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INTRODUÇÃO
Bilíngue bimodal
O sujeito surdo, usuário de Libras, como visto anteriormente, não nasce em lares
bilíngues, os mesmos nascem na sua maioria em famílias que aprenderão a Libras junto
com a criança surda, outras não aprenderam a Língua de Sinais, outras rejeitarão a Libras
e optarão por um método oralista de comunicação, onde a criança surda fará leitura
orofacial (leitura labial) para comunicar-se.
Nesse cenário diverso, deve-se considerar que a educação de surdos começou no
Brasil em 1857, com a criação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que
inicialmente foi chamado de Instituto Nacional de Surdos-Mudos. E, logo em 1880, o Brasil
participou do Congresso de Milão, onde se estabeleceu que a Língua de Sinais deveria
ser proibida e que o método oralista fosse adotado em diversos países, incluindo o Brasil.
O INES inicia, portanto, a proibição da Libras utilizando a oralização como meio de
comunicação. Sem êxito, por volta da década de 80, inicia o método de Comunicação
Total, que estabelece uma comunicação com diferentes meios, sendo uma mescla de
Libras com oralização, podendo usar de mímica e qualquer outro recurso comunicativo.
O método bilíngue começa a ser aplicado por volta do ano de 1986, surgindo a
filosofia bilíngue na década de 90, que concebe o uso de duas línguas no espaço escolar
para surdos, evidenciando a primeira língua, que é a língua de sinais (GOLDFELD, 1997).
O bilinguismo precisa ser discutido e tratado com muito cuidado, poderá ser a forma
de conceituá-lo que poderá fazer a diferença. Vejamos que para Swanwick (2000) existem
três modalidades de língua presentes nos estudos de bilinguismo: (1ª) a modalidade oral-
auditiva, que abrange as línguas orais; (2ª) a modalidade visual-gráfica, que compreende
ao registro da língua; e (3ª) a modalidade visuoespacial, que abarca às línguas de sinais.
Quando discorremos sobre bilinguismo, portanto, esse pode ser unimodal, quando se
utiliza uma modalidade de língua, ou bimodal, no qual um indivíduo utiliza línguas de
modalidades diferentes, sendo uma língua na modalidade oral-auditiva e a outra na
modalidade visuo espacial. Que, no caso de surdos, o normal é o bilinguismo bimodal, por
serem raras as situações em que o surdo estará em situação de bilinguismo unimodal
(utilizando duas Línguas de Sinais).
Fenômenos linguísticos
Existe o mito de que a Língua de Sinais é composta por mímica, gestos e que seria
universal. De fato, são mitos, já que a Língua de Sinais é uma língua que possui uma
gramática independente da língua de modalidade oral e cada país possui uma ou mais
Línguas de Sinais. No Brasil, temos a Língua Brasileira de Sinais – Libras, que é uma
língua urbana, usada nos grandes centros e nas cidades, e a Língua Urubu-Kappor, que
é utilizada por índios surdos em aldeias em alguns estados brasileiros.
A Libras possui algumas características peculiares, como por exemplo, poder falar
em Libras e Português Brasileiro ao mesmo tempo, já que outro bilíngue usuário de duas
línguas na modalidade oral-auditiva não conseguirá produzir as duas línguas
simultaneamente, visto que na oralidade os sons são produzidos em um mesmo espaço
articulatório. Da mesma forma, não é possível que um bilíngue utilize duas línguas de
sinais simultaneamente, pois as duas são da mesma modalidade, o que torna inviável
produzi-las ao mesmo tempo. Entretanto, é comum vermos situações em que um bilíngue
utiliza duas línguas de diferentes modalidades de forma alternada, podendo expressar-se
em uma língua na modalidade oral--auditiva ao mesmo tempo que registra sua produção
em uma modalidade visual-gráfica de outra língua.
Vemos que a produção da fala em língua oral e em língua de sinais (LS) realiza-
se de maneiras bem distintas. Nas LS, diferentemente das orais, a produção da
fala articula-se de maneira externa ao corpo do falante, as partes do corpo é que
se articulam e dão forma à língua. Nesse sentido, o falante torna-se fisicamente
visível na produção da fala. Além disso, tem-se na produção das LS dois
articuladores independentes e iguais – as mãos – as quais permitem uma
diversidade de combinações e construções simultâneas. Portanto, se nas línguas
orais, os articuladores da fala são internos, ficando, quase totalmente, ocultos, nas
línguas de sinais eles se destacam, sendo aparentes e explícitos. Assim, tanto a
produção, quanto a recepção se dão de formas distintas nessas duas modalidades
e isso tem implicações. (RODRIGUES, 2013, p. 129).
Ao final desta reflexão é importante termos claro que não basta traçar uma linha do
tempo sobre a história da língua de sinais para compreender a surdez e sua relação com
a língua de sinais. É necessário um exercício de compreensão do que é o sujeito bilíngue
bimodal.
Compreender a diferença de modalidades e as diferenças entre línguas nos
permitem refletir sobre a comunidade surda e como o sujeito surdo, em inúmeros
momentos e situações, é considerado um estrangeiro dentro do próprio país, já que,
mesmo sendo usuário do Português Brasileiro escrito, ele utiliza uma língua distinta da
nossa em território brasileiro.
Neste sentido cabe relembrar que o bilinguismo bimodal é quando temos um sujeito
que utiliza duas línguas de modalidades diferentes, no caso do surdo, Libras e Português
Brasileiro. Portanto, é essencial buscarmos compreender que as línguas são distintas e
independentes, já que o bilíngue pode ter mais habilidade ou conhecimento em uma língua
que em outra. Assim, o surdo nem sempre será proficiente da mesma forma nas duas
línguas, podendo ser mais em uma que em outra.
REFERÊNCIAS