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WBA0185_v2.

APRENDIZAGEM EM FOCO

DEFICIÊNCIA AUDITIVA E AEE


APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Gleidis Roberta Guerra
Leitura crítica: Branca Monteiro Camargo

A disciplina Deficiência Auditiva e AEE tem como principal objetivo


fazê-lo compreender a surdez, o surdo e a Língua Brasileira de Sinais
(Libras), considerando as políticas públicas e a obrigatoriedade do
Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Para que isso ocorra, você conhecerá a história da educação de


pessoas com surdez, que foram, por muito tempo, estigmatizados e
sua língua proibida, saberá as correntes comunicativas pelas quais
passou até chegarmos a proposta atual: oralismo, comunicação total
e bilinguismo.

Mais do que entender a pessoa com surdez e a surdez, você


também compreenderá de que maneira se dá a aprendizagem
deste aluno, conhecerá as estratégias educacionais diferenciadas
e as adaptações curriculares necessárias para que a inclusão deste
alunado ocorra com qualidade. De que maneira a pedagogia surda,
ou bilíngue, pode influenciar no processo de ensino e aprendizagem
também serão materiais estudadas nessa disciplina.

Ao adentramos na ceara da Língua Brasileira de Sinais (Libras), essa


língua será pontuada pela perspectiva de uma língua completa, viva
e autônoma, buscando sua importância na construção do sujeito
com surdez e no processo de conhecimento dessas pessoas. Desse
modo, será possível compreender um pouco o funcionamento da
língua, sua gramática e sua independência da gramática da Língua
Portuguesa.

Por fim, você verá as especificidades do Atendimento Educacional


Especializado para o aluno com surdez dentro de uma perspectiva
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pedagógica bilíngue. Na proposta do Ministério da Educação, o
AEE para o aluno surdo deve ser subdividido em três momentos
pedagógicos: o AEE de Libras, o AEE em Libras e o AEE de língua
portuguesa.

INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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TEMA 1

O surdo e a surdez: conceitos


e políticas públicas
______________________________________________________________
Autoria: Gleidis Roberta Guerra
Leitura crítica: Branca Monteiro Camargo
DIRETO AO PONTO

O trabalho com o aluno surdo, na sala de aula ou no Atendimento


Educacional Especializado, requer do professor alguns
conhecimentos que vão além do domínio da Língua de Sinais.
Nesse contexto, o profissional deve entender como ocorre a
surdez, saber que para diferentes graus terá diferentes respostas
auditivas e de aprendizagem do seu aluno.

Dessa forma, podemos pontuar que existe dois tipos de perdas


auditivas: as condutivas e as neurossensoriais. As condutivas são
as perdas tratáveis, com medicação ou cirurgia e que podem ser
reversíveis. Esse aluno, embora possa ter algumas dificuldades na
aprendizagem, não utilizará um aparelho auditivo ou, até mesmo,
usar a Língua de Sinais.

No caso das perdas auditivas neurossensoriais, que ocorre em


células e nervos no ouvido interno, elas são irreversíveis e podem
ocorrer também de maneira diferente.

Em relação aos graus de perda auditiva, eles variam de leve


a profundo. Os graus leves e moderados apesentam um bom
resultado com o uso da prótese auditiva, chegando à audição
muito próxima da normalidade. Assim, essas pessoas terão
pequenas dificuldades de compreensão de fala, necessitando de
ajuda ou intervenção.

Já os graus severos e profundos de perdas auditivas


comprometem a escuta dos sons da fala e, até mesmo, com o
uso de aparelho auditivo dificilmente poderão ouvir a voz com
nitidez suficiente para compreender a fala. Essas perdas auditivas
são mais facilmente detectadas e a criança apresentará um
importante atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem,

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bem como necessitará de apoio especializado na escola e em
terapias.

Retomando a história do surdo, de como sua educação e forma


de comunicação foram se modificando através dos tempos,
pode-se dizer que a educação do surdo começa propriamente a
partir do século XVIII, quando são abertas as primeiras escolas
de surdos principalmente na Europa. Durante esse período e até
o ano de 1880, cada escola trabalhava com a metodologia que
achava mais interessante para seus alunos, algumas usavam
apenas a linguagem oral, outras usavam o alfabeto digital ou a
língua de sinais e outras ainda utilizavam métodos mistos.

Com o Congresso de Milão, que ocorreu no ano de 1880 e reuniu


representantes de escolas de surdos de todo o mundo, e por
motivos muito mais políticos do que educacionais, com exceção
dos Estados Unidos, os países votaram pela proibição das línguas
de sinais e pelo uso exclusivo da fala na educação do surdo.

Assim começa a primeira corrente comunicativa, o oralismo,


que oficialmente durou até o ano de 1970, mas na prática vai
muito mais além. No oralismo, acredita-se que a fala deve ser
a única maneira de educação do surdo e não lhe é dada outra
oportunidade para se desenvolver. Desse modo, a surdez é vista
como uma doença que precisa ser curada e entende-se que quem
não fala não pensa.

No Brasil, somente na década de 1990 surge a segunda corrente


comunicativa, a Comunicação Total. Vista como uma filosofia, essa
corrente defende a efetividade da comunicação do surdo, a partir
do uso de todas as formas de comunicação possíveis. Em razão
de usar a língua de sinais e a fala simultaneamente, observou-se
que não houve evolução no aprendizado escolar do surdo, visto

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que destituía a Libras como língua e a utilizava apenas como
apoio.

Após estudos que comprovaram ser a língua de sinais uma língua


completa, com todos os elementos que uma língua oral possuía e,
portanto, suficiente para dar o aporte necessário ao pensamento.
Além disso, há a comprovação de que crianças filhas de pais
surdos que desenvolviam a Libras desde o nascimento tinham
um rendimento muito melhor na escola, assim, surge uma nova
corrente comunicativa, o bilinguismo.

No bilinguismo, acredita-se que o surdo necessita aprender as


duas línguas, mas de maneira separada. A primeira língua (L1)
será sempre a língua de sinais, e a segunda língua (L2), a língua
do seu país na modalidade escrita. Nesta visão, a surdez é vista
como uma diferença que precisa ser respeitada e a fala uma
oportunidade, não uma obrigatoriedade.

Figura 1 – Linha do tempo abordagens de educação dos surdos

Fonte: elaborada pela autora.

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PARA SABER MAIS

Além do aparelho auditivo convencional, hoje existe a possibilidade


do uso de um Implante Coclear (IC). Contudo, muitos mitos cercam
a cirurgia e o implante propriamente dito. O importante é que fique
claro que o IC não é um ouvido biônico como muitos dizem ou um
novo ouvido, trata-se de um aparelho eletrônico, em que uma parte
fica externa, como os aparelhos convencionais, para captar os sons
do ambiente e outra fica interna, são eletrodos colocados na cóclea
com o objetivo de fazerem a função das células ciliadas que não
funcionam mais.

Não é qualquer pessoa com perda auditiva que pode fazer o


implante coclear, existe uma série de critérios que devem ser
seguidos para que a criança se torne candidata ao uso dele. Além
disso, deve ficar claro que até o IC estar em seu modo de maior
eficiência leva quase 1 ano para sua ativação. Se considerarmos
uma criança que já nasceu surda, deve-se pensar que o cérebro não
tem construída a rota da audição, ou seja, todo o processamento
auditivo, que em uma criança ouvinte leva cerca de 7 anos para
estar completo, terá que ser construído pela criança surda. Em
outras palavras, o uso do IC dá à pessoa uma audição muito próxima
ao normal, mas isso não é garantia de desenvolvimento da fala.

A comunidade surda, de uma maneira em geral, é contra o uso


do IC, primeiro porque lhes falta informações sobre como de fato
este aparelho funciona, mas principalmente porque temem que,
com o uso do Implante Coclear e uma possibilidade maior de
desenvolvimento da linguagem oral, retornemos ao período do
oralismo, época em que as Línguas de Sinais eram proibidas.

Embora a legislação vigente garanta o uso da Libras como língua da


comunidade surda brasileira e dê ao surdo o direito de aprender em

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sua língua e ter intérpretes em todos os locais de acesso público,
ainda há uma dualidade a esse respeito.

Dessa forma, muitos profissionais da área médica e fonoaudiológica,


principalmente os que trabalham com IC, acreditam ainda que
a fala deve ser a única forma de comunicação dos surdos, o que
leva as famílias, responsáveis por essa escolha, a uma situação de
indecisão. O que de fato será melhor para o meu filho, fala ou sinais?

Uma criança surda com perda auditiva profunda desde o


nascimento fica cerca de 10 a 12 anos em terapia fonoaudiológica
para desenvolver a oralidade, ainda assim, não são todas que
conseguem um fala inteligível e fluente. Já o aprendizado da Libras
é natural para ela e aprenderá, da mesma maneira, que a criança
ouvinte aprende a falar, cumprindo as mesmas etapas.

Dessa forma, a aprendizagem precoce da Língua de Sinais, como


L1, e a oportunidade posterior do desenvolvimento do português
escrito e se possível oral, como L2, parece de fato ser a melhor
opção para o desenvolvimento social e escolar desta criança.

TEORIA EM PRÁTICA

Como professor de uma escola regular, você recebe uma família


que tem uma criança surda com perda auditiva profunda, de 5
anos de idade, diagnosticada aos 4 anos de idade e com uso de
Implante Coclear, e ainda possui muitas dúvidas em relação ao
desenvolvimento social, cognitivo e escolar do seu filho.

Então, a família lhe pede para explicar um pouco sobre a diferença


entre o desenvolvimento da oralidade e do aprendizado da Libras
para a criança surda, na verdade questionando se deve ou não o
deixar desenvolver a Língua de Sinais, visto que ouviu falar que
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a criança que aprende sinais fica preguiçosa para falar, e que os
sinais não são suficientes para dar o aporte necessário para seu
pensamento.

De que maneira explicaria para essa família as diferenças entre o


aprendizado da oralidade e da Libras para uma criança surda, e
como justificaria a importância de que aprendesse os sinais o mais
precocemente possível?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

10
Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da
nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A Nova Política Nacional de Educação Especial (2020) trouxe mudanças


importantes na forma de entendermos a inclusão e, até mesmo,
repensarmos o retorno das crianças com deficiência às classes e
escolas especiais. Desse modo, faz-se indispensável a leitura crítica
deste documento para compreender qual é a verdadeira proposta que
ele traz.

BRASIL. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Política


Nacional de Educação Especial. Brasília, DF: Presidência da República,
[2020].

Indicação 2

O livro Libras - Língua Brasileira de Sinais de Kate Mamhy Oliveira


Kumada traz, em seus capítulos 1 e 2, toda a história da educação
do surdo, bem como os modelos de educação propostos durante
o tempo. Além disso, ele levanta aspectos biológicos da surdez e a
construção da identidade surda.

KUMADA, K. M. O. Libras - Língua Brasileira de Sinais. Londrina:


Editora e Distribuidora Educacional, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber

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Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O Congresso de Milão, que ocorreu em 1880, tomou uma


decisão que mudo a vida dos surdos do mundo inteiro. Que
decisão foi essa?

a. Proibiu o uso da fala nas escolas.


b. Liberou as línguas de sinais nas escolas.
c. Proibiu as línguas de sinais nas escolas
d. Fundou a primeira escola para surdos.
e. Fechou as escolas para surdos.

2. As correntes comunicativas na educação do surdo


são o __________, que proibiu o uso das línguas de
sinais, a __________ que usava a língua de sinais e a
fala simultaneamente e o __________ que propunha o
aprendizado de duas línguas, sendo a primeira sempre a de
sinais.

a. Oralismo; Língua de Sinais; Bilinguismo.


b. Oralismo; Comunicação Total; Bimodalismo.
c. Bimodalismo; Comunicação Total; Oralismo.
d. Bilinguismo; Comunicação Total; Oralismo.
e. Oralismo; Comunicação Total; Bilinguismo.

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GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: O Congresso de Milão decide, quase por
unanimidade, que a única forma de educação do surdo deveria
ser a fala, proibindo o uso da Língua de Sinais.
Questão 2 - Resposta E
Resolução: As correntes comunicativas na educação do surdo
são o Oralismo, que proibiu o uso das línguas de sinais,
a Comunicação Total que usava a língua de sinais e a fala
simultaneamente e o Bilinguismo que propunha o aprendizado
de duas línguas, sendo a primeira sempre a de sinais.

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TEMA 2

Desenvolvimento e aprendizagem do
aluno surdo: Estratégias educacionais e
português como segunda língua
______________________________________________________________
Autoria: Gleidis Roberta Guerra
Leitura crítica: Branca Monteiro Camargo
DIRETO AO PONTO

Ao chegar na escola, o aluno surdo terá um grande desafio:


aprender a ler e escrever uma língua que não é a sua. A partir
dessa frase, podemos começar a pensar sobre o aluno surdo na
escola. Nesse contexto, sabe-se que o diagnóstico da surdez no
Brasil é tardio e, com isso, muitas crianças chegam à escola ou, até
mesmo, ao período de alfabetização, sem dominar uma língua,
pois não conseguem acessar a língua portuguesa oral e não teve
a oportunidade de ser exposta à Libras, língua que aprenderia
naturalmente.

Posto isso, pode-se levantar algumas questões importantes para o


desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdo. A primeira delas é
relacionada às funções da linguagem, que vão além da comunicação
e do intercâmbio social, mas adentram pelo desenvolvimento das
funções psicológicas superiores e do pensamento generalizante.

Pelo uso de uma língua de base somos capazes de organizar


as informações que recebemos pelos nossos sentidos e que
inicialmente nos chegam de maneira caótica. A linguagem organiza,
categoriza e forma conceitos que darão ao nosso pensamento
a estrutura necessária para o aprendizado. Sem a linguagem, o
pensamento não é capaz de elaborar seu raciocínio lógico, de
planejar e se organizar.

Sendo assim, é preciso ter claro a importância e a necessidade da


criança surda aprender Libras o mais precocemente possível, língua
que está viva e completa, capaz de dar o aporte cognitivo para a
aprendizagem e todo o desenvolvimento.

A surdez na infância pode levar a vários comprometimentos e,


por sua vez, isso ocorre, na verdade, pelo atraso significativo no
desenvolvimento da linguagem que acometerá a maioria dos surdos,
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filhos de pais ouvintes. Esse atraso na linguagem poderá levar a um
atraso no desenvolvimento social, psíquico e escolar dessa criança.

Na escola, é importante que o professor entenda que uma criança


surda não pode aprender a ler e a escrever da mesma maneira
que uma criança ouvinte. Isto fica claro se pensarmos em um
aluno estrangeiro que acabou de chegar ao país e terá que ser
alfabetizado em uma língua diferente da sua. Desse forma, para que
se possa trabalhar a leitura e escrita do surdo, deve-se ter claro que
a leitura, na cadeia do desenvolvimento, antecede a escrita, e que o
aluno deve aprender com aquilo que é significativo para ele. Além
da Libras ser a mediadora do conhecimento, a língua de instrução,
a escrita deve ser concebida como atividade discursiva, ou seja, o
ensino deve partir do texto do que é compreensível para o surdo.

Todo o trabalho voltado para famílias silábicas, letras iniciais das


palavras ou outras estratégias que usam a oralidade como base
não funcionarão com o aluno surdo, visto que as duas línguas
(português e Libras) possuem sistemas diferentes de significação,
como se você pudesse comparar as línguas alfabéticas ocidentais
com os ideogramas orientais, não há uma relação direta. Por isso,
o professor deve saber ensinar a língua portuguesa para o surdo
como segunda língua e fazer as adaptações necessárias para que
isso ocorra.

Nesse sentido, pode-se destacar três níveis de adaptação: os


referentes ao Projeto Político Pedagógico, as feitas em sala de aula
e as realizadas individualmente, de acordo com as necessidades de
cada aluno.

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Figura 1 - Níveis de adaptação

Fonte: elaborada pela autora.

PARA SABER MAIS

Embora a Libras tenha sido reconhecida como língua da


comunidade surda brasileira, ainda há um grande dualismo em
relação a maneira como deve ser feita a educação do surdo. Ainda
hoje, alguns profissionais da área da saúde, como médicos e
fonoaudiólogos, acreditam que o surdo deva ter a língua oral como
sua única forma de comunicação e isso acaba por influenciar as
famílias, que muitas vezes não possuem a informação necessária
para poder escolher o que é melhor para o seu filho.

Posto isso, há também um questionamento se o surdo deve estudar


em uma escola apenas para surdos, em uma escola bilíngue ou em

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uma escola inclusiva. Cada uma dessas escola possuem princípios e
orientações educativas diferentes.

A Escola de Educação Especial para surdos, embora algumas


renomeadas como bilíngues, trazem em seu bojo a visão da surdez
como incapacidade e acabam oferecendo ao aluno muito menos do
que ele poderia dar. Em outras palavras, a escola especial tem como
característica subestimar o aluno, principalmente no que se refere
ao aprendizado da língua portuguesa, e assim oferece um estímulo
menor do que o que deveria.

Nas escolas inclusivas, a língua de instrução é a língua portuguesa


e, embora o princípio seja de não discriminação e da presença de
um profissional de Libras que acompanhe o aluno surdo, o que é
garantido por lei, ela não tem em suas orientações pedagógicas um
trabalho voltado para a valorização da língua e da cultura surda,
deixando a desejar nesse sentido.

Já a escola bilíngue, que deve ser um ambiente em que alunos


surdos e ouvintes estudem juntos, e juntos aprendam a Libras e a
língua portuguesa, a proposta e de valorização da cultura surda.
Dessa forma, a Libras é a língua de instrução, em que surdos e
ouvintes aprendem a se comunicar por meio dela.

A proposta bilíngue parece ser a mais adequada para o


desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdo, mas por ser
ainda muito recente, a primeira escola bilíngue para surdos abriu no
município de São Paulo, no ano de 2010, ainda não se tem estudos
suficientes no Brasil para estatisticamente afirmarmos isso. O que
podemos fazer é olhar para países como a Suécia, que já adota essa
forma de educação para os surdos há mais tempo, e nos basearmos
no sucesso que tem sido esta proposta pedagógica para os seus
alunos.

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TEORIA EM PRÁTICA

Você, professor, recebe uma criança surda, com perda auditiva


profunda no segundo ano do Ensino Fundamental e terá que dar
início ao processo de alfabetização desse aluno. Desse modo, você
necessitará trabalhar com o ensino do português como segunda
língua. De antemão, já se sabe que o aluno surdo não aprende
da mesma maneira que o ouvinte, pois as línguas de sinais e as
línguas orais têm representações diferentes. Além disso, considera-
se também que é necessário o ensino da escrita como atividade
discursiva e do uso da Libras como mediadora do conhecimento.
Isso posto, que atividade você pode propor a esse aluno a fim de
estimular o seu processo de alfabetização?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,

19
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A obra indicada é de uma autora fundamental para os estudos


sobre surdez e Libras no Brasil. Em seu conteúdo, além dos aspectos
relacionados à aquisição da linguagem pelo surdo e da Língua
Brasileira de Sinais, esse livro traz uma discussão importante sobre a
Educação Bilíngue.

QUADROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem.


São Paulo: Artmed, 2008

Indicação 2

A obra indicada traz em seus capítulos aspectos relevantes do


letramento e da surdez, além de levantar aspectos sobre estigmas,
preconceitos e a própria Língua Brasileira de Sinais (Libras).

BOTELHO, P. Linguagem e letramento na educação dos surdos:


ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber

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Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Os métodos de alfabetização utilizados para os ouvintes, na


maioria das vezes, são inacessíveis para o surdo, que utilizará sua
memória visual para aprender a ler e escrever, visto que não tem
acesso à informação auditiva. Dessa maneira, a melhor forma de
trabalhar a alfabetização é partir de:

a. Famílias silábicas.
b. Letras iniciais.
c. Escrita do nome.
d. Leitura.
e. Alfabeto digital.

2. Ana é diretora de uma escola de Ensino Fundamental I e


recebeu uma aluna surda no primeiro ano escolar. Sabendo
das suas responsabilidades com a inclusão e da proposta
bilíngue de educação do surdo do Ministério da Educação e
Cultura, ela convoca uma reunião com os professores para
pontuar algumas adaptações que deverão ser realizadas na
escola a partir da matrícula dessa aluna. Nessa reunião, ela
deve deixar claro para todos que:

a. Apenas o professor do primeiro ano é responsável pela aluna


e deverá fazer todas as adaptações.
b. Todos os colaboradores deverão se envolver e seria
importante a formação em Libras para todos.
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c. Será disponibilizado um auxiliar que se responsabilizará pelas
adaptações da aluna, sem o professor titular.
d. A escola a receberá a aluna, mas nenhuma adaptação será
feita, isso é responsabilidade da família.
e. A mãe foi orientada que deverá providenciar um professor
para auxiliar a aluna que ser responsabilizará pelas
adaptações

GABARITO

Questão 1 - Resposta D
Resolução: A leitura antecede a escrita na cadeia da
aprendizagem, tornando-a mais natural, além disso, o aluno
surdo deve ser alfabetizado a partir da compreensão da
escrita como atividade discursiva, e não por metodologias que
enfatizam a oralidade.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: Todos na escola são responsáveis por todos
os alunos e pelas adaptações necessárias para atendê-los.
Para melhor adaptação da aluna, a formação em Libras para
colaboradores e outros alunos é essencial.

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TEMA 3

Atendimento Educacional
Especializado para o aluno com
surdez e intervenção educacional
______________________________________________________________
Autoria: Gleidis Roberta Guerra
Leitura crítica: Branca Monteiro Camargo
DIRETO AO PONTO

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) foi instituído pela


Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008) como uma forma de atendimento ao aluno
com deficiência, distúrbios globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação com o intuito de promover um apoio
dentro e fora da sala de aula, garantindo a equidade da educação.

Com a publicação da Nova Política Nacional de Educação Especial


(BRASIL, 2020), o direito ao AEE é mantido e transferido para os
Centros de Atendimento Educacional Especializado (CAEE).

O AEE se diferencia dos atendimentos realizados em sala de aula


e não pode, de nenhuma maneira, ser substitutivo à essa, por
isso, deve ocorrer sempre no contraturno da aula, ou ainda de
maneira colaborativa. Desse modo, ele pode ser complementar ou
suplementar, dependendo da especificidade do alunado, e deve
sempre estar articulado com as atividades que ocorrem em sala de
aula.

Os objetivos do Atendimento Educacional Especializado é “organizar


recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as
barreiras e configurem meios para o acesso ao currículo visando
a independência para a realização das tarefas e a construção da
autonomia” (BRASIL, 2008, p. 3).

No caso do aluno surdo, a proposta é que ele tenha acesso a três


tipos de atendimentos diferentes: AEE em Libras, AEE de Libras e
AEE de português.

24
Figura 1 – Tipos de atendimento educacional especializado para
pessoas com surdez

Fonte: elaborada pela autora.

Além dos atendimentos propostos, para que o aluno surdo seja


de fato incluído e possa aprender e se desenvolver com equidade,
é importante que a proposta pedagógica também seja adaptada,
utilizando recursos de tecnologia assistiva, recursos visuais e
comunicação alternativa.

Nesse sentido, a compreensão da proposta da pedagogia surda


(também denominada bilíngue ou visual) dará ao professor
subsídios para trabalhar com esse aluno.

Na pedagogia surda, a proposta é que todo o trabalho pedagógico


seja centrado no aluno surdo, na sua língua e na sua cultura. Ela
valoriza os recursos visuais e criam ferramentas que favoreçam o
aprendizado.

Logo, o professor surdo é fundamental neste contexto, pois será


um modelo linguístico e cultural para o aluno surdo, mas devemos
lembrar que não basta ele ser fluente em Libras, precisa ter
formação adequada para atuar na área.

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Referências

BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação


inclusiva. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2008.
BRASIL. PNEE: Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e
com Aprendizado ao Longo da Vida. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2020.

PARA SABER MAIS

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é garantido pela


legislação e pode ocorrer de duas maneiras: no contraturno da aula,
na sala de recursos multifuncionais ou, ainda, na forma de ensino
colaborativo, dentro da sala de aula do aluno com toda a turma,
em colaboração entre o professor especialista do AEE e o professor
titular da turma.

O processo para que um aluno com surdez ou outra deficiência faça


parte do AEE se inicia com a indicação do professor titular da sala.
Após essa indicação, a equipe determina um dos seus profissionais
para realizar a avaliação dessa criança é feito um estudo de caso e,
então, construído um plano de atendimento individualizado, que
constará dos encaminhamentos necessários para que esse aluno
tenha o melhor desenvolvimento e aprendizagem possível.

Dessa forma, sabe-se que cada município se organiza de uma


maneira diferente em relação aos atendimentos prestados. Algumas
cidades ainda trabalham com as chamadas salas de recursos, em
que um mesmo profissional atende aos diversos tipos de deficiência.
No entanto, outras utilizam as salas de recursos multifuncionais em
que existe uma sala determinada para cada tipo de deficiência, com
seu professor especialista para aquela condição.

Há salas de AEE para surdos, alunos com deficiência visual e alunos


com deficiência intelectual. Contudo, ainda, não existem salas

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específicas para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA),
que acabam sendo encaminhados para a mesma sala de quem
tem déficit intelectual, mesmo não tendo necessariamente essa
comorbidade.

Além da diferença já posta, alguns municípios possuem na própria


equipe de AEE profissionais da área da saúde, como psicólogos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, o
que auxilia no processo de avaliação e de estudo de caso. Para
outras localidades, há uma parceria entre Secretaria de Educação
e Secretaria da Saúde, local em que os profissionais das áreas
terapêuticas são lotados.

O mais importante é que toda criança com deficiência possa ter


garantido o seu direito ao AEE, para que possa estar, de fato,
incluída com qualidade de desenvolvimento e aprendizagem.

TEORIA EM PRÁTICA

Você, professor especialista do AEE para o aluno surdo, recebe


a indicação do professor da sala titular para avaliar uma criança
e ver quais são suas necessidades de atendimento, sempre com
o objetivo de eliminar barreiras, dar autonomia e equidade no
aprendizado.

Nesse contexto, descreva um caso (fictício ou real) que aponte as


principais características de desenvolvimento e aprendizagem desse
aluno, criando para ele um plano de atendimento individualizado
e fazendo os encaminhamentos necessários para que ele tenha o
apoio que precisa na escola.

27
Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,
acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A obra indicada é do Ministério da Educação e Cultura e fala sobre


as especificidades do Atendimento Educacional Especializado do
aluno surdo.

BRASIL. Atendimento Educacional Especializado para pessoas


com surdez. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2008.

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Indicação 2

A obra indicada traz em seu capítulo Pedagogia visual, pedagogia


bilíngue e pedagogia surda: faces de uma mesma perspectiva didática?
um importante debate sobre a educação do surdo na perspectiva
bilíngue.

DIGIAMPIETRI, M. C. C.; MATOS, A. H. Pedagogia visual, pedagogia


bilíngue e pedagogia surda: faces de uma mesma perspectiva
didática? In: ALBRES, N. A.; NEVES L. S. G. (org.). Libras em estudo:
política educacional. São Paulo: FENEIS, 2013.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O Atendimento Educacional Especializado (AEE), conforme


descrito no Decreto nº 7.611/2011, tem como objetivo
principal de:

a. Atuar de maneira substitutiva ao ensino regular, pois conta


com professores especializados.

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b. Atuar de maneira complementar, ocorrendo no mesmo
horário da escola regular.
c. Atuar de maneira complementar ou suplementar à escola, no
contraturno dela.
d. Atuar de maneira apenas complementar à escola, no
contraturno dela.
e. Apresentar proposta pedagógica no contraturno da escola e
desvinculada dessa.

2. Dentro do projeto bilíngue de educação, é imprescindível a


presença do professor surdo, que, para assumir o seu posto:

a. Deve apenas ter conhecimento de sinais.


b. Não precisa ter formação específica.
c. Não precisa ter formação pedagógica.
d. Precisa ter sólida formação pedagógica.
e. Essa presença não é necessária na escola.

GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: O AEE deve atuar de maneira complementar
(para os casos de deficiência e transtornos globais do
desenvolvimento) e suplementar (para os casos de altas
habilidades/superdotação) sempre no contraturno da escola e
articulado com essa.
Questão 2 - Resposta D
Resolução: O professor surdo deve ter sólida formação
pedagógica para atuar nas escolas bilíngues, sendo sua
presença imprescindível.

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TEMA 4

O papel da Língua Brasileira de Sinais


na educação dos surdos e práticas
pedagógicas bilíngues
______________________________________________________________
Autoria: Gleidis Roberta Guerra
Leitura crítica: Branca Monteiro Camargo
DIRETO AO PONTO

As línguas de sinais receberam status de língua na década de 1960,


após os estudos do linguista americano Willian Stokoe, que publicou
uma obra comprovando cientificamente que a Língua Americana
de Sinais era uma língua completa, com todos os elementos
necessários para assim se constituir.

Após esse primeiro estudo, muitos outros vieram, as línguas de


sinais foram se espalhando cada vez mais pelo mundo e sendo cada
vez mais utilizadas pelas comunidades surdas.

Nesse sentido, os linguistas afirmam que a língua de sinais é a única


língua natural do surdo, ou seja, aquela que ele pode aprender
espontaneamente, sem necessitar nenhum treinamento para isso.
Assim, basta que utilizemos sinais com uma criança surda para que
ela aprenda essa língua, nas mesmas etapas de desenvolvimento
que o ouvinte adquire a linguagem oral.

Do ponto de vista neurológico, comprova-se que não há diferença


entre o uso de uma língua oral ou de sinais, ou seja, ambas
podem dar o aporte cognitivo necessário ao desenvolvimento do
pensamento e da aprendizagem. Porém, devemos lembrar que,
assim como outras aprendizagens, há um período crítico para que o
cérebro desenvolva essa habilidade até os 5 anos de idade, esse é o
período ideal para o desenvolvimento de língua materna, por isso,
quanto antes a criança surda for exposta aos sinais, melhor será o
seu desenvolvimento linguístico e cognitivo.

Por ser uma língua completa, viva e autônoma, a língua de sinais


tem uma gramática própria, o que chamamos de palavra na língua
oral, aqui é chamado de sinal na língua de sinais. Para formar um
sinal de maneira adequada é preciso conhecer os 5 parâmetros que

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o formam: configuração de mão (CM), que é a posição da mão no
momento da articulação do sinal; ponto de articulação (PA) que é o
local do corpo ou do espaço ao redor do corpo que o sinal acontece;
movimento (M) que pode ser relacional ao tipo de movimento
realizado ou ainda a parte do corpo que se movimenta; orientação
(O) que determina para qual direção o sinal vai e finalizando a
expressão facial/corporal que indica as expressões não manuais, ou
seja, os movimento de corpo, de cabeça e da face realizados para
executar um sinal.

Figura 1 – Cinco parâmetros das Línguas de Sinais

Fonte: elaborada pela autora.

Por ser um povo com uma língua própria, os Surdos também


possuem uma cultura diferenciada. Na verdade, pode-se dizer que
eles são sujeitos bilíngues e biculturais, pois, além da cultura da sua
região/país desenvolvem uma cultura surda, marcada pelo seu jeito
visual de compreender e modificar o mundo em que vivem.

33
Mais do que uma deficiência, a surdez deve ser vista como uma
diferença, uma minoria linguística que chega à escola sem dominar a
língua em que se dará todo o processo de aprendizagem.

Por isso, é fundamental que as práticas pedagógicas estejam


pautadas em uma perspectiva bilíngue de educação. A educação
bilíngue é mais do que expor o surdo a duas línguas, mas envolve o
respeito e a valorização da sua cultura e do seu modo de aprender.

Não se pode ensinar ao surdo da mesma maneira que se ensina


o ouvinte. No processo de alfabetização e letramento, fonemas,
sílabas e, às vezes, até palavras não fazem parte do universo da
criança com surdez. Ela deve aprender de maneira textual, utilizando
metodologias sociointeracionistas que visem a apropriação da
escrita a partir da leitura de textos.

O bilinguismo na educação do surdo foi assumido desde o ano


2000 pelo Ministério da Educação e Cultura, mas, ainda, não temos
escolas bilíngues na maioria dos municípios brasileiros. Assim,
transformar a sala de aula regular em uma sala bilíngue é tarefa do
professor que recebe um aluno surdo.

Desde a educação infantil podemos trazer a Libras para dentro


da sala de aula, fazendo rotinas em português e Libras, contando
histórias ou cantando com o uso da Língua de Sinais, valorizando
a língua e a cultura surda. Para que isso ocorra, a formação do
professor é fundamental e se deve ocorrer na formação inicial de
maneira mais efetiva, mas também na formação continuada do
profissional.

A escola deve optar pelo uso da Libras como mediadora do


conhecimento, não ser apenas inclusiva, pois essa opção não resolve
as dificuldades do aluno surdo, mas mudar o ambiente linguístico

34
da sala de aula e da escola de modo que todos os alunos, surdos e
ouvintes possam desenvolver a Língua de Sinais.

PARA SABER MAIS

A formação docente de qualidade do professor é fundamental para


que a inclusão do aluno com surdez ocorra de maneira eficiente.

Há, ainda, uma grande polêmica nas comunidades surdas sobre o


surdo ir para uma escola regular ou continuar segregado nas escolas
especiais para surdos. Isso ocorre por entenderem que, ao chegar a
uma escola em que a sua língua não será utilizada como mediadora
do conhecimento, as dificuldades de aprendizagem serão ainda
maiores para esse alunado.

Dessa forma, ser bilíngue significa ter domínio de duas línguas,


mas no caso do surdo, pressupõe-se que a língua portuguesa seja a
sua segunda língua, e que deve ser aprendida obrigatoriamente na
modalidade escrita. Isto é, falar o português oralmente não deve ser
uma imposição à pessoa com surdez.

Para que a escola bilíngue aconteça, é necessário que o professor


e todos os profissionais da escola sejam também bilíngues. Assim,
podemos afirmar que as crianças possuem dois grupos sociais
predominantes: a família e a escola.

Para que a língua de sinais seja consolidada como primeira língua e


a criança tenha a oportunidade de aprender a língua escrita do seu
país como segunda língua, logo, é preciso que ela possa ser utilizada
nesses dois espaços.

No entanto, sabe-se que a maioria das famílias não desenvolve a


fluência na Libras e, quando isso ocorre, geralmente, quem tem

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o domínio da comunicação é apenas a mãe ou algum irmão mais
próximo. Contudo, cerca de 90% das crianças surdas nascem em
famílias ouvintes, visto que a hereditariedade só ocorre em 10% dos
casos. Em geral, o restante dos casos acontecem por problemas na
gestação e no parto.

Assim, é essencial que haja políticas públicas sérias para a


capacitação dos docentes e dos outros profissionais da escola
em Libras, e que também haja incentivo para que os familiares
desenvolvam essa forma de comunicação.

Só assim, teremos de fato uma escola bilíngue, um surdo que pode


se comunicar fluentemente em casa e, na escola, um aprendizado
para essa população que valorize a língua e a cultura surda.

TEORIA EM PRÁTICA

Você, professor de uma turma de primeiro ano do Ensino


Fundamental de uma escola pública, recebe em sua sala de aula
um aluno surdo. Sua escola não é bilíngue, mas você teve formação
para trabalhar dentro dessa perspectiva, aprendeu Libras e possui
nível intermediário nesta língua, ou seja, consegue se comunicar
com uma certa facilidade, embora ainda tenha que ganhar mais
vocabulário e velocidade na execução dos sinais.

A proposta é que você transforme a sua sala de aula em uma sala


bilíngue, em que a Libras seja a mediadora do conhecimento e
a cultura surda seja respeitada. A direção da escola, consciente
desta necessidade, te apoia nessa mudança, inclusive colocando-a
de modelo para que os outros professores, ao receberem alunos
surdos, possam executar as mesmas ações.

36
Agora, sua tarefa é traçar um planejamento do que modificará
na sua sala de aula para transformar esse ambiente em bilíngue.
Lembre-se que, conforme a legislação vigente, você terá na sua
classe um profissional de Libras, que te auxiliará e apoiará nas
decisões tomadas, mas não tomará a responsabilidade do aluno
única e exclusivamente para ele.

Descreva quais seriam as suas primeiras atitudes para a


transformação da sala inclusiva em sala bilíngue.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

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Indicação 1

A obra indicada traz elementos importantes que foram discutidos


durante esse tema, como a Língua Brasileira de Sinais e a Educação
Bilíngue.

BOTELHO, P. Linguagem e letramento na educação dos surdos:


ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Indicação 2

Nesta obra, a autora traz a perspectiva sociointeracionista para a


aprendizagem da criança surda, envolvendo discussões importantes
sobre a linguagem e a cognição.

GOLDFELD, M. A. Criança surda: linguagem e cognição numa


perspectiva sociointeracionista. São Paulo: Plexus, 2002.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

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1. Desde 2002, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) propõe a
abordagem bilíngue como a maneira mais adequada de educar
o aluno surdo. Em relação a essa proposta pedagógica, é correto
afirmar que:

a. A escola deve se pautar no reconhecimento das dificuldades e


inabilidades do aluno surdo devido à surdez.
b. A escola deve se basear no reconhecimento das capacidades e
especificidades do aluno surdo.
c. A escola deve se basear na educação do ouvinte, utilizando a
linguagem oral como língua de instrução.
d. A língua portuguesa deve ser a base da educação na escola
bilíngue, visto ser a majoritária.
e. A escola deve adotar metodologia específica de aprendizagem de
português como primeira língua.

2. Muito se discute em relação à cultura surda. Nesse contexto,


alguns autores acreditam que os surdos têm sua própria
cultura, enquanto outros entendem que não. De acordo com o
estudado na aula, podemos afirmar que:

a. O surdo tem uma única cultura, e essa é a cultura surda.


b. O surdo tem uma única cultura, e essa é a cultura ouvinte.
c. O surdo tem influência de várias culturas, inclusive a surda.
d. Não é possível determinar se há ou não culturas diferentes.
e. Não há evidência de uma cultura denominada de surda.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: A escola deve se basear no reconhecimento das
capacidades e especificidades do aluno surdo, respeitando a
sua língua e a sua cultura.
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Questão 2 - Resposta C
Resolução: Assim como os ouvintes, os surdos sofrem
influência de diversas culturas, dentre elas a da cultura surda,
que é marcada principalmente pela sua maneira visual de
compreender e transformar o mundo em que vive.

40
BONS ESTUDOS!

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