Você está na página 1de 20

SAMBA DE COCO CANCÃO PIOU

PESQUEIRA/PE

A manifestação cultural denominada Samba de Coco Cancão Piou é um


grupo se relaciona com o tempo e espaço no qual estão inseridos, de forma
afirmativa e potente, na afirmação da identidade cultural de toda uma
comunidade. No que tange as características étnicas presentes no Samba de
Coco Cancão Piou, uma vez que o mesmo é composto por indígenas
desaldeiados e negros descendentes, dos que para cá foram trazidos como
escravos, após o início do processo de colonização européia implementado
nessas terras.

De chapéu sem óculos o antigo Mestre Manoel Doutor - Fotos anos 70

O Samba de Coco Cancão Piou tem suas raízes no território indígena


Xukuru do Ororubá, onde surge da comunhão entre negros e indígenas que
após determinadas circunstancias históricas passam a ocupar o território
urbano da cidade de Pesqueira fruto do processo de industrialização que aqui
foi implementado durante o final do século dezenove e início do século vinte.
Apesar de tantas dificuldades impostas pela desvalorização da cultura
popular, ainda assim eles mantém esse cultura viva, pois é evidente o quanto
este samba de coco é algo que merece continuar atravessando gerações, visto
o tamanho do carinho com a qual o grupo é tratado pelos que habitam a
comunidade onde residem seus membros.

Atual Mestre do Grupo, Mestre Luiz Timoteo

Observa-se necessário de reconhecimento e manutenção de uma auto-


economia do simbólico no que diz respeito ao conteúdo cultural resguardado
por tal manifestação, uma vez que a mesma é o meio pelo qual se perpetuam
uma vastidão de saberes que remontam toda uma estrutura organizacional no
campo do saber criativo de determinado povo/comunidade.
O Samba de Coco Cacão Piou surgiu em Pesqueira/PE, na antes
denominada Aldeia Ararobá, onde hoje encontra-se localizada a reserve
indígena do Povo Xukuru do Ororubá, suas origens remontam a historia de três
familias especificas, sendo elas ''Os Muniz de Almeida''; ''Os Crispim dos
Santos'' e ''Os Santanas'' que seriam negros escravizados pelo Barão de
Gravata trazidos do Cais do Porto para Pesqueira.

Onde foram submetidos ao regime escravocrata que vigorava na época


trabalhando gratuitamente em suas fazendas localizadas nesta localidade, fator
que não impediu que os mesmos continuassem suas crendices particulares,
tais como seus cantos; religiosidade; ritos e danças, apesar das perseguições e
descriminações por eles sofridas.

Não se sabe precisar a data exata de criação do Samba do Samba de


coco que ganhou o nome de Cancão Piou, o que se sabe é que uma
manifestação cultural riquíssima de ritmo, memória e saber popular. Através de
relatos orais sabe-se que o referido samba de coco é trazido para o contexto
urbano por Joana Preta; Sebastiana Viuva; Natália; Antonio Crispim; e Antonio
de Cecilia mais especificamente na Rua Peroba, hoje denominada Rua João
Camilo Valença, os mesmos também levavam o folguedo/brincadeira para a
Rua dos Flandres, hoje Rua da Farroupilha na cada de dona Maria Pretinha.
Era brincadeira para passar o tempo, ''farriar'' recordar e matar as
saudades nas noites de lua cheia e principalmente nas noites que antecediam
o São João, eram noites regadas a amizade; muita comida; bebida e coco de
improviso. Em 1930 na Rua Tenente Rabelo no Bairro do Prado passaram a
fazer parte da brincadeira Maria izabel dos Santos (Dona Bela); Zefinha; Bahia;
os Irmãos José; Lucilio (pandeirista) e Mané doutor; Biu irmão de Luiz timoteo e
tantos outros, todos residente daquela localidade, sua maioria de origem negra
ou indígena. Manoel Doutor aparece nesse momento como a figura principal do
folguedo uma vez que o mesmo era grande cantador do coco de improviso.

Em determinado momento Manoel Doutor vai para São Paulo e só retorna


em 1962 e encontra o grupo dançando coco, motivo de grande emoção por
parte do afamado mestre, conta a historia que um dos seus coquistas chamado
Bita chegou ao Samba de Coco meio ''ramado'' embriagado com os dedos dos
pés feridos encontou todos animados dançando e entoando loas e gritou: -
Eita!! É hoje que o cancão pia!! entrou na roda cantando e sapateando e todos
responderam: - Já cantou ou vai piá! A partir dai o samba de coco do bairro do
prado passou a chamar-se Cancão Piou, que apresentava-se em festas de
cunho pagão ou religioso que ocorriam na cidade de Pesqueira até a morte do
então mestre do coco Mané Doutor, fato que ocasionou uma pausa de 10 anos
nas manifestações do grupo.

CD DO GRUPO:
E só no ano de 2005 é que por iniciativa da fundação de cultura Zeferino
Galvão é que o coco é reavivado e os sambadores voltam a cantar e sambar
nos festejos do calendário festivo da cidade de Pesqueira, contando com cerca
de 31 membros. Hoje são 15 membros que se apresentam ao som de loas
acompanhadas de pandeiro; Ganza e reposta das coquistas vestidas com
lindos vestidos de chita onde tem como mestre o Sr Luiz Timoteo.

O Samba de Coco que figura como uma manifestação cultural


genuinamente Brasileira e se tratando do Samba de Coco Cancão Piou um
folguedo integralmente Pernambucano. Visto a importância de preservar
representações portadores da grandeza simbólica como a que advém do
samba de coco, se faz necessário atividades de pesquisa e divulgação dessa
forma de saber que perpassa tantas gerações.
O samba de coco é fruto de um processo histórico que criou as condições
necessárias para a relação dos povos indígenas e africanos, e trata-se do fruto
cultural dessas relações, sendo assim um patrimônio de relevante valor
sociocultural e histórico. Não foi diferente no caso de Pesqueira-PE com o
Samba de Coco Canção Piou, pois fruto dessa síntese surge essa
manifestação dotada de tanto encantamento e memória, por isso a
necessidade de ações que visem a valorização; pesquisa e continuidade de
manifestações, tal como o Samba de Coco Cancão Piou.

O que conhecemos como samba de coco é uma dentre tantas


manifestações populares que apesar de sua longa historia de luta e resistência
em prol da cultura de matriz afroindígena, ainda de carecem de incentivo e
ações que possibilitem a sua existência digna.
A uma lacuna no que diz respeito a preservação da cultura do samba de
coco, onde em muitas comunidades os últimos grupos já desaparecem do viver
cotidiano da pessoas, impossibilitando dessa forma a existência da cidadania
cultural, como vem ocorrendo em Pesqueira, dessa forma nada melhor e mais
justo para as pessoas que elas tenham o direito de acessar sua ancestralidade,
através da vivência dos costumes de seus antepassados se assim o quiserem.

Preservar a memória é circunstância crucial no desenvolver de qualquer


sociedade, sendo a cultura o meio primordial por onde os povos se relacionam
mutuamente, e o Samba de Coco Cancão piou é um desses meios, que
possibilitam a existência de uma consciência local e histórica, onde o samba
orienta e encanta seus espectadores e protagonistas, através de uma
apresentação afetuosa; cheia de ritmos; memórias; cantos e saberes
populares.
Com o decorrer do tempo, caso não hajam ações de registro e
valorização desses saberes, a tendência que é sucumbam diante das
''inovações'' impostas pela cultura de massa, desse modo ocorrendo a perca da
identidade por parte de toda uma comunidade, esvaziando-se determinada
região do sentido de pertencimento a uma determinada cultura, como é o
Samba de Coco, dito isso nada mais razoável e necessário que façamos um
trabalho em áudio visual de cunho documental com o fim de resguardar e dar
visibilidade os saberes desses mestres que encontram-se já bastante idosos.
Apresentação do Samba de Coco Cancão Piou:

https://www.youtube.com/watch?v=fX6h66gtFmA&ab_channel=GezenildoJacint
o

Entrevista pelo Samba de Coco Cancão Piou para o jornalista Chico


Fuxico:

https://www.facebook.com/watch/?v=664866127522800

Apresentação durante Sambada de coco em Pesqueira/PE

https://www.facebook.com/diosman.avelino/videos/1206460676170586

Apresentação do grupo no 11° FESTIVAL LULA CALIXTO EM ARCOVERDE

https://www.facebook.com/diosman.avelino/videos/1407466439403341

Fotografias do grupo

https://www.youtube.com/watch?v=4O0nZc-Pgws&ab_channel=GualberioSilva

Você também pode gostar