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LIBRAS II

APRESENTAÇÃO

Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell

● Mestre em Ensino Formação Docente Interdisciplinar (UNESPAR).


● Especialista em Educação Especial: Área da Surdez – Libras (ESAP).
● Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica (ESAP).
● Especialista em Atendimento Educacional Especializado – AEE (UEM).
● Graduada em Pedagogia (UEM).
● Graduada em Letras com Habilitação em Libras (EFICAZ).
● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (FENEIS).
● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (PROLIBRAS).
● Técnica em Tradução/Interpretação de Libras (IFPR).
● Docente Universitária da Disciplina de Libras.
● Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e
Inclusiva – GEPEEIN (IFPR)

Currículo Lates: http://lattes.cnpq.br/4629794516295407


APRESENTAÇÃO DA APOSTILA

Prezado(a) acadêmico(a)!

Seja bem-vindo(a) à Disciplina de Libras II. Para que você alcance um


nível razoável em seu desempenho comunicativo, precisará ter o desejo e
oportunidade de se comunicar em Libras. Por isso, os tópicos que passaremos
a conhecer neste material didático servirão para direcionar seus estudos,
sabendo que para efetivar o processo de ensino e aprendizagem, você deverá ir
além, colocar em prática com os usuários dessa língua o que você aprenderá
em cada Unidade.
Queremos, que ao decorrer dos estudos, você compreenda que a Língua
Brasileira de Sinais não é um conjunto de gestos soltos e isolados, mas uma
língua que possui suas características próprias como qualquer outra língua oral.
Sabemos que não esgotaremos o assunto a ser estudado aqui, mas
esperamos poder contribuir na construção, divulgação e compreensão desta
língua enquanto alicerce para o desenvolvimento integral do educando surdo e
enquanto língua adicional a ser apreendida por você, acadêmico(a).
Para que o processo de aprendizagem dessa língua adicional seja aos
poucos assimilada, compreendida e utilizada por você, dividimos esse material
em 4 Unidades a saber:

Unidade I - AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM POR CRIANÇAS SURDAS, você vai


adquirir noções básicas sobre o artefato cultural, literatura visual surda, o ensino
da Língua Portuguesa e métodos didáticos para o ensino dessa língua para
surdos, além dos recursos didáticos para o ensino de Libras na formação
acadêmica como segunda língua.

Unidade II - ESTRUTURA, EXPRESSÃO, CONCEITOS


DÊITICOS/ANAFÓRICOS E FIGURAS DE LINGUAGEM NA LÍNGUA DE
SINAIS, passaremos a conhecer a estrutura de frases em Libras, as dimensões
evolutivas dessa língua em suas expressões metafóricas e descritivas, bem
como o uso de espaços nas suas enunciações compreendendo a dêixis
enquanto processo de descrição.
Unidade III - A LINGUÍSTICA DAS LÍNGUAS DE SINAIS, aprofundaremos os
conhecimentos sobre a linguística da Língua Brasileira de Sinais, em seus
aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos.

Unidade IV - GRAMÁTICA DE LIBRAS apresenta-se o léxico da Libras, o uso


de verbos, o sistema pronominal e as limitações na formação dos sinais.

Vamos lá?
Bons estudos e abraços sinalizados!
UNIDADE I
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM POR CRIANÇAS SURDAS
Professora Mestre Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell

Plano de Estudo:
A seguir apresenta-se os tópicos que você estudará nesta unidade

● Cultura surda;
● Literatura visual;
● Literatura visual surda, Libras e o ensino;
● Desenvolvimento das etapas do ensino de Língua Portuguesa para Surdos;
● Produção didática para o aprendizado de Libras como segunda língua na
formação dos acadêmicos.

Objetivos de Aprendizagem:
● Pensar na cultura da comunidade surda, para descrever elementos identitários e
artefatos da literatura brasileira surda;
● Compreender como trabalhar com as crianças surdas;
● Perceber as estratégias docentes no ensino de surdos nos espaços educacionais.
INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a), nesta Unidade conversaremos sobre a comunidade surda,


para compreendermos sua cultura, a construção da sua identidade, e a importância da sua
experiência visual, além de visualizarmos como trabalhar com as crianças surdas e
apresentá-las aos artefatos culturais como a literatura surda em Libras.
É preciso fazer as crianças surdas construírem sua identidade e sua cultura. Por
acaso, você já conhece as produções literárias em Libras para trabalhar com seus futuros
alunos surdos? Caso não, fique atento, pois essa Unidade de Estudos está repleta de
sugestões para serem trabalhadas em sala de aula e incentivar as crianças surdas a
aceitarem-se surdas, e as crianças ouvintes a interagirem com literaturas que lhes
apresentem o mundo surdo. Além desses, existem outros clássicos infantis que foram
traduzidos para a língua de sinais, e com isso estimular a inserção das crianças surdas
nas práticas sociais de leitura.
O(a) professor(a) pode valorizar os aspectos culturais da criança surda, se isso
acontecer, ficará mais fácil alcançar bons níveis de qualidade no ensino e na
aprendizagem, num trabalho educacional bilíngue ou inclusivo que respeite os direitos
fundamentais dos surdos e o ambiente em que esses sujeitos precisam estar inseridos.
Um espaço de educação que priorize a Língua de Sinais, que o surdo tenha
representatividade e que também seja protagonista de um sistema formativo, requer a
articulação de todos os envolvidos nesse no espaço educacional, seja esse espaço
público ou privado, de caráter linguístico e cultural.
Para isso, precisamos refletir e perguntar a nós mesmos o que é currículo para
surdos? A resposta pode variar muito e pode depender da visão de mundo que se tem,
mas é importante perguntar a opinião dos professores surdos, o que pensam desse
currículo adequado à cultura surda e o que pensam que deve ser inserido na grade
curricular? Devemos pensar sobre como situar o papel do professor surdo nas escolas
de surdos e a visão dos ouvintes sobre ele, bem como o currículo na Educação de
Surdos.
1 CULTURA SURDA
Figura - Charge humorística que explica a cultura surda e o uso da Libras por seus usuários

Fonte:
disponível em: https://docplayer.com.br/43089685-Universidade-de-sao-paulo-instituto-de-psicologia-
alessandra-giacomet.html. Acesso em: 20 out. 2021.

A pesquisadora Karin Strobel em sua publicação “As imagens do outro sobre a


cultura surda” (2008), antes de iniciar a discussão propriamente dita sobre a cultura
surda, apresentou dois principais questionamentos que servem para refletirmos sobre
essa temática: Existe uma cultura surda? Os surdos produzem cultura?
Abrimos nossa Unidade de Estudos com esses questionamentos para
compreendemos alguns artefatos que estão diretamente ligados à cultura surda,
abordados por Strobel.
Bom, antes porém, é necessário saber que o marco da definição de cultura surda
é feito por Carol Padden, também uma acadêmica surda, no início dos anos 1980, como
um:

“[...] conjunto de comportamento aprendido de um grupo de pessoas que têm


sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradição, [...] membros
da cultura surda se comportam como surdos, usam a língua dos surdos e
compartilham as crenças das pessoas surdas em relação a si mesmas e outras
pessoas que não são surdas.” (PADDEN, 1980, p. 92-93).
Assim, até o final da década de 1980, os Estudos Surdos se baseavam
principalmente na dicotomia entre cultura surda/mundo surdo e mundo/cultura ouvinte.
Essa distinção foi reforçada por aqueles estudiosos – surdos principalmente – líderes no
ensino da ASL, já que essas aulas começaram a aumentar significativamente nos EUA,
visto que os ouvintes se matricularam em grande número para aprender o idioma. Por
exemplo, Carol Padden e Tom Humphries publicaram o curso para a aprendizagem de
ASL como segunda língua (L2), intitulado “Um curso básico da Língua de Sinais
Americana" (HUMPHRIES; PADDEN; O'ROURKE, 1980, p.1), no qual a Língua de sinais
foi vista como o idioma nativo e/ou principal dos surdos, incorporando seus valores e
experiências.
Assim, Pimenta (2001, p.24), ator surdo brasiliense, declara que ‘a surdez deve
ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da
diversidade humana, pois ser surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas
diferente’. Se consideramos que os surdos não são ‘ouvintes com defeito’, mas pessoas
diferentes, estaremos aptos a entender que a diferença física entre pessoas surdas e
pessoas ouvintes gera uma visão não-limitada, não determinística de uma pessoa ou de
outra, mas uma visão diferente de mundo, um ‘jeito Ouvinte de ser’ e um ‘jeito Surdo de
ser’, que nos permite falar em uma cultura da visão e outra da audição.
Os questionamentos trazidos acima por Strobel (2008), ocorrem pelo fato das
pessoas não conhecerem ou não saberem como é a cultura surda/mundo surdo,
Magnani (2007) argumenta que “[...] experiência com surdos era como a da maioria das
pessoas, a de alguma vez ter visto duas pessoas conversando por meio de sinais, sem
prestar maior atenção – o olhar não treinado não vai além do que o senso comum
registra.”

Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim


de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com suas percepções visuais, que
contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades
surdas. Isso significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os
hábitos do povo surdo. Sobre essas identidades, Perlin (2004) descreve que:
“[...] As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis
da cultura surda, elas moldam-se de acordo com a maior ou menor receptividade
cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade cultural, também
surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o indivíduo
representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos aspectos que o
tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os
deficientes, de menos valia social.” (PERLIN, 2004, p.77-78)

É essencial entendermos que a cultura surda é a identidade do povo surdo, povo


esse que tem uma comunidade, que compartilham em comum as normas, os valores e
os comportamentos.
Perlin (1998) em seus estudos sobre a questão identitária do surdo, diz que
identificar essa identidade dependerá de como esse sujeito se assume dentro da
sociedade, ela apresenta como pode ser definida essas identidades:
● Identidade flutuante: na qual o surdo se espelha na representação hegemônica
do ouvinte, vivendo e se manifestando de acordo com o mundo ouvinte;
● Identidade inconformada: na qual o surdo não consegue captar a representação
da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade subalterna;
● Identidade de transição: na qual o contato dos surdos com a comunidade surda
é tardio, o que os faz passar da comunidade visual-oral (na maioria das vezes
truncada) para a comunicação visual sinalizada – o surdo passa por um conflito
cultural;
● Identidade híbrida: reconhecida nos surdos que nasceram ouvintes e se
ensurdeceram e terão presentes as duas línguas numa dependência dos sinais e
do pensamento na língua oral;
● Identidade surda: na qual o ser surdo é estar no mundo visual e desenvolver sua
experiência na língua de sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são
representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, uma
formação de identidade que só ocorre entre os espaços culturais surdos.
Mas, existe uma cultura surda? Sim, se compreendermos que a cultura não está
apenas relacionada às etnias, ou nacionalidades, quase sempre vinculadas a
concepções biológicas (raciais) ou geográficas (de localização no espaço), mas como
elementos materiais e simbólicos que não apenas expressam, mas, sobretudo,
constituem os vínculos identitários que definem a organização de grupos sociais.
Os surdos, por exemplo, não possuem nenhuma marca “física” racial que os
identifique e, tampouco, habitam um mesmo território geográfico. No entanto, é inegável
nossa percepção de que os surdos compartilham experiências pautadas em referências
diferenciadas dos não surdos, que os identificam como parte de uma cultura minoritária,
cujo maior símbolo identitário é a língua de sinais. Ainda que a comunicação visual seja
a principal marca linguística que aproxima os membros dessa comunidade, existem
outros traços que se somam a essa experiência, dependentes das relações que os
surdos vivenciam em meio a outras referências culturais religiosas, étnico-raciais,
econômicas e assim por diante.
Sobre os artefatos culturais que a pesquisadora Karin Strobel (2008), surda da
Universidade Federal de Santa Catarina menciona em sua publicação, trago uma síntese
de cada um deles:
● Artefato cultural: linguístico – a língua de sinais é uma das principais marcas
da identidade de um povo surdo, por ser uma forma de comunicação que capta
as experiências visuais dos sujeitos surdos e possibilita a apropriação e
transmissão do conhecimento universal. Decorrente de sua modalidade visual-
espacial, a língua de sinais possui um sistema de escrita de base ideográfica,
denominado SignWriting (SW), contribuindo para superar o mito de seu caráter
ágrafo;
● Artefato cultural: familiar – a experiência de mais de 90% dos surdos
pertencerem a famílias ouvintes criarem uma forma de integração típica, marcada
pela carência de diálogo e entendimento da questão da cultura surda e da língua
de sinais. Em contrapartida, famílias surdas apresentam modos interativos muito
singulares em relação à questão da surdez de seus filhos. Na comunidade surda
é comum o casamento entre surdos e o debate sobre a identidade cultural dos
filhos de pais surdos, fazendo com que muitos casais almejem ter filhos surdos,
como decorrência natural da vida comunitária;
● Artefato cultural: literatura surda – a literatura surda traduz a memória das
vivências através das várias gerações dos povos surdos e se materializa em
diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos,
fábulas, contos, romances, lendas e outras manifestações culturais. Essa
produção é transmitida de geração em geração pela língua de sinais, a maioria
delas parte de experiências das comunidades surdas que transmitem seus valores
e orgulho da cultura surda que reforça os vínculos que une as gerações surdas
mais jovens. A literatura surda faz referência às ações de grandes líderes e
militantes surdos e a valorização de suas identidades na luta contra a opressão
de uma sociedade majoritariamente ouvinte;
● Artefato cultural: vida social esportiva – a vida social esportiva do povo surdo
é marcada por acontecimentos culturais, como casamentos entre os surdos,
festas, lazeres e atividades nas associações de surdos, eventos esportivos e
outros. As associações de surdos funcionaram, historicamente, como espaços de
recreação e lazer e, mais recentemente, como espaço de organização de suas
lutas políticas. A Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), o
Comitê Internacional de Esportes dos Surdos (CISS), o Pan Americano de
Deportes de Surdos (Panamdes), a Confederação Sudamericana Deportiva de
Surdos (Consudes), são entidades que buscam a difusão das atividades culturais
e esportivas dos surdos;
● Artefato cultural: artes visuais – as artes visuais são um meio para criações
artísticas que sintetizam emoções, histórias, subjetividades e cultura do povo
surdo. O artista surdo cria a arte para explorar novas formas de “olhar” e
interpretar a cultura surda, além da denúncia de cenas de opressões ouvintistas;
● Artefato cultural: política – outro artefato cultural influente das comunidades
surdas são as lutas políticas organizadas pelos movimentos e lutas em favor de
seus direitos. Os movimentos surdos são organizados politicamente no mundo
todo, como, por exemplo, a Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos (Feneis), a principal entidade representativa no Brasil, filiada à Federation
of The Deaf (WFD), com sede na Finlândia;
● Artefato cultural: materiais – o TDD (Telephone Device for the Deaf) um pouco
maior que um telefone convencional, na parte de cima existe um encaixe de fone
e, embaixo, um visor onde aparece escrito o que foi digitado e, mais embaixo, as
teclas para digitar; instrumentos luminosos como a campainha em casas e escolas
de surdos; despertadores com vibradores; legendas closed caption; babá-
sinalizadores, são exemplos de artefatos materiais da comunidade surda.

SAIBA MAIS

Para finalizarmos este tópico sobre a criança surda e a construção da sua


identidade, convido-lhe a assistir o documentário “Sou surdo e não sabia.”
Esse documentário conta a história de Sandrine, uma menina surda de nascença
que é filha de pais ouvintes. Ao frequentar a escola, a menina começa a questionar como
os demais colegas compreendem o que a professora estava ensinando. A partir disso
vamos compreender junto com Sandrine, como uma criança surda descobre que as
crianças de sua sala se comunicam através de sons, e que esses sons são produzidos
pelo movimento dos lábios através das palavras.
Esse documentário olha para a questão a partir de dentro, pela perspectiva de
Sandrine e sua história verídica. Paralelamente ao relato da autonomia conquistada com
a Língua de Sinais, o filme levanta a discussão sobre a conveniência do implante coclear
e da oralização de crianças surdas.
Depois de assistir a esse filme, podemos fazer uma relação entre ele, seu título e
o texto que estudamos a respeito da identidade surda. Já sabemos que é muito
importante refletir sobre as crianças surdas nos espaços educacionais onde devem
construir a sua identidade. Vamos assistir a esse filme inédito!!

Filme: “Sou Surdo e Não Sabia” https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc

Fonte: UNIASSELVI. A Experiência visual: educação infantil e ensino fundamental. Caderno de Estudos,
capítulo 3, Indaial-SC, 2012.

#SAIBA MAIS#
2 LITERATURA VISUAL

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/preschool-teacher-reading-story-children-
kindergarten-1203485464 Acesso em: 20 out. 2021.

A maioria de nós quando indagados sobre o que é literatura, trazemos à memória


algo que é escrito ou oral, histórias que nossos pais, avós, tios ou tias nos contavam,
quando éramos crianças e que ficaram guardados na nossa memória. Ouvir histórias
pelo prazer de conhecer histórias, imaginar cenários e personagens, acompanhar as
aventuras dos heróis ao fugir de bruxas, ao esconder-se de madrastas más, encontrar
príncipes, acordar princesas, vencer dragões, enfim esperar e torcer pelo final feliz, tudo
isso criava em nós as expectativas de mergulhar nesse mundo de fantasias e
imaginações, causando em nós uma atitude leitora, mesmo sem, nem ao menos ter o
contato com o significado das palavras grafadas nos mais diversos livros de histórias
infantis.
A literatura infantil, portanto, tem a criança como principal representante, pois a
representa sempre em busca de uma explicação que, mesmo quando mais lógica, é
ainda mágica. Por isso, o gosto pelo mundo sobrenatural com fadas, ogros e bruxas
serve para ‘dar asas à imaginação’.

Essas são as maravilhas sem precedentes da leitura: o poder dos livros em criar
mundos e a fácil absorção do leitor, a qual permite que o frágil mundo do livro,
todo ar e pensamento mantenha-se por um instante, uma casa de bambu e papel
entre terremotos; dentro dele os leitores adquirem paz, tornam-se mais
poderosos, sentem-se mais bravos e mais sábios pelos caminhos do mundo.
(NELL, 2001, p. 53).

Pensar que a literatura escrita vem de aproximadamente 5000 anos atrás,


registrada em tábuas de argila com escrita cuneiforme na antiga Babilônia, com a
epopeia de Gilgamesh. Registros literários da Grécia e da Roma Antigas têm sido
preservados de forma que até os dias de hoje podemos realizar sua leitura – seja no
idioma original, seja em suas traduções. Nós também podemos pensar nos clássicos da
literatura ao redor do mundo, como “Fausto”, de Goethe, “Anna Karenina”, de Tolstoy,
ou as peças e poesias de William Shakespeare. Na língua portuguesa, talvez nos
recordemos das obras de Camões no caso da Europa, enquanto no Brasil podemos
considerar grandes clássicos como “Grande Sertão Veredas”, de João Guimarães Rosa,
ou as obras de Jorge Amado. Também podemos pensar na literatura infantil, como “O
Menino Maluquinho”, de Ziraldo. Todos esses são livros impressos, mas se pensarmos
na literatura oral, temos a Literatura de Cordel que parece ter sido disseminada pelo
Brasil por meio da reprodução impressa, porém a tradição da declamação e do canto
persiste até os dias de hoje.
Acadêmico(a), não é surpreendente, então, pensarmos que a Libras, uma língua
que visual-gestual, também deve possuir uma literatura?
Neste tópico queremos apresentar a você, acadêmico(a) quatro tipos de
literaturas destacados por Rachel Sutton-Spence (2021), para cada literatura ela
apresenta critérios nas suas produções, mas ressalta que essas produções não precisam
contemplar simultaneamente esses quatro tipos de literaturas com seus critérios.

1. Literatura feita por surdos: pode ser criada e apresentada por surdos ou
elaborada originalmente por não surdos, mas adaptada e apresentada por pessoas
surdas. A narrativa Golf Ball, por Stefan Goldschmidt, é um exemplo desse tipo de
literatura, pois é feita por um ator surdo e destinada (principalmente) aos surdos, porém
não fala da experiência surda e não usa Libras, porque usa a técnica Vernáculo Visual
(é a técnica de contar histórias de uma forma muito visual sem utilizar o vocabulário de
sinais).

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Gl3vqLeOyEE

2. Literatura que atingir um público surdo: os ouvintes também podem apreciar


essa literatura, por exemplo os pais de crianças surdas ou professores que trabalham
com alunos surdos, semelhante à literatura infantojuvenil, que espera ter como leitores
crianças e jovens, sabendo, porém, que os adultos podem ser os seus leitores também.
A maior parte da literatura surda em que o destinatário imaginado é o público surdo é
criada por surdos, mas não é preciso ser assim. Autores ouvintes, ou autores surdos e
ouvintes em parceria, também criam literatura surda destinada aos surdos e que trata da
experiência ou do conhecimento dos surdos. Podemos ver um exemplo na narrativa O
Negrinho do Pastoreio, de Roger Prestes, foi apresentada em Libras por um autor
surdo e é destinada principalmente ao público surdo, mas tem origem não surda e não
fala da experiência dos surdos.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=ZZnxEAVkMaU
3. Literatura com assuntos que tratam da experiência de ser surdo: existem
muitos exemplos de literatura surda com a temática do “sujeito surdo”. Um autor surdo
pode escrever sobre a experiência surda para atingir um público ouvinte. Por outro lado,
alguns livros infantis têm autores ouvintes, mas desde que fale de uma pessoa surda e
esteja destinado ao público surdo, digamos que é um tipo de literatura surda. Como
exemplo podemos citar o Livro A Verdadeira Beleza, de Vanessa Lima Vidal, foi escrito por
uma autora surda e fala da experiência de uma pessoa surda. Não está apresentado em Libras,
mas em português, e o público esperado é tanto de ouvintes quanto de surdos.

Fonte: https://www.libras.com.br/surdos-famosos-vanessa-lima-vidal

4. Literatura surda produzida em Libras: pessoas surdas, convivendo com


ouvintes, em seu ambiente de trabalho ou com a família, se apropriam de meios visuais
para entender o mundo e se relacionar com as pessoas ouvintes. Essa experiência
visual, além do uso da língua de sinais, implica dividir a comunicação, o desejo de
estarem juntos é a força da vida em comunidade e a força de sua língua, de sua diferença
e isso também caracteriza a cultura surda. Alguns materiais existentes em Libras
traduzem os textos clássicos da literatura brasileira para a Libras, ou seja, literatura
adaptada de uma língua oral para uma língua sinalizada. A editora “Arara Azul”
disponibiliza a coleção “Clássicos da Literatura em CD-R em Libras/Português,
traduzidos por intérpretes de Libras como: Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol;
As Aventuras de Pinóquio de Carlo Collodi; A História de Aladim e a Lâmpada
Maravilhosa (autor desconhecido); Iracema de José de Alencar; O Velho da Horta de Gil
Vicente; O Alienista; O Caso da Vara; A Missa do Galo; A Cartomante; O Relógio de
Ouro, contos de Machado de Assis. Outro exemplo de literatura surda produzida em
Libras é história A Rainha das Abelhas, contada por Mariá de Rezende Araújo, foi
apresentada por uma tradutora ouvinte e tem origem não surda (por ser um conto de
fadas dos irmãos Grimm), então não fala da experiência dos surdos. Porém, está contada
em Libras e é destinada ao público surdo.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nXI4aO2_G3E

A partir do ano 2000 a Literatura surda produzida em Libras, passou a contar com
a análise de livros infantis impressos contendo personagens surdos como:

Figura 1 - Literatura Surda

Fonte: Arquivos da autora (2021)

✔ Rapunzel Surda: é um livro de literatura infantil do Brasil escrito em língua de


sinais. O livro Rapunzel Surda é uma versão do tradicional conto que insere
elementos da cultura e identidade surda. Essa releitura inédita da história é
acompanhada da escrita dos sinais (SW), ilustrações e uma versão em português.
Voltada para o público surdo infantil, a obra é o resultado da pesquisa
desenvolvida por Lodenir Becker Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa.
✔ Patinho Surdo: conta o nascimento de uma ave pertencente a outra
espécie em um ninho de cisnes ouvintes e a dificuldade em estabelecer-se uma
comunicação entre eles são contados em ‘Patinho surdo’. No livro, o protagonista
reencontra a sua família e aprende a linguagem de sinais usada pelos bichinhos
da lagoa.

✔ Tibi e Joca: este livro pode ser facilmente compreendido por crianças
surdas e ouvintes. Esta é a história de Joca, um menino especial, e seu amigo
Tibi. Joca é surdo. Juntos, eles fazem uma descoberta que mudará as vidas de
Joca e sua família. Uma descoberta que pode ser importante para você também.

✔ Adão e Eva: os autores contam a origem da língua de sinais através da


criação do casal feita por Deus. Na história, os dois ficam sem roupa após
comerem a maçã e veem-se obrigados a usar a fala, já que as mãos estão
ocupadas em esconder a nudez dos corpos. A versão dessa história é recorrente
de encontro entre os autores e a comunidade de surdos, no qual são contados e
recontados vários clássicos da literatura.

✔ Cinderela Surda: a estrutura da narrativa é a mesma do conto tradicional,


apenas com a inserção de elementos significativos na comunidade surda.
Cinderela é uma jovem surda que convive com a madrasta e as irmãs. Que
desconhecem a língua de sinais e se comunicam por poucos gestos, por isso,
sente-se sozinha e abandonada. O conto destaca elementos importantes da
cultura surda, como sua história, sua língua e a valorização desses aspectos, ao
final do livro, invertendo a lógica de opressão em relação às diferenças culturais
relativas aos surdos. Tal como no conto tradicional, Cinderela surda conquista a
felicidade depois de superar muitas dificuldades difíceis obstáculos relativos à
discriminação e enfrentar duras tribulações.
3 LITERATURA VISUAL SURDA, LIBRAS E O ENSINO
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-cute-caucasian-baby-girl-2-2009420486
Acesso em: 20 out. 2021.

A literatura desempenha um importante papel no desenvolvimento de todas as


crianças. Andrews e Baker (2019, p. 7) explicam que histórias e outras formas de jogos
de linguagem em língua de sinais são importantes para aspectos como:

“[...] desenvolvimento motor, comunicação, habilidades socioemocionais,


conhecimento do mundo, cognição, linguagem e alfabetização.” O ensino de
literatura infantil deve incluir histórias e jogos que “[...] manipulam a estrutura
abstrata, sublexical ou fonológica dos sinais para fornecer às crianças
experiências de linguagem lúdicas.” (ANDREWS; BAKER, 2019, p. 5).

Essa literatura surge simultaneamente para instruir, divertir e educar, trazendo a


criança ao mundo com o qual ela se identifica e no qual ela se sente livre para formar
suas capacidades intelectuais, pessoais e sociais, visto que ela ainda está em um
processo de formação de experiências reais.
A literatura nada mais é do que uma fonte saudável de alimentação para a
imaginação infantil. A palavra tem sua beleza própria, mas só reconhece quem sabe usá-
la:
“(...) já aos dois anos e meio as crianças constroem monólogos nos quais inter-
relacionam a reflexão sobre sua experiência com a contemplação da linguagem,
como um jogo de repetições e variações. Muito rapidamente estes monólogos e
cadências se integram no quadro proporcionado pelas convenções culturais das
narrativas, canções ou poemas (...) a inclusão de várias fórmulas de início e fim,
o uso de imperfeito, a intenção de estabelecer relações causais entre os
acontecimentos, etc., supõem indícios que mostram que as crianças
aprenderam, que as histórias requerem o uso diferenciado da linguagem.”
(COLOMER, 2003, p.90).

As histórias infantis podem, assim, trabalhar na formação moral, social e literária


da criança, acompanhando-a em seus momentos particulares e provendo, por intermédio
da transposição do real, a melhor compreensão do mundo.
Quando a criança surda é inserida no mundo da escrita, tornando-se parte em
atividades em que a leitura é feita para que se conheça mais sobre um tema de interesse,
quando ela mesma com esse texto internalizado sinaliza as histórias infantis lidas,
despertando nelas o prazer em conhecer essas histórias, quando o professor prioriza
esse envolvimento com a literatura, atribuindo sentido à leitura, torna-se uma
possibilidade de tornar possível a formação de uma atitude positiva da criança surda em
relação à escrita. Com isso, cria-se nessa criança uma atitude em relação à leitura que
favorece sua aprendizagem e seu desenvolvimento.
Nos tópicos anteriores vimos várias possibilidades de trabalharmos a literatura
com as crianças surdas, porém o desafio está em formar nessa criança surda um motivo
para a leitura de um texto escrito por ela ou para ela, e que esse traga à tona a sua
cultura, sua comunidade e sua identidade, ou seja, temos que despertar na criança surda
uma atitude de leitura, motivada pela compreensão da informação e do sentimento
expresso no texto.
Na formação das crianças ouvintes frente ao sentido para a leitura e da escrita
adequada ao seu significado social, podemos observar duas situações distintas: uma em
que a criança inicia o contato com a cultura escrita na escola; e outra em que a criança
chega à escola, tendo já formado para si um sentido para a escrita alheio a sua função
social, porém, tanto em um como em outro, a literatura infantil pode contribuir fortemente
para formar nessas crianças uma atitude leitora e produtora de textos e aí, é claro que
precisamos levar em consideração que essas crianças vêm de um ambiente familiar
onde circulam com mais facilidades o contato com a leitura, a escrita e a comunicação
em sua língua natural.
Mas, e nas crianças surdas? Como podemos formar nelas essa atitude leitora e
produtora de textos, como elas vão criar um sentido para a cultura escrita e tornar esse
momento prazeroso, visto que a maioria está inserida em um espaço familiar e escolar
onde não existe uma circulação e, muitas vezes, aceitação para essas produções
literárias adaptadas ou mesmo com personagens que as representem, que sirvam de
referência para a sua comunidade?
Sabemos que as marcas históricas de uma proibição do uso da língua de sinais,
perduram até hoje, as consequências desse longo período, resultaram num ensino que
prioriza a aprendizagem da fala e da Língua Portuguesa, no reconhecimento de uma
cultura surda e na produção de literatura surda, tardiamente.
O registro da literatura surda começou a ser possível principalmente a partir do
reconhecimento da Libras aprovada na Lei Federal nº10436/02 e regulamentada no
Decreto Federal 5626/05, com o desenvolvimento tecnológico, que possibilitaram formas
visuais de registro dos sinais.
Nesse sentido, precisamos trazer a cultura surda e a Literatura Surda para as
salas de aula bilíngues (STROBEL, 2008; MOURÃO, 2011) e também para as salas de
aulas inclusivas, possibilitando que surdos e ouvintes conheçam esse tipo de literatura.
Para fazer isso de maneira mais eficaz, precisamos pedir a opinião dos professores
surdos na literatura (ROSA; KLEIN, 2011). A Pedagogia Visual é um elemento importante
da educação (CAMPELLO, 2007) e a literatura mostra a Libras na sua forma mais criativa
e visual.
Lembramos também que, mesmo o ensino e a aprendizagem de Literatura Surda
sendo fundamentais para as crianças surdas, também são importantes para os adultos
surdos e os adultos ouvintes aprendizes da Libras como segunda língua – por exemplo,
os pais de filhos surdos, professores bilíngues e outros profissionais que trabalham com
surdos. Da mesma forma, os alunos ouvintes que têm colegas surdos na mesma sala de
aula devem aprender Libras como segunda língua nas escolas para que haja uma real
inclusão escolar naquele espaço. Nesse contexto, a Literatura Surda se mostra como
uma maneira de ensinar a Libras por meio da ludicidade.
Com certeza, o ensino de literatura em Libras tem um caráter de entretenimento
e diversão, um dos principais motivos para que ela seja inserida nas aulas. Além disso,
pode ser utilizada no ensino de diferentes áreas do conhecimento – nas aulas de História,
Geografia, Ciências e até Matemática, as quais podem contar com histórias e jogos de
linguagem. Para os alunos surdos, a literatura tem um papel de aculturação e auxílio na
exploração e desenvolvimento da língua, analisando seus limites e dando ao
autor/narrador uma oportunidade de mostrar suas habilidades linguísticas.
Os professores precisam chamar a atenção dos alunos para a linguagem
(SUTTON-SPENCE; RAMSEY, 2010). É importante que os alunos surdos entendam o
objetivo de estudar a Literatura Surda (SCOTT, 2010). Idealmente, eles devem ver seus
professores apresentando a literatura, mas se o professor não tiver as habilidades
necessárias para a produção, eles podem assistir outras obras em vídeo e o professor
pode enfatizar os elementos literários ali presentes.
Mas como o aluno aprende a contar histórias? Primeiramente, pela observação
enquanto o professor conta histórias ou as apresenta em vídeo; em seguida, no momento
em que o aluno copia essa história do professor. Num ato coletivo, o professor pode
incentivar a história de um aluno enquanto os outros assistem, apoiam e comentam, ou
os alunos podem criar histórias coletivamente. Porém, nada disso deve acontecer sem
que o professor ensine explicitamente quais são as técnicas de contação de história.
4 DESENVOLVIMENTO DAS ETAPAS DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
PARA SURDOS

Figura - Muro da Escola Municipal Noêmia Ribeiro do Amaral em Paranavaí – PR

Fonte: disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/cidades/giro-pelo-parana---libras-enfeitam-


muro-de-escola-de-paranavai-2956092e.html. Acesso em: 20 out. 2021.

Focamos até agora na literatura visual, principalmente na Literatura em Libras,


porém sabemos que o letramento em Libras adianta o desenvolvimento do letramento
em português. Assim, o ensino da Literatura Surda em Libras pode apoiar o estudo da
Literatura na Língua Portuguesa, ajudando os alunos a apreciar a literatura escrita e
mantendo o “bi” em bilíngue.
O ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos é um processo complexo
tanto para o aluno quanto para o professor, um procedimento que deve ser regido por
metodologias que valorizem e respeitem a experiência visual e linguística do surdo.
Dessa forma, é necessário pensar em metodologias e concepções que assegurem aos
alunos surdos bom desempenho na aprendizagem, assim como na avaliação.
Muitos surdos não gostam de literatura escrita, seja porque é difícil de entender
as referências linguísticas ou culturais, seja porque não conhecem as convenções da
língua em questão (SUTTON-SPENCE, 2020; SPOONER, 2016). Nesse viés, as
traduções de literatura escrita para formas literárias em Libras, pautadas nas normas
surdas de literatura, auxiliam muito no estudo do texto original. Além disso, é sabido que
discutir sobre a literatura escrita pela língua de sinais permite que os alunos
compreendam melhor as ideias nela inseridas (LANG, 2007).
O livro “Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática
pedagógica” volume II, publicado em 2007 pela autora Heloisa Maria Moreira Lima
Salles, nos faz compreender a relação entre a leitura em português (L2) e Libras,
segundo a autora, a leitura deve ser uma das principais preocupações no ensino de
português como segunda língua para surdos, tendo em vista que constitui uma etapa
fundamental para a aprendizagem da escrita.
Nesse processo, o professor deve considerar, sempre que possível, a importância
da língua de sinais como um instrumento no ensino do português. Recomenda-se que,
ao conduzir o aprendiz à língua de ouvintes, deve-se situá-lo dentro do contexto,
valendo-se da sua língua materna (L1), que, no caso em discussão, é a Libras.
É nessa língua que deve ser dada uma visão apriorística do assunto, mesmo que
geral. É por meio dela que se faz a leitura do mundo para depois se passar à leitura da
palavra em Língua Portuguesa. A língua de sinais deverá ser sempre contemplada como
língua por excelência de instrução em qualquer disciplina, especialmente na Língua
Portuguesa, o que coloca o processo ensino e aprendizagem numa perspectiva bilíngue.
Considerando que o aluno surdo tem a Libras como língua materna, na escola ele
aprenderá uma Língua Adicional, no caso, a Língua Portuguesa na modalidade escrita.
A língua adicional é construída a partir da língua que o aluno já conhece. O sistema
linguístico envolvendo a semântica, o léxico e a sintaxe, é construído sobre a língua já
conhecida, muitas vezes constituindo contrastes, como, por exemplo, na estrutura da
língua.
A autora Heloisa Salles (2007), ainda sugere uma série de procedimentos
importantes nesse processo.
Segundo Garcez (2001 p. 24), reconhecer e entender a organização sintática, o
léxico, identificar o gênero e o tipo de texto, bem como perceber os implícitos, as ironias,
as relações estabelecidas intra, inter e extratexto, é o que “torna a leitura produtiva”. No
caso do surdo, alguns dos procedimentos são imprescindíveis, e o professor deve
sempre estar atento para conduzir o seu aprendiz a cumprir etapas, que envolvem
aspectos macroestruturais: gênero, tipologia, pragmática e semântica (textuais e
discursivos) e microestruturais: gramaticais/lexicais, morfossintáticos e semânticos
(lexicais e sentenciais).
Aspectos macroestruturais:
● Analisar e compreender todas as pistas que acompanhem o texto escrito: figuras,
desenhos, pinturas, enfim, todas as ilustrações;
● Identificar, sempre que possível, nome do autor, lugares, referência temporais e
espaciais internas ao texto;
● Situar o texto, sempre que possível, temporal e espacialmente;
● Observar, relacionando com o texto, título e subtítulo;
● Explorar exaustivamente a capa de um livro, inclusive as personagens, antes
mesmo da leitura;
● Elaborar, sempre que possível, uma sinopse antes da leitura do texto;
● Reconhecer elementos paratextuais importantes tais como: parágrafos, negritos,
sublinhados, travessões, legendas, maiúsculas e minúsculas, bem como outros
que concorram para o entendimento do que está sendo lido;
● Estabelecer correlações com outras leituras, outros conhecimentos que venham
auxiliar na compreensão;
● Construir paráfrases em Libras ou em português (caso já tenha um certo domínio);
● Identificar o gênero textual;
● Observar a importância social e discursiva, portanto pragmática, do gênero
textual;
● Identificar a tipologia textual;
● Ativar e utilizar conhecimentos prévios;
● Tomar notas de acordo com os objetivos.
Aspectos microestruturais:
● Reconhecer e substituir palavras-chave;
● Tentar entender, se for o caso, cada parte do texto, correlacionando-as entre si:
expressões, frases, períodos, parágrafos, versos, estrofes;
● Identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos;
● Relacionar, quando possível, esses fragmentos a outros;
● Observar a importância do uso do dicionário;
● Decidir se deve consultar o dicionário imediatamente ou tentar entender o
significado de certas palavras e expressões observando o contexto,
estabelecendo relações com outras palavras, expressões ou construções
maiores;
● Substituir itens lexicais complexos por outros familiares;
● Observar a lógica das relações lexicais, morfológicas e sintáticas;
● Detectar erros no processo de decodificação e interpretação;
● Recuperar a ideia geral de forma resumida.

Em suma, segundo a autora, é importante ressaltar que, para cada texto, existe
um conjunto de procedimentos adequados à compreensão, e, portanto, é impraticável a
aplicação de todos os procedimentos listados à leitura de um único texto.
No cenário da educação de alunos surdos, frequentemente nos deparamos com
professores afirmando que alunos surdos não usam adequadamente a Língua
Portuguesa escrita. A limitação auditiva, certamente, é apontada como a responsável por
essa inaptidão quanto a essa modalidade da língua, transferindo a responsabilidade da
não aprendizagem para o aluno surdo. O processo de aprendizagem envolve
professores, alunos e práticas utilizadas para o ensino de Língua Portuguesa,
necessitando, portanto, de reflexão.
Em relação à aprendizagem de Língua Portuguesa, o aluno ouvinte tem uma
vantagem notória sobre o aluno surdo, pois apreende a língua e suas facetas no convívio
diário, o que favorece sua compreensão e sua formulação de hipóteses, durante o
processo de construção do conhecimento linguístico. O sujeito surdo, por sua vez, não
aprende a Língua Portuguesa de forma natural, uma vez que ela é um registro escrito de
uma língua oral-auditiva, e a surdez impede que sua aprendizagem aconteça de forma
completa, já que não possui acesso ao input necessário a essa aquisição.
Segundo a teoria sociointeracionista, o desenvolvimento cognitivo se dá através
da interação em situações sociais concretas, e é facilitado quando o aprendiz recebe
suporte de um interlocutor mais experiente, seja professor ou colega de aula. No caso
do aluno surdo, é necessário um mediador que possa orientá-lo durante a interação,
permitindo a ele relacionar os conhecimentos linguísticos da Libras e os conhecimentos
linguísticos da Língua Portuguesa escrita, sendo esse o princípio para pensar ou
repensar metodologias.

5 PRODUÇÃO DIDÁTICA PARA O APRENDIZADO DE LIBRAS COMO SEGUNDA


LÍNGUA NA FORMAÇÃO DOS ACADÊMICOS
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-couple-making-hearts-paper-valentine-
1017701308 Acesso em: 20 out. 2021.

O compartilhamento dos materiais expostos, a partir de agora, foram pensados,


elaborados e produzidos pelos acadêmicos ouvintes dos cursos de Pedagogia, Letras,
Ciências Biológicas, História, Geografia, Matemática, Serviço Social, Educação Física e
Enfermagem da Universidade Estadual do Paraná, campus Paranavaí durante os anos
de 2015 e 2016 sob a orientação da professora autora dessa Unidade de Estudos em
conjunto com o professor surdo Murilo Sbrissia Pitarch Forcadell. Em todas as produções
foi ressaltada a importância do professor surdo avaliar e contribuir no sentido de que
esses materiais fossem preparados e adaptados para atender especificamente aos
alunos surdos. A visão e as orientações de um educador, também surdo, e com ampla
experiência na área educacional dos surdos, fez com que o trabalho acadêmico fosse
além de simplesmente construir um material para receber uma nota bimestral; mas,
passou a ser elaborado e produzido pelos acadêmicos, valorizando a diferença que
esses materiais poderiam fazer na vida educacional dos alunos surdos e na ação
docente dos professores, enquanto educadores de alunos surdos.
Toda produção deste material pode ser encontrada na Dissertação de Mestrado
da professora Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell (2017).

● Literatura Surda: produção de histórias infantis com personagens surdos

Por meio da produção dessa literatura os acadêmicos ouvintes puderam


conhecer, produzir e interagir com obras criadas ou adaptadas para o público surdo, uma
vez que a elaboração e a produção dessas literaturas traziam como personagens
principais da história, surdos que se comunicavam com outros personagens utilizando-
se da língua de sinais. Nessa perspectiva, apresentamos, a seguir, uma mostra das
literaturas de histórias infantis com personagens surdos, produzidas pelos acadêmicos
ouvintes da Universidade em parceria com surdos de diferentes ambientes sociais e
educacionais.

Figura 2 - Produção Acadêmica de Literaturas com Personagens Surdos


Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado

● Lúdico em Libras: produção de jogos e brincadeiras para educação de


surdos e ouvintes em Língua de Sinais

Apresenta-se como um material para surdos e ouvintes, o professor, mesmo não


tendo amplo conhecimento da Língua de Sinais, poderá introduzir no ambiente
educacional os primeiros contatos com a língua, em sala de aula regular, priorizando a
prática lúdica da aprendizagem da Libras. Ao trabalhar como docente da disciplina de
Libras na Universidade, pudemos perceber que, na medida em que os conteúdos
teóricos ensinados aos acadêmicos eram expostos, havia a necessidade de transformar
essa teoria em prática para que eles pudessem, por meio da atividade lúdica,
compreender esses conteúdos.

Figura 3 - Produção Acadêmica de Jogos Adaptados para Surdos


Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado

● Literatura em Libras: produção de histórias infantis adaptadas para a Língua


Brasileira de Sinais

Atualmente, já existem várias literaturas clássicas infantis traduzidas da Língua


Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais. Essas adaptações literárias estão sendo
utilizadas pelas escolas bilíngues para surdos, mas, também, têm sido usadas, inclusive,
por escolas regulares inclusivas para surdos. A representação desse tipo de literatura
tem permitido que alunos ouvintes se interessem e aprendam a língua de sinais e acima
de tudo, reconheçam, valorizem e respeitem a comunidade surda ou o povo surdo. A
produção que ora apresentamos foi feita em equipes, e cada equipe escolheu uma
história infantil já existente em Língua Portuguesa para adaptá-la para a Língua Brasileira
de Sinais. Além disso, a escolha também se deu pelo fato de que, os trabalhos realizados
demonstraram muito envolvimento com a atividade proposta. Um exemplo claro desse
fato é que eles reconheceram a importância da literatura, que propicia sentimentos,
emoção e reflexão, considerando o valor da cultura surda. Os produtores dessas
literaturas, não são Tradutores/Intérpretes de Libras, não são professores da língua de
sinais, também não são fluentes em língua de sinais, muitos nunca tiveram contato com
surdos ou com a Libras em seu dia a dia, são apenas acadêmicos aprendizes da língua
de sinais.

Figura 4 - Produção Acadêmica de Literatura Adaptada para Surdos

Fonte: Forcadell, Elizete (2017). Dissertação de Mestrado

SAIBA MAIS
A pesquisadora surda Karin Strobel procura desconstruir o conceito de várias
culturas surdas em que ela diz: “A cultura surda, ao analisarmos a sua história, vê-se
que ela foi marcada por muitos estereótipos, seja através da imposição da cultura
dominante, ou das representações sociais que narram o povo surdo como seres
deficientes.
Existem muitos autores que escrevem bonitos livros sobre oralismo, bilingüismo,
comunicação total, ou sobre os sujeitos surdos... Mas eles realmente conhecem-nos?
Sabem sobre a cultura surda? Eles sentiram na própria pele como é ser surdo?
Essa é uma reflexão importante a ser feita atualmente, porque essas
metodologias citadas não foram criadas pelo povo surdo e sim pelos ouvintes, não digo
que seja errado, o que quero dizer é que essas metodologias não seguem a cultura
surda... o que o povo surdo almeja realmente é a pedagogia surda. Para a comunidade
ouvinte que está mais próxima de povo surdo - os parentes, amigos, intérpretes,
professores de surdos – para os mesmos, reconhecer a existência da cultura surda não
é fácil, porque no seu pensamento habitual acolhem o conceito unitário da cultura e, ao
aceitarem a cultura surda, eles têm de mudar as suas visões usuais para reconhecerem
a existência de várias culturas, de compreenderem os diferentes espaços culturais
obtidos pelos povos diferentes. Mas não se trata somente de reconhecerem a diferença
cultural do povo surdo, e sim, além disso, de perceberem a cultura surda através do
reconhecimento de suas diferentes identidades, suas histórias, suas subjetividades, suas
línguas, valorização de suas formas de viver e de se relacionar.
Acadêmico(a), essa foi uma parte da entrevista concedida pela pesquisadora em
2 de março de 2008 ao blog Vendo Vozes, que você pode saber mais através deste link:
http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel

Fonte: Strobel (2008). Disponível em: http://www.blogvendovozes.com/search/label/Karin%20Strobel


Acesso em: 27 de out. 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA
VOCÊ PRECISA SER SURDO PARA ENTENDER

Como é "ouvir" uma mão?


Você precisa ser surdo para entender!
O que é ser uma pequena criança
na escola, numa sala sem som
com um professor que fala, fala e fala
e, então
quando ele vem perto de você
ele espera que você saiba o que ele disse?

Você precisa ser surdo para entender!


Ou o professor que pensa
que para torná-lo inteligente
você deve, primeiro, aprender
como falar com sua voz
assim
colocando as mãos no seu rosto
por horas e horas
sem paciência ou fim
até sair algo indistinto
assemelhado ao som?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é ser curioso
na ânsia por conhecimento próprio
com um desejo interno
que está em chamas
e você pede a um irmão, irmã e amigo
que respondendo lhe diz:
"Não importa"?
Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar de castigo num canto
embora não tenha feio
realmente nada de errado
a não ser tentar fazer uso das mãos
para comunicar a um colega silencioso
um pensamento que vem, de repente, a sua mente?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é ter alguém a gritar
pensando que irá ajudá-lo a ouvir
ou não entender as palavras
de um amigo que está tentando
tornar a piada mais clara
e você não pega o fio da meada
porque ele falhou?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é quando riem na sua face
quando você tenta repetir o que foi dito
somente para estar seguro que você entendeu
você descobre que as palavras foram mal entendidas?
E você quer gritar alto:
"Por favor, me ajude, amigo!

Você precisa ser surdo para entender!


Como é ter que depender de alguém
que pode ouvir
para telefonar a um amigo
ou marcar um encontro de negócios
e ser forçado a repetir o que é pessoal
e, então, descobrir que seu recado
não foi bem transmitido?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é ser surdo e sozinho
em companhia dos que podem ouvir
e você somente tenta adivinhar
pois não há ninguém lá com uma mão ajudadora
enquanto você tenta acompanhar
as palavras e a música?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é estar na estrada da vida
encontrar com um estranho que abre a sua boca
e fala alto uma frase a passos rápidos
e você não pode entendê-lo e olhar seu rosto
porque é difícil
e você não o acompanha?

Você precisa ser surdo para entender!


Como é compreender alguns dados ligeiros
que descrevem a cena
e fazem você sorrir
e sentir-se sereno com
a "palavra falada' de mão em movimento
que torna você parte deste mundo tão amplo?

Autores:Willerd e Madsen

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta Unidade foram enfocados três principais assuntos: a Cultura Surda,


abordando as identidades dos surdos e os artefatos culturais desse povo; a Literatura
Surda em Libras, que cria uma experiência prazerosa e visual no público surdo e a
importância de ensinar essa literatura nas escolas para alunos surdos e ouvintes. É
preciso não esquecer que a língua de sinais brasileira é o produto da própria cultura
Surda que de modo subjetivo e objetivo criou a própria identidade, devido à “experiência
visual” que constitui todo o seu ser como sujeito, apesar de as identidades serem
fragmentadas, produzindo várias identidades. E, com o efeito do multiculturalismo e as
transformações às quais os Surdos foram submetidos pelos colonizadores, criaram uma
resistência, no pós-modernismo, transformando-se em sujeito atuante e participativo
dentro da sociedade não-surda.
Vimos que o letramento dos alunos surdos vai além dos livros, por isso qualquer
professor – seja ele surdo ou ouvinte, com o dom de contar histórias ou não – pode
mostrar aos seus alunos surdos a riqueza da Literatura Surda em Libras. Juntos, os
professores e alunos podem assistir à literatura, explorar e conhecer a riqueza da
linguagem estética, estimulando ainda mais a produção artística e criativa da Libras.
A “experiência visual” também é um “espaço de produção” (QUADROS, 2007),
igualmente na teoria cultural e de Estudos Surdos, que provêm da constituição dos
Surdos apresentando seus diversos artefatos, como: língua de sinais, história cultural,
identidade, pedagogia, literatura, artes, trabalho, tecnologia, teatro, pintura, e outros. E
destes cria-se um pertencimento cultural que, por meio da visualidade, se apropria, se
medeia e transmite a cultura, proporcionando vários significados capazes de promover
a sociabilidade e a identidade através da visualidade e da “experiência visual” como
protagonistas dos processos culturais da comunidade Surda. A língua de sinais é um dos
artefatos de comunicação e de instrução.
LEITURA COMPLEMENTAR

Recomendo a leitura do artigo “Existe uma cultura surda?” de Nídia Limeira de


Sá, mãe de surda, psicóloga, mestre e doutora em Educação, professora da Faculdade
de Educação da Universidade Federal da Bahia, coordenadora do Espaço Universitário
de Estudos Surdos. A autora expõe argumentos em favor de os surdos apresentarem
processos culturais específicos, em oposição a serem tratados apenas como um grupo
de deficientes ou incapacitados. Você pode encontrar esse artigo acessando o link:
www.feneis.org.br/arquivos/identidade_surdas.pdf
LIVRO

Título: As imagens do outro sobre a cultura surda


Autor: Karin Strobel
Editora: UFSC - Florianópolis (2008)
Sinopse: O livro narra a experiência visual dos surdos e os diferentes artefatos culturais
que corroboram a existência de uma cultura surda, buscando inverter a lógica da visão
patológica que vê os surdos apenas como um grupo de deficientes para a compreensão
deles como um povo que, organizados em comunidades, produzem uma cultura própria.

LIVRO
Título: Literatura em Libras
Autor: Rachel Sutton-Spence
Editora: Arara Azul - Petrópolis - RJ (2021)
Sinopse: “Literatura em Libras”, celebra a riqueza, a criatividade e a genialidade da
Libras. Apresenta alguns conceitos fundamentais da literatura em Libras, detalhando a
produção de narrativas, os elementos da linguagem estética de Libras e a inter-relação
entre a sociedade e esta literatura. Tenta entender melhor como ela é enquanto é
possível conhecer as obras literárias de Libras, analisar os exemplos e comentar sobre
eles. No livro há uma sequência de obras literárias que é possível assistir, ler/ver, além
de atividades que ajudam na compreensão do leitor.

LIVRO
Título: Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica
Autor: Heloisa Maria Moreira Lima Salles
Editora: MEC, SEESP - Brasília (2007)
Sinopse: Os livros têm como objetivo, apoiar e incentivar a formação profissional de
professores proporcionando acesso a materiais que tratam do ensino da Língua
Portuguesa a alunos surdos usuários de Libras.
FILME/VÍDEO

Na internet, vemos uma quantidade significativa de traduções em Libras de livros


escritos por autores ouvintes, originalmente em português. Essas traduções não têm um
conteúdo surdo, porém esses livros traduzidos oferecem uma boa oportunidade para que
alunos surdos leiam e compreendam as mesmas histórias que seus colegas ouvintes. A
coleção “Mãos Aventureiras”, de Carolina Hessel Silveira, disponível no link:
https://www.ufrgs.br/maosaventureiras/ é uma das plataformas com muitos recursos,
traduzidos por artistas surdos brasileiros que trago como sugestão. Mesmo não sendo
histórias que envolvem personagens surdos, as traduções permitem que pelo menos os
elementos estéticos da Libras entrem na sala de aula. Nas boas traduções, as crianças
surdas vão identificar exemplos da utilização criativa e imaginativa da Libras, sentindo
orgulho de sua língua visual.

Título: Mãos Aventureiras


Ano: 2017
Sinopse: O blog apresenta uma série de livros publicados por autores brasileiros ou
estrangeiros, para crianças. As aventuras são narradas em Libras para a comunidade
surda, com o objetivo principal de unir a Língua Brasileira de Sinais com a literatura
infantil. São apresentadas variadas histórias com diversos assuntos, ilustrações
diferentes.
REFERÊNCIAS

ANDREWS, J.; BAKER S. ASL nursery rhymes: exploring a support for signing deaf
children: early language and emergent literacy skills. Sign Language Studies, Washington
DC, n. 20, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Especial.


Legislação específica. Lei de Libras (Lei 10.436). Brasília: MEC/SEESP, 2002.
Disponível em: <http://www.mec.gov.br/seesp/legislação.shtm>. Acesso em: 03 ago
2021.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Especial.


Legislação específica. Decreto 5626 que regulamenta a Lei de Libras (Lei 10.436).
Brasília: MEC/SEESP, 2005. Disponível em: <
http://www.mec.gov.br/seesp/legislação.shtm>. Acesso em: 03 ago 2021.

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COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário: narrativa infantil e juvenil atual.


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FORCADELL, Elizete P. C. S. P. O Ensino de Libras na Universidade: políticas,


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Universidade Estadual do Paraná, 2017.180 f.

GARCEZ, L. H. do C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever.


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interfaces com as políticas linguísticas. Educação Unisinos, São Leopoldo, 2020.

SUTTON-SPENCE, Rachel. Literatura em Libras [livro eletrônico]; [tradução Gustavo


Gusmão] 1. ed. Petrópolis, RJ : Editora Arara Azul, 2021.
UNIDADE II
ESTRUTURA, EXPRESSÃO, CONCEITOS DÊITICOS/ANAFÓRICOS E FIGURAS DE
LINGUAGEM NA LÍNGUA DE SINAIS
Professora Mestre Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell

Plano de Estudo:
A seguir apresenta-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

● A estrutura de frases em Libras;


● Expressão e conceitos em Libras: dimensões evolutivas em Libras metafóricas e
descritivas;
● Uso de espaços na enunciação em Libras dêixis em processos de descrição;
● Figuras de linguagem na língua de sinais e suas diferentes formas de
manifestação.

Objetivos de Aprendizagem:
● Expressões da Libras;
● Descrição e uso do espaço;
● Referentes locais: aspectos sintáticos da Libras e figuras de linguagens;
● Uso dêitico e processos anafóricos.
INTRODUÇÃO

É com satisfação que iniciamos e lhes entregamos mais uma Unidade de Estudos,
um material instrucional de Língua Brasileira de Sinais, que traz em sua composição um
ensino sistemático dessa língua, para que você, acadêmico(a) aprenda a se comunicar
com os surdos e oferecer um melhor atendimento docente para essa comunidade.
Para começar, vamos explorar as expressões da modalidade visual da Libras,
pensaremos também como a iconicidade e a incorporação afetam a linguagem figurativa
da Libras.
Conhecer uma língua requer conhecer bem como se podem dizer as coisas nessa
língua. Nem sempre uma palavra isolada tem o mesmo significado quando ela está em
uma frase, pois os sinais assim como as palavras vão estabelecendo uma rede de
relações. Isso quer dizer que unidades linguísticas não são totalmente autônomas do
ponto de vista conceitual.
Com a inserção da gramática da Língua Brasileira de Sinais, é necessário
entender também as propriedades dessa língua de acordo com sua modalidade viso-
gestual.
Para ter a “imersão” da Língua Brasileira de Sinais, é fundamental ter na mente a
ampliação de conhecimento sobre o uso dessas propriedades da Língua de Sinais
utilizada pela comunidade Surda, e, a partir desses estudos e práticas, por você
aprendiz.

1 A ESTRUTURA DE FRASES EM LIBRAS


Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-little-girl-speech-therapist-office-
596748269 Acesso em: 27 out. 2021

Uma breve revisão da literatura permite-nos contemplar e apresentar diferentes


definições de língua. Tais definições fornecem subsídios para a indicação de
propriedades consideradas pela linguística essenciais às línguas naturais.
Segundo Saussure (1995, p.17),

[...] língua não se confunde com linguagem: é um conjunto de convenções


necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos, é, portanto, um produto social da faculdade de
linguagem.

Chomsky (apud Quadros & Karnopp, 2004, p. 25), considera que uma língua “é
um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e
construída a partir de um conjunto finito de elementos”, considera ainda duas
perspectivas: a língua externa e a língua interna.
● Língua Externa: associa o som à palavra ao seu significado.
● Língua Interna: define a “noção de estrutura” como parte estável, livre das
expressões que podem variar de falante para falante.
Fernandes (2002, p.16) traz a definição de Linguagem e Língua, vejamos:

Imagem 1 - Definição de Linguagem

Fonte: Fernandes (2002), adaptado pela autora

Linguagem: tudo que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música,
cinema), animal (abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador,
código Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação
natural ou artificial, humana ou não”.

Imagem 2 - Definição de Língua

Fonte: Fernandes (2002), adaptado pela autora

Língua: um conjunto de palavras, sinais e expressões organizados a partir de regras,


sendo utilizado por um povo para sua interação. Sendo assim, a língua seria uma forma
de linguagem: a linguagem verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque
entre todas as linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens
utilizando as palavras ou os sinais.
Entendemos por propriedades das línguas os traços comuns, características
presentes em todas as línguas naturais humanas em relação aos outros sistemas de
línguas (animais, matemática, tecnológicos).
No quadro a seguir, junto às propriedades das línguas naturais orais
apresentamos como essas propriedades se expressam nas línguas de sinais,
comprovando que as línguas de sinais são línguas naturais. A coluna à esquerda
apresenta as propriedades nas línguas – elaboradas com base na publicação de
Quadros & Karnopp (2004) e a coluna à direita reproduz o trabalho de Ronice M.
Quadros, Aline L. Pizzio e Patrícia F. Rezende (2009):

Quadro 1 - Propriedade das Línguas Humanas e nas Língua de Sinais


FLEXIBILIDADE E VERSATILIDADE

Segundo Lyons (1981), nenhum outro As línguas de sinais são usadas para
sistema de comunicação parece ter o pensar, são usadas para desempenhar
mesmo grau de flexibilidade e diferentes funções. Você pode
versatilidade que o humano, pode-se usar argumentar em sinais, pode fazer poesia
a língua para dar vazão às emoções e em sinais, pode simplesmente informar,
sentimentos; para solicitar a cooperação pode persuadir, pode dar ordens, fazer
de companheiros; para ameaçar ou perguntas em sinais.
prometer; para dar ordens, fazer
perguntas ou afirmações. É possível fazer Glosas em LIBRAS:
referência ao passado, presente e futuro;
a realidades remotas em relação à VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. VOCÊ
situação de enunciação e até mesmo a <GOSTAR MAÇÃ>sn
coisas que não existem. IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR
< PROJETO> to AULA EU APRESENTAR

ARBITRARIEDADE

As palavras e os sinais são arbitrários As línguas de sinais apresentam palavras


entre a forma e o significado, visto que, em que não há relação direta entre a
dada a forma, é impossível prever o forma e o significado.
significado, e dado o significado é
impossível prever a forma. Glosas em LIBRAS:

CONHECER AMIGO
TRABALHO

DESCONTINUIDADE
As palavras que diferem de maneira Na língua de sinais verificamos o caráter
mínima na forma, normalmente descontínuo da diferença formal entre a
apresentam uma considerável diferença forma e o significado. Há vários exemplos:
no significado. Por exemplo, a palavra o sinal de MORENO e de SURDO são
fada e faca diferem minimamente na realizados na mesma locação, com a
forma, tanto na língua escrita como na mesma configuração de mão, mas com
falada. Esse fato tem por efeito mostrar o uma pequena mudança no movimento,
caráter descontínuo da diferença formal mesmo assim nunca são confundidos ao
entre forma e significado. serem produzidos em um enunciado. Tais
sinais apresentam uma distribuição
semântica que não permite a confusão
entre os significados apresentados dentro
de um determinado contexto.

Glosas em LIBRAS:

TRABALHO
VIDEOCASSETE
TV
MORENO-SURDO

CRIATIVIDADE/PRODUTIVIDADE

Todos os sistemas linguísticos As línguas de sinais são produtivas assim


possibilitam a seus usuários construir e como quaisquer outras línguas.
compreender um número indefinido de
enunciados. A estrutura gramatical na Glosas em LIBRAS:
produtividade é extremamente complexa
e heterogênea seguindo os princípios que EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA,
as mantêm e constituem. Chomsky coloca LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR
ainda, que tanto a complexidade como a TRABALHAR, INTELIGENTE ....
heterogeneidade é regida por regras,
dentro dos limites estabelecidos pela
regra da gramática.
DUPLA ARTICULAÇÃO

A organização da língua em duas As línguas de sinais também


camadas – a camada dos sons que se apresentam o nível da forma e o nível do
combinam em uma segunda camada de significado. Por exemplo, as
unidades maiores é conhecida como configurações por si só não apresentam
dualidade ou dupla articulação. Por significado, mas ao serem combinadas
exemplo, os sons f, g, d, o, a - nada formam sinais que significam alguma
significam separadamente, já quando coisa.
combinados eles adquirem um
significado, como em fogo, gado, dado, Exemplos em LIBRAS:
fado etc. As línguas humanas têm em CM sem significado
torno de trinta a quarenta fonemas ou L sem significado
unidades. M sem significado
CM+L+M=significado (L + bochecha +
semicírculo para trás)

PADRÃO

Cada item lexical apresenta um padrão de As línguas de sinais são altamente


combinação ou substituição por outros restringidas por regras. Você não pode
itens, conforme ilustram os exemplos produzir os sinais de qualquer jeito ao
abaixo: usar a Língua de Sinais Brasileira, por
O rapaz caminhou rapidamente; exemplo. Você deve observar suas
Rapidamente, caminhou i rapaz; regras.
O rapaz rapidamente caminhou.
As outras combinações são agramaticais. Exemplo em LIBRAS:
Na palavra sal, por exemplo, a vogal ‘a’
poderia ser substituída por ‘o’ ou ‘u’, mas Obedecer às regras de formação de sinais
não por ‘z’ ou 'h'. Em síntese o português e de sentenças.
apresenta restrições na maneira em que (ajudar com CM S mostrar exemplos de
itens podem em que eles aparecem. sinais com CM errada, ou L errada, ou M
errada).

DEPENDÊNCIA ESTRUTURAL

Uma língua contém estruturas Também é observada uma dependência


dependentes que possibilitam estrutural entre os termos produzidos nas
entendimento da estrutura interna de uma línguas de sinais.
sentença, independente do número de
elementos linguísticos envolvidos. Glosas em LIBRAS:

PAULO TRABALHAR+asp
*TRABALHAR+asp PAULO
SINAL BRASIL
*BRASIL SINAL

Fonte: Quadros & Karnopp (2004) Quadros, Pizzio e Rezende (2009)

ESTRUTURA DE FRASES

As línguas de sinais utilizam as expressões faciais e corporais para estabelecer


tipos de frases, como as entonações na língua portuguesa, por isso para perceber se
uma frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou
imperativa, precisa-se estar atento às expressões facial e corporal que são feitas
simultaneamente com certos sinais ou com toda a frase, exemplos:
● FORMA AFIRMATIVA: a expressão facial é neutra

Imagem 3 - Meu nome M-A-R-I-A

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

● FORMA INTERROGATIVA: A forma interrogativa em Libras também pode


acontecer a partir da mudança da “expressão não manual”. Segundo Felipe (1998), há a
necessidade de franzir a sobrancelha e inclinar a cabeça para cima, essa expressão
deve ser feita simultaneamente ao sinal.

Imagem 4 - NOME - NOME QUAL?

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

● FORMA EXCLAMATIVA: Felipe (1998), explica que, para a construção da forma


exclamativa em Libras, se modifica a expressão facial, as sobrancelhas são levantadas
e há um ligeiro movimento da cabeça, inclinando-se para cima e para baixo. A boca
retraída com movimento para baixo pode compor a exclamação apresentada na
sinalização abaixo, intensificando a expressão de admiração.
Imagem 5 - EU VIAJAR RIO DE JANEIRO, BOM! BONIT@ LÁ!

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

● FORMA NEGATIVA: Além das formas de negação preestabelecida na Libras, um


mesmo sinal da testa também pode assumir a forma negativa a partir do uso simultâneo
de uma expressão não manual determinada. No exemplo a seguir, observe que as
sobrancelhas franzidas e o movimento do corpo para trás indicam desconfiança,
descrédito, mudando o significado do sinal, do afirmativo para o negativo.

Imagem 6 - ACREDITAR - NÃO ACREDITAR

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

A negação então, pode ser feita através de três processos:


a) com o acréscimo do sinal NÃO à frase afirmativa:
Imagem 7 - BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO (negação)

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

b) com a incorporação de um movimento contrário ao do sinal negado:

Imagem 8 - GOSTAR-NÃO (negação) CARNE, PREFERIR PEIXE

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora

c) com um aceno de cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que
está sendo negada ou juntamente com os processos acima:

Imagem 9 - EU VIAJAR PODER (não)

Fonte: Felipe (1998), adaptado pela autora


Em todas as línguas humanas existem, pelo menos, três elementos sintáticos
principais, que podem se ordenar na frase de diferentes maneiras. Esses elementos são:
sujeito – é o termo que expressa o agente da ação (que pratica ou sofre); verbo – é o
termo que expressa a ação; objeto – é o termo que qualifica ou detalha o verbo.
Quadros e Karnopp (2004) apontam que a ordem dos elementos na sentença da
Libras é, geralmente, SVO (sujeito – verbo – objeto). Elas dizem que, além dessa ordem,
são possíveis também as seguintes: OSV, SOV e VOS, sendo estas derivadas da ordem
canônica e construídas a partir de operações sintáticas, tais como topicalização ou
focalização, conforme pesquisa de Pizzio (2006). A seguir, exemplificamos algumas
sentenças com a ordem básica da Libras:

Imagem 10 - (SVO) EU GOSTAR LARANJA

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 11 - (SVO) VOCÊ TER DINHEIRO

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 12 - (SVO) EL@ SABER LIBRAS


Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Essa é a ordem chamada canônica, básica, e dela derivam as outras ordens –


apontadas anteriormente – exemplificadas a seguir:

Imagem 13 - (OSV) LARANJA EL@ AMAR

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 14 - (OSV) BOLO EU FAZER

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 15 - (OSV) TELEVISÃO VOCÊ VER

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora


Imagem 16 - (VOS) GOSTAR LARANJA EL@?

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 17 - (VOS) PASSEAR PRAIA VOCÊ

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Imagem 18 - (VOS) COMPRAR CASA EU

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Deve-se ressaltar, ainda, que alguns elementos apontados na frase podem ser
apagados, pois na Libras, assim como em outras línguas, é possível que ocorra o
apagamento, não apenas do sujeito, mas também do objeto. Na frase gostar laranja, o
interlocutor identifica que há o sujeito eu oculto.

Imagem 19 - GOSTAR LARANJA

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora


2 EXPRESSÃO E CONCEITOS EM LIBRAS: DIMENSÕES EVOLUTIVAS EM LIBRAS
METAFÓRICAS E DESCRITIVAS

Figura - Sinais em Libras: COMPARAÇÃO, METÁFORA e METONÍMIA

Fonte: Arquivos da autora (2021)

A Língua de Sinais, também faz uso das figuras de linguagem como a


Comparação, Metáfora e Metonímia. Existe uma pequena diferença entre esses três
processos. Na comparação se estabelece a aproximação de dois seres (objetos, ideias,
realidades), por se perceber entre eles uma característica em comum ou distinta;
gramaticalmente, a comparação é caracterizada pela presença de conectivos e/ou
advérbios de intensidade. Já na metáfora a depreensão de uma característica comum
entre um ser e outro, pode determinar o emprego de uma palavra no lugar de outra. No
caso de metonímias há substituição de um elemento pela citação de outro que lhe está
relacionado, ou seja, que lhe é próximo (ALBRES, 2006).

Imagem 20 - Comparação - Sinal de DIFERENTES

Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora

Existe necessidade do uso de termos de comparação (IGUAL, PARECE) e


estabelecimento de dois pontos no espaço Exemplo:

Imagem 21 - Metáfora - CAIR-CARA

Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora

Um termo substitui o outro, como, por exemplo:


Imagem 22 - Metonímia - CABELOS-GRISALHOS Significando idade avançada

Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora

No Brasil, a metáfora na Libras foi tema de dissertação defendida por Faria (2003),
onde teceu delineamentos teóricos acerca desse tipo de figura de linguagem, buscando
alicerces nos estudos metafóricos na ASL (Língua de Sinais Americana).
Lembrando que a metáfora tem seu fundamento, sua construção, sua inteligência
e entendimento alicerçado na cultura de cada falante ou sinalizante de um país, nota-se
que os surdos acham estranhas as palavras ditas em português em que existe certa
peculiaridade nos significados atribuídos pelos ouvintes na sua interação social. Isso
acontece com o significado real da expressão dada pelos ouvintes, em que se constrói
com base nas relações e ressignificações de cada grupo social, cultural. A seguir
apresentaremos o trecho de Faria (2003) a que refere esse fenômeno:
Os vocábulos das línguas, ao serem concatenados, produzem uma infinidade de
trocadilhos cujos significados flutuam dos mais transparentes aos mais opacos; dos mais
simples aos mais inusitados; dos mais grotescos aos mais poéticos. Essa recursividade
encontra-se carregada da cultura vivenciada pelos indivíduos, na comunidade a que
pertence. Por isso, muitas vezes, o que se diz é somente entendido por falantes nativos
de dada língua ou por quem se encontra imerso nessa comunidade, por anos trocando,
tropeçando e descortinando construções e interpretações as mais variadas, originadas
no arcabouço linguístico e criativo das trocas comunicativas. Exemplo disso está o fato
de que questões culturais incorporadas à Língua Portuguesa não têm sido transmitidas
naturalmente aos surdos brasileiros, como acontece com os ouvintes que, quando
crianças, ouvem expressões ‘estranhas’, mas, aos poucos, vão descobrindo o que
realmente elas significam e as naturalizam.
O objetivo deste tópico é conhecer as metáforas na Libras, porém, sabemos que
os aprendizes dessa língua podem achar difícil compreender, por estarem iniciando seus
conhecimentos e aproximação com essa nova língua, pois, como já dissemos esse
assunto não trataremos apenas dos significados dos sinais, mas, da interpretação
cultural. O campo de metáforas em Libras é imenso e necessita ser desbravado em todas
as regiões brasileiras. Vamos conhecer apenas alguns exemplos para introduzir seus
primeiros contatos com essa figura de linguagem.
É comum a Libras recorrer a empréstimos linguísticos para complementar algo
ou, ainda, os surdos naturalmente captam a ideia, as significações próprias da Língua
Portuguesa e convencionam o sinal semelhante na forma e no sentido, como, por
exemplo, o fraseologismo “segurar a vela”. Tal exemplo significa que a pessoa não quer
ficar “sozinha” com casais ou casal. E os surdos quando souberam da gíria proveniente
do universo ouvinte, passaram a adotar a referida gíria na língua de sinais utilizando o
sinal “vela”.
Assim, estabelece, conforme Faria (2003), uma metáfora na forma (“segurar vela”)
e no sentido (“não ficar sozinho...”) para ambas as línguas. Da mesma forma, há metáfora
semelhante em que é equivalente no sentido, mas diferente na forma. E, existem ainda
sinais em que não há equivalência na Língua Portuguesa e são originários do universo
linguístico criados pelos próprios surdos.

● Metáfora Equivalente: (equivalente na forma e no sentido), nesse caso, quando


contrastam as duas línguas, verifica-se uma igualdade na forma escrita e na sinalizada,
como é o caso de “cabeça dura”, cuja escrita é esta e que na sinalizada também remete
à sinalização envolvendo a cabeça + o sinal de duro. Com relação ao significado, os dois
parâmetros (forma e sentido) coincidem nas duas línguas: ser teimoso. Outros exemplos:
Imagem 23 - TER/SER-CABEÇA-DURA, SER-IGNORANTE, SER-INFANTIL

Imagem 24 - CAIR-O-QUEIXO, FICAR-BOQUIABERTA! FICAR-ADMIRADO! FICAR-


HORRORIZADO! ESTAR-PASMO

Imagem 25 - ENTRAR-POR-UM-OUVIDO-E-SAIR-PELO-OUTRO, NÃO-DAR-OUVIDOS,


FAZER-OUVIDO-DE-MERCADOR! NÃO-ATENDER! FINGIR-NÃO-OUVIR
Imagem 26 - ESTICAR-CONVERSA, FALAR-DEMAIS, CONVERSA-LONGA

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Imagem 27 - TER-LÍNGUA-GRANDE, LINGUARUDO

Imagem 28 - ARREPIAR-OS-CABELOS, FICAR-COM-OS-CABELOS-EM-PÉ, ASSUSTAR


Imagem 29 - (ESTAR-CARA-A-CARA, ENCARAR) (QUEBRAR-A-CARA) (CARECA-DE-SABER)

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Imagem 30 - (FALAR-PELAS-COSTAS, NÃO-ESTAR-PRESENTE) (QUE-LERDEZA! SER-


VAGAROSO-DEMAIS! SER-UMA-LESMA!)

Imagem 31 - (DAR-COM-A-CARA-NA-PORTA) (SEGURAR-VELA)

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

● Metáfora Semelhante: (equivalente no sentido, mas diferente na forma), ambas


as línguas possuem formas equivalentes, como, por exemplo, existe a mímica de uma
mão tocando no cotovelo, entretanto o seu significado varia: para a Libras, tal sinal
significa ciúme, para Língua Portuguesa, é uma mímica representativa de dor de
cotovelo. Outros exemplos:

Imagem 32 - (FINGIR-NÃO-VER, ENTRAR-NUM-OLHO-E-SAIR-NO-OUTRO) (ESTAR-COM-


CIÚME, ESTAR-COM-DOR-DE-COTOVELO)

Imagem 33 - NÃO-QUERO-SABER-MAIS-DISSO! NUNCA-MAIS! CRUZ-CREDO! DEUS-ME-LIVRE!

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Imagem 34 - DAR/LEVAR-O-BOLO, DAR/LEVAR-O-CANO, FALHAR-COM-ALGUÉM, PISAR-


NA-BOLA, DEIXAR-NA-MÃO, FICAR/ESTAR-DECEPCIONADO

Imagem 35 - ESTAR-APERTADO-PARA-IR-AO-BANHEIRO, ESTAR-COM-DOR-DE-BARRIGA


Imagem 36 - MORRER-DE-RIR, CHORAR-DE-RIR

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

● Metáfora Diferente: (diferente no sentido e na forma), comumente oriundo do


universo linguístico dos surdos, não tendo correspondência na Língua Portuguesa. Na
Língua Portuguesa encontra-se apenas tradução dos sinais.

Imagem 37 - (TER-OUVIDO-BARATO) (TER-OUVIDO-CARO)

Imagem 38 - (QUE-OBSERVADOR-AGUÇADO! QUE-VISÃO-PRECIOSA! QUE OLHOS-DE-ÁGUIA! QUE-


VISTA-CARA! QUE-VISTA-AGUÇADA!) (QUE-OBSERVADOR-DISTRAÍDO!)
Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Imagem 39 - (TER-MÃOS-DURAS, QUE-INTÉRPRETE-SEM-FLUÊNCIA-EM-LS!) (TER-


MÃOS-LEVES, QUE-INTÉRPRETE-FLUENTE-EM-LS!

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

A pesquisa desenvolvida por Faria (2003), traz outros exemplos metafóricos que
fazem parte das enunciações dos surdos brasileiros, e, queremos que você aprendiz de
Libras conheça exemplos dessas enunciações em sua forma sinalizada. Os exemplos a
seguir, se referem a “bases experienciais”, principalmente, por experiências corpóreas.
Todavia, Lakoff e Johnson (2002 [1980]) destacam que a cognição experiencialista inclui
experiências sociais, emocionais e sensório-motoras, ampliando seu sentido inicial.
Imagem 40 - ABRIR A MENTE

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Essa expressão significa ‘ter a mente aberta’, ser uma pessoa que permite
inovações, mudanças de paradigmas, novos aprendizados etc. (Faria, 2003).

Imagem 41 - CABEÇA-DURA

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Já o domínio alvo contrapondo-se à metáfora anterior de mente flexível, que pode


mudar se refere a uma pessoa inflexível que dificilmente muda de pensamento ou de
opinião (Faria, 2003).

Imagem 42 - CABEÇA PESADA


Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Quando se está nervoso e preocupado o corpo responde com uma reação física:
o sangue sobe à cabeça e tem-se a impressão de que a cabeça aumenta e fica pesada,
podendo ser interpretado como estar arrasado, nervoso, ‘o sangue sobe à cabeça".
Imagem 43 - PÁLPEBRA CAIR-FECHAR

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

O domínio fonte está na ação de fechar os olhos, as pálpebras se fecham. ‘Cair


no sono’ traduz a ideia de um sono profundo que realmente faz jus à metáfora cair.

Imagem 44 - ARREPIAR O CABELO-DA-CABEÇA


Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

A metáfora associa esse arrepio a qualquer dado surpreendente, escandaloso que


possa ocorrer com a pessoa ou que ela possa presenciar ou ainda que seja a ela relatado
Imagem 45 - ARREPIAR PÊLOS-BRAÇO

Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

‘Emocionante’, ‘encantador’, ‘comovente’ e ‘surpreendente’

Imagem 46 - CONTRAÇÃO-ESFÍNCTER-ANAL
Fonte: Faria (2003), adaptado pela autora

Em situações de embaraçamento, a sensação física é de contração dos músculos


do corpo, inclusive do anel muscular à volta do ânus (esfíncter anal) ‘situação de perigo’,
‘situação de constrangimento’ ou mesmo personificando a condição de ‘covardia’ por um
sujeito que não encara situações difíceis no dia a dia, algo tão corporal tem a capacidade
de ser conceitualizado em um domínio abstrato.

3 USO DE ESPAÇOS NA ENUNCIAÇÃO EM LIBRAS DÊIXIS EM PROCESSOS DE


DESCRIÇÃO
Fonte: Arquivos da autora (2021)

A descrição pode ser de uma ação, de um espaço físico ou objeto. Na criação de


discursos, os surdos fazem a sobreposição de várias situações de fala, especialmente
com a criação daquilo que tem sido chamado de “espaço sub-rogado”. Esse espaço é
aquele em que o surdo incorpora o personagem de uma história que ele está contando
(VIOTTI, 2007). No uso do espaço de sinalização mapeamos os referentes nesse
espaço.
Na língua espaço-visual mesclam-se momentos de contar a história e de
representar, ou seja, encenar a história.
A “incorporação” é considerada um mecanismo produtivo usado, por exemplo,
para expressar localização, número, pessoa (QUADROS, 1997).
“As ‘transferências de pessoas' envolvem um papel (agente ou paciente) e um
processo. O sinalizador ‘se transforma’ na entidade a que ele se refere ao reproduzir, em
seu enunciado, uma ou mais ações realizadas pela entidade. Em geral, as entidades a
que o sinalizador se refere são seres humanos ou animais, mas também podem ser
seres inanimados.” (PIZZUTTO, ROSSINI, SALLANDRE e WILKINSON, 2008, p. 144).
Na literatura específica tem-se usado para esse mecanismo o nome de troca de
papéis ou incorporação do personagem. Contar uma história e incorporar ações dos
personagens é como se você estivesse fazendo a ação naquele momento.
Nos poemas em Libras também tem-se o uso do espaço, que não é apenas
estético, mas pode gerar outros sentidos metafóricos. A teoria da metáfora cognitiva,
com base no trabalho de Lakoff e Johnson (1980) fala da metáfora orientacional, na qual
podemos entender que o espaço real e concreto tem sentido metafórico nos conceitos
abstratos. Por exemplo, o que está mais alto significa metaforicamente uma coisa mais
positiva ou poderosa e o que está mais baixo significa algo mais negativo ou sem poder.
De frente para trás, o espaço mais perto e mais longe do corpo pode significar, numa
escala metafórica, futuro ou passado, valorizado ou não, ou algo que está visível (e assim
mais perto do espectador) ou escondido (portanto, mais próximo ao corpo).
Na Libras, há a utilização dos espaços mentais, onde o espaço real deve ser
conceitualizado igualmente entre os interlocutores. Assim, os nominais são
estabelecidos a priori, com um ponto espacial no espaço de sinalização. A direção do
verbo é importante para identificar o sujeito e o objeto (QUADROS, 1997). Deve-se
respeitar os pontos espaciais estabelecidos na continuidade da história. Os pontos
podem mudar, mas isso deve ser apresentado no decorrer da história, introduzindo
outros personagens.
Veja como isso acontece em Libras:

Imagem 47 - Uso do espaço mental


Fonte: Feneis (2008), adaptado pela autora

Isso é como se dissesse: nesse PONTO A está o professor, Nesse PONTO B está
o aluno. Logo em seguida DAR, com a direção do movimento do verbo dar indicando de
B para A, portanto, foi do PONTO B que surgiu a ação de dar. Com essa característica
linguística particularmente espacial o interlocutor compreende que foi o aluno que deu
(alguma coisa pequena) para o professor, sendo ele o executor da ação.
O uso do espaço é um componente gramatical muito importante nas línguas de
sinais.

Imagem 48 - Uso do espaço na Libras


Fonte: UFSC (2008)

Sobre os espaços mentais nos discursos em Libras, uma versão mais recente de
Liddell (2000) apresenta três tipos de usos do espaço nas línguas de sinais:

● Espaço mental real: “é um mapeamento cognitivo do espaço físico que rodeia o


sinalizador, são representações mentais das pessoas que estão presentes fisicamente
no local e no tempo em que ocorre a sinalização (MOREIRA, 2007, p. 46). O espaço
mental real de um tempo atrás pode permanecer na mente dos interlocutores.
Nas imagens a seguir, a própria localização do referente determina o local
estabelecido para um determinado referente, a apontação pode ser usada para referir a
objetos e lugares no espaço. A referência anafórica requer que o sinalizante aponte (olhe
ou gire o corpo).:

Imagem 49 - Espaço mental real

Fonte: UFSC (2008)


Imagem 50 - Espaço mental real

Fonte: UFSC (2008)

● Espaço mental token: “é um espaço integrado, em que as entidades ou coisas


das quais se quer falar são representadas sob a forma de um ponto fixo no espaço físico,
geralmente se faz a representação da 3ª pessoa (MOREIRA, 2007, p. 47). Esse ponto
fixo no espaço pode ser usado para qualquer conceito.”
Observe-se na imagem abaixo que a direção do verbo é importante para identificar
o sujeito e o objeto, identificar as relações entre os referentes no discurso estabelecidas
espacialmente. Verbos que podem indicar uma ação feita por duas pessoas ou dois
objetos ao mesmo tempo usando as duas mãos.

Imagem 51 - Espaço mental token (Verbo: OLHAR)


“eles se olharam” “nós nos olhamos”

Fonte: UFSC (2008)


Esses verbos também utilizam os pontos espaciais e são estabelecidos utilizando
espaços reais e tokens.

● Espaço mental sub-rogado: como já dissemos anteriormente, acontece quando


o sinalizador assume o papel de qualquer participante da situação narrada e sinalizada
como se fosse ele. São representações mentais em tamanho natural, que assumem
posições realistas, como uma incorporação.
Padden (1983, p.15) apresenta as formas de concordância pessoal direcionais da
seguinte maneira:
a) 1ª pessoa: próximo ao corpo do sinalizante;
b) 2ª pessoa: na direção do receptor determinado pelo contato do olhar com o receptor
real ou marcado discursivamente;
c) 3ª pessoa: o marcador de concordância terá o mesmo ponto no espaço neutro
assinalado à 3ª pessoa.

Imagem 52 - Espaço mental sub-rogado (Verbo ENTREGAR na LIBRAS)

eu- ENTREGAR-você eu- ENTREGAR–ele(a) ele (a)- ENTREGAR -eu

Fonte: UFSC (2008)

O verbo ENTREGAR na LIBRAS apresenta o mesmo comportamento e pode ser


usado como exemplo dessa classe verbal. Para reconhecer um verbo direcional (com
concordância) é necessário ter claro que a localização do sinalizante é identificada como
a de primeira pessoa, a localização do seu interlocutor como a de segunda pessoa, e as
outras localizações podem identificar as terceiras pessoas do discurso. Todo esse
processo se utiliza de relações espaciais. Padden diz que a 1ª pessoa é fixa e as 2ª e 3ª
pessoas apresentam infinitas possibilidades de localizações no espaço. A concordância,
da mesma forma que o sistema pronominal, apresenta essas variações.

DÊIXIS E ANÁFORA

“A dêixis e anáfora na Libras são recursos que permitem o falante introduzir


referentes no discurso (dêixis) e, subsequentemente, referir-se a eles em momentos
posteriores (anáfora).” (PIZZUTTO, ROSSINI, SALLANDRE e WILKINSON, 2008, p.
140).
Dêixis é a propriedade que têm alguns elementos linguísticos, tais como
pronomes pessoais e demonstrativos, de fazer referência ao contexto situacional ou ao
próprio discurso, em vez de serem interpretados semanticamente por si sós; referência.
Já a anáfora significa termo que se relaciona ao referido anteriormente, como no exemplo
a seguir:

Imagem 53 - Uso da dêixis e anáfora em sentença


João era empreendedor. Ele (anáfora de João) não mora mais aqui. (dêixis de
sentido)

Fonte: Arquivos da autora (2021)

SAIBA MAIS
Referência dêitica e anafórica na Língua Brasileira de Sinais (Síntese de
Berenz, 1996)

● Dêixis - Propriedade de alguns elementos linguísticos, como os pronomes


pessoais e demonstrativos, de aparecerem como ponto de referência de um
contexto situacional, ou de um discurso, no lugar de serem interpretados
semanticamente por si mesmos (Dicionário Aulete Digital).
Propriedade que tem alguns elementos linguísticos, tais como pronomes pessoais
e demonstrativos, de fazer referência ao contexto situacional ou o próprio
discurso, em vez de serem interpretados semanticamente por si sós; referência
(Dicionário Novo Aurélio Século XXI, Editora Nova Fronteira, 1999).
● Anáfora - Processo sintático pelo qual uma palavra (p. ex., um pr. pess.) remete
a outras anteriormente referida(s).
Ex.: João e José são meus amigos. Eles também me consideram seu amigo.
Elemento linguístico cuja referência não é independente, mas ligada a de um
termo antecedente. Em João barbeou-se, p. ex., o reflexivo se só pode ser
interpretado com referência a João. (Dicionário Novo Aurélio Século XXI, Editora
Nova Fronteira, 1999).

#SAIBA MAIS#

A contextualização feita a seguir pode ser encontrada de forma detalhada nos


estudos realizados por Berenz (1996), a Universidade Federal de Santa Catarina traz
uma síntese desses estudos pelas autoras Pizzio, Rezende e Quadros (2009) que
preferimos manter o texto na íntegra.
De acordo com Lyons (1981), existem três classes principais de expressões
referenciais: nomes próprios, substantivos comuns (núcleo de sintagma nominal) e
pronomes. Tradicionalmente, os pronomes têm sido tratados como substitutos dos
substantivos, mas sua função mais básica é a função dêitica ou indexical. Isto é,
pronomes são, para serem definidos como dêixis, primeira e principalmente um local
espaço-temporal no contexto do enunciado. Alternativamente, eles podem ser vistos em
termos de egocentricidade do contexto dêitico, no qual está sua mais subjetiva natureza.
Assim, o contexto dêitico está centrado sob o ‘aqui e agora’ do falante. Por exemplo, o
pronome de primeira pessoa ‘I’ do inglês refere-se normalmente ao próprio falante. Como
o papel de falante passa de uma pessoa para outra no curso de uma conversação, então,
o ponto-zero do contexto dêitico será alternado entre os participantes, junto com a
referência de ‘I’ e “here’.
Lyons coloca, também, que o termo dêixis e ‘index’ são ambos originados na
noção de referência gestual, ou seja, na identificação do referente pelo significado de
algum gesto corporal por parte do falante. Qualquer expressão referencial que apresente
as mesmas propriedades lógicas dos gestos corporais é, em virtude disso, dêitica. Além
disso, muitas expressões dêiticas são normalmente utilizadas em associação com algum
tipo de referência gestual. O autor diz ainda que os pronomes ‘I’ e ‘you’ são dêixis pura,
enquanto os pronomes de terceira pessoa são dêixis impuras, visto que trazem
informações adicionais (tal como gênero) com a referência espaço-temporal.
Fillmore (1982) diz que os pronomes são prototipicamente dêiticos, embora eles
possam ter usos não-dêiticos (sentido expressivo ou social). Desse modo, alguns
sistemas pronominais são encontrados em elementos dêiticos básicos, enquanto outros
são encontrados em elementos dêiticos não básicos.
4 FIGURAS DE LINGUAGEM NA LÍNGUA DE SINAIS E SUAS DIFERENTES
FORMAS DE MANIFESTAÇÃO

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/emotional-intelligence-side-view-sequence-man-
642768262 Acesso em: 27 out. 2021.

Assim como na Língua Portuguesa, temos palavras diferentes para nos referir ao
mesmo objeto, chamadas de ambiguidade, que é a característica das expressões
linguísticas que apresentam mais de um sentido/significado para aquela palavra.
Normalmente quando isso acontece, precisa de um contexto para ser compreendida, isto
é, possui ambiguidade. Estamos diante de um dos seguintes fenômenos: homonímia e
polissemia.
Para Câmara Junior (1986) e Ilari (1990):

A ambiguidade lexical se caracteriza por comportamentos homonímicos


(palavras que possuem a mesma pronúncia com significados diferentes) e
polissêmicos, do grego “poly”, significa diversidade, palavra ou expressão
que possui mais de um significado”. Britto (2005) nos esclarece que a Libras
apresenta menos casos de ambiguidade do que o português.
(Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-
content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_154.pdf Acesso em: 14 ago. 2021.

● Sinais Homônimos
Ocorrem quando os sentidos da palavra ambígua não são relacionados, ou seja,
os sinais que, embora apresentem parâmetros idênticos em Libras, não estabelecem
qualquer tipo de relação semântica entre si. Veja exemplos, na Língua Portuguesa: Cela
(substantivo) – Sela (verbo). Agora reflita no exemplo em Libras com palavras diferentes.
Imagem 54 - (BAHIA) e (JEITO/MANEIRA)

Fonte: Capovilla e Raphael (2001), adaptado pela autora

Como vimos no exemplo, em Libras a palavra/sinal Bahia pode referir-se a uma


pessoa, a uma loja, a um time de futebol ou à cidade, pois existe uma relação homônima
entre o sinal/palavra Bahia (substantivo simples, próprio, primitivo) e o sinal/palavra
Jeito/maneira da pessoa (substantivo e advérbio de modo).

● Sinais Polissêmicos
Estão relacionados à ambiguidade semântica, possuem dois ou mais significados,
de acordo com o contexto. Um exemplo é a palavra “sinal”, que pode se aplicar de várias
formas, tanto na Língua Portuguesa como na Língua Brasileira de Sinais - Libras. No
caso da Língua Portuguesa ao referir-se a elementos representacionais (como sinais de
trânsito):

Imagem 55 - Sinais polissêmicos: elementos representacionais


Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/traffic-signs-vector-design-1897033447

Na Libras, existem sinais que assumem vários significados, apesar de


apresentarem uma única forma; a isso, damos o nome de polissemia. A polissemia,
entendendo a língua como um sistema abstrato, infere a um signo, um universo de
possibilidades de significação. Bakhtin (2009, p. 95), afirma que “o sentido da palavra é
totalmente determinado por seu contexto. De fato, há tantas significações possíveis
quanto contextos possíveis.”
Segundo Albres e Vilhalva (2004), o campo de significação está inteiramente
relacionado com o intercurso de sentido. E a Libras, como todas as línguas, apresenta
polissemia, o fato de um sinal ter muitas significações dependendo do contexto.
Capovilla e Raphael (1997), em seu Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue,
apresentam uma série de sinais polissêmicos, dos quais traremos a representação dos
sinais para melhor compreensão:

Imagem 56 - Sinais polissêmicos na Libras


Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 57 - Sinais polissêmicos na Libras

Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 58 - Sinais polissêmicos na Libras


Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 59 - Sinais polissêmicos na Libras

Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 60 - Sinais polissêmicos na Libras

Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 61 - Sinais polissêmicos na Libras


Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 62 - Sinais polissêmicos na Libras

Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 63 - Sinais polissêmicos na Libras

Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Imagem 64 - Sinais polissêmicos na Libras


Capovilla e Raphael (1997), adaptado pela autora

Além da polissemia, existem outros fatores que influenciam na atribuição de


sentido dos enunciados. Nas línguas orais, a linguagem corporal que acontece pelo
movimento do corpo e de expressões faciais é parte significativa da comunicação.
Certamente você já ouviu a frase “um gesto vale mais do que mil palavras”. Pois, então,
podemos considerar esta uma verdade, entretanto uma posição, ou movimento do corpo,
não tem por si só um significado preciso e incontestável. Sua significação vai depender
de vários elementos envolvidos no contexto da comunicação discursiva.
Vejamos alguns exemplos clássicos de mensagens enviadas através da
linguagem corporal e das expressões faciais nas línguas orais:
⮚ Franzir de sobrancelhas – dificuldade ou preocupação;
⮚ Apertar os olhos ou erguer uma das sobrancelhas -sinal de descrédito,
desconfiança;
⮚ Tamborilar os dedos – impaciência;
⮚ Bater na testa – esquecimento;
⮚ Levantar os ombros – indiferença;
⮚ Esconder a boca – mentira;
⮚ Olhar frequentemente para o relógio – pressa ou impaciência.

● Sinais Tautológicos
A Tautologia na Língua Portuguesa funciona como marcadores conversacionais.
Exemplo: né, então, tipo assim. Em Libras, são sinais que apresentam variantes
regionais, com dois ou mais sinais que representam o mesmo significado, assim, o
contexto expressa a mesma ideia, mas com sinais diferentes.

Imagem 65 - Sinais tautológicos na Libras

Fonte: Capovilla e Raphael (2001), adaptado pela autora

Em todos os exemplos, notamos a versatilidade da Língua Brasileira de Sinais e


como associar os contextos se faz necessário para uma boa comunicação entre surdos
e ouvintes. Mais uma vez constatamos o dinamismo e a flexibilidade da qual se perfaz a
língua de sinais, já que uma mesma palavra pode revelar diferentes sentidos, bastando,
para isso, estar inserida em uma circunstância linguística, como as referidas.

REFLITA

O domínio que o professor precisa ter das semelhanças e diferenças da Libras


e do Português contribui para que ele possa construir estratégias explicativas que
favoreçam a aprendizagem dos seus alunos. Acadêmico(a), reflita, discuta com seus
colegas, quais seriam as melhores estratégias para o ensino das figuras de linguagens
para alunos surdos?
Fonte: Exemplo de atividade extraído de Lima e Iunes (1999, p. 272-273).

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfim, chegamos ao final desta Unidade, nela foram apresentados os aspectos,


as propriedades e a formação dos léxicos na morfologia que podem mudar o significado
e o sentido. O texto apresentou a formação de sinais e sua descrição imagética, pois
elas podem descrever cada objeto, animais e pessoas, com o objetivo maior de treinar
as captações e a inserção de alguns elementos na gramática da Língua Brasileira de
Sinais.
Vimos que a metáfora é uma maneira pela qual a pessoa fala uma coisa, mas
tem a intenção de ser entendida de outra forma. Em Libras, assim como em português,
muitas vezes, falamos de ideias abstratas por meio de coisas concretas. Todavia, a
Libras usa essa figura muito mais do que a língua portuguesa por ser uma língua visual
em que o vocabulário é baseado na forma de imagens concretas de coisas que são
abstratas.
LEITURA COMPLEMENTAR

ALBRES, Neiva de Aquino. “Tenha “OLHO CARO”: a interpretação de expressões


idiomáticas da Língua de Sinais Brasileira Campo Grande – MS: EPILMS 17 e 18 de
novembro, 2006. Disponível em:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/19395.pdf Acesso em: 15 de ago.
2021.

FARIA, Sandra Patrícia. “A metáfora na LSB e a construção dos sentidos no


desenvolvimento da competência comunicativa de alunos surdos.” Dissertação de
Mestrado, Universidade de Brasília, 2003. Disponível em:
file:///C:/Users/Acer/Downloads/2003_SandraPatriciadeFaria.pdf Acesso em: 15 de ago.
2021.
LIVRO

Título: Estudos Surdos II


Autor: Ronice Muller de Quadros e Gladis Perlin
Editora: Arara Azul (2007)
Sinopse: Coleção que apresenta pesquisas que estão sendo produzidas no campo dos
Estudos Surdos. São pesquisadores surdos, pesquisadores bilíngues e intérpretes da
língua de sinais desconstruindo e construindo saberes.
LIVRO 02

Título: Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educação de surdos


Autor: Cristina Broglia Feitosa de Lacerda e Lara Ferreira dos Santos (Organizadoras)
Editora: EdUfscar (2014)
Sinopse: Este livro reúne textos de diversos autores, surdos e ouvintes, que atuam na
área da surdez, visando possibilitar uma visão ampla de aspectos relacionados à Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS e à educação de surdos.
FILME/VÍDEO

Título: Bolinha de ping-pong


Autor: Rimar R. Segala
Ano: 2009
Sinopse: A narrativa explora as múltiplas perspectivas de ação e reação, no momento
da sinalização, o autor incorpora pessoas jogando com uma bola, enquanto a bola pula
e é rebatida. Pode-se perceber claramente o afastamento e a aproximação, o sinal da
bola pulando, visto de maneira afastada, utilizando um classificador que expressa objetos
pequenos; quando a bola é rebatida e se aproxima, ela se torna maior e acaba sendo
representada pela cabeça do artista.
Link: Bolinha de ping-pong - Rimar R. Segala - YouTube

FILME/VÍDEO 02
Título: Como veio a alimentação
Autor: Fernanda de Araújo Machado
Ano: 2011
Sinopse: Os sinais da narrativa descrevem o lavrador rural, pobre e oprimido estão
sempre colocados do lado esquerdo, enquanto os sinais para o morador urbano, rico e
contente ficam no lado direito. Porém, adicionalmente, os sinais de lavrador são
articulados mais baixos do que os do morador urbano. Assim, o uso de espaço para
articular os sinais mostram a metáfora de que “o mais alto tem poder”.
Link: como veio alimentação - YouTube
FILME/VÍDEO 03

Título: Doll
Autor: Paul Scott
Ano: 2010
Sinopse: O poema narrado pelo poeta surdo em BSL (Língua de Sinais Britânica),
apresentado no Festival em Bristol, mostra uma criança infligindo uma série de
indignidades em sua boneca antes de arrancar sua cabeça. O poema é uma metáfora
para o tratamento da comunidade surda pela sociedade ouvinte.
Link: BSL poem "Doll" by Paul Scott - YouTube
FILME/VÍDEO 04

Título: Poesia Farol da Barra em Libras (DEAF)


Autor: João Ricardo Bispo de Jesus
Ano: 2019
Sinopse: Neste poema, a luz brilhante da graça de Deus é mostrada pela configuração
de mão aberta virada de lado e movimentando-se em direção ao rosto do poeta. A
mesma configuração de mão muda de orientação e o seu movimento passa a ser o de
flutuar para baixo para se tornar o mar. Desse modo, os sinais graça-divina ou luz-divina-
no-rosto e mar-em-movimento unem as duas ideias ao se metamorfosearem
um no outro. A configuração de mão em “O”, representando a rocha no oceano, muda
de orientação e começa a se erguer, tornando-se a lua crescente. O poema fala do
naufrágio que aconteceu durante a noite depois do barco bater na rocha, então os sinais
estão conectados por suas formas visuais quando um se funde no outro.
Link: poesia Farol da Barra em Libras (DEAF) - YouTube
FILME/VÍDEO 05

Título: Fazenda: Vaca


Autor: Rimar R. Segala e Sueli Ramalho
Ano: 2011
Sinopse: A história contada por Rimar Segala, é uma parábola. Nela, assim como em
muitas outras, o assunto da narrativa é concreto, mas a ideia contada é mais abstrata.
Narra que um mestre e um discípulo seguem por uma estrada com fome. Uma família
pobre, com apenas uma vaca, os recebe e dá leite e queijo para eles com toda a sua
generosidade, apesar de serem muito pobres. O pai da família explica que graças a sua
vaca continuam pobres, mas têm as necessidades mais básicas supridas. O mestre
manda seu discípulo empurrar a vaca de um precipício e matá-la. Muitos anos depois, o
discípulo se arrepende de matar o único apoio que a família tinha e resolve voltar para
pedir desculpas. Lá ele encontra uma fazenda rica e a família confortável com toda a
comida que quisesse ter. O pai explica que, um dia, a única vaca morreu por acidente e
a família teve que se esforçar para sobreviver. Tentaram novos negócios, até que criaram
uma fazenda produtiva - o que nunca teria acontecido se a vaca continuasse a fornecer
somente o básico. No final dessa parábola, Sueli Ramalho explica que a história mostra
para o surdo que não é bom sempre se fazer a mesma coisa de maneira limitada, mas
que se deve abrir a mente, se arriscar a fazer novas coisas, se desenvolver e tentar ter
mais sucesso.
Link: Fazenda: Vaca - Rimar R. Segala e Sueli Ramalho - YouTube
FILME/VÍDEO 06

Título: Homenagem Santa Maria/RS


Autor: Alan Henry Godinho
Ano: 2013
Sinopse: É um poema elegíaco que descreve o luto. Este é normalmente visto como
um subgênero dos poemas líricos. É um lamento em homenagem aos jovens da cidade
de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que morreram em um trágico incêndio em uma
festa de formatura em 2013. Nesse poema, o artista fala dos jovens como se fossem
muitas flores ou estrelas. Sobre as flores, sabemos que são lindas, mas que vivem pouco
tempo. Compara as flores com a vida dos jovens. Depois, fala deles como se fossem
estrelas. As estrelas também são lindas, mas elas duram muito tempo. Então compara
as estrelas com a memória dos jovens. Sabemos que eles não são flores nem
estrelas, tampouco pássaros que voam para o céu (o que o poeta também menciona),
mas as ideias dentro do poema são metáforas concretas (flores, estrelas, pássaros) que
mostram conceitos abstratos (vida, memória e paz).
Link: Poesia de LIBRAS Homenagem Santa Maria/RS - YouTube
FILME/VÍDEO 07

Título: Lutas Surdas


Autor: Alan Henry Godinho
Ano: 2011
Sinopse: Descreve de forma poética o movimento de luta dos surdos contra o
fechamento do Instituto Nacional de Educação de Surdos, o INES. O poema tem muitas
metáforas visuais. Ao falar da marcha de protesto dos surdos em Brasília, mostra
visualmente a estrutura do Congresso Nacional tremendo com as vibrações da
manifestação. Os prédios não tremeram de verdade, mas o poema os mostra de uma
forma criativa, como se tremessem. Alan Henry não usou o sinal tremer, mas adicionou
um movimento de tremer dentro dos sinais classificadores que mostram as edificações.
Os prédios de Brasília são uma figura metonímica para significar o governo. Um prédio
não pode respeitar a Libras, mas as pessoas poderosas dentro deles podem. Em outra
metáfora, os surdos no protesto fazem uma construção de pedras, representando a
FENEIS (a federação nacional dos surdos), as associações de surdos estaduais, a
cultura surda, as associações esportivas dos surdos e a sociedade que apoia os surdos.
Na verdade, todas as pedras da construção são coisas abstratas – sabemos que
associações, culturas e sociedades não têm forma –,mas por metáfora são
transformadas para serem concretas e mostrarem que os conceitos abstratos também
apoiaram a luta. Quando os surdos no poema fazem essa construção referência, eles
erguem uma bandeira enorme em cima dela, que tremula com o orgulho da Libras. A
bandeira é um objeto concreto, mas a importância da língua de sinais é abstrata. A
criação do sinal da bandeira feita por mãos que sinalizam mostra a importância da Libras
para a comunidade surda. A bandeira não é de fato feita por uma língua nem pode fazer
um prédio tremer, mas através da metáfora Alan Henry cria a ideia de que isso é possível.
Link: LUTAS SURDAS... - YouTube
FILME/VÍDEO 08

Título: O passarinho diferente


Autor: Nelson Pimenta
Ano: 2004
Sinopse: A história é baseada numa versão em ASL do artista e pesquisador surdo Ben
Bahan. Nelson fez a sua tradução para Libras com adaptação à cultura brasileira. O
passarinho nasce dentro de uma família de águias, mas com o bico pequeno e reto. A
família percebe que ele é diferente e tenta achar uma cura para que ele se torne uma
águia com o bico grande e curvado, ou, pelo menos, que ele aprenda a viver como elas,
caçando coelhos e voando alto. O passarinho vai a uma escola especial para pássaros
com bicos defeituosos como o dele para tentar remediar o problema. Conhece um grupo
de passarinhos como ele, vivendo de outra maneira, comendo uvas
e cantando; fica muito contente com eles, mas acaba voltando para a sua família. Ele
aceita então uma cirurgia para que seu bico fique curvado e parecido com o de uma
águia, mas fica zangado porque parece mais um papagaio. Ele volta aos amigos
passarinhos, mas com a nova forma de seu bico ele não consegue mais comer uvas nem
cantar. No final, ele voa sozinho até o pôr do sol no horizonte. A narrativa fala das aves,
mas entendemos que é uma metáfora da sociedade humana. Para os surdos, fica claro
que a narrativa é uma metáfora para a experiência dos surdos numa sociedade de
ouvintes. O passarinho é o filho surdo e a família de águias (que ama muito o seu filho)
é a família ouvinte. As tentativas de curar o bico têm paralelo com as tentativas de curar
a surdez, e a escola para remediar o passarinho tem professores, objetivos e falhas bem
conhecidos pela comunidade surda em sua educação. Os passarinhos que cantam e
comem uvas são uma metáfora para a comunidade surda, vivendo do jeito natural deles.
A cirurgia para curvatura do bico remete à cirurgia do implante coclear e o resultado de
criar um bicho nem de águia nem de passarinho é o surdo que não se encaixa nem no
mundo dos surdos tampouco no dos ouvintes.
Link: 2004_RJ_Literatura_Fábula_O-passarinho-Diferente_NelsonPimenta (ufsc.br)
FILME/VÍDEO 09

Título: O sapo e o boi


Autor: Nelson Pimenta
Ano: 2004
Sinopse: A fábula contada por Nelson Pimenta é exagerada para atrair as crianças. Na
fábula “O Sapo e o Boi”, um sapinho cheio de inveja de um boi imponente tenta ficar
inchado até ficar do tamanho do boi. Apesar de os amigos pedirem para que ele desista,
continua inchando até estourar. Nelson Pimenta conta essa fábula com muitas figuras
estéticas, seguindo as regras de criação de histórias visuais em Libras e, por isso, são
contos que podemos valorizar como arte literária e divertida. A história tem um sentido
metafórico e traz um ensinamento no final, que é melhor se aceitar como se é e não
tentar ser o que não se pode ser (um sapo nunca pode atingir o tamanho de um boi).
Link: 20040314_RJ_Literatura_Fábula_O-sapo-e-o-boi_NelsonPimenta (ufsc.br)

REFERÊNCIAS
ALBRES, Neiva de Aquino. “Tenha “OLHO CARO”: a interpretação de expressões
idiomáticas da Língua de Sinais Brasileira Campo Grande – MS: EPILMS 17 e 18 de
novembro, 2006.

ALBRES, N. A.; VILHALVA, S. Língua de sinais: processo de aprendizagem como


segunda língua. Petrópolis: Arara Azul, 2004.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 13. Ed. Tradução de Michel Lahud


e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2009.

BERENZ, N. Person and Dêixis in Brazilian Sign Language. Ph.D. Dissertation.


University of California, 1996).

CÂMARA JR, Joaquim Matoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes,


1986. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-
content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_154.pdf Acesso em: 14 ago. 2021.

CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue –


Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: EDUSP, 2001.

CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue. 3


ed. São Paulo: EDUSP, 1997.

FARIA, Sandra Patrícia. “A metáfora na LSB e a construção dos sentidos no


desenvolvimento da competência comunicativa de alunos surdos.” Dissertação de
Mestrado, Universidade de Brasília, 2003.

FELIPE, T. A. A relação sintático-semântica dos verbos e seus argumentos na


Libras. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
1998.

FERNANDES, E., Linguagem e Surdez. Porto Alegre, Artmed, 2002.

FILLMORE, C. J.; Frame semantics. In: LINGUISTIC SOCIETY OF KOREA (ed.).


Linguistics in the Morning Calm. Seoul: Hanshin Publishing, 1982.

ILARI, Rodolf. Semântica. São Paulo: Bomlivro, 1990. Disponível em:


http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-
content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_154.pdf Acesso em: 14 ago. 2021.

LAKOFF, George e MARK, Johnson. Metáforas da Vida Cotidiana. São Paulo:


Mercado das letras, 2002.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metaphors we live by, The University of Chicago,
Chicago, 1980.

LIDDELL, S. K. Indicating verbs and pronouns: pointing away from agreement. In: An
anthology to honor Ursula Bellugi and Edward Klima, eds. Karen Emmorey and Harlan
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LYONS, J. Linguagem e linguística. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.

MOREIRA, Renata Lucia. Uma descrição de dêixis de pessoa na Língua de Sinais


Brasileira: pronomes pessoais e verbos indicadores. Dissertação de Mestrado em
Linguística. Faculdade de filosofia, Letras e ciências Humanas (FFLCH) – USP, 2007.

PADDEN, C. Interaction of morphology and syntax in ASL. 1983. Dissertation (Doctoral) -


University of California, San Diego, 1983.

PIZZIO, A. L. A variabilidade da ordem das palavras na aquisição da língua de


sinais brasileira: construção com tópico e foco. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

PIZZUTTO, Elena; ROSSINI, Paolo; SALLANDRE, Marie-Anne; WILKINSON, Erin.


Dêixis, anáfora e estrutura altamente icônicas: Evidências Interlinguísticas nas Língua
de Sinais Americana, Francesa e Italiana. IN: QUADROS, Ronice; VASCONSELLOS,
Maria Lucia Barbosa (orgs.). Questões teóricas das pesquisas em língua de sinais.
Tisrls 9. Santa Catarina: 2008.

QUADROS, R. M. de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre:


Artmed, 1997.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos.


Porto Alegre: ArtMed, 2004.

QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais V. Florianópolis: UFSC,
2009.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995.

VIOTTI, Evani. Curso de Licenciatura em Letras-Libras-UFSC (USP) Introdução aos


Estudos Linguísticos, 2007.
UNIDADE III
A LINGUÍSTICA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
Professora Mestre Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell

Plano de Estudo:
A seguir apresenta-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

● Sobre Linguística;
● A Linguística e as Línguas de Sinais;
● Fonologia da Língua de Sinais;
● Morfologia da Língua de Sinais;
● Sintaxe da Língua de Sinais;
● Semântica e Pragmática da Língua de Sinais.

Objetivos de Aprendizagem:
● Introduzir conceitos referentes à linguística e às línguas de sinais;
● Constatar os processos fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e
pragmáticos da Língua Brasileira de Sinais;
● Aprofundar os conceitos sobre os parâmetros da Libras: configuração de mão,
ponto de articulação, movimento, orientação da mão e expressão facial/corporal;
● Identificar os processos de formação dos sinais e das frases em Libras;
● Reconhecer a diferença dos significados e sentidos.
INTRODUÇÃO

A Libras é dotada de uma gramática composta por itens lexicais, que se


estruturam a partir de níveis fonológicos, que analisam como os sinais são produzidos,
ou seja, as unidades mínimas ou os parâmetros que compõem o sinal. No nível
morfológico, indicam e registram-se as classes dos sinais produzidos, além de ser
observada a flexão verbal, essa flexão pode acontecer em quaisquer verbos sempre que
for apropriado, inclusive nos classificadores que são analisados no nível sintático. A
sintaxe analisa, então, a estrutura das sentenças e a estrutura discursiva, e o nível
semântico registra-se o significado do vocabulário e das sentenças produzidas está de
acordo com a narração assistida. Em relação a esse nível de análise, o foco está na
coerência, ou seja, nas unidades de sentido produzidas. Esses níveis são usados na
geração de estruturas linguísticas de forma produtiva, possibilitando um número infinito
de construções, a partir de um número finito de regras.
Existe, também, componentes pragmáticos convencionais, codificados no léxico
e na estrutura da Libras que permitem a geração de implícitos, sentidos metafóricos,
ironias e outros significados não literais. Esses princípios regem também o uso adequado
das estruturas linguísticas da Libras, isto é, permitem aos seus usuários usar estruturas
nos diferentes contextos que se lhes apresentam, de forma a corresponder às diversas
funções linguísticas que emergem da interação no dia-a-dia, bem como dos outros tipos
de uso da língua.
1 SOBRE A LINGUÍSTICA

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/examine-study-linguistics-showed-magnify-
glass-1856072773 Acesso em: 30 out. 2021

A Linguística é considerada uma ciência da linguagem humana que tem como


objeto de estudo a língua natural humana. Analisa e descreve as línguas como se
apresentam, não tendo a preocupação em emitir juízos de valor, não determina se é
correta ou incorreta, não privilegia as formas mais cultas em detrimento das formas mais
populares. A Linguística procura explicar a capacidade que as pessoas possuem
para compreender uma língua, formar palavras, frases, textos, produzir sons,
gestos, sinais.
Para compreendermos melhor sobre os aspectos da linguística, nos apoiamos
nos estudos de Ferdinand Saussure e de Noam Chomsky, com suas teorias importantes
para entendermos o funcionamento da língua.

Para Ferdinand Saussure (1995) existe uma distinção entre a linguagem e a


língua.

● Linguagem: Capacidade humana natural, que nasce com o ser humano. Ou seja,
é mais ampla que a língua, permite que o homem produza e compreenda todas as
manifestações simbólicas como a pintura, a música, a dança, sendo a língua uma
dessas manifestações.

● Língua: Lıń guas são aprendidas, convencionais, surgem pela necessidade de


comunicação entre as pessoas e se desenvolvem conforme o contexto cultural,
geográfico, econômico, tecnológico, de um povo. Ou seja, é parte essencial da
linguagem, constitui-se num sistema de signos, um conjunto de unidades que se
relacionam de forma organizada dentro de um todo.
Destaco ainda, sobre a definição de língua, que Saussure (1969, p. 17) afirma que
a língua é um produto social, isso significa dizer que a língua é produzida e usada por
toda uma comunidade, não sendo propriedade de ninguém individualmente. Uma língua
não existe individualmente, ela se constitui no meio social e é no meio social que ela se
realiza, se transforma e evolui. Por isso, ela é social e convencional, isto é, as palavras,
os signos, devem ser conhecidos e compreendidos por todos os seus usuários.
Saussure (1969) apresenta-nos ainda, quatro pares conceituais que formam as
dicotomias, esses conceitos se opõem, um só pode ser compreendido se comparado ao
outro, e juntando os dois formam um conceito maior, fundamental para entendermos o
que é a língua. Vejamos:

1. Língua e Fala

A língua é social, um sistema de signos convencionais, não pode ser mudado. A


fala é individual, é a manifestação oral, é o sujeito falante usando o código da língua. A
fala traz muitas marcas da cultura, do modo de viver do falante, de tal forma que uma
mesma língua pode ser falada de diferentes maneiras, dependendo do lugar, das
influências a que o falante está exposto. Enfim, a fala é a expressão individual, própria
de cada pessoa. Porém, independente do jeito de cada indivíduo falar, a língua é a
mesma: no nosso caso o português.

2. Significado e Significante
Para compreendermos a dicotomia “significante e significado”, precisamos
entender melhor sobre o signo linguístico.
Signos linguísticos: são unidades linguísticas que significam alguma coisa. Por
exemplo: livro é um signo em português. Se eu usar esse signo, todas as pessoas que
conhecem a língua portuguesa sabem a que eu me refiro. A palavra livraria também é
um signo, porém é composta por dois signos menores que têm significação: livr (livro) +
aria (indica um estabelecimento comercial que vende livros) forma o novo signo livraria.
Frases ou textos também são signos porque significam alguma coisa. Por exemplo: o
livro A Moreninha, de José de Alencar, é um signo.
Assim, tudo que é existente e conhecido é representado por um signo. O signo é
a associação indissolúvel de um significante e de um significado.

Imagem 1 - Desenho de árvore

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/illustration-tree-roots-1195516093

Árvore: o significado corresponde não ao objeto, a coisa em si, mas a ideia, o


conceito que temos de árvore (galhos, tronco, raiz). O significante de árvore é a imagem
acústica, que é a representação psíquica do som /a/r/v/o/r/e.
O significante é a imagem acústica, ou seja, quando se pensa em algo
conhecido, é como se o som ressoasse no cérebro, é um som não articulado.

Imagem 2 - Significante ou imagem acústica


Fonte: Imagem disponível em: https://letransfert.wordpress.com/2013/05/15/sintoma-e-desejo-
psicanalitico-uma-perspectiva-linguistica/

Imagem 3 - Conceito de imagem acústica

Fonte: Imagem disponível em: http://comunicacionparaadultos.blogspot.com.br/

Imagem 4 - Conceito da imagem representada no visual

Fonte: Imagem disponível em: http://trabalhandocomsurdos.blogspot.com.br/2014/04/meios-de-


transporte-em-libras.html

Para resumir: signo linguístico compreende dois termos psíquicos unidos em


nosso cérebro = significado (ideia, conceito) + significante (representação psíquica do
som).
3. Sincronia e Diacronia
́ gua é a observação da lı́ngua
Para Saussure (1969), o estudo Sincrônico da lın
́ do, não
num momento delimitado, num determinado ponto do tempo, num perıo
interessando o que aconteceu antes, nem o que poderá acontecer depois. Essa forma
de analisar a língua se chama de sincronia, não se atém às transformações históricas da
língua e nem a sua possível evolução. Já o estudo Diacrônico são as observações das
ocorrências que aconteceram com a língua através do tempo, engloba as mudanças e
transformações. Para exemplificar uma observação diacrônica podemos observar as
transformações históricas: “vossa mercê”; “vosmicê”; “você”.

4. Sintagma e Paradigma

● Sintagma: São as combinações que acontecem dentro do contexto discursivo,


uma palavra, um grupo de palavras ou uma frase. O sintagma acontece a partir do
princípio da linearidade: são combinações consecutivas, se alinham uma após a outra,
como acontece na fala. O sintagma tem duas ou mais unidades, como, por exemplo:
pato = pa-to; Paulo chegou; Se fizer tempo bom, sairemos. Vimos que num sintagma
cada termo linguıś tico tem um valor porque se opõe ao termo que vem antes e ao que
vem após.
● Paraddigma ou Relações Assosiativas: São associações que acontecem em
nossa memória com as palavras que têm alguma coisa em comum: ou o significado, ou
a imagem acústica, a sonorização. Por exemplo: quando lemos ou ouvimos a palavra
“livraria”, a essa palavra se associam muitas outras que estão na nossa memória, como
livro, papel, arquivos, cadernos, lápis, enfim, um universo de palavras que poderão estar
associadas ao significado de livraria. Outras palavras poderão ser associadas à
sonorização de livraria: portaria, papelaria, pescaria. O eixo paradigmático ou eixo
vertical é o eixo das relações associativas.

O que dizem os estudos de Chomsky?

Para Chomsky (1996), na Gramática Gerativa:


● Língua: É um objeto mental. Ou seja, a mente é o local onde a língua (um sistema
de princípios) está radicada. É esse sistema de princípios mentais que é o objeto de
estudo da Gramática Gerativa (VIOTTI, 2008).
● Linguagem: É uma capacidade inata, transmitida geneticamente e própria da
espécie humana. Segundo Viotti (2008), a faculdade da linguagem já está formada
quando a criança nasce, é comum a toda a espécie humana, é igual para todas as
crianças, sejam surdas ou ouvintes. A faculdade da linguagem é um estado inicial a toda
a pessoa quando nasce, é inata, faz parte da genética humana, chama-se gramática
universal. A língua, “é o resultado da interação de dois fatores: o estado inicial e o curso
da experiência” (CHOMSKY, 1996, p. 74).
Assim sendo, se uma criança, ao nascer, passar a conviver com pessoas que
falam português, o seu estado inicial da faculdade da linguagem, em interação com as
informações linguísticas, vai se modificando e ela passará a falar português e não outra
língua. Da mesma forma, se a criança for surda e os seus pais ou cuidadores usam a
língua de sinais, a criança vai desenvolver a língua de sinais.
Ao referir-se à faculdade da linguagem, Chomsky a considera como um “órgão
linguístico”, como outros órgãos do corpo tais como o sistema visual, o sistema
circulatório, dado o seu caráter fundamental em todos os aspectos da vida e da interação
humana.

SAIBA MAIS
GERATIVISMO

Segundo a teoria de Chomsky, todas as pessoas têm os mesmos mecanismos


mentais destinados à produção e compreensão da linguagem. A faculdade da linguagem
é parte da dotação genética humana, esse módulo especial, associado especificamente
à língua e não às outras linguagens como a dança, a música, que se constitui o centro
dos estudos da sua teoria, é chamada de GRAMÁTICA UNIVERSAL.
Gramática Universal é o estado inicial, uma competência que toda a criança já traz
quando nasce e está presente em todas as pessoas, sejam ouvintes ou surdas.
Todas as pessoas são portadoras da faculdade da linguagem. Logo, todas possuem uma
Gramática Universal. Porém, esse estado inicial da faculdade da linguagem, à medida
que a criança passa a conviver num ambiente linguístico, com qualquer língua humana
verbal ou a língua de sinais, a Gramática Universal vai se desenvolver e se tornar uma
gramática constante, como a espanhol, o português, a LIBRAS.
A preocupação da Gramática Universal são os mecanismos mentais dedicados à
produção e compreensão da linguagem, em que os falantes de uma língua têm intuições
sobre como devem ser as formas das sentenças. O conhecimento intuitivo era
inicialmente chamado de Competência linguística, que representa o conhecimento que
o falante possui sobre a sua própria língua, é o conhecimento interiorizado. Já o
Desempenho linguístico representa o uso do conhecimento intuitivo, chamado de
conhecimento exteriorizado.

DICA DE FILME: Indicamos dois filmes importantíssimos para que você possa escolher
pelo menos um deles. A primeira indicação é o filme do Menino Lobo, que evidencia a
questão da aquisição de linguagem.

Título: Mogli: O menino Lobo


Autor: Jungle Book
Ano: 2016
Sinopse: Mogli é um menino que foi criado por lobos em uma floresta indiana. Mesmo
convivendo em harmonia com os animais ele é visto como uma ameaça pelo tigre Shere
Kan. Temendo pela sua segurança e a do seu bando, ele decide se afastar da floresta.

A segunda indicação é a do filme NELL:


Título: NELL
Autor: Michael Apted
Ano: 1994
Sinopse: Relata a história fictícia de uma garota que é encontrada numa casa afastada
da cidade. Apesar de não poder ser considerada uma criança selvagem, ela não
aprendeu a falar, pois a mãe foi encontrada morta e tudo indicava que sofria algum tipo
de distúrbio neurológico, mas descobriu-se que fora efeito da criação isolada (após a
morte de sua mãe e irmã) e aprendizado de uma linguagem afásica de sua mãe, possível
vítima de um AVC.

#SAIBA MAIS#

2 A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS DE SINAIS


Fonte: Arquivos da autora (2021)

A Libras, por ser uma lı́ngua natural, possui os mesmos fenômenos linguı́sticos
comuns a todas as lı́nguas orais, podendo ser analisada nos nıv́ eis fonológico,
morfológico, sintático, semântico e paradigmático. Por sua característica espacial, os
níveis fonológico, morfológico e sintático se realizam espacialmente, uma vez que o
espaço é um importante canal de constituição da língua de sinais.
Assim, os estudos linguísticos das línguas de sinais partem dos mesmos
pressupostos básicos, válidos tanto para as línguas orais como para as línguas
visuoespaciais: as línguas são constituídas por um conjunto de princípios que fazem
parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou viso-espacial,
dependendo da modalidade das línguas, se faladas ou sinalizadas, da formação das
palavras, da construção das sentenças e da construção dos textos.

SAIBA MAIS
Os estudos linguísticos das Línguas de Sinais iniciaram com o pesquisador
linguista William Stokoe (1960) numa escola para surdos, chamada de Gallaudet College,
hoje conhecida como Gallaudet University, importante centro acadêmico de pesquisas e
ensino para surdos. Ele era ouvinte e desconhecia o mundo das pessoas surdas. Na
escola empregava-se a oralização, a leitura labial. Através das suas observações
sistemáticas, percebeu que nas situações informais, no pátio e nos corredores, os alunos
usavam um conjunto de sinais para se comunicarem entre si, bem diferentes dos sinais
de instrução usados nas aulas. Procurou aproximar-se dos alunos para conhecer os
sinais que tinham maior força comunicativa, pois, na época, nem a língua de sinais
americana era ensinada na escola. A partir das suas observações, passou a constatar
que a sinalização usada pelos surdos era uma língua autônoma, com uma
gramática própria. Apresentou uma análise descritiva da Língua de Sinais Americana,
revolucionando a linguística da época, período em que todos os linguistas se dedicavam
aos estudos da língua oral. Pela primeira vez um linguista estava apresentando
elementos linguísticos de uma língua de sinais. Hoje, ainda temos poucos linguistas
surdos pesquisando as línguas de sinais.

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS: A língua é social e se realiza num determinado


momento histórico e geográfico. Assim como a sociedade muda, a língua que usamos
também sofre transformações. É muito comum, num mesmo país, as pessoas falarem a
mesma língua de formas diversas, múltiplas. As variações são ocasionadas por
diferentes fatores tais como a época, as condições econômicas, os ambientes sociais, a
região geográfica, o uso das tecnologias e das redes sociais. Essas diversidades
linguísticas normalmente se iniciam na fala, aparecendo depois na escrita.
As línguas naturais nascem espontaneamente da necessidade de comunicação
e interação entre as pessoas, são dinâmicas e estão sempre se modificando. Essa
capacidade de transformação da língua chama-se variação linguística. As variações
linguísticas refletem as diferentes formas das pessoas se comunicarem, muitas vezes o
uso de gírias e regionalismos cumprem muito bem a função de comunicar, outras vezes
há a necessidade de optar pela norma padrão da língua.
As línguas de sinais também apresentam as mesmas variações que a Língua
Portuguesa e as demais línguas orais. A seguir, veremos alguns tipos de variações que
a língua sofre no decorrer do seu uso:

● Variação Histórica – São as modificações da língua no decorrer do tempo, por


exemplo: as palavras antes escritas com ph como pharmacia - farmácia; as reduções:
vosmicê – você; etc. Essas modificações também vão aparecer na língua de sinais, com
o passar do tempo, um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da
geração que o utiliza. Como no exemplo do sinal AZUL

Imagem 5 - Variação histórica do sinal AZUL

Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Variação Regional - São as variações ocorridas de acordo com a cultura


de uma determinada região, diferentes Estados e diferentes áreas geográficas dentro de
um mesmo Estado, (os chamados dialetos), como, por exemplo, a palavra mandioca,
que em certas regiões é tratada por macaxeira ou aipim. Outro fator importante para a
variação linguística é a origem rural ou urbana da pessoa usuária da língua oral, mas,
também encontrada na língua de sinais como mostra o exemplo a seguir:
Imagem 6 - Variação regional do sinal VERDE

Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste


caso, destacam-se as gírias, originadas em grupos de surfistas, ou adolescentes. Os
jargões, que pertencem a uma classe profissional mais específica, como é o caso dos
médicos, profissionais da informática, dentre outros. O grau de escolarização: o acesso
maior ou menor à educação formal e, com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos
usos da escrita, é um fator muito importante na configuração dos usos linguísticos dos
diferentes indivíduos. Na língua de sinais existem variações na configuração da mão e/ou
no movimento, o que não modifica o sentido do sinal, apenas se adequa ao uso de
determinado grupo. Por exemplo, o sinal de AVIÃO.

Imagem 7 - Variação social do sinal AVIÃO

Fonte: Arquivos da autora (2021)


Caro(a) acadêmico(a)! A partir de agora passaremos aos estudos da fonologia,
morfologia, sintaxe, semântica e pragmática da Língua Brasileira de Sinais. Os estudos
de Quadros e Karnopp (2004), serão fundamentais para que possamos compreender
esses conceitos enquanto áreas linguísticas que organizam e estruturam também as
línguas de sinais.

REFLITA

● Primeira reflexão:

A língua de sinais é uma potência para as pessoas surdas, principalmente, no


caso de crianças surdas que têm a língua de sinais como sua primeira língua. Temos
alguns bons exemplos de sucesso de crianças surdas em famílias surdas. Destacamos
a experiência vivida pela menina Fiorella, atualmente com cinco anos de idade. Os seus
pais criaram o blog, “O Diário de Fiorella”, para acompanhar o desenvolvimento
linguístico da menina. Com a chegada da bebê Florence, atualmente, os pais postam
vídeos sobre as interações e o desenvolvimento linguístico em língua de sinais das duas
filhas surdas, e ainda, acompanham o processo de alfabetização na língua portuguesa
na modalidade escrita da menina Fiorella. As experiências positivas vivenciadas na
prática por esta família de pessoas surdas, comprova as evidências de diversas
pesquisas como as de (KING; MACKEY, 2007; KARNOPP, 1994), que apontam as
línguas de sinais como possibilidade complexa que acompanha o desenvolvimento da
comunicação e da cognição das crianças surdas. Você pode acompanhar todas as
postagens desse diário através do link:
https://www.youtube.com/channel/UC9g1xELVb53CLrS53UF4kuw/videos

● Segunda reflexão:

Com a recente conquista materializada na Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021


(BRASIL, 2021), a educação bilíngue de surdos passa a ser modalidade de educação
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN. A língua de sinais está
presente na educação bilíngue, como direito das pessoas surdas, mediante a aprovação
dessa Lei, passa a ser aplicada em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de
surdos, escolas comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos. O público a ser
atendido será de educandos surdos, surdocegos, com deficiência auditiva sinalizantes,
surdos com altas habilidades/superdotação ou com deficiências. A consolidação dessa
conquista se deu através da rede das lutas e militâncias entre os surdos e a comunidade
surda e na concretização de consistente marco teórico e legal. Dessa forma,
comprovando a evidência do sucesso do acesso à língua de sinais e a comunicação em
língua de sinais como um direito humano básico inegável.

Fonte: BRASIL. Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm. Acesso em: 5
ago. 2021.

#SAIBA MAIS#

3 FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Quadros e Karnopp (2004), nos chamam a atenção para a fonologia enquanto


ramo da linguística, sendo necessário compreender dois pontos fundamentais: o primeiro
ponto se refere às unidades mínimas que formarão os sinais, e o segundo ponto é
combinar essas unidades mínimas, levando em conta as suas variações possíveis.
Salientam que o estudo da fonologia tem sido usado para conhecermos os elementos
básicos das línguas de sinais, compreendendo a diferença entre as línguas orais, no que
concerne à percepção e produção
As autoras apontam para os estudos do pesquisador da Língua de Sinais
Americana Stokoe (1960), o linguista propôs dois termos que marcam a diferença entre
esses dois tipos de sistemas linguísticos:
❖ Quirema: para Stokoe, são as unidades formacionais dos sinais (configuração de
mão, locação e movimento)
❖ Quirologia: que se refere ao estudo das combinações dessas unidades mínimas.
A partir de 1978, Stokoe e outros pesquisadores passaram a utilizar os termos
‘fonema’ e ‘fonologia’ estendendo seus significados de modo a abarcar a realização
linguística visual-espacial, compreendendo que as línguas de sinais são línguas naturais,
que compartilham princípios linguísticos subjacentes com as línguas orais, apesar das
diferenças de superfície entre fala e sinal (KLIMA e BELLUGI, 1979; WILBUR, 1976;
HULST, 1993).
As línguas de sinais apresentam:
❖ Léxico: conjunto de símbolos convencionais.
❖ Gramática: sistema de regras que regem o uso dos símbolos convencionais.
E apresenta também a hipótese de que a forma das línguas de sinais é
determinada pela gramática universal inata e pela interação entre percepção visual e
produção gestual.
Análises das unidades formacionais dos sinais, posteriores a de Stokoe,
sugeriram a adição de informações referentes à (orientação de mão e expressões
faciais/corporais), Battison, 1974, 1978. Esses dois parâmetros foram, então,
adicionados aos estudos da fonologia.
A organização fonológica da língua de sinais está dividida em:
❖ Parâmetros Primários: são as mãos (configuração de mãos), que se
movimentam no espaço em frente ao corpo do interlocutor (movimentos) e o espaço
onde se articulam os sinais em determinados pontos (locações).
❖ Parâmetros Secundários: as mãos se posicionam de acordo com o movimento
(orientação de mãos) e o interlocutor usa várias expressões corporais e faciais como
elementos extralinguísticos.

SAIBA MAIS

A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da linguística que estudam
as unidades mínimas dos sinais que não apresentam significado isoladamente. Por
terem o mesmo objeto de estudo, são áreas relacionadas. Portanto:

● A fonética se preocupa em descrever as unidades mínimas dos sinais, descreve


as propriedades físicas, articulatórias e perceptivas de configuração e orientação
de mão, movimento, ponto de articulação e expressão facial/corporal. Ou seja, é
a área que investiga o aspecto material das unidades mínimas das línguas de
sinais, as bases visuais relacionadas com a percepção e as bases fisiológicas
relacionadas com a produção, suas unidades básicas são transcritas entre
colchetes [ ].

● A fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que objetiva identificar


a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos
descritivos e explanatórios. A primeira tarefa da fonologia é determinar quais são
as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é estabelecer quais
são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações
permitidas/possíveis no ambiente fonológico. A fonologia estuda as diferenças
percebidas e produzidas relacionadas com as diferenças de significado.

#SAIBA MAIS#

Com base nessas informações introdutórias, é hora de apresentar


detalhadamente as propriedades de cada Parâmetro em Língua Brasileira de Sinais,
isso significa conhecermos as propriedades de Configuração de Mão, Ponto de
Articulação (Locação), Movimento, Orientação da Mão e Expressão Facial/Corporal.

1. Configuração de Mão (CM)

São formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras
formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos
do emissor ou sinalizador. As configurações de mão não se restringem às configurações
do alfabeto manual, e hoje são descritas mais de 60 diferentes configurações que
permitem a comunicação em Libras. A seguir, mostra-se a figura com 61 configurações
de mão.

Imagem 8 - Configurações de Mão


Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Leoa Guerreira
Link: https://www.youtube.com/watch?v=rfnKoCXmSg4 Acesso em: 30 out. 2021.

O vídeo acima mostra a história Leoa Guerreira, de Vanessa Lima, que apresenta
a narrativa usando a mesma configuração de mão em forma de garra da leoa, como
podemos observar nos sinais: LUTAR, DESISTIR, NÃO, CANSAR, FLORESTA, SOL,
CALOR, LIMPAR-O-SUOR-DA-TESTA, OLHAR-A-DISTÂNCIA, TRABALHAR, DIFÍCIL,
VAMOS e GRUPO.

2. Ponto de Articulação

Stokoe (1960) define Locação ou Ponto de Articulação como um dos três


principais aspectos formacionais da Língua Americana de Sinais (ASL). Friedman (1977,
p.4) afirma que locação “é aquela área no corpo, ou no espaço de articulação definido
pelo corpo em que ou perto da qual o sinal é articulado.” Na Língua Brasileira de Sinais
(Libras) até o momento investigadas, o espaço de enunciação é uma área que contém
todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos em que os sinais são articulados.
Ferreira-Brito e Langevin (1995) adaptaram para a Libras as locações, dividindo-as em
quatro regiões principais: cabeça (topo da cabeça, testa, rosto, parte superior e inferior
do rosto, orelha, olhos, nariz, boca, bochechas e queixo); mão (palma, dorso da mão,
lado indicador, lado do dedo mínimo, dedos, pontas dos dedos, anelar, dedo médio,
indicador e polegar); tronco (pescoço, ombro, busto, estômago, cintura, braço,
antebraço, cotovelo e pulso) e espaço neutro. Vamos ver como esses pontos de
articulações ou locações podem ser visualizadas no poema a seguir.

● Árvore
Link: https://vimeo.com/267272296/e685ec89f9 Acesso em: 30 out. 2021

O poema Árvore, de André Luiz Conceição, traz a narrativa poética toda contada
usando o antebraço na horizontal como Ponto de Articulação ou Locação se referindo a
terra, e com o uso de classificadores e de incorporação, tem-se a plantação da árvore, a
passagem do tempo através do movimento circular do sol.

3. Movimento

Os movimentos identificados na Língua Brasileira de Sinais por Ferreira-Brito


(1995) apresentam traços referentes ao tipo, direcionalidade, maneira e frequência do
movimento. Assim, a autora menciona que o movimento pode estar nas mãos, pulsos e
antebraço; os movimentos direcionais podem ser unidirecionais, bidirecionais ou
multidirecionais; a maneira é a categoria que descreve a qualidade, a tensão e a
velocidade do movimento; a frequência refere-se ao número de repetições de um
movimento. Strobel e Fernandes (1998) apresentam os tipos de movimentos: retilíneo,
circular, semicircular, angular, sinuoso, helicoidal e movimento estático. No link a seguir
podemos contemplar no poema alguns tipos de movimentos em Libras.

● Homenagem Santa Maria/RS


Link: https://www.youtube.com/watch?v=9LtOP-LLx0Y Acesso em: 30 out. 2021.
O poema Homenagem Santa Maria/RS, de Alan Henry Godinho, é um lamento
em homenagem aos jovens da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que
morreram em um trágico incêndio em uma festa de formatura em 2013. Nesse poema, o
artista fala dos jovens como se fossem muitas flores ou estrelas. Sobre as flores,
sabemos que são lindas, mas, que vivem pouco tempo. Compara as flores com a vida
dos jovens. Depois, fala deles como se fossem estrelas. As estrelas também são lindas,
mas elas duram muito tempo. Então, compara as estrelas com a memória dos jovens.
Sabemos que eles não são flores nem estrelas, tampouco pássaros que voam para o
céu (o que o poeta também menciona), mas as ideias dentro do poema são metáforas
concretas (flores, estrelas, pássaros) que mostram conceitos abstratos (vida, memória e
paz). Nesse poema encontramos vários tipos de movimentos utilizados na narrativa para
execução dos sinais como: SOFRER (movimento retilíneo); FAMÍLIA (movimento
circular); sinal: SANTA MARIA (movimento semicircular); PAZ (movimento angular);
BRASIL (movimento sinuoso); ABRAÇO (movimento estático).

4. Orientação da Mão

Battiston (1974) e outros pesquisadores argumentaram em favor da inclusão do


parâmetro orientação da mão na fonologia das línguas de sinais com base na existência
de pares mínimos em sinais que apresentam mudança de significado apenas na
produção de distintas orientações da palma da mão (BATTISTON, 1974; BELLUGI,
KLIMA e SIPLE, 1975). Por definição, a orientação é a direção para a qual a palma da
mão aponta na produção do sinal. Ferreira-Brito (1995, p. 41), “na Libras”, e Marentette
(1995, p. 204), “na ASL, enumeram seis tipos de orientações da palma da mão na Libras:
palma para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para o lado direito ou esquerdo.”
Entenda como as mãos usam as direções para executar os sinais no poema a seguir.
● Peixe
Link: https://www.youtube.com/watch?v=LEDC479z_vo Acesso em: 30 out. 2021
No poema Peixe, de Renato Nunes, pode ser observado a direcionalidade das
mãos no uso da narrativa poética sobre a natureza, com apenas a mão aberta como
configuração de mão, o narrador fala da água (palma da mão para baixo); de um peixe
(palma da mão para o corpo); fala do sol (palma da mão para baixo), sugerindo o
verão. O desfecho inesperado da narrativa acontece quando o peixe bate no vidro do
aquário (palma da mão para o lado) e entendemos que ele não está livre na natureza.

5. Expressões Faciais e Corporais

As expressões não-manuais (movimentos da face, dos olhos, da cabeça ou do


tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação sintática e
diferenciação de itens lexicais. As expressões não-manuais que têm função sintática
marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas, orações relativas,
topicalização, concordância e foco. As expressões não-manuais que constituem
componentes lexicais marcam referência específica, referência pronominal, partícula
negativa, advérbio, grau ou aspecto. Ferreira-Brito e Langevin (1995), baseados no
trabalho de Baker (1983), identificam as expressões não-manuais da Libras, as quais
são encontradas no rosto, na cabeça e no tronco. É necessário salientar que duas
expressões não-manuais podem ocorrer simultaneamente, por exemplo, as marcas de
interrogação e negação. Assista o vídeo a seguir e comprove como esses articuladores
não-manuais estão presentes nas construções sintáticas da Libras.

● Golf Ball
Link: https://www.youtube.com/watch?v=Gl3vqLeOyEE Acesso em: 30 out. 2021

Às vezes os articuladores não-manuais são os principais articuladores ou, até


mesmo, os únicos. Em Golf Ball, a narrativa apresentada por Stefan Goldschmidt é
sinalizada totalmente com os olhos, a boca e a cabeça, mostrando como a bola de golf
se sente e se move sem nenhum sinal manual.

4 MORFOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Quadros e Karnopp (2004, p. 86) definem que: Morfologia é o estudo da estrutura


interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação
das palavras. A palavra morfema deriva do grego morphé, que significa forma. Os
morfemas são as unidades mínimas de significado.
Alguns morfemas por si só constituem palavras, outros nunca formam palavras,
apenas constituindo partes de palavras. Dessa forma, têm-se os morfemas presos que,
em geral são sufixos e os prefixos, uma vez que não podem ocorrer isoladamente, e os
morfemas livres que constituem palavras.
Mas, na medida em que se pode formar palavras a partir de outras palavras, é
importante reconhecer que as palavras podem ser unidades complexas, construídas de
mais de um elemento.
Nas línguas de sinais há descrições que se referem aos processos derivacionais
e flexionais. É importante dizer que, existe um consenso no sentido de se entender os
processos envolvendo a combinação de aglutinação e incorporação.
❖ Derivação nas línguas de sinais
- Derivação de verbos
Imagem 9 - CADEIRA (substantivo com movimento repetitivo) SENTAR (movimento do verbo
se faz em uma vez só)

Fonte: Arquivos da autora (2021)

- Formação de compostos
Imagem 10 - Sinal composto

Fonte: Arquivos da autora (2021)

- Incorporação de numeral (a incorporação de números é, no máximo, de quatro).

Imagem 11 - Sinal: 2 DIAS - Sinal: 2 MESES


Fonte: Arquivos da autora (2021)

- Incorporação da negação

Imagem 12 - NÃO-QUERER (movimento da cabeça de um lado para o outro junto com o sinal)

Fonte: Arquivos da autora (2021)

❖ Flexão nas línguas de sinais

Existem vários processos de flexão descritos na Língua de Sinais Americana –


ASL. Os primeiros estudos realizados por Klima e Bellugi (1979) apresentam oito
diferentes processos:

1) Pessoa (dêixis): flexão que muda as referências pessoais no verbo.

Imagem 13 - Pronomes (dêixis)


Fonte: Arquivos da autora (2021)

2) Número: flexão que indica o singular, o dual, o trial, e o múltiplo.

Imagem 14 - EU ENTREGAR VOCÊ - VOCÊ ENTREGAR EU - EL@ ENTREGAR EL@

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

3) Grau: apresenta distinções para ‘menor’, ‘mais próximo’, ‘muito’ etc.

4) Modo: apresenta distinções, tais como os graus de facilidade.

Imagem 15 - CASA PEQUENA - CASA GRANDE - GORD@ muito - ALT@ muito


Fonte: Arquivos da autora (2021)

5) Reciprocidade: indica relação ou ação mútua.

Imagem 16 - OLHAR (recíproco)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

6) Foco temporal: indica aspectos temporais, tais como ‘início’, ‘aumento’,


‘graduação’, ‘progresso’, ‘consequência’ etc.
7) Aspecto temporal: indica distinções de tempo, tais como ‘há muito tempo’, ‘por
muito tempo’, ‘regularmente’, ‘continuamente’, ‘incessantemente’,
‘repetidamente’, ‘caracteristicamente', etc.
As flexões de foco e aspecto temporal são diferentes das flexões aspecto
distributivo, uma vez que se referem exclusivamente à distribuição temporal
sem incluir a flexão de número.

Imagem 17 - ONTEM - ANTEONTEM - ANO-PASSADO

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Imagem 18 - CUIDAR (incessante)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

8) Aspecto distributivo: indica distinções, tais como ‘cada’, ‘alguns especificados’,


‘alguns não-especificados’, ‘para todos’ etc.
Imagem 19 - AVISAR-TOD@

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

SAIBA MAIS

DÊIXIS: palavra grega que significa ‘apontar’ ou ‘indicar’ - descreve uma forma particular
de estabelecer nominais no espaço que são utilizados pelos verbos com concordância
como parte de sua flexão. A função dêitica em língua de sinais, como na Libras, é
marcada através da apontação propriamente dita. Os referentes são introduzidos no
espaço à frente do sinalizador, através da apontação em diferentes locais. As formas
verbais para pessoa são estabelecidas através do início e fim do movimento e da direção
do verbo, incorporando estes pontos previamente indicados no espaço para
determinados referentes.

#SAIBA MAIS#
5 SINTAXE DA LÍNGUA DE SINAIS

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Quadros e Karnopp (2004, p.127) introduzem os estudos sobre a sintaxe da língua


de sinais, com base na organização espacial. Segundo as autoras, “a Libras, espalhada
por todas as regiões brasileiras, é organizada espacialmente de forma tão complexa
quanto às línguas orais. Analisar alguns aspectos da sintaxe de uma língua de sinais
requer ‘enxergar’ esse sistema que é visuo-espacial.”
No espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento nominal e o uso
do sistema pronominal são fundamentais para as relações sintáticas.
De acordo com Baker e Cokely (1980, p.227), “o local no espaço de sinalização
(espaço definido na frente do corpo do sinalizador) pode ser referido através de vários
mecanismos espaciais”, como nos exemplos a seguir:

a) Fazer o sinal em um local particular


Imagem 20 - CASA (do João) - CASA (do Pedro)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

b) Direcionar a cabeça e os olhos (e talvez o corpo) em direção a uma localização


particular simultaneamente com o sinal de um substantivo ou com a apontação
para o substantivo.
Imagem 21 - CASA - XI (casa)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

c) Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico (por


exemplo, apontar para o ponto ‘a’ associando esta apontação com o sinal CASA;
assim o ponto ‘a’ passa a referir CASA).

Imagem 22 - XI CASA
Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

d) Usar um pronome (apontação ostensiva) numa localização particular quando a


referência for óbvia.

Imagem 23 - IX (casa) NOVA

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

e) Usar um classificador (que representa aquele referente) em uma localização


particular.
Imagem 24 - CARRO CL (carro passou um pelo outro)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

f) Usar um verbo direcional (com concordância) incorporando os referentes


previamente introduzidos no espaço.

Imagem 25 - (eu) IR (casa)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora

Quadros e Karnopp (2004, p. 20-21) Sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou


seja, da combinação das unidades significativas da frase. A sintaxe trata das funções,
das formas e das partes do discurso. É parte da linguística que estuda a estrutura interna
das sentenças e a relação interna entre suas partes. Nesse sentido, a sintaxe combina
palavras de forma recursiva observando restrições impostas por princípios que a
determinam.
❖ Formação de Frase

Em primeiro lugar, vamos entender que o sistema pronominal e de concordância


verbal são espaciais e depois trataremos dos mecanismos espaciais elaborados por
Siple (1984 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009).
Na literatura americana, os linguistas Bellugi e Klima (1982 apud QUADROS;
PIZZIO; REZENDE, 2009) já deixaram claro que a formação de frase sintática com
referência pronominal, concordância verbal e relações gramaticais na Língua Brasileira
de Sinais também é “apontada”, assim como na Língua de Sinais Americana.
O tipo de apontação mencionada acima é produzida tanto com referentes
presentes como com referentes não presentes e referente anafórico no contexto do
discurso.

SAIBA MAIS

● Referente presente: Referente presente é o elemento envolvido no discurso (a


primeira, a segunda e a terceira pessoa) e, para apontar determinado referente,
utiliza-se o dedo indicador apontando para quem o sinalizante se refere.

● Referente ausente: apontação é direcionada a um local espacial já


convencionado (arbitrário mesmo que seja invisível), ao longo do plano horizontal
ou frontal, em frente ao corpo ou ao lado do sinalizador. Pode ser usada para
referir-se a objetos, pessoas e lugares no espaço.

● Referente anafórico: é a referência nominal, chamada de correferente, que


requer que o sinalizante aponte (olhe ou gire o corpo) para um local estabelecido
uma vez e depois volte a apontar duas ou três vezes, depois de outro local
estabelecido, referindo àquele nominal, dependendo do discurso e do contexto
introduzido.
● Símbolo IX: é o índice da marcação do co-referente pronominal. Os números que
acompanham os índices XI1, XI2, XI3, etc., são as sequências nas quais o
sinalizador quer referir o espaço em que o referente está presente, mesmo
ausente.

#SAIBA MAIS#

Na frase sintática em Língua de Sinais Brasileira há formação de frases


interrogativas. É muito comum usar a expressão facial quando se quer fazer pergunta:

Imagem 26 - Frases interrogativas nas Libras: COMO? O QUÊ? QUERER? PODE?


POR QUÊ? ONDE?

Fonte: Arquivo da autora (2021)

As expressões faciais requerem muitos exercícios faciais, compreendendo as


seguintes feições:
• sobrancelhas levantadas;
• sobrancelhas abaixadas e cabeça levantada;
• sobrancelhas franzidas;
• movimento lateral da cabeça com a boca para baixo;
• assentimento;
• assentimento rápido;
• sobrancelhas levantadas e boca aberta;
• sobrancelhas franzidas e boca torta para baixo.

❖ Formação de verbos

Padden (1983 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) mostra as formas de


verbos da Língua de Sinais Americana que podem ser utilizadas na formação de frases
sintáticas em Libras. São elas:

a) Verbos simples

Os verbos simples não se flexionam em pessoa e número e não aceitam afixos


locativos, por exemplo, os verbos:

Imagem 27 - CONHECER - ANDAR - CHEGAR

Fonte: Arquivos da autora (2021)

b) Verbos classificadores

Outra característica da língua de sinais diz respeito à iconicidade, com a utilização


de Configuração de Mãos. As línguas de sinais apresentam sinais que são icônicos, ou
seja, que representam nitidamente o referente, como, por exemplo, o sinal de casa,
tornando o sinal transparente e permitindo que a compreensão do significado seja mais
facilmente apreendida.
Imagem 28 - ANDAR

Fonte: Arquivos da autora (2021)

c) Verbos manuais

Representam ações em que uma pessoa está segurando ou fazendo alguma


coisa com os instrumentos “invisíveis”.

Imagem 29 - PASSAR-BATOM

Fonte: Quadros e Karnopp (2004), adaptado pela autora


6 SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DA LÍNGUA DE SINAIS

Fonte: Arquivos da autora (2021)

❖ Semântica

Para Quadros e Karnopp

A semântica estuda o significado da palavra e da sentença. A semântica trata da


natureza, da função e do uso dos significados determinados ou pressupostos. É
a parte da linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras
e do agrupamento das palavras nas sentenças, que pode apresentar variações
regionais e sociais nos diferentes dialetos de uma língua. Para além desse tipo
de significado, há aquele do utente da língua que pode incluir o literal e o não-
literal das expressões (casos de ironias e metáforas, por exemplo). (2004, p. 21-
22)

Apesar dessas variações, existem limites nos significados de cada expressão, ou


seja, os utentes não podem usar expressões para significar o que bem entendem. Se
fizerem isso, provavelmente serão mal-interpretados ou não-compreendidos. Portanto, o
“significado” ou “significados” de uma expressão linguística apresentam características
comuns compartilhadas entre os utentes de uma língua.
Uma descrição semântica poderá ser feita ao nível da palavra, da frase e, ainda,
do discurso. “Ambiguidade” no significado pode ser descrita em todos os níveis. Por
exemplo, no nível lexical, a palavra ‘manga’ pode significar uma parte do vestuário ou
uma fruta.
No nível da frase, há ambiguidade estrutural, em que uma sentença do tipo ‘O
João disse a Pedro que sua mulher foi para o hospital’, apresenta dois significados
possíveis: ‘sua mulher’ refere à mulher de Pedro ou à mulher de João.
No nível do discurso os termos referenciais como ‘ele’, ‘essa’, ‘seu’ podem ser
ambíguos. A habilidade dos seres humanos de identificar e evitar a ambiguidade é uma
das questões que a semântica investiga.
No nível da palavra, existem a antonímia e a sinonímia, entre outros aspectos
analisados pela semântica. Assim, as oposições observadas entre pares de palavras
como ‘bonito’ e ‘feio’, ‘quente’ e frio’, bem como as similaridades que aproximam o
significado de diferentes palavras, tais como ‘belo’ e ‘bonito’, são exemplos de antonímia
e sinonímia, respectivamente.
Os traços que identificam cada palavra parecem coincidir ou não, provocando tais
aproximações e oposições entre os significados de diferentes palavras. A semântica
busca conhecer e definir tais traços. As sentenças também podem ser consideradas
sinônimas. Por exemplo: ‘O assaltante atacou o João’ e ‘O João foi atacado pelo
assaltante’, apresentam significados equivalentes. Enfim, a semântica busca desvendar
as propriedades dos significados nos diferentes níveis de expressão.

❖ Pragmática

É o estudo da linguagem em uso (contexto) e dos princípios de comunicação.


Essa definição citada por Quadros e Karnopp (2004, p. 22-23), “é considerada
tradicional; no entanto, vale registrar que há várias tendências ao definir-se a área da
pragmática.”
A Pragmática envolve as relações entre linguagem e o contexto. É uma área que
inclui os estudos da dêixis (utilização de elementos da linguagem através da
demonstração – indicação -, que envolve basicamente os pronomes), das
pressuposições (inferências e antecipações com base no que foi dito), dos atos de fala
(como se organizam os atos de fala e quais as condições que observam), das
implicaturas (as coisas que estão subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado
que não foi dito explicitamente) e dos aspectos da estrutura conversacional (a estrutura
das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da tomada de turnos durante
a conversação). Um exemplo de implicatura seria:
a) - Você tem horas?
- Nove e trinta.
Ninguém responde a pergunta em (a) com um ‘sim’, mas com a hora. Isso
acontece porque os falantes implicam que ao ser realizada tal pergunta quer-se obter a
informação referente à hora e não ao fato de ter ou não o relógio. Esse é um exemplo de
como o significado ultrapassa as fronteiras do que realmente foi dito.
Um exemplo de pressuposição seria:
‘João morreu num acidente de carro’.
Essa informação pressupõe que ‘João um dia estava vivo’, apesar de isso não ser
dito explicitamente.
A pragmática busca desvendar as estratégias, as formas, as intuições e as
estruturas que são acionadas pelos utentes ao usarem a língua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Unidade de Estudos esteve ancorada nas pesquisas de Quadros e


Karnopp (2004), autoras referência nos assuntos linguísticos da Língua Brasileira de
Sinais. Sendo assim, foi possível abordar no tópico 1 os aspectos da fonologia dos sinais
na Língua Brasileira de Sinais. Vimos a organização fonológica dos sinais, dando
destaque aos termos, aos conceitos da área de articulação, às unidades formacionais
dos sinais e apresentamos vários exemplos para elucidar as teorias da literatura sobre a
fonologia da Libras na descrição dos parâmetros fonológicos: configurações de mão
(CM), movimento (M), locações (L) ou ponto de articulação (PA), orientação da mão (Or)
e expressões faciais e corporais ou não-manuais (ENM).
No tópico 2 enfatizamos a morfologia como estrutura complexa da Língua
Brasileira de Sinais, apresentamos os aspectos, as propriedades e a formação dos
léxicos na morfologia que podem mudar o significado e o sentido. O texto apresentou
cada processo morfológico da língua de sinais, o que nos permitiu ‘exercitar os olhos’ e
refletir sobre cada formação de sinais e sua descrição imagética, pois elas podem
descrever cada objeto, animais e pessoas.
O tópico 3 trouxe as definições dos processos sintáticos de língua de sinais e a
forma de identificar a formação de frases. Vimos que para formar uma frase, é necessário
nomear as marcas da formação de interrogativa, de acordo com o contexto. Sem falar
da inserção dos verbos e a concordância da língua de sinais. As construções sintáticas
dão mais significado e sentido nas captações visuais e mentais, reconhecendo cada
elemento na gramática da Libras.
Por fim, mas não no fim, porque acreditamos que a partir desses estudos
introdutórios, você acadêmico(a), poderá continuar ampliando seus estudos e
conhecimentos, o tópico 4, ainda seguindo as pesquisas de Quadros e Karnopp (2004),
compreendemos que na Língua Brasileira de Sinais é possível criar um novo sinal
utilizando um significado já existente, porém um contexto que requer uma classe
gramatical diferente. Os níveis semântico e pragmático são os estudos dos significados
individuais de um sinal, do agrupamento de frases, e descrevem a significação dos sinais
no contexto e no discurso.
LEITURA COMPLEMENTAR

Caro(a) Acadêmico(a)!
Ao longo deste material didático apresentamos inúmeros profissionais surdos e
ouvintes, grandes inventores, que se debruçaram a estudar, pesquisar e divulgar a
Língua Brasileira de Sinais, trazendo-nos importantes bases teóricas e práticas que hoje
são destaques para nossos futuros estudos e pesquisas.
Não teríamos condições de apresentar todos os pesquisadores que
mencionamos, porém, fica aqui uma dica para que você a partir dos seus estudos busque
complementar suas leituras, conhecendo esses e outros autores, com suas histórias,
pesquisas, invenções, experiências, militâncias e engajamentos.

Bem, vamos conhecer alguns desses pesquisadores?

● GLÁDIS PERLIN

Reconhecida como uma das maiores especialistas brasileiras na temática da surdez.


Constata-se também que 90% dos trabalhos de pesquisa na área da surdez ou que
tenham relação com estudos de linguística voltados para a Libras fazem referência a
algum de seus artigos ou à sua famosa tese de Doutorado, intitulada "O ser e o estar
sendo surdo: alteridade, diferença e identidade”. Possui graduação em Licenciatura em
Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1987), mestrado
(1998) e doutorado em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(2003). Foi a primeira surda a obter o título de doutora no Brasil. Atualmente, é professora
adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de
educação, com ênfase em educação de surdo, atuando, principalmente, nos seguintes
temas: surdo, identidade, alteridade, diferença, cultura, educação.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/9965241502111110

● ANA REGINA CAMPELLO

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1996),


graduação em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Santa Úrsula (1981)
e Doutorado em educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Tem
experiência na área de educação e Linguística, com ênfase em educação Bilíngue,
Inclusiva e Sociolinguística, atuando principalmente nos seguintes temas: língua de
sinais, educação dos surdos-mudos, educação inclusiva, intérprete de língua de sinais,
comunidade surda-muda e defesa dos direitos dos surdos-mudos. Proficiência em
PROLIBRAS e da Língua Portuguesa (CELPE). Atualmente, é professora adjunta do
INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos na disciplina: Estudos Surdos e Prática
Pedagógica. Também ministra Ensino de Línguas: LSB e professora colaboradora de
uma das Disciplinas de Estudos da Tradução na UFSC – Santa Catarina e do CMPDI –
Curso de Mestrado Profissional Diversidade e Inclusão da UFF – Universidade Federal
Fluminense, nas disciplinas Libras II e III, e ASL. Participa como vice-coordenadora do
NPDIS desde 2013 e coordenadora do Projeto de Pesquisa do DESU/INES: Instrução
em Libras como L1 e L2 desde 2015. Coordenadora do GT da ANPOLL.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/6945261731062194
● KARIN STROBEL

Durante quase 25 anos trabalhou como professora de surdos em escolas de surdos na


cidade de Curitiba-PR e por 10 anos fez parte da equipe pedagógica da DEE/SEED
(Secretaria de Educação do Paraná). Doutora na área de educação na Universidade
Federal de Santa Catarina UFSC (bolsista CNPq), formada em pedagogia da UTP
(Universidade Tuiuti do Paraná) e com especialização em área de surdez. Autora do livro
“As imagens do outro sobre a cultura surda". Atualmente, faz parte da equipe de
Letras/Libras da UFSC como professora das disciplinas "Fundamentos de educação dos
surdos", "História de educação dos surdos", "Metodologia de ensino de Libras como
Língua 1", "Metodologia de ensino de Literatura surda" e outras disciplinas afins. Assumiu
a coordenação geral de Letras-Libras em 2013. Tem experiência com ênfase em
educação, atuando principalmente nos seguintes temas: língua de sinais, educação,
surdos, linguística e metodologia de língua de sinais.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/6652911914719737

● NELSON PIMENTA

Primeiro ator surdo a se profissionalizar no Brasil, estudou na New York National Theatre
of the Deaf (NTD), é mestre e doutor em Estudos da Tradução pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) e se formou em Letras-Libras na UFSC e em cinema na
Universidade Estácio de Sá.Tem certificação PROLIBRAS-MEC-UFSC como professor
de nível superior e é autor/coautor de 15 livros em Libras. Tem experiência na área de
Linguagem, com ênfase em Língua Brasileira de Sinais. É professor titular do
Departamento de Educação Básica no INES. De 1999 a 2013 atuou na empresa de
educação LSB Vídeo, com a missão de contribuir para o fortalecimento da identidade e
da cultura surda através da difusão da língua de sinais brasileira, que além de produzir
material de ensino-aprendizagem em Libras, participou em importantes eventos
artísticos, culturais e científicos, como o Programa de Planetário do Rio de Janeiro em
Libras, o 1º Encontro Internacional de Arte e Cultura Surda em São Paulo e o espetáculo
teatral "Nelson 6 ao Vivo", que cobriu mais de vinte cidades do Brasil por mais de uma
década. Participou na fundação da FENEIS na década de 1980 e vários grupos de
pesquisa linguística no INES e UFRJ. Atualmente participa do grupo de pesquisa Método
Eletrônico.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5120615815365350

● RIMAR SEGALLA

Doutorando em Linguística pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"


(UNESP) e Mestre em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC - 2010). Possui graduação em Letras Libras (Licenciatura) pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2012) e em Matemática pelo Centro
Universitário Assunção (2004). Atualmente é Professor Assistente II do Departamento
de Psicologia no Curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação em Libras e Língua
Portuguesa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tem experiência na área
de Letras, tradução, educação, arte e literatura com ênfase em Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS).
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4770939741538780

● SUELI RAMALHO SEGALA

Surda de familiares de três gerações surdas, bilíngue nativa de duas línguas , LIBRAS e
Português, Especialista em Libras e Inclusão de pessoas surdas nas áreas educacionais
e empresariais, ATRIZ com DRT sob Número 224909/SP, formação no Galpão de Folias
CLOWN, possui Lato Sensu nível de especialização em Gestão Estratégica de pessoas,
Graduada em Letras Português/Espanhol pelo Centro Universitário Sant'Anna, também
graduada em Letras LIBRAS pela UFSC no polo da USP, Autodidata, Especialista em
Língua de Sinais, ministra aulas como Professora de Pós-Graduação e Graduação na
Universidade Nove de Julho em São Paulo, e professora convidada para outros centros
universitários Fênix,Faccamp, Uníntese/RS e em outras Universidades, Orientadora de
TCC, monografias a nível de Pós Graduação em Libras e Educação Inclusiva, foi
Coordenadora de Inclusão/LIBRAS no Centro Universitário Sant'Anna, docente em
LIBRAS no curso da área de Saúde, Humanas, Exatas, presta Consultoria em Inclusão
e Libras promovendo acessibilidade em Teatros e espaços culturais, formação para
Tradutores e Intérpretes de língua de Sinais, Docentes, e comunicação para pessoas em
geral. Palestrante acerca da LIBRAS, PESSOA SURDA e Inclusão, Coautora de várias
obras em língua de sinais, Editora Panda, Escala Educacional,Ed. Mucédola roteirista
pela companhia Cia. Arte e Silêncio acerca da área de Libras e surdez.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2633237655107969
● MARIANNE STUMPF
Possui graduação em tecnologia de informática pela Universidade Luterana do Brasil
(2000), graduação em Educação de Surdos pela Universidade de Santa Cruz do Sul
(2004) e doutorado em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, com estágio na Universidade de Paul Sabatier e Universidade de Paris
8 (2001-2005). Pós-doutorado na Universidade Católica Portuguesa (2013-2014).
Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina,
professora de pós graduação em linguística da USFC. Vice-diretora do Centro de
Comunicação e Expressão CCE. Líder do Grupo de Pesquisa de Estudos sobre o
SignWriting registrado no CNPq. Líder do Grupo de Pesquisa Léxico e terminologia em
Libras: tradução, validação e tecnologia registrado no CNPq
(www.glossário.libras.ufsc.br). Tem experiência de 20 anos na área de Educação, com
ênfase em Educação de Surdos, atuando principalmente nos seguintes temas: formação
de professores de libras, escrita de sinais pelo sistema SignWriting, traduções,
terminologia de libras, sinais internacionais e formação de intérpretes de libras. Membro
da comissão de assessoramento técnico-pedagógico em Libras da DAEB/INEP e as
traduções de Enem 2017, 2018, 2019 e 2020 em Libras.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4624844037162346

● RONICE QUADROS
Ronice Müller de Quadros é professora e pesquisadora da Universidade Federal de
Santa Catarina desde 2002 e pesquisadora do CNPQ - PQ1C, com pesquisas
relacionadas ao estudo das línguas de sinais, desde 2006. Pedagoga (1992), Mestre
(1995) e Doutora (1999) em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, com estágio por 18 meses na University of Connecticut (1997-1998) com
pesquisas voltadas para a gramática da Libras e a aquisição da Libras. Pós-doutora pela
Gallaudet University e University of Connecticut (2009-2010) com pesquisas
relacionadas ao desenvolvimento bilíngue bimodal (crianças usuárias de Libras e
Português e crianças usuárias de ASL e Inglês), com financiamento da NIH e do CNPQ
(2009-2014) e pós-doutora na Harvard University com pesquisas com as línguas de
bilíngues bimodais (Libras e Português e ASL e Inglês), com financiamento do CNPQ
(2015-2016). A Prof. Quadros consolidou o Núcleo de Aquisição de Línguas de Sinais
(NALS) na Universidade Federal de Santa Catarina com dados longitudinais e
experimentais de crianças surdas e crianças ouvintes bilíngues bimodais (2002-atual) e
o Grupo de Pesquisa Corpus de Libras (2014-atual), integrante do Diretório de Grupos
de Pesquisa do CNPQ, que está vinculado aos projetos de pesquisas envolvendo a
documentação de Libras. A Prof. Quadros está coordenando a consolidação do
Inventário Nacional de Libras que inclui vários subprojetos para composição da
documentação da Libras, contando com financiamento do CNPQ e do Ministério da
Cultura. Estes projetos já estão sendo disponibilizados no atual Portal de Libras
www.libras.ufsc.br, em especial, na página do www.corpuslibras.ufsc.br. Também faz
parte do Projeto de Sobreposição de Línguas em Bilíngues Bimodais, que conta com
financiamento parcial da NSF, em parceria com a University of Connecticut, relacionado
com o projeto em crianças bilíngues bimodais http://bibibi.uconn.edu/index.html. Tem
experiência na área de Lingüística, com ênfase em Psicolinguística e Linguística
Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: língua de sinais brasileira,
aquisição da língua de sinais, bilinguismo bimodal, línguas de herança, educação de
surdos e tradução e interpretação de língua de sinais.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7307577422387099

● LUCINDA FERREIRA BRITO

Possui graduação em Letras-Portugues pela Pontifícia Universidade Católica de São


Paulo (1971), mestrado em Lingüística pela Universidade de São Paulo (1974) e
doutorado - Université de Paris IV (1977). Atualmente é professor titular da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Trabalha desde 1977 nas áreas Semântica e Pragmática da
Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística, focalizando, principalmente, os
seguintes temas: significado, cognição, espaço, dêixis, pressuposição, atos de fala e
categorização gramatical do contexto. Desde 1979, vem trabalhando com as línguas de
sinais do Brasil, a LIBRAS e a LSKB (língua de sinais dos índios Urubus-Kaapor da
Floresta Amazônica). No estágio de pós-doutorado em Berkeley, trabalhou, na
Faculdade de Filosofia, com teoria dos atos de fala, junto a J. Searle e, no Departamento
de Lingüística, no segundo ano, com semântica e pragmática, bem como aquisição, junto
aos professores C. Fillmore, G. Lakoff, S. Ervin-Tripp, Gumperz, P. Kay, Slobin e outros.
No estágio de pós-doutorado em Nijmegen, seu trabalho junto a S. Levinson e G. Senft,
centralizou-se mais na área de Pragmática e em questões de espaço e cognição.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1695994704730655
A partir de agora você pode continuar as buscas para saber mais sobre outros
pesquisadores... Boa pesquisa!
LIVRO

Título: Língua de Sinais Brasileira: Estudos linguísticos


Autor: Ronice Muller de Quadros e Lodenir Becker Karnopp
Editora: Artmed (2004)
Sinopse: Neste livro, as autoras descrevem e analisam a Língua Brasileira de Sinais,
apontando, de modo competente, seus aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos.
LIVRO 02

Título: Língua de Sinais: Instrumentos de avaliação


Autor: Ronice Muller de Quadros e Carina Rebele Cruz
Editora: Artmed ( 2011)
Sinopse: O livro auxilia os profissionais a identificar o nível de desenvolvimento
linguístico nos sujeitos surdos. Contribui também para reconhecer padrões linguísticos
alterados e selecionar as estratégias adequadas para a estimulação e o desenvolvimento
da língua.
FILME/VÍDEO

Título: Coleção Educação de Surdos


Autor: Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES (organização)
Ano: 2015
Sinopse: A COLEÇÃO EDUCAÇÃO DE SURDOS é composta de dez volumes sendo
esse o conjunto das primeiras publicações que o Instituto Nacional de Educação de
Surdos fez em Língua Brasileira de Sinais. Ela é composta de pequenos Documentários
sobre o serviço e funcionamento do Instituto assim como de uma série de Contações de
Histórias em LIBRAS (algumas com dublagem e legendagem). Fábulas, mitos e contos
folclóricos protagonizados por pessoas surdas (funcionários, instrutores e ex-alunos do
Instituto). Aqui você encontrará toda essa videografia disponível para download gratuito
Link: https://www.ines.gov.br/publicacoes
REFERÊNCIAS

BAKER, C.; COKELY, D. American sign language: a teacher’s resource texto


grammar and culture [s., n.] 1980.

BATTISON, R. Phonological deletion in american sign language. Sign Language


Studies, v5, p.1-19, 1974.

BATTISON, R. Lexical borrowing in American Sign Language. Silver Spring, MD:


Linstok, 1978.

BELLUGI, U; KLIMA, E.S; SIMPLE, P. Remembering in signs. Cognition, 1975.

BRASIL. Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de


dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor
sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm. Acesso em: 5
ago. 2021.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1995.

CHOMSKY, Noam. Linguagem e mente: pensamentos atuais sobre antigos


problemas. Trad. Lúcia Lobato. Brasília. Editora UnB, 1996.

FERREIRA-BRITO, L.; LANGEVIN, R. Sistema Ferreira-Brito-Langevin de Transcrição


de Sinais. In: FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.

FRIEDMAN, L. A. On the Other hand. New York: Academic, 1977.

HULST, H. Units in the analysis of signs. In: Phonology 10. Cambridge: Cambridge
University, 1993.

KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na língua brasileira


de sinais (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. 1994.
Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Pós-graduação em Letras, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1994.

KING, K.; MACKEY, A. The bilingual edge: why, when, and how to teach your child a
second language. New York: Collins, 2007.

KLIMA, E.; BELLUGI, U. The signs of language. Cambridge, MA: Harvard University,
1979.
MARENTETTE, P. F. It’s in her hands: A case study of the emergence of phonology in
American Sign Language. 1995. Dissertation (PHD) - Department of Psychology, McGill
University, Montreal, 1995.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos.


Porto Alegre: ArtMed, 2004.

QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais V.


Florianópolis: UFSC, 2009.

QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L.; REZENDE, P. Libras – IV. Texto Base da Letras –
Libras - Ensino a Distância. UFSC: Florianópolis, 2008.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística geral. São Paulo: Cultrix/Edusp,


1969.

STOKOE, W. C. Sign Language Structure: An Outline of the Visual Communication


System of the American Deaf. New York: Buffalo University, 1960.

STROBEL, K.; FERNANDES. S. Aspectos linguísticos da língua brasileira de


sinais/ Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de educação.
Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.

VIOTTI, Evani de C. Introdução aos estudos linguísticos. Universidade Federal de


Santa Catarina, Florianópolis, 2008

WILBUR, R. American sign language: linguistic and Applied dimensions. San Diego,
California: College Hill Press, 1976.
UNIDADE IV
GRAMÁTICA DE LIBRAS
Professora Mestre Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell

Plano de Estudo:
A seguir apresenta-se os tópicos que você estudará nesta Unidade

● O Léxico da Libras;
● Regência Verbal da Língua de Sinais;
● Sistema Pronominal;
● Restrições na Formação dos Sinais.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar lexicologia e lexicografia para esclarecer a formação do léxico na
Libras;
● Reconhecer os verbos, os pronomes e a concordância da língua de sinais;
● Identificar as limitações na formação e execução dos sinais.
INTRODUÇÃO

Ao usar um sistema linguístico, em qualquer língua ou modalidade de linguagem,


os indivíduos dispõem de uma gama muito variável de opções para organizar seus
enunciados. A forma escolhida depende de aspectos sintáticos, semânticos e
pragmáticos e, geralmente, implica uma visão específica de uma situação e do que é
importante nela.
Sacks (1990 p. 22) afirma que “as língua de sinais são completas em si mesmas:
possuem sintaxe, gramática e semântica própria, têm, porém, um caráter diferente do de
qualquer língua falada ou escrita.” Segundo o autor, “não é possível transliterar uma
língua falada para língua de sinais, palavra por palavra ou frase por frase”, isso porque
as “suas estruturas são essencialmente diferentes”.
Os surdos internalizam os sinais e suas possibilidades de uso na relação dialógica
com outros surdos ou ouvintes usuários de Libras. Não se sabe bem o porquê da
delimitação de um sinal, pois, exatamente, determina certos conceitos ou de onde
especificamente foram derivados, a não ser os sinais icônicos e os que são produzidos
pela inicialização da primeira letra da escrita; não se sabe por que alguns sinais “morrem”
aos poucos, mesmo quando as funções e experiências na vida concreta da comunidade
ainda fazem uso, e por que vinculam esse conceito a outro sinal. Os usuários da língua
usam os sinais que lhes parecem naturais, pois desde cedo aprendem a ver o mundo
através da lente desses sinais/conceitos.
Nesta Unidade de estudos destacamos o léxico da Libras, é importante saber que
uma pessoa que desconhece a linguagem em funcionamento pode supor que o
dicionário seja a chave de uma língua, e estando de posse desse dicionário poderá
decifrar e dominar a língua. Na realidade, temos que ter em mente, quando a intenção é
o uso de uma língua, que aprender essa língua, utilizando o dicionário é uma estratégia
equivocada, porque os sentidos são construídos em estruturas, na interação social, não
em fragmentos lexicais isolados. No caso da Libras em que vemos os estudos da sua
forma de grafia ainda se estruturando, enquanto escrita, podemos dizer que o aprendiz
se beneficia muito de um dicionário de língua de sinais, para consultar palavras isoladas
e ampliar seu vocabulário. Mas, vale lembrar sempre que a língua de sinais é viva e
dinâmica, necessitando ser construída a partir da interação entre os usuários.

1 O LÉXICO DA LIBRAS
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-her-she-attractive-focused-knowledgeable-
1777955267 Acesso em: 30 out.2021

O léxico em uma língua é o dicionário, o conjunto do vocabulário da língua. “Em


Libras, os itens lexicais são os sinais. É totalmente errado pensar que a datilologia
(soletração utilizando o alfabeto manual) é a simulação de um sinal. As letras do alfabeto
digital representam as letras do alfabeto da língua oral de um idioma, e cada letra não
significa um sinal” (HONORA, 2010, p. 16).
Assim como as línguas orais possuem um léxico, as línguas de sinais também
possuem um conjunto de palavras (sinais) que formam a língua.
Neste tópico, cremos que é importante pensarmos juntos sobre o estudo básico
do léxico da Libras, entendendo essa língua como uma atividade constitutiva e em
construção entre seus usuários.
Para compreender melhor o conceito de léxico, vamos esclarecer dois termos
importantes:
❖ Lexicologia: é o estudo voltado ao léxico da língua, estudo diacrônico, analisa os
neologismos e mudanças da língua, vocabulários técnico-científicos. Isso significa dizer
que a lexicologia da língua de sinais, atua no sentido de analisar a realidade dessa
língua, buscando entendê-la em sua estrutura própria e histórica. Podemos compreender
então, que os usuários de uma língua oral e visual-gestual, assim como a Libras, não a
conhecerão completamente, visto que a língua é viva e novas palavras e novos sinais
vão surgir com o passar do tempo, vocabulários podem aparecer ou desaparecer.
❖ Lexicografia: é quando analisamos a produção de dicionários ou glossários de
língua de sinais, agrupando em classes gramaticais, como uma lista de palavras para
auxiliar os aprendizes, e compreender como estes dicionários interferiram no registro do
léxico da língua em questão.
O registro de dicionário mais antigo no Brasil foi produzido no INES, no Rio de
Janeiro, intitulado Iconographia dos signaes dos surdos-mudos, produzido pelo aluno
surdo Flausino José da Gamaem em 1875. Desde então, foram produzidos vários
materiais dessa natureza no país como o de Oates e Fernandes & Strobel (1998), e mais
recentemente o dicionário trilíngue de Capovilla & Raphael (2001), distribuído pelo MEC
para as escolas públicas.

SAIBA MAIS

Acadêmico(a) você poderá conhecer mais sobre o dicionário mais antigo do Brasil
Iconographia dos signaes dos surdos-mudos de Flausino José da Gamaem em 1875,
numa série histórica produzida pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (2011)
volume 1 através do link:https://www.ines.gov.br/publicacoes Acesso em: 09 set. 2021.

#SAIBA MAIS#

Já vimos ao longo dos nossos estudos que as línguas de sinais possuem um


sistema de criação de sinais, e estes sinais possuem unidades mínimas com significado,
conhecidas também como morfemas, passíveis de combinações.
O Léxico da Libras engloba muitos significados dependendo de como o sinal é
usado no contexto dessa língua. Nesse caso, perceberemos que a língua de sinais
possui estrutura complexa, com incorporações de palavras estrangeiras (empréstimos
linguísticos), inclui as soletrações, utilizadas como estratégias de esclarecimento dos
sinais e não como meio principal de comunicação, além dos classificadores, que podem
constituir e significar melhor e mais claramente a comunicação (também considerados
como léxico nativo).
Quadros e Karnopp (2004) utilizaram a proposta de Brentari & Padden (2001)
como possibilidade para representar o léxico da Libras. Assim como, nas línguas orais
há empréstimos linguísticos, nas línguas de sinais isso também ocorre, via soletração
manual, muitas vezes derivada em transformação em um próprio sinal como no exemplo
no sinal de S-O-L, que pode ser S-L. Quadros e Karnopp (2004) também explicam que,
quando não existe sinal a ser utilizado, a soletração é uma estratégia para contextualizar
a palavra em um discurso realizado em língua de sinais.

2 REGÊNCIA VERBAL DA LÍNGUA DE SINAIS


Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smiling-indian-latin-deaf-disabled-child-1814238713
Acesso em: 30 out. 2021

Cada língua, a partir de uma Gramática Universal, possui a sua gramática


particular. As estruturas fono-morfo-sintáticas são, portanto, indiossincrasias linguísticas
específicas a cada língua, assim cada língua tem seu sistema de flexão formado por
morfemas presos ou livres que são relevantes para a sua sintaxe e suas regras
transformacionais.
Neste tópico, veremos como os verbos são divididos em Libras. Focalizamos em
exemplos que o orientarão a aumentar seu aprendizado e ter um entendimento
satisfatório nessa classe gramatical tão importante.
Apresentamos, as definições dos processos sintáticos de língua de sinais e a
forma de identificar a formação de frases. Para formar uma frase, é necessário nomear
as marcas da formação de interrogativa, de acordo com o contexto. Sem falar da inserção
dos verbos e a concordância da língua de sinais. As construções sintáticas dão mais
significado e sentido nas captações visuais e mentais, reconhecendo cada elemento na
gramática da Língua Brasileira de Sinais.
A sintaxe é a área da gramática que trata da estrutura da sentença. Analisar
alguns aspectos da Libras requer “enxergar” ou “ler” esse sistema que é viso-espacial e
NÃO oral-auditivo.
Os verbos representam as ações. Em Libras alguns verbos apresentam variação
de acordo com o contexto, por exemplo, não existe sinal para o verbo “ABRIR”, o sinal
para esse verbo vai depender do contexto, ou seja, o sinal para “abrir a porta” será
diferente do sinal de “abrir os olhos’, “abrir o pote” entre outros. Veja na figura a diferença:

Imagem 1 - Variações do verbo ABRIR de acordo com o contexto

Fonte: Arquivos da autora (2021)

❖ Verbos Simples
São os verbos que não se flexionam em pessoa e número e não incorporam afixos
locativos, porém alguns desses verbos apresentam flexões de aspecto, como vimos nos
itens acima. A maioria dos verbos que estão nos pontos de locações no corpo são verbos
simples. Também há alguns que são feitos no espaço neutro ou espacial.
Vamos ver nas figuras abaixo exemplos de verbos simples:

Imagem 2 – Verbos simples


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Felipe (1988) apresentou verbos da Libras que possuem concordância como os


direcionais. Seus estudos apontam para a Flexão número-pessoa.
Nesse sistema de flexão verbal da Libras há o parâmetro direcionalidade, por
exemplo, “eu pergunto pra você”, “eu aviso você” e “eu protejo você”, podemos perceber
a direção do movimento em que esses sinais são realizados, do emissor para o receptor.
Já nos exemplos “você pergunta pra mim”, “você me avisa” e “você me protege”, a
direção do movimento acontece de forma contrária, sendo do receptor para o emissor.

Imagem 3 – Flexão verbal: direcionalidade


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Cabe destacar ainda, que pode acontecer desses ou outros sinais serem
direcionados para uma terceira pessoa do discurso, conforme exemplificado nas
imagens a seguir:

Imagem 4 – Flexão verbal: direcionalidade

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Destaca-se ainda o uso dos Verbos direcionais que incorporam o objeto, por
exemplo: TROCAR

Imagem 5 – Verbos direcionais que incorporam o objeto - TROCAR


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Para Campello (2008) os verbos com concordância apresentam a direcionalidade


(em inglês é chamado de blackward) e a orientação de mãos. A direcionalidade é muito
importante porque está associada às relações semânticas, já que existem dois pontos
distintos no espaço da Língua Brasileira de Sinais: fonte e alvo e vice-versa. Quando a
orientação da mão volta para o objeto da frase sinalizada é associada na sintaxe como,
por exemplo, da glosa em sinais:

Imagem 6 – Verbos direcionais


Fonte: Campello (2008) adaptado pela autora

Nos Verbos não-direcionais: que são os verbos que possuem marca de


concordância, quando se faz uma frase é como se eles ficassem no infinitivo. Os verbos
não-direcionais podem aparecer.
✔ Ancorados no corpo: por serem verbos realizados em contato ou muito
próximos do corpo. Podem ser verbos de estados cognitivos, emotivos ou
experiências, como:

Imagem 7 – Verbos não-direcionais ancorado ao corpo

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Sobre a Flexão para locativo, Felipe (1988) ressalta que o ponto de articulação
também é um tipo de flexão verbal, ou seja, são verbos que começam ou terminam em
um determinado lugar que se refere ao lugar de uma uma, coisa, animal ou veículo, que
está sendo colocado, carregado etc. Assim, o ponto de articulação marca a localização,
podemos ver também, nesses verbos, os classificadores, como você pode observar no
exemplo:

Imagem 8 – Verbo classificador ATIRAR no ponto de articulação ‘cabeça’

CABEÇA ATIRAR (eu atiro na minha cabeça)


Fonte: Felipe (1988) adaptado pela autora

❖ Verbos espaciais (junto com o ponto de locação no espaço + loc)


São os verbos que têm afixos locativos. Observe os exemplos na figura abaixo:

Imagem 9 – Verbos espaciais com afixos locativos

Fonte: Felipe (1988) adaptado pela autora

Felipe (1998) apresenta também a Flexão para gênero, assim na Libras os


classificadores são formas que, substituindo o nome as precedem, pode vir junto ao
verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Os
classificadores na Libras então, são marcadores de concordância de gênero: PESSOA,
ANIMAL, COISA, podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou
animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em
relação ao número, como demonstram os exemplos:

Imagem 10 - Verbo classificador para pessoa, animal, coisa e veículo

Fonte: Felipe (1988) adaptado pela autora

REFLITA

✔ Assista ao vídeo editado pelo Instituto Nacional de Educação dos Surdos –


INES, que conta a história de Chapeuzinho Vermelho em libras. Observe o uso
de classificadores do verbo andar.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JuCVU9rGUa8>. Acesso
em 13 set. 2021.
✔ Assista também ao vídeo do INES, onde o professor destaca os classificadores
enquanto marcadores de flexão de gênero. Veja como ele descreve o corpo
de pessoas e animais em cada abordagem, preste atenção aos detalhes de
cada sinal classificador. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Nk1Xz0NEQFM>. Acesso em 13 set.
2021.

Fonte: Disponível em: http://tvines.org.br/ Acesso em: 30 out.2021

#REFLITA#
3 SISTEMA PRONOMINAL

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/this-me-portrait-happy-preschool-curly-1632611956
Acesso em: 30 out. 2021

⮚ Pronomes Interrogativos

Os pronomes interrogativos QUE e QUEM geralmente são usados no início da


frase, mas o pronome interrogativo ONDE e o pronome QUEM, quando está sendo
usado com o sentido de “quem é” ou “de quem é” são mais usados no final. Todos os
três sinais têm uma expressão facial interrogativa feita simultaneamente com eles.
Na variante do Rio de Janeiro, o pronome interrogativo QUEM, dependendo do
contexto, pode ter duas formas diferentes, os sinais QUEM e o sinal soletrado QUM. Se
se quer perguntar “quem está tocando a campainha”, usa-se o sinal o sinal QUEM; se
quer perguntar “quem faltou hoje” ou “quem está falando” ou ainda “quem fez isso”, usa-
se o sinal soletrado QUM, como nos exemplos abaixo:

Interrogativa

1 – QUEM
Imagem 11 - Pronome interrogativo QUEM

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Interrogativa
2 – Q-U-M

Imagem 12 - Pronome interrogativo Q-U-M

Fonte: Arquivos da autora (2021)

⮚ Pronomes Pessoais

A Libras possui um sistema pronominal para representar as pessoas no discurso

● Primeira Pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EU; NÓS-2, NÓS-3, NÓS-
4, NÓS-GRUPO, NÓS/NÓS-TOD@.
Felipe (2001) pontua como acontece a sinalização. Note que a direção da mão e
do olhar é determinante para a significância do sinal.

● Primeira pessoa do singular: EU


Apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala)

Imagem 13 - Pronome pessoal primeira pessoa do singular - EU


Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Primeira pessoa do plural: NÓS-2, NÓS-3, NÓS-4, NÓS-GRUPO, NÓS/NÓS-


TOD@S

Imagem 14 - Pronome pessoal primeira pessoa do plural - NÓS

Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): VOCÊ, VOCÊ-2, VOCÊ-
3, VOCÊ-4, VOCÊ-GRUPO, VOCÊS/VOCÊS-TOD@S
● Segunda pessoa do singular: VOCÊ
Apontar para o interlocutor (a pessoa com quem se fala)

Imagem 15 - Pronome pessoal segunda pessoa do singular - VOCÊ


Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Segunda pessoa do plural: VOCÊS-2, VOCÊS-3, VOCÊS-4, VOCÊS-GRUPO,


VOCÊS/VOCÊS-TOD@S

Imagem 16 - Pronome pessoal segunda pessoa do plural - VOCÊS

Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Terceira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): El@, El@-2, El@-3, El@-
4, El@-GRUPO, El@/El@TOD@)

● Terceira pessoa do singular: EL@


Apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar
convencionado para uma pessoa.

Imagem 17 - Pronome pessoal terceira pessoa do singular – EL@


Fonte: Arquivos da autora (2021)

● Terceira pessoa do plural: El@, El@-2, El@-3, El@-4, El@S-GRUPO,


El@S/El@S-TOD@S)

Imagem 18 - Pronome pessoal terceira pessoa do plural – EL@

Fonte: Arquivos da autora (2021)

No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, o que difere uma das
outras é a orientação da mão: o sinal para “eu” é um apontar para o peito do emissor (a
pessoa que está falando), o sinal para “você” é um apontar para o receptor (a pessoa
com quem se fala) e o sinal para “ele/ela” é um apontar para uma pessoa que não está
na conversa ou para um lugar convencionado para uma terceira pessoa que está sendo
mencionada.
No dual, a mão ficará com o formato do numeral dois (quantidade), no trial o
formato será do numeral três (quantidade), no quatrial, o formato será do numeral quatro
(quantidade). Para o plural existem dois sinais: um sinal composto, formado pelo sinal
para a respectiva pessoa do discurso (1ª, 2ª 3ª), mais o sinal GRUPO; e outro sinal para
plural que é feito pela mão predominante com a configuração em “d”, fazendo um
semicírculo à frente do sinalizador, apontando para as duas pessoas ou três pessoas do
discurso.
Como na Língua Portuguesa, na Libras, quando uma pessoa surda está
conversando, ela pode omitir a primeira pessoa porque, pelo contexto, as pessoas que
estão interagindo sabem a qual das duas o contexto está relacionado, por isso, quando
esta pessoa está sendo utilizada pode ser para dar ênfase à frase.
Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-
se uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nessa
situação, o enunciador faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça para
a direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão
encostando o dedo indicador da mão esquerda na mão direita um pouco à frente do peito
do emissor, estando o dorso da mão direita voltada para a direção onde se encontra a
pessoa referida (FELIPE, 2007, p. 142-143).
Diferentemente do Português, os pronomes pessoais na terceira pessoa não
possuem marca para gênero (masculino e feminino)

⮚ Pronomes Demonstrativos e Advérbios de Lugar

Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar têm o mesmo sinal,


somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de
expressão facial. Estes tipos de pronomes e de advérbios estão relacionados às
pessoas do discurso e representam, na perspectiva do emissor, o que está bem
próximo, perto e distante. Estes pronomes ou advérbios têm a mesma
configuração de mãos dos pronomes pessoais (mão em d), mas os pontos de
articulação e as orientações do olhar são diferentes (FELIPE, 2007, p. 41).

Na Libras, como no Português, os pronomes demonstrativos e os advérbios de


lugar estão relacionados às pessoas no discurso e representam, na perspectiva do
emissor, o que está bem próximo, perto ou distante. Eles têm a mesma configuração de
mãos dos pronomes pessoais, mas os pontos de articulação e as orientações do olhar
são diferentes.
Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar relacionados à 1ª pessoa,
EST@/AQUI, são representados por um apontar para o lugar perto e em frente do
emissor, acompanhado de um olhar para este ponto. EST@ também pode ser sinalizado
ao lado do emissor apontando para a pessoa/coisa mencionada.
ESS@/AI é um apontamento para o lugar perto e em frente do receptor, acrescido
de um olhar direcionado não para o receptor, mas para o ponto sinalizado com relação
à coisa/pessoa que está perto da segunda pessoa do discurso.
AQUEL@/LÁ é um apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira
pessoa, mas diferentemente do pronome pessoal, ao apontar para este ponto há um
olhar direcionado para a coisa/pessoa ou lugar.
Como os pronomes pessoais, os pronomes demonstrativos também não possuem
marca para gênero: masculino e feminino.

● Pronomes pessoais
EU (olhando para o receptor: 2ª pessoa)
VOCÊ (olhando para o receptor: 2ª pessoa)
EL@ (olhando para o receptor: 2ª pessoa)

● Pronomes demonstrativos ou advérbios de lugar


EST@/AQUI (olhando para coisa/lugar apontando, perto da 1ª pessoa)
EST@/AI (olhando para a coisa/lugar apontando, perto da 2ª pessoa)
AQUEL@/LÁ (olhando para a coisa/lugar distante apontado)

Imagem 19 - Pronomes demonstrativos ou advérbios de lugar


Fonte: Arquivos da autora (2021)

⮚ Pronomes Possessivos

Os pronomes possessivos, como os pessoais e demonstrativos, também não


possuem marca para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não à coisa
possuída, como acontece em Português.

Imagem 20 - Pronomes possessivos


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Para a primeira pessoa: ME@, pode haver duas configurações de mão: uma é a
mão aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor, a outra é a
configuração da mão em P com o dedo médio batendo no peito – MEU-PRÓPRIO. Para
as segunda e terceira pessoas, a mão tem esta segunda configuração em P, mas o
movimento é em direção à pessoa com que se fala (segunda pessoa) ou está sendo
mencionada (terceira pessoa), Capovilla e Raphael (2001).
Não há sinal específico para os pronomes possessivo no dual, trial, quatrial e
plural (grupo), nestas situações são usados os pronomes pessoais correspondentes.
Exemplo: NÓS FILH@ “nossos(a) filhos(a).”
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Libras. Figueira
(2011) expõe essa relação apresentando-os sempre na forma neutra, não havendo,
portanto, nem marca para gênero (masculino e feminino), nem para número (singular e
plural). Muitos adjetivos, por serem descritivos e classificadores, apresentam
iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a partir do
objeto ou do corpo do emissor.

Em português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo


arredondado, quadrado, listrado, está também descrevendo e classificando, mas
na Libras esse processo é mais 'transparente', porque o formato ou textura são
traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade
permitida pela modalidade da língua. Em relação à colocação dos adjetivos na
frase, eles geralmente vêm após o substantivo que o qualifica (FELIPE, 2007, p.
121).

Assim, o gênero não se apresenta em Libras para substantivos e adjetivos, mas


sim quando quer explicitar alguns substantivos dentro de determinados contextos. O
sinal utilizado para essa distinção é o sinal de homem e o sinal de mulher em conjunto
com sinais de pessoas ou animais.

Imagem 21 - Gênero (feminino/masculino)

Fonte: Arquivos da autora (2021)

⮚ Pronomes Indefinidos

Imagem 22 - Pronomes indefinidos


Fonte: Capovilla e Raphael (2001), adaptado pela autora

Exemplos:

NINGUÉM (acabar)

Imagem 23 - Pronome indefinido – NINGUÉM – na sentença


Fonte: Arquivo da autora (2021)

NENHUM (não)

Imagem 24 - Pronome indefinido – NENHUM (não) – na sentença

Fonte: Arquivo da autora (2021)

Imagem 25 - Pronome indefinido – NENHUM (não) – na sentença


Fonte: Arquivo da autora (2021)

NENHUM-POUQUINHO

Imagem 26 - Pronome indefinido – NENHUM-POUQUINHO – na sentença

Fonte: Arquivos da autora (2021)


3 RESTRIÇÕES NA FORMAÇÃO DOS SINAIS

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/isolated-red-x-green-tick-black-789694312
Acesso em: 30 out. 2021

Para Quadros e Karnopp (2004, p. 52) conversar em qualquer língua não basta
conhecer as palavras, é preciso aprender as regras de combinação das palavras em
frases. As palavras, ou itens lexicais, são os sinais. Partindo do pressuposto que cada
língua tem um número determinado de unidades mínimas cuja função é determinar a
diferença de um sinal em relação a outro sinal,
Essa união de regras lexicais possibilita a transmissão de qualquer pensamento
visual não verbal e que se fundamenta através da cultura e identidade das comunidades
surdas. Consideramos aqui, a importância de que o sinal ao ser produzido nunca deve
ficar em frente aos olhos, e sim em frente ao tronco, facilitando a comunicação e
compreensão dos sinais.
Ressaltamos ainda que essa orientação é de suma importância para não se criar
sinais com movimentos sem sentido ou de difícil execução, já que a tendência das
línguas é a economia e redução de palavras para agilidade na compreensão do receptor.
Já analisamos a importância da criação correta dos sinais, mas será que é
imposta alguma restrição ou podemos executar os sinais de qualquer maneira? Siple
(1978) mostrou que propriedades do sistema de percepção visual restringem a produção
de sinais. A acuidade visual é maior na área da face, pois é onde o interlocutor fixa o
olhar e específica possíveis combinações entre as unidades mínimas (configuração de
mão, movimento, ponto de articulação e orientação de mão), na formação dos sinais.
Observe a figura a seguir:

Imagem 27 - Área central do espaço de sinalização

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 78)

Dessa forma, quando executamos o sinal, devemos prestar atenção se está sendo
realizado de forma correta e em uma área que o receptor consiga ver e interpretar.
Podemos citar, como exemplo, se a pessoa usa barba/bigode e vai fazer um sinal na
face, certifique-se que o sinal está sendo realizado limpo/sem impedimento/barreiras.
Por isso, pense nessas restrições físicas e linguísticas, como forma de nos
capacitar para fazermos os sinais corretamente. Como já compreendemos ao longo dos
nossos estudos, Libras não são gestos ou palavras soltas no ar, e nem é um sistema de
comunicação superficial, muito pelo contrário, o sinal foi criado com um objetivo a ser
cumprido.
Battison (1978) demonstra que na região facial existe um grande número de
diferentes locações, comparada à região do tronco. Além disso, CM mais complexas
(marcadas) ocorrem com maior frequência na região da face do que na região do tronco.
Essas observações relacionam-se perfeitamente com as colocações de Siple (1978), que
anteriormente apresentamos.
O sistema articulatório (fisiologia das mãos) é importante na produção de sinais,
pois a comunidade ouvinte tem pouca percepção visual e acaba errando ou distorcendo
o uso das CM. Por exemplo, o sinal correto para designar “língua de sinais”.
Imagem 28 - sinal: LÍNGUA DE SINAIS

Fonte: Arquivos da autora (2021)

Outro erro ou distorção visual nos aspectos de locação é fazer os sinais na frente
do rosto. Os sinais produzidos nunca devem ficar em frente dos olhos, e sim em frente
do tronco, conforme os exemplos abaixo:

Imagem 29 - Sinal: NOME


Fonte: Arquivos da autora (2021)

Quadros e Karnopp dizem que

As restrições fonológicas requeridas para a boa formação de sinais podem ser


exemplificadas em sinais produzidos pelas mãos. De um modo geral, pode-se
fazer a seguinte classificação: a) sinais produzidos com uma mão; b) sinais
produzidos com duas mãos em que ambas são ativas, e c) sinais de duas mãos
em que a mão dominante é ativa e a mão não-dominante serve de locação.
(2004, p. 78).

Na classificação proposta por Battison (1978), existem duas restrições fonológicas


na produção de diferentes tipos de sinais envolvendo as duas mãos: a condição de
simetria e a condição de dominância. A primeira restrição estabelece:

a) Condição de simetria: caso as duas mãos se movam na produção de um


sinal, então determinadas restrições aparecem, a saber: a CM deve ser a mesma para
as duas mãos, a locação ou ponto de articulação deve ser a mesma ou simétrica, e o
movimento deve ser simultâneo ou alternado.

Imagem 30 - Sinais que apresentam simetria na CM e P.A., mas se diferem no Movimento


Fonte: Quadros e Karnopp (2004) adaptado pela autora

b) Condição de dominância: se as mãos apresentam distintas CM, então a


mão ativa produz o movimento, e a mão passiva serve de apoio, apresentando um
conjunto restrito de CM (não-marcadas).

Imagem 31 - sinais que apresentam dominância de uma das mãos para executar o sinal,
enquanto a outra mão atua como apoio

Fonte: Quadros e Karnopp (2004) adaptado pela autora

As restrições na formação de sinais, derivadas do sistema de percepção visual e


da capacidade de produção manual, restringem a complexidade dos sinais para que eles
sejam mais facilmente produzidos e percebidos. O resultado disso é uma maior
previsibilidade na formação de sinais e um sistema com complexidade controlada.

SAIBA MAIS
Existem algumas questões que podem ser pensadas na pesquisa de língua de
sinais e sua tradução, por exemplo: Como vamos traduzir de modo fidedigno a língua de
sinais através dos sinalizantes? Somos capazes de captar todos os sinais e sua
expressividade através de expressões faciais? Existem tantas questões que podem ser
resolvidas com uma ferramenta: transcrição de dados de língua de sinais. A transcrição
de língua de sinais é muito importante para a pesquisa de qualquer língua de sinais do
mundo. Através dela, podemos estudar, analisar, perceber, pesquisar, descrever, em
todos os níveis de análise, uma língua (fonológico, morfológico e sintático). Essa
ferramenta é recente nos estudos linguísticos de língua de sinais. Stokoe (1960) foi quem
realizou o primeiro trabalho com a Língua de Sinais Americana (ASL). A partir de então,
as línguas de sinais foram reconhecidas como língua, graças às pesquisas analíticas e
científicas.
Aqui no Brasil, a introdução da transcrição de língua de sinais foi realizada pela
linguista Brito (1982). O processo de transcrição de dados, desde então, vem sofrendo
adaptações de metodologias porque a língua de sinais, através da modalidade gesto-
visual e trimendisional, dificulta a captação de cada detalhe e do espaço de sinais. Os
avanços tecnológicos propiciaram uma melhor descrição das línguas de sinais, conforme
apresentam, Quadros; Pizzio (2007). Outros autores, McCleary e Viotti (2007),
mostraram a grande dificuldade nos sistemas de notação, ou seja, nas formas de
representar os sinais nos sistemas de transcrição de dados porque cada grupo de
pesquisa utiliza uma notação diferente ou adaptações de um mesmo sistema de notação,
de acordo com seu objeto de estudo, dificultando, assim, a padronização e propõem, no
futuro, o armazenamento dos trabalhos coletados em um único banco de dados,
acessível a qualquer pesquisador.
As línguas de sinais têm características próprias e existem sistemas de
convenções. Antigamente, usavam-se estas convenções (veja tabela a seguir) para
escrevê-las, utilizando vídeo para reproduzir a distância. Este sistema, conforme Felipe
(1988,1991,1993), é um “Sistema de notação em palavras” porque as palavras de uma
língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os sinais. Essas
convenções vêm sendo utilizadas para poder representar, linearmente, uma língua
espaço-visual, que é tridimensional. Veja abaixo a tabela comparando os estudos de
Brito (1982) e Felipe (1988,1991,1993).

Quadro 1 - Comparação dos estudos de Brito (1995) e Felipe (1988, 1991, 1993).
CATEGORIAS BRITO (1984) FELIPE (1988,1991,1993)

Letra maiúscula em português para Os sinais da LIBRAS, para efeito de


conceitos da LIBRAS: simplificação, serão representados por
GLOSA HOMEM TRABALHAR MUITO. itens lexicais da Língua Portuguesa (LP)
O verbo vem sempre na forma em letras maiúsculas.
infinitiva, posto que não há flexão para Exemplos: CASA, ESTUDAR,
modo e tempo verbal em LIBRAS. CRIANÇA, etc.

Quando duas ou mais palavras em Um sinal, que é traduzido por duas ou


português são necessárias para mais palavras em língua portuguesa,
PALAVRA traduzir o conceito que é representado será representado pelas palavras
COM HÍFEN por um único sinal em LIBRAS, eles correspondentes, separadas por hífen,
devem ser ligados por hífen. por exemplo:
NÃO-QUERER, BEBER-PINGA, CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO
COMER-MAÇÃ. “não querer”, MEIO-DIA, AINDA-NÃO,
etc.
Um sinal composto, formado por dois ou
mais sinais, que será representado por
SINAL
COMPOSTO duas ou mais palavras, mas com a ideia
de uma única coisa, serão separados
pelo símbolo ^, por exemplo:
CAVALO^LISTRA (zebra).
Usamos letras separadas pelo hífen A datilologia (alfabeto manual), que é
quando se trata de soletração digital: usada para expressar nome de pessoas,
#J-O-Ã-O#R-I-O de localidades e outras palavras que não
DATILOLOGIA Este tipo de soletração é usado possuem um sinal, está representada
quando se trata de nome próprio de pela palavra separada, letra por letra, por
pessoa e de lugar ou, então, quando hífen, por exemplo:
não há sinal para o conceito expresso J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A.
na palavra da Língua Portuguesa. É o
caso dos empréstimos, marcados por
#.
O sinal soletrado, ou seja, uma palavra
da língua portuguesa que, por
empréstimo, passou a pertencer à
LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto
SINAL manual com uma incorporação de
SOLETRADO
movimento próprio desta língua, está
sendo representado pela datilologia do
sinal em itálico, por exemplos:
R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”,
N-U-N-C-A, etc.
Como se pode observar em Verbo- Na LIBRAS não há desinências para
Direcional e Pronomes (tabela a gêneros (masculino e feminino) e
seguir), não há marcação de gênero número (plural), o sinal, representado
nem nos verbos com flexão ou por palavra da Língua Portuguesa que
direcionais e nem nos pronomes. possui estas marcas, está terminado
DESINÊNCIAS
Assim, se a pessoa é do sexo com o símbolo @ para reforçar a ideia de
feminino, esta informação deverá ser ausência e não haver confusão, por
inferida através do contexto. No caso exemplo: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)”
de ambiguidade, o enunciador pode se , FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@
servir do sinal feminino (sinal que “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e
aparece nas expressões menina em todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@
oposição a menino) após o pronome “minha (s) e meu(s)” etc.
ou antes dele.

As expressões faciais e corporais Os traços não-manuais: expressões


podem expressar interrogação (____), facial e corporal, que são feitos
exclamação (__!___), topicalização simultaneamente com um sinal, estão
(__t___), negação (___ñ___), representados acima do sinal ao qual
intensidade (___int___), força está acrescentando alguma ideia, que
ilocucionária (___EFp____), no caso pode ser em relação ao:
de um pedido, (___EFo___), no caso a) tipo de frase ou advérbio de modo:
de uma ordem, etc., e serão interrogativa ou ... i ... negativa ou ... neg
representadas, respectivamente, ... etc.
pelos símbolos abaixo, entre os Para simplificação, serão utilizados, para
pontilhados acima da porção do a representação de frases nas formas
TRAÇOS NÃO enunciado onde elas aparecem: exclamativas e interrogativas, os sinais
MANUAIS
__t___ de pontuação utilizados na escrita das
CARRO, EU COMPRAR NOVO (Eu línguas orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!
comprei um carro novo) b) advérbio de modo ou um
__ ___ intensificador: muito rapidamente exp. f
NOME, pro2 (Qual é o seu nome) “espantado” etc.
___!____ Exemplos:
BONITO Loc1 (Que bonito isto aí!) exclamativo
___ñ____ NOME
ACREDITAR VOCÊ (Não acredito em
você)
TRAÇOS NÃO Os verbos que possuem concordância
MANUAIS
de gênero (pessoa, coisa, animal),
VERBOS COM
CONCORDÂNCIA DE através de classificadores, estão
GÊNERO ATRAVÉS representados por um tipo de
DE classificador em subscrito. Exemplos:
CLASSIFICADORES
pessoaANDAR,
veículoANDAR,
coisa-arredondada COLOCAR, etc.
VERBOS COM Os verbos que possuem concordância
CONCORDÂNCIA DE
de lugar ou número-pessoal, através do
LUGAR OU NÚMERO-
PESSOAL movimento direcionado, estão
representados pela palavra
correspondente com uma letra em
subscrito que indicará:
a) a variável para o lugar:
i = ponto próximo à 1a pessoa,
j = ponto próximo à 2a pessoa,
e k’ = pontos próximos à 3a pessoas, e =
esquerda, d = direita;
b) as pessoas gramaticais:
1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3a pessoas do
singular;
1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3a pessoas do
plural;
1p, 2p, 3p = 1a, 2a
e 3a pessoas do plural;
Exemplos:
1s DAR2S “eu dou para “você”,
2sPERGUNTAR3P “você pergunta para
eles/elas”,
kdANDARk,e “andar da direita (d) para à
esquerda (e)
PLURAL Às vezes, há uma marca de plural pela
repetição do sinal. Esta marca será
representada por uma cruz no lado
direto, acima do sinal que está sendo
repetido:
Exemplo: GAROTA +
SINAL COM DUAS Quando um único enunciado é Quando um sinal, que geralmente é feito
MÃOS
realizado com ambas as mãos ao somente com uma das mãos, ou dois
mesmo tempo, colocam-se os sinais sinais estão sendo feitos pelas duas
simultâneos um acima do outro, isto é, mãos simultaneamente, serão
em linhas diferentes, vindo na primeira representados um traço abaixo do outro
linha o(s) sinal(is) realizado(s) com a com indicação das mãos: direita (md) e
mão dominante (mão direita para os esquerda (me).
destros). Exemplos:
Outras estratégias podem ser IGUAL (md) PESSO@-MUIT@ ANDAR
utilizadas na transcrição de (me)
enunciados e textos, porém, estas são IGUAL (me) PESSOAEM-PÉ (md).
as mais básicas e nos limitaremos a
elas, que constam no livro da autora
Lucinda Brito.
VERBO Quando o verbo é direcional, isto é,
DIRECIONAL
apresenta flexão, marcando sujeito e
objeto, usamos números de 1 a 3 para
marcar as pessoas no singular ou 1p,
2p e 3p para as pessoas do plural.
1DAR2 LIVRO (Eu dei o livro para
você)
3pTELEFONAR1 ONTEM (Elas/eles
me telefonaram ontem)
3PERGUNTAR1p VERDADE (Ele/Ela
nos disse a verdade).
PRONOMES Os pronomes em LIBRAS são
representados da seguinte forma:
pro3 NÂO-GOSTAR pro1 (Ela/ele não
gosta de mim)
PRONOME Os pronomes demonstrativos e os
DEMONSTRATIVO OU
advérbios de lugar são representados
ADVÉRBIO DE
LUGAR por
Loc i - este/aqui
Loc j – esse/aí
Loc k – aquele/a, ali/lá
Loc é o símbolo para locativo.
CLASSIFICADORES Os classificadores são representados
pelas iniciais CL: acompanhadas de
símbolos de configuração de mãos
que são utilizadas para representar a
classe semântica que representam.
CARRO CL: V BATER CL: G1 POSTE
(O carro bateu no poste)
Fonte: Brito (1995) e Felipe (1988, 1991, 1993).

#SAIBA MAIS#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta Unidade, observamos que, ultimamente, no processo de ampliação do


léxico da língua de sinais, os novos sinais têm uma produção mais arbitrárias e menos
icônica, ou seja, cada vez mais diminui a criação de sinais por intenção icônica e passa
a usar recursos como a inicialização, um “empréstimo” da língua portuguesa,
consideramos esse fato importante, pois revela a ação das línguas em contato,
principalmente pelo desenvolvimento acadêmico dos surdos.
Cabe pensarmos profundamente na Língua de Sinais, por ser de modalidade
espaço-visual tem uma produção de um caráter do léxico icônico ou mesmo de sinais
indicativos, direcionais como as formas pronominais usadas com referentes presentes
ou pronomes demonstrativos. Constatamos que esses traços icônicos têm diminuído
passando a convenção de traços arbitrários ou de grande influência da Língua
Portuguesa pela inicialização. A inicialização, de acordo com Brito (1995), ocorre quando
se faz uso da letra inicial da palavra em português para produzir o sinal, uma
configuração de mão que corresponde à letra do alfabeto manual associada a um
movimento.
Muitos sinais têm forte motivação icônica, permitindo a representação de traços
semânticos do significado, mas Quadros (1995) considera que

Os sinais, em si mesmos, normalmente não expressam o significado completo


do discurso. Este significado é determinado por aspectos que envolvem a
interação dos elementos expressivos da linguagem. No ato da conversação, o
receptor deve determinar a atitude do emissor em relação ao que ele produz [...].
QUADROS (1995, p. 1)

Esperamos que a partir das experiências comunicativas em Libras exemplificadas


nesta Unidade de estudos você, acadêmico(a) venha construir um repertório interessante
para compreender, envolver-se e comunicar-se em Libras, entendendo que no uso da
palavra/sinal, requer que a busca de interação social com os usuários dessa língua.

LEITURA COMPLEMENTAR
A tese de doutoramento em linguística da pesquisadora Tanya Amara Felipe de
Souza (1998), intitulada: A RELAÇÃO SINTÁTICO-SEMÂNTICA DOS VERBOS E
SEUS ARGUMENTOS NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) VOLUME I é
um excelente material complementar de pesquisas e estudos que teve como principal
objetivo estudar o verbo em uma língua de modalidade gestual-visual e estabelecer uma
classificação para os verbos da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Para se fazer este
estudo foi necessário repensar sobre tipologia de línguas, categorias gramaticais e fazer
uma pesquisa de campo para, através de dados elicitados, propor uma classificação para
os verbos dessa língua. A constituição do verbo, enquanto item lexical, possuidor de uma
raiz onde se agregam outros elementos que ou são marcas de concordância ou são
satélites, foi o foco de estudo. Através de uma abordagem morfológica, sintática e
semântica, o verbo foi apresentado como uma rede que, devido a regras de seleção
restritiva, seleciona seus argumentos, suas regras temáticas e suas alterações diátesis.
Existe, portanto, um frame verbal que induz a um frame temático que induz a uma frame
proposicional. Assim, os verbos da LIBRAS foram divididos em classes a partir do seu
sistema de flexão: gênero, número-pessoal e locativo. Os resultados obtidos neste
estudo trarão uma contribuição que ultrapassa o entendimento das línguas de sinais,
oferecendo subsídios à teoria geral da linguagem, demonstrando a aplicação àquelas de
princípios que vêm sendo propostos para a análise de línguas orais-auditivas.
Link: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/4401/4/476265%20vol.I.pdf Acesso em: 09
set. 2021.

LIVRO
Título: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue Língua de Sinais Brasileira - LIBRAS
– Volume I e II
Autores: Fernando César Capovilla e Walquíria Duarte Raphael.
Ano: 2001.
Sinopse: o Dicionário da Língua de Sinais Brasileira (Libras) é resultado de vários anos
de pesquisa realizada pelos autores junto a professores especializados em educação de
surdos e informantes surdos, com o objetivo de fornecer um instrumento para a educação
bilíngue no Brasil. O dicionário documenta, em três línguas (português, inglês e libras)
cerca de 9500 verbetes, fornecendo com exatidão descrições da forma e articulação dos
sinais. Traz também ilustrações com o significado dessas convenções, permitindo à
criança pré-alfabetizada compreender o significado de cada sinal, sem a mediação da
escrita.
FILME/VÍDEO

Título: Glossário Libras


Ano: 2006.
Sinopse: Glossário é uma lista de unidades lexicais específicas de um domínio de uma
língua e geralmente surge como apêndice de uma obra temática. Em 2006 a UFSC em
parceria com 8 instituições de ensino superior ofertou pela primeira vez o curso de
graduação em Letras-Libras na modalidade à distância. Foi desenvolvido um ambiente
virtual específico para disponibilizar os materiais do curso em Libras e Língua Portuguesa
aos estudantes surdos. A tradução dos textos-base das disciplinas para Libras ficou a
cargo de uma equipe de tradutores surdos, que identificaram a necessidade de pesquisar
e/ou propor sinais correspondentes para termos das áreas de especialidades estudadas
no curso. Além dos filtros: Configuração de mão e Localização do sinal estão disponíveis
também a busca pela digitação da palavra em português e a opção de busca do termo
em inglês, ampliando ainda mais as possibilidades de divulgação do léxico de Libras e
de interação com outros pesquisadores.
Link: https://glossario.libras.ufsc.br/

FILME/VÍDEO 02
Título: Manuário
Ano: 2011.
Sinopse: Manuário é um programa que apresenta novos itens lexicais em Libras. É um
dicionário acadêmico bilíngue: Língua Brasileira de Sinais e Português. A pesquisa é
desenvolvida pela equipe do DESU- Departamento de Ensino Superior do INES/ Instituto
Nacional de Educação de Surdos. A cada episódio são apresentadas curiosidades,
cultura e história sobre a vida de filósofos, pensadores e personalidades marcantes. O
programa auxilia estudantes surdos, ouvintes e intérpretes, na leitura e aprendizado dos
sinais de cada personagem.
Link: http://tvines.org.br/?page_id=333
REFERÊNCIAS

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Linstok, 1978.

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Brasileiro, UFRJ – Departamento de Linguística e Filosofia, 1995.

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Papers 8. Buffalo, NY: Department of Anthropology and Linguistics, University of
Buffalo. MD: Linstock Press, 1960.
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) acadêmico(a)!

Durante os estudos da disciplina foi possível pensar na cultura da


comunidade surda, para descrever elementos identitários dos surdos, artefatos
da literatura surda brasileira e como podemos trabalhar com as crianças surdas.
Vimos sobre as expressões da Libras, a descrição e uso do espaço, os
aspectos linguísticos e figuras de linguagens com o uso dêitico e processos
anafóricos.
Dialogamos sobre as estratégias dos professores no ensino de surdos,
identificamos os processos de formação da lexicografia dos sinais e das frases
em Libras, reconhecendo a diferença dos significados e sentidos e as restrições
na formação e execução dos sinais.
Enfim, finalizamos a disciplina. A partir de agora desejo que você volte às
Unidades de Estudo sempre que precisar colocar em prática os conhecimentos
apreendidos e treine a sinalização no seu dia a dia, oportunizando um
aprendizado básico que possibilite desenvolver uma comunicação com os
surdos brasileiros.

Até uma próxima oportunidade, abraços sinalizados!

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