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BRASILEIRA DE
SINAIS
Introdução
A aquisição da língua brasileira de sinais pelas crianças surdas é algo que
ainda nos inquieta, nos retira da zona de conforto. É algo que mostra,
muitas vezes, diversas lacunas nos processos de aprendizado e ensino-
-aprendizagem; mostra as fragilidades de um processo de inclusão social
falho, despreparado para uma sociedade diversa e diferente. A escola,
assim como as demais instituições sociais, não está preparada para atender
às especificidades linguísticas, culturais e identitárias dessa minoria que
ora se apresenta.
Neste capítulo, você aprenderá sobre as questões relacionadas à
aquisição da língua brasileira de sinais pela criança surda, bem como
os estágios que a compõe, os processos pelos quais ela passa e sobre a
importância da Libras no cotidiano escolar.
Quadros e Cruz (2011) aponta que somente 5% das crianças surdas são filhas
de pais surdos e, por isso, possuem o input linguístico adequado no período
de aquisição da linguagem. Neste ponto, trazemos para a reflexão o conceito
de cultura surda, apresentado por Strobel no livro A imagem do outro sobre
a cultura surda, publicado em 2009. A autora define cultura surda como a
forma de “[...] o sujeito surdo entender o mundo e modificá-lo a fim de torná-lo
acessível e habitável ajustando-o com suas percepções visuais, que contribuem
para a definição das identidades surdas [...]” (STROBEL, 2009, p. 27).
O que tem a ver a cultura surda com o uso da língua brasileira de sinais?
Ou melhor, qual a relação entre a cultura surda e a aquisição da língua de
sinais? Quando pensamos que a aquisição da língua pelas crianças surdas é
análoga à das crianças ouvintes, nos causa estranheza quando recebemos um
discente surdo em nossa sala de aula que não domina a língua brasileira de
sinais (Libras). Não é mesmo? As crianças ouvintes, logo ao nascerem, entram
em contato com a língua majoritária — no nosso caso, a língua portuguesa —,
na modalidade oral, por meio dos mais diversos canais. No entanto, a maioria
das crianças surdas não possui esse contato linguístico desde o nascimento.
A língua brasileira de sinais é um dos artefatos culturais apresentados por
Strobel (2009) cuja importância é fundamental. Por isso, há a necessidade de
uso da Libras desde o nascimento, para que essa criança cresça imersa em sua
cultura e crie sua identidade. Infelizmente, essa é a realidade de apenas 5% das
crianças surdas. Ao crescerem e se desenvolverem, tomando consciência de sua
condição, alguns surdos passam a frequentar as associações e a se relacionar
com seus pares e desenvolvem/adquirem os demais artefatos culturais, além
da língua e da identidade.
No lar, primeiro local de contato com a língua, os bebês terão contatos com os
pais, surdos ou não, mas que sinalizam. Algum outro familiar (tio, tia, avó ou
avô, etc.) é fundamental nesse espaço. A escola pode oferecer um espaço que
atenda às especificidades linguísticas desses indivíduos, por meio da presença
de adultos surdos ou ouvintes, mas fluentes em Libras, e/ou da presença de
outras crianças surdas para que a língua “aconteça” nas relações. Por último
e não menos importante, a clínica é o local onde, por meio, preferencialmente,
de uma abordagem oralista, a criança tem contato com a linguagem antes de
ingressar à escola comum (QUADROS; CRUZ, 2011).
Outro fator, além dos apresentados anteriormente, que influencia na aqui-
sição da língua é o período em que a surdez foi detectada. Alguns diagnósticos
costumam ser concluídos quando as crianças estão no 3º ou 4º ano de vida. Isso,
comparado às crianças ouvintes, faz as crianças surdas apresentarem atrasos no
desenvolvimento da linguagem, comprometendo seu desenvolvimento integral
e suas relações, pois, segundo Quadros e Cruz (2011), essa privação de lingua-
gem nos primeiros anos de vida deixa sequelas sérias no desenvolvimento da
linguagem. O sucesso ou fracasso desse processo depende, em grande parte, do
acesso às informações que os pais/responsáveis têm sobre a língua de sinais e
sobre a surdez. Essas informações despertam nos pais/responsáveis a consciência
sobre a necessidade de a criança surda adquirir uma língua de modalidade viso-
-gestual, além de estabelecer comunicação com os filhos, viabilizando, assim,
um ambiente linguístico adequado (QUADROS; CRUZ, 2011).
Quadros e Cruz (2011) apresentam quatro estágios de aquisição de lin-
guagem das crianças surdas, são eles: estágio pré-linguístico, estágio de um
sinal, estágio das primeiras cominações e estágio de combinações múltiplas.
O primeiro estágio ocorre quando as crianças surdas começam a balbuciar.
É interessante é que o balbucio ocorre tanto com as crianças ouvintes quanto
com as surdas. Quadros e Cruz (2011) nos relata que o balbucio apresenta:
-objeto em sua sinalização. Esse estágio dura aproximadamente até o 30º mês
de vida. O quarto estágio é o das múltiplas combinações. Nesse período, há
uma “explosão de vocabulário”, e as crianças iniciam o processo de produção
de frases curtas e sentenças (QUADROS; CRUZ, 2011). É importante que a
criança surda esteja em um ambiente linguístico adequado para que possa ter
condições naturais de aquisição de linguagem e desenvolvimento integral.
No site da Editora Arara Azul, disponível no link a seguir, há uma série de materiais
disponíveis que auxiliam na aquisição de língua e que podem ser utilizados para o
ensino da Libras em escolas comuns inclusivas.
https://qrgo.page.link/PQuu2
Ora esse sujeito tem o direito de estudar próximo à sua residência, ora
de estar junto a seus pares, ora ter sua instrução em Libras, ora...., ora...,
ora.... As legislações vigentes não dialogam entre si e fazem a educação
desses indivíduos ser um complexo labirinto a ser vencido. A comunidade
surda (i.e., alunos surdos, professores surdos, professores ouvintes bilíngues
e intérpretes) defendem um modelo de educação bilíngue tendo a Libras
como língua de instrução e a língua portuguesa na sua modalidade escrita
como segunda língua, mas vale ressaltar que esse modelo é adotado em
escolas de/para surdos e, no Brasil, nem todas as cidades do país possuem
escolas que trabalham nessa perspectiva.
No processo inclusivo, o ensino da Libras é importantíssimo, uma vez
que, em grande parte das escolas comuns, o discente surdo é o único falante
da língua de sinais, não havendo nenhum par linguístico. Esse ensino parte
do pressuposto de que é por meio da comunicação e da interação com o
outro que acontece o desenvolvimento intelectual, cognitivo e linguístico,
além do aprendizado com qualidade. É necessário também que a escola
incentive e pratique a pedagogia da diferença, de modo que comunidade
reconheça a diferença linguística e cultural de seus alunos.
Para que os indivíduos surdos alcancem níveis satisfatórios de apren-
dizado, relacionamento e desenvolvimento integral, a escola precisa criar
estratégias adequadas para o processo de ensino-aprendizagem, buscando
metodologias e práticas que potencializem o uso de recursos visuais, além
de avaliações condizentes com as especificidades linguísticas e a criação
de políticas que valorizem seus artefatos culturais, essenciais para seu
crescimento.
Noções de Libras 7
(In)conclusões
Pensar as questões referentes à surdez e ao ensino da Libras são desafiadoras.
Procuramos, no decorrer deste capítulo texto, apresentar alguns elementos
que compõem essa complexidade. Desde os lares até as escolas, há uma série
de entraves que tencionam as relações entre surdos e ouvintes, por exemplo:
língua, cultura, identidade(s), entre outros.
As crianças surdas, desde o nascimento até o ingresso nas escolas comuns,
percorrem caminhos de aquisição de linguagem completamente diferentes,
levando-se em consideração os ambientes em que cresceram e se desenvol-
veram. Enquanto uma criança surda filha de pais surdos adquire linguagem
dentro do tempo esperado (concluindo todos os estágios de aquisição no período
estabelecido), as crianças surdas filhas de pais ouvintes, em sua maioria, têm
essa aquisição tardia, uma vez que os pais podem não ter contato com a Libras,
comprometendo etapas de seu desenvolvimento.
Acesse, por meio do link a seguir, a biblioteca do curso de Letras Libras da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), e, na unidade Libras VI, você encontrará um bom
texto sobre “Aquisição de Linguagem por crianças surdas”.
https://qrgo.page.link/XdMjj
Leia o artigo “As políticas educacionais e a educação de surdos”, que aponta questões
sobre as políticas nacionais vigentes e a educação de surdos inclusiva, disponível no
link a seguir:
https://qrgo.page.link/ytVpU
Leituras recomendadas
ALBRES, N. A. Surdos e inclusão educacional. Petrópolis: Arara Azul, 2010.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 13 jul. 2019;
BRASIL. Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 13 jul. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de educação especial na perspectiva da
educação inclusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/in-
dex.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-
-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192.
Acesso em: 13 jul. 2019.
PERLIN, G. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças.
Porto Alegre: Mediação, 2010.
ZILOTTO, G. S.; GISI, M. L. As políticas educacionais e a educação de surdos. In: CON-
GRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 13., 2017, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: FIOCRUZ,
2017. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23461_11761.pdf.
Acesso em: 13 jul. 2019.