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CULTURA

Dança tradicional: um sentimento africano


Estácio Camassete | Huambo
Jornalista

A dança tradicional é uma manifestação cultural popular, prática que os cidadãos utilizam em várias circunstâncias da vida, sendo que o povo da região do
Planalto Central manifesta vários sentimentos durante o acto.

04/10/2022 ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 10H07   

A dança tradicional como uma herança cultural deixada pelos antepassados deve ser preservada, por constituir uma grande riqueza imaterial © Fotografia por: Edições Novembro

A dança é um instrumento que ao ser exibido encontra múltiplos significados, uma vez que a mesma não serve simplesmente como divertimento, além de
uma animação, porque o povo bantu dança quando está feliz, para prestar uma acção de graças.

O historiador Festo Sa-palo revela, ao Jornal de Angola, que durante a exibição da dança tradicional, os gestos, o chinguilamento e todos os sinais exibidos
pelos dançarinos servem para a conexão com um ser supremo e poderoso, que é o Suku (Deus). Por isso, adiantou, no contexto tradicional este estilo de
dança manifesta muita mensagem e aplica-se muita espiritualidade, pois "são movimentos carregados de sentimentos que nos ligam em comunicação com
os nossos ancestrais”.
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"As nossas mamãs quando estão felizes apresentam um canto acompanhado por uma dança viva e de forma livre, mas quando estão tristes, dançam
chorando, levando uma cadência de profunda reflexão e ao mesmo tempo contagia com a sua nostalgia os presentes, mas tudo acontece naturalmente,
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entoando canções que as levam a viajar em muitas memórias em torno do problema do momento”, disse.

A dança tradicional na sua exibição, anda de mãos dadas com a música folclórica, que traz lições de vida, transmite sabedoria de como os mais jovens
devem respeitar os hábitos e costumes da sua comunidade e como devem sustentar e cuidar das suas famílias, bem como desenvolver as suas actividades
ligadas à pesca, caça e cultivo, pressuposto fundamental para garantir a economia do seu agregado.

Há vários tipos de danças tradicionais na cultura umbundu, mas o destaque recai para o olundongo, okatita, otchisosi, elisemba e ovidjomba, tendo cada uma
delas o seu momento e importância.

O olundongo é considerada uma dança dos nobres, não era para qualquer um, tinha acesso ao palco daquele estilo tradicional quem pudesse exibir um poder
económico forte, por causa do famoso toque do chifre de boi, ou seja, no meio do palco é colocado um chifre do animal abatido na cerimónia e só podia
pegar naquele resto de animal, quem tivesse um curral constituído por vários bois, já que na altura era considerado rico quem tivesse várias cabeças de
gado.

A obrigação de dançar olundongo era para quem tivesse riqueza. Esta medida servia de incentivo para aquelas pessoas que tinham poucas possibilidades
económicas, uma forma de os incentivar a trabalhar cada vez mais, para que um dia pudessem, através do seu esforço, alcançar sucessos na vida e
concretizar o sonho de um dia dançar também com o chifre.

A dança olundongo é exibida nas grandes cerimónias das ombalas em diferentes reinos do Huambo, principalmente quando é empossado um novo rei ou
quando o soberano recebe uma visita de honra.

Segundo o historiador Festo Sapalo, antigamente esta dança, para além de ser exibida por gente de camada alta, era inadmissível a participação de
mulheres, como se regista actualmente, sendo que o papel das mesmas era simplesmente na entoação das canções e bater palmas, sem se atreverem a
rodopiar.

Nestas cerimónias, a dança é comandada pelo som de vários instrumentos, com destaque para o batuque, como o principal instrumento musical que se usa,
apesar de existirem outros como a mussa, ombumbumba, otchingunfu, olumbendo, epuita, hedjengo e olosangu que tornam mais rico o ritmo da festa
tradicional.

Significado do estilo no meio rural

Este estilo de dança carrega inúmeros significados na vida das pessoas e nas suas comunidades, uma vez que antigamente os caçadores e pescadores,
antes de partir para uma actividade que os privava vários dias numa mata com cobras venenosas, leões e outros animais ferozes, invocavam os deuses,
dançavam, comiam e bebiam para que a empreitada fosse um sucesso.

Enchiam-se, igualmente, de espíritos de protecção, através de raízes e folhas medicinais, para que durante a actividade nada de mal os pudesse acontecer e
livrar-se destes animais. No fim da odisseia entoavam cantos e danças de alegria, agradecendo pelo êxito da caça.

A dança tradicional era usada também nas comunidades camponesas, quando se preparavam para a sementeira, no início de cada época agrícola, no sentido
de pedir aos seus deuses, "olosuku”, maior bênção durante a actividade de campo, isto é, na cedência das chuvas na medida certa e fertilidade dos solos,
bem como aproveitar a ocasião para benzer as sementes e depois das colheitas, as pessoas vão render a acção de graças pelo sucesso da colheita.

Esta dança deve ser exibida nos principais eventos da sociedade, porque carrega muita responsabilidade e conhecimento, são movimentos cadenciados que
sem palavras ajudam a educar a juventude da comunidade, em transmitir a vivência dos ancestrais.

Festo Sapalo mostrou uma grande preocupação pelo facto de muitos destes estilos de dança estarão a entrar em desuso e dentro de mais alguns anos,
correm o risco de desaparecer. "Quando isso acontecer será a cultura nacional que vai perder um membro da sua galeria”, afirmou o historiador.

"Nota-se claramente que as novas gerações não têm grande interesse de recuperar os traços culturais em vias de desaparecimento, prática que até hoje se
regista em algumas comunidades rurais, porque cada dia que passa, algum elemento tradicional entra em esquecimento e muitos pensam que praticar estas
actividades seja motivo de atraso”.

Defender ser necessário educar a população a resgatar esses valores tradicionais, porque se assim não for feito, corre-se o risco de perder esta riqueza
cultural e depois não haverá a quem cobrar este vazio, já que ninguém poderá saber resgatar este elemento em vias de esquecimento.

A dança tradicional por ser uma herança cultural deixada pelos antepassados, deve ser preservada para que milhares de gerações possam contribuir para o
engrandecimento da mesma, por constituir uma grande riqueza imaterial que está a resistir por milhares de anos.

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