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Desapaga POA
O atual Viaduto da Borges de Medeiros, ou Viaduto Otávio Rocha, nome do Intendente da época de execução da obra planejada no Plano
de 1914. Foto: Acervo Museu José Joaquim Felizardo e Banco de Imagens do Programa Monumenta
A
pesquisa, os textos e a elaboração dos roteiros deste episódio sobre
a HISTÓRIA DO CARNAVAL DE PORTO ALEGRE foram de Carlos
Pedro Vargas. A equipe de locução contou com Clara Falcão, Leila Mattos,
Lucas Samuel e Carlos Raimundo Pereira. Os áudios e a trilha sonora têm
Olá pessoal, estamos iniciando o último episódio desta primeira série do canal
DESAPAGA POA.
Este projeto foi selecionado no edital Criação e Formação – Diversidade das Culturas,
Esta série teve 10 episódios que seguem disponíveis nos principais agregadores de
podcast, tendo sido transmitidos todos os sábados, desde o dia 1º de maio até este 1
Pereira e Orson Soares, com colaboração de Jane Mattos e Pedro Vargas. A locução
dos áudios é de Lucas Samuel, Clara Falcão, Leila Mattos e Carlos Raimundo Pereira. A
Neste episódio nal, vamos contar uma parte da história do carnaval de Porto Alegre,
desde as primeiras folias de rua com os entrudos, os blocos de corso, os cordões,
ranchos e marchinhas, chegando aos carnavais da elite nos salões dos clubes sociais,
des les das escolas de samba, que repetem em Porto Alegre o modelo do carnaval
carioca. Vamos também buscar as causas de uma parte da sociedade ter rejeitado a
PARTE 1
Orson Soares
popular até meados do século XIX, quando a folia de rua começou a sofrer tentativas
Nesse momento, o entrudo caiu em desuso, dando lugar aos disciplinados cordões,
a folia consistia em zombarias, em jogar recipientes cheios de água suja ou até mesmo
sobretudo popular com a participação dos escravizados nesse tipo de folia. As elites
uma sociedade de negros, a Sociedade Floresta Aurora, mas somente em 1885 ela
iniciaria sua participação nos des les de carnaval das sociedades de Porto Alegre. Já
no início do século XX, no ano de 1902, foi fundada outra sociedade que cou
igualmente marcada na memória da comunidade negra local: o Satélite Porto-
O surgimento das sociedades negras foi uma resposta à exclusão social, num contexto
de discriminação, e também a manifestação de um desejo de inclusão dessa
Além disso, constituíram lugares que marcaram o carnaval da cidade com seus bailes
Em oposição às festas da elite, os negros encontraram nas ruas o espaço para seu
Baixa – especi camente o Areal da Baronesa e a Colônia Africana, entre outros pontos
Nilo Feijó recorda quando o Carnaval entrou em uma nova fase. Um novo momento
Os cordões eram chamados assim por se parecerem com uma longa la, lembrando
uma procissão, em que pessoas fantasiadas de temas variados des lavam pelas ruas
durante o Carnaval.
Filhos do Sul, entre outros, guravam o cast da folia. E entre as guras mais
conhecidas estavam Jhonson, Caco Velho, João Pena, Nelson Lucena, Veridiano Farias,
Albino Rosa, Alberto Martiano, além do já mencionado Lupi, que se destacavam como
Havia os ranchos, que eram des les em forma de cortejos, praticados e in uenciados
pelas festividades da zona rural nordestina. Esse des le contava com a presença de
instrumentos de sopro e corda, um ritmo mais pausado que o samba, onde não se
usava instrumentos de percussão.
cordões.
AS TRIBOS CARNAVALESCAS
Paula Sperb, repórter do Jornal Folha de São Paulo, o doutor em Letras pela UFRGS,
nos informa como elas surgiram, pontuando as diferenças entre Tribos e Escolas de
indígena não como exótico, mas como parte de um todo. Esse todo
momento era paralisado para que fosse realizada uma encenação, o que normalmente
remetia à ideia de ritual indígena e não cantavam um samba, e sim um hino, que tinha
características poéticas e melódicas.
Nelson Lucena, pai de Joaquim, e seu irmão Joaquim Lucena Filho, foram os
fundadores da Escola da Samba que contou com ainda com a participação ativa de
família Lucena deixou a Loucos de Alegria e fundou a Gente do Morro. Foi o início da
emblemáticas como Giba Giba – foi a protagonista nas inovações nos des les da
Um samba com sotaque? Reza a lenda que Mestre Marçal, uma das guras mais
escolas deveria ter uma batida mais lenta, menos acelerada – como a
seu ritmo.”
Os des les das escolas de samba – antes da existência do Complexo Cultural do Porto
Seco, aconteciam em diversos espaços, entre o centro e a cidade baixa. Ao todo foram
12 lugares diferentes de des les, em 1949, o primeiro foi realizado na antiga Praça
Augusto de Carvalho, até o ano de 2003, tendo sido depois transferidos para o
Complexo Cultural Porto Seco. Com um tom de lamento, Joaquim Lucena Neto
Carnaval!
próprio, uma saudade imensa, nos faz perguntar. Carnaval, quando tu vais voltar?
PARTE 2
Em 1980, a Escola de Samba Sociedade Bene cente Cultural Bambas da Orgia des lou
liberdades poéticas permitiram aos autores Jajá e Júlio Alves, descrevem uma
transformação no carnaval da cidade, que saiu dos bairros e dos blocos e cordões e foi
para a avenida com suas escolas de samba, num processo que a historiadora Helena
A escola de samba Academia de Samba Praiana, em 1961, foi a primeira a des lar com
alas e muitos mais componentes, como no Rio de Janeiro, no que foi seguida pelas
demais em anos seguintes. Fez-se uma tendência e o evento começou a crescer,
consolidando-se, sendo sediado por 40 anos nas avenidas da região central da cidade.
Atualmente, os des les ocorrem no Porto Seco, no bairro Rubem Berta, na Zona
Norte, bem distante do local onde nasceu o carnaval, das cercanias do Centro e da
Cidade Baixa.
para a Praça do Paraíso, por volta de 1820; ou como a remoção das lavadeiras para o
riacho, impostas pelo primeiro código de posturas no início do século XX; ou como a
retirada dos moradores das proximidades da Ponte dos Açorianos para a construção
do Viaduto da Borges
Borges; ou como a transferência de grande parte dos habitantes da
Ilhota para a Restinga? O povo pobre e negro de Porto Alegre tem motivos para
Com certeza a mudança ocorrida não foi pací ca. A discussão foi ampla, envolvendo
construção de uma pista de eventos no Porto Seco, teve, como uma de suas
consequências, a periferização também dos des les das escolas de samba no carnaval
da cidade.
Porto Alegre nasceu e se formou entre as águas. É portuária no nome, cresceu capital
todas, uma organização social marcada pela desigualdade, uma desigualdade que se
consequências.
prefeitos e vereadores pelo voto direto. Porto Alegre – onde havia uma grande
Colares.
No Rio de Janeiro, nos anos 1980, com Leonel Brizola eleito governador, o governo do
Oscar Niemeyer. Uma grande estrutura que abarcaria além dos des les de escolas de
escolas de tempo integral. Não por acaso o nome o cial do sambódromo carioca é
Desde então, Porto Alegre passou a desejar algo semelhante, que além do Carnaval
pudesse abrigar os des les dos dias 7 e 20 de Setembro, e que fosse também um
centro cultural. Os des les na avenida Augusto de Carvalho, ao lado do Parque da
investimento público.
avenida Augusto de Carvalho foi sugerida como local para a estrutura. O otimismo dos
época, que aquele seria o último carnaval com as estruturas provisórias, não foi.
Ao longo do ano, cada vez mais justi cativas contrárias ao projeto foram sendo
Augusto de Carvalho era uma área de aterro, onde atualmente estão parques e
direcionadas aos dias de Momo, sem nenhum posicionamento contrário aos dias de
apresentação do primeiro projeto pelo executivo municipal, até 2004, ano do primeiro
Negava-se à festa mais negra da cidade o direito de ter um lugar onde ela havia
nascido, lugar que se transformara em área nobre da cidade, habitada por uma classe
média remediada, mas que se identi cava com valores elitistas e conservadores.
Entre 1997 e 98, na gestão do Prefeito Raul Pont, terceiro mandato consecutivo do
trocada pela Prefeitura para o bairro Menino Deus, próximo ao Parque Marinha do
Brasil e ao estádio Beira Rio. Justi cou-se a recorrente negativa pelas mesmas
Houve manifestações públicas dos dois lados, caminhada e apitaço em ruas e esquinas
eventos foi paralizado, e a CPI, inócua, de oportunismo eleitoreiro, cou também pelo
caminho.
consenso que antes não havia de que o carnaval deveria ter o seu templo na cidade, a
sem-teto do carnaval.
Dez regiões foram mapeadas, entre elas o Porto Seco, inicialmente descartado, assim
de lado. O Hipódromo do Cristal, a área da Viação Férrea, a Hípica, uma a uma, ou por
disputa eram na Zona Norte: nas proximidades das avenidas Voluntários da Pátria,
Assim, em conformidade com o que vinha acontecendo, comissão após comissão, ano
após ano, seguiu a pista de eventos de Porto Alegre o seu destino de impasse, até que,
sediar o carnaval da cidade: “se o Humaitá não quer, nós queremos!” Restinga e Porto
controversa escolha, viu-se então entre estas três opções: Humaitá – de onde vinha
votação. A preferência do executivo era pelo Porto Seco, a maior parte das entidades
Com seus 25 integrantes entre representantes dos poderes público federal, estadual e
discussões – partiu para a votação, resultando o pleito em 12 votos pelo Porto Seco, 7
parte daquela comunidade, disseram que se sentiram traídas com cinco votos que
militares, para que os des les fossem mantidos perto do centro, garantiram que
contra a decisão. A de nição teve uma única aprovação inconteste: a dos moradores
Além da resistência inicial dos empresários, houve ainda um outro problema para a
Prefeitura solucionar, que advinha das famílias que ocupavam o local de nido para
Os des les de 2002 e 2003 ainda foram nas instalações provisórias da Augusto de
provisórias, no Porto Seco, inaugurado sem que o projeto proposto tivesse sido
foi uma das principais realizações da gestão do ex-Prefeito João Verle, que substituiu
Tarso Genro, que deixara a Prefeitura em 2002 para disputar as eleições para o
Governo do Estado.
comenta este contexto de transferência do carnaval para o Porto Seco, mas valoriza a
resolvidos por cada uma das escolas em seu espaço de barracão, o grande acréscimo
às estruturas das escolas, algo há muito almejado, cuja necessidade de existência era
percebida pela população em geral sempre que um carro alegórico trancava o trânsito
ou que se exigia até remoção de uma parada de ônibus para que o carro passasse nos
carnaval – o carnaval o ano inteiro – e sua pro ssionalização, visando inclusive atrair
turistas para Porto Alegre. No estilo do carnaval carioca, com escolas de samba
des lando ala por ala numa avenida, o carnaval da capital gaúcha estava entre os
economia do carnaval com suas costureiras, gurinistas e seus diversos pro ssionais
parte do que era preparado num ano acabava perdido para o outro, da cola aos
adereços, e tudo tinha que ser novamente comprado para que o carnaval ocorresse.
econômico e social que traria um projeto urbanístico para a região até hoje ainda
pouco valorizada, ideias que caram pelo caminho com as mudanças de governo a
carioca que se espalhou pelo país, Porto Alegre transferiu o evento de escolas de
des les de carnaval, mas outra vez se colocou diante do dilema tantas vezes
repeitdos: o da periferização de tudo que é dos negros, caracterizando mais uma das
“Eu sou passado, eu sou presente, eu sou futuro, sou bem feliz por isso eu vivo a
cantar, batam palmas batam palmas, para me felicitar, hoje estou de aniversário e o
presidente da Imperadores do
vitoriosas e tradicionais do
comunidade e mobiliza
da cidade, com
Luana Costa, atual e primeira mulher
reconhecimento em todo o
presidente da Escola de Samba Imperadores.
Brasil.
Foto: Arquivo pessoal
esperança no carnaval de Porto Alegre, apesar de estarmos passando pelo pior momento
enfraquecer em 2017, quando houve um rompimento da relação com o poder público, que
esperança de diálogo porque o novo governo tem demonstrado uma postura um pouco
diferente. Mas infelizmente ainda não tivemos ações efetivas, talvez por conta da
pandemia da COVID-19.
O carnaval vive hoje exclusivamente da sua comunidade. Precisamos fazer eventos para
garantir arrecadação, gerando aglomeração de pessoas. Mas não podemos fazer isto em
função da pandemia. Então o que precisamos? Precisamos ter de volta o apoio do poder
durante o verão, momento em que as quadras das escolas de samba não param e os
barracões trabalham a todo vapor. Além disso, em Porto Alegre fazemos sim carnaval o
ano inteiro.
Hoje, as comunidades das escolas de samba, mais do que nunca, têm tido uma grande
atuação social. As quadras, hoje, têm sido espaços de ações sociais de arrecadação de
que a comunidade, apesar do mau momento, está dentro da escola atuando de alguma
forma.
sim, nós vamos superar este momento difícil. A união, o amor, o esforço de toda a
FECHAMENTO
Este foi o último episódio deste primeiro projeto do canal DESAPAGA POA.
Esta série teve 10 episódios que seguem disponíveis nos principais agregadores de
podcast, tendo sido transmitidos todos os sábados, desde o dia 1º de maio até este 1
Agradecemos a sua audiência e convidamos para que continuem seguindo nosso canal
Em breve estaremos aqui outra vez para mais série do canal DESAPAGA POA.
BIBLIOGRAFIA
https://www.youtube.com/watch?v=IQLtr0Hvzp8
Marchinhas anos 30
https://www.youtube.com/watch?v=3zRErmYP854
https://www.youtube.com/watch?v=MvUyeUP3Xr0
https://www.youtube.com/watch?v=Bs947GW I2I
https://www.youtube.com/watch?v=MZ1TGEXoGrM
https://www.youtube.com/watch?v=XCt_zwynIJE
https://www.youtube.com/watch?v=PMhzuJ70rYo
https://www.youtube.com/watch?v=8dIsBIEkyQA
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