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Apresentação
Após um período em que o método oralista foi, preferencialmente, escolhido para ditar a educação
de surdos, Willian Stokoe, nos anos de 1960, confere às Línguas de Sinais o status de línguas, ou
seja, há um reconhecimento de suas especificidades linguísticas. Muitos países, posteriormente à
essa data, iniciaram um movimento de oficialização das Línguas de Sinais em seus territórios. No
Brasil, essa oficialização, aconteceu somente em 2002.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará essa língua amplamente difundida no país,
principalmente na área educacional. É de suma importância o conhecimento sobre as
especificidades e as características da Libras, que fazem parte do cotidiano. Além disso, você
também conhecerá aspectos sobre a recepção e a produção da Libras, bem como sobre o seu
ensino em ambientes escolares.
Bons estudos.
A Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência,
publicada em 6 de julho de 2015, destaca no Capítulo IV, que trata sobre o Direito à Educação, no
artigo 28 inciso IV, a "oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade
escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, em escolas ou classes bilíngues e em escolas
inclusivas" (BRASIL, 2015).
Considerando esse contexto, o que você faria: defenderia a continuidade das aulas de Libras ou
não? Justifique.
Infográfico
É muito importante que a criança surda tenha acesso à língua de sinais desde o seu nascimento,
uma vez que essa é a língua materna desses sujeitos. Nesse sentido, é fundamental que a criança
surda tenha acesso à língua de sinais, nos mais variados contextos em que ela circula, e não
somente na escola.
Neste Infográfico, você conhecerá os principais contextos de aquisição da língua de sinais pela
criança surda descritos por Quadros & Cruz (2011).
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Conteúdo do livro
Da mesma forma que os sujeitos ouvintes têm acesso a sua língua natural, no caso a Língua
Portuguesa, desde o seu nascimento, os sujeitos surdos também têm esse mesmo direito.
Afinal: qual a melhor idade para aquisição da língua de sinais pela criança surda? No caso do Brasil,
a Língua Brasileira de Sinais - Libras é considerada primeira ou segunda língua da criança surda?
Surdos, filhos de pais ouvintes: quais as implicações? E surdos, filhos de pais surdos? Essas são
algumas das reflexões/indagações que pretendem ser respondidas durante o estudo.
No capítulo Noções de Libras, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender um
pouco sobre os processos de aquisição da língua de sinais pela criança surda, bem como, seus
estágios. Além disso, temas como recepção e produção da Libras e o papel da escola, frente ao
discente surdo, também serão abordados.
Boa leitura.
LÍNGUA BRASILEIRA
DE SINAIS
Noções de Libras
Gabriel Pigozzo Tanus Cherp Martins
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A língua brasileira de sinais (Libras) vem ganhando notoriedade nas discussões
sobre educação inclusiva, principalmente sobre educação de surdos, desde
seu reconhecimento em 2002 com a Lei n° 10.436, de 24 de abril (BRASIL, 2002).
É verdade que entre o reconhecimento legal e o uso e/ou ensino nas escolas
comuns há um enorme abismo que se faz necessário transpor. Há uma disputa
por poderes linguísticos nestes espaços e até o presente momento a Libras está
em desvantagem. Faz-se mister que pesquisadores, docentes e a comunidade
surda se organizem para igualar essas forças dentro das instituições educacionais.
Neste capítulo, você vai conhecer as competências linguísticas, discursivas e
sociolinguísticas da Libras e seus recursos. Vai estudar conceitos de tradução e
interpretação da Libras e as diferenças entre essas duas atividades. Por fim, vai
conferir a importância do ensino da Libras nas escolas inclusivas.
2 Noções de Libras
Figura 1. Três dos parâmetros da Libras: locação (L), movimento (M) e configuração de mão (CM).
Fonte: Quadros e Karnopp (2007, p. 51).
Aquisição da Libras
A cultura surda é definida como a forma de “o sujeito surdo entender o mundo
e modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com suas
percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas”
(STROBEL, 2009, p. 27). Prover o acesso à língua desde a mais tenra idade é
essencial para garantir um desenvolvimento pleno e integral do sujeito, além
de proporcionar sua percepção e interação com o mundo que o cerca.
4 Noções de Libras
Tradutores Intérpretes
(Continua)
8 Noções de Libras
(Continuação)
Tradutores Intérpretes
Têm tempo para fazer pesquisas São muito limitados pelo tempo,
visando a buscar o sentido linguístico impossibilitando a busca pelo sentido
para a equivalência da mensagem. equivalente da mensagem. Isso os faz
deixar em segundo plano a escolha
linguística em favor do sentido.
Tradutor-intérprete educacional
Nos contextos em que não há oferta de escolas bilíngues para surdos (quando a
língua de instrução é a Libras, e a língua portuguesa é ofertada na modalidade
de leitura e escrita), os surdos percorrem sua trajetória escolar em instituições
de ensino cuja perspectiva é a inclusão. Os conteúdos, métodos, práticas,
avaliações, currículo, entre outras questões que envolvem a organização
escolar, são pensados por e para ouvintes. Muitas vezes, o aluno surdo é o
único entre todos os discentes de uma determinada instituição.
Para que a acessibilidade linguística, informacional e comunicacional se
realize nesses espaços, a escola comum inclusiva conta com a presença do
tradutor-intérprete de Libras-língua portuguesa (TILSP). Esse profissional é
responsável por interpretar os conteúdos ministrados em cada disciplina,
tornando-os acessíveis, além de incentivar os discentes surdos a participa-
rem das aulas questionando, refletindo e discursando sobre os assuntos
abordados. Cabe também ao TILSP educacional comunicar aos surdos as
regras e normas da instituição, bem como a dinâmica escolar. É uma área da
interpretação muito requisitada (ALBRES, 2015; QUADROS, 2004).
A formação para que o TILSP atue em contextos educacionais não pode
ser somente técnica e de domínio das línguas, mas também uma formação
que abarque conhecimentos pedagógicos sobre a pedagogia surda, sobre
Noções de Libras 9
O adulto surdo faz toda a diferença no trato com a criança surda filha
de pais ouvintes. Ele será o referencial linguístico e cultural para
essas crianças. É uma maneira de elas projetarem uma perspectiva de futuro e
terem acesso à Libras e à cultura surda por meio de um nativo (BERNARDINO, 2014).
Referências
ALBRES, N. A. Intérprete educacional: políticas e práticas em sala de aula inclusiva.
São Paulo: Harmonia, 2015.
BERNARDINO, E. L. A. Aquisição de línguas de sinais por crianças surdas e sua relação
com o bilinguismo. Educação em Foco, v. 19, n. 2, p. 71-100, 2014.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Si-
nais - Libras e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2002.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso
em: 12 dez. 2022.
12 Noções de Libras
Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de
24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18
da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, DF: Presidência da República,
2005. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2005/decreto-5626-
-22-dezembro-2005-539842-publicacaooriginal-39399-pe.html. Acesso em: 12 dez. 2022.
BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e
Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, DF: Presidência da República,
2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/
l12319.htm. Acesso em: 12 dez. 2022.
BRASIL. Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a moda-
lidade de educação bilíngue de surdos. Brasília, DF: Presidência da República, 2021.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.
htm. Acesso em: 12 dez. 2022.
SILVA, V. A política da diferença: educadores intelectuais surdos em perspectiva. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. 8. ed. Porto Alegre: Mediação,
2015.
SKLIAR, C.; LUNARDI, M. L. Estudos surdos e estudos culturais em educação: um debate
entre professores ouvintes e surdos sobre o currículo escolar. In: LACERDA, C. B. F.; GOÉS,
M. C. R. (org.). Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
Noções de Libras 13
O professor precisa conhecer propostas e metodologias para estimular seu aluno nos diferentes
estágios de desenvolvimento da linguagem, mas para isso é necessário conhecê-las.
Assista ao vídeo da Dica do Professor e você poderá se informar sobre cada um desses estágios.
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Exercícios
1) No prefácio do livro Língua de Sinais: instrumentos de avaliação (QUADROS & CRUZ, 2011),
Maria Cristina Pereira aponta que “estudos sobre crianças surdas filhas de surdos
demonstravam que elas apresentavam desenvolvimento linguístico, cognitivo e acadêmico
comparável ao de crianças ouvintes, o que evidenciou a importância de os surdos serem
expostos à língua de sinais o mais cedo possível”.
A) Pesquisas como essa e as reivindicações dos movimentos surdos por direito de usarem a
língua oral, majoritária em seu país, foram importantes no processo de aquisição de língua
pelas crianças surdas.
B) Pesquisas como essa e as reivindicações dos movimentos surdos por direito de usarem a
língua de sinais, foram importantes para a aprovação das leis n.o 10.098/2000 e
10.436/2002, bem como do Decreto n.o 5.626/2005.
C) Pesquisas como essa e as reivindicações dos movimentos surdos por direito de usarem a
língua de sinais, não tiveram impacto na aprovação das leis n.o 10.098/2000 e 10.436/2002
e do Decreto n.o 5.626/2005.
D) Pesquisas como essa são suficientes para a aprovação da Lei n.o 10.436/2002 e do Decreto
n.o 5.626/2005, uma vez que política e movimentos sociais são questões distintas.
E) Pesquisas como essa e as reivindicações dos movimentos surdos foram feitas para garantir o
direito de usarem a língua portuguesa como língua de instrução em seu processo de
aprendizagem.
Sendo um espaço que acolhe a todos, como ela pode se preparar para receber um aluno
surdo?
A) São necessárias adaptações do currículo, dos espaços físicos e dos materiais, além das
mudanças de estratégias, práticas e metodologias, com intuito de tornar a participação dos
discentes surdos possível.
B) Não se faz necessário adaptar currículos e nem o espaço físico, mas sim, os materiais. É
importante repensar estratégias e práticas de ensino, bem como metodologias que busquem a
visualidade e oralidade.
C) O ingresso dos discentes surdos exige da escola uma mudança de perspectiva, ou seja, deve
contratar um intérprete de Libras, que se torne professor desse aluno. Não é necessário
realizar nenhuma adaptação na estrutura escolar.
E) A escola será adaptada, a fim de receber esse aluno surdo. Essas adaptações serão realizadas
nos seguintes quesitos: obras estruturais, horário de funcionamento e atendimento
especializado.
3) “Todos os estudos mencionados sobre a aquisição da língua de sinais por crianças surdas
concluíram que esse processo ocorre em período análogo à aquisição de crianças ouvintes”
(QUADROS, 2008).
A) Período pós-linguístico; estágio de um sinal; estágio das primeiras combinações e estágio das
múltiplas combinações.
B) Período pré-linguístico; estágio de dois sinais; estágio das primeiras combinações e estágio
das múltiplas combinações frasais.
C) Período pré-linguístico; estágio de um sinal; estágio das primeiras combinações e estágio das
múltiplas combinações.
D) Período de um sinal; estágio de dois sinais; estágio pós-linguístico e estágio das múltiplas
combinações.
E) Período pré e pós-linguístico; estágio de um sinal; estágio das primeiras frases e estágio das
múltiplas combinações sinalizadas.
4) A educação inclusiva é uma realidade nacional e os discentes surdos fazem parte disso.
Trata-se de línguas diferentes dentro do mesmo espaço pedagógico, cuja importância é
determinada pela quantidade de falantes/usuários. É sabido que, para a inclusão dos surdos,
é necessária uma série de adaptações e mudanças de atitude por parte da comunidade
escolar.
Em relação ao ensino da Libras nesse espaço, marque a alternativa correta.
5) Carlos Skliar (2010) aponta que a “falta de compreensão e de produção dos significados da
língua oral, o analfabetismo massivo, a mínima proporção de surdos que têm acesso ao
ensino superior, a falta de qualificação profissional para o trabalho, etc.” são motivos para
justificar o fracasso escolar dos surdos.
Dentre as alternativas abaixo, aponte aquela que corrobora com essa reflexão.
B) A escola inclusiva trabalha numa perspectiva visual, a fim de aproveitar toda a visualidade do
sujeito surdo.
C) A escola inclusiva trabalha com métodos, estratégias, práticas e avaliações pensadas por e
para ouvintes.
D) A escola inclusiva trabalha com estratégias, métodos, avaliações e práticas pensadas para a
diversidade existente entre surdos e ouvintes.
E) A escola inclusiva trabalha numa perspectiva bilíngue de educação, tendo a Libras como
primeira língua e o Português, na modalidade escrita, como segunda língua.
Na prática
O uso e difusão da língua de sinais não precisa ser apenas uma prática de salas de aula ou escolas
que tenham alunos com surdez, todo e qualquer aluno deveria ser colocado em contato com a
língua para que se algum momento precisasse já a conhecesse. Ter apenas um ou dois professores
que saibam e usem a libras limita a circulação e aprendizagem do sujeito com surdez.
No vídeo do Na Prática é apresentada uma sugestão de trabalho a ser realizada na e com a escola
que tenha alunos com surdez, como organizar e proporcionar momentos de aprendizagens a todos
que estejam envolvidos nesse processo.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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