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Resumo: Este texto foi produzido com o objetivo de contribuir com as discussões da Turma de
Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Pará (UFPA) no ano de 2023. O
referido texto apresenta considerações sobre: o sujeito surdo em um mundo ouvinte; os aspectos
clínicos, educacionais e socioantropológicos da surdez; e a língua portuguesa como uma
segunda língua para surdos.
Pensar acerca do sujeito surdo em um mundo ouvinte, requer refletir criticamente sobre
as barreiras do processo de escolarização do aluno surdo na escola regular, bem como na
sociedade como um todo. Para Lobato (2015) as barreiras escolares dão-se por diversos
motivos, inclusive pelo fato da maioria destes alunos surdos serem provenientes de famílias
constituídas por pessoas ouvintes que têm pouco contato com a Língua Brasileira de Sinas
(Libras). Para Quadros (2010, p. 31) “os pais ouvintes precisam descobrir este mundo
essencialmente visuoespacial e conhecer a língua de sinais”.
Ao considerar essa perspectiva, concordo com o pensamento de Oliveira (2004, p. 224)
quando diz que “a escola pública é uma instituição contraditória, porque apresenta tanto
representações e práticas de exclusão como representações e práticas inclusivas e de
transformação”. Assim, muitas escolas realizam práticas inclusivas entre surdos e ouvintes,
contudo cabe a reflexão para àquelas instituições que precisam mudar seus currículos, métodos
e concepções.
Skliar (2010, p. 7) pondera que “o que estão mudando são as concepções sobre o sujeito
surdo, as descrições em torno de sua língua, as definições sobre as políticas educacionais, a
análise das relações de saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc”. O
estudante surdo e a Libras são visivelmente discutidos no seio escolar, porém cabe a
concretização desse sujeito e sua língua nas escolas.
Com isso, alego que o aluno surdo se encontra inserido em um ambiente escolar que se
diz inclusivo, no qual a grande maioria de atores que o cerca são ouvintes e muitas vezes isso
faz com que o surdo tenha que moldar suas atitudes em relação aos ouvintes. Conforme Dorziat;
et al. (2011, p. 46) “a educação inclusiva não garante que os diferentes sejam aceitos
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No prelo.
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definitivamente, pois precisam moldar-se à maioria”. Entre essa maioria ouvinte poucos são os
que conhecem os marcadores culturais surdos e a Libras.
O fato do aluno surdo está em uma escola onde precisa moldar-se à maioria ouvinte, faz
com que esta escola deixe de ser inclusiva e torne-se uma escola integracionista – ou até
excludente – que por sua vez gera a exclusão de estudantes surdos em seu contexto (LOBATO,
2015). Cabe ao surdo ser incluso em um mundo ouvinte por meio de sua língua, seus
marcadores culturais e de suas potencialidades.
O surdo interage em turmas ditas inclusivas? A maioria ouvinte presente neste ambiente
tem domínio da Libras ou conhece o mundo surdo? Essas perguntas podem gerar pesquisas
significativas na Amazônia Paraense. Dorziat; et al. (2011, p. 27) dizem que “quando se trata
de inclusão, a valorização da língua de sinais para os surdos é questão essencial, como
possibilidade de igualdade de condições de desenvolvimento entre as pessoas”.
Na escola que se diz inclusiva, a maioria ouvinte, seja alunos ou professores, compõem
um quadro de agentes sociais que precisam realizar uma comunicação efetiva com os estudantes
surdos. É claro que existem os professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE)
que sabem se comunicar por meio da Libras, porém me refiro a alguns professores de turmas
regulares, demais funcionários e alunos ouvintes, que pouco estabelecem a comunicação com
o surdo (LOBATO, 2015).
Na figura a seguir Silveira, Nascimento e Lobato (2017)2 mostram a relevância da Libras
se fazer presente no currículo escolar. A figura intitula-se: A Libras – mãos que sinalizam.
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O estudo objetiva analisar as Representações Sociais dos licenciandos em Letras Libras e Língua Portuguesa
como segunda língua para surdos (LL/LP-L2) sobre o ensino-aprendizagem de Libras e a influência dessas
representações na formação inicial de professores.
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ainda que a língua materna ou primeira língua seja a Libras. Esses termos trazem na história
dos surdos preconceitos, que os fizeram sofrer muito. Por isso, o termo aceito pelas
comunidades dos surdos, simplesmente é SURDO ou SURDA.
Sobre o segundo aspecto (o educacional), aponto o Atendimento Educacional
Especializado, que é um trabalho realizado nas escolas regulares que possuem estudantes
surdos. Em relação a este atendimento, Favero, et al. (2007, p. 26) diz que esse trabalho:
Essa foi a primeira Escola Bilíngue do Maranhão e a segunda do país. A escola encontra-
se em Imperatriz. A mesma foi inaugurada em 2012 e chama-se: Escola Municipal de Educação
Bilíngue para Surdos Professor Telasco Pereira Fialho. Fica localizada no bairro São José do
Egito e atende aproximadamente 63 alunos de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Uma escola
bilíngue no Nordeste do país é uma conquista muito grande para as comunidades surdas.
Sobre o aspecto socioantropológico é pensar a pessoa surda a partir da sua própria
diferença enquanto uma marca da alteridade que a constitui enquanto sujeito histórico, cultural
e social. É pensar em sua condição bilíngue e da necessidade de consolidarmos uma educação
que seja verdadeiramente bilíngue. A visão socioantropológica da surdez tem em Skliar (2003)
o seu principal difusor. Nela, o autor apresenta uma ideologia diferente da visão clínica,
abordando o paradigma social, cultural e antropológico da surdez e aprofundando os conceitos
de pessoa/educação “bilíngue”.
Para Bentes (2014) a pessoa surda em uma concepção socioantropológica precisa ser
compreendida por meio do conceito de “Diferença”. Esse conceito constitui-se uma categoria
dos Estudos Surdos. Esse campo de investigação – Estudos Surdos – influenciou o argentino
Carlos Skliar a aprofundar investigações aqui no Brasil. Ao assumir uma cadeira de professor
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Skliar desenvolveu estudos em torno do
neocolonialismo, incluindo os surdos como pessoas que são colonizadas pela ideologia
ouvintista.
Acredito que é preciso dar início a uma escola que reconheça os surdos em suas
diferenças linguísticas e culturais, visando construir um ambiente escolar que seja favorável à
aprendizagem do surdo a partir do uso cotidiano da Libras em todo este ambiente, e com isso,
remover as barreiras que impedem o seu desenvolvimento social e cultural. Por isso, um espaço
escolar bilíngues de/para surdos, no meu ponto e vista, seria relevante para que este aluno
pudesse aprender de maneira, ainda mais, significativa.
A educação bilíngue para surdos, como qualquer projeto/proposta educacional, não
pode ser neutra nem opaca. Porém, falta a consistência política para entender a educação dos
surdos como uma prática de direitos humanos concernentes aos surdos; a coerência ideológica
para discutir as assimetrias do poder e do saber entre surdos e ouvintes; a análise da natureza
epistemológica das representações colonialistas sobre a surdez e os surdos (SKLIAR, 2003).
Remover as barreiras escolares é condição sine qua non para que as escolas (bilíngues
ou inclusivas) possam educar os alunos surdos em um espaço de valorização das diferenças
linguísticas e culturais destes estudantes surdos e, com isso, conceber cada vez mais uma visão
socioantropológica da/sobre a pessoa surda em seu currículo.
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Lobato (2015) diz que a realização das mais diversas formas de interações em língua de
sinais é uma ação primordial na escola, para que assim se reconheça que esta é a primeira língua
utilizada pelos surdos. A Libras “[...] servirá de apoio para que o Surdo possa ter o entendimento
de uma segunda língua, que no caso do Brasil é a Língua Portuguesa” (LOBATO, 2015, p. 25).
A lei 13.005 sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) busca na meta 4 e estratégia
4.7 garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais - Libras como
primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos (às)
alunos (as) surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e
classes bilíngues e em escolas inclusivas (BRASIL, 2014).
Para desenvolver o trabalho com alunos surdos acredito que o uso de instrumentos
didático-pedagógicos são relevantes, principalmente se, no bojo destes instrumentos, a Libras
estiver presente, assim como a Língua Portuguesa em sua forma escrita. Bentes; Hayashi (2012,
p. 170) dizem que é necessário ainda mais:
A abordagem educacional por meio do bilinguismo visa capacitar a pessoa surda para a
utilização de duas línguas: A língua de sinais com status de primeira língua e a língua da
comunidade ouvinte – no Brasil a Língua Portuguesa com status de segunda língua. As
propostas educacionais bilíngues começaram a estruturar-se a partir do Decreto 5.626/2005 que
regulamentou a Lei de Libras 10.436/2002.
Conforme Karnopp e Pereira (2013), nas escolas o ensino aos surdos “se dá por meio
do ensino de vocábulos, combinados em frases descontextualizadas” (p. 35). Com isso, o ensino
da leitura e escrita aos Surdos limita-se a textos pequenos e empobrecidos, não despertando o
interesse dos Surdos. Cabe a escola criar estratégias de ensino baseadas na língua dos alunos
surdos, que é a Libras, para que estes possam obter sucesso no aprendizado da leitura e da
escrita.
Uma das obras pioneiras sobre o ensino de Língua Portuguesa para surdos foi a de Silva
(2010). A autora discute a questão da linguagem na educação do surdo, com base nas
proposições de Vygotsky e Bakhtin, tomando como foco para a análise de redações de surdos
os aspectos coesivos e o sentido do texto por meio dos enunciados e da continuidade temática.
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6º ano produziu o texto III; e do 4º ano do Ensino Fundamental e produziu o texto IV. A seguir
os textos de cada estudante.
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Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/mec-lanca-proposta-de-curriculo-para-o-ensino-
de-portugues-escrito-como-segunda-lingua-para-estudantes-surdos
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O trabalho com surdos exige uma série de reflexões por parte dos professores, ou seja,
o agir docente com alunos surdos implica adaptar ou modificar os conteúdos a serem ensinados,
escolher os recursos didático-pedagógicos em sua forma visual e proporcionar formas
avaliativas que estejam de acordo com o perfil deste aluno. Assim, penso que se o trabalho
acontecer apenas no AEE, o agir docente com o aluno surdo, torna-se incipiente, uma vez que,
além da insuficiência de recursos, o tempo compromete que se desenvolva um trabalho com
mais qualidade. Cabe um trabalho mais amplo, sobretudo nas turmas inclusivas ou nas
escolas/classes bilíngues.
No processo de escolarização de alunos surdos o ensinar, o aprender e a Libras/Língua
Portuguesa devem caminhar de mãos dadas, pois desta forma a escola e, principalmente, os
professores partilharão outras concepções, ideias e ações que possam influenciar práticas
pedagógicas a partir da perspectiva bilíngue, contribuindo significativamente com o
desenvolvimento da leitura e da escrita dos estudantes surdos.
REFERÊNCIAS
BENTES, J. A. O. A política de educação inclusiva e a educação de surdos. In: GOMES-
SANTOS, S. N; BENTES, J. A. O; ALMEIDA, P. S. Trabalho docente e linguagem em
diferentes contextos escolares. Belém: Paka-Tatu, 2014.
BENTES, J. A. O; HAYASHI, M. C. P. I. Normalidade e disnormalidade: formas do
trabalho docente na educação de surdos. Campina Grande: EDUEPB, 2012.
BRASIL. Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24
de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no
10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 10
jun. 2022.
BRASIL. Lei 13.005, de 25 junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13005.htm. Acesso em: 03 jun. 2022.
CALIXTO, Hector Renan da Silveira; LOBATO, Huber Kline Guedes; BENTES, José
Anchieta de Oliveira. Mediação Digital na Aquisição da Leitura e Escrita de Surdos: análise
linguístico-discursiva da produção textual a partir do gênero mensagem instantânea. Revista
Teias, v. 21 • n. 60 • jan./mar. 2020.
DORZIAT, A. et al. O direito dos surdos à educação: que educação é essa? In: DORZIAT, A.
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FAVERO, E. A. G. et al. Atendimento Educacional Especializado: aspectos legais e
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GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de
sinais e da realidade surda- São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
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