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Autor: Fulgencio Gama


Tete
fulgenciogama@gmail.com

índice
1. Introdução................................................................................................................................................2
1.1. Objectivos............................................................................................................................................3
1.1.1. Geral.................................................................................................................................................3
1.1.2. Específicos.........................................................................................................................................3
1.2. Aspectos Metodológicos..................................................................................................................3
2. Dança Nyau.........................................................................................................................................3
2.1. Origens do Nyau – Gule Wamkulu...................................................................................................3
2.2. Regiões praticantes da Dança Nyau......................................................................................................4
2.2.1. O carácter multiface do Nyau............................................................................................................5
2.2.2. O Nyau como rito de iniciação/passagem..........................................................................................5
2.3. Diferenças e semelhanças entre Gule Wamkulu de Chiúta e Angónia..................................................7
2.4. O Nyau como expressão artística..........................................................................................................7
2.4.1. Indumentária do Nyau.......................................................................................................................7
2.4.2. Instrumentos do Nyau......................................................................................................................10
2.4.3. As canções do Nyau........................................................................................................................11
2.5. Nyau – Gule Wamkulu: ameaças e desafios.......................................................................................11
3. Conclusão..............................................................................................................................................13
Bibliografia................................................................................................................................................14

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1. Introdução
O presente trabalho, traz consigo o enfoque sobre a Dança Nyau “Gule Wamkule” que por
sua vez esta é uma das demais populares e apreciadas danças da região do norte da Província
de Tete, que atrai molduras humanas pelo espetáculo que proporciona e pelo seu elevado
valor técnico e artístico-cultural. A dança Nyau é praticada ao norte da província de Tete
concretamente pelo povo Chewa. Dizer também que a dança é praticada pelos países que
fazem fronteira com a província de Tete, que é no caso da Zâmbia, Malawi e Zimbabwe e na
zona norte de Moçambique no vizinho Tanzânia que faz fronteira com a província de Niassa.

Os termos Nyau e Gule Wamkulu são usados comumente para designar a dança, os
dançarinos, a sociedade, o culto e algumas figuras zoomórficas, tais como o ng’ombe (boi),
njovu (elefante) ou chilembwe (antilope). O indivíduo mascarado é, também designado
chirombo ou dzwirombo, o que quer dizer animal, pelo facto de imitar os movimentos
características do mesmo. Ao densorolar do trabalho também estão detalhados os principais
instrumentos usados na dança e por fim está aquilo que constitui as ameaças e os desafios da
dança Nyau

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral
 Compreender a manifestação sócio-cultural da Dança Nyau

1.1.2. Específicos
 Explicar a origem da Dança Nyau
 Identificar as principais regiões praticantes da dança Nyau
 Descrever o carácter multiface do Nyau
 Descrever as diferenças e semelhanças entre Gule wamkulu de Chiúta e Angónia
 Reflectir sobre as ameaças e os desafios da Dança Nyau.

1.2. Aspectos Metodológicos

Para dar resposta a esses objectivos traçados, a posterior a elaboração deste artigo, utilizou-se
as seguintes metodologias: consulta bibliográfica, consiste em recolha de dados em algumas
obras, internet, que por sua vez, consiste em pesquisar as teses em destaque nos motores de
pesquisa e por último, a introspecção, que é uma auto-reflexão.

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2. Dança Nyau
2.1. Origens do Nyau – Gule Wamkulu
Na língua ciChewa, o termo Gule Wamkulusignifica “Grande Dança”. De facto, o Nyau é
uma das demais populares e apreciadas danças da região do norte da Província de Tete, que
atrai molduras humanas pelo espetáculo que proporciona e pelo seu elevado valor técnico e
artístico-cultural. Enquanto o termo Nyau é comumente usado para se referir ao dançarino
que, na Zâmbia e Malawi, é tratado por Gule.

As origens do Nyau são explicadas, essencialmente, a partir de três versões, nomeadamente, a


exibição do poder político, a fome e as brincadeiras infantis.

˝A sua origem é associada à formação do Estado Undi, por volta do século XVII altura em que se
supõe ter sido adoptado como uma forma de manifestação do seu poderio perante os povos
conquistados. Do ponto de vista lendário, as fontes orais continuam a relacionar esta origem aos Undi,
que supostamente, “do Malawi teriam vindo ensinar esta dança aos moçambicanos”. (GABINETE DE

ORGANIZAÇÃO DO 1º FESTIVAL DE DANÇA POPULAR, 1978).

No que tange à associação entre as origens do Nyau e a fome, refira-se que esta explicava
várias crises sociais, pois, provoca a instabilidade e, consequentemente repercute-se,
negativamente, sobre a ordem social. Este factor terá pesado bastante para a génese do Nyau,
uma vez que escassez de alimentos terá afectado a harmonia social entre as mulheres e os
homens, a ponto de estes últimos terem enveredado por práticas ardilosas, como se na lenda
Kaphirintiwa, ameaçando as mulheres, em busca de alimentos. Assim o Nyau surge como um
mecanismo de gestão de conflitos sociais tendo-se posteriormente, transformando em
manifestação cultural comunitária.

A este respeito Schoffeleers (1968) apud Canivete (s/d). Reproduzindo a tradição oral, refere
o seguinte:

˝…as mulheres escondiam comida para si mesmas e mandavam os homens para o mato em busca de
sua própria sobrevivência e, em retaliação, os homens no mato mascaravam-se e voltavam para a
povoação, disfarçadamente e amedrontavam as mulheres para lhes roubar a comida das panelas. E
numa outra altura, os homens voltavam para a povoação e no ligar de lhes ameaçar, optavam por
dançar para elas, que por sua vez acabavam oferecendo comida e moedas, para que estes as deixassem
em paz”.

“No que diz respeito à versão sobre as brincadeiras infantis, sustenta-se que o Nyau teria sido
criado antes de 1500 d.C. por pastores de gado bovino e caprino, que durante a pastorícia
construíram figuras denominadas nyama com materiais tais como paus, bambu e capim,

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imitando os seus animais. Esta brincadeira de crianças acabou atraindo a atenção dos adultos,
os quais incorporaram estas práticas nas suas tradições”.(UNESCO, 2005, p.27).

Os termos Nyau e Gule Wamkulu são usados comumente para designar a dança, os
dançarinos, a sociedade, o culto e algumas figuras zoomórficas, tais como o ng”ombe (boi),
njovu (elefante) ou chilembwe (antilope). O indivíduo mascarado é, também designado
chirombo ou dzwirombo, o que quer dizer animal, pelo facto de imitar os movimentos
características do mesmo.

2.2. Regiões praticantes da Dança Nyau


Em Moçambique, o Nyau é executado na província de Tete onde tem forte influência nos
Distritos de Angónia, Macanga, Tsangano, Chifunde, Zumbo, Maravia, Chiuta, e partes de
Moatize (Zobue). Há referências de que também é praticado nas províncias da Zambézia
(Distrito de Milange, levado a esta parte por alguns indivíduos Chewa nas suas migrações à
procura de melhores condições de vida), Niassa (Distrito de Mecanhela, Mandimba e Lago) e
Nampula (Distrito de Erati) é igualmente praticado na província de Maputo, distrito de
Boane, trazido para esta região por cidadãos oriundos sobre tudo da província de Tete.

Há ainda menção de ser praticado em algumas regiões do Norte de Zimbabwe, Tanzânia (na
região sudoeste, junto ao Lago Niassa, em Songea) e na RepúblicaDemocrática do Congo
(em algumas comunidades da região sudeste).

2.2.1. O carácter multiface do Nyau


A dimensão do Nyau é expressa de duas maneiras evidentes: o carácter ritualístico, que se
traduz na realização de um conjunto de práticas simbólicas rígidas, entre elas os ritos de
iniciação e ritos fúnebres (o maliro e m’bona) e a dimensão artística, manifestada por meio da
indumentária e fabrico dos instrumentos, a música e a dança. Estas duas dimensões
características do povo Chewa afiguram-se relevantes para a compreensão das suas práticas.

2.2.2. O Nyau como rito de iniciação/passagem


Para Dava (1998) apud Durkheim, “rito designa regras de comportamento ou modos de acção
determinados. Para outros autores, rito é um tipo de cerimônia em que, a maneira de agir, às
regras, formulas, os gestos e os símbolos usados, são virtudes ou poderes, susceptíveis de
produzir determinados efeitos ou resultados”.

Com efeito, o Nyau, enquanto rito de iniciação, reveste-se de características peculiares,


assumindo relevância na educação dos jovens e na preservação dos valores sócios-culturais

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da comunidade. A sua pratica compreendevárias fases, dentre as quais se destacam: 1) a


candidatura, 2) as provas de resistência e sacrifício, 3(a aprendizagem dos preceitos da
irmandadesecreta e da comunidade (instrução), 4) a integração na irmandade (membro de
pleno direito).

A candidatura de um indivíduo na sociedade secreta do Nyau incorpora características de


uma iniciação de adolescência a vida adulta, sendo voluntaria e limitada a indivíduos do sexo
masculino. O processo deste ritual começa com sinais fisiológicas da puberdade, entre os 8 e
os 12 anos de idade, tais como, a tonalidade da voz, o aparecimento de barba e dos pelos
púbis. Uma vez na posse destas indicações, os pais do adolescente socorrem-se de um
padrinho (Phungo), para a entrada do seu filho nos ritos de iniciação.

Logo que aceite, o adolescente ganha a categoria de iniciado (namwali), porem, à saída, passa
a usar outro nome, que lhe confere o estado de adulto. Cabe ao phungo prestar informação ao
mwini mzinda, também conhecido por mkulu ku dambwe, o responsável do local secreto onde
se realiza a iniciação (dambwe), a respeito do iniciado.

Asprovas deresistência e sacrifício constituem o momento de testagem da coragem e aptidão


do iniciado de modo a transitar para as etapas posteriores. Para o efeito, o namwali é
conduzido da sua aldeia ao dambwe de olhos vendados, pelo respectivo phungo.

Acredita-se que a venda nos olhos expressa a morte não só destes órgãos vitais estratégicos,
mas igualmente, da personalidade de criança, significando o renascimento do adolescente
num outro contexto sagrado, carregando de simbolismos, aspecto que explica, grosso modo, o
caráter secreto da sua nova vida.

Sequencialmente, o namwali é deixado sozinho numa mata, durante uma semana ou mais, e
quando menos espera, é surpreendido por alguns jovens, já iniciados, com gritarias e
zombarias, bem como agressões físicas. Esta fase, inclui, igualmente, a ginástica acrobática,
como o trepar postes e a locomoção em fios suspensos, presos em estacas, e ainda, o domínio
de cobras venenosas e jiboias. Com estas acções, espera-se que o iniciado se mostre capaz de
se comportar como um adulto sem medo e que consiga ser o provedor da tranquilidade de seu
futuro lar, pai corajoso, que possa defender a sua família de qualquer perigo.

A fase da aprendizagem dos preceitos da irmandade secreta e da sua comunidade consiste na


aquisição de vários ensinamentos edificantes de uma nova personalidade. Cabe ao phungo,
transmitir ao iniciado as normas de conduta social vigentes na comunidade, a ética, as regras

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e os tabus ligados a cerimonia de fúnebres e a vida sexual, a importância da conservação dos


recurso natural comunitário, a jurisprudência e a resolução de conflitos. Recebem,
igualmente, conhecimentos sobre a religião, os mitos, a música e a dança tradicional.

Aprendem ainda os procedimentos e habilidades para a construção de casas, fabrico de


enxadas e esteiras, de modo que, depois de casados, se sintam capazes de enfrentar as
dificuldades que possam surgir no sustento das suas famílias. A instrução, que pode durar
meses, comporta outros ensinamentos uteis relativos a caça, a actividades artesanais e
proibições ritualísticas (abstinência de certos alimentos).

A integração na irmandade do Nyau ocorre após a administração dessa série de ensinamentos,


a partir da qual o iniciado passa a ser Gule, membro de pleno direito da irmandade. Para o
efeito, os respectivos pais têm a obrigação de fazer uma contribuição que fica sob gestão do
mwini mzinda. De um modo geral, as contribuições servem para a alimentação dos membros
do Nyau reunidos no dambwe ou para serem divididas entre o mwini mzinda, o lumbwe e a
nankungwi. O namwali deve, após o termino da sua formação, angariar fundos na sua
comunidade para agradecer ao phungo pela paciência que teve durante a sua iniciação.

2.3. Diferenças e semelhanças entre Gule Wamkulu de Chiúta e Angónia


Uma das grandes diferenças entre Nyau de Chiúta e Angónia é acerca dos dias que o iniciado
(namwali) acaba enquanto está no dambwe.

“Em Chiúta no mínimo o namwali deve acabar uma semana, e antigamente este tinha a
obrigação de acabar dois meses para receber todas instruções e testagem”.

“Em Angónia, no caso de um adulto só pode acabar dois a três dias e para adolescentes (10 a
16 anos) podem acabar aproximadamente a 5 dias”.

A outra diferença tem a ver com a forma de entrar para ser o integrante de Nyau. Em chiuta,
para entrar, em primeiro deve-se procurar um padrinho (phungo) para te apresentar aos
anciãos e esperar o dia da sua aprovação, enquanto que em Angónia o iniciado so pode falar
(em caso de ser adolescente) comos pais, e estes por sua vez falam com os anciãos. Ja levado
ao dambwe os anciãos é que procuram padrinho para o iniciado para estar a lhe dar
instruções. Uma das semelhanças é o facto de namwali ser conduzido da sua aldeia ao
dambwe de olhos vendados, as diferentes formas de mascaras tem o mesmo significado.

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2.4. O Nyau como expressão artística


Conforme Fesu & Oliveira (1979, p57-60) “O Nyau como expressão artística, comporta
dimensões desenvolvidas ao nível da 1) indumentária, 2) fabrico dos instrumentos, 3) música
e dança. Estas dimensões, reflectem a forma como o povo Chewa expressa as suas emoções,
história e cultura, socorrendo-se dos seus valores estéticos em termos de beleza, harmonia e
equilíbrio”.

2.4.1.Indumentária do Nyau
A maioria dos materiais usados para a confecção da indumentária é encontrada localmente,
em espaços públicos, porém, a sua recolha é feita por iniciado, sem despertar suspeitas,
quanto a sua rgem e finalidade. Na confecção das máscaras do Nyau resultam três tipos, a
saber: kapoli (máscara de plumagem), kampini (máscara de madeira) e dzwirombo (figuras
zoomorficas). A função da máscara, em primeiro lugar é de identificar os membros da
sociedade secreta e esconder o rosto do mascarado para preserverar a sua identidade. As
máscaras kapoli são das mais representativas do Nyau, pois os iniciados tomam contacto elas,
durante os ritos de iniciação. Fig.1 exemplo de um Nyau Kapoli,

Os kampini possuem variadíssimas dimensões e formatos, representando figuras humanas, de


animais e, supostamente, de espíritos. Podem igualmente variar em função de cor, que indica
a passividade e agressividade da figura que se pretende representar. Por exemplo, a cor
branca, representa o renascimento, a mutação de um ser, e sendo, por isso, asa mascaras
consideradas pacificas. Por sua vez, as máscaras da cor preta, são consideradas as mais
perigosas, por serem conotadas com a maldição, a feitiçaria e o anti-social, o vermelho é
polivalente, pois representa o sangue, o fogo, o sol (calor) mas também a reintegração de um
ser marginal, a fecundidade e o poder. O vermelho mais escuro representa as forças
agressivas e o sangue impuro. Fig.2 Nyau Kampini

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Existem vários tipos de mascaras kampini entre eles, a chadzumba, chimbano, chabwera
kumanda entre outras. A máscara chadzumba representa um idoso. Os dzwirombo
representam não só figuras de animais selvagens conhecidos da fauna local, como,
igualmente, animais imaginários, fruto do grande poder criativo dos artesoes.

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Fig.3 Variedade de Kampini- Gule Wamkulu de Chiúta numa cerimônia de M’bona,

2.4.2. Instrumentos do Nyau


Dentre os principais instrumentos exibidos no Nyau, figuram tambores (ng'oma), tais como o
mjidiko, o kamkumbe, o mpanje, o gunda, o mbalule, eo ndewele. Estes são classificados de
acordo com o som que produzem e a função que desempenham na orquestra. Executados
exclusivamente por homens, os tambores variam de tamanho e sua denominação, de região
para região, assim como dos ritmos executados. Outro instrumento associado ao Nyau é o
silamba, chocalho de mão, que serve para orientar o dançarino, que tem pouco visibilidade
dentro da máscara ou figura zoomórfica.

O mjidiko é usado para dar o ritmo fundamental e fixar o tempo para a dança. Marca o início
da dança, antes de qualquer outro tambor ser introduzido. O seu nome provém da sua função
kujidika (fixar o passo). Igualmente é conhecido por mbitembite, mbandambanda, ou
gubaguba, expressões onomatopaicas que descrevem o som mjidiko.

O kamkumbe é o tambor de apoio de apoio ao mjidiko. O seu nome deriva da sua natureza
rítmica de revelar (kukumba). Este tambor tem um ritmo estático, sem qualquer variação. O
mpanje é o tambor que ajuda o ritmo básico da dança. O gumba é responsável por manter
uma batida fixa, necessária para o bom acompanhamento do mpanje, cujo ritmo muda ao
longo do desempenho. O mbalule é o tambor fundamental para acompanhar a atuação dos

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kapoli e kampini. O seu nome deriva da palavre ciChewa kuwalula (gritar bem alto, ou cantar
alto descontroladamente). O ndewele é o tambor do mestre. É usado para o acompanhamento
dos dzirombo dzikulu, a sua função é semelhante ao mbalule, tendo apenas a particulardadeo
facto de ser tocado mais lentamente, para acompanhar os movimentos também lentos dos
dziromba dzikulu.

Para a confecção dos tambores do Nyau usa-se, preferencialmente, a pele de antílopes por
possuir propriedades únicas, tais como consistência, durabilidade e boa sonoridade, capaz de
se projectar a grandes distancias. Actualmente, devido a escassez deste tipo de pele, a mais
usada na produção dos tambores é a de gado bovino. Esta traz implicações negativas por ser
de fraca durabilidade e não produzir um som genuíno.

2.4.3. As canções do Nyau


A canção é entendida como uma composição vertical para a voz humana, geralmente,
acompanhada por instrumentos musicais e possuindo uma letra. O Nyau, como expressão
artística, incorpora a canção tradicional, geralmente, ligada a um povo, numa determinada
região geográfica e num determinado contexto social. De facto, esta manifestação sócio-
cultural tem raízes num passado remoto e reflecte, para além das origens do povo Chewa. O
conteúdo das canções do Nyau revela diferentes aspectos da vida dos Chewa, tais como, a sua
história, cultura e mesmo o erotismo.

As canções do Nyau são executadas por um coro formado somente por mulheres iniciadas,
variando de dez a quinze, que durante a exibição se posicionam por detrás dos
instrumentistas. Geralmente, as letras são curtas e repetitivas, possuindo características
musicais bastante particulares em relação a estrutura melódica, harmônica e rítmica. As
canções podem ser de tristeza, de alegria e de humor.

2.5. Nyau – Gule Wamkulu: ameaças e desafios


A luz da convenção para a salvaguarda do patrimônio imaterial, adoptada pela UNESCO em
2003, com objetivo de proteger manifestações culturais em risco de desaparecimento, o Nyau
foi reconhecido, em Novembro de 2005, como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Intrangivel
da Humanidade. A elevação desta manifestação a categoria de patrimônio mundial trouxe
consigo a necessidade de elaboração de um Plano de Salvaguarda, do qual consta uma
avaliação das ameaças, desafios e perspectivas para a preservação do Nyau.

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As principais ameaças para o Nyau, prendem-se com a fraca adesão juvenil, o êxodo rural, o
fraco registo e documentação desta manifestação sócio-cultural, aspectos que se associam,
pela negativa, ao seu carácter secreto.

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3. Conclusão
Ao falar da dança Nyau, esta quanto as suas origens são explicadas, essencialmente, a partir
de três versões, é por isso não tem uma origem verdadeiramente absoluta. Foi reconhecida
pela UNESCO em Novembro de 2005, como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Intangível da
Humanidade. A elevação desta manifestação a categoria de patrimônio mundial trouxe
consigo a necessidade de elaboração de um Plano de Salvaguarda, do qual consta uma
avaliação das ameaças, desafios e perspectivas para a preservação do Nyau.

A Dança Nyau é de grande dimensão que é expressa de duas maneiras evidentes: o carácter
ritualístico, que se traduz na realização de um conjunto de práticas simbólicas rígidas, entre
elas os ritos de iniciação e ritos fúnebres (o maliro e m’bona) e a dimensão artística,
manifestada por meio da indumentária e fabrico dos instrumentos, a música e a dança. Estas
duas dimensões características do povo Chewa afiguram-se relevantes para a compreensão
das suas práticas.

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Bibliografia
1. DAVA, Fernando – dança Nyau, das origens aos nossos dias.In:Notícias 29 de gosto
de 2007
2. FESU, Anna; OLIVEIRA, Mendes - de Reflexão sobre teatro popular. O Nyau, do
rito ao teatro. In: revista Tempo, no 471, 1979, p57-60
3. Gabinete Central de Organizacao do 1º Festival Nacional de Dança Popular, 1978.
Maputo
4. UNESCO. Nyau cult candidature file: proclamation of Masterpieces of Oral and
Intangible Heritage. Malawi National Comission for UNESCO, 2005, disponivel em
https://issuu.com/arpaccentral/docs/nyau, Acesso:30/10/2018
5. Fontes Orais

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