condutividade hidráulica saturada dos leitos de secagem obtidos em
campo durante o período de ensaio

Tabela 7: valores percentuais da Porosidade ou cedência específica.

Identificação leito de secagem Porosidade ou cedência especifica


LS01 37.73%
LS01 LINHA 35%
LS02 31.08%
LS02 LINHA 33.75%
LS03 37.98%
LS03 LINHA 32.99%

LS04 42.10%

LS04 LINHA 32.63%

Fonte: autor (2019)


De acordo com TEIXEIRA., et al (2009), porosidade é uma propriedade física definida
pela relação entre o volume de poros e o volume total de um certo material.

Segundo RANZANI (1969), o volume total dos poros do solo quase nunca é inferior à
30%, e raramente ultrapassam 60%. Embora o volume dos poros quase sempre seja inversamente
proporcional ao diâmetro das partículas, com os menores valores de porosidade correspondendo
aos solos de textura mais grosseira, e os mais altos aos de textura mais fina.

Os valores de Porosidade ou cedencia especifica obtidos na estacão piloto de tratamento


de lamas fecais concretamente na FEARN, como representados na Tabela 7, mostra oscilações
de 31.% a 42.10% de espaços vazios em ambos os leitos, comprovando estarem de acordo com o
estabelecido por RAZANI que determina faixa de porosidade entre 30% < N < 60%.

Geralmente a porosidade do presente estudo devia obedecer um comportamento uniforme


ou constante, sendo que o meio filtrante é o mesmo em ambos os leitos. Essa variação
possivelmente foi ocasionada pelo ângulo de inclinação e a compactação.

Após a realização dos ensaios da condutividade hidráulica e porosidade realizaram-se


campanhas experimentais de lamas, decorreram entre 04 a 22 de Julho de 2019, que o
procedimento experimental aplicado é descrito na secção anterior no capítulo III. Os resultados
estatísticos obtidos na determinação de parâmetros físico-químicos de ambos os leitos são
apresentados na Tabela 7.
PH e Temperatura

Decreto-Lei nº 1/18 de 2 de Julho, prevê valores de pH aceitáveis para efluentes


domésticos, devem situar-se entre 6,0 e 9. O termo pH (potencial hidrogeniônico) segundo
SAWYER et, al. (1994) é usado para expressar a intensidade da condição ácida ou básica de uma
solução e é uma maneira de expressar a concentração do íon hidrogénio. De acordo com
METCALF & EDDY et al., (2003) diz que a maioria da vida biológica apenas sobrevive numa
gama de valores de pH entre 6 e 9.

Em relação ao parâmetro pH não houve grandes variações (dispersão) ao longo das


análises, apresentando valor médio ligeiramente alcalino para ambos os leitos de 7.16 de leito
três, 7.14 para leito quatro e 7.09 para leito quatro linha, variando na gama de 6.3 a 7.86, no leito
três, 6.40 a 7.87 no leito quatro 6.20 a 7.92 leito quatro linha, como pode ser observado na
Tabela 7. Os resultados mostraram que em ambos os leitos não foram observados teores maiores
e menores que o permitido pela legislação. Isso demonstra que está em conformidade com os
Padrões máximos e mínimos permitidos pelo boletim da república, Como pode ser observado nas
figuras abaixo (figura 7).

MEYSTRE (2007), conclui que o pH deve se manter próximo da neutralidade, e atribui


faixa de 6,5 a 7,5 como pH ideal para a ocorrência da digestão anaeróbia, já quando se visa a
maior produção de metano no sistema o pH fica entre 6,8 e 7,2.
Com os valores médios obtidos pode-se dizer, com base em Meystre, que o sistema ficou
dentro dos limites de neutralidade, não viabilizando problemas ao sistema de tratamento quanto a
este quesito.

Assim sendo do 1.º a 7.º dia da análise do PH de ambos os leitos era estável classificado
como alcalino na faixa de 7 a 8, provavelmente deve-se a presença de bicarbonatos, e sua
condição de resistir a mudanças do pH (figura 17, 18 e 19). Do 8.º a 13.º o PH de ambos os leitos
manifestava-se como ácido na gama de (6 a 7). Essa diminuição de pH ocorre devido à actuação
de bactérias formadoras de ácidos que fraccionam a matéria orgânica e produzem ácidos voláteis
(VON SPERLING, 2005).

Sabe-se que o pH é muito influenciado pela quantidade de matéria orgânica a ser


decomposta, isto é, quanto maior a quantidade de matéria orgânica disponível, menor o pH, uma
vez que para haver decomposição de materiais são produzidos muitas substâncias ácidas como,
por exemplo, o ácido húmico (FARIAS, 2006).
Figura 16: Comportamento do pH- LS03 Figura 17: Comportamento do pH- LS04

Figura 18: Comportamento do pH- LS04 linha

Quando analisado o pH obtido por RAINHO (2010), na Estacão de Tratamento de


Efluente Ronda, o pH no Efluente Bruto ficou entre 7,3 a 6,1, já no Efluente Tratado fica entre
8,1 a 6,1. A autora também relaciona a profundidade da lagoa da Estacão de Tratamento de
Efluente com seu efeito indirecto no pH, onde quanto maior a profundidade, mais compacta é a
lagoa e menor é a quantidade de água onde ocorre a fotossíntese, fazendo com que ocorra
redução no consumo biológico de dióxido de carbono acarretando em maiores valores de pH.

JOANA SILVA efectuou, no Brasil, em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa


Catarina para a obtenção do Grau de Engenheira em Engenharia Sanitária e Ambiental, cujo
tema era higienização da lama de Estação de Tratamento de Esgoto para Utilização como
Material de Cobertura de Aterro sanitário, o PH das amostras da lama em mistura com cal
decresceram gradualmente, junto com a perda de humidade, e estabilizaram-se em valores entre
9,0 e 9,5.
Ao contrário desse presente estudo que o PH tedia a ser uniforme, facto esse que pode se
justificar com base na média e desvio padrão, visto que os dados estatísticos não mostram uma
variabilidade (dispersão) muito significante, em ambos os leitos, com desvio padrão de ±0.5 para
leito três, ±0.5 para leito quatro e ±0.6 para leito quatro linha, como pode ser visto na Tabela 7.
Para Joana Silva o pH da lama, monitorado durante o ciclo, manteve-se praticamente estável
durante todo o período, diferindo do estudo em que houve uma variação de alcalino para acido,
de ácido para alcalino.

De acordo com JORDÃO & PESSOA (2014), a temperatura das águas residuais
geralmente está um pouco acima às da água de abastecimento e do ar, sendo importante em
processos biológicos de tratamento de águas residuais e influenciando o fenómeno de
sedimentação, pois o aumento da temperatura diminui a viscosidade, melhorando as condições
de sedimentação.

Decreto-Lei nº 1/18 2004 de 2 de Julho que estabelece Padrões de qualidade ambiental e


de emissão de efluentes, nele estabelece a quantidade máxima de poluentes que são permitidos
descarregar por uma fonte de poluição, para a temperatura estão padronizado 35 °C.

As análises de ambos os leitos apresentam um valor médio ou esperado dentro dos


Padrões de qualidade ambiental e de emissão de efluentes, estabelecido pelo Decreto-Lei nº 1/18
2004 de 2 Julho no parâmetro temperatura que é de 35°C, como pode ser observado na figura 20,
21 e 22. Os valores encontrados não apresentam um comportamento constante, sendo que, em
três análises, a temperatura esteve maior no leito quatro (4), intermediário no leito três (3) e
menor no leito quatro linha (4), como pode ser visto na Tabela 7, dando ênfase os valores
médios.

Neste presente estudo obteve-se como valor mínimo de 15.50ºC no leito quatro linha (4),
15.60ºC no leito três (3) e 16.90ºC no leito quatro (4), e tem como valor máximo 25.90ºC para
leito quatro (4), enquanto o leito três e quatro linha (4) tem o mesmo valor máximo que é de
25.10. Refere-se ainda que os valores máximos de temperatura obtidos no trabalho se aproximam
aos valores obtidos experimentalmente por Silveira e ARSEGO (2014), as amostras
apresentaram valores de temperatura que variaram de 21,04°C a 26,30°C, os valores observados
não demonstraram grandes variações entre as colectas e forma do esgoto (bruto/tratado).
Em específico a temperatura pode ter influência directa do clima, da temperatura
atmosférica e horário de colecta. Esta consideração pode explicar o maior e o menor valor de
temperatura, considerando que esta colecta foi realizada em período de inverno em dias de baixa
temperatura. Também salientar que as colectas foram realizadas durante o período da manhã,
circunstância que confirma a afirmação anteriormente explanada, que a temperatura superficial é
influenciada pela latitude, altitude, estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade.

Figura 19: Comportamento do Temp - LS03 Figura 20: Comportamento do Temp - LS04

Figura 21: Comportamento do Temp - LS04 linha

Condutividade eléctrica

Para LIBÂNIO (2010), a condutividade eléctrica pode ser entendida como a capacidade
de uma solução transmitir corrente eléctrica devido a substâncias dissolvidas. Quanto maior a
concentração iónica da solução, maior é a oportunidade para acção electrolítica e, portanto,
maior a capacidade em conduzir corrente eléctrica.

A informação sobre Padrões da condutividade para efluentes domésticos em


Moçambique é escassa. De acordo com METCALF & EDDY et al., (2003), através da medição
da condutividade eléctrica, é possível avaliar a salinidade.

O mesmo autor salienta que o teor de sal é um parâmetro importante para avaliar a
possibilidade de reutilização do efluente na agricultura. Segundo ALMEIDA (2010), o intervalo
usual de condutividade em águas de irrigação vária de 0 – 3000 μS cm-1.

Os valores médios encontrados nesse presente estudo estavam significativamente abaixo


do valor máximo permitido por Almeida com seguintes valores médios (esperados) 2.90 mS/cm
para leito três, 2.91 mS/cm para leito quatro e 2.93 mS/cm para leito quatro linha como pode ser
visto na figura 23, 24 e 25. Estando em conformidade com os dados obtidos neste presente
estudo.

No entanto, afirma-se que quanto mais acida for a substância maior é capacidade de
conduzir corrente eléctrica vice-versa, no entanto foi notório em ambos os leitos esse
comportamento. No oitavo dia quando o Potencial hidrogeniônico tornou-se ácido, a
condutividade aumento isso é devido a acidez carbónica, em que a concentração do ião
hidrogénio se dissociava no interior do leito.

Figura 22: Comportamento de CE- LS03 Figura 23: Comportamento de CE- LS04
Figura 24: Comportamento de CE- LS04 linha

Segundo ALMEIDA (2010), diz que elevadas concentrações salinas podem trazer
prejuízo ao cultivar e solo, caso a irrigação seja feita de modo inadequado. Sanitariamente, a
condutividade eléctrica não possui implicações, sua relevância consiste em representar um bom
indicador de contaminação. O lançamento de efluentes, por exemplo, acarreta no aumento do
parâmetro, devido ao aumento de íons dissolvidos (LIBÂNIO, 2010).

Oxigénio dissolvido

As variações nos teores de oxigénio dissolvido estão associadas aos processos físicos,
químicos e biológicos que ocorrem nos corpos da lama fecal. Para a manutenção da vida aquática
aeróbica, são necessários teores mínimos de oxigénio dissolvido de 2 mg/L a 5 mg/L, exigência
de cada organismo, os valores médios de oxigénio dissolvido desse estudo estão em desacordo
com valores de 13.38 mg/L no leito quatro (4), 12.40 mg/L no leito três (3) e 11.95 mg/ no leito
quatro linha.

De acordo com MACHADO (2006) o ecossistema de um meio necessita de oxigénio


dissolvido para realizar trocas gasosas e manter o ecossistema activo, pois é o principal elemento
no metabolismo de microrganismos aeróbios. As concentrações de oxigénio podem estar
relacionadas com temperatura, pressão e salinidade do meio.

O oxigénio dissolvido também depende da pressão, quanto maior for a pressão maior é a
dissolução de oxigénio dissolvido, és a razão que nos primeiros dias observa-se picos elevados
de oxigénio dissolvido após o carregamento em ambos os leitos, como pode ser visto na figura
23, 24 e 25. No intervalo de 6.º a 7.º dia, ouve um decaimento dos valores de oxigénio dissolvido
e no intervalo do 8.º a 14.º dia, os picos de oxigénio dissolvido tendem a elevar-se,
provavelmente deve-se o aumento da pressão quando era submetida no agitador magnético com
intuito de homogeneizar a lama que possuía uma consistência mais sólida.

Figura 25: Comportamento de OD- LS03 Figura 26: Comportamento de OD- LS04

Figura 27: Comportamento de OD- LS04 linha

Factores contribuintes para menor oxigénio dissolvido é a ausência de plantas


(responsáveis pela fotossíntese), também é sabido que a matéria orgânica é responsável pelo
principal problema de poluição das águas, que é a redução na concentração de oxigénio
dissolvido. Isto ocorre como consequência da actividade respiratória das bactérias para a
estabilização da matéria orgânica.

Na Tabela 5 foram representadas as médias, os valores máximos e mínimos de cada


parâmetro utilizado, e o desvio padrão. Sendo divididos por cada leito de secagem de lamas
fecais, tendo como estacão do ano inverno, no período de 04 a 22 de Julho de 2019.
É possível observar que, de maneira geral, o pH não apresenta uma maior variação muito
significante com valores médios e desvio padrão tendendo a ser igual, como pode ser visto na
tabela 5.

Em relação à temperatura, este parâmetro apresentou pequenas variações ao longo do


estudo, aparentemente foi influenciado pela temperatura do ar, visto que sua variação não seguiu
um padrão como pôde ser observado na figura 26, 17 e 28. Não ouve uma diferença muito
significante na temperatura superficial da lama e na temperatura do ambiente com valores
médios se aproximando. Também esse comportamento foi observado na condutividade eléctrica,
em que os resultados obtidos se aproximam em ambos os leitos, assim sendo a variação não foi
muito diferente em ambos os leitos, como pode ser observado na tabela 5.
Apenas o parâmetro OD apresentou um comportamento diferente de todos os parâmetros,
valores de OD e desvio padrão. Este parâmetro se mostrou com grandes variações, variando de
19.50mg/L de leito 03 (três), 21.01mg/L de leito 04 (quatro) e 20.70mg/L para leito 4 (quatro
linha).
Tabela 8: Parâmetros físico-químicas em valores médios ± desvio padrão referente as colectas e
análises laboratoriais.

Variaveis estatisticas e codigo da amostra

Média Desvio Padrão Máximo Mínimo


Parâmetro

LS
04 LS4
LS0 LS04 LS0 lin LS0 LS0 linh LS0 LS0 LS04
3 LS4 llinha 3 LS4 ha 3 4 a 3 4 linha
± ±0.5 ±0.
pH 0.5 8 6
7.2 7.1 7.09 7.9 7.9 7.9 6.3 6.4 6.2

Temperatura
19. 20. 19.49 ±2. ±2.8 ±2. 25. 25. 25. 15. 16. 15.50
59 40 8 7 1 9 1 6 9 ºC
ºC ºC ºC ºC ºC

Condutivida 4.4 4.2 4.3


de Elétrica 2.9 2.9 2.9 ±0. ±0.6 ±0. 0 μS/ 6 1.9 2 2
7 8 μS/ cm μS/ μS/ μS/ μS/c
cm cm cm cm m
Oxigênio
Dissolvido
12. 13. 12 ±5. ±6.1 ±6. 19. 21. 20. 1.2 2.3 1.4
4 4 9 7 5 1 7 mg/ mg/ mg/L
mg/ mg/ mg/ L L
L L L

Fonte: autor (2019)

5.3.1. Evolução do processo de desidratação das lamas

O desempenho dos leitos de secagem de lamas pode ser avaliado através da determinação
da evolução dos valores de teor sólidos da camada de lamas no interior dos leitos, em função do
tempo decorrido desde o carregamento. Por outro lado, uma vez que uma das mais-valias da
desidratação de lamas é a redução do volume a transportar para destino final, a eficiência dos
leitos pode também ser avaliada pela diminuição da espessura da camada de lamas ao longo do
ciclo.

Nos gráficos da Figura 25 são apresentadas as evoluções dos valores de TS e espessura


da camada de lamas no interior dos leitos de secagem piloto 03, 04 e 04 linha no decorrer do
ciclo de desidratação de lamas, realizado entre 04 de Julho a 22 Julho de 2019. Os valores de
Teor sólidos no dia 0 (zero) correspondem aos valores das amostras de lamas retiradas do
digestor, no momento do carregamento dos leitos.
Evolução dos valores de TS e espessura da camada de lamas -LS03

Espessura da camada de lama (cm)


60% 40
55%
35
50%
45% 30
40%
Teor de sólidos (%)

25
35%
30% 20
25%
15
20%
15% 10
10%
5
5%
0% 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Tempo (dias)

Teor de solidos Espessura da camada de lamas

Figura 28: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo.

Evolução dos valores de TS e espessura da camada de lamas - LS04


60% 40

Espessura da camada de lama (cm)


55%
35
50%
Teor de sólidos (%)

45% 30
40%
25
35%
30% 20
25%
15
20%
15% 10
10%
5
5%
0% 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Tempo (dias)

Teor de solidos Espessura da camada de lama

Figura 29: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo.
Evolução dos valores de TS e espessura da camada de lamas - LS04
linha

Espessura da camada de lama (cm)


50% 50
45% 45
40% 40
Teor de sólidos (%)

35% 35
30% 30
25% 25
20% 20
15% 15
10% 10
5% 5
0% 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Tempo (dias)

Teor de solidos Espessura da camada de lama

Figura 30: Evolução dos valores de Teor sólidos e espessura da camada de lamas no interior dos
leitos de secagem piloto ao longo do ciclo.

Com as mesmas condições climáticas e o mesmo intervalo de tempo, as lamas dispostas


na camada com menor espessura inicial de 35cm, nos leitos três (3) e quatro (4), apresentam
maior valor de Teor de Sólidos final. As lamas depositadas, no leito três (3) e quatro (4), A
apresentam, neste ciclo, um valor final de TS superior em aproximadamente 53% para leito três
(03) e 54% para leito quatro linha (04) com uma diferença não muito significante de 1%.
Enquanto no leito quatro linha (04) obteve-se 46%, esta diferença dos valores finais de teor de
sólidos, possivelmente deve-se, à menor facilidade de evaporação da massa de água presente na
camada de lamas de maior espessura, uma vez que as moléculas de água serão mais facilmente
evaporadas quanto mais perto da superfície da camada de lamas se encontrem. Assim, para uma
maior espessura, mais moléculas terão maior dificuldade em evaporar, por se encontrarem a
maior distância dessa superfície. O mesmo foi encontrado por MELO (2006) que realizou, entre
os meses de Março e Junho, ensaios experimentais em leitos de secagem experimentais,
observou que nas caixas em que foram aplicadas menores espessuras, os valores de TS das lamas
estabilizaram num período mais curto.
Em Brasília, no Brasil, SOARES et al. (2001) realizaram ensaios de campo em leitos de
secagem à escala piloto, constituídos por vasos plásticos, perfurados na base, no interior dos
quais foi colocada uma manta geotêxtil. Os leitos foram colocados ao ar livre e, no interior de
cada vaso, foram colocadas camadas de lamas provenientes de reactores UASB, com 0,17 m de
espessura. Estas lamas apresentavam um valor de TS de cerca de 5% e foram mantidas nos leitos
até atingirem valores superiores a 90%, o que se verificou após um período de 15 dias.

No que diz respeito a evolução da espessura da camada de lamas, é evidente a atenuação


da sua diminuição ao longo do ciclo. É notório, que a espessura da camada do leito 03
apresentou uma redução, de cerca de 19%, entre o 1.º e o 2.º dia, e entre o 21.º e o 22.º
apresentou 1.2%, o leito 04 apresentou 21.6% entre o 1.º e o 2.º e entre o 21.º e o 22.º apresentou
1.6% e o leito 04 linha apresentou 22.7% entre o 1.º e o 2.º superando o encontrado nos leitos
com menor altura, e entre o 21.º e o 22.º apresentou 1.6% mesmo resultado encontrado no leito
03. Em ambos os leitos, verificou-se também a estabilização da espessura da camada de lamas a
partir do 16.º dia, não ocorrendo qualquer diminuição adicional entre este dia e o fim do ciclo de
desidratação das lamas.

Em Wollongong, na Austrália, GHARAIBEH et al. (2007), também foram realizados


ensaios de campo em leitos de secagem experimentais. Estes leitos foram equipados com uma
válvula de fundo, ligada a um contentor para armazenamento e medição de escorrências, e um
meio de enchimento composto por uma camada superior de areia e uma camada inferior de
cascalho. Ao longo de 6 meses foram realizados diversos ciclos de drenagem, com valores de
teor de sólidos inicial entre 1 e 3,5 %, e espessura da camada de lamas, entre 0,10 a 0,20 m
diferentemente desta pesquisa em que a espessura da camada de lama esta entre 0,35 a 45m
assim como para GHARAIBEH et al, Nesta pesquisa Foram, diariamente, retiradas amostras de
lamas para medição dos valores de teor de sólidos e recolhidas as escorrências para medição do
volume drenado. Os ciclos decorreram até valores de teor de sólidos nas lamas de
aproximadamente 50%.

A percentagem de massa líquida drenada foi diferente em ambos os leitos, apresentando


valor de 68% no leito 04, 57% no leito 03 e 44% no leito 04 linha relativamente à massa de água
total inicial presente nas lamas do primeiro dia. A diferença dos valores finais de TS, deve-se,
provavelmente, à menor facilidade de evaporação da massa de água presente na camada de lamas
de maior espessura, no leito 04 linha, uma vez que as moléculas de água serão mais facilmente
evaporadas quanto mais perto da superfície da camada de lamas se encontrem. Assim, para uma
maior espessura, mais moléculas terão maior dificuldade em evaporar, por se encontrarem a
maior distância dessa superfície. A isto acresce o efeito da camada seca e dura que se forma, na
superfície das lamas, a partir de uma certa fase do processo de desidratação, e que não só
dificulta a incidência dos raios solares nas moléculas situadas a profundidades superiores, no
interior da camada de lamas, como aumenta a resistência que as moléculas de água têm de
superar no seu movimento ascendente (LAMPREIA, 2019). Nos gráficos da Figura 32 apresenta-
se a evolução da massa líquida drenada acumulada em ambos leitos.

Massa de água drenada


200.0
Massa de água drenada (kg/L)

180.0
160.0
140.0
120.0
100.0
80.0
60.0
40.0
20.0
0.0
1 2 3 4 5 6
Tempo (dias)

Leito de secagem 03 Leito de secagem 04 linha Leito de secage 04

Figura 31: Massa de água drenada e acumulada ao longo do ciclo em ambos os leitos.

Nos gráficos da figura 32, é evidente a atenuação, ao longo do ciclo, da quantidade de


água drenada. Como pode ser observado, no leito de secagem 04, no primeiro dia a massa de
escorrências drenadas representa cerca de 68% da massa de água total inicialmente presente na
camada de lamas, ao passo que massa de líquida drenada no dia seguinte apenas apresenta 23%
desse valor inicial. Já o leito de secagem 03 dreno no primeiro dia 57% e no último dia 2% de
massa liquida. Enquanto o leito quatro linha apresenta menor massa de escorrência drenada no
primeiro dia com 44% e 19% no último dia. Essa diferença possivelmente foi ocasionada pelo
furo dos filtros que depois se estabilizaram.

Deve ainda referir-se, que a redução de volume associada à desidratação das lamas é
ainda superior à redução da espessura, uma vez que, na fase final do ciclo de secagem em que as
fissuras formadas atingem a camada de areia, é significativa a retracção horizontal das lamas,
formando torrões espaçados entre si, como pode ser visto na Figura 33, correspondente aos
últimos dias do ciclo.

a) b) c)

Figura 32:Torrões formados pela fissuração e retracção horizontal da camada de lamas. a)


LS03; b) LS04; c) LS04 linha

Fonte: autor (2019)


CAPITULO V- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Nas últimas décadas, a problemática da produção de lamas fecais tem vindo a agravar-se,
originando crescentes preocupações relacionadas com a sua gestão e destino final. O
desenvolvimento de sistemas de saneamento e tratamento, nos países em desenvolvimento,
esperado para os próximos anos, contribuirá, naturalmente, para o aumento da produção de lamas
e, consequentemente, desta problemática.

É, por isso, essencial, não só a procura de novas soluções como o estudo dos métodos já
existentes, definindo a sua aplicabilidade e os critérios de dimensionamento e avaliação de
desempenho dos mesmos, adoptando abordagens integradas dos sistemas de saneamento e
tratamento de águas residuais com vista a uma gestão adequada das lamas produzidas. É neste
contexto que surge a presente monografia, no âmbito da qual se pretende avaliar o desempenho
hidráulico e sanitário do processo de desidratação de lamas fecais urbanas em leitos de secagem.

Foram, para isso, instalados 9 leitos, onde oito (8) são leitos de secagem de lamas à
escala piloto e um leito é de evaporação. Entre 4 de Junho a 22 de Julho de 2019, foi realizado o
ciclo de desidratação de lamas, diferindo entre eles não só nas condições meteorológicas
registadas, mas também na espessura das camadas introduzidas no interior dos leitos e no valor
de teor de sólidos iniciais das lamas.

Ao longo do ciclo, foi determinada a evolução dos valores de teor de sólidos das lamas,
através de análises laboratoriais realizadas em amostras retiradas dos leitos. Foi ainda medida, no
decorrer de cada ciclo, a evolução da espessura da camada de lamas no interior dos leitos, como
vista à avaliação da redução de volume associada a este processo. Em laboratório foram
realizadas análises físico-químicas das amostras de lamas e das escorrências removidas dos
leitos. Mas antes da realização do ensaio com lamas fecais foram, realizou-se ensaio da
condutividade hidráulica saturada e porosidade.

Ressalta-se que os resultados apresentados nesta monografia estão relacionados


directamente com os dados meteorológicos do período experimental. O período dos ensaios
apresentou-se como inverno, o que proporcionou temperaturas mais baixas e longos períodos
com menos precipitação, favorecendo o estudo.
Os resultados obtidos com os ensaios hidráulicos em leitos de secagem mostram que a
condutividade hidráulica, encontrada para a camada ensaiada, varia entre 0.00632 e 0.00015 m/s,
o que condiz apenas um leito apresenta uma variação muito significante, como descrito
anteriormente que a condutividade hidráulica deve obedecer um comportamento uniforme.
Salientar que, os resultados não influenciaram negativamente nos resultados finais do trabalho.
Classificando qualitativamente os leitos, quanto a porosidade é eficiente, mostrando estar
preparado para receber a lama, quanto a variação, como era de se esperar não ouve muita
dispersão com (42.10 a 31.08%) ambos os leitos os leitos encontram-se nesse intervalo.

A avaliação físico-química da lama fecal mostrou que pH, temperatura, C.E, e OD se


mantiveram de forma regular nas análises. Os resultados de pH, temperatura, estão em
conformidade com a legislação que estabelece padrões de emissão de efluentes, os resultados da
condutividade eléctrica e oxigénio dissolvido foram interpretados com base em autores, pela
escassez de informações no boletim da república, atinente a este quesito e também estão em
conformidade dependendo da finalidade.

Para o estudo de desidratação da lama fecal pode-se afirmar que os objectivos desta
monografia foram atingidos. Ao passo que ambos os leitos de secagem apresentaram melhor
desempenho, isto é, maiores valores de teor de sólidos e consequente redução de volume, num
menor período de tempo, para as mesmas condições meteorológicas, as camadas de lamas com
menor espessura foram mais facilmente desidratáveis. Verificou-se ainda que a maior parte da
água livre presente nas lamas foi removida, por drenagem, nos primeiros dias do ciclo.

Foi ainda verificado que os valores de teor de sólidos obtidos experimentalmente se


assemelham aos obtidos por outros autores, em ensaios experimentais realizados em regiões de
clima temperado, sendo significativamente inferiores aos determinados em trabalhos de campo
decorridos em locais de clima quente e seco.

5.2. Recomendações

A partir dos resultados obtidos e discussões, para obter maiores conclusões recomenda-se:

 Medir a qualidade do drenado quanto a sólidos suspensos totais para lama;


 Caracterizar a lama quanto a quantidade de matéria orgânica e relacionar com o
desempenho na secagem.

 Providenciar uma cobertura com maiores dimensões e, preferencialmente de material


com maior absorção de calor, como zinco, com o intuito de proteger o processo de
desidratação da água pluvial, bem como, potencializar o aquecimento que acelerará a
desidratação.
 Realizar análises microbiológicas da lama (antes e após a secagem) assim como da
escorrência.
 Realizar ensaio da condutividade hidráulica com um medidor de vazão.
 Utilizar um objecto de forma oblíqua ao jacto de descarga para reduzir o impacto sobre a
camada filtrante.
 Realizar o mesmo estudo em épocas secas e chuvosas.
 De modo a facilitar a operação de remoção das lamas, aconselha-se o uso de tijoleiras
entre a camada de lamas e camada superior de área.
CAPITULO VI: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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tratamento e disposição final. Belo Horizonte: UFMG. 2001.
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APENDICE A

Figura A 1- Limpeza da área, construção das bases e tanques assentes.

Figura A 2- Etapas do procedimento de análise de PH e temperatura das lamas no Laboratório


de Água da Faculdade de Engenharia Ambiental e dos Recursos Naturais.

Figura A 3: Etapas do procedimento de análise da condutividade eléctrica das lamas no


Laboratório de água da Faculdade de Engenharia Ambiental e dos Recursos Naturais.
Figura A 4- Etapas do procedimento de análise de oxigénio dissolvido das lamas no Laboratório
de Água da Faculdade de Engenharia ambiental e dos Recursos Naturais com uso de oxímetro.

a) b)

Figura A 5: a) colecta de amostra; b) Redução da camada de lama após um dia.

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