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LIBRAS
NATAL
2020
PAIS OUVINTES, FILHOS SURDOS: CONCEPÇÕES SOBRE A SURDEZ E
AQUISIÇÃO DA LIBRAS COMO L2
Autor1, Lidiane Pereira da Silva
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por
mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de
forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do
trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção
deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e
assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a
3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). “Deixar este texto no trabalho conforme se apresenta,
fonte e cor vermelha”.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo conhecer percepção dos pais em relação à surdez de
seus filhos e qual a relevância da aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como segunda
língua (L2) para o convívio diário no seio familiar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e de campo, a
qual foi realizada no cenário do Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento Às
Pessoas com Surdez – CAS/NATAL (RN), instituição pública estadual que oferece atendimento
educacional especializado (AEE) a estudantes surdos. Para a coleta de dados utilizou-se como técnica a
observação participante e entrevistas semiestruturadas. O trabalho se fundamentará em um breve
estudo bibliográfico em variados acervos que abordam a temática, tais como Goldfeld (1997) Negrelli e
Marcon (2006), Pereira (2008) e Quadros e Cruz (2011). Portanto, observamos que ao discutir as
relações entre os sujeitos surdos e seus familiares ouvintes a respeito da comunicação em Libras,
existem diversificadas compreensões a respeito do uso da Libras no cotidiano familiar que podem ser
ampliadas e reforçadas nas relações e nos diálogos entre os sujeitos. E que apesar de uma certa
divergência no sentido de alguns pais não entenderem por completo a importância da aprendizagem da
Libras para se comunicarem com seus filhos, estas concepções vêm mudando aos poucos para a real
aceitação e utilização da língua de sinais na família.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. Família. Ouvinte. Surdo. Libras.
1. INTRODUÇÃO
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Surdez
Em outras palavras, a família é o alicerce para a criança e quando esta base não
se cumpre plenamente, causa consequências irreparáveis no desenvolvimento da
criança surda. Quando há presença de uma criança surda, se faz necessário que a
família adote atitudes diferenciadas para que possa tornar o desenvolvimento da
criança surda se torne um indivíduo confiante, capaz de reagir diante dos obstáculos da
vida e de seu modo próprio de interagir e viver no mundo.
Sendo assim, a comunicação promove a interação familiar e aproxima os
membros. Se não há diálogo no grupo familiar, a criança ou adolescente tende a
buscar a comunicação e interação social em sua língua natural, ou seja, através da
Libras – o que na maioria das situações, acaba distanciando ainda o surdo da família,
uma vez que ambos não se comunicam por meio da língua natural do sujeito surdo.
Desse modo, a aquisição da língua de sinais por parte de familiares ouvintes
torna-se imprescindível para que a convivência no lar seja agradável e fluente,
contribuindo de maneira eficaz no desenvolvimento da criança surda
De acordo com Filho e Oliveira (2010):
A principal satisfação dos filhos é ter uma boa relação entre os membros da
família, pois essa relação exerce importante papel para o desempenho
psíquico e consequentemente nas demais fases da vida. No processo de
relação familiar, a comunicação favorece a compreensão das dúvidas, a
demonstração de carinho e amor [...] uma vez que para adquirir essas
informações é necessário estabelecer-se uma mesma linguagem (QUADROS,
2002 apud FILHO e OLIVEIRA, 2010, p. 2).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A seguir é apresentada de forma sintética as respostas das participantes com a
finalidade de apresentar um panorama geral a respeito da compreensão que as mães
têm em relação à surdez de seus filhos, bem como, analisar a importância que os
familiares ouvintes atribuem para a aprendizagem da Libras como segunda língua (L2)
para que esta estratégia facilite a comunicação em família.
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Nomes fictícios atribuídos para a preservação da identidade dos participantes.
Quando questionado para as entrevistadas com relação ao recebimento da
notícia de que seus filhos eram surdos, elas se expressaram:
Me culpava muito por ele ter nascido surdo, pensei que tinha feito algo errado
na gravidez. Levou um certo tempo para aceitar a condição dele. (Família
Brito)
Foi muito difícil, eu nunca havia sequer convivido com uma pessoa surda,
como iria me comunicar com meu filho? (Família Costa)
O relato feito pelas mães dos estudantes surdos, apresenta uma trajetória
semelhante à realidade vivenciada por muitas famílias que têm filhos surdos e se
deparam com o dilema da comunicação, que por vezes não se concretiza em sua
totalidade. Essa relação, muitas vezes, apresenta uma série de dificuldades que se
apresenta como um dos grandes impasses encontrados pela família do indivíduo
surdo, resultado do fato dos pais ainda não estarem preparados psicologicamente para
aceitarem a surdez de seus filhos.
De fato os pais ficam na expectativa de terem filhos ditos “normais” e quando se
deparam com a descoberta da surdez, o primeiro impacto é o sentimento de frustação.
Nesse momento, a reação imediata da família é de negação, uma vez que esperavam
ter filhos semelhantes a eles. Podemos perceber isso no relato da mãe da Família Dias
“senti muita insegurança e tristeza, pois sonhava com um filho “perfeito” e agora meu
sonho havia se transformado em outra realidade”.
Nesse fragmento, é possível perceber o quanto foi difícil para a mãe aceitar a
surdez de seu filho, pois esperava ter uma criança a ela semelhante, e quando se
deparou com a condição de surdez do filho, necessitou de um longo tempo de reflexão
para entender o novo sentido que sua vida receberia a partir do nascimento do seu tão
sonhado e esperado filho.
Desse modo, de acordo com Pereira (2008. p. 33):
Ainda me apego muito à comunicação oral com ele, por vezes, utilizo gestos e
até escrevo, uso pouco os sinais. Sobre a surdez, hoje vejo que ele é como é,
e eu o amo por completo. (Família Brito)
Apesar de não utilizar muito a Libras, tenho uma boa relação com meu filho, o
vejo como uma criança qualquer, as vezes, até mais sapeca que as crianças
ouvintes que conheço. (Família Costa)
Vejo meu filho como uma pessoa normal, claro, a comunicação com ele precisa
ser diferente, ainda assim, me comunico muito bem através de gestos, da
leitura labial e de alguns. (Família Dias)
Frente a esses depoimentos, fica claro que a perspectiva da maioria das mães
vem se modificando com o passar do tempo e elas já entendem a surdez de seus filhos
de maneira diferente, no entanto, percebe-se ainda uma resistência por parte dos
familiares em relação à utilização da língua de sinais, onde esta não é totalmente
aceita, já que nem todas se comunicam plenamente através da Libras com seus filhos
conforme o relato das mães entrevistas.
Por outro lado, a mãe da Família Alves revela que apesar de ter levado um susto
ao receber a notícia que sua filha era surda, ainda assim, não se sente menos mãe por
isso e também não deixa de enxergar e acreditar no potencial de seus filhos, ao
contrário, eles são motivo de orgulho e de superação diária, segundo ela, os filhos
pessoas normais que se comunicam se maneira diferente:
Percebo que meus filhos sentem-se felizes ao se comunicarem através da
Libras e busco cada dia aprender mais sobre a cultura surda. Não os comparo
com crianças ouvintes, pois sei que é impossível e está tudo bem assim, eu só
preciso me comunicar com eles na língua deles. (Família Alves)
Quando um dos membros da família nasce surdo, essas mudanças podem ser
acrescidas de outras, às vezes muito mais traumáticas: maior tensão e
ansiedade, possibilidade de surgimento de conflitos e até mesmo
desintegração familiar (1997, p. 100).
Frente a esta afirmação percebe-se que a maioria das famílias enfrentam muitas
dificuldades para aceitar a deficiência da criança e por diversas vezes, os pais, não
tomam a atitude mais correta e abandonam o lar deixando sua família totalmente
desamparada. Brito e Dessen (1999) explicam que a existência de uma criança
especial na família, atinge mais a mãe, pois enquanto a relação do pai com o filho
tende a decrescer com o tempo - por vezes deixar de existir -, a responsabilidade da
mãe tende a aumentar cada vez mais, já que será ela, a pessoa responsável por apoiar
e ajudar o desenvolvimento de seu filho surdo.
Toda essa negação e até mesmo indiferença por parte do pai para com o filho
surdo, nos remete um aspecto apontado por Quadros (2000), que esclarece que a
deficiência não é um problema da pessoa que a tem, mas sim de quem a vê. Ou seja, a
aceitação deve partir não somente da pessoa surda e sim de todos que a cercam,
estas por sua vez, devem agir de maneira a eliminar as barreiras impostas pelas
sociedade e não aumentá-las.
Nesse sentido, é relevante ressaltar que os pais de crianças surdos devem estar
cientes da importância que a língua de sinais tem no cotidiano do sujeito surdo e como
a comunicação entre ambos (ouvintes e surdos) pode fluir de maneira satisfatória
quando empregada de maneira efetiva. Quadros (2005) acredita que “o domínio de
uma língua adquirida em sua totalidade e fluência permite ao ser humano a produção
de novos signos, da combinação entre signos e novos sentidos para os signos em jogo,
não apenas no processo de comunicação como no processo cognitivo” (2005, p.19).
Assim, é essencial que os pais atentem para a importância de se tornarem
fluentes na Libras, como explica Negrelli e Marcon (2006) a comunicação na família do
indivíduo surdo através da língua de sinais possibilitará a este sujeito uma interação e
convívio com mundo mais agradável e feliz. Em outras palavras, quando o indivíduo
surdo tem o apoio e incentivo da família, sua vida se tornará mais fácil e acessível.
Quando questionadas em relação à aprendizagem da Libras e de quais
estratégias elas utilizam para se comunicar em casa com seus filhos e familiares no
cotidiano. As respostas foram as seguintes:
Eu me viro como posso, uso os sinais que sei, aponto para as coisas que não
conheço o sinal... e assim vem sendo nossa comunicação... conversamos
sobre coisas básicas, do dia a dia. (Família Dias).
O fragmento acima nos remete a um aspecto apontado por Castro (1999 apud
NEGRELLI e MARCON, 2006, p. 104) “consideram ainda que a família, muitas vezes
por não tentar aprender a língua de sinais (LS), conversa [...] apenas assuntos
relacionados às suas necessidades básicas e momentâneas como, comida, bebida,
banho e etc.".
Nesse sentido, esse tipo de comunicação básica pode levar o indivíduo surdo a
crer que não é aceito pela família, uma vez que o canal comunicativo que contempla
todas as duas falas não é empregado completamente por seus familiares. É importante
ainda ressaltar que o engajamento e esforço da famílias em aprender a Libras é de
extrema importância para que o sujeito surdo sinta-se acolhido e amado.
O depoimento da Família Alves evidência de forma clara a percepção que ela
tem a respeito do papel que a Libras tem na vida de seus filhos, quando afirma:
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS